DA CRIANÇA AO IDOSO
GESTORES EDITORIAIS
Valdir Golin
Carlos Alberto da Conceição Lima
Vários autores.
Vários colaboradores.
Bibliografia
ISBN 978-85-388-0610-3
15-00973 CDD-616.0754
LA FALCE, T. S.; SARAIVA, M. D.; PAGANINI, C. B. L.; PINHEIRO, K. M. K.; FERREIRA, A. B.; MINANNI, C. A.
Propedêutica Médica – da Criança ao Idoso
©Direitos reservados à EDITORA ATHENEU — São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, 2009.
Agradecemos à Diretoria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, nas pessoas do
Prof. Dr. Valdir Golin e Prof. Dr. José Eduardo Lutaif Dolci, pelo apoio e estímulo.
À Disciplina de Propedêutica Médica, na figura memorável do Prof. Walter Scatolini, pelas saudosas horas
de aprendizado à beira do leito.
Aos Diretores e Professores de cada Departamento, por acreditarem e contribuírem direta ou indiretamen-
te na concretização desta obra.
Aos nossos familiares, cônjuges e futuros cônjuges, por compreenderem que as horas extras de dedicação
eram de extrema importância para a realização deste projeto.
Aos nossos amigos, que nos apoiaram e participaram do projeto com suas opiniões e auxílio nas horas mais
decisivas.
Valdir Golin
Diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Alexandre Venturi
Acadêmico de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Lívia Rodrigues
Acadêmica de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Marsal Sanches
Pós-doutorado fellowship na University of Texas Medical School at Houston. Attending psychiatrist pelo
St. Alexius Medical Center Bismarck.
Pedro Jabur
Professor pleno da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Professor titular da
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
A Propedêutica continua muito viva na nossa Santa Casa. Novos brilhantes alunos revisaram capítulos
e foram além sob supervisão dos docentes da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo na 2ª
edição do nosso livro Propedêutica médica: da criança ao idoso.
Esta edição foi ampliada para 18 capítulos (4 a mais do que na anterior) e melhorada com mais imagens e
revisores. O Capítulo 3 (“Cabeça e Pescoço”) foi desmembrado nos novos Capítulos 5 (“Propedêutica Oftal-
mológica”) e 6 (“Propedêutica Otorrinolaringológica”), promovendo maior detalhamento e profundidade da
semiologia.
A premissa de trazer a informação completa e confiável no linguajar do aluno continua. Intensificaram-se
a relação professor-aluno e o desejo de produzir mais em nosso meio e pelo bem maior.
Leiam, pratiquem e passem adiante!
A extraordinária evolução tecnológica dos últimos anos tem auxiliado no desenvolvimento da assistên-
cia médica, em especial na área diagnóstica.
Cabe a questão do impacto que isso traz na relação médico-paciente e no conhecimento e aplicação dos
conceitos de Propedêutica na prática médica diária e na possibilidade de realização dos diferentes diagnósticos
por meio do raciocínio clínico e das diferentes manobras.
É óbvio que se deve caminhar com a composição de ambas possibilidades, mas é fundamental que se
possa manter o foco nas situações básicas, principalmente porque aproximam o médico de seu paciente e, em
muitas situações, com um custo muito menor, permitem a realização de um diagnóstico preciso.
A situação é mais instigante quando, no ambiente de ensino médico, principalmente na graduação, temos
de definir o espaço e a importância desse conhecimento na formação do médico do século XXI.
Foi, portanto, com grande alegria que recebemos a iniciativa de um grupo de alunos do curso de Medici-
na da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), que, orientados por seus pro-
fessores, elaboraram um livro a partir de suas necessidades e da visão do aprendizado de Propedêutica na
prática cotidiana.
O texto, além de fácil compreensão, como convém a este momento do aprendizado, compõe-se de um
número significativo de figuras e fotos, que, sem dúvida, facilitarão o estudo.
Estão de parabéns os alunos e professores envolvidos na elaboração de Propedêutica médica: da criança ao
idoso, e a Editora Atheneu, pela sua disposição em participar deste projeto que, sem dúvida, há de colaborar
para a formação de médicos que dignifiquem sua profissão na prática do dia a dia.
A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e seus médicos têm orgulho da realização
desta brilhante iniciativa.
No curso de graduação em Medicina, existe a cadeira de Propedêutica ou Semiologia Médica. Esta disci-
plina ensina os alunos a obterem uma história médica, também chamada anamnese e, ainda, a procederem ao
exame físico dos doentes. Para ter uma dimensão da importância desta disciplina, quando elaboramos uma
hipótese diagnóstica, a anamnese contribui com 80% dos dados de chance de acerto, o exame físico com 12%
e os exames complementares com aproximadamente 6%.
Nesta era da cultura digital e da alta tecnologia no campo da Medicina, ainda não se criou nenhum pro-
grama de computação capaz de analisar tantas variáveis obtidas no exame clínico dos pacientes.
É motivo de orgulho para o coordenador desta disciplina que os alunos da Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo estejam motivados a reescrever a 2ª edição deste livro orientados por seus profes-
sores. Talvez esses alunos já teriam descoberto um dos momentos máximos da arte da Medicina, a ocasião em
que se inicia a relação médico-paciente e como, por mágica, se estabelece, na esmagadora maioria das vezes,
uma empatia que não se costuma ver em nenhuma outra área da ciência.
Feliz o mestre que vê seus alunos despontarem, amadurecerem e vingarem na nobre profissão que esco-
lheram. Espero que os leitores deste livro aproveitem não só os ensinamentos técnicos, mas também se inspi-
rem em como se inicia a prática de uma boa Medicina.
SEÇÃO I – GERAL
1 – Anamnese Geral...................................................................................................................3
Marcos Daniel Saraiva
lívia Rodrigues
Rodrigo Bueno de Oliveira
Juliana de Carvalho Moura
SEÇÃO II – ESPECIAL
5 – Propedêutica Oftalmológica ........................................................................................... 93
Camila Bianca lecciolle Paganini
Alexandre Venturi
Roberto Mitiaki Endo
mental para que se possa entender o mecanis- examinador deve registrar os principais trechos da
mo desencadeador de algumas doenças rela- narrativa sobre sinais e sintomas em forma de tópi-
cionadas ao trabalho (p. ex.: hérnia de disco cos, pequenos lembretes. Posteriormente, isso faci-
em estivadores). litará a organização cronológica da anamnese.
• Religião: católica; evangélica; umbandista; Após o término do relato de todas as queixas do
mulçumana; testemunhas de Jeová; judaica; paciente referentes à moléstia atual, devem-se acres-
agnóstica; entre outras. As crenças religiosas centar outros questionamentos pertinentes, com o
apresentam grande influência na forma intuito de explorar detalhadamente sintomas ou ou-
como o paciente entende o seu processo de tras queixas, obtendo, dessa forma, dados importan-
saúde-doença e como exerce o seu cuidado à tes não explicitados inicialmente, ou ainda esclarecer
saúde, sendo de fundamental importância questões não compreendidas durante o relato inicial.
para o desenvolvimento de uma relação e de Será descrito a seguir como abordar semiologi-
um vínculo médico-paciente o respeito à re- camente alguns dos sintomas do paciente, como o
ligião referida, sem juízos de valor ou discri- sintoma dor.
minação. Há pacientes de determinadas reli-
giões, como testemunhas de Jeová, que não Caracteres propedêuticos da dor
aceitam alguns procedimentos médicos, por A dor é um dos sintomas mais comuns na práti-
exemplo, transfusão de hemoderivados. ca médica, sendo um dos principais motivos que le-
vam os pacientes a buscar auxílio médico. Pode ser
Queixa e duração (QD) definida como: “uma experiência sensorial e emo-
A etapa QD consiste em procurar compreender cional desagradável associada a dano tissular real ou
o principal motivo (principal queixa) que trouxe o potencial, ou descritas em termos deste dano” (IASP,
paciente à consulta médica e há quanto tempo isso International Association for the Study of Pain).
o incomoda. Devem ser usadas as próprias palavras A fim de detalhar essa experiência sensorial,
do paciente para descrever esse item da anamnese única e individual, ao se identificar uma queixa de
(Quadro 1.3). dor ou descrição de sensação dolorosa durante a en-
trevista médica, é necessário deixar o paciente rela-
tar livremente o quadro álgico. A partir desse relato,
Quadro 1.3 – Queixa e duração (QD): sugestão
podem ser obtidos dados relevantes antes mesmo de
de pergunta introdutória
pesquisados mais detalhadamente, de acordo com
O que trouxe o(a) senhor(a) à consulta? Há quanto tempo isso os 10 caracteres propedêuticos da dor, conhecidos
está acontecendo? também como decálogo da dor, descritos a seguir.
Uma das formas de memorização dos caracte-
História pregressa res da dor consiste na sigla ILICIDPFFF, em que
da moléstia atual (HPMA) cada letra denota um caractere descritivo da dor
A história pregressa da moléstia atual (HPMA) (Quadro 1.4).
consiste no relato cronológico dos sinais e sintomas,
desde o início da queixa principal até a data atual. Quadro 1.4 – Caracteres da dor: memorização –
No entanto, durante a elaboração da entrevista ILICIDPFFF
médica, os relatos de sinais e sintomas formulados I = início
pelos pacientes dificilmente estarão organizados de L = localização
forma cronológica e de acordo com a linguagem e I = intensidade
os termos técnicos utilizados tradicionalmente na C = caráter
prática médica. Em geral, os discursos dos pacientes I = irradiação
referentes aos processos de saúde-doença, durante o D = duração
encontro clínico, são feitos em forma de narrativa. P = periodicidade
Portanto, nesse momento, é fundamental dei- F = fatores de melhora
xar o paciente falar espontaneamente, evitando F = fatores de piora
interrompê-lo, a fim de que possa também relatar F = fatores que acompanham
livremente os fatos de seu processo de adoecimento,
bem como outros motivos e preocupações relacio- A seguir, detalha-se cada item dos caracteres
nados ao processo patológico atual que o levaram à da dor segundo a sigla de memorização sugerida
consulta médica. Durante o relato do paciente, o (Quadro 1.5).
Perguntas ISDA
Aparelho Respiratório
Pergunta introdutória aberta Como está a sua respiração?
Sintomas específicos
Pergunta fechada para O(A) senhor(a)
sintoma específico tem tosse?
Caracterização
dos sintomas
específicos
Pergunta aberta descritiva Como é
do sintoma específico essa tosse?
É purulenta?
É produtiva? Tem sangue?
Pergunta fechada descritiva
do sintoma específico É seca?
• como elaborar perguntas, na prática, de for- • após a entrevista, como realizar o registro dos
ma a investigar tais sintomas durante a en- dados coletados durante a anamnese?
trevista médica?
• como traduzir os diversos termos técnicos O Quadro 1.9 traz exemplos de perguntas in-
da anamnese tradicional para que os pacien- trodutórias que devem ser feitas antes de iniciar-se
tes entrevistados compreendam as pergun- cada sistema.
tas da melhor maneira possível?
14. Aparelho locomotor Como estão suas articulações (juntas)? Sente alguma alteração nelas?
15. Sistema nervoso Sente perda de força ou alteração da sensibilidade em alguma parte do corpo? Como está
e psiquismo o seu humor? E o sono?
A seguir, a fim de facilitar o entendimento e a ções, bem como sugestões de perguntas cuidadosa-
memorização dos diversos sintomas do ISDA, foi mente elaboradas para facilitar a comunicação entre
elaborado um quadro contendo a descrição dos estudantes e seus pacientes durante essa fase do pro-
principais sintomas e termos técnicos e suas tradu- cesso de ensino-aprendizado médico (Quadro 1.10).
(Continuação)
Traumatismo Contusão cerebral O Sr.(a) bateu a cabeça?
3. Cabeça
craniano
Alterações na Dificuldade para enxergar Usa óculos? Por que usa? Para perto ou para
acuidade visual Perguntar se o(a) paciente apresenta miopia, longe?
hipermetropia ou astigmatismo
Escotomas Positivos = Pontos brilhantes presentes Enxerga pontos escuros ou brilhantes?
no campo visual
Negativos ou moscas volantes = pontos
escuros presentes no campo visual
Diplopias Enxergar duas imagens iguais quando Tem visão dupla?
na verdade só existe uma
Anopsias Perda de partes do campo visual Teve perda de parte da visão de um olho?
Fotofobia Hipersensibilidade à luz Sente desconforto visual em locais muito
4. Olhos iluminados?
Lacrimejamento Saída excessiva de lágrima pelo olho Sai muita lágrima do olho, quando não está
na ausência de choro chorando?
Xeroftalmia Olho seco Tem sentido os olhos mais secos?
Secreção ocular Presença de secreção/pus no olho Tem pus no olho?
Descrever características, quantidade, cor e odor
Vermelhidão Olho vermelho O olho fica vermelho?
Edema Inchaço na região periorbitária Inchou ao redor do olho?
periorbitário ou palpebral
Dor ocular Dor no olho Tem dor no olho?
Caracterizar ILICIDPFFF
Anosmia Ausência de olfato Sente bem o cheiro da comida?
Cacosmia Percepção alterada dos odores Tem sentido cheiros estranhos que só
o Sr.(a) sente no dia a dia?
Obstrução nasal Nariz entupido O nariz está entupido?
Secreção nasal Saída de secreção pelo nariz Está saindo secreção pelo nariz?
Descrever características, quantidade, cor e odor
Coriza Secreção clara e fluida do nariz Tem coriza? ou O nariz fica escorrendo
5. Nariz
o tempo todo?
Prurido nasal Coceira no nariz O nariz coça muito?
Espirros Espirros Espirra muito?
Avaliar frequência
Rinalgia Dor no nariz O nariz dói?
Caracterizar ILICIDPFFF
Epistaxe Sangramento nasal O nariz sangra?
Acuidade Capacidade de o paciente ouvir Escuta direito? Usa algum aparelho
auditiva para escutar melhor?
Zumbido Zumbido Ouve zumbido?
Otalgia Dor no ouvido Tem dor no ouvido?
6. Orelhas Caracterizar ILICIDPFFF
Otorragia Sangramento pelo conduto auditivo Sai sangue pela orelha?
Otorreia Saída de secreção pelas orelhas Sai pus ou secreção pela orelha?
Descrever características, quantidade, cor e odor
Prurido Coceira no ouvido A orelha coça muito?
Gustação Capacidade de sentir o gosto da comida Sente o gosto da comida?
7. Orofaringe
Halitose Hálito ruim Tem hálito ruim e que o incomode?
(Continuação)
Regurgitação Difere do vômito por não apresentar esforço. A Tem saído muito leite da boca do seu
regurgitação ocorre principalmente em filho(a)
recém-nascidos sem que ele(a) realize esforços após
algum
tempo da mamada?
Ruminação Alimento volta à boca e é engolido novamente Sente a comida voltar até a boca precisando
engoli-la em seguida?
Eructação Arrotos Tem tido arrotos mais que o usual?
Pirose Queimação retroesternal, conhecida Sente queimação na região atrás do peito,
popularmente como azia que sobe do estômago? Tem azia?
8. Aparelho
digestório Dispepsia Desconforto epigástrico Após se alimentar, o Sr.(a) apresenta
sensação desconfortável na barriga? Sente
(esôfago –
“gastura”?
estômago)
Empachamento Sensação de plenitude após as refeições Sente o estômago muito cheio ao se
pós-prandial alimentar normalmente (sem excessos) ou
mesmo ao comer pouca comida?
Epigastralgia Dor em região epigástrica Sente dor na boca do estômago?
Caracterizar ILICIDPFFF
Hematêmese Eliminação oral de sangue sem bolhas de ar, Chegou a vomitar sangue pela boca? Tinha
de coloração vermelha ou escura (sangue alimentos ou coágulos no vômito?
digerido), podendo aparecer restos
alimentares ou coágulos
Geralmente acompanhado de melena
Dor abdominal Dor na barriga Tem dor na barriga?
Caracterizar ILICIDPFFF
Distensão Aumento do volume abdominal Sente a barriga inchada?
abdominal
Aspecto das Perguntar sobre as fezes do paciente E as fezes, como estão? Quantas vezes por
fezes Caracterizar cor, quantidade, cheiro, frequência, dia vai ao banheiro? Como são as fezes?
se com comida ou não, presença de vermes,
presença de sangue ou secreções
Prisão de ventre/ Menos de três evacuações por semana Tem dificuldade em evacuar?
constipação associado a esforço evacuatório, fezes As fezes do Sr.(a) são ressecadas?
endurecidas e sensação de evacuação
8. Aparelho incompleta ou obstrução
digestório Fezes moles raramente presentes sem o uso
(intestinos de laxantes
delgado Diarreia Alteração do hábito intestinal em devido As fezes do Sr.(a) estão amolecidas? Tem
e grosso) ao aumento da frequência e do volume evacuado mais vezes e/ou maior volume
das evacuações e/ou diminuição da de fezes?
consistência das fezes
Disenteria Fezes líquidas com sangue e muco Durante a diarreia, tem eliminação de sangue
e muco?
Hematoquezia Presença de sangue nas fezes As fezes têm sangue?
Enterorragia Eliminação de sangue sem fezes pelo ânus Já eliminou apenas sangue pelo ânus?
Melena Saída de sangue digerido nas fezes que têm Tem evacuado fezes bem pretas, como se
aspecto de “borra de café” ou piche (fezes fosse piche?
pretas, grumosas e pegajosas) e odor
característico
Geralmente acompanhada de hematêmese
Acolia fecal Fezes com cor de “massa de vidraceiro”, Tem evacuado fezes brancas, acinzentadas,
brancas como “massa de vidraceiro”?
Geralmente acompanhada de colúria
8. Aparelho Esteatorreia Presença de gordura nas fezes As fezes no vaso sanitário apresentam
digestório gotas de gordura ao redor?
(intestinos Tenesmo Sensação dolorosa na região anal, provocada Sente dor ao evacuar? E, após evacuar,
delgado pela necessidade frustrada de evacuar sente que ainda não evacuou tudo?
e grosso) (esforço); sensação de evacuação incompleta
Incontinência Perda involuntária e inconsciente de fezes Perde fezes mesmo não querendo evacuar?
fecal
Hemorroida Varizes perianais Tem hemorroidas?
Dispneia Experiência subjetiva de desconforto respiratório Tem falta de ar? A falta de ar piora
Caracterizar intensidade, quando e como e melhora com o quê?
aparece, fatores de melhora (como
medicamentos broncodilatadores), fatores de
piora e associados (febre, cianose etc.)
Tosse Tosse Tem tosse? A tosse tem catarro?
Perguntar há quanto tempo, se expectorativa
ou seca, influência do decúbito, sintomas
associados (febre, emagrecimento etc.)
Expectoração Eliminação de catarro ao tossir Como é o catarro?
Caracterizar: cor, cheiro, quantidade, consistência,
horário, variação com decúbito, presença de
laivos de sangue (catarro hemóptico)
Hemoptise Expectoração de sangue (geralmente claro, Já apresentou eliminação de catarro com
espumoso, sem restos alimentares ou bastante sangue?
coágulos)
Vômica Saída de pus das vias aéreas Já apresentou eliminação de catarro com
bastante muco?
9. Aparelho Sibilância Chiado Tem chiado no peito?
respiratório
Cianose Coloração azulada/arroxeada da pele As mãos, os pés ou a boca normalmente
e das mucosas ficam roxos, como se estivesse frio?
Opressão Dificuldade em inspirar Tem dificuldade em inspirar?
Dor torácica Dor no tórax Tem dor no peito?
Caracterizar ILICIDPFFF
Dor ventilatório- Dor ao inspirar Tem dor ao inspirar?
-dependente Caracterizar ILICIDPFFF
Traumatismo Contusão torácica Teve acidente em que o tórax foi atingido ou
torácico lesado?
Dispneia Experiência subjetiva de desconforto respiratório Sente falta de ar? Sente falta de ar quando
A dispneia pode também estar relacionada toma banho ou troca de roupa (pequenos
a doenças cardiovasculares. Avaliar a esforços), quando anda no plano ou sobe
intensidade, sua relação aos pequenos, uma escada pequena (médios esforços),
médios e grandes esforços, fatores de piora ou quando anda depressa ou pratica
e de melhora, sintomas associados um esporte (grandes esforços)? Sente
(dor torácica, palpitações etc.) o coração acelerar?
Ortopneia Intensificação imediata da dispneia Sente falta de ar ao deitar-se na cama?
na posição de decúbito
(Continua)
(Continuação)
Dispneia Dispneia que ocorre 2 a 3 horas após Sente falta de ar durante o sono, acordando
9. Aparelho
paroxística o paciente se deitar e o faz despertar do sono no meio da noite?
respiratório
noturna
Síncope Perda súbita da consciência e do tônus muscular Já chegou a desmaiar, mas acordando
postural com recuperação espontânea rapidamente após a perda da consciência?
Lipotimia Perda de tônus postural, em que o paciente Já chegou a cair, como um desmaio,
apresenta queda súbita, sem perda ou perda mas sem perder a consciência?
parcial da consciência
Precordialgia Dor em região do precórdio Tem dor no coração?
Caracterizar ILICIDPFFF
Palpitação Sensação do aceleramento do coração Sente o coração acelerar de repente, sem
estar fazendo algum exercício, ou sem estar
10. Aparelho nervoso(a)?
cardiovascular Edema Inchaço As pernas incham? Em que período do dia
acontece? Melhora ao acordar?
Varizes Dilatação do sistema venoso superficial Tem varizes?
Claudicação Dor em qualquer membro (geralmente O Sr.(a), ao andar certa distância, sente dor
intermitente membros inferiores), que leva à interrupção nas pernas, tendo que parar por alguns
da atividade que esteja realizando e que minutos até a dor passar? Isso ocorre
melhora após repouso rápido. Ao voltar à repetidamente ao caminhar?
atividade, a dor retorna após algum tempo,
obrigando novamente o paciente
a parar, e assim sucessivamente
Caracterização Escrever a frequência urinária Quantas vezes urina por dia?
quantitativa normal do paciente
da urina
Cor Coloração da urina Como está a cor da urina? Teve alguma
Colúria: urina com coloração enegrecida, alteração em sua cor?
“aspecto de Coca-Cola”
Odor Característica do cheiro da urina A urina está com cheiro forte ou alterado?
Espuma Formação exagerada de espuma A urina tem espumado muito?
na urina, indicando presença
de proteína na urina (proteinúria)
Presença Decantação de sedimento na urina Tem alguma areia (sedimento) na urina?
de sedimento
Piúria Presença de pus na urina Tem pus na urina?
11. Aparelho Hematúria Presença de sangue na urina Tem sangue na urina? A urina tem cor de
urinário água de carne?
Disúria Dificuldade para urinar Tem dificuldade em urinar?
Ardúria Sensação de queimação quando urina Arde ao urinar?
Estrangúria Eliminação lenta e dolorosa da urina que pode Sente muita dor ao urinar, tendo que
levar à interrupçãoda micção por dor às vezes parar de urinar por dor?
Polaciúria Emissão frequente de urina e em pequena O Sr.(a) urina várias vezes, mas elimina
quantidade pouca urina?
Poliúria Aumento da frequência e do volume urinário O Sr.(a) urina várias vezes, eliminando em
(> 2.500 mL/dia) todas as vezes bastante urina?
Polidipsia Aumento excessivo da ingesta de água diária O Sr.(a) ultimamente tem sentido muita
(sede excessiva) sede, mais que o normal?
Anúria Supressão da produção de urina Tem feito pouco xixi? Quanto?
(< 50 mL/dia)
(Continuação)
Ejaculação Eliminação de esperma. Perguntar Tem ejaculação precoce? Sai pouco esperma?
se escasso ou precoce
Priapismo Ereção dolorosa e sustentada Já apresentou ereção que durou por muito
sem estímulo sexual tempo mesmo sem estímulo, sentindo dor?
12. Aparelho Hemospermia Presença de sangue no esperma Já saiu sangue no esperma?
genital Testículos Perguntar sobre volume e consistência Como estão os testículos? Notou alguma
masculino alteração no tamanho ou na consistência?
Tem notado algum nódulo no testículo?
Orquialgia Dor nos testículos Tem dor nos testículos?
Caracterizar ILICIDPFFF
Varicocele Presença de varizes nos testículos Tem varizes nos testículos?
Menarca Idade da primeira menstruação Quantos anos tinha na sua primeira
menstruação?
Ciclos Descrever características do ciclo, como Os ciclos menstruais duram quantos dias?
menstruais duração, regularidade e menstruação São regulares ou irregulares?
A menstruação dura quantos dias? Notou
alguma alteração recentemente?
Síndrome pré- Conjunto de sintomas físicos e comportamentais Antes da menstruação, sente alguma
-menstrual que ocorrem alteração? Tem TPM?
na segunda metade do ciclo menstrual, aliviados
após a menstruação
Exemplos de alterações: cefaleia, irritabilidade,
mastalgia, alteração do hábito intestinal etc.
Descrever sintomas, características, intensidade
e duração
Dismenorreia Dor em baixo ventre durante a menstruação Tem muita cólica menstrual?
Menorragia Aumento do volume menstrual (geralmente o É frequente a presença de coágulos
sangramento excessivo menstrual cursa com na menstruação?
a eliminação de coágulos)
Metrorragia Sangramento uterino que ocorre fora do Costuma sangrar após a menstruação,
13. Aparelho
período da menstruação no meio do ciclo?
genital
feminino Menometrorragia Associação de ambos citados anteriormente
Amenorreia Dá-se o nome de amenorreia primária à A senhora está sem menstruar por quanto
ausência da primeira menstruação (menarca) tempo? Mais de 3 meses?
até os 14 anos em meninas que não
desenvolveram sinais de puberdade ou 16
anos independentemente de outros sinais de
puberdade. Já a amenorreia secundária é a
ausência de menstruação por um período
mínimo de três meses seguidos em uma
mulher que já tenha menstruado antes
Libido Desejo sexual Tem vontade de ter relações sexuais?
A vontade continua a mesma?
Orgasmo O mais alto grau de satisfação sexual, quando Tem prazer nas relações?
se atinge a plenitude das sensações O prazer continua o mesmo?
Dispaurenia Dor durante a relação sexual, podendo ocorrer Tem dor durante a relação sexual? É na
no início da penetração ou na profundidade entrada da vagina, ou dói lá no fundo?
da vagina
Caracterizar ILICIDPFFF
Mastalgia Dor ou desconforto nas mamas E as mamas, como estão? Sente dor?
Caracterizar ILICIDPFFF
Nódulo mamário Presença de nodulação em mama Notou algum nódulo durante a palpação?
Secreção Saída de secreção pelo mamilo Tem apresentado secreção saindo pelo
mamilar Caracterizar cor, cheiro, quantidade, frequência, mamilo?
presença de sangue ou pus
Corrimento Presença de corrimento pela vagina Tem corrimento pela vagina? Como é esse
genital Caracterizar cor, cheiro, quantidade, frequência, corrimento? Tem cheiro ruim?
13. Aparelho sangue e pus
genital Prurido Coceira em vulva Tem coceira na vagina?
feminino Ulcerações Lesão com perda da continuidade Notou alguma lesão na vagina?
vulvares em vulva
Menopausa Idade da última menstruação Quando foi a última menstruação?
Sintomas Perguntar sobre fogachos (ondas de calor Depois da última menstruação, como tem
de menopausa intensas, principalmente na face se sentido? Tem sentido calores intensos
e no tronco, fazendo a mulher despertar que a fazem despertar do sono? Tem
durante o sono) e secura vaginal sentido a vagina mais seca?
Fraqueza Fraqueza muscular Tem fraqueza muscular?
muscular
Mialgia Dor muscular Tem dor muscular?
Caracterizar ILICIDPFFF
Artralgia Dor articular Tem dor em alguma junta?
Caracterizar ILICIDPFFF
Edema articular Inchaço da articulação Alguma junta inchou?
(Continuação)
Tremores Movimentos involuntários rítmicos, oscilantes, Tem tremores? Quando os tremores
causados por contrações alternadas aparecem?
de grupos musculares e seus antagonistas
Caracterizar se ocorrem durante o repouso,
durante o movimento ou em determinada
postura
Tiques Movimentos estereotipados breves, repetitivos, Tem tiques?
geralmente rápidos
e sem propósito
Movimentos Outros além dos tiques e tremores, descrever Tem algum movimento que o Sr.(a) realiza
involuntários características, duração, intensidade etc. às vezes sem a sua vontade?
Contraturas Contração de certo grupo muscular, Tem algum músculo que está endurecido
musculares constante e dolorosa e doloroso?
Alodinia Sensação de dor com estímulos Sente dor em situações que normalmente
não dolorosos não causam dor, como o vento
15. Sistema ou o toque da mão
nervoso em sua pele?
e psiquismo Hiperalgesia Sensação de dor maior que a dor Está sentindo mais dor com estímulos que
realmente causada por certo estímulo já causavam dor, como um beliscão,
porém não tanto como agora?
Hipoestesia Diminuição da sensibilidade Está sentindo menos alguma parte
do corpo?
Anestesia Perda total da sensibilidade Não está sentindo alguma parte do corpo?
Parestesia Sensação de formigamento Sente alguma região do corpo formigar?
Paresia Perda parcial da força muscular Tem alguma parte do corpo que está com
dificuldades em movimentar?
Paralisia ou plegia Perda total da força muscular Tem alguma parte do corpo que não mexe?
Memória Perda de memória Tem notado alguma diferença na memória?
A memória será mais bem abordada no Anda mais esquecido(a)?
capítulo "Propedêutica Neurológica"
Equilíbrio Perda de equilíbrio E o equilíbrio, como está? Tem perda do
equilíbrio frequentemente?
Antecedentes pessoais
Esse item da anamnese tradicional consiste em tro primeiros itens (Quadro 1.11) devem ser per-
buscar conhecer eventos significativos que já acon- guntados principalmente em caso de pacientes pe-
teceram na vida do paciente, desde o nascimento diátricos (serão abordados com mais profundidade
até o momento atual (Quadros 1.11 a 1.13). Os qua- no capítulo “Propedêutica Pediátrica”.
(Continuação)
Alergias Existência de algum tipo de reação alérgica Tem alguma alergia? Tem alergia a
Antecedentes (alimentar e/ou principalmente algum alimento ou remédio? O que
pessoais adulto a medicamentos). Solicitar que o paciente sente quando faz uso desse
descreva o tipo de reação alérgica alimento/remédio?
quadro 1.13 – Esquema de imunizações no adulto Dose anual em pacientes com 60 anos
ou mais e em pacientes de alto risco:
3 doses em qualquer idade nos
Hepatite B profissionais de saúde, portadores de
indivíduos não imunizados Influenza doenças crônicas como insuficiência
Dupla do adulto A cada 10 anos nos já imunizados cardíaca, doenças pulmonares, diabetes
ou tétano/ ou esquema completo (3 doses) para mellitus, imunodeprimidos, além de
difteria os não imunizados seus contatantes
Febre amarela A cada 10 anos, para residentes ou
Dose única, em qualquer idade,
viajantes em áreas de risco
nos adultos não imunizados
SCR (tríplice viral) Fonte: Adaptado das recomendações do Centro de Vigilância
contra sarampo, caxumba
ou rubéola Epidemiológica do Estado de São Paulo, 2013
(http://www.saude.sp.gov.br).
Dose única após os 65 anos. Se primeira
dose antes dos 65 anos, repetir após Antecedentes pessoais – enfoque preventivo
5 anos da dose O enfoque preventivo na anamnese consiste
Indicada também em pacientes de alto na busca ativa de situações e/ou fatores de risco
risco (pacientes com esplenectomia para o desenvolvimento das doenças mais preva-
Pneumocócica
cirúrgica ou funcional,
lentes no meio em que o paciente está inserido, de
imunodeprimidos, com doenças
forma a estabelecer ações de prevenção (primária
pulmonares crônicas, insuficiência
e/ou secundária), aconselhamento, profilaxia e/ou
cardíaca, renal e diabetes mellitus),
tratamento precoce. Os principais itens estão des-
com reforço após 5 anos
critos a seguir (Quadros 1.14 a 1.17).
Atividades Tempo ideal de atividade física: 30 minutos de atividade Realiza alguma atividade em seu tempo
de lazer de intensidade moderada por pelo menos 5 dias na semana livre? O que o(a) senhor(a) gosta de fazer?
e esportivas Pratica algum esporte? Quanto tempo dura
a atividade física? Quantas vezes
na semana realiza essa atividade?
Perguntar sobre a presença de estressores relacionados ao trabalho O senhor(a) se sente estressado? O que
Situações e às relações pessoais e amorosas que causem ansiedade causa estresse na sua vida? Como
de estresse ou depressão. Questionar também sobre a maneira com que o senhor(a) enfrenta essas situações?
o paciente enfrenta essas situações
Caracterizar em anos-maço – multiplicar o número de maços Fuma? Há quanto tempo? Quantos
consumidos diariamente pelo tempo em anos que o paciente fuma maços por dia o(a) senhor(a) fuma?
Tabagismo (p. ex.: se o paciente fumou 2 maços por dia em 10 anos = 20 anos- – ex-tabagista, 30 anos-maço, parou
maço; se o paciente fumou meio maço por dia em 10 anos = 5 anos- há 10 anos.
maço). Se o paciente parou de fumar registrar há quanto tempo
Caracterizar o tipo de bebida, quantas latas ou doses consome por Bebe algum tipo de bebida alcoólica? Que
dia e há quanto tempo está em uso de álcool. tipo de bebida? Quantos litros por dia o(a)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que, para se evitar senhor(a) bebe? Ex-etilista, 2 litros de
problemas com o álcool, o consumo aceitável é de até 15 doses/ pinga por dia durante 10 anos, parou há
semana para os homens e 10 doses/semana para as mulheres, sendo 5 anos
que 1 dose contém de 8 a 13 g de etanol (uma dose equivale
a aproximadamente 285 mL de cerveja, 120 mL de vinho e Obs.: Algumas perguntas podem ser feitas
aproximadamente 30 mL de destilado – whisky, vodka, pinga). para o paciente que faz uso de álcool para
Álcool Os homens não devem ultrapassar o consumo de 3 doses diárias de o rastreamento de alcoolismo.
álcool e as mulheres 2 doses diárias, devendo tanto homens quanto O CAGE é um questionário simples, criado
mulheres abster-se de beber por pelo menos dois dias na semana. por Mayfield e colaboradores, bastante
Uma das técnicas utilizadas, no intuito de conseguir um dado mais utilizado para identificar pessoas que
fidedigno acerca da quantidade de álcool ingerida diariamente, precisam de ajuda. Duas respostas SIM
consiste em perguntar a quantidade em litros, para que, em caso indicam abuso de álcool; apenas um SIM
de etilismo pesado em que o paciente ingere mais de um litro por pode ser sinal de abuso (Quadro 1.17)
dia, não se sinta reprimido. Caso o paciente tenha parado de beber,
estimar o tempo de abstinência
Caracterizar: Faz uso de outras drogas? Quais?
• tipo de droga; • Já fumou ou fuma maconha? Já
Outras drogas consumiu cocaína? Crack? Há quanto
• via de uso (oral, inalatória ou injetável);
Ilícitas tempo?
• frequência por dia/semana e tempo de uso;
• tempo de abstinência. Já tentou parar? Como?
Situações Perguntar sobre situações de violência: Alguma vez alguém já humilhou, bateu ou
de violência • psicológica (verbal); empurrou o(a) senhor(a)?
• física; Alguém alguma vez na vida já o(a) forçou a
• sexual. ter relações sexuais contra a sua vontade?
Quer falar a respeito?
O local onde o(a) senhor(a) mora tem muita
violência?
Tem arma de fogo em casa?
Sexualidade, Atividade e preferência sexual, parceiros, métodos de proteção E a vida sexual, como está? Atualmente,
vulnerabilidade contra doenças sexualmente transmissíveis e uso de tem tido relações sexuais? Tem
a DST/Aids anticoncepcional parceiro(a) fixo(a)? Tem relações com
e prevenção pessoas do sexo oposto? E do mesmo
de gravidez sexo? Usa algum método
indesejada anticoncepcional? E para evitar doenças
sexualmente transmissíveis, usa algum
método?
(Continua)
(Continuação)
Exposição Frequência, horários de exposição (principalmente se entre O(a) senhor(a) toma muito sol? Quantas
a raios 10 e 16 horas) e uso de protetor solar ou chapéu e roupas leves vezes por semana e em que horários toma
ultravioleta sol? Usa algum protetor solar ou chapéu
e roupas leves?
Higiene bucal Hábitos de higiene e de saúde bucal Escova os dentes quantas vezes por dia? Usa
creme e fio dental? Com que frequência vai
ao dentista? (ideal: a cada 6 meses)
Porto CC. Princípios e bases para a prática médica. In: Porto Réa-Neto A. Raciocínio Clínico – o processo de decisão diag-
CC. Semiologia Médica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara nóstica e terapêutica. Revista Associação Médica Brasileira.
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Porto CC. Anamnese. In: Porto CC. Semiologia médica. 5. ed. cular. In: Martins MA, et al. Clínica médica, v. 2. São Paulo:
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. p. 47-59. Manole; 2009. p. 9-44.
Mensagem Mensagens
Ruídos Contexto
Quadro 2.1 – Elementos centrais da comunicação na mendado que as perguntas iniciais sejam predomi-
interação entre médico e paciente, segundo a OMS (1993) nantemente de caráter aberto e que, posteriormen-
te, sejam feitas perguntas fechadas para elucidar de
COMPETÊNCIAS COMUNICACIONAIS
forma mais detalhada as informações consideradas
PARA A GRADUAÇÃO MÉDICA
importantes (vide o Caso ilustrativo 2.1). A OMS
Ambiente físico – preparação recomenda que haja um equilíbrio entre a realiza-
Saudação ção de perguntas abertas e fechadas, pois dessa for-
ma ocorre um aumento da acurácia da anamnese.
Escuta ativa e atenta
De acordo com o Consenso de Kalamazoo (1999),
Atitude empática
elaborado durante a Conferência Norte-americana de
Linguagem acessível Comunicação Médico-paciente, podem ser identifi
Comunicação não verbal receptiva cados sete elementos essenciais, que se traduzem em
competências a serem aprendidas ao longo da gradua-
Relação colaborativa
ção médica:
Habilidades de coleta de informação • construção da relação médico-paciente;
Equilíbrio entre questões abertas e fechadas • abertura da discussão;
Uso do silêncio (quando necessário) • coleta de informações;
estimulá-lo a realizar perguntas, com o intuito de dois grandes referenciais teóricos relacionados ao
esclarecer possíveis dúvidas em relação a condutas, tema – a Medicina Centrada no Paciente (MCP) e a
exames, procedimentos ou planos terapêuticos. Medicina Baseada em Narrativa (MBN) –, pois es-
A obtenção de consenso em relação aos proble- ses referenciais teórico-práticos podem contribuir
mas identificados e aos planos de cuidado deve ser substancialmente para uma medicina mais huma-
realizada de forma a proporcionar o estímulo à au- nizada, na qual o reconhecimento dos sujeitos assu-
tonomia, sempre que possível incorporando a per- me uma importância central para o sucesso prático
cepção e as expectativas do paciente. Deve-se ava- das ações médicas.
liar sua intenção em seguir os planos propostos e a
possibilidade prática de execução desses planos. Além Medicina Centrada no Paciente (MCP)
disso, é importante confirmar se os elementos ne- A MCP foi criada por professores do Departa-
cessários para a execução dos planos terapêuticos mento de Medicina de Família da Universidade de
(ou de investigação clínica) estão acessíveis ao pa- Western Ontário no Canadá, na década de 1990, e é
ciente para discutir-se a eventual necessidade de su- considerada uma evolução do método clínico, com
porte. O fechamento da consulta deve incluir a iden- base na incorporação de estratégias de comunicação
tificação de pendências ou questões não avaliadas, a no encontro entre médicos e pacientes. São descritos
realização de uma breve síntese sobre o que foi dis- seis componentes nesse método (Quadro 2.2).
cutido em relação ao planejamento de ações e ao
seguimento (agendamento de retorno, realização
QUADRO 2.2 – Componentes da medicina centrada
de exames, entre outros). no paciente (MCP) (Stewart, 2010)
O impacto da aprendizagem COMPONENTES DA MCP
de competências comunicacionais: Avaliar a percepção do paciente sobre o processo
algumas evidências científicas do adoecimento (illness)
Existem diversas evidências científicas de pro- Incorporar à consulta ações de prevenção e promoção
blemas de comunicação entre médicos e pacientes,
o que reforça a importância do ensino de compe- Qualificar a relação médico-paciente, buscando torná-la mais
tências comunicacionais/interativas na graduação horizontal, com estímulo à autonomia e respeito aos direitos
em Medicina nas instituições de ensino da contem- e às singularidades do indivíduo
poraneidade. Diversos estudos evidenciam que os Construir, com o paciente, planos de cuidado de forma
processos de comunicação estabelecidos entre mé- compartilhada
dicos e pacientes se relacionam à qualidade do aten- Ser realista quanto aos recursos disponíveis e ao tempo,
dimento. O desenvolvimento de competências co- considerando a longitudinalidade das ações de saúde
municacionais aumenta a eficiência da anamnese e,
Compreender o paciente como um todo, explorando
consequentemente, qualifica a formulação de hipó-
os contextos sociais, culturais, familiares e de trabalho
teses diagnósticas. Além disso, a comunicação im-
pacta positivamente na adesão do paciente ao trata-
mento, aumenta a satisfação (de ambas as partes), Percepção do paciente sobre
contribui para a redução de custos, para o uso ade- o processo do adoecimento (illness)
quado de recursos tecnológicos e para a realização A avaliação da percepção do paciente sobre o
de diagnósticos mais acurados. processo de adoecimento (illness) é considerada um
Diversas evidências apontam para o fato de que as dos componentes centrais do método da MCP. Em
competências de comunicação podem ser ensinadas e 1976, Hellman descreveu o conceito de illness como
aprendidas ao longo da graduação em Medicina. No “aquilo que o indivíduo sente quando procura um
Brasil, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso médico”, englobando as singularidades do paciente
de Graduação em Medicina, promulgadas em 2001 em relação ao processo de adoecimento, a fim de
pelo Ministério da Educação (MEC), reafirmam a im- compreender quais as perturbações que o adoeci-
portância do desenvolvimento de competências co- mento provoca no paciente e o significado que este
municacionais, ao incluí-las às principais competên- lhe atribui.
cias consideradas imprescindíveis à formação médica. Existem representações e significados que os
Com o objetivo de aprofundar o desenvolvi- sujeitos atribuem a sua doença e podem ser com-
mento dessas competências ao longo da graduação partilhados por grupos de pessoas. Canesqui (2007)
médica, serão discutidos de forma mais detalhada estudou a percepção de indivíduos portadores de
hipertensão arterial quanto a sua doença e percebeu dro, mas deve incorporar aspectos que deseja do en-
que parte desses indivíduos correlacionara a hiper- contro com o médico, incluindo preferências quanto
tensão ao excesso de tensão, estresse e nervosismo ao processo de cuidado. Cabe ressaltar que a avalia-
em suas vidas, trazendo a imagem da panela de ção da percepção do paciente sobre o processo de
pressão como uma representação de seu adoecimento. adoecimento deve estar diretamente relacionada às
Como cada pessoa tem uma percepção diferente orientações e às condutas da última fase da consulta,
sobre o seu corpo e suas doenças, a do paciente so- no momento da construção dos planos de cuidado,
bre o processo do adoecimento deve ser ativamente de modo que se possa articular de fato a perspectiva
questionada, caso não seja relatada espontaneamente dele à perspectiva médica, baseada em conhecimen-
durante a consulta. A importância de reconhecer tos técnico-científicos.
esses significados é fundamental para uma prática
de saúde que deseja ir além da racionalidade biomé-
Caso ilustrativo 2.1 – A importância
dica (centrada exclusivamente nas doenças, e não da perspectiva do paciente para
no paciente), uma vez que os processos de adoe a construção de planos de cuidado
cimento (illness) geram inúmeras expectativas e so-
Maria, 42 anos, procura o pronto-socorro apresentando
frimentos que podem (e devem) ser discutidos, par-
cefaleia (dor de cabeça). A médica que a atende
tilhados, amenizados ou até reconstruídos ao longo
(Dra. Ana) acaba de realizar um treinamento em MCP.
dos encontros entre médicos e pacientes. A percep-
Maria: Doutora, estou com uma dor de cabeça muito
ção em relação ao illness inclui quatro dimensões forte. Queria fazer uma ressonância da cabeça!
principais: (Expectativa)
• ideias sobre o adoecimento; Dra. Ana: Por que gostaria de fazer esse exame, Dona
• sentimentos sobre o adoecimento e suas re- Maria? (Pergunta aberta)
percussões ou significados; Maria: Minha vizinha também teve uma dor de cabeça
• efeitos sobre as funções de vida diária; muito forte. Teve um derrame e faleceu ontem. Estou
• expectativas quanto ao seu estado de saúde,
com uma dor de cabeça igualzinha à dela e tenho
à consulta, ao tratamento ou ao prognóstico. medo de que seja um derrame também. Meu vizinho
me disse que só esse exame vê o derrame. (Ideias e
As ideias sobre o adoecimento podem estar re- sentimentos sobre o processo de adoecimento)
lacionadas à causa ou aos diferentes modos de evo- Dra. Ana: Explique-me melhor essa dor de cabeça, Dona
lução das doenças e/ou aos efeitos do tratamento Maria. (Pergunta aberta)
proposto. Em caso de sintomas de início recente, Maria: Minha dor é bem aqui (mostrando o lado direito
frequentemente se observa uma construção de ideias da cabeça), só deste lado. Sinto umas batidas... como
quanto ao desenvolvimento de patologias graves, se fosse uma pulsação. Tem hora que é tão forte que
tenho medo de que a minha cabeça exploda. (Ideias
como câncer. Os sentimentos de medo, tristeza, rai-
e sentimentos)
va ou sensação de insegurança estão geralmente as-
Dra. Ana: O que mais, Dona Maria? (Pergunta aberta)
sociados aos processos de adoecimento e aos múlti-
Maria: Antes da dor de cabeça aparecer, fiquei com o
plos significados construídos pelos sujeitos ao longo braço formigando. Foi aí mesmo que eu me preocupei.
da vida, de acordo com suas especificidades e vivên- Só pode ser derrame, né, doutora? (Ideias e
cias prévias. O efeito do adoecimento sobre a vida sentimentos)
diária de um indivíduo pode, muitas vezes, não afe- Dra. Ana: Há algo mais que a senhora deseja me contar?
tar seu cotidiano, especialmente no caso de porta- (Pergunta aberta)
dores de doenças crônicas assintomáticas, ou pode Maria: Tomei dipirona para ver se melhorava e botei
ser considerado restritivo, levando o paciente a apre- tudo pra fora. Vomitei tudinho. Agora estou um pouco
sentar dificuldades para trabalhar, relacionar-se ou melhor da dor, mas ela estava muito forte agora
até mesmo realizar atividades de lazer. há pouco.
As expectativas podem variar entre investigação Dra. Ana: A senhora costuma ter dores de cabeça?
de queixas atuais (com preferências em relação aos Maria: Ah, sim! Desde moça tenho essas crises. Mas hoje
exames que serão solicitados, por exemplo), dúvidas estava mais forte.
sobre as possibilidades de tratamento, a evolução Dra. Ana: A senhora era muito próxima a sua vizinha?
prognóstica do quadro ou a atitude do médico frente Maria: Ela era muito, muito minha amiga. Passei a noite
no velório, foi muito triste... Era uma pessoa muito boa,
às queixas relatadas (vide Caso ilustrativo 2.1). As
muito querida. (Contexto das relações sociais.
expectativas não devem ser consideradas apenas des-
Compreender a pessoa como um todo)
fechos que o paciente espera em relação ao seu qua-
pectativas dos pacientes em relação à consulta e ao Quadro 2.3 – Componentes da medicina centrada
trabalho médico devem ser consideradas de acordo no paciente e formas práticas de incorporá-la
com as possibilidades e os recursos existentes. Caso ao atendimento individual
não seja possível atendê-las, devem-se explicar clara-
1. Avaliação da percepção do paciente sobre o processo
mente as limitações e/ou os motivos relacionados à
de adoecimento (illness)
dificuldade de concretização da solicitação realizada.
a) Ideias
Ser realista • O que o(a) senhor(a) acha que está lhe acontecendo?
• O que o(a) senhor(a) acha que causou isso?
O último conceito da MCP ressalta a necessi-
• O(a) senhor(a) tem alguma ideia do que pode ter
dade de ser realista em relação:
causado isso?
• ao tempo disponível para a consulta;
• Com o que o(a) senhor(a) se preocupa mais nesse
• à longitudinalidade e à continuidade do
quadro?
cuidado; b) Sentimentos
• aos recursos disponíveis (tecnologias de di- • Que sentimentos esse quadro lhe causa?
ferentes níveis de atenção e acesso à equipe • Como o(a) senhor(a) tem se sentido?
multidisciplinar). • Como o(a) senhor(a) tem se sentido ultimamente?
abordagem centrada no paciente. No entanto, diver- • Quanto esse quadro afeta o seu dia a dia?
sos estudos não identificaram nenhuma diferença • O(a) senhor(a) consegue fazer suas atividades diárias
entre o tempo de uma consulta tradicional e o tempo com esse quadro?
utilizado por profissionais devidamente treinados na d) Expectativas
realização da MCP, ou seja, o tempo não seria um • O que o(a) senhor(a) gostaria que fosse feito ao
fator impeditivo da realização dessa abordagem. O final dessa consulta?
que talvez faça diferença é o acesso a um treinamento • O que o(a) senhor(a) espera desse atendimento?
que possibilite o desenvolvimento específico de com- • Como o(a) senhor(a) espera que esse quadro
petências comunicacionais centradas no paciente. se resolva?
Além disso, o cuidado longitudinal (seguimen- 2. Compreender o indivíduo como um todo
to dos pacientes ao longo do tempo) e a priorização a) Contexto familiar
de problemas/necessidades de saúde no ato da con- • Como vai a sua família?
sulta permitem a elaboração de planos de cuidado • Tem ocorrido algum estresse familiar?
em curto, médio e longo prazos, sem a necessidade • Aconteceu alguma mudança na sua família
de resolver todos os problemas em apenas um en- recentemente?
contro. Finalmente, o reconhecimento dos recursos b) Contexto de trabalho
disponíveis (nos diferentes níveis de atenção à saú- • O(a) senhor(a) considera seu trabalho agradável?
de) e a possibilidade de realização de um trabalho • O seu trabalho é estressante?
integrado a uma equipe multidisciplinar potencia- • O que o(a) senhor(a) mudaria no seu trabalho,
lizam o desenvolvimento de estratégias de cuidado se pudesse?
com base no conhecimento técnico e prático de ou- c) Contexto social
tros profissionais. Uma vez que parte dos proble- • O que tem feito para se divertir ou relaxar?
mas/necessidades identificados em uma consulta • Com quais pessoas o(a) senhor(a) se relaciona,
centrada no paciente (p. ex.: problemas familiares, além da sua família?
sociais, de trabalho, entre outros) está além do do-
3. Incorporar ao atendimento a promoção à saúde
mínio do conhecimento médico, o trabalho com
e a prevenção
uma equipe multidisciplinar poderá aumentar so-
bremaneira a resolutividade e a eficácia do plano de • Questionar hábitos e vícios (alimentação, atividade
cuidado. Cabe ao médico (ou ao profissional de física, tabagismo, uso de preservativos).
saúde que realizou o atendimento) articular os dife- • Verificar motivação para mudança de hábitos
rentes saberes e recursos necessários e realizar a potencialmente prejudiciais.
gestão de cuidado de forma responsável e ética. • Orientar hábitos saudáveis, de forma compartilhada
e de acordo com a motivação.
O Quadro 2.3 apresenta uma síntese dos com-
ponentes da MCP. • Individualizar as estratégias sugeridas.
ceito de circularidade, com um grande emaranhado Obs.: O médico identifica um fragmento de narrativa:
de histórias, formado por incontáveis “fragmentos “dificuldade de usar a insulina regularmente”. Ao
de narrativas” que se conectam entre si e fazem par- identificar esse fragmento, tenta compreender melhor o
te de uma grande rede de conversação. Os “frag- que o paciente está querendo dizer ao referir que tem tal
mentos narrativos” são partes de uma história que dificuldade. Dessa forma, busca estabelecer possíveis
dão acesso a diferentes tipos de informações e di- conexões com outras narrativas, com o objetivo de
mensões relacionadas ao “mundo da vida1” dos compreender melhor o significado do que foi dito pelo
nossos pacientes. Esses fragmentos de histórias paciente anteriormente.
apresentam uma estrutura circular, pois dificil-
mente se consegue identificar o ponto exato em que Contexto
cada narrativa se inicia ou termina, tal como a figu-
As narrativas elaboradas ao longo da consulta
ra de um círculo, “sem começo nem fim”. No mo-
médica pelos pacientes geralmente não contêm ape-
mento em que se inicia um diálogo, tece-se com o nas as informações necessárias à elaboração de um
interlocutor uma rede de histórias (múltiplos frag- diagnóstico de patologias, nem se encontram orga-
mentos de narrativas conectados entre si) e, confor- nizadas em ordem cronológica ou de acordo com os
me essa conversa se desenvolve, compreende-se me- aparelhos e sistemas do organismo humano. As
lhor o que cada sujeito tem a dizer e de que forma. narrativas relacionadas a sintomas de doenças fre-
quentemente apresentam-se “misturadas” com ou-
Consulta 1 (antes do treinamento em MBN) tras questões que a princípio podem parecer sem
Dr. João: O senhor sente alguma palpitação? importância alguma, como problemas familiares,
Antônio: Não, doutor. Eu queria... de trabalho, financeiros, dificuldades de relaciona-
Dr. João: Sente falta de ar? mento, experiências vivenciadas em outros serviços
Antônio: Não, doutor. Mas eu tenho... de saúde, medos e ansiedades em relação ao diag-
Dr. João: Sente alguma coisa ao urinar? nóstico e ao tratamento, além de inúmeras expecta-
Antônio: Isso não... tivas quanto ao trabalho médico. Em outras pala-
Dr. João: Tem algum problema de visão? vras, na prática, as histórias narradas durante o
Antônio: Não, mas... encontro clínico não são centradas apenas em sin-
Dr. João: Ok. tomas de patologias. Essas histórias também se refe-
Obs.: O médico não considera importantes as dificuldades rem a diferentes contextos de vida dos pacientes.
impostas pelo ritmo de trabalho do paciente ao uso Por isso, muitas vezes se tem a sensação de que
adequado da insulina. Não identifica pontos-chave na todas essas “outras histórias” atrapalham na hora
narrativa dele. Não consegue aprofundar e estabelecer de conversar com o paciente. Tenta-se insistente-
outras conexões entre a narrativa da insulina e outras
mente, ao longo de toda a conversa, impedir que
histórias. Dessa forma, continua o interrogatório de
essas narrativas apareçam, com medo de perder o
aparelhos e sistemas sem se preocupar com a dificuldade
relatada pelo paciente. foco no que se considera a principal tarefa do traba-
lho médico: a realização de diagnósticos patológi-
Consulta 2 (após treinamento em MBN) cos. No entanto, acredita-se que essa seja uma das
Dr. João: Deixe-me entender melhor como é essa principais tarefas da medicina, mas não a única. A
dificuldade de aplicar a insulina... abordagem dos contextos de vida do paciente, da
Antônio: Bom, doutor, tenho dificuldade com os horários perspectiva dele, é essencial no cuidado e aumenta a
de aplicação... Uso insulina 3 vezes por dia, antes do adesão e a eficácia ao tratamento, a satisfação dele e
café, antes do almoço e antes de dormir. Esse esquema a do médico quanto ao atendimento. Os médicos
não bate com os meus horários, acabo esquecendo,
devem, sem dúvida alguma, realizar corretamente
principalmente a insulina do meio-dia. Sei aplicar
direitinho, não tenho dificuldade com isso. Sei as doses
diagnósticos de patologias para tratá-las de forma
e sei o quanto é importante controlar a diabetes... Mas adequada, com base em evidências científicas, mas
às vezes eu me atrapalho... é a correria do trabalho. também devem cuidar das pessoas, utilizando para
Dr. João: Agora entendi melhor. isso os saberes técnico-científicos baseados em evi-
dências, mas articulados aos saberes práticos.
Os saberes práticos, como o nome já diz, são
1
Segundo Habermas (1996), o “mundo da vida” constitui o conhecimentos oriundos de experiências práticas.
pano de fundo onde ocorrem as interações e ações comunicativas
e é composto por três elementos essenciais: “a cultura, a sociedade Pode-se dizer que mostram como se pode executar
e as estruturas de personalidade”. algo levando em consideração as especificidades do
Além disso, é preciso prestar atenção para não 1. a narrativa do médico (composta essencial-
centrar a consulta excessivamente em detalhes rela- mente por um conhecimento técnico específi-
cionados aos contextos de vida e deixar em segundo co voltado ao cuidado e ao restabelecimento da
plano as informações médicas essenciais à avaliação saúde do paciente);
do estado clínico dos pacientes. Cabe ressaltar que, 2. a narrativa do paciente (que vivencia um pro-
sem essas informações, dificilmente poderão ser cesso de adoecimento e vem à consulta solicitar
elaboradas hipóteses diagnósticas e planos terapêu- algum tipo de cuidado e/ou auxílio médico).
ticos com a excelência técnica esperada.
À medida que interagem e estabelecem um di-
álogo com os outros, os indivíduos realizam um
Consulta 1 (antes do treinamento em MBN) “jogo de perguntas e respostas” que inevitavelmen-
Dr. João: E a sua vida sexual, tudo bem? te modifica tanto o conteúdo quanto a compreen-
Antônio: Hum, hum. são do que foi comunicado pelos interlocutores. O
Dr. João: E com a sua esposa... como está a vida sexual conceito de cocriação refere-se à habilidade de (re)
de vocês? construir uma história, criando uma terceira histó-
Antônio: (olha para baixo e reduz o tom de voz, ria, a partir do que é estabelecido durante o diálogo
demonstrando estar envergonhado) Está, sim... está entre médicos e pacientes.
tudo bem. Nesse caso, o médico necessita desenvolver
Dr. João: Ótimo! Vamos fazer o exame físico. (conduz uma complexa competência comunicacional e inte-
o paciente, apressadamente, para a realização do rativa composta de quatro ações simultâneas:
exame físico)
• escutar com atenção o que está sendo dito;
Obs.: O médico não percebe os sinais não verbais • identificar os pontos importantes da narra-
e mantém o direcionamento da consulta. tiva do paciente (pontos-chave);
Consulta 2 (depois do treinamento em MBN) • realizar perguntas que permitam explorar
Dr. João: Mais alguma coisa que o senhor gostaria de melhor o que foi dito anteriormente, princi-
me falar? palmente os pontos-chave, ou para acessar
Antônio: Acho que no momento não, doutor... acho que novas histórias;
já falei tudo. • (re)construir uma história, uma narrativa
Dr. João: Então, gostaria de fazer mais algumas compartilhada entre os dois interlocutores.
perguntas de rotina para depois pensarmos exatamente
no que vamos fazer para controlar melhor sua Primeiro, não se trata de uma escuta seletiva,
diabetes, tudo bem? focada exclusivamente na identificação de sintomas
Antônio: Claro, doutor. de patologias. Para realizar-se uma abordagem ba-
Dr. João: (o médico inicia a investigação de diversos seada em narrativa, é fundamental desenvolver uma
aparelhos e sistemas (ISDA), conforme preconizado pela escuta ampliada, que permita entrar em contato
anamnese médica tradicional) Agora, se o senhor com diferentes tipos de histórias, e não apenas com
permitir, gostaria de perguntar algumas coisas sobre histórias relacionadas a sintomas de patologias.
a sua vida sexual. Tudo bem se falarmos sobre esse A escuta ampliada não significa que se deve
assunto? deixar em segundo plano os dados da anamnese
Antônio: Pra ser sincero, eu não gostaria de falar sobre médica tradicional, os quais são imprescindíveis
isso, doutor... Tenho muita vergonha. para a elaboração do raciocínio clínico e das hipóte-
Dr. João: Sem problemas... Quando se sentir à vontade,
ses diagnósticas. Significa que, além de escutar as
podemos voltar a esse assunto. Mais alguma coisa?
queixas clínicas dos pacientes, também é possível
Antônio: Não, doutor.
Dr. João: Podemos, então, fazer o exame físico?
“dar ouvidos” às narrativas relacionadas às dimen-
Antônio: Podemos. sões do “mundo da vida”, sem excluí-las a priori,
pois esse tipo de escuta pode ajudar a compreender
Obs.: O médico respeita o desejo do paciente de não os significados, as vivências e as percepções sobre o
discutir a vida sexual nessa consulta. processo de adoecimento, com o objetivo de obter
detalhes extremamente importantes para a elabora-
Cocriação ção de um plano de cuidado compartilhado, de acor-
O sexto conceito da MBN, denominado cocria- do com as especificidades do indivíduo.
ção, parte do pressuposto de que, no encontro entre Concomitantemente ao processo de escuta am-
médicos e pacientes, identificam-se dois grandes ti- pliada, identificam-se os fragmentos de narrativas
pos de narrativas: que chamam a atenção (pontos-chave) por conterem
informações cruciais para a elaboração do raciocí- tem a identificação das causas dos problemas apre-
nio clínico (voltado ao diagnóstico de patologias ou sentados pelo paciente, assim como a elaboração de
agravos de saúde), ou por fornecerem “pistas” a res- hipóteses diagnósticas de patologias, ações extre-
peito das inúmeras dimensões relacionadas ao mamente relevantes para a prática médica da con-
“mundo da vida” dos sujeitos. temporaneidade. Mas como podem ser estabeleci-
A abordagem desses pontos-chave por meio de das essas outras conexões?
perguntas circulares busca explorar e compreender
melhor os fragmentos narrativos identificados e Quadro 2.4 – Exemplos de perguntas lineares
suas conexões, sendo a capacidade de realizar per-
guntas uma das principais habilidades comunica- Perguntas utilizadas pelo médico (lineares)
cionais da MBN. • Bom-dia. Vi no seu prontuário que o senho
As perguntas são como chaves que dão acesso é diabético, correto?
às histórias, pois permitem passar de uma história • Que medicações o senhor toma?
para outra, de um fragmento narrativo para outro, • Toma as medicações todos os dias? Regularmente?
percorrendo assim as múltiplas conexões da rede de Sem falhar nenhum dia?
narrativas. Dessa forma, a cada encontro pode-se • O senhor não gosta de usar insulina?
compreender um pouco mais de cada sujeito, suas • O senhor sabe que tem de tomar insulina todo dia,
percepções de vida, de saúde e de cuidado, além de não sabe?
acessar informações detalhadas que possibilitem a • O senhor sente alguma dor no peito?
elaboração de um diagnóstico patológico de manei-
Obs.: O médico utiliza apenas perguntas lineares durante a
ra precisa. Portanto, ao longo do diálogo estabeleci-
sua consulta. Essas perguntas dificilmente produzem uma
do no encontro entre médicos e pacientes, podem-
terceira história, uma vez que a narrativa do médico
-se utilizar dois tipos distintos de perguntas: predomina em relação à narrativa do paciente, que não
• perguntas lineares; consegue expressar sua perspectiva ao longo do diálogo.
• perguntas circulares.
As perguntas lineares (Quadro 2.4) objetivam As perguntas circulares (Quadro 2.5) são utili-
investigar e identificar a causa de um problema es- zadas com a intenção de:
pecífico. Esse tipo de pergunta apresenta como re- • explorar a perspectiva do paciente sobre de-
Importantes entidades, como a Organização Bowling A, Rowe G, McKee M. Patients’ experiences of their he-
Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde althcare in relation to their expectations and satisfaction: a popu-
lation survey. J R Soc Med. 2013;106:143-149.
(MS) e o Ministério da Educação (MEC), reconhe-
Brunnet et al. Participants in the Bayer-Fetzer Conference on
cem a importância da comunicação no encontro clí- Physician-Patient Communication in Medical Education. Es-
nico e preconizam o ensino de competências de co- sential elements of communication in medical encounters: the
municação na graduação dos profissionais de saúde. Kalamazoo consensus statement. Acad Med. 2001;76(4):390-3.
As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Canesqui AM (org.) Olhares socioantropológicos sobre os
Graduação em Medicina explicitam claramente tal adoecidos crônicos. São Paulo: Hucitec/Fapesp; 2007.
importância, ao colocar a comunicação como uma Cowan D, Danoff D, Davis A, Degner L, Jerry M, Kurtz S, Lai-
dlaw J, Mac Lean A, Till J, Thomsen P. Consensus statement
das seis competências gerais essenciais ao egresso. from the workshop on teaching and assessment of communi-
Uma comunicação norteada pela noção de cui- cation skills in Canadian medical schools. Can Med Assoc J.
dado pretende articular os saberes técnico-científi- 1992;147(8):1149-1150.
cos (como fazer) aos saberes práticos (o que fazer em Gadamer HG. Verdade e método: traços fundamentais de uma
determinada situação), com o objetivo de conquistar hermenêutica filosófica. v. 1. 7. ed. Petrópolis: Vozes; 2005.
Greenhalgh T, Hurwitz B. Narrative-based medicine: dialo-
tanto o êxito técnico (p. ex.: atingir a meta de contro- gue and discourse in clinical practice. London: British Medi-
le da pressão arterial) quanto o sucesso prático (ade- cal Journal Publishing Group; 1998.
quar ações à vida e às necessidades específicas do in- Habermas J. The inclusion of the other. Studies in political
divíduo). Portanto, a comunicação entre médicos e theory. Cambridge: Polity Press; 1996.
pacientes é considerada uma competência extrema- Hausberg MC, Hergert A, Kröger C, Bullinger M, Rose M, An-
mente complexa, que inclui atitudes, aspectos cogni- dreas S. Enhancing medical students’ communication skills:
development and evaluation of an undergraduate training
tivos e aspectos psicomotores para sua efetivação.
program. BMC Medical Education; 2012;12:16.
As abordagens da Medicina Centrada no Pa- Helman CG. Cultura, saúde e doença. 5. ed. Porto Alegre: Art-
ciente (MCP) e da Medicina Baseada em Narrativa med; 2009.
(MBN) são diferentes estratégias que visam uma Launer J. Narrative based primary care: practical guide.
comunicação eficiente com os usuários, melhoran- Oxford: Radcliffe Medical Press; 2002. p. 251.
do o encontro clínico e seus resultados. A MCP es- Lévy P, Teixeira RR. Árvores de saúde. Interface – Comunica-
pecifica os domínios (“o que” perguntar) que po- ção, Saúde e Educação. Botucatu (SP); 1999;3(4)143-156.
Moura JC. A comunicação-interação entre médico e paciente
dem ser incluídos na entrevista médica, ao passo
na atenção primária à saúde: um estudo hermenêutico. [Dis-
que a MBN desenvolve estratégias e competências sertação de mestrado.] Faculdade de Medicina da Universida-
essenciais à realização do diálogo entre médicos e de de São Paulo. Maio 2012.
pacientes (“como” fazer), sendo consideradas abor- Ohm F, Vogel D, Sehner S, Wijnen-Meijer M, Harendza S. De-
dagens complementares. Os aspectos centrais des- tails acquired from medical history and patients’ experience of
sas abordagens incluem a valorização da perspecti- empathy – two sides of the same coin. BMC Medical Educa-
tion. 2013;13:67-74.
va do paciente sobre seu processo de adoecimento, a
Perrenoud P. Dez novas competências para ensinar. Porto Ale-
construção de uma relação médico-paciente menos gre: Artmed; 2000.
verticalizada e hierárquica, bem como a decisão Silverman J, Kurtz S, Draper J. Skills for communicating with
compartilhada dos processos terapêuticos. patients. 3. ed. London: Radcliffe Publishing; 2013.
É imprescindível que o ensino das competên- Simmenroth-Nayda A, Weiss C, Fischer T, Himmel W. Do com-
cias de comunicação seja valorizado na educação munication training programs improve students’ communica-
tion skills? – a follow-up study. BMC Research Notes. 2012; 5:486.
médica, com a abertura de espaços curriculares for-
Simpson M, Buckman R, Stewart M, Maguire P, Lipkin M,
mais destinados à discussão/reflexão teórica sobre Novack D, Till J. Doctor-patient communication: the Toronto
o tema, além de cenários de ensino-aprendizagem consensus statement. BMJ. 1991;303:1385-7.
destinados à realização de atividades pedagógicas, a Stewart M, Brown JB., Weston WW, McWhinney IR, McWilliam
fim de potencializar a articulação de habilidades e CL, Freeman TR. Medicina centrada na pessoa: transformando
atitudes comunicacionais aos aspectos clínicos e o método clínico. Porto Alegre: Artmed; 2010.
técnico-científicos do cuidado. Teixeira RR. Modelos comunicacionais e práticas de saúde. Inter-
face – Comunicação, Saúde e Educação, Botucatu (SP); 1997;1(1).
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Bellet PS, Maloney MJ. The importance of empathy as an inter- communication. Geneva: World Health Organization, Divi-
viewing skill in medicine. JAMA. 1991;266(13):1831-32. sion of Mental Health; 1993.
Introdução
O exame físico geral inicia-se com a observa-
ção do paciente desde o primeiro contato e é com-
posto por duas partes: uma quantitativa e outra
qualitativa.
1
O exame físico quantitativo consiste em avaliar
dados precisos, como medidas da altura, peso, cir-
cunferência abdominal e quadril, pressão arterial,
pulso arterial, frequência respiratória e temperatura.
Já o exame físico qualitativo representa a ava-
liação subjetiva do examinador em relação ao pa-
ciente, dependendo, portanto, de sua capacidade de
percepção e de sua prática, ocorrendo frequentes
variações interobservadores. No exame físico geral
qualitativo, observam-se o tipo morfológico, o esta-
do geral, o grau de consciência, a fácies, a atitude, a
marcha, a presença de palidez, icterícia e cianose, o 2
estado de hidratação e a presença de edema.
Além dos exames físico geral quantitativo e
qualitativo, serão abordados neste capítulo os exa-
mes das mucosas, do tecido celular subcutâneo, do
sistema osteomuscular, dos linfonodos e da circula-
ção colateral.
Para os recém-nascidos, deve ser usada uma cular podem ser classificados como apresentando
balança própria e, para pacientes com dificuldade sobrepeso ou obesidade.
de ficar em pé, a cama-balança. O ganho ponderal
das crianças será mais bem discutido no capítulo Observação Clínica
“Propedêutica Pediátrica”.
• Indivíduos com índices menores de 18,5 kg/m2 estão
desnutridos. Já os com índice maior que 25 estão
ObservaçÕes ClínicaS progressivamente relacionados a um risco maior de
• Pacientes com ganho de peso superior a 1 kg em aparecimento de doenças cardiovasculares e diabetes
24 horas podem sugerir quadro de retenção hídrica, mellitus.
como insuficiência renal, cardíaca, hepática ou
desnutrição. Circunferência abdominal e quadril
• Perda de peso rápida pode sugerir neoplasia,
As medidas de circunferência abdominal e qua-
tuberculose, diabetes ou hipertireoidismo.
dril são importantes para a avaliação da obesidade,
no que diz respeito à gordura visceral (gordura intra-
O peso ideal nos adultos pode ser calculado
-abdominal entre as vísceras), e complementam os
pelo índice de massa corporal (IMC), calculado a
dados obtidos pelo IMC. Devem ser determinadas
partir da divisão do peso (P), em quilogramas, pela
em todos os pacientes no intuito de detectar e orien-
altura (A), em metros, ao quadrado:
tar aqueles com excesso de peso.
A circunferência abdominal é medida com
IMC = P/A2 (kg/m2) uma fita métrica posicionada a meia distância entre
o rebordo costal e as cristas ilíacas (Figura 3.2).
Exemplo: homem com 1,75 m e 75 kg: IMC =
75/1,75 × 1,75 = 24,5 kg/m2
valores normais da circunferência abdominal
Após sua definição, o valor do IMC do paciente
deve ser classificado de acordo com a Tabela 3.1. Homem: até 94 cm
Mulher: até 80 cm
Tabela 3.1 – Classificação internacional de baixo
peso, sobrepeso e obesidade em adultos de acordo
com o IMC
Classificação IMC (kg/m2)
Baixo peso < 18,5
Desnutrição grave < 16
Desnutrição moderada 16-16,99
Desnutrição leve 17-18,49
Normal 18,5-24,99
Sobrepeso ≥ 25
Pré-obesidade 25-29,9
FIGURA 3.2 – Medida da circunferência abdominal.
Obesidade ≥ 30
Obesidade grau I 30-34,99 Já o quadril é medido com uma fita métrica no
Obesidade grau II 35-39,99 nível do trocânter femoral (Figura 3.3). A medida
Obesidade grau III ≥ 40
do quadril é utilizada no cálculo da relação cintura-
-quadril (RCQ), no qual se divide o valor da cintura
Fonte: Adaptada de OMS, 2004.
abdominal pelo quadril. O valor dessa relação defi-
ne dois padrões de obesidade:
O IMC é um indicador adequado para a avalia-
ção do estado nutricional de um paciente e de fácil
utilização na prática clínica, porém pode conter im- RCQ > 0,8: obesidade androide
precisões, como: indivíduos com grande massa mus- RCQ < 0,8: obesidade ginecoide
A obesidade androide (mais comum em ho- papel de lixa nos casos mais graves);
mens) é a mais preocupante, já que está associada à • cabelos e pelos finos, secos, com alteração
gordura visceral. Nesse caso, a gordura se acumula de cor e quebradiços, sendo arrancados com
mais no tórax e abdome, com deposição subcutânea pequena força (relação com desnutrição
e intra-abdominal e é fator de risco independente proteica);
para doença isquêmica do coração, doença vascular • conjuntiva ocular seca (xeroftalmia), perda
cerebral, diabetes mellitus tipo 2, hiperlipidemia, do reflexo à luz, diminuição ou ausência de
hipertensão arterial e litíase biliar (Figura 3.4). lágrimas, fotofobia e dificuldade de visão e
Já na obesidade ginecoide (mais comum em acomodação em ambientes pouco ilumina-
mulheres), a gordura se acumula mais nas coxas, dos (hemeralopia ou nictalopia) – relaciona-
nádegas e regiões próximas à pelve com deposição dos com hipovitaminose A.
somente subcutânea, relacionando-se com celulite, O peso excessivo é classificado como sobrepeso
e não com as comorbidades da obesidade androide ou obesidade (dependendo do IMC do paciente)
(Figura 3.4). consequente à ingesta excessiva de alimentos
(maior que a necessidade calórica do indivíduo).
Em alguns casos, a obesidade é decorrente de dis-
1 2 função endócrina, como na síndrome de Cushing
(Figura 3.5).
Na avaliação nutricional, observam-se paní
culo adiposo excessivo e desenvolvimento físico
acima dos valores normais ao sexo, à idade e à raça.
Deve-se ainda avaliar nesses casos a distribuição li-
pídica corporal para o reconhecimento de risco
cardiovascular e metabólico do paciente (como des-
crito anteriormente).
Já o peso abaixo do valor mínimo normal de-
nomina-se magreza e consiste na perda de 10 a 15%
dos valores ponderais padronizados em função do
peso, da estatura e da idade, não necessariamente
FIGURA 3.4 – Figura esquemática comparando os dois indicando desnutrição. Pode ser cons titucional
padrões de obesidade: 1: obesidade androide (maçã); (traço genético) ou patológica (diabetes, hiperti-
2: obesidade ginecoide (pera). reoidismo, neoplasias malignas, tuberculose, ano-
rexia nervosa e ingestão insuficiente de alimentos).
Estado nutricional A magreza em extremo é denominada caquexia,
O estado nutricional do paciente deve ser ava- quando ocorre comprometimento do estado geral
liado pela relação da altura, peso, cintura abdomi- do indivíduo, geralmente causado por doenças con-
nal/quadril e idade (dados objetivos), correlacio- suptivas, como tuberculose em fase avançada, cir-
nados com o estado geral do paciente, o aspecto da rose, desnutrição grave, neoplasias malignas e Aids.
artéria temporal
artéria axilar
aorta
artéria braquial
FIGURA 3.5 – Paciente com síndrome de Cushing por
uso exógeno de corticoide. Notam-se o acúmulo de artéria ilíaca externa
gordura principalmente em tronco poupando os membros artéria femoral comum
(obesidade centrípeta), a fácies cushingoide ou moon artéria ulnar
face (formato de lua cheia com rubor facial, acne e artéria radial
hirsutismo) e estrias violáceas. artérias digitais
Fonte: Gentilmente cedida pelo Prof. Dr. Osmar Monte, Chefe da
Disciplina de Endocrinologia da Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo. artéria poplítea
Sinais vitais
Os demais itens do exame físico geral quanti-
tativo são o pulso arterial, a pressão arterial, a fre-
quência respiratória e a temperatura. Recebem o
nome de sinais vitais e são de extrema importância artéria fibular
na prática clínica, devendo ser obrigatoriamente artéria tibial posterior
avaliados em todos os pacientes. Atualmente, con- artéria pediosa
sidera-se a avaliação da dor (descrita no capítulo
“Anamnese Geral”) como o 5º sinal vital.
Figura 3.6 – Locais de palpação dos principais pulsos
Pulso arterial arteriais.
A averiguação dos pulsos arteriais é de suma im-
portância, tanto pelos dados clínicos que pode forne-
cer ao médico como pela possibilidade de represen-
tar um primeiro contato entre o médico e o paciente.
Como conceito, entende-se como pulso arte-
rial os batimentos de uma artéria superficial que
podem ser percebidos pela palpação. Para a medida
de frequência, ritmo, amplitude e tensão, podem ser
usados alguns pulsos, como o radial e o carotídeo.
Quanto à averiguação do pulso radial, é neces-
sário que se tenha a técnica correta, como deixar o FIGURA 3.7 – Pulso radial.
FIGURA 3.9 – Pulso braquial. FIGURA 3.13 – Pulso poplíteo (Técnica 1).
FIGURA 3.10 – Pulso axilar. FIGURA 3.14 – Pulso poplíteo (Técnica 2).
FIGURA 3.11 – Pulso pedioso (tibial anterior). FIGURA 3.15 – Pulso femoral.
Figura 3.26 – Local de aferição da pressão arterial. < 85 < 130 Normal
85-89 130-139 Limítrofe
Os sons de Korotkoff resultam da turbulência do
sangue dentro de uma artéria parcialmente ocluída. 90-99 140-159 Hipertensão estágio 1
São divididos em cinco fases, nem sempre distintos: 100-109 160-179 Hipertensão estágio 2
•• fase I – representa a pressão sistólica; o bati-
mento audível na artéria braquial; ≥ 110 ≥ 180 Hipertensão estágio 3
•• fase II – corresponde a um período de silêncio, < 90 ≥ 140 Hipertensão sistólica isolada
por existirem sons de muito baixa frequência; Fonte: Modificada de VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão
•• fase III – reaparecimento dos sons; Arterial 2010.
seja, métodos invasivos, como a utilização de cate- do paciente ou arregaçar sua manga;
teres centrais; por isso, não se trata de uma medida • a determinação da pressão sistólica pelo mé-
de uso clínico diário, mas sim de uma utilizada em todo palpatório de pulso é extremamente
cirurgias e em unidade de terapia intensiva (UTI). importante; sua não realização pode dificul-
Uma forma aproximada para calcular a PAM é por tar o reconhecimento da fase I e a insuflação
meio da aferição indireta da PA sistólica (PAs) e da demasiada, causar desconforto ao paciente;
PA diastólica (PAd), pela seguinte fórmula: • não se devem aproximar os valores pressóri-
cos finais para 5 ou 0 (p. ex.: 120 × 85);
• caso a medida da PA entre os dois braços seja
PAM = (PAs + 2PAd)/3
maior que 15 mmHg, medir sempre a PA no
membro em que estiver maior. Se a diferença • na posição deitada, quando existe ausência
for menor que 15 mmHg, mede-se sempre a de estímulo aos barorreceptores;
PA no braço direito; • nas primeiras horas da manhã, ao acordar.
• a desinsuflação do manguito deve ser em ve-
locidade constante, de 2 mmHg por segundo 2. Diminuição:
ou por batimento, para evitar congestão do • durante o sono, variação fisiológica de 20 a
locidade constante, já que, se lenta, pode le- pelo estímulo dos barorreceptores e aumen-
var ao desconforto do paciente e a detectar to da pressão diastólica pelo aumento da re-
pressão diastólica muito alta. sistência vascular periférica.
Ácido araquidônico
Pirógenos endógenos
Prostaglandinas
Febre
aumento da produção de calor aumento do “set point
Diminuição da perda de calor hipotalâmico”
• Hipotermia grave (menor que 30ºC): res- Brevilíneo (pícnico – Kretschmer; endomorfo
postas comprometidas levando a um au- – Sheldon e Stevens)
mento da perda de calor, sonolência e coma. São características físicas (Figura 3.29):
• o segmento 2 é o maior;
Exame Físico Geral Qualitativo • os membros são curtos em relação ao tronco;
Tipo morfológico • o pescoço é curto e grosso;
O ser humano é classificado em três tipos • a musculatura é desenvolvida e o panículo
morfológicos ou biótipos, definidos basicamente adiposo, espesso;
pelas escolas de Kretschmer, Sheldon e Stevens, • o tórax é alargado por aumento do diâmetro
que levam em conta a conformação corporal e cer- anteroposterior, tendendo a cilíndrico;
tas características orgânicas. Essa divisão dos tipos • há diminuição dos espaços intercostais;
morfológicos relaciona a forma externa do corpo • o ângulo de Charpy é obtuso;
com a posição das vísceras, indicando variações
• estômago tende a ser hipertônico;
anatômicas como a posição do íctus cordis ou a
• o coração fica horizontalizado devido à po-
forma do estômago. Essa classificação se baseia na
sição alta do diafragma, simulando estar au-
relação dos três segmentos formados na divisão da
mentado de tamanho;
distância entre a fúrcula esternal e a sínfise púbica
• há tendência para baixa estatura.
(Figura 3.28), ou seja, entre a fúrcula e o apêndice
xifoide; entre o apêndice xifoide e o umbigo; e entre
o umbigo e a sínfise púbica.
Displásico
Qualquer desproporção das medidas dos
segmentos.
Estado geral
Avaliação subjetiva do que aparenta o paciente
em sua totalidade. Pode ser descrito como bom, re-
gular ou mau estado geral. Para isso, é necessário
avaliar de maneira geral o estado nutricional do pa-
ciente, sua aparência e sua fácies e comparar a idade
aparente com a idade real.
Nível de consciência
A avalição da consciência, que deve ser inter-
pretada como o grau de vigília de um paciente, é
importante, já que perturbações geralmente indi-
cam sofrimento cerebral.
Figura 3.30 – Longilíneo.
Fonte: Adaptada de Porto, Semiologia Médica 2001.
No exame físico geral, deve ser avaliada a cons-
ciência vertical, que é a nitidez das vivências psíqui-
Normolíneo (atlético – Kretschmer; cas, ou seja, o próprio grau de vigília. A consciência
mesoformo – Sheldon e Stevens) pode estar preservada (consciente) ou rebaixada
(obnubilação, sonolência, torpor e coma). Confu-
Intermediário entre os outros dois tipos mor-
são mental diz respeito a qualquer grau de rebaixa-
fológicos, apresenta (Figura 3.31):
mento do nível de consciência com exceção do
• equilíbrio entre os membros e o tronco;
coma. Para avaliar a consciência vertical, pode ser
• desenvolvimento harmônico da musculatu- usada a escala de Glasgow, que será descrita no ca-
ra e do panículo adiposo; pítulo “Propedêutica Neurológica”. A consciência
• o ângulo de Charpy está em torno de 90º; horizontal será abordada no capítulo “Propedêutica
• o sistema neuromuscular é equilibrado. Psiquiátrica”.
• Fácies mixedematosa: tipo de fácies encon- • Fácies leonina: observada em pacientes com
trado em pacientes com hipotireoidismo. O hanseníase. As diversas alterações dão ao
paciente apresenta fácies apagada, sem ex- paciente aspecto de cara de leão. Observa-se
pressão (apatia). Observa-se infiltração do a presença de lepromas que deformam a fi-
tecido celular subcutâneo por edema geran- sionomia (nódulos de diversos tamanhos
do face arredondada, edema palpebral, no rosto deformando principalmente as bo-
acentuação dos sulcos faciais, nariz e lábios chechas e o mento), queda dos supercílios
grossos, supercílios escassos, pele e cabelos (madarose), barba escassa ou ausente, lá-
secos e sem brilho (Figura 3.35). bios proeminentes e grossos, pele espessa e
nariz alargado (Figura 3.37).
Atitude
Definida como o modo pelo qual o paciente se
apresenta ao exame, no leito ou fora dele, por como-
didade, hábito ou com o objetivo de conseguir alí-
vio para algum padecimento. As atitudes podem ser
voluntárias ou involuntárias.
Atitudes voluntárias
• Atitude ativa indiferente ou preferencial: pa-
ciente não apresenta desconforto em qualquer
posição.
• Atitude ativa forçada: posições adotadas pe-
Figura 3.38 – Fácies esclerodérmica: paciente com los pacientes para que se sintam melhores:
esclerodermia difusa apresentando fácies inexpressiva, −− atitude ortopneica: adotada para aliviar
afilamento e repuxamento dos lábios, incapacidade a falta de ar decorrente de insuficiência
de abrir toda a boca (microstomia) nariz fino, pele cardíaca, asma e ascites volumosas. O
endurecida e aderente aos planos profundos. paciente fica recostado ou sentado à bei-
Fonte: Gentilmente cedida pela Disciplina de Dermatologia da
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
ra da cama, com os pés no chão e com
os braços apoiados no espaldar de uma
• Fácies hipocrática: presente em pacientes cadeira no intuito de melhorar a disp-
com doença grave em estados agônicos. Ob- neia. Nos casos mais graves, os pacien-
servam-se afilamento dos traços faciais, na- tes ficam deitados na cama recostando
riz e lábios finos, palidez, suor constante, o tórax com a ajuda de travesseiros, no
cianose discreta perilabial, olhos fundos, intuito de deixá-lo mais ereto;
imóveis, opacos e inexpressivos, parecendo −− atitude genupeitoral ou de prece maome-
tana: adotada na pancreatite e nos casos
que o paciente não tem mais contato com o
de derrame pericárdico para facilitar o
meio externo.
enchimento do coração. O paciente fica
• Fácies renal: presença de edema em região ajoelhado com o tronco fletido sobre as
periorbital associada a palidez em pacientes coxas, ao passo que a face anterior do tó-
com comprometimento renal (mais deta- rax e o rosto, sobre as mãos, põem-se em
lhes serão descritos a seguir no item de ava- contato com o chão (Figura 3.39);
liação do edema – Figura 3.48).
• Fácies de demência: presente em pacientes
com síndrome demencial (p. ex.: doença de
Alzheimer), caracterizada por mímica po-
bre, lábios entreabertos e olhar vago para o
infinito.
• Fácies parkinsoniana: presente em quadros
de parkinsonismo (p. ex.: na doença de Pa-
rkinson), caracterizada por hipomimia
(mímica pobre) – fácies fixa, imóvel, inex-
pressiva, fronte enrugada, cabeça para a Figura 3.39 – Atitude genupeitoral ou de prece
frente, pouca mobilidade palpebral. Podem maometana.
das mãos e nas plantas dos pés. Os idosos ou indiví- metabolismo da bilirrubina (figura 3.42)
duos de pele negra podem apresentar normalmente Quando envelhecidas, as hemácias são capta-
a conjuntiva ocular acastanhada por depósito de li- das principalmente pelo baço, e o heme, presente na
poproteínas ou pela presença aumentada de mela- hemoglobina, é metabolizado formando a bilirru-
noblastos. Porém, esses pigmentos somente estão na bina a partir de diversas reações enzimáticas com-
faixa da conjuntiva que fica exposta com a abertura plexas. O anel do heme ou ferroprotoporfirina sofre
dos olhos, diferentemente da icterícia. Deve-se, ação da heme-oxigenase em sua ponte metano dan-
portanto, avaliar as regiões não expostas da conjun- do origem à biliverdina. A seguir, a biliverdina-re-
tiva ocular no diagnóstico de icterícia. Na insufici- dutase catalisa a formação da bilirrubina não con-
ência renal crônica em estágio final, também estão jugada ou indireta. A bilirrubina indireta se une à
presentes pigmentos castanhos na conjuntiva ocu- albumina, já que é insolúvel em água, e é transpor-
lar e o paciente apresenta coloração amarelo-palha. tada para o fígado.
A coloração amarelada pode durar por dias No fígado, a bilirrubina indireta é captada e
mesmo após o nível sérico estar abaixo de 2 mg/100 conjugada em sua maior parte com o ácido glicurô-
mL. Isso ocorre porque a bilirrubina continua liga- nico, formando a bilirrubina conjugada; a direta é
da por mais tempo às proteínas do tecido conjunti- secretada para os canalículos biliares e, a seguir, para
vo do que à albumina. o intestino delgado.
Baço
globina
Heme
biliverdina
Circulação
Hemácias bilirrubina indireta albumina
(hemoglobina)
urobilinogênio
Circulação êntero-hepática
urina urobilina 20%
Intestino
Cianose central
Quando ocorre oxigenação inadequada do san-
gue arterial (dessaturação aumentada no sangue ar-
terial) e os tecidos apresentam consumo de oxigênio
normal. A cianose central se dá em três situações:
1. diminuição da tensão de oxigênio do ar inspi-
rado – situação que acontece nas grandes alti-
tudes. A diminuição da oxigenação da hemo-
globina ocorre pela diminuição da saturação
de oxigênio do ar;
2. hipoventilação – o ar inspirado não chega em
quantidade suficiente para que haja a hemato-
Figura 3.43 – Eritema palmar em paciente com se. São exemplos desse mecanismo:
insuficiência hepática.
•• respiração rápida e superficial – processos
Fonte: Gentilmente cedida pela Dra. Adriana Zuolo Coppini, Médica
primeira assistente do serviço de transplantes dos Departamentos dolorosos do tórax, ascites volumosas,
de Cirurgia e de Medicina da Santa Casa de São Paulo. pneumonias e bronquites;
•• obstrução das vias respiratórias – estenose
Cianose da laringe, traqueia, brônquios, difteria, tu-
Coloração azulada ou arroxeada da pele e das mores, compressão por tumores ou aneu-
mucosas que ocorre sempre que houver aumento da rismas, broncoespasmo na asma e edema de
hemoglobina reduzida – a hemoglobina não ligada glote;
ao oxigênio – em valores superiores a 5 g/100 mL. •• diminuição da superfície respiratória – ede-
É avaliada principalmente nas áreas onde há ma de pulmão, pneumonia, broncopneu-
maior rede capilar, como lábios, ponta do nariz, lín- monia e grandes derrames pleurais;
gua, região sublingual (avaliar essa região nos indi- • diminuição da expansão respiratória – enfi-
víduos de pele negra), eminências malares, lobos sema pulmonar, fibrose pulmonar difusa e
das orelhas, leitos ungueais e polpas digitais. A cia- paralisias do diafragma e dos músculos res-
nose pode ser localizada, quando limitada a deter- piratórios.
minada região ou exclusivamente de extremidades,
ou generalizada, quando toda a superfície cutânea e Em todos esses casos, a oxigenoterapia é efi-
mucosas tornam-se azuladas. ciente, melhorando a cianose.
O paciente será classificado em acianótico (au- 3. curto circuito venoarterial (shunt) – ocorre nas
sência de cianose) ou cianótico, podendo este últi- cardiopatias congênitas em que o sangue veno-
mo ser classificado em cruzes, 1+ a 4+, de acordo so passa diretamente do coração direito para o
com sua intensidade. esquerdo, sem ser oxigenado pelos pulmões (p.
Alguns fatores interferem na avaliação da cia- ex.: tetralogia de Fallot). A cianose por curto
nose, como a pigmentação cutânea e a espessura da circuito também ocorre nos casos em que os
pele. alvéolos estejam obstruídos por líquido, como
na pneumonia ou no edema. O sangue, com
Tipos de cianose isso, não será oxigenado nos alvéolos e sairá
Após passar pelos pulmões, 95% da hemoglo- dos pulmões da mesma maneira que entrou. As
bina está saturada, ou seja, combinada com oxigê- cianoses por curto circuito, portanto, não me-
nio na forma de oxi-hemoglobina. A oxi-hemoglo- lhoram com oxigenoterapia.
bina no sistema capilar sistêmico perde seu oxigênio
para os tecidos, dessaturando-se para a forma de Cianose periférica
hemoglobina reduzida e voltando pelo sistema ve- O sangue chega suficientemente oxigenado aos
noso aos pulmões para receber mais oxigênio. As capilares, porém a circulação capilar está lentificada,
ou por redução do débito cardíaco ou por vasocons- cianose por alteração da hemoglobina
trição, ocorrendo perda exagerada de oxigênio na Quando há alterações estruturais, adquiridas
rede capilar. A cianose periférica ocorre em quatro ou genéticas da hemoglobina que impedem sua fi-
situações: xação ao oxigênio.
1. aumento local da pressão venosa – ocorre nas • Meta-hemoglobinemia: idiopática, fami-
ligaduras dos vasos de membros, nas compres- liar, intoxicação exógena por nitritos, fena-
sões venosas por linfonodos ou tumores e nas cetina, anilinas e brometo de metila.
compressões venosas mediastínicas; • Sulfo-hemoglobinemia: intoxicação por
2. aumento geral da pressão venosa – como ocor- sulfas, principalmente a sulfanilamina.
re na insuficiência cardíaca congestiva em vir-
tude da estase venosa na circulação; A oxigenoterapia melhora a cianose nesses
3. obstrução na circulação por oclusão – com- casos.
pressão de tronco venoso ou flebite (inflama-
ção de veias). Se a obstrução ocorrer no me-
diastino, haverá cianose na cabeça, no pescoço
e na parte superior do tórax;
4. transtornos vasomotores – como exemplo,
tem-se o fenômeno de Raynaud, no qual
ocorre, em uma primeira fase, a rápida dimi-
nuição orgânica ou funcional do calibre de
arteríolas digitais, com queda da pressão e di-
minuição da velocidade sanguínea capilar ge-
rando palidez. Em uma segunda fase, ocorre o
fim desse vasoespasmo arteriolar seguido de
espasmo das veias e vênulas, gerando acúmulo
de hemoglobina reduzida, gerando cianose
em um ou mais dedos. Por fim, em uma ter-
ceira fase, ocorre também o desaparecimento
desse espasmo venular, surgindo vasodilata-
ção arterial, o que deixando a pele ruborizada.
Esse fenômeno pode ser desencadeado pelo
frio e por alterações emocionais ou presentes
em arteriopatias, doenças do tecido conjunti-
vo e do sistema nervoso, afecções hematológi-
cas, compressão neurovascular cervicobra-
quial, traumatismos neurovasculares e em
intoxicações exógenas por metais pesados e
ergot (Figura 3.44).
Cianose mista
Ocorre quando há associação dos mecanismos
responsáveis pelas cianoses central e periférica, sen-
do o tipo mais comum de cianose. Como exemplo,
tem-se a insuficiência cardíaca congestiva grave, na
qual ocorrem congestão pulmonar, diminuindo a
oxigenação sanguínea (mecanismo central), e esta- FIGURA 3.44 – Fenômeno de Raynaud: observam-se
se venosa periférica com perda aumentada de oxigê- regiões dos dedos com palidez, cianose e rubor.
nio (mecanismo periférico) (Quadro 3.3). Fonte: Gentilmente cedidas pela Dra. Valquíria Garcia Dinis.
OBSERVAÇÕES CLÍNICAS
• Nos idosos: a hidratação é mais vem avaliada no
turgor da pele da região frontal, já que, normalmente,
Figura 3.45 – Avaliação do turgor da pele: o retorno esses pacientes apresentam diminuição do turgor da
da pele à posição original deve ser de imediato. pele e boca seca. A desidratação também pode ser
percebida, nos idosos, pelos seguintes sinais: fraqueza
Os pacientes podem ser classificados como hidra- muscular; dificuldade na fala; confusão mental;
tados ou desidratados, podendo este último caso ser prostração; e retração no globo ocular.
• Nos adultos: em estado de plena consciência, não O edema pode ser localizado quando restrito a um
apresentando perdas excessivas de líquidos e com território vascular – edema decorrente da obstru-
livre acesso à água dificilmente os adultos estarão ção do fluxo venoso ou linfático – ou generaliza-
desidratados. do, ocorrendo em todos os leitos vasculares, po-
• Nas crianças: como dito anteriormente, a avaliação dendo clinicamente ser visto em um ou mais
da hidratação nas crianças pode ser feita a partir segmentos corporais – edema decorrente de causa
da palpação das fontanelas. Em crianças hidratadas, sistêmica. As regiões do corpo onde comumente
as fontanelas são planas e normotensas e o ganho avalia-se o edema são os membros inferiores (onde
ponderal é normal. Já nas desidratadas, observa-se se localiza mais frequentemente), a face (princi-
que as fontanelas estão deprimidas, há alteração palmente região subpalpebral) e a região sacral
do peso, perda do sorriso social e da comunicação. (principalmente nos pacientes acamados, recém-
Muitas vezes, a desidratação ocorre em recém-
-nascidos e lactentes).
nascidos não pela perda excessiva de líquidos, e sim
pela diminuição da oferta quando as mães não são A intensidade, a consistência e a elasticidade
devidamente orientadas. do edema são avaliadas pela compressão sustenta-
• Já nos casos em que há hiperidratação, os pacientes da com o indicador ou polegar contra estruturas
apresentam edemas em diversas localizações. ósseas, como a tíbia, o sacro e os ossos da face.
Geralmente, ocorre nos pacientes que estão recebendo Após a retirada do dedo, observa-se depressão (fó-
soro de maneira inadequada e naqueles com vea) no local da compressão, caracterizando o si-
insuficiência cardíaca congestiva ou insuficiência renal nal de Godet (Figura 3.46).
por apresentarem má distribuição de água no corpo.
Avaliação do edema
Definido como aumento da quantidade de lí-
quido intersticial e/ou intracelular caracterizado
por um balanço positivo de sódio, o edema é obser-
vado clinicamente na pele e no tecido celular subcu-
tâneo. Quando há aumento de líquido nas cavida-
des serosas e articulares, trata-se de uma afecção
também decorrente dos mesmos fatores envolvidos
na produção dos edemas, porém recebe o nome de
derrames cavitários (hidrotórax, hidropericárdio e
ascite) ou articulares (hidrartrose).
Figura 3.46 – Sinal de Godet: observa-se depressão
O edema é formado devido a um desequilíbrio
(fóvea) no local da compressão em paciente com
das forças que regulam as trocas líquidas, favorecen- edema de membros inferiores por insuficiência cardíaca
do a saída e o acúmulo de líquidos no espaço inters- congestiva.
ticial. Como seus principais fatores, é possível citar:
• aumento da pressão hidrostática, como na Quanto à intensidade, o edema pode ser classi-
insuficiência cardíaca, nas varizes e na trom- ficado em cruzes, 1 a 4+, ou apenas descrito como
bose venosa profunda; presente ou ausente.
• aumento da permeabilidade capilar decor- Quanto à consistência, o edema pode ser:
rente de processos inflamatórios, como na •• mole – facilmente depressível, indicando
flebite e no edema alérgico; processo não prolongado;
• retenção de sódio, que ocorre nas nefropatias; • duro – resistência à compressão, indicando
• obstrução dos vasos linfáticos, no linfedema; processo mais prolongado pela presença de
• diminuição da pressão oncótica consequen- proliferação fibroblástica (p. ex.: linfedema/
te à hiposerulinemia, como na cirrose hepá- elefantíase).
tica e na desnutrição (decorrentes da dimi- Já quanto à elasticidade, pode ser:
nuição da produção ou ingesta de proteínas,
•• elástico – retorna à posição inicial rapidamen-
respectivamente).
te – decorrente de processos inflamatórios;
O paciente apresenta, como quadro clínico, • inelástico – demora ao retorno à posição
aumento do peso corpóreo e a presença do edema. inicial.
consiste na perda dessa coloração normal tendendo grande quantidade de células adiposas, parte dos
ao branco e deve ser classificada em cruzes de acor- folículos pilosos e glândulas sudoríparas. É avalia-
do com a gravidade (de 1 a 4+). Geralmente, muco- do por meio da inspeção, detectando, por exem-
sas descoradas indicam a presença de anemia. plo, presença de inflamação – celulite – ou nódu-
Contudo, mucosas hipercoradas, de coloração los, lipomas, cistos sebáceos, etc., e pela palpação,
vermelho-arroxeada, ocorrem por aumento das he- por meio do pinçamento de prega ou deslizamento
mácias regionalmente, presente nas inflamações com polpas digitais da pele sobre estruturas adja-
das mucosas, como as conjuntivites, glossites e gen- centes, nas regiões do abdome, do tórax e da raiz
givites (tartárica, do escorbuto e alveolites gerando dos membros.
edema, hiperemia com ou sem halitose); ou nas po- O enfisema subcutâneo detectado por meio da
liglobulias, que são o aumento global do número de palpação – sensação de crepitação – decorre da pre-
hemácias do sangue (poliglobulia secundária a do- sença de bolhas de ar abaixo da pele. As bolhas po-
ença respiratória, poliglobulia compensadora das dem proceder de pneumotórax aberto ou de gan-
grandes altitudes e a policitemia vera, considerada a grenas gasosas (por bactérias produtoras de gás). O
neoplasia da série eritrocitária). tecido celular subcutâneo pode ser classificado de
Podem ocorrer também em mucosas as peté- acordo com a distribuição e a quantidade.
quias, a púrpura hemorrágica e os hematomas,
mais bem descritos no exame da pele e de anexos. Distribuição
Alguns tipos de manchas podem ser vistos em • Distribuição normal quanto à idade e ao
mucosas, como as de Koplik, manchas esbranquiça- sexo: as crianças apresentam predomínio de
das de alguns milímetros rodeadas de halo verme- tecido celular subcutâneo na face e no tron-
lho e que aparecem na altura do segundo molar su- co; nas mulheres, há predomínio no qua-
perior 24 a 48 horas antes da erupção do sarampo. dril; e, nos homens, abdominal.
Outro sinal visto nas mucosas é a orla azul ou • Acúmulo especial em determinadas áreas:
genvival de Burton, que consiste em uma linha de 1 por exemplo, na síndrome de Cushing –
a 2 mm de largura, de coloração azul-escuro, que acúmulo de gordura na face (moon face),
aparece na borda entre a gengiva e os dentes nos ca- tórax (gibosidade) e abdome, e os membros
sos de intoxicação por chumbo. Também podem estão magros.
ser observadas pequenas lesões semelhantes na mu-
cosa da bochecha, denominadas manchas ou tatua- Quantidade
gens de Gubler. • Quantidade normal.
Outras alterações que podem ser vistas nas • Quantidade aumentada; espessa camada de
mucosas são a cianose e a icterícia, que foram, assim tecido gorduroso na obesidade.
como a palidez, já descritas neste capítulo. • Quantidade diminuída; camada de tecido
gorduroso reduzida ou nula.
Presença de lesões
Devem ser analisadas as lesões presentes nas Exame do Sistema Osteomuscular
mucosas, que podem ser: úlceras (consequentes a Em relação ao sistema osteomuscular, devem ser
herpes simples ou aftas); erosões das rimas labiais avaliados no exame físico geral os seguintes tópicos:
(conhecidas como queilose, ocorrendo, por exem-
1. musculatura – devem ser feitas a inspeção e a
plo, na hipovitaminoses, que, se com inflamação
palpação em pinça dos principais grupos mus-
secundária, é denominada queilite); e os tumores.
culares em estado de repouso e contração. O
Umidade acometimento muscular pode ser generalizado
ou localizado. Após o exame, a musculatura
As mucosas normais são bastante úmidas e bri- deve ser classificada quanto à troficidade
lhantes, indicando bom estado de hidratação do (quantidade de massa muscular), podendo ser
paciente. As mucosas secas e sem brilho estão pre- normal, hipertrófica ou hipotrófica (atrofia
sentes nos casos de desidratação. muscular – Figura 3.51); e quanto à tonicidade,
podendo apresentar tônus normal, hipertonici-
Exame do Tecido dade/espasticidade (contração ou semicontra-
Celular Subcutâneo ção do músculo mesmo em repouso com au-
O tecido celular subcutâneo ou hipoderme é mento do relevo muscular e de sua consistência)
constituído de tecido conjuntivo, fibras elásticas, ou hipotonicidade/flacidez (tônus diminuído
(Continuação)
Submentonianos Localizados no triângulo submentoniano Responsáveis pela drenagem do lábio inferior, do assoalho
da boca, da ponta da língua e da pele do queixo
Cervicais superficiais Localizados acima do músculo Responsáveis pela drenagem do pavilhão auditivo e da parótida.
esternocleidomastóideo Quando supurativos, sugerem linfadenite por micobactéria
(escrofulose)
Cervicais posteriores Localizados no triângulo occipital entre São responsáveis pela drenagem do couro cabeludo. Podem
o músculo omo-hióideo, trapézio e sugerir rubéola e toxoplasmose
occipital
Cervicais profundos Localizados na porção inferior do Grupo júgulo-omo-hióideo: responsáveis pela drenagem
inferiores pescoço, abaixo do músculo omo- da ponta da língua
hióideo e atrás do músculo
Grupo do escaleno: localizados acima desses músculos
esternocleidomastóideo
e responsáveis pela drenagem linfática do pulmão
e do mediastino
Grupo supraclavicular: responsáveis pela drenagem dos órgãos
intratorácicos, intra-abdominais, cabeça, pescoço, mamas,
braço e parede torácica
Axilares Região axilar Responsáveis pela drenagem da região torácica posterior,
da mão, do antebraço, do braço, da porção superior do abdome
e de parte da mama. O comprometimento unilateral é visto
nos casos de tumores de mama, linfomas, infecções
de extremidades superiores, doença da arranhadura do gato
e brucelose
Supraepitrocleares Localizados na face interna, em cima Responsáveis pela drenagem do dedo mínimo, anular e a metade
da tróclea cubital do médio, palma da mão, na metade cubital,
e antebraço. Seu comprometimento é visto na sarcoidose,
sífilis secundária e hanseníase
Inguinais Localizados na região inguinal e podem Superficiais: responsáveis pela drenagem da pele da parede
ser divididos em 2 grupos: superficiais abdominal inferior, pele do pênis, escroto, vulva, mucosa
e profundos da vagina, pele da região perineal e glútea e porção inferior
do canal anal
Profundos: responsáveis pela drenagem da glande, pênis, clitóris
e recebem a drenagem dos linfonodos superficiais
Poplíteos Localizados abaixo da aponeurose São responsáveis pela drenagem da articulação do joelho, da pele
profunda do cavo poplíteo e, portanto, da perna, do pé, do tendão de Aquiles e de estruturas profundas
difíceis de serem palpados, em número da pele. São palpáveis nas lesões da perna e do pé
de 5 a 6
Outros linfonodos
• Infraorbitários, faciais ou genianos, parotí-
deos, mentonianos, cervicais anteriores, re-
trofaríngeos, profundos do pescoço: são
difíceis de serem palpados, mas apresentam
importância clínica quando forem sede de
B C lesões inflamatórias ou metastáticas.
• Hilares ou mediastinais: não são palpáveis,
A porém seu aumento, nas doenças neoplási-
cas ou granulomatosas, acaba gerando sin-
tomas, como tosse e sibilos (por compressão
F D das vias aéreas), rouquidão (por compres-
G E são do nervo laríngeo recorrente), disfagia
(por compressão esofágica), edema de pes-
H coço, face ou braço (por compressão da veia
I
cava superior ou subclávia).
pação, deve-se pedir para o paciente fletir −− linfonodos inguinais: realizada com o pa-
ligeiramente a cabeça para o lado em que ciente deitado com deslizamento circular
está ocorrendo a palpação (Figura 3.54); ou linear com os dedos em extensão.
OBSERVAÇÕES CLÍNICAS
• Linfonodos característicos de processos inflamatórios:
ovais, menores que 1,5 cm, dolorosos, móveis à
palpação e fibroelásticos. Podem apresentar sinais
flogísticos na pele circunjacente.
• Fistulização: sugere tuberculose ou micose, como a
paracoccidioidomicose (Figura 3.56).
• Linfonodos característicos de processos neoplásicos:
redondos, maiores que 2,0 cm, não dolorosos,
aderentes aos planos profundos e pétreos.
• Comprometimento linfonodal generalizado: linfomas,
leucemias linfoides, colagenoses, mononucleose,
tuberculose, Aids e sífilis.
Figura 3.54 – Técnica de palpação dos linfonodos
• Comprometimento linfonodal localizado: processos
cervicais.
infecciosos na área de drenagem do grupo linfonodal
ou metástases.
−− linfonodos axilares: o paciente deve
estar sentado e deve apoiar o membro
superior no ombro do examinador que
está em pé, em frente a ele. O exami-
nador, a seguir, realizará a palpação da
seguinte maneira: palpará, com a mão
esquerda, a axila direita do paciente e,
após trocar o membro apoiado, palpa-
rá, com a mão direita, sua axila esquer-
da. A palpação deve ser realizada com a
mão em garra comprimindo a axila na
parede torácica. Outra maneira de rea-
lizar a palpação dos linfonodos axilares
é, em vez de apoiar o braço do pacien-
te no ombro, segurá-lo com a mão que
não realizará a palpação (Figura 3.55);
Figura 3.56 – Paciente com escrofulose (tuberculose
linfonodal) apresentando fistulização e processo
inflamatório ao redor de linfonodo.
Fonte: Gentilmente cedida pela Disciplina de Dermatologia da
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
(Continuação)
Benseñor IM, Drager LF, Paiva EF, Andrade DRA. Exame físico
Frequência respiratória
geral qualitativo. In: Benseñor IM, Atta JA, Martins MA. Se-
Temperatura miologia clínica. São Paulo: Sarvier; 2002. p. 36-38.
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Exame dos linfonodos Franco F. Febre. In: Benseñor IM, Atta JA, Martins MA. Se-
Qualitativo miologia clínica. São Paulo: Sarvier; 2002. p. 253-258.
Paiva EF. Cianose. In: Benseñor IM, Atta JA, Martins MA. Se-
Tipo morfológico
miologia clínica. São Paulo: Sarvier; 2002. p. 263-265.
Estado geral Perez AM, Benseñor IM. Edema. In: Benseñor IM, Atta JA,
Nível de consciência Martins MA. Semiologia clínica. São Paulo: Sarvier; 2002. p.
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Fácies Porto CC. Exame físico geral. In: Porto CC. Semiologia médi-
Atitude ca. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. p. 82-143.
Marcha Porto CC. Sistema cardiovascular. In: Porto CC. Semiologia
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Cianose Ramos, J. Semiotécnica do exame físico geral. In: Ramos, J.
Semiotécnica da observação clínica. 7. ed. São Paulo: Sarvier;
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OUTROS Scatolini, W. Exame físico geral. In: Scatolini, W. Propedêuti-
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Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes
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2
3
4
Figura 4.13 – Abaixador de língua, utilizado na oroscopia.
A descrição desse exame semiológico pode ser encontrada
no capítulo “Propedêutica Otorrinolaringológia”.
Figura 4.11 – Lanterna, importante componente do Figura 4.15 – Esfigmomanômetro, o método mais
exame físico neurológico e da orofaringe. Para mais utilizado para a medida da pressão arterial. A técnica
informações, consultar os capítulos “Propedêutica de aferição e os valores de referência estão descritos no
Neurológica" e "Propedêutica Otorrinolaringológica”. capítulo “Exame Físico Geral”.
5 2 4
• Cílios: podem-se encontrar diminuição da orbitária, que inicialmente são verificados quanto à
quantidade, ausência ou alteração da topo- posição (exoftalmia, enoftalmia) e ao alinhamento
grafia (triquíase ou distiquíase) ou da colo- de seu polo anterior (estrabismo convergente, estra-
ração. bismo divergente).
• Aparelho lacrimal (glândulas lacrimais, duc- • Conjuntiva ocular e esclera: a conjuntiva
tos e saco lacrimal): a maior porção da glân- ocular é uma membrana mucosa, fina e
dula lacrimal está protegida pela região su- transparente que recobre a esclerótica. De-
perolateral da órbita, acima do bulbo ocular. vido a sua transparência, é possível notar a
Assim, apenas quando é acometida por um presença de capilares e dos vasos episclerais
processo inflamatório, infeccioso ou neo- de tonalidade avermelhada. Excetuando-se
plásico, a glândula torna-se aparente. esses vasos, a esclera possui uma coloração
branca nacarada (de “porcelana branca”).
Assim, é importante que se busque por alte-
OBSERVAÇÃO CLÍNICA rações de coloração (típicas de depósitos pig-
• A busca por obstruções é realizada por inspeção mentares, como ocorre na icterícia e na me-
e compressão do saco lacrimal, do ponto lacrimal lanose ocular). O examinador também deve
e dos canalículos, por inspeção e palpação do se atentar à presença de processos inflama-
ângulo palpebral medial e por palpação/compressão tórios, tumorações, congestão passiva veno-
imediatamente inferior a ele para se verificar a saída
sa, epífora (lacrimejamento excessivo), cor-
de secreções oculares (lacrimal ou mucopurulenta).
pos estranhos, xeroftalmia, pinguécula e
pterígio (Figura 5.2).
O saco lacrimal localiza-se na porção medial
• Córnea: avaliam-se o tamanho (normal:
do olho e pode estar sujeito a processos inflama-
11,7 mm no eixo horizontal e 10,6 mm no
tórios ou infecciosos, tornando-se aparente, es-
eixo vertical), a transparência/opacidade, as
pecialmente, quando há presença de sinais flogís-
irregularidades epiteliais, a presença de cor-
ticos na região. Por sua vez, a exploração do ponto
pos estranhos, a neovascularização (pânus
lacrimal, dos canalículos, dos ductos e do saco la-
corneal) e a sensibilidade da córnea.
crimal é indispensável quando há alterações da
• Reflexo corneopalpebral: a avaliação da sen-
drenagem ocular, com a presença de refluxo ou
secreção purulenta. sibilidade corneal é realizada pela exploração
do reflexo corneopalpebral, comparando-se
• Conjuntiva palpebral: devem-se observar a
sempre ambos os olhos. Para realizar o exa-
cor [rosa-pálida/branca (descorada), rosa-
me, solicita-se ao paciente que olhe para cima
-viva (corada), amarelada (sinal de icterí-
cia), marrom (nevo), etc.], o padrão vascu- e para o lado oposto ao que será estimulado.
lar, a presença de nódulos, edemas e corpos Assim, toma-se um filete de algodão e, com
estranhos. cuidado para não tocar nos cílios, estimula-
-se delicadamente a parte apical da córnea na
Para examinar corretamente a esclera e a con- junção corneoconjuntiva (aferência via ner-
juntiva palpebral inferior, deve-se solicitar ao pa- vo trigêmeo). O resultado esperado é o pes-
ciente que olhe para cima, enquanto, com a polpa tanejamento imediato (eferência via nervo
digital de um dos dedos, o examinador realiza uma facial).
leve tração da pálpebra inferior para facilitar a ava- • Cristalino: o cristalino ou lente (lens) é uma
liação da região. pequena lente transparente, situada entre a
O exame da conjuntiva palpebral superior é rea- íris e o vítreo ocular, que se prende ao corpo
lizado por meio da eversão da pálpebra superior. Para ciliar por um delicado conjunto de fibras
isso, solicita-se que o paciente olhe para baixo, en- denominado zônula. Para realizar o exame,
quanto o examinador segura os cílios com uma mão é necessário que esteja disponível uma boa
(puxando-os para fora e para baixo) e, com o auxílio fonte de luz. Assim, avalia-se o cristalino
de uma haste flexível, exerce uma leve pressão cerca quanto a sua posição (deslocado/luxado) e
de 1 cm acima da borda da pálpebra superior. quanto a sua transparência (de preferência,
Após a avaliação das estruturas externas, pros- com o auxílio de um biomicroscópio ou de
segue-se com a análise do globo ocular e da cavidade uma lâmpada de fenda slit-lamp).
OBSERVAÇÃO CLÍNICA
• os reflexos fotomotores direto e consensual, quando
normais, são entendidos como um sinal de integridade
Figura 5.4 – Tabelas de aferição da acuidade visual. do mesencéfalo e estão presentes mesmo nos indivíduos
A figura apresenta à esquerda a tabela de Snellen (mais cegos, desde que a via reflexa esteja preservada.
utilizada na prática clínica); à direita, está a tabela de
logMAR (mais recente e de maior acurácia).
OBSERVAÇÃO CLÍNICA Z Z
LU LU
• A acuidade visual, por convenção, é considerada normal Miose Miose Miose Midríase
quando o paciente é capaz de ler corretamente a tabela
logarítmica de Snellen (Figura 5.4) até a oitava linha, e Reflexo fotomotor
sua acuidade visual é dita 20/20. Se somente for capaz Direto Consensual
de ler corretamente até a sexta linha, sua acuidade
visual é considerada subnormal, uma vez que a 20 pés Figura 5.5 – Reflexos fotomotores direto e consensual
(6 m) de distância só foi capaz de ler corretamente o normais em um paciente isocórico (à esquerda); e reflexo
que um indivíduo normal é capaz de ler a 30 pés de consensual alterado em um paciente anisocórico (à direita).
distância.
LUZ
Exame neuroftalmológico
Avaliação pupilar Gânglio ciliar
A avaliação pupilar é feita por meio das inspe-
ções estática e dinâmica. Nela se analisa a responsi-
vidade aos estímulos luminosos e à acomodação vi- Nervo óptico Nervo oculomotor
sual, sempre de modo comparativo entre os lados (II par craniano) (III par craniano)
direito e esquerdo.
Na inspeção estática, com o paciente olhando
para longe e à luz ambiente, observa-se a forma (arre-
dondada ou irregular) e o diâmetro pupilar (midría-
se, miose, isocóricas ou anisocóricas – Figura 5.5). Núcleo de
Durante a inspeção dinâmica, testam-se os re- Edinger-
-Westphal Mesencéfalo
flexos pupilares:
• reflexo fotomotor (Figuras 5.5 a 5.7) – inci-
de-se lateralmente ao olhar do paciente um
feixe de luz, sobre a retina de um de seus Figura 5.6 – Esquematização do funcionamento do
olhos, e observa-se a resposta pupilar. Em reflexo fotomotor direto e consensual. Ao projetar-se
indivíduos normais, observa-se a contração um feixe luminoso em direção à pupila, este é captado
pupilar (miose) tanto do olho estimulado pela retina ocular e convertido em sinais elétricos que
(reflexo fotomotor direto) quanto do olho seguem pelo nervo óptico até atingirem o núcleo de
Edinger-Westphal no mesencéfalo (núcleo parassimpático
contralateral (reflexo fotomotor consensual),
do nervo oculomotor). A partir desse núcleo, as fibras
conhecida como reação pupilar cruzada; parassimpáticas do NC III se dirigem para ambos os
• reflexo da acomodação – orienta-se o paciente olhos, onde promovem a contração do músculo esfíncter
a fixar o olhar na ponta do dedo do examina- da pupila, provocando a miose isocórica (Figura 5.5)
dor (ou em outro objeto pontual, como a pon- característica do reflexo fotomotor direto e consensual.
RS OS OS RS
RL RM RL
RI OI OI RI
RS 5 2 OS
RL 4 1 RM
Avaliação da musculatura ocular extrínseca Figura 5.8 – Movimentos oculares extrínsecos. A parte
de cima da figura apresenta os músculos extraoculares e
Cada olho se move à custa de seis músculos: qua- seus respectivos movimentos a partir da posição primária
tro retos (reto superior, reto inferior, reto medial e reto do olhar. A parte de baixo apresenta a sequência dos
lateral) e dois oblíquos (oblíquo superior e oblíquo in- movimentos oculares que deve ser realizada durante a
ferior). Cada músculo é inervado por um nervo cra- avaliação da musculatura ocular extrínseca, posições
niano e é responsável por um movimento específico, marcadas de 1 (primeira posição) a 6 (última posição),
mas todos atuam de modo harmônico (movimento de modo a isolar a musculatura testada em cada
sacádico), a fim de promover o movimento sincroni- movimento. RS: músculo reto superior; RI: músculo
zado dos olhos (movimentos conjugados). reto inferior; RL: músculo reto lateral; RM: músculo
O músculo reto medial promove a adução do reto medial; OS: músculo oblíquo superior; OI: músculo
bulbo ocular, enquanto seu antagonista, o músculo oblíquo inferior.
reto lateral, promove a abdução ocular (Figura 5.8).
Enquanto se realiza o exame deve-se observar
Entretanto, a função dos outros quatro músculos
se os movimentos são realizados de forma harmô-
oculares muda de acordo com a posição do bulbo
nica e suave ou se há alteração da movimentação do
ocular (Figura 5.8). Quando o bulbo ocular está em
bulbo ocular em determinada direção (p. ex.: a in-
abdução, os músculos reto superior e reto inferior
capacidade de realizar a abdução do olho direito
deslocam o bulbo ocular para cima e para baixo,
pode indicar lesão do músculo reto lateral ou ainda
respectivamente. Entretanto, quando em adução, os
músculos oblíquo inferior e oblíquo superior são os do nervo abducente).
agonistas responsáveis por mover o bulbo ocular Existem ainda alguns movimentos específicos,
para cima e para baixo. como o sacádico, o persecutório e os nistagmos
Com o paciente de frente para o examinador, (vide mais informações no capítulo “Propedêutica
solicita-se que acompanhe um objeto, ou mesmo o Neurológica”), bem como a alteração dos movi-
dedo do examinador, enquanto este descreve um mentos conjugados, que podem indicar algumas
movimento semelhante à letra “H” (Figura 5.8). situações complexas.
Deve-se conduzir o olhar do paciente horizon-
talmente para a extrema direita (avaliação do mús- OBSERVAÇÕES CLÍNICAS
culo (m.) reto lateral direito e do m. reto medial es- • A inervação ocular será mais detalhadamente
querdo) e, ainda com o olhar dele voltado para este abordada no capítulo “Exame Neurológico”. Todavia,
lado, para cima (avaliação do m. reto superior direito é importante que o leitor saiba desde já que a
e do m. oblíquo inferior esquerdo) e para baixo (ava- impossibilidade de se realizar algum dos movimentos
liação do m. reto inferior direito e do m. oblíquo su- oculares, ou até mesmo a presença de estrabismo,
perior esquerdo). Em seguida, repete-se o procedi- pode indicar uma possível lesão, tanto da musculatura
mento do lado esquerdo. O examinador dirige, ocular como dos nervos cranianos (NC) III, IV ou VI.
horizontalmente, o olhar do paciente para a extre- • Assim, para que seja possível supor qual o
ma esquerda (m. reto lateral esquerdo e m. reto me- possível nervo lesionado, a Quadro 5.1 apresenta,
dial direito), para cima (m. reto superior esquerdo e separadamente, os músculos inervados por cada um
m. oblíquo inferior direito) e para baixo (m. reto infe- dos NC III, IV e VI e suas respectivas funções tanto
rior esquerdo e m. oblíquo superior direito). nos reflexos quanto na motilidade ocular.
Semiotécnica
• O paciente deve estar, preferencialmente,
com as pupilas dilatadas, para que a avalia- Figura 5.11 – Realização do exame de fundo de olho.
ção completa das estruturas do fundo de
olho, inclusive a periferia da retina, seja rea- O oftalmoscópio direto (Figura 5.12) é com-
lizada. Entretanto, se isso não for possível e o posto de um sistema de lentes reguláveis, a fim de
exame for necessário, este poderá ser realiza- ajustar as dioptrias do examinador com as do pa-
do mesmo sem a midríase induzida pela di- ciente. Inicialmente, deve-se girar a lente até 0
latação pupilar. (zero) dioptrias e, a seguir, mantendo-se o dedo na
margem do disco da lente, buscar o foco conforme
• A sala na qual será realizado o exame deve
necessário.
estar escura, com o paciente sentado em
frente ao médico. Para analisar o olho direi-
to do paciente, o examinador deve segurar o
oftalmoscópio com a mão direita, usando
seu olho esquerdo, e vice-versa (Figura 5.11).
Durante o exame, o paciente deve manter o
olhar em um ponto fixo, a fim de facilitar a
realização do exame.
• Como citado anteriormente, o fundo de olho
normal é visto a distância como um reflexo
vermelho por meio do oftalmoscópio. As-
sim, enquanto o paciente olha fixamente
para a frente, o examinador deve aproximar-
-se vagarosamente pela porção lateral da face
dele, seguindo o reflexo vermelho até o fun-
do de olho ser avistado.
• O exame propriamente dito inicia-se pela ava-
liação do disco óptico. Para localizá-lo, o exa-
minador deve seguir o caminho inverso ao da
bifurcação dos vasos sanguíneos, uma vez que
estes convergem em direção a ele. A seguir,
inspeciona-se a mácula, que pode ser acessada
dirigindo-se o oftalmoscópio à retina tempo-
ral a partir do disco óptico. A retina periférica,
por sua vez, é avaliada ao final do exame, soli-
Figura 5.12 – Oftalmoscópio direto.
citando-se que o paciente olhe para os lados Fonte: Gentilmente cedida pelo Departamento de Oftalmologia
enquanto o examinador acessa as áreas que da Santa Casa de São Paulo.
antes não podiam ser visualizadas.
Obs.: Todos os dados obtidos a partir da oftalmos- O exame de fundo de olho também pode ser
copia devem sempre ser comparados bilateralmente. realizado com o oftalmoscópio indireto.
D
C
A
B
Figura 5.13 – Fundo de olho normal. A: mácula; B: Figura 5.15 – Retinopatia hipertensiva. Nota-se a
papila; C: veia; D: artéria. desproporção entre o calibre das veias e o das artérias.
Fonte: Gentilmente cedida pelo Departamento de Oftalmologia Fonte: Gentilmente cedida pelo Departamento de Oftalmologia
da Santa Casa de São Paulo. da Santa Casa de São Paulo.
Conceitos
OBSERVAÇÕES CLÍNICAS
1. Madarose: ausência de pelos na região das
• O aumento da pressão intracraniana leva ao
edema de papila, no qual o disco óptico apresenta
sobrancelhas.
limites imprecisos, bordas elevadas e mudança de 2. Triquíase: crescimento dos cílios para dentro da
cor. Algumas vezes, podem ser observadas áreas borda palpebral, provocando lesões de córnea.
hemorrágicas ou exsudativas. 3. Exoftalmia (proptose): protrusão do globo
• Na retinopatia diabética, as principais alterações ocular devido a algum processo retrobulbar.
no fundo de olho são os microaneurismas, as
hemorragias, a neovascularização, os exsudatos duros 4. Enoftalmia: retração do bulbo ocular. Nor-
e os exsudatos moles (Figura 5.14). malmente, ocorre em processos degenerativos
• Na retinopatia hipertensiva, observa-se constrição das e síndromes (Claude Bernard-Horner).
arteríolas, aumento do reflexo axial, ingurgitamento 5. Estrabismo convergente ou esotropia (Figura
venoso, cruzamentos arteriovenosos patológicos (sinal
5.16): desvio do polo anterior do globo ocular
de Salus), tortuosidade dos vasos e hemorragias (em
chama de vela). Se a hipertensão se agrava, surgem medialmente.
vasos com aspecto de fio de cobre ou de prata; e na
hipertensão maligna é possível observar o edema de
papila (Figura 5.15).
B 3
OBSERVAÇÃO CLÍNICA
• Assim como os adultos, as crianças também devem C
ser examinadas sentadas; se muito pequenas, devem
ser seguradas pela mãe, conforme a Figura 6.1.
Palpação
A palpação da pirâmide nasal é bastante sim-
ples, avaliando-se a presença de dor à palpação e
A A crepitação (geralmente constantes nos casos de fra-
turas traumáticas) e desnivelamentos (desvios trau-
B B máticos, tumorações, etc.).
A palpação dos seios da face, na presença de
dor, pode sugerir processo inflamatório/infeccioso,
alérgico ou tumoral subjacente. É importante sa-
C C
lientar que, isoladamente, é um sinal propedêutico
inespecífico e, por isso, vem sendo menos utilizada
na prática clínica (Figura 6.4).
do pelas narinas. Para tanto, utiliza-se o espelho Quando o paciente apresentar resposta errada,
de Glatzel, sobre o qual o paciente expira e o mé- ele deverá ser submetido a um teste mais minucioso
dico observa se houve saída de ar pelo aspecto em- realizado por otorrinolaringologista.
baçado que se forma sobre o espelho abaixo de
ambas as fossas nasais. Assim, é possível compa-
rar se a expiração nasal foi simétrica ou se um
dos lados foi comprometido (Figura 6.6).
Figura 6.6 – Teste de fluxo expiratório com espelho de Cavidade Oral, Faringe E Laringe
Glatzel.
Anamnese
Exame básico da função olfatória Entre as principais queixas que levam os pa-
cientes a procurarem auxílio médico, destacam-se:
O exame da função olfatória visa avaliar a res-
posta subjetiva do paciente aos odores. Na anamne- 1. boca e faringe:
se, deve-se procurar caracterizar: • odinofagia;
A seguir, estão listadas as principais estruturas osos cujo aspecto lembra o de um cérebro).
e suas alterações correspondentes mais comuns: Contudo, a língua também pode apresentar
• lábios – os lábios devem ser simétricos (tanto sinais indicativos de doenças sistêmicas, como
à inspeção estática quanto à dinâmica) e de a “língua careca”, “língua pilosa” e “língua sa-
coloração róseo-clara; burrosa” ou mesmo a macroglossia. Além dis-
• cavidade oral – o exame da cavidade inicia- so, sempre que possível deve-se realizar a pal-
-se pelo vestíbulo (delimitado, anterior- pação da língua para verificar o tônus
mente, pela mucosa interna dos lábios e bo- muscular e avaliar possíveis nodulações;
chechas e, posteriormente, pelos dentes e
gengiva) e segue-se pela avaliação da cavi- OBSERVAÇÃO TéCNICA
dade propriamente dita;
• A “língua careca” (atrofia de papilas linguais) pode
• gengivas e mucosa oral – a mucosa gengival
indicar avitaminoses, a “língua pilosa” (hipertrofia
tem cor variável, de rósea até parcialmente das papilas linguais), infecções fúngicas ou falta de
marrom, dependendo da coloração da pele ingestão de alimentos que necessitem de mastigação
do indivíduo. Por sua vez, a mucosa oral ou e a macroglossia (aumento das dimensões da língua),
jugal deve ser rósea, úmida e lisa. O formato acompanhar síndromes genéticas, sendo característica
da gengiva e as papilas interdentárias (pro- dos quadros de hipotireoidismo congênito.
jeções gengivais entre os dentes) também
devem ser examinados; • úvula – apresenta-se como um apêndice côni-
• arcada dentária – em indivíduos normais, co suspenso pelo véu palatino no centro do
apresenta 20 ou 32 elementos, respectiva- arco palato-glosso. Sua posição é um impor-
mente, em crianças e adultos. O examina- tante dado propedêutico, uma vez que pode
dor deve avaliar a mordida do paciente apresentar “desvios patológicos”, como nos
(normal, aberta, cruzada, etc.) e o estado de casos de comprometimento neurológico (será
conservação dos dentes, que podem apre- discutido com detalhes no capítulo “Prope-
sentar alterações de coloração, cáries ou dêutica Neurológica”);
mesmo fraturas;
• glândulas salivares (parótidas, submandi-
bulares e sublinguais) – durante a inspeção, OBSERVAÇÃO TéCNICA
deve-se procurar pela abertura dos ductos • A úvula apresenta-se desviada quando há paralisia
parotídeos junto à face interna – bochechas do IX par craniano (nervo glossofaríngeo). O desvio
(uma abertura em cada bochecha) – na al- é para o lado oposto da lesão (desvio contralateral).
tura do segundo molar superior dos pacien- Todavia, nas lesões do XII par craniano (nervo
tes. Os óstios dos ductos submandibulares hipoglosso), haverá desvio da língua para o mesmo
são visualizados no assoalho da boca, um lado da lesão (desvio ipsilateral).
de cada lado do freio lingual;
• língua – a coloração da língua pode variar de • orofaringe e tonsilas palatinas – a orofaringe
rósea a vermelha e suas duas faces devem ser corresponde a um pequeno espaço compreen-
examinadas: a superior deve apresentar papi- dido entre a raiz da língua, o palato mole e a
las por toda sua extensão e, na região poste- epiglote. Já as tonsilas palatinas ou amígdalas
rior, o “V” lingual; já a ventral não apresenta referem-se a massas moriformes encontradas
papilas, e sua consistência é lisa, úmida e, al- entre os pilares palatinos anteriores e poste-
gumas vezes, pode apresentar varizes consti- riores. Essa região é frequentemente acometi-
tucionais. Nesse momento, deve-se observar da por processos infecciosos, inflamatórios ou
tanto a integridade do freio lingual como a do até neoplásicos. Dessa forma deve-se procurar
assoalho da boca e dos ductos das glândulas por sinais de hiperemia, placas purulentas, se-
salivares submandibulares que nele desembo- creções ou ulcerações. Especificamente quan-
cam. O examinador deve-se atentar a possí- to às tonsilas palatinas em crianças, deve-se
veis alterações constitucionais da língua, as atentar para seu tamanho que, embora não
quais não necessariamente representam do- seja tão importante no adulto, pode provocar
enças, como: “língua geográfica” (desenhos importantes obstruções de fluxo aéreo quan-
que normalmente têm aspecto de mapa); “lín- do atinge grandes volumes;
gua fissurada” (aumento da profundidade dos • articulação temporomandibular (ATM) – a
sulcos); e “língua cerebriforme” (sulcos tortu- articulação que executa os movimentos mas-
Palpação
Após a inspeção, seguem-se a palpação das
glândulas salivares (parótidas e submandibulares),
do assoalho de boca e da ATM.
• Glândulas salivares: a palpação, que deve
ser realizada na topografia das glândulas
Figura 6.10 – Técnica de exame com espátula
parótidas e submandibulares, objetiva rela-
ou abaixador de língua.
xar a musculatura local para avaliar corre-
Exame da língua tamente a consistência, a sensibilidade, os
limites, a flutuação, a mobilidade, a tempe-
Antes de iniciar o exame, devem-se conhecer a ratura e as possíveis massas presentes na-
inervação da sensibilidade geral e da sensibilidade quela região.
gustativa da língua, uma vez que, nessa função, parti- −− topografia das glândulas parótidas: de
cipam três pares de nervos cranianos distintos (facial formato triangular, a glândula estende-
VII, glossofaríngeo IX e trigêmeo V) – Figura 6.11. -se posteriormente ao lobo da orelha,
A pesquisa da sensibilidade gustativa é realiza- desce acompanhando o ramo da man-
da por meio de quatro substâncias gustativas fun- díbula até o ângulo mandibular e sobe
Nervo Nervo
1/3 posterior glossofaríngeo glossofaríngeo 1/3 posterior
(IX par craniano) (IX par craniano)
MOTRICIDADE
Nervo hipoglosso (XII par craniano)
• dor – registra-se quando o paciente refere fixos na nuca do paciente, servindo como
dor ou hipersensibilidade, seja ela contínua, apoios enquanto o examinador realiza mo-
à palpação ou à deglutição. vimentos circulares com os dedos indica-
dor, médio e anular para sentir a glândula
(Figura 6.18).
Ao final do exame, independentemente do mé-
todo escolhido, pede-se ao paciente que execute
uma deglutição. Esse movimento desloca as cartila-
gens para cima, aproximando a glândula à mão do
examinador, o que auxilia a palpação.
A
Exame da tireoide
Existem duas técnicas distintas para a palpação
da tireoide. Em ambas, o paciente deve estar senta-
do e o examinador em pé: o exame sempre se inicia
pela identificação da cartilagem tireóidea utilizan-
do seu principal ponto de referência, a proeminên-
cia laríngea (pomo de adão). Após a identificação
da cartilagem tireóidea e correndo abaixo dela, en-
contram-se a cartilagem cricoide, a traqueia e, con-
sequentemente, a loja tireoidiana.
• Abordagem anterior: o paciente deve per-
manecer sentado enquanto o examinador, à
sua frente, posiciona suas mãos em formato Figura 6.18 – Palpação de tireoide com examinador
de “garra” sobre a loja tireóidea (Figura atrás do paciente.
6.17). Com o polegar, o examinador firma a
traqueia na linha média enquanto palpa o Traqueia
lobo contralateral, realizando movimentos Órgão tubular formado por anéis cartilagino-
circulares com os dedos indicador e médio. sos que, a partir da laringe, formam um longo tubo
Desse modo, com a mão direita, palpa-se o vertical que corre pela linha média, atravessa o pes-
lobo esquerdo, e, com a esquerda, o lobo di- coço e segue em continuação aos brônquios princi-
reito da glândula tireoide do paciente. pais direito e esquerdo dentro do tórax.
• Abordagem posterior: o paciente deve per- Durante a inspeção do pescoço, procuram-se
manecer sentado enquanto o examinador, desvios da laringe e da traqueia, uma vez que elas
de pé atrás dele, posiciona suas mãos na re- podem estar desviadas no caso de traumas ou ou-
gião anterolateral de seu pescoço. Os pole- tras doenças. Durante a palpação, essas estruturas
gares do examinador devem permanecer devem ser mobilizadas por movimentos delicados
Martelo
Bigorna
Estribo
Ductos semicirculares
Pavilhão auricular
Ramo vestibular VIII par
Ramo coclear craniano
Cóclea
Membrana
timpânica Tuba auditiva
Processo mastoide
Figura 6.19 – Corte coronal da orelha apresentando suas divisões e estruturas anatômicas.
Palpação
A palpação do pavilhão auricular faz-se pela
mobilização do meato aditivo externo (pode ser re-
alizada pela mobilização do trago ou por uma leve
tração do pavilhão auricular) e do processo mastoi-
de (aplicando-se uma leve pressão do processo em
direção anterior).
OBSERVAÇÃO CLÍNICA
• A movimentação do pavilhão auricular, especialmente
quando feita pela mobilização do trago, costuma ser
dolorosa quando há acometimento do meato auditivo
externo, como na otite externa aguda.
Figura 6.20 – Otoscopia normal. Membrana timpânica
Otoscopia translúcida com cabo do martelo evidente (seta).
Com o auxílio de um otoscópio, realiza-se a ins- Fonte: Gentilmente cedida pelo Departamento de
peção de algumas estruturas: o meato acústico exter- Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo.
no; a membrana timpânica; e parte da orelha média,
como a cavidade timpânica, o martelo e a bigorna. Exame da função auditiva
O meato acústico externo deve ser inspeciona- O teste da acuidade auditiva pode começar ain-
do registrando-se a presença de secreções, corpos da durante a anamnese. O examinador deve obser-
estranhos, edema, cerume e a coloração da pele. A var se o paciente entende o que lhe está sendo per-
membrana timpânica deve ser examinada quanto a: guntando, se este pede constantemente para que o
• integridade; examinador repita uma sentença, se ele mantém
• translucidez; um volume de voz inadequado, etc.
• vascularização (normalmente não se identi-
ficam vasos ou apenas ao longo do cabo do
OBSERVAÇÃO CLÍNICA
martelo e anel timpânico);
• posição (normal, abaulada ou retraída); • Pacientes com perda do tipo condutiva em geral falam
• elementos adicionais – placas de tímpano-
com intensidade mais baixa. Já naqueles com perdas
-esclerose (manchas brancas na membrana sensoriais ou sensório-neurais, a voz apresenta-se em
intensidade normal ou elevada, algumas vezes com
timpânica) atrofias (neotímpanos);
comprometimento da articulação das palavras.
• estruturas anexas – é possível identificar o
cabo do martelo e (Figura 6.20) e, na maio-
ria dos casos, até mesmo a bigorna pode es- Todavia, existem testes semiológicos mais acu-
tar visível. rados para detectar uma hipoacusia e determinar
sua provável origem. O teste de acumetria permite
O exame é realizado com o auxílio de um otos- diferenciar perdas auditivas sensório-neurais (per-
cópio e com o paciente, preferencialmente, sentado. das auditivas por lesões na cóclea ou no nervo co-
O examinador deve tracionar levemente o pavilhão clear) das perdas condutivas (perdas auditivas por
auricular para cima e para trás com uma de suas bloqueios na condução das ondas sonoras até a ore-
mãos, a fim de retificar o meato acústico externo,
lha interna).
enquanto introduz um espéculo auricular com a
outra mão e inicia a inspeção do meato acústico ex- Testes com diapasão
terno e da membrana timpânica.
Por exemplo, o exame da orelha esquerda do Os testes podem ser realizados com diapasões
paciente deve ser feito com este sentado e olhando das mais diversas frequências, como 128, 256, 512,
fixamente para a frente. O examinador deve se 1024 ou 2048 Hz. Todavia, nem todos os testes po-
aproximar pelo lado esquerdo do paciente e tracio- dem ser realizados com diapasões das quatro frequ-
nar o pavilhão auricular com sua mão direita en- ências. Assim, para facilitar o aprendizado, reco-
quanto segura o otoscópio e introduz o espéculo menda-se o uso do diapasão de 512 Hz, uma vez que
auricular com sua mão esquerda. O processo deve essa frequência pode ser utilizada em qualquer um
ser invertido para o exame da orelha direita. dos testes descritos a seguir.
Os testes com diapasão não são apenas capazes Avaliação da via óssea
de detectar déficits auditivos moderados, como até Feita pelo teste de Weber (Figura 6.22), em que
mesmo predizer a via auditiva acometida (via óssea o examinador deve percutir o diapasão e apoiar a
ou via aérea) com boa acurácia. Existem diversos extremidade inferior de seu cabo em alguma estru-
testes que podem ser utilizados para avaliar o com-
tura óssea equidistante das orelhas direita e esquer-
prometimento auditivo dos pacientes, que podem
da do paciente (linha média craniana, vértex, testa,
ser separados em “testes por via aérea”, “testes por
glabela, incisivos centrais superiores e inferiores).
via óssea” e “testes mistos”. A seguir, estão os mais
Ao final do exame, o paciente deverá informar se
utilizados na rotina clínica, respectivamente, “teste
escutou o som na linha média, na orelha esquerda
de via aérea”, “teste de Weber” e “teste de Rinne”.
ou direita.
Manuseio do diapasão Em indivíduos normais, o som/vibração é es-
O diapasão é um instrumental metálico em cutado igualmente em ambas as orelhas; por isso, os
formato de “Y” que vibra na frequência indicada (p. pacientes referem escutar o som na linha média ou
ex.: 512 Hz) ao ser percutido. Ele deve ser sempre igualmente em ambas as orelhas. Quando há perdas
segurado, apoiado ou manipulado por sua haste rí- auditivas, ocorre uma lateralização do som. O pa-
gida (“perna ímpar do Y”) e pode ser colocado a ciente refere escutar melhor o som na orelha sadia,
vibrar batendo-se levemente suas hastes livres em casos de perda sensório-neural, e na orelha
(“pernas pares paralelas do Y”) na eminência hipo- comprometida, em casos de perda por condução.
tênar da palma ou do dorso da mão.
OBSERVAÇÃO CLÍNICA
• O teste de Weber é extremamente sensível na
detecção de perdas auditivas condutivas, mas pode
falhar na de perdas neurossensoriais leves, mistas ou
perdas bilaterais.
Avaliação mista
Os testes mistos têm por objetivo diferenciar
perdas auditivas neurossensoriais de perdas condu-
tivas. O teste de Rinne, o mais utilizado na prática
clínica, é descrito a seguir (Figura 6.23).
• Teste de Rinne: o examinador deve estimu-
Figura 6.21 – Avaliação da via aérea. lar a extremidade livre do diapasão e, a se-
Avaliação do nistagmo
Vide capítulo “Propedêutica Neurológica” para
mais detalhes.
• Nistagmo espontâneo e direcional: a pes-
quisa do nistagmo é um dos pontos mais
importantes na avaliação do equilíbrio.
Inicialmente, realiza-se a pesquisa do nis-
tagmo espontâneo pedindo ao paciente que
Figura 6.23 – Teste de Rinne. olhe para a frente. A seguir, o paciente olha
em um ângulo de 30º para a direita e para
a esquerda, quando se observa o nistagmo
OBSERVAÇÃO CLÍNICA direcional.
• É indispensável que o exame de função auditiva
seja complementado pela otoscopia para descartar OBSERVAÇÃO CLÍNICA
possíveis obstruções mecânicas por compactação
• São características do nistagmo de origem vestibular:
do cerume no conduto auditivo esterno ou outros
é unidirecional, horizonto-rotatório, possui fase lenta
bloqueios de transmissão aérea.
e outra rápida, geralmente fatigável, diminui sua
intensidade com a fixação ocular.
Exame da função vestibular
Diante de um paciente com tontura, a principal • Nistagmo posicional: tem o objetivo de ava-
pergunta a ser respondida pelo examinador deve ser: liar a presença de nistagmo em posições es-
a tontura tem origem central ou periférica? No capí- pecíficas da cabeça. O paciente é colocado
tulo “Propedêutica Neurológica”, são abordadas a lentamente em cinco posições estáticas dife-
“semiologia do equilíbrio” e a avaliação neurológica rentes: sentado; decúbito dorsal; decúbito
geral da tontura. A seguir, dar-se-á ênfase à avaliação dorsal com a cabeça pendente; decúbito la-
do paciente com tontura de origem vestibular. teral esquerdo e direito.
• Nistagmo de posicionamento: visa avaliar a livremente na endolinfa do canal. Com isso, são gerados
presença de nistagmo evocado pela mudan- episódios de vertigem, com curta duração, a cada
ça de posição da cabeça. movimento rápido da cabeça ou em determinadas
posições (p. ex.: ao se deitar, virar-se ou levantar-se
OBSERVAÇÃO CLÍNICA da cama). A manobra de Dix-Hallpike é positiva
na VPPB, sendo observados latência de poucos
• Vertigem e/ou nistagmo posicional ou de segundos após sua realização para o surgimento do
posicionamento podem surgir em diferentes nistagmo, nistagmo de curta duração (menor que
vestibulopatias periféricas ou nas centrais, mas, na 1 minuto) e fatigabilidade (diminuição da intensidade
maioria dos casos, indicam envolvimento do labirinto. com manobras repetidas).
OBSERVAÇÃO CLÍNICA
• Para ajudar na identificação dos arcos costais, utiliza- FIGURA 7.1 – Linhas verticais em tórax frontal. A: linha
-se como referência o ângulo de Louis, ou seja, a medioesternal; B: linha hemiclavicular; C: linha axilar
crista óssea localizada na transição entre o manúbrio anterior.
e o esterno, onde está inserida a segunda costela, a
partir da qual se pode iniciar a localização de cada
espaço. Esse local é também muito importante na
ausculta cardíaca (localização das bulhas) e na fixação
dos eletrodos do eletrocardiograma.
cas, portanto a localização do achado no exame fí- damente 2 metros), para que o examinador
sico é de extrema relevância para a formulação da tenha uma vista global do tórax e possa ava-
hipótese diagnóstica. liar melhor possíveis assimetrias (somente
Além das referências externas, é importante depois deve aproximar-se para uma busca
que, durante a avaliação do aparelho respiratório, o mais detalhada);
examinador tenha uma projeção mental das estru- • os músculos devem estar relaxados e os bra-
turas internas, como pulmão, traqueia e brônquios ços suspensos na lateral do tórax.
principais.
Na face anterior do tórax, tanto à direita quan- Inspeção
to à esquerda, projetam-se predominantemente os Inspeção estática
lobos superiores dos pulmões, estando à direita,
A avaliação do aparelho respiratório inicia-se
abaixo da quarta costela, o lobo médio. Na face pos-
pela inspeção estática. O examinador começa pela
terior do tórax, encontram-se os lobos inferiores,
descrição da pele, do tecido subcutâneo e dos mús-
exceto nos ápices pulmonares, que correspondem
culos. Pesquisa a presença de circulação colateral,
aos lobos superiores (Figura 7.4).
retrações e abaulamentos. Após a descrição inicial,
Por fim, o conhecimento sobre a localização da segue com a classificação do tipo morfológico e a
traqueia torna-se importante durante a ausculta já pesquisa de anormalidades.
que os sons percebidos nessa região são diferentes
Dessa maneira, o tipo morfológico pode ser
daqueles sobre o parênquima pulmonar em condi-
classificado de acordo com o Ângulo de Charpy, o
ções normais.
qual é formado pelas últimas costelas e o apêndice
xifoide. Assim, os biótipos são:
• tórax normolíneo – quando o ângulo de
Charpy é de 90º;
• tórax longilíneo – quando apresenta ângulo
de Charpy menor do que 90º;
• tórax brevilíneo – quando apresenta ângulo
de Charpy maior do que 90º.
OBSERVAÇÕES CLÍNICAS
• Todos os biótipos são considerados normais. Ademais,
a determinação do tipo morfológico é importante
no que concerne à posição anatômica cardíaca e,
FIGURA 7.4 – Projeção dos lobos pulmonares no tórax. consequentemente, à posição do eixo elétrico cardíaco
LS: lobo superior, LI: lobo inferior, LM: lobo médio. resultante, o que repercute no eletrocardiograma.
Portanto, indivíduos longilíneos tendem a ter o
coração mais verticalizado e consequente eixo elétrico
Exame físico cardíaco próximo a 90º, ao passo que indivíduos
O exame físico do aparelho respiratório é com- brevilíneos apresentam o coração mais horizontalizado
posto por quatro tempos: inspeção, palpação, per- e consequente eixo elétrico cardíaco próximo de 0º
cussão e ausculta. A inspeção é subdividida em dois (variando até –30º).
momentos: inspeção estática e inspeção dinâmica. • Além disso, o reconhecimento do biótipo pode ser
útil por ter certa relação com algumas morbidades
Em todos os momentos, o examinador deve se- do sistema respiratório. Dessa forma, em longilíneos
guir algumas recomendações, para conforto do pa- observa-se mais comumente a ocorrência
ciente e melhor visualização da parede torácica, são de pneumotórax espontâneo benigno.
elas:
• tórax descoberto; Após a classificação do biótipo, inicia-se a pes-
• iluminação adequada e ambiente silencioso; quisa por anormalidades ósseas do esterno, das vér-
• inspeção das faces anterior, posterior e laterais; tebras e das costelas.
• paciente sempre em atitude cômoda; O esterno pode apresentar-se com concavidade
• no início da inspeção, manutenção de uma aumentada, dando origem a alterações como o tó-
distância adequada do paciente (aproxima- rax em “peito de pombo” (cariniforme), no qual se
Ritmos respiratórios
• Ritmo normal: eupneia, ciclos constantes e
expiração mais duradoura que a inspiração
(Figura 7.7).
Volume de ar
Sensibilidade
O tórax normal não apresenta dor durante a
palpação. Se o paciente referir pontos dolorosos,
esse é um sinal de alerta que deve ser considerado.
Assim, processos inflamatórios pleuropulmonares
são manifestados clinicamente por zonas de mais
sensibilidade na parede torácica correspondente.
Elasticidade
FIGURA 7.13 – Manobra de Lasègue.
Para a avaliação da elasticidade, utiliza-se a ma-
nobra de Lasègue (Figura 7.13). O examinador deve
apoiar uma mão na parede anterior e a outra na pa-
rede posterior do tórax do paciente e realizar leve
compressão em diversos pontos. A elasticidade varia
muito conforme a idade do paciente, portanto seu
valor propedêutico depende da comparação entre
ambas as regiões do tórax.
A diminuição da elasticidade torácica pode ser
encontrada no enfisema e na ossificação das cartila-
gens costais (diminuição bilateral), ou nos derrames,
tumores e condensações (diminuição unilateral).
Expansibilidade
A avaliação da expansibilidade é feita no ápice
da face posterior e na base das faces posterior e an-
terior. A expansibilidade permite avaliar o volume
de ar mobilizado durante a respiração em cada seg-
mento pulmonar.
A expansibilidade do ápice é verificada por meio
da manobra de Ruault (Figura 7.14). O paciente deve
estar sentado ou em pé, com o examinador situado
atrás dele. O examinador coloca uma mão em cada
hemitórax de maneira simétrica, com as extremidades
dos polegares reunidas na linha mediana ou vertebral
sobre a apófise espinhosa de C7. Pede-se para o pacien-
te inspirar profundamente e verifica-se, comparando
a elevação das mãos, se existe assimetria. A manobra
deve ser realizada em todo a extensão torácica. FIGURA 7.14 – Manobra de Ruault.
Frêmitos
O frêmito é a sensação vibratória percebida pela
mão do examinador, no tórax do paciente, quando
este emite um som (frêmito toracovocal) ou respira
(frêmito pleural ou frêmito brônquico). Permite que o
avaliador, por meio de um exame “desarmado”, te-
nha uma ideia antecipada das alterações que encon-
trará na ausculta da região examinada.
Pesquisa-se colocando a mão dominante espal-
mada sobre a superfície do tórax, comparando-se
FIGURA 7.16 – Avaliação do frêmito.
nas regiões homólogas a intensidade das vibrações
(Figuras 7.15 e 7.16). Deve ser utilizada a mesma
Frêmito toracovocal
mão durante a avaliação, uma vez que a sensibilida-
de tátil varia de uma mão para outra. O frêmito toracovocal é a sensação vibratória
percebida pela mão do examinador, no tórax do pa-
ciente, quando este emite um som. Para que a ava-
liação não seja prejudicada, pede-se para o paciente
repetir “trinta e três” com a mesma intensidade.
O som da voz é produzido pelas cordas vocais e
atravessa meios de densidade diferentes até atingir a
superfície torácica. Toda vez que um processo pato-
lógico tornar o meio mais heterogêneo, como em
derrames pleurais, pneumotórax e enfisema, a trans-
missão será dificultada, portanto o frêmito estará
diminuído. Quando o meio apresentar-se mais ho-
mogêneo (condensações e cavidades), o frêmito tora-
covocal será aumentado.
A pesquisa é realizada em todas as faces do tórax
e comparativamente com o segmento contralateral.
Em geral, o frêmito é mais intenso no hemitórax direi-
to, devido ao calibre aumentado do brônquio fonte
direito.
OBSERVAÇÃO CLÍNICA
• Para que ocorra o aumento do frêmito toracovocal,
é necessário, no caso das condensações, que estas
comuniquem o parênquima superficial com brônquios
permeáveis de calibre acima de 5 mm; no caso das
cavidades, estas devem ser maiores que 5 cm. Em
ambos os casos, alterações menores que esses valores
FIGURA 7.15 – Avaliação do frêmito. dificilmente são percebidas durante a palpação.
Percussão
A percussão é um método que consiste na apli-
cação de uma ação mecânica sobre os tecidos, le-
vando à vibração destes em sua profundidade e ob-
tendo sons e ruídos diversos. Cada tecido, conforme
sua densidade, produz um som diferente à percus-
são, portanto esse método permite avaliar o estado
físico dos órgãos, a presença de processos patológi-
cos e seus limites.
Na percussão normal, o pulmão apresenta som
claro pulmonar, classicamente comparado à “per-
cussão de um pão”. Sons timpânicos ou maciços são
indicativos de anormalidades.
O som timpânico está relacionado com a pre-
sença de quantidade anormal de gás na cavidade
torácica em relação ao parênquima, por exemplo no
pneumotórax. O som maciço indica aumento da
densidade torácica; esse sinal pode ser encontrado FIGURA 7.17 – Técnica de percussão.
nos derrames pleurais ou na presença de massa tu-
moral intratorácica. As variações de sons serão des-
critas posteriormente. OBSERVAÇÃO CLÍNICA
• A percussão do tórax é capaz de atingir tecidos co nessa topografia do tórax. Som claro pulmonar
situados a uma profundidade de até 5 cm, portanto abaixo disso geralmente é sinal de hiperinsuflação
alterações muito profundas não podem ser avaliadas pulmonar.
nessa manobra propedêutica. Variações como Na face anterior esquerda, no limite inferior
obesidade, hipertrofia muscular e edema reduzem a pulmonar, encontra-se o espaço de Traube, onde o
nitidez dos sons normais. som é timpânico devido ao ar que se encontra no
fundo gástrico (Figura 7.18).
Sons definidos pela percussão torácica
• Som claro pulmonar: obtido ao percutirem-
-se campos pulmonares normais.
• Som timpânico: ocorre quando existe uma
quantidade aumentada de ar no parênqui-
ma pulmonar (enfisema pulmonar, crise de
asma aguda, cistos aéreos, etc.) ou caixa to-
rácica (pneumotórax).
• Som submaciço: obtido ao percutir-se um
parênquima pulmonar com densidade au-
mentada e diminuição da quantidade de ar
armazenada. Esse som aparece em proces-
sos inflamatórios, como a pneumonia, ou FIGURA 7.18 – Espaço de Traube.
em infartos pulmonares.
• Som maciço: característico da presença de
OBSERVAÇÃO CLÍNICA
líquido entre a parede torácica e o parênqui-
ma pulmonar, sendo encontrado nos derra- • O espaço de Traube deve ser sempre pesquisado por
mes pleurais. apresentar importante relação com a esplenomegalia.
O som maciço no espaço de Traube sugere, entre as
principais causas, o aumento do baço.
OBSERVAÇÃO CLÍNICA
• Ao suspeitar de derrame pleural, o examinador pode Além dos limites inferiores, é possível avaliar os
complementar sua avaliação por meio da pesquisa do limites dos ápices pulmonares nas fossas clavicula-
sinal de Signorelli. Esse sinal é obtido ao percutirem- res, que compreendem as regiões supraclaviculares.
-se as apófises espinhosas dos corpos vertebrais; a Para determinar seus limites, percutem-se a claví-
transição do som claro pulmonar para o som maciço cula e a fossa clavicular, encontrando-se o som claro
delimita a região do derrame com até 2 cm de
pulmonar no centro dessa região (Figura 7.19). A
precisão acima dele, complementando os achados
percussão poderá tornar-se maciça na presença de
da percussão do restante da parede torácica. Pode-
-se também pedir ao paciente que se incline para a tumores e som timpânico no pneumotórax.
frente, devendo haver mudança na altura do derrame,
importante para diferenciar de condensações fixas
eventualmente presentes nessa região.
segmentares, e não nos alvéolos. Pode estar piração, devido, sobretudo, à perda do
ausente (p. ex.: derrames pleurais) ou dimi- parênquima elástico pulmonar, o qual
nuído (p. ex.: enfisema difuso). sustenta tais vias desprovidas de carti-
lagem (os bronquíolos). Tais alterações
Sons ou ruídos adventícios são vistas, sobretudo, na doença pulmo-
nar obstrutiva crônica, na fibrose cística
Os ruídos adventícios são achados da ausculta
e em neoplasias.
que indicam alteração da normalidade, ou seja, não −− Estertores grossos: comparados aos es-
são encontrados em nenhum ponto do parênquima tertores finos, têm maior duração e me-
pulmonar normal. Podem ter origem nas vias respi- nor frequência. São auscultados desde o
ratórias, na pleura ou em ambas. início da inspiração até o final da expi-
Existem muitas controvérsias quanto à deno- ração, representando alterações em vias
minação e à classificação dos ruídos adventícios na de grosso calibre. Geralmente, são mo-
literatura mundial. As escolas médicas adotam ter- dificados pela tosse, ocorrendo princi-
minologias diferentes, e os erros de tradução dos palmente nos portadores de bronquite
livros agravam esse problema no Brasil. crônica e bronquiectasia.
Para elaboração deste capítulo, adotou-se a clas- −− Estertores inspiratórios iniciais: carac-
sificação proposta pela American Toracic Society terísticos de doentes com obstrução
(1980), com uma linguagem difundida no meio grave das vias aéreas (doença obstru-
médico, a qual permite avaliar de maneira adequa- tiva), sendo produzidos nas vias aéreas
da os pacientes. maiores e proximais. Não se modifi-
cam com a tosse ou com a mudança
Os ruídos adventícios podem ter uma caracte-
de decúbito. São encontrados na bron-
rística contínua (roncos e sibilos) ou descontínua quite crônica, na asma e no enfisema
(estertores). Além dos roncos, sibilos e estertores, pulmonar.
serão descritos outros ruídos que constituem acha- −− Estertores inspiratórios tardios: caracte-
dos clínicos importantes: atrito pleural, cornagem, rísticos de doentes com doença pulmo-
sopro tubário e sopro pleural. nar restritiva. Parecem se originar de vias
• Estertores: trata-se de sons abruptos ou explo- aéreas mais periféricas, podendo estar
sivos, de curta duração, definidos como resul- associados a um sibilo curto no final da
tado da equalização explosiva da pressão do inspiração. Variam com a posição do pa-
gás entre dois compartimentos do pulmão, ciente e com a tosse e são frequentemen-
quando uma sessão fechada das vias aéreas te encontrados nas seguintes situações:
que os separa se abre subitamente. Podem ser pneumonia, congestão pulmonar da insu-
classificados quanto à fase (inspiratórios, ex- ficiência cardíaca e na fibrose intersticial.
piratórios, precoces ou tardios) e quanto ao • Sibilos: são causados pela passagem rápida
timbre (fino ou grosso), dependendo do cali- do fluxo aéreo por uma via que se encontra
bre da via aérea afetada. Ademais, deve-se evi- com calibre muito reduzido, cujas paredes
tar classificá-los como úmidos, secos, bolho- oscilam entre a posição fechada e pouco
sos, consonantais, cavernosos, crepitantes ou aberta. Trata-se de um som musical e contí-
nuo que muitas vezes pode ser ouvido sem a
subcrepitantes, já que tais termos são extre-
ajuda do estetoscópio. Pode ser monofôni-
mamente imprecisos. Por fim, a localização
co, quando o tom musical é único, como
dos estertores no ciclo respiratório pode ser ocorre tipicamente na asma, ou polifônicos,
usada para auxiliar na distinção das doenças comuns na maioria das doenças pulmona-
pulmonares. res obstrutivas crônicas.
−− Estertores finos: possuem uma sonori- • Roncos: são sons grosseiros e de intensidade
dade comparada ao “fecho de velcro”, elevada, ocasionados pela passagem de ar
surgem mais tardiamente na inspiração através de vias aéreas de grosso calibre que
e são de tom mais alto, amplitude baixa apresentam secreções acumuladas. Como o
e duração mais curta em comparação ruído é produzido pelo deslocamento das
aos estertores grossos. Estão relacio- secreções, pode modificar-se com a tosse.
nados com a abertura das vias aéreas Podem ocorrer tanto na inspiração quanto
terminais, que colapsam durante a ex- na expiração.
Assim, a diferença básica entre sibilo e ronco pectorilóquia. Ocorre devido ao aumento da trans-
se dá por sua tonalidade, a qual é determina- missão do som, como acontece nas condensações.
da pela ressonância das estruturas do tecido Há três tipos de pectorilóquia:
contíguo ao ponto de obstrução em produto • pectorilóquia fônica – quando a voz do pa-
com o grau de obstrução (determinando, ciente auscultada tem intensidade normal;
portanto, tonalidades mais graves para os • pectorilóquia áfona – quando se ausculta a
roncos e mais agudas para os sibilos). voz do paciente mesmo quando este cochicha;
• Atrito pleural: ruído produzido pelo atrito • pectorilóquia egofônica ou egofonia – carac-
entre os folhetos pleurais que se encontram terizada por uma voz de timbre anasalado
alterados por algum processo inflamatório, de tonalidade aguda (diferente da voz do pa-
descrito como “couro deslizando sobre cou- ciente), que aparece no limite superior dos
ro” e correspondente à ausculta do frêmito derrames pleurais, devido à mudança da luz
pleural identificado na palpação. circular dos brônquios para achatados.
• Cornagem: produzido nas vias aéreas supe-
riores quando estas apresentam obstrução Roteiro do exame físico
parcial à passagem do fluxo aéreo. Esse ruí-
do adventício muitas vezes pode ser ouvido Inspeção estática
apenas com a aproximação do examinador • Há abaulamento ou retração?
à região cervical do paciente. Ocorre nos • Há circulação colateral?
processos inflamatórios das vias aéreas su- • Há anormalidades no esterno?
periores, tumorações que comprimam as • Qual o tipo morfológico?
vias aéreas ou aspiração de corpo estranho.
• Sopro tubário: ocorre nas condensações Inspeção dinâmica
pulmonares e apresenta as mesmas caracte- • Qual a frequência respiratória?
rísticas do som traqueal/respiração brôn- • Qual o ritmo respiratório?
quica, porém com intensidade maior e em • Faz uso de musculatura respiratória acessória?
locais onde se esperaria o murmúrio vesicu- • Há tiragem intercostal?
lar, sugerindo regiões onde há processos
pneumônicos, por exemplo. Palpação
• Sopro pleural: encontrado na transição en- • Avaliação da elasticidade (manobra de
tre o parênquima normal e a aérea que apre- Lasègue).
senta interposição líquida. Pode ser auscul- • Avaliação da expansividade (manobra de
tado durante a respiração ou quando o Ruault).
paciente pronuncia “trinta e três”. • Avaliação dos frêmitos (toracovocal, brôn-
quico, pleural).
Ausculta da voz
A ausculta da voz no tórax é a complementação Percussão
da ausculta pulmonar. O método consiste em pedir • Análise dos sons (claro-pulmonar, timpâni-
para o paciente repetir as palavras “trinta e três” len- co, submaciço ou maciço?).
tamente e sempre com a mesma intensidade, en- • Na suspeita de derrame pleural, o sinal de
quanto se faz a pesquisa pulmonar em todas as faces, Signorelli está presente?
bilateralmente a partir do ápice em direção à base. • Espaço de Traube livre?
Por essa técnica, obtém-se a broncofonia (per-
cepção da voz auscultada), que normalmente é mais Asculta
intensa nos homens e mais nítida perto da traqueia. • Existem sons pulmonares normais (mur-
A diminuição da broncofonia ocorre em estenoses, múrio vesicular, som traqueal e respiração
enfisemas, derrames pleurais e pneumotórax; o au- brônquica)?
mento é indicativo de condensações superficiais • Existem ruídos adventícios (ronco, sibilo,
que atingem brônquios com mais de 3 mm de diâ- estertor grosso ou fino)?
metro, ou cavidades por condensação pericavitária. • Existe atrito pleural? Cornagem? Sopro tu-
Quando, durante a ausculta da voz, ouve-se a bário? Sopro pleural?
articulação das palavras nitidamente e com mais • Há broncofonia (pequitorilóquia fônica,
intensidade, esse evento recebe a denominação de áfona ou egofônica)?
• Pleurites: inflamação dos folhetos pleurais. reas inferiores e por limitação variável ao
Pode ocorrer em doenças como tuberculose, fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou
pneumonias, neoplasias, doenças reumatoló- com tratamento, manifestando-se clini-
gicas e viroses. Na fase aguda, manifesta-se camente pela tríade clássica de sibilância,
por dor ventilatório-dependente, dispneia, fe- dispneia e opressão torácica, particular-
bre e atrito pleural (principal achado). Quan- mente à noite e pela manhã ao despertar.
do crônica, dado o espessamento pleural, ten- Cerca de 90% dos indivíduos apresentam
de a manifestar-se como dispneia aos grandes pelo menos um desses achados, e o encon-
esforços e diminuição do murmúrio vesicular. tro de ausculta sem ruídos adventícios e
murmúrio vesicular diminuído pode ser
preditora de insuficiência respiratória por
Síndrome brônquica severa obstrução do fluxo aéreo. Observa-
• Asma: doença inflamatória crônica, caracte- -se também expiração prolongada e tiragem
rizada por hiper-responsividade das vias aé- intercostal.
Preferencialmente Região retroesternal Geralmente, reflete Geralmente Geralmente referida Na parte superior do Em geral, limita-se
retroesternal, junto ao rebordo a porção da aorta retroesternal em região tórax e nos à região da ponta
podendo ser sentida esternal esquerdo, acometida e sua (p. ex.: TEP – subesternal e/ou membros superiores; do coração
mais do lado podendo acometer progressão, sendo tromboembolismo epigástrica geralmente o
esquerdo ou direito toda a parede retroesternal ou na pulmonar – paciente refere dor
LOCALIZAÇÃO
do esterno. Pode anterior do tórax face anterior do maciço) ou pelo em um local
ser restrita a uma tórax, quando na tórax, dependendo específico
área ou ocupar aorta ascendente, da etiologia
todo o precórdio e no dorso, quando
na descendente
Está diretamente Irradia especialmente Irradiação para o Geralmente não Pode irradiar para o Geralmente não Apresenta pontadas
relacionada com a para a região do pescoço, a região irradia dorso irradia em região apical
intensidade da dor; pescoço e para as interescapular e os ou inframamária
há diversas áreas costas ombros
possíveis: pavilhão
auricular, maxilar
inferior, nuca,
IRRADIAÇÃO região cervical,
membros
superiores,
ombros, região
epigástrica e
região
interescápulo-
vertebral
(Continua)
141
26/02/2015 15:04:31
(Continuação)
Sempre do tipo Pode ser do tipo Dor do tipo Dor pleurítica Em queimação, Geralmente não Costuma ser uma
142
constritiva, com “constritiva”, “peso”, lancinante; o referida por vezes irradia dor surda, fina
sensação de “opressão”, paciente pode como desconforto e descrita como
“aperto”, “queimação” ou dor referi-la como a uma agulhada
CARÁTER OU
“opressão”, “peso”, pleurítica (ver sensação de algo
QUALIDADE
26/02/2015 15:04:32
Principalmente após Piora com a O fator Formação Desencadeado pela Piora na A dor é agravada
exercícios físicos, respiração, com desencadeante é o de trombos, alimentação movimentação quando o paciente
mas pode ser decúbito dorsal, extravasamento de geralmente em envolvendo a área é submetido a
emoções, frio e
ingesta abundante
de alimentos
Repouso e uso de Melhora com a O paciente fica Não melhora até o Alívio com uso de Melhora com uso de Alivia-se
fármacos como posição de inquieto alterando alívio da pressão antiácidos anti-inflamatórios parcialmente com
vasodilatadores, no inclinação do tórax por diversas vezes pulmonar não hormonais, repouso e uso de
FATORES DE caso de angina do para a frente e na a sua posição na ao repouso fármacos, como
MELHORA peito posição tentativa de analgésicos,
genupeitoral encontrar alguma benzodiazepínicos e
que diminua a sua até mesmo com
dor placebos
Náuseas, vômitos, e Aumento da dor por Assimetria dos Dispneia, hipotensão, Podem estar Acometimento da Palpitações, dispneia
sudorese fria irritação das pulsos e presença síncope, sinais presentes disfagia, pleura ou do suspirosa,
podem aparecer, estruturas vizinhas; de insuficiência de insuficiência rouquidão, refluxo, pericárdio, sinais dormências,
MANIFESTAÇÕES
principalmente em pode estar aórtica cardíaca esquerda regurgitação de inflamação astenia,
CONCOMITANTES
pacientes com acompanhado de instabilidade
quadro de infarto atrito pericárdico emocional e
do miocárdio depressão
Fonte: Adaptado de Braunwald E, Perloff JK, 2012 e Meisel JL, Cottrell D, 2013.
143
26/02/2015 15:04:32
144 Propedêutica médica da criança ao idoso // Seção ii – Especial
tica noturna” refere-se especificamente ao pa- sas são divididas classicamente como no esquema
drão de dispneia da insuficiência cardíaca, da Figura 8.2, que devem ser investigadas de forma
motivo pelo qual ele deve ser questionado com apropriada no exame clínico.
o cuidado de não ser aplicado para outras situ- Os episódios podem ser iniciados com sensação
ações semelhantes em que o paciente refere de fraqueza, tonturas, sudorese e palidez ou, então,
acordar durante a noite; ter início súbito e sem sintomas prodrômicos.
• dispneia periódica ou de Cheyne-Stockes – Ao abordar um paciente com síncope ou lipoti-
padrão anormal de respiração caracterizado mia, é preciso estar atento para determinar sua causa,
por períodos alternados de apneia e respira- identificar a presença de fatores relacionados com con-
ção rápida e profunda. As causas mais co- dições de ameaça imediata a vida (emergências com
muns desse tipo de alteração respiratória são: fibrilação ventricular, tromboembolismo pulmonar,
insuficiência cardíaca congestiva e intoxica- hemorragias agudas) e determinar possíveis lesões
ções por medicamentos que causam depres- consequentes da síncope, por exemplo, traumas.
são do centro respiratório, como a morfina.
Os sintomas associados são úteis por sugerir
O capítulo “Propedêutica do Aparelho Respi-
diagnósticos específicos para a causa da síncope.
ratório” contém mais informações a respeito
Entre eles, estão dispneia e dor precordial (já descri-
do ritmo respiratório de Cheyne-Stokes.
tas neste capítulo) e palpitações, abordadas a seguir.
Perda transitória da consciência Pacientes com síncope reflexa podem apresentar
Pode ter como causa tanto uma situação de hi- calor, náusea, vômito, diaforese ou palidez antes ou
póxia cerebral devido a diversos fatores cardíacos logo após o evento.
como alterações do sistema nervoso central (SNC), A presença de gatilhos como estresse físico ou
alterações metabólicas, entre outras. Trata-se de uma emocional, tosse, deglutição, micção e defecação
situação que pode se apresentar de diferentes formas sugere causa neurocardiogênica. A ausência de gati-
de acordo com sua causa, que devem ser diferencia- lhos ou sinais associados pode sugerir arritmia.
das como resumido no esquema da Figura 8.1. A posição em que o paciente estava quando o
Na síncope, normalmente ocorre a perda total evento ocorreu pode auxiliar no diagnóstico: per-
da consciência, mas com curta duração, com perda manecer em posição ortostática por tempo prolon-
do tônus postural seguida por recuperação comple- gado em local quente sugere causa neurocardiogê-
ta ao estado mental basal, sem qualquer déficit mo- nica; se em pé logo após se levantar, está mais
tor. Pode ocorrer ainda uma situação denominada relacionada à hipotensão ortostática; posição supi-
lipotimia ou pré-sincope, definida como uma perda na ou sentada são mais sugestivas de síncope por
de tônus postural, na qual o paciente apresenta que- arritmias. No Quadro 8.2, são apresentados sinais
da súbita, mas sem perda da consciência. Suas cau- de risco na avaliação da perda de consciência.
Doenças
reflexo neurogênico Ortostática arritmias cardíacas
cardiovasculares
estruturais
QUADRO 8.2 – Sinais de risco na avaliação da perda cardíacas (p. ex.: arritmias, insuficiência cardíaca,
de consciência miocardites, miocardiopatias), mais comuns, e as
não cardíacas (p. ex.: hipertensão arterial, hiperti-
História de doença cardíaca
reoidismo, anemia, esforço físico, emoções, síndro-
Infarto do miocárdio prévio me do pânico e algumas substâncias tóxicas que
Uso de marca-passo ou cardiodesfibrilador implantável (CDI) variam desde medicamentos até café e outras).
Síncope durante exercício físico A probabilidade de que a palpitação seja causada
Eletrocardiograma anormal por uma arritmia é maior em casos de pacientes com
histórico de doença cardíaca e menor em casos de
Histórico de morte súbita familiar em parentes de 1º grau
resolução do sintoma em menos de 5 minutos e/ou
Síncope resultando em lesões graves presença de transtorno do pânico. A presença con-
Dois ou mais episódios em um ano junta da sensação de pulsatilidade rápida no pescoço
Presença de palpitações ou sua visualização também está mais associada a
Ocupações de alto risco de lesão para si ou outros arritmias.
História de doença cardíaca Arritmias
Entende-se como arritmia uma alteração do rit-
Palpitações mo cardíaco normal, que, por alterar a forma e/ou
Como sintoma, significa a percepção incômoda frequência com que ocorre a contração do músculo
por parte do paciente de seus próprios batimentos cardíaco, acaba gerando repercussões no débito car-
cardíacos, sendo referidos por ele de diversas manei- díaco e fluxo sanguíneo na circulação sistêmica.
ras, por exemplo, como “batedeira” e “coração pula”. Pode ser dividida em bradiarritmias, em que a pato-
As palpitações representam um transtorno do ritmo, logia está associada a uma diminuição da frequência
força ou da frequência cardíaca, que pode acometer de contração do coração e, portanto, da frequência
tanto indivíduos doentes quanto pessoas saudáveis cardíaca; ou taquiarritmias, relacionadas a um au-
em algumas situações específicas, como exercício fí- mento da frequência ou alteração da contração atrial
sico ou situações de estresse emocional. e/ou ventricular. Frequentemente, está associada a
Assim, é possível dividir as palpitações em três outras doenças do coração, como doenças congênitas
formas: as de esforço, as que mostram alterações do ou estruturais, insuficiência cardíaca e infarto agudo
ritmo cardíaco e as que acompanham os distúrbios do miocárdio (IAM). Pode ser percebida como alte-
emocionais. Podem ter diversas causas, entre elas as ração do ritmo cardíaco, lipotimia, síncope e palpita-
2. Tipo cava inferior: obstrução da veia cava infe- lateral menor, apenas na região anterior e la-
rior, ocorrendo a dilatação de veias da região teral do tórax (abdome não comprometido).
inguinal, da metade inferior do abdome e das 4. Tipo braquiocefálica: obstrução do tronco bra-
laterais toracoabdominais, com sentido de bai- quiocefálico, ocorrendo o surgimento unilate-
xo para cima, rumo ao umbigo onde se anasto- ral de veias dilatadas na fossa supraclavicular,
mosa com o sistema porta. pescoço (veia jugular túrgida e não pulsátil) e
3. Tipo cava superior: obstrução da veia cava su- braço, com sentido do braço e pescoço para o
perior associada ou não à obstrução da veia tórax. Acontece geralmente do lado esquerdo,
ázigos, que faz a anastomose entre as duas veias ocorrendo o abaulamento da fossa supraclavi-
cavas. Podem-se encontrar, com isso, dois tipos cular esquerda (sinal de Dorendorf). O sinal de
Bonet está presente quando o lado comprome-
de circulação colateral:
tido for o direito e traduz o mesmo achado do
• anazigótica – veia ázigos comprometida,
sinal de Dorendorf.
ocorrendo a formação de extensa circulação
superficial na região anterior e lateral do tó- Pulso e pressão arterial
rax e abdome, com sentido de cima para As técnicas propedêuticas para palpação dos
baixo, em direção à cava inferior; pulsos arteriais e aferição da pressão arterial já fo-
• azigótica – veia ázigos não comprometida. O ram descritas no capítulo “Exame Físico Geral”. No
fluxo sanguíneo, com isso, utiliza preferen- Quadro 8.4, são apresentadas as principais altera-
cialmente a via profunda (pela veia ázigos), ções relacionadas ao pulso e à pressão arterial, en-
ocorrendo, na superfície, uma circulação co- contradas nas doenças do aparelho cardiovascular.
(Continuação)
Pulso anacrótico Pulso em que se tem a impressão de uma Ocorre na estenose aórtica; quando a interrupção ocorre
interrupção no fluxo pela artéria carótida muito próxima ao início do pulso, pode indicar estenose
moderada a severa, podendo, nesses casos, ser palpado
também na artéria radial
Pulso tardus Pulso com um pico atrasado e elevação lenta de Ocorre na estenose aórtica severa, com o pico do pulso
sua amplitude, na artéria carótida, sugerindo carotídeo ocorrendo mais próximo de B2 do que B1
prolongamento do tempo de ejeção ventricular* na ausculta cardíaca (o normal seria o contrário)
Pulso parvus Pulso com amplitude diminuída na artéria carótida Ocorre na estenose aórtica, geralmente junto do pico
carotídeo atrasado***
* No pulso alternante, diminuindo a pressão do manguito lentamente, é possível determinar os sons de Korotkoff de fase I apenas nos
batimentos mais fortes. Conforme a pressão do manguito diminui, passam-se a ouvir os demais sons nos batimentos mais fracos.
** No pulso paradoxal, com a liberação lenta da pressão do esfigmomanômetro, nota-se inicialmente a pressão sistólica durante a
expiração. Conforme a pressão do manguito diminui, a pressão sistólica passa a ser detectável durante a inspiração. Avalia-se a variação
da pressão durante a expiração e inspiração, chamada de magnitude do pulso paradoxal.
*** Na estenose aórtica, a presença de um pulso fraco e atrasado é característico na palpação das carótidas e é chamado de pulso parvus
et tardus.
QUADRO 8.5 – Distinção do pulso carotídeo e jugular Para melhor correlação entre o pulso venoso e o ci-
clo cardíaco, é mais fidedigno o uso das bulhas car-
VEIA JUGULAR ARTÉRIA díacas do que do pulso carotídeo, já que o pulso
CARACTERÍSTICAS INTERNA CARÓTIDA pode causar confusão com o pulso venoso devido à
Aparência Ondulatória com Único pulso proximidade. As ondas presentes são: ondas positi-
dois vales e dois e pico vas a, c e v, enquanto as deflexões são representadas
picos a cada pelas letras x e y (Figura 8.3).
ciclo (bifásica)
Inspiração A alturada Sem alterações
coluna diminui no contorno a a
V C V
e os vales C
tornam-se mais
proeminentes X Y X
Palpabilidade Geralmente não Geralmente
palpável, exceto palpável Figura 8.3 – Representação das ondas do pulso jugular.
na insuficiência Onda a: aumento da pressão na veia devido a uma
tricúspide contração atrial direita. Na sequência, há a ocorrência
Efeito da pressão Pode ser Não pode ser da onda c; Onda c: decorre do aumento da pressão
dentro do átrio devido à sístole ventricular, que se inicia
obliterado com obliterado
com o fechamento da válvula tricúspide e causaria um
uma pequena ingurgitamento da veia; Depressão x: ocorre logo após as
pressão sobre duas ondas anteriores e corresponde à fase mais visível de
a base da pulsação da veia jugular, por isso essa pulsação também é
veia, próximo conhecida como pulso venoso negativo, ocasionado devido
à clavícula à fase de relaxamento atrial, que causa um maior afluxo
Fonte: Adaptado de Braunwald E, Perloff JK, 2012. de sangue para dentro dessa cavidade e, logicamente, uma
diminuição de sangue dentro da jugular; Onda v: segue a
Com a inspeção desses vasos do pescoço, o exa- depressão x e representa o pleno enchimento atrial com
aumento da pressão nessa câmara enquanto a válvula
minador deve também auscultar a região em busca
tricúspide se encontra fechada, ou seja, no fim da diástole
de sopros e palpá-la em busca de frêmitos. Normal- atrial; Depressão y: ocorre em virtude da abertura da
mente, essa turgescência das veias jugulares (princi- válvula tricúspide, portanto representa a fase de diástole
palmente as externas) é mais bem observada com o ventricular.
paciente em decúbito, sobretudo quando a cama for
elevada por volta de 30 a 45° em relação à horizontal; OBSERVAÇÕES TÉCNICAS
ou, então, quando o paciente faz uma manobra de
Valsalva, diminuindo, assim, o retorno venoso. • Sinal de Kussmaul: consiste no aumento da coluna
venosa pulsátil das veias jugulares durante a
Além disso, deve ser realizada, durante o exa- inspiração (enchimento paradoxal inspiratório). Esse
me, a diferenciação entre um aumento de pressão enchimento é dito paradoxal, já que, em condições
no território jugular e uma situação constitucional. normais, a inspiração reduz a altura da coluna venosa
Para isso, faz-se uma pressão na veia com o dedo pulsátil por aumento do retorno venoso. O sinal
indicador e com o dedo médio sob uma mesma re- de Kussmaull é sugestivo de restrição diastólica,
gião, realizando-se, logo após, uma pressão cons- sendo encontrado na pericardite constritiva e na
tante em que se afastam esses dois dedos de modo a miocardiopatia restritiva, por exemplo.
deixar entre eles uma região de veia vazia de sangue • Refluxo hepatojugular: aumento de 3 cm do nível da
coluna venosa pulsátil das jugulares após compressão
e, com isso, retira-se o dedo mais caudal e mantém-
com a mão espalmada no quadrante superior do
-se a pressão na região mais cranial, observando se abdome por aumento do retorno venoso. Sua
há enchimento da veia – caso haja o enchimento, positividade indica pressão venosa elevada, presente,
situação conhecida como fluxo retrógrado de san- por exemplo, na insuficiência cardíaca congestiva.
gue, será possível afirmar que o paciente apresenta Deve-se lembrar que na insuficiência ventricular
hipertensão jugular devido, possivelmente, a uma esquerda pura não há alteração da pressão venosa.
insuficiência cardíaca direita. O refluxo pedojugular (elevação passiva dos membros
O pulso venoso normal é constituído de três on- inferiores) apresenta o mesmo princípio e pode ser
das positivas e duas ondas negativas ou deflexões. realizado na impossibilidade da compressão abdominal.
ponto da parede torácica). Esses aspectos são revisa- lizados. Os abaulamentos difusos são fre-
dos sucintamente a seguir, embora a compreensão quentemente relacionados com cardiopatias
dos conceitos básicos da anatomia seja indispensá- congênitas ou lesões valvares. Em situações
vel para se realizar uma propedêutica cardiovascu- em que o ventrículo esquerdo está aumen-
lar adequada. tado, como a insuficiência aórtica e mitral
graves, frequentemente há um tremor de
As estruturas de maior projeção são (seguindo
todo o precórdio. Pulsações visíveis na bor-
o fluxo sanguíneo) a veia cava superior, o átrio di-
da lateral da linha hemiclavicular esquerda
reito, o ventrículo direito, o tronco da artéria pul-
sugerem aumento cardíaco, embora possam
monar, uma pequena porção do ventrículo esquer-
ocorrer também em casos de fibrose pul-
do (ápice do coração), a aorta ascendente e o arco
monar, pneumotórax hipertensivo direito,
aórtico.
derrame pleural maciço, ausência de peri-
A partir dessas estruturas, é possível definir li- cárdio e deformidades torácicas. Quando
mites anatômicos na parede torácica, para delimitar há qualquer alteração na criança, a observa-
regiões a serem examinadas e facilitar a realização ção de uma deformidade é mais facilmente
do exame físico. evidenciada, devido à calcificação incom-
Um ponto de referência importante é a junção pleta e à maior flexibilidade da caixa toráci-
manúbrio-esternal, palpável como uma crista óssea ca, já no adulto pode indicar uma alteração
(chamado de ângulo de Louis) localizada na inser- adquirida na infância.
ção da segunda costela e que pode ser utilizada para Os abaulamentos localizados devem ser
localizar mais facilmente o segundo espaço inter- correlacionados com a sua topografia. Um
costal e, a partir dele, os demais espaços. importante abaulamento localizado é a pul-
Os limites do precórdio correspondem à proje- sação na região paraesternal superior direi-
ção do coração na superfície do tórax e apresentam ta, próximo da junção esternoclavicular,
os seguintes pontos de referência: sugestivo de aneurisma da aorta ascenden-
• borda superior da terceira cartilagem costal te, enquanto pulsações supraesternais po-
direita, a 1 cm do esterno; dem estar associadas a aneurismas do arco
• articulação condroesternal da quinta costela aórtico. A pulsação localizada próxima ao
direita; terceiro espaço intercostal esquerdo sugere
• ponta do coração (íctus); hipertensão da artéria pulmonar, e uma ele-
• segundo espaço intercostal esquerdo, a 2 cm
vação paraesternal esquerda pode indicar
do esterno. sobrecarga de volume ou pressão no ventrí-
culo direito. Em pacientes magros, altos ou
com enfisema, pode haver um impulso em
OBSERVAÇÃO CLÍNICA região epigástrica que pode representar o
Outra divisão importante da parede anterior do tórax impulso do ventrículo direito.
é a zona de Ziedler, que apresenta os seguintes limites: • Depressões: são muito mais raras e podem
• linha horizontal que passa pelo ângulo de Louis; ter origem cardíaca ou extracardíaca. Entre
• linha horizontal que passa à altura da extremidade as de origem cardíaca, estão a pericardite
anterior da 10ª costela, ou rebordo costal e epigastro; constritiva, que pode gerar retração da pa-
• linha paraesternal direita; rede anterior do tórax com o ciclo cardíaco,
• linha axilar anterior esquerda. e a pericardite adesiva, indicada por uma
Ferimentos penetrantes na zona de Ziedler são sugestivos retração das costelas na axila esquerda (si-
de lesão cardíaca. nal de Broadbent).
Percussão
FIGURA 8.4 – Palpação do íctus cordis. Usualmente, não é um recurso muito utiliza-
• sede – sua localização varia de acordo com o do, devido à interposição do parênquima pulmonar
biótipo do paciente, mas geralmente se situa à frente do sítio cardíaco. Em alguns casos em que a
no quinto espaço intercostal, na linha he- percussão se faz muito necessária (como o derrame
miclavicular esquerda, correspondendo à pericárdico), a macicez cardíaca pode ser sentida no
área mitral da ausculta, descrita adiante; 3°, 4°, 5° ou até mesmo 6° espaço intercostal.
• extensão – estudada a partir da mensuração
de quantas polpas digitais são necessárias
Ausculta
para cobrir o seu diâmetro, sabendo que se Para realizar a ausculta de forma apropriada, o
há mais do que duas polpas digitais já exis- examinador deve auscultar as áreas (focos) de aus-
tem amostras de anormalidade; também culta e suas imediações. Para a localização das áreas
deve ocupar apenas um espaço intercostal; de ausculta, pode-se utilizar como ponto de refe-
• duração – para ser corretamente analisada, rência inicial o ângulo de Louis, como já menciona-
deve ser acompanhada pela ausculta, na qual do (Figuras 8.6 a 8.8).
3 4
5
2
1
FIGURA 8.6 – Ausculta cardíaca.
arco aórtico
Veia cava superior artéria pulmonar esquerda
a
P tronco pulmonar
artéria pulmonar direita
Valva pulmonar
Valva aórtica
Válvula mitral
Válvula tricúspide
Ventrículo esquerdo
t
Ventrículo direito íctus
M
FIGURA 8.8 – Principais estruturas do coração e sua projeção sobre o tórax. Focos de ausculta: A: foco aórtico; P: foco
pulmonar; T: foco tricúspide; M: foco mitral.