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CONTABILIDADE SECTORIAL

LICENCIATURA EM CONTABILIDADE E
AUDITORIA

ISCAM 2022
Texto de apoio para a disciplina de Contabilidade
Sectorial
1 INTRODUÇÃO

Esta disciplina está focada na aplicação das práticas contabilísticas em diferentes sectores de actividades
económicas atendendo as especificidades distintas, a partir do levantamento das necessidades particulares de
informação financeira útil para a gestão.

A génese da contabilidade, segundo Borges e Rodriges (2005:31), é explicada, na óptica de vários


autores, pela necessidade registar os factos patrimoniais ocorridos tendo em vista conhecer a composição e o
valor do património a conta de exploração com destaque nos resultados. Dos vários conceitos, tem sido
relevante a definição da contabilidade como ciência de natureza económica objectivada ao estudo do
património e suas variações com vista a produção de informação financeira de utilidade para tomadores de
decisão.

Não obstante ser focada em sectores diferentes, a abordagem da contabilidade sectorial se baseia nas
Normas Internacionais de Contabilidade (IAS) e nas Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS)
emitidas pelo IASB (International Accounting Standard Board). Com excepção dos sectores bancário e de
seguros que observam instrumentos próprios. Assim, as matérias são leccionadas observado as Normas de
Contabilidade e de Relato Financeiro (NCRF) constantes do manual do Sistema de Contabilidade para o
Sector Empresarial (SCE), elaboradas na base das IAS e IFRS, conforme referenciado no parágrafo 3 do
capítulo 1.1 do PGC-NIRF.

Com esta premissa, se evoca a necessidade de abordar a normalização contabilística com vista à
noção do tratamento contabilístico dos factos patrimoniais observando as normas específicas, por exemplo,
como elaborar as demonstrações financeiras, segundo a NCRF 1, como tratar a matéria sobre os inventários
observando a NCRF 9, como tratar os factos do sector de agricultura nos termos da NCRF 11, os recursos
minerais segundo a NCRF 11 e NCRF 15, entre outros.

1.1 Contabilidade Sectorial - Conceito

Na perspectiva da visão da contabilidade aplicável aos diferentes sectores de actividade, surge a


necessidade de abordar alguns aspectos inerentes às peculiaridades de cada sector. Por exemplo,
para uma entidade cuja actividade principal é a compra e venda de mercadorias, o tratamento
contabilístico a ela dedicado cinge-se basicamente no apuramento dos resultados, em função das
quantidades compradas e vendidas, das existências e dos custos associados a actividade. Este
tratamento, porém, já não pode ser aplicado para uma empresa que se dedica à transformação de
matérias em produtos acabados, ou uma empresa de prestação de serviços, ou ainda a uma empresa
do ramo agropecuário, etc. Estas diferenças de actividades e consequentemente no tratamento
contabilístico das transacções constituem a razão de abordagem das contabilidades sectoriais.
Contabilidade Sectorial é abordagem da contabilidade geral ou
financeira aplicada aos diferentes sectores de actividade económica,
atendendo as peculiaridades de cada sector, com vista a produzir
informação financeira de acordo com as necessidades e
especificidades desse sector, para efeitos de gestão.

1.2 Visão geral da Contabilidade

A aprendizagem da Contabilidade permite uma visão geral das teorias e técnicas contabilísticas,
proporcionando uma base sólida para a aplicação destas ferramentas no exercício da profissão de
contabilidade em diferentes organizações (empresas, organizações sem fins lucrativos, administração pública
e outras). Por um lado, no sector empresarial, tem-se a contabilidade orientada na determinação do lucro
(desempenho económico) e evidenciar a posição financeira (devedora ou credora) da entidade, sendo de
aplicação e especificidades diferentes para cada sector. Os sectores bancário e de seguros têm instrumentos de
regulamentação própria, com Planos de Contas específicos, conforme acima referido. Da mesma forma, na
administração pública, a contabilidade é exercida no âmbito do Orçamento Geral do Estado, guiado pela
regulamentação específica, no caso de Moçambique, o Sistema de Administração Financeira do Estado
(SISTAFE). A contabilidade exercida neste ramo tem em vista as despesas e as receitas do Erário Publico.

A economia do Pais como um todo é visualizada pelos dados macroeconómicos resultantes da


conjugação das duas alas de contabilidade, nomeadamente, a contabilidade aplicada ao sector privado e a
contabilidade pública e de organizações não empresariais agregada na nesta esfera pública.

No contexto da Contabilidade Sectorial, importa fazer referência à contabilidade empresarial, onde se


destacam as particularidades de cada ramo de actividade, no tratamento contabilístico orientado aos
objectivos tanto de reporte externo bem como das necessidades internas de gestão.

1.2.1 Quadro geral da contabilidade

O quadro geral de contabilidade compreende duas áreas basicas de aprendizagem, complementares entre si:
i) as teorias contabilisticas e ii) as técnicas contabilisticas. A aplicação destas verifica-se no campo
profissional, ou seja, em empresas (contabilidade do sector empresarial) ou na administração pública
(contabilidade publica). Os dados macro economicos agregam os resultados globais do País como um todo.
Quadro geral da contabilidade

Contabilidade geral
Teoria da Contabilidade Técnicas da contabilidade

 
Conjunto de conceitos básicos, Forma de representação, escrituração contabilística
regras de funcionamento e propriamente dita
princípios contabilísticos
geralmente aceites.


Contabilidade aplicada

 
Contabilidade Publica

Contabilidade de organizações não
Contabilidade do Sector Empresarial
(Orçamento do Estado) empresarias
(Unidades económicas)

Contabilidade Contabilidade Instituições do Estado, Associações e organizações sem fins


Financeira e Aplicada Analítica, Autarquias e outros entes lucrativos e outras formas de organizações
a Diferentes sectores Industrial ou de que funcionam com orçamento do Estado. sociais e humanitárias.
(regulada pelo SCE) Custos _________ _________

 
________


________


_________ ___________ _______________________ _________________________
Situação patrimonial Contabilidade Contabilidade Publica: Contabilidade das organizações não lucrativas
e resultado global, interna, abrange as Execução do Orçamento do Estado, (contabilidade de caixa)
reporte externo relações internas e baseada na lei do SISTAFE
serve para a gestão. (Sistema de Administração
Financeira do Estado)


Contabilidade Nacional
(Macro-Contabilidade)

Adaptado do autor.

Na perspectiva da visão da contabilidade aplicável aos diferentes sectores de actividade, surge a


necessidade de abordar alguns aspectos inerentes às peculiaridades de cada sector. Por exemplo,
para uma entidade cuja actividade principal é a compra e venda de mercadorias, o tratamento
contabilístico a ela dedicado cinge-se basicamente no apuramento dos resultados, em função das
quantidades vendidas, compradas, das existências e dos custos associados a actividade. Este
tratamento já não pode ser aplicado para uma empresa que se dedica à transformação de matérias em
produtos acabados, ou uma empresa de prestação de serviços, ou ainda a uma empresa do ramo
agropecuária, de seguros etc. Estas diferenças no tratamento contabilístico das transacções
constituem a razão da necessidade de abordagem das contabilidades sectoriais.

O escopo desta disciplina é o de proporcionar as bases para o


tratamento diversificado da contabilidade, de acordo com as
necessidades de informação de cada ramo de actividade, sem no
entanto, perder de vista as teorias e técnicas contabilísticas
elementares que constituem os alicerces para todo e qualquer tipo
de contabilidade.

1.3 Sectores de actividade económica

Nos estudos económicos são reconhecidos três sectores de actividade:

i. Sector primário – lida com os recursos na sua forma natural, sem sofrer qualquer
transformação. Exemplo: extracção de recursos minerais, florestais, agricultura, etc.

ii. Sector secundário – Industria transformadora, recebe matéria-prima do sector primário


e processa-a, transformando em outros produtos que podem ser:

a) Para o consumo final. Ex.: sumo de fruta, papel, etc.

b) Para transformação em outros produtos – matéria-prima. Ex.: farinha de trigo,


tábuas de madeira, tecidos, etc.

iii. Sector terciário – comércio e Serviços.

1.4 Contas e elementos de identidade dos sectores

Embora se observe o quadro de contas da contabilidade geral, há que considerar a estrutura


de subcontas diferenciada, atendendo as necessidades específicas dos sectores. As necessidades de
informação financeira detalhada diferem de sector para sector. Por exemplo, enquanto para a
actividade comercial, caso de um retalhista, pode ser necessário distinguir as mercadorias pelos tipos
de produtos vendidos, um prestador de serviços pode ter necessidade de distinguir os materiais de
consumo por obras executadas, os serviços prestados por categorias, um agricultor tem a
necessidade de saber o custo dos insumos, da produção agrícola e pecuária, entre outros aspectos.

Contas e Elementos de Identidade Básica da Contabilidade Aplicada à Diferentes Sectores de


Actividade Económica:
Sector de Actividade Contas de identidade no ciclo Contas de identidade nos Tipo de contabilidade
actividade principal de exploração (Activo investimentos aplicada
corrente)
(Activos não Correntes)

1 Comercio Compra e venda  Mercadorias  Edifícios administrativos e  Contabilidade geral


comerciais financeira
 Equipamento de transporte
 Equipamento básico

2 Produção Transformação de  Matérias-primas  Edifícios Industriais  Contabilidade geral


matérias-primas  Matérias Auxiliares e financeira
Industrial  Edifícios administrativos
em produtos Materiais Comerciais  Contabilidade de custos
acabados ou contabilidade
 Produtos acabados  Equipamento Industrial industrial ou
contabilidade analítica
 Produção em curso  Equipamento de transporte

 Embalagens  Ferramentas e utensílios

 Tararas e vasilhames

2 Serviços Prestação de  Materiais diversos de uso ou  Edifícios administrativos e de  Contabilidade geral


serviços consumo nas prestações; serviços financeira

 Serviços em curso  Ferramentas e utensílios  Contabilidade de custos


ou contabilidade
 Equipamento de transporte industrial ou
contabilidade analítica
 Equipamento básico
 Contabilidade de serviços

3 Produção Produção  Activos biológicos  Edifícios administrativos e  Contabilidade geral


comerciais financeira
Agrícola e Agrícola, Pecuária,  Materiais diversos
 Edifícios industriais  Contabilidade de custos
Pecuária Silvicultura, etc.  Embalagens ou contabilidade
 Ferramentas e utensílios industrial ou
 Tararas e vasilhames contabilidade analítica
 Equipamento de transporte
 Produtos agrícolas
 Equipamento básico
 Produtos pecuários

4 Indústria Extracção de  Edifícios industriais  Contabilidade


 Custos pré-exploração
recursos industria extractiva
extractiva (Aquisição de licenças de
 Edifícios administrativos e
naturais comerciais
reconhecimento, prospecção e
 Vias de comunicação
pesquisa, Concessão mineira
 Ferramentas e utensílios
Estudos geoquímicas,
 Equipamento de transporte
topográficos, geográficos,
 Equipamento básico
geofísicos, ambientais, etc.,

Certificado mineiro, Implantação

– construção e instalação de

equipamentos, Senha mineira,

Avaliação

Adaptado do autor

1.5 Plano de estudos da Contabilidade Sectorial

O plano de estudos compreende os seguintes sectores de actividades:


 Agricultura  Organizações e associações sem fins
 Recursos naturais lucrativos, entre outros
 Ambiente  Serviços
 Seguros  Industria extractiva
 Banca  Construção
 Desportiva

1.6 Aspectos fundamentais das contas sectoriais

Tendo em conta as especificidades de cada sector de actividade, há a considerar os aspectos


relevantes na definição do tipo de contabilidade adequado para cada situação, tendo em conta os
seguintes elementos:

Ciclo operacional - os ciclos de maturidade dos negócios são diferentes, em função das actividades
de cada empresa. Assim, existem ciclos continuativos ou de curta duração, cujo roteiro de
actividades é sistemático e contínuo, respeitando o ano fiscal ou económico (ex. de 1 de Janeiro a 31
de Dezembro). Existem, porém, empresas cujas actividades vão para além de um ciclo normal, ou
seja, a maturidade do negócio supera o ano, sendo considerados de ciclo longo (ex. empreitada de
obras de engenharia cujo inicio dá-se no meio do ano, com a previsão de terminar passados vinte
quatro meses). Assim, compreende-se que o ciclo operacional pode ser visto como um elemento de
diferença na definição dos processos contabilísticos das entidades.

Os processos contabilísticos e o reporte financeiro - o tratamento contabilístico dos factos


patrimoniais deve ser feito observando a normalização contabilística internacional. Entretanto, dadas
exigências impostas pelo sector da actividade em que se enquadra a entidade, podem ser adequadas
formas contabilísticas e um tipo específico de reporte financeiro. Por exemplo, empresas de venda
de serviços pré-pagos, trabalhos ou obras por encomenda com pagamento antecipado, etc., podem
adoptar um tipo de reporte financeiro diferente do que se observa em actividades de carácter normal,
sem prejuízo da observância do preceituado normativo contabilístico.

Obrigações fiscais conexas - qualquer actividade está sujeita ao cumprimento de obrigações fiscais
que, dada a sua natureza, podem ser diferentes de um sector para outro. Neste contexto, ressalta a
questão do sistema tributário, fiscalidade e dos códigos dos impostos (liquidação e dedução dos
impostos, lucro contabilístico versus lucro fiscal, impostos sobre rendimentos, etc.)

Os Stack holders - os utentes da informação financeira são determinantes para o tipo de informação
financeira a ser elaborada e publicada, no seu interesse. Ao preparar demonstrações financeiras para
uma empresa com poucos interessados nela (pequenas empresas), o nível de preocupação com
detalhes de análises será menor relativamente a informação financeira de uma empresa de grande
porte, cujos utentes são vários e que o mercado impõe um leque de exigências na apresentação de
dados para análises de vária ordem.

Fonte de financiamento - a forma como as empresas são financiadas é relevante na definição da


contabilidade adequada para a empresa. Para as economias onde a fonte tradicional de
financiamento de empresas é crédito bancário, as demonstrações financeiras tenderão a dar mais
relevo às questões de solvabilidade, elementos de garantia para a obtenção de créditos, etc..
Diferentemente, nas economias onde a base de financiamento de empresas é o mercado de capitais, a
preparação das demonstrações financeiras tenderá a satisfazer as exigências dos investidores que
demandam títulos no mercado cujas decisões dependem das análises feitas no mercado, em função
do desempenho das empresas, o determina a sua reputação e consequente determinação do preço dos
seus títulos.

Actividade 1

Questões de relacionamento

1. Defina Contabilidade Sectorial (CS) e diga qual é a sua


essência.
2. Diga qual é a relevância das normas internacionais em matérias
de CS?
3. Tendo em conta os sectores económicos, diga onde se enquadra
cada uma das seguintes empresas: Portos e Caminhos de Ferro
de Moçambique, Hidroeléctrica de Cahora Bassa, Sociedade do
Noticias e Restaurante KFC.
4. Os indicadores macroeconómicos resultam da agregação de
dados estatísticos produzidos a nível nacional, mostrando a
evolução da economia como um todo. Indique como são
gerados tais dados.
5. Apresente contas de diferenciação de uma empresa do sector
secundário.
Bom trabalho
ISCAM,2022

2 NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA
2.1 Fundamentos Teóricos da Normalização Contabilística Internacional

A Normalização Contabilística Internacional tem ocupado espaço no desenvolvimento da


contabilidade, com enfoque nas Normas Internacionais de Contabilidade, como culminar do
processo de harmonização internacional da contabilidade.

Se o objectivo de fundo é atender aos usuários tempestivamente, é bem verdade que a


normalização não é igual em todos países, bem como suas normas e práticas que são afectadas pelo
ambiente real de cada país. A Contabilidade enquanto ciência social está sujeita às grandes
influências do ambiente em que actua, sendo que as práticas contabilísticas são fortemente afectadas
pelos valores culturais, tradição histórica, estrutura política, económica e social. Dessa forma, os
sistemas contabilísticos se diferenciam de acordo com o conjunto de leis, filosofias, procedimentos e
objectivos de cada país. Diante de tais diferenças, percebe-se a existência de critérios divergentes e
próprios para reconhecer e mensurar um mesmo facto. Assim, a ausência de uniformidade das
normas e procedimentos contabilísticos compromete a comparabilidade das informações
apresentadas através das demonstrações financeiras (Avelino et al., 2010).

De acordo com Niyama e Silva (2008), a expansão das relações comerciais e internacionais
no cenário globalizado, a necessidade de investimento e o avanço tecnológico que permite fácil
acesso à informação, exige uma linguagem em comum entre os países estabelecendo padrões
contabilísticos uniformes. A harmonização das normas contabilísticas se faz necessária tendo em
vista que, diante da mundialização dos mercados, os negócios não estão mais restritos apenas aos
limites de um país. Considerando que as multinacionais estão inseridas nesse contexto, é importante
ressaltar que a participação dessas empresas a nível internacional vai além de transacções somente
com suas filiais, mas envolve também os investimentos através da disponibilidade de acções a serem
negociadas em bolsa de valores de todo o mundo (Santos et al., 2010).

Portanto a harmonização contabilística pode ser entendida como o processo pelo qual
diversos países, a partir de um consenso, buscam a compatibilidade das normas contabilísticas
preservando as particularidades e características de cada região (Silva, et al 2004).

Outro factor de considerável importância é que, ao padronizar normas e procedimentos,


pode-se reduzir o custo de transacção e de pesquisa. Por fim, apesar de a padronização não ter como
objectivo a redução ou eliminação do risco do mercado de capitais é possível reduzir ou eliminar a
incerteza do investidor mediante informações adequadas e confiáveis ao analisar uma empresa.
Se os países nas últimas décadas vêm a cada dia estreitando seus laços e quebrando suas barreiras
através da globalização, em virtude da formação de blocos económicos, a abertura do mercado
financeiro internacional, a independência entre diversas nações, entre outros, as razões da
aderência às normas internacionais vão residir na necessidade de decepar as diferenças nos
processos contabilísticos das nações.

2.2 A Normalização Contabilística


A normalização contabilística foi objecto de estudo de vários autores por isso possui inúmeras
definições.

Borges & Ferrão (1999:14) definem a normalização contabilística como "um processo dinâmico
que visa a adequação da realidade contabilística face as mutações do meio envolvente
económico-financeiro que rodeia as unidades económicas".

Para Nobes1 apus Rodrigues & Pereira (2004:133) "a normalização contabilística é um processo
de aumento de comparabilidade das práticas contabilísticas estabelecendo-se limites ao seu grau
de variação". Na mesma visão, Borges (2007:122) acrescenta ainda, "a normalização
contabilística visa a comparabilidade das informações de empresas, a universalidade dos dados
recolhidos e a sua compreensibilidade pelos agentes económicos". Por outro lado, Ferreira
(1984:25) define a normalização contabilística como sendo "um processo que consiste em criar
uma metodologia uniforme a ser seguido pelas unidades económicas",

Das três definições retira-se alguns pontos relevantes:


 A Normalização Contabilística (NC) é um processo dinâmico que acompanha as
mutações nos negócios;
 A NC visa uniformização e a unificação dos procedimentos e regras de contabilidade;
 A NC visa assegurar a comparabilidade das Demonstrações Financeiras.

2.3 Objectivos da Normalização Contabilística


Vários autores como Borges & Ferrão (1999:15); Choi et al. (1999:249) e Rodrigues &
Pereira (2004:132), defendem que “o principal objectivo da normalização contabilística é a
procura de comparabilidade da informação financeira, a nível internacional”.

[A] normalização contabilística internacional deve


assegurar que que a informação publicada pelas empresas
de diferentes países seja equivalente e comparável, não
obstante regulamentação interna diferente dos países,
Rodrigues & Pereira (2004:133).
2.4 Vantagens e Desvantagens da Normalização Contabilística

Vantagens
Segundo Lainez & Callao2 apud Rodrigues & Pereira (2004:138-139) o processo de
normalização traz as seguintes vantagens:

a) Diminuição do custo de elaboração e apresentação da informação para as empresas


multinacionais. Estas seriam dispensadas da obrigação de cumprir diferentes normas
nacionais quando procuram financiamento em mercados estrangeiros, e por outro lado "a
preparação das demonstrações financeiras consolidadas de filiais localizadas em distintos
países seria enormemente facilitada" (Choi et al, 1999:248);

b) Facilidade de analise, interpretação e compreensão da informação elaborada em diferentes


países, pelo que consequentemente seria facilitada a tomada de decisões dos investidores,
financiadores e outros investidores;

c) Eliminação de uma das principais barreiras a livre circulação de capitais a nível


internacional;

d) Simplificação do trabalho das multinacionais de auditoria, por poderem aplicar uns princípios
equivalentes em todos os países, do mesmo modo as autoridades fiscais poderiam medir o
lucro empresarial sobre o qual tributam as empresas estrangeiras de acordo com umas normas
uniformes de reconhecimento de proveitos e custos.

Desvantagens

a) A normalização contabilística tem o poder excessivo em alguns casos. Se a


normalização é vantajosa até ao ponto em que possa ser aplicada na empresa, passa,
porém, a ser desvantajosa quando não se adapta às características e necessidades reais
das unidades económicas nos aspectos que se proponha uniformizar, Borges
(2007:123).

b) A normalização Internacional não leva em consideração as diferenças nacionais, pois,


ela se confunde com uma imposição dos países desenvolvidos aos menos
desenvolvidos. Este exemplo pode ser considerado para países como Moçambique.

c) A normalização contabilística internacional acarreta custos de implementação, sem no


entretanto, traduzir-se em vantagens económicas no curto prazo.
2.5 Perspetiva Histórica do Processo de Normalização Contabilística
 O IASC (International Accounting Standards Committee – Comité Internacional de
Normalização Contabilística) foi constituído em 1973, e ao longo da sua existência
criou 41 normas referidas como International Accounting Standards, o mesmo que
Normas Internacionais de Contabilidade, em Português.

 A designação IASC foi substituída pela actual IASB (International Accounting


standards Board) em 2001, aquando da reestruturação, tendo sido adoptadas as 41
normas (IAS) e, para além destas, foram desenvolvidas, após a reestruturação,
novas normas com a designação IFRS (International Financial Reporting
Standards), o mesmo que dizer Normas Internacionais de Relato Financeiro, na
língua portuguesa.

Assim, a Moldura actual das normas internacionais, designada GAS (Global Accounting
Standards, é constituída por:
 41 Normas referenciadas como IAS (produzidas pelo IASC) e
 17 Normas referenciadas como IFRS (produzidas pelo IASB)
[Destes dois conjuntos de normas, as que
serviram de base para a elaboração do Plano
Geral de Contabilidade baseado em Normas
Internacionais de Relato Financeiro (PGC-
NIRF), moçambicano, são 41 IAS e 9 IFRS que se
encontravam em vigor, e que tinham sido
revistas, até Outubro de 2008, conforme citado no
Capítulo 1.1 do PGC-NIRF]

2.5.1 Os Pilares da Normalização Contabilística

Os pilares da normalização contabilística são:

 Framework to IASB (Quadro Conceptual)

 IAS 1 Presentation of Financial Statements ou seja, Norma Internacional de Contabilidade


(NIC 1) - Apresentação das Demonstrações Financeiras.

Estes dois instrumentos constituem a base lógica de todas as normas emitidas pelo IASB, cujo
objectivo central é assegurar a fiabilidade e comparabilidade da informação financeira no âmbito
internacional.
O parágrafo 2 do Quadro Conceptual incluído no Sistema de Contabilidade para o Sector
Empresarial moçambicano (SCE) aprovado pelo Decreto 70/2009 de 22 de Dezembro, estabelece
que: “Este Quadro Conceptual não é uma Norma de Contabilidade e de Relato Financeiro nem o
seu conteúdo substitui uma qualquer Norma de Contabilidade e de Relato Financeiro incluída no
PGC - NIRF. Se em alguma circunstância particular existir um conflito de entendimento entre o
presente Quadro Conceptual e uma Norma de Contabilidade e de Relato Financeiro incluída no
PGC - NIRF, a Norma prevalecerá”.

2.5.2 Composição das normas internacionais

As normas internacionais são constituídas por um conjunto de cinco tipos de pronunciamentos:


Framework (Quadro Conceptual), Normas de contabilidade e de relato (IAS e IFRS) e Normas
de Interpretação SIC (Standards Interpretaion Committe), e IFRIC (Interpretation Financial
Reporting Standards)

O Framework não é uma norma internacional de contabilidade, mas sim uma descrição dos
conceitos básicos que devem ser respeitados na preparação e apresentação das Demonstrações
Financeiras Internacionais. Ele define o espírito intrínseco das normas internacionais, e a filosofia
geral das normas, isto é, o Framework e por assim dizer "uma declaração dos princípios com os
quais as normas de contabilidade se devem coadunar" (Borges, 2007:151).

2.6 A normalização contabilística em Moçambique

Com a aprovação do Decreto 79/2009 de 22 de Dezembro que estabelece o Sistema de


Contabilidade para o Sector Empresarial Moçambicano (SCE), a contabilidade passou a ser exercida
com base em normas internacionais do IASB, aplicando o PGC-NIRF. O SCE incorpora um
compacto das normas do IASB, nomeadamente IAS e IFRS com a denominação NCRF – Normas de
Contabilidade e de Relato Financeiro, Vide Capítulos 1.4 e 1.8.

2.7 Algumas normas aplicáveis em Contabilidades Sectoriais


O Quadro Conceptual e a IAS 1 são transversais, aplicáveis em todas áreas de actividades. Porém,
para a cadeira de Contabilidades Sectoriais, embora todas as normas sejam aplicáveis em todos
sectores, há que destacar algumas normas aplicadas em alguns sectores específicos:

IFRS 6 (NCRF 15) -Exploração e avaliação de Recursos Minerais


IFRS 4 - Contratos de seguros
IAS 2 (NCRF 9) - Inventários
IAS 11 (NCRF 10) - Contractos de construção
IAS 41 (NCRF 11) – Agricultura e Activos Biológicos
IAS 16 (NCRF 13) – Activos tangíveis (incluindo activos de gestão ambiental)
IAS 38 (NCRF 14) – Activos intangíveis

Questões de relacionamento
1. Qual é a relevância da normalização contabilística internacional?
2. A normalização contabilística, embora seja um tema universal, não se
aplica de forma igual em todos países. Faça o comentário desta
afirmação.
3. Diga qual é o organismo internacional responsável pela emissão das
normas internacionais
4. As normas internacionais estão sujeitas a revisão, para atender a
dinâmica internacional dos mercados financeiros e de capitais,
desenvolvimento de novos negócios e mercados mercados, etc. Assim,
diga quantas normas internacionais do IASB existem na actualidade.
5. Quando e com que instrumento Moçambique aderiu e introduziu as
normas internacionais
6. Quais são as normas inseridas no PGC-NIRF e como estas foram
elaboradas?

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