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– Como terei certeza se meus cálculos estarão corretos em dois anos? O Payback
do meu investimento pode estar completamente errado – Dizia Eike em uma reunião de
negócios depois da leitura da previsão de inflação para os próximos meses.
Ou até mesmo:
– Os preços dos insumos de construção civil não param de subir, nesse ritmo, não
conseguirei terminar de construir minha casa própria – Resmungava Antônio, enquanto
fazia as contas do mês e procura oportunidades para sair do aluguel.
Os caminhos de ambos pensamentos e percepções levam a comum desistência e
aversão ao risco de exposição de capital, levando a não abertura de vagas de trabalho e
aplicação local, forçando o investidor robusto a procurar empreendimentos mais sólidos
e atraentes, com moedas mais seguras, assim como o investidor estrangeiro a não trazer
os olhos ao nosso mercado e empreender em outro país, não negociando fundos de
investimentos de Eike, que deixará de contratar construtoras que, por sua vez,
contratariam Antônio, levando o mesmo a realizar o sonho da casa própria, empregar José
e João, seu pedreiro e respectivo servente, fiel e companheiro de obra.
De composição complexa, a taxa de inflação nacional relaciona-se à curva de
Phillips clássica e novo-keynesiana, à lei de Okun que correlaciona o PIB à taxa de
desemprego de maneira quase linear, o aumento generalizado dos preços interage com as
variáveis de taxa de desemprego, juros e PIB com influência mútua e reflexos de curto,
médio e longo prazo.
É sabido que a taxa de inflação, resumida quantitativamente no Brasil pelo IPCA
(Índice de Preços do Consumidor Amplo), entre outros indicadores, sofre influência da
própria expectativa futura da inflação dos preços, choque cambial, a própria taxa de juros
e o preço dos commodities. Mas como identificar cada um destes fatores e sua influência
nessa complexa soma de itens determinantes para a dinâmica de preços que influenciará
diretamente na taxa de desemprego, consequentemente, PIB e, pelas mãos da
administração monetária, nos juros?
Primeiramente, não apenas uma gangorra doméstica, em que se um lado sobe, o
outro desce, mas diversas das causas listadas têm origens exógenas, de fora do controle
nacional e muito menos administrativo e executivo. O preço internacional dos
commodities, tais como Barril de Petróleo, Grãos Agrícolas, Boi Gordo e Metais têm
influência direta no quanto iremos pagar no produto final a ser consumido em território
nacional, não apenas depois de uma importação, mas mesmo produzido localmente, pois,
sabiamente, não existe reserva de mercado que obrigue a produção interna a ser vendida
primeiramente a cidadãos locais ou a preços divergentes, o que seria diferente dos
subsídios, iremos pagar o valor internacional devido a Globalização e introdução dos bens
comerciáveis em comercialização interligada internacional. Ao contrário do que ocorre
com bens de serviço e perecíveis: Não comerciáveis (que compõe cerca de 60% do
carrinho de compras das pessoas) [CAMARGO J.M. INFLAÇÃO E DESEMPREGO A CURVA DE
PHILLIPS].
Mais específico e exógeno (intuitivamente exótico para a maioria) é a composição
da inflação de um bem comerciável, que é, na verdade, composta pela interação da
tecnologia, emprego, renda, exclusividade, utilidade, clima e transporte dos países
produtores deste bem em questão, sejam estes asiáticos, europeus ou africanos. O
brasileiro consumidor amplo não estaria sujeito a falta de escoamento dos grãos de arroz
produzidos em terras ucranianas sob invasão russa? Ou mesmo a implementação de uma
nova tecnologia chinesa para baratear o Gigawatt de energia elétrica por meio de energia
solar e, assim, a consequente maior potência para processamento de dados e tratamento
de microchips? (Não somos produtores por hidroelétricas, afinal?). Quem sabe a uma
praga de gafanhotos no Egito?
Inevitável e matemática é a correlação de preços inercialmente altos,
principalmente sobre fatores exógenos, com a taxa de desemprego em curto prazo
mostrado pela curva de Phillips. Que leva em consideração e como variável de estudo a
declividade da curva de oferta de trabalho, rigidez salarial, inflação no período anterior e
a expectativa da próxima. Um dos modelos econométricos pode ser exposto derivado de
Blanchard e Galí (2007):
Tão complexo e demorado ficaria este texto para desbravar as demais causas do
aumento de inflação exógenas contra endógenas. Estas que podem listar-se: Aumento da
base monetária americana (FED) e nacional, aumento do PIB e emprego, queda de juros
e consequente disponibilidade de crédito, aumento da demanda por produto e até mesmo
sazonalidade de oferta, gripes aviárias e suínas e procura por placas de vídeo para
mineração de criptomoedas na China, além da já citada e exemplificada incerteza dos
custos e disponibilidade de recursos para manter vagas de emprego, pagamentos e
empreendimentos que toma conta do julgamento de valor dos investidores.
A história de Eike, Antônio, João e José não terminam neste ponto, a vida de todos
continua com a presença do fantasma da inflação que prossegue inercial e, algumas vezes,
desenfreada, lado a lado com a procura por emprego ou falta de barganha para melhores
salários, que continua a assolar o dia a dia dos 4 personagens tipo, em um fundo de
instabilidades políticas e malabarismos monetários, até que se encontre novas
oportunidades e que algum setor, provavelmente diferente da Construção Civil ou da
Industria absorva suas mãos de obra provavelmente já bem especializada e subocupada.
Este simples exercício mental leva a trivialidade de que a Ação Humana
globalizada leva as interações humanas ao último da sua essência. O investimento
amedrontado e tímido pela presença de risco do futuro, o julgamento de valor e realocação
na cadeia produtiva e de trabalho tal como o utilitarismo básico nas escolhas do dia a dia
das pessoas e dos investidores. Todos estes elos da cadeia econômica estão por de trás da
precificação dos ativos e serviços, a simples incerteza e medo que geram a expectativa
por piora, inflacionando produtos e fecha vagas de trabalho. Como diria Charles
Henry Dow: O preço desconta tudo.