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de sáude
Resumo: A filosofia Lean teve seu nascimento por volta dos anos 1950, época onde
os japoneses viram a necessidade de aumentar a excelência de seus processos e
redução de desperdícios, em comparação às empresas norte-americanas. Com o intuito
de ser um sistema de gestão de projeto que projeta o aumento da produtivade com
eliminação das perdas, surgiu-se então o Lean Manufacturing. Essa filosofia começou
sendo aplicada em linhas de produção e processos produtivos, porém a sua não se
restringe somente a essas áreas, podendo atingir outros campos como serviços e saúde,
a utilização neste último denomina-se Lean Healthcare. O projeto tem como finalidade a
proposta de um Manual de aplicação do Heathcare para centros de saúde, baseando-se
teoricamente em artigos científicos, livros e pesquisas. Devido ao tema ser recente e a
grande quantidade de informações teóricas advirem de artigos científicos torna-se
essencial um estudo mais aprofundado do tema tal como meios para aplicá-lo em centros
de saúde urbanos.
Palavras chave: saúde; Lean Manufacturing; Lean Healthcare; Produção
.
1. INTRODUÇÃO
O termo lean teve sua origem no Japão, logo após a Segunda Guerra Mundial,
trazendo grandes mudanças em indústrias, principalmente automobilísticas, empresas e
atualmente também na área da saúde. Segundo Taichi Ohno, “o objetivo mais importante
do sistema Toyota tem sido o aumento da eficiência de produção pela consistente e
continuada eliminação do desperdício”.
Além do pensamento de melhoria contínua, o lean possui também como pilar o
respeito pelos funcionários, fornecedores, clientes e todos a sua volta (GRABAN, 2013).
Há uma tendência de construir modelos de gerenciamento com foco em eficácia para os
processos de manufatura. Contudo, tendo em vista a forte concorrência, os segmentos de
serviços também estão em busca de ferramentas capazes de otimizar seus processos.
Com uma maior demanda nos hospitais ao redor do mundo, elevação dos custos,
tanto no setor público como no privado, pacientes acabam sendo prejudicados pela falta
de recursos e organização. Devido à isso surge-se o termo Lean Healthcare, derivado da
necessidade da busca de melhorar os processos de saúde.
Com o Healthcare, os pensamentos lean encontram um mundo não desprovido de
valor, mas sim inundado com conceitos de valor sofisticados e mutuamente
descontentados (YOUNG TP, McClean SL. A Critical look at lean thinking in healthcare.
BMJ Quality & Safety 2008). Em um hospital, o lean incentiva a colaboração e geração de
conhecimento, alem dos benefícios como levar inteligência ao processamento de exames,
conexão entre máquinas, envio de materiais gerando resultados mais precisos e em
tempo cada vez mais curtos.
Partindo-se desse cenário, um hospital pode ser comparado a um ambiente industrial,
e devido a isso, a implementação de qualquer sistema em um hospital é um processo
demorado pois é um ambiente com muitos profissionais e múltiplos serviços atuando
simultaneamente além de um volume de dados que precisam ser coletados.
Desta forma, objetiva-se criar uma proposta de um manual de aplicação do Lean
Healthcare. Este trabalho traz também exemplos da aplicação dos conceitos em uma
unidade de saúde na cidade de Curitiba. Ressalta-se que os exemplos serão de caráter
prático e possuem a única finalidade de comprovar as melhorias e possíveis problemas
que podem ocorrer ao decorrer da aplicação da proposta deste trabalho.
Segundo Wormack e Jones (2003), as ferramentas lean no setor de saúde, devem ter
o cliente (paciente) em primeiro plano e incluir como chaves do bom desempenho o
tempo, conforto e satisfação do mesmo. Nos serviços de saúde, o principal objetivo é
eliminar atrasos e ações repetidas, onde erros são inadmissíveis. Como ferramenta de
diagnóstico de desperdício, o mapa do fluxo de valor, por exemplo, permite que se tenha
uma visão sistêmica dos processos da empresa e, assim, seja possível propor um mapa
de fluxo futuro. O objetivo é evidenciar onde os desperdícios ocorrem e como reduzi-los
(WOMACK; JONES, 1996).
Em Bertaini (2012), o lean, aos poucos, foi ganhando espaço fora da indústria
automotiva, sendo utilizada para a gestão de operações, gestão de serviços e gestão
hospitalar .Kim et al (2006), ressalta que o lean tem ganhado seguidores entre líderes do
sistema de saúde, com vários grupos de hospitais ao redor do mundo aderindo a versão
da produção enxuta em suas abordagens sistemáticas para melhorar qualidade e
eficiência.
Os autores acreditam que nos próximos anos, a aplicação de princípios e métodos
enxutos pode ter um efeito transformacional no modo como os serviços de saúde são
entregues, com potencial dramático de ganhos em qualidade, segurança e eficiência.
Apesar do uso do lean em ambientes hospitalares ter certas similaridades com a indústria
manufatureira, a maioria das abordagens e análises são um pouco diferentes, uma vez
que hospitais têm características de operações mais singulares (GUO; HARIHARAN,
2012).
1.1. Objetivos
O objetivo deste trabalho é desenvolver um manual com técnicas de aplicação dos
conceitos lean (manufatura enxuta) voltados para um ambiente de saúde. Conforme
mencionado na introdução deste documento, serão apresentados resultados da aplicação
dessa proposta em uma instituição de saúde, com a única finalidade de exemplificar a
futuros leitores, como acontece o processo de aplicação destes conceitos e possíveis
resultados a serem atingidos, tal como mencionar situações adversas a serem
encontradas.
1.1.2 Objetivos específicos
*Pesquisa qualitativa dos conceitos lean e Healthcare para fundamentação teórica da
proposta do manual
*Representar por meio de exemplos teóricos e práticos como se da a aplicação do
lean em um ambiente hospitalar
*Desenvolver através dos conceitos de desperdícios de Ohno, um survey dos "sete
desperdícios"para ser aplicado em um ambiente hospitalar
*Definir métodos seguros que reduzam os desperdícios e aumentem a qualidade,
criando um mapa de fluxo de valor (estado atual x estado futuro)
*Apresentar gráficos dos ganhos adquiridos através da proposta de aplicação do lean
em um ambiente hospitalar
Não considera-se como objetivo específico deste trabalho o estudo de caso da
instituição que virá a ser utilizada como exemplo. Ressalta-se que a proposta é defender
a aplicação dos conceitos de lean healthcare como uma necessidade para a melhoria de
processos, redução de gastos e aumento da qualidade dentro de um ambiente hospitalar.
Devido a isso propõe-se o desenvolvimento de um manual de aplicação.
1.2. Dados históricos referentes ao Lean Healthcare
O conhecimento e a prática da manufatura enxuta no campo da saúde oportunizam a
produção de valor com desperdício reduzido e maior qualificação no atendimento aos
pacientes (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2016). Embora o Lean tenha surgido nas décadas
de 50 e 60, foi somente a partir dos anos 2000 que hospitais americanos, europeus e
australianos passaram a utilizá-lo (JONES, 2015). Concepções, técnicas e equipamentos,
os quais por muito tempo foram fontes inspiradoras de organizações de diversos setores,
atualmente estão metodologicamente adaptadas para o meio de saúde, o qual possui
características distintas e requer atenção apropriada (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2016).
As primeiras organizações que tiveram contato com o Lean healthcare reuniram-se,
em 2007, para partilhar seus casos no primeiro Global Lean Healthcare Summit,
acontecimento que promove a troca de culturas e ensaios sobre o tema, sucedido no
Reino Unido, dando início a muitas outras experiências nesta área ao redor do mundo
(JONES, 2015). Atualmente, os princípios do Lean Manufacturing são conhecidos no
mundo todo e sua aplicação pode alcançar mais que produção de bens, serviços e
entregas de cuidados médicos (SOUZA, 2009).
O ambiente de saúde inclui desafios especiais da perspectiva da gestão,
relacionando-se, algumas vezes, com questões gerenciais comuns de cuidados da saúde
(JORMA et al., 2015). Os níveis de implementação desta ferramenta na área de saúde
podem ser vistos como um único serviço ou um conjunto de ferramentas com o objetivo
de remover os resíduos detectados (JORMA et al., 2015). Na indústria, onde
tradicionalmente se utiliza o Lean manufacturing, o produto é bem material, já no
ambiente hospitalar, o produto é o serviço. Apesar do Lean office ser uma adaptação das
técnicas da produção enxuta ao setor terciário, na área da saúde, algumas ferramentas
não são aplicadas da mesma forma (COSTA; MONTE; ESPOSTO,2015). Acredita-se que
Healthcare está obtendo aceitação não porque é um novo movimento ou uma forma de
gestão, mas porque pode se traduzir em resultados sustentáveis (SOUZA,2009)
Conclui-se que para as organizações da área de saúde tanto no Brasil como em outros
países o Lean Healthcare é benéfico, apresentando um enorme potencial de contribuição
em desempenho no setor de saúde. Faria (2013) comprova esta afirmação através de
uma pesquisa aprofundada sobre o tema na literatura, onde verifica que a produção
enxuta na área da saúde apresenta potencialidades claras de melhoria para o setor.
Com o intuito de corroborar e avaliar a eficiência da aplicabilidade da filosofia Lean
Healthcare, alguns escritores relatam casos na literatura de aproveitamento dessa
técnica. Bertani (2012) analisou alguns trabalhos e comprovou que a técnica Healthcare é
uma realidade para hospitais e que pode ser aplicada em várias áreas hospitalares, com
ferramentas eficientes para melhorar os procedimentos e reduzir custos. Andreamatteo et
al. (2014) analisaram 243 artigos sobre o tema e mostraram que esse é um meio eficaz
de aumentar a produtividade e que o país líder nessa aplicação são os Estados Unidos.
Moraes et al. (2013) apresentaram um estudo de caso de aplicação de conceitos
healthcare em um laboratório de análises físico-químicas e os resultados oriundos de tal
implementação foram alteração do método de trabalho e aumento da produtividade.
Laureani, Brady e Antony (2012) apresentaram um estudo de caso com implementação
das técnicas Lean e Seis sigmas através da análise de cinco projetos realizados em
ambiente hospitalar, a fim de identificar padrões entre eles.
Considerando que apesar de serem aplicados em um período de tempo inferior a três
meses, e por pessoas parcialmente inexperientes na área, desenvolveu vantagens em
vários setores dos hospitais. Souza (2009) discute como o conceito de lean healthcare
evoluiu, a fim de avaliar o estado atual de desenvolvimento da técnica. Concluiu que a
maioria das aplicações de lean healthcare ocorreram nos EUA (57% dos trabalhos
pesquisados), refletindo no sucesso do setor de saúde privado no país.
Para avaliar se as organizações de saúde estavam utilizando um nível metodológico
alto de implantação do lean, Curatolo et al. (2013) efetuaram uma investigação na
literatura e concluiram que ainda não poderia ser alcançado esse nível tão desejado,
devido à complexidade dos processos hospitalares e que a mudança no cotidiano deve
ser progressiva e organizada, pois há um rigor na execução dos afazeres, podendo
ocasionar certa resistência por parte de colaboradores.
Independentemente disso, os ganhos são consideráveis e a compreensão desse fato
aparece no decorrer do uso da técnica. Papadopoulos, Radnor e Merali (2011)
comprovaram essa prática ao desenvolver um estudo na Unidade de Patologia do Serviço
Nacional de Confiança da Saúde, no Reino Unido. Eles usaram ANT (Actor-Network
Theory), um procedimento o qual considera a transição para um processo lean.
O pensamento enxuto sensibiliza a cultura de uma organização e propicia um
resultado muito vantajoso. Balle e Regnier (2007) conseguiram comprovar isto em um
hospital na periferia de Paris, em que a gestão e os colaboradores efetivaram os
princípios lean para conceber um espaço de aprendizagem, de melhoria e crescimento,
em que mudança foi aceita desde o começo como benéfica.
Todos os incentivos para o processo e para a rotina são importantíssimos, todavia,
devem estar ligados ao foco principal da filosofia lean healthcare: o paciente. A segurança
e satisfação dos pacientes são os propósitos da execução da técnica. Crema e Verbano
(2015) desenvolveram uma pesquisa ligando a gestão de saúde enxuta (Health Lean
Management - HLM) e o sistema de risco clínico (Clinical Risk Management - CRM).
Revelaram que aperfeiçoamentos na segurança do paciente são conquistadas através da
evolução, diminuição de despesas com materiais e medicamentos desaproveitados,
melhorias de estoques de medicamentos, aumento da confiança do fornecedor e dos
colaboradores da farmácia e das unidades hospitalares.
No Pronto Atendimento de Iowa, nos Estados Unidos, houve a redução em
aproximadamente 50% (de 51 minutos para 25 minutos) o tempo médio de duração dos
exames radiológicos, o principal obstáculo encontrado no processo, assim elevando a
satisfação dos pacientes de 38% para 95% (BATTAGLIA, 2010).
Dávila e Gozález (2015) efetuaram uma pesquisa em três áreas hospitalares com a
intenção de analisar se a aplicação da metodologia lean reduziria o desperdício e
agregaria valor para o cliente. Um dos resultados obtidos foi que, após a implementação
da ferramenta kanban, foi de que o custo do material guardado caiu em 43% quando
comparado o custo total de 2012 ao de 2011.
Santos (2014) percebeu situações de melhoria no início em seis farmácias, através da
técnica lean healthcare. O principal resultado alcançado no primeiro mês após a
efetivação das melhorias foi uma redução de 11% do valor de estoque. Outro caso de
sucesso da implementação do lean healthcare foi na ThedaCare, maior instituição de
saúde do estado de Wisconsin, Estados Unidos, que promoveu seus indicadores globais
de qualidade e segurança dos pacientes de 80% para 93% com a aplicação das técnicas
lean. Com essa atitude, a proporção de planos terapêuticos, corretamente definidos, na
primeira visita dos pacientes subiu de 20% para 96% (BATTAGLIA, 2010). 7
O médico oncologista clínico Carlos Frederico Pinto, diretor da Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica (SBOC), após participação no Global Lean Healthcare Summit afirmou
que o conhecimento lean na área da saúde pode trazer benefícios imensos para
instituições públicas e privadas no Brasil (BATTAGLIA, 2010).
De acordo com uma publicação de Colussi (2012), para o jornal Folha de São Paulo,
com o uso do lean healthcare hospitais de São Paulo têm conseguido diminuir o tempo de
espera de procedimentos e atender um número maior de pacientes, sem precisar
contratar mais funcionários ou comprar mais equipamentos. Ainda, no estado de São
Paulo, Oliveira (2014) desenvolveu uma proposta de aplicação de algumas ferramentas
do lean healthcare, como mapeamento do estado atual e futuro, 5W2H/5W3H, kaizen e
padronização do trabalho na gestão da logística hospitalar, em uma unidade de um
laboratório público de ensino do interior do estado. Também em um hospital de São
Paulo, Fabbri (2011) desenvolveu uma pesquisa para mostrar que é viável praticar lean
healthcare em hospitais brasileiros e os resultados comprovaram que é benéfica e
possível sua aplicação no país.
Uma das técnicas do sistema lean utilizadas por Costa, Ferreira e Leal (2015) foi o
mapeamento de fluxo de valor em uma unidade hospitalar. O fluxograma do mapa de
estado atual e futuro do fluxo do atendimento nos consultórios permitiu identificar os
processos que agregavam ou não valor, e assim, eliminar desperdícios e melhorar o
atendimento aos pacientes.
Costa, Monte e Esposto (2015) também utilizaram esta técnica em uma farmácia
hospitalar do interior de São Paulo, para avaliar oportunidades de melhoria do fluxo atual,
e propor soluções para o setor, obtendo resultados satisfatórios na pesquisa. Henrique
(2014) comprovou que o MPV demostrou ser uma importante técnica para a identificação
de desperdícios em ambientes hospitalares, através de um levantamento bibliográfico de
2000 a 2013 em implantações de lean healthcare, identificando as principais
características e pontos positivos de cada um.
Da mesma forma, Rocha et al. (2014), realizaram um diagnóstico através do mapa do
estado atual para identificar os erros e desperdícios do processo de um hospital e
posteriormente, discutiram alterações através do mapa do estado futuro propondo
modificações através de um modelo de simulação computacional.
Oportunidades de melhoria podem trazer resultados positivos para o setor de farmácia
através do uso de ferramentas e técnicas simples do lean healthcare, podendo reduzir 7
desperdícios, melhorar o atendimento aos pacientes e motivar os colaboradores (COSTA;
MONTE; ESPOSTO, 2015).
Valente, Esteve e Rosado (2012) identificaram através do lean, em uma farmácia
hospitalar, medidas e formas para reduzir o desperdício, diminuindo os custos e
formulando propostas para a estruturação de um modelo de custos que permita identificar
fatores de racionalização e reajustamento. Abdelhadi e Shakoor (2014) obtiveram
resultados satisfatórios na utilização do lean healthcare em farmácia hospitalar e
ambulatorial de um grande hospital regional da Arábia Saudita, como um método para
melhorar a qualidade do serviço e reduzir o tempo necessário para fornecer o
medicamento.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Produção Enxuta teve origem no Japão, após a Segunda Guerra Mundial, e sua
aplicação inicial deu-se Toyota Motor Company. O Japão encontrava-se devastado pela
Guerra e não dispunha de recursos para a produção em massa, um sistema
extremamente conhecido e de alta lucratividade desenvolvido por Henry Ford, nos
Estados Unidos. Ainda existiam no país diversos outros problemas e desafios para serem
resolvidos, alguns deles eram: mercado interno limitado e demandando vasta variedade
de produtos; mão-de-obra organizada, existência de vários fabricantes de veículos do
mundo, interessados em ingressar no Japão, dentre outros. Neste cenário, surge-se então
a necessidade de se conceber um modelo gerencial inédito, nascendo, assim, o Sistema
Toyota de Produção ou Manufatura Enxuta (Lean Manufacturing), estruturado por TAIICHI
OHNO, vice-presidente da Toyota, antigamente chamada de Toyoda.
As metas principais desse sistema inédito representam-se por qualidade e pela
flexibilidade dos processos, expandindo então capacidade produtiva e o grau de
competitividade no mercado internacional. O Lean Manufacturing, ou Manufatura Enxuta,
se alastrou pelo globo e diversas são as definições desta filosofia, conforme apresentado
abaixo:
“A eliminação de desperdícios e elementos desnecessários a fim de reduzir custos; a
ideia básica é produzir apenas o necessário, no momento necessário e na quantidade
requerida (OHNO,1997). ” “A busca de uma tecnologia de produção que utilize a menor
quantidade de equipamentos e mão-de-obra para produzir bens sem defeitos no menor
tempo possível, com o mínimo de unidades intermediárias, entendendo como desperdício
todo e qualquer elemento que não contribua para o atendimento da qualidade, preço ou
prazo requeridos pelo cliente. Eliminar todo desperdício através de esforços concentrados
da administração, pesquisa e desenvolvimento, produção, distribuição e todos os
departamentos da companhia (SHINOHARA,1988). ”
A sustentação desse sistema de produção enxuta é a união de técnicas gerenciais
com as máquinas a fim de produzir mais com menos recursos. O Lean se diferencia,
portanto da produção artesanal tal como da produção em massa. Quando falamos de
produção artesanal, trabalhadores qualificados para determinado ofício, utilizam-se de
ferramentas manuais, fabricam os produtos, um a um, de acordo com os desejos e
especificações do cliente (comprador). Ao tratar de produção em massa, profissionais
especializados projetam produtos que são fabricados por trabalhadores não qualificados
ou semiqualificados operando equipamentos caros e de finalidades específicas,
produzindo produtos padronizados em grandes quantidades.
Em produção em massa, o tempo inoperante precisa ser reduzido ao máximo ou até
mesmo inexistente, isso se dá devido ao alto custo das máquinas. A área responsável
pela gerência, então, acrescenta uma "reserva" denominada estoque extra e de operários
para garantir que a matéria prima esteja disponível ou para que o fluxo de produção não
seja reduzido. Como uma consequência ao alto custo do investimento em máquinas, a
adaptação para a fabricação de novos produtos fica impedida e o consumidor é que se
beneficia com os preços baixos em prejuízo da variedade. A produção enxuta, por outro
lado, une a vantagem da produção artesanal, não se utilizando de custos altos, com a
produção em massa, evitando a inflexibilidade. Para atingir os objetivos de produção
determinados acima, a gerência une diferentes equipes de trabalhadores de habilidades
variadas dentro da organização para trabalharem ao lado de máquinas, produzindo
grandes quantidades de bens com variedades de escolha. A produção é enxuta porque
usa menos de tudo se comparada com a produção em massa – menos esforço humano
na fábrica, espaço físico menor, menor investimento em equipamentos.
Esse tipo de produção, quando criado, tinha um foco de otimizar procedimentos e
processos através da redução contínua de desperdícios, como excesso de inventário
entre as estações de trabalho, bem como tempos de espera elevados.
A partir disso conclui-se que, a base principal do Sistema Toyota de Produção é a
busca incessante da eliminação de toda e qualquer perda ou desperdício. Na Toyota se
conhece esse princípio como “princípio do não-custo”. Pela lógica tradicional, o preço era
estabelecido pela empresa em que se somava o custo de produção ao lucro estimado
(Preço = Custo + Lucro). Entretanto, com a concorrência cada vez mais acirrada e os
consumidores cada vez mais exigentes, o preço passa a ser determinado pelo mercado
(Preço – Custo = Lucro). Analisando a segunda fórmula, chega-se a conclusão que a
única maneira de se aumentar ou manter o lucro é reduzindo-se os custos. Para
eliminação destes desperdícios e alcance das metas estabelecidas a Produção Enxuta
lança mão de um conjunto de técnicas e ferramentas como o Layout Celular, o Kanban, o
Mapa do Fluxo de Valor (VSM - Value Stream Mapping), dentre outras.
Essa perda refere-se àquelas onde determinado período de tempo não há nenhuma
espécie de transporte, inspeção ou processamento. Há, de acordo com Ohno, três tipos
de perda por tempo de espera:
· Tempo de espera no processo: Quando o insumo ou matéria – prima atrasa ou
é determinada falta da mesma e com isso um lote inteiro fica aguardando o
reestabelecimento da mesma para as máquinas voltarem a produzir;
· Tempo de espera do lote: Quando os produtos já passaram por algum tipo de
processo e aguardam todas as outras peças do lote para poder partir para uma
etapa seguinte.
· Tempo de espera do operador: Quando o responsável pela ação se encontra
ocioso, apenas observando uma máquina em operação.
Algumas ferramentas são utilizadas para eliminar a perda por espera, como, por
exemplo, a Troca Rápida de Ferramentas, desenvolvida por SHINGO (1996) e a técnica
Kankan para a sincronização da produção. Além disso, uma grade flexível de funcionários
também auxilia para a redução das perdas por espera.
Está é a perda que acontece pela diferença entre movimentos e trabalhos. Refere-se à
todo e qualquer movimento desnecessário realizados por algum operador na execução de
uma tarefa. Técnicas de estudo e tempo são as mais importantes a se aplicarem para a
redução ou eliminação deste tipo de desperdício. Os movimentos racionalizados nas
operações são obtidos também através da automatização de operações. Contudo, é
importante ressaltar que mecanizar qualquer tipo de operação é recomendado somente
após o esgotamento de todas as outras possibilidades para eliminação da perda.
Segundo OHNO (1997), no sistema de Produção Enxuta tudo o que não agrega valor
ao produto, visto sob os olhos do cliente, é considerado um tipo de desperdício. Todo
desperdício apenas aumenta tempo e custo. Todo desperdício é o sintoma e não a causa
do problema da organização.
Dentro da filosofia Lean Manufacturing, existem cinco princípios que são utilizados
para a eliminação de perdas. Estes, são orientações para toda e qualquer organização
que deseja aplicar os conceitos da manufatura enxuta, traçando uma metodologia com
separação de etapas para a aplicação do mesmo.
A produção enxuta, ao contrário da produção tradicional, usa equipes de trabalhadores
com várias habilidades em todos os níveis de organização, usa peças intercambiáveis e
máquinas altamente flexíveis e automatizadas para produzir grandes volumes de produtos
em enorme variedade. Os princípios que regem esta ideologia são apresentados na figura
abaixo, retirada do Lean Institute Brasil (1998).
WOMACK e JONES (1998) definiram especificamente estes cinco princípios da
manufatura enxuta que proporcionam uma grandiosa colaboração para a aplicação da
filosofia nas organizações.
Valor é tudo aquilo que o cliente final acredita ser necessário, e não a empresa. E para
isso, o produto deve ter requisitos que atendam às necessidades do cliente, com um
preço específico e entregue em um prazo adequado a ele. Ou seja, o cliente é o
responsável pelo que é ou não valor. Qualquer característica do produto ou serviço que
não atenda as percepções de valor ao cliente representa oportunidades para melhorias no
processo produtivo.
3.2. A identificação do fluxo do valor
· Aqueles que não agregam valor ao cliente, mas são importantes para a
manutenção dos processos e da qualidade
Uma vez que, para determinado produto, o valor tenha sido especificado com
precisão, o fluxo de valor mapeado, as etapas que não agregam valor eliminadas, é
fundamental que o valor em processo flua, suave e continuamente, dentro das três tarefas
gerenciais críticas: solução de problemas, gerenciamento da informação e transformação
física (WOMACK e JONES (1998))
Um fluxo de valor pode ser definido como um conjunto de passos (valor agregado ou
não) necessários para se ter um produto ou serviço, abrange desde o fornecimento de
matérias primas, passando pela empresa e percorrendo todo o caminho do processo de
transformação da matéria prima até a entrega do produto e satisfação do cliente (WORTH
et al., 2013).
3.4. Just-in-time
Neste tópico o conceito Lean passa a ser aplicado como se em uma instituição de
saúde. Independentemente de ter sua origem com foco industrial, os conceitos da
manufatura enxuta podem ser aplicados em qualquer setor nos dias de hoje, incluindo o
setor de serviços, uma vez que permite atingir níveis altos de qualidade, redução de
custos e prazos de entregas (Womack and Jones 2005; Ferro 2008).
Para contextualização dos períodos de desenvolvimento do Lean Manufacturing,
esboça-se em uma tabela um resumo à respeito da filosofia que antigamente era voltada
para uma produção artesanal para tanto com uma produção em massa (Joosten, Bongers
2009).
De acordo com Manos, a melhoria contínua que teve início em um shopflor migrou para
a empresa como um todo e agora encontrou benefícios em serviços, incluindo as
instituições de saúde.
Como visto anteriormente, esta filosofia prioriza eliminar as perdas / desperdícios para
otimizar o fluxo de pacientes informações e produtos.
Womack e Jones, em seu livro “Lean Thinking”, mostram como poderiam ser aplicados
os conceitos aqui já abordados de Lean aos serviços de saúde.
De acordo com sua explicação, os hospitais priorizam a eficiência e as taxas de
utilização elevada de recursos caros ao invés da eficiência organizacional, em outras
palavras, se preocupam mais com métodos altamente custosos para controle e
organização do que simplesmente focar em uma produção alta da organização em si. As
organizações podem melhorar concentrando-se no fluxo de valor do seu próprio serviço.
Desde então, muitas aplicações do Lean na área da saúde foram publicadas, e vários
casos de sucesso internacionais foram relatados. (Manos A.2006; Panchak 2003).
Os hospitais são caracterizados como Services-shop com foco em serviços prestados
exigindo baixo grau de trabalho, mas um alto grau de interação com o cliente e
personalização (Bowen and Youngdahl 1998, Silvestro 2003). A prestação de serviços
pode ocorrer entre departamentos ou por vezes dentro do departamento (Silvestro 2003).
Em uma instituição de saúde pode-se falar de “áreas”, como: serviços de emergência,
exames de rotina, internamento, cirurgia. Pode-se inclusive nomear stakeholders na área
da saúde: administradores, enfermeiros, médicos (Manos A.2006)
Um processo é o agrupamento de várias etapas, cada uma na qual deve ser feita de
maneira correta e sequencialmente no momento certo para então haver a criação de valor
para um cliente, e no caso do Healthcare, para um paciente.
O objetivo principal, conforme visto anteriormente do Lean é aumentar a eficiência da
produção por meio da completa eliminação de desperdícios(Ohno, 1988). Ao total são
originalmente identificados 7 tipos de desperdícios em uma produção, estes já explicados
nos tópicos anteriores. (Manos A. 2006; George 2003). Nesta seção, iremos abordar cada
um dos sete desperdícios de Ohno através da filosofia do Healthcare.
6. SMED
2.7 ThedaCare
O Thedacare, Inc. é um sistema de saúde constituído por três hospitais, 27 clínicas e
um plano de saúde com 300.000 membros, situado em Wisconsin. Esta entidade
reconhecida a nível nacional pelo resultado no desempenho de qualidade. É o segundo
maior empregador, 5000 funcionários, do nordeste de Wisconsin e é considerada a
instituição de saúde mais ligada em rede. Esta organização para conhecer e compreender
os princípios Lean optou por visitar uma empresa industrial dos EUA, que tem empregado
com sucesso esta filosofia.
A direção da ThedaCare, Inc. estabeleceu metas ambiciosas e específicas para atingir
uma mudança de cultura: melhorar a qualidade para um nível igual ou superior a 95%, ser
considerada um dos melhores empregadores, constar na lista dos 100 melhores
empregadores da Fortune e reduzir os custos em vez de reduzir o preço pago pelo
serviço, atingir $10 milhões por ano com redução de custos e aumento da produtividade.
O paciente está no centro destes objetivos.
A ThedaCare reconhece que uma grande quantidade dos desperdícios é o resultado
do tempo gasto a resolver pequenos problemas, e que uma melhor concepção dos
processos de trabalho reduz o desperdício e permite que os funcionários atendam melhor
às necessidades dos pacientes. Tal como o Virginia Mason, o ThedaCare envolve toda a
organização em eventos com o objetivo da melhoria.
Nestes eventos seguem três princípios: o Respeito pelas pessoas; Melhoria de
Processos Hospitalares através de ferramentas Lean: Ensinar com a experiência; o
Concentrar-se no desempenho. No final de 2004 a ThedaCare tinha envolvido mais de
600 empregados diretamente na aprendizagem sobre o Lean Thinking.
Como exemplo dos resultados pode indicar-se: o Uma poupança de US $ 3,3 milhões;
o Recuperados 154 mil dólares em processos de contratos de fornecimento; o As contas
a receber passaram de 56 para 44 dias o que equivale a cerca de US $ 12 milhões em
fluxo de caixa; o Melhoria no tempo de triagem telefónica em 35%, reduzindo o tempo de
espera de 89 para 58 s; o Redução da taxa de abandono na triagem telefónica em 48%; o
Redução do tempo em 50% que leva para completar a papelada de admissão clínica.
3. Metodologia
Cada etapa consiste nos pontos necessários para a conclusão da proposta inicial com
êxito. Para a realização do Desenvolvimento teórico, o modelo de metodologia será o
proposto por Womack e Jones (2005) e está representado na figura a seguir:
As etapas serão previamente definidas na fundamentação teórica para a devida
aplicação da metodologia de Womack e Jones.
O tipo de pesquisa considerado para este estudo é descritivo e exploratório, com a
finalidade de explorar a respeito do Lean Healthcare no Brasil e como aplicá-lo em
instituições de saúde além de descrever o a metodologia Lean com relação à saúde. O
referencial teórico consiste de uma revisão de literatura de diversos autores e os
resultados serão exemplificados tanto qualitativa quanto quantitativamente, baseando-se
nas melhorias de acordo com a visão do cliente e também os impactos, transcritos em
números da aplicação do Lean Healthcare.
BERTANI, Thiago Moreno. Lean Healthcare: Recomendações para implantações dos con-
ceitos de produção enxuta em ambientes hospitalares. 2012. 166 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção) – Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo
GRABAN, Mark. Hospitais Lean: melhorando a qualidade, a segurança dos pacientes e o
envolvimento dos funcionários. Tradução: Raul Rübenich – Porto Alegre: Bookman,
2013
OHNO, Taiichi. O Sistema Toyota de Produção além da produção em larga escala. Porto
Alegra: Bookman, 1997.
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