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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS - CAMPUS NORTE URUAÇU

LICENCIATURA EM HISTÓRIA - 1ª SEMESTRE


INTRODUÇÃO AO ESTUDO E ENSINO DE HISTÓRIA
DOCENTE: Prof. Dr. MANOEL GUSTAVO DE SOUZA NETO
DISCENTE: VITOR FERREIRA DOS SANTOS SOUZA

RESENHA DESCRITIVA: A MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVÍDUAL


PRESENTE NA OBRA “A MEMÓRIA COLETIVA” DE MAURICE HALBWACHS.

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. 2 ed. Tradução: Laurent Léon Schaffter. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1990. 189 p.

O texto a seguir acompanha o primeiro capítulo da obra póstuma do sociólogo francês


Maurice Halbwachs (1877-1945), intitulado Memória Coletiva e Memória Individual (1950),
publicado no Brasil em 1990, que trata em especial, dos pressupostos que tentam explicar o
caráter da memória tanto em âmbito de um grupo quanto de uma visão particular, em panorama
interdisciplinar.

Na obra em si, Halbwachs preocupa-se em apresentar uma análise detalhada das


principais características que englobam o fenômeno social acompanhando a memória em uma
dimensão coletiva, além de seus impactos na sociedade. Tal visão, conferiu ao trabalho de
Halbwachs uma expansão historiográfica no que diz respeito a construção da história a partir
da memória coletiva. Em sua obra, é evidente que tais contribuições não ficam subentendidas,
e apesar do caráter sociológico empregado pelo autor, a interdisciplinaridade com a Ciência
Histórica se faz presente.

Para tal, o autor divide suas asserções em relações entre a memória e os núcleos de suas
problemáticas, tais como a história, o tempo e o espaço. O fato de o autor determinar essas
“repartições” contribui para construir a obra de modo a apresentar uma visão mais clara e
organizada de seu pensamento.

No primeiro capítulo, o foco de Halbwachs é na defesa das intrínsecas relações entre a


memória coletiva e a memória individual. Segundo o autor, a memória coletiva é composta por
um conjunto de lembranças ou relações com o passado que podem ou não (em determinados
casos) serem compartilhadas por um mesmo grupo de indivíduos dentro de uma sociedade,
sendo a partir daí, capaz de formar uma memória coletiva que passa a representar determinado
evento, acontecimento ou até mesmo um trauma coletivo.

Como sendo contemporâneo à primeira metade do século de XX, e ainda, estando


próximo ao epicentro das grandes instabilidades, incertezas e conflitos desse século, e também,
como pensador da escola durkheimiana, Halbwachs compreende com evidente experiência as
mudanças que compuseram a noção de indivíduo perante à sociedade em consonância com a
memória coletiva de diferentes grupos sociais, além de seus impactos na vida social e cultural
de tais indivíduos na relação com a memória e as lembranças que a compõe.

Esse fato é marcante na citação dos exemplos que o autor utiliza para explicar os
fenômenos dispostos em seu pensamento, por exemplo: amizades a muito distanciadas, eventos
e acontecimentos importantes presenciados ou acompanhados, lugares visitados e lembranças
de infância. Mostrando como é necessário a interação social no processo de formação da
memória coletiva, tal qual, composta pelo conjunto composto de memórias individuais.

Halbwachs, ainda, deixa claro que a formação de tais memórias coletivas independem,
somente, de eventos considerados marcantes ou traumáticos, pelo contrário, memórias podem
ser formadas, ativadas ou ainda resgatadas a partir de estímulos externos ou pontos de
referências no cotidiano, sendo originadas também por acontecimentos simples, mudanças ou
hábitos a muito inativos.

Outro ponto em destaque no primeiro capítulo da obra está no que o autor subdivide em
subtítulos, como à relação do esquecimento que decorre do desapego de determinado grupo, a
necessidade de uma comunidade que se relaciona afetivamente à memória individual ou
mesmo coletiva, e por fim, a possibilidade de uma memória que seja estritamente individual.

Tais visões assim relacionadas conferem à obra uma perspectiva que dialoga entre a
realidade e o senso de observação do leitor — sendo necessário, para a leitura, abrir a mente
para as situações condizentes à realidade do mesmo, podendo dessa forma asseguram uma
estabilidade na compreensão da leitura.

Entretanto, em certos momentos da leitura — sobretudo na exposição dos exemplos —


, Halbwachs descarta uma posição de neutralidade afim de relacionar suas próprias vivências
e experiências com a memória individual ao que ele compreende como a coletividade da
memória. É caso dos seguimentos que dão lugar ao último subtítulo do capítulo, tópicos que o
autor utiliza para discorrer os eventos relacionados às fases da vida e seu impacto da formação
e desenvolvimento psicossocial dos indivíduos.

Porém, Halbwachs, a princípio não utiliza de sua própria infância como exemplo,
preferindo citar e referenciar passagens de estudos anteriores que incluem Henri-Marie Beyle
(1873-1842), escritor francês popularmente conhecido como Stendhal, e também Benvenuto
Cellini (1500-1571), renomado artista renascentista.

Dentro dessa estrutura, Halbwachs descreve também o período de lembranças da fase


adulta, propondo a noção de colocar-se nos pontos de vista dos outros indivíduos, no caso da
coletividade, para compreender a formação da memória e como ela se relaciona a diferentes
grupos sociais.

Por fim, o autor defende sua posição frente a interferência da memória individual ao
contraste da memória coletiva, mencionando a capacidade de discernir as lembranças que “[...]
nos parecem puramente pessoais, e tais como nós sozinhos as reconhecemos e somos capazes
de reencontrá-las, distinguem-se das outras com maior complexidade das condições
necessárias para que sejam lembradas [...]” (HALBWACHS, 1990, p. 48).

Finalmente, Maurice Halbwachs (1877-1945) é um dos principais pensadores cujo


nome é amplamente conhecido no que diz respeito ao estudo e a análise da problemática que
envolve a memória, tema que discutido pelos pensadores da escola durkheimiana e que,
também, integrou os debates mais importantes da historiografia do século XX, que envolveu
até mesmo os pensadores da Escola dos Annales Lucien Febvre (1878-1956) e Marc Bloch
(1886-1944).

Para aqueles que desejam compreender os pressupostos que entrelaçam a memória e a


história em sua compreensão historiográfica, sociológica e cultura, além de suas contribuições
acadêmicas, esta obra pode ser definida como uma importante ferramenta, ao passo de
conseguir uma aproximação entre aquilo que pode ser compreendido como a coletividade da
memória e a resistividade da sociedade frente às mudanças e transformações sociais, além de
resistências, reinvindicações e lutas por direitos sociais através do resgate da memória.

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