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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

EMERSON JOSÉ DE ALMEIDA SILVA

QUESTÕES SOCIAIS EM O CORTIÇO, DE ALUÍSIO AZEVEDO

GARANHUNS

2022
EMERSON JOSÉ DE ALMEIDA SILVA

QUESTÕES SOCIAIS EM O CORTIÇO, DE ALUÍSIO AZEVEDO

GÊNERO E SEXUALIDADE EM O CORTIÇO, DE ALUÍSIO AZEVEDO

Trabalho referente à nota parcial da


disciplina de Literatura Brasileira II,
ministrada pelo docente Moisés Monteiro
de Melo Neto ao sexto período de
Licenciatura em Letras.

GARANHUNS
2022

RESUMO: Através do presente trabalho, abordei questões sociais presentes na


obra naturalista O Cortiço, de Aluísio Azevedo, analisando principalmente a questão
da homossexualidade, além de conceituar e caracterizar a escola literária naturalista
e a sua importância para a construção da obra.

PALAVRAS-CHAVES: Naturalismo; homossexualidade; Aluísio Azevedo.

INTRODUÇÃO

1. Surgimento e difusão do naturalismo: ampliar o debate que já está feito


aqui.

O final do século XIX ficou marcado como "Era das Revoluções", sobretudo
devido às transformações sociopolíticas, econômicas e científicas vivenciadas não
somente no Brasil, mas no mundo como um todo. O capitalismo industrial criou uma
nova elite e uma nova burguesia, que explorava a classe proletária, gerando,
consequentemente, revoltas de origem social.

Diante de uma busca sobre o avanço tecnológico, as ciências passaram a


revisar antigos conceitos religiosos e filosóficos, em especial aqueles referentes aos
avanços do estudo da biologia. Com isso, as teorias científicas dominantes na
Europa como o socialismo, o positivismo e o darwinismo tiveram forte influência no
Naturalismo (SILVA, 2014). Não obstante, as correntes do pensamento tiveram
também interferências de diversos setores, dos quais se destacam:

Psicanálise: mais especificamente, do reflexo dos estudos de Sigmund Freud,


o qual estudou o inconsciente das pessoas, bem como as relações humanas,
usando termos como censura (relacionado aos desejos), recalcamento (referente à
moralização automática do pensamento), libido (o impulso sexual), sonho (um meio
de burlar a censura), id (os impulsos inconscientes), ego (parte do id que é
modificada pelo mundo exterior) e superego (onde a censura atua).
Sociologia: com principal nome Karl Marx, que teoriza uma sociedade
igualitária e com base na ausência de privilegiados, burguesia e proletários:
explorador e explorado (…) além das Ciências Naturais: com destaque para Charles
Darwin (com a teoria da evolução das espécies: a seleção natural) e Taine (com o
determinismo, onde o comportamento humano é condicionado pelas influências
raciais).

Não contentes com as aplicações à antropologia, biologia, psicologia e à


sociologia da época, passaram a se servir dos mesmos modelos para a literatura, a
crítica e a poesia (SCHWARCZ, 1992).

No âmbito literário, o romance naturalista no Brasil tem duas datas


delimitadas para o seu início: 1877 e 1881, com os romances de Luís Dolzani
(Inglês de Sousa) e Aluísio Azevedo: “O Coronel Sangrado” e “O Mulato”,
respectivamente.

No que se refere a este último, a consagração de Aluísio Azevedo, como um


escritor naturalista, se deu por meio de sua obra já citada, marcando o início do
Naturalismo no Brasil. Entretanto, apesar de não ser a obra naturalista mais
marcante, abalou a sociedade brasileira, sobretudo a igreja e a alta sociedade de
São Luís do Maranhão (SILVA, 2014). Em “O Mulato”, o romancista abordou temas
como o anticlericalismo, o puritanismo sexual e o racismo, entretanto, foi por meio
da obra “O Cortiço” que o Naturalismo chegou ao seu ápice, para Candido (1999),
Aluísio de Azevedo foi o mais importante escritor naturalista do Brasil.

Com isso, o naturalismo segue a tendência de fazer dos romances um


instrumento de luta social de oposição a valores, instituições e status. Suas
narrativas consistem em críticas contra a hipocrisia, o casamento, ao clero e a
burguesia. Nesse sentido, tinha por objetivo abandonar o caráter apenas lúdico, de
entretenimento e fazer parte de uma “provocação” contra o poder opressor (BAHIA,
2012).

Ademais, pode-se citar que no Naturalismo, ao contrário do Romantismo, a


realidade não é idealizada. Dessa forma, o comportamento do narrador em um
romance naturalista, é como a de um “cientista”, observador de um episódio social
(SILVA 2014 apud SOUZA, 2014). Assim sendo, os atos devem ser descritos de
modo impessoal. A literatura naturalista, nesse sentido, afirma a validade de teses
científicas deterministas por meio da ficção.

Além disso, tanto os personagens como os cenários são apresentados, em


sua essência, com todo sofrimento existente, seja material ou moral. Retratando,
deste modo, os temas mais confusos do interior humano que são as doenças
(patológicas). Em vista disso, outros assuntos foram deixados de lado, como por
exemplo, a Abolição da Escravatura e a República (SILVA, 2014).

Outras características presentes no Naturalismo são: as forças da natureza


serem capazes de explicar o mundo; as características biológicas do ser humano
estarem ligadas à hereditariedade e ao meio social a qual pertence: devido a teoria
de evolução de Darwin. O homem é resultado da natureza e passa a utilizar o
instinto em seus atos. Ele chega a ser comparado com os animais e a esse
fenômeno é nomeado zoomorfização, muito presente na obra O Cortiço, de Aluísio
de Azevedo. Por fim, os temas centrais abordados nas obras naturalistas são:
instinto, loucura, violência, traição, miséria, exploração social, raça, entre outros
(SILVA, 2014 apud GOMES, 2014).

Como bem apontado por Silva (2014) a escolha de uma obra naturalista para
análise da pobreza é a mais indicada porque aponta com nitidez o comportamento
do ser humano no meio social. Em outras palavras, os personagens desta obra
literária estão próximos das pessoas comuns, com suas vidas medianas e
problemas recorrentes do dia a dia, havendo uma explicação lógica ou científica
para suas ações. Além disso, a linguagem é próxima do texto informativo, fazendo
uso de imagens denotativas e obedecendo à ordem direta nas construções
sintáticas (SILVA, 2014).
2. O naturalismo no Brasil: capítulo com levantamento histórico do
naturalismo no Brasil, seus autores principais, sua difusão e repercussão,
outras obras e Aluísio Azevedo, etc.

3. Homossexualidade na literatura brasileira

Procurar algum artigo ou livro.

Tese Carlos Albuquerque: Personagens travestis na literatura brasileira

https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/9301/2/arquivototal.pdf

4. O CORTIÇO

Recuperar a fortuna crítica da obra. Fazer uma espécie de resumo de ensaios


e textos importantes sobre a obra, com algumas linhas de leitura principais,
etc.

Publicado em 1890, com um narrador onisciente, a obra que se passa no Rio


de Janeiro faz uma crítica ao Brasil e à sociedade da época que interiorizava a
concepção da existência de uma raça superior, as desigualdades, a pobreza, a
supervalorização do estrangeiro e a desvalorização dos brasileiros.

FAZER RESUMO DO ARGUMENTO DO LIVRO.

Durante seus 23 capítulos, o narrador explora a vida dos moradores de dois


locais distintos: o cortiço de João Romão e o sobrado de Miranda. A obra evidencia
as diferenças socioeconômicas dos personagens, diferenças estas que foram
propositalmente inseridos pelo escritor. Aluísio adquire o espaço social como forma
de compreender as posições sociais, que são semelhantes aos hábitos dos
personagens que residem no cortiço (SILVA, 2014). O romance tem a desigualdade
social como enredo principal.

Em "O Cortiço", Aluísio de Azevedo compara a obra com um organismo vivo,


que nasce e evolui. Os moradores do cortiço, seus personagens, são descritos sob
o viés social e biológico, sendo estes âmbitos inseparáveis. Não por coincidência,
João Romão constrói o cortiço com o mínimo de estrutura possível para as
necessidades diárias dos moradores, onde não há conforto, há apenas o suficiente
para o desenvolvimento humano, enquanto um ser biológico (SILVA, 2014).

Como maneira de apresentar a desigualdade, existe a questão de luta de


classes, um exemplo disso é o personagem João Romão, que tem origem
desfavorecida economicamente em comparação a Miranda. João Romão tenta de
diversas formas reerguer o seu cortiço e torná-lo um espaço organizado, com uma
melhor situação econômica.

As divergências das relações sociais acontecem entre a pobreza e a riqueza


dos indivíduos no romance, sendo que a ambição e os interesses individuais são
características demonstradas ao narrar os acontecimentos. A pobreza tem como
personagens: os moradores do cortiço de João Romão, já a riqueza é representada
pelos portugueses ricos que residem no sobrado da personagem Miranda.

A estrutura social dos personagens desenvolve-se por meio de possíveis


transformações no espaço, que são realizadas de acordo com a evolução local e
comportamental, o que ressalta a visão de um organismo vivo em evolução.

Na obra, a sociedade é dividida em diversos sentidos, sendo que uma dessas


divisões é a racial, visto que a maioria dos inquilinos é constituído de negros e
mestiços, com uma minoria branca, bem como há empregados, desempregados,
assalariados, etc. O Cortiço mostra que os personagens usam de suas capacidades
para obtenção de oportunidades, um exemplo disso é quando João Romão é
persuadido por Jerônimo a contratá-lo por um pagamento superior ao que era de
costume:
Pois está fechado o negócio! – deliberou João
Romão, convencido de que não podia, por
economia, dispensar um homem daqueles. E
pensou lá de si para si: “Os meus setenta mil-réis
voltar-me-ão à gaveta. Tudo me fica em casa!
(AZEVEDO, 1995, p. 48).

Observa-se um entendimento recíproco dos dois personagens em relação às


suas capacidades. Romão achou que tê-lo como funcionário seria um investimento,
pois reconhecera a capacidade de Jerônimo em dar continuidade aos trabalhos na
pedreira. No que diz respeito a Jerônimo, o personagem usou sua habilidade para
convencer Romão a pagar-lhe o valor almejado por seus serviços.

A desigualdade de gênero, educação, classe socioeconômica, oportunidade


e resultado, definem o termo desigualdade social onde há polarização de duas
classes, a pobreza e a riqueza. Um outro exemplo observado é a indignação do
personagem Miranda ao se deparar com o cortiço que surgiu ao lado de seu
sobrado, ocupando o quintal do qual desejava tomar posse. É notável as duas
classes sociais representadas, por meio do sobrado representando a riqueza, e o
cortiço, representando a pobreza.

É importante ampliar essa parte e assumir uma visão crítica em relação a


obra. Talvez possa até dividir em tópicos: Desigualdades de raça, de classe, de
gênero. Isso de forma mais rápida, para se concentrar na questão da
homoafetividade.

QUESTÕES SOCIAIS NA OBRA

Questões Críticas sociais quase sempre estiveram presentes em obras


literárias, ao menos, naquelas engajadas. Por mais que o intuito não fosse provocar
uma mudança, ao menos trazer para discussão ou expor tais questões já era de
grande ajuda para a visibilidade e possibilidade de conscientização por parte do
público leitor.

Tendo isso em mente, podemos notar que a segunda metade do século XIX
trouxe profundas mudanças políticas, econômicas e sociais. Ocorreu a segunda
fase da revolução industrial, revolucionando os meios de transporte e comunicação,
além de trazer novas comodidades para a população. O Brasil aboliu a escravidão,
proclamou a república e começava-se a modernizar.

Entretanto, falar sobre relações sexuais continuava sendo um tabu. Em uma


sociedade regida e controlada pelo catolicismo, qualquer tipo de conduta sexual que
fugisse à regra era considerada um escândalo. Naquela época, devido aos ideias
católicos, o sexo era visto quase que exclusivamente como um meio de procriação.

Aqui é importante citar alguma fonte que trate desse aspecto. A sexualidade
brasileira no século XVIII e XIX, de modo a comprovar seus argumentos

Sendo assim, levando em consideração o contexto histórico e social, há


predominância de uma concepção materialista das coisas. A realidade é constituída
por leis naturais bem definidas. Nesse contexto, essa realidade é observada e
analisada através da ciência e dos fatos. O psicológico e o social estão submetidos
às leis universais e as manifestações materiais, sendo que a “natureza” do homem
liga-se diretamente às circunstâncias exteriores.

Dessa forma, o Naturalismo rompe com o idealismo da tradição romântica e


pretende construir quadros “reais” dos objetos representados, trazendo
problemáticas existentes e grupos marginalizados como o foco. Enquanto o
Romantismo se volta para o passado ou o futuro (idealizados), o Naturalismo
denuncia as desigualdades sociais de sua época.

Aqui é importante matizar um pouco em dois sentidos. Primeiro que o Romantismo


também fazia muita crítica social. É só pensar no Castro Alves e no Victor Hugo, por
exemplo. Segundo que você precisa explorar melhor a diferença entre naturalismo e
realismo. Ambos fazem denúncias das desigualdades e pretendem ser mais
“realistas”, mas só o naturalismo tem essa mirada darwinista.

E, obviamente, que Aluísio Azevedo não fugirá dessa vertente. O autor


retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica
em detalhes, com teor denunciativo e rompimento com o romance convencional.
Segundo Terra e De Nicola (2004, p. 419), “a narrativa naturalista é marcada pela
vigorosa análise social a partir de grupos humanos marginalizados, em que se
valoriza o coletivo”.

Em seu livro O Cortiço, publicado em 1890, Azevedo traz à tona diversas


discussões sobre mazelas sociais e grupos marginalizados, sendo a questão da
homossexualidade uma delas. Como falado anteriormente, a homossexualidade era
vista como uma patologia, mas o autor traz três perspectivas distintas sobre a
temática em sua obra. A questão da homossexualidade é retrata em três
personagens da obra naturalista, sendo eles: Albino, Léonie e Pombinha.

a) ALBINO

Em Albino, o personagem é construído a partir de uma pureza imaculada,


sendo retratado tantas em suas ações quanto em seu comportamento, a partir de
uma delicadeza e sentimentalismo que divergia dos ideais machistas da época para
um homem daquela sociedade.

Além disso, Albino é narrado como um homem triste, e essa sua tristeza está
diretamente relacionada com a sua orientação social, ou melhor, a forma como ele a
reprimia em seu íntimo, embora ainda estivesse latente, tornando-se, dessa forma,
como alguém mal sucedido e passível de pena, assemelhando-se às mulheres do
cortiço, ou seja, tendo uma relevância inferior aos dos homens.

Sua delicadeza estende-se à sua casa, que é delicadamente decorada.


Aluísio (2007, p. 132) dá pistas das práticas sexuais de Albino, quando diz que “a
cama de Albino estava sempre coberta de formigas”, em contraste com a limpeza e
arrumação do resto de sua casa. Essa prática sexual perturbaria a ordem asséptica
do ambiente, sendo a única forma de manifestação da sua sexualidade. Um meio
que o personagem usaria sem que houvesse a interferência ou auxílio direto de
terceiros.

b) LÉONIE

Divergindo à forma como Albino é apresentado, em Léonie temos a faceta da


homossexualidade como algo promiscuo e isso talvez também se dê ao fato de que
a sua principal atividade monetária fosse a prostituição, além de ser encarregada de
levar outras moças para esse mesmo viés.

Além disso, a personagem é narrada como uma mulher de uma presença


extravagante e marcante, sendo muitas vezes o centro das atenções dos ambientes
em que estivesse, como mostra a passagem a seguir:

“Léonie, com as suas roupas exageradas e


barulhentas de cocote à francesa, levantava
rumor quando lá ia e punha expressões de
assombro em todas as caras. O seu vestido de
seda cor de aço, enfeitado de encarnado sangue
de boi, curto, petulante, mostrando uns
sapatinhos à moda com um salto de quatro dedos
de altura; as suas lavas de vinte botões que lhe
chegavam até aos sovacos; a sua sombrinha
vermelha, sumida numa nuvem de rendas cor-de-
rosa e com grande cabo cheio de arabescos
extravagantes; o seu pantafaçudo chapéu de
imensas abas forradas de velado escarlate,com
um pássaro inteiro grudado à copa; as suas jóias
caprichosas, cintilantes de pedras finas; os seus
lábios pintados de carmim; suas pálpebras
tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente
louro;tudo isto contrastava tanto com as
vestimentas, os costumes e as maneiras daquela
pobre gente, quede todos os lados surgiam olhos
curiosos a espreitá-la pela porta da casinha de
Alexandre.” (AZEVEDO, 1997, p. 50).

Para além, também é retratado o lado animalesco da personagem, em que


ocorre o zoomorfismo, os quais os personagens são caracterizados sob forma
animal, que acontece como na cena em que ela tira a virgindade de Pombinha, que
era menor de idade e sua afilhada, como é narrado nas seguintes passagens do
livro de Azevedo (1997, p. 71) que marcam a personagem:

“- Vem cá, minha flor! disse-lhe, puxando-a contra


si e deixando-se cair sobre um divã. Sabes? Eu te
quero cada vez mais!... Estou louca por ti! E
devorava-a de beijos violentos, repetidos,
quentes, que sufocavam a menina, enchendo-a
de espanto e de um instintivo temor, cuja origem a
pobrezinha, na sua simplicidade, não podia saber
qual era.”

“E, num relance, desfez-se da roupa, e


prosseguiu na campanha.

A menina, vendo-se descomposta, cruzou os


braços sobre o seio, vermelha de pudor.

- Deixa! segredou-lhe a outra, com os olhos


envesgados, a pupila trêmula.

E, apesar dos protestos, das súplicas e até das


lágrimas da infeliz, arrancou-lhe a última
vestimenta, e precipitou-se contra ela, a beijar-lhe
todo o corpo, a empolgar-lhe com os lábios o
róseo bico do peito.

- Oh! Oh! Deixa disso! Deixa disso! reclamava


Pombinha estorcando-se em cócegas, e deixando
ver preciosidades de nudez fresca e virginal, que
enlouqueciam a prostituta.

- Que mal faz?... Estamos brincando...

- Não! Não! balbuciou a vítima, repelindo-a.

- Sim! Sim! insistiu Léonie, fechando-a entre os


braços, como entre duas colunas; e pondo em
contato com o dela todo o seu corpo nu.”
(AZEVEDO, 1997, p.71)

Além disso, o autor também narra sobre Léonie o seguinte:

“No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga


às vontades da afilhada utilizando discurso
sedutor: Léonie saltava para junto dela e pôs-se a
beijar-lhe, a força, os ouvidos e o pescoço,
fazendo-se muito humilde, adulando-a,
comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-
lhe como um cachorrinho.” (AZEVEDO, 2009,
p.137).

3) POMBINHA

Na terceira e última representação da homossexualidade em O Cortiço,


temos a personagem Pombinha, que, inicialmente, é narrada como alguém de
pureza imaculada, embora tenha sido posteriormente rompida, a partir da sua
primeira relação sexual com Léonie. Algo como um “desvirtuamento”.

Em seu próprio nome, a personagem já carrega consigo essa imagem de


pureza, já que para muitos a pomba é vista como um pássaro sagrado para o
cristianimo. Além disso, Pombinha era alguém querida pelos moradores do cortiço,
que não a olhavam com maus olhos. Não é atoa que Azevedo (2007, p. 66) narra
Pombinha como “a flor do cortiço. (...) Bonita, loura, muito pálida, com uns modos
de menina de boa família”.

Em uma de suas passagens, é dito que Léonie “Arrancou-lhe até a última


vestimenta e precipitou-se contra ela, a beijar-lhe todo o corpo, a empolgar-lhe os
lábios, o róseo do peito (...), deixando ver preciosidades de nudez fresca e virginal.”
(AZEVEDO, 2007, p. 85).

Para além disso, a ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu


marido, após adultério do cônjuge. Com isso, ela foi morar com Léonie e entra na
prostituição, de onde tirava o dinheiro para o sustento da mãe.

Pombinha, posteriormente, também teve uma afilhada e a tratava com a


mesma simpatia que fora tratada por Léonie. "A Cadeia continuava e continuaria
interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre
menina desamparada, que se fazia mulher" (Azevedo, 2007, p.236).
O comportamento das duas não era aceito socialmente, porque a cultura
brasileira elitizada não comporta a homossexualidade, mas como era algo velado,
acontecia sem interferências.

Nascimento (2010, pág. 362) afirma que “As práticas homoafetivas associam-
se à promiscuidade e ao cortiço, aquele lugar onde imperava a sujeira. A presença
solícita da cocote, prostituta e lésbica, no cortiço seria outra face das patologias que
aquele lugar materializava.”

DESENVOLVER mais a análise dessas personagens. Contar com detalhes a


história de cada uma e associar com a visão negativa da sexualidade do romance e
da sociedade da época.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do artigo, busquei mostrar que questões sociais vigentes do


século XIX estão presentes na obra de Aluísio Azevedo, refletindo as percepções
históricas da época, dialogando com as compreensões sobre machismo, moral e
ética. Portanto, os personagens, ao serem estudados historicamente, têm muito a
nos dizer a respeito da sociedade brasileira naquele contexto.

As problemáticas sociais e temáticas da obra faz parte de uma tentativa de


compreender o Brasil como uma nação que tenta se construir depois de anos de
exploração e escravidão tardia. Dessa forma, em muitos aspectos, o cortiço, tanto
como espaço quanto personagem, seria um protótipo do próprio Brasil.

Sendo assim, Azevedo traz toda uma carga de denúncia e preocupação com
a realidade social brasileira, notadamente àquela ligada aos grupos marginalizados,
à luz das demandas sociais nos campos político-ideológicos do século XIX,
tornando-se, dessa forma, uma leitura obrigatória para todos aqueles que desejem
ter o prazer de conhecer a alta literatura brasileira.
REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 36ª. ed. São Paulo: Ática, 1995.

_______________. O Cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997

_______________. O Cortiço. São Paulo: Ciranda Cultural, 2007

_______________. O Cortiço 10ª edição. Jaraguá do Sul: Avenida 2009. COLEÇÃO


GRANDES OBRAS DA LÍNGUA PORTUGUESA.

[Não é necessário a presença de tantas referências distintas para uma mesma obra.
Isso inclusive pode confundir o leitor que quer saber de onde saíram as citações]

BAHIA, R. F. M. Quando a podreza toma corpo: análise sociológica de "O Cortiço",


de Aluízio de Azevedo. Baleia na rede, v. 9, n. 1, p. 248-267, 2012. ISSN 1808-
8473. Disponivel em: <https://doi.org/10.36311/1808-8473.2012.v1n9.2849>.
Acesso em: 22 abril 2022.

BEDIN, B.; ALMEIDA, Â. “Desigualdades dentro das desigualdades” uma análise


interdisciplinar de “O cortiço” de Aluísio Azevedo. Revista da Defensoria Pública
do
Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, n. 9, p. 9-26, 2014. Disponivel em:

<https://revista.defensoria.rs.def.br/defensoria/article/view/67>. Acesso em: 23 abril


2022.

CÂNDIDO, Antônio. Iniciação à Literatura Brasileira, 3ª ed. São Paulo: Humanitas,


1999.

NASCIMENTO, PAULO DE OLIVEIRA. HOMOSSEXUALIDADE EM O CORTIÇO:


O NATURALISMO E AS PATOLOGIAS SOCIAIS. IV Colóquio de História:
Abordagens interdisciplinares sobre história da sexualidade. Pernambuco: UNICAP,
2010.
SCHWARCZ, L. M. O OLHAR NATURALISTA: ENTRE A RUPTURA E A
TRADUÇÃO-. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 35, p. 149-167, 1992.

SILVA, C. M. D. M. P. A pobreza estrutural na obra O Cortiço, de Aluísio de


Azevedo. Monografia (monografia em Letras Português) - FACES. Brasília, p. 47.
2014.

TERRA, Ernani; DE NICOLA, José. Português de olho no mundo do trabalho.


Volume único. São Paulo: Scipione, 2004.

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