Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
IDEOLOGIA DA LITERATURA
Querendo ou não, o texto tem sempre ideologia, porque “as obras de arte apresentam a ideologia
(do autor) apesar do artista, e não porque estivesse comprometida desde o início com algum
conjunto de ideias que a amarrava.”
Para quem escreve, essa ideia de Camus implica que “a ideologia não deveria fazer parte das
intenções do ato criador. Mas não poderia deixar de fazer parte da experiência de vida do artista.
E, desse modo, seria como todos os outros materiais que compõem esse tesouro: iria inspirar,
influenciar, percorrer as entrelinhas, funcionar como manancial subterrâneo, fornecer sentidos
ocultos (...).” “o que alguém é e pensa aparece forçosamente no que esse alguém escreve, apesar
de si mesmo.”
Para quem lê, a implicação se dá na idade e na maturidade do leitor. Crianças, especialmente,
que não possuem informações e recursos críticos para tal. Relação entre criança e educação: a
literatura infantil deve gerar algum tipo de moral. O autor deve, então, conduzir a criança a pensar
ideologicamente de certa forma, e assim ela fará, porque não tem “malícia” para perceber isso.
Com o passar do tempo, isso foi mudando, foi atribuído um caráter de mais amor e afeto no
compartilhamento de histórias entre pais e filhos. (p. 33) Foi apenas depois das melhorias sociais
conquistadas por pautas e movimentos de minorias que a noção geral de bom e ruim da sociedade
passou a identificar conteúdos preconceituosos nos livros infantis. Ou seja, sempre há ideologia,
e só a percebemos depois de termos mudado e adquirido espírito crítico. “os livros para crianças
são especialmente suscetíveis de serem fortemente usados como veículo de mensagens
ideológicas, porque as crianças não podem se defender”. “uma ideia está na base dessa ideologia
não visível na grande maioria dos livros infantis: a noção de que, por si só, a obediência é um
valor e que os adultos têm o direito a que as crianças se submetam a eles”
Para quem ensina, “muitas vezes a força original do impulso criador se perde e tem o fluxo de
seu curso natural desviado, apenas para que o resultado possa obedecer aos ditames do sistema
escolar ou a outros propósitos didáticos.” “Mas além da leitura crítica e da escolha de boa
literatura, ainda existe uma terceira saída para o impasse. O terceiro modo de se defender da massa
de ideologia nos livros infantis é procurar ter uma dieta de leituras variada.”
Mas se não há livro inocente nem produto cultural desprovido de ideologia, o que se pode fazer?
Creio que, antes de mais nada, é preciso tentar agir com inteligência. E isso pressupõe, em
primeiro lugar, o desenvolvimento da capacidade de ler criticamente.” Ensinar as crianças a ler
criticamente, ler com elas, mostrar o que está bom e o que está errado.