Você está na página 1de 2

Liz Fernandes de Paula – Letras Português

Introdução aos Estudos Literários – prof. Cássio

IDEOLOGIA DA LITERATURA

• Resuma o pensamento de Ana Maria Machado a respeito da presença da ideologia na


literatura e de suas implicações para quem escreve, para quem lê e para quem ensina
literatura.

Querendo ou não, o texto tem sempre ideologia, porque “as obras de arte apresentam a ideologia
(do autor) apesar do artista, e não porque estivesse comprometida desde o início com algum
conjunto de ideias que a amarrava.”
Para quem escreve, essa ideia de Camus implica que “a ideologia não deveria fazer parte das
intenções do ato criador. Mas não poderia deixar de fazer parte da experiência de vida do artista.
E, desse modo, seria como todos os outros materiais que compõem esse tesouro: iria inspirar,
influenciar, percorrer as entrelinhas, funcionar como manancial subterrâneo, fornecer sentidos
ocultos (...).” “o que alguém é e pensa aparece forçosamente no que esse alguém escreve, apesar
de si mesmo.”
Para quem lê, a implicação se dá na idade e na maturidade do leitor. Crianças, especialmente,
que não possuem informações e recursos críticos para tal. Relação entre criança e educação: a
literatura infantil deve gerar algum tipo de moral. O autor deve, então, conduzir a criança a pensar
ideologicamente de certa forma, e assim ela fará, porque não tem “malícia” para perceber isso.
Com o passar do tempo, isso foi mudando, foi atribuído um caráter de mais amor e afeto no
compartilhamento de histórias entre pais e filhos. (p. 33) Foi apenas depois das melhorias sociais
conquistadas por pautas e movimentos de minorias que a noção geral de bom e ruim da sociedade
passou a identificar conteúdos preconceituosos nos livros infantis. Ou seja, sempre há ideologia,
e só a percebemos depois de termos mudado e adquirido espírito crítico. “os livros para crianças
são especialmente suscetíveis de serem fortemente usados como veículo de mensagens
ideológicas, porque as crianças não podem se defender”. “uma ideia está na base dessa ideologia
não visível na grande maioria dos livros infantis: a noção de que, por si só, a obediência é um
valor e que os adultos têm o direito a que as crianças se submetam a eles”
Para quem ensina, “muitas vezes a força original do impulso criador se perde e tem o fluxo de
seu curso natural desviado, apenas para que o resultado possa obedecer aos ditames do sistema
escolar ou a outros propósitos didáticos.” “Mas além da leitura crítica e da escolha de boa
literatura, ainda existe uma terceira saída para o impasse. O terceiro modo de se defender da massa
de ideologia nos livros infantis é procurar ter uma dieta de leituras variada.”
Mas se não há livro inocente nem produto cultural desprovido de ideologia, o que se pode fazer?
Creio que, antes de mais nada, é preciso tentar agir com inteligência. E isso pressupõe, em
primeiro lugar, o desenvolvimento da capacidade de ler criticamente.” Ensinar as crianças a ler
criticamente, ler com elas, mostrar o que está bom e o que está errado.

Como desenvolver nas crianças essa bagagem de leitura crítica?


p. 50: “Mas quando a escolha de livros começa a se basear em critérios de qualidade, o leitor tem
uma recompensa inesperada, além de ler livros maravilhosos. Porque com esse desvio de rumo,
ele fica menos sujeito às prisões do mercado, pode se espalhar e ir muito mais adiante, ler livros
de nível artístico muito melhor.”
p. 53: “Se a crianças só lerem o mesmo tipo de livro, produzido em massa, dos mesmos autores e
culturas, ou das mesmas coleções e editoras, alguma coisa vai faltar em sua dieta e elas ficam sem
defesas e mais sujeitas às doenças intelectuais. Mas se um livro começar a discordar do outro,
quem sai ganhando nessa discussão é o leitor.”
p. 54: “Em minha opinião, portanto, o desenvolvimento da leitura crítica, a escolha de bons livros
de um ponto de vista literário e a promoção de uma grande diversidade de livros constituem a
única maneira de se conseguir não ficar enredado na ideologia dos outros e ser manipulado por
ela.”
p. 60: “Mas, como ponto de partida, se não desejamos que se perpetue um sistema de dominação
da criança, é mais seguro tentar lhes oferecer livros que tenham mais a ver com a arte do que com
o ensino, com a formulação de perguntas do que com imposição de respostas”
p. 61: “diria simplesmente que se deve ler o que tem valor artístico, ler criticamente e ler em
quantidade. Conviver criticamente com o ideológico. Para tanto, porém, é necessário estar
consciente de que essa expressão pressupõe o exercício permanente da razão, do pensamento.”

Você também pode gostar