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Grafia de Libras (Signwriting): algumas considerações

Sheila Vicente (UNIFAE)1


Maria Cândida de Oliveira Costa (UNIFAE)2

Resumo:A língua brasileira de sinais (libras) é a principal forma de comunicação e interação


da comunidade surda. Ainda que se acredite que seja uma língua ágrafa, isso é, que não tenha
sistema de escrita, existe o recurso SignWriting (SW), cuja simbologia permite representar
graficamente traços de línguas viso-gestuais. Dada a relevância da escrita em sociedades
contemporâneas, esse é um importante instrumento de legitimação tanto da língua quanto do
sujeito surdo. Esse estudo, tomando por base a metodologia de pesquisa bibliográfica, tem por
objetivo descrever aspectos históricos e de simbologia da SW, que, apesar da importância em
termos de cidadania e autonomia, é pouco conhecida no país. Cumpre salientar queesse sistema
possibilitou o que muitos consideravam improvável: o grafema da língua de sinais, que,
teoricamente, oportuniza aos surdos escreverem seus próprios livros, jornais e dicionários
diretamente em sinais (sem a tradução indireta ao português).
Palavras-chave: Língua de sinais; Escrita; Surdo;SignWriting.

Abstract: The Brazilian sign language is a major form of communication and interaction of
the deaf community. Although it is believed that it is an agraph language, that is, without a
writing system, there is the SignWriting (SW) feature, whose symbology allows to graphically
represent traces of visual-gestural languages. Given the relevance of writing in contemporary
societies, this is an important instrument for legitimating both the language and the deaf person.
This study, based on the methodology of bibliographical research, aims to describe historical
aspects and symbology of SW, which, despite the importance in terms of citizenship and
autonomy, is little known in Brazil. This system made possible what many considered
improbable: the sign language grapheme, which theoretically enables the deaf to write their
own books, newspapers and dictionaries directly in signs (without an indirect translation into
Portuguese).
Keywords: Sign language; Writing; Deaf;SignWriting.

Introdução

Há uma ampla discussão sobre processos de ensino-aprendizado do surdo que vem


paulatinamente sendo ampliada no âmbito acadêmico nos últimos anos,em especial, no que diz
respeito à libras, língua de sinais brasileira. Oficializada em abril de 2002 com a Lei n. 10.436,

1
Graduada em Pedagogia e em Letras Libras. Professora de Educação Especial dos municípios de São Vicente e
Cubatão-SP,baixada Santista. Mestranda do programa Interdisciplinar em Educação, Ambiente e Sociedade na
linha de pesquisa “Educação e Cidadania” da Universidade Pública Municipal - UNIFAE. E-mail:
professorasheilavicente@gmail.com.
2
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é docente do Centro Universitário
das Faculdades Associadas de Ensino – FAE.
a libras é considerada a língua materna dos surdos, ao contrário do português da maioria da
população ouvinte.
A língua brasileira de sinais é a um idioma gestual, isto quer dizer que apresenta
aspectos linguísticos morfológicos, sintáticos, semânticos e discursivos, diferentes de línguas
orais como o português. Cumpre reiterar, portanto, que a libras não é gestualização do
português, como ainda atribui o senso-comum.
A principal diferença das línguas orais é sua modalidade de articulação visual-espacial
ou cinésico-visual. Por essas singularidades, por muito tempo foi considerada por muitos
estudiosos uma língua sem possibilidade de grafia. No que toca à questão da importância da
escrita, Charles Higounet (2003) salienta que

A escrita faz de tal modo parte da nossa civilização que poderia servir de
definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas
eras: antes e a partir da escrita. (...) vivemos os séculos da civilização da
escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se sobre o escrito. A lei escrita
substitui a lei oral, o contrato escrito substituiu a convenção verbal, a religião
escrita se seguiu à tradição lendária. E, sobretudo não existe história que não
se funde sobre textos (HIGOUNET, p. 36, 2003).

No desenvolvimento das práticas sociais que culminaram com avanços tecnológicos,a


utilização do registro escrito se tornouimprescindível. Existe, assim, uma relação inseparável
entre civilização e a escrita, pois

a escrita abriu um espaço de comunicação desconhecido pelas sociedades


orais, no qual tornava-se possível tomar conhecimento das mensagens
produzidas por pessoas que encontravam-se a milhares de quilômetros, ou
mortas há séculos, ou então que se expressavam apesar de grandes diferenças
culturais ou sociais (LÉVY, 2000, p. 114).

A escrita faz parte da história da humanidade:éum marco das formas de comunicação,


possui capacidade de registrar a história, representar a linguagem verbal, transpor limites
geográficos, ultrapassar eras, “eternizar” ideias e pensamentos. Nesse sentido, mesmo uma
língua viso-gestual, precisa de um registro escritoque lhe garanta legitimidade e possibilite aos
seus usuários ampla inclusão na sociedade contemporânea “grafocêntrica”.
Assim sendo, o objetivo do estudo ora apresentado é descrever algumas das
características principais da escrita da língua de Sinais Brasileira o SignWriting(SW), além de
realizar um estudo sobre a grafia dos sinaiscomo recurso que auxilie o surdo na escrita e leitura
dos sinais, sem que haja a necessidade direta da tradução do português.
Esta pesquisa foi desenvolvida de acordo com o método bibliográfico. Para Fonseca
(2002),

a pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas


já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros,
artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-
se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o
que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que
se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências
teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou
conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a
resposta (FONSECA, 2002, p. 32).

Salienta-se que o SignWriting (doravante, SW) é o sistema de escrita que torna possível
fazer a leitura e grafar a libras. Contudo, a utilização por surdos no Brasil é praticamente
inexistente. A escrita da língua de sinais pode servir como uma proposta pedagógica ao ensino
e letramento das pessoas surdas. Pretende-se, assim, que este trabalho dê visibilidade ao
método de escrita viso gestual. Em um primeiro momento, define-se o SW; em um segundo
momento, descrevem-se algumas das simbologias principais, tomando por base os sinais da
libras.

2. Definição do Singwriting

Segundo Nogueira et al (2012), a escrita da língua de sinais, que poderia significar


mudanças positivas para o ensino-aprendizagem do surdo, é pouquíssimo utilizada no Brasil:
“a Libras ainda é considerado uma língua ágrafa no Brasil porque sua escrita não foi
reconhecida oficialmente e é utilizada por um número ainda restrito de pessoas” (NOGUEIRA;
CARNEIRO, 2012. p.147).Para Barreto (2012), o desconhecimento sobre a escrita da libras
gera impressões errôneas mesmo por parte dos profissionais na medida em que

existem muitos mitos em torno da Escrita de Sinais. Muitas pessoas, por não
conhecê-la, afirmam que a escrita de Sinais não é capaz de registrar a Língua
de Sinais com todas as suas características. Para muitos o primeiro contato ou
o estudo desta escrita foi superficial e envolto em mistérios (BARRETO,
2012, p. 27).

SignWriting é um sistema de escrita que torna possível ler, escrever e digitar qualquer
língua de sinais no mundo.A escrita da língua de sinais não se resume ao alfabeto manual, a
datilologia é um sistema que representa o alfabeto das línguas orais da forma escrita, esta
representação é feita por meio das mãos.Se o alfabeto latino é usado para escrever diversas
línguas como o Inglês, Italiano, Espanhol, Romeno, Catalão, Francês, dentre muitos outros
idiomas que usam de comunicação verbal,da mesma forma, os símbolos do alfabeto de
SignWriting são internacionais e podem ser usados para escrever, teoricamente, os movimentos
de qualquer língua gestual.
Em relação aos aspectos históricos, cumpre informar que oSignWriting surgiu em 1974,
elaborada pela professora de dança dinamarquesa Valerie Sutton, que dirigiu o
DeafActionCommitee (DAC). A escrita de sinais ocorreu pela necessidade de marcar
movimentos das danças (STUMPF, 2005). O SignWriting é usado em vinte e sete países para
registrar vinte e sete diferentes e únicos idiomas de sinais. SW não modifica a língua de sinais,
mas a preserva tal como é sinalizada para que outros a possam ler por meio de sinais
convencionais. Os símbolos de SignWriting registram os movimentos do corpo exatamente
como os sinais são feitos. Essa base é propícia para captar sutilizas de qualquer língua de sinais
do mundo, pois registra com precisão os movimentos do corpo.
Fernando Capovilla (2000) sobre importância crucial da escrita afirma que:

A história nasce com a escrita. Ao fornecer um registro secundário e perene


do ato linguístico primário e transitório, a escrita permite a reflexão sobre o
conteúdo da comunicação, sobre as coisas do mundo e o que delas sabemos.
Enquanto registro perene promove também a segurança e consolida o contrato
social. Na história do conhecimento, é a escrita que dá luz à Filosofia e à
Epistemologia, permitindo superar ortodoxias. A escrita permite a reflexão
sobre o próprio ato linguístico, o avanço e o aprimoramento constante da
linguagem como veículo do pensamento para o pleno desenvolvimento social
e cognitivo. É a escrita, mais que apenas a língua primaria do dia a dia, que
unifica as pessoas de um determinado território geográfico e ao longo do
tempo, nas sucessivas gerações, constituindo sua identidade como um povo.
Uma língua que não tem um registro escrito é limitado, e incapaz de
desenvolver-se e consolidar-se a ponto de servir de base para a constituição
de um povo e de uma cultura. Agrupamentos que não têm registro escrito da
própria língua não têm dela o domínio necessário para articular, de modo
solido e seguro, seu desenvolvimento cultural e organização social.
Permanecem sem a união da organização central efetiva e sem tradições ou
memória, dependentes de feudos dispersos e de intermediários para obter
informações transitórias, instáveis e vulneráveis a distorção e boatos
(CAPOVILLA, p. 1491, 2000. Vol. II).

As línguas gestuais, a partir do momento que possuem registro, fazem parte da história
no que diz respeito ao aspecto documental; ganham enlevo e formalidade: não pode ser
subitamente alterada segundo os desígnios do “boca-a-boca”, isto é, da imprecisão das falas
cotidianas. Com o registro da língua, permite-seacesso à informação de um povo, ou seja,
favorece o crescimento cultural do surdo.

3. Símbologia do Signwriting

Assim como em português os teóricos tratam do ponto e modo de articulação para que
o sistema fonador produza sons (reconhecidos culturalmente como unidades de significação),
para formação dos sinais da libras existe configurações de mãos, orientação de contato, ponto
de articulação, parâmetros, movimentos, marcações manuais e movimentos específicos.O SW,
portanto, é um método gráfico esquemático que funciona como a escrita alfabética, em que a
grafia pode ser representada por gestos.
Boutora (2003) explica que a SW

é uma forma gráfica que está apta a assegurar as funções da escrita, da


possibilidade de distanciamento da língua, passando pelo armazenamento e
transmissão de informação. Sua evolução acontecerá pelos objetivos de
adaptação às novas práticas e situações. Veremos com o tempo se o sistema
se adapta às novas línguas ou se são as línguas que se adaptarão à escrita.
(BOUTORA, 2003, p. 95).

Esse sistema permite a sintaxe e semântica próprias no desenvolvimento de línguas não


verbais,por meio de três dimensões espaciais, valendo-se de colunas, cuja leitura é da esquerda
para a direita como a escrita convencional. Existem três colunas, a coluna central é o meio do
corpo, que é uma estrutura neutra, as colunas da direita e da esquerda são referências para o
deslocamento do gesto na direção desejada.O SignWriting é universal, ou seja, seus símbolos
são os mesmos em toda parte do mundo, de modo que, sem qualquer prejuízo, pode-se registrar
diferentes línguas de sinais, que passam não precisar mais passar por traduções de línguas orais.
Esse sistema é plenamente adequado à realidade brasileira haja vista que a libras é
tridimensional para marcar a relação sintático-semântica. A língua brasileira de sinais permite
que tenha um referencial espacial e temporal. Com o sistema de escrita, assim, é possível o
registro gráfico tridimensional.
Como qualquer língua, a SignWriting permite escrever a mesma coisa de várias formas.
No entanto, ressalta-se que, em alguns casos, um mesmo sinal pode ser escrito de várias formas
diferentes (BARRETO, 2012). Exemplifica-se com a escrita de diferentes formas do sinal de
“surdo”:
Fig. 1: Sinais de surdos. Fonte: Stumpf (2005).

OSignWriting parte sempre da perspectiva do emissor, ou seja, em como o emissor vê


suas próprias mãos quando sinaliza:

Fig. 2: Ponto de vista do emissor. Fonte: Stumpf (2005).

Para Madson e Barreto (2012), a perspectiva para a simbologia das mãos é sempre do
sinalizador. “Quando é você quem está sinalizado, você vê os sinais de sua própria perspectiva.
É nela que a Escrita de Sinais se baseia” (BARRETO, 2012, p.52).

Fig. 3: Dorso da mão. Fonte: Capovilla (2005).

Como orienta Barreto (2012), por questão de convencionalidade, o dorso da mão é


representado por seta preta, ao passo que a palma da mão é representada pela seta branca.
Assim,“se ao sinalizar você pode ver a palma de sua mão, o símbolo que a representa será
branco”. (BARRETO, 2012, p. 52).

Fig. 4: Palma da mão. Fonte: Capovilla (2005).


Fig. 5: Lado da mão. Fonte: Capovilla (2005).

Já se “ao sinalizar e ver o lado de sua mão, o símbolo será metade branco, metade preto.
A parte branca mostra para que lado a palma está virada. A parte preta, o dorso da mão”.
(MADSON; BARRETO,2012, p. 53).A escrita de sinais é realizada como é feito o sinal, então,
por convenção o sinal é sempre descrito de cima para baixo, seguindo a postura vertical do
corpo.Existem configurações de mão, independentes se é a palma da mão ou o dorso, se é a
mão esquerda ou direita, o importante é que se mantenha o formato da configuração de mão
para que seja clara a referência ao sinal (tridimensional e sinestésico) que se escreve:

Fig. 6: Configurações básicas de mãos. Fonte: Capovilla (2005).

A palma da mão é representada pela cor branca, o dorso da mão pelo preto. Dependendo
da orientação da mão, escrevem-se os símbolos com qualquer direção de mãos: “se ao sinalizar
você pode ver a palma de sua mão, o símbolo que a representa será branco”. (BARRETO,
2012, p. 52).
Existem dez categorias na escrita de sinais: mãos, ponto de contato das mãos, face,
movimentos do corpo e da cabeça, ombro, membros, inclinação da cabeça, várias localizações,
movimentos dinâmicos e pontuação. Toda configuração e em qualquer direção deve ter uma
marcação para que saibam se a posição da mão está na horizontal (paralelo ao chão) ou vertical
(paralelo à parede), esta marca os dedos separados da mão ou um risco transversal na mão para
representar a posição horizontal.
FIG. 7: Rotação das mãos. Fonte: Stumpf (2005).

Fig. 8: Grafia das mãos em plano de parede e chão. Fonte: Capovilla (2005).

A escrita de sinais possui símbolos para representar contato que as mãos fazem durante
a sinalização. O “*” é o contato simples; “+” é o ato de agarrar, segurar algo;“I*I” é tocar entre
dois pontos; “#” representa bater com força, “ ” é tocar e deslizar na superfície para fora e
“@” esfregar que é o ato de deslizar permanecendo na superfície.Existem símbolos de
superfície que mostram qual a superfície representada pelo sinal. Contudo,esta simbologia, por
ser muito específica, só é feita em caso de extrema necessidade.
As expressões faciais também são escritas, o sinalizar descreve como se expressa os
sentimentos no rosto ao realizar o sinal.Para Madson e Raquel (2012), na Linguagem viso-
gestual, as expressões faciais são de extrema importância. Existem meios para esse registro:
cada sobrancelha é representada por um par de linhas curtas, viradas para baixo ou para cima
conforme a expressão facial desejada:

Fig. 9: meios de grafar as sobrancelhas. Fonte: Stumpf (2005).


O olhar é também de extrema importância para libras, conforme Bruno Gonçalves
Carneiro e Christiane Cunha de Oliveira (2011):

As línguas de sinais são de modalidade gestual-visual e a descrição de tais


línguas requer um exame atento a fim de observar a manifestação de aspectos
funcionais no espaço de sinalização e a ação de marcadores não-manuais. O
estabelecimento do olhar entre os interlocutores nas línguas sinalizadas é um
acontecimento importante deste que a articulação gestual é objeto de
percepção. O comportamento do olhar, concomitante a componentes
manuais, participa da organização do sistema pronominal, bem como na
indicação de referentes nas línguas de sinais. (CARNEIRO & OLIVEIRA, p.
01, 2011).

Fig. 10: meios de grafar os olhos. FONTE: Ribeiro (2011).

Já a boca é assim representada pela SW:

FIG. 11: meios de grafar a boca. Fonte: Ribeiro (2011).

Por sua vez, “se for importante mostrar o que a boca está fazendo, escrevemos a
expressão dentro do círculo que representa o rosto” (BARRETO, 2012, p. 164).Com o símbolo
“^” pode-se descrever a dobra da junta da mão. Quando as juntas das falanges dos dedos
também se movimentam, deve-se registrar apenas o movimento as juntas do meio.
Segundo terminologia gráfica, as setas mostram as direções: setas paralelas às paredes
são duplas, as setas simples representam os movimentos paralelos ao chão. A ponta da seta
preta mostra que a mão direita é que moveu; a branca, a esquerda e a seta aberta mostra ambas
as mãos moveram-se.

Paralela a parede Paralela a parede Paralela ao chão Paralela ao chão


Mão esquerda Mão direita Mão esquerda Mão direita

Fig. 12: Setas de plano.Fonte: Autoral.

Os movimentos curvos são mais complexos, mas também possuem convenções de


utilização.As setas que mostram movimentos curvos possuem um traço atravessado, mostrando
assim o percurso do movimento e a qual plano pertencem. As setas que mostram movimentos
curvos paralelos às paredes possuem o sinal “●” (uma circunferência negra):

Fig. 13: Setas de movimentos curvos. Fonte: Ribeiro (2011).

Quando se representam movimentos curvos envolvendo três dimensões, os elementos


que estiverem perto do observador parecerão maiores do que os que estão à distância, portanto
a seta que mostra esse movimento será sempre mais larga na trajetória próxima do emissor:

Fig. 14: Seta tridimensional. Fonte: Ribeiro (2011).

Segundo Barreto (2012), “quando a mão se move em círculo com um movimento


semelhante ao que é feito para limpar uma mesa com um plano, este movimento é representado
com esta seta tridimensional. Sua haste é mais grossa quando a mão se aproxima do corpo e
mais fina quando se afasta” (BARRETO, 2012, p. 92).Possuem também representação gráfica
os movimentos de “tremer”, feito com o antebraço paralelo à parede.
Movimentos paralelos a parede Movimentos paralelos ao chão

Fig. 15: Movimentos de tremer. Fonte: autoral.

Ao escrever um sinal que é feito com os músculos mais tensos que o normal se utiliza
o“~”. Cumpre salientar que sempre que o sinal requerer movimento no qual há rotação de pulso,
antebraço fixo ao passo que mão gira, deve-se grafar um círculo com traço mais largo perto do
sinalizador, bem como deve-se grafar uma seta por fora deste círculo que mostra a direção do
movimento.
Por fim, os sinais de pontuação são: “I” ponto final, “II” dois pontos, “II” interrogação,
“í” exclamação e “I” vírgula. Para poder registrar as sutilezas de uma língua viso-gestual são
necessários muitos símbolos e regras de utilização. Esta pesquisa mostra apenas um recorte de
aspectos principais, uma introdução ao SignWriting.

Considerações finais

Procurou-se, nessa pesquisa, esclarecer alguns dos aspectos principais daSignWriting,


em especial no que diz respeito ao seu desenvolvimento histórico, assim como se deve utilizar
certos símbolos do sistema de grafia. Esse sistema possibilitou o que muitos achavam
improvável: o grafema da língua brasileira de sinais, que foi considerada, durante muito tempo,
uma língua sem escrita.
Essa não foi a primeira tentativa de se desenvolver essa escrita, no entanto o
SignWriting representa, por meio de uma gama complexa de símbolos, expressões faciais e
posturas corporais do gesto de forma adequada.
A escolha desta temática se fundamentou na importância de tornar conhecida a escrita
da língua de sinais, como também visibilizar padronização de escrita a fim de que todos possam
usar os mesmos grafemas, facilitando, assim, a comunicação entre pessoas surdas. Para tal, é
necessário difundir esse conhecimento de modo que mais pessoas conheçam a língua brasileira
de sinais (ouvintes e surdos) e utilizem os recursos que ela dispõe. O conhecimento, nesse caso,
atrela-se ao exercício da cidadania, da autonomia e da inclusão social.

Referências

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Horizonte:Edição do autor, 2012.

BOUTORA, L’Etude. Étudedessystemes d 'écrituredes langues vocales et des langues


signées. Paris: Mémoire de D.E.A. desSciencesduLangage - Université Paris VIII, 2003.

CAPOVILLA, Fernando Cesar; RAPHAEL, Walkiria Duarte. Enciclopédico Dicionário


ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. 3 ed. São Paulo: EDUSP, 2005.

CARNEIRO, Bruno G.; OLIVEIRA, Christiane Cunha de. A direção do olhar do sinalizador
e suas implicações na Língua Brasileira de Sinais. Resumo. Goiás: 63ª REUNIÃO ANUAL
da SBPC, 2011.

FONSECA; João José Saraiva da. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.

HIGOUNET, Charles. História concisa da escrita. 10ª ed. São Paulo: Parábola Editorial,
2003.

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4ª ed. São
Paulo. Loyola, 2003.

NOGUEIRA, Clélia Maria Ignatius; CARNEIRO, Marília Ignatius Nogueira; NOGUEIRA,


Beatriz Ignatius. Surdez, Libras e Educação de Surdos: Introdução à Língua Brasileira de
Sinais. Maringá: EDUEM, 2012.

RIBEIRO, EdaAmorin. Curso Completo de signWriting. São Paulo; 2011. Apostila de Curso
Completo de no Centro Educacional Cultura Surda.

STUMPF, Marianne Rossi. Aprendizagem de Escrita de Língua de Sinais pelo Sistema -


SignWriting: Línguas de Sinais no Papel e no Computador. 2005. Tese (Doutorado) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.

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