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GUIA

DE ESTUDO II

SBV/DEA
Apresentação
O presente Guia de Estudo é destinado aos alunos do primeiro
semestre de Medicina da Universidade Federal da Bahia, sendo parte das
atividades do MÓDULO DE MEDICINA SOCIAL E CLÍNICA I (MEDB10).
Seu uso faz parte do projeto de implementação do Módulo de Urgência e
Emergência na grade curricular da Faculdade de Medicina da Bahia, visando
oferecer aos estudantes, desde o primeiro semestre do curso, o conhecimento
necessário para atuar na área de Urgência e Emergência.
A LAEME (Liga Acadêmica do Trauma e Emergências Médicas), desde
2004, busca promover maior contato entre os acadêmicos de medicina e o
dia-a-dia de um médico emergencista, sendo este o profissional capaz de fazer
a diferença em situações que oferecem risco à vida.
Este guia foi escrito pelos membros da LAEME, usando referencial
teórico consistente e atualizado nos assuntos abordados, entretanto não
substitui o uso de livros-texto já consagrados.

2021

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Suporte Básico de Vida (SBV)
Autores: Geovaldo Correia Junior, Mariana Madeira, Tamiris Barreto

A parada cardiorrespiratória (PCR) caracteriza-se pela cessação súbita da circulação


sistêmica devido à ausência de atividade mecânica cardíaca e ventilatória. Configura-se como uma
emergência médica extrema cujos resultados diretos são lesões cerebrais irreversíveis e, em
casos nos quais medidas adequadas para estabelecer o fluxo sanguíneo e a respiração não são
realizadas, a morte.
Nesse contexto, o conjunto de manobras realizadas logo após uma PCR, objetivando
manter artificialmente o fluxo arterial para o cérebro e outros órgãos vitais até que ocorra o
retorno da circulação espontânea (RCE), é definido como reanimação cardiopulmonar
(RCP). O SBV, por sua vez, consiste nos procedimentos básicos de emergência que têm
como objetivo o atendimento inicial do paciente vítima de PCR. Trata-se do ponto primordial do
atendimento à PCR e sua sistematização.

Abordagem inicial na PCR

A cadeia de sobrevivência de ACE (Atendimento Cardiovascular de Emergências)


representa uma série ideal de eventos que devem acontecer para que o paciente tenha
maiores chances de sobreviver. Nas novas diretrizes de RCP e ACE de 2020 da American
Heart Association (AHA), incluiu-se um sexto elo – Recuperação - à cadeia de sobrevivência
da PCREH (PCR extra – hospitalar), que classicamente contava com 5 elos.

Reconhecimento da PCR
Cuidados
e acionamento do serviço
pós - PCR
médico de emergência Desfibrilação

RCP de alta Suporte avançado Recuperação


qualidade de vida

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Reconhecimento da PCR

Para o reconhecimento da PCR, após ter certeza que o local está seguro, deve-se
checar a responsividade da vítima. Para isto, agita-se gentilmente os ombros da vítima e grita-se
“Senhor, senhor? O senhor está bem?”.
Se a vítima não responder aos chamados verbal e tátil, então considera-se que ela está
"arresponsiva". Assim, devemos proceder imediatamente com a ativação do serviço médico
de emergência, além de solicitar um desfibrilador externo automático (DEA): aponta-se
diretamente para uma pessoa que esteja na cena, caracterizando-a e designando-a a
responsabilidade de acionar o serviço de emergência de maneira clara – Ex.: “Você de camisa
azul e bermuda jeans, ligue para o SAMU 192 e peça um DEA, é de graça”. Em
locais de grande de circulação de pessoas, como um shopping, um DEA deve estar presente,
então você pode designar uma pessoa para que traga o DEA à cena.
O próximo passo é verificar os sinais vitais do paciente, ou seja, se ele está
respirando e se há um pulso central. Mas, como fazer isso? Devem ser avaliados
simultaneamente a respiração, através de movimentos de elevação do tórax, e o pulso
carotídeo ipsilateral, com o objetivo de constatar se há bombeamento cardíaco, checando
por, no mínimo, 5 segundos e, no máximo, 10 segundos.
Se a vítima estiver arresponsiva, mas respirando e com sinais de circulação, o
socorrista deve colocá-la em posição lateral de segurança. Se for constatada a presença do
pulso e a ausência da respiração, faz-se uma ventilação à vítima a cada da 5 a 6 segundos
(10 a 12 por minuto), checando novamente o pulso a cada dois minutos.
Um paciente em parada respiratória é aquele arresponsivo que não respira ou que
apresenta gaspings agônicos, já que o gasping não promove uma oxigenação efetiva dos
tecidos. Se não constatado o pulso, a PCR está confirmada e deve-se iniciar imediatamente a
RCP de alta qualidade, até a chegada do DEA.

Compressões de alta qualidade são aquelas que:


1. São rápidas e contínuas em uma
frequência de 100 a 120/min
2. Possuem profundidade de 5 a 6 cm
3. Permitem o retorno do tórax à posição
inicial
4. São minimamente interrompidas

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Ventilações

Deve-se realizar as ventilações observando a expansão torácica e em uma proporção


de 30 compressões para 2 ventilações. Cada ventilação deve durar 1 segundo, fornecendo
quantidade de ar suficiente pra promover a elevação do tórax. As manobras de elevação do
queixo ou de tração da mandíbula permitem passagem de ar pelas vias aéreas e precisam ser
feitas para aumentar a eficácia das ventilações, com cuidado em pacientes vítimas de trauma. Um
caso especial são as vítimas de afogamento, as quais precisam de 5 ventilações de resgate antes de
iniciarem-se as compressões.
Profissionais de saúde e socorristas leigos
podem hesitar em realizações ventilações boca a
boca. Assim, é indicada a utilização de uma máscara
de bolso (pocket mask) para realização das
ventilações (imagem ao lado - posicionamento
utilizando máscara de bolso com hiperextensão da
cabeça).
Nas situações em que esteja disponível o dispositivo bolsa-válvula-máscara (AMBU),
deve-se utilizar a técnica “C e E” (demonstrada nas imagens abaixo), para 1 ou 2 socorristas,
tendo em vista a melhor fixação, e consequentemente uma ventilação adequada. Caso o
paciente seja intubado, as ventilações agora irão ocorrer independente das compressões,
sendo 1 ventilação a cada 6 segundos (10 ventilações por minuto).

1 Socorrista 2 Socorristas

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Em relação ao público pediátrico em parada cardiorrespiratória, uma das principais
causas de PCR é a hipóxia, desta forma, as ventilações e a permeabilização da via aérea
passam a ter uma maior importância. Por isso, na presença de 2 socorristas, a proporção
entre as compressões e as ventilações devem ser de 15 compressões para 2 ventilações;
quando só houver 1 socorrista, continuará 30:2, para evitar a perda excessiva de tempo nas
mudanças de posição do socorrista entre as compressões e as ventilações. Nesse mesmo
contexto, as manobras devem ser realizadas com uma maior suavidade para não causar traumas
graves à criança. Assim, de acordo com a idade e o tamanho, técnicas como: dos 2 dedos (ou
joystick); do abraço; ou compressão com 1 único membro, podem ser utilizadas.

Desfibrilação rápida

O Desfibrilador Externo Automático (DEA) é um aparelho portátil capaz de analisar


o ritmo cardíaco, selecionar o nível de energia e carregar automaticamente, cabendo ao
operador apenas pressionar o botão de choque, quando necessário. Para isso, o ritmo
cardíaco apresentado pela vítima deve ser chocável, o que ocorre somente na Fibrilação
Ventricular e na Taquicardia Ventricular sem pulso, o que é devidamente avaliado pelo
DEA.
A taxa de sobrevivência de uma vítima de parada cardíaca por fibrilação cai de 7 a
10% por minuto sem desfibrilação. Esse fato evidencia a importância de uma desfibrilação
rápida.

PASSO A PASSO DO USO DO DEA:

1. Ligue o DEA
2. Exponha o peito da vítima e fixe as pás autoadesivas no tórax
conforme o desenho indicativo que se encontra nas próprias pás.
Enquanto isso, as compressões devem ser mantidas;
3. Afaste-se da vítima e aguarde o DEA analisar o ritmo cardíaco,
alguns aparelhos requerem que o operador aperte um botão para
realizar a análise;
4. Após a análise o DEA indicará o choque ou não;
5. Caso o choque seja indicado, todos deverão se afastar da vítima
e então o choque deve ser aplicado;
6. Após o choque, reinicie a RCP imediatamente, realizando 5
ciclos (30 compressões para 2 ventilações).
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ABC ou CAB? NÃO CONFUNDA!
Na aula de Avaliação da Cena e Sinais Vitais, você aprendeu que a avaliação das
vítimas deve iniciar com o ABC (Vias Aéreas, Respiração e Circulação). No entanto,
quando falamos de Suporte Básico de Vida, o mnemônico vira CAB. Como assim?

Imagine que você encontra um paciente desacordado na rua, após a avaliar a


segurança da cena, o que você faz? “Senhor, Senhor, o senhor está bem?”. Se o
paciente responde, ABC! Se o paciente não responde, você supõe que ele está em
uma PCR e deve prosseguir com o protocolo de SBV, como vimos no fluxograma
anterior: acionando o SAMU – 192, solicitando o DEA e checando pulso e
respiração para dar início às compressões (C) o mais rápido possível.

Portanto, se o paciente tem pulso e respira, ABC! Caso não, iniciam – se as 30


compressões e, em seguida, você (ou outra pessoa capacitada) pode desobstruir as
Vias Áreas (A) com as manobras indicadas e fazer 2 ventilações (B), se o paciente
continua sem respirar.

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Referências
Tallo FS; Junior M.R. ; GUIMARÃES, H. P. ; LOPES,R ; Antonio Carlos Lopes . Atualização em
reanimação cardiopulmonar: uma revisão para o clínico. Revista da Sociedade Brasileira de
Clínica Médica, v. 10, p. 194-200, 2012.
Emergências Clínicas: abordagemprática, Herlon Saraiva Martins etal. Editora Manole Ltda, 12ª ed.,
2017.
BERNOCHE, Claudia et al. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e
Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia - 2019.
Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 113, n. 3, p. 449-663, 2019.
American Heart Association. Destaques das Diretrizes de RCP e ACE. 2020.

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