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O portador de necessidades especiais e a

acessibilidade integral na Escola Regular

André Luiz dos Santos Calaça


Graduando em Pedagogia – FATEA

Maria Cristina Marcelino Bento


Doutoranda em Educação - Universidade Metodista de São Paulo
RESUMO

Desde a antiguidade o acesso à escola se restringiu à elite, permanecendo precária a educa-


ção popular, que, quando implantada, nem sempre superou a escola dualista. Nas últimas
décadas porém, ampliou-se de forma significativa o leque dos sujeitos educativos, que
passou a incluir a educação anterior às primeiras letras (o jardim da infância), a educação
da mulher (emancipação da sua condição subalterna), o deficiente (físico e mental), as
etnias até então excluídas. Este artigo tem como objetivo discorrer a inclusão do deficiente
físico em espaço escolar regular e a condição de acessibilidade para o atendimento do
mesmo, de acordo com a legislação atual, bem como teorias de acessibilidade e inclusão,
além de realçar a importância da formação sociointeracionista baseada em Vygotsky.

PALAVRAS-CHAVE:
Escola, educação e inclusão.

ABSTRACT

Since ancient times the access to the school has been restricted to elite remaining weak
popular education, that, when applied, not always outperformed dualist school. Over the
last decades however, has expanded considerably the variety of educational subjects, which
started to include the previous education, the first letters (kindergarten) , the education
for women (emancipation of his subaltern condition), the disabled person (physical and
mental), ethnic groups until then excluded. This article aims at expound the inclusion of
the physically disable in regular school environment and the condition of accessibility to
attend of the same according with current legislation, as well as theories of accessibility
and inclusion and to emphasize the importance of social interactionist based in Vygotsky.

KEY WORDS
School, education, inclusion
1. INTRODUÇÃO

O que se percebe, como um dos marcos históricos, ao longo da história da educação


é a formação de uma escola excludente, ou seja, desprovida de democracia. A partir da
década de 1960, tornou-se marcante a mobilização dos tidos como “minoria”, a julgar por
estes serem portadores de necessidades especiais. Movimentos foram criados para que
lhes fossem garantidos direitos, pois portador de necessidades especiais é o indivíduo que
apresenta comprometimento da capacidade motora, nos padrões considerados normais
para a espécie humana. Em maio de 1968 foi o ápice em defesa dos direitos humanos.
Recentemente encontrou-se maior empenho governamental para estender a educação
para essa minoria, inicialmente pela defesa da integração dos diferentes e atualmente
pela sua inclusão. Embora esses dois termos (integração e inclusão) possam ser aceitos
como sinônimos, a professora Maria Teresa Eglér Montoan os distingue, atribuindo ao
primeiro um tipo de inserção que mantém o diferente segregado, ou seja, criam-se salas
especiais, separadas das aulas regulares destinadas aos “normais”. (ARANHA, 2006, p. 128)
Não adianta, contudo, admitir o acesso dos portadores de necessidades especiais
às escolas, sem garantir o prosseguimento da escolaridade até o nível que cada aluno
for capaz de atingir. Não há inclusão, quando a inserção de um aluno é condicionada à
matrícula em uma escola ou classe especial. A inclusão deriva de sistemas educativos que
não são recortados nas modalidades regular e especial, pois ambas se destinam a receber
alunos aos quais impomos uma identidade, uma capacidade de aprender, de acordo com
suas características pessoais.
A escola possui um papel de fundamental importância no processo de
desenvolvimento do aluno, seja ela de qualquer modalidade: ensino infantil, fundamental I
e II, ensino médio e ensino superior. Ela é o primeiro contato com o mundo externo que o
individuo tem fora do contexto familiar, colocando a criança na esfera das relações sociais.
A inclusão da criança com deficiência é recente, assim como a inclusão de outros segmentos,
no entanto vê-se que até pouco tempo poucos tinham acesso à escola regular. Este acesso
era restrito a sistemas escolares montados a partir de um pensamento que recorta a
realidade, que permite dividir os alunos em normais e deficientes, as modalidades de ensino
em regular e especial, os professores em especialistas nesta e naquela manifestação das
diferenças. A lógica dessa organização é marcada por uma visão determinista, mecanicista,
formalista, reducionista, própria do pensamento científico moderno, que ignora o subjetivo,
o afetivo, o criador, sem os quais não conseguimos romper com o velho modelo escolar
para produzir a reviravolta que a inclusão impõe. (MONTOAN, 2003. pág 13).

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A LEGISLAÇÃO QUE FUNDAMENTA A INCLUSÃO

Sobre as perspectivas de inclusão, a condição de deficiente por si só definiria a


conveniência e a necessidade desse atendimento especializado. A inclusão escolar de alunos
com deficiência em escolas regulares é um direito garantido pela Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei n. 9.934/96), que afirma que a oferta da educação especial,
enquanto dever constitucional do Estado, deve ter início na Educação Infantil, na idade
de zero a cinco anos. (BRASIL, 1996).
O aluno com deficiência é sim matriculado, incluído no contexto escolar regular,
mas não tem condições adequadas para a sua efetiva participação no que tange à inclusão
real dessa criança. A começar pelo espaço físico que não tem adequações necessárias
para receber esses alunos, existem muitas adaptações a serem feitas para favorecerem as
crianças com deficiência física, desde a educação infantil ao ensino superior. Assim, a
realidade é que muitas escolas brasileiras e a própria família não estão preparadas para
garantir o desenvolvimento pleno dessa criança inserida na sociedade e no contexto
escolar. Na busca de uma sociedade mais interativa, nos deparamos com a falta de
acessibilidade, um fator integrante do processo inclusivo, constituindo um desafio a
ser superado. São muitas dificuldades e barreiras encontradas no acesso e nas práticas
pedagógicas dos professores que, muitas vezes, não conseguem fazer com que esse aluno
atinja o desenvolvimento necessário, por falta de um conhecimento mais específico no
tocante ao tema. Os professores do ensino regular, em alguns casos, são incapacitados para
atender com eficiência a alunos portadores destas necessidades, no entanto, há de se notar
que estes docentes não procuram uma especialização na área para as suas capacitações
profissionais, de modo a atuarem como acolhedores para esses alunos especiais. Por outro
lado, a instituição escolar que atende a este aluno, em casos específicos, é desprovida de
uma preparação adequada, a julgar pelo espaço físico, que não atende às especificações,
para que este aluno se sinta acolhido e realmente incluído em um contexto social.
Muitas são as dificuldades e barreiras que as crianças portadoras de necessidades
especiais encontram na escola, por isso nem todas vão à escola por não terem a
acessibilidade necessária para seu pleno aprendizado. Para tanto, a escola dever ter um olhar
mais amplo com relação à inclusão, refletindo-se em seu projeto político-pedagógico, que
tem caráter político e cultural. Este deve ser construído no âmbito da escola, observando
as necessidades educacionais especiais dos alunos. Assim, será uma referência para
definir a prática escolar como elemento dinâmico da educação, observando o princípio da
flexibilização, para que o acesso ao currículo seja adequado às condições dos educandos,
respeitando seu caminhar próprio e favorecendo seu progresso escolar.

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Sobre alunos portadores de necessidades especiais, a escola deve prever no projeto
político-pedagógico, adaptações físicas ao prédio escolar e em suas áreas de acesso livre.
Adaptações na sala de aula e no mobiliário, adequações curriculares e recursos pedagógicos
que permitam ao aluno acompanhar o desenvolvimento do currículo educacional de
maneira satisfatória. Estes alunos são aqueles que, por apresentarem necessidades de
porte físico, diferem-se dos demais colegas na aquisição da aprendizagem, requerendo
recursos pedagógicos e metodológicos educacionais específicos. Inserir esses alunos no
ensino regular, garantindo o direito à educação, é o que denominamos “inclusão”, ou seja,
é acolher estes indivíduos e oferecer oportunidades educacionais, nas mesmas condições
acessíveis aos outros.
A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei nº 9.394/96) estabelecem que a educação seja um direito igualitário, garantindo
atendimento educacional especializado aos portadores de necessidades básicas especiais.
Observa-se que dentro do contexto legal, a Lei nº 10.098/00 (BRASIL, 2000), esmiuça
que todas as escolas devem promover ambiente acessível, adequando os espaços que
atendam à diversidade humana e eliminando as barreiras arquitetônicas a estes indivíduos.
Também foi promulgado o Decreto nº 5.296/04 que estabelece normas gerais e critérios
básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade
reduzida e dá outras providências. Resultando em um prazo de 30 meses para que lugares
públicos organizem seus espaços de forma a torná-los acessíveis.
Não há possibilidade de esse aluno frequentar uma sala de aula sem que sejam
atendidas essas necessidades, que não são especiais e fazem parte da luta pelo seu acesso e
pela sua permanência. A educação das pessoas portadoras de necessidades especiais precisa
ser repensada, a partir desta contextualização, como uma questão histórica, buscando
superar uma leitura abstrata da mesma. É preciso que consideremos o conjunto de
características físicas ao interagirmos com o indivíduo com deficiência física, que saibamos
favorecer o seu desenvolvimento humano. Caso contrário estaremos contribuindo para o
desenvolvimento da deficiência.

2.2 A COMUNIDADE CONSCIENTE SOBRE OS PORTADORES


DE DEFICIÊNCIAS FÍSICAS

Há falta de conhecimento da própria sociedade que cerca o meio escolar, como os


pais e alunos que expõem o preconceito em relação aos portadores de deficiência, seja ela
de qualquer natureza. Nesse impasse, há um movimento de pais de alunos sem deficiências,
que não admitem a inclusão, por acharem, de maneira precoce, que as escolas irão baixar
e/ou piorar a qualidade do ensino, se tiverem que integrar/incluir os discentes portadores
de necessidades especiais.

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Os dois vocábulos — “integração’’ e “inclusão” — conquanto têm significados
semelhantes, são empregados para expressar situações de inserção diferentes e se
fundamentam em posicionamentos teórico-metodológicos divergentes. Destaco os termos,
pois é necessário frisá-los, embora admito que essa distinção já poderia estar bem definida
no contexto educacional.
O processo de integração escolar tem sido entendido de diversas maneiras. O uso do
vocábulo “integração” refere-se mais especificamente à inserção de alunos com deficiência
nas escolas comuns, mas seu emprego dá-se também para designar alunos agrupados em
escolas especiais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes especiais, grupos de
lazer ou residências para deficientes. Quanto à inclusão, esta questiona não somente as
políticas e a organização da educação especial e da regular, mas também o próprio conceito
de integração. Ela é incompatível com a integração, pois prevê a inserção escolar de forma
radical, completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, devem frequentar as salas
de aula do ensino regular. (MONTOAN, 2013, p. 15 e 16)
Partindo deste pressuposto, a integração não é uma inclusão. “Incluir” tem significado
mais abrangente, tais como, o de oferecer uma aprendizagem significativa ao aluno com
deficiência pra que ele possa estar apto, assim como os demais, para seguir em sua vida
estudantil, assim como, oferecer formação adequada aos professores, estabelecendo
formas criativas e de acordo com a necessidade do aluno portador de necessidades básicas
especiais, para que possam ter uma maior aproximação possível do cotidiano dentro e
fora do ambiente estudantil.
As mudanças nessa direção devem permitir um grande avanço. O primeiro avanço
foi concretizado na luta pelo acesso de deficientes entre outros, na escola regular, em
que os resultados já são visíveis. O maior avanço está na conquista da adequação para
atendimento dos alunos ditos especiais, abrangendo toda a escola e comunidade, além do
Estado e Município como formadores da qualidade da educação para todos, de maneira
a consolidar a inclusão e a igualdade de oportunidades.
No entanto, ao considerar a Educação no Brasil pelos índices de fracasso escolar
(no tocante ao currículo didático) e pelos seus índices de evasão, vale destacar estes
resultados oriundos da marginalização e baixa autoestima resultante da exclusão escolar e
social. Isto nos mostra que a inclusão conforme mencionada é bem mais abrangente a que
simplesmente incluir alunos com necessidades especiais. Para que tenhamos uma inclusão
real deve-se antes incluir os segregados pelo insucesso na aprendizagem.
A Constituição Federal de 1988 respalda os que propõem avanços significativos
para a educação escolar de pessoas com deficiência, quando elege como fundamentos da
República: a cidadania e a dignidade da pessoa humana (art. 1º, incisos II e III) e, como
um dos seus objetivos fundamentais, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, inciso

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IV). Ela garante ainda o direito à igualdade (art. 5U) e trata, no artigo 205 e seguintes, do
direito de todos à educação. Esse direito deve visar ao “pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para a cidadania e a sua qualificação para o trabalho”.
Além disso, a Constituição elege, como um dos princípios para o ensino, “a igualdade
de condições de acesso e permanência na escola” (art. 206, inciso I), acrescentando que o
‘‘‘dever do Estado com a educação será efetivado, mediante a garantia de acesso aos níveis
mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
um” (art. 208, inciso V).
Quando garante a todos o direito à educação e ao acesso à escola, a Constituição
Federal não usa adjetivos e, assim sendo, toda escola deve atender aos princípios
constitucionais, não podendo excluir nenhuma pessoa em razão de sua origem, raça,
sexo, cor, idade ou deficiência.
Apenas esses dispositivos já bastariam para que não se negasse a qualquer pessoa,
com ou sem deficiência, o acesso a mesma sala de aula, mas um dos argumentos sobre a
impossibilidade prática da inclusão total aponta casos de alunos com deficiências severas,
múltiplas, tais como a deficiência mental e os casos de autismo.
No Capítulo III, intitulado “Da Educação, da Cultura e do Desporto”, a Constituição
prescreve em seu artigo 208 que o dever do Estado com a educação será efetivado, mediante
a garantia de [...] atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino. Nas concepções de Montoan (2003, p. 22):

O “preferencialmente” refere-se a “atendimento educacional especializado”,


ou seja: o que é necessariamente diferente no ensino para melhor atender
às especificidades dos alunos com deficiência, abrangendo principalmente
instrumentos necessários à eliminação das barreiras que as pessoas com
deficiência naturalmente têm para relacionar-se com o ambiente externo,
como, por exemplo: ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras), do
código braile, uso de recursos de informática, e outras ferramentas e
linguagens que precisam estar disponíveis nas escolas ditas regulares. Na
concepção inclusiva e na lei, esse atendimento especializado deve estar
disponível em todos os níveis de ensino, de preferência na rede regular,
desde a educação infantil até a universidade. A escola comum é o ambiente
mais adequado para se garantir o relacionamento dos alunos com ou
sem deficiência e de mesma idade cronológica, a quebra de qualquer
ação discriminatória e todo tipo de interação que possa beneficiar o
desenvolvimento cognitivo, social, motor, afetivo dos alunos, em geral.

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A legislação assegura os direitos igualitários e fomenta a necessidade da consciência
crítica no professor e na sociedade para que juntos, ambos possam construir uma educação
exponencialmente de qualidade.

2.3 O PROFESSOR NO PROCESSO DE INCLUSÃO

Diante do contexto apresentado anteriormente, este estudo vem demonstrar que


apesar da lei e da realidade da inclusão nas escolas regulares o que se corrobora é um
despreparo das escolas e dos educadores, para que recebam os alunos com deficiência
física ou qualquer outra deficiência. Existem muitas adaptações a serem feitas para
favorecerem as crianças com deficiência física. Em relação à acessibilidade, a realidade é
que muitas escolas brasileiras infelizmente apresentam obstáculos à inclusão, o que se pode
caracterizar como uma exclusão indireta, uma vez que são muitas as barreiras encontradas,
dificultando o acesso e a permanência destas crianças no espaço escolar. Nesse aspecto,
o papel do professor é fundamental. Ele deve ser capaz de identificar as necessidades da
sala de aula e as peculiaridades de cada um em seu grupo. Esta é uma dificuldade real
daqueles que trabalham com a inclusão, pois é um cuidado que se deve ter ao valorizar
as diferenças como singularidade.
Hoje há o professor facilitador, que nem sempre tem especialização para o
acompanhamento deste aluno, o que pode também acarretar em sua exclusão, em sua
segregação, enquanto cidadão de direitos que é o de estar e de aprender como os outros.
Assim, o professor precisa ter conhecimento bem construído em sua área de atuação, além
de se manter em permanente atualização, buscar informações e aprender a selecioná-
las. São novas habilidades que o professor não pode deixar de desenvolver, assim como
aperfeiçoar o conhecimento especifico, conhecer teorias pedagógicas e técnicas didáticas
bastante variadas. É fundamental para que possa atender à demanda existente, além de
garantir a plena aprendizagem de todos. Mas atualmente é necessário ter mais do que isto,
é preciso estar disposto a entrar em contato com o conhecimento em geral, com o que está
acontecendo dentro e fora do meio, pressupondo uma atitude diferenciada.
Todos sabem que a inclusão, embora garantida por lei, não se concretiza, em muitos
casos, na prática. Para se tornar uma prática real, a inclusão depende da disponibilidade
interna dos que estão envolvidos, inclusive da família a qual constitui uma instituição de
extrema importância na formação e na educação de todas as crianças, juntamente com a
escola, onde é desenvolvida a educação e a formação sistematizada das mesmas.
Desse modo, pode-se perceber que há diversas possibilidades de promover acesso
ao aluno com deficiência física ao conhecimento e ao ambiente escolar. Faz-se necessário
saber que os recursos e serviços apropriados a eles estão garantidos por lei e as dificuldades

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encontradas no cotidiano escolar não devem ser motivos de exclusão desses alunos.
Mas é o que ocorre. Afinal a acessibilidade constitui um fator muito importante para o
exercício da cidadania, principalmente para essas crianças que estão na fase inicial de
sua vida, contribuindo para sua interação e inclusão dentro do espaço escolar. Existem
vários dispositivos legais procurando garantir direitos, prevendo melhorias, adaptações
em diversos ambientes. No entanto, ainda é visível o despreparo das escolas e de todo o
contexto escolar, desde à gestão até ao porteiro da escola ao receber esses alunos.
Desta forma, o poder público deve investir mais em estrutura física das escolas
para atender à demanda. Para isso, os preconceitos devem ser derrubados, a começar
pelas escolas que recebem estes alunos. Também conscientizar os próprios alunos e seus
familiares que irão conviver com os alunos deficientes, para que não haja preconceito e
descriminação, e, por que não, até mesmos os próprios pais dessas crianças portadoras de
deficiência, que muitas vezes escondem seus filhos achando que os deixando em casa ou
frequentando escolas especiais estão fazendo um bem a eles. Para que a escola inclusiva
seja uma realidade, ainda há muito para construir, pois foram dados apenas os primeiros
passos na conscientização e respeito à diversidade. Percebe-se que muitas adaptações
precisam ser feitas para favorecerem a educação e o desenvolvimento das crianças com
deficiência física no contexto escolar regular. Muitas escolas brasileiras e as famílias não
estão preparadas para garantirem o desenvolvimento pleno e escolar destas crianças,
com bases em pensamentos históricos arcaicos, que fazem parte da história da educação
no Brasil através dos tempos. Mas, este paradigma vem sendo desfeito aos poucos com
estudiosos e teóricos que, embasados em seus estudos, podem nos dar o norte para uma
educação de qualidade e pleno aproveitamento desses alunos.
Portanto, é necessário que haja uma inclusão de verdade, em que a escola esteja
preparada fisicamente, em recursos pedagógicos e que forme cidadãos sem preconceitos,
sabendo que todos possuem direitos e deveres iguais, e são merecedores de respeito. Pode-
se dizer que o processo de inclusão ainda é recente, pois a carência de matérias para os
educadores da área é grande a inclusão escolar de alunos deficientes ainda continua em
processo de transformação e aceitação pela sociedade, necessitando-se ainda fazer muito
para garantir qualidade de ensino a todos.

A inclusão é uma inovação que implica um esforço de modernização


e de reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas
(especialmente as de nível básico), ao assumirem que as dificuldades de
alguns alunos não são apenas deles, mas resultam, em grande parte, do
modo como o ensino é ministrado e de como a aprendizagem é concebida
e avaliada. (MONTOAN,2003 pág 32)

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Conforme mencionado, é de suma importância a prática da legislação para uma
harmonia no sistema educacional.
A guisa do sujeito interacionista como um atuante na formação do conhecimento,
NOVAES (2011, s/p) disserta sobre a teoria sociointeracionista de Lev Vygotsky. Em suas
palavras:

Para Vygotsky o desenvolvimento humano se dá de fora para dentro,


uma vez que é a partir da cultura manifestada na imersão do sujeito no
mundo humano em volta dele, que a aprendizagem aparece, possibilitando
definir os rumos do desenvolvimento. Para o autor, é a aprendizagem que
promove o desenvolvimento. Porque o sujeito aprende, porque ele realiza
ações no mundo que possibilitam o aprendizado, que ele se desenvolve,
ou seja, o fato de aprender é que define como ele se desenvolve. A criança,
ao brincar, reproduz imposições de regras do funcionamento da cultura.
É uma mímica do mundo adulto, onde se traz para dentro do mundo
da criança as regras de funcionamento do mundo adulto, envolvendo a
aprendizagem e promovendo o desenvolvimento. Ao se relacionar com
o mundo dos adultos, ele entra em contato com o mundo simbólico, das
representações, da língua e das relações.

O uso desta teoria corrobora com as concepções de inclusão, dentro do ambiente


escolar, de modo a capacitar o discente de forma interativa.

3. METODOLOGIA

O método utilizado para esta pesquisa bibliográfica e observação das dependências


de algumas escolas identifica os impactos causados pelo não cumprimento da lei em criar
meios de acessibilidade nas escolas para os portadores de deficiência física, dentre outros.
O estudo foi realizado durante 4 semanas. Pode-se constatar que alunos portadores de
deficiência física não teriam acessibilidade facilitada para sua permanência. Diante disso
a pesquisa realizada cria subsídios para que, através de leis, as escolas possam ser um
local adequado, também para os portadores de necessidades especiais, independente de
sua condição. A pesquisa bibliográfica referente ao tema mostra os caminhos a serem
percorridos, e que quase ou nenhuma escola tem o que é garantido por lei, o que ocasiona
uma “deficiência das escolas” em atender a essas crianças, sejam elas portadoras de
qualquer deficiência.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Vê-se que, apesar de leis que regulamentam a acessibilidade dos portadores de


deficiência, muitos locais, inclusive as escolas não estão preparadas para receberem estes
sujeitos. No entanto, se o projeto politico pedagógico da escola constar tais alterações com
respaldo em lei, o município ou o estado teriam que dar subsídios a estes locais para que
o atendimento fosse garantido conforme as necessidades dos mesmos.
Nas escolas Municipais não há acessibilidade para crianças portadoras de deficiência
física, não há em sua estrutura física adequação para receberem estes alunos, no entanto, os
mesmos são matriculados. As escolas não estão preparadas para receberem esses alunos,
nem em sua estrutura física e nem com profissionais capacitados para recebe-los e dar o
atendimento correto a essas crianças, tanto no que tange à sua permanência, como em
sua aprendizagem.

5. CONCLUSÃO

Como foi exposto neste presente artigo, a educação é um direito para todos, conforme
demanda a legislação brasileira, porém a prática dessa acessibilidade educacional, na
maioria das vezes, não se transfigura de maneira efetiva, a julgar pelas desigualdades sociais
que se respaldam na manutenção do sistema público educacional. Ao compreendermos a
educação como um fator igualitário e de alcance social a todos, devemos incluir pessoas
portadoras de necessidades especiais motoras e/ou mentais, de modo a sustentar esta
tese. Para a realização da mesma, é de suma importância, uma reformulação no plano
pedagógico, curricular e de infraestrutura em diversas instituições educacionais no país.
As escolas brasileiras já deveriam estar regularmente capacitadas para a inclusão, porém
a realidade se difere; pode-se suscitar que esta etapa de adaptação deveria estar superada.
Como apresentado, os alunos portadores de necessidades especiais são a minoria,
frente aos demais discentes que frequentam a escola regular. Por esse motivo, deverá
obstáculos enfrentados no processo de exclusão, haja vista que, embora a presença de alunos
especiais seja uma realidade notória, nem todas as instituições educacionais de ensino
aportam estes alunos, ou seja, há salas de aulas sem alunos com estas necessidades, o que
corrobora com a formação docente, nesse processo de integração educacional. Uma vez
que nem todas as salas de aula segregam alunos com necessidades especiais, a formação
específica e profissional dos docentes não é uma das prioridades governamentais. Esta
realidade torna-se delicada e corrobora com a necessidade de uma formação docente –
desde a graduação – para a compreensão humanística do indivíduo, como um formador
de conhecimentos.

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Infelizmente, há de se citar, o preconceito de pais e alunos perante à presença de
um aluno portador de necessidades especiais. Esta visão deve ser emancipada com a
manutenção e formação da cultura social. Deste modo, o desenvolvimento de minicursos
(virtuais ou presenciais) voltados às diversidades físicas e sociais é de suma importância
para a capacitação cultural e intelectual da sociedade. Em paralelo a esta formação, a
regularização da escola no tocante à infra-estrutura, bem como a reformulação do currículo
educacional e pedagógico voltado à integração e acessibilidade deve ser uma das metas
mais fomentadas e fiscalizadas pelas entidades políticas superiores, de modo a sustentar
verdadeiramente uma educação de extremíssima qualidade.
Por fim, o professor deve ser um formador de conhecimentos atribuindo-se aos
conhecimentos prévios de seus discentes e construindo uma aprendizagem coletiva e
sociointeracionista, tornando-se um profissional ciente de que, embora haja limitações
físicas, o conhecimento é ilimitável.

REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lucia de Arruda . Filosofia da Educação. 3 ed. São Paulo: Editora Moderna, 2006.
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MONTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar : o que é? por quê? como fazer? São Paulo.
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NOVAES, Edmacius Carvalho. Vygotsky e a teoria sociointeracionista do desenvolvimento.
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