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O Herdeiro do Universo
Uma série inigualável, que apresenta a evolução da Humanidade em
fantásticas histórias futuristas.
As aventuras de Perry Rhodan e seus companheiros trazem grandes
desafios, situações surpreendentes, mistérios instigantes, misturando
dramas humanos e sofisticadas tecnologias.
A série divide-se em ciclos de episódios, que formam um arco de histórias
fechado em si. Eles podem ser comparados às temporadas dos seriados
televisivos, por exemplo. A partir de um novo ciclo, novas situações,
ambientes e personagens são apresentados, até o seu desfecho dezenas
de episódios depois.
Cada volume da série Perry Rhodan traz uma história completa que pode
ser lida a partir de qualquer número.
Neste volume:
Episódio 649: “Trevas em Xeque”
CDD: 839.053
CDU: 821.112.2
Prefácio Editorial
Trevas em Xeque
de Kurt Mahr
Tradução de
José Antonio Cosenza
e Dirceu Alvir Rudnick
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Era a certeza que o carregava. Ele deslizou em suas asas suaves por
espaços infinitos, convencido de que estava no caminho certo, e que, após
tanto tempo, finalmente e irrevogavelmente conseguiria juntar a consciência
ao corpo associado originalmente a ela. Não havia a menor dúvida dentro
de si de que ele se achava no último trecho de seu descaminho de um ano
inteiro, no final de uma odisseia que o havia levado aos confins do Universo.
Foi quase óbvio para ele o fato de, ao abrir os olhos — os olhos de
um corpo do qual ele já estava longe há muito tempo! —, enxergar rostos
familiares: Atlan, Roi Danton e dois semblantes angulosos e bem definidos,
os dois oxtornenses especialistas em sobrevivência Powlor Ortokur e Nery-
man Tulocky.
A consciência tomou posse do corpo que lhe pertencia. Os músculos
colocaram a pele do rosto em movimento e produziram um sorriso amigável.
— É bom rever vocês — saiu da boca que não falava uma palavra há
meses.
Eles não responderam. Porém, a expressão em seus rostos lhe dizia
que o haviam escutado. De repente, ele percebeu que não os tinha bem diante
de si. A parede espessa de uma cúpula de glassite estava entre eles e ele. Ele
moveu a cabeça e viu os inúmeros dutos de onde fluía o sopro da vida que,
até então, salvara o seu corpo da morte.
Ao lado dos amigos, estava um homem pequeno, esguio, com um crânio
anormalmente longo e olhos escuros, que contemplavam de forma acanhada.
— Como estão as coisas? — perguntou Rhodan, bem-humorado. — É
possível ter uma conversa com o pessoal?
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ele ouviu um grito furioso vindo da névoa densa. Era a voz de Ortokur! Ele
agarrou a arma com mais força e estava para se lançar na penumbra verde,
quando os contornos angulosos de uma figura emergiram lateralmente das
névoas à deriva.
O robô!...
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Tulocky não pensou duas vezes. Não importava se o robô estava ar-
mado ou não. Um raio energético tão grosso quanto um polegar emergiu da
embocadura do radiador de impacto. A máquina estacou. O raio energético
ofuscante penetrou no seu corpo. Houve uma explosão. Peças de metal incan-
descentes voaram para todos os lados. Agora, também havia movimento lá
fora, onde Powlor Ortokur devia estar. Podia ser ouvida uma violenta troca
de tiros, e, em meio a isso, soavam os gritos de fúria de Ortokur.
Tulocky correu pela névoa esverdeada. Os escombros da bomba apa-
receram diante dele. Powlor Ortokur estava agachado atrás.
— Calma! Sou eu — rosnou Tulocky ao ver Ortokur virando a arma
na mão.
— Um exército inteiro de robôs na nossa frente — sussurrou Ortokur
depois que Tulocky se atirou na cobertura ao lado dele.
— Armados?
— Poucos. A maioria, robôs operários, mas há pelo menos dois robôs
de combate.
Uma figura robusta emergiu da névoa à deriva. Os contornos angulo-
sos e retangulares do corpo robótico eram inconfundíveis. Powlor Ortokur
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atmosfera eram algo incompreensível para eles. Tinha que se tirar proveito
dessa incerteza. Neryman Tulocky continuou a avançar através da névoa esver-
deada, que gradualmente se dissipava à medida que mais gás de cloro escapava
para fora através da abertura no portal. De repente, ele estacou como se tivesse
adquirido raízes. Uma voz estrondosa veio de cima. Era a voz de Atlan.
— Ortokur, Tulocky! — ele escutou a chamada do arcônida pelo in-
tercomunicador. — Um de vocês tem que cuidar do sistema de ventilação no
andar mais baixo da clínica. Tenho a forte suspeita de que estão bombeando
hidrogênio de lá!
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de “o Altíssimo”. Isso era uma indicação, por mais nebuloso que parecesse
no momento. Além disso, era sabido que ele não deixava seus projetos por si
próprios. Ele não se contentara em instalar as bombas que tinham injetado o
gás venenoso dentro da clínica. Havia postado os robôs reprogramados para
monitorar o progresso da operação e confrontar qualquer um que tentasse
interferir. O mesmo se daria com o sistema de ventilação.
O andar mais baixo não continha laboratórios, apenas salas de serviço.
Neryman Tulocky orientou-se pelo zumbido dos climatizadores pesados.
Bombas e distribuidores se achavam em uma sala grande e baixa. O oxtornense
entrou nela com extrema cautela. Se hidrogênio puro estava de fato sendo
bombeado ali, então era de supor que parte do gás perigoso pudesse escapar
por vazamentos na bomba e nos dutos. Havia a possibilidade de que a mistura
de gás nessa sala já fosse explosiva. O cloro ainda não tinha chegado ali em-
baixo. Porém, o hidrogênio e o oxigênio atmosférico poderiam ter formado
uma mistura oxi-hidrogênio que estava apenas esperando a faísca de ignição.
Tulocky aproximou-se da bomba. Ela funcionava por eletricidade.
Se ele simplesmente a desligasse, não poderia ser evitada a geração de uma
faísca de comutação. No entanto, de que outra forma ele deveria estrangular
o fornecimento de hidrogênio? Decidiu assumir o risco. Ele confiava em
muitas coisas — incluindo a capacidade de sobreviver a uma explosão de
gás oxi-hidrogênio, se isso não ocorresse na força máxima.
Ele alcançou o interruptor. Nesse momento, ouviu atrás de si uma voz
suave, que mal superava o forte barulho do dispositivo.
— Eu reconsideraria isso se fosse você!
Ele se virou. Um jovem alto e esguio estava parado perto da porta pela
qual ele havia passado. Ele tinha um rosto estranhamente inexpressivo, e o
sorriso que mostrava a Neryman Tulocky parecia ter surgido de um conjunto
de feições aleatórias em vez de uma expressão de emoção.
Tulocky pegou a arma; porém, o jovem fez um gesto de desdém com
a mão que o congelou em meio ao movimento.
— Sou invulnerável, você pode acreditar em mim — disse ele, e suas
palavras abrigavam um poder hipnótico que fez o oxtornense acreditar nele
de pronto.
O desconhecido apontou de novo para a bomba.
— Você não quer ousar seriamente isso, quer? — perguntou ele,
duvidando.
— Quem é você? — gritou o oxtornense para ele.
— Eu sou Ricardo. — Ainda o mesmo sorriso inexpressivo. — Essa
informação é útil para você?
— Por que você está fazendo isto? O que você ganha com isto?
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Tulocky para procurar ajuda, não notou nada da explosão que ocorreu no
andar mais baixo da clínica. Somente agora, quando ele entrou em contato
com o laboratório para informar os sitiados sobre o andamento do trabalho de
resgate, Atlan lhe contou que, algum tempo antes, havia sido ouvido o estrondo
de uma explosão nas profundezas. Ortokur reagiu de imediato. Ele foi para o
poço antigravitacional, empurrou-se e desceu em alta velocidade. No andar
mais baixo, ele não precisou ir muito longe para encontrar os primeiros vestígios
da explosão. As paredes haviam desmoronado, o caminho estava bloqueado
com escombros. Com força furiosa, ele os afastou para o lado. Ele chamou
repetidamente o nome de Neryman Tulocky, mas não recebeu resposta.
Por fim, ele chegou ao centro da explosão. Escombros enegrecidos pela
fumaça delimitavam um grande espaço quadrado. Máquinas pesadas haviam
sido arrancadas de seus suportes. Apenas uma grande bomba resistira à força
da explosão. Como um selvagem, Ortokur se pôs a trabalhar para limpar os
escombros. Após dez minutos, ele encontrou Neryman Tulocky, enterrado
sob escombros, imóvel, machucado, mas, aparentemente, ainda vivo.
Ele o pegou cuidadosamente e o levou para fora. Com cuidado, subiu
flutuando pelo poço antigravitacional com o homem ferido. Em cima, os
robôs tinham começado a cobrir as escadas. Ortokur levou o amigo para a luz
do sol e o deitou no chão. Não adiantava chamar um médico. Os médicos em
Tahun podiam ser especialistas em suas áreas, mas mesmo eles não poderiam
tratar a complicada estrutura celular de um especialista em sobrevivência.
Tulocky teria que encontrar o caminho de volta à vida por si próprio. Cheio
de ira e pena, Ortokur olhou para o amigo inconsciente.
Aquele que tinha feito isso com ele teria que pagar por esse ato, ele
jurou a si mesmo nesse momento.
Seis horas após Atlan ter ordenado aos dois oxtornenses que determi-
nassem como e por quem a cibernética havia sido manipulada, as bombas
haviam removido o último quantum perigoso de cloro da clínica. Ortokur,
que não saíra do lado de Tulocky, retornou ao prédio e informou ao labora-
tório que o perigo havia passado.
O estado de Perry Rhodan não tinha mudado. Externamente, ele
dava a impressão de que a sua consciência ainda estava distante, em algum
lugar no desconhecido. Os equipamentos de monitoramento, no entanto,
registravam mínimos sinais de atividade metapsíquica, sugerindo que o
processo de reunificação estava em andamento, embora em um ritmo muito
mais lento do que Ling Zoffar esperava conseguir com a ajuda de sua “cli-
matização metapsíquica”.
As últimas horas não haviam passado sem uma profunda preocupação
por parte dos sitiados. O estrondo da explosão, que viera das profundezas
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mesmo laboratório onde, deitado sob uma cúpula de glassite, Perry Rhodan
aguardava o despertar. Toda a atividade continuou a ser concentrada ali.
Entretanto, medidas de segurança adicionais haviam sido tomadas. O labora-
tório estava equipado com trajes protetores que poderiam ser usados para se
deslocar pelos corredores da clínica, mesmo que estivessem com gás venenoso.
Em cima, na central de cibernética, estavam restaurando a ciberné-
tica ao seu estado original para que a reunificação do Administrador-Geral
pudesse ser acelerada pela climatização metapsíquica, como planejado
originalmente. As conexões audiovisuais com o mundo exterior tinham
sido restauradas. A guarda havia sido duplicada. As sentinelas que haviam
se refugiado em salas seguras no início do alarme de gás tinham escapado
sem sofrer nada além do susto.
No andar mais baixo, onde Neryman Tulocky quase tinha perdido a
vida em uma explosão de gás oxi-hidrogênio, cada metro quadrado do local
da explosão foi examinado. Porém, a busca não deu em nada.
— Não quero ofendê-lo — declarou Atlan gentilmente ao homem
ferido —, mas é possível que o estranho de quem fala não tenha realmente
existido? Que foi uma alucinação...
— Eu não toquei nele, senhor — respondeu Neryman Tulocky —, se é
isso que quer dizer. Então não sei se ele estava realmente lá fisicamente. Em
todo caso, ele parecia bem real – tão real quanto o senhor neste momento.
— Ainda assim, pode ter sido uma projeção — refletiu Roi Danton,
ainda usando o traje de um dândi rococó francês.
— Teria que ter sido uma projeção muito estranha — objetou o ox-
tornense. — Uma projeção que possui poderes hipnóticos.
Atlan o fitou com espanto.
— Está dizendo que você foi hipnotizado?
— Não no sentido usual. O desconhecido afirmou que ele era invul-
nerável, e eu não pude agir de outra forma: eu tive que acreditar nele.
— Humm — fez o arcônida. — Então eu me pergunto por que ele não
o impediu hipnoticamente de apertar o interruptor da bomba.
— Talvez ele não possuísse poder hipnótico suficiente para isso —
especulou Danton.
— Ou — disse Atlan pensativamente — isso era contra as regras do jogo.
O que ele entendia por isso, ele não quis dizer.
— Seja como for — ele acabou resumindo —, um jovem misterioso
chamado Ricardo desempenha um papel essencial neste atentado. Se conse-
guirmos localizá-lo, avançaremos um bom pedaço. Talvez a investigação da
cibernética revele algo. Afinal, é um trabalho e tanto o que o nosso adver-
sário desconhecido fez, por assim dizer, num piscar de olhos: reprogramar
a cibernética e alguns robôs. Isso demonstra seus amplos conhecimentos.
Só podemos esperar que ele tenha deixado um rastro útil em algum lugar.
Dos estranhos acontecimentos na Clínica de Metapsíquicos e Psico-
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maldade. — Repito que o jogo praticamente está ganho por mim. Não haverá
irregularidades da minha parte.
O primeiro jogador silenciou. Ele já havia deixado clara a sua posição.
Não havia mais nada a dizer. A partir das misturas emocionais dos pensa-
mentos de seu oponente, ele leu que o segundo jogador havia se tornado
inseguro. Sua afirmação de que achava que o jogo já estava ganho não era
nada mais que um jogo de cena com que tentava se encorajar.
Mais uma vez, um pensamento ecoou através do supraespaço.
— Minha jogada — disse o segundo jogador.
Tinham sido horas terríveis, o estado instável entre ter partido e ainda
não ter chegado, flutuando em um espaço cheio de imagens grotescamente
distorcidas de coisas reais e irreais. Junto a isso, acima de tudo, a incerteza:
o que tinha acontecido? A tentativa de reunificação tinha fracassado? Tem-
porariamente — ou para sempre? Era esse o estado permanente, a flutuação
inquieta em meio a reflexos distorcidos?
E então, de repente — luz! Tão rápido quanto da primeira vez: a cone-
xão da consciência com o corpo, o primeiro olhar pelos olhos, os primeiros
sons recebidos pelos ouvidos, o mesmo espaço que antes, os mesmos rostos,
apenas um pouco mais preocupados do que antes. Não era de admirar: algo
havia acontecido. Algo imprevisto e perigoso havia ocorrido.
Bem ao lado da cúpula, a um passo de distância, como se tivesse
que visualizar a si e ao mundo que ele não pertencia: o homenzinho que se
chamava Ling Zoffar.
— Tudo em ordem? — perguntou Perry Rhodan.
— Por enquanto — respondeu o arcônida.
Ling Zoffar interveio.
— Tenho de ressaltar que essa conversa é contra a minha recomen-
dação. Por favor, senhor, poupe as suas forças. Quanto menos esforço fizer
nas próximas cinquenta horas, mais rápido será o processo de reunificação.
Perry Rhodan estava disposto a dar ouvidos ao conselho dele. Por
outro lado, porém, ele precisava saber o que tinha acontecido. As expressões
de Atlan e Roi Danton pareciam indicar que devia ter sido um assunto sério.
— O que houve? — perguntou ele laconicamente.
Atlan lhe fez uma descrição concisa. Ele relatou apenas fatos. O próprio
Rhodan poderia tirar a conclusão.
— Então Anti-Aquilo não está descansando, não é? — ele resumiu
pensativamente.
— Se resume a isso — confirmou o arcônida. — A busca pelo homem
misterioso chamado Ricardo está em pleno andamento.
— Mas ele não será encontrado — declarou Rhodan, pessimista.
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tempo até que ele se lembrasse, em sua confusão, do que Atlan lhe havia dito:
como fora oculto da Humanidade, por um robô replicado perfeitamente,
que Perry Rhodan não existia mais. Nesse meio tempo, o ser-máquina, que
desempenhara seu papel, tinha começado a falar.
— Há alguns minutos — disse ele com voz arrastada —, os órgãos
de segurança deste mundo deram com o rastro de um complô monstruoso.
Trata-se de um ataque contra as instituições e a segurança do Império Solar.
O complô tem por objetivo, sem dúvida, substituir o Administrador-Geral
eleito pelos povos por uma criatura artificial, vinculada à obediência cega
a seus criadores, um androide que conhece apenas a vontade daqueles a
quem deve a vida.
“Desconhecemos quem está por trás desse complô. O doutor Zoffar
parece ser um deles. O androide foi criado em sua área de trabalho, e é onde
ele está neste momento. Meus amigos, Atlan e Roi Danton, desapareceram
sem deixar rastro. Deve-se presumir que os assassinos os prenderam, ou
talvez até os mataram.
Nesta hora de necessidade, exorto os cidadãos deste planeta a per-
manecerem calmos. Os órgãos de segurança garantirão que o plano dos
assassinos não terá êxito. No entanto, se algum de vocês der inesperadamente
com um homem que diz ser o Administrador-Geral e se parece exatamente
comigo, vocês devem eliminá-lo imediatamente. O androide é perigoso. Deve
ser dado fim nele o mais rápido possível. E, para que não sintam qualquer
remorso, declaro que não sairei desta sala até que a caça ao androide tenha
terminado. Portanto, se vocês encontrarem, fora desta sala, alguém que pa-
reça uma duplicata minha, não pensem duas vezes. As tropas também estão
instruídas a eliminar a criatura insidiosa sem aviso se necessário.”
Perry Rhodan já tinha ouvido o suficiente. Ele sabia que Anti-Aquilo
tinha atacado outra vez e que, provavelmente, ele agora não estava mais
seguro no prédio da Clínica de Metapsíquica e Psicofísica.
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— Perry?...
— Sim. Suponho que fomos separados dele para não podermos estar
com ele.
— Alguém sabe onde estamos? — quis saber Atlan.
— Posso descrever a sala para você: um retângulo alongado, paredes
nuas, não muito altas, nenhuma porta ou janela. Porém, onde em Tahun esta
sala fica, nem mesmo Zoffar sabe.
Atlan se largou no chão frio e áspero. O gás venenoso tinha feito mais
com ele do que ele queria admitir. A troca de ideias revelou que todos eles
tinham sido aprisionados de maneira semelhante. Zoffar tinha recebido uma
chamada ordenando que fosse ao posto de comunicações. No caminho, uma
cápsula com gás narcotizante havia explodido em seu veículo. Danton havia
sido solicitado por um robô de informação a ir à sala de tratamento, pois
Perry Rhodan estava se sentindo um pouco pior novamente. No caminho,
um atirador desconhecido o havia acertado no pescoço com um projétil
embebido em veneno paralisante. Somente os dois oxtornenses não puderam
ser apanhados com venenos. Por enquanto, eles nem sabiam como haviam
sido capturados. Tinham se sentado juntos e conversado. Essa era a última
lembrança deles. Havia poucas dúvidas de que uma poderosa influência
hipnótica devia ter atuado aí.
Assim, suas esperanças haviam sido frustradas mais uma vez, Atlan
registrou amargamente. A calma dos últimos dois dias tinha sido na realidade
a calmaria antes da tempestade. Anti-Aquilo havia atacado uma segunda
vez. Ele apalpou as roupas, revistou os bolsos: tinham tirado tudo dele, suas
armas, seu microcomunicador, seu relógio. Ele não podia nem saber quan-
to tempo tinha estado ali inconsciente. Os outros também não sabiam. Os
efeitos colaterais do gás os afligiam. Somente os dois oxtornenses tinham as
cabeças razoavelmente claras.
— Então não há porta aqui, não é? — rosnou o arcônida com raiva
laboriosamente reprimida. — Então como diabos entramos?
— Alguém sabe — soou a voz de Roi Danton da escuridão. — Mas
vasculhamos cada centímetro quadrado de parede. Talvez um transmissor...
— Parede! — interrompeu Atlan. — E o teto e o chão?
Seguiu-se um silêncio consternado.
— É, meu Deus, uma possibilidade — resmungou Danton por fim.
— Por que não pensamos nisso?
— O teto mal tem três metros de altura — veio uma voz de cima. —
Estou de pé nos ombros de Tongh e posso alcançá-lo facilmente.
Era Neryman Tulocky, o oxtornense.
— Comece a procurar — instruiu o arcônida. — Estou convencido
de que há um alçapão aqui em algum lugar.
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Após uma breve busca, ele encontrou o caminho que conduzia através
do interior do edifício ao anexo onde os veículos estavam guardados. Ele
inspecionou a fileira de planadores e acabou se decidindo por um veículo
de alto desempenho que, além de um colchão de ar, tinha um motor gravi-
tacional. Ele se convenceu de que poderia colocá-lo em funcionamento sem
dificuldade. Então abriu cuidadosamente a porta e espreitou a noite.
Ele os escutou vindo. Do oeste e do sul, o zumbido constante dos
motores de seus veículos se aproximava. Ele havia avaliado corretamente
Rhodan-Ro: esse não hesitaria em se apoderar de seu adversário. A sua força
de combate estava se aproximando.
Perry Rhodan regressou ao planador que havia escolhido. Muito de-
pendia agora de como o inimigo estava equipado. A área toda estava sob os
feixes invisíveis de seus projetores infravermelhos? Eles poderiam observar
cada movimento dele, apesar da escuridão? Ou Rhodan-Ro pensava que isso
era apenas um passeio no parque, que tudo que tinham de fazer era pegar o
culpado como uma fruta madura que caíra de uma árvore?
Ele tinha que contar com a sorte. O barulho que ele ouvia vinha de
pelo menos trinta motores. Cada veículo com quatro pessoas, isso fazia um
bando de pelo menos 120 indivíduos. Fugir era a única saída que lhe res-
tava. Ele manobrou cuidadosamente o planador para fora. Tinha desligado
as luzes de navegação. Rapidamente, mas com cautela, ele chegou ao lado
noroeste do edifício. O som dos motores que se aproximavam aumentava
constantemente à medida que se aproximavam; porém, não houve mudança
abrupta no nível de som que indicasse que os preparativos de fuga de Rhodan
tivessem sido detectados.
Agora que ele tinha o edifício como cobertura entre si e os capangas,
acelerou com tudo. Ele manteve o veículo apenas poucos palmos acima do
solo para aproveitar a sombra de localização lançada pelo prédio pelo maior
tempo possível. Somente pouco a pouco, ele se dirigiu para o norte. Havia um
terreno montanhoso e acidentado ao norte, com o qual ele estava razoavel-
mente familiarizado. Se ele chegasse lá, estaria praticamente salvo. Ele poderia
então se livrar de seus perseguidores nos abismos e fendas das montanhas.
Na pequena tela de localização, ele viu os veículos dos capangas assim
que deixou a sombra de localização do prédio. No mesmo momento, eles
também o notaram. Ele podia ver claramente a formação até então fechada
ficar confusa por um momento. Mas então eles se reorganizaram. Uma tropa
de dez planadores o perseguiu. Os outros vinte continuaram a se aproximar
da clínica, espalhando-se para formar um círculo em torno do complexo.
À sua frente, porém, agora já se erguiam as primeiras montanhas. Seu
planador era superior em desempenho aos veículos dos perseguidores. Ele
desapareceu entre dois cumes montanhosos íngremes e mergulhou no vale
profundo, semelhante a um desfiladeiro. Com presteza, tomou o curso para
leste. Ele tinha idealizado um plano. Para realizá-lo, tinha que alcançar o posto
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Era certo que o robô agiria de acordo com as instruções de Rhodan-Ro. As-
sim, ele não se arriscou. Quando encontrou um robô no corredor que levava
à sala de controle, atirou imediatamente. O raio energético bem concentrado
abriu o peito da máquina. Houve uma explosão, e o robô se despedaçou.
O estrondo colocou de pé as pessoas que estavam ocupadas nesse
prédio. Elas saíram de todas as portas para o corredor. Perry Rhodan sabia
o que fazer. Ele fez o raio invisível da arma de choque atuar. Assim que as
pessoas passaram pelas portas, elas caíram inconscientes. A guarnição da
estação era pequena, apenas duas dúzias de homens. Perry Rhodan pegou
um deles, um jovem oficial da USO com patente de tenente, sem que o tivesse
tratado antes com a arma de choque. O homem viu que não era páreo para
o atacante e levantou os braços para mostrar que se rendia.
— Você escutou o discurso do Administrador-Geral? — perguntou
Rhodan.
— Sim... senhor — respondeu o tenente.
— Suponho que não adianta lhe explicar que é uma mentira enge-
nhosamente armada — continuou o Administrador-Geral. — O homem que
finge ser Perry Rhodan é, na verdade, um robô sendo usado por um poder
desconhecido para me corromper.
— Estou ouvindo, senhor — disse o tenente quando Rhodan fez uma
pausa por um momento.
— Minha intenção vai confundi-lo ainda mais — sorriu Perry Rhodan.
— No entanto, você vai me ajudar nisso. Que receptores podem ser alcan-
çados pelo emissor desta estação? Somente certos dispositivos individuais,
ou também a rede geral de notícias?
— Parte da rede geral, senhor — respondeu o tenente. — O senhor
pode alcançar a partir daqui todos os receptores privados e oficiais num raio
de cerca de três mil quilômetros.
— Isso vai servir — anuiu Rhodan. — Quero fazer um breve discurso
em fita. Leve-me até onde eu possa fazer isso!
O jovem oficial obedeceu prontamente. Perry Rhodan falou em
uma fita de vídeo o que ele havia pensado no caminho até ali: um discurso
destinado a causar confusão ao planejamento do inimigo. Afinal, ele não
contradizia as calúnias que Rhodan-Ro havia lançado contra ele. Ele as con-
firmava e as reforçava com argumentos que fariam alguns pensar. O tenente
escutou atentamente. Quando Rhodan terminou e tirou a fita do gravador,
ele disse: — A confusão está de fato completa, senhor. Como o verdadeiro
Perry Rhodan iria se passar por androide?
— Você entenderá isso no devido tempo — o Administrador-Geral
o consolou. — Por enquanto, é importante ter certeza de que este discurso
seja transmitido em exatamente uma hora. Existe um controle automático
correspondente, não é?
Mais hesitante do que antes, o tenente ajudou Perry Rhodan a inserir
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Sem ser notado, ele entrou no prédio. Havia uma única sentinela ali,
um homem uniformizado mais velho e robusto, com a insígnia de sargento.
Rhodan usou a arma de choque para colocá-lo fora de ação antes mesmo
que o homem o visse. Seu destino era a sala de controle, que ele presumia ser
subterrânea, como era habitual em tais instalações. Ele desceu através de um
poço antigravitacional bem iluminado e examinou as proximidades de cada
saída até que finalmente encontrou o que procurava. A instalação transmissora
principal de Tahun era uma estrutura extensa e poderosa. Consequentemente,
a sala de controle também era de tamanho e complexidade impressionantes.
Mas Perry Rhodan conhecia bem na prática a tecnologia de comunicação. Sem
esforço, ele encontrou os pontos que precisavam ser cortados no momento
crucial — se as coisas realmente saíssem como ele havia planejado.
A sala de controle continha vários monitores, pequenos receptores de
imagem e som que interceptavam as transmissões enviadas e recebidas pela
central. Um dos monitores era equipado com um decodificador que traduzia
os impulsos eletrônicos usados na transmissão de dados nos caracteres que
eles representavam e mostrava os caracteres no monitor. Esse dispositivo era
de particular interesse para Perry Rhodan. Ordens para os robôs eram trans-
mitidas usando os fluxos de dados eletrônicos. Usando o decodificador, Perry
Rhodan saberia o que Rhodan-Ro estava ordenando que os robôs fizessem.
Ele se colocou na espera. Restavam apenas dezesseis minutos para a
hora que ele tinha fixado. Assim que seu discurso fosse reproduzido, seria
hora de agir rapidamente. Perry Rhodan tinha marcado claramente os pontos
a serem cortados, de forma que, no momento da decisão, ele só precisaria
estender a mão para realizar o corte.
Ele olhou pensativamente para as telas foscas dos três monitores que
havia instalado à sua frente. Foi quando ele escutou um barulho perto da
entrada. Ele tentou se virar, mas uma voz rouca ordenou: — Não se mexa!
Levante os braços e fique sentado!
O choque deu lugar ao alívio quando Rhodan reconheceu a voz.
— Não faça besteira, Ortokur! — gritou ele enquanto levantava os
braços conforme as instruções. — Você não vai querer matar o homem cuja
vida acabou de salvar!
Powlor Ortokur soltou um som atônito. Perry Rhodan, com os braços
ainda levantados, virou-se lenta e cuidadosamente. Quando ele viu o rosto
perplexo do oxtornense, começou a sorrir.
— Caramba — Ortokur rosnou com raiva —, qual deles é o senhor:
o certo ou o errado?
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jovem com um rosto inexpressivo. Ele está em toda parte e em nenhum lugar,
e parece estar observando cada movimento nosso.
Homunk assentiu em compreensão.
— Uma projeção. Um emissário de Anti-Aquilo. A projeção de um
ser superior com capacidades superiores. Ele não precisa de uma espaço-
nave para se mover de um planeta para outro. Anti-Aquilo simplesmente o
projeta no outro local.
— E ele pode reprogramar robôs, não é? — perguntou Powlor Ortokur.
— Sem dúvida — confirmou Homunk. — A projeção normalmente
existe em um continuum superior pentadimensional. Ela tem uma visão e
acesso a coisas que quem vive no espaço quadridimensional consideraria
cuidadosamente guardadas, trancadas e seguras.
— Sua capacidade de observar é realmente ilimitada? — quis saber
Perry Rhodan.
— Não, claro que não. Embora ele tenha, de sua posição superior, todo
o mundo quadridimensional diante de si, o tempo e a distância desempenham
um papel importante. Ele só pode ver indistintamente o que está distante
dele através do tempo ou do espaço, e, se ele direciona a sua atenção para
um determinado processo, então ele pode não observar outros processos ou
apenas com uma precisão muito reduzida.
Os amigos se entreolharam.
— Pelo menos, alguma coisa — observou Neryman Tulocky em tom
seco.
— Portanto, trata-se de fazer o transmissor ficar operacional novamen-
te — o androide finalmente retomou o fio. — Eu sei que existe aqui uma via de
transmissor estática energizada para Ustrac. Sugiro que reativemos essa via.
Ele olhou em volta. Atlan sorriu.
— Se você espera que eu lhe pergunte como vai conseguir isso — disse
ele —, você se enganou. Eu sei que seus conhecimentos são muito superiores
aos meus. Não pretendo sobrecarregar o meu pobre cérebro com explicações
incompreensíveis.
— Isso é bom — concordou Homunk. — Afinal, quanto mais rápido
agirmos, melhor estará esse mundo.
— Mas eu tenho uma pergunta! — tomou a palavra Roi Danton.
— Por favor!...
— Para que você precisa de nós? Se Aquilo já o enviou, por que não
vai ao planeta vizinho e desliga o gerador?
Havia algo de indulgente no sorriso de Homunk.
— As regras do jogo proíbem a intervenção direta — respondeu ele.
— Eu posso lhes dar conselhos. Mas eu não posso interferir no curso dos
acontecimentos.
— Não veja nisso uma repreensão — Roi Danton, sorrindo, aliviou a
sua pergunta. — Só sou curioso por natureza.
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9.
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— Temos que nos separar — disse Atlan com claros sinais de nervo-
sismo. — Rhodan está em grande perigo. Tulocky, Ortokur... Vocês tentam
chegar à estação de transmissão para Ustrac. Se meus medos se revelarem
verdadeiros, vocês não poderão entrar. Porém, o aparecimento de vocês por
si só pode causar a confusão de que precisamos para salvar Perry Rhodan.
Os dois oxtornenses saíram correndo. Não havia dúvidas de que eles
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misterioso Ricardo tinha capacidades muito além das dos humanos comuns.
Não seria fácil lidar com ela.
No entanto, o arcônida persistiu com seu plano original. Ele queria
dar uma olhada no gerador antes de decidir o que fazer com a instalação.
Ele receava simplesmente fechar o escoadouro e desligar a injeção de
energia para os mecanismos que controlavam o campo envoltório. Não se
sabia como o campo envoltório se comportaria diante disso. Quantidades
tremendas de energia eram armazenadas dentro do campo para que Atlan
pudesse liberá-las ao acaso. Ele tinha que ter pelo menos alguma ideia do
que aconteceria depois que a potência de direcionamento fosse desligada
antes de tomar uma decisão.
Foi assim que ele resolveu. Não era culpa dele não poder proceder tão
sistematicamente quanto desejava. Diante da central de força, três planadores
tinham chegado para levar Atlan, Danton e uma escolta de dez homens até o
topo da montanha onde se acreditava estar o gerador do campo envoltório.
Então, de repente, o minicomunicador do arcônida soltou um silvo forte.
Atlan levou o pequeno dispositivo de pulso até sua orelha. Ele ouviu
claramente a voz de Neryman Tulocky: — ... Lorde-Almirante, por favor,
atenda... é urgente!
— Sou eu — respondeu o arcônida. — O que houve?
Tulocky descreveu brevemente a tentativa fracassada de ajudar Perry
Rhodan.
— Ele o força a entrar no transmissor — exclamou o oxtornense. —
Só pode ser uma questão de alguns momentos, e eu não acho que Rhodan
vai passar ileso pela via de transmissor.
— Claro que não! — rosnou Atlan com raiva.
— Precisamos de uma manobra de distração — gritou apressadamente
Tulocky. — Temos que ganhar tempo!
O arcônida suspirou.
— Bom. Vamos desligar o campo envoltório. Não sei o que vai acon-
tecer depois disso. Mas temos de arriscar. Fique onde está!
Ele desligou o receptor. Roi Danton tinha ouvido. Ele olhou interro-
gativamente para Atlan.
— É isso?...
— É isso! — confirmou o arcônida. — Não vejo outra opção.
Eles voltaram para a central de força. A escolta, indecisa e confusa,
os seguiu com relutância. Atlan e Danton estavam diante do gerador sem o
seu revestimento. O pequeno contato do escoadouro e o emissor direcional
estavam diante deles. Apenas um chute forte, e o contato seria rompido, a
antena direcional se deformaria a ponto de ficar inutilizada. Na mente de
Atlan, se desenrolaram os eventos que tinham se precipitado na última hora.
O androide havia afirmado que o gerador do campo envoltório estava fora do
planeta Tahun, no segundo mundo do sistema Tah. Quando Atlan recebera
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Por que acontecera? O que a Humanidade podia esperar agora que o jogo
acabara? O que Perry Rhodan encontraria ao retornar à Terra? Até onde o
discernimento humano podia julgar as relações, o jogo tinha sido uma es-
pécie de luta decisiva entre Aquilo, o poderoso de Peregrino, e seu oponente,
Anti-Aquilo. Como se podia quase certamente supor que Aquilo estava do
lado da Humanidade e, assim, também do lado de Perry Rhodan, podia-se
concluir que Aquilo, a Humanidade e Perry Rhodan tinham ganhado o jogo.
Que recompensa receberiam por isso?
A Marco Polo tinha ficado cruzando diante de Tahun enquanto o pla-
neta parecia ter desaparecido no nada. Ela pousou logo após o campo envol-
tório ter desaparecido. A tripulação relatou descargas energéticas gigantescas
que aconteciam no espaço exterior. Os preparativos para o retorno de Perry
Rhodan continuaram. Despedidas foram feitas aos poucos em Tahun que
conheciam o verdadeiro destino do Administrador-Geral e tinham ajudado
em seu retorno à existência habitual. Foram-se os dias em que tais pessoas
tinham que passar por uma ducha psíquica para que a memória em suas
consciências fosse apagada e substituída por uma nova e mais inofensiva.
O tempo em que os políticos de Terrânia tinham que recorrer ao engodo
para evitar que a inquietação predatória se desenvolvesse entre a população
do Império Solar tinha acabado. Perry Rhodan havia retornado, o Império
estava de volta ao caminho certo.
A bordo da Marco Polo, após os passageiros terem ocupado seus
alojamentos, a seguinte conversa ocorreu em uma das cabines ocupadas
pelo Administrador-Geral. Os participantes eram o próprio Perry Rhodan,
o arcônida, Roi Danton e Neryman Tulocky. Powlor Ortokur, o outro oxtor-
nense, tinha se deitado para, como disse Tulocky, “ter um merecido descanso”.
— O jogo durou vários anos — disse Atlan —, mas foi apenas nesta
última fase que percebi que estávamos protegidos pelo poderoso de Peregrino,
ou pelo menos influenciados em nosso benefício.
— Isso é incrível — reagiu Perry Rhodan. — Afinal, posso imaginar
que as regras do jogo são que as peças do jogo – nós! – não podem notar
nada sobre a influência dos jogadores.
— Pode ser — replicou o arcônida. — Mas também acredito que o
antisser violou tantas vezes as regras do jogo que Aquilo foi forçado a se
destacar com um pouco mais de clareza para compensar as desvantagens
que sofremos com o comportamento ilícito de Anti-Aquilo.
— Isso nada mais é do que conjecturas — respondeu Perry Rhodan,
pensativo. — Será que um dia saberemos como foi realmente?
— Bastante reais — insistiu Atlan em seu ponto de vista — foram as
três dicas que recebi de Aquilo.
— Quais foram?
— Pensei que você nunca mais perguntaria isso — troou Atlan. Logo
depois, no entanto, ele sorriu. — Primeiro, houve a estranha ideia de levar
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junto Tulocky e Ortokur para Tahun logo depois que Ling Zoffar me disse
que o seu invólucro mortal estava apresentando sintomas de despertar para a
vida. A propósito, Roi teve a mesma ideia. Foi como se um homem invisível
tivesse colocado uma pulga nos nossos ouvidos. Agimos de acordo: levamos
os dois especialistas em sobrevivência conosco para Tahun. E, sabe Deus,
você não estaria vivo hoje se não tivéssemos feito isso.
— Com certeza — respondeu Rhodan. — Qual foi a segunda dica?
— A ideia repentina que tive no laboratório subterrâneo da clínica. A
ideia de que o gás de cloro e o hidrogênio formavam uma mistura bastante
perigosa. Não sei até hoje como me veio de repente sem nenhuma conexão,
e eu não hesitei em responsabilizar Aquilo por isso.
— Você provavelmente está certo — assentiu Perry Rhodan. — E depois?
— A terceira dica veio tão claramente de Aquilo que ninguém poderia
duvidar. Enquanto Tahun estava cercado pelo campo envoltório e comprova-
damente isolado de toda comunicação com o mundo exterior, chegou uma
mensagem de hiper-rádio para mim. Sem padrão, sem remetente ou data.
A sentença me levou a olhar a central de força principal. Lá, encontramos o
escoadouro e vimos claramente as conexões. Sem essa mensagem de rádio,
não teríamos podido desligar o campo envoltório no exato momento que
importava.
Perry Rhodan olhou pensativamente para frente. Depois que ele
permaneceu calado por algum tempo, Atlan perguntou: — Parece que você
não me ouviu, não é?
Rhodan levantou a cabeça e correspondeu ao olhar.
— Oh, sim, eu até escutei atentamente. Mas, durante isso, um novo
pensamento me veio!
— Um útil?
— Eu não sei se pode-se julgá-lo por esse ponto de vista.
— No que pensou?
— Eu me perguntava como meus amigos Heltamosch, Gayt-Coor,
Doynschto, o Gentil e, não menos importante, Torytrae, o tuuhrt, estão
indo nestas horas.
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seus cérebros. E, ao mesmo tempo, eles ouviram a sua voz: — Com a última
força e apenas com a minha ajuda, vocês acabaram conseguindo! Vocês não
querem se chamar de fracos?
Perry Rhodan não sabia para onde falava ou se podia ser ouvido, mas
respondeu em voz alta: — Não, não queremos nos chamar de fracos nem
ser chamados assim. Nós lutamos tão bem quanto um humano pode lutar.
Por um momento, houve silêncio, que parecia estar repleto de um leve
espanto.
— Você está certo! — respondeu a voz telepática do poderoso de
Peregrino finalmente. — Vocês demonstraram que é preciso mais do que o
poder humano para derrotá-los. E é por isso que a recompensa é de vocês!
Isso foi tudo que se ouviu de Aquilo por enquanto. Na mente daqueles
que participaram da breve troca de ideias com o superser, cravou-se a per-
gunta: “Qual é a recompensa? O que ganhamos? Como as coisas continuam?”
A resposta se fez esperar. A Marco Polo pousou na Terra, e Perry
Rhodan foi recebido como nenhum homem antes dele havia sido recebido
pela sua pátria. Mas a pergunta permaneceu sem uma resposta.
Qual é a recompensa?
Como as coisas continuam?...
FIM
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SSPG Editora Perry Rhodan
Glossário
DAP: Sigla para “deformação abstrata psicossomática”. Nome dado à doença que
surgiu na Via Láctea ao ser trazida pela Marco Polo quando a nave terrana retornou
do universo paralelo. Após extensa pesquisa no planeta Tahun, a doença foi reno-
meada como epidemia viral paraenergética. Foi feita uma tentativa de combater
a doença por meio de uma vacina paraexótica. A tentativa de obter um verdadeiro
antídoto para a doença DAP não foi bem-sucedida, mas os sintomas puderam ser
aliviados pelo menos temporariamente por meio de drogas psicotrópicas. Desco-
briu-se que o patógeno se espalhava por ondas de hipercomunicadores e, portanto,
poderia infectar quase toda a Via Láctea. A propagação da DAP para os maahks de
Andrômeda pôde ser evitada no último segundo. Os ativadores celulares ofereciam
tão pouca proteção contra a doença quanto a estabilização mental. Dependendo
do povo, os infectados passavam por várias fases sucessivas. Basicamente, a epi-
demia da DAP causava um enorme aumento nos desejos reprimidos. Uma pessoa
infectada sentia o desejo irresistível e viciante de realizar esses sonhos. Os enfermos
negligenciavam cada vez mais a si mesmos e às suas tarefas diárias, de modo que,
por fim, a doença ameaçava causar o colapso total de toda a civilização. Era notável
que o comportamento dos infectados frequentemente contrastava fortemente com
o seu caráter anterior. O único galáctico conhecido que tinha imunidade completa
contra a epidemia DAP era Markhor de Lapal, também conhecido como Kol Mimo,
que, juntamente com Alaska Saedelaere, o prof. dr. Goshmo Khan e Mentro Kosum,
fez uma viagem de volta no tempo em um deformador de tempo-zero para evitar
o surto da epidemia, criando um paradoxo temporal.
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SSPG Editora Perry Rhodan
Para mais informações sobre esses e outros verbetes, consulte o site associado Stardust Page
no endereço www.stardust.net.br.
Ustrac: Terceiro planeta do sistema estelar do sol Impron, situado na Via Láctea.
Ustrac é a sigla para “United Stars Training Center”. É um mundo originalmente
deserto, reservado para o treinamento dos especialistas da USO. Por isso, nesse
corpo celeste, podem ser simuladas todas as condições ambientais possíveis, de
modo a preparar os especialistas de ação da USO para suas próximas tarefas em
grande parte. Para esse fim, foram criados setores de treinamento onde qualquer
clima, qualquer ambiente e qualquer situação podem ser representados de forma
convincente. Cada setor é formado por uma bolha energética que não permite
nenhum intercâmbio entre o conteúdo da bolha e o mundo exterior. Para orientar
a montagem dessa estrutura incrivelmente complicada, foi construído um com-
putador que dificilmente encontra igual na Galáxia. É o sistema hiperimpotrônico
central, também chamado de ASAC. No início de outubro do ano 2436, Perry Rho-
dan, Atlan e a ex-tripulação da nave Crest IV alcançaram o mundo de treinamento
da USO após uma longa odisseia na galáxia M-87, com naves auxiliares do cruzador
pesado Orinoco. Por volta do ano 3442, o chefe de formação quase onipotente
desse centro de treinamento da USO era o almirante Frociwen Myn Cahit. Em abril
desse ano, um grupo de imunes contra a imbecilização do Enxame foi levado para
lá para formar o Comando de Busca de Inteligências.
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SSPG Editora Perry Rhodan
Autor
Kurt Mahr
© Pabel-Moewig Verlag KG
Kurt Mahr era considerado “o físico” do grupo de autores de Perry Rhodan. Nascido
em 1934, em Frankfurt, ele entrou para a universidade disposto a seguir a carreira
de engenheiro, porém logo mudou de ideia e passou para o curso de Física em 1956.
Após formar-se, Kurt Mahr mudou-se para os EUA. Sua carreira literária começou
no final da década de 1950, com histórias de amor e faroeste — contudo, sem
grande sucesso. Isso mudou quando ele passou a escrever ficção científica: em
1960, seu livro “Zeit wie Sand” (“Tempo Feito Areia”) foi publicado na série Terra,
e, em 1961, ele estreou na série Perry Rhodan com o episódio “Alarme Galáctico”,
o quinto da série. Seus conhecimentos de física impregnavam a série, e seus volu-
mes caracterizavam-se por extrapolações técnico-científicas exatas e detalhadas.
Em 1972, Mahr retornou à Alemanha e começou a escrever para a série Atlan. A
partir de então, ele passou a escrever exclusivamente para as séries Perry Rhodan
e Atlan, bem como para os “romances planetários” de Perry Rhodan. Em 1977, ele
retornou para os EUA. A partir de 1985, Mahr começou a escrever, juntamente com
Ernst Vlcek, as sinopses básicas para a série Perry Rhodan. Durante uma década
e meia, ele escreveu o suplemento “Perry Rhodan Computer”. Kurt Mahr morreu
em 1993, na Flórida, em consequência de um acidente. O desenhista Johnny Bruck
prestou-lhe uma homenagem, retratando-o na capa do episódio 1700 da série.
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Próximo Volume
Tradução de
Francis Petra Janssen
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SSPG Editora Perry Rhodan
Ciclos Anteriores
Os volumes da série Perry Rhodan narram uma história contínua que se inicia no ano de 1971 e avança progres-
sivamente pelos séculos e milênios adiante, apresentando a história futura da Humanidade como uma epopeia
grandiosa e intrigante. Para facilitar o acompanhamento da narrativa por novos leitores, a série divide-se em ciclos
de cerca de cinquenta ou cem episódios. Cada ciclo forma um arco de histórias fechado em si: a partir de um novo
ciclo, novas situações, ambientes e personagens são apresentados, até o seu desfecho dezenas de episódios adiante.
A primeira viagem tripulada à Lua, comandada por Perry Rhodan, encontra uma
nave avariada dos arcônidas. Com a ajuda de sua tecnologia superior, Rhodan
unifica a Humanidade, defende a Terra de invasões alienígenas e começa o avanço
para a Via Láctea. Com isso, ele toma conhecimento da existência de outros povos,
como os tópsidas, os saltadores e os aras. O superser Aquilo concede aos mais
importantes terranos a imortalidade relativa.
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Na Via Láctea, surge de repente Old Man, uma gigantesca plataforma robotizada.
Os policiais do tempo e suas espaçonaves vivas atacam o Império Solar para punir
os terranos por seus supostos crimes contra o tempo. Perry Rhodan é enviado
para a galáxia M-87 com sua nave capitânia Crest IV e lá desvenda a história dos
halutenses. Os terranos avançam para as Nuvens de Magalhães e conseguem
derrotar os líderes da Polícia do Tempo.
A Terra é ameaçada por poderosos impérios formados por seus antigos mundos
coloniais e vê-se obrigada a se proteger atrás de um campo temporal. Perry Rhodan
viaja 200 mil anos no passado com o deformador do tempo-zero e descobre na
Terra primitiva as atividades dos takeranos, uma parte do povo dos cappins. Para
evitar uma iminente invasão, Perry Rhodan viaja com a nave Marco Polo à galáxia
natal dos cappins e ajuda Ovaron, o Ganjo dos ganjásicos.
Os episódios da série Perry Rhodan a partir do nº 650 são publicados no Brasil pela SSPG Editora desde o ano de
2001, e uma edição digital a partir do nº 537 foi iniciada em 2015. Em 2019, 2020 e 2021, foram lançadas novas
edições digitais em paralelo respectivamente a partir dos nºs 1800, 2700 e 3000. Para maiores informações,
visite o site oficial da série no Brasil em www.perry-rhodan.com.br. As sinopses básicas de todos os ciclos podem
ser consultadas no endereço www.stardust.net.br/conteudo/perry-rhodan-lista-de-ciclos.
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Ciclo Atual
10º ciclo: “Xadrez Cósmico” – Episódios: 600 a 649
Período das histórias: 3456 a 3458
A cada quinzena, a SSPG Editora lança novos volumes do 10º ciclo da série Perry Rhodan. Para mais informações,
visite o site oficial da série no Brasil em www.perry-rhodan.com.br.
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Próximo Ciclo
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Créditos Editoriais
Copyright © 2021:
Perry Rhodan 649, by Kurt Mahr, “Schach der Finsternis”,
Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt, Germany
www.perry-rhodan.net
PERRY RHODAN® is a registered trademark by
Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt, Germany
Perry Rhodan
Marca requerida – INPI
Star Sistemas e Projetos Gráficos Ltda.
Você pode utilizar os seguintes canais para contatar a SSPG Editora a respeito de assuntos ligados à
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autoria do leitor para a seção Galeria: os desenhos devem apresentar temas da série Perry Rhodan
e estar preferencialmente em formato retrato. Ilustrações digitais devem ter resolução de 300 dpi.
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Índice
Apresentação 2 9. 60
Prefácio Editorial 5 10. 66
Introdução 7 Glossário 74
Personagens Principais 8 Autor 76
1. 9 Próximo Volume 77
2. 15 Ciclos Anteriores 78
3. 22 Ciclo Atual 80
4. 28 Próximo Ciclo 81
5. 34 Créditos Editoriais 82
6. 40 Contatos 83
7. 48 Índice 83
8. 53
A maior série de ficção científica do mundo!
Neste volume:
Episódio 649: “Trevas em Xeque”