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MATERIAL BOTANICO NO ENSINO DE BIOLOGIA: RELATO DE UMA EXPERIENCIA NA RESIDENCIA PEDAGOGICA - UFMT Halisson Marques * Midian Pereira da Cruz ** Clandia Cardoso dos Santos *** Graciela da Silva Oliveira **** Introdugiio A ciéncia é de crescente relevincia no cotidiano dos cidadios, pois uma compreensio mais bem informada ¢ critica conteibuem para um individuo mais ative nas sociedades do conhecimento. Neste sentido, na escola, “o ensino de ciéncias desempenha um papel social de extrema relevincia para o cidadio comum, uma vez que prepara os jovens para viver, conviver, interagic ¢ entender © mundo em que estio inseridos” (SILVA, et. al, 2020, p. 02) Ursi et.al. (2018) destaca que dentze as deas biolégicas, presentes ¢ necessaias cientifica dos jovens estudantes na Educagio Basica, a Botinica deve ser para forma avaliada com atencio, uma vez que faz paste dos temas que contzibuem para compreensio da Biologia como um todo, entretanto, apresenta alguns desafios durante © processo de ensino aprendizagem. Além disso, os autores citados mencionam que quando comparada as demais ézeas do conliecimento biolégico o atimero de pesquisas sobre © ensino de Botanica ainda ¢ baixo (URSI et.al, 2018) De maneia geral, 0 ensino de Botinica, cazacteriza-se como muito tedrico desestimulante para alunos ¢ subvalorizados dentzo do ensino de Ciéncias e Biologia (KINOSHITA, et. al,, 2006; TOWATA, et. al., 2010; BARBOSA, et. al, 2016). Nas escolas, faltam condicées de infraesteutura ¢ melhor preparo dos professores paca halissonsiin’@email com ~*midiaapenntint@ gmail.com vbiloga7@email.com RELATO DE PRATICAS. pagina LOB MARQUES, H: CRUZ, M: SANTOS, C; OLIVEIRA, G modificar essa situacio. O ensino de temas botinicos, assim como o de outres disciplinas, parece reprodutivo, com énfase na repeticito de texmos cientificos e nfo no qnestionamento ¢ contextualizacio (TOWATA, et. al, 2010; URSI et.al, 2018).3 Katon, Towata ¢ Saito (2013) acrescentam que o desinteresse dos estudantes pelas plantas, até mesmo a falta de habilidade das pessoas para perceber as plantas n0 sen proprio ambiente podem ser conseqnéncia de aulas amit técnicas, pouco motivadoras ¢ a falta de experiéncias concretas ¢ investigativas que poderiam ser realizadas até mesmo nos entornos da escola. De modo geral, “a falta de atividades priticas de diferentes naturezas © 0 uso limitado de tecnologias, especialmente as digitais, to familiares aos estudantes, também sepresentam obstéculos” (URSI, et al 2018, p.12) no ensino e aprendizagem de temas botinicos Neste sentido, apzesentam-se alguns sesultados de uma experiéncia com © cnsino sobre temas botinicos no Ensino Médio, pautados na sugestio de Katon, Towata ¢ Saito (2015, p. 180) que destacam que “as aulas priticas € projetos como formas muito interessantes para propiciar aos estudantes a experiéncia de vivenciar 0 método cientifico”. Uma vez que, as aulas priticas, aumentam © interesse dos estudantes pelos temas apresentados, desenvolvendo a capacidade de sesolver problemas, concomitante, a compreensio de conceitos cientificos Krasilchik (2004) chama atencio sobre a importincia das aulas priticas no Ensino de Ciéncias ¢ destaca algumas funcées: despestar © interesse dos alunos; envolver os estudantes em investignedes cientiticas; desenvolver a capacidade de resolver problemas, compreender conceitos cientificos; desenvolver habilidades. Assim, a presente abordagem didética se finndamenta no principio da manipulacio de matesiais (botinicos) em um ambiente intelectualmente ativo e de cooperacio entre os pares (alunos-alunos; professor-aluno). O uso de material vegetal em sala de aula representa possibilidades de interagdes entre os sujeitos e aprendizagem a partir da contextualizacio de conceitos presentes nos livros didaticos (ARAUJO, 2011), Materiais botinicos sio amostras de espécimes de vegetais que podem ser utilizados para estudos cientificos, bem como para fins didaticos em sala de aula. Pasa sua utilizacto didatica, os espécimes podem ser submetidos a um processo de secagem on podem ser apresentadas aos estudantes em seu estado natural, ambas as experiéneias EDR — Eauescio Bisica Revista, ol, 2, 2020 aaebr Maetial botinico no ensino de Biologia. p. 157 parecem facilitar a aprendizagem, pois os estudantes visualizam contetidos cientiticos na pratica, © material botinico utilizado em sala de aula dependeri dos objetivos educacionsis ¢ conteiidos previstos a serem abordados, ¢ as plantas possibilitam um amplo sepertésio cientifico para os estudantes da Educagio Basica. Os espécimes utilizados podem ser: plantas contendo galhos com folhas; flores e fmtos; dependendo do ézgio da planta que esti sendo utilizado e a sua forma de armazenamento receberd classificagio como carpoteca local que asmazena fratos, ou siloteca local que arquiva madeizas Dessa forma, considerando a importincia da presenga de aulas priticas e do contato direto e investigativo do estudante com as plantas, foi elaborada e executada a sequéncia diditica intitulada “O mundo das Criptégamas!”, com os seguintes objetivos: favorecer a aprendizagem dos principais conccitos que sustentam ¢ definem este grupo de vegetais; criar espagos para os estudantes vivenciarem 0 método cientifico; desenvolver a capacidade de associar temas tedricos presentes 108 materiais didaticos com o seu cotidiano A presente atividade fez parte de um projeto desenvolvido em conjunto com © Programa da Residéncia Pedagégica (fomentado pela Coordenagio de Aperteigoamento de Pessoal de Nivel Superior - CAPES) do curso de Licenciatura em Ciéncias Biolégicas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) no Ambito de 4 — MT, nos anos letivos de 2018 e 2019. No qual, os uma escola ptiblica de Cuiabi licenciandos experimentaram 0 cotidiano do trabalho docente, desde a observacio de autlas, o planejamento pedagégico ¢ a segéncia de aulas de Ciéncias e Biologia no Ensino Fundamental e Médio. Neste artigo, sio apresentados alguas resultados da vivéncia formativa de claboracio ¢ experimentacio de diferentes priticas pedagégicas no casino de Botinica Assim, 0 objetivo deste teabalho é apresentar uma proposta de recurso diditico para facilitar 0 ensino sobre plantas Criptogamas 1 Criptégamas - tesmo antigo que engloba todos 03 oxganismos, exceto as plantas flosiferas Fanecégnmas), pentista hetecotssfiens e animale EBR —Esucacio Bisics Revs, vol 6 a2, 2020, pagina L69 RELATO DE PRATICAS. pagina L 70 Percurso Metodoldgico Participantes As atividades foram desenvolvidas com cinco turmas do 2° ano do Ensino Médio Inovador (EMI) de uma escola estadual do municipio de Cuiabi-MT. A escola oferta aulas do 7° ano, do Ensino Fundamental, 20 3° ano do Ensino Médio, no periodo diurno. Houve a participacio de 123 estudantes, sendo 51 alunos (41,46%) e 72 alunas (58,549), entre a faixa etitia de 16 a 18 anos, e sua professora regente de Biologia Descrigao da sequéncia diddtica Para Zabala (1998, p.18) sequéncia didatica pode sex compreendida como “um conjunto de atividades ordenadas, estrutusadas ¢ articuladas para a realizacio de certos, objetivos educacionais, que tém um principio e um fim couhecidos tanto pelos professores como pelos alunos”. Guimaries ¢ Giordan (2013, p.2) acrescentam que “sequéncia didatica € um conjunto de atividades articuladas e organizadas de forma sistemitica, em torno de uma problematizagio central”. Assim, uma sequéncia diditica deve ser elabornda considerando um planejamento que contemple atividades questionadoras, pzocedimentos, acdes mediadas pelo professor. A presente seqéncia didatica foi composta por 10 aulas, nas quais foram realizadas atividades priticas, observacdo ¢ manuseio de material botinico como recurso pedagégico, com o uso de espécimes de plantas do grupo das Bryophytas ¢ Pteridophytas, com “enfoque evolutivo, capaz de dar mais coeréncia ao estudo da classificacio vegetal” (URSI, et.al. 2018, p.12). Os contetides conceituais abordados durante as aules foram: introducio a0 estudo das plantas, classificacio, ciclos reprodutivos; as primeisas Plantas terrestres Briéfitas, mosfologia, reproducio e classificacio; Preridéfitas, morfologia, reprodnciio ¢ classificacio. EDR — Eauescio Bisica Revista, ol, 2, 2020 aaebr Metal botinico no ensino de Biologa..p. 167-178 Para o desenvolvimento da scquéncia didatica, fundamentalmente foi organizada a partir de “aulas com demonstracdes priticas”, como definido por Campos € Nigro (1999), atividades que possibilitam ao aluno maior contato com fendmeno e com o fazer ciéncia, Os recursos utilizados para as aulas priticas foram: © Iaboratério de ciéncias, Iupa, microscépio, caixa de som, exemplares de samambaia e musgos, lamina ¢ laminula de microscépio. Para contextualizar, no primeico momento da aula foi cealizada uma “meditagio guiada”, a0 fundo de uma miisica ambiente, sons da natureza, passaros cantando, sons das éguas correntes segnindo os seus cursos. Remetendo aos alunos a se sentirem em um ambiente de floresta, local timido, ao habitat das plantas que seriam estudadas De acozdo com Leal (2015), a meditacio no contexto escolar pode ajudar a promover o autoconhecimento ¢ a desenvolver 0 equilibrio emocional. A pritica parece mais comum, na Educacio Infantil e Fundamental, devido aos seus beneticios associados 4 concentracio € ceducio do estresse (ROCHA; FLORES; MARQUES, 2015). No entanto, observa-se que os jovens também podem ser beneficiados com a meditacio, pois a pritica conttibui para: reconhecimento da atividade mental; desenvolvimento da concentracio e foco nos momentos de estudo; anmento do rendimento escolar; comportamento grupal assertive € construtivo; entre outros beneficios cognitivos e criatives (LEAL, 2015). Apés a meditacio foram levantados alguns questionamentos, em conjunto aos estudantes, que contzibuisam para © engajamento inicial aos temas que seriam estudados: Que tipo de plantas vocés acham que foram as primeiras a colonizar 0 nosso planeta? Quais caracteristicas permitiram que elas sobrevivessem ¢ se adaptassem a0 clima hostil daquela época? Durante a participacio dos estudantes, introduziram-se os temas da aula, associando aula ex positiva dialogada com a demonsteagio de materiais botinico: Bridtitas (mnsgos) © Ptesidéfitas (samambaias), em um proceso gradativo, dos contetidos conceituais mais simples aos mais complexos, como, da morfologia 4 reproducio das plantas, com ausilio dos exemplares disponiveis. Considerou-se que durante as aulas fossem estimuladas as discussées de ideias, intensificando a participacio dos alunos, por meio de comunicacio oral, escrita e visual (KRASILCHIK, EBR —Esucacio Bisics Revs, vol 6 a2, 2020, pagina L7 1 RELATO DE PRATICAS. pagina L 72. MARQUES, H: CRUZ, M: SANTOS, C; OLIVEIRA, G 2004). Outro critério importante para as escolhas pedagdgicas foi A presenca da contextualizacio a partir do cotidiano, estimulando o protagonismo e a autonomia dos estudantes que encontracam possibilidades de atribuir sentido ao que estava sendo estudado (URST, ct al 2018). Pasa avaliacio da aprendizagem, os estudantes produziram textos, segistrando uum restimo da aula pratica, como suporte para os alunos foi disponibilizado um roteiro de aula pritica tendo como base uma orientacio sobre o que deveria ser abordado no resumo, com os tOpicos importantes que precisariam constar no texto. A linguagem escrita possni papel importante no desenvolvimento da aprendizagem e representa uma etapa do fazer cientifico, Trivelato ¢ Silva (2011, p.76) escrevem que os registros das aulas priticas parecem uma ferramenta importante 20 longo do proceso de ensino e apeendizagem, pois o “falac, obseevar ¢ escrever” faz pacte do teabalho do cientista e cssas priticas em sala de aula, devem favorcecr 0 cnvolvimento dos estudantes nas priticas e linguagens da comunidade cientifica. A resolucio das atividades do livro foi realizada com todos os alunos em conjunto, na qual foi feita a leitura coletiva das questdes ¢ os alunos com base no que j@ haviam aprendido, respondiam, ¢ as cespostas exam registeadas nua lousa, Essa dinfimica foi relevante, pois foi possivel identificar os temas que os estudantes nfo haviam assimilado, garantindo a devida intervencio para aprimorar o aprendizado significativo. Preparagao do material botinico As Bridfitas foram coletadas no dia anterior a aula pratica, em um bosque nas proximidades do Instituto de Medicina da UFMT, em seas como: tronco de arvores, solo, aderidas & raizes de pequenas plantas pequenas rochas. O material botanico foi coletado com o uso de uma pequena faca ¢ armazcnado em um secipiente de vidro. Os espécimes de Pteridéfitas coletadas foram: samambaias, avencas ¢ selaginella, Algumas amosteas foram coletadas no Jardim Sensorial do Iastituto de Biociéncias da UFMT, os espécimes de habito epifita2 foram coletados em uma Plantae epiite so carscrerzacae pox plantas que vivem sobce autesscem parila. EDR — Eauescio Bisica Revista, ol, 2, 2020 aaebr Metal botinico no ensino de Biologa..p. 167-178 Palmecita nas proximidades do prédio da biblioteca da UFMT, os demais espécimes foram coletados em uma zona urbana da Cidade de Cuiabi- MT. Como critério de escolha para a selecio das frondes3 que seriam coletadas, foram selecionadas para a coleta somente as que estavam em periodo fértil, para que fosse possivel mostzar aos alunos a parte reprodutiva desse grupo, exemplificando com a observagio dos esporingios4, através da visualizacio dos esporos no miccoscépio. As espécies de Pteridéfitas foram coletadas manualmente, com 0 ausilio de uma faca, tomando cuidado para que a planta fosse cemovida com as estrutucas mozfolégica intactas. O material coletado foi acomodado em sacos plisticos e em recipiente com Agua. Os materiais botinicos foram levados para o Laboratério de Ci8neias da escola € divididos em quatro baneadas, paca cada bancada foram expostos quatco espécimes de Pterid6fitas ¢ duas espécimes de Bridfitas (Figura 01), sendo uma Bridfita aderida a0 solo e outra aderida a rocha. No laboratério foram utilizados os seguintes materiais microscépio, Iupa, lamina, lamiaula, placa de petri, dgua destilada. As bancadas de material do laboratézio permititam que as plantas fossem expostas ¢ nomeadas de forma didatica, Para a observacio das estrutusas reprodutivas das Ptesidéfitas foi utilizado 0 microscépio com uma Vimina preparada com uma amostra de um esporingio de uma Ptezidéfita Phlebodium Decamanum, para o preparo da limina foi feito a emocio do esporingio ¢ com o ausilio de uma lamina gilete foi feito um corte, os esporos semovidos foram colocados em uma limina com uma gota de agua destilada e coberto com uma laminnla. A limina preparada foi disposta no microscépio pasa que os alunos obseevassem. Para a observacio da morfologia das Bridfitas, utilizaram-se lupas para que os alunos conseguissem ter uma visio mais ampla, e entender como esti organizado a morfologia de um musgo. Jé que ao olho nu nao € possivel enxergar um musgo € sem © ausilio de uma lupa fica dificil a identificacio, por exemplo, dos filoides, cauloides ¢ rizdides. 3 Fron: 1a follna da samambaia. Qualqyes fola grande ¢ divi 4 Exposiugia (do grego: spor, semente + angeion, wana) esteunica tnicellas om phusiceklas oea aa intesior ds qual os esporas sia prodhzidos EBR —Esucacio Bisics Revs, vol 6 a2, 2020, pagina L 73 RELATO DE PRATICAS. Resultados e discussio pagina L 74 Nas atividades priticas no laboratério, havia entre 15 a 20 alunos, que foram organizados em quatro grupos, os alunos ficazam posicionados ao redox das bancadas € os exemplares das plantas foram expostos (samambaias € musgos) No microscépio, os alunos observaram um esporingio de uma Pteridéfita, assim 08 alunos pudecam visualizac a quantidade de esporos contidos em um soro de uma samambaia, Pois, com ausilio de uma pinca separam alguns soros encontrados na parte adaxial de uma folha de samambaia, em segnida colocaram-se 0s soros em uma lamina, ¢ foram retirados os esporos dos esporingios com ausilio de uma limina de gilete. Finalizou-se a producio da lamina, colocando um pingo de dena sobre os esporos ¢ colocando uma laminula, ¢ utilizou-se 0 microscépio na lente de aumento de 20s, jd no foco adequado, para que os alunos nio tivessem dificuldade em observar os esporos. Esse processo foi realizado, com o intuito de demonstrar aos alunos, que as Prcridéfitas possuem dois ciclos, sendo um esporofitico outro gametofitico, A conteccfo da mina foi realizada, com 0 objetivo de mostrar que a fase dominante é a esporofitica, pois o espécime utilizado apresentavam esporos. Em uma lupa, foi colocado um espordfito de uma Bridfita, no qual os alunos puderam observar a esteutura geral de um amusgo, podendo comparar a morfologia dos gmupos e assimilar 0 conceitos trabalhados, comparando as principais caracteristicas que diferem os dois grupos. E importante o uso de imagens, nas aulas de Biologia, seja por observacio direta de organismos e fendmenos, on indiretamente através de figuras on modelos (KRASILCHIK, 2004), A observacio directa do material vegetal ¢ adequada para diversas atividades priticas, pois promove a habilidade de observacio, repzesentagio, de questionamento ¢ investigativa, também ausilia na compreensio da classificagio biolégica, a partir do EDR — Eauescio Bisica Revista, ol, 2, 2020 aaebr Metal botinico no ensino de Biologa..p. 167-178 cntendimento dos procedimentos gerais utilizados para organizacio da diversidade vegetal (URSI, et.al. 2018) Durante as atividades foram avaliados o envolvimento ¢ participacio dos alunos; a atividade pritica descnvolvida no laboratésio se constituit: de uma atividade dinfimica ¢ envolvente, apropriada para © aprendizado, ao qual os alunos pudesam dialogar, questionar, observar o material no microscdpio e manusear o material, esclarecendo suas dividas e curiosidades. De modo geral, ducante a atividade peitica os alunos se mostraram muito interessados ¢ participativos. Dentre 0s contetidos teabalhados os temas que os alunos mais tiveram dificuldade de compreensio foram: evolugio dos grupos ¢ reprodugio (alternincia de geracdes) das Criptdgamas, a0 conversar com os alunos percebe-se que a falta de interesse ¢ a dificuldade de compeeensio desses contetidos ocorre devido 4 falta de contextualizacio das plantas no cotidiano dos alunos. Bocki, Leonés e Pereira (2011) vesificaram as concepedes dos alunos do Ensino Médio sobre temas botinicos ao ministear oficinas sobre os contetidos: origem, cvolugio ¢ caracteristicas das plantas, alternancia de geracdes, os grandes grupos de plantas atuais caracteristicas representantes e ciclo de vida. Inicialmente, os autores aplicaram um questionétio para sondagem dos conhecimentos prévios, seguico de aulas expositivas dislogadas, em conjunto da demonstragio de amostras de vegetais (raiz, folha, caule, semente ¢ fruto), alimentos. Os resultados encontrados séo semelhantes 08 identificados no presente trabalho, pois se observou que os estudantes, de maneira geral, inicialmente apresentam modelos explicativos fragmentados sobre as plantas, citando frases on palavras que jé ouviram a respeito, mas ha pouca sustentacio cientifica ‘nos seus argumentos Entrctanto, as experiéncias priticas parece cficientes 20 aumentar o envolvimento dos estudantes com © contetido apresentado, também se revelam em espacos para comparar concepedes prévias com as ideias que estio sendo discutidas pelo grupo, além disso, aproximam os jovens do fazer cientifico No decorrer das aulas tedricas © priticas, em determinados assuntos os estudantes se sentiam mais vontade para perguntar ou expor sua opiniio, devido 4 familiaridade com os exemplares de plantas apresentados, fomentando o interesse em participar mais ativamente no decorrer da aula ateavés de indagacdes ou manifestacdes EBR —Esucacio Bisics Revs, vol 6 a2, 2020, pagina L 75, RELATO DE PRATICAS. pagina L 76 MARQUES, H: CRUZ, M: SANTOS, C; OLIVEIRA, G sobre o contato prévio com os materiais botinicos, por exemplo, a0 apresentar uma espécie de samambaia, os estudantes comentavam que na casa de familiares havia exemplares. De mancira geral, os alunos apresentaram dificuldades em compreender alguns termos botinicos, por exemplo, quando explicade que uma das caracteristicas que distinguia as Preridéfitas das Bridfitas, era a presenga de vasos condutores de seiva, eles nfo tinham nocio do que se teatava, enti se perceben que eta necessirio fazer analogias, com canudos que conduzia a agua de um copo, ou que os vasos de seiva realizavam um trabalho parecido com os vasos sanguineos de sezes humanos Keasilchik (2004) menciona que 0 ensino de Biologia € comum a incompreensio dos estudantes dos termos técnicos apresentados pelo professor, e que a cada aula de Biologia, em média pelo menos trés novos termos téenicos sio introduzidos, revelando-se um total de 300 por semestre — um tergo do vocabulatio biisico de uma lingua estrangeisa, Desta forma, a autora destaca que 0 termo técnico sO passa a ser aprendido, quando © aluno tem exemplos ¢ oportunidades suficientes para usilas, construindo sna propria moldura de associacdes. No ensino de Botanica nio parece diferente, pois Silva (2008) e Ussi, et.al. (2018) destacam que historicamente a Botiinica foi apresentada a partir de critérios nomenclatusais e descritivos, carregado de termos técnicos que faz pouco sentido na realidade dos estudantes Assim, a utilizagio dos materiais botinicos foi importante para a melhor compreensiio dos conceitos cientificos que estavam sendo apresentados, mas também para promover a participacio dos estudantes através da linguagem. “[...] sob a ética sociocultural, questées relativas ao fancionamento da linguagem nas simacdes de ensino e aprendizagem [.] aparece como instenmento fundamental [..]” (CIRIVELATO; SILVA 2011, p.77), pois, estruturam o desenvolvimento do pensamento através do discurso apresentado a0 outro, consequentemente ao falar se estrutura a organizacio do espectro conceitual para 0 aprendizado. “A argumentagio é importante para educagio cientifica, uma vez que a investigagio cientifica tem como objetivo a geracio e justificacto de novas afirmacées de conhecimento da ciéncia” (TRIVELATO; SILVA 2011, p.77). Desta forma, nas interagdes verbais durante a sequéncia diditica, os estudantes tiveram acesso 4 linguagem da comunidade cientifica, enriquecendo seu especteo EDR — Eauescio Bisica Revista, ol, 2, 2020 aaebr Metal botinico no ensino de Biologa..p. 167-178 conceitual, de mancira que, a0 longo das atividades, observou-se nas falas dos jovens a presenca do discurso cientifico para explicar as caracteristicas das plantas. Consideragées finais Ao vivenciar ¢ relatar a presente proposta diditica para facilitar o ensino sobre plantas Criptégamas. Considera-se que 0 uso do material botinico em sala de aula parece facilitar a compreensio de contetidos botinicos mais complexos, bem como foi po cieatifico. Além disso, a contextualizacio, a partic do uso do material botinico, vel experimentar em conjunto dos estudantes priticas inerentes ao trabalho contzibuiu para que os estudantes observassem diretamente aspectos que parcciam imperceptiveis anteriormente, permitindo 20 aluno o protagonismo € © aprendizado mais significativo. Ademais, enquanto uma experiéncia vivenciada a partic do Programa da Residéacia Pedagégica, que possibilita o maior contato do licenciando com a escola e com 0 ser professor, permitiram que a formacio ¢ 0 saber docente fossem construidos € recoustruidos na pritica, evidenciando os desafios impostos a profissfio, a impostincia € as lacunas ainda presentes quanto aos saberes especificos e pedagdgicos necessirios 1a pritica em sala de aula, ¢ principalmente a reflexto sobre o papel do professor na promogio de um ensino que amplie as possibilidades dos jovens para a construcio do pensamento auténomo e mais consciente sobre a prdpria realidade. Referéncias ARAUJO, G. C. 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