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FACULDADE DE ECONOMIA

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

CADERNO DE EXERÍCIOS DE
MACROECONOMIA
MACROECONOMIA II
Modelos de Crescimento Económico

Eduardo Neves Joao


E-mail: enevesj@gmail.com
Cel: +258-84 533 6378, +258-82 536 3782

1
Crescimento Económico na Macroeconomia
A macroeconomia é o estudo do comportamento agregado da economia; ou seja, dos
movimentos agregados do produto, desemprego e inflação. Portanto, a macroeconomia
olha para as tendências agregadas da economia e não para tendências que afectam de
forma particular empresas, trabalhadores, ou regiões específicas numa economia. Neste
sentido, a macroeconomia foca nas grandes questões da vida económica, como:

 O que torna o país mais rico ou mais pobre ao longo do tempo?


 Quanto uma nação deve poupar para o futuro?
 Porque é que os preços sobem?
 O que é que determina a taxa de câmbio?
 O que é que determina os fluxos de importações e exportações?

1.1 FLUTUAÇÕES VERSUS DINÂMICA DE LONGO PRAZO

A evolução do nível de produto em qualquer economia não mostra um comportamento


estável. Na Figura 1.1, abaixo, apresenta-se o comportamento do logarítmo natural do
nível do produto — ln(y) — de uma economia hipotética ao longo do tempo (t). Como se
pode notar, ln(y) flutua, reflectindo sucessões entre períodos de expansão e de recessão.

Figura 1.1: Flutuações e tendência do rendimento

ln(y)

tendência de ln(y)

ln(y)

0 t
Em alguns momentos os agentes económicos tornam-se optimistas, surgem novas ideias,
registam-se melhorias na organização institucional e há recursos para financiar
investimentos. Este optimismo dá lugar a expansão das despesas de consumo privado o
que estimula a produção de bens e serviços na economia. Se este optimismo for excessivo,
2
contudo, pode levar à tomada de decisões insustentáveis. Como resultado, alguns
projectos eventualmente falham, o que leva a crises e recessões. Depois de um período de
reorganização ao nível das empresas, em particular, e no sistema económico, em geral, o
processo de expansão retoma.

Usando técnicas de regressão ou outros métodos numéricos, pode-se filtrar as flutuações


com a estimação da tendência de ln(y), que, na Figura 1 é representada pela linha
tracejada, mostrando que, em média, o nível do produto evolui positivamente ao longo
do tempo. O ideal seria que a economia se mantivesse num processo de expansão
ininterrupta, quanto mostra a linha de tendência de ln(y), pois as recessões acarretam
custos económicos e sociais:

 Como consumidores, somos aversos ao risco, preferindo rendimentos estáveis. Por


esta razão, o consumo é a variável mais estável dos agregados macroeconómicos. As
flutuações do rendimento contrariam esta preferência pela estabilidade.
 As recessões são associadas as reduções na escala de produção e ao aumento de
desemprego, com efeitos inestimáveis nos padrões de vida e na auto-estima das
pessoas envolvidas.
 Os períodos de crise desviam atenções dos governos dos objectivos de médio e longo
prazos, para o manunseamento de medidas de mitigação e estímulo macroeconómico
com enormes custos fiscais.

Há medidas de política económica que os governos podem adoptar para, por um lado,
elevar a tendência do nivel do produto e, por outro, minimizar as flutuações do mesmo?
Esta é a questão que se procura responder na macroeconomia, pelo que o crescimento
económico e os cíclos reais de negócios são os fenómenos primários estudados na
macroeconomia.1

1.2 IMPORTÂNCIA DO CRESCIMENTO ECONÓMICO

Nas próximas cinco aulas iremos expor os modelos do crescimento económico, ins-
trumentos teóricos que não só devem explicar as experiências de crescimento a nível
mundial, mas também servir de base da qual se pode extrair orientações de política
económica, principalmente para os países menos desenvolvidos elevarem os níveis de
renda per capita e combaterem a pobreza. Com vista a motivar a necessidade do estudo
da teoria do crescimento económico, esta primeira aula apresenta os fundamentos que
tornam o crescimento económico um dos fenómenos primários estudados na macro-
economia e os factos pelos quais qualquer teoria sobre este processo deverá avaliada.

Como fenómeno moderno, o crescimento económico tem-se registado de forma


sustentada desde a revolução industrial, que teve início no século XVIII na Inglaterra e
difundiu-se pelo mundo através da globalização das economias. Assim, desde a revolução

1 Williamson, Stephen D. (2008) Macroeconomics. Boston: Pearson


3
industrial, os países hoje considerados ricos têm estado a registar um crescimento
sustentado das respectivas rendas per capita e, consequentemente, melhorias nos
padrões de vida. Como resultado, entre os anos 1800 e 1950 abriu-se um fosso em termos
da renda per capita entre os países da Europa Ocidental, os EUA, o Canadá, a Austrália e
a Nova Zelândia, como um grupo, que cresceram, e os países da África, da Ásia e da
América do Sul, como outro grupo, que se atrasaram. Em suma, durante este período
houve divergência entre os padrões de vida nos países ricos, por um lado, e os dos países
pobres por outro.

Acumulados durante um período de tempo relativamente longo, estas variações


quantitativas têm reflexos qualitativos no bem estar social da população. Como ilustram
os números constantes do Quadro 1.1, o PIB per capita de Moçambique não só se encontra
abaixo da media da África Sub-Sahariana, como também da média dos países de baixa
renda. A economia de Moçambique tem uma alta dependência de uma agricultura de
baixa produtividade. Os reflexos sociais destes indicadores económicos encontram-se nas
baixas taxas de escolarização e reduzida esperança de vida à nascença. Como resultado,
o país tem um baixo índice de desenvolvimento humano.

Quadro 1.1: Alguns indicadores de desenvolvimento (dados de 2010)


Moçambique África Sub- Países de Países de EUA
Sahariana Renda Renda
Baixa Média
Renda nacional bruta per capita (US$)
440 1.165 510 3.764 47.140
Peso da agricultura no PIB (%) 31 13 26 10 1
Produtividade da agricultura (US$ por
trabalhador, período 2005-07)
148 316 269 730 44.041
Taxa de escolarizaçao de adultos (%) 55 62 61 83 ..
Racio raparigas/rapazes nos ensinos 89 89 91 97 101
primario e secundario (%)
Esperança de vida a nascença (anos) 48 53 58 69 79
Classificaçao noRDHa do PNUD (de um
total de 187 países)
184 4
Nota: (a) Relatório do Desenvolvimento Humano
Fontes:
 UNDP (2011) Human Development Report 2011 – Sustainability and Equity: A Better Future for Alls. New
York: Palgrave
 World Bank (2011) World Development Report 2012: Gender Equality and Development. Washington, DC:
World Bank

O crescimento económico é também um meio eficaz para a redução da pobreza.


Numa amostra de 92 países, David Dollar e Aart Kraay documentaram que quando a
economia cresce em 1 por cento, a renda dos 20 por cento mais pobres da população

4
também cresce em 1 por cento.2 Este processo não implica, contudo, uma alteração na
distribuição da renda. A promoção da equidade social requer outras políticas e nao a
simplicas promoção do crescimento económico.

Concluimos, assim, que o melhor entendimento dos factos geradores do


crescimento económico tem o potencial de contribuir para o “bem-estar da huma-
nidade”.3 É, assim, difícil contemplar estes factos e não considerar o entendimento da
“mecânica do crescimento económico” — como Robert Lucas, Jr., chamou este processo
— um imperativo para a ciência económica.4

1.3 FACTOS REGULARES DO CRESCIMENTO ECONÓMICO

A teoria económica assenta em dois pilares: (i) o da observação empírica e medição; e (ii)
o da teoria. Antes de apresentar a teoria, na forma dos modelos de crescimento
económico, necessitamos de ter uma ideia dos factos que esta teoria deve explicar. Com
base nas observações de longo prazo nos países industrializados, Nicholas Kaldor em
1961 identificou as seguintes regularidades:5

(i) O nível potencial do produto (Y) cresce de forma sustentada, de modo que a
produtividade do trabalho, 𝑦 = 𝑌/𝐿, aumenta ao longo do tempo;
(ii) O capital tende a crescer de forma sustentada a uma taxa maior que a taxa de
crescimento da força de trabalho, de modo que o rácio capital-trabalho, 𝑘 =
𝐾 ⁄𝐿, tende a crescer;
(iii) O rácio capital-produto, 𝐾 ⁄𝑌, permanece constante; e
(iv) A taxa de lucro, Π⁄𝐾 , é relativamente constante.

Combinado com o terceiro facto, o de que o rácio capital-produto permanece


constante, o último facto, o de que a taxa de lucro também mantém-se constante, tem duas
implicações:

 a distribuição relativa do rendimento entre os factores de produção per-


manece constante (proporções que vão para os salários e os lucros); e
 a taxa de retorno do capital permanece constante.

Robert Barro e Xavier Sala-i-Martin argumentam que a observação da estabilidade


da taxa de retorno do capital terá sido influenciada pela experiência do Reino Unido, em

2Dollar, David e Aart Kraay (2002) “Growth is Good for the Poor.” Journal of Economic Growth 7, pags. 195-
225
3 Temple, Jonathan (1999) “The New Growth Evidence.” Journal of Economic Literature 37(1): pags. 112-56
4Lucas, Robert (1988) “On the Mechanics of Economic Development.” Journal of Monetary Economics 22,
pags. 3-42
5Kaldor, Nicholas (1961) “Capital Accumulation and Economic Growth.” Cap. 10 em The Theory of Capital,
editado por F. A. Lutz e D. C. Hague. Londres: Macmillan
5
que a taxa de juro real não parece mostrar qualquer tendência de longo prazo.6 Para os
EUA, dados de longo prazo sugerem uma tendência para a queda da taxa de juro real. Em
alguns países de crescimento rápido, como a Corea do Sul e Singapura, as taxas de juro
são mais altas que as dos EUA, mas tendem a cair. Deste modo, a observação deveria ser
substituida pela da tendência de queda das taxas de juro reais à medida que a economia
se desenvolve.

O problema levantado por Barro e Sala-i-Martin chama atenção para a necessidade


de se distinguir as economias: (i) ao longo da dinâmica transitória, em que se encontram
ainda em direcção ao equilíbrio de longo prazo; e (ii) no estado estacionário, em que já
alcançaram tal equilíbrio. Os factos de Kaldor referem-se a um equilíbrio de longo prazo,
enquanto a tendência identificada por Barro e Sala-i-Martin refere-se a dinâmica
transitória. Assimptoticamente, as taxas de retorno deverão cair para um equílibrio no
qual se irão manter.

A disponibilidade de dados, permitindo comparações internacionais revela dois


factos referentes aos período pós-II Guerra Mundial:7

 Os países que eram ricos em 1960, por um lado, têm maiores similaridades em
termos do desempenho das economias e há evidência de convergência entre
elas, uma vez que deste grupo de países, aqueles que eram menos ricos,
comparativamente aos EUA em 1960, cresceram mais rapidamente no período
subsequente.
 Por outro lado, há uma grande dispersão das taxas de crescimento entre os
países que eram pobres no fim da II Guerra Mundial, tendo alguns ficado na
“armadilha do sub-desenvolvimento”, ou da estagnação de longo prazo,
enquanto outros sustentaram altas taxas de crescimento.

Esta dispersão das experiências de crescimento a nível mundial pode ser re-
presentada pelo triângulo da Figura 1.2. Ao longo da hipotenusa dispersam-se países da
Organização da Cooperação para o Desenvolvimento Económico (OCDE) que incluem
países que eram ricos em 1960, os países asiáticos que experimentaram crescimento
rápido durante este período, incluindo o Japão e a Corea do Sul. Este grupo de países
reduziu os fossos que separam as respectivas economias da maior economia mundial: os
EUA. Em África Sub-Sahariana, Botswana encontra-se nesta hipotenusa da convergência.
Dentro do triângulo e à medida que nos aproximamos da origem dos eixos do gráfico,
encontram-se os países pobres, na sua maioria da África Sub-Sahariana, que, durante o
período, experimentaram fraco crescimento. Houve também “desastres”, ou seja países

6Barro, Robert J. e Xavier Sala-i-Martin (2004) Economic Growth (2.a Edição). Cambridge, MA, e Londres:
MIT Press
7Heston, A., R. Summers e B. Aten (2002) Penn World Tables – Version 6.1. Centre for International
Comparisons at the University of Pennsylvania (CIUP). Pwt.econ.upenn.edu
6
cujas economias retrocederam durante este período, tendo registado crescimento
negativo.

Figura 1.2: Triângulo de dispersão das experiências de crescimento

g1960-2000

“Milagres” Países da OCDE


de cres-
cimento

Países pobres e
de fraco crescimento
0
“Desastres” de crescimento

ln(y1960)
Dos 20 países identificados por Barro e Sala-i-Martin (2004) como tendo registado
as taxas de crescimento económico mais baixas — próximas do zero ou negativas —
apenas dois (Venezuela e Nicarágua) não são da África Sub-Sahariana. O Quadro 1.2
resume as experiências de crescimento económico de alguns países em três grupos:

(i) o dos países de crescimento fraco, onde temos a destacar o facto de a


Venuzuela, país que era considerado rico em 1960, com uma renda per
capita 83,7 por cento da renda per capita dos EUA, então, retrocedeu para
uma renda per capita 39,3 por cento da renda per capita dos EUA;
(ii) o dos países que experimentaram crescimento económico rápido, tendo,
por isso aproximado o seu rendimento per capita do rendimento dos EUA
(principalmente Singapura e Hong Kong), enquanto Botswana, tendo
partido de uma base muito pequena, ascendeu à categoria de país de renda
média durante o mesmo período; e
(iii) o dos países que em 1960 eram considerados ricos, sendo de notar que em
geral todos cresceram maos rapidamente que os EUA, com a excepção de
Trinidade e Tobago que, tendo crescido lentamente retrocedeu-se em
relação aos EUA.

7
Quadro 1.2: Algumas experiências mundiais de crescimento económico, 1960-2000
País Taxa de cres- Renda per capita
cimento
(proporção da dos EUA)
1960 2000

Países de fraco crescimento


República Democrática do Congo -0,032 0,013 0,002
República Centro-Africana -0,017 0,048 0,014
Níger -0,015 0,037 0,012
Angola -0,014 0,079 0,026
Moçambique -0,011 0,078 0,029
Madagáscar -0,010 0,096 0,037
Venezuela -0,005 0,837 0,393

Países de crescimento rápido


Taiwan 0,064 0,138 0,946
Singapura 0,062 0,205 0,868
Corea do Sul 0,059 0,111 0,630
Hong Kong 0,054 0,171 0,804
Botswana 0,051 0,050 0,210
China 0,043 0,044 0,136
Japão 0,042 0,205 0,609

Países ricos
Estados Unidos da América 0,014 1,000 1,000
Holanda 0,020 0,701 0,888
Bélgica 0,024 0,586 0,868
Canadá 0,016 0,797 0,867
Austrália 0,016 0,788 0,853
França 0,023 0,552 0,786
Trinidade e Tobago 0,005 0,692 0,484
Fontes: Barro e Sala-i-Martin (2004: Quadros 12.1 e 12.2) e Jones (2002: Quadro C.2)

1.4 PRINCIPAIS MODELOS A ESTUDAR

Acima vimos que o crescimento económico não é apenas um processo que leva a um
aumento quantitativo da riqueza das nações. Mais do que isso, gera impactos qualitativos
que qualquer cidadão e fazedor de política económica almeja: massificação dos serviços

8
sociais, em geral, e do acesso à educação, em particular; eleva a esperança de vida à
nascença e cria condições para o desenvolvimento humano. A qualidade da vida melhora
à medida que as nações vão se tornando mais ricas.

No entanto, a experiência mundial mostra que apenas um número limitado de


países — os hoje considerados industrializados — experimentaram um aumento
sustentado das suas rendas desde o século XVIII. Na segunda metade do seculo XX ainda
um outro grupo de países experimentaram um processo rápido de recuperação do fosso
que os separa da maior potência mundial: os EUA. O que e que explica o progresso de
alguns países enquanto a maioria encontra-se presa na estagnação, se não em retrocesso?
Os modelos que iremos apresentar partilham uma característica: a longo prazo geram um
crescimento balanceado; ou seja, replicam os factos de Kaldor, apresentado na secção 1.2,
acima.

Estes modelos enquadram-se em dois grupos fundamentais: (i) os modelos que


olham para o crescimento económico como resultado da acumulação do capital físico (os
modelos de Harrod-Domar e neoclássico); e (ii) os modelos que procuram explicar o
crescimento da produtividade total de factores — o “resíduo de Solow” — também
chamados modelos de crescimento endógeno.

Todos os modelos que iremos apresentar, a longo prazo, geram um crescimento


balanceado, entendido como sendo um caminho de crescimento em que, à medida que a
renda per capita aumenta, o rácio capital-produto e a distribuição da renda entre o capital
e o trabalho mantém-se a níveis relativamente constantes. Estes são estilizados do
crescimento económico, identificados por Kaldor.

1.5 PRESSUPOSTOS COMUNS DOS MODELOS DE ACUMULAÇÃO DO


CAPITAL FIXO

Os modelos de acumulação do capital fixo assentam num conjunto de pressupostos


comuns. O primeiro é que a economia é habitada por indivíduos idênticos; portanto, não
há heterogeneidade de preferências, pelo que se uma escolha é preferida pelo
consumidor representativo, será também preferida por todos os habitantes desta
economia. Todos habitantes encontram-se em idade activa.

No período inicial a economia herda um stock de força de trabalho, 𝐿(0), que


cresce a uma taxa constante, n. Assim, em qualquer momento, t, o stock da força de
trabalho é dado pela seguinte fórmula:

𝐿(𝑡) = 𝐿(0)𝑒 𝑛∙𝑡 , onde 𝑡 > 0.

Sendo esta economia fechada e sem governo, a produção (Y) é afecta a dois fins:
consumo (C) e poupança (S). Assim, temos a oferta agregada:

9
[1.1] 𝑌 =𝐶+𝑆

Em termos de usos, o mesmo produto pode ser ou consumido ou investido (I), o que nos
permite expressar a procura agregada do seguinte modo:

[1.2] 𝑌 =𝐶+𝐼

O equilíbrio requer que a oferta agregada [1.1] seja igual à procura agregada [1.2] e esta
condição de equilíbrio impõe que o investimento seja igual a poupança:

[1.3] 𝐼=𝑆

Até este ponto, apenas sabemos que as famílias consomem e poupam, mas como é
que elas dividem o rendimento entre os dois usos? Assuma-se que depois de um exercício
de optimização, chegam à conclusão de que em cada unidade de rendimento gerado é
melhor poupar uma proporção fixa, s. Assim, a poupança total é dada por:

[1.4] 𝑆 = 𝑠 ∙ 𝑌, onde 0 < 𝑠 < 1.

A condição de equilíbrio [1.3] requer que esta poupança seja totalmente investida,
transformando-se em capital. Dado que o capital deprecia-se à taxa  em cada momento
do tempo, a sua evolução é dada pela equação diferencial:
𝑑𝐾
[1.5] 𝐾̇ = 𝑑𝑡 = 𝐼 − 𝛿𝐾,

significando que o stock do capital aumenta com o investimento e diminui com o desgaste
causado pela depreciação.

1.6. MODELO DE HARROD-DOMAR

O modelo de Harrod-Domar foi desenvolvido, de forma independente, pelos economistas


inglês, Sir Roy Harrod (1939), e americano de origem russa, Evsey Domar (1946). Este
modelo baseia-se numa função de produção de Leontief, em que os insumos são
combinados em proporções fixas:
𝐾 𝐿
[1.6] 𝑌 = 𝑚𝑖𝑛 ( 𝜈 , 𝛼), para ν > 0 e α > 0,

onde 𝜈 são unidades do capital necessárias para gerar uma unidade de produto e 𝛼 ,
unidades do trabalho necessárias para gerar uma unidade de produto. O valor destes
parâmetros mede a eficácia com que os insumos são transformados em produto. Quanto
mais baixos forem ν e α, menores serão as necessidades de capital e de trabalho para
gerar uma unidade do produto.

O operador min(...) na função de produção [1.6], representada graficamente na


Figura 1.3, significa que qualquer que seja o número mínimo, entre 𝐾/𝜈 e 𝐿/𝛼 , irá

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determinar o volume de produção. Um exemplo seria o número de pessoas e enxadas
necessárias para cultivar uma extensão de terra. Como cada pessoa necessita de uma
enxada, se o número de enxadas for inferior ao de pessoas, as enxadas disponíveis irão
determinar a extensão da terra a ser cultivada. Se o número de pessoas for inferior ao de
enxadas, os homens disponíveis irão determinar a extenso da terra aser cultivada.

Figura 1.3: Função de produção de Leontieff

𝜈/𝛼

Y1

𝜈 Y0 = 1

0 𝛼 L

1.6.1. CONDIÇÕES DE PLENO EMPREGO DO CAPITAL E DO TRABALHO


Se o capital e o trabalho estão plenamente empregues — nenhum dos insumos está a mais
— então temos:
𝐾 𝐿
[1.7] 𝑌= = 𝛼,
𝜈

𝐾 𝐿 𝐾 𝜈
O que resulta em 𝜈 = 𝛼, o mesmo que 𝐿 = 𝛼. Este resultado, 𝜈/𝛼, é a tangente (inclinação)
da linha ao longo da qual se encontram os vértices das isoquantas na Figura 1.3; ou seja,
a linha do pleno emprego dos factores de produção. Se o rácio capital-trabalho for maior
que 𝜈/𝛼, haverá excesso de capital. Se este rácio for menor que 𝜈/𝛼 haverá desemprego.

1.6.2. DINÂMICA DO MODELO


A dinâmica do modelo de Harrod-Domar é determinada pela evolução dos stocks dos
factores de produção (o capital e o trabalho), sujeita ao constrangimento do pleno-

11
emprego, de ambos os actores de produção, dado pela equação [1.7]. Assim, as dinâmicas
do capital e da força de trabalho terão de respeitar as seguintes equação:
𝐾
[1.7’.a] 𝑌= 𝜈

𝐿
[1.7’.b] 𝑌=𝛼

Diferenciando estas duas equações com respeito ao tempo, temos:


𝐾 ̇
[1.7’’.a] 𝑌̇ = 𝜈

𝐿̇
[1.7’’.b] 𝑌̇ =
𝛼

Dividindo ambos os lados das equações [1.7’’.a-b] por Y e evocando as condições de


equilíbrio [17’.a-b], temos:

𝑌̇ 𝐾̇ 𝐿̇
= =
𝑌 𝐾 𝐿
O que quer dizer que para haver pleno emprego de todos os factores de produção o
produto, o capital e a força de trabalho têm de crescer todos à mesma taxa.

1.6.3. O PROBLEMA DO MODELO DE HARROD-DOMAR


Mas nada assegura que esta igualdade ocorrerá, porquanto a taxa de crescimento do
stock de capital é dada pela equação [1.5]:

𝐾̇ 𝐼 − 𝛿𝐾
=
𝐾 𝐾
Evocando as equações [1.3] e [1.4] as quais impõem que 𝐼 = 𝑠 ∙ 𝑌:

𝐾̇ 𝑌
= 𝑠( )−𝛿
𝐾 𝐾
Substituindo o K pela condição de pleno emprego do capital [1.7’.a] e rearranjando, temos
a taxa de crescimento garantida, que significa que a taxa de crescimento económico será
mais alta quanto maiores forem a taxa de poupança e a eficácia na utilização do capital,
para uma dada taxa de depreciação:
𝐾̇ 𝑠
[1.8] =𝜈−𝛿
𝐾

Por sua vez, a força de trabalho cresce a uma taxa constante, ou seja, à taxa natural:
𝐿̇
[1.9] =𝑛
𝐿

12
Torna-se, assim, evidente a dificuldade do modelo de Harrod-Domar. Para se garantir o
pleno emprego do capital ao longo do caminho de crescimento, a produção e o capital têm
de crescer à mesma taxa — a taxa de crescimento garantida. Para se assegurar o pleno
emprego do trabalho, a produção e a força de trabalho têm de crescer à mesma taxa — a
taxa de crescimento natural. Assim, o pleno emprego do capital e da força de trabalho
requer que as taxas de crescimento garantida e natural coincidam:
𝑠
−𝛿 =𝑛
𝜈
Como todos os parâmetros são dados de forma independente, a possibilidade de
pleno emprego de ambos o capital e o trabalho é remota:

 Se a taxa de crescimento garantida excede a taxa de crescimento natural, a


economia irá acumular capital em excesso ao longo do caminho de cresci-
mento.
 Se a taxa de crescimento natural excede a garantida, a economia terá pro-
blemas de desemprego ao longo do caminho de crescimento.

1.7. EXERCÍCIOS

1. Quais são os factos primários estudados na macroeconomia?

2. Porque os governos dedicam esforços no combate aos cíclos reais de negócios?

3. Em Moçambique, o objectivo central do governo é o combate à pobreza, através


do crescimento económico. Apresente fundamentos que levam os governos a tomarem o
crescimento económico como condição para o combate à pobreza.

4. Defina um modelo de crescimento balanceado.

5. Uma observação casual sugere que as taxas de juro são mais altas nos países em
desenvolvimento que nos países industrializados.
a) Haverá base teórica para esta diferença?
b) Será possível reconciliar esta diferença com os factos estilizados de Kaldor?

6. No grupo dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento


Económico (OCDE) o nível do produto per capita inicial associa-se fortemente com o
crescimento económico no período subsequente, mas quando se alarga a amostra
incluindo-se os países em desenvolvimento, esta associação entre o nível inicial do
produto e o crescimento económico deixa de existir. Porque?

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7. No quadro do modelo de Harrod-Domar, o que é que assegura o crescimento
económico sustentado a longo prazo?

8. Avalie as causas do desemprego nos países em desenvolvimento à luz do modelo


de Harrod-Domar.

9. No modelo de Harrod-Domar, a crescente globalização das economias torna


irrelevante o problema da possível diferença entre as taxas de crescimento garantida e
natural.

10. No modelo de Harrod-Domar, considere duas economias, A e B, caracterizadas


pela taxa de poupança (s), racio capital-produto (ν) e taxa de depreciaçao (δ) do seguinte
modo:

s ν δ
Economia A 0,3 4 0,05
Economia B 0,3 3 0,05

a) Qual destas economias irá crescer mais rapidamente?


b) Se a taxa de crescimento da força de trabalho for 0,025 ao ano, qual destas
economias poderá assegurar o pleno emprego de ambos o capital e o trabalho ao
longo do respectivo caminho do crescimento?

14
1. MODELO NEOCLÁSSICO BÁSICO

O modelo de crescimento neoclássico deve-se principalmente às contribuições de dois


economistas — o americano Robert Solow8 e o australiano Trevor Swan9 — em trabalhos
publicados em 1956.

2.1. Equações Fundamentais da Dinâmica


Para ultrapassar o problema encontrado no modelo de Harrod-Domar — o de não se
poder assegurar a priori a igualdade entre as taxas de crescimento garantida e natural —
o modelo neoclássico assume uma tecnologia que permite a substitutabilidade entre os
insumos. Assim, dado que a produção requer o uso do capital e do trabalho, a tecnologia
é definida do seguinte modo:

[2.1] 𝑌 = 𝐹(𝐾, 𝐿),

tendo as seguintes propriedades:

(i) Rendimentos marginais positivos: 𝐹𝐾 (𝐾, 𝐿) > 0 e 𝐹𝐿 (𝐾, 𝐿) > 0;


(ii) Rendimentos marginais decrescentes: 𝐹𝐾𝐾 (𝐾, 𝐿) < 0 e 𝐹𝐿𝐿 (𝐾, 𝐿) < 0;
(iii) Não admissão dos almoços grátis, pelo que, para haver produção pelo
menos um dos insumos tem que estar presente em quantidade positiva:
𝐹(0,0) = 𝐹(0, 𝐿) = 𝐹(𝐾, 0) = 0; e
(iv) Homegeneidade do primeiro grau; i.e., rendimentos contantes de escala:
𝐹(𝜆𝐾, 𝜆𝐿) = 𝜆𝐹(𝐾, 𝐿), para 𝜆 > 0.
(v) 𝐹(𝐾, 𝐿) satisfaz as condições de Inada:
lim 𝐹𝐾 (𝐾, 𝐿) = ∞ e lim 𝐹𝐾 (𝐾, 𝐿) = 0, para 𝐿 > 0; e
𝐾→0 𝐾→∞
lim 𝐹𝐿 (𝐾, 𝐿) = ∞ e lim 𝐹𝐿 (𝐾, 𝐿) = 0, para 𝐾 > 0.
𝐿→0 𝐿→∞

Uma forma de interpretar a propriedade (iv) da função de produção neoclássica é que


duplicando todos os insumos de produção (caso em que 𝜆 = 2) o nível da produção
também duplica-se.

Podemos simplificar a nossa análise reduzindo o número das variáveis no modelo.


Dado que esta economia tem um total de L trabalhadores, todos idênticos, podemos
dividir todas as variáveis por L e focarmos na dinâmicas das mesmas em termos das

8Solow, Robert M. (1956) “A Contribution to the Theory of Economic Growth.” Quarterly Journal of
Economics 70 (Fevereiro): pags. 65-94
9Swan, Tevor W. (1956) “Economic Growth and Capital Accumulation.” Economic Record 32 (Novembro):
pags. 334-61
15
quantidades disponíveis por cada habitante (ou trabalhador). Assim, definimos os
seguintes rácios por trabalhador: o consumo, 𝑐 = 𝐶/𝐿; a função de produção, 𝑓(𝑘) =
𝐹(𝐾, 𝐿)/𝐿; o investimento, 𝑖 = 𝐼/𝐿; o capital, 𝑘 = 𝐾/𝐿; e o nível do produto, 𝑦 = 𝑌/𝐿.

A condição dos retornos constantes de escala dita que multiplicando todos os


insumos por 𝜆 = 1/𝐿 a produção será também multiplicada por 1/𝐿:

𝐾 𝐿 𝐹(𝐾, 𝐿)
𝐹( , ) =
𝐿 𝐿 𝐿

Substituindo 𝐹(𝐾, 𝐿) por Y no lado direito desta igualdade, temos:


𝐾 𝑌
𝐹 ( , 1) = ,
𝐿 𝐿

O que implica:

[2.1’] 𝑓(𝑘) = 𝑦

Do mesmo modo, a variação do stock do capital pode ser expressa na forma


intensiva (em termos de rácios por trabalhador). Considerando que definimos 𝑘 = 𝐾/𝐿,
diferenciando este rácio em relação ao tempo, temos:

𝐾̇ 𝐾̇ 𝐿 − 𝐾𝐿̇ 𝐾̇
𝑘̇ = ( ) = = − 𝑛𝑘
𝐿 𝐿2 𝐿

Substituindo 𝐾̇ pela equação da dinâmica do stock do capital, 𝐾̇ = 𝐼 − 𝛿𝐾, a equação [1.5]


da aula 1, temos:

[2.2] 𝑘̇ = 𝑖 − (𝑛 + 𝛿)𝑘

Esta equação diferencial [2.2] diz que o stock do capital disponível para cada trabalhador
cresce com o investimento e diminui com a taxa de crescimento da força de trabalho —
pois o crescimento da força de trabalho implica que há cada vez mais trabalhadores para
serem equipados — e com o desgaste do capital devido à depreciação.

2.2. Equilíbrio de Longo Prazo


O estado estacionário é aquele em que todas as quantidades param de crescer. No caso
da acumulação do stock do capital, este estado é alcançado no nível do capital em que,
dada a taxa de poupança, o investimento realizado é apenas para repor o stock do capital
por trabalhador perdido por causa da entrada de novas pessoas no mercado de trabalho
e pela depreciação:

[2.3] 0 = 𝑠𝑓(𝑘 ∗ ) − (𝑛 + 𝛿)𝑘 ∗

onde k* é o stock do capital no estado estacionário.

16
A Figura 2.1 mostra a determinação do equilíbrio. Trata-se de um equilíbrio
estável, na medida em que começando de qualquer lado a economia desloca-se para ele:

 À esquerda de k*, por exemplo em k1, poupa-se e investe-se mais do que o


necessário para repor a intensidade do investimento perdida por causa do
crescimento da força de trabalho e da depreciação do capital, ou seja 𝑠𝑓(𝑘1 ) >
(𝑛 + 𝛿)𝑘1. Sendo o investimento líquido positivo, o stock do capital aumenta
até ao ponto em que este é igual a k*.
 À direita de k*, por exemplo em k2, a poupança e o investimento não cobrem
as necessidades para repor o capital perdido pela depreciação e pelo
crescimento da força laboral, ou seja, 𝑠𝑓(𝑘2 ) < (𝑛 + 𝛿)𝑘2 . Investimento
líquido negativo significa que o stock do capital disponível para cada
trabalhador está a diminuir, processo que irá continuar até se alcançar o ponto
em que o capital por trabalhador é exactamente igual a k*.

Figura 2.1: Determinação de equilíbrio no modelo neoclássico

y
𝑓(𝑘)
y*

(𝑛 + 𝛿)𝑘
consumo
i* 𝑠𝑓(𝑘)

investimento liquido
investimento

0 k1 k* k
2.3. O Papel da Taxa de Poupança
Consideremos quatro países, A, B, C e D, similares em todas as características, com a
excepção da taxa de pounça (s), de tal modo que 𝑠𝐴 < 𝑠𝐵 < 𝑠𝐶 < 𝑠𝐷 . O país com a taxa de
poupança mais baixa (sA), a longo prazo tem um stock de capital e produto por
trabalhador (𝑘𝐴∗ e 𝑦𝐴∗ , respectivamente), mais baixos. Elevando a taxa de poupança, a
longo prazo, obtém-se stocks de capital e nível do produto por trabalhador mais elevados.
Fica, assim, evidente um resultado importante do modelo de crescimento neoclássico: o

17
alcance de stock de capital e nível de rendimento elevados a longo prazo requer alta taxa
de poupança.

Figura 2.2: Efeito da variação da taxa de poupança

y
𝑦𝐷∗ 𝑓(𝑘)
𝑦𝐶∗
𝑐𝐷 (𝑛 + 𝛿)𝑘
𝑦𝐵∗
𝑐𝐶 𝑠𝐷 𝑓(𝑘)

𝑦𝐴∗ 𝑐𝐵 𝑠𝐶 𝑓(𝑘)

𝑠𝐵 𝑓(𝑘)
𝑐𝐴
𝑠𝐴 𝑓(𝑘)

Mas será
0 sempre 𝑘𝐴∗ o aumento
𝑘𝐵∗ 𝑘𝐶∗ da taxa𝑘𝐷∗de poupança
k uma política socialmente
óptima? O objectivo último da acumulação do capital e do aumento do nível da produção
a longo prazo é a criação de condições para o aumento do consumo, uma medida de bem-
estar. Na Figura 2.2 pode-se notar que com taxas de poupanças suficientemente baixas,
por exemplo, a volta de sA, o nível de consumo alcançado a longo prazo (cA) é também
baixo. Elevando a taxa de poupança, o consumo também aumenta, mas continuando a
elevar a taxa de poupança, o consumo eventualmente baixa. Como é que podemos saber
se a taxa de poupança prevalecente nesta economia é óptima?

Nesta economia, o consumo é a diferença entre a produção e a poupança que, no


estado estacionário, toma a forma:

𝑐 ∗ = 𝑓(𝑘 ∗ ) − 𝑠𝑓(𝑘 ∗ )

Na equação [2.3] vimos que no estado estacionário o investimento é apenas para a


reposição do capital perdido pelo efeito do crescimento da população e da depreciação:

𝑠𝑓(𝑘 ∗ ) = (𝑛 + 𝛿)𝑘 ∗

Assim, a equação do consumo pode ser expressa do seguinte modo, considerando que os
valores do estado estacionário dependem da taxa de poupança:

[2.4] 𝑐 ∗ (𝑠) = 𝑓[𝑘 ∗ (𝑠)] − (𝑛 + 𝛿)𝑘 ∗ (𝑠).


18
O nosso exercício consiste na procura da resposta à questão: qual é a taxa de
poupança que maximiza o consumo no estado estacionário? Em outras palavras, trata-se
da escolha do s que maximiza c*(s) na equação [2.4]. A condição de primeira ordem é:

𝑑𝑐 ∗ (𝑠) 𝑑𝑓(𝑘 ∗ ) 𝑑𝑘 ∗
=[ − 𝑛 − 𝛿] =0
𝑑𝑠 𝑑𝑘 ∗ 𝑑𝑠

Donde resulta que:


𝑑𝑓(𝑘 ∗ )
[2.5] =𝑛+𝛿
𝑑𝑘 ∗

Esta equação [2.5] é o que Edmund Phelps chamou “regra de ouro” de acumulação
do capital.10 No modelo de Solow e Swan, a taxa de poupança que maximiza o consumo é
aquela que iguala o produto marginal do capital a longo prazo à soma das taxas de
crescimento da força de trabalho e da depreciação do stock do capital:
𝑑𝑓(𝑘 ∗ )
 Se tivermos uma situação em que > 𝑛 + 𝛿, a economia está a poupar
𝑑𝑘 ∗
pouco; poderia disfrutar de maiores níveis de consumo a longo prazo, elevando
a taxa de poupança.
𝑑𝑓(𝑘 ∗ )
 No outro caso em que < 𝑛 + 𝛿, a economia é dinamicamente ineficiente,
𝑑𝑘 ∗
pois poderia melhorar o bem-estar da população consumindo parte do stock
do capital. Neste caso a taxa de poupança deve ser reduzida.

A Figura 2.3 mostra a relação entre o consumo no estado estacionário e a taxa de


poupança.

10Phelps, Edmund (1961) “The Golden Rule of Accumulation: A Fable for Growthmen.” American Economic
Review 51(4): pags. 638-43
19
Figura 2.3: Relação entre a taxa de poupança e o consumo no estado
estacionário

c*

couro

c*

0 souro s

Exercícios

1. No modelo neoclássico de crescimento económico, países com altas taxas de


crescimento da força de trabalho também tem altas taxas de crescimento económico.
Concorda? Junstifique.

2. A evidência empirica mostra uma forte correlaçao positiva entre a taxa de


poupança e o crescimento economico. É possível reconciliar esta evidência com o modelo
neoclássico de crescimento económico? Como?

3. Nem sempre o aumento da taxa de poupança é uma política óptima. Discuta.

4. Sem progresso tecnológico, o modelo neoclássico de crescimento económico gera


estagnação a longo prazo. Comente.

5. Suponha uma economia caracterizada pela funçao de produçao 𝑦 = 𝐴𝑘 𝛼 , onde k =


67.500,00 MT, α = 1/3, e A = 650. Analise a eficiência dinâmica desta economia a taxa de
juro de 0,23 e taxa de crescimento da força de trabalho de 0,024.

20
6. Nos países com altas taxas de crescimento da população, as taxas de juro de longo
prazo sao altas. Comente.

3. Extensões e Aplicações do Modelo Neoclássico

3.1. Extensões do Modelo Neoclássico


Nesta aula, com o auxílio da função de produção de Cobb-Douglas iremos explorar as
implicações do modelo neoclássico, avaliando a capacidade deste modelo de replicar a
realidade empírica, não só a retratada nos factos de Kaldor, como também as experiências
mudiais de crescimento, que se tem verificado no período pós-II Guerra Mundial. Iremos
apresentar duas extensões do modelo: numa incorporando o progresso tecnológico e
noutra incorporando o capital humano. A aula termina com a aplicação do modelo
neoclássico na quantificação do contributo dos diferentes factores no crescimento
económico — a contabilidade do crescimento.

3.1.1. O Papel do Progresso Tecnológico

A equação diferencial [2.2] implica que no estado estacionário o investimento por


trabalhador é apenas para recuperar o stock de capital por trabalhador perdido pela
depreciação e pelo crescimento da força de trabalho, 𝑖 = (𝑛 + 𝛿)𝑘. Consequentemente o
stock do capital por trabalhador e o produto por trabalhador mantêm-se constante. Esta
hipótese da estagnação contraria uma das observações de Kaldor segundo a qual, ao
longo do tempo, a produtividade da força de trabalho e o capital disponível para cada
trabalhador aumentam de forma sustentada.

Para resolver este problema, numa outra contribuição, Robert Solow (1957)
sugeriu uma abordagem na qual se introduz uma veriável A que capta o progresso

21
tecnológico que ocorre de forma exógena; i.e., assumindo que o índice da tecnologia
cresce a uma taxa constante:11

𝐴̇
=𝛾
𝐴
O progresso tecnológico pode ser inserido no nosso modelo de três formas:

 Progresso tecnológico neutral de Hicks: 𝐹(𝐾, 𝐿, 𝐴) = 𝐴𝑌(𝐾, 𝐿). Este tipo de


progresso tecnológico torna todos os insumos mais produtivos.
 Progresso tecnológico neutral de Solow: 𝐹(𝐾, 𝐿, 𝐴) = 𝑌(𝐴𝐾, 𝐿). Neste caso, o
progresso tecnológico reforça o capital, de maneiras que um A mais alto é como
se a economia tivesse mais capital.
 Progresso tecnológico neutral de Harrod: 𝐹(𝐾, 𝐿, 𝐴) = 𝑌(𝐾, 𝐴𝐿). O progresso
tecnológico reforça o insumo trabalho, de modo que ao longo do tempo é como
se a economia ganhasse mais trabalhadores.

O crescimento balanceado necessita que o progresso tecnológico reforce o


trabalho ou seja, neutral de Harrod. Este é um resultado de certo modo surpreendente na
medida em que não se sabe porque é que o progresso tecnológico deveria tomar esta
forma.

Assim, iremos assumir que o progresso tecnológico entra na função de produção


aumentando a produtividade do trabalho:

𝑌 = 𝐹(𝐾, 𝐴𝐿).

Em termos do rácio trabalho efectivo, definimos: o produto, 𝑦̃ = 𝑌/(𝐴𝐿), e o capital 𝑘̃ =


𝐾/(𝐴𝐿). Tornando a nossa função de produção:

𝑦̃ = 𝑓(𝑘̃)

Diferenciando o rácio capital-trabalho efectivo, temos:


𝐾̇ (𝐴𝐿)−𝐾(𝐴̇𝐿+𝐴𝐿̇ )
[3.1] 𝑘̃̇ = (𝐴𝐿)2
= 𝑠𝑓(𝑘̃) − (𝛾 + 𝑛 + 𝛿)𝑘̃

Assim, no estado estacionário a taxa de crescimento do capital passa a ser 𝑛 + 𝛿, ou seja


para repor a intensidade do capital perdida pela depreciação e pelo crescimento da
população, mais uma fração adicional, 𝛾, que reflecte o aumento da produtividade do
trabalho.

11Solow, Robert M. (1957) “Technical Change and the Aggregate Production Function.” Review of
Economics and Statistics 39(3): 312-320
22
3.1.2. O Caso da Função de Produção de Cobb-Douglas

Uma forma funcional que respeita todas as propriedades de uma função de produção
neclássica apresentada na secção 2.1.1, da aula anterior, é a de Cobb-Douglas:

[3.2] 𝑌 = 𝐾 𝛼 (𝐴𝐿)1−𝛼 , onde 0 < 𝛼 < 1.

Podemos mostrar, por exemplo, que [3.2] é homogénea do primeiro grau; ou seja, é uma
tecnologia caracterizada por retornos constantes de escala. Multiplicando todos os
insumos por 𝜆 > 0, o produto também multiplica-se por 𝜆:

(𝜆𝐾)𝛼 (𝜆𝐴𝐿)1−𝛼 = 𝜆𝐾 𝛼 (𝐴𝐿)1−𝛼 = 𝜆𝑌;

Para continuarmos a trabalhar com os rácios por trabalhador, vamos definir 𝜆 =


1/(𝐴𝐿) e multiplicar por todos os insumos:

𝐾 𝛼 𝐴𝐿 1−𝛼 𝑌
( ) ( ) =
𝐴𝐿 𝐴𝐿 𝐴𝐿

Ou seja, a função de produção fica assim expressa na forma intensiva:

[3.2’] 𝑘̃ 𝛼 = 𝑦̃.

Tratando-se de uma economia fechada, o investimento é uma proporção fixa (s)


do nível do produto, 𝑖̃ = 𝑠𝑦̃ = 𝑠𝑘̃ 𝛼 . Substituindo esta definição do investimento na
equação diferencial da acumulação do stock do capital, temos:

[3.1’] 𝑘̃̇ = 𝑠𝑘̃ 𝛼 − (𝛾 + 𝑛 + 𝛿)𝑘̃.

Avaliando [3.1’] no estado estacionário, em que 𝑘̇ = 0, temos o valor do stock do capital a


longo prazo:
1
𝑠 1−𝛼
̃∗
𝑘 =( )
𝛾+𝑛+𝛿

Confirmando os resultados da secção 2.1.3, segundo os quais uma alta taxa de poupaça
eleva os stock do capital a longo prazo e uma alta taxa de crescimento da força de trabalho
diminui o stock do capital disponível para cada trabalhador a longo prazo.

Substituindo k* na função de produção [3.2’] podemos, igualmente, determinar o


nível do produto no estado estacionário:
𝛼

𝑠 1−𝛼
𝑦̃ = ( )
𝛾+𝑛+𝛿

Obviamente, o rácio capital face ao produto no estado estacionário será constante:

23
𝑘̃ ∗ 𝑠
𝜈= ∗
=
𝑦̃ 𝛾+𝑛+𝛿

Do mesmo modo, podemos determinar a taxa de retorno do capital no estado esta-


cionário. Sabendo que o produto marginal do capital e 𝑓′(𝑘̃) = 𝛼𝑘̃ 𝛼−1 e avaliando no
estado estacionário, substituimos k por k*, temos:

𝛾+𝑛+𝛿
𝑓′(𝑘̃ ∗ ) = 𝛼 ( )
𝑠

Portanto, de acordo com o modelo neoclássico, espera-se que países com altas taxas de
crescimento da força de trabalho e baixas taxas de poupança tenham altas taxas de juro
a longo prazo. Este resultado permite-nos, ainda, responder a uma das questões
prementes no estudo das finanças internacionais e economia de desenvolvimento é:
porque é que o capital não flui dos países ricos para os países pobres? O modelo
neoclássico de crescimento económico mostra que a taxa de juro de longo prazo é mais
alta nos países onde se verifica o progresso tecnológico, implicando aumento sustentado
da produtividade do trabalho.

É também fácil mostrar que a proporção do rendimento dedicado ao capital é


constante:

𝑘̃ ∗
𝛼 = ( ∗ ) ∙ 𝑓′(𝑘̃ ∗ )
𝑦̃

3.1.3. Acumulação do Capital Humano

Em 1992, Gregory Mankiw, David Romer e David Weil propuseram uma extensão do
modelo neoclássico, através da inclusão do capital humano (H). 12 Assumiram uma
tecnologia de Cobb-Douglas na qual a tecnologia entra pelo aumento da produtividade do
trabalho:

[3.3] 𝑌 = 𝐾 𝛼 𝐻𝛽 (𝐴𝐿)1−𝛼−𝛽

Para que a tecnologia [3.3] satisfaça a propriedade neoclássica dos rendimentos


marginais decrescentes é necessario que 𝛼 + 𝛽 < 1.

A economia investe proporçoes fixas, sk e sh, do produto no capital físico e no


capital humano, respectivamente. Tanto o capital físico como o capital humano
depreciam-se à taxa δ. Assim a evolução da economia é guiada pelas seguintes equações
diferenciais:

12Mankiw, N. Gregory, David Romer e David N. Weil (1992) “A Contribution to the Empirics of Economic
Growth.” Quarterly Journal of Economics 107(2): pags. 407-37
24
𝐾̇ = 𝑠𝑘 𝑌 − 𝛿𝐾
[3.4] {
𝐻̇ = 𝑠ℎ 𝑌 − 𝛿𝐻

A seguir, definimos os rácios por unidades efectivas de trabalho, nomeadamente: o


produto, 𝑦̃ = 𝑌/(𝐴𝐿); o capital físico, 𝑘̃ = 𝐾/(𝐴𝐿); e capital humano, ℎ̃ = 𝐻/(𝐴𝐿).

Nesta forma intensiva, o produto [3.3] fica:

𝑦̃ = 𝑘̃ 𝛼 ℎ̃𝛽

e o sistema de equações diferenciais [2.10] fica:

𝑘̃̇ = 𝑠𝑘 𝑦̃ − (𝛾 + 𝑛 + 𝛿)𝑘̃
[3.4’] {
ℎ̃̇ = 𝑠ℎ 𝑦̃ − (𝛾 + 𝑛 + 𝛿)ℎ̃

A solução do sistema [3.4’] mostra que a economia converge para um estado estacionário
com as seguintes intensidades do capital físico e humano:13
1
1−𝛽 𝛽 1−𝛼−𝛽
𝑠𝑘 ∙𝑠ℎ
[3.5a] 𝑘̃ ∗ = ( 𝛾+𝑛+𝛿 )

1
𝛼 1−𝛼
𝑠𝑘 ∙𝑠ℎ 1−𝛼−𝛽
[3.5b] ℎ̃∗ = ( 𝛾+𝑛+𝛿 )

Mostrando que a prosperidade a longo prazo requer que se invista em ambos o capital
fisico e capital humano.

13Uma forma fácil de solucionar o sistema [3.4’] e, depois de avaliá-lo no estado estacionário, linarizá-lo
atraves da logaritmização:
𝛾+𝑛+𝛿
(𝛼 − 1)𝑙𝑛𝑘̃ ∗ + 𝛽𝑙𝑛𝑘̃ ∗ = 𝑙𝑛 ( )
𝑠𝑘
𝛾+𝑛+𝛿
𝛼𝑙𝑛𝑘̃ ∗ + (𝛽 − 1)𝑙𝑛ℎ̃∗ = 𝑙𝑛 ( )
{ 𝑠ℎ
𝛼−1 𝛽
Para usar a regra de Cramer, calculamos as seguintes discriminantes: ∆= | | = 1 − 𝛼 − 𝛽;
𝛼 𝛽−1
𝛾+𝑛+𝛿 𝛾+𝑛+𝛿
𝑙𝑛 ( ) 𝛽 𝛽 1−𝛽 𝛼−1 𝑙𝑛 ( )
𝑠𝑘 𝑠ℎ ∙𝑠𝑘 𝑠𝑘 𝑠𝑘𝛼 ∙𝑠ℎ
1−𝛼
∆𝑙𝑛𝑘̃ ∗ = | 𝛾+𝑛+𝛿
| = 𝑙𝑛 ( ) ; e ∆𝑙𝑛ℎ̃∗ = | 𝛾+𝑛+𝛿
| = 𝑙𝑛 ( ) . Deste modo o
𝛾+𝑛+𝛿 𝛾+𝑛+𝛿
𝑙𝑛 ( ) 𝛽−1 𝛼 𝑙𝑛 ( )
𝑠ℎ 𝑠ℎ
𝛽 1−𝛽 𝛼 1−𝛼
𝑠ℎ ∙𝑠𝑘 𝑠 ∙𝑠
𝑙𝑛(
𝛾+𝑛+𝛿
) 𝑙𝑛( 𝑘 ℎ )
∆𝑙𝑛𝑘
̃∗ ∆𝑙𝑛ℎ
̃∗ 𝛾+𝑛+𝛿
sistema tem a seguinte solução: 𝑙𝑛𝑘̃ ∗ = = e 𝑙𝑛ℎ̃∗ = = . Rearranjando e
∆ 1−𝛼−𝛽 ∆ 1−𝛼−𝛽
tirando anti-logaritmos, temos as soluções [2.11a] e [2.11b].
25
3.2. Contabilidade do Crescimento Económico
Uma das aplicações dos modelos de crescimento económico é na identificação das fontes
do crescimento económico. Considerando que a produção na economia obedece a
tecnologia 𝑌 = 𝐴𝐾 𝛼 𝐿1−𝛼 e logaritmizando:

𝑙𝑛𝑌 = 𝑙𝑛𝐴 + 𝛼𝑙𝑛𝐾 + (1 − 𝛼)𝑙𝑛𝐿

Diferenciando com relação ao tempo, temos a decomposição das fontes do crescimento


económico:

𝑌̇ 𝐴̇ 𝐾̇ 𝐿̇
= + 𝛼 + (1 − 𝛼)
𝑌 𝐴 𝐾 𝐿
Assim, o crescimento económico observado durante um determinado período de tempo
resulta do crescimento na produtividade total de factores (𝐴̇/𝐴), do crescimento no stock
do capital (𝐾̇ /𝐾) e do crescimento na força do trabalho (𝐿̇/𝐿).

Enquanto o crescimento económico, o crescimento do stock do capital e o


crescimento da força do trabalho são observáveis, com base nos dados estatísticos, o
crescimento da produtividade total de factores é calculado como resíduo:

𝐴̇ 𝑌̇ 𝐾̇ 𝐿̇
= − 𝛼 − (1 − 𝛼)
𝐴 𝑌 𝐾 𝐿
Robert Solow foi o primeiro a usar esta metodologia para os EUA, com dados
referentes ao período de 40 anos, de 1909 a 1949.14 Os resultados mostraram que apenas
12 por cento do crescimento económico naquele período foi devido a expansão do capital
e da força de trabalho. Os restantes 88 por cento resultaram da expansao do residuo
(𝐴̇/𝐴). Dados do Labour Bureau of Statistics, indicam que no período de 1948 a 1998, a
produtividade total de factores (PTF) contribuiu com 58 por cento do crescimento
económico registado nos EUA (Figura 2.4).

14Solow, Robert M. (1957) “Technical Change and the Aggregate Production Function.” Review of Economics
and Statistics 39 (Agosto): pags. 312-20
26
Figura 3.1: Fontes do Crescimento Económico nos EUA, 1948-98

Capital
34%

PTF
58%

Trabalho
8%

Fonte: Labour Bureau of Statistics, citado em Jones, Charles I. (2002)


Introduction to Economic Growth. Nova Iorque e Londres: W.W. Norton
& Company

Sam Jones aplicou técnicas de contabilidade do crescimento para a economia


moçambicana, estimando a função de produção:15

𝑌 = 𝐴𝐾 𝛼 (ℎ𝐿)1−𝛼 ,

Onde o índice do capital humano foi calculado do seguinte modo: ℎ = ∑𝑁 𝑖=1 𝑝𝑖 𝑤𝑖 , onde i
representa o nível de ensino alcançado pelo trabalhador (primário, secundário a
superior, ou nenhum); pi, a proporção dos trabalhadores na categoria i na força de
trabalho; e wi, salário médio da categoria i relativamente ao salário médio da força de
trabalho não especializada.

A estimativa econométrica de 𝛼 foi de 0,28. A decomposição das taxas de


crescimento para o período de 1980 a 2004 e representada no Quadro 3.1. Durante este
período, a economia moçambicana cresceu a uma taxa média anual de 2,6 por cento, 46,5
por cento da qual resultou do crescimento do stock capital e 43,8 por cento, do
crescimento da força do trabalho. A a produtividade total de factores durante o período
caiu, em virtude da guerra que se registou até 1992. A recuperação no período pós-guerra

15Jones, Sam (2008) “Sustaining Growth in the Long Term.” Capitulo 3 em Post-Stabilization Economics in
Sub-Saharan Africa: Lessons from Mozambique. Editado por Jean A. P. Clément e Shanaka J. Peiris.
Washington, DC: IMF
27
baseou-se na acumulação do capital físico, associada a actividade dos mega-projectos,
principalmente no período pós-1999.

Quadro 3.1: Contabilidade do crescimento em Moçambique (%)


𝐻̇ /𝐻
Período 𝑌̇/𝑌 𝐴̇/𝐴 𝐾̇ /𝐾 𝐿̇/𝐿 ℎ̇/ℎ
1980-91 -1,72 -2,25 -0,66 0,81 0,38
1992-98 5,22 1,67 1,84 1,31 0,40
1999-04 7,37 1,11 3,84 1,50 0,92
1980-04 2,58 -0,27 1,2 1,13 0,52
Fonte: Jones (2008), Quadro 3.3, pag. 96

3.3. Implicação da Convergência


Dividindo ambos os lados de [3.1’] por 𝑘̃, temos:

𝑘̃̇
= 𝑠𝑘̃ 𝛼−1 − (𝛾 + 𝑛 + 𝛿)
𝑘̃

Sendo 𝛼 − 1 < 0, o termo 𝑠𝑘̃ 𝛼−1 decresce com o crescimento do stock do capital por
̃̇
𝑘
trabalhador. Consequentemente, a taxa de crescimento do stock de capital, 𝑘̃, reduz-se à
medida que o stock do capital por trabalhador for aumentando, como mostra a Figura 3.2.
A implicação é que a longo prazo haverá convergência, pois economias mais pobres
crescem mais rapidamente que as economias mais ricas.

28
Figura 3.2: Convergência na acumulação do stock do capital

𝑠𝑘̃ 𝛼−1

̃̇
𝑘
̃
>0 𝛾+𝑛+𝛿
𝑘
̃̇
𝑘
̃
<0
𝑘

0 𝑘̃0 𝑘̃ ∗ 𝑘̃1 𝑘̃
Para se testar esta implicação, nos estudos empíricos, toma-se um total de N países
em que cada país i tenha registado no tempo inicial t um PIB por trabalhador de yit e de
este tempo até ao tempo T tenha registado uma taxa média de crescimento 𝑔𝑖,𝑇−𝑡 , e
estima-se a seguinte equação de regressão:

[3.6] 𝑔𝑖,𝑇−𝑡 = 𝛼 + 𝛽𝑙𝑛(𝑦𝑖𝑡 ) + 𝜀𝑖𝑡

Se 𝛽 < 0, está-se perante evidência de convergência absoluta.

A Figura 3.3 mostra a dispersão das taxas de crescimento económico no período


de 1960 a 1985, contra o logarítmo natural do PIB por trabalhador em 1960. Os dados
foram extraidos do anexo de Mankiw, Weil e Romer (1992). 16 Conforme mostra a linha
de regressão, não se nota qualquer relação negativa entre a taxa do crescimento
económico e o nível do PIB por trabalhador, pelo que não há evidência de convergência
absoluta.

16
Mankiw, N. Gregory, David Romer e David N. Weil (1992) “A Contribution to the Empirics of Economic
Growth.” Quarterly Journal of Economics 107(2): pags. 407-37
29
Figura 3.3: Teste de convergência, 1960-1985

.08

.06

Crescimento Economico, 1960-1985 .04

.02

.00

-.02

-.04

-.06
5 6 7 8 9 10 11 12

ln(PIB por trabalhador em 1960)

De facto, estudos empíricos apenas têm encontrado evidência de convergência


condicional; isto é, encontra-se 𝛽 < 0 se o teste econométrico tiver sido condicionado:

 ou à selecção da amostra, incluido-se observações com características


comparáveis;
 ou à inclusão de outras variáveis — x1, x2, ... — que explicam o crescimento
económico, caso em que a equação do teste fica:

[3.7] 𝑔𝑖,𝑇−𝑡 = 𝛼 + 𝛽𝑙𝑛(𝑦𝑖𝑡 ) + 𝜑1 𝑥1 + 𝜑2 𝑥2 + ⋯ + 𝜀𝑖𝑡 .

A Figura 3.4 mostra a dispersão das taxas de crescimento económico entre 1960 a
1985, contra o logarítmo natural do PIB por trabalhador em 1960, nos países da OCDE.
Neste caso, a linha de regressão mostra uma relação negativa entre o crescimento
económico ocorrido durante o período e o PIB por trabalhador em 1960.

30
Figura 3.4: Teste de convergência, OCDE, 1960-1985

.06

Crescimento Economico, 1960-1985


.05

.04

.03

.02

.01

.00
7.6 8.0 8.4 8.8 9.2 9.6

ln(PIB por trabalhador em 1960)

No quadro 3.2 a coluna (1) mostra os resultados do teste da equação [3.6], em que
a variável dependente é o crescimento económico no período de 1960 a 1985. Como se
pode notar, o coeficiente do logarítmo natural do PIB por trabalhador em 1960 é
marginalmente positivo — contrariando a hipótese da convergência que prevê um sinal
negativo — e nem é estatisticamente significativo. Portanto, não há convergência
absoluta.

A coluna (2) testa a equação [3.7], incluindo a taxa de investimento em capital


físico e a taxa de escolarização para captar as escolhas dos países em 1960. Neste caso, o
coeficiente do logarítmo natural do PIB por trabalhador em 1960 é negativo e significa-
tivo. Isto mostra que a convergência é condicional.

31
Quadro 3.2: Testes de convergência
Variavel dependente: Crescimento económico entre 1960 e 1985
(1) (2)

Constante 0,0169 0,0694***


[0,0149] [0,0145]

Log[(PIB/População adulta) em 1960] 0,0001 -0,0117***


[0,0019] [0,0022]

Taxa de investimento 0,1471***


[0,0228]

Taxa de escolarização 0,2236***


[0,0677]

R2 0,0000 0,4588
Observações 121 121
Notas: *** Estimativa significativa a 1 por cento
Erros padrões entre os parênteses rectos

Muitos têm confundido a convergência β (das taxas de crescimento económico)


com a convergência σ (da redução da dispersão dos níveis de rendimento per capita), o
que para Danny Quah e Peter Hart é análogo a falácia de Galton sobre a dispersão das
alturas da população. Francis Galton observou que apesar de haver tendência para pais
de altura acima da altura média da população terem filhos também de altura acima da
altura média da população e pais de altura abaixo da altura média da população terem
filhos de altura também abaixo da altura média da população, em média, a altura dos
filhos nascidos de pais de uma dada altura (ou acima ou abaixo da altura média da
população) tendia a “regressar” para a altura média da população. Assim surgiu a palavra
“regressao”.17 Contudo, a observação de que, ao longo das gerações, as alturas dos filhos
tende a regressar para a altura média da população não implica que adispersão das
alturas da população tende a diminuir.

17 Gujarati, D. (1995) Basic Econometrics


32
Exercícios
7. A equação fundamental da dinâmica do stock do capital físico e 𝐾̇ = 𝐼 − 𝛿𝐾, em
que K e o stock do capital, I, o investimento e δ, a taxa de depreciação. Mostra como se
pode expressar esta equação diferencial em termos de racios por trabalhador efectivo,
AL, onde A e a eficiência da força de trabalho, que cresce a uma taxa 𝛾 e L é a força de
trabalho em termos de horas efectivas, que cresce à taxa n.

8. O conceito da convergência das taxas de crescimento economico tem varias


ramificaçoes. Identifique-as e comente sobre a sua validade empirica.

9. A convergência das taxas de crescimento economico implica economias a


equalizaçao dos niveis de renda per capita a longo prazo. Comente.

10. A baixa intensidade do capital nos países menos desenvolvidos não é condição
suficiente para a atracçao do capital os paises ricos. Comente.

11. Indique as condiçoes em que, no estado estacionário, o modelo neoclássico de


crescimento economico gera o mesmo resultado que o modelo Harrod-Domar.

12. Considere uma economia caracterizada pela função de produção 𝑌 =


𝐴𝐾 𝛼 (ℎ𝐿)1−𝛼
, onde Y é o nível do produto, K o stock do capital físico, h, o índice do capital
humano acumulado pelo trabalhador típico, L, a força de trabalho total, medida pelas
horas efectivas e α = 0,3.

a) Comente se a taxa de crescimento da produtividade de factores e uma


medida precisa do progresso tecnológico.

b) Suponha-se que durante um determinado período a economia tenha


crescido a uma taxa de 0,074, a produtividade total de factores, em 0,011, o stock
do capital fisico em 0,11 e o capital humano em 0,014. Calcule a taxa de
crescimento da força do trabalho.

33
4. Modelos de Crescimento Endógeno

4.1. Contexto
Nos anos 1980 começou a manifestar-se de forma crescente, no seio dos economistas, a
insatisfação com o modelo neoclássico de crescimento económico, pelas fraquezas
apontadas na aula 3, nomeadamente:

(i) o progresso tecnológico, factor fundamental para a prosperidade das nações a


longo prazo, é tratado, no modelo neoclássico, como elemento exógeno; e
(ii) o modelo neoclássico não explica satisfatoriamente a dispersão das taxas de
crescimento económico a nível mundial.

A disponibilidade de dados permitindo comparações internacionais facilitou a


investigação do segundo facto a cima — sobre a capacidade do modelo neoclássico de
explicar a dispersão das taxas de crescimento económico a nível mundial — o que criou
campo fértil para o surgimento da linha de investigação dos modelos de crescimento
endógeno.

Usando dados compilados pelo historiador Angus Maddison, William Baumol


notou ter-se registado, entre os países industrializados, um crescimento económico sem
precedentes durante o período de 1870 e 1979. 18 Com efeito, o produto por hora
trabalhada cresceu a taxas que variam entre os 400 por cento na Austrália e 2.500
porcento no Japão.19 Estimando uma equação de regressão da taxa de crescimento do
produto por hora trabalhada (𝑔) durante aquele período e pelo produto por hora
trabalhada (𝑦) em 1870, naquela amostra de 16 países industrializados, encontrou os
seguintes resultados:

𝑔1870−1979 = 5,25 − 0,75𝑙𝑛(𝑦1870 ), 𝑅 2 = 0,88

O que sugeria haver convergência naquele grupo de píses.

Na ausência de dados comparáveis para os países em desenvolvimento, Baumol


recorreu aos dados do PIB per capita durante o período de 1950 a 1980, compilados por
Alan Heston e Robert Summers, no projecto de comparações internacionais da
Universidade de Pennsylvania, cujos resultados são publicados nos Penn World Tables.
No grupo dos 72 países para os quais havia dados não notou haver associação

18Baumol, William J. (1986) “Productivity Growth, Convergence, and Welfare: What the Long-Run Data
Show.” American Economic Review 76(5): 1072-1085
19Os 16 países incluídos no estudo de Baumol (1986) são: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá,
Dinamarca, Estados Unidos de América, Finlândia, França, Holanda, Itália, Japão, Noruega, Reino Unido,
Suécia e Suiça.
34
significativa entre a taxa de crescimento do PIB per capita durante aquele período e o PIB
per capita em 1950.

Porque é que os países ricos, por um lado, crescem de forma sustentada e tende a
haver convergência entre eles, enquanto os países pobres, por outro, tiverem
desempenho variado, o que tende a causar divergência entre os padrões de vida
prevalecentes na queles países e os prevalecentes nos países ricos? Nesta aula
apresentamos a “nova” teoria do crescimento económico, a teoria do crescimento
endógeno, cujo propósito é tornar endógena a variação da produtividade total de
factores.

Na verdade, esta é uma área de pesquisa ainda em progresso e não existe um


modelo unificado para explicar o crescimento endógeno. Iremos apresentar dois grupos
de modelos: (i) os modelos Ak, que eliminam a implicação da convergência, introduzindo
externalidades geradas pela experiência acumulada, do efeito demonstração ou spillovers
associado ao conhecimento e do investimento no capital humano; e (ii) os modelos que
explicam a progresso tecnológico através da aposta na pesquisa e desenvolvimento nos
países avançados e difusão das tecnologias para os países em desenvolvimento.

4.2. Modelos Ak
4.2.1. Apresentação Geral

Em geral, os modelos Ak eliminam os rendimentos marginais decrescentes do capital,


evocando o papel da experiência adquirida no trabalho (ou seja, do learning by doing), os
spillovers resultantes do facto de as firmas observarem as outras a realizarem o
investimento e o papel do capital humano na pesquisa e desenvolvimento e absorção de
novas tecnologias.

Para eliminar os rendimentos marginais decrescentes, os modelos Ak assumem


que a produção por trabalhador (y) é função linear do capital por trabalhador (k):

[4.1] 𝑦 = 𝐴𝑘, onde A > 0.

Para derivarmos o equilíbrio deste modelo, precisamos de assumir que o investimento


resulta da poupança que e uma proporção fixa (s) do rendimento:

𝑖 = 𝑠𝑦 = 𝑠𝐴𝑘

de que resulta a seguinte dinâmica do stock do capital por trabalhador:

𝑘̇ = 𝑠𝐴𝑘 − (𝑛 + 𝛿)𝑘.

Dividindo ambos os lados desta equação diferencial por k, temos a taxa de crescimento
do stock de capital:

35
𝑘̇
=𝐴−𝑛−𝛿
𝑘
Assim, assegurado que 𝐴 > 𝑛 + 𝛿, esta economia irá crescer continuamente e não haverá
tendência para convergência.

A seguir apresentamos os argumentos que sustentam os modelos Ak.

4.2.2. Modelo dos Retornos Crescentes

Em 1986, Paul Romer apresentou um modelo de crescimento económico com retornos


crescentes, baseado em dois pressupostos:20

 A criação do conhecimento é produto colateral (secundário) do investimento, de


maneiras que uma firma que aumenta o stock do seu capital físico aprende
simultaneamente a produzir mais eficientemente; e
 A realização do investimento por uma firma gera fluxo de conhecimento ou
spillovers para outras firmas, fazendo com que numa economia em que o
investimento esteja a ter lugar ganhe capacidade para a realização de mais
investimento.

Esta abordagem de Romer ao processo do crescimento económico inspirou-se no


contributo de Kenneth Arrow que, em 1962, citou a regularidade empírica segundo a qual
o tempo (t) que se leva a construir um quadro (“frame”) de um avião é inversamente
relacionado com o numero (n) de aviões do mesmo modelo que já tenham construidos,
uma relação que toma a seguinte forma:

1
𝑡= 3
√𝑛

Este efeito na produtividade é chamado “aprender fazendo” ou learning by doing.21

Consideremos a função de produção de cada produtor, indexado por 𝑖 = 1,2, … , 𝑁:

[4.2] 𝑌𝑖 = 𝐾𝑖𝛼 (𝐴𝐿𝑖 )1−𝛼 , onde 0 < 𝛼 < 1.

Onde Ki e Li são capital e trabalho empregues pela firma i. Note-se que A não tem índice i,
dado que a tecnologia é comum para todas as firmas.

20Romer, Paul M. (1986) “Increasing Returns and Long Run Growth.” Journal of Political Economy
94(Outubro): 1002-37
21Arrow, Kenneth J. (1962) “The Economic Implications of Learning by Doing.” Review of Economic
Studies 29(June): 155-73
36
Em termos agregados, os stocks do capital e o volume da força de trabalho são
definidos como:
𝑁

∑ 𝐾𝑖 = 𝐾
𝑖=1

e
𝑁

∑ 𝐿𝑖 = 𝐿
𝑖=1

Definindo 𝑦𝑖 = 𝑌𝑖 /𝐿𝑖 e 𝑘𝑖 = 𝐾𝑖 /𝐿𝑖 , a função de produção [4.3] fica:

[4.2’] 𝑦𝑖 = 𝑘𝑖𝛼 𝐴1−𝛼

As firmas são competitivas em todos os mercados, o que implica que:

𝑑𝑦𝑖 𝐴 1−𝛼
𝑟= = 𝛼( )
𝑑𝑘𝑖 𝑘𝑖
Assim, para um dado custo do capital r, o stock do capital por trabalhador é igual em todas
as firmas: ki = k. Podemos assim, expressar a função de produção:

[4.2’’] 𝑦 = 𝑘 𝛼 𝐴1−𝛼

Com base nos pressupostos anunciados acima:

 A produtividade do trabalho resulta do facto de o “aprender fazendo” fun-


cionar através do investimento. Quando as firmas aumentam o seu stock de
capital, paralelamente, o seu stock do conhecimento (A) aumenta. Em outras
palavras, dado que a eficiência no uso dos insumos reflecte a experiência
acumulada com os investimentos realizados no passado e o volume desses
investimentos está refelectido no stock do capital; e
 Apesar de as firmas tomarem A como dado, este stock de tecnologia
(conhecimento) avança endogenamente para a economia como um todo,
devido ao fluxo do conhecimento ou spillovers entre as firmas.

Assim:

𝐴 = 𝐵𝑘, onde 𝐵 > 0.

Substituindo este pressuposto em [4.2’’], obtemos uma função de produção como [4.1]:

𝑦 = 𝑘 𝛼 (𝐵𝑘)1−𝛼 = 𝐵1−𝛼 𝑘

Ou seja, o produto torna-se função linear do stock do capital, o que elimina os


rendimentos decrescentes do capital.

37
4.2.3. Modelo do Capital Humano

O capital humano joga um papel importante nos modelos de crescimento económico. É


insumo chave no sector da pesquisa, que gera novos produtos ou ideias que impulsionam
o crescimento económico. Países com maiores stocks iniciais de capital humano
experimentam taxas aceleradas de introdução de novos bens e, portanto, tendem a
crescer rapidamente. Numa perspectiva de economia internacional, a difusão de novas
ideias entre países é um factor importante para a promoção do crescimento económico.
Um maior stock de capital humano facilita a absorção, pelos países, de novos produtos ou
ideias inventados noutros países. Assim, um país seguidor com capital humano cresce
rapidamente recuperando a distância que o separa do líder tecnológico.

Robert Lucas, Jr., inroduziu o capital humano no modelo de crescimento


económico assumindo que a população divide o fundo de tempo, na proporção 0 < 𝑢 < 1
para a acumulação do capital humano (H) e a restante, 1 − 𝑢, para a produção.22 Pode-se
imaginar o capital humano como sendo o número de trabalhadores (L) multiplicado pelas
habilidades (h) do trabalhador típico:

𝐻 =ℎ∙𝐿

A produção do bem final obedece a seguinte tecnologia

𝑌 = 𝐴𝐾 𝛼 [(1 − 𝑢)𝐻]1−𝛼 ,

que, multiplicando e dividindo o lado direito por K, pode ser apresentada do seguinte
modo:

𝐻 1−𝛼
[4.3] 𝑌 = 𝐴𝐾 [(1 − 𝑢) (𝐾 )]

Os stocks do capital físico (K) e do capital humano evolvem de acordo com as seguintes
equações diferenciais, respectivamente:

[4.4a] 𝐾̇ = 𝑠𝑌 − 𝛿𝐾 𝐾

[4.4b] 𝐻̇ = 𝐵𝑢𝐻 − 𝛿𝐻 𝐻

onde s é a taxa de poupança e δK e δH são as taxas de depreciação do capital físico e do


capital humano, respectivamente.

22
Lucas, Robert (1988) “On the Mechanics of Economic Development.” Journal of Monetary Economics 22,
pags. 3-42

38
As firmas operam num mercado competitivo, de maneiras que os factores de
produção são remunerados de acordo com os respectivos custos de oportunidade:

𝜕𝑌 𝐻 1−𝛼
[4.5a] = 𝛼𝐴 [(1 − 𝑢) (𝐾)] = 𝑟𝐾
𝜕𝐾

𝜕𝑌 𝐻 −𝛼
[4.5b] = (1 − 𝛼)(1 − 𝑢)𝐴 [(1 − 𝑢) (𝐾)] = 𝑟𝐻
𝜕𝐻

Em equilíbrio, as taxas líquidas de retorno do capital físico e do capital humano, têm de


ser iguais à taxa de juro do mercado, 𝑟𝐾 − 𝛿𝐾 = 𝑟𝐻 − 𝛿𝐻 , o que aplicado as condições
marginais [4.5a] e [4.5b], implica:

𝐻 −𝛼 𝐻
(1 − 𝑢)𝐴 [(1 − 𝑢) ( )] [𝛼 ( ) − (1 − 𝛼)] = 𝛿𝐾 −𝛿𝐻
𝐾 𝐾
Sendo o lado direito desta igualdade uma constante, a mesma apenas se pode veri-
𝐻
ficar se o rácio H/K também for constante, = 𝜔 , o que substituido na função de
𝐾
produção [4.3] mostra que o produto e função do stock do capital:

𝑌 = [(1 − 𝑢)𝜔]1−𝛼 𝐴𝐾

Assim, uma economia caracterizada por esta tecnologia pode evitar rendimentos
decrescentes através de uma política que assegure que o capital físico e o capital humano
𝐻
cresçam à mesma taxa, de modo a manter 𝐾 = 𝜔. Este é, portanto, um resultado análogo
ao que encontramos no modelo da Harrod-Domar.

4.3. Progresso Tecnológico


4.3.1. Investimento na Pesquisa e Desenvolvimento

A função de produção agregada no modelo de Paul Romer descreve como o stock do


capital, K, e o trabalho, L, são combinados para produzir o bem Y, usando o stock de ideias
A. 23 O número dos trabalhadores, que é equivalente ao da população total, cresce
exponencialmente à taxa constante, 𝑛 = 𝐿̇/𝐿. Considerando que uma fracção 0 < 𝜇 < 1
da força de trabalho é dedicada à área da pesquisa e desenvolvimento e a restante, 1 − 𝜇,
na produção do bem final, a produção deste bem final obedece à seguinte tecnologia:

𝑌 = 𝐾 𝛼 [𝐴(1 − 𝜇)𝐿]1−𝛼 , onde 0 < 𝛼 < 1.

23Romer, Paul M. (1990) “Endogenous Technological Change” Journal of Political Economy 98 (Outubro),
Parte II: Pags. S71-S102
39
A acumulação do capital físico requer um sacrifício do consumo presente numa
fracção s do rendimento, sendo que o stock do capital acumulado deprecia-se a taxa
instantanea, 𝛿.

𝐾̇ = 𝑠𝑌 − 𝛿𝐾

No sector da pesquisa e desenvolvimento assume-se uma função de produção na


qual a quantidade de novas ideias a produzir depende do stock do conhecimento existente
(𝐴) e do número de investigadores envolvidos, 𝜇𝐿:

𝐴̇ = 𝐴𝜙 (𝜇𝐿)𝜆 , onde 0 < 𝜙 < 1 e 0 < 𝜆 < 1.

Dividindo ambos os lados por A, temos:


𝐴̇
[4.6] = 𝐴𝜙−1 (𝜇𝐿)𝜆
𝐴

Assumindo que ao longo do caminho de crescimento balanceado, o stock de ideias cresce


𝐴̇
a uma taxa constante, = 𝛾 , então podemos ter que esta equação, depois de
𝐴
logaritmizada, fica:

𝑙𝑛𝛾 = (𝜙 − 1)𝑙𝑛𝐴 + 𝜆(𝑙𝑛𝜇 + 𝑙𝑛𝐿).

Diferenciando com respeito ao tempo e rearranjando, temos a taxa de crescimento do


stock do conhecimento:24

𝐴̇ 𝜆𝑛
=
𝐴 1−𝜙

A qual depende da taxa de crescimento da força de trabalho. Substituindo este resultado


em [4.6], temos a evolução do stock de ideaias no estado estacionario:
1
(1 − 𝜙)[𝜇𝐿(𝑡)]𝜆 1−𝜙
𝐴∗ (𝑡) = { }
𝜆𝑛

Que mostra que o stock de tecnologia a longo prazo depende da fracçao, 𝜇, da força de
trabalho afecta na área da pesquisa e desenvolvimento.

4.3.2. Trasferência da Tecnologia

Nesta secção acrescentamos o mecanismo da transferência da tecnologia. Endoge-


neizamos o mecanismo pelo qual países se habilitam a usar vários equipamentos de
capital. Assume-se que se trata de um país pequeno, potencialmente distante da fronteira

24 Note que 𝛾, 𝜙, 𝜆 e 𝜇 são constantes por definição.


40
tecnológica. Este país cresce aprendendo a usar bens de capital modernos disponíveis no
resto do mundo.

A materialização desta transferência requer que uma fracção θ do tempo seja gasta
na acumulação de competências, seja na escola ou na formação com vista a aprender o
uso de novos instrumentos de produção.

Este país produz um bem homogéneo, Y, usando o trabalho, L, e o stock de capital


K. Definindo os rácios por trabalhadores, 𝑦 = 𝑌/𝐿 e 𝑘 = 𝐾/𝐿, a tecnologia fica expressa
do seguinte modo:

𝑦 = 𝑘 𝛼 [(1 − 𝜃)ℎ]1−𝛼 , onde 0 < 𝛼 < 1.

As competências dos trabalhadores são medidas pelo número de equipamentos que os


trabalhadores são capazes de manusear (ℎ). Estas habilidades evoluem de acordo com a
seguinte função:

ℎ̇ = 𝑒 𝜓𝜃 𝐴𝛽 ℎ1−𝛽 , onde 0 < 𝛽 ≤ 1.

O A denota a fronteira tecnológica, determinada pelo investimento em pesquisa e


desenvolvimento nos países desenvolvidos. Com uma pequena transformação, temos a
taxa de crescimento das habilidades:

ℎ̇ 𝐴 𝛽
= 𝑒 𝜓𝜃 ( ) ,
ℎ ℎ

Significando que a taxa de crescimento das habilidades ou competências dos


trabalhadores diminui à medida que o país se aproxima da fronteira tecnológica,
reduzindo o rácio 𝐴/ℎ.

Uma vez alcançada a fronteira tecnológica, A e h passam a crescer à mesma taxa:

ℎ̇ 𝐴̇
= =𝛾
ℎ 𝐴
De maneiras que o rácio A/h mantém-se constante. Aliás, esta condição é fundamental
para que o modelo gere um caminho de crescimento balanceado; isto é, reproduza os
factos de Kaldor, com particular realce para aqueles segundo os quais y = Y/L e k = K/L
crescem de forma sustentada ao longo do tempo de maneiras que K/Y mantém-se
constante ao longo do tempo.

41
Exercícios
1. As externalidades que caracterizam o modelo de learning by doing só podem ser
modeladas numa estrutura de mercado de concorrência perfeita. Comente.

2. Fale das similaridades e diferenças entre o modelo de Harrod-Domar e os modelos


de crescimento endogeno Ak.

3. De que maneira sera possivel uma pais menos desenvolvido crescer a mesma taxa
que os paises na fronteira tecnológica?

42
5. Outras Hipóteses Explicativas da Dispersão
das Taxas de Crescimento Económico

Se os modelos que vimos expondo nas aulas anteriores constituem uma teoria completa
do crescimento económico, então permanece, entre a teoria e a prática da política
económica, uma agrande oportunidade de arbitragem a ser explorada em prol do bem
estar da humanidade, em geral, e da população residente nos países em desenvolvimento,
em particular. Avaliando pelo desempenho das economias da África Sub-Sahariana desde
1960, conclui-se que é nesta região do mundo em que a distância entre a teoria do
crescimento económico e a política económica mais se faz sentir.

As economias africanas têm registado taxas de crescimento económico mar-


cadamente mais baixas que outras regiões do mundo.25 Como ilustra o Quadro 5.1, das
10 economias de crescimento mais rápido — comumente consideradas “milagres” na
literatura — entre 1960 e o ano 2000, apenas uma é da África Sub-Sahariana: Botswana.
Das 10 economias com maiores taxas de contração durante este período, nove são da
África Sub-Sahariana.

Este resultado é, para alguns e considerado uma tragédia, ou seja “potencial não
realizado, com consequências desastrosas”,26 principalmente tomando em consideração
que em 1960 as médias da renda per capita na Ásia e em África eram similares e alguns
peritos então consideravam que África tinha maior potencial para acelerar o crescimento
económico que Ásia.27

Nesta aula, sem procurar ser exaustivos, iremos apresentar hipóteses adicionais
que têm sido discutidas na literatura na procura de explicação para a dispersão das
experiências de crescimento económico a nível mundial.

25Collier, Paul, e Jan Willem Gunning (1999) “Explaining African Economic Performance.” Journal of
Economic Literature 37(1): pags. 64-111
26Easterly, William, e Ross Levine (1997) “Africa’s Growth Tragedy: Policies and Ethnic Divisions.”
Quarterly Journal of Economics 112 (4): pags. 1203-50
Agenor, Pierre-Richard e Peter J. Montiel (1999) Development Macroeconomics. Princeton, NJ: Princeton
27

Univ. Press (Cap. 17)


43
Quadro 5.1: Países de maiores taxas de crescimento económico e de contracção
económica, 1960-2000 – Taxas anuais de crescimento do produto per capita
Paises de crescimento mais rapido Paises de maior contracçao economica
Taiwan 0,064 Congo (Kinshasa) -0,032
Singapura 0,062 Republica Centro-Africana -0,017
Coreia do Sul 0,059 Niger -0,015
Hong Kong 0,054 Angola -0,014
Botswana 0,051 Nicaragua -0,012
Tailandia 0,046 Moçambique -0,011
Chipre 0,046 Madagascar -0,010
China 0,043 Nigeria -0,009
Japao 0,042 Zambia -0,008
Irlanda 0,041 Chade -0,007
Fonte: Barro, Robert J., e Xavier Sala-i-Martin (2004) Economic Growth. Cambridge, MA,
e Londres: MIT Press, Quadros 12.1 e 12.2.

5.1. Geografia
Jeffrey Sachs e Andrew Warner identificam o clima e o isolamento como maiores entraves
para o desenvolvimento das economias da África Sub-Sahariana.28 Países localizados nos
trópicos tendem a crescer mais lentamente que os países nos climas mais temperados, o
que se deve a duas razões principais: (i) países tropicais encaram uma variedade de
doenças, como a malária, que são menos prevalentes nas zonas temperadas e que
constituem fonte de baixa produtividade do trabalhado; e (ii) o crescimento da
agricultura nas zonas tropicais tem sido retardado pela fragilidade dos solos, fraca
regularidade das chuvas, prevalência de doenças veterinárias e frequencia de desastres
naturais.

Como resultado das fronteiras traçadas no periodo colonial, cerca de um terço de


todos os países da Africa Sub-Sahariana nao tem acesso ao mar. Países que estão
geograficamente isolados enfrentam altos custos nas suas transacções com o resto do
mundo. Sem acesso ao mar, em particular, têm de pagar pelo transporte terrestre para
atravessar pelo menos uma fronteira em adição aos custos de frete marítimo.

Esta hipótese da Geografia tem sido contestada por autores como Daron
Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson.29 O argumento é que o centro de gravidade

28Sachs, Jeffrey D., e Andrew M. Warner (1997) “Sources of Slow Growth in African Economies.” Journal of
African Economies 6(3): pags. 335-76
29Acemoglu, Daron, Simon Johnson e James A. Robinson (2002) “Reversal of Fortune: Geography and
Institutions in the Making of the Modern World Income Distribution.” Quarterly Journal of Economics
117(4): pags. 1231-94
44
da economia mundial foi se movendo das zonas tropicais para as zonas temperadas ao
longo do tempo. As zonas tropicais onde a necessidade de calorias é baixa
providenciaram o melhor ambiente para as primeiras civilizações. A geografia tornou-se
menos importante com a difusão do progresso tecnológico. Contudo, apesar do papel
chave que a tecnologia teve nas zonas temperadas ela teve menos efeito nas zonas
tropicais.

No que respeita ao isolamento, nota-se que há tambem territórios anteriormente


ricos, com portos naturais — nas ilhas das Caraíbas, na América Central, Índia e Indonésia
— que falharam a sua industrialização.

5.2. Abertura ao Comércio Internacional


Outra hipótese avançada por Jeffrey Sachs e Andrew Warner para o fraco desempenho
das economias africanas são as estratégias de industrialização para a substituição de
importação que foram apoiadas pela introdução de barreiras tarifárias e quantitativas
contra as importações, que limitaram a abertura das economias da região às trocas
comerciais com o resto do mundo. Estas opções negaram as economias africanas os
ganhos da concorrência que incentiva a eficiência na afectaçao dos recursos escassos.

Além disso, a restrição na mobilidade de capitais negou aos países africanos a


oportunidade de atrair os recursos necessários para acelerarem o passo de recuperação
do fosso que os separa dos países ricos. De acordo com o modelo neoclássico, a
convergência das taxas de crescimento pode ser acelerada com a mobilidade do capital
dos países ricos, onde o capital é abundante, para os países pobres, onde o capital e
escasso.

O comércio internacional é muitas vezes um veículo para a importação das


inovações e melhorias tecnológicas, que servem para elevar a produtividade total de
factores em toda a economia.

45
5.3. Profundidade Financeira
Os economistas têm opiniões diferentes quanto à importância do sistema financeiro no
desenvolvimento económico. Por um lado, a visão de Joseph Schumpeter toma os serviços
dos intermediários financeiros — mobilização da poupança, avaliação de projectos,
gestão do risco, monitoria dos gestores e facilitação das transacções — como sendo
essenciais para a inovação tecnológica e desenvolvimento económico. Mas outros
partilham da posiçao de Joan Robinson segundo a qual os serviços financeiros sao um
luxo que os agentes economicos procuram a medida que se vao tornando ricos. Em outras
palavras, a causalidade na relaçao positiva entre o crescimento economico e o
desenvolvimento dos sistemas financeiros parte do crescimento economico para o
desenvolvimento dos sistemas financeiros.

A nível macroeconómico, o trabalho de Robert King e Ross Levine parece ter posto
termo a este debate, tendo observado, numa amostra de cerca de 80 países, cobrindo o
período de 1960 a 1989, que indicadores como o rácio dos depósitos totais face ao PIB, o
rácio do crédito ao sector privado face ao PIB, no período inicial, associam-se
positivamente ao crescimento económicono período subsequente.30

Contudo, a nível microeconómico o debate não parece estar completamente


encerrado. Há evidência de que o sistema financeiro tem preferência de lidar empresas e
pessoas singulares a partir de uma determinada escala de actividade económica. O
sistema financeiro formal exclui as pequenas e médias empresas e as camadas mais
pobres da população. A nível internacional, os países pobres também não têm acesso ao
mercado de capitais. Esta evidência sugere que a relação detectada por King e Levine nao
sera monotonica. Os modelos de armadilha da pobreza, segundo os quais muitas famílias
e países estão amarrados num equilíbrio de fraco desenvolvimento económico
justamente porque a sua escala e baixa, seriam mais relevantes para avaliar a exclusão
financeira que ocorre em muitos paises em desenvolvimento.

30King, Robert G., e Ross Levine (1993) “Finance and Growth: Schumpeter Might Be Right.” Quarterly
Journal of Economics 108(Agosto): pags. 717-37
46
5.4. Maximização do Retorno do Capital Humano
A teoria do crescimento endógeno prevê que o investimento na educação favorece o
crescimento económico. Um maior stock do capital humano facilita a produçao de novas
ideias e o progresso tecnológico ou — para uma economia que não está na fronteira
tecnológica — uma absorção e adaptação relativamente rápida de novas ideias. Além
disso, as taxa de retorno do capital humano podem ser crescentes devido a beneficios de
externalidades; isto é, quando um trabalhador com maior instrução torna o grupo inteiro
de trabalhadores mais produtivo.

O beneficio económico da educação é dado não só pelo aumento da produtividade


da força de trabalho, mas também pelos benefícios sociais derivados das mudanças
comportamentais nas familias. A evidência mostra que mulheres com mais instrução têm
prestam maior atenção ao planeamento familiar; são mais eficientes no uso dos serviços
de saúde, não só para si mas também para as respectivas famílias; mandam seus filhos a
escola e estão mais preparados para tirar maiores beneficios dos investimentos na
educação.

Nancy Birdsall, David Ross e Richard Sabot notam que em 1960, países como
Egipto, Filipinas, Sri Lanka e a antiga União Soviética, como as economias do Leste da Ásia
tinham níveis mais elevados de capital humano para o seu nível de desenvolvimento. 31
Em 1960, a proporção da educação na despesa pública era de 2,5 por cento no Leste da
Ásia, 2,5 por cento na África Sub-Sahariana e 2,2 por cento em todos os países em
desenvolvimento. Nas décadas seguintes, todas as regiões aumentaram as proporções da
renda nacional investidas na educação, mas em 1989 a proporção da renda na educação
em África era de 4,1 por cento, mais alta que a do Leste da Ásia (3,7 por cento) que
marginalmente excedeu a media dos paises em desenvolvimento (3,6 por cento).

Entao, o que estara na origem das experiências dispares de crescimento


económico? Birdsall, Ross e Sabot sugerem que é importante identificar as causas das
diferenças na procura de mão-de-obra qualificada nos países asiáticos e de crescimento
rápido – Hong Kong, Indonesia, Japão, Coreia o Sul, Malasia, Singapura, Taiwan e
Tailandia – e os outros paises em desenvolvimento. Na Figura 3.1, S e D são,
respectivamente, curvas de oferta e de procura da força de trabalho qualificada num país
em desenvolvimento tipico e S’ e D’, as curvas de oferta e de procura de força de trabalho
qualificada nos paises do Leste da Ásia. No Leste da Ásia, a alta procura de mão-de-obra
especializada anulou o efeito da expansão do investimento no capital sobre a queda da
taxa de retorno do capital humano. Pelo contrário, apesar de a taxa de escolarização ser
alta noutros países em desenvolvimento, por exemplo, os indicados no ponto X, a taxa de
retorno é mais baixa. Acredita-se que políticas macroeconómicas, agrícolas e, em

31Birdsall, Nancy; David Ross e Richard Sabot (1995) “Inequality and Growth Reconsidered: Lessons from
East Asia.” World Bank Economic Review 9(3): pags. 477-508
47
particular, as de promoção das exportações contribuiram para a alta procura de mão-de-
obra qualificada na Ásia.

Figura 3.1: Taxa de retorno do capital humano

taxa de
retorno D’
S

D
S’

r2
r0

r1 X

0 H0 H1 H2 capital
humano

5.5. Heterogeineidade das Preferências


Uma das áreas de intensa actividade de pesquisa sobre os factores de crescimento
económico é a da economia política de desenvolvimento. A questão fundamental é:
porque é que algumas escolhas são feitas ainda que tenham consequencias desastrosas
no crescimento económico? Os modelos, tanto de acumulação do capital, como os do
crescimento endógeno, assentam na igualdade das preferências.

Contudo, quando os individuos têm preferencias heterogeneas as consequências


podem ser distintas nas escolhas públicas, pois se os individuos têm preferencias
diferentes procuram juntar menos esforços para os projectos públicos. Em sociedades
polarizadas, tanto pelas diferenças etnicas como pelas classes sociais, a proporçao da
despesa publica que vai para os bens publicos baixaporque contribuintes de um
determinado grupo valorizam despesas cujos beneficios fluem para o seu grupo e
descontam as despesas cujos beneficios fluem para os outros grupos.32 Por exemplo, os

32Alesina, Alberto, Reza Baqir e William Easterly (1999) “Public Goods and Ethnic Divisions.” Quarterly
Journal of Economics 114 (Novembro): pags. 1243-84
48
ricos tendem a ser contra politicas fiscais baseadas em impostos elevados se sentirem
que a receita resultante ira financiar despesas em serviços publicos que beneficiam as
classes mais pobres.

No caso da África Sub-Sahariana, a heterogeneidade das preferências não só


deriva das classes sociais, mas também da fraccionalização etno-linguística. O Quadro 5.2
mostra a classificaçao dos paises de acordo com a medida de fragmentação etno-
linguística que foi construida em 1960 por uma equipa de investigadores no Instituto
Etnológico de Miklukhu-Maklai na União Soviética e impresso em 1964 no Atlas Narodov
Mira. Esta variável mede a probabilidade de dois individuos seleccionados
aleatoriamente num país pertencerem a grupos etnolinguisticos distintos. Dos 10paises
mais fraccionalizados do mundo, 9 sao africanos. De facto, com base neste indice, em
media, um pais africano e mais do que duas vezes fraccionalizado que outros paises em
desenvolvimento.33

William Easterly e Ross Levine encontraram, no seu estudo, que este índice de
fraccionalização etno-linguistica tem uma correlação negativa com a escolarização,
profundidade financeira, prémios no mercado cambial paralelo e provisao de infra-
estruturas e, em ultima instancia, o crescimento economico.34

33
Collier, Paul, e Jan Willem Gunning (1999) “Explaining African Economic Performance.” Journal of
Economic Literature 37(1): pags. 64-111
34
Easterly, William, e Ross Levine (1997) “Africa’s Growth Tragedy: Policies and Ethnic Divisions.”
Quarterly Journal of Economics 112 (4): pags. 1203-50

49
Quadro 5.2: Índice Etno-linguístico de Fraccionalização (66 países, 1960)
Países mais fraccionalizados Países menos fraccionalizados
Tanzania 93 Haiti 1
Uganda 90 Japao 1
Zaire 90 Portugal 1
Camaroes 89 Hong Kong 2
India 89 Iemen 2
Africa do Sul 88 Alemanha 3
Nigeria 87 Burundi 4
Costa do Marfim 86 Republica Dominicana 4
Republica Centro Africana 83 Egipto 4
Quenia 83 Irlanda 4
Easterly, William, e Ross Levine (1997) “Africa’s Growth Tragedy: Policies
and Ethnic Divisions.” Quarterly Journal of Economics 117(4): pags. 1203-
50

Exercícios
1. De que maneiras é que a geografia pode explicar os fracassos no crescimento
económico ocorridos no periodo pós II Guerra Mundial?

2. Relacione o processo de integração regional na Comunidade de Desenvolvimento


da Africa Austral (SADC) com o objectivo de aceleração do crescimento económico em
Moçambique.

3. Considerando que a acumulação do capital humano é um dos pilares de


crescimento económico e combate a pobreza em Moçambique que recomendações teria
a dar de modo a maximizar-se o retorno deste investimento?

4. Disparidades na distribuição da renda retardam o crescimento económico.


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