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Priorização de manutenção de via permanente em um trecho

ferroviário utilizando modelagem matemática


1º Ramon Freitas Mendes1*, 2º Hugo Costa Campbel2
1 MRS Logística S.A. Juiz de Fora, MG
2 MRS Logística S.A. Juiz de Fora, MG

e-mail: 1º autor ramonfmendes@gmail.com, 2º autor hugo.campbel@engenharia.ufjf.br

Resumo Grandes investimentos em ativos, e baixa disponibilidade para manutenção são traços
que permeiam a manutenção ferroviária e que fomentam cada vez mais o uso de ferramentas que
auxiliam na eficiência em custos e melhoria no planejamento das atividades.
Neste cenário, o presente trabalho propõe o uso de modelagem matemática e pesquisa
operacional, para priorizar a manutenção dos dispositivos de via permanente de um trecho,
buscando uma maior eficiência relativa na ordem de execução, priorizando os locais que
demandam menor input - quantidade de recurso demandado para a recuperação de cada trecho
por km - e obtém um maior output - ganho com retirada de restrições de velocidade e aumento da
tonelada bruta transportada por vagão nesse trecho.
O trecho do estudo corresponde a 128 quilômetros de linha ferroviária, sequenciadas em 21 ativos
(pátios e entrepátios), em que está previsto um projeto de recuperação por meio da realização de
atividades de manutenção, como: substituição de dormentes e trilho, recuperação de AMV’s
(aparelhos de mudança de via) e socaria mecanizada. Atualmente existem cerca de 70 restrições
de velocidade, totalizando 49% do trecho, o que impossibilita operar um trem em sua velocidade
máxima autorizada. Essas restrições são causadas devido às más condições dos componentes da
superestrutura da via, o que também implica na limitação do peso bruto por vagão.
O tempo previsto para execução do projeto é de 23 meses e o retorno financeiro será antecipado
à medida que as atividades de manutenção forem retirando as restrições do trecho e permitir o
aumento da tonelada bruta por vagão transportada. Para a priorização da manutenção foi utilizado
o método de Análise por Envoltória de Dados (DEA), cuja função é definir a ordem de realização
dos ativos, antecipando aqueles que vão trazer o maior retorno financeiro no menor intervalo de
tempo, potencializando os ganhos antes do final do projeto, através da função-objetivo do
problema. O DEA é uma metodologia de análise que compara a eficiência otimizada com a
eficiência pontual, estabelecendo um indicador de avaliação e definindo a curva de máxima
produtividade. Com a utilização da modelagem matemática foi possível obter a eficiência de todos
os grupos de quilômetros pré-estabelecidos e classificá-los priorizando as maiores eficiências e
determinando a ordem para realização da manutenção.

Palavras-Chaves: Via Permanente, Planejamento, DEA, Estratégia;

1. INTRODUÇÃO que maximizem a eficiência em custos,


principalmente os de manutenção, bem
como a melhoria no planejamento das
No ambiente corporativo atual, empresas
atividades.
dos mais variados setores têm investido em
O presente trabalho refere-se a um estudo
ferramentas e sistemas com foco na
de caso sobre um projeto de priorização de
otimização de seus processos. O principal
atividades de manutenção ferroviária,
objetivo é simplificar sistemas e garantir a
realizado na MRS Logística. A
sustentabilidade do negócio. No setor
necessidade deste projeto é devida as
ferroviário também é possível observar esta
várias restrições de velocidade no trecho
tendência, embora os processos
em estudo, totalizando aproximadamente
ferroviários estejam ligados a um conjunto
metade de toda a malha analisada, o que
de problemas complexos. Os investimentos
impossibilita a circulação operacional dos
em manutenção representam significante
trens dentro da velocidade máxima
participação nos custos totais das ferrovias,
autorizada. Estas restrições são causadas
por isso tem se tornado um processo-chave
devido às más condições dos
e tem aumentado a busca por ferramentas
componentes da superestrutura da via, o
que também implica na limitação do peso preliminar, aplicação da metodologia nos
bruto por vagão. cálculos de eficiência e análise dos
Trabalhar com o conceito de maior resultados para todas as DMUs.
eficiência relativa é uma boa estratégia de A DEA utiliza-se da programação
priorização, pois torna o modelo mais matemática para obter avaliações da
flexível, permitindo a variação de critérios eficiência relativa de planejamento e tem
de análise dependendo da realidade de sido utilizada em diversas áreas como:
aplicação do problema analisado. Neste administração, economia, pesquisa
artigo, o objetivo é estabelecer qual operacional e engenharia de produção
quilômetro é o mais eficiente, ou seja, (LOPES et al., 1996).
definir o local de manutenção que gera o Os objetivos do método DEA são:
maior retorno com o menor esforço fornecimento de uma taxa de eficiência,
possível. identificação de origens e quantidades de
Este artigo tem como objetivo realizar a ineficiência relativa de cada uma das
priorização das atividades de manutenção unidades comparadas, em qualquer de
utilizando o método de Análise por suas dimensões e estabelecimento de
Envoltória de Dados (DEA), cuja função é metas de produção que maximizem a
definir a ordem de realização dos ativos, produtividade das unidades avaliadas
priorizando aqueles com o maior retorno (NUNES, 1998).
financeiro no menor intervalo de tempo. As principais vantagens deste modelo de
Dessa forma, os ganhos serão análise de eficiência são: prescinde de
potencializados e maximizará o retorno atribuição prévia de pesos às variáveis; a
antecipado do projeto através da função- eficiência é definida de forma
objetivo do problema. individualizada; permite que mais de um
item analisado possa ser classificado como
2. MÉTODO DEA eficiente; realiza contribuições de
melhorias para os itens considerados como
O método DEA (Data Envelopment ineficientes. Em relação às limitações do
Analysis) ou Análise Envoltória de Dados é modelo, pode-se destacar ao escopo
uma metodologia de análise de eficiência recente do modelo, restrita à área de
cuja função é definir a ordem de realização pesquisa operacional e não permite
dos ativos, antecipando aqueles que vão extrapolação de suas conclusões, uma vez
trazer o maior retorno financeiro no menor que se trata de uma técnica não
intervalo de tempo, potencializando os paramétrica.
ganhos antes do final do projeto, através A utilização da modelagem matemática
da função-objetivo do problema. O DEA é para análise de dados irá permitir a
uma metodologia de análise comparativa obtenção da eficiência de todos os grupos
entre a eficiência pontual e a eficiência de quilômetros pré-estabelecidos e
otimizada, estabelecendo um indicador de classificá-los priorizando as maiores
avaliação e definindo a curva de máxima eficiências, determinando assim a ordem
produtividade. para realização da manutenção (LOVELL
Este método originou-se nos trabalhos de & SCHMIDT, 1993). É importante destacar
Farrell (1957) com o desenvolvimento de que o método DEA não busca apenas a
um método que comparou a eficiência de obtenção de um único valor final ideal, mas
escolas públicas, estimando um modelo permite que sejam definidos experimentos,
onde não fosse necessário recorrer ao considerando os impactos nos resultados
árbitro de pesos para cada variável de da eficiência relativa.
input ou output e sem converter todas as
variáveis em valores econômicos 3. MODELO MATEMÁTICO
comparáveis (CHARNES et al, 1978).
As principais etapas do DEA são: definição Foi desenvolvido um modelo matemático
das DMUs, definição das variáveis (Inputs baseado nos conceitos do método DEA
e Outputs), Definição do período de análise com o objetivo de priorizar os trechos
a ser considerado, definição do objetivo do ferroviários que possuem uma quantidade
processo, definição da eficiência relativa menor de recursos demandados para a
inicial através de uma análise gráfica recuperação (inputs) e uma quantidade
maior potencial de retorno esperado, locais serviço necessário em cada grupo de km
onde tiver uma maior diferença entre a (k) em Unidade Produtiva Diária,
restrição de velocidade existente no trecho considerando cada grupo de serviços (𝑒).
e a Velocidade Máxima Autorizada (VMA) e Representam os níveis de entrada para
uma maior inclinação de rampa – declive cada grupo (𝑔);
(outputs).
𝐛𝐪(𝐣, 𝐤): nível observado (> 0) das saídas
CONJUNTOS: (𝑗) para os quilômetros (𝑘);

𝐤: conjunto quilômetros de via considerados 𝐛(𝐣, 𝐠): nível observado (> 0) das saídas (𝑗)
para o modelo de priorização; 𝑘 𝜖 [1; 128] para os grupos de quilômetro (𝑔). O
problema proposto possui dois indicadores
𝒈: grupos de quilômetros que possui um de saída (𝐣 = 𝟐) ‘RESTRICAO’ e
tamanho predefinido no modelo; ‘AUMENTO TB’;
𝒔: serviços de manutenção a serem 𝐄𝐑𝐆(𝐠): Eficiência Relativa do grupo (𝑔)
executados: 17 serviços necessários, como parâmetro para receber o valor da
sendo 6 principais e os demais variável ERV(g) a cada rodada de
secundários; resolução;
𝒆: grupos de equipes e equipamentos que 𝑻: Tamanho mínimo do bloco de
podem realizar cada atividade quilômetros para retirada da restrição. Para
(PRODUCAO = Equipes de produção, o problema proposto, foi definido 𝑻 = 𝟓;
SOLDA = equipes de solda, BRITA = frota
de descarga de brita, SOCADORA = 𝑮𝒓: parâmetro para receber o número de
grupos de quilômetros calculados a partir do
socadora mecanizada) que representam as
tamanho dos blocos 𝑇;
categorias de entrada;
𝒋: categorias de saídas para os indicadores 𝐩: padrão a ser usado para cálculo da
medidos; eficiência relativa de cada grupo de
quilômetros (parâmetro comum para os
PARÂMETROS: problemas em DEA);

𝐍𝐒 (𝐤, 𝐬): indica a necessidade de serviços 𝑿(𝒆, 𝒑): parâmetros para receber os valores
de manutenção a serem executados de da variável 𝐱(𝐞, 𝐩) a cada rodada da
cada tipo (𝑠) e para cada quilômetro (k); otimização;

𝐍𝐒𝐆 (𝐠, 𝐬): indica a necessidade de serviços 𝒀(𝒆, 𝒑): parâmetros para receber os valores
a serem executados de cada tipo (𝑠) e cada da variável 𝐲(𝐞, 𝐩) a cada rodada da
grupo de quilômetros (𝑔); otimização;

𝐏𝐫𝐨𝐝(𝐬): produtividade diária de cada VARIÁVEIS:


serviço (𝑠) por equipe/equipamento;
𝐱(𝐞, 𝐩): peso a ser atribuído à entrada (𝑒)
𝐏𝐀𝐁 (𝐤): corresponde ao ângulo de aclive do grupo parâmetro (p) que faz referência
ou declive de cada quilômetro (k); aos grupos (𝑔) de quilômetros;
𝐏𝐀𝐓 (𝐤): tamanho de cada quilômetro (k) 𝐲(𝐣, 𝐩): peso a ser atribuído à saída (𝑗) do
com aclive/declive considerando seu perfil grupo parâmetro (𝑝) que faz referência aos
altimétrico; grupos (𝑔) de quilômetros;
𝐑𝐕(𝐤): velocidade atual em cada 𝐄𝐑𝐕(𝐩): Eficiência relativa do grupo
quilômetro (k), considerando as restrições parâmetro (𝑝) que faz referência aos grupos
de velocidade existentes; (𝑔) de quilômetros.
𝐕𝐌𝐀: Velocidade máxima autorizada do
trecho; Anteriormente a otimização são realizados
os cálculos abaixo, para que o usuário
𝐒𝐄𝐪 (𝐬, 𝐞): faz a correspondência entre cada possa entrar com as informações no
serviço (𝑠) e qual o equipamento ou equipe formato mais lógico e prático que são as
(𝑒) que o realiza; 𝐒𝐞𝐫𝐯𝐄𝐪(𝐬, 𝐞) 𝛜 [𝟎, 𝟏] necessidades de serviços e demais
𝐔𝐏𝐃 (𝐞, 𝐠): transforma a quantidade de parâmetros por quilômetro de linha e cabe
ao modelo calcular as informações no
formado ideal para entrada: mesmos conforme as maiores eficiências
relativas:
𝑏1𝑘 = (−1) ∗ 𝑃𝐴𝐵𝑘 ∗ 𝑃𝐴𝑇𝑘 ∗ (𝑉𝑀𝐴 − 𝑅𝑉𝑘 )∀𝑘 (1)
Para g faça
𝑁𝑆𝐺𝑔𝑠 = ∑ 𝑁𝑆𝑘𝑠 ∀𝑔𝑠 (2) p=g
𝑘 | ((𝑔−1)∗𝑇+1) ≤ 𝑘 ≤ 𝑔∗𝑇
Resolva MAX_FO
ERG(p) = ERV (12)
𝑏𝑗𝑔 = ∑ 𝑏𝑞𝑗𝑘 ∀𝑗𝑔 (3) 𝑋𝑒𝑝 = 𝑥𝑒𝑝 ∀𝑒
𝑘 | ((𝑔−1)∗𝑇+1) ≤ 𝑘 ≤ 𝑔∗𝑇
𝑌𝑒𝑝 = 𝑦𝑒𝑝 ∀𝑒
𝑐𝑎𝑟𝑑(𝑘)
𝐺𝑟 = 𝐶𝑒𝑖𝑙( ) (4) Fim-para
𝑇
O parâmetro 𝐺𝑟 consiste na quantidade de 4. APLICAÇÃO DO MODELO
grupos existentes levando em
consideração o tamanho do conjunto 𝑘 O modelo matemático demonstrado acima
obtido com a formula 𝑐𝑎𝑟𝑑() no AIMMS e a foi implementado no software AIMMS®
formula 𝐶𝑒𝑖𝑙() que retorna o valor inteiro da considerando as informações reais de
divisão demonstrada acima. necessidade de serviço e parâmetros de via
A partir dos cálculos acima é possível de um trecho previsto para recuperação de
calcular a função objetivo e as restrições via, com o objetivo de comparar com um
do modelo de otimização, conforme modelo de priorização determinado
demonstrados abaixo nas formulas (5) a anteriormente considerando outros critérios
(11). sem otimização, sugerir mudanças e aplicar
experimentos do modelo conforme previsto
FUNÇÃO OBJETIVO: no método DEA.
𝐌𝐀𝐗_𝐅𝐎 = ∑ 𝑏𝑗𝑝 ∗ 𝑦𝑗𝑝 (5)
𝑗 4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Sujeito a: Trata-se de um trecho de 128 quilômetros
de linha ferroviária, com um total de 31
𝑁𝑆𝐺𝑔𝑠 ∗ 𝑆𝐸𝑞𝑠𝑒
UPD𝑒𝑔 = ∑( ) ∀𝑔,𝑒 (6) ativos (pátios e entrepátios) onde está
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑠 previsto um projeto de recuperação do
𝑠
trecho. Com o desenvolvimento do projeto,
∑ 𝑏𝑗𝑔 ∗ 𝑦𝑗𝑝 ≤ ∑ 𝑈𝑃𝐷𝑒𝑔 ∗ 𝑥𝑒𝑝 ∀𝑔 (7) serão realizadas as seguintes atividades
𝑗 𝑒 principais: substituição de trilhos,
substituição de dormentes, recuperação de
∑(𝑈𝑃𝐷𝑒𝑝 ∗ 𝑥𝑒𝑝 ) = 1 (8) AMVs, Solda em trilho, descarga de brita e
𝑒 socaria mecanizada.
Existem no trecho cerca de 70 restrições de
ERV = ∑ 𝑏𝑗𝑝 ∗ 𝑦𝑗𝑝 (9) velocidade, totalizando 63,3 km de linha
𝑗 (49% do trecho total) que não permitem o
𝑥𝑒𝑝 ≥ 0 ∀𝑒 trem trafegar na velocidade prevista para o
(10) trecho. Essa restrição de velocidade é
causada devido às más condições dos
componentes de via permanente e, além
𝑦𝑗𝑝 ≥ 0 ∀𝑗 (11) disso, o peso bruto por vagão é limitado a
100 ton. O aumento do peso bruto por
vagão está relacionado principalmente a
O método DEA ainda prevê que o modelo necessidade de substituição de trilhos em
de otimização acima seja rodado 𝐺𝑟 vezes, áreas críticas do trecho, com possibilidade
que corresponde ao tamanho do conjunto 𝑔, de aumentar esse valor para 120 toneladas
assumindo valores fixos 𝑝 e calculando a por vagão. A retirada de restrição de
eficiência relativa ERV para cada um dos velocidade garante o aumento para a VMA
grupos de quilômetros definidos para o do trecho, consequentemente, a redução
ranqueamento dos grupos de quilômetros e do tempo de tráfego (o transit-time total
consequentemente a priorização dos desse trecho é de cerca de 6:30h) e ganhos
em eficiência energética. Já o aumento da criticidade, classificados pela maior
capacidade de carga por vagão de 100 quantidade de restrições de velocidade
para 120 toneladas significa em ganho (metros), demanda por troca de dormentes
direto para a companhia uma vez que seu (quantidade de dormentes * espaçamento
faturamento está diretamente ligado a em metros), demanda por troca de trilhos
tonelada útil transportada. (metros) e a proximidade com os pátios de
O projeto de recuperação foi previsto ser apoio, locais onde ficam armazenados os
realizado em 23 meses e com o seu materiais e de desvio dos equipamentos.
andamento a empresa já começa a ter Desta forma o trecho foi subdividido em 5
retorno financeiro antecipado com a blocos de atuação, a serem priorizados de
execução das atividades nos trechos com 1 a 5 com a realização total de cada bloco
maior eficiência primeiro, conforme as para avanço para o próximo (conforme
restrições de velocidade forem retiradas e o demonstrado na parte superior da Figura 2).
aumento da tonelada bruta por vagão para Conforme demonstrado nos resultados, a
todos os trechos liberado. eficiência relativa obtida para cada grupo
Dessa forma, a função desse modelo de quilômetros foi comparada a essa
matemático não é definir o que fazer e estratégia anteriormente definida dos
quando, mas sim priorizar a ordem de blocos e assim alterações foram sugeridas
realização dos ativos, levando em a fim de tornar a priorização dos trechos
consideração a realização antecipada mais eficiente.
daqueles que vão trazer o maior retorno
financeiro no menor intervalo de tempo, 4.3 EXPERIMENTOS
potencializando os ganhos antes do final do
projeto. Após o modelo ser implementado no
AIMMS® foram planejados 3 experimentos
4.2 ESTRATÉGIA DE PRIORIZAÇÃO para análise dos resultados, sendo eles:
i. Experimento padrão com tamanho o
Conforme demonstrado no modelo grupo de quilômetros 𝑻 = 𝟓
matemática apresentado, e na ii. Considerando outro tamanho de
contextualização do problema, a estratégia grupo 𝑻 = 𝟏𝟎 o que resulta em uma
adotada de priorização de manutenção diminuição dos grupos a serem
para o trecho estudado, consiste na priorizados de 26 para 13;
eficiência relativa de cada grupo de iii. Retirar das atividades de
quilômetros, levantado em consideração a manutenção consideradas nos
quantidade de trilho necessário para troca inputs a atividade de solda
naquela região, dado a priorização da troca aluminotérmica, por essa não ser
de trilhos para o aumento da tonelada bruta considerada uma atividade crítica a
por vagão para aquele trecho, e os ser priorizada;
tamanhos e ângulos de inclinação das
rampas multiplicado pela a diferença da 5. RESULTADOS
velocidade atual no trecho e a VMA,
priorizando trechos em declive para a Após rodado o modelo de otimização
retirada das maiores restrições de desenvolvido os resultados obtidos foram
velocidade primeiro, impactando assim na analisados e a partir da análise de cada
eficiência energética dos trechos para experimento, ações podem ser sugeridas
aquele trecho. Tudo isso levando em para a estratégia de priorização do trecho.
consideração as entradas que são as Abaixo são detalhados os resultados de
necessidades de serviços para o trecho, cada experimento e as suas consequências
para cada trecho. Em suma serão para a priorização a partir da análise
priorizados os trechos que tiverem maior realizada.
retorno e menor necessidade de serviços
para garantir a retirada das restrições de
velocidade. 5.1 EXPERIMENTO I
Anteriormente a esta estratégia havia sido
definida também uma estratégia que previa No experimento I foram considerados
a atuação nos locais por nível de grupos de 5 quilômetros, subdividindo o
trecho em 26 grupos. A eficiência relativa velocidade, dormentes e trilho e a
de cada grupo, bem como a sua subdivisão nos 5 blocos. Os pontos
classificação de quais grupos devem ser circulados em amarelo consistem nos
priorizados são demonstrados na Figura 1. pátios de desvio e distribuição de materiais
e abaixo está a eficiência relativa por grupo
de 5 quilômetros, também para o mesmo
trecho e abaixo do gráfico escala de cor de
priorização de cada grupo.
Através análise cruzada dos blocos e das
eficiências dentro de cada bloco é possível
notar que algumas partes dos blocos
prioritários (blocos 1 e 2) possuem
eficiência relativa baixa (verde e amarelo
claro), não sendo assim trechos
considerados prioritário devido a sua
eficiência, logo foram sugeridas mudanças
nos cortes de cada bloco prioritário, sendo
esses novos quilômetros de cortes
indicados na Figura 2 pelas linhas verticais
pontilhadas.
Desta forma os grupos prioritários passam
a ser primeiro entre o grupo 18 e 23, depois
entre os grupos 4 e 9, seguidos pelos
grupos 24 a 26, grupos 10 a 17 e por ultimo
grupos 1 a 4.
Essa análise cruzada das duas
Figura 1 - Eficiência relativa por grupo de
metodologias de priorização permitiram
quilometros.
uma melhora na eficiência relativa de
Através da escala de cores onde o atuação em cada trecho, sem deixar de
vermelho é relativo aos grupos mais lado a análise qualitativa de trechos mais
prioritários até o verde aos menos críticos realizada pelo especialista do
prioritários, pode ser analisado todo o trecho, atendendo assim a visão dele
trecho a partir da eficiência de cada grupo. melhorada com a eficiência que não é acho
Levando em consideração apenas a facilmente mensurável sem a ajuda da
eficiência relativa os grupos prioritários para metodologia DEA e do modelo de
ser atendidos com a manutenção poderiam otimização implementado.
ser os grupos 19, 21 e 26 e assim
sucessivamente, atuando em cada trecho 5.2 EXPERIMENTO II
de 5 km conforme a priorização.
Porém normalmente é mais fácil a atuação Dado a necessidade de agrupar mais a
mais concentrada em quilômetros para a realização da otimização em trechos
distribuição de materiais e a abertura maior maiores, para o segundo experimento foi
de frente para descarga de brita e socaria. alterado o valor do parâmetro 𝑇 para 10, ou
Levando em consideração essa seja, o tamanho dos grupos de quilômetros
informação, a estratégia definida é alterado passando a existir apenas 13
anteriormente de subdividir o trecho em 5 trechos a serem priorizados dentro do
blocos de trabalho, apresentada no tópico corredor de 128 quilômetros.
4.2 do presente artigo, foi comparada com Após rodar o modelo modificado no
a eficiência relativa dos grupos de AIMMS, a Figura 3 traz as eficiências
quilômetros e foram sugeridas mudanças relativas para os 13 grupos classificadas do
na estratégia de atuação conforme a maior para o menor, sendo prioritários os
eficiência relativa de cada trecho. grupos 10, 11 e 13 que em termos de
A Figura 2 demonstra essa comparação, quilômetros corresponde com a região
onde a parte acima da figura representa o demarcada entre o bloco 1 e 3 na Figura 2.
trecho ferroviário com as curvas
acumuladas de quantidade de restrição de
Figura 2 - Comparativo da estratégia inicial com a estratégia modelada de eficiência relativa através do
método DEA.

A estratégia definida pelo experimento II recurso para a realização dessa atividade


traz uma modificação importante na por escasso, talas podem sem colocadas
estratégia inicial, demonstrando que o no trecho desde que sejam retiradas em um
grupo 13, que corresponde aos últimos 10 horizonte de médio prazo, logo essa
quilômetros do trecho que a principio atividade não precisa ser priorizada dentro
estavam alocados como prioridade 3 são do modelo.
prioritários na realização antes de grupos
pertencentes ao bloco 1 e 2, trazendo a
perspectiva de realização desse trecho
antes dos demais, garantindo assim uma
manutenção mais eficiente.

Figura 3 - grupos de 10 quilômetros priorizados


pelo método DEA.

5.3 EXPERIMENTO III

Para o terceiro experimento foi definido ser Figura 4 - comparação da priorização dos trechos
retirada da priorização a atividade de com e sem a atividade de solda.
soldas no trecho, por entender que se o
A Figura 4 compara a priorização do trecho 7. AGRADECIMENTOS
com e sem a atividade de solda,
demonstrando que a mesma não estava O presente trabalho foi realizado com apoio
impactando tanto no modelo otimizado, não da Coordenação de Aperfeiçoamento de
gerando grandes mudanças na priorização, Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES)
porém alguns grupos, a exemplo o grupo – Código de Financiamento 001, além do
26 e 5, poderiam ter sua ordem invertida apoio da PUC-Rio, UFJF e da MRS
com outros grupos que são mais eficientes Logística S.A.
quando a atividade de solda é
desconsiderada do modelo, obtendo assim 8. REFERÊNCIAS
uma otimização global melhor que o
modelo inicial. [1] CHARNES, A.; COOPER, W. W.;
RHODES, E. Measuring the efficiency of
6. CONCLUSÃO decision making units. European Journal of
Operational Research, 2(6),429-444, 1978.
O presente trabalho discutiu o problema de
priorização das atividades de manutenção [2] LOPES, A.L.M., LAPA, J.S. e
em uma malha ferroviária com base na LANZER,E. Análise Envoltória de dados:
utilização do método de Análise Envoltória uma nova ferramenta para a avaliação
de Dados (DEA) e apresentou um modelo multidimensional do setor de serviços. XX
de formulação matemática para sua ENAMPAD, Angra dos Reis, 1996.
resolução, capaz de maximizar a eficiência
relativa para atuação da manutenção nesse [3] LOVELL, C.A.K.; SCHMIDT, S.S. (eds.),
trecho, levando em consideração as The measurement of productive efficiency.
entradas e saídas definidas para o modelo. New York, Oxford University, 1993.
Através da utilização do modelo DEA foi
possível obter a eficiência de todos os [4] NUNES, N. Avaliação da eficiência
grupos de quilômetros pré-estabelecidos, produtiva de departamentos universitários:
bem como classificá-los priorizando as uma aplicação de Análise Envoltória de
maiores eficiências. Isto permite que seja Dados. Dissertação de Mestrado, UFSC.
determinado a ordem de realização das Florianópolis, 1998.
atividades de manutenção para o local.
Para o modelo estudado que se trata de um
projeto de recuperação do trecho, foram
escolhidas como saídas indicadores que
buscavam refletir a priorização do aumento
da tonelada útil do vagão para o trecho e as
rampas de declive com maior potencial de
aumento da velocidade, buscando melhorar
assim a eficiência energética no trecho,
porém o método DEA aplicada a um
cenário tão diferente do padrão para tal
modelo abre uma gama de diversas
possibilidades de aplicação, alterando os
indicadores de saída livremente pelo
usuário, com o intuito de obter a eficiência
de trechos ferroviários em outros contextos
diversos e ampliar a aplicação da
ferramenta na manutenção ferroviária,
contribuindo com uma ferramenta
quantitativa de análise de dados, no
caminho do que se espera para
implantação plena da ferrovia 4.0.

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