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Perry Rhodan

O Herdeiro do Universo
Uma série inigualável, que apresenta a evolução da Humanidade em
fantásticas histórias futuristas.
As aventuras de Perry Rhodan e seus companheiros trazem grandes
desafios, situações surpreendentes, mistérios instigantes, misturando
dramas humanos e sofisticadas tecnologias.
A série divide-se em ciclos de episódios, que formam um arco de histórias
fechado em si. Eles podem ser comparados às temporadas dos seriados
televisivos, por exemplo. A partir de um novo ciclo, novas situações,
ambientes e personagens são apresentados, até o seu desfecho dezenas
de episódios depois.
Cada volume da série Perry Rhodan traz uma história completa que pode
ser lida a partir de qualquer número.

Numeração dos volumes


Cada livro da série Perry Rhodan é identificado por dois números. O nú-
mero do volume indica a posição do livro dentro do ciclo, e o número do
episódio indica a posição do livro dentro de toda a série. Como a série é
dividida em ciclos, essa identificação dupla ajuda o leitor a determinar o
início de cada ciclo e a sequência das histórias em cada ciclo.

Neste volume:
Episódio 649: “Trevas em Xeque”

Após uma longa odisseia, o cérebro errante de Perry Rhodan consegue


enfim retornar ao seu corpo original! No planeta Tahun, o aguardam
seus amigos mais próximos, ansiosos e incertos sobre seu regresso.
No entanto, o algoz da Humanidade, Anti-Aquilo, não desiste ainda
da disputa e promove novas investidas contra o terrano, numa última
tentativa insidiosa de vencer o impressionante jogo de xadrez cósmico
contra o superser Aquilo...
Manifesto da Editora
A edição da série Perry Rhodan é preparada pela equipe da SSPG Editora com
muito esforço e dedicação para um grupo ainda pequeno de leitores no Brasil.
Sabemos muito bem que pode ser fácil para o leitor distribuir ou obter nossos
volumes digitais de forma não autorizada. No entanto, a pirataria é de fato
um sério risco à continuidade da edição. A viabilidade da edição depende da
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a edição, maior a segurança para que ela permaneça viável financeiramente e,
com isso, possa ser mantida e expandida a longo prazo pela editora. Por isso,
se você adquiriu devidamente esta edição no formato digital, faça valer o seu
gasto e não compartilhe os volumes com outras pessoas. Se deseja que outros
conheçam esta edição, basta indicar a eles o volume digital de amostra grátis
dos episódios iniciais que oferecemos em nosso site oficial. Se porventura você
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providências. Na SSPG Editora, levamos muito a sério a proteção do nosso
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M216t Mahr, Kurt


Trevas em Xeque / Kurt Mahr; tradução
José Antonio Cosenza e Dirceu Alvir Rudnick. - 1.ed. -
Belo Horizonte: SSPG Editora, 2021.
Tradução de: Schach der Finsternis

1. Perry Rhodan (série literária). 2. Ficção científica. I.


Cosenza, José Antonio. II. Título.

CDD: 839.053
CDU: 821.112.2
Prefácio Editorial

Tem sido costumeiro já apresentarmos, nos volumes de estreia de ciclos


de Perry Rhodan, prefácios para comentar os aspectos ligados ao lançamento
desses volumes especiais. Porém, salvo engano, esta aqui é a primeira vez que
prefaciamos um volume de encerramento de ciclo. No caso do nº 649, isso se
deve a ele representar a conclusão da iniciativa da SSPG de preencher o hiato
formado pelos volumes 537 a 649 quando a editora iniciou a sua edição pelo
nº 650, em 2001.
Essa circunstância já foi descrita mais de uma vez e provavelmente ca-
rece de maior detalhamento. Ainda assim, é motivo de grata satisfação para
a equipe da SSPG ver o fecho desse esforço de editores, tradutores, revisores
e colaboradores em geral que levou às mãos dos leitores esses 113 episódios
complementares. O desfecho da saga do Enxame, as provações dos Antigos
Mutantes e as inusitadas situações do jogo de xadrez cósmico agora estão
devidamente embutidos na sequência da edição brasileira.
E, além disso, a satisfação se complementa ao recordar que tal desfecho
representa o coroamento de uma intenção nascida há bastante tempo — não
apenas em 2006, com a primeira campanha promovida pela SSPG para reunir
assinantes que viabilizassem essa edição (conforme anunciado nas páginas da
edição impressa do ciclo “Bardioc” da época), mas antes ainda, em 2001 mesmo,
quando a editora optou pelo salto desses mais de cem episódios.
Agora, a parcela dos leitores que acompanham a edição da SSPG somente
pela sequência desses ciclos anteriores poderá desfrutar de imediato das cente-
nas de episódios posteriores já disponíveis na sequência já publicada pela SSPG
— que, atualmente, se estende até o 16º ciclo, aproximando-se do promissor
número 1100. É um conjunto que constitui uma jornada de muitas emoções e
descobertas em tantas e tantas páginas trazidas à tona pelos autores da série.
E, ao mesmo tempo, esta conclusão também traz em si novas fronteiras.
Com o fim do 10º ciclo, outras frentes se abrem para a editora — em especial,
a nova edição a partir do primeiro ciclo, mais uma faixa anterior de volumes
assumida pela SSPG em sua caminhada por diversas fases da série. Esperamos
que essa nova abordagem de histórias pregressas também tenha o sucesso
alcançado pelo hiato do 8º ao 10º ciclo, que foi bem recebido pelos leitores.
Nesta ocasião, outras marcas também são dignas de registro — entre
elas, a celebração dos 7 anos da edição digital da SSPG, iniciada em julho de
2014, que também representou um grande esforço feito pela editora para se
reerguer e superar os profundos prejuízos e desapontamentos com a interrup-
ção da sua edição em 2007.
Também lembramos aqui de outro prefácio, publicado há exato um ano,
no volume 1040, em que infelizmente tivemos que abordar um sério caso de
tentativa de pirataria criminosa da edição digital da SSPG. Vale trazer à baila
essa ocorrência para ressaltar mais uma vez a importância do engajamento
dos fãs abnegados em prol da proteção da edição brasileira, que passa por
um momento muito promissor: temos a nova edição impressa especial com
perspectivas de expansão, a oferta da nova assinatura digital, novos ciclos
avançados em produção, lançamentos mensais em quantidades bem acima do
que a editora produzia cinco ou quinze anos atrás, e tudo em volumes de boa
qualidade, não só sob a óptica da editora, mas conforme as manifestações de
muitos leitores. Tudo isso precisa ser preservado, e as dificuldades e desafios
que persistem não nos permitem “baixar a bola” e achar que tudo está resolvido.
Infelizmente, a ameaça da pirataria não dá trégua, os patamares de vendas em
geral são diminutos, a edição impressa não foi acolhida por boa parte dos que
a selecionaram na pesquisa de opinião (mesmo sabendo do seu custo previsto
mais alto), e a produção ainda demanda um esforço pessoal acima do desejável
por parte dos responsáveis.
No entanto, a SSPG continua acreditando em dias cada vez melhores
para Perry Rhodan (e Atlan) no nosso país, e, a exemplo do que ora ocorre com
este volume 649, confia em muitas outras marcas positivas a serem atingidas
futuramente, para alegria dos leitores e pleno contentamento dos produtores.

Belo Horizonte, julho de 2021


Rodrigo de Lélis
Editor – Publicações Perry Rhodan
SSPG Editora
10º Ciclo: “Xadrez Cósmico”
Volume 50
Episódio 649

Trevas em Xeque
de Kurt Mahr

Tradução de
José Antonio Cosenza
e Dirceu Alvir Rudnick

O Administrador-Geral retorna – mas Anti-Aquilo não desiste

Na Terra e nos outros mundos da Humanidade, registra-se o final de abril do


ano 3458. O jogo que os dois seres espirituais Aquilo e Anti-Aquilo vêm dis-
putando há algum tempo sobre o futuro e o destino da Humanidade parece
estar chegando ao fim.
O cérebro de Perry Rhodan — chamado de “cérebro ceynach” pelas inteligên-
cias da galáxia Naupaum —, depois de passar por muitas aventuras perigosas
e prestar uma ajuda inestimável aos povos de Naupaum, finalmente teve a
chance de retornar à sua galáxia natal e ao seu corpo original, que aguarda
pelo seu dono em estado preservado em Tahun, o planeta médico da USO.
Após a vitória sobre Torytrae, o yuloc, que não queria deixar o ceynach ir
embora, o cérebro do terrano é transmitido através das instalações de TSP
do planeta Payntec e realiza a viagem imensuravelmente longa de volta à
Via Láctea.
Essa viagem deve ter um fim no corpo sem vida de Perry Rhodan e levar ao
renascimento desse corpo. Assim ditam as regras do jogo cósmico entre Aquilo
e Anti-Aquilo. Porém, um dos parceiros desse jogo não desiste. Ele deve ser
colocado em xeque — deixando assim as TREVAS EM XEQUE...
Personagens principais
deste episódio:

Perry Rhodan – O Administrador-Geral retorna.


Ling Zoffar – Aquele que desperta Rhodan.
Aquilo e Anti-Aquilo – Dois jogadores de xadrez cósmico.
Powlor Ortokur e Neryman Tulocky – Especialistas em
sobrevivência de Oxtorne.
Atlan – O Lorde-Almirante é advertido.
Ricardo – Um ser que age cumprindo ordens.
Kurt Mahr Trevas em Xeque

1.

Os pensamentos dos dois jogadores soaram através da escuridão, que


parece escura apenas aos olhos humanos, cujos sentidos são incapazes de
captar as realidades do supraespaço.
— O jogo acabou! — disse o feixe de pensamentos do primeiro joga-
dor. — Você perdeu. Está pronto para assumir as consequências?
— Faço um requerimento de prorrogação de curto prazo — respon-
deram os pensamentos do segundo jogador.
— O requerimento só pode ser concedido se houver suspeita funda-
mentada de que o requerente não teve a possibilidade de utilizar todos os
meios lícitos durante o jogo. Você não pode citar tal suspeita.
— Creio que posso, sim — insistiu o segundo jogador. — Você me
impediu. Empregando armas da quarta categoria.
O primeiro jogador hesitou apenas brevemente. Então o segundo
soube que havia semeado dúvidas na mente de seu oponente, e se regozijou.
— As regras do jogo proíbem o uso de armas da quarta categoria — o
primeiro jogador, no entanto, tentou defender a sua posição.
— As regras do jogo não mencionam nenhuma categoria de armas
— retorquiu o segundo jogador.
— Não explicitamente — admitiu o primeiro. — Mas proíbem o uso de
armas que coloquem em perigo outros objetos que não o objeto real do jogo.
Essas são armas da terceira categoria. E acabam proibindo armas cujo modo
de ação transcende o mundo imaginário do objeto do jogo, portanto armas
de superioridade extrema, que chamamos de armas da quarta categoria.
— Essa é a sua interpretação — alegou o segundo jogador. — A minha
é diferente.
Houve silêncio por um tempo.

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Sob certas condições, sinto-me inclinado a aceitar o seu requeri-


mento — declarou finalmente o primeiro jogador.
— Quais são essas condições?
— Você se declara disposto a se abster do uso de armas da terceira
e quarta categorias durante a prorrogação do jogo. Além disso, uma pror-
rogação do jogo só será concedida para um número estritamente limitado
de jogadas.
— Em quantas jogadas você pensa?
— Em três — respondeu o primeiro jogador.
— Eu concordo — fez-se ouvir seu oponente.
— Com ambas as condições?
— Com ambas.
— Com isso, eu declaro — ecoou o fluxo de pensamentos do primeiro
jogador pelas amplidões do espaço superior — que o jogo será prorrogado
por três jogadas por jogador. A prorrogação ocorrerá a requerimento da
parte perdedora no encerramento regular do jogo. As condições em que a
prorrogação foi concedida são conhecidas.
Silêncio. Então, novamente, os impulsos de pensamento do primeiro
jogador: — É a minha vez.

Ling Zoffar encarou incrédulo os aparelhos de medição embutidos na


placa de cobertura inclinada do console. Murmurando, ele falou os valores
medidos: — Emissão nuclear metabiológica, mais de oito por cento. Atividade
do centro metapsíquico, mais de onze por cento. Emissão de consciência
biotrônica, mais de vinte e um por cento...
Ele se levantou com um salto. Lançou um olhar furtivo para o corpo
imóvel, suspenso por um campo de gravidade artificial, que parecia flutuar
no ar sob a cúpula de vidro. Nada nele anunciava o iminente retorno da vida.
Porém, os aparelhos de medição sensíveis não se equivocavam. Nos níveis
mais baixos da vida, nos quais a relação entre a materialidade da substância
corporal e a materialidade da consciência era estabelecida e definida, havia
os primeiros sinais hesitantes de retorno à vida.
Ling Zoffar sabia o que tinha de fazer. A sua figura sem graça, de
tórax estreito, cabeça alongada com olhos normalmente tristes e confusos,
não denotava que Zoffar era um dos homens mais importantes do planeta
médico Tahun. Somente o fato de ter sido designado para vigiar o corpo do
Administrador-Geral elucidava a importância de sua posição. Afinal, Atlan,
o arcônida, tinha providenciado para que fossem chamadas para vigiar o
corpo imóvel de Perry Rhodan somente aquelas pessoas sobre as quais não
havia dúvidas nem sobre o senso de responsabilidade nem sobre o âmbito
de suas competências acima da média. O homem ali sentado tinha que ser

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

alguém reservado, para que o público mundial não soubesse prematuramen-


te do destino incomum de Perry Rhodan, e ele tinha que conhecer todo o
complexo de medidas a serem tomadas assim que o corpo, imóvel durante
semanas, mostrasse os primeiros sintomas de retorno à vida.
Ling Zoffar puxou o microfone. Ele se ligou automaticamente quando
ficou a apenas um palmo de seus lábios.
— Aqui é Zoffar — disse ele. — Está me ouvindo?
— Estou — respondeu a voz bem modulada de um robô na outra
ponta.
— Plano Primeiro Advento está em andamento — falou Zoffar. —
Repito: Plano Primeiro Advento!
O robô confirmou. Ling Zoffar colocou o microfone de novo no
suporte. Ele examinou novamente os instrumentos. As leituras continua-
vam a aumentar. Os sinais de retorno à vida multiplicavam-se de segundo
a segundo. A consciência se preparava para regressar ao corpo. Ling Zoffar
tentou imaginar como uma consciência insubstancial apressava-se através
das profundezas de espaços desconhecidos nesse momento, emitindo novos
sinais a cada segundo que se aproximava do corpo familiar.
Então ele afastou esses pensamentos inúteis. O Plano Primeiro Ad-
vento requeria a sua total atenção. O corpo de Perry Rhodan tinha que ser
transferido para outro local.

Em poucos minutos, a mensagem de alerta Primeiro Advento chegou


à central de comunicação na central de comando de Império Alfa. Era mar-
cada como “Nível Executivo/Secreto 1” e foi retransmitido para a equipe
do Administrador-Geral sem hesitação. O Administrador-Geral, aquela
maravilha robótica que Atlan tinha mandado seus cientistas e técnicos em
Quinto Center criarem para enganar o mundo sobre o desaparecimento sem
pistas de Perry Rhodan, tomou conhecimento da mensagem e imediatamente
informou o arcônida, que, nesse momento, estava discutindo um novo projeto
de exploração espacial com Roi Danton.
— Primeiro Advento — murmurou Atlan depois de ler o texto da
mensagem no monitor.
Ele havia tentado imaginar muitas vezes como reagiria quando ouvisse
ou visse as palavras mágicas. As palavras que significavam que uma esperança
acalentada contra toda a razão parecia afinal se tornar realidade... E, agora,
ele estava sentado olhando para o pequeno monitor no qual um toque de
tecla há muito havia removido o texto da mensagem.
Roi Danton levantou-se.
— Primeiro Advento?! Isso significa...
— Ele está voltando — disse Atlan, absorto.

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Tahun! — gritou Danton. — Temos que ir para Tahun!


O arcônida ergueu-se como um sonâmbulo.
— Há preparativos a serem feitos — murmurou ele. — O perigo ainda
não foi banido. Ainda temos que nos precaver.
— Os especialistas em sobrevivência! — soltou Roi Danton.
Atlan o fitou com espanto.
— Estranho, acabei de ter o mesmo pensamento — disse ele. — Por
que justamente eles? Por que justamente Ortokur e Tulocky?
Roi Danton sorriu de modo superior.
— Bem, precisamente porque eles são especialistas em sobrevivência.
— Mas não há nenhum ambiente hostil em Tahun — Atlan o inter-
rompeu. — Pelo contrário, Tahun é um paraíso, um mundo criado com o
propósito de que os enfermos se recuperem nele.
O sorriso de Danton se desvaneceu.
— Sim, eu também não sei... — ele murmurou, embaraçado.
— Estou convencido de que, apesar disso, é uma boa ideia — decla-
rou o arcônida. — Além disso, o robô tem que nos acompanhar. Leve ao
conhecimento do público que Perry Rhodan viajou para Tahun. Com isso,
ninguém se surpreenderá quando ele voltar de lá em poucos dias.

— O que você espera desta operação, Tongh? — perguntou o homem


alto, de ombros largos, com a cabeça completamente calva, cuja pele verde-
oliva brilhava de forma oleosa.
Ele estava em um salão, centenas de metros abaixo da superfície
da Terra, olhando com interesse superficial o arco-portal de energia que
formava o campo de entrada de uma via de transmissor. Ao seu lado, com
o olhar fitando distâncias desconhecidas, estava um segundo homem, que
se assemelhava ao primeiro quase como um irmão. Ele também era alto.
O seu crânio também exibia uma calvície reluzente. Das formações ósseas
salientes nas sobrancelhas, no entanto, nasciam pelos espessos e escuros. A
expressão da face angular era mais dura nele, mais impiedosa, mais obstinada
do que na do homem que falara com ele. Sem mudar a direção do olhar, ele
respondeu: — Eu espero perigo, é tudo, Tungh. Isso é tudo que me importa.
Tungh, cujo verdadeiro nome era Neryman Tulocky, deu um sorriso
irônico.
— Tenho notado isso muitas vezes em você — disse ele. — Você não
é muito de pensar, não é?
Tongh — esse era o nome honorífico que ele havia adquirido em
Oxtorne, como Tungh adquirira o seu: na realidade, o seu nome era Powlor
Ortokur, e, em companhia de seu compatriota Tulocky, ele era um dos es-
pecialistas da USO mais capazes e solicitados — não pareceu notar a ironia.

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Penso quando me agrada ou quando parece necessário — trovejou


a sua voz grave. — Mas eu não presto para ser profeta.
— Isso é de lamentar — suspirou Neryman Tulocky, resignado. —
Afinal, eu gostaria de saber por que ainda existem perigos. Rhodan está
voltando – só os céus sabem de onde. O jogo cruel acabou. Então, onde há
um perigo?
Pela primeira vez, Powlor Ortokur virou o seu enorme crânio e olhou
atentamente para seu camarada.
— Como você sabe que o jogo acabou?
— Tratava-se de fazer o Administrador-Geral desaparecer no desco-
nhecido, não era? — perguntou Tulocky. A ingenuidade que ele demonstrava
era fingida. Ele queria incitar Ortokur a uma contradição e a envolvê-lo em
uma discussão. — Isso fracassou. Portanto, o jogo acabou.
— Isso são hipóteses — objetou Powlor Ortokur. — Calculou-se que,
entre os dois superseres Aquilo e Anti-Aquilo, deve proceder algo do tipo.
Mas não há certeza. O retorno de Rhodan pode muito bem ainda fazer parte
do jogo, e é por isso que se tem de contar com surpresas em Tahun.
— Bem pensado! — veio uma voz clara e vigorosa do lado. Os dois
oxtornenses se viraram. Roi Danton vinha da abertura do poço antigravita-
cional. Ele usava a roupa de um nobre francês do final do século XVIII, como
havia feito quando era o governante dos livres-mercadores e vivia em conflito
com o Império Solar. Seu traje era completo e autêntico: chapéu tricórnio,
peruca empoada, camisa com babados, casaco de tecido pesado com punhos
dourados, calças até os joelhos, meias brancas e sapatos com fivelas. Em sua
mão direita, ele balançava um pequeno bastão, que, na realidade, não era de
forma alguma tão inofensivo quanto parecia.
Danton parou diante dos dois especialistas em sobrevivência e fez
uma reverência cavalheiresca.
— É um prazer ouvir, mes amis, que vocês estão preocupados com a
operação iminente. Honny soit qui mal y pense, já dizia o velho Descartes, e
isso significa: eu penso, então eu existo. Não se precisa temer qualquer perigo
com homens que pensam!
Triunfalmente, ele olhou em volta. Neryman Tulocky fez uma careta.
— Escute, senhor — comentou ele —, eu não me atiraria tão liber-
tinamente em seu lugar com tal conhecimento de história e linguagem. O
dito que mencionou não é de Descartes, mas do rei inglês Eduardo III, nem
significa o que disse, mas algo bem diferente. Então...
— Ah, é? — perguntou Roi Danton, aparentemente surpreso. — O
que significa então?
Tulocky pareceu embaraçado. De forma completamente inesperada,
Powlor Ortokur veio em seu auxílio.
— Significa — ele resmungou: — Minha dama fez a liga escorregar – e
a conhece muito bem, senhor. O senhor não precisa troçar de nós.

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

Danton deu uma gargalhada.


— Um a zero para os senhores, cavalheiros — exclamou ele. — A sua
maneira de entabularem a conversação corresponde plenamente ao meu
agrado. Tenho certeza de que nos daremos primorosamente.
No mesmo momento, o arcônida saiu do poço. Os dois oxtornenses
o saudaram. Atlan causou uma impressão estranhamente séria.
— Acho que é aconselhável não ficarmos perdendo mais tempo —
declarou e foi para o arco-portal cintilante.
— Você tem preocupações — comentou Danton. — Por quê?
Atlan balançou a cabeça de maneira fria.
— Eu tenho minhas razões — respondeu ele de forma agourenta. —
Elas são... quase se poderia dizer de natureza metafísica. Estou convencido, no
entanto, de que o jogo entre Aquilo e Anti-Aquilo ainda está em andamento.
Do poço, veio se aproximando o robô, que era tão enganosamente
parecido com Perry Rhodan que a visão dele tirava o fôlego daqueles que
conheciam o destino de Rhodan.

Era a certeza que o carregava. Ele deslizou em suas asas suaves por
espaços infinitos, convencido de que estava no caminho certo, e que, após
tanto tempo, finalmente e irrevogavelmente conseguiria juntar a consciência
ao corpo associado originalmente a ela. Não havia a menor dúvida dentro
de si de que ele se achava no último trecho de seu descaminho de um ano
inteiro, no final de uma odisseia que o havia levado aos confins do Universo.
Foi quase óbvio para ele o fato de, ao abrir os olhos — os olhos de
um corpo do qual ele já estava longe há muito tempo! —, enxergar rostos
familiares: Atlan, Roi Danton e dois semblantes angulosos e bem definidos,
os dois oxtornenses especialistas em sobrevivência Powlor Ortokur e Nery-
man Tulocky.
A consciência tomou posse do corpo que lhe pertencia. Os músculos
colocaram a pele do rosto em movimento e produziram um sorriso amigável.
— É bom rever vocês — saiu da boca que não falava uma palavra há
meses.
Eles não responderam. Porém, a expressão em seus rostos lhe dizia
que o haviam escutado. De repente, ele percebeu que não os tinha bem diante
de si. A parede espessa de uma cúpula de glassite estava entre eles e ele. Ele
moveu a cabeça e viu os inúmeros dutos de onde fluía o sopro da vida que,
até então, salvara o seu corpo da morte.
Ao lado dos amigos, estava um homem pequeno, esguio, com um crânio
anormalmente longo e olhos escuros, que contemplavam de forma acanhada.
— Como estão as coisas? — perguntou Rhodan, bem-humorado. — É
possível ter uma conversa com o pessoal?

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

O homenzinho assentiu pensativamente. Ele se afastou brevemente


e mexeu numa barra de controles.
— Acho que podemos arriscar — a sua voz se tornou audível dentro
da cúpula. — O processo de reunificação está prosseguindo satisfatoria-
mente. — Ele contemplou o Administrador-Geral por um tempo com um
olhar crítico. Depois, acrescentou: — A propósito, sou Ling Zoffar, um dos
médicos aqui em Tahun.
— Não esquecerei o seu nome, Zoffar — prometeu Rhodan. — Afinal,
é o primeiro nome terrano que ouço em muito tempo.
Ele se voltou para seus amigos.
— Vocês podem abrir a boca agora — ele exclamou para eles. — Eu
posso ouvir o que vocês dizem!
Foi Roi Danton quem primeiro encontrou palavras.
— Você esteve longe por muito tempo — disse ele. — Tivemos sau-
dades suas. O que se passou com você?
Rhodan voltou o seu olhar para o médico.
— É uma longa história, Zoffar. Posso contar?
Zoffar tinha uma resposta negativa na língua, então o seu olhar recaiu
sobre um dos instrumentos de medição que estavam sob a barra de controles.
Rhodan viu como ele corou. No mesmo momento, sentiu um frio desagradá-
vel encher subitamente o interior da cúpula, como se tivesse sido aberta uma
passagem por onde um vento gelado soprava. Zoffar ficou excessivamente
ativo de repente. A barra de controles com os instrumentos de medição
pertencia ao aparelhamento de um grande console de controle que estava
imediatamente adjacente à cúpula de glassite. Atlan e Danton notaram que
algo estava errado e assediaram o médico com perguntas. Rhodan entendeu
apenas palavras isoladas do burburinho nervoso.
Ficou mais frio rapidamente. Ele sentiu a rigidez aumentar dentro
de si. O que tinha acontecido? O corpo se recusava a aceitar o cérebro que
havia retornado de repente à cavidade craniana vazia após tanto tempo? Ele
queria chamar, queria fazer perguntas, mas o frio já o havia encasulado de
tal forma que as cordas vocais falharam.

2.

— Eu não consigo explicar!


Isso foi tudo que Ling Zoffar sabia dizer. Ele havia tentado explicar a
eles as condições que prevaleciam no interior da cúpula de glassite. Tinha
recorrido a uma comparação para ser mais bem compreendido. A reunifi-
cação do corpo e da consciência exigia um certo clima metapsíquico para
que as relações necessárias pudessem ser restabelecidas entre as funções
de conservação, que eram responsáveis pelo corpo dotado de substância,
e aquelas que cuidavam da consciência imaterial. O que Zoffar chamou de

15
Kurt Mahr Trevas em Xeque

“clima” era, na realidade, um nível de vários tipos de radiações metapsíquicas.


Porém, ele se fez entender mais facilmente quando explicou que um defeito
havia ocorrido repentinamente no “climatizador”.
Atlan, Danton e os dois oxtornenses foram suficientemente sensatos
para não bombardear Zoffar com perguntas enquanto ele fazia um esforço
desesperado para localizar e reparar o defeito. Enquanto isso, o corpo de
Perry Rhodan parecia ter voltado ao mesmo estado de rigidez em que estava
antes de a sua consciência retornar. Danton finalmente não suportou mais
a preocupação.
— Pelo menos, me diga se há risco de vida! — insistiu ele ao médico.
Ling Zoffar endireitou-se.
— Não de imediato — ele respondeu com uma voz clara. — A clima-
tização, como eu a descrevi a vocês, serve para acelerar o processo de reuni-
ficação. Se faltar, o processo ainda se cumpre, mas muito mais lentamente.
Roi Danton deu um suspiro de alívio.
— Bem — ele sorriu —, então não há nada a temer!
— Ainda — objetou Zoffar com seriedade mortal.
— Como devo entender isso?
— Muito simples. A climatização trabalha no momento de uma ma-
neira muito perigosa, que torna impossível e inibe o processo de reunificação!
Atlan interveio.
— Há, no entanto, a possibilidade de simplesmente desligar a apare-
lhagem? — perguntou ele.
— De fato — respondeu Zoffar. — Eu estava para sugerir isso.
— Não há perigo adicional para o paciente? — quis saber Danton.
— Não. Mas o processo de recuperação será desacelerado, como eu
disse antes.
— Desligue! — ordenou Danton, sem esperar a decisão do arcônida.
Ling Zoffar obedeceu. Sob a cúpula de glassite, o corpo de Perry
Rhodan estava tão rígido e sem vida como antes. Zoffar ficou curvado sobre
o console, como se, agora, ainda pudesse extrair dos dispositivos, depois de
tê-los desligado, o segredo de como tinham desenvolvido o perigoso defeito.
— A tal — colocou Atlan — climatização metapsíquica, como você a
chama, é um processo controlado automaticamente, não é?
Ling Zoffar assentiu.
— É claro. É um sistema cibernético completamente independente
da influência dos humanos. É controlado por...
— ... um computador? — Atlan o interrompeu.
— Sim, isso mesmo.
— Você acha normal...
Zoffar balançou a cabeça tão vigorosamente que o arcônida se inter-
rompeu no meio da frase.
— Não — respondeu ele, determinado. — Não acho normal que o

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

sistema desenvolva de repente um mau funcionamento por si só. Sou da


opinião de que esse defeito foi criado deliberadamente.
— Então isto é um ataque? — continuou a se aprofundar Atlan.
Zoffar hesitou alguns segundos. Era difícil para ele formular a suspeita
com a precisão que o arcônida exigia. Mas, por fim, ele se decidiu a isso.
— Sim, é um ataque, em minha opinião — afirmou ele.

A sala em que a consciência de Perry Rhodan desejava se reunir com


o seu corpo estava no décimo andar subterrâneo da clínica especial para
metapsíquica e psicofísica. Em vista da dificuldade do empreendimento,
que não deveria ser perturbado por nenhuma influência externa, os poucos
pacientes da clínica haviam sido transferidos para outro lugar. Os corredores
e salões da instalação subterrânea estavam vazios, exceto pelas sentinelas que
cuidavam para que o silêncio absoluto fosse mantido na clínica.
A estação cibernética, cujo dispositivo eletrônico-positrônico con-
trolava os complicados processos metapsíquicos durante a reunificação de
Rhodan, ficava na parte superficial da clínica. Na opinião de Zoffar, era lá
que deviam ter sido feitos os comandos que haviam colocado em perigo a
vida do Administrador-Geral.
Os dois oxtornenses subiram pelo poço antigravitacional silencioso. A
missão que o arcônida lhes havia dado não era nada clara: descobrir quem fizera
os comandos e eliminar todos os perigos adicionais. Tulocky lançou um olhar
para o alto, onde a saída superior do poço se apresentava como um quadrado
luminoso. Era só impressão, ou a luz tinha uma tonalidade esverdeada estranha?
— Que cheiro é este? — ele ouviu Ortokur perguntar, desconfiado.
Ao mesmo tempo, ele também o percebeu — um cheiro desagradável,
que fazia cócegas no nariz e irritava seus olhos. Ele agarrou uma das barras
de suporte e se empurrou para ganhar mais velocidade. Quanto mais perto
ele se aproximava da saída do poço, mais claramente percebia que realmente
havia algo incomum acontecendo lá em cima. Nuvens esverdeadas fluíam
através da abertura para o interior do poço. O fedor era mais distinto no
início, mais penetrante; agora, parecia estar diminuindo. Neryman Tulocky
sabia que isso era um engano. O corpo, em virtude da sua constituição capaz
de sobreviver até nos ambientes mais perigosos, tinha se ajustado ao gás
verde e tóxico. Ele não poderia mais prejudicá-lo.
— Isto é cloro! — gritou Powlor Ortokur com raiva repentina.
Nesse momento, Neryman Tulocky passou pela saída. A abertura
levou ao salão de recepção da clínica, uma sala quadrada, enorme, com
áreas de espera para visitantes, balcões de informações, escadas e poços
antigravitacionais. Pouca coisa disso era visto no momento. Todo o salão
estava cheio de névoa verde e densa. Um som chiante forte vinha de algum

17
Kurt Mahr Trevas em Xeque

lugar. Eram as bombas injetando quantidades sempre novas do gás tóxico


para dentro do salão.
Qualquer um que tivesse entrado no salão nesse momento teria caído
morto em poucos segundos, os pulmões queimados e corroídos pelas nuvens
verdes de cloro. Tulocky e Ortokur, no entanto, se moviam pela atmosfera
venenosa como se tivessem crescido em um planeta de cloro. Eles se moveram
ao longo da parede do salão em direção ao ponto do qual vinha o som das
bombas. Neryman Tulocky viu o gás pesado descendo por uma escada para
as profundezas. O objetivo do inimigo desconhecido era claro: as nuvens de
gás alcançariam em poucos minutos o andar mais baixo da clínica, e então
seria o fim de Perry Rhodan e seus amigos.
Uma figura se tornou visível na névoa verde por uma fração de segun-
do. Um robô, veio à cabeça de Tulocky. O som das bombas estava próximo
agora. Luz solar, verde e filtrada atravessava os vapores venenosos, esse era o
grande portal de entrada. O perfil vago de uma máquina emergiu da névoa.
— A bomba! — gritou Ortokur.
No instante seguinte, um raio energético ofuscante cortou a névoa
verde. A salva do radiador de impacto de Ortokur atravessou a cobertura
de aço inoxidável da bomba como se essa fosse feita de manteiga. Houve um
estrondo, a bomba começou a estalar e, por fim, imobilizou-se com um ruído
estrangulante. Tulocky correu para a saída principal. O portal estava fechado
para evitar que o gás venenoso se dissipasse para o exterior. No entanto, uma
abertura tinha sido cortada na alta superfície de glassite, que era preenchida
exatamente pelo duto que alimentava a bomba. O oxtornense tentou abrir
a outra asa do portal. Não conseguindo, ele abriu fogo com seu radiador
de impacto pesado e não parou até que restassem apenas algumas gotas
brilhantes de vidro derretido do pesado painel de glassite. As nuvens verdes
de cloro saíram ondeando para o exterior através da abertura recém-criada.
Ele voltou a Ortokur.
— E agora? — disse Powlor, arquejando. — Há coisas mais importantes
a fazer do que procurar o defeito na cibernética.
Ele estava certo. Nenhum cloro novo estava sendo bombeado para
dentro do edifício, mas as massas de gás já dentro da clínica estavam indo
para baixo. Zoffar tinha que ser avisado.
Tulocky abriu caminho pela névoa até um balcão de informações. Ao
lado, havia uma cabine de videofone. Ele se espremeu dentro e digitou o contato
do laboratório onde Rhodan estava. O rosto de Zoffar apareceu na tela. Ele viu
as massas verdes de gás ondeando através da porta de glassite da cabine e gritou.
— Cloro! — exclamou o oxtornense. — É melhor fechar tudo her-
meticamente aí embaixo. Nesse meio tempo, vamos arrumar bombas para
poder aspirar o material venenoso. Entendido?
— Claro — respondeu Zoffar e desfez a ligação.
Neryman Tulocky escancarou a porta da cabine. Nesse momento,

18
Kurt Mahr Trevas em Xeque

ele ouviu um grito furioso vindo da névoa densa. Era a voz de Ortokur! Ele
agarrou a arma com mais força e estava para se lançar na penumbra verde,
quando os contornos angulosos de uma figura emergiram lateralmente das
névoas à deriva.
O robô!...

— Cloro? — perguntou o arcônida, espantado.


— Era claramente visto — exclamou Ling Zoffar, nervoso. — Nuvens
densas e verdes de gás por todo o salão!
— O gás não pode descer pelos poços antigravitacionais — explicou
Roi Danton. — O campo gravitacional artificial o deterá.
— Mas pelas escadas, sim — ponderou Atlan. — Há um monte de
escadas além dos elevadores antigravitacionais.
Zoffar estava muito ocupado. Todos os acessos do laboratório ti-
nham eclusas. Ele verificava a confiabilidade de cada uma das escotilhas. O
laboratório possuía seu próprio sistema de fornecimento de ar. Os sitiados
poderiam aguentar ali por muito tempo. Enquanto isso, Roi Danton tinha
se apoderado do intercomunicador e alertado as sentinelas que estavam de
serviço nos corredores e andares circundantes do perigo que se aproximava.
Ele as aconselhou a se retirarem para salas herméticas e esperarem ali até
que fosse dado o fim do alarme.
— O que você acha disto? — perguntou Atlan depois que ele baixou
o microfone.
Roi Danton deu um leve sorriso.
— O que devo achar? Anti-Aquilo não vai desistir ainda. Temíamos
algo assim mesmo antes de virmos para Tahun, não é?
— Não é disso que estou falando. Falo dos meios utilizados aqui.
— Primitivo, é o que quer dizer?
O arcônida assentiu.
— Estamos acostumados a outras coisas de Anti-Aquilo: truques psí-
quicos, duplicatas, monstros pentadimensionais, universos paralelos e assim
por diante. Mas agora? Um mau funcionamento eletrônico e gás de cloro!
Ele olhou interrogativamente para Danton, mas o ex-rei dos livres-
mercadores também não tinha uma explicação. Era como se o misterioso
inimigo tivesse percebido agora, perto do fim do jogo cruel, que os meios
sofisticados e superiores até então empregados não levariam ao sucesso. Fora
precisamente ao insólito, ao desconhecido que os humanos envolvidos nesse
jogo tinham compreendido como fazer frente. Agora, na última fase, tinha-
se decidido pelo uso de meios pouco complicados, porque esses conferiam
uma maior chance de sucesso?
Os minutos se passaram. Lá em cima, assim os sitiados no laboratório

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

esperavam, os dois oxtornenses estavam trabalhando para instalar bombas e


sugar o gás venenoso invasor. Tinham de esperar até que entrassem em con-
tato de novo. Nada se podia fazer antes disso. Preocupado, Atlan examinava
o corpo imóvel do amigo sob a redoma de glassite. A sua consciência teria
empreendido a longa jornada através das profundezas do Universo apenas
para finalmente encontrar a morte ali, na sua galáxia natal? Não tinha que
haver uma justiça superior que impedisse um destino tão cruel?
Ele não sabia de onde lhe veio o pensamento repentino. De repente,
ele estava no meio da sua consciência, nu e sozinho, sem referência a nada
que ele tivesse pensado antes: cloro reage com hidrogênio! Ele ficou atônito,
mas então o processo mental entrou em movimento frenético. E se bombear
cloro fosse apenas uma fase do ataque inimigo? Se houvesse uma segunda
fase que usasse cloro para provocar um perigo muito mais eficaz do que o
gás venenoso sozinho era capaz?
Ling Zoffar estremeceu quando o arcônida de repente gritou com
ele: — Como a clínica é ventilada?
— Fornecimento de ar fresco por tubulação de pressão vinda de baixo
— respondeu ele. — Exaustão por sucção para cima.
Ele viu Atlan empalidecer. Alguns segundos se passaram antes que o
arcônida recuperasse o controle.
— Temo — disse ele em voz calma — que o perigo seja muito maior
do que pensávamos.

Tulocky não pensou duas vezes. Não importava se o robô estava ar-
mado ou não. Um raio energético tão grosso quanto um polegar emergiu da
embocadura do radiador de impacto. A máquina estacou. O raio energético
ofuscante penetrou no seu corpo. Houve uma explosão. Peças de metal incan-
descentes voaram para todos os lados. Agora, também havia movimento lá
fora, onde Powlor Ortokur devia estar. Podia ser ouvida uma violenta troca
de tiros, e, em meio a isso, soavam os gritos de fúria de Ortokur.
Tulocky correu pela névoa esverdeada. Os escombros da bomba apa-
receram diante dele. Powlor Ortokur estava agachado atrás.
— Calma! Sou eu — rosnou Tulocky ao ver Ortokur virando a arma
na mão.
— Um exército inteiro de robôs na nossa frente — sussurrou Ortokur
depois que Tulocky se atirou na cobertura ao lado dele.
— Armados?
— Poucos. A maioria, robôs operários, mas há pelo menos dois robôs
de combate.
Uma figura robusta emergiu da névoa à deriva. Os contornos angulo-
sos e retangulares do corpo robótico eram inconfundíveis. Powlor Ortokur

20
Kurt Mahr Trevas em Xeque

disparou rapidíssimo. O raio energético ofuscante rompeu as nuvens de cloro.


O robô cambaleou e tombou no solo com um estrépito metálico.
— Gostaria de saber quem os reprogramou — bufou Ortokur.
— O mesmo que ligou errado a cibernética — supôs Neryman Tulocky.
Ele olhou ao redor. A névoa verde era enganosa. Ela abafava os sons
e os distorcia. Não se precisava temer os robôs operários. Primeiro, eles
estavam desarmados, e, segundo, seus cérebros positrônicos primitivos de
forma alguma os capacitavam para as sutilezas da guerra tática. Era diferente
com as máquinas de combate. Elas conheciam o seu trabalho.
Tulocky se perguntava como os robôs de combate, sendo máquinas
inteligentes, estavam lidando com a percepção de que dois seres orgânicos,
que o gás de cloro deveria ter matado há muito tempo, ainda estavam vivos
e ofereciam resistência. Talvez alguma vantagem pudesse advir disso. Os
robôs tinham que estar confusos. Ele acotovelou Ortokur.
— Vou dar uma olhada por aí, Tongh — disse ele em voz baixa. — Não
podemos ficar enfiados aqui para sempre!
— Tenha cuidado — murmurou Ortokur. — As bestas são astutas!
Neryman Tulocky desapareceu na névoa. Ele sabia que estava em
uma missão perigosa. A visão do robô de combate era muito superior à sua.
Eles mal eram incomodados pela névoa. Ele, por outro lado, só conseguia
distinguir objetos a poucos metros de distância. Se não houvesse a confusão
mental com a qual ele contava, então estaria perdido.
Ele ouviu passos pesados à frente. Sentiu o chão tremer. Isso era uma
máquina de combate! Ele se moveu um pouco para o lado. Segundos depois,
viu a criatura metálica emergir da escuridão verde. Ela o havia notado. Estava
vindo em sua direção. As grandes lentes oculares reluziam maldosamente.
Os dois braços de armas pendiam passivamente nos dois lados do corpo
robótico. O homem-máquina parou.
— Ainda estou vivo — disse Neryman Tulocky. — Seu gás venenoso
não me matou.
— Eu vejo isso — rosnou a voz robótica. — Como você ainda está vivo?
— Sou imune — respondeu o oxtornense. — A quem você obedece?
— Ao Altíssimo — foi a resposta do robô. — Todos nós obedecemos
ao Altíssimo.
— Onde posso encontrá-lo? — perguntou Tulocky. — Eu quero falar
com ele.
— Você não pode falar com ele — foi rejeitado. — Eu tenho ordens
para matá-lo.
Neryman Tulocky sorriu.
— Bem, se é assim... — disse ele, ergueu a arma e desferiu uma salva
de raios concentrados no corpo do robô de combate.
Seu cálculo tinha funcionado. Os robôs estavam confusos. Eles sabiam
que o gás de cloro era tóxico para humanos. Humanos que sobreviviam nessa

21
Kurt Mahr Trevas em Xeque

atmosfera eram algo incompreensível para eles. Tinha que se tirar proveito
dessa incerteza. Neryman Tulocky continuou a avançar através da névoa esver-
deada, que gradualmente se dissipava à medida que mais gás de cloro escapava
para fora através da abertura no portal. De repente, ele estacou como se tivesse
adquirido raízes. Uma voz estrondosa veio de cima. Era a voz de Atlan.
— Ortokur, Tulocky! — ele escutou a chamada do arcônida pelo in-
tercomunicador. — Um de vocês tem que cuidar do sistema de ventilação no
andar mais baixo da clínica. Tenho a forte suspeita de que estão bombeando
hidrogênio de lá!

3.

Neryman Tulocky congelou. Hidrogênio! O cloro descia, o hidrogênio


subia por causa de seu baixo peso específico. Em algum ponto do caminho,
as duas massas de gás colidiriam, e então...
— Tongh, você ouviu isso? — gritou ele.
— Cada palavra, Tungh! — soou a resposta através da névoa.
— Vou descer — decidiu Tulocky. — Um robô de combate está liqui-
dado, o outro eu deixo para você.
Ortokur não respondeu. Em vez disso, um relâmpago assobiante
atravessou a névoa. Seguiu-se o estrondo de uma explosão, e depois veio o
ruído metálico.
— Já era! — veio finalmente a resposta triunfante da Ortokur. — Não
se preocupe comigo, rapaz! Vou providenciar para que sejam posicionadas
algumas bombas aqui.
Neryman Tulocky se voltou para o poço antigravitacional mais próxi-
mo. Ele se apoiou com uma forte pegada em um suporte e se atirou para as
profundezas. Hidrogênio e cloro juntos formavam uma mistura altamente
explosiva. Não era preciso nem mesmo uma faísca de ignição, como no
caso da mistura do hidrogênio e oxigênio, para causar a explosão. Um único
quantum de luz, o lampejo de uma lâmpada por segundos, era suficiente para
iniciar o processo explosivo. O produto da reação era cloreto de hidrogênio,
ácido clorídrico gasoso. Que plano diabólico! Enquanto toda a atenção era
direcionada na instalação de bombas o mais rápido possível para remover
o gás venenoso do interior da clínica, o inimigo introduzia hidrogênio na
câmara de reação por baixo, e, muito antes que as bombas pudessem produzir
efeito, haveria uma explosão que devastaria o interior da clínica.
Tulocky nunca havia estado nessa clínica antes. Ele não tinha ideia
de onde se encontrava o sistema de ventilação. Contava com que tais insta-
lações fossem dispostas em toda parte de acordo com o mesmo princípio
de economia. Além disso, ele considerou que o inimigo desconhecido se
apresentaria assim que ele se aproximasse do objetivo. O inimigo, agora, havia
sido forçado a abrir mão de parte de seu anonimato. Os robôs o chamavam

22
Kurt Mahr Trevas em Xeque

de “o Altíssimo”. Isso era uma indicação, por mais nebuloso que parecesse
no momento. Além disso, era sabido que ele não deixava seus projetos por si
próprios. Ele não se contentara em instalar as bombas que tinham injetado o
gás venenoso dentro da clínica. Havia postado os robôs reprogramados para
monitorar o progresso da operação e confrontar qualquer um que tentasse
interferir. O mesmo se daria com o sistema de ventilação.
O andar mais baixo não continha laboratórios, apenas salas de serviço.
Neryman Tulocky orientou-se pelo zumbido dos climatizadores pesados.
Bombas e distribuidores se achavam em uma sala grande e baixa. O oxtornense
entrou nela com extrema cautela. Se hidrogênio puro estava de fato sendo
bombeado ali, então era de supor que parte do gás perigoso pudesse escapar
por vazamentos na bomba e nos dutos. Havia a possibilidade de que a mistura
de gás nessa sala já fosse explosiva. O cloro ainda não tinha chegado ali em-
baixo. Porém, o hidrogênio e o oxigênio atmosférico poderiam ter formado
uma mistura oxi-hidrogênio que estava apenas esperando a faísca de ignição.
Tulocky aproximou-se da bomba. Ela funcionava por eletricidade.
Se ele simplesmente a desligasse, não poderia ser evitada a geração de uma
faísca de comutação. No entanto, de que outra forma ele deveria estrangular
o fornecimento de hidrogênio? Decidiu assumir o risco. Ele confiava em
muitas coisas — incluindo a capacidade de sobreviver a uma explosão de
gás oxi-hidrogênio, se isso não ocorresse na força máxima.
Ele alcançou o interruptor. Nesse momento, ouviu atrás de si uma voz
suave, que mal superava o forte barulho do dispositivo.
— Eu reconsideraria isso se fosse você!

Ele se virou. Um jovem alto e esguio estava parado perto da porta pela
qual ele havia passado. Ele tinha um rosto estranhamente inexpressivo, e o
sorriso que mostrava a Neryman Tulocky parecia ter surgido de um conjunto
de feições aleatórias em vez de uma expressão de emoção.
Tulocky pegou a arma; porém, o jovem fez um gesto de desdém com
a mão que o congelou em meio ao movimento.
— Sou invulnerável, você pode acreditar em mim — disse ele, e suas
palavras abrigavam um poder hipnótico que fez o oxtornense acreditar nele
de pronto.
O desconhecido apontou de novo para a bomba.
— Você não quer ousar seriamente isso, quer? — perguntou ele,
duvidando.
— Quem é você? — gritou o oxtornense para ele.
— Eu sou Ricardo. — Ainda o mesmo sorriso inexpressivo. — Essa
informação é útil para você?
— Por que você está fazendo isto? O que você ganha com isto?

23
Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Eu sigo ordens — respondeu o jovem chamado Ricardo. — Disso,


eu tenho a sensação reconfortante de ter cumprido o meu dever.
Neryman Tulocky hesitou. No entanto, ele sabia que o perigo aumen-
tava a cada segundo que passava de modo ocioso. De novo, ele alcançou o
interruptor. Não podia ser diferente: no caso de uma explosão, ele tinha que
confiar na capacidade do seu corpo de transformar a sua estrutura celular
molecular em um milissegundo para que ele sobrevivesse às temperaturas
dentro do centro da explosão e à onda de explosão esperada.
Havia algo mais que o atraía para essa intenção. O homem que se cha-
mava Ricardo estava tão arrogantemente seguro de si que não confiava nele
para esse passo. Ele estava a dois passos lateralmente da porta, longe demais
para poder se salvar da explosão. Tulocky duvidava de se ele também era in-
vulnerável a explosões de oxi-hidrogênio. Talvez pudesse matar dois coelhos
com uma só cajadada.
Ele investiu.
— Eu o previno — disse Ricardo, ainda com voz impassível.
Mas Neryman Tulocky manteve a sua determinação. Ele pressionou
com força o interruptor. Escutou um estalar nítido e notou como o ruído de
funcionamento da bomba mudou. Porém, de repente, tudo à sua volta era
uma ofuscante parede de fogo. Apenas por uma mínima fração de segundo,
ele sentiu a dor causada pelo calor. O corpo tinha se ajustado ao calor. O
estrondo da explosão encheu os ouvidos do oxtornense. Uma onda de pressão
avançou sobre ele com uma força tremenda e o arrastou junto.
Antes de se chocar com a parede, que desabou sob o choque da onda
de pressão algumas frações de segundo depois, Tulocky olhou mais uma vez
para a porta onde o desconhecido estivera parado. Só lhe restara pouquíssimo
tempo para a observação: o desconhecido tinha desaparecido.
Então veio o impacto. Neryman Tulocky sentiu uma dor lancinante.
Ficou escuro diante de seus olhos, e, por fim, perdeu a consciência.

Até parecia bruxaria: Powlor Ortokur não conseguia encontrar aju-


da em nenhum lugar. A área estava vazia, deserta. Era como se o assassino
desconhecido, antes de se pôr a trabalhar, tivesse removido tudo que vivia
nas proximidades da clínica. Passou muito tempo antes de se deparar com
uma tropa de robôs de reparos que ele pudesse empregar para seus propó-
sitos. Ele os observou atentamente, pois havia experimentado no salão de
recepção da clínica como o desconhecido era capaz de também influenciar
os robôs. Esses, no entanto, mostraram-se normais. Ortokur lhes ordenou
para arranjar bombas e instalá-las no salão. As escadas tinham que ser co-
bertas hermeticamente e, depois, os dutos das bombas ligadas às coberturas.
Powlor Ortokur, tendo corrido para o exterior logo após a partida de

24
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Tulocky para procurar ajuda, não notou nada da explosão que ocorreu no
andar mais baixo da clínica. Somente agora, quando ele entrou em contato
com o laboratório para informar os sitiados sobre o andamento do trabalho de
resgate, Atlan lhe contou que, algum tempo antes, havia sido ouvido o estrondo
de uma explosão nas profundezas. Ortokur reagiu de imediato. Ele foi para o
poço antigravitacional, empurrou-se e desceu em alta velocidade. No andar
mais baixo, ele não precisou ir muito longe para encontrar os primeiros vestígios
da explosão. As paredes haviam desmoronado, o caminho estava bloqueado
com escombros. Com força furiosa, ele os afastou para o lado. Ele chamou
repetidamente o nome de Neryman Tulocky, mas não recebeu resposta.
Por fim, ele chegou ao centro da explosão. Escombros enegrecidos pela
fumaça delimitavam um grande espaço quadrado. Máquinas pesadas haviam
sido arrancadas de seus suportes. Apenas uma grande bomba resistira à força
da explosão. Como um selvagem, Ortokur se pôs a trabalhar para limpar os
escombros. Após dez minutos, ele encontrou Neryman Tulocky, enterrado
sob escombros, imóvel, machucado, mas, aparentemente, ainda vivo.
Ele o pegou cuidadosamente e o levou para fora. Com cuidado, subiu
flutuando pelo poço antigravitacional com o homem ferido. Em cima, os
robôs tinham começado a cobrir as escadas. Ortokur levou o amigo para a luz
do sol e o deitou no chão. Não adiantava chamar um médico. Os médicos em
Tahun podiam ser especialistas em suas áreas, mas mesmo eles não poderiam
tratar a complicada estrutura celular de um especialista em sobrevivência.
Tulocky teria que encontrar o caminho de volta à vida por si próprio. Cheio
de ira e pena, Ortokur olhou para o amigo inconsciente.
Aquele que tinha feito isso com ele teria que pagar por esse ato, ele
jurou a si mesmo nesse momento.

Seis horas após Atlan ter ordenado aos dois oxtornenses que determi-
nassem como e por quem a cibernética havia sido manipulada, as bombas
haviam removido o último quantum perigoso de cloro da clínica. Ortokur,
que não saíra do lado de Tulocky, retornou ao prédio e informou ao labora-
tório que o perigo havia passado.
O estado de Perry Rhodan não tinha mudado. Externamente, ele
dava a impressão de que a sua consciência ainda estava distante, em algum
lugar no desconhecido. Os equipamentos de monitoramento, no entanto,
registravam mínimos sinais de atividade metapsíquica, sugerindo que o
processo de reunificação estava em andamento, embora em um ritmo muito
mais lento do que Ling Zoffar esperava conseguir com a ajuda de sua “cli-
matização metapsíquica”.
As últimas horas não haviam passado sem uma profunda preocupação
por parte dos sitiados. O estrondo da explosão, que viera das profundezas

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

até o laboratório, parecia confirmar a suspeita de Atlan de que o hidrogênio


estava sendo bombeado dali para o interior da instalação subterrânea. No en-
tanto, depois da explosão, tudo ficou quieto. Nenhum dos oxtornenses entrou
em contato de novo. Eles não respondiam às chamadas de intercomunicador.
Não se sabia se o influxo de hidrogênio havia sido cortado ou não. Somente
algum tempo depois foi que Powlor Ortokur deu o primeiro esclarecimento.
Ele encontrou Tulocky inconsciente sob os escombros da explosão. Por sua
descrição, concluiu-se que não havia entrado mais hidrogênio desde o aci-
dente da explosão; afinal, Ortokur certamente tinha produzido uma faísca
mais de uma vez ao remover os escombros, ao jogar para o lado pedaços de
pedra e metal, que, no entanto, não causaram nenhum dano.
Então passaram mais algumas horas, durante as quais o gás de cloro foi
retirado dos andares subterrâneos da clínica. Nesse meio tempo, Ling Zoffar
tentara informar outras autoridades em Tahun sobre os estranhos eventos
na Clínica de Metapsíquica e Psicofísica, e descobriu que todas as conexões
estavam rompidas. A única coisa que funcionava era o intercomunicador, e
sua ação se limitava à instalação da própria clínica.
Ficou cada vez mais claro que esse atentado à vida do Administrador-
Geral tinha sido planejado com grande cuidado. O assassino desconhecido
havia explorado inteligentemente o fato de que a clínica e os arredores tinham
sido isentos de todas as fontes imagináveis de perturbações durante a dura-
ção do tratamento do Administrador-Geral. Havia um mínimo absoluto de
pessoal nas instalações da clínica. Todos os pacientes já haviam sido remo-
vidos há muito tempo. Sempre que possível, as funções das pessoas haviam
sido assumidas por robôs. A clínica estava isolada. Ao romper as conexões
audiovisuais que ligavam a clínica ao mundo exterior, o assassino tinha se
protegido completamente contra qualquer interferência externa. Ele havia
convertido alguns dos robôs em servos e feito com que colocassem um duto
de quase um quilômetro desde um tanque de cloro subterrâneo até o salão
de recepção. A instalação de uma bomba não apresentara dificuldades. O
atentado tinha prosseguido sem obstáculos e, se os dois oxtornenses não
tivessem intervindo no último segundo, arriscando suas vidas, teria sem
dúvida tido sucesso.
Quem até então achava exageradas as preocupações do arcônida via
agora que não era assim: Anti-Aquilo ainda não tinha desistido!

— Arde! — rosnou Neryman Tulocky, contorcendo o seu rosto em


uma careta. — Oh, como arde!
Ele havia voltado a si depois de várias horas de inconsciência. Levaria
pelo menos mais um dia até que ele estivesse totalmente recuperado. Porém,
afinal, era de admirar que ele tivesse escapado com vida. Agora, estava no

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

mesmo laboratório onde, deitado sob uma cúpula de glassite, Perry Rhodan
aguardava o despertar. Toda a atividade continuou a ser concentrada ali.
Entretanto, medidas de segurança adicionais haviam sido tomadas. O labora-
tório estava equipado com trajes protetores que poderiam ser usados para se
deslocar pelos corredores da clínica, mesmo que estivessem com gás venenoso.
Em cima, na central de cibernética, estavam restaurando a ciberné-
tica ao seu estado original para que a reunificação do Administrador-Geral
pudesse ser acelerada pela climatização metapsíquica, como planejado
originalmente. As conexões audiovisuais com o mundo exterior tinham
sido restauradas. A guarda havia sido duplicada. As sentinelas que haviam
se refugiado em salas seguras no início do alarme de gás tinham escapado
sem sofrer nada além do susto.
No andar mais baixo, onde Neryman Tulocky quase tinha perdido a
vida em uma explosão de gás oxi-hidrogênio, cada metro quadrado do local
da explosão foi examinado. Porém, a busca não deu em nada.
— Não quero ofendê-lo — declarou Atlan gentilmente ao homem
ferido —, mas é possível que o estranho de quem fala não tenha realmente
existido? Que foi uma alucinação...
— Eu não toquei nele, senhor — respondeu Neryman Tulocky —, se é
isso que quer dizer. Então não sei se ele estava realmente lá fisicamente. Em
todo caso, ele parecia bem real – tão real quanto o senhor neste momento.
— Ainda assim, pode ter sido uma projeção — refletiu Roi Danton,
ainda usando o traje de um dândi rococó francês.
— Teria que ter sido uma projeção muito estranha — objetou o ox-
tornense. — Uma projeção que possui poderes hipnóticos.
Atlan o fitou com espanto.
— Está dizendo que você foi hipnotizado?
— Não no sentido usual. O desconhecido afirmou que ele era invul-
nerável, e eu não pude agir de outra forma: eu tive que acreditar nele.
— Humm — fez o arcônida. — Então eu me pergunto por que ele não
o impediu hipnoticamente de apertar o interruptor da bomba.
— Talvez ele não possuísse poder hipnótico suficiente para isso —
especulou Danton.
— Ou — disse Atlan pensativamente — isso era contra as regras do jogo.
O que ele entendia por isso, ele não quis dizer.
— Seja como for — ele acabou resumindo —, um jovem misterioso
chamado Ricardo desempenha um papel essencial neste atentado. Se conse-
guirmos localizá-lo, avançaremos um bom pedaço. Talvez a investigação da
cibernética revele algo. Afinal, é um trabalho e tanto o que o nosso adver-
sário desconhecido fez, por assim dizer, num piscar de olhos: reprogramar
a cibernética e alguns robôs. Isso demonstra seus amplos conhecimentos.
Só podemos esperar que ele tenha deixado um rastro útil em algum lugar.
Dos estranhos acontecimentos na Clínica de Metapsíquicos e Psico-

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

física, apenas um permaneceu completamente intocado: o robô, chamado


Rhodan-Ro, que havia representado o Administrador-Geral do Império Solar
para o público nos últimos meses. Eles o haviam desativado e o colocaram
em uma das salas superficiais nas imediações do centro de cibernética. Ele
havia literalmente dormido durante o primeiro atentado ao homem de quem
ele era duplicata.

4.

Os fluxos de pensamentos se moviam de um lado para outro pelas


profundezas do supraespaço.
— Sua primeira jogada foi um fracasso — comentou o primeiro jogador.
— Isso depende do ponto de vista — foi a resposta do segundo. — A
propósito, você já fez duas das três jogadas.
— Isso está correto — admitiu o primeiro jogador. — A próxima
jogada é sua. Mas tenho que adverti-lo.
A raiva vibrava sob o pensamento do segundo jogador quando ele
respondeu: — Suas advertências são muito frequentes. Com isso, são todas
supérfluas. Do que se trata?
— Você emprega uma arma da quarta categoria.
— Sua linguagem cuidadosa é apropriada. — Ironia vibrava na respos-
ta do segundo jogador. — Levo indiretamente uma arma da quarta categoria
para a ação. Ninguém pode criticar algo nisso.
— Contanto que seja uma ação indireta, você está certo — respondeu
o primeiro jogador. — No entanto, falo por experiência. Este jogo tem tido
muitas jogadas, e eu conheço a sua maneira de jogar. A ação indireta de
repente se torna direta.
— Você não tem que se preocupar com isso. Vou me ater aos nossos
termos. De todo modo, considero o jogo ganho por oito a sete. O emprego
de meios ilegítimos é, portanto, desnecessário.
Dessa vez, a ironia estava do lado do primeiro jogador.
— Eu também já escutei essas palavras muitas vezes. Quantas vezes
você já considerou o jogo ganho e então, por fim, recorreu a meios ilícitos
para evitar uma derrota iminente?
— Sua exposição carece de qualquer base — respondeu o segundo
jogador, não sem uma certa medida de indignação.
— Eu sei que você vê as coisas de maneira diferente de mim — obje-
tou o primeiro jogador, impassível. — Mas me deixe adverti-lo novamente.
Se você violar os nossos termos, mesmo que uma vez, considerarei o jogo
terminado e perdido para você. Além disso, aplicarei a penalidade habitual
por conduta ilegal.
— Não tenho a intenção de lhe dar a oportunidade para isso — o fluxo
de pensamentos do segundo jogador continha misturas inconfundíveis de

28
Kurt Mahr Trevas em Xeque

maldade. — Repito que o jogo praticamente está ganho por mim. Não haverá
irregularidades da minha parte.
O primeiro jogador silenciou. Ele já havia deixado clara a sua posição.
Não havia mais nada a dizer. A partir das misturas emocionais dos pensa-
mentos de seu oponente, ele leu que o segundo jogador havia se tornado
inseguro. Sua afirmação de que achava que o jogo já estava ganho não era
nada mais que um jogo de cena com que tentava se encorajar.
Mais uma vez, um pensamento ecoou através do supraespaço.
— Minha jogada — disse o segundo jogador.

Tinham sido horas terríveis, o estado instável entre ter partido e ainda
não ter chegado, flutuando em um espaço cheio de imagens grotescamente
distorcidas de coisas reais e irreais. Junto a isso, acima de tudo, a incerteza:
o que tinha acontecido? A tentativa de reunificação tinha fracassado? Tem-
porariamente — ou para sempre? Era esse o estado permanente, a flutuação
inquieta em meio a reflexos distorcidos?
E então, de repente — luz! Tão rápido quanto da primeira vez: a cone-
xão da consciência com o corpo, o primeiro olhar pelos olhos, os primeiros
sons recebidos pelos ouvidos, o mesmo espaço que antes, os mesmos rostos,
apenas um pouco mais preocupados do que antes. Não era de admirar: algo
havia acontecido. Algo imprevisto e perigoso havia ocorrido.
Bem ao lado da cúpula, a um passo de distância, como se tivesse
que visualizar a si e ao mundo que ele não pertencia: o homenzinho que se
chamava Ling Zoffar.
— Tudo em ordem? — perguntou Perry Rhodan.
— Por enquanto — respondeu o arcônida.
Ling Zoffar interveio.
— Tenho de ressaltar que essa conversa é contra a minha recomen-
dação. Por favor, senhor, poupe as suas forças. Quanto menos esforço fizer
nas próximas cinquenta horas, mais rápido será o processo de reunificação.
Perry Rhodan estava disposto a dar ouvidos ao conselho dele. Por
outro lado, porém, ele precisava saber o que tinha acontecido. As expressões
de Atlan e Roi Danton pareciam indicar que devia ter sido um assunto sério.
— O que houve? — perguntou ele laconicamente.
Atlan lhe fez uma descrição concisa. Ele relatou apenas fatos. O próprio
Rhodan poderia tirar a conclusão.
— Então Anti-Aquilo não está descansando, não é? — ele resumiu
pensativamente.
— Se resume a isso — confirmou o arcônida. — A busca pelo homem
misterioso chamado Ricardo está em pleno andamento.
— Mas ele não será encontrado — declarou Rhodan, pessimista.

29
Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Deve-se contar com isso — confirmou Atlan. — Por experiência,


as criaturas de Anti-Aquilo têm habilidades que fazem nossas precauções
parecerem infantis.
— O que viria – se esquecido o incidente – a seguir no programa?
— Após a sua reunificação... uma aparição pública em que você
declara, na presença de médicos de renome mundial, que acabou de ser
curado de uma doença perigosa. Isso não é uma inverdade, no máximo
uma verdade parcial.
Rhodan ficou surpreso.
— Por que isso? Pode ser concluído do seu relato...
— Eu sei que está tudo em ordem até agora. Mas só até agora. Houve
muitas viagens entre a Terra e Tahun no passado recente. Não havia maneira
de evitar que parte disso vazasse para o público. Estão preocupados. Acham
que o Administrador-Geral está doente, mesmo gravemente doente. Seria bom
se a frente de especulação pudesse ser interrompida o mais rápido possível.
Rhodan sorriu esportivamente.
— Por que não logo toda a verdade?
— Você é e permanece um bárbaro, terrano — respondeu o arcônida
ironicamente. — Foi politicamente necessário, achamos nós, enganar o público.
Mas o público não gosta de ser enganado, e quem quer que lhes faça ver isso
em voz alta logo depois de ocorrido tem que contar com perda de simpatia.
O Administrador-Geral deu um suspiro.
— Eu gostaria de ser poupado de tais políticas. Mas tudo bem, se você
diz, vamos apenas revelar a verdade aos poucos para que ninguém se sinta
ofendido. Enquanto isso, os preparativos podem prosseguir sem obstáculos.
Pretendo escutar atentamente as instruções do médico e estarei totalmente
em forma em cinquenta horas. Então...
— Mesmo assim, senhor — tomou a palavra Ling Zoffar —, ainda é
aconselhável ir com calma. Não se deve esquecer...
Perry Rhodan o interrompeu com um gesto breve.
— Eu lhe dou cinquenta horas, senhor médico — disse ele —, mas nem
um segundo a mais. Eu tenho que estar praticamente novo até lá, entendeu?

As horas passaram, a princípio cheias de ansiedade quanto ao mo-


mento em que o inimigo sinistro daria o próximo golpe, então, como nada
acontecia, com esperança crescente de que, agora, talvez o jogo cruel tivesse
chegado ao fim, que Aquilo finalmente triunfasse como vencedor sobre seu
adversário, pois o objetivo desse jogo só daria para determinar se Perry
Rhodan tivesse forças para voltar dessa odisseia pelo Universo com a cons-
ciência intacta. Ele havia retornado. Então, o que havia de tão presunçoso
na esperança de que tudo estivesse acabado agora?

30
Kurt Mahr Trevas em Xeque

E, ainda assim, mesmo que a mente estivesse completamente com


ele, o coração não acreditava muito. O problema era que Perry Rhodan — e,
com ele, a Humanidade — era apenas uma peça nesse jogo, o rei na melhor
das hipóteses, mas talvez apenas uma torre, um cavalo ou mesmo um peão.
E tão pouco quanto as peças de xadrez são informadas do fim do jogo, tão
pouco Perry Rhodan e aqueles ao seu redor esperavam receber um sinal claro
que significasse para eles que o jogo tinha chegado ao fim. O fim do jogo
só poderia ser constatado pela ausência de novos ataques de Anti-Aquilo, e
meses ou mesmo anos poderiam passar antes que se tivesse certeza.
A esperança que se insinuou então pela Clínica de Metapsíquica e
Psicofísica no decurso das horas era uma esperança cheia de dúvidas, pouco
diferente da esperança cautelosa da criança amedrontada que acha que a
trovoada que acabou de ouvir é a última da tempestade.
O tratamento de Ling Zoffar acabou sendo um sucesso total. Sob
a influência da climatização metapsíquica, Perry Rhodan prosperou tão
rapidamente que o próprio Zoffar ficou surpreso. No entanto, disse ele, boa
parte do sucesso se devia à força de vontade do paciente, para quem nada
importava mais do que se levantar o mais rápido possível.
Nesse ínterim, os preparativos para o discurso do Administrador-
Geral aos povos do Império Solar avançavam rapidamente. Atlan tinha
avaliado a situação corretamente quando afirmara que havia grande preocu-
pação pública sobre as frequentes visitas de oficiais de alto escalão ao planeta
médico Tahun. De fato, o rumor de que Perry Rhodan estava gravemente
doente já se mantinha fazia algum tempo. Também não faltaram explicações
quanto à natureza de sua doença. A suposição mais generalizada era que o
Administrador-Geral estava lutando contra um vírus que ele havia trazido
do nível de existência paralela há mais de dois anos. A lembrança do caos
cruel que a epidemia da DAP tinha causado ainda estava na mente de todos,
e a suspeita não era de forma alguma absurda.
Quando a esperança de que o fim do xadrez galáctico tinha sido
alcançado e que não se tinha mais que temer um ataque de Anti-Aquilo
se condensou com o tempo, as horas voaram de repente. Todos tinham
bastante trabalho. O futuro não tinha mais sombras. Andava-se para frente
novamente! E, justamente quando a merecida euforia estava finalmente para
se instalar após o longo período de receio, o segundo jogador fez a segunda
das três jogadas que lhe haviam sido permitidas.

O posto de comunicações mais próximo ficava a oito quilômetros da


clínica. Atlan tinha passado grande parte do dia ali, fazendo o que podia para
acelerar os preparativos para o discurso de Perry Rhodan. O aparecimento
do Administrador-Geral foi agendado para a meia-noite, hora local. O sol

31
Kurt Mahr Trevas em Xeque

baixava gradualmente para o horizonte quando o arcônida deixou o posto


para retornar à clínica. Ele havia requisitado uma pequena nave planadora
para esse propósito, com o qual poderia cobrir a curta distância em menos
de dois minutos.
Seus pensamentos estavam sobre a reação com que as pessoas do
Império Solar encarariam o discurso do Administrador-Geral. Os últimos
meses haviam sido um tempo de agitação, especialmente no núcleo mais
interno da central de comando Império Alfa, onde sabiam exatamente como
as coisas estavam e aguardavam ansiosamente o momento em que o público
soubesse que o Administrador-Geral não era realmente Perry Rhodan, mas
um robô que imitava muito bem Rhodan. Nesses meses, tornara-se mais
claro do que nunca para os colaboradores mais próximos do Administrador-
Geral até que ponto a paz e a segurança dentro do Império estavam ligadas
à pessoa de Perry Rhodan.
Ele próprio, Rhodan, não tinha conscientemente provocado essa
condição, essa conexão entre ele e a estabilidade do Império. Isso havia cres-
cido naturalmente ao longo dos séculos. O homem que, com um pequeno
grupo de pessoas leais, há quase mil e quinhentos anos, contra a resistência
das potências mundiais da época, impulsionara a unificação dos povos da
Terra e transformara a política do planeta Terra em uma entidade monolítica,
ganhara tanta fama por conta desse ato que, durante décadas, até mesmo
séculos, todos os outros políticos em busca de publicidade tiveram que ficar
em segundo plano. Porém, precisamente porque esse período imperturbável
de incontestabilidade política lhe fora concedido pelo destino e pelas pesso-
as, Perry Rhodan havia se desenvolvido mais para uma figura como nunca
havia existido antes na história terrana: de perigos sempre novos que tinham
resultado da expansão do Império, do confronto com outros povos estelares,
Perry Rhodan liderara vitoriosamente a Humanidade terrana à frente. Era
simplesmente inevitável que, na consciência das pessoas, os termos “Perry
Rhodan” e “Império Solar” gradualmente se tornassem idênticos.
Agora, em poucas horas, a Humanidade veria “seu homem” nas telas. E
ele conseguiria dissipar as dúvidas na mente dos terranos, disso Atlan estava
certo. Ele se surpreendeu, ao erguer os olhos, com a rapidez com que esses
pensamentos haviam passado pela sua mente. Ele mal tinha percorrido meta-
de da distância até a clínica. Estava escurecendo rapidamente. Os contornos
da superfície se diluíam no crepúsculo violeta característico de Tahun. A
silhueta do edifício da clínica, não muito alta, apareceu no horizonte norte.
O arcônida fez uma pequena correção de curso.
Nesse momento, ele ouviu um barulho não muito alto atrás de si, um
“plop”, como de uma rolha sendo arrancada de uma garrafa. Surpreso, ele se
virou. A primeira coisa que viu foi uma espécie de névoa azulada subindo
do fundo da cabine. Ele sentiu um odor pungente e viu uma cápsula oval
aberta rolando de um lado para outro no chão. Ele compreendeu a situação

32
Kurt Mahr Trevas em Xeque

imediatamente, mas já era tarde demais. A nuvem azul-clara de gás parali-


sante já o havia envolvido. Ele tombou inconsciente para o lado.

— O senhor não parece apenas saudável, parece decididamente es-


plêndido — observou Ling Zoffar.
Perry Rhodan usava o uniforme simples que tinha sido feito a partir
de suas próprias concepções. Ele se olhou no espelho estereoscópico e ficou
satisfeito com sua aparência. Ele se sentia revigorado, já quase normal. De
vez em quando, a consciência ainda desenvolvia tendências para enviar os
pensamentos para longe e deixá-los à deriva, como se ainda não estivessem
ligados novamente ao corpo. Contudo, esses acessos, como os chamou, que
lhe causavam uma leve tontura, tornavam-se menos frequentes a cada hora,
e logo ele teria a unidade de corpo e mente totalmente sob controle de novo,
como antes.
O intercomunicador zuniu. Ling Zoffar atendeu ao chamado. A trans-
missão era alta o suficiente para que Perry Rhodan entendesse cada palavra.
— O senhor é urgentemente necessário no posto de comunicações,
dr. Zoffar — disse uma voz.
— Por que eu? — a reação de Zoffar foi de surpresa, incredulidade.
— Instrução do Lorde-Almirante, doutor — a voz respondeu. — É
sobre o que se pode e o que não se pode exigir do orador. Eu não posso
decidir isso.
A guarnição do posto de comunicações não sabia por enquanto quem
era o homem que faria o discurso. Zoffar entendeu que o interlocutor estava
em dúvida sobre como responder à pergunta do arcônida.
— Tudo bem, eu vou imediatamente — respondeu ele, decidindo
com rapidez.
Ele se voltou para Perry Rhodan depois de desligar o dispositivo.
— O senhor não precisa mais da minha ajuda, de qualquer maneira
— ele comentou. — Então não há perigo se eu for por um momento.
Mal fazia dois minutos que ele tinha ido, e Rhodan subitamente teve
dúvidas. De que exigência se falava? O discurso deveria durar apenas trinta
minutos. Atlan estava realmente preocupado com que uma carga tão medíocre
pudesse ser demais para o reunificado? Ainda faltavam algumas horas para a
meia-noite. De qualquer forma, era hábito de Atlan retornar à clínica ao cair
da noite. Por que ele não discutia o problema com Zoffar no seu retorno?
Perry Rhodan deixou passar meia hora. Só então ele ligou para o
posto de comunicações. Sua inquietação havia aumentado nesse ínterim.
— Doutor Zoffar, por favor — disse ele ao microfone. A videotrans-
missão não foi ligada.
— O senhor ligou para o endereço errado — respondeu-lhe uma voz

33
Kurt Mahr Trevas em Xeque

clara, que, aparentemente, achou seu pedido divertido. — Este é o posto


de comunicações. O dr. Zoffar é encontrado na Clínica de Metapsíquica e
Psicofísica. Só um momento, posso lhe passar o código de conexão...
— Eu o conheço — Rhodan interrompeu o fluxo de palavras do outro.
— Eu estou na clínica. Zoffar foi chamado ao seu posto há trinta minutos.
— Para cá? — havia espanto e incredulidade na voz do homem. — Eu
deveria saber algo sobre isso!
— Você poderia verificar, por favor?
— É claro, senhor. Um momento, por favor.
Nos poucos segundos de espera, cresceu a certeza de Rhodan de que
o perigo se aproximava dele.
— Está ouvindo, senhor? — chamou a voz clara.
— Estou.
— Bom. O dr. Zoffar não foi chamado para cá nas últimas horas nem
se encontra aqui.
Então Perry Rhodan soube que Anti-Aquilo estava para atacar outra vez.

5.

E ainda aconteceram coisas estranhas em outro lugar. Nas salas da


central de cibernética, a situação havia ficado tranquila, já que os especialistas
haviam interrompido, sem resultados, a busca por vestígios que o desconhe-
cido sinistro poderia ter deixado para trás. Não fora encontrado o menor
indício de que a cibernética tinha sido manipulada, embora a manipulação
tivesse ocorrido claramente.
Em uma dessas salas, ainda repousava Rhodan-Ro, o super-robô que
havia desempenhado o papel de Administrador-Geral — de forma convin-
cente na maior parte das vezes, mas sem aquele carisma que estava ligado ao
verdadeiro Perry Rhodan — nas últimas semanas e meses.
Desde logo após a chegada a Tahun, Rhodan-Ro dormia o sono do
robô desativado. Não iriam desmontá-lo enquanto Perry Rhodan não esti-
vesse totalmente recuperado. Porém, logo chegaria a sua última hora. Até
lá, ele tinha que ser mantido ali, na Clínica de Metapsíquica e Psicofísica, à
qual apenas poucos iniciados tinham acesso.
Exteriormente, o sol tinha se posto, e, nas salas do centro de ciberné-
tica, a luz noturna, cor-de-rosa e fraca tinha se acendido automaticamente,
permitindo que o pessoal do departamento de manutenção, caso fosse ne-
cessário, se orientasse. Estava silencioso no edifício amplo e baixo, exceto
pelo onipresente e suave zumbido dos equipamentos eletrônicos, ao qual
o ouvido se acostumava rapidamente, fazendo com que só se sentisse um
silêncio completo.
Mas então Rhodan-Ro começou a se mexer. Lentamente no início,
como alguém que, depois de um longo sono, precisa se lembrar de onde re-

34
Kurt Mahr Trevas em Xeque

almente se encontra, ele se levantou da cama em que estava deitado. Olhou


em volta e, nas feições cuidadosamente talhadas do seu rosto, apareceu uma
expressão de admiração. Tão perfeita era a programação dessa maravilha
da tecnologia da USO que ele era capaz de imitar de forma convincente o
comportamento humano até os menores detalhes.
Rhodan-Ro se levantou completamente. Ele parecia indeciso quanto
ao caminho a seguir. Inclinou a cabeça para o lado, como quem quer aproxi-
mar o ouvido um pouco mais da fonte de um som indefinível. Não se podia
ouvir o que o éter sussurrava para ele. Todavia, Rhodan-Ro pareceu saber
de repente o que se esperava dele. Ele caminhou direto para a porta, que
se abriu prontamente diante dele. Ninguém havia pensado em protegê-la.
Ninguém esperava que Rhodan-Ro voltasse a se mexer.
Do lado de fora, ele desceu um pequeno lance de escadas até o salão
de recepção, que mostrava poucos vestígios da devastação do dia anterior. O
portal também não bloqueou seu caminho. Ele saiu facilmente. Virou-se para
a parte de trás do edifício. A partir de uma fonte de informação que ele próprio
desconhecia, ele sabia que havia ali um anexo baixo, no qual vários veículos
estavam estacionados. A maioria estava em condições de funcionamento.
Sem delongas, Rhodan-Ro saltou para trás da direção de um planador
esportivo. Em menos de um minuto, ele manobrou o veículo para fora da
garagem e partiu. Sem luzes, ele desapareceu na noite em um curso para
sudeste, e não havia ninguém para observá-lo em sua estranha atividade.

Um após outro, Perry Rhodan selecionou o código de conexão dos


amigos: Atlan, sem resposta. Roi Danton, sem resposta. Os dois especialistas
em sobrevivência, sem resposta. O que ele sentia não era mais inquietação.
Era o conhecimento de um perigo iminente que estava bem na sua frente.
Essa parte superficial do prédio, voltada para o norte e afastada da central
de cibernética, continha principalmente alojamentos. Em tempos normais,
médicos e pessoal ligado à área médica viviam nessa seção. Agora, no entanto,
estava desocupada para acomodar os ilustres convidados.
Perry Rhodan correu de um quarto para outro. Eles estavam arruma-
dos e vazios. Em nenhum lugar havia traços de luta que indicassem que os
amigos haviam sido raptados à força. Nos quartos dos dois especialistas em
sobrevivência, Rhodan encontrou um radiador de impacto semipesado e
uma arma de choque. Ele pegou as duas armas. Por fim, entrou no gabinete
privado de Zoffar. Havia ali uma bateria de videotransmissores, até mesmo
um terminal de hiper-rádio. Ling Zoffar não era obviamente o homem que
adorava ficar isolado.
O Administrador-Geral estava para ativar um dos videotransmissores,
quando, de repente, o pequeno monitor se acendeu. Surpreso, ele viu uma

35
Kurt Mahr Trevas em Xeque

paisagem colorida e exótica, com montanhas azuis no fundo e vegetação


tropical exuberante mais adiante. Do meio desse paraíso, cresceu a figura de
um jovem alto e magro. Ele olhou para Perry Rhodan com um sorriso irônico;
Porém, apesar do sorriso, o seu rosto tinha uma expressão estranhamente
vazia, como se fosse apenas uma máscara.
A lembrança da descrição que Neryman Tulocky tinha dado de seu
estranho encontro no porão da clínica passou pela mente de Rhodan como
um raio.
— Você é Ricardo, não é? — exclamou ele, taciturno.
Era mais do que irreal supor que o jovem pudesse ouvi-lo. Uma pai-
sagem como aquela ali no monitor não existia em Tahun inteira. Só o céu
sabia como o desconhecido tinha conseguido aparecer em um monitor. No
entanto, ele assentiu.
— Você adivinhou certo — respondeu ele.
A sua voz combinava com a expressão no seu rosto. Não continha
nenhuma emoção.
— A propósito, eu o aconselharia a não usar o videotransmissor
agora — continuou ele. — Se você for paciente por alguns segundos, eles
lhe mandarão uma mensagem interessante.
Perry Rhodan tinha perdido a compostura apenas por um instante.
— Suponho que não adianta — ele disse de forma dura — lhe per-
guntar de onde você é e quem você é.
— Pouco — admitiu Ricardo. — Em compensação, posso dizer mais
precisamente quem você é.
— O que isso seria? — retorquiu Perry Rhodan com humor sombrio.
— Quem você acha que eu sou?
De repente, o sorriso desapareceu do rosto de Ricardo.
— Você é um condenado — disse ele com a mesma voz atônica de
antes. — A morte já está abrindo os braços para recebê-lo.

Quando a pequena tela se apagou e, logo depois, se iluminou nova-


mente, Perry Rhodan pensou a princípio que Ricardo tinha mudado de ideia
e queria falar mais com ele. Mas então ele reconheceu o sinal de socorro
vermelho vivo na tela, e, quase no mesmo segundo, um silvo estridente de
sirene penetrou em seus ouvidos.
O sinal e a sirene foram ouvidos por cerca de meio minuto. Então
ambos sumiram. O monitor mostrou uma imagem de uma grande sala
circular, sem dúvida a central de comunicação principal em Tahun. Um
pequeno estande havia sido erguido no centro do salão, onde um homem
havia acabado de se postar, e Perry Rhodan perdeu o fôlego com a visão.
Era ele próprio! Ele, Perry Rhodan, como vivia e respirava! Levou um

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

tempo até que ele se lembrasse, em sua confusão, do que Atlan lhe havia dito:
como fora oculto da Humanidade, por um robô replicado perfeitamente,
que Perry Rhodan não existia mais. Nesse meio tempo, o ser-máquina, que
desempenhara seu papel, tinha começado a falar.
— Há alguns minutos — disse ele com voz arrastada —, os órgãos
de segurança deste mundo deram com o rastro de um complô monstruoso.
Trata-se de um ataque contra as instituições e a segurança do Império Solar.
O complô tem por objetivo, sem dúvida, substituir o Administrador-Geral
eleito pelos povos por uma criatura artificial, vinculada à obediência cega
a seus criadores, um androide que conhece apenas a vontade daqueles a
quem deve a vida.
“Desconhecemos quem está por trás desse complô. O doutor Zoffar
parece ser um deles. O androide foi criado em sua área de trabalho, e é onde
ele está neste momento. Meus amigos, Atlan e Roi Danton, desapareceram
sem deixar rastro. Deve-se presumir que os assassinos os prenderam, ou
talvez até os mataram.
Nesta hora de necessidade, exorto os cidadãos deste planeta a per-
manecerem calmos. Os órgãos de segurança garantirão que o plano dos
assassinos não terá êxito. No entanto, se algum de vocês der inesperadamente
com um homem que diz ser o Administrador-Geral e se parece exatamente
comigo, vocês devem eliminá-lo imediatamente. O androide é perigoso. Deve
ser dado fim nele o mais rápido possível. E, para que não sintam qualquer
remorso, declaro que não sairei desta sala até que a caça ao androide tenha
terminado. Portanto, se vocês encontrarem, fora desta sala, alguém que pa-
reça uma duplicata minha, não pensem duas vezes. As tropas também estão
instruídas a eliminar a criatura insidiosa sem aviso se necessário.”
Perry Rhodan já tinha ouvido o suficiente. Ele sabia que Anti-Aquilo
tinha atacado outra vez e que, provavelmente, ele agora não estava mais
seguro no prédio da Clínica de Metapsíquica e Psicofísica.

Estava escuro quando o arcônida finalmente voltou a si. Ele tinha


uma dor de cabeça lancinante e um gosto insosso e desagradável na boca.
Constatou rapidamente que podia se mover livremente. Ele se ergueu cui-
dadosamente, esticando os braços para apalpar qualquer obstáculo a tempo.
Então bateu com a ponta do sapato contra algo pesado e macio.
— Sim, sou eu — rosnou uma voz não muito alta. — Estamos felizes
em tê-lo de volta finalmente!
Era Roi Danton.
— Você?... — soltou o arcônida, espantado. — E nós! Quem é “nós”?
— Oh, estamos todos aqui: Zoffar, Tulocky, Ortokur e a minha hu-
milde pessoa. Só falta um, o mais importante, receio.

37
Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Perry?...
— Sim. Suponho que fomos separados dele para não podermos estar
com ele.
— Alguém sabe onde estamos? — quis saber Atlan.
— Posso descrever a sala para você: um retângulo alongado, paredes
nuas, não muito altas, nenhuma porta ou janela. Porém, onde em Tahun esta
sala fica, nem mesmo Zoffar sabe.
Atlan se largou no chão frio e áspero. O gás venenoso tinha feito mais
com ele do que ele queria admitir. A troca de ideias revelou que todos eles
tinham sido aprisionados de maneira semelhante. Zoffar tinha recebido uma
chamada ordenando que fosse ao posto de comunicações. No caminho, uma
cápsula com gás narcotizante havia explodido em seu veículo. Danton havia
sido solicitado por um robô de informação a ir à sala de tratamento, pois
Perry Rhodan estava se sentindo um pouco pior novamente. No caminho,
um atirador desconhecido o havia acertado no pescoço com um projétil
embebido em veneno paralisante. Somente os dois oxtornenses não puderam
ser apanhados com venenos. Por enquanto, eles nem sabiam como haviam
sido capturados. Tinham se sentado juntos e conversado. Essa era a última
lembrança deles. Havia poucas dúvidas de que uma poderosa influência
hipnótica devia ter atuado aí.
Assim, suas esperanças haviam sido frustradas mais uma vez, Atlan
registrou amargamente. A calma dos últimos dois dias tinha sido na realidade
a calmaria antes da tempestade. Anti-Aquilo havia atacado uma segunda
vez. Ele apalpou as roupas, revistou os bolsos: tinham tirado tudo dele, suas
armas, seu microcomunicador, seu relógio. Ele não podia nem saber quan-
to tempo tinha estado ali inconsciente. Os outros também não sabiam. Os
efeitos colaterais do gás os afligiam. Somente os dois oxtornenses tinham as
cabeças razoavelmente claras.
— Então não há porta aqui, não é? — rosnou o arcônida com raiva
laboriosamente reprimida. — Então como diabos entramos?
— Alguém sabe — soou a voz de Roi Danton da escuridão. — Mas
vasculhamos cada centímetro quadrado de parede. Talvez um transmissor...
— Parede! — interrompeu Atlan. — E o teto e o chão?
Seguiu-se um silêncio consternado.
— É, meu Deus, uma possibilidade — resmungou Danton por fim.
— Por que não pensamos nisso?
— O teto mal tem três metros de altura — veio uma voz de cima. —
Estou de pé nos ombros de Tongh e posso alcançá-lo facilmente.
Era Neryman Tulocky, o oxtornense.
— Comece a procurar — instruiu o arcônida. — Estou convencido
de que há um alçapão aqui em algum lugar.

38
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Após uma breve busca, ele encontrou o caminho que conduzia através
do interior do edifício ao anexo onde os veículos estavam guardados. Ele
inspecionou a fileira de planadores e acabou se decidindo por um veículo
de alto desempenho que, além de um colchão de ar, tinha um motor gravi-
tacional. Ele se convenceu de que poderia colocá-lo em funcionamento sem
dificuldade. Então abriu cuidadosamente a porta e espreitou a noite.
Ele os escutou vindo. Do oeste e do sul, o zumbido constante dos
motores de seus veículos se aproximava. Ele havia avaliado corretamente
Rhodan-Ro: esse não hesitaria em se apoderar de seu adversário. A sua força
de combate estava se aproximando.
Perry Rhodan regressou ao planador que havia escolhido. Muito de-
pendia agora de como o inimigo estava equipado. A área toda estava sob os
feixes invisíveis de seus projetores infravermelhos? Eles poderiam observar
cada movimento dele, apesar da escuridão? Ou Rhodan-Ro pensava que isso
era apenas um passeio no parque, que tudo que tinham de fazer era pegar o
culpado como uma fruta madura que caíra de uma árvore?
Ele tinha que contar com a sorte. O barulho que ele ouvia vinha de
pelo menos trinta motores. Cada veículo com quatro pessoas, isso fazia um
bando de pelo menos 120 indivíduos. Fugir era a única saída que lhe res-
tava. Ele manobrou cuidadosamente o planador para fora. Tinha desligado
as luzes de navegação. Rapidamente, mas com cautela, ele chegou ao lado
noroeste do edifício. O som dos motores que se aproximavam aumentava
constantemente à medida que se aproximavam; porém, não houve mudança
abrupta no nível de som que indicasse que os preparativos de fuga de Rhodan
tivessem sido detectados.
Agora que ele tinha o edifício como cobertura entre si e os capangas,
acelerou com tudo. Ele manteve o veículo apenas poucos palmos acima do
solo para aproveitar a sombra de localização lançada pelo prédio pelo maior
tempo possível. Somente pouco a pouco, ele se dirigiu para o norte. Havia um
terreno montanhoso e acidentado ao norte, com o qual ele estava razoavel-
mente familiarizado. Se ele chegasse lá, estaria praticamente salvo. Ele poderia
então se livrar de seus perseguidores nos abismos e fendas das montanhas.
Na pequena tela de localização, ele viu os veículos dos capangas assim
que deixou a sombra de localização do prédio. No mesmo momento, eles
também o notaram. Ele podia ver claramente a formação até então fechada
ficar confusa por um momento. Mas então eles se reorganizaram. Uma tropa
de dez planadores o perseguiu. Os outros vinte continuaram a se aproximar
da clínica, espalhando-se para formar um círculo em torno do complexo.
À sua frente, porém, agora já se erguiam as primeiras montanhas. Seu
planador era superior em desempenho aos veículos dos perseguidores. Ele
desapareceu entre dois cumes montanhosos íngremes e mergulhou no vale
profundo, semelhante a um desfiladeiro. Com presteza, tomou o curso para
leste. Ele tinha idealizado um plano. Para realizá-lo, tinha que alcançar o posto

39
Kurt Mahr Trevas em Xeque

de comunicação no qual Ling Zoffar havia sido supostamente convocado


pouco antes de desaparecer sem deixar rastros.
Por um tempo, ele acompanhou as sinuosidades do vale. Então passou
por uma cadeia de montanhas e alcançou um planalto que se estendia na
direção oeste-leste. Ele se manteve na sombra das paredes da montanha e
atentou para seus perseguidores. Chegou a ver na tela de localização dois
reflexos tênues traçando seu curso muito atrás dele. Não havia dúvidas: os
capangas o haviam perdido.
Cem quilômetros a leste, ele saiu das montanhas e se dirigiu para o
sul. O inimigo tinha que presumir que ele estava tentando se esconder nas
montanhas. No momento, a atenção deles estava mal direcionada.
Ele tinha que aproveitar esse momento. Ele enfrentaria Rhodan-Ro
— de uma maneira completamente diferente do esperado pelo robô.

6.

— Aqui! — gritou Neryman Tulocky. — Consegui!


Para provar o sucesso de sua busca, ele bateu em duas partes diferentes
do teto em sucessão. Uma tinha um som nitidamente oco.
— Mas não consigo sentir um contorno — disse o oxtornense logo
depois. — O alçapão deve ter sido montado com muito cuidado.
— Você consegue mover? — perguntou Danton.
— Não. Provavelmente, está travado por fora.
Um baque surdo foi ouvido quando ele saltou dos ombros de seu
amigo para o chão.
— Fique parado aqui, Tongh! — disse ele.
— O que você pretende? — quis saber Danton.
— O alçapão não se move — respondeu Tulocky. — Assim, teremos
que arrebentá-lo.
— Arrebentá-lo?...
— Não temos ferramentas para isso — contestou Ling Zoffar.
Ouviu-se Ortokur rindo com raiva.
— Não precisamos de ferramentas para isso — ele comentou. — Va-
mos usar a cabecinha!
— Você quer dizer que você tem uma ideia?...
— Você nunca deve entender esse sujeito em sentido figurado, doutor
— Atlan entrou na conversa, e ficou evidente pela sua voz que ele se divertia.
— Eu o conheço há anos e sei que tudo que ele diz é para levar exatamente
ao pé da letra. No entanto, às vezes, ele se engana nas expressões. Ele diz
cabecinha quando se refere à sua cabeça dura.
Zoffar calou-se, espantado.
— Acho melhor você fazer isso, Tongh — sugeriu Tulocky. — Você
sempre foi melhor nos trabalhos de cabeça do que eu.

40
Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Que seja — resmungou Ortokur. — Mas eu preciso de um ponto


elevado para saltar, ou não conseguirei chegar lá em cima com força suficiente.
— Esse ponto, eu vou lhe dar, amigo e camarada — garantiu Tulocky.
— Talvez você veja o estado das coisas lá em cima.
Tulocky se postou no local exato onde Ortokur tinha estado até agora.
— Tudo bem — disse ele.
Eram necessárias apenas algumas palavras entre os dois amigos para
se comunicarem. Tulocky ajoelhou-se, não bem abaixo do alçapão, mas
a dois passos dele, já que Ortokur seria levado um pouco mais longe por
seu impulso antes de colidir com o teto. Ortokur tomou distância. Tulocky
cantarolou para que Ortokur pudesse se orientar pelo som.
— Pronto? — perguntou Ortokur.
— Sempre — respondeu Tulocky.
— Mas o homem não pode simplesmente...
Era Ling Zoffar, que seguia a intenção dos dois oxtornenses com um
horror cada vez maior. Ortokur o interrompeu bruscamente.
— Quieto! Isto já é bem difícil sem alguém falando!
Isso fez o médico se calar.
— Vou pular agora — rosnou Ortokur.
— Estou esperando! — foi ouvido de Tulocky.
Na escuridão, veio o som de passadas pesadas e cada vez mais rápi-
das. Um choque, um grunhido, depois uma forte pancada... e, de repente,
luz! No momento do contato com o teto, a estrutura celular do crânio do
oxtornense havia mudado em uma fração de milissegundo a tal ponto que
mesmo a pele que cobria a placa craniana calva havia assumido a consistência
de aço endurecido. Em consequência, houve o êxito. Um grande buraco se
abriu no alçapão, e uma luz branco-azulada veio da sala que ficava acima
da prisão sombria.
Ortokur tinha simplesmente se deixado cair. Ele foi visto se erguendo
e balançando a cabeça. A colisão com o material maciço do teto não lhe havia
causado nenhum dano. Ling Zoffar ficou olhando maravilhado do buraco
irregular para o oxtornense.
— Quem pode entender isto... — ele murmurou para si mesmo.

Não havia sinais de um perseguidor em nenhum lugar. Ele havia es-


capado dos capangas. Sem contratempo, alcançou o posto de comunicações,
um prédio baixo e solitário, cercado por uma dúzia de estruturas de antenas
diferentes. Uma lâmpada solar, que pairava bem acima do edifício, banhava a
área com a luz do dia. Ele não se intimidou com isso. Estacionou o planador
bem diante da entrada principal, desembarcou e entrou.
Que ele encontraria um robô cedo ou tarde, já tinha contado com isso.

41
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Era certo que o robô agiria de acordo com as instruções de Rhodan-Ro. As-
sim, ele não se arriscou. Quando encontrou um robô no corredor que levava
à sala de controle, atirou imediatamente. O raio energético bem concentrado
abriu o peito da máquina. Houve uma explosão, e o robô se despedaçou.
O estrondo colocou de pé as pessoas que estavam ocupadas nesse
prédio. Elas saíram de todas as portas para o corredor. Perry Rhodan sabia
o que fazer. Ele fez o raio invisível da arma de choque atuar. Assim que as
pessoas passaram pelas portas, elas caíram inconscientes. A guarnição da
estação era pequena, apenas duas dúzias de homens. Perry Rhodan pegou
um deles, um jovem oficial da USO com patente de tenente, sem que o tivesse
tratado antes com a arma de choque. O homem viu que não era páreo para
o atacante e levantou os braços para mostrar que se rendia.
— Você escutou o discurso do Administrador-Geral? — perguntou
Rhodan.
— Sim... senhor — respondeu o tenente.
— Suponho que não adianta lhe explicar que é uma mentira enge-
nhosamente armada — continuou o Administrador-Geral. — O homem que
finge ser Perry Rhodan é, na verdade, um robô sendo usado por um poder
desconhecido para me corromper.
— Estou ouvindo, senhor — disse o tenente quando Rhodan fez uma
pausa por um momento.
— Minha intenção vai confundi-lo ainda mais — sorriu Perry Rhodan.
— No entanto, você vai me ajudar nisso. Que receptores podem ser alcan-
çados pelo emissor desta estação? Somente certos dispositivos individuais,
ou também a rede geral de notícias?
— Parte da rede geral, senhor — respondeu o tenente. — O senhor
pode alcançar a partir daqui todos os receptores privados e oficiais num raio
de cerca de três mil quilômetros.
— Isso vai servir — anuiu Rhodan. — Quero fazer um breve discurso
em fita. Leve-me até onde eu possa fazer isso!
O jovem oficial obedeceu prontamente. Perry Rhodan falou em
uma fita de vídeo o que ele havia pensado no caminho até ali: um discurso
destinado a causar confusão ao planejamento do inimigo. Afinal, ele não
contradizia as calúnias que Rhodan-Ro havia lançado contra ele. Ele as con-
firmava e as reforçava com argumentos que fariam alguns pensar. O tenente
escutou atentamente. Quando Rhodan terminou e tirou a fita do gravador,
ele disse: — A confusão está de fato completa, senhor. Como o verdadeiro
Perry Rhodan iria se passar por androide?
— Você entenderá isso no devido tempo — o Administrador-Geral
o consolou. — Por enquanto, é importante ter certeza de que este discurso
seja transmitido em exatamente uma hora. Existe um controle automático
correspondente, não é?
Mais hesitante do que antes, o tenente ajudou Perry Rhodan a inserir

42
Kurt Mahr Trevas em Xeque

a fita e a configurar o controle para que o discurso fosse transmitido para a


rede pública de notícias de Tahun em uma hora. Era claramente percebido
que ele agora acreditava definitivamente que Rhodan era a duplicata, que
devia ser capturado morto ou vivo, e colocado fora de ação. Ele pensou em
uma maneira de impedir a transmissão do discurso.
— Sinto muito por ter de lhe causar dor — disse Rhodan ao terminar
os preparativos. — Mas é do interesse de todos que minha mensagem seja
ouvida pelo maior número possível de pessoas. Não posso permitir que você
frustre meus esforços.
Antes que o jovem oficial percebesse, Rhodan apontou o cano da arma
de choque para ele e apertou o gatilho. Gemendo, o tenente caiu no chão e
ficou imóvel. Ele ficaria inconsciente por pelo menos três horas, assim como
o resto da tripulação do posto.
Alguns minutos depois, Perry Rhodan estava em movimento nova-
mente — dessa vez, em direção à central de comunicação principal onde
Rhodan-Ro estava.

Tahun era um mundo que servia principalmente a propósitos médi-


cos. Fazia parte do conglomerado de bases da United Stars Organization.
Assim, havia pessoal militar em Tahun, mas a força da guarnição militar era
pequena, correspondendo ao objetivo real do planeta. Rhodan-Ro fizera de
tudo para colocar as mãos no homem que chamava de duplicata. Porém,
precisamente esse “tudo” não foi muito, mesmo que se incluíssem os robôs.
E, como nesse meio tempo Rhodan-Ro acreditava saber que seu adversário
estava escondido nas montanhas ao norte da Clínica de Metapsíquica e
Psicofísica, ele não hesitou em retirar quase todo o pessoal da central de
comunicação para que a busca nas montanhas pudesse ser conduzida com
a maior intensidade possível.
Perry Rhodan pousou tranquilamente a algumas centenas de metros
em frente ao complexo de construções que, junto com centenas de antenas,
constituía a central. A área estava sob uma redoma de luz clara como a do sol,
mas ele não teve dificuldade em chegar ao prédio principal sem ser notado,
aproveitando as inúmeras coberturas existentes.
A única incerteza em seu planejamento era o ser estranho chamado
Ricardo. Não havia dúvida de que era uma criatura de Anti-Aquilo. Era
concebível que Ricardo tivesse a capacidade de observar de uma dimensão
superior e que estivesse informado de cada movimento de Rhodan. Nesse
caso, o plano de Rhodan estaria fadado ao fracasso, pois Ricardo não poderia
permitir que seu jogo fosse frustrado. Entretanto, até que as capacidades supe-
riores de Ricardo fossem claramente comprovadas, Perry Rhodan pretendia
se ater a seu plano. Era o único que prometia algum sucesso.

43
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Sem ser notado, ele entrou no prédio. Havia uma única sentinela ali,
um homem uniformizado mais velho e robusto, com a insígnia de sargento.
Rhodan usou a arma de choque para colocá-lo fora de ação antes mesmo
que o homem o visse. Seu destino era a sala de controle, que ele presumia ser
subterrânea, como era habitual em tais instalações. Ele desceu através de um
poço antigravitacional bem iluminado e examinou as proximidades de cada
saída até que finalmente encontrou o que procurava. A instalação transmissora
principal de Tahun era uma estrutura extensa e poderosa. Consequentemente,
a sala de controle também era de tamanho e complexidade impressionantes.
Mas Perry Rhodan conhecia bem na prática a tecnologia de comunicação. Sem
esforço, ele encontrou os pontos que precisavam ser cortados no momento
crucial — se as coisas realmente saíssem como ele havia planejado.
A sala de controle continha vários monitores, pequenos receptores de
imagem e som que interceptavam as transmissões enviadas e recebidas pela
central. Um dos monitores era equipado com um decodificador que traduzia
os impulsos eletrônicos usados na transmissão de dados nos caracteres que
eles representavam e mostrava os caracteres no monitor. Esse dispositivo era
de particular interesse para Perry Rhodan. Ordens para os robôs eram trans-
mitidas usando os fluxos de dados eletrônicos. Usando o decodificador, Perry
Rhodan saberia o que Rhodan-Ro estava ordenando que os robôs fizessem.
Ele se colocou na espera. Restavam apenas dezesseis minutos para a
hora que ele tinha fixado. Assim que seu discurso fosse reproduzido, seria
hora de agir rapidamente. Perry Rhodan tinha marcado claramente os pontos
a serem cortados, de forma que, no momento da decisão, ele só precisaria
estender a mão para realizar o corte.
Ele olhou pensativamente para as telas foscas dos três monitores que
havia instalado à sua frente. Foi quando ele escutou um barulho perto da
entrada. Ele tentou se virar, mas uma voz rouca ordenou: — Não se mexa!
Levante os braços e fique sentado!
O choque deu lugar ao alívio quando Rhodan reconheceu a voz.
— Não faça besteira, Ortokur! — gritou ele enquanto levantava os
braços conforme as instruções. — Você não vai querer matar o homem cuja
vida acabou de salvar!
Powlor Ortokur soltou um som atônito. Perry Rhodan, com os braços
ainda levantados, virou-se lenta e cuidadosamente. Quando ele viu o rosto
perplexo do oxtornense, começou a sorrir.
— Caramba — Ortokur rosnou com raiva —, qual deles é o senhor:
o certo ou o errado?

Atlan, Zoffar, Danton e Neryman Tulocky passaram pela porta atrás


do oxtornense. A pergunta de Ortokur, perplexa e bem legítima, foi res-

44
Kurt Mahr Trevas em Xeque

pondida de uma maneira simples: o oxtornense teve permissão de agarrar


o Administrador-Geral pelos ombros e levantá-lo. Seu peso corporal era
normal. Rhodan-Ro, por outro lado, pesava mais de 250 quilos.
Em palavras breves, Rhodan e seus amigos compartilharam suas
experiências. Logo após escapar da prisão subterrânea, Ling Zoffar havia
identificado o prédio em que se encontravam como a central de comunicação.
A sala alongada na qual o estranho os havia aprisionado estava a mais de
duzentos metros no subsolo. Devia ter sido concebida como um depósito e
esquecida ao longo dos anos. O pequeno grupo tinha subido cautelosamente
sob a liderança de Atlan. Roi Danton tinha tido a ideia de usar os monitores
na sala de controle para ouvir algumas transmissões de notícias, para se in-
formar sobre a situação lá fora. Powlor Ortokur tinha sido enviado à frente
como espia e havia encontrado Perry Rhodan.
— Vejo que você fez preparativos — observou o arcônida. — O que
pretende? Expor o robô?
Perry Rhodan balançou a cabeça.
— Não. Isso seria muito difícil.
— Muito difícil? Tudo que se precisaria fazer é uma espectroscopia
dele ou colocá-lo numa balança, e ele seria exposto.
— Você não acha que ele está esperando por isso? Ele está firmemente
convencido de que eu vou chamá-lo de robô, e já fez preparativos. Quão difícil
é ajeitar um aparelho de espectroscopia para que ele dê uma leitura falsa?
E uma balança para dar um peso falso? Tenho certeza de que Rhodan-Ro e
seu misterioso superior pensaram em todas essas coisas.
— Mas como...?
Perry Rhodan fez que não. A hora tinha chegado.
— Ouça! — ele pediu a Atlan.
Um dos três monitores de repente ganhou vida. A imagem mostrava
Perry Rhodan diante de um console de controle do posto de comunicações.
Ele parecia calmo e controlado. Nada na filmagem indicava que tinha sido
feita há mais de uma hora.
— Aqui fala o androide Perry Rhodan — soou a voz firme de Rhodan.
— Falo a vocês para esclarecê-los sobre algumas coisas que o homem, de quem
sou réplica, se esqueceu de mencionar em seu discurso. Sabiamente, porque,
de outra forma, ele teria que tirar a máscara do rosto com as próprias mãos.
“Quem pode acreditar que, em Tahun, onde todos sabem o que todos
estão fazendo, um androide poderia ter sido criado secretamente e por um
poder estranho, tão perfeito e totalmente parecido com seu modelo como
eu? Ninguém pode acreditar nisso. Fui criado em segredo, isso é certo, mas
não por um poder estranho. Fui criado por uma razão: o verdadeiro Perry
Rhodan é um homem muito doente. Há uma chance de que ele possa ser
curado, mas o processo de cura levará meses, se não anos. Não se quis alarmar
o público. O Administrador-Geral não podia desaparecer de cena por tanto

45
Kurt Mahr Trevas em Xeque

tempo. Eu deveria substitui-lo. A Humanidade deveria acreditar através de


mim que Perry Rhodan estava vivo e bem e desempenhando suas funções,
quando, na realidade, o Administrador-Geral estava aqui em Tahun sob os
cuidados dos médicos.
Quão grave é o estado desse homem se vê por ele estar agora tentan-
do atrapalhar esse plano, com o qual ele mesmo concordou originalmente,
denunciando-me como o produto de um poder hostil. Peço ao Administra-
dor-Geral que se apresente imediatamente a uma equipe médica, para que
os médicos possam decidir por si mesmos quem está falando a verdade aqui:
o androide ou o doente!”
Ainda durante a fala, uma atividade frenética havia começado nos
outros dois monitores. Um major da USO apareceu em uma das telas e ins-
truiu as tropas a interromper imediatamente a busca nas montanhas e virem
às pressas para o posto de comunicações ao sul da Clínica de Metapsíquica
e Psicofísica, pois o androide que eles procuravam estava ali. Assim, tinham
identificado o fundo da imagem de Perry Rhodan na imagem de televisão.
No monitor de decodificação, apareceram as ordens emitidas para os robôs.
Eles também deveriam invadir e ocupar o posto de comunicações.
Então, exceto pelos relatórios de retorno e progresso das tropas que
tinham sido colocadas em movimento, houve silêncio por um tempo. As
ordens haviam sido emitidas. Rhodan-Ro e seu entorno esperavam pelo
sucesso da operação. Não podia ser uma espera otimista, pois um robô da
capacidade mental de Rhodan-Ro certamente não havia negligenciado a
possibilidade de o discurso ter sido feito em fita há algum tempo. Ele sabia
que, mesmo que ele se movesse o mais rápido possível, suas chances de pegar
Perry Rhodan não passavam de cinquenta por cento.
Meia hora se passou. Então chegaram os primeiros informes.
— Posto de comunicação ocupado! Um robô destruído. Tripulação
inconsciente. Nenhum sinal do androide.
Falas lacônicas assim e semelhantes foram enviadas à central de
comunicação pelas diversas unidades. E então, de repente, veio um ques-
tionamento de um grupo de médicos sobre o que o Administrador-Geral
faria sobre a acusação que o androide havia feito. Eles se ofereceram para
conduzir o exame no centro de comunicações para confirmar a alegação ou
tirar do Administrador-Geral qualquer suspeita.
Embaixo, na sala de controle, a tensão se tornou quase insuportá-
vel. Agora, tinha que se ver se o plano de Perry Rhodan havia partido das
premissas certas. Os pontos de corte marcados no circuito de comunicação
foram separados. A central de comunicação foi agora isolada por rádio de
seu entorno, mas sem que ninguém percebesse na sala de transmissão em
cima. As transmissões, que deveriam sair, chegavam apenas até os pontos de
corte e apareciam nos monitores, mas não chegavam mais ao destino. Alguns
minutos se passaram. Não restava outra coisa a Rhodan-Ro a não ser reagir

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

ao pedido dos médicos — de uma forma ou de outra. Tudo dependia do


modo. O sucesso ou não do lance de Perry Rhodan dependia disso.
Finalmente, o primeiro monitor se acendeu novamente. Dessa vez,
foi o próprio robô que falou.
— Não sem preocupação — começou ele —, sou obrigado a informar
que o inimigo está atacando com forças muito mais fortes do que o previsto
originalmente. Portanto, surge a necessidade, para mim e meu entorno,
de mudar de local e encontrar um abrigo mais seguro. Por isso, a partir de
agora, estou revogando a ordem absoluta de atirar contra qualquer pessoa
cuja aparência se assemelhe à minha. Repito: mesmo que estejam cara a cara
com a duplicata, não atirem! Poderia ser eu que tivessem encontrado. Essa
ordem se aplica a todas as unidades, bem como a todo o pessoal civil que
possa ter participado da busca até este ponto. Assim que eu estiver a salvo,
mais instruções serão emitidas.
Perry Rhodan deu um suspiro de alívio. No outro monitor, as palavras
do robô foram repetidas em código robótico para que os seres-máquinas
também soubessem do cancelamento da ordem de disparo absoluto. O que
Rhodan-Ro não sabia era que suas instruções não estavam chegando aos
destinatários. Elas estavam retidas ali na sala de controle, e a opinião do lado
de fora ainda era que qualquer coisa parecida com o Administrador-Geral
deveria ser eliminada na hora.
Perry Rhodan e seus companheiros correram para a superfície.
Rhodan-Ro e sua comitiva já haviam deixado o prédio. Um grupo de plana-
dores tinha chegado. Sobressaía o fato de que Rhodan-Ro reivindicara um
veículo só para si, enquanto sua escolta, composta por oficiais da USO, teve
que compartilhar cada veículo para vários. O homem que se denominava
Ricardo não era visto em nenhum lugar.
Rhodan-Ro foi o primeiro a decolar. Ele virou para o norte. Os outros
veículos não o seguiram, mas tomaram o rumo do leste. Estava amanhecen-
do. Uma luminosidade vaga se formava no horizonte oriental, indicando a
aproximação do dia. Ao norte – ou seja, para onde Rhodan-Ro tinha desa-
parecido –, um raio pálido lampejou. Meio minuto depois, o trovão abafado
de uma explosão distante atravessou a planície. Perry Rhodan estremeceu
involuntariamente. Ele voltou para o interior do edifício. Os outros o segui-
ram. Os pontos de corte isolados foram restaurados. Perry Rhodan e seus
companheiros subiram para a sala vazia de transmissão e recepção. Uma
grande tela se acendeu, e a figura de um sargento da USO emergiu. Com
grande exaltação, ele relatou: — Um veículo com um único passageiro, que
tinha a aparência do Administrador-Geral, foi localizado há alguns minutos
e ordenado a pousar. O passageiro, no entanto, tentou fugir. Imediatamente,
abrimos fogo e abatemos o veículo. Com isso, ocorreu uma explosão, matando
o passageiro. Estou convencido de que pegamos o correto.
— Como chegaram a isso? — perguntou o Administrador-Geral.

47
Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Examinamos o corpo, senhor — respondeu o sargento. — O homem


que se parecia tanto com o senhor era um robô.

7.

— Você só tem direito a mais uma jogada — observou o primeiro


jogador. — Julgo suas perspectivas decididamente ruins.
— Isso é com você — respondeu o segundo jogador ironicamente.
— Ainda tenho uma jogada, como você corretamente aponta, e isso trará
a decisão.
— Sua confiança não tem nada a ver com os fatos. Você está come-
çando a perder a sua capacidade de julgamento.
— Você não tem o direito de externar sobre a minha capacidade de
julgamento — respondeu o segundo jogador, irado. — Se estou certo de que
este jogo será decidido a meu favor, tenho boas razões para isso.
— É justamente sobre essas razões — respondeu calmamente o primei-
ro jogador — que eu gostaria mais uma vez de adverti-lo fortemente. Você
se lembra do nosso acordo. É preciso se perguntar se uma arma da quarta
categoria não foi utilizada, não mais indiretamente, mas quase diretamente,
na sua última jogada.
— Isso é um absurdo! — defendeu-se o segundo jogador. — A arma
de que você fala nunca esteve em uso direto.
— Desta vez, vou deixar assim. Mas devo avisá-lo de que você atingiu o
limite do ilícito. Cruze-o, e serei forçado a colocá-lo em xeque como o poder
da escuridão que você é, e lhe dar xeque-mate com qualquer meio disponível.
— Você fala demais! — ironizou o segundo jogador.
— Eu esclareço a minha posição — defendeu-se o primeiro. — Se for
relegado ao banimento, você não deverá dizer que não foi avisado a tempo.
— Banimento... Ora! Ainda não é a hora!
— Ainda não — admitiu o primeiro jogador.
Por um tempo, os fluxos de pensamentos silenciaram. Então o segundo
jogador falou novamente.
— Nós dois temos mais uma jogada cada um. É a sua vez!
— É indigno mostrar tanta impaciência.
— Isso não é da sua conta. Eu posso ser impaciente o quanto eu quiser.
— E eu só preciso fazer a minha jogada quando me agradar.
— Desde que você não exceda o limite máximo de tempo. Caso con-
trário, você perderá sua jogada!
— Não se preocupe com isso. O prazo não será ultrapassado.
O silêncio reinou no supraespaço onde os dois seres flutuavam amorfica-
mente. A penúltima jogada desse jogo, que se arrastava por anos, era iminente.

48
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Entre os habitantes de Tahun, havia, tirando Atlan, Danton, Zoffar e


os dois oxtornenses, apenas cinco homens que podiam facilmente concluir
que o Rhodan que havia sido abatido com seu planador e morto em uma
explosão era o mesmo que havia dado a ordem de atirar algumas horas antes
e que havia se escondido de sua suposta duplicata na central de comunicações
principal. Esses eram os cinco oficiais que tinham estado com Rhodan-Ro
até quase o final e que tinham rumado para a direção leste a partir da central.
Eles foram rapidamente apanhados. Tiveram que passar por uma ducha psí-
quica, onde se implantou neles uma pseudomemória no lugar da lembrança
das horas críticas da noite anterior.
Com isso, o segredo de Perry Rhodan foi mantido. Ele continuou
sendo o homem que havia chamado a população de Tahun para, junto com
as tropas e robôs, procurar pelo androide que um poder inimigo tinha infil-
trado em Tahun. Agora que o inimigo fora destruído, o Administrador-Geral
não hesitou mais em se submeter ao exame que a equipe médica desconfiada
havia solicitado. Ele foi considerado perfeitamente saudável. Desculparam-
se pela desconfiança demonstrada, mas Rhodan não se abalou com essas
desculpas. Ele elogiou os médicos e lhes assegurou que era dever de todos,
em caso de dúvida sobre a identidade do Administrador-Geral, comunicar
essa dúvida imediatamente.
No final da manhã, Perry Rhodan finalmente fez seu discurso aos povos
do Império Solar. Levado pelos acontecimentos da noite, ele alterou considera-
velmente o formato de sua mensagem. Em vez de um monólogo, ele apresentou
ao público uma conversa da qual Atlan e Ling Zoffar também participaram.
Ele mesmo descreveu como vinha sofrendo de cansaço cada vez com mais
frequência no passado recente e, finalmente, decidira buscar assistência médica
em Tahun. Sempre que surgia a oportunidade, ele se voltava a Zoffar e o fazia
descrever os sintomas, bem como os métodos de cura empregados em termos
científicos populares. Assim, foi criada entre os muitos bilhões de espectadores
a impressão de um homem a quem um milênio e meio de preocupação com a
Humanidade e o Império Solar tinha finalmente minado por dentro, a ponto
de ter que se colocar sob cuidados médicos. Sobre o fato de que Perry Rhodan
estava agora completamente curado, Ling Zoffar não deixou a menor dúvida.
A transmissão serviu a seu propósito. A Humanidade respirou ali-
viada. Perry Rhodan foi aplaudido. Os rumores, ainda que exagerados às
vezes, estavam basicamente corretos ao falar de uma misteriosa doença do
Administrador-Geral. Porém, agora, tudo estava em ordem novamente. A
saúde de Perry Rhodan estaria melhor do que nunca no futuro próximo. O
Império tinha o seu Administrador-Geral de volta. Os preços das ações dis-
pararam, milhões de crianças nascidas nesse dia receberam o primeiro nome
de Perry, e, em um distante mundo colonial, a disputa sobre a denominação
da primeira cidade do assentamento foi resolvida em um instante quando
alguém sugeriu que fosse chamada de “Rhodânia” para comemorar esse dia.

49
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Ninguém suspeitava de que Tahun ainda era assombrado por um


fantasma, sobre o qual não se sabia quando atacaria outra vez.

E, mais uma vez, tinha despontado o estado de esperança ansiosa,


que contava as horas e se regozijava com cada uma que passava sem eventos
ameaçadores. Mais uma vez, a crença de que, agora, finalmente tudo tinha
acabado se tornava mais forte à medida que aumentava a distância do último
ataque de Anti-Aquilo.
Da Terra, a Marco Polo estava a caminho de Tahun. Era para aproveitar
o clima de alegria gerado pelo discurso de Perry Rhodan. O Administrador-
Geral não deveria retornar à Terra como um ladrão na noite através de uma
obscura via de transmissor. A bordo de sua nave capitânia, ele deveria pousar
no espaçoporto de Terrânia, à vista de todos. E então se poderia começar a
explicar gradualmente à Humanidade os verdadeiros contextos por trás dos
acontecimentos dos últimos anos — cuidadosamente, para que não surgisse ne-
nhum ressentimento por causa da mentira que se tivera de lançar mão até então.
No entanto, ainda havia muito tempo até lá. Nos últimos meses, muitas
decisões importantes haviam sido adiadas ou tomadas de maneira provisó-
ria, porque se esperava que Perry Rhodan retornasse um dia. Assim, para
o Administrador-Geral, o trabalho governamental começou ali em Tahun,
mesmo antes da chegada da sua nave capitânia. Ele e seus companheiros
se transferiram da Clínica de Metapsíquica e Psicofísica para uma casa de
hóspedes administrada pela USO. Rhodan deu instruções de que não queria
ser perturbado até a chegada da Marco Polo. Logo na primeira noite, ele
se informou por Atlan e Roi Danton, agora em detalhes, sobre os eventos
políticos dos últimos meses, especialmente sobre as novas atividades, em
parte inquietantes, da União Carsuálica e da União Centro-Galáctica. Apa-
rentemente, nos reinos estelares que haviam abandonado o Império Solar, se
tinha notado algo da inquietação em que a Humanidade se encontrava como
resultado dos rumores sobre a doença do Administrador-Geral, e resolveram
explorar esse estado de inquietação e incerteza para seus próprios propósitos.
Especialmente em mundos coloniais na orla do Império, agentes carsuálicos
e centro-galácticos estiveram extremamente ativos, tentando persuadir os
colonos a renegarem Terrânia. Fora preciso então agir o mais rápido possível
e colocar o inimigo em seu lugar.
A noite passou voando com os relatórios de Atlan e Danton. Foram
tomadas algumas decisões preliminares. Perry Rhodan ficou surpreso quando
finalmente olhou para o relógio e viu que a meia-noite já estava mais de oito
horas para trás. Ele se recostou e piscou sob a luz vinda do teto.
— Sugiro despolarizarmos as janelas — opinou Atlan. — Um pouco
de luz solar natural fará bem aos nossos olhos.

50
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Roi Danton se levantou e foi até a barra de controles. A grande janela


da sala consistia numa camada dupla, que poderia ter um efeito polarizador
através da alternância de campos elétricos. Se os níveis de polarização das
duas camadas fossem colocados perpendicularmente um ao outro, nenhuma
luz passaria através do painel. A dupla polarização agia como uma persiana.
Danton pressionou o controle que removeu os campos elétricos alter-
nados. Ele olhou, surpreso, quando, apesar disso, a janela continuou escura.
Olhou para o relógio.
— Para mim, são oito e vinte e quatro — disse ele. — E para vocês?
— Também — confirmou Atlan. — O que...?
Ele foi até a janela e olhou para fora.
— Apague as luzes, por favor! — ele gritou para Danton.
A iluminação foi desligada. De início, Atlan não viu nada. Porém,
quando seus olhos se ajustaram à escuridão, ele viu um ponto luminoso,
branco e forte à distância, o halo de uma lâmpada solar pairando trinta me-
tros acima do solo. Espanto e preocupação se misturavam na sua expressão
quando ele finalmente se afastou da janela.
— Não sei o que dizer sobre isto — comentou ele. — Nossos relógios
indicam quase oito e meia, mas está tão escuro lá fora como se fosse meia-noite.
Ele viu o olhar de Perry Rhodan endurecer. No mesmo momento, ele
sabia o que seu amigo estava pensando.
— Ricardo!... — ele murmurou a meia-voz.

Tahun estava envolto por um negror impenetrável. Nem as estrelas


nem o sol podiam ser vistos. Perry Rhodan contatou imediatamente uma
das estações de observação astrofísica.
— Por que não fui informado sobre este acontecimento imediatamen-
te? — perguntou ele em tom reprovador.
— Perdão, senhor — respondeu o oficial de plantão. — Eu tentei fazer
contato. Mas declararam para mim que o senhor proibira expressamente
qualquer perturbação.
Perry Rhodan deu um sorriso amargo.
— Seria possível pensar que essa instrução estaria inválida em tal
caso. O que aconteceu?
O oficial fez um gesto de desamparo.
— Tudo que sabemos, senhor, é que Tahun está isolado do mundo
desde as cinco da manhã. As medições das sondas parecem indicar que o
planeta está rodeado por um campo energético cujo diâmetro é de cerca de
dois diâmetros planetários. Alguns satélites de comunicação estão do lado
de dentro do campo energético e continuam as suas órbitas. No entanto,
os satélites sincrônicos mais distantes desapareceram. Não temos conexão

51
Kurt Mahr Trevas em Xeque

de rádio com o mundo exterior. Há gravações mostrando como, às cinco


horas, todas as estrelas desapareceram repentinamente do céu. Desde então,
também não recebemos nenhuma transmissão de fora.
— E as temperaturas? — quis saber Rhodan.
— Estão abaixando constantemente, senhor. A esta hora do dia,
normalmente fica entre dezoito e vinte graus nesta região. Agora, está em
apenas nove, e o frio aumenta a cada hora.
— Vocês já tentaram rastrear? Afinal, o campo tem que vir de algum
lugar. Já que ele cerca o planeta, dá quase para supor que o gerador está em
algum lugar na superfície de Tahun.
— Tentamos tudo, senhor — respondeu o oficial. — Sem sucesso.
Parece que não é usada aqui uma forma de energia convencional, e nossos
instrumentos de medição não reagem.
Nesse meio tempo, como Perry Rhodan soube, várias espaçonaves
pequenas tinham partido para investigar o fenômeno no local. De suas ob-
servações e medições, esperava-se obter uma primeira visão sobre o tipo e
funcionamento do campo defensivo. Tentou-se contatar o mundo exterior
através das vias de transmissor que conectavam Tahun com várias estações
da USO. Estojos com mensagens tinham sido enviados através do transmis-
sor contendo nada além de um pedido por escrito para devolver o estojo
imediatamente após a recepção adequada com uma confirmação corres-
pondente. Porém, nenhum dos recipientes havia sido devolvido. Assim, era
certo que as conexões de transmissores também tinham sido interrompidas
pelo estranho campo defensivo.
Na pequena sala onde Rhodan, Atlan e Danton haviam conversado
a noite toda, houve um silêncio opressivo quando o videotransmissor foi
desligado. Perry Rhodan fitou pensativamente à frente. Alguns minutos se
passaram. Então Roi Danton perguntou: — O que ele quer desta vez?
— Só vejo uma possibilidade — respondeu Rhodan sem hesitar. — O
bloqueio está fazendo Tahun perder calor. O conteúdo térmico do planeta está
sendo gradualmente irradiado para o espaço vazio que o campo defensivo
engloba. A superfície do planeta vai congelar. Pessoas morrerão. Anti-Aquilo
conta com que, com esse desenvolvimento, eu prefira capitular a admitir que
Tahun seja destruído por minha causa.
Ele se levantou.
— Estou cansado — disse ele, passando a mão pela testa erraticamente.
— Por favor, me acordem assim que as espaçonaves pequenas retornarem
com os resultados das medições.
Ele ocupava uma fileira de aposentos no mesmo corredor em que
estava a pequena sala de conferência. Um robô foi designado para servi-lo.
O ser-máquina fez uma saudação militar quando Rhodan entrou pela porta.
— Nenhum incidente especial durante a sua ausência, senhor —
anunciou a voz surpreendentemente bem modulada.

52
Kurt Mahr Trevas em Xeque

— É o que você pensa — respondeu Perry Rhodan, cansado, e foi


para a porta mais próxima.
Ela se fechou atrás dele. Ele ergueu os olhos e estacou. Diante dele, em
uma poltrona confortável, um homem descansava. Já fazia muito tempo que
Perry Rhodan não o via; porém, esse o reconheceu de imediato. O robô do
lado de fora havia relatado “nenhum incidente especial”. Isso correspondia aos
modos desse homem, que ele houvesse entrado nos aposentos bem protegidos
do Administrador-Geral sem que a guarda notasse. Na realidade, ele não era
um homem. Ele era uma criatura artificial, um robô como aquele do lado
de fora da porta, mas criado por uma tecnologia séculos à frente da terrana.
— Homunk!... — exclamou Rhodan.
O robô se levantou da poltrona.
— Você me reconhece — respondeu ele, sorrindo. — Eu vim ajudá-lo.
Você precisa de ajuda, diz o poderoso de Peregrino.

8.

A surpresa de Perry Rhodan foi duradoura. Não era comum que um


evento inesperado o deixasse perplexo por mais de uma fração de segundo,
mas, dessa vez, aconteceu.
— Homunk!... — repetiu ele.
— Sinto muito se o assustei — disse o androide. — Eu o conhecia como
um homem que nada poderia tirar do equilíbrio tão facilmente...
— Sem desculpas, Homunk — Rhodan o interrompeu. — Estou um
pouco esgotado, só isso.
Homunk assentiu, compreensivo.
— O segundo jogador o afligiu — opinou ele.
— O segundo jogador?...
— Anti-Aquilo. Você compreendeu há muito tempo que isto é um
jogo, não é mesmo?
— Um jogo horrível, sim. A expressão que nossa língua usa para isso
parece pouco apropriada. Milhões de pessoas morreram durante as várias
fases do jogo.
Homunk levantou o dedo em advertência.
— Eu sei que você vai me entender quando eu digo que as grandes
relações do Universo não devem ser medidas pelos padrões humanos, pelo
menos não pelos padrões humanos atuais. Há considerações superiores que
demonstram conclusivamente que o preço de milhões de vidas humanas não
é muito alto para o que está em jogo aqui.
— O que é, Homunk? — insistiu Perry Rhodan. — Do que se trata?
— Eu não sei — respondeu o androide laconicamente. — Sou apenas
um fraco reflexo do ser de Peregrino. Não conheço suas considerações, mas
sei que elas existem e que visam apenas o benefício da Humanidade galáctica.

53
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Houve silêncio por um tempo.


— Você veio para ajudar — Perry Rhodan fez por fim eco da obser-
vação original do androide. — A escuridão, o campo envoltório... são obras
de Anti-Aquilo?
— Sua suposição está correta — respondeu Homunk. — O segundo
jogador quer colocá-lo de joelhos. Ele sabe que você não vai arriscar a vida
daqueles que habitam Tahun. Ele se aproximará de você e deixará claro que,
pelo preço de sua capitulação incondicional, ele erguerá o campo e restaurará
Tahun ao seu estado original.
— Isto não é mais um jogo — respondeu Rhodan com raiva. — Aqui,
se está agindo com força bruta... por um ser cujo conhecimento é tão am-
plamente superior ao nosso que não temos a menor chance.
— Exatamente — confirmou Homunk. — Por isso, me enviaram. Eu
posso ajudar. Você vai querer saber como. Estou pronto...
— Eu não estou sozinho, Homunk — Perry Rhodan o interrompeu.
— Eu tenho amigos que devem ouvir o que você tem a dizer.
Homunk concordou, mesmo que não sem reservas.
— Será como você diz. Mas se lembre de que cada minuto que passa
sem ser usado, o frio lá fora aumenta.
Rhodan assentiu fortemente.
— Eu penso nisso, Homunk — disse ele.

A surpresa de Atlan, Danton, e dos dois oxtornenses não foi menor


que a de Rhodan. O arcônida reconheceu o androide imediatamente.
— Eu vim para ajudar — reafirmou Homunk. — O segundo jogador
interpreta as regras do jogo um pouco frouxamente. Portanto, o governante
de Peregrino se sente justificado em me empregar.
— Do que se trata isso? — quis saber Perry Rhodan.
— Trata-se do campo envoltório em que Anti-Aquilo encerrou este
planeta. Através desse campo, todas as conexões com o mundo exterior estão
cortadas. Até mesmo as vias de transmissor estão interrompidas. Temos que
fazer um dos transmissores funcionar novamente para fugir daqui.
— E deixar as pessoas em Tahun à própria sorte? — protestou Rhodan.
— Não. Para destruir o gerador que cria o campo envoltório.
— Ele não está aqui?
— Não. Está no segundo planeta do sistema.
Roi Danton ficou surpreso.
— Como Ricardo chegou lá sem ser notado daqui?
— Ricardo?... — perguntou o androide.
— Nosso adversário — explicou Atlan. — Ele se mostra como um

54
Kurt Mahr Trevas em Xeque

jovem com um rosto inexpressivo. Ele está em toda parte e em nenhum lugar,
e parece estar observando cada movimento nosso.
Homunk assentiu em compreensão.
— Uma projeção. Um emissário de Anti-Aquilo. A projeção de um
ser superior com capacidades superiores. Ele não precisa de uma espaço-
nave para se mover de um planeta para outro. Anti-Aquilo simplesmente o
projeta no outro local.
— E ele pode reprogramar robôs, não é? — perguntou Powlor Ortokur.
— Sem dúvida — confirmou Homunk. — A projeção normalmente
existe em um continuum superior pentadimensional. Ela tem uma visão e
acesso a coisas que quem vive no espaço quadridimensional consideraria
cuidadosamente guardadas, trancadas e seguras.
— Sua capacidade de observar é realmente ilimitada? — quis saber
Perry Rhodan.
— Não, claro que não. Embora ele tenha, de sua posição superior, todo
o mundo quadridimensional diante de si, o tempo e a distância desempenham
um papel importante. Ele só pode ver indistintamente o que está distante
dele através do tempo ou do espaço, e, se ele direciona a sua atenção para
um determinado processo, então ele pode não observar outros processos ou
apenas com uma precisão muito reduzida.
Os amigos se entreolharam.
— Pelo menos, alguma coisa — observou Neryman Tulocky em tom
seco.
— Portanto, trata-se de fazer o transmissor ficar operacional novamen-
te — o androide finalmente retomou o fio. — Eu sei que existe aqui uma via de
transmissor estática energizada para Ustrac. Sugiro que reativemos essa via.
Ele olhou em volta. Atlan sorriu.
— Se você espera que eu lhe pergunte como vai conseguir isso — disse
ele —, você se enganou. Eu sei que seus conhecimentos são muito superiores
aos meus. Não pretendo sobrecarregar o meu pobre cérebro com explicações
incompreensíveis.
— Isso é bom — concordou Homunk. — Afinal, quanto mais rápido
agirmos, melhor estará esse mundo.
— Mas eu tenho uma pergunta! — tomou a palavra Roi Danton.
— Por favor!...
— Para que você precisa de nós? Se Aquilo já o enviou, por que não
vai ao planeta vizinho e desliga o gerador?
Havia algo de indulgente no sorriso de Homunk.
— As regras do jogo proíbem a intervenção direta — respondeu ele.
— Eu posso lhes dar conselhos. Mas eu não posso interferir no curso dos
acontecimentos.
— Não veja nisso uma repreensão — Roi Danton, sorrindo, aliviou a
sua pergunta. — Só sou curioso por natureza.

55
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Homunk virou-se para Perry Rhodan.


— Você está pronto? — perguntou ele.
— Estou — confirmou o Administrador-Geral.
— Queremos ajudar — disse o arcônida.
Porém, Homunk balançou a cabeça vigorosamente.
— Isso seria prejudicial — sustentou ele. — Pretendo enganar Ricardo,
como ele se autodenomina. Quanto menos companheiros eu tiver, melhor
será o meu sucesso. Por favor, fiquem aqui até que tenhamos ativado a via
de transmissor!
Foi seguido o pedido dele. Rhodan e Homunk estavam para partir.
Contudo, antes de se colocarem a caminho, houve um pequeno incidente.
Em um canto da sala, o ar de repente começou a tremeluzir. Surgiram os
contornos de uma figura. Neryman Tulocky soltou um grito semiabafado.
Do nada, Ricardo, o emissário de Anti-Aquilo tinha se materializado.
Ele olhou em volta com aquele sorriso vazio e irônico tão característico
dele.
— Vejo que se reuniram — disse ele. — E a concorrência mandou
reforço. Espero que não tenham esperanças falsas. Afinal, o jogo está pra-
ticamente ganho.
Com um grito furioso, Powlor Ortokur puxou o radiador de impacto,
ergueu o cano e puxou o gatilho. Sibilando, o raio energético brilhante e bem
concentrado atravessou a figura de Ricardo para a parede. A aparição sorriu
com desdém e disse: — Algumas pessoas são tão estúpidas que realmente dói.

— Ele não é vulnerável — disse Homunk a Perry Rhodan no caminho


para o transmissor. — Eu já disse que é apenas uma projeção. Ele pode agir
como se fosse um ser real, mas não pode ser tratado como um. Você entende
o que quero dizer?
Rhodan, que estava na direção do planador e o dirigia cuidadosamente
através da escuridão, assentiu.
— Entendo.
Exteriormente, a temperatura estava abaixo de zero. O céu sobre Tahun
estava sem nuvens, como indicava o rastreamento meteorológico. O planeta
irradiava livremente o calor de sua superfície para o espaço sideral. O campo
envoltório parecia atuar como um poderoso dissipador de calor. Ele absorvia
vorazmente cada quantum de calor que Tahun irradiava.
O transmissor para Ustrac estava a apenas duzentos quilômetros da
casa de hóspedes onde Perry Rhodan e seus companheiros estavam alojados.
Ficava em um edifício em forma de cúpula que era um marco inconfundível
à noite por causa da sua iluminação e de dia pelo seu tamanho. Perry Rhodan
deu um suspiro de alívio quando as luzes do topo da cúpula finalmente apa-

56
Kurt Mahr Trevas em Xeque

receram na escuridão. Ele pousou o planador em frente à entrada principal.


O enorme salão cupular estava vazio, exceto por uma única sentinela, que,
reconhecendo o Administrador-Geral, fez uma reverência. O campo do
arco-portal transmissor não brilhava mais. Haviam-no desligado, pois se
sabia que a rota estaria inutilizável enquanto houvesse o campo envoltório
ao redor de Tahun.
Homunk começou a trabalhar imediatamente. A atividade do trans-
missor era controlada por um poderoso dispositivo positrônico composto
por vários módulos alojados ao longo da parede da cúpula. Com a ajuda
de Perry Rhodan e da sentinela, foram retiradas as coberturas de todos os
módulos. As mãos de Homunk se transformaram, de uma forma incrível,
em ferramentas multiuso. Ele soltou parafusos, contatos, removeu elementos
de ligação sem usar mais do que os dedos. Os olhos da sentinela ameaçavam
saltar das órbitas pelo espanto; porém, ninguém a notava, ninguém lhe ex-
plicava nada. Em vez disso, Homunk falava com Perry Rhodan a meia-voz
enquanto trabalhava, a fim de lhe explicar, pelo menos em linhas gerais, de
que maneira ele pretendia fazer a via de transmissor transitável novamente.
— O campo envoltório tem uma estrutura energética hexadimensional
— explicou ele. — Como resultado, ele tem a capacidade de cortar o fluxo
de energia do campo transmissor onde ele cruza com o campo envoltório.
Qualquer objeto levado pelo campo de transmissão se transforma assim em
sua forma desmaterializada em um componente do campo envoltório. Para
um humano, isso significaria a morte instantânea.
Ele deixou o módulo em que trabalhava e foi para o próximo.
— O que pretendo — começou ele de novo — implica fornecer ao
campo de transmissão potência adicional no momento em que o processo
de transporte começar, o que lhe permitirá romper o estrangulamento do
campo envoltório por alguns momentos – tempo suficiente para que o objeto
a ser transportado passe pelo local perigoso.
Perry Rhodan sorriu, compreensivo.
— E o objeto a ser transportado, como você tão bem disse, sou eu, não é?
Homunk ergueu os olhos e devolveu o sorriso.
— De fato... é você — respondeu ele.

O arcônida, Roi Danton e os dois oxtornenses aguardavam sentados


e ansiosos quando o intercomunicador soou. Quando Atlan ligou o monitor,
apareceu o rosto de um homem que parecia ter acabado de encontrar um
fantasma.
— Eu... tenho uma mensagem de hiper-rádio para o senhor, Lorde-
Almirante — gaguejou ele.
— Uma mensagem de hiper-rádio?! Quando chegou?

57
Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Há poucos instantes, senhor.


Atlan olhou um pouco desolado para o círculo de amigos. Porém,
nem eles sabiam explicar o inexplicável.
— De onde veio a mensagem? — perguntou o arcônida.
— Isso não pode ser determinado, senhor — respondeu o interlocu-
tor. — Ela contém apenas uma única frase.
— Texto decodificado?
— Sim, senhor.
— Leia para mim!
O homem da USO pegou um pedaço de folha impressa e leu: — Aten-
tar para a perda de potência na central de força!
— Isso é tudo? — perguntou Atlan, intrigado.
— Tudo, senhor — respondeu o homem da USO, piscando e confuso.
— Dê-me o código de conexão da central de força! — ordenou o ar-
cônida.
A ordem foi obedecida. Menos de um minuto depois, Atlan falou com
o robô de informações da central de força.
— Vocês têm perda de potência? — perguntou ele.
O robô reconheceu o Lorde-Almirante e registrou que era obrigado
a dar qualquer informação solicitada.
— Positivo, senhor. Faz cinco horas e quarenta e dois minutos que
estamos perdendo perto de vinte megawatts, que vazam de algum lugar que
ainda não conseguimos encontrar.
Roi Danton teve uma ideia repentina.
— Que horas são agora? — perguntou ele ao robô.
— Dez horas e vinte e nove, senhor — foi a resposta.
Atlan interrompeu a ligação. Danton e o arcônida se olharam de
forma significativa.
— Dez horas e vinte e nove menos cinco horas e quarenta e dois —
disse Danton com voz arrastada —, isso dá cerca de cinco horas da manhã.
O momento em que o campo envoltório surgiu!
Alguns minutos depois, eles estavam a caminho da central de força.
A instalação, a maior do seu tipo em Tahun, tinha uma produção total de
mais de cem gigawatts. Assim, o que se perdia era apenas uma pequena fra-
ção da produção total da central de força. Porém, desde a criação do campo
envoltório, a situação em Tahun tinha se tornado tal que os responsáveis
pela geração de energia regateavam cada meio quilowatt. A central de força
tinha uma equipe principal de vinte e um homens e quase trezentos robôs.
Quase todos os robôs e dezoito dos vinte e um homens estavam ocupados
procurando o vazamento.
Atlan falou com o chefe da central de força.
— Não temos ideia onde ocorre isto — disse o homem. — Perdemos
potência de vez em quando. Porém, em todos os casos até agora, isso girou

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

apenas em algumas centenas de quilowatts, e as máquinas conseguiram sanar


os danos por conta própria. Só que hoje...
Ele balançou a cabeça e fez cara de um homem extremamente pre-
ocupado. Atlan tinha uma pergunta na ponta da língua, mas não chegou a
expressá-la. A porta do escritório de onde o gerente estava supervisionando
a busca se abriu. Com sinais claros de nervosismo, um dos funcionários
entrou apressado. Sem dar atenção aos visitantes, ele gemeu: — Achamos o
vazamento, chefe! E que vazamento!
Todos os presentes se levantaram.
— Fale! — gritou o chefe para o funcionário.
— Na carcaça do terceiro gerador — soltou o homem. — Um escoa-
douro. Só Deus sabe quem o colocou ali. E, bem ao lado dele, um pequeno
transmissor direcional, que irradia a energia capturada para algum lugar!
O chefe da central de força se voltou para o arcônida com uma ex-
pressão de indignação.
— Aí está, senhor — disse ele, sério. — Justamente no momento de
maior demanda de energia: sabotagem.
Atlan perguntou ao funcionário: — Alguma coisa foi mudada no
emissor direcional?
— Não, senhor — respondeu o homem, um pouco atônito, pois só
agora ele reconheceu o Lorde-Almirante.
— Cuide para que ninguém chegue perto do emissor! — ordenou
Atlan ao chefe. — E chame alguns especialistas para determinar a direção
da irradiação até o último segundo angular!
Sua ordem foi obedecida imediatamente. Enquanto o chefe da central
de força dava instruções e falava pelo intercomunicador com esse ou aquele,
Roi Danton voltou-se para o arcônida.
— Acho que sei sua linha de pensamento. Você não pensa a sério que
se pode criar um campo envoltório que abrange todo um planeta com vinte
megawatts, não é?
— Não, eu não acho isso. Ricardo recebe a potência para o campo
envoltório de outro lugar, por meio de princípios que não entendemos. Mas o
aparelho com que ele escoa e direciona sua fonte superior de energia também
consome energia. E ele não pode obtê-la da própria fonte – assim como um
motor não pode se ligar sozinho. Assim, ela precisa sugar e direcionar um
pouco da nossa energia convencional.
O seu rosto estava anormalmente duro, a sua expressão, amarga.
— Você sabe o que isso significa, não é? — disse ele sem olhar para
Danton. — Se a potência de direcionamento é sugada daqui, então o gerador
para o campo envoltório também está aqui.
— Sei o que significa — respondeu Roi Danton. — Desta vez, Anti-
Aquilo joga de forma tão injusta como sempre!

59
Kurt Mahr Trevas em Xeque

9.

A habilidade com que Homunk trabalhou foi admirável. Levou qua-


renta minutos, então deu dois passos para trás e examinou seu trabalho com
a satisfação de uma pessoa que sabe o que faz.
— Vai funcionar — afirmou ele com confiança.
— Você não tem intenção de me enviar nesta viagem incerta sem um
teste, não é? — perguntou Perry Rhodan.
Homunk sorriu um pouco irônico e um pouco superior.
— A viagem só parece incerta para você porque você não conhece os
princípios com que procedemos aqui.
— Pode ser — respondeu Rhodan. — Mas ainda assim...
— Fique tranquilo — o androide o confortou. — Sua paz de espírito
será levada em consideração. Que teste você propõe?
— Um estojo de correio para Ustrac — disse Rhodan, pensativo. Ele
se voltou para a sentinela. — Deve haver coisas assim aqui. Traga um estojo
e um formulário de carta.
O homem saiu apressado. Os eventos dos últimos três minutos haviam
sido tão desconcertantes para ele que ficou contente em receber uma ordem
que compreendia. Ele desapareceu em um pequeno cubículo contendo
material de escritório e outros acessórios, e reapareceu pouco depois com
o que queria.
Após um momento de reflexão, Perry Rhodan escreveu: — Tahun
para Ustrac. Estamos isolados do mundo e estamos fazendo experiências
com o transmissor. Enviar confirmação o mais rápido possível quando esta
transmissão chegar a vocês.
Ele assinou o seu nome. O pequeno pedaço de papel escrito foi enro-
lado e colocado dentro do estojo. Nesse meio tempo, Homunk tinha ativado
o transmissor. Um campo do arco-portal transmissor foi criado. Não brilhava
em todas as cores como de costume, mas emitia um tom verde-venenoso. Era
uma visão perturbadora, e Perry Rhodan sentiu um vago desconforto ao pensar
que, em poucos minutos, ele teria que ficar à mercê desse campo de transporte.
Ele colocou o estojo no braço-catapulta designado para isso. Na base
do braço, havia uma pequena barra de controles. Perry Rhodan apertou um
botão iluminado. Quase no mesmo instante, o braço-catapulta disparou para
frente e lançou o estojo através do arco-portal verde. A estrutura pequena
e cintilante desapareceu no mesmo instante em que passou pela borda do
arco-portal verde.
Então a espera começou. Em Ustrac, devia ter sido notado horas
atrás que a ligação com Tahun fora cortada. A mensagem não causaria es-
panto. Porém, o guarda na saída do transmissor não se atreveria a emitir a
mensagem de resposta. Ele chamaria o oficial de plantão, e alguns minutos
poderiam passar por isso. O tempo passou insuportavelmente devagar. Perry

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Kurt Mahr Trevas em Xeque

Rhodan, inquieto pela visão do arco-transmissor verde-venenoso, reprimiu


com dificuldade o desejo de que a resposta de Ustrac não viesse, para que ele
não tivesse que confiar no aparelho sinistro e pudesse encontrar o caminho
para sair desse dilema por outros meios.
Todavia, tudo correu como determinado. Mal haviam passado oito
minutos quando um objeto cintilante apareceu de repente sob o arco-portal
verde, disparado a grande velocidade, e foi apanhado por uma esteira existen-
te para isso e depositado em uma cesta. Era um estojo de correio do mesmo
tipo que Perry Rhodan havia enviado a Ustrac alguns minutos atrás. Impa-
ciente, ele abriu o fecho. O estojo continha apenas um pequeno pedaço de
papel. Nele, numa caligrafia inclinada e correta, estava escrito: — Recepção
de sua transmissão confirmada. Major Kenton, USO.
Rhodan contemplou a curta mensagem longa e atentamente. Ele nunca
tinha ouvido falar de um major da USO chamado Kenton, especialmente não
de um que servia em Ustrac. Porém, isso não queria dizer nada. Ele tinha
estado ausente por quase dois anos. Colocou o estojo e o papel cuidadosa-
mente no chão. Então olhou para o arco transmissor verde.
— Vou agora — disse ele, e não apenas falou, mas sentiu-se como um
homem se preparando para ir para a beira de um abismo.
— Não há perigo — Homunk o encorajou. — Em alguns momentos,
você estará em Ustrac.
Perry Rhodan foi para a abertura do campo de transporte. Ele teria
atravessado se a sentinela não tivesse gritado de horror nesse momento.
Rhodan não completou o passo e se virou. Seguindo o olhar horrorizado
do sargento, ele olhou para o chão. O estojo que ele havia recebido do trans-
missor alguns minutos antes começava a se desintegrar. O mesmo acontecia
com o pequeno pedaço de papel. De repente, tornou-se transparente e, após
apenas três segundos, não sobrou nenhum vestígio do papel. Foi um pro-
cesso fantasmagórico, como se o vazio tivesse aberto a sua boca e engolido
os dois objetos.
Perry Rhodan entendeu. Ele ergueu os olhos e olhou para o androide.
— Você deveria ter paciência por mais alguns segundos — disse ele,
amargo —, e eu não teria notado. Mas agora eu sei: você não é Homunk!
Rígido, o androide retribuiu o olhar. Então ele começou a mudar.

— Temos que nos separar — disse Atlan com claros sinais de nervo-
sismo. — Rhodan está em grande perigo. Tulocky, Ortokur... Vocês tentam
chegar à estação de transmissão para Ustrac. Se meus medos se revelarem
verdadeiros, vocês não poderão entrar. Porém, o aparecimento de vocês por
si só pode causar a confusão de que precisamos para salvar Perry Rhodan.
Os dois oxtornenses saíram correndo. Não havia dúvidas de que eles

61
Kurt Mahr Trevas em Xeque

usariam o veículo no qual o grupo tinha vindo da casa de hóspedes. Na central


de força, os analistas ainda estavam ocupados determinando o alinhamento
do emissor direcional. Tinha sido deixado claro para eles o quanto dependia
de seu trabalho rápido e sem falhas.
O veículo com os dois especialistas em sobrevivência saiu com ve-
locidade máxima. A escuridão densa ainda pairava sobre Tahun, embora
fosse quase meio-dia. Bem abaixo do planador em alta velocidade, à luz
das lâmpadas solares, podiam ser vistos cursos d’água, que começavam a se
cobrir com finas camadas de gelo. A terra congelava sob o frio cada vez mais
exacerbado. Levou um tempo longo, insuportavelmente longo, antes que a
silhueta da grande cúpula do transmissor, marcada por luzes de navegação,
emergisse da escuridão na distância. Powlor Ortokur, que estava na direção,
havia errado o curso por alguns minutos de arco. Ele teve que virar à esquerda
para evitar perder a estação de transmissão.
Ele pousou o veículo na frente da entrada principal. O planador no
qual Perry Rhodan e o androide haviam vindo estava a apenas alguns passos
de distância. Neryman Tulocky aproximou-se cautelosamente da entrada.
Consistia em um portal alto de glassite, cujas duas metades divergiam para
dois lados quando se aproximava a uma certa distância mínima. Tulocky
calculou que o campo do arco-portal transmissor estava aproximadamente
no centro da cúpula. Até lá, contando a partir da periferia do edifício, eram
quase oitenta metros. Se houvesse alguma conversa ali, dificilmente se poderia
ouvir da abertura do portal.
Ele pretendia correr o risco. O que mais poderia fazer? Ele foi para
a entrada. O portal reagiu como esperado, a parede de glassite se dividiu
ao meio, e as duas metades se separaram. Não se ouvia nada além do que
um leve zumbido. Os dois oxtornenses entraram no salão. Além do portal,
havia uma espécie de vestíbulo, que bloqueava a visão do interior da cúpula.
Neryman Tulocky espiou cautelosamente além da borda. Foi quando ele
viu o arco-portal verde-venenoso e os três homens bem diante dele: Perry
Rhodan, Homunk e um homem velho com a insígnia de sargento da USO.
Rhodan estava bem na frente do androide e falava com ele, apontando para
o chão com a mão direita como se houvesse algo notável ali. Homunk estava
de costas para os dois oxtornenses. Eles não conseguiam ver a expressão dele,
e nenhum deles falava suficientemente alto para que pudessem entender suas
palavras a essa distância.
Neryman Tulocky saiu de trás da proteção. Ele tinha originalmente
a intenção de se esgueirar ao longo da parede da cúpula e, depois, avançar
de um ponto favorável para o centro da cúpula. No entanto, verificou-se
que não havia ponto mais favorável do que aquele em que ele estava ago-
ra. Enquanto Homunk não mudasse de posição, ele não poderia notar os
dois intrusos. A menos que Perry Rhodan ou o sargento revelassem ao se
mostrarem surpresos. Porém, esse era um risco que os dois especialistas

62
Kurt Mahr Trevas em Xeque

em sobrevivência tinham que correr. Para eles, tratava-se de se aproximar


o suficiente para usar suas armas sem colocar o Administrador-Geral ou a
sentinela da USO em perigo.
No entanto, mostrou-se que subestimaram o androide. Eles estavam
ainda a no máximo trinta passos dele quando, de repente, ele deu um passo
para o lado e se posicionou de forma a poder ver Perry Rhodan e a entrada
do salão cupular. Tulocky viu a ironia se iluminar em seus olhos. O androide
levantou a voz para que todos pudessem entendê-lo quando disse: — Vejo
que temos visitas! Os dois senhores provavelmente sentiram o cheiro de um
rato. Temos de garantir que não possam nos perturbar.
Com um grito furioso, Powlor Ortokur saltou para frente. Ele tinha
o radiador de impacto pesado no braço flexionado, e a sua mão esquerda
pressionou o gatilho. A arma deu um tranco quando o raio energético grosso
e brilhante irrompeu da embocadura. Porém, uma névoa fina e transparente
havia descido sobre o grupo de três homens no centro do salão, um campo
defensivo que as capacidades sobrenaturais do androide haviam criado do
nada. O raio do radiador de impacto quebrou-se nele. Por um instante, o
campo cintilou em cores brilhantes e vibrantes. Então, quando Powlor Or-
tokur tirou o dedo do gatilho, o brilho estranho desapareceu.
Dentro, no interior do campo defensivo, Homunk deu as costas aos
dois oxtornenses de novo para demonstrar que não precisava mais se pre-
ocupar com eles. Suas palavras eram agora inaudíveis. No entanto, os dois
especialistas em sobrevivência o viram se aproximar de Perry Rhodan e
apontar para o arco-portal verde com um gesto imperioso.
Então ficou claro para Neryman Tulocky que a hora havia chegado.
Rhodan não podia entrar no transmissor! Ele levantou o braço esquerdo,
em cujo pulso usava o minicomunicador. A sua voz ativou o dispositivo.
— Aqui é Tulocky. Lorde-Almirante, por favor, atenda... é urgente!

O resultado estava ali. O emissor direcional apontava para um cume de


montanha de quase quatro mil metros de altura, a cerca de oitenta quilôme-
tros da central de força. Uma localização preliminar revelou que a montanha,
que se erguia no meio de uma terra árida e desabitada, estava envolta em uma
zona de distúrbios energéticos desconhecidos. Possivelmente, não era seguro
se aproximar do cume. Atlan estava agora firmemente convencido de que,
nesse cume, estava o gerador que produzia o pernicioso campo envoltório
que cercava o planeta Tahun na escuridão perpétua.
Ainda não havia notícias de Tulocky e Ortokur, que haviam partido
meia hora antes. Uma ansiedade incerta enchia o arcônida. Ele não tinha
certeza de que os dois oxtornenses poderiam ajudar Perry Rhodan. A criatura
que dizia ser Homunk e provavelmente nada mais era do que uma variante do

63
Kurt Mahr Trevas em Xeque

misterioso Ricardo tinha capacidades muito além das dos humanos comuns.
Não seria fácil lidar com ela.
No entanto, o arcônida persistiu com seu plano original. Ele queria
dar uma olhada no gerador antes de decidir o que fazer com a instalação.
Ele receava simplesmente fechar o escoadouro e desligar a injeção de
energia para os mecanismos que controlavam o campo envoltório. Não se
sabia como o campo envoltório se comportaria diante disso. Quantidades
tremendas de energia eram armazenadas dentro do campo para que Atlan
pudesse liberá-las ao acaso. Ele tinha que ter pelo menos alguma ideia do
que aconteceria depois que a potência de direcionamento fosse desligada
antes de tomar uma decisão.
Foi assim que ele resolveu. Não era culpa dele não poder proceder tão
sistematicamente quanto desejava. Diante da central de força, três planadores
tinham chegado para levar Atlan, Danton e uma escolta de dez homens até o
topo da montanha onde se acreditava estar o gerador do campo envoltório.
Então, de repente, o minicomunicador do arcônida soltou um silvo forte.
Atlan levou o pequeno dispositivo de pulso até sua orelha. Ele ouviu
claramente a voz de Neryman Tulocky: — ... Lorde-Almirante, por favor,
atenda... é urgente!
— Sou eu — respondeu o arcônida. — O que houve?
Tulocky descreveu brevemente a tentativa fracassada de ajudar Perry
Rhodan.
— Ele o força a entrar no transmissor — exclamou o oxtornense. —
Só pode ser uma questão de alguns momentos, e eu não acho que Rhodan
vai passar ileso pela via de transmissor.
— Claro que não! — rosnou Atlan com raiva.
— Precisamos de uma manobra de distração — gritou apressadamente
Tulocky. — Temos que ganhar tempo!
O arcônida suspirou.
— Bom. Vamos desligar o campo envoltório. Não sei o que vai acon-
tecer depois disso. Mas temos de arriscar. Fique onde está!
Ele desligou o receptor. Roi Danton tinha ouvido. Ele olhou interro-
gativamente para Atlan.
— É isso?...
— É isso! — confirmou o arcônida. — Não vejo outra opção.
Eles voltaram para a central de força. A escolta, indecisa e confusa,
os seguiu com relutância. Atlan e Danton estavam diante do gerador sem o
seu revestimento. O pequeno contato do escoadouro e o emissor direcional
estavam diante deles. Apenas um chute forte, e o contato seria rompido, a
antena direcional se deformaria a ponto de ficar inutilizada. Na mente de
Atlan, se desenrolaram os eventos que tinham se precipitado na última hora.
O androide havia afirmado que o gerador do campo envoltório estava fora do
planeta Tahun, no segundo mundo do sistema Tah. Quando Atlan recebera

64
Kurt Mahr Trevas em Xeque

a misteriosa mensagem que o direcionara para a central de força principal,


e, quando chegara à conclusão, pela existência do escoadouro secreto, que
o gerador do campo envoltório devia estar em Tahun, ele tinha enxergado
claramente o papel do androide. Esse tinha se passado como emissário de
Aquilo, mas, na realidade, era um agente de Anti-Aquilo, que não tinha outra
tarefa senão a de garantir que Perry Rhodan realmente caísse na armadilha
que tinham preparado para ele.
E, agora, o arcônida estava para extrair a consequência desta percepção.
Ele não sabia quais seriam as consequências de seu ato, mas ele tinha que agir.
Ele chutou com toda a força. O contato se rompeu com um rangido.
A antena direcional explodiu, arrebentando.

Algo deslizou sobre o rosto do androide como névoa. Por um momen-


to, suas feições pareceram borradas e sem contornos. Então começaram a se
formar novamente, e outro rosto, também familiar, olhou para Perry Rhodan.
— Ricardo... — murmurou ele.
O androide assentiu com um sorriso irônico. Então ele se transformou
de volta na forma de Homunk.
— Ricardo e eu somos o mesmo — confirmou ele. — Nós dois somos
projeções. E ambos temos o mesmo objetivo: terminar a sua carreira.
Houve movimento no fundo do salão cupular. Pelo canto do olho,
Perry Rhodan viu as figuras dos dois oxtornenses que se moviam rapidamen-
te em direção ao centro da cúpula. No entanto, Homunk também os tinha
notado. De repente, ele deu um passo para o lado. O envoltório levemente
leitoso e translúcido de um campo defensivo desceu sobre o grupo de ho-
mens no centro do salão. A salva de Powlor Ortokur perdeu-se sem efeito
na periferia do campo defensivo.
O androide voltou-se para o Administrador-Geral de novo.
— Vá! — ordenou ele, e apontou para o arco-transmissor com um
gesto imperioso. — Você não tem poder sobre mim. Você tem que ir. Por-
tanto, não estenda as coisas desnecessariamente.
Perry Rhodan temeu que o androide fosse empurrá-lo através do
arco-portal de surpresa. Ele deu alguns passos para o lado, afastando-se do
arco enquanto o androide se aproximava dele.
— Ordeno que entre no transmissor! — ele soltou em voz alta. — Você
não quer que eu use a força, quer?...
Mesmo diante de um perigo mortal, Perry Rhodan não perdeu a
compostura. Ganhar tempo, disparou pela sua cabeça, apenas ganhar tempo.
Desde o último incidente, ele carregava uma arma. Porém, ele sabia que não
poderia ferir o androide com ela.
— Passar pelo arco-transmissor vai me matar — respondeu ele, calmo.

65
Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Se você quiser me impelir a isso, terá que usar a força. Voluntariamente,


eu não irei para a morte!
O androide deu mais um passo à frente. Agora, ele estava bem na
frente do arco-portal verde.
— Tudo bem — disse ele friamente. — Você quer...
Nesse momento, aconteceu. De repente, começou a cintilar dentro do
arco-portal. Um ronco surdo foi ouvido, enchendo o enorme salão até seu
último canto. Perry Rhodan e o sargento se abaixaram involuntariamente, re-
cuando para a cobertura mais próxima. Homunk se virou, surpreso. Ele voltava
o rosto para o arco-portal quando o lampejar ofuscante se condensou, e uma
labareda luminosa como o sol disparou da entrada do transmissor e o envolveu.
Um grito ecoou, tão horripilante como nenhum dos homens no salão
jamais ouvira antes. Homunk desapareceu em um mar de chamas fervilhante.
Um centésimo de segundo depois, a pressão da explosão também atingiu
a cobertura atrás da qual Perry Rhodan tinha se escondido. Ele se sentiu
levantado e arrastado. Acabou batendo forte em um obstáculo e perdeu a
consciência.

10.

Impulsos dolorosos fluíram da escuridão e penetraram na consciência


do primeiro jogador.
— Eu o avisei — pensou ele, sério. — Mas você riu do meu aviso e o
achou supérfluo.
— ... dor... tormento... sofrimento... — martelavam os impulsos de
pensamentos do segundo jogador.
— O campo envoltório — pensou o primeiro. — As tremendas ener-
gias que foram armazenadas no campo estão fluindo diretamente para você
através da ponte que você criou para suas duas projeções. Vai demorar um
pouco até a dor cessar.
— Morte... estou morrendo — gemeram os pensamentos do segundo
jogador.
— Não, você não vai morrer. Você tem constituição mais poderosa do
que o Universo gostaria, quase indestrutível, a personificação de tudo que é
escuro e desvirtuado. Você é a própria escuridão, e a escuridão não pode, a
longo prazo, derrotar e eliminar qualquer poder no Cosmo.
O gemido ficou mais baixo. O segundo jogador começou a se acalmar.
Talvez ele estivesse apenas à espreita. Afinal, havia algo mais. Havia uma
ameaça que havia sido feita caso ele infringisse as regras do jogo e usasse
armas da quarta categoria.
— Preciso de descanso — veio seu fluxo de pensamentos ainda cheio
de dor depois de um tempo. — Não fale comigo por enquanto!
Risos irônicos lhe responderam.

66
Kurt Mahr Trevas em Xeque

— Você é repugnante — declarou o primeiro jogador. — Sua ines-


crupulosidade combinada com sua covardia faz de você a criatura mais
hedionda que este cosmo já produziu. Em que você está especulando agora,
à sua maneira infantil? Que eu esqueci o nosso acordo? Que, por pura pena,
vou me abster de castigá-lo por violar repetidamente as regras?
— Por favor, não fale mais! — o fluxo de pensamentos do segundo
jogador era agora apenas um sussurro cheio de dor. — A dor... é insuportável!
— Vou falar — troaram os pensamentos do primeiro jogador através
da escuridão do supraespaço — enquanto houver o que falar. Você conhece
o nosso acordo, e os Altos Poderes deste cosmo também, pois são testemu-
nhas do nosso acordo. Eu pergunto aos Altos Poderes: o segundo jogador
quebrou o acordo?
Nenhum pensamento foi ouvido, mas um fluido de certeza impreg-
nou a consciência do primeiro jogador. Sua pergunta tinha sido ouvida e
respondida: os Altos Poderes confirmaram que o segundo jogador havia
quebrado as regras.
— De acordo com o nosso acordo, Altos Poderes — gritou novamente
o primeiro jogador —, aquele que quebrar as regras será banido por dez
unidades relativas para a Zona sem Nome. Requeiro que esse banimento
seja efetuado imediatamente!
O segundo jogador gritou de horror. Porém, no mesmo momento,
seu grito desesperado cessou. De repente, houve silêncio na imensidão do
supraespaço. O primeiro jogador estava sozinho. Os Altos Poderes do Cosmo
haviam enviado seu adversário para o exílio. O jogo finalmente terminara, e
a vitória pertencia ao primeiro jogador, ao poderoso de Peregrino. Por dez
unidades relativas, ele era o governante absoluto dessa região. Dez unidades
relativas... um tempo muito, muito longo!

Dessa vez, foi diferente. Dessa vez, eles acreditaram firmemente


desde o início que o jogo tinha finalmente terminado agora. Eles apenas
sabiam. Não tinham certeza se esse conhecimento era apenas uma reação
subconsciente aos eventos particularmente dramáticos das últimas horas
ou se um poder superior tinha colocado isso em suas consciências. Mas o
que importava? Contanto que soubessem! Se o conhecimento mais tarde se
revelasse errado, pelo menos o tempo até esse ponto teria se passado para
fortalecer a paz de espírito.
A queda de Perry Rhodan não teve consequências graves. Ele tinha
batido a cabeça contra a placa de cobertura de um dispositivo. A placa era
feita de material plástico e elástico. O Administrador-Geral teve um grande
galo e uma leve concussão. Essa última foi curada imediatamente com me-
dicamentos, e ele carregou o galo como uma espécie de insígnia de ferido.

67
Kurt Mahr Trevas em Xeque

No momento em que Atlan destruiu o contato do escoadouro na cen-


tral de força principal e fez o projetor direcional em pedaços, a escuridão ao
redor de Tahun desapareceu. De repente, o sol estava no céu novamente. O
firmamento, no entanto, era de uma natureza estranha nas primeiras horas.
Ele tremeluzia em várias cores, como se uma feroz aurora boreal estivesse
se movendo por todo o planeta. Eram os restos das energias do campo en-
voltório. Estavam presos no continuum einsteiniano e tinham dificuldade
em encontrar o caminho de volta para o hiperespaço.
Os dispositivos do transmissor no salão cupular tinham se tornado
uma massa cinza-escuro de metal fundido. Era óbvio que, quando o pretenso
Homunk manipulara o controle, ele havia aberto a saída do campo trans-
missor diretamente para dentro do envoltório do campo que circundava o
planeta Tahun. Sua intenção era fácil de adivinhar. Perry Rhodan deveria
ter sido irradiado para o campo envoltório e teria sido esmagado em mi-
crossegundos pelas tremendas energias do campo. Ao invés disso, porém, o
campo envoltório tinha sido desligado pelo ataque determinado de Atlan.
A maior parte das energias armazenadas ainda estava em fúria no espaço
horas após o desligamento, produzindo as aparições fantasmagóricas no céu
de Tahun. Uma fração, entretanto, tinha encontrado seu caminho através da
via de transmissor aberta e se descarregado dentro do salão.
Homunk, ou melhor, Ricardo, tinha desaparecido sem deixar vestígios
desde então. Nada se sabia de maneira exata sobre ele. Ele havia se denomina-
do como uma projeção. Isso podia ser verdade. Mas o que se deveria imaginar
por uma projeção que emanava de um superser que habitava o continuum
pentadimensional, ninguém sabia dizer. Em seu modo de ação, em todo caso,
o emissário tinha sido realmente suficiente: ele reprogramara a cibernética,
interviera na programação dos robôs, reorganizara um transmissor e execu-
tara uma série de outras coisas incríveis. Entretanto, ele aparentemente não
conseguira resistir à explosão de energia através da abertura do transmissor.
Perry Rhodan lembrou-se de ver o pretenso Homunk desaparecer na erupção
incandescente. A projeção havia morrido. Permanecia a questão de saber se,
no momento da morte, ela havia sentido até mesmo uma pequena fração da
dor que havia infligido anteriormente aos outros. Não que isso importasse.
Mas teria sido o sinal da ação de uma justiça distributiva se Anti-Aquilo e
suas criaturas não tivessem podido sair desse conflito sem ferimentos.
No topo da montanha, na qual, de acordo com a antena direcional,
deveria estar o gerador de controle do campo envoltório que abrangia todo o
planeta, nada mais foi encontrado além de uma abundância de fluxo rochoso
recém-derretido. As energias liberadas do campo envoltório aparentemente
tinham extravasado para ali também. Não foi encontrado nenhum vestígio
do gerador. O segredo de como o campo envoltório fora criado e controlado
permaneceu com as forças sinistras que lutaram nesse jogo cruel.
Muita consideração permaneceu. Qual tinha sido o objetivo do jogo?

68
Kurt Mahr Trevas em Xeque

Por que acontecera? O que a Humanidade podia esperar agora que o jogo
acabara? O que Perry Rhodan encontraria ao retornar à Terra? Até onde o
discernimento humano podia julgar as relações, o jogo tinha sido uma es-
pécie de luta decisiva entre Aquilo, o poderoso de Peregrino, e seu oponente,
Anti-Aquilo. Como se podia quase certamente supor que Aquilo estava do
lado da Humanidade e, assim, também do lado de Perry Rhodan, podia-se
concluir que Aquilo, a Humanidade e Perry Rhodan tinham ganhado o jogo.
Que recompensa receberiam por isso?
A Marco Polo tinha ficado cruzando diante de Tahun enquanto o pla-
neta parecia ter desaparecido no nada. Ela pousou logo após o campo envol-
tório ter desaparecido. A tripulação relatou descargas energéticas gigantescas
que aconteciam no espaço exterior. Os preparativos para o retorno de Perry
Rhodan continuaram. Despedidas foram feitas aos poucos em Tahun que
conheciam o verdadeiro destino do Administrador-Geral e tinham ajudado
em seu retorno à existência habitual. Foram-se os dias em que tais pessoas
tinham que passar por uma ducha psíquica para que a memória em suas
consciências fosse apagada e substituída por uma nova e mais inofensiva.
O tempo em que os políticos de Terrânia tinham que recorrer ao engodo
para evitar que a inquietação predatória se desenvolvesse entre a população
do Império Solar tinha acabado. Perry Rhodan havia retornado, o Império
estava de volta ao caminho certo.
A bordo da Marco Polo, após os passageiros terem ocupado seus
alojamentos, a seguinte conversa ocorreu em uma das cabines ocupadas
pelo Administrador-Geral. Os participantes eram o próprio Perry Rhodan,
o arcônida, Roi Danton e Neryman Tulocky. Powlor Ortokur, o outro oxtor-
nense, tinha se deitado para, como disse Tulocky, “ter um merecido descanso”.
— O jogo durou vários anos — disse Atlan —, mas foi apenas nesta
última fase que percebi que estávamos protegidos pelo poderoso de Peregrino,
ou pelo menos influenciados em nosso benefício.
— Isso é incrível — reagiu Perry Rhodan. — Afinal, posso imaginar
que as regras do jogo são que as peças do jogo – nós! – não podem notar
nada sobre a influência dos jogadores.
— Pode ser — replicou o arcônida. — Mas também acredito que o
antisser violou tantas vezes as regras do jogo que Aquilo foi forçado a se
destacar com um pouco mais de clareza para compensar as desvantagens
que sofremos com o comportamento ilícito de Anti-Aquilo.
— Isso nada mais é do que conjecturas — respondeu Perry Rhodan,
pensativo. — Será que um dia saberemos como foi realmente?
— Bastante reais — insistiu Atlan em seu ponto de vista — foram as
três dicas que recebi de Aquilo.
— Quais foram?
— Pensei que você nunca mais perguntaria isso — troou Atlan. Logo
depois, no entanto, ele sorriu. — Primeiro, houve a estranha ideia de levar

69
Kurt Mahr Trevas em Xeque

junto Tulocky e Ortokur para Tahun logo depois que Ling Zoffar me disse
que o seu invólucro mortal estava apresentando sintomas de despertar para a
vida. A propósito, Roi teve a mesma ideia. Foi como se um homem invisível
tivesse colocado uma pulga nos nossos ouvidos. Agimos de acordo: levamos
os dois especialistas em sobrevivência conosco para Tahun. E, sabe Deus,
você não estaria vivo hoje se não tivéssemos feito isso.
— Com certeza — respondeu Rhodan. — Qual foi a segunda dica?
— A ideia repentina que tive no laboratório subterrâneo da clínica. A
ideia de que o gás de cloro e o hidrogênio formavam uma mistura bastante
perigosa. Não sei até hoje como me veio de repente sem nenhuma conexão,
e eu não hesitei em responsabilizar Aquilo por isso.
— Você provavelmente está certo — assentiu Perry Rhodan. — E depois?
— A terceira dica veio tão claramente de Aquilo que ninguém poderia
duvidar. Enquanto Tahun estava cercado pelo campo envoltório e comprova-
damente isolado de toda comunicação com o mundo exterior, chegou uma
mensagem de hiper-rádio para mim. Sem padrão, sem remetente ou data.
A sentença me levou a olhar a central de força principal. Lá, encontramos o
escoadouro e vimos claramente as conexões. Sem essa mensagem de rádio,
não teríamos podido desligar o campo envoltório no exato momento que
importava.
Perry Rhodan olhou pensativamente para frente. Depois que ele
permaneceu calado por algum tempo, Atlan perguntou: — Parece que você
não me ouviu, não é?
Rhodan levantou a cabeça e correspondeu ao olhar.
— Oh, sim, eu até escutei atentamente. Mas, durante isso, um novo
pensamento me veio!
— Um útil?
— Eu não sei se pode-se julgá-lo por esse ponto de vista.
— No que pensou?
— Eu me perguntava como meus amigos Heltamosch, Gayt-Coor,
Doynschto, o Gentil e, não menos importante, Torytrae, o tuuhrt, estão
indo nestas horas.

Na galáxia Catron, a incontáveis milhões de anos-luz do cenário da


Via Láctea, a tropa de ataque de invasão de Heltamosch tinha agora chegado
à sua conclusão bem-sucedida. Junto com Torytrae, ele conseguira enganar o
cérebro robótico central do antigo mundo dos pehrtus, Payntec, por tempo
suficiente para que as espaçonaves raytanas lançassem um ataque devastador
a todo o sistema Gromo-Moth.
Tudo que restava de Payntec eram nuvens brilhantes de gás. O cérebro
robótico central, a última base dos pehrtus na galáxia Catron, fora destru-

70
Kurt Mahr Trevas em Xeque

ído. A frota de Heltamosch voltava para Naupaum. Em Rayt, Heltamosch


seria aclamado como herói. Disso, não havia dúvidas. Ele vinha com a boa
notícia de que, a uma distância que as espaçonaves intergalácticas poderiam
atravessar confortavelmente, uma galáxia sem dono, com bilhões de planetas
desabitados aguardava a invasão dos povos naupaumenses.
A superpopulação catastrófica dentro da galáxia Naupaum finalmente
deixaria de ser uma ameaça. Pessoas que tinham de se acostumar a viver em
confinamento bárbaro por incontáveis gerações fluiriam com entusiasmo
para os mundos desabitados da galáxia vizinha Catron. A civilização nau-
paumense experimentaria um novo florescimento.
Ainda assim, durante o voo de retorno a Naupaum, os pensamentos
de Heltamosch foram pesados e cheios de tristeza. Ele tinha perdido um
amigo. Toraschtyn, em cujo corpo a consciência do amigo tinha vivido, era
agora apenas uma casca morta. O cérebro tinha desaparecido, a consciência
do amigo a quem Heltamosch devia seus sucessos.
Não havia incerteza a esse respeito. A felicidade que ele agora trazia a
Naupaum, a libertação dos grilhões da superpopulação, do confinamento, do
desejo incontrolável de acasalar, que era a própria causa da superpopulação
— ele devia a dois homens que tinham emergido do nada, por assim dizer,
para estar ao seu lado naquelas horas de necessidade: Torytrae, o tuuhrt, e
o cérebro ceynach que tinha vivido na cavidade craniana de Toraschtyn.
Ele tentou imaginar como o amigo estava nesse momento. Porém,
há distâncias que são tão grandes que as pessoas nem sequer são capazes de
imaginá-las e muito menos de fazer uma ponte em pensamento.

O voo da Marco Polo prosseguiu rapidamente e sem incidentes. Em


3 de maio de 3458 do calendário-padrão, a nave capitânia da Frota Solar
materializou-se nas fronteiras do Sistema Solar. Na Terra, o aparecimento da
espaçonave gigante foi divulgado em todas as estações de notícias segundos
depois. A Humanidade se preparou para dar ao seu Administrador-Geral
uma recepção triunfante.
Em uma pequena sala ao lado do enorme posto de comando, Perry
Rhodan, Atlan e Roi Danton observaram os procedimentos na tela quando
a Marco Polo entrou no sistema estelar natal. Fora ultrapassada a antiga
órbita de Plutão, onde agora apenas vagavam escombros rochosos, os restos
do planeta Plutão. A Marco Polo movia-se aproximadamente no plano das
órbitas planetárias. Foi uma coincidência ela ter chegado a menos de um
milhão de quilômetros do nebuloso Netuno.
Os amigos se mantiveram em silêncio. Porém, havia um – não a
bordo dessa espaçonave, mas muito longe, em algum lugar no vazio – que
não considerou muito tal silêncio. Sua gargalhada troou repentinamente em

71
Kurt Mahr Trevas em Xeque

seus cérebros. E, ao mesmo tempo, eles ouviram a sua voz: — Com a última
força e apenas com a minha ajuda, vocês acabaram conseguindo! Vocês não
querem se chamar de fracos?
Perry Rhodan não sabia para onde falava ou se podia ser ouvido, mas
respondeu em voz alta: — Não, não queremos nos chamar de fracos nem
ser chamados assim. Nós lutamos tão bem quanto um humano pode lutar.
Por um momento, houve silêncio, que parecia estar repleto de um leve
espanto.
— Você está certo! — respondeu a voz telepática do poderoso de
Peregrino finalmente. — Vocês demonstraram que é preciso mais do que o
poder humano para derrotá-los. E é por isso que a recompensa é de vocês!
Isso foi tudo que se ouviu de Aquilo por enquanto. Na mente daqueles
que participaram da breve troca de ideias com o superser, cravou-se a per-
gunta: “Qual é a recompensa? O que ganhamos? Como as coisas continuam?”
A resposta se fez esperar. A Marco Polo pousou na Terra, e Perry
Rhodan foi recebido como nenhum homem antes dele havia sido recebido
pela sua pátria. Mas a pergunta permaneceu sem uma resposta.
Qual é a recompensa?
Como as coisas continuam?...

FIM

O último ataque do inimigo da Humanidade, que teve sua personificação


em Anti-Aquilo, foi repelido com sucesso. De acordo com isso, parece que
o tempo das provações de forma alguma acabou. Aquilo, o ser espiritual
que esteve ao lado da Humanidade no “xadrez cósmico”, pelo menos
aponta para algo assim.
E assim, cerca de oito meses após os eventos descritos no episódio 649,
chega um novo e completamente inesperado confronto das profundezas
do espaço...
William Voltz conta mais a respeito no episódio 650 de Perry Rhodan,
que tem por título:

A LIGA DOS SETE

72
SSPG Editora Perry Rhodan

Glossário
DAP: Sigla para “deformação abstrata psicossomática”. Nome dado à doença que
surgiu na Via Láctea ao ser trazida pela Marco Polo quando a nave terrana retornou
do universo paralelo. Após extensa pesquisa no planeta Tahun, a doença foi reno-
meada como epidemia viral paraenergética. Foi feita uma tentativa de combater
a doença por meio de uma vacina paraexótica. A tentativa de obter um verdadeiro
antídoto para a doença DAP não foi bem-sucedida, mas os sintomas puderam ser
aliviados pelo menos temporariamente por meio de drogas psicotrópicas. Desco-
briu-se que o patógeno se espalhava por ondas de hipercomunicadores e, portanto,
poderia infectar quase toda a Via Láctea. A propagação da DAP para os maahks de
Andrômeda pôde ser evitada no último segundo. Os ativadores celulares ofereciam
tão pouca proteção contra a doença quanto a estabilização mental. Dependendo
do povo, os infectados passavam por várias fases sucessivas. Basicamente, a epi-
demia da DAP causava um enorme aumento nos desejos reprimidos. Uma pessoa
infectada sentia o desejo irresistível e viciante de realizar esses sonhos. Os enfermos
negligenciavam cada vez mais a si mesmos e às suas tarefas diárias, de modo que,
por fim, a doença ameaçava causar o colapso total de toda a civilização. Era notável
que o comportamento dos infectados frequentemente contrastava fortemente com
o seu caráter anterior. O único galáctico conhecido que tinha imunidade completa
contra a epidemia DAP era Markhor de Lapal, também conhecido como Kol Mimo,
que, juntamente com Alaska Saedelaere, o prof. dr. Goshmo Khan e Mentro Kosum,
fez uma viagem de volta no tempo em um deformador de tempo-zero para evitar
o surto da epidemia, criando um paradoxo temporal.

Homunk: Androide, servo e representante de Aquilo. É um robô semiorgânico, de


aparência humanoide, criado pelo superser de Peregrino. Ele opera como seu servo
particular. Possui cérebro intotrônico, isto é, da sexta dimensão. Foi encontrado
pelos terranos pela primeira vez em janeiro do ano de 1976, quando pousaram em
Peregrino com a nave Stardust III após resolver a Charada Galáctica e chegaram à
cidade das máquinas. Ele pediu a Rhodan que lhe desse um nome, mas, inicialmen-
te, Rhodan não atendeu a essa solicitação. Quando Rhodan retornou a Peregrino
em agosto do ano de 1982, Aquilo usou o nome “Homunk” para o ser artificial.
Rhodan ficou surpreso com o fato de o ser espiritual saber que ele havia escolhido
secretamente esse nome. No ano 2326, com a destruição de Peregrino, o robô foi
disponibilizado aos terranos pelo Imortal. Em novembro do ano 3441, os terranos
a bordo da nave Good Hope II conheceram o novo servo de Aquilo, Homunk II, em
Peregrino Beta. Em seu estado de confusão, o superser havia dado a ele o corpo
de uma lagarta gigante de metal. Com a ajuda dos terranos e de Gucky, Peregrino
Beta foi capaz de ganhar velocidade e entrar no espaço linear. Como ali a radiação
de imbecilização não tinha efeito, a condição de Homunk e de Aquilo se normalizou
rapidamente, e Peregrino Beta voltou ao espaço normal após um voo de 2.000
anos-luz. Então a Good Hope II deixou o planeta artificial.

74
SSPG Editora Perry Rhodan

Para mais informações sobre esses e outros verbetes, consulte o site associado Stardust Page
no endereço www.stardust.net.br.

Neryman Tulocky e Powlor Ortokur: Especialistas da USO e oxtornenses nascidos


em 3356 e 3357, respectivamente. As primeiras ações importantes da dupla junto
com Perry Rhodan e Atlan ocorreram no ano 3444, durante a crise dos Antigos
Mutantes. Em meados de junho do ano 3444, os dois especialistas e seu okrill
Saladino estavam em missão para a USO no planeta Hoodhir, situado no sistema
estelar Vega, quando o Lorde-Almirante Atlan convocou os dois para irem para o
planeta Asporc, onde participaram da busca pelos Antigos Mutantes desaparecidos.
Em seguida, eles se envolveram nas aventuras no sistema Paramag Alfa ou siste-
ma de destroços. No ano 3456, Ortokur e Tulocky estiveram envolvidos na busca
de dois deformadores de moléculas no planeta Ughdair. Essas missões também
aconteceram no universo paralelo, onde as suas duplicatas negativas apoiaram a
nave Marco Polo. Nessa época, eles também eram os guardiões do parabanco.

Ustrac: Terceiro planeta do sistema estelar do sol Impron, situado na Via Láctea.
Ustrac é a sigla para “United Stars Training Center”. É um mundo originalmente
deserto, reservado para o treinamento dos especialistas da USO. Por isso, nesse
corpo celeste, podem ser simuladas todas as condições ambientais possíveis, de
modo a preparar os especialistas de ação da USO para suas próximas tarefas em
grande parte. Para esse fim, foram criados setores de treinamento onde qualquer
clima, qualquer ambiente e qualquer situação podem ser representados de forma
convincente. Cada setor é formado por uma bolha energética que não permite
nenhum intercâmbio entre o conteúdo da bolha e o mundo exterior. Para orientar
a montagem dessa estrutura incrivelmente complicada, foi construído um com-
putador que dificilmente encontra igual na Galáxia. É o sistema hiperimpotrônico
central, também chamado de ASAC. No início de outubro do ano 2436, Perry Rho-
dan, Atlan e a ex-tripulação da nave Crest IV alcançaram o mundo de treinamento
da USO após uma longa odisseia na galáxia M-87, com naves auxiliares do cruzador
pesado Orinoco. Por volta do ano 3442, o chefe de formação quase onipotente
desse centro de treinamento da USO era o almirante Frociwen Myn Cahit. Em abril
desse ano, um grupo de imunes contra a imbecilização do Enxame foi levado para
lá para formar o Comando de Busca de Inteligências.

Elaboração: Jocélio Tadeu Hoffelder Maciel


e Rodrigo de Lélis

75
SSPG Editora Perry Rhodan

Autor
Kurt Mahr

© Pabel-Moewig Verlag KG

Kurt Mahr era considerado “o físico” do grupo de autores de Perry Rhodan. Nascido
em 1934, em Frankfurt, ele entrou para a universidade disposto a seguir a carreira
de engenheiro, porém logo mudou de ideia e passou para o curso de Física em 1956.
Após formar-se, Kurt Mahr mudou-se para os EUA. Sua carreira literária começou
no final da década de 1950, com histórias de amor e faroeste — contudo, sem
grande sucesso. Isso mudou quando ele passou a escrever ficção científica: em
1960, seu livro “Zeit wie Sand” (“Tempo Feito Areia”) foi publicado na série Terra,
e, em 1961, ele estreou na série Perry Rhodan com o episódio “Alarme Galáctico”,
o quinto da série. Seus conhecimentos de física impregnavam a série, e seus volu-
mes caracterizavam-se por extrapolações técnico-científicas exatas e detalhadas.
Em 1972, Mahr retornou à Alemanha e começou a escrever para a série Atlan. A
partir de então, ele passou a escrever exclusivamente para as séries Perry Rhodan
e Atlan, bem como para os “romances planetários” de Perry Rhodan. Em 1977, ele
retornou para os EUA. A partir de 1985, Mahr começou a escrever, juntamente com
Ernst Vlcek, as sinopses básicas para a série Perry Rhodan. Durante uma década
e meia, ele escreveu o suplemento “Perry Rhodan Computer”. Kurt Mahr morreu
em 1993, na Flórida, em consequência de um acidente. O desenhista Johnny Bruck
prestou-lhe uma homenagem, retratando-o na capa do episódio 1700 da série.

Elaboração: César Augusto Figueiredo Maciel


e Rodrigo de Lélis

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SSPG Editora Perry Rhodan

Próximo Volume

11º Ciclo: “O Concílio”


Volume 1
Episódio 650

A Liga dos Sete


de William Voltz

Tradução de
Francis Petra Janssen

Eles oferecem sua amizade – e exigem em troca a submissão da Humanidade...

Na Terra e nos outros mundos da Humanidade, registra-se o início


do ano 3459. A última jogada do oponente da Humanidade, que se
manifestou por meio do conceito “Anti-Aquilo”, foi rechaçada com su-
cesso quando, em abril do ano anterior, Perry Rhodan encerrou a sua
“Odisseia Cerebral” e retornou ao seu corpo original.
Contudo, parece que o período de provações ao qual a Humanidade foi
submetida ainda está longe de terminar. O ser imaterial Aquilo, que,
no “jogo de xadrez cósmico”, esteve do lado da Humanidade, também
aludiu a algo semelhante.
E é assim que, cerca de oito meses após o retorno de Perry Rhodan, sur-
ge um novo e inesperado confronto das profundezas do espaço sideral.
Inteligências estranhas de outra galáxia aparecem no Sistema Solar,
fazem uma demonstração do seu extraordinário poder, ao qual a Hu-
manidade não tem nada comparável a contrapor, e exigem que a Via
Láctea seja incorporada à entidade conhecida como A LIGA DOS SETE...

77
SSPG Editora Perry Rhodan

Ciclos Anteriores
Os volumes da série Perry Rhodan narram uma história contínua que se inicia no ano de 1971 e avança progres-
sivamente pelos séculos e milênios adiante, apresentando a história futura da Humanidade como uma epopeia
grandiosa e intrigante. Para facilitar o acompanhamento da narrativa por novos leitores, a série divide-se em ciclos
de cerca de cinquenta ou cem episódios. Cada ciclo forma um arco de histórias fechado em si: a partir de um novo
ciclo, novas situações, ambientes e personagens são apresentados, até o seu desfecho dezenas de episódios adiante.

1º Ciclo: “A Terceira Potência” – Episódios: 1 a 49


Período das histórias: 1971 a 1984

A primeira viagem tripulada à Lua, comandada por Perry Rhodan, encontra uma
nave avariada dos arcônidas. Com a ajuda de sua tecnologia superior, Rhodan
unifica a Humanidade, defende a Terra de invasões alienígenas e começa o avanço
para a Via Láctea. Com isso, ele toma conhecimento da existência de outros povos,
como os tópsidas, os saltadores e os aras. O superser Aquilo concede aos mais
importantes terranos a imortalidade relativa.

2º Ciclo: “Atlan e Árcon” – Episódios: 50 a 99


Período das histórias: 2040 a 2045

Perry Rhodan encontra-se com Atlan, o Solitário do Tempo. Juntamente com o


arcônida imortal, ele combate os druufs, seres vindos de outro universo, e protege
o pequeno reino sideral terrano dos ataques dos mercadores galácticos e do robô
regente dos arcônidas.

3º Ciclo: “Os Pos-bis” - Episódios: 100 a 149


Período das histórias: 2102 a 2114

Perry Rhodan encontra-se com os antepassados dos arcônidas, os aconenses. Os


antis inundam os mundos da Via Láctea com o liquitivo, uma droga mortal. Surgem
os poderosos robôs positrônico-biológicos das profundezas do espaço intergalác-
tico, que envolvem os povos da Galáxia em sua guerra contra os invisíveis laurins.

4º Ciclo: “O Segundo Império” – Episódios: 150 a 199


Período das histórias: 2326 a 2329

O superser Aquilo espalha 25 ativadores celulares pela Via Láctea, levando as


inteligências da Galáxia a uma corrida pela imortalidade. Os terranos entram em
conflito com os blues, seres que criaram um poderoso império no setor oriental
da Via Láctea. O líder do mundo colonial Plofos rebela-se contra o Império Solar.

5º Ciclo: “Os Senhores da Galáxia” – Episódios: 200 a 299


Período das histórias: 2400 a 2406

Perry Rhodan e seus companheiros descobrem a estrada de transmissores so-


lares para Andrômeda e encontram-se nessa galáxia com os maahks, seres que
respiram hidrogênio, e com os tefrodenses, seres humanoides semelhantes aos
terranos. Os terranos enfrentam os senhores da galáxia, os tirânicos soberanos
de Andrômeda. Rhodan viaja ao passado e toma conhecimento da história dos
lemurenses, a Primeira Humanidade.

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SSPG Editora Perry Rhodan

6º Ciclo: “M-87” – Episódios: 300 a 399


Período da história: 2435 a 2437

Na Via Láctea, surge de repente Old Man, uma gigantesca plataforma robotizada.
Os policiais do tempo e suas espaçonaves vivas atacam o Império Solar para punir
os terranos por seus supostos crimes contra o tempo. Perry Rhodan é enviado
para a galáxia M-87 com sua nave capitânia Crest IV e lá desvenda a história dos
halutenses. Os terranos avançam para as Nuvens de Magalhães e conseguem
derrotar os líderes da Polícia do Tempo.

7º ciclo: “Os Cappins” – Episódios: 400 a 499


Período das histórias: 3430 a 3438

A Terra é ameaçada por poderosos impérios formados por seus antigos mundos
coloniais e vê-se obrigada a se proteger atrás de um campo temporal. Perry Rhodan
viaja 200 mil anos no passado com o deformador do tempo-zero e descobre na
Terra primitiva as atividades dos takeranos, uma parte do povo dos cappins. Para
evitar uma iminente invasão, Perry Rhodan viaja com a nave Marco Polo à galáxia
natal dos cappins e ajuda Ovaron, o Ganjo dos ganjásicos.

8º ciclo: “O Enxame” – Episódios: 500 a 569


Período das histórias: 3438 a 3443

O Enxame, um conglomerado gigantesco de sóis e planetas, atravessa a Via Láctea


e reduz a inteligência de seus habitantes. Juntamente com alguns imunes à onda
de imbecilização, Perry Rhodan luta contra os ídolos, que assumiram o poder no
Enxame há milhares de anos, e devolve o controle da minigaláxia peregrina aos
seus senhores originais.

9º ciclo: “Os Antigos Mutantes” – Episódios: 570 a 599


Período das histórias: 3444

As “Vozes da Agonia” escravizam o povo dos asporcos e colocam em risco a


Humanidade. Para tentar resolver a crise causada pela misteriosa influência
parapsíquica, Perry Rhodan e o Exército de Mutantes encontram-se com os
paramags e defendem o Sistema Solar dos seus ataques de antimatéria. O metal
TEP é descoberto. Rhodan enfrenta uma forte oposição entre os humanos, e seu
posto na liderança do Império Solar é colocado em xeque.

Os episódios da série Perry Rhodan a partir do nº 650 são publicados no Brasil pela SSPG Editora desde o ano de
2001, e uma edição digital a partir do nº 537 foi iniciada em 2015. Em 2019, 2020 e 2021, foram lançadas novas
edições digitais em paralelo respectivamente a partir dos nºs 1800, 2700 e 3000. Para maiores informações,
visite o site oficial da série no Brasil em www.perry-rhodan.com.br. As sinopses básicas de todos os ciclos podem
ser consultadas no endereço www.stardust.net.br/conteudo/perry-rhodan-lista-de-ciclos.

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SSPG Editora Perry Rhodan

Ciclo Atual
10º ciclo: “Xadrez Cósmico” – Episódios: 600 a 649
Período das histórias: 3456 a 3458

A Humanidade é submetida a testes decorrentes de um jogo de xadrez entre


duas potências cósmicas, cujas peças são Perry Rhodan e seus companheiros.
Num universo paralelo, eles encontram seus malévolos alteregos negativos.
Na Via Láctea, surge a epidemia da DAP, que afeta o comportamento de vários
povos galácticos. Num golpe traiçoeiro de um dos jogadores de xadrez cósmico,
o cérebro de Rhodan é enviado para a distante galáxia Naupaum.

Vol. Epis. Autor Título


1 600 Kurt Mahr A Fronteira Invisível
2 601 William Voltz Os Falsos Mutantes
3 602 Clark Darlton Salto Para a Lua
4 603 H.G. Ewers Planeta dos Torneios
5 604 Ernst Vlcek Triunfo da Força
6 605 Hans Kneifel Salto Para Galax-Zero
7 606 Kurt Mahr Maratona das Espaçonaves
8 607 William Voltz Arena: Mundo de Gelo
9 608 Clark Darlton Na Pista da DAP
6 609 H.G. Ewers Operação Hora H
11 610 Ernst Vlcek Peregrinação Para a Terra
12 611 Hans Kneifel Foco: Centro Médico
13 612 H.G. Francis Galáxia à Beira do Abismo
14 613 Kurt Mahr O Flagelo da Humanidade
15 614 William Voltz Destino de Voo: Andrômeda
16 615 William Voltz Perigo Para Andrômeda
17 616 H.G. Ewers A Andropeste
18 617 Clark Darlton A Luta Pela Positrônica
19 618 Hans Kneifel Duelo dos Imunes
20 619 Kurt Mahr Caçada à Máquina do Tempo
21 620 Ernst Vlcek Viagem Pelo Fluxo do Tempo
22 621 H.G. Ewers A Correção Temporal
23 622 Hans Kneifel Cérebro Aprisionado
24 623 William Voltz O Mercado de Cérebros
25 624 Clark Darlton Nas Catacumbas de Nopaloor
26 625 H.G. Francis A Ponte de Tempo-Zero
27 626 Kurt Mahr Luta dos Cérebros
28 627 Ernst Vlcek O Inferno de Maczadosch
29 628 William Voltz O Caçador de Ceynachs
30 629 H.G. Ewers Duelo com o Ceynach
31 630 Clark Darlton O Legado dos Yulocs
32 631 Hans Kneifel As Cidades Voadoras
33 632 H.G. Francis O Chamado do Infinito
34 633 Kurt Mahr A Caçada Psiônica
35 634 H.G. Ewers A Insurreição da Mucton-Yul
36 635 William Voltz O Cérebro de Pedra
37 636 H.G. Francis A Morte do Raytscha
38 637 Hans Kneifel O Forasteiro de Catron
39 638 Ernst Vlcek O Contraplano
40 639 Kurt Mahr A Morte do Administrador-Geral
41 640 William Voltz O Cérebro Enlouquecido
42 641 H.G. Ewers O Jogo-Fantasma
43 642 H.G. Francis A Frota dos Suicidas
44 643 Ernst Vlcek O Planeta dos Guardiões Silenciosos
45 644 Hans Kneifel Golias do Passado
46 645 Kurt Mahr O Veio de Catron
47 646 William Voltz Contatos com a Eternidade
48 647 H.G. Ewers Intrigas em Payntec
49 648 Clark Darlton A Luta Contra o Yuloc
50 649 Kurt Mahr Trevas em Xeque

A cada quinzena, a SSPG Editora lança novos volumes do 10º ciclo da série Perry Rhodan. Para mais informações,
visite o site oficial da série no Brasil em www.perry-rhodan.com.br.

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SSPG Editora Perry Rhodan

Próximo Ciclo

Imagem: Johnny Bruck / Copyright © 1974 Pabel-Moewig Verlag KG.

81
Créditos Editoriais

Copyright © 2021:
Perry Rhodan 649, by Kurt Mahr, “Schach der Finsternis”,
Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt, Germany
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Copyright da edição brasileira © 2021:


Perry Rhodan 649, “Trevas em Xeque”,
Star Sistemas e Projetos Gráficos Ltda., Belo Horizonte, Brasil
Todos os direitos reservados.

Perry Rhodan
Marca requerida – INPI
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A reprodução, armazenamento ou distribuição desta publicação, no todo ou em


parte, por qualquer tipo de sistema de banco de dados, website, rede ponto a ponto,
rede social, gravação em mídia, impressão, fotocópia ou similar, por outras fontes
que não a detentora do copyright da edição, sem a autorização prévia e expressa dos
editores, constitui violação de direitos autorais (Lei 9.610/98).

Todos os personagens deste livro são fictícios. Qualquer semelhança


com pessoas ou acontecimentos da vida real é mera coincidência.

As nossas edições reproduzem integralmente o texto original.

Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Perry Rhodan – O Herdeiro do Universo – é uma publicação quinzenal da SSPG Editora –


Star Sistemas e Projetos Gráficos Ltda. Redação: Caixa Postal 2466 – CEP 30130-976 – Belo
Horizonte – MG. Publicado sob licença contratual de Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt,
Alemanha (VPM KG).
Coordenação geral: Rodrigo de Lélis. Divulgação: César Augusto Figueiredo Maciel. Tradu-
ção: José Antonio Cosenza e Dirceu Alvir Rudnick. Revisão da tradução: Marcos Roberto
Inácio Silva, Rodrigo de Lélis. Artigos e colaborações: Jocélio Tadeu Hoffelder Maciel.
Editoração: Rodrigo de Lélis. Ilustrações das capas: Johnny Bruck, copyright © VPM KG.
A distribuição é feita exclusivamente pela SSPG Editora através do site oficial da edição
na Internet (www.perry-rhodan.com.br). Números anteriores em formato impresso ou
digital podem ser adquiridos diretamente com a editora de acordo com a disponibilidade
deles. 1ª edição digital, versão 1.0, julho/2021.
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Índice
Apresentação 2 9. 60
Prefácio Editorial 5 10. 66
Introdução 7 Glossário 74
Personagens Principais 8 Autor 76
1. 9 Próximo Volume 77
2. 15 Ciclos Anteriores 78
3. 22 Ciclo Atual 80
4. 28 Próximo Ciclo 81
5. 34 Créditos Editoriais 82
6. 40 Contatos 83
7. 48 Índice 83
8. 53
A maior série de ficção científica do mundo!

Uma série inigualável, que apresenta a evolução da Huma-


nidade em fantásticas histórias futuristas.
As aventuras de Perry Rhodan e seus companheiros trazem
grandes desafios, situações surpreendentes, mistérios
instigantes, misturando dramas humanos e sofisticadas
tecnologias.
A série divide-se em ciclos de episódios, que formam um arco
de histórias fechado em si. Eles podem ser comparados às
temporadas dos seriados televisivos, por exemplo. A partir
de um novo ciclo, novas situações, ambientes e personagens
são apresentados, até o seu desfecho dezenas de episódios
depois.
Cada volume da série Perry Rhodan traz uma história completa
que pode ser lida a partir de qualquer número.

10º ciclo: “Xadrez Cósmico” – Episódios: 600 a 649


A Humanidade é submetida a testes decorrentes de um jogo de xadrez entre
duas potências cósmicas, cujas peças são Perry Rhodan e seus companheiros.
Num universo paralelo, eles encontram seus malévolos alteregos negativos.
Na Via Láctea, surge a epidemia da DAP, que afeta o comportamento de vários
povos galácticos. Num golpe traiçoeiro de um dos jogadores de xadrez cósmico,
o cérebro de Rhodan é enviado para a distante galáxia Naupaum.

Neste volume:
Episódio 649: “Trevas em Xeque”

Após uma longa odisseia, o cérebro errante de Perry


Rhodan consegue enfim retornar ao seu corpo original!
No planeta Tahun, o aguardam seus amigos mais próxi-
mos, ansiosos e incertos sobre seu regresso. No entanto,
o algoz da Humanidade, Anti-Aquilo, não desiste ainda
da disputa e promove novas investidas contra o terrano,
numa última tentativa insidiosa de vencer o impressio-
nante jogo de xadrez cósmico contra o superser Aquilo...

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