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ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE MANTENEDORA ( INSTITUIÇÃO ADVENTISTA DE EDUCAÇÃO E

ASSISTÊNCIA SOCIAL NORTE BRASILEIRA - IAEASNB)

Presidente: Leonino Barbosa Santiago


Tesoureiro: Rogério Sousa
Secretário: Ozeias de Sousa Costa

ADMINISTRAÇÃO DA FACULDADE ADVENTISTA DA AMAZÔNIA - FAAMA

Diretor Geral: José Prudêncio Junior


Diretor Administrativo: Adimilson Vieira Duarte
Diretora Acadêmica: Dayse Mota Rosa Pinto
Coodenador de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e EAD: Derson da S. Lopes - Jr

Reintor: Martin Kuhn


Vice-reitores executivos / diretores de campus: Afonso Cardoso Ligório, Antônio Marcos Alves,
Douglas Jefferson Menslin
Vice-reitor Administrativo: Telson Bambassaro Vargas
Pró-reitor de Graduação: Afonso Cardoso Ligório
Pró-reitor de Pesquisa e Desenvonvimento Institucional: Allan Macedo de Novaes
Pró-reitor de Educação à Distância: Fabiano Leichsenring Silva
Pró-reitor de Pós-Graduação (lato sensu): Antônio Marcos Alves
Pró-reitor de Desenvolvimento Espiritual: Martin Kuhn
Diretores Administrativos: Claudio Valdir Knoener, Flavio Knoner, Murilo Marques Bezerra
Diretor-geral de Educação Básica: Douglas Jefferson Menslin
Secretário-geral e Procurador Institucional: Marcelo Franca Alves
Diretora de Recursos Humanos: Karla Cristina de Freitas Souza
Diretor de Produções Artísticas: Tuiu Costa
Advogado Geral: Misael Lima Barreto Junior
Chefe de Gabinete: Anna Cristina Pascual Ramos

Autores: Prof. Ms. Antonio Braga de Moura Filho


Revisora: Márcia Ebinger
Diagramadora: Ana Paula Pimentel Lara Dias
Validção Técnica: Derson da S. Lopes Jr
Imagem de Capa: Unsplash

Copyright © 2019 Todos os direitos reservados.


Vamos refletir?

Ampliar conhecimentos é sempre uma atividade desafiadora, mas é


também produtora de muitos novos insights e de fascinantes descobertas.
Toda a temática pensada para essa disciplina foi cuidadosamente arquitetada
objetivando aspectos práticos e vitais para a sua vida.

À medida que você percorrer as páginas de leitura do ebook e assistir


às videoaulas, espero que consiga refletir em cada ponto abordado e se
conectar com o que há de melhor para a sua vida. O conhecimento é mais
útil à medida que ele provoca alguma transformação, e meu desejo é que as
reflexões apontadas nas esferas da autoconsciência, da espiritualidade e do
propósito pessoal, sejam starts provocadores de boas mudanças em sua visão
de mundo e sua jornada dentro de uma existência que seja verdadeiramente
significativa.

Meu convite é: mergulhe gostosamente nesses conteúdos, extraia


a essência das provocações e experimente traçar novos roteiros em seu
existir. Que seja uma grande aventura!

Um grande abraço do Professor Braguinha.


1
AUTOCONSCIÊNCIA
REFINADA
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
5

Objetivos

• Objetivo 1: Validar o conhecimento de si mesmo;


• Objetivo 2: Valorizar as descobertas emocionais;
• Objetivo 3: Enfrentar os desafios emocionais descobertos;
• Objetivo 4: Entender a dinâmica de suas emoções.

INTRODUÇÃO

Que alegria poder chegar a você nesse momento de ampliação de conhecimentos, o que certamente
está sendo uma aventura desafiadora.

O estudo deste tema pode ser algo fascinante para sua existência, à medida que você se dedica para fazer
as reflexões necessárias e propostas. Independentemente de sua linha acadêmica de pesquisa e sua
área de atuação, o processo contínuo e crescente de um autoconhecimento adequado pode significar
um salto qualitativo de vida em diferentes momentos dela e em meio aos desafios existenciais que
todos enfrentamos. Entender melhor a dinâmica do seu ser é uma tarefa inadiável, e dedicar-se à ela
enquanto a existência segue um determinado curso, é uma tarefa que exige concentração profunda e
apurada e que geralmente produz resultados excelentes para qualquer indivíduo.

Como está o nível de conhecimento que você tem de si mesmo? Se alguém lhe questionar acerca
de quem é você, essa seria uma questão que receberia uma resposta sintetizada de uma jornada de
experiências ricas e carregada de relevância ou lhe provocaria um titubeio perturbador, por não ter
certeza de quem é ao habitar nesse mundo gigantesco junto com mais de sete bilhões e meio de outras
pessoas?

Ora, sendo que existem hoje ferramentas e tecnologias que podem servir como auxílio valioso no
processo complexo de entender quem nós somos, então há, para além dos desafios, privilégios
imensos por existir num tempo assim, e podemos lançar mão de todo esse conhecimento da ciência e
agregar valor à estrutura de nossa própria vida. Esse não é um conhecimento que pode ser obtido na
literatura disponível (ela pode servir como guia), mas é adquirido a partir de uma jornada intencional,
onde as buscas são completamente pessoais e não servem para serem repetidas em outras pessoas.
Nesse sentido, é uma busca completamente exclusiva do indivíduo e tal característica empresta um
valor incrível a essa empreitada.

Espero que você esteja de coração aberto e com muita disposição para essa jornada! Ao concluir esta
unidade, desejo que você tenha:

• Percebido questões essenciais para sua jornada de autoconhecimento;


• Ânimo para jamais desistir de enfrentar as dificuldades emocionais;
• Condições melhores de transitar de forma adequada na vida.
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
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Que seja um excelente estudo para você, ao seguir essa trilha de quatro etapas que proponho para esta
unidade! As etapas são: 1- a revelação necessária de que sou; 2 - o pavor que surge do autoconhecimento;
3 - o enfrentamento necessário; 4 - a dinâmica dos estados de espírito.

1 – A REVELAÇÃO NECESSÁRIA DE QUEM SOU

Pode ser apropriado afirmar que o autoconhecimento é um verdadeiro convite à evolução do ser, visto
que é impossível evoluir como pessoa desconhecendo uma certa essência e não tendo contato com
os pontos fortes que podem alavancar seus projetos ou as fraquezas, que às vezes são impeditivos da
conquista dos objetivos. O conjunto harmônico de uma autoconsciência refinada provê ao indivíduo
uma desejável validação pessoal, aquela que não é conferida por alguma instituição acadêmica ou
conquistada a partir de uma posição social, mas é uma confirmação interior, que ratifica e legitima
a vida em sua melhor versão. Obviamente essa legitimação ocorre como parte de um processo de
buscas e descobertas estruturantes da existência e provavelmente seja um movimento contínuo
de aprimoramento das experiências vividas e para que haja ganhos ao longo do caminho torna-se
absolutamente necessário conhecer-se de forma mais aprofundada.

Quando a consciência de si mesmo é trabalhada de forma intencional, verdadeira e aberta, ela vai
ajustando o seu foco de metas de tal forma que o caminho se torna mais viável de ser seguido. Perceba
que ela pode ser uma verdadeira bússola que produz orientação necessária para saber o lugar onde
se está e o ponto onde se deseja chegar.

Como ousaríamos avançar desprovidos dessas ferramentas de navegação tão vitais? Tendo o seu ser
devidamente validado, ajustado em formas de pensar e agir completamente alinhadas aos propósitos,
o sujeito pode mover-se, avançando convicto em busca das realizações que lhe produzam qualidade
de vida superior, apenas experimentada por aqueles que se aventuram para além do mero existir
cotidiano, que não se deixam apenas serem levados pelas marés, pois são possuidores de um mapa
interno claro e buscam frequentemente atualizar o guia da vida para seguir o rumo desejado. Tal
“revelação” não pode ser adquirida por um método instantâneo e fácil, nem está à disposição para ser
comprada; ela é, na realidade, fruto de uma maturação pessoal e de uma busca qualificada.

O questionamento que necessita ser feito por você é: “sinto que minha vida está percorrendo esse nível
de autoconsciência?” Se fosse medir em uma escala simples, onde você acha que estaria seu processo
pessoal de autoconhecimento? Experimente usar a linha abaixo para colocar-se nessa questão:

Baixo Médio Alto

Ainda bem que, graças à plasticidade do cérebro, sempre é possível expandir as possibilidades de
aprendizado. E isso em qualquer área da vida e em qualquer tempo da existência. É uma notícia
alvissareira, que nos relembra o fato de não vivermos em uma prisão estanque de saberes, pois temos
condições emocionais para mapear determinadas áreas desconhecidas ou esquecidas do ser.
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
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A procura pela dimensão interior parece ser inerente ao ser humano e pode ser observada ao longo
dos milênios que antecedem o século XXI. “Nosce te ipsum” - era a pequena estrofe estampada na
fachada do Oráculo de Delfos na Grécia antiga vista por todos os atenienses. A expressão tornou-se
referencial ao longo da história como “conhece-te a ti mesmo”. Mas nem mesmo Sócrates, o mais
famoso dos filósofos daqueles idos, julgava-se conhecedor completo de si, e sua frase imortal “só
sei que nada sei” expressa com perfeição ainda hoje o desafio de validar a vida passando por um
conhecimento amplo e adequado de si mesmo.

Seja um grego discutindo filosofia na Polis, um monge medieval recluso numa caverna, um hippie
tecendo artesanato na década de 1960 ou um típico cidadão brasileiro do novo milênio, todos
carecemos de um certo nível de conhecimento de nós mesmos e quanto mais profundo for esse
nível, mais chance de uma vida significativa haverá. Legitimar-se enquanto ser humano viável em
um mundo que parece caótico, é tarefa que não necessita de um longo repouso sabático ou de um
isolamento monástico numa caverna do deserto. Ele é possível na dimensão da vida cotidiana sob a
condição de uma busca interior profunda, um confronto sério consigo mesmo e uma concentração
dedicada, visto que não existe qualquer espécie de fórmula mágica ou método em poucos passos que
possa tornar esse processo viável para alguém.

Quanto mais as pesquisas avançam nessa área profícua, mais se entende que o processo de
desenvolvimento na maturidade, tão necessário para qualquer indivíduo que deseje crescer, tem seu
ponto de partida em um mergulho mais profundo na estrutura do ser, o que chamamos corriqueiramente
de autoconhecimento ou conhecimento de si mesmo. Quando praticada corretamente, essa habilidade
capacita a pessoa a desenvolver uma melhor regulação sobre sua estrutura de vida, ajudando-a a
lidar com as emoções negativas e sentimentos de inadequação e potencializando tudo aquilo que é
positivo, pois estará mais consciente dos paradoxos de sua vida, obtendo um maior equilíbrio diante
dos fatores externos desgastantes que interferem no interior do ser. Existimos a partir de nossas
emoções e sem elas que sentido haveria em viver? Através delas possuímos uma enorme riqueza de
sentimentos que dão textura à vida, com suas inumeráveis nuanças possíveis.

A vida exclusiva que você está construindo não veio com um manual de instruções detalhando os
passos que deveriam ser dados em sua jornada. Esse manual inexiste exatamente pelo fato de que cada
vida é absolutamente única e verdadeiramente irrepetível. Quando você está realizando o seu trabalho
e necessita de um afastamento curto ou longo por alguma razão específica, alguém o substituirá e
essa pessoa pode ter uma formação semelhante à sua e fazer o que você faz de maneira até mais
eficiente. Mas, sempre permanecerá o fato incontornável de que aquele indivíduo jamais poderá ser
quem você é. Seu jeito único, suas características, a maneira de olhar e mesmo as manias que tem,
nada disso pode ser substituído. Nesse sentido, cada um de nós é simplesmente insubstituível, o que
torna o caminho desse autoconhecimento algo realmente fascinante.

De alguma maneira, a medida do conhecimento que você tem de si mesmo será a balança pessoal
que medirá a qualidade de sua existência. Entende isso? O trajeto de autoconhecimento pode ser uma
incrível viagem para dentro da alma, onde podemos nos deparar com recônditos de traumas que
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vivenciamos guardados a sete chaves, ou fantasmas do passado que ainda assombram o presente, e
mesmo recordações agradáveis que provocam toda sorte de bem-estar. Fazemos tantas viagens a fim
de conhecer novos lugares e paisagens encantadoras, mas não podemos deixar de valorizar a viagem
para dentro, pois nos leva a compreender nossas crenças, emoções, habilidades, potencialidades e
motivações, desenvolvendo cada vez mais a autoconsciência. Por meio dela o sujeito pode objetivar o
seu empoderamento, tornando possível a realização de mudanças importantes, especialmente em um
mundo marcado pelo que o grande pesquisador da Sociologia Zygmunt Bauman denomina de “tempos
líquidos”1, onde os fluidos não são capazes de se manter na mesma forma por muito tempo, pois na
modernidade líquida existimos em um mundo de pressa e fluidez, onde as satisfações imediatas
ocupam o lugar antes habitado pelo que se julgava duradouro. Pela urgência do agora corremos sérios
riscos de perder-nos no que verdadeiramente deveria importar.

Esse é o seu mundo, esse é o chão onde você pisa, e entender-se consigo mesmo, validando-se
frequentemente enquanto avança nos rumos que traçou – eis a aventura mais densa que a Odisseia
trilhada por Ulisses, o herói mitológico criado por Homero. Ulisses foi o herói vitorioso na guerra de
Tróia, travando batalhas ao longo de uma década inteira. Derrotando os troianos, ele inicia a jornada
para o seu reino, mas são tantos os percalços e desafios, que ele leva outros dez anos para finalmente
chegar em Ítaca, onde estavam sua esposa, seu filho e seus súditos. A trajetória do mitológico Ulisses é
símbolo de nosso real caminho nesse mundo, descrito pelo antropólogo futurista Jamais Cascio2 pelo
termo “Mundo BANI”, sigla em inglês para um mundo marcado por: Brittle (frágil), Anxious (Ansioso),
Neolinear (Não-linear) e Incomprehensible (Incompreensível).

Segundo Cascio, as situações vão além de serem simplesmente instáveis, elas são caóticas e os
resultados não são apenas difíceis de se prever, eles são completamente imprevisíveis, dando à
realidade um caráter incompreensível. Lidar com este cenário altamente complexo não é fácil e a
aquisição de novas habilidades torna-se essencial no agora para que seja construído algo que sirva de
orgulho no futuro.

Você sente na pele os efeitos desse Mundo BANI? Provavelmente, sim. Pois é exatamente nele que
você existe e aí que pode, de fato, estruturar uma existência extremamente significativa. Quanto mais
entendemos a importância dessa autoconsciência que denomino nessa unidade de estudo como
refinada, mais poderemos usufruir dos benefícios decorrentes dela e sabendo que tal revelação apenas
acontece de forma intencional, então o espaço interior se alarga e pode ser iluminado por novos
saberes agregadores para o ser. Faria bem você realmente aprofundar-se nessas questões, exercitando
o pensamento na busca crescente por melhores respostas emocionais no cenário desafiador que
marca esses tempos. Eis aí uma grande jornada! Ela deve ser trilhada em meio à insanidade confusa
do mundo e se desejamos um ritmo melhor para os rumos da vida, essa rota de aprendizagens tem um
valor intrínseco muito grande para que as rédeas do amanhã estejam em nossas mãos. Não significa
que possamos controlar os seus desdobramentos, mas certamente temos condições melhores de não
sermos vítimas passivas do que acontece.
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2 - O PAVOR QUE SURGE DO AUTOCONHECIMENTO

Então podemos agora refletir juntos em uma segunda dimensão que proponho para nossa unidade
de estudo. Veja: quando permito de verdade que meu ser se revele e apresente seus contornos reais,
posso estar aberto para valorizar de forma mais ampla as incontornáveis questões emocionais que
fazem parte da integralidade do meu ser. Todo aquele que se aventura em um autoconhecimento
profundo, inevitavelmente travará contato, entre outras coisas, com aspectos desagradáveis de sua
vida e não raras vezes essas descobertas são apavorantes. E, apesar de serem amedrontadoras, ainda
assim, fazem parte da vida e estão entranhadas na estrutura do ser e todo o complicado processo
de entender-se melhor consigo mesmo envolve um esbarrar quase permanente nessas estranhezas
que podem ser mantidas às escondidas, mas que existem e podem provocar verdadeiros estragos no
percurso da existência. Elas se constituem quase sempre em “pontos cegos”, semelhantes àqueles
que os motoristas cuidam para que não sejam vítimas de acidentes que podem ser evitados. Acontece
que, quando se trata de vida, esses pontos precisam ser encarados com uma responsabilidade maior
que aqueles ausentes nos retrovisores dos carros, são realmente vitais para uma boa sequência nos
caminhos da existência.

Quem desvaloriza as questões emocionais facilmente se atrapalha em diversas esferas da vida e pode
perigosamente agir como se estivesse numa espécie de “piloto automático”, dificultando grandemente
a maneira como lida com os desconfortos e desafios que fazem parte da vida em si. Respostas
emocionais equivocadas, produzem consequências desagradáveis e quando sua prática se torna
repetitiva todo o curso do futuro pode contaminar-se perigosamente.

Como você tem lidado com as descobertas que faz de si mesmo e que não gostaria que existissem, mas
elas teimam em estar ali? Quanta coragem você tem de listar essas verdadeiras “sombras” interiores,
sabendo que elas podem ter se transformado em perigosos fatores limitantes do seu desenvolvimento?
Fugir delas ou negá-las não parece demonstrar-se como opções viáveis de longa duração, mas a
conscientização de sua existência pode abrir novas formas de abordagens e de caminhos melhores.
Afinal de contas, o que não é conhecido não pode ser combatido e um ajuste de foco nos pontos
fracos do ser pode significar uma potencialização de vida que é possível de ser experimentada. Não é
lançar mão de promessas vazias de autoajuda nem tampouco seguir lamentando a existência interna
dos limitadores que todos os seres humanos possuem, mas buscar alternativas que possam ser
encontradas.

Que tal procurar, agora mesmo, refletir acerca dos medos que estão aí presentes, bem no âmago do
seu ser? Pode ser um exercício frutífero! Faça contato com o que amedronta, tente entender os gatilhos
internos que acionam esses medos. Pode ser que já se tenham tornado em práticas recorrentes e
que venham desequilibrando as emoções há muito tempo e podem ser frutos de antigos traumas
vivenciados. A coragem para observá-los e entender a dinâmica desses pavores geralmente auxiliam o
indivíduo no processo de conquistar uma estrutura mais significativa de vida. Invista uma parcela de
tempo para adentrar nesse espaço interno do pavor que habita em você. Isso seria adequado em um
momento planejado, onde não haja interrupções e as condições de quietude sejam apropriadas. É um
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investimento e pode ser feito no tempo que você julgar necessário. Tem coragem?

Feito isso, seria propício fazer anotações das descobertas e, para além do que for descrito, tentar
perceber e descrever os sentimentos que teve com relação a esses pensamentos. Sendo bem praticado,
esse pequeno exercício pode fornecer uma espécie de mapeamento dos fatores amedrontadores da
alma e lançar alguma luz sobre as possibilidades de aprendizados existentes ali. Não vale qualquer
tipo de nota nessa avaliação, mas ela tem potencial para ser incorporada como patrimônio imaterial
de sua existência. São essas questões que apresentam validade para além dos conhecimentos técnicos
de um determinado estudo, onde o saber não se esgota em si mesmo, mas se transforma em elemento
agregador de significação existencial. E não é exatamente isso que desejamos?

Um elemento que é muito útil nesse processamento de dados internos é a capacidade de fazer
perguntas, visto que elas podem ser tão mais importantes que as respostas decorrentes delas. Não
há respostas para muitas questões que temos, porém as perguntas pertinentes podem ser fonte de
uma inquietação positiva que lhe move para novas possibilidades. Se uma resposta fecha o ciclo de
uma questão, uma pergunta abre um leque de novas abordagens. Quais as perguntas, portanto, que
você deveria fazer acerca dos seus pavores? Um bom questionamento pode ser tanto melhor que uma
simples resposta, pois agita o intelecto e abala a zona de conforto onde a pessoa talvez esteja e de onde
necessita sair. Elabore perguntas poderosas, que sejam capazes de provocar reflexões adequadas e
utilizadas posteriormente como ferramentas de alavancagem da vida que você tem pela frente.
Na estrutura dessa pequena caminhada emocional, surge a revelação de quem sou, o pavor do que
descubro e o enfrentamento que preciso fazer de tudo isso. Vamos seguir?

3 – O ENFRENTAMENTO INDISPENSÁVEL

O que chamo nessa unidade de autoconsciência refinada é toda uma estruturação necessária que
visa um melhor ordenamento da vida, onde a compreensão dos intrincados processos emocionais se
torna mais simples e pode ser identificada mais facilmente.

Enfrentar todo um arcabouço de dificuldades emocionais construído ao longo de anos requer uma
grande coragem. O atributo da coragem quase sempre está ligado às histórias de heróis que recheiam
a literatura de todos os povos. Corajoso é o guerreiro que enfrentou o dragão, o conquistador que
derrotou povos, a princesa que venceu preconceitos. Corajoso é Ulisses, o herói da Odisseia de
Homero3, que venceu os gigantes ciclopes de um olho só, derrotou a feiticeira Circe que transformava
os homens em porcos, passou ileso pelas sereias com seu canto mortal e superou até mesmo o terrível
Hades. Mas todo o poder concedido ao corajoso da mitologia não dá conta de captar a coragem na
sua melhor forma, aquela que preciso para me conhecer, me questionar e travar uma batalha renhida
contra tendências herdadas ou cultivadas que complicam meu desempenho na vida. Essa espécie de
coragem não rende medalhas de heroísmo nem povoa o universo dos livros, mas qualquer um de nós
que luta essas causas sabe a dimensão dessa batalha.
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
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Você sente que tem intrepidez suficiente para estar imerso nesse campo de batalha que habita o seu
interior? Por ser tão complicado ir às cavernas pavorosas do nosso íntimo, muitas pessoas optam
por um caminho aparentemente mais fácil. Elas não pensam nisso, negam que exista algo que as
incomoda e tentam sobreviver na superfície. Acontece que essa atitude geralmente cobra um preço
alto demais, pois não há como fugir para sempre de si mesmo. A coragem de confrontar-se com seu
mundo interno não vem sem medo que assola ou até um terror paralisante, mas o corajoso não se
intimida; sabe que esse encontro com seus demônios interiores é inescapável e, à semelhança do
mitológico Ulisses, ele vai ao Hades e sai de lá carregando sua conquista.

As pessoas que enfrentam processos terapêuticos podem encontrar maior facilidade no confronto
com as incômodas questões que habitam seu ser, mas nem mesmo uma terapia de qualidade pode
auxiliar aquele que se recusa em ir à profundidade. Há indivíduos que se arrastam por anos a fio em
um tratamento e não saem do lugar onde se encontravam, pois ficam tão apavorados que paralisam
e não possuem a coragem suficiente para o enfrentamento. Eles produzem uma auto sabotagem,
fingindo que estão se tratando e boicotando o tratamento.

Interessante o fato de que muitas pessoas têm mais facilidade em conversar com os outros do que
conversar com o seu interior. Pode ser mais fácil tabular um diálogo qualquer, onde falamos e
ouvimos, do que provocar um encontro pessoal com esse ser, às vezes tão misterioso, que é nosso eu.
O que pode haver de tão aterrador em nosso mundo subterrâneo que nos desincentiva de olhar para
ele? Talvez sejam crenças limitantes, carregadas como verdadeiros fardos que dificultam a jornada ou
podem ser complicados mecanismos de defesa, construídos ao longo de décadas e que atrapalham
a vida na atualidade. Bem, seja o medo de seguir em frente com algum projeto, a procrastinação
recorrente de tarefas importantes, o negativismo exacerbado com relação à vida, a falta de confiança
para com as conquistas... ou tantos outros itens que não cabem numa lista, seja o que for que você
identifique como estando presente em seu mundo interior, bem, isso necessita ser confrontado.

Havendo coragem suficiente para esse mergulho, você poderá fazer um contato libertador com suas
realidades mais detestáveis, como raiva, mágoa, desejos insanos e toda sorte de “bagaceira” emocional.
Mas não é apenas isso. Lá habitam também seus mais fantásticos impulsos: alegria, generosidade,
empatia - o que há de melhor em você. É esse conjunto paradoxal que faz de você a pessoa única que é
e irrepetível, sob qualquer medida. Toda essa colcha de retalhos da vida é tarefa que requer a coragem
da qual estou falando. Se for analisar, mais tempo do que você passa trabalhando, ou em qualquer
ambiente que frequente, é o tempo que passa com sua alma e é aí que pode ir tecendo, como artista
da existência, a obra de arte exclusiva que é seu ser na totalidade dele. Se é verdade que precisa de
coragem para fazer isso, também é verdadeiro que o resultado é altamente recompensador e se fizer
repetidas vezes essas incursões, vai sentir-se cada vez mais à vontade no ambiente do seu mundo
interior.

É dolorosa a viagem? Certamente! Esses tenebrosos quartos escuros da alma encontram-se repletos
de assombrações e isso pode ser mesmo aterrador. Penetrar em cantos escondidos do coração pode
gerar perplexidade e adentrar em bosques tenebrosos da intimidade nunca é um processo fácil. Mas
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esses “fantasmas” estão lá e provocam muitos estragos na vida real. São questões que podem ser
negligenciadas por anos ou mesmo décadas a fio e podemos tentar deixá-las trancadas na ilusória
segurança do pretenso esquecimento… bem, isso não funciona indefinidamente. Nesses quartos
habitam nossos piores demônios, a propensão para maldades inimagináveis. Na percepção certeira
de Elizabeth Kübler Ross, “existe um Hitler dentro de cada um de nós; é só dar oportunidade que ele
se manifesta”4. Entende? O potencial da mais absoluta ruindade está aí dentro, à espreita, e pode
irromper de forma espalhafatosa e potencialmente destruidora a qualquer momento, impregnando a
vida com atitudes tolas, verdadeiras bombas de efeito nefasto e duradouro.

O simbólico “Hitler” está aí, mas confrontá-lo de forma corajosa é uma opção viável. O polêmico
escritor austríaco Nicolaas Thomas Bernhard traz uma excelente percepção disso em um de seus
escritos: “Estamos sendo continuamente descartados pelos outros e a cada dia temos que nos achar de
novo, juntar os pedaços e nos reconstruir”5. Se não estiver municiado de audácia, você não percorre
esse trajeto tão vital para seu desenvolvimento e é incrível a capacidade que esse confronto com as
realidades auxilia muitas pessoas a uma verdadeira reestruturação pessoal e profissional.

De que maneira você se vê diante dessa questão? Sente que tem a coragem necessária para o
autoconhecimento e essa, na verdade, já tem sido uma jornada exitosa em seu crescimento pessoal?
Ou percebe que tem realmente um pavor da autodescoberta? O que acha de construir uma frase que
retrate a maneira como você tem encarado isso? Ela é somente sua e deve retratar não o ideal que
gostaria, mas a realidade atual.

Reflita com máximo de profundidade sobre isso, tendo em vista responder para você mesmo: Como
percebo o nível de coragem que tenho tido para me conhecer mais intimamente? Tendo feito isso,
talvez seria apropriado utilizar essa frase como referência para os desafios à frente. Certamente
haverá muitos! Crie um quadro como o que está abaixo para registrar a sua frase:

Podemos, então, avançar e concluir essa unidade de estudo, refletindo em um quarto aspecto que
não deve ser negligenciado ao se pensar na autoconsciência, que é a intensa dinâmica que envolve
as emoções.

4 – A DINÂMICA DOS ESTADOS DE ESPÍRITO

Bem, desejo muito que você esteja realmente integrado a esse processo contínuo e interminável de
ajustes do autoconhecimento. O processo jamais termina pelo fato de não haver um momento específico
na sequência existencial quando o indivíduo já tenha todas as respostas aos seus questionamentos e
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
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conheça cada uma das inumeráveis nuanças que envolvem a complexidade do seu ser. Tal momento
jamais chegará, o que torna a aventura da consciência de si mesmo uma obra em permanente
construção e jamais terminada por completo. Refletimos juntos, ao longo deste breve estudo, a
necessidade de uma revelação pessoal que torne viável o início do processo e seguimos abordando a
possibilidade do pavor pelas descobertas feitas e avançamos refletindo no inevitável confronto interno
para proporcionar um equilíbrio emocional desejado no indivíduo. E agora veremos a influência sobre
a vida dessa dinâmica verdadeiramente fervilhante onde as nossas emoções transitam. Compreender
tal dinâmica pode produzir uma melhor qualidade de vida.

Em qualquer ambiente onde estamos inseridos e em qualquer momento do cotidiano podemos


deparar-nos com interações provocativas de maior ou menor intensidade, mas que requerem uma
resposta emocional e não raras vezes as respostas que damos são equivocadas, provocando efeitos
diversos, nem sempre agradáveis para o indivíduo. Enquanto seres humanos experimentamos toda
sorte de reações às situações nas quais somos expostos e, na ebulição inquieta desse mundo interior,
corremos o risco de responder de forma inadequada às demandas, extravasando de maneira até
atabalhoada e amargando a colheita ruim do preço a ser pago pelas inadequações e destemperos
provocados.

Podemos entender, então, que há um nível de responsabilização pessoal que deve ser assumido pelo
indivíduo no sentido de promover uma crescente regulação emocional para que possa desenvolver-
se enquanto ser humano e portar-se de forma adequada na sociedade onde está inserido. É a
caracterização da busca por ser uma pessoa melhor, consciente de quem é, deixando de ser dominado
por suas emoções negativas e tornando-se cada vez mais proprietário responsável por suas ações no
correr da existência. Evidentemente essa não é uma conquista gratuita, mas precificada pela busca
constante de evolução individual.

Deixar de trilhar essa rota de crescimento é, como vimos, prenúncio de tragédia na vida. Há, no
fervilhar do mundo interior, reações emocionais que não devem ser atendidas, mas controladas.
Percebe o valor dessa pequena verdade? Deixar-se levar pelas respostas abruptas do cérebro pode
ser uma armadilha de alto poder destrutivo, ao passo que desenvolver uma autoconsciência regulada
é um caminho de liberdade, adequação e crescimento. Ao longo do processo de desenvolvimento
estamos sempre nos metamorfoseando, então, que seja na direção de um ser melhor, que reconhece a
estrutura do seu mundo interior, pois faz frequentemente um mapeamento emocional e aumenta sua
habilidade de lidar, tanto com as situações externas com potencial estressor, quanto com as respostas
internas produzidas. Não é uma conquista fácil, de fato, mas um caminho possível e extraordinário!

Entender toda essa dinâmica dos estados de espírito é vital para uma existência saudável e esse
entendimento vem acompanhado da devida responsabilidade pessoal. Enquanto crianças chorávamos
e esperneávamos na busca da atenção mais básica, como alimento ou colo. Era o conhecido e
podíamos praticá-lo a fim de obter o que desejávamos, mas, à medida que nos tornamos adultos não
devemos mais lançar mão desses recursos emocionais rudimentares próprios dos bebês. Se na fase
adulta respondo de forma impulsiva às demandas da vida, estou apenas sendo inadequado e lançando
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
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mão de ferramentas que foram úteis nos dias de nossa completa vulnerabilidade e tiveram que ser
abandonadas. Crescemos e essa caracterização deve ser completa, para além do gritar para obter o
que deseja. Uma autoconsciência refinada, referencial dessa unidade de estudo, é uma possibilidade
real para seres humanos responsáveis por si mesmos e desejosos de crescimento integral.

Essa saúde emocional é fruto do investimento nela. Então, é hora de questionar: você se percebe
como alguém saudável emocionalmente, portador de uma autoconsciência cada vez mais refinada, ou
ainda está tateando e sentindo-se traído constantemente por suas emoções, agindo impulsivamente e
amargando consequências em decorrência disso? Refletir sobre essa questão é significativo, pois, caso
entenda que a estrutura emocional está fragilizada e afetando a vida em geral e os relacionamentos,
a busca por aprofundamento das questões abordadas aqui se torna ainda mais necessária e mesmo
urgente e a possibilidade de suporte psicológico não deve ser descartada.

Você conseguiria fazer, para si mesmo, uma síntese de quem você é a essa altura da vida? Tendo
como referencial o que abordamos em nosso estudo, como seria a síntese que você produziria? Você
está em um programa de Pós-Graduação buscando investir em sua carreira profissional e todos os
conhecimentos adquiridos agregarão um valor a essa empreitada, porém, de que adiantaria a obtenção
desses saberes se o conjunto deles não fizesse de você uma pessoa melhor?

Vamos lá! Invista o tempo necessário para elaborar essa síntese, não da pessoa que idealiza ser,
mas da que é atualmente. Ao produzi-la você poderá fazer novas descobertas e reforçar aquelas já
feitas. Faça quantos rascunhos forem necessários, rabisque, aprimore e tente finalizar um texto que
lhe agrade, pela definição dessa pessoa que é você. É preciso lembrar que essa síntese tem sempre
um caráter provisório, visto que, apesar de uma essência que nos define, somos seres em constante
processo de mutação.

Um olhar ocasional para essa síntese pode lhe fornecer bons insights e como ela é provisória, você
pode ajustá-la sempre que considerar necessário.

Uma síntese de quem eu sou

CONCLUSÃO

A permanente jornada da autoconsciência é mesmo fascinante quando levada a sério. As vantagens de
quem a trilha com frequência podem ser medidas em uma qualidade geral de vida de nível excelente
e as possibilidades são reais. Espero sinceramente que nosso estudo tenha provocado em você não
apenas algum saber acadêmico, mas a busca por uma rota existencial cada vez mais relevante.
2
PROPÓSITO
SIGNIFICATIVO
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
16

Objetivos

• Objetivo 1: Refletir sobre a relevância do meu propósito;


• Objetivo 2: Fortalecer um propósito desafiador;
• Objetivo 3: Valorizar a exclusividade do meu propósito;
• Objetivo 4: Ser capaz de exercer influência positiva ao redor.

INTRODUÇÃO

Vamos iniciar nosso estudo! Na Unidade I refletimos acerca do processo de autoconhecimento e das
vantagens decorrentes dele para uma vida mais estruturada. Entendemos que a responsabilidade
individual por essa autoconsciência é incontornável, não podendo ser transferida e não devendo ser
adiada. Agora é hora de focarmos no passo que vai além, que é a formatação de um propósito de vida
que seja significativo e dê um contorno extraordinário à existência.

Os mitos são fontes excelentes de ensinamentos práticos para a vida ao longo das eras. Na riqueza
de detalhes da fábula de Hércules6, o mítico herói helênico, que livrou a terra de muitas ameaças e
monstros, a lenda diz que, depois de suas conquistas pelo mundo, Hércules viu-se diante da imensa
cadeia de montanhas do Estreito de Gibraltar, onde usou sua descomunal força para destruí-las
com um único golpe. Naquele novo cenário, apareceram dois picos entre as montanhas de Calpe,
na Europa, e Abila, na África, que foram chamados de Colunas de Hércules, marcando o que seria o
limite da Terra, para além do qual os seres humanos não poderiam avançar. Foi bem naquele ponto
que ele esculpiu uma inscrição que se tornou referencial para o mundo antigo. NEC PLUS ULTRA
eram as palavras, significando que ali estava o limite extremo do mundo que poderia ser conhecido
pelos mortais, e por longas eras ninguém se arriscaria a desafiar o mito.

“Nada mais além” foi o lendário limitador para a humanidade naqueles idos. Os rudimentares mapas
marítimos da antiguidade indicavam essas marcas para uma navegação segura. Mas eis que surgem
os navegadores destemidos do século XV que desafiaram a lenda e avançaram rumo ao desconhecido,
alterando para sempre a geografia e os destinos do mundo. Anos mais tarde, o rei Carlos I da Espanha,
entusiasmado com as conquistas marítimas, adotou o lema “Plus Ultra” (mais além) como símbolo
da superação do mito da fronteira estabelecido por Hércules. Os ventos da exploração sopravam
favoráveis e o impenetrável Mar dos Monstros era agora navegado sob a égide de um propósito que
continua a motivar seres humanos nos quatro cantos do globo: o de avançar e realizar conquistas
antes tidas por impossíveis.

“Plus Ultra” segue como marco referencial que deve nos cutucar a ir além, dotados pelo propósito
resoluto de um forte espírito conquistador de novas fronteiras.

Iniciamos a nossa rota de aprendizados incentivando você a aprofundar-se no autoconhecimento,


entendendo que ele é um equipamento básico para uma sobrevivência relevante. Quanto mais
estivermos dotados dessa arte de entender nossa alma, mais poderemos avançar na construção de
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
17

um propósito existencial, que se torna a síntese de todos os alvos, metas e objetivos que buscamos na
jornada da vida. Muito além da vontade para ultrapassar obstáculos diversos ao longo dos anos, deve
estar aquilo que de fato resume tudo que queremos e buscamos, aquele algo maior que se constitui na
essência de nossas buscas, o propósito final que empresta sentido ao que somos e fazemos.

Se fizer uma auto análise, você pode dizer se já conseguiu definir a essência de sua existência, o
“para quê” indispensável que o leva a tocar a sequência desafiadora dos dias e noites que se seguem,
recheados de tantas atividades? É tão bom ter metas que colocamos diante de nós e pagamos o preço
para alcançá-las, só não podemos esquecer que todas elas precisam estar alinhadas a um propósito
supremo, àquilo que define toda a existência. O filósofo humanista francês Michel de Montaigne
entendeu que “a grande e gloriosa obra-prima do homem é viver com um propósito”7. Estamos
realmente conscientes disso?

1 - A RELEVÂNCIA DO MEU PROPÓSITO

É imprescindível ter um propósito bem definido na vida. Sem ele, restaria a famosa resposta do gato
na fábula de Alice no país das maravilhas8. A garota estava diante de um caminho que se bifurcava
à sua frente e pergunta ao gato de Cheshire qual caminho ela deveria seguir, e ele a questiona para
saber aonde Alice queria chegar. Quando a pequena diz não saber, então o felino finaliza o diálogo
com a sensacional frase: “Então qualquer caminho serve”.

Ainda bem que essa não é nossa realidade! O “tanto faz” de uma ilusória corrida atrás do vento não
nos define e desejamos elaborar um sentido que marque a nossa existência.

Para que o propósito tenha realmente um valor e não seja apenas um item a mais entre tantos que
fazem parte da vida, ele necessita ser construído para que seja de fato, significativo. Ele deve ir além
de metas que são eleitas e que corremos atrás para conquistar. Cada objetivo se reveste de uma
determinada importância, porém deve haver uma finalidade que o transcenda para não corrermos o
risco de tocar a vida apenas com o que seja urgente e deixando de lado o que é importante. O escritor
Mark Twain9 costumava falar que os dias mais importantes da vida são apenas dois: o dia em que
nascemos e o dia em que conseguimos descobrir a razão pela qual vivemos. Se não interferimos de
forma alguma para o dia do nosso nascimento, somos desafiados a interferir em cada detalhe do dia
da descoberta da razão pela qual existimos.

Urgências sempre perseguirão a vida de qualquer ser humano nas infindáveis demandas que
estão presentes em toda vida produtiva… um emaranhado de atividades que são entremeados com
intermináveis reuniões e novos planos que aparecem no radar. Sem uma organização proposital que
seja maior que tudo isso, a vida será resumida a um fazer sem fim, caracterizado pelas atividades de
curto prazo, que levará o indivíduo a perder de vista o essencial.

Warren Buffett, o mais celebrado investidor do mercado financeiro mundial, mas também um grande
filantropo, percebe o valor que existe nesse processo: “Investir em si mesmo é o maior investimento que
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
18

você fará na vida. Não há investimento financeiro que se compare a isto, porque se você desenvolver
mais habilidade, mais aptidão, mais percepção e capacidade, é isso que vai lhe proporcionar liberdade
de fato”

Acredite! Toda a energia que conferir à formação do seu propósito maior e, consequentemente,
de todo um projeto de vida, trará recompensas preciosas à sua passagem pelo mundo. E você vai
perceber que, quanto mais denso for seu propósito, mais facilidade haverá para criar o arcabouço de
todo seu projeto, com as metas que fazem parte de sua realidade e dos seus sonhos, pois terá clareza
suficiente para fazer as escolhas corretas, traçando planos que sejam realmente exequíveis e sempre
sintonizados com o que lhe define. As razões serão certas e o caminho a ser trilhado será correto.
Que vida!

Para os antigos japoneses essa verdadeira força motriz da existência era chamada de ikigai11, que
significa, mesmo sem uma tradução formal, “razão de viver”. Esse é um conceito oriental que tem se
espalhado pelo mundo afora como um segredo para a longevidade, pois empapa todo o ser de uma
grande vitalidade motivadora, em que as pequenas ações individuais do cotidiano estão dentro desse
ikigai que o indivíduo construiu para si. Somente aquele que já possui um conhecimento apropriado
de si mesmo consegue sumarizar seu propósito, seu ikigai. A questão é que, na ausência dele, você pode
correr por entre mil atividades diferentes… e tudo isso poderá ser semelhante à figura de linguagem
que a sabedoria do Eclesiastes define como “correr atrás do vento”12; é, sim, uma corrida extenuante,
mas, sem um propósito final que ofereça razão a ela, será uma corrida do nada para lugar nenhum.

Se pensar em seu propósito como uma espécie de síntese, à semelhança de um “ikigai”, você poderia
dizer qual é o seu? Que tal exercitar sua mente agora e tentar descrever a razão essencial de seu viver?
Pegue um papel e escreva! Vai fazer bem à sua alma.

Quem sabe, seria interessante dedicar um tempo que julgue adequado para refletir sobre essa essência.
Muitos insights poderão surgir a partir disso.

2 - UM PROPÓSITO DESAFIADOR

Saber detectar essa essência proposital é um excelente auxílio na construção geral do mesmo.
Um propósito de excelência merece significar algo possível de ser vivenciado, porém tendo uma
característica que seja desafiadora. Mentes pequenas não conseguem entender essa dimensão.

Há uma lei prática da vida repetida por diferentes saberes, segundo a qual, se uma pessoa não tem
condições de sobressair-se pelos talentos que possui, pode vencer com base no esforço. É uma boa
sabedoria popular! Muitos indivíduos talentosos confiam tanto neles que acabam se perdendo numa
vida de banalidades e poucas realizações, ao passo que indivíduos carentes de talentos excepcionais
se tornam vencedores por conta de um esforço extraordinário.

O século em que vivemos é caracterizado por um tempo que se torna cada vez mais complexo e
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
19

todos os prognósticos analisados apontam sempre para tempos extremamente desafiadores à frente.
Poucos séculos atrás, o conhecimento disponível podia ser condensado em poucas centenas de livros
e restrito às poucas pessoas que possuíam habilidade de leitura. Com o avanço do conhecimento
científico tudo mudou, os desafios foram sendo potencializados e existir no século XXI exige o
enfrentamento de questões simplesmente inexistentes para nossos antepassados. Cada um de nós
tem diante de si a opção de não aceitar que as coisas sejam desse jeito, de clamar aos quatro ventos
para que tudo seja simplificado e voltem a ser como antes, de espernear gritando que a vida não é
justa, mas provavelmente essas atitudes não resultem em alguma mudança no rumo da humanidade.

Há, claro, um jeito melhor de lidar com as complexidades crescentes do nosso tempo e ele envolve
a observação e compreensão do cenário atual e a construção intencional de propósitos de vida que
sejam elevados. É assim que o indivíduo pode localizar-se enquanto cidadão coerente em um mundo
que não para de mudar e é exatamente nesse ambiente desafiador que ele constitui-se como ser
proposital. Tremendo!

Nos mitos gregos da antiguidade Sófocles elaborou o conto da esfinge13, um monstro que se colocou
como maldição à entrada da cidade de Tebas e ali cobrava dos cidadãos que decifrassem seu enigma.
Aos poucos a população foi sendo dizimada pela esfinge, pois não havia ninguém que oferecesse a
resposta correta à charada proposta. Na grande Tebas que é o mundo no presente cada ser humano
está, metaforicamente, diante de uma enorme esfinge, representada especialmente pelos sistemas
existentes no ambiente corporativo. Diferentemente da esfinge da lenda grega que cobrava resposta
a apenas uma pergunta, os sistemas hoje estão em evolução constante e formulam novas perguntas
o tempo todo. Nas demandas infindáveis do mundo do trabalho quem não consegue responder
adequadamente aos processos evolutivos acaba sendo descartado como vítima na nova esfinge. Bem,
é neste fervilhante lugar onde você é desafiado a construir um propósito que seja desafiador. Entende
a necessidade disso?

Quanto mais estruturado for o seu propósito, maior será a capacidade de continuar a transformar-se
e mesmo a reinventar-se diante das exigências inevitáveis desse tempo, não tendo medo de avançar
no processo de desenvolvimento que nunca tem fim. A habilidade adaptativa pode ser um forte fator
de auxílio em seu protagonismo na vida, visto que a flexibilidade lhe oportuniza inúmeras respostas
e não apenas o incômodo de ser um profissional de uma nota só. As mudanças que chegam de forma
inesperada encontram o indivíduo de firme propósito melhor preparado para absorver as novas, e
às vezes, duras realidades que elas trazem consigo. É assim que consegue enxergar um lampejo de
oportunidade na mesma circunstância onde o que não possui um propósito estruturado vê apenas o
caos que se instala e as funestas consequências que traz. A situação agora é diferente? Ok! O adaptável
pode mudar as estratégias que funcionavam até então e que agora perderam a validade, pois seus
ouvidos estão atentos aos ventos que sopram e seus olhos abertos para os cenários que mudam.
Como são flexíveis, essas pessoas se adaptam mais rapidamente, enquanto aquelas que são rígidas
permanecem resistindo às mudanças e se tornam vítimas da própria rigidez e se quebram.

Quanto se fala acerca das mudanças que serão cada vez mais frequentes em absolutamente todas as
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
20

áreas da atuação humana, Yuval Harari, um dos mais celebrados pensadores da atualidade, apresenta
suas percepções no best seller “21 lições para o século 21”14 e o que ele mostra é verdadeiramente
assustador, ao analisar as profundas mudanças que já estão em curso no mundo e que têm uma
capacidade nunca antes imaginada em afetar cada habitante do planeta. Harari não é um mero
estudioso de futurologia, mas um profundo e respeitável conhecedor das questões que aborda. É
inquestionável sua inquietação quando afirma que no mundo hoje “a pessoa comum sente-se cada vez
mais irrelevante… Como ela pode continuar a ser relevante num mundo de ciborgues e algoritmos em
rede?”. Mais do que em qualquer outro tempo da história da humanidade, a capacidade de adaptação
é requerida de forma intensa e abrangente. Harari apimenta mais ainda o debate quando diz que “a
revolução tecnológica pode em breve excluir bilhões de humanos do mercado de trabalho e criar uma
nova e enorme classe sem utilidade, levando a convulsões sociais e políticas com as quais nenhuma
ideologia existente está preparada para lidar. Essa conversa sobre tecnologia e ideologia pode soar
muito abstrata e remota, mas a perspectiva real de desemprego em massa – ou pessoal – não deixa
ninguém indiferente”. Preocupante, não? Como ser indiferente a questões que afetam completamente
nossa vida, à esfinge que nos desafia com suas questões complexas? Qual é o indivíduo que está
devidamente preparado para fazer frente a um desafio desse tamanho? Se há uma única resposta
possível para essa questão urgente é esta: aquele que tiver melhor capacidade de adaptar-se… de
novo… e de novo!

Pode soar um requinte de crueldade, mas Harari lembra que as novidades que brotarão da Inteligência
Artificial e da Biotecnologia empurrarão o gênero humano para uma situação nunca antes confrontada,
o que traz a questão de saber até onde esse ser humano conseguirá adaptar-se diante de mudanças
estruturais tão drásticas.

Não é momento de sentar e chorar, mas de levantar-se como portador de um propósito firmemente
construído para fazer frente a todos os desafios que estiverem no horizonte. Ora, ao longo de todas
as eras o ser humano sempre sobreviveu suplantando as adversidades que encontrou pelo caminho,
por que seria diferente agora?


3 - A EXCLUSIVIDADE DO PROPÓSITO

Apontamos uma terceira questão vital acerca do propósito: ele deve ser desenvolvido de forma
extremamente cuidadosa em termos de exclusividade. Alguns acreditam que isso vem na forma de
uma visão cósmica que o indivíduo tem ou é anunciado através do alinhamento dos astros. Talvez uma
expressão utilizada pelo famoso psiquiatra austríaco Viktor Frankl15 possa oferecer clareza meridiana
a essa questão. Profundo conhecedor dos dramas humanos, especialmente por ter vivenciado a
aterradora experiência de ser prisioneiro dos campos de concentração nazistas, Frankl tornou-se
uma autoridade respeitada na abordagem do sentido da vida. Para ele, o indivíduo precisa “detectar”
o seu propósito. Não se pode esperar por uma espécie de revelação transcendente para conectar-se
com ele e também não será oferecido por algum guru de autoajuda em uma série motivacional. Esse
“detectar” apontado por Frankl, se constitui numa descoberta realmente vital para todo indivíduo
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
21

que concentra energia em dar sentido à vida. O propósito jamais será detectado sem que haja uma
forte intenção, e é a partir disso que ele vai se materializando de forma particularizada, tecido com o
dedicado capricho, uma verdadeira obra de arte exclusiva do sujeito que o constrói.

A questão é que, enquanto o propósito não for incorporado como exclusivamente seu, essa ‘’ideia
de propósito’’ permanece em uma estrada vicinal da vida, encarada quase como um apêndice. Mas
quando há tempo dedicado a esse constructo, ele passa a ser de fato personalizado e isso certamente
oferece uma excelente estrutura à maturidade emocional. No ponto da vida onde você se encontra,
é bem provável que já tenha definido algumas questões relevantes da existência, afinal de contas
não é mais uma criança que está na garantia dos pais ou responsáveis, que definiam os detalhes de
como viver. É nesse contexto em que aparece o valor de ter um propósito que pode chamar de seu.
Lógico que haverá 6nele contribuições valiosas de pessoas que lhe são referenciais, mas esse projeto
é exclusivo, formatado para o seu jeito, arquitetado de forma artesanal nos caminhos de sua mente.
Entende isso de verdade ou essa questão ainda é um tanto nebulosa em sua alma?

Pense no termo “apropriação” – bem, é o que se torna necessário fazer com o seu propósito. Aproprie-
se dele de forma intensa, sentindo-se seu dono exclusivo, pois tem a “sua cara” e nasceu de suas
entranhas, sendo você responsável por todos os caminhos para onde ele irá conduzi-lo.

Evidentemente precisamos de uma dose motivadora para tornar o propósito maior da vida como
parte inerente ao ser. A motivação é importante porque temos a tendência de deixar pelo caminho
algumas decisões que tomamos e que enxergamos naquele momento como sendo essenciais. Fizemos
planos, traçamos metas, iniciamos com entusiasmo… até que… bem, alguma coisa aconteceu e, de
repente, aquilo que consideramos como uma grande alavanca na vida passou a fazer parte do baú do
esquecimento. A insistência para que você incorpore ao mais íntimo da alma o seu propósito é uma
tentativa de lembrá-lo de que esse não é o projeto de como iniciar um programa de exercícios ou
uma nova dieta. Está muito além de metas que traçamos e planos de viagem de férias que sonhamos.
Queremos motivá-lo a construir um edifício sólido, bem fundamentado e que dure para o resto de
sua vida, não como um horizonte utópico, mas um horizonte real, enxergável a partir de seu campo
de visão.

Virão dificuldades, é certo, mas, como enxergava o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “Quem tem
um porquê forte dentro de si pode suportar quase qualquer como”16. Esse é o seu caminho!

4 - A FORÇA DO CONTÁGIO POSITIVO

E, por fim, é importante refletir na força poderosa que um indivíduo possuidor de um bom propósito
possui no sentido de oferecer uma contribuição relevante em sua jornada por esse mundo. Chamamos
essa força de “contágio positivo”, pois entendemos que uma existência revestida de dignidade inspira
positivamente as pessoas ao redor. Não há utopia nisso, mas a história demonstra a força dos bons
exemplos que são seguidos como referenciais por outras pessoas, mesmo muito tempo depois de o
indivíduo deixar de viver.
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
22

A conhecida história de Salman Khan17 é inspiradora nesse sentido. Professor de matemática, ele
começou a ensinar a disciplina a seus primos na internet em 2008 e o fazia de forma dedicada,
gerando um interesse que foi para além do seu círculo familiar. Ele teve a ideia de gravar suas
aulas para atender os pedidos de ajuda que não paravam de chegar, e seu estúdio caseiro foi se
transformando em um referencial de ensino gratuito. As notícias sobre ele viajaram, cruzaram
fronteiras e ganharam o mundo, o que tornou a Khan Academy, organização que ele fundou, um
marco que atraiu investidores do calibre de Bill Gates. Quando o propósito se amplia, o cheiro das
oportunidades é percebido por quem já está nesse caminho.

Quando você tem um propósito de excelência, que foi fortemente construído e do qual não abre mão
para seguir, entra, inevitavelmente, numa dimensão superior da existência, que é muito discutida
hoje como sendo seu Massive Transformative Purpose (MTP)18, caracterizado como um Propósito
Transformador Massivo, em que sua própria existência pode gerar impacto sobre centenas, milhares
ou mesmo milhões de outras vidas.

Consegue perceber para onde a força gigantesca de um propósito bem definido nos conduz? Há
um nível existencial que nem todos os seres humanos conhecem; apenas aqueles que se conectam
profundamente com uma dimensão superior de vida. É esse o sentimento que move cada dia milhões
de pessoas em todo o mundo a irem além dos desafios cotidianos do trabalho e a criarem espaços
de vida ao redor de si. É o que mobiliza os seres humanos que vão além, muito além, dos crescentes
desafios profissionais do cotidiano, pois são movidos por uma energia proposital que os mobiliza
na direção de boas causas e oferecem uma contribuição generosa ao mundo que os abriga por um
tempo. Deixam um legado perpétuo, pois se transformam em multiplicadores do bem. Não se deixam
abater pelo mal nem são dominados por ele, mas o vencem praticando o bem, que é, de fato, a única
maneira de vencer.

Cada um de nós tem um tempo limitado nesse planeta e, pela liberdade de escolhas que temos,
podemos vivê-lo para nós mesmos, com preocupações limitantes e com consumo de bens, o que nos
torna “corredores atrás do vento”. A outra opção viável é entregar-se a algo maior que a própria vida
e viver isso em cada dia do tempo que lhe é concedido.

Viver com um propósito fundamental, eis uma boa síntese para a vida.

Nosso grande poeta pernambucano João Cabral de Melo nos lembra que: “As pessoas não têm medo de
morrer; elas, na verdade, têm medo de morrer sem saber para que viveram”19. Nós, não! Nós sabemos!
Estamos alinhando a vida a um incrível propósito, que está sendo construído de forma relevante, a
cada dia que vivemos; ele está se tornando muito desafiador, visto que não queremos metas pequenas;
esse propósito é exclusivo, pois tem a marca registrada exclusiva do nosso jeito de ser; à medida que
nos fortalecemos nesse propósito, vamos inspirando outras pessoas ao redor de forma positiva.
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
23

CONCLUSÃO

À semelhança das grandes marcas de produtos que estão presentes na vida dos consumidores, a
nossa vida pessoal é também uma marca, e como tal, merece um tratamento dedicado para que se
constitua em algo excelente, visto que nosso valor como indivíduo excede, e muito ao valor monetário
que qualquer empresa possa ter. Então, encare seu propósito como excelência de vida, invista nele de
todo coração e, muito mais que qualquer plano de ação empresarial, estruture seu propósito e jamais
o abandone.

Boa sorte na jornada!


3
ESPIRITUALIDADE
AGREGADORA
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
25

Objetivos

• Objetivo 1: Estruturar um modelo saudável de espiritualidade;


• Objetivo 2: Compreender o valor da contemplação na espiritualidade;
• Objetivo 3: Refletir positivamente sobre o senso de incompletude espiritual;
• Objetivo 4: Produzir transformações no jeito de ser e de viver.

Após termos refletido acerca da importância da autoconsciência e do propósito, avançamos nessa


unidade pensando sobre a espiritualidade, entendida aqui na dimensão exposta pelo filósofo Gabriel
Marcel quando afirmou que “o ser humano só é autenticamente humano quando sustentado pela
armadura incorruptível do sagrado”20. Habitamos um mundo dominado pela tecnociência e pela
dimensão da eficácia dos procedimentos em todas as variáveis da existência e já devíamos ter passado
da fase de imaginar que apenas a razão concreta seria suficiente para o enfrentamento de todas as
questões ligadas ao ser humano. Não é. Há aspectos que vão além do que é simplesmente material e é
nesse cenário que a experiência da espiritualidade se insere enquanto o mundo avança nos desafios
característico do tempo complexo onde vivemos. Tinha razão o pesquisador Mircea Eliade quando
lembrou que “é a experiência religiosa primária que precede toda a reflexão sobre o mundo”21.

A proposta da Unidade 3 é refletir na espiritualidade que aqui denomino de agregadora, visto que
a entendo como fonte legítima de possibilidades para um modelo de vida que coloca em prática
cotidiana um propósito significativo. Tal vivência espiritual pode tornar o mundo do indivíduo um
espaço mais organizado e funcional, à medida que ele torna-se uma pessoa melhor, alguém que
alarga a visão de mundo e entende seu papel no grande esquema do universo e na experiência do
cotidiano.

Durante muito tempo, especialmente sob os auspícios do Iluminismo, acreditou-se que todo vestígio
religioso seria apagado do espírito humano. O pensamento de Engels, pode traduzir essa aspiração:

[…] quando a sociedade, pela apropriação e utilização dos meios de produção,


se tiver libertado e libertado todos os seus membros da servidão […]; quando o
homem, não só puder, mas dispuser, só nesse momento desaparecerá a última
força estranha que ainda se reflete na religião. Desta forma extinguir-se-á o
reflexo religioso, pela boa razão de que já nada haverá para refletir. (ENGELS,
1976, p. 431, apud COSTA, 2009, p. 21)22

O que se verifica, entretanto, é que o “reflexo religioso”, ao contrário da previsão de Engels, jamais
foi completamente extinto do gênero humano e, provavelmente, nunca o será. Ele pode, então, ser
experienciado como prática viável que se traduza em melhoria da qualidade de vida.

Que caminhos podemos seguir para que a espiritualidade pessoal se torne em experiência agregadora?
Proponho 4 pontos a serem pensados:
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
26

1 - UM MODELO SAUDÁVEL DE ESPIRITUALIDADE



É interessante observar que há cada vez mais pessoas buscando um modelo de espiritualidade que
transcenda a simples religiosidade. Espiritualidade e religiosidade não são essencialmente a mesma
coisa. Apesar de muitos entenderem ambos os termos como sendo sinônimos, é necessário que se
faça uma diferenciação adequada entre eles, por terem características distintas, pois enquanto a
religiosidade é entendida como algo formal, litúrgico e mesmo institucional, fazendo quase sempre
referência à ligação de pessoas que possuem um determinado conjunto de crenças, a espiritualidade
se refere mais à busca individualizada pelo transcendente e por respostas práticas para as questões
existenciais, não dependendo necessariamente da dinâmica de uma entidade religiosa. Trataremos
aqui da espiritualidade enquanto busca pessoal por uma vida pautada pelo significado.

Qualidade de vida é uma terminologia usada com uma frequência crescente por diferentes áreas
do conhecimento. Existem ambientalistas ativos, focados na tentativa prover um mundo melhor
pautado pelo cuidado com a natureza; há inúmeras organizações sérias, repletas de voluntários que
são promotoras do bem-estar em lugares de alta carência; também cresce o número de pessoas
genuinamente preocupadas com os cuidados pela saúde do corpo, que estão sempre em busca de
alimentos mais saudáveis e de um estilo de vida mais equilibrado. É no conjunto de buscas pela
qualidade de vida que a espiritualidade é inserida enquanto prática de vida abençoada. O que
denomino como modelo saudável de espiritualidade é uma vivência harmoniosa que promove bem-
estar emocional interno, crescimento da habilidade de superação de obstáculos inerentes à vida e
um tom de esperança de que dias melhores podem ser experimentados, ainda que os problemas
persistam no horizonte da existência.

Não estou falando de uma espiritualidade qualquer, mas de uma que promova realmente uma
experiência transformadora de vida. Para o teólogo Leonardo Boff “a espiritualidade precisa ser
cósmica, que nos permita viver com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida
e com humildade face ao lugar que o ser humano ocupa na natureza”23. Perceba que essa dimensão de
reverência somente pode ser alcançada em uma quietude de espírito em uma desejável paz interior.
Ela não estará no sufocante burburinho do mundo ao redor e nem mesmo na manipulação que a
religião pode utilizar-se para conquistar adeptos, mas será prêmio de vida plena para aquele que, livre
dos laços traiçoeiros que tentam capturar-lhe a alma, encontram uma vivência singular que torna seu
existir uma fonte de saúde emocional. Tal espiritualidade eleva as virtudes do indivíduo, libertando-o
das garras do “ter” cada vez mais para a vivência do “ser” cada vez melhor. Aqui estará a verdadeira
evolução do projeto de ser humano adequado para habitar na conjuntura desse mundo conturbado.

O ser humano dado ao bom exercício dessa espiritualidade saudável desenvolverá uma postura
ética ligada aos grandes valores da vida em sua caminhada pelo mundo. Tal conduta não pode ser
simplesmente ensinada em um curso de estudos, mas pode ser incorporada por todo aquele que
deseje uma dimensão superior de existência. Apesar de não constitui-se em um método para o alcance
de algo, nem uma panacéia que vise resolver males psicológicos, a vivência de uma espiritualidade
saudável produz benefícios diversos nas emoções de quem a pratica, e para isso não é preciso estar
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
27

em um ambiente religioso, mas é necessário encontrar-se no que pode ser chamado de “templo da
alma”, esse lugar sagrado do interior, onde a vida de fato acontece. É nele que pode ser ouvida uma
“voz” que transcende o entendimento, mas que se torna real para quem presta atenção nela.

Há, então, uma saúde emocional na incorporação da espiritualidade que não deve ser desprezada,
sendo que existe nela uma capacidade de propiciar um estado emocional mais equilibrado no
indivíduo, à medida que ele tem a consciência de si mesmo despertada para entender a dinâmica
de sua alma (autoconsciência) e uma compreensão aprofundada de seu lugar no mundo (propósito).
Percebe que os temas que abordei anteriormente estão intimamente ligados ao despertar espiritual
que cada pessoa pode decidir desenvolver no curso de sua vida? Bem, essa estrutura integral do ser
produz uma dinâmica existencial verdadeiramente diferenciada, pois existe aqui um enxergar da vida
para além da prática profissional. Não é apenas um trabalhador, é uma peça vital que contribui para
a melhoria da pequena comunidade onde está inserida, podendo expandir sua contribuição cidadã
para a cidade, a região, o planeta. Esse cidadão consciente tem parte integrante no grande esquema
das coisas e entende que sua ação no mundo produz consequências que podem ser extremamente
benéficas para a humanidade, mesmo que seja uma minúscula ação em favor de alguém.

Creio que você não está realizando estudos nessa disciplina apenas para obter algum conhecimento
acadêmico a mais em sua jornada. Não deve ser apenas isso. A provocação que lhe trago é a de uma
consciência espiritual afinada e harmoniosa, que não se esconde diante das mazelas do mundo ao
redor, mas que, de alguma maneira, age em prol de um planeta melhor. O caminho para essa utopia
passa sempre por um ser humano melhor e esse ser é cada um de nós. Lógico que isso não é um tipo
de meta provocativa para ser alcançada em um dado período de tempo, mas é, antes, uma verdadeira
jornada de vida. Por isso ela é fascinante, repleta de reflexões transformadoras que se desdobram em
atitudes extraordinárias.

Pensemos, então, no valor da reflexão dentro desse projeto de espiritualidade.

2 - A ARTE DA CONTEMPLAÇÃO

Entendo que uma espiritualidade agregadora deve ser experimentada no que chamo aqui de arte da
contemplação, que se traduz no aquietar-se, em meio aos barulhos todos produzidos no mundo e
nessa quietude ativa, encontrar-se consigo mesmo e com o Transcendente.

Novamente é importante destacar a espiritualidade como distinta da religiosidade. Para muitas


pessoas a experiência religiosa está ligada à prática dos ritos dentro de uma religião institucionalizada
e promotora desses ritos. Evidentemente isso tem um valor que não pode ser desprezado. Ao longo
dos séculos nunca cessaram as tentativas de silenciar a prática religiosa e não foram poucas as
iniciativas para que se apagasse todo vestígio de religião da experiência humana. Tudo isso fracassou,
e mesmo nos países onde os religiosos foram perseguidos, torturados e mortos, nada disso destruiu o
sentimento ligado ao sagrado. Apesar de toda crítica que pode ser feita às práticas ritualísticas de cada
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
28

segmento religioso, parece inegável o benefício que diferentes experiências religiosas trazem para
os seres humanos. Enquanto instituição, pequena, grande ou gigantesca, a igreja colabora em linhas
gerais para a existência de uma sociedade melhor, visto que é promotora de valores e incentivadora
do bem. Essa é uma dimensão do mundo religioso, aquela ligada a uma comunidade onde o indivíduo
pertence e desenvolve os ensinamentos que lhe são pregados e aqueles que são lidos nos textos
sagrados. A outra dimensão, a que abordo brevemente aqui, é a espiritualidade que pode ou não ligar o
indivíduo a uma entidade religiosa, mas que se traduz em comunhão com o divino e responsabilidade
pessoal de atuação no mundo, tendo como referência seu despertar único para o entendimento de seu
propósito maior, aquele que ele jamais abrirá mão e que não está sendo incentivado pelos pregadores,
nem tão pouco cobrado pelos que ministram nas ordens religiosas institucionalizadas.

O valor da prática contemplativa é um claro contraponto ao mundo altamente tecnológico e apressado


que marca a rotina dos nossos dias. Há pouca dedicação de tempo intencional de contemplação e
quietude nas paredes sufocantes dos escritórios, mesmo os de home office.

Uma contemplação pessoal do Eterno se traduz em paz de espírito no interior da alma, bem como
numa dinâmica amorosa na âmbito das relações pessoais e ainda produz no indivíduo um desejo
maior pela fraternidade e pelo bem comum. Viver assim significa desenvolver um saudável sentimento
de reverência pela vida - a sua própria e a do próximo. Pisar em cada território do mundo tendo no
íntimo uma agradabilíssima sensação de completude, de gratidão pelo dom da vida. Estar em paz
consigo mesmo, em paz com o próximo e em paz com Deus - eis aí a dimensão verdadeiramente
exuberante do que Jesus disse que seria uma “vida em abundância”24. Isso pode ser enxergado como
mera utopia ou pode ser encarado como um projeto viável de uma existência significativa. Claro: será
uma escolha pessoal.

À medida que as pesquisas científicas avançam em todos os campos do conhecimento, é fascinante


descobrir novas possibilidades que afetam nosso cotidiano. Desde que Howard Gardner25 lançou
na década de 1980 os fundamentos para a teoria das inteligência múltiplas que se multiplicaram
os estudos e pesquisas acerca do tema, tendo em Daniel Goleman e seus pressupostos sobre a
inteligência emocional26 um expoente referencial no mundo inteiro a partir da década seguinte. Ao
serem ampliados esses conhecimentos passou a haver um crescente interesse no que é chamado de
Inteligência Espiritual27, onde diferentes pesquisas identificaram uma área do cérebro onde afloram
as experiências espirituais, a prática dos valores e o interesse pelo sentido da existência. Quando o
indivíduo tem predisposição para desenvolver essa área cerebral pode estar também desenvolvendo
esse conjunto de espiritualidade ligado ao perdão, à compaixão, à sensibilidade e habilidades caras
ao tema. Perceba: esse indivíduo tem condições adequadas e forças internas para agir de maneira
muito positiva e agregadora no mundo que o rodeia, e o fará porque a sua percepção existencial estará
ligada ao bem. Tremendo!

Os estudos acerca da Inteligência Espiritual ainda são muito recentes e carecem de dados mais robustos
que nem sempre são possíveis de serem aplicados, mas o fato é que essa aptidão pode oferecer ao ser
humano comum uma espécie de bússola moral que guiará seus pensamentos e comportamentos e,
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
29

claro, tem como desdobramento uma almejada sabedoria na condução das questões do cotidiano e
nas decisões que são tomadas todos os dias.

Desde os tempos mais remotos são encontradas histórias de pessoas que se isolam do mundo e se
recolhem como eremitas na busca por um modelo de contemplação espiritual que esteja completamente
dissociado do cotidiano. Thomas Merton28 narra histórias fascinantes dos padres do deserto, homens
que no século IV de nossa era se revoltaram com o estado de decadência da sociedade dos seus dias e
se recolheram em cavernas no deserto em busca de uma nova dimensão para a existência. No modelo
simples de espiritualidade que estou sugerindo, não é necessário nem tão pouco desejável afastar-se
do mundo para existir apenas na contemplação. Seja no burburinho da grande cidade, ou em um
parque afastado do centro, é possível intencionalmente desenvolver melhor a arte da contemplação
e experimentar um pulsar diferente na vida. Às vezes pode ser adequado um período sabático de
reflexões. Ele pode ser curto ou longo, mas tem potencial para auxiliar na centralidade da vida
contemplativa. Diferente da solidão, a solitude29 constitui-se em ferramenta preciosa para as buscas
da espiritualidade. Fala-se cada vez mais da prática de mindfulness30 como extremamente funcional,
pois exercita a mente na atenção plena da consciência e pode ser praticada por qualquer pessoa
que tenha disposição para investir em micro momentos que se transformam em tempo precioso de
renovação.

Todas essas questões envolvem, de fato, escolhas, que são construídas paulatinamente à medida que
desenvolvemos uma visão de mundo. Creio que para existir uma harmonia adequada unimos essa tríade
de inteligências - racional, emocional e espiritual. A inteligência racional nos fornece um pensamento
lógico e cria condições para avanços técnicos, mas é insuficiente para o que envolve as emoções. Já a
inteligência emocional supre essa carência específica, dando ao indivíduo comportamentos empáticos
e controle das reações reptilianas que geralmente são destrutivas. E então a inteligência espiritual age
no equilíbrio da vida, dando musculatura ao significado da existência. É exatamente na integração
dessas inteligências que o sujeito pode experimentar um nível abençoado de vida.

3 - INCOMPLETUDE ESPIRITUAL

Toda vivência de espiritualidade pessoal, por mais positiva e benéfica que possa ser, precisa ser
também encarada como um projeto repleto de falhas, que denomino aqui de incompletude espiritual.
Ela advém do fato primário ligado à característica imperfeita do ser humano. Sendo imperfeitos por
natureza estaremos sujeitos sempre a inúmeras “brechas” e toda sorte de falhas que são evidentes em
qualquer pessoa.

Quando estamos plenamente conscientes de nossas carências e entendemos que não temos todas as
respostas e jamais as teremos nesse horizonte da vida, então começamos a compreender que essas
realidades fazem parte do conjunto da existência e já não desejaremos obter respostas para questões
que não podem ser respondidas e precisam ser absorvidas como aprendizados agregadores. Como diz
uma antiga sabedoria judaica - “você tem uma excelente pergunta; para que vai querer trocá-la por
uma resposta?”31 Assim funciona a dimensão da incompletude.
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
30

Acontece que, para muitas pessoas, isso pode desencadear um perigoso vazio existencial, que não
pode ser preenchido, senão pela incorporação da realidade de que somos assim incompletos, falíveis,
vulneráveis, mortais… Existem tentativas vãs de preenchimento com artifícios que se traduzem em
trágicas experiências: bebida em excesso, sexo irresponsável, drogas viciantes, comida sem qualidade,
festas inacabáveis, aquisições de bens, etc. Se qualquer um desses fatores existir para a tentativa de
preenchimento de vazios da vida, ela será tentativa frustrada e muitas vezes evidencia ainda mais a
carência ali instalada, o que pode levar esse “buraco” a transformar-se em fator insuportável, fonte
de enorme desânimo e que compromete a sequência da vida em si, visto que as forças emocionais se
deterioram grandemente.

Entende o valor dessa estrutura existencial que estou tentando levar sua mente a refletir? Sem
autoconhecimento verdadeiro, sem propósito definido e sem espiritualidade esperançosa, o ciclo
virtuoso de vida plena possível se perde num emaranhado sem fim de ilusões que poderiam ser
trabalhadas e entendidas como parte da incompletude inerente do ser humano.

As pesquisas de autores como Carol Dweck32, têm sido pródigas em fornecer compreensão sobre
os modelos mentais que consciente ou inconscientemente desenvolvemos, nosso mindset, que
se constitui na maneira como o cérebro está configurado e que controla em cada um a forma de
encarar as situações do dia a dia. Em algumas pessoas essa configuração se firma como um modelo
estático, marcado por crenças limitantes, estabilidade e baixa vontade para assumir riscos. Já em
outros indivíduos o viés é de crescimento, busca de superação e aprimoramento de performance.
Para essas os fracassos, as críticas, as frustrações e os tombos se transformam em aprendizados e
servem de alavanca emocional para novos enfrentamentos nos constantes desafios que a existência
nos impõe. Os portadores de um mindset positivo geralmente angariam mais conquistas que aqueles
caracterizados pelo mindset fixo e altamente limitador de projetos existenciais. Ainda bem que, graças
à nossa incrível biologia, o mindset não é uma estrutura imutável e os portadores de um modelo fixo
podem efetuar mudanças positivas ao longo do seu desenvolvimento pessoal.

Se pensarmos bem, a incompletude marca a vida humana desde o nascimento, quando, diferentemente
de outros mamíferos, não temos habilidades básicas de sobrevivência e carecemos de 100% de
cuidados externos para que a vida siga seu curso. O longo processo de desenvolvimento vai fornecendo
ao humano sua adequação ao mundo, entretanto existirão fragilidades e brechas que jamais serão
preenchidas. Incorporar isso é essencial para o crescimento integral.

Que jornada incrível é aquela em que carências, vazios e incompletudes são canalizadas e
reconfiguradas na direção de objetivos que tornam a vida maior, numa construção intensa de si
mesmo, numa reinvenção existencial permanente, numa opção diária pela vida plena, abastecida de
valores úteis e pontilhada pela busca do que é essencial.

Enquanto habitantes deste grande mundo, somos seres incompletos e imperfeitos, e aí estará nossa
porta de oportunidade para o que é extraordinário. Sendo que cada um de nós é inacabado, então
estamos em processo constante de renovação. Fato maravilhoso!
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
31

4 - AS TRANSFORMAÇÕES DO SER

O último aspecto que analisei com você nessa unidade, fechando as provocações que estou trazendo,
é que a espiritualidade agregadora da qual falei, se constitui em fator crucial para as mudanças que
sempre necessitam ser feitas na sequência da vida. Afinal de contas, de que serviria um conhecimento
adquirido se o mesmo não provocasse algum tipo de mudança? Ele é estéril e irrelevante se absorvido
tão somente como fim em si mesmo, mas é seminal quando, a partir do elemento conhecido, o ser se
dispõe a avançar para um nível superior, agregando o saber para uma nova prática de vida.

A dimensão da espiritualidade conecta o ser ao transcendente e, se não pode ser explicado por
teorias comprobatórias, essa conexão age poderosamente nas entranhas do indivíduo, provocando
transformações de dentro para fora. Não são meras maquiagens ou máscaras usadas para serem vistas
ao redor, mas mudanças estruturais do próprio ser, que passam a existir sob uma nova perspectiva
e, inevitavelmente, a ação prática no mundo se torna diferenciada. Na essência, o indivíduo que
se conecta com tal espiritualidade se torna uma pessoa melhor, melhor ser humano em todas as
vivências do cotidiano, seja no ambiente do trabalho, da casa ou do mundo, pois ele é portador de uma
ética interiorizada consistente.

Nessa transformação permanente a compaixão se acentua, tornando esse ser humano um agente do
bem, que pode ou não estar ligado a um grupo religioso específico, mas cuja consciência refinada está
alinhada a propósitos superiores. Tal processo é permanente e não está preso a metas com prazos e
quantitativos, mas avança guiado por essa bússola internalizada da espiritualidade saudável.

Em suas caminhadas pelas estradas empoeiradas da Judéia de dois milênios atrás, o Mestre Jesus
insistia nesse tipo de conexão com as diferentes pessoas que encontrava. Os que se achegavam a
ele eram muitas vezes pessoas desprezadas pela sociedade onde viviam, e quando entendiam a sua
proposta seguiam pela existência transformados no que o Apóstolo Paulo chamou de “novas criaturas”33.
O indivíduo é o mesmo, mas a perspectiva da vida mudou para sempre e ele está empoderado como
criatura transformada, que incorporou uma essência de espiritualidade simplesmente extraordinária.
Jesus sintetizou essa experiência dizendo no Evangelho: “o reino de Deus está dentro de vocês”34. Uma
vez estando dentro, ele se expande sob mil formas de fraternidade e de tolerância em meio a um
cenário de mundo tão plural.

CONCLUSÃO

O que chamamos de espiritualidade agregadora tem a ver com esse modelo de vida, provocador
de uma saúde espiritual que perpassa todas as áreas da vida e que se traduz em compreensão,
gentileza, tolerância, enfim, toda boa virtude, chamada no texto bíblico de “fruto do espírito”. Essa
força espiritual é poderosa, e infelizmente tem sido manipulada de tantas maneiras equivocadas,
provocando discórdia, fanatismo e atos assombrosos. Entretanto, o uso incorreto não a invalida, mas
oferece oportunidade para que se evidencie o contraste entre manipulação inadequada do discurso
religioso e a prática essencial das virtudes que está presente na vivência de uma espiritualidade
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
32

verdadeiramente saudável.

4
CRESCIMENTO
POTENCIALIZADO
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
34

Objetivo

• Objetivo 1: Distinguir novas fronteiras possíveis para a vida;


• Objetivo 2: Criar condições adequadas para a superação de obstáculos;
• Objetivo 3: Desenvolver uma motivação interna;
• Objetivo 4: Valorizar o projeto de vida em abundância.

INTRODUÇÃO

Estamos iniciando a quarta e última unidade do nosso curso, onde temos refletido na conexão entre a
autoconsciência, o propósito e a espiritualidade como fontes possíveis para uma dinâmica existencial
viável e prazerosa. Espero que você esteja fazendo suas próprias reflexões acerca dessas possibilidades,
alinhadas com o objetivo que deve estar presente em toda aquisição de conhecimento, que é o de
provocar melhorias no curso da existência pessoal e do mundo onde estamos inseridos.

Entendo que um alinhamento correto desses três conceitos produzem, e aqui entra o tema desta
unidade, um inevitável e duradouro crescimento nas diversas esferas da vida. De que maneiras
podemos usufruir dos benefícios desse crescimento e potencializá-lo é o que abordarei a seguir.
Lembrando que não há fórmula mágica para isso e que cada indivíduo precisa encontrar seu próprio
jeito de traçar essa jornada e seguir por ela.

Vamos lá?

1 - NOVAS FRONTEIRAS POSSÍVEIS

Diante das questões que apontei para sua reflexão ao longo de nosso breve estudo, você consegue
vislumbrar possibilidades reais de alargar as fronteiras de sua existência pessoal? A simples resposta
a essa questão pode fornecer pistas importantes não apenas para a sequência final da disciplina,
mas também pode constituir-se em mudança de roteiros e alavancagem para outros desafios que
certamente existirão no curso dos dias.

Tenho procurado insistir na necessidade de tornar todo conhecimento adquirido em um provocador


de reflexões e consequentes mudanças em alguma rota da vida. A questão que se torna pertinente a
essa altura, é entender que tipo de crescimento pessoal esse conteúdo agrega para a vida que tenho,
ou seja, que brechas enxergo que necessitam ser visitadas e, quiçá, entrarem no processo de mudança
pessoal.

É relativamente fácil existir dentro dos espaços de certas fronteiras limitadoras, que são verdadeiras
zonas de conforto para o indivíduo, onde quase nada é arriscado e a sequência de dias, semanas,
meses, anos e décadas se torna um modorrento jeito de arrastar-se existência afora. Nesse modo de
viver, toda provocação ao novo torna-se algo pavoroso e desanimador, e a ideia de crescimento não
se sustenta em atitudes coerentes que são necessárias a toda ampliação das fronteiras existenciais.
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
35

Apesar de afirmar que é relativamente fácil tocar a vida assim, é perceptível que tal vivência é destituída
de elementos que fornecem musculatura emocional ao ser. É nessa zona, que no final das contas é
desconfortável, que se pode morrer sem nunca ter vivido de verdade.

Arriscar-se para além do conhecido é perigoso para aquele que baseia sua vida no medo paralisante,
pois quando avança corre o risco de fracassar, de cair, de perder. Entretanto, é exatamente aqui que
a existência se reveste de contornos mais significativos e o ser adquire capacidades não imaginadas
dentro da zona de conforto e das fronteiras estreitas onde a sensação de segurança é completamente
ilusória. Percebe a ideia central do conteúdo desse estudo? Provocar em sua alma um navegar pelas
rotas desconhecidas do ser através do autoconhecimento (1), criar um desejo pela aquisição de um
propósito (2) existencial forte, guiado pelo senso de contribuição para o bem da humanidade, vivenciar
uma espiritualidade (3) baseada nas virtudes sublimes que tornam o contato com o Eterno algo
transformador de atitudes e, no conjunto desse estilo de vida, poder crescer (4) enquanto cidadão que
pisa na face da Terra com segurança, relevância, paz, sensibilidade e potência de vida verdadeiramente
feliz.

Para que esse desejável crescimento seja real é necessário lidar adequadamente com certas crenças
limitantes que talvez habitem há tanto tempo na alma que se tornaram em jeito de viver. Quem está
repetindo inconscientemente frases do tipo:

• Não tenho tempo;


• Tudo é mais difícil para mim;
• Quero tudo perfeito;
• Acho que não mereço;
• Os outros tem que mudar;
• O mundo é injusto;
• Não tenho mais idade para isso;
• Sempre foi assim em minha família;
• A crise está me atrapalhando;
• Não levo jeito para isso.

Ah! Eu poderia enumerar algumas centenas de frases que contêm esse mesmo viés limitador. O fato
é que, caso esse jeito de ver as coisas seja assim, é provável que se esteja vivendo numa perigosa zona
onde essas “inverdades” estejam introjetadas na essência do ser. Elas produzem um dano ao potencial
de crescimento que apenas é possível à medida que o indivíduo não mais permite que influenciem
negativamente a ação do comportamento. Assim a potência vital da existência é alavancada e o ser
pode experimentar crescimento para além das próprias amarras que são incorporadas ao longo dos
equivocados aprendizados absorvidos.

Que caminhos existem para isso? Bem, à medida que você descobre o quanto essas “crenças”
são tóxicas, segue-se, a partir daí, uma longa jornada, trilhada de forma pessoal, onde podem ser
descobertas maneiras adequadas de avançar para além delas, expandido os horizontes da vida. Talvez
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
36

seja necessário um processo terapêutico ou pode ser encontrado um tutor que auxilie nas provocações.
Seja o que for, é o indivíduo que precisa lidar com suas questões e prosseguir rumo a fronteiras que
estavam demarcadas no imaginário, mas que podem ser ultrapassadas em um nível de crescimento
pessoal que se torna contínuo.

Que tal tentar traduzir em palavras quais são as suas crenças mais limitantes atualmente? Pense nisso
e procure listar numa folha de papel ou em seu caderno de anotações esses fatores que podem estar
atrapalhando o seu desenvolvimento pessoal. Essa lista é sua e a responsabilidade sobre ela também.
Expresse-as no papel e reflita sobre elas:

Lista de minhas cinco crenças mais limitantes

1 ___________________________________________________________
2 ___________________________________________________________
3 ___________________________________________________________
4 ___________________________________________________________
5 ___________________________________________________________

E aí, o que é possível fazer com elas? Quais as minhas possibilidades reais de crescimento? Consigo
expressar em uma frase o que estou disposto a fazer para alargar as fronteiras de minha vida?

É isso! Tome essa provocação para você. Enquanto a faço nesse estudo, escrevendo numa madrugada
fria, não sei como você a encarará, mas tenho convicção de que esse pequeno conhecimento deve
tornar-se uma alavanca de mudança para algum aspecto de sua vida.

2 - SUPERAÇÃO DE OBSTÁCULOS

Avancemos, então! Como já afirmei antes, claro que não existe jeito fácil ou fórmula pronta para
que essas coisas aconteçam. “Crescer dói”! Isso é uma pequena verdade que não deve ser esquecida
enquanto procuramos prosseguir na direção do novo, entendendo que deixar que certas coisas
continuem do jeito que sempre foram seria uma péssima opção que coloca em risco o melhor da vida.

Todo aquele que tem ímpeto para o crescimento enfrentará obstáculos muitas vezes inevitáveis e
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
37

provocadores de grandes impactos no curso das ações. Se não há ganho sem que haja dores, então é
necessário encarar as dificuldades com altivez, pois nem sempre é possível contorná-las. Geralmente
não existem atalhos possíveis que possam nos livrar desses espinhos encontrados no percurso e
avançar, mesmo com medo de fracassar, é uma opção viável, ainda que não signifique que seja fácil.

Os empecilhos reais podem ser confrontados e o fazemos de diferentes maneiras, formulando


estratégias adequadas ao nosso próprio jeito de ser e de acordo com as características do desafio
que está à frente. O problema geralmente ocorre quando esses obstáculos habitam no imaginário
do indivíduo e se transformam em verdadeiros monstros invisíveis que atormentam e paralisam
o ser. As dificuldades imaginárias são fontes de ansiedade, estresse e frustração, comprometendo
perigosamente qualquer projeto de crescimento pessoal e não são simples exercícios mentais de
autoajuda que podem livrar a alma desses tormentos que, sendo fruto apenas da imaginação, adquirem
uma esmagadora força concreta, podendo forçar o sujeito a desistir de suas metas.

E quando os obstáculos não são meramente devaneios paranóicos, mas se materializam em um chefe
perseguidor, uma falência de negócio, uma depressão insistente, um acidente que provocou estragos,
uma traição no relacionamento… enfim, são situações reais e esmagadoras que carregam em si um
potencial destrutivo de sonhos e arrebentam expectativas antes alvissareiras.

Afirmar que as dificuldades encontradas são verdadeiras oportunidades pode ser fácil de ser falado,
mas quase sempre significa que é extremamente complexo fazer essas transposição. A questão vital
é que, são exatamente essas experiências penosas que dão musculatura emocional ao indivíduo. Há
pessoas que se comportam como se fossem uma espécie de geléia pois não suportam a pressão e se
desmancham pela vida afora. Não há como ser um vitorioso em qualquer área da vida sem ter que
lidar com exaustivos problemas, gigantes da existência, que nos encontram tantas vezes como um
pequenino Davi diante do imenso Golias. E não custa nada recordar que foi o frágil e improvável
Davi da história que derrotou o forte fanfarrão Golias35. A estratégia correta da agilidade venceu a
brutalidade da força.

Esconder-se covardemente na dimensão do medo significa encontrar inúmeras desculpas e cada


uma delas significará um recuo com o confronto que fatalmente acontecerá, pois não há como
pular definitivamente as etapas da vida e ter garra para enfrentar o que é necessário é um convite
permanente ao crescimento pessoal.

Em 23 de abril de 1910, o ex-presidente americano Theodore Roosevelt proferiu um famoso discurso


na Universidade francesa de Sorbonne. Um trecho dele pode nos servir muito:

“Não é o crítico que importa; nem aquele que aponta onde foi que o homem
tropeçou ou como o autor das façanhas poderia ter feito melhor. O crédito
pertence ao homem que está por inteiro na arena da vida, cujo rosto está
manchado de poeira, suor e sangue; que luta bravamente; que erra, que
decepciona, porque não há esforço sem erros e decepções; mas que, na verdade,
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
38

se empenha em seus feitos; que conhece o entusiasmo, as grandes paixões; que


se entrega a uma causa digna; que, na melhor das hipóteses, conhece no final
o triunfo da grande conquista e que, na pior, se fracassar, ao menos fracassa
ousando grandemente.”36

Preciosas palavras! Você é essa pessoa que se encontra na arena de seu cotidiano, enfrentando
toda sorte de problemas e ousando prosseguir. Nesse campo de batalha concreto onde todo
comportamento gelatinoso se liquefaz em desilusões, há aqueles que erguem a cabeça e, mesmo
tendo mil medos diante de si, não se acovardam e saboreiam a luta que, vitoriosa ou não, provocou
crescimento na dimensão maior da existência. Audácia e cautela se constituem em armas poderosas
para esses embates cruciais e definidores para os não acomodados, que não se permitem estagnar-
se num pântano de lamentações, mas que, enfrentando-se a si mesmos e seus demônios interiores,
adquirem energia para todos os confrontos externos na grande arena da vida.

Entender e incorporar essas questões oferecem excelentes oportunidades de crescimento pessoal,


pois novos padrões de comportamento podem ser aprendidos, caso contrário, estaríamos
irremediavelmente fixados em um determinado jeito de ser ou seríamos meros animais presos a um
certo instinto. O trabalho é árduo mas o crescimento nessas áreas vitais se refletirá em bons frutos no
mundo profissional e no cenário da vida pessoal.

Vale muito a pena prosseguir!

3 - MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA

A penúltima questão que trago em nosso estudo é o tema da motivação, que tem uma importância
crucial no conjunto de tudo que fazemos pela vida afora. Vamos pensar sobre ela.

O Psicólogo Jerome Bruner capta de maneira certeira o funcionamento essencial da motivação,


quando afirmou: “É mais provável que você se mova e então sinta, do que sinta que deve se mover”37.
Percebe? Essa é uma informação preciosa: a motivação acontece não levando o indivíduo a agir, mas
exatamente porque agiu. Esperar que esteja motivado o suficiente para fazer algo é uma armadilha
perigosa, então o que precisamos, de fato, é saber o que é preciso fazer e fazê-lo. É aí que a motivação
ganha impulso.

A vivência motivacional não significa que as coisas se tornem mais fáceis de serem realizadas. Quem é
motivado tem que lidar igualmente com obstáculos que parecem intransponíveis, mas avança mesmo
assim, fazendo disso um hábito. Eis aqui um conceito imprescindível para a motivação, a formação
continuada de hábitos, que vão moldando as estruturas da mente e tornando-se parte integrante
de um jeito de viver. Os fracassados não gostam disso e desistem. Realmente, crescer é um bocado
doloroso e subordinar uma mente acomodada à força de vontade não é fácil e não existem atalhos
viáveis para se conquistar bons hábitos, senão pela repetição quase obstinada deles até que deixem de
ser algo penoso e se convertam em estilo de vida.
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
39

Em seu livro A imensa jornada38, Loren Eiseley descreve a incrível jornada das espécies em nosso
mundo ao longo das eras. Em suas descrições Eiseley fala do nosso mundo como sendo um lugar
“onde mesmo uma aranha se recusa a deitar-se e morrer, se um fio ainda pode ser tecido em direção
a uma estrela”. Incrível, não?

Ao seu redor estão incontáveis lições de funcionamento da vida, que podem ser observadas e provêm
insights motivacionais para o prosseguir. No livro Sapos fervidos ou ossos dançantes39, tento provocar
os leitores a viverem sob a égide da motivação, começando por relembrar a velha lenda do sapo que,
deixado numa vasilha cuja água vai sendo aquecida aos poucos, termina por morrer fervido sem
perceber que as condições ao seu redor mudaram. Acomodado no conforto do conhecido, sapos ou
pessoas morrem muito antes da vida cessar, pois não conseguem viver de maneira plena. Essa é a
pior das mortes!

A desmotivação está muito ligada ao sentimento interno da escassez que acomete facilmente a vida.
Ele está presente desde o despertar, onde às vezes o primeiro pensamento que chega é a sensação
de que o não dormiu o quanto deveria ter dormido. Chega ao desjejum com a presença do incômodo
daquela comida que não está presente na mesa. Caminha ao lado durante as atividades imaginando
que o tempo para as realizações não é suficiente. E vai assim até o deitar no travesseiro à noite,
esmagado pelo sentimento de que o dia não foi produtivo. Não ter o bastante, não ser o bastante, não
fazer o bastante, não amar o bastante, não conquistar o bastante… e a vida se perde num poço sem
fim de escassez, que jamais pode ser preenchido de forma suficiente.

Um modelo de motivação pessoal que funcione a longo prazo e produza resultados reais de crescimento
numa vivência fora do âmbito da escassez, é o que o pesquisador Daniel Pink apresenta como sendo
Motivação 3.040.

Em seus estudos, ele denomina de 1.0 a motivação feita através da força coercitiva, como no tempo da
escravidão, quando o escravo fazia o que lhe era obrigado fazer. Muitos ainda funcionam nessa base,
só realizando algo pela obrigação pura e simples

Pink lembra que o modelo 1.0 evidentemente não se sustenta e que, depois da predominância dele,
veio o que ele denomina como motivação 2.0, onde a troca passou a ser a base motivadora. Fazer para
receber uma recompensa e quanto maior for a recompensa mais empenho haverá para a conclusão
da tarefa. Essa ainda se constitui na fonte impulsionadora de um número considerável de pessoas em
todos os lugares, que troca o empenho pelo tamanho da recompensa que pode ser obtida.

As análises de suas pesquisas são profundas e depois de apresentar as limitações de ambas, ele foca a
atenção no que chama de Motivação 3.0, aquela que é gestada no interior, que funciona de dentro para
fora, quando o indivíduo é levado a fazer alguma coisa porque quer fazer. Não está sendo coagido de
alguma forma para realizar a tarefa, nem tão pouco está fazendo para conquistar uma recompensa,
mas faz por uma sensação interna intransferível de realização pessoal. É dentro dessa dimensão
motivadora que lhe incentivo a construir sua existência e a experimentar o que venho falando como
Autoconsciência, Espiritualidade e Propósito Pessoal
40

vida em plenitude, uma existência sublime e carregada de propósito.

O fato é que, sem motivação impulsionadora, o caminhar pela vida fica destituído do brilho necessário
e da beleza que torna a existência prazerosa, ao passo que incorporar esse valor na bagagem torna o
indivíduo mais amadurecido e possuidor de uma afinada sensibilidade, podendo gerenciar de forma
assertiva todo o escopo de sua existência. Tal força motivadora, ao mesmo tempo que não pode ser
implantada de fora para dentro, é uma capacidade a ser desenvolvida permanentemente, tornando
o ser melhor preparado para os reveses inevitáveis da trajetória e de eventos desorganizadores aos
quais todos estamos sujeitos.
O que há, nesse momento de sua vida, que necessita de uma motivação específica? Pode ser
a sequência do curso que está fazendo, um desafio novo em sua atividade profissional ou um projeto
que está engavetado há tempos. Partindo do princípio básico do “comece a fazer que a motivação
aparece”, que tal experimentar isso na prática? Tem funcionado muito bem para diferentes pessoas
em lugares e tempos distintos. Pode ser que funcione para você também! O que acha de escolher algo
que esteja meio emperrado em sua vida e dar um pontapé inicial para que esse jogo comece? Quer
tentar?´

VOU COMEÇAR

4 - VIDA EM ABUND NCIA

Chegamos, assim, à última etapa dessa pequena jornada de dezesseis passos, quatro em cada unidade,
onde espero que você a tenha feito até aqui colhendo elementos úteis para sua vida pessoal. Defendo
fortemente que esses conceitos abordados nesse estudo estão perfeitamente alinhados com uma
cadência de vida completamente ajustada para os desafios do século XXI. Conhecer profundamente a
mim mesmo, desenvolver meu propósito pessoal, vivenciar uma espiritualidade agregadora - tudo isso
tem nuanças suficientemente fortes para provocar um crescimento existencial poderoso. A expressão
extraída de uma fala de Jesus no evangelho - “vida em abundância”41 - torna-se uma síntese de toda
a proposta da moldura de nosso estudo. Para além de uma questão religiosa, esse estilo de vida tem
potencial profundamente agregador para o ser humano, podendo ser experimentado como prática
cotidiana.

A dimensão proposta aqui está fortemente ligada a um conceito cada vez mais pesquisado nos maiores
centros de pesquisa do mundo - a felicidade. Antes tida apenas como devaneio dos românticos,
pesquisar e entender as possibilidades de uma vida feliz tornou-se tema recorrente de inúmeros
estudos acadêmicos, tendo na conceituada Universidade de Harvard uma de suas maiores referências.
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Daniel Gilbert, um desses pesquisadores, gosta de provocar o público de suas palestras apresentando
uma questão intrigante sobre o assunto da felicidade. Pergunta ele: “Quem provavelmente é mais
feliz: alguém que ganha milhões de dólares na loteria ou alguém que perde as duas pernas?”42. A
resposta não é tão simples como parece e Gilbert surpreende as pessoas apresentando em seguida
as conclusões de uma pesquisa, mostrando que, depois de um período aproximado de um ano, os
sorteados e os amputados continuam tão felizes ou infelizes quanto eram antes do acontecimento.
Isso é, de fato, surpreendente!

Nos textos de Aristóteles, em “Ética a Nicômaco”43, o famoso filósofo apontava a felicidade como sendo
o maior bem desejado pelos humanos, o fim de todas as ações do indivíduo. Não importa a época em
que se analise, nós, seres humanos, sempre estivemos em busca da felicidade e essa procura parece
estar presente em todos os povos na saga da humanidade. A questão de “como” sentir-se feliz vem
sendo debatida especialmente por filósofos e teólogos e também por curiosos ao longo dos séculos,
mas percebe-se que nas últimas décadas o tema deixou de ser interesse de pensadores pragmáticos
para ganhar lugar de destaque nas pesquisas acadêmicas. Apesar de existir uma abundância enorme
de literatura, fórmulas, receitas e toda sorte de achismos, no presente, é possível obter-se uma resposta
categórica, com muito embasamento científico, acerca do inquietante “como ser feliz”, mas isso não
implica que saber a solução tornará a pessoa feliz. Há um grande salto a ser dado entre o saber e o
ser, onde o direito à felicidade pode estar até garantido na Constituição de um País, mas vivenciar
pessoalmente o bem-estar está longe de ser algo que possa ser garantido a qualquer cidadão. Ou seja,
a ciência nos fornece o conhecimento de como é possível ser feliz e o estado garante o acesso a esse
direito inalienável ao cidadão, mas apropriar-se dessa virtude é algo que vai além do saber científico
e do direito constitucional.

O matemático Mo Gawdat, próspero executivo da Google, após atravessar um grande drama familiar,
debruçou-se, enquanto pesquisador das ciências exatas, a decifrar as questões referentes à felicidade.
Seu propagado livro “A fórmula da felicidade” apresenta, não promessas de autoajuda, mas Gawdat
aponta, de forma bastante clara, a partir da exatidão matemática, os processos necessários para que o
indivíduo consiga de fato experimentar o que toda a humanidade, de um jeito ou de outro busca. Em
uma definição sintética, porém carregada de significado, ele afirma: “Felicidade é aquele sentimento
glorioso quando tudo parece certo, quando todas as voltas, reviravoltas e pontas soltas da vida parecem
se encaixar perfeitamente”44.

A singeleza da definição de Gawdat a torna poderosa, pois a metáfora das pontas soltas que vão se
encaixando e produzindo um sentimento altamente almejado parece traduzir bem o que habita em
nosso inconsciente acerca do que deveria ser felicidade, a essência da vida em abundância.

No livro “As 7 vidas que não temos… e todas as outras que vivemos”45 pondero sobre a responsabilidade
pessoal indispensável para uma vida feliz. Lembro aos leitores que temos cada dia a oportunidade
de fazer escolhas em prol de uma vida relevante e esse dia não se repetirá jamais. Dizia o antigo
senso comum que os gatos tinham sete vidas, mas isso era apenas uma maneira de falar da incrível
capacidade que os felinos tinham para cair em pé, mesmo despencando de alturas consideráveis.
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Apesar dessa grande habilidade, um gato tem apenas uma vida e nunca é demais recordar que essa
é a nossa realidade como seres humanos, onde temos a vida distribuída em um instante de cada vez
para ser vivida sob a forma de exasperante angústia ou como paz de espírito, ainda que diante de
circunstâncias bastante adversas.

A tentativa de deixar que outros se sintam obrigados a nos proporcionar felicidade faz parte dos atalhos
que buscamos, transferindo o que não pode ser transferido e colhendo amargura e desilusão como
consequência. Quero mesmo ser feliz? É possível experimentar isso de verdade e sabe-se cada vez
mais que não se busca felicidade, mas se usufrui dela a partir de coisas simples que estão disponíveis
na maior parte do tempo, bem ao alcance e quase que “suplicando” para serem percebidas por nossa
mente desatenta ao essencial e tão sobrecarregada de buscas ilusórias.

Há um antigo conselho da sabedoria dos Provérbios de Salomão, de uma utilidade muito grande,
quando ele provoca o leitor a imaginar-se no final dos seus dias. O conselho é assim: “Você não quer
chegar ao fim da vida cheio de arrependimento, todo detonado e dizendo: ‘Oh! Por que não fiz o que
me disseram? Por que rejeitei quando me repreenderam? Por que não ouvi meus mentores e não
leveia sério meus mestres? Minha vida está arruinada! Não me restou absolutamente nada”46. Dureza,
hein? Nenhum de nós deseja chegar à velhice dessa forma, então é melhor cuidar bem dessa única
vida que nos é dada, sendo verdadeiramente feliz, agregando relacionamentos saudáveis e deixando
como herança o legado de uma vida vivida em plenitude.

Tocar os dias que lhe cabem sob a égide da vida em abundância não é complicado e é possível, à medida
que o indivíduo, enquanto eterno aprendiz, vai aprendendo a degustar a existência que tem, o pacote
inteiro de aspectos paradoxais, onde coisas boas e coisas desagradáveis fazem parte do todo a ser
experimentado. Alegrias e tristezas, prazer e dor, sorriso e choro, chegadas e partidas, vida e morte…
esse é o todo sistêmico da experiência de viver e fazê-lo de forma plena é um verdadeiro privilégio. A
vida abundante não significa excesso, riqueza ou luxo, mas um estado de espírito de contentamento
internalizado no íntimo da alma e expresso em atitudes externas abençoadas. Para essa pessoa cada
passo dado na vida é revestido do sentimento de gratidão e de aprendizado que nunca termina.

A percepção do escritor William Raif Inge, não poderia ser mais certeira nesse sentido. Ele disse: “As
pessoas mais felizes são aquelas que não têm nenhuma razão específica para serem felizes, exceto
pelo fato de que elas são”47. Eis aí uma síntese da vida em abundância!

CONCLUSÃO

Chegamos ao fim do nosso estudo. Curti muito escrever cada palavra que está nesse ebook e gravar
cada videoaula. Tudo foi construído pensando em traduzir uma essência do que tenho pesquisado ao
longo da vida sobre esses temas e do que faz parte do meu próprio jeito de ser; e desejo sinceramente
que esses conceitos produzam algum bem para sua alma, assim como produz na minha. Use
esses pequenos starts que apresentei, não apenas para o cumprimento das necessárias atividades
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acadêmicas, mas como ferramentas úteis e provocadoras de transformações pessoais.



SIGA EM FRENTE! BOA
VIDA PARA VOCÊ!
BÊNÇÃOS SEMPRE!
PROF. BRAGUINHA, UM APRENDIZ DA VIDA.
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