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Abstract: The Brazilian sign language is a major form of communication and interaction of
the deaf community. Although it is believed that it is an agraph language, that is, without a
writing system, there is the SignWriting (SW) feature, whose symbology allows to graphically
represent traces of visual-gestural languages. Given the relevance of writing in contemporary
societies, this is an important instrument for legitimating both the language and the deaf person.
This study, based on the methodology of bibliographical research, aims to describe historical
aspects and symbology of SW, which, despite the importance in terms of citizenship and
autonomy, is little known in Brazil. This system made possible what many considered
improbable: the sign language grapheme, which theoretically enables the deaf to write their
own books, newspapers and dictionaries directly in signs (without an indirect translation into
Portuguese).
Keywords: Sign language; Writing; Deaf;SignWriting.
Introdução
1
Graduada em Pedagogia e em Letras Libras. Professora de Educação Especial dos municípios de São Vicente e
Cubatão-SP,baixada Santista. Mestranda do programa Interdisciplinar em Educação, Ambiente e Sociedade na
linha de pesquisa “Educação e Cidadania” da Universidade Pública Municipal - UNIFAE. E-mail:
professorasheilavicente@gmail.com.
2
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é docente do Centro Universitário
das Faculdades Associadas de Ensino – FAE.
a libras é considerada a língua materna dos surdos, ao contrário do português da maioria da
população ouvinte.
A língua brasileira de sinais é a um idioma gestual, isto quer dizer que apresenta
aspectos linguísticos morfológicos, sintáticos, semânticos e discursivos, diferentes de línguas
orais como o português. Cumpre reiterar, portanto, que a libras não é gestualização do
português, como ainda atribui o senso-comum.
A principal diferença das línguas orais é sua modalidade de articulação visual-espacial
ou cinésico-visual. Por essas singularidades, por muito tempo foi considerada por muitos
estudiosos uma língua sem possibilidade de grafia. No que toca à questão da importância da
escrita, Charles Higounet (2003) salienta que
A escrita faz de tal modo parte da nossa civilização que poderia servir de
definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas
eras: antes e a partir da escrita. (...) vivemos os séculos da civilização da
escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se sobre o escrito. A lei escrita
substitui a lei oral, o contrato escrito substituiu a convenção verbal, a religião
escrita se seguiu à tradição lendária. E, sobretudo não existe história que não
se funde sobre textos (HIGOUNET, p. 36, 2003).
Salienta-se que o SignWriting (doravante, SW) é o sistema de escrita que torna possível
fazer a leitura e grafar a libras. Contudo, a utilização por surdos no Brasil é praticamente
inexistente. A escrita da língua de sinais pode servir como uma proposta pedagógica ao ensino
e letramento das pessoas surdas. Pretende-se, assim, que este trabalho dê visibilidade ao
método de escrita viso gestual. Em um primeiro momento, define-se o SW; em um segundo
momento, descrevem-se algumas das simbologias principais, tomando por base os sinais da
libras.
2. Definição do Singwriting
existem muitos mitos em torno da Escrita de Sinais. Muitas pessoas, por não
conhecê-la, afirmam que a escrita de Sinais não é capaz de registrar a Língua
de Sinais com todas as suas características. Para muitos o primeiro contato ou
o estudo desta escrita foi superficial e envolto em mistérios (BARRETO,
2012, p. 27).
SignWriting é um sistema de escrita que torna possível ler, escrever e digitar qualquer
língua de sinais no mundo.A escrita da língua de sinais não se resume ao alfabeto manual, a
datilologia é um sistema que representa o alfabeto das línguas orais da forma escrita, esta
representação é feita por meio das mãos.Se o alfabeto latino é usado para escrever diversas
línguas como o Inglês, Italiano, Espanhol, Romeno, Catalão, Francês, dentre muitos outros
idiomas que usam de comunicação verbal,da mesma forma, os símbolos do alfabeto de
SignWriting são internacionais e podem ser usados para escrever, teoricamente, os movimentos
de qualquer língua gestual.
Em relação aos aspectos históricos, cumpre informar que oSignWriting surgiu em 1974,
elaborada pela professora de dança dinamarquesa Valerie Sutton, que dirigiu o
DeafActionCommitee (DAC). A escrita de sinais ocorreu pela necessidade de marcar
movimentos das danças (STUMPF, 2005). O SignWriting é usado em vinte e sete países para
registrar vinte e sete diferentes e únicos idiomas de sinais. SW não modifica a língua de sinais,
mas a preserva tal como é sinalizada para que outros a possam ler por meio de sinais
convencionais. Os símbolos de SignWriting registram os movimentos do corpo exatamente
como os sinais são feitos. Essa base é propícia para captar sutilizas de qualquer língua de sinais
do mundo, pois registra com precisão os movimentos do corpo.
Fernando Capovilla (2000) sobre importância crucial da escrita afirma que:
As línguas gestuais, a partir do momento que possuem registro, fazem parte da história
no que diz respeito ao aspecto documental; ganham enlevo e formalidade: não pode ser
subitamente alterada segundo os desígnios do “boca-a-boca”, isto é, da imprecisão das falas
cotidianas. Com o registro da língua, permite-seacesso à informação de um povo, ou seja,
favorece o crescimento cultural do surdo.
3. Símbologia do Signwriting
Assim como em português os teóricos tratam do ponto e modo de articulação para que
o sistema fonador produza sons (reconhecidos culturalmente como unidades de significação),
para formação dos sinais da libras existe configurações de mãos, orientação de contato, ponto
de articulação, parâmetros, movimentos, marcações manuais e movimentos específicos.O SW,
portanto, é um método gráfico esquemático que funciona como a escrita alfabética, em que a
grafia pode ser representada por gestos.
Boutora (2003) explica que a SW
Para Madson e Barreto (2012), a perspectiva para a simbologia das mãos é sempre do
sinalizador. “Quando é você quem está sinalizado, você vê os sinais de sua própria perspectiva.
É nela que a Escrita de Sinais se baseia” (BARRETO, 2012, p.52).
Já se “ao sinalizar e ver o lado de sua mão, o símbolo será metade branco, metade preto.
A parte branca mostra para que lado a palma está virada. A parte preta, o dorso da mão”.
(MADSON; BARRETO,2012, p. 53).A escrita de sinais é realizada como é feito o sinal, então,
por convenção o sinal é sempre descrito de cima para baixo, seguindo a postura vertical do
corpo.Existem configurações de mão, independentes se é a palma da mão ou o dorso, se é a
mão esquerda ou direita, o importante é que se mantenha o formato da configuração de mão
para que seja clara a referência ao sinal (tridimensional e sinestésico) que se escreve:
A palma da mão é representada pela cor branca, o dorso da mão pelo preto. Dependendo
da orientação da mão, escrevem-se os símbolos com qualquer direção de mãos: “se ao sinalizar
você pode ver a palma de sua mão, o símbolo que a representa será branco”. (BARRETO,
2012, p. 52).
Existem dez categorias na escrita de sinais: mãos, ponto de contato das mãos, face,
movimentos do corpo e da cabeça, ombro, membros, inclinação da cabeça, várias localizações,
movimentos dinâmicos e pontuação. Toda configuração e em qualquer direção deve ter uma
marcação para que saibam se a posição da mão está na horizontal (paralelo ao chão) ou vertical
(paralelo à parede), esta marca os dedos separados da mão ou um risco transversal na mão para
representar a posição horizontal.
FIG. 7: Rotação das mãos. Fonte: Stumpf (2005).
Fig. 8: Grafia das mãos em plano de parede e chão. Fonte: Capovilla (2005).
A escrita de sinais possui símbolos para representar contato que as mãos fazem durante
a sinalização. O “*” é o contato simples; “+” é o ato de agarrar, segurar algo;“I*I” é tocar entre
dois pontos; “#” representa bater com força, “ ” é tocar e deslizar na superfície para fora e
“@” esfregar que é o ato de deslizar permanecendo na superfície.Existem símbolos de
superfície que mostram qual a superfície representada pelo sinal. Contudo,esta simbologia, por
ser muito específica, só é feita em caso de extrema necessidade.
As expressões faciais também são escritas, o sinalizar descreve como se expressa os
sentimentos no rosto ao realizar o sinal.Para Madson e Raquel (2012), na Linguagem viso-
gestual, as expressões faciais são de extrema importância. Existem meios para esse registro:
cada sobrancelha é representada por um par de linhas curtas, viradas para baixo ou para cima
conforme a expressão facial desejada:
Por sua vez, “se for importante mostrar o que a boca está fazendo, escrevemos a
expressão dentro do círculo que representa o rosto” (BARRETO, 2012, p. 164).Com o símbolo
“^” pode-se descrever a dobra da junta da mão. Quando as juntas das falanges dos dedos
também se movimentam, deve-se registrar apenas o movimento as juntas do meio.
Segundo terminologia gráfica, as setas mostram as direções: setas paralelas às paredes
são duplas, as setas simples representam os movimentos paralelos ao chão. A ponta da seta
preta mostra que a mão direita é que moveu; a branca, a esquerda e a seta aberta mostra ambas
as mãos moveram-se.
Ao escrever um sinal que é feito com os músculos mais tensos que o normal se utiliza
o“~”. Cumpre salientar que sempre que o sinal requerer movimento no qual há rotação de pulso,
antebraço fixo ao passo que mão gira, deve-se grafar um círculo com traço mais largo perto do
sinalizador, bem como deve-se grafar uma seta por fora deste círculo que mostra a direção do
movimento.
Por fim, os sinais de pontuação são: “I” ponto final, “II” dois pontos, “II” interrogação,
“í” exclamação e “I” vírgula. Para poder registrar as sutilezas de uma língua viso-gestual são
necessários muitos símbolos e regras de utilização. Esta pesquisa mostra apenas um recorte de
aspectos principais, uma introdução ao SignWriting.
Considerações finais
Referências
BARRETO, Madson; BARRETO, Raquel. Escrita de Sinais sem mistérios. Vol. 1. Belo
Horizonte:Edição do autor, 2012.
CARNEIRO, Bruno G.; OLIVEIRA, Christiane Cunha de. A direção do olhar do sinalizador
e suas implicações na Língua Brasileira de Sinais. Resumo. Goiás: 63ª REUNIÃO ANUAL
da SBPC, 2011.
FONSECA; João José Saraiva da. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.
HIGOUNET, Charles. História concisa da escrita. 10ª ed. São Paulo: Parábola Editorial,
2003.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4ª ed. São
Paulo. Loyola, 2003.
RIBEIRO, EdaAmorin. Curso Completo de signWriting. São Paulo; 2011. Apostila de Curso
Completo de no Centro Educacional Cultura Surda.