Abrir portas onde

nde se erguem muros Director: M

Manuel Carvalho Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • Ano XXXII • n.º 11.429 • Edição Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,30€

Liga dos Televisão

O Crime do Padre Amaro
Campeões vai regressar à RTP, agora
em formato de série
Benfica repete Cultura, 32/33
resultado Projecto Ecovias
de Moscovo e Campanha de crowdfunding
tenta pôr Portugal a pedalar
segue em frente por montes e vales
Desporto, 34/35 Local, 20

Em 14 meses de pandemia só houve

58 crianças e jovens internados em UCI
Entre Março do ano passado e o Ænal
de Maio deste ano, os registos oÆciais
dão conta de 125.942 casos de crian-
ças e jovens até aos 19 anos infecta-
dos com o SARS-COV-2. Mas num necessitaram de internamento nas ção deÆnitiva sobre a vacinação de imunização desta população antes
universo comparável, até aos 18 anos unidades de cuidados intensivos adolescentes entre os 12 e os 15 anos, do início do ano escolar. A medida
de idade, apenas 0,04% dos infecta- pediátricos. Ontem foi, entretanto, que vai avançar nos últimos Æns-de- suscita dúvidas e críticas entre os
dos, ou seja, 58 crianças ou jovens, o dia em que a DGS tomou uma posi- -semana de Agosto para garantir a especialistas Destaque, 2 a 4

RUI GAUDÊNCIO

Autárquicas
Campanhas do
PSD em Lisboa e
no Porto vão ser
as mais caras
Rui Rio cortou nos gastos, mas, ainda
assim, as campanhas de Carlos Moe-
das e de Vladimiro Feliz serão as mais
caras das autárquicas Política, 14

Opinião
Galopim de Carvalho Vacinação dos
faz 90 anos adolescentes
é um momento
“Puseram-me numa triste da
prateleira e eu não história da DGS
quis lá ficar”
Destaque, 6 a 9
Pediatra José
Gonçalo
Marques
critica decisão
com dureza
Espaço
Público, 12

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Ambiente Concessão rodoviária Afeganistão

Investimento Brisa e Estado Taliban estão
de 45 milhões divergem sobre mais perto
no restauro de pagamento de controlar
matas e floresta de 1,8 milhões o Norte do país
Governo anuncia hoje aposta na Estado reclama 6,8 milhões num A duas semanas da retirada comple-
plantação de árvores contra a deser- acerto de contas do acordo de con- ta das forças norte-americanas, o
tiÆcação e na recuperação de matas cessão. Empresa só reconhece dívida avanço dos taliban continua impará-
e parques urbanos Sociedade, 17 de cinco milhões Economia, 26 vel Mundo, 22/23 e Editorial
ISNN-0872-1548
2 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Destaque Covid-19

Em pouco mais
de um ano, só 58
jovens e crianças
foram internados
em cuidados
intensivos
Dados, que vão de Março de 2020 ao Änal de Maio, fazem parte
do Registo Nacional de Casos Pediátricos de Covid-19 com
Internamento em Intensivos. Número representa 0,04% dos
125.942 casos positivos registados entre os zero e os 19 anos
O Epicentre.pt é um registo nacio- co”. “E sabendo nós que em Março/ tinha doença cardíaca prévia grave. O caso mais grave, adianta a médi-
Ana Maia
nal dos internamentos em cuidados Abril do ano passado foram interna- Nos casos de MIS-C, dos 41 que ca, foi um adolescente de 17 anos que

N
o espaço de um ano e dois
meses houve 58 crianças e
jovens internados em cuida-
dos intensivos pediátricos
por doença relacionada com
a infecção provocada pelo
SARS-Cov-2, segundo os dados do
Registo Nacional de Casos Pediátricos
de Covid-19 com Internamento em
Intensivos (Epicentre.pt), que tem
informação detalhada de Março de
2020 até ao Ænal de Maio deste ano.
O principal motivo de internamento
foi a síndrome inÇamatória multissis-
témica em idade pediátrica (MIS-C,
na sigla em inglês).
Embora os números não sejam
completamente sobreponíveis — sal-
intensivos pediátricos e neonatais
relacionados com covid, com ligação
à plataforma europeia que tem o
mesmo objectivo. Participam as
sociedades de Cuidados Intensivos
Pediátricos e de Neonatologia da
Sociedade Portuguesa de Pediatria,
sob a coordenação do Instituto Nacio-
nal de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
Para os intensivos pediátricos, os
dados estão recolhidos até ao Ænal de
Maio de 2021. Os casos neonatais —
recém-nascidos infectados e de mães
positivas mesmo que negativos —
estão também a ser recolhidos e com-
pilados.
Cristina Camilo, presidente da
Sociedade Portuguesa de Cuidados
das várias crianças por precaução,
este número cai ainda mais”, diz.
Quanto aos 58 casos de UCIP, são
internamentos que se dividem por
doença aguda e por MIS-C. No que
diz respeito aos 17 casos de doença
aguda registados — dois no Norte,
dois no Centro e 11 no Sul —, a gran-
de maioria das crianças e jovens
“teve doença respiratória” e muitos
deles tinham doenças crónicas já
existentes.
Na zona Sul, por exemplo, “dos 11
doentes que tiveram sintomas respi-
ratórios, sete tinham algumas co-
-morbilidades, nomeadamente do
foro cardíaco, neurológico, renal ou
hepático”. “Um pouco mais de meta-
estão no registo nacional neste perío-
do, 30 foram na zona Sul, sete no
Norte, três no Centro e um na Madei-
ra. Esta síndrome inÇamatória surge
por norma quatro a seis semanas
após a infecção, sobretudo em ado-
lescentes. À excepção de um caso na
região Centro, numa criança de 15
meses, todos os outros registaram-se
entre os cinco e os 17 anos de idade.
No Norte, a média de idades foi de 13
anos, no Centro os outros dois casos
foram em cinco e nove anos e no Sul
a média etária foi de 10,2 anos.
esteve ligado à ECMO. “Foi um caso
muito atípico. A mãe do adolescente
tinha tido covid em Maio do ano pas-
sado, ele não teve sintomas nessa
altura e desenvolveu um quadro
inÇamatório com envolvimento car-
díaco muito grave”, em Dezembro.
“Conseguimos fazer uma associação
por ter anticorpos contra o vírus e a
situação clínica ser semelhante à des-
crita nas outras crianças com esta
doença”, diz, referindo que, apesar
da associação temporal não ter sido
a habitual, não se encontram outras
causas.
Cristina Camilo recorda que os pri-
meiros casos aconteceram em Maio
de 2020 e, na altura, os sintomas de

vo algumas excepções, os interna-
mentos pediátricos vão dos poucos
meses de vida até aos 18 anos —, estes
internamentos em intensivos repre-
sentam 0,04% dos 125.942 casos posi-
tivos que a Direcção-Geral da Saúde
registou até 31 de Maio entre os zero
e os 19 anos. Até ao momento, nestas
faixas etárias registaram-se cinco
mortes, todos com co-morbilidades.
Intensivos Pediátricos e responsável
pelos dados pediátricos, disse ao
PÚBLICO que “doença grave é rarís-
sima” em idade pediátrica. Cita a
informação referida pelo presidente
do Colégio de Pediatria da Ordem dos
Médicos, segundo o qual, de Março
de 2020 até início de Julho deste ano,
houve um total de “766 crianças
internadas” para referir que “é pou-
de necessitou de ventilação, sendo
que, em alguns casos, foi ventilação
invasiva, noutros ventilação não-in-
vasiva”, diz a intensivista. A idade
média dos 17 casos “é de 90,3 meses”.
Quanto ao tempo de internamento,
“andaram todos mais ou menos à vol-
ta dos cinco a sete dias”. Um deles foi
a primeira morte pediátrica associada
à covid em Portugal, um bebé de que
5
Até ao momento, entre os zero
e os 19 anos registaram-se cinco
mortes em Portugal, todos com
co-morbilidades
febre alta, cansaço, dores nas articu-
lações não foram logo associados à
covid. Até porque alguns desconhe-
ciam que tinham estado infectados.
“Os primeiros casos chegaram-nos
depois de uma semana de doença em
casa, muitas vezes com um compro-
metimento cardíaco importante e a
precisarem de várias terapêuticas.
Alguns precisaram de uma semana,

dez dias em UCIP”, explica.
A situação agora é diferente. “Os
casos são diagnosticados mais preco-
cemente, começam o tratamento
mais depressa e a necessidade de
suporte cardíaco com medicamentos
ou mesmo a necessidade de cuidados
respiratórios estão a diminuir. Conti-
nuam a precisar de intensivos, mas
menos dias e com menor gravidade.”
Nenhum deles tinha estado internado
por covid e a maioria era saudável.
Dá o exemplo dos 30 casos no Sul, em
que “cinco tinham co-morbilidades
(excesso de peso, asma e doença da
glândula suprarrenal)”.
“Temos cerca de um ano de segui-
mento e até agora recuperaram todos
a 100%. Mas ainda é muito cedo para
dizer que está garantido”, diz, refe-
rindo que alguns casos mais graves
ainda tomam medicamentos em casa.
“Nos casos mais recentes, normal-
mente ao Æm de três, quatro dias a
função cardíaca volta ao normal”,
acrescenta.
Sobre a vacinação entre os 12 e os
15 anos, Cristina Camilo aÆrma que
“faz muito sentido incidir nos doen-
tes crónicos”. Ontem, a DGS reviu a
MANUEL ROBERTO
posição tomada há menos de duas
semanas e recomendou também a
vacinação universal neste grupo etá-
rio. “Gostaria que se desse mais tem-
po para termos mais números, de
forma a garantir na balança do risco-
-benefício qual teria mais peso. Não
encontrei mais dados recentemente
publicados que mostrem alguma
diferença em relação ao que se
sabia”, diz, lembrando os números
do Centro de Controlo de Doenças
dos Estados Unidos que registaram
“seis casos de miocardite por 100 mil
segundas doses, enquanto o risco de
hospitalização por covid é de um
adolescente em 100 mil”.
E coloca uma questão em relação
a um dos argumentos usados para a
vacinação, a de um ano lectivo mais
tranquilo: “As escolas fecharam para
proteger os adultos. Se a vacina não
protege a 100% da infecção, as crian-
ças vacinadas vão infectar-se. E o que
vão fazer? Não vão mandar os con-
tactos para casa?” Ainda não há uma
resposta da DGS, que disse ontem
estar ainda a avaliar a questão do iso-
lamento nas pessoas totalmente vaci-
nadas.
DGS aprova vacinação universal dos adolescentes entre os 12 e 15 anos
“É uma decisão política
que tem uma pincelada técnica”
Alexandra Campos
B
astaram 11 dias para
a Direcção-Geral da Saúde
(DGS) alterar a sua decisão
sobre a vacinação dos ado-
lescentes entre os 12 e os 15
anos. Ontem, a DGS deu luz
verde à vacinação de todos os jovens
nestas idades, quando em 30 de
Julho optara por recomendar apenas
a imunização dos menores nestas
idades com doenças e factores de
maior risco associado a covid-19.
Os mais de 15 milhões de adolescen-
tes vacinados nos EUA e na União
Europeia confirmam que episódios
de miocardites e pericardites (infla-
mações do músculo e da membrana
que envolve o coração) são “extre-
mamente raros”, justificou a direc-
tora-geral da Saúde, Graça Freitas,
em conferência de imprensa.
O universo de menores entre os 12
e os 15 anos elegíveis para a vacina-
ção em Portugal ronda os 400 mil.
A mudança foi recebida sem sur-
presa pelo presidente da Comissão de
Saúde Materna, da Criança e do Ado-
lescente, Gonçalo Cordeiro Ferreira.
“Estava escrito nas estrelas, sabia-se
que ia acontecer. É uma decisão polí-
tica que tem uma pincelada técnica”,
comenta o pediatra que é defensor da
vacinação universal.
“Portugal é um país muito amigo
das vacinas e este sururu, este ruí-
do, suscitou dúvidas. Acho que este
processo foi lamentável, foi uma
espécie de dança infeliz. O problema
é que há uma vítima: a credibilidade
das vacinas”, acentua, ao mesmo
tempo que pergunta: “O que mudou
numa semana?”
Graça Freitas explicou que foram
os dados novos sobre a vacinação de
seis milhões de adolescentes em paí-
ses europeus onde este processo já
está em curso que estiveram na base
da mudança do parecer. Estes dados
vieram somar-se aos norte-america-
nos — nove milhões de jovens vaci-
nados — e que já estavam publicados
quando foi anunciada a primeira
decisão da DGS. Mas Graça Freitas
respondeu aos jornalistas que que-
riam conhecer os dados europeus,
que não são públicos.
São dados novos da farmacovigi-
lância da Agência Europeia de Medi-
camentos (EMA, na sigla em inglês)
— que recebe as notiÆcações sobre
os efeitos adversos das vacinas —,
esclareceu mais tarde ao PÚBLICO
um responsável da Comissão Técni-
ca de Vacinação Contra a Covid-19.
Estes dados foram conhecidos já
após a primeira decisão da DGS e
“não revelaram um sinal de preocu-
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 3
pação novo”, acentuou. Sublinhan-
do que respeita, obviamente, a nova
decisão da DGS, o presidente do
Colégio da Especialidade de Pedia-
tria da Ordem dos Médicos, Jorge
Amil Dias, um dos especialistas que
se pronunciaram contra a urgência
de vacinar todos os adolescentes
entre os 12 e os 15 anos, diz que gos-
tava de ter acesso aos dados e aos
“fundamentos técnicos” do último
parecer da DGS “em termos de risco-
benefício”.
“Não basta falar-se da segurança
da vacina. Não basta que a vacina
não seja perigosa, é necessário tam-
bém que seja útil”, argumenta o
pediatra.
“Gostava de ser informado, os
pais vão pedir-me opiniões”, aÆrma,
assegurando que “a direcção do
colégio de especialidade que repre-
senta se “comporta disciplinada-
mente, reconhece a competência
da autoridade de saúde e cumprirá
as normas da DGS”.
Jorge Amil Dias faz, porém, ques-
tão de recordar o exemplo da Ale-
manha, onde a decisão inicial de
limitar a vacinação dos jovens nes-
tas idades aos que têm doenças de
Não podemos passar
mensagens
contraditórias
porque isso pode
fazer diminuir
a confiança vacinal
Ricardo Mexia
Presidente da ANMSP
Serão cerca de 400 mil os adolescentes elegíveis para a vacinação
maior risco foi mais tarde alterada
no sentido da vacinação universal.
“A recomendação técnica na Alema-
nha manteve-se, quem mudou de
opinião foi o poder político”, enfa-
tiza.
Evolução dos dados nos EUA
Quem também recebeu a notícia do
volte-face da DGS sem surpresa foi o
presidente da Associação Nacional
dos Médicos de Saúde Pública
(ANMSP), Ricardo Mexia. “A evolu-
ção dos dados no continente ameri-
cano fazia antever que a solução iria
ser esta, até porque já foi entretanto
adoptada por vários países euro-
peus”, lembra o médico, que lamen-
ta, no entanto, “os erros de comuni-
cação que foram cometidos”.
“Não podemos passar mensagens
contraditórias porque isso pode fazer
diminuir a conÆança vacinal”, critica
Ricardo Mexia, que acredita que faz
sentido vacinar os adolescentes nes-
tas idades “do ponto de vista indivi-
dual e colectivo”.
A task-force que coordena o plano
de vacinação tinha reservado no
calendário os dois últimos Æns-de-
semana de Agosto para vacinar os
menores entre os 12 e os 15 anos, logo
a seguir aos de 16 e 17 anos, que vão
ser vacinados já no próximo Æm-de-
semana. Se o calendário se mantiver,
e como o intervalo entre as duas
doses da vacina da PÆzer foi encur-
tado para três semanas, será possível
ter a maior parte dos adolescentes
imunizada antes do início do ano
escolar, como o Governo quer.
Ontem, o primeiro-ministro pro-
meteu que os adolescentes serão
vacinados até ao início do ano lecti-
vo. “As vacinas foram compradas, a
logística aprontada e o calendário
deÆnido: jovens entre 12 e 17 anos
podem ter vacinação completa até
19 de Setembro”, escreveu António
Costa no Twitter.
NELSON GARRIDO
4 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Destaque Covid-19
MANUEL ROBERTO
co intensivista João Gouveia, coorde-
nador da Resposta Nacional de Medi-
cina Intensiva, refere que o cenário
no terreno aponta para casos mais
graves em idades avançadas de pes-
soas que não chegaram a ser vacina-
das ou com doenças que as tornam
imunodeprimidas, anulando assim o
efeito da inoculação.
“Não tenho dados que permitam
dizer com rigor o que se passa, mas a
ideia que temos quer no hospital
[Centro Hospitalar Universitário Lis-
boa Norte] quer de conversas com
colegas, é de que alguns dos doentes
mais velhos são doentes que, por
alguma razão, não foram vacinados
ou têm comorbilidades signiÆcativas,
normalmente com imunossupressão
associada”, explicou ao PÚBLICO,
referindo que o perÆl do internado
em unidades de cuidados intensivos
continua a ser mais jovem.
Os casos de pessoas com doenças
que as tornam imunodeprimidas aca-
bam por tornar este aumento de leta-
lidade alheio à vacinação, uma vez
que esta “dá protecção” às pessoas,
mas, pelas comorbilidades que têm,
não as afasta do perigo. O médico
sublinha que a explicação é de acordo
com o “sentimento de quem está a
trabalhar”, não tendo dados que cor-
roborem o que tem veriÆcado no
terreno.
Explicação pode estar na variante Delta A explicação vai ao encontro do
que disse a directora-geral da Saúde

Letalidade subiu em idosos na conferência de imprensa de

ontem. À margem da recomendação
de vacinação contra a covid-19 de

não vacinados ou imunodeprimidos todos os jovens dos 12 aos 15 anos,

José Volta e Pinto
Letalidade em pessoas
com 80 ou mais anos subiu
acima dos 12%, depois
de ter chegado a ser
inferior a 2% em Junho
velhos, pressionando a DGS a divul-
gar mais dados que permitam com-
preender esta subida. O bastonário
referiu em declarações à TSF o valor
de 13%. De acordo com os cálculos
do PÚBLICO, o número actual é de
12,1%. A letalidade foi calculada atra-
vés do rácio das novas mortes a 14
dias sobre o número de novos casos
“linhas vermelhas” elaborados pela
DGS e pelo Instituto Nacional de Saú-
de Doutor Ricardo Jorge (INSA), pas-
sou a ser generalizada.
Esta tendência só se inverteu na
última semana, com a actualização
mais recente a dar conta de uma
redução da incidência em todas as
faixas etárias — com excepção do
alertasse para a possibilidade de um
“aumento no aumento de interna-
mentos em enfermaria e mortes nas
próximas semanas”.
Ainda assim, numa altura em que,
de acordo com o último relatório de
vacinação, 99% das pessoas com mais
de 80 anos já receberam pelo menos
uma dose da vacina e 96% estão com-
Graça Freitas referiu que quem tem
morrido são pessoas “muito idosas”
e “muito doentes”, com óbitos veriÆ#
cados em pessoas que já tinham a
vacinação completa.
A responsável referiu também que
o nível de mortalidade é o “expectá-
vel” tendo em conta a efectividade da
vacina em relação à variante Delta.
“Não nos podemos esquecer que nes-
te momento a variante dominante em
Portugal é a Delta, que são necessá-
rias duas doses da vacina para dar

A
taxa de letalidade da covid-
19 tem aumentado nas últi-
mas semanas entre os maio-
res de 80 anos, de acordo
com os dados divulgados
diariamente pela Direcção-
Geral da Saúde (DGS). De mínimos à
volta dos 3% atingidos em Junho, a
letalidade está agora acima dos 12%,
um valor que já não se veriÆcava des-
de o Ænal da terceira vaga da pande-
mia, em Março e Abril. Esta subida
pode dever-se a um aumento dos
casos de infecção entre pessoas mais
velhas não vacinadas, devido à maior
prevalência da variante Delta, mais
transmissível, e em casos de pessoas
que, mesmo vacinadas, têm comor-
bilidades mais graves e se encontram
imunodeprimidas.
O bastonário da Ordem dos Médi-
cos, Miguel Guimarães, alertou pre-
cisamente ontem para um aumento
da taxa de letalidade entre os mais
dos 14 dias anteriores.
O registo representa um aumento
signiÆcativo em relação aos valores
que se veriÆcavam há menos de dois
meses, quando a taxa de letalidade
rondava os 2%, tendo mesmo descido
abaixo desse número durante a pri-
meira semana de Junho. Os efeitos da
vacinação faziam então sentir-se,
com uma letalidade baixa a acompa-
nhar também valores da incidência
nesta faixa etária extremamente bai-
xos: foi também nesta altura que se
atingiram os números mais baixos de
casos, com a incidência cumulativa a
chegar abaixo dos 30 casos por 100
mil habitantes na faixa de pessoas
com 80 ou mais anos.
Nas últimas semanas, no entanto,
a prevalência quase absoluta da
variante Delta levou a um aumento
generalizado do número de casos,
uma subida que, segundo os relató-
rios semanais de monitorização das
grupo de pessoas acima dos 80 anos, pletamente inoculados, o que pode protecção, mas mesmo com duas
que tiveram um ligeiro aumento. O explicar a subida da letalidade? doses há uma faixa da população que
cenário levou até que o relatório Contactado pelo PÚBLICO, o médi- não Æca imunizada”, justiÆcou.
Na mesma conferência de impren-
Taxa de letalidade no grupo etário de 80 ou mais anos sa, Luís Graça, membro da Comissão
Em percentagem Técnica de Vacinação Contra a Covid-
30 19, disse também que os números
“podem ser enganadores”. “Na popu-
26,2% lação acima dos 80 anos, 99% das
25
pessoas têm as duas doses e, [tendo
20 O valor mais 9 Agosto em conta que] muitas dessas são pes-
alto registado... 12,1% soas com uma condição muito frágil,
15 uma infecção respiratória, seja por
covid ou por outra causa, é sempre
10 ... E o mais baixo uma situação que faz perigar a vida
1,4% de pessoas que têm uma situação clí-
5 nica de grande fragilidade”, explicou,
referindo que isto não signiÆca que
0 as vacinas não sejam eÆcazes.
A S O N D J F M A M J J A Graça Freitas avançou também que
2020 2021
a DGS vai passar a divulgar boletins
Rácio das novas mortes a 14 dias sobre o número de novos casos dos 14 dias periódicos que esclareçam se as mor-
anteriores. A taxa de letalidade apresentada é uma média móvel a sete dias
tes por covid-19 são de pessoas vaci-
Fonte: DGS PÚBLICO nadas ou não.
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6 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
Destaque Uma vida dedicada à defesa do património geológico
“Puseram-me
na prateleira e eu
não quis lá ficar”
António Galopim de Carvalho Faz hoje 90 anos. Nesta
entrevista, o geólogo celebra uma vida cheia. “Só sinto a idade
a entrar no táxi e a sair do táxi”
Entrevista
Teresa Firmino
C
omo poucos académicos
naqueles tempos em
Portugal, o geólogo
António Galopim de
Carvalho percebeu a
importância (e o poder) da
comunicação com o público.
Estávamos no início da década de
90 e ele entrava na sexta década de
vida. Sabendo do fascínio pelos
dinossauros, aproveitou-os então
para revitalizar o Museu Nacional
de História Natural em Lisboa, que,
pouco mais de uma década antes,
tinha perdido muitas das suas
colecções cientíÆcas num incêndio
e Æcado com pouco para expor. E
assim no museu se organizaram
exposições de dinossauros —
algumas delas fenómenos
mediáticos. Fora das portas do
museu, Galopim de Carvalho
lançou-se na defesa do património
geológico, em particular de jazidas
com pegadas de dinossauros.
Chamou jornalistas, falou com
políticos, tornou-se uma Ægura
pública. O carisma e a facilidade
com que comunica ajudaram. Tal
como, nas suas palavras, ajudou a
afectividade que estabelece com
toda agente. “Eu sou uma pessoa
afectiva”, diz-nos.
Ainda que tenha deixado o museu
há quase duas décadas — contra a
sua vontade —, não se deixou Æcar
na prateleira. “Mantenho a criança
que fui, o adolescente, o homem
adulto e o homem idoso que sou.
Mantenho isso tudo presente em
mim.” Continua a bater-se pelo
património geológico, a falar em
escolas e a escrever livros. Agarrado
ao Facebook, onde tem quase 23 mil
seguidores, partilha memórias,
reÇexões e ensinamentos que vão
da geologia à arte e receitas de
culinária. Escrever é hoje “uma
necessidade”: “Se não me
deixassem fazer isto, eu estava
muito infeliz.” Nasceu em Évora a 11
de Agosto de 1931. É o mais novo de
seis irmãos, três raparigas e três
rapazes. Tem dois Ælhos e três
netos. A sua mulher, Maria Isabel
Fialho, é referência amiúde nesta
conversa. A comida também. A
António Galopim de Carvalho, os
parabéns pelos 90 anos.
Quis dar esta entrevista porque
— disse — faz 90 anos e teve uma
vida boa. Que vida boa é esta?
Na casa com os meus pais, tive uma
infância e uma adolescência muito
feliz. Só fui infeliz na escola
primária [por causa das reguadas].
Fui feliz no liceu, porque convivi
bastante com alguns dos
professores com os quais criei
laços de afectividade. Um desses
professores traçou o meu futuro,
RUI GAUDÊNCIO
porque ele é que me mostrou que a
geologia era algo de muito bonito.
As aulas dele eram um encanto e
eu Æquei preso por essa disciplina.
Quando acabei o sétimo ano do
liceu, o meu pai — naquela altura
ninguém sabia o que era geologia —
desmotivou-me e disse que o
melhor era eu ir para Biologia, que
tem futuro. Fui para Biologia, mas
como falhei dois anos seguidos a
tropa chamou-me. Fui
oÆcial miliciano três anos, cheguei
a tenente. Depois, matriculei-me na
universidade como estudante-
-trabalhador [em Geologia]. Estava
muito interessado nas disciplinas
que estava a seguir e fui de facto
muito bom aluno, de tal maneira
que, quando acabei a licenciatura Galopim de Carvalho na sua como director. Foi nos dez anos à
em 1961, os professores disseram: casa em Lisboa e, em baixo, frente do museu que ganhou
“Se queres cá Æcar, Æcas cá como numa fotografia no seu gabinete grande notoriedade pública.
assistente.” E Æquei 40 anos. Nesses no Museu Nacional de História Como aconteceu isso?
40 anos correu-me tudo bem. As Natural de Lisboa, que dirigiu Foi por mero acaso. Dois alunos da
vagas foram-se abrindo à medida entre 1992 e 2003 Faculdade de Ciências de Lisboa
que eu ia progredindo. Nunca tive descobriram as pegadas em
de entrar em conÇitos com a Carenque [Sintra] em 1986. E eu,
instituição. Tive uma belíssima Agora faço lições por em nome do museu, comecei a
relação com os colegas e depois videoconferência, dantes fazia nas lutar pela salvaguarda. Aquilo era
como professor fui muito feliz, escolas presencialmente. Portanto, uma lixeira e estávamos em
porque estabeleci laços de tenho uma vida cheia. Tenho uma conversações com o presidente da
afectividade muito grandes com cozinha boa, gosto de cozinhar. Câmara de Sintra para acabar com
milhares de alunos. Dos 40 anos na universidade, 20 a lixeira. Em 1990, estávamos nesse
No pós-proÆssional, tenho uma foram ligados ao Museu Nacional trabalho quando somos
vida bastante feliz, trabalho muito. de História Natural (MNHN) de informados de que a Brisa vai abrir
Continuo a escrever. Estou agarrado Lisboa — primeiro como director uma auto-estrada [a CREL] que
ao Facebook e, ao computador, da secção de geologia e depois, passava mesmo em cima das
convivo com o mundo inteiro. de meados de 1992 até 2003, pegadas. Aí é que comecei a fazer

uma campanha muito intensa. Tive
grande apoio dos jornais, das
televisões, das rádios. Escrevi nos
jornais, escrevi o livro A Batalha de
Carenque [1994] e visitei as escolas.
Levei os professores a convencer as
crianças a mandarem postais ao
primeiro-ministro, que era Cavaco
Silva. Entretanto, faz-se uma
petição pública que vai para a
Assembleia da República e é
vencedora: tem a decisão unânime
de todos os partidos pela
salvaguarda. Foi um processo
ganhador, mas muito doloroso. O
Governo não queria de maneira
nenhuma abrir os cordões à bolsa.
Pedimos ao ICN [Instituto da
Conservação da Natureza] que
classiÆcasse Carenque para ver se
se salvava. Acabou por classiÆcar
só em 1997, quando a CREL foi
inaugurada em 1995
[construíram-se dois túneis por
baixo das pegadas para as
proteger]. A morosidade
burocrática do ICN não nos serviu
de nada, foi a opinião pública.
Houve a construção dos túneis
por baixo das pegadas e depois a
classiÆcação como monumento
natural em 1997, mas continuou
um local de lixo.
Exactamente. O arquitecto Mário
Moutinho desenhou o projecto de
arquitectura para o Museu e Centro
de Interpretação das Pegadas de
Pego Longo [em Carenque] e
RUI GAUDÊNCIO
apresentou-o na Câmara de Sintra.
Ele é aprovado em 2001, ao tempo
de Edite Estrela. Está na Câmara de
Sintra desde 2001 até hoje à espera
de Ænanciamento.
Nesse caso, a vitória da batalha
de Carenque é agridoce?
Ganhámos uma batalha, mas não
ganhámos a guerra. A guerra
continua. Penso que está em bom
caminho. Está em tribunal uma
providência cautelar, que nos foi
favorável [a 7 de Julho deste ano,
que obriga o ICN e a Câmara de
Sintra a limpar e vedar o local].
Pela própria lei que cria o
monumento natural, a
responsabilidade de conservação e
manutenção é do ICN, em
colaboração com a autarquia onde
a jazida se encontra. Nesta altura,
não vamos pedir para já o museu,
porque as diÆculdades Ænanceiras
serão certamente outras. Se
quiserem construir já, melhor, mas
pelo menos que se salvem da
destruição natural que estão a
sofrer, para que daqui a uns anos,
quando houver condições, se
possa construir o museu.
A partir de 1990, os dinossauros
começam a dar visibilidade ao
museu. Como teve a ideia de os
usar para chegar às pessoas?
Já tinha havido o toque da
descoberta em Carenque em 1986.
Acreditávamos que os dinossáurios
eram talvez o atractor principal do
museu. O museu não tinha nada,
tinha ardido em 1978. Tinha
paredes. Mais de 70% das
colecções tinham-se perdido. É
nessa fase que, a certa altura, como
que se abre uma luz. E não sou eu
sozinho, sou eu com as pessoas
que estavam na minha entourage
que decidimos — e acreditámos —
que o caminho para fazer sair o
museu das cinzas era investir na
ideia de dinossáurio. Tudo aquilo
que Æzemos a partir daí tinha esse
motivo. Depois veio a luta [das
pegadas de dinossauro] da
Pedreira do Galinha na serra de
Aire [descobertas em 1994] — essa
foi uma luta fácil. E o museu
chegou a ter mais visitantes do que
tinha o Museu de Arte Antiga.
E isso é porque os dinossauros
atraem as pessoas?
Eu sabia, por ter visitado alguns
museus, que as salas dos
dinossáurios atraem as multidões.
A gente vai ao Museu de História
Natural de Londres e, enquanto as
outras salas estão vazias, aquelas
que têm os dinossáurios estão
cheias. A ideia do dinossáurio não
só atrai as crianças, mas atrai uma
grande parte dos adultos também.
Há toda uma névoa, toda uma
mística, há uma atracção pelo
perigo, pelo desconhecido. O
dinossáurio é representado como
um lagartão terrível, e não é. Hoje
sabemos que há dinossáurios
pequeninos. Mas a ideia que vem do
século XIX é que eles eram gigantes
terríveis. A palavra “déinos” é isso
que quer dizer, “terrível” — “lagarto
terrível”. Essa ideia do medonho de
algo que existiu e já não existe ecoa
na consciência das pessoas e cria
esta atracção por aquilo que é
terrível. Das muitas visitas que fazia
às escolas, mesmo que falasse de
outros temas, acabava sempre por
falar de dinossáurios. Se queria
apresentar um tema sobre o
ambiente, se começasse pelos
dinossáurios tinha a assistência
presa.
Portanto, foi uma estratégia?
Foi uma estratégia, sim. Por isso é
que Æquei conhecido nessa altura
como o “pai dos dinossáurios”. E é
curioso, porque eu não era um
especialista em dinossáurios,
nunca fui. A imprensa goza deste
exagero e parecia que era um
grande especialista de
dinossáurios, e não sou. Mas
chamo a mim o louvor de ter
levado muitos rapazes e raparigas a
estudarem dinossáurios e a ter
bolsas. Não havia projectos de
investigação em paleontologia e
passou a haver.
Considera que a sua relação com
os media e o poder político
contribuíram para lhe dar
notoriedade?
Aprendi a lidar com as pessoas do
poder. Tinha de os interessar para
conseguir trazê-los às soluções
que eu previa. Para os c
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 7
Exposição dos dinossauros robotizados
“Foi um período
maravilhoso”
A
famosa exposição de
dinossauros
robotizados em 1992
fez parte de uma
estratégia para
revitalizar o museu de
História Natural de Lisboa?
Exactamente. Fizemos algumas
acções no museu com público sem
exposição, sem peças. A certa
altura, vamos a Londres e
contactámos no Museu de Londres
com a representante da Kokoro,
uma empresa japonesa [que
construiu dinossauros expostos
em Londres]. Ela propôs-nos fazer
aqui uma exposição. Nós não
tínhamos dinheiro para trazer a
exposição e ela disse que faziam a
exposição e cobravam metade do
dinheiro da bilheteira.
Essa exposição foi uma loucura,
nunca tínhamos visto cá nada
assim. Recorde-nos como foi.
Foi uma loucura. Nos últimos dias,
chegámos a ter nove mil crianças
por dia vindas do país em
autocarros de 50 lugares. Imagine
Entrada da exposição dos
dinossauros-robôs em 1992 em
Lisboa e o pandemónio no
trânsito que provocou
quantos autocarros passaram pela
Rua da Escola Politécnica [onde é o
museu] e demoravam cinco
minutos a descarregar as crianças
e mais cinco minutos para as
receber. Foram 360 mil visitantes.
Aproveitámos essa exposição para
fazer um abaixo-assinado para
submeter à Assembleia da
República a favor das pegadas de
Carenque.
E o último dia dos dinossauros
robotizados?
Foi uma delícia. Às seis da manhã
ainda estávamos a receber visitas.
Deixámos de cobrar bilhetes à
meia-noite e entrou quem
quisesse. Às tantas, já não sei
quem trouxe comida. Chegou-nos
às três da manhã uma carrinha
com mulheres de pescadores de
Sesimbra. Ouviram falar da
exposição na televisão que
continuava aberta. E chegou um
comboio de Coimbra. Foi um
período maravilhoso... Portugal
inteiro estava a falar dessa
exposição. Passei a ser uma Ægura
pública, sempre associado aos
dinossáurios. São raras as pessoas
que me ligam à minha área de
trabalho [sedimentologia e rochas
sedimentares].
Foi quando começou a usar
gravatas com dinossauros?
Olhe, já não sei quando comecei a
usar. Sei que onde quer que ia e via
gravatas comprava-as. Pessoas que
sabiam começaram-me a oferecer.
Nas escolas, os adolescentes, em
trabalhos manuais, pintavam-me
gravatas.
Em 2001, quando deu a última
aula na Faculdade de Ciências
de Lisboa, tinha 43 gravatas
com dinossauros. A colecção
cresceu?
Cresceu, mas mais lentamente.
DR
8 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
Destaque Uma vida dedicada à defesa do património geológico
interessar, tinha de criar com eles
laços. Não é aquele chato que aí
vem, é o Galopim que aí vem. E
uma certa amizade com eles. Fiz
muitos amigos entre os ministros.
Eu sou uma pessoa afectiva, isso
conta muito. O grande sucesso da
minha vida decorreu da relação
afectiva que eu soube estabelecer
entre mim e os meus alunos, entre
mim e a comunicação social, entre
mim e os ministros ou presidentes
de câmara. Isso só se consegue se
entre mim e essas pessoas se
estabelecer o mínimo de
afectividade.
Uma das razões para sermos
felizes é o reconhecimento dos
outros. Isso não lhe tem faltado.
Sou muito querido. [Risos] Eu vou
ali ao Facebook e já vou com 23 mil
seguidores.
E a última aula que deu na
universidade, quando se jubilou,
teve muita gente a assistir…
…Mais de 800 pessoas.
Tem dito que essa aula foi
inesquecível. E porquê?
Olhe, vieram alunos do país
inteiro. Devo ter tido entre dez mil
e 12 mil alunos. Vieram alunos que
me beijavam, que choravam,
colegas de todos os departamen-
tos. Estiveram lá o Ramalho Eanes
e a mulher, o Mariano Gago, o
ministro da Ciência nessa altura.
Aquela sala grande só se tinha
aberto uma vez, quando o
Saramago veio da Suécia com o
Nobel, e abriram-se os cinco
auditórios num só. Foi a primeira
vez que se abriram, a segunda vez
foi comigo e nunca mais.
Tem uma escola com o seu nome
em Queluz e outra em Évora. O
que representa para si?
É agradável. Eu gosto de dizer “a
minha escola”. É muito agradável
ter isso em vida. A Maria Isabel
também tem uma escola com o
nome dela. É na Vendinha, uma
aldeia no Alentejo, onde ela deu
aulas na década 50.
Já deixou a direcção do MNHN há
18 anos, em 2003…
… Saí porque o primeiro-ministro
Durão Barroso não me deixou lá
Æcar. Tinha-me jubilado dois anos
antes e, para continuar, tinha de
ter autorização do
primeiro-ministro e não tive.
Queria continuar?
Queria. Estava cheio de energia
nessa altura. Estávamos numa
altura muito interessante, com
projectos em mãos, que eu
continuei como voluntário. Mas
era mais importante que eu lá
tivesse estado. Estávamos a
avançar com o projecto [da
musealização] da Pedreira do
Galinha. Estávamos a lutar por
Carenque. Estávamos com o
projecto do Monte de Santa Luzia
[para o Museu do Quartzo], em
Viseu, em curso. Mantive-me
nessas coisas, mas como
voluntário. Já não tinha o peso que
tive como director do museu.
Li que, quando saiu do museu,
disse que o tinham posto “na
prateleira”. Mas nestes 18 anos
fez tudo menos Æcar na
prateleira.
Eu saltei da prateleira! Eles
puseram-me na prateleira, eu não
quis lá Æcar. Tiram-me a minha
secretária, que era a dona Maria do
Carmo, que me processava os
textos que escrevia. Depois passou
a Maria Isabel a escrevê-los, ela
mexia no computador e eu não,
não sabia. Aqueles livros da
Geologia Sedimentar [publicados
entre 2003 e 2006] foi ela que os
passou. A pouco e pouco fui
começando a aprender e, a certa
altura, tornei-me independente.
Hoje já trabalho no computador,
com muitas diÆculdades, mas só
para escrever emails, escrever no
Facebook, pôr fotograÆas, tirar
fotograÆas, fazer os PowerPoint. É
o que eu sei fazer.
Passou a usar computador
quando escreveu as memórias
Fora de Portas, em 2008. Tinha DR
77 anos quando se lhe abriu esse
novo mundo?
Deixei de escrever à mão. Só
consigo escrever no computador. A
minha caligraÆa até perdeu.
Dessa prateleira de onde saltou,
continuou a escrever livros. Tem
hoje mais de 30 publicados.
Tenho livros que versam sobre assun-
tos cientíÆcos num formato pedagó-
gico — quer livros de ensino para a DR
universidade, quer livros de ensino Ælhos. Tinha um quintal e ao lado
para as escolas. Não são propriamen- da casa dela vivia uma família com
te livros cientíÆcos resultado da dinheiro. Um coelho fugiu da casa
minha investigação. Essa investigação dos ricos para o quintal da minha
está nos artigos que fui publicando, avó, escondeu-se num canto. Ela
está nas teses. O outro sector é o que fez umas conjecturas em termos da
chamo “Æcção”, mas mete a memó- moral, das igualdades e
ria, o ensaio, o romance. desigualdades sociais. Pegou no
O que é para si escrever? coelho e esticou-o, esfolou-o,
É uma necessidade. Como aquelas esquartejou-o e fez um arroz.
pessoas que não podem passar Quando os rapazes vieram para
sem correr. Às quatro da manhã, jantar: “Ó mãe, o que é o jantar?” E
que é quando eu me levanto, ela disse “arroz de enguia”, para os
acordo cheio de ideias e cheio de rapazes não dizerem que comeram
vontade de escrever. Se não me arroz de coelho. Nós, cá em casa,
deixassem fazer isto, eu estava quando fazemos arroz de coelho,
muito infeliz. mesmo já os meus netos, dizemos
Às quatro da manhã é acordar “arroz de enguia”.
com as galinhas… E como faz esse arroz de enguia,
Mas às nove horas da noite vou António Galopim de Carvalho e livros. Há dias publiquei uma que é um arroz de coelho?
para a cama. E depois de almoço, a mulher, Maria Isabel Fialho; história do arroz de enguia muito Faz-se um refogado de alho, cebola
durmo uma hora. e a última aula do geólogo em engraçada, que escrevi n’ O Cheiro e louro. Depois põe-se o coelho a
Mencionou o Facebook. O que é 2001 na Faculdade de Ciências da Madeira [de 2002], e tem logo guisar e, quando já está meio
para si o Facebook? de Lisboa centenas de visitantes. Dá-me uma cozinhado, junta-se o arroz. E com
É uma janela ou uma porta aberta alegria muito grande estar no cominhos e às vezes uma
ao mundo. Mas antes de ser aberta Facebook. Tenho muitos amigos. pinguinha de vinagre, para quem
ao mundo, é aberta aos meus São massagens ao ego diárias, gosta.
concidadãos e sobretudo aos aconselhamento, falta de elogiam-me muito e eu Æco muito De onde vem essa paixão pela
professores das escolas. Tenho um entusiasmo. babado. Não sou nada vaidoso — culinária?
convívio diário com as escolas, Quando é que descobriu o ou, por outra, sou muito humilde e Quando era criança em Évora, a
sobretudo com os professores de Facebook? sincero. Fico muito gratiÆcado. Vou partir dos seis ou sete anos
Geologia do país inteiro, através do Comecei em 2008. Quando me ler e sabem muito bem aquelas andávamos sozinhos na rua e
Facebook. Sinto que isso faz falta. encorajei, pedi ao meu Ælho Rui palavras simpáticas, isso fazíamos mandados — recados. E
Há um problema grave do ensino [gemólogo] que me pusesse no encoraja-me a continuar. comecei a aprender a relacionar os
da Geologia e, pelos feedbacks, Facebook. Depois a pouco e pouco Conte-nos lá a história do arroz produtos que se compravam com
percebe-se que bebem aquilo que fui ganhando prática. Umas vezes de enguia. as confecções que se faziam.
lhes forneço por falta de escrevo textos inéditos, outras A minha avó Mariana era viúva e Também Æz muito campismo e
bibliograÆa, falta de vezes vou buscar fragmentos de vivia com diÆculdades. Tinha três quem faz campismo cozinha.

RUI GAUDÊNCIO
Depois, quando caso, vou para
Paris. Estamos três anos em Paris,
de 1962 a 1964. A Isabel a trabalhar
num lado, eu a trabalhar noutro e
dividíamos as tarefas da cozinha.
Tínhamos um apartamento com
kitchenette. Portanto, em Paris, eu
e ela cozinhámos. E habituei-me.
Em casa, ao Æm-de-semana e nas
férias, eu metia sempre a minha
mãozinha na cozinha, porque
gostava. Quando me reformo,
deixo a obrigatoriedade de estar no
museu, e cozinho mais do que ela,
porque ela não gosta de cozinhar e
eu gosto. Ela cozinha muito bem:
quando faz um ensopado de
borrego ou uma sopa de cação é
por receita. Eu não, eu sou um
aventureiro. Portanto, estive
sempre ligado aos tachos e às
panelas.
Voltando aos livros: disse que
escrever é para si uma
necessidade.
Não era assim. Comecei tarde e a
escrever mal. Lembro-me do
professor Orlando Ribeiro corrigir
os meus textos, eu já como
assistente, e era uma vergonha.
Não fui bom aluno a Português,
mas aprendi a escrever português.
O português a que chamo o
“português do granito”, que era
aquele puro do professor Carlos
Teixeira, que era sujeito,
predicado, complemento directo.
Sem arabescos, sem querer ter
estilo, puro como o granito. O
português de Carlos Teixeira, na
simplicidade, Ærmeza, limpidez e
rusticidade da prosa, representa
nesta associação o granito. Orlando
Ribeiro tinha uma escrita mais
poética.
O português de Orlando Ribeiro
seria que rocha?
Diria que, se o professor Carlos
Teixeira era a prosa do granito, a
do professor Orlando Ribeiro, a um
tempo erudito, romântico, por
vezes algo barroco e sempre
poético, representa a prosa do
alabastro, uma rocha muito
branda, essencialmente formada
por gesso, que permite trabalho de
grande requinte.
E a sua escrita?
A minha? Não sei. Agora está a
pôr-me um problema de geologia!
Estou entre os dois. Eu, que bebi a
inÇuência de um e outro,
Æcar-me-ei pelo calcário, pela sua
naturalidade e versatilidade.
Disse que começou a escrever
tarde.
Em 1991 ou 1992, li um livro da
Zélia Gattai, Anarquistas [Graças
a Deus]. As histórias são das
vivências dos imigrantes italianos
em São Paulo. São histórias
giríssimas e eu disse para comigo:
eu tenho tantas histórias antigas,
vivi tanto, Æz tanta coisa. Eu vou
escrever aquilo que Æz em criança
e em adolescente. Não vou
escrever estas histórias da
maneira que escrevo os meus
relatórios, sem gongorismos, sem
grandes pretensões de estilo, mas
vou escrever numa escrita pura
aquilo que a memória me
permite. Vou passar a escrever
coisas que tenho na memória
com esta literatura que aprendi
com Carlos Teixeira e Orlando
Ribeiro. E escrevi O Cheiro da
Madeira [de 1993]. Foi um
sucesso literário naquela altura.
Natália Correia descreveu o seu
segundo livro, O Preço da
Borrega, de 1995, como
“etnografia ficcional”.
A expressão é dela. Escrevo a vida
no campo, os objectos, as alfaias
como se estivesse a fazer o
trabalho de um etnógrafo, mas
envolvo isso numa poesia
Æccional. O livro é muito poético.
Tem muitas histórias de vivência
das pessoas, é um drama muito
pesado. O drama está relacionado
com a tradição da Idade Média do
“direito de pernada”, em que o
senhor da terra tinha o direito à
primeira noite da noiva de outro
homem. Esta tradição
perpetuou-se no Alentejo dos
senhores da terra, que cobiçavam
as raparigas que trabalhavam sob
a sua tutela. É um caso desses. A
Natália Correia leu o manuscrito e
quis levá-lo para o cinema, mas
morreu [em 1993]. Tenho muita
pena que esse livro não vá ao
cinema.
Está já a escrever outro livro?
Estou neste momento a reunir
todos os textos inéditos que tenho
vindo a escrever nos últimos anos
que não estão em livros. Estou a
tentar organizá-los numa estrutura.
É de memórias e umas receitas.
Conhece os meus três livros que
falam de histórias e receitas — Com
Poejos e Outras Ervas, Açordas,
Migas e Conversas e Com Coentros e
Conversas à Mistura? São receitas
intercaladas com ideias, memórias,
com histórias. Tirando isso, não
tenho mais nada. Mas hei-de
encontrar.
Disse-nos que queria ser
fotografado com a sua mulher,
Isabel, porque ela é muito
importante para o seu sucesso.
Foi consigo para Paris. O que
significou ir para Paris durante
a ditadura?
Quando chegámos a Paris,
assistimos a uma greve dos
enfermeiros. Com a polícia a
proteger os grevistas! E nós: mas
como é que isto é possível?! Havia
discursos na rua contra o De
Gaulle.
Como viveram essa liberdade?
A gente bebeu essa liberdade!
Quando voltámos, regressámos
para o sufoco.
Não é paleontólogo, mas
começou por ir para Paris como
paleontólogo.
Fui mandado para Paris como
paleontólogo para estudar
Às quatro da manhã,
que é quando eu me
levanto, acordo
cheio de ideias
e cheio de vontade
de escrever. Se não
me deixassem fazer
isto, eu estava
muito infeliz
Tenho um convívio
diário com as
escolas, sobretudo
com os professores
de Geologia do país
inteiro, através do
Facebook. Sinto que
isso faz falta
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 9
briozoários [invertebrados que
formam colónias como os corais].
Eu queria ir para Paris, queria
conhecer outros mundos. E a
Maria Isabel nessa altura
desempregou-se e foi comigo e foi
frequentar os cursos dela [de
educação especial de crianças]. O
[geólogo] António Ribeiro, que
estava na Sorbonne, diz-me que
há um curso de Sedimentologia.
Fui falar com os professores para
me deixarem assistir as aulas. E
deixaram. Entretanto, a Shell
escreveu-me a dizer que tinha
sido escolhido para beneÆciar de
uma bolsa de dois anos, quando a
bolsa que eu tinha do Instituto de
Alta Cultura por um ano.
Continuei o trabalho no museu
sobre os briozoários, mas ia às
aulas de Sedimentologia e Æz lá a
tese equivalente ao mestrado. A
tese de doutoramento foi feita em
Lisboa, em 1968, e era sobre a
bacia terciária do Tejo. É aí que
me deÆno como sedimentólogo.
Quando regressaram em 1964,
ainda houve dez anos de
ditadura até vir aquela
madrugada, como diz o poema
de Sophia de Mello Breyner.
Foi um dia muito feliz. O meu Ælho
Nuno [jornalista] já tinha uma
certa propensão para a música e os
gravadores. Eu tinha aquelas
cassetes gravadas, uma das
cassetes tinha Daphnis et Chloé, de
Ravel. Mas estávamos a gravar os
comunicados e as músicas de
intervenção na rádio. Fui gastando
as cassetes todas; por Æm já só
tinha músicas sinfónicas. Até
escrevi um artigo “Zeca por cima
de Ravel”. Estraguei Daphnis et
Chloé e passei a gravar as canções
do Zeca nas cassetes.
No livro Évora, Anos 30 e 40, que
está no prelo, retrata a sua
infância e adolescência. E um
país muito diferente.
Era o quadro social em que se
vivia. Portugal inteiro
uniformizou-se. Os anos do 25 de
Abril para cá foram de uma
mudança radical do país — para
melhor. Há, no entanto, uma coisa
que falha — o nível educacional e
civilizacional da população. Não se
investiu absolutamente nada na
educação dos portugueses desde o
25 de Abril.
Mas houve uma democratização
da escola.
Ah, sim, houve. O parque escolar
é como nunca houve, que recebe
toda a população em idade
escolar. Diz-se democratização do
ensino, mas aqui abro um
parêntese: quem tem dinheiro vai
para um colégio privado, que não
tem dinheiro Æca nas escolas
públicas. A democratização do
ensino ainda não existe. Os
professores não têm iniciativa,
são repetidores do livro. Só me
sinto habilitado a falar do ensino
das ciências da Terra.
E aí o que viu?
Há professores excelentes, muito
bons, mas também há muito maus,
que não queria que exercessem
funções para os meus Ælhos. Os
professores têm medo de ser
avaliados e o sindicato presta um
péssimo serviço, porque nivela-os
todos por baixo. Os professores da
escola pública estão desmotivados,
longe da família, a pagar um
quarto. São instados à
mediocridade. Defendo que devia
considerar-se a educação. Tem de
se rever toda a política de
colocação dos professores. Tem de
se rever o vencimento dos
professores.
A Associação Portuguesa de
Psicogerontologia deu-lhe o
Prémio Envelhecimento Activo
em 2017...
Penso que o cérebro é tudo. Eu só
sinto a idade a entrar no táxi e a
sair do táxi. Estou aqui consigo e
julgo que tenho 20 anos,
sinceramente. Costumo dizer que
mantenho a criança que fui, o
adolescente, o homem adulto e o
homem idoso que sou. Mantenho
isso tudo em mim. A idade está na
nossa expressão do olhar, está na
nossa maneira de sentir.
Já partilhou muitas memórias,
histórias nos livros, no
Facebook, em palestras. Há
alguma coisa que ainda não
saibamos e queira partilhar?
Posso dizer que tive uma
educação católica em casa e que a
partir dos 18 anos comecei a
pensar pela minha cabeça e
desinteressei-me completamente
das religiões, que acho que são
embustes inventados pelos
homens para dominar outros
homens. Para mim, Fátima é um
embuste. Tenho um grande
respeito pelas pessoas que vão
fazer as suas promessas, é um
respeito que me comove quase às
lágrimas. Para muitas pessoas a
religião é uma necessidade. Eu
não tenho necessidade da religião.
Para si, Deus não existe?
Não, não acredito. Para mim, o
Universo, o cosmos intriga-me
bastante. Os físicos explicam o Big
Bang. A mim quase que me
aterroriza. Se quiser, acredito no
Universo. Se quiser que Deus seja o
Universo, eu acredito que ele
existe, só que não sei como ele se
formou, não faço ideia. Os grandes
números da astronomia quase que
me atemorizam.
Para terminar, nos seus 90 anos
que prenda gostaria de receber?
Ter a família reunida com saúde.
Vou nesse dia reunir aqui em casa
os Ælhos e os netos. Vou fazer eu o
almoço. Posso dizer-lhe o que é o
almoço: é um belíssimo ensopado
de borrego como aquele que se faz
no Alentejo. Os netos adoram, os
Ælhos adoram e todos nós
gostamos. Com sopas de pão e
batata.
10 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Espaço público

Afeganistão, uma nova tragédia

E
m pouco mais de três
Editorial meses, os taliban saíram
dos bastiões rurais que lhes
garantiam uma base para
ataques esporádicos e os
protegiam do poder do Exército
americano e apoderaram-se de 65%
Manuel Carvalho do território do Afeganistão, de mais
de metade das circunscrições
administrativas do país e de oito das
suas 34 capitais provinciais. Se há
uma prova do extraordinário
falhanço de 20 anos da ocupação
norte-americana e dos seus aliados,
está neste impressionante progresso
militar. Se faltava um exemplo para
destruir a utópica, embora
romântica, ideia da “construção de
O ajuste de contas que já nações” (a famosa nation building
começou com execuções que animou a guerra do Iraque),
sumárias não deixará de encontra-se hoje na violência e no
transformar esta pavor que assalta a vida de milhões
de afegãos. Quando o último contin-
retirada dos EUA em gente norte-americano deixar Cabul,
mais um peso na lá para o Ænal do mês, o Afeganistão
consciência do Ocidente juntar-se-á à lista das guerras que,
por arrogância, desleixo, impossibili-
dade ou desespero, o Ocidente
perdeu nas últimas décadas.
Desta vez, a derrota estava à vista.
Não apenas porque o Afeganistão
regista uma história de invencibilida-
de face a ocupantes estrangeiros,
mas, principalmente, porque os
governos de Cabul protegidos pelo
poder militar dos EUA naufragaram
no pântano da incompetência, da
corrupção e da falta de vontade. A
retirada que se iniciou em Maio não
está marcada com a aura da
impotência e da derrota que os
soviéticos carregaram em 1989, mas
não deixa de ser um colossal
fracasso. Em duas décadas, nem se
construiu um Estado, nem se
consolidou um sistema de defesa
credível e eficiente, nem se derrota-
ram os taliban. A facilidade com que
os extremistas estão a reconquistar o
país é uma prova de que o Governo
de Cabul é um cenário virtual manti-
do pela força da maior potência mili-
tar do mundo. Sem esse poder de
fogo, o Afeganistão começou a regre-
ssar à realidade do terror taliban.
Mesmo que seja legítima a defesa
dos ataques que retiraram os taliban
do poder na ressaca do 11 de
Setembro, mesmo que se entenda a
necessidade de acabar com uma
ocupação longa, onerosa e sem
resultados, os EUA e os seus aliados
ocidentais saem do Afeganistão com
a imagem comprometida. Não
apenas porque deixam o país à
mercê dos inimigos que combateram
durante décadas. Ou porque exibem
outra vez incapacidade de impor a
sua vontade geoestratégica ou os
seus valores, depreciando o seu
capital político no mundo. A sua
saída é trágica, porque deixa todo um
povo nas mãos de uma horda de
extremistas sem escrúpulos. O ajuste
de contas que já começou com
execuções sumárias não deixará de
transformar esta retirada em mais
um peso na consciência do Ocidente.

CARTAS AO DIRECTOR
Censos 2021
O vice-presidente do PSD, David
Justino, fez um longo artigo
publicado no PÚBLICO de 9 de
Agosto sobre as causas da quebra
demográÆca e soluções para a sua
inversão. Se sobre a queda
demográÆca a sua análise está
razoável, já sobre as soluções não
apresenta objectivamente
nenhuma. Vagueia por
generalidades, algumas delas
poderiam ser subscritas por
qualquer pessoa mais ou menos
entendida sobre a matéria. Não foi
capaz de justiÆcar nenhuma das
causas da emigração que ao longo
dos séculos os portugueses se
sentiram “obrigados” a fazer. As
nossas elites são assim, justiÆcam
sempre a saída das populações
pela vontade de conhecer novos
mundos, arriscar novas vidas e
esquecem sempre as causas: a
falta de trabalho, o trabalho mal
pago, a fome, a miséria, o
abandono a que são votadas as
populações. O discurso deste
senhor não tem uma palavra sobre
esta matéria, a não ser quando diz
que houve necessidade de emigrar
com os anos da crise de 2011 a
2015, quando o Governo do seu
partido mandou os portugueses
emigrar. Estas elites são assim,
gostam de dizer meias verdades
para os portugueses não
perceberem ao que andam, ou
não será?
Mário Pires Miguel, Reboleira
Monumentos requerem
vigilância
O que aconteceu no
Æm-de-semana passado com o
Padrão dos Descobrimentos a
aparecer graÆtado numa extensão
assinalável vem levantar a questão
da necessidade de colocação de
câmaras de vigilância nestas
construções representativas da
nossa História para a culpa não
morrer solteira e ninguém poder
actuar com total impunidade na
procura de lesar símbolos
nacionais.
Essas câmaras de vigilância,
com suÆciente raio de acção e em
funcionamento permanente a
horas mortas, seriam um
elemento dissuasor fundamental
para os autores dessas práticas,
que a lei penaliza, mas que
diÆcilmente se descobrem pela
calada da noite, a não ser que
hipoteticamente alguém, a passar
casualmente nas imediações, dê
indicações de quem se possa
tratar.
Essas câmaras, não facilmente
observáveis, seriam assim um
investimento necessário e aos
poucos abrangendo um número
crescente de monumentos, para
sua protecção, contra quem não os
quer de todo preservar. Saúda-se a
pronta limpeza do Padrão pela
CML.. mas não basta!
Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha
Uma excelente
presença olímpica
Estou em completo desacordo
com o Editorial de segunda-feira
sobre a presença portuguesa nos
Jogos Olímpicos. Presença que foi
boa a nível de medalhas — as
quatro de Portugal são uma por
cada 2,549 milhões de habitantes
(52.º lugar, a meio da tabela),
superando a Espanha (uma por
2,750 milhões), Estados Unidos
(2,929 milhões) e China (16,356
milhões), por exemplo. Mas mais
relevantes são as pontuações com
base nos oito primeiros
classiÆcados (com direito a
diplomas) e 16 primeiros. E, neste
campo, Portugal tem revelado
grandes progressos, somando
agora 55 pontos, contra os
anteriores 43 de Atenas 2004 e 38
do Rio 2016 e quase duplicando
as pontuações de 2000, 2008 e
2012, no que toca aos oito
primeiros; e passando de 200
pontos em Londres 2012 e 233
pontos no Rio 2016 para 263,5
pontos, considerando os 36
atletas/equipas com classiÆcações
entre os 16 primeiros.
O desporto escolar ainda não é o
que deveria ser, mas as condições
de treino que Portugal já
proporciona aos seus atletas de
alta competição são muito
apreciáveis e não é por acaso que
muitos dos melhores atletas
mundiais de várias modalidades
vêm estagiar para Portugal.
Manuel Arons Carvalho, Amadora
Um conselho ao PS
Li, com alguma apreensão, no
Expresso, que o PS e o PSD estavam
a acertar a revisão constitucional,
que, como é sabido, pressupõe
maioria de dois terços. Tendo em
conta que os partidos à esquerda
do PS, de quem depende a
viabilização do OE2022,
consideram praticamente
intocável, diria mesmo sagrada, a
nossa lei fundamental, penso que a
notícia da revisão não deverá ser
bem recebida pelos habituais
parceiros do PS. Os socialistas não
podem querer, como se costuma
dizer, sol na eira e chuva no nabal.
Ao abrirem a porta à revisão
constitucional, grande pretensão
do PSD e até do Chega, correm o
risco de perder apoios para a
viabilização do Orçamento. O PS
tem de reÇectir bem sobre esta
matéria, pois uma crise política
será, sem dúvida, mil vezes pior do
que não haver revisão constitucio-
nal, para mim perfeitamente
dispensável, mesmo que a pretexto
da pandemia, como diz o Expresso.
Simões Ilharco, Lisboa

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BARTOON LUÍS AFONSO
ESCRITO NA PEDRA
“Só persistindo no avanço terás a certeza de que
te não deslocaste” Agostinho da Silva
(1906-1994), filósofo, poeta e ensaísta
No meu entender, nunca pisei o risco com
ninguém, mas não percebi o quanto esse risco
tinha sido alterado Andrew Cuomo (governador de
NI demite-se após acusações de assédio sexual)
62%
O NÚMERO NESTE DIA 11 DE AGOSTO
1675 É inaugurado o Observatório Astronómico
de Greenwich, no Reino Unido 1897 Nasce a
escritora britânica Enid Blyton, criadora das
aventuras dos Cinco e dos Sete 1937 Morre, com
75 anos, a escritora norte-americana Edith
Warton, autora de A Idade da Inocência e A
Casa do Incesto 1956 Morre, aos 44 anos, o
pintor norte-americano Jackson Pollock, um
dos nomes mais influentes do expressionismo
Mais de 6,4 milhões de abstracto 1988 A Al-Qaeda nasce numa reunião
portugueses (62%) já têm dirigida por Bin Laden em Peshawar, no
vacinação completa. Mais de 7,3 Paquistão 2014 Morre, aos 63 anos, o actor
milhões já receberam uma dose Robin Williams 2018 Morre, aos 85 anos, V.S.
da vacina contra a covid-19 Naipaul, Nobel da Literatura em 2001
A fruta
categórica
Ainda ontem
tem
Miguel Esteves Cardoso
O
nde se abastece o seu
abastecedor? E esse,
onde se abastece?
À procura de
cerejas espanholas
depois de terem
acabado as portuguesas, decidi
acompanhar um amigo meu ao
MARL.
Toda a gente deveria lá ir. Fica-se
com a impressão que há de tudo e
que há de tudo em abundância,
para não falar dos preços, de que
não vou falar, para não deprimir
ninguém. Não só encontrei
toneladas de cerejas como havia
imensa escolha. De longe a mais
interessante foi-me explicada por
um armazenista. Perguntou-me se
as cerejas que eu queria eram para
“casa”. Achei estranha a pergunta
até ele me explicar aquilo que deve
ser um segredo e que revelo já.
Havia três qualidades, como se
diz, de cereja. Uma era a quatro
euros o quilo, outra a sete euros e a
terceira a dez euros. A de dez euros
é que era para casa. Era a melhor e
maior. E a de sete euros? Era para
restaurante. E a de quatro euros?
Ah, essa era para mercearia.
Para já, parece-me que as
prioridades estão certas. É em casa
que se devem comer as melhores. Já
num restaurante escusam de ser tão
boas. Imagine-se o contrário: que só
nos restaurantes se encontravam as
melhores. Seria injusto, para não
dizer escandaloso — embora seja
isso que acontece com alguns bens
importantes, como o peixe.
Finalmente, as cerejas mais
baratas de todas são para as
mercearias. Embora, obviamente,
também possam comprar das
outras.
Comprei caixas das três
variedades. Para mim, as cerejas de
mercearia eram as melhores: mais
sumarentas e aciduladas. Mas logo
no dia seguinte começaram a
amolecer e a secar. Já as de casa
aguentaram-se bem: eram doces,
rijinhas e carnudas. As de restauran-
te eram apenas assim-assim, mais
aguadas e mais unidimensionais.
O pior é que passei a pensar
sempre na fruta com estas três
categorias.
E agora?
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 11
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12 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Espaço público

Guiados pela razão? Ou pelo cansaço e a ilusão?

muito signiÆcativamente a doença grave,
traduzida na taxa de internamentos e na
mortalidade por covid-19.
Mas este papel, fundamental, da vacinação
é muito pouco relevante quando se
considera o grupo etário abaixo dos 16 anos,
nomeadamente entre os 12 e 15 anos. Em
muitos, a infeção é assintomática, em quase
todos a doença é pouco signiÆcativa,
José Gonçalo Marques
raramente motiva internamento. No Reino
universal das crianças.
O objetivo de uma autoridade de saúde é
vacinar bem a sua população: com as vacinas
e esquema vacinal mais adequados à
realidade nacional, potenciando os
benefícios e minimizando os riscos.
Querer despachar com qualquer vacina e
com o esquema vacinal mais rápido, incluir
as crianças no processo e acreditar que com
isto se acaba a pandemia traduz cansaço e
resposta imediata quanto à melhor estratégia
de prevenção e tratamento desta infeção
motivou o aparecimento de uma plêiade de
“especialistas” oriundos de diferentes
proÆssões. Mas o mais gravoso tem sido a
insistência com que demasiadas pessoas
com responsabilidade mas sem capacidade
técnica nesta área (e talvez por isso com
muitas certezas) pressionam a DGS para não
agir de acordo com a ciência.

É
compreensível que as respostas a Unido, 99,995% das crianças infetadas por ilusão e acarreta um risco desnecessário As vacinas não atuam por decreto. Por
uma pandemia desta dimensão, SARS-CoV-2 sobreviveram. para os menores de 16 anos. decreto podemos criar algumas medidas de
causada por um vírus novo Os efeitos adversos ligeiros de cada uma Nunca tivemos em Portugal uma tranquilização e normalização. Por exemplo,
causando uma doença nova, se das tomas de vacina no grupo dos 12 aos 15 recomendação de vacinação universal da só dar dados nacionais da pandemia
pautem por avanços e retrocessos anos não parecem inferiores aos da doença e criança com uma vacina com uma relação semanalmente e não exigir certiÆcado digital
no percurso de aquisição do serão duplicados, nomeadamente cansaço tão baixa entre o eventual benefício e o risco abaixo dos 16 anos de idade em território
conhecimento cientíÆco que (60%), cefaleias (60%) e administração de que lhe está associado. Para além dos custos nacional — medida que não teria impacte
permite orientar as melhores decisões. São antipiréticos (37-51%). E a imunidade inerentes. negativo na saúde pública e seria muito
exemplos as recomendações iniciais, com conferida pela vacinação não é superior à O facto de a ciência não poder ter tido uma positiva para as famílias com adolescentes.
base em resultados cientiÆcamente pobres, conferida pela infeção. Por seu turno, o Espero que não se chegue ao contrassenso
de não utilizar corticosteroides e de usar alerta de segurança relativamente a de exigir este certiÆcado para a frequência
antivíricos. Os primeiros vieram a mostrar-se situações de miocardite e pericardite, da escola.
muito úteis nalgumas situações e os segundos emitido pelas autoridades americanas e Assistimos agora a uma reviravolta na
acabaram por não demonstrar o benefício europeias, não está resolvido e, embora posição da DGS, que passou a recomendar a
esperado num estudo em larga escala sejam situações raras, podem conduzir a vacinação universal de adolescentes entre 12
promovido pela OMS. complicações agudas e eventualmente e 15 anos, quando, há uma semana, o fazia
O que sabemos hoje sobre as vacinas crónicas.
A decisão da DGS de apenas para os pertencentes a grupos de
contra covid-19 é também bastante mais do Enfrentámos já a quarta vaga de infeções recomendar a risco. A decisão inicial foi baseada num
que o que sabíamos em dezembro. E por SARS-CoV-2 sem que às crianças seja parecer técnico que incluía representantes
devemos atuar de acordo com esse atribuível papel signiÆcativo no número de
vacinação universal de da DGS, Sociedade Portuguesa de Pediatria e
conhecimento. internamentos hospitalares nem na adolescentes entre 12 e Ordem dos Médicos e validada pela
Considerar que uma das vacinas apenas propagação da infeção. Comissão Técnica de Vacinação contra
com uma dose dá proteção equivalente a A repercussão de cada vaga será
15 anos é um momento Covid-19. A atual é tomada exclusivamente
duas doses das outras vacinas já não é provavelmente progressivamente inferior e muito triste na história por cedência à pressão política, sem nova
aceitável. Como também não é o considerar regredirá sem necessidade de estado de prova cientíÆca que a justiÆque.
preferível um intervalo de três semanas emergência nacional, graças à vacinação da
da autoridade de saúde É um momento muito triste na história da
entre duas doses. Tal como com outras população adulta, onde a doença tem mais nacional, cujas autoridade de saúde nacional, cujas
vacinas, nos esquemas de duas doses são impacte, e à crescente aquisição de consequências são imprevisíveis.
obtidas respostas mais robustas e imunidade após infeção.
consequências são
duradouras com intervalos mais alargados. Não existe assim pressa na vacinação imprevisíveis Médico pediatra
São exemplos as vacinas contra HPV e DANIEL ROCHA
hepatite A, que respeitam um intervalo de
seis meses.
O que nos diz a experiência dos dois países
que mais precocemente iniciaram a
vacinação?
Israel foi o país que mais rapidamente
atingiu uma excelente cobertura vacinal na
população adulta e está a viver agora uma
nova vaga, semelhante ao que se passa em
Portugal. A taxa de proteção conferida
contra infeção pela variante Delta situa-se
agora nos 39%.
Os dados de Inglaterra publicados pela
Public Health England a 6 de agosto alertam
para o facto de a carga viral nos infetados ser
semelhante entre os não vacinados e os
previamente vacinados, traduzindo uma
mesma capacidade de propagarem a infeção.
Estes dados, objetivos, relevam a
insensatez de se considerar possível com as
atuais vacinas atingir a eliminação da
doença. As pessoas vacinadas que tenham
contactos de risco com pessoas infetadas
podem adquirir a infeção e transmiti-la. Tal
vai obrigar a que as medidas de
conÆnamento e de testagem consideradas
necessárias sejam iguais para vacinados e
não vacinados. E compromete o verdadeiro
objetivo que é considerado pelos defensores
da vacinação universal das crianças.
As vacinas mantêm, contudo, a eÆcácia
essencial que lhes era pedida, ao reduzirem

Fumar ou não fumar, eis a questão
Maria João Marques
O ar do tempo é propício à
iniciativa de restringir fumar
nos bares e discotecas. E não
levará muito até que todos
vejam com normalidade as
novas regras
J
á fui fumadora. Durante uns bons
anos. Não fumava muitos cigarros por
dia; nos últimos anos, fumava um
cigarro depois de almoço e Æcava-me
por aí, exceto nos dias em que tinha
festas ou jantares (e fumava mais).
Não me custou deixar de fumar e sempre
associei cigarros a momentos de prazer —
sentada numa esplanada em frente ao mar
com amigos a tomar um copo de bom vinho
ou parecido. Como não era fumadora
compulsiva, nunca fumei por necessidade de
nicotina, não fumava em pé à volta de um
cinzeiro público na rua mesmo no meio de
intempéries, não fumava enquanto andava,
não ressacava se Æcava muito tempo sem
fumar. Quando fazia voos longos, passava
perfeitamente sem cigarros durante todas as
horas em aviões e aeroportos. Considerava
as zonas de fumadores, quais gaiolas de
viciados impenitentes que se viam perto nas
zonas das portas de embarque, insuportáveis
com a quantidade de fumo em vez de
oxigénio nelas existente. Frequentei-as uma
ou duas vezes, para acompanhar outras
pessoas, e saí de lá valentemente intoxicada.
Vivi toda a vida com não fumadores, donde
raramente fumava em casa. Acrescente-se
detestar o cheiro de cinzeiros ou do fumo
entranhado na casa.
Isto para dizer que não sou uma
ex-fumadora rezingona com os atuais
fumadores, vendo-os como criaturas fracas
ainda entregues a hábitos destrutivos, a
serem detalhadamente punidos em todas as
ocasiões disponíveis. Convivo paciÆcamente
com os hábitos de fumo alheios. Muito
ocasionalmente, volto a fumar um par de
cigarros se estou em algum evento social (e
não, não tenho recaídas). Recordo-me bem
de quando se fumava em todo o lado: nos
restaurantes, até na parte de trás dos aviões
(como é possível?, perguntamos agora), nos
escritórios. Quando veio a proibição de fumar
nos restaurantes, considerei-a um abuso — via
como mais adequada a obrigatoriedade de
máquinas de extração e renovação de ar mais
potentes nos restaurantes que escolhessem
manter-se de fumadores, qualquer a área.
Mas a verdade é que correu muito bem a
proibição de fumar nos restaurantes em 2007.
A qualidade do ar nos restaurantes enquanto
nos alimentamos e socializamos melhorou
NELSON GARRIDO
exponencialmente. O mesmo nos locais de
trabalho. Nos aviões só nos faz perguntar
como alguma vez se permitiu fumar. Estas
restrições foram todas no bom sentido.
Melhoraram o ar respirado por clientes e
trabalhadores. Levou a que se fumassem uns
A pandemia veio bons cigarros a menos, com as melhorias para
reforçar esta ideia a saúde correspondentes. Sou muito
partidária de avaliar as leis e regulamentos
(para mim, salutar): pelos efeitos produzidos, ao invés de pelos
temos a liberdade princípios teóricos que as motivam (já
demasiadas vezes teorias muito lindas — ou
de ter comportamentos assim pensam os seus teóricos — geraram leis
daninhos para a nossa inúteis, perniciosas ou mesmo com
consequências contraditórias dos objetivos
saúde, mas não temos iniciais), donde estas proibições são de
o direito de com esses aplaudir.
Também não conduziram a nenhuma crise
comportamentos pôr da restauração (ou da aviação). Ao contrário
em risco a saúde alheia do que os contestatários (existem sempre uns
tantos) profetizavam, não houve hecatombe
ou trazer-lhe prejuízos económica, ninguém prescindiu de
frequentar restaurantes nem de viajar,
simplesmente os fumadores mudaram os
hábitos de consumo de cigarros. Os
empresários do ramo protestaram —
inevitável, aÆnal ou se adaptavam para
espaços de não fumadores ou tinham de fazer
investimentos —, mas as más expetativas de
catástrofe no setor foram manifestamente
exageradas.
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 13
Sou, por isso, agora muito favorável à
proibição de fumar nos espaços interiores
de bares e discotecas com menos de cem
metros quadrados e, nos maiores, só em
zonas vedadas e muito bem ventiladas,
conforme está em discussão. Haverá
certamente a resistência do costume. AÆnal,
vivemos num mundo em que, apesar de se
ver como moderno e aberto, é,
paradoxalmente, bastante avesso a qualquer
mudança que se anuncie. Ou bastante
conservador nos hábitos quotidianos,
mesmo os que sofrem achaques se alguém
os epitetar de conservadores na política. É
fenómeno que se observa em diversas áreas.
Veja-se, por exemplo, o amor à manutenção
da ortograÆa a propósito do Acordo
OrtográÆco de 1990. (OrtograÆa que,
reÆra-se, sempre evoluiu de forma orgânica
até que veio a mania de Æxar tudo.) Ou o
sururu à volta do Centro Cultural de Belém
quando foi construído (agora local
unanimemente adorado de Lisboa). Ou a
fúria com as ciclovias (as que são bem feitas,
que também há as inventadas às três
pancadas).
Porém, ao Æm de algum tempo (pouco, de
resto), todos verão com normalidade as
novas regras. A atmosfera de bares e
discotecas tornar-se-á mais agradável, os
fumadores irão à rua fumar quando
precisarem, os demais clientes e
trabalhadores usufruirão de melhor ar para
respirarem.
O ar do tempo é propício à iniciativa de
restringir fumar nos bares e discotecas
interiores. A pandemia veio reforçar esta
ideia (para mim salutar): temos a liberdade
de ter comportamentos daninhos para a
nossa saúde, mas não temos o direito de
com esses comportamentos pôr em risco a
saúde alheia ou trazer-lhe prejuízos. Em
sentido parecido, as alterações climáticas
também reforçam a necessidade de
desincentivar — nem que seja Æscalmente —
atos individuais perniciosos. Os indivíduos
não devem impor à comunidade custos
graves pelas suas escolhas individuais. Já
existe esta visão há muito para a atividade
das empresas — não podem poluir rios,
atmosfera, lençóis freáticos, etc., além de
limites estabelecidos e, poluindo, as
punições são severas. Em se tratando de
temas de sustentabilidade ambiental e de
saúde, a tendência é para aplicar a mesma
lógica aos privados particulares.
Tudo isto dito, é evidente: depois de uma
pandemia que afetou particularmente o
setor dos bares e discotecas, não é o melhor
tempo para exigir aos proprietários
investimentos avultados ou potenciais
perdas de clientes para concorrentes com
espaços exteriores. Para quem está a pensar
angustiado no que fará quando terminarem
as mais variadas moratórias, ou se sequer
reabrirá os espaços, pedir investimentos ou
inventar restrições de uso que podem
enxotar clientes, mesmo se só
temporariamente, não é boa ideia. Lá está, o
princípio é bom, a aplicação a curto prazo
seria calamitosa.
Economista. Escreve à quarta-feira
14 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Política Candidaturas autárquicas já entregaram orçamentos

Campanhas de Moedas e Feliz são

as mais caras destas autárquicas
Apesar de o partido de Rui Rio ter cortado no orçamento para estas autárquicas, o PSD é o partido que
mais dinheiro conta gastar nas corridas a Lisboa e ao Porto. O PS é o que gasta mais no global nacional
NELSON GARRIDO

Liliana Borges
A cerca de um mês do arranque da
campanha eleitoral das eleições
autárquicas, já é possível saber quais
as candidaturas que implicarão mais
despesas. As estimativas são feitas
pelos próprios e já foram disponibi-
lizadas no site da Entidade das Con-
tas e Financiamento dos Partidos.
As contas apresentadas pelos parti-
dos a título individual variam con-
soante o número de coligações em
que cada partido concorre, mas as
apostas são claras: Lisboa e Porto
são, sem surpresa, as duas cidades
onde os recursos se concentram.
Somando todos os orçamentos das
campanhas para todos os municípios
do país, o PS é o partido que mais
gasta, e só faz coligações em Lisboa
e Felgueiras (com o Livre). Mas nos
casos especíÆcos de Lisboa e do Por-
to é o PSD, com as candidaturas de
Carlos Moedas e Vladimiro Feliz, o
partido que abre mais os cordões à
bolsa na tentativa de recuperar as
autarquias.
Apesar de o PS estimar gastar mais
de 10,2 milhões de euros (mais um
milhão de euros do que o segundo
partido que mais investe, o PSD), os
socialistas são “mais poupados” nas
candidaturas a Lisboa e Porto.
Só no Porto, por exemplo, o PSD,
que nestas eleições tem orçamenta-
dos 9,2 milhões de euros, conta gas-
tar 200 mil euros na candidatura de
Vladimiro Feliz, mais do que o PS Candidatura de Vladimiro Feliz no Porto — uma aposta de Rui Rio — tem um orçamento de 200 mil euros
planeia investir na campanha de Tia-
go Barbosa Ribeiro. Os socialistas gia do social-democrata, concen- a candidatura do comunista João 41 mil euros. A segunda maior apos-
irão gastar apenas 167 mil euros na trando aqui metade do seu orça- Ferreira. ta da Iniciativa Liberal vai para Mato-
campanha do deputado socialista à mento total. Se compararmos este Pelo BE, as maiores apostas vão sinhos, onde a campanha custará

Câmara do Porto.
A maior aposta Ænanceira do PSD
está reservada a Lisboa, onde o par-
tido terá Carlos Moedas, à frente de
uma coligação, a disputar a presi-
dênciada câmara ao socialista Fer-
nando Medina. A candidatura Novos
Tempos que junta o PSD, CDS-PP,
Aliança, Partido da Terra e Partido
Popular Monárquico irá gastar
pelo menos 300 mil euros para
10,2
milhões de euros é quanto os
socialistas estimam gastar no
total com as autárquicas, nas
quais só têm coligações em
Lisboa e Felgueiras, com o Livre
gasto com outros orçamentos
sociais-democratas, vemos que se
distingue como um esforço adicio-
nal do PSD. Veja-se o exemplo da
candidatura de Vladimiro Feliz, que
só canalizará cerca de 25% do seu
orçamento total à concepção da
campanha, agências de comunica-
ção e estudos de mercado.
Já o PS, que recandidata o actual
autarca Fernando Medina com o
também para a candidatura de Bea-
triz Gomes Dias a Lisboa, orçamen-
tada em 59,6 mil euros. Para o Porto,
os bloquistas contam gastar 49 mil
euros na candidatura do sociólogo
Sérgio Aires.
Segue-se o PAN, que conta ter
uma despesa de 33 mil euros na
campanha da escritora Manuela
Gonzaga à Câmara de Lisboa. Para
o Porto, o PAN tem menos de meta-
aproximadamente 17 mil euros.
Chega por escalões
As contas do Chega são bastante
repetitivas: para as maiores apostas,
o Chega prevê um orçamento de 16
mil euros. É o caso de Cascais, Porto
e Lisboa, que receberão exactamen-
te o mesmo. Seguem-se os municí-
pios “intermédios”, como Amadora,
Braga, Coimbra, Guimarães, Leiria,

apoiar a candidatura do social-de-
mocrata. Dos 300 mil euros desti-
nados à lista encabeçada pelo antigo
comissário europeu, quase metade
(149 mil euros) vai para a concepção
da campanha, agências de comuni-
cação e estudos de mercado. A des-
pesa destinada à concepção da can-
didatura de Moedas revela o esforço
da coligação em preparar a estraté-
300
mil euros é quanto a coligação
Novos Tempos (PSD/CDS-PP/A/
MPT/PPM) prevê gastar com a
candidatura de Moedas. O PS
reserva 237 mil euros a Medina
apoio do Livre , conta gastar 237 mil
euros na campanha eleitoral lisboe-
ta (menos 63 mil euros do que a coli-
gação que apoia Carlos Moedas). Em
conjunto, o orçamento apresentado
pelo PS e pelo Livre Æca ainda aquém
dos 250 mil euros gastos pelos socia-
listas em 2017.
Segue-se a CDU, que estima ter
uma despesa de 100 mil euros com
de do orçamento de Lisboa: 14,5 mil
euros.
No caso do CDS, as “Æchas” estão
concentradas em Ponte de Lima e
Vale de Cambra, onde o partido esti-
ma gastar 45 mil euros em cada cam-
panha (a estimativa mais alta apre-
sentada do seu orçamento).
A Iniciativa Liberal, que candidata
Bruno Horta em Lisboa, conta gastar
Loures, Maia, Matosinhos, Odivelas,
por exemplo, onde o partido conta
gastar oito mil euros (metade do que
irá gastar nas suas principais apos-
tas). Para as restantes autarquias, os
candidatos do Chega também terão
todos o mesmo orçamento: 1500
euros por candidatura, qualquer que
seja o tamanho da autarquia à qual
concorrem.
 Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 15

Política

Adrião queria adiar congresso do PS de novo

Luciano Alvarez
Reunião magna dos
socialistas já foi adiada
duas vezes e tem data
marcada para 28 e 29 deste
mês, em Portimão
Daniel Adrião, candidato a secretá-
rio-geral do PS derrotado nas elei-
ções socialistas de Junho deste ano,
defende novo adiamento do XXIII
Congresso Nacional do partido, mar-
cado para 28 e 29 deste mês, em Por-
timão, por entender que o país ainda
não vive uma situação tranquila rela-
tivamente à pandemia da covid-19.
O presidente do PS, Carlos César,
já garantiu que a reunião magna terá
lugar na data prevista.
O congresso nacional do PS esteve
inicialmente marcado para Maio des-
te ano, mas, devido à pandemia, já foi
adiado por duas vezes. A 3 de Julho,
a comissão nacional do PS aprovou,
com 86% de votos favoráveis, a reali-
zação do encontro nos dias 28 e 29
deste mês. Ontem Carlos César aÆr-
mou que o congresso vai mesmo
avançar nas datas previstas e que terá
lugar na Portimão Arena.
César contraria assim a vontade de
Daniel Adrião, que a 31 de Julho escre-
veu uma carta ao presidente dos
socialistas, alegando não existirem
ainda condições de segurança relati-
vamente à pandemia para realizar a
reunião magna.
“As autoridades de saúde pública
não têm dúvidas em aÆrmar que exis-
tirá nas próximas semanas um
aumento de casos de contágio e que
isso se irá traduzir em mais interna-
mentos. Neste ponto, a região de Lis-
boa e Vale do Tejo é a que apresenta
a situação mais grave, com 62% do
total de hospitalizações em unidades
de cuidados intensivos. Acresce que
Portugal é, neste momento, o segun-
do país da UE com mais mortes por
milhão de habitantes”, alega
Adrião na missiva enviada a
César.
O militante que conseguiu
apenas 6% dos votos na elei-
ção a secretário-geral que
disputou com António Cos-
ta questiona o presidente
do partido, tendo em conta
estes factos, “a que acrescem as espe-
ciais responsabilidades do PS, como
partido do Governo, de se constituir
como exemplo no cumprimento
escrupuloso das obrigações que são
exigidas aos portugueses”, se tencio-
na “manter a realização do congresso
nacional nas datas previstas”.
Pergunta ainda se “considera que,
em nome do bom senso e do sentido
de Estado, este deverá ser reagenda-
do para data oportuna e realizado
logo que se veriÆquem as condi-
ções de normalidade que a reunião
magna dos socialistas exige.”
Na resposta a Adrião, no
dia 3 deste mês, César diz
não encontrar “razões
referenciadas na situa-
ção pandémica, bem
pelo contrário”, para adiar a data que
está prevista para a reunião.
Nesta terça-feira, em declarações à
agência Lusa, o presidente do PS con-
Ærmou a realização do congresso na
data prevista. “O congresso decorre-
rá na Portimão Arena, no Algarve,
onde o número de delegados presen-
tes não chegará a metade da capaci-
dade do espaço, com o distanciamen-
to físico adequado dos delegados e
com o acesso condicionado ao certi-
Æcado de vacinação ou teste realizado
à entrada do edifício”, aÆrmou
César.
Também ontem à tarde a comissão
organizadora do congresso aprovou
“por unanimidade” a realização da
reunião magna, em regime “presen-
cial”, em Portimão.

PUBLICIDADE

Queixas contra
câmaras
crescem 392%
neste mandato
O Portal da Queixa registou quase
7000 reclamações dirigidas às
câmaras municipais durante o man-
dato que agora termina, o que
representa um aumento de 392%
face ao quadriénio 2013-2017, infor-
mou ontem a plataforma destinada
a consumidores.
Segundo o comunicado, foram
feitas 6988 queixas entre 1 de Outu-
bro de 2017 e 31 de Julho de 2021,
contra as 1419 registadas no período
homólogo imediatamente anterior.
O estudo do Portal da Queixa, que
teve como mote as eleições autár-
quicas marcadas para 26 de Setem-
bro, concluiu que Lisboa (1496
reclamações), Porto (407) e Braga
(191) foram as mais visadas pelos
seus munícipes no actual mandato,
numa análise focada nas 18 capitais
de distrito, que concentraram 37%
das queixas (2615). “Um resultado
que está relacionado com o facto de
pertencerem às zonas mais urbani-
zadas do país e àquelas que apre-
sentam uma maior densidade popu-
lacional”, justiÆca a plataforma.
No lado oposto, o Portal da Quei-
xa não recebeu qualquer reclama-
ção relativa à Câmara de Vila Real,
enquanto Guarda (cinco), Bragança
(sete) e Portalegre (dez) foram as
que geraram menos protestos. As
maiores variações de crescimento
registaram--se em Viana do Castelo
(1300%), Beja (1000%), Faro (825%),
Braga (730%) e Lisboa (696%).
Lusa
16 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
Política
Pedro Santana Lopes é candidato independente à presidência da câmara que liderou entre 1997 e 2001, quando era do PSD
PSD impugna em tribunal candidatura
de Santana Lopes à Figueira da Foz
Sociais-democratas acusam
movimento independente
de usar duas denominações
diferentes, entre outras
irregularidades
A candidatura do PSD à Câmara da
Figueira da Foz entregou ontem, em
tribunal, um pedido de impugnação
da candidatura independente de San-
tana Lopes, alegando a violação da lei
que regula a eleição dos órgãos das
autarquias locais.
Os sociais-democratas alegam que
o movimento independente tem usa-
do denominações diferentes numa
mesma candidatura. “Apresenta-se
com a denominação Pedro Santana
Lopes Figueira a Primeira e outras
vezes com a denominação Figueira a
Primeira, o que não se pode admitir
e a lei não consente”, lê-se na impug-
nação dirigida ao juiz responsável
pelo processo eleitoral. “Consequen-
temente, as candidaturas à Câmara
Municipal da Figueira da Foz não
podem ser admitidas por violarem
claramente a lei, dado que os propo-
nentes são ou devem ser exactamen-
te os mesmos e não podem ter deno-
minação distinta”, acrescenta.
Por outro lado, o pedido de impug-
nação, formulado pelo advogado liga-
do à candidatura do PSD, liderada por
Pedro Machado, argumenta que “o
Grupo de Cidadãos Eleitores [o movi-
mento independente de Santana
Lopes] não comprova o cumprimento
do número mínimo de proponentes,
nem para estas candidaturas nem
para todas as candidaturas das fregue-
sias do concelho da Figueira da Foz”.
“E, consequentemente, não tendo
feito prova desse requisito, que objec-
tivamente não cumpre face ao núme-
ro legal de recenseados no concelho,
em cada freguesia, que é do conheci-
mento oÆcial, todas estas candidatu-
ras não podem ser admitidas, por
ofenderem claramente a lei”, adianta
o pedido de impugnação.
“Face ao exposto, e muito mais se
podia arguir, o PSD vem impugnar as
referidas candidaturas, pelo que as
mesmas não podem ser admitidas ao
presente sufrágio”, refere o docu-
mento, aludindo às eleições de 26 de
Setembro.
A Lusa tentou ouvir o candidato do
PSD, Pedro Machado, que, segundo
fonte da direcção de campanha, esta-
va “inacessível”, “em reuniões”.
De acordo com a mesma fonte, que
conÆrmou o pedido de impugnação,
esta foi entregue em tribunal pelo
advogado que está a assessorar a can-
didatura do PSD, “que, em face ao
acesso possível ao processo e face ao
que em última hora foi detectado, de
algumas irregularidades ou eventuais
irregularidades, decidiu, por uma
questão de prudência e assegurar da
legalidade, que deveria apresentar
aquele requerimento”. “Recordo que
estamos a falar de prazos extraordi-
nariamente apertados para fazer cor-
recções e poder apresentar reclama-
ções. Sendo certo que cabe ao senhor
juiz fazer o entendimento se são ou
não [irregularidades], até porque ele
tem outro tempo e outro acesso aos
documentos”, alegou a fonte oÆcial
da candidatura do PSD.
PSD “não foi o único”
A fonte da candidatura de Pedro
Machado notou ainda “um porme-
nor”: o advogado do PSD “não foi o
único a apresentar requerimentos e
reclamações sobre a candidatura e as
mesmas questões da candidatura do
dr. Pedro Santana Lopes”. “Impugna-
ção com esse nome era a única, mas
houve um requerimento exactamen-
te com o mesmo teor da CDU, eu vi-o
NUNO FERREIRA SANTOS
lá. Porque quando alguém faz um
requerimento ou uma impugnação,
os outros [candidatos] são notiÆca-
dos”, frisou.
O juiz tem agora 24 horas para
decidir sobre o pedido formulado
pelo PSD e deverá avaliá-lo hoje,
sendo que a decisão de admitir ou
não a candidatura tem recurso para
o Tribunal Constitucional, disse a
mesma fonte.
No sábado, o JN noticiou que Pedro
Santana Lopes dera a morada de uma
conhecida peixeira para se recensear
na freguesia de Buarcos. Então, o
antigo líder do PSD disse ao JN que
tivera diÆculdade em arrendar casa,
mas que já o conseguira fazer. E res-
ponsáveis das candidaturas do PSD e
do PS já admitiam impugnar a candi-
datura de Santana, por esse e outros
motivos. O PÚBLICO tentou ouvir
Santana Lopes, mas sem sucesso.
PÚBLICO/Lusa
 Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 17

Medida apoiada pelo mecanismo europeu React-EU Sociedade

Governo investe 45 milhões de euros

no restauro da natureza e reƍorestação
Plantação de árvores contra a desertiÄcação e recuperação de matas nacionais e de parques Åorestais em
perímetros urbano, além da criação de um viveiro de plantas dunares, estão entre os projectos apoiados
ADRIANO MIRANDA

Patrícia Carvalho
O Ministério do Ambiente e da Acção
Climática vai apresentar hoje uma
nova medida de apoio, tornada pos-
sível graças ao React-EU, o mecanis-
mo de emergência de Assistência à
Recuperação para a Coesão e os Ter-
ritórios da Europa, criado para res-
ponder à crise provocada pela pande-
mia. Desta vez, o ministro João Pedro
Matos Fernandes tem no bolso 45
milhões de euros para serem distri-
buídos por seis eixos da medida “Resi-
liência dos territórios face ao risco”.
As cinco áreas que irão beneÆciar
deste investimento pretendem dar
passos no combate às alterações cli-
máticas, através da adaptação dos
territórios, seja combatendo a deser-
tiÆcação, seja diminuindo a probabi-
lidade do avanço dos fogos que tende-
rão a tornar-se mais violentos, à medi-
da que o planeta aquece.
“Estamos a falar de resiliência dos
territórios face ao risco, apostando
exclusivamente na valorização dos
ecossistemas. Tudo o que será apre-
sentado dará lugar a avisos, que irão
abrir até ao Ænal de Setembro, para
que se avance com intervenções que
têm de estar concluídas até 2023, pelo
que têm de ser iniciadas, o mais tar-
dar, no primeiro semestre do próximo
ano”, diz ao PÚBLICO o ministro do
Ambiente.
O eixo com maior dotação, dentro
dos 45 milhões de euros do React-UE O Pinhal de Leiria, que ardeu em 2017, é um dos espaços que vão beneficiar de apoio
para esta medida, é o que se propõe
“recuperar matas nacionais e períme- combate regando, mas adensando as optimizar quatro viveiros Çorestais Paulo Marques, da Faculdade de
tros Çorestais”. Para aqui estão pre- espécies nativas”, diz o ministro, públicos e o Centro Nacional de Arquitectura da Universidade do Por-
vistos 25 milhões de euros, com des- salientando que, nesta área, os prin- Sementes Florestais e cinco milhões to”, explica o ministro.
tino ainda incerto em muitos casos cipais beneÆciados serão, sobretudo, para o Roteiro Terras de Miranda — Com um projecto especial Æcará
— dependerá das respostas aos avisos, proprietários privados. este último inserido num investimen- também o viveiro de Monte Gordo,
por parte, por exemplo, dos baldios Queremos deÄnir Plantar árvores é também o que se to mais vasto já tornado público. onde vai nascer o primeiro viveiro
em co-gestão com o Estado que pos- pretende com 1,5 milhões de euros nacional de plantas dunares, que será
sam candidatar-se —, mas já assegu-
territórios destinados à criação de “ilhas-som- Viveiro de Monte Gordo desenvolvido pela Faculdade de Ciên-
rado noutros. “Queremos deÆnir prioritários e bra em meio urbano” — uma área No caso dos parques Çorestais que cias da Universidade de Lisboa.
territórios prioritários e propor “inspirada” no projecto Além Risco, vão ser reabilitados, os beneÆciários “Não temos plantas autóctones em
acções de recuperação. Estará aqui
propor acções de que está já a ser desenvolvida em já estão identiÆcados e situam-se na quantidade suÆciente para fazermos
incluído o Pinhal do Rei, em Leiria, e recuperação algumas zonas do Alentejo, sob a periferia das cidades de Amarante, as plantações que queremos e cum-
também algumas matas que estão em coordenação do investigador Miguel Bragança, Lamego, Macedo de Cava- prirmos os objectivos que temos no
parques naturais e áreas protegidas e João Pedro Matos Bastos Araújo. “Mais difícil do que leiros, Mondim de Basto, Viana do PRR [Plano de Recuperação e Resi-
que sofreram com os incêndios nos Fernandes plantar árvores nestes sítios é garan- Castelo, Vieira do Minho e Viseu. liência] e na próxima PAC [Política
últimos anos”, diz. Ministro do Ambiente tir que elas vivem por 30, 40 anos, “Alguns deles estão francamente Agrícola Comum]. Precisamos de ter
Há também dez milhões de euros mas já há um conjunto de soluções degradados e vão todos ser recupera- plantas suÆcientes para cumprir os
para a “(re)arborização de áreas a ser desenvolvido nesta área”, dos. O que precisa de uma recupera- nossos próprios objectivos, por isso
ambientalmente sensíveis e susceptí- clariÆca Matos Fernandes. ção mais robusta vai ter um projecto temos mesmo de melhorar e investir
veis à desertiÆcação”, que Matos Fer- No pacote que será apresen- especíÆco, que é o de Amarante. É muito no banco de sementes. Além
nandes diz estarem concentradas “no tado hoje, na Mata do Buçaco, um parque com mais de 10 hectares, disso, teremos a novidade de desen-
Alentejo e na raia”, englobando a Bei- há mais 1,5 milhões destinados tem mais do dobro do tamanho do volver um viveiro de plantas duna-
ra Baixa e partes do Douro. “Estamos à beneÆciação de oito parques segundo desta lista, e tem um poten- res, para passarmos a ter algo que
a falar sobretudo de plantação de Çorestais no perímetro urbano, cial maior, pelo que encomendamos neste momento não temos mesmo”,
árvores, porque o deserto não se dois milhões para modernizar e um projecto ao arquitecto paisagista refere o ministro.
18 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
Sociedade
Governo disse há um ano que ia punir graffiti
com mais dureza. Nunca o fez
Ana Henriques
Suspeita da pichagem do
Padrão dos Descobrimentos
é uma aluna francesa. Lei
sujeita-a a multa até 25 mil
euros e prisão até oito anos
O Governo disse em Setembro do
ano passado que se preparava para
endurecer as punições aplicáveis a
quem usa graffiti para vandalizar o
património alheio. Porém, nunca o
fez até este momento, altura em que
o problema volta a estar na ordem
do dia por o Padrão dos Descobri-
mentos ter sido alvo de pichagem.
A autora das inscrições no monu-
mento, que entretanto já foram
removidas, será uma aluna de artes
francesa que entretanto regressou ao
seu país, mas não sem antes ter colo-
cado um vídeo da sua proeza nas
redes sociais com a mensagem “It’s a
wrap. Bye Lisboa” (“Terminado.
Adeus Lisboa”). Embora não conÆr-
me a sua nacionalidade, a PJ fala da
suspeita como sendo uma estrangei-
ra “que já terá praticado actos da
mesma natureza noutros locais e
que, entretanto, se ausentou do ter-
ritório nacional”.
A remoção da frase “Navegando
cegamente por dinheiro, a humani-
dade afunda-se num mar escarlate”
Ensino superior com reforço de 25 milhões
na verba do Orçamento do Estado para 2022
Valor global resulta do
aumento anual de 2%
previsto no contrato com
o Governo e da reposição
da redução das propinas
As instituições de ensino superior
deverão ter uma dotação de 1253
milhões de euros no Orçamento do
Estado para 2022, um aumento de
25 milhões de euros, indica um
documento do Instituto de Gestão
Financeira da Educação (IGeFE)
divulgado ontem.
“O valor total da dotação das ins-
tituições de ensino superior públi-
cas foi assim determinado ser de
1253 milhões de euros em 2022 (face
a 1228 milhões de euros em 2021)”,
refere o documento do IGeFE sobre
as dotações das Instituições de Ensi-
— escrita em inglês e com erros orto-
gráÆcos — custou à empresa munici-
pal de cultura que gere este equipa-
mento 2300 euros mais IVA. Montan-
te que se soma aos mais de 4,6
milhões para limpeza de inscrições
deste género adjudicados a várias
empresas privadas pela Câmara de
Lisboa até 2023/24. A limpeza da cha-
mada arte urbana também não tem
Æcado barata à CP, que no ano passa-
do gastou mais de meio milhão de
euros para apagar 60.372 metros qua-
drados de graffiti nos comboios.
Não são conhecidos casos de puni-
ções exemplares deste tipo de delito
em Portugal, apesar de uma lei de
2013 estipular que a multa por cons-
purcar, descaracterizar ou manchar
monumentos e aÆns vai até aos 25 mil
euros. Em França, chega aos 30 mil.
Não existindo nas leis nacionais, ape-
sar das promessas do Governo, uma
punição penal especíÆca para este
tipo de inscrições, os poucos arguidos
que têm chegado a tribunal respon-
dem pelo crime de dano ou pelo de
dano qualiÆcado. De acordo com o
Código Penal, quem daniÆcar ou des-
Ægurar algo que por possuir impor-
tante valor cientíÆco, artístico ou
histórico se encontre acessível ao
público sujeita-se a uma pena até oito
anos de cadeia. Em França, a moldu-
ra penal máxima são dois anos.
Há juristas a defender que é possí-
no Superior (IES) públicas para 2022
a que a Lusa teve acesso.
O valor global resulta do aumento
anual de 2% previsto no contrato de
legislatura entre o Governo e as ins-
tituições de ensino superior, da
reposição da redução das propinas
e do custo da integração de vínculos
precários.
As universidades e institutos poli-
técnicos públicos vão receber um
valor base de quase 1207 milhões de
euros em 2022, mais 23,6 milhões de
euros do que no ano passado, corres-
pondente ao aumento de 2%.
A distribuição desta verba pelas
instituições é feita com base numa
fórmula que tem em conta variáveis
como o número de alunos, profes-
sores ou investigadores.
Para as universidades, está pre-
vista a transferência de cerca de 846
milhões de euros (mais 16,6 milhões
Inscrições no monumento já foram entretanto removidas
[Suspeita] já terá
praticado actos da
mesma natureza
noutros locais
Polícia Judiciária
Está prevista a decisão de
reduzir em 20% as propinas
ANTÓNIO COTRIM/LUSA
vel, em casos como o do Padrão dos
Descobrimentos, punir duplamente
o autor de um atentado ao património
deste quilate, aplicando-lhe simulta-
neamente uma multa administrativa
e uma pena em tribunal. É o caso do
juiz do Supremo Santos Cabral, que
num acórdão sobre o tema proferido
em 2018 escreveu: “Toma-se imperio-
so criar um regime especíÆco para
este tipo de actividade ilícita, que vem
proliferando no nosso país e cuja
inacção por parte das autoridades,
em grande medida causada pelo vazio
legal existente, tem originado que o
nosso país venha referenciado como
de euros que no ano anterior) e para
os institutos politécnicos um valor
de 360 milhões de euros (mais sete
milhões).
As universidades de Lisboa, Porto
e Coimbra são as que recebem mais,
por oposição à Escola Superior Náu-
tica Infante D. Henrique, que deve-
rá contar com pouco mais de três
milhões de euros, segundo o docu-
mento, que faz parte do processo de
preparação pelo Governo da pro-
posta de lei do OE2022.
A decisão de reduzir em 20% o
valor das propinas, que no ano lec-
tivo passado baixou para um máxi-
mo de 697 euros, também está pre-
vista no documento.
A reposição integral da redução
de propinas representa 38,6 milhões
de euros, segundo os últimos valo-
res da Direcção-Geral de Estatísticas
de Educação e Ciência (DGEEC) cita-
um paraíso para aqueles que desen-
volvem esta actividade”.
Para o magistrado, “só com muito
voluntarismo se poderá dizer que a
lei, em Portugal, está atenta a esta
forma de vandalismo massiÆcado”.
Defendendo a atribuição de natureza
pública a todos estes crimes — neste
momento os menos graves depen-
dem de queixa do lesado para serem
julgados —, Santos Cabral explica que
o graffito “não viola exclusivamente
o bem jurídico do direito de proprie-
dade, mas também o direito público
a um ambiente sadio e equilibrado, a
protecção do património cultural e
artístico, a paisagem, a paz e tranqui-
lidade pública, a segurança”.
Porém, nem todos pensam assim:
até ser proferido este acórdão existia
uma controvérsia jurídica que levou
tribunais superiores a recusarem-se a
punir graffiters, com o argumento de
que a lei de 2016 tinha despenalizado
tal prática. Foi assim que em 2015 o
Tribunal da Relação de Lisboa man-
dou em paz um rapaz que resolveu
acrescentar um toque seu ao Pavilhão
de Portugal, no Parque das Nações,
com a ajuda de um marcador preto.
O PÚBLICO tentou saber junto do
Ministério da Justiça qual o ponto da
situação das medidas legislativas
previstas no ano passado, mas não
recebeu qualquer resposta. com
João Pedro Pincha
dos no documento do IGeFE. A
estas duas parcelas somam-se ainda
os encargos decorrentes da aplica-
ção do Programa de Regularização
Extraordinária de Vínculos Precá-
rios na Administração Pública
(PREVPAP) que, segundo o docu-
mento do Instituto de Gestão Finan-
ceira da Educação, representam 7,1
milhões de euros no próximo ano.
O IGeFE sublinha que “o aumento
da dotação é superior ao do even-
tual aumento dos salários do Esta-
do, garantindo-se assim que a dota-
ção das IES aumenta mais do que a
sua principal fonte de despesa”.
Concluída a distribuição das dota-
ções públicas pelas IES, segue-se a
inscrição dos orçamentos de cada
instituição na plataforma da
Direcção-Geral do Orçamento, que
tem como data-limite o dia 19 de
Agosto. Lusa
 Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 19

Sociedade

Alterações climáticas: Portugal já sabia o que

aí vem, mas não está totalmente preparado
Patrícia Carvalho
Portugal, como os outros
países do Sul da Europa,
enfrenta futuro mais
quente, com mais ondas de
calor, secas e cheias
Os cientistas que há anos estudam as
alterações climáticas em Portugal são
unânimes: o mais recente relatório do
IPCC (sigla inglesa de Painel Intergo-
vernamental para as Alterações Cli-
máticas) não traz grandes novidades
quanto à forma como o país e a região
do Mediterrâneo em geral serão afec-
tados. Subida de temperatura,
aumento dos períodos de seca e
ondas de calor, períodos de chuva
menos frequentes mas mais intensos,
e uma linha de costa ameaçada pela
subida do nível médio do mar são as
principais consequências que se reti-
ram das conclusões do IPCC — que se
basearam em milhares de artigos
cientíÆcos, incluindo portugueses —,
hídricos e também por causa dos
fogos Çorestais. Na Europa há uma
área ardida anual muitíssimo maior
na região do Mediterrâneo — Portu-
gal, Espanha, sul de França, Itália,
Grécia — e a tendência é para conti-
nuar porque vamos ter ondas de calor
mais frequentes, mais intensas e
RUI GAUDÊNCIO
Subida de temperatura, aumento
dos períodos de seca e ondas
de calor entre as consequências
O ministro do Ambiente e da Acção
Climática, João Pedro Matos Fernan-
des, reconhece que o país tem um
caminho a fazer do lado da adapta-
ção. Apesar de Portugal ser várias
vezes citado como um exemplo no
trabalho desenvolvido ao nível de
clima — nomeadamente, ao nível
energético e de redução de emissões
—, o ministro defende que “quem está
na linha da frente da redução de emis-
sões tem a obrigação de começar a
fazer um discurso complementar a
esse, que é o do restauro e valoriza-
ção dos ecossistemas, do território”.
E aí, diz ao PÚBLICO, ainda não esta-
mos “na linha da frente”.
No rescaldo da divulgação das prin-
cipais conclusões do relatório do
IPCC, Matos Fernandes diz ter encon-
trado sobretudo “duas novidades,
uma técnica e outra de linguagem”.
Do lado técnico, o ritmo a que o pla-
neta poderá tornar-se 1,5 graus mais
quente do que no período pré-indus-
trial, foi o que mais o marcou. “Che-
garmos a esse valor em menos de 20
anos é um factor novo, há um senti-
mento de urgência maior do que o
que vinha de trás.”
Filipe Duarte Santos mostra dúvi-
das sobre se haverá a capacidade de
dar a resposta necessária, que tem de
ser, obrigatoriamente, global. “Em
relação ao resto do mundo, a UE está
a fazer bastante. Pode-se fazer mais,
mas é indiscutivelmente líder no pro-
cesso de descarbonização. O proble-
ma é que o mundo é muito fragmen-
tado, muito complexo (...)”, diz.
Pedro Matos Soares também chama
a atenção para a antecipação da data
em que o planeta poderá ultrapassar
a barreira do aumento do aquecimen-
to global de 1,5 graus, o que considera
“muitíssimo severo”, já que, defende:
“Estamos a falar de uma sociedade
impreparada para este tipo de extre-
mos, tanto ao nível das pessoas como
economicamente.”
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mas se estamos preparados para isso secas”, diz o especialista em altera-

já é outra questão.
“Por muito que os decisores políti-
cos queiram tomar este relatório
como novidade, isso pode ser visto
como uma desresponsabilização. É
claro que hoje temos uma informação
mais detalhada, um conhecimento
mais vasto, mas do ponto de vista
substancial, não há ali grandes novi-
dades”, diz Pedro Matos Soares, físico
da atmosfera do Instituto Dom Luiz
da Faculdade de Ciências da Univer-
sidade de Lisboa (FCUL), reforçando:
“Os resultados não são manifesta-
mente diferentes do que sabíamos, o
que mostra coerência [no trabalho
desenvolvido], mas têm uma funda-
mentação mais forte. Há mais corpo
cientíÆco, mais observações e melho-
res modelos.”
Também Filipe Duarte Santos,
coordenador, em 2006, do Projecto
SIAM II — Climate Change in Portugal.
Scenarios, Impacts and Adaptation
Measures (Mudanças do Clima em Por-
tugal. Cenário, impactos e medidas de
adaptação), em que já eram apresen-
tadas projecções da evolução do cli-
ma na linha do que o IPCC vem agora
deÆnir, aÆrma: “Em relação à região
do Mediterrâneo, o relatório conÆr-
ma-o como um hot spot das alterações
climáticas. A temperatura média tem
estado a aumentar mais do que à
escala global, na ordem de 1,5 graus
Celsius, quando a nível global ronda-
rá os 1,09, 1,1graus. Também já se
observa uma redução da precipitação
média anual, que é muito clara em
Portugal e é um dos aspectos mais
preocupantes, por causa dos recursos
ções climáticas da FCUL.
Rui Perdigão, professor catedrático
em Física de Sistemas Complexos e
Dinâmica do Clima e presidente do
Meteoceanics Institute for Complex
System Science, em Viena (Áustria)
diz “passar a vida a fazer contas para
salvar vidas”, trabalhando com mode-
los que permitiram, por exemplo,
antecipar em algumas semanas a pro-
babilidade da chegada das cheias que,
no mês passado, deixaram devastadas
várias partes da Europa central. Saúda
no relatório do IPCC, a maior atenção
dada aos extremos, e em relação a
Portugal, deixa um alerta: “Não nos
podemos esquecer das cheias. Não é
por o sul da Europa esperar uma pro-
babilidade inferior de termos cheias
regulares que devemos pensar que o
nosso problema é apenas a seca. Por-
que a quota de água [da região] conti-
nua a existir na atmosfera e vai ter de
ser escoada. Ou seja, o que veremos é
uma excessiva concentração [de água]
na atmosfera, que em vez de cair regu-
larmente, cai de repente, é a chuva de
um ano a cair numa semana. Esse é o
problema: num clima árido haver
situações em que se passam meses a
Æo sem cair um pingo e depois cair
uma quantidade brutal extremamen-
te concentrada no tempo e o espaço,
o que faz com que áreas como o Alen-
tejo, com a terra ressequida, percam
capacidade de inÆltração. Mesmo em
Lisboa, os planos de drenagem são
para um regime de extremos que já
não existe”, diz.
Mais adaptação
20 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Local Autor do roteiro das ecovias de Portugal tem novo projecto

ADRIANO MIRANDA

A bicicleta eléctrica permite que pessoas sem grande capacidade física — e até portadoras de deficiência — se consigam aventurar em percusos mais difíceis

Paulo quer pôr Portugal a pedalar

montes e vales numa bicicleta eléctrica
Paulo Guerra dos Santos, responsável pelo projecto Ecovias, está a promover uma campanha
de crowdfunding para lançar um roteiro turístico com percursos de bicicleta eléctrica pelo país
Alexandra Monteiro da Silva
Em Maio de 2010, Paulo Guerra dos
Santos arrancou de Lisboa até ao Sul
do país para pedalar, durante cem
dias, por Portugal continental. Enge-
nheiro civil de formação, o responsá-
vel pelo projecto Ecovias lançou, em
2015, o primeiro roteiro turístico com
percursos para bicicletas, em Portu-
gal. Em 2021, e aos 48 anos, com o
Road Book já na sétima edição, Paulo
está pronto para a próxima aventura:
criar um roteiro turístico com percur-
sos para pedalar em zonas de monta-
nha, alta montanha e vales profundos
de Portugal continental, desta vez
numa bicicleta eléctrica.
Em 2008, a acabar o mestrado,
desaÆou-se a desenvolver uma tese
ligada à mobilidade ciclável. “Essa
tese de mestrado foi uma feliz coin-
cidência na minha vida”, explica.
Largou os automóveis e começou a
“pilotar bicicletas” — foi assim que,
há 11 anos, parou a sua actividade
proÆssional e passou cem dias a
andar de bicicleta por Portugal. “Foi
uma viagem espectacular”, conta.
Em parte, sentia necessidade de
conhecer o país neste campo da
mobilidade ciclável e também de
entender a maneira como cidades e
vilas estavam a promover a utiliza-
ção das bicicletas como uma alter-
nativa aos automóveis e aos trans-
portes públicos. Daí surgiu o roteiro,
à boleia do Ecovias, cuja edição de
2019 foi Ænanciada, com sucesso,
através de uma campanha de
crowdfunding.
Este ano, depois de ter feito uma
viagem de bicicleta pelo Alentejo com
a família e amigos, decidiu voltar a
lançar o desaÆo à comunidade. Em
plena viagem, enquanto pedalava e
puxava o Ælho mais novo num atrela-
do através de uma corda elástica,
Paulo constatou: “Existem situações
em que as bicicletas convencionais se
tornam, de facto, difíceis.” Até por-
que, ao seu lado, a bicicleta eléctrica
de um dos amigos até os adultos
puxava nas subidas mais íngremes.
Esse factor, aliado ao facto de as ven-
das de bicicletas eléctricas estarem a
crescer no mercado internacional,
incentivou Paulo a pensar na possibi-
lidade de incorporar uma série de
rotas de montanha e alta montanha
para bicicletas eléctricas, na Rede
Nacional de Cicloturismo.
Esta nova campanha de angariação
de fundos, a decorrer na plataforma
PPL, “surge precisamente para Ænan-
ciar a identiÆcação de rotas [de mon-
tanha e alta montanha] e a compra
de uma bicicleta eléctrica para vali-
dar os percursos”, explica Paulo. Para
isso, espera conseguir angariar 9 mil
euros até 6 de Setembro: “É um pedi-
do colaborativo e, ao mesmo tempo,
uma espécie de validação do modelo
de negócio”, diz. Todos podem con-
tribuir, com donativos a partir de um
euro, sendo que há recompensas
para montantes iguais ou superiores
a 15 euros: entre elas, os roteiros
Paulo Guerra dos
Santos espera
conseguir angariar
9 mil euros
para validar os
percursos do guia
turísticos Road Book (incluindo a
nova edição, a publicar em Maio de
2022), duas ou cinco noites num
apartamento no centro histórico de
Lisboa ou um convite para se juntar
a um dos passeios de bicicleta com
Paulo e os amigos.
“No fundo, este roteiro é uma
revista com dezenas de mapas e foto-
graÆas, texto e informação turística
e técnica sobre os percursos, como
distâncias e inclinações”, sublinha o
promotor da campanha. Embora,
até à data, Paulo já tenha angariado
cerca de 30% do valor pretendido, o
projecto só avançará se o valor pedi-
do for atingido. Em todo o caso, se
tal não acontecer, nada está perdido.
“Entretanto, já consegui bicicletas
eléctricas de empréstimo.” Já só fal-
tam as saídas de campo. Texto edi-
tado por Amanda Ribeiro

Festival de Poesia de
Lisboa debate mundo
pós-pandemia
Mia Couto éo escritor
homenageado na sexta
edição deste festival, que
decorre entre os dias 12 e 18
de Setembro
O escritor moçambicano Mia Couto
é o autor homenageado este ano no
VI Festival de Poesia de Lisboa, que
decorre entre 12 e 18 de Setembro de
modo virtual, sob o mote da recons-
trução do mundo pós-pandemia.
Poetas de seis países diferentes vão
dialogar sobre o assunto Terra: Uma
Poética de Nós, tema da edição deste
ano do festival, que contará com a
participação, além do escritor home-
nageado, de Boaventura de Sousa
Santos, Heloísa Buarque de Hollan-
da, Luz Ribeiro, Ondjaki, Fado Bicha,
TranSarau e Judite Canha Fernan-
des, entre outros, anunciou a orga-
nização.
A proposta para esta sexta edição
é a de estabelecer um diálogo com as
poéticas da terra e as suas narrativas
históricas, através das vivências
social, económica e política. Desde
a demarcação de terras para a
expressão digna de povos originá-
rios, até aos movimentos urbanos de
luta pelo direito à habitação, passan-
do pela diáspora negra e de pessoas
em situação de refúgio, e pelo espaço
que um corpo não-normativo pode
ocupar nos territórios, os debates
visam a reconstrução de um mundo
melhor e mais inclusivo.
O FPL é uma iniciativa criada em
2016, que tem como principal objec-
tivo a valorização da língua portu-
guesa e o incentivo à leitura. Este
ano, “a programação foi desenhada
sob o tema Terra: Uma Poética de Nós
Mia Couto participa num debate
com Boaventura Sousa Santos
e por isso minha abordagem foi a de
aproximar territórios distantes para
debates urgentes, em um mundo
que quer se reconstruir pós-pande-
mia. Um mundo que precisa emergir
com mulheres, LGBT, negros e
negras, um mundo que precisa dar
vez aos conhecimentos do hemisfé-
rio Sul”, aÆrmou o curador do festi-
val, João Inneco.
É nesse contexto que surge a esco-
lha de Mia Couto como autor home-
nageado do Festival de Poesia de
Lisboa (FPL). “Por sua obra, que dia-
loga com a relação do homem com
a terra, tanto do ponto de vista his-
tórico como biológico, sua contribui-
ção para a Literatura Africana de
Língua Portuguesa e nossa necessi-
dade de conhecer e debater a obra
de um autor de outro país lusófono
— que não seja Brasil ou Portugal”,
explicou Jannini Rosa, idealizadora
e directora do festival, destacando
ainda a premissa subjacente a este
evento de “sempre homenagear um
autor vivo”.
Também a co-organizadora do FPL,
Carla de Sà Morais, ressalta as “muitas
lições de vida que dele provêm, o seu
amor pela terra” e toda a alusão que
a ela faz através dos seus poemas, e as
causas que defende e apoia”, e que
fazem de Mia Couto “o homenageado
ideal”. “Em várias das suas obras, ele
recria a língua portuguesa sob a
inÇuência moçambicana utilizando o
vocabulário das diversas regiões do
país”, assinalou a poetisa.
Entre os vários destaques da pro-
gramação, o curador aponta uma
mesa, em que Mia Couto participará
com Boaventura de Sousa Santos,
intitulada Pelas Epistemologias do
Sul, bem como uma outra, realizada
em parceria com o Instituto Camões
e com o Centro Cultural Português
em Brasília, intitulada Itinerários das
Poetas do agora, com Heloísa Buar-
que de Holanda (Brasil), Judite Canha
Fernandes (Portugal) e Enia Lipanga
(Moçambique).
Para além de várias mesas, o festi-
val contará ainda com uma cerimó-
nia de prémios, cujo primeiro lugar
terá direito a um troféu de participa-
ção e à publicação de um livro de
poesia, com lançamento na Festa
Literária Internacional de Paraty de
2022. “Um espectáculo imperdível é
o que assinamos em parceria com o
Museu da Língua Portuguesa — Tran-
Sarau convida Fado Bicha e André
Tecedeiro —, que coloca em cena os
discursos género-dissidentes, que
também estão em disputa por voz e
espaço nos territórios”, adiantou
João Inneco. Lusa
O transporte de mercadoria em ferrovia já tem um peso importante no Porto de Setúbal
Acesso do comboio ao Porto
de Setúbal vai ser modernizado
numa obra de 20 milhões
Francisco Alves Rito
Concurso público para
electrificação e preparação
da linha para comboios de
750 metros deve ser
lançado ainda este ano
O concurso público para as obras de
modernização do acesso ferroviário
ao Porto de Setúbal deve ser lançado
ainda este ano pela Infra-estruturas
de Portugal (IP), anunciou o vice-pre-
sidente da empresa pública, Carlos
Fernandes, no dia em que a IP e a
Administração dos Portos de Setúbal
e Sesimbra (APSS) assinaram um
acordo de cooperação para a concre-
tização da empreitada.
Com o acordo assinado, a IP está em
condições de candidatar a obra aos
fundos europeus, uma vez que já há
luz verde do Estado português. “O
Governo assumiu já como fazendo
parte do próximo quadro. Espera-
mos que nos próximos meses seja
possível lançar esta empreitada”,
aÆrmou o responsável da empresa.
A obra, que vai ter um custo de
quase 20 milhões de euros, dos quais
4,9 milhões serão Ænanciados pela
APSS, prevê a modernização de diver-
sas infra-estruturas nas ligações da
Linha do Sul ao Porto de Setúbal e a
Praias do Sado, e a eliminação de
constrangimentos, com destaque
para a passagem de nível da Cacho-
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 21
farra, que vai ser eliminada. Na zona
da Cachofarra será construída uma
área de parqueamento para compo-
sições, com três novas linhas de 800
metros cada uma, que vai permitir a
operação de comboios de 750 metros
de comprimento.
Obra sem estudo ambiental
Estão previstas também interven-
ções no fecho de recepção e expedi-
ção do Porto de Setúbal, a zona de
manobra das composições, nos ter-
minais “ro-ro”, onde são embarcados
os automóveis produzidos na VW
Autoeuropa, e da Somincor. A elec-
triÆcação de todos os troços de liga-
ção ao porto e à fábrica da Navigator
Company é o aspecto principal des-
ta empreitada e o mais importante
factor de modernização, uma vez
que actualmente a operação ferro-
viária obriga à mudança de locomo-
tivas eléctricas para locomotivas a
diesel cada vez que uma composição
precisa de entrar e sair. Na ligação à
fábrica da Navigator vão ser construí-
das duas novas linhas com capacida-
de para comboios de 750 metros.
A melhoria de todos estes acessos
vai permitir ao Porto de Setúbal,
segundo o administrador Carlos Cor-
reia, “consolidar e alargar o hinter-
land do porto até Espanha”, de Bada-
joz a Madrid, reforçar o transporte
ferroviário, com comboios de 750
metros, e integrar toda a actividade
na Janela Única Logística ( JUL). Este
Local
MIGUEL MANSO
administrador disse ainda que, com
o acordo agora assinado, e com “o
projecto de execução concluído”, a
APSS e a IP estão em “condições de
lançar os concursos públicos” para a
empreitada e Ænalizar um processo
que se iniciou em 2015.
O secretário de Estado Adjunto e
das Comunicações, Hugo Santos Men-
des, que encerrou a cerimónia de
assinatura do acordo, destacou a
importância da modernização destes
troços para o reforço da ligação fer-
roviária aos portos nacionais. Segun-
do disse, dos 40 terminais portuários
do país, apenas metade tem acesso
por comboio e a carga movimentada
por ferrovia, nos portos portugueses,
é apenas 7% do total. “O Porto de
Setúbal, com 27% [da carga total], é
aquele que tem maior quantidade de
carga movimentada por comboio”,
referiu o governante, que classiÆcou
o porto sadino como “essencialmen-
te exportador”, uma vez que “60%
da carga é para exportação”.
As obras de melhoria do acesso
ferroviário ao Porto de Setúbal e a
Praias do Sado estão dispensada de
estudo de impacte ambiental, reve-
lou o administrador da APSS Carlos
Correia. O projecto recebeu a indi-
cação de “dispensa, por parte da
APA [Agência Portuguesa do Ambien-
te] em Fevereiro. Este responsável
considera o processo “muito mar-
cante e importante” para o Porto de
Setúbal.
22 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Mundo Insurgentes já conquistaram oito capitais de província

Taliban cada
vez mais perto
de controlar
o Norte do
Afeganistão
Da região que mais resistiu aos
“estudantes de teologia” quando estes
tentavam chegar ao poder, nos anos
1990, resta Mazar-i-Sharif
Sofia Lorena
É impossível evitar a memória dos
últimos meses de 2001, quando a
aviação norte-americana abria cami-
nho aos avanços céleres da Aliança
do Norte, a heterogénea coligação
formada por antigos inimigos para
combater os taliban. Em sentido
inverso ao que aconteceu há 20
anos, as capitais de província do
Norte do Afeganistão estão a cair,
uma a uma, para os taliban. Ontem,
as forças islamistas apertaram o cer-
co à histórica Mazar-i-Sharif, capital
da província de Balkh, cruzamento
comercial e a maior cidade do Norte
do país, a região que tradicional-
mente mais resistiu ao movimento
fundamentalista.
Com a retirada dos Estados Unidos
a poucas semanas de estar completa,
a rapidez dos avanços da milícia isla-
mista continua a ser surpreendente,
mas parece ter-se tornado, ao mesmo
Depois de um Æm-de-semana triun-
fante para as forças dos mullahs, com
a queda de Sheberghan (bastião de
Abdul Rashid Dostum, “senhor da
guerra” uzbeque que era um dos
principais comandantes da Aliança
do Norte) e da importante cidade de
Kunduz (a leste de Mazar-i-Sharif,
Kunduz é a capital da província com
o mesmo nome), na segunda-feira
conseguiram conquistar a sexta capi-
tal de província em quatro dias,
Aybak (capital de Samangan), essen-
cial para o fornecimento de merca-
dorias ao Norte.
“O inimigo está agora a avançar
em direcção a Mazar-i-Sharif, mas,
felizmente, as defesas em redor da
cidade são fortes”, aÆrmou o porta-
voz do Ministério do Interior, Centenas de famílias em fuga dos combates nas províncias do Norte do Afeganistão têm chegado a Cabul à po
Mirwais Stanekzai. Atta Mohammad
Noor, o tajique que é ex-governador
da província de Balkh e um dos
“senhores da guerra” da região, já
Seis países da UE querem continuar a deportar afegãos
prometera resistir “até à última gota

tempo, um dado adquirido. “É o país
deles que têm de defender agora. É a
luta deles”, disse numa conferência
de imprensa o porta-voz do Pentágo-
no, John Kirby.
“Estas são as suas forças militares,
são as suas capitais de província, o
seu povo que têm de defender; vai
realmente depender da liderança que
estão dispostos a exibir aqui e agora,
neste momento particular”, insistiu
Kirby. Repetiu o que tanto os EUA
como os países europeus que mais
contribuíram para a missão da NATO
no país já deixaram claro — não have-
rá recuo na estratégia de saída.
A guerra agora é dos afegãos, do
seu Governo e dos voluntários que
se têm oferecido para ajudar um
Exército exausto e insuÆciente para
todos os focos de combate. E como
admite Kirby, no terreno, os desen-
volvimentos “não vão claramente na
direcção certa”.
de sangue”. “PreÆro morrer em
dignidade do que morrer em deses-
pero”, escreveu no Twitter.
Ontem, os taliban conquistaram,
quase de seguida, mais duas capitais
provinciais: Farah, da província com
o mesmo nome, no Oeste do país, e
Pul-i-Khumri, da província de
Baghlan, no Norte. Esta última possui
grande importância estratégica, já
que se encontra junto a uma auto-
estrada que liga as províncias do Nor-
te a Cabul, que será essencial para o
avanço para a capital.
Execuções sumárias
De Kunduz e de outras cidades que
caíram nos últimos dias sabe-se que
os habitantes que conseguiram fugir
tentam chegar à capital, Cabul,
enquanto muitos dos que Æcaram
permanecem nas suas casas. Na
região que menos violência e atenta-
dos viveu nos últimos 20 anos, todos
A
insegurança reina no
Afeganistão, com o avanço
dos taliban que conquistam
cidades atrás de cidades,
matam civis e prometem voltar a
instalar um governo com base
na sharia, a lei religiosa, mas seis
países da União Europeia
consideram que a situação no
terreno não pode servir como
justificação para travar as
deportações de afegãos da
Europa para o Afeganistão.
Os ministros do Interior da
Alemanha, Bélgica, Áustria,
Países Baixos, Dinamarca e
Grécia enviaram uma carta
conjunta à Comissão Europeia a
solicitar que não se suspensa o
processo de deportação,
mesmo com a deterioração
rápida da situação no terreno.
“Parar as repatriações dá um
sinal errado e é provável que
encoraje inclusivamente mais
cidadãos afegãos a deixarem a
sua casa em direcção à UE”,
referem os ministros na missiva
à Comissão a que a Europa Press
teve acesso.
A carta enviada à
vice-presidente da comissão
responsável pela Migração,
Margaritis Schinas, e à
comissária dos Assuntos
Internos, Ylva Johansson, refere
que o acordo migratório entre
Bruxelas e Cabul “não prevê
nenhuma cláusula para deter ou
suspender as repatriações para
o Afeganistão”.
Além disso, dizem os
ministros, o direito internacional
obriga os países a “receber os
seus próprios nacionais”.
No princípio de Julho, o
Governo afegão solicitou aos
países da UE a suspensão
imediata do processo de
repatriamento devido à
insegurança no país face ao
avanço dos taliban.
Mas os países signatários da
carta, ao invés de aceitar as
razões de Cabul, querem que se
“intensifiquem as conversações”
com o executivo de Ashraf
Ghani para que as deportações
continuem nos próximos meses.
A Comissão Europeia
confirmou a recepção da carta e
que responderá
“oportunamente”. No entanto, o
seu porta-voz para os Assuntos
Internos, Adalbert Jahnz,
realçou que cabe aos
Estados-membros avaliar e
decidir individualmente cada
um dos processos.

ocura de refúgio seguro
temem o regresso da sharia (lei islâ-
mica) e do terror que os taliban impu-
seram quando estiveram no poder.
“Eles atacam e pilham”, disse à
AFP a jovem Rahima, que fugiu de
Sheberghan e chegou na segunda-
feira a Cabul, onde acampou num
parque com centenas de pessoas. “Se
houver uma jovem ou uma viúva na
família, eles levam-na à força. Fugi-
mos para proteger a nossa honra.”
A alta-comissária das Nações Uni-
das para os Direitos Humanos,
Michelle Bachelet, conÆrmou que lhe
chegam cada vez mais relatos de abu-
sos, incluindo possíveis crimes de
guerra e crimes contra a humanida-
de, como “descrições profundamen-
te perturbadoras” de execuções
sumárias de tropas governamentais
que se tinham rendido. “As pessoas
temem que a conquista do poder
pelos taliban vá apagar os progressos
nos direitos humanos das últimas
duas décadas”, diz Bachelet.
Com os EUA sem estarem dispostos
a oferecer mais do que algum apoio
aéreo em termos militares, os próxi-
JAWED KARGAR/EPA
mos dias serão de esforços diplomá-
ticos. O enviado dos norte-america-
nos para o Afeganistão, Zalmay Kha-
lilzad, está de regresso a Doha (onde
os americanos negociaram o acordo
de retirada com os taliban, que em
troca prometeram não voltar a dar
refúgio a organizações terroristas,
como Æzeram com a Al-Qaeda de Bin
Laden) e tem uma série de encontros
previstos para esta semana.
Se no Norte os avanços taliban
parecem difíceis de parar, no Sul e
no Sudeste, as forças leais ao Gover-
no têm resistido melhor e continuam
a aguentar as suas posições em Kan-
dahar (a segunda maior cidade do
país depois de Cabul e capital dos
taliban quando estiveram no poder)
e Lashkar Gah, dois antigos bastiões
dos “estudantes de teologia”. O mes-
mo acontece em Herat, no Leste.
Mas sem reforços signiÆcativos, nin-
guém arrisca dizer por quanto tem-
po serão capazes de defender as
suas posições, num momento em
que há combates em 25 das 34 pro-
víncias do país.
Guias e tradutores
Milhares de afegãos esperam pela
passagem segura para os EUA
Paulo Narigão Reis
Com o avanço implacável dos taliban
no Afeganistão, o tempo escasseia
para salvar os milhares de afegãos
que, durante 20 anos, ajudaram as
tropas dos Estados Unidos e seus alia-
dos no terreno. No Ænal de Julho, a
Administração Biden deu início à
Operação Refúgio dos Aliados (Opera-
tion Allies Refuge), destinada a retirar
do país os afegãos que trabalharam
como guias e intérpretes dos militares
norte-americanos, juntamente com
as suas famílias.
Os primeiros 2500 afegãos em
fuga das mais que prováveis represá-
lias dos taliban começaram a chegar
no dia 30 de Julho à base militar de
Fort Lee, no estado da Virgínia, onde
Æcarão temporariamente alojados, e
a ponte aérea continuou nos primei-
ros dias de Agosto. Mas ainda há
vários milhares que esperam, e
desesperam, pela saída de um país
onde o seu futuro está decididamen-
te comprometido depois da retirada
das forças norte-americanas.
Um dos primeiros a chegar foi
Sayed Abdul Wase Majidi, cujo tra-
balho como tradutor para os milita-
res norte-americanos fez dele um
alvo provável da fúria dos taliban.
Para trás deixou a mãe, um irmão e
dois sobrinhos. De Fort Lee, onde
aterrou, Majidi seguiu para a Califór-
nia onde à sua espera estava o irmão
mais velho, Sayad Khalil Majidi, que
chegou a Sacramento há dois anos.
No Afeganistão, trabalhou como téc-
nico na Tolo TV, o maior canal de
televisão privado do país, um dos
alvos dos taliban que consideram a
estação como um veículo de propa-
ganda dos Estados Unidos.
“Estou muito grato, mas infeliz-
mente outros dos meus irmãos e os
meus dois sobrinhos ainda estão no
Afeganistão. Estou muito preocupa-
do”, aÆrmou Sayad Khalil Majidi à
Reuters. “Toda a gente sabe que o
meu irmão trabalhava como tradutor
para os americanos. As pessoas que
trabalharam para o Exército dos EUA
e outros, como o Exército do Reino
Unido, estão em grande perigo, bem
como as suas famílias.”
O Majidi mais novo está também
preocupado com os familiares que
Æcaram no Afeganistão. Mas, ao mes-
mo tempo, já pensa no seu futuro em
Sacramento, capital do estado da
Califórnia e onde vive uma das maio-
res comunidades de afegãos nos
EUA. “Agora tenho de encontrar um
emprego, como todas as outras pes-
soas”, disse Majidi à Reuters.
Quando era jovem, Sayed Abdul
Wase Majidi e os seus amigos passa-
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 23
O tradutor Sayed Abdul Wase Majidi à chegada a Sacramento
18 mil afegãos que
trabalhavam para
os EUA esperam
pelo Äm do
processo
burocrático
Muitos mais
encontram-se
encurralados
pelos combates
nas zonas rurais
vam o tempo em Cabul a jogar fute-
bol. Para ganhar dinheiro, decidiu
aceitar um dos poucos empregos
disponíveis, trabalhar como intér-
prete para os americanos.
“Quando acabámos a escola, não
tínhamos nada para fazer. E fui traba-
lhar como intérprete. Nunca fui polí-
tico ou partidário”, disse Majidi.
Muitos dos afegãos que trabalha-
vam para os EUA estão a receber
vistos especiais de imigrante (SIV, na
sigla em inglês), que lhes permitem
levar os seus cônjuges e Ælhos, mas
não pais e irmãos. Majidi deixou sozi-
nho o Afeganistão.
Mais de 50 mil pessoas são elegíveis
para a ponte aérea da Operação Refú-
gio dos Aliados. No entanto, o progra-
ma SIV, criado em 2006, está por esta
altura bastante atrasado, tendo em
conta a urgência criada pelo avanço
dos taliban.
A duração do processo e a buro-
cracia inerente levaram à acumula-
ção de pelo menos 18 mil pedidos,
o que obrigou o Departamento de
Estado a contratar mais funcioná-
BRITTANY HOSEA-SMALL/REUTERS
rios para lidar com a procura.
Ao mesmo tempo, os EUA estão
também a negociar acordos com
outros países, nomeadamente o
Qatar e o Kuwait, de modo a que os
afegãos qualiÆcados para o progra-
ma SIV sejam transportados para um
local seguro, enquanto os EUA lidam
com os milhares de pedidos. O mes-
mo pedido foi também já feito ao
Cazaquistão e ao Kosovo, segundo
avançou o New York Times.
A Administração Biden criou ainda
uma alternativa para que os afegãos
(e as suas famílias) que trabalhavam
em organizações não governamentais
ou para os media norte-americanos,
e que não cumprem os requisitos do
programa SIV, possam ir para os EUA
com o estatuto de refugiados.
Aos quase 20 mil afegãos que estão
ainda presos na burocracia, há que
somar os seus familiares, mais 53 mil
pessoas à espera de passagem segura.
E muitos mais encontram-se encur-
ralados nas zonas rurais, debaixo do
fogo cruzado dos taliban e das forças
governamentais, sem meios para che-
gar a Cabul, de onde partem os voos
do programa SIV, ou para outro país
vizinho onde possam ter refúgio.
Para as organizações que estão há
meses a fazer soar os alarmes, a situa-
ção actual podia ter sido evitada, se a
Administração Biden tivesse planea-
do a retirada há mais tempo.
“É muito frustrante trabalhar
durante este tempo todo, a dizer que
temos de lidar com um problema e
só quando ele chega é que resolvem
fazer alguma coisa”, lamentou James
Miervaldis, presidente da No One
Left Behind, organização que defen-
de os afegãos que trabalhavam para
os militares norte-americanos, em
declarações ao site noticioso Vox. E
acrescentou: “Estamos perante uma
falha completa do processo.”
24 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Mundo

Julgamento de iraniano na Suécia “põe

a República Islâmica no banco dos réus”
STEFAN JERREVANG/REUTERS

Maria João Guimarães

Hamid Nouri é acusado de

crimes de guerra pelas
execuções de presos em
1988, crimes que envolvem
o actual Presidente do Irão
A mais de 3500km de distância e mais
de 30 anos depois, um tribunal tenta
fazer justiça pelo que é considerado
o maior crime da República Islâmica
do Irão — as execuções em massa de
detidos considerados opositores em
várias prisões do país, levadas a cabo
após uma fatwa do ayatollah Ruhollah
Khomeini. Até hoje não se sabe quan-
tas pessoas morreram, até hoje as
famílias estão proibidas de fazer o
luto, até hoje nem se sabe sequer
onde estão enterradas.
É primeira vez que um responsá-
vel iraniano, Hamid Nouri, respon-
de em tribunal pelos crimes — a
Amnistia Internacional estima que
tenham sido executadas pelo menos
5000 pessoas, realçando que o
número pode ser superior. Tratou-
se, em primeiro lugar, de membros
do movimento de guerrilha Mujahe-
din e-Khalq (que lutaram ao lado do
Iraque contra o regime de Teerão),
e, depois, de marxistas ou simpati-
zantes de ideias de esquerda, a
maioria estudantes detidos por
entregarem panÇetos nas universi-
dades. Os de ideias mais Ærmes e
que pudessem vir a tornar-se um
problema para o regime ao emergir O julgamento da Hamid Nouri procurador de Teerão, revezava-se Iraj Mesdaghi vive na Suécia desde e do sueco Göran Hjalmarsson.
da guerra com o Iraque foram exe- está previsto decorrer até Abril com o seu superior numa comissão 1994. Em 1988, estava preso e diz que Também foram usados contributos
cutados, contou o advogado britâ- do próximo ano de três homens que decidiam o des- escapou quase por milagre. Desde de um simpósio da Universidade de
nico Geoèrey Robertson. tino dos presos, diz Robertson. que saiu do Irão, dedica-se a escrever Oxford em que, com base no relatório
Segundo a investigação de O caso de Nouri será também o sobre esses crimes. Um dia de Outu- de Robertson, uma série de peritos
Robertson (que liderou o tribunal primeiro de um iraniano acusado bro de 2019 foi contactado por um legais analisaram a forma de levar os
internacional para os crimes de guer- num tribunal que invoca o princípio genro de Nouri a viver na Suécia que autores do massacre à Justiça.
ra na Serra Leoa), feita a pedido da da jurisdição universal, ou seja, de havia lido os seus textos, conta o diá- “No início de Novembro [de 2019]
fundação Abdorrahman Boroumand que um país pode julgar crimes rio francês Libération. recebemos um dossier de Londres
(nome de um advogado pró-demo- cometidos noutro país, se estes Os dois combinaram levar Nouri a dizendo que Nouri chegaria à Suécia,
cracia assassinado em 1991), Nouri, forem particularmente graves. A pro- visitar a Suécia, com o pretexto de com informações e entrevistas sobre
então conhecido como “Hamid Abba- curadora do Ministério Público sueco este poder ajudar a resolver uma o que se passou no Irão. Lemos e
si”, foi o braço direito do vice-procu- Kristina Lindhoè Carleson disse que questão de custódia da sua neta, e abrimos um inquérito”, resumiu a
rador da prisão de Gohardasht. “a investigação exaustiva que resultou juntaram ainda mais um aliciante, um procuradora. O que foi apresentado
A directora executiva da fundação, nesta acusação mostra que, mesmo regresso a Teerão via Itália, incluindo foi considerado suÆciente para deter
Roya Boroumand, aÆrma que Nouri que estes actos tenham sido cometi- um cruzeiro. Nouri à chegada.
teve um papel activo nos interroga- A importância do dos fora do território sueco, e há mais Enquanto isso, Mesdaghi prepara- O julgamento deverá decorrer até
tórios dos prisioneiros, nos quais de três décadas, podem ser sujeitos a va um dossier para fazer entrar uma Abril de 2022, e não é claro se abor-
muitas vezes se tomava a decisão
caso sueco não é processos legais na Suécia”. queixa em tribunal, juntamente com dará o papel de Raisi nas execuções
sobre se o interrogado regressava à por ser uma Hamid Nouri é acusado por crimes o advogado radicado em Londres em massa. Recentemente, ainda
cela ou era executado. de guerra (a primeira onda de exe- Kaveh Moussavi e Nima Sarvestani, antes de ser Presidente, Raisi foi
“A importância do caso sueco não
pessoa, é o facto de cuções foi levada a cabo ainda duran- um realizador cujo irmão foi detido questionado sobre o seu envolvimen-
é por ser uma pessoa, é o facto de ser ser a República te a guerra Irão-Iraque) e mais de 110 e executado em 1982. Sarvestani vol- to nas mortes — que o Irão não reco-
a República Islâmica que está a ser assassínios. tou ao Irão em 2000, onde reuniu nhece terem acontecido — e respon-
julgada”, declarou.
Islâmica a ser horas de entrevistas, incluindo de deu que, “se um juiz ou um procura-
Relevante é também o papel do julgada Operação preparada altos responsáveis, sobre as mortes dor defenderam a segurança do
actual Presidente do Irão, Ebrahim A detenção na Suécia não foi um aca- dos presos, pensando que poderiam povo, devem ser elogiados”, acres-
Raisi, nestas comissões — Raisi é Roya Boroumand so. Foi fruto de uma operação pre- um dia fazer prova em tribunal. Con- centando que em todos os cargos
objecto de sanções dos EUA pelo seu Directora executiva da Fundação parada por dissidentes iranianos e taram ainda com a participação da que ocupou defendeu os direitos
papel nestas mortes. Enquanto vice- Abdorrahman Boroumand um familiar de Nouri. advogada britânica Rebecca Mooney humanos.

Governador de Nova Iorque
demite-se por queixas de assédio
Alexandre Martins
Andrew Cuomo resistiu
uma semana à divulgação
de um relatório em que
11 mulheres o acusam
de assédio sexual
O governador de Nova Iorque,
Andrew Cuomo, anunciou que vai
abandonar o cargo por sua iniciativa,
uma semana depois da publicação
de um relatório em que é alvo de
“queixas credíveis de assédio
sexual”, segundo a procuradora-ge-
ral do estado norte-americano.
A demissão, que Cuomo agendou
para dentro de duas semanas, tem
como consequência a subida de Kathy
Hochul ao cargo de governadora de
Nova Iorque. Hochul, uma advogada
de 62 anos, vai ser a primeira mulher
a liderar o governo do estado desde a
primeira eleição em 1777.
Cada vez mais sozinho, e em risco
de Æcar na História como o primeiro
governador de Nova Iorque a ser des-
tituído nos últimos 100 anos — e ape-
nas o segundo na História, depois de
William Sulzer, em 1913 —, Cuomo
tomou a decisão que já lhe era exigi-
da no Partido Democrata desde a
primeira denúncia concreta de assé-
dio sexual, em Fevereiro.
Ontem, numa conferência de
imprensa, reaÆrmou que nunca teve
Desafio militar de Bolsonaro no dia em
que o Congresso discutia voto impresso
Ricardo Della Coletta
Bolsonaro conseguiu que
os militares convocassem
um desfile em Brasília
numa clara mensagem de
força para os deputados
O desÆle militar de ontem em frente
ao Palácio do Planalto, em Brasília,
reuniu pela manhã cerca de 40 veí-
culos militares, todos da Marinha,
entre blindados, tanques, camiões e
jipes. A parada militar, realizada no
dia da votação da proposta de emen-
da constitucional (PEC) do voto
impresso na Câmara dos Deputados,
foi criticada como mais uma tentati-
va de politização das Forças Armadas
e de pressionar o poder legislativo.
O Presidente, Jair Bolsonaro,
a intenção de assediar nenhuma
mulher. E repetiu a sua convicção de
que também ele é uma vítima —de
“grandes mudanças culturais e gera-
cionais”, às quais, disse, não deu “o
devido valor”. “No meu entender,
nunca pisei o risco com ninguém,
mas não percebi o quanto esse risco
tinha sido alterado”, disse.
Numa resposta à justiÆcação do
governador, a activista e fundadora
do movimento MeToo, Tarana
Burke, criticou a tese de que houve
uma “mudança das regras” no rela-
cionamento entre homens e mulhe-
res. “Essa coisa da ‘diferença gera-
cional’ e da ‘mudança de regras’ não
faz nenhum sentido e é errada. As
regras não mudaram. Era errado há
Andrew Cuomo acabou por não resistir à pressão e demitiu-se
acompanhou o desÆle na rampa do
Palácio do Planalto, juntamente com
os comandantes das três Forças: Pau-
lo Sérgio (Exército), Almir Garnier
(Marinha) e Carlos de Almeida Bap-
tista (Aeronáutica). Também esta-
vam vários ministros, entre eles
Walter Braga Netto (Defesa), Ciro
Nogueira (Casa Civil), Luiz Eduardo
Ramos (Secretaria-Geral) e Anderson
Torres ( Justiça).
Depois do Planalto, a coluna mili-
tar seguiu em direcção à Esplanada
dos Ministérios, um trajecto que a
levou a passar ao lado do edifício do
Congresso Nacional.
No início do desÆle, que durou
aproximadamente dez minutos, um
militar em traje de combate desceu
de um dos jipes, subiu a rampa e
entregou a Bolsonaro um convite
para assistir ao exercício militar da
50 anos e é errado hoje. A diferença
é que no passado havia poucos cami-
nhos para uma responsabilização”,
disse Burke no Twitter.
Nos meses até à publicação das
conclusões do inquérito ordenado
pela procuradora-geral de Nova Ior-
que, Letitia James, a posição de Cuo-
mo foi Æcando cada vez mais fragili-
zada, à medida que iam surgindo
novas denúncias. Ao todo, 11 mulhe-
res, quase todas antigas e actuais fun-
cionárias do governo de Nova Iorque,
acusaram Cuomo. A procuradora-ge-
ral de Nova Iorque disse que todas as
denúncias são “credíveis”.
A maioria dos casos diz respeito a
denúncias de toques, apalpões e
comentários de teor sexual contra a
CAITLIN OCHS/REUTERS
Marinha programado para a próxima
segunda-feira. A chamada Operação
Formosa ocorre anualmente desde
1988, mas, de acordo com o Ministé-
rio da Defesa, é a primeira vez que o
convite ao Presidente é feito durante
uma parada militar.
Durante a passagem dos veículos,
um grupo de dezenas de apoiantes
de Bolsonaro juntou-se na Praça dos
Três Poderes e entoou gritos em
defesa da intervenção militar. “Eu
autorizo” e “142”, disseram, em refe-
rência ao dispositivo constitucional
O Presidente
Jair Bolsonaro
acompanhou
o desfile com
os comandantes
das três Forças
Armadas
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 25
vontade das mulheres, feitos quase
sempre em ambiente privado e,
segundo os investigadores, com o
conhecimento e a cobertura do cír-
culo mais próximo do governador.
Para o relatório, foram ouvidas
179 pessoas e analisados 70 mil
documentos.
No domingo, a principal conse-
lheira de Cuomo, Mellisa DeRosa —
citada no relatório 187 vezes e impli-
cada num plano para descredibilizar
umas das acusadoras —, anunciou a
sua demissão e selou o futuro políti-
co do governador.
Com a divulgação do relatório, o
governador perdeu o pouco apoio
que ainda tinha — primeiro na assem-
bleia legislativa de Nova Iorque, onde
se decide o impeachment, e onde o
Partido Democrata está em maioria;
e depois no Congresso dos EUA, com
a líder da Câmara dos Representan-
tes, a democrata Nancy Pelosi, a exi-
gir a sua demissão; e na Casa Branca,
onde o Presidente dos EUA e seu ami-
go de longa data, Joe Biden, se juntou
ao coro que começou a pedir o seu
afastamento.
Cuomo, que chegou a ser tratado
como um herói do combate à pande-
mia, há pouco mais de um ano, sai
para tentar evitar uma desgraça pes-
soal e política ainda maior — a sua
destituição oÆcial, que ainda pode vir
a acontecer, impede-o de voltar a can-
didatar-se a um cargo público.
que os bolsonaristas aÆrmam justiÆ#
car uma eventual intervenção dos
militares.
Um dia antes, no meio da polémi-
ca causada pelo desÆle de blindados,
Bolsonaro publicou nas suas redes
sociais um convite para que autori-
dades de Brasília, como os presiden-
tes dos poderes legislativo e judicial,
recebessem também os veículos mili-
tares. Os chefes dos demais poderes,
no entanto, não compareceram.
Vários senadores condenaram o
desÆle militar, considerando-o como
uma ameaça à democracia. O sena-
dor Omar Aziz classiÆcou a cena
como “patética”. “O papel das For-
ças Armadas é defender a democra-
cia, não ameaçá-la”, disse.
Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.
Paulo
Mundo
Taiwan
causa choque
entre China
e Lituânia
António Rodrigues
Pequim a chamou o seu
embaixador e pediu a
Vilnius que faça o mesmo
por causa de representação
diplomática taiwanesa
O Governo chinês chamou o seu
embaixador na Lituânia e pediu ao
executivo lituano que faça o mesmo
com o seu embaixador na China,
depois de Taiwan ter anunciado em
Julho que iria abrir um escritório de
representação diplomática em Vil-
nius, a primeira embaixada de facto
na Europa, em nome próprio: Escri-
tório de Representação Taiwanesa
na Lituânia.
O Ministério dos Negócios Estran-
geiros chinês fez o anúncio ontem,
considerando que a autorização con-
cedida pela Lituânia a Taiwan, que
Pequim considera como seu territó-
rio, “mina gravemente a soberania e
a integridade territorial” da China.
“A decisão viola de forma descara-
da o espírito do comunicado do esta-
belecimento das relações diplomáti-
cas entre a China e a Lituânia”, diz o
MNE chinês, citado pelo South China
Morning Post. A Lituânia tem previs-
to abrir um escritório de representa-
ção em Taipé no Ænal deste ano.
Para Pequim, a decisão entra em
choque com a sua política de uma só
China e “expressa a sua oposição
categórica a essa movimentação”. “A
China declara solenemente ao mundo
que existe apenas uma China no mun-
do e o Governo da República Popular
da China é o único Governo legal que
representa toda a China”, disse o por-
ta-voz do MNE, citado pela Xinhua.
A tensão sino-lituana parece irre-
versível, tendo o Governo lituano
decidido retirar-se da plataforma
17+1, criada pela China para lidar com
os países da Europa Central e do Les-
te, acusando o Governo de Pequim
de provocar a desunião entre os Esta-
dos-membros da União Europeia.
Aquilo que a Lituânia permitiu a
Taiwan — e que o Comité Olímpico
Internacional continua a negar, por
exemplo, com a representação des-
portiva da China democrática a ser
identiÆcada como Taipé Chinês e
sem direito ao soar do hino em
Tóquio — é um grande feito para a
diplomacia taiwanesa que nos últi-
mos anos tem visto diminuir o seu
reconhecimento internacional, à
medida que a China avança diploma-
ticamente: dos 28 países que reco-
nheciam a República da China em
1990, restam apenas 15.
26 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Economia Concessões rodoviárias

Brisa só pagou
DANIEL ROCHA

cinco dos
6,8 milhões
reclamados
pelo Estado
Empresa não reconhece um quarto do
valor exigido pela parte pública num
acerto de contas da concessão. Estado já
reclamou os 1,8 milhões de euros em falta
Pedro Crisóstomo
O Estado português reclamou à Brisa
o pagamento de 6,8 milhões de euros
para acertar contas relacionadas com
a execução do acordo de concessão
rodoviária assinado em 2008, mas a
empresa só entregou cinco milhões,
alegando que só tem de regularizar
este valor. A fatia por devolver (1,8
milhões) representa cerca de um
quarto do montante de que a parte
pública exige ser reembolsada.
Os 6,8 milhões de euros que o
Estado reclamou, através da
Direcção-Geral do Tesouro e Finan-
ças (DGTF), têm que ver com o acer-
to de valores relativos a responsabi-
lidades que foram assumidas pelo
Estado em investimentos decorren-
tes da parceria, que inclui a constru-
ção, a conservação e a exploração
das auto-estradas.
As Finanças detectaram que a par-
te pública teria a receber valores rela-
tivos a trabalhos comparticipados
pela República e a comparticipações
nas taxas de portagens dos veículos
pesados. Ao auditar o contrato de
concessão, a Inspecção-Geral de
Finanças (IGF) veriÆcou que o valor
pago “como responsabilidade do
Estado por alguns investimentos efec-
tuados” excedeu o montante efectivo
em 6,8 milhões de euros e recomen-
dou que a DGTF notiÆcasse a empre-
sa para esta devolver a verba a mais.
A Brisa reconheceu que o Estado
tinha valores a receber, mas apenas
e do alegado direito a juros de mora
relativos à comparticipação do Esta-
do nas taxas de portagem aplicáveis
aos veículos das classes 3 e 4” (700
mil euros).
Nova notiÄcação
O relatório da IGF foi homologado
pelo secretário de Estado das Finan-
ças, João Nuno Mendes, em Março
deste ano e, em Maio, a Direcção-Ge-
ral do Tesouro acabaria por notiÆcar
a Brisa de valores não justiÆcados
pela concessionária, considerando
que o valor a regularizar eram os tais
6,8 milhões de euros.
A Brisa conÆrma ao PÚBLICO que
só “concordou parcialmente” e que,
em Junho, pagou os cinco milhões,
“não tendo concordado com o valor
remanescente apurado pela DGTF”.
Entretanto, o Estado já voltou a
exigir o valor que Æcou por pagar
aquando da primeira notiÆcação. O
Ministério das Finanças garantiu ao
PÚBLICO, através do gabinete de
imprensa, que a Brisa “procedeu ao
pagamento do montante de
4.985.992 euros” e que a DGTF vol-
tou a notiÆcar a Brisa “para proce-
der à regularização do montante em
falta”.
Resta saber se o diferendo acabará Lucros da concessionária até de euros”, nada esclarecendo sobre do Sul e a gestora de activos suíça
por resultar num litígio entre o Esta- Junho ainda ficaram 37% abaixo os 1,8 milhões que o Estado continua Swiss Life Asset Managers). Os res-
do e a empresa liderada por António do primeiro semestre de 2019 a dizer que devem ser repostos. tantes 16,7% continuam nas mãos do
Pires de Lima, ex-ministro da Econo- Além de controlar a Brisa Conces- grupo Mello, através da José de Mel-
mia, que no executivo de Pedro Pas- são Rodoviária e participar em outras lo Capital, que vendeu a maioria do
sos Coelho tinha na alçada do seu concessões, o grupo Brisa detém a capital no ano passado.
ministério a pasta das infra-estrutu- Via Verde Portugal e a Controlauto, No primeiro semestre, o resultado

de cinco milhões, porque tem um
entendimento distinto em relação à
forma de contabilização dessas tare-
fas e compromissos.
A diferença de 1,8 milhões, expli-
cou a IGF na auditoria, “resulta de
divergências de entendimento no
critério de apuramento do montante
dos trabalhos a mais comparticipá-
veis pelo Estado (1,1 milhões de euros)
ras e que agora está à frente da
empresa, numa altura em que o
Governo de António Costa pretende
renegociar o contrato de concessão.
Questionada pelo PÚBLICO se a
necessidade de pagar os 6,8 milhões
de euros se encontra reconhecida nas
contas do grupo, a Brisa respondeu
apenas que “já reÇectiu nas suas con-
tas o pagamento dos cinco milhões
4,985
milhões de euros foram já pagos
pela Brisa, confirmaram as
Finanças. Grupo já foi
novamente notificado para
pagar o restante ao Estado
entre vários negócios. Depois de
anos sob controlo do Grupo José de
Mello (mais recentemente com o
fundo Arcus), a Brisa tem hoje como
principal accionista a empresa Rubi-
cone BidCo, um consórcio de três
investidores estrangeiros que contro-
lam 81,1% do capital (o fundo de pen-
sões holandês APG Asset Manage-
ment, o fundo de pensões da Coreia
líquido da Brisa Concessão Rodoviá-
ria foi de 52 milhões de euros,
aumentando 50,8% em relação aos
seis primeiros meses de 2020, mas,
ainda assim, uma queda de 37,5%
em relação aos 83,2 milhões do pri-
meiro semestre de 2019, anterior à
pandemia. A rede da concessionária
inclui 11 auto-estradas, como a A1, a
A4 ou a A5.

Custos de construção sobem 6,5% com
escalada nos materiais e mão-de-obra
Victor Ferreira
Dados de Junho dão conta
de um prolongamento da
tendência de subida, com
o quinto maior aumento
homólogo deste século
O custo de construção de habitação
nova continua a subir em Portugal,
empurrado por uma escalada nos
preços dos materiais e pelo custo da
mão-de-obra. Em Junho, o aumento
foi de 6,5% em termos homólogos,
mostram os dados provisórios do
Instituto Nacional de Estatística
(INE), mais 0,4 pontos percentuais
do que em Maio.
É a quinta maior subida homóloga
(face ao mesmo mês do ano anterior)
desta série estatística iniciada em
2000. Apenas os meses de Verão de
2008 ( Julho a Setembro) registaram
subidas homólogas superiores à de
Junho de 2021.
“Este perÆl deveu-se à aceleração
(0,8 pontos percentuais) dos preços
dos materiais”, justiÆca o INE, mos-
trando que os alertas feitos pelo sec-
tor da construção têm razão de ser.
A variação média mensal dos últimos
12 meses andava na casa dos 2% e,
com os dados de Junho, passou para
os 3,3% (contra 2,9% em Maio).
Em Ænais de Junho já se falava na
PÚBLICO e revista Grandes Escolhas unem-se
para organizar a Vinhos & Sabores de 2021
Maior evento do sector
do vinho em Portugal
decorrerá na FIL Parque
das Nações, Lisboa, entre
16 e 18 de Outubro
A Vinhos & Sabores, o maior evento
dedicado aos vinhos de Portugal,
regressa em 2021, com uma parceria
entre a revista Grandes Escolhas e o
jornal PÚBLICO. Agendada para 16
a 18 de Outubro, em Lisboa, na FIL
Parque das Nações, a feira reúne
centenas de produtores de vinhos,
sabores artesanais, acessórios de
vinho e produtos aÆns. Depois de
um interregno em 2020 devido à
pandemia, a Vinhos & Sabores volta
a abrir as suas portas durante três
dias aos muitos milhares de visitan-
tes que vão desde simples consumi-
formação de uma “tempestade per-
feita” que pode pôr em risco a exe-
cução do Plano de Recuperação de
Resiliência (PRR). Os particulares
interessados na compra de habita-
ção nova e as empreitadas dos sec-
tores público e privado podem ser
afectados por esta escalada, se os
construtores não abdicarem das
suas margens.
O preço dos materiais e o custo da
mão-de-obra apresentaram, ambos,
variações de 6,5% face ao período
homólogo, segundo o INE. O aumen-
to dos preços dos materiais em Junho
(6,5%) foi superior ao de Maio (5,7%).
Para tal concorrem diversos factores,
como o aumento do preço dos com-
bustíveis ou dos custos logísticos
relacionados com transporte de
matérias-primas.
O custo da mão-de-obra aumentou
igualmente 6,5%, mas com uma ligei-
ra desaceleração face a Maio (6,6%).
Neste cenário, o custo da mão-de-
obra contribuiu com 2,7 pontos per-
centuais para a variação homóloga
de 6,5% do Índice de Custos de Cons-
trução de Habitação Nova e a com-
ponente dos materiais contribuiu
com 3,8 pontos percentuais.
Na habitação consome-se muitos
materiais e emprega-se muita mão-
de-obra. Só no PRR estão previstos
investimentos de 2733 milhões de
euros nos programas de Apoio ao
dores, entusiastas conhecedores a
proÆssionais do sector, tendo estes
últimos reservado em exclusivo o
dia 18, segunda-feira.
A parceria entre a Grandes Esco-
lhas e o PÚBLICO surge na sequên-
cia da bem sucedida experiência
recente do Portugal à Prova, um
conjunto de provas de vinhos online
também organizado por estas duas
publicações.
Nas palavras de Luís Lopes, direc-
tor da Grandes Escolhas, “o PÚBLI-
CO sempre foi o exemplo de jorna-
lismo proÆssional, rigoroso, inde-
pendente, credível, que se reÇecte
não apenas na publicação genera-
lista, mas também nos seus cader-
nos especializados, como o Fugas”.
“Os valores do PÚBLICO são igual-
mente aqueles com que a revista
Grandes Escolhas se identiÆca e que
pratica desde a sua primeira edição.
Transporte, combustíveis e escassez oneram materiais do sector
É, portanto, com imenso prazer que
vejo o PÚBLICO associar-se à Gran-
des Escolhas nesta parceria para
organizar a edição 2021 da Vinhos
& Sabores de Portugal. Acredito que
as duas publicações se complemen-
tam e que esta conjugação de com-
petências vai contribuir para que,
Depois de um
interregno em
2020 devido à
pandemia, a
Vinhos & Sabores
volta a abrir as
suas portas
em Outubro próximo, os apreciado-
res experienciem um evento ines-
quecível.”
Também Manuel Carvalho, direc-
tor do PÚBLICO, destaca a forte aÆ#
nidade entre as duas publicações:
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 27
MANUEL ROBERTO
“No jornalismo, como em tantas
coisas da vida, a credibilidade é um
bem de particular importância. O
PÚBLICO luta todos os dias para
obter esse reconhecimento junto
dos seus leitores e não o dispensa na
relação que estabelece com os seus
parceiros. É por isso que a aliança
que agora aprofundamos com a
Grandes Escolhas não foi difícil de
conseguir. Ao longo das últimas três
décadas, Luís Lopes e a sua equipa
criaram, desenvolveram e aprofun-
daram com rigor, inovação e com-
petência o jornalismo especializado
em vinhos no país. A sua história
proÆssional e o jornalismo que pro-
duziram são inseparáveis do próprio
percurso que os vinhos de Portugal
Æzeram do arcaísmo até à moderni-
dade. A parceria que agora anuncia-
mos é, por isso, bem mais do que
uma sintonia de valores e princípios:
Economia
Acesso à Habitação (1.º Direito),
construção de um parque público de
habitação para arrendamento aces-
sível e Bolsa Nacional de Alojamento
Temporário e Urgente. São obras que
têm de ser feitas num prazo curto,
até 2026, para aproveitar o PRR.
O sector teme, no entanto, que os
concursos sejam lançados a preços
“irrealistas” e alerta que, por isso,
podem Æcar desertos. É que a ten-
dência de preços altos dos materiais
ameaça penalizar a construção mais
acessível, afectando materiais mui-
to diversos como o cobre, níquel,
estanho. Isto para já não falar da
pressão da procura: 27 países da UE
a tentarem aproveitar cada um o
seu PRR leva a pensar numa corrida
aos materiais cerâmicos e cimentos,
cujo custo de produção está tam-
bém inÇuenciado por energia a pre-
ços crescentes e taxas de emissões
de CO2.
Além disso, o custo de transporte
também disparou, desde logo pela
subida dos combustíveis, mas não
só. Como o PÚBLICO referia em
Junho, o transporte de um contentor
de 40 pés do Porto de Leixões para
a China, via Roterdão, custava 1550
dólares em Novembro de 2019. No
Verão de 2021, o mesmo transporte
custa quase três vezes mais, 4375
dólares (cerca de 3600 euros ao câm-
bio actual).
é igualmente uma apologia do papel
que o jornalismo pode e deve desem-
penhar no nosso tempo.”
Consumidores e agentes económi-
cos encaram com grande expectati-
va esta nova edição da feira Vinhos
& Sabores e olham-na como um sinal
de regresso à normalidade. Embora
o sector dos vinhos tenha consegui-
do resistir de alguma forma aos tem-
pos sombrios da pandemia e manti-
do as exportações em alta, o merca-
do interno sofreu quebras e
distorções com o fecho dos restau-
rantes e garrafeiras e a concentração
de grande parte do consumo na
moderna distribuição. A Vinhos &
Sabores 2021 é uma oportunidade
para retomar um “diálogo” inter-
rompido, permitindo aos produto-
res apresentar as suas novidades e
aos consumidores prová-las em pri-
meira mão. PÚBLICO
28 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
Economia
Covid-19 empurra Barraqueiro
para um prejuízo de 18 milhões de euros
Luís Villalobos
Efeito da pandemia no
maior grupo privado de
transportes em Portugal
provocou uma queda
generalizada nas receitas
Com a pandemia de covid-19 a limi-
tar ou até a bloquear a circulação de
pessoas, o grupo Barraqueiro regis-
tou um prejuízo de 18,3 milhões de
euros no ano passado, em compara-
ção com o lucro de 10,6 milhões de
euros de 2019.
A queda das receitas daquele que
é o maior grupo privado do sector
dos transportes em Portugal, con-
trolado por Humberto Pedrosa
(empresário que é também accionis-
ta da TAP, ao lado do Estado), foi
transversal a todos os segmentos de
negócio.
De acordo com o relatório e contas
(R&C) do grupo referente a 2020,
agora disponibilizado, os proveitos
operacionais foram de 313,4 milhões
de euros no ano passado, o que
representa uma queda de 33,4%. O
resultado só não foi pior porque hou-
ve um apoio do Estado ao sector, na
vertente de serviço público, uma vez
que os transportes em causa tinham
de continuar a circular.
As receitas de bilheteira dos ope-
radores de transporte rodoviário
“chegaram mesmo a ser totalmente
inexistentes, nomeadamente nos
meses de Abril e Maio” do ano pas-
sado, refere-se no R&C.
Um dos suportes passou pela dis-
ponibilização das verbas estatais
ligadas ao Programa de Apoio à
Redução Tarifária e ao Programa de
Apoio à DensiÆcação e Reforço da
Oferta de Transporte Público, o que
viabilizou, diz o grupo, “a concreti-
zação do Ænanciamento dos serviços
de transporte essenciais, indepen-
dentemente dos níveis reais de pro-
cura e de receitas”.
Os operadores de transporte,
refere a Barraqueiro, concentraram-
-se então na redução de custos e “no
aproveitamento máximo dos apoios
transversais à economia”, como o
layoff, moratórias e linhas de crédi-
to. No entanto, diz o grupo, “muitos
operadores, senão mesmo a maioria,
têm uma actividade comercial com-
plementar da actividade de serviço
público, desenvolvendo serviços de
transporte interurbano ‘expresso’,
serviços ocasionais de turismo, cir-
cuitos turísticos” e “serviços Æxos a
escolas e empresas”, que não tive-
ram apoios especíÆcos.
Assim, diz o documento, “a para-
Proveitos operacionais do
grupo de Humberto Pedrosa
caíram 33%, para 313 milhões
de euros, no ano passado
[As receitas de
bilheteira]
chegaram mesmo
a ser totalmente
inexistentes em
Abril e Maio
Relatório & Contas 2020
Grupo Barraqueiro
ENRIC VIVES-RUBIO/ARQUIVO
lisia total nessas actividades levou a
uma perda de receitas praticamente
total que a redução de custos opera-
cionais, sobretudo pelo recurso ao
regime de layoff, não compensou
completamente”.
Maior impacto na rodovia
No caso especíÆco da Barraqueiro,
onde a crise pandémica teve “um
fortíssimo impacto”, o número de
passageiros rodoviários encolheu
42%, para 50,4 milhões (contabili-
zando aqui as viagens validadas).
Da queda de 157,5 milhões de
euros de proveitos operacionais
registada em 2020, 133,1 milhões
tiveram origem no serviço rodoviá-
rio, com destaque para a vertente de
serviço comercial (como turismo),
que encolheu 112,7 milhões de euros
Os impactos da pandemia redução, que chegou aos 100 milhões
(-25%) por via de rubricas como pes-
De lucros a prejuízos
soal e combustíveis. No caso das
Resultado líquido do grupo despesas com pessoal em Portugal,
Barraqueiro, em milhões de euros a redução foi feita essencialmente
pelo recurso ao layoff.
15
Esta é, diz o grupo, uma operação
10 9,2 10,6 “em que existe uma estrutura Æxa
instalada (motoristas e viaturas),
5 situação que impossibilita concreti-
zar um ajustamento/redução de cus-
0
tos equivalente a uma queda brutal,
-5 mas que sabemos ser conjuntural,
de receita”. Mesmo assim, houve
-10 uma redução de 95 trabalhadores no
transporte rodoviário de passageiros
-15
e de outros 32 no transporte de carga
-18,3 em Portugal.
-20
2018 2019 2020 No Brasil, o corte de postos de tra-
balho foi bem mais expressivo, com
o grupo a aÆrmar que a pandemia
Rodovia com forte queda
“reforçou a necessidade de reestru-
Proveitos operacionais turação” das empresas de transpor-
Em milhões de euros te detidas em Fortaleza, Ceará (a
Barraqueiro está também em
2019
Manaus). Ao todo, a redução atingiu
470,9 860 pessoas, com destaque para os
Brasil 22
cobradores (cuja função foi extinta),
Transporte 47,1
de carga
o que equivale a mais de 1/3 do total.
87,3 No Ænal de 2020, o grupo, que englo-
Transporte
ferroviário de
ba mais de 30 empresas, empregava
2020
passageiros 5415 pessoas em Portugal e outras
313,5
11,4 2096 no Brasil.
Transporte 314,5 35,9
rodoviário de Aposta no futuro
passageiros 84,7
Apesar do mau ano que foi 2020, a
Barraqueiro gerou um EBITDA posi-
tivo no valor de 10,3 milhões e, não
181,5 obstante a “inevitabilidade da degra-
dação da situação patrimonial e
Ænanceira”, sublinha que esta é “con-
juntural e recuperável com a retoma
e normalização da actividade pós-
-covid”.
Sem avançar com uma data previ-
2019 2020 sível para o regresso do número de
Fonte: Empresa PÚBLICO passageiros registado em 2019, o gru-
po diz que, face ao forte investimen-
(menos 54,7%). No caso do negócio to recente, pode agora ter “uma
de serviço público rodoviário, a des- contenção rigorosa nos próximos
cida dos proveitos foi de 20,4 milhões três anos” e fortalecer o balanço.
(menos 18,7%). Humberto Pedrosa controla 68,5%
A menor descida nos proveitos do do grupo Barraqueiro através da
grupo ocorreu no transporte ferro- HPGB, cabendo os outros 31,5% à
viário de passageiros (a empresa Arriva/Deutsche Bahn. É através da
controla a Fertagus, a Viaporto/ holding pessoal HPGB que o empre-
Metro do Porto e a MTS), que caiu sário detém também 22,5% da TAP
apenas 2,6 milhões de euros (-2,9%). SGPS, cuja participação vai, no
O transporte de carga e o Brasil entanto, ser diluída, e na qual colo-
foram os responsáveis pelos outros cou 169 milhões em prestações aces-
21,8 milhões a menos nos proveitos sórias. O Estado, que é hoje dono de
em 2020. 72,5% do grupo de transporte aéreo
No caso da Metro do Porto, foram (e de 91,8% da TAP SA), prepara-se
registados pouco mais de 40 milhões para deter 100% do capital após ope-
de passageiros, menos 44% face a rações de limpeza e reforço do balan-
2019, enquanto na Metro Transpor- ço, fazendo “desaparecer” os accio-
tes do Sul (MTS) a quebra foi de 30%, nistas privados na sequência do
para 10,9 milhões. plano de reestruturação que está a
Os custos também tiveram uma ser negociado com Bruxelas.
Público ClassiÄcados • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 29
30 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
CLASSIFICADOS
ELEIÇÕES GERAIS PARA OS ÓRGÃOS DAS AUTARQUIAS LOCAIS - 2021
Assembleia de Freguesia de Vacalar
O Grupo de Cidadãos Eleitores PPT - Progresso Para Todos, vem nos termos e
para os efeitos do n.º 4 do artigo 21.º da Lei n.º 19/2003, de 20 de junho, comunicar
que constitui Mandatário Financeiro: Andreia Filipa Pinheiro da Silva
O primeiro proponente, Assinatura Ilegível
Vacalar, 09 de agosto de 2021
MUNICÍPIO DE ALVITO
CÂMARA MUNICIPAL
AVISO
1 - Faz-se público que, no uso de competências que lhe são conferidas pela alínea a) do
n.º 2 do art.º 35.º da Lei n.º 75/2013 de 12 de setembro, e nos termos do disposto no n.º
1 do artigo 20.º e do art.º 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro, na redação dada pela
Lei n.º 64/2011 de 22 de dezembro, adaptada à Administração Local pela Lei n.º 49/2012
de 29 de agosto, se encontra aberto (até 20 de agosto 2021), procedimento concursal
com vista ao provimento de um lugar de direção intermédia de 3.º grau para a Unidade
de Administração e Finanças;
2 - Requisitos legais de provimento - O recrutamento de entre indivíduos que possuam
os requisitos constantes no artigo 12.º da lei n.º 49/2012, de 29 de agosto, e de acordo
com o art.º 3.º do Regulamento dos Cargos de Direção Intermédia de 3.º Grau;
2.1 - De entre trabalhadores integrados na carreira Técnica Superior, dotados de
competência técnica e aptidão para o exercício de funções de direção, coordenação
e controlo que reúnam pelo menos dois anos de experiência profissional em funções,
cargos, carreiras ou categorias para cujo exercício ou provimento seja exigida a
Licenciatura;
3 - Conteúdo funcional - O constante do artigo 15.º da Lei n.º 49/2012 de 29 de Agosto
e art.º 2.º do Regulamento dos Cargos de Direção Intermédia de 3.º Grau da Câmara
Municipal de Alvito;
4 - Áreas de atuação - Em consonância com as competências da unidade de
administração e finanças prevista na estrutura orgânica da Câmara Municipal de Alvito,
publicada em Diário da República em 30 de abril de 2019;
5 - Perfil do candidato - Competência e aptidão técnica para o exercício de funções de
direção, coordenação e controle, gestão por objetivos, capacidade de liderança, espírito
de iniciativa, capacidade de planeamento e organização e experiência específica em
funções autárquicas;
6 - Remuneração mensal - Corresponderá à 6.ª posição remuneratória da carreira geral
de Técnico Superior, de acordo com o disposto no n.º 3, do artigo 4.º, da Lei n.º 49/2012,
de 29 de agosto sendo de 2031,43€;
7 - Forma de provimento - Nomeação em comissão de serviço pelo período de 3 (três)
anos, eventualmente renovável por iguais períodos, nos termos consignados no n.º 8 do
art.º 21 e no artigo 23.º, ambos da Lei n.º 2/2004, na redação dada pela Lei n.º 51/2005;
8 - Prazo das candidaturas - 10 dias úteis a contar da publicação do presente aviso na
bolsa de emprego público;
9 - Formalização das candidaturas - As candidaturas deverão ser formalizadas
mediante requerimento, dirigido ao Presidente da Câmara Municipal de Alvito, podendo
ser entregue pessoalmente no serviço de Recursos Humanos, ou remetidas pelo correio
em carta registada com aviso de receção, para a Câmara Municipal de Alvito, Largo
do Relógio, n.º 1 - 7920-022 Alvito, expedido até ao termo do prazo fixado no n.º 8
deste despacho. Do requerimento deve constar a identificação (nome, filiação, estado
civil, naturalidade, nacionalidade, data de nascimento, número e data do Bilhete de
Identidade ou Cartão de Cidadão, e serviço que o emitiu, número de contribuinte,
residência, código postal e número de telefone, as habilitações literárias, a situação
profissional (serviço a que pertence, natureza do vínculo e categoria que detém, bem
como a antiguidade na categoria, na carreira e na função pública) e identificação do
concurso a que a candidatura diz respeito;
O requerimento deve ser acompanhado, sob pena de a candidatura não ser
considerada, de curiculum vitae, datado e assinado indicando nomeadamente a
experiência profissional, funções, atividades e responsabilidades exercidas e o tempo
correspondente, fotocópia do certificado de habilitações literárias, certificados de
formação profissional, outros documentos que comprovem as declarações prestadas
pelos candidatos, e ainda declaração comprovativa de vínculo à Administração Pública,
emitido pelo serviço a que o candidato pertence, com menção do tempo de serviço na
carreira, na categoria e na Função Pública, bem como a descrição de funções exercidas
nos últimos quatro anos;
10 - Nos termos dos n.ºs 1 e 2 do artigo 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro, na
redação dada pela Lei n.º 51/2005, de 30 de agosto, esta vaga será publicitada na Bolsa
de Emprego Público, e disponível na Internet, criada através do Decreto-Lei n.º 78/2003
de 23 de abril e no Diário da República 2.ª Série, bem como em órgão de imprensa de
expansão nacional;
11 - Métodos de seleção a utilizar serão: Avaliação curicular e Entrevista Pública;
12 - Composição do Júri:
Presidente: Paula Alexandra Caixeirinha Banza - Chefe de Divisão da Câmara de Aljustrel;
Vogais Efetivos: Vítor Manuel Parreira Fialho - Dirigente Intermédio da Câmara Municipal
de Cuba e António Joaquim Vinagre Padeirinha - Chefe de Divisão de Desenvolvimento
Social e Humano da Câmara Municipal de Viana do Alentejo;
Vogais Suplentes: Luís Alberto Castanho Carriço - Chefe de Divisão da Câmara Municipal
de Aljustrel e Maria D’Aires Vera Figueira Vilela, Chefe da Divisão de Gestão de Recurso
da Câmara Municipal de Viana do Alentejo;
Alvito, 06 de agosto de 2021
O Presidente da Câmara, António João Feio Valério
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Ref.ª CD-CTTI-125-SGRH/2021 - Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves
Ferreira, Professor Catedrático e Reitor da Universidade de Aveiro, faz saber
que, pelo prazo de trinta dias úteis contados do dia útil imediato àquele em que
o presente anúncio for publicitado, se encontra aberto concurso documental,
de âmbito internacional, para recrutamento de 1 (um) posto de trabalho
de Professor Auxiliar, para as áreas disciplinares de Gestão ou de Turismo,
para o Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo
da Universidade de Aveiro, em regime de contrato de trabalho por tempo
indeterminado, ao abrigo do Código do Trabalho e do Regulamento sobre
Regime das carreiras próprias do pessoal docente em regime de direito privado
da Universidade de Aveiro e respetiva contratação (Regulamento n.º 384/2014,
de 26 de agosto).
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do edital
antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://www.ua.pt/
pt/sgrh/pessoal-docente-novos-concursos-e-ofertas.
3 - O prazo de candidaturas é de 30 dias úteis, contados a partir da data da
publicação do presente anúncio.
Aveiro, em 06 de junho de 2021
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira
Dá-se conhecimento de que se encontram abertos
dois procedimentos de recrutamento de pessoal em
regime de contrato individual de trabalho, nos termos
do Código do Trabalho, para a Faculdade de Ciências
Médicas|NOVA Medical School da Universidade Nova
de Lisboa:
• 1 vaga de Técnico Superior (M/F), para os Serviço de
Apoio à Investigação, TS/IoMuM/27/2021
• 1 vaga de Coordenador (M/F), para o Serviço de
Recursos Humanos, Coordenador/RH/18/2021
Podem candidatar-se os indivíduos que reúnam as
condições fixadas no aviso disponível no endereço:
www.nms.unl.pt (Documentos/ Recursos Humanos/
Pessoal Não Docente/ Procedimentos de Recrutamento)
O prazo limite para submissão das candidaturas é de
6 dias úteis a contar da data da publicação do presente
anúncio.
OPORTUNIDADE
VENDE-SE
Item 1 – Quinta em Setúbal (10,7 ha)
Item 2 – Fazenda no concelho de Vidigueira (11,3 ha com vinha de 2,75 ha)
Item 3 – Olival no concelho de Vidigueira (4,125 ha)
Item 4 – Herdade, no concelho de Portel, vocacionada para cortiça (79 ha)
Item 5 – Herdade, no concelho de Portel, vocacionada para cortiça (200 ha)
Interessados no(s) item(s) pretendido (s) devem contactar
o seguinte email: cabgarher@gmail.com
De seg a sex das 09H às 19H
Sábado 11H às 17H
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Ref.ª CD-CTTI-124-SGRH/2021 - Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves
Ferreira, Professor Catedrático e Reitor da Universidade de Aveiro, faz saber
que, pelo prazo de trinta dias úteis contados do dia útil imediato àquele em que
o presente anúncio for publicitado, se encontra aberto concurso documental,
de âmbito internacional, para recrutamento de 1 (um) posto de trabalho de
Professor Auxiliar, para a área disciplinar de Gestão, para o Departamento de
Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro,
em regime de contrato de trabalho por tempo indeterminado, ao abrigo do
Código do Trabalho e do Regulamento sobre Regime das carreiras próprias
do pessoal docente em regime de direito privado da Universidade de Aveiro e
respetiva contratação (Regulamento n.º 384/2014, de 26 de agosto).
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do edital
antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://www.ua.pt/
pt/sgrh/pessoal-docente-novos-concursos-e-ofertas.
3 - O prazo de candidaturas é de 30 dias úteis, contados a partir da data da
publicação do presente anúncio.
Aveiro, em 06 de junho de 2021
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira
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Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa
de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma
Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal,
de âmbito nacional, especificamente constituída para promover a qualidade de
vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de
dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e
informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas
da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente
no movimento mundial e europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar
os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu
estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
- Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2
- Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura,
n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril - Tel. 214 525 145
E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
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4455-301 Lavra - Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal Tel.
236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave
do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim
Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro - Complexo Social da Quinta da Moita
- Oliveirinha, 3810 Aveiro - Tel. 23 494 04 80 - E-mail: geral.aveiro@alzheimeportugal.org
 Público ClassiÄcados • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 31

Localização:
Seiça, Ourém

Verba n.º 1 - Edifício composto de armazéns (dois pisos), destinado a atividade industrial e logradouro.
Área coberta: 1203 m2. Área descoberta: 6512 m2.
Localização: Rua Principal, Lugar das Fontainhas (Barreira das Navalhas, Rua Nossa Senhora da Penha de
França, 2435-559 Seiça, Ourém.
Lote composto pelos seguintes prédios: Valor base: 276.586,10€ (duzentos e setenta e seis mil, quinhentos e oitenta seis euros e dez cêntimos)

Verba n.º 1 - Prédio urbano, composto por R/C com 6 divisões assoalhadas, cozinha, 6 WC’s, 2 corredores, 4 arrecadações; 1.º andar com 871.250,00€ Verba n.º 2 - Barracão destinado a oficina de reparação e lubrificação de automóveis. Área coberta: 180 m2.
9 divisões assoalhadas, 8 WC’s , 2 arrecadações e terraço; 2.º andar com sete divisões assoalhadas, 6 WC’s, corredor, 2 arrecadações, Localização: Cartachola - Peras Ruivas, 2435-592 Seiça, Ourém.
6 terraços e lavandaria, destinado a serviços. Área coberta: 726,00 m2. Área descoberta: 401,00 m2. (VALOR MÍNIMO)
Valor base: 52.069,18€ (cinquenta e dois mil e sessenta e nove euros e dezoito cêntimos)
Verba n.º 2 - Prédio urbano, composto por 3 divisões assoalhadas, cozinha, WC, corredor e quintal, destinado à habitação. Área
coberta: 86,00 m2. Área descoberta: 14,00 m2. Verba n.º 3 - Prédio rústico composto de terra de pinhal. Área total: 3.570 m2.
Verba n.º 3 - Prédio urbano, composto por lote de terreno para construção urbana e horta, a confrontar a norte com Rua do Vale, a sul Localização: Cartachola - Limite de Peras Ruivas.
com Karot Properties Limited, a nascente com azinhaga pública e a poente com Sofia Margarida Matos Vieira. Área total: 2.678,00 m2. Valor base: 1.785,00€ (mil setecentos e oitenta e cinco euros)
(Apenas o solo do referido prédio se encontra apreendido para a Massa Insolvente, sendo que o direito de superfície é da titularidade da
empresa Jota Vieira, Lda., registado pela AP 2139 de 2009/12/28, pelo prazo de 10 anos, renovável por períodos de igual duração, mas Verba n.º 4 - Prédio rústico composto de terra de pinhal. Área total: 1.795 m2.
encontra-se em venda em conjunto com o processo executivo n.º 1093/15.1T8MMN, em que é AE a Dra. Carla Franco Pereira, sendo o www.leiloexpert.pt Localização: Cartachola - Peras Ruivas.
valor base atribuído a esse direito de superfície de 5.000,000€). Email: geral@leiloexpert.pt Valor base: 897,50€ (oitocentos e noventa e sete euros e cinquenta cêntimos)
Contato: 967 626 816 - 244 838 127
NOTA: Venda conjunta das verbas 1, 2 e 3. Localização: Rua de São Pedro, n.º 41 www.leiloexpert.pt
Largo Dr. Miguel Bombarda, n.º 8 - Guarda Nova - Email: geral@leiloexpert.pt
Portel, Évora 2430-162 Marinha Grande Contato: 967 626 816 - 244 838 127

Localização:

Verbas n.º 1, 2 e 3 - Diverso mobiliário e equipamento afeto à atividade de instalação elétrica.

Rua do Pontido, N.º 459, Cave,
Selho - São Cristóvão, 4835-286 Guimarães
Valor mínimo: 390,00€ (trezentos e noventa euros)
Verbas n.º 4, 5 e 6 - Viaturas de passageiros e mercadorias.
Valor mínimo: 5.050,00€ (cinco mil e cinquenta euros) www.leiloexpert.pt
Email: geral@leiloexpert.pt
NOTA: Não dispensa a consulta das condições de todas as vendas em www.leiloexpert.pt Contato: 967 626 816 - 244 838 127
71.695,00€
Verba n.º 1 - Fração autónoma designada pela letra “G”, correspondente ao 2.º andar esquerdo, (VALOR MÍNIMO)
destinada a habitação, tipologia T3, com um compartimento no sótão e garagem privativa na
cave. Área bruta privativa: 110,30 m2. Localização:
Rua 5 de Outubro N.º 22
S. Salvador, Teixoso (Covilhã)
32 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
Cultura Série terá estreia na RTP em 2022
Em O Crime
do Padre
Amaro, a série,
um clássico
regressa a casa
Com realização de Leonel Vieira, novo
projecto da RTP está a ser rodado em
Leiria, tal como escreveu Eça de Queirós
Camilo Soldado
Há cerca de 20 anos que o realizador
Leonel Vieira queria adaptar O Crime
do Padre Amaro ao ecrã. Não avan-
çou logo, depois surgiram duas ver-
sões cinematográÆcas: primeiro a
mexicana, em 2002, realizada por
Carlos Carrera, com a história a
desenrolar-se numa aldeia, depois a
portuguesa, em 2005, uma adapta-
ção livre, assinada por Carlos Coelho
da Silva, que transportava a história
para o subúrbio lisboeta e lhe dava
umas lentes de actualidade. Leonel
Vieira achou que não era o seu
momento e a ideia Æcou em pousio.
Em 2019, apresentou o projecto
de seis episódios à RTP, que lhe deu
luz verde. “Esta é a primeira adap-
tação integral da obra”, explica Leo-
nel Vieira, para dizer que o romance
de Eça de Queirós serve mais de ins-
piração do que de base ao guião das
versões mexicana e portuguesa.
Com esta série de época que tem
José Condessa e Bárbara Branco nos
papéis de Amaro e Amélia, o plano
é respeitar personagens, história,
conÇitos e essência do texto de Eça,
responde o realizador, que come-
çou a carreira com A Sombra dos
Abutres, em 1998. Também o drama
é devolvido às ruas de Leiria, onde
decorrem as Ælmagens até ao Ænal
de Agosto. Há uma certa diÆculdade
em fazer a “viagem no tempo” até
ao século XIX e resolver as cenas,
mas isso entra no campo do que já
era conhecido, acrescenta Leonel
Vieira: “É mais difícil produzir uma
série de época do que uma história
contemporânea.”
Sobre o enredo da série, a televi-
são pública ainda pouco ou nada
divulgou, mas o esqueleto da histó-
ria, que começou a ser publicada
em 1875, na Revista Ocidental (embo-
ra Eça de Queirós tenha feito ver-
sões posteriores), não é propria-
mente uma novidade: Amaro chega
a Leiria, cidade conservadora de
província e apaixona-se por Amélia,
que engravida e tem um Ælho. A
criança acaba assassinada, Amélia
morre e o pároco muda de ares.
No dia em que a RTP convidou jor-
nalistas para espreitarem a rodagem,
as Ælmagens estavam a decorrer nas
Cortes, nos arredores de Leiria,
numa velha casa de dois pisos, pare-
des brancas com faixa amarela rente
ao chão e janelas de caixilharia em
madeira pintada de verde e branco.
O local apresenta-se como a casa de
S. Joaneira, mãe de Amélia, ponto de
peregrinação sentimental de sacer-
dotes. Lá dentro, a um canto escuro
de um corredor apinhado, Leonel
Vieira está sentado em frente a dois
ecrãs, rodeado pela equipa de pro-
dução, enquanto manda repetir a
cena que está a ser Ælmada na sala ao
lado. Corrige falas, pede ao operador
de câmara para reenquadrar.
Galã ou sobrevivente?
O realizador prevê que a série co-
produzida pela Volf Entertainment
e pela Like Creative esteja pronta
até ao Ænal deste ano. Também em
Leiria, o homem que dirige os con-
teúdos da RTP1, José Fragoso, avan-
ça que a série se deverá estrear algu-
res em 2022, mas que ainda não tem
data deÆnida.
O responsável quis falar em orça-
mentos. Fragoso comenta apenas que
a Câmara Municipal de Leiria teve
“um papel importante na viabilização
da série” e mais não diz. Mas um
comunicado da autarquia de Junho
deste ano, em que esta dá conta da
aprovação de um apoio de 199 mil
euros para a produção da série, refe-
re também que o projecto está orça-
mentado em 1,2 milhões de euros.
O papel de Amaro é interpretado
por José Condessa, que procurou
aconselhamento de um teólogo para
compreender hábitos e rotinas de
um padre do século XIX. Se parte da
 Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 33

FOTOS: PEDRO PINA/RTP

Em seis episódios, Leonel
Vieira quer contar a trama
de Amaro (José
Condessa), Amélia
(Bárbara Branco) e cónego
Dias (José Raposo)

força do livro assenta numa feroz

crítica anticlerical, a Igreja de hoje
tem poucas semelhanças.
O actor diz que o romance lhe deu
pistas para formar o seu Amaro. A
série começa com a chegada do
pároco a Leiria, mas, pelo livro,
“sabemos que ele é órfão, que foi
educado por uma marquesa para
quem os pais trabalhavam, que as
criadas o vestiam de mulher e ele
brincava entre as saias delas e aí
começa o imaginário da sexualidade
nele”. É a partir desse ângulo que
Condessa olha para Amaro não
como um galã — como por vezes é
percepcionado —, mas como um
homem “que não é seguro de si mes-
mo, que não se acha bonito”, que
vai para o seminário não por voca-
ção, mas por uma questão de sobre- São Vicente
dos Painéis
vivência. Amaro é um sobrevivente.
Depois é um homem de fé, mas com
“uma necessidade sexual como

já esteve
homem”. Assim, acrescenta José
Condessa, “conhecendo a obra, é
fácil chegar lá”.

todo de azul
Bárbara Branco fala na necessida-
de e intenção de manter uma relação
de Ædelidade com o texto original.
Apesar disso — “e das pistas interes-
As vestes litúrgicas do mártir que nos
santes” que a minúcia descritiva de
Eça de Queirós oferece —, a série tem habituámos a ver de vermelho foram azuis.
um guião e não se mantém “escrava Porquê?
do livro”. Não se sabe ainda. Conhecer com rigor
Combate uma certa ideia de olhar que pigmentos e corantes foram usados
para a sua Amélia como uma vítima nesta obra do século XV ajuda
das circunstâncias — “que também os conservadores a decidir
não o é” — e diz que esta adaptação
como tratá-la.
procura pô-la num papel de impul-
sionadora de uma aproximação ao
padre Amaro.
José Raposo veste a pele de cóne-
go Dias, um tutor espiritual de Ama-
ro, “mestre de moral num seminário
e de imoral em Leiria”, escreveu
Eça. Considera que a Ælmagem ocor-
rer em Leiria permite “ter uma sen- Trabalho multimédia disponível
sação de verdade diferente”, o que em publico.pt/paineis-sao-vicente
“que é bom, sobretudo para a série”.
Diz que lhe interessa particularmen-
Um site de exploração interactiva do PÚBLICO
te o facto de o cónego Dias “ser uma
para que possa ver as alterações que ocorreram
personagem bem portuguesa”. É
isso que lhe permite encontrar o ao longo dos séculos e descobrir facetas
“tom certo”, diz, de um livro que desconhecidas de uma das mais notáveis
“todos conhecemos bem”. obras da pintura portuguesa.
Se a história do padre Amaro
regressa a Leiria, a RTP regressa às
obras de um autor que a televisão
pública tem transformado em
séries, desde Os Maias (1979), ao
Conde de Abranhos (2000), passan-
do pela Tragédia da Rua das Flores
(1983), pel’A Relíquia (1987) e pel’O
APOIADO PELO COM APOIO
Mandarim (1991). Falando sobre os MECENAS CIENTÍFICO
projectos actuais, José Fragoso lem-
bra que, independentemente do
nível de audiência, estes conteúdos
Æcarão depois como “património
audiovisual”.
34 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
Desporto Segunda mão da terceira pré-eliminatória da Champions
Sem qualquer
sobressalto,
Benfica apura-se
para o play-oŢ
Tall como na semana
T
passada em Moscovo,
as “águias” foram
superiores ao Spartak
Moscovo e venceram,
com golos de João Mário
e do defesa francês
Samuel Gigot na própria baliza
Crónica de jogo
David Andrade
Com muito mais facilidade do que se
esperava quando foi realizado o sor-
teio para a terceira pré-eliminatória
da Liga dos Campeões, o BenÆca está
apurado para o play-oè de acesso à
fase de grupos da Champions, onde
terá, em teoria, um rival mais exigen-
te: o PSV Eindhoven. Ontem, no Está-
dio da Luz, os “encarnados” entraram
numa posição cómoda após uma vitó-
ria por 2-0 em Moscovo, mas a falta
de ambição do Spartak tornou ainda
mais simples o apuramento das
“águias”. Numa partida com oportu-
nidades e qualidade futebolística a
menos, o domínio benÆquista foi pre-
miado com golos de João Mário e do
defesa francês Samuel Gigot na pró-
pria baliza, em novo triunfo de Jorge
Jesus no duelo com Rui Vitória.
Com uma vitória que pecou por
escassa em Moscovo e um triunfo
sofrido, mas com alguma gestão pelo
meio, em Moreira de Cónegos, a
segunda mão da terceira pré-elimina-
tória da Liga dos Campeões conÆr-
mou que Jorge Jesus irá colocar neste
mês de Agosto todas as Æchas nas eli-
minatórias de acesso à Champions.
Mantendo intocável o 3x4x3, que
parece ser o “plano A” a nível táctico
do treinador benÆquista, Jesus recu-
perou os principais triunfos que
tinham Æcado de fora na estreia na I
Liga — Grimaldo, Weigl, João Mário,
Pizzi e Rafa —, e, como se esperava,
no segundo round com Rui Vitória
apostou na mesma equipa que jogou
na Rússia, com uma alteração: Sefe-
rovic continuou de fora (lesionado) e
Gonçalo Ramos foi titular pela segun-
da vez consecutiva.
Ao contrário do arranque de época
do BenÆca, o Spartak está a ter um
início de temporada conturbado —
duas derrotas nas três primeiras jor-
nadas do campeonato russo —, antes
de regressar à Luz, Rui Vitória tinha
sublinhado que faltava ao clube mos-
covita “dar uma resposta mais eÆcaz
na Liga dos Campeões”. O jogo em
Lisboa reforçou que este Spartak é
uma equipa demasiado débil para
garantir um lugar na elite do futebol
europeu.
Mesmo estando obrigado a marcar
dois golos, Rui Vitória deixou de fora
dois dos seus avançados mais catego-
rizados — Aleksandr Sobolev e Victor
Moses —, apostando num 4x3x3 que
tinha como jogador mais adiantado o
argentino Ezequiel Ponce, mas a pos-
tura da equipa russa foi uma réplica
do que já se tinha visto em Moscovo:
sem procurar ter a iniciativa, o Spar-
tak deu a bola ao BenÆca e Æcou na
expectativa. Para uma equipa que
tinha dois golos de vantagem, essa foi
uma boa notícia.
Sem ter que correr qualquer tipo
de risco, as “águias” foram jogando
com o cronómetro desde o início,
fazendo a gestão do tempo com a bola
a correr quase sempre controlada nos
pés de benÆquistas. Se para Jesus e
para os adeptos “encarnados” isso
resultou num jogo sem grandes ace-
lerações cardíacas, para a qualidade
do jogo a falta de ambição e de inten-
sidade russa foi a pior notícia. O Benfica foi sempre mais forte
De sentido quase único e com o do que o Spartak Moscovo,
Spartak a parecer estar a fazer um no jogo de ontem na Luz
“frete” na Luz, o jogo revelou-se pou-
co mais do que um “treino activo”
para o BenÆca. Assim, sem surpresa,
a primeira parte terminou com 70%
de posse de bola para as “águias”,
nenhuma oportunidade de golo e um Frente a frente
“zero” no marcador para as duas
SL Benfica Spartak Moscovo
equipas que encaixava na perfeição
no Ælme dos primeiros 45 minutos. Posse de bola
Ao intervalo, gerindo a condição
física de um dos jogadores que esteve 62% 38%
no Europeu, Jesus trocou Vertonghen Ataques
pelo brasileiro Morato, mas, sem que
Vitória arriscasse um milímetro, a 151 52
tendência do jogo manteve-se.
Num ritmo sempre baixo, a partida 8 Remates 5
continuou sem oportunidades, mas,
com o BenÆca por cima, o golo aca- 2 À baliza 2
bou por penalizar a falta de ambição 5 Cantos 1
russa: aos 58’, após uma boa iniciativa
de Rafa e um cruzamento de Diogo 10 Faltas 17
Gonçalves, João Mário aproveitou um
2 F. Jogo 1
ressalto. Ao Æm de apenas 148 minu-
tos, o internacional português estrea-
va-se a marcar pelo BenÆca. Fonte: Sport Data Api PÚBLICO
 Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 35

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Benfica 2 Outros jogos da noite

João Mário 57’,
Gigot (p.b.)
Spartak Moscovo 0
Jogo no Estádio da Luz, em Lisboa.
Assistência Não disponível.
Benfica Vlachodimos; Lucas
Veríssimo, Otamendi a16’ e
Vertonghen; (Morato, 46’) Diogo
Reacções
O primeiro objectivo foi
cumprido ao passar esta
eliminatória para entrar no
play-off da Liga dos
Campeões, onde vamos ter
o PSV. Voltámos a fazer um
grande jogo e a equipa
Bruma e Gelson Martins em
destaque na Liga dos Campeões
Inês Ribeiro
Calendário
Houve muitos portugueses em acção
2.ª MÃO, 3.ª PRÉ-ELIMINATÓRIA
ontem, na luta por uma vaga no play-
oè da Liga dos Campeões. Um deles Slavia Praga-Ferencvaros 1-0 (0-2)
esteve no jogo do próximo adversá- Sheriff-Estrela Vermelha
Shakthar Donetsk-Genk
1-0 (1-1)

Gonçalves (Gilberto, 78’), Weigl, João

Mário e Grimaldo; Pizzi (Éverton, 65’),
Gonçalo Ramos (Yaremchuk, 65’) e
Rafa (Taarabt, 86’). Treinador Jorge
Jesus.
Spartak Moscovo Maksimenko,
Rassakazov, Dzhiklya, Gigot e Ayrton;
Umyarov (Král, 65’), Zobnin e
Lomovistki a25’; Bakaev (Mirzov, 65’),
Ponce (Ignatov, 81’)e Jordan Larsson
a68’ (Sobolev, 81’). Treinador Rui
Vitória.
Árbitro Anthony Taylor (Inglaterra)
soube trabalhar o
resultado daquilo que fez
na Rússia
Não foi um duelo entre dois
treinadores, mas entre
duas equipas. Ambos
trabalharam nesta casa e
ele defende os seus
rio do BenÆca. O PSV venceu o
Midtjylland por 1-0, num jogo em Mónaco-Sparta Praga
2-1 (2-1)
3-1 (2-0)
que Bruma esteve em destaque. O Midtjylland-PSV 0-1 (0-3)
extremo de 26 anos até começou a
partida no banco, tendo apenas
Ludogorets-Olympiacos 2-2, 4-2 g.p. (1-1)
Young Boys-Cluj 3-1 (1-1)
entrado aos 64’ de jogo para suceder Benfica-Spartak Moscovo 2-0 (2-0)
Madueke. Mas num encontro em que
as duas equipas tiveram algumas
Rangers-Malmoe
Legia-Dínamo Zagreb
1-2 (1-2)
0-1 (1-1)
ocasiões para marcar, foi aos 90+3’
que, numa boa jogada individual, O bicampeão grego até foi a pri-
Bruma fez o 1-0. meira equipa a colocar-se em vanta-
E em França, no embate entre gem no marcador por intermédio de
Mónaco e Sparta Praga houve mais Yann M’Vila, mas à entrada do segun-

Positivo/Negativo interesses e eu os meus. um português a brilhar. Depois da

Com o apuramento (ainda) mais
perto, Jesus aproveitou para fazer de
imediato uma dupla substituição.
Para além de trocar Pizzi por Everton,
o técnico estreou um dos principais
reforços dos benÆquistas: Roman
Yaremchuk.
O possante avançando esteve em
campo a partir do minuto 65, mas o
Spartak manteve a postura de quem
nada tinha a ganhar na partida e, sem
que o BenÆca tivesse qualquer inte-
resse em aumentar as rotações do
jogo, as oportunidades continuaram
a ser uma raridade, dando poucas
possibilidades do ucraniano se mos-
trar.
No entanto, já no período de des-
contos, Yaremchuk encontrou espa-
ço na área dos russos e rematou à
baliza, com o defesa francês Gigot a
desviar para o fundo da sua baliza.
O apuramento, no entanto, já esta-
va mais do que conseguido pelo Ben-
Æca. Segue-se o PSV, equipa que tem
um currículo de respeito esta época:
quatro jogos e quatro vitórias; 11-2 em
golos.
João Mário
Tal como tinha acontecido
em Moscovo, o
internacional português
mostrou estar
completamente adaptado
à equipa e ao que Jorge
Jesus pede a um jogador na
sua posição. Com um
futebol “fino”, mas
consistente, João Mário
facilita a tarefa de Weigl,
que terá muito a ganhar
com a chegada do
ex-sportinguista. Como
bónus, o médio teve ainda
a oportunidade de se
estrear a marcar.
Spartak Moscovo
Mais do que as duas
derrotas, o mais marcante
da passagem do Spartak
Moscovo pela terceira
pré-eliminatória da Liga dos
Campeões foi a qualidade
de jogo paupérrima e a
total falta de ambição dos
russos. Embora Rui Vitória
diga que não é “de desistir
ou de abandonar porque as
coisas não vão bem”, as
quatro derrotas em cinco
jogos oficiais são um claro
sinal de que algo está muito
mal numa das mais
poderosas equipas da
Rússia.
Espero que faça uma boa
carreira no Rússia e mostre
que os treinadores
portugueses são os
melhores do mundo.
Jorge Jesus
s cador aos 50’, após cruzamento de
Benfica
Mais do que atacar bem,
era fundamental ser
consistente e coeso,
tínhamos de controlar o
Benfica para estar sempre
dentro do jogo, mas depois
não conseguimos sair para
o ataque com a lucidez
necessária. O Benfica
acabou por justificar o
resultado e mereceu
porque foi mais forte nos
dois jogos
os
Rui Vitória
a
Spartak Moscovo
vitória por 2-0 na primeira mão da
eliminatória, os franceses voltaram
a vencer por 3-1.
Gelson Martins foi titular e mos-
trou-se uma vez mais “ao serviço”.
Depois de ter feito um golo importan-
te no jogo de abertura da Liga france-
sa, o extremo de 26 anos abriu o mar-
Volland. O jogador português acaba-
ria por ser substituído aos 61’.
Seis minutos depois, o Mónaco
ampliou a vantagem através de Golo-
vin. O Sparta Praga ainda reduziu aos
78’ por Karlsson, mas três minutos
SoÆane Diop fez o 3-1 Ænal para os
franceses.
O Mónaco segue assim para o play-
off da Liga dos Campeões, onde vai
defrontar o Shakhtar Donetsk que
recebeu e venceu o Genk por 2-1.
Em mais um duelo de portugue-
ses, o Olympiacos de Pedro Martins
viajou até à Bulgária com a elimina-
tória ainda por decidir (empate a um
golo na primeira mão) e não teve
uma tarefa fácil. O Ludogorets ali-
nhou com Josué Sá de início, com
Ruben Semedo a Ægurar no onze ini-
cial dos gregos.
O Olympiacos de Pedro Martins ficou pelo caminho na Champions
do tempo Rúben Semedo fez um
autogolo e empatou a partida.
Aos 57’, Androutsos cometeu uma
grande penalidade e na conversão
Sotiriou não falhou e fez o 2-1. O
empate do Olympiacos chegou dez
minutos depois, por intermédio de
El Arabi também de grande penali-
dade.
Já perto do minuto 90, a tarefa do
Olympiacos Æcou mais difícil com a
explusão de Ousseynou Ba, depois
de ver o segundo amarelo. E com o
empate a manter-se após o prolon-
gamento, foi preciso ir a penáltis
para se decidir quem conseguiria
uma vaga no play-off da Liga dos
Campeões. Na marca dos 11 metros
o Ludogorets, de Josué Sá, levou a
melhor e venceu por 6-3.
Quem também segue para o play-
off é o Ferencváros, que perdeu no
terreno do Slavia Praga por 1-0, mas
beneÆciou da vitória por 2-0 no pri-
meiro encontro. Já o Rangers, de
Steven Gerrard, repetiu o mesmo
resultado da primeira mão (derrota
por 2-1) e acabou eliminado.
Os jogos do play-off da Liga dos
Campeões 2021/2022 vão decorrer
nos dias 17/18 e 24/25 de Agosto.
YANNIS KOLESIDIS/EPA
36 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
Desporto
Messi no PSG
ou, como disse o
clube francês, um
diamante em Paris
Inês Ribeiro
O internacional argentino
assinou contrato com o PSG
ontem e será apresentado
oficialmente como reforço
dos parisienses hoje
Se no domingo Lionel Messi não foi
capaz de conter as lágrimas e só a
custo e com a voz embargada res-
pondeu aos jornalistas na sua despe-
dida do Barcelona, clube que consi-
derou ser “a sua casa” e onde per-
maneceu 21 anos, foi com um sorriso
nos lábios e uma T-shirt a dizer “Aqui
é Paris” que, ontem, apenas dois
dias depois do emotivo adeus ao
“Barça”, o futebolista argentino ater-
rou na capital francesa e acenou às
centenas de adeptos que há já vários
dias esperavam por esse momento.
Hoje, será apresentado oÆcialmente
no emblema gaulês.
Era o segredo mais mal guardado
do planeta. Depois de muita especu-
lação e do anúncio da sua saída de
Barcelona, no passado Æm-de-sema-
na, todos anteviam a ida de Messi
para o PSG. E, ontem, foi o próprio
pai e representante do futebolista
argentino, Jorge Messi, quem conÆr-
mou que o Ælho ia assinar contrato
com o milionário emblema francês
— à chegada ao Aeroporto de El Prat,
em Barcelona, Jorge Messi respon-
deu com um lacónico “sim” quando
foi questionado pelos jornalistas
sobre se o Ælho, de 34 anos, iria assi-
nar pelo clube gaulês, no qual alinha
o internacional português Danilo
Pereira.
Lionel Messi chegou ao Aeroporto
de Le Bourget, nos arredores de Paris,
às 14h30 (hora portuguesa), onde foi
aclamado por centenas de adeptos do
Paris Saint-Germain. Seguiram-se os
indispensáveis exames médicos e,
posteriormente, a assinatura do con-
trato que, segundo o Le Parisien,
deverá ter a duração de dois anos. Já
o jornal britânico The Guardian avan-
ça que Lionel Messi vai ganhar 35
milhões de euros “limpos” por ano.
Ontem, só mesmo o PSG teimava
em alimentar o suspense. Ao início da
tarde, o clube parisiense partilhou
O clube parisiense
partilhou nas suas redes
sociais um vídeo em que
era possível ver-se uma
camisola 10, a bandeira
da Argentina e seis
nas suas redes sociais um vídeo de 13
Bolas de Ouro
segundos sobre um “novo diamante”
que está a chegar a Paris. E nas ima-
gens era possível ver-se uma camiso-
la 10, a bandeira da Argentina e seis
bolas de ouro — o mesmo número das
conquistadas por Messi.
Menos enigmático foi Neymar, um
dos craques do PSG, que colocou
um pequeno vídeo de Lionel
Messi na sua página de Insta-
gram com imagens da época
em que jogaram no Barcelo-
na, acompanhado pela
legenda “Juntos novamen-
te”.
Só à noite surgiu a conÆr-
mação oÆcial do PSG, com a
revelação de que messi vai deixar
de usar a camisola 10 para passar a
vestira a 30, número com o qual se
estreou nos “blaugrana”.
Lionel Messi tem uma carreira
repleta de conquistas e de prémios,
tanto colectivos como individuais.
No Barcelona, é mesmo o jogador
com mais troféus conquistados — são
37 no total.
Destaque para as quatro Liga dos
Campeões, três Supertaças euro-
peias, três Campeonatos do Mundo
de clubes, dez campeonatos espa-
nhóis, sete Taças do Rei e sete Super-
taças espanholas. Foram 672 golos
até ao momento.
Se pelo Barcelona as conquistas
foram mais do que muitas, há um
aspecto da carreira do jogador que
não tem sido assim tão glorioso: o da
selecção Argentina. Mas Messi alcan-
çou, Ænalmente, o seu primeiro gran-
de título este ano, depois de derrotar
o Brasil na Ænal da Copa América.
Já no âmbito individual, o avança-
do foi eleito seis vezes o melhor joga-
dor do mundo — é o recordista em
Bolas de Ouro —, foi oito vezes o
melhor jogador a actuar em Espanha
e foi o melhor marcador da Liga dos
Campeões em seis ocasiões.
Messi foi ainda eleito por 17 vezes
como o jogador argentino do ano, em
2005 venceu o prémio Golden Boy
(prémio destinado ao melhor jogador
com idade inferior aos 21 anos), entre
muitos, muitos outros prémios.
Um autêntico diamante, que
ontem chegou a Paris.

Hollyman vence quinta etapa
no dia em que a Volta tem um novo líder
A Volta a Portugal está a ser
confrontada com vários
casos de infecção com o
novo coronavírus. Duas
equipas já abandonaram
Foi mais um dia de muitas reviravol-
tas na Volta a Portugal. No Ænal da
quinta etapa da prova, que ligou
Águeda a Santo Tirso, na extensão de
171,3 km e com Ænal no Santuário da
Senhora da Assunção, o triunfo per-
tenceu ao jovem ciclista Mason
Hollyman (Israel Cycling), de 21 anos.
Mas tão ou mais feliz do que o corre-
dor britânico deve ter Æcado o por-
tuguês Daniel Freitas (Rádio Popular-
Boavista), que, graças ao seu sexto
lugar na tirada, conquistou a cami-
sola amarela.
Daniel Freitas soube aproveitar a
falta de colaboração entre as princi-
pais equipas do pelotão (leia-se W52-
FC Porto e Efapel) e, integrando a
fuga do dia, tirou partido do sucesso
que esta teve para subir à liderança
da classiÆcação geral, com 42 segun-
dos de avanço sobre o espanhol Ale-
jandro Marque (Atum General-Tavi-
ra-Maria Nova Hotel), anterior líder.
Mas a Volta a Portugal teve mais
acontecimentos do que aqueles que
se registaram na estrada. Logo pela
manhã a Euskaltel-Euskadi anunciou
que não apareceu à partida da etapa,
depois de terem sido detectados dois
Ex-ciclista olímpica de 24 anos encontrada morta
Inês Ribeiro
Foi através de um comunicado do
Comité Olímpico da Nova Zelândia
que a conÆrmação da morte de Oli-
via Podmore foi conÆrmada. “O
Comité Olímpico da Nova Zelândia
está profundamente triste com a
perda da atleta olímpica e da ciclis-
ta Olivia Podmore”, pode ler-se. A
jovem de 24 anos foi encontrada
sem vida, anteontem, em casa.
Olivia Podmore fez parte da comi-
tiva da Nova Zelândia nos Jogos Olím-
picos do Rio de Janeiro em 2016 na
competição de ciclismo de pista. No
entanto, e de acordo com o jornal
britânico The Independent, Podmore
não foi seleccionada para representar
o país nas Olimpíadas de Tóquio, ain-
da que se tivesse qualiÆcado.
As causas da morte ainda estão a
ser investigadas, mas o comunicado
NUNO VEIGA/LUSA
Daniel Freitas era um homem feliz no final da quinta etapa da Volta
casos suspeitos de infecção pelo novo nhola Caja Rural tinha abandonado
coronavírus na equipa espanhola. a Volta a Portugal, pelos mesmos
Uma vez que, além dos casos sus- motivos e no domingo, um ciclista da
peitos, também os respectivos cole- Kern Pharma teve resultado positivo
gas de quarto tinham de abandonar nos testes de rastreio ao novo coro-
a prova, os bascos acabaram por se navírus e outro foi afastado da Volta
retirar da corrida, antes do início da por precaução. Já durante o dia de
quinta etapa. ontem, foi conÆrmado que os portu-
“Por responsabilidade e para pre- gueses João Benta, quinto classiÆca-
servar a saúde de todos os membros do no ano passado, e Tiago Machado,
e do pelotão em geral, e em acordo também da Rádio Popular-Boavista,
com a organização da Volta a Portu- assim como Emanuel Duarte (Atum
gal, a formação laranja decidiu aban- General-Tavira-Maria Nova Hotel)
donar a corrida”, indicou, posterior- estavam infectados. E David Livra-
mente, a Euskaltel-Euskadi, em mento, também da equipa do então
comunicado. camisola amarela Alejandro Marque,
Antes, no sábado, a também espa- foi afastado por dividir quarto com
do Comité Olímpico da Nova Zelân-
dia deixa em aberto a possibilidade
de estarem relacionadas com pro-
blemas de saúde mental. No Ænal do
documento, a organização refere
que os atletas e restantes membros
da comitiva têm à disposição apoio
psicológico.
Em declarações à Reuters, um
amigo da ciclista demonstrou preo-
cupação sobre a saúde mental da
jovem de 24 anos. Também as auto-
ridades desportivas do país aÆrma-
ram que Olivia Podmore havia pro-
curado serviços de apoio disponí-
veis para os atletas.
Um dia depois do Æm dos Jogos
Olímpicos em Tóquio, Olivia Pod-
more havia colocado na sua página
de Instagram uma publicação —
entretanto já removida — onde fala-
va sobre a pressão que existe no
Olivia Podmore desporto de alta competição.
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 37
Classificação
Etapa 5 (Águeda-Santo Tirso) 171,3 km
1.º Mason Hollyman (Israel Cycling)4h11m48s
2.º Ricasrdo Mestre (W52-FC Porto) a 35s
3.º Tomás Contte (Loulé Concelho) a 1m00s
Classificação geral
1.º D. Freitas (R. Popular/Boavista)22h02m16s
2.º A. Marque (A. General/Tavira) a 42s
3.º Amaro Antunes (W52-FC Porto) a 47s
4.º Frederico Figueiredo (Efapel) a 1m07s
5.º Mauricio Moreira (Efapel) a 1m45s
6.º Abner González (Movistar) a 1m46s
7.º Jóni Brandão (W52-FC Porto) a 1m47s
8.º António Carvalho (Efapel) a 2m08s
9.º João Rodrigues (W52-FC Porto) a 2m21s
10.º L. Fernandes (R. Pop./Boavista) a 2m31s
Duarte.
Perante o avolumar de casos de
covid-19 na competição, Joaquim
Gomes, director da prova, explicou
que todos os cenários estão em cima
da mesa: “Para todos os casos positi-
vos que surjam, temos protocolos
para aplicar. Foi assim que saíram as
equipas da Caja Rural e já hoje a da
Euskadi. Se existirem demasiadas
linhas de contágio entre as equipas e
considerarmos que isso coloca a con-
tinuidade da prova em risco, e ela
tiver que ser cancelada, teremos de
o fazer e considerar que para o ano
há mais”, aÆrmou ao jornal O Jogo.
Lusa
“O desporto é um escape fantástico
para muita gente. É uma luta, mas é
tão gratiÆcante. O sentimento quando
ganhamos não tem comparação, mas
o sentimento quando perdemos,
quando não somos escolhidos mes-
mo quando nos qualiÆcamos, quando
estamos lesionados, quando não
vamos ao encontros das expectativas
da sociedade, como ter uma casa,
casar e ter Ælhos porque tentamos dar
tudo no nosso desporto, essas sensa-
ções também são diferentes”, escre-
veu a jovem de 24 anos.
As questões da saúde mental nos
atletas proÆssionais têm estado na
ordem do dia depois da renúncia de
Simone Biles em várias competições
nos Jogos Olímpicos de Tóquio, bem
como depois da tenista japonesa
Naomi Osaka ter falado abertamen-
te sobre a luta que travava com uma
depressão.
Desporto
Breves
Ciclismo
João Almeida ganha
etapa e lidera
Volta à Polónia
O português João Almeida
(Deceuninck/QuickStep)
venceu ontem a segunda
etapa da Volta à Polónia e
assumiu a liderança individual
da prova, com um bem-
-sucedido ataque nos últimos
quilómetros da tirada. Almeida
desembaraçou-se do italiano
Diego Ulissi, da UAE-Team
Emirates, na aproximação em
subida à meta de Przemysl, e
triunfou com ligeiro avanço
sobre o adversário. A etapa,
corrida entre Zamosc e
Przemysl (200,8km), foi
cumprida em 4h41m43s pelo
português, que assim obtém a
sua primeira vitória em
competições do “World Tour”.
Almeida comanda a prova
com quatro segundos de
avanço sobre Mohoric e Ulissi.
Futebol
Luís Castro vai ser
o treinador
do Al-Duhail no Qatar
O treinador português Luís
Castro vai orientar o Al-Duhail,
do Qatar, por uma época,
substituindo no cargo o
francês Sabri Lamouchi,
anunciou ontem o clube. A
formação qatarense descreve
Luís Castro, de 59 anos, como
“um dos nomes de sucesso do
‘mundo’ dos treinadores”,
lembrando a passagem por
vários clubes, entre os quais o
Shakhtar Donetsk, da Ucrânia,
ao serviço do qual se sagrou
campeão na época 2019/20.
Luís Castro, que foi
coordenador da formação do
FC Porto, e orientou, entre
outros, o Rio Ave e o Vitória de
Guimarães, será o segundo
português a orientar o
Al-Duhail, depois de Rui Faria o
ter feito entre Janeiro de 2019
e Janeiro de 2020.
38 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

Moon Jae-in
e Kim Jung-sook
Amor em tempos
de ditadura
Grandes amores políticos Relação entre o
Presidente e primeira-dama da Coreia do Sul
consolidou-se nos protestos dos anos 70 contra o
regime militar. À frente do seu tempo nos costumes
e na intervenção pública, a “dama alegre” foi decisiva
na vitória do marido nas presidenciais de 2017
António Saraiva Lima
PETER NICHOLLS/REUTERS

“V
ais casar comigo ou
não? Diz-me já”. Foi
assim, intempesti-
vo, quase ríspido, o
pedido que deu ori-
gem ao casamento
entre Moon Jae-in e Kim Jung-sook,
hoje Presidente e primeira-dama da
Coreia do Sul, respectivamente.
Assim descrito, este momento sim-
bólico da relação, ocorrido no Ænal
da década de 70, parece ter pouco
de cativante. A sua particularidade,
porém, é que quem fez o pedido foi
o elemento feminino da relação.
Uma excentricidade para a época e
ainda mais no contexto de uma
sociedade sul-coreana presa na
camisa-de-forças da ditadura militar
conservadora do general Park
Chung-hee e onde a desigualdade de
género era (e ainda é) a tendência.
A relação entre Moon e Kim foi
muitas vezes contra a corrente e as
fases de grandes provações tiveram
quase sempre como criador dos obs-
táculos o regime político autoritário.
O seu amor foi, ainda assim, forte o
suÆciente para sobreviver à ditadu-
ra, Çorescer durante a transição
democrática e servir de esteio à vitó-
ria eleitoral do líder político liberal
nas eleições presidenciais de 2017.
Nos dias que correm, Kim é uma
das Æguras mais populares da Coreia
do Sul e o seu perÆl contrasta com a
Ægura tradicional das primeiras-da-
mas recatadas do país: é descontraí-
da, gosta de mostrar que tem sentido
de humor e é pouco dada às rígidas
formalidades do cargo.
“Gostava de poder ser uma pri-
meira-dama vizinha, terra-a-terra e
amigável”, dizia numa entrevista à
Reuters pouco depois da eleição do
marido para Presidente do país. “Em
primeiro lugar, já pedi às pessoas
para não me tratarem por ‘primeira-
-dama’”.
Música e gás lacrimogéneo
Kim Jung-sook e Moon Jae-in conhe-
ceram-se em 1974. Eram ambos estu-
dantes na Universidade Kyung Hee,
em Seul. Ela estudava Música, ele
cursava Direito.
De acordo com o relato ampla-
mente difundido pelos media sul-
-coreanos e citado em todos os per-
Æs da primeira-dama, o amigo em

Em cima, Kim Jong-sook e Moon
Jae-in a passearem com o cão.
Em baixo, o “primeiro-casal” da
Coreia do Sul na recente cimeira
do G-20 com Boris Johnson
comum que apresentou Moon a Kim
descreveu o Presidente como sendo
Æsicamente parecido com o actor
francês Alain Delon, uma das refe-
rências do cinema europeu dos anos
60 e 70, reconhecido por muitos
como um dos grandes sex symbols
da época.
Não se sabe muito bem se Kim
encontrou ou não parecenças entre
Moon e Delon, mas a verdade é que
a primeira impressão não se trans-
formou propriamente em amor à
primeira vista. Kim e Moon Æcaram
PYEONGYANG PRESS CORPS/REUTERS
amigos, mas não mais do que isso.
Por essa altura, Moon Jae-in já era
presença assídua em manifestações
estudantis pró-democracia e contra
o Governo e a ditadura militar. E foi
num desses ajuntamentos, em 1975,
que se deu a aproximação amorosa
a Kim Jung-sook. Atingido por gás
lacrimogéneo arremessado pela polí-
cia para dispersar os manifestantes,
Moon foi arrastado para longe da
multidão pela mão amiga de Kim.
“Quando abri os olhos, vi-a a lim-
par ansiosamente a minha cara com
o seu lenço”, conta o Presidente sul-
-coreano no seu livro de memórias.
Pouco depois desse episódio, Kim e
Moon tornaram-se oÆcialmente
num casal.
Inicialmente, o pai de Kim, um
comerciante no mercado de
Gwangjang, na capital sul-coreana,
não via com muito bons olhos a rela-
ção entre a sua Ælha e aquele estu-
dante-transformado-em-activista de
Busan, Ælho de uma família pobre de
refugiados da Coreia do Norte que
tinham fugido do território durante
a Guerra da Coreia (1950-1953).
O casal foi, por isso, forçado a lon-
gos períodos de relacionamento à
distância nos primeiros anos. Mas
não só por causa do pai de Kim.
Moon estava cada vez mais envolvi-
do nas iniciativas de protesto contra
a ditadura e acabou por ser preso
por organizar uma delas, na univer-
sidade, pelo que os encontros com
Kim, para além de escassos, tiveram
muitas vezes lugar na sala de visitas
da prisão.
Após a prisão veio a tropa — e mais
um período de separação. Pouco
depois de ter sido libertado, Moon
foi forçado a cumprir o serviço mili-
tar nas forças especiais do Exército
sul-coreano.
Nem pianista nem juiz
Com o regresso à vida civil, em 1979,
Moon decidiu voltar à universidade
para concluir os seus estudos e pre-
parar-se para o exame de acesso à
Ordem dos Advogados local. Kim já
estava formada e fazia parte do Coro
Metropolitano de Seul.
Nesse ano, o Presidente Park
Chung-hee foi assassinado, e após
um breve período em que o movi-
mento pró-democracia sonhou que
era possível cumprir, Ænalmente, os
desígnios que levaram à promulga-
ção de uma Constituição e à instau-
ração de um sistema democrático na
Coreia do Sul, em 1948, um outro
general, Chun Doo-hwan, tomou o
poder.
Novamente envolvido em protes-
tos contra a (nova) ditadura, Moon
foi detido uma vez mais. Na cadeia
recebeu a notiÆcação formal sobre
a sua aprovação no exame da ordem.
E, pouco depois de nova libertação,
a sua relação com Kim já estava
pronta para o passo seguinte.
Na sequência do excêntrico pedi-
do de Kim, Moon Jae-in e Kim Jung-
sook casaram-se em 1981, dando,
Ænalmente, início a uma vida a dois,
sem as interrupções e as limitações
da primeira etapa do seu namoro.
Pouco depois do casamento, Kim
abdicou do seu sonho de ser pianis-
ta para Æcar em casa a cuidar dos
Ælhos que entretanto nasceram —
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 39
Inquérito
de Proust
José Manuel
Bolieiro
Pág. 46
um rapaz e uma rapariga.
Apesar de ter sido um dos melho-
res alunos do seu curso, Moon foi
impedido de prosseguir a carreira
de juiz, como pretendia, por causa
do seu passado como activista estu-
dantil. Optou então pela advocacia
e especializou-se na defesa de casos
relacionados com direitos civis.
No Ænal dos anos 80, a cúpula
militar já estava preparada para per-
mitir que a Coreia do Sul iniciasse o
seu caminho de democratização.
Eleito em 1987 com promessas de
acabar com a ditadura no país, o
Presidente Roh Tae-woo começou
a desmantelar o regime, alargando
as liberdades individuais, estabele-
cendo relações diplomáticas com os
países do bloco de Leste da Guerra
Fria — também nos seus últimos dias
— e sendo aceite nas Nações Unidas
poucos anos depois.
“Estilo Kim Jung-sook”
Para Moon Jae-in e para outros acti-
vistas pró-democracia, a transição
democrática foi uma grande vitória.
E o momento de avançar para novos
voos. Como advogado, conheceu
Roh Moo-hyun, que chegaria à Pre-
sidência do país e que o levou para
a política — Moon foi chefe de gabi-
nete de Roh entre 2007 e 2008.
A entrada na vida política pedia a
Moon uma postura diferente. O
escrutínio constante e a presença e
as intervenções em eventos públi-
cos exigiam, de um homem que era
brusco, seco e cerebral, uma maior
capacidade de socialização e de
poder de encaixe.
Kim Jung-sook foi, nesta fase da
sua vida, uma conselheira e um
Tenho o objectivo de
ser apenas eu
própria, como
sempre fui. Uma
primeira-dama ao
‘estilo Kim
Jung-sook’
Kim Jung-sook
Mulher do presidente sul-coreano
amparo fundamentais. Não só pela
sua personalidade extrovertida,
mas pela frontalidade com que fala-
va com o marido sobre as suas ideias
e projectos políticos.
“Quando ela sente que estou
exausto, serve-me um copo de
vinho, e, por vezes, conta-me as
opiniões Ærmes das pessoas e ofere-
ce-me alguns conselhos mais amar-
gos”, conta Moon.
À medida que Moon Jae-in foi
crescendo na hierarquia da política
sul-coreana — primeiro chefe de
gabinete, depois deputado, mais
tarde líder do Partido Democrático
e, Ænalmente, Presidente — foi tam-
bém crescendo a popularidade e o
fascínio das pessoas por Kim, cada
vez mais presente na carreira do
marido.
Rompendo com a tradição de que
as mulheres dos políticos sul-corea-
nos tinham de Æcar um passo atrás,
vestindo o tradicional hanbok, Kim
gosta de falar com os eleitores, mis-
turar-se na multidão, vestir-se infor-
malmente e levar a uma vida normal
— ainda hoje, como primeira-dama,
continua a ir ao mercado local fazer
as suas compras.
“No passado, as primeiras-damas
eram vistas a cumprir as formalida-
des, estavam sempre sérias e nunca
falavam. Kim, pelo contrário, é aces-
sível e moderna”, elogia Ha Jae-keu,
comentador cultural, citado pela
Reuters.
“[Kim] é muito amigável e humil-
de, e consegue relacionar-se facil-
mente com as pessoas. Mas é tam-
bém muito determinada. Tem a cara
de uma leoa-bebé. E tendo em con-
ta o quão forte é uma leoa, talvez
consiga lutar por políticas de maior
igualdade de género na Coreia”,
acrescenta David Lee, analista polí-
tico.
A boa disposição, o sentido de
humor e a informalidade valeram a
Kim a alcunha de “Dama Alegre”,
particularmente na província de
Jeolla, no Sul do país, onde os ana-
listas dizem que foi fundamental
durante a campanha presidencial
de Moon em 2017, catapultando-o
para a vitória.
“Tenho o objectivo de ser apenas
eu própria, como sempre fui”, disse
a “Dama Alegre” numa entrevista
em 2017, ao Korea Herald. “Uma pri-
meira-dama que consegue comuni-
car com as pessoas, como qualquer
outra pessoa, ao ‘estilo Kim Jung-
sook’”, como gosto de chamar”.
40 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
SÉRIES SEM FIM
A febre de Midsomer Murders e os seus delírios
Joana Amaral Cardoso
Ah, o campo inglês. Ovelhas, campos
verdejantes, casas pitorescas, parkas
e galochas. E homicídios. Muitos
homicídios. Os Midsomer Murders
transformam as pequenas aldeias de
um condado Æccional no Reino Unido
em verdadeiras colmeias de crime
desde 1997, sendo sempre das séries
mais vistas do canal Fox Crime em
Portugal e da ITV que a viu nascer no
país de origem. Só neste mês de Agos-
to passam 87 episódios da série na
televisão portuguesa. A forma como
retrata o crime violento em aldeolas
tão telúricas quanto mortais está
aconchegada em humor negro e
encontrou casa na salinha almofada-
da das mentes dos espectadores
reservada à televisão de conforto.
As terriolas à volta de Causton são
lugares perigosos onde se pode mor-
rer às mãos de ovos cozidos, espadas,
azeite de trufas, padres ou de um
queijo gigante. Em Midsomer Murders
não há limites para o número de mor-
tes num só episódio nem para a nos-
talgia que rodeia a fantasia da vida nas
localidades pequenas, descomplica-
das nas suas casinhas de pedra e reti-
culares nas relações humanas — desde
que a série começou, em plenos anos
1990, já foram assassinadas mais de
400 pessoas no condado de Midso-
mer, fora os suicídios ou mortes aci-
dentais.
Se tal mortandade parece excessi-
va, como se de metrópoles dilacera-
das pelos gangues e pelas drogas se
tratassem estas aldeias e vilas, a rea-
lidade é bem pior: este ano as West
Midlands ou Lancashire Æzeram as
contas às suas estatísticas do crime,
compararam com as de Midsomer e
concluíram que a vida real é mesmo
mais violenta e mortífera do que o
telúrico Æccional.
“Midsomer Murders trata do assas-
sinato de uma forma que entretém.
Os motivos para os crimes, as inter-
pretações, as personagens e os méto-
dos para as mortes são grandiosos.
Pode ver-se, apreciar-se e sentir-se
seguro”, diz a produtora da série,
Michele Buck, sobre o tipo de esca-
pismo criminoso e exagerado que não
Há tantas séries novas todos os meses, curtas, de autor, tão exclusivas
que são limitadas. Mas há programas que enchem a televisão há
décadas. São Séries Sem Fim, como se querem os Verões
Midsomer Murders
FOTOS: DR
torna a ameaça do crime demasiado sódios aumentaram 39%. Mas “nem
real. “Não se pensa mesmo que se vai Midsomer Murders pode salvar este
sair porta fora e que alguém nos vai conÆnamento”, lamentava há um
matar e transformar-nos numa vela mês Stephen Brook no jornal Sydney
humana”, diz ao diário britânico The Morning Herald, vivendo os primei-
Guardian numa referência a um epi- ros dias de um novo “lockdown” na
sódio em particular. Austrália.
A série conseguiu a proeza de ser o Quando escreveu no Twitter sobre
programa mais visto de 1997 no Reino uma das suas colunas de opinião,
Unido quando se estreou, um bom tocou cerca de 1300 pessoas; o seu
augúrio para uma longa vida de mor- tweet sobre o regresso de Midsomer
tes ao longo de 22 temporadas que já Murders às sextas à noite australia-
Æzeram a transição televisiva moder- nas foi visto por quase 11 mil. Mas
na para o streaming (na plataforma tanto o colunista quanto os seus lei-
AcornTV para a Europa e na NetÇix tores Æcaram desiludidos com o
para a América do Norte) com os seus novo episódio.
128 episódios. Midsomer não é imune às disrup-
A febre Midsomer é tal que além de ções da pandemia na produção. E a
vários livros sobre a série e o fenóme- febre Midsomer também se dá a
no, e apesar de o condado não existir, alguns delírios. Dada a visibilidade
se multiplicam as visitas guiadas às da série e da sua brancura — quase
vilas que servem de cenário às Ælma- não há personagens não-brancas na
gens da série - este tipo de reacção série, tendo as primeiras persona-
dos fãs era algo muito comum nas gens de origem asiática entrado em
séries do século XX e do início deste cena só em 2012 —, o seu produtor
século, mais transversais e duradou- foi questionado sobre o tema há uma
ras, mas a velocidade do streaming e década. A sua resposta foi tudo
das séries de edição única pouco menos pitoresca. Para Brian True-
espaço deixou na cultura popular May, em 2011 Midsomer Murders era
para estes cultos (salvo exemplos ful- “o último bastião da ‘englishness’” e,
gurantes mas já extintos como A Guer- frisava, queria “mantê-la assim”.
ra dos Tronos). Os fãs são tanto os Considerava-se bem conhecedor das
clientes quanto os organizadores des- dezenas de milhões de espectadores
ses tours, como é o caso de Joan que seguem a série e que era disso
Street, que há mais de 20 anos sai de que eles gostavam. A produtora da
Londres aos Æns-de-semana em busca série suspendeu o proÆssional e só
de locais de Ælmagem da série que voltou após um pedido de desculpas
depois compila num site. Muitos des- público, mas acabaria por abando-
ses locais concentram-se em nar o seu cargo.
Oxfordshire e Buckinghamshire — só A série é baseada nos livros Chief
este condado tem três tours Midso- Inspector Barnaby, da escritora ingle-
mer e aposta tudo nelas para uma sa Caroline Graham, e os cicerones
retoma pós-covid — e os seus pubs, dos espectadores são como família
igrejas ou estações de comboio, tudo — aliás, são mesmo família. Uma série
“very british”, claro. tão longa lá teve de mudar de prota-
Eis a pandemia, como sempre, a gonistas e se inicialmente tinha John
Æltrar as reÇexões sobre fenómenos Nettles como o detective chefe Tom
e consumos culturais recentes. Mid- Barnaby, este reformou-se e em 2011
somer Murders, uma série de detec- deu lugar, num acto de caloroso
tives com casos abertos e fechados nepotismo, ao actor Neil Dudgeon —
no mesmo episódio e uma fórmula que passou a liderar a equipa na pele
previsível e por isso relaxante, pres- do detective John Barnaby, o primo
ta-se ao consumo despreocupado e de Tom. O conforto televisivo mante-
foi uma das escolhidas por muitos ve-se e nem é preciso Æxar o novo
espectadores para viajar mentalmen- nome do detective. É à mesma um
te durante os conÆnamentos — no Barnaby, que por acaso é um nome
seu país natal, as repetições dos epi- ancestralmente britânico.
 Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 41

RELAXAR GUIA publico.pt/relaxar

DR
Neste passeio, a
tranquilidade da paisagem
é um dos elementos a bordo

Vai um mergulho
na Rota dos
Mouchões?
Cláudia Alpendre Marques
O convite é para entrar numa aven-
tura a bordo do varino Vala Real,
embarcação típica do Tejo, e vem da
parte do município de Azambuja,
vila ribatejana que tem o rio aos pés.
A Rota dos Mouchões está de volta às
águas para dar a conhecer o patrimó-
nio natural da região e aguçar os
sentidos dos marinheiros de água
doce com as riquezas da fauna e da
Çora que ali habitam. O passeio dá
direito a contemplar as pequenas
ilhas Çuviais que dão nome à rota,
trazendo ainda quadros frescos da
Natureza onde entram salgueiros,
cavalos lusitanos, garças-boieiras,
garças-reais, corvos-marinhos,
águias pesqueiras, guarda-rios, fata-
ças, enguias, sável e lampreia — estes
últimos, “reis da gastronomia do
rio”, inspiram também as ementas
dos restaurantes locais. A cereja no
topo do bolo está no Lezirão, onde
podem avistar-se as aldeias “avieiras”
construídas em palaÆta, que serviam
de morada aos pescadores do rio e
deram cenário às palavras escritas
por Alves Redol no romance Avieiros.
Informações e reservas através do
Posto de Turismo ou dos contactos
263 400 476, turismo@cm-azambuja.
pt e info@ollem-turismo.com.

Visita Passeio Gastronomia Exposição

Ver o Porto com
outros olhos
A Torre dos Clérigos volta a
convidar para visitas até ao topo
à noite, para deitar a vista sobre
a Cidade Invicta, a partir de um
dos seus pontos mais altos. Com
a chancela da irmandade que
gere o monumento — um dos
cartões-de-visita do Porto e do
qual fazem parte também o
museu e a igreja — o programa
Clérigos by Night está disponível
todos os dias, a partir das 19h,
até 5 de Setembro. De segunda a
quinta, as portas encerram às
21h; sexta, sábado e domingo, às
23h. O bilhete custa 5€ (grátis
até aos 12 anos).
O Crochet Sai à Rua…
em Cerveira
Se passear pelo centro histórico
de Vila Nova de Cerveira, pode
dar de caras com reis e rainhas,
bobos da corte, artesãos,
bandeirolas e estandartes, mas
também cenários de casamento
e mercado medieval. Tudo feito
em crochet, como manda a
tradição iniciada em 2014, num
total de 13 “quadros” que
retratam episódios da história da
vila raiana. Um dos destaques
tem 700 anos e remete para o
momento em que o rei D. Dinis
assina a Carta de Foral de
Cerveira, em 1321. Para ver até 31
de Outubro.
Setúbal à mesa,
com petiscos
Choco frito, pataniscas, prego
em bolo do caco, moelas, pastéis
de bacalhau, chili vegetariano,
lombinho no pão, bruschetta de
Azeitão, bifana com molho de
moscatel, ostras, empadas de
choco, salada de polvo,
cachacinhos, mexilhão… Estes
são apenas alguns dos petiscos
à prova na segunda edição da
Rota do Pitéu, servida entre 12 e
31 de Agosto. A degustação
passa por tascas, tabernas,
restaurantes e marisqueiras,
num total de 28
estabelecimentos sadinos. Cada
pitéu custa 3,50€.
Bem-vindos ao Vale
dos Dinossauros
No Parque do Ribeiro, em
Albufeira, estão 14 dinossauros
vindos do Dino Parque da
Lourinhã. Com modelos à escala
real, propõe-se uma viagem em
família para ficar a conhecer
melhor os animais do período
Triássico ao Cretáceo e aprender
“tudo sobre a vida e o
desaparecimento de algumas
das espécies mais temíveis que
habitaram o nosso planeta
durante mais de 200 milhões de
anos”, palavras da organização.
De entrada livre, o parque pode
ser visitado todos os dias, até 22
de Agosto.
42 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021
Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040
Bem Bom M14. 15h20, 17h30, 21h35;
A Voz Humana 19h20; Visões do
Império 17h20; Jungle Cruise - A Maldição
nos Confins da Selva M12. 21h30; Sweet
Thing - Infância à Deriva 19h40; D’Artacão
e os Três Moscãoteiros: O Filme M6. 15h40
(V.P./2D); Uma Família de Doidos M14.
15h30, 17h40, 19h30, 21h40; O Esquadrão
Suicida M16. 15h50, 18h30, 21h20
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 217981420
Bem Bom M14. 15h25, 17h35, 21h55;
Um Bando de Vigaristas em
Hollywood 19h55; Os Croods: Uma Nova
Era M6. 18h35 (V.P./2D); Viúva Negra M12.
21h25; Raya e o Último Dragão M6. 11h10,
15h20 (V.P./2D); Upsss! 2 - A Aventura
Continua M6. 11h15, 13h35 (V.P./2D); Space
Jam: Uma Nova Era M6. 13h30; Presos no
Tempo M14. 15h25, 17h30, 19h35,
22h; Snake Eyes: A Origem dos G.I.
Joe M14. 13h; Jungle Cruise - A Maldição
nos Confins da Selva M12. 13h (V.P./2D), 16h,
21h30 (V.O./2D); D’Artacão e os Três
Moscãoteiros: O Filme M6. 15h40, 17h50
(V.P./2D); Uma Família de Doidos M14.
15h10, 17h20, 19h45, 21h45; O Esquadrão
Suicida M16. 15h50, 17h40, 18h25, 19h10,
21h15, 21h40
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
A Voz Humana 19h30;
Funeral de Estado M12. 17h;
Laços de Família M12. 15h, 21h15
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade. T. 16996
Até às Estrelas 13h20, 16h10, 18h50; Um
Bando de Vigaristas em Hollywood 15h50,
18h30, 21h15; Os Croods: Uma Nova Era M6.
13h35, 16h, 18h25 (V.P./2D); Cruella M12.
21h25; Viúva Negra M12. 14h20, 17h30,
21h30; Os Flofos: Viagem no Tempo M6.
13h25 (V.P./2D); Demon Slayer - Kimetsu No
Yaiba - O Filme: Comboio Infinito M14.
22h; Velocidade Furiosa 9 13h40, 17h40,
21h45; Space Jam: Uma Nova Era M6.
13h45, 16h20 (V.P./2D); Escape Room 2:
Sem Saída M14. 14h10, 16h50, 19h30,
22h15; Snake Eyes: A Origem dos G.I.
Joe M14. 19h05, 21h50; Jungle Cruise - A
Maldição nos Confins da Selva M12. 13h50
(V.P./2D), 14h30, 17h, 17h50, 21h, 21h35 (V.
O./2D); D’Artacão e os Três Moscãoteiros:
O Filme M6. 14h, 16h30, 19h (V.P./2D); Acima
de Qualquer Suspeita M16. 22h10; Uma
Família de Doidos M14. 13h10, 15h40, 18h10,
21h40; O Esquadrão Suicida M16. 13h30,
16h40, 21h20
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Bem Bom M14. 13h50, 16h30, 19h20,
21h50; Até às Estrelas 13h20, 15h50; Viúva
Negra M12. 18h10, 21h; Annette M14.
13h10; Presos no Tempo M14. 16h10, 18h40,
21h10; Jungle Cruise - A Maldição nos
Confins da Selva M12. 13h40 (V.P./2D),
16h40, 21h40 (V.O./2D); D’Artacão e os Três
Moscãoteiros: O Filme M6. 13h20, 15h40
(V.P./2D); Contos de um Verão Negro M14.
18h20, 20h50; Uma Família de Doidos M14.
14h10, 16h50, 19h, 21h30; O Esquadrão
Suicida M16. 14h, 17h, 21h20
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
Bem Bom M14. 13h05, 15h40; Um Bando de
Vigaristas em Hollywood 12h45; Viúva
Negra M12. 12h40, 15h30, 18h30,
21h40; Velocidade Furiosa 9 15h10, 18h20,
21h50; Space Jam: Uma Nova Era M6.
13h10, 16h (V.P./2D); Escape Room 2: Sem
Saída M14. 19h; Presos no Tempo M14.
21h10; Snake Eyes: A Origem dos G.I.
Joe M14. 22h; Jungle Cruise - A Maldição
nos Confins da Selva M12. 12h30 (V.P./2D),
Estreias
A Noite dos Reis
De Philippe Lacôte. Com Bakary
Koné, Steve TientcheuJean,
Cyrille Digbeu. CAN/Senegal/
Costa do Marfim/FRA. 2020.
93m. Drama. M12
La Maca é uma prisão
auto-governada pelos reclusos
que Æca no meio de uma Çoresta
em Abidjan, Costa do MarÆm. Um
jovem que é enviado para lá é
nomeado, pelo recluso-chefe,
como Contador de Histórias.
Acima de Qualquer Suspeita
De Phillip Noyce. Com Emilia
Clarke, Jack Huston, Sophie
Lowe. EUA/Mongólia. 2019.
104m. Acção, Biografia. M16.
Em 1989, Susan Smith, uma
informadora do FBI de Freeburn,
uma cidade pequena do
Kentucky, foi estrangulada por
Mark Putnam, o agente que tinha
a tarefa de a vigiar e se tornou
amante dela.
Até às Estrelas
De Martha Stephens. Com Kara
Hayward, Jordana Spiro, Tina
Parker, Shea Whigham. EUA.
2019. 109m. Drama.
Década de 1960. Iris vive com os
pais numa pequena cidade rural
do Oklahoma. Reservada e pouco
popular, é alvo constante da
crueldade dos colegas de escola.
Um dia, conhece Maggie, uma
rapariga alegre e descomplexada
que a vai acompanhar numa
importante jornada de
autodescoberta e aceitação.
Contos de um Verão Negro
De Damiano D’Innocenzo, Fabio
D’Innocenzo. Com Elio
Germano, Giulietta Rebeggiani.
SUI/ITA. 2021. 98m. Drama,
Mistério, Thriller. M14.
Vencedor do Ouro de Prata no
Festival de Berlim em 2020, este
Ælme centra-se em várias famílias
disfuncionais de um subúrbio
romano.
Laços de Família
De Daniele Luchetti. Com Alba
Rohrwacher, Luigi Lo Cascio,
Laura Morante. ITA/FRA. 2020.
100m. Drama. M12.
Saltitando entre a década de 1980
e os dias de hoje, este Ælme
foca-se na relação em apuros de
um casal de Nápoles.
O Esquadrão Suicida
De James Gunn. Com Michael
Rooker, Viola Davis, John
Ostrander, Joel Kinnaman. EUA.
2021. 132m. Aventura. M16.
Um Ælme de aventura onde um
grupo de vilões se junta para
destruir um laboratório da era
nazi.
Uma Família de Doidos
De Jean-Patrick Benes. Com
Alexandra Lamy, Franck
Dubosc, Christiane Millet, Rose
de Kervenoaël. FRA. 2020.
100m. Comédia. M14.
Os Morel são uma família francesa
em que os Ælhos, dois
adolescentes e uma criança,
fazem a vida negra aos pais.
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
15h20, 18h10, 22h10 (V.O./2D); D’Artacão
e os Três Moscãoteiros: O Filme M6. 12h55,
15h, 17h20, 19h40 (V.P./2D); Uma Família
de Doidos M14. 14h, 16h20, 18h40, 21h20;
O Esquadrão Suicida M16. 13h, 16h10,
19h20, 21h; O Esquadrão Suicida M16.
Sala IMAX - 13h50, 17h, 20h, 22h40
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Os Croods: Uma Nova Era M6. 10h40, 13h,
15h20 (V.P./2D); Viúva Negra M12. 13h10,
16h10; Velocidade Furiosa 9 17h40,
21h; Escape Room 2: Sem Saída M14.
21h50; Presos no Tempo M14.
18h20; Jungle Cruise - A Maldição nos
Confins da Selva M12. 13h30 (V.P./2D),
16h30, 21h10 (V.O./2D); D’Artacão e os Três
Moscãoteiros: O Filme M6. 11h15, 13h40,
16h (V.P./2D); Uma Família de Doidos M14.
13h20, 15h40, 18h; O Esquadrão
Suicida M16. 11h, 14h, 17h, 21h30
Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362
A Coleccionadora 17h; Presos no
Tempo M14. 21h30; A Flor M14. 13h
(8.ª parte); Contos de um Verão Negro M14.
15h; Era uma Vez Brasília 19h
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
O Museu do Prado 19h; Bem Bom M14.
13h40, 16h20, 18h50, 21h30, 21h55; Até às
Estrelas 16h55, 21h45; Um Bando de
Vigaristas em Hollywood 13h55, 19h15,
21h40; A Voz Humana 14h40,
19h30; Cruella M12. 18h; Viúva Negra M12.
14h10, 21h40; Funeral de Estado M12.
13h25, 18h55; O Espião Inglês M12. 13h30,
16h10, 18h45, 21h30; Velocidade Furiosa
9 13h40, 16h50, 22h20; Space Jam: Uma
Nova Era M6. 16h25; O Meu Burro, o Meu
Amante e Eu 21h25; Presos no Tempo M14.
14h05, 16h45, 19h20, 21h45; Jungle Cruise
- A Maldição nos Confins da Selva M12.
13h20, 16h10, 19h05, 21h55; A Noite dos
Reis 14h, 16h30, 18h50, 21h20; D’Artacão
e os Três Moscãoteiros: O Filme M6. 14h,
16h15 (V.P./2D); Contos de um Verão
Negro M14. 19h; Uma Família de
Doidos M14. 14h15, 16h40, 19h10, 21h35;
O Esquadrão Suicida M16. 13h15, 16h05,
19h05, 22h05; Laços de Família M12. 16h30,
21h50
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
Vale de Mourelos. T. 16996
Bem Bom M14. 12h45, 15h20, 18h,
20h50; Até às Estrelas 13h30, 16h10, 18h30,
21h; Um Bando de Vigaristas em
Hollywood 13h50, 16h20; Os Croods: Uma
Nova Era M6. 14h30, 16h50 (V.P./2D); Viúva
Negra M12. 13h15, 15h, 18h10,
21h30; Velocidade Furiosa 9 13h15, 15h,
18h10, 21h15; Upsss! 2 - A Aventura
Continua M6. 12h20 (V.P./2D); Space Jam:
Uma Nova Era M6. 13h40, 16h15, 19h (V.
P./2D), 21h125 (V.O./2D); Escape Room 2
M14. 20h, 22h20; Presos no Tempo M14.
13h10, 15h45, 18h25, 21h10; Snake Eyes: A
Origem dos G.I. Joe M14. 19h10,
21h45; Jungle Cruise M12. 13h (V.P./2D),
15h50, 18h40, 21h20, 22h (V.
O./2D); D’Artacão e os Três Moscãoteiros:
O Filme M6. 12h50, 15h10, 17h30, 19h50 (V.
P./2D); Acima de Qualquer Suspeita M16.
Até às Estrelas
16h30, 19h10, 21h45; Uma Família de
Doidos M14. 12h30, 14h50, 17h10, 19h40,
21h50; O Esquadrão Suicida M16. 12h30,
15h30, 18h20, 21h50; O Esquadrão
Suicida M16. 13h20, 16h, 18h50, 21h30
Amadora
Cinema City Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
Bem Bom M14. 15h10, 18h55, 21h45; Um
Bando de Vigaristas em
Hollywood 21h25; Os Croods: Uma Nova
Era M6. 15h50, 17h20 (V.P./2D); Cruella M12.
15h40; Viúva Negra M12. 16h15, 17h55,
21h35; Velocidade Furiosa 9 16h, 18h40,
21h20; Space Jam: Uma Nova Era M6. 18h10
(V.O./2D); Escape Room 2: Sem Saída M14.
22h10; Presos no Tempo M14. 15h35, 19h35,
22h; Jungle Cruise M12. 16h10, 18h50, 21h45
(V.O./2D); D’Artacão e os Três
Moscãoteiros: O Filme M6. 15h30, 17h35,
19h30 (V.P./2D); Uma Família de
Doidos M14. 15h20, 17h40, 19h50, 21h55; O
Esquadrão Suicida M16. 15h35, 17h15,
18h30, 19h20, 21h25, 21h40
UCI Ubbo
C.C. da Amadora,
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Bem Bom M14. 13h25, 16h05, 18h45,
21h25; Os Croods: Uma Nova Era M6. 15h15,
17h, 19h (V.P./2D); Velocidade Furiosa
9 14h05, 17h20, 20h30; Presos no
Tempo M14. 13h50, 16h20, 19h05,
21h45; Jungle Cruise - A Maldição nos
Confins da Selva M12. 13h20, 16h15, 19h10,
21h50; D’Artacão e os Três Moscãoteiros: O
Filme M6. 13h30, 15h45, 18h (V.
P./2D); Acima de Qualquer Suspeita M16.
19h, 21h30; Uma Família de Doidos M14.
14h, 16h25, 18h50, 21h20; O Esquadrão
Suicida M16. 13h15, 16h, 18h55, 21h55
Barreiro
Castello Lopes - Fórum Barreiro
Campo das Cordoarias. T. 212069440
Velocidade Furiosa 9 20h50; Jungle Cruise
- A Maldição nos Confins da Selva M12. 14h
(V.P./2D), 15h30, 18h20, 21h10 (V.
O./2D); D’Artacão e os Três Moscãoteiros:
O Filme M6. 13h35, 15h45, 19h (V.
P./2D); Uma Família de Doidos M14. 13h10,
16h50, 19h10, 21h35; O Esquadrão
Suicida M16. 13h10, 16h05, 17h55, 21h10
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
Alcabideche. T. 16996
Bem Bom M14. 13h10, 15h30; Viúva
Negra M12. 18h, 21h; Velocidade Furiosa
9 12h40, 15h40, 18h45, 21h45; Upsss! 2 -
A Aventura Continua M6. 13h45 (V.
P./2D); Escape Room 2: Sem Saída M14.
20h45; Presos no Tempo M14. 16h, 18h30,
21h15; Snake Eyes: A Origem dos G.I.
Joe M14. 21h30; Jungle Cruise M12. 13h30
(V.P./2D), 16h15, 19h10, 22h (V.
O./2D); D’Artacão e os Três Moscãoteiros:
O Filme M6. 12h50, 15h05, 17h15, 19h20
(V.P./2D); Uma Família de Doidos M14.
14h15, 16h40, 18h45; O Esquadrão
Suicida M16. 13h, 16h30, 19h30, 22h10
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I. T. 215887311
Mother - Uma Força Única M12.
19h10; Snowpiercer M16. 21h40;
Jungle Cruise M12. 16h45, 19h10, 21h35
(V.O./2D); D’Artacão e os Três
Moscãoteiros M6. 14h30, 16h15, 18h
(V.P./2D); Memórias de um
Assassino 16h40; Cão que Ladra Não
Morde 14h30; Uma Família de Doidos M14.
14h35, 16h25, 18h15, 20h05, 21h55; O
Esquadrão Suicida M16. 16h30, 19h,
21h30; Laços de Família M12. 19h45,
21h4515h15, 18h30, 21h30

Euromilhões
1.º Prémio 94.000.000€
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
Lazer
TEATRO
Jack
SINTRA Quinta da Ribafria.
De 1/7 a 27/8. Quarta a sábado,
às 21h (excepto dia 25/8). M/16.
Duração: 1h15. 12€
Com texto de João Ascenso e
encenação de Paulo Cintrão, a
companhia Byfurcação parte do
imaginário de Jack, “o
Estripador”, o famoso assassino
em série, para se debruçar sobre a
origem do medo. Conforme
referem, “esta é a viagem ao nosso
interior, à descoberta de quem
somos e de que besta se esconde
dentro de nós”.
EXPOSIÇÕES
Dar Corpo ao Vazio
LISBOA Museu Berardo.
Até 15/8. Todos os dias, das 10h
às 19h. 5€ (grátis ao sábado)
Desenho, escultura, instalação,
fotograÆa, vídeo e intervenção
site-speciÆc são algumas das
disciplinas de trabalho exploradas
por Cristina Ataíde, em mais de
três décadas de carreira. Com as
vivências e o impulso pela
descoberta como matéria-prima, a
artista apresenta um conjunto de
obras que abrangem vários
períodos e meios de produção,
cruzando referências e, sublinha o
curador Sérgio Fazenda
Rodrigues, enunciando a “ligação
do indivíduo ao meio (num
diálogo entre a geograÆa e a
cultura), a conexão da viagem com
o conhecimento (articulando a
descoberta e a identidade) e a
relação entre o espírito e a matéria
(especulando sobre a graduação
de vários estados de existência)”.
Mão-de-Obra
LISBOA Culturgest.
De 9/4 a 19/9. Terça a domingo,
das 11h às 18h. 5€ (grátis ao
domingo, até às 14h)
Esta é a primeira exposição
antológica de António Bolota
(n.1962, Benguela). O arco
temporal abrange os seus últimos
15 anos de produção e tanto exibe
trabalhos marcantes do percurso
como peças inéditas, criadas
especiÆcamente para este espaço
expositivo. Com materiais que
habitualmente associamos à
construção civil (muros, vigas,
paredes, portas e pilares), as
peças do artista pretendem
“confrontar o espectador com
vivências de perigo, de espanto ou
de incredulidade”, refere o
curador, Bruno Marchand.
Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 43
Jogue também online.
9 37 47 48 49 2 7 Palavras-cruzadas,
bridge e sudoku em
publico.pt/jogos
Jogos
Cruzadas 11.429 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1. “Nem um (...)”, dizem os moradores das aldeias transmontanas
que têm lítio. Intacto. 2. Em forma de asa. Atavio. 3. Muitos (fig.). Verme que rói a
madeira. 4. Acometer. Aperto com nó. 5. Espera deferimento (abrev.). (...)
McMahon, realizador do primeiro documentário sobre os Led Zeppelin. 6. Elemento
de formação de palavras que exprime a ideia de ovo, óvulo. Interjeição utilizada
para chamar a atenção ou para cumprimentar. Orçamento do Estado. 7. Quezília. 8.
Desguarnecido. Pedra circular e rotativa de moinho ou de lagar. Opinião do louvado
ou do árbitro. 9. Nome da letra M. Metade de nada. Título do soberano russo, no
tempo do Império. 10. Região do Vietname do Sul. 11. Fragrância. Não continuo.
VERTICAIS: 1. Glória. Pequeno vaso cilíndrico geralmente de louça, com asa. 2.
Gengivite. Murmúrio de vozes. 3. Que rala. Repetição. 4. Sufixo (agente). Regressa.
Símbolo de hectómetro. 5. Onde já se usava a geometria para dividir terrenos. 6.
Arrasta. Prefixo que exprime a ideia de privação. 7. Passado. Palpável. Código Penal.
8. Língua indo-europeia falada pelos Ciganos. “De bom madeiro, boa (...)”. 9.
Agradecida. Emitir luz. 10. Estrada Nacional. Prefixo (montanha). Prejuízo. 11.
Redução de maior. Dilação.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1. Anais. Bocas. 2. Padrão. Cala. 3. Are. Ocorrer. 4. Rima. Aderir. 5. Az. Base. Evo.
6. Papo. Tio. 7. Orada. Hurst. 8. Elogio. Aia. 9. BCE. Apre. AM. 10. Orto. Calo. 11. Tua. Eclosão.
VERTICAIS: 1. Aparato. Bot. 2. Nariz. Recru. 3. Adem. Paleta. 4. Ir. Abado. 5. São. Apaga. 6.
Ocaso. IPCC. 7. Ode. Horal. 8. Ocre. Tu. Elo. 9. Carreira. Os. 10. Aleivosia. 11. Sarro. Tampo.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Sul copas estão divididas 4-4 (partindo do Problema 10.632 (Fácil)
Vul: Todos princípio que as saídas são às quartas)
e que a defesa só tem três vazas a
NORTE copas apuradas para já; com o Ás de
Ƅ KJ7 paus terá mais uma. E o naipe de paus
pode-nos oferecer as três vazas que
Ɔ 1054
Ƈ AJ952 faltam para cumprir; portanto, o bom
ƅ Q7 naipe a explorar depois do Ás de
copas é paus.
OESTE ESTE
Considere o seguinte leilão: Solução 10.630
Ƅ 10954 Ƅ 86
Ɔ KJ92 Ɔ Q863
Ƈ 876 Ƈ K4 Oeste Norte Este Sul
ƅ 82 ƅ A9653 1ƅ passo 1Ƅ
passo 2Ƅ passo ?
SUL
O que marca com a seguinte mão?
Ƅ AQ32
Ɔ A7 Ƅ K1064 Ɔ AQ2 Ƈ 10862 ƅ Q8
Ƈ Q103
ƅ KJ104 Resposta: Marque três ouros. Um trial
bid pelo respondente promete 11-12
pontos, ao mesmo tempo que “pede
ajuda” no naipe que está a marcar. O
parceiro, por sua vez, deve desistir em
três espadas, se estiver mínimo e se
Oeste Norte Este Sul Problema 10.633 (Médio)
não tiver nada de especial a ouros, ou
1ST
quatro espadas, se tiver uma boa
passo 3ST Todos passam
ajuda a ouros, ou se estiver máximo.
Leilão: Qualquer forma de bridge.
Carteio: Saída: 2 Ɔ. Aparece a Dama
de copas em Este. Qual o seu plano
de jogo?
Solução: Seis vazas estão lá, quatro Solução 10.631
espadas, o Ás de copas e o Ás de
ouros. Faltam três e o naipe de ouros
é soberbo. Haverá algum perigo?
Sim, se a passagem a ouros não correr
bem, a defesa irá encaixar cinco vazas
sem resposta (um ouro, três copas e o
Ás de paus).
O mais importante de tudo é perceber
que com a saída o 2 de copas
podemos facilmente deduzir que as
44 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

marido, e Gillian, que explora,

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV
Segunda-feira, 9
RTP1 10,0%
% com diÆculdade, uma quinta.

Indiana Jones e a Grande Amor, Amor

Cruzada
Fox Movies, 21h15
Esta é a terceira e última aventura
de Indiana Jones, que evoluiu da
inocência (Os Salteadores da Arca
Perdida) e do cinismo (Indiana
Jones e o Templo Perdido) para a
paciÆcação da maturidade. Em
Indiana Jones e a Grande Cruzada,
Indy está de volta para combater
os nazis, que tentam encontrar o
Cálice Sagrado, e conta com a
ajuda do pai (Sean Connery). Este
é o Ælme onde se revela como é
que Indy arranjou o seu
característico chapéu, a cicatriz no
queixo e a sua alcunha, num
prólogo onde River Phoenix
interpreta um Indiana Jones ainda
jovem. Das três nomeações para os
Óscares de 1990, Indiana Jones e a
Grande Cruzada ganhou o de
Melhores Efeitos Sonoros (Ben
Burtt e Richard Hymns).
O Dia em Que Ele Chega
TVCine Edition, 22h
Penúltimo Ælme de uma
programação de quatro dias com
Ælmes realizados por Hong
Sang-soo. Seongjun, realizador em
sabática, chega a Seul para visitar
um amigo, mas o amigo não lhe
atende as chamadas. Vagueia pela
cidade, vai a um bar onde a dona é
estranhamente parecida com a sua
ex-namorada, encontra uma
actriz, conhece alguns estudantes
de cinema, encontra o amigo.
Repetem-se personagens,
situações, locais. Seongjun pode
ter passado vários dias em Seul ou
talvez continue a ser o seu
primeiro dia na cidade. De
qualquer forma, não tem outra
alternativa senão enfrentar o
“presente”.
RTP1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Há Volta
12.59 Jornal da Tarde 14.15 Há Volta
15.00 82.ª Volta a Portugal em
Bicicleta 18.00 Portugal em Directo
19.06 O Preço Certo
19.59 Telejornal
21.01 Quem Quer Ser Milionário — Alta
Pressão
22.18 Crónica
a Território Inimigo 19.20 Miami Vice
dos Bons Tempos
mposs
23.11 O Atentado
23.56 Em Casa d’Amália 1.06
Anatomia de Grey 1.52 Janela
Indiscreta 2.44 Kutama — Destino
Lisboa
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.35 Alô
Portugal 10.10 Casa Feliz 13.00
Primeiro Jornal 14.50 Linha Aberta
com Hernâni Carvalho 16.10 Júlia 18.15
Viver a Vida 18.40 Orgulho e Paixão
% Aud. Share
SIC 12,2 23,5
RTP2 1,0
E Se…?
Festa é Festa TVI 11,5 22,2 SIC 19,0 Disney+, streaming
TVI
Bem Me Quer TVI 11,1 23,8
17,4 A primeira série de animação dos
A Serra SIC 10,7 24,2
estúdios da Marvel chega para
Cabo
Jornal da Noite SIC 10,4 22,7
FONTE: CAEM
35,4 reimaginar os eventos passados no
seu Universo CinematográÆco. Se
se lembram do que aconteceu no
TVCINE TOP primeiro Ælme do Homem de
RTP2 Ferro ou do Capitão América, esta
18.20 Um Amor Extraordinário 19.50 O série vem baralhar as cartas e
7.00 Espaço Zig Zag 12.48 Folha de Jardim Secreto 21.30 A Caixa de transformar o jogo, com diferentes
Sala 12.56 Freguesia da Madeira 13.22 Pandora 23.05 Listen 0.20 V.C. heróis a participar em histórias
As Novas Viagens Philosophicas 13.53 Andrews’ Hidden Jewel bem distintas do que aquelas que
Nina 14.43 Folha de Sala 14.50 A Fé conhecemos. Há ainda um elenco
dos Homens 15.24 Gente da Minha de vozes — que conta com Jeèrey
Rua 15.57 Europa Mais Selvagem FOX MOVIES Wright, Chadwick Boseman, Paul
16.47 Espaço Zig Zag 20.33 Folha de 18.05 Ultra-Secreto 19.34 Procurado Bettany, Josh Brolin, Michael
Sala 20.37 Filhos do Sol 21.15 Indiana Jones e a Grande Cruzada Douglas, Chris Hemsworth, Tom
23.17 Alien 3 — A Desforra 1.06 O Hiddleston, Samuel L. Jackson e
Nevoeiro muitos outros —, que inclui vários
21.30 Jornal 2 actores dos Ælmes que repetem os
seus papéis e outros a inaugurar a
HOLLYWOOD sua entrada neste mundo de
22.01 Último Tango em Halifax 17.45 Second in Command — Em super-heróis. A série é realizada
por Bryan Andrews e tem Ashley
21.30 O Último Rei da Escócia 23.35 Até Bradley como argumentista
ao Último Combate 1.30 Actividades principal.
Criminosas
AXN
DOCUMENTÁRIO
22.53 Folha de Sala 18.39 Hospital de Campanha 19.25 The M.C. Escher — Viagem até ao
Good Doctor 21.04 Intuição Criminal Infinito
22.50 Férias 0.37 Intuição Criminal RTP2, 23h35
23.01 Impaciência do Coração Um documentário sobre o artista
gráÆco holandês M.C. Escher
FOX (1898-1972) — fonte de inspiração
23.43 M. C. Escher: Viagem até ao 17.28 FBI 18.59 Chicago P.D. 20.35 para banda desenhada, Ælmes ou
Infinito 1.06 A Rede 1.33 Euronews Hawai Força Especial 22.15 Deception anúncios — que se apoia num
5.41 Água de Mar 23.02 FBI: Most Wanted 23.55 Missão manancial de material, incluindo
Impossível II cartas, notas, diários e palestras
que escreveu durante a sua vida.
TVI Através das suas próprias palavras,
DISNEY CHANNEL descobrimos as suas opiniões e
6.05 Curious George 6.30 Diário da 17.15 Lab Rats 18.25 Anfibilândia 19.15 medos e é analisado o seu legado,
Manhã 7.00 Esta Manhã 10.10 Dois às Os Green na Cidade Grande 20.00 Casa com a ajuda de dois dos seus
10 13.00 Jornal da Uma 14.45 A Única da Coruja 20.25 Lab Rats 21.10 Big Hero Ælhos, George e Jan.
Mulher 16.20 Goucha 18.15 O Amor 6: A Série
Acontece

SÉRIES
Último Tango em Halifax
RTP2, 22h01
Estreia desta série britânica da
BBC que se centra nos
personagens de Alan e Celia. Uma
comédia dramática, Último Tango
em Halifax é sobre o poder
duradouro do amor. Duas pessoas
que estiveram apaixonadas uma
pela outra na infância
encontram-se 60 anos mais tarde.
Agora viúvos, nos seus 70 anos de
idade, voltam a sentir a mesma
chama do amor. Mas a história das
suas vidas é bagagem que trazem
consigo para a relação,
especialmente por ambos terem
Ælhas crescidas: Caroline, uma
professora que tenta criar os Ælhos
e ignorar as inÆdelidades do
19.05 Quem Quer Namorar com o
Agricultor? — Diário
19.57 Jornal da Noite
21.50 Amor Amor
22.35 A Serra
ra
23.30 Quem Quer Namorar com a
Agricultora? 23.40 Tempo de Amar
0.20 Quem Quer Namorar com o
Agricultor? — Diário 1.20 Golpe de
Sorte 2.15 Investigação Criminal 3.40
Linha Aberta com Hernâni Carvalho
DISCOVERY
19.15 Jornal das 8 17.20 Alasca: A Última Fronteira 19.05
Aventura à Flor da Pele 21.00 Lone Star
Law 22.55 Bombeiros da Califórnia 0.45
19.50 Futebol: Supertaça Europeia Lone Star Law 2.15 Já Estavas Avisado!
22.15 Festa É Festa HISTÓRIA
18.05 Os Líderes do Nazismo 19.33 A
Comida que Mudou o Mundo 20.54 O
23.05 Bem Me Quer Ouro Perdido da II Guerra Mundial 22.15
Grandes Segredos da Humanidade 0.01
Em Busca De...
23.50 Amar Demais
ODISSEIA
0.20 Mulheres 18.22 Resgate na Praia 19.08 Red
Arrows: Pilotos Acrobáticos 19.52 Países
Nórdicos Desde o Ar 21.38 Mega
1.25 O Amor Acontece 2.00 Defesa À Estádios da Europa 22.30 Países
Medida 3.26 Circulatura do Quadrado Nórdicos Desde Ar
INFORMAÇÃO
Grande Reportagem
RTP3, 23h
Vítor Gonçalves entrevista Maria
Cavaco Silva, naquele que será
também um passeio pelas
memórias da antiga
primeira-dama. Mas, para além
dos anos passados em São Bento e
em Belém, também haverá
disponibilidade para comentar
política actual.
DESPORTO
Futebol: Supertaça Europeia
TVI, 19h50
Chelsea e Villarreal defrontam-se
no estádio de Windsor Park, em
Belfast, na Irlanda do Norte, para a
46.ª edição da Supertaça Europeia.
 Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021 • 45

Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA
Viana do Castelo

Grandes
Quinta-feira, 12 Sexta-feira, 13 Sábado, 14
Bragança
15 º
23º
35º
19º 31º 18º 34º 18º 33º
Braga 15º
30 º Índice UV M. Alto Índice UV M. Alto Índice UV M. Alto
15 º Vila Real

amores
16º Porto Vento Fraco Vento Fraco Vento Fraco
1,2m
34º Humidade 56% Humidade 50% Humidade 50%
22 º 15º
14º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 30 º
14º 35º Mauna Loa, Havai Portugal
23º 15º

da política
14 º Partes por milhão
(ppm) na atmosfera Porto Muito
Coimbra Valores por semana Bom
30º Coimbra Bom
16º Semana de 1 Ago. 415,00
Castelo Branco
Semana de 25 Jul. 416,62 Lisboa Médio
37 º Há um ano 413,52 Conteúdo reservado a quem assina o PÚBLICO
Leiria 18º
24º
Há dez anos 391,21 Évora Fraco Junte-se a nós e apoie o bom jornalismo
17º publico.pt/assinaturas
Nível de segurança 350
Faro Mau
Nível pré-industrial 280
Santarém
Portalegre
35 º
37º
17º
17º SOL LUA
Lisboa 15 Ago. 15h20

18º
29 º 22 Ago. 12h02 12 DE AGOSTO
Évora
Setúbal 36º 30 Ago. 07h13 Angela Merkel
30º 17º Nascente Poente Nascente Poente
17º 06h46 20h37 7 Set. 00h52 09h38 22h36 e Joachim Sauer
Em 1998, Angela Merkel
Sines Beja EUROPA casou-se com um colega
26º 36º Estocolmo
Helsínquia
cientista, Joaquim Sauer,
18º 17 º Oslo
16º Talín

1,2m um “primeiro-cavalheiro”
Riga
Copenhaga da Alemanha de
Dublin Berlim
Vílnius low profile político.
Amesterdão
Sagres 26º
Londres Varsóvia Era o segundo casamento
21º Bruxelas
23º Faro Praga tanto de Merkel como
19º Paris
Viena Budapeste
18º Genebra
de Sauer.
0,5m
O P2 Verão conta
Açores Milão

Corvo Roma a história deste amor

Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 24º
26º Atenas
23º 1,0m
São Jorge 26º
24º 22º
1,2m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
25º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
23º 21º Amesterdão 13 23 Roma 22 36
0,8m Atenas 25 36 Viena 16 28
Ponta Delgada
Berlim 14 23 Bissau 24 29
Sta Maria Bruxelas 13 22 Buenos Aires 6 14
Madeira Bucareste 18 32 Cairo 27 39
Porto Santo Budapeste 17 31 Caracas 20 26
Copenhaga 13 21 Cid. do Cabo 9 17
Madeira SEGUNDA A SÁBADO
23º 25º 25º 23º Dublin 10 20 Cid. do México 13 23
20º 21º E então chega o Verão e o seu jornal
0,5m 1,2m Estocolmo 13 22 Díli 23 32
Frankfurt 14 26 Hong Kong 27 32 de sempre estica-se ao sol
Funchal Genebra 16 30 Jerusalém 20 29 publico.pt/p2-verao-2021
Istambul 21 32 Los Angeles 21 32
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 14 28 Luanda 21 27
Londres 16 23 Nova Deli 28 36
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 22 38 Nova Iorque 25 32
11h30 0,6 11h04 0,8 10h59 0,6 Milão 17 30 Pequim 22 30
17h47 3,5 17h23 3,5 17h33 3,4 Moscovo 18 23 Praia 24 31
Oslo 13 22 Rio de Janeiro 19 26
00h02 0,6 23h35 0,7 23h27 0,6 Paris 16 27 Riga 15 21
06h11* 3,3 05h47* 3,3 05h53* 3,2 Praga 14 25 Singapura 26 31
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
46 • Público • Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

QUESTIONÁRIO DE PROUST
“O meu herói de ficção é o Super-Homem”
EDUARDO COSTA/LUSA
Qual a sua ideia de felicidade
perfeita?
A minha ideia é de que a perfeição
não é compatível com a condição
humana. Conduzir a nossa
própria existência é já um óptimo
exercício de feliz liberdade.
Qual o seu maior medo?
Perder a liberdade, limitar-me a
viver a vida.
Na sua personalidade, que
característica mais o irrita?
A insatisfação.
E qual o traço de personalidade
que mais o irrita nos outros?
O egoísmo.
Que pessoa viva mais admira?
Não sou dado a cultos de
personalidade. Admiro a
mensagem do Papa Francisco.
Qual a sua maior
extravagância?
A que não tenho facilidade de
cumprir — viajar e conhecer
destinos exóticos.
Qual o seu estado de espírito
neste momento?
Serenidade.
Qual a virtude que pensa estar
sobrevalorizada?
A crítica. A sua sobrevalorização
acaba em criticismo de mal-dizer.
Em que ocasiões mente?
A ocasião é simplesmente aquela
em que não se diz a verdade.
O que menos gosta na sua

aparência física?
Inconfessável. Dita passaria a
notória.
Entre as pessoas vivas, qual a
José
importa é ajudar pessoas a terem Qual o seu maior tesouro? Com que figura histórica mais
mais momentos de felicidade. A liberdade. O amor. A dádiva do se identifica?
Realizar. solidário. Não sou presunçoso para

que mais despreza?
Desprezo atitudes e
circunstâncias, não as pessoas.
Qual a qualidade que mais
Manuel
Que talento não tem e gostaria O que considera ser o cúmulo comparações. Mas identiÆco-me
de ter? da miséria? com aqueles que dão mais de si do
O artístico em geral e o musical O ser humano sem humanismo. que pensam em si.
em particular. Qual a sua ocupação favorita? Quem são os seus heróis na

Bolieiro
admira num homem? Se pudesse mudar alguma Sem preocupação. Inspiração. vida real?
A solidariedade. coisa em si, o que é que seria? A sua característica mais Os meus familiares e amigos.
E numa mulher? Não posso mudar. marcante? Quais os nomes próprios de
A mesma. O que considera ter sido a sua Solidário. que mais gosta?
Diga uma palavra — ou frase — maior realização? O que mais valoriza nos Os inspiradores de referências
que usa com muita frequência?
Inciso.
Ser pai. Amar
incondicionalmente! Presidente do Governo amigos?
A amizade solidária.
históricas.
Qual o seu maior
O quê e ou quem é o maior
amor da sua vida?
Se houvesse vida depois da
morte, quem ou o quê gostaria
Regional dos Açores Quem são os seus escritores
favoritos?
arrependimento?
Não manifestar ainda mais o amor
A minha família e amigos de ser? Vários. Os que pensam sob a pelos nossos mais queridos.
verdadeiros. Tão-só eu próprio, com o saber forma de ensaio e escrevem para Como gostaria de morrer?
Onde e quando se sente mais acumulado da experiência vivida. partilhar saber e reÇexão. Tranquilo e rapidamente.
feliz? Onde prefere morar? Quem é o seu herói de ficção? Qual o seu lema de vida?
O lugar não importa, o que me Em casa própria. O Super-Homem. Aprender.
 UM ROMANCE
CE P
PARA
ARA L
LER
ER E OUVIR.
OUVIR.

O ponto
nto ddee eencontro
ncontro d
dos
os ggrandes
randes
clássicos
clássicos contemporâneos
contemporâneos

COLECÇÃO
EM CAPA
DURA

VOL. 4 – O Pianista de Hotel, de Rodrigo Guedes de Carvalho

Prémio SPA para Melhor Livro de Ficção Narrativa 2018, O Pianista de Hotel transporta-nos
numa melodia. Nele se cruzam diversos andamentos, diversas histórias perpassadas
pela solidão, a dor e o vazio, mas também pelo poder redentor da música,
“a única coisa do mundo que pode ser bela sendo triste”. Há um pouco de nós
em todas as personagens que habitam esta pauta. Há muito de nós neste mergulho
ao mais fundo da alma humana. +1E0M B,9AN0CA€ E
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Quarta-feira, 11 de Agosto de 2021

O seu jornal
Um Verão em cheio pede
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GABRIEL SOUSA

A promoção da cultura científica não é só política simpática

se consegue tirar racionalmente tem havido políticas de promoção exemplo, de recolha de dados
Consoante uma pessoa de uma crença na qual cientíÆca suÆcientemente amplas estatísticos sobre o ambiente, o
muda não entrou racionalmente”. A para isso tudo. clima, etc.). Promover a cultura
única forma é combater por A covid-19 é uma urgência — e não signiÆca insuÇar a arrogância
antecipação: preparar as pessoas agora vemos a falta que a literacia de cientistas ou a insularidade da
para exercerem o seu raciocínio e cientíÆca faz às sociedades. Mas as ciência — pelo contrário, signiÆca
espírito crítico por si mesmas, de alterações climáticas são uma lançar mais pontes entre as
acordo com princípios lógicos, urgência também — e um problema ciências e as humanidades, entre
inferências prováveis e uma base de uma magnitude acrescida a que estas e as artes, entre todas elas e a
Rui Tavares

N
uma família que a
minha família
conhece, num país
estrangeiro, um dos
Ælhos deu já há anos
em islamista radical.
Há poucos meses, a novidade é que
esse Ælho é agora fundamentalista
antivacinas; nas manifestações a
que vai e nos círculos onde recolhe
desinformação, partilha agora a
causa e os objetivos de
islamofóbicos radicais. Uma teoria
da conspiração nunca vem só, e
provavelmente ele e os seus
inimigos Ægadais são ainda capazes
de partilhar elementos de
anti-semitismo clássico,
negacionismo das alterações
climáticas e por aí afora.
Crenças são crenças; uma das
suas características mais perenes é
ser praticamente impossível
persuadir alguém a abandonar
racionalmente uma crença que não
adotou de forma racional ou, como
dizia o Ælósofo David Hume, “não
de conhecimentos adquirida
penosamente ao longo de séculos,
sempre possível de revisão, mas a
mais sólida e certa que temos. A
isto chama-se normalmente
“promover a cultura cientíÆca”.
Em geral, ninguém se opõe à
promoção da cultura cientíÆca,
que costuma ser considerada uma
política “simpática”. Mas nos
tempos que correm, porém,
promover a cultura cientíÆca é
mais do que isso: é uma questão
literalmente de vida ou de morte,
urgente e decisiva.
O exemplo do negacionismo
anticovid, ou antivacinas, é
evidente e fácil de explicar.
Quando há uma bolsa
suÆcientemente grande de gente
que não se vacina, todos Æcamos
em risco pela possibilidade de
aparecimento de novas variantes
que aí encontram terreno fértil
para se desenvolverem. Mas se é
nesse momento apenas que temos
de fazer a pedagogia das vacinas,
então já chegámos tarde demais. A
A covid-19 é uma
urgência — e agora
vemos a falta que a
literacia cientíÄca
faz às sociedades
promoção da cultura cientíÆca não
se dá bem quando é preciso
vociferar; ela tem de ser feita com
vagar, com paciência e serenidade
durante décadas, desde o início da
exploração consciente do mundo,
de várias formas diferentes. E não
não conseguiremos responder se
também aí tivermos de estar agora
a fazer o combate de retaguarda,
pela conÆança nos dados
cientíÆcos, que deveria já estar
ganho há muito tempo. E o
impacto da Inteligência ArtiÆcial
nas próximas décadas, ou da
desinformação na rede, são mais
outras de tantas urgências que não
é possível resolver sem promoção
da cultura cientíÆca.
Infelizmente, aí esbarramos
noutro problema — o da própria
visão estreita da cultura cientíÆca
que tantas vezes prevalece no
espaço público. Promover a cultura
cientíÆca não signiÆca só meter
cientistas no governo ou pôr
políticos a transferirem as suas
responsabilidades para a ciência,
como quem diz “nós seguimos a
ciência” e já está. SigniÆca ter cada
vez mais cidadãos capazes de
entender o debate cientíÆco
mesmo como não especialistas, e
até de participar em projetos da
chamada “ciência cidadã” (por
cidadania. Isto é trabalho que
demora décadas, que começa cedo
na escola, que prossegue ao longo
da vida de várias formas diferentes.
Que nos habilita a fazer crítica de
fontes, a saber debater de forma
construtiva e serena, a pesar
argumentos e a medir riscos.
Um dos elementos de sedução
do negacionismo está no facto de
os negacionistas aÆrmarem que
chegaram às suas verdades
sozinhos. Pois bem, promover a
cultura cientíÆca não pode
signiÆcar dizer às pessoas para
aceitarem acriticamente o que lhes
dizem, mas antes de as habilitar a
serem capazes de encontrar o seu
caminho e de lhes dar as
ferramentas de que todos hoje
necessitamos para navegar uma
realidade na qual a cultura
cientíÆca é decisiva. Sem isso,
nenhum dos nossos problemas
presentes e do futuro próximo é
resolúvel.
Historiador

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