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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


FACULDADE DE NUTRIÇÃO

TRIAGEM E AVALIAÇÃO DO ESTADO


NUTRICIONAL DE PACIENTES HOSPITALIZADOS

KARIN COLLI

Cuiabá-MT, abril de 2019


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


FACULDADE DE NUTRIÇÃO

TRIAGEM E AVALIAÇÃO DO ESTADO


NUTRICIONAL DE PACIENTES HOSPITALIZADOS

KARIN COLLI

Trabalho de Graduação apresentado ao Curso de


Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso,
como parte dos requisitos exigidos para obtenção
do título de Bacharel em Nutrição, sob orientação
da professora Dra. Vanessa Cristina Arantes e
coorientação da professora Dra. Ana Carolina
Pinheiro Volp.

Cuiabá-MT, abril de 2019


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RESUMO
INTRODUÇÃO: A desnutrição, prevalente em 30-50% dos hospitais mundiais, está associada a um mau
prognóstico para o indivíduo. O primeiro passo para a assistência nutricional é a realização da avaliação
nutricional, através de ferramentas simples como Nutricional Risk Screening e Avaliação Subjetiva Global, a fim
de identificar os indivíduos em risco e predizer as adversidades associadas à desnutrição, proporcionando a melhor
conduta dietoterápica. Estudos demonstram benefícios consistentes da suplementação nutricional oral,
especialmente em quadros clínicos agudos, pois melhora a resposta imunológica e cicatricial, melhorando o
prognóstico clínico. OBJETIVO: Verificar a prevalência do uso de ferramentas de avaliação nutricional em
pacientes admitidos em uma unidade hospitalar. METODOLOGIA: Foram utilizados dados secundários de
formulários do Serviço de Nutrição Clínica de pacientes admitidos na Clínica Médica do Hospital Universitário
Julio Muller, no ano de 2017. RESULTADOS: Dos 203 formulários avaliados, a avaliação nutricional não foi
realizada em 80% (n=162) dos pacientes. Dos 23 pacientes triados pela NRS, 73,9% (n=17) eram NRS+ e, dos 31
pacientes classificados pela ASG, 19,4% (n=6) eram ASG B e 80,6% (n=25) ASG C no momento da admissão
hospitalar. Quando considerada a indicação de suplementação nutricional, observou-se que a maioria (n=54; 71%)
dos pacientes que foi suplementado não foi avaliado nutricionalmente. CONCLUSÃO: Conclui-se que há uma
baixa prevalência da realização da avaliação nutricional no momento da admissão e que para grande parte dos
pacientes indicados à suplementação, não há avaliação nutricional precedente.
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação nutricional; Suplementação Nutricional Oral; Pacientes Hospitalizados.

ABSTRACT
INTRODUCTION: Malnutrition, prevalent in 30-50% of the world's hospitals, is associated with a poor
prognosis for the individual. The first step in nutritional care is to perform nutritional assessment through simple
tools such as Nutritional Risk Screening and Global Subjective Assessment in order to identify individuals at risk
and predict the adversities associated with malnutrition, providing the best dietary management. Studies
demonstrate consistent benefits of oral nutritional supplementation, especially in acute clinical settings, as it
improves the immune and scarring response, improving the clinical prognosis. OBJECTIVE: To verify the
prevalence of the use of nutritional assessment tools in patients admitted to a hospital unit. METHODOLOGY:
Secondary data from the Clinical Nutrition Service forms of patients admitted to the Medical Clinic of the Julio
Muller Universitary Hospital (JMUH) at 2017 were used. RESULTS: Of the 203 forms evaluated, nutritional
assessment was not performed in 79,8% (n=162) of the patients. Of the 23 patients screened for NRS, 73.9%
(n=17) were NRS + and, of the 31 patients classified by ASG, 19.4% (n = 6) were ASG B and 80.6% (n = 25) ASG
C at the time of hospital admission. When considering the indication of nutritional supplementation, it was
observed that the majority (n=54; 71%) of the patients who were supplemented were not nutritionally evaluated.
CONCLUSION: It was concluded that there is a low prevalence of nutritional assessment at the time of admission
and that for most of the patients indicated for supplementation, there is no previous nutritional assessment.
KEY WORDS: Nutritional Assessment; Oral Nutritional Supplementation; Hospitalized Patients.
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AGRADECIMENTOS

A Deus, primeiramente, por dar-me força para chegar até aqui.


A todos meus familiares, por estarem sempre presentes em todos os momentos da minha
vida, por me incentivarem e acreditarem em mim.
A minha orientadora Prof.ª Dra. Vanessa Cristina Arantes e minha coorientadora Profª.
Dra. Ana Carolina Pinheiro Volp, pela oportunidade de trabalharmos juntas, pela paciência,
ensinamentos e orientações para construção deste trabalho.
Aos amigos, que sempre me apoiaram.
A minha psicóloga, que esteve sempre ao meu lado me auxiliando.
A todos aqueles que de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho.
Meus sinceros agradecimentos, carinho e respeito por todos vocês.
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7
2. OBJETIVOS............................................................................................................................10
2.1. OBJETIVO GERAL ..........................................................................................................10
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................10
3. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................11
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................................12
5. CONCLUSÃO .........................................................................................................................17
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................18
ANEXOS .........................................................................................................................................20
ANEXO I ......................................................................................................................................20
ANEXO II ....................................................................................................................................21
ANEXO III ...................................................................................................................................22
ANEXO IV ...................................................................................................................................23
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1. INTRODUÇÃO

A desnutrição hospitalar, em âmbito mundial, é prevalente em até 50% dos pacientes


internados (WAITZBERG et al, 2001; FERNÁNDEZ et al, 2002; BARKER et al, 2011;
BOTTONI et al., 2014). Há relatos desde o final da década de 70, na qual WEINSIER et al
(1979) observaram que 48% dos pacientes já se encontravam desnutridos no momento da
admissão hospitalar. No Brasil, WAITZBERG et al. (2001) encontraram uma taxa de 48,1% de
desnutrição em pacientes de hospitais públicos. Dados como estes indicam que, independente
do avanço nos cuidados com a saúde, as taxas de prevalência de desnutrição continuam elevadas
(BARKER et al, 2011).
A desnutrição é um desequilíbrio metabólico provocado por uma interação complexa
entre a doença de base, alterações metabólicas subjacentes e à menor disponibilidade
nutricional, seja por baixa ingestão, baixa absorção ou elevadas perdas de nutrientes, ou pela
combinação destes (FERNÁNDEZ et al., 2003; BARKER et al., 2011; BOTTONI et al., 2014).
Em ambientes hospitalares, está associada ao prognóstico negativo de pacientes devido às
maiores taxas de infecções, complicações e morbimortalidades, ao aumento da depleção
muscular e à dificuldade na cicatrização e, consequentemente, ao maior tempo de internação
(BARKER et al, 2011).
Estudos comprovam que a desnutrição está diretamente relacionada com o tempo de
permanência hospitalar. MIDDLETON et al (2001) encontraram uma diferença de 05 dias de
internação entre pacientes desnutridos e nutridos. Similarmente, WAITZBERG et al (2001)
observaram que pacientes moderadamente e gravemente desnutridos permaneceram
hospitalizados por mais tempo, em comparação aos nutridos (médias de 09, 13 e 06 dias,
respectivamente). Sendo assim, as consequências da desnutrição podem refletir em impactos
secundários significativos para os estabelecimentos de saúde, uma vez que pacientes
desnutridos requerem maiores gastos com recursos humanos, pois exigem maior cuidado pelos
profissionais da saúde; com medicamentos; com exames clínicos; e com a estrutura, devido ao
maior tempo de permanência hospitalar (BARKER et al, 2011).
Dentro do ambiente hospitalar, o profissional nutricionista está envolvido na
sistematização do cuidado de nutrição, cujo objetivo visa o cuidado do paciente da admissão à
alta hospitalar. Este atendimento deve ser dinâmico e integralizado com a equipe de
enfermeiros, médicos, nutricionista da produção de refeições e demais profissionais envolvidos
(ASBRAN, 2014).
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O primeiro passo para a assistência nutricional é a realização de um processo dinâmico


e sistemático: a avaliação nutricional. Com a finalidade de identificar riscos e problemas ligados
à nutrição, este processo se constitui pela coleta, verificação e interpretação dos dados obtidos
para a tomada de decisão das condutas dietéticas. É importante que este processo seja realizado
na admissão do paciente, em até 72 horas de internação, e que seja reavaliado periodicamente
para acompanhar a evolução do assistido (CARVALHO, 2016).
Ferramentas simples, de baixo custo, não invasivas, rápidas e precisas, de avaliação
nutricional, estão disponíveis e são recomendadas para reduzir a incidência de desnutrição
hospitalar (WAITZBERG et al, 2001; BARKER et al, 2011; CARVALHO e VIEIRA, 2016).
Dentre as ferramentas utilizadas estão a Nutritional Risk Screening 2002 (NRS 2002) e a
Avaliação Subjetiva Global (ASG).
A NRS-2002 (Anexo I) busca identificar o risco nutricional dos pacientes, para que haja
intervenção nutricional precoce e adequada (CARVALHO, 2016). Ainda, a Sociedade
Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE/BRASPEN) salienta que a triagem deve
ser realizada e registrada nos formulários dos pacientes em até 24 horas após a internação, pela
equipe multidisciplinar de saúde, previamente treinada (ASBRAN, 2014; TOLEDO et al,
2018). Após serem classificados em risco nutricional (NRS+), os pacientes devem ser
submetidos à avaliação do estado nutricional em seguida, e os que não apresentarem riscos
(NRS-) devem ser triados semanalmente (ASBRAN, 2014; TOLEDO et al, 2018).
A avaliação do estado nutricional, atividade do profissional nutricionista, é um processo
amplo e visa identificar e classificar a desnutrição, por meio de um exame detalhado de
variáveis funcionais, nutricionais e metabólicas do paciente (DIAS et al, 2011; TOLEDO et al,
2018). A ASG (Anexo II) é uma ferramenta recomendada para avaliação da desnutrição, logo
também avalia o estado nutricional de pacientes hospitalizados (DETSKY et al, 1987). Esta
ferramenta classifica o paciente em: (A) sem risco nutricional, (B) com risco ou moderadamente
desnutrido e (C) desnutrido grave (DETSKY et al., 1987).
Além disso, autores consideram a ASG como padrão ouro, uma vez que, com excelente
reprodutibilidade, além de diagnosticar, ela pode identificar o prognóstico clínico devido a sua
capacidade de prever complicações associadas ao estado nutricional (DETSKY et al, 1987;
DIAS et al, 2011; RASLAN et al, 2011; BARKER et al, 2011; ASBRAN, 2014; CARVALHO,
2016). Sendo assim, além da aplicabilidade na admissão, este instrumento deve ser reaplicado,
no máximo, a cada 10 dias e deve preceder às indicações de Terapia Nutricional (suplementação
nutricional oral, nutrição enteral e nutrição parenteral), a fim de guiar o profissional à melhor
conduta (CARVALHO, 2016).
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Raslan et al (2011), avaliaram 705 pacientes clínicos e cirúrgicos por meio da NRS-
2002 e ASG identificando, respectivamente, uma taxa de 28% de risco nutricional e 39% de má
nutrição (sendo 57% ASG B e 43% ASG C). Ainda, quando comparados os pacientes NRS+
ou ASG B/C com pacientes NRS- ou ASG A, foi observada uma elevada probabilidade de
complicações moderadas à grave no primeiro grupo. Dessa forma, esses autores recomendam a
utilização complementada (NRS+ASG) das ferramentas de avaliação nutricional, a fim de se
evitar a subestimação pela NRS-2002 e superestimação pela ASG e identificar os pacientes
predispostos às consequências da desnutrição.
Sendo assim, visto que a desnutrição é capaz de afetar adversamente a evolução clínica
do paciente, é de suma importância que a utilização de ferramentas de avaliação nutricional seja
implementada nos procedimentos de rotina hospitalar. Assim é possível garantir ao paciente
uma terapia nutricional adequada e individualizada para as suas necessidades (BRASIL, 2016).
A suplementação nutricional oral (SNO), componente da terapia nutricional, tem por
objetivo a manutenção e/ou recuperação do estado nutricional (CARVALHO e VIEIRA, 2016).
A sua utilização adequada promove a melhora do prognóstico do quadro de pacientes através
da melhora da resposta imunológica e cicatricial e da qualidade de vida do paciente e modulação
da resposta orgânica ao tratamento clínico e cirúrgico (CARVALHO e VIEIRA, 2016;
BRASIL, 2016). Consequentemente, promove a redução do tempo de internação do paciente e
os custos ao serviço público de saúde (BRASIL, 2016).
Estudos demonstram benefícios consistentes da SNO em pacientes, especialmente em
quadros clínicos agudos. O uso de suplementação, em relação ao tratamento de rotina, reduz
taxas de complicações e mortalidade; melhora a função muscular; e contribui para o ganho de
peso e recuperação nutricional. Oferecendo embasamento para a necessidade de se suplementar
pacientes com risco nutricional e com desnutrição instalada e, de preferência, precocemente
(STRATTON & ELIA, 2007; HUBBARD et al, 2012).
Dessa forma, o presente estudo avaliou a prevalência do uso de ferramentas de avaliação
nutricional em pacientes de um hospital universitário de Cuiabá, Mato Grosso.
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2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Verificar a prevalência do uso de ferramentas de avaliação nutricional em pacientes


admitidos em uma unidade hospitalar.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Caracterizar o perfil demográfico da população do estudo;


 Verificar a taxa de formulários com triagem e avaliação do estado nutricional
registrados;
 Avaliar a prevalência de desnutrição na admissão hospitalar;
 Identificar o risco de desnutrição entre os pacientes indicados à suplementação
nutricional oral.
 Avaliar os casos de indicação de suplementação nutricional oral em relação à triagem e
avaliação nutricional.
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3. MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo clínico retrospectivo, realizado com base na coleta de dados


secundários registrados nos Formulários do Serviço de Nutrição Clínica (Anexo III). Nestes
formulários são registradas as informações sobre a evolução do estado clínico e nutricional e as
respectivas condutas nutricionais durante toda a hospitalização. Os dados utilizados foram
referentes à primeira internação, da admissão à alta, de pacientes do Hospital Universitário Júlio
Müller (HUJM), do município de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
A população do estudo, definida de forma não probabilística, foi composta por pacientes
com idade acima de 20 anos, admitidos na Clínica Médica do HUJM no ano de 2017. Gestantes
e/ou lactantes, formulários sem registro de idade ou data de nascimento, tempo de internação
inferior à 24 horas e pacientes encaminhados para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) não
foram considerados.
Os formulários foram avaliados de acordo com a presença de registros de condutas
clínicas e nutricionais. Dessa forma, a avaliação nutricional e a indicação de suplementação
nutricional foram consideradas como variáveis dependentes do estudo.
Foi considerada como avaliação nutricional a efetivação da triagem nutricional por meio
da NRS-2002, e da avaliação do estado nutricional, através da ASG, ferramentas recomendadas
pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e utilizadas na rotina da unidade
(SBNPE/BRASPEN) (TOLEDO et al, 2018).
Neste estudo, foram considerados os seguintes termos:
a. Avaliação Nutricional Completa, quando houve a documentação da realização
da triagem, por meio da NRS 2002, e da avaliação do estado nutricional, pela ASG;
b. Avaliação Nutricional Incompleta, quando houve a documentação de pelo
menos uma etapa, seja a triagem, pela NRS 2002, ou a avaliação do estado nutricional, pela
ASG;
c. Sem Avaliação Nutricional, quando não houve a documentação de nenhuma
etapa da avaliação.
Como variáveis independentes, considerou-se: faixa etária; sexo; peso atual; altura; e
estado nutricional avaliado pela ASG. Os dados foram tabulados através Software Microsoft
Office Excel.
O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Mato
Grosso sob o número 2.788.935 (ANEXO IV).
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Baseado nos critérios de inclusão e exclusão, foram avaliados 203 formulários. Destes,
a maioria era de adultos (61,6%) do sexo masculino (60,1%) (Tabela 1) com média de idade de
53,3 ± 17,9 anos.

Tabela 1. Dados do serviço de nutrição clínica dos pacientes internados na Clínica Médica do Hospital
Universitário Julio Muller (HUJM), 2017.
Estágio da vida
N % Adulto % Idoso %
Feminino 81 39,9 47 58 34 42
Masculino 122 60,1 78 63,9 44 36,1
Total 203 100 125 61,6 78 38,4
Adulto: indivíduo de 20 a 59 anos. Idoso: indivíduo acima de 60 anos.

Em relação aos dados referentes à avaliação antropométrica realizada na admissão dos


pacientes (Figura 1), a maioria dos formulários (78%) continha dados antropométricos, como o
peso e a altura, no entanto em 18% havia somente o registro do peso ou da altura e em 4% não
havia nenhum registro antropométrico. Quando considerada a alteração de peso intra-
hospitalar, dos 188 (92%) pacientes com dados ponderais, em mais da metade (n=103; 54,8%)
não foi acompanhada a variação de peso durante a internação.

4%
18%

Presença de Peso e Altura


Presença de Peso ou Altura
Ausência de Peso e Altura

78%

Figura 1. Percentual de registros de dados antropométricos de pacientes internados na Clínica Médica


do Hospital Universitário Julio Muller (HUJM), 2017.
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Os dados antropométricos devem ser registrados nos formulários para oferecer suporte
ao acompanhamento nutricional, portanto a sua ausência pode prejudicar outros métodos de
avaliação. O peso corporal é um dado essencial para a assistência ao paciente e influencia
diretamente na conduta dietoterápica, pois prediz o risco nutricional e, dessa forma, deve ser
avaliado semanalmente (TOLEDO et al, 2018).
Ao observar a realização da avaliação nutricional na admissão (Figura 2) a grande
maioria (n=162; 79,8%) não foi triada e nem avaliada. Dos 41 pacientes (20,2%) avaliados por
pelo menos uma ferramenta, 31,7% (n=13) foram avaliados completamente pela NRS-2002 e
ASG. Não houve registro de reavaliações nutricionais durante a internação de toda a população
do estudo.

180

160

140
Número de pacientes

120

100

80

60

40

20

0
Ausência de AN AN Incompleta AN Completa

Figura 2. Avaliação nutricional de pacientes admitidos na Clínica Médica do Hospital Universitário


Julio Muller (HUJM), 2017. AN = Avaliação Nutricional.

Neste estudo, foi identificado que, dos 23 pacientes triados pela NRS-2002, 73,9%
(n=17) estavam em risco nutricional no momento da internação e, dos 31 pacientes avaliados
pela ASG, 19,4% (n=6) possuíam suspeita ou desnutrição moderada e 80,6% (n=25) eram
desnutridos graves (Tabela 2), concordando com dados de prevalência de desnutrição mundiais
e confirmando a necessidade do uso complementar das duas ferramentas de avaliação
nutricional (WAITZBERG et al, 2001; BARKER et al, 2011; RASLAN et al, 2011).
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Tabela 2. Prevalência de pacientes com risco nutricional, pela NRS, ou com má nutrição, pela ASG,
avaliados na admissão na Clínica Médica do Hospital Universitário Julio Muller (HUJM), 2017.
Avaliação Nutricional na Admissão Hospitalar
N
N %* %**
parcial
NRS + 17 73,9
NRS 23 11,3
NRS - 6 26,1
ASG B 6 19,4
ASG 31 15,3
ASG C 25 80,6
*percentual em relação ao N parcial. **percentual em relação à população do estudo

A avaliação nutricional no momento da admissão hospitalar e durante a internação são


imprescindíveis para identificar precocemente o risco nutricional e o prognóstico clínico do
paciente, e, dessa forma, aplicar a conduta dietoterápica mais adequada para o caso (DETSKY
et al., 1987; KONDRUP et al, 2003; RASLAN et al, 2011; BARKER et al., 2011; BRASIL,
2016). Sendo assim, para evitar as consequências da desnutrição e melhor atender ao paciente,
todos os usuários admitidos em unidades hospitalares devem ser submetidos à avaliação
nutricional.
Quando considerada a suplementação, observou-se que, dos 76 pacientes indicados à
SNO, a maioria (n=54; 71%) não foi avaliada nutricionalmente (Tabela 3). Este dado contraria
as recomendações de efetivação da avaliação antes de indicar a terapia nutricional (DETSKY
et al., 1987; KONDRUP et al, 2003; DIAS et al, 2011; BARKER et al., 2011; RASLAN et al,
2011; BRASIL, 2016).

Tabela 3. Avaliação nutricional e indicação de suplementação nutricional oral (SNO) de pacientes


internados na Clínica Médica do Hospital Universitário Julio Muller (HUJM), 2017.
Avaliação nutricional na admissão
N % Completa % Incompleta % Ausente %
SNO 76 37,4 8 10,5 14 18,4 54 71
S SNO 127 62,6 5 3,9 14 11 108 85
Total 203 100 13 6,4 28 13,8 162 79,8
SNO: pacientes que receberam a indicação; S SNO: pacientes que não foram indicados à suplementação.

Dos pacientes submetidos à ASG (n=31), quase metade (n=12; 38,7%) não recebeu a
indicação de SNO durante a internação, sendo a maioria (n=8; 66,7%) composta por desnutridos
graves (ASG C) (Tabela 4). Gomes et al. (2017) afirmam que pacientes classificados como
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desnutridos devem receber suplementação para atingir as necessidades nutricionais, de


preferência por via oral para promover a melhora do estado nutricional.

Tabela 4. Estado nutricional, avaliado pela Avaliação Subjetiva Global (ASG) em relação à indicação
de suplementação nutricional oral (SNO) de pacientes internados na Clínica Médica do Hospital
Universitário Julio Muller (HUJM), 2017.
Estado Nutricional
N % ASG B % ASG C %
Indicação à SNO 19 61,3 2 10,5 17 89,5
Ausência de indicação à SNO 12 38,7 4 33,3 8 66,7
Total 31 100 6 19,4 25 80,6
ASG B: risco de desnutrição ou desnutrido moderadamente; ASG C: desnutrido grave.

Ainda, ao avaliar o tempo entre a admissão hospitalar até o início do uso da


suplementação (Figura 3), dos 19 pacientes que foram classificados pela ASG e suplementados,
6 (31,6%) indivíduos receberam SNO somente a partir da segunda semana de internação, sendo
a maioria (n=5; 83,3%) desnutridos graves (ASG C).
Waitzberg et al (2001), em seu estudo, identificou que nos períodos de 3 a 7 e de 8 a 15
dias de hospitalização a taxa de desnutrição se eleva, respectivamente, 1,5 e 2 vezes, em relação
à prevalência na admissão. Dessa forma, salienta-se a importância da identificação e manejo
precoce dos pacientes com riscos nutricionais ou com algum grau de desnutrição. Os dados
obtidos neste trabalho, contrariam estas indicações demonstrando os riscos aos quais os
pacientes, principalmente os classificados em ASG C, ficaram expostos ao receber manejo
nutricional somente após o oitavo dia de hospitalização.

14
Número de pacientes

12
10
8 1ª semana
6 2ª a 3ª semana
4 A partir da 6ª semana
2
0
ASG C ASG B

Figura 3. Tempo (em semanas) entre a admissão hospitalar e o início do uso de suplementação
nutricional oral nos pacientes, de acordo com a Avaliação Subjetiva Global (ASG).
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A realização do rastreio nutricional tardio impede a identificação precoce dos riscos


nutricionais e/ou depleção nutricional de pacientes hospitalizados e, dessa forma, promove o
prognóstico negativo associado às consequências da desnutrição (BARKER et al, 2011). Ainda,
Waitzberg et al (2011) demonstrou, em seu estudo, que a desnutrição do paciente hospitalizado
se agrava a partir do 3º dia de internação, ressaltando, assim, a importância da terapia
nutricional precoce, a fim de evitar os impactos primários (no quadro clínico), e secundários
(custos ao hospital) associadas à má nutrição (BARKER et al, 2011).
Cabe ressaltar que, da população estudada, 21 pacientes (10,3%) receberam indicação
para terapia nutricional especial, sendo 95,2% enteral (n=20) e 4,8% parenteral (n=01). Destes
21 indivíduos, mais da metade (n=12; 57,1%) não foi avaliada por meio da ASG. Apenas 3
pacientes entraram em terapia nutricional enteral antes da indicação à suplementação. Estes
dados implicam no questionamento do que levou ao profissional submeter o paciente à terapia
nutricional, uma vez que não houve registros da avaliação nutricional precedente à conduta.
No ano de 2018, a BRASPEN/SBNPE lançou uma campanha de combate à desnutrição,
intitulada de “Diga Não à Desnutrição”, com protocolo assistencial para se evitar a má nutrição
e suas consequências no prognóstico clínico de pacientes hospitalizados. A campanha é
representada por um método mnemônico de 11 passos para o combate à desnutrição hospitalar
(Quadro 1) (TOLEDO et al, 2018). Ações como essas demonstram que a desnutrição hospitalar
continua presente em nosso país, e que os protocolos existentes são eficazes, no entanto, é
necessária a adequada e contínua aplicação.

Quadro 1. Método mnemônico dos 11 passos para o combate à desnutrição.


D Determine o risco e realize a avaliação nutricional
E Estabeleça as necessidades calóricas e proteicas
S Saiba a perda de peso e acompanhe o peso a cada 7 dias
N Não negligencie o jejum
U Utilize métodos para avaliar e acompanhar a adequação nutricional vs. estimada
T Tente avaliar a massa e função muscular
R Reabilite e mobilize precocemente
I Implemente pelo menos dois Indicadores de Qualidade
C Continuidade no cuidado intra-hospitalar e registro dos dados em prontuário
A Acolha e engaje o paciente e/ou familiares no tratamento
O Oriente a alta hospitalar

Fonte: TOLEDO et al, 2018


17

5. CONCLUSÃO

Conclui-se que há uma baixa prevalência da realização da avaliação nutricional no


momento da admissão e que para grande parte dos pacientes indicados à suplementação, não
há avaliação nutricional precedente.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Manual Orientativo: Sistematização do


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19

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Raslan M, Gonzalez MC, Torrinhas RSMM, Ravacci GR, Pereira JCR, Waitzberg DL.
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Stratton RJ, Elia M. A review of review: a new look at the evidence for oral nutritional
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Clin Nutr. 1979;32(2):418-26.
20

ANEXOS

ANEXO I
NUTRICIONAL RISK SCREENING – 2002 (NRS-2002)
Tabela 1 triagem inicial
IMC <20,5?
1 Sim Não

2 Paciente com perda de peso nos últimos 3 meses?


3 Redução da ingestão dietética da última semana?
4 Paciente gravemente doente? (Ex. em UTI)
Sim: se a resposta foi sim para qualquer questão, a triagem na tabela 2 é indicada.
Não: se a resposta foi não para todas as questões, o paciente deve ser retriado no intervalo de 1 semana. Se o paciente for submetido
ex. cirurgia de grande porte, um plano nutricional de prevenção deve ser traçado para evitar riscos no estado nutricional.
Tabela 2 triagem final
Ausente Prejuízos no
Doença grave (aumento dos
Estado nutricional normal estado
requerimentos)
Score 0 nutricional
Trauma de quadril*, paciente crônico com
Perda de peso >5% em 3 meses ou ingestão complicação aguda, cirrose*, DPOC*.
Leve Score 1 abaixo de 50 a 75% do normal na semana Leve Score 1
anterior Hemodiálise de longa data, diabetes e
oncológico
Perda de peso >5% em 2 meses ou IMC 18,5 –
Cirurgia abdominal de grande porte*,
20,5 kg/m² + prejuízos na condição geral ou Moderado Score
Moderado Score 2 AVC*, pneumonia grave, doença
ingestão entre 25 a 60% do normal na semana 2
hematológica maligna
anterior
Perda de peso >5% em 1 mês (>15% em 3
meses) ou IMC <18,5 kg/m² + prejuízos na TCE*, transplante de medula*, paciente
Grave Score 3 Grave Score 3
condição geral ou ingestão entre 0 a 25% do em UTI (APACHE >10)
normal na semana
Score: + Score: =
Idade se >70 anos: adicionar 1 no total do score acima = idade ajustada score total
Score ≥ 3: paciente em risco e o plano nutricional deve ser iniciado
Score <3: semanalmente retriar o paciente. Se o paciente Ex. for escalado para cirurgia de grande porte, um plano nutricional preventivo
deve ser planejado para evitar a piora do estado nutricional

TRN-2002 é baseada na O plano nutricional é indicado para todos os indivíduos Score=2: paciente confinado no leito
interpretação de estudos clínicos. que estão: (1) desnutrido grave (Score=3), ou (2) doença devido doença, Ex. Submetido a cirurgia
*Indicam que o estudo grave (Score=3), ou (3) desnutrido moderado + doença de grande porte do aparelho digestivo.
categoriza indivíduos com essa de estresse leve (Score2+1), ou (4) desnutrido leve + Requerimento proteico esta aumentado,
doença. Diagnóstico em itálico doença de estresse moderado (Score 1+2). mas pode ser coberto, entretanto a terapia
são baseados nos protótipos Protótipos para doença grave nutricional está indicada para a maioria
abaixo. dos casos.
Score=1: paciente com doença crônica, admitido no
Risco nutricional é definido Score=3: indivíduos em cuidados
hospital devido a complicações. O paciente está fraco,
através do estado nutricional intensivos em ventilação mecânica etc.
mas fica fora da cama regularmente.
atual e dos riscos nesse estado O requerimento proteico está aumentado
Os requerimentos proteicos estão aumentados, mas
nutricional devido ao aumento e não pode ser coberto pela alimentação
pode ser coberto pela via oral ou através da
dos requerimentos causado pelo artificial. A quebra proteica e a perda de
suplementação oral para maioria dos casos.
estresse metabólico e das nitrogênio podem ser significativamente
condições clínicas. atenuadas.
21

ANEXO II

AVALIAÇÃO SUBJETIVA GLOBAL

(DETSKY et al, 1987)


22

ANEXO III

FORMULÁRIO DE ADMISSÃO DO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA


23

ANEXO IV

PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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