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Aula 5

AVALIAÇÃO COMO
ESTRATÉGIA DE
GESTÃO EDUCACIONAL

Compreender o processo de avaliação como indissociável


às atribuições da gestão democrática é compreender a
responsabilidade circunscrita nas tomadas de decisões. Desse
modo, a ação avaliativa se configura como um importante
instrumento de gestão. Além disso, ela contempla de forma
positiva as concepções previstas e descritas no projeto político-
pedagógico e traduz o movimento escolar/institucional que
perpassa cotidianamente. Diante dessas questões, a avaliação
como um mecanismo de crescimento pessoal e profissional
é imprescindível, fazendo-se necessária a compreensão de
avaliação da aprendizagem, mas também de avaliação docente,
em que se possibilita a reorganização do planejamento e a
superação de desafios.

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Avaliação como
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gestão educacional

Parte
1 Avaliação como elemento do
processo institucional
A avaliação escolar tem inúmeros desdobramentos que podem e devem ser considerados nas decisões
a serem tomadas pela equipe escolar. Essas decisões devem ser fundamentadas nos dados observados diante
das avaliações feitas durante o ano letivo – avaliações essas que não condizem somente com os resultados
de aprendizagem escolar, mas que buscam também dados referentes aos docentes, à estrutura, à gestão, ao
planejamento, enfim, à avaliação institucional interna e externa da escola.
Diante de uma concepção de gestão democrática da educação, Ferreira (2001) afirma que gestão
significa
[...] tomar decisões, organizar, dirigir as políticas educacionais que se desenvolvem na escola com-
prometidas com a formação da cidadania [...] é um compromisso de quem toma decisões – a gestão –,
de quem tem consciência do coletivo – democrático –, de quem tem responsabilidade de formar seres
humanos por meio da educação.

Com efeito, a avaliação se torna mais uma ferramenta importante da gestão, pois a instrumentaliza com
dados que orientam as decisões acerca das questões fundamentais da escola.
Portanto, a avaliação pode ocorrer mediante avaliação externa e/ou interna das instituições escolares e
pode ser desdobrada em duas modalidades:
1. Avaliação acadêmica ou científica.
2. Avaliação institucional – administrativa ou organizacional.
A avaliação acadêmica ou científica diz respeito aos resultados da aprendizagem escolar, com o obje-
tivo de acompanhar e revisar as políticas públicas educacionais, contribuindo para a formulação de indica-
dores de qualidade de ensino.
A avaliação institucional tem como objetivo formular um diagnóstico com dados das diferentes origens
dentro do sistema escolar, ou seja, pesquisa dados que vão desde a aprendizagem escolar até as questões
materiais (físicas) que interferem na qualidade da educação. Segundo Libâneo (2004, p. 239), a avaliação
institucional é:
[...] uma função primordial do sistema de organização e gestão dos sistemas escolares e das escolas.
Essa avaliação, também chamada de administrativa, visa à obtenção de dados quantitativos e qualitati-
vos sobre os alunos, professores, a estrutura organizacional, os recursos físicos e materiais, as práticas
de gestão, a produtividade dos cursos e dos professores etc., com o objetivo de emitir juízos de valores
e tomar decisões em relação ao desenvolvimento da instituição.

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Assim, a avaliação institucional contribui para uma melhor utilização dos recursos, bem como se torna um
subsídio importante para o planejamento tanto dos docentes quanto dos gestores da instituição. Porém, para que
realmente exerça essa função, é extremamente necessário que o grupo compreenda seu verdadeiro sentido: o de
contribuir para um melhor direcionamento das práticas tanto administrativas quanto pedagógicas.
Portanto, a avaliação institucional vem a ser um mecanismo que estimula o desenvolvimento pessoal e
profissional das pessoas envolvidas, para que possam gradativa e continuamente melhorar as ações desen-
volvidas na instituição, bem como afirma Veiga (2007, p. 26):
[...] Ao analisar a estrutura organizacional, ao avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e
vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando a realidade escolar, estabelecendo relações,
definindo finalidades comuns e configurando novas formas de organizar as estruturas administrativas e
pedagógicas para a melhoria do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende. Assim, consi-
derando o contexto, os limites, os recursos disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade
escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecendo, no coletivo, seu projeto político-pedagó-
gico, propiciando consequentemente a construção de uma nova forma de organização.

Nessa via de raciocínio, a avaliação institucional é um instrumento fundamental para uma boa gestão,
para um bom trabalho pedagógico visando um trabalho educativo em sua totalidade. Nessa perspectiva,
pode-se atribuir pelo menos duas funções importantes para a avaliação institucional: 1) promover o desen-
volvimento pessoal e profissional dos envolvidos no processo educativo e 2) melhorar os programas que
estão em desenvolvimento na instituição. Porém, para Melchior (2004, p. 4):
A função principal da avaliação é subsidiar e fornecer informações relevantes ao processo de tomada
de decisão dos indivíduos envolvidos nos programas para melhoria da qualidade da educação. É parte
integrante da organização institucional, tanto para os administradores usarem os resultados para orien-
tar suas ações, no sentido de estimular e fomentar iniciativas voltadas para a melhoria da qualidade da
educação, como para cada um, individualmente, fazer sua autoavaliação e buscar a autoqualificação.

Ainda para a mesma autora, é por meio da utilização dos mecanismos avaliativos que conduzem os
profissionais à autorreflexão que é possível melhorar as ações institucionais. Para ela, o papel da avaliação,
no processo, além de regular as ações, é de antecipar eventuais imprevistos e permitir que determinadas
situações possam permanecer no percurso preestabelecido.
Assim, é necessário analisar que a escola pertence a um conjunto de pessoas, a um contexto local,
em que nela também está inserida a concepção de educação que conduz toda a sua prática. Além disso, é
importante relembrar que a concepção de educação, a qual determina todo o direcionamento pedagógico,
está pautada também na legislação vigente, que determina alguns pressupostos teóricos e práticos que in-
fluenciam nas definições da instituição. Para que todos esses aspectos sejam considerados, é necessário um
acompanhamento que vise identificar os problemas e redirecionar as ações; por isso, a avaliação deve ser
dinâmica e deve fornecer dados para avaliadores e avaliados, bem como deve ser parte integrante da orga-
nização escolar e, dentro dessas funções, deve ser formativa.

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Contudo, mesmo com este cenário de múltiplas variáveis, ainda assim é possível, segundo Melchior
(2004, p. 5), enumerar alguns pressupostos fundamentais para qualquer avaliação institucional:
1) Existência de liderança e coerência nos objetivos – a cultura institucional é de responsabilidade
dos líderes. 2) Envolvimento e desenvolvimento das pessoas – pressupõe-se que as pessoas saibam e
concordem em avaliar e serem avaliadas, por considerarem a avaliação importante para seu autoco-
nhecimento, assim como para buscar as melhorias necessárias. 3) Relações entre aqueles que atuam
na instituição e a comunidade – a avaliação passa a fazer parte da vida total da instituição e realizar-se
como cultura que faz parte do processo, com caráter otimista e construtivo. 4) Ação orientadora para o
usuário do serviço – a instituição educacional tem um papel social a desenvolver. Ela existe em função
de seus alunos. É necessário, pois, que ela conheça as expectativas dessas pessoas e tente cumprir sua
função adequadamente.

Considerando esses pressupostos, ainda se faz necessário pensar para que se avalia e o que se avalia.
Nesse sentido, avalia-se com base nos pressupostos citados por Melchior, mas é necessário contemplar a
avaliação da organização e do planejamento institucional, ou seja, as formas de gestão e o Projeto-Político
Pedagógico, o desempenho dos componentes da equipe, a aprendizagem dos alunos e os recursos físicos.
E, para avaliar esses itens, é preciso adotar técnicas e estratégias de autoavaliação e realizar observações
formais e informais, além de considerar os princípios éticos e políticos que emergem nas/das relações e
interações escolares. Por essas questões, fica evidente que a decisão de avaliar não pode existir somente
porque está prevista no Projeto Pedagógico da instituição, mas precisa necessariamente estar vinculada a
determinados princípios, que, ainda com base em Melchior (2001, p. 7), representam uma concepção de
educação que perpassa a instituição:
1) Como elemento do processo – o princípio primeiro da avaliação institucional está relacionado ao
seu significado. 2) Legitimidade – pressupõe o acordo da comunidade escolar quanto aos critérios e
quanto à institucionalização do processo avaliativo. 3) Comparabilidade – o princípio da comparabi-
lidade exige que se busque um linguajar comum tanto dentro da instituição como entre as outras. 4)
Globalidade – estabelece a necessidade de avaliar todos os elementos que fazem parte ou que podem
interferir no processo. 5) Participação/adesão voluntária – os objetivos de qualificação serão atingidos,
através da avaliação, se houver participação. 6) Continuidade – a cultura da melhora contínua impul-
siona inovações e criatividade

Dentro dessa perspectiva, a situação ideal que se almeja para um processo de avaliação, que bus-
que uma melhor qualidade de educação, é aquela em que a participação do coletivo das instituições
seja efetiva, em que haja uma identificação e reflexão acerca dos problemas e das contradições que
emergem na prática educativa, em que as alternativas para solucionar os problemas e as contradições
sejam detectadas e planejadas – e, de forma imprescindível, em que se tenha o compromisso concreto
dos envolvidos para a implementação das possíveis mudanças. A partir dos princípios estabelecidos,
segundo Melchior (2000, p. 8), “[...] propõe-se um processo contínuo de aperfeiçoamento e uso dos
resultados da avaliação como ferramenta para a gestão em um processo contínuo, sistemático, legítimo,
global e participativo de avaliação institucional.”

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Parte
2 Avaliação e projeto pedagógico

Dentro das diferentes atribuições e responsabilidades das instituições escolares está uma dimensão
extremamente importante, que é o projeto político-pedagógico, o qual está previsto na Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (Lei 9.394/96), em seu artigo 12, e estabelece que “Os estabelecimentos de ensino,
respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar
sua proposta pedagógica.” (BRASIL, 1996)
Além de estabelecer a incumbência de elaborar o projeto às instituições de ensino, também prevê, em
seu artigo 13, que “os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino”.
Configura-se, desse modo, em uma condição prevista em lei sobre a obrigatoriedade de participação
de todos na elaboração e execução dessa dimensão tão importante para o processo de ensino-aprendiza-
gem. Assim, o projeto político-pedagógico circunscreve a prática docente e, ao mesmo tempo, torna-se um
desafio diante de sua complexidade e totalidade – bem como afirma Bussmann (2004), sinalizando para o
fato de o Projeto Pedagógico carregar a exigência de se entender e considerar um processo em constante
construção, em que os resultados são alcançados gradativamente, sendo, dessa forma, imprescindível tornar
as discussões críticas, criativas e coletivas, em um movimento reflexivo em torno de todas as dimensões
escolares, perpassando em todos os momentos por avaliações do e no processo de elaboração e execução.
Considerando sua complexidade, faz-se necessário diferenciar proposta pedagógica/projeto pedagógi-
co, que diz respeito à organização da escola, e plano de trabalho/aula/ensino, que se refere à organização do
trabalho em sala de aula e a outras atividades pedagógicas e administrativas.
Tão importante quanto diferenciar proposta de plano é compreender o significado etimológico da pala-
vra projeto, que origina-se do latim projectu, que significa lançar adiante. Assim, significa que, ao construir
um projeto na escola, está se concebendo a intencionalidade das ações, está se projetando de forma plane-
jada as propostas de trabalho, bem como as concepções e os conceitos os quais o grupo de profissionais
compreende ser o melhor a ser proporcionado diante da realidade que se apresenta.
Nessa perspectiva, segundo Veiga (2004), o projeto político-pedagógico vai além de um simples agru-
pamento de planos de ensino e de diversas atividades. Ele é um documento cuja importância é maior que
a burocracia; é um instrumento que contempla “crenças, convicções, conhecimentos da comunidade esco-
lar, do contexto social e científico, constituindo-se em um compromisso político e pedagógico coletivo”
(VEIGA, 1998, p. 9), perpassando por dois momentos articulados e inter-relacionados atravessados pela
avaliação: a concepção e a execução.

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Antes mesmo de explicitar esses dois momentos, é importante entender as dimensões pedagógica e po-
lítica do projeto, compreendendo sua intenção e seu compromisso coletivo. Veiga (2004, p. 13) afirma que:
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um
compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um pro-
jeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e
coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão
para um tipo de sociedade. “A dimensão política se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto
prática especificamente pedagógica” (Saviani 1983, p. 93). Na dimensão pedagógica reside a possibi-
lidade da efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão participativo, respon-
sável, compromissado, crítico e criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas e as
características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade.

Portanto, entender as dimensões política e pedagógica do projeto é compreender sua indissociabilida-


de, considerando-o um processo permanente de discussão e reflexão coletiva, em que se delimitam os pro-
blemas e se planejam as estratégias de superação, perpassando pelos dois momentos: concepção e execução.
A concepção do projeto envolve dois atos: o situacional e o conceitual. O ato situacional pressupõe o
desvelamento da realidade social, política, econômica e educacional; e o ato conceitual se refere à visão de
sociedade, homem, educação, escola, currículo, entre outros conceitos importantes para a prática educativa.
Ambos os atos devem se fundamentar em uma prática democrática, ou, como afirma Veiga (2004, p. 13):
O projeto político-pedagógico, ao se constituir em processo democrático de decisões, preocupa-se em
instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere conflitos, buscando eliminar
as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e
racionalizando a burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos frag-
mentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.

Nesse sentido, pensar na construção do projeto pedagógico da escola é buscar condições e espaços de
participação, é garantir a autonomia da escola em construir sua própria identidade, resgatando sua função
social, de diálogo que possa construir alicerces com pressupostos teóricos de uma pedagogia crítica compro-
missada com a transformação da sociedade na busca de condições mais justas e igualitárias.
O segundo momento da elaboração do projeto pedagógico é a execução que é representada pelo ato
operacional, o qual contempla as orientações sobre a realização das ações estabelecidas. Nessa etapa é
necessário refletir sobre as ações de modo que sejam exequíveis, prevendo as condições necessárias ao de-
senvolvimento e à avaliação em um movimento constante de ação-reflexão-ação, pois faz parte de um pro-
cesso ao mesmo tempo em que é um produto em constante mudança, construído coletiva e continuamente.
Portanto, o projeto político-pedagógico é um documento que orienta todas as ações da escola. Nele devem
estar contidas a realidade em que instituição se encontra, bem como os conceitos que fundamentam a prática
docente, e as ações que são planejadas para a superação da realidade em busca de melhores condições.

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Diante do exposto, é fundamental pensar nos princípios que norteiam a elaboração e a execução do pro-
jeto pedagógico. Segundo Veiga (2004), a abordagem do projeto pedagógico como organização do trabalho
da escola deve se fundar em princípios que reforcem as práticas democráticas e o sentido da escola pública
e gratuita, delineando cinco princípios:
1. Igualdade de condições para acesso e permanência na escola.
2. Qualidade, a qual implica em duas dimensões indissociáveis: a formal e a política. A formal se ca-
racteriza pelos instrumentos e métodos, e a política, pela condição imprescindível de participação.
3. Gestão democrática, que é um princípio constitucional e abrange as dimensões pedagógica, admi-
nistrativa e financeira.
4. Liberdade, também prevista na Constituição, e que está ligado à ideia de autonomia.
5. Valorização do magistério, considerado pela autora como um princípio central na discussão do
projeto, pois se trata de formação inicial e continuada.
Um projeto elaborado com esses princípios se configura em um instrumento de luta, contrapondo-se à
fragmentação do trabalho pedagógico, tornando-se um mecanismo de atuação política em que se projetam
mudanças na trajetória de cada instituição, de cada grupo de profissionais, pois são propostas ações que pos-
sibilitam a construção da autonomia e delimitam as finalidades da instituição, bem como definem a diretriz
e projetam o “vir a ser” da escola.
Nessa construção do projeto pedagógico é preciso refletir sobre alguns elementos constitutivos da or-
ganização da escola, os quais podem trazer contribuições significativas. Dentre eles, segundo Veiga (2004),
podem ser sinalizados sete elementos básicos:
1. Finalidades – é necessário estabelecer coletivamente os objetivos da instituições, com critérios
bem definidos.
2. Estrutura organizacional – divide-se em dois tipos – administrativa, que se refere a recursos, ar-
quitetura, equipamentos etc., e pedagógica, que se refere às interações políticas e às questões de
ensino-aprendizagem.
3. Currículo – define-se como a construção social do conhecimento, pressupondo a sistematização
dos meios para que essa construção se efetive.
4. Tempo escolar – é um dos elementos constitutivos da organização do trabalho pedagógico, pois
prevê calendários, horários, entre outros;
5. Processo de decisão: deve ser orientado por princípios de participação de todos nas decisões.
6. Relações de trabalho – devem se pautar em atitudes de solidariedade, reciprocidade e participação coletiva.
7. Avaliação – tem um compromisso mais amplo que a mera eficiência e eficácia; é avaliar os resul-
tados da própria organização do trabalho pedagógico.

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Construir um projeto pedagógico é se responsabilizar por uma prática educativa séria e coletiva, com
finalidades definidas, com elaboração de diagnósticos permanentes da realidade escolar, com registro de
dados e discussões frequentes, ou seja: comprometer-se com a transformação da sociedade e compreender
que a avaliação é parte integrante e inerente ao processo de construção e execução do projeto político-pe-
dagógico. Assim, quando se fala de projeto político-pedagógico, fala-se concomitante e indissociavelmente
de avaliação.

Parte
3 Avaliação docente

A avaliação docente é uma ação que sempre existiu no interior das instituições escolares, mas que nem
sempre tornou explícita a prática docente, como vem se configurando na atualidade. Como já mencionado
neste material, a razão para avaliar passa a existir a partir do momento em que uma ação humana começa
a ser desenvolvida, desde a mais simples e individual até a mais coletiva, ou seja: a avaliação é inerente ao
processo de construção histórica da sociedade e das instituições.
Compreendendo que a avaliação é um instrumento que subsidia o planejamento e a prática do profes-
sor, além de trazer dados referentes à aprendizagem dos alunos, ela deve ser importante para quem avalia e
para quem é avaliado, bem como afirma Tasso (s/a, p. 6):
Neste sentido ela deve ser pedagógica (ensinando ao avaliador e ao avaliado a conhecerem a realidade
do objeto analisado) e transformadora (apresentando as alternativas que permitam gerar mudanças,
seja de aperfeiçoamento o que já se faz, seja de alteração radical de rumos e estratégias, redefinição
ou reconstrução do próprio objeto avaliado). A obediência a este item só é possível se ambas as partes
estiverem de acordo com a relação de pertinência com a avaliação. Enfim, Macedo (2001) diz que além
de útil, pedagógica e transformadora ela deve ser pertinente, fidedigna, abrangente, seletiva, relevante,
transparente, consistente, legítima, coerente, explicativa, interativa e consequente.

Contudo, essas questões são importantes para que algumas reflexões acerca do sistema avaliativo se-
jam repensadas, como questões relativas aos objetivos de se avaliar, bem como quem está sendo avaliado
e o que será avaliado, entendendo a avaliação com um sentido amplo de avaliar a aprendizagem, mas ao
mesmo tempo o avaliador e a estrutura da instituição como um todo. Nesse aspecto, encontram-se alguns
desafios, como, por exemplo, a resistência de alguns professores (bem como de alguns gestores) a propostas
que objetivam avaliar seu desempenho, inviabilizando alguns modelos de avaliação, dificultando assim a
elaboração de novas estratégias de intervenção.
Continuando com a ideia de Tasso, a avaliação de desempenho docente pode ser considerada parte de
um processo mais amplo – a avaliação institucional. Dessa forma, não se pode pensar em isolar o docente do

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contexto institucional em que está inserido e, além disso, não podem ser ignorados seus múltiplos aspectos:
políticos, culturais, legais, organizacionais, socioeconômicos, infraestruturais, de relações com a comunida-
de, de processo de gestão etc.
Para Lira (2003, p. 9), “a avaliação da qualidade da instrução sofre muito com a falta de consenso entre
os docentes sobre o que constitui ensino de qualidade”, fazendo-se necessário refletir sobre as concepções
subjacentes à prática docente que estão instauradas no discurso e consequentemente na prática das institui-
ções escolares. Nem sempre essas concepções são consideradas importantes no âmbito das discussões sobre
avaliação e sobre o processo de ensino-aprendizagem em questão.
Assim, é importante destacar os saberes imprescindíveis aos docentes para que determinados desa-
fios educacionais sejam superados e para que possa ser estabelecida uma forma criteriosa de avaliação, da
forma mais completa, alcançando assim uma proximidade maior com uma educação de qualidade, ética e
humanizada. Nesse sentido, vale ressaltar a afirmação de Paulo Freire sobre os saberes necessários à prática
educativa-crítica, a partir de uma ética pedagógica e de uma visão de mundo em que ensinar exige:
[...] rigorosidade metódica; respeito aos saberes dos educandos; criticidade; estética e ética; corpori-
ficação das palavras pelo exemplo; risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discrimi-
nação; reflexão crítica sobre a prática; reconhecimento e assunção da identidade cultural; consciência
do inacabamento; reconhecimento do ser condicionado; autonomia do ser do educando; bom senso;
humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores; apreensão da realidade; alegria e
esperança; convicção de que a mudança é possível; curiosidade; segurança, competência profissional e
generosidade; compreender a educação como forma de intervenção no mundo: liberdade e autoridade;
tomada de consciência de decisões; saber escutar, reconhecer que a educação é ideológica; disponibi-
lidade para o diálogo, querer bem aos educandos. (FREIRE, 1997 apud PENNA FIRME, 1998, p. 29).

Nessa compreensão, o professor é o sujeito singular nesse processo avaliativo, pois, diante de tantas
questões, torna-se indissociável de sua prática docente pensar em critérios/referências de qualidade que pos-
sam orientar seu direcionamento pedagógico, garantindo uma unificação dos princípios contidos no projeto
político-pedagógico, ultrapassando as técnicas isoladas.
Diante das questões postas na atualidade, do nível de compreensão acerca da educação e dos diferentes
desafios que se põem cotidianamente, faz-se necessário refletir sobre alguns aspectos relativos ao ato de
avaliar, começando sobre a forma como se avalia. Diante disso, Libâneo (2004) sinaliza que é necessário
apontar os seguintes itens a serem analisados diante de uma proposta de avaliação docente:
• observação sistemática das aulas;
• implementação de diálogos e de reflexão conjunta com os professores;
• pesquisa-ação, como instrumento de análise sobre a prática docente e sobre a aprendizagem
dos alunos.

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Para o mesmo autor, torna-se tão importante saber como avaliar quanto ter clareza do que avaliar – e, sobre
esse aspecto, sugere alguns pontos que podem ser observados da prática docente em sala de aula, como:
• qualidade das relações sociais, afetivas e comunicacionais com os alunos;
• preparo profissional quanto ao conhecimento dos componentes curriculares e dos métodos e pro-
cedimentos de ensino e de avaliação da aprendizagem; e
• gestão da classe em vários aspectos, como organização e desenvolvimento das aulas.
Seguindo a linha de raciocínio do mesmo autor, também são apontados itens ligados à organização e ao
funcionamento da escola como um todo, que devem estar na pauta da avaliação do professor:
• disponibilidade, organização e utilização de recursos materiais e didáticos, incluindo instalações
e equipamentos;
• critérios de organização de turmas, horário de aulas e distribuição dos componentes curriculares;
• ações de formação continuada de professores, pedagogos e outros funcionários;
• encontros e reuniões de professores;
• estratégias de relacionamento e de comunicação com os pais;
• atividades administrativas e de apoio didático-pedagógico do professor;
Portanto, ao considerar todos os aspectos mencionados por Libâneo, podem-se reestruturar os objetivos
da avaliação docente acerca de:
• reflexão sobre sua prática, de forma construtiva;
• desenvolvimento de autoconhecimento;
• melhoria/formação profissional.
Para Melchior (2004), a avaliação das pessoas subscreve a necessidade de considerar muitas observa-
ções e em diferentes tempos, assim como registros sistemáticos dessas observações, para que seja possível
uma análise aprofundada de diversos itens, tais como: motivação, capacidade de trabalho em equipe, for-
mação inicial e continuada e condições de trabalho, pois a avaliação docente permite um melhor desenvol-
vimento pessoal e profissional, visto que se torna um instrumento que sinaliza as fragilidades e as potencia-
lidades de cada docente.
A avaliação institucional, segundo Veiga (1997), é caracterizada como um serviço destinado a esti-
mular o desenvolvimento pessoal e profissional dos indivíduos que nele atuam e a melhorar os programas
que estão sendo desenvolvidos, tornando-o, assim, complexo e multidimensional. Para a autora, a avaliação
deve favorecer o desenvolvimento da capacidade do avaliando, portanto, deve ser dinâmica e oferecer subsí-
dios aos avaliadores para a organização de novos projetos, possibilitando aos avaliados a percepção de seus
avanços e a necessidade de novas investidas no seu processo de desenvolvimento.

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Sobre essas proposições, vale considerar que a avaliação só terá sentido na sua efetivação se conseguir
proporcionar mudança nos envolvidos – avaliadores e avaliados –, pois como bem afirma Luckesi (1997,
p. 17): “não tenho dúvidas sobre o potencial transformador da avaliação, na medida em que a sua função é
subsidiar a busca dos resultados mais satisfatórios possíveis”.
Nessa compreensão, para Melchior, a função principal da avaliação é subsidiar e fornecer informações
relevantes ao processo de tomada de decisão dos indivíduos envolvidos nos programas para melhoria da
qualidade da educação. É parte integrante da organização institucional, tanto para os administradores usa-
rem os resultados para orientar suas ações, no sentido de estimular e fomentar iniciativas voltadas para a
melhoria da qualidade da educação, como para cada um, individualmente, fazer sua autoavaliação e buscar
a autoqualificação.
Seguindo ainda com a ideia de Melchior, a melhoria das ações institucionais passa, obrigatoriamente,
pela utilização de mecanismos de avaliação, e estes conduzem à autorreflexão. Dessa forma, o papel da
avaliação, no processo, é regular a ação e antecipar eventuais imprevistos que possam perturbar o desenrolar
das atividades e fazer as correções necessárias do percurso preestabelecido. Ela é orientada para a tomada de
decisões. Por meio dessa ação, será mais fácil a compreensão dos problemas surgidos, tal como a indicação
de soluções e as correções mais adequadas, antes do final do processo. Considerando-se esses aspectos, é
importante, antes de pensar em como realizar a avaliação institucional, fazer discussões e reflexões com o
grupo sobre os fundamentos teóricos que vão dar base à ação para sensibilizá-los à construção de uma nova
concepção, ressignificando a ação avaliativa.
Pensar em avaliação docente requer um compromisso coletivo com a formação continuada e a iniciati-
va dos gestores em proporcionar momentos, espaços e condições de realizar discussões acerca os resultados,
bem como de planejar as ações de superação.

Extra
Avaliação docente: todos de olho no professor
Para que a prática ajude a ensinar melhor, é preciso desenvolver
um sistema que vá além da aplicação de provas
Rodrigo Ratier

Avaliar, avaliar, avaliar. De alguns anos para cá, a prática tem se tornado um tema recorrente no mundo
da Educação. Países criam complexos sistemas de medição, juntas de especialistas estabelecem padrões e
faixas de desempenho, organismos internacionais desenvolvem testes para comparar resultados em todo
o mundo. No Brasil, uma das novidades foi a instituição de um Exame Nacional de Ingresso na Carreira

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Docente. Previsto para ser aplicado a partir de 2011, vai medir os conhecimentos dos que querem se dedicar
ao Magistério. O atrativo é grande: municípios e estados podem aderir à iniciativa, considerando-a um com-
ponente da nota dos concursos ou mesmo substituta dela.
A ideia é interessante. No início da docência, a avaliação é fundamental para verificar se o candidato
cumpre os requisitos de entrada na profissão. Durante a carreira, ajuda a indicar o que está bom e, principal-
mente, o que deve ser aperfeiçoado. Mas não basta aplicar uma prova e achar que o problema está resolvido.
Se desejamos que o processo ajude o docente a ensinar melhor, é preciso dar um passo atrás e perguntar: o
que é mesmo que estamos avaliando? 
A resposta requer reflexão sobre o que significa ser um bom professor. É aquele cujos alunos só tiram
dez? O que tem uma formação recheada de cursos? Quem se dá bem com colegas e funcionários? Ou tudo
isso junto (e muito mais)? Para produzir os Referenciais para o Exame Nacional de Ingresso na Carreira
Docente, o Ministério da Educação (MEC) compilou pesquisas de padrões docentes em sete países. Chegou
a uma lista com 20 características do perfil do professor ideal [...].
Além da constatação de que exercer o Magistério não é nada fácil, percebe-se que muitos aspectos não
podem ser aferidos por provas. Como elaborar uma questão para certificar se o profissional “estabelece um
clima favorável à aprendizagem?”. Ou se demonstra “valores, atitudes e comportamentos positivos?”. Os
especialistas na área (e o próprio MEC, faça-se justiça) reconhecem essa impossibilidade. Ao realizar uma
sondagem comparativa sobre a avaliação de professores em diversas nações, a uruguaia Denise Vaillant,
coordenadora do Programa de Desenvolvimento Profissional Docente na América Latina e Caribe (Preal),
concluiu que os sistemas de sucesso apostam na combinação de múltiplas estratégias, como a avaliação
pelos pares e pelos gestores das escolas e a autoavaliação. As provas são apenas uma parte do cardápio – e,
muitas vezes, não a mais importante. 
No Brasil, ainda precisamos construir essa estrutura de avaliação múltipla. A esperança é de que a
prova seja apenas o primeiro tijolo, ao qual se somem outros tipos de aferição. Para chegar lá, uma primeira
providência é apostar na formação de bons avaliadores. Aqui, os programas de formação têm um papel
importante, já que o assunto costuma ser pouco contemplado tanto nos currículos de graduação como na
formação em serviço. Esse conhecimento é a base de sistemas como o australiano, em que cada ciclo de
avaliação dura dois anos e compreende planejamento (para definir o foco do trabalho), coleta de dados (para
aferir a qualidade do ensino e projetar objetivos de evolução, que variam de acordo com o nível do desenvol-
vimento profissional de cada um, dos principiantes aos mais experientes) e acompanhamento (para avaliar
o auxílio oferecido e o avanço na obtenção das metas).
Um segundo passo é estabelecer a participação dos avaliados na definição de critérios e metas. Isso é
fundamental para que o corpo docente apoie a avaliação, encarando-a como uma oportunidade pedagógica
e não como uma ameaça.

82 Avaliação da Educacional
Avaliação como
estratégia de
gestão educacional Aula 5
Avaliação docente e plano de carreira devem caminhar juntos 
Equacionados o “que” e o “como” avaliar, chega a hora de pensar no que fazer com os resultados da
avaliação. É preciso ter atenção especial aos dois extremos do estrato: os educadores que se saem mal e os
com performances excelentes. Comecemos pelos que menos se destacam. A constatação óbvia - a de que
esses profissionais precisam de ajuda para evoluir – não tem sido acompanhada de atitudes práticas nessa
direção. Muitas vezes, se diz que o ideal seria eliminar os piores automaticamente, mas isso está mais para
uma medida extrema, não deve ser a primeira atitude.
Novamente, o caso australiano pode servir de base. Por lá, docentes com desempenho ruim têm a chan-
ce de passar por um plano de melhora, elaborado com o coordenador ou o diretor da escola. Durante um ano,
o educador recebe o auxílio de um mentor (geralmente, um colega com ótimos resultados), incorporando
conhecimentos e aprendendo novas práticas de ensino. Se mesmo após esse período persistir a baixa quali-
dade, aí, sim, ele deixa de lecionar - mas raramente abandona a escola: pode, por exemplo, passar a exercer
funções administrativas na instituição. 
Também é preciso considerar o topo da pirâmide. Nesse ponto, fica claro que a boa avaliação docente
precisa caminhar de braços dados com a estruturação de um plano de carreira no Magistério. No Brasil, a
progressão é burocrática, derivada quase exclusivamente do tempo de serviço ou da titulação – e, pior, es-
timula a fuga da sala de aula. Para muitos, virar coordenador ou diretor é o único caminho para um salário
mais alto. Incentivar professores a assumir mais responsabilidades nas escolas é uma saída que deu certo em
Cingapura, na Inglaterra e em estados brasileiros, como o Ceará, onde docentes de destaque são convidados
a trabalhar como formadores de seus pares em metade da carga horária. Esses e outros exemplos mostram
que uma avaliação por múltiplos caminhos, que privilegie a formação inicial e continuada, que contemple o
diálogo entre todos os envolvidos e que esteja atrelada à evolução na carreira, tem chances mais concretas
de fazer a Educação avançar. Já a prova, sozinha...
(RATIER, Rodrigo. Avaliação docente: todos de olho no professor. Revista Nova Escola, 237. ed.,
nov. 2010. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/carreira/avaliacao-docente-
todos-olho-professor-608078.shtml>. Acesso em: 18 abr. 2016.)

Atividade
1. Explicite como a avaliação institucional pode reorientar o trabalho da gestão.

2. O projeto político-pedagógico é o desenho da realidade da instituição a que pertence. De


que forma ele pode ser considerado na avaliação institucional?

3. A avaliação docente perpassa por inúmeras questões subjacentes à prática pedagógica. Cite
alguns pontos positivos e negativos dessa avaliação.

Avaliação da Educacional 83

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