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Tiamat World
Eloisa James
PRAZERES NOTURNOS
(midnigth pleasures)
Eloisa James
RESUMO
Depois de rejeitar vinte e dois pedidos a sua mão, Sophie York se resigna a aceitar o de Braddon
Chatwin, conde de Slaslow. Evidentemente teria sido muito mais excitante aceitar o pedido de Patrick
Foakes; entre seus braços se desfazia e perdia toda noção de bom comportamento. Mas ele era um sedutor
sem remédio e Sophie queria evitar a humilhação de ser enganada constantemente como aconteceu com
sua mãe.
Com o tranquilo Braddon não existe essa possibilidade. Embora o rejeite, Patrick não desiste de
conquistar Sophie embora para isso tenha que comprometê-la. De modo que não duvida em disfarçar-se e
fazer-se passar por Braddon em uma rocambolesca simulação de sequestro.
O truque não a engana por muito tempo, entretanto cede às carícias desse habilidoso amante.
Nota da Revisora Tessy: É uma bonita história com dois mocinhos orgulhosos e cabeças duras, que
sofrem calados por não dar o braço a torcer. Tem cenas bem sensuais e um belo enredo, espero que vocês
gostem, pois eu gostei.
Nota da revisora Lívia: Gostei bastante deste livrinho apesar dos dois serem cabeças duras. Amei!!O
orgulho dos dois é demais!!
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Capitulo 1
Lady Sophie York, única filha do marquês de Brandenbourg, tinha rejeitado o pedido de
matrimônio de um barão, dois cavalheiros, um punhado de senhores muito convenientes e de um
visconde que tinha pedido de forma muito adequada no escritório de seu pai o privilégio de obter
sua mão. Inclusive descartou um marquês em metade de uma caçada e ao simples senhor Kissler
na Ascot. Outras garotas menos afortunadas não podiam entender Sophie. Nas duas últimas
temporadas havia feito perder as esperanças à maioria dos homens mais procurados. Mas a partir
de agora já não haveria mais pedidos de matrimônio tanto se eram oficiais como se não. As más
línguas iam estar de acordo: a jovem tinha entregado seu afeto a um homem da nobreza. Lady
Sophie seria condessa na seguinte temporada.
Olhou-se no espelho e fez uma careta ao pensar nas caras de curiosidade e as numerosas
reverências que teria que suportar no baile dos Dewland. Estremeceu interiormente com uma
indecisão totalmente desacostumada nela. Não sabia se estava corretamente vestida para o
anúncio de seu compromisso. Usava um vestido de seda prateada; era possível que a cor lhe
permitisse desaparecer entre a multidão de mulheres com roupas apertadas, grandes decotes e
com vivas cores que abarrotavam o salão de baile. O cinza prata era uma cor de monjas, pensou
divertida, mas uma religiosa desmaiaria se tivesse que usar uma roupa como esta, era de uso
Império com o corte alto e umas fitas que rodeavam o sutiã.
A marquesa de Brandenbourg entrou na habitação.
― Esta pronta Sophie?
― Sim, mamãe ― Ela renunciando à ideia de trocar-se, pois já iam com atraso.
A marquesa a observou entrecerrando os olhos. Ela usava um vestido de cetim cinza bordado
com flores que se parecia muito aos que estavam de moda uns vinte anos antes quando se casou.
― O vestido que usa é indecente ― Declarou secamente.
― Sim mamãe.
Essa era a sistemática resposta de Sophie as ácidas recriminações de sua mãe. Pegou o xale e
seu ridículo e se dirigiu para a porta.
Heloise parecia um pouco indecisa e a olhou ressentida. A marquesa, de origem francesa,
parecia pensar que o mundo era um campo de batalha e ela o general chefe. Era muito raro vê-la
tão insegura de si mesma.
― Esta noite vai anunciar que aceita o pedido de matrimônio do conde de Slaslow.
― Sim mamãe.
Houve um breve silêncio. Sophie se perguntou qual seria o problema. A sua mãe rara vezes
faltavam às palavras.
― Estou segura de que pedirá uma prova de seu afeto.
― Sim mamãe ― Disse Sophie baixando os olhos para dissimular sua diversão.
Educada em um convento, Heloise tinha chegado a sua noite de bodas terrivelmente mal
preparada. Casou-se com um inglês tão apaixonado de tudo quão francês não aceitava nenhum
criado que não o fosse. A babá de Sophie tinha sido francesa, as donzelas, os lacaios e
naturalmente o cozinheiro eram franceses. Heloise não podia imaginar reveladoras conversas que
se desenvolviam no quarto dos meninos. Sua filha não necessitava que ninguém a pusesse a par
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― Não podia aceitar ― Objetou Sophie ― Me propôs isso somente porque lady Prestlefield
entrou no salão. É um libertino e seus beijos não significam nada.
― Não sei muito de beijos que não significam nada ― Declarou a marquesa com altivez ― Eu
gostaria que minha filha tivesse o mesmo sentido comum que eu. Que importância tem que
Foakes seja um libertino? Igual pode resultar um marido excelente. E, além disso, é imensamente
rico que mais pode desejar?
Sophie olhava a ponta dos sapatos de cetim. Era difícil explicar seu ódio para os mulherengos
sem fazer referência a seu pai que perseguia a todas as jovens francesas exiladas. Em vista da
crítica situação pela que atravessava a França nesses dias, não tinha descansado nos últimos anos.
― Eu gostaria de me casar com um homem que me respeitasse ― disse.
― Te respeitar! Acredite-me, não escolheu a melhor maneira para consegui-lo filha. Garanto-te
que nem um só homem em Londres te considera uma mulher de conduta irreprovável. Quando eu
me apresentei em sociedade, escreviam-se poemas elogiando minha modéstia mais esses versos
não poderiam aplicar a você. Além disso ―Concluiu Heloise com amargura ― Acho que é digna
filha de seu pai. Os dois puseram de acordo para que toda a nobreza ria de mim.
Sophie voltou a respirar profundamente porque as lágrimas começavam a arder nas
pálpebras.
Heloise suavizou um pouco.
― Não quero ser muito dura mais estou preocupada com você, Sophie. Com o conde de
Slaslow terá um bom marido. Não ponha seu compromisso em perigo, por favor.
O aborrecimento de Sophie se esfumou e foi substituído por uma onda de culpa; sua mãe
tinha tido que suportar muitas humilhações em público por culpa da atração que seu marido
sentia pelos franceses. E agora sua filha era o centro das falações.
―Não pretendia te envergonhar, mamãe ― Disse brandamente ― Me surpreendi quando lady
Prestlefield me encontrou com Patrick Foakes.
― Se não tivesse estado a sós com ele, não teria te surpreendido ― Contestou sua mãe com
uma lógica esmagante ― A reputação não é uma coisa para tomar a brincadeira, Sophie. Nunca
me tivesse podido imaginar que algum dia alguém pudesse pensar que minha filha era uma
mulher fácil e, entretanto isso é o que se diz de você.
Dizendo isto Heloise saiu da habitação fechando a porta atrás de si.
Desta vez as lágrimas estiveram a ponto de transbordar. Não era a primeira vez que a
marquesa caía sobre um membro da casa como se fosse um anjo vingador saído de uma tragédia
grega, e normalmente Sophie conseguia fazer caso omisso de suas amargas recriminações. Mas
esta noite sua mãe havia tocado um nervo sensível, já que ela mesma se dava conta de que estava
roçando o limite das regras. Seus vestidos eram os mais atrevidos de toda Londres e sua atitude
claramente provocadora.
Tinha ouvido cem vezes os versos compostos em honra de sua mãe: Entre um milhar de jovens
virgens eis aqui à Diana cujo cabelo… Ela e sua mãe tinham o mesmo tom de cabelo loiro, mas
enquanto que os cabelos de Heloise emolduravam sabiamente sua cara recolhidos em um
impecável coque, os cachos de Sophie nunca se submetiam às forquilhas e as fitas. Se por acaso
fosse pouco, os tinha cortado antes que o resto das damas inglesas tivessem a coragem de seguir
a moda francesa. Agora todas as debutantes tinham adotado esse penteado, de modo que ela
tinha decidido deixar que crescesse de novo.
Mas sua mãe não sabia quão doloroso foi para ela rejeitar o pedido de matrimônio de Patrick
Foakes. Deixou-se cair na cama. Recordava o baile dos Cumberland do mês anterior. A excitação
que sentiu quando ficou claro que Patrick a cortejava. O tombo que deu seu coração quando seus
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olhares se encontraram.
Ainda podia sentir essa estranha emoção ao recordar o convite de seus olhos e a maneira em
que se arqueou sua sobrancelha direita e a arrogância de sua expressão.
Passou a noite com o coração pulsando desenfreado e as pernas trementes. Ele exercia tal
fascinação sobre ela que ela esperava com impaciência os momentos nos quais ele aparecia a seu
lado, e quando podia ver seu cabelo escuro com mechas prateadas no outro extremo do salão. No
jantar, rodeados de pessoas sentadas ao redor de uma mesa redonda, estremecia cada vez que
suas pernas se roçavam ou seus braços se tocavam acidentalmente.
Dançaram juntos uma vez, e depois outra. Uma terceira vez teria equivalido a um anúncio de
seu compromisso.
Sophie não tinha pronunciado palavra durante seu segundo baile. Deu-lhe medo que Patrick
adivinhasse a debilidade que se apoderava dela cada vez que se juntavam seguindo os passados
do baile.
Quando ele pegou seu braço para levá-la fora do salão de baile como se fossem procurar um
copo de refresco, e depois a conduziu a um salão deserto, ela não protestou. Patrick tinha se
apoiado na parede para olhá-la com expressão provocadora. As emoções das últimas horas
deviam haver subido ao Sophie à cabeça, já que lhe devolveu o sorriso comportando-se como a
mulher fácil que diziam que era.
Patrick a tinha pego entre seus braços em um gesto que parecia inevitável. Entretanto a
paixão de seu beijo foi uma surpresa. A Sophie já a tinham beijado antes, tantas vezes que sua
mãe desmaiaria se tivesse sabido, mas este beijo não era como as que ela conhecia e estava
acostumada.
Esse beijo foi como uma tormenta do verão; começou brandamente e se converteu em algo
ardente com uma paixão cheia de gemidos. Patrick tinha levantado a cabeça lançando um
juramento surpreso e procurou de novo de seus lábios ao tempo que suas mãos acariciavam as
costas e as nádegas dela.
Era injusto dizer que estavam beijando quando lady Prestlefield entrou nas pontas dos pés na
estadia. Sim, beijaram-se uma e outra vez, mas nesse momento estava de pé frente a frente e
Patrick acariciava com um dedo seu lábio inferior. Ela o olhava desorientada, sem poder
pronunciar uma só palavra e despojada de seu sentido comum.
―Porretes! ― Murmurou voltando para presente.
Podia ouvir a voz de seu pai, e sem dúvida estava dizendo que se apressasse. Ela sabia
exatamente porque ele tinha tanta pressa, acabava de lançar-se à conquista de uma jovem viúva,
a senhora Dalinda Beaumaris, e devia haver-se chamado com ela no baile.
Esse pensamento reforçou sua decisão. Não importava que tivesse chorado todas as noites
desde rejeitou o pedido de matrimônio do Patrick um mês antes. Ela tinha tido razão. Só tinha que
recordar o alívio que viu em seu olhar quando, o dia posterior ao baile, na biblioteca, ela tinha
soltado suas mãos das dele e havia dito “não” muito educadamente. Não podia esquecê-lo nunca.
Não ia deixar que ele rompesse seu coração um libertino como tinha acontecido a sua mãe.
Ela não se converteria em uma anciã amargurada à força de ver seu marido dançando com as
Dalindas e as Luciennes. Possivelmente não poderia impedir que seu marido fornicasse com outras
mulheres, mas ao menos poderia permanecer indiferente diante suas aventuras.
“Não sou idiota”, pensou Sophie e não pela primeira vez.
Bateram na porta e se levantou.
―Entre!
― A Sua Senhoria gostaria que se reunisse com ele lá embaixo ― Anunciou Philippe, um dos
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lacaios.
Sophie não se fazia de iludida, a mensagem tinha sido outro “vá chamar a essa pesada”, isso o
que realmente deve dizer o marquês. Então o mordomo fazendo um sinal com a cabeça, devia ter
mandado o Philippe. A dignidade, muito francesa, deste último, e a alta opinião que tinha de seu
trabalho, o impediam de rebaixar-se a levar esse tipo de mensagem.
Ela sorriu.
― Diga a meu pai que descerei em seguida, por favor.
Quando Philippe saiu, ela agarrou seu leque e se deteve um momento diante o espelho de sua
penteadeira. A imagem que viu era a de uma mulher que tinha inflamado o coração de dúzias de
cavalheiros, que tinha provocado vinte e dois pedidos de mão e infinidade de cumpridos
extravagantes.
Era miúda, chegava pelos cabelos aos ombros de Patrick, e o leve vestido prateado realçava
suas formas, especialmente seus seios que se viam mais volumosos sob o ajustado sutiã.
Estremeceu. Ultimamente não podia olhar-se a um espelho sem recordar o contato do
musculoso peito de Patrick.
Mas tinha que sair. Agarrou o xale e saiu da sala.
Capitulo 2
Pela tarde, o dia do baile dos Dewland, celebrou-se, no Ministério de Assuntos Exteriores,
alguém reuniu especial de jovens cavalheiros presidida pelo ministro em pessoa. Lorde Breksby
estava ficando maior, mas ao mesmo tempo cada vez se sentia mais a gosto tendo poder. Deste
modo, embora recebesse a seus visitantes mediu fundo no sofá e com a peruca branca que se
empenhava em escorregar para um lado em vez de ficar quieta em seu lugar, não tinha nada de
gracioso.
Lorde Breksby estava em Assuntos Exteriores sete anos e via o mundo como se fosse um
teatro de marionetes de cujos fios ele puxava. Um de seus principais talentos, sob o ponto de vista
de William Pitt e do governo inglês, era seu dom para manipular a outros. Como disse uma noite a
sua mulher quando terminavam a sobremesa, as pessoas tinham que usar todos os meios a seu
alcance. Lady Breksby tinha assentido com cansaço enquanto pensava com uma casa de campo,
perto de sua irmã, na qual pudesse cultivar rosas.
― Inglaterra a infrautilizado a seus nobres ― Continuou ele ― Certamente, os aristocratas
tendem a levar uma vida desordenada. Não tem mais que recordar a quão degenerados rodeavam
a Carlos II…
Lady Breksby, enquanto, pensava na nova variedade de rosas chamada Princesa Charlotte,
perguntando se poderiam subir pelas paredes. Podia imaginar a fachada sul coberta de roseiras.
Lorde Breksby por sua parte, pensava nos libertinos de antigamente. Rochester sem duvida foi
o pior de todos com essas perversas poesias sobre as prostitutas. Era um degenerado, e tudo
porque sua vida era um aborrecimento.
― Mas isso forma parte do passado ― Concluiu ― Os jovens de hoje em dia são bastante mais
úteis se souber levar. Têm dinheiro e classe, querida. Isso é indispensável quando terá que tratar
com estrangeiros. Olhe o Selim III, por exemplo, dirige o Império Turco, querida.
Lady Breksby assentiu educadamente com a cabeça. Pensando-o bem, dizia a si mesma, as
Princesas Charlottes são muito pesadas para subir. As melhores tinham corolas pequenas, como
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esse encantado exemplar que cobria a entrada da senhora Barnett. Qual era seu nome?
― Esse homem está deslumbrado pelo Napoleão embora invadisse o Egito faz apenas seis
anos. Acredita que é Deus pelo que dizem dele. Reconheceu-lhe o título de imperador, e agora,
inclusive esta pensando em trocar seu título de sultão pelo de imperador.
Breksby hesitou se tomava a sobremesa, mas depois decidiu não fazê-lo; os coletes já lhe
estavam um pouco estreitos. Voltou para tema que o preocupava.
― Nós temos que deslumbrar também o Selim, se não irá da mão do Napoleão e declarará
guerra à Inglaterra. Mas como poderíamos impressiona-lo? Vamos enviar à flor e nata de nossa
nobreza, vamos enviar a alguns de nossos cavalheiros mais representativos. Essa é a solução.
Lady Breksby assentiu docilmente.
― É uma maravilhosa ideia, querido.
Finalmente esta conversa teve um dobro resultado. Lorde Breksby fez que enviassem uma
série de mensagens através de Londres e lady Breksby escreveu uma carta a sua irmã, que vivia
ainda em seu povoado natal do Hogglesdon, para pedir que fosse, se não era uma moléstia, até a
casa da senhora Barnett para perguntar o nome de sua variedade de roseiras.
Lorde Breksby recolheu os frutos de sua ideia antes que sua esposa (por desgraça a senhora
Barnett tinha morrido e sua filha ignorava o tão desejado nome das flores).
O primeiro em chegar ao Ministério de Assuntos Exteriores foi Alexander Foakes, conde de
Sheffield e de Downes. Breksby se levantou para recebê-lo cordialmente. Tinha enviado uma vez
Sheffield a Itália um ano antes para uma missão muito delicada que havia realizado de forma
impecável.
― Bom dia milorde Como se encontram suas filhas e sua encantadora esposa?
― Maravilhosas ― Contestou Alex tomando assento ― Para que me chamou?
Breksby sorriu; era muito maior para deixar-se impressionar por esses jovens impetuosos.
Apoiou-se no respaldo de sua poltrona juntando as mãos.
―Preferiria que todo mundo estivesse aqui antes de começar a falar ― disse ― Mas tenho que
precisar que não o convoquei para encomendar uma missão do Governo. Absolutamente. Nós não
gostamos de interferir na vida privada de um homem que tem filhos pequenos.
Alex levantou uma sobrancelha.
― Exceto quando terá que arrolar algum soldado.
Com isto estava fazendo alusão à prática consistente em sequestrar homem jovens para enviá-
los à frente pelas boas ou pelas más.
― Hum… Mas nunca pressionamos aos nobres, só contamos com sua generosidade e seu
patriotismo.
Alex engoliu uma gargalhada cética. Breksby era uma espécie de Maquiavel ao que era melhor
não enfrentar.
― Entretanto sua presença aqui não é um capricho já que tenho que propor algo a seu irmão
― Anunciou Breksby.
― É possível que o interesse ― Disse Alex sabendo que Patrick estaria encantado de aproveitar
a oportunidade de viajar.
Tinha voltado para a Inglaterra aproximadamente um ano antes e parecia estar morto de
aborrecimento. Se por acaso fosse pouco estava especialmente irascível desde que Sophie York se
negou a casar com ele.
― Isso é o que pensei também ―Murmurou Breksby.
― Onde tem pensado enviá-lo?
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― Espero que aceite ir ao Império Turco no verão próximo. Ouvimos que Selim III queria ser
coroado imperador seguindo Napoleão, e nós gostaríamos que a Inglaterra esteja representada no
simulacro de cerimônia. Como é impensável enviar os filhos do rei Jorge…
Elevou os olhos ao céu ao pensar nos descerebrados príncipes que estavam mais tempo
bêbados que sóbrios.
Alex assentiu. Patrick voltaria da viagem com um navio cheio de mercadorias o qual parecia
uma compensação muito justa.
― Agora bem, quiser puxar você a esta pequena reunião é por um problema de título.
― De titulo? ― Estranhou Alex.
― Exatamente. Certamente seu irmão representar a Inglaterra adequadamente, já que tem
meios para vestir luxuosamente, e o governo, naturalmente, encarregará-lhe que entregue um
extraordinário presente a Selim. Tínhamos pensado em um cetro encravado de rubis parecido ao
do rei Eduardo II. Acrescentaríamo-lhe mais rubis já que Selim é muito vulgar e gosta
especialmente dessa pedra. Mas a verdadeira questão é o que pensará de Patrick Foakes. Dadas as
delicadas relações entre nossos respectivos países, esse é um ponto importante.
― Patrick ganhou a avaliação dos chefes da Albânia e Índia ― Fez notar Alex ― Acho inclusive
que Ali Pacha lhe suplicou que entrasse em sua moradia e sabe você que Albânia está cheia de
turcos. Não acredito que tenha o menor problema.
― Não entendeu meu amigo. A Selim fascinam os títulos daí o de Imperador Selim.
Alex, que olhava fixamente o tapete, levantou a cabeça para olhar a seu interlocutor
diretamente aos olhos.
― Pensou em outorgar um título ao Patrick.
Não era uma pergunta, e um grande sorriso iluminou seu rosto.
― É maravilhoso! ― Exclamou.
― Há algumas dificuldades mais se podem resolver facilmente ― Afirmou lorde Breksby.
― Pode ter a metade de minhas propriedades e a metade de meu título ― Declarou Alex.
Alexander Foakes, como conde de Sheffield e de Downes possuía dois domínios.
― Querido amigo! ― Indignou-se Breksby ― Nunca faríamos tal coisa! Não se trata de partir
pela metade um título hereditário. Mas se que poderíamos o liberar de algum de seus outros
títulos.
Alex ficou pensativo. Não só era conde de Sheffield e de Downes, mas também visconde de
Spencer.
― Estava pensando em seu título ardem Breksby.
Alex estava um pouco perdido.
― Um título escocês?
― Quando sua bisavó se casou com seu bisavô, o título de seu pai; duque de Gisle; extinguiu-se
já que era filha única.
― É obvio!
Alex tinha ouvido falar de sua bisavó escocesa, mas nunca lhe ocorreu que o título tinha
desaparecido.
― Eu gostaria de pedir ao rei que concedesse esse título a seu irmão. Parece-me que o motivo
está justificado já que se trata de ganhar Selim para a causa inglesa. Se não se sentisse o bastante
impressionado por nosso embaixador seria capaz de nos declarar a guerra só para imitar a seu
querido Napoleão. Suponho que o fato de que Patrick e você sejam gêmeos jogará a seu favor.
Depois de tudo é o mais novo só por uns minutos de diferença.
Alex assentiu com a cabeça. Já que Breksby só falava de seus planos quando estava seguro de
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que iam sair bem, dentro de uns meses Patrick seria duque de Gisle.
A porta se abriu dando passagem ao mordomo do ministro quem anunciou:
-O senhor Patrick Foakes, o conde de Slaslow, lorde Reginald Petersham, o senhor Peter
Dewland.
Breksby não perdeu o tempo em formalidades.
―Senhores, os fiz vir porque cada um de vocês é dono de um excelente navio.
― Meu Deus! ― Exclamou Braddon Chatwin, conde de Slaslow ― Não acredito senhor, a
menos que meu administrador o tenha comprado sem me dizer nada.
Lorde Breksby o olhou com severidade. Aparentemente os informes que tinha recebido sobre
a capacidade intelectual de Slaslow não tinham sido exagerados.
― Ganhou um jogando às cartas com…
Levantou os óculos para consultar uma folha que havia sobre seu escritório.
―… Um tal Sheridan Jameson. Um comerciante acredito.
― Tem razão! ― Exclamou Braddon aliviado ― Foi uma noite que nos detivemos em uma
estalagem no caminho da Ascot. Recorda-o Petersham?
― Lembro que jogou ― Disse Petersham.
― E ganhei um navio! ― Acrescentou Braddon muito contente.
― O governo quer requisitá-los? ― Perguntou Patrick um pouco secamente.
Possuía três bons navios e não tinha nenhum desejo de desprender-se deles.
― Não, não ― Assegurou lorde Breksby ― Nos perguntávamos se algum de vocês estaria
disposto a fazer uma viagem ao longo da costa de Gales nos próximos meses. Ordenamos fazer
algumas fortificações, mas já sabem quão difícil é controlar a essa gente. Nunca obedecem.
Os outros cinco esperaram que continuasse.
― Isso é tudo senhores ― Continuou Breksby ― Achamos que há uma pequena possibilidade
de que Napoleão queira invadir a Inglaterra desde Gales.
Braddon franziu o cenho.
― Por que ia fazer isso? É muito mais simples cruzar o canal da Mancha. Eu mesmo cruzei em
seis horas.
Devia ter sido uma verdadeira dor de cabeça para sua mãe. Como podia não saber que o canal
da Manga estava bloqueado?
― Temo que Napoleão bloqueou o canal ― Explicou com a maior cortesia ― Por isso peço que
um de vocês nos ajude. Certamente, poderia fazer que nossa frota vigiasse a construção das
fortificações, mas necessitamos todos nossos navios. Por isso estaria muito agradecido ao que
aceitasse a missão.
― Eu não posso sair antes que termine a temporada ― Replicou rapidamente Braddon ― Me
comprometi esta manhã e minha mãe me advertiu que seria obrigado a assistir a todas as
recepções. E depois, é obvio, tenho que me casar.
Breksby aguçou o ouvido. Gostava de inteirar-se de todas as alianças que se levavam a cabo
entre a aristocracia.
― Devo entender que Sophie York aceitou casar-se com você?
―Sim! ― Respondeu Braddon radiante.
Alex cruzou seu olhar com o de Patrick enquanto ambos os se levantavam para felicitar ao
futuro marido. Viu o brilho de brincadeira que iluminava os olhos de seu gêmeo e o sarcasmo em
seu sorriso.
Patrick se voltou para o ministro.
― Eu aceito a missão ― Disse.
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―Tem razão, confesso. Quando estive em Lhasa ouvi falar muito de Selim.
Passou quatro anos viajando através do Tibet, a Índia e Pérsia.
― E bem? Como é?
― Terrivelmente esnobe. Naquela época estava visitando as capitais europeias e seu pai
desesperava ao lhe ver adotar os costumes ocidentais e levar toda classe de trajes modernos e
mulheres a Constantinopla.
― Acredita realmente que é capaz de lançar seu exercito seguindo Napoleão?
― É possível.
Estavam chegando às suas carruagens.
― Se dá conta, irmãozinho, que a partir de agora seu título é maior que o meu? ― Disse Alex.
Patrick pareceu desconcertado por um momento e depois seus olhos brilharam
maliciosamente.
― É certo! Sou duque e você só é conde.
Alex se pôs a rir. Os dois irmãos sempre tinham considerado o título de conde como uma fonte
de problemas.
― Se tivesse sido duque faz um mês, ela teria aceitado casar comigo ― Continuou Patrick
subitamente sério.
Alex sabia de quem estava falando e negou com a cabeça.
― Lady Sophie York não é essa espécie de mulher Patrick.
Sophie era a melhor amiga de sua esposa e duvidava que se negasse a se comprometer com
Patrick porque este carecesse de título.
― Então como é que vai casar se com o Braddon? ― Perguntou Patrick irritado ― Braddon!
― Não pensei que te interessasse tanto o futuro de Sophie.
Patrick o ignorou.
― Braddon é gordo e estúpido e, além disso, tem muito menos dinheiro que eu. Mas é conde,
um dos membros respeitados da aristocracia.
― É injusto. Possivelmente o ama.
Patrick gargalhou.
― Amor! Nenhuma só mulher de nosso entorno acredita nessa tolice ― Exceto Charlotte
possivelmente.
Alex sorriu ao pensar em sua mulher, mas repetiu:
― Não acreditei que se preocupasse tanto do futuro de lady Sophie.
O outro elevou os ombros.
― Dá-me igual. Que faça o que dê vontade. Mas sou um mal perdedor e você sabe melhor que
ninguém. Enfurece-me pensar que fui derrotado porque Braddon tem um título e eu não.
Alex permaneceu em silêncio uns segundos. Que mais podia dizer? Depois de todo Sophie
York possivelmente tivesse realmente gana de ser condessa.
― Ira ao baile dos Dewland esta noite?
―Tinha esquecido ― Contestou Patrick ― Mas vou jantar com Braddon e certamente ele
insistirá em ir depois. Espero que não me peça que seja seu padrinho ― Acrescentou com uma
careta.
― Tentarei ir ― Disse Alex dando uma palmada nas costas a seu irmão ― Espera a ver a cara
das casamenteiras quando souberem a notícia. Vai se transformar no partido mais desejado de
Londres.
Patrick estremeceu.
― Razão para embarcar imediatamente para Gales!
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Capitulo 3
Quando se anunciou a chegada de Sophie York no baile dos Dewland, um murmúrio percorreu
o salão. Em um canto as amarguradas solteironas diziam que Sophie era uma rebelde. Outras
diziam que era a mulher mais formosa da Inglaterra. Pequena mas voluptuosa. Coquete mas filha
da aristocrata mais estirada do país, a marquesa de Bradenbourg. Os ácidos comentários de
Heloise tinham estragado a reputação de mais de uma jovem; de modo que os comentários da
marquesa faziam que a atitude de sua filha fosse motivo de maior diversão.
Sophie se deteve no alto das escadas enquanto seu pai se internava entre as pessoas sem
dúvida procurando à encantada Dalinda. A marquesa o seguiu rígida com uma censura que não se
atenuou com os anos.
Percorreu o salão com o olhar convencendo a si mesma de que estava tentando ver o conde
de Slaslow. Mas no fundo sabia que se estava despertando nela sua debilidade e sua falta de
moral como dizia sua mãe, já que estava procurando um homem de costas tão largas que sempre
parecia estar a desgosto vestido de forma elegante, um homem com o cabelo negro e mechas
prateadas. Não tinha visto Patrick desde que rejeitou sua petição de matrimônio e não o via entre
os numerosos convidados.
Sua mãe, ao pé das escadas, voltou-se irritada.
― Sophie! ― Grunhiu.
Sophie desceu docilmente e Heloise agarrou seu pulso.
― Deixa de dar espetáculo!
Os jovens cavalheiros já estavam se reunindo ao seu redor pedindo com olhadas implorantes
que concedesse uma dança. Heloise olhou ameaçadora antes de instalar-se no canto das
matronas, onde só as mulheres cujo título era equiparável a sua ferocidade, tinham direito a
sentar.
Sophie, despreocupada, dividiu seu tempo entre todos seus admiradores, mas era uma
estupidez porque dentro de dois dias como muito, o Time ia publicar a seguinte noticia:
O conde de Slaslow anuncia suas próximas bodas com lady Sophie York, filha do marquês de
Brandenbourg. A cerimônia terá lugar na igreja de São Jorge e a apresentação oficial será na sala
capitular da ordem da Liga, no palácio St James.
Todo mundo se surpreenderia e se inteiraria de que a famosa herdeira já havia feito sua
escolha. Em fevereiro estaria casada com Braddon Chatwin “o conde amável” como o chamavam
algumas vezes. Braddon, em efeito, era amável, e seria um excelente companheiro. Sem dúvida
amava mais a seus cavalos que a qualquer ser humano, mas ao menos não apostava muito nas
corridas. E parecia ser capaz de dar afeto, o que era exatamente o que Sophie queria que tivesse
sua união. Teriam formosos meninos, o que era importante, e ele manteria a suas amantes de
forma discreta. Sim, disse, dirigindo-se para a pista de dança com seu primeiro par. Braddon era
amável e não tinha defeitos importantes de modo que certamente seriam felizes.
A noite avançava e nem seu prometido nem “alguém mais” tinham aparecido. Sophie dançava
com sua habitual graça e só os mais observadores entre os cavalheiros que a perseguiam notaram
que não tinha sua costumeira vivacidade. Um dandi foi secamente recusado quando declarou seu
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amor quando era famosa por suas amáveis respostas. Dava a sensação de estaria andando sobre
uma corda bamba. Deixou de procurar uns cabelos escuros com fios prateados. Para que? Ia
converter em condessa e não na esposa de Patrick Foakes.
No jantar esteve acompanhada pelo filho da anfitriã, Peter Dewland, um elegante e doce
cavalheiro que conhecia fazia anos. Era um alívio porque não tinha o aspecto de acreditar que a
rainha de Londres ia cair em seus braços se desejasse. De fato, nunca a tinha cortejado e isso
estava bem.
― Como está seu irmão? ― Perguntou ela.
O irmão mais velho de Peter tinha sido gravemente ferido em um acidente de equitação e
estava três anos confinado no leito.
― Seu estado vai melhorando ― Falou Peter com um grande sorriso ― Agora está seguindo o
tratamento de um médico alemão que reside na Corte ouviu falar dele? Chama-se Trankelstein.
Acreditei que se tratava de um enganador mais suas massagens parecem estar dando resultado.
Agora Quill pode sair do quarto e sofre menos. Passa quase todo o dia no jardim porque não
suporta estar encerrado.
Sophie sorriu de verdade pela primeira vez em toda a noite.
― Isso é maravilhoso Peter!
― Sim ― Continuou ele depois de uma ligeira duvida― Posso apresentar-lhe lady Sophie. Está
na biblioteca e sei que gostaria de agradecer os foguetes que você contribuiu a organizar para ele.
― Eu não mereço nenhuma gratidão ― Exclamou ― Foi o conde de Sheffield que teve a ideia.
Eu simplesmente estava no Vauxhall essa noite.
O episódio se remontava a um ano atrás. Organizaram uns foguetes no jardim dos Dewland
para o Quill. Sophie, rodeada por seus admiradores havia se sentido feliz ao ver as brilhantes luzes
iluminando o céu.
Tinha olhado a sua queridíssima amiga Charlotte que estava ao lado do conde de Sheffield, o
irmão gêmeo de Patrick Foakes, e a tinha visto apoiar-se contra a protegida pela escuridão
cúmplice da noite.
No dia seguinte Sophie tinha brincado por haver-se atrevido a estar tão perto de Alex, lhe
deixando que rodeasse a cintura com os braços e olhando com expressão apaixonada. Agora
entendia melhor a atitude de Charlotte.
Seu corpo se converteu em um estranho para ela, estava nervosa porque o outro gêmeo
Foakes não estava ali e sentia falta de uma intimidade logo que entrevista.
Sua mente a estava traindo.
Era algo humilhante e desalentador.
Deixou de castigar a si mesma e se levantou.
― Vamos ver seu irmão?
Peter afastou seu prato.
― Com muito prazer. Vou pedir a minha mãe que nos acompanhe.
Sophie assentiu, surpreendida por sua própria estupidez; certamente não era questão de que
a vissem afastar-se de novo acompanhada por um homem.
A viscondessa deixou um grupo de amigos para se dirigir com eles dois para a biblioteca.
Nunca poderia criticar a atitude de Sophie. A jovem tinha um bom coração, pensou.
Kitty Dewland tinha notado com um maternal sorriso, que seu querido Peter não parecia
sentir-se atraído por lady Sophie e que, salvo que estivesse equivocada, o qual ocorria poucas
vezes; lady Sophie parecia estar apaixonada por conde de Slaslow. Os rumores que tinha ouvido
sobre um próximo enlace confirmavam essa impressão. Suspirou extasiada ao recordar a
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maravilhosa noite que passou quando anunciou seu próprio compromisso com Thurlow, reviveu o
arrepio de prazer que percorreu seu corpo quando passeou diante do resto das jovens cujo futuro
não era tão seguro como o seu.
Afastou as lembranças e entrou na biblioteca para apresentar seu filho a lady Sophie.
Quill não era como Sophie tinha imaginado. Recordava vagamente ter visto a noite dos
foguetes um rosto muito pálido depois do cristal de uma janela, mas o que tinham diante estava
bronzeado, muito mais que o dos jovens cavalheiros que passavam as noites jogando e os dias
passeando em carruagens fechadas. Seus traços eram finos, um pouco marcados pela dor, mas era
muito atraente e parecia muito inteligente.
Levantou com aparente facilidade para lhe beijar a mão, mas ela adivinhou, quando ele se
deixou cair na poltrona, que havia feito um grande esforço. Ela se sentou em seguida para não o
incomodar, em um pequeno tamborete ao lado da lareira.
Peter se aproximou da outra poltrona enquanto sua mãe se dirigia para o honorável Sylvester
Bredbeck quem estava ali procurando repouso para seu pé afligido de gota.
Quentin olhava Sophie sem a menor confusão.
― Você está passando bem lady Sophie? ― Perguntou arrastando um pouco a voz.
Ela ruborizou ligeiramente. Podia adivinhar uma sombra de sarcasmo em sua entonação e não
se sentia com humor para brincar. A realidade era que as respostas brilhantes que estavam de
moda em seu ambiente, pareciam de repente haver-se apagado de sua mente.
― Não especialmente ― Respondeu com franqueza.
― Hmm… Gostaria de descansar um pouco dessa necessária alegria e jogar uma partida de
backgamon?
Sophie hesitou um momento. As damas não se dedicavam a jogar nos bailes, mas ela estava
acompanhada pela anfitriã em pessoa e precisava apaziguar um pouco seus nervos. Havia poucas
possibilidades de que Braddon e Patrick aparecessem na biblioteca, de modo que poderia
desfrutar de um breve descanso antes de voltar com outros convidados.
― Eu adoraria.
Peter ficou em pé de um salto para ir procurar uma mesinha de jogo. Sophie e Quill colocaram
em silêncio suas fichas enquanto as chamas da lareira formavam sombras dançantes sobre as
paredes forradas de madeira.
O jogo se desenvolveu depressa até que Sophie tirou pela segunda vez uma dupla nos jogo de
dados.
Quill olhou a seu irmão com olhos brilhantes.
― Isto não foi uma boa ideia. Tem uma sorte incrível.
Sophie sorriu. Tirar duplas era uma de suas habilidades, o qual deixava louco antigamente ao
seu avô quando ela era pequena. Bebeu um gole de champanha. De repente se sentia melhor, a
biblioteca era um bom refugio.
Voltou tirar duplas e riu enquanto Quill se queixava, depois riu a gargalhadas quando
terminou a partida com seis duplas.
Esse foi o momento que escolheram os dois homens que ela tinha estado procurando toda a
noite para entrar na biblioteca. Braddon acompanhado de seu amigo Patrick Foakes.
Braddon encantado foi ao seu encontro.
Mas Patrick se deteve na porta. O cabelo de Sophie brilhava em uma mistura de tons que iam
do vermelho até o dourado mais puro. Uns cachos escapavam de seu penteado parecia ser tão
suaves como a seda.
Esteve a ponto de virar sobre seus calcanhares. Sophie estava rindo e brilhavam seus olhos…
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tomar chá.
― Vai estar muito ocupada em um futuro próximo ― Disse Patrick com indiferença ―
Suponho que neste momento devem estar recebendo as felicitações de todos.
―Tão longe chegou?
― Sim. Não é tola Quill; simplesmente procurava um título.
― Desgraçadamente Braddon é completamente estúpido. Cansará dele antes de um mês.
― Jogamos? ― Repetiu Patrick com impaciência.
― De acordo.
Depois das pesadas portas de carvalho a festa estava em seu apogeu, mas na biblioteca só se
ouvia o ruído do jogo de dados ao se chocar contra a madeira. Um busto de Shakespeare vigiava
de acima as cabeças inclinadas dos dois amigos.
Depois da terceira partida, Patrick rompeu o tranquilo ambiente. Dirigiu a seu amigo um
cáustico olhar.
― Devo ir dar parabéns ao feliz casal?
Quentin permaneceu imperturbável.
― Vou retirar-me, esgotou-me com seus problemas.
Levantou-se, apoiou-se um momento no alto respaldo de sua poltrona dizendo:
― Estou muito contente de que tenha retornado do Oriente, Patrick.
― E eu sinto muito o desse condenado cavalo.
Quill sorriu.
― Certamente não monto muito bem. Espero voltar a vê-lo logo.
Os dois homens abandonaram a biblioteca juntos, um cheio de força e agilidade e o outro com
os músculos duros que se negavam obedecer as suas ordens.
Quill atravessou o corredor para o refúgio de seu dormitório enquanto que Patrick ia em
direção contrária para uma mulher inalcançável.
Capitulo 4
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colar de esmeraldas. Que mais quer Patrick? O que me case com ela?
Patrick abriu a boca e a voltou a fechar. Foi Alex quem, tranquilamente, tomou a palavra.
― Eu gostaria que me falasse da tal Madeleine. Onde a conheceu?
O olhar desconfiado de Braddon ia de um gêmeo a outro.
― Não conhece Madeleine não é? É minha e somente minha Foakes!
Patrick sorriu ironicamente.
― Já compartilhamos mulheres, muitas mulheres Braddon não te parece?
― Arabella era uma coisa, mas Madeleine é algo diferente. É somente minha e para sempre.
― Curioso ― Fez notar Alex.
Braddon se voltou para ele, agressivo como um cão vigiando seu osso.
― Nada disso! Meu próprio pai manteve a sua amante durante trinta e seis anos, sei por que
ainda pago suas faturas. E não me importa já que ela é bastante amável. E, além disso, era
formosa, ao contrário de minha mãe. Às vezes vou tomar o chá com ela e falamos de meu pai.
― Mas sua mulher, sua futura esposa, é muito formosa ― Objetou Alex.
― Não é o mesmo.
Braddon falava completamente a sério. Estava tentando explicar o que tinha pensado desde
que seu pai lhe apresentou à senhora Burns. O anterior conde de Slaslow exigiu que tratasse com
o maior respeito a essa mulher e olhou enfurecido quando não saudou o bastante rápido a sua
amante. Então Braddon havia feito uma reverência como se estivesse em presença do rei Jorge.
Logo tinham sentado os três para tomar o chá e tinha admirado a luxuosa decoração e os
jardins que se viam através das portas janelas. Ao fim viu, em cima do piano, a foto de um menino
pequeno… Seu meio-irmão. O menino tinha morrido aos sete anos, disse a senhora Burns. Depois
desta confissão, o conde se aproximou dela e tinha posto as mãos sobre os ombros.
Braddon compreendeu, sem experimentar nenhum rancor, que seu pai tinha querido a esse
filho, mas que ele e a suas irmãs, e que amava à senhora Burns e não a sua esposa.
Tinha pensado muito; coisa que não estava acostumado a fazer; e tinha chegado à conclusão
de que a relação que seu pai tinha com a senhora Burns era exatamente o que queria para si
mesmo.
De modo que quando seu pai estava agonizando, fez sair a todo mundo do quarto e fez passar
em segredo à senhora Burns. Antes de abandonar ele também o dormitório, olhou-a, sentada na
cama, inclinada sobre o moribundo e este, que desde por volta de dias não tinha pronunciado uma
só palavra, murmurou: “meu amor”. Morreu essa mesma noite sem dizer nada, mas Braddon
tomou uma decisão.
Certamente se casaria como desejava a bruxa de sua mãe e teria filhos. Até esse momento
tinha feito três propostas de matrimônio e só a última dela tinha coalhado. De modo que esse
aspecto de sua vida já estava arrumado. Mas agora queria uma senhora Burns, uma senhora Burns
para ele sozinho.
E milagrosamente acabava de encontrá-la.
― Chama-se Madeleine. Senhorita Madeleine Garnier ― Disse à defensiva se por acaso Patrick
já tinha tentado seduzi-la ― Conhece-a?
Patrick parecia estar divertido agora, e Braddon se tranquilizou.
― Nunca tinha ouvido falar dela. Não tenho nada haver com ela, palavra de honra.
Em qualquer caso, não com Madeleine, acrescentou para si, coisa que Alex adivinhou sem
necessidade que dissesse. O problema com os gêmeos era que não podiam esconder nada um do
outro.
Patrick esclareceu garganta.
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com a Arabella!
Braddon ficou em pé de um salto e deu uns passos nervosos.
― Então porque está zangado comigo? Que mais te dá se tomo uma amante posto que não
conhece Madeleine?
Patrick entrecerrou os olhos.
― Preocupo-me com o modo em que trata Sophie York ― Disse escolhendo cuidadosamente
as palavras.
― Verdadeiramente é o cão de hortelano! ― Explodiu Braddon ― Sei que não pediu sua mão.
Ouvi dizer que a tinha beijado e que depois não pareceu o bastante boa para você. Bem, pois eu
não compartilho seu ponto de vista, Patrick Foakes. Sophie é o bastante boa para mim.
Inclusive o rosto de Braddon podia expressar dignidade quando lhe provocava, pensou Alex
divertido.
Patrick se levantou de repente.
― Estúpido idiota! ― Gritou ― Pedi sua mão! Pedi!
Fez-se um silêncio durante o qual Braddon mordeu o lábio inferior, incrementando assim seu
parecido com um buldogue.
― Ofereceu-lhe matrimônio? Você? E ela te rejeitou?
Patrick voltou a sentar-se com um suspiro. Como podia continuar zangado com um cretino
como esse?
― Exatamente. Fui a sua casa no dia seguinte às dez da manhã depois de ter bebido uma taça
de brandy para que me desse coragem. Arrumei o assunto com seu pai, mas com ela não
funcionou.
Sentiu uma onda de ternura ao recordar os enormes e indecisos olhos de Sophie. Ela não tinha
esperado sua visita, evidentemente; o qual dizia muito a favor do Patrick. Mas estava ali
declarando suas intenções, e o rechaçou. Realmente não queria saber por que razão o fez.
― Não posso acreditar! ― Murmurou Braddon ainda surpreendido ― Eu, Braddon Chatwin,
roubei uma mulher de um dos irmãos Foakes. Arabella não conta suponho ― Acrescentou antes
de olhar ao Alex ― Recorda quando voltou da Itália e te falei da mulher mais formosa de Londres
com a qual queria me casar? Duas semanas depois estava comprometido com ela.
Alex explodiu em gargalhadas.
― Minha esposa, efetivamente. Devo-lhe isso tudo Braddon ― Disse ironicamente.
― Sophie York recusa Patrick e aceita casar-se comigo? ― Repetia Braddon alucinado.
Um pouco mais e se pôs a dar saltos de alegria. Patrick levantou os olhos ao céu.
― Senhores ― Disse Alex ― Por mais apaixonante que seja esta conversa, já é hora de que eu
volte para minha casa.
― Para que não briguem? ― Zombou Patrick.
Alex lhe respondeu com um sorriso.
― Charlotte se preocupa se voltar tarde e Sarah às vezes ainda tem que mamar pelas noites.
― Puaj! ― Interveio Braddon ― Não entendo como consente que sua mulher ela mesma
alimente a sua filha Alex. É repugnante.
Franziu o cenho, sinal seguro de que estava pensando.
― Nunca permitirei que minha Madeleine faça algo assim, garanto isso. Não quero que se
converta em uma vaca leiteira.
― Prefiro não me dar por informado de que acaba de chamar a minha esposa de vaca
leiteira ― Murmurou Alex cruzando um olhar com o Patrick ― Verei-te no jantar de amanhã?
― É obvio! ― Cortou Braddon ― É meu padrinho de modo que tem que assistir ao jantar de
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compromisso.
Patrick deu de ombros.
― Por que não? Tenho vontade de ver minha sobrinha criada aos seios de sua mãe.
― Puaj! ― Repetiu Braddon ― Espero que Sophie não queira alimentar a seus filhos. Não
permitirei. Não em minha casa. É asqueroso!
Alex lançou um olhar de advertência ao seu gêmeo.
Patrick estava fervendo de ira, mas seguiu o conselho silencioso de seu irmão. O modo em que
Braddon pensava tratar a sua mulher não era coisa dele.
― Bem ― Declarou este alegremente puxando para baixo seu colete ― Você gostaria de
saudar a Arabella um dia destes Patrick? Agora esta atuando em ao Duke´s Theater e estou seguro
de que adoraria te ver outra vez. Faz da Julieta. É um bom papel para ela não? Embora seja
incapaz de morrer de amor. Sabe que quando rompi com ela me enviou uma indiferente nota
onde dizia que eu era sua vida e sua alegria ou um pouco igualmente estúpido e que já que minha
paixão por ela se apagou, ela tinha uma grande necessidade de segurança? Conclusão: queria que
comprasse uma casa para ela.
Patrick ia andando diante dele.
― Fará? ― Disse por cima do ombro.
Houve um silêncio e Patrick o olhou divertido.
― É uma boa presa não?
Caminhou mais devagar para que seu amigo o alcançasse.
― Me avise quando tiver encontrado uma casa que goste. Compartilharei o gasto contigo.
Seus passos ressonavam no silêncio. O visconde e a viscondessa se retiraram e só ficava um
lacaio de olhos cansados para lhes desejar boa noite.
― Posso pagá-la sozinho ― Contestou Braddon.
―Sei, mas eu gostaria de colaborar de todas as formas.
Braddon lhe olhou com curiosidade.
― De modo que é certo que voltou da Índia rico como um nabab.
Patrick afastou o cabelo da cara com um movimento da cabeça.
― Meu pai enviou ao Oriente sozinho, e sem meu irmão já não sentia vontade de fazê-lo de
tolo, de modo que aconteceu de forma natural.
Isso era certo. Agarrou-lhe o gosto ao tranquilo ritmo das negociações com os hindus.
Encontrar boas rotas, conseguir peças raras, vigiar o carregamento de jaulas de pássaros, de
sedas tão finas que se rasgavam ao menor arranhão, caixas de plumas de perus reais. Tudo isto lhe
tinha gostado de muito. Correu alguns riscos, mas foi amplamente recompensado. De fato sua
fortuna só era comparável a de alguns privilegiados entre os que se encontrava seu irmão. Os
cavalheiros como Braddon cujos lucros financeiros se limitavam a criar cavalos de corridas, eram
uma raça em vias de extinção.
Alex subiu a sua carruagem. Patrick renunciou a sua ideia de dar uma volta até a entrada de
atores do Duke´s Theater e ao final se despediu de seu carro. Permaneceu na deserta rua vendo
como este se afastava.
Começou a cair uma fina chuva, o ar cheirava a pó e a excremento de cavalo; fechou-se bem a
capa e caminhou dando passo longos pela calçada. Andar lhe relaxava e o nó que tinha no
estômago desapareceu.
Patrick tinha passeado pelas cansativas ruelas de Cantão e sob as arcadas de Bagdá. Tinha
descansado em povos de montanha no Tibet. Um dia, em uma rua de Lhassa, ouviu um coro de
bengalis, uns pequenos pássaros que logo trouxe para a Inglaterra e que se converteram em moda
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em Londres.
Continuava sem precisar dormir muito e frequentemente as ideias ocorriam enquanto andava.
Mas agora, em vez de pensar, via-o todo negro. Só recordando a suave curva do seio de Sophie
York sentia que se esticava de desejo. Continuou andando tentando afasta-la de sua mente.
Maldição! Ele tinha uma amante na Arábia como se chamava? Perliss. Até que um pachá se
enamorou dela e ela dele. Em poucas horas se transformou em uma esposa respeitada; a vigésima
quarta ou a vigésima quinta. Isso não a incomodou, nem sequer quando em um primeiro
momento sentiu falta dos talentos e as longas pernas de Perliss.
Mas Sophie simplesmente a tinha beijado. E uma só vez antes a tinha abraçado, mas isso foi
quando sua cunhada se debatia entre a vida e a morte no quarto continuo. Essa noite, ele se
emocionou embora ela não se desse conta. Chorava com todas suas forças pela sorte de sua
amiga, e Charlotte sobreviveu.
Patrick tomou com calma. Sophie voltou com sua família um dia depois do nascimento do filho
de Charlotte. Como sedutor convencido, não a seguiu preferindo esperar a que a nobreza
começasse a voltar para Londres no fim de novembro.
Mas então, quando ele transformou à Bela Adormecida em uma sensual criatura que se
aconchegava em seus braços, o tinha rejeitado. Não é que ele tivesse realmente gana de casar-se,
é obvio, mas em vista das circunstâncias…
Passaram as semanas e não tinha conhecido a nenhuma outra mulher depois de sua
fracassada oferta de matrimônio. Não deixava de pensar em Sophie York. disse que só se tratava
de frustração sexual. Se tivesse um pingo de sentido comum se dirigiria ao Duke´s Theater para ver
se Arabella aceitava passar umas horas em sua cama em lembrança dos bons velhos tempos.
Mas suas pernas não o obedeciam e o levavam diretamente para sua casa. Demônios se
deixava que Sophie se casasse com Braddon! Teve uma odiosa visão: Braddon tirava o colete
bordado e se preparava para cumprir com seu dever conjugal. Só até que tivesse um filho.
O que ia fazer Sophie depois? Transformaria-se em uma dessas damas desiludidas que
escolhia seus amantes entre os maridos de suas amigas ou se deitavam com o jardineiro.
Ao fim chegou a sua casa, mas o passeio não tinha operado sua magia desta vez. Ainda tinha
um nó na garganta e os punhos apertados.
A noite do compromisso…
Subiu lentamente os degraus do alpendre, passou por diante do mordomo que se precipitou
imediatamente depois à zona dos criados para meter-se na cama. Patrick entrou em seu quarto e
se despediu de seu ajudante de câmara.
O jantar que celebrava Charlotte em honra de Sophie.
Falarei com ela ― Pensou.
Falar? Séria melhor dizer que tinha desejo de acariciar os botões rosados de seus voluptuosos
seios e apertá-la contra ele em um sensual contato de delicadas curvas e um musculoso corpo que
estavam feitos um para o outro.
Terei-a, disse-se. Terei-a e ponto.
Essa noite lorde Breksby foi se deitar muito contente consigo mesmo. Cruzou os braços por
cima de sua cabeça coberta com um gorro.
― Já vê querida ― Anunciou a sua adormecida mulher ― Às vezes acredito que sou um gênio.
Lady Breksby respondeu com um grunhido de modo que ele decidiu dormir. Ele sonhou com
cetros com rubis incrustados e ela com roseiras trepadoras.
Patrick sonhou que dançava com Sophie levando uma insígnia de duque.
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Sophie sonhou que beijava seu futuro marido, Braddon Chatwin que de repente se
transformava em coelho e se afastava dando saltos. Ela se sentiu mais bem aliviada.
Alex não sonhou. Estavam saindo os dentes de Sarah e passou a metade da noite chorando.
― Temos que nos felicitar porque tenha bons pulmões ―Disse sua esposa às três da manhã.
Alex suspirou e voltou uma vez mais ao quarto da menina.
Se o conde de Sheffield sonhou acordado que embarcava em companhia de seu irmão com
destino ao Império Turco, afastando-se da empapada criatura que tinha nos braços, quem tivesse
podido reprova-lo.
Capitulo 5
Sophie, banhada, maquiada e penteada, dirigia-se à festa de seu compromisso. Estava sozinha;
a carruagem a deixaria no Sheffield House uma hora antes que chegassem os convidados para que
pudesse conversar um momento com Charlotte. Afundou-se nas cômodas almofadas de veludo
cor salmão.
Sua mãe, a marquesa, sempre se sentava na beira do assento com as costas retas como se
tivesse engolido uma vassoura e se agarrava ao cabo, em troca Sophie adorava apoiar as costas
no respaldo.
Sentia-se deliciosamente sensual e tinha o coração leve e tudo pela absurda razão de que
Patrick Foakes estaria presente no jantar. Veria-lhe e possivelmente, mas tarde poderia dançar
com ele. Desejava-o com toda sua alma, desse modo ele poderia e quereria abraçá-la.
A carruagem cabeceava sobre o pavimento e virou bruscamente. Sophie se segurou no cabo
pensando que era uma desgraça ser tão baixa já que não podia alavancar-se em um canto como
faziam os homens, e André conduzia muito depressa.
Tinha posto um vestido de um tom bege dourado aproximando-o mais possível ao branco que
sua mãe insistia em que usasse. A cor branca era o que usavam quase todas as jovens casadoiras
de Londres. Branco como símbolo de inocência, compromisso e virgindade. Exasperada começou a
dar leves golpes com o pé.
O ouro não era muito virginal. Como se titulava a obra que tinha visto na semana anterior?
Eros vencido? Não, não era isso. Cupido derrotado? Não, era Eros, não Cupido. Cupido era o deus
do amor e Eros o do desejo. Em qualquer caso, Eros usava uma toga curta de cor ouro pálido
quando atravessou o cenário apontando às pessoas com suas douradas flechas. A obra era muito
mau, uma dessas tragédias nas quais uma piedosa jovem se apaixona por um libertino por culpa
de Eros. Ao final ela acabava atirando-se, de maneira muito pouco convincente segundo Sophie,
do alto de uma ponte.
Isso era o que necessitava, disse. Um pequeno deus vestido com uma túnica que fizesse jogo
com seu vestido colocando uma flecha no coração de Patrick Foakes. Embora… Agora que
pensava, isso é o que o deus havia feito com o libertino da obra. E, entretanto o homem
abandonou à heroína e a seu filho.
Sophie sorriu; seu temor não era que Patrick não a desejasse isso ela podia vê-lo nos olhos
dele que se obscureciam assim que a via. De modo que não necessitava de Eros, a sim ao Cupido.
Isso era Cupido usando uma túnica de um branco virginal atravessando Patrick Foakes com uma
de suas flechas. Porque uma coisa era segura: os libertinos nunca se apaixonavam e quando o
faziam era por pouco tempo.
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Respirou profundamente. O sonho de que Patrick se apaixonasse por ela era inalcançável.
Fosse o que fosse que o esperava dela, não era o matrimônio. Veria-lhe essa noite, certo, mas
seria com motivo de seu compromisso com outro homem.
Apesar de tudo em seu interior cantava de alegria. Inclusive seus cabelos, que lhe caíam
livremente pelas costas em elaborados cachos, sonhava com as carícias de Patrick.
A limusine se deteve bruscamente diante da mansão dos Sheffield, os cavalos se encabritaram
dando coices no ar com os cascos antes de apoiá-los de novo no chão com um tinido de arnês.
― Será melhor que o senhor não te veja jogar desse modo com os cavalos André ― Advertiu
o lacaio que estava ao lado do chofer.
Saltou ao chão para abrir a porta do habitáculo. Todos sabiam que ela não se queixaria nunca
por ter tido uma viagem tão movimentada, mas a marquesa era muito severa quando queria.
Entretanto Sophie estava um pouco dolorida já que um de seus ombros tinham se chocado
contra as paredes do carro e tinha saído despedida contra o assento de em frente. Aceitou a ajuda
do criado para sair do veículo.
― Philippe ― Disse ― Quer por favor dizer ao André que tenho a sensação de ser uma jarra
de creme batida para transformá-la em manteiga?
Philippe dissimulou um sorriso.
― Certamente milady, transmitirei-lhe a mensagem.
Ela subiu rapidamente as escadas de mármore de Sheffield House e se deteve para sorrir ao
mordomo que lhe abriu a porta.
― Como está você McDougal?
― Lady Sophie, você está especialmente formosa esta noite.
Entregou-lhe seu casaco de veludo e o olhou interrogadoramente.
― Poderá encontrar à condessa em seus aposentos ― Informou ele.
Olhou-a enquanto desaparecia pela escada, era uma jovenzinha muito gentil, pensou; miúda e
frágil como uma fada, mas com um sorriso que podia dar calor à lua.
Quando Sophie irrompeu nos aposentos de Charlotte, esta estava sentada diante a
penteadeira e se voltou com um sorriso.
― Sophie! ― Foi muito amável vindo antes.
― Não se levante querida ― Disse Sophie depositando um beijo na bochecha de sua amiga
― Vejo que Marie esta fazendo um penteado complicado.
A donzela estava fazendo um recolhido composto de tranças, fitas e flores.
― Boa noite Marie ― Disse amavelmente Sophie.
― Meu Deus! ― Exclamou a donzela ― Seu vestido!
O vestido do Sophie se enrugou na acidentada viagem. Marie foi chamar a criada.
― Agora mesmo nos ocuparemos disso lady Sophie ― Disse ― Tome ― Acrescentou
entregando um robe de seda ― Ponha isto por enquanto.
Ajudou-a tirar o vestido e depois Sophie colocou o robe subindo as mangas antes de sentar-se
na beira da cama.
― Como estão as meninas Charlotte?
― Muito bem, exceto Pippa decidiu que todo mundo tem que obedecê-la. É uma déspota em
potência.
― Sempre foi ― Replicou Sophie rindo ― Lembra-se de como espantava a todas as babás
uma atrás de outra, e só tinha um ano. Quantos anos tem agora? Dois três? Espera ate que tenha
dezesseis!
― Não se engane Charlotte.
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que acontece entre os meus. Não há um só mês no que meu pai não apareça no Morning Post
com um pseudônimo ou outro. Minha mãe não contrata uma só francesa que tenha menos de
setenta anos. Isso significa que despedimos mais criadas das que sua mãe empregou em toda sua
vida.
Charlotte suspirou. A lógica de sua amiga era incontestável, mas de todos os modos estava
equivocada.
― Não sei que têm haver seus pais com que escolha entre Braddon ou Patrick.
― Eu gosto de Braddon ― Repetiu Sophie ― Nunca me apaixonarei por ele de modo que
não me transformarei em uma mulher amargurada como minha mãe embora se preocupe mais
por suas amantes que por mim. Com o Patrick… Seria diferente.
― Sabe que vai estar aqui esta noite?
Sophie levantou a cabeça com rapidez. Até esse momento tinha estado contemplando seus
sapatos dourados movendo nervosamente o pé.
― Sim.
No mais profundo de seus olhos Charlotte distinguiu uma dolorosa confusão que lhe arrancou
um sorriso. Possivelmente as formosas teorias de Sophie não tivessem importância. Se
encontrasse a maneira de lançá-los ao um nos braços do outro esta noite…
Bateram na porta e entrou uma criada sustentando entre seus braços o vestido dourado como
se estivesse fazendo uma oferenda a uma deusa pagã.
― Milady…
Fez uma torpe reverencia.
― Deus meu Bess! ― Interveio Marie com a autoridade de um membro respeitado do pessoal,
justo por debaixo do mordomo e do ajudante de câmara do conde ― Tem que aprender a fazer
melhor as reverências se quer se transformar em donzela. Vamos vá!
Bess não a fez repetir duas vezes.
― Venha lady Sophie.
A aludida se levantou e Marie começou umedecendo rapidamente sua fina regata para que
pegasse às pernas, depois passou o vestido pela cabeça com cuidado para não danificar o
penteado.
A seda sussurrou enquanto caía brandamente ao redor de seu corpo. Cheirava a flor-de-
laranja e ao calor da prancha.
― Perfeito! ― Exclamou Marie satisfeita depois de abotoar os botões das costas ― Se me
conceder um minuto enquanto termino de pentear a minha senhora, ocuparei-me de pôr em
ordem seus cachos.
― Que vestido mais bonito! ― Comentou Charlotte.
― Obrigado, é de Antonin Careme.
Marie colocou as últimas forquilhas no penteado de Charlotte quem se levantou sentindo a
cabeça um pouco pesada. Aproximou-se da donzela que estava sentada em um tamborete para
pôr seu vestido escarlate. Esse era um dos inconvenientes de ser tão alta.
Bateram na porta, Marie foi abrir e depois fechou rapidamente a porta nos narizes da pessoa
que tinha chamado.
― Era Keating, milady; diz que os Heppleworth chegaram.
Charlotte estendeu o braço e Marie pôs no seu pulso um bracelete de rubis.
― É preciosa Charlotte! ― Exclamou Sophie.
A cor vermelha das pedras realçava o do vestido e ficava perfeito com seu cabelo moreno.
― É um presente de aniversário de meu amor ― Brincou Charlotte ― Para celebrar nossa
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tranquila vida. Baixamos para pôr a prova nosso encanto com os homens que já estão aqui? E digo
todos os homens.
Sophie se olhou rapidamente no espelho e puxou seu sutiã para que tampasse justo a rosada
auréola de seus seios.
Charlotte se pôs a rir.
―Não poderia estar mais atraente Sophie.
―Verdade ― Respondeu a outra com os olhos brilhantes de malicia ― É que não sei por que
não ia ser atraente aos homens, a final de contas só estou comprometida, não morta.
― Às vezes é muito francesa.
―Eu gosto de muito ser francesa de noite. O resto do dia posso ser muito inglesa, sobretudo
para montar a cavalo. E logo, a partir das seis da tarde me visto como uma francesa e penso como
uma francesa.
Charlotte pensou enquanto desciam as escadas.
― Até que ponto se comportará como uma francesa quando estiver casada?
Sophie lhe dirigiu um olhar carregado de diversão.
― Tenta descobrir se serei fiel a meu marido?
―Sim.
― Serei porque é muito complicado enredar-se em relações ilícitas. Paquerarei, é obvio, e terei
um pretendente com título. Uma dama casada tem que ter admiradores; mas não abrirei as portas
de meu dormitório a ninguém. Para que?
Encolheu os ombros de forma encantadora.
O gesto era tipicamente francês, pensou Charlotte. Mas a ignorância de Sophie quanto aos
prazeres da carne era muito britânica. Sorriu; se Patrick se parecia nisso a seu gêmeo, faria Sophie
compreender o que estava perdendo levando o anel de Braddon no dedo.
Uma vez em baixo se dirigiram para o salão amarelo, onde as estavam esperando os
convidados.
― Genial! ― Sussurrou Sophie ― Este salão faz jogo com meu vestido.
Tinha razão. O salão amarelo estava pintado em cor âmbar pálido, o tapete era de uma cor um
pouco mais escuro o qual para ressaltar mais sua roupa.
Patrick ainda não tinha chegado. Sophie tinha desenvolvido um sexto sentido no que se referia
a ele, e não precisava olhar para saber que não estava ali.
Braddon se apressou a ir para seu lado e fez uma reverência. Ele se inclinou; ao endireitar-se
de novo se esticou de maneira mecânica o colete que tinha tendência a subir por sua incipiente
barriga. Sophie baixou educadamente os olhos.
Braddon saudou Charlotte antes de oferecer o braço a sua prometida com ares de
importância. Esta noite ia apresentar oficialmente a sua futura esposa à família e tinha estudado
cuidadosamente o protocolo que devia seguir.
― Primeiro minha mãe ― Murmurou levando-a até o outro extremo do salão ― Depois
minhas irmãs e por último minha avó, porque embora tenha um caráter espantoso também é
condessa de modo que…
A família de Braddon era muito conhecida e só os mais indulgentes diziam que sua avó era
simplesmente difícil. Outros diziam dela que a condessa de Slaslow era uma bruxa. Mas Sophie
tinha sobrevivido vinte anos com as severas reprimendas de sua própria mãe, de modo que não
era fácil pô-la nervosa.
Braddon se deteve diante sua mãe nas pontas dos pés como se estivesse preparado para fugir
o mais longe possível dela. A Sophie a condessa pareceu jovem para ter essa reputação;
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― Bravo! ― Exclamou Patrick ― Eu gosto das mulheres que não temem assumir suas
obrigações. Você não Braddon?
Este olhava a Sophie horrorizado. Nove filhos? Havia dito realmente nove? Teria pedido a mão
de uma coelha como sua irmã?
― Eu gostaria de ser uma anciã ― Declarou Sophie brandamente ― Os cuidados masculinos
são às vezes tão aborrecidos! Não opina o mesmo Margaret? Suponho que posso te chamar por
seu nome já que vamos ser cunhadas.
Margaret sorriu.
―É obvio minha querida Sophie.
―Sim, os homens são exaustivos às vezes. Sua forma de suplicar e implorar…
― Suplicar e implorar? ― Perguntou Patrick com um sorriso diabólico.
― Exatamente. Suspirar e implorar.
Braddon agarrou a mão de Sophie e a pôs em seu cotovelo.
―Já é hora de vermos minha avó. Perdoem-nos, Margaret, Patrick…
Sophie não pôde conter-se mais. Dirigiu seu melhor sorriso a fértil senhora Windcastle e logo
olhou ao Patrick. Um olhar francamente provocador de relance.
O olhar que ele devolveu era mais uma ordem que uma petição e certamente não tinha nada
de suplicante nem de implorante. Todo o corpo de Sophie estremeceu quando ele deteve seus
olhos em seus seios e suas pernas.
Enquanto se afastava acompanhada de Braddon, olhou-se dissimuladamente o sutiã. Dava-lhe
a sensação de que tinha escorregado e que seus seios estavam nus.
Mas tudo estava em ordem.
Capitulo 6
Sophie passou o jantar conversando com Braddon que estava sentado a sua direita e com um
amigo de seu prometido, David Marlowe que estava a sua esquerda, ignorando com decisão
Patrick Foakes. Estava situado bastante longe dela na longa mesa, mas isso não impedia que o
visse quando virava um pouco a cabeça, o qual se permitiu fazer poucas vezes. David, um jovem
vigário vindo do campo para o evento, era um homem encantador.
― Você tem coragem se for casar com Braddon ― Disse.
―Por quê?
Sophie bebeu um gole de champanha; estava deixando deliberadamente que subisse à cabeça
já que as pequenas borbulhas proporcionavam uma alegria algo fictícia, mas muito agradável.
― Braddon no colégio era uma praga. Tinha que colocar à força as disciplinas na cabeça a
véspera de cada exame. O maior problema eram as coisas que inventava. Estiveram a ponto de
expulsar várias vezes.
―Invenções? ― Repetiu ela escutando só pela metade.
No outro extremo da mesa essa insuportável francesinha, Daphne Blanc, estava flertando
descaradamente com Patrick. Sophie começou a dar leves golpes com o pé no chão ao ver Daphne
inclinar-se para ele e lhe roçar o braço com o ombro.
David seguia lhe falando.
―Por exemplo, um dia, Braddon decidiu fazer-se passar por seu tio diante de senhor Woolton,
um dos professores. O tio de Braddon é um famoso explorador e Woolton tinha comentado o
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muito que gostaria de conhecê-lo; então Braddon teve a genial ideia de disfarçar-se para lhe fazer
acreditar que era o explorador em questão aproveitando para cantar os louvores de seu sobrinho
para que Woolton se comportasse com maior indulgência com ele.
― Isso é absurdo! ― Respondeu Sophie interessada a seu pesar ― Quantos anos tinha?
―Treze ou quatorze anos ― Disse David rindo ― Acredite, tentamos de tudo para dissuadi-lo,
mas Braddon não queria renunciar. Adorava o teatro, essa é por outra parte a razão pela que E…
― Mordeu a língua. Não podia dizer a uma dama que seu futuro marido escolhia geralmente suas
amantes entre as atrizes.
―É a razão pela qual…? ― Insistiu Sophie curiosa.
― Por isso seus planos sempre são muito teatrais ― Retificou rapidamente David.
―O que aconteceu com o senhor Woolton?
―Bradon foi a High Street para comprar um inverossímil disfarce. Um casaco negro com uma
grande banda vermelha na parte inferior. Era absolutamente feio mais ele afirmava que era um
casaco de explorador. E colou uma barba e um bigode na cara.
―E?
―Foi um desastre. Woolton certamente o desmascarou assim que o viu, embora Braddon
disse que lhe tinha devotado café e que a farsa veio abaixo quando lhe perguntou onde tinha
comprado o casaco. Braddon respondeu que era um presente da tribo dos Triguelos que
habitavam no topo dos Alpes.
Sophie se voltou para seu prometido quem estava conversando gesticulando muito com sua
vizinha de mesa, a senhorita Bárbara Lewnston.
―Custa-me acreditar ―Disse a David ― Nunca teria suspeitado que tinha tanta imaginação.
―A verdade é que não foi ele quem pôs a ponto todos os detalhes ― Tudo foi obra de Patrick.
Inventava um montão de aventuras que supostamente aconteciam na África ou nos Alpes, e
Braddon devia contar ao senhor Woolton. Desgraçadamente, a irmã do professor tinha uma loja
no High Street e era ela quem tinha vendido o casaco a Braddon. Certamente Woolton notou. Em
qualquer caso tomou muito mal e expulsaram Braddon durante três semanas.
―Senhor! ― Exclamou Sophie ― Seus anos de colégio me parecem muito mais divertidos que
meus.
―O colégio era aborrecido, mas Braddon inventava sem cessar coisas novas e Patrick, o muito
burro, animava-o a fazê-lo. Entre os dois levavam a cabo coisas inconcebíveis.
Sophie arriscou um olhar para o outro extremo da mesa, mas notou horrorizada que Patrick a
estava olhando com expressão divertida. Ruborizou-se e voltou a olhar ao David.
―Posso imaginar muito bem Patrick Foakes inventando todas essas mentiras.
Por que sempre se esquecia de que era o pior dos libertinos, exatamente o tipo de pessoa com
a que ela não queria ter nada que ver?
―Não se tratava de mentiras ― Retificou David ― Em realidade a honestidade de Patrick esta
fora de toda suspeita. Ouvi-o discutir cem vezes com o Alex por isso. Odeia as mentiras. Ficava
enfurecido se Alex dizia alguma embora só fosse para escapar às lições de música.
Nesse instante Charlotte se levantou indicando que as damas deviam abandonar a sala de
jantar. Sophie se uniu a elas.
Uma vez que estiveram reunidas em um salãozinho, Charlotte deu umas palmadas.
― Dançamos? ― Propôs.
As mais jovens aplaudiram encantadas e inclusive a mãe de Sophie concedeu que fosse
apropriado.
De modo que quando os homens se levantaram da mesa, levaram-lhes até o jardim de
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Ela sorriu.
―Um tesouro do qual você tem a chave?
Ele voltou a atraí-la para seu corpo.
―É curioso ― Disse ― Parece que continuam jogando embora nós tenhamos o lenço.
Em efeito, Sophie podia ouvir ao longe os gritos de alegria dos participantes.
Voltou bruscamente para a realidade.
―Não! Podem nos ver.
Patrick deixou imediatamente de abraçá-la.
―Isso é o único que se preocupa não é? Se nos encontrassem juntos te veria obrigada a se
casar comigo.
Sophie não entendeu o significado de suas palavras. O rosto de Patrick estava sob um raio de
lua que acentuava seus traços e a sombra das pestanas nas bochechas. Não pôde evitar lhe
acariciar.
―É bonito ― Murmurou.
Ele se soltou.
―Temo lady Sophie que seu prometido deve estar preocupado por você.
Seu tom era cortês mais estava apertando os dentes.
Ela esteve a ponto de protestar mais não o fez. Ele tinha razão.
A expressão de Patrick se endureceu e atou o lenço no braço.
― Desfrutei destes momentos com você condessa. Como de costume.
Com estas palavras se afastou.
Sophie estremeceu na suavidade da noite e duas lágrimas caíram por suas bochechas.
Senhor ela tinha feito! Acabava de danificar sua vida apaixonando-se por um libertino. Outras
duas lágrimas seguiram o caminho das primeiras.
Ao menos ele nunca saberia. Ninguém saberia jamais. A partir desse momento arrumaria para
que todo Londres se convencesse de que estava loucamente apaixonada por Braddon; porque se
alguém chegasse a descobrir o que sentia por Patrick morreria de vergonha.
Ao voltar do jardim, encontrou-se com duas mulheres que falavam excitadas de lenços e de
beijos roubados. Entraram as três juntas na casa, mas as gargalhadas de Sophie soavam falsas aos
seus próprios ouvidos.
Com a rapidez própria do clima inglês, uma tromba de água caiu sobre as tochas e os criados
fecharam rapidamente as portas.
Braddon, sentado ao lado de sua mãe, viu Sophie chegar com evidente alívio.
― Milorde ― Disse ela dedicando um deslumbrante sorriso.
―Lady Sophie ― Respondeu ― Esta começando outro baile. Quer que dancemos?
Ao dar os primeiros complicados passos, ela teve um instante de dúvida. Uma vida inteira com
esse tipo de diversões a esperava. Nada deixava supor que a barriga de Braddon desapareceria
depois das bodas. Para falar a verdade certamente chegaria a ter a corpulência de seu defunto pai.
Levantou os olhos para seu amistoso olhar.
―Divertiu no jardim Sophie? ― Perguntou ―Vá jogo diabólico nos preparou lady Sheffield.
Consegui o lenço um momento, mas Patrick Foakes chegou e tinha outro igual ao meu.
Aparentemente zombou de nós.
Efetivamente, pensou Sophie, dois lenços e… Como era possível que Patrick a encontrasse tão
rapidamente?
― E se nos sentássemos Braddon? ― Sugeriu ―Eu gostaria de muito que falássemos um
pouco.
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Era algo muito divertido. Ninguém o olharia com condescendência nem chamaria de estúpido
enquanto estivesse disfarçado.
― Não fique nervosa ― Disse por fim ― De acordo, ali estarei.
Sophie pressentiu que tinha que terminar rapidamente antes que ele tivesse tempo de
arrepender-se ou de falar do assunto com algum de seus amigos.
―Esperarei amanhã ― Declarou ― Amanhã a meia-noite. Mas, sobretudo não diga nada a
ninguém porque poderia estragar tudo. Arrumarei tudo para pôr uma escada debaixo de minha
janela. Quando chegar, envolto em sua enorme capa negra, subirá para me buscar e me
sequestrara.
Braddon estava fascinado diante da ideia de subir por uma escala com a capa voando ao vento
e levar uma mulher entre seus poderosos braços. E como de todas as formas ia se casar com
Sophie para que ia discutir?
―De acordo ― disse ― meia-noite.
A carruagem se deteve e um lacaio foi a abrir a portinhola. Braddon desceu sentindo-se mais
homem que nunca. Ofereceu a mão a Sophie quem a tomou com confiança. Na escada de
mármore se deteve um degrau por cima do para ficar a sua mesma altura.
― É meu herói ― Murmurou.
Orgulhoso, ele se inclinou para roçar respeitosamente seus lábios antes de voltar a subir ao
veículo.
Sophie entrou em sua casa, cansada mais satisfeita. O que importava a ela se Patrick Foakes
casava com essa francesa que tinha arrojado a seus pés? Uma vez casada não voltaria a pensar
nele, nem em seus perturbadores olhos, nem em suas acariciadoras mãos.
Nunca mais!
Em Sheffield House, uma corrente de excitação percorreu o salão quando as pessoas viram
entrar Patrick Foakes acompanhado de seu irmão o conde. A senhorita Daphne Blanc continuava
sem aparecer.
Barbara Lewnstown, que se vangloriava de ser a melhor amiga de Daphne, já estava
imaginando casada com o honorável Patrick Foakes.
― Patrick ― Exclamou ― Onde está minha querida Daphne?
Ele parecia ser especialmente indiferente quando respondeu:
― Mal tínhamos saído quando um inseto entrou no seu olho. Começou a inchar muito e
Charlotte a levou para lhe pôr um unguento.
Não parecia estar afetado pela horrível sorte de Daphne. A desventurada não poderia deixar-
se ver durante uma semana ou possivelmente mais.
Capitulo 7
Braddon Chatwin despertou no dia seguinte rodeado por um delicioso aroma de aventura.
Bigodes e capas negras tinham enchido seus sonhos.
Depois recordou. Lady Sophie queria que a raptasse e insistia em que devia disfarçar-se
ameaçando não casar com ele se não aparecia a meia-noite. Tentou com muito esforço entender
todo o assunto.
À luz do dia parecia uma coisa de loucos. Se refugiassem na Gretna Green todo mundo
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pensaria que se deitaram juntos. Felizmente, pensou Braddon satisfeito, ela não tinha pensado
nisso. As mulheres de alta linhagem não sabiam nada sobre sexo de modo que Sophie ignorava o
que diriam as pessoas sobre sua fuga. Mas dado que nada os impedia de casar tranquilamente em
St. George quatro meses mais tarde, outros tirariam desagradáveis conclusões. Não era como se
fosse um matrimônio por amor.
Puxou o cordão para chamar o criado pedindo que levassem chocolate e cruzou os braços por
cima da cabeça. O que necessitava agora era urdir um plano genial para sortear a sua futura
esposa. Em outras palavras para desbaratar os planos dela já que por nada do mundo faria algo
tão estúpido como casar na Escócia quando não era obrigado a fazê-lo.
Além disso, a viagem levaria pelo menos dois ou três dias para ir e outros tantos para voltar. Ir
a Escócia no mês de dezembro! Certo que não tinha caído nem um só floco de neve este ano, mas
não era questão de que abandonasse “sua” Madeleine embora só fosse por uma semana. A
simples lembrança da jovem dava vontade de sair da cama.
Entristeceu-se. Madeleine não saltaria de alegria se ele fosse vê-la, era de uma castidade
exasperante. A verdade era que não parecia ceder nem com suas apaixonadas cartas, nem com os
presentes que recusava sistematicamente, nem a nenhum de seus esforços para convertê-la em
sua amante por toda vida. Havia dito que essa situação não a interessava e ponto. Tinha sido inútil
que explicasse que uma jovem de sua posição não podia esperar fazer um bom matrimônio já que
isso não parecia preocupá-la.
Não deixava de dar voltas na mente enquanto tomava o chocolate.
Possivelmente Madeleine estivesse preocupada com seu futuro. O posto de cortesã não era
dos mais seguros e sem dúvida não acreditava que ele a fosse conservar para sempre.
Possivelmente deveria chamar a seu advogado para que redigisse um contrato que assegurasse a
ela uma boa renda. Então ela entenderia que se tratava de uma relação duradoura e não de um
capricho.
De todas as formas o verdadeiro problema era conseguir que lady Sophie cedesse deixando
acreditar que era ela quem dirigia o jogo. Se enviasse uma mensagem ela romperia
imediatamente o compromisso. Braddon, que tinha três irmãs maiores, tinha conhecido muitas
mulheres histéricas e tinha a sensação de que sua prometida estava a ponto de ficar incontrolável.
Não, era necessário que fosse a sua casa a meia-noite… Mas não para ir a Gretna Green.
Ao fim se levantou. Não deveria ter pensado em Madeleine já que sabia que não poderia fazer
nada direito até que não a tivesse visto e tivesse roubado um beijo, caso que o pai dela não
estivesse nos arredores do estábulo, já que o homem estava muito atento. Qualquer pensaria que
estava vigiando a uma verdadeira dama pela maneira em que reprovava Braddon por tentar
arruinar sua reputação e outras bobagens pelo estilo. Braddon não conseguia fazê-lo entender
que uma mulher que vivia na parte superior de um estábulo não tinha uma reputação que
preservar e que devia fazer-se com uma.
Quando Kesgrave foi vesti-lo, Braddon o fez partícipe de sua divertida reflexão, mas o
mordomo, como de costume, permaneceu impassível e se limitou a perguntar se desejava colocar
a jaqueta azul.
Braddon suspirou. Felizmente era de caráter amável, com todos esses estúpidos que o
rodeavam.
― Não Kesgrave― Respondeu ― A malva. Vou dar um passeio a cavalo.
― Antes de tomar o café da manhã? ― Perguntou o mordomo com expressão desaprovadora.
Era uma maldição que os criados o conhecessem desde que era um bebê, pensou Braddon.
― Vou sair ― Insistiu à defensiva.
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Uma vez que esteve preparado, deslizou ao exterior como um menino saindo às escondidas e
se dirigiu a cavalo para os estábulos do pai de Madeleine.
O enorme edifício estava tranquilo a essa hora da manhã. Mas tarde os homens se reuniriam
sob os altos carvalhos do pátio para olhar os moços de estábulo quando tirassem os puros sangues
de impressionantes peitos.
Desceu pesadamente de seus arreios e lançou as rédeas a um guri que andava pelos arredores
esperando ganhar algum xelim.
Dirigiu-se ao vasto edifício. Madeleine quase nunca ia aos estábulos pela tarde por culpa de
sua “reputação”. Braddon estava bem contente por isso já que significava que não havia
competição com o resto dos homens que frequentavam o lugar.
Avançou com o passar do corredor que cheirava a linimento. Quando havia esse aroma,
Madeleine não estava longe já que era ela a que se ocupava das pequenas lesões dos animais.
Ela estava no último box ajoelhada com a pata de uma égua dobrada diante ela. Certamente o
tinha ouvido chegar, mas não deu a volta. Continuou falando brandamente ao animal enquanto
aplicava o unguento.
Braddon, nervoso, balançava-se primeiro em um pé e logo no outro.
―Milorde ― Disse ela sem o olhar ― Se não se incomoda poderia segurar a cabeça de Gracie
enquanto a curo?
―Como sabe que sou eu?
Ela olhou por cima do ombro.
―Você vem todos os dias a esta hora, milorde.
―Humm.
O tom não era muito amável, acaso Madeleine não desejava vê-lo? Foi agachar ao seu lado.
―O que aconteceu?
―Uma entorse na pata direita.
Braddon aproveitou para aproximar-se um pouco mais.
―Milorde!
Parecia contrariada. Hoje ia ficar sem beijo. Por que tinha que enamorar-se de uma francesa
com um gênio endiabrado e a moral de uma monja? Não era tão formosa como Arabella, a
amante que tinha roubado de Patrick no ano anterior. A verdade é que a olhando objetivamente,
era mais bem baixa e vulgar.
Entretanto o coração acelerava assim que a via. Inclinado para ela podia ver seu amplo seio.
Arriscou-se pôr uma mão em cima do ombro.
―Não!
Surpreso, cruzou seu olhar com os olhos enfurecidos de sua amada.
― Por que não? ― Ele perguntou.
Ela ficou em pé de um salto puxando sua saia de lã. Seu sotaque francês era mais pronunciado
do habitual como sempre que estava zangada.
―Não tente “enliar-me”
―Enliar? Quer dizer: enredar.
― Isso é o que disse ― Se impacientou ela.
O que ia fazer com esse aristocrata tão bobo? Como podia trabalhar de um modo adequado
quando ele a seguia a todas as partes boquiaberto de admiração e se interpunha sem cessar em
seu caminho?
Ele a agarrou em seus braços tão rapidamente que ela não teve tempo de pedir ajuda antes
que os lábios de Braddon se abatessem sobre os seus. Ao mesmo tempo a fez sair do box de
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Gracie, demonstrando assim contrariamente o que diziam seus amigos, era capaz de fazer duas
coisas de uma vez.
A seu pesar, Madeleine se deixou levar por um instante. A vida tinha sido muito dura nos
últimos anos. Era uma maravilha sentir-se segura entre os braços dele. Dava a sensação de que a
protegeria de qualquer desgraça.
Entretanto se revolveu e o afastou quando ele murmurava coisas ao ouvido. Certamente mais
promessas sem sentido. Entendeu o sentido geral de suas palavras. Seu admirador era o que sua
mãe tivesse chamado um libertino. Só queria comprometê-la, mas não casar-se com ela.
Ele voltou a prendê-la entre seus braços.
―Não esteja tão triste Madeleine. Odeio vê-la tão triste.
Confusa, olhou os azuis olhos dele.
―Não estou triste, só é que por um momento recordei a minha mãe.
― Parecia estar triste ― Insistiu Braddon.
―Sinto falta dela! ― Soltou Madeleine contra sua vontade.
Não queria compartilhar seus sentimentos com esse depravado.
Braddon beijou uma orelha.
― Algum dia você será mãe Madeleine, terá seus próprios filhos e esquecerá.
Ela respirou fundo.
― Não se você sai com a sua ― Contestou ― Quer me converter em uma cortesã e essas
mulheres nunca têm filhos; não podem permitir-se esse luxo levando essa vida.
Ele sorriu. Era o sentido comum francês o que estava falando.
―Teremos filhos ―Prometeu ― Soube assim que a vi. Nunca antes tinha desejado ter.
A jovem se tranquilizou. Esse nobre inglês era exatamente o tipo de homem que ela desejava.
Um pouco tolo, sem dúvida, mas com um coração de ouro. E, além disso, era tranquilizador e de
uma estatura imponente. Para ela um homem devia ser imponente. Ela saberia como evitar que
ficasse em perigo. Mas não! Ela não se transformaria na amante de ninguém nem sequer embora
tivesse que permanecer virgem o resto de sua vida.
Afastou-lhe
―Fora! Vá!
Braddon custava entendê-lo. Ela estava furiosa de novo.
―É possível que me veja obrigado a me ausentar uns dias.
Pareceu que ela se sentia decepcionada.
―Melhor. Desse modo poderei trabalhar.
Não. Não estava decepcionada. Fez o silêncio.
―Onde estará? ― Perguntou ela finalmente.
―Tenho que fugir. Bom, lady Sophie quer que a rapte mais eu não quero. De modo que
subirei por uma escada para ir procurá-la, mas não a levarei a Gretna Green. Além disso, ninguém
foge no inverno.
O coração de Madeleine pulsava dolorosamente em seu peito.
―De verdade lady Sophie deseja que a rapte?
―Sim. Não estou seguro de que seja tão apropriada para mim como disse. Teve uma crise
nervosa ontem de noite e disse que se não ia raptar a meia-noite não casaria comigo.
Ela, apesar do peso que oprimia seu coração esteve a ponto de tornar a rir ao ver a expressão
de causar pena do Braddon.
―Não posso voltar a começar Madeleine… Maddie!
Tinha conseguido voltar a abraçá-la e lhe estava falando contra o cabelo.
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―Teria que voltar a começar desde começo ―Continuou ele ―Teria que voltar a ir ao
Almack´s par tentar encontrar uma mulher mais ou menos razoável. Não, é melhor conservar
Sophie. Simplesmente tenho que encontrar o modo de raptá-la sem raptá-la.
Ao menos não parecia muito enrabichado de sua futura esposa, pensou Madeleine.
― Por que não quer fugir com ela?
Braddon se afastou um pouco, indignado.
― Não sentiria falta de mim? Necessitaria uma semana longa para ir a Gretna Green e voltar
sempre que não nos atrasássemos. Poderíamos estar fora quinze dias.
― Não jogarei de menos ― Decretou ela com firmeza ―E depois de suas bodas tampouco será
bem-vindo aqui.
―Bem, pois eu sim que a sentiria sua falta. Além disso, não acredito. Acredito que você
também sentiria minha falta. De todas as formas não tenho vontade de me casar tão rápido.
Deixou-se cair sobre um montão de palha e a atraiu para seus joelhos.
Ela emitiu um grito de indignação e depois relaxou. Braddon a apertou contra seu torso.
― Vai enrugar a roupa ― objetou.
―Inteligente pequena Maddie!
A inteligente pequena Maddie tinha a sensação de que alguém estava espremendo seu
coração.
― Por que não finge que quebrou uma perna?
Mordeu a língua por que ela se metia nesse assunto?
― Que quebrei a perna? O que quer dizer?
―Com uma perna quebrada não poderia subir por uma escada ― Explicou ela secamente.
Braddon considerou a ideia.
―Sim! Tem razão querida Maddie. ― Vou mandar uma mensagem a lady Sophie para dizer
que tive um acidente.
―De verdade teve uma crise nervosa?
Ele franziu o cenho.
―Quase.
―Então não acreditará ainda que diga, eu em seu lugar tampouco o faria. Pensaria que é uma
desculpa para não fazê-lo e que é muito velho para fugir.
Assombrou a ela mesma por suas palavras. É possível que houvesse um pouco de rancor no
que havia dito? Ela não tinha nenhum direito a imaginar nem por um instante casada com um par
do reino. Era evidente que Braddon nem sequer tinha pensado em casar com ela.
―Você opina que não acreditará?
― Arrisca que rompa o compromisso.
―Que rompa o compromisso?
Ao Braddon aterrava a ideia, agarrou-se a Maddie imaginando a ira de sua mãe. Endireitou-se.
―Já sei! Tenho que quebrar a perna de verdade. Cairei do cavalo, depois pedirei a um amigo
que vá procurar Sophie subindo por essa condenada escada e a levará a minha casa onde ela
poderá ver o machucado. Não poderá negar a evidência.
Madeleine suspirou. Francamente, seu aristocrata inglês necessitava de alguém que se
ocupasse dele.
― Não diga tolices! Não pode quebrar a perna tão facilmente.
―Eu sim. Aconteceu-me quando era pequeno e o médico me aconselhou que fosse com
cuidado porque poderia voltar a acontecer em qualquer momento. Basta com que caia do cavalo
ao lado esquerdo, sobre a perna que é mais frágil e já está.
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Capitulo 8
Patrick contemplou seu amigo com incredulidade antes de romper a rir sem nenhuma alegria.
― É sua noiva, vá você procurá-la.
Braddon o olhava com expressão suplicante. Patrick era o único amigo no qual podia confiar.
Apontou sua perna com um enorme gesso que estava repousando em cima de um tamborete.
― Não posso subir por uma escada neste estado, maldição!
Patrick deu de ombros.
―Então não a rapte.
―Esse é o problema ― Gemeu Braddon ―Não posso fugir. Se trouxer lady Sophie aqui ela
comprovará que estou ferido e que a escapada é impossível. Estou em uma condenada confusão
Patrick, e necessito que me ajude.
―Escreva uma nota.
―Deixará-me plantado. É um pouco histérica sabe? Ontem de noite me disse que se não fosse
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procurá-la não se casaria comigo nunca. Já sei! ― Exclamou de repente ―Já sei por que se
comporta como um urso resmungão, também seu vai se casar? Com Daphne Blanc não é certo?
Patrick lhe lançou um olhar assassino.
― Não seja mais tolo do que já é Braddon.
― Odeio quando fala com essa frieza. É mais casca grossa que seu irmão. Não compreendo o
que te incomoda tanto. Todo mundo estava falando de seu desaparecimento sob a lua com a
senhorita Blanc ontem de noite.
― Ontem de noite antes que fosse?
― Exatamente. Acredita que minha mãe não notou que tinham ido dar um passeio e que não
voltaram?
― Caiu um inseto nos olhos dela e ficou inchado ― Respondeu distraidamente Patrick ―
Quando ouviu falar desse suposto matrimônio? Antes ou depois de que Sophie te propor uma
conclusão tão rápida de seu compromisso?
― Não vai se liberar assim tão fácil ― Protestou Braddon ― Sophie sugeriu a fuga muito antes
que provocasse esse escândalo. Já disse Patrick, possivelmente esta é a primeira vez que fui capaz
de roubar uma mulher dos irmãos Foakes, mas ela me adora realmente.
Interrompeu-se um momento, pensativo.
―No fundo ― Continuou ― Talvez não seja você quem deve ir procura-la, acredita que se
zangará?
Patrick o olhou irritado. Às vezes se perguntava como era possível que seu amigo não tivesse
matado ao menos cem vezes.
―Certamente ― Disse ― De modo que seria melhor que enviasse um de seus criados. Em
qualquer caso me nego a ir.
Terminou a taça de conhaque.
― Impossível! Como poderia enviar a um lacaio ao dormitório de uma dama que vai
transformar-se em minha esposa? Não. Tem que ser você Patrick. Enviei uma mensagem a Alex
mais não veio, suponho que não recebeu.
― Foi ao campo.
―Já o vê! Preferiria que não fosse você quem se encarregasse desta missão, mas não tenho a
ninguém mais à mão. David não pode fazê-lo porque é vigário e além tampouco respondeu a
minha mensagem. Quentin esta pobre ainda em pior estado que eu.
― Pelo amor de Deus! ― Protestou Patrick.
―Sabe o que? ― Continuou Braddon esperançado ― Porá minha capa e meu bigode falso e
ela nem sequer saberá quem é.
Patrick se serviu outra taça.
―E porque deveria fazê-lo?
― Por quê? Pois em nome de nossa antiga amizade é obvio. Porque você é como um irmão
para mim e porque já conhece minha mãe: sabe do que seria capaz se lady Sophie se negasse a
casar-se comigo.
Patrick suspirou. Braddon o olhava com os olhos de um cão que sabe que seu amo esconde
um osso atrás das costas.
Mas, depois de tudo, já que Sophie não queria saber nada dele por que não ia fazer de
intermediário para o homem com o que ela desejava casar-se?
Braddon não deixava de falar.
―Olhe! Olhe isto Patrick!
Tirou de um enorme saco um objeto que se parecia com um ouriço.
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―O que é isso?
―Uma barba! Comprei-a na melhor loja de disfarces, Henslowe, a que sorte ao teatro do Drury
Lane. Também há uma capa. Toma.
Patrick fez uma careta. Se lady Sophie tinha vontade de manchar sua reputação fugindo o que
mais lhe dava? Trazia absolutamente sem cuidado, de modo que bem podia subir por essa
condenada escada.
Braddon que não deixava de olhá-lo sentiu renascer suas esperanças.
― Vai fazê-lo! ― Exclamou ― Eu sabia, Patrick. Sabia que podia contar contigo. Maldição velho
é realmente um bom amigo. ”Meu” amigo!
― Mas bem um louco, quer dizer. Quanto tempo tem que usar o gesso?
―Uns quinze dias.
― Acreditei que se necessitavam seis semanas para que o osso soldasse ― Disse Patrick.
―Pode ser que tenha razão. Mas agora seria melhor que fosse. Sophie espera a meia-noite e
faltam vinte minutos.
Patrick agarrou o ouriço negro que Braddon estendia. Dividia-se em duas partes: uma barba e
um bigode. Braddon entregou um frasquinho.
―Toma, esta é a cola. Pode usar o espelho da lareira.
Patrick desentupiu o frasco e franziu o nariz.
―Não! ― Disse.
― Ao menos ponha a capa ― Suplicou Braddon ―Tem capuz. Assim ela não verá quem é antes
que estejam fora. Não quero que comece a gritar e desperte toda a casa; provavelmente se sentirá
contrariada ao ver que é você quem vai procura-la e não eu.
Isso era ficar curto!
―Ademais ―Continuava ― Necessitará uma capa para envolvê-la uma vez que estejam no
chão. Não deve sujar a reputação de minha futura esposa se mostrando com ela na metade da
noite.
Patrick esboçou um sorriso francamente divertido.
―Pede que entre no quarto de sua prometida e que leve ela em uma carruagem sem que
saibam seus pais e se preocupa por sua reputação?
Jogou a capa sobre os ombros e se olhou ao espelho.
― Meu Deus, pareço uma caricatura da Morte da Idade Média! Só me faltam o cinturão feito
de corda e uma foice!
Braddon mordeu o lábio inferior.
―A reputação de Sophie não sofrerá nenhum dano se ninguém os ver. Envolverá-a com a capa
até que estejam no carro para que ninguém possa ver seu rosto. Quer dizer, caso haja alguém na
rua a estas horas.
Patrick suspirou de novo. A situação era das mais cômicas.
― Suponho que saberá o que fazer com ela uma vez que esteja aqui.
Braddon assentiu com a cabeça.
―Enviarei-a a casa de minha avó. Vive a poucas ruas daqui e agora esta passando uns dias no
campo. Já avisei à governanta quem amanhã pela manhã a levará de volta a sua casa sem que
ninguém descubra nada.
A capa era imensa e Patrick se sentia extremamente ridículo. Mas só uma vez que se viu no
jardim dos Brandenbourg, diante a escada preparada, foi quando compreendeu o absurdo da
situação. Tinha que bater em retirada. Entretanto, quando já ia girar sobre seus calcanhares, ouviu
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veludo que a punha nervosa. Possivelmente porque era a primeira vez que se encontravam a sós
além do jardim. Essa lembrança reforçou sua determinação.
― Recorda quando se negou a me beijar ontem de noite porque não pensava em mim “desse
modo”? Bem, pois um marido deveria pensar “desse modo” em sua esposa ― Concluiu com
atrevimento.
Nenhuma resposta. Depois o homem com agilidade, franqueou os poucos passos que lhe
separavam da cama. Sophie, apesar de seus esforços não conseguia ver sua cara. Ele a agarrou
pela nuca e se inclinou para ela.
― Provemos ― Murmurou.
E seus lábios desceram sobre os de Sophie com firmeza.
―OH…
Braddon a estava empurrando para trás, ou possivelmente estivesse caindo ela sozinha. A
boca de Sophie se ofereceu de maneira espontânea e sentiu um repentino calor em seu interior.
Ninguém a tinha beijado assim além de Patrick. Então, disse Patrick Foakes não tinha nada de
especial já que outro homem podia despertar nela as mesmas sensações. Depois, simplesmente,
deixou de pensar.
Patrick tampouco pensava, por fim a tinha onde tinha sonhado: em uma cama, e a tontura que
experimentava não deixava pensar em anda mais. Beijou-a até que ela começou a tremer de
desejo, com os dedos afundados em seus cachos escuros.
Deitado sobre ela cobriu-a de pequenos beijos, leves como asas de mariposa que lhe
arrancaram uns suaves gemidos. Ela tentou levá-lo para sua boca, mas ele seguia provocando-a
beijando a face. Depois voltou a tomar seus lábios enquanto acariciava seus seios por debaixo da
camisola.
Um som estrangulado saiu do mais profundo dela e, entretanto… Entretanto ela não queria
sentir isto com Braddon. Inclusive embora o fosse capaz de despertar nela o desejo (o qual a
assombrava) não queria casar-se com ele.
Assim que se afastou murmurando:
― Não.
Os lábios dele a perseguiram e sua língua fez correr pelas veias dela fogo líquido.
―Não, não, não.
Finalmente encontrou forças para afastá-lo e se sentou olhando fixamente diante ela. Seu
prometido ficou deitado sobre um lado com o busto levantado.
― Isto não muda nada Braddon ― Disse ela ofegando ― Não sei por quê… Porque temos feito
isto, mas não desejo me casar contigo.
Ele estava acariciando os cachos que caíam como uma cascata pelas costas. Ao ver que ele não
dizia nada se voltou a lhe olhar.
E seu coração deixou de pulsar.
O capuz deslizou e a fraca luz da lua… Seu corpo já sabia que não era Braddon, mas agora ela
podia ver as largas pestanas, os cabelos negros e prateados, seu queixo caiu… Sua mente começou
a assimilar o que seu corpo tinha sabido desde o começo.
Emitiu um ligeiro suspiro como o de um menino dormindo.
Patrick sorriu languidamente sem deixar de acariciar seu cabelo. Depois a jogou brandamente
para trás.
― Prometo ― Murmurou em seu ouvido ― Que eu penso em “desse modo” Sophie.
Sua língua brincava com o delicado lóbulo da orelha dela, provocando um incêndio em seu
interior. Ela relaxou quando ele tomou sua face entre as mãos para beijá-la de novo. Tudo estava
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bem, era algo completamente natural. Ela já não pensava em disfarces, nem em fugas, nem em
compromissos, nem em matrimônios.
Quando passeou suas pequenas mãos pela face dele, Patrick também relaxou. Sophie estava
oferecendo com o encanto eterno da mulher seduzindo seu sedutor.
Com uma espécie de grunhido, ele rodou sobre ela e ela gemeu sob seu peso. Ele separou
imediatamente.
― Lamento querida, tinha esquecido quão frágil é.
Sophie não se tomou a moléstia de responder. Ela desejava sentir esse musculoso corpo em
cima dela e lhe agarrou pelos ombros oferecendo seus lábios.
Apoiado em um joelho, Ele se lançou ao descobrimento de seu corpo, despindo seus seios.
― Sophie É tão formosa... Tanto!
Sua boca seguiu o caminho de suas mãos. Agora ela se arqueava contra ele sussurrando
incoerências que atiçavam seu desejo. Ele levantou sua camisola e acariciou os sedosos cachos de
seu sexo.
Ela se esticou e o segurou pelo pulso.
― O que esta fazendo?
Estava tremendo por efeito da paixão, mas também tremia de medo e ele ficou quieto sem
retirar os dedos. Ela permitiu que a deliciosa sensação se apoderasse dela e levantou para seu
olhar carregado de desejo.
― Não farei nada que você não goste carinho ― Disse ele depositando pequenos beijos em
sua face antes de apoderar-se de sua boca ao tempo que seus dedos se afundavam nela fazendo
que perdesse a cabeça.
― Meu Deus! ― Murmurou ela de repente ―Está fazendo amor.
Patrick tentava pôr em ordem tudo que ia aprendendo sobre ela: suas inocentes carícias, o
fato de que saltasse cada vez que ele tocava um lugar novo de seu corpo, o assombro que podia
ver em seus olhos azuis… Tinha cometido o engano de acreditar que era tão perita nisto como
deixavam transluzir suas palavras e seus vestidos. Afastou-se e a beijou na ponta do nariz.
― Mal posso vê-la, preciosa minha. Posso acender uma vela?
Sophie o contemplou fascinada.
― Minha donzela disse que a lua era tão fina hoje como o bigode de um camundongo.
Patrick se inclinou para acender a palmatória que havia em cima da mesinha de noite e depois
voltou a sentar-se na cama.
― Esta me olhando! ― Disse ela entre tímida e zangada.
Colocou bem a camisola.
― Eu olhei como um homem olha à mulher que mais deseja no mundo ― Respondeu Patrick
com ligeireza.
Mas seu olhar era uma brasa ardente.
Tirou a capa sob a qual usava uma camisa com o pescoço aberto.
― Nunca tinha visto antes um homem sem gravata ― Disse ela um pouco estupidamente.
Um sorriso iluminou o rosto de Patrick e depois, com um rápido gesto, tirou a camisa por cima
da cabeça e a atirou ao chão. Sophie entrecerrou os olhos. A chama da vela dançou por um
instante e umas sombras alaranjadas brincaram com os músculos e sobre a bronzeada pele.
Ela abriu a boca e a voltou a fechar. Animada pelo olhar de seu companheiro se arriscou a pôr
uma mão no torso. Quando roçou seus mamilos igual ele fez antes com ela, ele agarrou ar com os
olhos brilhantes de desejo.
Ela esboçou um sorriso e voltou a fazê-lo, desta vez com as duas mãos. Podia notar o coração
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primeira vez.
Mas isso a ela tinha deixado de preocupá-la.
Jogou os braços ao pescoço e se içou para ele um silencioso rogo, o qual acabou por destruir
as últimas reservas de Patrick. Ele tomou sua boca e seu corpo ao mesmo tempo, afogando o grito
dela. Depois ficou imóvel.
―Lamento, lamento.
Não parecia senti-lo absolutamente, pensou Sophie esquecendo a dor e concentrando-se nas
palavras de amor que ele murmurava contra sua pele.
Depois ele começou a mover-se lentamente e, pouco a pouco, ela deixou de sentir dor. Outra
sensação ia impondo fazendo que lhe escapassem pequenos suspiros.
Quando ele se retirou e deslizou as mãos sob suas nádegas, foi ela a que se arqueou para lhe
obrigar a voltar para ela, concentrada completamente em um único objetivo que brotou em um
molho de estrelas dentro de seu ventre e percorreu todos seus membros como uma onda.
Patrick também se deixou ir afogando um enorme grito, dominado por um orgasmo como
nunca tinha conhecido antes.
― Sophie, Sophie, Sophie… ― Gemeu antes de desabar-se sobre ela.
Sobre a mesinha de noite, a vela oscilou sob a carícia da brisa que entrava pela janela.
Capitulo 9
Na outra ponta do corredor, a mãe de Sophie estava sentada muito reta em sua majestosa
cama. Heloise dormia sozinha desde que descobriu seu marido nos braços de uma das donzelas,
dois meses depois de suas bodas. Proibiu categoricamente seu acesso a seu dormitório e o
marquês assentiu a contra gosto. Após os únicos ruídos que turvavam seu sonho eram os de seu
marido quando voltava na metade da noite.
Puxou o cordão de veludo situado na cabeceira. A marquesa odiava incomodar aos criados a
horas inoportunas mas normalmente dormia como um tronco, sinal de que tinha a consciência
tranquila como dizia seu marido em tom de recriminação. De modo que se tinha despertado
ferrosamente tinha que ter sido por uma boa razão. Tinha ouvido uma espécie de ofego e logo um
grito; estava segura. Possivelmente estivessem roubando a alguém sob a janela de sua casa e se
sentia obrigada a ir em ajuda do desventurado.
Voltou a chamar.
Por fim apareceu sua donzela um pouco assustada e bastante despenteada. Fez uma
reverência bastante pouco convencional.
―Sim milady?
― Ouvi um ruído! ― Declarou Heloise friamente ― Diga a Caroll que vá ver imediatamente o
que esta acontecendo na rua.
A criada fez outra reverência antes de desaparecer. Heloise se manteve imóvel olhando
fixamente o dossel rosa da cama. Uma espantosa ideia passou por sua mente. E se seu marido
tinha decidido trazer mulheres a Brandenbourg House? Agora que pensava tinha parecido ouvir a
voz de uma mulher. Sim, era uma mulher. Isso lhe recordou o dia que a segunda donzela começou
a trabalhar no vestíbulo sem avisar; Heloise ainda se zangava ao pensar nisso. A duquesa de
Beaumont acabava justamente de chegar para tomar o chá e isso supôs uma humilhação que
recordaria até o dia de sua morte.
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Pensar na duquesa a levou a acordar-se de Braddon Chatwin quem segundo parecia recordar
tinha algum tipo de parentesco com ela. O homem era educado, um pouco tolo, de acordo, mas
que homem não era? E pertencia a uma boa família. Seria muito agradável ter uma relação
próxima com a duquesa de Beaumont.
Ouviu passos apressados no corredor.
―Milady miúda historia! Caroll encontrou uma escada colada ao muro da casa no jardim.
Interrompeu-se pensando que era melhor que o mordomo fosse quem dissesse à marquesa
que a escada estava apoiada justo debaixo da janela de Sophie.
Heloise, depois de colocar a bata com decisão, dirigiu-se ao hall e depois aos aposentos de seu
marido. Estava segura de que a escada ia dar diretamente à janela de seu marido. Até aí tinham
chegado as coisas: o marquês levava mulheres a seu dormitório subindo por uma escada do
mesmo modo que um vulgar libertino teria se metido em um bordel.
Assim se viu totalmente desconcertada quando encontrou a seu marido dormindo
placidamente e completamente sozinho. Se por acaso fosse pouco, a janela de seu dormitório
estava fechada e por sua maneira de roncar devia ter bebido muito. Era evidente que não
esperava visitas.
Aproximou-se para despertá-lo.
― Temos ladrões George. Ladrões.
O marquês se levantou de um salto com uma mecha de cabelo caindo sobre os olhos. Heloise
se sobressaltou George tinha envelhecido sem que ela se desse conta? Seu cabelo negro tinha
agora mechas brancas e recém-despertado tinha o aspecto de um ancião. Mas suas pernas ainda
eram longas e musculosas, constatou quando ele se levantou para colocar algo em cima.
Aparentemente seguia dormindo sem camisola.
Dirigiu-se ao vestíbulo e se precipitou para a parte traseira da casa. Caroll a reteve segurando
seu braço.
― Milorde…
Algo em seu tom congelou o sangue do marquês.
―A escada ― Continuou o mordomo ― A escada ficou debaixo da janela de lady Sophie.
― A escada ficou ― Repetiu o marquês perplexo ― ficou? Não pode falar inglês como todo
mundo Caroll?
O aludido se absteve de recorda-lo de suas origens francesas e se limitou a responder com
firmeza:
― A parte alta da escada está apoiada contra o quarto de lady Sophie, milorde ― Acrescentou
com certa satisfação ― A janela está aberta.
George permaneceu um instante boquiaberto.
― Sua janela está aberta?
― Aberta ― Confirmou o mordomo ― Parece que lady Sophie fugiu milorde.
― Fugido…
Caroll assentiu energicamente com a cabeça. A marquesa estava seguindo os passos de seu
marido, e o mordomo não queria ter que ver-se com ela quando se inteirasse da notícia.
― Deveria ir ver se lady Sophie deixou alguma nota milorde ― Concluiu antes de desaparecer
pela porta de serviço.
Chegou à zona dos criados bem a tempo para reprimir uma gargalhada geral. A marquesa era
tão severa quanto às aparências que era hilariante imaginar a sua filha fugindo na metade da
noite.
Ordenou a todos que não falassem do assunto, sem esperar realmente que lhe obedecessem,
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e enviou a todos à cama comprovando que os dezessete lacaios estavam em seus dormitórios.
Todos eles eram muito atraentes e se lady Sophie fugiu com um deles, Caroll nunca tivesse podido
superá-lo.
Durante esse tempo o marquês tinha permanecido como pregado no lugar em meio do
vestíbulo.
Sua esposa se reuniu com ele levando uma vela na mão e coberta com uma bata de lã que a
tampava da cabeça aos pés.
― E bem? ― Perguntou de maneira agressiva ― De que se trata George.
Seu marido levantou a cabeça.
― Foi-se. Caroll diz que Sophie fugiu. Nossa pequena Sophie…
Sem dúvida pela primeira vez em sua vida, a marquesa abriu a boca de um modo muito pouco
elegante.
― Não!
― Esta escada estava diante de sua janela e a janela está aberta ― Disse ele tristemente ―
Suponho que não haverá algum modo de tampar o assunto verdade?
Heloise voltou a fechar a boca.
― É impossível ― Murmurou ― Ela nunca nos teria feito algo assim. Que vergonha!
― Acredita que fomos muito indulgentes com ela? ― Perguntou George decomposto ― Às
vezes pensei em dizer algo sobre seus vestidos, mas logo pensava que estava ficando velho e que
minhas ideias estavam passadas de moda.
―Tolices! ― Replicou a marquesa sem muita convicção.
Dirigiu-se para a escada e se voltou.
―Vem George. Temos que olhar e ver se deixou alguma nota. Ao melhor não estão muito
longe e poderíamos os alcançar.
O marquês subiu docilmente os degraus atrás dela e percorreram juntos o corredor coisa que
estavam há vinte anos sem fazer.
Heloise se deteve um momento diante da porta antes de entrar no dormitório de sua filha. A
janela, em efeito, estava aberta e a brisa noturna movia as cortinas. O quarto estava sumido na
escuridão.
― Vê alguma nota? ― Perguntou George.
Ela se dirigiu com a vela para a mesinha de noite. Nada. Nada tampouco em cima da lareira.
Voltou-se para continuar a busca, mas George estava muito calado e ela afogou um grito. O sopro
apagando sem querer a vela. A única luz provinha agora dos candelabros do corredor que Heloise
tinha ido acendendo ao passar.
― Temos que encontrá-la o mais rápido possível ― Declarou.
Agarrou a sua esposa pelos ombros e a empurrou para a porta. Ela teve a sensação de ser um
montão de roupa suja, sensação que se viu reforçada quando George, em sua pressa, fez-a se
chocar contra a ombreira da porta.
Uma vez no corredor se soltou de uma sacudida.
― Que demônios acontece milorde?
O marquês suspirou. Já se tinha terminado o “George”. A guerra havia tornado a começar.
―Temos que nos vestir e partir imediatamente Heloise. Se nos apressar temos uma
oportunidade de encontrá-los esta noite ou amanhã, antes que atravessem a fronteira. Sabe,
fazem falta ao menos dois dias para chegar a Escócia.
― Mas quem é ele? ― Gemeu Heloise ― Alguma vez proibi a Sophie que escolhesse marido se
por acaso mesma, de modo que por que ia fugir? Por que não deixou nenhuma nota? Seguro que
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No quarto de Sophie, Patrick, apoiado em um cotovelo, olhava-a. Ela abriu seus olhos azuis
escuros e ele passou um dedo pelos lábios.
― Vamos ter que encontrar outra esposa para Braddon sabe? Não podemos o abandonar
assim. É uma pena que não tenha uma irmã querida.
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pai.
― Isso é normal ― Fez notar Sophie.
Patrick a olhou com expressão inquisitiva.
― Ele se deita com muitas mulheres ― Explicou ela.
Ele se sentou na beira da cama, disfarçado com a enorme capa do Braddon.
Ela o olhou adormecida.
― Mamãe é muito sensível com o assunto das amantes. Mas não se preocupe, eu não direi
nada.
― Espero que não seja muito duro para você― Zombou ele.
Ela estava quase adormecida.
― Tudo estará bem Patrick. Não sou o tipo de mulher que faz cenas. Agora que vou casar
contigo não vou começar a choramingar.
Patrick, com os olhos entrecerrados, olhou-a enquanto dormia. Acabava de dar-se conta de
que ela não tinha nenhuma confiança em sua fidelidade.
Acariciou a sedosa juba; certamente tinha doído quando ele tirou sua virgindade, mas não se
queixou. Nisso não tinha sido covarde. Entretanto não confiava nele por quê? O que é o que ela
tinha ouvido contar dele? Certamente alguma historia sobre sua conduta antes que seu pai o
enviasse ao estrangeiro. Entretanto tinha aceitado casar-se com Braddon cuja reputação não era
melhor que a sua. Mas estava esquecendo que ela queria converter-se em condessa. Bem, pois
agora seria duquesa.
Patrick apertou os dentes. Inclusive embora antes não tivesse querido casar-se com ele, agora
não tinha outra escola. Ela era dele.
Com a graça silenciosa de um felino se dirigiu para a penteadeira e agarrou o colar de pérolas
que Sophie tinha usado a outra noite metendo-lhe no bolso. Depois abandonou o dormitório
fechando brandamente a porta atrás dele. Desceu as escadas sem tentar dissimular o som de suas
botas sobre o mármore.
Caroll tinha deixado Philippe de guarda no vestíbulo com a missão de receber aos marqueses
quando voltassem. O lacaio abriu os olhos de assombro ao ver um desconhecido com uma capa
negra atravessando tranquilamente o vestíbulo. Abriu-lhe a porta inconscientemente.
Patrick dirigiu a ele ao passar um olhar divertido.
―Eu não estive aqui.
Philippe assentiu com a cabeça. Não em vão tinha nascido na França.
― Entretanto é possível que um ladrão se introduzisse na casa ― Anunciou Patrick.
― Um ladrão milorde?
― Desgraçadamente. Há um ladrão em Londres que vem com uma escada, põe-na debaixo das
janelas abertas e rouba as joias que estão sobre as penteadeiras. É muito provável que tenha
estado aqui esta noite.
Ao Philippe entraram suores frios. Que se supunha que devia fazer? O aristocrático olhar lhe
punha um arrepio.
― Possivelmente devêssemos chamar à polícia ― Sugeriu fracamente.
Viu-se recompensado com um frio sorriso.
― Essa seria uma boa ideia ― Disse Patrick descendo os degraus do alpendre.
Subiu em uma carruagem que o esperava não longe de ali e Philippe se atreveu por fim a olhar
o bilhete que lhe tinha deslizado na mão.
―Merda!
O desconhecido acabava de lhe dar mais dinheiro do que ganhava em um ano; o suficiente
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para tirar sua irmã pequena da família em que estava servindo e pô-la como aprendiz em uma loja
de peles. Experimentou uma imensa gratidão.
Depois se dirigiu correndo à zona dos criados recordando a história do ladrão da escada.
Foi por isso que quando uma extremamente contrariada marquesa e seu marido voltaram
para sua casa uma hora mais tarde, encontraram com todas as luzes da mansão acesas e vários
policiais diante de sua porta.
Heloise desceu do carro completamente desorientada. Sua filha estava ali, vestida
apressadamente e com o cabelo recolhido com uma singela fita. Era evidente que não fugiu. Seu
marido a empurrou pondo uma mão na sua cintura.
― O que está acontecendo aqui? ― Perguntou o com tom autoritário.
Os olhos do chefe de polícia brilharam ao ver que por fim aparecia o dono da casa.
― houve um roubo ― Declarou Grenable dando-se importância.
― Um roubo?
―Sim milorde. Roubaram a sua filha um colar de pérolas de grande valor.
― Pérolas?
A marquesa parecia chateada.
―Sim milady. Desapareceu um colar de pérolas ― Insistiu Grenable antes de voltar-se para o
marquês ― Já houve antes roubos desse tipo. Encontramos as marcas de uma escada sob a janela
de sua filha e numerosos rastros de sapatos, de modo que acredito que se trata de uma banda de
malfeitores. Um deles subiu sem fazer ruído pela escada e se apoderou do colar que estava em
cima da penteadeira pedindo a gritos que o roubassem ― Anuiu dirigindo-se Sophie agachou a
cabeça confusa.
Estava começando a entender o que acontecia, depois das sucessivas surpresas da última
hora. Encontrou-se sozinha na cama, despertada bruscamente por uma histérica Simone. A
donzela aparentemente tinha comprovado que tinham roubado na casa ou possivelmente tinha
sido um lacaio; não estava segura. Entretanto a surda dor que sentia entre as pernas a tinha
distraído do desaparecimento do colar. E Patrick tinha desaparecido sem nem sequer despedir-se
pelo que ela podia recordar.
A voz de Grenable, um homem baixinho e gordinho com uma suja barba, tirou-a de seus
devaneios.
―Terei que interrogar a sua filha. Não entendo porque estava aberta sua janela quando a
donzela diz que ela a fechou antes de retirar-se.
Sophie engoliu seco. Sua mãe a estava olhando com o cenho franzido e inclusive seu pai tinha
uma expressão severa. Parecia estar representando uma obra sem haver aprendido o papel.
― Necessitava um pouco de ar ― Disse com voz tremente.
Ao surpreender um olhar de admiração nos olhos de seu pai, desfez-se em lágrimas. Chorava
porque Patrick não se despediu dela e porque estava assombrada por haver-se deixado seduzir
tão facilmente.
Grenable, incômodo por havê-la posto nesse estado derrubou seus nervos em seus
subordinados.
O marquês ficou imediatamente ao lado de sua filha. Heloise foi um pouco mais lenta em
reagir, estranhava ao ver Sophie chorando, o qual não fazia que ela soubesse desde que tinha seis
ou sete anos.
― É a impressão ― Disse George cruzando seu olhar com a de sua esposa ― É aterrador
pensar que um criminoso pôde penetrar em seu dormitório na metade da noite.
Heloise olhou Grenable com ferocidade e este retrocedeu um passo.
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― Não vejo realmente como minha filha poderia lhe ajudar a deter o ladrão ― Declarou com
tom cortante ― Sugiro que melhor investigue pelos arredores.
A marquesa tinha razão, pensou o policial enquanto ela levava a sua filha. Essa janela aberta
simplesmente tinha parecido algo estranho. Seria melhor que voltasse para o Bow Street e
enviasse uma descrição do colar aos melhores peritos.
― Sei, que seja ― Disse ao marquês ― Não tenho nada mais que fazer aqui. Entretanto,
milorde, devo lhe advertir que as possibilidades de encontrar o colar são poucas.
O marquês, notavelmente tranquilo, apertou a mão de Grenable.
― Faça tudo o que possa. Não serei eu quem critica aos agentes da polícia. São vocês muito
eficientes quando se trata de deter os malfeitores.
― Sim. Esforçamo-nos milorde.
Grenable podia estar agradecido a sua boa estrela. Ao menos esse par do reino não formaria
um escândalo se não encontravam o colar, pensou aliviado.
O mordomo da família, Caroll, sentiu-se ainda mais aliviado quando se deu conta de que não
lhe foram despedir por haver-se atrevido a sugerir que lady Sophie fugiu.
― Não de mais voltas Caroll ― Disse amavelmente o marquês ― Era uma dedução lógica. Mas
eu já disse que lady Sophie estava segura em sua cama não é assim? É uma lástima que sua mãe e
eu não nos inteirássemos do roubo quando fomos ao baile. Enfim, o mais importante é que lady
Sophie estivesse em seu dormitório. Bem, boa noite Caroll.
O marquês se afastou esfregando as mãos.
Estranho comportamento para um homem que acabava de perder uma jóia de tanto valor
pensou o mordomo. Mas possivelmente para ele só se tratasse de uma bagatela.
Capitulo 10
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Então George fechou o punho e o golpeou. O murro alcançou em plena mandíbula e foi
seguido imediatamente por outro ao lado do olho. Patrick recuou, agarrou-se ao escritório e
depois se endireitou.
O marquês ofegava.
― Não acreditei que me deixasse fazê-lo ― Disse simplesmente.
― Merecia isso.
George se sentia um pouco ridículo. Já tinha passado da idade das brigas. Dirigiu-se para um
casal de poltronas que havia ao lado da lareira e se deixou cair em um deles sem tão sequer
voltar-se para olhar se Patrick o seguia. O jovem se sentou na outra poltrona.
― Ontem subi por essa escada para ajudar a sua filha a fugir com o conde de Slalom ― Disse
tranquilamente.
O rosto do marquês avermelhou ainda mais se isto era possível.
― Pelo amor de Deus! O que está me contando agora?
―Fugia ― Prosseguiu Patrick fechando os olhos ― Foi ideia de lady Sophie e ela queria levar a
cabo seu plano. Entretanto Slaslow se opunha à ideia e quando ontem quebrou uma perna, pediu-
me que levasse a sua filha à casa de sua avó. Ali ele esperava convencê-la de que um rapto não era
nem desejável nem adequado em vista de seu estado.
O marquês continuava em silêncio.
― Quando cheguei ao dormitório de lady Sophie ela já tinha decidido romper seu
compromisso com Slaslow.
― Assumo que agora ― Interveio ironicamente George ― Ela terá mudado de opinião sobre
sua oferta de matrimônio.
― Isso acredito, em efeito.
― Isto vai provocar um bom escândalo.
― Menos que se sua filha fugisse com o conde de Slaslow ― Respondeu Patrick.
George, com o coração em um punho, contemplava as chamas da lareira. Não só Sophie tinha
quebrado o compromisso com um conde, mas sim, além disso, ia ver-se obrigada, se ele não se
equivocava, a casar-se rapidamente.
― Não durará muito ― Continuou Patrick ―Vou levar a minha esposa para fazer uma viagem
de noivos muito comprida. Quando voltarmos, a alta sociedade sem dúvida terá encontrado outro
escândalo ao que fincar o dente.
― Mas o que vou dizer a minha esposa? Vai fazer muitas perguntas sobre a precipitação destas
bodas, sobretudo depois do anúncio do compromisso de Sophie com outro homem.
― Por que não dizer a verdade?
― Céus não! Heloise parece uma mulher dura mais na realidade é bastante ingênua. Seria um
duro golpe para ela inteirar-se de que nossa filha foi seduzida antes do matrimônio.
Patrick experimentou um grande sentimento de culpa. À luz do dia ele mesmo se surpreendia
por seu comportamento. O que era que se aconteceu com ele? O que tinha Sophie para
desencadear nele uma paixão assim? Tinha quebrado todas as regras que o tinham ensinado da
infância.
― Diga à marquesa que se trata de um matrimônio por amor.
― Um matrimônio por amor! ― Riu George ―Minha mulher nunca acreditou nessa estupidez!
― Então por que evitou que me visse na cama de lady Sophie na passada noite?
―Já disse isso; ela não teria podido suportar. Haveria dito que Sophie se parecia comigo.
― Cuidarei bem dela ― Prometeu Patrick.
― Esta bem, está bem ― Grunhiu o marquês ― Sempre pensei que ela seria feliz contigo,
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embora esperava que se casasse com um moço mais tranquilo. Braddon e você se parecem muito
não é certo? Os dois são uns malditos libertinos.
Patrick conteve um sorriso. Era uma divertida acusação vinda do homem que mais rumores
provocava entre a alta sociedade. Nem sequer tentou convencê-lo de que não tinha intenção
alguma de ter uma amante depois de casar-se com Sophie. As aventuras extraconjugais de George
demonstravam que no fundo os libertinos nunca se reformavam.
― Minha esposa tem um gênio endemoninhado ― Continuou o marquês ― E algumas vezes
Sophie viu mais do que deveria.
Patrick se levantou sem que nada em sua atitude revelasse o interesse que despertavam as
palavras do marquês.
― É uma boa garota minha Sophie.
George se dirigiu para a campainha para ordenar que dissessem a Sophie que fosse à
biblioteca.
― É uma boa garota ― Repetiu ― Me tirou de um montão de apuros quando sua mãe se
transformava em uma Fúria.
― Como conseguia Sophie ajudá-lo nessas circunstâncias? ― Perguntou Patrick.
― Punha um sorriso mais doce que o mel e dizia que eu a tinha levado às corridas ou algo pelo
estilo. Acredita que possa ter urdido a fuga por minhas indiscrições? Admitiu-o em sua cama
ontem de noite porque eu sou…
― Assumo toda a responsabilidade do acontecido. Lady Sophie é inocente. Não tinha nem
ideia do que podia acontecer quando entrei em seu dormitório.
― De verdade? Ela…
As portas se abriram deixando passar ao Caroll.
―Milorde?
― Diga a lady Sophie que se reúna conosco.
Caroll olhou ao visitante com curiosidade. Todo mundo sabia que tinha pedido a mão de lady
Sophie e que o tinha rejeitado. Também sabiam que tinha anunciado seu compromisso com o
conde de Slaslow, de modo que não entendia o que fazia Foakes na casa.
Sophie desceu lentamente as escadas embelezada com um vestido de manhã de pescoço alto
e adornado com flores de tecido. Era um traje que só tinha usado uma vez antes de esquecer-se
dele já que era muito conservador. Mas esta manhã, terrivelmente confusa, queria demonstrar a
Patrick e a seu pai que não era uma mulher leviana embora se comportou como tal a noite
anterior.
Pela enésima vez desde que se despertou sentiu que ruborizava. Não sabia se atreveria a
entrar na biblioteca. O que devia estar pensando seu pai? Tinha um doloroso nó no estômago,
mas não havia forma de escapar: Caroll já estava abrindo as portas da biblioteca e seu pai estava
dentro.
Levantou seus olhos para ele a contra gosto e o que leu em seu rosto lhe deu um pouco de
coragem. Não parecia estar a ponto de expulsá-la de casa.
― Sophie ― Disse zangado ― Parece que deve se casar com o Patrick Foakes em vez de fazê-lo
com o conde de Slaslow.
Ela agachou a cabeça.
― Sim papai.
― Vamos ter que encontrar a forma de dizer a sua mãe ― Suspirou o marques ― Como acabo
de dizer a Foakes, não quero que ela saiba a verdade porque morreria de vergonha.
―Sim papai.
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― Bem. Vou deixá-los as sós ― Grunhiu George ― Mas não muito tempo ― Trovejou
surpreendendo o olhar divertido de seu futuro genro.
Será que nada perturbava a esse menino? Tinha um olho quase completamente fechado e
estava formando um hematoma na mandíbula, mas parecia estar tão as suas largas como sempre.
Era muito irritante. George saiu da biblioteca quase afogando de indignação.
Ela fez uma profunda inspiração mais estava muito envergonhada para levantar a cabeça.
Ouviu que Patrick se dirigia para ela.
― Esta preciosa esta manhã Sophie. Uma nova Sophie para falar a verdade, tímida, pudica…
Ela olhou por fim com um brilho perigoso nos olhos.
― Não zombe de mim!
Ele a agarrou pelo queixo.
― Por quê? Nosso matrimônio não funcionará se formos incapazes de rir um do outro, meu
amor.
Ela vacilou ao ver as marcas no rosto dele.
― O que te aconteceu Patrick ― Perguntou acariciando sua têmpora.
― O que merecia nada grave.
Agarrou os dedos dela e os levou aos lábios beijando depois a palma de sua mão com ternura.
― Pedi de forma oficial sua mão a seu pai disse maliciosamente.
― De verdade?
Decididamente sua mente não funcionava bem esta manhã.
― Quer casar-se comigo lady Sophie?
Apenas o escutava. A boca de Patrick estava acariciando o centro da palma de sua mão e suas
pernas se converteram repentinamente em algodão.
― Sim ― Respondeu ela em voz muito baixa.
Ele franziu o cenho.
― Sinto muito que nossa atividade de ontem de noite tenha impedido de escolher a seu futuro
marido mais estou seguro de que nos daremos razoavelmente bem, tão bem como o haveria feito
com o Braddon.
O que queria dizer com isso? Como ela ia ser “razoável” vivendo sob o mesmo teto que ele?
Compartilhando a mesma cama? Só de pensar estremecia de antecipação.
O que ela desejava era que a agarrasse de novo entre seus braços.
Como se ele tivesse adivinhado seus pensamentos, atraiu-a para si.
― Sophie ― Insistiu ― Quero me desculpar por te impedir que se case com o Braddon. Sei que
tinha muita vontade de ser uma condessa.
Sem lhe dar tempo a responder se apoderou de seus lábios apaixonadamente.
Ela não protestou. Enquanto ele brincava com seus cachos e as fitas de seu cabelo desfazendo
todo o trabalho de Simone, ela se fundiu com ele tremendo e jogou os braços ao pescoço. Quando
sua língua tocou timidamente a do Patrick, ele lançou um juramento e recuou um passo.
O pai de Sophie havia sentido divertido se houvesse visto nesse estado. Já não havia nada de
civilizado nele. Seus olhos estavam obscurecidos de desejo, custava respirar e em quão único
podia pensar era em tombá-la sobre o tapete para fazer amor.
― Meu Deus! ― Disse passando uma mão pelo cabelo.
Encontrou-se com o olhar um pouco perdido de Sophie e depois pousou seus olhos em sua
boca e foi incapaz de conter-se. Apertou-a contra a evidência de seu desejo.
― Tem que se casar comigo imediatamente ― Resmungou ― Morrerei se não puder te levar
ao meu dormitório.
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Mas o certo era que tinha arruinado todos seus planos em vinte e quatro horas. Tinha jurado a
se mesma não casar-se nunca com um vivedor e ia se casar com o pior dos libertinos. E, além
disso, só teria um filho.
Levantou a vista e seus olhos se encontraram com o sombrio olhar dele e se decidiu de tudo.
Era melhor casar-se com Patrick embora tivesse que o compartilhar com outras mulheres. E se só
tinha que ter um filho, que assim fosse. Amaria-lhe de tal modo que nunca se sentiria
abandonado.
Patrick parecia estar esperando com ansiedade e dirigiu um sorriso tranquilizador.
―De acordo, um filho Patrick.
O soltou um enorme suspiro de alívio. A morte de sua mãe a consequência de um parto lhe
afetou profundamente ao contrário que a seu irmão Alex. Patrick estava apavorado diante a ideia
de ver sua esposa com os dores do parto. Alex em troca, inclusive depois de fazer visto Charlotte
às portas da morte quando nasceu Sarah, pensava ter mais filhos, ele por sua parte não ia arriscar
a vida de sua mulher para ter filhos. Sob seu ponto de vista não merecia a pena.
Apertou as mãos do Sophie entre as suas.
― Você gostaria de fazer um cruzeiro em meu veleiro como viagem de núpcias querida? Temo
que Napoleão não nos deixará ir ao continente.
De repente ela afastou as mãos.
―Não tinha que se casar com Daphne Blanc? ― Perguntou-lhe.
Ele levantou uma sobrancelha.
― A francesinha? Pode que a tenha comprometido mais te comprometi muito mais não?
Ela o olhou com surpresa.
― Pelo amor de Deus! ― Exclamou Patrick ― É obvio que não comprometi Daphne Blanc. Caiu
um inseto nos olhos e terá que curar-se. Se tivesse estado comprometido com Daphne não teria
ficado em seu quarto na noite passada Sophie.
Ela esboçou um sorriso cheio de incerteza. Sentia-se feliz de saber que Patrick não tinha tido
intenção de casar-se com Daphne, mas não acreditava a segunda parte do que havia dito. É obvio
que teria ficado em seu quarto. Depois de tudo ela tinha se jogado em seu pescoço. Os detalhes
da noite anterior voltavam para a mente com força. Em que estaria ela pensando para pedir a um
homem que a fosse procurar a seu dormitório? Certamente tinha perdido a cabeça.
Mas para falar a verdade a quem ela esperava era Braddon e este nem sequer tinha desejo de
beijá-la. Com ele não teria acontecido isto.
Patrick a olhava com um sentimento de frustração. Era evidente que lhe considerava um
homem capaz de comprometer a duas mulheres na mesma semana.
Ela sorria mais seus olhos mostravam uma total falta de confiança nele. Bem, pois teria que
aprender a confiar!
― O que te parece na quinta-feira dia quinze? ― Sugeriu ele.
―Tão cedo?
Patrick estava tão surpreso como ela por suas palavras. Não haveria nenhum perigo por
esperar um mês ou inclusive seis semanas, mas tinha muita vontade de ter Sophie para ele
sozinho.
― De todos os modos será um escândalo. Por que não nos casar e sair de lua de mel antes que
a alta sociedade compreenda que quebrou seu compromisso com Braddon?
Sophie permaneceu pensativa.
―Terei que enviar uma mensagem ao conde de Slaslow.
Ele sorriu.
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―Sim, em efeito é geralmente uma cortesia informar ao noivo de que vai se casar com outro.
Mas não esta obrigada a fazê-lo. Eu já disse ontem à noite.
― Ontem à noite! Contou tudo?
― Não. Simplesmente lhe expliquei que tinha decidido se casar comigo melhor que com ele ―
Disse cortante.
Ela teve frio de repente.
― Sinto muito ― se desculpou ele ― Não queria insinuar que se gabou… Como reagiu?
Patrick entrecerrou os olhos. Acaso lamentava Sophie não casar-se com Braddon?
Possivelmente seu amigo tinha tido razão ao dizer que estava louca por ele.
― Evidentemente estava contrariado. Mas maldição Sophie, nós não podemos fazer nada! ―
Exclamou levantando-a do sofá ― Você é minha, não posso te entregar ao Braddon. Não é
possível voltar atrás.
Os olhos de Sophie se encheram de lágrimas. Estava esgotada pela falta de sono e pelo girou
incompreensível que estava dando a conversa. Quando Patrick a atraiu para sim, lhe ofereceu seus
lábios para que a consolasse.
― Me beije, por favor, ― Sussurrou ela.
Sem fazer-se de rogado ele a empurrou contra um assento de respaldo alto e sentiu como
respondia apaixonadamente a suas carícias. Ele desfrutou de seus suspiros de prazer e de seu
abraço. Finalmente o amor que ela sentia por Braddon carecia de importância.
Alguém deu um discreto golpe na porta e se separaram. Patrick contemplou o rosto
ruborizado de Sophie, seus lábios inchados e seus trêmulos dedos. As arrumaria de algum modo
para que ela se apaixonasse por ele e para que esquecesse Braddon, prometeu a si mesmo,
atenuando desse modo a culpa que sentia por havê-la despojado de sua virgindade.
Uns minutos depois, quando a jovem tinha subido a falar com sua mãe, ele se sentou ao lado
do marquês para falar dos termos do contrato de matrimônio. Deu algumas cifras que fizeram que
os olhos do marquês se abrissem incrédulos.
― Senhor! Acaso é um nabab?
―Um pouco parecido ― Respondeu Patrick lacônico.
George nunca tinha desejado de maneira especial que sua filha se casasse com uma fortuna;
para ele era mais importante que seu genro fosse de boa família e que a amasse. Entretanto
nenhum pai poderia deixar de estar feliz ao comprovar que sua filha ia viver na opulência.
― Vou pedir a meu notário que ponha tudo por escrito ― Concluiu George ― Lamento ter te
batido ― Falou constrangido.
― Eu mereci ― Repetiu Patrick com um sorriso ― Felizmente tenho um tio que é arcebispo e
vou pedir uma licença especial esta mesma tarde.
O marquês se surpreendeu.
― Uma licença?
― Decidi que a melhor maneira de evitar os inconvenientes de um escândalo era nos casar o
mais depressa possível e abandonar Londres para fazer uma comprida viagem de núpcias.
― Já vejo ― Disse George quem em realidade não via nada absolutamente.
― Todos consideraram um matrimônio por amor ― Explicou pacientemente Patrick.
― Já vejo.
Patrick vacilou um momento sem saber se devia falar com ou futuro sogro do título que sem
dúvida ia lhe conceder o Parlamento. Finalmente decidiu esperar ao anúncio oficial. Inclinou-se
diante do marquês.
― Posso voltar a lhe visitar amanhã milorde?
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― É obvio. Veem jantar para então já terei os contratos redigidos. Depois poderá se casar com
minha filha quando quiser.
― Obrigado milorde.
George o olhou enquanto ia embora, vagamente desorientado pelos acontecimentos da
manhã. Suspeitava que efetivamente fosse um matrimônio por amor; fixou-se na forma em que
brilhavam os olhos de Patrick quando declarou que queria casar-se com o Sophie sem tardança.
Estirou os lados de sua jaqueta pensativo. Recordava como se fosse ontem o ardente desejo
que tinha experimentado por Heloise, as horas que se passou tentando convencê-la de que fugisse
com ele. Mas não, ela se aferrava às conveniências.
Sorriu com nostalgia ao recordar que quase chorava pelo desejo insatisfeito naquela época.
Mas tudo mudava na vida.
Capitulo 11
Sophie abriu a porta do quarto dos meninos para encontrar Charlotte, condessa de Sheffield,
sentada em um tamborete perto da lareira, enquanto que uma pequena lhe penteava os escuros
cachos.
― Pippa! Ai, querida! Tem que ser mais suave se quer se transformar em donzela.
Sophie rompeu a rir.
― Não te parece que Pippa tem muita ambição Charlotte?
A jovem condessa se virou contente.
― Olhe quem veio a nos ver Pippa ― Exclamou.
A “futura donzela” soltou a escova e se lançou contra as pernas de Sophie.
― Lady Sophie! Lady Sophie!
Esta pegou à filha de Charlotte nos braços.
― Se continuar crescendo deste modo, Pippa, não poderei te levar nos braços.
A menina se agarrava a seu pescoço.
― Sabe que logo vou fazer três anos lady Sophie?
― De verdade? E eu que pensava que seu aniversário demoraria um tempo ainda. Até que o
verão viesse e se voltasse a ir.
― O verão chegará logo ― Respondeu a pequena muito séria ― Quase estamos no Natal e
logo já é verão.
Sophie voltou a sorrir.
― Como é que sabe tanto Pippa?
A pequena se pavoneou muito orgulhosa.
― Às vezes teria gostado de nascer pássaro, sobretudo uma andorinha, mas mamãe diz que
gosta mais assim.
Estava puxando a beira de seu vestido rosa.
Sophie beijou a ponta do seu nariz e a deixou no chão.
― De modo Charlotte que prefere que sua filha use um vestido a penas.
Pippa se deixou cair sobre o tapete aos pés de Charlotte.
― As mamães são assim, lady Sophie. Gostam que seus filhos tenham vestidos e que não se
sujem. Já verá quando você os tenha!
― E se for um menino?
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― Um menino?
Pippa franziu o cenho desconcertada. No quarto dos meninos não se falava muito de meninos.
― Mamãe e Sarah são garotas ― Disse ― Katie também.
Sarah era o bebê e Katie a babá.
― Sei Pippa. Mas se tiver um menino possivelmente não goste de ter vestidos.
― Terá uma filha! ― decretou Pippa ― Acredita que será logo?
Charlotte afogou uma gargalhada.
― Não! ― Exclamou Sophie ― Não, não acredito que tenha nenhum filho em um futuro
próximo, seja menina ou menino.
― Por quê? Mamãe disse que tinha dado uma festa para celebrar seu compromisso, então
poderá viver em sua própria casa. Com quem vai se casar? É bom?
Sophie se sentou ao lado do Charlotte e da menina.
― Deveria me casar com um homem muito bom que se chama Braddon…
Com a extremidade do olho viu que sua amiga levantava a cabeça com interesse.
― E esse amável senhor Braddon não quer ter uma menina pequena?
― Quando a Pippa coloca uma ideia na cabeça ― Interveio Charlotte ― Não a solta facilmente.
Você disse “deveria”?
Sophie evitou seu olhar.
― A verdade é que mudei de opinião, não me vou casar com Braddon. De modo que é melhor
que vá procurar um menino em outra parte.
Charlotte pôs um sorriso triunfante enquanto Pippa ia dar um tapinhas na mão de Sophie.
― Olhe, já que não vai ter uma filhinha logo, poderia levar Sarah para sua casa. Mamãe tem
duas filhas de modo que pode te dar uma.
― Pippa, já te disse que deixe de dar de presente a sua irmã a todo mundo. Você não é
primeira em se beneficiar de sua generosidade Sophie. Já deu de presente a Sarah à irmã de Katie,
à maioria dos criados e várias vezes inclusive a minha mãe.
Sophie estava tentando manter-se séria.
―Se algum dia tiver uma filha ― Disse à menina ― Pedirei emprestada a sua mamãe. Poderia
lhe ensinar a manter-se limpa.
A pequena se levantou mostrando um vestido completamente enrugado.
― Boa ideia! ― Exclamou ― Quando disser que vai casar de verdade porei meu melhor vestido
e serei muito boa.
A porta da creche se abriu dando passagem a Katie com um bebê meio adormecido nos
braços.
― Aqui esta o pequeno tesouro, milady ― Disse em voz baixa ― Acaba de despertar.
Charlotte se levantou para pegar à pequena.
― É a hora de comer carinho. Quanto a você Sophie York, acredito que temos que falar. E se
fôssemos tomar o chá em meu salãozinho?
―Sim!Sim!Eu também! ― Gritou Pippa.
― Acredito querida que Katie necessita que a penteiem.
A menina foi procurar seu pente dividida entre o desejo de descer com lady Sophie e o de
praticar sua afeição preferida: a barbearia.
― Olhe como esta seu vestido lady Pippa ―A repreendeu a babá.
Pippa alisou a saia.
― No princípio tive cuidado Katie, mas depois me esqueci.
― Ah Meu Deus! ― Exclamou a babá ― Estou completamente despenteada e não tinha me
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severidade:
― Não mude de tema Sophie York. Diga-me a quem concedeu sua mão. Espero que não
tenha sido a Reginald Pettersham.
― Não, é encantado, mas um pouco raro. Alguma outra sugestão?
Charlotte apertou os lábios. Não ia pronunciar o nome de Patrick.
― O que te parece o duque de Siskind? ― Perguntou Sophie imprudente.
Sua amiga entrecerrou os olhos.
― Oh não! É velho e tem oito filhos.
Sophie acariciava a cabecinha de Sarah.
― A mais eu adoro os meninos ― Disse baixando os olhos para esconder seu regozijo.
― Não ― Gemeu Charlotte ― Tem ao menos sessenta e cinco anos.
― Não se trata dele ― Confessou Sophie ― Quero ter meus próprios filhos.
Ao menos um, pensou.
― Afinal aceitei me casar com Patrick ― Disse com ligeireza ― Insistiu muito.
Charlotte necessitou uns segundos para digerir a notícia e depois deu um grito de alegria.
Sarah assustada, começou a chorar e ela a pôs no outro seio antes de passar seu braço livre pelo
ombro de sua amiga.
― Agora seremos irmãs ― Disse radiante.
Sendo filha única, Sophie sempre tinha sonhado tendo uma irmã, e agora seu sonho ia ser
realizado.
― Irmãs… ― Repetiu.
As perguntas se amontoavam nos lábios de Charlotte.
― Mas como foi? Quando? Aonde irão de viagem de núpcias? Você já lhe disse que gosta dos
idiomas? E que opina sua mãe?
― Minha mãe teve umas três crises nervosas ontem por culpa de minha ingratidão, mas hoje
a vítima de seu aborrecimento é meu prometido porque ele quer que a cerimônia se celebre
dentro de duas semanas. Mamãe se nega a considerar um tempo menor de três meses e ao final
parece ser que se puseram de acordo em que seja dentro de seis semanas. A cerimônia a
celebrará seu tio o bispo de Winchester. Bom você já sabe que seu tio é bispo.
Charlotte sorriu e Sophie conteve o fôlego esperando que sua amiga fizesse mais perguntas
sobre o precipitado das bodas.
Apressou-se a continuar.
― Mamãe insiste em umas bodas por todo o alto embora meu pai tentasse tirar essa ideia da
cabeça. Esta convencida de que é a única maneira de me liberar da vergonha social. As donzelas já
estão costurando cobertores rosa para os cavalos porque mamãe quer que os convites se enviem
como Deus manda.
Charlotte, enquanto isso estava tirando suas próprias conclusões.
― Pelo amor de Deus Sophie ― Disse sorrindo ― Até Henrietta Hindermaster quando
rompeu seu compromisso com o duque de Siskind, esperou três meses antes de casar-se com o
mordomo de seu pai.
Sophie notou que avermelhava. Tinha adotado uma atitude sofisticada desde muito tempo
que era surpreendente comprovar até que ponto tinha medo do escândalo. Ela cujos vestidos
provocavam comentários quase desde seu primeiro baile!
Charlotte sorriu com simpatia.
― Pobre Sophie! Só faltaria que Patrick tivesse subido até seu balcão para te raptar.
Sua amiga ficou ainda mais vermelha e Charlotte exclamou:
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― Fez?
Sophie estava debatendo entre uma crise de risada e um embaraço cada vez maior. Levantou-
se jogando o cabelo para trás.
Ao ver que não dizia anda, Charlotte entrecerrou os olhos.
― Quero saber tudo, Sophie York!
Patrick evitava cuidadosamente o olhar de seu irmão enquanto tentava decidir o que lhe diria.
Maldição! Por que não tinha perguntado a Sophie o que pensava dizer a Charlotte? Tinha a
impressão de que as mulheres contavam tudo, mas isso significava que ela daria de presente os
ouvidos de sua amiga com os detalhes que tinha precipitado suas bodas.
Os gêmeos, sentados no vestuário da sala de boxe a qual iam de maneira regular, estavam
descansando depois de um assalto com seu treinador. Lavaram-se e um lacaio estava esperando
para ajudá-los a se vestir, já que por exemplo os homens que colocavam recheio na roupa
necessitavam que alguém se assegurasse de que os recheios ficavam bem.
O certo era, pensou Billy Lumley, que esses dois não necessitavam nenhum recheio, mas era
possível que de todos os modos lhe dessem uma gorjeta. De modo que esperava pacientemente
com os casacos na mão.
Patrick estirou suas largas pernas e fez um gesto ao criado para que se afastasse um pouco.
Alex, que estava pondo uma camisa limpa, lançou-lhe um olhar interrogativo.
― Caso-me dentro de seis semanas ― Disse por fim Patrick com a sombra de um sorriso ―
Pensei que você gostaria de estar presente.
Fez-se o silêncio.
― Daphne Blanc? ― Perguntou ao fim Alex com tom neutro.
― Não. A que você tinha elegido para mim, Sophie York.
Alex sorriu abertamente.
― Eu gosto muito, e a mamãe também teria gostado.
― Sim.
Permaneceram uns instantes em silêncio pensando em sua mãe, na maneira em que ela
entrava rindo no quarto dos meninos para pegá-los entre seus braços e encher de beijos. Até que
morreu dando a luz a um pequeno que nasceu morto. Então tinham encontrado com seu pai, um
homem taciturno afligido pela gota que não tinha demorado muito em lhes mandar a um
pensionato e que durante as férias mandava a casa de quem queria acolhê-los.
Alex foi o primeiro em levantar-se.
― Por que tão rápido?
― Um desejo.
― Um desejo?
Alex fez um gesto a Billy para que trouxesse o casaco e o pôs sem a menor dificuldade para
grande decepção do moço.
― Olhe quem fala! ― Respondeu Patrick dando ao lacaio uma generosa gorjeta.
― E depois? ― Perguntou Alex com os olhos brilhando divertidos.
― Iremos de cruzeiro ao longo da costa com Lark.
― Ao longo da costa?
― De lá poderei observar discretamente as fortificações de Breksby em Gales. O momento não
me parece tão mau.
Alex fez uma pequena careta.
― A ideia de que Napoleão pudesse invadir Gales é ridícula. Caso que Napoleão tenha
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suficientes navios, se dirigirá mais bem para Kent ou Sussex. Só tem navios de fundo plano. Dirigir-
se-á diretamente desde Bolonha ao Kent.
Patrick deu de ombros.
― De todas as maneiras é uma excelente desculpa para fazer uma viagem de núpcias.
― Para isso não se necessita uma desculpa Patrick.
Alex tinha estragado sua viagem de núpcias por um estúpido ciúme.
― Não cometa o mesmo engano que eu ― Acrescentou.
Patrick sorriu.
― Não se preocupe. E além eu não farei um matrimônio como o seu Alex. Estou seguro de que
sairá bem mais, recorda que Sophie queria casar-se com Braddon Chatwin. Não acredito que entre
nós se produza uma tensão emocional similar à sua.
Alex levantou uma sobrancelha com surpresa.
― Ela desejava o título de Braddon ― Insistiu Patrick.
― E que opina de seu título de duque?
― Não contei.
― Como que não contou? Esta acaso esperando à noite de núpcias?
― Não especialmente. Simplesmente o assunto não veio. Irei sozinho a Turquia e não acredito
que Sophie esteja muito interessada por algo que ocorrerá dentro de perto de um ano.
Alex o olhou de esguelha.
― Está seguro de que quer se casar Patrick?
― Se tiver que pôr a corda no pescoço por que não com Sophie York? A avaliação e ela é…
― Incrivelmente formosa ― Terminou seu irmão.
― Certo ― Admitiu Patrick sorrindo ao pensar em sua prometida.
― E extremamente inteligente.
― Sim, a sua maneira um pouco ligeira e mundana. Será uma excelente companheira.
― Ligeira? ― Exclamou Patrick rindo ― Algum dia irmãozinho peça que te fale de suas aulas
de idiomas.
― Tenho que ir ― Disse Patrick nervoso.
Aproximava-se a hora do jantar com sua noiva e seus futuros sogros. Não estava
especialmente contente com a perspectiva do jantar, mas logo tomaria Sophie entre seus braços,
com seus lábios com sabor a morango e seus pequenos gemidos de prazer. Era necessário que
recordasse a si mesmo porque estava fazendo a tolice de colocar a corda no pescoço,
precisamente ele que tinha jurado que nunca cairia nessa armadilha.
―De modo que acredita que seu matrimônio será como um tranquilo lago durante uns
sessenta anos ― Disse Alex piscando um olho enquanto saíam do salão de boxe ―De fato será tão
tranquilo que Sophie apenas se dará conta de que você vai estar vários meses na Turquia. E lhe
dirá até mais tarde alegremente como se fosses passar uma semana caçando?
―O coração e a beleza são duas coisas diferentes ― Replicou Patrick ― Me acredite,
frequentei a criaturas de sonho durante anos e meu coração nunca sofreu.
―De acordo, é um sábio ― Ironizou seu irmão ― Já veremos. Aceitaria uma aposta?
―Sobre que?
―Seu coração. Eu aposto quinhentas coroas que daqui a um ano, confessará estar louco por
sua esposa.
― Jamais aceitaria dinheiro de um louco apaixonado como você ― Replicou Patrick com uma
breve gargalhada ― Que você tenha transformado em um homem de uma suscetibilidade
exasperante, não quer dizer que eu deva seguir o mesmo caminho.
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Capitulo 12
Seis semanas mais tarde, Sophie continuava tendo a impressão de que as bodas iam muito
rápidas. Seu vestido de noiva tinha sido ajustado pela décima vez. Cinco costureiras se ocupavam
de uma vez dela como se tratasse do vestido de uma rainha.
Suspirou. Se este tivesse sido um dia normal, teria estado trabalhando durante uma ou duas
horas. Dirigiu-se para seu escritório e jogou uma olhada a ao manual de gramática turca que
estava no lugar onde as demais damas punham os convites e as cartas.
Estava-o agarrando quando sua mãe entrou na sala.
―Sophie, acredito que…
Interrompeu-se
―Outro de seus livros estrangeiros?
―Sim mamãe.
―Como pude eu ter uma filha tão carente de cérebro? Não se dá conta de que uma mulher
casada deve renunciar a essas criancices? Os idiomas são bobagens infantis às quais deve
renunciar, ao igual ao resto dos estudos.
Sophie vacilou.
― Talvez Patrick não se importe que eu fale alguns idiomas. Parece-me que é um homem
muito pormenorizado.
―Não diga tolices Sophie. Os homens odeiam às sabichonas e com razão. As mulheres cultas
são mortalmente aborrecidas.
Sophie conteve a resposta que tinha na ponta da língua. Ela era sem dúvida uma das mulheres
mais eruditas de Londres e, entretanto a seus pretendentes nunca tinha parecido aborrecida.
―Senhor! ― Grunhiu a marquesa ― Lamento ter deixado você continuar com isso.
Sophie viu como se movia sua mãe nervosa pela estadia colocando as quinquilharias em seu
lugar. Nunca tinha estado contente com a inclinação de sua filha pelos idiomas, mas a tinha
autorizado a aprender francês, italiano, galés, depois alemão e por último turco, já que Sophie
tinha tido a sorte de conhecer um emigrado turco através de seu professor de alemão.
―Eu não sou completamente estúpida ― Continuou a marquesa abrindo o armário e franzindo
o cenho ao ver os vestidos de sua filha ― Seu pai tenta me enganar, mas entendo porque este
matrimônio deve celebrar-se a toda rapidez. De modo que evitaremos as explicações habituais
que uma mãe dá a sua filha sobre a noite de núpcias.
Sophie estava de uma vez envergonhada e coibida.
―De todas as formas ― Continuava Heloise com um suspiro ― Isso não é o importante. Eu
gostaria de te dar alguns conselhos para que seu matrimônio fosse diferente do meu, mas não sei
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que te dizer.
Sophie notou que as lágrimas lhe alagavam os olhos.
―Tudo está bem mamãe.
Heloise se deixou cair em um sofá de respaldo alto.
―Não, tudo não está bem Sophie. Eu estraguei meu casamento com seu pai. Depois de todos
estes anos nos que o fiz responsável por tudo, estou começando a me perguntar se eu tivesse
podido reagir de forma diferente. Possivelmente fui muito severa.
Sophie se sentou frente a sua mãe. Ela tinha chegado à mesma conclusão: se a marquesa
tivesse fechado os olhos com as infidelidades de seu marido, os dois teriam sido mais felizes, e ela
provavelmente hoje teria irmãos.
―Não podia ― Murmurou Heloise ―Não fui educada assim e me casei com apenas dezoito
anos. Você tem vinte e é ainda mais despreocupada que eu. Rogo isso Sophie, suplico isso, afaste a
vista quando seu marido paquere com outras mulheres. O acolha em sua cama sem pigarrear. Não
faça nada que possa o zangar como, por exemplo, delatar seu talento para os idiomas.
Sophie tentou tranquiliza-la.
―Tentarei mamãe. Nunca direi a Patrick que falo outra coisa que não seja inglês e nunca farei
nenhuma recriminação se deitar com outras mulheres. Sei positivamente que vou me casar com
um libertino.
― Ignora suas infidelidades ― Insistiu a marquesa com um brilho de inquietação no olhar ― O
verdadeiro prazer no matrimônio são os filhos.
Sophie esboçou um sorriso.
―Teria gostado de te dar os irmãos que tanto precisava Sophie ― Exclamou sua mãe
apaixonadamente ― Lembra-se? Pedia-me isso a gritos. Mas que podia eu fazer? Seu pai e eu já
não nos falávamos e eu não sabia como remediar a situação. Só tínhamos um ponto em comum:
você, Sophie. Acredite, os meninos podem representar um laço importante entre seu marido e
você, se o orgulho não se interpuser.
― Patrick só quer ter um filho, mamãe ― Disse Sophie.
Heloise digeriu a informação.
― Lamento muito por você. Sei o muito que você gosta dos meninos. Então cuida muito bem
dele. Perguntou-se alguma vez porque era tão estrita escolhendo as suas amigas?
Sophie agachou a cabeça. Ela nunca tinha podido ir visitar outras crianças, e sua babá tinha a
ordem de afastar a tudo o que se aproximasse dela quando davam seus breves passeios.
―Tinha que te proteger Sophie. Você era minha única filha.
Heloise voltava controlar-se.
―Mas não é o numero de filhos que importa, e sim o prazer que obtenha de seu matrimônio.
Uma união como a minha; com amargura por parte de um e com indiferença por parte do outro; é
pior que um matrimônio sem filhos.
A marquesa ruborizou ligeiramente antes de continuar:
― Para falar claramente, não negue nunca a seu marido o acesso a sua cama. Eu não deveria
ter jogado a seu pai de meu quarto. Fui uma tola caprichosa. Agora, quase aos quarenta anos,
daria tudo por poder voltar atrás. Não faça como eu Sophie. Seja qual seja sua amargura, não a
demonstre nunca a Patrick e não o expulse de seu leito. A menos que esteja esperando um filho.
― Prometo isso mamãe ― Disse docilmente Sophie.
Simone, a donzela, estava entrando no quarto seguida de um exército de criadas carregadas
de papel de seda. Fez uma reverência.
― Peço perdão milady, mas estamos prontas para fazer a bagagem de lady Sophie.
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Lorde Breksby estava dando leves golpes com os dedos em cima de seu escritório,
manifestando um nervosismo pouco habitual nele.
―É uma vergonha!
Um homem baixinho vestido de forma vulgar o olhou divertido.
―Napoleão sempre foi um aporrinho ― Assentiu.
―Muito mais que isso! ― Grunhiu Breksby que estava se afogando de raiva ― Como espera
sair desta?
― Foi uma sorte que tenhamos descoberto tudo ― Fez notar seu interlocutor.
Breksby suspirou.
―Será melhor que fale com o Patrick Foakes.
―Pelo que eu sei, Foakes está preparando sua viagem de núpcias… Ao longo da costa.
Era evidente que o homenzinho sabia por que Patrick tinha escolhido fazer essa viagem.
―Em efeito. Condenação!
―Para que o advertir?
O homenzinho baixou as pálpebras. Sabia mais das atuações secretas dos distintos governos
que o muito mesmo Breksby. Era exasperante mais certo.
― Como poderia permanecer calado? Vai correr um risco muito grande, e se o cetro chegar a
explodir…
― O cetro só explodirá se permitirmos que o substituam. O cetro é a chave e Foakes não o
tem. Nós sim.
Dirigiu-se para a porta.
―É melhor não correr o risco de que conte algo a sua esposa ― Disse antes de sair ― Os
homens apaixonados são perigosos.
Breksby contemplou a porta fechada. Voltou-se a sentar, tirou uma folha de papel e redigiu
uma mensagem dirigida ao honorável Patrick Foakes, rasgando-a um segundo depois.
O outro homem tinha razão. Era irritante, sempre tinha razão, mas… Pode que o melhor fosse
enviar o cetro tal qual. Se o entregassem ao Foakes só uma hora antes que este o desse de
presente a Selim, o risco seria grandemente menor. Um cetro armadilha! Que ideia tão absurda!
Mas se Foakes levava uma coisa assim à coroação de Selim, e explodia, o resultado seria
catastrófico para a Inglaterra. Selim se sentiria gravemente insultado, caso que conseguisse
sobreviver à explosão. Ficaria imediatamente do lado de Napoleão e declararia guerra à Inglaterra.
―Inferno e condenação! ― Resmungou Breksby.
Chamou o lacaio e colocou o chapéu. Tinha que pôr tanto ao Conselho de ministros do complô
de Napoleão.
Essa noite, os marqueses de Brandenbourg se reuniram no salão para esperar a sua filha.
Tinha um jantar de família. Seu último jantar familiar pensou Heloise com o coração em um
punho. No dia seguinte sua filhinha abandonaria a casa para dirigir-se à igreja do St. George e só
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voltaria de visita.
Aceitou a taça de xerez que Caroll oferecia e se dirigiu para a enorme janela que dava ao
jardim. Estava pensando na conversa que tinha mantido com Sophie. Nunca tinha ousado
pronunciar essas palavras em voz alta, e se sentia ligeiramente incômoda por estar na mesma sala
que seu marido.
Mas se George notou sua tensão não demonstrou. Parecia estar completamente contente
quando se aproximou dela.
―Eu acredito que serão felizes juntos, querida. E você?
A respiração de Heloise se acelerou de maneira estranha. Desde que havia tornado a ver seu
marido nu, a imagem de seu torso e de suas pernas se sobrepunha a qualquer outra. Ele estava ali,
ao seu lado, completamente vestido, e, entretanto ela se estremecia ao voltar a sentir as
sensações do princípio de seu matrimônio.
Inoportunamente recordou algo. George tinha o costume de beijá-la na nuca. Voltou-se para
ele. Ele estava olhando o jardim.
― George ― Disse avermelhando.
Ele pousou seu olhar cinza sobre ela e lhe pôs a mão na nuca, no lugar exato no que ela estava
pensando. Ele não tinha tido um gesto tão íntimo com ela desde fazia anos.
Ela permaneceu imóvel como um animal assustado. Era o momento de demonstrar sua
valentia. Mas era muito difícil superar anos de indiferença. As palavras se entupiram em sua
garganta e agachou a cabeça, desesperada.
George abriu a mão e começou a lhe acariciar brandamente a base do pescoço. Só se deteve
quando Caroll entrou no salão acompanhando de Sophie.
Capitulo 13
Sophie despertou muito cedo, e saiu da cama para ir ver como amanhecia através da janela.
Que se supunha que devia fazer na manhã do dia de suas bodas? Dormir aconselharia sua mãe.
Dormir para estar em boa forma. Mas ela não podia dormir.
Seu coração pulsava com força. Apoiou-se na janela pela qual tinha entrado Patrick em seu
quarto repetindo-se uma vez, mas que não estava cometendo um equívoco. Se um se fixava ainda
podia ver as marcas da escada.
Uma grande carreta passou pela rua, levavam-na dois homens, sujos depois de uma noite de
trabalho. A cidade estava despertando. No Covent Garden os vendedores ambulantes deviam
estar pondo seus postos, os vendedores de pássaros estariam abrindo suas casas de jogo
clandestino em Spitalfields. Quando era menina adorava ver as fileiras de cotovias e vendedores.
Agora em troca, o pensar nas pequenas jaulas cheias de pássaros dava vontade de chorar.
―Não seja idiota! ― Disse em voz alta.
Por que estava fazendo um drama de seu casamento como se alguém a estivesse obrigando a
casar-se?
Abraçou a si mesma. Desejava Patrick, queria-o como Julieta a Romeo. Mas, sem dúvida, já
que ela tinha vivido uma noite de amor maravilhosa antes de casar-se com ele.
Então porque se preocupava? Apoiou a testa no frio cristal. Duas carretas giraram na esquina
da rua e o primeiro faetón da manhã passou cabeceando pelo pavimento.
Qualquer outra manhã ela haveria feito soar a campainha para que trouxessem uma xícara de
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chocolate quente e depois teria estudado durante duas horas antes de tomar um banho. Por um
momento esteve a ponto de deixar-se tentar pelo livro de gramática turca, mas recordou as
palavras de sua mãe. Isso eram distrações infantis.
No exterior a governanta estava escolhendo verduras em uma carreta ambulante que se
deteve diante da porta.
Apesar de tudo, a marquesa lhe tinha dado alguns bons conselhos, pensou Sophie. Patrick
nunca se inteiraria que ela estudava idiomas se isso tinha que o contrariar. Quanto ao de negar o
acesso a sua cama… Não tinha nenhum desejo de fazer tal coisa.
O importante era não deixar que adivinhasse que ela sentia um absurdo carinho por ele. Se o
ignorava, ela poderia desempenhar o papel de esposa conhecedora, que permite que seu marido
pule a suas cercas. Mas se congelava só de pensar na humilhação que sentiria se algum dia ele
chegasse, a saber, até que ponto ela o amava.
― Não direi nunca ― Murmurou.
Um pouco mais tranquila, deu-se conta de que tinha encolhidos de frio os dedos dos pés e
correu a refugiar-se debaixo das mantas.
Quando voltou a abrir os olhos, o sol entrava em torrentes no quarto. Virou-se sobre as
costas. Tinha estado sonhando em italiano, coisa que não acontecia desde que tinha começado a
estudar esse idioma quatro anos antes. Um curioso sonho cujos detalhes lhe escapavam. Tratava-
se de um baile de máscaras e ela estava disfarçada de cigana com um chapéu de palha preso sob o
queixo.
Fez uma careta. O baile de máscaras ia começar. Puxou resolutamente do cordão e se
levantou.
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―Quero.
Ao menos Patrick entrava em uma família normal, pensou o bispo. As mulheres tinham que
ser pequenas e frágeis. Sim, as miúdas e frágeis eram as melhores esposas. Richard fechou o livro
de orações. A cerimônia tinha terminado.
―Eu os declaro marido e mulher ― Concluiu endireitando o habito.
Os lábios de Sophie se moveram mais não saiu deles nenhum som.
Richard franziu o cenho, acaso a recém-casada tinha soltado uma praga em francês? Não,
impossível, era muito bem educada para praguejar no idioma que fosse.
― Pode beijar a noiva ― Ele disse jovialmente a seu sobrinho.
Patrick a olhou. Ela levantou os olhos para ele, uns olhos de uma cor azul tão escura que quase
pareciam negros. Por um momento se surpreendeu a reticência que leu neles, mas depois a atraiu
para si. Ela permaneceu passiva entre seus braços, com os lábios rígidos, e indiferentes.
Maldição, pensou, tinha que conseguir lhe arrancar um romântico beijo para reforçar a ideia
de que a razão da precipitada bodas se devia a que era um matrimônio por amor. Apertou-a mais
se fazendo mais exigente e repentinamente ela cedeu fundindo-se contra ele. A cabeça dele
começou a dar voltas e uma onda de desejo o invadiu.
Separaram-se ao fim e se olharam fixamente. Patrick, assombrado, respirava com dificuldade.
Sophie pensava na maneira desavergonhada que se apertou contra ele. Teria notado alguém que
tremiam suas pernas?
Ouviu-se um murmúrio entre os assistentes. Os membros da alta sociedade estavam
acostumados a ver os recém-casados atravessar a nave central ao som das trompetistas e não
perdendo o tempo olhando-se.
― Céus, diria-se que é um verdadeiro matrimônio por amor ― Sussurrou Penélope Luster a
sua melhor amiga ― Ele a olha de uma maneira que me dá vertigem.
― Não diga tolices Penélope ― Respondeu sua amiga ― Assim é exatamente como o a olhava
quando os vi juntos em meu baile recentemente. Acredite-me, isso não tem nada que ver com o
amor. Mas você não pode sabê-lo já que nunca esteve casada.
Chateada, Penélope fez uma careta. Sarah Prestlefield era uma robusta matrona de mais de
cinquenta anos e Penélope estava disposta a apostar que lorde Prestlefield nunca a tinha olhado
como Patrick acabava de olhar a sua esposa.
― Não importa ― Declarou ― Para mim é o casal mais romântico do mundo.
Lady Prestlefield soprou com incredulidade.
―Direi, Sarah ― Insistiu Penélope ― Que terá que ser tola para pensar que uma mulher em
posse de todas suas faculdades mentais possa preferir Slaslow diante de Patrick Foakes.
Sarah pôs uma expressão de exasperação.
―Você que é tola, Penélope. Slaslow é conde. Nenhuma mulher em seu são julgamento
trocaria por um filho menor embora fosse tão rico como Foakes.
Os recém-casados estavam atravessando o corredor central da igreja e Patrick sustentava a
sua esposa contra ele reforçando a convicção de Penélope.
O conde de Slaslow ia justo atrás deles e seu parecido com um buldogue a fez estremecer.
Para Penélope, os ardentes olhos de Patrick eram muito mais interessantes que a gordinha
imagem de Braddon. Riqueza e título careciam de importância ao lado da sensualidade que Patrick
transbordava.
―Olhe! ― Sussurrou lady Prestlefield ― Quill Dewland anda outra vez. Acreditava que os
médicos tinham condenado a permanecer na cama.
Penélope só jogou uma indiferente olhada a Quill, para voltar rapidamente para olhar ao
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jovem casal. Pesavam as portas que acabavam de abrir e os Foakes estavam de pé no alto das
escadas. Um raio de sol caía sobre a noiva fazendo-a parecer uma fina chama dourada. Patrick se
inclinou uma vez mais para beijá-la.
― Você pode pensar o que quiser ― Disse a sua amiga ― Mas é realmente um matrimônio por
amor. E me dá completamente igual o que pensem outros.
Penélope era normalmente mais tranquila, mas podia ser teimosa como uma mula.
― Muito bem Penélope, muito bem ― Murmurou lady Prestlefield ―Estou de acordo contigo.
E já sabe o que gostam a Maria dos romances. Olha-a, está chorando em seu lenço.
Lady Maria Sefton era uma das damas, mas influentes da alta sociedade.
Deste modo, Patrick Foakes pôde casar-se precipitadamente com a mulher mais formosa de
Londres e sair bem amparado. Em vez de lhes voltar às costas sussurrando desagradáveis
comentários, a alta sociedade estava radiante e felicitava a si mesma por sua própria
generosidade. Eram um casal tão encantador!
Braddon também engoliu sua amargura.
―Foi como Romeu e Julieta ― Respondeu lorde Winkle que no baile que seguiu à cerimônia
perguntou se não odiava Patrick por ter roubado a noiva ― Não podia me interpor entre eles.
Como Tristan e…
Interrompeu-se sem saber o que dizer. Como raios se chamavam os amantes que tinha
estudado no colégio?
―Tristan e Isolda? ― Interveio amavelmente a senhorita Cecilia Commonweal, a quem
chamavam Sissy.
―Exatamente.
―Sem embargo ― Fez notar Sissy ― Tristan traiu seu tio pelo amor de Isolda, de modo que é
menos romântico que Romeu e Julieta. Abelardo e Eloisa são também uns casais famosos, mas
acredito que Abelardo teve um desgraçado acidente, de modo que tampouco é o exemplo
perfeito.
Braddon a olhou com interesse. Ela não estava mal apesar de seus enormes dentes e da
ofegante maneira que tinha de falar. Uma semana antes teria podido pensar em pedir sua mão.
Mas isso já tinha terminado.
Como ele não dizia nada, Sissy continuou:
― A verdade é que a história de Romeu e Julieta é mais triste não acha lorde Slaslow? Ele se
envenenou…
Braddon sorriu enquanto percorria a estadia com o olhar. Se sua mãe zangava-se pelos
arredores o melhor que podia fazer era desaparecer.
Tomou muito mal a ruptura de seu compromisso, desmaiou em cima do sofá enquanto pedia
os sais. Mas quando Braddon tentou desparecer dali deixando que suas irmãs se ocupassem dela,
ficou em pé de um salto e soltou um sermão para lhe recordar que tinha a obrigação de casar-se e
que devia fazê-lo sem perder um segundo.
Bom, pois ele ia se casar, mas não com o tipo de mulher que sonhava sua mãe. Graças a Deus
não tinha apresentado a nenhum de seus amigos a Madeleine. Só tinha que falar com Sophie
antes de poder retirar-se. Fazia tudo o que estava em sua mão para convencer às pessoas mais
importantes de Londres de que Patrick e Sophie se casaram por amor.
Esticou-se de repente como um cão cheirando uma presa. Precaveu-se de algo alarmante.
―Senhorita Commonweal…
Inclinou-se diante ela. Tinha sido treinado por uma perita; sua mãe; e suas reverências eram
tão inclinadas que era preocupante. Sissy viu a incipiente calvície aproximar-se e depois voltar-se a
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afastar dela.
Ela pôs uma mão enluvada em cima do braço.
―Quereria me acompanhar de volta com minha mãe milorde?
Braddon se mordeu o lábio inferior.
―Não posso senhorita Commonweal. Sua mãe está falando com a minha e…
Ela sorriu com cumplicidade. Sabia tudo sobre mães suscetíveis.
―Não gostaria de conversar um momento com os recém-casados? ― Propôs ele ― Acabam de
entrar.
― Eu adoraria milorde ― Respondeu Sissy aliviada também.
Abriram-se caminho entre as pessoas e, um minuto depois, Sissy se encontrou diante de
Patrick Foakes, ao qual mal conhecia.
― Nos perdoe um momento quer Patrick? ― Disse Braddon levando Sophie a um lado.
Sissy estava morta de vergonha. O que podia estar dizendo Braddon a Sophie? E que estaria
pensando o noivo?
Patrick Foakes tinha o dom de permanecer impassível; entretanto Sissy pensou que era
melhor tê-lo como amigo que como inimigo.
― Ouvi dizer que vão viajar em viagem de núpcias ― Disse um pouco nervosa ― Imagino que
não irão ao continente em vista da situação política.
Patrick lhe dedicou um sorriso, não recordava seu nome embora acreditava que era Sissy, mas
se perguntou por que levava essas ridículas plumas de peru na cabeça quando as mulheres mais
elegantes já tinham deixado usar a tempo.
― Só vamos fazer um cruzeiro ao redor da costa ― Disse ―Embarcamos esta mesma noite.
― Esta noite? Acreditava que os navios só podiam sair com a maré alta e…
Patrick já não a estava escutando. Que demônios estava fazendo Braddon com sua esposa?
Sua esposa. Gostava como soava isso. Podia ver seu magro braço atrás de uma coluna
enquanto Sissy Commonweal continuava falando das marés.
Patrick estava bastante contente consigo mesmo. Fazia o que tinha que fazer. Tirou a
virgindade de uma jovem antes do matrimônio, de modo que poderiam gozar esta noite sem
preocupações. Primeiro tiraria o vestido, depois beijaria um ombro, descendo com o passar do
braço…
Sua imaginação se viu interrompida por duas coisas: para começar, a senhorita Commonweal
tinha deixado de falar e depois ele estava cada vez mais zangado. A conversa entre Sophie e
Braddon não era a melhor maneira de convencer às pessoas de que a este último dava igual a ela
tivesse quebrado o compromisso. Além de que estavam falando?
Sissy, terrivelmente molesta, olhava-se as pontas de seus sapatos rosas.
Todos puderam ouvir de repente a voz do conde Slaslow que dizia quase gritando:
―Além me deve isso!
Depois Sissy se deu conta de que Patrick tinha saído de seu mutismo e estava sorrindo
amavelmente. Certamente tinha ouvido Slaslow mais não parecia estar preocupado.
― Quer dançar? ― Perguntou ele agarrando-a pelo braço para levá-la para a pista de baile.
―Bom…
Olhou a Braddon e a Sophie que estava discutindo.
―Não preferiria dançar com sua esposa?
O sorriso de Patrick se fez um pouco mais longínqua.
―Certamente que não, já que quero dançar com você.
Dizendo isto levou a pesada mulher até a fileira de bailarinos.
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―Não vou fazê-lo, casarei-me com a filha de um aristocrata francês morto na guilhotina em
1793.
Ela ficou boquiaberta.
―OH não, Braddon! Isso é impossível!
― Nada disso! ― Replicou inflexível ― E você vai ajudar-me.
Ela negou com a cabeça.
―Deve-me ao menos isso. Rompeu nosso compromisso sem me avisar, no dia seguinte de me
ter convencido de que te raptasse. Imagine o que pareço agora!
Sophie avermelhou de vergonha.
― Lamento Braddon ― Disse humildemente ―Mas não posso… O que eu poderia fazer para te
ajudar para que se casasse com essa mulher?
― Será sua professora. Ensinará a se comportar, você conhece todas as regras de etiqueta; as
ensinará e depois ela irá a um baile simulando ser uma aristocrata francesa. Então eu a conhecerei
e me casarei com ela o mais rapidamente possível antes que as pessoas comecem a fazer
perguntas sobre ela.
―Está louco ― Murmurou ela fascinada por sua determinação ― Não vai funcionar. As
pessoas não podem transformar-se em membro da aristocracia francesa da noite para o dia.
― Não vejo porque não ― Insistiu Braddon pondo a expressão de teimosia de um buldogue
que sua família tanto temia ― Não é nada difícil ser uma dama. E, além disso, Madeleine é
francesa, ninguém pode esperar que se comporte exatamente igual às damas inglesas. Há muitos
nobres franceses em Londres e apostaria a que a metade deles são uns impostores.
Sophie, em efeito, tinha ouvido seu pai dizer o mesmo.
― Isso não resolve o problema de transformar a sua amiga em uma dama.
―Ela o é por natureza! ― Afirmou Braddon ― Não será muito difícil Sophie. Ensine-a vestir-se,
a agitar um leque, esse tipo de coisas. Pode fazê-lo e além me deve isso. Você me abandonou e
não quero voltar a pedir a mão de uma mulher que me não me importa nada.
―Não fui eu quem quebrou a perna ― Objetou ela olhando especificamente a perna dele.
― Vou começar com sua educação, Sophie. Ensinarei tudo o que sei, mas não poderei dizer o
que minha mãe repetiu a minhas irmãs durante anos. Tem que me ajudar. A amo!
Patrick estava dando voltas pelo salão de baile enquanto ia em direção a sua esposa e
Chatwin, mas o detinham sem cessar os convidados para felicitar. Quase tinha chegado a seu
objetivo quando lorde Breksby apareceu diante dele como uma serpente de uma caixa.
― Parabéns, milorde ― Disse ― E meu agradecimento. Ouvi dizer que ia fazer um pequeno
cruzeiro ao longo da costa e suponho que de vez em quando olhará para terra não?
Patrick o saudou.
― Certamente.
― Estou impaciente por ouvir o que tiver que me dizer sobre as fortificações quando voltar. E
espero que seu casamento não seja um obstáculo para sua viagem ao estrangeiro no ano que
vem.
Patrick deu de ombros.
―Certamente que não ― Disse com altivez.
O ministro baixou o tom.
― Então quando voltar de sua lua de mel terei que lhe falar do presente de que falamos.
Patrick demorou uns segundos em compreender que estava falando do cetro.
― Estou ao seu dispor.
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Capitulo 14
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Quando Patrick e Sophie por fim apareceram na ponte da embarcação, o sol já estava alto no
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céu.
Ela piscou os olhos e tremeu ligeiramente. Ao seu redor, e até onde lhe alcançava a vista, só
havia ondas coroadas de espuma e gaivotas gritando.
―Estamos em alto mar?
―Certamente que não. Enquanto haja gaivotas a terra não estará longe. De todas as formas
não nos afastaremos muito da costa nesta viagem. Rodearemos a Cornualha e depois atracaremos
em Gales. Patrick considerou por um momento falar das fortificações, mas depois desistiu. Já
haveria tempo de fazê-lo e o tema não era muito romântico.
― É uma pena que não possamos ir a Itália como fizeram meus pais em sua viagem de núpcias
― Disse ele― Foram ao Livurne.
― Livurne ―Repetiu ela ―Refere ao Livorno?
― Exatamente. Estudou geografia no colégio?
―OH não! ― Respondeu ela prudentemente ―Estudei no convento de Cheltam e ali
acreditam que aprender geografia é algo inútil para as damas já nunca saem da Inglaterra.
―Onde aprendeu o nome italiano para o Livurne então?
Patrick vigiava inconscientemente o estado das velas e as manobras da tripulação.
―É uma dessas coisas que se aprendem aqui e lá.
―Fala italiano?
― Não! ― Disse ela rapidamente ― Não sei grande coisa de outros idiomas.
E se ele chegasse a encontrar a gramática turca que tinha escondido entre as anáguas o que
aconteceria? Miúda idiota era! Possivelmente devesse atirá-la pela amurada quando ele não
estivesse olhando.
―Ninguém espera que uma dama saiba outro idioma que o seu próprio ― Assegurou Patrick
para confortá-la ― Mesmo assim, muitas das que conheci no Almak´s não eram capazes de fazê-
lo. Você com seus antecedentes devem falar bem o francês.
Ela assentiu.
―Eu sou uma nulidade para os idiomas― Confessou ele dando um pedaço de laranja ― A
língua francesa e da provocação só conheço algumas palavras. Sabe qual é a frase mais importante
em qualquer país?
Sophie negou com a cabeça.
―Tente adivinhá-lo.
Ela pensou. Seu conhecimento dos idiomas era tão acadêmico que lhe custava imaginar-se a
se mesma em terras estrangeiras.
―“Onde posso encontrar um agente da polícia?” ― Arriscou-se.
Ele levantou os olhos ao céu.
― Me acredite, as forças da ordem são frequentemente mais uma complicação que outra
coisa.
―“Poderia me dizer onde há uma estalagem?”
―Não.
Ele ofereceu outro gomo da laranja.
―“Faria-me a honra de aceitar este modesto presente de minha parte e de meu país, gentil
dama?”
Ela rompeu a rir.
―Sei dizê-lo em quatorze idiomas ― Precisou ele ― Desgraçadamente a única coisa que sei
dizer em galês, de modo que teremos que nos conformar com o inglês.
Sophie engoliu seco. Era muito tarde para revelar que ela falava galês perfeitamente.
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senhor. Na cozinha, o cozinheiro francês contratado a preço de ouro, estava muito zangado.
― Meu jantar estragou por completo ― Se lamentou Florent.
O assado podia esperar, mas o pescado, sua obra de arte, era irrecuperável.
Simone se sentiu muito contente por não ter que abandonar seu camarote porque as náuseas
seguiam dominando-a. Sua senhora não necessitava sua ajuda. Tomou o láudano rindo sozinha.
Lady Sophie devia estar dormindo com o vestido da Eva, pensou.
Só quando todos, exceto o homem que estava de guarda, estavam já adormecidos, Sophie e
Patrick deslizaram silenciosamente para a cozinha.
A sopa de aspargos estava esperando, a garrafa de champanha estava no cubo de gelo fundido
e os pãezinhos estavam duros mais comestíveis.
Sentaram-se em cima da mesa, muito preguiçosos para tirar as cadeiras amarradas à barra e
tomaram uma frugal janta regada com champanha.
Um banquete digno de um rei.
Capitulo 15
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―Só serão três semanas, Maddie. Dentro de três semanas a conhecerei em um baile e me
apaixonarei perdidamente por você e nos casaremos com uma permissão especial como fez
Patrick e Sophie. Depois ninguém mais fará perguntas sobre seu passado. Será a condessa de
Slaslow e ninguém discute as origens de uma condessa.
Pela primeira vez ela pareceu vacilar.
―Não serei capaz de fazê-lo ― Disse apoiando a testa contra o ventre da égua ― Não sou uma
aristocrata, Braddon, só sou a filha de um adestrador de cavalos.
Ele já podia sentir o aroma da vitória.
― Desde quando os adestradores de cavalos citam Diderot e Rousseau? Seu pai tem mais
livros que sela de montar.
Ela olhou diretamente nos olhos.
― É certo que recebi uma boa educação. Sei ler, mas isso não me transforma em uma dama.
Não sei dançar nem sei me comportar como uma lady. Sou capaz de curar uma fratura mais nuca
aprendi a usar uma agulha.
Braddon passou por debaixo do pescoço da égua para ir a seu lado.
―Não se subestime Madeleine. É mais uma dama que muitas das mulheres que conheço. O
bordado é uma tolice, minhas irmãs são uma nulidade nisso e minha mãe sempre está se
queixando. Não tocam nem harpa nem a espineta e cantam horrorosamente. Não são essas coisas
que fazem uma dama.
Dirigiu-lhe um implorante olhar.
―Nega-se a entender, Braddon. E minhas roupas? Eu não sou nada elegante e lady Sophie
sempre está na moda.
Ela lia às vezes o Morning Post e ali se falava dos lugares aonde lady Sophie ia habitualmente e
descreviam seus trajes. A ideia de conhecê-la aterrorizava Madeleine, de modo que a perspectiva
de tê-la como professora de protocolo e maneiras muito mais.
―Sophie se encarregará de tudo! ― Respondeu Braddon com indiferença ― Darei dinheiro
para que a vista.
Gracie o obrigava a estar pego ao Madeleine.
― É impossível! ― Gritou ela exasperada golpeando a égua com a mão.
Esta recuou os apertando mais um contra o outro.
―O que está fazendo?
Desta vez ela parecia estar realmente furiosa.
― Se aparte! Sei o que pretende pedaço de libertino.
A modo de resposta ele a abraçou.
― Te amo Maddie. Te amo e te desejo. Suplico carinho, faz por mim para que possamos nos
casar.
―Não! ― Se obstinou ela tentando soltar-se.
Braddon estava colado aos seus quadris de um modo totalmente indecente.
― Bem, casarei contigo de todos os modos ― Disse com tranquila determinação ― Viveremos
na Escócia ou na América. Não me importa enquanto possamos estar juntos.
Madeleine sentiu um tombo no coração.
―Não pode. É conde e o expulsariam da sociedade.
Ele a abraçou com mais força.
―Estou falando serio ― Murmurou ele esfregando sua bochecha contra o cabelo dela ― Não
me casarei com ninguém mais que contigo e se negar a fingir que é uma aristocrata me casarei
contigo pelo que é.
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Quando o Lark fez sua primeira escala na costa galesa, Patrick e Sophie, sentados na ponte,
estavam desfrutando de um estranho momento de agradável temperatura e ela estava ganhando
em seu marido no backgamon.
― Não é justo! ― Queixou-se ele ― Sua única estratégia é a de tirar duplas na metade das
vezes.
Sophie sorriu.
― Meu avô efetivamente dizia que esse era meu único talento no jogo.
Patrick lançou um olhar de admiração.
―Defende-se muito bem no xadrez, querida.
―Ora! Você ganha duas vezes de cada três.
―Sim, mas normalmente ganho sempre, e nunca antes tinha ganhado de nenhuma mulher ―
Acrescentou ele um tom algo molesto.
―Rompe meu coração, querido Patrick, vê-lo sofrer desse modo.
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Patrick foi ao camarote assobiando. Esteve a ponto de bater mais depois pensou melhor. Com
um pouco de sorte surpreenderia Sophie tomando um banho.
Entretanto a encontrou sentada em sua poltrona favorita lendo. Ela não ouviu que abria a
porta e ele permaneceu uns instantes contemplando-a.
Enquanto lia, absorta na leitura, movia os lábios. Pobrezinha, pensou ele. A educação que
recebiam as mulheres era tão rudimentar que ainda lhe custava ler sem mover os lábios.
Por fim ela ouviu o som das botas no piso quando ele se aproximou. Deu um pequeno grito,
saltou de seu assento e depois se voltou a sentar com expressão contrariada.
―Assustou-me!
―Esperava te encontrar em “deshabillé”.
Ela pôs um sorriso compungido.
―O que estava fazendo?
―Estava te esperando ― Contestou ela inocentemente.
― Não minta Sophie. Estava lendo. E mais, está sentada em cima do livro.
Ela o olhou tranquilamente.
― É certo.
Recordou o que seu antigo companheiro de classe, David, havia-lhe dito sobre seu marido.
Patrick detestava as mentiras, qualquer espécie de mentira. Mas se descobrisse do que estava
fazendo em realidade, zangaria-se com ela.
Patrick pensou que ela estava lendo uma novela romântica e não queria que ele soubesse, de
modo que se afastou com tato. Mas, enquanto trocava de camisa, viu-a pela extremidade do olho,
guardando cuidadosamente o livro em uma gaveta.
Era possível que Heloise nunca tivesse permitido que sua filha lesse verdadeira literatura,
pensou, e teria um ataque de apoplexia se a encontrava com uma novela. Certamente era culpa
da muito estirada marquesa que sua filha tivesse dificuldades para ler.
Tenho que falar com Sophie prometeu. Não posso ter uma esposa que se envergonha de ler
ou que pensa que as novelas são imorais.
― Deveria chamar a Simone ― Disse ― Logo atracaremos. Há um antigo monastério onde
poderemos passar a noite. Espero que tenham uma cama cômoda porque dormir a bordo do Lark
vai ser um pouco movido. Preferiria que nos enfrentássemos à tormenta em terra firme.
Sophie o olhava com atenção. Um momento antes, quando havia feito notar que estava
sentada em cima do livro tinha uma expressão muito rara, como se soubesse que se tratava de
uma gramática turca e lhe desse igual. Mas devia estar equivocada.
Chamou a Simone e Patrick lhe deu um beijo na testa.
―Veem a ponte quando quiser ler, querida― Disse ele.
Assim que ele se foi, ela escolheu um vestido abrigado do armário. Patrick frequentemente a
chamava “querida” e, embora ela soubesse que era um apelativo normal entre maridos, cada vez
que o fazia lhe tremiam as pernas e os olhos lhe alagavam de lágrimas.
Um pouco mais tarde, Simone fez irrupção no camarote, despenteada e com as bochechas
avermelhadas.
―Temos que ir senhora! John diz que está levantando o vento e que o céu esta escurecendo.
―Obscurecido ― A corrigiu Sophie que só se pôs as meias.
― Como se diga, tem uma cor muito má e John diz que terá que abandonar o navio.
Simone tinha pego afeto ao John, o segundo, e se gabava de saber muito de navegação.
Com um suspiro, a jovem assentiu e Simone lhe pôs o vestido apressadamente.
―Não há tempo para penteá-la bem ― Continuo atando o cabelo de sua senhora em um
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rudimentar coque.
A donzela tinha acabado por sobrepor-se a seu enjoo mais não queria ficar no navio com mau
tempo por anda do mundo. O Lark certamente se soltaria de suas amarras lançando-se sobre as
ondas, para acabar no oceano, estava segura disso.
Em poucos minutos tinha posto um casaco sobre os ombros de Sophie, tinha-lhe dado um
agasalho de pele e a tinha empurrado para a porta.
Na ponte, os marinheiros arriavam as velas e asseguravam os mastros.
Sophie foi reunir se com Patrick perto da amurada. O céu parecia um tafetá furta-cor, coberto
com estrias amarelas, e as nuvens só eram umas tênues sombras. O vento soprava com força.
Patrick estava dominado pela excitação.
―Vê esse céu plúmbeo Sophie? O vento está soprando mais entre as borrascas o ar é pesado e
está quieto.
Ela sentiu. Estava contente de que o Lark tivesse soltado a âncora.
Ouviu-se um ruído surdo e um grito. A tripulação tinha jogado um barco ao mar.
― Agora vem o mais difícil ― Disse Patrick alegremente ― Sua donzela e você têm que descer
pela escada de corda. Não podemos ir até a borda porque não há suficiente profundidade.
Ela se inclinou para olhar o lado do navio pelo qual caía a escada de corda de uma forma que
impressionava. Por outra parte, a água tinha uma cor cinzenta que prometia um banho gelado a
qualquer que caísse.
―Te levarei ― Propôs ele.
―Não! ― Protestou Sophie ― Descerei sozinha. Simone!
A donzela estava completamente aterrorizada.
―Se descer por essa escada sem gritar, sem desmaiar e sem cair ou pedir ajuda, darei de
presente o vestido de baile com rosas de tecido ― Ela disse.
― Aquele que tem uma cauda?
Sophie assentiu com a cabeça.
No rosto da criada apareceu uma expressão de determinação. Sem hesitar mais, aproximou-se
e permitiu que um marinheiro a colocasse na parte superior da escada. Começou a descer com
valentia. Sophie esperou a que ela tivesse chegado ao bote e estivesse sentada para dirigir-se a
sua vez para a escada. Dispunha-se a passar uma perna por cima da amurada quando uns grandes
braços a rodearam.
― E você não quer nenhuma recompensa por não gritar?
Sophie sorriu.
―Me daria de presente um de seus coletes bordados?
―O único que possuo quem bordou foi minha tia Henrietta com azulejos e campainhas. É
terrivelmente vistoso e muito grande para você.
― Meu Deus! ― Gemeu Sophie ― Temo que tenha razão, não tenho coragem para descer por
essa escada, sobretudo quando o prêmio é tão deficiente.
― Endiabrada!
Patrick mordiscou sua orelha e ela se apoiou em seu sólido peito. Uma doce calidez a invadia a
pesar o vento que golpeava suas bochechas.
― De modo que a roupa não é o suficientemente atraente para minha esposa.
― Eu adoro os adornos! ― Protestou Sophie.
―Entretanto não passa horas se arrumando e não fala de maneira interminável sobre rendas e
demais estupidezes. Pareceriam o suficientemente estimulantes uns beijos?
―Acredito que os tenho grátis ― Fez notar ela com doçura.
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Quanto a Patrick, permaneceu em silêncio limitando-se a jogar um rápido olhar a sua mulher.
O homem começou de repente a falar a toda velocidade.
―Não tenham medo, não tenham medo. Não quero assustar as damas, não. De fato, bem,
necessito que me deem sua palavra de não dizer nada antes que os leve a essa casa. Porque ali há
algo que não vão gostar, ou possivelmente sim, não sei; mas vocês vêm de Londres, suponho, de
modo que têm que me jurar que guardarão o segredo.
Sophie olhou a seu marido com uma interrogação nos olhos. Ele estava olhando fixamente ao
Hankford com o cenho franzido.
―Está retendo alguém contra sua vontade? Feriu alguém?
―OH não! Não! ― Exclamou o galês ―Para falar a verdade se trata do contrário. Nós curamos
às pessoas. Entretanto o problema é a quem estamos curando. Mas não posso ir mais longe, ou
melhor, dizendo, vocês não podem ir mais longe, se se negarem a me dar sua palavra de honra de
que não vão contar a ninguém o que vão ver.
Patrick olhou a Sophie que sorriu. Poucos homens tivessem pedido a opinião de sua mulher
em tais circunstâncias, nem sequer de forma tácita.
―Acredito que deveríamos acompanhar o senhor Hankford ― Disse sem fazer caso do gemido
da Simone.
Patrick já se deu conta, ao ver as numerosas perguntas, de que sua esposa tinha uma
curiosidade insaciável. Teria que ter suspeitado que se lançasse de cabeça ao perigo.
Olhou a Hankford com severidade e este se acovardou de forma evidente. Então decidiu que
não era perigoso e assentiu com a cabeça.
―Muito bem. Se não fizer mal a ninguém, tem minha palavra de que não diremos nada às
autoridades de Londres sobre suas atividades.
Sem dizer uma só palavra, Hankford deu meia volta e começou a subir pela longa escada do
antigo monastério.
Os olhos do Sophie estavam brilhantes.
―O que pode estar fazendo aí acima?
Patrick chiou os dentes. Decididamente sua mulher lia muitas novelas, devia estar imaginando
que se dirigiam para um castelo encantado ou alguma tolice pelo estilo.
―Deve fazer contrabando ― Disse com segurança antes de virar-se para a Simone quem
estava tremendo e parecia à beira de uma crise nervosa ― O monastério ou a Lark ― Recordou
amavelmente.
A donzela olhou as nuvens carregadas de tormenta.
― O fuzil que tem é uma quinquilharia que está fora de uso ― Precisou Patrick ―E Hankford
não parece um perito em armas.
De repente Simone se deu conta de que Sophie estava seguindo o homem.
―Não permita que a senhora entre só na guarida dos ladrões senhor!
Antes que o pudesse dizer nada, adiantou e se apressou a alcançar Sophie.
Patrick a seguiu dando um suspiro. Ao final das escadas se abriu uma enorme porta de
carvalho. Entrou. O interior não se parecia em nada a uma guarida de ladrões. Em realidade estava
tão vazia como uma cripta. O galês se desfez de suas roupas e estava de pé ao lado da grande
lareira de pedra.
Patrick se dirigiu para ele.
―E bem? Você vai desvendar o seu terrível segredo? ― Perguntou um pouco irritado.
John Hankford o olhou indeciso.
― Aqui não acontece nada errado, nada absolutamente. Isto é só um hospital.
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Patrick riu.
―Então porque nos pediu que guardemos silêncio?
De repente ele entendeu.
―Por Deus, temos caído em um ninho de simpatizantes de Bonaparte!
John ficou imediatamente à defensiva.
―Não somos partidários dos franceses, nada disso. Mas tampouco somos dos ingleses. A única
coisa que fazemos é curar a uns poucos meninos que saiam feridos e fugiram da guerra.
―Desertores. Como chegaram até aqui? ― Perguntou secamente Patrick.
― Estavam em um hospital abandonados aos duvidosos cuidados de um médico bêbado e
estavam morrendo como moscas. Então o mais jovem deles colocou a tantos como pôde em um
barco e se foram. É só um punhado de meninos. Dois deles mal têm quatorze anos. Os franceses
os deixam morrer.
― Que horror! ― Exclamou Sophie ― É maravilhoso o que você faz senhor Hankford.
Dirigiu-lhe um cálido sorriso ao galês.
―São desertores Sophie ― Recordou seu marido com firmeza.
Possivelmente fossem ou possivelmente fossem soldados franceses em plena forma que
fingiam estar feridos.
Ela deu de ombros.
―São garotos e estão sofrendo. Quem podia reprovar nada ao senhor Hankford por curá-los?
Patrick conhecia menos a uma dúzia de pessoas que estariam muito interessadas em ter
conhecimento desse refúgio de bonapartistas1, e o primeiro de todos, Breksby. Essa era
precisamente o tipo de situação que preocupava os ingleses até o ponto de lhes obrigar a levantar
fortificações na costa de Gales. Mas para que serviam as fortificações se um grupo de iluminados
simplesmente convidava os franceses a ir se refugiar ali?
―Já sabe querida Sophie ― Disse com condescendência ― Que a Inglaterra declarou guerra a
França mês passado.
―É obvio, todos sabemos ― Replicou ela com uma encantadora ruga entre os olhos ― Não
tinham outra escolha depois de que Addington decidiu ficar com Malte. Isso pôs fim ao tratado de
paz.
Patrick sorriu. Decididamente, sua esposa não deixava de lhe surpreender.
Ela já se estava dirigindo para John.
― Você teria a amabilidade de nos deixar visitar seu hospital? Não sei nada de medicina ―
Anuiu rapidamente ― Mas sei falar francês.
Os olhos do homem se iluminaram.
― De verdade? É uma sorte. Eu sei algumas palavras e o sacerdote também, igual a minha
mãe. E o menino que os trouxe até aqui, Henri, fala um pouco de inglês. Entretanto há muitas
coisas que não podemos entender.
Um sacerdote? Perguntou-se Patrick. Um sacerdote estava metido em atividades
antipatrióticas… Entretanto se Hankford e sua mãe curavam a uns soldados franceses sem falar
seu idioma, então não deviam ser uns verdadeiros simpatizantes de Bonaparte.
1
O bonapartismo é uma ideologia política de origem francesa, inspirada na ação de Napoleão Bonaparte. Em sentido
estrito, o bonapartismo visa colocar um membro da família de Napoleão no trono imperial da França. Em sentido
amplo, os bonapartistas são partidários de um estado nacional autoritário, centralizado, liderado por um chefe
fundador de dinastia. O sistema repousa sobre a fusão das elites e a adesão popular.
Esse tipo de sistema se instala quando nenhuma classe ou grupo da sociedade tem poder suficiente para ser
hegemônico, deixando a um líder suficientemente habilidoso o poder de mediar as diversas forças sociais.
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Capitulo 16
No dia seguinte pela manhã, Sophie despertou muito cedo. Saiu da cama sem fazer ruído para
não despertar Patrick que estava dormindo enroscado nos lençóis que cheiravam um pouco a
mofo. O chão de pedra estava frio e se apressou a colocar o vestido que usava no dia anterior, sem
a ajuda da Simone. Depois calçou as botas de cano longo, pegou o casaco e saiu do quarto.
Assim que ela saiu, Patrick abriu os olhos e olhou as travessas, cheios de dúvidas, que estavam
quatro metros por cima de sua cabeça. Não importava o que fizesse para conquistá-la, sua
pequena esposa não cedia. Embora ele não fosse o libertino que ela pensava, suas antigas
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amantes tinham jurado amor eterno assim que a relação avançou até o ponto que tinha chegado
com Sophie.
Franziu o cenho. Isso soava muito arrogante. Tinha acreditado que Sophie esqueceria sem
problemas Braddon, o homem com o que estava prometida. E nunca tinha desejado todas essas
declarações de amor que tão facilmente obtinha das outras mulheres. Mas desta vez era
diferente.
Emitiu um grunhido de frustração. Queria ouvir essas palavras saindo dos lábios de Sophie.
Senhor tinha caído na armadilha! Apanhado pelas tradicionais palavras do matrimônio e por seu
obsessivo desejo.
A sombra de um sorriso suavizou seus traços. Depois de tudo, ela era sua mulher, e se ele
estava pego em uma armadilha, ela também. O que importava que não dissesse as palavras de
amor que ele estava desejando ouvir? Pode que não as pensasse, e também era possível que as
que as tinham pronunciado antes que ela só fizessem para lhe agradar.
Depois recordou a sua esposa arqueando-se contra ele, com a respiração entrecortada. Em
realidade ela sim que dizia o que sentia embora não o fizesse com palavras. E além para que?
Tinham uma relação honesta sem falsas promessas.
Sentou na cama com nova determinação. Acabaria por arrancar essas palavras de Sophie, já
que, embora fossem umas frases carentes de valor, queria ouvi-la quando as dissesse. Precisava as
ouvir. Por que…
Preferiu vestir-se e sair antes que enfrentar esse “porque”. Por que o que alguma vez tinha
dependido de ninguém precisava escutar palavras de amor de uma mulher? Era desconcertante.
Tomou o café da manhã na cozinha. Florent tinha ao seu redor toda uma corte de galesas que
não entendiam nada dos que dizia mais que babavam de admiração o vendo romper os ovos com
uma só mão; um de seus maiores lucros.
O céu que podia ver depois do tecido encerado que fazia às vezes de cortina, parecia estar em
calma de novo. A tormenta já tinha passado e Patrick tinha pressa por voltar para a Lark para
comprovar se tinha sofrido danos durante a tempestade.
Reuniu-se com Sophie na sala de padres, onde estava falando com a mãe de Hankford. Henri,
evidentemente, estava colado a ela.
―O jovem Henri pegou carinho a sua esposa ― Disse a voz de Hankford atrás dele ― Não
deixa de dizer coisas. Sobre sua mãe, sobre tudo…
―O que fará você uma vez que Henri e os outros se recuperaram?
O galês parecia preocupado.
―Não sei exatamente. Alguns deles já estão o bastante bem para ir, mas não sei onde os
enviar. Não há muitos franceses nesta região de modo que os descobririam em seguida. E não
podem voltar para seu país porque se converteriam em bola de canhão.
Patrick suspirou.
― Os envie a Londres.
Hankford deu uma olhada desconfiado.
― Os envie a Londres ― Repetiu Patrick ― E lhes encontraremos trabalho. Londres está cheio
de franceses, ninguém se fixará neles.
Os azuis olhos de Hankford se iluminaram.
― Isso é muito amável de sua parte senhor. Muito, muito amável. Sua dama ofereceu o
mesmo mais disse que não porque temia que você não gostasse. Como diz a Bíblia, é o homem
quem manda na casa. É verdadeiramente muito amável por sua parte.
Patrick atravessou a sala com uma pergunta lhe rondando na cabeça. Não havia dito John que
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sua mãe só falava gaélico e um pouco de francês? Então em que idioma estava falando com o
Sophie?
Entretanto quando se uniu às duas mulheres, a senhora Hankford já havia tornado com seu
paciente. Sophie o recebeu com um sorriso.
― Bom dia Patrick. Assegurei a Henri que estaríamos muito felizes se viesse conosco.
― Senhor ―Cortou Henri ―Eu lhe disse que você não gostaria que fosse seu convidado, mas
possivelmente possa me dar um trabalho nos estábulos.
Patrick olhou ao adolescente cujo pequeno rosto refletia sua angústia. Preparou-se para sofrer
uma decepção, mas seus olhos cinza seguiam estando carregados de orgulho.
― Eu adoraria te conhecer melhor ― Replicou Patrick ― Mas como convidado e não como
moço de estábulos.
Henri negou com a cabeça.
―Não estou pedindo caridade, tenho que pagar pelo alojamento.
―Quem era seu pai Henri?
O menino ficou rígido.
―Não tem importância porque morreu quando eu era muito pequeno. Criou-me o senhor
Pairie, um pescador.
―Quem te ensinou a fazer reverências? ― Perguntou Sophie.
―Tinha uma babá inglesa, mas morreu igual a minha mãe.
Henri era o filho de um cavalheiro, isso saltava à vista. Possivelmente fosse possível encontrar
a sua família em Londres.
―Sabe qual era o sobrenome de seu pai? ― Insistiu Patrick com tom amável mais firme.
―Latour ― Disse Henri de má vontade ― O conde de Saboya.
Sophie se inclinou para lhe agarrar as mãos.
―Eu gostaria de muito que viesse a Londres conosco. Às vezes me sinto sozinha e você seria
muito boa companhia.
Patrick dissimulou um sorriso. Sophie sozinha?
Henri levantou rapidamente seus olhos rodeados de largas pestanas antes de voltar a olhar ao
chão.
―Acredito… Meu lugar não está em uma formosa mansão ― Murmurou com uma voz próxima
ao pranto ―Meu pai não poderá corresponder a sua amabilidade.
― Seria-me muito útil ― Interveio Patrick ― Me ausento de casa com frequência e, como
minha esposa acaba de dizer, muitas vezes se encontra sozinha. Você poderia ser seu… Ajudante.
Henri mordeu o lábio inferior.
―Não pode voltar a França ― Insistiu Sophie ―E tampouco pode ficar eternamente neste
monastério.
Como o menino não parecia estar convencido de tudo, Patrick tomou a substituição.
―É o que seu pai teria desejado.
―Não me lembro de meu pai.
Maldição, o menino era mais teimoso que uma mula!
―Então terá que aceitar que tenho razão ― Replicou Patrick com seu tom mais severo ― seu
pai teria gostado que vivesse na mansão de um cavalheiro e não em um monastério galês, e ainda
gostaria menos que o fizesse em um estábulo.
Sophie se incorporou.
―Bem, já está decidido! Henri quer ir procurar Simone e a Florent e dizer que estamos
preparados para voltar para o Lark?
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―E o que aconteceu?
―A meu pai tinha abandonada sua última amante, o qual significava que já não podia fazer
raiva a minha mãe nos salões de baile. Tinha que pôr os olhos no pessoal da casa. Nessa época
minha mãe tinha substituído a todas as donzelas por mulheres muito velhas e muito feias, de
modo que só ficava a senhorita Dumas.
Enojado e fascinado ao mesmo tempo, Patrick insistiu:
―O que fez?
―Se o recordar bem a beijou apaixonadamente no salão azul.
―E?
― Ela bateu nele com a bandeja de brandy.
Patrick estremeceu.
―Realmente não foi culpa sua ― Continuou Sophie ―Era quão único tinha à mão. Foi a
primeira vez que meu pai despediu uma babá. E o teve um olho arroxeado durante vários dias. Eu
estava feliz porque ele ficou em casa todas as noites durante uma semana. Depois da senhorita
Dumas enviaram-me a um colégio. Acredito que minha mãe já tinha perdido as esperanças de
encontrar a babá perfeita.
Patrick forçou um sorriso. Não era de estranhar que ela pensasse que ele ia comprar negligé
para outras mulheres assim que lhe desse as costas. A casa do marquês devia parecer uma casa de
loucos.
Tinham chegado ao mole onde esperava o bote. Voltaram para navio. Inclusive Simone subiu
pela escada de corda sem pigarrear, muito contente por poder escapar do violento vento que se
levantou fazendo que desaparecesse o último vestígio de tormenta.
Patrick acompanhou a sua mulher ao camarote, pôs Henri nas mãos de um marinheiro de
confiança e depois foi procurar Hibbert. Aparentemente o temporal não tinha prejudicado o
veleiro, de modo que decidiu soltar amarras imediatamente.
Curiosamente não tinha pressa por reunir-se com Sophie. Enviou a um marinheiro para que a
informasse que comeria na ponte em vez de fazê-lo no camarote com ela, como de costume.
Só quando esteve só compreendeu de onde vinha seu mal-estar. Maldição, sua mulher se
apaixonaria algum dia por ele quando estava convencida de que todos os homens se pareciam
com seu pai? Parecia que aceitava como evidente que Patrick seguiria os passados do marquês.
Sentiu um tombo o coração. A reação dela era compreensível; fazia falta ser um degenerado
para seduzir a uma mulher em seu próprio dormitório. Um libertino da pior espécie para ser capaz
de roubar a noiva a seu melhor amigo.
No camarote, Sophie, estava a beira do desespero. Era evidente que sua mãe tinha razão
quando dizia que aos homens não gostava das mulheres inteligentes. Nunca antes Patrick tinha
permanecido um dia inteiro na ponte sem ela. Tinha-o decepcionado. A ideia de que ela tivesse
podido passar seu tempo com uma lavadeira devia lhe pôr os cabelos de ponta. Isso por não
mencionar seu conhecimento do gaélico.
Abriu a escotilha e impulsivamente atirou ao mar a gramática turca. Não podia inteirar-se
Patrick de que ela falava sete idiomas.
Quando as sombras começaram a apoderar do camarote, suspirou com tristeza. O pior era
que ela em seu interior tinha desejado que ele se inteirasse de seu talento. Inclusive tinha
desejado vangloriar-se de seus conhecimentos diante dele porque estava muito orgulhosa deles.
Engoliu sua decepção. Patrick era como todos os homens, e ela tinha aprendido que as
decepções de uma esposa não deviam envenenar as relações do casal.
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Terei que aceitá-lo e esquecer-se disso. O mesmo se podia aplicar tanto às coisas grandes
como às pequenas, aos idiomas e às amantes.
Patrick apareceu por fim na hora do jantar, bastante envergonhado por seu comportamento.
O Lark balançava brandamente com as ondas. No dia seguinte poderia ir inspecionar as
fortificações que estavam fazendo.
Passou todo o dia pilotando o navio, admirado pela habilidade de Henri para fazer nós
marinhos, consultando o jornal de bordo do capitão, e todo isso sem deixar de olhar em direção à
escada com a esperança de ver Sophie aparecer. Mas ela não tinha subido e ele sentia falta dela.
Nenhum dos marinheiros se moveu quando o chefe, sem poder suportar mais, abandonou a
ponte para dirigir-se para seu camarote. Hibbert tinha ensinado a não mostrar nenhuma reação
diante qualquer comportamento pouco frequente.
Mas Sophie não estava esperando, estava profundamente adormecida na cama. Surpreso,
Patrick pôde ver os restos de lágrimas em suas bochechas. Simplesmente tinha pensado que se ela
desejasse vê-lo se reuniria com ele. Agora se odiava por isso e se perguntou por que não tinha ido
procura-la.
Ela despertou quando ele lhe acariciou o cabelo.
―O que significa isto? ― Perguntou ele um pouco carrancudo acariciando suas bochechas
ainda úmidas.
Ela sorriu.
―Senti-me um pouco triste esta tarde, isso é tudo. Já sabe que as lágrimas são privilégio das
mulheres.
Ele depositou um beijo sobre seus lábios.
―É porque não te convidei a se reunir comigo para jogar uma partida de backgamon?
―Não.
―Joguei de menos ― Murmurou ele ― Passei o tempo esperando vê-la chegar, minha esposa
dos mil idiomas.
Sophie escrutinou seu escuro olhar, mas esta era indecifrável.
―Não te incomoda que fale gaélico?
―E porque ia incomodar-me?
Parecia sinceramente surpreso pela pergunta.
―Surpreendi ― Continuou ― Não tanto porque falou gaélico; o qual foi uma encantadora
descoberta; mas sim pelo que me contou de sua infância. Não deve ser fácil.
Ela não queria seguir falando do tema.
―E você? Seus pais brigavam frequentemente?
Patrick se tombou sobre um flanco apoiando-se no cotovelo.
―Não sei. Rara vez via meu pai, só nas grandes ocasiões. Suponho que estavam cômodos
juntos porque nunca ouvi dizer o contrário.
Não precisava dizer que as desavenças dos pais de Sophie eram conhecidas por toda a alta
sociedade.
―Como era sua mãe? ― Perguntou ela.
Patrick desenhou a curva da maçã do seu rosto.
― Parecia-se com você. Pequena, delicada… Lembro que nossa babá brigava porque quando
minha mãe ia ao quarto dos meninos, nós, Alex e eu, lançávamo-nos sobre ela enrugando seu
vestido. Ela sempre ia muito elegante, lembro que levava doces. E que cheirava a jacintos
selvagens.
―Que idade tinha quando morreu?
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―Tínhamos sete anos. Morreu dando a luz a um menino que tampouco sobreviveu.
Sophie pôs a bochecha em sua mão e se apertou mais contra ele.
―Sinto muito Patrick.
Ele a olhou. Enquanto falava de sua infância tinha estado olhando fixamente a parede.
―Pertence ao passado ― Disse sorrindo ―Tem algo mais que me dizer querida?
Possivelmente sabe falar norueguês ou sueco?
Houve um pequeno silêncio.
―Não, não ― Assegurou ela negando veementemente com a mão ― Nada mais.
Ele rodou sobre suas costas atraindo-a contra seu peito.
―Estou encantado de ter uma esposa que sabe tanto ― Disse pensativo ― Amanhã
atracaremos ao redor de uma semana. Dormiremos em uma estalagem e poderá regatear com o
hospedeiro.
Ela estava à beira das lágrimas.
―Ficou triste quando a sua mãe morreu?
―Sim. Eu estava muito unido a ela. Alex chamava meu pai para ter longas reuniões com ele já
que era o maior, de modo que eu tinha a nossa mãe para mim sozinho. Consideravam-no como
um prêmio de consolação por não ser o herdeiro. Alex teria dado tudo por poder passar tanto
tempo como eu com ela e os dois sabíamos.
Uma lágrima deslizou pela bochecha de Sophie; não podia suportar a imagem do pequeno
Patrick órfão.
―Chorou muito? ― Perguntou com voz afogada.
Patrick não notou nada, estava perdido em suas lembranças. Ao desaparecimento de sua mãe
seguiu uma semana de pesadelo.
―Se chorei? Sim. Todas as lágrimas que tinha no corpo. No dia anterior a sua morte eu não
tinha levado bem. Tinha contado mentiras e ela me repreendeu como merecia. Mas ninguém
pensou que o parto fosse ser difícil já que quando nascemos Alex e eu, todo se desenvolveu bem.
Essa noite a estive esperando. Sempre vinha a nos dar um beijo de boa noite e eu sabia que ela já
não estava zangada comigo. Mas não veio.
As lágrimas de Sophie caíam sem parar.
―Então me levantei. Levantei-me e saí ao corredor de camisola. Ela sempre vinha! Entretanto,
não cheguei muito longe.
―O que aconteceu Patrick?
Sem se dar-se conta ele a apertou mais contra si.
―Ouvi-a gritar, então voltava para a cama e escondi a cabeça debaixo do travesseiro. Ao dia
seguinte acreditei que tinha tido um pesadelo. Mas ela estava morta.
―Que horror!
Ele se incorporou para olhá-la. Sua bela esposa soluçava como se estivesse rompendo o
coração.
―O que é o que…? Não chore carinho, já terminou.
Ela sem embargou continuou chorando escondendo o rosto em sua camisa e o beijou seus
cabelos. Por fim se tranquilizou e permitiu que Patrick secasse suas bochechas.
―Sinto ― Se desculpou um pouco envergonhada ― Hoje estou de um humor um pouco
melancólico.
Avermelhou ao pensar em todas as mentiras que lhe havia dito. A realidade é que sabia muito
bem de onde vinha toda essa tristeza.
―É porque fiquei na ponte todo o dia? ― Preocupou-se ele.
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Enfrentado à perspectiva de ver sua filha ir para a selvagem América ou lhe permitir que se
fizesse passar por uma aristocrata durante umas semanas, o pai de Madeleine não duvidou muito.
―Você gosta desse gordo? ― Perguntou a Madeleine em um rápido francês enquanto
Braddon se mantinha cortesmente a seu lado.
―Sim papai. E não é um gordo.
―E ― Insistiu o seu pai ― Mas também é conde. Poderia ter sido pior para você. Tem uma boa
situação econômica? ― Continuou dirigindo-se a seu futuro genro.
Este tinha perdido o fio da conversa quando o pai e a filha tinham falado em sua língua. Nunca
tinha se dado muito bem com os idiomas.
―Sim ― Disse com rapidez ― Possuo vinte e cinco mil libras de renda ao ano, uma
propriedade no Leicestershire, casa no Delbington e em Londres. E em meus estábulos há trinta e
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quatro cavalos.
―Trinta e quatro? As famílias importantes nunca têm menos de cinquenta ― Ladrou Garnier.
Observava seu futuro genro com os olhos entrecerrados. Havia muita consanguinidade entre
esses nobres, disse. Esse era o problema do Braddon.
―-Que conde é? ― Perguntou.
Braddon ficou um momento boquiaberto sem saber ao que se referia.
―O conde de Slaslow ― Balbuciou.
―Não! O que numero faz?
―OH! O segundo. A meu pai fizeram conde no ano 1760.
Viu que Vincent franzia o cenho. Aparentemente inclusive os treinadores de cavalos sabiam
que os segundos condes eram nobreza recente.
―Meu bisavô era visconde ― Se defendeu.
―Hum!
―Quero me casar com este homem! ― Interveio Madeleine a quem davam igual os prejuízos
masculinos sobre o numero de cavalos e a fila dos condes.
―Não se casará com ele se pensa te levar a América! ― Decretou seu pai.
― Então ficaremos na Inglaterra e fingirei ser uma aristocrata francesa ― Concluiu a jovem
sempre prática ― A amiga de Braddon me ensinará tudo o que deva saber, irei a um baile, ao
parecerá que tem caído um raio em cima e tudo arrumado.
Garnier fez uma careta.
―E se alguém descobre o engano? ― Perguntou sombrio ao Braddon.
― Casarei-me imediatamente com Madeleine. Por outra parte eu gostaria de me casar já.
Minha família não pode impedir isso e me dá completamente igual minha reputação entre a alta
sociedade.
Garnier fez um gesto de aprovação com a cabeça.
―Poderia se fazer passar pela filha do marquês de Flammarion ― Disse têm a mesma idade.
―Que maravilhosa ideia! ― Exclamou ela antes de explicar a Braddon: Meu pai trabalhou para
o marquês e sua família. Eu era muito jovem quando abandonamos a França para recordar, mas
meu pai me falou muito de sua propriedade no Limousin e de sua casa de Paris. O marquês era um
pouco raro e não o via muito, mas sua mulher era muito formosa e elegante.
―E a família desse senhor? Londres está cheio de emigrantes franceses e todos parecem
conhecer-se.
―Ninguém conhece a família do marquês. A marquesa às vezes ia a Paris, mas o marquês e sua
filha nunca saíam do campo.
―Perfeito ― Disse Braddon aliviado ― Não terá que falar muito Madeleine. Depois de tudo, se
a filha do marquês tinha sua idade quando a revolução não deve recordar grande coisa. Suponho
que o marquês já não esta neste mundo. Não é provável que venha a Londres?
Garnier negou com a cabeça.
Mas Madeleine não estava totalmente convencida.
―Como poderei fingir que sou a filha da marquesa de Flammarion? ― Gemeu ― Sempre me
disse o elegante e perfeita que era a marquesa. Se as pessoas a conhecer lhes bastará um só olhar
para ver que não tenho nada em comum com ela.
Os dois homens de sua vida a olharam desconcertados.
―É preciosa! ― Afirmou Braddon convencido ― E, além disso, as filhas não sempre se
parecem com suas mães. Olhe por exemplo a minha pobre irmã Margaret. Minha mãe sempre a
disse que tinha muitas sardas para ser filha dela e apesar de tudo fez matrimônio muito
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satisfatório.
Depois desse embaralhado discurso se fez um breve silêncio. Garnier franzia o cenho.
―É uma jovem formosa ― Decretou ― E, além disso, as pessoas pensarão que se parece com
o marquês.
― Mas nos arriscamos a que alguém os conhecesse ― Insistiu isso ― Estou segura de que era
alto magro e elegante.
Baixou a vista para seu voluptuoso corpo.
― Não pareço uma aristocrata.
―É melhor que essas mulheres sofisticada com o cérebro de um mosquito ― Trovejou Vincent
― E nenhuma só palavra mais sobre esse tema!
Madeleine se sobressaltou. Seu pai era um homem mais bem taciturno que não falava muito,
e nunca se zangava com ela.
―Muito bem papá ― Cedeu ela.
Braddon sorriu com toda a sinceridade o mundo refletida em seus claros olhos.
―Não te quero nem magra nem elegante, Madeleine. Quero você exatamente como é.
Ela avermelhou.
― Se cale, meu pai poderia te ouvir.
Mas Garnier já tinha voltado para seus livros de contas e não podiam saber se tinha ouvido o
comentário do Braddon ou não.
―Vamos! Fora! ― Ladrou antes de jogar uma última olhada ao Braddon ― Quando lady
Sophie voltar de sua viagem diga que venha nos ver. Eu gostaria de conhecer a mulher que se
supõe que vai ensinar a minha filha a converter-se em uma dama. Segundo o Morning Post me
parece bem superficial.
Braddon se inclinou respeitosamente esperando de todo coração que Sophie não fosse dessas
criaturas que dão gritos diante a mera ideia de ir a um estábulo. Também esperava que o Lark
estivesse logo de volta.
Lorde Breksby compartilhava esse desejo de que o Lark retornasse logo. Estava muito
preocupado pelo assunto do cetro sabotado.
A mãe de Sophie, em meio de um torvelinho de nova e mais bem agradáveis experiências,
também estava desejando ver sua filha. A casa estava estranhamente silenciosa sem sua presença
apesar dos perto de quarenta criados. Por outra parte, encontrava-se sem cessar com o George
quando, antes que sua filha se casasse, apenas o via.
Seu marido parecia sentir menos inclinação por ir ás festas ou clube. Desde que tinha aberto
de novo a porta de seu dormitório… Bem, era muito prazenteiro para George dedicar-se a seduzir
à rígida marquesa em plena tarde. Entretanto ele também jogava muito de menos a sua pequena
Sophie.
Em resumo, que muitas pessoas em Londres esperavam com impaciência o retorno de Lark.
No bairro de Whitefriars, um anguloso homem estava expressando o seguinte desejo:
Assim que Foakes tenha retornado ― Dizia ― Nos aproximaremos dele… Devagar.
Seu acompanhante tentou entender o que queria dizer.
―Devagar ou não, Foakes não tem o cetro. E agora parece ser que eles não o darão até que
esteja ali. Uma pena, uma maldita pena.
O primeiro homem, o senhor Foucault; esse era o nome pelo que o conheciam em Londres;
suspirou. Não sabia como o governo inglês se inteirou de seu ardiloso plano para substituir o cetro
que tinham que dar de presente ao Selim por outro com uma armadilha, mas era uma estupidez
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lamentar-se eternamente.
―Clemper foi despedido ― Disse com uma ponta de irritação ― De modo que teremos que
fazer de outra maneira. E nossa missão é que o embaixador inglês represente um perigo para a
coroação de Selim.
―De todos os modos me parece que é uma lástima ― Repetiu A Toupeira; nome pelo que o
conheciam seus íntimos ― Tudo estava muito bem organizado. Clemper deveria ter realizado a
substituição em um abrir e fechar de olhos.
O senhor Foucault suspirou uma vez mais. Ele também estava aborrecido e mais quando tinha
planejado roubar alguns dos rubis com os que os ingleses queriam adornar o cetro.
― Por que não dirigimos aos artesãos que estão trabalhando no cetro? ― Sugeriu A Toupeira.
― Impossível.
O aroma que reinava no diminuto alojamento da Toupeira era tão nauseantes que Foucault se
via obrigado a respirar pela boca o qual lhe dava uma expressão curiosa.
―Os joalheiros que contrataram ao princípio foram despedidos e estou seguro de que os
novos serão menos complacentes que nosso querido Clemper.
―Pode que tenha razão. Então o que diremos a Foakes quando voltar?
―Abordaremos-os como se fôssemos embaixadores da corte do Selim.
―OH!
Fez-se o silêncio.
―Você fala turco ― Continuou Foucault agitando um lenço de renda diante de seu nariz ―
Recordo que essa foi uma das condições para lhe contratar.
―Um pouco ― Respondeu A Toupeira sem muito entusiasmo ― Minha mãe me ensinou.
Foucault se absteve de responder que possivelmente a mãe da Toupeira não era uma grande
professora.
― Bu minha massa? ― Me traduza isso, por favor.
A voz era suave mais deixava adivinhar uma vontade de ferro.
A Toupeira admitiu o desafio.
―“É uma mesa?” ― Arriscou.
Foucault sorriu e o outro relaxou.
―Não terá que falar muito. Eu me apresentarei como um enviado de Selim, e eu falo turco
muito bem. Você vigiará a casa de Foakes nos próximos dias. Eu gostaria de falar com ele assim
que retorne. E enquanto poderia fazer averiguações entre os empregados da casa, no pouco
provável caso de que nossa amistosa tira de contato não saia bem.
Os olhos da Toupeira brilharam. Esse idioma se que o entendia.
―De acordo ― Disse alegremente.
Foucault voltou para sua carruagem que esperava diante a casa, com um fino sorriso nos
lábios.
Capitulo 17
O Lark chegou em março, uma terça-feira de noite, depois de uma ausência de seis semanas.
O honorável Patrick Foakes e sua tripulação tiveram que esperar meia hora antes de desembarcar
para maior diversão dos descarregadores que esperavam nos moles. Não se reprimiram
admirando Sophie cuja frágil silhueta e loiros cachos eram típicos de uma bonita inglesa. Uma
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De modo que Patrick se desgostou muito quando comprovou que a primeira mensagem que
chegava ao dia seguinte pela manhã era do conde de Slaslow.
―Que demônios quer? ― Grunhiu sendo a perfeita imagem de um marido ciumento.
Sophie lhe olhou sentida saudades.
―Só está sendo cortês. Está me convidando a dar um passeio.
Desde quando Braddon era tão educado, que frequentemente dava amostras de uma
negligência nesse aspecto que roçava a grosseria?
―Não está livre! ― Decretou.
―Ah não?
Sophie não podia acreditar que Patrick fosse do tipo possessivo; era muito adulador, mas
pouco acreditável.
Cruzou os braços.
―Há alguma razão pela que não queira que veja Braddon?
―Não é uma boa ideia.
―Sou uma mulher casada ― Recordou Sophie ― Ninguém poderá dizer nada se passear pelo
parque com um solteiro.
―Mas você esteve comprometida com esse solteiro!
―Mas apesar de tudo me casei contigo. Espero que não acredite que vou ter uma aventura
com Braddon.
Visto assim, Patrick devia reconhecer que não, que ele não pensava que Sophie pudesse ser
infiel, nem com o Braddon, nem com nenhum outro; já que sua pequena esposa era muito
honesta.
― Tá ― Disse com a sensação de ter perdido a batalha ― Pode vê-lo tanto como queira. Que
seja seu admirador, se o desejar.
―Não acredito ― Contestou ela tranquilamente ― Um admirador tem que ser capaz de dizer
duas frases seguidas não te parece?
Brilhavam-lhe os olhos e ele se tranquilizou um pouco.
―Se precisar manter uma conversa complicada, sempre tem a seu marido ― Acrescentou
brincalhona.
Patrick, com um grunhido de diversão, tentou agarrá-la, mas ela já tinha saído pela porta. Ele
pegou a nota de Braddon que ela tinha abandonado em cima da mesa, e que decididamente não
era a mensagem de um homem apaixonado: Preciso vê-la. Passarei para te buscar com o landot às
quatro da tarde. A palavra “landó” estava mal escrita.
Teve que reconhecer que não estava sendo razoável. Mas Sophie seguia sem dizer que o
amava e nem sequer parecia passar pela imaginação. Enfim, tinham passado juntos seis semanas
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em uma total intimidade e ela não dava mostras de ir declarar seus sentimentos.
Voltou a aparecer na porta.
―Ademais ― Disse ― Insisto em que meus admiradores falem francês.
Tinha um brilho malicioso nos olhos. Patrick tinha descoberto, regozijado, que podia fazer que
se desfizesse dizendo umas poucas palavras em francês.
O sorriso do Sophie despareceu.
―Estava lendo minha correspondência Patrick? ― Perguntou, com repentina frieza.
Ele se deu conta de que seguia tendo a carta de Braddon na mão e a soltou como se
queimasse.
― Por que precisa vê-la?
Ela se enrijeceu.
―Não é um encontro. E, além disso, não te importa.
Patrick apertou as mandíbulas. A culpa que sentia por ter sido um intrometido, fez que sua
resposta fora mais brusca do que tivesse querido.
―Importa-me muitíssimo! É minha mulher e me preocupo com sua reputação.
―Quer dizer que minha reputação se resentirá se me virem no parque com Braddon?
―Parece que já está quase pelos chãos. Agora que estamos casados todos esperam que me dê
muito desgosto.
―Muito desgosto ― Repetiu lentamente Sophie ― Tão má reputação acredita que tenho?
―Importa-me um nada sua reputação! O que me importam são os motivos de Braddon. Não
vejo o que poderia querer um notório libertino de uma mulher casada, além do que é evidente.
―Certamente os libertinos sabem o que querem ― Disse Sophie com desprezo ― Entretanto
Braddon não se interessava muito por mim quando estávamos comprometidos e estou segura de
que agora já está tudo terminado.
― Braddon esta um pouco mal da cabeça ― Exclamou ele passando uma mão pelo cabelo com
nervosismo ― Não quero que te arraste por nenhuma razão. Quero dizer que conheço suas
intenções: é muito rasteiro por sua parte querer andar pelo jardim de seu melhor amigo.
―Essa é uma afirmação incrivelmente vulgar ― Replicou ela friamente ― Mas já que te põe
nesse plano me deixe que te recorde que foi você quem andou pelo jardim de Braddon.
― É normal que me faça perguntas sobre suas intenções! ― Gritou Patrick fora de si ― Disse
que ele não teve desejo de te beijar, mas você não pode dizer o mesmo não é certo?
Ao Sophie deu um tombo o coração.
―O que quer dizer?
―Isto: Braddon afirmou que você queria fugir com ele porque o amava com loucura. É uma
pena que foi eu quem subiu pela escada nessa famosa noite.
A ira se apoderou de Sophie.
―Atreve-se a insinuar que te seduzi? Você, de quem todo mundo sabe que é um verdadeiro
dom Juan? O tipo de homem que perverteu à prometida de seu melhor amigo? Não tem direito a
falar! Eu tinha decidido romper o compromisso e você sabe. Esperou muito tempo antes de dizer
quem era!
―Uma dama não convida um homem a ir a seu dormitório se não ter intenções de entregar-se
a ele. E você não lutou quando fui a sua cama.
Ardia-lhe a garganta.
-Sim! ― Disse, dividida entre a vontade de gritar e a de chorar ― Te empurrei até que tirou o
capuz.
―Tenta que acredite que cedeu porque era eu que estava disfarçado? Isso é um pouco forte!
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―É a verdade.
―Então espera que acredite que se casou comigo por amor?
Patrick estava avançando para ela, silencioso e perigoso como um felino.
―Vejamos ― Continuou ele ― Estava tão apaixonada por mim que se negou a se casar comigo
e suplicou a outro homem que te raptasse?
―Nunca disse isso!
―Disse que?
―Nunca disse que me casei contigo por amor ― Lançou ela cruelmente.
Patrick estava muito perto dela, perto até o ponto de ver as lágrimas que tremiam em seus
olhos. A ira o abandonou de repente.
―Então se casou comigo pelo sexo ― Disse um pouco mais tranquilo ― Parece que os dois
caímos na mesma armadilha.
Sophie se sentiu desconcertada por um momento, mas depois se recuperou. Não em vão tinha
presenciado centenas, milhares, de cenas similares em sua casa.
―Não tenho nenhuma aventura com o conde de Slaslow, nem decidi ter ― Declarou.
―Bem ― Disse Patrick.
Ele já estava perguntando por que motivo estavam brigando.
―E nunca tive intenções de seduzir Braddon embora tivesse sido ele quem entrasse em meu
dormitório em seu lugar.
― Isso quero acreditar.
―Uma coisa mais ― Continuou Sophie friamente ― Pode que me casasse contigo pelo sexo,
mas nunca te farei perguntas sobre as mulheres que deseja; e é possível que algum dia ambos
procuremos distração em outro lugar, mas eu nunca lerei suas cartas, e não vou tolerar que você
leia as minhas.
―Perfeito. Não te farei perguntas e você não fará perguntas. Bonito matrimônio está pintando
meu amor.
Branca como um lençol, ela girou os calcanhares e se foi. A raiva se apoderou novamente de
Patrick como um fogo que todo o devorava.
―Deus! ― Jurou.
Uma coisa estava clara: ele não ia tolerar que Sophie pudesse procurar outras “distrações”.
Nem com Braddon nem com nenhum outro.
Deteve-se em seco. Inconscientemente tinha começado a seguir Sophie pelas escadas, mas
deu meia volta e se dirigiu para a porta para sair. Começou a caminhar para o rio asperamente.
Trinta minutos mais tarde se sentia bastante melhor. Certamente Sophie, tinha admitido que
se casasse com ele pelo sexo, mas sabia que ela nunca teria um amante. Sua integridade era um
dos aspectos de sua personalidade que mais gostava. Isso, e o fato de que ela fora umas vezes tão
vulnerável e outras uma mulher de mundo.
Entretanto, se retornava nesse momento a sua casa, chegaria às três da tarde, e ela pensaria
que ele estava esperando a visita de Braddon, quando ele dava completamente igual com quem
ela ia passear, recordou a si mesmo. Seria melhor que fosse ao seu escritório, onde as mensagens
de seu administrador, Henry Foster, foram acumulando durante sua viagem.
De todos os modos, mudando de opinião, subiu a um carro de aluguel e ordenou ao chofer
que o levasse até o ministério de Assuntos Exteriores. Era melhor ir ver que era o que preocupava
tanto Breksby para lhe enviar duas mensagens enquanto sabia que estava em Gales.
A visita não fez nada para subir sua moral. Breksby tomou com calma a notícia de que as
fortificações não estavam terminadas. Já o esperava.
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―Estamos muito agradecidos, milorde, por ter levado a bom fim sua missão.
Patrick inclinou a cabeça.
―Isso é tudo?
―Não, não!
Pela primeira vez pelo que Patrick podia recordar Breksby; o eficaz e pedante lorde Breksby;
parecia cansado e preocupado.
―O outro problema, é o do presente ― Disse.
Houve um silêncio durante o qual o ministro voltou a considerar a ideia de esconder de Foakes
a tentativa de sabotagem.
― Sim? ― Impacientou-se este.
Tinha decidido que tinha que voltar para sua casa antes que Sophie saísse com Braddon. Podia
mostrar-se indulgente e possivelmente convidar a seu amigo a unir-se a eles para jantar. Isso
demonstraria a sua querida esposa que lhe dava completamente igual saber com quem saía de
passeio.
―Tem havido alguns problemas com o presente que queremos enviar a Selim por sua
coroação― Lançou Breksby. É possível que haja um complô para roubar o cetro. Evidentemente,
temos a intenção de vigiá-lo de perto. Resistimos a pôr a você em perigo tendo em conta o
interesse que o cetro acordada entre os ladrões, de modo que pensamos em fazê-lo chegar de
outro modo. O mensageiro o entregará umas horas antes da cerimônia.
―De verdade acredita que alguém poderia tentar roubá-lo?
―Exatamente.
O tom não convidava a fazer perguntas e Patrick se absteve de fazer.
―Tinha pensado sair para a Turquia a princípios de setembro ― Disse ― Acho que seu
representante não terá problemas para reunir-se comigo em Constantinopla
―Em efeito.
Patrick se levantou.
―Fica ainda o assunto de seu título, senhor Foakes ― Disse Breksby amavelmente.
Patrick voltou a sentar fervendo de impaciência. Sophie ia-se.
―Já iniciei o processo ― Continuou o ministro ― E devo lhe informar de que, até agora, só
recebi respostas favoráveis.
Patrick assentiu e Breksby afogou um suspiro. Doía-lhe na alma ter que conceder um título de
duque a um homem que evidentemente não o necessitava.
―A única dúvida que se expõe é decidir se o futuro ducado de Gisle será ou não hereditário.
Interrompeu-se de novo, mas Patrick permaneceu em silêncio.
Maldição pensou o ministro, esse homem não era normal. Qualquer pessoa teria insistido para
que seu filho herdasse o título.
―Arrumarei para que assim seja ― Concluiu.
Patrick sorriu. Breksby era um bom homem e se dava conta de que ele não lhe demonstrava
nenhuma gratidão.
―Agradeço imensamente os esforços que faz por mim, milorde.
Como tantos outros antes dele, Breksby caiu sob o feitiço de seu sorriso.
―Juro que só tento cumprir com meu dever ― Disse:
―Estou seguro de que meu filho, se algum dia tiver um, o agradecerá ainda mais que eu.
Quando Patrick se despediu, lorde Breksby estava muito contente consigo mesmo. Tinha tido
razão ao não confiar a Foakes que temiam que se produzisse uma substituição do cetro. O mesmo,
por outra parte, não acreditava muito. Por que ia se tomar a moléstia Napoleão de encher de
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explosivos um cetro? Era algo muito sofisticado. O mais seguro era que não acontecesse nada.
Quando Patrick abandonou o ministério, o céu ameaçava tormenta. Certamente Braddon e
Sophie já tinham saído de modo que desceu as enormes escadas que chegavam até Tâmesis para
contemplar suas águas cinzentas. Logo parou um carro de aluguel perguntando-se que raios tinha
na cabeça para abandonar assim seus negócios. Normalmente, depois de estar uns dias ausente,
apressava-se a ir a seus armazéns, mas seis semanas de matrimônio tinham bastado para
esquecer-se de suas responsabilidades.
Assim que chegou aos moles, seu encarregado foi para ele com expressão de profundo alívio.
―Por são Jorge! Estou muito contente de lhe ver, senhor.
Imediatamente Patrick se viu absorvido por um torvelinho de problemas. Um de seus navios
tinha naufragado no Madras com um carregamento de algodão. Seu correspondente no Ceilão
tinha enviado uma mensagem urgente referente ao chá negro. Foster tinha a impressão de que o
capitão do Rosmery lhes enganava com um carregamento de açúcar.
Patrick começou a trabalhar. Ali, nos poeirentos escritórios nas que ressonavam os gritos e os
golpes dos moles próximos, não havia uma esposa que incomodasse nem olhares de recriminação,
nem remorsos de consciência.
Tomou um ligeiro jantar e continuou trabalhando até bem entrada a noite.
Sophie olhou com desconfiança para a rua antes de montar no landó de Braddon, mas não
havia sinais de seu marido. Apesar das lágrimas que queimavam sua garganta, era completamente
proprietária de si. Aceitou sem vacilar conhecer pai de Madeleine no dia seguinte.
―Depois, se vier bem à senhorita Garnier ― Acrescentou ― Poderíamos nos ver uma ou duas
vezes à semana.
Braddon assentiu entusiasmado.
―Só com uma condição ― Precisou ela.
Ele se esticou. Já conhecia esse olhar de determinação e sabia que anunciava problemas.
―Tudo o que queira ― Disse entretanto.
― Que meu marido não se inteire.
―Patrick? Refere a Patrick?
―Pois claro que refiro a Patrick! ― Replicou ela secamente ― Pelo que saiba só tenho um
marido.
―Mas, mas…
Braddon estava desconcertado.
― Por que em nome do Céu? Patrick sempre participou de meus planos embora não sempre
gostasse.
―Se ele se inteira não poderei me ocupar da senhorita Garnier ― Decretou ― É pegar ou
largar.
Entretanto a obstinação era para o Braddon como uma segunda pele.
―Escuta Sophie, Como vai explicar suas ausências? O que pensará Patrick?
Ela deu uma olhada gelada.
―Os maridos não são cães guardiães. Minha mãe faz o que quer com seu tempo livre.
Houve uns segundos de silencio durante os quais Braddon se perguntou se seria prudente lhe
recordar que seus pais não eram um modelo de felicidade conjugal.
―Minha mãe não tivesse podido ausentar-se com regularidade todas as semanas sem que
meu pai se preocupasse ― Disse em troca.
―Estou segura de que Patrick e eu não teremos nenhum problema com isso ― Afirmou Sophie
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― Duvido que ele tenha interesse na maneira em que passo as tardes, mas embora assim fosse,
direi-lhe que vou visitar os meninos doentes de Bridewell.
―Bridewell! Patrick nunca aceitaria que fosse ali ― Exclamou surpreso.
O hospital, em efeito, estava situado em um bairro pouco recomendável.
Ela arqueou uma sobrancelha.
― Vai maltratar à senhorita Garnier deste modo? Deveria saber que as damas visitam com
regularidade Bridewell e brincam com os órfãos. O pessoal do hospital está muito agradecido.
― Meu Deus! Estas segura Sophie? Por que não dizer a Patrick? Seria muitíssimo mais simples.
―Nada disso. E se disser algo não levantarei nem um dedo por Madeleine.
Ele suspirou.
―De todos os caprichos estúpidos…
―Se te parecer estúpido busque a outra pessoa para que te ajude.
Mulheres! Pensou Braddon. Sempre estavam dispostas a levantar as patas como os cavalos
selvagens.
―De acordo ― Disse conciliador. Estou seguro de que tem razão. A verdade é que Patrick não
pareceu muito entusiasmado com meu último plano.
De fato, quanto mais pensava na reação de seu amigo ao ver sua “perna quebrada”, mas se
alegrava de que não soubesse nada de sua última ideia. Nunca poderia esquecer a expressão de
Patrick quando o golpeou o gesso, nem a bronca que lhe caiu em cima. Acreditou que ia ficar
surdo.
―Sim, tem razão ― Repetiu com renovado vigor ― É melhor que ninguém saiba. Você, o pai
de Madeleine e eu é suficiente.
Nesse momento Sophie agitou a mão.
― Pare! Estou vendo Charlotte e Alex.
Braddon puxou as rédeas e Alex situou sua calesa ao lado do landó.
―Bonito carro! ― Disse Braddon.
Sempre tinha estado mais unido ao Patrick que a seu gêmeo, o qual lhe intimidava um pouco.
Patrick tinha um temperamento forte, mas nos olhos do Alex se via um brilho de aço inquietante.
―Onde está Patrick? ― Perguntou alegremente Charlotte.
Sophie se limitou a mover a cabeça, segura de que seu silêncio diria a sua amiga que algo não
ia bem.
A resposta do Charlotte foi imediata.
―Quer vir jantar conosco esta noite Sophie?
Esta se inclinou para vê-la melhor a pesar do enorme corpo de Braddon.
―Estarei encantada Charlotte, mas não sei quais são os planos de Patrick. Chegamos ontem à
noite.
―Estão recém-casados ― Interveio Alex ―Estou seguro de que Patrick te seguiria ao fim do
mundo. Enquanto isso, Charlotte, temos que voltar para casa. Alguns estão apanhados por suas
mulheres, mas as que nos põem os horários são nossas filhas. E esta é o momento em que Pippa e
Sarah se reúnem conosco no salão.
Sua esposa enrugou o nariz.
―Pobrezinha! Pippa chega completamente arrumada e triste e a obrigamos a comportar-se
como uma dama durante meia hora. Então nos vemos as oito?
Sophie assentiu.
Já que Patrick não tinha voltado as oito, deixou uma nota com o mordomo para que a
entregasse, depois deu boa noite a Henri e ordenou ao chofer que a levasse a casa de seu
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cunhado.
Ao chegar se obrigou a não contar nada da briga a Charlotte, embora houvesse feito muito
bem, mas não desejava que sua amiga soubesse que Patrick se casou com ela somente pelo sexo.
Apesar de tudo tinha que conservar um pouco de dignidade.
A conversa versou sobre o último dente de Sarah e sobre os soldados franceses que se
estavam recuperando no Gales. Só quando Alex se retirou a seu escritório, as duas mulheres
tiveram ocasião de falar.
Charlotte não andou com rodeios.
―O que aconteceu? Brigaram?
Sophie se sentou no sofá com um nó na garganta.
―OH Charlotte! ― Disse fingindo indiferença ―Já me conhece, tenho muito mau caráter.
Sua amiga a olhou diretamente aos olhos.
―Sophie! ― Grunhiu ameaçadora.
―Não sei onde esta ― Sophie endireitando os ombros ― Suponho que está passando a noite
com sua amante.
―Tolices! Não tem nenhuma amante e você é tola se não te der conta de que só tem olhos
para você.
―Brigamos por causa de Braddon.
―Braddon? Como em nome de Deus pode alguém brigar por sua causa?
―Convidou-me a dar um passeio e Patrick não queria que eu aceitasse.
― Meu Deus! Deve estar ciumento. Que estranho!
Intercambiaram um sorriso cúmplice.
― Ciumento de Braddon! ― Continuou Charlotte ― Os homens às vezes são completamente
estúpidos. Braddon, o alegre vividor roubando de Patrick sua formosa e jovem esposa!
Pôs-se a rir.
―Se trata de zelos ― Disse ―Basta que deixe de ver Braddon, isso é tudo.
Como Sophie tinha prometido a este que não falaria com ninguém de Madeleine, limitou-se a
assentir diante do sábio conselho.
Quando voltou para sua casa, Clement, o mordomo, pegou seu casaco perguntando se queria
tomar um refresco. Ela disse que não e ele devolveu a mensagem que o havia deixado para o
Patrick.
―Já que milorde não retornou ― Disse fazendo uma reverência enquanto ela se dirigia para as
escadas.
Eram as onze e meia, Sophie tinha ficado em casa de Charlotte todo o possível com a
esperança de que Patrick chegasse antes dela.
Bom, pensou lançando o chapéu a uma cadeira, o idílio de meus pais durou dois meses e em
seu caso a coisa não tinha ido a melhor. Contou com os dedos. Seu marido tinha abandonado o
leito conjugal depois de seis semanas. Ao final Heloise tinha razão.
Ou possivelmente, pensou com amargura, o marquês acreditou estar apaixonado quando se
casou com Heloise e depois se deu conta de que se casou unicamente pelo sexo; enquanto que o
cínico Patrick nunca considerou que o amor fosse algo indispensável em seu matrimônio.
Ao fim se deitou à uma da madrugada mais não dormiu. Tampouco chorou. Permaneceu com
os olhos abertos na escuridão com o ouvido atento à porta de comunicação. Em vão. Às seis da
manhã o ajudante de câmara de Patrick, Keating, entrou no dormitório contiguo para abrir as
cortinas. Sem dúvida pensaria que seu senhor tinha dormido com ela.
Por fim às sete ouviu um ruído de passos no corredor. Ouviu-se uma alegre voz:
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Patrick vagou pela casa toda a manhã esperando a que sua mulher se levantasse, até que
compreendeu que ela permanecia em sua habitação para evitá-lo. Chamou a Simone e lhe lançou
um olhar assassino quando ela repetiu que sua senhora estava dormindo.
Às três da tarde perdeu completamente a paciência ao ver Braddon que se apresentava em
sua casa.
―Olá Patrick! ― Disse alegremente ― Onde está sua mulher? Venho a procurá-la para levar a
de passeio.
―Não se levantou ― Disse Patrick.
Em realidade Sophie acabava de sair de seu quarto e ficou imóvel no patamar das escadas ao
escutar a voz de seu marido.
―Já não saiu ontem com ela? ― Estava perguntando.
― Sim ― Respondeu Braddon ―E hoje volto a leva-la. Bem E que te parece a vida de casado?
Braddon estava de muito bom humor. Madeleine ia se transformar em sua esposa e o mundo
era maravilhoso.
Patrick lhe lançou um olhar gelado.
―Para um homem condenado a levar correntes, não está muito mal.
―Condenado a levar correntes?
Braddon não tinha direito a simular surpresa, pensou Patrick, já que estava tentando lhe
roubar a sua esposa.
―Escolheu a uma das mulheres mais formosas de Londres, sem dúvida a mais bela de todas, e
fala de correntes?
―Poderia ser pior ― Replicou Patrick lacônico ― Como não tem nem irmãos nem irmãs,
suponho que não terei que suportar uma abundante descendência.
Ao Sophie deu a impressão de que lhe acabavam de dar uma punhalada.
―É um pouco duro não?
Braddon golpeou os bolsos procurando a tabaqueira.
―Provou minha nova mistura? ― Perguntou para trocar de tema ― Leva cinamomo.
―Eu não gosto do sabor das rosas no tabaco ― Resmungou Patrick apertando os dentes.
Braddon agarrou um beliscão de tabaco.
―Acredita que Sophie vai demorar? Os cavalos estão esperando na rua.
―Não tenho nem a menor ideia.
Braddon elevou as sobrancelhas.
―Não parece um alegre recém-casado Patrick.
―Sim, estou alegre.
Sentia-se muito incrivelmente cansado. Tinha trabalhado no armazém a metade da noite,
depois tinha voltado para sua casa para ficar adormecido na biblioteca com um copo de conhaque
na mão.
―Segue tendo a intenção de pôr uma casa a sua amante? ― Perguntou sem muito interesse.
―Não. Ehh… A verdade é que nos separamos.
Braddon evitava cuidadosamente o olhar de Patrick quem tinha uma desconcertante maneira
de averiguar quando estava mentindo.
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Patrick levantou uma sobrancelha com ironia. Estava Braddon envergonhado? Deveria estar já
que aparentemente se desfeito de sua amante para substituí-la por Sophie.
Os dois homens se voltaram para ouvir que ela descia as escadas. Usava um precioso vestido
cor rosa pálido e olhou a seu marido com expressão amistosa.
―Bons dias ― Disse amavelmente.
Não havia restos de amargura em sua voz.
Aceitou o braço que o oferecia Braddon e sorriu a Patrick.
―Verei-te mais tarde?
Ele negou com a cabeça; não porque tivesse algo planejado para o jantar, mas sim porque
queria ver se conseguia incomodá-la. Não teve êxito.
―Então também te desejo boa noite ― Disse ela antes de afastar-se em direção à porta em
companhia do Braddon.
―Maldição! ― Xingou Patrick.
―Voltou para a biblioteca, onde tinha passado a noite.
Enquanto subia no landó, Sophie mordia os lábios para conter o terrível desejo de voltar a
esconder-se em seu quarto.
Mas ao final a tarde foi muito agradável. Quando se perguntou se deveria aceitar ou não a
petição de Braddon, não tinha pensado nem por um momento na jovem da que ele se apaixonou.
A filha de um criador de cavalos? Impossível! Entretanto Madeleine demonstrou ser maravilhosa,
muito francesa, cheia de praticamente e muito divertida.
Riram como loucas enquanto falavam de etiqueta. A Madeleine pareciam ridículas algumas
coisa que Sophie sempre tinha considerado normais.
―Mas por que tenho que fingir que não acontece nada se alguém me atirar a sopa em cima?
―Porque é assim. Pode que algum dia uma duquesa bêbada te salpique de molho de carne.
Essas coisas acontecem, eu já presenciei. Pois bem, inclusive enquanto esta secando o rosto, tem
que fingir que não acontece nada.
―Que tolice! ― Exclamou Madeleine rindo de forma contagiosa.
Depois de tudo não era tão difícil ensinar bons maneiras. Madeleine possuía uma graça inata
que simplificava a tarefa. Sophie lhe ensinou a fazer a reverência para trás, e ao final da tarde, o
fazia à perfeição.
Sophie ficou boquiaberta.
―Eu necessitei semanas de ensaios para conseguir este resultado Madeleine ― Exclamou.
Esta sorriu.
―Farei reverência a todos os cavalos todos os dias.
Logo passaram à cerimônia das apresentações oficiais.
Capitulo 18
―Posso fazer ― Estava dizendo A Topeira ― Só necessitarei uns minutos. O menino passa o
dia no estábulo.
Ele senhor Foucault não respondeu e seu companheiro não pôde saber se gostava dessa
oportunidade ou não.
― O repito senhor, tenho o menino na palma da mão. Eu disse que conhecia um cavalo capaz
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de contar até cinco. Chamarei-lhe fora da casa, meterei-o em meu carro e já está.
―Já está O que?
―Bem, porque teremos ao filho da família.
À Toupeira dava a sensação de que estava sobre areias movediças.
―Se por “filho da família” entende que Henri é o filho natural de Foakes, equivoca-se. Esse
menino é um francês, um guri das ruas que o recolheu Deus sabe onde.
―Mas o querem muito não? Dizem que vão pôr um tutor a semana próxima e que na
primavera o vão enviar a um colégio de categoria. Terá que agir depressa, mas o tenho na palma
da mão ― Repetiu A Topeira ― Se o querem o suficiente para pôr um tutor, também pagarão um
resgate para recupera-lo. Sigo acreditando que é um bastardo de Foakes.
―Não queremos um resgate ― Protestou Foucault começando a dar amostras de irritação ―
Não se inteirou que nada importante enquanto conversa com todo mundo nos estábulos?
―Parece que estão zangados. A lua de mel já acabou. Ele permanece fora de casa todas as
noites trabalhando até o amanhecer, nunca entra em seu dormitório e ela sai frequentemente
com outro nobre. Diz que ela queria casar-se com ele, mas que aconteceu algo e lhe deixou.
―Interessante, mas não muito útil ― Resmungou Foucault ― Me conceda o prazer de sua
companhia dentro de quinze dias a partir da terça-feira; iremos juntos visitar o Patrick Foakes.
Você se fará passar por um tal Bayrak Mustafá e fingirá não saber falar inglês. Parece-lhe bem?
Sem esperar resposta, Foucault sacudiu as calças e desapareceu.
Patrick estirou suas longas pernas em seu camarote do Drury Lane e olhou à mulher sentada
diante dele. Se até para pouco tempo, lady Sophie, a encantadora filha do marquês do
Brandenbourg, tinha estado solicitada, parecia que ao converter-se na esposa do honorável
Patrick Foakes, ia converter se na menina mimada da alta sociedade. Sempre estava rodeada de
admiradores. As jovens casadoiras eram perfeitas, mas os cavalheiros temiam ser apanhados no
matrimônio mostravam mais interesse em uma em particular; em contrapartida podiam permitir-
se dizer coisas mas atrevidas às mulheres casadas.
A fresca risada de Sophie se ouviu de novo. Seus admiradores estavam inclinados sobre ela
como salgueiros em uma tormenta; sem dúvida estavam tentando olhar por seu decote, pensou
Patrick amargamente. Ela usava um vestido de noite que deixava ver o nascimento de seus seios.
―Esse vestido não é muito… Fechado para ir ao teatro? ― Tinha perguntado quando ela
entrou no salão colocando as luvas.
Tinha-lhe arrojado um provocador olhar.
―Algumas vezes eu gosto de ir tampada. Isso faz que as pessoas deseje destampar.
Patrick não tinha sabido que responder. Só vendo seu seio a tinha desejado e se apressou a
pôr um xale sobre os ombros empurrando-a para a porta antes que ela notasse a evidência de seu
desejo.
Mas que estava fazendo? Ela era sua esposa. Não parecia zangada por sua briga, e, entretanto
ele passou os últimos dias passeando pelos bairros com pior fama de Londres em lugar de dedicar-
se a seduzir a sua própria mulher em sua própria cama como deveria ter feito.
Inspirou profundamente. Encontrava-se atrás da barreira formada pelos cavalheiros que
estavam ao redor de Sophie para admirar a redondez de seus seios sob o revelador vestido.
Cruzou as pernas. Essa condenada obra, Um cristão convertido em turco, não demoraria para
voltar a começar. O cristão em questão estava demorando uma eternidade em converter-se em
turco e isso lhe deixava muito tempo ao para pensar em sua mulher. Ao menos, o final do teatro
faria desaparecer a todos essas moscas azuis do camarote. Braddon, naturalmente, encontrava-se
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entre eles, e Patrick estava começando a lhe odiar com toda sua alma.
Sophie era consciente de cada gesto de seu marido embora evitasse cuidadosamente voltar-se
para ele. Nesse momento, ela estava rindo enquanto com o leque golpeava ligeiramente o pulso
de Lucien Blanc. Ele era um de seus favoritos já que suas galanterias não iam muito longe.
Lucien lhe agarrou a mão para levar aos lábios.
―Sou escravo de seus olhos, formosa dama.
―Deus o libere, porque não posso fazer nada por você ― Respondeu ela divertida.
―Só você pode me salvar. É você uma fada.
―Então ordeno que volte para seu lugar.
―Por desgraça não posso fazê-lo ― Disse Lucien golpeando o peito ― Sou o apóstolo de sua
beleza, lady Sophie. Temo por minha vida se permaneço afastado da fonte de minha felicidade.
―Tolices! ― Protestou ela rindo ― É está você deixando ter uma amante.
― Eu adoraria que fosse você quem se deixasse levar, entre as cortinas de meu leito.
Sophie olhou inconscientemente ao Patrick quem estava olhando fixamente o programa com
o cenho franzido. Não estava acostumada às brincadeiras que se permitiam fazer os homens às
mulheres casadas e estava um pouco envergonhada, o qual ocorria muito raramente. Antes de
casar-se com o Patrick, era famosa por sua maneira de expressar-se, mas então estava solteira e
agora se dava conta de que naquele tempo não tinha a menor ideia do que dizia a maior parte das
vezes.
Além disso, para ser completamente franca, não dava muita importância aos empolados
cumpridos de Lucien. Todo seu ser estava concentrado em seu marido, o qual por sua parte, não
parecia ser consciente dos olhares de concupiscência que dedicavam os outros homens.
―Estou brincando lady Sophie ― Disse ele amavelmente ― digo essas coisas porque esta de
moda fazê-lo, mas por nada do mundo queria desgostá-la.
Ela sorriu.
― Refere-se a que poderia dizer as mesmas coisas a qualquer outra mulher?
― Exatamente. A respeito muito para seguir dizendo essas coisas, e mais quando é evidente
que é nova neste jogo.
Ela avermelhou.
Nesse momento Patrick levantou a vista e se zangou ainda mais. A Sophie adorava que a
seduziram em francês e ele sabia, de modo que não confiava absolutamente em Lucien. Maldição!
Disse se não tomava cuidado ia terminar como a mãe de Sophie que só aceitava em sua casa
francesas feias e velhas.
Sophie estava falando em voz baixa com Lucien, mas Patrick tentou recuperar um pouco de
bom julgamento. Todo mundo sabia que Lucien era fiel à memória de sua falecida esposa, de
modo que essa paquera não era mais que um jogo.
Molesto, levantou-se e saiu do camarote. Para que ficar aí, olhando como outros homens
cortejavam a sua mulher? Estava obcecado, pensou afastando-se dando passos longos pelo
corredor. Obcecado pelo ciúme. Por exemplo, onde tinha estado ela essa mesma tarde? Braddon
tinha ido procurar às duas em ponto e havia a trazido de volta às sete, bem a tempo para ir ao
teatro. E o mesmo tinha acontecido na sexta-feira anterior.
Patrick estava fervendo de raiva, mas se sentia incapaz de exigir que dissesse o que fazia pelas
tardes com o Braddon.
De repente recordou que Sophie era como uma gota de água: clara, honesta e sincera.
Quando ele fazia amor no navio, por exemplo, sua resposta sempre era deliciosamente sincera.
Ela nunca acreditou obrigada a fazer falsas declarações de amor apoiadas unicamente no desejo.
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Mas não era esse o traço de sua honestidade que ele mais gostava, confessou a si mesmo.
Para acabar de arrumá-lo tudo, colocou-se em uma situação interior tão complicada que não
podia decidir-se a entrar no quarto de Sophie e agarrá-la entre seus braços. Sua diminuta esposa
dormia sozinha.
Se tão só ela demonstrasse aborrecimento ou tristeza, se demonstrasse que sentia sua falta;
seria mais fácil abordar o tema. Mas ela seguia sendo agradável e amistosa.
Dá-lhe completamente igual se estiver ao seu lado ou não, pensou.
Deu a volta e voltou ao camarote. Já era suficiente vagando pelas ruas durante a noite ou que
trabalhasse até horas indecentes como para que agora a abandonasse no camarote tentando
encontrar uma paz que não ia encontrar.
Quando afastou a pesada cortina de veludo só ficavam Braddon e Sophie. O “cristão” devia
haver-se convertido por fim já que no cenário se estava desenvolvendo uma batalha e o cristão
lutava com uma cimitarra.
Braddon e Sophie formavam um bom casal, teve que reconhecer Patrick. Seus cabelos tinham
a mesma cor e entre eles se notava um ambiente de cumplicidade e camaradagem que não
gostava de nada absolutamente.
Foi sentar se à direita de sua mulher. Ao lhe ver, Braddon se levantou e depois se deteve um
momento atrás de sua cadeira e lhe deu um golpe amistoso no ombro.
―Missão comprida Patrick. Minha mãe está esperando.
Em efeito, a condessa de Slaslow, instalada em um camarote justo em frente do dele, estava
olhando com persistência a seu filho.
Está furiosa porque ainda não encontrei uma noiva ― Anuiu Braddon sombriamente.
Esquecendo o muito que detestava seu antigo amigo, Patrick lhe dedicou um sorriso de
compaixão.
Enquanto a obra seguia seu curso em meio de um comprido entrechocar de espadas, um
pensamento coerente se abriu passo na mente de Patrick. Braddon nunca tinha sabido guardar
um segredo; e seu comportamento com Sophie não lhe produzia nenhum sentimento de culpa.
Entretanto isso não explicava o fato de que sua mulher desse tão pouca importância à ausência de
seu marido em sua cama.
De modo que diabos faziam Sophie e Braddon no transcurso de seus intermináveis passeios se
não se tinham uma aventura amorosa?
Um pouco depois, essa mesma semana, Patrick levantou a vista de seus livros de contas para
descobrir a seu irmão de pé diante de seu escritório.
―Alex!
Se Alex se surpreendeu ao ver seu gêmeo, normalmente pouco expressivo, tropeçar em seu
afã por ir abraça-lo, não o demonstrou.
―Justamente queria falar contigo ― Disse Patrick.
Alex compôs um meio sorriso.
― Me deixe adivinhar. Estragou seu matrimônio como só os Foakes sabem fazê-lo e você
gostaria de me pedir ajuda.
―Para nada! ― Respondeu Patrick muito seguro.
―Vamos lá! Não acreditará que arrastei Charlotte até Londres com este horrível tempo para
que mande a passeio?
Patrick franziu o cenho.
―Não pedi que viesse ― Fez notar.
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―Não precisava.
Curiosamente, embora os gêmeos fossem incapazes de sentir cada um a dor física do outro,
sempre sabiam imediatamente se um ou outro estavam preocupados. Quando o matrimônio do
Alex esteve a ponto de ir-se ao ar ao Patrick doeu o estômago durante meses.
―Vamos Patrick! ― Animou seu irmão.
Houve um momento de silêncio.
―De acordo ― Disse Patrick ao fim dirigindo-se para a janela para olhar sem vê-la, a chuva de
março que golpeava o vidro ― Estraguei meu matrimônio como só os Foakes sabem fazê-lo, mas
não acredito que você possa fazer nada.
Alex, calado, deixou-lhe continuar.
―Não compartilhamos o dormitório e não sei como arrumá-lo.
―Foi sua escolha ou dela?
―Meu Deus! Mas não foi realmente uma escolha. Não sei como aconteceu. Discutimos por
uma tolice e essa noite não voltei para casa.
―Grave erro ― Cortou Alex.
―Fui aos armazéns, não perseguir mulheres.
―O conselho que poderia te dar é que não abandone sua casa até que as brigas não resolvam.
As mulheres não perdoam nunca isso. Charlotte me arrancaria os olhos se eu fizesse um pouco
parecido.
―Esse é o problema. Sophie parecia não importar de modo que ao dia seguinte de noite
tampouco voltei para casa.
Alex parecia surpreso.
―É absurdo ― Continuou seu irmão ― Pelo eu esperava que houvesse uma reação por sua
parte. Entretanto ela se mostra muito cortês, e, para falar a verdade, acredito que lhe dá
completamente igual se a busque de novo a seu dormitório ou não.
Alex franziu o cenho.
―Gostava de fazer amor contigo?
―Isso me parecia pelo menos. Não, estou seguro. E Deus é testemunha de que eu adorava.
Mas agora… Já faz mais de duas semanas. Ela me recebe tão amavelmente como se passássemos
todas as noites juntos. Seu humor é excelente eu faça o que faça.
―Então tem que falar claramente do tema com ele ― Sugeriu Alex.
Patrick pareceu abatido.
―Como pode perguntar a uma mulher que parece estar satisfeita, se tiver notado a ausência
de seu marido em sua cama? Não parece estar de maneira nenhuma desgostada.
―E como você sabe? Tenta entender. Vá ver ele inclusive embora não fale abertamente do
que te tem preocupado, vai ao seu quarto.
Fez-se um pequeno silêncio.
―Poderia entrar lá ― Admitiu ao fim Patrick.
―Não tem nada que perder.
―Suponho que tem razão.
― Já disse que a ama?
Patrick lançou a seu irmão um olhar assassino.
―É obvio que não!
―Entretanto essa é a verdade. Se não fosse assim não se incomodaria tanto que Sophie
sentisse menos entusiasmo menos que você pelos prazeres conjugais.
―Entusiasmo! Não entende ― Ladrou Patrick ―Está encantada levando a vida de uma
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condenada monja! Maldição, não sei por que não se meteu em um convento!
―Nem saberá até que não entre em seu dormitório. Quanto a mim, estou pensando como vou
gastar minhas quinhentas coroas. Seria melhor que fosse fazendo à ideia de dormir com uma
camisola de renda.
―Por todos os diabos! Que demônios…
―Nem sequer aguentou um ano ― Recordou ironicamente Alex ― Lembra-se? Apostei
contigo quinhentas coroas a que estaria louco por sua mulher antes que acabasse o ano. Só tem
casado umas poucas semanas e já está caído.
Voltou a ficar sério para acrescentar:
― Por que não diz a Sophie? Diga que a ama.
Patrick olhou a seu irmão com os olhos carregados de dor.
―Não é algo recíproco Alex. Ela não me necessita, vive muito bem com todos os homens que
giram a seu redor durante todo o dia. Braddon virtualmente vive conosco.
Alex lhe rodeou os ombros com um braço.
―Voltaremos para Londres dentro de umas semanas, mas você pode vir a nos ver o Downes
quando quiser, sabe.
Patrick tentou sorrir.
―Obrigado.
―Tenho que ir procurar Charlotte. Quer fazer umas compras antes que voltemos para campo.
Esta noite visitará seus pais. Você gostaria que nós dois aproveitássemos para jogar uma partida
de bilhar?
Patrick assentiu e Alex se deteve na porta.
―Os matrimônios não sempre são um êxito Patrick.
Os dois estavam pensando nas primeiras e catastróficas bodas do Alex.
―Não terá que odiar-se por isso ― Concluiu.
Quando se fechou a porta, Patrick se deixou cair em uma poltrona. Seu irmão tinha razão, mas
só em parte. Resultava-lhe inconcebível falar com Sophie de seus problemas íntimos, mas se que
podia ir a seu dormitório. Sim, isso é o que faria. Esta noite o tinha que jantar com Petersham e
depois jogaria uma partida de bilhar com o Alex, mas amanhã a visitaria, do contrário ia ficar
louco. Fosse o que fosse que pensasse sua pequena e fria esposa, ele morria de vontade de
esmagá-la sobre uma cama.
E pouco importava em que cama fosse.
Patrick é obvio não sabia, mas sua “pequena e fria esposa” estava no piso superior chorando
com desconsolo.
Henri entrou em seu quarto e ficou quieto sem saber o que fazer.
―O que acontece lady Sophie?
O inglês do menino não era perfeito mais apesar de tudo Sophie tinha proibido que falasse em
francês para que pudesse estar a gosto quando fora ao internato.
Secou rapidamente os olhos.
―Não passa nada Henri. Estou-me transformar em uma verdadeira Madalena, simplesmente.
―Uma Madalena?
―Uma pessoa que chora continuamente.
Henri podia notar que se tratava de um delicado problema e duvidou um instante antes de
perguntar:
― Você chora você… Porque está separada de seu marido?
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Ela deveria ter suspeitado que todos os criados estariam cochichando sobre o abandono de
Patrick. E certamente sabiam onde passava seu marido as noites já que sempre estavam inteirados
de tudo.
―Quem diz quão criados é a amiga do Patrick, Henri?
―Perdão?
-Com quem passa as noites?
O rosto do Henri delatava uma sincera simpatia por ela. Moveu a cabeça de um lado a outro
sem tentar dissimular o que todos pensavam, quer dizer, que naturalmente Patrick tinha uma
amante. Entretanto cuidou muito de revelar o que pensavam de suas frequentes saídas com o
conde de Slaslow.
Sophie fez uma profunda inspiração. A conversa não era muito adequada para um
adolescente.
―Poderia descobrir ― Propôs Henri ―Está tarde seguirei o senhor Foakes como se fosse um
detetive e saberei o que faz.
―Nada disso Henri! ― Respondeu Sophie o olhando com afeto ― Vamos esquecer desta
conversa. Não deveríamos ir ver o leão da Bolsa?
Henri assentiu; mas na refeição da noite se deslizou de novo no quarto com tal expressão que
Sophie adivinhou imediatamente que algo não funcionava.
―O que aconteceu Henri?
Ele se aproximou dela.
― Segui-lhe, lady Sophie, embora você me proibisse isso. Tem… Acreditei que o tinha perdido
no Bond Street, mas depois saiu de uma casa. Lady Sophie, o senhor Foakes realmente tem uma
amante.
O coração dela deu um tombo.
―Isso não está bem Henri ― Disse de forma automática. Não deveria haver seguido.
Deu-se conta surpreendida de que não lhe tremia a voz.
O menino estava visivelmente surpreso. Adorava Sophie e a traição de Patrick chocava
frontalmente com sua lealdade.
―Está errado! ― Exclamou com paixão ― Eu vou dizer! Essa… Essa mulher alta com o cabelo
negro… Puaf! É um monstro comparada com você!
Sophie esteve a ponto de sorrir ao evocar a imagem. De modo que Patrick tinha uma amante
morena. Sem dúvida se tratava de uma relação anterior a seu matrimônio que não tinha
considerado romper.
―Não esteve bem que o seguisse ― Repetiu ―Sobretudo para ver se tinha uma amante.
Ele sentiu um pouco de remorso.
―Mas é que eu não queria acreditar nos outros quando diziam que o senhor Foakes era um
libertino.
Seu pequeno rosto estava deformado pela ira.
―As coisas são assim, Henri ― Disse gentilmente Sophie pondo as mãos em cima dos ombros.
Isso não põe em perigo um matrimônio. Simplesmente, é assim.
Pouco momento depois começaram para jantar. Sophie se sentia muito desgraçada. Nunca
tinha tido nem a menor oportunidade de conquistar o coração de Patrick. Uma mulher morena
tinha chegado antes dela e certamente estavam compartilhando um jantar romântico já que ele
não tinha aparecido essa noite.
Permaneceu acordada até as três da manhã rezando por que Patrick se reunisse com ela na
cama. Por fim o ouviu chegar, agradecer a seu ajudante de câmara e meter-se em sua própria
130
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cama.
Sophie pôde comprovar até que ponto ele estava adormecido, já que se levantou nas pontas
dos pés e entreabriu a porta que comunicava os dois dormitórios. Devia estar esgotado, mas ela
não conseguia zangar-se realmente.
Quão único sentia era medo. Embora tivesse negado a falar de suas menstruações com o
Patrick quando estavam a bordo do Lark, via-se obrigada a admitir que não as tivesse tido desde
que ele subiu pela escada até seu dormitório. Decididamente era igual a sua mãe. Uma gravidez
nada mais casar-se e um matrimônio fracassado.
O bebê já tinha modificado ligeiramente seu corpo; seus seios eram maiores e seu ventre
tinha uma ligeira curva que secretamente adorava. Dormia até bem entrada a manhã, mas a única
pessoa que o tinha notado era sua donzela.
Logo estaria gorda e disforme. Patrick, que já tinha outras distrações em outra parte, não
voltaria nunca para entrar em seu quarto.
Começou a soluçar contra o travesseiro, nem tanto por causa das escapadas de seu marido
como por não alegrá-lo suficiente pela chegada desse filho tão desejado. Era muito cedo. Patrick
perderia todo o interesse por ela e além só queria ter um filho. Agora já não teria nenhuma razão
para ir a ela; o qual significava anos inteiros de um matrimônio similar ao que tinha tido sua mãe.
Veria seu marido nos jantares e depois ele iria, assistiriam às festas no campo onde a anfitriã
automaticamente lhes atribuiria quartos separados e inclusive, algumas vezes, inclusive em pisos
distintos.
Por desgraça, cada vez que via o Patrick, um intenso calor se apoderava dela, um desejo que a
aturdia, e tanto, mas humilhante por quanto, evidentemente, não era recíproco.
Essa noite a Sophie custou um enorme esforço não deslizar-se na cama de seu marido.
O orgulho foi em sua ajuda. Ia jogar-se nos braços de um homem que acabava de sair dos
braços de outra mulher? E se ele a rejeitasse? E se ele cheirava ao perfume de outra mulher?
De modo que permaneceu onde estava, em seu próprio dormitório.
Capitulo 19
No dia seguinte pela manhã, Sophie fez um esforço para pensar atentamente na situação.
Certo, que seu marido tinha abandonado sua cama para ir a de uma cortesã, mas tinha que estar
bem com ele, do contrário seu filho ia sofrer as consequências. E mas valia que as pessoas
acreditasse que não se importavam as aventuras de seu marido. Qualquer manifestação de ciúmes
por sua parte desencadearia o tipo de comentários depreciativos que perseguida sempre a seus
pais.
Querida mamãe ― Escreveu em seu melhor papel de cartas ― Espero que papai e você
estejam tendo uma temporada agradável no campo. Seu relato da festa da primavera da senhora
Braddle me divertiu muito. Patrick esta muito ocupado neste momento de modo que não podemos
ir visita-los mas agradeço muito seu convite. Londres está virtualmente deserto nesta época, mas
eu passo muito tempo com Madeleine Cornille, a filha de marquês de Flammarion. Tem que
conhecê-la assim que volte para a cidade, estou segura de que te parecerá encantadora. Henri está
bem é muito amável por sua parte que se interesse por ele; está muito excitado com a ideia de
passar o próximo trimestre no Harrow. Patrick o levará a semana que vem. Tentarei encontrar os
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copos que me pede e lhe enviarei imediatamente. Sua filha que te quer Sophie.
Heloise, ao ler a carta, franziu o cenho. Sophie falava pouco de seu marido e se perguntou se
estaria imaginando-se coisas ou se o matrimônio de sua filha não estava danificando.
―O que sabe de Patrick Foakes, George? ― Perguntou essa mesma noite.
―Perdão querida?
―Patrick Foakes é um descarado?
Heloise acostumava a chamar as coisas por seu nome, pensou George. Escolheu as palavras
com cuidado.
― Quando era jovem sua conduta não era exemplar.
―Não me importa sua juventude ― Cortou ela com impaciência ―Acredita que mantém uma
amante?
Por isso George sabia da alta sociedade era possível. Seu silêncio foi suficiente resposta.
―Sabia ― Murmurou a marquesa ― Aconselhei a Sophie que se casasse com um libertino.
Que estúpida fui!
George despediu do lacaio com gesto e se aproximou de sua mulher ajudando-a a levantar-se.
―Possivelmente Sophie se pareça com sua mãe, querida.
Heloise estava assombrada e a beijou nos lábios.
―Sua mãe sabe como conquistar um libertino ― Esclareceu ele.
―Vamos George ― Repreendeu ela ― Não pensará que me vai arrastar até a cama dizendo
isso. Suas formosas amigas possivelmente se esqueciam de jantar para… Fornicar contigo, mas eu
não.
Voltou-se a sentar mantendo as costas muito retas.
―E chama para que venham, por favor, ― Grunhiu ― Parece que Philippe abandonou seu
posto.
George, sorrindo, voltou para seu lugar. Adorava essas escaramuças com a marquesa. Ela era
mais teimosa que uma mula.
―Não se preocupe muito por nossa pequena Sophie ― Disse para tranquiliza-la servindo uma
porção de bolo de damasco ―Tem a cabeça bem posta sobre os ombros.
―É um otimista sem remédio, George ― Replicou Heloise com os olhos cheios de carinho.
Capitulo 20
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Uns minutos depois, Foucault explicava ao Patrick que eram os representantes da corte do
grande sultão Selim III.
Patrick os saudou com muita cerimônia.
―Sinto-me muito honrado de conhecê-lo ― disse.
Estava acostumado aos formalismos internacionais e se esperava ao menos meia hora dando
rodeios.
―Lamento dizer que meu acompanhante, Bayrak Mustafá, ainda não domina seu idioma. É
alguém muito próximo a Selim e é muito leal. Sabe você falar turco senhor?
―Por desgraça não ― Respondeu Patrick inclinando-se diante da A Toupeira antes de voltar
sua atenção de novo ao Foucault ― Posso lhes oferecer um refresco?
Foucault se voltou para o Bayrak Mustafá e disse algo em turco. Patrick observou a cena com
interesse. Temia que Foucault fosse um impostor, mas parecia falar o turco perfeitamente.
Entretanto, por seu modo de falar, não se dirigia ao outro homem como se fosse seu igual. Bayrak
Mustafá devia ser uma espécie de esbirro.
Este último assentiu com a cabeça e respondeu em turco.
―Meu amigo e eu ― Traduziu Foucault com seu tom parcimonioso ― Estaremos encantados
de conhecê-lo melhor.
Patrick puxou o cordão para chamar.
―Fala você perfeitamente o turco ― Disse a Foucault ―Minhas felicitações.
O homem agitou seu lenço.
―Ah! Notou que não sou turco de nascimento, senhor.
Patrick lhe olhou lhe animando a continuar e o prosseguiu:
―Conheci meu estimado Selim quando ele estava viajando pela França em 1788. Descobrimos
que tínhamos muitas coisas em comum.
Sorriu já que em parte era certo. Conheceu estúpido do Selim quando este último se arrastava
por Paris perseguindo a algo com saias que cruzava com ele e procurando briga.
Entretanto a explicação que deu era suficiente para Patrick quem também tinha conhecido ao
Selim. O francês era exatamente o tipo de indivíduo que gostava do turco.
―Quando aconteceram os terríveis sucessos que obrigaram ao Selim a romper suas relações
com Francia ― Continuou Foucault ― Me suplicou que não o abandonasse. A verdade é que o
querido Mustafá é meu devoto servidor. Esperamos as mensagens de Selim e mandamos o que
nos pede. Por exemplo, adora as botas de montar a cavalo, e as melhores as fabricam na
Inglaterra.
Olhou seu próprio calçado com carinho.
― Selim se inteirou que você ia a Turquia para sua coroação; que será uma maravilhosa
cerimônia; e naturalmente, disse-me que gostaria que eu lhe conhecesse.
Deu um delicado gole de ratafía.
Patrick estava perguntando o que Foucault queria dele, parecia estar ligeiramente tenso e isso
o punha em guarda. Quanto a seu acompanhante, tinha todo o aspecto de um valentão. Foucault
parecia ser uma espécie de fornecedor de Selim e Patrick teria posto a mão no fogo a que o que
enviava ao sultão não sempre eram botas inglesas.
Mas não era o momento de interrogá-lo. Depois de dizer um considerável número de
banalidades, o homem por fim chegou à medula do assunto.
― Eu adoraria assistir à coroação do querido Selim ― Disse ― Desgraçadamente minha
presença é indispensável aqui em Londres.
Com isso dava a entender que o esperavam nas melhores casa, entretanto Patrick nunca o
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Essa noite, enquanto seu ajudante de câmara colocava bem a jaqueta nos ombros, Patrick
tomou uma decisão. Alex tinha razão, estava se comportando como um colegial. Ele queria que
sua mulher se apaixonasse por ele e certamente abandonar seu leito não era a melhor maneira de
conseguir.
Quando entrou no salão, Sophie estava olhando pela janela, vestida com um singelo vestido
verde claro de seda. A sala estava mal iluminada já que tinha começado a chover de repente e os
criados ainda não tinham tido tempo de acender os candelabros.
A roupa que usava não era provocadora, o decote não era grande e inclusive tinha um xale
posto sobre os braços nus. Patrick se sentiu subjugado uma vez mais por sua beleza.
―Esta noite Henri janta conosco?
Ela se sobressaltou e se voltou para ele.
―Não, o…
Ele atravessou o salão com grande rapidez e a levantou em seus braços.
Ela gritou e o xale deslizou enquanto Patrick se apoderava de seus lábios com paixão. Ela se
ofereceu a ele como se nunca tivessem deixado de beijar-se. Em seu interior se produziu um
verdadeiro incêndio. Ele havia retornado, tinha voltado para ela. Tudo se misturou em seu
interior; gratidão, amor, desejo; enquanto se derretia entre os braços dele.
Muito lentamente ele a soltou.
Desenhou com o dedo a linha do lábio inferior dela olhando-a com seus olhos escuros e
expressão indecifrável.
Sophie não se atrevia a pronunciar uma só palavra. Agora que Patrick tinha recordado
repentinamente que tinha uma esposa as perguntas se amontoavam em seus lábios. Onde passa
as noites? Sua amante estava ocupada esta noite?
Ele continuava em silêncio de modo que acabou por balbuciar:
― Foi muito… Muito… Agradável Patrick.
Como ele continuava sem dizer nada, segurou seu braço e se dirigiram para a sala de jantar.
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Patrick estava aturdido. Quando Sophie estava entre seus braços se sentia cheio de alegria.
Quando ela se apertava contra ele, Ele se sentia maravilhosamente bem.
Mas quando o olhava com essa expressão dizendo que seus beijos eram “agradáveis” tinha
desejo de largar e não voltar nunca.
Durante o jantar bebeu três vezes mais do normal. Cada vez que olhava Sophie, sentada frente
a ele, consumia-lhe o desejo e se apoderava do copo de vinho. Era incapaz de pensar em outra
coisa que não fosse o que ia fazer quando acabasse essa interminável janta.
Ela tinha recolhido descuidadamente o cabelo e umas mechas caíam pelo rosto até os ombros.
Uma mecha rebelde inclusive posou no respaldo da cadeira de tal modo que parecia pálido âmbar
sobre uma madeira quase negra.
Clement trocou o prato de pedaços de boi por cabrito.
Sophie se remexia em seu assento como se estivesse sentada sobre um formigueiro.
Observada por seu marido, sentia-se de uma vez incômoda e excitada. A chuva golpeava a janela
fazendo impossível a conversa e por outra parte o talento natural de Sophie para falar parecia
havê-la abandonado. E além cada tema que tentava abordar era cortado pela raiz pelas
monossilábicas respostas de Patrick.
Estava procurando desesperadamente um tema que pudesse interessar quando ele declarou:
― Ontem Alex veio à cidade.
O rosto do Sophie se iluminou.
―Como está Charlotte?
―Não perguntei.
―E as meninas?
―Esqueci delas.
Sophie deixou escapar um suspiro. Francamente, não era fácil. Quebrou a cabeça pensando de
que podia falar possivelmente de literatura? Ainda faltava um prato antes que ele a abandonasse
para dedicar-se a suas distrações de todas as noites.
―Você gostou dos rivais?
Era a peça de teatro que tinham ido ver uns dias antes.
―A obra tem já vinte e cinco anos e se nota.
―Lydia Languish me pareceu muito divertida insistiu Sophie.
―A protagonista? A que passava todo o tempo lendo horríveis novelas?
―Sim.
Patrick riu.
―A inocente adúltera, Delicada tristeza! Perda de tempo!
―Eu estou lendo delicada tristeza ― Disse Sophie com os olhos brilhantes ― São as memórias
de lady Woodford. Se por acaso não sabe sua vida foi apaixonante.
A conversa voltou a decair e ela se concentrou em seu prato.
Só era capaz de pensar no beijo que seu marido tinha dado por que o tinha feito? E o que era
mais importante pensava fazer de novo?
Arriscou-se a olhar para o outro extremo da mesa e viu Patrick apoiado no respaldo da cadeira
olhando fixamente seu copo de vinho. Estava vestido completamente de negro e tinha um aspecto
algo diabólico com o cabelo revolto e as sombras que o candelabro projetava sobre seu rosto. Não
sabia como ia poder conservar para ela só um homem tão atraente.
Só o olhando seu coração dançava. Melhor não saía essa noite, ao melhor ela poderia o atrair
até sua cama.
Antes de perder por completo a coragem, fez um gesto ao lacaio para que se fosse e depois se
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Capitulo 21
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sentemos.
Os três se colocaram ao redor da mesa de jantar do Garnier, coberta com uma simples toalha
de algodão, mas com finos pratos de porcelana, rodeados cada um por ao menos quatorze
lugares. Braddon tinha comprado tudo no Picadilly.
―Meu mordomo cuida zelosamente do faqueiro de prata ― Tinha explicado ― Não posso
pegá-lo sem que se dê conta.
Sophie observou a mesa.
― Perfeito Madeleine. Não há o menor engano.
Braddon franziu o cenho.
― Não precisa aprender isto. Tenho ao menos quinze lacaios que não fazem nada todo o dia.
― Não são os lacaios os que põem os lugares ―Cortou Madeleine ― E sim uma das criadas
fiscalizada pelo mordomo.
― A proprietária da casa deve saber exatamente o que fazem seus criados ― Explicou Sophie
― Do contrário não poderia saber quando algo não vai bem.
―Mm ― Grunhiu ele pouco convencido.
Sentou-se ao lado de Madeleine, em frente de Sophie.
―Estamos em um jantar oficial ― Começou ela ― Um lacaio está a sua direita, Madeleine, e te
oferece um assado de porco.
Madeleine fez um gracioso gesto com a cabeça acompanhado de um sorriso indicando que
provaria o assado. Depois pegou o garfo apropriado.
―Maldição, nunca tinha visto tanto faqueiro junto! ― Grunhiu Braddon ― Não esta sendo
muito perfeccionista Sophie?
―Não ― Respondeu ela imperturbável ― O que acontecerá se convidarem a Madeleine para
jantar no St. James?
― Não é muito provável que aconteça. Nunca deixarei que esses duques se aproximem.
―Se estivéssemos jantando juntos, Madeleine, veria-me obrigada a pôr Braddon uma baixa
pontuação já que me está falando diretamente por cima da mesa. Uma dama só fala com as
pessoas que tem a sua direita e a sua esquerda.
Entrecerrou os olhos ao surpreender um movimento de Braddon.
―E ― Continuou ― Nunca permite que um cavalheiro toque seu joelho. Pega o leque,
Madeleine.
A aludida ruborizou confusa.
―Acredito que o entreguei ao lacaio junto com o xale.
―Oh não! Uma dama não se separa jamais de seu leque. Por outra parte, se um cavalheiro te
incomodar ou te ofender, por exemplo, com uma brincadeira de mau gosto pode expressar seu
aborrecimento lhe voltando às costas.
Madeleine olhou zangada a Braddon e depois voltou à cabeça.
―Não, não! ― Disse Sophie ― Isso é muito evidente. Não deve se dignar a lhe olhar sequer.
Madeleine olhou de cima abaixo a Braddon antes de girar seu corpo de cintura para acima
com uma expressão de completa indiferença.
―”Bravo”! ― Aplaudiu Sophie.
Braddon estava bastante menos entusiasmado. Agarrou a sua prometida pelos ombros.
―Eu não gosto dessa expressão vindo de você ― Se queixou.
―Tenta imaginar que um velho verde faz uma proposição desonesta a Madeleine ― Sugeriu
Sophie.
Ele pensou atentamente.
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Umas semanas depois, Patrick olhava com desgosto os papéis acumulados sobre seu
escritório. Entre as faturas e as cartas de seus distintos encarregados no estrangeiro se deslizava a
visão da pequena mão que tinha tido que se separar de seu ombro quando se levantou essa
manhã. Sophie tinha suspirado antes de dar a volta com o pescoço da leve camisola aberta. Havia-
lhe custado muito deixá-la.
A porta da biblioteca se abriu de repente e levantou o olhar, molesto. O pessoal tinha ordens
de não o incomodar, mas não se tratava nem de seu secretário nem de um lacaio. Sua esposa
entrou e fechou a porta atrás dela.
Aproximou-se dele sem fazer ruído. Ele parecia estar tão surpreso que ela esteve a ponto de
recuar, mas apesar de tudo chegou até a poltrona e apoiou a mão em seu braço. Ele tinha subido
as mangas e, sem dar-se conta, acariciou sua pele.
―Não tinha um encontro com o Braddon?
Era sexta-feira, e as sextas-feiras ela habitualmente os passava com o Braddon, até o ponto
que ele em seu interior o apelidava “o dia do Slaslow”
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queria agradar a seu marido de vez em quando devia esquecer-se de usar roupa intima.
Sua voz baixou uma oitava.
― Esta manhã, gostaria de não usá-la. Mas evidentemente, como Simone me estava vestindo,
tive que pôr.
Patrick era dolorosamente consciente do fôlego de Sophie sobre seu peito e dos pequenos
beijos que ia dando à medida que falava.
― Então ― Continuou ― Esperei que ela se fosse, tirei as calcinhas e as tornei a dobrar
exatamente igual a como o faz ela antes das guardar na cômoda. Desse modo não se inteirará. De
todas as formas, durante o café da manhã recordei que ela era a que se ocupava de me despir
todas as noites. O que vai pensar quando vir que perdi minhas calcinhas?
Patrick sentiu um imenso alívio. Esta era sua Sophie. O bastante francesa para usar calcinhas
(que as inglesas consideravam muito atrevidas), mas também o bastante inglesa para temer a
reação de sua donzela se não as usava.
―Então ― Sussurrou Sophie ― Quis descobrir o que você podia fazer a respeito.
Ele a levantou e rodeou sua cintura com as pernas instintivamente. Depois a levou a divã e se
ajoelhou a seu lado cheio de alegria.
Olhou-a com os olhos brilhantes de felicidade e depois lhe beijou as pálpebras enquanto
levantava suas saias até a cintura.
Ela estava inchada e era doce, o mais doce que tinha provado em sua vida, e cada uma de suas
carícias ia acompanhada de um rogo sussurrado e de um gemido de prazer. Ele sorria contendo o
fogo que ameaçava queimando. Sua pequena esposa tinha ido a ele sem calcinhas e ele não ia
apressar-se.
Foi fechar a porta com chave e se despiu tombando-se depois em cima de Sophie.
Ele a provocava mais e mais, desfrutando de seus suspiros de prazer até que ela abriu os olhos
e gritou:
―Patrick!
Ele inclinou a cabeça para acariciar seus lábios sem deixá-la chegar ao orgasmo.
De repente ela se afastou o empurrando sobre o amplo divã.
Os olhos dela tinham um brilho tão diabólico como os seus. Os dois riram cheios de malícia e
de desejo.
Ela se sentou escarranchada sobre ele.
―Vejamos se você gosta disso ―Murmurou ela contra sua boca.
Esfregava-se contra ele com lascívia e ao olhá-la lhe cortou o fôlego. Ela se pôs a rir.
Encontrou seus mamilos e os agarrou entre seus lábios do mesmo modo que ele fazia às vezes
com ela e logo depois deslizou pelo divã cuidando de não precipitar as coisas. Agarrou a ereção
dele entre as mãos e depositou nele um ligeiro beijo.
― Sophie!
Ela se animou, acariciou-lhe com a ponta da língua e abriu a boca.
Viu-se recompensada por um gemido rouco.
Então mordeu com cuidado como ele parecia gostar. Desta vez não obteve um gemido e sim
um verdadeiro grito.
Ele rodou até o chão tão rapidamente que não lhe deu tempo a reagir, e se encontrou
tombada sobre o grosso tapete com o vestido suspenso e as pernas ao redor da cintura de Patrick.
Os dois se mergulharam na dança selvagem dos amantes.
Explodiram juntos com um grande grito antes de cair um sobre o outro, esgotados.
Patrick rodou a um lado arrastando Sophie com ele. Ela ainda tremia e lhe custava respirar.
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―Patrick?
―Mmm.
―Você não gostou que te… mordiscasse?
― Eu adorei.
―Tenho que te confessar uma coisa. Não fui completamente sincera contigo.
Ele a escutava distraído.
― Não te interrompi porque já havia resolvido o problema de minhas calcinhas. Só queria te
seduzir. Não pensei em outra coisa em toda a manhã.
Patrick a abraçou. Era maravilhoso fazer amor com sua esposa sobre uma montanha de
faturas, sobre um divã e sobre o tapete da biblioteca. Era maravilhoso ter uma esposa que só tinha
pensado nisso toda a manhã.
Só depois, pela tarde, uma ideia passou por sua mente. Estava revivendo o momento no que
levantou a saia de Sophie, voltou a pensar na voluptuosidade de seus seios. Pensou que estavam
mais cheios e se perguntou se era devido a suas carícias.
Esticou-se de repente e começou a contar mentalmente da noite em que escalou até seu
dormitório. Quanto de isso? Quase quatro meses.
Era um idiota! Triplamente idiota! Até então tinha protegido a suas amantes de qualquer
gravidez, umas mulheres que não lhe importavam um nada. E agora que tinha uma esposa; uma a
qual amava por que negá-lo? Amava Sophie com todo seu coração e com toda sua alma, tinha-a
seduzido e era dele; agora de uma maneira totalmente irresponsável, tinha-a exposto ao pior
perigo que pudesse ter uma mulher.
― Estúpido estúpido! ― Grunhiu olhando ao teto.
A verdade é que tinha pensado tirar a ideia de ter nem sequer um filho; sua encantadora
pequena esposa era muito miúda e estreita. Parecia-lhe estar vendo seus magros quadris, sua
cintura tão fina que podia abrangê-la com as duas mãos. Como podia ter sido tão inconsciente?
Ela não poderia sobreviver ao parto. Pensou em sua cunhada, Charlotte, que era bastante
maior que Sophie e que, entretanto tinha estado a ponto de morrer dando a luz a sua filha. E sua
mãe… Inclusive as mulheres da Índia que tinha visto morrer de parto eram mais fortes que Sophie.
Entrou em tromba no quarto de sua mulher gritando:
―Sophie, Sophie!
Ela o olhou com os olhos cheios de esperança. Desde que tinha atirado sua gramática turca ao
mar, não se permitia a si mesma tocar os idiomas. Desgraçadamente, além das visitas a
Madeleine, seus dias estavam completamente vazios. Entrevistava-se com a governanta ou se ia
às compras. A temporada ainda não tinha começado e muitas de suas amigas ainda estavam no
campo.
Nesse momento estava distraída, um pouco por acaso, com as obras de Ben Jonson, mas
custava entender os diálogos um pouco passados de moda. De fato, pensou, não era uma
intelectual, simplesmente lhe davam bem os idiomas.
Patrick se ajoelhou a seu lado.
― Me escute Sophie. Fui ao seu dormitório pela primeira vez faz uns quatro meses. Sangrou
depois dessa noite?
Ela sorriu.
―Tanto tempo faz?
Ele se suavizou um pouco.
―Sim. Temo que estamos esperando um filho.
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Capitulo 22
Em princípios de maio, a nobreza começou a voltar para Londres. As aldavas voltaram a pôr
nas portas de carvalho e tiraram as capas dos móveis. As governantas trabalhavam em excesso
contando as velas e comprovando o estado de lençóis e toalhas.
Os mordomos se queixavam da irresponsabilidade dos jovens e enviavam mensagens
desesperados às agências de emprego.
Lady Fiddlesticks necessita quatro lacaios para a semana que vem.
Se não tiver duas boas donzelas, preferivelmente do campo, a governanta do barão
Piddlesford vai ficar louca.
Lady Brimticky procura dois lacaios a jogo; a mesma cor de cabelo, a mesma altura, a mesma
corpulência; para ir à traseira de sua limusine. Prefere-os morenos. Abstê-los ruivos.
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―Não fui eu. Segundo meu advogado, que consultou as estatísticas, ele é quem tem em seu
haver menos mulheres mortas dando a luz.
Sophie tinha estremecido sem dizer nada.
Depois da visita do médico tinha compartilhado com Patrick suas conclusões: não havia razões
para alarmar-se. Ele se limitou a assentir com a cabeça.
Jantavam juntos, tomavam o café da manhã juntos, mas nunca falavam do menino que crescia
em seu interior. Uma ou duas vezes disse a si mesma que ele devia pensar no bebê, já que o
agarrava sua cintura como se a estivesse medindo; mas apesar de tudo não comentava nada e,
quando ela tirava o tema, ele tirava outro ou abandonava a estadia.
―Não quer este bebê ― Murmurou Sophie para si mesma com o olhar cheio de angústia e as
mãos cruzadas sobre seu ventre.
Em realidade não era nada novo, Patrick nunca tinha escondido seus sentimentos respeito
desse assunto.
Possivelmente estava amargurado porque já não podiam fazer amor, disse-se.
Sua mãe tinha decretado que nesse estado, um matrimônio devia abster-se de fazer amor.
Quando Sophie o mencionou, Patrick assentiu em silêncio e não voltou a tocá-la. Sophie não sabia
como confessar que não tinha nem a menor intenção de fazer caso aos conselhos de sua mãe. Ao
menos deveriam consultar o doutor Lambeth.
Entretanto era muito tímida para dizer-lhe. Patrick oferecia o braço para acompanhá-la à sala
de jantar, olhava-a agradado mas sem luxúria, e se davam as boa noite de maneira formal diante a
porta dela.
Sophie, por sua parte, surpreendia a si mesma olhando as largas e musculosas pernas de seu
marido com desejo. Teria gostado de lhe acariciar as costas, sonhava com seus beijos e sentindo
suas mãos nela. Mas era muito pudica para lançar-se a seu pescoço, e, além disso, ele parecia
totalmente indiferente. Devia ter acudido de novo aos braços de sua amante morena, já que uma
ou duas vezes por semana voltava para dormitório ao amanhecer.
Pode que não gostasse de vê-la engordar, ela se olhava no espelho de corpo inteiro de seu
dormitório e odiava o que via. Seus seios eram muito grandes e também seu ventre. Enojada, dava
as costas ao espelho.
No parque, onde as carruagens das cortesãs se misturavam com os da alta sociedade, Sophie
procurava com o olhar alguma beleza morena e comparava a elegante esbelteza dela com sua
figura cada vez mais arredondada e seus brilhantes cabelos com seu vulgar cabelo loiro.
Mas ela era inteligente, pensava para consolar-se nos piores momentos de desânimo.
De modo que começou a pôr essa inteligência ao serviço dos jantares que organizava com seu
marido. Lia o Time, o Morning Post, peças de teatro e panfletos, e deste modo suas recepções se
convertiam em amenos períodos nos quais se debatiam os grandes problemas da época. Os êxitos
militares de Napoleão no leste ou as novas leis sociais a favor dos operários. Falava com Patrick de
suas importações e, de noite, sonhava com grandes navios navegando entre Londres e a Índia.
Os únicos temas que não abordavam eram o bebê e os ecos de sociedade do Morning Post. O
jornal parecia estar obcecado pelos adultérios e Sophie só lia essas páginas para tentar averiguar
onde Patrick passava as noites. Mas seu nome não era mencionado nunca e concluiu que ele era
mais discreto que seu pai, o marquês.
Por outra parte não tinha dúvidas na forma que passava as noites.
Como se tinha ficado em Londres não tinha que fazer nenhum preparativo para passar a
temporada. Antonin Careme já havia feito elegantes vestidos de grávida destinados a dissimular o
engrossamento de seu ventre, mas ela engordava muito rapidamente e logo foi impossível
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esconder a evidência.
Charlotte notou assim que a viu essa noite e deu um grito de alegria.
―Sophie! Por que não me escreveu para me dizer isso.
Quando Alex entrou no salão uns minutos depois, encontrou com as duas cunhadas falando
animadamente. Lançou um rápido olhar à Sophie antes de voltar-se para seu gêmeo.
Este não pôde conter um sorriso ao cruzar seu olhar. Não porque estivesse feliz pelo futuro
nascimento; negava-se inclusive a reconhecer que existisse; mas de todas as formas estava
bastante orgulhoso.
Alex lhe aplaudiu as costas em uma atitude muito masculina.
―Parece que as coisas vão melhor.
―Continuamos sem dormir no mesmo quarto ―Respondeu Patrick encolhendo de ombros ―
Por causa do estado de Sophie, de modo que já é um progresso.
Alex pareceu surpreso.
―Que ideia mais insuportável! E que opina o médico?
―Não perguntei, mas é Sophie que está grávida. Se ela não quiser não vou forçá-la.
A voz de Patrick era tão tensa que a seu irmão deu uma volta no estômago.
―A meu modo de ver isso são só tolices passadas de moda. Como se chama o médico?
―David Lambeth. Disseram-me que é o melhor de Londres.
―Pelo amor de Deus Patrick, não estrague seu matrimônio! Quartos separados
forçosamente afastam ao casal. E acredite isso não tem sentido.
―É Sophie quem tem que decidir. De todos os modos este será nosso único filho. Não vou
correr o risco de deixá-la grávida de novo.
Alex franziu o cenho.
―Sophie é jovem e está cheia de saúde. Estou seguro de que tudo sairá bem.
―Como com Charlotte?
Alex se esticou. Seu irmão sabia muito bem que o fato de que Charlotte tivesse estado à beira
da morte no parto, não tinha nada haver com nenhum problema físico.
―Quero dizer ―Continuou Patrick―Que inclusive uma mulher como Charlotte está em perigo
quando dá a luz. Sophie é pequena, parece com nossa mãe.
Alex conteve um suspiro. Sabia muito bem o que Patrick tinha sofrido quando a mãe dos dois
morreu.
―Não parece tanto. Recorda o frágil que era mãe. Sophie é pequena, certamente, mas é forte.
Patrick estava abrindo a boca para responder quando Clement apareceu anunciando os
marqueses do Brandenbourg.
―Mamãe! ― Exclamou Sophie precipitando-se para a porta.
Heloise a recebeu com uma corrente de palavras em francês enquanto George lhe sorria com
carinho antes de dirigir-se ao outro extremo da sala. Embora a marquesa tivesse visto sua filha
dois dias antes, deu a sua filha um montão de conselhos e advertências.
―Mamãe ― Disse Sophie rindo ― Banhos de leite? Que asco!
Heloise voltou para inglês.
―Os banhos de leite são indispensáveis para ter uma boa saúde e tem que estar na melhor
forma possível. Pense em Maria Antonieta que tomava um banho de leite à semana.
―Não gosto de pensar nessa desventurada ― Contestou Sophie com um estremecimento ― E
não quero tomar nenhum banho de leite, deve ser algo muito pegajoso. Além disso, acredito que
Maria Antonieta tomava para cuidar de sua pele e não de sua saúde.
Clement voltou a aparecer na porta.
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de acordo tácito; não falavam do tema e inclusive havia dias nos que ele se esquecia
completamente de que ela estava grávida. Como por exemplo esta noite. Sophie presidia um
extremo da mesa como uma estrela no alto da árvore de Natal. Não parecia absolutamente que
estivesse esperando um filho, simplesmente estava tão maravilhosa que ao lhe caía a baba.
―Não estou segura de como agir apropriadamente ― Continuou a marquesa.
―Parece-me que faz suas comidas de forma regular.
―Acredito que os banhos de leite a fortaleceriam ― Insistiu Heloise intranquila ― Mas se nega
a tomá-los. E quando lhe aconselho que comer laranjas, que são muito boas para a digestão,
também se nega a fazê-lo.
― Não tem nenhum problema digestivo espero ― Disse Patrick um pouco envergonhado de
não haver-se preocupado nunca disso.
―Não acredito. Entretanto eu gostaria que comesse uma laranja cada dia e que bebesse um
copo de algo amargo uma vez à semana.
―Algo amargo!
―É muito bom para a saúde ― Decretou a marquesa.
―Não sabia ― Contestou seriamente Patrick.
Calaram-se por um instante e depois Heloise voltou a falar sobre sua filha indicando que
deveria comer grão tão frequentemente como fosse possível.
Patrick olhava a sua mulher. Era uma grande dama, muito distinta da sensual criatura que
tinha conhecido no camarote do Lark. No pescoço e as orelhas se pôs diamantes que realçavam a
seda cor nata de seu vestido.
No teto brilhava um castiçal de cristal que ele havia trazido da Itália e o cristal se movia
brandamente balançado pelas correntes de ar provocadas pelo ir e vir dos criados, respondendo
ao brilho dos diamantes que a sua vez enfatizavam o brilho natural do Sophie.
Patrick engoliu seco. Se havia lago que estivesse proibido em um jantar, era ele contemplar à
própria esposa até notar que lhe apertava a calça.
Por que, perguntou-se, nunca tinha perguntado por sua saúde? Por que nunca falavam do
bebê que ela levava em seu interior?
Escutou distraído à marquesa que estava outra vez com os banhos de leite.
―O direi a Sophie ― Disse com sua expressão mais séria.
Era consciente da separação que estava produzindo entre ele e sua mulher, mas estava preso
em uma armadilha. Estava aterrorizado e não queria pensar no bebê porque isso era o mesmo que
pensar no parto. Doente de ciúmes, não desejava tampouco pensar no que fazia Sophie com o
Braddon durante suas largas escapadas pelas tardes e entretanto pensava no Braddon umas
cinquenta vezes ao dia. Então acabava por passear sem rumo pelas ruas toda a noite esmigalhado
por suas duas obsessões: o medo e o ciúmes.
Pensando friamente, sabia que não acontecia nada entre eles mas às vezes lhe assaltavam as
dúvidas. Sophie recebia Braddon com um sorriso cheio de afeto e além o encontravam em todas
partes; se foram ao teatro, ali estava, se iam à ópera, ali estava também. Certamente Sophie lhe
punha a par do que ia fazer.
E por quê? Para que pudesse dar de presente a seu antigo prometido esse sorriso de uma
exasperante intimidade? Para que Braddon pusesse a mão sobre seu braço até que Patrick tinha
desejos de explodir de ira?
Sentiu que estava pondo vermelho de cólera e se forçou a tranquilizar-se. Se não era correto
que os cavalheiros desejassem a suas mulheres em pleno jantar, tampouco deviam torturar-se
com perguntas sem resposta.
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Olhou a Heloise mais seus dez minutos tinham terminado e ela estava conversando com o
Peter Dewland. Com um pouco de tristeza se dirigiu a lady Skiffing quem teve a amabilidade de
não lhe reprovar sua falta de atenção.
―Sua esposa está especialmente radiante apesar de seu estado ― Disse ― Espero que a partir
de agora descanse. É muito pouco habitual dar um jantar nesse estado. Em meus tempos as
mulheres permaneciam na cama pelo menos durante seis meses; mas hoje em dia parece que se
fazem o que querem.
Patrick assentiu. A verdade é que tinha esquecido que se supunha que as mulheres não se
exibiam em público durante os últimos meses de gravidez. Voltou a olhar a sua esposa quem
nesse momento levantou a vista.
Ela ruborizou ao cruzar seu olhar com a dele e ele levantou o copo para brindar.
Com um ligeiro sorriso nos lábios, Sophie respondeu levantando seu copo também. Nos olhos
de Patrick se via o brilho de desejo que a ela tanto gostava.
Obrigou-se a deixar de lhe olhar. Não era o momento para paquerar, e se voltou para Alex
descobrindo que este a estava olhando com um sorriso. Sem dúvida tinha surpreendido a
expressão do Patrick.
Inclinou-se para ela.
―Sabe ― Disse em voz baixa ― Que estou muito contente de que seja minha cunhada, lady
Sophie?
―Obrigado.
Muito mais tarde, Sophie e Patrick por fim se encontraram sozinhos no salão. Ela, cansada,
deixou-se cair sobre um sofá.
―A reunião foi um êxito, querida esposa ―Disse Patrick.
Ela levantou os olhos para ele e lhe dedicou um sorriso.
―Obrigado. Madeleine se comportou a perfeição não acredita?
Ele pareceu um pouco surpreso.
―Certamente! É encantadora.
Sophie não podia explicar que estava muito orgulhosa por ser a responsável por tal perfeição;
ninguém tivesse podido imaginar nem por um segundo que não formava parte da aristocracia.
―Dói-te o estômago? ― Perguntou ele.
Foi o turno dela de surpreender-se.
―Não, nada. Ficou ao lado de minha mãe verdade? Disse algo sobre banhos de leite?
Ele respondeu com um sorriso.
―E de coisas amargas? ― Prosseguiu ela com um estremecimento fingido ― Odeio as bebidas
amargas!
Patrick, rindo, ofereceu a mão para ajudá-la a levantar-se.
―Lady Skiffing diz que deve descansar.
Sophie o olhou com compaixão.
― Devem ter te deixado louco. Lamento muito.
Ele a pegou pelo braço e a levou até as escadas.
―É hora de ir deitar.
Sua voz era profunda e sedutora mais sua expressão permanecia indecifrável.
Na porta do quarto, ela se voltou um pouco indecisa.
― Boa noite Patrick.
Ele esboçou um sensual sorriso e ela se surpreendeu tanto que quase deu um salto.
― Por que não fico de donzela esta noite?
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Ela abriu a boca mais não soube o que dizer. Ele estava tão perto dela que podia notar seu
calor.
― Minha mãe… ― Começou a dizer.
― Sua mãe não disse que estivesse proibido beijar.
Apoderou-se de seus lábios em um beijo cheio de paixão, empurrou-a ao interior do
dormitório e a obrigou a sentar-se diante da penteadeira enquanto indicava a Simone que se
retirasse.
Desfez seu penteado rapidamente e as forquilhas voaram em todas as direções, contra o
espelho, sobre os joelhos dela e sobre o tapete.
Ela se pôs a rir.
―Parece a crina de um pônei.
O olhar de Patrick se obscureceu e acariciou brandamente o pescoço. Ela estremeceu.
―Se você fosse um pônei ― Sussurrou ― Te levaria para cavalgar comigo.
Ela avermelhou e ele esteve a ponto de gemer de desejo.
― Sophie não sei se poderei…
Agarrou um dos seios dela com a mão.
Ela não podia evitar sorrir. Era maravilhoso dar-se conta de que ele não era indiferente.
― Então não te incomoda me ver gorda? ― Perguntou com uma nota de ansiedade na voz.
― Gorda? Tem as curvas onde deveria ter, Sophie, e há suficiente para me deixar louco.
―Me beije Patrick ― Murmurou ela.
Ele se deixou cair a seus pés e se apoderou de sua boca, jogou os braços ao pescoço.
Depois de um bom momento a voltou a pôr sobre o tamborete já que ela se pôs de joelhos a
seu lado.
Olharam-se em silêncio.
― Vou morrer ― Disse ele depois em tom de conversa.
Sophie mordeu o lábio inferior com seus pequenos e brancos dentes.
―Sinto Patrick, mas mamãe insistiu muito…
Fez-se um silêncio.
―Mas é possível ― Continuou ― Que pudéssemos vê-lo como outra das estúpidas ideias
como os banhos de leite e as bebidas amargas.
Ele morria de vontade de aceitar.
―É melhor que nos aguentemos ― Replicou sem embargo ― Depois de tudo só vai acontecer
uma vez de modo que sobreviverei.
Sophie se absteve de confessar que ela não sobreviveria.
―Bem ― Suspirou Patrick ― Voltarei para minha solitária cama.
Ela se levantou tão rápido que esteve a ponto de atirar o tamborete.
― Se quer… Poderia dormir aqui. Bom, poderíamos dormir juntos.
Ele demorou tanto tempo em responder que ela se ruborizou envergonhada.
―Sophie ― Disse ele ― Você não entende.
Ela negou com a cabeça.
― Olhe um momento por debaixo de minha cintura, meu amor.
Ela obedeceu. Ele usava umas ajustados calças, como exigia a moda, e ela em seguida afastou
a vista.
― Não posso dormir a seu lado Sophie porque não poderia pregar olho. De modo que vou
tombar no outro lado dessa parede e a lutar contra o desejo de atirar a porta abaixo. Se dormisse
contigo, seria capaz de tudo.
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Ela sorriu. Não importava se Patrick passava de vez em quando uma noite com sua amante, o
que realmente importava é que ainda não se cansou dela.
―Senhor! ― Gemeu ele contemplando sua dourada cabeleira, a luz de seus olhos azuis e a
brancura de sua pele ― Tenho que desaparecer imediatamente!
Deu a volta e saiu fechando a porta depois dele.
A sós no dormitório, Sophie explodiu em gargalhadas e ficou a dar voltas apertando o ventre
com os braços. Ele ainda a queria e a desejava!
Entretanto como donzela tinha muito que aprender. Tinha desfeito o penteado mais não havia
tocado os botões do vestido. Radiante de alegria, chamou Simone.
Na cozinha, a donzela ouviu que chamavam e franziu o cenho. Diabos se entendia a essa
gente! Umas vezes juntos, outras separados. A coisa mudava a cada minuto.
Com um suspiro se encaminhou para os aposentos de sua senhora.
Capitulo 23
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fim.
Ele deu de ombros.
―Sempre soube.
Não ia dar se de superior dizendo que Braddon estava gordo e era pouco inteligente. Além
disso, cada vez estava mais seguro de que sua mulher sentia um verdadeiro afeto, se não amor,
por esse estúpido. Por outra parte, Braddon, a sua maneira, era encantador.
Sophie tinha o coração em um punho. Não podia entender o raciocínio de seu marido. Voltou
a sentar.
―Teria a amabilidade de me explicar porque razão o Parlamento te concedeu um titulo de
duque? Duque de Gisle, se não me equivocar.
―Este outono tenho que ir em qualidade de embaixador ao império Turco.
―Ao império Turco? Tem algo que ver com o Selim III?
Ao Patrick não sentiu saudades a erudição de sua esposa. Era notavelmente culta, pelo menos
desde que se casaram, tinha aprendido isso.
―Este outono? ― Continuou ela entrecerrando os olhos ― Bem, não se preocupe conosco ―
Acrescentou sarcástica ― Voltarei para a casa de minha mãe.
Colocou uma mão protetora sobre o ventre.
―Certamente que não! ― Irritou-se Patrick.
― Por quê? Se por acaso não o recorda o bebê nascerá no princípio do outono.
―Pareceria estranho.
Sophie lhe fuzilou com o olhar.
―Pereceria estranho ―Repetiu em tom gelado ― Suponho que passa muito tempo
preocupando-se pelo que dizem outros sobre nosso matrimônio Sua Graça.
Patrick avermelhou.
―Lamento muito não ter dito nada sobre o título, Sophie.
Não acreditou necessário acrescentar nada mais além disso o que tivesse podido dizer? Que
efetivamente se esqueceu desse estúpido título? Entretanto a sua mulher os títulos não pareciam
estúpidos. Só terei que ver a cena que estava montando.
―Agora é duquesa, não pode simplesmente se alegrar por isso?
Ela olhava fixamente as costas de seu marido quem se virou para a lareira. Alegrar-se? Seu
matrimônio era um desastre, pior do que tinha imaginado.
―Em efeito, possivelmente seja melhor que vá viver com sua mãe ― Grunhiu ele dando um
chute nas lenhas ― Estarei ausente vários meses.
Isso era o fim, pensou Sophie. Nem sequer sua mãe tinha sido enviada por seu marido de volta
com sua família. Patrick parecia ter esquecido que ela existia, do contrário não era possível que
tivesse esquecido advertir a de que ia converter se em duque. E o nascimento de seu filho não era
importante para ele já que nem sequer ia estar na Inglaterra no momento do parto.
Com lágrimas nos olhos, engoliu seco antes de levantar-se e abandonar tranquilamente a
biblioteca. Qualquer discussão ia ser inútil.
Só o orgulho lhe permitiu manter a cabeça alta diante os criados nas semanas seguintes.
Assistia com certa satisfação ao êxito de Madeleine, mas Patrick voltava cada vez mais tarde pelas
noites. Enviou uma mensagem a Charlotte para que a acompanhasse às recepções já que seu
marido já não ia com ela.
Alex a olhou com seus escuros olhos tão parecidos e de uma vez tão diferentes dos de Patrick,
mas nem ele Charlotte perguntaram por que seu marido não ia às festas de Londres. Sophie
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seu matrimônio.
―Obrigado mamãe ― Disse com voz afogada.
Capitulo 24
No dia seguinte, Sophie mal tinha terminado de assear-se quando Clement anunciou a visita de
lady Madeleine Cornille.
Dirigiu-se ao salão um pouco preocupada, tinha-a visto no dia anterior e não havia dito que ia
visitá-la.
Com sua paciência habitual, Madeleine esperou que Sophie estivesse comodamente instalada;
o qual não era coisa fácil; para ir diretamente o grão.
― Decidi deixar de fingir ― Disse com voz clara e tranquila.
Sophie se estremeceu.
― Por quê?
―Não é honesto. Não posso fazer um matrimônio apoiado em uma mentira. Pode imaginar a
si mesma fingindo ser outra pessoa pelo resto de sua vida?
―-Mas não será obrigada a fazê-lo. Uma vez casada será a condessa de Slaslow e ninguém se
preocupará de suas origens.
―Eu saberei ― Replicou Madeleine ―Teremos filhos e o que lhes diremos? Em que momento
confessarei ao meu filho que sou uma mentirosa e uma farsante? Quantos anos terá quando
descobri de que cresci em um estábulo e que ele deverá temer sempre que as pessoas descubram
a verdade? E seu avô se transformará no chefe dos estábulos de Braddon? Não, nunca poderia
fazer algo assim a meu pai. Tudo isto não se sustenta em pé, estivemos loucos ao acreditar que o
faria.
As lágrimas alagaram os olhos de Sophie.
―Lamento muito ― Disse ―Eu não queria fazê-lo.
Madeleine também estava chateada.
― Você não tem culpa Sophie! Estou muito agradecida por tudo o que me ensinou e também
por sua amizade. Mas Braddon e eu estivemos vivendo em um mundo de fantasia. Nunca
poderíamos ser felizes com um matrimônio apoiado em uma farsa.
―Não pode estar segura ― Protestou Sophie ―Braddon te ama muito.
― O amor não é suficiente.
―Certo.
Ela amava Patrick e entretanto seu matrimônio estava vindo abaixo.
―Então que vai fazer? ― Perguntou.
―Braddon e eu estivemos falando ontem à noite. Pode que vamos a América. Nega-se a
permanecer na Inglaterra sem mim e já o conhece, é um cabeça dura.
―Nunca aceitará separar-se de você, isso é certo. Mas e sua família Madeleine?
Braddon havia dito que temia que sua mãe fosse humilhada.
―Em efeito, isso é um problema, de modo que tramamos um novo plano. Vou continuar com
este jogo até na próxima semana. No baile de lady Greenleaf anunciaremos nosso compromisso.
No dia seguinte correremos o rumor de que adoeci repentinamente, e depois, quando tiver
morrido por causa da febre, Braddon viajará até a América para esquecer sua tristeza.
―E você estará com ele? Sim, posso reconhecer a mão do Braddon nesse plano ― Resmungou
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de quinze minutos.
Para quando encontraram a Simone e arrumou o penteado de sua senhora, tinham passado
mais de quinze minutos, mas o senhor Foucault não quis ouvir as desculpas de Sophie.
―É um prazer conhecer alguém tão elegante ― Disse beijando sua mão ― As inglesas às vezes
se vestem de um modo que corresponde a uma mulher de mais idade.
Ao Sophie custou não estremecer com o contato de sua flácida boca. Quando Foucault
apresentou a seu acompanhante, não soube se o saudar em turco. Conhecia o bastante o idioma
para manter uma conversa, mas deu medo fazer o ridículo, de modo que disse umas palavras de
bem-vinda em inglês que o senhor Foucault se ocupou de traduzir.
Não custou a entender, entretanto a resposta de Mustafá foi bastante mas estranha, de fato
pelo que ela sabia, o que disse não tinha nenhum sentido. Sua frase, acompanhada de uma
profunda reverência, parecia uma frase de uma canção infantil. Mas devia estar equivocada já que
o senhor Foucault não mostrou nenhuma surpresa e o traduziu em uma frase convencional.
A curiosidade de Sophie se viu incrementada ao ver que o senhor Foucault parecia querer
dirigir a conversa para a moda, mas depois de um momento, ela conseguiu voltar sua atenção ao
senhor Mustafá.
―Lamento muito que seu acompanhante tenha que manter-se à margem da conversa ― Disse
amavelmente ― Quer perguntar que lhe parece Londres comparada com a grande
Constantinopla?
Se Foucault pareceu um pouco contrariado, compôs rapidamente um largo sorriso.
―É muito considerada de sua parte Sua Graça ― Ronronou ―Mas já abusamos bastante de
seu tempo, de modo que vamos despedir-nos.
―Por favor ― Insistiu ela com o mesmo tom encantador ― Me concedam uns minutos mais.
Constantinopla me fascina.
Ele se dirigiu a Mustafá e Sophie escutou atentamente enquanto conservava um rosto
inexpressivo.
Foucault traduziu corretamente a pergunta mais a resposta do outro foi uma confusão de
palavras carentes de sentido. E se ela não estava equivocada, só utilizava essenciais e nenhum
verbo.
Se por acaso fosse pouco, o que depois traduziu Foucault não tinha nada que ver. Segundo o
Mustafá preferia mil vezes Londres antes que Constantinopla.
― Me perdoe, Sua Graça, agora é absolutamente necessário que vamos. Acredito que ao
duque parecerá muito divertido em tinteiro. Suplico-lhe que o recorde que a tampa deve
permanecer selada durante toda a viagem até o império Turco.
Ela se levantou com elegância.
―É obvio que não o tocaremos. Posso felicitá-lo por escolher um presente tão perfeito?
Foucault a saudou e empurrou Mustafá fora dali. Este saudou sua vez sem voltar a arriscar-se
a falar em turco.
Quando tinha ido, Sophie subiu a sua penteadeira e acariciou brandamente o maravilhoso
objeto com expressão pensativa. Havia algo suspeito nesses dois homens.
Entretanto mal tinha visto Patrick do baile dos Commonweal de modo que não sabia como
tirar o tema do senhor Foucault.
Estava-o pensando ainda quando Clement se apresentou com outros cartões de visita na
bandeja de prata. A duquesa de Gisle estava muito solicitada e esqueceu no momento sua
preocupação.
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Uns dias mais tarde, Patrick se encontrou com seu irmão em metade da rua.
-Dói-me o estômago por sua culpa irmão ― Atacou Alex.
―Dá-me completamente igual o estado de seu estomago ― Respondeu Patrick cuja resistência
estava sendo submetida a uma dura prova depois de estar várias noites sem dormir.
―Ao menos poderia dizer a um lacaio que se ocupasse de sua mulher ― Prosseguiu Alex em
tom ácido ― Vi Sophie descer ela sozinha do carro e esteve a ponto de cair de bruços na calçada.
Patrick estava fervendo de raiva. Assentiu educadamente.
―Rogarei a meus lacaios que sejam mais precavidos ― Disse ignorando a recriminação.
Em vista do estado de sua esposa deveria havê-la acompanhado ele mesmo pela cidade.
Alex jurou para si. Apreciava muito a sua pequena cunhada e havia em seus olhos uma espécie
de dor que demonstrava que não entendia a atitude de Patrick.
―Contou a Sophie seus temores quanto ao parto? ― Perguntou com um pouco de
brutalidade.
Seu gêmeo se esticou ainda mais.
―Meu “temor” como seu diz é uma reação completamente lógica já que uma de cada cinco
mulheres morrem dando a luz. Ao contrário que se esperava não ter que pôr a minha esposa em
perigo pelo simples prazer de me reproduzir.
Agora os olhos dos dois lançavam chamas.
―Se não fosse meu irmão ― Grunhiu Alex ― Desafiaria a duelo por essas palavras. Mas só te
direi, irmão, que se tornou um louco perigoso. Esta estragando sua vida e a de sua mulher por
culpa de um absurdo temor infantil.
Patrick apertou os dentes.
― Me diga que tem que absurdo em pensar que a proporção de uma a cinco é preocupe-se.
―A proporção inclui as mulheres que dão a luz sem a ajuda de um médico nem de uma
parteira, ou que já estão doentes de antes. Quantas mulheres de nosso entorno conhece que
tenham morrido de parto?
―Muitas! ― Gritou Patrick ― E você deveria pensar quão mesmo eu porque a sua esteve a
ponto de correr a mesma sorte.
Calaram-se um momento e depois Alex respondeu com voz afogada:
―O parto de Charlotte se estava desenvolvendo bem até que eu cheguei, Patrick, e você sabe.
Não ignora que foi minha culpa. Está tentando me romper o coração?
Fez-se um novo silêncio, somente quebrado pelo som das rodas nas ruas.
―Deus! ― Suspirou Patrick mais calmo ― Seria melhor que me disparasse uma bala na cabeça
verdade?
Alex esboçou um sorriso.
―Não me prive desse prazer.
Os dois homens se deram um abraço tão afetuoso como inesperado. Estavam emocionados e
não sabiam que mais dizer.
―Quanto falta, dois, três meses?
Patrick dirigiu a seu irmão um olhar cheio de desamparo.
―Não sei. Sophie e eu nunca falamos.
―A todos os estranha que não dissesse a sua esposa que era duquesa. Onde tem a cabeça
Patrick?
―Esqueci. Simplesmente o esqueci. Já sabe o pouco que me importam os títulos. Acreditei que
ela gostaria, mas está furiosa porque não disse antes. A verdade é que nos falamos muito pouco.
Alex assentiu com a cabeça. Suspeitava que o matrimônio de seu irmão pendia de um fio.
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―Acredito que Sophie está no princípio do sétimo mês ― Estimou sem nenhum resto de
recriminação na voz ― Disse a Charlotte que deixaria de sair depois do baile de lady Greenleaf de
amanhã de noite.
Patrick não tinha imaginado que Sophie deixaria de sair o resto da temporada.
―Acompanharei-a.
―Suponho que é inútil que te aconselhe que mantenha uma conversa com sua esposa.
―Tentarei Alex.
Essa noite, Clement bateu na porta de Sophie para informar de que o duque ia jantar em casa.
Como estava duas ou três semanas sem fazê-lo, o mordomo pensava, e com razão, que era melhor
avisar à duquesa de que não ia jantar sozinha.
Sophie estava colocando um bracelete. Simone a olhou brevemente e afastou com rapidez o
olhar. Todo o pessoal sabia, naturalmente, que os senhores tinham vidas separadas.
De fato, Simone e o ajudante de câmara de Patrick, Keating, discutiam acaloradamente sobre
as ocupações do duque pelas noites. Keating afirmava que seu senhor não estava de farra,
enquanto que Simone dizia que ele tinha uma amante em alguma parte da cidade. As brigas eram
tão encarniçadas que Keating tinha levado uma vez à sala dos criados uma das jaquetas do Patrick
para demonstrar que não cheirava a perfume nem a pós de arroz, e que não havia nela nenhum
cabelo feminino.
Sophie imperturbável, terminou de fechar o bracelete como se Clement não houvesse dito
nada. Usava um vestido de noite cor verde com uma espécie de avental sobre o ventre.
Vacilou um momento diante do espelho. Sentia-se horrorosa, pensou desejando ordenar que
subissem uma bandeja ao seu quarto.
Mas se armou de coragem e desceu lentamente as escadas esforçando-se em compensar o
excesso de peso que a para vencer-se para frente. Patrick a estava esperando embaixo.
Ela sorriu educadamente e aceitou seu braço para ir a sala de jantar.
Começou a comer mecanicamente.
―Não é a segunda vez que Clement nos serve grão esta semana? ― Perguntou Patrick
estranhando.
―Em efeito ― Assentiu Sophie tragando com esforço outra colherada ―Certamente minha
mãe falou com ele.
Como podia saber o que na terça-feira tinha servido Clement? Quando ele voltou essa noite
ela já levava dormindo muito tempo. Tinha acabado por deixar de esperar a que voltasse, já que
necessitava mais dormir que comprovar que seu marido raras vezes voltava antes do amanhecer.
Tomou uma nova colherada que teve sabor de serragem.
―Acompanharei-te à festa de lady Greenleaf amanhã de noite, se o desejar, haverá muita
gente.
Sophie assimilou a notícia. Seu marido estava jantando com ela e estava se oferecendo
acompanhá-la ao baile?
Ao ver que ela não dizia nada, continuou:
―Pode que se divirta saber que há apostas no White´s sobre se Braddon se declarará a sua
amiga Madeleine na próxima semana ou não.
Ela seguia calada e ele se amaldiçoou em silêncio. É obvio que Sophie não se alegraria
precisamente de saber que Braddon ia casar com outra, em vista de seus sentimentos para ele.
Aspirou profundamente.
―Poderíamos ir de excursão ao campo no domingo, se fizer bom dia.
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Seria mais fácil para ele falar com ela se estivessem sozinhos em vez de estar na sala de jantar
com dois lacaios.
Ela levantou de repente a cabeça entrecerrando os olhos e com expressão furiosa.
―Não é necessário que finja que não acontece nada e que me convide a fazer uma excursão
ao campo ― Exclamou encolerizada.
Patrick fez um gesto com a cabeça a Clement, o qual fez sair aos lacaios antes de abandonar
ele também o comilão.
― Por quê? ― Perguntou cheio de assombro ao ver diante dele a uma desconhecida Sophie
cheia de ira.
Ela se levantou e atirou o guardanapo em cima da mesa.
―Nunca me queixei quando saía para sair com sua amante. Não reprovei isso nenhuma só vez.
Se quiser ir vê-la vá! Mas depois não venha me buscar como se eu fosse um brinquedo que
abandona ou não conforme te dá vontade. Suponho que esperava me ver sorrir agradecida por ir
passar um dia ao campo contigo, maravilhada porque decidiu passar comigo umas migalhas de seu
tempo.
Patrick não se moveu.
―Vou ao meu quarto ― Prosseguiu ela secamente ― Aceito que me acompanhe ao baile de
amanhã, mas declino o convite para ir ao campo. Esta noite não me sinto com ânimo para me
comportar como uma cortesã, e tampouco os terei amanhã. De modo ― Concluiu muito
ironicamente ― Que não acredito que encontre gosto em minha companhia.
Dizendo isto, saiu da sala de jantar e subiu as escadas tão rápido como pôde.
Essa noite os duques de Gisle permaneceram cada um em seu dormitório olhando fixamente o
teto. Se alguém pudesse lhes haver visto através do telhado da mansão do Huppert Brook Street,
tivesse visto dois corpos imóveis que não podiam dormir. Dos dois o mais desesperado era sem
dúvida Patrick. Quanto Sophie, ela acabava de reencontrar-se com a ira e isso lhe produzia certo
alívio.
Se a mesma pessoa tivesse podido penetrar na limusine que se deteve diante a mansão dos
Greenleaf no dia seguinte de noite, tivesse visto de novo os dois corpos imóveis mas com uma só
diferença: Sophie olhava pela janela e Patrick olhava a sua mulher.
Ela usava um vestido que deliberadamente marcava sua gravidez, um vestido de seda de um
azul muito pálido que se pegava a suas voluptuosas curvas.
Inconsciente do olhar de seu marido, colocou bem o xale sobre os ombros e os seios
ameaçaram sair do decote.
“Não me sinto tentado, disse-se Patrick, não estou ciumento”
Tais afirmações desapareceram quase imediatamente.
“Muito bem, confessou a se mesmo, sinto-me tentado, a desejo”
Desceu da limusine e ajudou a sua esposa a descer.
“E estou ciumento”, acrescentou enquanto as pessoas amontoada nos arredores da casa para
ver chegar aos convidados, abria os olhos com assombro.
Se tão só Sophie o olhasse, se roçasse sua manga! Mas em vez de deitar-se em seus braços
para descer da carruagem, ela tinha solto sua mão assim que pôs o pé na calçada. Era evidente
que mal podia tolerar sua presença. Ele se sentiu a beira do desespero. Era imensamente melhor
vagar pelas ruas de Londres que estar perto de sua formosa, desejável e longínqua esposa.
Assim que saudaram os anfitriões que estavam na porta recebendo aos convidados,
numerosos jovens se aproximaram para ter o privilégio de dançasse com a formosa duquesa.
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―1793! Que ano mais horroroso! Sua mãe foi denunciada em abril. Um ano terrível!
Madeleine empalideceu mais ainda.
―Meu pai sempre me disse que tinha morrido de febre.
―Oh não! ― Replicou a francesa ― Foi presa. Fouquier-Tinville, esse açougueiro, não
necessitava desculpas. Ela raras vezes ia a Paris, já sabe, porque seu pai vivia como um ermitão.
Mas estava ali, pode que para fazer algumas compras, vestidos ou que seja.
Madeleine sabia. Ainda ouvia as pestes que jogava seu pai referindo-se na moda em geral e às
mulheres que a seguiam em particular.
―O caso é que a detiveram ― Continuou a senhora de Meneval ― Seu pai foi a Paris para
suplicar por sua vida diante do tribunal. Se não o prenderam também foi porque ele era bastante
original; sempre metido nos estábulos e sempre coberto de bosta de cavalo. Inclusive se dizia que
tinha aprendido a ferrar aos cavalos.
―É certo ― Murmurou Madeleine sem entonação na voz.
―Bem, isso lhe salvou a vida. O tribunal pensou que ele era melhor que o resto dos
aristocratas ociosos. Os homens que formavam o tribunal eram uns verdadeiros canalhas, uns
degenerados que se permitiam o luxo de julgar a seus superiores. Está melhor aqui, minha
menina, embora seja casada com um inglês. Inclusive sem a fortuna de seu pai. Pôde trazer-se
algo a Inglaterra?
― Sim ― Respondeu Madeleine pensando da enorme quantidade de dinheiro da que dispôs
de repente quando teve que renovar seu vestuário e contratar à senhora Trevelyan ―Sim, pôde
fazê-lo.
―Melhor ― Disse a senhora do Meneval com respeito ― Nunca tive muito contato com o
Vincent Garnier. Era um homem muito estranho inclusive quando era jovem, mas Helene o amava.
Estava louca por ele e não tolerava que o criticasse. Depois das bodas a levou ao Limousin e
apenas a deixava ir de vez em quando a Corte. Não sei como conseguiu a permissão para ir a Paris
em 1793.
Madeleine se voltou para o Braddon com os olhos cheios de lágrimas.
―Lamento muito ter que roubar a minha prometida ― Disse ele rapidamente ― A seu serviço,
senhora ― Acrescentou saudando a mulher.
Desta fez um gesto com a cabeça como se estivesse dirigindo a um súdito e depois seu olhar
se enterneceu ao olhar a Madeleine.
―Minha querida menina, acredito que sem querer te dei más notícias. Suplico-te que me
perdoe.
―Não, não ― Disse Madeleine brandamente ― É maravilhoso encontrar a alguém que
conheceu minha mãe. Por desgraça tenho muito poucas lembranças dela.
―Eu gostaria de muito que tomasse o chá a minha casa um destes dias. Conheci sua mãe
desde que nasceu e me sentiria muito feliz se pudesse falar dela a sua filha. Que orgulhosa tivesse
estado de você, querida!
As lágrimas de Madeleine ameaçavam transbordando-se de modo que fez uma rápida
reverência antes de abandonar o salão de baile agarrada do braço de seu prometido.
A delicadeza não era a principal qualidade do Braddon, mas conhecia muito bem a sua
Maddie. Levou-a até um pequeno salão onde a apertou contra si.
―Braddon, Braddon ― Soluçou ― Era minha mãe. Helene é minha mãe.
― O que?
― A senhora do Meneval estava falando de minha mãe.
― Isso não é possível ― Objetou com gentileza ―Sua mãe estava casada com um criador de
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Capitulo 25
No dia seguinte, Sophie entrou em seu vestidor cheia de renovada energia. Até esse momento
se limitou a ocupar esse aposento, mas a partir de agora queria que fosse realmente dela. As
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paredes estavam decoradas com enormes rosas que semelhavam nuvens, mas isso não a
incomodava muito, o que a incomodava era o busto de uma mulher nua que estava em uma das
paredes e que estava totalmente fora do lugar.
Chamou um lacaio e depois começou a tirar os livros que estavam em uma estante sob a
janela. Tratava-se de uma estranha mistura de tomos que tratavam temas tão distintos como a
bruxaria ou o milagre da máquina de vapor.
Quando bateram na porta, disse bom dia sem dar a volta.
― Gostaria que levasse esses livros ao apartamento de cobertura ― Disse ― E também que se
leve a essa… Pessoa ― Acrescentou assinalando o busto.
Mas era Patrick quem estava atrás seu rosto muito sério.
―Devia ser mais prudente Sophie. Espero que não pense levantar esses livros.
Ela limpou as poeirentas mãos no vestido amarelo claro sem preocupar-se pelas manchas
escuras que deixou nele, e olhou a seu marido tentando eliminar o sarcasmo de sua expressão.
Depois de tudo, tinha transportado um montão de livros no mês anterior sem que ele soubesse.
Assinalou os volumes disseminados pelo chão.
―Esses não pesam, são principalmente ensaios.
― Por que quer levar o busto ao apartamento de cobertura? Representa a Galatea, uma
divindade do mar.
―Não quero mulheres nuas aqui.
―Olhe ― Disse ele dirigindo-se sossegado ao busto ― Tem um véu que lhe cobre o seio
esquerdo. É bastante bonito.
Ela deixou cair outro montão de livros a seus pés.
―Muito bem ― Disse ― Ele irá ao apartamento de cobertura. Alex me disse que não devia te
deixar sair sem alguém que te acompanhasse ― Anuiu depois de um breve silencio ― A partir de
agora eu gostaria que me avisasse quando pegasse a carruagem, para poder te acompanhar.
Sophie apertou os lábios. De modo que havia um motivo para a súbita aparição de seu marido
e se chamava Alex.
― Decidi deixar de sair, de modo que não te incomodarei muito frequentemente.
Patrick estava completamente desconcertado. Não soube que dizer. Seu irmão lhe tinha
aconselhado que falasse com Sophie, mas não sabia do que. Certamente tinha metido a pata
porque ela ficou rígida.
Vacilou um instante, inclinou-se para despedir-se e abriu a porta no momento que um criado
se dispunha a chamar. Voltou-se.
―Sophie você gostaria de trocar o papel das paredes?
Ao as rosas pareciam enormes cogumelos.
Ela dirigiu um tenso sorriso.
―Não, é bastante alegre, mas desejaria comprar alguns móveis se não for inconveniente.
―Quer que nos ocupemos disso esta tarde?
―Já veremos dentro de uns dias.
Mas Patrick estava desejando fazer algo por ela e fazê-lo em seguida.
―Está segura de que você não gostaria de dar um passeio pelo parque?
―Completamente segura, obrigado.
―Quer que mande uma nota a sua mãe ou ao Charlotte para lhes pedir que venham a ver-te?
―Não, obrigado Patrick.
Era evidente que estava desejando que ele se fosse e isso é o que fez perguntando-se que é o
que podia gostar uma mulher grávida. Enviou a um lacaio para que se ocupasse de levar a Galatea
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ao apartamento de cobertura, depois enviou a outro a comprar três ramos de rosas. Se as rosas
gostava de por que não encher a casa com elas?
Sophie colocou a estante a seu gosto. Gostava de muito respeitar uma ordem lógica, de
maneira que começou pelas obras em alemão, depois, por ordem alfabética, francês, gaélico,
holandês, italiano e português. Assim que tivesse uma oportunidade, prometeu a se mesma,
voltaria a comprar uma gramática turca.
Na hora da comida, Patrick se ofereceu de novo acompanhá-la onde ela quisesse, e ela de
novo declinou a oferta. Estava cansada e lhe doíam as costas.
―Conheci senhor Foucault e a seu amigo, Bayrak Mustafá ― Disse ela de repente rompendo o
tenso silêncio que reinava na sala de jantar ― Vieram trazer o tinteiro. Não gostei muito, Patrick.
Ele levantou a vista do pêssego que estava cortando cuidadosamente. Estava perdido em uma
fantasia na qual Sophie lhe sorria como antes.
―O senhor Foucault? Efetivamente, não é muito simpático.
―Não é uma questão de simpatia ― Replicou ela sentindo um imenso cansaço ― Entendo um
pouco o turco e seu amigo não falava bem. O senhor Foucault sim que sabe falá-lo mais as duas
vezes que Mustafá falou foi algo ininteligível.
―Ininteligível?
Todas as reticências que havia sentido quando os conheceu voltaram com força, de tal modo
que nem sequer reparou no fato de que mulher soubesse falar turco.
―Sabia que havia algo estranho neles ― Murmurou ― Maldição, deveria haver o comentado
imediatamente ao Breksby!
Sophie não sabia a que se referia mais estava muito cansada para preocupar-se. Quando
acabou de comer subiu a seu dormitório sem dar-se conta de que Patrick, ao pé das escadas,
olhava-a preocupado.
Dormiu a sesta, mas a hora de jantar ainda estava mais cansada, de modo que decidiu pedir
que subissem uma bandeja com o jantar. Já era o bastante difícil sair da cama como para em cima
enfrentar a seu marido. De modo que ele jantou sozinho (outra vez amadureço, ia ter que falar
seriamente com Florent) perguntando se Sophie o estava evitando ou se realmente estava
indisposta.
Durante toda a noite resistiu os desejos de interessar-se por sua saúde e, quando ao fim se
rendeu, ela estava profundamente adormecida. Olhou-a um momento, dando-se conta de sua
palidez e as sombras escuras sob os olhos, pô-lhe uma mão sobre o ventre, mas ela não se moveu.
―Boa noite ― Sussurrou.
Depois retirou rapidamente sua mão, incômodo. Abandonou a casa e seus pés lhe levaram às
ruas pelas que tantos passeios tinha dado ultimamente.
Pela manhã Sophie não se sentia melhor. Conseguiu de milagre levantar-se da cama para ir até
a poltrona. Perguntou-se se ia ser igual durante os dois próximos meses.
Pouco a pouco a intranquilidade ia tomando conta dela. Estava apática, tinha calor e lhe doía
terrivelmente a cabeça. E porque não se movia o menino? Colocou as mãos sobre o ventre mais
não sentiu nada.
Saindo bruscamente de sua sisma, puxou o cordão e ordenou a Simone que enviasse uma
mensagem ao doutor Lambeth.
―Tenho que vê-lo imediatamente. Diga ao mensageiro que espere com o carro e que o traga
até aqui.
Simone saiu correndo, enquanto Sophie voltava a sentar, atenta ao menor movimento do
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bebê. Em vão. Seu ventre estava pesado e sem vida. Pensou que a criança devia estar dormindo.
Ela estava a ponto de cair doente e ele tão bem estava cansado.
Quando o médico entrou no dormitório uma meia hora depois, Sophie estava ao bordo da
histeria.
―Perdoe que tenha feito vir com tanta urgência, doutor.
―Não passa nada ― Respondeu ele auscultando seu ventre.
Ao cabo de uns segundos se incorporou.
― Vou pedir lhe que se desabotoe a camisola, Sua Graça ― Disse gentilmente.
Dirigiu-se discretamente para a janela enquanto Simone ajudava a sua senhora a subir a
camisola.
Sophie viu a cabeça ruiva do médico inclinando-se entre suas pernas.
Examinou-a sem dizer nada e depois sacudiu a cabeça.
―Deveria colocar um vestido, Sua Graça.
Por experiência sabia que as pessoas estava mas tranquila uma vez vestida.
Retirou-se ao corredor e olhou fixamente a parede. Recordou o rosto do advogado do Foakes
quando perguntou sobre sua competência. Certamente o marido ia tomar se muito mal a morte
de seu filho.
Suspirou. Algumas vezes se perguntava por que se passava tanto tempo cuidando dos
membros da aristocracia. O dinheiro, recordou a si mesmo.
Simone abriu a porta e lhe indicou que podia entrar. Sophie estava de novo sentada na
poltrona. Olhou-a aos olhos.
―Lamento ― Declarou ele ― Por alguma razão desconhecida seu filho não sobreviveu. Só
posso dizer que é a vontade de Deus.
― Está morto ― Sussurrou ela.
―Já o veremos. Eu não gosto de tirar conclusões precipitadas mais não pude distinguir
nenhum sinal de vida. Alguns meninos morrem durante o período de gestação e ninguém sabe por
quê. Dói-lhe aqui? ― Perguntou tocando brandamente seu ventre.
―Não.
―Se o bebê deixar de viver, o trabalho começará certamente hoje ou amanhã.
―O trabalho?
―O bebê tem que sair, Sua Graça.
Sophie estava além das palavras.
―Quer que relate a seu marido?
Ela o olhou negando com a cabeça.
― Vou chamar para perguntar se o duque está na casa.
―Não! ― Exclamou Sophie completamente pálida ― Tenho que pensar. Eu…
―De verdade não quer que eu fale com ele?
― Eu mesma direi mas tarde. O rogo doutor…
Lambeth assentiu e se voltou para a Simone para lhe dar instruções em voz baixa antes de
voltar a dirigir-se a Sophie.
―Expliquei a sua donzela os sintomas que pode chegar a ter ― Disse tomando o pulso ― Envie
a alguém para me buscar assim que comece o trabalho do parto. Agora seria melhor que
descansasse. Passarei a vê-la manhã a primeira hora.
“Parto” parecia agora uma curiosa palavra. Paria-se um menino vivo…
Sua inata cortesia e a estrita educação de sua mãe, obrigaram-na a levantar-se.
― Você disse amanhã? ― Perguntou como se se tratasse de uma excursão.
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O doutor Lambeth assentiu. Sophie parecia sonâmbula e pensou que seria pela impressão.
―Cuide que não se esfrie ― Disse a Simone.
A donzela assentiu com os olhos cheios de lágrimas.
O medico fez uma reverência.
―Até manhã, Sua Graça.
― Acompanho-o ― Disse Sophie.
O doutor Lambeth não protestou, não era muito habitual que os clientes lhe acompanhassem
até a porta, mas ela não estava bem.
Fez um último tento.
―De verdade não quer que fale com seu marido?
―De verdade. O agradeço ― Respondeu ela sempre cortês.
Desceram juntos as escadas de mármore, o médico com seus cabelos ruivos e seus olhos
cansados e Sophie mais formosa que nunca. Seu rosto tinha perdido a palidez e tinha umas
manchas vermelhas nas bochechas que teria alertado Lambeth se tivesse fixado nela.
Mas ele já estava pensando no resto da jornada. Tinha que ir visitar uma viscondessa, mãe de
quatro filhas que provavelmente ia dar a luz esse mesmo dia. Tudo ia bem, mas se a criança
resultava ser outra menina, ia encontrar se entre as mãos a uma mãe histérica. Isso por não falar
da reação do marido.
Capitulo 26
Sophie se despediu do doutor Lambeth como se tudo estivesse bem. Quando estava a ponto
de subir de novo a sua habitação, Patrick saiu da biblioteca.
―Não vai me dizer o que opina o médico?
―Sim, mas tarde.
―Não! Vêm por favor. Eu gostaria de saber por que chamou Lambeth.
Sophie olhou a seu redor, não havia nenhum criado à vista.
―Agora não. Vou a meu dormitório.
―Sophie!
O grito deveu ouvir-se até nas cozinhas. Sophie desceu uns degraus detendo-se no terceiro.
― Ele disse… Disse…
Não podia dizê-lo, era incapaz de repetir as palavras do médico.
― disse que voltaria amanhã.
Isso era uma verdade pela metade. Estava sofrendo terrivelmente; precisava refugiar-se em
seu quarto, longe do rosto inquisitivo do Patrick. Doía-lhe a cabeça muitíssimo.
― Você não desejava a esse bebê ― Se ouviu dizer a se mesma como se as palavras chegassem
de muito longe.
Agarrou-se aos passamanes. O que estava acontecendo? Patrick parecia estar furioso, estava-
lhe dizendo algo mais não chegava nenhum som. Seu coração pulsava com mais força que a dor de
cabeça e parecia que esta lhe ia explodir. Apertou com mais força o corrimão.
Patrick estava gritando. Clement apareceu a suas costas assombrada. Sophie se esforçou para
concentrar-se no que lhe estava dizendo seu marido. Olhou-lhe. Os olhos dele brilhavam de
desprezo, pensou ela.
―O que está dizendo? ― Estava dizendo indignado ―Como pode dizer algo assim? Desejo a
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esse bebê!
Ela esboçou um sorriso. Parecia-lhe que a cabeça lhe ia separar do corpo. Em qualquer caso a
dor se estava atenuando.
―Sei que não deseja ter filhos ― Replicou ela brandamente como se estivesse dirigindo a um
menino.
―Por Deus Sophie de que está falando?
― Você estava muito contente quando se casou comigo o recorda? Porque certamente eu era
como minha mãe e não teria que suportar a uma família numerosa. Mas eu não sou como ela.
Essa ideia para que sentisse a cabeça mais ligeira.
Patrick acabava de dar-se conta de que Clement estava ali e lhe lançou um olhar assassino que
o enviou imediatamente à zona dos criados. Tentou tranquilizar-se. Sophie não sabia o que estava
dizendo. Estava grávida e as mulheres nesse estado nunca atuavam com lógica.
―De que está falando? ― Perguntou articulando cuidadosamente cada palavra como se ele
também se estivesse dirigindo a uma menina.
Ela estava assombrada. Teria dado tudo porque a conversa terminasse e pudesse ir deitar-se.
―Disse o Braddon, e eu o ouvi, que já que era necessário que pusesse os grilhões, estava
bastante satisfeito de que fosse comigo porque certamente eu seria virtualmente estéril, ao igual
a minha mãe, e que assim não te veria rodeado por um montão de meninos.
Fez-se um pesado silêncio.
―Agora já posso ir deitar?
Começou a recuar lentamente pela escada. Agora já estava segura de que a cabeça lhe tinha
desprendido dos ombros e o coração lhe pulsava com tanta força que estava aturdida. Pôs com
cuidado o pé sobre o degrau seguinte. Seguia obstinada ao corrimão mas dava medo dar as costas
a Patrick.
Ele falou novamente, com voz rouca.
―Não o pensava de verdade, Sophie.
De novo ouvia ao longe como através de um pacote de algodão.
―Certamente tenha razão ― Murmurou movendo a cabeça.
Ele estava desesperado. Sua mulher estava recuando diante ele com um sorriso nos lábios. A
seus pés se estava abrindo um buraco sem fundo. Ela tinha acreditado todas as coisas horrorosas
que ele havia dito; não era de estranhar que não se apaixonou por ele, que o olhasse como se
fosse o demônio em pessoa.
―Sophie! ― Gritou com toda a força de seus pulmões ―Deus meu Sophie, quero a esse bebê!
Não o ouviu. Só ouviu o tom furioso de sua voz e foi muito. Sentiu-se feliz ao sentir que uma
enorme escuridão enchia sua cabeça, afogando a dor e fazendo que seus dedos soltassem o
corrimão.
Patrick deu um salto cheio de pânico. Ela estava oscilando e caía para frente. Tudo parecia
estar acontecendo em câmara lenta. Ela caiu como um pulso de trapo com os joelhos no
penúltimo degrau e seu ventre inchado se chocando contra a madeira. Patrick conseguiu segurar
sua cabeça impedindo que se golpeasse contra o mármore.
Deu-lhe a volta com muito cuidado. Além das duas manchas vermelhas nas bochechas, sua
cara tinha uma palidez mortal. Estava ardendo de febre e estava completamente inerte. Ele não
ouvia outra coisa que seu próprio sangue lhe zumbindo nos ouvidos.
Necessitava ajuda.
―Clement!
O mordomo esteve ali em uns segundos. Só tinha ido ao outro lado da porta.
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―Chama o médico!
Clement viu Sophie sem vida e olhou ao duque cheio de horror.
―O doutor Lambeth! Já!
A recriminação que podia apreciar no olhar de Clement era um reflito no seu próprio. Beijou
as pálpebras de sua mulher, mas esta seguia sem reagir.
―Sophie ― Sussurrou ― vou levá-la ao seu quarto.
Levantou-a nos braços e a cabeça de Sophie desabou sobre seu ombro. Seu ventre parecia
ainda mais volumoso.
Senhor! Se tivesse acontecido algo ao bebê… O coração lhe pulsou com mais força.
Quando Simone chegou correndo ele já a tinha despido e estava pondo uma camisola. Ela o
ajudou em silêncio. Uma vez que Sophie esteve deitada e com os lençóis até o queixo, ele se
voltou para a donzela cheio de desespero.
―O que posso fazer?
―Não se moveu nem falou?
Patrick negou com a cabeça.
―Não recuperou o conhecimento depois de cair?
―Não!
―Para começar temos que esfriá-la. Esta ardendo em febre, a pobre.
Ele foi dar uma ordem a um lacaio e uns minutos depois Simone refrescava as têmporas de
sua senhora. Não podendo suportar estar sem fazer nada, ele lhe arrebatou o pano das mãos e se
sentou no bordo da cama.
―Acorda Sophie ― Ordenou em voz baixa.
Ao cabo de uns minutos ela abriu os olhos.
―Dói-me.
―Sinto muito. Sinto muito ter gritado desse modo.
Ele estava balbuciando de puro alívio.
Sophie estava franzindo o cenho.
―Dói-me.
―Tem febre querida. Não se preocupe, o doutor Lambeth logo estará aqui.
―Não! Não! Não deixe que venha! Se vier acontecerá!
―Não vai acontecer nada querida ― A tranquilizou Patrick enquanto seguia umedecendo sua
frente.
―Não vai poder evitá-lo ― Sussurrou ela com seus olhos azul escuro fixos nele ― dentro de
nada me odiará.
As lágrimas caíam pelas bochechas.
Ao Patrick deu um tombo o coração ao pensar que ela estava delirando.
Ela tinha dado a volta.
―Dói-me! ― Gritou.
Simone entregou outro pano e ele continuou refrescando seu rosto que estava ardendo.
Às vezes, Sophie abria os olhos e murmurava frases apenas audíveis. Ele umedeceu sua testa
até que o travesseiro, sob sua cabeça, esteve empapado. Já não sabia que mais o que fazer. Enviou
a outros lacaios a casa do doutor para que lhe ordenassem que fosse imediatamente.
Quando por fim abriu a porta, lançou-lhe ao médico um olhar que tivesse intimidado a alguém
mais inexperiente. Mas o doutor Lambeth tinha tido que as ver-se com muitos pais furiosos,
especialmente certo visconde que acabava de dar a bem-vinda ao mundo a sua quinta filha; e
parecia que os maridos às vezes se comportavam de um modo totalmente incoerente. Aproximou-
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Quando Sophie despertou realmente quatro dias depois, soube imediatamente o que tinha
acontecido. Uma onda de angústia se abateu sobre ela e levou a mão ao ventre, encontrando-o
vazio. Vazio como se o bebê não tivesse estado nunca aí e nunca lhe tivesse dado chutes a sua
mãe.
Não disse nada, mas o silêncio da quarto era distinto do habitual. Patrick, que estava sentado
à cabeceira, viu-a olhar fixamente a parede com olhos cheios de desespero. O momento que tanto
tinha temido acabava de chegar. Ela não parecia ter notado que ele estava ali, simplesmente
olhava frente a se enquanto as lágrimas rodavam por suas bochechas.
Ele se deixou cair de joelhos e agarrou as pequenas mãos dela entre a suas.
Ela o olhou sem deixar de chorar.
―Sinto muito Sophie. Sei que isso não muda as coisas, mas estou realmente desesperado.
Ela franziu ligeiramente o cenho.
― Você queria o bebê?
Ele levantou a cabeça e ela se deu conta de que estava chorando
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―Queria. Não sei por que disse essas coisas tão cruéis ao Braddon. Estava mentindo. Não
deixe de pensar no bebê desde que me anunciou sua gravidez.
―Sinto Patrick. Não sei o que fiz errado, não sei o que fiz para que morresse.
Ela fava soltou suas mãos e estava enrugando nervosamente o lençol. Sentindo-se miserável
olhou a Patrick nos olhos e se surpreendeu ao ver a intensa dor que leu neles.
―Você não fez nada. Fui eu quem te atemorizou e provoquei sua queda nas escadas.
Ela negou com a cabeça. Só tinha vagas lembranças dos últimos dias.
―As escadas?
―Caiu e isso provocou um aborto. Sinto ― Repetiu.
― Não ― Protestou ― Não lembro nada da escada, mas o bebê já tinha deixado de viver
conforme me disse o doutor Lambeth. Sentia-me tão doente que não entendi bem. Entretanto
soube antes que o médico dissesse por que já não notava que movesse ― Acrescentou com voz
rota.
―Ela ― Retificou Patrick.
―Ela?
―Era uma menina, Sophie. Uma preciosa menina. Quer dizer que não morreu pela queda?
Ela assentiu com a cabeça.
Patrick escondeu a face sob a colcha sacudido por dilacerantes soluços. De repente notou dois
finos braços lhe rodear os ombros.
―Não, meu amor, não ― Murmurava Sophie ―Não foi sua culpa nem minha. Não estava
preparada para viver, isso é tudo.
Ele se tranquilizou. A alegria estava começando a misturar com a dor.
―Volta a se deitar ― Disse empurrando-a com suavidade contra os travesseiros.
―Viu-a? ― Perguntou ela com voz apenas audível.
―Era uma preciosa menina que se parecia com você. Eu disse o muito que a queria.
As lágrimas de Sophie se fizeram mais abundantes e Patrick as secou com ternura.
Ela levantou uma mão tremula para atraí-lo para ela e, com muita precaução, ele se deitou a
seu lado. Ela apoiou a cabeça em seu ombro suspirando.
―Onde está?
―Está enterrada na cripta familiar. Eu não queria te deixar e pedi e Alex e Charlotte a levaram
a Downes. Está perto de minha mãe… A minha mãe adorava os bebês.
Esfregou a bochecha contra o cabelo de Sophie.
―Pô-lhe algum nome?
―Preferi que o escolhêssemos juntos.
Pareceu inútil acrescentar que os sacerdotes se negavam a batizar a um menino morto antes
de nascer. Ou que o sacerdote da família tinha deixado de sê-lo porque não tinha querido enterrar
a sua filha em terra consagrada. Alex o tinha despedido sem mais e tinha vindo a Londres a
procurar o David Marlowe.
―Alex te enviou uma carta, e Charlotte também. Virão amanhã a Londres. David é quem
celebrou a cerimônia Lembra dele?
É obvio que ela recordava ao amável vigário de olhos marrons que tinha sido companheiro de
classe de Braddon e de Patrick
Começou a soluçar de novo e seu miúdo corpo se sacudia da cabeça até os pés. Patrick não
pôde fazer nada para consolá-la além de mantê-la abraçada enquanto murmurava palavras de
amor.
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Capitulo 27
Nos dias seguintes Sophie permaneceu na cama sem mal tocar a comida preparada
especialmente para ela por Florent. Patrick lhe fez companhia durante horas, lendo em voz alta
seus livros preferidos, os ecos de sociedade do Morning Post e as notícias internacionais do Time.
Ela em realidade não escutava; durante uns minutos prestava atenção mas logo a realidade caía
em cima como uma laje e silenciosas lágrimas caíam por suas bochechas. Então Patrick deixava o
livro, secava-lhe as bochechas e a abraçava com força. Outras vezes, ela se limitava a olhar
fixamente a parede enquanto sentia um grande vazio em seu interior.
Sua mãe ia vê-la todos os dias e lhe augurou outras gravidezes. Seu pai também foi vê-la e
permaneceu um bom momento em silencio ao lado de sua cama.
―Lamento muito que não tenhamos tido mais filhos ― Disse por fim ― Se tivesse sido assim
agora teria uma irmã para te ajudar nesta situação.
Sophie o olhou com os olhos cheios de lágrimas.
―Isso não mudaria nada papai.
―Sua mãe e eu cometemos muitos enganos. Eu fui um estúpido.
Acaso havia deixado de perseguir a outras mulheres? Sophie, que durante toda sua vida tinha
desejado que isso acontecesse, deu-se conta de que já não lhe importava nada.
―Está bem papá ― Murmurou.
George, depois de uma breve vacilação, com o rosto tenso, abandonou o quarto.
Por fim, ao cabo de umas semanas, Sophie deixou de sangrar e o doutor Lambeth julgou que
já estava o bastante recuperada para levantar-se. Meteu-se em um banheiro de água quente que
tinha preparado Simone cuidando de não olhar esse corpo que tanto detestava, um corpo incapaz
de guardar a um bebê.
Patrick entrou no momento em que Simone entregava ao Sophie uma toalha quente. Sophie,
que atuava como se fosse um robô, nem sequer se deu conta de que seu marido estava ali.
Ele indicou a Simone que se retirasse e fez sentar-se ao Sophie em um tamborete diante da
lareira. Depois começou a secar seu comprido cabelo. A apatia de Sophie o preocupava muito
embora o médico assegurasse que era algo normal. O que podia saber ele? Não era próprio do
caráter vivaz e alegre de Sophie. O coração de Patrick se enchia de angustia ao ver o rosto
inexpressivo e esses olhos vazios.
Estava-lhe dizendo coisas sem importância quando a vozinha dela lhe interrompeu:
―Quero ir a casa de Charlotte. Quero ver a tumba.
Ele ficou paralisado e logo voltou para sua tarefa de secar seu cabelo.
―Partiremos em direção a Downes amanhã pela manhã ― Prometeu ele.
―Quero ir agora mesmo ― Disse ela em um tom que não admitia réplica.
Ele deixou cair a toalha para ajoelhar-se frente a ela.
―Não me rejeite, Sophie ― Implorou com voz estrangulada.
―Não estou te rejeitando Patrick. Simplesmente, eu gostaria de estar a sós a primeira vez que
visse a tumba.
Os olhos do Patrick tinham olheiras devido ao cansaço.
―Por quê?
―Sou sua mãe. Era sua mãe ― Retificou.
―Eu era seu pai ―Respondeu ele.
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―Levei-a em meu interior durante meses! ― Gritou Sophie ―E preciso lhe pedir perdão.
―Perdão, por quê?
―Eu…
Todo seu corpo estava tremendo.
―Era meu corpo, entende?
―Não. De que está falando?
As lágrimas apareceram de novo. Patrick, ao obrigá-la a dar explicações, estava-lhe fazendo
perder o controle que tanto lhe custava manter.
―Não pude conservá-la com vida, traí-a.
―Não foi sua culpa― Disse ele com ternura acariciando sua bochecha.
Ela se afastou.
―Quero ir sozinha ― Insistiu ― Necessito…
―Não foi culpa sua ― Patrick sacudindo-a brandamente pelos ombros ― Não estava
preparada para vir ao mundo. Sophie recorda? Foi você quem me disse isso. Não foi sua culpa,
simplesmente era muito fraca.
Levantou-a em seus braços para levá-la até a poltrona e a embalou como se fosse uma menina
pequena.
―Foi porque ela sabia que eu não a queria ― Murmurou com voz rota.
―Como pode dizer algo assim? Desejava-a tanto que não me deixou te tocar durante meses.
Fez-se um silêncio.
―Tinha medo ― Continuou Sophie ― Tinha medo de perder meu filho.
―Então como pode dizer que não a queria?
―Você estava com sua amante, já não vinha ao meu dormitório, de modo que sabia que nunca
teríamos outro filho. Sim, queria-a, mas às vezes dizia a mim mesma que se não tivesse estado
grávida você teria continuado vindo ao meu quarto.
A tristeza a estava afogando.
―Não teria que ter pensado nisso. Deveria ter aceito as coisas e me alegrar da chegada do
bebê.
Patrick, assombrado, apertou-a contra si.
―Não estava com outra mulher Sophie.
Ela nem sequer escutou suas palavras.
―Sabia que já não tinha desejo de fazer amor comigo.
―Que já não tinha…?! Por que não íamos ter outro filho Sophie?
Ela já não podia conter os soluços e não se preocupou de esconder o que pensava.
―Porque já está cansado deste matrimônio, e como não se importa ter um herdeiro, não
teremos mais filhos. Em certo modo, quando fiquei grávida, lamentei-o porquê isso significava o
fim de…
Extenuada, não pôde terminar a frase.
―O que está dizendo Sophie? ― Perguntou ele com desespero ―Não sabe que passava as
noites desejando ir ver-te? O que diz não tem nenhum sentido. Estava ficando louco por não
poder fazer amor durante sua gravidez por que ia deixar de te desejar depois do nascimento do
bebê?
Ela bebeu suas lágrimas. Anteriormente seu raciocínio lhe tinha parecido perfeitamente
lógico.
―Mas… Mas o último mês passava fora quase todas as noites ― Disse recordando suas
noites em claro ― Estou inteirada de sua amante. A mulher morena. Não reprovo isso ― Se
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apressou a acrescentar ― Eu já sabia que as coisas seriam assim, mas não podia entender
porque me doía tanto.
O abraço de Patrick se fez mais forte; levantou-lhe o queixo e a olhou aos olhos.
―Isso não é certo ― declarou ― Deus é testemunha de que nunca desejei a outra mulher
desde que te beijei pela primeira vez no baile dos Cumberland.
Sophie lhe olhava sem saber se lhe acreditar ou não.
―Não fiz amor com ninguém mais ― Continuou ele ― E não há nenhuma mulher morena em
minha vida. Pelo amor de Deus, se nem sequer olhei a nenhuma! Só penso em ti e em seu corpo.
Querida, se equivocou ao acreditar que eu era um libertino não o entende?
―Isso significa que ainda deseja…?
―Deus, sim!
Sophie apoiou a cabeça no ombro de seu marido. Estava totalmente confusa, mas tinha uma
coisa clara: Patrick a desejava. Isso significava que voltaria a ir a sua cama assim que ela estivesse
completamente recuperada, que fariam amor, que possivelmente pudessem ter outro filho. Seu
corpo e sua mente se relaxaram instintivamente.
―Realmente pensa isso? ― Perguntou com voz apagada ― De verdade deseja fazer amor
comigo? Não se cansou de mim?
―Cansado? Maldição, Sophie, de onde tiraste essa absurda ideia?
―Acreditava que tinha uma amante. Passava muitas noites fora, Patrick.
Ele baixou os olhos.
―Sofria ― Confessou.
Não podia decidir-se a tirar o tema das saídas dela as sextas-feiras. Apesar do ciúme que lhe
torturavam, não queria ouvir Sophie falando de seus sentimentos por Braddon. Não poderia
suportá-lo embora estava seguro de que não o tinha enganado. De que serviria fazer que
confessar que estava apaixonada por outro homem? Ela era sincera, não o tinha traído, e não
acreditava ter direito a exigir que lhe amasse, e menos tendo em conta que virtualmente a tinha
obrigado a casar-se com ele.
Mas Sophie esperava mais explicações.
― Por que sofria? Eu estava aí, te esperando.
O que podia ele responder? “Não queria vê-la, jantar contigo, e te falar porque sabia que não
era a mim a quem amava”? Ela ia zombar dele se dissesse.
―Não sei o que fazia ― Reconheceu ao fim com voz apenas audível ― Mas não tinha uma
amante, juro. Pelo geral andava sem descanso pelas ruas. Outras vezes passava a noite em meu
escritório nos moles.
Ela não podia deixar de lhe acreditar.
―Alegro-me ― Murmurou ―Mas sei que não vai durar para sempre, mas…
―Maldição Sophie! ― Explodiu ele ― O que te faz pensar que sou tão canalha? O que lhe
disseram de mim?
Ela compreendeu de repente que acabava de lhe insultar.
―Não é você, Patrick. Sei como são os matrimônios, ou pelo menos os homens. Não poderá te
conformar com a mesma mulher para toda a vida, entretanto não serei uma esposa molesta. Não
o fui até agora não é certo? Nunca me queixei de suas ausências.
―É certo ― Grunhiu ele apertando os dentes ― Tinha a sensação de que te dava igual se eu
estava aqui ou não.
Ao Sophie deu um tombo o coração.
―Eu o único que queria é que não se sentisse prisioneiro.
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― Por que tinha medo de que fosse assim não voltasse a ir a dormitório?
Patrick começava a compreender.
Ela assentiu e o continuou com suavidade:
―Eu não sou seu pai, carinho. E você não é a sua mãe. Estou completamente seguro de que te
visitarei cada noite até que tenha pelo menos oitenta anos. Inclusive acredito que vou queimar
sua cama para que só tenhamos uma para os dois. O que te parece?
Ela estava um pouco aturdida.
―Por quê?
―Porque desejo dormir contigo todas as noites Sophie. Nunca falamos o suficiente.
Deveríamos havê-lo feito, todas essas noites nas que eu caminhava ao azar pelas ruas, pensando
só em fazer amor contigo.
Tampouco agora se atreveu a mencionar Braddon. Sim, teria que falar disso, mas quando ela
se encontrasse melhor, quando o mesmo se recuperou um pouco de todas essas emoções. Então
seria capaz de suportar a verdade. O importante nesse momento era que ela desejava lhe ter ao
em sua cama. Beijou-lhe as pálpebras com ternura.
― Fui um estúpido. Poderá me perdoar? Permitirá que durma contigo os próximos sessenta
anos?
Ela acariciou a bochecha.
―Sim. Oh sim!
Ele roçou seus lábios e foi ela quem se aproximou para lhe dar um beijo que falava mais de
amor que de desejo.
Ele levantou a cabeça.
―Devo te dizer uma coisa, Sophie.
Ela se mordeu o lábio com nervosismo.
―Quero ter um filho ― Continuou ele ― Desejava a esse menino mas que a nada no mundo.
Fez-se um breve silêncio.
―Então porque foi tão cruel? Por que disse essas coisas tão horríveis?
―Minha mãe…
Patrick se interrompeu e se esclareceu garganta.
―Não queria que minha esposa corresse a mesma sorte que minha mãe. É ridículo, sei, mas
depois de sua morte, Alex e eu ficamos sozinhos. Durante as férias iam a casa de quem queria nos
acolher. Isso era melhor que voltar com nosso pai a uma enorme casa vazia. Então jurei a mim
mesmo que nunca teria filhos e antes de te conhecer nunca os desejei.
Ela passou os braços ao redor do pescoço.
―Mas eu gostaria de muito ter os seus ― Continuou ― Teremos outro filho, Sophie.
Preocuparei-me muito por você, isso será inevitável, mas teremos tantos como você deseje; três,
quatro ou inclusive dez.
Deu-lhe uma volta no coração ao recordar que essa era a cifra que havia dito ao Braddon.
Ele estava dando pequenos beijos no pescoço, em silêncio, por temor a que escapassem
palavras de amor. Patrick havia dito que a desejava, que nunca ia dormir com outra mulher, que
queria ter filhos. Ela devia conformar-se com isso.
Apesar de suas boas intenções, não pôde evitar sussurrar:
―Te amo. Te amo.
Patrick levantou seu queixo.
―-Não está obrigada a dizer tal coisa, Sophie. Conheço seus sentimentos. Teremos outros
filhos.
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Surpreendida e envergonhada, ela se afastou. Ele conhecia seus sentimentos? Apesar de todos
seus esforços por escondê-los o sempre tinha sabido que ela estava apaixonada por ele? Sentia-se
profundamente humilhada, entretanto deixou cair a cabeça sobre seu ombro. Sim, amava-lhe.
Estava louca por ele.
Patrick por sua parte tinha a sensação de que o estavam apunhalando. Tinha esperado ouvir
dizer essas palavras e agora se dava conta de que não queria as ouvir. Não queria um amor que só
era gratidão por sua promessa de ter mais filhos. Não desejava o laço que se formou entre eles da
morte da menina; ou, em qualquer caso; não queria que chamasse a isso “amor”. Desejava que
Sophie sentisse a mesma ardente paixão que consumia, que tivesse a certeza de que se voltaria
louca se algo lhe acontecia.
―Sophie ― Sussurrou contra seu cabelo, com um nó na garganta.
Ela esperou, mas o foi incapaz de dizer nada mais e quando voltou a falar foi trocar
completamente de tema.
―Segue querendo ir ao Downes hoje?
Ela fez uma profunda inspiração.
―Sim, por favor.
― Vou preparar tudo, poderei me reunir contigo dentro de uns dias?
Ela escondeu a cara em seu pescoço.
―Vem agora Patrick. Vem comigo ― Disse com voz ligeiramente tremula.
Ele se apoderou de seus lábios.
―Irei. Sempre irei contigo vá aonde vá.
Quando Sophie despertou uns dias depois, em uma grande cama em Downes Manor, teve a
sensação de que estava curada. Sua filha, a filha dos dois, já não estava, mas teriam outros filhos.
E seu marido estava deitado ao seu lado sobre a colcha, coberto com uma incrível camisola de
renda que seu irmão tinha exigido que colocasse, por alguma desconhecida razão. Seu rosto
estava um pouco abatido e a barba obscurecia seu queixo, mas entretanto, nunca lhe tinha
parecido mais atraente.
Capitulo 28
Alguém estava acariciando seu nariz. Com uma flor, conforme pôde comprovar Sophie ao abrir
os olhos. Sorriu adormecida.
―Dormi muito?
―Algumas horas ― Respondeu seu marido com um terno olhar.
Ela se espreguiçou e sentiu o comichão da grama sob suas omoplatas, enquanto Patrick se
dedicava a contemplar seus seios que esticavam o vestido de algodão. A margarida baixou ao
longo de seu pescoço.
―Esse sutiã necessita algum adorno ― Disse orvalhando sobre ela uma chuva de pétalas
brancas.
Ela estremeceu.
Patrick estava um pouco despenteado. Certamente ele também ficou adormecido depois da
comida campestre regada com vinho.
Por volta de já dois meses que estavam ali depois de Londres com o coração destroçado pela
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dor.
Tinham escolhido uma singela lápide para sua filha e tinham gravado nela seu nome, Frances,
e umas palavras: Nossa filha adorada. Logo, um dia, Charlotte e Sophie tinham ido plantar
campainhas de inverno com o conseguinte aborrecimento do jardineiro que pensava que as
damas não deviam manchar as mãos de terra.
Não retornaram a Londres, o pensar em sua residência londrino, cheia de lembranças de dias
em silêncio e noites sem dormir, não a atraía, de modo que se instalaram em uma das casas da
mansão como dois pássaros feridos.
Era o tempo da convalescença. A cálida presença de Charlotte e Alex lhes reconfortava e
Downes Manor já não era a triste residência que Patrick conheceu quando era menino. Quando
terminou o trimestre, Henri se reuniu com eles para grande alegria de Pippa e após toda a casa
ressonava com suas risadas.
Mas o mais importante é que em qualquer lugar que fosse Sophie, Patrick estava com ela, não
a deixava carregar com nada mais pesado que sua costura. Pelas noites se despedia da Simone
para lhe pentear o mesmo seu sedoso cabelo.
Dormiam entrelaçados com a face de Patrick pega ao pescoço de Sophie. Se ela se dava a volta
enquanto dormia, ele em seguida a voltava a aproximar dela. Não queria abandoná-la nem sequer
quando dormia.
Essa noite estavam esperando convidados. Diante a agitação causada pela preparação de uma
dúzia de quartos, Patrick tinha pego a sua mulher e a tinha metido em uma carruagem para levar-
se a de excursão.
―Onde está o chofer? ―Perguntou ela com preguiça.
Podia ver claramente as mantas e os restos da comida, mas o carro não se via por nenhuma
parte.
―Enviei-o para casa ― Disse ele sem levantar os olhos.
―A casa? E como vamos voltar?
Estava tão bem ao lado do rio com o calor da tarde, que a verdade é que lhe dava igual a
resposta.
Além Patrick tinha descoberto um jogo novo: tinha encontrado umas flores de madressilva e
as estava trancando no cabelo de Sophie.
―Patrick?
Encantava-lhe ver como se obscurecia seu olhar quando a desejava.
―Sim?
―Minha babá acostumava a desfolhar as margaridas como você.
―Sim?
―Serve para adivinhar se alguém te ama.
Levantou-se um pouco nervosa, com o rosto abafado pelos cachos. Ele lhe entregou uma
margarida.
―Ama ― Disse ― Ela me ama ― disse arrancando a primeira pétala.
Uma carinhosa mão lhe apartou o cabelo da cara.
―Um pouco ― Continuou ela.
Alguém mordiscou sua orelha.
―Muito.
Patrick ficou atrás dela e a sentou nos joelhos.
―Apaixonadamente.
Uns sólidos braços a rodeavam e ela se deixou cair contra seu peito.
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―Nada.
Uns suaves lábios acariciaram sua fronte.
―Ama-me.
A última pétala caiu ao chão.
―Ama ― Concluiu ele com voz firme e tranquila.
―Sabe até que ponto te amo Patrick Foakes? Com loucura!
Essas palavras penetraram lentamente no cérebro de Patrick e se fez um silêncio como se o
tempo se deteve. Já não ouvia nem as cigarras nem o zumbido das abelhas. O mundo se limitava
aos olhos azuis de sua esposa.
―É isso certo? ― Disse por fim.
Sophie tinha ruborizado ligeiramente e apoiou as mãos nas bochechas de seu marido.
―Certamente. Por que parece tão surpreso? Acreditei que sabia.
―Acreditava que amava Braddon.
―A Braddon?
Ela abriu os olhos assombrada.
―Como poderia estar apaixonada por Braddon? Ele está louco por Madeleine!
―Isso não te impede de amá-lo ― Insistiu ele.
Era o momento indicado para esclarecer coisas.
Sophie começava a cair das nuvens.
―De onde tirou essa incrível ideia?
―Incrível? ― Disse Patrick com ironia ― Braddon afirmava que você o adorava e essa é a
impressão que dava. Insistiu em fugir com ele, pelo amor de Deus! E quando anunciou seu
compromisso com Madeleine, você chorou.
―Chorei?
Sophie estava tentando fazer memória.
―Não, não chorei pelo compromisso de Braddon, porque francamente, dá-me completamente
igual se se casar ou não.
Pensou por um momento.
―E ele te disse que eu estava apaixonada por ele?
Ele assentiu e os olhos azuis do Sophie se obscureceram.
―Que arrogante, miúdo imbecil! Eu? Apaixonada por ele?
Ao Patrick o coração dançava de alegria.
―Vejamos ― A provocou ― Se mal não recordo, disse-me que estava louca por ele.
―Pagará-me isso! ― Gritou antes de explodir em gargalhadas ― Como vingança contarei a
Madeleine assim que voltem de sua viagem de núpcias.
―Eu gosto muito de Madeleine ― Murmurou Patrick ― Onde a conheceu?
―Deve ser no baile dos Cumberland.
Ele negou com a cabeça.
―Impossível. Disse-me que seu primeiro baile tinha sido o que deu lady Commonweal para
celebrar o compromisso do Sissy, e você convidou para jantar ao Madeleine muito antes disso.
Sophie afastou a face. Odiava mentir e optou por lhe dizer uma verdade pela metade.
―Certamente foi Braddon quem me apresentou a ele, mas já não sei quando.
―Braddon…
Patrick desfrutava de uma excelente memória, o qual lhe tinha resultado muito útil em seus
negócios e então recordou uma frase que havia dito Braddon: “Madeleine é diferente; ela é
somente minha e para sempre”
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Estava se referindo a sua futura amante, quão jovem tinha substituído a Arabella. Pensava
comprar uma casa no Mayfair, queria tê-la perto.
Uma luz se fez em seu cérebro. Braddon tinha metido Sophie a um de seus estúpidos planos, e
este, socialmente ao menos, era perigoso. Mas ao menos era com Madeleine com quem ela
passava as sextas-feiras. Com Madeleine, a amante de Braddon.
―Ensinou-lhe a comportar-se em sociedade não é isso?
Sophie esboçou um sorriso pesaroso.
―Não necessitou muitas lições.
Ele aspirou profundamente.
―Eu acreditava que passava as tardes com Braddon.
―Bom, isso é certo ― Respondeu ela distraidamente ― Mas a maior parte do tempo não
podíamos estar com ele porque se comportava como um cão raivoso. Não conseguia manter-se a
mais de vinte centímetros de Madeleine.
Patrick a abraçou pensando em quão estúpido tinha sido.
―Não estaria… Sim! Estava com ciúmes! Acusou Sophie.
Ele pensou por um momento em negá-lo, mas tinham prometido ser sinceros um com o outro.
―Estava doente de ciúmes ― Confessou contra seus lábios― Quase morro.
―Mas eu acreditava que você tinha uma amante.
―A propósito ― Disse ele com curiosidade ―Quem era a beleza morena com a qual
acreditava que eu mantinha uma relação?
Sophie ainda se estava deleitando com os ciúmes de seu marido.
―Charlotte sugeriu que estava ciumento de Braddon mas eu não podia acreditá-lo.
Abriu muito os olhos.
―Charlotte! ― Disse Sophie ―Sua amante era Charlotte!
―Não que eu saiba ― Replicou ele rindo.
―Verá; Henri acreditou que tinha te visto com uma formosa mulher morena.
―E ainda não tinha conhecido Charlotte de modo que não sabia que eu tinha um irmão gêmeo
― Terminou Patrick ― Isso ensinará a não desconfiar de seu marido.
Apoiou sua testa na dela.
― Fomos uns tolos, querida. Por que não falamos antes de nossos temores?
―Eu era incapaz de fazê-lo ― Respondeu ela simplesmente ― Acreditava que estava
comportando como meu pai, de modo que não tinha nenhum sentido discutir. Você não ia aos
bailes com suas amantes e isso já era algo. Por que ia queixar-me?
― Por quê? Teria tido todo o direito a se queixar! ―Exclamou Patrick frustrado ―Maldição, é
minha mulher!
― Você não se queixou de minhas escapadas com Braddon ― Recordou ela brandamente ―
Ele tinha medo de que se zangasse e eu acreditava que você nem tinha se dado conta.
― Como podia te reprovar que visse Braddon? Se não tivesse sido por culpa de minha
irresponsável conduta tivesse vivido feliz com ele.
Só a ideia lhe rasgava o coração.
―Sophie, está segura de que me ama? Alex diz que Braddon é encantador.
― É ― Admitiu ela segurando seu rosto ― E você, milorde, não é. Você se dedica a raciocinar e
chega a conclusões absurdas. Ignora-me e depois diz que esta pensando em mim. Fez-me desejar
te ter em minha cama e depois me abandonou sem a mais mínima explicação. Nomearam-lhe
duque e se esqueceu de me dizer isso Não entendo absolutamente seu comportamento e
tampouco posso entender porque razão porque te amo tanto.
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Patrick sentiu com horror que os olhos se enchiam de lágrimas. Tombou-a sobre a grama e se
apoderou de seus lábios com paixão. Vamos sempre, ela respondeu com a mesma intensidade.
―Eu sim sei por que te amo, Sophie. Porque é a pessoa mais maravilhosa do mundo.
Passou uma mão pelo cabelo negro e lhe ofereceu de novo seus lábios.
―Sinto muito ― Voltou a dizer ele com voz rouca ― Estava com ciúmes. Depois ficou grávida e
tive muito medo. Não estou acostumado a ter medo. Estava furioso e completamente
aterrorizado, de modo que em quão único pensava era em me manter afastado de você.
O beijo de Sophie foi um perdão silencioso e ficaram muito momento olhando-se nos olhos.
―Nunca te deixarei prometeu Patrick
―Se isso chegar a ocorrer gritarei como uma arpía. O que te parece?
―Aceito o trato. Entretanto se que é muito inteligente para ser uma esposa tranquila.
Ela sorriu.
―Ciumento de meu êxito com Madeleine? ― Zombou ela ― Minha próxima meta é fazer que
o duque de Gisle se converta em um duque digno desse nome.
―De verdade? E que é o que não funciona com o duque de Gisle?
―Não é consciente de sua fila. Sua limusine esta simplesmente forrada de seda azul, sem o
menor brasão à vista. E nem sequer possui sua própria mistura de tabaco.
―Odeio o tabaco.
― Não importa ― Replicou ela alegremente ― Todos os duques têm sua própria mistura de
tabaco que ninguém mais pode comprar.
― Eu acredito que seu verdadeiro problema é a duquesa.
Patrick a estava acariciando e todo o corpo dela estremeceu.
―A duquesa conhece muito bem as regras de etiqueta ― Murmurou ― Eu fiz uma condessa,
da filha de um criador de cavalos.
―Mas mentiu ao duque ― Ele objetou.
Em seus olhos havia um brilho de seriedade que a alertou.
―Não podia te falar de Madeleine ― Se defendeu.
―Não se trata disso ― Disse ele passando a mão pelo cabelo e despenteando-os mais do que
estavam ― Lembra que me falou dos relatos de viagem de Kotzebue na Sibéria?
Ela se incorporou sobre os ombros intrigada.
―Uma tarde em meu escritório ―Ele insistiu.
Ela ruborizou.
―Ah sim!
―Fui a uma livraria a comprar um exemplar.
Ela ficou subitamente em guarda.
―Sim, minha querida esposa ― Grunhiu ele ― O único livro que me ofereceram se titulava:
Merkwürdigste Jahr Meines Lebens.
Ela ficou completamente vermelha.
―Acredito que um tal reverendo Beresford está trabalhando na tradução ― Disse com voz
débil.
―Me dará isso de presente no natal ―Respondeu Patrick o qual, apesar de seu enorme
sorriso, seguia falando muito serio ― E ontem recebi uma mensagem de lorde Breksby dizendo
que Bayrak Mustafá não é turco, embora aparentemente sua mãe sim era. Trata-se de um inglês
quase analfabeto conhecido com o apelido da A Toupeira.
Sophie não entendia nada.
―Então porque trouxeram o tinteiro?
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―Enquanto?
―-Enquanto me deixe te amar de manhã, tarde e noite.
― Só?
― E para sempre.
―Suspeitava ― Disse ela rindo.
―Também tem que me perdoar por meus silêncios.
Ela se levantou um pouco.
―Eu também calava. Tinha medo. Queria evitar a qualquer preço as amargas brigas de meus
pais. Mas pode que um educado silêncio seja ainda pior.
Ele se mostrou de acordo.
―No mesmo instante em que volte a tomar por costume sair com Braddon poderá comprovar
que recuperei a voz.
―E se você voltar a vir para casa ao amanhecer ― Disse ela com severidade fingida ― Me
converterei em uma arpía e te atirarei coisas à cara.
Ele sorriu.
―Uma coisa mais: vai ter que me dar ao menos cinco filhos.
Ela permaneceu por um momento incapaz de pronunciar uma palavra. Seus olhos se
encheram de lágrimas.
―De verdade o deseja Patrick?
―Morrerei de medo e certamente me comportarei como um tirano mas eu… Quis à pequena
Frances do instante que a vi. Temos que ter outro filho.
As lágrimas de Sophie transbordaram em seus olhos e ele a pegou novamente em seus braços.
―Sou um idiota ― Disse ele com ternura ― Seria melhor que te fizesse pensar em outra coisa.
Bebeu suas lágrimas, mas suas mãos empreenderam um caminho muito menos inocente ao
longo de sua coxa.
Umas nuvens brancas se moviam no céu completamente azul, não longe zumbiam as abelhas
e os pássaros cantavam alegremente.
Sophie fechou os olhos e acariciou as costas de seu marido, feliz ao sentir que este se
estremecia com suas carícias.
Epilogo
Dezembro 1807
Sophie despertou sobressaltada e se sentou na cama. A única luz que havia no quarto era a da
lareira. Ainda adormecida, olhou as chamas que se refletiam na parede. Para calor embora o
inverno estivesse sendo especialmente duro.
Depois ouviu de novo: um gorjeio seguido de uma risada baixa.
Entrecerrando os olhos pôde ver a poltrona de balanço ao lado da lareira, que se movia
brandamente.
―Patrick?
―Estamos aqui.
Sorrindo colocou os travesseiros contra a cabeceira da enorme cama de mogno. Patrick e ela
tinham sido alojados na suíte real de um palácio na Turquia, e ele tinha negociado para conseguir
comprar a cama do pachá. Ao voltar ele cumpriu sua promessa e fez tirar a cama do quarto dela.
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―Esta é a única cama em que a partir de agora dormiram a duquesa de Gisle e seu amante
esposo ― Havia dito tombando-a sobre a colcha de seda ― Se algum dia tem alguma boa razão
para me jogar, deve saber que dormirei diante da porta, no chão.
Sophie tinha rido e após compartilhavam essa cama feita para um rei.
Ouviu-se outro balbuceio.
―Patrick, não deveria ter feito.
Entretanto era difícil ficar séria diante da risada do bebê.
―Não quererá voltar a dormir depois de ter estado brincando contigo ― Disse.
―Sim, quererá ― Respondeu Patrick com a voz cheia de carinho ― Voltará a dormir em
seguida, não é meu coração? Para dar gosto a mamãe.
A menina emitiu um alegre gritinho.
―É a hora de comer? Com certeza que sim.
Levantou-se e se dirigiu para a cama com um pacote envolto nos braços. Sophie só podia ver
um pequeno punho que se movia.
Patrick, enquanto andava, esfregava seu nariz contra o de sua filha.
―Ai! ― Gemeu quando a mãozinha desta puxou seu cabelo.
―Katherine? ― Perguntou Sophie.
― Desde quando as mães não reconhecem seus filhos? ― Replicou seu marido fingindo
severidade enquanto depositava à criança nos braços de sua mãe ― Está pequena preciosidade é
Ella, evidentemente.
Ela estava se voltando para sua mãe na expectativa.
―Toma carinho ― Disse ela abrindo a camisola.
Patrick se sentou na beira da cama, comovido.
―Katherine está dormindo profundamente. Quando Nancy trouxe Ella, disse que esperava que
Katherine dormisse toda a noite de um puxão.
―Que otimista!
―É uma boa qualidade para uma babá. Mas se dá conta de que a otimista Nancy não prevê
que Ella durma toda a noite logo.
Sophie contemplou a sua filha que se alimentava com avidez.
― É uma comilona. Não quer dormir por temor de perder uma comida.
―Ou uma brincadeira ― Acrescentou Patrick ― Gosta de brincar inclusive quando tem fome.
―Acredito que quer alcançar a sua irmã que era maior que ela quando nasceu.
― Passou os três últimos meses fazendo-o. Olhe o tamanho que tem. Depois de que subisse a
se deitar chegou uma mensagem ― Acrescentou ele mudando de tema.
―Minha mãe?
―Sim. Heloise foi mãe de novo. A mãe e o filho se encontram bem. George diz que o parto só
durou quatro horas de modo que acredito que sua mãe se parece com você, querida.
Depois de todas as preocupações que tinham ido crescendo à medida que se aproximava o
parto, as gêmeas tinham nascido tão depressa que o doutor Lambeth nem sequer teve tempo de
tirar Patrick da habitação, de modo que este último pôde sustentar Katherine em seus braços
quando o médico com uma risada de surpresa, apanhou a cabeça de Ella que se precipitava a
reunir-se com sua irmã no mundo dos vivos. Patrick ainda tinha o coração cheio de alegria cada
vez que o recordava.
―Tenho um irmão ou uma irmã? ― Perguntou Sophie.
― Foi um menino. Imagino que seu pai deve estar no sétimo céu.
―Nunca se preocupou muito a sua cessão ao título.
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FIM
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