LICENCIATURA EM CONTABILIDADE E
AUDITORIA
ISCAM 2022
Texto de apoio para a disciplina de Contabilidade
Sectorial
1 INTRODUÇÃO
Esta disciplina está focada na aplicação das práticas contabilísticas em diferentes sectores de actividades
económicas atendendo as especificidades distintas, a partir do levantamento das necessidades particulares de
informação financeira útil para a gestão.
Não obstante ser focada em sectores diferentes, a abordagem da contabilidade sectorial se baseia nas
Normas Internacionais de Contabilidade (IAS) e nas Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS)
emitidas pelo IASB (International Accounting Standard Board). Com excepção dos sectores bancário e de
seguros que observam instrumentos próprios. Assim, as matérias são leccionadas observado as Normas de
Contabilidade e de Relato Financeiro (NCRF) constantes do manual do Sistema de Contabilidade para o
Sector Empresarial (SCE), elaboradas na base das IAS e IFRS, conforme referenciado no parágrafo 3 do
capítulo 1.1 do PGC-NIRF.
Com esta premissa, se evoca a necessidade de abordar a normalização contabilística com vista à
noção do tratamento contabilístico dos factos patrimoniais observando as normas específicas, por exemplo,
como elaborar as demonstrações financeiras, segundo a NCRF 1, como tratar a matéria sobre os inventários
observando a NCRF 9, como tratar os factos do sector de agricultura nos termos da NCRF 11, os recursos
minerais segundo a NCRF 11 e NCRF 15, entre outros.
A aprendizagem da Contabilidade permite uma visão geral das teorias e técnicas contabilísticas,
proporcionando uma base sólida para a aplicação destas ferramentas no exercício da profissão de
contabilidade em diferentes organizações (empresas, organizações sem fins lucrativos, administração pública
e outras). Por um lado, no sector empresarial, tem-se a contabilidade orientada na determinação do lucro
(desempenho económico) e evidenciar a posição financeira (devedora ou credora) da entidade, sendo de
aplicação e especificidades diferentes para cada sector. Os sectores bancário e de seguros têm instrumentos de
regulamentação própria, com Planos de Contas específicos, conforme acima referido. Da mesma forma, na
administração pública, a contabilidade é exercida no âmbito do Orçamento Geral do Estado, guiado pela
regulamentação específica, no caso de Moçambique, o Sistema de Administração Financeira do Estado
(SISTAFE). A contabilidade exercida neste ramo tem em vista as despesas e as receitas do Erário Publico.
O quadro geral de contabilidade compreende duas áreas basicas de aprendizagem, complementares entre si:
i) as teorias contabilisticas e ii) as técnicas contabilisticas. A aplicação destas verifica-se no campo
profissional, ou seja, em empresas (contabilidade do sector empresarial) ou na administração pública
(contabilidade publica). Os dados macro economicos agregam os resultados globais do País como um todo.
Quadro geral da contabilidade
Contabilidade geral
Teoria da Contabilidade Técnicas da contabilidade
Conjunto de conceitos básicos, Forma de representação, escrituração contabilística
regras de funcionamento e propriamente dita
princípios contabilísticos
geralmente aceites.
Contabilidade aplicada
Contabilidade Publica
Contabilidade de organizações não
Contabilidade do Sector Empresarial
(Orçamento do Estado) empresarias
(Unidades económicas)
________
________
_________ ___________ _______________________ _________________________
Situação patrimonial Contabilidade Contabilidade Publica: Contabilidade das organizações não lucrativas
e resultado global, interna, abrange as Execução do Orçamento do Estado, (contabilidade de caixa)
reporte externo relações internas e baseada na lei do SISTAFE
serve para a gestão. (Sistema de Administração
Financeira do Estado)
Contabilidade Nacional
(Macro-Contabilidade)
Adaptado do autor.
i. Sector primário – lida com os recursos na sua forma natural, sem sofrer qualquer
transformação. Exemplo: extracção de recursos minerais, florestais, agricultura, etc.
Tararas e vasilhames
– construção e instalação de
Avaliação
Adaptado do autor
Ciclo operacional - os ciclos de maturidade dos negócios são diferentes, em função das actividades
de cada empresa. Assim, existem ciclos continuativos ou de curta duração, cujo roteiro de
actividades é sistemático e contínuo, respeitando o ano fiscal ou económico (ex. de 1 de Janeiro a 31
de Dezembro). Existem, porém, empresas cujas actividades vão para além de um ciclo normal, ou
seja, a maturidade do negócio supera o ano, sendo considerados de ciclo longo (ex. empreitada de
obras de engenharia cujo inicio dá-se no meio do ano, com a previsão de terminar passados vinte
quatro meses). Assim, compreende-se que o ciclo operacional pode ser visto como um elemento de
diferença na definição dos processos contabilísticos das entidades.
Obrigações fiscais conexas - qualquer actividade está sujeita ao cumprimento de obrigações fiscais
que, dada a sua natureza, podem ser diferentes de um sector para outro. Neste contexto, ressalta a
questão do sistema tributário, fiscalidade e dos códigos dos impostos (liquidação e dedução dos
impostos, lucro contabilístico versus lucro fiscal, impostos sobre rendimentos, etc.)
Os Stack holders - os utentes da informação financeira são determinantes para o tipo de informação
financeira a ser elaborada e publicada, no seu interesse. Ao preparar demonstrações financeiras para
uma empresa com poucos interessados nela (pequenas empresas), o nível de preocupação com
detalhes de análises será menor relativamente a informação financeira de uma empresa de grande
porte, cujos utentes são vários e que o mercado impõe um leque de exigências na apresentação de
dados para análises de vária ordem.
Actividade 1
Questões de relacionamento
2 NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA
2.1 Fundamentos Teóricos da Normalização Contabilística Internacional
De acordo com Niyama e Silva (2008), a expansão das relações comerciais e internacionais
no cenário globalizado, a necessidade de investimento e o avanço tecnológico que permite fácil
acesso à informação, exige uma linguagem em comum entre os países estabelecendo padrões
contabilísticos uniformes. A harmonização das normas contabilísticas se faz necessária tendo em
vista que, diante da mundialização dos mercados, os negócios não estão mais restritos apenas aos
limites de um país. Considerando que as multinacionais estão inseridas nesse contexto, é importante
ressaltar que a participação dessas empresas a nível internacional vai além de transacções somente
com suas filiais, mas envolve também os investimentos através da disponibilidade de acções a serem
negociadas em bolsa de valores de todo o mundo (Santos et al., 2010).
Portanto a harmonização contabilística pode ser entendida como o processo pelo qual
diversos países, a partir de um consenso, buscam a compatibilidade das normas contabilísticas
preservando as particularidades e características de cada região (Silva, et al 2004).
Borges & Ferrão (1999:14) definem a normalização contabilística como "um processo dinâmico
que visa a adequação da realidade contabilística face as mutações do meio envolvente
económico-financeiro que rodeia as unidades económicas".
Para Nobes1 apus Rodrigues & Pereira (2004:133) "a normalização contabilística é um processo
de aumento de comparabilidade das práticas contabilísticas estabelecendo-se limites ao seu grau
de variação". Na mesma visão, Borges (2007:122) acrescenta ainda, "a normalização
contabilística visa a comparabilidade das informações de empresas, a universalidade dos dados
recolhidos e a sua compreensibilidade pelos agentes económicos". Por outro lado, Ferreira
(1984:25) define a normalização contabilística como sendo "um processo que consiste em criar
uma metodologia uniforme a ser seguido pelas unidades económicas",
Vantagens
Segundo Lainez & Callao2 apud Rodrigues & Pereira (2004:138-139) o processo de
normalização traz as seguintes vantagens:
d) Simplificação do trabalho das multinacionais de auditoria, por poderem aplicar uns princípios
equivalentes em todos os países, do mesmo modo as autoridades fiscais poderiam medir o
lucro empresarial sobre o qual tributam as empresas estrangeiras de acordo com umas normas
uniformes de reconhecimento de proveitos e custos.
Desvantagens
Assim, a Moldura actual das normas internacionais, designada GAS (Global Accounting
Standards, é constituída por:
41 Normas referenciadas como IAS (produzidas pelo IASC) e
17 Normas referenciadas como IFRS (produzidas pelo IASB)
[Destes dois conjuntos de normas, as que
serviram de base para a elaboração do Plano
Geral de Contabilidade baseado em Normas
Internacionais de Relato Financeiro (PGC-
NIRF), moçambicano, são 41 IAS e 9 IFRS que se
encontravam em vigor, e que tinham sido
revistas, até Outubro de 2008, conforme citado no
Capítulo 1.1 do PGC-NIRF]
Estes dois instrumentos constituem a base lógica de todas as normas emitidas pelo IASB, cujo
objectivo central é assegurar a fiabilidade e comparabilidade da informação financeira no âmbito
internacional.
O parágrafo 2 do Quadro Conceptual incluído no Sistema de Contabilidade para o Sector
Empresarial moçambicano (SCE) aprovado pelo Decreto 70/2009 de 22 de Dezembro, estabelece
que: “Este Quadro Conceptual não é uma Norma de Contabilidade e de Relato Financeiro nem o
seu conteúdo substitui uma qualquer Norma de Contabilidade e de Relato Financeiro incluída no
PGC - NIRF. Se em alguma circunstância particular existir um conflito de entendimento entre o
presente Quadro Conceptual e uma Norma de Contabilidade e de Relato Financeiro incluída no
PGC - NIRF, a Norma prevalecerá”.
O Framework não é uma norma internacional de contabilidade, mas sim uma descrição dos
conceitos básicos que devem ser respeitados na preparação e apresentação das Demonstrações
Financeiras Internacionais. Ele define o espírito intrínseco das normas internacionais, e a filosofia
geral das normas, isto é, o Framework e por assim dizer "uma declaração dos princípios com os
quais as normas de contabilidade se devem coadunar" (Borges, 2007:151).
Questões de relacionamento
1. Qual é a relevância da normalização contabilística internacional?
2. A normalização contabilística, embora seja um tema universal, não se
aplica de forma igual em todos países. Faça o comentário desta
afirmação.
3. Diga qual é o organismo internacional responsável pela emissão das
normas internacionais
4. As normas internacionais estão sujeitas a revisão, para atender a
dinâmica internacional dos mercados financeiros e de capitais,
desenvolvimento de novos negócios e mercados mercados, etc. Assim,
diga quantas normas internacionais do IASB existem na actualidade.
5. Quando e com que instrumento Moçambique aderiu e introduziu as
normas internacionais
6. Quais são as normas inseridas no PGC-NIRF e como estas foram
elaboradas?