Você está na página 1de 2

O papel do professor titular e o papel do professor de educação especial

Após a tão falada “reorganização” que o recente decreto-lei nº 54 de junho de 2018


veio trazer ao mundo das escolas, com a introdução do paradigma da educação
inclusiva, não seria de admirar que o também papel dos professores titulares bem
como dos professores educação especial (PEE) fosse questionado e trouxesse
dúvidas, receios e confusão na definição das suas funções.

É natural, toda a novidade acarreta consigo algumas questões que, por vezes, só
depois de se testar e colocar em prática o modelo, serão possíveis esclarecer.

Recuando um pouco a um passado ainda recente, o professor de educação especial


surgiu na docência com o objetivo de facilitar a “integração” de alunos com condições
de deficiência. Este profissional, era então reconhecido pelos demais docentes, como
alguém especializado que possuía um conjunto de conhecimentos e de competências
que ajudariam a compreender melhor a complexidade do processo de educar alunos
com condições de deficiência em escolas regulares.

Esta visão alterou-se sensivelmente quando o paradigma educativo passou de


“Integração” para “Inclusão”, deixando de se reportar unicamente a alunos com
condições de deficiência, para abranger todos os alunos que possam experimentar
dificuldades em acompanhar os demais colegas nas atividades curriculares e
escolares.

Nesta altura, surgem as primeiras dúvidas sobre quais as verdadeiras funções do


professor de educação especial num tempo de escola Inclusiva, mas rapidamente se
voltaram a direcionar todos os alunos com necessidades educativas especiais para o
professor de educação especial, como se estes deixassem de pertencer à escola e
passassem a pertencer ao PEE.

Expressões como “os teus alunos”, “os teus meninos” ou “este aluno é para ti” são
expressões equivocadas e que repetidamente têm sido rejeitadas pelos PEE, mas
continuam ainda a ser muito frequentes.

Atualmente, com o mais recente paradigma de escola inclusiva introduzido pelo


decreto-lei nº 54/2018, o papel do professor de educação especial volta a suscitar
dúvidas, mas desta vez surge muito associado ao professor titular de turma, já que
zonas de atuação do primeiro estão cada vez mais explicitas, deixando pouco espaço
para a ideia de que existem “meninos de educação especial” que pertencem aos
professores de educação especial.

Cabe assim ao professor titular de turma, ao educador de infância, ou diretor de turma,


consoante o caso, a coordenação da implementação das medidas previstas no
relatório técnico-pedagógico, este sim feito com a participação do PEE.

Olhemos então para o PEE como um profissional especializado do qual se espera


uma intervenção especializada e não um trabalho generalista e indiferenciado, assim,
não é de todo esperado que o PEE seja o único responsável pelos alunos com
medidas universais, seletivas ou adicionais previstas no decreto-lei n 54/2018.

Fica mais claro, então, que a intervenção do professor de educação especial assenta
em duas vertentes: uma de trabalho colaborativo com os diferentes intervenientes no
processo educativo dos alunos e outra relativa ao apoio direto prestado aos alunos
que terá, sempre, um caráter complementar ao trabalho desenvolvido em sala de aula
pelo professor titular/educador.

Desta forma, podemos considerar que são funções do PEE, quando elemento de uma
instituição escolar, passam pela sensibilização da comunidade educativa para a
educação inclusiva, bem como prestar aconselhamento aos restantes docentes na
implementação de práticas pedagógicas inclusivas, assegurando que a escola, de um
modo geral, adota comportamentos facilitadores da inclusão. É ainda da competência
do PEE a dinamização de espaços de reflexão e formação, para toda a comunidade
educativa.

Por outro lado, os docentes titulares de grupo devem, durante a sua prática
pedagógica, solicitar o apoio do PEE, designadamente na seleção das estratégias
mais adequadas para a intervenção com cada aluno.

Pode assim concluir-se que, se a ação do PEE tiver como objetivo o suporte aos
docentes titulares de grupo ou turma, a necessidade de apoio individual por parte
deste profissional aos alunos será mais reduzida, e quando necessária, deve
complementar o trabalho realizado em contexto de sala de aula, para o
desenvolvimento de competências específicas a serem generalizadas para os
contextos de vida dos alunos, assumindo sempre um caráter transitório.

O PEE deve, pois, ser entendido com um profissional especializado em aprendizagem


que, por um lado, trabalha numa dimensão de potenciar a aprendizagem de todos,
através da conceção de modelos, de estratégias e da mobilização de instrumentos de
gestão curricular e, por outro, trabalha a consultoria e a supervisão da intervenção
educativa, dinamizando, apoiando e articulando as políticas de Inclusão desenvolvidas
pelas escolas.

Com esta nova perspetiva do paradigma de inclusão, o Professor Titular de Turma


passa a ser um agente definitivamente ativo e responsável por todos os alunos,
podendo ou não necessitar da colaboração do PEE, para que possam definir em
conjunto as melhores estratégias de intervenção para todos os alunos da turma.

Ana Salvador
Fonte: DESCUBRA AS DIFERENÇAS – Centro de Desenvolvimento Infantil I Diferenças I
N.º43 I maio 2019

Você também pode gostar