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CONSIDERAÇÕES ACERCA DA OBRA:

AS TEOLOGIAS DO NOSSO TEMPO DE BATISTA MONDIM

A filosofia da religião se propõe a tentar compreender os conceitos envolvidos nas crenças


religiosas tais como existência, necessidade, destino, criação, pecado, justiça, perdão, redenção e
Deus.

A filosofia da religião teve seu inicio juntamente com o advento da filosofia. Houve um
momento em que os filósofos passaram a analisar as questões da natureza, inclusive as da
religião. Até o século XX, a história do pensamento filosófico ocidental encontrava-se
intimamente associada às tentativas de esclarecer certos aspectos do paganismo, do judaísmo e
do cristianismo. Já que tradições como o hinduísmo, o budismo ou o taoísmo, não há uma a
investigação filosófica e a religiosa. Contudo, teve seu desenvolvimento e cresceu ao longo dos
tempos. Esta racionalização do estudo da religião apresenta, por conseguinte, fases de
desenvolvimento, às quais convém atender ainda antes de instalar a filosofia da religião tal como
hoje é.

O problema clássico de conceber um objeto apropriado para a crença religiosa consiste em


compreender se é possível lhe atribuir algum termo: fará sentido dizer que esse objeto cria e
conhece coisas, que deseja certos acontecimentos, que é bom ou providencial, que é uma ou
muitas coisas?

Na teologia da via negativa afirma-se que Deus só pode ser conhecido quando negamos que os
termos vulgares possam ser-lhe aplicados; outra sugestão é a de que os termos vulgares só se lhe
aplicam metaforicamente, não existindo qualquer esperança de eliminar essas metáforas. Mas
mesmo que se chegue a uma descrição do Ser Supremo, continuamos com o problema de
encontrar um motivo para se supor que exista algo correspondente a essa descrição. A história da
filosofia da religião está marcada pela diversidade de opiniões, ora mais otimistas, porque em
favor das religiões tradicionais, ora mais negativas, porque contra muitos aspectos anteriormente
admitidos.

A época medieval foi a mais fértil em pretensas demonstrações da existência de Deus, como as
cinco vias de Santo Tomás de Aquino, ou o argumento ontológico de Santo Anselmo. Essas
provas deixaram de ter ampla aceitação desde o século XVIII, embora ainda convençam muitas
pessoas e alguns filósofos.De uma maneira geral, até os filósofos religiosos (ou talvez estes em
especial) têm sido cautelosos em relação às manifestações populares da religião. Kant, um
simpatizante da fé religiosa, distinguiu várias perversões dessa fé: a teosofia (uso de concepções
transcendentais que confundem a razão), a demonologia (favorecimento de concepções
antropomórficas do Ser Supremo), a teurgia (ilusão fanática de que esse ser pode nos comunicar
sentimentos ou de que podemos exercer influência sobre Ele) e a idolatria ou a delusão
supersticiosa de que podemos nos tornar aceitáveis perante o Ser Supremo através de outros
meios que não o de ter a lei moral no coração (Crítica da faculdade do juízo, II.28).

No entanto, essas tendências para o contato arrebatado têm se tornado cada vez mais importantes
na teologia moderna. Desde Feuerbach há uma tendência crescente na filosofia da religião em se
concentrar nas dimensões sociais e antropológicas da crença religiosa, ou para a conceber como
uma manifestação de várias necessidades psicológicas explicáveis. Nesse sentido o Teólogo
Battista Mondim muito colaborou para a filosofia da religião e sua análise social e psiquica.

Battista Mondin nasceu em Vicenza, Itália, em 1926. É sacerdote do Instituto Xaveriano. Doutor
em Filosofia e Religião junto à Harvard University é há vários anos professor de filosofia na
Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Urbaniana, em Roma. É autor de vasta obra
bibliográfica. A contribuição de Mondim não só para a Teologia, mas também apara a Filosofia
da Religião traz uma análise das religiões em suas várias formas de manifestação e sua
significação, buscando suas razões e suas fundamentações.

Este trabalho tem como arcabouço alguns textos de Mondin retirados da obra “As teologia do
nosso tempo”, editado pelas edições Paulinas. Nessa obra Mondim além de suas considerações a
respeito das definições de Teologia em todos os seus âmbitos traz também muito do pensamento
de Harvey Cox (Teólogo americano)cujo objetivo é o de ensinar e desenvolver pesquisas sobre
os movimentos teológicos do cristianismo no mundo. Assim sendo inclui a Teologia da
Libertação e o papel do cristianismo na América latina.

A TEOLOGIA NATURAL” E SUAS DESIGNAÇÕES SEGUNDO MONDIM

“...como é natural, os estudiosos da religião a


definem em termos de seus próprios pontos de vista,
de modo que podem encontrar tantas definições
como autores que se ocupam do assunto.”
Warrem C. Young

A Teologia estuda a Divindade e suas formas de manifestação, que são as denominadas


“religiões”. A Teologia como o ramo fundamental da ciência filosófica, foi também chamada
filosofia primeira ou ciência dos primeiros princípios, mais tarde chamada de metafísica por seus
seguidores. Para Mondim:

“...A expressão “teologia natural” adquiriu na história da teologia dois significados


claramente diferentes. Segundo o primeiro, designa a religiosidade que o homem
desenvolve só com as forças da sua razão, independente da divina revelação.Segundo o
outro significado denomina um setor particular da investigação filosófica, e
precisamente o relativo à existência e a natureza de Deus...”

Foi Santo Agostinho que tomou o conceito “teologia natural” da obra Antiquitates rerum
humanarum et divinarum, de M. Terêncio Varrão, como única teologia verdadeira dentre as três
apresentadas por Varrão: a mítica, a política e a natural. Acima desta, situou a teologia
sobrenatural (theologia supernaturalis), baseada nos dados da revelação e, portanto, considerada
superior. A teologia sobrenatural, situada fora do campo de ação da Filosofia, não estava
subordinada, mas sim acima da última, considerada como uma serva (ancilla theologiae) que
ajudaria a primeira na compreensão de Deus. Mas para Mondim na Teologia Natural se
encaixam a “religião natural” a “religião popular” e, ao mesmo tempo em parte, também
“religião primitiva”. Mas o que seriam essas religiões naturais, populares ou primitivas?

A interrogação sobre o natural acompanha praticamente todo o percurso do saber humano.


Desde o despontar da razão e do conhecimento consciente de si mesmo, a realidade, ou conjunto
de tudo o que existe, é identificada com “a natureza” ou com outros termos que traduzem algo
equivalente como “o cosmos”, “o universo”, “o todo”... Natural é, então, fundamentalmente,
aquilo que se opõe e se impõe ao pensamento. Opõe-se como objeto do pensar e impõe-se como
algo a decifrar e a respeitar, como um todo em que se deve integrar harmoniosamente,
respeitando as leis naturais, mas obedecendo ao que é natural a si mesmo e constitui a própria
natureza humana. Desafio, enigma, ameaça, proteção, condição da própria existência... – a
referência ao natural aparece como elemento determinante dos diversos domínios de expressão

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do saber, desde a formulação mais original das narrações míticas até ao complexo mundo da
ciência moderna, passando pela filosofia e pela religião, sem nada deixar de fora. Portanto
podemos considerar como religiões naturais, populares ou primitivas aquelas que se
manifestaram antes da revelação de cristo. Já no segundo sentido a “teologia natural” para
Mondim equivale:

“...ao que antes se costumava chamar “teodicéia” e que hoje se prefere chamar
“teologia fundamental” ou também “teologia filosófica”...”

A Teodicéia foi o termo empregado como sinônimo de teologia natural, foi criado no século
XVIII por Leibniz, como título de uma de suas obras (chamada “Ensaio de Teodicéia. Sobre a
bondade de Deus, a liberdade do ser humano e a origem do mal”), embora Leibniz utilize tal
termo para referir-se a qualquer investigação cujo fim seja explicar a existência do mal e
justificar a bondade de Deus. Na tradição cristã (de matriz agostiniana), a teologia é organizada
segundo os dados da revelação e da experiência humana. Estes dados são organizados no que se
conhece como Teologia Sistemática ou Teologia Dogmática. Já a Teologia fundamental ou
Teologia Filosófica é ramo fundamental da ciência filosófica, também chamada filosofia
primeira ou ciência dos primeiros princípios, mais tarde chamada de metafísica por seus
seguidores. Para Mondim:

“...Os dois objetos designados pela expressão “teologia natural” deram lugar a
freqüentes e acesas disputas entre os filósofos e os teólogos cristãos. Querendo resumir
esta longa e complexa vicissitude numa breve fórmula, pode afirmar-se que, em geral,
os filósofos e teólogos católicos se declararam a favor da religiosidade natural e da
teologia filosófica; os filósofos e os teólogos protestantes, julgaram negativamente
tanto as manifestações religiosas que o homem desenvolve naturalmente, quanto as
especulações filosóficas acerca de Deus...”

Com isto Mondim nos informa que os teólogos católicos, segundo o Concílio Vaticano II (1962-
1965) consagrou a renovação católica. Logo a Teologia católica na época atual se confronta com
os problemas da integração da mensagem evangélica nas civilizações onde ainda predominam as
religiões naturais, como por exemplo, a Ásia, África e América Latina. Já em relação aos
Teólogos protestantes fundamentam-se principalmente nas Sagradas Escrituras, consideradas
como o único testemunho autêntico da revelação divina. Logo, último século houve uma
convergência entre as posturas católicas e protestantes quanto a questão da prova empírica da
existência de Deus e também quanto a uma enérgica rejeição em relação às religiões naturais.

A COMPREENSÃO E A DEFESA DA RELIGIÃO NATURAL

“...uma pequena dose de Filosofia inclina


a mente do homem para o ateísmo tanto quanto
profundos conhecimentos a levam à religião...”
Francis Bacon

Nos últimos tempos, mais especificamente no final do século XX e neste início de século XXI
alguns teólogos defensores do protestantismo, como Eric Mascall, John B. Cobb, Langdon B.
Gilkey, Schubert M. Ogden entre outros, perceberam a importância, a necessidade e a
possibilidade de uma

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“investigação filosófica acerca da realidade de Deus, excogitaram novas provas de
sua existência e procuraram elaborar uma definição racional da sua natureza.”

Ao mesmo tempo outros teólogos lançaram-se nas pesquisas sociológicas e perceberam que a
religiosidade humana não diminuiu, pelo contrário, aumentou. Contudo, em suas pesquisas e
estudos perceberam e começaram uma revalorização da religião popular. Ou seja, a religião
popular não com caráter fantasioso ou mitológico,

“...mas sim como a manifestação espontânea e mais autêntica das relações


imprescindíveis que a humanidade mantém com o seu Criador...”

Muito se pensou que devido ao progresso da ciência e com o advento da sociedade tecnológica
não só as religiões naturais mas também as institucionalizadas tenderiam a perder espaço para o
homem excessivamente racional e adepto do cientificismo. No entanto segundo Mondim:

“...Pelo contrário, no recente congresso de Viena (1975), que teve por tema a
religiosidade do homem moderno, obteve numerosas e autorizadas confirmações. O
congresso mostrou que o homem moderno não menos religioso do que o homem das
épocas anteriores, embora seja mais renitente em confiar a sua religiosidade à essas
formas institucionalizadas...”

Mondim afirma que um dos teólogos mais expressivos na defesa da Teologia Natural é Harvey
Cox. Este foi durante mito tempo um pregador ferrenho da secularização. Ou seja, aquilo que
"pertence a uma época". Nos círculos religiosos recebe o sentido de "aquilo que pertence ao
mundo de nosso tempo" e que não faz parte do que é sagrado ou espiritual. Em termos gerais, o
secularismo envolve uma afirmação das realidades imanentes deste mundo. É uma cosmovisão e
um estilo de vida que se inclina para o profano mais do que para o sagrado, o natural mais do que
o sobrenatural. O secularismo é uma abordagem não-religiosa da vida individual e social. O
secularismo veio a ser uma espécie de movimento tipo humanista. O secularismo procurava
aprimorar as condições humanas, sem fazer qualquer alusão à religião ou as reivindicações da
igreja. Antes, utilizava-se da pura razão, da ciência, e das organizações sociais (não-religiosas)
humanas. O secularismo é uma ideologia, para uma visão fechada do mundo que funciona
semelhante a uma religião. E uma forma de religiosidade, religião invertida e una. Nele as
dimensões – presente e imanente de existência estão revertidos dos atributos do eterno e do
transcendente. No entanto, como filosofia abrangente de vida, expressa um entusiasmo sem
reservas pelo processo da secularização em todas as esferas da vida. O secularismo carrega uma
falha fatal, pelo seu conceito reducionista da realidade, porque nega e exclui Deus e o
sobrenatural numa fixação míope naquilo que é imanente e natural. Na discussão
contemporânea, o secularismo e o humanismo são freqüentemente vitais como uma só dupla que
forma o humanismo secular – uma abordagem da vida e da sociedade que glorifica a criatura e
rejeita o criador. O secularismo, como tal constitui-se num rival do cristianismo. Nenhuma
discussão contemporânea do cristianismo e secularismo pode deixar de lidar com as cartas e
papéis da Prisão escritos por Dietrich Bonhoeffer. Da perspectiva da teologia bíblica cristã, o
secularismo é o culpado porque "mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a
criatura em lugar do criador" (Rm. 1.25). Tendo excluído o Deus transcendente como absoluto e
o objetivo da adoração, o secularismo inexoravelmente torna o mundo do homem e da natureza
absoluta, e objetivo da adoração.

Em termos bíblicos, o Deus sobrenatural criou o mundo e sustenta a sua existência. Este mundo
(o saeculum) tem valor porque Deus o criou, continua a preservá-lo, e age para redimi-lo.

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Embora Deus haja Senhor da história e do universo, Ele não pode ser identificado com um ou
outro (panteísmo). Homens e mulheres, existem em liberdade e responsabilidade que o homem
tem com Deus e o mundo.

A secularização como teologia surgiu com Bonhoeffer, quando dizia que a igreja não existe
senão quando é "para os outros". A igreja deve participar das tarefas humanas, não como quem
governa e comanda, mas como quem serve. A secularização é como ameaça e precaução. O que
ele asseverou é que o cristão moderno deve ser um homem também voltado para atividades
seculares, dedicado a causas humanistas. A Secularização é uma ameaça provocante, que deve
ser levada a sério. Ao cristianismo essencial ao que chama razoável. O destinatário do evangelho
é o homem novo. Este homem novo, não nos deve causar medo. A igreja não deve permanecer
fora do mundo, mas está no mundo. A provocação da Secularização é um desafio às nossas
igrejas de nos integrarmos às necessidades humanas, tendo como objetivo principal Jesus Cristo.

Como então Cox, parte para a defesa da religião natural? O que o levou a isso? Explica-nos
Mondin:

“...Seguindo um processo singular, o da autobiografia, Cox analisa aí as principais


manifestações religiosas da sociedade moderna, e fá-lo de maneira que se poderia quase
dizer sistemática, mesmo que este apelativo se aplique pouco a um teólogo tão
desordenado e imprevisível como Cox...”

Esse processo vivido por Cox e que o fez rever seu conceito de religião e religiosidade foram
registrados por ele mesmo em suas obras literárias. Cox tornou-se muito conhecido com a
publicação da obra Cidade Secular em 1965. Esta obra o popularizou e para um livro de um
teólogo, vendeu em torno de um milhão cópias. Cox desenvolveu a tese que a igreja é
primeiramente uma pessoa da fé e da ação, melhor que uma instituição. Discutiu que o “deus é
tão presente justo no secular como os reinos religiosos da vida”. Longe de ser uma comunidade
religiosa protetora, a igreja deve estar na linha de frente da mudança na sociedade, comemorando
as maneiras que as novas religiões estão encontrando sua expressão no mundo.

“...Já em A Festa dos Foliões tinha mostrado grande interesse pelas faculdades
humanas como a fantasia e o sentimento e pelas manifestações culturais como o
simbolismo, a festa, o jogo, a dança, que não encontram reconhecimento adequado ou
são até mesmo sufocadas numa visão secularizada da realidade, toda dominada pelo
cálculo, pela ciência e pela tecnologia...”

Contudo, Mondim afirma que foi na obra, A Sedução do Espírito, que Cox se dedica a pesquisar
sistematicamente as principais manifestações religiosas da sociedade moderna. Nesta obra Cox
intenta “enfatizar a importância reservada à religião na cultura de qualquer sociedade, defender
a religião autêntica, que ele identifica com a “religião popular”; e atacar e desmascarar as
formas religiosas inautênticas e opressivas da nossa sociedade.”

Segundo Mondim, Cox notou que a religião, hoje em dia, está por toda parte, diferentemente do
que se previa tendo em vista a sociedade tecnológica e cientificista. Adverte também que as
práticas religiosas vigentes são uma retomada daquelas que se imaginava em desuso por não
serem institucionalizadas. Vejamos:

“...Da astrologia ao Zen, do misticismo aos curandeiros pentecostais, das danças


estáticas as salmodias, estamos a assistir a um vasto renascimento de energia espiritual,
mesmo que este renascimento, as mais das vezes suceda fora das igrejas institucionais.”

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O que Mondim nos alerta é que Cox afirma que o homem, de nossa sociedade, esqueceu a
religião de seu país, cidade, ou mesmo as de família e criou uma nova “idéia” de religião a qual
ele chamou de mass media.

A RELIGIÃO DOS “MASS MEDIA”

Todos os seres humanos têm uma necessidade inata


de ouvir e dizer histórias e ter uma história para viver.
A religião, o que outro fêz, forneceu uma das maneiras
principais de encontrar-se com esta necessidade humana.
Harvey Cox

O termo "meio de comunicação" refere-se ao instrumento ou à forma de conteúdo utilizados


para a realização do processo comunicacional. Quando referido a comunicação de massa, pode
ser considerado sinônimo de mídia. Entretanto, outros meios de comunicação, como o telefone,
não são massivos e sim individuais ou interpessoais). No Brasil, usa-se mais comumente a
palavra "mídia", derivando da pronúncia inglesa - ainda que alguns gramáticos brasileiros
prefiram a forma portuguesa, por ter mais correlação com a origem latina da palavra, idioma do
qual provém o português.

A utilização dos meios de comunicação de massa implica organizações geralmente amplas,


complexas, com grande número de profissionais e extensa divisão do trabalho. A empresa
jornalística envolve o trabalho de diretores, jornalistas, redatores, fotógrafos, diagramadores,
ilustradores, câmeras, gráficos etc. O fato de a manutenção de um órgão de comunicação de
massa ser bastante onerosa faz com que essas empresas dependam dos imperativos de consumo
(máxima circulação, no caso de livros e filmes; garantia de audiência e venda de publicidade, no
caso dos jornais, revistas, rádio e televisão) para sobreviver ou se expandir.

Uma segunda característica básica dos meios de comunicação de massa é o fato de que eles
necessariamente empreguem máquinas na mediação da comunicação: aparelhos e dispositivos
mecânicos, elétricos e eletrônicos possibilitam o registro permanente e a multiplicação das
mensagens impressas (jornal, revistas, livro) ou gravadas (disco, rádio) em milhares ou milhões
de cópias. A produção, transmissão e recepção das mensagens audiovisuais (rádio, TV) precisa
de milhares ou milhões de aparelhos receptores.

Outra característica típica dos meios de comunicação de massa é a possibilidade que apresentam
de atingir simultaneamente uma vasta audiência, ou, dentro de breve período de tempo, centenas
de milhares de ouvintes, de telespectadores, de leitores. Essa audiência, além de hetereogênea e
geograficamente dispersa, é, por definição, constituída por membros anônimos para a fonte,
ainda que a mensagem esteja dirigida especificamente para uma parcela determinada de público
(um só sexo, uma determinada geração). 1 Segundo Mondim a Religião dos “mass media” para
Cox:

“...desempenha para ele as funções que os teólogos sempre consideraram essenciais à


religião. Esta diz-nos de onde viemos, com os mitos das origens, criação e queda;

1
Fonte de pesquisa:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Meios_de_comunica%C3%A7%C3%A3o

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indica-nos uma espécie de possibilidade ideal para a humanidade; e, finalmente, ensina-
nos como sair da nossa condição decaída, recorrendo aos “meios de graça”...”

Tudo isso através de grandes meios de comunicação de massa. Logo a religião dos mass media
não é apenas uma forma de adoração ou louvor a Deus, mas faz parte da cultura da sociedade
tecnológica que usa de seus meios de comunicação para ajudar o homem na busca não só de
orientação espiritual, mas também social e política:

“...Os seus pregadores dizem-nos qual é nosso mal: temos os sovacos suados, o hálito
mau, a roupa branca cinzenta e um carro ultrapassado. Põem-nos sob os nossos olhos
os modelos de uma santidade superior: indivíduos felizes, ousados, competentes,
fascinantes. Estes novos santos foram evidentemente salvos ou estão no caminho da
salvação. E os meios sacramentais da graça que têm o poder de tirá-los da perdição
estão ao seu alcance, ao alcance de todos - sabonetes, perfumes, vestidos, pílulas,
automóveis. E se, apesar da nossa fidelidade ao uso de tais sacramentos, temos a
impressão de não conseguir a bem-aventurança prometida, não importa: a salvação
deve ser o empenho de um a existência inteira...”

Hoje podemos verificar facilmente o que diz Cox. Programas de televisão que são vistos em
países inteiros e até no mundo, têm seus pregadores fazendo orações e nos “abeçoando” pela tela
da TV. Missa e Cultos organizados e proferidos em Estádios e Futebol levam milhares de
pessoas a assistirem cantos e orações como se as mesmas estivessem em um show de música ou
desfile de moda. As pessoas querem se inserir não só na ideologia, mas também na cultura que
nos oferece esta forma de religiosidade. Porém adverte Cox: “...A cultura do mass media é uma
religião, e é muito difícil sair do santuário...”

A DISTINÇÃO ENTRE RELIGIÃO POPULAR E INSTITUCIONAL

“As reações do homem frente ao sagrado, em


diferentes contextos históricos, não são uniformes
e expressam um fenômeno cultural e social
complexo, apesar da base comum.”
Heros on line

Religião (do latim religio, cognato de religare, "ligar", "apertar", "atar", com referência a laços
que unam o homem à divindade) é como o conjunto de relações teóricas e práticas estabelecidas
entre os homens e uma potência superior, à qual se rende culto, individual ou coletivo, por seu
caráter divino e sagrado. Assim, a religião constitui um corpo organizado de crenças que
ultrapassam a realidade da ordem natural e que tem por objeto o sagrado ou sobrenatural, sobre o
qual elabora sentimentos, pensamentos e ações.

Essa definição abrange tanto as religiões dos povos ditos primitivos quanto às formas mais
complexas de organização dos vários sistemas religiosos,(catolicismo, Judaísmo, Hinduísmo
entre outros) embora variem muito os conceitos sobre o conteúdo e a natureza da experiência
religiosa. Apesar dessa variedade e da universalidade do fenômeno no tempo e no espaço, as
religiões têm como característica comum o reconhecimento do sagrado (definição do filósofo e
teólogo alemão Rudolf Otto) e a dependência do homem de poderes supramundanos (definição
do teólogo alemão Friedrich Schleiermacher). De acordo com Mondim para Cox a definição de
religião é:

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“...um entrelaçado de memórias e mitos, esperanças e imagens, ritos e hábitos que
levam a vida inteira de uma pessoa ou de um grupo a ser um todo significante”. “Dá
coerência à vida, fornece um substrato de significados, confere unidade aos
acontecimentos humanos e orienta as pessoas no plano de decisão. Religião, como
indica a raiz latina, é o que “liga junto...”

Cox vai além da definição de que religião é o conjunto de atos teóricos e práticos que unem o
homem a divindade. Para Cox a religião é o que sustenta a vida humana e lhe atribui significado
dentro de seu contexto histórico e social. Auxilia o homem em sua jornada cotidiana lançando
sua experiência num plano metafísico válido para sua interseções com as pessoas e o mundo.
Harvey Cox também distingue as religiões em dois tipos: a popular e a institutcional.

“...a religião popular compreende não só a religião da gente comum na sua forma
imediata mas também a religião popular que se encontra fora das instituições
eclesiásticas oficiais, com os seus rituais e as suas liturgias espontâneas. Pelo
contrário, a religião institucional ou, mais exatamente institucionalizada é a
‘codificada, sistematizada, controlada e vendida pelos especialistas’...”

A religião popular se manifesta de duas maneiras, a tribal e a urbana. A religião tribal


compreende a simbologia os ritos de passagem, as narrativas orais e pessoais. Na tradição tribal a
marca mais intensa é a crença em “uma miríade de forças, deuses e espíritos que controlam a
vida cotidiana”.2 Logo é uma forma de religiosa que não se separa da vida social, política,
familiar. Já a urbana ou cosmopolita tem como característica ser universalistas. São religiões
institucionalizadas monoteístas, tolerantes e críticas. Apesar da distinção que Cox faz entre as
duas manifestações da religião popular afirma que ambas são válidas e podem contribuir, e de
modo decisivo, para a libertação do homem, objetivo fundamental do ser humano frente a vida e
a morte.

O FENÔMENO RELIGIOSO E A LIBERTAÇÃO

“A religião nunca é vinculada ao intelecto.


Ela envolve igualmente as emoções, que
são tão essenciais na vida humana quanto
o intelecto e a capacidade de pensar.”
Jostein Gaarder

Segundo Harvey Cox o objetivo fundamental da religião é a libertação do homem. Assim sendo
deve o Teólogo também ter como questão fundamental - qual o papel que a religião a ser
pesquisada, estudada ou vivenciada, faz em prol dessa libertação humana? Logo afirma Cox:

“...a resposta a essa pergunta não se pode obter só controlando se uma doutrina ou
rito permaneceram fiéis às fórmulas do passado, mas examinando também que é a sua
contribuição para uma nova vida (Páscoa), processo que nunca se dá como
completo...”

Na obra de Cox – A Sedução do espírito - mencionada por Mondim o mesmo acaba por concluir
que o autor não vê a religião como algo dos tempos de outrora, mas sim e ainda hoje como uma
atividade da qual o homem precisa mais de que qualquer outra. Mas por qual razão Cox pensa
dessa forma? Vários argumentos são passíveis de consideração. Vejamos um deles:
2
GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O LIVRO DAS RELIGIÕES.
Trad. Mara Lando. São Paulo: Cia das Letras, 2005. 335 p.

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“...Um novo desenvolvimento da religião é urgente, em primeiro lugar,para combater
a forma aberrante de religião que foi introduzida pelos mass media, uma religião que
ameaça tirar ao homem qualquer iniciativa, toda a interioridade, aspiração, ideal e
comprimir e matar a sua liberdade...”

Para Cox cabe as religiões institucionalizadas e as populares em todas as suas formas de


manifestação a tarefa de mostrar ao homem que a religião dos mas media não promove a
libertação do espírito mas sim, o seduz com as pseudo-maravilhas da tecnópole. Afirma Cox
com muita propriedade:

“...A mentalidade técnica priva-nos do sentido do passado. Mas quando uma pessoa ou
uma sociedade são defraudadas do seu passado, têm sempre menores possibilidades de
fazer valer qualquer perspectiva crítica sobre o presente...”

É necessário ao homem recobrar seus valores individuais e interiores rompidos pela


modernidade que se faz prevalecer em detrimento às práticas religiosas do passado. Mondim
coloca ainda outra importante questão levantada por Cox:

“...há ainda outra razão importante que exige uma pronta revalorização da dimensão
religiosa do homem: só reabilitando tal dimensão nos salvaremos do desastre
ecológico que impende sobre nós e consequentemente da ruína da humanidade...”

Esta é uma consideração de extrema valia pois, hoje sabemos que a natureza clama por sua vida
e o homem que não a tem como fruto da concepção divina e não a respeita impinge a ele mesmo
um triste destino. Interessante colocar que as religiões tribais primitivas tinham com a natureza
uma relação sagrada, que deveria ser retomada em prol da libertação do homem que hoje se vê
escravo de uma liberdade destrutiva e sem limites.

A religião não deve ser somente uma disciplina na qual se pense e se teorize. Dever ser,
sobretudo, algo que se vivencie. Que se experimente, que se intere, com a qual se converse, para
que possa haver a “Páscoa”. Cox viveu essa experimentação e a colocou em sua obra
autobiográfica. Diz Mondim a respeito da obra de Cox:

“...A Sedução do Espírito é na sua maior parte uma relação atraente, embora às vezes
desconcertantes, de tais experiências. É no contexto das várias experiências religiosas
que Harvey Cox enxerta a sua penetrante análise das raízes do sentimento religioso e
da religião em geral...”

Cox na referida obra não apenas pontua questões de teologia teórica, mas também exprime em
palavras escritas as experiências religiosas vivenciadas. Mondim afirma que nesta obra Cox se
converte de duas formas significativas. A primeira é a conversão do “cristianismo secular”
abraçado por Cox para a religião popular. A segunda forma de conversão foi da ação para a
interiorização. Segundo Mondim:

“...A outra conversão de que nos informa Cox é da política para a interioridade, da
ação para a contemplação (...)na última obra afirma que a oração e a contemplação
são essenciais ao cristianismo, antes, são essenciais ao homem enquanto tal...”

E Cox ainda acrescenta:

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“..Os místicos e os contemplativos foram os guardas e os exploradores daquele âmbito
tipicamente humano, a ´interioridade`. Na minha opinião são necessários hoje, talvez
mais do que no passado, precisamente porque uma genuína vida pessoal está tão
mortalmente ameaçada pela intrusão do mundo da técnica...”

Mais uma vez Cox nos adverte que a sociedade tecnológica tira a interioridade do homem e o
insere em um mundo imperativo onde seus valores são medidos pelas suas poses e poder. Por a
necessidade urgente da religiosidade que leve o homem ao seu interior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Existe a filosofia da religião que é o esforço


por ver os valores religiosos como um todo,
e por relacionar a religião que se processa com
a vida em conjunto.”
Warren C. Young

A Filosofia da Religião tem por objetivo estudar e analisar as mais profundas relações do homem
com a divindade e especialmente as formas e maneiras como este homem professa sua crença
dentro do mundo em que está inserido. Battista Mondim, na obra AS teologias do nosso tempo,
trabalha e enfoca, especialmente, pelas noções de Harvey Cox todas as religiões que estão
presentes em nossa sociedade tecnológica.

Ao mesmo tempo nos aponta quais delas estão de acordo com o fim último da religião – a
libertação do homem – e quais delas não estão levando o homem a sua busca, mas sim, tolhendo
sua liberdade de ser e viver de acordo com suas próprias escolhas.

No diálogo com Cox, Mondim nos mostra estar de acordo com o colega quando este menciona e
praticamente acusa a religião dos mass media como uma das causadoras da alienação religiosa
do homem da sociedade atual. No entanto, hoje o que também se pode notar é o renascimento, a
busca por uma interiorização dada como extinta na sociedade moderna.

Pelo contrário, assim como Mondim e Cox estamos podendo observar que:

“...O Zen, o Ioga e as clássicas disciplinas contemplativas. Trata-se de um


renascimento da interioridade, representando uma forma instintiva de sobrevivência
para o espírito moderno presa das mais variadas solicitações...”

O que fica de mais interessante neste texto de Mondim é a percepção de que Cox, ao
experienciar a vida religiosa, abre mão da Teologia da “morte de Deus” do qual foi um dos
fundadores e finaliza dizendo:

“...A metáfora fundamental da teologia radical hoje já não pode ser da Morte de Deus
ou de outro. Deve ser a do nascimento...”

Ou seja, a Teologia, assim como as manifestações religiosas são perenes e a cada época há uma
renovação a seu modo e a seu tempo, ou melhor diríamos no tempo e no modo de Deus.

BIBLIOGRAFIA

10
MONDIM, Battista. As teologias do nosso tempo. São Paulo: Edições Paulinas s/d.

Bibliografia Secundária

GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O LIVRO DAS ELIGIÕES. Trad.
Mara Lando. São Paulo: Cia das Letras, 2005. 335 p.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Meios_de_comunica%C3%A7%C3%A3o

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