Você está na página 1de 328
TREINAMENTO FUNCIONAL RESISTIDO Para Melhoria da Capacidade Funcional e Reabilitagdo de Lesdes Musculoesqueléticas Reimpressao 2008 Mauricio de Arruda Campos DiretorTécnico da Confederacio Brasileira de Musculacao Membro do Comité Cientifico da Federacao Européia de Musculacao Diretor da Associagao Brasileira de Estudos e Combate ao Doping Professor de Cinesiologia e Biomecanica da Faculdade de Educacao Fisica da Universidade de Franca — UNIFRAN Consultor de Biomecanica da Empresa NakaGym Equipamentos de Musculacio Bruno Coraucci Neto Professor de Educagao Fisica Especialista em Atividade Fisica e Qualidade de Vida Especialista em Treinamento e Condicionamento em Academias Membro do Departamento de Desporto do Corpo Diretivo da Associacao Brasileira de Estudos e Combate a0 Doping Professor de Musculagao e Personal Trainer da Academia Fisico & Forma de Batatais Preficio : Eduardo Henrique De Rose Presidente da Federacio Internacional de Medicina do Esporte REVINTER ‘Treinamento Funcional Resistido ~ Para Melhoria da Capacidade Funcional e Reabilitacdo de Lesties Musculoesqueléticas Copyright © 2004 by Livraria e Editora Revinter Ltda, Reimpressio 2008 ISBN 85-7309-841-4 ‘Todos os direitos reservados. E expressamente proibida a reprodugao. deste livro, no seu todo ou em parte, por quaisquer meios, sem o consentimento por escrito da Editora. Contato com os autores: MAURICIO DE ARRUDA CAMPOS macampos@netsite.com.br BRUNO CoRaucct NETO brunocneto@yahoo.com.br A precisao das indicagdes, as reagdes adversas ¢ as relacdes do dosagem para as drogas citadas nesta obra podem sofrer alteracdes, Solicitamos que o leitor reveja a farmacologia dos medicamentos aqui mencionados. A responsabilidade civil e criminal, perante terceiros © perante @ Editora Revinter, sobre 0 contesdo total desta obra, incluindo as ilustragSes e autorizagdes/créditos correspondentes, é dols) autor(es) da mesma. Livraria e Editora REVINTER Ltda. Rua do Matoso, 170 ~ Tijuca 20270-135 ~ Rio de Janeiro — RJ Tel. (21) 2563-9700 ~ Fax: (21) 2563-9701 livraria@revinter.com.br — www.revinter.com.br Agradego ao meu pai José Murillo, que também é professor universitario de Educacio Fisica, pelo exemplo, pela dedicacao e empenho incondicional para me proporcionar os estudos e todo o amparo necessdrio durante toda a minha vida de estudante. Por ter-me ensinado a enxergar as coisas de maneira critica e coerente e Por ter-me instigado, através de nossas conversas ¢ suas importantes sugestdes, a escrever este livro. Aminha me Nilze, pelo amor, dedicacao e carinho que sempre teve por mim. A minha esposa Roberta, amor da minha vida, pelo apoio, compreensio e colaboracao na revisao cientifica deste livro. ‘Aos meus filhos Tilio e Artur, porque o nascimento deles mudou a minha vida, ‘Ao meu caro amigo, Dr. Eduardo Henrique De Rose, pelo seu grande apoio em minha carreira profissional. Mauricio de Arruda Campos Agradeco aos meus pais Bruno e Angela, por todo amor, carinho, educagao e dedicacdo proporcionados em minha vida e por todo 0 amparo necessério em mi- nha vida de estudante. Ao Professor Mauricio de Arruda Campos, por acreditar em mim e me dar oportunidades ¢ apoio, tanto na vida profissional como pessoal. Bruno Coraucci Neto Em especial, 0 nosso agradecimento a Adir Ney Nazar, Roberta lara Carolli de Atruda Campos, Rogério Carvalho Prates e Rosana lara Carolli, que foram modelos para as fotografias deste livro. Capacidade funcional é a habilidade para realizar as atividades normais da vida didria (como caminhar, subir escadas, carregar sacolas de compras, levantar de uma cadeira ou pendurar roupas no varal) com eficiéncia, autonomia e indepen- déncia. Ou seja, é a capacidade de realizar as tarefas do dia-a-dia sem precisar de ajuda de outras pessoas. Para que um individuo se movimente eficientemente con- tra a acao da gravidade, ele deve possuir amplitude de movimento, mobilidade articular, forga e resisténcia muscular, bem como a habilidade de coordenar o movimento, alinhar 0 corpo e reagir quando 0 peso ou parte do corpo se desloca em uma variedade de planos. A falta de atividade fisica e 0 envelhecimento sao dois fatores que favorecem a deterioragao de varios sistemas e qualidades fisicas que dimintiem a capacidade funcional do corpo humano. Por isto, a pratica de exercicios que possam manter ou recuperar a capacidade funcional é fundamental para todo ser humano, inde- pendente da fase da vida em que este se encontra. 0 treinamento funcional resistido é a mais recente maneira de se melhorar 0 condicionamento fisico ea satide geral com énfase no aprimoramento da capacida- de funcional do corpo humano. £ baseado em uma prescrigdo coerente e segura de exercicios que, respeitando a individualidade biol6gica, permite que o corpo hu- mano seja estimulado de um modo que melhore todas as qualidades do sistema musculoesquelético e seus sistemas interdependentes, Como o sistema nervoso controla todas as fungdes do sistema musculoesquelético, a énfase deste treina- mento reside neste sistema e em seus componentes. Por isto, os trés primeiros capitulos trazem a base do treinamento funcional resistido, para que o leitor possa prescrever este tipo de treinamento com se- guranca, eficiéncia e, principalmente, respeitando a individualidade biolégica, O capitulo seguinte mostra muitos exercicios variados utilizados no treinamento funcional, com comentarios importantes e as variéveis que podem ser utilizadas em cada um deles, Com o treinamento funcional resistido, 0 condicionamento fisico e a perfor- mance aumentam, os riscos de lesées musculoesqueléticas diminuem, os indivi- duos lesados retornam as suas atividades de maneira mais rapida e segura, e, além de tudo, este treinamento oferece um ntimero infinito de variagGes, o que o torna bastante dinamico, fator importante na motivacao do praticante. Em resumo, o treinamento funcional resistido representa uma abordagem diversificada de exercicios que integram muitos diferentes tipos de treinamento em um programa de desenvolvimento total do corpo humano, preparando-o de maneira segura ¢ eficiente para os mais diferentes desafios de qualquer esporte, atividade fisica ou ocupacional e os movimentos da vida diéria. Os avancos na Area da atividade fisica e do esporte, inumeraveis neste inicio de século em virtude de uma conscientizagao cada vez maior do treinamento fisico, fizeram surgir, em diversas especialidades, uma Area especifica para expandir-se neste importante campo do conhecimento humano. Desta forma, especialistas em Ciéncias do Exercicio comecaram a buscar, desde a década de 1970, maiores infor- macoes sobre a relacao entre o treinamento fisico e a sua especialidade, uma vez que delas praticamente nao existe documentagaéo em nosso meio. O livro editado pelos Professores Mauricio de Arruda Campos e Bruno Coraucci Neto, além da colaboraco de quatro experientes autores americanos da drea, jun- tamente com um brasileiro especialista em equipamentos de musculacao com grande vivéncia em exercicio, disserta sobre as bases neuroldgicas, biomecanicas e metodolégicas do treinamento funcional, em um trabalho extremamente bem ilus- trado e com uma vasta referéncia bibliografica. Este texto, sem diivida, facilitaré em muito aqueles profissionais que buscam maior informacao sobre este tipo especifico de treinamento, extremamente im- portante nos dias atuais, e com tao pouca informagao em nosso meio académico. Para quem deseja evitar o dificil e tedioso trabalho de pesquisar nos poucos textos e periédicos onde esta informagao se encontra esparsa e rarefeita, esta é uma obra de leitura obrigatéria, que sera de excelente utilidade nao s6 para os especialistas da rea, que incluem professores de Educagao Fisica e médicos, mas também para fisioterapeutas, e o piblico em geral, que colocam o treinamento fisico como uma das suas prioridades no aumento e manutencdo da sua satide. Dr. Eduardo Henrique De Rose Presidente da Federacao Internacional de Medicina do Esporte Gostarfamos de expressar os nossos especiais agradecimentos aos profissio- nais e empresas que muito colaboraram para o contetido cientifico deste livro atra- vés do envio de varias de suas publicacoes cientificas e de um intercambio por cor- reio eletrénico. Estes intercambios garantiram 0 aprimoramento dos nossos co- nhecimentos e uma visdo mais ampla e critica de algumas das diversas varidveis do corpo humano. Scott M. Lephart, PhD Neuromuscular Research Laboratory University of Pittsburgh — Pittsburgh — USA Steven J. Fleck, PhD Department of Sport Sciences Colorado College - USA Keith Davids, PhD Motor Control Group Department of Exercise and Sport Science Manchester Metropolitan University-Cheshire — UK DW Fitness, Fitness Quest and the BOSU Balance Trainer Canton — Ohio — USA. Paulo Romao NakaGym Equipamentos Profissionais de Musculago Rua Tupinambas, 1.275/1.293 — Diadema — Brasil André C. A. Cury Reebok Fitness Equipment Store ‘Av. Independéncia, 2.609 — Ribeirdo Preto — Sao Paulo ~ Brasil EB Bases Neuroldgicas do Treinamento Funcional .... Bases Biomecinicas do Treinamento Funcional. 0.2.0... 00. B Bases Merodolégicas € Direrrizes do Treinamento Funcional.... 45 Exercicios Urilizados no Treinamento Funcional . 2... 0.022. TD PB Apendices.. 2 Lee eee eee 287 BB Bibliogeafia. orcrpemEMIMIMIBI RIMM AME ws 2% PB indice Remissivo cece al fe TREINAMENTO FUNCIONAL RESISTIDO Para Melhoria da Capacidade Funcional e Reabilitagdo de Lesées Musculoesqueléticas Bases Neuroldgicas do TREINAMENTO FuNcional Aesséncia do treinamento funcional est4 baseada na melhoria dos aspectos neurologicos que afetam a capacidade funcional do corpo humano, através de exercicios que desafiam os diversos componentes do sistema nervoso e, por isso, estimulam sua adaptacao. Isso resulta numa melhoria das principais qualidades fisicas utilizadas tanto nas atividades do dia-a-dia como nos gestos esportivos. Por isso, este capitulo resume as bases neuroldgicas desse treinamento, para que o lei- tor possa entender as diversas variaveis utilizadas nos exercicios e os motivos ou intengoes da prescrigao de cada uma delas. O SISTEMA NERVOSO As fungdes organicas, bem como a integracao do homem ao meio ambiente, siio dependentes de um sistema especial, denominado sistema nervoso. Esse sistema controla e coordena as fungdes de todos os sistemas do organis- mo e, ainda, recebe estimulos aplicados em varias partes do corpo, sendo capaz de interpreta-los e desencadear respostas adequadas a esses estimulos. Assim, muitas fungdes do sistema nervoso sio voluntérias, e muitas outras ocorrem sem que delas tenhamos consciéncia, Seu funcionamento é altamente complexo. Todo ele é baseado no binémio estimulo-reacao, podendo intercalar-se um terceiro elemento, estimulo-interpre- tacdo-reacao. 0 sistema nervoso é dividido, topografica e funcionalmente, em duas partes interdependentes fundamentais: o sistema nervoso central e 9 sistema nervoso periférico (Fig. 1-1). 2 Treivamento Funcional Resistido Sistema nervoso central + Eneétalo ‘+ Medula espinal vw Divisio sensorial (aferente) Sistema nervoso perilérico * Nervos cranianos * Nervos espinais y Divisdo motora (eferente) ’ % Sistema Sistema nervoso nervoso somatico autnomo (voluntério) ((nvoluntérioy , “4 Divisdo simpatica _Divisao parassimpatica Fig. 1-1. Organizacao funcional do sistema nervoso. SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) O sistema nervoso central compreende 0 encéfalo e a medula espinal. O encé- falo pode ser dividido em: cérebro, diencéfalo, cerebelo e ramo cerebral. Amedula espinal carrega as fibras tanto sensoriais quanto motoras entre o encéfalo e a peri- feria. O resumo a seguir mostra a funcao de cada uma das partes do SNC. @ Encéfalo Cérebro E composto de dois hemisférios, 0 direito ¢ o esquerdo, que sao conectados um ao outro por feixes de fibras chamadios de corpos calosos, e que permitem aos dois hemisférios comunicarem-se entre si. Bases Neurolégicas do Treinamento Funcional 3 O cérebro consiste de cinco lobos — quatro externos ¢ a insula central. Os pri- meiros permitem as funcées gerais do organismo: Lobo frontal: inteligéncia geral e controle motor, Lobo temporal: impulsos auditivos e sua interpretagao. Lobo parietal: impulsos sensoriais gerais e sua interpretacdo. Lobo occipital: impulsos visuais ¢ sua interpretacao. awNo As trés dreas de interesse primério no cérebro sao: 1, C6rtex motor priméario (lobo frontal): é dividido em trés diferentes dreas: 0 c6értex motor primario, a 4rea pré-motora ¢ a drea motora suplementar, Cada area possui sua propria representacao topografica dos grupos muscu lares e fungdes motoras especificas. cOrtex motor primério controla movimentos finos voluntérios. Seu lado esquerdo controla o lado direito do corpo, e seu lado direito controla 0 lado esquerdo do corpo. Seus neur6nios séo responsaveis por movimentos conscientemente controlados dos miisculos esqueléticos. Juntamente com suas areas associadas, 0 cértex motor é sistematicamente organizado de maneira que cada uma de suas partes controla mtisculos ou grupos de mtis- culos especificos do corpo, e todos os miisculos sao topograficamente representados no cérebro. ‘Todos os miisculos nao sao representados no cortex motor com base em seu tamanho, mas sim nas necessidades de movimentos precisos de dife- rentes partes do corpo, com os misculos da mao e da boca representando quase dois tercos da area total do cértex motor. Arepresentacao da musculatura distal é totalmente contralateral, com 0 cortex motor esquerdo controlando os movimentos das extremidades dis- tais direitas (como a mao direita, por exemplo) e vice-versa. Os mtisculos com localizacao mais proximal so representados tanto no hemisfério ipsi- lateral como no contralateral. A tea pré-motora, juntamente com o cértex motor primério, os ganglios basais e o talamo, constitui um sistema de controle para atividades muscu- lares coordenadas. Essa area esta envolvida com o desenvolvimento das ha- bilidades motoras. ‘Aérea suplementar trabalha juntamente com a 4rea pré-motora para pro- duzir movimentos bilaterais sinérgicos. 2. Ganglio basal (cortex cerebral — substancia banca): quase todas as fibras nervosas motoras e sensoriais, que conectam o cértex cerebral 4 medula éspinal, passam pelo ganglio basal, Uma das suas principais fungdes é con- trolar padrées complexos de atividade matora, além de iniciar movimentos de natureza repetitiva e sustentada, como caminhar e correr. Também esta envolvido na manutengao da postura e da tonicidade muscular./ 3. Cértex sensorial primario (lobo parietal) (Fig. 1-2). 4 _Treinamento Funcional Resistido Lobo frontal occipital Fig. 1-2. As quatro éreas externas funcionais do cérebro. Diencéfalo Regio do cérebro composta principalmente do tilamo do hipotélamo, O tdlamo é um importante centro de integracao sensorial, onde todos os impulsos, com excegio do olfato, passam e sio transmitidos para a area apropriada do cor- ‘tex. Ele regula qual impulso sensorial alcangaré o cérebro consciente, sendo, as- sim, muito importante para o controle motor. O hipotalamo localiza-se diretamente abaixo do télamo e € responsavel pela manutencdo da homeostase, regulando quase todos os processos que afetam o ambiente interno do corpo (Fig. 1-3). Cerebelo Localizado atras do ramo cerebral e conectado a numerosas partes do cére- bro, é fundamental para o controle de todas as atividades musculares rapidas e complexas, como a caminhada. O cerebelo realiza um importante papel no tempo das atividades motoras e na 0 outro, assistindo as fungdes do cértex motor primério e dos génglios basais, atuando como um sistema de integracao. Através do cértex motor, ele exerce controle tanto sobre os mtisculos agonis- tas quanto sobre os antagonistas, permitindo também a percepgiio da velocidade com a qual os objetos se aproximam, ou com que nos aproximamos dos objetos. Os movimentos especificos a serem desempenhados sao transmitidos ao cerebelo, Bases Neuroldgicas do Treinamento Funcional 9 Diencéfalo Fig. 1-3. Diencéfalo, que, baseado no impulso da periferia, decide qual é 0 melhor plano de aco para que esse movimento seja realizado. Ou seja, todas as informagdes que chegam ao cerebelo sobre a exata tensdo e posi¢ao das articulacSes, muisculos e tenddes e a Pposicao do corpo sao notadas em relacao ao meio externo, ¢ entao ele determina o plano de aco correto para produzir 0 movimento desejado, O c6rtex motor toma a decisao de executar um movimento especifico. Esta decisao é informada ao cerebelo, que decide, com base nos impulsos provenientes da periferia, qual a melhor maneira de realizar o movimento. Além disso, o cerebe- Jo ajuda o cértex cerebral no planejamento antecipado do préximo passo do movi- mento enquanto 0 movimento corrente ainda esta sendo executado. Isto contribui para 0 progresso sincronizado de um movimento para o préximo. O cerebelo também tem a habilidade de aprender com os erros. Os movimen- tos especificos ficam mais fortes ou mais fracos depois de um erro, adaptando a excitabilidade dos neurénios apropriados. Assim, as contragoes musculares subse- qiientes tem uma melhor correspondéncia com os movimentos planejados (Fig. 1-4). 6 _Treinamento Funcional Resistido Fig. 1-4. Cerebelo, Ramo cerebral Composto de meio cérebro, ponte e medula oblongata. E a haste do cérebro, que 0 conecta a medula espinal. Todos os neurénios sensoriais e motores passam pelo ramo cerebral devido a conexao existente entre o cérebro e a medula espinal. No ramo cerebral encontra-se 0 principal centro regulatério auténomo, res- ponsével pelo controle dos sistemas respiratério e circulatorio. Encontram-se tam- © ramo cerebral serve como uma estacio para os sinais e os comandos dos ni- veis neurais mais altos, que o controlam para modificar as funcdes especificas de ‘controle por todo 0 corpo, realizando um papel importante no controle do movi- ‘mento e do mw Medula espinal A medula espinal é composta de tratos de fibras nervosas que permitem dois caminhos de condugao de impulsos nervosos, o caminho aferente e 0 caminho efe- rente. As fibras sensoriais (aferentes) carregam sinais de receptores sensoriais, tais Bases Neuroldgicas do Treinamento Funcional 7 Ramo cerebral Fig. 1-5. Ramo cerebral como aqueles presentes nos miisculos e articulacdes, para a parte superior do SNC. As fibras motoras (eferentes) do cérebro e da parte superior da medula espi- nal viajam abaixo para os érgaos terminais. Um ramo do nervo sensorial termina na substancia cinza da medula e elicita reflexos segmentais locais. Um outro ramo transmite sinais para niveis mais altos (ramo cerebral e cértex cerebral). Asubstancia cinza da medula é a area integrativa para os reflexos da medula e outras fungGes motoras. Cada segmento da*medula espinal tem alguns milhdes de neurénios na sua substancia cinza. Esta substancia contém dois tipos de neur6nios — neurénios mo- tores anteriores ¢ interneurénios (Fig. 1-6). Neurénios motores anteriores _ __ Localizados nos cornos anteriores da matéria cinza da medula, os neur6nios motores anteriores ascendem para as fibras nervosas que deixam a medula através das rafzes anteriores e inervam as fibras musculares esqueléticas. Consistem em dois tipos de neur6nios — neurénios motores alfa (que inervam as grandes fibras musculares) e neurénios motores gama (que inervam as peque- nas fibras especiais, presentes nos fusos musculares). Pee 1 narvo cervical 18 vértebra corvical (C1) 70 vartabra cervical (C7) 8 narvo cervical 1 vertebra tordcica (T1) 4 nervo toracico = 128 vertebra tordcica (T12) 12 nen torécico 4? vertebra iombar(L1) 48 nervo tomar Cauda equine 5° vértebra lomber (L5) 5° nerva loribar 1 vértebra sacra (1) 1° nenvo sacral Canal ependimario, CORSAL central Corne ventral Goluna ventral .Corno lateral Fllamentos da ralz dorsal Raz dorsal -Ralz ventral Fllamenios da ralz ventral Fig. 1-6. Medula espinal. Bases Neurolégicas do Treinamento Funcional 9 Inrerneurénios Presentes em todas as areas da substancia cinza da medula, sao altamente excitaveis. Os interneurdnios pos: itas interconexdes e regulam a inerva- G40 dos neurénios motores anteriores. Os reflexos tornam-se possfveis aps ocorrer o controle da funcao e da co- ordenac&o muscular através do processamento e da transmissio, pelos interneu- rénios, dos sinais provenientes dos nervos espinais e do ramo cerebral (Quadro 1-1), SISTEMA NERVOSO PERIFERICO (SNP) O sistema nervoso periférico contém 43 pares de nervos, sendo 12 pares de nervos cranianos e 31 pares de nervos espinais, que estzio conectados com a medu- la espinal. ‘Quadro 1-1. Diferentes funcées de cada centro de integraco motora Centros de integracéesdo SNC —-Funcbes Ganglio basal Controle de padroes complexos de atividade motora; postura e tonicidade muscular e controle cognitivo da atividade motors Medula espinal Os impulsos so Id integrados, e a resposta é um simples reflexo motor, que é 0 tipo mais simples de intearacao. Responsdvel pelos reflexos simpaticos e motores (nus muscular e estabilizacao articular) Ramo cerebral Reacdes motoras subconscientes ¢ de natureza mais alta e mais complexa do que um simples refiexa da medula espinal. Exernplot controfe postural e equilforio no momento, de senter, levantar, ou andar Cerebelo Reagdes subconscientes, Coordena as ages de varias contragGes de grupos musculares, para realizar um movimento desejado; atividades musculares répidas e complexes; ajustamento das atividades motoras programagac cognitiva Talamo ReagGes comegam a entrar em nivels de consciéncia. & posstvel distinguir varias sensagoes ‘Cortex motor Esta érea possul um "mapa" do corpo. A estimulacéo em uma rea espacfica da corpo € reconhecida, e sua localizagao exata 6 conhecida instantaneamente Responsével pelo controle de rmovimentos valuntérios finos, 4 camando central para movimenttos inconscientes: programagdo cognitiva e movimentos de tarefas especificas 10 __Treinamento Funcional Resistido Para cada neryo espinal, neurdnios motores sensoriais entram na medula espi- nal através da raiz dorsal e suas células corporais so localizadas nos ganglios da raiz dorsal. Os neur6nios motores deixam a medula através da raiz ventral e fazem a conexao final nia cadeia do controle para atividade muscular nas jungdes neuro- musculares. O sistema nervoso periférico pode ser dividido, funcionalmente, em divisio sensorial e divisio motora. @ Divisio sensorial A divisao sensorial, ou aferente, é responsavel por carregar as informagées da periferia em direcao ao sistema nervoso central. Os neur6nios sensoriais no SNP terminam na medula ou no cérebro e carre- gam continuamente as informagdes para o SNC em relacio ao constante estado de mudanga do corpo. Por transportarem essa informacao, esses neurdnios permitem ao cérebro perceber 0 que esta acontecendo em todas as partes do corpo € no seu ambiente imediato. Os neurdnios sensoriais carregam um impulso sensorial para areas apro- priadas do SNC, onde a informacao é processada e integracia com outras informa- Goes que chegam. Adivisao sensorial recebe informagdes de cinco tipos primérios de receptores: mecanorreceptores, termorreceptores, nociceptores, fotorreceptores e quimior- receptores. @ Divisio motora O sistema nervoso central transmite informacdes para varias partes do corpo através da diviséo motora, ou eferente, do sistema nervoso periférico. Uma vez que 0 SNC processa a informacao, que é recebida da divisdo sensorial, ele decide como 0 corpo deveré responder a esse estimulo. Para que isso ocorra, redes compiladas de neurénios partem do cérebro e da medula espinal para todas as partes do corpo, fornecendo informagoes detalhadas para as areas-alvo. Sistema Nervoso auTéNoMO O sistema nervoso autonomo ¢ freqiientemente considerado parte da divisao 2 as fungGes internas involuntarias (freqiiéncia cardiaca, e respiracao) do corpo. ~ E dividido em: sistema nervoso. simpatico e sistema nervoso parassimpatico. Estes sistemas, apesar de terem suas origens em diferentes sees da base do cére- bro e da medula espinal, sempre funcionam juntos, e seus efeitos so de natureza muitas vezes antagénica, O sistema nervoso simpatico e parassimpa tOmicos, farmacoldgicos e fisiolégicos. 0 distinguem-se em critétios ana- Bases Neuroldgicas do Treinamento Funcional II NTEGRACAO SENSORIO-MOTORA Para que 0 corpo possa responder a estimulos sensoriais, as divisoes senso- riais e motoras do sistema nervoso devem funcionar juntas, numa seqiiéncia espe- cifica de eventos. Esta seqiiéncia é descrita da seguinte maneira (Fig, 1-7): ‘A) Um estimulo sensorial é tecebido por receptores sensoriais. B) O impulso sensorial é transmitido ao longo dos neurénios sensoriais para 0 SNC. C) O SNC interpreta a informagao sensorial que entra e determina qual respos- ta € mais apropriada D) Os sinais para as respostas so transmitidos do SNC através de neurdnios motores. E) O impulso motor é transmitido para o musculo, e a resposta ocorre. Um estimuio cutaneo | ioe oineussocoe eepchced <\ circus \/ sensoriais até 0 ONC interpreta a Informagao e determina a resposta motora ‘Oimpulso motor ‘chega as fibres musculares © 2 Tesposia acontece Oimpulso motor é cerviedo do SNC alravos do ‘motoneurons Fig. 1-7. Seqliéncia de eventos na integraco sens6rio-motora. 12__ Treinamento Funcional Resistido CONTROLE NEUROMUSCULAR, PROPRIOCEPCAO E EQUILIBRIO m Propriocepgao E sistema SENSORIO-MOTOR Para um melhor entendimento de todo 0 processo que ocorre no treinamento funcional é necessario, primeiramente, a distingao dos sistemas sensério-motor e proprioceptivo, a fim de identificarmos a funcdo de cada um deles no organismo. Sistema sensério-moToR O sistema sens6rio-motor é um subcomponente extremamente complexo do sistema do controle motor. Este termo foi adotado para descrever a integraco central e 0 processo dos componentes sensoriais motores que estao envolvidos na manutencio da homeostase articular durante movimentos do corpo (estabilidade articular funcional). Portanto, ele descreve os mecanismos envolvidos na aquisiga dos estimul minhos aferentes para 0 SNC, onde os estimuilos set’o pro- cessados € integrados, gerando as respostas motoras resultantes da ativacao mus- cular para lo ‘40 e para o desempenho de tarefas funcionais e estabili: articula Tiocepg a sensa¢ao) € mais global e inclui as informac®es mecanoceptivas, termoceptivas e nociceptivas que chegam da periferia (Fig. 1-8). Entende-se por homeostase 0 processo dinamico pelo qual um organismo mantém é controla seu ambiente interno em relacao a forcas externas que sao apli cadas, Sua manutencao ocorre através de sistemas que operam de maneira auto- mitica e subconsciente no corpo humano. No individuo saudavel, os dois diferen- tes sistemas responsdveis por essa manutenco sao os sistemas de controle feed- back e feedforward. Devido aos niveis de estabilizacao articular funcional exigico serem diferentes entre as pessoas e as tarefas, os componentes sensoriais motores devem ser flexi- veis e adaptaveis para que possam ser ajustados de acordo coma situacao exigida. © processo pelo qual a manutengao da estabilidade articular funcional ocorre é através de um relacionamento complementar entre os componentes estaticos (igamentos, cdpsula articular, cartilagem, friccao, geomettia dssea) e dinamicos (controle neuromuscular) sobre os musculos esqueléticos que cruzam as articula- Goes. Aestabilidade em relagao as articulagées pode ser definida como o estado em que uma articulago permanece ou rapidamente retorna ao alinhamento inicial através de uma equalizacao de forcas. Bases Neurolégicas do Treinamento Funcional 13 Ambiente (pele, articulagao, musculo, tendao, sistema visual, sistema vestibular) | Percepeao (Receptores) | Vias aferentes | Sistema nervoso central (medula espinal, regides inferiores do cérebro, cértex cerebral) | Vies eferentes | Resposta motora (mdsculos) 4-8, Esquematizagao do sistema sens6rio-motor. Propriocepgao Propriocepcao é um termo utilizado para descrever os complexos processos neurossensoriais e neuromusculares dentro dos sistemas fisiolégicos do organis- mo. Porém, este termo é€ ainda discutido entre pesquisadores, que sugerem 0 ter- mo sensrio-motor como sendo o mais aclequado para descrever esses processos. Relacionada as sensibilidades de posicio e movimentos dos membros, a propriocepcao é um termo mais adequado para descrever muito dos processos fi- siolégicos dentro do sistema sens6rio-motor, no qual esto inclusos as sensibilida- des de posicdo articular, a cinestesia, o equilibrio ¢ a ativagao muscular reflexa, sendo ligada também & locomo¢io. Ou seja, a propriocepsao define apenas 0 mecanismo e 0 processo que ocorrem ao longo da via sensorial (aferente) do siste- ma sensério-motor (Fig. 1-9). ‘Apropriocepgao é um componente chave da estabilidade articular, pelo fato de seus impulsos aferentes indiretamente produzirem e modularem as respostas eferentes que permitem ao sistema neuromuscular manter um equilibrio de esta- bilidade, pois as respostas eferentes para as informacées sensoriais resultam em 14 _Treinamento Funcional Resistido Cértex Cortex ol0r sensorial ‘ormagao reticular Receptor cinestésico Pole. Terminagéio nervosa livre (dor, temperatura) = Corpisculo de Meissner (tato) Corpisculo de Pacini (press&o) Orgao tencinoso de Golgi (tenséo no tendo) Fuso muscular (comprimento da fibra muscular) Fig. 1-9. Caminhos sensoriais dos impulsos propriaceptivas, atividades que afetam o tonus muscular, os programas de execucio motora, as percepgdes sométicas cognitivas e a estabilizacao articular reflexa. As sensibilidades proprioceptivas so mediadas através de mecanorreceptores periféricos localizados nas articulacdes, na pele e nos misculos, informando ao cérebro sobre o estado fisico do corpo, incluindo sensacdes como: 1. comprimen- to dos mtisculos; 2, tensao nos tendoes; 3. angulacao das articulacdes; € 4. pressio profunda na sola dos pés, entre outras. 0 processo pelo qual os sinais proprioceptivos aferentes sao utilizados para controle motor pode ser classificado em feedback e feedforward. © mecanismo de feedback & caracterizado por um reflexo reativo que ocorre através dos Bases Neuroldgicas do Treinamento Funcional 19 ceptores presentes principalmente na jas articulagdes e nos mtisculos. As a- Ges iniciadas do feedback sao amplame joldadas por experiéncias anteriores com o estimulo detectado. O controle do feedback & caracterizado por um processo continuo de informagao aferente, que fornece a resposta motora momento a momento. Jéo mecanismo de feedforward é caracterizado por um controle muscular pré. ativado na antecipacao de cargas ou eventos subseqiientes, tendo pap muito importante neste proceso, ja que ela fornece ao sistema nervoso inform: ‘g0es continuamente atualizadas em relacao 4 posicao € a movimentacao dos seg- ambiente. A informacao aferente duran- te o controle de feedforward € utilizada intermitentemente até que o controle de feedback seja iniciado. Os estimulos somatossensoriais, visual e vestibular fornecem informagoes necessarias para ambas as formas de controle durante as atividades motoras no entanto, as informacies so processadas diferentemente, Classificar uma acao como feedback ou feedforward nao é tao simples, pois algu- mas circunstncias exigem uma combinagio de ambos os controles de feedback ¢ feedforward, tal como durante a manutengao do controle postural. Por esta razao, sugere-se que 0 termo controle de feedforward seja utilizado para descrever as a- Ges que ocorrem sobre a identificaco no inicio, como também os efeitos de um evento ou estimulo. Por outro lado, o controle de feedback deve ser usado para des- crever acdes que ocorrem em resposta & deteccao sensorial de efeitos diretos da chegada do evento ou estimulo do sistema. Os receptores periféricos (aferentes) convertem os est{mulos em sinais neu- rais, que sao transmitidos ao longo das vias aferentes para Varios niveis do SNC, onde sao processados, € a regulacdo dos reflexos e do controle motor ocorre. A propriocepcio é subdividida em duas categorias, a sensibilidade de posigao estatica, conhecida como sensibilidade de posicao, e a sensibilidade de movimen- ° ecida como cinestesia ou propriocepcao dinamica. Estas sensibilidades sao primariamente atribuidas a mecanorreceptores articulares e musculares, com a contribuicao da sensibilidade tatil. Aexecucao de movimentos precisos depende de um conjunto muito amplo de fatores, entre os quais estdo incluidos os aspectos puramente mecanicos, e que podem ser limitados tanto por condigdes genéticas e ambientais, como alimenta- cdo e treinamento. A mecanica dos movimentos, por sua vez, é controlada por cir- cuitos neurais. Mesmo na elaboracao e execucao de movimentos simples e auto- matizados, o sistema nervoso precisa ser informado dos movimentos em cada ins- tante de sua execugao. Para isso, varias modalidades sensoriais sao utilizadas como fontes de informagées para correcao, a todo instante, do plano motor envol- vido na elaboracao e execucdo do movimento. Entre essas modalidades encontram-se a sensibilidade visual, a sensibilidade muscular e articular (que detectam a forca realizada por uma contracao, o compri- mento de um musculo ou a posigao de uma articulagao) e a sensibilidade vestibular 16 Treinamento Funcional Resistido (que detecta a posigéo e o movimento da cabeca), fornecendo informagées essen- ciais para o equilibrio e movimentos de todo o corpo. Propriocepcaio € controle motor O controle neuromuscular é definido como sendo a resposta eferente incons- ciente para um sinal aferente em relacgao a estabilidade articular dinamica. De uma perspectiva da estabilidade articular, 0 cont romuscular é definido como sendo a ativaciio inconsciente das restri¢des dinamicas que ocorrem na prepara- Go e na resposta do movimento articular e que tem como finalidade a manuten- Gao ea res jade articular funcional. Apesar de o controle neuro- muscular estar sujeito, de alguma forma, a todas as atividades motoras, nao é facil- mente separado dos comandos neurais controlados totalmente pelos programas motores. E através dos processos de feedback e feedforward do controle motor que os si- nais proprioceptivos sao utilizados, Contudo, o sistema de feedback, devido a suas caracteristicas, resulta em tempo eletromecanico atrasado, o que torna questiond- vel sua efetividade no processo reativo para o fornecimento de estabilizagao e protecdo articular, sendo mais bem equipados para a manutencdo da postura e a regulacio de movimentos lentos. Jé o sistema de feedfarward é um mediador valio- so dos comandos do controle motor na antecipagao de cargas ou atividades que serao encontradas, pois os mtisculos pré-ativados tornam-se mais rigidos (0 que diminui 0 atraso eletromecanico e facilita efetivamente o feedback neuromuscular dos mecanismos de controle) e reconhecem mais rapidamente as cargas articula- res inesperadas, Este mecanismo implica ainda um modelo interno jé desenvolvido para utilizar informagGes de exposigdes anteriores para condicdes conhecidas. Assim, essas informagoes sao integradas com as informacées proprioceptivas que chegam, sendo responsaveis por gerarem comandos motores pré-programados. Esses dois mecanismos de controle estiio integrados dentro de miiltiplos pro- cessos que contribuem para a ativacdo motora, e que resultam em habilidades motoras coordenadas e estabilizacdo articular. A informao proprioceptiva, uma importante fonte da informacio sensorial, € convertida em cada centro do controle motor (medula espinal, ramo cerebral e cértex cerebral) e areas motoras associadas (cerebelo e ganglios basais), para que um desempenho motor seja eficiente. As 4reas motoras associadas, apesar de nao participarem diretamente do controle motor, so essenciais, por modularem e regularem os comandos motores que ocorrem em cada centro motor. Nos centros motores, organizados de forma hierarquica e paralela, a informacao propriocepti- va é suprida por cada uma dessas dreas, sendo utilizada diferentemente em cada uma delas e sendo submetida & decodificacao e a processamentos para que um desempenho motor ocorra. O cértex somatossensorial, nfvel mais alto da organizacao, processa a informa- so proprioceptiva para forn fornecer consciéncia da posigio ticular e dos movimen- tos articulares, O lado motor do cértex é abastecido com informagées propriocep- Bases Neurologicas do Treinamento Funcional 17 tivas enviadas diretamente da periferia e indiretamente via cerebelo, ganglios basais e cortex somatossensorial. E na area motora do cortex que a informacao proprioceptiva é armazenada para uso futuro de um comando motor descendente. Em nivel espinal, o controle motor integra e processa a informacao proptio- ceptiva inconscientemente para elicitar a ativagao muscular através de caminhos teflexos e redes neurais. As fibras aferentes dos mecanorreceptores periféricos entram na coluna espinal através das rafzes dorsais, onde sofrem bifurcacées, que podem terminar diretamente nos neurénios motores alfa (reflexos monossinapti- cos), ou nos interneurOnios conectados com redes reflexas mais complexas (polis- sinpticos) ou células do trato ascendente. Entre os dois centros do controle motor, o ramo cerebral integra os sinais pro- prioceptivos com informacies aferentes dos centros vestibular e visual e outros impulsos somatossensoriais, para controlar diretamente tarefas automaticas, como 0 equilibrio postural. O cerebelo realiza um papel essencial no controle motor por receber influxos continuos de informagdes de fontes periféricas, areas sensoriais centrais e areas do ‘controle motor. O controle motor efetivo é crucial para que as informacées sensoriais precisas em relagio a condigdes ambientais externas e internas do corpo possam ser reali zadas. Por exemplo, durante um comportamento de meta direcionada, como car- regar uma caixa enquanto se caminha, provisdes devem ser feitas para que adapta- des no programa motor da caminhada ocorram em relacdo a mudangas no ambi- ente externo (como solo irregular) e ambiente interno e a mudanca no centro de massa por causa da adicao de carga, entre outros fatores. Estas provisdes sao esti- muladas através de mecanismos de controle de feedback e feedforward. papel da informacao proprioceptiva no controle motor pode ser dividido da seguinte maneira: 1. na func&o da propriocepgao em relagdo a ambientes externos, onde os programas motores muitas vezes s40 ajustados para acomodar perturba- Ges inesperadas, ou mudangas no ambiente externo, sendo os impulsos visuais a fonte mais associada a esta informac3o. No entanto, hd muitas circunstancias nas quais os impulsos proprioceptivos sao mais rdpidos e mais apurados. As imagens visuais sao utilizadas para criarem um modelo do ambiente no qual o movimento ocorrerd; 2. no planejamento e na modificaco dos comandos motores gerados internamente. Antes e durante um comando motor, 0 sistema de controle motor deve considerar as posicdes atuais e modificadas das articulacoes envolvidas para considerar interacdes mecanicas complexas dentro dos componentes do sistema musculoesquelético. A propriocepcio fornece a melhor informacao do movimento e da posicao dos segmentos necesséria para o sistema de controle motor, forne- cendo muitas das informacées exigidas para resolver tod movimentos (Fig. 1-10). aoa 18 Treinamento Funcional Resistido Fig. 1-10. Caminhos do controle motor. Cerebelo Niveis do controle motor Os componentes motores do sistema sensorio-motor que contribuem para a estabilidade articular dinamica consistem em um eixo central e duas areas associa- das. O eixo central corresponde aos trés niveis do controle motor (medula espinal, ramo cerebral e cértex cerebral), enquanto as duas dreas associadas (cerebelo e ganglios basais) sao responsaveis por modularem e regularem os comandos moto- tes, A informacao sensorial esta sujeita ao planejamento de todo o rendimento motor e é transportada para todos os trés niveis do controle motor. A ativagao dos neurénios motores pode ocorrer em resposta direta a impulsos sensoriais periféri- cos (reflexos) de comandos descendentes iniciados no ramo cerebral ou cortex cerebral, ou ambos. Independentemente da fonte inicial, a ativaco muscular esquelética ocorre através da convergéncia do sinal dentro dos neur6nios motores Bases Neurolégicas do Trcinamento Funcional 19 localizados nos coos ventrais espinais. Ambos os tipos de neurénios motores (neurénios motores alfa que controlam as fibras musculares esqueléticas extrafit- sais e neurdnios motores gama que controlam as fibras musculares intrafusais dos fusos musculares) saem dos coros ventrais espinais. As areas do eixo central sao organizadas de maneira hierdrquica e paralela, A organizagio hierarquica permite as areas motoras inferiores controlarem automa- ticamente os detalhes das atividades motoras comum, enquanto as Areas mais altas podem dedicar recursos para controlar as atividades motoras mais precisas e Ageis. Além disso, os niveis mais altos podem regular a informacio aferente que alcanga a area superior do sistema nervoso central, através dos controles inibitd- ios e facilitadores das cadeias de micleos sensoriais. Através do alinhamento para- lelo, cada centro do controle motor pode emitir, direta e independentemente, comandos motores descendentes contributérios para os neurénios motores. Medula espinal Da medula espinal surgem respostas motoras diretas para a informaciio senso- rial periférica (reflexos) e padrdes elementares de coordenacao motora. Os refle- xos podem ser elicitados da estimulacéio de mecanorreceptores cutaneos, muscu- lares e articulares e podem envolver excitagdes dos neurdnios motores alfa (ct) € gama ()). Ramo cerebral Possuindo o principal circuito que controla 0 equilibrio postural ¢ muitos dos processos dos movimentos automiticos e estereotipados do corpo, 0 ramo cere- bral regula e modula diretamente as atividad s motoras baseadas na integracao da informacao sensorial das fontes visuais, vestibulares e somatossensoriais. Os dois principais caminhos descendentes, os caminhos mediais ¢ laterais, estendem-se do ramo cerebral para as recles neurais da medula espinal e influen- ciam respectivamente os neurénios motores que inervam os misculos axiais ¢ proximais e os mtisculos distais nas extremidades. Além disso, alguns ax6nios dos caminhos mediais fazem sinapses excitat6rias e inibitérias com interneuré- nigs e neurénios motores envolvidos com o movimento e o controle postural. Através da influéncia que exercem nos neurénios motores gama, os caminhos laterais e mediais assistem na manutencao e modulacaio do tonus muscular, que contribui para o controle postural. Cértex cerebral Em geral, o cértex motor ¢ responsavel por iniciar € controlar muitos dos movimentos voluntarios complexos ¢ diretos 20 Treinamento Funcional Resistido Cada area do cértex possui uma fungao diferente, influenciando na diregao dos movimentos, na organizacao dos comandos motores e seqiiéncias complexas da programacao dos movimentos que envolvem grupos de misculos. O principal caminho descendente direto do cértex motor para os neurénios motores alfa e gama é 0 trato corticospinal, que, além de influenciar as funcoes motoras diretamente, afeta a atividade motora indiretamente, através dos cami- nhos descendentes do ramo cerebral. Areas associadas Embora as duas areas associadas (cerebelo ¢ os ganglios basais) nao iniciem independentemente as atividades motoras, elas sfo essenciais para a execugao do controle motor coordenado. te em nivel sub- consciente, realiza o principal papel no plan n ificacao das ativida- des motoras através da comparacao do movimento pretendido e o resultado do movimento. Isto € realizado através do influxo continuo de informacdes das Areas do controle motor e areas sensori trés divis6es funcionais, A primeira divisao recebe imy 2 impulso ve vestibular, direta e indi- retam do labirinto vestibular (receptores semicircular e otélito) envolvido com 0 equilfbrio postural. A segunda divisio cerebral é principalmente responsé- vel] vel pelo planejamento ‘pela i iniciacao de movimentos, especialmente aqueles que exigem movim motores e sensoriais. A terceira divisio, a espinocerebelar, recebe a informagao somatossensorial enviada através dos tratos espinocerebelares ascendentes. Além ‘do impulso somatossensorial, esta divisao do cerebelo também recebe impulso do labirinto vestibular e 6rgaos visuais e auditivos, ajustando o inicio dos movimentos através de conexGes que influenciam os tratos descendentes medial e lateral no ramo cerebral e cortex. Além de controlar os movimentos, o espinocerebelo tam- bém utiliza o impulso somatossensorial para feedback de regulacao do tonus mus- cular. Em relagao ao controle motor, os ganglios basais estao envolvidos com os aspectos cognitivos de ordem mais alta. Uma distingao do cerebelo € que os gan- glios basais recebem impulso de todo o cértex cerebral e no apenas daqueles associados com fingdes motoras e sensoriais. As conexdes corticais de entrada e saida difundidas sugerem que eles estao envolvidos com muitas outras funcoes, € nao apenas do controle motor (Fig. 1-11). @ ImportAncia do controle da estabilidade articular funcional para 0 controle motor Aexecucao de todas as tarefas motoras fundamentais sao eventos particulares normalmente sutis, que sao visados na preparacao, na manutengio e na restaura- cao darestabilidade de todo 0 corpo (estabilidade postural) e dos segmentos (esta- bilidade articular). Em relacao a estabilidade articular, estas aces representam o Bases Neuroldgicas do Treivamento Funcional 21 Mecanorreceptores Niveis do controle motor Aferentes periféricos + Articulagao *Musculo Reflexos espinais, * Tendo ae Programacao : Receptores visuais|—>[_ SNC Se cognitive, | > LMéisculo Equillbrio do Receptores ramo cerebral vestibulares see Fig. 1-11. Principais fungdes dos diferentes niveis do controle motor no sistema nervoso. controle neuromuscular, em que a informacao proprioceptiva é essencial para a manutengao de ambos os tipos de estabilidade. A rigidez muscular é definida como sendo a relacao entre a proporcao de mudanga na forca por mudanca no comprimento do mtisculo. A rigidez articular envolve a contribuicao de todas as estruturas localizadas dentro e sobre a articul a0 (muisculos, tendoes, pele, tecidos subcutaneos, fascia, ligamentos, capsula arti- ular e cartilagem). As estruturas musculares, ligamentosas, articulares e capsula- Fes que atravessam as articulagdes contribuem igualmente de modo passivo paraa estabilidade articular. A contragao muscular voluntaria de um grupo muscular aumenta diretamente a rigidez articular. A co-contrago de misculos antagonistas aumenta a rigidez articular por aumentar, através de forcas translatérias, a com- pressao entre as superficies articulares, Os mecanorreceptores articulares e ligamentares sdo importantes para 0 con- trole sens6rio-motor sobre a estabilidade articular dinamica. As alteracdes na seqtiéncia de ativagiio muscular parecem ocorrer nao apenas nas articulagdes envolvidas, mas também nas articulagdes distais e proximais. Assim, a propriocep¢ao é fundamental para o controle sensdrio-motor sobre a estabilidade articular. Nos niveis motores mais altos, os receptores articulares podem realizar papéis essenciais no desenvolvimento de adaptacées de progra- mas motores para compensar a perda de estabilidade articular dinamica. * Aestabilidade articular funcional é determinada pela it res, incluindo a Testrigao ) passiva causada pelos ligamentos ¢ outras ira aulares, a geometria articular, a friccao entre as superficies das cartilagens e a car- a na articulacao causada por forcas de compressao resultantes da gravidade e a- 40 muscular na articulacao, De todos os fatores que contribuem para a estabilida- de articular funcional, a carga imposta nas articulacdes é uma das mais importan- 22 Treinamento Funcional Resistido tes. A contribuicado para a carga imposta nas articulagdes causadas por contragdes dos misculos ao redor € consideravel e causa um aumento na rigidez articular. Apesar do fato de os ligamentos serem elementos passivos opostos e limitan- tes de movimentos articulares, acredita-se que as propriedades mecanicas dos ligamentos nao sejam apenas cruciais para a estabilidade articular passiva, mas também responsaveis primarias para a estabilidade articular funcional. No entanto, esta visvio é desprezada quando comparada a importancia dos miisculos no contro- le da estabilidade articular, pois o estado de rigidez muscular capaz de mudar, na hora do deslocamento para um grau considerdvel, determinaré a carga na articula- G40 e, portanto, a real estabilidade desta. PROPRIOCEPTORES Os proprioceptores sao tipos de Orgaos sensoriais localizados nos musculos, articulacdes, tendoes, li tos e pele. A funcio dos proprioceptores é a de con- duzir informagGes sensoriais a partir destas areas para o SNC. Esses 6rgios estao relacionados com a cinestesia, que, em geral, nos diz in- conscientemente onde as partes do corpo humano estao em relacao ao meio ambi- ente € nos ajuda a manter a postura corporal e o ténus muscular normal. Existem cinco tipos de receptores: os termorreceptores, os nociceptores, os fotorreceptores, os quimiorreceptores @ os mecanorreceptores. orreceptores sto drgaos terminais especializados (células net iais) que convertem um estimulo fisico em um sinal neurolégico que pode ser decifrado pelo SNC para modular a posicao e o movimento articular. Esse tipo de receptor possui papéis importantes na sensibilidade de posicao articular, como ‘também no controle do tonus muscular e na geracdo de resposta reflexa. ‘Os mecanorreceptores encontrados nos musculos, tendées, ligamentos e cép- sulas articulares, e responsdveis por transmitirem as informagées proprioceptivas, sao considerados fontes primdrias, enquanto os mecanorreceptores localizados nos tecidos subcutaneos e camadas fasciais associadas com as sensacdes tateis sio considerados fontes suplementares. O processo de transmisstio dos impulsos mecanicos ocorre nos tecidos hospe- deiros desses receptores de maneira similar, porém cada tipo morfoldgico desses receptores possui algum grau de especificidade para a modalidade sensorial e amplitude do estimulo para o qual eles respondem, respondendo assim de formas diferentes. Atualmente, pensa-se que os mecanorreceptores mais importantes so os receptores cutaneos, articulares, musculares e ligamentares. Agrupados em clas- ses mais amplas, os receptores articulares e musculares sao considerados as duas classes mais importantes na estabilidade articular, contribuindo para a sensibilida- de e a posicao articular. Porém, a importancia dos receptores tateis nao deve ser descartada, pois eles fornecem o feedback sensorial sobre estimulos que sao aplica- dos na superficie do corpo, colaborando também com o controle postural. Eles Bases Neuroldgicas do Treinamento Funcional 23 detectam 0 tato, a pressao, o estiramento ou outros tipos de deformagées da pele e dos tecidos profundos. Os receptores tateis podem ser encontrados tanto na superficie da pele quan- to nos tecidos subcutaneos. Na superficie, os receptores encontrados sao os cor- ptisculos de Meissner e os corpiisculos de Merkel. Nos tecidos mais profundos, si0 encontrados os corptisculos de Pacini e Ruffini. Os receptores articulares sio localizados dentro da capsula articular, dos liga- mentos e de estruturas intra-articulares, tais como 0 menisco, € transmitem as informacGes ao sistema nervoso central acerca do angulo articular, da aceleracao da articulagao e do grau de deformacao produzido pela pressao. Os receptores mais comuns nessas estruturas sao os corpuisculos de Pacini e os orgaos terminais de Ruffini. Nos mtisculos, os receptores encontrados sao os fusos musculares (ou fusos neuromusculares) e os 6rgaos tendinosos de Golgi, que sao importantes para a proptiocepcao e o controle motor. @ Receprores articulares Receprtores terminais de Ruffini As terminagdes de Ruffini sao encontradas em muitas estruturas articulares, estando pres ide so maioria nas camadas superficiais, ¢ podem ser encontradas ‘também nos ligamentos e meniscos. Varios nomes sao en- contrados para este receptor, tais como corpos de Golgi-Mazzoni, corptisculos de Meissner, cestas terminais e outros. Esses receptores possuem um baixo limiar para estresse mecdnico e uma adaptacao lenta, sinalizando, portanto, uma posi¢ao articular estatica, pressao ticular e a amplitude e velocidade constante de rota¢ao articul has suas caracteristicas, eles s40 considerados receptores estaticos e dinamicos. ligamentos, meniscos e tecid 8 sad jposos extra e intra-articulares, sao mais { ft qiientes no lado tendinoso do que no lado muscular. Como as terminagées de Ruffini, muitas variedades morfolgicas do corptiscu- lo de Pacini sao descritas e muitos nomes diferentes sao utilizados para esse tipo de receptor, como por exemplo corpiisculos de Krause, corptisculos de Vater- Pacini, corptisculos simples de Pacini, corpos de Golgi-Mazzoni e corptisculos bul- - bosos. Os corpiisculos de Pacini demonstram um baixo limiar para estresse mecanico e uma adaptacao rapida, ao contrario das terminacées de Ruffini. Assim, compor- ‘tam-se como mecanorreceptores dindmicos, e sao inativos durante condigoes es- taticas e rotacao articular em velocidade constante, porém muito sensiveis as ace- leracdes e desaceleracde 24 — Treinamento Funcional Resistido m Receptores musculares Orgies tendinosos de Golgi (OTG) Estes 6rgios esto localizados préximos aos ligamentos das fibras tendineas com as fibras musculares, e sao sensiveis 4 tensdo no complexo msculo-tendio, operando como um medidor de tensao. Sua sensibilidade é tio grande que podem responder a contracao de uma simples fibra muscular. ‘Através de cada OTG passa um pequeno ramo de fibras tendineas musculares destinadas as fibras musculares. Este agrupamento em série, juntamente com a sensibilidade dinamica alta exibida pelas terminacdes sensoriais, permite ao OTG fornecer ao SNC o feedback em relacao & tens3o muscular. A funcdo priméria destes 6rgaos na sinalizacdo da tensdo muscular ativa (tensao desenvolvida durante contragao) é mais significativa que na tensao passiva (tensao desenvolvida durante o estiramento muscular passivo) do misculo. Com as caracteristicas de um alto limiar para estimulos mecanicos e uma adapta- do lenta, os érgios tendinosos de Golgi so completamente inativos em articulagées imveis, E devido ao seu alto limiar estes receptores respondem aos extremos de amplitude de movimentos normais das articulacOes. Quando estimulados, inibem a contracao dos musculos agonistas e excitam os musculos antagonistas. Fusos musculares Situados entre as fibras musculares esqueléticas regulares, conhecidas como fibras extrafusais, o fuso muscular compreende de 4 a 20 pequenas fibras muscula- res especializadas, denominadas fibras intrafusais, e terminaces nervosas senso! ais e motoras associadas com estas fibras. Estas fibras sao inervadas por diferentes neurénios, sendo as fibras extrafusais inervadas por neurdnios motores alfa e as fibras intrafusais (fuso muscular) inervadas por neurOnios motores gama. Embora as dreas centrais das fibras musculares intrafusais no possuam ele- mentos contrateis, as areas periféricas possuem e sao inervadas independente- mente. A ativacdo dos elementos contrateis periféricos (através dos neurénios motores gama) estira a regiao central que contém os receptores sensoriais de ambas as terminacdes e resulta em um aumento na taxa de disparos da terminacdo sensorial, ocorrendo um aumento na sensibilidade do fuso muscular para mudan- ¢as no comprimento. As informacoes obtidas dos fusos musculares informam ao cérebro sobre o exato comprimento e 0 estado contratil do muisculo, como também sobre a fre ci elocidade na qual estao mudando, sendo, no entanto, informacées 5 para a manutencao da postura e do ténus muscular. Em nivel espinal, varios receptores periféricos, tais como os da pele, os recep- tores articulares e os quimiorreceptores articulares influenciam fortemente a ativi dade do sistema neurénio motor gama e, portanto, o fuso muscular no forneci- mento de informagées aferentes. Bases Neurolégicas do Treinamento Funcional 25 Os fusos musculares sao localizados paralelamente as fibras musculares regu- lares e respondem ao estiramento e & velocidade de estiramento do miisculo e possuindo um tempo lento de adaptacao aos estimulos. @ Receprores tATEis Os corptisculos de Meissner e de Merkel, encontrados na superficie do corpo, so respectivamente receptores de adaptacao répida e lenta e organizam-se em campos receptivos pequenos. Ambos esto associados a estruturas acess6rias que Ihes conferem suas caracterfsticas funcionais. No tecido subcuténeo, encontram-se os corptisculos de Pacini e Ruffini, tam- bém receptores de adaptacao répida e lenta, respectivamente. Porém, esto organi- zados em campos receptivos relativamente maiores que os receptores superficiais, As catacteristicas funcionais e morfoldgicas desses conjuntos de receptores definem suas habilidades quanto & resolucdo espacial e temporal dos estimulos téteis. Enquanto a resolucao espacial esta associada principalmente ao tamanho dos campos receptivos, a resolucao temporal associa-se ao curso temporal de adaptagao do receptor. ae - Fato associado a um tempo de adaptacao mais curto para os receptores de Meissner e Pacini é que séo mais sensjveis a estimulos mecanicos vibrat6rios no entanto, o corptisculo de Meissner permite uma melhor localizacao do estimulo, enquanto 0 corptisculo de Pacini informa uma sensac&o difusa originada em tecidos mais profundos. Os diferentes tipos de receptores sensoriais esto repre- sentados na Fig, 1-12. SENSIBILIDADE DIFERENCIAL DOS RECEPTORES Cada um dos principais tipos de sensagdes, como dor, tato, visdo e audicao, é considerado uma modalidade de sensacao. As fibras nervosas que inervam os recep- tores sao especificas, sendo capazes de transmitir apenas um tipo de sensacao. Isso ocorre porque cada feixe nervoso termina num ponto especifico do SNC, € 0 tipo de sensagao sentida quando uma fibra € estimulada é determinado por essa drea especifica do sistema nervoso (ver Sistema Nervoso, no comeso deste capitulo) para a qual a fibra se dirige. Assim, cada tipo de receptor é altamente sensfvel a um determinado estimulo para o qual é adequado e, portanto, é quase insensivel as intensidades normais de outros tipos de estimulos sensoriais. a ADAPTACAO DOS RECEPTORES SENSORIAIS Dois mecanismos gerais de adaptacao so conhecidos para os mecanorrecep- tgres. Um ocorre através de reajustamentos na estrutura do préprio receptor e 0 outro decorre de uma acomodacao na fibra nervosa terminal. pen “No primeiro mecanismo, a estrutura corpuscular se adapta muito rapidamente a deformagao do tecido. No segundo, a adaptago ocorre de maneira mais lenta que no primeiro mecanismo. Ele é caracterizado pela progressiva acomodacao da fibra a um estimulo, que provavelmente ocorre devido a inativagdo dos canais de 26 Treinamento Funcional Resistido Fig. 1-12. Tipos de receptores sensors. Receptor de Pélo Corpuisculo extremidade expandida —tatil de Pacini rade terminal Aparetho tendinoso Fuso de Ruffini de Golgi neuromuscular Corpisculo _Terminagdes Corpisculo de Meissner nervosasiivres de Krause s6dio na iiembrana da fibra nervosa, o que significa que 0 proprio fluxo da corren- te pelos canais faz com que eles se fechem gradualmente. A adaptacao dos receptores é uma propriedade individual de cada tipo de receptor, da mesma maneii o desenvolvimento de um potencial do receptor. Uma caracteristica especial de todos os receptores sensori e ade is € que se adap- tam, parcial ou completamente, aos seus estimulos apés um perfodo de tempo, que pode variar de segundos a dias. ste E provavel que todos os mecanorreceptores se adaptem por completo, mas alguns levam horas ou dias para se adaptarem, e, devido a constante mudanga de estado do corpo humano, isso no ocorre, e os receptores sio denominados, entao, receptores nao-adaptaveis. AFig. 1-13 mostra que corptisculo de Pacini se adapta com extrema rapidez, enquanto os receptores das capsulas articulares e dos fusos musculares se adap- tam muito lentamente. E possivel observar também que a resposta inicial a um estimulo tem uma freqiiéncia inicial de impulso muito alta, que diminui progressi- vamente, até que por fim muitos deles praticamente nao respondam mais. Bases Neuroldgicas do Treivamento Funcional 27 Fig, 1-13. Adaptacéo dos 220 diferentes tipos de receptores sensoriais. 200 fi © seo) Receptores das cdpsulas articulares g Fuso neuromuscular $ 100 E 3 = soll 5\ S on Opel Bh ea ears. (Bi a8 wnattiye el Segundos SISTEMA VESTIBULAR A sensibilidade vestibular pode ser considerada uma modalidade propriocep- tiva devido & sua inter-relacao com as suas aferéncias sensoriais originadas nos miisculos e nas articulagSes quanto & organizacao da motricidade. sistema vestibular fornece informacdes sobre a posigao, movimentos linea- res e movimentos angulares da cabeca, Essas informagdes so integradas com aquelas fornecidas pelos misculos e articulagdes, para que posturas adequadas e movimentos harmoniosos possam ser executados. A partir das informagGes vesti- bulares, movimentos oculares compensatérios ocorrem, constituindo uma série de reflexos conhecidos como reflexos vestibulooculares. Um conjunto de cavidades localizadas na porcao petrosa do osso temporal abriga as estruturas auditivas e vestibulares, e € conhecido como labirinto ésseo. No seu interior encontram-se os labirintos membranosos, compostos pelos orgios otoliticos (sdculo e utriculo) e os canais semicirculares, que sao responsdveis res- Pectivamente pela detecc&o da posicao estatica e de movimentos lineares e pela deteccao de movimentos rotacionais da cabeca. Dois tipos de células ciliadas sao responsaveis pelo processo de transducao sensorial na periferia vestibular: sao as células do tipo Ie do tipo Il. Elas se asseme- Iham quanto a organizacao morfoldgica e ao papel funcional desses cilios, que so polarizados. Em geral, eles esto imersos em algum tipo de substrato, que forne- ceré um meio onde a inércia favorece sua deflexao, iniciando 0 processo de transdugdo. As células do tipo I sao mais sensiveis do que as células do tipo Il, sendo iner- vadas por fibras que apresentam um padrao de descarga mais irregular, em que as adaptacdes so mais rdpidas a estimulos continuos e sendo mais adequadas & deteccao de velocidades a taxas de variagdes. Ja as células do tipo Il sao inerva- das por fibras com padroes de descarga mais regulares, respondendo a estimulos tdnicos. 28 Treinamento Funcional Resistido O aparelho vestibular é muito sensivel aos estimulos, ¢ isso ocorre devido a presenca de uma freqiiéncia basal de descarga nas fibras vestibulares que pode ser modulada finamente, e faz com que o limiar para a deteccao seja de 0,19? através dos canais semicirculares, enquanto os érgos otoliticos podem detectar acelera- Ges lineares de alguns décimos de milésimos da aceleracao da gravidade. No ganglio de Scarpa localizam-se os corpos celulares das fibras aferentes que inervam 0 aparelho vestibular. Seus prolongamentos centrais juntam-se aos ax6- nios originados no ganglio espiral da céclea e constituem o VII par craniano, o ner- vo vestibulococlear. Sua por¢ao vestibular projeta-se aos nticleos vestibulares, que ocupam uma extensa porgio do tronco cerebral, e esse conjunto de nticleos é composto pelos nticleos vestibulares lateral, inferior, medial e superior. Jé os pro- longamentos peri vestibula- res do labirinto. Dois sistemas de grande importancia para a integragao sensorio-motora se destacam dentro das conexGes vestibulares: os circuitos vestibulooculares e os cir- cuitos vestibulospinais. ricos dos neuronios bipolares inervam as estrutur Circuitos vestibulooculares Os movimentos oculares podem ser iniciados e controlados por subsistemas neurais que podem ser de natureza reflexa ou voluntaria. A informacao visual exige uma estabilidade minima da imagem que é projetada na retina para que seu proces- samento seja adequado. Os reflexos vestibulooculares so os responsdveis na manutencao desta estabilidade. 0 conjunto de reflexos ocorre devido & movimenta- Gao da cabega que tenderia a deslocar a imagem projetada na retina. Assim, mo mentos oculares compensatérios sao deflagrados a partir de informagdes vestibula- res, e os olhos movimentam-se de forma a anular 0 deslocamento da imagem que seria provocado. Estas reacées ocorrem através dos niicleos vestibulares medial e superior, que recebem as aferéncias principalmente dos canais semicirculares, e que, por intermédio do fascculo longitudinal medial, projetam-se aos nticleos oculomo- tores, onde os motoneurénios inervam a musculatura extrinseca do olho. @ Circuitos vestibulospinais As aferéncias do utriculo e dos canais semicirculares sao enviadas para a por- cao ventral do nticleo vestibular lateral e contribuem também para os circuitos yestibulooculares. As porcées dorsais deste nticleo recebem aferéncias do cerebe- lo e da medula espinal e enviam projecées ipsilaterais a0 corno anterior da medula espinal, por intermédio do trato vestibulospinal lateral. Os motoneur6nios alfa e gama que inervam os mtisculos dos membros, e exercem uma excitagao tonica sobre 0s miisculos extensores dos membros inferiores que contribuem para a manutencio de uma postura fundamental, sofrem um efeito facilitador dessas projecdes. As projecdes do nticleo vestibular inferior incluem os circuitos ves- tibulospinal e a integracao das aferéncias vestibulares e cerebelares. Apesar de uma pequena porcentagem das aferéncias vestibulares alcancar o niicleo ventral Bases Neuroldgicas do Treinamento Funcional 29 posterior do télamo e projetar-se para cOrtex somatossensorial, essa projecdo estd envolvida na percepgao consciente de determinados aspectos da posicao dos movimentos do corpo processados pelo sistema vestibular. O SISTEMA VISUAL principal informacao sensorial que guia a selecao e 0 controle dos movimen- tos do corpo humano provém da visdo e da propriocepeao. A informacao visual € derivada dos receptores sensiveis & luz (fotorreceptores) localizados dentro da retina do olho. Nossa rica percepco visual do ambiente que nos cerca é conseguida através de um complexo processo neural cujo detalhamento nao é pertinente ao assunto tratado neste livro. Porém, alguns aspectos da visao relacionados ao controle motor devem ser entendidos para qué se entenda por que o ato de fechar os olhos durante um exercicio afeta os mecanismos de propriocep¢ao e controle neuro- muscular. Os impulsos nervosos provenientes dos fotorreceptores do olho passam por varias outras camadas de interneurdnios dentro da retina antes de serem enviados ao cérebro através do nervo 6tico. Os sinais visuais da retina sio levados através do nervo 6tico através de dois caminhos principais distintos tanto em estrutura como em fungao, Setenta por cento das conexdes do netvo ético vao para uma drea do c6r- tex visual (localizado na parte posterior do cérebro), Este caminho, responsdvel pela visao focal, é especializado em reconhecer objetos, distinguir os detalhes e assistir no direto controle visual de movimentos finos e precisos. A maioria das fibras nervosas remanescentes do nervo ético (cerca de trinta Por cento) termina em outra area do cérebro chamada de coliculo superior. Este caminho, que contribui com a visao ambiente, recebe informacées de toda a reti- na, incluindo a retina periférica, e é especializado em proporcionar informacao sobre a localizacao de objetos em movimento dentro de todo 0 campo visual, Estas fibras também sao responsdveis por todas as informacdes que chegam ao cérebro sobre a posicdo do corpo no espaco e o padrao de movimentacao do corpo pelo ambiente. Algumas pesqui red mecanismos de propriocep¢ao com relacao ao equilibrio po: conseqiiente controle motor. Em outras palavras, em seres humanos qualquer conflito intersen- sorial € sempre resolvido em favor da visdo, que é referida como modalidade sen- sorial dominante. O conhecimento desta hierarquia implica duas conclusées com relacao ao uso da visao durante os exercicios: 1. Ao fechar os olhos durante um exercicio, toda a interag3o do corpo humano com © meio externo para o controle motor passa a ser feita através dos mecanorreceptores e do sistema vestibular. 2. Exercicios que exigem equilibrio com acompanhamento visual da movi- mentacao de um membro (rastreamento visual) favorecem a aco dos meca- 30 _ Treinamento Funcional Resistido norreceptores e do sistema vestibular. Isto acontece porque, mesmo com os olhos abertos, as mudancas rapicas clo campo visual favorecem a acao dos outros proprioceptores para um perfeito controle neuromuscular e consegiiente manutencao de equilfbrio durante o exercicio. EQUILIBRIO E EQUILIBRIO POSTURAL 0 equilibrio é 0 processo de manter o centro de gravidade (CG) dentro da base de suporte do corpo. No entanto, equilibrio postural é um termo mais amplo que descreve 0 estado de equilibrio de forcas e acdes de momento no centro de massa a, que se move uniforme e minimamente (desvio postural), quando este este 0 € realizado em toro do ponto de equilibrio do corpo, ~Amanutencao do equilibrio postural requer a deteccao de movimentos corpo- rais, a integragio da informagao sensorio-motora dentro do SNC e a execugio de respostas musculoesqueléticas apropriadas. Ambos os componentes sensoriais e motores esto envolvidos no sistema de controle postural, que se utiliza de pro- cessos complexos para realizar tais tarefas. O sistema de controle postural opera como um circuito de controle entre as fontes sensérias, SNC e o sistema musculoesquelético. A posicao do corpo em relacao a gravidade e a0 ambiente ao redor é determi- nada por combinagao de impulsos visuais, vestibulares e somatossensoriais. Os impulsos somatossensoriais fornecem informacoes em relagao 4 orientacao entre as partes do corpo e entre 0 corpo e a superficie de suporte. ‘Avisao realiza um papel importante na manutengao do equilibrio, orientando os olhos e a cabeca em relacio aos objetos ao redor. O sistema vestibular supre informacdes que medem as aceleracdes gravitacionais, lineares ¢ angulares da cabega no espaco, mas nao fornecem orientagdes em relacao a objetos externos, realizando um pequeno papel na manutencao do equilibrio quando os sistemas visual e somatossensorial fornecem informacoes precisas. Dois componentes esto envolvidos na manutengao de uma postura quando ha © envolvimento do SNC. O primeiro componente, a organizagio somatossensorial, envolve os processos que determinam 0 tempo, a diregao e a amplitude de agoes posturais baseadas na informacao aferente. O segundo componente, a coordenacio muscular, descreve a geracdo e a execugado de respostas motoras em relagdo & seqiiéncia temporal e & distribuicao da atividade contratil entre os misculos. m Contribuicio dos componentes somatossensoriais individuais Ainda é motivo de pesquisa e discussdo a importancia da funcao que os recep- tores cutaneos, articulares e musculares exercem na manutengao do equilibrio, porém sabe-se que toda contribuicdo € significativa. Um desvio postural durante uma postura estatica origina uma localizacao do centro de pressao (CP) para uma mudanca relativa da base de suporte. A magnitude ea distribuicdo destas mudangas sao detectadas pelos receptores cutaneos planta- Bases Neuroldgicas do Treinamento Funcional 1 res, que, além de detectarem o desvio postural durante condigdes estaticas, tém fangao significativa durante movimentos funcionais e dinamicos, Os receptores aferentes cutaneos influenciam os reflexos motores segmentais ¢ os comandos motores voluntarios modificados, Os mecanorreceptores musculares (fuso muscular e érgao tendinoso de Golgi) so capazes de fornecer informacdes somatossensoriais suficientes para que uma Posicao estavel seja mantida. @ Lesao c eguilibrio Os mecanismos proprioceptivos, necessdrios para a manutencao do préprio equilfbrio, podem ser prejudicados na presenca de ligamentos estirados e danifica- dos, por nao fornecerem um feedback neural adequado em uma extremidade lesio- nada. A falta do feedback proprioceptivo resultante de lesdes pode ocasionar uma carga inapropriada e excessiva em uma articulacdo. Embora a presenca de uma eso capsular possa interferir na transmissio dos impulsos aferentes de uma articulacdo, um efeito mais importante pode ser a alteragao do cédigo neural afe- rente que é convertido no SNC. A excitacao reflexa diminuid urOnios moto- res pode resultar ou de um impulso proprioceptivo diminuido para o SNC ou entao de nto na ativacao de interneurdnios dentro da coluna espinal. Estes fato- res podem direcionar para a progressiva degeneracdo da articulacao e déficits con- tinuos na coordenacdo e no equilibrio dinamico da articulacao. Bases BiomecAnicas do TREINAMENTO FUNCional Ha varios principios da biomecanica muito importantes para serem incorpora- dos no conhecimento do profissional que deseja utilizar o treinamento funcional com eficiéncia. O conhecimento destes princfpios facilita a prescricao e a utilizaco segura dos exercicios, além de aumentar exponencialmente a quantidade de recur- S05 ¢ varidveis que o profissional passa a “enxergar” em cada exercicio. A principal intengio da revisdo destes principios é incrementar a capacidade do profissional em utilizé-los para aumentar ou diminuir a estabilidade ou exigéncia de equilibrio durante os exercicios, pois a esséncia do treinamento funcional reside nos aspec- tos neurolégicos que permitem ao nosso corpo manter ou restabelecer a postura e/ou a estabilidade nos mais variados movimentos do dia-a-dia. PLANOS E EIXOS DE MOVIMENTO Os planos e eixos so muito utilizados em biomecanica e cinesiologia para localizar os movimentos do corpo humano no espaco. No treinamento funcional, a utilizagiio deste conhecimento facilita a visualizacao de cada articulacdo do corpo em relagao ao espaco, o que possibilita a percepcao de varios aspectos dos exerci- cios, como o nivel de exigéncia de equilibrio, por exemplo. Qs planos de movimento sao chamados de transversal, sagital e frontal. Os movimentos cle flexao, extenso e hiperextensio, por exemplo, sao realiza- dos no plano sagital e possuem um eixo frontal, + Aflexao lateral, adugao e abdugiio sao realizadas no plano frontal (ou coronal) e sobre 0 eixo sagital. A maioria dos movimentos de rotagao medial e lateral é realizada no plano transversal e sobre o eixo longitudinal (ou vertical) (Fig. 2-1). B 34 Treinamento Funcional Resistido Eixo longitudinal Fig. 2-1. Planos € eixos de movimento. (A) Plano transversal (corta o corpo em metades: superior e inferior). (B) Plano frontal (corta 0 corpo em metades: anterior e posterior) (C) Plano sagital (corta 0 corpo em metades: direita e esquerda). Um exemplo de como o conhecimento dos planos ¢ eixos citados acima pode auxiliar na percepcao da exigéncia do equilibrio pode ser visto na Fig. 2-2A a F. Fica facil perceber, pelo exemplo, que as alteracdes articulares em relacao a planos distintos podem trazer exigéncias de equilibrio em diferentes direcdes, € isto produz exigéncias de contracdes de mtisculos diferentes para cada variacdo de movimento. Assim, € possivel prescrever 0 mesmo exercicio com énfase em gru- pos musculares diferentes utilizando o conhecimento das variacées de movimen- tos em relagao aos planos e eixos de movimento. O que facilita ainda mais 0 enten- dimento é 0 conhecimento de como a atuagio da forca da gravidade e a localizacao do centro de gravidade do nosso corpo, ou de parte dele, pode contribuir para 0 aumento ou diminuicao da estabilidade e, portanto, da exigéncia de equilibrio durante um exercicio. m Forca da Gravidade Gravidade 6 a atragdo que a massa da terra exerce sobre outros objetos e que, na superficie terrestre, tem uma magnitude média de 9,8 mis’. A forca da gravidade dé peso aos objetos de acordo com a formula a seguir: Peso = Massa x Aceleracio da gravidade ou P = mx g Bases BiomecAnicas do Treinamento Funcional 79 Fig. 2-2. Vista lateral do exercicio de ponte com movimento alternado de braco e pera. (A) Posicio inicial. (B) Posicac final. (C) Diminuigdo da base de suporte (entre a mao esquerda e 0 joelho direito) no plano sagital. A exigéncia de equilirio aumenta neste mesmo plano, ou seja, para todas as articulacdes no sentido da flexdo ou extensao, (D) Vista anterior do mesmo exercicio. (E) Diminuicao da base de suporte (entre a mao esquerda e 0 joelho direito) no plano frontal. As exigéncias de equilibria aumentam no sentido deste plano, ou seja, as articulagées envolvidas no movimento ficam mais instaveis, no sentido da abducao ou adugao e a coluna no sentido da rotagio para a direita ou ‘esquerda, conforme os membros que se movimentam. (F) © mesmo exercicio com vista lateral. Neste exemplo ha uma grande aproximacao enire a mao e o joelho contralateral tanto no plano sagital como no frontal. Esta é a variaggo que produz a maior exigéncia de equilibrio por parte do executante e, portanto, do ponto de vista biomecéinico, a mais dificil de ser executada. Agravidade age em todos os pontos de um objeto ou segmento de um objeto. Seu ponto de aplicacao é dado como centro de gravidade do objeto ou segmento, O centro de gravidade é um ponto hipotético no qual a massa parece estar concen- trada e o ponto em que a forca da gravidade parece agir. Num objeto simétrico, 0 centro de gravidade (CG) esté localizado no centro geométrico clo objeto. Num objeto assimétrico 0 CG esta localizado em direcao a extremidade mais pesada, num ponto em que a massa esta igualmente distribuida em volta. 36 Treinamento Funcional Resistido m@ Centro de Gravidade No corpo kumano Quando todos os segmentos do corpo esto combinados ¢ 0 corpo é dado como um tinico sélido objeto na posigio anatémica, o centro de gravidade fica apro- ximadamente anterior & segunda vértebra sacral. A posicao precisa do CG para uma pessoa depende de suas proporgies e tem a magnitude igual ao peso da mesma. Em outras posigdes do corpo humano o CG altera. A quantidade de mudanca no CG depende do grau de desproporgao em que o segmento se desloca (Fig. 2-3). Fig. 2-3. Centro de gravidade do corpo humano em duas posicdes. Note que para cada posicéo o centro de gravidade esta situado em um local diferente. Le m@ Centros de qravidade seqmentados (Fig. 2-4A a D) A forca da gravidade age em cada segmento do corpo, que tem, assim, seu préprio centro de gravidade (Fig. 2-4A). Se dois ou mais segmentos se movimen- tam juntos, como um segmento tinico, a gravidade agindo nestes segmentos pode ser representada por um Gnico CG (Fig. 2-4B). m Relacao entre estabilidade & centro de qravidade Para a manutencao do equilfbrio do corpo humano, a linha de gravidade deve estar, sempre, em cima da base de suporte (que no corpo humano sao os pés). Quando o corpo se movimenta e 0 centro de gravidade se move para fora da base de suporte, o individuo perde o equilibrio. Como a linha de acao da gravidade (LG), que mostra a atuacao da forca da gra- vidade sobre o centro de gravidade (e tem sempre uma orientacao vertical em dire- do ao centro da Terra independente da posicao do corpo no espaco), deve cair Bases BiomecAnicas do Treinamento Funcional 37 Thi ea ee Ps eS y GA oGM i cGB CGAM 6 D nov /cGAM CGBAM }— = CGBAM CGB Fig. 2-4. (A a D) Exemplo da localizacao do centro de gravidade em segmentos especificos do corpo humana e em varios segmentos considerados como uma énica alavanca, CGB= Centro de gravidade do braco; CGA = centro de gravidade do antebraco; CGM = centro de gravidade da mao. sempre sobre a base de suporte para estabilidade ou equilibrio, dois fatores adi- cionais devem ser considerados para se analisar o grau de estabilidade ou instabili- dade do corpo durante um exercicio: O tamanho da base de suporte durante um determinado exereicio: quanto maior a base de suporte do corpo humano durante um exercicio, maior a estabilidade e vice-versa. Um grande afastamento lateral dos pés (Fig. 2-5A) aumenta a estabilidade do corpo humano para os deslocamentos do centro de gravidade do corpo no sentido do plano frontal com eixo sagital. De maneira contraria, a aproximacao dos pés, como mostra a Fig. 2-SB, diminui a base de suporte do corpo no plano frontal, diminuindo a estabilidade (ou aumentando a exigéncia de equilibrio) neste plano. A proximidade do CG da base de suporte: quanto mais préximo do solo 0 centro de gravidade do corpo durante um determinado exercicio, maior é a estabilidade deste corpo. Ou seja, com o centro de gravidade préximo ao solo, grandes amplitudes de movimentos so permitidas sem que o centro de gravidade caia fora da base de suporte. Um exemplo mais facil de ser vi- sualizado € 0 brinquedo “Joao Bobo” (Fig. 2-6), Este brinquedo possui o cen- tro de gravidade muito préximo ao solo e, por isso, nao perce a estabilida- de, independentemente da posi¢ao ou da amplitude em que é empurrado. 38 Treinamento Funcional Resistido Fig. 2-5. (A) Individuo em pé com grande afastamento lateral realizando uma grande flexdo lateral e (B) com pequeno afastamento realizando ura menor flexao lateral. A diminuigao da base de suparte no plano frontal limita a amplitude de flexao lateral da coluna por diminuir o percurso pelo qual o centro de gravidade do corpo pode se deslacar sem que 0 individuo perca 0 equilibrio. Posigéio 2 Fig. 2-6, "Joo Bobo". Note que independente da posi¢ao do brinquedo a linha de ago do centro de gravidade sempre permanece dentro da base de suporte, Bases BiomecAnicas do Treinamento Funcional 39 @ Relocalizagko do centro de Gravidade A localizacao do CG do corpo humano nao depende somente da disposicio dos segmentos do corpo no espaco, mas também da distribuigdo da massa do corpo. Toda vez que é adicionada uma massa externa a0 nosso corpo 0 novo CG, devido & massa adicionada, se desloca em direcao ao peso adicional e o desloca- mento é proporcional ao peso adicionado. Uma mulher gravida, por exemplo, pos- sui o centro de gravidade a frente da posicao habitual devido ao aumento da massa na regio anterior do abdome ocasionado pelo peso do bebé. Num exercicio qual- quer, sobrecarga externa e/ou alteracdes das posigdes das alavancas do corpo des- locam 0 centro de gravidade do corpo, ¢ isto altera positiva ou negativamente a estabilidade deste corpo (Fig. 2-7A eB). Fig. 2-7. Individuo realizando uma abducao unilateral do ombro. Posicdes inicial (A) e final (B), mostrando o sentido (seta) do deslocamento do centro de gravidade do corpo. Quanto maior for a sobrecarga elevada, maior seré 0 deslocamento no sentido desta sobrecarga Note que mesmo com o deslocamento do centro de gravidade no sentido da perna direita, o individuo ainda nao perde o equilibrio por causa do grande afastamento das pernas no mesmo plano (frontal) em que ocorreu o deslocamento do CS. @ Bases de suporte do corpo humano ‘Abase de suporte do corpo humano é considerada a drea delimitada pelas pa tes do corpo em contato com o solo, ou com alguma superficie, somada 4 area interna entre esta s partes do corpo. Por exemplo, num individuo em pé com pequeno afastamento lateral, a base de suporte do corpo dele é a érea total 40__ Treinamento Funcional Resistido dos dois pés que estao em contato com o solo mais toda a érea que vai da frente de um pé até a frente do outro e do calcanhar de um pé até o calcanhar do outro. O aumento da distancia entre os pés no plano frontal aumenta a base de suporte nes- te plano, e um afastamento antero-posterior dos pés aumenta a base de suporte no plano sagital (Fig. 2-8A e B). Num individuo em contato direto com 0 solo a base de suporte é diretamente a area do corpo em contato com o solo, e num individuo sentado numa cadeira, por exemplo, ha uma base de suporte do corpo em relacao a cadeira e uma outra base de suporte das partes da cadeira em contato com 0 solo, Neste caso a cadeira € chamada de base de suporte intermediaria. Qualquer alteracio, para mais ou para menos, na area da base de suporte alte- ra também a estabilidade, e conseqiientemente a exigéncia de equilibrio, do corpo humano. © mesmo se aplica as bases de suporte intermediérias, Fig. 2-8. individuo em pé. (A) Com afastamento lateral das pernas no plano frontal com drea sombreada da base de suporte. Este aumento da base de suporte melhora a estabilidade do corpo para movimentos neste plano. (B) Com afastamento antero-post as pernas no plano sagital com area sombreada da base de suporte. Este aumento da base de suporte melhora a estabilidade do corpo para movimentos neste plano. w AlrteracGes nas bases de suporre intermediArias je em dia no treinamento resistido iria. Alguns exigem maior estabilida- Existem intimeros aparatos utilizados h que servem como base de suporte interme Bases BiomecAnicas do Treinamento Funcional 41 de do corpo humano durante a execugao de um determinado exercicio, outros ofe- recem maior estabilidade. O que vai determinar qual base de suporte deve ser utili- zada num exercicio sao fatores como a intencdo principal daquele determinado exercicio e o nfvel de habilidade do executante, entre outros. As principais variacdes das bases de suporte intermedidrias normalmente utili- zadas sao as seguintes: Quantidade de partes do corpo em contato com a base de suporte intermediéria: quanto mais partes do corpo estiverem em contato com a base intermediaria, maior a estabilidade do executante durante um exercicio. Porém a estabilida- de pode ficar comprometida caso a base de suporte intermedidria nao possua ‘uma boa area de contato com o solo. Por exemplo, se um individuo sentar numa cadeira que s6 possui uma perna no centro, a exigéncia de equilibrio seré muito grande, independentemente de quantas partes do corpo dele esti- verem em contato com a cadeira. A partir deste conhecimento, é possivel determinar o nivel de exigéncia de equilibrio para um determinado exercicio através da alteracdo da base de suporte intermediaria, da area de contato da base intermediaria com o solo ou as duas coisas ao mesmo tempo. Nivel de estabilidade exigido pela base de suporte intermedidria: como j dito no item anterior, o tamanho da area de contato da base de suporte intermediaria com 0 solo é um fator a ser considerado para se determinar quanta estabilidade é exigida num exercicio. Algumas bases de suporte intermedidrias podem ser facilmente alteradas, mas outras nao. E possivel alterar 0 nivel de exigéncia de estabilidade de uma bola suica, por exemplo, aumentando ou diminuindo a quantidade de ar dentro dela. Quando a bola esta mais murcha, tanto a base de suporte do corpo com a bola quanto a base de suporte da bola com o solo aumentam, 0 que diminui a exigéncia de equilfbrio. De maneira contraria, a bola mais cheia dimin ito (do corpo com ela e dela com 0 solo), exigindo muito mais estabilidace durante a execucao de um exercicio. Atrito: a quantidade de atrito proporcionada pelos materiais em contato pode favorecer ou debilitar o nivel de friccao entre eles. Um individuo realizando um exercicio em pé sobre um solo feito com lixa teré muito mais estabilidade do que se realizar o mesmo exercicio em um solo liso com Agua e sabao, Ha, por exemplo, um aparato comumente utilizado por fisioterapeutas em exercicios de reabilitacdo (de articulacdes dos membros superiores ¢ inferiores) chamado slide que exige bastante estabilidade porque diminui o atrito entre as superfi- cies em contato durante o exercicio (Fig. 2-9). @ Toroue Torque € o mesmo que tendéncia para a rotacéo ou movimento rotatério. O movimento rotatério é aquele que percebemos quando realizamos qualquer movi- mento das principais articulagdes que movimentam o corpo humano. 42 Treinamento Funcional Resistido Fig. 2-9. (A e B) Individuo realizando uma abducao do quadril sobre o side, © pano colocado por cima do ténis serve para diminuir o atrito com a superficie do aparelho. © baixo atrito aumenta a intensidade da contracao dos musculos envolvidos no exercicio e stimula 0s mecanismos de propriocepgo dos membros inferiores. Quando um individuo segura um peso nas maos com os cotovelos flexionados em 90°, por exemplo, este peso proporciona um torque (tendéncia de rotagao) no sentido da extensiio do cotovelo. Caso 0 individuo queira manter os cotovelos com 90° de flexdo, ele tera que contrair os mtisculos flexores do cotovelo numa intensi- dade que crie um torque de flexao igual ao torque de extensao proporcionado pela resisténcia oferecida. Portanto, é correto afirmar que as resisténcias utilizadas nos exercicios resisti- dos (independentemente do aparelho ou recurso utilizado) proporcionam 0 apare- cimento de torques em uma ou mais articulagdes do corpo durante o exercicio. O ™mesmo acontece nas atividades da vida diaria. Sendo assim, qualquer exercicio resistido exige um certo grau de estabilidade dinamica e/ou estatica das articulacdes envolvidas, e € este o principal fator a ser observado com relacao a visualizacéo de torques no treinamento funcional, Para facilitar o entendimento de como os torques criados por uma resisténcia externa afetam a estabilidade de uma ou varias articulagdes, 0 exercicio da Fig. 2-10 serd utilizado como exemplo. Note que, ao abduzir os ombros (Fig. 2-10A), os halteres criam um torque nas articulagdes do punho, do cotovelo e do ombro, Como os punhos e cotovelos nao alteram seus angulos durante o movimento, a estabilidade exigida para contrapor 0 torque criado pelos halteres é estatica. J4 para os ombros, o torque criado pelos halteres exige uma certa estabilidade do ombro, que é chamada de estabilidade dinamica, Bases BiomecAnicas do Treinamento Funcional 43 Fig. 2-10. Individuo realizando uma abdugao do ombro. (A) Bilateral com pesos de valores iguais nas maos. (B) Unilateral com um peso somente na mao do ombro que se movimenta. (©) Bilateral com pesos de valores diferentes nas maos. c Além disso, para que os bracos realizem 0 movimento exatamente no plano frontal hé uma grande exigéncia de controle neuromuscular. Na Fig. 2-10B, além de o halter criar torques no punho, cotovelo e ombro, ha ainda o aparecimento de um torque de flexao lateral (no sentido do braco que esta segurando 0 halter) da coluna vertebral. Por isso, para que a postura do tronco permanega inalterada, 6 necessaria a contrac dos mtisculos flexores laterais da coluna (do lado oposto ao do brago em movimento). Assim, pode-se perceber que, apesar de os exercicios citados acima serem muito parecidos, ha uma grande diferenca entre eles com relacao as exigéncias de estabilizacoes estéticas e dinami- cas. Levando-se et i specificidade, é muito mais eficiente bro para um individuo que realiza, na maioria dos movimentos da vida diaria, movimentos unilaterais. Um individuo trei- nado desta maneira tem as articulacdes e musculos da coluna muito mais aptos a proporcionar estabilidade estatica para a coluna durante os seus movimentos da 44 _Treinamento Funcional Resistido vida didria do que se ele tivesse sido treinado com abducio bilateral dos ombros, como na Fig, 2-10A. No exemplo da Fig, 2-10C, apesar de o movimento ser bilateral como na Fig. 2-10A, a diferenca de pesos dos halteres proporciona torques unilaterais de valo- res diferentes em todas as articulagSes envolvidas, inclusive as da coluna vertebral. Neste exercicio, além das exigéncias de estabilidade dinamica e estatica, hd a exi- géncia de um grande controle motor para que diferentes torques sejam contrapos- tos por diferentes intensidades de contragdes musculares entre os pares de flexo- res laterais da coluna, por exemplo. Portanto, trés exercicios muito parecidos proporcionam estimulos neurolégi- cos completamente diferentes, e ai reside a esséncia do treinamento funcional: proporcionar estimulos diversos ao sistema nervoso para que ele melhore as fun- Ges do corpo nas atividades da vida diari Existem ainda mais duas variaveis importantissimas para os mesmos exerci- cios: a) alteragdes do braco de momento da resisténcia, ou seja, da distancia entre a linha da acao da resisténcia e 0 eixo das articulacdes envolvidas; e b) alteraces da sobrecarga utilizada no exercicio, Estas duas varidveis possibilitam alteragdes no recrutamento de unidades motoras, aumentando ainda mais os estimulos neu- rolégicos do exercicio. Gravidade, Forgas de reagio do solo © momento Para um individuo se movimentar eficientemente contra a agao da gravidade na posicéio bipede, ele deve possuir uma adequada amplitude de movimento, mobilidade articular, forca e resisténcia muscular, assim como a habilidade de coordenar os movimentos, alinhar o corpo e reagir quando 0 peso do corpo, ou de parte dele, se desloca numa variedade de planos. Um movimento 4gil, para a maioria das atividades, tem relacao direta com a maneira com que as forcas de rea- gio do solo, entre os pés ¢ a superficie, sao absorvidas e transferidas para movi- mentos intencionais. A constante inter-relacio que sobrecarrega os miisculos para produzi téncia resulta de trés fatores: a) da sobreposicao ou forca da gravidade; b) da absorcao das forcas de reacao do solo e do direcionamen- to destas forcas, por exemplo, para impulsionar 0 corpo; e ¢) da utilizacao de tmomento, proporcionado pelos fatores citados nos itens a e b, para sobrepor a inércia de uma maneira eficiente, do ponto de vista energético, de maneira que 0 corpo permaneca em movimento. Esta inter-relacao que se traduz em movimento funcional explica a diferenca entre treinar os misculos isoladamente versus treind- los em movimentos. Bases Metodoldcicas € Diretrizes do TReEINAMENTO Funcional Ha um principio basico relacionado as adaptagdes que o corpo humano sofre em conseqiiéncia dos estimulos da atividade fisica denominado principio da especifi- cidade, Este principio diz que as adaptagdes que ocorrem no corpo humano, decor- rentes dos estimulos proporcionados pelo exercicio, so especificas daquele determinado programa de treinamento, Esta especificidade esta relacionada com o Angulo de execucdo dos movimentos, o substrato utilizado como fonte primaria de energia, o metabolismo energético utilizado, a qualidade fisica exigida durante 0 exercicio, a quantidade de miisculos solicitados para 0 movimento e a sinergia entre eles, a quantidade de articulacoes envolvidas, entre intimeros outros fatores. Sendo assim, a transferéncia dos beneficios de um tipo de exercicio para uma outra atividade é bastante precaria, ou seja, um individuo que melhora 50% da for- ca do quadriceps através da extensao do joelho na cadeira extensora nao melhora 6 chute no futebol na mesma proporcgo. Da mesma maneira, um individuo que melhora a forca do biceps braquial a 90° nao consegue aplicar esta mesma forca a 30° de amplitude articular. Por isso, o treinamento funcional tem como base fun- damental duas diretrizes muito importantes: o respeito a individualidade biol6gica e ao principio da especificidade do treinamento. A capacidade funcional do corpo humano é a habilidade em realizar as ativida- des normais da vida diéria com eficiéncia e independéncia, e o treinamento funcional resistido visa melhorar esta capacidade através de exercicios resistidos especificos. Devido ao principio da especificidade, o treinamento funcional estimula 0 corpo humano de maneira a adapté-lo para as atividades normais da vida cotidiana. Neste contexto, um aspecto de vital importancia neste tipo de treinamento deve ser mui- to bem explorado: a utilizacao de exercicios que estimulem a propriocepcao, a for- ca ea resistancia muscular, a flexibilidade, a coordenacao motora, 0 equilibrio e 0 condicionamento cardiovascular. 4a 46 Treinamento Funcional Resistido Nas atividades da vida didria hd uma grande exigéncia desses mecanismos, e, portanto, é indispensavel que os programas de exercicios de musculagao que visam melhorar a capacidade funcional do corpo humano sejam formulados para estimular estas qualidades do corpo humano. Embora nao exista um protocolo exato para a escolha dos exercicios e pro- gressdes para cada individuo, as seguintes diretrizes podem possibilitar ou facilitar a elaboracdo apropriada de programas de aulas ou exercicios individuais. QUALIDADES FiSICAS As qualidades que devem ser estimuladas no treinamento funcional resistido so equilibrio, forga, coordenagao motora, resistencia (muscular e cardiovascular), Tateralidade, flexibilidade e propriocepcao (apesar de esta ultima nao ser descrita nas bibliografias como qualidade fisica). ~~ Aavaliacao fisica e a anamnese so essenciais para se saber quais das qualida- des fisicas devem ter maior ou menor énfase no programa de exercicios ou até mesmo quais devem preceder outras ou ser precedidas. Um individuo idoso, por exemplo, que ndo possui forca e flexibilidade suficientes para realizar com eficién- cia e seguranca a maioria dos exercicios utilizados no treinamento funcional resis- lo, deve aprimorar estas duas qualidades fisicas, para depois progredir para exer- cicios mais especificos do treinamento. ‘As quatro principais qualidades fisicas que devem ser parte integrante do trei- namento funcional sao: w Forca E uma qualidade fisica imprescindivel para a manutengao ou 0 aprimoramento da capacidade funcional do corpo humano, E a base para resistencia muscular, velocidade, equilibrio, coordenacao ¢ flexibilidade. Esta qualidade deve ser esti- mulada, no individuo destreinado, através do treinamento resistido progressivo convencional. A progressao da intensidade dos esforcos deve ser a mais linear pos- sivel, principalmente nos individuos iniciantes sedentarios. Nesta fase € recomendado o uso de aparelhos convencionais de musculacao, com um plano e um eixo de movimento, para facilitar a execugao dos movimentos. e diminuir a exigéncia de equilibrio, o que mantém o corpo numa postura mais segura e confortével para realizar os exercfcios. Conforme o individuo vai me- Ihorando a capacidade de producao de forca, os exercicios devem passar a ser rea- lizados em aparelhos que exijam outras qualidades, como, por exemplo, equili- brio, propriocepgao e lateralidade, até que o individuo passe a realizar exercicios de forca em posigdes que mais se assemelhem as condicdes do esporte que ele pratica ou das atividades normais que ele realiza durante o restante do seu dia. im alto nfvel de producao de for rea, juntamente, com o treina-

Você também pode gostar