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15-24, 2017 15
Resumo
O objetivo desse trabalho é apresentar um breve histórico da Área de estudos conhecida como
Sociolinguística Laboviana ou Quantitativa. Serão apresentados os elementos que constituem essa
área de pesquisa, partindo da Linguística Moderna e chegando ao papel fundamental de William
Labov na sua teorização e metodologia. Para demonstrar o caminho percorrido até se chegar à
Sociolinguística, foram brevemente apresentadas as posições de alguns teóricos da linguagem como
Saussure, Bakhtin, Jakobson, Chomsky e Benveniste sobre a relação entre língua e fatores sociais.
As características da Sociolinguística, também conhecida como teoria da variação, foram baseadas
nos postulados de William Labov, e recorreu-se à Tarallo e Monteiro para melhor interpretação da
teoria laboviana.
The purpose of this paper is to present a brief history of the Area ofStudies known as Labovianor
Quantitative Sociolinguistics. It will be presented the elements that make up this are of research,
starting from Modern Linguistics Saussure and reaching the fundamental role of William Labov in
histheorization and methodology. In order to demonstrate the way forward to reach Sociolinguistics,
the positions of some language theorists such as Saussure (2006), Bakhtin, Jakobson, Chomsky
and Benveniste on relationship between language and social factors. The characteristics of
Sociolinguistics, also known as Theory of variation, were based on the postulates of William Labov,
and Tarallo and Monteiro were used for a better interpretation of the Labovians theory.
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Linguagem, Identidade e Subjetividade da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: etto.
rodrigo@gmail.com
2
Professora da Disciplina Variação Linguística: pluralidade e identidade do Programa de Pós-Graduação em Linguagem, Identidade e Subjetividade
da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: vgracioso@uol.com.br
16 Rodrigo Mazer Etto e Valeska Gracioso Carlos
só existia um tipo de linguística, a social, não presença uma invasão cultural e econômica,
havendo motivo para destacar o caráter social portanto, marcavam a pronúncia desses
da língua na nomenclatura dessa nova área de ditongos como forma de resguardar sua cultura
estudos (LABOV, 2008). e seu espaço. Por outro lado, essa pesquisa
também revelou que o uso da forma padrão, de
A sociolinguística laboviana maior prestígio, demonstrava um sentimento de
insatisfação, uma vontade de deixar a ilha, ou
William Labov foi o criador desse mode- seja, de se diferenciar da identidade social dos
lo teórico-metodológico: a Sociolinguística, que habitantes nativos.
consiste em uma ciência da linguagem social Discordando da ideia de homogeneida-
que estuda a coexistência de variantes linguís- de linguística defendida por Saussure (2006),
ticas e suas probabilidades de uso. Esse modelo e do conceito de falante ideal defendido por
de análise linguística trabalha com números e Chomsky (1965, 1997), para Labov a língua não
estatística dos dados coletados e sua principal é propriedade do indivíduo, mas sim da comu-
característica, em contraposição ao modelo ge- nidade, fato que o leva a crer que o novo modo
rativista, é que Labov “o propôs como uma rea- de fazer linguística é “estudar empiricamente as
ção à ausência do componente social no modelo comunidades de fala” (LABOV, 2008, p.259).
gerativo” (TARALLO, 1994, p. 7). A Sociolinguística é também conhecida
Através de sua famosa dissertação de como Teoria da Variação, pois seus pesquisadores
mestrado, sobre as variações do Inglês utilizado procuram analisar as variações que estão em
por habitantes da ilha de Martha´s Vineyard co-ocorrência, as usadas ao mesmo tempo,
(LABOV, 2006), realizada em 1963, Labov e as concorrentes, as formas linguísticas que
analisou a relação entre fatores sociais como concorrem entre si. A Sociolinguística, cujo
etnia, sexo, ocupação e idade, com a linguagem propósito é estudar as variações linguísticas,
usada pelos nativos dessa ilha, localizada no suas estruturas e evolução no contexto social
estado americano de Massachussets, focalizando de determinada comunidade, cobre a área
seu estudo na pronúncia de certos fonemas do usualmente chamada de Linguística Geral, a
Inglês falado por essas pessoas. Ele constatou que qual lida com Fonologia, Morfologia, Sintaxe e
o uso dos ditongos au e ay servia para os falantes Semântica (LABOV, 2008, p. 184).
se identificarem como nativos, contrapondo com Esse modelo ocupa-se das variações
as formas linguísticas padronizadas utilizadas sistemáticas da língua falada chamadas de
pelos turistas que visitavam a ilha, o que mostrou variantes linguísticas, que são diversas maneiras
que o uso da variante pelos nativos, considerada de se dizer a mesma coisa em um mesmo
estigmatizada em relação à forma padrão, servia contexto e com o mesmo valor de verdade,
para a construção de sua identidade social, como e “a um conjunto de variantes dá-se o nome
descendentes dos Yankees, o grupo étnico que de variável linguística” (TARALLO, 1994, p. 08).
colonizou a ilha no século XVII. Conforme Labov (1978), dois enunciados
Esses habitantes ressentiam-se da presença que se referem ao mesmo estado de coisas com
dos veranistas do continente, considerando sua o mesmo valor de verdade constituem-se como
Sociolinguística: o papel do social na língua Sociolinguístics: the role of social in the language 19
variantes de uma mesma variável. A aproximação entre diacronia e sincro-
A título de exemplo, em um determinado nia possibilita o entendimento do processo de
enunciado pode-se ter as variáveis linguísticas mudança, não através das transformações radi-
concordância, ou não concordância do verbo cais, pois:
com o sujeito, muito praticadas por diversos
falantes na linguagem cotidiana. Outro bom [...] para que os sistemas mudem, urge
exemplo são as diversas formas lexicais que que eles tenham sofrido algum tipo de
variação. [...] a partir de tais e tais ca-
as palavras assumem em certas culturas ou racterísticas estruturais e de tais con-
tradições, como o caso das variações linguísticas dições de funcionamento, o sistema,
conhecidas como gírias que, de acordo com os quase que preditivamente, caminhou
fatores sociais que incidem sobre os grupos de na direção X e não na direção Y (TA-
RALLO, 1994, p. 25-26).
falantes que as praticam, possuem significados
diferentes para palavras ou termos usados na
linguagem formal, padronizada. Com relação a Para compreender a forma que uma va-
esses dois exemplos, apesar de serem praticados riante se dissemina dentro de uma comunidade
por diversos falantes no dia a dia, tanto a não de fala, a pesquisa sociolinguística investiga se
concordância do verbo com o sujeito quanto a há tendência de mudança, podendo utilizar al-
utilização de gírias na linguagem oral, não são guns instrumentos para essa análise, por exem-
considerados gramaticalmente adequados, de plo, testes de julgamento pessoal, que, através
acordo com as regras prescritas pela norma da opinião dos entrevistados, possibilitam a ob-
padrão ou culta da Língua Portuguesa. servação, pelo pesquisador, dos valores pessoais
As variáveis linguísticas classificam-se dos falantes sobre determinada variante.
em dependentes e independentes. As primeiras Tanto a análise da influência dos aspectos
são o próprio fenômeno a ser estudado, linguísticos e socioculturais, quanto a observação
como a ocorrência da concordância nominal da reação dos falantes diante de determinadas
em determinado enunciado, cujas variáveis variantes, contribuem para identificar os motivos
seriam o uso ou não da regra de concordância de determinada mudança e sua implementação
gramatical. Já as independentes dizem respeito pelas comunidades de fala (WEINREICH, LA-
aos fatores linguísticos internos (estruturais) e BOV; HERZOG, 1968; LABOV, 1972).
os externos (socioculturais). Contrariando a homogeneidade linguística
Para analisar estatisticamente um das teorias estruturalistas, a Sociolinguística
fenômeno variável, o estudo sociolinguístico procura explicar a heterogeneidade da língua,
busca calcular o peso ou influência de cada fator, através da análise de fatores internos e externos
os linguísticos e os socioculturais, na ocorrência ao sistema linguístico, pois ela “parte do
de determinada variação em um determinado pressuposto de que toda variação é motivada,
momento – sincronismo - ou ao longo do tempo isto é, controlada por fatores de maneira tal
– diacronismo - numa tentativa de aproximação que a heterogeneidade se delineia sistemática e
dos fenômenos sincrônicos e diacrônicos previsível” (MOLLICA, 2004, p. 10).
(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006).
20 Rodrigo Mazer Etto e Valeska Gracioso Carlos
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