A finalidade do trabalho é demonstrar o estudo da nova
figura típica de estupro de vulnerável com advento da lei 12.015/2009. Dantes da introdução da Lei 12.015/2009, haviam divergências jurisprudenciais e doutrinárias em relação a possível relativização da presunção de violência, que passou por grandes alterações por ocasião desta lei, sendo introduzido a figura do “Estupro de vulnerável”, revogando o antigo regime da presunção composto no artigo 224 do Código Penal. Apontando os pontos invertidos no que tange ao seu caráter de absoluto ou relativo, demonstrando a necessidade de adaptação de interpretação do Direito face ás constante transformações sócio-culturais da sociedade. Com o intuito de sanas as controvérsias, que com a nova lei não foi suficiente para sanar os questionamentos suscitados acerca da possibilidade do consentimento do menor de 14 (Quatorze) anos.
Sendo que a maioria das doutrinas pesquisadas
tinham como entendimento que se tratava de presunção absoluta, enquanto outra entedia que se tratava de presunção relativa. Sobretudo a absoluta (iuris et iure), não se admite prova em contrário, como a relativa (iuris tantum) defende que se produzindo material de prova de que o crime não foi cometido mediante violência, constrangimentos ou grave ameaça, com base na experiência sexual do menor de quatorze anos.
Anteriormente, os crimes de estupro e de atentado
violento ao pudor eram combinados com a figura de violência quando a vítima tivesse idade igual ou inferior 14 (quatorze) anos, tivesse problemas mentais, fosse alienada ou fosse incapaz de resistir ao ato. Já a doutrina moderna discutia sobre a possibilidade de relativização do consentimento válido do menor de 14 (quatorze) anos. Defendiam ainda, a presunção de violência como uma ficção jurídica, entretanto, uma generalização da incapacidade de compreensão sobre o caráter sexual do ato praticado. Por isso, a doutrina defendia que deveria ser afastado a presunção de violência em situações em que a vítima possuísse desenvolvimento psicológico e condições físicas de consentir e de desejar de forma válida o ato sofrido, sendo analisado um conjunto com o caso concreto.
A Lei supracitada, passou a vigorar em 10 de agosto de
2009, modificando de forma válida o Título VI do Código Penal Brasileiro, do qual passou de ser denominado “ Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual” e não mais “ Dos Crimes Contra os Costumes”. Os costumes passavam uma visão defasada dos hábitos de uma sociedade ultrapassada, sendo a dignidade sexual o bem jurídico que realmente necessitava ser protegido, haja visto o princípio da dignidade da pessoal humana, consagrado pela Carta Magna do Brasil de 1988.
O legislador brasileiro, ao redigir o artigo 217-A, do
Código Penal, não teve a intenção de proteger apenas as crianças, mas sim o que denominou de vulnerável, compreendendo todas as pessoas com idade inferior a 14 anos.
Tal conceito não se confunde com o de criança ou
adolescente previsto na legislação específica (ECA)- que definiu em seu art. 2º o marco divisório entre infância e adolescência, considerando criança a pessoa com até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. Ocorre que o sobredito dispositivo é claro ao referir que a definição está limitada para os efeitos do ECA, não abrangendo a definição de vulnerável prevista no Código Penal.
Por isso, essa proteção conferida à infância e à
juventude deve ganhar certos temperamentos, uma vez que não poderá prejudicar o livre desenvolvimento da sexualidade dos menores de quatorze anos. Dessa forma, a verificação da capacidade deve ser questão de fato a ser apreciada de acordo com as condições psíquicas e físicas do ofendido, a impossibilidade de relativização viria negar ao próprio ofendido o seu direito, quando capaz mental e fisicamente de consentir, de dispor de sua própria sexualidade.
Delimitando o Direito Penal, é uma clara exigência o
princípios da lesividade do delito. Sendo que se não for ofensivo um fato não por ser constituído ilícito, lesivo ou perigoso a um determinado bem jurídico tutelado. Não pode ser configurados tipos penais que seja aceitos pela sociedade como fatos indiferentes sem ter relevância jurídica.
O Estado intervêm na aplicação de pena com a
finalidade de punir e enquadrar o indivíduo infrator. Mediante de um delito penalmente reprovável, de forma que haja reprovação social sancionadas por diversas formas, sendo a mais grave a privação da liberdade.
Somente deverá intervir o Estado em casos excepcionais,
punindo apenas as condutas humanas mais reprováveis. Não é permitido pelo Constituição Federal de 1988, frente ao princípio da dignidade da pessoa humana, que seja punida por intermédio do Direito Penal, que não causem reprovação social, que já que razoável e suficiente à penalização apenas na ordem financeira, cabendo a outros ramos do direito sancionais tais condutos menos lesivas.
A dignidade da pessoa humana acarreta muitos valores,
tais como valor espiritual, moral, e tem como finalidade garantir e assegurar seus direitos sociais e individuais, bem como materializar o respeito dentre as demais pessoas, constituindo-se o mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico possa nos assegurar.
É previsto ao Estado o jus puniendi, que atribui ao dever
de punir aquele que infringir os fatos juridicamente relevantes e socialmente reprováveis, assegurando a punição ao infrator que ferir a dignidade da pessoal humana como outros bens jurídicos tutelados. No entanto, só é lícito ao Estado intervir quando outros meios menos gravosos não forem capazes de proteger os bens indispensáveis à convivência social.
O Código Penal prevê a definição de crime doloso e culposo,
fazendo a limitação do parágrafo único do artigo 18, do Estudo Repressivo: “salvo nos casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente”. Avante, o artigo 19 reza: “Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente”.
Através disto, nota-se que não há pena sem culpa, sendo
que a lei não pode ultrapassar a medida de culpabilidade, tendo de haver uma proporcionalidade. Tudo isso, sob o prisma das circunstâncias individuais para a determinação da pena concreta.
O Estado é considerado retardado, em que o Legislador molda
e segue os ditames legais a essas mutações sociais, contudo são mudanças sofridos nos delitos sexuais. O homem como sujeito passivo ou ativo do crime de estupro, gerou uma tradição existente desde o Código Penal de 1940, onde somente a mulher poderia ser sujeito passivo, bem como só o homem poderia ser o sujeito ativo do delito, conforme redação anterior a Lei 12.015/2009: “ Constranger Mulher á conjunção Carnal, mediante violência ou grave ameaça”, como feita alteração nos seguintes artigos do Código Penal: Artigos 215/216/219 que foram revogados também.
A real necessidade de proteger a criança e o adolescente do
abuso e da exploração sexual, foi uma mudança excepcional nas últimas décadas, como importante a analise dissertar o comportamento da suposta vítima, na contribuição ou mesmo provocar o delito.
A relação entre a vítima e o infrator é de extrema
importância para se compreender e analisar a realidade dos fatos. Sendo uma questão associada à personalidade e o comportamento da vítima, podendo se desconfigurar a existência de um delito em crimes sexuais.
São analisados uma série de comportamentos quando
submetidas à agressão como: Intuição, Atos preparatórios, Início da execução, execução e consumação. Crimes de violência sexual, não sendo precisas provas de emprego de violência real;
Mesmo sendo reconhecido o tratamento diferenciado ao
menores de idade, o ECA não trata os adolescentes como pessoas totalmente incapazes. É reconhecida a capacidade do adolescente de entender o caráter ilícito de seus atos, tornando válido seu consentimento. A proteção conferida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de forma alguma deve servir como escudo, retirando desses jovens adolescentes toda e qualquer responsabilidade por seus atos. Da mesma forma que são sujeitos de direito, também lhe são atribuídos deveres. Cada vez mais eles estão conscientes de seu papel na sociedade e de que devem ser responsabilizados por seus atos. As medidas protetivas aplicadas às crianças ( menores de 12 anos ) têm como objetivo a sua proteção, principalmente daquelas que se encontram em situação irregular ou que tenham cometido ato infracional. Seu objetivo é proteger a criança, afastando-a de más influências e fornecendo as condições mínimas para seu desenvolvimento social, intelectual e moral. É prevalecido o princípio da verdade real, constituindo todos os meios de provas, desde que sejam lícitos. A provas produzidas ao longo da instrução criminal e o livre convencimento do juiz da causa busca a verdade material, e a produção mais próxima possível da realidade dos fatos.
No crime contra a liberdade sexual, não se tem elementos
essenciais de como correu o contato físico do infrator com a vítima, atrapalhando a analise de vestígios material da agressão. Então deve ser assegurada a integridade física do acusado, o que se torna contráditorio.
A violência e a exploração sexual do menor de 14 (quatorze)
anos, devem ser coibidas pelo Estado, deve ser considerado a forme que a juventude se relaciona com a sexualidade vem sendo modificado conforme o passar dos anos.
Nesse contexto, percebe se a necessidade de adequação da
norma ao fato concerto, sem desprezar nenhum de seus elementos, principalmente a vontade e o consentimento da suposta vítima. Segundo o texto atual do Código Penal, o estupro de vulneravel é processado sob o rito de ação pública incondicionada, o que requer mais atenção e zelo por parte das autoridades responsáveis por sua apuração, devido a grande carga de valoração ético-moral que envolve sua interpretação.