Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
julho‑dezembro 2014
Sumário:
I – Julgados confessados os factos alegados pelo autor, por efeito da falta de contestação
do réu, a matéria que constituirá o substrato factual da sentença haverá de ser naturalmente
separada do que sejam juízos de valor, asserções conclusivas ou conceitos jurídicas, já que
só a alegação estritamente factual é abrangida pelo efeito cominatório constante do n.º 1 do
artigo 567.º do CPC.
II – Nos termos do artigo 78.º do CSC, os gerentes ou administradores respondem
para com os credores da sociedade quando, pela inobservância culposa das disposições legais
ou contratuais destinadas à proteção destes, o património social se torne insuficiente para a
satisfação dos respetivos créditos. A ausência de qualquer relação contratual entre o credor
e os gerentes de uma sociedade leva à classificação dessa responsabilidade do CSC. como
aquiliana.
III – Pressupostos da verificação dessa responsabilidade são a ilicitude, traduzida na
violação de normas de proteção aos credores que origine insuficiência patrimonial da socie‑
dade; a culpa e o nexo causal com a frustração dos créditos.
IV – Cabe ao credor o ónus da prova desses pressupostos.
V – As normas legais e contratuais cuja infração pelos gerentes ou administradores de
uma sociedade consubstancia a ilicitude apta a fundar a sua responsabilização pessoal perante
os credores serão todas aquelas cuja inobservância determine a insuficiência (prejudicando a
conservação ou inibindo o aumento) do património social (que não apenas o capital social),
para a satisfação dos respetivos créditos.
Sumário:
I – No âmbito do recurso de apelação, a Relação, confrontada com uma confissão que
porventura não tenha sido considerada, deve explicitar os factos que considera provados por
via da confissão.
II – A responsabilidade civil do gerente de sociedade por quotas pressupõe a prova
de todos os pressupostos constantes do artigo 72.º da CSC, designadamente a ilicitude
e o dano.
III – Para demonstrar a ilicitude ou o dano revela‑se insuficiente a prova de que o
gerente, a quem é imputada a responsabilidade, sacou um cheque da sociedade que depois
foi depositado na sua conta bancária.
Sumário:
I – As sociedades comerciais podem ser compensadas por danos não patrimoniais.
II – A sua natureza leva, no entanto, a que surjam especificidades.
III – Entre elas, a maior exigência quanto à gravidade merecedora da tutela do direito
do que a relativa às pessoas singulares.
IV – Não atinge gravidade suficiente a dúvida e desconfiança de pessoas relacionadas
comercialmente com a sociedade, sobre se esta tinha o telefone cortado por não ter dinheiro
para o pagar e se dispunha de dinheiro para pagar o preço que propunha pela compra de
catalisadores.
Sumário:
Verifica‑se periculum in mora, justificativo do decretamento da providência cautelar de
arresto, quando a devedora, sociedade por quotas, apesar de reconhecer a dívida da requerente,
não a paga e os seus sócios constituem uma sociedade anónima com objeto social que abrange o
objeto social da devedora (promoção imobiliária) e o de uma outra sociedade por quotas (cons‑
trução civil), tendo esta última a mesma sede social que as outras duas e bem assim os mesmos
sócios que a devedora requerida, e os dois automóveis pertencentes à sociedade de construção
civil foram transmitidos, sem explicação plausível, para a esfera jurídica da dita sociedade
anónima, que tem como único administrador um dos sócios gerentes das outras duas sociedades.
Sumário:
I – No quadro normativo vigente, estando em causa a redução do capital social para
cobertura de prejuízos, não opera a limitação imposta pelo artigo.º 95.º, n.º 1, do CSC
(na redação conferida pelo DL n.º 8/2007, de 17.01).
II – A anulabilidade constitui o regime regra em matéria de invalidade de deliberações
sociais, abrangendo, entre outras, as deliberações cujo procedimento ou cujo conteúdo se opõem
a cláusulas estatutárias.
III – Os casos de nulidade traduzem as situações mais gravosas expressamente previstas
pelo legislador, envolvendo, em regra, o desrespeito do interesse público (stricto sensu) ou
do interesse de terceiros (mormente, de futuros acionistas).
Sumário:
(…)
III – O ónus da prova quanto ao «justificado interesse» próprio da sociedade garante
em relação à garantia prestada, mencionado no n.º 3 do artigo 6.º do Código das Sociedades
Comerciais, recai sobre o credor beneficiário da garantia.
IV – O credor beneficiário da garantia cumpre com tal ónus se provar que o dinheiro
que mutuou à sociedade devedora foi também utilizado, em parte, para pagar dívidas da
sociedade que prestou a garantia, ainda que não prove o montante exato.
Sumário:
I – Age de má fé e não merece proteção do Direito a sociedade que, representada pelo
Presidente do Conselho de Administração, intervém no negócio jurídico de dação em paga‑
mento, aceitando a propriedade de um imóvel que se encontra na titularidade desse Presidente
(que, nesta outra qualidade, também intervém na escritura) quando este mesmo estava obri‑
gado, enquanto fiduciário, a não dispor do imóvel.
Sumário:
(…)
III – É claro que esse dever [de apresentação à insolvência] não impende sobre o
sócio duma sociedade por quotas, como é o caso, porquanto não pode ser considerado titular
da empresa (a titularidade da empresa é da própria sociedade, pessoa jurídica diversa dos
seus sócios), e uma vez que o património da sociedade não responde por dívidas alheias à
sua atividade.
Sumário:
I – Assaca a Autora ao Réu, visando a sua destituição de gerente, a violação de deveres
de cuidado, de diligência e de lealdade, todos previstos no artigo 64.º do Código das Socie‑
dades Comerciais, enfatizando, sobretudo, a violação do dever de lealdade.
II – O dever de lealdade é indissociável do princípio de confiança, quer seja perante a
sociedade, quer perante os sócios, quer perante terceiros. O acautelar do interesse social não
se confina apenas ao interesse societário tout court, ou seja, a uma atividade que vise lucros.
A eticização do direito e da vida societária impõem uma atuação honesta, criteriosa e trans‑
parente compaginável com a tutela de terceiros que possam ser prejudicados pela atuação
do ente societário através da atuação de quem delineia a sua estratégia e é responsável pela
atuação da sociedade, o que convoca os princípios da atuação de boa‑fé, da confiança e a da
proibição do abuso do direito.
III – A atuação concorrencial exercida pelo gerente e que afeta a sociedade protegida
pode ser exercida por uma sociedade em que o gerente seja único sócio de uma outra socie‑
dade. No caso em apreço, a atividade concorrente é exercida por uma sociedade unipessoal por
quotas detida pelo Réu: poder‑se‑ia pensar que dada a autonomia jurídica dessa sociedade,
não seria o Réu quem exercia atividade concorrente.
IV – O artigo 254.º, n.ºs, 1 e 5 do Código das Sociedades Comerciais, alude ao
conceito de “justa causa”. Trata‑se de um conceito indeterminado, dotado de plasticidade
adaptável casuisticamente para aferir se uma atuação se compagina com os direitos e deveres
do exercente, postulados pelos princípios jurídicos nela implicados.
III – A 4.ª Ré, enquanto gerente da 1.ª Ré, atuou em clara violação de normas legais
que protegem os interesses dos credores da mesma, numa gestão danosa para a satisfação
dos seus direitos de crédito, que se reconduz ao estatuído nos números 2 do artigo 335.º
do Código do Trabalho de 2009 e 78.º e 79.º do Código das Sociedades Comerciais,
implicando, nessa medida, que responda solidária e conjuntamente com tal sociedade,
pelas dívidas que esta tem para com os aqui Autores, revelando-se o património conhecido
manifestamente insuficiente para cobrir o montante global dos créditos reclamados pelos
trabalhadores na ação principal.
IV – A presunção contida no número 3 do artigo 258.º do Código do Trabalho de
2009 permite atribuir o cariz retributivo a uma dada prestação paga pelo empregador ao
trabalhador mas não lhe confere a categoria de retribuição-base.
sócios que votaram a deliberação ou para terceiros ou de causar prejuízos à sociedade ou aos
restantes sócios).
III – Apesar de serem figuras distintas, podem convergir na mesma situação concreta o
“voto abusivo” previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 58.º do CSC, e o abuso de direito,
previsto no artigo 334.º do Código Civil.
IV – Assumindo a ré sociedade uma deliberação em que se determinava a realização
de prestações suplementares pelos sócios a seu favor, tendo a autora, sócia da ré, intentado
uma ação com vista à anulação da referida deliberação e informado a ré de que realizaria a
prestação apesar da sua discordância caso o Tribunal viesse a considerar a deliberação válida,
ao expulsar a autora e determinar a imediata perda da sua quota, na pendência da referida
ação e depois de a ter contestado, a ré age com manifesto abuso de direito.
III – Nas ações entre a sociedade e o seu representante, cumpre proceder à nomeação de
curador ad litem para representar a pessoa colectiva, dada a impossibilidade ou incompatibi‑
lidade em o representante assumir as suas funções de representação.
19. RLx 28-out.-2014 (Rosa Maria Ribeiro Coelho), Proc. n.º 1515/11.0TVLSB.L1,
in www.dgsi.pt
Sumário:
I – O direito a indemnização por parte do administrador de sociedade anónima que é
destituído sem justa causa – artigo 403.º, n.º 5 do CSC – depende da prova, a fazer por
este, dos respetivos pressupostos, nos quais se incluem os prejuízos resultantes da destituição,
à luz do critério definido pelo n.º 2 do artigo 566.º do C. Civil.
II – Sendo a medida da indemnização constituída pela diferença entre a situação patri‑
monial atual real e a situação patrimonial atual hipotética, o desconhecimento desta diferença
e, até, da sua existência, embora não quantificada, impede que se reconheça aquele direito
de indemnização.
III – O simples cômputo das remunerações que, não fora a destituição, seriam auferidas
até ao termo do mandato do administrador, é insuficiente para caracterizar danos passíveis
de serem objeto de indemnização devida.
21. RLx 30-out.-2014 (Maria Teresa Pardal), Proc. n.º 2880/13.0 TBOER.L1-6,
in www.dgsi.pt
Sumário:
I – Extinta a sociedade de que a ré era única sócia gerente e liquidatária, sem que
houvesse liquidação e partilha, em virtude de a ré ter declarado, aquando da dissolução, que
inexistia ativo nem passivo e provando-se que, afinal, existe um crédito da autora que não
foi satisfeito, bem como ativo que está em poder da autora, não pode considerar-se esta dívida
extinta, uma vez que não houve acordo para considerar esta situação como uma dação em
pagamento, nem se verificam os requisitos legais da compensação de créditos.
II – Tendo a credora logrado provar, como lhe competia, que, apesar da extinção da
sociedade, existe passivo e ativo, a ré é desde logo responsável pelo seu pagamento na medida
do ativo e na qualidade de ex-sócia, em substituição da sociedade extinta.
III – Não é necessário que previamente seja feita a partilha adicional deste ativo como
condição de procedência do pedido formulado pela autora de satisfação do seu crédito, como se
entendeu na 1ª instância, pois, pelo contrário, deve ser pago primeiro o passivo e só depois, se
restar algum ativo deve ser feita a partilha do ativo restante, devendo a ação prosseguir os seus
termos com a produção de prova de factos alegados pelas partes controvertidos, que poderão
ser relevantes para saber se existe mora e para avaliar se a conduta da ex-sócia integra apenas
uma responsabilidade nessa qualidade, ou uma responsabilidade pessoal.
IV – O administrador só tem de provar que não teve culpa desde que se prove a violação
de algum dos seus deveres legais ou contratuais, ou seja, a ilicitude de uma qualquer sua
conduta, competindo à demandante, pretensamente lesada, a prova deste facto constitutivo
da responsabilidade do demandado.
V – O artigo 64.º, do CSC, juntamente com o citado artigo 72.º, n.º 2, não consagram
mais do que uma obrigação de meios, podendo o gestor exonerar-se da responsabilidade ainda
que o resultado da sua atividade não tenha sido o mais desejado.
VI – Os administradores estão obrigados a não dissipar o património social e a evitar
riscos desmedidos, relevando aqui, no entanto, a competência técnica e a chamada «discricio‑
nariedade empresarial» dos administradores, pois que estes possuem o poder de escolha entre
várias alternativas razoáveis de decisão.
VII – Foi a este propósito que se desenvolveu a apelidada regra da decisão empresarial
(«business judgement rule»), nos termos da qual o mérito de certas decisões dos administra‑
dores não é julgado pelos tribunais com base em critérios de «razoabilidade», só devendo os
mesmos ser civilmente responsáveis quando tais decisões forem consideradas «irracionais»,
isto é, incompreensíveis e sem qualquer explicação coerente.
VI – Uma vez que o contrato de compra e venda (das ações e da empresa) é um contrato
de execução instantânea, produzindo imediatamente os seus efeitos, o prazo para o exercício
dos direitos decorrentes da compra e venda da coisa defeituosa (i.e., anulação do contrato,
redução do preço, indemnização, reparação da coisa ou sua substituição) começa a contar a
partir da data do conhecimento do defeito.
VII – Nas situações de aquisição de empresas, sem prejuízo dos deveres de informação,
de comunicação e de esclarecimento na fase negocial do contrato, existe, da parte do comprador,
um ónus reforçado de informação deste.
VIII – A questão do alargamento do prazo prescricional, por via da aplicação do regime
do artigo 498.º, n.º 3, do CC, apenas suscitada em sede de recurso, constitui uma questão
nova que, não sendo de conhecimento oficioso, extravasa os poderes de cognição do tribunal
de recurso.
IX – Tendo sido convencionada uma cláusula penal compulsória, por via da qual a
sociedade adquirente da empresa se vinculava a mantê-la em laboração por um determinado
período temporal, o encerramento de um dos seus estabelecimentos, antes de transcorrido
aquele prazo, não é susceptível de desencadear o acionamento daquela cláusula nomeada‑
mente, quando a compradora logrou afastar a presunção de culpa de incumprimento, a que
alude o artigo 799.º, n.º 1, do CC, e se verifica uma situação de venda de coisa defeituosa.
IV – À luz, dos critérios definidos em 3., nada justifica uma interpretação restritiva do
estatuído no n.º 3 do artigo 6.º do Código das Sociedades Comerciais.
V – Porque as empresas comerciais existem única e exclusivamente para cumprir as
finalidades societárias que são a sua razão de ser e a finalidade que justifica a sua exis‑
tência enquanto pessoas jurídicas (princípio da especialidade), estando legalmente vedado às
“Sociedades Gestoras de Patrimónios Sociais – SGPS -, até porque não são instituições
de crédito ou empresas do sector financeiro (artigo 4.º n.º 1 b) do DL n.º 298/92, de 31 de
Dezembro), conceder crédito, excepto às sociedades em que possuam a participação prevista
no n.º 2 do artigo 1.º, por meio de contratos de suprimento celebrados com estas sociedades
ou de tomada de obrigações destas até percentagem igual à participação no capital (artigo 5.º
n.º 1 f) do DL n.º 495/88, de 30 de Dezembro), é nula a constituição de penhor financeiro
que viole essas normas de carácter imperativo.
D.C.G.