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Jurisprudência

julho‑dezembro 2014

1. RPt 01­‑jul.­‑2014 (Rui Moreira), Proc. n.º 8324/12.8TBMTS.P1, in www.


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Sumário:
I – Julgados confessados os factos alegados pelo autor, por efeito da falta de contestação
do réu, a matéria que constituirá o substrato factual da sentença haverá de ser naturalmente
separada do que sejam juízos de valor, asserções conclusivas ou conceitos jurídicas, já que
só a alegação estritamente factual é abrangida pelo efeito cominatório constante do n.º 1 do
artigo 567.º do CPC.
II – Nos termos do artigo 78.º do CSC, os gerentes ou administradores respondem
para com os credores da sociedade quando, pela inobservância culposa das disposições legais
ou contratuais destinadas à proteção destes, o património social se torne insuficiente para a
satisfação dos respetivos créditos. A ausência de qualquer relação contratual entre o credor
e os gerentes de uma sociedade leva à classificação dessa responsabilidade do CSC. como
aquiliana.
III – Pressupostos da verificação dessa responsabilidade são a ilicitude, traduzida na
violação de normas de proteção aos credores que origine insuficiência patrimonial da socie‑
dade; a culpa e o nexo causal com a frustração dos créditos.
IV – Cabe ao credor o ónus da prova desses pressupostos.
V – As normas legais e contratuais cuja infração pelos gerentes ou administradores de
uma sociedade consubstancia a ilicitude apta a fundar a sua responsabilização pessoal perante
os credores serão todas aquelas cuja inobservância determine a insuficiência (prejudicando a
conservação ou inibindo o aumento) do património social (que não apenas o capital social),
para a satisfação dos respetivos créditos.

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2. STJ 03­‑jul.­‑2014 (Abrantes Geraldes), Proc. n.º 535/11.0TYVNG.P1.S1,


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Sumário:
I – No âmbito do recurso de apelação, a Relação, confrontada com uma confissão que
porventura não tenha sido considerada, deve explicitar os factos que considera provados por
via da confissão.
II – A responsabilidade civil do gerente de sociedade por quotas pressupõe a prova
de todos os pressupostos constantes do artigo 72.º da CSC, designadamente a ilicitude
e o dano.
III – Para demonstrar a ilicitude ou o dano revela­‑se insuficiente a prova de que o
gerente, a quem é imputada a responsabilidade, sacou um cheque da sociedade que depois
foi depositado na sua conta bancária.

3. STJ 09­‑jul.­‑2014 (João Bernardo), Proc. n.º 366/12.OTVLSB.L1.S1, in www.


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Sumário:
I – As sociedades comerciais podem ser compensadas por danos não patrimoniais.
II – A sua natureza leva, no entanto, a que surjam especificidades.
III – Entre elas, a maior exigência quanto à gravidade merecedora da tutela do direito
do que a relativa às pessoas singulares.
IV – Não atinge gravidade suficiente a dúvida e desconfiança de pessoas relacionadas
comercialmente com a sociedade, sobre se esta tinha o telefone cortado por não ter dinheiro
para o pagar e se dispunha de dinheiro para pagar o preço que propunha pela compra de
catalisadores.

4. RLx 09­‑jul.­‑2014 (Jorge Leal), Proc. n.º 127866/13.5PRT­‑A.L1­‑2, in www.


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Sumário:
Verifica­‑se periculum in mora, justificativo do decretamento da providência cautelar de
arresto, quando a devedora, sociedade por quotas, apesar de reconhecer a dívida da requerente,
não a paga e os seus sócios constituem uma sociedade anónima com objeto social que abrange o
objeto social da devedora (promoção imobiliária) e o de uma outra sociedade por quotas (cons‑
trução civil), tendo esta última a mesma sede social que as outras duas e bem assim os mesmos
sócios que a devedora requerida, e os dois automóveis pertencentes à ­sociedade de construção

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civil foram transmitidos, sem explicação plausível, para a esfera jurídica da dita sociedade
anónima, que tem como único administrador um dos sócios gerentes das outras duas sociedades.

5. RCb 10­‑jul.­‑2014 (Fonte Ramos), Proc. n.º 517/11.1TBGRD.C1, in www.


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Sumário:
I – No quadro normativo vigente, estando em causa a redução do capital social para
cobertura de prejuízos, não opera a limitação imposta pelo artigo.º 95.º, n.º 1, do CSC
(na redação conferida pelo DL n.º 8/2007, de 17.01).
II – A anulabilidade constitui o regime regra em matéria de invalidade de deliberações
sociais, abrangendo, entre outras, as deliberações cujo procedimento ou cujo conteúdo se opõem
a cláusulas estatutárias.
III – Os casos de nulidade traduzem as situações mais gravosas expressamente previstas
pelo legislador, envolvendo, em regra, o desrespeito do interesse público (stricto sensu) ou
do interesse de terceiros (mormente, de futuros acionistas).

6. RPt 15­‑set.­‑2014 (Alberto Ruço), Proc. n.º 1036­‑A/2002.P1, in www.dgsi.pt

Sumário:
(…)
III – O ónus da prova quanto ao «justificado interesse» próprio da sociedade garante
em relação à garantia prestada, mencionado no n.º 3 do artigo 6.º do Código das Sociedades
Comerciais, recai sobre o credor beneficiário da garantia.
IV – O credor beneficiário da garantia cumpre com tal ónus se provar que o dinheiro
que mutuou à sociedade devedora foi também utilizado, em parte, para pagar dívidas da
sociedade que prestou a garantia, ainda que não prove o montante exato.

7. RPt 29­‑set.­‑2014 (José Eusébio de Almeida), Proc. n.º RP20140929924/


11.0TVPRT.P1, in www.dgsi.pt

Sumário:
I – Age de má fé e não merece proteção do Direito a sociedade que, representada pelo
Presidente do Conselho de Administração, intervém no negócio jurídico de dação em paga‑
mento, aceitando a propriedade de um imóvel que se encontra na titularidade desse ­Presidente
(que, nesta outra qualidade, também intervém na escritura) quando este mesmo estava obri‑
gado, enquanto fiduciário, a não dispor do imóvel.

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II – Não age em abuso de direito quem reclama judicialmente o pagamento de um mútuo


feito há catorze anos e sem observância da forma legal.

8. RGm 25­‑set.­‑2014 (Heitor Gonçalves), Proc. n.º 269/13.0TBCMN­‑C.G1,


in www.dgsi.pt

Sumário:
(…)
III – É claro que esse dever [de apresentação à insolvência] não impende sobre o
sócio duma sociedade por quotas, como é o caso, porquanto não pode ser considerado titular
da empresa (a titularidade da empresa é da própria sociedade, pessoa jurídica diversa dos
seus sócios), e uma vez que o património da sociedade não responde por dívidas alheias à
sua atividade.

9. STJ 30­‑set.­‑2014 (Fonseca Ramos), Proc. n.º 1195/08.0TYLSB.L1.S1, in www.


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Sumário:
I – Assaca a Autora ao Réu, visando a sua destituição de gerente, a violação de deveres
de cuidado, de diligência e de lealdade, todos previstos no artigo 64.º do Código das Socie‑
dades Comerciais, enfatizando, sobretudo, a violação do dever de lealdade.
II – O dever de lealdade é indissociável do princípio de confiança, quer seja perante a
sociedade, quer perante os sócios, quer perante terceiros. O acautelar do interesse social não
se confina apenas ao interesse societário tout court, ou seja, a uma atividade que vise lucros.
A eticização do direito e da vida societária impõem uma atuação honesta, criteriosa e trans‑
parente compaginável com a tutela de terceiros que possam ser prejudicados pela atuação
do ente societário através da atuação de quem delineia a sua estratégia e é responsável pela
atuação da sociedade, o que convoca os princípios da atuação de boa­‑fé, da confiança e a da
proibição do abuso do direito.
III – A atuação concorrencial exercida pelo gerente e que afeta a sociedade protegida
pode ser exercida por uma sociedade em que o gerente seja único sócio de uma outra socie‑
dade. No caso em apreço, a atividade concorrente é exercida por uma sociedade unipessoal por
quotas detida pelo Réu: poder­‑se­‑ia pensar que dada a autonomia jurídica dessa sociedade,
não seria o Réu quem exercia atividade concorrente.
IV – O artigo 254.º, n.ºs, 1 e 5 do Código das Sociedades Comerciais, alude ao
conceito de “justa causa”. Trata­‑se de um conceito indeterminado, dotado de plasticidade
adaptável casuisticamente para aferir se uma atuação se compagina com os direitos e deveres
do exercente, postulados pelos princípios jurídicos nela implicados.

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No caso, esses deveres são os de deveres de cuidado, de diligência e de lealdade, este


na vertente da proibição de concorrência próprios da gestão societária, não sendo de descon‑
siderar a aplicação de princípios como o da confiança e da boa­‑fé, também nesta sede
convocáveis.
V – Constitui justa causa de destituição de gerente, atuação sua que exprima violação
grave dos deveres de gerente, mormente, dos deveres de cuidado, de diligência e de lealdade,
que impliquem perda irreparável da confiança dos afetados por essa atuação, seja no contexto
interno da sociedade, seja na sua relação com terceiros a justificar a impossibilidade da manu‑
tenção do vínculo que o une ao ente societário, por existir conflito de interesses gerador de
danos efetivos ou potenciais, que devam ser consideradas razão inequívoca da inexigibilidade
da manutenção daquele vínculo jurídico. A lei alemã alude a “grosseira violação dos deveres,
incapacidade de condução regular dos negócios ou privação da confiança…”, ou seja, quando
“a confiança por manifestos e improcedentes fundamentos foi destruída” – § 84, n.º 3 da
Aktiengesetz.
VI – Para que haja concorrência desleal – proibida no artigo 254.º, n.º 1, do Código
das Sociedades Comerciais não se exige que a atividade concorrente, exercida pelo também
gerente de outra sociedade, deva ser coincidente com a exercida pela “sociedade protegida”,
previamente exercente dessa atividade: basta que essa atividade seja similar à da sociedade
protegida e possa com ela, mormente, pela sua atuação e situação geográfica, concorrer de
modo a causar “desvio de clientela”.
VII – A lei não proíbe a concorrência, sob pena de coarctar o direito de livre estabe‑
lecimento e de iniciativa privada que têm tutela constitucional – artigos 47.º e 61.º da Lei
Fundamental; proíbe, sim, a concorrência desleal, violadora do dever de lealdade, que é a
que um sujeito de direito exerce de modo a afetar, à margem da lei, os saudáveis princípios
da concorrência.
VIII – O dever de lealdade está associado à obrigação de não concorrência, à obrigação
de não aproveitar em benefício próprio possíveis oportunidades de negócio, a atuação de
boa­‑fé ao respeito pelo princípio da confiança e à omissão de procedimentos que provoquem
conflitos de interesses.
A atuação do Réu, enquanto gerente da “CC”, infringiu gravemente os citados deveres
pelo que existe justa causa para a sua destituição.
IX – Os factos revelam utilização abusiva de bens da “CC” quando o Réu já nenhuma
ligação de facto mantinha com essa sociedade, demitindo­‑se, assim, dos seus deveres de cuidado
e diligência, descurando os interesses desta sociedade e contemplando os seus.
X – O facto de se manter ligado juridicamente à “CC”, malgrado a sua quase total
ausência de exercício da função de gerente em prol do respetivo interesse social e o facto de
ter utilizado bens e informações da “CC” para instalar o seu estabelecimento que exerce
concorrência a esta Sociedade, exprime, além de violação dos deveres de cuidado e diligência,
violação do nodal dever de lealdade, afetando, de maneira clamorosa, a relação de confiança
que deveria cultivar.

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XI – Esta conduta torna objetiva e subjetivamente inexigível a sua manutenção como


gerente da “CC”, sendo patente que a atuação do Recorrente revela um claro conflito de
interesses entre a Autora e esta sociedade, sobretudo, desde que, em 23 de Julho de 2008,
o Réu constitui a sociedade unipessoal “GG – Gestão de Restaurantes Unipessoal Lda.”.

10. RPt 07-out.-2014 (Francisco Matos), Proc. n.º 1840/13.6TJPRT.P1, in www.


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Sumário:
I – Os Tribunais de Comércio são tribunais de competência especializada designada‑
mente competentes designadamente para preparar e julgar as ações relativas ao exercício de
direitos sociais.
II – Não exerce um direito social o autor que alega haver vendido/cedido a totalidade
das sua participação social e propõe contra os compradores, ação destinada a obter informações
sobre a faturação da sociedade para cálculo do preço da posição social transmitida e subsequente
condenação no respetivo pagamento.

11. RLx 08-out.-2014 (José Eduardo Sapateiro), Proc. n.º 228/12.0TTLSB.L1-4,


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Sumário:
I – A gestão danosa, quando conexionada com a responsabilização pessoal dos 4.º
a 7.º Réus, na sua qualidade de sócios e/ou administradores/gerentes, não pode ou deve ser
somente configurada à luz da desconsideração da personalidade jurídica, podendo e devendo,
em função dos factos alegados e dados como assentes, ser também reconduzido ao regime
dos artigos 334.º e 335.º do Código do Trabalho de 2009 e 78.º, 79.º e 83.º do Código
das Sociedades Comerciais, convindo lembrar, a este propósito, que segundo o artigo 664.º
do Código de Processo Civil de 1961, «O juiz não está sujeito às alegações das partes no
tocante à indagação, interpretação e aplicação das regras de direito; mas só pode servir-se dos
factos articulados pelas partes, sem prejuízo do disposto no artigo 264.º.»
II – Os créditos reclamados pelos Autores constituem retribuições e outras presta‑
ções de cariz laboral devidos por força do contrato de trabalho e/ou como contrapartida da
atividade pelos mesmos desenvolvida para a 1.ª Ré, o que faz esta cair numa situação
de incumprimento, conforme se mostra prevista nos artigos 323.º e 324.º do Código do
Trabalho de 2009, ressaltando dos autos que a empregadora, após ter entrado em mora
contratual – que acabou por motivar a resolução, com invocação de justa causa, por parte
dos trabalhadores dos respetivos vínculos jurídico-profissionais –, incorreu na prática de
atos de transmissão ou disposição do seu património social que se mostram proibidos pelos
números 2 e 3 do artigo 324.º e número 1, alíneas d) e e) do artigo 313.º, o que acarreta
a sua anulabilidade.

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III – A 4.ª Ré, enquanto gerente da 1.ª Ré, atuou em clara violação de normas legais
que protegem os interesses dos credores da mesma, numa gestão danosa para a satisfação
dos seus direitos de crédito, que se reconduz ao estatuído nos números 2 do artigo 335.º
do Código do Trabalho de 2009 e 78.º e 79.º do Código das Sociedades Comerciais,
implicando, nessa medida, que responda solidária e conjuntamente com tal sociedade,
pelas dívidas que esta tem para com os aqui Autores, revelando-se o património conhecido
manifestamente insuficiente para cobrir o montante global dos créditos reclamados pelos
trabalhadores na ação principal.
IV – A presunção contida no número 3 do artigo 258.º do Código do Trabalho de
2009 permite atribuir o cariz retributivo a uma dada prestação paga pelo empregador ao
trabalhador mas não lhe confere a categoria de retribuição-base.

12. RPt 13-out.-2014 (Eduardo Petersen Silva), Proc. n.º 214/09.8TTSTS.P2,


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Sumário:
I – Numa sociedade por quotas com dois sócios com quotas iguais, cujo pacto social prevê
que ambos os sócios exercem a gerência dividindo os respectivos serviços, conforme deliberação
em assembleia, e não tendo havido deliberação a atribuir a qualquer deles o poder disciplinar
em relação aos trabalhadores, ambos podem exercê-lo.
II – O facto de um dos sócios se ter ocupado, por norma, das questões relativas ao pessoal,
não constitui um uso laboral que habilite à definição de qual dos sócios tem o poder disciplinar,
nem constitui um uso atendível, nos termos do artigo 3.º do Código Civil.
III – Tendo um dos sócios determinado instaurar procedimento disciplinar e no seu âmbito
dado uma ordem de suspensão a um trabalhador, e tendo no mesmo dia o outro sócio dado
uma ordem em sentido contrário, ambas as ordens sendo legítimas, não pode concluir-se pela
ilicitude da desobediência à ordem de suspensão.

13. RPt 13-out.-2014 (Carlos Querido), Proc. n.º 926/11.6TJVNF.P1, in www.


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Sumário:
I – Do facto de a lei considerar válida a deliberação social caso se mantenha a maioria
necessária para a aprovação, desconsiderados os votos abusivos, decorre a conclusão de que é
o vício do voto que afecta a validade da deliberação, face ao disposto na alínea b) do n.º 1 do
artigo 58.º do CSC. Ou seja: o vício incide primordialmente sobre o voto e só reflexamente
sobre a deliberação.
II – A classificação do voto como abusivo à luz do normativo citado implica cumulati‑
vamente que se verifiquem: os pressupostos objectivos (adequação da deliberação ao propó‑
sito ilegítimo dos associados); e subjetivos (intenção de obter uma vantagem especial para os

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sócios que votaram a deliberação ou para terceiros ou de causar prejuízos à sociedade ou aos
restantes sócios).
III – Apesar de serem figuras distintas, podem convergir na mesma situação concreta o
“voto abusivo” previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 58.º do CSC, e o abuso de direito,
previsto no artigo 334.º do Código Civil.
IV – Assumindo a ré sociedade uma deliberação em que se determinava a realização
de prestações suplementares pelos sócios a seu favor, tendo a autora, sócia da ré, intentado
uma ação com vista à anulação da referida deliberação e informado a ré de que realizaria a
prestação apesar da sua discordância caso o Tribunal viesse a considerar a deliberação válida,
ao expulsar a autora e determinar a imediata perda da sua quota, na pendência da referida
ação e depois de a ter contestado, a ré age com manifesto abuso de direito.

14. RCb 14-out.-2014 (Maria Domingas Simões), Proc. n.º 2521/12.3TBPBL.


C1, in www.dgsi.pt
Sumário:
I – Nos termos do artigo 257.º/1 do CSC, os sócios podem deliberar a todo o tempo
a destituição de gerentes, assim tendo a nossa lei consagrado o princípio da sua livre desti‑
tuibilidade.
II – Sendo lícita a destituição dos gerentes mesmo sem invocação de qualquer causa, a
existência de fundamento – justa causa, no dizer da lei – tem como efeito a desoneração da
sociedade do pagamento de qualquer indemnização ao gerente destituído. Daí que, configu‑
rando-se como facto impeditivo do direito à indemnização, o ónus da respectiva alegação e
prova recai sobre a sociedade, nos termos do n.º 2 do artigo 342.º do Código Civil.
III – Mesmo no caso da destituição “ad natum”, a dar lugar ao arbitramento da
indemnização prevista no artigo 257.º, n.º 7 do CSC, são aplicáveis os princípios gerais da
responsabilidade civil, caso em que sobre o autor recai o ónus da alegação e prova dos danos
efetivamente sofridos, não sendo bastante a mera invocação da perda da remuneração devida
pelo exercício da gerência.

15. RCb 14-out.-2014 (Arlindo Oliveira), Proc. n.º 653/10.1TBPMS.C1, in www.


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Sumário:
I – Impondo o pacto social que a administração da sociedade por quotas e a sua repre‑
sentação em juízo e fora dele, ativa e passivamente, seja exercida, em conjunto, pelos dois
gerentes, é obrigatória a assinatura de ambos os gerentes para obrigar a sociedade em termos
de representação da mesma em juízo.
II – Verifica-se um vício de representação da sociedade em juízo quando a procuração
outorgada para os termos da ação foi emitida apenas por um dos gerentes.

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III – Nas ações entre a sociedade e o seu representante, cumpre proceder à nomeação de
curador ad litem para representar a pessoa colectiva, dada a impossibilidade ou incompatibi‑
lidade em o representante assumir as suas funções de representação.

16. RLx 16-out.-2014 (Isoleta Casto), Proc. n.º 7896/09.9T2SNT.L1-8, in www.


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Sumário:
O registo e encerramento da liquidação de uma sociedade comercial, que seja parte numa
causa quando ocorra na pendência da mesma, não suspende a instância e dá lugar à subs‑
tituição desta pela generalidade dos sócios, representados pelos liquidatários, nos termos do
artigo 164.º, n.os 2 e 5, n.os 1 e 2 do artigo 162.º e 163.º, n.os 2, 4 e 5, todos do Código
das Sociedades Comerciais.
(...)

17. RCb 22-out.-2014 (Cacilda Sena), Proc. n.º 58 /08.4TATBU-A.C1, in www.


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Sumário:
I – A declaração de insolvência não extingue de per si a sociedade; tão só, priva-a do
poder de administrar e de dispor de bens que, a partir daquele momento, passam a integrar
a massa falida que é administrada pelo liquidatário judicial.
II – Assim, após declaração de insolvência, as sociedades comerciais mantêm personali‑
dade judiciária; esta só se extingue com o registo do encerramento da liquidação.

18. RGm 23-out.-2014 (Helena Melo), Proc. n.º 2300/10.2TBVCT.G1, in www.


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Sumário:
I – A responsabilidade dos gerentes/administradores no quadro normativo do artigo 78.º
do CSC deve qualificar-se como responsabilidade extracontratual, exigindo a verificação dos
pressupostos da responsabilidade civil por factos ilícitos, não se presumindo a culpa, recaindo
sobre o credor social o ónus de provar os factos integradores da responsabilidade civil.
II – A inobservância de normas legais do direito societário constitui um dano direto da
sociedade, desde que se verifique o necessário nexo de causalidade e um dano indireto dos
credores sociais, desde que resulte diminuição e o património da sociedade se torne insuficiente
para a satisfação dos respectivos créditos.
III – Deve entender-se por património insuficiente para satisfação dos respectivos créditos,
fórmula utilizada no artigo 78.º do CSC, a insuficiência do ativo líquido disponível em
relação ao passivo exigível.

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918   Revista de Direito das Sociedades

IV – Provado que o administrador da sociedade R. vendeu três frações de que a socie‑


dade era proprietária aos seus filhos, não se tendo provado que a verba proveniente dessa
venda não ingressou no património da sociedade, tal venda não constitui um dano direto da
sociedade, nem diminui o seu património.

19. RLx 28-out.-2014 (Rosa Maria Ribeiro Coelho), Proc. n.º 1515/11.0TVLSB.L1,
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Sumário:
I – O direito a indemnização por parte do administrador de sociedade anónima que é
destituído sem justa causa – artigo 403.º, n.º 5 do CSC – depende da prova, a fazer por
este, dos respetivos pressupostos, nos quais se incluem os prejuízos resultantes da destituição,
à luz do critério definido pelo n.º 2 do artigo 566.º do C. Civil.
II – Sendo a medida da indemnização constituída pela diferença entre a situação patri‑
monial atual real e a situação patrimonial atual hipotética, o desconhecimento desta diferença
e, até, da sua existência, embora não quantificada, impede que se reconheça aquele direito
de indemnização.
III – O simples cômputo das remunerações que, não fora a destituição, seriam auferidas
até ao termo do mandato do administrador, é insuficiente para caracterizar danos passíveis
de serem objeto de indemnização devida.

20. RLx 30-out.-2014 (Isoleta Almeida Costa), Proc. n.º 3588/12.0YXLSB.BL1‑8,


in www.dgsi.pt
Sumário:
Os cooperantes de cooperativa de habitação, que nessa qualidade fizeram entrega de
dinheiro para posterior aquisição de fogo a construir, têm direito à restituição das quantias
entregues a esse titulo caso pretendam desistir da sua posição uma vez que se trata de valores
entregues a título de participação, não estando as mesmas incluídas na classificação de ante‑
cipação de pagamento de preço constante do n.º 2 do artigo 24.º do DL 502/99, devendo as
mesmas isso sim ser incluídas nas referidas no n.º 1 daquele mesmo preceito.

21. RLx 30-out.-2014 (Maria Teresa Pardal), Proc. n.º 2880/13.0 TBOER.L1-6,
in www.dgsi.pt
Sumário:
I – Extinta a sociedade de que a ré era única sócia gerente e liquidatária, sem que
houvesse liquidação e partilha, em virtude de a ré ter declarado, aquando da dissolução, que
inexistia ativo nem passivo e provando-se que, afinal, existe um crédito da autora que não

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foi satisfeito, bem como ativo que está em poder da autora, não pode considerar-se esta dívida
extinta, uma vez que não houve acordo para considerar esta situação como uma dação em
pagamento, nem se verificam os requisitos legais da compensação de créditos.
II – Tendo a credora logrado provar, como lhe competia, que, apesar da extinção da
sociedade, existe passivo e ativo, a ré é desde logo responsável pelo seu pagamento na medida
do ativo e na qualidade de ex-sócia, em substituição da sociedade extinta.
III – Não é necessário que previamente seja feita a partilha adicional deste ativo como
condição de procedência do pedido formulado pela autora de satisfação do seu crédito, como se
entendeu na 1ª instância, pois, pelo contrário, deve ser pago primeiro o passivo e só depois, se
restar algum ativo deve ser feita a partilha do ativo restante, devendo a ação prosseguir os seus
termos com a produção de prova de factos alegados pelas partes controvertidos, que poderão
ser relevantes para saber se existe mora e para avaliar se a conduta da ex-sócia integra apenas
uma responsabilidade nessa qualidade, ou uma responsabilidade pessoal.

22. RGm 06-nov.-2014 (Helena Melo), Proc. n.º 26/14.7TBPRG-A.G1, in www.


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Sumário:
I – A sócia gerente de uma sociedade, ainda que não disponha de poderes para obrigar
sozinha a sociedade, não pode ser inquirida como testemunha.
II – A circunstância de não obrigar sozinha a sociedade é relevante, não para o efeito da
admitir a depor como testemunha, mas para saber se pode ou não confessar, desacompanhada
do ou dos demais que, conjuntamente com ela, obrigam a sociedade.
III – A sua audição como testemunha é um ato proibido por lei, e, tendo o Tribunal
se fundado no seu depoimento para fixar os factos provados, a irregularidade cometida gera
nulidade porque influencia na decisão da causa.

23. RLx 11-nov.-2014 (Roque Nogueira), Proc. n.º 5314/06.3TVLSB.L1-7,


in www.dgsi.pt
Sumário:
I – O artigo 72.º, n.º 1, do CSC, contém os pressupostos exigidos, em geral, para a
responsabilidade civil.
II – Se o administrador provar que cumpriu as três condições mencionadas no n.º 2, do
citado artigo 72.º, demonstrará a licitude da sua conduta, na medida em que aí se concretiza
uma causa de exclusão da responsabilidade.
III – A sociedade demandante tem o ónus de provar os factos constitutivos do direito a
indemnização (artigo 342.º, n.º 1, do C. Civil), isto é, tem de provar que atos ou omissões
ilícitos do administrador causaram danos ao património social.

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920   Revista de Direito das Sociedades

IV – O administrador só tem de provar que não teve culpa desde que se prove a violação
de algum dos seus deveres legais ou contratuais, ou seja, a ilicitude de uma qualquer sua
conduta, competindo à demandante, pretensamente lesada, a prova deste facto constitutivo
da responsabilidade do demandado.
V – O artigo 64.º, do CSC, juntamente com o citado artigo 72.º, n.º 2, não consagram
mais do que uma obrigação de meios, podendo o gestor exonerar-se da responsabilidade ainda
que o resultado da sua atividade não tenha sido o mais desejado.
VI – Os administradores estão obrigados a não dissipar o património social e a evitar
riscos desmedidos, relevando aqui, no entanto, a competência técnica e a chamada «discricio‑
nariedade empresarial» dos administradores, pois que estes possuem o poder de escolha entre
várias alternativas razoáveis de decisão.
VII – Foi a este propósito que se desenvolveu a apelidada regra da decisão empresarial
(«business judgement rule»), nos termos da qual o mérito de certas decisões dos administra‑
dores não é julgado pelos tribunais com base em critérios de «razoabilidade», só devendo os
mesmos ser civilmente responsáveis quando tais decisões forem consideradas «irracionais»,
isto é, incompreensíveis e sem qualquer explicação coerente.

24. RCb 18-nov.-2014 (Fonte Ramos), Proc. n.º 127/06.5TBPMS.C1, in www.


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Sumário:
I – Impondo o pacto social que a administração da sociedade por quotas e a sua repre‑
sentação em juízo e fora dele, ativa e passivamente, sejam exercidas pelos dois gerentes em
conjunto, importa que a correspondente procuração forense seja outorgada por ambos, sob
pena de vício de representação da sociedade em juízo.
II – Nas ações entre a sociedade e o seu representante, cumpre proceder à nomeação de
curador ad litem para representar aquela, dada a impossibilidade/incompatibilidade em o
representante assumir as suas funções de representação.

25. REv 20-nov.-2014 (Mata Ribeiro), Proc. n.º 474/12.7TBTVR.E1, in www.


dgsi.pt
Sumário:
Mesmo no caso em que vigore o regime da gerência plural, aos interesses da sociedade
ou dos titulares do respetivo capital social sobrepõem-se os de terceiros de boa fé que com a
sociedade se relacionam, mantendo-se a validade dos efeitos jurídicos dos atos outorgados
em nome da sociedade apenas por um dos gerentes, ainda que sem a intervenção conjunta
dos demais.

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Jurisprudência  
921

26. STJ 25-nov.-2014 (Gonçalves Rocha), Proc. n.º 284/11.9TTTVD.L1.S1,


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Sumário:
(...)
II – Existindo uma absoluta incompatibilidade entre os vínculos laboral e de adminis‑
tração, o exercício das funções de um Administrador societário não pode assentar, nunca,
num contrato de trabalho.
III – O trabalhador nomeado administrador, por deliberação da entidade empregadora,
fica com o seu contrato de trabalho suspenso, nos termos do n.º 2 do artigo 398.º do CSC,
ainda que tenha mantido as funções que anteriormente desempenhava, suspensão que também
ocorre em relação aos contratos de trabalho com duração inferior a um ano.
(...)

27. STJ 26-nov.-2014 (Tavares de Paiva), Proc. n.º 282/04.9TBAVR.C2.S1,


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Sumário:
I – A aquisição de uma empresa pode ser efectuada quer através da sua aquisição direta,
com a transmissão do estabelecimento, quer indiretamente, mediante a aquisição da totalidade
ou da maioria do capital social da sociedade comercial que é titular da empresa.
II – Para indagar se com a compra e venda de ações se pretendeu, apenas, a transmissão
das participações sociais (compra de direitos) ou, também, da empresa (compra de uma coisa),
terá de recorrer-se, entre outros, aos seguintes elementos: interpretação do clausulado contratual,
percentagem de participações sociais alienadas, análise do processo que conduziu à formação
do contrato e modo de fixação do preço das participações sociais.
III – A distinção entre compra de participações sociais e compra de empresa é especial‑
mente relevante, em caso de existência de desconformidades na empresa, para efeitos de apli‑
cação do regime da compra e venda de coisas defeituosas.
IV – Tendo uma sociedade comercial, através da compra e venda de ações de uma socie‑
dade anónima, adquirido, além dos direitos e deveres societários inerentes às participações,
a própria empresa, com a legítima expectativa de que ela reunia as qualidades devidas para
o cabal exercício do seu escopo social, a falta dessas qualidades, traduzindo uma situação
desconformidade com o contrato, consubstancia a existência de defeitos ou vícios.
V – Se, aquando daquela aquisição, os representantes da sociedade compradora das ações
conheciam as condições concretas em que a empresa adquirida laborava, uma vez que eram
seus utilizadores, designadamente que a mesma não estava licenciada a título definitivo para
exercer a sua atividade, é de afastar a existência de erro-vício incidente sobre as circunstâncias
que constituem a base do negócio.

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922   Revista de Direito das Sociedades

VI – Uma vez que o contrato de compra e venda (das ações e da empresa) é um contrato
de execução instantânea, produzindo imediatamente os seus efeitos, o prazo para o exercício
dos direitos decorrentes da compra e venda da coisa defeituosa (i.e., anulação do contrato,
redução do preço, indemnização, reparação da coisa ou sua substituição) começa a contar a
partir da data do conhecimento do defeito.
VII – Nas situações de aquisição de empresas, sem prejuízo dos deveres de informação,
de comunicação e de esclarecimento na fase negocial do contrato, existe, da parte do comprador,
um ónus reforçado de informação deste.
VIII – A questão do alargamento do prazo prescricional, por via da aplicação do regime
do artigo 498.º, n.º 3, do CC, apenas suscitada em sede de recurso, constitui uma questão
nova que, não sendo de conhecimento oficioso, extravasa os poderes de cognição do tribunal
de recurso.
IX – Tendo sido convencionada uma cláusula penal compulsória, por via da qual a
sociedade adquirente da empresa se vinculava a mantê-la em laboração por um determinado
período temporal, o encerramento de um dos seus estabelecimentos, antes de transcorrido
aquele prazo, não é susceptível de desencadear o acionamento daquela cláusula nomeada‑
mente, quando a compradora logrou afastar a presunção de culpa de incumprimento, a que
alude o artigo 799.º, n.º 1, do CC, e se verifica uma situação de venda de coisa defeituosa.

28. RLx 17-dez.-2014 (Eurico Reis), Proc. n.º 1286/14.9TVLSB.L1, in www.


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Sumário:
(...)
III – A interpretação de uma qualquer norma jurídica, seja ela de natureza substan‑
tiva ou adjectiva, tem forçosamente que obedecer a todos os critérios consubstanciados nos três
números do artigo 9.º do Código Civil, considerados na sua globalidade, aos quais acrescem,
para a construção do conceito “solução mais acertada”, as exigências inscritas nos artigos 335.º
(proporcionalidade assente na posição que o valor ético que valida a norma e a torna em
verdadeiro Direito ocupa na Hierarquia de Valores que enforma e dá consistência ao tecido
social comunitário) e 334.º do mesmo Código, destacando-se neste último e sem prejuízo de
haver de atender também às finalidades económicas e sociais dos direitos em causa, a atenção
que é dada, em primeira linha, à boa-fé e aos bons costumes (isto é, novamente e sempre, aos
valores éticos que constituem os pilares estruturantes da Comunidade, que validam as normas
legais produzidas pela forma prevista na Constituição e que servem de padrão aferidor quando
está em causa apreciar a adequação das condutas individuais aos padrões comportamentais
reputados exigíveis à vivência em Sociedade, sendo esses padrões os que são típicos de um
qualquer diligente bom pai (ou boa mãe) de família ou, o que conceptualmente é o mesmo,
de um qualquer declaratário normal colocado no lugar do real declaratário).

RDS VI (2014), 3-4, 909-924


Jurisprudência  
923

IV – À luz, dos critérios definidos em 3., nada justifica uma interpretação restritiva do
estatuído no n.º 3 do artigo 6.º do Código das Sociedades Comerciais.
V – Porque as empresas comerciais existem única e exclusivamente para cumprir as
finalidades societárias que são a sua razão de ser e a finalidade que justifica a sua exis‑
tência enquanto pessoas jurídicas (princípio da especialidade), estando legalmente vedado às
“Sociedades Gestoras de Patrimónios Sociais – SGPS -, até porque não são instituições
de crédito ou empresas do sector financeiro (artigo 4.º n.º 1 b) do DL n.º 298/92, de 31 de
Dezembro), conceder crédito, excepto às sociedades em que possuam a participação prevista
no n.º 2 do artigo 1.º, por meio de contratos de suprimento celebrados com estas sociedades
ou de tomada de obrigações destas até percentagem igual à participação no capital (artigo 5.º
n.º 1 f) do DL n.º 495/88, de 30 de Dezembro), é nula a constituição de penhor financeiro
que viole essas normas de carácter imperativo.

29. RLx 17-dez.-2014 (Pimentel Marcos), Proc. n.º 7534/13.5TBOER.L1,


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Sumário:
I – Como resulta do n.º 1 do artigo 163.º do Código das Sociedades Comerciais, encer‑
rada a liquidação e extinta a sociedade, os antigos sócios respondem pelo passivo social não
satisfeito ou acautelado, mas apenas até ao montante que receberam na partilha, sem prejuízo
do disposto quanto a sócios de responsabilidade ilimitada.
II – A extinção da sociedade não produz a extinção da instância nas ações em que a
sociedade seja parte; estas prosseguem, a não ser que a sua continuação se torne inútil ou
impossível.
III – Se numa ação executiva pendente contra uma sociedade comercial esta se extinguir
por dissolução e liquidação, não deve a instância ser suspensa, nem é necessária a habilitação,
devendo antes prosseguir, sendo a sociedade substituída pela generalidade dos sócios, represen‑
tados pelos liquidatários, nos termos dos artigos 163.º, n.º 2, 4 e 5, e 164, n.º 2 e 5 do CSC.

30. RPt 17-dez.-2014 ( José Igreja Matos), Proc. n.º 460/11.4TYVNG.P1,


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Sumário:
I – O direito à informação constitui um aspecto essencial relativamente à situação jurí‑
dica dos sócios de uma qualquer empresa comercial.
II – Nos termos do artigo 214.º do Código das Sociedades Comerciais (CSC), os
gerentes devem prestar a qualquer sócio que o requeira informação verdadeira, completa e
elucidativa sobre a gestão da sociedade, e bem assim facultar-lhe na sede social a consulta da
respectiva escrituração, livros e documentos, imposição que se repercute nas assembleias gerais
nos termos do n.º 7 do mesmo artigo.

RDS VI (2014), 3-4, 909-924


924   Revista de Direito das Sociedades

III – A recusa injustificada das informações, ou a sua indicação em momento inútil


porque extemporâneo, é causa de anulabilidade da deliberação imposição que se estende às
sociedades por quotas, em nome colectivo e em comandita, nos termos dos artigos 214.º, n.º 7,
189.º, n.º 1, e 474.º e 478.º, todos do CSC.
IV – O direito de informação, pela sua natureza e amplitude, constitui uma garantia
imposta por lei, que protege todos aqueles que lidam com a sociedade, e que não pode, em
nenhuma circunstância, ser excluída, ainda que essa atitude seja assumida por uma maioria
alargada de sócios.

31. RPt 17-dez.-2014 (Vieira e Cunha), Proc. n.º 4878/12.7TBVNG.P1, in www.


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Sumário:
I – A “Mesa da Assembleia Geral” não constitui um órgão da Instituição (integra-se
na Assembleia Geral, regendo os respectivos trabalhos), e não pode ver-se atribuída compe‑
tências que a lei expressamente reserva a outros órgãos.
II – À Mesa da Assembleia Geral não cabe agir como órgão interino, tomando delibe‑
rações reservadas à Assembleia Geral, entre duas sessões desta, pois que até se não trata de
um órgão autónomo, como tal eleito, da Instituição Ré.
III – Os actos que são anuláveis, por inválidos, são sanáveis por confirmação, nos termos
do artigo 288.º CCiv, mas esta confirmação, por se tratar da renúncia ao direito potesta‑
tivo de invocar a invalidade, compete apenas à pessoa a quem pertence o direito de anulação
– n.º 2 do artigo 288.º CCiv.

D.C.G.

RDS VI (2014), 3-4, 909-924

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