CADERNO DE EXERÍCIOS DE
MACROECONOMIA
MACROECONOMIA II
Modelos de Crescimento Económico
1
Crescimento Económico na Macroeconomia
A macroeconomia é o estudo do comportamento agregado da economia; ou seja, dos
movimentos agregados do produto, desemprego e inflação. Portanto, a macroeconomia
olha para as tendências agregadas da economia e não para tendências que afectam de
forma particular empresas, trabalhadores, ou regiões específicas numa economia. Neste
sentido, a macroeconomia foca nas grandes questões da vida económica, como:
ln(y)
tendência de ln(y)
ln(y)
0 t
Em alguns momentos os agentes económicos tornam-se optimistas, surgem novas ideias,
registam-se melhorias na organização institucional e há recursos para financiar
investimentos. Este optimismo dá lugar a expansão das despesas de consumo privado o
que estimula a produção de bens e serviços na economia. Se este optimismo for excessivo,
2
contudo, pode levar à tomada de decisões insustentáveis. Como resultado, alguns
projectos eventualmente falham, o que leva a crises e recessões. Depois de um período de
reorganização ao nível das empresas, em particular, e no sistema económico, em geral, o
processo de expansão retoma.
Há medidas de política económica que os governos podem adoptar para, por um lado,
elevar a tendência do nivel do produto e, por outro, minimizar as flutuações do mesmo?
Esta é a questão que se procura responder na macroeconomia, pelo que o crescimento
económico e os cíclos reais de negócios são os fenómenos primários estudados na
macroeconomia.1
Nas próximas cinco aulas iremos expor os modelos do crescimento económico, ins-
trumentos teóricos que não só devem explicar as experiências de crescimento a nível
mundial, mas também servir de base da qual se pode extrair orientações de política
económica, principalmente para os países menos desenvolvidos elevarem os níveis de
renda per capita e combaterem a pobreza. Com vista a motivar a necessidade do estudo
da teoria do crescimento económico, esta primeira aula apresenta os fundamentos que
tornam o crescimento económico um dos fenómenos primários estudados na macro-
economia e os factos pelos quais qualquer teoria sobre este processo deverá avaliada.
4
também cresce em 1 por cento.2 Este processo não implica, contudo, uma alteração na
distribuição da renda. A promoção da equidade social requer outras políticas e nao a
simplicas promoção do crescimento económico.
A teoria económica assenta em dois pilares: (i) o da observação empírica e medição; e (ii)
o da teoria. Antes de apresentar a teoria, na forma dos modelos de crescimento
económico, necessitamos de ter uma ideia dos factos que esta teoria deve explicar. Com
base nas observações de longo prazo nos países industrializados, Nicholas Kaldor em
1961 identificou as seguintes regularidades:5
(i) O nível potencial do produto (Y) cresce de forma sustentada, de modo que a
produtividade do trabalho, 𝑦 = 𝑌/𝐿, aumenta ao longo do tempo;
(ii) O capital tende a crescer de forma sustentada a uma taxa maior que a taxa de
crescimento da força de trabalho, de modo que o rácio capital-trabalho, 𝑘 =
𝐾 ⁄𝐿, tende a crescer;
(iii) O rácio capital-produto, 𝐾 ⁄𝑌, permanece constante; e
(iv) A taxa de lucro, Π⁄𝐾 , é relativamente constante.
2Dollar, David e Aart Kraay (2002) “Growth is Good for the Poor.” Journal of Economic Growth 7, pags. 195-
225
3 Temple, Jonathan (1999) “The New Growth Evidence.” Journal of Economic Literature 37(1): pags. 112-56
4Lucas, Robert (1988) “On the Mechanics of Economic Development.” Journal of Monetary Economics 22,
pags. 3-42
5Kaldor, Nicholas (1961) “Capital Accumulation and Economic Growth.” Cap. 10 em The Theory of Capital,
editado por F. A. Lutz e D. C. Hague. Londres: Macmillan
5
que a taxa de juro real não parece mostrar qualquer tendência de longo prazo.6 Para os
EUA, dados de longo prazo sugerem uma tendência para a queda da taxa de juro real. Em
alguns países de crescimento rápido, como a Corea do Sul e Singapura, as taxas de juro
são mais altas que as dos EUA, mas tendem a cair. Deste modo, a observação deveria ser
substituida pela da tendência de queda das taxas de juro reais à medida que a economia
se desenvolve.
Os países que eram ricos em 1960, por um lado, têm maiores similaridades em
termos do desempenho das economias e há evidência de convergência entre
elas, uma vez que deste grupo de países, aqueles que eram menos ricos,
comparativamente aos EUA em 1960, cresceram mais rapidamente no período
subsequente.
Por outro lado, há uma grande dispersão das taxas de crescimento entre os
países que eram pobres no fim da II Guerra Mundial, tendo alguns ficado na
“armadilha do sub-desenvolvimento”, ou da estagnação de longo prazo,
enquanto outros sustentaram altas taxas de crescimento.
Esta dispersão das experiências de crescimento a nível mundial pode ser re-
presentada pelo triângulo da Figura 1.2. Ao longo da hipotenusa dispersam-se países da
Organização da Cooperação para o Desenvolvimento Económico (OCDE) que incluem
países que eram ricos em 1960, os países asiáticos que experimentaram crescimento
rápido durante este período, incluindo o Japão e a Corea do Sul. Este grupo de países
reduziu os fossos que separam as respectivas economias da maior economia mundial: os
EUA. Em África Sub-Sahariana, Botswana encontra-se nesta hipotenusa da convergência.
Dentro do triângulo e à medida que nos aproximamos da origem dos eixos do gráfico,
encontram-se os países pobres, na sua maioria da África Sub-Sahariana, que, durante o
período, experimentaram fraco crescimento. Houve também “desastres”, ou seja países
6Barro, Robert J. e Xavier Sala-i-Martin (2004) Economic Growth (2.a Edição). Cambridge, MA, e Londres:
MIT Press
7Heston, A., R. Summers e B. Aten (2002) Penn World Tables – Version 6.1. Centre for International
Comparisons at the University of Pennsylvania (CIUP). Pwt.econ.upenn.edu
6
cujas economias retrocederam durante este período, tendo registado crescimento
negativo.
g1960-2000
Países pobres e
de fraco crescimento
0
“Desastres” de crescimento
ln(y1960)
Dos 20 países identificados por Barro e Sala-i-Martin (2004) como tendo registado
as taxas de crescimento económico mais baixas — próximas do zero ou negativas —
apenas dois (Venezuela e Nicarágua) não são da África Sub-Sahariana. O Quadro 1.2
resume as experiências de crescimento económico de alguns países em três grupos:
7
Quadro 1.2: Algumas experiências mundiais de crescimento económico, 1960-2000
País Taxa de cres- Renda per capita
cimento
(proporção da dos EUA)
1960 2000
Países ricos
Estados Unidos da América 0,014 1,000 1,000
Holanda 0,020 0,701 0,888
Bélgica 0,024 0,586 0,868
Canadá 0,016 0,797 0,867
Austrália 0,016 0,788 0,853
França 0,023 0,552 0,786
Trinidade e Tobago 0,005 0,692 0,484
Fontes: Barro e Sala-i-Martin (2004: Quadros 12.1 e 12.2) e Jones (2002: Quadro C.2)
Acima vimos que o crescimento económico não é apenas um processo que leva a um
aumento quantitativo da riqueza das nações. Mais do que isso, gera impactos qualitativos
que qualquer cidadão e fazedor de política económica almeja: massificação dos serviços
8
sociais, em geral, e do acesso à educação, em particular; eleva a esperança de vida à
nascença e cria condições para o desenvolvimento humano. A qualidade da vida melhora
à medida que as nações vão se tornando mais ricas.
Sendo esta economia fechada e sem governo, a produção (Y) é afecta a dois fins:
consumo (C) e poupança (S). Assim, temos a oferta agregada:
9
[1.1] 𝑌 =𝐶+𝑆
Em termos de usos, o mesmo produto pode ser ou consumido ou investido (I), o que nos
permite expressar a procura agregada do seguinte modo:
[1.2] 𝑌 =𝐶+𝐼
O equilíbrio requer que a oferta agregada [1.1] seja igual à procura agregada [1.2] e esta
condição de equilíbrio impõe que o investimento seja igual a poupança:
[1.3] 𝐼=𝑆
Até este ponto, apenas sabemos que as famílias consomem e poupam, mas como é
que elas dividem o rendimento entre os dois usos? Assuma-se que depois de um exercício
de optimização, chegam à conclusão de que em cada unidade de rendimento gerado é
melhor poupar uma proporção fixa, s. Assim, a poupança total é dada por:
A condição de equilíbrio [1.3] requer que esta poupança seja totalmente investida,
transformando-se em capital. Dado que o capital deprecia-se à taxa em cada momento
do tempo, a sua evolução é dada pela equação diferencial:
𝑑𝐾
[1.5] 𝐾̇ = 𝑑𝑡 = 𝐼 − 𝛿𝐾,
significando que o stock do capital aumenta com o investimento e diminui com o desgaste
causado pela depreciação.
onde 𝜈 são unidades do capital necessárias para gerar uma unidade de produto e 𝛼 ,
unidades do trabalho necessárias para gerar uma unidade de produto. O valor destes
parâmetros mede a eficácia com que os insumos são transformados em produto. Quanto
mais baixos forem ν e α, menores serão as necessidades de capital e de trabalho para
gerar uma unidade do produto.
10
determinar o volume de produção. Um exemplo seria o número de pessoas e enxadas
necessárias para cultivar uma extensão de terra. Como cada pessoa necessita de uma
enxada, se o número de enxadas for inferior ao de pessoas, as enxadas disponíveis irão
determinar a extensão da terra a ser cultivada. Se o número de pessoas for inferior ao de
enxadas, os homens disponíveis irão determinar a extenso da terra aser cultivada.
𝜈/𝛼
Y1
𝜈 Y0 = 1
0 𝛼 L
𝐾 𝐿 𝐾 𝜈
O que resulta em 𝜈 = 𝛼, o mesmo que 𝐿 = 𝛼. Este resultado, 𝜈/𝛼, é a tangente (inclinação)
da linha ao longo da qual se encontram os vértices das isoquantas na Figura 1.3; ou seja,
a linha do pleno emprego dos factores de produção. Se o rácio capital-trabalho for maior
que 𝜈/𝛼, haverá excesso de capital. Se este rácio for menor que 𝜈/𝛼 haverá desemprego.
11
emprego, de ambos os actores de produção, dado pela equação [1.7]. Assim, as dinâmicas
do capital e da força de trabalho terão de respeitar as seguintes equação:
𝐾
[1.7’.a] 𝑌= 𝜈
𝐿
[1.7’.b] 𝑌=𝛼
𝐿̇
[1.7’’.b] 𝑌̇ =
𝛼
𝑌̇ 𝐾̇ 𝐿̇
= =
𝑌 𝐾 𝐿
O que quer dizer que para haver pleno emprego de todos os factores de produção o
produto, o capital e a força de trabalho têm de crescer todos à mesma taxa.
𝐾̇ 𝐼 − 𝛿𝐾
=
𝐾 𝐾
Evocando as equações [1.3] e [1.4] as quais impõem que 𝐼 = 𝑠 ∙ 𝑌:
𝐾̇ 𝑌
= 𝑠( )−𝛿
𝐾 𝐾
Substituindo o K pela condição de pleno emprego do capital [1.7’.a] e rearranjando, temos
a taxa de crescimento garantida, que significa que a taxa de crescimento económico será
mais alta quanto maiores forem a taxa de poupança e a eficácia na utilização do capital,
para uma dada taxa de depreciação:
𝐾̇ 𝑠
[1.8] =𝜈−𝛿
𝐾
Por sua vez, a força de trabalho cresce a uma taxa constante, ou seja, à taxa natural:
𝐿̇
[1.9] =𝑛
𝐿
12
Torna-se, assim, evidente a dificuldade do modelo de Harrod-Domar. Para se garantir o
pleno emprego do capital ao longo do caminho de crescimento, a produção e o capital têm
de crescer à mesma taxa — a taxa de crescimento garantida. Para se assegurar o pleno
emprego do trabalho, a produção e a força de trabalho têm de crescer à mesma taxa — a
taxa de crescimento natural. Assim, o pleno emprego do capital e da força de trabalho
requer que as taxas de crescimento garantida e natural coincidam:
𝑠
−𝛿 =𝑛
𝜈
Como todos os parâmetros são dados de forma independente, a possibilidade de
pleno emprego de ambos o capital e o trabalho é remota:
1.7. EXERCÍCIOS
5. Uma observação casual sugere que as taxas de juro são mais altas nos países em
desenvolvimento que nos países industrializados.
a) Haverá base teórica para esta diferença?
b) Será possível reconciliar esta diferença com os factos estilizados de Kaldor?
13
7. No quadro do modelo de Harrod-Domar, o que é que assegura o crescimento
económico sustentado a longo prazo?
s ν δ
Economia A 0,3 4 0,05
Economia B 0,3 3 0,05
14
1. MODELO NEOCLÁSSICO BÁSICO
8Solow, Robert M. (1956) “A Contribution to the Theory of Economic Growth.” Quarterly Journal of
Economics 70 (Fevereiro): pags. 65-94
9Swan, Tevor W. (1956) “Economic Growth and Capital Accumulation.” Economic Record 32 (Novembro):
pags. 334-61
15
quantidades disponíveis por cada habitante (ou trabalhador). Assim, definimos os
seguintes rácios por trabalhador: o consumo, 𝑐 = 𝐶/𝐿; a função de produção, 𝑓(𝑘) =
𝐹(𝐾, 𝐿)/𝐿; o investimento, 𝑖 = 𝐼/𝐿; o capital, 𝑘 = 𝐾/𝐿; e o nível do produto, 𝑦 = 𝑌/𝐿.
𝐾 𝐿 𝐹(𝐾, 𝐿)
𝐹( , ) =
𝐿 𝐿 𝐿
O que implica:
[2.1’] 𝑓(𝑘) = 𝑦
𝐾̇ 𝐾̇ 𝐿 − 𝐾𝐿̇ 𝐾̇
𝑘̇ = ( ) = = − 𝑛𝑘
𝐿 𝐿2 𝐿
[2.2] 𝑘̇ = 𝑖 − (𝑛 + 𝛿)𝑘
Esta equação diferencial [2.2] diz que o stock do capital disponível para cada trabalhador
cresce com o investimento e diminui com a taxa de crescimento da força de trabalho —
pois o crescimento da força de trabalho implica que há cada vez mais trabalhadores para
serem equipados — e com o desgaste do capital devido à depreciação.
16
A Figura 2.1 mostra a determinação do equilíbrio. Trata-se de um equilíbrio
estável, na medida em que começando de qualquer lado a economia desloca-se para ele:
y
𝑓(𝑘)
y*
(𝑛 + 𝛿)𝑘
consumo
i* 𝑠𝑓(𝑘)
investimento liquido
investimento
0 k1 k* k
2.3. O Papel da Taxa de Poupança
Consideremos quatro países, A, B, C e D, similares em todas as características, com a
excepção da taxa de pounça (s), de tal modo que 𝑠𝐴 < 𝑠𝐵 < 𝑠𝐶 < 𝑠𝐷 . O país com a taxa de
poupança mais baixa (sA), a longo prazo tem um stock de capital e produto por
trabalhador (𝑘𝐴∗ e 𝑦𝐴∗ , respectivamente), mais baixos. Elevando a taxa de poupança, a
longo prazo, obtém-se stocks de capital e nível do produto por trabalhador mais elevados.
Fica, assim, evidente um resultado importante do modelo de crescimento neoclássico: o
17
alcance de stock de capital e nível de rendimento elevados a longo prazo requer alta taxa
de poupança.
y
𝑦𝐷∗ 𝑓(𝑘)
𝑦𝐶∗
𝑐𝐷 (𝑛 + 𝛿)𝑘
𝑦𝐵∗
𝑐𝐶 𝑠𝐷 𝑓(𝑘)
𝑦𝐴∗ 𝑐𝐵 𝑠𝐶 𝑓(𝑘)
𝑠𝐵 𝑓(𝑘)
𝑐𝐴
𝑠𝐴 𝑓(𝑘)
Mas será
0 sempre 𝑘𝐴∗ o aumento
𝑘𝐵∗ 𝑘𝐶∗ da taxa𝑘𝐷∗de poupança
k uma política socialmente
óptima? O objectivo último da acumulação do capital e do aumento do nível da produção
a longo prazo é a criação de condições para o aumento do consumo, uma medida de bem-
estar. Na Figura 2.2 pode-se notar que com taxas de poupanças suficientemente baixas,
por exemplo, a volta de sA, o nível de consumo alcançado a longo prazo (cA) é também
baixo. Elevando a taxa de poupança, o consumo também aumenta, mas continuando a
elevar a taxa de poupança, o consumo eventualmente baixa. Como é que podemos saber
se a taxa de poupança prevalecente nesta economia é óptima?
𝑐 ∗ = 𝑓(𝑘 ∗ ) − 𝑠𝑓(𝑘 ∗ )
𝑠𝑓(𝑘 ∗ ) = (𝑛 + 𝛿)𝑘 ∗
Assim, a equação do consumo pode ser expressa do seguinte modo, considerando que os
valores do estado estacionário dependem da taxa de poupança:
𝑑𝑐 ∗ (𝑠) 𝑑𝑓(𝑘 ∗ ) 𝑑𝑘 ∗
=[ − 𝑛 − 𝛿] =0
𝑑𝑠 𝑑𝑘 ∗ 𝑑𝑠
Esta equação [2.5] é o que Edmund Phelps chamou “regra de ouro” de acumulação
do capital.10 No modelo de Solow e Swan, a taxa de poupança que maximiza o consumo é
aquela que iguala o produto marginal do capital a longo prazo à soma das taxas de
crescimento da força de trabalho e da depreciação do stock do capital:
𝑑𝑓(𝑘 ∗ )
Se tivermos uma situação em que > 𝑛 + 𝛿, a economia está a poupar
𝑑𝑘 ∗
pouco; poderia disfrutar de maiores níveis de consumo a longo prazo, elevando
a taxa de poupança.
𝑑𝑓(𝑘 ∗ )
No outro caso em que < 𝑛 + 𝛿, a economia é dinamicamente ineficiente,
𝑑𝑘 ∗
pois poderia melhorar o bem-estar da população consumindo parte do stock
do capital. Neste caso a taxa de poupança deve ser reduzida.
10Phelps, Edmund (1961) “The Golden Rule of Accumulation: A Fable for Growthmen.” American Economic
Review 51(4): pags. 638-43
19
Figura 2.3: Relação entre a taxa de poupança e o consumo no estado
estacionário
c*
couro
c*
0 souro s
Exercícios
20
6. Nos países com altas taxas de crescimento da população, as taxas de juro de longo
prazo sao altas. Comente.
Para resolver este problema, numa outra contribuição, Robert Solow (1957)
sugeriu uma abordagem na qual se introduz uma veriável A que capta o progresso
21
tecnológico que ocorre de forma exógena; i.e., assumindo que o índice da tecnologia
cresce a uma taxa constante:11
𝐴̇
=𝛾
𝐴
O progresso tecnológico pode ser inserido no nosso modelo de três formas:
𝑌 = 𝐹(𝐾, 𝐴𝐿).
𝑦̃ = 𝑓(𝑘̃)
11Solow, Robert M. (1957) “Technical Change and the Aggregate Production Function.” Review of
Economics and Statistics 39(3): 312-320
22
3.1.2. O Caso da Função de Produção de Cobb-Douglas
Uma forma funcional que respeita todas as propriedades de uma função de produção
neclássica apresentada na secção 2.1.1, da aula anterior, é a de Cobb-Douglas:
Podemos mostrar, por exemplo, que [3.2] é homogénea do primeiro grau; ou seja, é uma
tecnologia caracterizada por retornos constantes de escala. Multiplicando todos os
insumos por 𝜆 > 0, o produto também multiplica-se por 𝜆:
𝐾 𝛼 𝐴𝐿 1−𝛼 𝑌
( ) ( ) =
𝐴𝐿 𝐴𝐿 𝐴𝐿
[3.2’] 𝑘̃ 𝛼 = 𝑦̃.
Confirmando os resultados da secção 2.1.3, segundo os quais uma alta taxa de poupaça
eleva os stock do capital a longo prazo e uma alta taxa de crescimento da força de trabalho
diminui o stock do capital disponível para cada trabalhador a longo prazo.
23
𝑘̃ ∗ 𝑠
𝜈= ∗
=
𝑦̃ 𝛾+𝑛+𝛿
𝛾+𝑛+𝛿
𝑓′(𝑘̃ ∗ ) = 𝛼 ( )
𝑠
Portanto, de acordo com o modelo neoclássico, espera-se que países com altas taxas de
crescimento da força de trabalho e baixas taxas de poupança tenham altas taxas de juro
a longo prazo. Este resultado permite-nos, ainda, responder a uma das questões
prementes no estudo das finanças internacionais e economia de desenvolvimento é:
porque é que o capital não flui dos países ricos para os países pobres? O modelo
neoclássico de crescimento económico mostra que a taxa de juro de longo prazo é mais
alta nos países onde se verifica o progresso tecnológico, implicando aumento sustentado
da produtividade do trabalho.
𝑘̃ ∗
𝛼 = ( ∗ ) ∙ 𝑓′(𝑘̃ ∗ )
𝑦̃
Em 1992, Gregory Mankiw, David Romer e David Weil propuseram uma extensão do
modelo neoclássico, através da inclusão do capital humano (H). 12 Assumiram uma
tecnologia de Cobb-Douglas na qual a tecnologia entra pelo aumento da produtividade do
trabalho:
[3.3] 𝑌 = 𝐾 𝛼 𝐻𝛽 (𝐴𝐿)1−𝛼−𝛽
12Mankiw, N. Gregory, David Romer e David N. Weil (1992) “A Contribution to the Empirics of Economic
Growth.” Quarterly Journal of Economics 107(2): pags. 407-37
24
𝐾̇ = 𝑠𝑘 𝑌 − 𝛿𝐾
[3.4] {
𝐻̇ = 𝑠ℎ 𝑌 − 𝛿𝐻
𝑦̃ = 𝑘̃ 𝛼 ℎ̃𝛽
𝑘̃̇ = 𝑠𝑘 𝑦̃ − (𝛾 + 𝑛 + 𝛿)𝑘̃
[3.4’] {
ℎ̃̇ = 𝑠ℎ 𝑦̃ − (𝛾 + 𝑛 + 𝛿)ℎ̃
A solução do sistema [3.4’] mostra que a economia converge para um estado estacionário
com as seguintes intensidades do capital físico e humano:13
1
1−𝛽 𝛽 1−𝛼−𝛽
𝑠𝑘 ∙𝑠ℎ
[3.5a] 𝑘̃ ∗ = ( 𝛾+𝑛+𝛿 )
1
𝛼 1−𝛼
𝑠𝑘 ∙𝑠ℎ 1−𝛼−𝛽
[3.5b] ℎ̃∗ = ( 𝛾+𝑛+𝛿 )
Mostrando que a prosperidade a longo prazo requer que se invista em ambos o capital
fisico e capital humano.
13Uma forma fácil de solucionar o sistema [3.4’] e, depois de avaliá-lo no estado estacionário, linarizá-lo
atraves da logaritmização:
𝛾+𝑛+𝛿
(𝛼 − 1)𝑙𝑛𝑘̃ ∗ + 𝛽𝑙𝑛𝑘̃ ∗ = 𝑙𝑛 ( )
𝑠𝑘
𝛾+𝑛+𝛿
𝛼𝑙𝑛𝑘̃ ∗ + (𝛽 − 1)𝑙𝑛ℎ̃∗ = 𝑙𝑛 ( )
{ 𝑠ℎ
𝛼−1 𝛽
Para usar a regra de Cramer, calculamos as seguintes discriminantes: ∆= | | = 1 − 𝛼 − 𝛽;
𝛼 𝛽−1
𝛾+𝑛+𝛿 𝛾+𝑛+𝛿
𝑙𝑛 ( ) 𝛽 𝛽 1−𝛽 𝛼−1 𝑙𝑛 ( )
𝑠𝑘 𝑠ℎ ∙𝑠𝑘 𝑠𝑘 𝑠𝑘𝛼 ∙𝑠ℎ
1−𝛼
∆𝑙𝑛𝑘̃ ∗ = | 𝛾+𝑛+𝛿
| = 𝑙𝑛 ( ) ; e ∆𝑙𝑛ℎ̃∗ = | 𝛾+𝑛+𝛿
| = 𝑙𝑛 ( ) . Deste modo o
𝛾+𝑛+𝛿 𝛾+𝑛+𝛿
𝑙𝑛 ( ) 𝛽−1 𝛼 𝑙𝑛 ( )
𝑠ℎ 𝑠ℎ
𝛽 1−𝛽 𝛼 1−𝛼
𝑠ℎ ∙𝑠𝑘 𝑠 ∙𝑠
𝑙𝑛(
𝛾+𝑛+𝛿
) 𝑙𝑛( 𝑘 ℎ )
∆𝑙𝑛𝑘
̃∗ ∆𝑙𝑛ℎ
̃∗ 𝛾+𝑛+𝛿
sistema tem a seguinte solução: 𝑙𝑛𝑘̃ ∗ = = e 𝑙𝑛ℎ̃∗ = = . Rearranjando e
∆ 1−𝛼−𝛽 ∆ 1−𝛼−𝛽
tirando anti-logaritmos, temos as soluções [2.11a] e [2.11b].
25
3.2. Contabilidade do Crescimento Económico
Uma das aplicações dos modelos de crescimento económico é na identificação das fontes
do crescimento económico. Considerando que a produção na economia obedece a
tecnologia 𝑌 = 𝐴𝐾 𝛼 𝐿1−𝛼 e logaritmizando:
𝑌̇ 𝐴̇ 𝐾̇ 𝐿̇
= + 𝛼 + (1 − 𝛼)
𝑌 𝐴 𝐾 𝐿
Assim, o crescimento económico observado durante um determinado período de tempo
resulta do crescimento na produtividade total de factores (𝐴̇/𝐴), do crescimento no stock
do capital (𝐾̇ /𝐾) e do crescimento na força do trabalho (𝐿̇/𝐿).
𝐴̇ 𝑌̇ 𝐾̇ 𝐿̇
= − 𝛼 − (1 − 𝛼)
𝐴 𝑌 𝐾 𝐿
Robert Solow foi o primeiro a usar esta metodologia para os EUA, com dados
referentes ao período de 40 anos, de 1909 a 1949.14 Os resultados mostraram que apenas
12 por cento do crescimento económico naquele período foi devido a expansão do capital
e da força de trabalho. Os restantes 88 por cento resultaram da expansao do residuo
(𝐴̇/𝐴). Dados do Labour Bureau of Statistics, indicam que no período de 1948 a 1998, a
produtividade total de factores (PTF) contribuiu com 58 por cento do crescimento
económico registado nos EUA (Figura 2.4).
14Solow, Robert M. (1957) “Technical Change and the Aggregate Production Function.” Review of Economics
and Statistics 39 (Agosto): pags. 312-20
26
Figura 3.1: Fontes do Crescimento Económico nos EUA, 1948-98
Capital
34%
PTF
58%
Trabalho
8%
𝑌 = 𝐴𝐾 𝛼 (ℎ𝐿)1−𝛼 ,
Onde o índice do capital humano foi calculado do seguinte modo: ℎ = ∑𝑁 𝑖=1 𝑝𝑖 𝑤𝑖 , onde i
representa o nível de ensino alcançado pelo trabalhador (primário, secundário a
superior, ou nenhum); pi, a proporção dos trabalhadores na categoria i na força de
trabalho; e wi, salário médio da categoria i relativamente ao salário médio da força de
trabalho não especializada.
15Jones, Sam (2008) “Sustaining Growth in the Long Term.” Capitulo 3 em Post-Stabilization Economics in
Sub-Saharan Africa: Lessons from Mozambique. Editado por Jean A. P. Clément e Shanaka J. Peiris.
Washington, DC: IMF
27
baseou-se na acumulação do capital físico, associada a actividade dos mega-projectos,
principalmente no período pós-1999.
𝑘̃̇
= 𝑠𝑘̃ 𝛼−1 − (𝛾 + 𝑛 + 𝛿)
𝑘̃
Sendo 𝛼 − 1 < 0, o termo 𝑠𝑘̃ 𝛼−1 decresce com o crescimento do stock do capital por
̃̇
𝑘
trabalhador. Consequentemente, a taxa de crescimento do stock de capital, 𝑘̃, reduz-se à
medida que o stock do capital por trabalhador for aumentando, como mostra a Figura 3.2.
A implicação é que a longo prazo haverá convergência, pois economias mais pobres
crescem mais rapidamente que as economias mais ricas.
28
Figura 3.2: Convergência na acumulação do stock do capital
𝑠𝑘̃ 𝛼−1
̃̇
𝑘
̃
>0 𝛾+𝑛+𝛿
𝑘
̃̇
𝑘
̃
<0
𝑘
0 𝑘̃0 𝑘̃ ∗ 𝑘̃1 𝑘̃
Para se testar esta implicação, nos estudos empíricos, toma-se um total de N países
em que cada país i tenha registado no tempo inicial t um PIB por trabalhador de yit e de
este tempo até ao tempo T tenha registado uma taxa média de crescimento 𝑔𝑖,𝑇−𝑡 , e
estima-se a seguinte equação de regressão:
16
Mankiw, N. Gregory, David Romer e David N. Weil (1992) “A Contribution to the Empirics of Economic
Growth.” Quarterly Journal of Economics 107(2): pags. 407-37
29
Figura 3.3: Teste de convergência, 1960-1985
.08
.06
.02
.00
-.02
-.04
-.06
5 6 7 8 9 10 11 12
A Figura 3.4 mostra a dispersão das taxas de crescimento económico entre 1960 a
1985, contra o logarítmo natural do PIB por trabalhador em 1960, nos países da OCDE.
Neste caso, a linha de regressão mostra uma relação negativa entre o crescimento
económico ocorrido durante o período e o PIB por trabalhador em 1960.
30
Figura 3.4: Teste de convergência, OCDE, 1960-1985
.06
.04
.03
.02
.01
.00
7.6 8.0 8.4 8.8 9.2 9.6
No quadro 3.2 a coluna (1) mostra os resultados do teste da equação [3.6], em que
a variável dependente é o crescimento económico no período de 1960 a 1985. Como se
pode notar, o coeficiente do logarítmo natural do PIB por trabalhador em 1960 é
marginalmente positivo — contrariando a hipótese da convergência que prevê um sinal
negativo — e nem é estatisticamente significativo. Portanto, não há convergência
absoluta.
31
Quadro 3.2: Testes de convergência
Variavel dependente: Crescimento económico entre 1960 e 1985
(1) (2)
R2 0,0000 0,4588
Observações 121 121
Notas: *** Estimativa significativa a 1 por cento
Erros padrões entre os parênteses rectos
10. A baixa intensidade do capital nos países menos desenvolvidos não é condição
suficiente para a atracçao do capital os paises ricos. Comente.
33
4. Modelos de Crescimento Endógeno
4.1. Contexto
Nos anos 1980 começou a manifestar-se de forma crescente, no seio dos economistas, a
insatisfação com o modelo neoclássico de crescimento económico, pelas fraquezas
apontadas na aula 3, nomeadamente:
18Baumol, William J. (1986) “Productivity Growth, Convergence, and Welfare: What the Long-Run Data
Show.” American Economic Review 76(5): 1072-1085
19Os 16 países incluídos no estudo de Baumol (1986) são: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá,
Dinamarca, Estados Unidos de América, Finlândia, França, Holanda, Itália, Japão, Noruega, Reino Unido,
Suécia e Suiça.
34
significativa entre a taxa de crescimento do PIB per capita durante aquele período e o PIB
per capita em 1950.
Porque é que os países ricos, por um lado, crescem de forma sustentada e tende a
haver convergência entre eles, enquanto os países pobres, por outro, tiverem
desempenho variado, o que tende a causar divergência entre os padrões de vida
prevalecentes na queles países e os prevalecentes nos países ricos? Nesta aula
apresentamos a “nova” teoria do crescimento económico, a teoria do crescimento
endógeno, cujo propósito é tornar endógena a variação da produtividade total de
factores.
4.2. Modelos Ak
4.2.1. Apresentação Geral
𝑖 = 𝑠𝑦 = 𝑠𝐴𝑘
𝑘̇ = 𝑠𝐴𝑘 − (𝑛 + 𝛿)𝑘.
Dividindo ambos os lados desta equação diferencial por k, temos a taxa de crescimento
do stock de capital:
35
𝑘̇
=𝐴−𝑛−𝛿
𝑘
Assim, assegurado que 𝐴 > 𝑛 + 𝛿, esta economia irá crescer continuamente e não haverá
tendência para convergência.
1
𝑡= 3
√𝑛
Onde Ki e Li são capital e trabalho empregues pela firma i. Note-se que A não tem índice i,
dado que a tecnologia é comum para todas as firmas.
20Romer, Paul M. (1986) “Increasing Returns and Long Run Growth.” Journal of Political Economy
94(Outubro): 1002-37
21Arrow, Kenneth J. (1962) “The Economic Implications of Learning by Doing.” Review of Economic
Studies 29(June): 155-73
36
Em termos agregados, os stocks do capital e o volume da força de trabalho são
definidos como:
𝑁
∑ 𝐾𝑖 = 𝐾
𝑖=1
e
𝑁
∑ 𝐿𝑖 = 𝐿
𝑖=1
𝑑𝑦𝑖 𝐴 1−𝛼
𝑟= = 𝛼( )
𝑑𝑘𝑖 𝑘𝑖
Assim, para um dado custo do capital r, o stock do capital por trabalhador é igual em todas
as firmas: ki = k. Podemos assim, expressar a função de produção:
[4.2’’] 𝑦 = 𝑘 𝛼 𝐴1−𝛼
Assim:
Substituindo este pressuposto em [4.2’’], obtemos uma função de produção como [4.1]:
𝑦 = 𝑘 𝛼 (𝐵𝑘)1−𝛼 = 𝐵1−𝛼 𝑘
37
4.2.3. Modelo do Capital Humano
𝐻 =ℎ∙𝐿
𝑌 = 𝐴𝐾 𝛼 [(1 − 𝑢)𝐻]1−𝛼 ,
que, multiplicando e dividindo o lado direito por K, pode ser apresentada do seguinte
modo:
𝐻 1−𝛼
[4.3] 𝑌 = 𝐴𝐾 [(1 − 𝑢) (𝐾 )]
Os stocks do capital físico (K) e do capital humano evolvem de acordo com as seguintes
equações diferenciais, respectivamente:
[4.4a] 𝐾̇ = 𝑠𝑌 − 𝛿𝐾 𝐾
[4.4b] 𝐻̇ = 𝐵𝑢𝐻 − 𝛿𝐻 𝐻
22
Lucas, Robert (1988) “On the Mechanics of Economic Development.” Journal of Monetary Economics 22,
pags. 3-42
38
As firmas operam num mercado competitivo, de maneiras que os factores de
produção são remunerados de acordo com os respectivos custos de oportunidade:
𝜕𝑌 𝐻 1−𝛼
[4.5a] = 𝛼𝐴 [(1 − 𝑢) (𝐾)] = 𝑟𝐾
𝜕𝐾
𝜕𝑌 𝐻 −𝛼
[4.5b] = (1 − 𝛼)(1 − 𝑢)𝐴 [(1 − 𝑢) (𝐾)] = 𝑟𝐻
𝜕𝐻
𝐻 −𝛼 𝐻
(1 − 𝑢)𝐴 [(1 − 𝑢) ( )] [𝛼 ( ) − (1 − 𝛼)] = 𝛿𝐾 −𝛿𝐻
𝐾 𝐾
Sendo o lado direito desta igualdade uma constante, a mesma apenas se pode veri-
𝐻
ficar se o rácio H/K também for constante, = 𝜔 , o que substituido na função de
𝐾
produção [4.3] mostra que o produto e função do stock do capital:
𝑌 = [(1 − 𝑢)𝜔]1−𝛼 𝐴𝐾
Assim, uma economia caracterizada por esta tecnologia pode evitar rendimentos
decrescentes através de uma política que assegure que o capital físico e o capital humano
𝐻
cresçam à mesma taxa, de modo a manter 𝐾 = 𝜔. Este é, portanto, um resultado análogo
ao que encontramos no modelo da Harrod-Domar.
23Romer, Paul M. (1990) “Endogenous Technological Change” Journal of Political Economy 98 (Outubro),
Parte II: Pags. S71-S102
39
A acumulação do capital físico requer um sacrifício do consumo presente numa
fracção s do rendimento, sendo que o stock do capital acumulado deprecia-se a taxa
instantanea, 𝛿.
𝐾̇ = 𝑠𝑌 − 𝛿𝐾
𝐴̇ 𝜆𝑛
=
𝐴 1−𝜙
Que mostra que o stock de tecnologia a longo prazo depende da fracçao, 𝜇, da força de
trabalho afecta na área da pesquisa e desenvolvimento.
A materialização desta transferência requer que uma fracção θ do tempo seja gasta
na acumulação de competências, seja na escola ou na formação com vista a aprender o
uso de novos instrumentos de produção.
ℎ̇ 𝐴 𝛽
= 𝑒 𝜓𝜃 ( ) ,
ℎ ℎ
ℎ̇ 𝐴̇
= =𝛾
ℎ 𝐴
De maneiras que o rácio A/h mantém-se constante. Aliás, esta condição é fundamental
para que o modelo gere um caminho de crescimento balanceado; isto é, reproduza os
factos de Kaldor, com particular realce para aqueles segundo os quais y = Y/L e k = K/L
crescem de forma sustentada ao longo do tempo de maneiras que K/Y mantém-se
constante ao longo do tempo.
41
Exercícios
1. As externalidades que caracterizam o modelo de learning by doing só podem ser
modeladas numa estrutura de mercado de concorrência perfeita. Comente.
3. De que maneira sera possivel uma pais menos desenvolvido crescer a mesma taxa
que os paises na fronteira tecnológica?
42
5. Outras Hipóteses Explicativas da Dispersão
das Taxas de Crescimento Económico
Se os modelos que vimos expondo nas aulas anteriores constituem uma teoria completa
do crescimento económico, então permanece, entre a teoria e a prática da política
económica, uma agrande oportunidade de arbitragem a ser explorada em prol do bem
estar da humanidade, em geral, e da população residente nos países em desenvolvimento,
em particular. Avaliando pelo desempenho das economias da África Sub-Sahariana desde
1960, conclui-se que é nesta região do mundo em que a distância entre a teoria do
crescimento económico e a política económica mais se faz sentir.
Este resultado é, para alguns e considerado uma tragédia, ou seja “potencial não
realizado, com consequências desastrosas”,26 principalmente tomando em consideração
que em 1960 as médias da renda per capita na Ásia e em África eram similares e alguns
peritos então consideravam que África tinha maior potencial para acelerar o crescimento
económico que Ásia.27
Nesta aula, sem procurar ser exaustivos, iremos apresentar hipóteses adicionais
que têm sido discutidas na literatura na procura de explicação para a dispersão das
experiências de crescimento económico a nível mundial.
25Collier, Paul, e Jan Willem Gunning (1999) “Explaining African Economic Performance.” Journal of
Economic Literature 37(1): pags. 64-111
26Easterly, William, e Ross Levine (1997) “Africa’s Growth Tragedy: Policies and Ethnic Divisions.”
Quarterly Journal of Economics 112 (4): pags. 1203-50
Agenor, Pierre-Richard e Peter J. Montiel (1999) Development Macroeconomics. Princeton, NJ: Princeton
27
5.1. Geografia
Jeffrey Sachs e Andrew Warner identificam o clima e o isolamento como maiores entraves
para o desenvolvimento das economias da África Sub-Sahariana.28 Países localizados nos
trópicos tendem a crescer mais lentamente que os países nos climas mais temperados, o
que se deve a duas razões principais: (i) países tropicais encaram uma variedade de
doenças, como a malária, que são menos prevalentes nas zonas temperadas e que
constituem fonte de baixa produtividade do trabalhado; e (ii) o crescimento da
agricultura nas zonas tropicais tem sido retardado pela fragilidade dos solos, fraca
regularidade das chuvas, prevalência de doenças veterinárias e frequencia de desastres
naturais.
Esta hipótese da Geografia tem sido contestada por autores como Daron
Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson.29 O argumento é que o centro de gravidade
28Sachs, Jeffrey D., e Andrew M. Warner (1997) “Sources of Slow Growth in African Economies.” Journal of
African Economies 6(3): pags. 335-76
29Acemoglu, Daron, Simon Johnson e James A. Robinson (2002) “Reversal of Fortune: Geography and
Institutions in the Making of the Modern World Income Distribution.” Quarterly Journal of Economics
117(4): pags. 1231-94
44
da economia mundial foi se movendo das zonas tropicais para as zonas temperadas ao
longo do tempo. As zonas tropicais onde a necessidade de calorias é baixa
providenciaram o melhor ambiente para as primeiras civilizações. A geografia tornou-se
menos importante com a difusão do progresso tecnológico. Contudo, apesar do papel
chave que a tecnologia teve nas zonas temperadas ela teve menos efeito nas zonas
tropicais.
45
5.3. Profundidade Financeira
Os economistas têm opiniões diferentes quanto à importância do sistema financeiro no
desenvolvimento económico. Por um lado, a visão de Joseph Schumpeter toma os serviços
dos intermediários financeiros — mobilização da poupança, avaliação de projectos,
gestão do risco, monitoria dos gestores e facilitação das transacções — como sendo
essenciais para a inovação tecnológica e desenvolvimento económico. Mas outros
partilham da posiçao de Joan Robinson segundo a qual os serviços financeiros sao um
luxo que os agentes economicos procuram a medida que se vao tornando ricos. Em outras
palavras, a causalidade na relaçao positiva entre o crescimento economico e o
desenvolvimento dos sistemas financeiros parte do crescimento economico para o
desenvolvimento dos sistemas financeiros.
A nível macroeconómico, o trabalho de Robert King e Ross Levine parece ter posto
termo a este debate, tendo observado, numa amostra de cerca de 80 países, cobrindo o
período de 1960 a 1989, que indicadores como o rácio dos depósitos totais face ao PIB, o
rácio do crédito ao sector privado face ao PIB, no período inicial, associam-se
positivamente ao crescimento económicono período subsequente.30
30King, Robert G., e Ross Levine (1993) “Finance and Growth: Schumpeter Might Be Right.” Quarterly
Journal of Economics 108(Agosto): pags. 717-37
46
5.4. Maximização do Retorno do Capital Humano
A teoria do crescimento endógeno prevê que o investimento na educação favorece o
crescimento económico. Um maior stock do capital humano facilita a produçao de novas
ideias e o progresso tecnológico ou — para uma economia que não está na fronteira
tecnológica — uma absorção e adaptação relativamente rápida de novas ideias. Além
disso, as taxa de retorno do capital humano podem ser crescentes devido a beneficios de
externalidades; isto é, quando um trabalhador com maior instrução torna o grupo inteiro
de trabalhadores mais produtivo.
Nancy Birdsall, David Ross e Richard Sabot notam que em 1960, países como
Egipto, Filipinas, Sri Lanka e a antiga União Soviética, como as economias do Leste da Ásia
tinham níveis mais elevados de capital humano para o seu nível de desenvolvimento. 31
Em 1960, a proporção da educação na despesa pública era de 2,5 por cento no Leste da
Ásia, 2,5 por cento na África Sub-Sahariana e 2,2 por cento em todos os países em
desenvolvimento. Nas décadas seguintes, todas as regiões aumentaram as proporções da
renda nacional investidas na educação, mas em 1989 a proporção da renda na educação
em África era de 4,1 por cento, mais alta que a do Leste da Ásia (3,7 por cento) que
marginalmente excedeu a media dos paises em desenvolvimento (3,6 por cento).
31Birdsall, Nancy; David Ross e Richard Sabot (1995) “Inequality and Growth Reconsidered: Lessons from
East Asia.” World Bank Economic Review 9(3): pags. 477-508
47
particular, as de promoção das exportações contribuiram para a alta procura de mão-de-
obra qualificada na Ásia.
taxa de
retorno D’
S
D
S’
r2
r0
r1 X
0 H0 H1 H2 capital
humano
32Alesina, Alberto, Reza Baqir e William Easterly (1999) “Public Goods and Ethnic Divisions.” Quarterly
Journal of Economics 114 (Novembro): pags. 1243-84
48
ricos tendem a ser contra politicas fiscais baseadas em impostos elevados se sentirem
que a receita resultante ira financiar despesas em serviços publicos que beneficiam as
classes mais pobres.
William Easterly e Ross Levine encontraram, no seu estudo, que este índice de
fraccionalização etno-linguistica tem uma correlação negativa com a escolarização,
profundidade financeira, prémios no mercado cambial paralelo e provisao de infra-
estruturas e, em ultima instancia, o crescimento economico.34
33
Collier, Paul, e Jan Willem Gunning (1999) “Explaining African Economic Performance.” Journal of
Economic Literature 37(1): pags. 64-111
34
Easterly, William, e Ross Levine (1997) “Africa’s Growth Tragedy: Policies and Ethnic Divisions.”
Quarterly Journal of Economics 112 (4): pags. 1203-50
49
Quadro 5.2: Índice Etno-linguístico de Fraccionalização (66 países, 1960)
Países mais fraccionalizados Países menos fraccionalizados
Tanzania 93 Haiti 1
Uganda 90 Japao 1
Zaire 90 Portugal 1
Camaroes 89 Hong Kong 2
India 89 Iemen 2
Africa do Sul 88 Alemanha 3
Nigeria 87 Burundi 4
Costa do Marfim 86 Republica Dominicana 4
Republica Centro Africana 83 Egipto 4
Quenia 83 Irlanda 4
Easterly, William, e Ross Levine (1997) “Africa’s Growth Tragedy: Policies
and Ethnic Divisions.” Quarterly Journal of Economics 117(4): pags. 1203-
50
Exercícios
1. De que maneiras é que a geografia pode explicar os fracassos no crescimento
económico ocorridos no periodo pós II Guerra Mundial?
50