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AO JUÍZO RELATOR DA Xª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

FEDERAIS DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE PERNAMBUCO.

Processo nº XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, já devidamente qualificada


nos autos do presente processo, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência,
por meio de seu procurador, opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
COM EFEITOS INFRIGENTES em face do acórdão (anexo nº 18) nos termos do
artigo 1.022 do CPC, de acordo com os fundamentos que ora passa a expor.

I - DO CABIMENTO.

Nos termos do artigo 1.022 do CPC/2015, cabem embargos de


declaração quando em qualquer decisão judicial houver obscuridade, omissão ou
contradição. Além disso, o inciso III do referido artigo traz a possibilidade de manejo
do presente recurso para o efeito de corrigir erro material.

Portanto, em se tratando de decisão omissa proferida pela 1ª Turma


Recursal do Juizado Especial Federal em Pernambuco, é pertinente o manejo do
presente recurso.
II – PRELIMINAR DE TEMPESTIVIDADE.

II.I – SUSPENSÃO DOS PRAZOS PROCESSUAIS FÍSICOS E ELETRÔNICOS.


COVID-19. PANDEMIA MUNDIAL.

O Tribunal Regional Federal da 5ª Região, no dia 19/03/2020, por meio do


Ato nº 112/2020, baseado na Resolução nº 313, de 19/03/2020, do Conselho
Nacional de Justiça, determinou a suspensão de todos dos prazos processuais em
tramitação no âmbito do Tribunal e das Seções vinculadas, que tramitam por meio
físico e eletrônico, a partir do dia 20/03/2020, data de sua publicação, até o dia
30/04/2020.

O Ato supramencionado foi assinado pelo Sr. Presidente em exercício, do


TRF da 5ª Região, Desembargador Federal Lázaro Guimarães, considerando o
período emergencial de restrições sanitárias decorrentes da pandemia mundial do
COVID-19, em sintonia com o disposto na Resolução nº 313, de mesma data,
emitida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Desta feita, no caso concreto, como o início do prazo se deu em


17/03/2020 e considerando a sua suspensão entre os dias 20/03/2020 a
30/04/2020, o presente Embargos de Declaração é tempestivo, tendo em vista
que o prazo de 5 dias úteis para sua apresentação somente se encerrará no dia
05/05/2020.

III – DA OMISSÃO QUANTO AO VÍNCULO DA EMBARGANTE COM A AVON


COMÉSTICOS COMO PRESTADORA DE SERVIÇOS.

O acórdão prolatado no presente feito negou provimento ao Recurso


Inominado apresentado pela parte autora, inicialmente, sob a alegação de que as
contribuições de 12/2003, 01/2004 a 08/2008, recolhidas de forma extemporânea,
não teriam como responsável pela correta retenção e recolhimento, a AVON
COSMÉTICOS, pois, supostamente, não haveria qualquer documento comprovando
que a parte Autora realizou vendas nos períodos citados.
No que concerne as contribuições recolhidas em valor inferior ao mínimo
legal, nos períodos de 01/05/2003 a 30/11/2003 e de 01/2004, 10/2004, 01/2006,
02/2007, 04/2007, 02/2008, 04/2008, 01/2009, 01/2010, 02/2012, 04/2015, 02/2016,
10/2017 e 04/2018, o acórdão negou provimento ao Recurso Inominado, sob
fundamento de que apesar da complementação paga pela embargante, não houve
acréscimo de juros e correção monetária na guia GPS fornecida pelo INSS,
evidenciando que foram insuficientes para atender os encargos legais pertinentes.

Pois bem, inicialmente, a i. 1ª Turma Recursal de Pernambuco deixou


de observar que a data de início do vínculo entre a embargante e a empresa
Avon Cosméticos Ltda. está documentadamente comprovada no anexo 12, o
qual registra a data de 30/04/2003 como início do contrato. Vejamos:

Além disso, o acórdão deixou de se manifestar sobre outro ponto de


suma importância para o correto deslinde do processo, que é justamente o
fato do extrato de vendas trazer o NIT da embargante, de modo que se pode
verificar que as vendas realizadas por ela, a contribuição social já era retida na
fonte pela própria AVON.

Ora, se não bastasse a comprovação do início do contrato com a


AVON e vinculação de seu NIT às vendas realizadas, a anotação no CNIS,
realizada pela própria empresa, diga-se de passagem, já seria suficiente para
comprovar a existência do vínculo, como prescreve o Decreto 3.048/99, em seu
art. 19, quando dispõe que são válidos os vínculos constantes no CNIS,
conforme demonstrado pela transcrição abaixo:

Art. 19. Os dados constantes do Cadastro Nacional de Informações


Sociais - CNIS relativos a vínculos, remunerações e contribuições
valem como prova de filiação à previdência social, tempo de
contribuição e salários-de-contribuição.

Nesse sentido, vale demonstrar o que registra o CNIS (anexo 2):

Logo, resta evidente que a 1ª TR de Pernambuco se omitiu ao não


analisar essas questões supramencionadas, e acabou desconsiderando as
contribuições 12/2003, 01/2004 a 08/2008, partindo da equivocada premissa de que
a parte autora seria a responsável por recolher as suas contribuições como
Contribuinte Individual, quando, na verdade, era da AVON a responsabilidade pelo
recolhimento, conforme trecho retirado do próprio Extrato de Pagamento constante
no anexo 12. Veja-se:
Visto isso, Houve notória omissão por esta C. Turma por não levar em
consideração que a parte autora, apesar de estar inscrita como Contribuinte
Individual, era PRESTADORA DE SERVIÇOS da empresa Avon Cosméticos Ltda., o
que impõe a esta empresa a retenção e recolhimento da contribuição previdenciária,
bem como o seu repasse dentro do prazo legal ao INSS.

Diante da informação supramencionada, o atraso do recolhimento e


repasse da contribuição previdenciária por parte do tomador do serviço ao INSS,
jamais pode prejudicar a parte embargante, tendo em vista a ausência de obrigação
de recolhimento por parte deste último.

Vale salientar que, por força do art. 4º da MP 83/2002, convertida na Lei


10.666/03, a partir da competência de abril de 2003, o contribuinte individual
prestador de serviços à pessoa jurídica deixou de ser o responsável tributário pelo
recolhimento da sua contribuição previdenciária, que passou a ser de
responsabilidade da pessoa jurídica tomadora do serviço em geral, à razão de 11%
sobre o salário de contribuição.

Assim, nesse caso o contribuinte individual também gozará de presunção


absoluta de recolhimento, tal qual o segurado empregado e o trabalhador avulso,
devendo a pessoa jurídica, no presente Avon Cosméticos Ltda., responder
exclusivamente pelo pagamento, caso não tenha retido/repassado ou mesmo
retido/repassado de forma extemporânea à União, de acordo com o que dispõe o
art. 33, § 5º da Lei 8.212/911.
1
Art. 33. À Secretaria da Receita Federal do Brasil compete planejar, executar, acompanhar e
avaliar as atividades relativas à tributação, à fiscalização, à arrecadação, à cobrança e ao
recolhimento das contribuições sociais previstas no parágrafo único do art. 11 desta Lei, das
contribuições incidentes a título de substituição e das devidas a outras entidades e fundos.
(...)
§ 5º O desconto de contribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se presume
feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar
omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância
que deixou de receber ou arrecadou em desacordo com o disposto nesta Lei.
Ademais, nos termos do art. 38 da IN 77/2015 do INSS, para fins de
comprovação das remunerações do contribuinte individual prestador de serviço, a
partir de abril de 2003, no que couber, poderão ser considerados entre outros, os
seguintes documentos:

“I - comprovantes de retirada de pró-labore, que demonstre a


remuneração decorrente do seu trabalho, nas situações de
empresário;

II - comprovante de pagamento do serviço prestado, onde


conste a identificação completa da empresa, inclusive com o
número do CNPJ/CEI, o valor da remuneração paga, o desconto
da contribuição efetuado e o número de inscrição do segurado
no RGPS;
III - declaração de Imposto de Renda Pessoa Física - IRPF, relativa
ao ano-base objeto da comprovação, que possam formar convicção
das remunerações auferidas; ou

IV - declaração fornecida pela empresa, devidamente assinada e


identificada por seu responsável, onde conste a identificação
completa da mesma, inclusive com o número do CNPJ/CEI, o valor
da remuneração paga, o desconto da contribuição efetuado e o
número de inscrição do segurado no RGPS.”

Visto isso, a condição de prestadora de serviços é comprovada pelo


próprio CNIS onde se registra a identificação da empresa e o valor do salário de
contribuição. Assim, torna-se obsoleto o questionamento desta Turma Recursal
quanto a realização de vendas pela parte embargante no período no qual manteve o
vínculo.

Logo, faz-se necessário o pronunciamento desta C. Turma se o registro


do CNIS, corroborado pela anotação da data de início do contrato no anexo 12, não
constituem provas suficientes do vínculo entre a embargante e a empresa Avon
Cosméticos Ltda., cabendo, portanto, a esta a responsabilidade das contribuições
previdenciárias.

IV – DA OMISSÃO QUANTO A CORRETA COMPLEMENTAÇÃO DAS


CONTRIBUIÇÕES PAGAS A MENOR.
Esta C. Turma recursal entendeu que as contribuições recolhidas a
menor, referente aos períodos de 01/05/2003 a 30/11/2003 e de 01/2004, 10/2004,
01/2006, 02/2007, 04/2007, 02/2008, 04/2008, 01/2009, 01/2010, 02/2012, 04/2015,
02/2016,10/2017 e 04/2018, não deveriam ser computadas para fins de carência,
uma vez que, supostamente, não foram pagas com o acréscimo de juros e correção
monetária.

Para fundamentar a negativa acima, o acórdão embargado se baseia tão


somente em uma suposta “falta de coerência” com o cálculo regular das
contribuições previdenciárias e tributos em geral.

Contudo, apesar da suposta falta de coerência, o acórdão se omite


sobre a origem das GPS’s, cuja emissão ficou a cargo do INSS, no momento
em que a embargante solicitou a complementação em uma das agências do
INSS.

Ora, é de notória sabença que contribuições períodos com mais de 5


(cinco) anos podem ser pagas ou complementadas pelo próprio segurado, por
meio do site do INSS, ou seja, apenas pelos competências complementadas,
dá para perceber que, sem dúvidas, as GPS’s foram emitidas pelo próprio
INSS, o que pode ser corroborado pelo código de pagamento utilizado nas
GPS’s. Veja-se:
Visto isso, o código de pagamento utilizado para complementação foi o de
nº 1201, cuja utilização é restrita ao INSS, conforme comprova-se pelas informações
colhidas no site da Receita Federal, cujo endereço eletrônico pode ser encontrado
no seguinte link: http://receita.economia.gov.br/orientacao/tributaria/pagamentos-e-
parcelamentos/codigos-de-receita/codigos-de-receita-de-contribuicao-previdenciaria
Ou seja, só quem consegue emitir GPS’s com o código 1201 é a
própria Autarquia Federal e seus servidores, essa opção sequer está
disponível para o público em geral e segurados do INSS.

Sendo assim, é nítido que a embargante não pode ser prejudicada no


caso concreto, uma vez que o erro partiu do próprio INSS, ao não,
supostamente, emitir as GPS’s com os valores corretos ou com os devidos
juros e correção monetária.

Além do mais, ainda sobre a suposta ausência de juros e correção


monetária nas GPS’s, é preciso esclarecer que os juros e correção monetária
são calculados automaticamente antes da emissão GPS, mas deixam de
aparecer quando GPS é emitida no site Receita Federal/Previdência, vejamos o
exemplo realizado pela embargante ao simular o pagamento da competência
de 02/2020, tão somente para elucidar o caso em questão:
Agora vejamos como fica a GPS emitida, referente ao pagamento da
competência acima:

Excelências, com todas as vênias possíveis, não é por isso que será dado
provimento aos presentes Embargos de Declaração, mas por toda a fundamentação
acima. Contudo, a embargante não teria todo esse trabalho em elucidar de forma
esmiuçada todo o procedimento para complementação de um contribuição
previdenciária, caso não tivesse certeza de que foi o próprio INSS quem emitiu as
GPS’s para pagamento da complementação dos períodos de 01/05/2003 a
30/11/2003 e de 01/2004, 10/2004, 01/2006, 02/2007, 04/2007, 02/2008, 04/2008,
01/2009, 01/2010, 02/2012, 04/2015, 02/2016,10/2017 e 04/2018.
Ou seja, a embargante já havia efetuado a complementação das
contribuições do período supracitado, com manifesta boa-fé de que teria
efetuado o pagamento de forma correta, inclusive, sem qualquer impugnação
do INSS quanto ao valor complementado.

Ora, como poderia a embargante ter requerido a possibilidade de


complementação em período anterior se estava crente que as contribuições
haviam sido complementadas corretamente? A reposta é simples: A
embargante não solicitou a complementação durante a instrução, porque
acreditava piamente que tinha pago o valor correto para contagem das
contribuições citadas.

Por isso, requer-se seja sanada a omissão do acórdão, empregando-lhes


efeitos infringentes, para reconhecer corretas as complementações constantes no
anexo 4, uma vez que os juros e correção monetária já estão embutidos nos valores
totais das GPS’s, referente as competências de 01/05/2003 a 30/11/2003 e de
01/2004, 10/2004, 01/2006, 02/2007, 04/2007, 02/2008, 04/2008, 01/2009, 01/2010,
02/2012, 04/2015, 02/2016,10/2017 e 04/2018.

Por fim, caso não seja acatado o pedido acima, por questão de justiça,
requer-se seja sanada a omissão do acórdão, empregando-lhes efeitos infringentes,
para converter o feito em diligência e intimar o INSS para depositar nos autos a
devida GPS para complementação das competências de 01/05/2003 a 30/11/2003 e
de 01/2004, 10/2004, 01/2006, 02/2007, 04/2007, 02/2008, 04/2008, 01/2009,
01/2010, 02/2012, 04/2015, 02/2016,10/2017 e 04/2018, e uma vez pagas
corretamente, sejam consideradas para fins de contagem como carência, com a
consequente concessão da aposentadoria por idade urbana desde a DER ou da
data em que a embargante preencher os requisitos.

V - DOS PEDIDOS.

Diante do exposto, pugna a embargante pelo:


a) Conhecimento dos embargos de declaração, uma vez evidenciada a omissão
acerca da existência e reconhecimento do vínculo como PRESTADORA DE
SERVIÇOS com a empresa Avon Cosméticos Ltda. no período de 12/2003, 01/2004
a 08/2008, sendo esta responsável pelo recolhimento da contribuição
previdenciária, tendo em vista que o recolhimento e repasse era obrigação do
tomador do serviço e não da embargante, conforme fundamentos elencados acima.

b) O provimento dos embargos declaratórios com efeitos infringentes, para sanar


a omissão apontada acima, a fim de que se reforme a sentença, para conceder a
aposentadoria por idade nos termos da exordial, desde a DER, ocorrida em
14/09/2018, ou reafirmando-se a DER para a data em que ela fizer jus ao benefício,
considerando-se válidas essas competências para fins de contagem como carência.

c) Além disso, requer-se seja sanada a omissão do acórdão, em relação a


complementação das contribuições, empregando-lhes efeitos infringentes, para
reconhecer corretas as complementações constantes no anexo 4, uma vez que os
juros e correção monetária já estão embutidos nos valores totais das GPS’s,
referente as competências de 01/05/2003 a 30/11/2003 e de 01/2004, 10/2004,
01/2006, 02/2007, 04/2007, 02/2008, 04/2008, 01/2009, 01/2010, 02/2012, 04/2015,
02/2016,10/2017 e 04/2018.

d) Por fim, caso não seja acatado o pedido acima, por questão de justiça,
requer-se seja sanada a omissão do acórdão, empregando-lhes efeitos infringentes,
para converter o feito em diligência e intimar o INSS para depositar nos autos a
devida GPS para complementação das competências de 01/05/2003 a 30/11/2003 e
de 01/2004, 10/2004, 01/2006, 02/2007, 04/2007, 02/2008, 04/2008, 01/2009,
01/2010, 02/2012, 04/2015, 02/2016,10/2017 e 04/2018, e uma vez pagas
corretamente, sejam consideradas para fins de contagem como carência, com a
consequente concessão da aposentadoria por idade urbana desde a DER ou da
data em que a embargante preencher os requisitos.

Nesses Termos,
Pede Deferimento.
XXXXX, XX de XXXX de XXXX.
ADVOGADO
OAB

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