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293/21
Referido projeto foi apresentado pela Deputada Federal Margarete Coelho com a
finalidade de promover mudanças substanciais na Lei nº 9.307/1996 (Lei de Arbitragem),
constando de sua ementa que teria como finalidade “disciplinar a atuação do árbitro, aprimorar
o dever de revelação, estabelecer a divulgação das informações após o encerramento do
procedimento arbitral e a publicidade das ações anulatórias”.
Preliminarmente, importante registrar que a Lei de Arbitragem foi objeto de ajustes mais
recentemente por meio da Lei nº 13.129/15, a partir de proposta elaborada por Comissão de
Juristas coordenada pelo Ministro Luís Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça.
O PL nº 3.293/21, diversamente, foi apresentado sem nenhum tipo de debate prévio com
a sociedade ou com os especialistas responsáveis pelo desenvolvimento da arbitragem no país.
Após apresentado, ademais, alguns parlamentares têm insistido no trâmite do projeto com
requerimento de urgência, esquivando-se do necessário debate que poderia permitir o efetivo
aprimoramento do projeto ou mesmo a sua completa rejeição.
Quanto ao mérito, verifica-se que o projeto propõe que sejam feitas modificações nos
artigos 13, 14 e 33 da Lei de Arbitragem, relacionadas principalmente a limitações para
atuação como árbitro, e a inserção dos artigos 5ª-A e 5º-B, que afetam diretamente a
confidencialidade dos procedimentos arbitrais.
Quanto à escolha do árbitro, verifica-se que o artigo 13, caput, da Lei de Arbitragem
atualmente em vigor dispõe que “pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a
confiança das partes.”
Com a inserção dos §§ 8º e 9º ao artigo 13 proposta pelo PL, no entanto, mesmo que os
árbitros sejam capazes e contem com a plena confiança das partes, não poderão atuar
simultaneamente em mais de dez arbitragens ou então participar de dois tribunais arbitrais em
que haja identidade absoluta ou parcial dos membros.
Ora, parte-se da premissa que o árbitro não poderá atuar com eficiência em mais de dez
procedimentos arbitrais ao mesmo tempo, afirmação que não encontra substrato em nenhum
tipo de análise e que cabe apenas às partes analisarem.
Não custa relembrar que a Lei de Arbitragem em vigor já prevê em seu artigo 33, § 1º,
a possibilidade de ajuizamento de ação anulatória contra sentença arbitral que não observe
esses princípios. Esse controle é e sempre será exercido pelo Poder Judiciário, não havendo
qualquer indicativo que a substituição da expressão “dúvida justificada” por “dúvida mínima”
irá melhorar a qualidade desse controle, antes podendo gerar dúvidas sobre os parâmetros que
serão a partir daí aplicáveis, gerando grave insegurança jurídica.
Com relação ao § 3º que se busca inserir no artigo 14, verifica-se que a participação do
árbitro na secretaria ou diretoria executiva da câmara arbitral é informação usualmente
disponibilizada no site das câmaras, podendo as partes avaliarem se essa circunstância de
alguma forma compromete a atuação do árbitro por elas indicado.
Por último, tem-se as alterações sugeridas relativas aos artigos 5º-A, 5º-B e 33, § 1º, da
Lei de Arbitragem, todos propostos com a finalidade de mitigar ou mesmo acabar com a
confidencialidade dos procedimentos arbitrais.
Observe-se, contudo, que a arbitragem apenas pode ser utilizada para dirimir conflitos
relativos a direitos patrimoniais disponíveis (art. 1º, § 1º), não envolvendo nenhuma questão
de ordem pública.
Por essa razão permite-se que as partes possam optar pela confidencialidade, que tem
como finalidade principal proteger o nome, a marca e os segredos de negócios dos envolvidos
na disputa. A confidencialidade, a propósito, é um dos principais incentivos para a escolha
por esse instrumento, como aponta a pesquisa Cbar-Ipsos 20211, ao lado do caráter técnico
das decisões, da celeridade e da possibilidade de escolha dos árbitros.
1
https://cbar.org.br/site/wp-content/uploads/2021/09/pesquisa-cbar-ipsos-2021-arbitragem-no-brasil.pdf.
Conima – Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem
Telefones: 11 3151-5332 / +55 11 94321-7122
conima@conima.org.br
www.conima.org.br
Observe-se que o mesmo raciocínio não se aplica quando a arbitragem envolve o Poder
Público, quando o interesse público preponderante determina que seja aplicado o princípio da
publicidade, como explicita o artigo 2º, § 3º, da Lei de Arbitragem, inserido na reforma
promovida pela Lei nº 13.129/2015.
Tal circunstância nos leva a crer que o projeto está pautado no mais absoluto
desconhecimento e preconceito sobre esse importante mecanismo de resolução de conflitos,
ou então que seu intuito é realmente o de limitar (ou mesmo acabar) com a utilização e
desenvolvimento da arbitragem no país, e não de aprimorar o instrumento, como se sugere no
projeto ora proposto.
Soraya Nunes
Presidente do CONIMA