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INSTITUIÇÕES PARCEIRAS
UFG, UEG, IF Goiano, IFG, UniRV e PUC Goiás
José Carlos Libâneo
Adda Daniela Lima Figueiredo Echalar
Marilza Vanessa Rosa Suanno
Sandra Valéria Limonta Rosa
(Organizadores)
ANÁPOLIS | 2021
(C) UEG – 2021.
Catalogação na Fonte
Comissão Técnica do Sistema Integrado de Bibliotecas Regionais (SIBRE),
Universidade Estadual de Goiás
D555 A didática frente aos dilemas da educação : compromissos políticos e
pedagógicos / organizado por : José Carlos Libâneo ; Adda Daniela
Lima Figueiredo Echalar ; Marilza Vanessa Rosa Suanno ; Sandra
Valéria Limonta Rosa –. Anápolis, GO : Universidade Estadual de
Goiás, 2021.
1.981 p. il. ; e-Book.
ISBN: 978-65-88502-10-5
1. Educação. 1.1. Didática. 1.2. Práticas de ensino. 1.3. Práticas
pedagógicas. I. Título. II. Centro de Estudos e Pesquisas em Didática
(CEPED).
CDU 37.012(817.3)
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Esta obra é em formato de e-Book e foi produzida com recursos da Universidade
Estadual de Goiás. A exatidão das referências, a revisão gramatical e as ideias
expressas e/ou defendidas nos textos são de inteira responsabilidade dos autores.
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APRESENTAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Unidade I
LINGUAGENS E ARTES
1 A APLICABILIDADE DO ESTUDO DE CASO ETNOGRÁFICO NO
CAMPO EDUCACIONAL: REFLEXÕES SOBRE LÍNGUA E CULTU-
RA(S) NA SALA DE AULA DE LÍNGUA INGLESA. . . . . . . . . . . . . . . 26
Layssa Gabriela Almeida e Silva Mello
Unidade III
CIÊNCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO FÍSICA
32 O SUBPROJETO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E O PIBID NA UFG/REJ:
EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 541
Renata Machado de Assis
Gustavo Ferreira dos Santos
Lilian Ferreira Rodrigues Brait
33 EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO E O DESENVOLVI-
MENTO DO ADOLESCENTE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 554
Marcos Jerônimo Dias Júnior
34 FUNDAMENTOS DA DIDÁTICA HISTÓRICO-CRÍTICA: O ENSINO
DO CONTEÚDO GINÁSTICA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 574
Leonardo Carlos de Andrade
Jéssica da Silva Duarte
35 A FORMAÇAO PROFISSIONAL CONTINUADA E O ENSINO DE
GEOGRAFIA EM UMA PERSPECTIVA HISTÓRICO CULTURAL. . . 587
Ismael Donizete Cardoso de Moraes
36 O ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS E O CONCEITO
DE PAISAGEM GEOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 610
Adriana Olivia Alves
Caroline Costa Prado
37 A CIDADE DE GOIÂNIA: ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM E POSSI-
BILIDADES PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA . . 624
Bruna Faria de Lima
Nicali Bleyer Ferreira dos Santos
38 O ENSINO DE HISTÓRIA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA NA
ESCOLA ESTADUAL ANTONIO GRÖHS EM ÁGUA BOA/MT. . . . . 638
Isis Gardênia Kato de Sousa
Márcia Juliana da Silva
Maxsuel Pereira Barbosa
Michele Salete Reis
39 DIDÁTICA DA HISTÓRIA, FONTES HISTÓRICAS E A ONHB: ESTU-
DAR A ESCRAVIDÃO NO BRASIL A PARTIR DA COMPREENSÃO
DO OFÍCIO DO HISTORIADOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 656
Mayra Paniago
40 FOTOGRAFIAS EM SALA DE AULA: CONECTIVIDADE PRESEN-
TE-PASSADO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 672
Karinne Machado Silva
Fernanda da Silva Oliveira
41 DIDÁTICA DA HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS E A TRANSPOSI-
ÇÃO DIDÁTICA ENTRE A DIDÁTICA ESPECÍFICA E A DIDÁTICA
GERAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 683
Tales Damascena de Lima
42 EDUCAÇÃO E PROCESSO DE EMANCIPAÇÃO HUMANA: ALTER-
NATIVAS RUMO A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL. . . . . . . . . . . . . . . 701
Douglas Correia dos Santos
Andréa Kochhann
43 A UNIVERSIDADE DO SÉCULO XXI E CAMINHOS DA FORMA-
ÇÃO HUMANA: EMANCIPAÇÃO HUMANA OU ALIENAÇÃO. . . . 715
Douglas Correia dos Santos
Andréa Kochhann
44 RACIONALIDADE, IMAGINAÇÃO E FORMAÇÃO CONTEMPO-
RÂNEA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 727
Simone Alexandre Martins Corbiniano
45 ENSAIO SOBRE O ENSINO DA FILOSOFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 737
Sabrina Paradizzo Senna
46 EDUCAÇÃO PARA EMANCIPAÇÃO: DIÁLOGOS COM OS PEN-
SAMENTOS ADORNIANO, FREIREANO E MESZARIANO. . . . . . . . 750
Augusto Cesar Vilela Gama
47 A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA NOS PPP’S DAS ESCOLAS EM
TEMPO INTEGRAL DE GOIÂNIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 764
Juliene do Couto
Soraya Vieira Santos
48 LICENCIATURA EM PSICOLOGIA: UMA FORMAÇÃO PARA ALÉM
DA SALA DE AULA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 784
Jordana de Castro Balduino
Nayara Oliveira Feitosa
49 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO ABUSO SEXUAL INFANTIL E AS
PRÁTICAS ESCOLARES EM PROFESSORES DO ENSINO FUNDA-
MENTAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 797
Fernanda Maria Siqueira Tavares
50 A ASSISTÊNCIA A ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIO-
NAIS ESPECÍFICAS (NEE): ANÁLISE DE UM CASO NO CEPAE . . 815
Jordana Gracielle de Jesus Sousa
Soraya Vieira Santos
51 A PRESENÇA DE WALLON NA PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASI-
LEIRA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 828
Ana Laura Brasil Peralta
Soraya Vieira Santos
52 DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E ALFABETIZAÇÃO: CON-
TRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 846
Lílian Barbosa de Morais
Unidade IV
DIDÁTICA, PRÁTICAS DE ENSINO E ESTÁGIO
53 A DIDÁTICA HISTÓRICO-CRÍTICA: APONTAMENTOS SOBRE
CÍRCULOS FORMATIVOS COM PROFESSORES INICIANTES/
INGRESSANTES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 868
Érica Nayara Paulino Melo
Bianca Resende Monteiro
Emanoela Galvão Vilas Boas Fonseca
Shirleide Pereira da Silva Cruz
54 A DESCONSIDERAÇÃO DAS TEORIAS PEDAGÓGICO-DIDÁTI-
CAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 888
Fernando Alves Viali Filho
55 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A PERSPECTIVA TRANSDISCI-
PLINAR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 904
Marina Carla da Cruz Queiroz
Maria José de Pinho
Wellington Mota de Sousa
Débora Cristiana Alves Soares de Albuquerque
56 TEORIA DESENVOLVIMENTAL: CONTRIBUIÇÕES PARA A FOR-
MAÇÃO DE PROFESSORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 915
Marilene Marzari
Hidelberto de Sousa Ribeiro
Victor Alves Santos
57 EDUCAÇÃO SEXUAL: OFICINA PEDAGÓGICA E FORMAÇÃO DE
PROFESSORES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 934
Hanielly Cristinny Mendes Carvalho
Mayara Lustosa de Oliveira Barbosa
58 SEXUALIDADE, DIVERSIDADE SEXUAL E FORMAÇÃO
DOCENTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 947
Diane Ângela Cunha Custódio
Tereza Cristina Barbo Siqueira
59 APRENDER A SER PROFESSOR PESQUISADOR DURANTE O ESTÁ-
GIO SUPERVISIONADO DA LICENCIATURA EM QUÍMICA. . . . . . 963
Adrielly Aparecida de Oliveira
Rosenilde Nogueira Paniago
60 ESTÁGIO SUPERVISIONADO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
UM OLHAR SOBRE OS FUTUROS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
BÁSICA DO CURSO DE PEDAGOGIA DA FE/UFG. . . . . . . . . . . . . 981
Alyson Fernandes de Oliveira
Bruna Cardoso Cruz
Dalva Eterna Gonçalves Rosa
61 EXPERIÊNCIA EDUCATIVA NO ESTÁGIO DE DOCÊNCIA: A ARTE
E A FRUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES. . . . . . . . . . . . . 999
Renata Machado de Assis
Bruna Vieira Assis
Belarmina Vilela Cruvinel
Isa Mara Colombo Scarlati Domingues
Natalia Assis Carvalho
Camila Alberto Vicente de Oliveira
62 EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS NA PERSPECTIVA FREIRIANA E O
ESTÁGIO SUPERVISIONADO: PRÁTICAS NA ALFABETIZAÇÃO
DE JOVENS E ADULTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1011
Caio Henrique Oliveira e Silva
Romilson Martins Siqueira
63 CONSTRUÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE REFLEXIVA: MEMÓRIAS
DO INÍCIO DA CARREIRA DOCENTE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1028
Maria Goretti Quintiliano Carvalho
Jackellini Silva Sousa Bemfica
64 PRÁTICAS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: O PEDA-
GOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1047
Ana Caroline Martins de Sousa
Helen Ribeiro de Jesus
Maria Eneida da Silva
65 CURRICULARIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE EXTENSÃO UNIVER-
SITÁRIA NA UNCISAL: DILEMAS NA EDUCAÇÃO E COMPROMIS-
SOS PEDAGÓGICOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1066
Andréa Kochhann
66 CURRICULARIZAÇÃO E ACREDITAÇÃO DAS ATIVIDADES
EXTENSIONISTAS COMO UM EXPERIMENTO DIDÁTICO-FOR-
MATIVO: DILEMAS NA EDUCAÇÃO, COMPROMISSOS POLÍTI-
COS E PEDAGÓGICOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1085
Andréa Kochhann
67 A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: OFICINA SOBRE O PROCESSO
SELETIVO PARA A PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU . . . . . . . . 1101
Dayse Kelly Barreiros de Oliveira
Nathalia Barros Ramos
Priscila Bastos Braga dos Santos
Shirleide Pereira da Silva Cruz
Solange Cardoso
68 A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIAENQUANTO PRÁTICA DE ENSINO. 1114
Bianca Resende Monteiro
Emanoela Galvão Vilas Boas Fonseca
Júlia Verdade Costa
Ana Sheila Fernandes Costa
Érica Nayara Paulino Melo
69 É PELA VIA DA LINGUAGEM QUE EU HEI DE EXPRESSAR
O QUE EXISTE EM MIM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1130
Juliana Barroso de Araújo
Geovanna Bernardes Sousa
Thayane da Silva Santos
70 A PRÁTICA DOCENTE TRANSDISCIPLINAR: AS TECNOLOGIAS
NA REALIDADE DO CURSO FORM-AÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1139
Vinícius Fagundes dos Santos
Andréa Kochhann Machado de Moraes
71 A TRANSDISCIPLINARIDADE COMO RESULTADO DE MÉTODOS
CRIATIVOS TECNOLÓGICOS NA PRÁTICA DOCENTE. . . . . . . . . 1153
Vinícius Fagundes dos Santos
72 A DIDÁTICA NA PERSPECTIVA MONTESSORIANA E A EDUCA-
ÇÃO INFANTIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1164
Solange Martins Oliveira Magalhães
73 IMPLICAÇÕES DA FORMAÇÃO DE CONCEITOS CIENTÍFICOS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
PEQUENA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1179
Luciene Batista
Denise Silva Araújo
Helvécio Goulart Malta de Sá
74 REFLEXÕES MEDIANTE INTERDISCIPLINARIDADE NA FOR-
MAÇÃO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE
CERTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1191
Daniela Amélia de Moura
Elziline Maria Lopes de Souza
Marina Carla da Cruz Queiroz
75 A FORMAÇÃO CONTINUADA DE COORDENADORES PEDAGÓ-
GICOS: UM ESTUDO SOBRE O TEMA DA ALFABETIZAÇÃO. . . . . 1203
Odiliana Ribeiro de Souza
Rafaela Segatti Lopes
76 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES
ALFABETIZADORES PARA MELHOR EMBASAMENTO TEÓRICO
SOBRE SUA PRÁTICA: UM ESTUDO DE CASO . . . . . . . . . . . . . . . . 1218
Kellem Cristina Pires dos Santos Oliveira
Taynara Maria Mendonça de Souza
77 PRÁTICAS DE ENSINO PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A
INDISSOCIABILIDADE PESQUISA-ENSINO-EXTENSÃO . . . . . . . . 1233
Maria Eneida da Silva
78 TECNOLOGIAS NA TRÍADE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO DO
INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1248
Quéren dos Passos Freire Arbex
Cláudia Helena dos Santos Araújo
Cleomar de Sousa Rocha
79 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA OFERTA DE DISCIPLINAS
SEMIPRESENCIAIS EM CURSOS SUPERIORES PRESENCIAIS. . . . 1270
Nayane Peixoto Soares
Wanessa Siqueira Costa de Lima
Gislene Lisboa de Oliveira
Vanessa de Souza Vieira
Valéria Soares de Lima
80 ENSINO DESENVOLVIMENTAL E A FORMAÇÃO DE CONCEITOS
MATEMÁTICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I. . . . . . . . . . . . . . . 1288
Elzilene Maria Lopes de Souza
Daniela Amelia de Moura
81 HISTÓRIA EM QUADRINHOS (HQ): UMA PRÁTICA DE ENSINO
QUE DESENVOLVE LEITORES E TRANSFORMA ATITUDE. . . . . . . 1302
Lucinete Ornagui de Oliveira Nakamura
Roberta Moraes Simione
Kênia Paula de Almeida Moraes dos Anjos
José Serafim Bertoloto
Ana Graciela Mendes Fernandes da Fonseca Voltolini
82 A FOTONOVELA NO ENSINO DE QUÍMICA: UMA PROPOSTA DE
PROJETO DE TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1316
Pedro Henrique Soares Cardoso
Sônia Júlia Oliveira de Souza
Mônica Mitchell de Morais Braga
83 UMA PROPOSTA DE INCLUSÃO: ESPORTE ADAPTADO NA
ESCOLA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1330
Tatiane Pereira de Oliveira
Gigliane Cristine Queiroz
Cleber Cezar da Silva
Lidiene Policena dos Santos
84 PROPOSTA PEDAGÓGICA DA CARTILHA CAMINHO SUAVE. . . . 1342
Jordana Kends Dias Santos
Raquel Vieira de Andrade Rezende
Eliane Gonçalves Costa Anderi
85 REFLETINDO SOBRE O USO DE ESTRATÉGIAS METACOGNITI-
VAS COMO FERRAMENTA DIDÁTICA PARA O PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1355
Luciana Lima de Albuquerque da Veiga
Mauricio Abreu Pinto Peixoto
Márcia Regina de Assis
Cesar Xavier da Silva
Katy Conceição Cataldo Muniz Domingues
86 O USO DE LABORATÓRIOS DE INFORMÁTICA: INFLUÊNCIAS NO
DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS NAS
ESCOLAS PÚBLICAS DE GOIANÉSIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1373
Kariele de Sousa Silva
87 ANÍSIO TEIXEIRA: O EMPREENDEDOR DA ESCOLA PÚBLICA
BRASILEIRA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1386
Angelo Marcos de Souza
Edna Lemes Martins Pereira
Maria Luiza Gomes Vasconcelos
88 OS CLÁSSICOS DA MODERNIDADE APLICADOS À EDUCAÇÃO
E A RELEVÂNCIA DAS TEORIAS DE KARL MARX E DE PIERRE
BOURDIEU NA CONTEMPORANEIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1405
Lara Célia dos Reis Lima
Márcia de Carvalho Santos
Wanessa Cristina Lacerda Landó
89 HERBART E DAVYDOV: DISTINTAS COMPREENSÕES ACERCA
DO PAPEL DO ESTUDANTE NO PRÓPRIO PROCESSO DE APREN-
DIZAGEM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1418
Carmes Ana da Rosa Batistella
Raquel A. Marra da Madeira Freitas
90 FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE EM MEIO AS POLÍTICAS
NEOLIBERAIS: UM DESENCANTO COM A PROFISSÃO. . . . . . . . . 1436
Gilmara Barbosa de Jesus
Yara Fonseca de Oliveira e Silva
Veronise Francisca dos Santos Lima
91 AVALIAÇÃO, TRABALHO PEDAGÓGICO NA ORGANIZAÇÃO
ESCOLAR EM CICLOS: UMA ANÁLISE DAS TESES E DISSERTA-
ÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1449
Gilcéia Leite dos Santos Fontenele
92 CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS E EPISTEMOLOGIA DA PRÁXIS
NO TRABALHO DOCENTE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1465
Luana Rosa de Araújo Silva
Rodrigo Soares Guimarães Rodrigues
93 PERSPECTIVAS DA AÇÃO DOCENTE NA (RE)CONSTRUÇÃO DO
CURRÍCULO DA AUSÊNCIA À AUTONOMIA . . . . . . . . . . . . . . . . . 1479
Christina Vargas Miranda e Carvalho
Henrique de Paula Rezende
Hélder Eterno da Silveira
94 ASPECTOS HISTÓRICOS, JURÍDICOS E EDUCACIONAIS DAS
FUNDAÇÕES DE APOIO NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASI-
LEIRAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1497
Alex do Carmo Aziz Assis
Aline Mota de Mesquita Assis
Unidade V
DIÁLOGOS ABERTOS SOBRE A EDUCAÇÃO BÁSICA
95 TRABALHO, EDUCAÇÃO E A TEORIA DO CAPITAL HUMANO NAS
POLÍTICAS PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
NO BRASIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1511
Kamylla Pereira Borges
Reynaldo Zorzi Neto
96 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA AS TECNOLOGIAS:
MODERNIDADE OU PRECARIZAÇÃO?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1528
Luiz Carlos de Paiva
Cláudia Helena dos Santos Araújo
97 TECNOLOGIA E TRABALHO DOCENTE: AS CONCEPÇÕES PRE-
SENTES EM DOCUMENTOS DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS. 1543
João Pedro de Brito Tomé
Marcos Antonio Alves Filho
Rafaella Castro Vieira
98 A (ANTI)PEDAGOGIA DE POLÍCIA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A
MILITARIZAÇÃO DAS ESCOLAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1556
Glauco Roberto Gonçalves
99 O USO DE AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM NA EDUCA-
ÇÃO BÁSICA: A EXPERIÊNCIA DE UM INSTITUTO FEDERAL. . . . 1568
Natalia Carvalhaes de Oliveira
Valéria Alves de Lima
Múria Carrijo Viana Alves da Silva
Ruth Aparecida Viana da Silva
100 A GESTÃO ESCOLAR COMO UM SISTEMA DE ATIVIDADES. . . . 1588
Rafael Castro Rabelo
101 SENTIDOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA O DOCENTE:
O PACTO NACIONAL PELO FORTALECIMENTO DO ENSINO
MÉDIO/PNEM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1607
Alessandra Batista de Oliveira
102 SOCIABILIDADE, SABERES E PROJETOS DE INCLUSÃO NA CON-
JUNTURA DO COLÉGIO ESTADUAL DA POLÍCIA MILITAR EM RIO
VERDE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1624
José Reinaldo de Araújo Quinteiro
Rosimeire Soares da Silva
103 A EDUCAÇÃO DO CAMPO E O DESENVOLVIMENTO TERRITO-
RIAL RURAL: UMA ALTERNATIVA EM CONSTRUÇÃO. . . . . . . . . . 1642
Ângelo Rodrigues de Carvalho
104 PRODUTO EDUCACIONAL SOBRE LEITURA SEGUNDO A CON-
CEPÇÃO FUNCIONALISTA DE LINGUAGEM. . . . . . . . . . . . . . . . . 1654
Ângela Rafael de Sousa Silva
Elisandra Filetti Moura
105 A TERTÚLIA LITERÁRIA DIALÓGICA COM CRIANÇAS E ADUL-
TOS E A PRÁTICA DOCENTE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1666
Janete Lopes da Silva Araújo
Susanna Vigário Pôrto Assis Fernandes
Vanessa Gabassa
106 A LINGUAGEM ESCRITA NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CUL-
TURAL: CONTRIBUIÇÕES DE VYGOTSKY E LURIA . . . . . . . . . . . . 1681
Ana Rogéria de Aguiar
Ivone Garcia Barbosa
107 EDUCAÇÃO “NO” OU “DO” CAMPO: REFLEXÕES A PARTIR DE
ESTUDO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1692
Carlos Antônio Rocha
Maria Cristina das Graças Dutra Mesquita
108 A APRENDIZAGEM POR MEIO DAS INTERAÇÕES E BRINCADEI-
RAS NO CONTEXTO DA BNCC NO CEI PRESBITERIANA CEN-
TRAL RENOVADA DA CIDADE DE ANÁPOLIS/GOIÁS. . . . . . . . . . 1708
Sarah Honório da Luz
109 EDUCAÇÃO INFANTIL: DEBATES E ATUALIDADES. . . . . . . . . . . . 1719
Poliana Carvalho Martins
Sônia Santana Costa
110 O CICLO DE VIDA PROFISSIONAL DO PROFESSOR ALFABETIZA-
DOR: UMA ANÁLISE DO ESTADO DO CONHECIMENTO . . . . . . . 1737
Viviane Carrijo Volnei Pereira
111 SIGNIFICADOS E SENTIDOS DO TRABALHO DOCENTE PARA
PROFESSORES INICIANTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL: SINGU-
LARIDADE E DEFINIBILIDADES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1754
Rosiris Pereira de Souza
112 A NECESSIDADE DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSO-
RES PARA ATUAR NA PRIMEIRA FASE DO ENSINO FUNDAMEN-
TAL: UM ESTUDO DE CASO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1769
Luiz Marles G. dos Santos
113 UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE O PROTAGONISMO DOCENTE
NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1788
Eriene Macêdo de Moraes
Vânia Maria de Araújo Passos
114 CONDIÇÕES DO TRABALHO DOCENTE NOS ANOS INICIAIS:
DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO NO ESPAÇO –
TEMPO DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA. . . . . . . . . . . . . . . . . 1799
Danyela Martins Medeiros
115 DOCÊNCIA MASCULINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL, A CONS-
TRUÇÃO DE SUA PROFISSIONALIDADE E OS ASPECTOS RELA-
CIONAIS/PEDAGÓGICOS DA AÇÃO DOCENTE. . . . . . . . . . . . . . 1813
Fernando Santos Sousa
116 EDUCAÇÃO E A MILITARIZAÇÃO DO ENSINO: ALGUMAS REFLE-
XÕES SOBRE O VALOR SOCIAL DA EDUCAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . 1828
Karla Vitoriano e Silva Almeida
Aldimar Jacinto Duarte
José Carlos Libâneo
117 A ‘MALVADEZ NEOLIBERAL’ NA EDUCAÇÃO: UM BREVE CON-
TRAPONTO COM A PEDAGOGIA EMANCIPADORA DE PAULO
FREIRE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1843
Fernanda Gomes Coelho Junqueira
118 FINALIDADES EDUCATIVAS E AÇÕES CULTURAIS SOB A PERS-
PECTIVA CONSERVADORA RELIGIOSA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1863
Edmar Moreira Alves
119 QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NO ÂMBITO DO PISA. . . . . . . . . . . 1877
Ana Luisa Rocha Castro
Gina Glaydes Guimarães de Faria
120 EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: UMA DISCUSSÃO
NECESSÁRIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1893
Rone Rosa Martins
Evandson Paiva Ferreira
121 SUPERDOTAÇÃO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES . . . . . . . . . . . . . 1905
Carla Eugênia Lêla
Ivani Dolores dos Santos
Meire Luiza de Castro
Vitória Cristina Sandri Rodrigues
122 O PAPEL DO NAAH/S NA ORIENTAÇÃO ÀS FAMILIAS DA
CRIANÇA COM INDÍCIOS DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDO-
TAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1922
Carla Eugênia Lêla
Ivani Dolores dos Santos
Meire Luiza de Castro
123 O CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA E GEOGRA-
FIA DA INFÂNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL . . . . . . . . . . . . . . . . 1934
Maria José Pereira de Oliveira Dias
124 CONTRIBUIÇÕES PARA UMA PERCEPÇÃO CRÍTICA SOBRE PRO-
BLEMAS AMBIENTAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1947
Deusmaura Vieira Leão
Érica Maria Juvêncio Silva
LINGUAGENS
E ARTES
1. A APLICABILIDADE DO ESTUDO
DE CASO ETNOGRÁFICO NO CAMPO
EDUCACIONAL
Reflexões sobre língua e cultura(s) na sala
de aula de língua inglesa
INTRODUÇÃO
Entre os meses de março e abril de 2012, desenvolvi uma pesquisa que buscava
investigar os significados culturais construídos por alunos durante o processo de leitura
e discussão de contos em língua inglesa. Tal estudo foi desenvolvido de forma semi-pre-
sencial, com o auxílio da plataforma Moodle, com um grupo de dez alunos do ensino
médio de uma escola pública da cidade de Goiânia e contou com os seguintes instrumen-
tos de investigação: questionário, para traçar o perfil dos participantes, interesse e
conhecimento de textos literários em língua inglesa; diário de campo, para documentar
as aulas, a participação dos alunos e a evolução da pesquisa; registro das interações vir-
tuais, que contempla tudo que foi feito pelos alunos na plataforma Moodle – atividades,
chats, discussões, contribuições; e, entrevista, para verificar a opinião dos alunos quanto
a viabilidade (ou não) de se utilizar contos em língua inglesa para averiguar aspectos cul-
turais e a percepção deles quanto ao uso da ferramenta Moodle.
Quando a referida pesquisa ainda estava em fase de delineamento, ou seja, quando
ainda me encontrava redigindo o projeto de pesquisa, que era um dos requisitos para a
aprovação no processo de seleção de mestrado, fui acometida por alguns questionamen-
tos: 1) Seria esta pesquisa um estudo de caso? 2) Como tinha por intuito analisar os
1 Doutoranda em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás / Professora de Língua Inglesa no Centro
de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE/UFG). E-mail: layssagabriela@hotmail.com
[ 26 ]
A aplicabilidade do estudo de caso etnográfico no campo educacional 27
padrões culturais de um determinado grupo, não seria esta uma pesquisa etnográfica?
Tais questionamentos estiveram presentes até mesmo na última fase do processo sele-
tivo para ingresso no curso de mestrado, a entrevista oral, pois prevaleceram posiciona-
mentos distintos por parte dos integrantes da banca.
Após ser aprovada no processo seletivo e na ânsia por saber justificar a metodolo-
gia que seria utilizada no trabalho, me inscrevi em duas disciplinas que foram fundamen-
tais para o esclarecimento de tal questão. A primeira delas, Seminário de Pesquisa sobre
Práticas Etnográficas, e a segunda, Etnografia da Comunicação. Com as leituras e discus-
sões que nos foram exigidos para o cumprimento dessas disciplinas, pude verificar que
minha pesquisa se enquadrava dentro do escopo da pesquisa qualitativa e se tratava de
um estudo de caso etnográfico (ANDRÉ, 2008).
Segundo Lüdke e André (1986, p. 17, grifo no original), o estudo de caso é “o estudo
de um caso, seja ele simples e específico, como o de uma professora competente, ou
complexo e abstrato, como o das classes de alfabetização”.
Lüdke e André (1986, p. 18-20) postulam sete características comumente associa-
das ao estudo de caso que se superpõem às características gerais da pesquisa qualitativa.
Segundo as autoras, os estudos de caso: 1) visam à descoberta, isso porque, durante o
coleta de dados essencial ao etnógrafo (JOHNSON, 1992). Além disso, segundo Spindler
e Spindler (1992), a observação etnográfica deve ser prolongada e repetitiva. Já quando
tal técnica é utilizada na sala de aula, acredita-se que o pesquisador deve observar o seu
contexto de pesquisa até que uma unidade de atuação se complete, ou seja, “um bimes-
tre, um semestre, um ano escolar” (REES, 2008, p. 261).
Rees (2008) evidencia a relação do familiar e do estranho na pesquisa etnográfica.
Segundo a autora, como o propósito dos estudos etnográficos inicialmente se enqua-
drava nos estudos de povos de países distantes, “o etnógrafo buscava tornar o estranho
familiar, isto é, buscava compreender o sistema cultural do outro que, no caso daquela
época, era de culturas não ocidentais” (REES, 2008, p. 262-263). No entanto, a partir do
momento em que os etnógrafos começaram a estudar culturas nos seus próprios países,
eles procuraram tornar estranho o que era, até então, familiar e conhecido. Assim, é pos-
sível que um professor investigue sua própria sala de aula e, para isso, ele deve buscar
meios para fazer com que o que lhe seja familiar, até então, passe a ser estranho.
Erickson (1984) assevera que um modo apropriado para fazer com que o familiar se
torne estranho é através de questionamentos. Para o autor, o etnógrafo deve sempre
buscar, quando em campo, questionar por que as coisas são do modo como são e não
diferentes. Erickson recomenda ao etnógrafo que busca pesquisar sua própria sociedade
a ficar atento às singularidades e arbitrariedades dos comportamentos comuns, compor-
tamentos esses que tendem a passar despercebidos pelo pesquisador como membro
daquela comunidade.
Yon (2003), em Highlights and overview of the history of educational ethnography,
apresenta o modo como se deu a implementação e desenvolvimento dos estudos de
etnografia educacional. O autor divide tal história em quatro fases/períodos: 1) anos de
formação; 2) época de consolidação do campo; 3) estruturalismo e marxismo; 4) multivo-
cais e as mudanças no significado de cultura.
Nos anos de formação, compreendidos entre 1925 e 1954, o etnógrafo desempe-
nhava o papel de observador objetivo e imparcial. Após 1949, a etnografia educacional
passou aos poucos a lutar pelos direitos e interesses dos grupos marginalizados, e a cul-
tura era compreendida como “mudando dinamicamente no processo de transmissão”
(YON, 2003, p. 413-414). Afirma-se que uma mudança em direção à abordagem antropo-
lógica informada pela responsabilidade social dos pesquisadores e as implicações éticas
da pesquisa foram significativas para as direções subsequentes da etnografia educacio-
nal na década de 1960.
Os anos 1960 são considerados por Yon (2003) como o período de consolidação do
campo na América do Norte. O estabelecimento do Council of Education’s Newsletter
que, em 1970, passou a chamar-se Education Quarterly Journal, contribuiu para esse pro-
cesso. O etnógrafo, que antes era observador objetivo, passa a assumir o papel de obser-
vador participante. Nos anos 1970, período associado por Yon (2003) ao estruturalismo e
ao marxismo, os estudos etnográficos deram enfoque aos diferentes significados sociais,
tais como sexo, raça, classe e etnia.
Os anos 1980 e 1990 são considerados, por sua vez, como multivocais e de
mudança no conceito de cultura, isso porque, com o progresso da década de 1980, “as
influências teóricas e as ferramentas conceituais disponíveis para a escrita etnográfica
multiplicaram-se” (YON, 2003, p. 421). E foi nesse contexto de competições teóricas e
intertextuais “que o método etnográfico em etnografia educacional se tornou mais
autorreflexivo, reconhecendo os fatores subjetivos que moldam todas as partes envol-
vidas na produção de um texto” (YON, 2003, p. 424). Cabe ressaltar que o conceito de
formação identitária deixou de ser visto como algo estático e fechado e passou a ser
reconhecido como dinâmico e relativo.
Johnson (1992, p. 145) assevera que a etnografia “pode auxiliar os educadores a
compreender e a valorizar as tradições culturais dos seus alunos” e permite ainda que os
docentes auxiliem seus alunos a desenvolver uma perspectiva intercultural. Rees (2008,
p. 266), por sua vez, conclui que a etnografia “pode ajudar a esclarecer as diferentes
expectativas culturais que existem em relação ao papel do professor e do aluno, bem
como à correção e às atividades de sala de aula”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Uma das perguntas do questionário buscava averiguar qual é o conceito que os alu-
nos apresentam para o termo cultura. Como o curso de extensão era intitulado “Cultura
e contos em língua inglesa”, acreditou-se que descobrir a concepção que os alunos
tinham do termo em questão era de suma importância. Quando incitados a buscar uma
definição para cultura, os alunos afirmaram:
Nota-se na fala dos participantes que foram utilizados adjetivos qualificadores para
se referir ao povo brasileiro, e tais adjetivos tendem a contribuir para a criação/reafirma-
ção de uma imagem positiva. No entanto, é sabido que os adjetivos utilizados para qua-
lificar o povo brasileiro se enquadram no nível dos estereótipos. Os estereótipos, segundo
Kramsch (1998), são manifestações insensíveis que rotulam ou generalizam determinado
grupo sem levar em consideração as particularidades de cada indivíduo e, por isso, afe-
tam tanto os que deles fazem uso quanto aqueles que são caracterizados por tais pre-
conceitos. É possível perceber ainda nesse domínio cultural que o Brasil é visto pelos
alunos participantes como uma entidade homogênea, sem variedade, uma vez que, para
eles, todo brasileiro pode ser caracterizado como feliz, prestativo e receptivo.
O segundo domínio cultural encontrado no excerto 6 demonstra a tentativa por parte
dos alunos participantes de encontrar elementos que constituem a cultura brasileira:
Para Sagnier, a cultura brasileira pode ser resumida a samba, carnaval e futebol.
Essa simplificação da cultura brasileira se dá porque a aluna possui a crença de que o
Cultura
* Faz parte da memória coletiva
* É propagada através das gerações
Os dados revelaram que o chat foi além do objetivo inicial, servindo como um
espaço de discussão e reflexão sobre a cultura dos alunos (C1) e a cultura do outro (C2),
no caso referido, a cultura em língua inglesa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
então, apresentar um recorte desta, o qual deu-se ênfase ao conceito atribuído, por alunos
do ensino médio de uma escola pública da cidade de Goiânia, ao termo cultura.
Inicialmente percebeu-se que os alunos apresentaram certa dificuldade para defi-
nirem o termo cultura, e foi então que a professora pesquisadora, embasada em pressu-
postos teóricos, partiu do que lhes era mais familiar, no caso a cultura brasileira e goiana,
para posteriormente discutirem sobre a cultura inglesa.
Verificou-se nos excertos que as discussões foram fundamentais para que os alu-
nos passassem a refletir sobre o caráter heterogêneo da língua, além de lhes auxiliar na
desconstrução de certos estereótipos relacionados a língua e cultura inglesa. Por isto,
acredita-se que tal estudo é de grande valia aos professores pesquisadores de línguas
estrangeiras que buscam adotar em suas aulas uma abordagem de ensino intercultural,
possibilitando aos seus alunos momentos de reflexão sobre sua própria língua/cultura e
também sobre a língua/cultura-adicional.
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INTRODUÇÃO
Pensar a relação da escola com a literatura envolve uma discussão permeada por
tensões. De um lado problematiza-se o risco da escola instrumentalizar a literatura
(BURGARELLI, 2011). Do outro, destaca-se a importância da literatura e seu potencial for-
mador no contexto escolar (DUARTE, 2012). A seguir discorreremos de forma breve
acerca das peculiaridades de cada um desses campos, para então, discutir a possibilidade
de articulação entre eles.
A escola é uma parte da totalidade social, sempre em movimento, e é nessa totali-
dade em que ela se depara com realidades mais amplas, que a tornam prenhe de sen-
tido, de razão de ser (LIBÂNEO, 2002). A relação de professores e estudantes com a
cultura, com o pensamento, com o saber em um movimento de criação e recriação, jus-
tifica e dá sentido à escola e aos processos de formação que ali se realizam.
No entanto, temos visto em muitos casos, as instituições escolares contribuírem para
a sustentação de projetos de formação, cuja função é manter uma normatividade na socie-
dade, seguindo uma lógica de instrumentalização, os sujeitos são privados de uma educa-
ção que efetivamente busca no sentido da formação humana “intervir nas nervuras do
tecido social, atuar nos sentidos profundos da existência” (PESSOA, 2016, p. 23).
1 Pedagoga e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás.
[ 43 ]
44 Ariane Pereira Magalhães de Oliveira
Compreender o que é literatura é uma tarefa ampla e complexa. Das muitas tenta-
tivas de definir literatura percebemos concepções restritas, como por exemplo os que a
concebem como “escrita imaginativa”, stricto sensu, referem-se à ficção em sentido res-
trito. Há também os que a concebem em suas diversas nuances, como campo que assume
múltiplos saberes.
Eagleton (2006 ), diante do desafio de teorizar sobre literatura defende que talvez
a mesma “seja definível não pelo fato de ser ficcional ou ‘imaginativa’, mas porque
emprega a linguagem de forma peculiar”. Segundo ele, a literatura transforma e intensi-
fica a linguagem comum (EAGLETON, 2006, p. 3). Diante do que postula o autor, depreen-
de-se que a literatura é uma narrativa que possibilita vivenciar experiências, de forma
mais íntima e mais intensa. Daí surge a possibilidade de capturar os sujeitos em suas tota-
lidades, pelo intelecto, mas também pelo simbólico.
Partilhando ainda dos estudos de Eagleton (2006) pode-se destacar que a litera-
tura tem como característica o “não pragmatismo”, significa dizer que ela não tem
nenhuma finalidade imediata, utilitária. Segue dessa característica a compreensão de
que a definição de literatura depende da maneira como alguém resolve ler, e não da
natureza daquilo que é lido, já que a literatura não pode ser definida objetivamente
(EAGLETON, 2006, p. 12).
O que o autor assinala anteriormente chama à baila a apropriação que é feita pelo
leitor da obra literária. Nas palavras de Eagleton “não há releitura de uma obra que não
seja também reescritura” (EAGLETON, 2006, p. 19). Sendo assim, a avaliação de uma
obra em determinada época não pode simplesmente ser estendida a novos grupos
sociais sem que, nesse processo, ocorram modificações, perceptíveis ou não.
Outra importante concepção acerca da literatura pode ser encontrada no discurso
de Roland Barthes ao ingressar no Colégio de França em 1977. O referido autor, entendia
por literatura o “grafo complexo da prática de escrever” (p. 16), porém queremos ressal-
tar sua notável atribuição à literatura como “trapaça”. Uma trapaça salutar que pressu-
põe um deslocamento sobre a língua, ou seja, dizer muito mais do que a língua permite
dizer, trata-se de “trapacear com a língua, trapacear a língua”:
Mas a nós, que não somos nem cavaleiros da fé nem super-homens, só resta,
por assim dizer, trapacear com a língua, trapacear a língua. Essa trapaça salu-
tar essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do
poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu chamo,
quanto a mim: literatura. (Barthes, 2009, p. 16).
Para Barthes (2009) as “forças de liberdade” que residem na literatura não residem
no autor, nem no conteúdo doutrinal da obra, mas no deslocamento que ocorre sobre a
língua. Ele destaca três forças da literatura utilizando três conceitos gregos: Mathesis,
que se refere à literatura como operadora de muitos saberes; Mimesis, por sua potencia-
lidade de representar o real e Semiosis, pela possibilidade de jogar com os signos em vez
de destruí-los (BARTHES, 2009, p. 17-18).
A formulação de Pessoa (2016) corrobora essa perspectiva ao destacar a capaci-
dade de insurgência contra a vida que se vive e contra os limites da língua presente na
literatura. Para Pessoa, a “capacidade de fermentar a insurgência está principalmente na
formação do espírito crítico” (PESSOA, 2016, p. 32). Vê-se que há na literatura um poten-
cial de formar o humano, aliado à propagação da inconformidade, sem negligenciar o
conhecimento de si e do outro.
Dito isso, algumas questões vêm à tona: Tendo todo esse potencial formador, pode-
ria a literatura habitar o terreno escolar? Seria a literatura aliada ou inimiga da educação
e de seus processos formativos? Por que a literatura incomoda tanto a escola? Ou seria
melhor perguntar, a quem a literatura incomoda quando adentra à escola? A partir des-
ses questionamentos nos convém esclarecer que o objetivo desse estudo é discutir a
possibilidade de se vivenciar a educação articulada à arte e seu potencial de formação
humana, com vistas à sensibilidade, imaginação, reflexão, criatividade. Mais especifica-
mente, nosso empenho está em pensar a escola em imbricação com a leitura literária.
Recortamos nossa abordagem colocando em foco a relação da escola com a literatura.
METODOLOGIA
Do que o autor expõe até aqui, pode-se compreender que pensar, questionar, criar
e recriar, inventar e reinventar, ganha sentido na articulação entre educação, cultura e
formação. Vai além da mera comunicação e expressão de ideias e conhecimentos, é a
possibilidade de por em tela o real e o imaginário por meio de várias linguagens.
Ainda com base nas contribuições de Coêlho (2009), encontra-se a problematiza-
ção a respeito do real papel da escola. Ele salienta que muitas vezes perdemos a dimen-
são da experiência, da vivência, da criação, da ação que se pensa e da possibilidade de
superação daquilo que nos limita, nos empobrece nas esferas cultural, pessoal e humana.
Nesse sentido, o autor afirma que a razão de ser da escola não é transmitir o “saber
reduzido a conteúdo”, não é a mera instrumentalização de crianças, jovens e adultos, ao
com os textos literários. Conforme a autora, essa relação adequada pode ocorrer quando
a literatura e suas propriedades são respeitadas na escola, quando se leva em considera-
ção a diferença do texto literário em relação ao texto didático.
Bem, se a escola e a literatura se configuram como campos extremamente distin-
tos, vale aqui retomar a questão salientada por Burgarelli (2011) : “Será possível, então,
que campos tão diferenciados estabeleçam um diálogo?” (p. 93). Com o avanço das ela-
borações de Burgarelli (2011), nota-se que sua proposta é de que nossos projetos educa-
cionais se impliquem com a arte, e que nossas escolas se impliquem com a literatura.
Mas o que se pode depreender do uso do termo implicação, do verbo implicar, quando
se pretende pensar a relação entre escola e literatura?
As justificativas do próprio autor nos levam a considerar que esse implicar-se, refe-
re-se ao envolvimento com a literatura em detrimento do uso da literatura para fins
pragmáticos, o autor esclarece que
O termo implicação parece sustentar o paradoxo dessa relação, pois ele sina-
liza tanto para o abalamento das próprias estruturas do campo que resolve
implicar-se quanto para a especificidade da natureza e da função de tal
campo. Implicar-se é continuar sendo o mesmo e, ao mesmo tempo, ir-se
mudando porque seus gestos e seus atos o ultrapassam. Quando defende-
mos, portanto, a implicação da escola com a literatura, estamos pensando na
possibilidade de o cotidiano escolar deixar-se afetar pela dimensão da litera-
tura. No nosso entender, isso vai bem além de uma escolarização da litera-
tura, ou então de uma adequação da literatura à escola, pois a literatura não
se reduz para cumprir uma função imediata; ao contrário, ela comparece em
sua própria função de literatura, revelando nossas impossibilidades, e ao
mesmo tempo, levando–nos a existir também num outro mundo, ou seja, ela
nos divide (BURGARELLI, 2011, p. 93).
Burgarelli (2011) sinaliza que ao implicar-se com a literatura, a escola pode aba-
lar-se, transformar-se em meio a um movimento que pode também abalar as próprias
estruturas do campo literário. Ainda segundo o referido autor, a literatura passa a inco-
modar a escola. Para ele, “a literatura mais interroga a escola do que a ratifica”
(BURGARELLI, 2011, p. 94).
Outro destaque, que também se mostra como diferencial no que teoriza Burgarelli
(2011) é a superação da lógica utilitarista, que muitas vezes assola as propostas de leitura
literária. Com ele apreendemos que “não se trata de pensar o que podemos fazer com a
literatura para que ela nos auxilie em alguma outra atividade, mas sim ao contrário, de
nos inserirmos na literatura e de nos indagarmos, uma vez já inseridos, sobre o que ela
nos faz” (BURGARELLI, 2011, p. 95).
Em um estudo sobre a possibilidade de uma experiência formativa na escola,
tomando por base a leitura literária, Burgarelli e Teófilo (2016, p. 99), interrogam se seria
possível ao professor propor e desenvolver um trabalho com a literatura, que de fato
leve em consideração as consequências dessa prática, como “experiência simbólica, prá-
tica da letra e estética da linguagem”. Os autores lançam mão do conceito de experiência
apreendido dos textos de Valter Benjamim (1994 a; b), e em outra seção, discutem a pos-
sibilidade de se conceber uma proposta de leitura literária na escola como uma experiên-
cia simbólico-estética.
Burgarelli e Teófilo (2016), situam suas questões sobre a literatura na escola direta-
mente relacionadas às discussões em torno da linguagem. A articulação feita por eles
entre leitura e experiência, pressupõe que experiência em Benjamim (1994b) refere-se a
uma experiência de linguagem, correlata a uma experiência histórica. Os autores, ainda
fundamentados em Benjamim, consideram que nossa “constituição subjetiva conta com
condições enredadas pela história e pela linguagem, que são encadeamentos simbólicos
que nos antecedem”. Decorre disso, o entendimento dos autores de que “a literatura
pode ser considerada como o mais rico desses encadeamentos, o mais aberto e o mais
formativo” (BURGARELLI; TEÓFILO, 2016, p. 109).
Os referidos autores retomam a discussão sobre a tensão existente entre literatura
e escola, porém, antes apresentam algumas formas pelas quais a literatura é inserida nas
escolas e na sociedade. Dizendo de forma sucinta, o que os autores destacam é o lamen-
tável uso da literatura como pretexto para se alimentar a relação de produção capitalista
em torno do livro produzido em larga escala, que como qualquer outro produto do capi-
tal precisava ser consumido. Tão lastimável quanto essa abordagem, foi a inserção da
literatura como instrumento para disseminação de uma ideologia, para doutrinação do
pensamento, para moralização.
Burgarelli e Teófilo (2016) chamam a atenção para o risco de que a escola atue
como disseminadora de obras da indústria livresca, alertam para o fato de que a litera-
tura no espaço escolar pode ser tratada apenas como um recurso pedagógico, exercendo
uma função utilitária, mas salientam também, que “por outro lado, mesmo quando utili-
zada para fins pré-definidos, ela pode escapulir para outros rumos e convocar imprevisi-
bilidades” (BURGARELLI; TEÓFILO, 2016, p. 118).
Na citação acima foi posto em tela que, mesmo diante de uma sociedade regida
pela lógica do capital, as objetivações artísticas, científicas e filosóficas podem contribuir
para mudanças de visão de mundo, para mover “consciências para além do imediatismo
da vida cotidiana alienada”(Idem). Assim, pode-se compreender que a arte tem sua fun-
ção social relacionada ao desenvolvimento do gênero humano e do indivíduo (DUARTE,
et al., 2012).
Ao tratar mais diretamente da relação entre literatura e escola, os autores põem
em voga o papel do professor, afirmam que o professor só irá interferir negativamente
nos efeitos da obra literária, quando o ensino for mal sucedido, “mas não como uma con-
sequência inevitável de uma interferência indesejável, num processo que, por natureza
devesse ocorrer sem nenhum tipo de mediação educativa” (DUARTE, et al., p. 43).
Fica claro no referido trabalho, a concepção de que a apropriação da cultura sem-
pre configura-se como um processo educativo. Para esses autores o contato entre o indi-
víduo e o bem cultural estará sempre inserido em uma trama de relações sociais, que
sofrerá as interferências das relações entre o indivíduo que se apropria do objeto cultural
e outros indivíduos. “O que diferencia a mediação escolar é que se trata de uma interfe-
rência deliberada e sistematicamente direcionada para o objetivo de fazer com que essa
apropriação dos bens culturais exerça um influxo positivo sobre o desenvolvimento do
indivíduo” (DUARTE, et al., p. 44).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise das contribuições dos autores citados nesse artigo com relação à escola
em imbricação com a literatura, denotam posições epistemológicas que se aproximam
em determinados pontos, mas que divergem em outros. Coelho (2009) fundamenta
que escola, cultura e formação, estão intrinsecamente vinculadas, uma depende da
existência da outra, nesse aspecto o autor se aproxima das formulações de Duarte
(2012). Já Burgarelli apesar de apresentar a defesa da implicação da escola com a lite-
ratura, interroga se de fato essa relação é possível devido às suas diferenças quanto à
natureza e finalidades.
Bem, como foi exposto anteriormente, consideramos que o potencial humanizador
de qualquer instância formativa só se efetivará longe do regimento da lógica do capital,
portanto, quanto maior for a influência do capital, mais deformações se consolidarão.
Contudo, se pretendemos uma formação que demanda criticidade, sensibilidade, solida-
riedade capacidade de reflexão, temos que admitir a influência e os efeitos formativos
das artes, da ciência, da filosofia, da educação em uma radicalidade que contribua para
transformações sociais, para a mudança de visão de mundo.
REFERÊNCIAS
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17-42.
INTRODUÇÃO
1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Artes da Cena – UFG, Pedagoga – UEG, Especialista em Psicope-
dagogia – UEG, Especialista em Arte-Educação Intermidiática Digital – UFG, Professora na Secretaria Municipal
de Educação de Luziânia-GO. cissa24@gmail.com
2 Da autora goiana Daniela de Brito. Composição da música Heverton Batista, interpretação Maria Cecília Silva de
Amorim, 2018. Disponível em: https://youtu.be/hsgggU8jf3I.
[ 55 ]
56 Maria Cecília Silva de Amorim
da Universidade Federal de Goiás (UFG). O esforço teórico iniciado em agsto de 2019 por
meio de uma pesquisa acadêmico-científica levanta e analisa formas de criar proposi-
ções arte-educativas nas alças da Cena, revelando a escola como lugar de contar e ence-
nar histórias como o protagonismo do aluno.
A contação de histórias acontece desde os primórdios e a narratividade acompa-
nha as pessoas desde sempre. A exploração de livros, textos e recursos visuais bem como
a utilização das linguagens artísticas como a música, o desenho e o teatro acontecem na
escola, porém, no Ensino Fundamental, com menor intensidade do que na Educação
Infantil. Às vezes, nesta fase escolar, os professores não se consideram lúdicos e se ape-
gam aos conteúdos curriculares deixando de lado o viés lúdico que poderia ser encon-
trado na literatura e perdem a oportunidade de trabalhar os conteúdos do currículo
utilizando bons livros de literatura infantil.
Desde o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), programa
do Ministério da Educação voltado para professores de 1º ao 3º ano do Ensino
Fundamental I, que vigorou por 3 anos, entre 2014 e 2017, trabalhando como orien-
tadora de estudos e conhecendo os livros literários e suas possibilidades de vincula-
ção com o currículo, foi possível planejar e executar um trabalho interdisciplinar no
contexto da arte e da educação.
Assim, apresento recortes do projeto didático de contação de histórias “Tia Cecília
conta” realizado em escolas dada a significação e repercussão que passou a ter no campo
educacional e artístico do município.
3 Também chamado de Sistema Triangular Digital. Teoria desenvolvida na tese da Professora Doutora Fernanda
Pereira Cunha a partir da abordagem triangular no ensino das artes.
livros. Recomenda contar histórias, ler e fazer dessas atividades momentos prazerosos
de encantamento e poética.
A validade do teatro e dos jogos teatrais é discutida por Cavassin (2008). Embora, a
contação de histórias e teatro sejam atividades diferentes, esta possibilidade de hibri-
dismo existe e movimenta leitura, expressão e ensino-aprendizagem na escola. Assim
o teatro pode ser a brecha que se abre na nova perspectiva da ciência e ensi-
no-aprendizagem, pois envolve essencialmente o que o soberanismo da
lógica clássica e do modelo racional excluía; o ilógico, as possibilidades (o vir
a ser), a intuição, a intersubjetivação, a criatividade [...] enfim, elementos
existentes nas relações dessa manifestação artística e que são princípios
para a concepção de Inteligência na Complexidade e vice-versa. (CAVASSIN,
2008, p. 48).
No tópico seguinte pretendo descrever o Projeto “Tia Cecília conta” que em suas edi-
ções combinou as linguagens da arte na intenção de fomentar a arte-educação na escola e
proporcionar momentos lúdicos de aprendizagem por meio de atividades pedagógicas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Imagem III –Faniquito e siricutico no mosquito Imagem IV – Contações no canal Cissa Amorim
– Jonas Ribeiro (2000)
O projeto, até o momento, havia cumprido seus objetivos iniciais: ser lúdico, moti-
var alunos e professores a trabalharem aos sábados e despertar a aprendizagem signifi-
cativa. Alçaria voos mais altos para além da escola.
Para alargar os horizontes da contação outros espaços foram sendo vinculados:
feira de livros e livraria, utilizando ainda, oficinas de criatividade orientadas em algumas
tardes de férias. A imagem VI mostra a atividade de contação e oficinas numa livraria da
cidade. A Imagem VII mostra a divulgação de contação de histórias na 34ª Feira do livro
de Brasília, convite aceito por meio de GEFOPI – Grupo de Estudos em Formação de
Professores e Interdisciplinaridade, Projeto de extensão universitária da UEG, do qual
faço parte desde março de 2017.
Foi percebida uma grande receptividade social sobre a contação e seus desenvol-
vimento lúdico, consideramos que as oportunidades externas ao ambiente escolar
fomentaram a ousadia de novas práticas escolares que iriam se formar na nova roupa-
gem do projeto.
O projeto “Tia Cecília conta” ganhou nova abordagem em sua II Edição, a partir de
agosto de 2018 na Escola Laranja5 inaugurada em 2016 com o objetivo de oferecer ensino
em tempo integral. Sua estrutura é diferenciada das demais unidades de ensino e possui
a capacidade de atender até 650 alunos com salas de aula, laboratório de informática,
piscina, quadra, auditório, cantina e biblioteca.
As atividades de contação de histórias foram realizadas principalmente na biblioteca
escolar atendendo a todos os alunos das 19 turmas de 1º ao 5º ano. O momento passou a
ser regido por uma rotina pedagógica constituída de acolhida com música e dança,
momento de contação compartilhado utilizando leitura, narração, improvisação de teatro
e atividades pedagógicas contextualizadas, leitura individual e empréstimo de livros visando
o hábito da leitura e fruição literária. A partir da experimentação das atividades, criou-se
uma rotina de trabalho que sempre levava os alunos a falarem e ouvirem uns aos outros.
Assim, “Dez Sacizinhos”, “Feliz aniversário Lua” e tantos outros livros literários,
escolhidos por seu teor de vinculação com os valores e com os conteúdos curriculares,
foram tomando forma por meio de técnicas de história cantada ou de teatro de sombras,
incluindo as crianças com participação nas performances. O projeto foi levado à aprecia-
ção dos internautas no canal Cissa Amorim no YouTube por meio do link https://youtu.
be/YjJq1jE8LhU e já possui mais de 320 visualizações.
O conteúdo das oficinas de leitura do Projeto foi também vinculado ao Instagram
@tiaceciliaconta o que ampliou as possibilidades de divulgação das contações. Dessa
forma, várias outras unidades escolares passaram a se interessar e convidar para atua-
ções em aberturas e culminâncias de projetos e atividades outras que visavam a expan-
são da literatura na escola por meio de contações de histórias. Passamos a adotar o
conceito de mediação de leitura, uma vez que muitas contações estavam diretamente
vinculadas aos livros e suas imagens. A Imagem VIII mostra atividade na oficina na
biblioteca e a Imagem IX mostra a contação em outras escolas, num total de 5(cinco)
de Ensino Fundamental e Educação Infantil. Os alunos participavam e apreciavam
muito o momento pela sua característica lúdica e dinâmica, bem como os professores
que se divertiam com a história do “Zé do chapéu” conhecida como “Lenda da caveira
falante” que é contada com as devidas expressões corporais e vocais numa narrativa
divertida que ensina a não falar sobre a vida alheia.
O despertar pelas Artes da Cena teve início realmente a partir da 3ª edição do
Projeto em janeiro de 2019. A roupagem da oficina estaria voltada para literatura e tea-
tro. O tempo com cada turma era de apenas uma hora e as atividades deveriam estar
relacionadas a ensaios, cenários e improvisações num jogo teatral cuja base teórica ainda
não havia sido escolhida. O contexto do projeto em sua essência não mudara, porém
eram necessárias técnicas de expressão corporal e memorização dos textos como o story
board. A Imagem X mostra a base arte-educativa do projeto.
Os recursos mais usados na contação de histórias foram caixa de som portátil, pen
drive, músicas, fantoches, palitoches, materiais sonoros, máscaras, chapéus, óculos de
plástico, painel imantado, bonecos de EVA, vídeos do YouTube entre outros de acordo
com a necessidade.
O trabalho foi acrescido de detalhes e as linguagens artísticas se articulavam a
cada nova história desenvolvida em forma de contação. Assim, todo o aprendizado
com o projeto didático me levou a uma nova seara no contexto das Artes da Cena, bus-
cando então, o entendimento de como a arte de contar histórias pode ir além da nar-
ratividade na escola.
Os resultados obtidos têm por base o desenvolvimento do projeto didático sob a
metodologia da oficina e da contação de histórias. Na Escola Azul, foi possível realizar
várias atividades de ensino vinculadas às contações de histórias. Os alunos demonstra-
vam enorme interesse em frequentar as aulas aos sábados e muitos diziam para os pais
que sábado era o melhor dia. O momento era organizado e os alunos e professores se
envolviam nos temas. Na biblioteca da Escola Laranja, por meio da contação de histórias,
da leitura e do teatro aumentou o interesse das crianças por literatura infantil e houve
melhoria considerável na fluência leitora comprovada por avaliações periódicas realiza-
das pela gestão escolar. Os livros passaram a ser emprestados na biblioteca da Escola
Laranja com média semanal de 350 títulos. As contações externas atingiram 5 escolas da
região alcançando mais de 600 alunos. Esses resultados mostram a abrangência do tra-
balho e sua importância na escola de Ensino Fundamental I.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Rousejanny Ferreira1
Giovana Consorte2
INTRODUÇÃO
1 Graduada em Educação Física pela UEG; Especialista em Filosofia da Arte pela IFITEG/UEG e Pedagogias da
Dança – PUC-GO. Mestre em Performances Culturais – UFG. Desde 2013 é professora do Instituto Federal de
Goiás. Dirige, junto com Giovana Consorte, o Grupo de Pesquisa Artística Corpo Composto. É pesquisadora
do núcleo (In)Comum: grupo de pesquisa em Arte, Educação, Profissionalização e Comunidades – Cnpq.
E-mail: rousedance.ferreira@gmail.com
2 Bailarina, professora e coreógrafa. Mestra em Educação Ambiental pela FURG. Especialista em Metodologia
do Ensino de Artes pela UNINTER. Graduada em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande em
2009. Coreografou e produziu espetáculos e diversas performances atuando desde 2003. Professora do curso
de Licenciatura em Dança do IFG. É pesquisadora do núcleo (In)Comum: grupo de pesquisa em Arte, Educação,
Profissionalização e Comunidades – Cnpq. E-mail: gi_consorte@yahoo.com.br
[ 70 ]
ADOLESCÊNCIA É POTÊNCIA: O EXERCÍCIO DE (DES)APRENDER EM DANÇA 71
O Ensino Médio do IFG – campus Aparecida de Goiânia é constituído por três cur-
sos técnico integrados, sendo eles: Alimentos, Edificações e Química que acontecem em
turno integral de aulas de segunda a sexta-feira, tendo a quarta-feira à tarde como
período, teoricamente, livre. Teoricamente porque é comum o preenchimento de dias
livres, horários e almoço e sábados pela manhã com reposições de aula, atendimentos de
reforço de disciplinas específicas ou projetos de pesquisa, como o Corpo Composto. Isto
é, uma rotina pesada na qual há pouca brecha temporal, geográfica e social para viven-
ciar experiências corporais ou interpessoais que não sejam de cunho obrigatório ou que
não reproduzam um modelo clássico de ensino e relação tradicional do esquema escola-
-professor-aluno. Nesta estrutura, a disciplina Arte aparece como obrigatória e rotativa
no primeiro ano do currículo onde o aluno tem, a cada bimestre, a experiência com uma
das linguagens: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. No segundo ano do curso o aluno
elege a linguagem que lhe pareça mais atrativa ou curiosa para aprofundar os estudos
por um semestre, podendo trocar de linguagem ou manter-se nela no semestre conse-
guinte. A disciplina tem o nome de Arte e Processos de Criação. Deste contexto curricu-
larizado pela instituição surge um primeiro panorama dos interesses e possibilidades de
criação já emergente nos resultados percebidos ao fim de cada semestre e que se forta-
lecem a cada ano. Afim de aprofundar os campos investigativos da arte na pesquisa e na
extensão, linguagem da dança, principalmente, tem traçado um interesse real através de
projetos e ações que possam dar a ver a potencialidade dos diversos públicos e contextos
que habitam o campus.
O grupo Corpo Composto nasce como projeto de pesquisa cadastrado na institui-
ção em 2016/01 como continuidade e maturação de uma significativa experiência de
projeto de extensão realizado com alunos e comunidade externa no ano anterior. Desde
seu início o grupo tem desenvolvido uma série de experiências artísticas significativos no
contexto do Ensino Médio e que tem tido uma ressonância sensível em várias camadas
do curso de Licenciatura em Dança, sediado no mesmo campus no período noturno.
Tal como apontado por André Lepecki e Thereza Rocha acima, nossos experimen-
tos de movimento são construídos de modo a valorizar o potencial criativo dos pesquisa-
dores-artistas, possibilitando um envolvimento mais profundo com o experimentar,
fazer, produzir e refletir dança. Como ideia de rede colaborativa e o consequente amadu-
recimento dos alunos nas escolhas formativas que lhe apetecem, os discentes do Ensino
Médio começaram a compor em tempos distintos, juntamente com a direção docente do
grupo, uma equipe que se desdobra entre estar em cena, produção/apoio, sonoplastia,
iluminação e maquiagem, experimentando processos transversais da cadeia produtiva
da Dança. É muito interessante perceber como esse processo de operação coletiva e
colaborativa começou a gerar desejos de profissionalização, da produção de uma crítica
e autocrítica dos trabalhos realizados e a construção de uma experiência cada vez mais
apurada da feitura cultural.
Sem dúvida, esse envolvimento foi imprescindível para o amadurecimento do grupo
como coletivo artístico que toma conhecimento da rede complexa que é necessária existir
para que um trabalho em dança chegue até a cena. Conhecer os processos que envolvem,
desde uma ideia embrionária até a operacionalização técnica da cena é um importante
exercício de construção para um docente-pesquisador, principalmente por tratarmos de
um campo de conhecimento com a Arte/Dança, onde muitas vezes não se enxerga clara-
mente uma perspectiva de campos de formação e atuação no mundo do trabalho.
Como isso transborda? Transborda humanisticamente quando se percebe o sen-
tido que este “lugar de passagem” toma quando atravessa o corpo dos que dele têm a
oportunidade e o desejo de participar. Atualmente, quatro pesquisadores que passaram
pelo grupo cursam Licenciatura em Dança, sendo que duas continuam suas pesquisas e
produções junto ao grupo. Aos poucos, esse universo vai ampliando sua rede em direção
à docência e experiências artísticas outras nos espaços de atuação e desejos destes gra-
duandos. Ressonâncias.
Pensamos a arte como uma forma de conhecimento tão importante, útil e com-
plexa como outras existentes na escola. Partimos deste pressuposto justamente para
ativar um modo de pensar distinto da arte como alegoria ou inutilidade que perambula
e insiste em amedrontar as políticas e currículos na educação básica. Dessa forma,
compartilhamos em muitos aspectos da ideia do teórico, curador e artista uruguaio
Luiz Camnitzer (2019), que traz uma série de contribuições para pensar o lugar da arte
na educação e da educação na arte. Segundo o autor, a arte acontece como uma meta-
disciplina que permite a subversão de ordens, a criatividade e suas invenções como
alternativas de aprendizagem. Assim, a dança e o corpo surgem como pontos de con-
vergência que ativam uma série de questões do cotidiano e de microuniversos para o
desenvolvimento de conexões comuns e partilhadas.
Camintzer nos provoca a pensar como seria possível gerar sistemas de ordem alter-
nativas que possam ampliar as capacidades cognitivas do ser humano desviando-se de
uma limitação dos sentidos presentes na educação tradicional. Neste contexto, como o
corpo, o olhar, os sons, o toque, os cheiros, entre outras associações são capazes de dar
a ver múltiplas maneiras de comunicar e que, imprescindivelmente devem existir como
uma produção concreta e significativa dos alunos. Sobre isso, Camintzer afirma:
O ensino é baseado na transmissão de informações e treinamento. A educa-
ção ideal, por outro lado, estimula o autodidatismo. Consiste em identificar
os mistérios do desconhecido, desmistificando-os e superando-os para
enfrentar os novos mistérios3 (CAMNITZER, 2017, p. 22, tradução nossa).
4 Há uma queixa generalizada entre os integrantes do grupo sobre alta quantidade de provas e atividades extra-
classe – inclusive marcadas nos momentos de tempo livre, como na hora do almoço – ao longo dos três anos de
curso. Muitos alunos sofrem de depressão, ansiedade e automutilação, fato que tem nos preocupado desde o
início do projeto.
5 El rigor de las materias académicas que tienen una aplicación práctica se basa en la posibilidad de rendir
cuentas cuantitativamente. El protocolo que se sigue respeta la relación de causa y efecto, la lógica, la repe-
tición de resultados en la experimentación y, en general, un desarrollo lineal de los procedimientos. En forma
circular el protocolo informa al rigor y el rigor informa al protocolo. En arte, en cambio, la noción de rigor y la
rendición de cuentas se basan en la inevitabilidad y la indispensabilidad, y ambos son imposibles de traducir
en números. Una vez que la obra o situación artística existe, el protocolo (o los protocolos) se deducen de la
necesidad de su existência.
série de fórmulas, simbolizadas aqui como uma analogia ao conteudismo, foi ocupando
seu corpo ao ponto de que ela não se reconhecesse mais.
Por outro lado, observamos o quão vivo são os corredores, os intervalos das aulas,
os muros como aparadores de namoros, os abraços, as selfies e força das amizades que
se estabelecem numa escola ao longo de três anos de intensa convivência.
Desde sua estreia no ano de 2017 AdoleSendo alcançou um reconhecimento para
além da apresentação para a comunidade interna do campus Aparecida. O espetáculo foi
selecionado para festivais como o Festival Nacional de Teatro Estudantil (Belo Horizonte
– MG), Festival de Artes de Goiás (Itumbiara – Goiás), Agenda Teatro Sesc Centro (Goiânia
– Goiás), Festival Razões pra Sonhar (Anápolis –
Figura 2 – Cena do espetáculo (2017)
Goiás) e contemplado no Fundo de Arte de
Cultura com o projeto De Escola/Para Escola.
Contemplação esta que proporcionou a circula-
ção do trabalho por escolas estaduais nas cida-
des de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Aragoiânia,
todas no estado de Goiás. Em virtude do prêmio,
os pesquisadores-artistas do projeto assinaram o
primeiro contrato de pesquisa remunerada como
bailarinos ou assistente de produção, podendo
experimentar o lugar do fazer dança com maior
dedicação temporal e envolvimento mais direto
com os caminhos da pesquisa.
A rapidez com que tudo isso se deu sur-
preendeu o grupo positivamente já que o intuito
inicial era uma experiência local de iniciação
artística em práticas de dança. Acreditamos que
Foto: Festival de Arte de Goiás. o êxito do trabalho se relaciona diretamente ao
envolvimento protagonista dos adolescentes nas
camadas de composição de uma adolescência dançante. Eles estão em cena corporifi-
cando algo real, carnal e que fala diretamente com os outros jovens que os assistem.
Acreditamos que isso tem dado uma qualidade ímpar à cena, mesmo que estejamos
falando de jovens que não tinham experiência prévia em dança e que iniciaram suas prá-
ticas em dança somente a partir do contato com o grupo que se dá num período médio
de um a três anos, período do Ensino Médio.
Soma como elaboração e efeito. Pensar como é possível criar amálgamas de exis-
tência pela experiência cênica de jovens estudantes, pesquisadores e artistas. Estas
foram as rotas vivenciadas com os processos de AdoleSendo e Q como resultantes de um
intenso processo de quebra de paradigmas dos modos de pesquisar e compor com um
grupo de adolescentes no contexto da escola. Acreditamos que essa jornada
6 Tanto el artista como el maestro recién pueden demostrar el éxito efectivo de su misión una vez llegados al
punto en que se convierten en prescindibles, o sea, el momento en que el recipiente del arte o de la educación
es capaz de actuar de forma independiente. Es aquí donde el arte y la educación confluyen en una misión única.
Ambos tienen un camino común y la diferencia está solamente en las huellas que se dejan durante el recorrido.
El arte es educación y la educación es arte. Una de las palabras solamente adquiere sentido una vez que está
dentro de la otra.
Inconcluir este texto é uma maneira de deixar as próximas páginas para o por vir
como pesquisa em dança reforçando a importância de se construir outras e novas pági-
nas para a produção de artes adolescentes. A produção de pesquisa em Arte na escola
ainda tem muito o que avançar para a efetivação de relações mais transversalizadas e
criativamente reflexivas, desta maneira, seguimos experimentando caminhos para
ascender o protagonismo juvenil nos processos criativos e seus devires artísticos. Este é
o gancho para (des)cobrir as várias camadas da arte que advém do erro, do não saber, da
rebeldia, da delicadeza, entre outras intensidades que se dão simplesmente pelo corpo,
o movimento e a vida.
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Freitas
IMAGINAÇÃO E CRIATIVIDADE:
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA VYGOSTYANA
Desse modo, nessa abordagem teórica o desenvolvimento humano não pode ser
compreendido e analisado apenas pelo viés biológico, natural, como um processo uni-
versal imutável. Mas, como um processo dinâmico em que o outro, os instrumentos, a
linguagem, a vida concreta e a historicidade são fundamentais e constitutivos do desen-
volvimento, do comportamento, dos processos psíquicos, dos motivos e da afetividade
do homem.
Nesse contexto, discutiremos inicialmente a relação aprendizagem e desenvolvi-
mento e o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, com vistas a ressaltar a natu-
reza social do desenvolvimento humano. Primeiramente, é importante destacar que para
a perspectiva vygotskyana há uma lei geral que sintetiza o desenvolvimento do sujeito:
todo o seu processo de desenvolvimento, assim como as funções psicointelectuais supe-
riores se desenvolvem primeiramente no plano interpsíquico, nas atividades coletivas e
sociais, para depois constituir o plano intrapsíquico – as atividades individuais, internas.
Conforme a abordagem sócio-histórico-dialética a relação aprendizagem e desen-
volvimento deve ser compreendida de modo interdependente, de tal modo que os pro-
cessos de aprendizagens estimulam/possibilitam o processo de desenvolvimento.
Vygotsky se contrapôs as visões que ora consideravam aprendizagem e o desenvolvi-
mento como processos distintos – a aprendizagem dependia dos processos de desenvol-
vimento; ora como processos idênticos no qual aprendizagem e desenvolvimento se
equivalem, ora como uma terceira via que conciliava as duas primeiras versões.
Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento não são o mesmo processo,
mas estão ligados entre si. Para este autor o processo de aprendizagem deve ser coe-
rente com o desenvolvimento da criança, contudo o desenvolvimento não pode ser pen-
sado de forma estática/linear, mas como uma capacidade potencial em constante
movimento e que são as aprendizagens que o movimentam/empurram. Assim, cada
passo dado no campo da aprendizagem representa dois no campo do desenvolvimento.
O conceito de zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), desenvolvido por este
autor, nos permite pensar a aprendizagem de forma prospectiva e em movimento e, é
justamente no desenrolar do desenvolvimento infantil/humano que a ação do outro é
mais significativa. O nível de desenvolvimento real do indivíduo/criança define as funções
psíquicas e capacidades já constituída e o nível de desenvolvimento potencial das fun-
ções que se encontram em potência que ainda não se efetivaram, mas que por meio da
intervenção/mediação do outro (adulto/professor (a), um colega mais experiente, pela
ação coletiva, o grupo) poderão (ou não) se constituir em desenvolvimento real. É
justamente entre a distância desses níveis (real e potencial) que se apresenta a relação
indissociável entre “interação social e os processos de ensino aprendizado e desenvolvi-
mento” (BARBOSA, 1997, p. 50).
Tendo como premissa a assertiva de Vygotsky “o aprendizado humano pressupõe
uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na
vida intelectual daquelas que as cercam” (VYGOTSKY, 1994, p. 115), passa-se a partir de
então discutir a imaginação e criatividade não como um “dom”, inata, mas como um pro-
cesso coletivo, visto que tudo que foi criado pelo homem é fruto da imaginação e da cria-
tividade humana ao longo do processo civilizatório, isto é, um trabalho coletivo de
inventores conhecidos e desconhecidos. Portanto, a imaginação e a criatividade humana
não são uma exceção, pelo contrário uma regra, uma característica construída social-
mente do homem em seu devir.
Nessa perspectiva Vygotsky (2012) esclarece que a riqueza da imaginação está
diretamente ligada a experiência acumulada, logo quanto mais ricas forem as experiên-
cias do homem/criança, mais rica será sua capacidade imaginativa. Quanto a esse aspecto,
é importante destacar que Vygotsky elenca 4 (quatro) formas de ligação entre fantasia e
realidade: na primeira, a imaginação se apoia na experiência e a constituição de novas
combinações; na segunda, o autor ressalta a possibilidade da imaginação apoiar, movi-
mentar e enriquecer as experiências humanas, destaca aqui a importância da experiên-
cia do outro como referência para imaginar o que se conhece, o que nunca vi ou tive
acesso concretamente; na terceira destaca a influência do campo emocional na percep-
ção do mundo e das coisas, isto é, toda construção imaginativa está alicerçada em ele-
mentos afetivos e vice-versa, a imaginação do mesmo modo influência nossos
sentimentos; na quarta forma de relação, a imaginação humana tornar-se realidade ao
materializar-se, isto é a imaginação é cristalizada, passando a existir de fato e atuar sobre
outros objetos, sobre nós e nossos sentimentos, esta é considerada pelo autor em refe-
rência o ciclo completo da atividade criativa.
Deste modo, fica-nos claro que a atividade imaginativa e criativa não são ativida-
des humanas isoladas e/ou espontâneas, tudo que a criança ouve, vê, vivencia constitui
pontos de apoio para sua capacidade imaginativa e criatividade. Conforme Vygotsky
(2012) a “criança acumula material a partir do qual, posteriormente, irá construir as suas
fantasias. Depois segue um processo complexo de transformação deste material” (p. 48).
Este processo é caracterizado por este autor pelos processos de dissociação e associa-
ção. A dissociação é a fragmentação do material acumulado, que será separado em parte,
uma será guardada, outras esquecidas, caracterizando assim, a natureza mutável das
impressões exteriores, as quais se movem, se transformam e são reelaboradas em nosso
cérebro. Esse processo também é influenciado por nossos sentimentos que aumentam
ou reduzem as impressões captadas. Já a associação é a junção dos elementos dissocia-
dos e alterados, é justamente a capacidade de combinar experiências já vivenciadas e
estabelecer novas combinações o fundamento do processo criativo.
Vygotsky (2012) destaca a relevância do “meio envolvente” para o desenvolvi-
mento da imaginação e da criação, este se constitui como a mola propulsora dos anseios
e necessidades da criança, assim como possibilitará a cada tempo e época as condições
materiais, tecnológicas, emocionais e cognitivas para a realização do processo criativo,
isto é, a “criatividade parte de necessidades que foram criadas antes dele e apoia-se nas
possibilidades que residem fora dele” e/ou ainda “a criatividade representa um processo
histórico contínuo, em que toda a forma subsequente é definida pela anterior” (p. 55).
Desse modo, podemos inferir que todo ato criativo contém em si um processo de copar-
ticipação do Outro e das condições existentes/presentes no meio.
O conceito vivência presente nos estudos Vygotsky (2010) contribui de forma signi-
ficativa para compreender a relação e influência do meio e as particularidades da viven-
cia de cada sujeito. Para este autor a
[...] vivência é uma unidade na qual, por um lado, de modo indivisível, o meio,
aquilo que se vivencia está representado – a vivencia sempre se liga àquilo
que está localizado fora da pessoa – e por outro lado, está representado
como eu vivencio isso, ou seja, todas as particularidades da personalidade e
todas as particularidades do meio são apresentadas na vivência, tanto aquilo
que é retirado do meio, todos os elementos que possuem relação com dada
personalidade, como aquilo que é retirado da personalidade, todos os traços
de seu caráter, traços constitutivos que possuem relação com dado aconteci-
mento. Dessa forma, na vivencia, nós sempre lidamos com a união indivisível
das particularidades da personalidade e das particularidades da situação
representada na vivência (VYGOTSKY, 2010, p. 686).
Este conceito é importante porque nos permite compreender que cada criança se
apropria de modo diferente/particular das experiências que vivência, dependendo de
seu nível de compreensão, da tomada de consciência daquilo que ocorre no meio. Assim,
podemos afirmar que uma mesma atividade proposta para uma turma de crianças, por
exemplo, terá sentidos e significados diferentes para as crianças. As relações entre
criança e meio não são estáticas, mas variáveis e dinâmicas, de um lado o meio influência
a criança de acordo com sua faixa etária, conhecimentos, desenvolvimento sócio afetivo,
interações, entre outros, e por outro lado a criança se modifica e modifica sua forma de
relacionar com o meio.
Os estudos de Vygotsky deixam claro que o meio é fonte de desenvolvimento pois,
o meio, seja ele familiar, escolar, entre outros, disponibiliza ás crianças experiências/
conhecimentos/valores/ideais desenvolvidos ao longo da história, formas ideais/finais
que irão interagir com a forma primária presente nas crianças. Nas palavras do autor “no
meio existe uma forma ideal ou final que interage com a forma primária da criança e, em
resultado, uma dada forma de ação se torna uma aquisição interna da criança, torna-se
dela própria, torna-se uma função de sua personalidade” (2010, p. 699).
O que significa dizer que o homem é um ser social, que é por meio da sua intera-
ção com o meio/com a sociedade que ele adquire o desenvolvimento produzido de
forma sistemática pela humanidade. Portanto, as funções psicológicas superiores da
criança, específicas do homem, se desenvolvem na criança inicialmente como compor-
tamento coletivo, em cooperação com o outro, para posteriormente tornar uma fun-
ção interiorizada.
Verticalizaremos nosso olhar para a imaginação e criatividade infantil no campo edu-
cacional tomando a brincadeira e o desenho infantil como atividades privilegiadas para a
promoção de vivências que podem promover a imaginação e criatividade infantil.
Conforme os estudos desenvolvidos por Vygotsky (2012) a imaginação criativa é
elaborada de um modo particular a cada idade, sua presença pode ser percebida nas
brincadeiras, no desenho, na criação literária, no teatro, entre outros, constituindo-se
como uma companheira habitual e permanente do desenvolvimento infantil. Nesse sen-
tido, o autor afirma que a experiência da criança está em processo de construção e
desenvolvimento, enquanto o adulto, por sua trajetória mais longa e complexa de vivên-
cias já consolidadas, é referência e suporte para o desenvolvimento da imaginação cria-
tiva da criança.
Para compreender o lugar/o papel da brincadeira no processo imaginativo e cria-
tivo da criança retomamos o pensamento de Vygotsky (2016):
Na primeira infância encontramos processos criativos que se manifestam
sobretudo nos jogos. [...] crianças que brincam são exemplo genuíno e real
do próprio processo criativo. [...] O jogo da criança não é uma simples recor-
dação do que viveu, é antes de tudo uma reelaboração criativa das impres-
sões vividas, uma adaptação e construção, a partir dessas impressões, de
uma nova realidade-resposta às suas exigências e necessidades afetivas (p.
26-27).
linha, há uma tentativa da criança em buscar uma representação mais formal, uma seme-
lhança com a realidade por meio de desenhos-esquemas; o terceiro estágio é o da repre-
sentação realística, o desenho passa a ter uma verossimilhança com o real, apresenta
contornos ou silhuetas bidimensionais, são poucas a s crianças que vão além desse está-
gio sem o auxílio do ensino; no quarto estágio observa-se a utilização de luz e sombra,
perspectiva e a tridimensionalidade do objeto.
Por fim, podemos observar que o desenho não é uma atividade voluntária e espon-
tânea como já antecipamos, ela está associada a uma habilidade específica que reque-
rem competências estéticas e artísticas, vivência e ampliação das capacidades imaginativas
e criativas. Portanto, tendo em vista que o desenho tem um significado cultural significa-
tivo e, que esta linguagem pode alargar os horizontes da criança, conclui-se que pedago-
gicamente é “necessário cultivar a imaginação criativa; por outro, é necessário o
desenvolvimento especial de conhecimentos para o processo de concretização das ima-
gens criadas pela imaginação” (VYGOTSKY, 2012, p. 137), desde a mais tenra infância.
Nessa perspectiva, estimular a imaginação e a criatividade infantil envolve a
organização de contextos, meios e interações que favoreçam a inventividade da criança
e, nesse sentido, destacamos a brincadeira e o desenho como um dos caminhos possí-
veis para aprofundar, alargar e exercitar suas tendências criativas, o que permitirá a
criança apropriar-se das linguagens humanas, seus sentimentos, conhecer o mundo
exterior e a si mesmo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Goiás, Goiânia, 2019.
BARBOSA, Ivone Garcia. Pré-Escola e formação de conceitos: uma versão sócio-histórico-dialética. FE/
USP, 1997 (Tese de doutorado).
MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo, Martins Fontes, 1983.
STEN, Samira da Costa. Diálogos sobre os processos formativos socioprofissionais do professor de
arte no contexto da educação infantil do município de serra/es: um estudo de caso. Dissertação
(Mestrado em Educação). Universidade Federal Do Espiríto Santo, 2014.
THIOLLENT, Michel. Aspectos qualitativos da metodologia de pesquisa com objetivos de descrição,
avaliação e reconstrução. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 49, p. 45-50, maio 1984.
VIGOTSKII, Lev Semyonovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes: 1994.
______. A brincadeira e o seu papel no desenvolvimento psíquico da criança. Revista Virtual de
Gestão e Iniciativas Sociais, Junho de 2008, p. 23-36.
______. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. (Coleção Textos de
psicologia).
______. Imaginação e Criatividade na Infância: ensaio de psicologia. Lisboa, Portugal: Dinalivro, 2012.
INTRODUÇÃO
1 Especialista em Psicopedagogia pela FABEC, Especialista em Educação, Arte e Cultura pela UEG, Pedagoga pela
UEG. Docente efetiva da Rede Pública Municipal de Ensino de São Luís de Montes Belos.
2 Especialista em Docência no Ensino Superior pela UEG. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional
pela FABEC. Licenciado em Normal Superior pela UniMB, Licenciado em Pedagogia pela ALFA AMÉRICA e Licen-
ciado em Letras pela FAERPI; Docente da Rede Pública Municipal de São Luís de Montes Belos, Goiás. Docente
do curso de Pedagogia da Faculdade Delta em São Luís de Montes Belos, Gestor Regional de Cursos de Comple-
mentação Pedagógica, integrante do GEFOPI – Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplina-
ridade. E-mail: profviniciusfagundes@gmail.com.
[ 101 ]
102 Leidiane Cândida dos Santos Andrade; Vinícius Fagundes dos Santos
A escola atende uma clientela social periférica em que a maioria são famílias
carentes, na qual os pais possuem baixa renda ou são assalariados, e traba-
lham com ampla jornada, não disponibilizando de tempo para acompanhar a
vida escolar de seus filhos. Sendo assim, percebe-se que há necessidade de
oferecer uma complementação educacional no contraturno, funcionando
em regime de tempo integral. (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA UNIDADE,
2019, p. 13).
Portanto, esta investigação propõe defender que o ensino da Arte na escola torna-
-se importante instrumento mediador para o desenvolvimento cognitivo dos alunos,
apoia uma prática transdisciplinar, uma vez que, tais conhecimentos ampliam e possibili-
tam compreensão do mundo, colabora para um melhor entendimento dos conteúdos
relacionados a outras áreas do conhecimento, bem como contribui para a compreensão
de direitos e deveres, valores humanos, respeito para com o próximo, promovendo assim
a humanização das ações pedagógicas gerando a criatividade. Nessa perspectiva,
Severino e Bauer (2012, p. 12) afirmam que “a educação e a arte formam um todo na
dinâmica da vida social”. Corroboram afirmando que
É inegável a importância da arte, em seus diferentes e controversos cami-
nhos, formas de expressão e possibilidades devendo, por isso mesmo, fazer
parte importante dos horizontes educacionais como elemento decisivo nos
processos formativos. Em não sendo aí contemplados, tornam esses proces-
sos no mínimo incompletos (SEVERINO; BAUER 2012, p. 12).
transdisciplinares podem promover conceitos que estão além das “paredes da sala de
aula” e dos programas curriculares somente. Tais práticas podem transcender os conteú-
dos, marcando o humano de forma significativa; humanizando e proporcionando momen-
tos criativos que gerarão conhecimentos científicos consistentes.
Tendo em vista que a maioria dos alunos da escola pesquisada não tem acesso às
diferentes expressões artísticas e culturais, cabe à escola introduzi-los no fantástico
mundo das artes, a fim de tornar os processos formativos educacionais mais comple-
tos, capazes de contribuir para a melhoria da aprendizagem, humanização e criativi-
dade desses alunos, assim como colaborar com a diminuição do índice de indisciplina
na escola, que pode ser um resultado do processo humanizador promovido por práti-
cas transdisciplinares.
Alguns alunos dessa escola provêm de famílias extremamente carentes, faltando
muitas vezes até o básico para a sobrevivência como: alimentos, roupas e calçados, mate-
riais escolares. Além disso, a maioria dessas famílias não participa da vida escolar de seus
filhos e não oferece nenhum tipo de suporte que contribua para o sucesso escolar dessas
crianças. Sendo assim, a escola vem buscando diferentes formas de melhorar a qualidade
de vida desses alunos e de contribuir para que alcancem o bom êxito em sua vida profis-
sional futura, além de procurar oferecer aos alunos uma formação pautada em valores
éticos e cívicos, baseada no respeito e no amor para com o próximo; uma vez que, já que
os índices de violência e indisciplina vêm aumentando gradualmente não só nessa escola,
mas na maioria das escolas brasileiras, conforme pode-se confirmar nos noticiários das
mais diferentes meios de comunicação.
Oliveira e Stoltz (2010, p. 91) confirmam essa perspectiva, ao afirmar que “a arte é
um elemento fundamental para a vida e que pode contribuir na construção de uma
sociedade composta de cidadãos que saibam situar-se integralmente entre as suas
dimensões afetiva e cognitiva”. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo
investigar como a arte, por meio de práticas transdisciplinares, pode contribuir para a
melhoria da aprendizagem, promove a humanização e consequentemente pode influen-
ciar na melhora da disciplina e comportamento dentro do ambiente escolar.
Para tal, realizou-se uma pesquisa de campo com os professores que ministram
essa disciplina. A pesquisa foi realizada, em forma de questionário, com os seis professo-
res que trabalham a disciplina de Arte no locus pesquisado. Juntamente com o questio-
nário foram realizadas 3 (três) perguntas que foram devidamente gravadas e trechos
foram transcritos para apontamentos. Todas as professoras disseram que consideram
METODOLOGIA
DISCUSSÕES E RESULTADOS
A arte pode ser classificada em dualidade, visto que sua definição é ambígua, tendo
conotação de atividade prática e didático-pedagógica, mas também é tida como ele-
mento do componente curricular enquanto disciplina. Além de prática pedagógica multi-
disciplinar enquanto ação didática em sala de aula, revela-se em inúmeras vertentes de
atuação como: dança, pintura, teatro, atividades plásticas, musicais, movimentos cultu-
rais, sendo um significativo componente curricular presente nos Parâmetros Curriculares
Nacionais que visa propiciar
o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que
caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência
humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação,
tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as
formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes cul-
turas. (BRASIL, 1997, p. 19).
Lis (2008, p. 16) confirma essa prática ao afirmar que a disciplina de Arte “deve
estar vinculada com outras disciplinas para formar jovens mais críticos e questionadores
dos problemas eventuais que virão pela frente”. Diante das falas, tanto da professora
quanto da autora, nota-se que a Arte pode favorecer o trabalho interdisciplinar e não
somente (inter)disciplinar, mas transdisciplinar. Como citado a disciplina de Educação
Física como parceira da atuação artística percebe-se em Monteiro; Cupolillo (2011, p.
801), que
Diante dessa premissa, os estudos da Arte podem ser utilizados com a mescla e
interligação entre quaisquer das disciplinas do currículo escolar como metodologia para
incentivar a aprendizagem dos alunos, podendo relacionar-se com os conteúdos, organi-
zando-se em uma gama de conceitos e informações que transcendem a formação acadê-
mica, partindo para a humanização do ser, emancipação da autonomia criativa,
Analisamos que o ensino da Arte tem dado subsídio para o trabalho com as demais
disciplinas, justamente pelo fato de a professora entrevistada oportunizar ao aluno
expressar o que sente, desenvolver o senso crítico, melhorar a leitura e a interpretação,
se motivar na realização das atividades, promover um ambiente solícito à criatividade,
compartilhamento de vivências e experiências, enfim, humanescer visto que que a maio-
ria das crianças são levadas pelo ímpeto criador e por isso mesmo, sentem satisfação em
poder criar suas obras de arte, e assim, transcendendo e transversalisando conceitos que
outrora não poderiam ser revistos em uma ambiente formal de conhecimento.
Nesse sentido, a professora E afirma que trabalha primeiramente com o embasa-
mento teórico sobre determinado assunto, a seguir os alunos irão se expressar, criar de
acordo com o tema abordado. Ao criar sua obra de arte, o aluno desenvolve sua criativi-
dade, concentração, senso de respeito pelo trabalho do outro, além de se envolver com
a leitura e com o conhecimento teórico da modalidade artística trabalhada. A professora
relata que
Todas as atividades que ministramos são devidamente planejadas e embasa-
das teoricamente. Explico a vida e obra dos autores, pintores, músicos,
Para tanto, é necessário refletir sobre a didática utilizada pelo docente, a fim de
que o aluno tenha ambientes e o tempo adequados, pensados e planejados para que
possam ocupar-se durante o momento previsto da aula e envolver-se com tudo o que foi,
à priori, organizado. Programar-se para os momentos transdisciplinares é pensar de
forma complexa e coesa.
Marilza Suanno (2014, p. 1573) atesta que a didática transdisciplinar “caracteriza-
-se por criar práxis ao reintroduzir o sujeito cognoscente na produção do conhecimento
e na transformação do estilo de vida coletiva” fazendo com que esse educando se
auto-organize de forma consciente, interligando a “cultura das humanidades e cultura
científica”. Desta maneira, os métodos, instrumentos, recursos passam a ser também
mediadores do pensar complexo e transdisciplinar, uma vez que instigam a criativi-
dade, provocam o diálogo entre o lógico e o emocional, entre o científico e o informal,
harmonizando o conhecimento em um mesmo patamar para todos. Reintroduzir o alu-
nado na produção do conhecimento é, acima de tudo, dar autonomia para criarem,
para pensar de maneira emancipada; é deixa-los ofertar suas vivências e experiências
para que os demais possam aprender com a empiria mútua e assim, dialogar tais expe-
riências de forma transdisciplinar.
Trabalhar a razão e emoção pode vir a ser uma prática transdisciplinar. Movendo-se
nas matrizes curriculares, deixando o diálogo intrínseco entre o conhecimento formal
e científico com as experiências empíricas dos educandos aflorarem no ambiente de
ensino são caminhos para a promoção da humanização e como resultado, da melhoria
da disciplina e participação. Apreciação de quadros, músicas, apresentações teatrais,
declamações poéticas, audição de concertos [...] podem tornar-se atividades transdis-
ciplinares e, como resultado dessa prática, promover a humanização, a solidariedade,
a troca de experiências, chegando ao ponto de um indivíduo praticar o respeito, cola-
boração e empatia.
O contexto educacional atual, muitas vezes, não coloca a Arte como relevante para
a educação, para muitos ela é vista como apenas objeto de contemplação, por isso mui-
tos professores ainda veem as aulas de Arte como desnecessárias, como difíceis de
trabalhar, pois os alunos ficam mais agitados, fazem mais barulho, muitas vezes deixam
sujeira no ambiente em que estão e a aula se transforma em “bagunça”. Sendo assim,
torna-se mais fácil justificar a não realização das aulas culpando a falta de materiais e de
estrutura física da escola (SCHROEDER, 2011).
Behrens (2014) cita Suanno (2013, p. 43) apontando a ação docente sendo com-
preendida como uma “nova postura perante a vida, uma perspectiva auto-eco-organiza-
dora, uma atividade profissional que promove a educação para a sensibilização do
humano, para a cidadania planetária”, para tanto, não pensando somente na formação
científica, mas refletindo e dialogando com as questões ecoformativas, naturais, oriun-
das de uma conscientização do planeta e de sua preservação. É compreender o universo
como um todo, valorizar o humano sendo um ser natural em um ambiente no qual deve
ser cuidado e preservado. Dá-se, portanto, a ação transdisciplinar do pensamento com-
plexo: aliar a compreensão dos preceitos curriculares, da observação do outro e de tudo
o que o circunda como natureza, respeitando-a e valorizando-a.
Quando se há vontade é possível realizar grandes trabalhos com o pouco disponí-
vel, e acima de tudo, compreender o universo em sua totalidade, respeitando-o. Isso
pode ser claramente comprovado através de grandes exposições realizadas em museus
por todo mundo mostrando belíssimas obras feitas até mesmo com objetos retirados do
lixo ou grandiosas apresentações ensaiadas em espaços modestos. Sendo assim, não
negamos a falta de materiais e de estrutura de muitas de nossas escolas, mas ressalta-
mos que não é por este motivo que devemos negar aos nossos alunos a oportunidade de
receber uma formação completa pautada no saber científico e no desenvolvimento do
senso crítico e emocional, trabalhando também pelo viés da transdisciplinaridade. Afinal,
para o trabalho estar pautado nos preceitos transdisciplinares não há a necessidade da
utilização de grandes meios e recursos físicos. Partindo do diálogo e humanização, as
mudanças mútuas nos ambientes de ensino podem ser efetivadas.
Segundo Schroeder (2011), um dos fatores primordiais da arte é a integração, pois
esta tem a capacidade de integrar o educando dentro de determinado contexto social e
é função da escola alimenta-la com vivências em arte, pois, as crianças que possuem
referências artísticas são muito mais criativas e críticas do que aquelas que não as tem.
De acordo com Vygotsky (2001), a criança tem acesso aos modos de pensar e agir
correntes em seu meio através da interação social e o desenvolvimento de suas formas
superiores de pensamento e comportamento só é possível no processo de
internalização da cultura e esse processo se faz possível através da vivência diária com
as manifestações artísticas.
Conforme ressaltado, a arte tem o poder de valorizar a presença criativa e dinâ-
mica do educando em seu sentir, fazer e pensar, no entanto, pode-se, também, ressal-
tar a sua potencialidade em ampliar a possibilidade de socialização na vida cotidiana
com a turma e demais colegas da escola, oferecendo abertura para uma convivência
mais integrada, pautada no respeito, na ética e no cuidado com si mesmo e com o
outro, valorizando cada pessoa de seu convívio. Nesse sentido, a professora A afirma
que a aula de Arte é uma oportunidade de melhorar a socialização e aprender a respei-
tar limites. Tais aulas dão oportunidade para que os alunos interajam, respeitem dife-
rentes culturas e pontos de vista, estimule sua sensibilidade e aprendam agir em
sociedade conhecendo seus direitos e deveres e sendo preparados para transformar a
sociedade em que vivem. Sendo assim, pode-se afirmar que a Arte contribui positiva-
mente para a melhoria da disciplina dos alunos dentro do ambiente escolar, uma vez
que, de acordo com os PCN’s de Arte:
o indivíduo tem a oportunidade de se desenvolver dentro de um determi-
nado grupo social, legitimando seus direitos dentro desse contexto, estabe-
lecendo relações entre o individual e o coletivo, aprendendo a ouvir, a
acolher, e a ordenar opiniões, respeitando as diferentes manifestações, com
a finalidade de organizar a expressão de um grupo.
O trabalho com a Arte oferece ao aluno a possibilidade de refletir sobre sua atua-
ção dentro do grupo de seu convívio, seja a através da interpretação da letra de uma
música, seja na encenação de uma peça teatral, na apresentação de uma coreografia, na
reflexão e declamação de uma poesia, ou na contemplação de pinturas ou esculturas. A
Arte proporciona uma infinidade de possibilidades para que cada indivíduo reflita suas
ações através das mais diferentes manifestações artísticas. Nesse sentido, ela pode ofe-
recer um poder de transformação, principalmente aos alunos de setores mais periféricos
da cidade, pois estes dificilmente tem acesso a essas formas de cultura, cabendo, por-
tanto, à escola inseri-las no cotidiano de seus alunos.
A escola que prima por uma educação de qualidade e por atividades transdiscipli-
nares que promovem a dialética dos currículos, saber científico, saber empírico e ecofor-
mativo, deve ter como função a formação integral de seus alunos; uma educação pautada
na formação dos sujeitos em todas as suas dimensões: intelectual, física, emocional,
social, ecológica e cultural. Visto que a maioria dos alunos da escola em questão
raramente possui formação familiar voltada para essas diversas dimensões, torna-se
essencial que a instituição educacional invista cada vez mais em metodologias, instru-
mentos, atividades criativas e humanizadoras, didática reflexiva que contribuam para
essa formação integral de seus educandos.
Diante das diversas contribuições que a Arte pode oferecer à educação torna-se
incompreensível não lançar mão desses benefícios para favorecer a aprendizagem de
seus alunos e elevar os índices de disciplina dentro do ambiente escolar, promovendo o
romper dos limites impostos por paredes de concreto e invadindo as comunidades esco-
lares que estão inseridas no contexto das escolas. Portanto, é dever da escola buscar
diferentes formas de contribuir para a melhoria do seu ensino por meio de programas de
parcerias com os professores, incentivos docentes às práticas criativas, ecoformativas e
transdisciplinares para que, com todos esses instrumentos em mãos, os educandos sejam
beneficiados e o processo de aprender seja significativo, plural, diverso e criativo.
CONCLUSÕES FINAIS
e criativas utilizadas por elas nos projetos da escola locus, esta realidade foi aprimorada,
alcançando as demais disciplinas do currículo e aprimorando o processo de ensino e de
aprendizagem com um ambiente mais pacífico, organizado e coerente para a promoção
do desenvolvimento coletivo.
Em vários momentos, quando determinado conteúdo é trabalhado em sala de
aula de maneira metódica e rotineira, não compreendendo o alunado como pessoas
que podem ser ativas criticamente, participativas de forma efetiva, não se sentem
atraídos e nem motivados. No entanto, se esse mesmo conteúdo for trabalhado envol-
vendo alguma das diferentes modalidades artísticas, poderá, eventualmente, obter um
rendimento bem maior com relação à aprendizagem dos alunos, como executado pelas
professoras entrevistadas que valeram-se de práticas artísticas aliadas à rodas de con-
versa, danças, teatros,
Moraes (2007, p. 19) advoga que “um bom docente é aquele capaz de ajudar seus
alunos a desenvolver habilidades e competências consideradas fundamentais à sua
sobrevivência e transcendência” fazendo com que alcance níveis mais elevados em com-
plexidade e, consequentemente, melhorando em inúmeros aspectos, inclusive compor-
tamentais e disciplinares. Sendo assim,
entre essas capacidades está a de ajudar o aprendiz a olhar para dentro de si
mesmo, para dentro de seu próprio ser, para que possa reconhecer-se como
pessoa, descobrir seus talentos e competências, sua criatividade, sua sensibi-
lidade e sua flexibilidade estrutural em relação ao conhecimento. (MORAES,
2007, p. 19).
Nesse sentido, a escola pode e deve oferecer experiências mais significativas aos
educandos, sendo mediadas pelos docentes, de modo que os afetem nas esferas emo-
cional, social, motora e cognitiva e, defendemos que, um dos caminhos com certeza é o
de trabalhar a Arte de forma transdisciplinar e constantemente transversalisando as dis-
ciplinas escolares que compõem o seu programa curricular, valendo-se de práticas media-
dores dialógicas, apontamentos individuais, utilização de músicas para a promoção da
atenção, reflexões e assim, refletir positivamente na disciplina e comportamento, como
executado pelas professoras pesquisadas empiricamente.
Daí surge a importância de se refletir sobre a contribuição da Arte a fim de melho-
rar a aprendizagem e elevar os índices de disciplina dos alunos do Ensino Fundamental I
de uma escola pública em tempo integral, do município de São Luís de Montes Belos,
Goiás. E de acordo com a pesquisa realizada constatamos que todas as professoras
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UNIDADE II
CIÊNCIAS DA
NATUREZA E
MATEMÁTICA
INTRODUÇÃO
[ 120 ]
A PRESENÇA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO 121
permaneça estática nesse mundo tão dinâmico que vivemos (SATO; SANTOS, 2001). A
EA, entendida como educação política, está comprometida com a ampliação da cida-
dania, da liberdade, da autonomia e da intervenção direta dos cidadãos e das cidadãs
na busca de soluções e alternativas que permitem a convivência digna e voltada para o
bem comum (REIGOTA, 2009).
Carvalho (2012) ressalta que a preocupação ambiental e as práticas de EA vêm se
construindo como um “bem” na contemporaneidade. Ou seja, essa “preocupação” passa
a ser valorizada pela sociedade e tende a ser incorporada pela educação. Dessa forma,
crenças, valores, atitudes e práticas ecologicamente orientadas convertem-se num valor
social, pessoal e de consumo. Para Leme (2012), as mudanças da realidade socioambien-
tal e das posturas dos indivíduos dependem da EA; sem ela não se faz transformação.
Porém, é preciso compreender que a EA não faz “milagre” e que são necessários investi-
mentos, políticas públicas, envolvimento de instituições, comprometimento de pessoas,
entre outros fatores.
A EA como uma prática educativa, tem sido importante mediadora no campo edu-
cacional e no campo ambiental, permitindo o diálogo entre os novos problemas gerados
pela crise ecológica e promovendo reflexões, concepções, métodos e experiências que
visam construir novas bases de conhecimento e valores ecológicos para esta e para as
novas gerações (CARVALHO, 2012). Não há dúvidas, de que o processo educacional pode
incentivar a formação de um sujeito mais crítico, historicamente situado, que possa
transformar a realidade opressora. O papel da Universidade, considerada como produ-
tora do conhecimento mais elaborado, deve também assumir um compromisso mais
social, corroborando para que a liberdade do sujeito aprendiz encontre novas formas de
ultrapassagens às violências vivenciadas por nossa era (SATO; SANTOS, 2001).
No Brasil existe Política Pública para Educação Ambiental: a Lei nº 9.795/99 que
normatiza a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Em seu Art. 2 define: “A
educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do pro-
cesso educativo, em caráter formal e não-formal”. Ou seja, sendo “componente essencial
e permanente da educação nacional”, a educação ambiental está institucionalizada no
Brasil desde 1999. Em relação aos níveis e modalidade de ensino:
Art. 9º Entende-se por educação ambiental na educação escolar a ser desen-
volvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e priva-
das, englobando: I – educação básica: a) educação infantil b) ensino
fundamental c) ensino médio II – educação superior III – educação especial
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
uma visão contextual disciplinar. Portanto, nota-se que o PPC do curso faz alusão a essa
concepção de Educação Ambiental que tem o caráter transversal, e se diz presente por
toda a matriz curricular da Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC), contudo, não foi
observado dessa forma a presença da EA no documento.
O documento reconhece a Lei nº 9.795/99, que considera que a Educação Ambiental
como componente essencial e permanente da Educação Nacional, devendo estar pre-
sente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não formal. Porém, ao analisar o PPC não foi encontrado nada especifi-
camente sobre a Educação Ambiental ou ações ou práticas de Educação Ambiental, e
nem disciplinas voltadas para a área. Observou-se apenas a utilização constante da pala-
vra sustentabilidade ou sustentável ao longo do documento.
Nesse sentido, observou-se que durante a construção do PPC, teve uma preocupa-
ção em trazer a EA, por reconhecer a legislação vigente. Porém, mesmo reconhecendo os
parâmetros legais, pouco se observou sobre ações ou práticas que estão relacionadas
com o desenvolvimento de EA no curso de Licenciatura em Educação do Campo, o que é
um pesar, uma vez que o curso tem como objetivo a formação de futuros docentes para
atuar no campo. O campo hoje é um espaço de luta e que está sujeito a diversas pressões
ambientais, e a discussão da EA nesse sentido, seria fundamental para que o discente em
formação pudesse ter novos conhecimentos para se posicionar enquanto cidadão sobre
os reais problemas socioambientais que o campo enfrenta, principalmente, aqueles rela-
cionados com a expansão do agronegócio.
Foi possível observar nos objetivos específicos do curso elementos que apontem
para a possibilidade de desenvolver ações e temáticas que articulem com a EA:
Contribuir em uma formação que problematize a intervenção no campo,
visando fortalecer as atividades desenvolvidas no campo relacionado à sus-
tentabilidade. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, 2017, p. 11, grifo nosso)
Dessa forma, o enfoque da EA deve buscar uma perspectiva de ação holística que
é capaz de relacionar o homem, a natureza e o universo, tomando como referência que
os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o
homem (JACOBI, 2001).
A educação do campo se identifica pelos seus sujeitos. Pensar uma política de edu-
cação que se preocupe em construir uma educação de qualidade que forme as pessoas
como sujeitos de direito (CALDART, 2002). Dessa forma, construir a educação do campo
significa formar educadores e educadoras do e a partir do povo que vive no campo
(ARAÚJO; LIMA, 2019). A perspectiva da educação do campo é a de educar este povo,
essas pessoas que trabalham no campo, para que se articulem, se organizem e assumam
a condição de sujeitos da direção do seu destino. Trata-se de uma educação dos e não
para os sujeitos do campo (CALDART, 2002). A formação de professores do campo, pos-
sibilita fortalecer a construção de um ensino partindo da realidade da comunidade ou
dos assentamentos, valorizando a diversidade social e cultural. Assim, a formação de
educadores do campo deve privilegiar a compreensão da educação como prática política
e social, para que possam atuar nos espaços educativos (sejam eles escolares ou não
escolares) que valorizem a vida, a cultura do sujeito para, no e com o campo (ARAÚJO;
LIMA, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
[ 136 ]
ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA SOBRE O ENSINO DE BIOLOGIA 137
portanto, marca o caráter social da atividade científica que considera a relação dialética
entre o individual e o social.
METODOLOGIA
Este estudo é caracterizado como uma pesquisa do tipo Estado da Arte (FERREIRA,
2002; ROMANOWSKI; ENS, 2006). Para esses autores, pesquisas deste tipo possuem o
potencial de explicitar aspectos da produção científica de um campo de investigação
(focos temáticos, interesses investigativos, periodização, regionalização, perspectivas
teórico-metodológicas e contribuições para um campo). A matriz empírica da análise foi
formada por artigos, dissertações e teses que trataram do ensino de biologia na EJA e
constituição desta matriz considerou o disposto nos Quadros 1 e 2.
3 Para a escolha dos programas em Educação, os sites destes foram consultados para identificar as linhas de
pesquisas. Aqueles que apresentavam em suas linhas a possibilidade do desenvolvimento de estudos sobre o
ensino/práticas pedagógicas que abarcava os diferentes componentes curriculares no contexto da educação
escolar foram listados para a procura de trabalhos.
4 A área de avaliação Ensino possui uma diversidade de programas em função da sua natureza multidisciplinar.
Como critério de seleção para esta pesquisa, os programas que apresentavam o Ensino de Ciências e Matemá-
tica como área básica, automaticamente foram consultados. Enquanto aqueles que estivam vinculados à área de
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ensino (área básica), os seus sites foram examinados para verificar se as linhas de investigação contemplavam o
desenvolvimento de pesquisas sobre o ensino de ciências na Educação Básica.
Posto isso, este trabalho sinaliza a demanda de uma análise mais verticalizada para
esse fim, pois isso possibilitaria compreender as concepções de realidade, homem e rela-
ção sujeito-objeto em que se pautam os estudos realizados, permitindo assim, uma
caracterização mais ampla do Estilo de Pensamento Educação em Ciências.
Estudo de Caso T26, DA35, DA42, DA43, DA47, DA54, DF03, DA41, DA48 09
Pesquisa – Ação A15, DF02, DF07, DF16, DA21, DF38, DA50, DA28 08
Pesquisa-Ativa
DA17 01
Intervenção
Pesquisa Documental A20, DA14, DA20, DA35, DA39, DA40 06
A06, A08, A09, A10, A19, A21, A22, A25, A26, DF09,
Não há posicionamento 16
DF11A01, A02, A03, A05, DA19
Abd. – Abordagem. *As tipificações receberam a denominação em concordância com os termos empregados pelas produções analisadas (Artigo,
Dissertação e Tese).
*As tipificações receberam a denominação em concordância com os termos empregados pelas produções analisadas (Artigo, Dissertação e Tese).
*As tipificações receberam a denominação em concordância com os termos empregados pelas produções analisadas (Artigo, Dissertação e Tese).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
[ 151 ]
152 Ana Luisa Otto; Leandro Baptista; Simone Guimarães; Adda Echalar
têm se alinhado, cada vez mais, com questões referentes à economia, política e socie-
dade, sendo demarcado nas próprias políticas públicas educacionais do país.
A partir desse referencial, o presente estudo centrou-se na compreensão epistemo-
lógica de tecnologia presente em produções acadêmicas (dissertações e teses – D&T) na
área de Educação em Ciências, a fim de promover uma análise dialética que articularam as
temáticas “Formação de Professores”; “trabalho docente”; “tecnologia”. Especificamente,
o presente estudo objetivou responder à seguinte problematização: qual(is) a(s) concep-
ção(ões) de tecnologia que demarca(m) as produções acadêmicas brasileiras sobre forma-
ção de professores e trabalho docente na área de Educação em Ciências?
Para atender a este propósito, foi realizada uma pesquisa exploratória no site da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD)6, entre os meses de maio a
junho de 2019, com a utilização dos seguintes descritores, de forma conjunta: formação
de professores, tecnologia, trabalho docente, Química, Biologia, Física e Ciências7, os
quais foram inseridos nos caminhos de busca avançada selecionando todos os campos,
sem adotar recorte temporal. As produções foram selecionadas tendo por base a apre-
sentação de elementos relacionados entre “formação de professores”, “trabalho
docente” e/ou “tecnologias”.
Os descritores foram utilizados de forma conjunta, compreendendo que forma-
ção de professores e trabalho docente se constitui enquanto uma unidade dialética
indissociável. Para Brzezinski (2008), a compreensão dessa unidade se faz, principal-
mente, tendo em vista a relação direta que se estabelece entre o processo de forma-
ção, a partir de uma complexa conjugação de conhecimentos indispensáveis para a
atuação docente e o trabalho, a partir do desempenho de deveres e responsabilidades
no seu campo profissional.
Para tabular os dados, foi construída uma matriz de coleta de dados com os seguin-
tes parâmetros: ano, instituição de ensino superior (IES), tipo, programa de pós-gradua-
ção (PPG), autor(a), orientador(a), resumo, palavras-chaves, problema de pesquisa,
objetivo e bases epistemológica do uso da tecnologia. No entanto, para a organização
deste estudo, pautou-se apenas no ano, o tipo de produção (teses ou dissertações), IES,
PPG e as bases epistemológicas do uso da tecnologia.
Com base em nossos descritores, foi constituído um corpus inicial com 21 disserta-
ções e cinco teses. Das 26 produções, 11 foram descartadas do corpus por não apresen-
tarem relação entre formação de professores, trabalho docente e tecnologias. Após essa
primeira análise, o corpus se concretizou com 15 produções acadêmicas (três teses e
doze dissertações – Quadro 1).
A partir das análises das produções encontradas, percebe-se que elas se distri-
buem geograficamente pelo Brasil, sendo: uma no Sudeste (Universidade de São Paulo),
sete no Centro-Oeste (Universidade de Brasília e Universidade Federal de Goiás) e sete
no Sul (Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Universidade Franciscana, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal de Pelotas, Universidade Regional do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul e Universidade Federal de Santa Catarina). As
regiões Norte e Nordeste não apresentam nenhuma produção. Para Teixeira e Megid-
Neto (2011), a baixa concentração de programas de pós-graduação em regiões como
Norte e Nordeste acaba por justificar a restrição do desenvolvimento de pesquisas na
área da Educação, nestas regiões.
Pela estrutura presente no quadro 1, percebe-se que as discussões a respeito do
uso das tecnologias nas produções acadêmica de pós-graduação ainda se encontram em
estágio embrionário, uma vez que a primeira publicação do corpus é em 2005. Apesar
das discussões da temática já remeterem à década de 1971, com a I Conferência Nacional
de Tecnologia em Educação Aplicada ao Ensino Superior (I CONTECE), o aumento das
publicações somente aparece no corpus após o período de reformulação do Programa
Nacional de Informática na Educação (Proinfo)8 no país, em 2007.
Com base em estudos realizados por Echalar e Lima (2018), o aumento das produ-
ções acadêmicas acerca da relação estabelecida entre Educação e Tecnologias pode estar
atrelado a um período de “implementação de algumas políticas nacionais de inserção
das tecnologias no ambiente escolar, visto que a partir do lançamento do Proinfo
Integrado foram desenvolvidos diferentes programas de incentivo nesse campo” (p. 9).
Nessa mesma lógica, percebe-se uma maior frequência de trabalhos (6 dos 15 tra-
balhos analisados) oriundos do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências, da
Universidade de Brasília (UNB), apresentando em 5 trabalhos, uma racionalidade instru-
mental (técnica), que pode ser constatado na Tabela 1. De acordo com Novikoff et al
(2009), os mestrados profissionais, atrelados à uma racionalidade técnica, apresentam
uma característica de estreita relação entre a psicologia comportamentalista e o uso de
procedimentos racionais da ciência, no qual o treinamento de habilidades e competên-
cias comportamentais, bem como a transmissão de informações são condições
8 De acordo com Echalar e Lima (2018), em 1997, o governo federal implementou o Programa Nacional de Infor-
mática na Educação (ProInfo), na intenção de que houvesse um fortalecimento da ação pedagógica e a busca
de soluções no campo da educação brasileira, a partir da modernização com inovações tecnológicas para o
processo de ensino-aprendizagem. Em 2007, o mesmo é atualizado pela criação do Programa Nacional de Tec-
nologia Educacional, denominado ProInfo Integrado.
marcantes. Logo, há uma acumulação de técnicas e métodos de ensino, bem como a pre-
posição de produtos educacionais práticos para o processo educativo, na intenção de
atender aos interesses do mercado.
De acordo com Schäfer e Ostermann (2013), os mestrados profissionais, por mais
que se caracterizem enquanto uma alternativa viável para a produção acadêmica do
país, reforça a racionalidade técnica dos professores, uma vez que o mesmo consiste em
soluções instrumentais para problemas evidenciados no campo de pesquisa.
Percebeu-se, durante essa leitura, que as produções acadêmicas convergiam para
uma relação entre “formação de professores e tecnologias”, “trabalho docente e tecno-
logias” ou “formação, trabalho e tecnologias”, possibilitando as categorias apresentadas
ao longo das discussões deste estudo (Tabela 1). Nesse contexto, foram evidenciados os
temas emergentes para a implementação das tecnologias no sistema educacional brasi-
leiro, em sua relação direta com a formação de professores e o trabalho docente.
É por meio do trabalho que o homem se reconhece como “ser humano”, uma vez
que é por ele que são estabelecidas as relações com o meio natural e social. Quando o
trabalho é concebido em seu papel emancipatório, o homem se reconhece em seu pro-
duto final - a mercadoria (LIMA et al., 2014). No caso do trabalho docente, considerado
enquanto um trabalho não material, o professor deve compreender que a formação dele
é um ato contínuo de ressignificação da prática (trabalho) em relação direta com a teoria
(formação), uma vez que o produto não se separa inteiramente do meio de produção. O
conhecimento proveniente da formação do professor se constitui enquanto objeto de
apropriação do educando e, portanto, não pode deixar de estar presente no ato da pro-
dução (aula), sendo impensável a expropriação desse objeto ao educador (PARO, 1993).
Logo, se torna necessário pensar que a formação assume, nesse processo, a res-
ponsabilidade de preparar o docente para o trabalho, por meio do desenvolvimento de
suas capacidades intelectuais e profissionais da atividade social que irá exercer. Cabe a
reflexão de qual papel uma formação que está segregada do trabalho tem assumido em
meio a propostas neoliberais? Evangelista (2013) nos alerta que por meio de propostas
de implementação de “inovações” no ensino mediado por tecnologias, busca-se cada vez
mais, colocar o professor em um papel de reprodução do conhecimento e técnicas de
aprendizagem.
Para as análises de abordagem epistemológica, em relação às tecnologias na for-
mação de professores e no trabalho docente, foi adotada a perspectiva de Peixoto (2012),
na qual o conhecimento é construído historicamente e pode ser estruturado em três
perspectivas explicativas: tecnocêntrica, antropocêntrica e sócio-técnica.
Das 15 produções analisadas, oito9 apresentam uma abordagem antropocêntrica,
ou seja, consideram o sujeito enquanto elemento central do processo e se enxerga a tec-
nologia somente como um elemento facilitador do trabalho docente. Nesse contexto,
elas assumem uma perspectiva de neutralidade no processo educativo, desconsiderando
os contextos e as demandas de suas elaborações (ECHALAR; PEIXOTO; CARVALHO, 2016),
o que pode ser percebido em trecho do trabalho T1.
Depois de registrados os cuidados acima, das discussões precedentes a res-
peito da interdisciplinaridade, da contextualização, da problematização e da
alfabetização científica e tecnológica, extrai-se que um primeiro passo para
um ensino por competências e uma aprendizagem contextualizada poderia
vir da recorrência ao mundo vivencial dos alunos, pois tenderia a
9 Os oito trabalhos que apresentam uma abordagem Antropocêntrica são: D1; D3; D5; D7; D8; D11; T1 e T2.
10 Os excertos extraídos do corpus de análise serão grafados como citação direta, mas em itálico para diferenciá-los
Logo, corroboramos com Costa e Leme (2014) quando as autoras afirmam que a
racionalidade instrumental se configura enquanto um modelo que mantem o status quo
da sociedade capitalista, empobrecendo a experiência crítica de formação e trajetória
dos professores, tendo em vista que são cobrados pela instrumentalização e especializa-
ção de caráter fragmentado e reducionista, o que fortalece uma formação burguesa de
bases conservadoras e adaptativas do indivíduo na lógica do capital. Nessa perspectiva,
evidencia-se um processo de massificação e alienação da consciência que, por conse-
quência, se transforma em barbárie, em um processo de construção da práxis educativa
de forma isolada, sem uma compreensão dialética das bases do processo formativo
(COSTA; LEME, 2014).
Já na abordagem tecnocêntrica, com um total de três11 produções, apresenta-se
certa centralidade do objeto (tecnologia) como elemento principal, atribuindo a capaci-
dade de se chegar a um resultado por meio exclusivo de uma metodologia de ensino,
sem considerar os demais elementos participantes do processo de ensino-aprendizagem
(PEIXOTO, 2012; 2016). O princípio dessa abordagem se baseia na repetição dessas técni-
cas, com esvaziamento teórico.
Nas publicações, percebe-se no trecho do trabalho D2 essa perspectiva tecnocên-
trica quando os pesquisadores descrevem seus trabalhos e colocam o artefato tecnoló-
gico como centro da discussão, como se o mesmo fosse autônomo e capaz de transformar
contextos somente pelo seu uso, com o poder de motivar o aluno e de despertar o inte-
resse do mesmo (ECHALAR; PEIXOTO; CARVALHO, 2016).
O uso das TIC’s pode contribuir significativamente com a construção de
conhecimento dos alunos e não se tornar um recurso, apenas com a finali-
dade transformar aulas tradicionais e monótonas em aulas atrativas e diver-
tidas. Os recursos da TIC podem colaborar muito no trabalho docente,
quando exploradas todas as potencialidades de suas ferramentas (D2, 2012
p. 28).
11 Os três trabalhos que apresentam uma abordagem Tecnocêntrica são: D2; D4 e D6.
docente poderia ser a solução dos problemas educacionais, econômicos e sociais. Essa
perspectiva teve o claro intuito de estar articulada aos interesses neoliberais hegemôni-
cos e a população de forma geral. Logo, percebe-se que um projeto de educação pau-
tado na manutenção da hegemonia burguesa não permite a possibilidade de
transformação e emancipação de todos (SHIROMA; EVANGELISTA, 2003).
Peixoto (2016) afirma que as políticas públicas educacionais brasileiras para a for-
mação de professores e inserção das tecnologias na educação estão fundamentadas em
uma racionalidade instrumental, a partir de um discurso de fragmentação e dicotomia do
trabalho do professor. É evidenciada uma lógica de proposição para a construção e o
desenvolvimento de habilidades e competências docentes para utilização de recursos
tecnológicos no âmbito pedagógico. Nessa lógica, a formação de professores se apre-
senta a partir de uma base tecnicista, na qual a qualidade do professor é medida por
meio da transmissão do conhecimento e da competência pelo seu produto, considerado
enquanto resultante das condições objetivas do ensino.
A possibilidade de superar essas perspectivas se encontra, segundo Peixoto (2012;
2016), na perspectiva sociotécnica, que contempla quatro12 das produções analisadas,
evidenciada no trabalho D12, que não desarticula a totalidade do movimento, pois con-
sidera a construção coletiva da teoria e da prática considerando o modo de apropriação
das tecnologias na formação e no trabalho docente.
É de suma importância que a formação de professores, especialmente a que
ocorre por meio da EAD, se livre das amarras mercantis e que se estabeleça
políticas de Estado que garanta a sua efetiva institucionalização. Concordamos
com Araújo e Peixoto (2012), Dourado (2008) e Peixoto (2011), ao apontarem
que a EAD deve superar a centralidade imputada ao aparato tecnológico e
seu uso, como sendo fatores determinantes na qualidade ou não do processo
educativo (D12, 2019, p. 139).
12 Os quatro trabalhos que apresentam uma abordagem Sociotécnica são: D9; D10; D12 e T3.
processo, optar por meio das tecnologias mediar e construir novas abordagens, que
levem em conta ações integradas em sua práxis (ECHALAR; PEIXOTO; CARVALHO, 2016).
O modo como se constituiu a maioria das pesquisas (do total de 15 produções, ape-
nas quatro apresentam uma lógica sociotécnica), nos permite dizer que ainda se torna
necessário avanços na área de Educação em Ciências no que se diz respeito ao uso das
tecnologias, tanto no processo de formação de professores como no trabalho docente.
Percebe-se que a fragmentação do processo não permite a percepção do movimento
partindo do particular em relação à totalidade do fenômeno estudado – a formação de
professores, pois não se leva em consideração as discussões das políticas educacionais e
o jogo de interesses presentes nos sistemas educativos (CURY, 1989).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Outros dois pontos que emergem desta análise estão no campo da CTS, com qua-
tro produções (D4; D5; D8 e T3) e da utilização das tecnologias no ensino, com relação
com o trabalho docente e a formação de professores, com seis (T1; T2; D1; D3; D6 e D10)
produções.
Desses dois últimos temas, os quais apresentam a maior recorrência das produções
acadêmicas analisadas, manifesta-se uma lógica predominante antropocêntrica, no qual
o sujeito se caracteriza enquanto o centro do processo educativo. Com isso, evidencia-se
uma tendência que corrobora com a lógica imposta pelo modelo neoliberal de educação,
considerando a neutralidade (PEIXOTO, 2012; 2016) das tecnologias e colocando o sujeito
como responsável pelo sucesso ou fracasso dessa utilização.
É evidente que nos sistemas sociais, em especial, o educativo, quando a tecnologia
passa a ser tratada como instrumento para a manutenção da hegemonia dominante a
escola perde seu a possibilidade de construir seu papel emancipatório e passa a ser palco
de um processo de reprodução e manutenção dessa lógica, partindo do trabalho alie-
nado do professor para o uso das tecnologias. Nesse sentido, cabe refletir sobre possibi-
lidades, como a abordagem CTS, para uma compreensão mais abrangente das relações
entre Educação e Tecnologias, colocando o processo de ensino-aprendizagem como cen-
tro na prática docente.
Nesse contexto, percebe-se uma tendência mais direcionada à fragmentação da
forma e do conteúdo nos trabalhos analisados, ocasionando impasses na construção da
identidade docente e na percepção da totalidade do trabalho. A formação de professo-
res pautada em uma lógica sociotécnica, pode ajudá-lo ao exercício de um trabalho que
não descontextualiza o contexto político e econômico, bem como possibilite aos mes-
mos um olhar crítico acerca das relações de exploração fundamentadas pelo modo de
produção capitalista.
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INTRODUÇÃO
1 Aluno especial da disciplina de “Tecnologias e Educação: uma questão epistemológica” no Programa de Pós-Gra-
duação em Educação em Ciências e Matemática da Universidade Federal de Goiás (PPGECM/ UFG)
2 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática (PPGECM) da Universidade
Federal de Goiás (UFG).
3 Professora do PPGECM/UFG. Integrante dos grupos de pesquisa Kadjót e Colligat. adda.daniela@ufg.br
[ 167 ]
168 Ariel Sodré Dias; Wesley Falcão Magela; Adda Daniela de Lima Figueiredo Echalar
identidade docente, para que essa não assuma um caráter pragmático e não entenda o
fazer educacional como simples ato de se fazer presente em sala. Faz-se necessário com-
preender a prática docente como construto social, intencional e permeado por caracte-
rísticas, concepções e contradições de determinada visão de mundo e de educação e sua
relação com o momento histórico da sociedade em que esta visão foi concebida.
Dentro do contexto de sociedade em que nos vemos inseridos, na qual a pre-
sença das tecnologias de informação e comunicação (TIC) permeiam os mais diversos
setores desta, inclusive o educacional, a educação se vê voltada à inserção das ferra-
mentas tecnológicas como imposição da sociedade do capital. Serra e Arroio (2007)
defendem que nessa “era”, na qual a informática é elemento presente no cotidiano do
aluno, para além de aprender os conteúdos curriculares, esse deve ter sua formação
com vistas a pensar, analisar, concluir e interpretar de forma crítica as informações a
que tem acesso na internet.
Neste sentido, o papel do professor em uma sociedade pautada pela presença das
TIC está relacionado a leitura de mundo pela apropriação dos conteúdos científicos e
pela compreensão dos produtos da Ciências, a tecnologia, por exemplo, a fim de desper-
tar o educando para os usos da tecnologia nessa sociedade, suas intencionalidades, rela-
ções, possibilidades e repercussões de seu uso. A “prática deve estar pautada pela
discussão do contexto sócio-histórico em que estão inseridos sujeito e objeto, e as múl-
tiplas determinações a que esta realidade expõe ambos”. (PEIXOTO, 2015, p. 237).
Faraum-Júnior e Cirino (2016) apontam que a Química, ciência estreitamente rela-
cionada ao desenvolvimento social, econômico e industrial, necessita ser compreendida
com um olhar mais reflexivo que possibilite enxergar sua relação com o cotidiano das
pessoas, concebendo a articulação entre Ciência, aplicação tecnológica e a sociedade e
se afastando de uma Educação Química fundamentada no domínio estreito dos concei-
tos dessa ciência. Os autores afirmam ainda que, para tanto, se faz necessário que o pro-
fessor reavalie sua prática pedagógica no que tange à inserção das TIC, seus usos e
intencionalidades formativas.
Nesse sentido, a formação inicial e continuada de professores de Química deve
proporcionar conhecimentos que lhe permitam introduzir as TIC em sua prática pedagó-
gica dentro de uma perspectiva emancipadora, que busque romper com uma perspec-
tiva tradicional de ensino e que compreenda o uso das TIC no contexto das “relações de
força existentes no mundo do trabalho regido pelo modo de produção capitalista”
(MOTA; ARAÚJO; SANTOS, 2018, p. 352).
Este entendimento torna possível um olhar mais crítico e amplo que nos permite
perceber três concepções sobre o papel da tecnologia neste processo: uma visão antro-
pocêntrica, uma visão tecnocentrada e uma visão sociotécnica.
Para Peixoto (2015), a abordagem tecnocêntrica toma a tecnologia como elemento
central da relação tecnologia e educação, sendo, assim, a solução imediata e natural para
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nossa busca trouxe como resultado um total de dez trabalhos que contemplavam
a discussão das TIC no contexto da formação de professores presentes nos anais do XVIII
ENEQ (Quadro 1).
Quadro 1 – Trabalhos encontrados nos Anais do XVIII ENEQ que tratam sobre o uso das TIC na
formação de professores e suas visões sobre o papel destas
Código Região do Brasil Título
Elaboração de vídeos didáticos como ferramenta de auxílio do
R0080-1
professor no ensino de Química.
Nordeste
Uso de TIC e a formação de professores de Química:
R1436-1
emergências no XVII - ENEQ.
Elaboração e construção de um e-book sobre tecnologias interati-
R2234-1
vas como subsídio ao ensino de Química da Educação Básica
Discussão sobre o tema “condutividade elétrica das soluções” em
R1570-1 Centro-Oeste
um grupo de licenciandos em Química utilizando recursos das TIC
Os desafios contemporâneos na formação docente: o uso do
R 1186-2
celular em sala de aula
O Currículo e as Tecnologias na formação de professores de
R 0543-1 Química: do currículo prescrito ao vivido na Universidade Federal
do Amazonas.
As atividades experimentais mediadas por tecnologias digitais de
R1441-2 Sudeste informação e comunicação na formação de professores de
Química: a circulação intra e intercoletiva
R1120-2 Recurso tecnológico e a formação do futuro professor de química
R2080-1 TIC
A utilização de tecnologias no ensino de Química: um olhar para a
R1992-1 Sul
formação inicial
Fonte: elaborado pelos autores.
A análise dos artigos nos permitiu observar que os dez trabalhos encontrados com
a temática TIC e formação docente publicados no ENEQ 2016 são oriundos de quatro das
cinco regiões do país, na seguinte proporção: três são provenientes de Instituições de
Ensino Superior (IES) da região Sudeste, outros três são oriundos de IES da região Centro-
Oeste, dois da região Nordeste e dois da região Sul.
Embora a origem dos trabalhos esteja bem distribuída entre quatro regiões do país,
a região Norte não se encontra incluída. Esse dado nos leva a questionar sobre a inserção
da discussão do uso de tecnologias nos cursos de formação de professores de Química
nas IES no Norte do país. A distância geográfica do evento seria um problema aos pesqui-
sadores do norte do Brasil para submissão de trabalhos? Que discussões tem permeado
essa temática nestes ambientes? Que concepção sobre o uso da tecnologia no campo
educacional marca a formação e as tecnologias nessas IES?
Outro dado notório é o fato de que de tais trabalhos, apenas três são provenientes
de pesquisas realizadas no âmbito de Programas de Pós-Graduação em Educação em
Ciências (PPGECM), sendo um destes desenvolvido na Universidade Federal de Goiás
(PPGECM-UFG), um no Programa de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) e outro no
Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica da Universidade
Federal de Santa Catarina (PPGECT-UFSC). Outros três são desenvolvidos em programas
de pós-graduação em Química e quatro em nível de graduação. É interessante notar que
o ambiente da pós-graduação em Educação em Ciências não se destaca no corpus dessa
pesquisa como lócus de discussão do papel da tecnologia no saber e fazer docente do
professor de Química. Nos questionamos se a pesquisa e a formação de pesquisadores,
nesta área, ainda não incorporam a temática da tecnologia no âmbito de suas inquieta-
ções. As linhas de pesquisa destes programas inserem o questionamento dos meios digi-
tais na formação docente?
A análise fundamentada nos estudos epistemológicos entre tecnologias e educa-
ção de Peixoto (2012) nos aponta que dos dez artigos objetos deste estudo, sete dicoto-
mizam a relação entre os sujeitos e os objetos técnicos, ora focando no segundo elemento
(três trabalhos), ora focando no sujeito (quatro trabalhos) – Quadro 2. Assim, na maior
parte destas produções científicas, a tecnologia na formação docente é balizada por uma
abordagem tecnocentrada ou instrumental.
Quadro 2 – Transcrições de trechos dos artigos analisados na pesquisa, que trazem sua concepção
sobre o papel das TIC
Excertos
“Entretanto, vale ressaltar que a utilização da mídia não deve ser vista com perspectiva sal-
vacionista na frente educacional, visto que este recurso isoladamente, não se basta. É pre-
ciso um comprometimento do mediador na utilização do recurso, de modo que a exploração
didática seja beneficiadora do processo de ensino aprendizagem, evitando-se um uso
“vazio” do recurso escolhido[...]” (R2080-1, p. 1).
“Sabendo disso o professor deve buscar possibilidades de interação com os educandos
atuais, nativos digitais, num processo de complexidade crescente que pode ser auxiliado
eficientemente pelas ferramentas tecnológicas” (R1992-1, p. 4).
Instrumental
“[...] afirmam que ainda é um desafio para professores utilizar esses recursos para preparar
e ministrar suas aulas. Segundo o autor, as principais dificuldades dos professores estão
ligadas à sua formação inicial e continuada. Refletir sobre as TICs é relevante, pois a forma-
ção de professores deve ter como foco principal a mudança de atitudes dos professores
face às tecnologias de informação e comunicação e o seu potencial para uso em contexto
educativo” (R1186-2, p. 1).
“Os resultados apontam relações concretas acerca de necessidades formativas dos profes-
sores e as dificuldades para o uso de TICs em suas práticas no que se refere “a falta de”:
conhecimento sobre as TICs; de formação inicial e continuada; de recursos e motivação”.
(R1436-1, p. 1).
“Tendo em vista o uso de vídeos em sala de aula, é de grande importância que esta ferra-
menta de motivação sobre determinado tema seja aplicada inicialmente na graduação mos-
trando alguns tipos de metodologias que podem ser utilizadas, focando na inovação e
mostrando meios de não deixar que uma aula se torne um possível pesadelo tanto para o
professor, quanto para o aluno.” (R0080-1, p. 1).
Tecnocentrada
O que se observa nas propostas de formação docente para abordagem das tecno-
logias digitais é a forte presença de uma corrente instrumentalista que vê tais ferramen-
tas como simples possibilidade de fornecer ao professor em formação meios de
incrementar sua prática pedagógica, abstendo-se da necessária teorização.
Com tal dicotomia, recai equivocadamente sobre a educação e seus agentes edu-
cativos a responsabilidade de solucionar os problemas sociais que não foram criadas por
ela, atendendo as demandas criadas pelas classes dominantes, fazendo uso das tecnolo-
gias no processo de melhoria da qualidade de ensino nas escolas. A estratégia neoliberal
apresenta a educação como “[...] um investimento em capital humano que habilita as
pessoas para a competição pelos empregos disponíveis” (SAVIANI, 2013, p. 430).
Para autores como Vieira Pinto (2005) e Malaquias (2018), a técnica é uma concep-
ção humana e não pode receber um caráter autônomo, por assim dizer, uma vez que é
manipulada e usada por estes.
Nenhuma técnica é boa ou má, mas serve de índice de qualidade das ações
humanas, definidas pelas finalidades que se destinam a realizar, situadas na
origem dos atos, dos instrumentos e métodos técnicos. Os atos humanos
nunca se destacam da vinculação com a técnica, por mais complexa que
pareça ser a que lhes é associada. [...] sendo os atos humanos realmente
objeto de descriminações axiológicas, reflexo da necessidade de estruturar o
convívio social para assegurar o melhor êxito da produção coletiva, torna-se
perfeitamente compreensível a atribuição à operação técnica de um juízo de
valor, que cabe de direito ao desempenho humano correspondente. Não
haveria nada de inconveniente nessa prática se não fosse esquecida a verda-
deira relação de inerência que unifica a técnica e o ato humano correspon-
dente (VIEIRA PINTO, 2005, p. 347).
Este é o movimento, a linha de raciocínio que nos foi posta como “a natural”.
Vivemos em um meio no qual há sempre a responsabilização de alguém e a meritocracia
do outro. Será que é possível ver tudo isso de outro modo? Nessa tentativa, podemos
levantar algumas questões: o professor se sente preparado e, de fato, está preparado
para usar as tecnologias em sua prática profissional? Ele faz isso de maneira consciente e
intencional ou apenas para atender uma demanda que não foi criada por ele? A forma-
ção inicial e continuada dos docentes tem se estruturado para preparar o profissional
quanto a isso? Há interesses pedagógicos nos usos de TIC?
O fato apresentado se engendrado no modo hegemônico de fazer pesquisa da área
acaba por promover o Estado e suas políticas, pois se fortalecem dois discursos: o que
coloca a tecnologia como a ferramenta salvadora dos problemas, pois ela facilitaria a
melhoria na educação, e o que quer colocar o foco no agente educativo (professor, estu-
dante, gestor, etc.), uma vez que este seria o real agente, aquele quem detém o conheci-
mento necessário para fazer o “uso correto” das tecnologias em suas práticas.
Malaquias (2018) ao investigar as relações entre as tecnologias e a formação de
professores de Matemática, nos mostra que essa polaridade entre tecnocentrismo e ins-
trumentalismo de fato existe no contexto atual. A autora trabalhou em um levantamento
das produções que falam sobre o assunto na área de Matemática, sendo o primeiro deles
no ano 1999 e afirma que “as relações entre tecnologias e educação são discutidas com
base em teorias comunicacionais e numa oscilação entre a perspectiva instrumental e
determinista sobre o uso de tecnologias” (MALAQUIAS, 2018, p. 20). Dado semelhante se
observa em pesquisas mais amplas sobre a mesma relação, sem levar em consideração
às áreas do saber, como as de Araújo (2008) e Moraes (2016), por exemplo.
Na contraposição à lógica instrumental há a disseminação de uma educação de
caráter transmissivo, uma vez que o profissional formado em tais situações não dispõe
de ferramentas para pensar e repensar sua prática, assumindo assim um ato educativo
baseado na reprodução de saberes e procedimentos. São as características de uma peda-
gogia denominada tradicional na qual a proposta pedagógica se fundamenta no
A autora propõe que a alternativa ao exposto seria o trabalho docente não alie-
nado, pautado em uma proposta histórico-crítica que leva em consideração a sua totali-
dade, pois esta abordagem visa entender as relações existentes entre elas em seus
tempos históricos.
[...] são os polos opostos da unidade dialética que dão vida ao fenômeno. [...]
Como opostos, se identificam à mesma medida que se contrapõem, e a con-
tínua tensão entre singular-universal se manifesta na configuração particular
do fenômeno (PASQUALINI; MARTINS, 2015, p. 365).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo exposto na discussão desenvolvida, fica claro que as práticas de uma educa-
ção alienante, desde a formação e durante o ato docente podem se materializar como
barreira à transposição de uma dicotomia, que tem como base a polarização do discurso
e do uso das tecnologias na formação de professores e trabalho docente, por não enxer-
gar a tecnologia como instrumento a serviço do mercado, cujo foco é o consumo e o sim-
ples utilizar de aparatos digitais.
É evidente, ainda, que a superação desta concepção simplista do uso dos meios
digitais na formação docente somente poderá se dar através de sólido embase teórico na
compreensão destes, superando-se o pragmatismo que tem permeado as pesquisas e as
propostas formativas neste sentido.
Destarte, reafirmamos que a condição alienante imposta pelo entendimento deter-
minista-instrumentalista das tecnologias na formação e no ato pedagógico, baseada na
compreensão tradicionalista de educação e imposta pelos interesses de uma classe social
dominante, tem como único caminho para seu sobrepujamento a tomada de consciência
desta condição pelos que a ela estão sujeitos, de modo a promover a transformação da
sociedade de classe que vivemos. Entendemos como caminho para tal as trilhas de uma
discussão crítica, dialética e emancipadora de educação, das tecnologias e das relações
entre estas.
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
Este estudo trata dos exames de certificação para o público jovem e adulto aplica-
dos na década de 1970. Instituído pela Lei nº 5.692/71 e pelo Parecer do Conselho Federal
de Educação nº 699/1972 sob a nomenclatura de exames supletivo, estes correspondiam
às quatro últimas séries do 1º Grau e às três séries do 2º Grau. Segundo Fávero e Freitas
(2011), a exigência do mercado de trabalho para a certificação de oito anos de estudos
mobilizou milhares de pessoas na década de 1970 para a realização destes exames e, de
acordo com Serrão (2011), eles representaram uma alternativa ao atendimento escolar
tradicional, pois os resultados obtidos poderiam ser utilizados para conseguir o diploma
das etapas da educação básica supramencionadas. Essas provas tinham dentre seus
1 Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Goiás. Professora da rede estadual de educação de
Goiás. E-mail: luceli.defatima@hotmail.com
2 Graduando em Ciências Biológicas Licenciatura, Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de
Goiás. Membro da Rede de Pesquisa Ensino de Ciências na EJA – REPEC-EJA –. Aluno do Programa de Bolsas de
Licenciatura – PROLICEN/UFG –. E-mail: lucasmavelar@gmail.com
3 Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás – Instituto de Ciências Biológicas. Profes-
sor de Biologia da rede estadual de educação de Goiás. Membro da Rede de Pesquisa Ensino de Ciências na EJA
– REPEC-EJA –. E-mail: iurykesleybio@gmail.com
4 Universidade Federal de Goiás, Instituto de Ciências Biológicas (ICB-UFG). Professores do Programa de Pós-Gra-
duação em Educação em Ciências e Matemática (PPGECM – UFG). Coordenadores da Rede de Pesquisa Ensino
de Ciências na EJA – REPEC-EJA –. E-mails: sisendin@ufg.br / paranhos@ufg.br
[ 180 ]
O CONHECIMENTO BIOLÓGICO NOS EXAMES SUPLETIVOS APLICADOS NO ESTADO DE GOIÁS 181
Com a lei nº 4.244/425, que fez parte da reforma de Gustavo Capanema, o ensino
secundário foi reestruturado e dividido em dois ciclos: ginasial de quatro anos e o clássico
e científico, de três anos e passa a ter o nome de “Exames de Licença Ginasial e Colegial”
(MACHADO e LAGO, 2019, p. 5). De acordo com o Artigo 91 desta lei, era permitida a
obtenção de certificados de licença ginasial, reconhecida como uma alternativa de certi-
ficação e de mobilidade social para as pessoas com no mínimo 19 anos (SILVA; SILVA;
MORAIS e MACHADO, 2015, p. 87). Essa lei demarcou em seus artigos 56, 57 e 58 a pre-
sença do conhecimento biológico como item a ser avaliado.
Em 1957 o Art. 91 foi modificado, e retornou com o termo “exame de madureza”,
o artigo também definiu a idade mínima para o exame ginasial de dezoito anos (HADDAD,
1991). Com essa modificação foram incluídos também os exames para o 2º ciclo secun-
dário, para maiores de vinte anos, portadores de certificados do 1º ciclo. Já a promulga-
ção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961,
assegurou aos maiores de dezesseis anos a permissão de obter o certificado de conclu-
são do curso ginasial mediante a prestação de exames de madureza, todavia, nas mes-
mas condições, permitir-se-ia a obtenção do certificado de conclusão do curso colegial
aos maiores de dezenove anos, ambos sem a observância do regime escolar.
Com a promulgação da LDB nº 5.692/71, o exame de certificação – madureza passa
a se chamar exame supletivo, que deu continuidade ao processo de certificação através
de exames. Mesmo constituído com diferentes abordagens na legislação, os exames
supletivos foram um desdobramento dos exames de madureza, todavia “com novas
características, fazendo integração às intenções político-educacionais da educação de
adultos no contexto da ditadura militar” (SILVA, et. al, 2015, p. 88).
Segundo LDB de 1971, os jovens e adultos que por algum motivo deixaram de estu-
dar, poderiam prestar os exames supletivos desde que tivessem no mínimo dezoito anos
para o 1º grau e vinte e um anos para o 2º grau, habilitando ambos a prosseguimento de
estudos em caráter regular. O capítulo IV da LDB nº 5.692/71 que regulamentou os exa-
mes supletivos, também contemplava os cursos supletivos que eram ministrados em
classes ou mediante a utilização de rádios, televisão, correspondência e outros meios de
comunicação que permitiam alcançar o maior número de alunos. Os cursos de supletivos
aconteciam concomitantemente aos exames supletivos, e tinham uma estrutura,
5 Decreto-Lei nº 4.244 promulgada em 9 de abril de 1942, trata da Lei orgânica do Ensino Secundário (Reforma
do Ensino Secundário). Permaneceu em vigor até a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
nal, em 1961.
duração e regime escolar que se ajustavam às suas finalidades próprias e ao tipo especial
de aluno a que se destinavam.
No estado de Goiás, os exames supletivos6 tiveram sua primeira aplicação no ano
de 1973, após a revogação da regulamentação dos Exames de Madureza. Além das ofer-
tas dos exames supletivos fundamental e médio, realizado pela Secretaria de Estado da
Educação de Goiás, existia igualmente a possibilidade dos jovens e adultos concluírem
seus estudos por meio dos cursos de ensino supletivos. Mesmo com a revogação da Lei
4.024, consta nos arquivos do Departamento de Expedição de Certificados e Diplomas
relatórios dos exames de madureza até a data de 1972, já que a Resolução do Conselho
Estadual de Goiás nº 886 de 07 de novembro de 1972, autorizou a realização dos Exames
de Madureza para candidatos aprovados em uma ou mais disciplinas, no regime do Artigo
99, da Lei Federal nº 4.024, de 20 / de dezembro de 1961.
Somente a partir do ano 1973, o governo do estado de Goiás deu início as provas
dos exames supletivos. Até o ano de 1999 os exames de EJA, eram realizados de duas a
três vezes ao ano. A partir do ano 2000 sua realização passou a ser anual. É válido men-
cionar, que nesse período de realização das provas dos exames supletivos, também acon-
teciam realização de outros projetos e programas oferecidos pelo governo estadual para
conclusão do 1º grau e 2º grau como: Projeto Minerva, Projeto Saturnus e Projeto Lumen,
que além de ofertar a oportunidade de concluir o 2º grau, também habilitavam profes-
sores para ministrar aulas da 1ª a 4ª série. Em relação as rotinas de oferecimento, as cida-
des polos eram definidas em edital, através de inscrições presenciais e eram realizadas
cobranças de taxas por cada disciplina na qual o candidato estivesse inscrito. Na década
de 1970 houve a aplicação dos exames supletivos em 25 cidades do estado de Goiás7.
Segundo Silva e Machado (2014), na década de 1970 os candidatos que procura-
vam para se inscreverem nos exames eram na maioria de fora do estado de Goiás. Em
1973, 69% eram candidatos de outras regiões do país e 31% de Goiás; em 1975, 46%
eram de outras regiões do país e 54% de Goiás; e em 1979, 67% dos candidatos eram de
outras regiões e 43% de Goiás (SILVA e MACHADO, 2014). Esses dados seguem até a
década de 1990, quando tem uma redução do fluxo de migrantes buscando os Exames
Supletivos no Estado de Goiás.
Para Silva e Machado (2014), dois episódios históricos nos ajudam a compreender
a alta inscrição de imigrantes nos exames supletivos do estado de Goiás realizados nas
décadas de 1970 e 1980. Primeiro, o fluxo migratório da década de 1940 de famílias que
vieram para trabalhar em fazendas, as quais com a posterior escassez e redução da oferta
de trabalho no campo, tiveram que buscar a cidade e a tentativa de escolarização. O
segundo motivo pode ser explicado pela chegada da estrada de ferro em Goiás, o que
valorizou as terras do estado e culminou em um crescimento da população goiana.
Estudos e pesquisas que envolvem a EJA têm pontuado a historicidade de margina-
lização vivida pela modalidade, e sua luta por políticas que a valorizem dentro de suas
especificidades. A redução de conteúdo e a pressa em resgatar o tempo perdido, acabam
por delinear uma formação aligeirada aos educandos da EJA, o que ratifica ainda mais a
concepção de suplência que a atravessa historicamente, mediocrizando inclusive, a prá-
tica pedagógica do professor que atua nessa modalidade.
Essa concepção de aligeiramento, educação compensatória, e assistencialismo que
a EJA carrega, tem sua contribuição até na terminologia da palavra “ensino”. Segundo
Matos, “a própria terminologia “educação” apresenta um conceito mais abrangente do
que o termo anterior “ensino” (MATOS, 2008, p. 8). O termo ensino supletivo é marcado
ainda pelo aligeiramento da formação escolar, de compensar “o tempo perdido”, de corri-
gir a defasagem idade/série, além de definir a certificação como principal finalidade da
educação. Já o termo “Educação de Jovens e Adultos” apresenta uma nova concepção de
aprendizagem expressada pelo direito e por uma educação de qualidade no compro-
misso com a formação humana.
Face ao exposto, sobre os exames de certificação e suas interferências para a cons-
trução de concepções de Educação de Jovens e Adultos, este estudo se ocupa da análise
das questões do conhecimento biológico presentes nas provas de supletivo (1º grau) da
primeira década (1970) de sua execução no estado de Goiás para caracterizá-las quanto
ao seu conteúdo e forma.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O levantamento dos registros presentes nos livros de relatórios finais das provas de
Ciências teve como foco: a) total de inscritos na disciplina de Ciências; b) total de candi-
datos presentes; c) total de aprovados; d) média geral de aprovação na disciplina de
Ciências (Tabela 01).
Tabela 1 – Aspectos quantitativos relacionados às inscrições nas provas dos exames supletivos
– década de 1970
Embora os exames supletivos (ciências físicas e biológicas) tenham obtido uma taxa
de comparecimento alta (86, 05%) o êxito na aprovação para a década de 1970 não che-
gou a um quarto do total de inscritos. Ao somar todos os índices de aprovação e dividi-
-los pelo número de provas, tem-se que o percentual médio de aprovação para a década
de 1970, é de 23, 07% e a nota média para o componente ciências foi 3, 89. Esses resul-
tados nos levam a analisar e discutir os aspectos relacionados à elaboração das questões
sob as seguintes perspectivas: a) o conteúdo das questões; b) as formas com as quais
esses conteúdos se apresentam; c) o modo como esses aspectos se relacionam com o
projeto formativo vigente no período (dec. 1970) para a formação de adultos.
No que se refere ao conteúdo, as questões foram analisadas com base nas teorias
fundamentais apontadas por Nascimento Jr (2010), que constituem o Estatuto Conceitual
do Conhecimento Biológico. Em seu estudo sobre os conhecimentos da Biologia,
Nascimento Jr et al. (2011) buscaram “contribuir com indicações para um ensino que pos-
sibilite integrar os elementos conceituais, ontológicos, epistemológicos e sócio-histórico
da Biologia (NASCIMENTO JR, et al., 2011, p. 229)”, em estatutos estruturantes. Tais esta-
tutos são indicados como elementos orientadores para um olhar histórico e filosófico do
processo de construção da Biologia numa perspectiva materialista histórico-dialética.
De acordo com os autores, o Estatuto Epistemológico se concentra nas preocupa-
ções sobre a estrutura do pensamento científico, na definição das hipóteses, teorias,
modelos e leis da Ciência. Muitas vezes o método científico acaba reduzindo a Ciência e
provocando um determinismo nas pesquisas biológicas que gera um distanciamento da
realidade. O Estatuto Ontológico da Biologia sustenta condição de existência desta ciên-
cia. Ele concentra discussões relacionadas às concepções de homem, natureza e mundo
na qual as teorias foram elaboradas. Já o Estatuto Histórico Social diz respeito a localiza-
ção no espaço e tempo do contexto de edificação de dado conhecimento, assim como os
condicionantes ideológicos que os envolvem.
O estatuto conceitual da Biologia, por sua vez, procura identificar as unidades bio-
lógicas e quais são as teorias fundamentais e os temas estruturantes formulados a partir
desses fenômenos, sendo estes, elementos que sintetizam o núcleo conceitual da Biologia
enquanto ciência. O Quadro 1 elenca essas teorias fundamentais e temas estruturantes.
Estatuto conceitual
Temas estruturantes Teorias Fundamentais
Organização Teoria Celular (TC)
Equilibração Teoria Homeostase (TH)
Transmissão Teoria da Herança (TT)
Variação Teoria da Evolução (TV)
Interação Teoria do Ecossistema (TE)
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Nascimento Jr et al. (2011).
Para caracterizar as questões quanto a seu vínculo a uma das teorias fundamen-
tais, foram analisados seus enunciados, com vista a identificar algum dos temas estrutu-
rantes. Segue alguns exemplos da categorização das questões segundo os temas
estruturantes e teorias fundamentais:
Questão de nº 22 de outubro de 1978 (ORGANIZAÇÃO – – TEORIA CELULAR
(TC):
Ao observar duas células, uma vegetal e outra animal, é possível distinguir a
primeira da segunda pela presença:
a – () da membrana
b – () dos cromossomos
c – () da mitocôndria
d – () do núcleo
Pede aos candidatos a característica que distingue uma célula animal de uma vege-
tal. A questão discute células e como elas se organizam, suas estruturas, portanto, consta-
ta-se a presença do tema estruturante organização, que está ligado a Teoria Celular.
Questão de nº 37 de março de 1973 (TRANSMISSÃO – – TEORIA DA
HERANÇA (TT):
De acordo com a classificação ABO, qualquer indivíduo, sem levar em conta a
sua raça, cor, tamanho, idade, ou sexo, pode ser classificado em um dos 4
tipos sanguíneos, porém, somente um destes tipos pode receber sangue de
todos os outros e até dele mesmo, trata-se do tipo:
a – () O
b – () AB
c – () A
d – () B
Tem como tema a classificação ABO, e pede aos candidatos que assinalem qual
grupo sanguíneo é capaz de receber doação de todos os outros, inclusive de indivíduos
do mesmo grupo. Constata-se então, que a questão trata do tema estruturante transmis-
são, e por conseguinte, da Teoria da Herança, uma vez que a determinação do grupo san-
guíneo de um indivíduo ocorre via herança dos pais, por transmissão gênica.
Questão de nº 04 de maio de 1978 (EQUILIBRAÇÃO – ------ – TEORIA
HOMEOSTASE (TH):
Pede aos candidatos que associem uma função característica à sua respectiva
célula. Como a função descrita pelo enunciado consta da defesa do organismo “contra
micróbios e germes”, trata-se do tema estruturante equilibração, pois a célula em ques-
tão tem importante papel em assegurar o pleno funcionamento de todas as funções do
organismo, sem a interferência de agentes externos. Trata-se, portanto, de uma questão
vinculada a Teoria da Homeostase. A categorização completa das questões está apresen-
tada no quadro 3, que também considera o número de questões de Biologia em relação
ao número total de questões por exame.
Tabela 2 – Quantitativo de questões de biologia por exame e sua relação com o estatuto
conceitual do conhecimento biológico
Teorias Fundamentais
Nº de Nº de Questões – da Biologia
Ano
Questões Biologia
TC TH TE TV TT
03/ 1973 60 23 17 04 01 0 01
11/ 1973 30 14 09 03 01 0 01
03/ 1974 30 09 04 03 02 0 0
07/ 1974 30 12 09 02 01 0 0
11/ 1974 30 15 12 03 0 0 0
07/ 1975 30 10 08 02 0 0 0
12/ 1975 30 14 09 04 01 0 0
07/ 1976 30 16 07 04 05 0 0
06/ 1977 30 13 04 05 04 0 0
11/ 1977 30 15 05 05 05 0 0
05/ 1978 30 14 06 04 04 0 0
10/ 1978 30 10 06 01 03 0 0
07/ 1979 30 10 06 02 02 0 0
Teorias Fundamentais
Nº de Nº de Questões – da Biologia
Ano
Questões Biologia
TC TH TE TV TT
11/ 1979 30 13 07 06 0 0 0
450 188 109 48 29 0 02
TOTAL (VA /%)
100 41.7 58 25, 6 15.4 0 1
Fonte: Dados retirados dos Relatórios Finais dos Exames de EJA.
Figura 1 – Natureza e foco das questões de conhecimento biológico presentes nos Exames
Supletivos aplicados em Goiás na década de 1970
A natureza definição apresenta dois focos, que são os aspectos da definição utiliza-
dos para a elaboração da questão. O foco pode ser o objeto (O), ou seja, a questão parte
do próprio fenômeno da realidade cuja definição representa. São questões diretas,
engessadas, que perguntam “o que é?”, ou se assemelham a um complete a frase. A rela-
ção que considera a Definição (D) com o foco no Objeto (O), tem-se como exemplo a
questão abaixo. Perceba que o enunciado parte do fenômeno da realidade, que é a flor,
para as alternativas que a representa ou completa este fenômeno.
Questão de nº 09 de março de 1974:
Uma flor completa deve apresentar:
a – () folhas, sépalas, pétalas e pólen;
b – () pétalas, estames, pólen e androceu;
c – () cálice corola, androceu e gineceu;
d – () androceu, gineceu, estames e pistilos.
O foco também pode ser uma ou mais características (C) da definição, nesse caso,
o comando da questão parte de aspectos da definição como forma, função, localização;
dando “pistas” para que o discente reconheça nessas características apresentadas qual a
resposta correta. Na questão a seguir, nota-se a descrição de características no enun-
ciado da questão, (conduzir as seivas e armazenar substâncias nutritivas) o que dá ele-
mentos para que o candidato a assinale a alternativa correta.
As questões S-P parte de uma situação problema, que o candidato pode encontrar
na sua vida cotidiana, e este tem que resolvê-lo, sendo uma das alternativas a solução do
problema. O gráfico 1 apresenta a distribuição de questões por ano de aplicação dos exa-
mes supletivos de acordo com a sua natureza e foco (definição por características – D-C
–; definição por objetos – D-O –; Situação por problemas – S-P –).
Os dados do gráfico inferem uma predominância das questões de natureza defini-
ção, cujo foco está nas características do fenômeno. Das 188 (cento e oitenta e oito)
questões de Biologia presentes nas 14 (quatorze) provas analisadas, 183 (cento e oitenta
e três) são de natureza definição, das quais 133 (cento e trinta e três) tem como foco
características do fenômeno (DC), e 50 (cinquenta) o objeto (DO). Outras 5 (cinco) ques-
tões são de natureza situação, com foco na resolução de algum problema (SP).
Gráfico 1 – Foco das questões de Biologia de acordo com sua natureza da forma com a qual se
apresentam
8 SLONSKI; ROCHA; MAESTRELLI, (2017, p. 2) com base em autores como Henry Giroux definem racionalidade téc-
nica como “uma forma de pensar e agir sobre os sujeitos no mundo relacionada a gestão dos meios de produção
e consumo presentes no capitalismo, de forma a sempre ampliar a eficiência, com o menor ônus possível, tanto
na utilização de recursos, quanto na obtenção de lucro”.
Para compreender o projeto formativo de jovens e adultos nos recortes dos exa-
mes supletivos, é necessário um desdobramento sobre as concepções de formação edu-
cacional. Paranhos (2017) ao discorre sobre três projetos formativos para a EJA na
educação escolar. No primeiro, chamado projeto contextual, a instituição escolar tem a
preocupação com a formação humana e emancipação dos sujeitos, frente as mudanças
sociais, políticas e tecnológicas do século XXI. Já no projeto formativo plural, a instituição
escolar é compreensível e acolhedora, tem a função de formar cidadãos conscientes e
críticos. Por fim, no projeto formativo crítico político, a instituição escolar tem o compro-
metimento com os conhecimentos clássicos, saber metódico, objetivo e científico.
De acordo com o autor, “Difere dos Projetos Formativos Contextual e Plural, o
Crítico Político, que demarca de modo resoluto o compromisso da instituição escolar
com os conhecimentos sistematizados (PARANHOS, 2017, p. 159)”. Neste projeto forma-
tivo, a ideia é que a educação proporcione aos educandos a ascensão do saber espontâ-
neo ao saber sistematizado para alargar as possibilidades de inserção e intervenção na
realidade. Para isso, Paranhos e Carneiro (2015, p. 929) apontam como necessário para o
ensino de biologia na EJA, os seguintes aspectos:
a) considerar os educandos da EJA como sujeitos concretos e suas determina-
ções; b) compreender a EJA como modalidade da educação em que conteúdo
e forma não se dissociam; c) rever a centralidade dada aos conteúdos bioló-
gicos enquanto produtos em detrimento do processo de construção destes e;
d) diante a presença contraditória da escola na sociedade capitalista, com-
preender quais são os fins do ensino do conhecimento biológico com vista a
uma formação política de transformação (PARANHOS; CARNEIRO, 2015, p.
929).
sujeito em todas as suas dimensões e não apenas no âmbito da preparação para o traba-
lho nos limites de conhecimentos básicos. Segundo Méndez (2002), a avaliação formativa
é aquela que forma, ou seja, ajuda o discente a aprender. Assim, a realização dos exames
de EJA, deveriam ser encarados como um momento de aprendizagem e não como quali-
ficação/medição do conhecimento dos sujeitos educandos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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racionalidade técnica na ação pedagógica do professor. Anais: XI Encontro Nacional de Pesquisa em
Educação em Ciências – XI ENPEC, Florianópolis, 2017.
VIGOTSKI, Lév Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução: Paulo Bezerra.
São Paulo: Martins Fontes, 2001. 496 p. Título original: Michliênie Rietch.
INTRODUÇÃO
Considerando que a natureza humana não é dada ao homem, mas é por ele produ-
zida sobre a base da natureza biofísica, o trabalho educativo, por sua vez, tem por finali-
dade “produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que
é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens” (SAVIANI, 2011, p. 13).
Assim, a escola é entendida como a instituição que tem compromisso com a socialização
do saber sistematizado, já que um ensino baseado em opinião e conhecimentos que pro-
duzem palpites não justifica a existência dela (idem).
O professor, através do trabalho não-material de produção de suas aulas, tem o
seu produto consumido pelo aluno ao mesmo tempo em que produz o ato educativo. O
1 Licenciado em Ciências Biológicas pela UFG. Docente de Biologia da Rede Estadual de Goiás. iurykesleybio@
gmail.com
2 Mestra em Ensino de Ciências pela UEG. Docente de Biologia da Rede Estadual de Goiás e da FABEC do curso de
Pedagogia. cleiriannne@gmail.com
3 Mestranda em Educação em Ciências e Matemática pelo PPGECM/UFG. Docente de Biologia na Rede Estadual
de Goiás. elisa3ton@gmail.com
4 Mestra em Educação em Ciências e Matemática pelo PPGECM/UFG. Docente no Departamento de Biologia do
CEPAE/UFG. regianemachado0311@gmail.com
5 Doutora em Educação Escolar pela UNESP. Docente no DEC-ICB UFG e PPGECM. sisendin@gmail.com
[ 199 ]
200 Iury Martins; Cleirianne Lopes; Elisa Silva; Regiane Pinheiro; Simone Guimarães
Nesse sentido, a ciência é compreendida como uma atividade humana que não
permanece idêntica, sendo historicamente determinada como um produto do homem
em condições históricas dadas e que se transforma à medida que ele se modifica e inter-
fere na própria história (ANDERY, 1996). Entendemos assim a Ciência como um cons-
tructo humano elaborado a partir da realidade objetiva, constituída a partir de
conhecimentos historicamente acumulados ao longo do tempo.
Todavia, tradicionalmente, a educação em ciências tem isolado os conceitos de sua
história, de modo que estes produtos, quando são apresentados, não se considera seu
processo de construção, o que torna o conhecimento biológico a-problemático, a-histó-
rico, acumulativo, individualista e linear, sendo isentos de um contexto sócio-histórico
mais amplo (CARNEIRO; GASTAL, 2005). Sob essa ótica, a atividade científica ganha a
conotação de uma atividade consensual e isso, por sua vez, pode ser reproduzida na
escola da Educação Básica. Logo, a especificidade da formação docente não está limitada
exclusivamente à forma de ensinar, mas abarca também a consideração da natureza do
conhecimento em questão e seu papel no desenvolvimento humano (SAVIANI, 2011).
Ao se considerar as metodologias de ensino propriamente ditas, estas carregam
consigo parte da responsabilidade do processo de ensino e aprendizagem. Elas podem
se dar de diversas maneiras, sendo que sua mobilização está marcada de acordo com
uma concepção pedagógica que não é, necessariamente, consciente. Assim, o trabalho
educativo requer a compreensão filosófica e epistemológica sobre o papel da escola e
do conhecimento lá vinculado, haja vista que a partir disso os professores “poderão
propor mudanças, transformando a prática educativa em uma ação efetiva para que o
ensino seja capaz de transpor as dimensões do espaço escolar” (GASPARIN; PETENUCCI,
2014, p. 2).
Nesse sentido, a educação escolar deve promover a apropriação dos conhecimen-
tos sistematizados (científicos) haja vista o seu papel no desenvolvimento dos educan-
dos. No que se refere à aprendizagem, esta se dá a partir da relação conflituosa entre os
conceitos espontâneos e os conceitos científicos conforme indica Vigotski (2009). Para o
autor, ainda que se deva valorizar os primeiros, o trabalho educativo deve se direcionar
a sua superação a fim de alcançar os últimos que também são, eles mesmos, superáveis.
Tal processo permitiria uma compreensão da realidade além do referencial empírico
imediato cada vez mais complexa, de modo que a escola se constitui como lócus de inser-
ção dos educandos no que ele chama de “sistema de conceitos científicos”, ou seja, para
uma reflexão mais aprofundada, por parte dos professores, do papel da HFC para o
campo da didática das ciências (MARTINS, 2007).
A HFC, como proposta de se constituir o fundamento de uma didática para o
ensino, proporciona uma retomada histórica e filosófica do modo de constituição de
uma Ciência e seus conceitos. Pode ainda, ser uma proposta mais abrangente e contex-
tualizada dos fatos científicos, pela qual a aprendizagem das Ciências também contempla
uma aprendizagem sobre as Ciências (MARTINS, 2007). Faz-se necessário, a articulação
da história e filosofia da Ciência como estratégia didática para pensar o conteúdo relacio-
nado aos aspectos didáticos-pedagógicos que permeiam as disciplinas no ensino de
Ciências, visto que o professor pode ser capaz de se apropriar do processo de construção
do conhecimento sobre esta lógica.
Andery (1996) afirma que o sujeito e o objeto do conhecimento são historicamente
determinados, reconhecendo o conhecimento como produto dessa relação, assim como
o processo de sua construção, determinado por condições históricas e, portanto, ideolo-
gicamente comprometido. Para a autora “o reconhecimento da historicidade da ciência
e de seu método constitui-se em passo fundamental para instrumentar a análise crítica
de um empreendimento largamente produzido, difundido e consumido nos dias atuais”
(p. 437). Neste sentido, objetivamos neste artigo mapear, por meio de uma revisão siste-
mática, os trabalhos apresentados nos ENEBIO que versam atividades fundamentadas
pela História e Filosofia da Ciência desenvolvidas na Educação Básica para o ensino de
Ciências e Biologia.
PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO
discussões das mesas redondas, conferências e minicursos (Quadro 1). Além disso, os tra-
balhos apresentados são organizados em eixos/linhas temáticos.
VII ENEBIO 2018 UFPA/PA O que a vida tem a ensinar ao Ensino de Biologia?
Fonte: os autores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como pode ser observado, os trabalhos analisados possuem uma ênfase na teoria
celular, a qual se relaciona com o mundo mecânico, tendo suas construções teóricas
desenvolvidas a partir de organismos (nível de organização) como objeto de estudo
investigados dentro da lógica experimental (NASCIMENTO JÚNIOR, 2010). Destarte, esses
trabalhos vinculados com essa teoria tinham um foco na organização dos seres vivos,
com foco na relação de suas estruturas constituintes. Ademais, os trabalhos ligados às
questões mais amplas de Natureza da Ciência, por sua vez, não se restringiram a algum
conceito, de modo que discutiram aspectos históricos e filosóficos da ciência sem locali-
zá-los no processo de construção de algum conceito. Ao se considerar o papel da escola
na apropriação do conhecimento historicamente construído e sistematizado, defende-
mos que pensar uma prática pedagógica envolvendo HFC nessa instituição só tem sen-
tido quando permite a compreensão, pelos educandos, tanto do processo de construção
como dos próprios conceitos científicos deles resultantes. Assim, discutir o produto (con-
ceito) em detrimento do seu processo histórico de construção e vice-versa não permite
alcançar uma prática social mais crítica sobre a realidade multifacetada
Quanto à análise da categoria do tipo de natureza de pesquisa ser empírica, ou
seja, os autores buscaram seus dados por meio de experiências e revisões bibliográficas,
obtivemos como resultado dos 35 trabalhos, 21 (60%) trabalhos cuja natureza foi revi-
sões bibliográficas e 12 (34, 28%) trabalhos foram pesquisa com experiências e três (5,
71%) trabalhos não conseguimos definir qual o tipo da natureza do trabalho. As pesqui-
sas buscam discussões e comprovações da teoria, além de revisões a respeito de um
determinado tema. Nos artigos analisados encontramos em uma maior quantidade pes-
quisas com a característica de análise documental voltado para investigações em livros
didáticos, em dissertações e artigos. As pesquisas nessa perspectiva não buscaram inter-
ferências no plano da experiência, não que esse tipo de pesquisa esteja dissociado desse
plano, mas, foi o olhar dos autores em relação aos seus objetivos. Em relação às pesqui-
sas empíricas são entendidas como uma comprovação da prática, seja por experimentos
ou observação de um determinado contexto coletando os dados em campo. Esse tipo de
pesquisa faz relação com a pesquisa empírica ao fundamentar e comprovar no plano da
experiência oferecendo dados para sistematizar a teoria. Os estudos analisados quanto
aos trabalhos empíricos buscaram em nove trabalhos estudar as concepções de alunos
em relação ao que se entende por cientistas, ciência, método científico e ensino de ciên-
cias. Do mesmo modo, estudaram concepções de professores e graduando do curso de
biologia em relação à história, filosofia e ciência em relação a suas contribuições em sala
de aula para com o ensino.
Dentre o total dos trabalhos analisados, doze foram desenvolvidos voltados para a
educação básica, desses trabalhos, quatro realizam análises de livros didáticos. Apenas
quatro demarcam bem que realizam suas análises no ensino fundamental e um no ensino
médio, sendo que os outros sete não demarcam para qual nível da educação básica.
Doze trabalhos são bem demarcados trazendo uma análise e contribuições para a forma-
ção de professores.
Ocorre uma articulação entre a formação de professores e a educação básica em
sete trabalhos, estes apresentam a relevância da inserção da HFC no ensino de ciências
tanto na educação básica como na formação de professores. De todos os trabalhos ana-
lisados quatro não demarcam em qual lócus realizam sua análise, se é na educação básica
ou na formação de professores, estes apresentam uma busca de periódicos, teses ou dis-
sertações e não demarcam sobre o ensino de ciências.
Destes 35 trabalhos, somente 7 se referiam a intervenções didáticas orientadas
pela História e Filosofia da Ciência desenvolvidas em salas de aula (Educação Básica).
Estes relatos foram analisados em relação aos objetivos de aprendizagem e as metodo-
logias de ensino mobilizadas para alcançá-los. No primeiro aspecto, destaca-se que 4
marcam o objeto a ser ensinado, que constituem o “o que aprender” e 3 trabalhos mar-
cam além do conceito a ser apropriado o seu uso na complexificação da prática social do
aluno, que constituem o “para que aprender” conforme tabela 3.
Dimensão do
Tipificação6 Produção Total
Objetivo
O que aprender At24, At26, At29, At32 4
Relacionada às (conceito)
questões Para que At04; At10; At15 3
pedagógicas aprender
(prática social)
Total 7
Fonte: os autores.
Centralidade do
Modalidades Produção Total
processo
Centralidade no
Expositiva At04; At10; At15 3
professor
Sem centralidade At04; At10; At15; At24;
Discussão 6
específica At26; At32
Aula Prática At32 1
Centralidade no aluno
Simulação At24; At29 2
Fonte: os autores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. 2. ed. São Paulo: Editora WMF Martins
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INTRODUÇÃO
1 Graduado em Licenciatura em Química pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Mestrando em Educação
em Ciências e Matemática pela Universidade Federal de Goiás. Pesquisa sobre Educação de Jovens e Adultos.
E-mail: brunogrindel@gmail.com
2 Doutor em Educação pela Universidade de Brasília, Professor do Departamento de Educação em Ciências do
Instituto de Ciências Biológicas – Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor do Programa de Pós-Gradua-
ção em Educação em Ciências e Matemática da UFG. Desenvolve pesquisa com os seguintes temas: Formação
de professores de ciências e biologia para educação básica e modalidade da Educação de Jovens e Adultos
(EJA). Ensino e aprendizagem do conhecimento científico (biológico) no contexto da educação escolar (educação
básica e modalidade EJA). E-mail: paranhos@ufg.br
[ 216 ]
O ENSINO DE QUÍMICA E A CONTRADIÇÃO DAS INTENCIONALIDADES NA EDUCAÇÃO 217
RESULTADOS E DISCUSSÃO
escola direcionada, então, aos jovens e adultos trabalhadores tem a marca do sistema
capitalista, embora, conforme Paranhos (2017), a instituição escolar seja marcada por
contradições, pois ao mesmo tempo em que reproduz os ideais da sociedade do capital,
é o lugar onde o trabalhador pode ter o acesso ao saber sistematizado.
Nesse sentido, o professor, ao intencionar que o aluno tenha acesso a esse corpo
de saberes e ter a clara demarcação das contradições presentes no processo, tem uma
intencionalidade que, na educação escolar tomada como atividade,
3 A distinção que Vygotsky e outros autores, principalmente Bakhtin, estabelecem entre sentido e significado
(Vygotsky, 1987; Leontiev, 1978; Lúria, 1987; Bakhtin, 1988) coloca a questão importante da existência de um
duplo referencial semântico nos processos de significação: um, formado pelos sistemas de significação construí-
dos ao longo da história social e cultural dos povos; o outro, formado pela experiência pessoal e social de cada
indivíduo, evocada em cada ato discursivo (PINA, 1993, p. 2).
escolarização e incutido de uma consciência ingênua que não lhe permitisse sair do lugar
em que se encontra.
A EJA, na história da educação brasileira, aparece sempre atrelada aos objetivos do
modo de produção capitalista e sendo colocada, sobretudo, com um viés compensatório
e assistencialista, nunca como um direito.
As características históricas da EJA contribuem, de forma negativa, para o processo
de significação (pelo sujeito) para a educação escolar, pois à medida que o processo de
significação de uma atividade depende das particularidades que mediam o adentrar na
universalidade, as condições efetivas destas são importantes, se não determinantes no
processo de atribuir os significados, pois são as condições históricas e as particularidades
vividas por cada indivíduo que o incute de seu lugar na sociedade.
Como dito anteriormente, o corpo de motivos que originam a intencionalidade
para a educação escolar, para o público da EJA, são muitos e para o aluno que busca a
escola com o objetivo de alcançar melhores postos no mercado de trabalho, tem a edu-
cação escolar como complemento de sua atividade principal o trabalho4, motivo este que
pode ser compreensível, mas não eficaz, como aponta Leontiev (1978), visto que o futuro
é incerto (ou certo?). Nesse sentido, Moura (2013) questiona:
o que é o presente para o aluno hoje? É a escola que ele frequenta; é o conhe-
cimento que lhe é proposto; são suas condições objetivas de acesso ao ensino
e é sua capacidade de responder às solicitações dessa mesma escola. Assim,
a educação para o futuro não estaria tirando a responsabilidade de fazer o
presente? Não estaria promovendo a angústia da espera, da incerteza, da
incapacidade de aprender para um mundo que, ao variar tanto, nos causa a
incerteza sobre o valor que aprendemos para esse mundo do amanhã?
(MOURA, 2013, p. 94).
4 a categoria “trabalho” como colocada pelo modo de produção capitalista, apresenta-se de forma antagônica
para o adulto na perspectiva de desenvolvimento da Teoria da Atividade e, consequentemente, da Teoria His-
tórico cultural, afinal, o trabalho como atividade principal do adulto, deveria permitir a ele o desenvolvimento
de suas funções mentais superiores, visto que estas se formam na e pela atividade. A questão central aqui é: a
forma como tal atividade é demarcada e construída na sociedade do capital, permite ao adulto desenvolver-se?
Talvez sim, visto que o modo de produção vigente intenciona ao homem possuir as habilidades que atendam aos
objetivos deste, sem jamais superar as condições que lhe são dadas, ou seja, o modo de produção capitalista
não considera o homem como um ser ontológico, e a medida que para a Teoria da Atividade o desenvolvimento
se dá na e pela atividade, esta pode limitar o desenvolvimento uma vez que o sistema carece de “capacidades”
limitadas que não coloque em risco a contestação do mesmo, sendo assim, o trabalho como atividade principal
do adulto é, em seu cerne, uma atividade limitante e, na pior das hipóteses, alienante.
Ao dizer que (os alunos) “tentarão se livrar daquilo que os impede de realizar o que
lhes parece mais importante para a vida”, podemos inferir que a não relação da atividade
escolar com a atividade principal do indivíduo, poderia então acarretar, na pior das hipó-
teses, o abandono dos bancos da sala de aula por este aluno, algo tão presente na EJA.
Essa característica da EJA evidencia uma das diversas contradições do processo de edu-
cação escolar nesta modalidade de educação, demarcando também um outro nível de
enfrentamento para o professor: o das contradições históricas inerentes à modalidade.
Por outro lado, podemos aqui revisitar a ideia de atividade de ensino pelo profes-
sor, pois, como aponta Leontiev (1983), a atividade (de ensino) é fruto da consciência, de
modo que tomar consciência dos motivos do aluno seria relevante para a concretização
do processo educativo.
Cabe dizer que tomar consciência dos motivos do outro é algo complexo por natu-
reza, uma vez que evidencia, também, a necessidade de considerar o momento histórico
no qual o indivíduo se encontra e, para além disso, conhecer e compreender os caminhos
percorridos até aqui.
Em suma, o professor, enquanto mediador dos signos e do corpo de saberes, que
objetiva ser apropriado pelo aluno, deveria então tomar consciência dos motivos e, con-
sequentemente, do processo histórico de formação destes, levando em consideração as
contradições envolvidas no processo.
Como discutimos até aqui, há um certo descompasso entre a atividade principal do
adulto, o trabalho, e a educação escolar, que se apresenta como um complemento a
este. Isso acontece, como aponta Moura (2013), devido a uma ruptura com a forma como
o indivíduo se relaciona com o meio cultural, ao desconsiderar a atividade principal, de
modo que “a aprendizagem escolar pode deixar de ser uma atividade, uma vez que as
ações que o indivíduo realiza não coincidem com os motivos que as desencadeiam”
(MOURA, 2013, p. 96).
Essa aparente ruptura, quanto aos motivos, apresenta-se de forma mais explícita
na EJA, em função da idade de seu público evidenciar um tempo maior de processos de
significação e, consequentemente, na construção dos motivos para a reentrada nos
Outro ponto que questionado por Moura (2013), que claramente também pode ser
redirecionado para a EJA é o seguinte:
E o adolescente que abandona a escola, por que o faz? São muitas as razões,
mas seguramente uma delas foi a não, convergência dos motivos das ativida-
des de ensino com as de aprendizagem. A fraca ligação que consegue identi-
ficar entre o que aprende e o que necessita para o trabalho que o sustente
não é suficientemente forte para impedi-lo de ir à busca de outras ações que
possam dar conta de concretizar a sua nova atividade principal: o trabalho.
Desse modo, estar na escola não é uma atividade de aprendizagem, pois são
outros os motivos dos que deveriam concretizá-la. (MOURA, 2013, p. 97).
5 ao falarmos de educação formal temos a intenção de demarcar que no percurso histórico da educação brasileira
a característica central da EJA sempre esteve atrelada a alfabetização, o aprender a ler, a escrever, a contar,
embora, paralelamente a isso, tenham havido diversos movimentos e sinalizações de diferentes grupos com
finalidades diferentes para educação dos Jovens e Adultos brasileiros, como os diversos Movimentos de Educa-
ção e Cultura Popular. Tal característica evidencia uma outra contradição do projeto formativo do sujeito da EJA
no Brasil, em contexto com o modo de produção capitalista.
Apesar disso, a teoria histórico-cultural (THC) não nega a influência da matriz bio-
lógica do desenvolvimento humano, mas parte da defesa de que a aquisição de aptidões
e habilidades tem sua base na apropriação histórico-cultural do que foi produzido pelo
homem ao longo da história em um processo que é, sobretudo, social e, como defende a
THC: o desenvolvimento humano está ligado ao lugar do indivíduo na sociedade num
dado momento histórico.
6 Os conceitos científicos constituem uma parte importante da teoria Vigotskiana. Na perspectiva dessa teoria os
conceitos são divididos em dois: os conceitos espontâneos, oriundos da relações do homem com seu meio social
e cultural e construídos a partir de suas experiências vividas, já os conceitos científicos são complexos por natu-
reza, pois são aqueles que carecem de sistematização, organização e capacidades intelectuais mais acuradas,
especificamente, dentro da THC, as funções mentais superiores.
mas sim, pela via da imaginação” (p. 2). Em suma, o domínio conceitual e o desenvolvi-
mento das FMS têm, então, uma relação intrínseca e dialética.
Ao falar ainda sobre a imaginação e a relação desta com o desenvolvimento,
Vigotski aponta que
[...] a imaginação adquire uma função muito importante no comportamento
e desenvolvimento humanos. Ela transforma-se em meio de ampliação da
experiência de um indivíduo porque, tendo por base a narração ou a descri-
ção de outrem, ele pode imaginar o que não viu, o que não vivenciou direta-
mente em sua experiência pessoal. A pessoa não se restringe ao círculo e
limites estreitos de sua própria existência, mas pode aventurar-se para além
deles, assimilando, com ajuda da imaginação, a experiência histórica ou
social alheia. [...]. Quando lemos o jornal e nos informamos sobre milhares de
acontecimentos que não testemunhamos diretamente, quando uma criança
estuda geografia ou história, quando, por meio de uma carta, tomamos
conhecimento do que está acontecendo a uma outra pessoa, em todos esses
casos a imaginação serve à nossa experiência (VIGOTSKI, 2009a, p. 25).
No que diz respeito a química, Messeder Neto (2017) faz então o seguinte
apontamento:
Mas, será que o ensino de química contribui para o desenvolvimento da ima-
ginação? Pelo exposto, a resposta é definitivamente positiva. Ensinar química
já exige, por excelência, mobilização do pensamento abstrato e suas articula-
ções com a imaginação, uma vez que trabalhamos o tempo inteiro com enti-
dades que não podemos ver o tocar e para apreendê-las precisamos do
processo imaginativo. (p. 7).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora tenhamos direcionado o centro das discussões para a sala de aula da EJA,
na disciplina de química, acreditamos que os enfrentamentos apontados para a atividade
docente são comuns aos demais componentes curriculares do ensino médio.
Neste trabalho situamos e demarcamos a intencionalidade docente e o projeto for-
mativo dentro das ideias da pedagógica histórico crítica, que consideramos ser a concep-
ção pedagógica que fornece elementos teóricos para analisarmos a educação na
sociedade em que vivemos. Ao fazermos essa demarcação, evidenciamos o conflito de
motivos e intencionalidades que permeariam a sala de aula da EJA, contudo, é preciso
pensar a sala de aula da EJA para além do ideal, como fizemos, mas do real.
Talvez para o professor que não possua uma intencionalidade clara e na perspec-
tiva da PHC, como situamos no decorrer do trabalho, pode ser que uma educação com-
pensatória assistencialista, aligeirada e marginalização dos conteúdos, apresentem-se
como suficientes para a modalidade.
Nesse sentido, cabe ressaltar ainda o viés político e social da educação, como
aponta os teóricos da PHC, pois ao considerar que a escola é o lugar para acesso ao saber
sistematizado, deve-se considerar que este saber foi historicamente negado a classe tra-
balhadora e que somente através da apropriação dos saberes da classe dominante, os
trabalhadores podem ascender a um corpo de conhecimentos legados às classes domi-
nantes. Outro ponto a ser considerado, é a certeza de que a sala de aula da EJA traz con-
sigo diversas contradições inerentes à educação brasileira e a história desta, não sendo
específicas da modalidade. O que defendemos aqui é necessidade de o professor, que se
posiciona nesta linha teórica, conhecer e enfrentar tais contradições.
Para além disso, discutimos de forma singela o problema dos motivos na educação
de jovens e adultos e, propomos que, mesmo que haja a não fragmentação entre con-
teúdo e forma, na sala de aula da EJA, o enfrentamento a ser feito pelo professor remete
a construção histórica dos motivos que ocasionam a entrada desse sujeito para dentro
dos muros da escola.
Consideramos que o sujeito que procura a sala de aula, talvez não o faça com moti-
vos que vão ao encontro com a intencionalidade formativa que o permita romper com a
condição na qual se encontra, de modo que a atividade docente, entre outras coisas, traz
em seu cerne, a necessidade da descaracterização da atividade do aluno e, consequente-
mente, um processo de ressignificação desta.
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
1 Brunno Alexander Villela, licenciando do curso de Licenciatura Plena em Física pela Pontifícia Universidade Cató-
lica de Goiás. Bolsista do PUC Social. brunnoalexander07@gmail.com.
2 Lilian Rodrigues Rios, professora do curso de Licenciatura em Física pela Pontifícia Universidade Católica de
Goiás, PUCGoiás, Professora da Secretaria de Estado da Educação de Goiás. lilianrios@ymail.com.
[ 231 ]
232 Brunno Alexander Villela; Lilian Rodrigues Rios
O professor quando ensina ciências, está buscando desenvolver no aluno uma visão
crítica e investigadora dos assuntos estudados, ao alcançar o aprendizado o aluno de fato
consegue assimilar os conceitos físicos com os fenômenos da natureza. Certamente, o
professor deve se colocar numa situação de querer aprender mais para ensinar, pois exis-
tindo essa dificuldade de aprender é papel do professor pensar e planejar novas situações
de aprendizagem para que o aluno possa compreender os conceitos trabalhados.
Pozo e Crespo (2009, p. 27), ao citarem Jimenez Aleixandre e Sanmartí (1997), esta-
belecem cinco metas ou finalidades para a educação científica no Ensino Médio, a saber:
a) A aprendizagem de conceitos e a construção de modelos; b) O desenvolvi-
mento de habilidades cognitivas e de raciocínio científico; c) O desenvolvi-
mento de habilidades experimentais e de resolução de problemas; d) O
desenvolvimento de atitudes e valores; e) A construção de uma imagem da
ciência.
A coleta de dados foi realizada entre fevereiro de 2017 e dezembro de 2018, período
no qual foi cursado as disciplinas de Estágio Supervisionado I, II, III, IV no curso de
Licenciatura em Física da Pontifícia Universidade Católica de Goiás/ PUC Goiás.
De acordo com as Diretrizes do Estágio Supervisionado da Escola de Ciências Exatas
e da Computação (2018), esse conjunto de disciplinas compreendem três importantes
momentos na formação do licenciando: a observação, a semi regência e a regência,
caracterizadas por:
Fonte: Autores.
• Menor aprendiz;
• Menor trabalhador ou em condições de dupla aprendizagem;
• Inexistência de oferta de vagas aos estudantes no ensino médio regular noturno
na rede estadual.
Caberia à instituição responsável pela matrícula de verificar a veracidade da docu-
mentação comprobatória.
Apesar dos estudantes afirmarem que enfrentam dificuldades para estudar devido
ao trabalho, os dados mostraram que 77% dos alunos trabalham com carga horária
variando entre 4 a 11 horas por dia. Destes, 46% dos alunos trabalhadores cumprem uma
jornada de apenas 4 horas por dia.
Fonte: Autores.
No grupo estudado ainda existiam alunos que não trabalhavam e que optaram
pelo ensino noturno. É importante ressaltar que o período noturno é destinado prefe-
rencialmente aos alunos trabalhadores, e que alunos menores de 18 anos e que possuem
um trabalho não se enquadrariam nas condições propostas na legislação, a não ser que
não existissem vagas disponíveis nos demais períodos. O porquê de estes alunos estarem
matriculados no período noturno e no Profen não apareceu nas respostas.
Durante todo o Estágio Supervisionado na escola campo foi observado que
grande parte dos alunos demonstrava certo interesse em um determinado conteúdo
da disciplina de Física: ao serem questionados sobre suas preferências, 69% responde-
ram a questão com informações relacionadas aos estudo dos movimentos ou as Leis de
Newton (Gráfico 3), ou seja, nenhum outro conteúdo específico foi citado como res-
posta desta questão.
Fonte: Autores.
Uma dúvida que surgiu a partir do Gráfico 3 é: por que estes alunos apresentam
afinidade somente aos conteúdos iniciais da Física (conteúdo relacionado à Mecânica)?
Essa afinidade estaria veiculada a uma maior facilidade de compreensão dos conteúdos?
Se os alunos já estudaram conteúdos relacionados à Termodinâmica, por que não demos-
traram conhecê-los em nenhum momento?
É consenso entre os pesquisadores da área de Ensino de Ciências que o aprendi-
zado é sempre afetado por conhecimentos externos ao seu ensino, uma “cultura pri-
meira”, que se dá fora de situações formais de ensino (DELIZOICOV et al., 2003, p. 134).
Para Pozo & Crespo (2009, p. 210):
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor quando ensina Física, está buscando desenvolver no aluno uma visão
crítica e investigadora dos assuntos estudados, ao alcançar o aprendizado o aluno de fato
consegue assimilar os conceitos físicos com os fenômenos da natureza. Segundo Pozo e
Crespo (2009) a formação em Física é praticamente toda focada na transmissão de
conhecimentos hierarquizados, em ensino tradicional, seguindo um livro didático e insis-
tindo na memorização de conteúdos isolados, sendo comum a utilização dessa metodo-
logia na Educação Básica. Aparentemente os saberes são pouco compreendidos e acabam
sendo memorizados por um curto período de prazo.
Na busca por um ensino de Física em que os estudantes consigam aprender signifi-
cativamente, concordamos com Delizoicov et al. (2002, p. 131) ao afirmar que “[...]
nenhum aluno é uma folha de papel em branco em que são depositados conhecimentos
sistematizados durante sua escolarização”.
Assim, a partir das dificuldades apresentadas pelos alunos objeto desse estudo,
foi proposta a Feira de Ciências como intervenção para se ter uma observação empí-
rica sobre o desenvolvimento dos mesmos e obtidos os resultados descritos na análise
de dados.
Todos os pontos evidenciados na análise da feira são benefícios no desenvolvi-
mento do aluno, solucionando o objeto do estudo e indicando que atividades experimen-
tais, quando contextualizadas aos conteúdos de Física, conseguem promover na escola
discussões que são científicas, mas que também são culturais, econômicas, políticas e
sociais relacionados ao conteúdo trabalhado.
Apesar das análises dos dados obtidos junto a escola campo estarem ainda em
fase inicial, já é possível compreender que o Estágio Supervisionado no curso de
Licenciatura em Física é importante, pois permitiu a compreensão de que o professor
deve se colocar numa situação de querer aprender mais para ensinar, pois existindo
dificuldades de aprendizagem é papel do professor pensar e planejar novas situações
de ensino para que o aluno possa compreender os conceitos trabalhados, como foi
observado na Feira de Ciência.
REFERÊNCIAS
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm#art1. Acesso em: 28 Set.
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TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 9. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
INTRODUÇÃO
1 Graduanda do curso de Licenciatura em Química, pelo Instituto Federal de Goiás, campus Luziânia. Bolsista
Pibid/CAPES. gracerabelo@hotmail.com
2 Professor do curso de Licenciatura em Química, pelo Instituto Federal de Goiás, campus Luziânia. anderson.
silva@ifg.edu.br ou anderson.ana@gmail.com
[ 244 ]
CONTRIBUIÇÕES DAS METODOLOGIAS ATIVAS PARA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE QUÍMICA 245
REFERENCIAL TEÓRICO
Como auxílio aos discentes, a Capes em conjunto com o Governo Federal, concede
bolsas aos alunos de cursos de licenciatura e professores participantes do projeto de ini-
ciação à docência das Instituições de Educação Superior – IES, em parceria com as redes
públicas de ensino. Estas IES devem apresentar seus projetos de iniciação à docência à
Capes conforme os editais de seleção publicados. Geralmente:
Os projetos institucionais podem contemplar diversos núcleos de iniciação à
docência composto de 24 a 30 discentes, 3 professores da escola e 1 profes-
sor da instituição de Educação Superior. Os núcleos agrupam-se por subpro-
jetos definidos segundo o componente curricular da Educação Básica para o
quais são formados os discentes. [...] As instituições selecionadas pela Capes
recebem cotas de bolsas. Os bolsistas do Pibid são escolhidos por meio de
seleções promovidas por cada IES. As escolas são escolhidas pelas redes de
ensino (BRASIL; CAPES, 2018, p. 1).
3 Ferramentas do processo de ensino e aprendizagens que requer um passo a passo, um mapa de instruções des-
critivo, ou visual de ações, ou funcionamento de algo a ser observado, operado ou analisado (PEREIRA, 2017).
educação praticada nas escolas da Educação Básica (prática). Por meio do auxílio educa-
cional a discentes dos cursos de licenciaturas acontece a integração das aprendizagens
dos futuros professores com a experiência dos professores em sala de aula. Em nossa
opinião, essa integração pode ser potencializada pela perspectiva dos mecanismos das
Metodologias Ativas de aprendizagens, que se definem como maneiras inovadoras para
atender as ações de ensino e aprendizagens.
Moran (2013) e Pereira (2017), destacam que os desafios da docência estão asso-
ciados aos avanços do mundo globalizado no cotidiano do sistema educacional e reafir-
mam o compromisso de se alcançar uma percepção diferenciada para os modos de
interagir, comunicar, informar e educar. Há necessidade de criar na prática docente cami-
nhos de transformações, com as escolas e universidades. Os percursos dessas mudanças
são variados, podem ser rápidos, lentos, superficiais, profundos, ou seja, variam de
acordo com as condições de gestão de cada instituição.
Aceitar a mudança é o primeiro passo das instituições de ensino, para se formar e
tornar protagonistas do conhecimento. Mas, é preciso pensar em como fazer estas trans-
formações na prática docente. Para Moran (2013), está na docência as facetas para essa
primeira mudança, e ela é progressiva4, deve ocorre dentro de cada disciplina, permi-
tindo avanços rápidos e admissíveis a cada professor, até mesmo na iniciação à docência,
permite-se orientar as atividades de ensino e aprendizagem com aprofundamento por
intermédio das Metodologias Ativas de ensino. Nas instituições de ensino:
As metodologias ativas são caminhos para se avançar em um currículo mais
flexível, mais centrado, nas necessidades e expectativas dos alunos. As orga-
nizações educacionais, [...] estão experimentando currículos mais flexíveis,
mais centrados em que os alunos aprendam a integrar conhecimentos
amplos, valores, projeto de vida através de problemas reais, desafios rele-
vantes, jogos, atividades e leituras individuais e em grupo; presenciais e digi-
tais (MORAN, 2013, p. 1).
4 As mudanças progressivas de aprendizagem são “o caminho para avançar na integração é organizando algumas
atividades comuns a mais de uma disciplina: projetos comuns, atividades integradoras, ampliando as metodo-
logias ativas e os modelos híbridos. A instituição pode propor o projeto de vida de forma transversal, ao longo
do curso. Esse eixo é importante para o aluno desenvolver uma visão mais ampla do seu papel no presente e no
futuro” (MORAN, 2013, p. 1).
exige precisão no exercício de ensinar, é necessário ser crítico, reflexivo e atuar de modo
eclético, com reciprocidade ao analisar, avaliar e aprender em conjunto (FREIRE, 2011a).
PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
Para a análise metodológica deste Projeto Interativo foi realizada uma pesquisa des-
critiva, cujas funções atendem ao propósito deste estudo, ao determinar em seus fins de
analogias e projeções variadas de um determinado cotidiano por intermédio de um Estudo
de Campo, admissível porque “envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados
como: o Questionário e a Observação Sistemática”, instrumentos fundamentais a esse pro-
jeto aplicado como recurso de pesquisa no programa Pibid (KAUARK, 2010, p. 28).
A metodologia aplicada foi a qualitativa e quantitativa (Quali-Quanti) por viabilizar
uma integração triangular de diferentes técnicas de análise em um mesmo estudo. Ou
seja, permite “além da interpretação tradicional da pesquisa quantitativa”, “pode incluir
abordagens como a coleta, transcrição e análise de dados – utilizados na pesquisa quali-
tativa”, dando eficiência a apresentação das informações (GÜNTHER, 2006, p. 205).
A consolidação dos desígnios do Pibid e do Estudo de Campo nesse caso, conside-
ra-se o fato do docente enquanto pesquisador pela necessidade de uma imersão direta
na realidade da situação em estudo, “para entender as regras, os costumes e as conven-
ções que regem o grupo estudado”. Esta coerência proporciona vantagens em relação
aos levantamentos dados, por ser “desenvolvido no próprio local em que ocorrem os
fenômenos, seus resultados costumam ser mais fidedignos” e o “pesquisador apresenta
nível maior de participação, torna-se maior a probabilidade de os sujeitos oferecerem
respostas mais confiáveis” (GIL, 2002, p. 55).
Metodologia de Aplicação
do Projeto Interativo na Escola Campo
O Estudo de Campo do Pibid foi realizado em uma Escola pública Estadual da cidade
de Luziânia/GO, com turmas voltadas para o Ensino Médio. As atividades do Pibid inicia-
ram em agosto de 2018, após o reconhecimento da escola e estruturas de apoio à docên-
cia. Após as observações advindas das primeiras imersões na escola, identificamos a
possibilidade de apropriar das ações multidisciplinares praticadas na Escola como, por
exemplo, a feira de ciência, a horta e as práticas laboratoriais do Ensino de Química.
Estes foram os principais elementos utilizados para a criação do Projeto Interativo
Os dados apontam que para 92% dos alunos que participaram das aulas experi-
mentais diversificadas baseadas nas Metodologias Ativas aprovaram as atividades que
participaram e consideraram formativas. Com relação aos 8% dos alunos que declararam
2 a)não
Foiterfácil
gostado das práticasas
compreender experimentais,
explicações acreditamos que eles
dos conteúdos depodem
Químicafazere parte
dos dos
experimentos no laboratório?
alunos recém-admitidos 2.b) Asouatividades
à escola de laboratório
que faltaram no ensino
as aulas durantes de Química
as atividades. Não há
contribuíram
como fazer para
umasua aprendizagem?
análise mais aprofundada deste aspecto uma vez que não foi solicitada
a identificação nos questionários e não encontramos nos diários de campo anotações
que sinalizassem algo diferente, logo, não temos dados que justifiquem de outra forma
essa insatisfação. As demais informações coletadas no questionário condizem com
observações realizadas durante os experimentos, por exemplo:
Os alunos pareciam perdidos durante a apresentação inicial da aula dife-
renciada, mas prestavam bastante atenção em tudo que era explicado e no
1. Qual práticaas
Ao conciliar experimental
informações você mais gostou?
arrecadadas, compreende-se, ou melhor, enquadram-se
nas experimentações propostas pelo modelo ativo de aprendizagens por Concept Tests, ou
seja, são Metodologias Ativas de aprendizagem capazes de apresentar uma nova perspec-
tiva para se promover a docência com um olhar ativo, compartilhado e personalizado para
as formas de interagir com as práxis pedagógicas e com o conhecimento científico em voga.
Nesse processo se permitem associar o ensino e as aprendizagem de modo refle-
xivo, dando visibilidade ao aluno, a quem intermedia os conhecimentos e dá competên-
cias ao que ensinar e ao que estamos aprendendo em cada atividade. As respostas dos
Elaborado pelo grupo Pibid – Projeto interativo 2019.
alunos e as anotações de campo indicam melhores resultados quando se converte a aula
tradicional em processos de descoberta constante, capazes de trazer sentido à vida de
quem ensina e de quem aprende (MORAN, 2018).
2 a)2 a)
FoiFoifácil
fácil compreender asexplicações
compreender as explicações
dosdos conteúdos
conteúdos de Química
de Química e dos
e dos expe-
experimentos no laboratório? 2.b) As atividades de laboratório no ensino de Química
rimentos no laboratório? 2.b) As atividades de laboratório no ensino de Química con-
contribuíram para sua aprendizagem?
tribuíram para sua aprendizagem?
4. 4 –AsAsatividades
atividadesdedepesquisa
pesquisae eososrelatórios
relatóriosajudaram
ajudaramnonoseu
seuaprendizado
aprendizadoe e con-
contribuíram com as suas notas nas avaliações escolares?
tribuíram com as suas notas nas avaliações escolares?
Na apreciação dos dados é possível supor que a maior parte dos alunos estavam
5. Que
satisfeitos nota
com você daria extracurriculares
as atividades para a sua aprendizagem nas aulas
desenvolvidas diferenciadas
durante em
o Projeto Interativo,
laboratório?
a minoria dos alunos declarantes ‘de não saber’, ou que as aulas não ajudaram nas suas
aprendizagens, acreditamos que sejam os mesmo estudantes pouco participativos ou
recém chegados de outras instituições, e que não acompanharam todo o processo viven-
ciado no âmbito do projeto. Nas observações e anotações aparecem informações que
apontam para bom aproveitamento das aprendizagens a partir das atividades extracurri-
culares, uma vez que:
mas foram feitos os devidos esclarecimentos para melhora dos futuros rela-
tórios. (Experimento A – Observadora I).
Em cada atividade desenvolvida os alunos estavam entusiasmados e ansiosos
para realizar os experimentos. Depois de ser explicado como seria o procedi-
mento das experiências, eles mesmos começavam se organizar para que
todos pudessem contribuir com a realização da prática, e assim conseguiam
ficar mais focados. Na conclusão da prática, eles ficaram muito curiosos no
porquê e como que aquelas reações aconteciam, e depois que saíram da aula
os alunos continuaram o trabalho de pesquisa para escrever os relatórios. Foi
perceptivo nas leituras dos trabalhos a evolução dos estudantes, alguns gru-
pos de alunos nos surpreenderam com um ótimo relatório, conciliando as
bibliográfias e os problemas apresentados nas aulas. E isto foi muito gratifi-
cante. (Experimento B – Observador III).
4.
Para se alcançar melhores resultados no processo de ensino e aprendizagem, os
As atividades de pesquisa e os relatórios ajudaram no seu aprendizado e
docentes precisam
contribuíram com asaprimorar
suas notasseus recursos didáticos
nas avaliações e pedagógicos, com formação con-
escolares?
tinuada aliada à pesquisa o que os tornaria mais acurados para as intermediações do
ensino. Percebe-se a partir das informações apresentadas que as Metodologias Ativas de
aprendizagem desempenharam um papel importante criando condições de reflexão,
favorecendo novas estratégias de ensino, objetivando a participação efetiva dos alunos
no que se aprende conectados as mediações propostas.
As aprendizagens que são desenvolvidas a partir de mecanismos ativos e progres-
sivos de interação e construção individual, grupal e tutorial tornam-se provedoras do
Elaborado pelo grupo Pibid – Projeto Interativo 2019
protagonismo ao conhecimento e da personalização das aprendizagens aperfeiçoadas
constantemente pelos discentes e professores (MORAN, 2018).
5. Que nota você daria para a sua aprendizagem nas aulas diferenciadas em
5 – Que nota você daria para a sua aprendizagem nas aulas diferenciadas em
laboratório?
laboratório?
alunos avaliaram suas aprendizagens como regular (21%) e excelentes (26%). Se obtêm
uma vantagem nos melhores parâmetros de 79%, nos critérios de aprendizagens apon-
tados como bons e excelentes.
Ao compreender que as avaliações devem extrapolar os meros critérios quantitati-
vos e ponderar todos os momentos de ensino e aprendizagem, respeitando-os de modo
amplo. Nas observações realizadas expandem-se os resultados das avaliações de apren-
dizagem dos alunos para um nível excelente, levando em conta as participações dos alu-
nos e a determinação em cumprir os roteiros das atividades extracurriculares propostas
com presteza e obstinação. Logo:
Os alunos estavam agitados e ansiosos com a aula prática. Isso aparentemente
demonstrava o interesse deles por uma aula diferenciada. Observou-se que os
alunos estavam bem interessados no experimento e muito atentos as orienta-
ções que lhes eram passadas. A cada dúvida que surgia pediam ajuda aos pro-
fessores do Pibid, que logo era sanada. (Experimento B – Observador II).
Nota-se uma maior desenvoltura dos alunos durantes as aulas diversificadas,
alguns alunos bastante empolgados com as atividades nem queria sair dos
laboratórios durante as trocas de turmas e outros nos procuravam nos inter-
valos para esclarecer dúvidas. Foi nítido o empenho de todos com as apren-
dizagens, as metodologias aplicadas foram essenciais para o sucesso do
projeto e para nossa experiência como docentes do Pibid. ((Experimento B –
Observadora I).
Pode-se afirmar ao nosso ver que boa parte dos alunos participantes do Projeto
Interativo atingiram com satisfação os resultados almejados pelo projeto nas conjuntu-
ras das aprendizagens. Atribuímos este resultado a inserção das aulas diversificadas
ministradas pelos componentes do Pibid. Mediante esse fato, ressalta-se que as práticas
desenvolvidas neste Estudo de Campo foram favoráveis para relacionar as experiências
do Pibid com as aprendizagens baseadas nas Metodologias Ativas, sendo este o objetivo
da pesquisa.
As Metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação
efetiva dos estudantes, na construção do processo de ensino e aprendiza-
gem, de forma flexível, interligada e híbrida. [...] Os professores precisam
descobrir quais são as motivações profundas de cada estudante, o que os
mobiliza a aprender, os percursos, técnicas e tecnologias mais adequada para
cada situação e combinar equilibradamente atividades individuais e em gru-
pos. A aprendizagem é mais significativa quando motivamos os alunos inti-
mamente, quando eles acham sentido nas atividades que propomos, quando
consultamos suas motivações profundas, quando se engajam em projetos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos a partir das análises deste estudo que a pesquisa realizada se justifica
só pelo fato da dinâmica e movimento em ação proporcionado na escola. No presente
projeto tentou-se alinhar a prática da escola à teoria vivenciada pelos licenciando em for-
mação, o que nos aproxima de uma práxis pedagógica (Vázquez, 2011), pertinente aos
caminhos da iniciação à docência e à formação continuada dos professores da escola.
Entende-se por esta pesquisa a realidade da escola campo e os seus desafios,
como se desencadeou o Pibid, as concepções das Metodologias Ativas de aprendiza-
gem. Assim, foi possível interagir com as atividades de ensino e aprendizagem dos alu-
nos de maneira diferenciadas e entender a importância do aperfeiçoamento das ações
docentes desde a formação inicial (caso do Pibid) até a continuada para se alcançar a
sonhada qualidade educacional.
Ao se estabelecer uma comparação entre os dados levantados na pesquisa e os
referenciais estudados, pode-se afirmar que os desígnios do Pibid estão de acordo com
sua proposta institucional, com isso, acreditamos que os objetivos do programa e do
Projeto Interativo foram alcançados. A perspectiva de relacionar o Pibid e as Metodologias
Ativas de aprendizagem foi determinante ao dar maior relevância e participação intera-
tiva no processo de ensino e aprendizagens dos alunos, nas relações professor-aluno e na
no protagonismo da formação inicial (e continuada) da docência.
As ações do Projeto Interativo no Pibid atenderam em boa parte os propósitos de
viabilizar aulas e interações diversificadas para os alunos. As experiências laboratoriais
consolidadas nas práticas experimentais para o ensino de Química e as atividades extra-
curriculares derivadas dessas práticas, a saber: relatórios, resolução de problemas e pes-
quisas diversas; estavam em concordância com o ensino dos conteúdos de Química
previstos no Currículo de Referência da Secretária de Educação de Goiás.
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INTRODUÇÃO
1 Aqui, se coloca a prática do SULear, como uma ferramenta que propõe pensar o Hemisfério Sul “desde dentro”,
com os saberes, os seres e os poderes que lhes são próprios, sem negligenciar as fronteiras físicas e simbólicas
que tensionam nossas formas de vida. Embora os Hemisférios Norte e Sul representem invenções do mundo
ocidental colonial, do século XV, adota-se o exercício epistêmico de SULear como forma de resistência e liber-
tação das relações coloniais que atravessam nosso cotidiano e nosso modo de pensar. No presente texto esta
referência estará em itálico.
2 Graduando do curso de Licenciatura em Química, pelo Instituto Federal de Goiás, campus Luziânia. Bolsista
CNPq. mateus_fornazari@yahoo.com.br
3 Professor do curso de Licenciatura em Química, pelo Instituto Federal de Goiás, campus Luziânia. anderson.
silva@ifg.edu.br ou anderson.ana@gmail.com
[ 264 ]
PROCESSOS ENSINO-APRENDIZAGEM DE QUÍMICA EM GRUPOS COOPERATIVOS 265
os objetivos educacionais que são requeridos pela sociedade atual, quais sejam: valorizar
as relações socias de bom convívio e de cooperação entre os seres humanos.
Niquini (2006) fala que a escola, na atualidade brasileira, tem negligenciado a
importância destas interações entre os estudantes, valorizando, dessa forma, uma edu-
cação de caráter predominante individualista. Na nossa opinião, a sociedade contempo-
rânea necessita de uma educação pautada na cooperação entre os indivíduos, um
princípio ontológico do ser humano, que tornou a nossa espécie melhor adaptada para
sobreviver em nosso planeta em tempos longínquos com nossos ancestrais.
Não há dúvida quanto à rapidez, radicalidade e complexidade das mudanças que
acontecem em todos os campos da vida humana, mas principalmente, nos campos cien-
tífico, tecnológico, cultural, do conhecimento e econômico. Acompanhamos um grande
avanço e o desenvolvimento nas formas de produção, o que deu origem um modelo eco-
nômico que é caracterizada por relações de interdependência, porém sem a devida valo-
rização da cooperação! Na verdade, valoriza-se a competição entre os indivíduos.
Nossa defesa é a de que se faz necessário colocar em comum as informações e pro-
jetos, debater pontos de vistas diferentes, para que possa ocorrer o progresso cultural,
social, científico, entre outros, de forma cooperativa. Nossa justificativa é para que se
derive, destes processos, uma visão coletiva entre os estudantes, de uma interdepen-
dência basilar para a construção de uma sociedade diferente, mais justa e integrada.
De acordo com Johnson et al. (1999), as relações entre colegas são fatores que são
essenciais para o desenvolvimento cognitivo, social e relacional dos jovens, pois permi-
tem dividir com colegas sentimentos, experiências e sonhos e possui um grande efeito
sobre a aprendizagem e no rendimento escolar.
Em nossa revisão de literatura observamos críticas aos resultados escolares obti-
dos nos últimos anos em propostas de ensino tradicionais/individualisticas, onde se
sugere mudanças na maneira de conduzir a classe. É o que se propõe na vertente da
aprendizagem cooperativa, de acordo com Niquini (2006), Silva (2007) e Lopes e Silva
(2009), na situação cooperativa, os objetivos estão todos vinculados de tal forma que os
estudantes tem a impressão que todos afundam ou nadam juntos, enquanto que, em
uma situação competitiva individualista ou em arranjos de estudantes em grupos tradi-
cionais, se apenas um nada e se salva, todos os outros podem se afogar.
Para os defensores da Aprendizagem Cooperativa, esta metodologia é composta
por um conjunto de técnicas de sala de aula, em que os estudantes trabalham em
REFERENCIAIS TEÓRICOS
Aprendizagem Cooperativa
Histórico da AC
Em vários escritos antigos, entre eles a Bíblia e o Talmud5, têm-se referências acerca
da cooperação entre indivíduos. Na idade Antiga, 470 a.C. – 390 a.C. o filósofo Sócrates
ensinava aos seus discípulos em pequenos grupos, da mesma forma na escola de
Quintiliano6. Durante a Idade Média, os grêmios de artesões colocavam seus aprendizes
para trabalharem em pequenos grupos, de forma que os mais experientes deviam
5 Estudos de livros dos antigos judeus, processo que se fundamentava no diálogo, uma vez que acreditavam que
seria de difícil compreensão para quem optasse por estudar individualmente.
6 Fundador das escolas de ensino superior da Roma Antiga. Os estudantes aprendiam em grupo.
ensinar suas habilidades aos principiantes. Porém, o registro formal mais aceito é o da
escola lancasteriana, em Nova York, em 1806. Um dos importantes sustentadores dessa
abordagem, foi o coronel Francis Parker, que constatou em professores, naquele con-
texto, a valorização de trabalhos em pequenos grupos cooperativos na busca de saberes
e habilidades sociais.
Segundo Costa (2015), a AC surgiu como um método de aprendizagem recíproco
ou monitorial no século XVIII protagonizado por Joseph Lancaster (1778-1883) e Andrew
Bell (1753-1832) como uma maneira de atender a demanda do sistema educacional
devida à falta de professores. Assim sendo, os educandos que se destacavam em deter-
minadas matérias ficavam responsáveis por ensinar os demais colegas de classe.
A Aprendizagem Cooperativa tem sua divulgação aumentada a partir da década de
1970. Segundo Teodoro (2016), esta metodologia foi impulsionada pelos autores David
Johnson e Roger Johnson “responsáveis por inúmeras pesquisas e por vários registros
sobre a temática” (p. 24). Da escola europeia, podemos citar “Gomes Garcia e Insausti
Tuñon, que denunciam que o estilo de ensino centrado no professor é mais usual do que
o desejável” (SILVA, 2007, p. 46).
No Brasil, a pesquisa e produção científica sobre a aprendizagem cooperativa é
nova, existem alguns estudos sobre e experiências isoladas com divulgação limitada aos
interessados, como pode ser observada na revisão da literatura e em alguns referenciais
teóricos como: Kagan (1985), Niquini (2006), Lopes e Silva (2009) entre outros.
7 Estas recompensas geralmente são interpretadas como “pontuações” que se somarão à nota final dos estudan-
tes, em nossos trabalhos tentamos desvincular deste pensamento, as recompensas que damos aos pequenos GC
não são associados a nota ou menção final dos estudantes.
Avaliação Formativa
na cultura escolar que se torna extremamente difícil libertar-se dela (VILLAS BOAS, 2001,
2007 e 2009).
Soma-se a isso, o processo de sucateamento das escolas públicas e precarização
do trabalho do professor. Mesmo que se observe movimentos dos gestores da educa-
ção brasileira com propostas políticas de combate a repetência e à evasão escolar
(importantes e necessárias), mas que, por vários motivos, que não cabem entrar em
discussão nesse momento, não tem apresentado na atualidade melhores indicadores
de aprendizagens.
Contrariamente à avaliação classificatória, a AF traz em sua essência a busca de
promoção de aprendizagem do aluno e do professor, ao mesmo tempo em que pro-
move o desenvolvimento da escola, sendo, portanto, aliada de todos. A AF, é proces-
sual, despe-se do autoritarismo e do caráter seletivo e excludente da avaliação
praticada nas escolas, esta avaliação se apresenta a partir das visões e das concepções
de vários autores, entre eles destacamos Villas Boas (2001, 2007 e 2009). Esta autora
afirma que avaliar não é dar notas, fazer médias, reprovar ou aprovar os alunos, mas
sim um processo educativo que necessita de uma nova ética participativa no sentido
da construção, da conscientização, busca da autocrítica, do autoconhecimento entre
todos os envolvidos no ato educativo, investindo na autonomia, envolvimento, com-
promisso e emancipação dos sujeitos.
As características da AF podem contribuir para o aperfeiçoamento da ação docente,
fornecendo ao professor dados para adequar seus procedimentos de ensino às necessi-
dades da classe. Nesse sentido, ao proporcionar o processo educacional tendo a AF como
meio pretendíamos proporcionar aos estudantes da educação básica, ao licenciando em
formação inicial e ao docente da turma um campo fértil de reflexões, crescimento profis-
sional (inicial e continuado) e de aprendizagens.
A AF ajuda, também, na atuação discente, por oferecer ao aluno informações sobre
seu progresso na proposta de ensino fazendo-o conhecer seus avanços, bem como suas
dificuldades, para poder superá-las. Para que isso fosse possível, adaptamos um instru-
mento organizador denominado de Ficha do Grupo. A ficha do Grupo, adaptado de Silva
(2007), é um instrumento que serviu como apresentador-organizador-regulador desde o
planejamento inicial, passando por replanejamentos e adequações, de acordo com as
necessidades observadas no processo. Neste instrumento disponibiliza-se um espaço
para registros das observações do professor no decorrer das aulas (registros gerais e de
feedback dado).
METODOLOGIA DA PESQUISA
Referencial Pedagógico-metodológico
O primeiro passo efetivo do projeto no âmbito do PIBIC foi o de fazer uma revisão
de literatura, com o levantamento de trabalhos de autores que tratam dos temas AC e
AF. Para isso, efetuou-se uma busca por artigos e trabalhos dos últimos 10 anos no perió-
dico Química Nova na Escola (Qnesc) e do Encontro Nacional de Ensino de Química
(Eneq). Os resultados deste levantamento estão nas tabelas 1 e 2.
dificuldades encontradas, o que não conseguiram aprender e sugestões. Ele deve ser
feito em toda aula dada. Segundo seu propositor (GAUCHE, 2015).
Trata-se de solicitar dos licenciandos e dos mestrandos (em nosso caso aos
estudantes do curso técnico) que redijam, na primeira pessoa, após e em
relação a cada aula, o que consideraram pertinente registrar sobre a aula da
qual participaram. [...] respeitando a forma do texto e o que se espera que
nele esteja contido, minimamente. Os Registros são parte do que será utili-
zado na construção de seus respectivos porta-fólios. [...] cada Registro pos-
tado no AVA específico da disciplina correspondente é analisado por um(a)
colega, que escreve sucintamente um parecer sobre o Registro analisado.
Preferencialmente, é feito um rodízio, de modo a viabilizar que colegas dife-
rentes analisem os registros produzidos no semestre letivo. Ao receber, por
sua vez, a análise que o(a) colega fez, em perspectiva estritamente autoava-
liativa, o(a) autor(a) deve escrever, para fins pessoais, sua reflexão em torno
da crítica construtiva expressa no parecer recebido. Ao final do semestre
letivo, é solicitada uma autoavaliação global a partir dos registros produzidos
e respectivos pareceres/reflexões. [...] Trata-se de um recurso que não sobre-
carrega nem o professor nem os seus alunos e induz os estudantes a se preo-
cuparem com o próprio desenvolvimento ao longo do curso, podendo se
utilizar desse meio de avaliar em suas futuras incursões no Ensino Médio, na
condição de professores. (p. 8-9, com comentários nossos em negrito).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Leitura e Espírito
Registro de Relatório Participação Resolução de
discussão do cooperativo
Aluno aula ind. Experimental (nas 8 aulas Questões
Artigo (aptidões
(4 no total) (1 Grupo) ind.) (grupo)
(grupo) sociais)
A Muito bom Muito bom Bom Muito bom Muito bom Excelente
B Muito bom Muito bom Bom Muito bom Muito bom Excelente
C Muito bom Muito bom Muito bom Muito bom Muito bom Excelente
D Muito bom Muito bom Bom Muito bom Muito bom Excelente
Fonte: Autores.
discutindo e participando cada vez mais no decorrer das aulas, o que facilitou os proces-
sos avaliativos registrados nos quadros 2 e 3.
Os conteúdos curriculares trabalhados durante as oito aulas do grupo cooperativo,
já haviam sidos negociados pelo professor regente da turma, em seu planejamento inicial
(8 primeiras aulas do bimestre letivo), coube a nós no presente processo investigativo,
trabalhar os conceitos e avaliar os estudantes, na perspectiva da AC e AF. De forma geral
os dados dos quadros 2 e 3 indicam que os alunos encontram, no decorrer do processo,
caminhos para realizarem as etapas proposta juntos e cooperativamente, enfrentando as
dificuldades conceituais e participando do processo avaliativo como protagonistas.
Com base na ficha do grupo, nas anotações de campo e no resgate de memória dos
processos vividos temos sete elementos avaliativos centrais no processo, a saber: Registro
de aula individual; Relatório experimental; Leitura e discussão do artigo; Participação;
Resolução das questões e; Espírito cooperativo. As análises no presente artigo serão limi-
tadas aos registros de aula e ao conjunto subjetivo participativo professor-alunos de
autoavaliação registrados em Participação e Espírito cooperativo.
Nesse sentido, foi possível observar globalmente um bom nível de negociações e
aprendizado entre os alunos nos grupos cooperativos. Eles conseguiam expressar seus
pensamentos, discutindo sobre o conteúdo de modo mais aprofundado. Observamos
boas relações e funcionamento dos papeis atribuídos aos componentes do grupo, o que
demonstra que eles estabeleceram/desenvolveram aptidões sociais durante o funciona-
mento do grupo cooperativo. Nos fragmentos dos registros de aula apresentados nas
figuras 1 e 2, observamos o registro das percepções dos estudantes e o resultado dos
“acordos” referentes a o que e como deve-se relatar o vivenciado em aula.
Figura 1 – Fragmentos em sequência dos seis primeiros Registros de aulas do Grupo bananinha
Fonte: Autores.
Fonte: Autores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que os resultados aqui apresentados, com critério e rigor, não são
suficientes ainda, para fazer maiores afirmações teóricas sobre as convergências entre a
AC e a AF, por ser uma primeira imersão com um número reduzido de aulas e em apenas
uma turma da educação básica. Temos clareza que outras experiências subjetivadas em
nossa experiência nas turmas de curso superior nas mesmas perspectivas teóricas con-
tribuem para afirmações que aqui fazemos. No entanto, consideramos um primeiro bom
passo rumo a esta teorização.
Observando o desenrolar do planejamento, aplicação e observação da proposta de
intervenção metodológica de AC na técnica Aprendendo Juntos, podemos afirmar que a
experiência trouxe bons resultados educacionais e elementos de análise que satisfizes-
sem nossa proposta de pesquisa inicial, considerando as limitações do estudo proposto.
Essa técnica de aprendizagem promoveu cooperação e protagonismo entre os alu-
nos. Salienta-se também a negociação e a constante dialogicidade entre os componentes
dos grupos, fazendo com que o conhecimento químico proposto fosse negociado e res-
significado até chegar em um ponto satisfatório para todo grupo de ser registrado no
instrumento “Registro de Aula”.
Esta é a espinha dorsal da proposta de AC, não basta apenas colocar os estudantes
juntos, mas sim deixar claro quais são os objetivos do grupo, o que se pretende deles em
relação aos conhecimentos curriculares e às aptidões sociais, dando um sul de onde
devem chegar e, para isso, a avaliação formativa foi crucial para alinhar os necessários
feedbacks do professor aos componentes dos grupos pra suas reorganizações e protago-
nismo no processo ensino-aprendizagem.
O processo avaliativo foi central ao (re)planejamento das ações educativas, por
isso, os estudantes eram atualizados em todas as aulas da construção conceitual que o
professor estava atribuindo individualmente e ao grupo, momento em que eles partici-
pavam do processo avaliativo. O resultado desta participação pode ser observado nos
quadros 2 e 3.
A AC assim como qualquer outra proposta metodológica apresenta suas limita-
ções, no presente trabalho, nas condições dadas pela instituição e professor regente,
obtivemos resultados que consideramos satisfatórios para a proposta de intervenção
pedagógica tendo a AF como regente do processo, como resultado das ações desenvol-
vidas do projeto presente projeto do PIBIC-IFG, por isso, agradecemos a grande
REFERÊNCIAS
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2018.
INTRODUÇÃO
[ 286 ]
A INSERÇÃO PROFISSIONAL DE EGRESSOS DE UM CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 287
Tal diretriz estipulou o prazo de dez anos para que os sistemas de ensino s e ade-
quassem às normas, período que ficou conhecido como “a década da educação”.
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da
publicação desta Lei.
§ 4º Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores
habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço
(BRASIL, 1996).
Para Gatti e Barreto (2009), esse prazo foi importante, já que no Brasil, nessa época,
a maioria dos professores do ensino fundamental possuía formação no magistério, em
nível médio. Já em 2002 foram criadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a
Formação de Professores para a EB, cuja redação é focada no desenvolvimento de com-
petências pessoais, sociais e profissionais dos professores. Com relação às perspectivas
dessas diretrizes, destacamos o parágrafo 3º do artigo 6º:
Diversos estudos foram realizados acerca do tema proposto para esta pesquisa,
buscando-se estabelecer uma relação entre a formação inicial de professores em diver-
sas áreas e a atuação profissional destes egressos. Foram observados dados relevantes,
entre os quais tem-se: Marques (2014) declara que a quantidade de egressos de um
curso de Licenciatura em Física, atuantes no magistério, foi de 64%. Já Souto e Paiva
(2013) concluíram em relação ao curso de Licenciatura em Matemática, que um total de
59% atua em Escolas de Ensino Básico. Conforme Guimarães e Sena (2014), 61, 2 % dos
egressos do curso de Licenciatura em Computação atuam na sua área de formação. No
cenário dos egressos da Licenciatura em Ciências Biológicas, estudos apontam tendên-
cias diversificadas. Neves et al. (2016) destacam que apenas 20, 9% dos egressos no curso
atuam na docência e Teixeira et al. (2014), afirmam que a atuação dos egressos na EB
varia entre 22, 9% e 20, 5%, sendo que apenas 2, 9% avançaram na formação continuada
e atuam em nível superior de ensino.
A implantação de novos cursos de Licenciatura ofertadas por Instituições de Ensino
Superior (IES) recém-criadas, em regiões interioranas até então não contempladas por
tais cursos e sem tradição na área da formação de professores, anda junto com desafios
constantes. Tais desafios relacionam-se intimamente às demandas voltadas à formação
de professores, considerando-se que “por meio da análise da literatura educacional, per-
cebe-se que a vinculação dos problemas da formação do professor às dificuldades gerais
enfrentadas pela educação brasileira foi bastante defendida a partir do final da década
de 1970” (DINIZ-PEREIRA, 2011, p. 36). Na esteira desse pensamento, Tardif e Lessard
(2009) colocam a docência em evidência, ao afirmarem que os professores constituem,
em razão do seu número e da função que desempenham, um dos mais importantes gru-
pos ocupacionais e uma das principais peças da economia das sociedades modernas.
Gatti e Barreto (2009) corroboram com esta percepção ao salientarem que “além da
importância econômica, o trabalho dos professores também tem papel central do ponto
de vista político e cultural. O ensino escolar há mais de dois séculos constitui a forma
dominante de socialização e de formação nas sociedades modernas e continua se expan-
dindo” (p. 15).
Para Marques (2014), a universidade tem o papel de garantir seu compromisso
social, e, sobretudo, assumir o compromisso com a descoberta de novos conhecimentos,
comprometendo-se assim, a construir novos saberes, levando em consideração toda
bagagem social, cultural e pessoal por cada discente carregada, para então, no futuro, o
mesmo passar a ser construtor de saberes.
É notório que a atuação dos egressos dos cursos de licenciatura de diferentes áreas
é bastante diversificada e que grande maioria não pratica o magistério como carreira
profissional. Neste contexto, faz-se necessário o desenvolvimento de novas pesquisas
abordando a temática da atuação profissional dos egressos dos cursos de Licenciatura
em Ciências Biológicas, buscando-se identificar se a profissão de formação (aquela rela-
cionada à habilitação do diploma de graduação) tem sido exercida após a conclusão do
curso de graduação.
A identificação da atuação profissional dos egressos do curso de Licenciatura em
Ciências Biológicas do Instituto Federal Goiano-Campus Urutaí está evidenciada nos itens
5 e 6 do PPC do curso, que apontam, respectivamente, o perfil profissional dos egressos
e as habilidades e as competências a serem desenvolvidas. Teixeira et al. (2014) afirmam
que, desde 1930 têm sido realizados estudos relacionados à satisfação no trabalho, rela-
ção entre formação e mercado de trabalho e a transição que o mesmo fez. Os autores
afirmam ainda que, esse tipo de estudo, favorece uma melhoria no Ensino Superior e
uma melhor preparação dos ingressos para o mercado de trabalho. Seguindo tais linhas,
a presente pesquisa propõe a busca por respostas sobre a atuação dos egressos e com-
preensão acerca da conexão entre formação inicial e estabelecimento da profissão.
O curso de Ciências Biológicas do IF Goiano-Campus Urutaí tem conseguido anual-
mente preencher o número de vagas ofertadas para ingresso, fato que se apresenta
como promissor para o suprimento da carência de docentes com formação específica no
mercado na região. Pois de acordo com o Projeto Pedagógico do Curso há necessidade
de promover a formação de licenciados em Ciências Biológicas na região na qual o IF
Goiano – Campus Urutaí se insere (PPC, 2014).
No entanto, a falta de atratividade da profissão relatada por Souto e Paiva (2013),
vem causando um “mal-estar docente”, o que pode estar afastando os egressos dos
cursos de licenciatura das salas de aula. Conforme Araújo e Vianna (2011), o país está for-
mando mais (e talvez melhor os) licenciados. Contudo, a carência de professores conti-
nua a ocupar a mídia, as estatísticas do governo e as salas de aula.
Nesta perspectiva, a presente pesquisa se relaciona com a seguinte questão inves-
tigativa: os egressos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal
Goiano – Campus Urutaí estão exercendo sua profissão de formação? Para tanto, propu-
semos como objetivo realizar um levantamento acerca dos caminhos profissionais e/ou
acadêmicos dos egressos de um curso de Licenciatura até o ano de 2017, reconhecendo
as tendências predominantes desse grupo pesquisado.
METODOLOGIA
O método procedimental consistiu num estudo de caso. Para Yin (2001) o estudo
de caso deve ser a melhor estratégia quando se quer responder as questões “como” e
“porque” sobre um assunto específico a partir de pesquisas qualitativas. Corroborando
com essa ideia, Ponte (1994) caracteriza o estudo de caso da seguinte maneira:
Peres e Santos (2005) destacam três pressupostos básicos que devem ser levados
em conta ao se optar pelo uso do estudo de caso qualitativo: (i) o conhecimento está em
constante processo de construção; (ii) o caso envolve uma multiplicidade de dimensões;
e (iii) a realidade pode ser compreendida sob diversas óticas.
A coleta de dados foi realizada por meio de questionário que, segundo Gil (2008) é
uma técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas
às pessoas com o propósito de obter informações.
Segundo Gil (2008), para se estruturar um questionário, podem ser utilizadas
questões objetivas, questões discursivas e questões dependentes. As questões objeti-
vas são aquelas em que o participante deve escolher uma alternativa dentre as apre-
sentadas na lista; nas questões discursivas não há escolha de alternativa, o participante
deverá responder a pergunta a partir de sua vivência e percepção; já as questões
dependentes levam o participante a responder outra(s) pergunta(s) que se relacionam
à(s) resposta(s) anteriores.
O questionário destinou-se como formulário do Google uma vez que, o contato
com os participantes se limita a e-mails e utilizando tal plataforma, houve uma maior
segurança na obtenção de resultados coerentes. O mesmo foi composto por questões
objetivas, discursivas e dependentes, totalizando 9 questões de caráter geral e 16 de
caráter específico da área de formação e atuação profissional atual. A pesquisa foi desen-
volvida ao longo do ano de 2017, compondo um Trabalho de Conclusão (TCC) do mesmo
curso estudado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
23 8 2 3 0 1 37
Fonte: Dados da pesquisa.
que para Lima (2013), além de melhorar a qualificação profissional dos cidadãos ali resi-
dentes, desenvolve a região tanto economicamente, quanto socialmente. A maior parte
dos estudantes que ingressam no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IF
Goiano-Campus Urutaí advém da microrregião de Pires do Rio-GO (Figura 1), cidade
onde está localizada a Subsecretaria Regional de Educação do Estado de Goiás, na qual
Urutaí encontra-se integrada.
Urutaí
Fonte: http://www.citybrazil.com.br/go/microregiao_detalhe.php?micro=16
A procura pelo curso se deu em 51, 35% (n=19) dos respondentes devido a afini-
dade ou pelo fato de gostarem de Biologia. De acordo com Neves et al. (2016) que, con-
tabilizou 60% de ingressantes pelo mesmo motivo abordado, a interiorização dos IFs
ainda traz resultados expressivos, pois 16, 21% (n=6) dos egressos pesquisados afirma-
ram ter buscado o curso pela proximidade da sua residência. No entanto, Brito (2007)
relata que de acordo com o que foi respondido durante o Exame Nacional de
Desenvolvimento do Estudante (ENADE), apenas 3, 7% dos participantes escolheram a
instiuição pela proximidade de sua residência. Esses resultados estão de acordo com
estudo desenvovlido por Tardif e Lessard (2009), por mwio do qual concluíram que a
escolha profissional, ou seja, o ingresso em uma Instituição de Ensino, apresenta influên-
cia das experiências anteriores, o que foi denominada de socialização primária e que o
contato familiar ou o processo de escolarização, são exemplos desse fato.
A atividade profissional dos respondentes foi outra pauta questionada, na qual 64,
87% (n=24) asseveraram que não tinham vínculo empregatício durante a graduação. Este
resultado é similar ao de Teixeira et al. (2014) que expuseram a realidade de 74, 4% licen-
ciandos em Ciências Biológicas. Porém, este fato contradiz ao encontrado por Vasconcelos
e Lima (2010) que observaram 72% dos egressos com vínculos empregatício durante a
graduação em Ciências Biológicas. As três pesquisas supracitadas identificaram elevados
números de licenciandos em Ciências Biológicas que precisam conciliar o trabalho (mui-
tas vezes em áreas distintas de sua formação em curso) com o curso de graduação, o que
evidencia sinais da precarização da carreira docente no país, desde o momento de sua
formação inicial. Diniz-Pereira (2011) identificou que a renda familiar das pessoas que
ingressam nos cursos de licenciatura é bastante inferior àquela dos ingressantes nos cur-
sos tidos como mais concorridos, tais como: Física e Geologia. A pesquisa chega à conclu-
são de que “a origem sociocultural da maioria dos aprovados nos cursos com modalidade
licenciatura era bem menos privilegiada que a dos alunos que optaram pelos cursos mais
concorridos” (DINIZ-PEREIRA, 2011, p. 43).
Uma das críticas histórias ao processo de formação docente no Brasil vincula-se à
separação entre a teoria e a prática, com evidente priorização, por parte das IES, dos cur-
sos de bacharelado em detrimento das licenciaturas, contribuindo para o “surgimento de
críticas sobre a fragmentação dos cursos de formação de professores” (DINIZ-PEREIRA,
2011, p. 37). No sentido de dirimir tal fragilidade, destacamos a importância de espaços
híbridos na formação inicial de professores e conhecimento prático e profissional acadê-
mico, como formas de aprimorar a aprendizagem. Conforme reconhecido por Zeichner
(2010), observamos que tal percepção encontra-se em conformidade com o proposto
pelo curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IF Goiano-Campus Urutaí. O PPC do
curso denota a atuação em pesquisas básicas ou aplicadas como uma competência que
dever ser atribuída aos graduandos. Diante do exposto, os resultados apontam que 83,
79% (n=31) dos egressos respondentes participaram de programas de ensino, pesquisa
ou extensão, conforme a Figura 3.
4 Considere: PET (Programa de Educação Tutorial), PIBID (Programa Instituicional de Bolsa de Iniciação à Docên-
cia), PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica) e PIVIC (Programa Institucional Voluntário de
Iniciação Científica).
Dos respondentes, 21, 62% (n=8) atuam na sua profissão de formação. Destes, ape-
nas dois professores lecionam em sua área de formação e três em área afim, o restante
(n=3) atuam em áreas distintas da sua habilitação. Damaceno-Filho; Góes; Rocha (2011)
questionam a qualidade do ensino resultante dessa prática ao considerar que
licenciados que passaram quatro ou mais anos dentro da universidade estudando,
analisando, debatendo, pesquisando, desenvolvendo trabalhos e metodologias em sua
área especifica de estudos [...], quando formados e inseridos no mercado de trabalho [...]
passam a atuar em disciplinas diversas as quais não estão capacitados (p. 133).
Lima (2013) aponta que os IFs têm a preocupação em formar os profissionais para
trabalhar, levando em consideração todo seu embasamento interiorizado. Para a autora,
formar professores a fim de suprir a escassez da região ou microrregião, não assegura
resultados, uma vez que, tal falha em aparato profissional não se dá pela falta de profis-
sionais qualificados, mas sim, pela falta de salários dignos e valorização coerente. Neves
et al. (2016) e Rocha (2013) apontam que 20, 9% e 29, 27% dos questionados, respectiva-
mente, seguem carreira docente, caracterizando que não é somente uma realidade pon-
tual. No entanto, resultados encontrados em distintos cursos, apontam que a quantidade
de licenciandos que tem atuado na sua profissão de formação tem aumentado, como
Figura 6 – Nível de ensino que os respondentes que não atuam na profissão de formação
pretendem lecionar
Figura 7 – Sistema de ensino que os respondentes que não atuam na profissão de formação
pretendem lecionar
Esses dados concordam com Souto e Paiva (2013, p. 212) que supõem que a maio-
ria dos graduados que optaram por dar continuidade aos estudos, “o faz em busca de
profissões mais rentáveis ou uma carreira mais promissora, com condições de trabalho
que se apresentam como melhores em relação às do professor da Educação Básica”.
Vasconcelos e Lima (2010) assente que possivelmente o plano inicial de muitos
licenciados é atuar no nível básico de ensino, como já exposto neste trabalho, porém, o
contato com a vida acadêmica, com grupos de pesquisa e estudos não voltados à prática
pedagógica pode tê-los estimulado a mudanças atitudinais.
Em outra vertente, os licenciados percebem os diversos e diversificados proble-
mas que englobam a profissão docente,, o que corrobora com a aversão nos professo-
res novatos aos ambientes educacionais. Lima (2013, p. 13) ressalta que “o problema
acerca da formação de professores não se faz na oferta de curso e sim, na valorização
da carreira docente, considerando especialmente, questões como salário e condições
de trabalho”.
Assim, a obrigatoriedade dos IF’s em ofertar 20% das vagas para a formação
docente apresentou a falsa ideia de que os problemas seriam resolvidos, ou seja, a carên-
cia de professores seria suprida em quantidade e qualidade. Porém, as políticas públicas
voltadas para tal, fixaram-se na oferta de cursos e não nas necessidades de atuação dos
egressos desses cursos. Corroborando com o exposto, Michelan et al. (2009) esclarecem
que o desafio para países como o Brasil não é o de formar cidadãos aptos a exercerem
uma profissão, mas sim, posteriormente à formação, assegurar um trabalho digno, prin-
cipalmente ao se tratar da profissão professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primordialmente, cabe a uma pesquisa contribuir para uma melhoria social abran-
gente e não somente apresentar resultados quantitativos e qualitativos para a porção
acadêmica interessada. A presente pesquisa cunhou tal feito e trouxe resultados abran-
gentes e importantes, como a identificação do perfil acadêmico e profissional dos egres-
sos, alcançada por meio da análise dos dados obtidos.
Tendo como um dos motivos para sua criação conforme seu PPC, o curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas do IF Goiano-Campus Urutaí agrega em sua maioria,
alunos oriundos da microrregião à qual pertence, concordando com a caracterização
entre gastos para estudos e proximidade da residência advinda. Dos 37 egressos respon-
dentes, 59, 46% são do sexo feminino, com predominância de idade entre 22 e 25 anos.
Observou-se ainda que 64, 87% dos egressos não tiveram vínculo empregatício durante
a graduação, sendo que 83, 79% participaram de algum programa de Ensino, Pesquisa ou
Extensão, com fomento.
O aspecto mais relevante da pesquisa foi que 21, 62% dos egressos estão atuando
na docência e do restante, há preponderância pela opção da continuação acadêmica em
cursos de pós-graduação, apontando uma tendência entre os egressos do curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas do IF Goiano-Campus Urutaí, em buscarem aprimo-
ramento para exercerem o magistério com maior habilidade e competência, o que pro-
picia uma educação de melhor qualidade aos sujeitos aprendentes.
Enfatizamos que os resultados aqui encontrados se relacionam, em sua maioria,
com outras pesquisas realizadas com este mesmo público-alvo. Ademais, ficamos enco-
rajadas com o resultado da pesquisa, ao perceber que a maioria daqueles que não exer-
cem atualmente a docência, se dedicam à formação continuada com anseio de lecionar
em instituições de ensino, nas quais as condições de trabalho são um pouco melhores,
levando ao predomínio da tendência do grupo pesquisado, em atuar na profissão de for-
mação. Por fim, retomamos à pergunta feita no título do capítulo: “a docência tem sido
uma escolha?” e concluímos que, nem sempre é uma questão de escolha dos egressos.
A realidade aqui exposta passa pela falta de oportunidades para que essas pessoas este-
jam inseridas em ambientes educacionais, com condições dignas de exercerem a profis-
são docente e continuarem se aprimorando.
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INTRODUÇÃO
1 Licenciado em Química pelo Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí, Professor de Rede Privada de Ensino de
Goiás, weslei_oliveira@outlook.com
2 Mestra em Conservação dos Recursos Naturais do Cerrado e Licenciada em Química pelo Instituto Federal
Goiano – Campus Urutaí, Professora da Rede Estadual de Ensino de Goiás, jocelinecostasoares@gmail.com
3 Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Professora
do Instituto Federal Goiano - Campus Urutaí, Departamento de Química, bolsista CAPES pelo Programa Novo
Prodoutoral/IFGoiano, christina.carvalho@ifgoiano.edu.br
[ 306 ]
NECESSIDADES FORMATIVAS EDUCACIONAIS EM INTERFACE COM A PRODUÇÃO CIENTÍFICA 307
Esta lei, afirma ainda que, a formação inicial dos professores não constitui base
suficiente para as demandas das práticas docentes, oportunizando espaços para que a FC
aconteça como é descrito no artigo 63:
Os institutos superiores de educação manterão: I – cursos formadores de pro-
fissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, desti-
nado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras
séries do ensino fundamental; II – programas de formação pedagógica para
portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à edu-
cação básica; III – programas de educação continuada para os profissionais de
educação dos diversos níveis (BRASIL, 1996).
Dentro desta perspectiva, a docência exige que o professor deixe de ser um centra-
lizador do conhecimento e se transforme em mediador, aquele que desafia o estudante
a buscar novos caminhos e novas possibilidades de aprendizado (CRUZ, 2008). Entretanto,
para que isso aconteça, o docente precisa estar em constante processo de atualização de
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Informações
Título Autor (es)
da publicação
Formação Continuada de Professores de Maria Emília Caixeta de
1 n. 4, 1996
Química Castro Lima
Maria Inês de Freitas
Possibilidades de Investigação-Ação em um
Petrucci Santos Rosa, Tânia
2 Programa de Formação Continuada de n. 14, 2001
Cristina de Assis Quintino e
Professores de Química
Derval dos Santos Rosa
Concepções e Alertas sobre Formação
3 Roseli Pacheco Schnetzler n. 16, 2002
Continuada de Professores de Química
Formação Contínua de Professores para uma Isabel Sofia Rebelo, Isabel
4 Orientação CTS do Ensino de Química: um Martins e Maria Arminda n. 27, 2008
estudo de caso Pedrosa
Ricardo Strack, Magdalena
Por um Outro Percurso da Construção do
5 Marques e José Claudio Del n. 1, v. 31, 2009
Saber em Educação Química
Pino
Ações Interativo-Reflexivas na Formação Belmary Knophi Nery e
6 n. 2, v. 31, 2009
Continuada de Professores: o Projeto Folhas Otávio Aloisio Maldaner
Espaços de Formação Continuada de
Simone Gobi Marcolan e
7 Professores em Escolas Pequenas e Isoladas: n. 3, v. 37, 2015
Otávio Aloisio Maldaner
uma lacuna a ser preenchida
Fonte: QNEsc. Elaborado pelos pesquisadores.
Este artigo trata de um relato de experiência conduzido por Caixeta e Lima (1996)
cujo objetivo foi apresentar o trabalho de FC de professores de Química desenvolvido em
parceria com a Fundação de Ensino de Contagem (Funec), responsável pelo Ensino Médio
em Contagem (MG). Trata-se de um trabalho de assessoria pedagógica, ocorrido sema-
nalmente, remunerado e em dias fixos, entre professores e assessores para o planeja-
mento e implementação de propostas pedagógicas.
Esse trabalho foi coordenado pela autora do artigo que enfatiza que “o pressu-
posto básico dessa experiência de formação continuada é a ideia de que o professor não
é o objeto do planejamento do trabalho, mas o agente ativo desse processo, resgatando
em si, o papel de sujeito do processo do conhecimento” (LIMA, 1996, p. 13). Dessa forma,
as reuniões tinham como objetivo promover uma formação teórica ao professor que lhe
permita desenvolver a capacidade crítica, a autorreflexão e a autonomia de trabalho.
Segundo Lima (1996), a proposta de FC torna-se uma opção aos cursos de curta
duração, conhecidos pelos termos ‘capacitação’ e ‘reciclagem’, que visam o imediato
treinamento de professores. A respeito desses cursos, a autora discorre que o termo
‘capacitação’ possui uma conotação pejorativa que leva a considerar que o professor é
alguém incapacitado para seu trabalho, ao passo que, o termo ‘reciclagem’ faz alusão ao
ato de reciclar lixo, característica na qual os docentes não se enquadram.
O artigo faz uma crítica aos cursos de curta duração, uma vez que não aparentam
o impacto que se espera deles, devido a fatores como: tempo – são atividades em curto
período de tempo e o professor não consegue compreender as questões em discussão,
se apropriar delas e rever sua prática; solidão profissional – por mais completa que seja
sua formação, o professor diariamente depara-se com desafios que, nem sempre conse-
gue superar sozinho; e o novo – tudo que é desconhecido, novidade, assume uma forma
que assusta até o profissional mais experiente. Na busca por mudanças, a autora afirma
que o elemento inovador é a reflexão conjunta e a proposição coletiva e compartilhada
de saídas para os desafios que vão surgindo no dia a dia do trabalho escolar.
Nas reuniões, o aprendizado é mútuo entre assessoria e professores, visto que os
acertos e insucessos voltam para serem superados dentro do próprio grupo, sejam por
O artigo de Rosa, Quitino e Rosa (2001) refere-se a uma pesquisa que tem como
propósito relatar e analisar o processo desenvolvido por uma das professoras (autora do
artigo) vinculada ao programa de formação continuada ofertada pela Universidade
Metodista de Piracicaba (Unimep), com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp).
A questão investigativa da pesquisa foi delimitada pela pergunta: ‘qual é o signifi-
cado do planejamento, quando se trabalha com um projeto de ensino temático pautado
na contextualização dos conhecimentos?’ Para tanto, foi planejado um conjunto de ações
pedagógicas junto a um grupo de alunos da 1ª série do ensino médio, registrando as eta-
pas de tal processo (planejamentos, ações, reflexões, discussões sobre as ações) em diá-
rio de campo, sua principal fonte de dados.
No contexto do programa de formação continuada, a professora pôde estabelecer
uma parceria com formadores da universidade e se envolver num processo reflexivo
Schnetzler (2002) propôs como objetivo desse artigo o estudo de como as parce-
rias colaborativas podem contribuir para a FC de professores de Química. Nessa perspec-
tiva, a elaboração e o desenvolvimento de ações que contemplem a problemática, devem
ser concebidos entre professor universitário e professores da educação básica, de forma
que estes possam expor as dificuldades que permeiam sua prática, para que no coletivo
possam buscar por uma solução. Para isso, o professor precisa ser considerado como
sujeito produtor de saberes e não apenas como um objeto de investigação, pois ele é
peça fundamental no processo de ensino-aprendizagem.
Os cursos de FC são procurados por profissionais preocupados com a melhoria em
sua prática docente, relatando que sua formação inicial deixou lacunas que precisam ser
preenchidas, isto é, uma forma de “tapar os buracos”, seja da falta de conhecimento
específico ou de saberes para exercer a docência. Esses cursos devem ser contínuos,
constantes, e não ações curtas, esporádicas e descontínuas, uma vez que após o curso os
professores voltam para sua realidade educacional e deparam-se com a solidão de lidar
com seus anseios, sentindo-se inseguros para inovar em sua aula.
O intuito de Rebelo, Martins e Pedrosa (2008) neste artigo foi avaliar um curso de
formação contínua de professores de química de Portugal tendo como propósito facilitar
a (re)construção de crenças e conhecimentos relativos à educação formal em química, de
promover a inovação e práticas letivas compatíveis com perspectivas CTS
Neste artigo, Strack, Marques e Del Pino (2009) discutem a criação de um espaço
de legitimação e articulação de experiências didáticas dos professores da escola básica,
construído pelos e para os professores.
A alternativa que possibilita a criação desse espaço de discussão do professor – pes-
quisador pode ser formação de comunidades na internet, fóruns de discussão on-line,
blogs, nos quais os professores teriam a oportunidade para conversar com seus colegas. O
uso de jornal ou boletim com determinada periodicidade pode ser também um veículo
para o envio de contribuições e reflexões sobre a prática docente. Pretende-se constituir
um espaço de discussão permanente, possibilitando a exposição de experiências em sala
de aula e discuti-las com recursos nos moldes do portal do professor do MEC.
Nesse contexto, o diálogo entre professores com interesses semelhantes só tem a
trazer benefícios para todos. A reflexão sobre as atitudes e a prática na sala de aula com-
partilhada com seus pares é necessária para a melhoria na qualidade da abordagem do
conteúdo que é oferecido aos seus alunos. A constituição dessa nova instância de dis-
cussão dos saberes docentes incentivaria, entre os professores, o diálogo e, a partir
deste, a desconstrução das práticas cristalizadas nos currículos rígidos e descontextuali-
zados, favorecendo um pensamento pedagógico crítico que atendesse às necessidades
dos professores e dos alunos na realidade na qual estão inseridos.
Assim, os professores devem chamar a si, por meio do diálogo com os seus pares e
com os investigadores, maiores responsabilidades pela construção da sua identidade e
profissionalidade numa perspectiva de professor-investigador. Aqueles professores que
assumiram associar sua docência à investigação didática, não só obtêm melhores resul-
tados com os seus alunos, como também a docência adquire para eles um novo inte-
resse, uma nova motivação, gerando maior empenho e entusiasmo, sendo uma atividade
aberta e criativa, promotora do seu crescimento profissional.
Assim, o projeto pode ser considerado uma tentativa de recriar uma cultura de
formação de professores com base na produção escrita e em um formato definido, tor-
nando-se uma autêntica ação de formação continuada de professores.
Marcolan e Maldaner (2015) relatam nesse artigo, dados de uma pesquisa de mes-
trado sobre como acontece os processos de FC com professores de escolas do interior do
Rio Grande do Sul. O trabalho faz menção à importância da interação entre pares dentro
do contexto escolar, tratando-se de momentos de trocas, compartilhamento e ajuda
mútua, em que cada um participa com suas experiências, necessidades, limitações, preo-
cupações, saberes, visões e anseios. Entretanto, como isso é possível se no interior do RS
e do Brasil, muitos municípios pequenos contam apenas com uma única escola de Ensino
Médio e com apenas um professor de química e de outras disciplinas?
Partindo dessa pergunta, foi realizada análise de documentos (Projetos Políticos
Pedagógicos e Planos de Estudo) e entrevistas com professores de química, únicos em
três escolas do interior do RS, a fim de chegar há uma resposta. Segundo os autores, as
condições de trabalho desse professor impedem ou dificultam à busca por uma maior
qualificação, pois tal situação acarreta em uma sobrecarga de trabalho e sua ausência
se torna possível apenas se, deixar um substituto em seu lugar ou então, trocar aulas
com outro professor. A direção nesse caso, não dá apoio para que os professores bus-
quem pela FC.
No entanto, processos como esses não precisam necessariamente ocorrer fora do
ambiente escolar, requerendo a ausência do professor da sala de aula, podem realizar-se
em grupos, constituídos por professores e um assessor, para tratar de assuntos relevan-
tes da escola que estão em atuação. O ideal é que esse grupo seja formado por professo-
res da mesma disciplina ou no caso pesquisado, por área, com isso a FC pode ser pensada
e planejada entre os professores de biologia, física e química, compreendendo disciplinas
de uma mesma área do conhecimento, visando à melhoria do trabalho docente.
Com relação a essa proposta, os professores reconhecem a necessidade de uma
permanente atualização profissional na sua área, mostrando-se abertos ao diálogo, mas
também reclamam da falta de oportunidade e de momentos de interação. Estes eluci-
dam que, são muito poucas as oportunidades de cursos que abordam a formação por
área, o que mais se têm é em educação, para abranger todos no geral. Relatam que par-
ticiparam uma única vez de um curso de formação por área e afirmam que fossem ofer-
tados mais momentos assim, os alunos também ganhariam.
Outra situação evidenciada foi à ausência de autonomia dos professores sobre o
planejamento de sua disciplina, sendo totalmente influenciada pelos processos seletivos
para ingresso a universidade. As escolas pesquisadas participam do Programa Especial de
Ingresso ao Ensino Superior1 (PEIES) da Universidade de Santa Maria (UFSM/RS) tendo
que contemplar em seus currículos uma lista de conteúdos exigidos para ingressar na
referida universidade. Dessa forma, é ensinada uma gama de conteúdos desconexos e
isolados para que os alunos possam pleitear uma vaga na faculdade.
Marcolan e Maldaner (2015) afirmam que a “prática prevalecente sobre os três
professores é a de um ensino tradicional e conteudista, embora mencionem que utilizam
outras fontes e estejam conscientes da necessidade de mudar e inovar”. As exigências da
escola em manter um ensino direcionado à preparação para o vestibular vão contra aos
objetivos preconizados pelos documentos oficias para a educação nacional, além de não
oportunizar meios suficientes para pensar e fazer diferente.
Nessa situação, os professores assumem que precisam de ajuda e que a troca entre
colegas é válida para esclarecer dúvidas relacionadas a conteúdos e metodologias, mas
por serem únicos na escola, não conseguem inovar nem avançar com segurança em seu
trabalho. Os autores apontam alguns aspectos que acabam dificultando e impedindo
essa interação: não atribuição de hora atividade aos professores, falta de incentivo por
parte da equipe gestora, de tempo e oportunidade para se encontrarem e até mesmo a
ausência de iniciativa dos próprios professores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da leitura e análise dos artigos que versam sobre a temática da FC de pro-
fessores de Química, publicados na QNEsc, foi possível concluir que os fatores: tempo,
delimitado pela jornada de trabalho; ausência de incentivo e apoio da equipe gestora;
falta de oportunidades; assim como questões financeiras e interesses pessoais/profissio-
nais interferem nesse processo.
A FC carece de ser compreendida a partir da sua relevância no processo de capaci-
tação do professor, pois os cursos auxiliam a adequar sua formação às necessidades dos
alunos e do ambiente escolar, mostrando-se como uma importante medida que permite
ao professor preencher lacunas de sua formação inicial. Entretanto, para isso é preciso
que o professor mantenha-se em constante aperfeiçoamento profissional, fazendo-se
necessário avançar na concepção de FC. Dito de outro modo, o foco da FC deve voltar-se
para as ações formativas, deixando de ser apenas uma concepção de certificação, atuali-
zação, conformação, para uma concepção mais abrangente de formação do ser humano
(ROSSI; HUNGER, 2013).
Similar a este pensamento, Chimentão (2009) afirma que a FC será significativa e
ajudará a provocar mudanças na postura do professor quando conseguir formá-lo: (i)
competente na sua profissão, com os recursos que lhe são disponíveis; (ii) dotado de uma
fundamentação teórica consolidada; e (iii) consciente dos aspectos externos que podem
influenciar a educação, uma vez que esta não se resume ao ambiente escolar, mas se faz
presente num contexto cujas características interferem no seu andamento.
Diante da análise feita, são perceptíveis muitas semelhanças nos processos de FC
de professores de Química. Observamos que programas de assessoria são ferramentas
viáveis para discutir, elaborar e reestruturar o trabalho docente. Notamos também que
os empecilhos para que essa formação não ocorra se repetem, e isso não deveria acon-
tecer, pois “falar em formação de professores é falar de um investimento educativo dos
projetos da escola” (NÓVOA, 1995, p. 29).
Assim, consideramos que as parcerias colaborativas, os programas de assessoria
entre professores universitários e professores da Educação Básica proporcionam gran-
des impactos e conseguem trazer resultados significativos para o trabalho docente. No
entanto, necessita-se de iniciativas e subsídios expressivos que almejem favorecer a
atualização de conhecimentos e o aprimoramento das práticas escolares, de preferência
por área de atuação.
REFERÊNCIAS
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de aprendizagem. Educação e Pesquisa, v. 29, n. 2, p. 327-340, 2003.
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– Universidade Federal do Piauí, UFPI. Teresina, PI, 2015.
INTRODUÇÃO
1 Mestra em Conservação dos Recursos Naturais do Cerrado e Licenciada em Química pelo Instituto Federal
Goiano – Campus Urutaí, Professora da Rede Estadual de Ensino de Goiás, jocelinecostasoares@gmail.com
2 Licenciado em Química pelo Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí, Professor de Rede Privada de Ensino de
Goiás, weslei_oliveira@outlook.com
3 Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Professora
do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí, Departamento de Ciências Biológicas, luciana.siqueira@ifgoiano.
edu.br
4 Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Professora
do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí, Departamento de Química, bolsista CAPES pelo Programa Novo
Prodoutoral/IFGoiano, christina.carvalho@ifgoiano.edu.br
[ 322 ]
O ENSINO DE QUÍMICA E O ENEM 323
da avaliação institucional para as redes de ensino, em larga escala (FERREIRA, 2014). Neste
contexto, insere-se o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) (BRASIL, 2005).
No cenário atual da educação brasileira, o ENEM tornou-se um exame que exerce
em escala nacional, uma influência nos processos de ensino e aprendizagem e nas práti-
cas avaliativas nas escolas, bem como, tem influenciado os currículos, acerca daquilo que
vai ser ensinado nas escolas e as estratégias de ensino (BARBOZA; FERNANDES, 2013).
Nesse sentido, para obter um bom resultado de desempenho dos estudantes brasileiros,
é necessário compreender a concepção de avaliação subjacente a esse exame e sua rela-
ção com o trabalho desenvolvido nas escolas de EM (FERREIRA, 2014).
Este trabalho representa um excerto de uma pesquisa que analisa diferentes pers-
pectivas das provas do ENEM concernente às questões de Química da área de conheci-
mento de Ciências da Natureza e suas Tecnologias (CNT). Assim, temos como objetivo
desta pesquisa, analisar a abordagem dos conteúdos de Química nas provas de CNT do
ENEM no intuito de tecer reflexões acerca dos aspectos que envolvem a avaliação desse
exame e as propostas curriculares que envolvem a Química nas escolas de Educação
Básica (EB) que ofertam o EM.
Sobre o ENEM
O ENEM foi instituído em 1998 pelo Ministério da Educação (MEC) de acordo com
a Portaria Nº 438 de 28/05/1998 (BRASIL, 1998), sendo operacionalizado e implemen-
tado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
No documento de sua fundamentação teórico-metodológica (BRASIL, 2005, p. 7), o
ENEM é um instrumento de avaliação “individual e de caráter voluntário oferecido
anualmente aos concluintes e egressos do ensino médio, com o objetivo principal de
possibilitar uma referência para auto-avaliação, a partir das competências e habilida-
des que o estruturam”.
Durante o período de mais de dez anos, adotou-se o exame exclusivamente para ava-
liar as habilidades e competências dos concluintes do Ensino Médio (EM), sem o objetivo de
selecionar para o ensino superior (SILVEIRA; BARBOSA; SILVA, 2015). De acordo com Stadler
e Hussein (2017), somente em 2009, com a reformulação do exame, o ENEM passou a se
apresentar como um meio de acesso ao ensino superior, o que possibilitou os estudantes a
realizar apenas um único exame, concorrendo a vagas em universidades públicas e priva-
das de todo país, tornando-se um importante instrumento nas políticas educacionais.
O atual ENEM possui 180 questões cuja resolução ocorre em dois dias de provas.
As disciplinas são agrupadas em quatro grandes áreas de conhecimento: (i) Linguagem,
Códigos e suas Tecnologias; (ii) Matemática e suas Tecnologias; (iii) Ciências da Natureza
e suas Tecnologias; e (iv) Ciências Humanas e suas Tecnologias. O exame possui uma
Matriz de Referência (BRASIL, 2012) que explicita as habilidades que os concluintes do
EM devem ser capazes de utilizar em diversas situações.
A Matriz de Referência (BRASIL, 2012) define cinco eixos cognitivos que são comuns
às quatro áreas do conhecimento, que são: (i) Dominar Linguagens (DL); (ii) Compreender
Fenômenos (CF); (iii) Enfrentar Situações-Problema (SP); (iv) Construir Argumentação
(CA) e (v) Elaborar Propostas (EP). Cada área do conhecimento apresenta trinta habilida-
des que devem ser contempladas por meio de suas competências. A área de conheci-
mento de CNT abrange oito competências, dentre as quais, as quatro primeiras, englobam
as competências de todo o eixo norteador (Química, Física, Biologia e suas Tecnologias) e
as competências de área 6, 7 e 8, referem-se, específica e respectivamente, aos conheci-
mentos de Física, Química e Biologia.
Na Matriz de Referência consta também o objeto de conhecimento associado a
cada uma das quatro áreas de conhecimento. Os objetos de conhecimento são os con-
teúdos da área de conhecimento de CNT/Química, sendo eles divididos em dez temas e
cada um deles abrange diversos subtemas, de acordo com a correlação feita aos conteú-
dos, conforme o Quadro 1.
Quadro 1 – Apresentação dos objetos de conhecimento a partir dos temas e subtemas associado
à área de conhecimento de CNT/Química
Tema Subtemas
Evidências de transformações químicas. Interpretando transformações químicas.
Sistemas Gasosos: Lei dos gases. Equação geral dos gases ideais, Princípio de
Avogadro, conceito de molécula; massa molar, volume molar dos gases. Teoria
Transformações cinética dos gases. Misturas gasosas. Modelo corpuscular da matéria. Modelo
Químicas atômico de Dalton. Natureza elétrica da matéria: Modelo Atômico de Thomson,
Rutherford, Rutherford-Bohr. Átomos e sua estrutura. Número atômico, número
de massa, isótopos, massa atômica. Elementos químicos e Tabela Periódica.
Reações químicas
Representação Fórmulas químicas. Balanceamento de equações químicas. Aspectos quantitati-
das vos das transformações químicas. Leis ponderais das reações químicas.
Transformações Determinação de fórmulas químicas. Grandezas Químicas: massa, volume, mol,
Químicas massa molar, constante de Avogadro. Cálculos estequiométricos.
Tema Subtemas
Propriedades de materiais. Estados físicos de materiais. Mudanças de estado.
Misturas: tipos e métodos de separação. Substâncias químicas: classificação e
características gerais. Metais e Ligas metálicas. Ferro, cobre e alumínio. Ligações
Materiais, suas
metálicas. Substâncias iônicas: características e propriedades. Substâncias iôni-
propriedades e
cas do grupo: cloreto, carbonato, nitrato e sulfato. Ligação iônica. Substâncias
usos
moleculares: características e propriedades. Substâncias moleculares: H2, O2, N2,
Cl2, NH3, H2O, HCl, CH4. Ligação Covalente. Polaridade de moléculas. Forças inter-
moleculares. Relação entre estruturas, propriedade e aplicação das substâncias.
Ocorrência e importância na vida animal e vegetal. Ligação, estrutura e proprie-
dades. Sistemas em Solução Aquosa: Soluções verdadeiras, soluções coloidais e
suspensões. Solubilidade. Concentração das soluções. Aspectos qualitativos das
Água propriedades coligativas das soluções. Ácidos, Bases, Sais e Óxidos: definição,
classificação, propriedades, formulação e nomenclatura. Conceitos de ácidos e
base. Principais propriedades dos ácidos e bases: indicadores, condutibilidade
elétrica, reação com metais, reação de neutralização.
Transformações químicas e energia calorífica. Calor de reação. Entalpia. Equações
Transformações termoquímicas. Lei de Hess. Transformações químicas e energia elétrica. Reação de
Químicas e oxirredução. Potencial padrão de redução. Pilha. Eletrólise. Leis de Faraday.
Energia Transformações nucleares. Conceitos fundamentais da radioatividade. Reações de
fissão e fusão nuclear. Desintegração radioativa e radioisótopos.
Dinâmica das Transformações Químicas e velocidade. Velocidade de reação. Energia de ativa-
Transformações ção. Fatores que alteram a velocidade de reação: concentração, pressão, tempe-
Químicas ratura e catalisador.
Caracterização do sistema em equilíbrio. Constante de equilíbrio. Produto iônico
Transformação
da água, equilíbrio ácido-base e pH. Solubilidade dos sais e hidrólise. Fatores que
Química e
alteram o sistema em equilíbrio. Aplicação da velocidade e do equilíbrio químico
Equilíbrio
no cotidiano.
Características gerais dos compostos orgânicos. Principais funções orgânicas.
Estrutura e propriedades de Hidrocarbonetos. Estrutura e propriedades de com-
postos orgânicos oxigenados. Fermentação. Estrutura e propriedades de com-
Compostos de
postos orgânicos nitrogenados. Macromoléculas naturais e sintéticas. Noções
Carbono
básicas sobre polímeros. Amido, glicogênio e celulose. Borracha natural e sinté-
tica. Polietileno, poliestireno, PVC, Teflon, náilon. Óleos e gorduras, sabões e
detergentes sintéticos. Proteínas e enzimas.
Química no cotidiano. Química na agricultura e na saúde. Química nos alimentos.
Relações da
Química e ambiente. Aspectos científico-tecnológicos, socioeconômicos e
Química com as
ambientais associados à obtenção ou produção de substâncias químicas. Indústria
Tecnologias, a
Química: obtenção e utilização do cloro, hidróxido de sódio, ácido sulfúrico, amô-
Sociedade e o
nia e ácido nítrico. Mineração e Metalurgia. Poluição e tratamento de água.
Meio Ambiente
Poluição atmosférica. Contaminação e proteção do ambiente.
Energias Petróleo, gás natural e carvão. Madeira e hulha. Biomassa. Biocombustíveis.
Químicas no Impactos ambientais de combustíveis fósseis. Energia nuclear. Lixo atômico.
Cotidiano Vantagens e desvantagens do uso de energia nuclear.
Fonte: Matriz de Referência do ENEM. Elaborado pelas pesquisadoras.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 2 – Questões das provas do ENEM de 2015 a 2018 da área de conhecimento de CNT
relacionadas à Química
Q50 Q65 Q85 Q49 Q68 Q83 Q95 Q105 Q121 Q94 Q108 Q127
mento da Química
Q53 Q68 Q86 Q52 Q70 Q84 Q96 Q106 Q122 Q97 Q111 Q129
Q56 Q69 Q89 Q57 Q71 Q85 Q97 Q109 Q126 Q99 Q113 Q132
Q57 Q72 Q90 Q58 Q74 Q86 Q100 Q114 Q128 Q100 Q116 Q134
Q60 Q60 Q75 Q88 Q102 Q116 Q131 Q101 Q119 Q135
Q62 Q78 Q89 Q103 Q117 Q133 Q104 Q122
Q65
Fonte: Dados da pesquisa.
autores declaram que, dos 83 itens selecionados nos anos de 2009 a 2014, nos quais
eram necessários conhecimentos relacionados à Química, aproximadamente 29%, ava-
liaram conhecimentos que, de maneira direta ou indireta, estavam relacionados à área
de Química Orgânica.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)6, o objeto de conheci-
mento ‘Materiais, suas propriedades e usos’ relaciona conteúdos ministrados na 1ª série
do EM, o objeto ‘Transformações Químicas e Energia’ é ministrado na 2ª série do EM e o
objeto ‘Compostos de Carbono’ na 3ª série do EM. Já o objeto de conhecimento ‘Relações
da Química com as Tecnologias, a Sociedade e o Meio Ambiente’ aborda questões inter-
disciplinares, desenvolvida ao longo de todo o EM. Observamos que houve a presença
dos conteúdos ministrados nas três séries do EM, o que demonstra o cumprimento de
um dos objetivos do ENEM, que é proporcionar um mecanismo universal de acesso dos
estudantes ao ensino superior.
Verificamos ainda, a partir da Figura 2, que no ano de 2015, todas as questões de
Química abarcam pelo menos um objeto de conhecimento. Já nos demais anos, tal fato
não ocorreu, uma vez que nos anos de 2016 e 2017 não houve questões contendo o
objeto de conhecimento ‘Dinâmica das Transformações Químicas’ e em 2018, não houve
a abordagem de ‘Transformações Químicas e Equilíbrio’. Observamos também que, os
conteúdos ‘Dinâmica das Transformações Químicas’ e ‘Transformações Químicas e
Equilíbrio’, foram os objetos de conhecimento menos exigido nas provas analisadas.
A discussão dessa distribuição (percentual) da abordagem dos objetos de conheci-
mento torna-se fundamental, a partir do momento em que o ENEM passa a ser a única
forma de acesso a muitas das universidades públicas brasileiras, tornando-se referência
para a determinação do currículo ensinado nas escolas. Concordando assim, com autores
Gonçalves Jr e Barroso (2014) em que a Matriz de Referência, portanto, pode, sem mui-
tas discussões, promover mudanças profundas nos currículos do EM no Brasil.
Conforme já mencionado, uma mesma questão pode apresentar mais de um objeto
de conhecimento. A partir disso, apresentamos na Tabela 3, a quantidade de questões,
separadamente por ano, que possui a abordagem de um, dois, três ou mais objetos de
conhecimento.
Quantidade de questões/ano
Identificação
2015 2016 2017 2018
1 objeto de conhecimento 5 7 7 3
2 objetos de conhecimento 9 12 12 12
3 ou mais objetos de conhecimento 2 3 2 5
Fonte: Dados da pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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7 Que representam menos do que as questões que abordam 2 objetos de conhecimento e mais do que as ques-
tões que abordam 3 ou mais objetos de conhecimento.
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interdisciplinaridade ou contextualização? Ciência & Educação, v. 23, n. 2, p. 391-402, 2017.
INTRODUÇÃO
1 Licencianda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás, campus Samambaia. Bolsista PIBID-Bio.
Pesquisa sobre o conceito de espécie. gabigpdf@gmail.com.
2 Licenciando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás, campus Samambaia. Bolsista PIBID-Bio.
Pesquisa sobre o conceito de espécie. erickhsp17@gmail.com.
3 Licenciando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás, campus Samambaia. Bolsista PIBID-Bio.
Pesquisa sobre o conceito de espécie. jeffersonalso@gmail.com.
4 Licencianda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás, campus Samambaia. Voluntária PIBID-
-Bio. Pesquisa sobre o conceito de espécie. beacardosso33@gmail.com.
5 Professora Adjunto do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás, campus
Samambaia. docenciaonline2012@gmail.com.
[ 336 ]
A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPÉCIE E OS MODOS DE ENSINAR 337
Apoiado na PHC, Gasparin (2009) propõe uma metodologia didática que visa supe-
rar alguns problemas da escola e tem como ponto de partida e chegada a prática social
dos alunos, passando pela mediação pedagógica, constituída por problematização, ins-
trumentalização e catarse. Nessa perspectiva, conhecimento deve ser contextualizado
em suas múltiplas dimensões: histórica, científica, política, econômica, social, sempre
levando em conta a vivência dos alunos e a realidade mais ampla que os envolve
(GASPARIN, 2009).
Já o Ensino Desenvolvimental, formulado por Vasily Davidov (1930-1998), foi cons-
truído seguindo as mesmas bases epistemológicas que a PHC, mas com algumas distin-
ções no campo da didática por acreditar que o ser humano desenvolve habilidades
cognitivas, afetivas e morais ao realizar atividades de estudo (LIBÂNEO, 2019). As ativida-
des de estudo devem centrar-se na formação de conceitos científicos por meio dos pro-
cessos investigativos da ciência e no desenvolvimento de ações mentais, pressupostos
para o desenvolvimento humano.
Ter um conceito sobre um ou outro objeto significa saber reproduzir mental-
mente seu conteúdo, construí-lo. A ação de construção e transformação do
objeto mental constitui o ato de sua compreensão e explicação, o descobri-
mento de sua essência [...] (DAVIDOV apud PUENTES; LONGAREZI, 2013, p. 8).
Libâneo (2019) salienta que é importante que o professor se aproprie tanto dos
conhecimentos pedagógicos, quanto dos conceitos científicos que ensina, entendendo
como o aluno aprende, as ferramentas de ensino e os modos historicamente construídos
de produzir ciência. Isso é necessário pois capacita o professor para um exercício cons-
ciente da docência, no qual a mediação pedagógica e os modos de ensinar devem estar
intimamente ligados ao processo lógico-histórico de construção do saber científico.
É no embate com as fragilidade apontadas que o ato de planejar as atividades
docentes se faz crucial, pois, “ele possibilita antecipar mentalmente as ações a serem
realizadas em uma matéria ao organizar conteúdos, objetivos, formas de organização e
gestão das aulas” (LIBÂNEO; FREITAS, 2019).
Acreditamos que a retomada do percurso lógico-histórico de um conceito científico
tem potencial para orientar o professor no exercício consciente da docência, visto que
agrega conhecimento científico histórico e contextualizado, explicita quais aspectos do
conceito são nucleares para seu o entendimento e organização didática, bem como ajuda
a evidenciar o que, porquê e como as atividades poderão ser fundamentadas na escola.
Diante disso, nos ancoramos em autores como Gasparin (2009), Libâneo (2019),
Rosa e Martins (2017), Lopes e Ho (2019), Mayr (2004), Nascimento Jr., Souza e Carneiro
(2011) e Libâneo e Freitas (2019) para desenvolver esse trabalho. Ele objetiva apresentar
o percurso lógico-histórico do conceito de espécie em seus aspectos mais essenciais e
também um plano de ensino elaborado na articulação entre a PHC e o Ensino
Desenvolvimental, de modo a possibilitar que o aluno entenda a lógica da Ciência
enquanto produção humana e, dessa forma, possa desenvolver ações mentais superio-
res e um conhecimento científico mais íntegro.
PERCURSO DA PESQUISA
Esse conceito, conforme assumem Rosa e Martins (2017), não era suficiente para
compreender os seres vivos em sua totalidade e revelou fragilidades ao longo do tempo,
pois a classificação era baseada apenas em características morfológicas e isso gerava
muitas contradições, pois não havia um critério para o que era estabelecido como dife-
rença e como semelhança. Não se sabia explicar, por exemplo, diferenças entre indiví-
duos de uma mesma espécie e semelhanças entre indivíduos de espécies diferentes. Isso
Com base nisso, podemos então caracterizar “espécie” como uma unidade bioló-
gica de organismos provenientes de um ancestral comum que sofreu uma série de adap-
tações que culminaram no processo de especiação. Decorrente disso, uma nova espécie
é formada, sendo que os organismos podem ou não compartilhar características morfo-
lógicas semelhantes, mas sempre guardar entre si aspectos genéticos muito parecidos,
que conferem peculiaridades próprias e os distinguem de outros seres, o chamado patri-
mônio gênico. A partir do patrimônio gênico e das características em comum, os indiví-
duos de uma espécie se agrupam em determinadas regiões, formando populações. Esses
organismos são próprios de um ambiente dotado de um conjunto de condições e carac-
terísticas bióticas e abióticas que permitem sua qualidade de vida e sua interação com
outras espécies. Contudo, por conta da morfologia e do patrimônio gênico, estas espé-
cies são isoladas reprodutivamente umas das outras.
mundo para explicar fenômenos naturais ligados à vida e formulação de leis representa
o estatuto epistemológico. Já a reflexão acerca do período em que foi constituída cada
lei e teoria representa o estatuto histórico-social da Biologia.
Aliando o percurso lógico-histórico do conceito de espécie ao modo de olhar a
Biologia à luz de seus estatutos estruturantes, a Figura 1 evidencia a síntese desse pro-
cesso, sendo destacados os elementos essenciais para que o conceito seja entendido em
sua plenitude.
Fonte: os autores.
O plano de ensino do conceito de espécie (Quadro 1), a partir dos princípios vigos-
tkianos que regem a PHC e o Ensino Desenvolvimental, foi pensado para turmas de ensino
médio. Levamos em consideração o percurso lógico-histórico desse conceito, a visão de
Ciência enquanto produção humana, a não linearidade da Ciência e sua dependência dos
fatores sócio-culturais de um lugar e de uma época, as realidades concretas de uma
escola-campo da rede estadual, militarizada há cinco anos, e dos alunos. Em consonância
com o Ensino Desenvolvimental, ele busca, por meio das atividades de estudo (desenvol-
vimento metodológico), que os alunos se apropriem dos conceitos científicos e desenvol-
vam ações mentais. Além disso, na articulação com os passos didatizados por Gasparin
(2009), está dividido em problematização, instrumentalização e catarse, sendo que a prá-
tica social global é observada durante todo o processo por meio das discussões.
Divisão da turma em dois grupos para júri simulado. Um representando uma mineradora e outro um
grupo de ambientalistas.
Planejamento do júri e articulação dos argumentos.
Catarse
Avaliação
Júri simulado a partir da discussão de manchetes de jornais/revistas sobre o desastre ambiental de
Mariana e o impacto nas comunidades e populações. Um grupo representará a mineradora e o outro,
um grupo de cientistas.
Síntese escrita dos argumentos utilizados por cada um dos grupos.
Criação de propostas para preservar as comunidades e populações ao final do júri.
Tarefa para casa: pesquisa com a temática “Quais inovações tecnológicas você considera ter auxiliado
o desenvolvimento do conhecimento biológico?”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do estudo, atuamos em prol de construir uma prática docente mais íntegra
e reflexiva, além de propiciar uma aprendizagem conceitual completa para os alunos.
Nessa lógica, alicerçados no Ensino Desenvolvimental e na Pedagogia Histórico-Crítica
(PHC), buscamos construir uma práxis profissional na escola que leve em conta não ape-
nas o percurso lógico-histórico do conceito, mas também considere o aluno e os fatores
que o influenciam, tornando-o sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem,
enquanto que o professor se efetiva como um mediador das relações entre saber cientí-
fico e os modos de ensinar/aprender.
Para isso, o professor deve antecipar os objetivos, ações mentais e habilidades a
serem desenvolvidas no percurso de aprendizagem e propiciar um ensino mais efetivo
em que o processo de construção do conceito científico se torna mais relevante que os
fins deste. Levando em conta esses aspectos, podemos concluir que a construção do per-
curso lógico-histórico do conceito a ser ensinado auxilia o professor no planejamento das
atividades a serem realizadas em sala de aula. Por meio desse percurso, se tem maior
clareza do processo de construção científico em diferentes contextos, sendo possível
articular os modos de ensinar Ciências aos procedimentos lógico-investigativos da pró-
pria Ciência. Além disso, a elaboração da representação imagética, feita com base nos
estatutos estruturantes da Biologia, contribui para o planejamento escolar por dar cla-
reza dos conceitos essenciais para o entendimento do conceito de espécie.
Assim, no plano de ensino, temos a materialização de um estudo conceitual (bio-
lógico-pedagógico) de modo interdependente que busca superar a lógica de fragmen-
tação, transmissão e memorização do conhecimento. É revelado o movimento de
integração presente nas diferentes áreas da Biologia e as diversas visões de pesquisa-
dores ao longo do tempo, que refletiam contextos singulares, além de considerar os
conhecimentos empíricos e as dimensões do conteúdo, aproximando conhecimento
científico e aluno.
REFERÊNCIAS
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Associados, 2009.
GASPARIN, João Luiz; PETENUCCI, Maria Cristina. Pedagogia Histórico-Crítica: da teoria à prática
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LIBÂNEO, José Carlos. A didática desenvolvimental e o currículo de formação profissional
de professores: a articulação entre o conhecimento pedagógico-didático e o conhecimento
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LIBÂNEO, José Carlos; FREITAS, Raquel Aparecida Marra da Madeira. A elaboração de planos de ensino
(ou de unidades didáticas) conforme a Teoria do Ensino Desenvolvimental. 2019. Disponível em:
INTRODUÇÃO
1 Licenciando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Lavras, Lavras-MG. Bolsista do Programa Insti-
tucional de Bolsas da Universidade Federal de Lavras. Pesquisa sobre formação de professores. marllon.rosa@
estudante.ufla.br
2 Doutoranda em Educação para Ciência pela UNESP, Campus de Bauru-SP. Bolsista Capes. Pesquisa sobre Forma-
ção de professores e Ensino de Ciências. laise.vieira@unesp. br
3 Profa. Adjunta do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras, Lavras-MG. Doutora em Edu-
cação para a Ciência pela UNESP, Campus de Bauru-SP. Pesquisa sobre Formação de Professores e Ensino de
Ciências. marina.festozo@ufla.br
4 Prof. Adjunto do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras, Lavras-MG. Doutor em Educação
para Ciência pela UNESP, Campus de Bauru-SP. Pesquisa sobre Formação de Professores e Ensino de Ciências.
toni_nascimento@yahoo.com.br
[ 354 ]
UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DE ECOSSISTEMA 355
conceito, uma alternativa coerente para determinado desconforto. Ainda de acordo com
o autor, todo o processo de desenvolvimento da vida passa por transformações em dife-
rentes níveis, criando e recriando significados que vão determinar o nosso posiciona-
mento em relação à realidade. Dessa maneira, ao pensar a educação como premissa
transformadora, é importante entender que a educação não é um processo abstrato,
mas sim algo que acontece com seres reais, que modificam e são modificados, pois estão
localizados no espaço e também na história (KONDER, 1992).
Nesse sentido, vale ressaltar que apenas transmitir os conteúdos curriculares
mecanicamente não basta para promover transformações. É preciso que o processo de
ensino seja transformado também, garantindo a participação ativa dos sujeitos e a apren-
dizagem dos conceitos científicos não apenas de forma memorizada, mas que sejam
apropriados gradativamente e ganhem significado para o sujeito, contribuindo para o
desenvolvimento do seu pensamento.
Por esse ângulo, Monteiro et al. (2018) trazem que para que os estudantes se tor-
nem capazes de compreender a realidade em que estão inseridos e se tornem seres crí-
ticos, há a necessidade da apropriação efetiva dos conceitos que foram historicamente
construídos e que como regem a natureza e a sociedade, é possível que a partir deles, a
compreensão do mundo ocorra.
Pereira et al. (2003) destacam que estratégias pedagógicas que propiciem a atua-
ção ativa dos alunos, de forma a construírem seu conhecimento, são caminhos para uma
educação mais prazerosa e até mesmo autonômica; estas metodologias podem poten-
cializar o processo de ensino-aprendizagem e permitem uma melhor compreensão do
mundo para posterior transformação do mesmo.
Além disso, é necessário que o professor faça de sua ação um ato político, conce-
bendo o ambiente escolar a partir de sua relação dialética com a sociedade, com a polí-
tica e com a economia (NOSELLA, 2005). Nesse ponto, o ensino de Biologia partindo de
metodologias alternativas de ensino no ensino básico pode exercer importante papel no
que tange a compreensão destes temas. Nessa lógica, Abreu et al. (2017) contribuem ao
colocarem que atividades que superem o ensino tradicional fazem com que os processos
educativos sejam mais concretos, colaborando assim para a efetividade das aulas. Lima
Filho et. al (2011) destacam ainda que, ao buscar diferentes estratégias pedagógicas, o
professor sai do papel de detentor do conhecimento e passa a ser mediador, abrindo
espaço para a participação dos estudantes.
PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
A disciplina de Metodologia do Ensino em Ecologia
e a atividade de Estágio Supervisionado
Descrição da aula
O primeiro momento da aula teve início quando o professor recebeu uma ligação
via telefone celular, a ligação foi atendida e colocada em viva-voz, para que todos os pre-
sentes na sala pudessem ouvir o diálogo. A pessoa quem ligava colocou para os ouvintes
a seguinte questão: “Oi, Professor, você que é cientista, pode me esclarecer uma dúvida?
Eu estava lendo uma matéria na internet que dizia que um cientista tirou uma estrela do
mar de um lugar e os bichos que ela comia desapareceram, como isso ocorreu?’’. A pes-
soa quem ligava estava interessada sobre um experimento realizado por Robert Paine
em 1966 em uma costa rochosa na região litorânea de Washington, nos Estados Unidos.
A partir da ligação, imagens impressas de diferentes espécies de cracas e de uma
estrela do mar foram trazidas e colocadas sobre a mesa (conforme apresentado na figura
3), sendo dito aos estudantes que imaginassem que a mesa era um costão rochoso onde
as cracas e a estrela do mar viviam. Foi dito que a estrela do mar se alimenta de todas as
espécies de cracas ali presentes e que as cracas exploram os recursos presentes no cos-
tão rochoso. Então, foi discutido que quando a estrela do mar é retirada do costão do
rochoso, a população de cracas não cresce, pela ausência de um predador, mas sim cai
pela metade. A partir disso, foi possível conversar sobre a interação de competição entre
as cracas e que de alguma forma a estrela do mar controlava essa interação ao se alimen-
tar das diferentes espécies de cracas. Aqui puderam ser explorados os tipos de competi-
dores, uma vez assumida a existência da competição, foi dito que existem competidores
melhores e piores.
Após a discussão, os alunos concluíram que existiam cracas melhores competido-
ras que outras e a estrela do mar influenciava elas de alguma forma. Disseram que sem-
pre que a espécie melhor competidora tem um crescimento populacional, a estrela do
mar se alimenta delas, controlando sua população, permitindo que tenha recurso para as
demais espécies. Foi discutido que há interação entre os seres vivos e que elas são de
extrema importância para determinar o que acontece em um ambiente.
Para a construção do conceito de níveis tróficos foi utilizada uma dinâmica de
grupo partindo de um pão francês. Foi pedido para que cada estudante pegasse um
pedaço do pão para si e a porção que sobrara fosse dada ao aluno mais próximo, assim
sucessivamente até que todos os estudantes estivessem servidos. Quando chegou no
último aluno, havia um pedaço muito pequeno e foi pedido para que ele retirasse uma
parte e entregasse ao professor, que fez o mesmo, no entanto, colocou a última parte na
mesa juntamente com o restante do pão.
Assim, foi entregue aos estudantes cartões que traziam os nomes dos componen-
tes dos níveis tróficos. A partir disso houve uma discussão sobre o tema, sendo cons-
truído em conjunto os conceitos de produtores, consumidores e decompositores. Na
dinâmica, o produtor era o pão, sempre que um consumidor se alimentava, menos ener-
gia da produção primária passava para o próximo consumidor, até que o último ficou
apenas com algumas migalhas. Nesse momento foi questionado como esses indivíduos
conseguem sobreviver se ficam com tão pouco, e os estudantes responderam que os
consumidores de topo de cadeia geralmente são bem distribuídos, pois a energia que é
transferida em forma de matéria que chega até eles é muito pouca. Aqui foi discutido um
pouco sobre fotossíntese, levantando a utilização de água e luz para produção do próprio
alimento, utilizando de componentes abióticos. Foi colocada a importância dos fatores
abióticos e bióticos para o funcionamento do ambiente. Ademais, um dos estudantes
pegou um pedaço muito grande do pão, fazendo com que parte da turma ficasse sem.
Este acontecido foi usado para discutir que quando apenas uma espécie pega parte exa-
gerada do recurso, várias são eliminadas, devido à superexploração. Foi apontado que os
seres humanos estão fazendo isso, e que devemos mudar a forma como vivemos e con-
vivemos para que não percamos a biodiversidade do planeta.
No terceiro momento, o conceito de ecossistemas foi construído a partir de uma
imagem de Arthur George Tansley (conforme apresentado na figura 4) e uma lapiseira.
Após a dinâmica do pão para a construção dos níveis tróficos e a construção de que além
das interações entre os seres vivos, é importante também a interação dos seres com seu
ambiente físico, ou seja, com a parte abiótica. O Figura 4 – Arthur George Tansley
professor colocou que tudo que discutido estava,
de certa maneira, desconectado entre si, e que
poderia ser interessante pensar em algo que unifi-
casse todos esses pontos discutidos até então, e
nesse momento foi colocada a imagem de Arthur
Tansley e teve início a discussão.
Brevemente, foi falado um pouco sobre
Tansley, apontando que ele foi um biólogo botâ-
nico inglês pioneiro na ecologia vegetal, e que
assim como os presentes ali na sala, também
estava interessado em um conceito que unificasse
todos aqueles pontos discutidos. Foi dito que
Arthur George Tansley estava interessado em uma
teoria da física, chamada Teoria de Sistemas, onde Fonte: Autores 2019.
basicamente aponta que as coisas são grandes sis-
temas compostos por partes menores que se unem para formar algo funcional. Nesse
momento foi entregue a uma das alunas uma lapiseira desmontada e uma folha de papel
para que ela usasse para escrever algo com a lapiseira. A estudante tentou escrever com
uma das partes da lapiseira e mostrou para os demais alunos, mostrando que não foi
possível escrever. Então, foi pedido a ela que montasse a lapiseira, encaixando as peças
em seus devidos lugares e tentasse escrever novamente, desta vez, o resultado foi um
sucesso, a estudante conseguiu escrever. A partir disso foi discutida a Teoria de Sistemas,
apontando que a lapiseira é um sistema complexo com pequenas partes que se unem, e
que não só as partes que a unem são importantes, mas também as interações que ocor-
rem ali, ou seja, pequenas partes de um todo se interagindo para formar algo funcional.
A partir disso, foi apontado pelo professor que o Tansley manteve a ideia dessa
teoria em mente ao observar organismos vivos, constatando que esses organismos são
também sistemas complexos compostos por partes menores que interagem para formar
algo funcional, e ao remover alguma dessas partes, dificilmente o sistema funcionaria no
seu ótimo. Desse modo, partindo dessa premissa, foi falado sobre um conjunto de indi-
víduos, ou seja, uma população, e os estudantes apontaram que também existem intera-
ções, como foi visto na dinâmica de grupo sobre as cracas, e, além disso, em grupos de
indivíduos de espécies diferentes isso também ocorrer, como o caso da estrela do mar e
as cracas. Foi discutido que as comunidades são um conjunto de organismos diferentes
que interagem entre si e interagem também com um meio. O professor também colocou
que a “casa’’ dos organismos na natureza são sistemas complexos, e foi usada a palavra
casa para conectar essa afirmação à construção do conceito propriamente dito, em que
eco significa casa, então tudo que foi discutido durante a aula poderia ser unificado em
um conceito, o conceito de Ecossistemas.
Ao final da prática, foi entregue uma folha de papel para cada estudante presente
na aula e pedido para que apontassem os pontos fortes e os pontos da prática a serem
melhorados. Essas falas foram analisadas à luz da Metodologia de Pesquisa Qualitativa.
Este tipo de pesquisa é um caminho interessante quando pretende-se fazer estudos
sobre o comportamento social dos seres humanos, pois leva em conta que o homem não
é um ser passivo, e este tipo de pesquisa interpreta o mundo em que vive continuamente
(OLIVEIRA, 2008). Sampieri, Collado e Lucio (2013) ressaltam que a pesquisa de cunho
qualitativo objetiva a disseminação de dados e informações que não exigem uma padro-
nização e nem quantificação. A fim de manter em sigilo a identidade dos estudantes, os
licenciandos serão referidos como “L” seguido de um número para diferenciá-los (Ex. L1,
L2, L3) e os estudantes da escola estadual serão referidos como “E”, seguido de um
número em seguida para diferenciá-los entre si (Ex. E1, E2, E3).
A partir das falas dos estudantes, foram criadas categorias de acordo com as simi-
laridades, sendo este método derivado da Análise por categorias (MINAYO, 2007). Para
esta autora a categorização busca descobrir os pontos centrais que fazem parte de uma
comunicação, sustentando que a frequência em que esses elementos aparecem nas falas
têm significado para o objetivo analítico que se busca com a pesquisa (MINAYO, 1998).
Ademais, foi definido um tópico para a discussão da relação entre as disciplinas de
Metodologia do Ensino e a atividade Estágio Supervisionado, momentos potenciais da
formação de professores que, articulados e em diálogo podem possibilitar vivências e
discussões de extrema importantes aos futuros professores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Abaixo estão localizadas as falas dos estudantes que foram utilizadas para a análise
do trabalho. A partir da análise das falas foram constituídas três categorias as quais estão
descritas abaixo:
L1 – A aula foi muito interessante, trazer situações para a sala de aula, como
a ligação ou mesmo trazer imagens problematizadoras e o pão contribuiu
para que a aula fosse dinâmica e não fosse monótona. O professor domina
bem o conteúdo e trazer a história do mesmo é na minha opinião muito
importante, ajuda a criar uma referência histórica e mostra de onde veio esse
conhecimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da análise desenvolvida neste trabalho foi possível perceber que o diá-
logo estabelecido entre a disciplina de Metodologia de Ensino em Ecologia e a experiên-
cia dos Estágios na escola tem importante potencial para pensar a formação de
professores: a disciplina com sua preocupação de problematizar os caminhos expositivos
e mecânicos tão recorrentes ainda nos processos de ensino e apresentar caminhos alter-
nativos ao modelo de ensino tradicional e os Estágios para, a partir das questões
Metodológicas discutir a sua relação com outros tantos fatores que implicam o trabalho
do professor na realidade da escola brasileira. Dessa forma, a atividade de Estágio
Supervisionado se apresenta também como um importante espaço de formação docente
permitindo uma aproximação entre o licenciando e a realidade escolar.
Assim, se conjuntamente forem tomados como objeto de estudo podem contribuir
para o contínuo aprimoramento de ambas as atividades formativas e consequentemente
com o estreitamento entre teoria e prática na formação dos futuros professores, em
busca de promover seu desenvolvimento de forma mais crítica e comprometida e tam-
bém possibilitando a interação entre universidade e escolas.
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
1 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí. Pesquisa sobre Ensino
de Ciências. camilasilvalimac@gmail.com.
2 Professora do curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí. Doutora em Educação.
marciasareis@gmail.com.
3 Disponível em:<http//www.chc.org.br. Acesso em: 12 mar. 2019.
[ 372 ]
REVISTA CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS 373
ela pode ser utilizada como material pedagógico em sala de aula no ensino de Ciências,
pois aborda temas diversificados, utiliza uma linguagem acessível e atrai o leitor por suas
imagens e diagramação diferenciada, fugindo do padrão dos livros didáticos e literários
com os quais as crianças estão acostumadas no espaço escolar.
A questão norteadora da pesquisa é: o que dizem os artigos publicados na revista
CHC e quais suas contribuições para o ensino de Ciências da Natureza para os anos ini-
ciais do ensino fundamental? O objetivo geral da pesquisa é analisar a revista CHC e iden-
tificar o que dizem os artigos e quais suas contribuições para o ensino de Ciências da
Natureza para os anos iniciais do ensino fundamental, tendo como recorte temporal as
edições de 2015 e 2016. No caso específico deste artigo, o objetivo é apresentar dados
parciais da pesquisa, referente às análises das edições 275, 276 e 277 da revista CHC do
ano de 2016.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para Borges e Morais (1998, p. 15), o ensino de Ciências é “aprender a ler o mundo”.
Assim, o sujeito pode expressar seus conhecimentos em virtude da interação que teve
com o meio ambiente e a partir do contato com as pessoas. Além disso, “envolve tam-
bém o conhecimento de si mesmo, como um organismo vivo e autoconsciente, perce-
bendo as interações que estabelecemos e a interdependência fundamental à vida”
(BORGES; MORAIS, 1998, p. 15-16).
O ensino de Ciências contribui para que os alunos percebam “que a Ciência faz
parte da vida cotidiana e interfere diretamente na sociedade” (MENDES, 2010, p. 9), isso
em todos os níveis de ensino, desde a educação infantil até educação superior.
A sociedade contemporânea vive em processo de avanço na tecnologia e com isso
gera mudanças no comportamento, nos valores e também nas atitudes, portanto, o pro-
fessor deve “se manter constantemente em alerta, reforçando posturas e atitudes que
permitam uma atuação consciente” (MENDES, 2010, p. 9). Ou seja, esse professor deve
estar atento aos assuntos recentes referentes à área de Ciências e repassar aos alunos
para que possam ter esse conhecimento atual e se posicionarem ou atuarem critica-
mente/conscientemente na sociedade.
De acordo com Silveira (2010), o avanço tecnológico fez com que muitas pessoas
tivessem acesso à informação por meio do telefone, computador, dentre outros. E a par-
tir disso houve a necessidade “da realização da divulgação da ciência para o público não
especializado” (SILVEIRA, 2010, p. 16). Este público são as pessoas que não têm formação
e que têm pouco acesso a assuntos da Ciência propriamente dita.
A autora questiona a importância de haver divulgação científica e responde a esta
indagação:
existem muitas justificativas para se investir na divulgação científica. A neces-
sidade de socialização do conhecimento é apontada como uma das mais rele-
vantes. Quando o conhecimento é socializado e fica ao alcance de quem por
ele se interessar, o domínio exercido por especialistas é diminuído (ou deixa
de existir), as decisões tomadas em sociedade são discutidas e compreendi-
das por todos, e assim, os avanços são maiores (SILVEIRA, 2010, p. 16).
2019, até o mês setembro, já são mais de 300 edições. Durante o ano são onze publica-
ções, “os meses de janeiro e fevereiro constituem uma edição apenas” (SILVEIRA, 2010,
p. 77). Ela é editada pelo Instituto Ciências Hoje e está sob responsabilidade da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Conforme informação coletada no site
“mais de 60 mil escolas públicas do Brasil recebem a revista em suas bibliotecas”7, o que
mostra o seu alcance e justifica o desenvolvimento desta pesquisa.
A revista CHC e “tem caráter multidisciplinar e publica, sob as formas mais varia-
das, temas relativos às ciências humanas, exatas e biológicas” [...] (ALMEIDA; GIORDAN,
2014, p. 1004).
Ela apresenta por objetivo:
[...] promover a aproximação entre cientistas, pesquisadores e público infan-
til em geral, incentivando o fazer e o saber científicos e estimulando a curio-
sidade das crianças para fatos e métodos das ciências. Além disso, ela
propõe-se a divulgar aspectos da cultura brasileira, possibilitando a amplia-
ção do universo cultural das crianças (ALMEIDA; GIORDAN, 2014, p. 1004).
Pode-se entender que a revista CHC busca apresentar conteúdos científicos rela-
cionados às Ciências, estimulando não apenas o conhecimento de conceitos e teorias,
mas também estimular o fazer científico. Seu público alvo são crianças com idade entre
7 a 14 anos de idade, que estão no ensino fundamental I e II (ALMEIDA; GIORDAN, 2014).
Há várias possibilidades para sua utilização, dentre elas:
para as crianças, como material de leitura e apoio à pesquisa escolar; para os
professores, como alternativa ao material estritamente didático; para as
bibliotecas, como fonte permanente de consulta. Todas as matérias científi-
cas são produzidas por pesquisadores e professores da comunidade cientí-
fica brasileira e versam sobre objetos e métodos de pesquisa atualmente
investigados. A publicação recebe tratamento gráfico e editorial cuidadoso e
diversificado, o que lhe confere uma de suas principais características: a agi-
lidade de linguagem escrita e visual (ALMEIDA; GIORDAN, 2014, p. 1004).
Nesse sentido a revista CHC serve ao aluno, ao professor e também a escola, sendo
que seus artigos são feitos por profissionais qualificados da área. Com relação aos textos
e/ou artigos publicados, eles podem ser enviados para a redação ou encomendados.
O presente artigo apresenta a análise das edições 275, 276 e 277 da revista CHC do
ano de 2016. São apresentados dois quadros de análise para cada edição, no primeiro
constam as sessões, títulos e a área de conhecimento que poderia ser utilizado. No segundo
quadro consta o título, autor, classificação conforme a revista (texto, atividade, jogo, etc),
tipologia do texto (literário, científico, instrucional e humorístico). E também a classificação
conforme a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2018), identificando qual uni-
dade temática se encaixa para os anos iniciais do ensino fundamental, o ano que poderia
ser utilizado (texto, atividade, experimento, jogo, etc), o objeto de conhecimento e tam-
bém a habilidade que poderia ser utilizada para trabalho em sala de aula.
Com relação à tipologia, utilizaremos os conceitos de Kalfman e Rodríguez (1995).
Os textos literários são “todas aquelas variedades textuais (contos, lendas, mitos, nove-
las, poemas, obras de teatro, etc.) que se ajustam, em sua construção, a determinados
padrões estéticos (KAUFMAN; RODRÍGUEZ, 1995, p. 15). O autor pode empregar todos os
recursos oferecidos pela língua, com liberdade e originalidade, e recorrer ao sistema lin-
guístico para produzir a mensagem (KAUFMAN; RODRÍGUEZ, 1995).
Nos textos de informação científica, “privilegia-se a área de conhecimento – as
ciências – na qual se encontram seus conteúdos” (KAUFMAN; RODRÍGUEZ, 1995, p. 12).
Assim incluem frases claras, sem ambiguidade sintática ou semântica, e consideram o
significado mais conhecido das palavras. Neste tipo de textos podemos citar exemplos
como “notícias de um jornal, os relatos históricos, as monografias sobre diversos temas,
os artigos editoriais, as notas de enciclopédias, etc.” (KAUFMAN; RODRÍGUEZ, 1995, p.
15). Nos quadros de análise denominaremos de científico.
Os textos instrucionais
dão orientações precisas para a realização das mais diversas atividades,
como jogar, preparar uma comida, cuidar de plantas ou animais domésticos,
usar um aparelho eletrônico, consertar um carro, etc. [...] independente de
sua complexidade, compartilham da função apelativa, à medida que prescre-
vem ações e empregam a trama descritiva para representar o processo a ser
seguido na tarefa empreendida (KAUFMAN; RODRÍGUEZ, 1995, p. 35).
Área de conhecimentoque
Seções Títulos
Podem ser exploradas
A viagem do mosquito: uma Ciências/História/Geografia
história que vem do egito.
Artigos Raios! Que história é essa? Ciências/História/Geografia
Baú de histórias O banho de mar Ciências/Literatura
Por que? Por que alguns mosquitos são Ciências
transmissores de dengue?
E Onde fica? Onde fica? Tonga Geografia/História
D
I Brincadeira Varetas Coloridas Jogos e brincadeiras/Educação
Ç Física
Ã
Experimento Pão Pula-Pula Ciências
O
2
7 Você sabia Você sabia que a poluição da Ciências/Geografia
5 baía de Guanabara é também
prejudicial para as aves que
retiram seu alimento de lá?
Quadrinhos Eu sou o maior Ciências
Quando crescer vou ser... Metereologista Ciências
Jogo Receita para os dias de Ciências /Jogos e brincadeiras/
descanso: Brincar! Educação Física
Poesia e companhia Trava língua – Cultura Popular Português
Fonte: quadro elaborado pelos autores (dados da pesquisa).
Na edição 275 é possível verificar que a revista CHC pode ser utilizada não só por
professores da área de Ciências, mas também História, Geografia, Educação Física,
Literatura e Português. Nesta edição o tema principal foi raios e o mosquito da dengue.
Com este material o professor poderia trabalhar com as três unidades temáticas da
BNCC (Matéria e Energia, Vida e Evolução e Terra e Universo) de 1º ao 5º ano. Como a
revista propõe abordar temas atuais, realizou-se uma consulta na internet para verifi-
car se em 2016 houve casos de dengue e no portal G1 da Globo, tinha a seguinte notí-
cia “Dengue, zika e chikungunya provocaram 794 mortes em 2016, segundo boletim”
(G1, 2017, on-line8). O que indica que a revista CHC é condizente com a proposta de
abordar temas atuais.
indispensáveis aos
animais
Tambor da lua, Texto Literário Vida e Evolução; 2º ano;
conto popular de Seres vivos no ambiente (EF02CI04)
E origem africana
D Por que os meteo- Maria Elizabeth Zucolotto Texto Científico Terra e Universo; 5º ano;
I ritos caem na Constelações e mapas (EF05CI10)
Ç terra? celestes
à Bichos Ameaçados Sávio Freire Bruno Texto Científico Vida e Evolução; 2º ano;
O – Procura-se: Gato Seres vivos no ambiente (EF02CI04)
2 palheiro
7
6 Um desafio com A redação Experimento Científico Matéria e Energia; 2º ano;
latinhas: Açúcar ou Propriedade e uso dos (EF02CI01)
adoçante? materiais
Para organizar a A redação Atividade Instrutivo
sua coleção CHC!
Você sabia que José Augusto Pires Bitencourt Texto Científico Matéria e Energia; 2º ano;
metais pesados são e Mirian A. C. Crapez Propriedade e uso dos (EF02CI01)
perigosos? materiais
Lá vem nossos Ivan Zigg Quadrinhos Humorístico
mascotes...
Especialista em João Paulo Rossini Texto Científico Terra e Universo; 5º ano;
Direito Espacial! Constelações e mapas (EF05CI10)
celestes
Na teia da Aranha Jogo Instrutivo
A edição 277 poderia ser utilizada para o ensino de Ciências, Geografia, Educação
Física e Português. Nesta edição os temas principais foram os índios e as plantas. As ses-
sões apresentadas foram de texto, experimento, jogo e poesia. Nesta edição poderia ser
trabalhada a unidade temática Vida e Evolução e Terra e Universo, de 1º, 2º e 5º ano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise das edições 275, 276 e 277 da revista CHC verificou-se que os
temas abordados são abrangentes e atuais, e se relacionam com o cotidiano das crianças,
abordando questões regionais e nacionais. O enfoque abordado vai além do conheci-
mento prévio que a criança tem sobre o assunto, apresentando novas informações cien-
tíficas, para isso utiliza diferentes tipologias de textos (literário, científico, instrucional e
humorístico) para atrair as crianças.
A linguagem é clara e acessível, apresentando os termos científicos corretos, mas
sem apresentar conceitos complexos para o entendimento das crianças, como no caso
da explicação sobre os meteoritos. Apresenta textos, informações e sugestões de ativi-
dades contextualizadas e atualizadas, que colaboram com o debate sobre as repercus-
sões, relações e aplicações do conhecimento científico na sociedade, como no caso do
mosquito e a transmissão de doenças (dengue), procurando contribuir com a formação
da cidadania. Ao apresentar temas relativos aos seres vivos incentiva o respeito e a con-
servação da natureza. Os textos são acompanhados de desenhos criativos que estimu-
lam a leitura e complementam as informações. Cita a fonte das imagens bem como das
ilustrações/desenhos.
Pode se observar também que a revista CHC propõe atividades que estimulam a
investigação científica e de procedimentos característicos da Ciência, com a sessão inti-
tulada experimento.
Em relação à parte gráfica, o tamanho das letras e do espaçamento entre palavras
e linhas é adequado, assim como as ilustrações são apropriadas às finalidades para as
quais foram preparadas e complementam o texto.
Espera-se que este artigo possa contribuir com os professores de Ciências que
atuam nos anos iniciais do ensino fundamental para pensar ou repensar sua prática peda-
gógica e ponderar a possibilidade de utilizar a revista CHC como material pedagógico nas
suas aulas. A expectativa é que esse trabalho possa colaborar com todos aqueles que
estão envolvidos com a educação, sejam eles gestores, coordenadores e professores.
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SILVEIRA, Marlise Almeida da. Divulgação Científica na Revista Ciência Hoje das Crianças. 2010.
Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo
do Campo/SP.
INTRODUÇÃO
1 Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Lavras-MG/UFLA. Bol-
sista CAPES. Pesquisa sobre ensino de Ciências. juliaamonteiro9@gmail.com
2 Doutoranda em Educação para Ciência pela Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’/UNESP,
Campus de Bauru, Bolsista CAPES, Pesquisa sobre Ensino de Ciências e Formação de Professores, laise.vieira@
unesp. br
3 Professor Adjunto do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras-MG/UFLA. Doutor em Edu-
cação para Ciência pela Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’/UNESP, Campus de Bauru. Pes-
quisa sobre Ensino de Ciências e Formação de Professores. toni_nascimento@yahoo.com.br
[ 388 ]
O PIBID COMO MEDIADOR DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DESENVOLVIDAS 389
num mero transmissor de conhecimentos que não reflete sobre o seu ensino e não trans-
forma a realidade da sua escola. Deste modo, a autora aborda que a formação inicial de
professores deve ser embasada na reflexão, pois ela possibilita a inovação e o rompi-
mento do tecnicismo e com isso a construção de uma identidade crítica e reflexiva.
Das possíveis contribuições que o PIBID pode oferecer, destaca-se o diálogo que é
estabelecido na disciplina de Metodologia de Ensino de Biologia, ofertada no Curso de
Ciências Biológicas da Universidade Federal de Lavras – MG. Essa disciplina, de acordo
com Paula et al. (2015), tem o intuito de permitir que os licenciados reflitam sobre qual é
o papel da Biologia, seus conteúdos curriculares e a forma de construir os conhecimentos
com os estudantes da escola básica, partindo dos conhecimentos científicos apropriados
na universidade. A disciplina proporciona ainda a elaboração de metodologias alternati-
vas de ensino que visam uma outra forma de ensinar.
Desta forma, o objetivo deste trabalho é compreender como o diálogo entre a dis-
ciplina de Metodologia de Ensino de Biologia e o PIBID contribui para o processo de for-
mação dos licenciandos na construção das práticas pedagógicas na disciplina.
PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
O Programa de Bolsas de Iniciação
à Docência (PIBID) de Biologia
abertura para o diálogo entre o professor orientador e seus alunos e dos alunos com o
professor (MACIEL et al., 2016).
METODOLOGIA DE ANÁLISE
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após análise das falas foi possível encontrar três categorias, que representam os
aspectos que permearam a fala dos estudantes. No quadro abaixo estão dispostas as
categorias que representam as falas comuns dos licenciandos, sua descrição e a frequên-
cia. Cada estudante encontra-se representado pela letra A e numerados de 1 a 10.
Quadro 3 – Categorias, descrição e frequência
Como Bezerra; Ferreira (2019) apontaram em sua pesquisa, o PIBID contribui para
os professores em formação inicial e continuada, pois proporciona a ambos um novo
olhar para desenvolver aulas com novas metodologias, saindo do conforto de aulas mera-
mente expositivas. Esse fato aliado à fala dos licenciandos, explica o porquê de ter se
criado um ambiente rico para a troca de experiências. Ora, a partir do momento que os
bolsistas possuem repertório para contribuir com a elaboração de aulas não expositivas,
que usam dos mais diversos recursos didáticos e se preocupam, para além da apropria-
ção do conteúdo, da formação cultural e crítica dos estudantes, percebe-se o quão rele-
vante essa troca de experiências pode ser.
Além do mais, pensando na dissociação que existe entre os saberes pedagógicos e
saberes específicos, a disciplina Metodologia de Ensino de Biologia, de acordo com Abreu
et al. (2017) faz com que os licenciandos mobilizem diferentes conhecimentos para a
construção da aula, minimizando a dicotomia existente entre ambos saberes. Ao aliar o
papel da disciplina, aos saberes construídos ao longo do tempo pelos bolsistas do PIBID,
é possível reconhecer um cenário onde a troca de experiências acontece naturalmente,
pelo simples fato de terem experimentando situações diferentes.
É partir das trocas de experiências, do conhecer diversas situações, do aprender e
do ensinar e a ser professores a partir prática em conjunto com pessoas críticas, é que se
terá um aprendizado permanente no que diz respeito a profissão docente (ABDALLA,
2006). Portanto, a partir do momento que o contato entre o PIBID e a disciplina de
Metodologia de Ensino de Biologia acontece, a oportunidade de aprendizagem para
aqueles que ainda não tiveram contato efetivo com a sala de aula também surge e pode
gerar produtos incríveis.
Quando os bolsistas e licenciandos se encontram e criam um ambiente propício às
trocas de experiências, além da construção das metodologias para o ensino de temas da
Botânica e da Zoologia, aconteceu a reflexão dos problemas que estão por trás do ensino
tradicional e também reflexões acerca da prática docente.
Em consonância com Castelli (2010), a ação reflexiva é algo fundamental para o
processo de transformação social, pois assim o docente enxerga sua experiência de
forma crítica como uma forma de adquirir novos conhecimentos. Carabetta Júnior (2010)
complementa sobre a relevância de que um olhar crítico e reflexivo para o contexto edu-
cacional é essencial para descobrir os meandros de situações e caminhos que possam ser
evitados ou ser tratados de outras maneiras, para que os docentes ajam de maneira efe-
tiva e sem constrangimentos, como objetivo de ter um crescimento pessoal e
profissional. É neste sentido que emergiu a terceira categoria “Reflexões sobre a prática
docente” como podemos perceber nas falas abaixo:
A1 – [...] bolsistas do PIBID que já possuem certa prática em salas de aula nos
apontam partes de nosso plano de aula em que a metodologia possa não fun-
cionar e eles nos auxiliam com novas possibilidades de metodologias, além
disso, trazem reflexões que são muito importante para nós, futuros professo-
res, para que assim consigamos entender alguns problemas da escola[...]
A3 – [...] Com a discussão foi possível refletir sobre vários problemas presen-
tes na educação e entender determinados processos que são inerentes ao
ensino de Ciências e Biologia e foram discutidas algumas estratégias que
podem facilitar a interação dos alunos com o assunto abordado. Estratégias
que devem ser vistoriadas com o propósito de se distanciar dos métodos tra-
dicionais de ensino que estão presentes nas escolas há muito tempo e
atualmente.
A10 – [...] Nesse momento de trocas de experiências foi possível refletir sobre
diversas questões que estão relacionadas a sala de aula, podendo assim pen-
sar nossa aula para que seja efetiva e assim os alunos se apropriem dos
conhecimentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da análise aqui desenvolvida foi possível perceber que o diálogo estabe-
lecido entre o PIBID e a disciplina de Metodologia de Ensino de Biologia se mostrou enri-
quecedor para a formação inicial de professores. A fala dos participantes ressaltaram
que a experiência dos bolsistas contribui de forma significativa para a construção das
aulas, uma vez que esta é estabelecida através de um referencial teórico alinhado à prá-
tica, o que emerge na construção de saberes da experiência. Além disso, o cenário de
troca de saberes que é proporcionado pelo encontro torna possível reflexões pertinen-
tes para a edificação de uma prática pedagógica transformadora.
É importante também destacar a relevância da disciplina Metodologia de Ensino
de Biologia, já que esta traz à tona reflexões pertinentes no que diz respeito ao cenário
educacional do país e, além disso, faz um movimento de aproximação entre os saberes
específicos adquiridos ao longo do curso e os saberes pedagógicos que muitas vezes se
fazem ausentes nos cursos de licenciatura. Entretanto, deve-se ter em mente que o
encontro entre esses dois grupos não resolve todos os problemas presentes no contexto
educacional. Assim, é importante que os futuros professores entendam que essa forma-
ção deve ser contínua, uma vez que educar é um ato dinâmico e político.
Por fim, diante do cenário político atual, e após análise do trabalho, foi possível
perceber a importância da permanência do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência (PIBID), visto que este contribui para a formação da práxis dos
futuros professores, que atuarão nas escolas para a formação de nossos jovens, com
um viés crítico e reflexivo.
REFERÊNCIAS
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TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 2. ed. Editora Vozes, Petrópolis, Rio de
Janeiro, 2002.
AGRADECIMENTOS
CAPES, FAPEMIG e UFLA
INTRODUÇÃO
1 Licenciando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Lavras, Lavras-MG. Pesquisa sobre Ensino de
Ciências e Formação de Professores. guxtavohenrique@outlook.com.
2 Doutoranda em Educação para Ciência pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).
Campus de Bauru. Bolsista Capes. Pesquisa sobre Ensino de Ciências e Formação de professores, laise.vieira@
unesp. br
3 Professora aposentada no Departamento de Física e Química da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e docente voluntária no Curso de Pós-gradua-
ção em Educação para a Ciência da UNESP. Pesquisa sobre Formação de Professores e Avaliação Formativa,
lemaorc@gmail.com
4 Professor Adjunto do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras, Lavras-MG. Doutor em
Educação para Ciência pela UNESP, Campus de Bauru-SP, Pesquisa sobre Ensino de Ciências e Formação de Pro-
fessores, toni_nascimento@yahoo.com.br
[ 401 ]
402 Gustavo Alves Silva; Laise Gonçalves; Lizete Maria de Carvalho; Antonio Nascimento Junior
PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
A proposta da aula
A realização da aula
Quem começou a conversa foi Guaraci que contou para seus amigos como os povos
indígenas Nhengatu explicam a origem da vida:
No princípio, contam, havia só água, céu. Tudo era vazio, tudo noite grande.
Um dia, contam, Tupana desceu de cima no meio de vento grande, quando já
queria encostar na água saiu do fundo uma terra pequena, pisou nela.
Nesse momento Sol apareceu no tronco de céu, Tupana olhou para ele.
Quando Sol chegou no meio do céu seu calor rachou a pele de Tupana, a pele
de Tupana começou logo a escorregar pelas pernas dele abaixo. Quando o Sol
ia desaparecer para o outro lado do céu a pele de Tupana caiu do corpo dele,
estendeu-se por cima da água para já ficar terra grande.
No outro Sol (dia seguinte) já havia terra, ainda não havia gente.
Quando o Sol chegou no meio do céu Tupana pegou uma mão cheia de terra,
amassou-a bem, depois fez uma figura de gente, soprou-lhe no nariz. Essa
figura de gente começou a engatinhar. Ela foi crescendo, ficou grande como
Tupana, ainda não sabia falar.
Tupana, ao vê-lo já grande, soprou fumaça dentro da boca dele, então come-
çou já querendo falar. No outro dia Tupana soprou também na boca dele,
então, ele falou. Disse assim: – Como tudo é bonito pra mim! Aqui está a água
com que hei de esfriar minha sede. Ali está o fogo do céu com que hei de
aquecer meu corpo quando ele estiver frio. Eu hei de brincar com água, hei
de correr por cima da terra; como o fogo do céu está no alto, hei de falar com
ele aqui de baixo.
Tupana estava junto dele, ele não viu Tupana.
Logo após a fala de Guaraci foi a vez de Luanda contar como os povos africanos
Iorubá explicavam o seu entendimento acerca da origem da vida por meio da narrativa
Iorubá:
No tempo em que o mundo era apenas a imaginação de Olodumaré, o ser
supremo e senhor do céu, só existia o infinito firmamento e abaixo dele a
imensidão do mar.
Olodum tinha dois filhos, Oxalá o primogênito e Oduduwa o mais novo.
Olodumaré encarregou Oxalá de criar o mundo, deu-lhe o saco da criação e o
pediu que fizesse.
Quando chegou o dia da criação do mundo Oxalá saiu a caminho da fronteira
do além. Uma grande sede então começou a atormentar Oxalá, ele se apro-
ximou de uma palmeira e tocou o tronco com seu comprido bastão, da pal-
meira jorrou vinho em abundância e ele bebeu até embriagar-se. Oduduwa
tudo acompanhava, quando se certificou do sono do seu irmão apanhou o
saco da criação dado por Olodumaré a Oxalá, em seguida foi a seu pai e lhe
contou o que havia acontecido. Olodumaré viu o saco da criação em poder do
seu filho mais novo e assim confiou a ele a criação do mundo.
Oduduwa então partiu para a Terra para ser seu dono. De repente Oxalá des-
pertou de seu sono e percebeu tudo que tinha acontecido, voltou a
Olodumaré contando sua história e seu pai disse:
– O mundo já está criado, perdeste uma grande oportunidade.
Mas a missão não estava ainda completa e Olodumaré deu outra dádiva a seu
filho mais velho, a criação de todos os seres vivos que habitariam a Terra.
Oxalá modelou em barro os seres humanos e o sopro de Olodumaré os
animou.
O mundo agora se completará.
Ao final da aula ministrada foi pedido aos licenciandos que fizessem uma avalia-
ção escrita apontando os pontos positivos e os pontos a serem melhorados da prática
realizada. As falas dos estudantes foram analisadas por meio da metodologia de aná-
lise por categorias (MINAYO, 2010) derivada da metodologia de análise de conteúdo.
Este método de análise é dividido em três etapas, sendo que a primeira consiste na
pré-análise, onde é realizada a leitura das falas; seguida da exploração do material, em
que são feitos os recortes e organização dos dados; e, por fim, para discutir os dados
obtidos a terceira e última etapa, o tratamento de resultados. Ao todo foram 15 falas
utilizadas na categorização sendo as mesmas representadas pela letra A e numeradas,
sequencialmente, de 1 a 15.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
essa visão holística da sociedade atual, também permite o conhecimento de antigas cul-
turas, mesmo inexistentes, contribuindo para o seu resgate, valorização e respeito.
Abaixo seguem algumas falas que exemplificam esta categoria:
tivessem sido realizadas com uma maior interação da classe, todo o procedimento de
ensino da aula teria se tornado ainda mais eficiente.
De acordo com Bortoni et al. (1991), em um estudo feito a partir da observação
de filmagens de aulas, um dos fatos que saltavam aos olhos era a maneira como os pro-
fessores tinham dificuldade em estabelecer diálogos com a turma. O autor ainda dis-
cute em uma perspectiva histórica, como o método tradicional de ensino, marcante no
passado e ainda persistente nos dias atuais, dificulta esta etapa de emancipação dos
professores naquilo que tange os métodos tradicionais de ensino. O autor elucida que
neste método massivo de ensino, coloca o professor em uma posição de ocupar ape-
nas um espaço entre mesa e quadro negro, em uma conformação estática da sala de
aula e, nesse processo, o professor atuará apenas como um falante primário, em posi-
ção de detentor de todo saber. Já os alunos vão desempenhar um papel de ouvintes
primários agindo como agentes passivos deste processo não se apropriando pelos
conhecimentos passados pelo professor.
Para Hinde (1979), uma relação implica em algum tipo de interação entre dois indi-
víduos abrangendo intercâmbios durante um período especifico de tempo, de modo que
o comportamento de um dos seres leva em consideração e influencia no do outro.
Vygotsky (1994) contribui com essas afirmações uma vez que defende que as funções
psicológicas superiores se originam das relações reais entre os indivíduos humanos, já
que durante o desenvolvimento, as atividades são inicialmente coletivas e sociais para
depois se tornarem atividades individuais e propriedades internas do pensamento.
Em relação a esta última categoria, é importante destacar que, apesar dos alunos
ressaltarem esta falta de interação neste momento, acreditamos que este fato não
trouxe prejuízos significativos ao desenvolvimento e eficiência da prática desenvolvida,
pois o professor, enquanto mediador, também precisa de momentos de falas, explica-
ções, sínteses e reforços no processo de ensino e aprendizagem. Entretanto, tais falas se
fazem fundamentais para uma análise crítica da prática pedagógica em questão, pois
quanto mais potente e eficiente for a prática pedagógica mais significativa será a forma-
ção destes alunos e maiores chances de atuação e transformação da sociedade. Além
disso, temos ciência de que as práticas tidas como ‘tradicionais’ não devem dominar o
processo de ensino aprendizagem, pois sabemos o quanto tais práticas conteudistas, e
que não valorizam a contextualização nem a participação dos alunos, acabam por trazer
sérios prejuízos ao processo de ensino e aprendizagem não promovendo uma formação
cidadã de fato. As falas elencadas para a última categoria estão a seguir:
A11: ‘Poderia ser mais interativo por meio do professor, por ex: quando esti-
ver contando a narrativa incorporar mais os personagens na voz!
A13: Talvez se contar a narrativa com mais entusiasmo, e fazer com que os
alunos participem mais do conto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da análise desenvolvida neste trabalho foi possível perceber a importân-
cia do diálogo estabelecido entre o conhecimento científico e os conhecimentos mitoló-
gicos os quais possibilitaram a construção de conhecimentos referentes ao tema Origem
da Vida de uma forma mais contextualizada e participativa por parte dos alunos. Assim,
as narrativas míticas se mostraram uma possibilidade eficiente e interessante no que
tange o ensino do tema origem da vida. Além disso, tais práticas contribuíram para esta-
belecer uma aproximação e valorização dos conhecimentos mitológicos, dando voz e res-
peito a cultura dos povos tradicionais indígenas e africanos os quais foram amplamente
dizimados e violentados no decorrer da história. Neste sentido, tais práticas desenvolvi-
das colaboram de forma significativa para a formação de professores uma vez que privi-
legia a mobilização de conhecimentos de forma contextualizada, motivadora e cultural.
Também foi possível perceber que a utilização do teatro de bonecos foi um ponto
importante na aula possibilitando espaços que estimulam a criatividade além de motivar
os discentes. Assim, tal metodologia pode contribuir para a construção do conhecimento
de forma mais dinâmica e interativa e coletiva.
REFERÊNCIAS
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AGRADECIMENTO
FAPEMIG, CAPES e UFLA.
INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como objetivo analisar uma prática pedagógica que teve como
intuito construir conhecimentos sobre classificação botânica por meio do diálogo com o
cinema, mais especificamente o filme histórico “Anchieta, o José do Brasil” (1977). Tal
filme relata a trajetória de uma figura histórica, pode ser entendido como “fonte pre-
ciosa para a compreensão dos comportamentos, das visões de mundo, dos valores, das
identidades e das ideologias de uma sociedade ou de um momento histórico” (KORNIS,
1992, p. 239).
Em consonância com Oliveira (2009), o ser humano é composto de relações sociais
de produção, que estão sempre relacionadas às necessidades humanas, fazendo do
homem um sujeito que está, obrigatoriamente, sempre em construção e, desse modo,
1 Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Lavras-MG/UFLA. Pes-
quisa sobre Ensino de Ciências. clarabela99@outlook.com
2 Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Lavras-MG. Bolsista
CAPES. Pesquisa sobre ensino de Ciências. juliaamonteiro9@gmail.com
3 Doutoranda em Educação para Ciência pela Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’/UNESP,
Campus de Bauru, Bolsista CAPES, Pesquisa sobre Ensino de Ciências e Formação de Professores, laise.vieira@
unesp. br
4 Professor Adjunto do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras-MG/UFLA. Doutor em Edu-
cação para Ciência pela Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’/UNESP, Campus de Bauru. Pes-
quisa sobre Ensino de Ciências e Formação de Professores. toni_nascimento@yahoo.com.br
[ 414 ]
ANÁLISE DE UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA SOBRE BOTÂNICA 415
Neste contexto, para constituir tal formação profissional deve-se refletir sobre a
composição curricular no ensino superior de professores, já que a mesma deve ser
constituída de bases sólidas que sejam capazes de sustentar a responsabilidade do
docente. Essa composição não se faz importante apenas pelo fato de se ensinar algo,
mas sim de que os estudantes, ao se apropriarem das diferentes discussões, consigam
olhar para a natureza, entendê-la e interpretá-la de forma a deixar de serem alheios a
essa realidade.
Assim, a disciplina de Metodologia do Ensino em Biologia, ofertada no 4º período
do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Lavras – MG,
ao observar o contexto e as problemáticas originadas a partir da luta de classes, buscou
refletir sobre essas questões, trazidas anteriormente, e a refletir sobre o exercício da for-
mação docente. Para isso teve como proposta a elaboração de aulas de dois grandes
eixos da Biologia, a Botânica e a Zoologia.
Pensando especificamente sobre a botânica, que se refere ao estudo das plantas e
essas possuem elevada importância para a sociedade, o ensino dessa Ciência é reconhe-
cida como uma das disciplinas da Biologia que deve ser ensinada no ensino fundamental
e médio, permitindo ao estudantes desenvolverem as habilidades necessárias para a
compreensão do papel do ser humano na natureza (BRASIL, 1998).Dentre os temas tra-
tados da botânica, estavam os Grandes Grupos Vegetais. Partiu-se então da separação
por reinos e por métodos filogenéticos, de Carl R. Woose, que em 1978 cria os grupos de
domínios: Archaea, Bacteria e Eukarya, dentro do domínio Eukarya se encontra o reino
Plantae. Utilizando as características fotossintetizantes das plantas organiza-se uma
árvore filogenética, do grupo polifilético, que considera a produção de clorofila e libera-
ção de clorofila devido a fotossíntese, (SANTOS, 2007).
Para começar a tratar do tema classificação botânica foi utilizado um trecho, em
forma de um manuscrito antigo, referente ao filme “Anchieta, o José do Brasil” (1977), e
um trecho do próprio filme em que demonstra o novo ambiente presente na Ilha de Vera
Cruz, o Brasil. Entendendo esses recursos como elementos culturais, Oliveira-Silva (2013)
aponta que a educação estabelece uma relação dialética com a cultura, já que o processo
de aprendizado consiste na relação sujeito e objeto. Desse modo, o professor deve se
formar ampliando suas próprias experiências, para que no futuro transborde suas rela-
ções vividas para os alunos, de uma maneira com que cada um tenha a sua própria. Logo,
não se deve dicotomizar tanto os processos culturais com os processos de aprendizado.
Oliveira-Silva (2013) ainda coloca o ambiente escolar, ou a universidade, como locais
específicos onde ocorre a troca de experiência e cabe ao professor agir como mediador
entre a experiência e o sujeito.
Dessa forma, a arte existe como um componente estrutural para a cultura e possui
diferentes expressões, tão complexas em processos dialéticos com a cultura que não é
possível defini-la teoricamente em apenas um conceito, mas sim entender elementos de
sua constituição e provocar reflexões de suas projeções.
O cinema, portanto, é uma representação artística que precisa ser conhecida e
apropriada pelos sujeitos. Bernardet (2004) afirma que o cinema significa a constituição
de um complexo ritual que envolve inúmeros elementos, como o espectador, publici-
dade, investimento, censura e adaptação de linguagem. Para a autora, a linguagem exis-
tente por trás das câmeras só começou a se constituir com a necessidade de contar
histórias, relatar fatos e com isso se agruparam elementos como a música ou atores, para
que o que se deseja falar fique o mais parecido com a realidade. Consequentemente,
esses elementos fazem o cinema se constituir como uma força de dominação ideológica
e comercial (BERNARDET, 2004).
Para Andrade (2010) é importante que o aluno saiba reconhecer a linguagem inse-
rida no cinema e, além disso, que ele tenha oportunidade de ter contato com essa expres-
são enquanto ferramenta tecnológica. Essas expressões, portanto, possuem um grande
potencial para serem utilizadas como recurso metodológico no processo de ensino e
aprendizagem bem como provocar reflexões críticas do mundo perante a utilização de
novas tecnologias.
Assim, refletindo a pratica pedagógica sobre classificação botânica aqui analisada
ressaltamos que tal prática estabeleceu um diálogo com o cinema e a história e, ao
mesmo tempo, não se abandonou a importância dos conteúdos no processo de ensino e
aprendizagem sendo os mesmos fundamentais para as construções aqui desenvolvidas.
PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
A aula aqui analisada teve duração de cinquenta minutos e foi ministrada aos dis-
cente matriculados na disciplina de metodologia de ensino de Biologia da Universidade
Federal de Lavras – MG. A mesma foi dividida em quatro momentos: apresentação do
manuscrito elaborado pela professora; exibição de um trecho do filme “Anchieta, o
José do Brasil” (1977); construção dos conceitos de grandes grupos a partir do filme;
atividade avaliativa.
No primeiro momento da atividade foi mostrado aos alunos um manuscrito antigo
feito pela professora que continha um trecho referente ao filme “Anchieta, o José do
Brasil” (1977), com direção de Paulo César Saraceni (Imagem 1).
Ao final da atividade, foi pedido aos discentes que apontassem os pontos positivos
e os pontos a serem melhorados da prática desenvolvida. As falas foram analisadas utili-
zando a metodologia de pesquisa qualitativa de Análise por Categorias que é derivada da
Análise de Conteúdo. Segundo Moraes (1999) essa categorização se dá através de agru-
pamentos de ideias comuns.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da análise foi possível constituir três categorias que contém os aspectos
que permearam a fala dos estudantes. No quadro abaixo estão dispostas as categorias
que representam as falas comuns dos licenciandos, sua descrição e a frequência. Cada
estudante encontra-se representado pela letra A e numerados de 1 a 16.
interagindo com narrativa, escrita, falas e outros elementos que possibilitaram o papel
comum na expressão cultural dos saberes e estimulassem o pensamento como a ficção.
A linguagem cinematográfica tem um receptor, o espectador. Tal personagem faz o
cinema ser único e constituir a formação cultural, artística e humana, assim, acontece um
diálogo com o público formando sua linguagem (SÃO PAULO, 2009). Desse modo, as
ideias compostas na comunicação são inseridas no contexto social do sujeito e refletem
sobre o ser. Entendendo que na luta de classes o ser não é construído igual em ambas as
situações, como apontam Tuleski et al. (2013), a atmosfera capitalista os individualiza e
esse objeto comum, o cinema, de certa forma produzido pela sociedade, não identifica a
reflexão do ser em escalas condizentes às suas classes socias pois é uma arte burguesa.
Sendo assim, “assistir a um filme e, mais do que tudo, refletir e conversar sobre ele, é
arejar e manter vivas essas ideias.” (SÃO PAULO, 2009, p. 88).
Diante disso, a escola é um dos ambientes em que essas reflexões e conversas pre-
cisam ser fomentadas. Para tal, é importante que os futuros professores sejam formados
de modo a conhecerem os mais diversos tipos de filmes e suas potencialidades para
assim empenhar-se na busca de novas metodologias e recursos pedagógicos para um
ensino e aprendizagem que dialogue com o contexto e o momento histórico dos alunos,
indo além dos conteúdos das disciplinas (VERÍSSIMO E SILVA, et al., 2015). A partir disso,
eles poderão contribuir na construção do conceito de forma mais efetiva por parte dos
alunos contribuindo, ainda, para a formação de sujeitos críticos e que atuem de forma
crítica e autônoma na sociedade (NASCIMENTO JÚNIOR et al., 2016).
Ainda, de acordo com Carneiro (2014), as representações fílmicas desempenham
um papel facilitador no entendimento das ciências, pois permitem uma observação
direta de informações visuais e dos contextos em que estas estão inseridas. Neste sen-
tido, é interessante que a escola incentive a exibição de filmes e, além disso, que os pro-
fessores estejam preparados a trabalhar com esses filmes na construção efetiva de
diversos conhecimentos. No entanto, para que isso aconteça, é necessário que essa lin-
guagem desenvolva uma experiência que ultrapasse o caráter de exibição e promova
uma prática metodológica crítica-reflexiva utilizando o filme, tanto para o docente
quanto para o estudante, como um meio para formação humana (OLIVEIRA-SILVA, 2013).
Abaixo seguem algumas falas que compõem essa categoria.
A partir da utilização do filme, juntamente com a mediação da professora, media-
ção essa que sempre existiu na vida dos indivíduos e é importante nos processos de
aprendizagem (PAIVA et al., 2010), a aula se tornou mais interativa, como apontaram a
fala dos estudantes que constituem a categoria 2 “Aula interativa”:
A10 – Aula nenhum pouco expositiva, dinâmica e participativa. Isso faz com
que os alunos se interessem e participem ainda mais. A mediação da profes-
sora contribuiu muito para que isso acontecesse
A15 – [...]ótima mediação, fez muitas problematizações, fazendo com que os
alunos participassem e interagissem. Muito bom!
A5 – Boa ideia iniciar a aula com o filme, pois deu para ver como era o con-
texto em que o descobrimento do brasil se passava e, além disso, as próprias
plantas.
A16 – [...] Gostei muito do recurso, quero ver o filme completo inclusive, pois
instigou curiosidade e atraiu a atenção dos alunos.
De acordo com Araújo (2012), essa interação entre professor e aluno compõe um
eixo fundamental da aprendizagem. Em consonância com Vygotsky (1984), a ideia de
interação social e de mediação é o ponto central do processo educativo, pois esses ele-
mentos estão intimamente ligados com o processo de formação e de constituição dos
sujeitos. Assim, quando se imagina uma sala de aula baseada nessas interações, está se
pensando em um espaço de construção, de valorização e de respeito no qual todos se
sentem mobilizados a pensarem em conjunto (LOPES, 2008).
Ainda nessa perspectiva, Santos (2007) ressalta que uma boa relação entre profes-
sor e aluno favorece a convivência, a aprendizagem e a socialização. Para Damiani (2008),
essa interação está intimamente ligada a uma prática social e uma interação dialógica e
é pela participação nas atividades cotidianas que as pessoas se transformam construindo
seu conhecimento e habilidades. Além disso, com o trabalho em conjunto as pessoas
começam a compartilhar experiências, conhecimentos, pensamentos e até modelos
mentais como resultado da interação.
Na terceira categoria ‘Avaliação Criativa’, os licenciandos apontaram que o método
avaliativo escolhido se fez muito interessante, pois foi condizente com o que foi tratado
durante a aula e, além de fugir do método avaliativo tradicional, possibilitou que os estu-
dantes interagissem entre si e que integrassem os conhecimentos apropriados durante a
aula já que a avaliação foi uma atividade que sintetizou o que havia sido discutido, como
é ilustrado a seguir:
A5 – [...] bom método avaliativo com a carta, pois foi de acordo com o que
trabalhamos e fez com que a gente se divertisse ao cria-la; professora
demonstrou domínio no tema.
A13 – [...] o filme é ótimo e a avaliação foi muito coesa com tudo o que foi
discutido. Deu para expressarmos o que aprendemos de uma forma lúdica.
Junqueira et al. (2016) aborda que é importante valorizar habilidades pouco requi-
sitadas dentro do espaço escolar como, por exemplo, a criatividade e a própria interação
entre os estudantes. Os autores ainda salientam que investir em ambientes que traba-
lhem com a criatividade dos alunos pode ser um grande incentivador da participação
destes em sala de aula.
Ainda neste sentido, Moraes; Demartini (2015) abordam que ao trabalhar com
outras formas de avaliação há uma maior aproximação entre professor e aluno, pois
expressa a relação que estes estabeleceram com o assunto e aumenta as maneiras que
os estudantes podem expressar esses aprendizados. Desse modo, por meio de uma ava-
liação não convencional é possível explorar outras habilidades e competências dos estu-
dantes possibilitando uma sintetização mais completa, eficiente e que condiz com as
propostas de avaliações vigentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do desenvolvimento deste trabalho foi possível perceber que discutir ques-
tões acerca da classificação botânica a partir de cenas do filme histórico “Anchieta, o José
do Brasil” (1977) se mostrou eficiente, visto que os estudantes destacaram as potenciali-
dades apresentadas no filme para o ensino dos conceitos de classificação botânica de
modo instigante e interativo.
O método avaliativo também se mostrou muito eficaz, visto que foi condizente
com os objetivos da aula e tornou possível que os estudantes se expressassem de uma
forma diferente do que vem sendo colocada pela maioria das escolas.
No entanto, foi possível perceber que o filme por si só não garante a apropriação
dos conceitos e que, para que a construção de conhecimentos aconteça de forma efe-
tiva, essa deve estar intimamente alinhada com a mediação crítica e reflexiva por parte
do professor sendo o domínio dos conteúdos um fator fundamental para o sucesso da
prática pedagógica.
Assim, foi possível perceber que o diálogo entre o cinema e os conteúdos de botâ-
nica, por meio da mediação do professor, tornou a aula mais interativa, instigante e moti-
vadora, contrariando o ensino tradicional, uma vez que, nesta prática aqui apresentada,
o aluno é tomado como ser ativo na construção do conhecimento.
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VIGOTSKY, Lev. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
AGRADECIMENTOS
CAPES, FAPEMIG e UFLA
INTRODUÇÃO
1 Graduanda do curso de Matemática, pela Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Iporá. Pesquisa sobre Práti-
cas de ensino no Estágio Supervisionado. Email: evanya.karla@gmail.com
2 Graduanda do curso de Matemática, pela Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Iporá. Pesquisa sobre Práti-
cas de ensino no Estágio Supervisionado. Email: rhailinygomessouza@gmail.com
3 Professora do curso de Matemática, pela Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Iporá. Pesquisa sobre Práticas
de ensino no Estágio Supervisionado. Email: thalitta.peres@ueg.br
[ 427 ]
428 Evanya Karla Lemes Silva; Rhailiny Gomes de Souza; Thalitta F. de Carvalho Peres
pedagógicos como recurso didático nas aulas de matemática é que dedicaremos os pró-
ximos itens.
Diante do que foi apresentado, surge a problemática da presente pesquisa: como a
construção e utilização de jogos podem favorecer a formação de conceitos no ensino de
matemática? Desta forma, o objetivo foi verificar pontos importantes da construção dos
próprios objetos educacionais e de sua utilização em aulas organizadas para a interação
dos alunos, buscando tornar as aulas mais significativas e descontraídas, priorizando o
ensino dos conceitos matemáticos.
PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
O uso de jogos na educação existe desde a antiguidade e era utilizada de forma que
crianças, jovens e adultos pudessem aprender de forma divertida, conceitos sérios como:
matemática, valores, normas, dentre outros. Nesse sentido, Alves (2012, p. 16) apresenta
que “[...] na Antiguidade, o brincar era uma característica tanto de crianças quanto de
adultos”.
Aduzimos assim que o jogo, tal qual a atividade docente, formou-se em certo está-
gio do desenvolvimento histórico da sociedade. Embora o homem não tenha sido o seu
descobridor, mas a sociedade em geral, o próprio processo de surgimento e desenvolvi-
mento do jogo foi um processo consciente, massivo, natural e histórico.
Em vista disso, as inúmeras características do jogo acarretam problemas para a sua
definição. Brougère (1997 apud Muniz, 2010) afirma que não existe na literatura um con-
ceito pronto acerca da definição de jogo, o que exige uma construção conceitual da parte
daqueles que o tomam como objeto de pesquisa. Schedrovitski (1986, p. 87, tradução
nossa) investigou algumas pesquisas sobre o jogo, das quais encontrou que o jogo é:
1) Atitude particular da criança em relação ao mundo à sua volta;
2) Atividade particular da criança, que varia e se desenvolve como atividade
subjetiva;
3) O tipo de atividade (ou atividade diante o mundo) socialmente dado,
imposta a criança e assimilada por ela;
4) O conteúdo particular da assimilação (ou o conteúdo assimilado);
5) A atividade em cujo curso ocorrer a assimilação dos mais variados conteú-
dos e o desenvolvimento da psique da criança;
6) A forma pedagógico-social de organização de toda a vida infantil, da socie-
dade infantil.
Nesse sentido, o jogo não assume apenas a função lúdica, mas também a educa-
tiva; a qual o objeto ensina qualquer coisa que ajude o indivíduo em seu saber, seus
conhecimentos e sua apreensão do mundo (KISHIMOTO, 2011). Essa função possibilita
que o jogo desenvolva as estruturas cognitivas do aluno, sendo um aliado para o ensino.
Entende-se, assim, que o jogo passa a ter um caráter de material pedagógico quando
promove a aprendizagem.
Com isso, os estudantes aprendem a estrutura lógica do jogo e, também, a estru-
tura dos conceitos matemáticos contidos nele. O jogo se aproxima da matemática via
desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas e permite trabalhar os con-
teúdos culturais inerentes ao próprio jogo (MOURA, 2011).
É com essa visão, do jogo educativo que partimos para a organização do ensino
com atividades que considerem o desenvolvimento cognitivo, os objetivos, os elementos
culturais e os instrumentos capazes de impulsionar as ações mentais dos alunos.
O objetivo de cada atividade analisada a seguir foi verificar algumas das contribui-
ções proporcionadas pela construção e utilização de jogos no processo de ensino e
aprendizagem das quatro operações básicas da matemática. Entendo assim que,
A escolha correta da metodologia de ensino poderá tornar o aprendizado
mais agradável e compreensível. O ato de manipular pode permitir ao aluno
experimentar e descobrir relações que são essenciais na matemática,
Fonte: os autores.
Fonte: os autores.
Fonte: os autores.
Fonte: os autores.
Dessa maneira, como mostra Moura (2011), todo e qualquer material usado para o
ensino é ferramenta para ampliar a ação pedagógica. Assim, o jogo é um instrumento do
Fonte: os autores.
conferiam os seus resultados uns com os outros. Certamente, esse momento não teria o
mesmo resultado se fosse desenvolvido por apenas um professor.
Esse jogo apresenta operações aparentemente fáceis, porém misturadas com algu-
mas operações erradas. Nesse sentido, é uma atividade que requer uma análise mais
rápida e precisa, não contemplando um aprofundamento no conteúdo em questão.
Desenvolvimento do jogo Dominó de Multiplicação: jogo confeccionado pelos esta-
giários, que funciona de modo similar ao dominó tradicional, porém as pedras são forma-
das por uma multiplicação e um produto qualquer. O objetivo é encontrar o resultado da
multiplicação ou a multiplicação que corresponde ao produto. A figura 6 retrata o pro-
cesso de construção e aplicação do mesmo.
Fonte: os autores.
Fonte: os autores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Papirus, 2012.
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professores. In: SUANNO, Marilza Vanessa Rosa; PUIGGRÒS, Núria Rajadell (Orgs.). Didática e formação
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matemática e formação docente. In: DAÚDE, Rodrigo Bastos (Org.). Educação Matemática: Perspectivas
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Solange Castro Afeche. – 7. ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007.
INTRODUÇÃO
1 Professora no Instituto Federal Goiano, Campus Urutaí. Doutoranda em Educação em Ciências e Matemática,
pela Universidade Federal de Goiás. Pesquisa sobre formação de professores de Matemática. werica.valeriano@
ifgoiano.edu.br
2 Professor na Universidade Federal de Goiás. Pesquisa sobre formação de professores que ensinam matemática,
as atividades de ensino e a aprendizagem de docentes e estudantes, tendo como base teórica a Teoria Históri-
co-Cultural. wcedro@ufg.br
[ 443 ]
444 Wérica Pricylla de Oliveira Valeriano Santos; Wellington Lima Cedro
PERCURSO METODOLÓGICO
Com base no referencial teórico adotado, o qual nos ajuda a investigar, explicar e
expor o fenômeno estudado, buscaremos em nossa pesquisa ir além do que está explí-
cito e avançar para a explicação, revelando as relações, o movimento das contradições,
o desenvolvimento do processo e a essência do fenômeno de tal modo que permita a
apreensão em sua totalidade. A análise da pesquisa será apresentada em unidades de
análise, episódios e cenas.
O conceito de unidades de análise foi desenvolvido por Vigotski, “com o termo uni-
dade queremos nos referir a um produto de análise que, ao contrário dos elementos,
conserva todas as propriedades básicas do todo, não podendo ser dividido sem que as
perca” (VIGOTSKI, 2007, p. 5 apud CEDRO, 2008, p. 112). Os episódios “são aqueles
momentos que apresentam coerência, consistência, originalidade, objetivação e são
reveladores da natureza e da qualidade das ações dos indivíduos” (CEDRO, 2008, p. 112).
Os episódios serão compostos por cenas, as quais permitem abordar momentos especí-
ficos dos episódios.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao longo da trilha do tabuleiro havia casas que davam direito a pegarem cartas que
representam artefatos de cada civilização. Ao parar em uma casa que permitia a retirada
de um artefato, o jogador pegava uma carta referente a sua civilização. Essas cartas eram
pistas que possibilitariam a decodificação da linguagem da referida civilização. Ao fim do
jogo os jogadores deveriam juntar o máximo de artefatos recolhidos pelo jogo e decifrar
os símbolos da linguagem utilizada pela civilização. Com o sistema de símbolos decifra-
dos os alunos receberam mensagens codificadas, essas mensagens levaram os jogadores
ao tesouro escondido. O problema que emergiu do jogo foi que, caso o grupo não com-
preendesse o sistema de símbolos, a linguagem da civilização que era investigada por seu
grupo, eles não conseguiriam encontrar o tesouro.
Finalizada toda a parte de jogo e registros escritos dos alunos, passamos a roda de
conversa. A roda de conversa é um momento muito importante do encontro. Nela todos
os envolvidos no encontro tem a oportunidade de conversar sobre a tarefa proposta e
sobre os conceitos matemáticos abordados na tarefa. Na roda de conversa do encontro
3 (Quadro 2) buscamos direcionar os alunos à percepção da necessidade da compreen-
são da linguagem matemática.
gravação de áudio era repassada a outro grupo que deveria fazer os cálculos mental-
mente. No momento de determinar o grupo vencedor, aquele que tinha o maior saldo,
surgiu como situação problema o fato de ter que confiar apenas na memória e a falta
de um registro escrito.
Na roda de conversa do encontro 5 (quadro 3) os alunos apontam a dificuldade de
ter que fazer os cálculos sem o auxílio de anotações. Neste momento destacamos para
os alunos o quanto é importante termos a possibilidade de usarmos registros escritos, e
que esses registros são possíveis devido à existência de símbolos matemáticos.
[...]
Pesq. AP você que chegou agora, como você se sentiu diante dessa atividade e o que você acha
que a gente queria com ela?
AP O que eu senti?
Pesq. É, você já tinha feito alguma atividade assim?
AP Não.
Pesq. E qual foi a dificuldade que você sentiu ou qual foi a facilidade?
AP Dificuldade porque você tinha que fazer aquele tanto de soma lá, e gravar
[...]
Pesq. Gente agora pensa o seguinte, pensa lá antigamente, as pessoas resolvendo problemas
matemáticos assim...
AK Eu ia escrever nem que fosso no chão.
AN Eu ia contar nos dedos, ia sair catando pausinho.
Pesq. Conversando sobre os problemas. Não eles até escreviam, mas eles escreviam os proble-
mas por extenso né, não era assim...
AN Ah mas nós não usou aqui, sacanagem. (fala junto com a pesquisadora).
Pesq. ... fazendo os cálculos.
Eles não tinham assim, esse artifício do cálculo, naquele momento, de montar o algoritmo.
É que quando a gente, por exemplo, põe uma continha: um número mais outro numero
embaixo dele, aquilo é um algoritmo. É um método de resolução.
Pesq. Aí agora vocês tiveram que resolver tudo fazendo cálculo mental né.
AN Você deve ser ótima em matemática né? (se dirigindo a um colega).
Pesq. O quê que a gente quer mostrar pra vocês, a importância que tem de fazer registro.
Não é importante então, poder registrar, anotar pra poder fazer o cálculo.
[...]
Pesq. Então é isso gente, o que a gente queria com essa atividade era mostrar pra vocês como é
importante poder fazer registros, ainda mais se esse registro puder ser com símbolo
matemático, né?
[...]
Fonte: Arquivo dos autores.
Mais uma vez as colocações dos alunos expressam suas impressões baseadas
naquilo que é mais aparente do jogo. Isso nos indica o quanto o tipo de pensamento
desenvolvido por eles está arraigado de características do pensamento empírico, pois o
ensino que prioriza os conhecimentos empíricos “sempre tem como ponto de partida as
percepções e representações que surgem por meio da ação do sujeito sobre o objeto”
(ROSA; MORAES; CEDRO, 2010, p. 71).
No encontro 6 os alunos jogaram mais uma partida. Ao final dessa partida, no
momento de calcular o saldo final os grupos poderiam utilizar registro escrito. No entanto,
eles deveriam criar símbolos para a representação dos valores. Cada grupo criou seu
AA Não.
AN Ou não.
AA Ou a pessoa não pensou nessa dificuldade, não pensou no próximo.
Pesq. Como vocês resolveriam?
AK Não resolveria.
AN Eu ia tentar adivinhar o que era cada símbolo né, pra ver se dava alguma coisa.
AK Durma.
Ana Na dúvida, durma. Não resolve.
AN Nossa, por isso que eu vivo dormindo na sala.
AK Eu ia olhar pra esse negócio aí e dormir.
AS Não, na lógica... por exemplo nesse aqui, na lógica do jogo só tem alguns números com 5
no final. Então no caso aqui, a linha que fica em baixo poderia ser um zero. É muito difícil
conseguir um 45.
AN Ouve isso aqui.
AK Que lógica vocês usou pra escrever isso aqui, alguém me explica.
Pesq. Depois gente, eles explicam. Vamos pensar o seguinte, em relação a semana passada como
é que foi fazer cada grupo a sua parte? Em relação ao último encontro, que vocês tiveram
que resolver falando. Foi mais fácil escrevendo?
Vários Foi tenso.
AK Foi tenso os dois né.
AS O nosso foi fácil.
AN O nosso foi até fácil, só soma.
AK O de antes a gente pelo menos sabia o que tinha que fazer né, aqui a gente olha pro
negócio e só desiste da vida.
Pesq. Falando e ouvindo, pelo menos, você sabia o que tinha que fazer, e dava pra fazer a conta
de cabeça?
AK O difícil era a falta de um negocinho ali pra anotar.
Pesq. E esse, qual a dificuldade?
AN (fala algo que não da pra entender) de quem criou esse negócio aqui ó.
Pesq. Você com sua própria escrita, foi tanquilo?
AS Foi na tora véi.
AN Foi, nós achou um símbolo pra cada número.
Pesq. Vocês trocou os números...
AN Por símbolo.
Pesq. ...por símbolos. Os meninos (se referindo ao grupo em que estava o AE) usou outra lógica,
não foi? Qual foi a lógica de vocês?
AK Fala qual foi, porque u não to vendo.
AN Um mundo véi de pauzinho (risos).
AE É, dois pauzinho é cem, um pauzinho é 10, aí você multiplica...(não termina a frase)
Pesq. É, cada dois pauzinho junto representa...
AE Cem.
Pesq. E cada um pauzinho, sozinho...
AE 10.
Pesq. As vezes muda as unidades de medidas, mas aí mesmo assim ainda tem como transformar
uma unidade em outra né.
O quê que a gente quer que vocês observem é que se resolver um problema só escutando
é difícil, ou só falando dele é difícil, quando a gente passa pra escrita a gente melhora um
pouquinho, resolve um pouquinho a dificuldade, só que aí surge outra dificuldade né, se
cada um escreve de um jeito vai ter um problema de comunicação né, então a solução
seria o que o AK tinha falado, ter um padrão pra escrever né, que resolveria esse pro-
blema. E quando a gente pensa no desenvolvimento da álgebra, ela passou por esse
percurso né. De ter primeiro a parte só falada, só oral... (interrompida por conversas
paralelas dos alunos)
[...]
Então é isso gente, o que a gente queria mostrar pra vocês hoje, é essa necessidade de ter
uma linguagem escrita que possa ser compartilhada com os outros tá.
Fonte: Arquivo dos autores.
Ao ser questionada por um colega sobre a lógica da sequência criada por um seu
grupo a aluna AS responde que basta que a sequência tenha lógica para ela, no entanto
o colega insiste em mostrar que essa lógica precisa ficar clara, e ele usa como exemplo
uma situação de laboratório.
AK Como é que você vai sequenciar se você não sabe nem pela lógica do negócio...
AS O número nove é o melhor, gente agora é sério.
AK Você faz biotecnologia, você tem que ter.
AN É esse é um pauzinho e uma estrela.
AA Tudo tem lógica.
AS Por eu ter criado, eu não vou precisar de uma lógica pra saber.
AN Porque a lógica ta dentro da minha cabeça, porque foi eu que criei.
AA Você vai criar, vai ser armazenado num cantinho lá, não vai ser usado por ninguém,
AS Não importa.
AK Você vai fazer um negócio lá no laboratório, você vai precisar de coisas criadas pra criar
outras coisas então tem que ter uma lógica, você vai misturar os bagulhos lá?
AS Lá eu preciso.
Este trecho dá indícios que o aluno começa a se preocupar com a situação de modo
mais geral, e consequentemente em uma preocupação com o caso particular da criação
dos símbolos para a representação dos valores, eles extrapolam assim as propriedades
observáveis do objeto singular, e possivelmente começa a estabelecer uma relação do
geral ao particular (ROSA; MORAES; CEDRO, 2010).
Outro momento dessa roda de conversa nos remete a questão do surgimento de
um conceito a partir da satisfação de uma necessidade, os alunos estão conversando
sobre os símbolos usados por um dos grupos, mas esse grupo criou símbolos apenas para
as dezenas e centenas.
Pesq. E as unidades como é que vocês fez?
AE Ahn (demonstrando que não haviam pensado nisso)
Pesq. Não apareceu as unidades não?
AE Não.
Pesq. Deu sorte então, porque se tivesse aparecido 18, 13.
AK O meu tinha um 18, tinha um que terminava tipo com 2,
AS O nosso tinha 45.
Pesq. Bom, vocês não enfrentaram esse problema.
AN Nossa, o de vocês é top.
Pesq. Observem, eles não tiveram que lidar com esse problema, então eles não tiveram que lidar
com uma solução pra esse problema. Percebam que a solução vem de acordo os
problemas...
AK Aparecem.
Pesq. Vão aparecendo né.
Tá, vocês agora, todos querem resolver e descobrir quem teve o maior (se referindo ao
saldo final), como fariam?
[...]
AK É legal, porem complicado.
AR É complicado
Pesq. É complicado porque não tem costume?
AR Exatamente
AK É uma relação de amor e ódio.
Pesq. Mas se vocês fossem mais estimulados nesse ponto?
AK Aí a gente ia fazer rápido né
[...]
Pesq. A AC não, mas você também concorda com os colegas que assim, usaram o x tudo bem,
beleza né?
Porque o x?
AA Porque é a letra mais comum que nós temos.
AK É a letra que a gente tem o costume de usar em qualquer equação matemática, é sempre
x, aí geralmente eu não gosto de trocar, por exemplo se eu tentar usar um c no lugar do x,
no meio da conta eu vou colocar o x no lugar do c e vou bagunçar minha conta toda.
Pesq. Sério?
AA É que nós temos mais costume, o primeiro contato com letra que a gente tem geralmente
é o x então...
AK É o x e o y.
Pesq. É o primeiro que o professor coloca?
AK É o x ou o y
AA É exatamente.
Pesq. E esse x representava o que ali pra vocês?
AK Quando a gente não sabia o valor de alguma coisa.
Pesq. Quando não sabe o valor a gente usa uma letra né, e aí essa letra pode ser qualquer valor?
AK Qualquer valor.
[...]
AA A matemática é boa quando você sabe o porque tá fazendo aquilo
AK É tipo assim,
Pesq. Mas em que sentido esse porque?
AK quando eu tava estudando função, por exemplo, que eu tava entendendo o conteúdo, eu
tava amando. Mas agora no segundo bimestre que eu não entendendo bulhufas do que ta
acontecendo, não sei nem que matéria que é, aí eu chego lá e olho para aquele negócio,
sabe quando você olha assim que você fica meia olhando pro negócio e não sabe como é
que faz? Eu, matemática e física.
Pesq. Eu entendo. Esse porque AA é em qual sentido?
AA Tipo assim, eu queria saber, igual função lá que ele falou, quadrática, eu não vejo utilidade
nenhuma para aquilo no dia-a-dia. Tipo, não entendo.
Pesq. Mas vocês compreendem que nem tudo, toda expressão vai ter um significado real,
palpável?
AK Sim
Pesq. E nisso aí vocês já compreendem, ta tudo bem?
AA A gente calcula coisa a toa tem hora.
Conversa sobre a função e as relações que elas expressam.
Fala também sobre as necessidades dos conceitos.
AA Eu queria dizer, porque tem pessoas mais antigas, que vamos supor, estudaram até a
quarta série naquele tempo e fazem contas, que as pessoas usam com letras, fazem
contas assim o mais simples possível, não precisam fazer tudo aquilo e sai o mesmo
resultado.
Pesq. Porque a experiência também conta muito, né AA. Quando a gente vai fazer alguma conta,
alguma coisa assim, a experiência que a gente tem em lidar com aquele tipo de situação
conta muito. [...] mas só o prático nem sempre é o suficiente, as vezes a gente que
formalizar.
Como que a gente formaliza? Com esse conhecimento científico que a gente tem.
AA Eu falo por exemplo do meu pai, ele só estudou até a quarta série, ele é pedreiro pro-
blema em questão de arquitetura sabe, pra calcular esses trem.
Pesq. Por exemplo, pedreiros eles não tem muita dificuldade em calculo de área...
AA Exatamente.
Pesq. Eles olham ali e fala: ah é tantos metros quadrados
AA Tantos tijolos
LI Talvez a gente sabendo (se referindo ao algoritmo) não sabe tanto quanto eles, mas é a
prática.
Pesq. É, é que o raciocínio deles é baseado na prática. Entendeu? A prática é importante, mas
saber formalizar também é importante né.
Fonte: Arquivo dos autores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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histórico à organização do ensino: o percurso dos conceitos algébricos. Campinas-SP: Mercado das
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INTRODUÇÃO
A Álgebra Linear é um campo da Matemática que não tem uma data exata do início
de seu surgimento, entretanto, ela é fruto de um processo histórico que iniciou com o
povo babilônico a cerca de 4000 anos atrás quando eles resolviam sistemas de equações
lineares de ordem dois (EVES, 2011). Entretanto, seu estabelecimento enquanto disci-
plina dos cursos de graduação é recente, datando do final da primeira metade do século
XX nas universidades americanas (KATZ, 1995) e do final da década de 1960 na
Universidade de São Paulo, Brasil (GOMES, 2016).
Diante desse contexto histórico, não é de se admirar que as pesquisas no Brasil
relacionadas com o processo de ensino-aprendizagem da Álgebra Linear só começaram
a surgir na década de 1990 conforme descreve Celestino (2000), sendo elas bem tímidas
e desenvolvidas por apenas três autores (SILVA, A., 1997; SILVA, R., 1999; DIAS, 1993,
1995, 1998, 1998a; apud CELESTINO, 2000). Entretanto, esse não era um fato existente
apenas no Brasil. Segundo o autor, nessa década, esse tipo de pesquisa também estava
no início de seu desenvolvimento em outros países, como nos Estados Unidos com a cria-
ção do Linear Algebra Curriculum Study Group (LACSG) e na França com a tese de Jean
Luc Dorier, porém, ambas com mais força e intensidade que no Brasil.
1 Professora de Matemática, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Câmpus Goiânia.
Pesquisa sobre Metodologia do Ensino de Álgebra Linear. aline.mesquita@ifg.edu.br
[ 468 ]
PERCURSO HISTÓRICO DAS PESQUISAS SOBRE O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM 469
– Educação Matemática no Ensino Superior, visto ser esta uma pesquisa voltada para
este nível de ensino e que muitos pesquisadores deste campo compõem este grupo2.
De forma geral, objetivou-se identificar e descrever as pesquisas já realizadas na
área de Educação Matemática sobre metodologias de ensino para a Álgebra Linear.
Especificamente, os objetivos foram: 1) destacar o que tem sido investigado sobre méto-
dos e metodologias de ensino em Álgebra Linear; 2) identificar as bases teóricas que sus-
tentam as pesquisas sobre metodologia de ensino para a Álgebra Linear; 3) identificar
nas pesquisas levantadas as conclusões que elas chegaram, enfatizando a formação ou
não de conceitos algébricos.
seleção dos trabalhos por meio dos critérios estabelecidos para a busca e do enfoque
eleito na pesquisa, foi realizada a leitura dos textos na íntegra.
Finalizado o processo de busca em ambos os bancos de dados, BDTD e Capes, e
unindo os resultados obtidos após os refinamentos por título e resumo, obteve-se 24 tra-
balhos distintos no período de 2000 a 2016, sendo 5 teses e 19 dissertações. Entretanto,
as perspectivas e desenvolvimentos metodológicos destas obras eram muito diversifica-
das, impossibilitando o cumprimento de todos os objetivos traçados para esta pesquisa,
o que conduziu a um terceiro refinamento, selecionando aquelas obras que envolvessem
pesquisas relacionadas com alguma metodologia de ensino.
Para tanto, adotou-se como conceituação de metodologia de ensino aquela abor-
dada por Manfredi (1993) e Nunes (1993), sintetizada da seguinte forma: uma metodolo-
gia de ensino constitui-se dos diferentes princípios/diretrizes para orientar/direcionar o
processo de ensino-aprendizagem em função de certos objetivos/fins educativos/forma-
tivos por meio de um método de ensino. Estes princípios/diretrizes estão diretamente
relacionados com os princípios/diretrizes gerais de uma ciência expressos através dos
seus métodos próprios de investigação transformados em situações de ensino ampara-
das em pressupostos teóricos. Pode-se dizer que seu campo é constituído pelos métodos
adequados para apropriação do saber em cada área, referindo-se ao objeto a ser ensi-
nado, trabalhando, portanto, tanto com a produção do saber como com a sua apropria-
ção, sempre relacionando com a apresentação do conhecimento. Desta forma, a
metodologia de ensino de Matemática é o conjunto de vários métodos de ensino pró-
prios da Matemática enquanto ciência, organizados em um sistema que orienta, através
de um pressuposto teórico, o processo de ensino-aprendizagem desta ciência, sendo ine-
rente à metodologia de ensino de Matemática a apropriação do saber e a produção do
conhecimento matemático, abrangendo a totalidade do conhecimento matemático.
Pensando nesta perspectiva de metodologia de ensino e adotando-a como um
refinamento para as 24 obras, leu-se a introdução e o desenvolvimento metodológico de
cada uma delas para ver quais se enquadravam nesta perspectiva. Restaram 8 obras
enquadradas no período de 2006 a 2016, sendo 3 teses e 5 dissertações, conforme o
Quadro 1.
Segundo o autor, os sistemas semióticos que são capazes de cumprir estas três ati-
vidades cognitivas são chamados de registros de representações semióticas. São exem-
plos destes registros na Matemática os registros algébricos, os numéricos e os gráficos.
3 Raymod Duval (1937 – ): filósofo, psicólogo e professor emérito da Université du Littoral Côte d'Opale em Dun-
querque, França. Desenvolveu importantes estudos em psicologia cognitiva no Instituto de Pesquisa em Edu-
cação Matemática (IREM) de Estrasburgo, na França, investigando a aprendizagem matemática e o papel dos
registros de representação semiótica para a apreensão do conhecimento matemático.
4 Romulo Lins (1955 – 2017): educador matemático com livre docência pela Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (UNESP), instituição para a qual trabalhava no Câmpus Rio Claro até o momento de seu fale-
cimento. Dedicou-se a pesquisas no campo da Educação Matemática com várias delas voltadas para o ensino-
-aprendizagem da álgebra.
5 “Metodologia em que os estudantes recebem vídeos, explicando a parte teórica e apresentando exemplos de
resolução de exercícios relacionados, para assistirem fora do horário normal das aulas, e utilizam os momentos
presenciais para a discussão dos conteúdos apresentados e resolução de problemas relacionados ao que foi
estudado fora da sala de aula” (CARDOSO, 2014, p. 105).
Como registra Cardoso (2014), a TCAM foi criada por Richard E. Mayer6, um pesqui-
sador da área da psicologia educacional que defende que a aprendizagem se dá de forma
personalizada por meio da aquisição de experiências, onde cada indivíduo desenvolve
mudanças cognitivas que reorganizam e integram os conhecimentos, gerando uma
mudança no aprendiz. Para esta teoria o aprender se dá pelas vias visual e auditiva, por
isso ela enfatiza que as mídias digitais educacionais têm maior potencial educativo se uti-
lizar as linguagens oral, escrita e as imagens para tratar os conceitos, sendo a tecnologia
uma potencializadora do aprendizado desde que seja vista com o intento de auxiliar os
seus usuários a construírem conhecimentos sobre o objeto em estudo. Assim, o objetivo
das apresentações multimídias vai além do simples fato de oferecer informações, mas
também orientações: “[...] como processar a informação apresentada, no que prestar
atenção, como organizar mentalmente a informação e como relacioná-la com o conheci-
mento prévio” (CARDOSO, 2014, p. 90).
A TCC foi elaborada por Gérard Vergnaud7, sendo caracterizada como uma teoria
cognitivista que estuda o desenvolvimento e a aprendizagem de competências comple-
xas, investigando a organização cognitiva dos alunos obtida por meio da resolução de
situações-problemas e identificando os elementos que contribuem para o desenvolvi-
mento da capacidade de raciocínio e inferência.
Nessa perspectiva, a aprendizagem ocorre quando o aluno utiliza vários conheci-
mentos com o intuito de se adequar a novas situações, buscando informações relevantes
e ignorando as secundárias. Esta teoria enfatiza a identificação de invariantes operató-
rios, os quais se referem a uma classe de situações que podem ser verdadeiras em um
determinado domínio, mas em outro não, gerando a generalização falsa de certos conhe-
cimentos. Eles são classificados em “conceitos em ação” e “teoremas em ação”. “Um teo-
rema em ação é uma proposição tida como verdadeira, para o aluno, sobre o real. Já um
conceito em ação é um objeto, um predicado ou uma categoria de pensamento tida
como pertinente ou relevante (pelo sujeito)” (CARDOSO, 2014, p. 100). Por meio destes
invariantes é possível detectar os esquemas cognitivos que ainda estão ineficazes e auxi-
liar os alunos a transformá-los em aplicáveis e são considerados como chaves na
6 Richard E. Mayer (1947 – ): professor de psicologia da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara – EUA. Pesquisa
sobre a aplicação da ciência da aprendizagem à educação, desenvolvendo projetos sobre a aprendizagem mul-
timídia, aprendizado com suporte por computador e jogos de computador para aprender.
7 Gérard Vergnaud (1933 – ): um francês matemático, psicólogo, filósofo e diretor emérito de estudos do Centro
Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) em Paris. Foi aluno de Jean Piaget, compondo o segundo grupo de pes-
quisadores doutorados por ele. Dedicou-se aos aspectos práticos do ensino, voltando-se para a didática, sendo
a Teoria dos Campos Conceituais sua mais importante criação.
8 O surgimento desta teoria data de 1997 quando Hermínio Borges Neto a criou, este é o líder do Grupo Fedathi,
grupo onde inicialmente surgiu esta teoria e que compõe o Laboratório Multimeios da Faculdade de Educação
da Universidade Federal do Ceará. Apesar de ter tido um criador, toda glória da criação da Sequência Fedathi é
dada ao Laboratório Multimeios, que é coordenado por Hermínio Borges Neto.
9 A concepção de construtivismo e de mediação são tomados por esta teoria do ponto de vista vygotskyano.
Alavancas Meta, a qual foi introduzida por Aline Robert10 e Jacqueline Robinet11.
Essencialmente, designa a inserção de uma informação ou conhecimento sobre a
Matemática em um momento específico da aula que conduza os alunos à reflexão, cons-
ciente ou não, acerca da natureza da Matemática ou de seu próprio aprendizado, produ-
zindo tomadas de consciência sobre o conhecimento em questão que conduzem à
significação dos conceitos, relações, propriedades e procedimentos presentes no campo
do conhecimento. Segundo Fontenele (2013, p. 40), essas duas noções metodológicas se
complementam, pois, a Sequência Fedathi tem foco na postura docente e na mediação
do ensino, enquanto as Alavancas Meta têm foco na aprendizagem, “em pontos estraté-
gicos do conteúdo que podem ser abordados de modo a motivar a reflexão do aluno
gerando um consequente aprendizado.”
Silva, E. (2015) apoiou-se na Teoria das Situações Didáticas (TSD) desenvolvida por
Guy Brousseau12, segundo a qual, uma situação didática representa uma rede de proces-
sos de interações entre o aluno, o professor e o saber, com estratégias de ensino basea-
das em problematizações. Para esta teoria, o professor atua como um mediador da
conduta do estudante, sendo o responsável pelo planejamento e criação das condições
necessárias para o aluno reter os conhecimentos matemáticos envolvidos nas situações
de ensino, fazendo com que o aluno atue, fale, reflita e evolua, sempre por meio de pro-
blemas adequadamente selecionados. Assim, o aluno é conduzido, sem a intervenção do
professor no que se refere ao conhecimento, à aquisição de novos conhecimentos atra-
vés da lógica interna da situação e por sua própria construção de respostas às questões
envolvidas na situação. Brousseau denomina esta proposta de situação adidática (SILVA,
E., 2015). Por este processo, o aluno é levado a pensar como um matemático, levantando
hipóteses e conjecturas, testando-as e validando-as, no final dessas fases, cabe ao pro-
fessor a sistematização dos saberes discutidos. Desta forma, a apropriação dos
10 Aline Robert: professora do Instituto Universitário de Formação de Professores (IUFM) em Versailles – França e
chefe da Equipe de Investigação DIDIREM na Universidade Paris 7. Seu interesse de pesquisa está no campo da
Didática da Matemática voltando-se para o processo de ensino-aprendizagem na Educação Superior, com foco
nas disciplinas de Análise e Álgebra Linear, bem como para a formação de professores.
11 Jacqueline Robinet: professora sênior na Universidade de Paris 7 e integrante da equipe de pesquisa DIDIREM.
Trabalhou no conceito de engenharia didática e depois especializou-se em pesquisas sobre Educação de Mate-
mática na Educação Superior. Na França, ela foi, junto com Aline Robert, a primeira a investigar o ensino da
Álgebra Linear.
12 Guy Brousseau (1933 – ): professor aposentado do Instituto Universitário de Formação de Professores (IUFM)
em Aquitaine e da Universidade de Bordeaux, ambas francesas. É um dos pioneiros da Didática da Matemática
Francesa e em 2003 ganhou a Medalha Félix Klein em reconhecimento à contribuição dada ao desenvolvimento
da Educação Matemática.
conhecimentos mobilizados é indicada pelo sucesso dos alunos ao lidarem com situações
adidáticas, sendo que o aluno “[...] aprende corrigindo suas ações e antecipando os seus
efeitos [...]” (BROUSSEAU, 1997, p. 23, apud SILVA, E., 2015, p. 52).
Visando compreender melhor as metodologias de ensino apresentadas, passa-se a
analisar as conclusões obtidas por cada um dos autores em seus respectivos trabalhos
acerca da validação da proposta metodológica apresentada e fundamentada em seus
aportes teóricos escolhidos.
Para a análise das conclusões dos trabalhos listado no Quadro 1, fez-se um agrupa-
mento dos mesmos conforme o conceito utilizado. Assim, inicia-se com a tese de Cardoso
(2014) que propõe uma metodologia para toda a disciplina de Álgebra Linear, seguida de
Fontenele (2013) por ser a única que discute o conceito de base. Em seguida, Silva, A.
(2014) e Silva, T. (2016) por proporem uma metodologia para o ensino e aprendizagem de
sistemas de equações lineares, finalizando com Karrer (2006), Santos (2013), Arrebola
(2013) e Silva, E. (2015) que voltam seus olhares para o conceito de transformação linear.
Cardoso (2014) ao analisar sua proposta metodológica para o ensino de Álgebra
Linear consistindo de aulas reversas com o uso de vídeos digitais conclui que estes
guiaram os alunos durante o curso, possibilitando que cada um deles avançasse con-
forme seu ritmo de aprendizagem, sendo que o professor foi fundamental neste pro-
cesso, pois ele auxiliava os alunos a relacionarem os conteúdos dos vídeos com as
ações necessárias para a resolução dos problemas propostos, os quais foram elabora-
dos de acordo com TRRS e a TCC, possibilitando ao aluno dar significado aos conceitos
estudados e ao professor identificar e analisar as dificuldades dos estudantes em cada
fase, abandonando, na medida do possível, os teoremas em ação falsos que surgiram
durante o curso. Segundo Cardoso (2014), estes teoremas em ação falsos originam,
principalmente, nas estruturas aditivas e multiplicativas dos números inteiros presen-
tes nos conceitos de espaço vetorial e transformação linear, na abstração da linguagem
algébrica que constitui a Álgebra Linear e na dificuldade em lidar com diferentes repre-
sentações semióticas de um mesmo conceito, confundindo suas representações matri-
cial, algébrica, figural e numérica. Sobre estas dificuldades, o autor conclui que elas
poderiam ser superadas se os estudantes tivessem mais tempo para interagir com os
problemas aditivos e multiplicativos que envolvem os conceitos da Álgebra Linear. Ele
finaliza dizendo que mídias, como os vídeos digitais, poupa o professor de tarefas repe-
titivas como o cálculo de determinantes de matrizes e a resolução de equações linea-
res, possibilitando ter mais tempo para a discussão de aspectos conceituais e ideias
gerais inerentes a este campo de estudos.
Fontenele (2013) investigou a presença de possíveis Alavanca Meta em aulas de
Álgebra Linear mediadas pelos pressupostos da Sequência Fedathi, nas quais os alunos
eram instigados a pensar no significado dos conceitos, enfatizando o conceito de base, e
concluiu que tal Sequência favoreceu o uso de recursos passíveis de se tornarem
Alavancas Meta para os alunos, sendo que a postura docente durante seu uso motivava
os alunos à reflexão. Segundo a autora, com esta metodologia as aulas não se limitaram
apenas à transmissão sucessiva de definições e provas, mas buscou a qualidade do ensino
respeitando o ritmo de aprendizagem do aluno, oportunizando o mesmo a “[...] vivenciar
a construção dos saberes, explorando os significados e relações entre os conteúdos tra-
balhados, sendo dessa forma estimulados a pensar em sala de aula, a ter autonomia sem
medo de errar, questionar ou recomeçar” (FONTENELE, 2013, p. 83).
Visando analisar uma proposta metodológica para o ensino e a aprendizagem do
conteúdo de sistemas de equações lineares, Silva, A. (2014) e Silva, T. (2016) recorrem à
TRRS para fazer a ligação entre a representação algébrica e a representação geométrica
deste conceito, ambos utilizando um software de geometria dinâmica para atingir este
objetivo. Silva, A. (2014) ainda recorre ao Modelo Teórico dos Campos Semânticos para
auxiliar em sua proposta e conclui que o software utilizado, o GeoGebra, foi uma ferra-
menta significativa para a construção do conhecimento, possibilitando a interpretação
geométrica das possíveis soluções do sistema, mostrando aos alunos a perspectiva grá-
fica do conteúdo algébrico e assim, possibilitando o trato de diferentes representações
de um mesmo conteúdo. Segundo este autor, a maior dificuldade encontrada foi lidar
com as lacunas existentes nos conhecimentos básicos dos alunos, advindos de sua edu-
cação em nível médio.
Já Silva, T. (2016) utiliza o software Winplot e trata exclusivamente de sistemas
lineares envolvendo três incógnitas, concluindo que o uso do software favoreceu a per-
cepção das relações entre os registros gráfico e algébrico. Segundo a autora, com a explo-
ração do registro gráfico, os estudantes modificaram a forma como percebiam um
sistema linear, pois “[...] uma equação de três incógnitas deixou de ser apenas uma equa-
ção e passou a ser também um plano. Um sistema de equações lineares de três incógni-
tas deixou de ser um conjunto de equações e passou a ser visto como a interseção de
três planos” (SILVA, T., 2016, p. 143). Para ela, a realização das atividades em dupla foi
determinante para o bom desenvolvimento do processo de aprendizagem, permitindo o
diálogo entre os alunos, fator que favoreceu a construção do conceito. Assim Silva, T.
(2016) finaliza concluindo que a articulação entre os registros algébrico e gráfico contri-
buiu para a construção do conceito de sistemas lineares e permitiu a previsão e obtenção
da solução do sistema, bem como sua classificação, tornando, desta forma, uma impor-
tante articulação a ser realizada nos processos de ensino e aprendizagem deste conceito
no caso particular de três equações e três incógnitas.
Portanto, em ambos os trabalhos se concluiu que o uso de softwares de geome-
tria dinâmica contribui para uma melhor aprendizagem e que, quando aliados a uma
abordagem teórica, as atividades propostas conduzem à formação do conceito de sis-
temas de equações lineares, possibilitando um trânsito entre a representação algé-
brica e a geométrica.
Propondo uma metodologia de ensino para o conceito de transformação linear
temos os trabalhos de Karrer (2006), Santos (2013), Arrebola (2013) e Silva, E. (2015). Em
todos eles os autores utilizaram um software de geometria dinâmica como mediador do
processo de transição entre as representações do conceito, facilitando este processo.
Karrer (2006) e Arrebola (2013) utilizaram o Cabri-Géomètre e Santos (2013) e Silva, E.
(2015) utilizaram o GeoGebra.
Karrer (2006) propõe uma metodologia de ensino para o conteúdo de transforma-
ções lineares planas específica para o curso da área de Computação, justificando ser este
um conteúdo de grande importância nesta área, uma vez que a maioria das aplicações
computacionais se restringem a este conceito. Para a execução das aulas a autora utiliza
a metodologia de pesquisa denominada Design Experiments, a qual é utilizada tanto para
testar hipóteses quanto para criá-las, visando analisar processos de aprendizagem de
domínios específicos, dando ênfase na análise do pesquisador a respeito do pensamento
matemático dos alunos e das modificações destes pensamentos. No que tange à utiliza-
ção desta metodologia, Karrer (2006) conclui que ela auxiliou a promoção de mudanças
favoráveis na relação entre os sujeitos e os objetos matemáticos em questão, uma vez
que se constitui de um ambiente diferenciado para o ensino, possibilitando uma melhor
compreensão do objeto transformação linear. Quanto ao uso do software Cabri-
Géomètre, conclui que ele possibilitou o estabelecimento e a verificação de conjecturas,
assumindo o papel de instrumento facilitador de novas construções e validações locais,
institucionalização, para a discussão coletiva das dificuldades relativas a este ponto, con-
duzindo-os à formação do conceito. “Neste sentido, pode-se indicar que as estratégias
aqui estruturadas promoveram com eficiência um avanço na percepção e compreensão
dos fenômenos, mas tiveram menor alcance em relação à formalização de conceitos”
(SILVA, E., 2015, p. 186). Apesar destas dificuldades persistirem, segundo a autora, o
desenvolvimento autônomo e as discussões representaram uma forma mais efetiva de
consolidar a aprendizagem de outros conceitos que subsidiam o conceito de transforma-
ção linear, como matrizes, sistemas lineares e operações com vetores e que todo esse
trabalho contribuiu também para desenvolver mudanças comportamentais nos alunos
enquanto investigadores e aprendizes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Outro aspecto que chama a atenção em relação à metodologia utilizada nas teses
e dissertações é quanto ao uso de tecnologias para a aprendizagem de conceitos, 87, 5%
das pesquisas recorreram a algum recurso tecnológico. Sem dúvida, as tecnologias são
instrumentos importantes para mediar o processo de formação de conceito pelo aluno.
Todavia, com base nas pesquisas apoiadas na teoria histórico-cultural, o simples uso da
tecnologia como ponto inicial de percepção dos objetos por parte dos alunos seguida da
explicação dos resultados de suas observações, pelos meios mais diversos de represen-
tações que surgem da ação do sujeito sobre o objeto de estudo, não é suficiente para
impulsionar o desenvolvimento do pensamento teórico. Assim, é questionável o enten-
dimento de que a inserção de tecnologias no ensino, vistas apenas como elementos do
conjunto de procedimentos e técnicas e ensino, gere maior interação e motivação nos
alunos, despertando o interesse pela aprendizagem.
Uma orientação metodológica que também se fez presente nas pesquisas, contri-
buindo para o estudos dos conceitos da Álgebra Linear, foi a resolução de problemas.
Nos trabalhos analisados, as situações-problema foram contextualizadas a partir do
curso em que a disciplina está inserida, favorecendo, segundo os autores das teses e dis-
sertações, a aprendizagem dos alunos e viabilizando condições para os estudantes cons-
truírem o significado sobre o objeto em estudo através da participação ativa na discussão
das soluções encontradas ou verificando a formalização do conteúdo feita pelo profes-
sor. Entretanto, por esta proposta priorizar o lado periférico, externo, da aprendizagem
do aluno, o estabelecimento de conexões internas entre os conceitos da Álgebra Linear
e outros conceitos matemáticos fica impossibilitado. Davydov (1988) ao propor o seu
ensino problêmico, afirma que, através dos problemas, os alunos devem trilhar mental-
mente o caminho investigativo trilhado pelo cientista na descoberta do conceito, con-
templando a sua gênese e transformações ao longo da história, assim, as situações-problema
devem conduzir os alunos em um processo investigativo que os façam pensar de acordo
com os modos da ciência ensinada. Assim, com esta visão de resolução de problemas, há
êxito quanto a promoção do desenvolvimento mental dos alunos.
Portanto, um campo em aberto que surge com a análise destas pesquisas é propor
metodologias de ensino para a Álgebra Linear que possibilitem o aluno ultrapassar o pen-
samento empírico e chegar ao pensamento teórico, por meio de uma perspectiva dialé-
tica do ensino, embora sejam significativos os estudos contemplados neste levantamento.
Uma possibilidade para isso é a utilização da teoria do ensino desenvolvimental de
Davydov para fundamentar as propostas de ensino, pois, ao conceber a unidade entre
ensino e aprendizagem, o ensino é visto como um ato intencional e devidamente
organizado para atingir o seu fim que é a formação do pensamento teórico, de forma que
quando o professor ensina o aluno aprende, sendo o professor o mediador desse pro-
cesso, conduzindo o aluno à formação e ao desenvolvimento de ações mentais conforme
descreve Vygotski (1991).
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Menna Barreto e Solange Castro Afeche. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
INTRODUÇÃO
1 Especialista em Docência e Inovação na Educação Básica, Universidade Estadual de Goiás (UEG) – Campus Quiri-
nópolis, Goiás, Brasil. Professora da Secretária de Estado de Educação, Itarumã, Goiás, Brasil. jakelinesouza88@
gmail.com.
2 Doutora em Educação em Ciências e em Matemática pela Universidade Federal de Goiás (PPGECM-UFG), Goiâ-
nia, Goiás, Brasil. Professora da Secretaria Municipal de Ensino de Quirinópolis (SME), Quirinópolis, Goiás, Bra-
sil. Professora da Universidade Estadual de Goiás Câmpus Quirinópolis, Quirinópolis, Goiás, Brasil.<promaria-
marta@hotmail.com.
[ 489 ]
490 Jaqueline Gonçalves de Souza; Maria Marta da Silva
Essa característica de ensino é analisada por Libâneo (1992) como uma prática em
que a escola teria a função de alinhar a conduta moral dos alunos estabelecendo uma
cultura de ordem, sendo ensinados os conteúdos dissociados da sua realidade, assim as
crianças eram moldadas de valores aglomerados que propõem os conteúdos baseados
na exposição e analise única do professor por meio de demonstrações e treino repetiti-
vos de exercícios. O objetivo era a formação de sua capacidade de responder a situações
idênticas da forma em que lhes foram ensinadas, dessa forma a aprendizagem seria satis-
fatória. Nessa concepção:
A escola surge como um antídoto a ignorância, logo, um instrumento para
equacionar um problema a marginalidade. Seu papel é difundir a instrução,
Uma maneira de organizar as ações de ensino como atividade, tendo por base as
inferências teórico-metodológicas da Teoria Histórico Cultural, é possível mediante a
Atividade Orientadora de Ensino (AOE), desenvolvida por Manoel Oriosvaldo Moura (1992).
Nesse cenário as AOE são elaboradas com a intenção de serem postas coletiva-
mente e com o compartilhamento de ideais, além de estratégias com o objetivo comum
entre os sujeitos envolvidos, construindo a aprendizagem dentre as relações sociais para
o individual.
Nesse viés, a busca pela organização do ensino pelo professor tem função impor-
tante, pois segundo Moura (2002, p. 157) “tomar o ensino como uma atividade implica
em definir o que se busca concretizar com a mesma, isto é, a atividade educativa tem por
finalidade aproximar os sujeitos de um determinado conhecimento”. Vale ressaltar que o
principal desafio para o professor é preparar o ensino de maneira que produza Atividade
para o aluno e para si próprio. Embasada na teoria da Atividade de Leontiev (1994) a
Vale lembrar que o principal propósito desta pesquisa é compreender como a orga-
nização de ensino proposta pelas Atividades Orientadoras de Ensino pode contribuir
para a aprendizagem do conceito de números e operações por alunos do 4º ano do
ensino fundamental, assim optou-se pela pesquisa qualitativa por melhor alcançar o
objetivo delineado, vez que será desenvolvida em uma escola pública da rede municipal
da educação, localizada no município de Itarumã na região Centro-Oeste do estado de
Goiás. A escolha do lugar da investigação de campo se deu pelo fato da pesquisadora
residir no município.
Como caminho metodológico foi eleito o experimento didático, organizado inten-
cionalmente e embasado teoricamente nos pressupostos da teoria histórico-cultural e
seus desdobramentos teóricos, especialmente a teoria da atividade.
O experimento didático é um método de investigação psicológico e pedagó-
gico que permite estudar as particularidades das relações internas entre os
diferentes processos de educação e de ensino e o caráter correspondente do
desenvolvimento psíquico do sujeito (CEDRO; MOURA, 2010, p. 58).
Síntese histórica Estudo da base teórica que constitui AOE, preparação das
1º
do Conceito Atividades que seriam aplicadas.
Apresentação do projeto Clube da Matemática 3aos participan-
2º Roda de conversa tes do 4º ano do Ensino Fundamental, e conscientização da
Atividade a ser abordada.
Iniciação da história virtual “O mundo encantado de Orizes”,
Situação desenca-
produzida por Carvalho (2015). Preparou-se o ambiente para
deadora de
3º contar a história com o objetivo de despertar a imaginação e
Aprendizagem:
vivencia dos fatos, desencadeando nos participantes o motivo
História Virtual
para coloca-lo ativamente em operação.
Desenvolveu-se a atividade Tanteira elaborada por Carvalho
(2015), após a organização da sala de aula, nesta os alunos em
grupos trabalham o compartilhamento e discorrem suas
4º Tanteira necessidades e pretensões frente ao problema gerador têm de
estabelecerem relações de representação e comparação de
quantidades aproximando sua aprendizagem ao conceito de
números e operações matemáticas.
Aplicação do Instrumento previsto, contendo 13 questões, individuais,
5º
questionário entregues pessoalmente.
Fonte: Elaborado pela pesquisadora. (2019).
3 O Clube da Matemática é um projeto incorporado à pesquisa de “Educação Matemática nos anos iniciais do
Ensino Fundamental: Princípios e práticas da organização do ensino” vinculado ao programa Observatório da
Educação (OBEDUC) da CAPES. Surgiu em 1988 pelo prof. Dr. Manoel Oriosvaldo de Moura na Faculdade de Edu-
cação da USP de São Paulo propiciando um espaço de aprendizagem da docência em Matemática e desde então
motivado pelo processo de organização do ensino são elaboradas atividades de Matemática do ensino resulta
na aprendizagem, compartilhamento de experiências e reflexões entre os sujeitos envolvidos.
para que ao entrarem na sala sentassem-se no chão para que apreciassem a história que
acontecia com o seguinte enredo:
No dia 11 de setembro um grupo de alunos daquela escola foi levado pela
professora de matemática para visitar o parque de diversões Multirama [...]
disse ela’. ‘Olha quanta coisa vocês fizeram neste passeio. Nesta visita pude-
ram brincar em vários brinquedos’. Quando o sol já estava quase se pondo e
o passeio já estava acabando, vocês perceberam que não tinham brincado no
trem fantasma [...]. Ao entrar no túnel do trem fantasma, o carrinho aumen-
tou a velocidade e de repente ouviu-se um estrondo e viram-se faíscas. Nesse
momento a energia acabou e o carrinho aos poucos parou.[...]. Um aluno per-
guntou: ‘Esse lugar é muito estranho, que lugar é esse?’. Apareceram dois
coelhos repetiram exatamente as mesmas palavras. O coelho então pergun-
tou: ‘Quem são vocês?’ Os alunos ficaram espantados porque os dois coelhos
podiam falar. ‘ O senhor pode nos ajudar? Estamos perdidos! Passamos por
uma porta e viemos parar neste lugar. Queremos voltar para casa, o que
devemos fazer?’ Saberes respondeu: ‘Não é a primeira vez que Orizes recebe
forasteiros. O único ser daqui que pode ajudar vocês é o mago Malasquiel.
Ele é o ser mágico mais poderoso de Orizes, e pode levá-los para casa, mas
isso dentro do prazo de nove dias, porque depois disso o portal que trouxe
vocês para este mundo se fecha e nem o bruxo Malasquiel consegue abri-lo
novamente’. Uma aluna perguntou: ‘Senhor coelho, estamos com fome.
Onde podemos conseguir comida?’ O coelho respondeu: ‘Somente um tipo
de árvore é fonte de alimento para todos os seres de Orizes, Seu nome é
Tanteira. Seguindo por aquele caminho entre as rochas encontrarão uma’.
Outro aluno perguntou: ‘E como fazemos para chegar ao castelo de
Malasquiel?’ O coelho respondeu: ‘Após a Tanteira encontrarão, ao caminha-
rem mais um pouco conseguirá chegar [...]. (CARVALHO, 2015, p. 64-5).
O objetivo era encontrar a árvore da Tanteira para que ninguém passasse fome e
nesse caminho teriam que desvendar o desfecho da história e voltarem para casa em
nove dias. Havia o problema gerador e os alunos precisavam apontar a solução a partir
da necessidade.
árvore morre e vocês não terão nenhum fruto com que se alimentar. Não é
possível saber quais e quantos frutos há em cada galho, pois a árvore os
esconde através das folhas. Porém o Mago Malasquiel informou a todos os
seres de Orizes quantos frutos há no galho rosa, e forneceu algumas pistas
para descobrir quantos são os frutos dos outros galhos. Se quiserem comer,
terão que descobrir quantos frutos há em cada galho para decidir de qual
deles irão colher os frutos. (CARVALHO, 2015, p. 66-7).
As pistas nos envelopes davam dicas aos alunos, portanto deveriam interpretá-las
para descobrir as quantidades e os frutos de cada galho. Nas tentativas de decifrar as pistas
eles discutiam entre si ideias e conclusões, e, logo, foram orientados a registrar os frutos
numa folha para observarem melhor os tantos nos galhos assim todos participavam.
Nesse momento o professor retoma a história virtual, para contar que a árvore é
especial e para colher os frutos deliciosos precisariam pensar, pois só poderiam colher os
frutos necessários para todos se alimentarem, e num único galho, sem sobrar, pois
somente assim sobreviveriam os nove dias.
Posteriormente às ações foi aplicado o questionário para que os alunos respondam
individualmente em busca de respostas ao objeto de estudo. A próxima secção descreve
a análise dos dados e os relatos dos sujeitos de pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta unidade revela que a forma de organização de ensino proposta pela AOE pos-
sibilita a apropriação do conhecimento científico por intermédio de ações compartilha-
das. Segundo Vigotsky (2008), a apropriação do conhecimento gera o desenvolvimento
de sentidos pessoais que ocorrem de maneira interna. Nesse sentido, o planejamento
elaborado de atividades pelo professor e a sua mediação é essencial para fomentar os
fundamentos básicos em que se desenvolvem os conteúdos de matemática.
Nesse episódio fica evidente como os sujeitos destacam a predominância do ensino
tradicional nos dias atuais para a maioria das aulas de matemática, pois o professor
propõe os conteúdos de maneira limitada e repetitiva: “Eu não gostava, porque ela che-
gava e falava vocês hoje vão fazer isso e isso e passava tudo no quadro, o ruim era que
ela passava as respostas depois que copiava, não dava nem tempo de copiar” (Carlos,
Flash 1). “Ela sempre passava os mesmos conteúdos no quadro para nos responder no
caderno” (Sara, Flash 2). Essa é a realidade presente em pleno século XXI e precisa urgen-
temente ser mudada.
Os pedagogos começam a compreender que a tarefa da escola contemporâ-
nea não consiste em dar às crianças uma soma de fatos conhecidos, mas em
ensiná-las a orientar-se independentemente na informação científica e em
qualquer outra. Isto significa que a escola deve ensinar os alunos a pensar,
quer dizer, desenvolver ativamente neles os fundamentos do pensamento
contemporâneo para o qual é necessário organizar um ensino que impul-
sione o desenvolvimento. Chamemos esse ensino de ‘desenvolvimental’,
(DAVIDOV, 1988, p. 3).
“Achava as aulas muito chato, eu gostaria que fossem mais legais que tivessem
mais contas difíceis para a gente aprender mais” (Daniel, Flash 7). Nesse flash o aluno
demonstra descontentamento em estudar diariamente conteúdos que já fazem parte de
seu conhecimento, tendo a necessidade da descoberta e originalidade nas aulas. Deve-se
reconhecer as limitações, porém Engestrom (2002, p. 192) acredita que “os aprendizes
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
[ 510 ]
O QUE AS PESQUISAS BRASILEIRAS REVELAM SOBRE O ENSINO DO CÁLCULO? 511
PERCURSO DA PESQUISA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 1 – Teses disponibilizadas na BDTD que discutem o Cálculo I, educação e ensino e que
compõe o corpus desta pesquisa
A Universidade Católica de São Paulo teve seu surgimento em 1946 com a união
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento e da Faculdade de Direito. Ela
é uma instituição confessional, sendo que em 1947, o Papa Pio XII concedeu a
Universidade Católica o título de Pontifícia, passando a ser conhecida como Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). O Programa de Pós-Graduação em
Educação Matemática da PUC–SP surgiu em 1975 com a áreas de Teoria dos Números,
Álgebra e Análise a partir das dificuldades relativas ao processo de ensino e aprendiza-
gem da Matemática. Atualmente, o Programa funciona nos níveis de Mestrado e
Doutorado nas seguintes linhas de pesquisa: 1. A Matemática na estrutura Curricular e
Formação de professores; 2. História, Epistemologia e Didática na Matemática e
Tecnologias da Informação e 3. Educação Matemática. Todos os cursos funcionam no
campus Consolação, na capital paulista.
O Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo (USP)
foi criado em 1971 e apesar de ser relativamente antigo, na temporalidade dos nossos
dados, percebemos que a primeira publicação sobre o Cálculo I no nosso corpus é de
autoria da Maria Cristina Bonomi Barufi, em 1999. O trabalho teve orientação do profes-
sor doutor Nilson José Machado e teve como objetivo de investigar as dificuldades exis-
tentes com o ensino do Cálculo nos cursos iniciais da Universidade a partir da rede de
conhecimentos e significados. Para atingir o objetivo, a autora discutiu o papel do profes-
sor em sala de aula tendo como potencial aliado o computador.
Percebemos um hiato da criação do Programa de Pós-Graduação em Educação
da USP e do primeiro registro público no nosso corpus de 28 anos. Por conta desse
espaço de tempo tivemos a curiosidade de saber o porquê desse hiato e percebemos
que não há publicações na BDTD anteriores à data 1999, pois esta não era uma reali-
dade aos PPG à época.
Ao olharmos o nosso corpus, identificamos que a professora Rosana Giaretta
Sguerra Miskulin4 foi orientadora em quatro trabalhos de doutorado pela UNESP. Ela é
licenciada em Matemática pela UNESP, mestre e doutora em Educação pela UNICAMP.
Suas linhas de pesquisa envolvem a Educação Matemática, Semiótica, Formação de
Professores, Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), Resolução de Problemas,
Comunidade de Prática e Comunidades online de aprendizagem e Educação a Distância
(EaD) com diversas publicações no Brasil e exterior.
Pela mesa instituição, Marcelo de Carvalho Borba5 possui dois trabalhos como
orientador. Ele é licenciado em Matemática pela UFRJ, mestre em Educação pela UNESP
e doutor nessa mesma área pela Cornell University, Estados Unidos. Coordenador do
Grupo de Pesquisa em Informática, Outras Mídias e Educação Matemática (GPIMEM),
desenvolve pesquisas nas áreas de EaD online, Modelagem, Tecnologias Digitais, Vídeos
e Metodologia de Pesquisa Qualitativa.
O professor Marcus Vinícius Maltempi6 da UNESP também possui duas publicações
como professor orientador. Ele é graduado em Ciência da Computação pela UNESP, mes-
tre em Ciências da Computação e Matemática Computacional pela USP e doutor em
Engenharia Elétrica e de Computação pela UNICAMP. Atualmente, orienta trabalhos na
linha de pesquisa de Informática aplicada à Educação e Novas tecnologias e Educação
Matemática.
A partir da leitura de seus currículos e das suas linhas de pesquisa, percebemos
uma forte tendência em trabalhos publicados pela UNESP relacionados às TIC na Educação
Matemática e Educação à Distância.
Benedito Antônio da Silva7 é licenciado em Matemática pela PUC–SP, mestre e dou-
tor em Matemática por essa mesma instituição. Possui dois trabalhos como professor
orientador. Suas linhas de pesquisas estão voltadas a Educação Matemática, atuando
principalmente em investigações sobre o processo de ensino e aprendizagem das noções
do Cálculo, sob o ponto de vista das componentes: saber, aluno e professor dos diferen-
tes níveis de ensino.
As demais publicações presentes no corpus da nossa pesquisa estão distribuídas
em outros 14 orientadores com uma única pesquisa cada.
Quando quantificamos as palavras-chave de todos os trabalhos percebemos que o
conteúdo de integral é o mais recorrente, seguido pelo cálculo e pela área de Educação
Matemática, sendo coerente ao tipo de busca que fizemos (Figura 2).
Tabela 1 – Compreensão das principais temáticas discutidas nas teses que discutem cálculo,
educação e ensino
Ensino e aprendizagem T1, T3, T8, T11, T16, T17, T18, T19, T20, T21 T22, T23, T24, T26, T33, T37 e T38
Elaboração/análise de
T9, T10, T30, T34 e T41
um produto/recurso
Teórico T6
Concepções T2
minimizem esses índices é estudar quais as falhas nas relações entre professor, estu-
dante e conhecimento científico.
Refletimos que na relação professor-aluno, ambos devem ter voz, além de uma
participação ativa no processo (BAKHTIN, 2003). Nesse diálogo entre as partes, (Freire
(2005, p. 91) reflete que:
O diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se soli-
darizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser trans-
formado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de
um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem
consumidas pelos permutantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Refletimos que uma graduação deve formar profissionais críticos e que consigam
articular teoria e prática. Entretanto, sabemos que para isso é importante que o curso/
disciplina assuma uma fundamentação histórica, ontológica e epistêmica do conteúdo a
ser lecionado.
Ao final das análises, compreendemos que uma considerável quantidade de publi-
cações está voltada ao processo de ensino e de aprendizagem, por entenderem que há
uma preocupação em minimizar os índices negativos (reprovação e evasão) à respeito do
CDI – I. Visualizamos também uma recorrência que alinha à lógica de elaboração de pro-
dutos educacionais.
Entretanto, mesmo que as publicações estejam voltadas ao processo de ensino e
aprendizagem ou na elaboração de um produto, percebemos que há uma lacuna em
relação à discussão do próprio conteúdo do Cálculo. Uma discussão que perpassa não
apenas pela mera definição de Limite, Derivada ou Integral, mas da sua concepção epis-
temológica, de sua importância à sociedade e aos alunos.
Entendemos que essa abstração do percurso lógico-histórico do conceito do
Cálculo possibilita aos alunos relacionarem tal conhecimento a um modo de leitura de
mundo e de sociedade, dando-lhes oportunidades de serem capazes de transformarem
a sociedade à sua volta.
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INTRODUÇÃO
Olhar para o sol, para a nossa lua, para as estrelas era uma prática comum da
Humanidade. Desde tempos remotos o ser humano olha para o céu buscando admirar
suas belezas e desvendar os seus mistérios. Quem nunca parou para observar um dia
ensolarado, uma noite estrelada, a lua ocultada pelas nuvens? O desenvolvimento cien-
tífico trouxe olhares mais nítidos sobre as realidades do universo. Mas isso, fez com que
as pessoas abandonassem as práticas antigas de observação do céu para contemplação
e percepção dos sinais que a natureza oferece sobre o que se passa na Terra e no Céu. As
pessoas do século XXI precisam redescobrir o céu reconhecendo-lhe as belezas e os
sinais que indicam os fenômenos naturais. Pouco se tem estimulado os estudantes na
curiosidade dos conhecimentos astronômicos. Os mecanismos de cultura de massa ainda
que tenha muitas informações sobre o que se passa no universo, não se empenharam
para a educação do olhar para apreensão desses conhecimentos.
Por ser, provavelmente, o mais antigo conhecimento da Humanidade, a
Astronomia pode ser entendida como sendo a ciência-mater que abarca uma
1 Doutoranda em Educação em Ciências e Matemática pelo PPGECM/UFG. Docente de Matemática na Rede Muni-
cipal de Goiânia. moraeseliz@gmail.com
2 Mestra em Educação em Ciências e Matemática pelo PPGECM/UFG. Docente no Departamento de Biologia do
CEPAE/UFG. regianemachado0311@gmail.com
[ 527 ]
528 Elizandra Freitas Moraes Borges; Regiane Machado de Sousa Pinheiro
• Johannes Kepler, 1571 d.C. – 1630 d. C., acreditava que a Matemática funda-
mentava os fenômenos da natureza e que o Sol ocasionava os movimentos rela-
cionados ao Sistema Solar;
• Galileu Galilei, 1564 d.C. – 1642 d. C., realiza as primeiras observações astronô-
micas com a utilização de um instrumento óptico;
• Isaac Newton, 1643 d.C. – 1727 d. C., em sua obra Principia descreve a Lei da
Gravitação Universal e as conhecidas três Leis de Newton.
Assim, a Astronomia ganhou popularidade devido à publicação de uma grande
quantidade de livros que desempenharam e desempenham o papel de divulgação e
popularização desses conhecimentos. Atualmente, observamos que esse conheci-
mento é estudado pelos estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º
ano) apenas nas disciplinas de Ciências e de Geografia, embora se relacione com outras
áreas do conhecimento.
Nesse sentindo, a condução do processo de ensino e aprendizagem dos estudantes
é um dos deveres da escola, em particular do professor. Nesse aspecto, a maioria dos
educadores atribui ao livro didático um ponto de destaque entre os diversos recursos
didáticos que podem ser utilizados. Com isso, o livro didático é muito utilizado na
Educação Básica como material de apoio para professores e estudantes e, por isso, con-
solidou-se como componente principal do processo de ensino e aprendizagem (LOPES;
VASCONCELOS, 2012). Ao mesmo tempo Lajolo (1996), ao analisar o uso do livro didático
no Brasil, mostra que este instrumento determina decisivamente, talvez de forma exces-
siva, os conteúdos e estratégias de ensino. Mesmo assim, ainda se destaca como um
importante recurso na educação formal, tornando-se, às vezes, o único instrumento
usado pelos professores e estudantes como guia de todo o processo escolar. Nesta situa-
ção, a autora supracitada argumenta que o livro perde o seu principal objetivo que é exa-
tamente o de apoio e não de determinação de conteúdos e estratégias de ensino,
apontando, de forma decisiva, o que se ensina e como se ensina.
Dessa maneira, a mediação do professor é necessária no processo de seleção e
utilização do livro, permitindo que se estabeleça um diálogo entre o que diz o livro e o
que pensam os estudantes. Para Lajolo (1996, p. 6), “o bom livro didático diferencia-se
do livro didático ruim pelo tipo de diálogo que estabelece com o professor, durante o
planejamento do curso”. Assim, nem o melhor dos livros didáticos compete com o pro-
fessor, que melhor do que qualquer recurso didático conhece a realidade e necessi-
dade de seus estudantes.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada pautada na abordagem qualitativa, uma vez que se importa
mais com o processo do que o produto e procura entender os acontecimentos a partir da
perspectiva dos participantes, ou seja, como estes entendem as questões que estão
sendo abordadas durante a pesquisa (TRIVIÑOS, 2013). Devido à própria natureza dos
objetos de estudo, optamos pela pesquisa documental, pois “se constitui numa técnica
valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações obti-
das por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema”
(LÜDKE; ANDRÉ, 2014, p. 38). Destarte, na área da Educação, esse tipo de pesquisa
A coleta de informações dos livros foi realizada por meio da leitura dos quatro volu-
mes de cada coleção de forma a encontrar a presença da Astronomia nas sessões de
cada livro didático. Desta forma, elaboramos uma matriz de coleta de dados com os
seguintes parâmetros: ano escolar, o conteúdo matemático, a página onde está locali-
zado o conteúdo de Astronomia correspondente e sua relação com a matemática e, em
qual sessão do livro didático está inserida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Relação com a
Ano Tema Pág. Seção no livro
astronomia
Múltiplos e divisores 104-105 Calendários Página de abertura
do capítulo 5
6º Múltiplos e divisores 120 Sistema solar Contexto
Medidas de tempo 259-261 Calendários e Ano bissexto Contexto
Subdivisão do grau 204 Latitude e longitude Exemplo no texto
do capítulo
7º
Subdivisão do grau 210 Pontos cardeais Contexto
Ângulos 31 Eclipse solar ENEM e OBMEP
Potências e raízes 32-33 Estrelas Página de abertura
do capítulo 2
Notação científica e 39 Distância de alguns Atividades
8º distâncias planetas ao Sol
Distâncias 40 Constelações Contexto
Conjuntos numéricos 69 Constelações Refletindo sobre o
(ideia de infinitude) capítulo
Equações do 2º grau 28-30 Satélite artificial Página de abertura
do capítulo 2
Equações do 2º grau 37 Galileu Galilei (Queda livre) Contexto
9º
Relações trigonométricas 187 Sol (raios solares) Atividades
no triângulo retângulo
Fonte: As autoras.
Por meio da análise realizada, observamos que as obras apresentam uma série de
seções nas quais se destacam a contextualização da Matemática em práticas sociais e a
articulação interna entre os seus diversos campos do saber. Percebemos que os concei-
tos referentes à Astronomia são abordados nas coleções, em todos os Anos Finais do
Ensino Fundamental, aparecendo com maior frequência nos livros didáticos do sexto e
oitavos anos.
Em relação aos temas de Astronomia, percebemos que os conteúdos abordados se
assemelham, embora nos livros didáticos do 6º e 7º anos da Coleção 1, há uma maior
incidência e diversidade de conteúdos de Astronomia relacionados com a Matemática. Já
nos livros do 8º ano, essa incidência ocorre na Coleção 2. No livro didático do 9º ano de
ambas as coleções há apenas semelhança em relação a um conteúdo: Trigonometria.
Estes temas da Astronomia proporcionam o despertar do interesse dos estudantes por
englobar conceitos relacionados diretamente a situações do cotidiano da vida na Terra e
fora dela.
Dessa maneira, entendemos que apesar de forma ainda incipiente, a Astronomia
vem saindo do domínio exclusivo das Ciências Naturais (PCNs do ciclo 3, bloco temático
Terra e Universo) e Geografia (PCNs do ciclo 3) dos Anos Finais do Ensino Fundamental e
assumindo o posto que lhe seja de direito – de ciência multidisciplinar que abre caminhos
para o conhecimento.
No processo de ensino, devemos sempre oferecer conteúdos significativos e
atualizados a nossos estudantes, e isto deve ser feito de forma interdiscipli-
nar e em ambientes que sejam ricos em variáveis de aprendizagem. Para isso,
a apreciação isolada dos conteúdos de cada área de conhecimento, não é
capaz por si só de dar significado aos mesmos, e o uso da Astronomia é um
dos caminhos. Só pela articulação dos conhecimentos, através de uma siste-
matização mais abrangente, é possível dar significados e reconhecer os prin-
cípios norteadores de cada área no cotidiano (BARRIO, 2010, p. 161).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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UNIDADE III
Ciências
Humanas e
Educação
Física
INTRODUÇÃO
Este artigo almeja expor as ações implantadas pelo Pibid da Educação Física, no
período de 2014 a 2018, contemplando quatro anos de execução de atividades, retra-
tando a introdução à docência, a formação de professores e a Educação Física.
A Universidade Federal de Goiás (UFG), Regional Jataí (REJ), em 2014, optou pela
continuidade do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). No curso
de Educação Física, houve mudança da coordenação de área e nova seleção de bolsistas.
Nessa oportunidade, também foi selecionada outra escola parceira, que oferece as séries
iniciais e finais do ensino fundamental, e que somava 501 alunos matriculados, em 2014,
dos quais 268, que frequentavam o turno vespertino, foram contemplados com o recreio
1 Trabalho vinculado ao Nesec – Núcleo de Estudos Sociedade Educação e Cultura, grupo de pesquisa cadastrado
no CNPq. Fonte de financiamento do Pibid: Capes.
2 Docente dos cursos de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Goiás, Regional Jataí. Doutora em Educação. E-mail: renatafef@hotmail.com
3 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí. Bol-
sista Capes. E-mail: gustavo.ufg@hotmail.com
4 Docente dos cursos de Educação Física da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí. Doutora em Ciências da
Saúde. E-mail: lilianfrbrait@gmail.com
[ 541 ]
542 Renata Machado de Assis; Gustavo Ferreira dos Santos; Lilian Ferreira Rodrigues Brait
5 Apesar destes números se referirem ao ano de início do Pibid na escola parceira, nos anos subsequentes não
houve muita oscilação.
Logo, segundo o que foi exposto, o objetivo do Pibid Educação Física (2014-2018)
foi aproximar o acadêmico do curso de licenciatura em Educação Física da REJ/UFG do
cotidiano escolar, para que ele se reconhecesse na função de docente, bem como cola-
borar com a escola parceira, na permuta de conhecimentos e experiências didático-pe-
dagógicas. Este trabalho exibido no congresso objetiva expor as experiências e
conhecimentos desenvolvidos no período de quatro anos de funcionamento do pro-
grama, em Jataí-GO.
PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o passar dos anos tem-se verificado que o número de ingressantes no curso de
Licenciatura em Educação Física/REJ/UFG vem diminuindo. E mesmo aqueles que optam
pelo curso, nem sempre, após concluir sua formação, têm o interessam em exercer sua
função em escolas, elegendo outros ambientes. Assim, é importante estimular os acadêmi-
cos a buscarem a escola como espaço de atuação profissional, e o Pibid foi um distinto
aliado nesta aproximação dos futuros docentes com seu meio de trabalho. Os acadêmicos
exerceram a prática pedagógica na escola durante a participação no Pibid, o que propor-
cionou o ensejo de harmonizar o conteúdo teórico e metodológico instruído no período de
sua formação com os subsídios da realidade escolar, como a proposta pedagógica, o
ambiente físico, as relações interpessoais, o material pedagógico, entre outros aspectos.
De tal modo, procurou-se alcançar o escopo de que a exercício pedagógico do profissional
de Educação Física e a analogia teoria-prática sempre permanecesse presente em todos os
períodos que fizeram parte desta ação do educador: no programa, na operacionalização e
na avaliação/ponderação sobre seus afazeres, que são dados essenciais para que o acadê-
mico passe a se sentir seguro sobre seus atos como professor. A escola também foi favore-
cida pois foi contemplada a maior parte das séries ofertadas.
A formação inicial precisa ser encarada com um sentido amplo, porém os saberes
dos professores se ocasionam de diversas fontes, e os saberes da formação, de acordo
com Borges (2004, p. 113) “não podem ser analisados isoladamente, mas em relação aos
demais saberes e, especificamente, em relação aos saberes da experiência”. É necessário
ponderar, segundo a autora, as habilidades, atitudes, conhecimentos, competências e
aptidões docentes, em suma, o que nomeamos de saber, saber fazer e saber ser, e tam-
bém, é necessário que o docente apresente cultura geral, domine a ciências da disciplina
que ministra, sinta prazer em lecionar, aprecie seus alunos, consiga ler, interpretar e
compreender, apresente anseio de transformar, tenha posicionamento crítico e criativo,
admita seus limites e possibilidades, dentre outros atributos.
Pimenta (2008) afirma que parece ser necessário repensar a formação de profes-
sores, em contraposição à desvalorização profissional docente e às percepções que o
analisam como singelo técnico replicador de conhecimentos, ou monitor de programas
pré-elaborados. Para a autora, cada vez mais se torna indispensável sua atuação na socie-
dade, enquanto mediador da constituição da cidadania dos educandos, para que alcance
a suplantação do fracasso escolar e de suas disparidades.
De tal modo, o exercício docente do profissional de Educação Física e a analogia
teoria-prática permanecerá presente nos períodos que compõem a ação do educador:
na idealização, na ação e na avaliação/ponderação a respeito de seu trabalho, que são
subsídios primordiais para que o acadêmico passe a se sentir confiante sobre seus atos
como professor.
A possibilidade de passar um tempo maior na escola, observando, abarcando a cul-
tura da instituição, usando registros como análise de documentos, fotografias, entrevis-
tas, gravações, permite entender melhor como as relações se estabelecem e quais são as
informações presentes no contexto escolar. Isso pode enriquecer a formação do profes-
sor, e essa possibilidade o Pibid oferece, durante o desenvolvimento do programa.
O planejamento é imprescindível para que o trabalho do professor seja realizado
com maior possibilidade assertiva e, para além dele, a reflexão sobre a ação do professor
é indispensável, pois permite averiguar se os objetivos traçados foram alcançados, se a
metodologia estava apropriada e, sobretudo, orientar os alunos para que possam pros-
perar em suas aprendizagens. Portanto, o feedback para possíveis alterações no
Mesmo não sendo ligado diretamente ao curso de formação, assim como o estágio
(disciplina que tem estas características), pode-se assegurar que o Pibid proporciona esta
prática de ensino. Através do Pibid os acadêmicos têm a oportunidade de experienciar o
contexto escolar de forma ampla, abarcando as conjunturas didático-pedagógicas, a
estrutura material e física, as interrelações pessoais, ficando verdadeiramente envolvi-
dos com a equipe pedagógica.
As obras organizadas por Pimenta (2006) e Nóvoa (1999) apontam, em seus capítu-
los, que para ser bom professor é necessário trabalhar a práxis docente e estabelecer
uma associação de saberes e de exercícios específicos do ofício da docência. E o Pibid
proporciona justamente isso, a possibilidade de trabalhar a práxis, debater, discutir e
conjeturar acerca das ações pedagógicas desempenhadas na escola, a partir de conheci-
mentos alcançados nos anos iniciais do curso de formação, que nos orientam com alicer-
ces sistematizados dos conteúdos que necessitam ser aplicados no campo da prática.
Através do desempenho no Pibid, é permitido ao bolsista observar, sob novos pon-
tos de vista, os procedimentos pedagógicos, a analogia ensino-aluno-aprendizagem,
além de ministrar circunstâncias que os instruirão a andar por caminhos díspares para o
melhor trabalho em sala de aula (CARDOSO et al., 2012).
O Pibid proporciona ao acadêmico a oportunidade de experienciar todos os passos
que um educador terá que atingir na escola, como preparação de planos de ensino, ava-
liação dos alunos, efetivação de regências, entre outros, portanto o programa é de
extrema importância para todos os cursos que possuem a modalidade licenciatura
(SANTANA; CARBALLO, 2015).
Quanto às ações dos acadêmicos de Educação Física no Pibid, Santana e Carballo
(2015) afirmam que estes desenvolvem as ações suplantando as possibilidades de confli-
tos, o egocentrismo, tanto durante o planejamento como no exercício coletivo. E, ainda
que sejam direcionados, tanto na escola que os acolhe quanto na universidade, não
existe individualidade, pois um acadêmico instrui-se com o outro, exercita a solidarie-
dade no dia-a-dia, passa a ser ajuizado pelo grupo. Esse treinamento para se tornar pro-
fessor, permite refletir sobre o ofício docente, em como o trabalho em equipe é rico ao
favorece o desenvolvimento de todos, e concomitantemente, estabelece empenho com
a proposta educacional.
Os autores asseguram que a qualidade das aulas enriquece, com a agregação Pibid
e Educação Física, pois os bolsistas ampliam a percepção de que a realidade exibida na
teoria é simples em comparação com a realidade proporcionada nas escolas na vida real.
Além disso, a vivência na escola faz com que os acadêmicos aprendam a trabalhar de
diversas maneiras com os materiais existentes, pois não é possível encontrar variedade
de recursos materiais em todas as escolas. E com a presença de outras pessoas, as aulas
de Educação Física tornam-se dinâmicas, com a execução de novos conteúdos, possivel-
mente nem trabalhados antes.
Os acadêmicos de licenciatura em Educação Física possuem poucas disciplinas que
trabalham com os anos iniciais, no entender de Welter, Welter e Sawitzki (2012) e, desta
forma, para os autores, quando o Pibid é realizado com crianças pequenas, é possível que
haja novas estratégias pedagógicas, durante as aulas, além de fornecer um maior contato
dos acadêmicos com esta faixa etária, pois o tempo destinado pelo estágio obrigatório
para esta finalidade é pouco.
O Pibid trouxe diversos benefícios para seus bolsistas e Rocha (2012) destaca o pro-
grama como positivo no que se refere à contribuição para a formação docente, por pro-
piciar aos alunos da licenciatura o contato com o contexto escolar, com o cotidiano, e por
fomentar atividades de planejamento e execução das ações pedagógicas, no sentido da
prática reflexiva, no ambiente de sala de aula, de forma a se aproximar da tarefa diária
dos professores em exercício. Esta forma de vivenciar a prática em conjunto com a refle-
xão transforma-se “em experiências da docência, isto é, conhecimento didático/pedagó-
gico construído pela experiência da docência” (p. 21).
Diante do exposto, é possível afirmar que o Pibid auxilia o graduando em sua for-
mação acadêmica e profissional, e percebe-se que isso vem sendo feito ao logo de seus
anos de atuação, tendo os próprios estudantes e formados do curso de licenciatura em
Educação Física da UFG/REJ que participaram do programa como exemplos, pois a opi-
nião destes indivíduos, de forma quase unânime, é a de que o programa contribuiu muito
para melhorar sua aprendizagem durante a formação inicial, pois conseguiu prepará-los
para atuar no ambiente escolar e possibilitou conhecer, ainda durante o curso de gradua-
ção, os desafios e dificuldades encontrados na escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
[ 554 ]
EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO E O DESENVOLVIMENTO DO ADOLESCENTE 555
norteadores das relações de produção e das forças produtivas. Dentre essas instituições
destacamos a escola, um espaço educativo contraditório e complexo em que a ideologia
do capital tende a direcionar e controlar princípios, motivos, objetivos, conteúdos e
metodologias, mas, em nosso entendimento, ainda guarda no trato das disciplinas esco-
lares um importante potencial formativo.
Neste contexto de dilemas, destacamos a educação física enquanto componente
curricular no ensino médio, desenvolvida numa dinâmica contraditória entre formação/
deformação da consciência de professores, alunos, suas famílias, demais trabalhadores
da educação e comunidade escolar. Uma disciplina escolar obrigatória presente no currí-
culo do ensino médio que historicamente trava variados desafios para garantir a própria
legitimação de sua importância, necessidade e contribuições no desenvolvimento dos
estudantes (ORTIGARA, 2002).
Conforme Bungenstab e Lazzarotti (2017), a discussão da Educação Física no ensino
médio como componente curricular obrigatório é muito recente, imatura, eclética e exis-
tem muitas tensões. As publicações, nos últimos 15 anos, demonstram que temas rela-
cionados à Educação Física no Ensino Médio são escassos e, quando tratados em sua
maioria, estão ligados à discussão de problemas imediatos sobre corpo ou saúde dos
adolescentes. De acordo com os autores, “[...] o campo da EF tem produzido pouco ou
quase nada sobre o tema, o que justifica a própria análise da crise do EM, mas também
esse diagnóstico nos ajuda a fazer uma autocrítica do campo, que precisa pesquisar mais
e melhor sobre esse tema” (p. 25).
Atualmente no Brasil, destacamos na discussão supracitada a relação com o con-
texto da reforma do Ensino Médio e da implementação da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC). A Educação Física como conhecimento escolar no ensino médio tor-
nou-se uma problemática importante que pode nos ajudar a pensar o projeto educacio-
nal em vigor: uma disciplina escolar com grande influência histórica das reestruturações
produtivas do capital nas funções pedagógicas-didáticas, considerada de maneira geral
como espaço de ampliação de competências e habilidades voltadas a socialização, entre-
tenimento e apaziguamento das tensões próprias dos adolescentes dentro de uma socie-
dade pautada pela contradição entre capital e trabalho, principalmente, no trato com a
articulação entre princípios morais e a saúde tendo como eixo a aptidão física; por outro
lado, tem sua existência atualmente no currículo escolar do Ensino Médio questionada,
pois é entendida como componente curricular não necessário, que “rouba” um tempo de
estudo que poderia ser empregado nas disciplinas que “realmente importam”, no caso
da atual reforma, Língua Portuguesa e Matemática (DIAS JÚNIOR, 2016).
Diante da contradição acima, é possível iniciar a percepção do contexto em que
emerge a necessidade e relevância desta pesquisa sintetizada em artigo científico, não
como algo advindo da subjetividade isolada intrapsíquica do pesquisador, mas sendo
uma necessidade da realidade educacional concreta, ligada às determinações materiais
objetivas da atual organização da vida produtiva. Uma investigação que se materializam
na relação entre o lógico, histórico, psicológico e as possibilidades e contribuições da prá-
tica pedagógica da educação física no ensino médio no trato dos conhecimentos científi-
cos, filosóficos e artísticos organizados e sistematizados para o desenvolvimento de
todos os adolescentes.
Nesta pesquisa constituída da realidade destacamos a teoria histórico-cultural e a
teoria do ensino desenvolvimental como sínteses que podem nos ajudar a pensar o des-
velar do objeto em investigação, ou seja, o ensino da educação física no ensino médio e
o desenvolvimento do adolescente. Conforme Aquino (2017) a teoria do ensino desen-
volvimental desenvolvida inicialmente por pedagogos e didatas russos desde a década
de 1970, traz como objeto geral a pesquisa sobre o ensino escolar voltada ao desvela-
mento dos processos do desenvolvimento dos estudantes, desenvolvida por Davídov
(1988) e colaboradores, daí a expressão “ensino desenvolvimental”. Conforme o refe-
rente autor, esta teoria se fundamenta na teoria histórico-cultural através da reflexão e
análise da organização e reorganização de tarefas de estudo que possam levar os estu-
dantes a mudanças em direção a um novo nível de desenvolvimento de suas capacidades
mentais/físicas.
O interesse sobre o objeto de pesquisa em questão emerge dos desdobramentos
da investigação que realizamos no mestrado, sobre o currículo da Educação Física na
Rede Estadual de Ensino de Goiás. Nesta pesquisa, desvelamos um currículo funda-
mentado numa concepção curricular pragmática, relativista, eclética, multiculturalista
e fetichizada, com implicações no ensino (DIAS JUNIOR, 2016). A realidade com a qual
nos deparamos na pesquisa supracitada, ao entrevistarmos professores de Educação
Física da rede estadual, trouxe novas inquietações e questionamentos, para além do
currículo escolar, levando-nos à necessidade de dar continuidade àquela investigação,
aprofundando-nos nas questões sobre a organização do ensino dessa disciplina no
Ensino Médio, bem como sua importância e necessidade no processo de desenvolvi-
mento dos adolescentes.
O lógico e histórico, a que nos referimos neste artigo, trata sobre a estrutura e
dinâmica da constituição e desdobramentos das funções pedagógicas atribuídas à
2 Art. 1º A presente Resolução atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, a serem observa-
das pelos sistemas de ensino e suas unidades escolares na organização curricular, tendo em vista as alterações
introduzidas na Lei nº 9.394/1996 (LDB) pela Lei nº 13.415/2017.
os sentidos da vida para as questões isoladas do cotidiano como parte da realidade, dimi-
nuindo a visão ampla de totalidade sobre os objetos e fenômenos, enfatizando os aspec-
tos empíricos. Logo, observam somente por um lado as questões da vida de acordo com
interesses imediatos, aprofundando-se nas contradições da realidade. E, diante de uma
visão egocêntrica, começam a considerar as suas próprias ideias, ainda na superfície da
aparência, tendo a gênese da fonte das verdades e o critério que orienta os sentidos e
significados dados às atividades, aos objetos e às relações sociais ao seu redor.
Nesse emaranhado de contradições que compõem e constituem os processos de
formação do psiquismo na adolescência, destaca-se, ainda, a contradição através da qual
o adolescente, em processo de transições formativas no plano material e ideal da vida e
da constituição potencial da capacidade de apropriar de conceitos mais complexos, ima-
gina, por meio de reflexos da vida cotidiana, que é capaz de realizar ações incabíveis
diante das condições históricas materiais da realidade. Constroem, assim, uma imagem
fantasiosa que desconsidera a realidade e as circunstâncias concretas da vida, tendo na
imaginação, criatividade e fantasia os elementos de grande importância para dar saltos
qualitativos nas atividades desenvolvidas e nas funções psíquicas (VIGOTSKI, 2009).
Desse modo, a gênese, a estrutura, as propriedades e a dinâmica do desenvolvi-
mento do adolescente é produto complexo de uma das fases do sistema de periodização.
Ele é compreendido pelos nexos reais e concretos da realidade, e estabelecido entre a
evolução da maturação sexual, as mediações das formas e determinações histórico-cul-
turais, o nível de formação das funções psíquicas e o grau de desenvolvimento das ativi-
dades guias. Por sua vez, estas se ligam às necessidades, aos motivos, aos interesses, às
operações e ações que o adolescente estabelece e constitui, no decorrer da história,
dentro das relações sociais. “Cada geração começa, portanto, a sua vida num mundo de
objetos e de fenômenos criados pelas gerações precedentes” (LEONTIEV, p. 284, 1978).
Afirmamos, assim, que é a partir do entendimento da atividade psíquica/física
indissociável das práticas culturais e das condições históricas, que devem ser realizadas
as análises da mediação da educação física no desenvolvimento do adolescente no ensino
médio. Vigotski (2004, p. 237) afirma que “[...] a cultura e o meio ambiente refazem uma
pessoa não apenas por lhe oferecer determinado conhecimento, mas pela transforma-
ção da própria estrutura de seus processos psicológicos e pelo desenvolvimento nela de
determinadas técnicas”.
Por meio da mediação organizada e sistematizada de maneira pedagógica-didática
dos signos e significados da educação física, composto pelos conhecimentos científicos,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa análise nos ajuda a compreender que a forma, o conteúdo e o grau da utiliza-
ção e desenvolvimento da força de trabalho, transformada em mercadoria no modo de
produção capitalista, são importantes determinações na efetivação da aptidão física
como eixo para as transformações e delimitações das funções pedagógico-didática da
Educação Física ao decorrer da história. Encontra-se, assim, um sentido lógico, histórico
e psicológico, permeado de várias contradições que nos ajudam a compreender a neces-
sidade de nos aprofundarmos na apreensão e construção de uma perspectiva pedagógi-
co-didática específica para Educação Física escolar. Trata-se de uma proposta que possa
nos orientar no trato da relação entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento, desta-
cando a relevância desse conhecimento para o âmbito do ensino médio e para a forma-
ção omnilateral3 dos estudantes.
A função da Educação Física escolar torna-se essencial nesta formação como uma
das várias formas específicas de contribuir com essa ação educacional, destacamos a
superação das dicotomias entre a formação intelectual e física, trabalho manual e inte-
lectual, o corpo e a mente, a teoria e a prática, o biológico e o cultural. Trata-se de uma
prática pedagógica que no âmbito do ensino médio que, de maneira mediada e sistema-
tizada pelo trato didático dos conceitos, pode, especificamente, colaborar no desenvol-
vimento do adolescente de modo a enfatizar a unidade peculiar entre o cognitivo e o
biológico, influenciando na formação das dimensões intelectual, física, ética e estética.
Trata-se de promover, a partir de seus conteúdos, novas formas de pensamento, conhe-
cimentos considerados como “significações objetivas” entendidas na essência como pro-
duto da relação entre os elementos e mecanismos contraditórios dos conhecimentos da
cultura corporal e a prática social.
Ao afirmarmos que o desenvolvimento sucede a aprendizagem mediada pelo
trato com o objeto do conhecimento, com a ajuda do sujeito mais experiente, o caráter
diretivo do ensino da Educação Física para o desenvolvimento deve estar relacionado
ao desenvolvimento das bases do pensamento por conceitos. Para tanto, não basta
que o adolescente tenha o contato com os conhecimentos da Educação Física através
de qualquer aula, necessita, antes, de uma organização do ensino muito bem
3 O conceito de formação omnilateral busca a relação entre trabalho e educação, num processo educacional do
ser enquanto ser social em sua totalidade, com especialização e universalidade no sentido da humanização, da
transformação da sociedade e da emancipação dos princípios do mercado. Deve promover um desenvolvimento
total, completo, multilateral, alcançando um fim educativo que eliminará o caráter unilateral.
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INTRODUÇÃO
1 Professor Convidado no Curso de Especialização em Educação Infantil da Universidade Federal de Catalão; Mes-
trando em Educação Física na FEFD/UFG.
2 Professora de Educação Física e aluna no curso de Educação Física Escolar – FEF/UFG/CATALÃO.
[ 574 ]
FUNDAMENTOS DA DIDÁTICA HISTÓRICO-CRÍTICA 575
MÉTODO
3 Martins (2011), (2013), (2015); Marsiglia (2016); (2013); Silva (2018); Silva (2013)
4 Referimo-nos a superação de relatos e obras inspiradas em Gasparin (2002) que já foram refutadas por Silva
(2013), Silva (2018), Lavoura (2015), Marsiglia (2013), prioritariamente por não contemplar o caráter dialético
dos momentos componentes do método.
PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
DA DIDÁTICA
5 Uma crítica consistente ao livro “Uma didática para a pedagogia histórico-crítica” já foi feita por Lavoura & Mar-
tins (2017), apontando equívocos e superando por incorporação alguns conceitos.
processo que vai da síncrese à síntese pela mediação da análise, perpassando dialetica-
mente pelos momentos supracitados.
Em síntese, destacamos que a pedagogia histórico-crítica compreende que a didá-
tica deve ser desenvolvida de forma sistematizada e intencional, exigindo o planejamento
de conteúdos clássicos de modo articulado a cada etapa do desenvolvimento, captando
a dialeticidade do método pedagógico que não segue uma sequência linear de passos,
pois a problematização, instrumentalização e catarse concomitantemente são objetiva-
das na prática social global (MARSIGLIA et al., 2019).
6 Este é um conceito inspirado nas obras de Soares (1997) e remete ao contexto de adestramento dos corpos de
acordo com as concepções de sociedade, o que também reverberava nos padrões estéticos.
7 Em Soares (1997) o debate da eugenia não se restringia somente à questão da etnia, envolvia outras dimensões
como constituição física, força individual e coletiva de uma nação.
O planejamento foi realizado à priori, visto que à luz desse referencial o professor
é o sujeito responsável pela conversão do saber científico em saber escolar, visto que o
processo de ensino acontece na pratica social, que nada mais é que a realidade objetiva.
Todavia, os objetivos supracitadas foram forjados à partir dessa prática social, visto que
o intuito das aulas é que ao fim do processo os alunos tenham uma compreensão quali-
tativamente mais ampliada da que obtinham no início (LAVOURA et al., 2015).
Esta proposta de ensino está fundamentada na psicologia histórico-cultural e na
pedagogia histórico-crítica, compreendendo essas teorias como unidade teórica para
educação escolar (MARTINS, 2011). A experiência aqui relatada é subsidiada por uma
percepção histórico-crítica de educação, pois quando se trata de pratica pedagógica não
se restringe apenas a elencar ações e estratégias, mas em fazer opções teóricas que sus-
tentam e orientam o projeto de ser humano que se quer formar. Essa ação de ensino
declara um objetivo central da pedagogia histórico-crítica que é garantir o acesso ao
conhecimento erudito às classes populares, visando a emancipação humana e a transfor-
mação social em caráter revolucionário.
Desse modo, essa experiência teve início com a contextualização teórica acerca
do corpo, ginástica e sociedade. Em aulas expositivas e leituras coletivas a turma do
1ºano do Ensino Médio pôde imergir no tema do trimestre. Essa contextualização ini-
cial e aprofundamento teórico foram intencionais e objetivos, visto que o professor no
processo de problematização iniciado no planejamento, já havia identificado os signos
necessários para socialização e as formas. Concomitantemente, acontece à instrumen-
talização que consiste na transmissão-assimilação via conteúdos clássicos a serem
internalizados e as formas mais adequadas para efetivação. A partir das leituras ini-
ciais, que competiam aos primórdios da ginástica na Grécia Antiga, partimos para
vivências e experimentações das modalidades desse período, onde as práticas corpo-
rais eram conhecidas como gymnastike8.
Para Crespo (1987) uma sociedade marcante para o desenvolvimento das ativida-
des corporais foi a Grega. Na Paidéia9 eles buscavam a formação de um cidadão perfeito
assim como os grandes heróis mitológicos, belos e honrosos. Nesse mesmo sistema edu-
cacional, os gregos almejavam uma educação do corpo e da mesma forma a evolução da
alma. A ginástica ficou como a responsável por contemplar as necessidades do corpo
saudável e exímio. Essa mesma Ginástica era sistematizada para cada faixa etária e sim-
bolizava quase tudo que eles entendiam como práticas corporais, sendo o atletismo
(Pentatlo), lutas, jogos, esportes, entre outros.
Não existe cultura sem corpo, e nem corpo sem cultura, pois segundo Taffarel e
Escobar (1987) a cultura corporal é fruto das relações do corpo humano com a natureza
sendo o “corpo” o próprio sujeito. O sujeito em sua totalidade se objetiva através da cor-
poralidade, exprimindo sua subjetivação da realidade concreta na realidade concreta.
O objeto de estudo da Educação Física é o fenômeno das práticas cuja cone-
xão geral ou primigênia – essência do objeto e o nexo interno das suas pro-
priedades –, determinante do seu conteúdo e estrutura de totalidade, é dada
pela materialização em forma de atividades, sejam criativas ou imitativas,
das relações múltiplas de experiências ideológicas, políticas, filosóficas e
outras, subordinadas a leis histórico-sociais. O geral dessas atividades é que
são valorizadas em si mesmas; seu produto não material é inseparável do ato
da sua produção e recebe do homem um valor de uso particular por atender
aos seus sentidos lúdicos, estéticos, artísticos, agonísticos, competitivos e
outros relacionados à sua realidade e às suas motivações. Elas se realizam
com modelos socialmente elaborados que são portadores de significados
ideais do mundo objetal, das suas propriedades, relações e nexos descober-
tos pela prática social conjunta (ESCOBAR; TAFFAREL, 2009, p. 173-174).
9 É a denominação do sistema de educação e formação ética da Grécia Antiga, que incluía temas como Ginástica,
Gramática, Retórica, Música, Matemática, Geografia, História Natural e Filosofia, objetivando a formação de um
cidadão perfeito e completo
10 “O movimento ginástico europeu foi, portanto, um primeiro delineamento deste esforço e o lugar de onde par-
tiram as teorias da hoje denominada Educação Física separaram o pensamento moderno em torno das práticas
corporais que se construíram fora do mundo do trabalho, trazendo a idéia de saúde, vigor, energia e moral
colocadas à sua aplicação.” (Soares, 1997, p. 10)
11 Surgiu com a finalidade de extirpar os vícios da sociedade, em especial o alcoolismo. Com a missão de regenerar
a população, possuía um caráter não acentuadamente militar, mas sim de adestramento. Deveria gerar indiví-
duos fortes que pudessem ser úteis à pátria, como soldados ou trabalhadores civis (SOARES, 2004).
12 A ginástica francesa surgiu baseada na ciência e voltada a vida civil, mas tinha um forte espírito militar marcante
(SOARES, 2004).
13 A FIG atualmente é composta de 5 comitês sendo 4 relativos às modalidades competitivas (Ginástica Artís-
tica Masculina, Ginástica Artística Feminina, Ginástica Rítmica Desportiva e Ginástica Aeróbica) e um relativo a
Ginástica Geral que tem caráter demonstrativo.
magérrimo que hoje é mostrado nas passarelas de moda, já outros são mais influencia-
dos pelas propagandas com um corpo ilusório14.
No processo de encerramento do trimestre, especificamente nas últimas semanas,
foi proposta a elaboração de uma apresentação de Ginástica Geral com o tema “O Corpo
e a Ginástica através dos tempos”, que serviria como uma das avaliações. Em grupos os
alunos elaboraram a coreografia, demonstrando domínio sobre os movimentos básicos
e sendo coerentes com as características dessa modalidade ginástica. Ainda nesse ensejo,
mostraram um salto qualitativo na compreensão crítica acerca do corpo e da ginástica,
elencando temas para as coreografias como “Atenas e Esparta: Corpo são, mente sã”;
“Educação dos corpos nas academias”; “Grécia e atualidade: Os atletas como os Deuses
de hoje em dia”; entre outros.
Essa culminância foi idealizada à luz da tríade da didática histórico-crítica, visto que
as formas e os conteúdos estão articulados dialeticamente ao destinatário. Nesse sen-
tido a atividade-guia da adolescência, período que se encontram os alunos é a comuni-
cação íntima e pessoal, onde os grupos de interesse e as descobertas sociais são
determinantes na formação genérica. Elkonin (1987) afirma que o processo de desenvol-
vimento é acompanhado de momentos de rupturas e saltos intercalados com momentos
de desenvolvimento gradual e contínuo. Estes momentos podem ser chamados de
“períodos ou fases” e que em cada fase do desenvolvimento humano é marcada com
uma atividade-guia.
A pedagogia histórico-crítica tanto na educação física, quanto em qualquer outra
área do conhecimento não pode esconder seu posicionamento político, que prioritaria-
mente, defende um sistema público de ensino que assegure a transmissão-assimilação
do saber sistematizado. Pela apropriação do conhecimento mais elaborado, o filho do
trabalhador poderá ter uma catarse e consequentemente uma compreensão dialética da
realidade, pelo par da particularidade (conceitos verdadeiros apreendidos na escola) e
universalidade (o projeto histórico-socialista) (DUARTE, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
1 Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Goiás. Professor da rede estadual de Mato Grosso.
Pesquisa sobre formação continuada de professores e ensino de geografia. ismaelcardoso4@hotmail.com.
2 O CEFAPRO surgiu em 1998. Nesse periodo, influenciado por politicas educacionais estaduais e federais, diver-
sificou muito a atuação na formação de professores, desenvolvendo politicas de formação inicial e continuada
do governo federal (Proinfantil e Gestar), oferecendo cursos de curta duração e acompanhando e intervindo nos
projetos de formação continuada desenvolvidos no locus das escolas.
[ 587 ]
588 Ismael Donizete Cardoso de Moraes
METODOLOGIA
fatos não sejam considerados fora de um contexto social e os dados estatísticos cedem
espaço para a análise e interpretação da prática social do grupo envolvido na pesquisa.
Uma supremacia dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos.
Esta tem sido a condução dada às pesquisas sobre formação de professores na
perspectiva histórico-cultural, nas quais o objeto é percebido em movimento e o sujeito
revela a qualidade das ações, algo dependente da finalidade, do contexto e da interde-
pendência. Assim, segundo Araújo e Moura (2012), um trabalho condizente com uma
abordagem da pesquisa qualitativa na perspectiva da pesquisa-ação nos leva a dois prin-
cípios fundamentais: as ações e instrumentos que garantam a participação efetiva de
todos os envolvidos, tanto no processo como no produto, e a compreensão do movi-
mento e da mutabilidade da objetividade do conteúdo dos conceitos e das teorias da
ciência, algo imprescindível para perceber as transformações no objeto e nos sujeitos.
Sendo assim, nesta pesquisa percorreremos elementos da pesquisa-ação por um
viés da teoria histórico cultural que possibilitará uma abordagem qualitativa da formação
e da atuação dos professores. Para isso serão utilizados como procedimentos de investi-
gação a observação, as narrativas dos professores e a entrevista, em um processo de for-
mação continuada e ação pedagógica com ponto de partida nos problemas práticos
profissionais. Constituindo-se, dessa forma uma metodologia centrada no processo de
mediação e formação profissional.
A observação será um importante procedimento para delinear os aspectos quali-
tativos de nossa pesquisa, pois para Gil (2008, p. 100) este instrumento desempenha
uma função essencial “desde a formulação do problema, passando pela construção de
hipóteses, coleta, análise e interpretação dos dados [...]”. Lüdke e André (1986) enten-
dem que esse instrumento abre espaço para uma ampla variedade de descobertas, per-
cepções, representações, sentimentos e aprendizagens em relação ao objeto, portanto
requer do pesquisador um rigor metodológico para poder ver, registrar, propor e modifi-
car as concepções do sujeito sobre o objeto, pois “[...] a experiência direta é, sem dúvida,
o melhor teste de verificação de ocorrência de um determinado fenômeno”. (Idem, p.
26). Assim, essencialmente a observação se constitui, para nós, um procedimento funda-
mental para perceber o movimento no processo de formação, ou seja, se ocorrem
mudanças na forma de conceber o referencial teórico crítico, o planejamento da organi-
zação do ensino, o desenvolvimento do planejamento em sala de aula e o processo de
aprendizagem e, segundo Gil (2008) e Marconi & Lakatos (2010), terá um caráter de
observação participante, pois no desenvolvimento da formação combinaremos a
REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial terá como base pesquisadores de três linhas: a formação inicial e con-
tinuada de professores, a teoria histórico-cultural e a epistemologia e ensino de geogra-
fia. Sendo que essas linhas se constituídas dialeticamente constituirão as bases para a
defesa da tese.
Assim, em termos de formação profissional continuada tomaremos como base:
Pérez (2000 e 2006), que discute a formação centrada nos problemas práticos profissio-
nais; Máximo e Carvalho (2009), por questionarem os modelos de formação continuada
desenvolvidos no Brasil e apresentarem o histórico da formação inicial e continuada no
estado de Mato Grosso; Libâneo (2010), que discute a fragmentação da didática e dos
conteúdos disciplinares dos cursos de formação de professores no Brasil; Demo (2007),
que desenvolve uma crítica ao processo formativo e aponta a pesquisa como condição
de superação das aulas expositivas; Araújo e Moura (2012), assim como Máximo e
Carvalho postulam a ideia de que o aumento da pesquisa não tem refletido na melhora
qualitativa da formação de professores, porém defendem uma base teórica histórico-
-cultural na formação como alternativa para superação do ensino tradicional; Shulman
(2010) e Pimenta (2002), que discutem os saberes docentes relacionando teoria e prática;
Lefebvre (2000), Kosik (2010) e Sánchez Vázquez (1977), por discutem a lógica dialética e
a totalidade como alternativa para a fragmentação da produção científica de base posi-
tivista e os elementos constitutivos da práxis reflexiva e criadora; Nóvoa (2009), que
questiona a ação docente prioritariamente caracterizada pela transmissão do conheci-
mento e potencializa a formação continuada na profissionalização docente; Imbernón
(2010), por defender que os cursos de formação continuada devem combinar atualização
científica e técnica com a vertente psicopedagógica, uma possibilidade para a superação
da fragmentação na formação apontada por Libâneo 2010, entre outros.
Sobre a concepção filosófica, psicológica e didática da teoria histórico cultural:
Vygotsky (2000, 2001, 2003 e 2011), referência para pensar no processo de desenvol-
vimento sócio histórico da psique (relação entre desenvolvimento e aprendizagem,
Zona de desenvolvimento proximal e mediação). Destaque para texto de 2011, tradu-
zido para o francês, que juntamente com os textos traduzidos para o espanhol têm
maior fidelidade do pensamento do autor, se comparados aos textos traduzidos para o
inglês e posteriormente para o português, principalmente no que concerne à fideli-
dade do pensamento do autor quanto à historicidade e o aspecto transformador;
Leontiev (2010), que discute o desenvolvimento psicológico infantil com parâmetro na
teoria da atividade iniciada por Marx, uma das bases para o desenvolvimento da teoria
histórico-cultural; Libâneo (2010, 2012, 2012b ), considera a formação fundamental
para o desenvolvimento de bases teóricas e epistemológicas com vistas à compreen-
são do papel didático-pedagógico na mediação da apropriação dos conceitos pelos alu-
nos em uma perspectiva da teoria histórico-cultural, além disso, discute a
internacionalização das políticas educacionais, principalmente a partir dos anos 90,
como referencial para a formação, a profissionalização e a atividade didático-metodo-
lógica dos professores no Brasil; Davydov (1988) criador da teoria do ensino desenvol-
vimental, uma didática epistemologicamente centrada nos pressupostos teóricos
(filosóficos e psicológicos) de Marx, Vygotsky e Leontiev.
Na epistemologia e ensino de Geografia: Carlos (2007) e Santos (2005), por discu-
tem o lugar como referência para pensar a relação local-global; Santos (2004 e 2006) que
desenvolve uma epistemologia do espaço; Souza (2013), que articula aspectos sensitivos
e históricos para pensarmos o conceito de paisagem; Cavalcanti (2008, 2013, 2014), por
pensar a cidade como parâmetro para o ensino de geografia, relacionar conhecimentos
cotidianos e científicos, além de pensar em uma didática para o ensino de geografia;
Couto (2009), que desenvolve os elementos constitutivos do ensino de geografia com
base nos pressupostos teóricos da teoria histórico-cultural e no ensino desenvolvimen-
tal, entre outros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
3 Além das 40 horas presenciais, foram consideradas 8 horas à distancia, como incentivo a leitura e realização de
atividades.
semelhanças e diferenças entre elas. Chamar atenção para as datas relativas a cada uma
das imagens.
A professora ainda estabelece que se deve explicar para os alunos que os lugares
próximos à escola também sofreram alterações com a passagem do tempo e que alguns
elementos surgiram e outros deixaram de existir. Utilizando a própria escola como refe-
rência, pesquisando sobre o aspecto do local antes e depois de sua construção e/ou
implementação e levando essas informações para os alunos.
Na síntese, trouxe três imagens para que os alunos classificassem a sequência
correta, da mais antiga para a mais recente e após respondessem o seguinte questio-
namento: O que aconteceu com a paisagem desse lugar? Fazer a socialização das res-
postas oralmente.
Para avaliar a aprendizagem, propôs perguntar aos alunos o que se pode per-
ceber quando observamos duas fotografias de um mesmo lugar em diferentes datas?
Quais ações realizadas pelo ser humano podem modificar as paisagens. Ainda afir-
mou que se realizaria através de perguntas que incentivem o raciocínio temporal da
turma, envolvendo os dias da semana, os meses do ano e questões de anterioridade
e posterioridade.
Embora nesse artigo fora apresentado apenas um dos sete planos elaborados, na
sequencia apresentamos uma síntese do nosso olhar sobre as mudanças na forma de
pensar das professoras considerando os sete planejamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
1 Professora Doutora Associada I do curso de Graduação e Pós-Graduação em Geografia, pela Universidade Fede-
ral de Goiás, Regional de Goiânia. Bolsista XXX. Pesquisa sobre Ensino de Geografia, Formação de Professores e
os componentes físico-naturais. E-mail: adrianaolivia.ufg@gmail.com
2 Graduanda do curso de Geografia/Licenciatura, pela Universidade Federal de Goiás, Regional de Goiânia. Pes-
quisa sobre Ensino de Geografia articulado ao conceito de paisagem geográfica e o encaminhamento metodoló-
gico dos jogos geográficos. E-mail: carolinecosta.prado@gmail.com
[ 610 ]
O ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS E O CONCEITO DE PAISAGEM GEOGRÁFICA 611
Afinal, mesmo que ainda não tenham tido contato com o conhecimento geo-
gráfico de forma organizada, os alunos são portadores de muitas informa-
ções e ideias sobre o meio em que estão inseridos e sobre o mundo, têm
acesso ao conhecimento produzido por seus familiares e pessoas próximas e,
muitas vezes, às informações veiculadas pelos meios de comunicação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
essa autora, a escola e as práticas de ensino de geografia têm o papel de promover a for-
mação geral do aluno para atuar na sociedade, ou seja, tem a finalidade primordial de
ação, trabalhar o aluno coletivamente.
Kaercher (2003) também nos direciona a refletir sobre o papel da Geografia na
ação e compreensão do espaço construído pelo homem, conforme afirma:
A Geografia não deve se restringir às aparências, ao visível. Devemos procu-
rar as causas, as origens dos processos que forma os espaços como eles são.
Para tal, devemos estar muito atentos à ação concreta dos homens, pois são
eles os construtores do espaço geográfico. (p. 230).
Para Almeida (1999, p. 83) a finalidade da Geografia […] é munir os alunos de conhe-
cimentos que lhes permitam agir de modo mais lúcido ao tratar das questões do espaço
em diferentes níveis. O ensino de Geografia tem, portanto, papel decisivo na formação
da cidadania.
A formação cidadã do aluno deve ser construída, continuamente em todas as eta-
pas da escolarização. Assim sendo, o ensino de Geografia pode contribuir para esta for-
mação ativa e consciente. Nesse sentido, Cavalcanti (2002), corrobora que:
[…] através da prática de construção de conhecimentos, habilidades e valores
que ampliam a capacidade de crianças e jovens compreenderem o mundo
em que vivem e atuam, numa escola organizada como um espaço aberto e
vivo de culturas. (p. 47).
A Geografia serve para pensar o espaço, mas para compreender o espaço que nos
envolve é necessário que se desenvolva o pensamento geográfico. De acordo com Callai
(2016), em entrevista para a Revista Brasileira de Educação em Geografia, o pensamento
geográfico é pensar a partir da dimensão espacial, do espaço construído.
O ensino de Geografia busca conduzir o estudante a uma análise crítica do cenário
que está a sua volta, ao qual, ele observa, comparando e identificando semelhanças em
pequena ou larga escala, estimulando, assim, a análise das conexões existentes, expondo
o vínculo dos acontecimentos, sendo eles próximos ou não. Tanto a diferenciação de
aspectos, quanto a distribuição espacial das coisas, a extensão e localização, são ideias
que devem ser desenvolvidas dentro de sala de aula com os estudantes, no ensino de
Geografia. Nesse caso, trabalharemos a paisagem como ferramenta que desenvolverá
esses princípios, no Ensino de Geografia.
O tema paisagem no ensino, devemos entender que a paisagem não é objeto ou
ferramenta de estudo utilizada exclusivamente pela Geografia, pois seu conceito e as
informações que abrange pode ser caracterizada por inúmeras áreas da ciência, mar-
cando aspectos distintos em uma única paisagem.
Por ser a paisagem um dos conceitos básicos da Geografia, percebemos de um lado
a posição que o professor assume ao ensinar por meio dessa temática e do outro a pos-
sibilidade de contribuição de diferentes áreas do conhecimento para avançar no enten-
dimento e de fazer um ensino consistente que envolva as questões cotidiana que os
alunos estão vivendo.
Quando utilizada a paisagem como ferramenta de ensino, o que devemos entender
sobre sua necessidade ao ser ensinada e aplicada como instrumento que auxilia a ins-
truir? Moreira (2008), em seu livro, Pensar e Ser em Geografia, estimula a consciência da
representação, pois “a ideia pode ser submetida ao fio crítico do debate”, permitindo o
desenvolvimento da nossa leitura de mundo, classificando o modo que participamos e
produzimos, desfazendo o dogma do conhecimento e estabelecendo os limites da teoria.
Assim, percebemos que várias observações são possíveis, e que as ideias estão sempre
em transformação na sociedade em que vivemos.
O estudo da paisagem consegue atribuir melhor aos alunos a compreensão de
mundo, pois o recorte que a paisagem faz, comparado diversos objetos de estudo da
geografia, tem uma escala mais detalhada, apresentando características decifráveis, que
Dentre as coisas que a paisagem pode revelar, os aspectos sociais devem ser abor-
dados de maneira mais sensitiva por ela, como: as relações de estrutura e de produção
da sociedade, o imaginário social, as crenças, os valores, os sentimentos das pessoas que
a constroem, as representações sociais dos alunos e professores.
A paisagem é potencializadora, destacando os objetos que compõe a imagem,
antecipa a leitura de mundo, investiga a cena e apresenta as características atuais da
imagem, contudo, não deixando de lado as características históricas. A relação com os
lugares vividos, os costumes que resgatam nossa memória, a identidade cultural, todas
essas características são bases para o desenvolvimento do ensino de Geografia nas
escolas, somos sujeitos da história, diferentes uns dos outros e ao dividirmos nossas
experiências formamos conceitos, o formarmos conceitos desenvolvemos um pensa-
mento crítico.
Para falarmos do ensino de Geografia, é necessário superar as primeiras impres-
sões ao olhar a paisagem, para que posteriormente os estudantes realizem essas análises
de forma natural. A fim de que o estudante pense além do “obvio”, o professor de
Geografia deve elaborar uma estratégia de ensino que os estimule aprender. Callai (2013),
aborda em seu texto, Estudar Paisagem para Aprender Geografia, como a paisagem mos-
tra a história dos lugares, já que ela é um retrato de um espaço, herança de processos
naturais e humanos, que é modificada constantemente de acordo com seu cotidiano.
A preocupação como professor, para o ensino de Geografia, é fazer com que os
educandos compreendam que o mundo em que estão vivendo e se relacionando pode
ser melhor compreendido através de um olhar geográfico, para que assim, aprendam
a entender o espaço representados no lugar em que estão vivendo, conhecendo o
lugar e entendendo a paisagem, buscando os motivos do que constituem o lugar e o
papel delas nessa construção, que saibam representar os símbolos que ocupam o
espaço e a matéria representada. O ensino de Geografia, a partir disso, pode contribuir
com a construção da compreensão de mundo em seu período de aprendizagem, tor-
nando-os conscientes de suas vidas.
As operações mentais comumente abordadas no ensino de Geografia para estí-
mulo do pensamento analítico de crianças através da paisagem são: observação, descri-
ção e análise investigativa. Essas praticas são essenciais para desenvolver uma linha de
raciocínio e bases seguras no desenvolvimento do conhecimento do aluno.
A paisagem, por si só, pode apresentar aspectos sociais, científicos, naturais, polí-
ticos, mas é necessário o desenvolvimento de um olhar crítico para que esses aspectos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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STRAFORINI, R. Ensinar geografia: o desafio da totalidade-mundo nas séries iniciais. São Paulo:
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INTRODUÇÃO
Hoje, um dos desafios para o professor, é encontrar diferentes meios para ensinar
de forma que o processo de ensino e aprendizagem aconteça de forma criativa e intera-
tiva. Esse desafio se intensifica quando pensamos em um ambiente escolar onde muitas
vezes, a prática de ensinar é desafiadora do ponto de vista da infraestrutura. É sabido
que várias escolas não possuem espaços físicos adequados para possibilitar diversidade
na forma de ensinar e aprender. De acordo com Satyro e Soares (2007, p. 7), prédios e
instalações inadequadas, a inexistência de bibliotecas, espaços esportivos e laboratórios,
a falta de acesso a livros didáticos, materiais de leitura, a relação inadequada ao tama-
nho da sala de aula e o número de alunos, são problemas que influenciam diretamente
no desempenho dos alunos, sendo portanto, mais um desafio a ser superado no coti-
diano da vida escolar.
Soma-se a essa questão, a dificuldade de acesso a materiais atualizados e contem-
porâneos, que possam mostrar conteúdos e exemplos para além do que é visto no livro
didático, de forma a ampliar o universo das informações e facilitar o processo de ensino
1 Graduada em Geografia pela PUC Goiás, professora da Rede Estadual de Ensino em Goiás.
E-mail: bruna.fariabfl@gmail.com
2 Doutora em Ciências Ambientais; Mestre em Geografia; Geógrafa. Professora do Curso de Geografia da PUC
Goiás. E-mail: nicalibleyer@hotmail.com
[ 624 ]
A CIDADE DE GOIÂNIA 625
e aprendizagem. Muitas vezes utilizado como único material pedagógico, o livro didático
limita e dificulta o trabalho pedagógico. Batista (2011) relata que hoje no Brasil estamos
acostumados a ver esse material sendo utilizado como principal, ou até mesmo como
sendo o único material de estudo, o que deixa o ensino desgastante e sem criticidade
para despertar no aluno a necessidade de aprender.
Silva (2014) relata ainda outra questão relacionada à falta de interesse dos alunos
na sala de aula. Segundo o referido autor, na maioria das vezes, os professores com con-
cepções tradicionais de ensino, sustentadas por uma lógica formal, que fragmenta a dis-
ciplina em conhecimentos separados, torna a aula enfadonha e desinteressante.
As questões apontadas evidenciam que não é apenas um fator que deve ser obser-
vado no processo de ensino e aprendizagem. Espaços físicos inadequados, ausência de
equipamentos e materiais pedagógicos, aulas fragmentadas e sem propostas de critici-
dade são alguns dos fatores que afetam a forma como os alunos irão se relacionar com
os conteúdos trabalhados em sala de aula. Mas não é só isso. Condições favoráveis de
trabalho e planejamento para o professor influenciarão nesse processo e para além dele
– na qualidade de vida docente. Há um consenso de que a atual condição de educação
no país desfavorece, deslegitima e enfraquece o papel da escola e dos professores na
sociedade. A escola e os professores estão precarizados.
Por insuficiência dos recursos destinados à educação, os professores e as
escolas têm vivido dificuldades enormes. Os primeiros têm enfrentado um
rebaixamento salarial grave e uma desvalorização social de sua profissão sem
precedentes. As escolas sofreram intensa deterioração e, como consequên-
cia, têm oferecido condições cada vez mais precárias para o trabalho docente
e para o estudo dos alunos. Isso gera sentimentos de fracasso e de frustra-
ção, que minam as possibilidades de os professores realizarem um trabalho
positivo (ALMEIDA, 2004).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo Palacín e Moraes (2008) Goiânia foi construída, para ser a capital do
Estado de Goiás e promover o povoamento das regiões Centro-Oeste e Norte. A constru-
ção da nova capital, uma das grandes obras do Brasil na época, ocorreu em terras per-
tencentes ao município de Campinas (hoje bairro de Goiânia), com projeto urbanístico
concebido para abrigar no máximo 50 mil habitantes Daher (2009).
Os primeiros edifícios erguidos na nova capital, ao redor da Praça Cívica, tiveram
seu modelo arquitetônico inspirado no estilo Art’Déco. As primeiras construções eram
prédios públicos, edificados para instalarem os órgãos de governo, mas “o estilo prefe-
rencial adotado por nove entra dez edifícios particulares no centro da cidade seguia essa
tendência ditada pela moda estabelecida pelos centros do poder, e ainda hoje constitui
maioria, em algumas áreas do centro de Goiânia e de Campinas”. (IPHAN/GO, 2010, p.
42).
construções e suas fachadas, que ao mesmo tempo são imponentes, mas também refi-
nadas e elegantes. As principais localidades recomendadas para visitação são: Grande
Hotel, Hotel Goiânia Palace, Palácio das Esmeraldas, Colégio Liceu de Goiânia, várias
casas localizadas na Av. Goiás, e na Av. Anhanguera. O Grande Hotel, diferente dos
demais, pode ser visitado por dentro. E nenhuma das localidades cobra ingresso, mesmo
algumas sendo propriedades particulares, tendo em vista que a visitação será feita
somente na parte exterior da casa. A duração do percurso pode variar, dependendo da
quantidade de casas visitadas. O trabalho vinculado a arquitetura da cidade permite a
articulação com os conteúdos de: paisagem urbana, história de Goiás – construção e
Goiânia, Goiás no contexto econômico e cultural brasileiro, orientação cartográfica, pro-
cesso histórico de ocupação e formação do território brasileiro. Como proposta pedagó-
gica sugere-se discutir na sala de aula, após a realização da visita, o que foi e o que
representou o movimento do Art Déco. Organizar um mural com o auxilio de fotografias
ou desenhos elaborados pelos próprios alunos, pode auxiliar a aproximação do aluno,
com a história e a arquitetura de Goiânia.
O Centro Cultural Jesko Puttkamer é um excelente espaço para uma visita técnica
por ser um local vocacionado para a preservação, conservação e divulgação do patrimô-
nio cultural dos povos pré-coloniais e indígenas brasileiros. Vinculado a Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, tem uma programação que contribui com o desenvolvi-
mento cultural da região e com a divulgação do patrimônio cultural, em especial, o
arqueológico e etnográfico, abrangendo: exposições semipermanentes e itinerantes;
mostras de vídeos; palestras e oficinas ludo pedagógicas, onde o público visitante não só
visita a exposição, mas, também participa das oficinas, palestras, mostra de vídeo e
outras atividades culturais. São oferecidas oficinas lúdico-pedagógicas, com representa-
ções da arte rupestre e artes corporais indígenas. O espaço conta com uma replica de
uma casa indígena da tribo dos Karajá e possui o Projeto Acessibilidade Comunicacional,
que tem por objetivo, atender pessoas com deficiência visual, tendo, como apoio peda-
gógico, réplicas de materiais arqueológicos e etnográficos para o toque, com legendas
em braile e ampliadas e áudio descrição. Está localizado na Av. T-3, n. 1.732, Setor Bueno
e seu horário de Funcionamento é de terça à sexta-feira das 08h30 às 11h30 e das 14h às
17h, com entrada gratuita. Durante todo o percurso da visitação ao museu há monitoria
com alunos do curso de Arqueologia da PUC GO e as visitações de escolas são feitas
mediante agendamento prévio. Nesse local é possível trabalhar conteúdos relacionados
à Natureza e a degradação ambiental; população e cultura brasileira; regionalização do
território brasileiro; Goiás no contexto econômico e cultural; Ecossistemas; Espaços
mundiais e problemas ambientais no mundo; relações entre o local e o global por meio
das manifestações culturais locais, da musica, do cinema, da comida, etc; valorização dos
patrimônios socioculturais goiano; processo histórico de ocupação e formação do estado
de Goiás; questões ambientais, sociais e culturais decorrentes do processo de globaliza-
ção mundial e suas implicâncias no Estado de Goiás e seus municípios. Como proposta
pedagógica para além da própria visita, indica-se trabalhar a espacialidade, a cultura e as
questões referentes à situação atual dos povos indígenas de Goiás, por intermédio de
uma pesquisa orientada, antes de realizar a visitação ao local. Após a visitação, trabalhar
a Cartografia através de um mapa de localização das terras indígenas no território goiano,
bem como organizar uma mostra sobre as influencias da cultura indígena em nosso modo
de vida: alimentação, vocabulário, etc, são formas práticas de demonstrar a importância
e a riqueza da multiculturalização.
Outro espaço bastate didático do ponto de vista da visitação é o Instituto Histórico
e Geográfico de Goiás (IHGG). O local que foi construído na década de 1930 na cidade de
Goiânia e guarda a memória cultural relacionada principalmente a Geografia e História
de nosso estado. O IHGG é mantido por sócios e não tem nenhum tipo de ajuda governa-
mental. Seus sócios são professores, escritores e artistas goianos, que lutam para manter
preservada um pouco da história do estado de Goiás. Os principais atrativos do IHGG são
a memória e o conhecimento dos seus sócios (os professores e escritores), que se dispõe
a ministrar palestras para escolas de todos os níveis. O espaço conta com auditório
próprio onde às palestras são realizadas e está localizado na Rua 82, nº 455 – St. Sul, fun-
cionando de segunda a sexta, das 8h às 12h, das 14h às 17h. As palestras são feitas para
as escolas sem nenhum custo. Deve-se apenas agendar previamente e verificar a dis-
ponibilidade do palestrante. A visita ao espaço permite trabalhar assuntos relativos à
história de Goiás e consequentemente o processo de entendimento da formação espa-
cial goiana e os aspectos socias, econômicos e culturais do nosso estado. Sugere-se como
atividade que o professor trabalhe as disciplinas de História, Geografia e Português de
forma interdisciplinar, com a produção de diferentes gêneros textuais, que façam refe-
rência à história de Goiás. As produções textuais criadas podem ser posteriormente digi-
tadas, ilustradas e impressas, na forma de um livro, que contará a história de nosso
estado, a partir da linguagem e expressão dos alunos.
O Jardim Botânico é outro espaço que merece ser visitado durante um trabalho de
campo da disciplina de Geografia. O local é a maior unidade de conservação de Goiânia
(1.000.000 metros quadrados) e abriga um remanescente de área fechada de mata, com
espécies nativas do cerrado e animais silvestres. Foi fundado no ano de 1978 e conta com
característico das casas no início da construção de Goiânia. Todos os móveis da casa que
são originais, e ajudam a representar como era a forma de vida dos moradores no inicio
da construção da capital de Goiás, incluindo um automóvel que pertenceu a Pedro
Ludovico. A casa possui acervo fotográfico que representam acontecimentos históricos
marcantes. O museu localiza-se na Rua Dona Gercina B. Teixeira. Nº 133, esquina com
Rua 25. Quadra 47, Setor Central e funciona de terça a sexta, das 09h às 17h e, aos sába-
dos, domingos e feriados, das 9 às 15 horas. A visita é gratuita e o espaço conta com guia/
monitor, mas é necessário fazer o agendamento com antecedência para verificação da
disponibilidade. Cada visitação dura entre 45min e uma hora, dependendo do tamanho
da turma. Dentre as possibilidades de conteúdos a serem desenvolvidos com alunos da
Educação Básica, destacam-se: história de Goiás, construção de Goiânia, população bra-
sileira e cultura; regionalização do território brasileiro; Goiás no contexto econômico e
cultural brasileiro. A partir da vivência relacionada à figura de Dona Gercina Borges, suge-
re-se como atividade pedagógica, discutir o papel da mulher na sociedade ao longo do
tempo e as conquistas políticas e sociais, apropriando-se da questão de gênero, para um
trabalho interdisciplinar, relacionado à história de Goiânia e ilustres personalidades femi-
ninas que fizeram história em nosso estado.
O Museu de Artes de Goiânia convida para um trabalho interdisciplinar. É um local
que tem por finalidade formar, pesquisar, qualificar, comunicar, preservar e exibir, para
fins de estudo, educação e entretenimento, um acervo museológico, bibliográfico e
audiovisual, composto por obras de arte, pertencentes ao Patrimônio Cultural Artístico
do Município de Goiânia, bem como incentivar a produção artística regional, em inter-
câmbio e integração com a produção artística nacional e internacional. Os principais
atrativos do Museu são as obras de artes lá expostas, que procuram dar valor a obras
goianas, ou que represente algo relacionado à cultura do nosso estado. Esta localizado
na Rua 1 nº 605, Bosque dos Buritis – Setor Oeste – Goiânia – Goiás – Brasil e abre de
terça a sexta, das 9h às 12h e das 13h às 17h e sábado e domingo, das 8h às 18h. O Museu
de Arte de Goiânia possui um departamento de ação educativa com visitas orientadas
para escolas e grupos em geral com entrada gratuita. É importante que o professor con-
sulte a programação do Museu para saber quando ocorrerá exposições que vem de
encontro com matérias relacionadas com a Geografia. A visitação pode articular-se aos
conteúdos de população brasileira e cultura e Goiás no contexto econômico e cultural
brasileiro. Com prática pedagógica sugere-se oferecer uma oficina de trabalho manual na
escola, com enfoque na cultura popular goiana, objetivando despertar nos alunos a apro-
priação da cultura local, bem como o desenvolvimento de habilidades manuais. Oficina
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
1 Esse artigo se propõe investigar se a Lei 10.639/03, está sendo executada nas salas de aula da Educação Básica
e especificamente na Escola Estadual Antonio Gröhs, no município de Água Boa/MT.
2 Especialista em Gênero e Diversidade na escola pela UAB/UFMT. Professora na Escola Estadual Antonio Gröhs.
isiskato1@gmail.com.
3 Especialista em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Estrangeira pela FACINTER/UNINTER. Professora
na Escola Estadual Antonio Gröhs. maju.rs@gmail.com
4 Mestrando em Linguística e Literatura pela Universidade Federal de Goiás. Professor na Escola Estadual Antonio
Gröhs. Pesquisa sobre literatura africana de língua portuguesa. maxsuelpereirab@gmail.com
5 Mestranda no Mestrado Profissional em Ensino de História/PROFHISTÓRIA, pela Universidade Federal de Mato
Grosso. Professora de História na Escola Estadual Antônio Gröhs. Pesquisa sobre o patrimônio histórico de Barra
do Garças/MT. michelereis92@hotmail.com
[ 638 ]
O ENSINO DE HISTÓRIA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA na escola estadual 639
para fazer cumprir a lei, seja ampliando a oferta de cursos de formação, seja exigindo das
instituições responsáveis pela formação do profissional docente que reformulem seus
currículos, rompendo com o modelo eurocêntrico.
De acordo com Rüsen (2009), a história tem como função didática formar a cons-
ciência histórica na perspectiva de fornecer elementos para uma orientação e uma inter-
pretação, ou seja, o conhecimento histórico deve dar sentido as ações humanas e
possibilitar aos sujeitos a apropriação da sua própria identidade. Nesse ensejo, conhecer
a história dos africanos e dos indígenas, além da história dos europeus é fundamental
para a compreensão das nossas ações e da realidade que nos cerca.
Reitera-se a necessidade e a importância do conhecimento das origens dos africanos
e de sua história como um caminho para romper com o preconceito e a discriminação, e de
certa forma, contribuir para que este grupo reconheça sua identidade e a valorize.
Oliva (2003) chama a atenção para a necessidade de estudar o continente afri-
cano pelo fato do Brasil ter uma estreita relação com a África e pelo grande valor que
todos os grupos étnicos têm para o estudo da História da Humanidade. A visão que se
tem do continente africano é marcada por estereótipos preconceituosos em relação a
escravidão e a problemas enfrentados por algumas regiões da África, como epidemias,
fome, guerras, etc., que são enfatizados pela mídia como se fossem generalizados no
continente africano.
Para romper com esses paradigmas e a visão da África a partir de uma perspectiva
eurocêntrica, Mattos (2003) propõe que a identidade negra e a história dos africanos
sejam trabalhadas e compreendidas dentro de um contexto mais amplo, levando em
consideração aspectos do próprio continente africano e a origem das diferentes etnias
que nele habitam e/ou habitavam.
Em grande parte da bibliografia produzida sobre a História do continente africano,
percebe-se o estranhamento e o juízo de valor acerca da cultura do outro. Horta (1995)
defende que nas obras produzidas sobre a África o que predomina são representações
da história a partir do ponto de vista daquele que a escreve. Também chama a atenção
para o fato dessas representações serem de ambos os lados, pois certamente os africa-
nos, ao entrar em contato com o mundo europeu, também elaboraram interpretações e
ressignificaram elementos incorporados da cultura do outro.
No que concerne à Literatura, torna-se imprescindível que esta seja trabalhada
desde a tenra idade, a partir dos anos iniciais, despertando nos alunos a sua construção
Para que haja a desconstrução do ideário que traz a imagem do negro como pejora-
tiva socialmente e, portanto, no ambiente escolar, a escola necessita desenvolver meios
para minimizar os preconceitos e se posicionar contra qualquer tipo de discriminação:
O resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não inte-
ressam apenas aos alunos de ascendência negra. Interessam também aos
alunos de outras ascendências étnicas, principalmente branca, pois, ao rece-
ber uma educação envenenada pelos preconceitos, eles também tiveram
suas estruturas psíquicas afetadas (BRASIL, 2014, p. 18).
A superioridade racial e cultural europeia foi por muito tempo legitimada pela his-
toriografia devido a influência do positivismo. A história da África era pouco conhecida
pelo fato de serem comunidades de tradição oral e a oralidade não era uma fonte reco-
nhecida no campo da historiografia.
A partir das mudanças no campo da historiografia, sob a influência das teorias
Marxista e História Nova é possível reconhecer que outras temáticas passaram a ser
abordadas e, como consequência, essas novas abordagens proporcionaram uma
mudança no ensino da História. No entanto, romper com a história eurocêntrica e demo-
cratizar o ensino com a participação de outros sujeitos da história parece ser o grande
desafio do professor.
É importante destacar que de acordo com Oliva (2003), a partir do surgimento de
ideologias como o pan-africanismo e a negritude, houve uma ressignificação da identidade
africana. Muitos intelectuais passaram a estudar e enaltecer as características histórico-
-culturais da África e integrar suas pesquisas às inovações da historiografia mundial.
No entanto, o autor chama a atenção pelo fato de que mesmo após as pesquisas
no campo da historiografia africana terem aumentado significativamente em termos
quantitativos e qualitativos, o livro didático, que é um dos principais recursos utilizados
em sala de aula, pouco mudou em relação a visão eurocêntrica da história.
É interessante destacar que após a aprovação da lei nº. 10.639/03, a inclusão da
história da África nos materiais didáticos ainda é muito limitada. Estes destacam apenas
a história do negro a partir da travessia do Oceano Atlântico e da sua chegada a América
como escravos, desconsiderando toda a história do negro em seu continente de origem,
reconhecendo apenas a história a partir de uma visão eurocêntrica.
Além dos europeus, negros e índios contribuíram significativamente para a for-
mação do Brasil. É possível reconhecer elementos culturais desses três grupos étnicos
e, nesse sentido, a história deve seguir esse mesmo critério de democratização. Ou
seja, as histórias do europeu, do negro e do índio deveriam ser apresentadas aos estu-
dantes de maneira democrática, sem dar ênfase a história de um determinado grupo,
como de fato acontece.
O ensino da história, se trabalhado de maneira democratizada, pode contribuir
para romper com o preconceito e a discriminação dos negros e índios, fazendo com que
estes reconheçam sua identidade, a valorizem e contribuam para o desenvolvimento de
ações afirmativas necessárias para tentar redimir os erros cometidos, tanto no passado
quanto no presente, em relação a esses grupos. Reconhecer a história e cultura do outro
implica olhar para nossa própria cultura com alteridade.
Assim, por meio da literatura afro-brasileira na Educação Básica, torna-se possível
o reconhecimento da História e Cultura dos povos africanos, entendendo como os negros
aqui chegaram e minimizando o preconceito racial em nossa sociedade.
No município de Água Boa, a Escola Estadual Antonio Gröhs, carece de livros didá-
ticos, obras literárias, além de textos e/ou documentos históricos que versam sobre o
ensino de história e cultura afro-brasileira nos preceitos da lei 10.639/03. Partindo dessa
carência, em meados de fevereiro de 2019, percebemos durante o planejamento anual a
necessidade de materiais didáticos e literários que contemplem o ensino de história e
literatura afro-brasileira.
Desde a aprovação da supracitada lei, pouco se tem trabalhado nas formações
continuadas da escola ou ofertado cursos voltados para a temática em questão. Nota-se
que o tema é recorrentemente encarado como um tabu e outras vezes é notório entre
os professores falas preconceituosas ao se referirem a colegas de trabalho ou até
mesmo alunos.
Em consulta ao acervo bibliográfico, identificamos que existem poucas obras lite-
rárias que contemplam a literatura afro-brasileira em nossa escola. Os exemplares encon-
trados são: A Legião Negra, de Oswaldo Faustino (2011), que trata da “luta dos
afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”; Aqualtune e as histórias da
África, de Ana Cristina Massa (2012) que trata sobre “a história dos quilombos, dos negros
que lutaram por sua liberdade e sobre a disputa entre portugueses e holandeses pelas
riquezas do nordeste brasileiro”; Cadernos Negros – contos afro-brasileiros, coletânea
organizada por Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa (2007) em que há nessa literatura
um local de partida, buscando a nossa mestiça identidade nacional; Casa Grande e
Senzala, de Gilberto Freyre (1998), que trata sobre a importância da miscigenação e da
mistura das três raças que formaram o nosso povo; História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana: repensando as práticas pedagógicas, de Célia Regina Tokarski (2009), sobre
contos, lendas e mitos; Negro Leo, de Chico Anísio (1985), tratando sobre o estereótipo
do negro na sociedade brasileira.
O Plano Nacional do Livro Didático – PNLD, com triênio 2017-2019, para o Ensino
Fundamental, encerra-se no presente ano. Assim, consultamos no mês de fevereiro de
2019, os livros de português das séries 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental – Anos
finais, todos da editora Saraiva, constatou-se que não há a abordagem de nenhuma
temática afro-brasileira nestes livros didáticos.
Já no Ensino Médio, em consulta aos livros didáticos do 1º, 2º e 3º anos, todos da
editora Moderna, apenas o 3º ano, numa seção especial que trata sobre Literatura
Africana, apresentou a lírica e as narrativas africanas de Língua Portuguesa de Cabo
Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Embora essa seção
contemple o ensino de literatura africana, em nenhum momento mencionou autores ou
literatura afro-brasileira, conforme explicita a Lei nº. 10.639/03.
Os livros didáticos trianuais de história utilizados pelos alunos do Ensino Fundamental
são da editora Scipione, de autoria de Cláudio Vicentino e José Bruno Vicentino. O livro
adotado para o Ensino Médio é “História: Passado e Presente”, de autoria de Gislaine de
Azevedo e Reinaldo Seriacopi, da editora Moderna. Ao fazer uma análise desses livros,
percebeu-se que a história da África é retratada de maneira superficial, com destaque à
alguns reinos africanos, ao tráfico negreiro e ao processo de neocolonialismo e descolo-
nização do continente africano nos séculos XIX e XX.
Também foram analisados os exemplares de variadas editoras para o próximo triê-
nio e constatou-se que os livros didáticos ainda não conseguem abarcar o que preconiza
a Lei 10.639/03, no que tange principalmente o ensino de literatura afro-brasileira,
focando maciçamente na literatura africana de língua portuguesa e mencionando ape-
nas dois textos de autores mineiros que representam a literatura afro-brasileira.
Assim, sabe-se que a maioria dos livros didáticos carece de conteúdos pertinentes
ao Ensino de História e Literatura Africana, quiçá de História e Literatura Afro-brasileira.
Não cabe apenas ao professor a análise do material didático ofertado pelo PNLD, mas
também ao corpo editorial inserir no material disponibilizado conteúdos que contem-
plem as temáticas obrigatórias da referida lei.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
etnia dos alunos para evitar ofensas. E 5, 71% afirmaram que a linguagem não influencia
diretamente nas questões raciais.
No questionamento de número 11, cujo o assunto versa sobre o trabalho escolar,
77, 14% dos professores afirmaram que a questão racial é trabalhada em determinados
períodos do ano letivo. Já 17, 14% mencionaram que ocorre resistências dos educadores
ao abordarem questões raciais no que se refere a luta contra diversas formas de injustiça
social. E 5, 71% assinalaram a existência de um trabalho coletivo sobre a questão racial
com participação de toda a comunidade escolar.
No que diz respeito a questão de número 12, que trata sobre o acervo bibliográfico
de História e Literatura afro-brasileira, 37, 15% concordaram que existem diversificados
livros que contemplam alunos e professores sobre a questão racial. Já 57, 15% dos pro-
fessores acreditam que existem poucos exemplares com essa temática. E 2, 85% respon-
deram que não existem livros sobre o tema. Mas 2, 85% não responderam essa
questão.
Na questão de número 13, que disserta sobre a capacitação dos professores
quanto a questão racial, 11, 43% entenderam que esporadicamente são ofertados cur-
sos ou grupos de estudo sobre a questão. Já 71, 42% informaram que não foram opor-
tunizados estudar sobre o tema. E 14, 29% buscam incorporar o assunto nas discussões
e reuniões pedagógicas, grupos de estudo e momentos de formação. Mas 2, 85% se
abstiveram de responder.
Assim, percebe-se que nem todos os educadores possuem a consciência da
importância de se ensinar a história e a literatura afro-brasileira no ambiente escolar.
Notou-se também que a maioria dos professores que participaram desta pesquisa
acreditam que o assunto deve ser tratado pedagogicamente pela escola. No entanto,
também reconhecem que essa cultura só é estudada como parte do folclore brasileiro
ou quando é assunto midiático.
Quanto ao ensino étnico-racial no currículo escolar, evidencia-se que apesar dos
docentes procurarem apresentar aos alunos as culturas negra e indígena e o currículo
oportunizar um olhar positivo para as diversidades raciais, reconhecem que os livros
didáticos representam predominantemente as contribuições das culturas europeias.
Em relação ao papel do professor enquanto mediador das questões raciais, obser-
va-se que os professores alegaram reavaliar seus valores e conceitos introjetados sobre
o povo negro. No entanto, quando é preciso que se posicionem a respeito dessa
temática, boa parte deles se portaram de maneira neutra. E apenas uma pequena parte
se disse interessada em investir na sua formação quanto às questões raciais.
Ademais, no que tange a maneira como os professores lidam com as questões
raciais em sala de aula, um número significativo expôs que esse trabalho é feito de forma
generalizada, enfatizando que a escola não dispõe de oportunidades para tratá-lo. E
ainda existem docentes que creem não ser esse um assunto a ser tratado pela escola.
Todavia, outra parte significativa assinala que esse tema deve ser contextualizado a par-
tir da realidade do aluno, para que este possa analisar criticamente seu lugar na socie-
dade e, desse modo, comprometer-se a transformá-la.
Por conseguinte, as diferenças entre os grupos étnico-culturais para a maioria dos
docentes são consideradas como diversidade cultural brasileira e servem como reflexão
para rever posturas e comparações etnocêntricas e hierarquizantes. No entanto, ainda
existem professores que pensam que tratar desse assunto pode gerar conflitos.
As situações de desigualdade e discriminação que ocorrem na sociedade são para
uma grande parcela dos educadores, instrumentos pedagógicos para conscientizar os
educandos da importância de se lutar contra formas de injustiças sociais; outra parcela
acredita ser este um ponto de reflexão para todos os alunos. E um pequeno percentual
afirmou que essas situações cabem apenas aos alunos discriminados refletirem.
Desse modo, proporcionar o fortalecimento, a aceitação e o respeito à diversidade
é papel crucial da escola e os professores em peso demonstraram a necessidade de se
promover um maior conhecimento sobre as heranças culturais brasileiras. Destoante a
isso, observou-se que uma parcela significativa prefere ignorar as visões estereotipadas
sobre o negro nos livros, nas produções e nos textos do material didático. E apenas uma
pequena parte considera importante promover o orgulho ao pertencimento racial de
seus alunos.
É preciso refletir sobre vocábulos e expressões que reforçam comportamentos dis-
criminatórios como “denegrir” ou “a coisa está preta” que muito recorrentemente ouvi-
mos, inclusive, no espaço escolar. Relativo a isso, os professores maciçamente afirmaram
que a linguagem usada no ambiente escolar pode influenciar as questões de racismo e
discriminação. Contudo, alguns professores alegaram usar eufemismos para se referir a
etnia dos alunos no intuito de não os ofender. Já uma pequena parcela acredita que a lin-
guagem não tem o poder de influenciar questões raciais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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VICENTINO, Cláudio. VICENTINO, José Bruno. História: 7º ano. 3.ed. São Paulo: Scipione, 2016.
______. ______. ______. ______. ______. _____História: 8º ano. 3.ed. São Paulo: Scipione, 2016.
______. ______. ______. ______. ______. _____História: 9º ano. 3.ed. São Paulo: Scipione, 2016.
ANEXO I
Questionário ao corpo docente e discente sobre o Ensino de
História e Literatura afro-brasileira na escola
B – Procurar não dar atenção para as visões estereotipadas sobre o negro nos livros, nas produções e
nos textos do material didático.
C – Promover maior conhecimento sobre as heranças culturais brasileiras.
10. Quanto à expressão verbal:
A – Acredita-se que a linguagem usada no cotidiano escolar tem o poder de influir nas questões de
racismo e discriminação.
B – Usam-se eufemismos para se referir a etnia dos alunos, para não os ofender.
C – A linguagem não tem influência direta nas questões raciais.
11. Quanto ao trabalho escolar:
A – Alguns professores falam da questão racial em determinadas etapas do ano letivo.
B – Existe resistência dos professores para tratar a questão racial com relação à luta contra todas as
formas de injustiça social.
C – Existe um trabalho coletivo sobre a questão racial com a participação de todos, inclusive da
direção e dos funcionários.
12. Quanto à biblioteca:
A – Existem muitos e variados livros sobre a questão racial que contemplam alunos e professores.
B – Existem alguns tipos de livros (dois ou três) que contemplam a questão racial.
C – Não existem livros sobre o tema.
13. Quanto à capacitação dos professores sobre a questão racial:
A – Algumas vezes no ano fazemos cursos ou grupos de estudo sobre a questão racial.
B – Ainda não tivemos a oportunidade de estudar a questão.
C – Procuramos incorporar o assunto nas discussões de reuniões pedagógicas, grupos de estudo e
momentos de formação.
ANEXO II
Proposta de Intervenção Curricular Intercultural
Ações previstas:
AÇÃO 01 – Objetivo: Seleção de obra adequada para a idade/série do estudante;
Atividade: Os professores de diferentes etapas se reunirão para avaliar os livros literários disponíveis
na biblioteca da escola no intuito de identificar obras adequadas para a idade/série dos alunos.
AÇÃO 02 – Objetivo: Escolha de textos de diferentes tipologias e diversos gêneros textuais;
Atividade: Os professores escolherão obras literárias diversificadas de acordo com a etapa de ensino:
Romances, Cordéis, Contos, Crônicas, Lendas, Mitos e Peças Teatrais.
AÇÃO 03 – Rodas de leitura;
Atividade:. O professor explicará os métodos e procedimentos para uma leitura fluente e organizada
que possibilite a interpretação do que foi lido. Em seguida, a turma será disposta em círculo para lei-
tura e discussão acerca da obra.
AÇÃO 04 – Exibição de filmes e documentários;
Atividade: Os alunos assistirão a filmes e documentários com as temáticas de discriminação e precon-
ceito racial que servirão de subsídios para discussões e debates.
AÇÃO 05 – Análise de letras de músicas;
Atividade: Os alunos ouvirão músicas que arrazoam sobre o preconceito racial identificados nas letras
vocábulos ou expressões que reforçam ou subvertem tais preconceitos.
AÇÃO 06 – Amostra Cultural;
Atividade: As ações de 01 a 05 culminarão com a exposição dos resultados na amostra cultural da
Escola Estadual Antonio Gröhs.
Cronograma: Ação 04 – Atividade A
Ação 01 – Atividade A 16 de junho de 2020
02 de março de 2020 2 horas/aula
4 horas/aula Ação 05 – Atividade A
Ação 02 – Atividade A 04 de agosto de 2020
16 de março de 2020 2 horas/aula
4 horas/aula - Ação 06 – Atividade A
Ação 03 – Atividade A 20 de novembro de 2020
08 de abril de 2020 2 horas/aula
2 horas/aula
Avaliação:
Avaliação diagnóstica: será desenvolvida através da discussão da temática com os discentes,
observando o que os mesmos sabem e quais preconceitos carregam.
Avaliação formativa: A avaliação formativa será todas as atividades desenvolvidas nas ações 03, 04,
05, 06 e 07. As manifestações dos alunos serão registradas no caderno de campo do professor.
Avaliação global: Verificar-se-à o aproveitamento do aluno de forma contínua, mediante verificação
de competência, habilidade e de aprendizagem de conhecimentos em atividades de classe e
extraclasse.
Resultados esperados:
Espera-se que os alunos das turmas envolvidas superem seus preconceitos e contribuam para uma
sociedade mais justa e com menos preconceitos e mais alteridade.
3. Assinaturas
Proponente(s)/executor@(s):
Coordenadoras(es) pedagógicas(os):
Mayra Paniago1
INTRODUÇÃO
1 Professora de História da Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC/BA) e Doutoranda em História pela
Universidade Federal de Goiás, Linha de Pesquisa Fronteiras, Interculturalidades e Ensino de História, orientada
pela Profª Drª Maria da Conceição Silva. Endereço eletrônico: may.paniago@gmail.com.
2 A pesquisa informada tem como objetivo analisar as contribuições da Olimpíada Nacional em História do Brasil
para o ensino e aprendizagem em História à luz da Didática da História, e foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, parecer nº 2.036.418/2018.
3 Disponível em: https://www.olimpiadadehistoria.com.br Acesso em: 13 Set. 2019.
[ 656 ]
DIDÁTICA DA HISTÓRIA, FONTES HISTÓRICAS E A ONHB 657
Iniciaremos nossa discussão fazendo uma breve introdução ao que seria a didática
no ensino de História, isso porque até meados dos anos de 1990 ao nos referirmos, den-
tro dos debates acadêmicos e escolares, sobre como deveríamos ensinar História na
Educação Básica, estávamos estabelecendo uma discussão de natureza didática, ou seja,
estaríamos no campo da Educação e da pedagogia, tratando de um tema especifica-
mente ligado às metodologias e práticas de ensino da disciplina. Alguns teóricos diriam
que à Didática caberia metodologicamente trazer para dentro da escola os saberes aca-
dêmicos adaptando-os aos saberes escolares, conforme o pensamento do pesquisador
francês Yves Chevallard, como nos aponta Bittencourt (2004, p. 36).
[...] especialista em didática da Matemática, passou a designar tal concep-
ção, bastante difundida, como transposição didática, Chevallard entende
ser a escola parte de um sistema no qual o conhecimento por ela reprodu-
zido se organiza pela mediação da noosfera, conceito correspondente ao
conjunto de agentes socais externos à sala de aula – inspetores, autores de
livros didáticos, técnicos educacionais, famílias. Esses agentes garantem à
escola o fluxo e as adaptações dos saberes provenientes das ciências pro-
duzidas pela academia.
marginalizados dos debates escolares, numa perspectiva de olhar para novos objetos e
novas fontes de estudo. Para esta discussão sobre os novos rumos do ensino de História,
entre o final dos anos de 1980 e 1990 (período conhecido na história do Brasil como
Redemocratização), uma série de historiadores produziram um volume de material que
contribuiu e tem contribuído para o avanço dos estudos ligados ao Ensino de História no
Brasil (CABRINI, 1986; BITTENCOURT, 2004; FONSECA, 2003; PINSKY, 2012; NADAI, 1986
e 2012; NAPOLITANO, 2003; SILVA, 2007).
Neste mesmo contexto, a difusão dos escritos do filósofo e historiador alemão Jörn
Rüsen6 no Brasil, trouxe para o campo do Ensino de História uma enorme transformação
do ponto de vista epistemológico, refletindo diretamente na pesquisa e nas reflexões
sobre o ensino e aprendizagem em História. Essa inserção permitiu aos historiadores
pesquisar sobre o ensino a partir da epistemologia da História enquanto ciência7.
Dito assim, nosso intuito, portanto, é travar um diálogo entre a Didática da História,
fruto do amadurecimento das leituras de alguns autores do Brasil e de Portugal (SCHMIDT,
2009; CERRI, 2001; SADDI, 2014; BARCA; 2012) – além, é claro do alemão Jörn Rüsen-,
referentes aos estudos do campo da Didática da História, tomando como referencial teó-
rico suas ideias, e, a utilização de fontes históricas nas aulas de História.
Nosso propósito também, é compreender como a introdução dos documentos his-
tóricos nos estudos sobre a temática escravidão no Brasil, possibilitam aos estudantes e
professores/professoras de História entenderem o presente (a vida prática) partindo da
análise do passado para perspectivarem o futuro.
Para conhecer melhor o ponto de partida dos nossos estudos passaremos a apre-
sentar brevemente a ONHB.
da historiografia um diálogo com outras ciências humanas, como a Antropologia, a Sociologia e a Etnologia, bem
como uma abertura a novas fontes históricas para além das fontes escritas.
6 Aqui destacamos o seu primeiro texto sobre a didática da história: Didática da história: passado, presente e
perspectivas a partir do caso alemão, publicado pela revista Práxis em 2006, e O desenvolvimento da compe-
tência narrativa na aprendizagem histórica: uma hipótese ontogenética relativa à consciência moral, traduzido
na coletânea Jörn Rüsen e o ensino de história (SCHMIDT; BARCA; MARTINS, 2010).
7 Em 1997 nasce na Universidade Federal do Paraná, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Educação, o Labo-
ratório de Pesquisa em Educação Histórica – LAPEDUH, atualmente coordenado pela Profª Drª Maria Auxiliadora
M. Santos Shmidt, e que desenvolve estudos no campo do Ensino de História, se tornando hoje, um dos centros
aglutinadores de pesquisadores portugueses e brasileiros que se dedicam aos estudos dentro do campo da
Didática da História. Para aprofundar, conheça o sítio eletrônico https://lapeduh.wordpress.com/ Acesso em: 01
Ago. 2019.
No que tange à utilização das fontes nas questões da ONHB, a professora também
destaca que a olimpíada procura cumprir o rol de competências estabelecidas pelas
Diretrizes Curriculares do Ensino Médio (DCEM)9, acrescentando que dentre os objetivos
8 As “Tarefas” são atividades que finalizam cada fase da olimpíada e que seguem um padrão já consolidado: a)
preenchimento de questionário socioeconômico, que visa construir um perfil de estudantes, professores e uni-
dades escolares; b) organização de uma linha de tempo histórico, onde os estudantes, a partir de documentos
fornecidos pela Coordenação e que foram analisados ao longo da olimpíada, colocam cada documento dentro
do contexto a que pertence, e dentro da época a que se refere; c) análise de imagens, onde a imagem oferecida
é “recortada” em detalhes. Os estudantes são desafiados a selecionar uma frase dentre várias, aquela que se
refere ao detalhe destacado; d) uma produção textual. Aqui, as equipes já tiveram várias experiências de elabo-
ração que foram desde a construção de jornais até a produção de pasquim, redação de matéria de revista até a
preparação de panfletos turísticos. As edições de 2018 e 2019 contaram com uma “Tarefa inédita” que consistiu
em um exercício de paleografia colocando as equipes diante de documentos manuscritos (do século XIX) para
que fosse feita a transcrição de trechos previamente definidos pela coordenação.
9 Documento de caráter normativo fixadas pelo Conselho Nacional de Educação e orientam o planejamento cur-
ricular das escolas e sistemas de ensino. As DCEM tem origem nas Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB
–, de 1996. Disponível em: https://www.educabrasil.com.br/dcns-diretrizes-curriculares-nacionais/ . Acesso em:
01 Set. 2019.
Dado este panorama geral da ONHB, vamos pensar um pouco em relação à utiliza-
ção das fontes históricas no ensino de História. Muito se tem escrito e discutido acerca
do uso de fontes históricas nas aulas de História, não apenas em relação aos teóricos da
Didática da História, como também os historiadores que foram os pioneiros do aprofun-
damento dos estudos sobre Ensino de História, e que já mencionamos anteriormente.
Longe de pretendermos formar pequenos historiadores que passam a conhecer a lida
com os documentos, a importância deste manuseio está na aproximação dos estudantes
com o ofício do historiador e no desenvolvimento da aprendizagem histórica no ambiente
da sala de aula e na vida prática.
Como já afirmamos, nossa Pesquisa está inserida no âmbito da Didática da História,
enquanto campo constituinte da História ciência e estas discussões chegam ao Brasil
pelos escritos de Jörn Rüsen10, e ganha grande destaque entre os pesquisadores da área
do ensino de História no Brasil, sendo responsável por um salto considerável no número
de publicações nesta mesma área (Artigos, Dissertações e Teses) no país (BARON, 2014).
A partir da difusão da obra de Jörn Rüsen no Brasil, ao promover um deslocamento dos
estudos sobre a didática da história (do campo da Educação para a História), tivemos
também um outro deslocamento: o olhar do professor-pesquisador sai do ensino e vai
para a aprendizagem.
10 Klaus Bergman (1989) foi um historiador alemão lido no Brasil no final dos anos de 1980. Seus escritos foram,
inclusive precursores dos de Rüsen aqui no país, e sua primeira obra traduzida para o português é A história
na reflexão didática, publicada pela Revista Brasileira de História. Pelo fato de ter sido mais traduzido e, por
conseguinte, ter sido mais referenciado pelos pesquisadores no Brasil, iremos nos deter aqui neste artigo, às
contribuições de Jörn Rüsen, mesmo reconhecendo que Klaus Bergman teve uma contribuição decisiva no des-
locamento das discussões sobre didática da História do âmbito da Educação para o território da História.
11 Trata-se de uma categoria de análise utilizada pelos teóricos da Didática da História que se refere “a suma das
operações mentais com as quais os homens interpretam sua experiência da evolução temporal de seu mundo e de
si mesmos, de forma tal que possam orientar intencionalmente, sua vida prática no tempo” (RÜSEN, 2001, p. 57)
12 Dentre os estudantes de escolas públicas municipais e estaduais de todo país, participam também estudantes
dos Institutos Federais, “[...] em cooperação com estados e municípios, visam à ampliação da oferta de cursos
técnicos, sobretudo na forma de ensino médio integrado, [...]”. (grifo nosso) (Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=6691-if-concepcaoediretrizes&category_slu-
g=setembro-2010-pdf&Itemid=30192 Acesso em: 20 Ago. 2019.)
Quadro 2 – Tipologia de Documentos utilizados nas questões da ONHB (2009 – 2019) com a
temática escravidão e sistema escravista no Brasil dos séculos XVI ao XIX
aleatória tendo em vista que a prova engloba vários assuntos relacionados à História do
Brasil14, desde a época colonial até os dias atuais.
Escolhemos este tema para realizar tal recorte da pesquisa por causa da diversi-
dade de documentos apresentados, conforme podemos ver na categoria TIPO DE
DOCUMENTO/FONTE HISTÓRICA. Sendo assim, não fomos movidos pelo volume numé-
rico de questões sobre o tema, uma vez que, ao longo das onze edições foram 498 ques-
tões ao todo. Selecionamos 40 questões, o que daria um total de apenas 8% do volume
geral das questões em onze anos de ONHB. Importante considerar aqui que não inseri-
mos questões que tratavam de temas afins ao escolhido, como preconceito étnico-racial,
políticas de cotas, ou quaisquer subtemas que fizessem uma alusão à condição da popu-
lação negra no Brasil atual.
Tratando de um recorte temporal relacionado à escravidão e o sistema escravista,
selecionamos as questões que cobriram os períodos colonial e imperial, até o ano de
1888, quando houve a assinatura da Lei Áurea, e não os tempos atuais.
Como temos uma limitação de espaço para analisarmos um volume maior de ques-
tões, selecionamos apenas duas: uma que traz um documento escrito e outra que vem
acompanhada de uma fonte iconográfica. Para melhor esclarecimento do leitor, ressalta-
mos que as questões possuem quatro afirmativas, e as equipes devem escolher aquela
que é a mais adequada ao que é solicitado15.
A questão que segue fez parte da primeira edição da ONHB (2009), em sua pri-
meira Fase, apresentando um documento de venda de um homem escravizado, datado
na cidade do Rio de Janeiro, em 04 de setembro de 1851, conforme podemos ver no
Anexo I.
14 A prova da ONHB é diversificada em relação aos assuntos abordados, consideraremos aqui os mais frequentes
temas a título de exemplificação: questão fundiária; questão indígena; alterações na divisão política do territó-
rio brasileiro; hábitos e costumes; questões legais; estrutura política; movimentos sociais; condição feminina;
movimento estudantil; discriminação étnica, religiosa; patrimônio cultural material e imaterial. Ressaltando que
as abordagens possuem uma historicidade que vai desde o período colonial até os dias atuais.
15 Nas questões da olimpíada não há resposta correta ou incorreta. As alternativas possuem uma pontuação
que variam entre 00, 01, 04 ou 05, caso ela este mais ou menos relacionada ao que está sendo proposto aos
estudantes.
com a vida presente. Mas um passado que articula todos os sujeitos (professores, profes-
soras e estudantes) em uma identidade na qual são herdeiros historicamente.
Para tanto, recorremo-nos a Rüsen (2010a, p. 42) ao afirmar que nas relações que
se estabelece com o passado, desencadeiam-se determinados atos mentais que indicam
formas de relacionar-se com o tempo, as quais encerram “operações centrais da cons-
ciência histórica”. Estas operações da consciência histórica manifestam-se por meio de
narrativas e destas podem ser explicitadas concepções próprias de didática constitutiva
do sentido atribuído à experiência do tempo. Por isso, adquirir conhecimento da expe-
riência no tempo de formas diferentes se constitui na formação histórica.
A próxima questão foi parte integrante da sétima edição da ONHB, ocorrida em
2015 e analisa duas imagens retiradas de um semanário humorístico chamado Revista
Ilustrada, (n. 05, de 1861; n. 35, 1861). Publicação periódica de grande sucesso no Brasil
do século XIX (1860 a 1875), e por onde circulavam ilustrações litográficas. O título das
litogravuras é “Tigreiros”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até final dos anos de 1990 a concepção predominante entre os teóricos da área de
ensino de História era a de que a didática estava delimitada a um termo funcional, por-
tanto apartada da área da pesquisa, dos historiadores “de verdade”, se dedicando
somente às metodologias de ensino na educação básica. Cabendo à discussão didática
apenas as questões relativas ao como ensinar.
Com a entrada dos escritos de Jörn Rüsen no Brasil, a partir de fins dos anos de
1980, e com ele todo o arcabouço teórico referente à historiografia e, por conseguinte, à
Didática da História, elencamos aqui, a nosso ver, duas consequências fundamentais. A
primeira diz respeito à mudança à concepção de “didática” como campo da pesquisa em
aprendizagem histórica que, a partir dela, professores, professoras, pesquisadores e pes-
quisadoras passaram a postular para o campo do ensino de História um estatuto episte-
mológico próprio dos historiadores. Não competia mais à Educação, ou à pedagogia
tratar dos temas referentes ao ensino de História, mas aos próprios intelectuais da
História. E a segunda consequência diz respeito a mudança de paradigma resultou em
uma mudança no foco desses sujeitos e a aprendizagem passou a ser o grande objeto de
investigação na área.
Decidimos apresentar os resultados parciais da investigação de doutorado em
andamento, e que já enunciamos anteriormente, partindo dessas duas consequências.
Para este debate e também para a Tese, fundamentamos nossa pesquisa no campo da
Didática da História, especialmente a partir das contribuições da teoria da aprendizagem
histórica de Jörn Rüsen (2001, 2006, 2010a, 2010b).
Neste sentido, considerando que a Didática da História visa investigar as formas
como ocorrem o aprendizado histórico, em nosso caso específico, analisamos essa con-
sideração partindo do papel desempenhado pela utilização de documentos históricos
que fazem parte das provas de uma olimpíada científica escolar.
Assim podemos concluir que o estudo desenvolvido em salas de aula de História,
tendo como foco a epistemologia da ciência histórica, possibilita o acesso ao conheci-
mento com vistas à vida prática. O tema em destaque (a escravidão e o sistema escra-
vista) nos remete às questões do cotidiano brasileiro, e em especifico ao cotidiano dos
estudantes pois lidam no presente com traços definidos do passado escravista a exemplo
do preconceito étnico-racial sentido pelas populações negras no Brasil. Não apenas o
preconceito propriamente, mas uma série de situações atuais onde são visíveis os traços
do passado escravista que deixou marcas na sociedade brasileira contemporânea.
Ter acesso ao conhecimento do passado ou ter acesso à memória através do
trato com a diversidade de documentos (ver Quadro II), aproxima estudantes do ofício
do historiador. E mais que isso, os conecta a uma forma de lidar com o presente, par-
tindo da compreensão do passado na perspectiva de olhar para o horizonte e enxergar
o futuro na condição da transformação da situação de subalternidade a que grupos
sociais são colocados.
Assim, ensinar História da forma como apresentamos até aqui, é um desafio que
nos impele a concordar com Barca (2007, p. 6).
A adopção de um modelo de História narrativa-explicativa, que integre uma
análise fundamentada de perspectivas diversas, que não esqueça a escala
local e global, parece ser mais consentânea com os debates sobre a ciência
histórica e com as exigências de desenvolvimento, no respeito por várias
identidades.
Saber interpretar as fontes, ler as informações nelas contidas e, por fim, compreen-
der o passado a partir das mensagens apresentadas por elas proporciona aos estudantes
pensar historicamente. E é neste caminho trilhado que acreditamos ser aquele que pro-
move, além do acesso ao conhecimento, o alcance à cidadania.
REFERÊNCIAS
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surgimento da Neu Geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova Didática da História no Brasil.
OPSIS, v. 14, n. 2, p. 133-147, 2014.
INTRODUÇÃO
1 Doutora pela Universidade Federal de Uberlândia/professora de História do IFG (Instituto Federal de Goiás),
campus Goiânia Oeste. Pesquisa sobre Visualidade e História. histka25@hotmail.com
2 Mestre pela Universidade Estadual de Goiás, Mestrado Interdisciplinar em Educação, Linguagens e Tecnologias/
professora de Português do IFG (Instituto Federal de Goiás), campus Goiânia Oeste. Pesquisa Linguagem e Visua-
lidade. fernanda.oliveira@ifg.edu.br
[ 672 ]
FOTOGRAFIAS EM SALA DE AULA 673
A Nova História teve como proposta considerar a pluralidade dos sujeitos, suas ati-
tudes no mundo sociocultural, diferentes modos de vida e contextos. A escrita historio-
gráfica passou a estar voltada para o estudo dos mais variados objetos e temáticas. Ao
incluir novos objetos houve a necessidade de ampliar os métodos e as fontes históricas.
Dentro desse movimento de inovação temática a imagem fixa (fotografia, pintura,
desenho) e a imagem em movimento (cinema) ganharam status de documento histórico.
Este passou a considerar a linguagem iconográfica como um vestígio da realidade vivida
e testemunho ocular da história3.
Segundo Peter Burke (2004) a imagem pode ser inserida no campo historiográfico
enquanto objeto de conhecimento do passado. Para o autor, as gravuras, as pinturas e
fotografias podem contribuir na pesquisa histórico-cultural por se tratar de vestígios do
passado que carregam mensagens e evidências históricas.
No sentido de viabilizar a utilização das imagens no campo da história BURKE (2004)
aponta três problemáticas: a primeira considera os riscos de tomar as imagens como
reflexos puros da realidade, considerando que a arte da representação é menos realista
do que se imagina e omite (por vezes distorce) a realidade social, ao invés de refleti-la. A
segunda problemática afirma que a arte fornece evidência para aspectos da realidade
social que os textos não abordam. Por último, o autor chama a atenção para o processo
de distorção que pode, por vezes, ocorrer na construção das imagens.
Nesse sentido, é importante destacar que as relações entre a produção escrita e a
imagética não se apresentam significativas apenas no campo historiográfico. Mas tam-
bém como elementos centrais das discussões em torno das novas formas de se pensar e
ensinar História.
Nessa linha de raciocínio temos que destacar que as representações visuais no
material didático e nas aulas de História são fundamentais para que os alunos reconhe-
çam personagens formadores da nação brasileira e construam uma memória sobre o
passado do país.
Para Circe Bittencourt (2004) a fotografia no ensino de história favorece a introdu-
ção dos alunos no método de interpretação e análise de documentos históricos, no
entendimento das mudanças/permanências (por meio de comparações) e pode ser asso-
ciada a textos escritos, contribuindo para uma análise mais complexa e multifacetada da
realidade histórica.
Deste modo é inegável que as imagens nos livros concretizam conceitos, noções
abstratas e facilitam a compreensão de conteúdos. Esse suporte e mesmo instrumento
facilitador da memorização, que a imagem oferece, segundo o autor Elias Thomé Saliba
(1995), justifica porque as “[...] imagens canônicas, que nos são impostas coercitiva-
mente, daí também serem chamadas imagens coercivas [...] constituem pontos de refe-
rência inconscientes [...]” (SALIBA, 1996, p. 62), e contribuem, de forma decisiva, na
identificação coletiva dos fatos considerados significativos.
A tese de doutoramento intitulada: Imagens visuais nos livros didáticos: permanên-
cias e rupturas nas propostas de leitura (Brasil, décadas de 1970 a 2000), de autoria de
João Batista G. Bueno, também contribui para o entendimento das transformações que
ocorreram, ao longo dos anos de 1970-2000, das práticas de leitura das imagens.
Segundo o autor a partir da década de 1990,
ocorreu um processo de racionalização e de controle objetivo das metodolo-
gias de ensino (leia-se metodologias de leitura de imagem) apresentadas
pelos livros didáticos, as quais foram impulsionados e confirmados pelas con-
cepções sociais democráticas [...] que reafirmavam uma lógica estrutural e
racional que serviria para controlar a qualidade de formação educacional dos
profissionais para o mercado de trabalho. As propostas de leitura de imagens
visuais, [...] buscaram limitar as interpretações subjetivas que as iconografias
poderiam suscitar nos leitores, produzindo, assim, métodos que procuravam
direcionar o olhar sobre as iconografias, numa tentativa de criar atividades
pedagógicas com os alunos que produzissem o trabalho com fontes docu-
mentais realizados pelo historiador na academia. Criaram–se, portanto, pro-
postas metodológicas que propunham uma determinada forma de leitura
centrada no reconhecimento dos signos representados nas iconografias.
(BUENO, 2011, p. 258).
Os planos da imagem são três: Aberto, quando a câmera está longe do objeto
retratado, ele ocupa uma pequena parte da cena. Médio: quando a câmera está a uma
distância média, o objeto ocupa quase todo espaço retratado. Close-up: quando o
objeto está bem próximo da máquina fotográfica, ele ocupa quase que absolutamente
o espaço retratado.
O ângulo diz respeito ao ponto de vista do fotógrafo. Pode ser um ângulo normal,
que corresponde à altura dos olhos do profissional. Câmera Alta, ou seja, quando a altura
da câmera está do nível dos olhos do fotógrafo. E, por fim, Câmera baixa, quando a pró-
pria câmera está voltada para cima, abaixo no nível dos olhos do fotógrafo.
E, por último, o arranjo. Este elemento visual diz respeito à forma como os elemen-
tos figurativos foram organizados na imagem. O modo de organização da cena, quase
sempre é resultado de uma “encenação”. Neste tocante, não queremos sugestionar que
a fotografia foi forjada ou que houve possíveis adulterações da realidade através da foto
(o que constitui outro debate histórico). Encenação, dentro da análise formal, refere-se à
cena que é recortada da realidade pelo fotógrafo. As escolhas do arranjo são prévias e
constituem uma encenação.
Esse recurso visual é reforçado pela linha formada a partir do conjunto de pontos
em determinado sentido. A linha não é estática. Ela é dinâmica, contribui para distinguir
elementos sobrepostos na imagem e confere contorno às figuras. Para o estudo da foto
citada esta noção foi fundamental. Uma vez que podemos conhecer melhor como a
movimentação da multidão que seguiu o cortejo e como o ângulo da câmera alta contri-
buiu para uma percepção geograficamente mais ampla da cena.
A recepção da Fotografia 1 pelo leitor/aluno é delimitada, em grande parte, pelos
recursos formais que conferem a cena um grau de comoção popular, organicidade homo-
geidade da população com a Praia de Copacabana (Rio de Janeiro). Ou seja, ambos, praia,
mar e indivíduos parecem transformar-se um único corpo. Não há limites precisos entre
esses elementos tão distintos. A população preenche a cena com força e movimento.
A dinâmica e movimento da fotografia trabalhada em sala de aula foram constata-
dos pelos alunos após o domínio das categorias de análise formal. Os alunos compreen-
deram que o modo como determinada cena é fotografada conduz o leitor a determinadas
interpretações. Além disso, inferiram que o produtor da imagem teve a pretensão de
destacar o populismo varguista ao retratar de modo tão panorâmico o público que seguia
o cortejo.
6 Além da fotografia discutida neste texto foram trabalhadas outras imagens produzidas no mesmo contexto his-
tórico. Isto ocorreu para assegurar que os alunos tivessem contato com mais de uma fonte histórica e para que
pudessem traçar paralelos de leituras.
modo como a sociedade, com todas as suas tensões, seus campos de forças e suas dis-
putas simbólicas, deixa-se ver e se conhecer. Ao aprofundar essa categoria, o historia-
dor Ulpiano Menezes (2005) esclarece que a proposta de uma visualidade estaria
alicerçada em três dimensões, a partir das quais os discursos visuais são produzidos: o
visual, o visível e a visão.
Para nossa experiência em sala trabalhamos com a categoria da visão. Ela abrange
os instrumentos de observação, o observador e sua visão de mundo, além das diferentes
modalidades do olhar. Dessa forma, a visão deixa de ser algo naturalmente dado e passa
a ser uma construção histórica. Por isso, cada época tem olhares diferentes que são lan-
çados em suas produções visuais. O olhar modifica-se de acordo com os contextos e ins-
titui novas formas de percepção dos fenômenos sociais, dos costumes, dos valores e do
senso estético.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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em: 08/10/2012 ás 13h.
INTRODUÇÃO
Quando se trata do ensino de História nos anos iniciais, há lacunas nos currículos
de ambos os cursos. Mesmo quando as disciplinas chamadas pedagógicas são ministra-
das nos cursos de pedagogia, ou as disciplinas de metodologia do ensino de História são
ministradas por historiadores, verifica-se total desarticulação. Os docentes do curso de
História não estão preocupados com a formação do pedagogo, e vice-versa. Desse modo,
o presente trabalho pretende evidenciar a importância da História como disciplina esco-
lar na fase inicial do processo educacional.
A concepção de História que vem sendo construída desde as anos inicias, é de uma
disciplina baseada num conhecimento imutável, que pouco desenvolve as capacidades
cognitivas das crianças. Apesar de ser apontada pelos professores e especialistas em
História como formadora da consciência histórica crítica, a disciplina não atinge esse
patamar nos anos iniciais porque não inicia sua trajetória formativa nos primeiros anos
de escolarização. É preciso atentar para as concepções de História a serem ensinadas nos
anos iniciais, por professores cuja formação passa somente pelo curso de Pedagogia.
Desde o início da escolarização, as crianças já aplicam modelos interpretativos ele-
mentares e já dispõem plenamente de uma consciência histórica, pois se orientam em
seu tempo. A elaboração dessa consciência ocorre porque os alunos no início da
[ 683 ]
684 Tales Damascena de Lima
Para que um conteúdo possa ser aprendido, esse conteúdo necessitaria sofrer
alterações que o transformariam em um saber que possa ser ensinado, assim rom-
pendo a fronteira do saber sábio e escolar. A transposição didática vem permeando
vários trabalhos acadêmicos. Um desses trabalhos que se destaca é o de Monteiro
(1999) intitulado “Ensino de História: entre saberes e práticas”, onde a autora se refe-
rência a Chevallard para analisar que os professores de História estabelecem didáticas
com os saberes que ensinam.
Assim a transposição didática defendida por Chevallard que o saber sábio que é o
saber academico, passaria por um processo de sistematização, seleção transformando-
-se em outro saber que será objeto de ensino. O professor é o responsável por fazer as
escolhas, selecionar organizar transpor o conteúdo. Com isso o aluno apenas recebe esse
coteúdo modificado por meio da ação do professor.
Essa abordagem considera a disciplina escolar dependente do conhecimento
erudito ou científico, o qual, para chegar à escola e vulgarizar-se, necessita da
didática, encarregada de realizar a transposição. Consequentemente, uma
Assim o autor assume uma posição frente à didática especifica, como um ponto de
partida na construção de sua metodologia de ensino. Portanto os motivos de aprendiza-
gem geram as situações de aprendizagem, onde o aluno se torna ponto de referências
das didáticas especificas.
Para Libâneo, há um desentendimento entre professores da didática provenientes
da pedagogia e os da didática especificas. Teria, de um lado os professores das licencia-
turas, afirmando que para se ensinar as disciplinas especificas como História bastaria
dominar os conteúdos específicos, e que fora estes saberes seriam invenções dos peda-
gogos que não tem a capacidade de ensinar os conteúdos específicos, já que não domi-
nam. Seriam
os professores de didática que reduzem as práticas de ensino ao planeja-
mento, ao domínio de métodos e técnicas, às prescrições sobre a conduta do
professor na classe, ou seja, para eles, a didática seria uma disciplina mera-
mente normativa e prescritiva. (LIBÂNEO, 2008, p. 62).
Não se pode pensar a organização pedagógica didática dos conteúdos, sem consi-
derar uma análise antes epistemológica dos mesmos. Com a análise do objeto da ciência
ensinada, e dos procedimentos de investigação, se constitui um didática especifica, sem
desconsiderar as teorias da psicologia do desenvolvimento. Em suas pesquisas Libâneo
reforça que o distanciamento ainda permanece presente nos dias de hoje nas práticas
dos professores destacando a importância de uma reaproximação entre generalistas da
didática e a especificidade das disciplinas, reafirmando que há particularidades em cada
área do conhecimento.
Com o objetivo de ser buscar uma Didática da História especifica para os anos ini-
ciais, se discutiu nesse tópico a relação entre didática geral e as didáticas especificas a
partir de teorias pedagógicas. No entanto entende-se que Libâneo, se restringe a
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa visão sobre a função da Didática da História, mostra uma limitação no papel
do professor de História, atuando como um mero transmissor de conhecimentos da área
especifica, estabelecendo que a academia serio o lócus da produção cientifica do conhe-
cimento historiográfico tendo um distinção do universo escolar. Essa concepção de
Didática da História é difundida e aceita por vários docentes, escolas e academias, assim
provocando uma separação entre a pesquisa histórica e a Didática da história, com isso
a uma separação entre a produção do conhecimento historiográfico e a sua aplicabili-
dade pratica. “Modernização, junto com a dinamização, significa também a cientificiza-
ção do conhecimento histórico. Esta cientificização realizou-se de diversos modos, entre
o iluminismo e historicismo.” (RÜSEN, 2012, p. 17).
História se constitui como disciplina cientifica, responsável pela investigação dos proces-
sos e ensino e aprendizagem de História. Investigando expondo sistematicamente os
processos de ensino e aprendizagem, assumindo a função de refletir acerca dos resulta-
dos destes processos de ensino e aprendizagem.
Nos parâmetros dessa tarefa, a Didática da História é também uma didática
da própria Ciência Histórica: ela analisa e explicita os fatores didáticos ima-
nentes da própria Ciência Histórica e investiga o significado geral desta para
a vida cultural e espiritual e para a práxis social do seu tempo. (BERGMANN,
1989, p. 31).
aos produtos da investigação deve bases do processo educativo. No entanto Libâneo não
considera a especificidade da formação do pensamento histórico no processo didático.
Buscou-se compreender também como a própria ciência da História lida com seus
pressupostos didáticos, e como a Didática da História entende a relação entre o conheci-
mento histórico cientifico e sua função na vida pratica como afirma Bergnmann.
Foi possível observar que ocorreu um distanciamento entre a didática geral e
didática especifica. Onde as teorias historiográficas, na imposição de sua cientificidade,
afastaram a produção do conhecimento histórico de sua aplicação real, deslocando a
Didática da História como uma mera ciência de transmissão do conhecimento produ-
zido pela ciência da História. É necessário como afirmam os autores já citados, que a
Didática da História reassuma sua função reflexiva nos processo de produção do conhe-
cimento histórico.
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INTRODUÇÃO
1 Licenciado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), Especialista em Docência Universitária
(UEG), Docente da Educação Básica no Município de Firminópolis-Goiás. douglascorreiadossantos@gmail.com.
2 Licenciada em Pedagogia (UEG), Pedagoga (UEG), Especialista em Docência Universitária (UEG), Mestre em Educa-
ção (PUC/GO), Doutora em Educação (UnB), Docente da Universidade Estadual de Goiás, Coordenadora do GEFOPI
(Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade). andreakochhann@yahoo.com.br
[ 701 ]
702 Douglas Correia dos Santos; Andréa Kochhann
[...] A educação que poderia ser uma alavanca essencial para a mudança, tor-
nou-se instrumento daqueles estigmas da sociedade capitalista: fornecer os
conhecimentos e o pessoal necessário à maquinaria produtiva em expansão
do sistema capitalista, mas também gerar e transmitir um quadro de valores
que legitima os interesses dominantes. Em outras palavras, tornou-se uma
peça do processo de acumulação de capital e de estabelecimento de um con-
senso que torna possível a reprodução do injusto sistema de classes. Em
lugar de instrumento da emancipação humana, agora é mecanismo de per-
petuação e reprodução desse sistema. (MESZÁROS, 2008, p. 15).
Por mais inevitável que seja, as universidades podem estar vivendo, pela contradição
do sistema, o dilema entre a profissionalização e as questões eminentes de emancipação
humana. O conhecimento epistemológico em si, é libertador dos grilhões que prendem a
consciência dos homens das ilusões da sociedade capitalista. As alternativas emancipató-
rias trazem consigo as lutas de classes historicamente travadas entre os interesses da classe
que dominam os meios de produção, a burguesia, e daqueles que vendem sua força de tra-
balho, onde o seu único capital é a si próprio, nomeado como proletariado.
A história humana, é o processo das ações dos homens e, sobretudo, das lutas de
classes. Portanto, a formação da consciência verdadeira dos homens pode ser funda-
mental para a superação do estado de falsa consciência. Quiçá seja possível afirmar que
as relações do modo de produção capitalista não podem existir sem alienar a classe
dominada aos seus desígnios. Dando a se entender que não existe uma sociedade possí-
vel para além do capital, isto é, um processo de idealização histórico.
A educação formal, representada pela escola, pela didática e práticas de ensino, na
sociedade capitalista, desenvolve papel fundamental para a alienação dos indivíduos na
manutenção das ideologias vigentes. Ousamos trazer aqui, que em termos atuais, a edu-
cação tem sido instrumentos meramente para a instrução do trabalhador. Ou seja, ela
não estabelece vínculos sociais necessários para a formação da consciência emancipada.
Assim o Estado capitalista oferece e impõe metas educacionais que apenas servem como
uma canga aos indivíduos, fazendo-os acreditar que não há possibilidade de qualquer
tipo de mudanças, pois são exigências para concorrência de mercado. Mas, na contra-
mão do movimento apresentamos que existem professores e escolas, que por meio de
sua didática e práticas de ensino primam por um trabalho de conscientização e de eman-
cipação, como um ato de luta e resistência as demandas do mercado e quiçá sofrem
sérias consequências por esta escolha.
A educação como mercadoria, serve a lógica descrita por Marx que são os valores
de uso e os valores de troca. No capitalismo não desaparece o valor de uso das mercado-
rias, pois segundo Leandro Konder (2009) elas precisam de alguém que usam. Por outro
lado, a educação enquanto mercadoria é submetida a concorrência do mercado capita-
lista, adquirindo valor objetivo de troca e equivalente na constituição da força de traba-
lho do proletariado.
vivemos épocas de uma desumanizante alienação e de uma subversão feti-
chista do real estado de coisas dentro da consciência (muitas das vezes tam-
bém caracterizada como reificação) porque o capital não pode exercer suas
funções sociais metabólicas de ampla reprodução de nenhum outro modo.
(MESZÁROS, 2008, p. 145).
centros para fornecer conhecimento necessário para formação humana ou para o traba-
lho de subserviência ao capitalista. Assim, “dentro do todo constituído por estas relações
de produção, o homem é assimilado a um mundo de coisas” (KONDER, 2009, p. 145).
Mais adiante, Konder destaca que
É claro que na manutenção deste estado de coisas, na sustentação deste sis-
tema de relações de produção e na elaboração de categorias lógicas e qua-
dros interpretativos que não levam uma efetiva compreensão geral da sua
verdadeira natureza, há um inequívoco interesse de classe: o interesse capi-
talista. (KONDER, 2009, p. 146).
Lembrando que a educação busca atender as demandas sociais, portanto, ela está
ligada a atividade inerente de todo o ser social, o trabalho humano. Em outras palavras,
ela está relacionada de forma integral em que não se possa separar educação e trabalho.
Somente assim, pode-se tentar estabelecer uma educação para emancipação humana,
uma educação que não atenda somente as demandas do sistema capitalista, mas sobre-
tudo, prime por atender as peculiaridades da vida social que vão além do campo político,
econômico e ideológico.
Uma vez que se admitem, as potencialidades que envolve a totalidade social, depa-
ra-se sempre com a construção da consciência de cada indivíduo. Não há luta do homem
contra o homem em primeiro plano, é a luta do homem contra si mesmo, com suas cren-
ças construídas a partir do processo resultante da sua educação. Pois,
[...] Os trabalhadores não têm de ser educados para a tarefa de participar da
estrutura operacional do tempo de trabalho. Eles simplesmente não podem
escapar de seus imperativos, uma vez que estes lhes são diretamente impos-
tos, com a absolutez de um destino social, correspondente à sua subordina-
ção estruturalmente assegurada pela ordem social estabelecida. (MESZÁROS,
2008, p. 99).
para a formação integral do ser humano. E para isso é preciso ir além das dimensões alie-
nantes que é posto dia a após dia pelo mercado capitalista, sempre induzindo a aceitação
de que não há alternativas e que tudo se limita as determinações do capital.
É preciso, inicialmente, compreender o processo histórico com urgência, porque o
jogo de interesse que há por trás da educação formal, manifesta-se pela asfixia e pres-
sões feitas principalmente no campo universitário. Esta é a cultura de obstinação do
capital, que submete os indivíduos na sua lógica irreversível de exploração do trabalho
humano. E os professores podem auxiliar no processo de conscientização e desalienação,
por meio da didática e práticas de ensino contra-hegemônicas.
Um exemplo, disso é a crise que propaga nas universidades, em especial as univer-
sidades públicas. Atos de cortes orçamentários e entre outros, feitos sobre a justificativa
de maior controle, de racionalização da gestão, no entanto, as dificuldades sempre estará
eminente devido as condições históricas e presentes que se encontra no capital. Dada a
urgência, com isso pode predispor favoravelmente na emancipação humana? Como lutar
contra a força que impõe o capital? Primeiramente na linguagem da vida real dos homens,
deve ser retirada a figura do homem egoísta, individualista e colocá-la como figura de
homem social.
e, a partir daí, sua projeção como destino, sonho compartilhado, projeto coletivo”
(LINERA, 2018, p. 30).
O conhecimento por si só não é o elemento necessário para emancipação humana,
mas faz parte de um conjunto de objetivos para a concretização da emancipação humana.
Gramsci argumenta que
não há nenhuma atividade humana da qual se possa excluir qualquer inter-
venção intelectual – o homo faber não pode ser separado do homo sapiens.
Além disso, fora do trabalho, todo homem desenvolve alguma atividade inte-
lectual; ele é, em outras palavras, um filosófico, um artista, um homem com
sensibilidade; ele partilha uma concepção do mundo, tem uma linha cons-
ciente de conduta moral, e portanto contribui para manter ou mudar a con-
cepção do mundo, isto é, para estimular novas formas de pensamentos.
(GRAMSCI, 1982 p. 121).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
1 Licenciado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), Especialista em Docência Universitária
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2 Licenciada em Pedagogia (UEG), Pedagoga (UEG), Especialista em Docência Universitária (UEG), Mestre em Educa-
ção (PUC/GO), Doutora em Educação (UnB), Docente da Universidade Estadual de Goiás, Coordenadora do GEFOPI
(Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade). andreakochhann@yahoo.com.br
[ 715 ]
716 Douglas Correia dos Santos; Andréa Kochhann
produzem sua vida material, são as formas que a sociedade de maneira geral se desen-
volve, seja rumo ao progresso ou regresso da organicidade social. E fica evidente, que a
produção intelectual dos homens, especialmente, no seio da universidade esboça sua
produtividade, em meios mensuráveis.
Assim, será que o conhecimento produzido na universidade trilha os caminhos
para emancipação humana? ou reproduz a mera alienação do trabalho? Sabe-se que a
educação é instrumento tanto para emancipação quanto para alienação aos estigmas do
capital. Então, compreender os dilemas da universidade do século XXI é o primeiro passo
para desvendar os paradigmas da formação acadêmica.
Desta forma, a pesquisa e de cunho qualitativa, aproximando do materialismo
dialético, ela é de caráter bibliográfico de teórico que abordam sobre a universidade e
educação. No primeiro tópico procura-se discutir os fundamentos da universidade XXI,
abordando questões das imposições e avanços do capitalismo global. Já no segundo
tópico, é discutido sobre a necessidade de se reinventar a teoria crítica social como
suporte para alcançar a emancipação humana.
Nesse sentido, a produção intelectual, está relacionado com a produção material dos
homens, em um ciclo de existência. As condições de existência de cada ser social perpassa
sobre o plano real e ideal de cada indivíduo, intrinsicamente interligada as suas atividades
humanas. De acordo com Marx (2005) “Não é a consciência do homem que lhe determina
o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”.
É justamente, nesse víeis, que a formação humana do ser social, deve ser questio-
nada e, por conseguinte, nos deparamos com as crises eminentes da universidade sob os
desígnios da crise estrutural capitalista.
Utilizando dos conceitos de Boaventura Sousa Santos, sobre a crises da universi-
dade, é possível delinear que a educação com os avanços neoliberalista, tornou-se uma
mercadoria, nada mais do que é uma mercadoria a ser vendida. E isso pode-se compro-
var com o que denomina mercado universitário, em que o saber científico é inevitavel-
mente mais um produto nas prateleiras da comercialização do mercado.
A primeira crise abordada por Santos, é a crise de hegemonia. Para medir a eficiên-
cia da produtividade da universidade, agora se intitulou ranking das instituições de
ensino. Medindo não a qualidade de suas produções intelectuais, mas a quantidade de
trabalhos publicados, que levam os docentes, na maioria das vezes, publicar sem o devido
questionamento sobre tal conhecimento.
A sociedade capitalista e suas aspirações faz educação, de forma geral, um mer-
cado, fazendo que as instituições percam sua autonomia, ou melhor, a sua legitimidade.
A educação como mercadoria, não pode trazer benefícios para a formação humana.
Outrora, trazem com a ideologia de mercado os preceitos do mercado e a universidade
passa a ser mero instrumento de formação de mão-de-obra, concebendo uma formação
multifacetada, onde a competitividade de mercado é o principal objetivo.
Decorre desse desenvolvimento que a produção intelectual dos centros do saber
tem perdido sua legitimidade. A crise que o capital incorpora nas instituições social são,
de certa maneira, uma luta para a privatização que busca provar a ineficiência das insti-
tuições de ensino. Por isso, o que se presencia nas decisões tomada pelo o Estado capi-
talista são os cortes orçamentários, chegando assim à terceira parte da crise da
universidade pública.
Os cortes orçamentários se justificam, que as universidades públicas, são ineficien-
tes se comparada as universidades privadas. No entanto, esta lógica degenerada do sis-
tema capitalista, criam situações que a universidade é obrigada a entrar na lógica de
mercado, a educação, nesse contexto é apenas uma mercadoria fornecida aos seus clien-
tes para a manutenção do ciclo de exploração do trabalho.
A lógica desse mercado não é nova, como pode-se perceber, no que escreve
Guimarães (2014, p. 553) que as imposições “na verdade, não são novos [...] O que há de
novo é a violenta exploração do trabalhador e a decorrente e extraordinária concentra-
ção de riqueza, graça às técnicas aprimoradas de extração da mais-valia”. Os dilemas da
formação humana, na perspectiva neoliberal, é que os homens se encontram iludidos e
buscam, arduamente aprimorar seu capital humano, em prol de maior qualificação da
mão-de-obra.
O papel da universidade tem sido reduzido pelo Estado capitalista. O Estado
enquanto gestor das políticas neoliberais, tem intensificado as pressões feitas a esta ins-
tituição social. A fim de que essa possa enquadrar as condições, não de uma formação
integral do ser humano, mas enquadrar os indivíduos a exploração do trabalho humano,
pois a produção intelectual, agora fazem parte do contexto da mais-valia.
Sendo mais inteligível, e retomando o pensamento sobre o capital humano, pode
destacar que
Nesse mesmo sentido, Chauí (2001, p. 70) diz que “a universidade está estruturada
segundo o modelo organizacional da grande empresa, isto é, tem o rendimento como
fim, a burocracia como meio e as leis do mercado como condição”. A racionalização da
gestão nos fundamentos administrativos empresariais, simplifica o conteúdo formal da
universidade de acordo com a indubitável ideia de produtividade.
É fundamental enfatizar as características precedentes da relação da universi-
dade com as demandas do mercado que evidenciam a produção e consumo de
conhecimento e informação, viabilizando que a produtividade acadêmica seja rele-
vante, na proporção que produz e reproduz as condições de competividade entre as
instituições de ensino. Concebendo uma mudança estrutural na universidade, que
segundo Arimoto (2005, p. 184), é a “mudança da ‘comunidade do conhecimento’
para o ‘conhecimento corporativo”.
Ainda de acordo com Arimoto (2005, p. 181), “o material de tal produtividade aca-
dêmica é o conhecimento, inclusive o conhecimento avançado e o conhecimento cientí-
fico, sendo ambos tidos como equivalentes às disciplinas acadêmicas”. Tal organização é
incorporada ao currículo, ordenando uma total pulverização da realidade, em conse-
quência da predisposição da sociedade a globalização, essencialmente para as tecnolo-
gias da informação e comunicação.
A universidade deve ser eficiente, no sentido, de uma formação técnica que atenda
o mercado. As competências necessárias nesta formação são conteúdos obrigatório, que
de forma rápida, possa inserido no contexto do mercado. Em face desse contexto, Pikety
(2015) destaca que o processo de adaptação dos indivíduos junto as exigências do
Por outro lado, é necessário que o contexto social universitário confronte os avan-
ços da globalização neoliberal com a globalização contra hegemônica, de modo que as
alternativas possam protagonizar a autonomia, assegurada pelas as ações conscientes da
universidade. Para isso, o conhecimento produzido dever ser pluriversitário (conheci-
mento transdisciplinar), como forma de contrapor as imposições mercantis, ou seja, o
conhecimento deve ser compreendido como instrumento de autoconscientização para
lutar contra os estigmas do capital, no objetivo da emancipação humana.
As atribuições do capital reproduzem no sistema universitário um novo ciclo de
exploração, mediante a descentralização política econômica. A primeira medida, é a
escassez de recursos, fazendo que o trabalho docente em tais instituições tenha baixo
custo, e ao mesmo tempo, mantenha determinado parâmetros de produção científica.
CONSIDERAÇOES FINAIS
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INTRODUÇÃO
1 Professora adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, pedagoga, doutora em Educa-
ção pela UFG. Coordenadora do projeto de pesquisa desenvolvido na área de Filosofia da Educação. A presente
comunicação e texto para o EDIPE/2019 são desdobramentos de pesquisa e estudos de tese de doutorado da
autora. corbiniano.ufg@gmail.com
[ 727 ]
728 Simone Alexandre Martins Corbiniano
Essa razão surreal não contradiz o pensamento anterior até sua extinção, mas lhe
dá a fluidez, desdobra lhe numa rigorosa retificação: “é necessário devolver à razão
humana sua função de turbulência e agressividade”.3 Pois, este é um racionalismo que
confronta, desafia e multiplica as ocasiões de pensar, abrindo-se a uma realidade em que
a razão e sensibilidade poderão ser restituídas uma a outra sem prejuízos à dialética que
se elabora entre pensamento e realidade. Não obstante, engana-se quem pensar que
está é uma aposta centralizada unicamente no progresso científico. Bachelard introduz
uma filosofia do homem plural que abraça o pensamento e também o imaginário. “O
homem cria a ciência, ao mesmo tempo, em que se entrega ao jogo fascinante de imagi-
nação poética. Conforme mostram os textos bachelardianos, ciência e poética são cami-
nhos para se alcançar a ‘sobre-humanidade’.” 4
A natureza retificadora alcança a escola nesse contexto em que a razão inventa
mediante potencialidades outrora inativas e ociosas; essa escola tem “menos necessi-
dade de descobrir coisas que ideias”.5 Participante da modernidade, em oposição à vida
cotidiana, a escola caracteriza-se como formação que é deformação. É imaginação e inte-
ligência permanentemente recomeçadas. Na medida em que se expanda a formação
como um prolongamento surracionalista de cultivo do espírito, a questão pedagógica
que emana de Bachelard toca, especialmente, no alargamento da formação6, criando as
condições para que o espírito avance dinamicamente do ponto de vista da imaginação,
da criação e do pensamento.
DA IMAGINAÇÃO CLÁSSICA
À COMPREENSÃO DE BACHELARD
Nesse novo contexto a imaginação não é mero degrau para chegar ao conheci-
mento objetivo. Como dimensão autônoma ligada à noção de imaginação material, nada
tem a ver com a compreensão de um materialismo positivista, estático e pesado, ela aco-
lhe na obra de Bachelard os complexos e as tendências primárias que são profunda-
mente ativas. Funda-se aqui um projeto diferente de psiquismo dinamizado pelo
simbolismo dos elementos materiais integrantes de uma imagética em que ganham
corpo tanto uma imaginação quanto uma objetividade que concorrem para um projeto
ambivalente de psiquismo.12
A imaginação remete a uma dimensão psíquica em que as imagens e as valoriza-
ções íntimas emergem segundo uma perspectiva histórica ligada ao mundo das matérias
e das forças, é um fundo de psiquismo impessoal próximo da vida pré-natal.13 A imagina-
ção reverbera, por vezes, numa região psíquica mais profunda que a da intersubjetivi-
dade e dos complexos.
No outro extremo, talvez se possa dizer que a efetivação da sublimação poética,
assim como pensamento dialético (ou científico), é realizadora de sínteses criadoras do
espírito, ao mesmo tempo em que é distinta da necessidade sensorial. Distinguir um tal
materialismo da esfera do ser material em si, ou da vida orgânica expressa no bíos, torna-se
indispensável, pois a materialidade se dá a conhecer por suas reverberações expressas na
racionalidade do lógos como narrativa, autocomprensão, como reflexão. Em A filosofia do
não, Bachelard delimita a experiência da imaginação material como um evento de razão e
linguagem para explicitá-la, nesse caso, junto ao pensamento objetivo:
Queríamos com efeito dar a impressão de que é nesta região do ultra-racio-
nalismo dialético que sonha também o espírito científico. É aqui, e não algu-
res, que nasce o sonho anagógico, aquele que se aventura pensando, que
pensa aventurando-se, que procura uma iluminação do pensamento através
do pensamento, que encontra uma intuição súbita no além do pensamento
instruído. O sonho ordinário trabalha no outro polo, na região da psicologia
11 TERNES, J. Expérience première et valeurs rationnelles. In. Cahiers Gaston Bachelard, p. 51 – 52.
12 Cf. BACHELARD, G. A água e os sonhos, p. 1 – 20. Cf. também, QUILLET, p. Introdução ao pensamento de Bachelard,
p. 88 – 91. Em A água e os sonhos (2013a), Lautréamont (2013b) e também A psicanálise do fogo (2008) Bachelard
ressalta a tensão necessária provinda de um primitivismo das ideias. A materialidade de todo psiquismo criador
desdobra-se da relação radical do psiquismo humano com o mundo, passando também por atitudes irrefletidas,
ou por projeções de forças materiais que encontram raízes na profundidade dos registros pulsionais.
13 QUILLET, p. Introdução ao pensamento de Bachelard, 1977.
Para Bachelard a imaginação é projetiva, ela faz corpo com a inteligência: “o imagi-
nário não encontra suas raízes profundas e nutritivas nas imagens [em si]; a princípio ele
tem necessidade de uma presença mais próxima, mais envolvente, mais material. A rea-
lidade imaginária é evocada antes de ser descrita”.15 Está em questão o vigor da criação,
o reencontro com a juventude da imaginação ativa, 16 dando espaço ao inesperado, à
lembrança como um princípio de assimilação formal, “que visa uma forma por ela mesma,
é bem diferente do projeto que visa uma forma como signo de uma realidade desejada,
de uma realidade condensada em uma matéria”.17
Assim a imaginação material se desvencilha do espírito propedêutico e das catego-
rias do entendimento kantianas, ganhando a independência necessária para afastar os
“estados fósseis do recalque intelectual”, 18 adentrando a escala do inconsciente, além de
um princípio de assimilação do simbolismo, dos registros míticos, do estado de impru-
dência objetiva, e de criação. Segundo Bachelard, ao liberar as intuições,
a imaginação inventa mais que coisas e dramas; inventa vida nova, inventa
mente nova; abre olhos que têm novos tipos de visão. Verá se tiver ‘visões’.
Terá visões se se educar com devaneios antes de educar-se com experiências,
se as experiências vierem depois como provas de seus devaneios.19
A autonomia e o valor da imaginação nos leva a pensar que toda criação inclui a
necessidade de lutar contra os hábitos instituídos, implica a incerteza, uma incerteza que
indica vigor e relevância dos registros oníricos, por vezes, é na “inocente” expressão das
imagens que se encontra a presença e o tom de uma personalidade.
Considerando as diferentes faces, tanto a epistemológica como a da imaginação
em Bachelard, compreende-se que “a tarefa do conhecimento e a tarefa da criação
medida que ele modela os signos à imagem dos impulsos, na autenticidade do ser, é que há
o ensejo da criação de um objeto, seja de arte, de conhecimento, ou de afeto.
Ademais, ao tocar no universo de um simbolismo universal, acessível noutro campo
pela técnica dos sonhos como o fazem os psicólogos por exemplo, Bachelard não se des-
dobra apressadamente nos processos psíquicos, não tem pretenções de delinear quais-
quer conceitos ou ideias nesse campo, mas indica caminhos que levam a pensar que
tanto na obra de arte da poética, assim como na descoberta científica, o inventor traba-
lha sobre uma imagem interior, assim como um pintor trabalha na presença de uma pai-
sagem. Trata-se de pôr em questão na formação certa memória arcaíca que pode em
alguma medida ser aflorada em direção ao campo da consciência, seja no campo dos
valores, do mito, dos heróis, ou da própria história. Nosso autor indica que o caminho da
imaginação é transmutar as imagens provindas da percepção, provocar a abertura de
novas formas de existir. A característica essencial da imaginação é a mobilidade, a vivaci-
dade, a inspiração ao novo, emblema do percurso do real ao imaginário, percurso que é
todo conhecimento, e que ao fim e ao cabo é sempre um autoconhecimento.
Multiplicar as possibilidades de abertura do espírito inclui a atividade que permita
o inesperado, que recebam as questões desestabilizadoras e por vezes turbulentas como
um método crítico. O plano da imaginação, assim como, o da “formação do espírito cien-
tífico, não é apenas reforma do conhecimento vulgar, mas é ainda uma conversão dos
interesses. Reside nisso justamente o princípio do engajamento”26, encontra-se neste
ponto uma inestimável dimensão da formação do sujeito. O projeto crítico da ciência lida
com as vicissitudes da razão, conquista sua própria fecundidade, mantendo-a alerta
diante dos conhecimentos habituais, sistemáticos e positivos. No mesmo nível, o imagi-
nário é matéria artesanal carregada de onirismos, fértil em certa dose de violência e de
transgressão, mas “não é absolutamente solidário com o imperialismo do sujeito, que ele
não pode se constituir numa consciência isolada”. 27 A imaginação, originariamente, não
demonstra provas de objetivação nem toca no absoluto.
Estamos longe de reconhecer e atingir toda a capacidade metafórica. Na formação
escolar as dificuldades se apresentam sobretudo na possibilidade de romper ou cessar
de emitir opiniões absolutas. As contribuições estão ainda a construir nesse campo, por
hora é temerário afirmar simplesmente que a formação escolar que se tem não oferece
quaisquer subsídios imaginativos para o sujeito. Pois, cabe questionar ainda se é possível
haver formação sem processos ideológicos, sem algum tipo de valor simbólico.
REFERÊNCIAS
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Américo Motta Pessanha. São Paulo: Abril cultural, 1978, p. 1 – 87. (Os pensadores)
____. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Trad.
Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
____. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. 2. ed., Trad. Antonio de Pádua Danesi.
São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.
____. A psicanálise do fogo. 3. ed., Trad. Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
____. Ensaio sobre o conhecimento aproximado. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2004.
____. Idealismo discursivo. In. ____. Estudos. Apresentação Georges Canguilhem. Trad. Estela dos
Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.
____. Lautréamont. Trad. Fábio Ferreira de Almeida e apresentação de Eliane Robert de Moraes.
Goiânia: Edições Ricochete, 2013.
____. L’engagement rationaliste. Préface de Georges Canguilhem. Paris: Presses Universitaires de
France, 1972. (Bibliothêque de philosophie contemporaine).
____. O racionalismo aplicado. Trad. Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1977.
BULCÃO, Marly. Bachelard e os caminhos do super-homem. In. Reflexão, n. 62, Campinas: Instituto de
Filosofia – PUCCAMP, 1995, p. 71 – 72.
CORBINIANO, Simone Alexandre M. Conhecimento escolar e valores epistemológicos contemporâneos.
In. COÊLHO, Ildeu Moreira,. FURTADO, Rita Márcia Magalhães. (Orgs). Universidade, Cultura, Saber e
Formação. Campinas SP: Mercado de letras, 2016, p. 201 – 216.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 4. ed. Trad. Valério Rohden e Udo B. Moosburger. São Paulo:
Nova Cultural, 1991, v. 1. (Os pensadores).
PESSOA. Fernando. O guardador de rebanhos. In. Os melhores poemas de Fernando Pessoa, Seleção de
Tereza Rita Lopes, 4. ed. São Paulo: Global Editora, 1988, p. 164.
QUILLET, Pierre (Org). Introdução ao pensamento de Bachelard. Trad. César Augusto Chaves Fernandes.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.
TERNES, José. Expérience première et valeurs rationnelles. In. Cahiers Gaston Bachelard – Bachelard au
Brésil. Oranização e apresentação de Marly Bulcão et al.ii. Etitions Universitáries de Dijon, année 2001,
n. 4, p. 51-59. (ISBN 2-906645-40-0).
_____. Bachelard e a psicanálise. In. Fragmentos de cultura. v. 15, n. 6, p. 965-978, jun., Goiânia: IFTEG,
2005.
[ 737 ]
738 Sabrina Paradizzo Senna
Aprofundemo-nos agora no nosso livro base para que possamos obter uma com-
preensão maior do pensamento socrático no que tange ao ensino da Filosofia e o profes-
sor de Filosofia, para fazermos assim uma conexão com a situação desta disciplina
atualmente, confirmando algumas teorias, refutando outras ou então deixando em
aberto questões que ainda não possam ser resolvidas.
Como ensinar filosofia? Pergunta de 100% dos jovens recém-formados. Para que
estudar Filosofia? Pergunta de 95% dos alunos do Ensino Médio e Fundamental. As gran-
des dificuldades de se dedicar ao ensino de Filosofia são estas; não existe apoio do
governo perante sua disciplina, a escola e o corpo docente te encaram como uma maté-
ria “tapa-buraco” onde você vai ficar viajando junto de seus alunos, não respeitam sua
matéria por isso te interrompem a todo o momento sendo que você só possui uma única
aula por semana e a matemática cinco por exemplo, seus alunos não compreendem a
importância da Filosofia e por isso a odeiam fazendo de tudo para atrapalhar o anda-
mento da sua aula, os pais que também não sabem pra que filosofia e não conseguem
sequer incentivar seus filhos a tentar entendê-la e depois de todos esses contratempos e
dificuldades que vem lá do presidente da república até seu colega de trabalho (que por
sinal tem a mesma profissão) você precisa estar de pé todos os dias e buscar inspiração
(não se sabe onde) para tentar dar aulas que prendam a atenção de pelo menos dois alu-
nos em cada turma. Estas são as inquietudes básicas do ensino da filosofia. Como ensi-
nar? Para que ensinar? Porque ensinar? Para quem ensinar?
A ideia que tem se ensinado aos futuros licenciados atualmente, e que parece ser
sustentada por Kohan, é a variedade de dinâmicas que podemos usar para uma aula de
Filosofia. Seja através de textos do próprio filósofo ou não, filmes, fotografia, vida coti-
diana e etc. Porém, ainda que você se mostre como facilitador na aprendizagem do con-
teúdo e se abra para o aluno, haverá tensões entre as partes, isso significa dizer que
haverá diferenças políticas, sociais, ideológicas, éticas, etc., o professor deve perceber
que essas divergências não são negativas, deve-se aproveitar desse campo onde “reina”
a liberdade de expressão de cada um e por ai ensinar a Filosofia, é abrir-se para ser trans-
formado e transformar através de ideias, de diálogos que são gerados pela Filosofia. O
professor deve permitir que o outro pense suas próprias ideias e não impor ideias pron-
tas a eles, e através desse jogo, dessa movimentação de ideias um pode aprender com o
outro, o professor está naquele momento ensinando e aprendendo. Contudo, é preciso
que o professor neste momento faça intervenções para que a aula não vire um grande
Porém, acredita Sócrates, que o professor de Filosofia terá sucesso, será o mais sábio,
quando ele souber que não sabe de nada, porém essa visão soa-me um tanto displicente.
O professor não deve chegar à sala de aula e achar que seu conhecimento é mais valioso
que de todos os seus alunos ou então a todo o momento dizer que tem mestrado ou dou-
torado, etc., e por isso é o mais sábio e seu conhecimento é único e verdadeiro, mas acre-
dito que ele precisa sim saber, ele precisa saber que sabe, pois ele sabe, ele entende. Se ele
não soubesse não teria meios de transmitir o conhecimento a seus alunos, não haveria ali
conhecimento a serem trocados, só as experiências vividas pelos alunos.
O texto de Kohan traz ainda uma ideia interessante sobre a defesa que Sócrates faz,
ele usa uma linguagem infantil, simples e improvisando. Essa ideia de simplicidade que
alcance a todos e a ideia de que a criança está sempre questionando são coisas que não
devem acabar dentro da Filosofia. A criança em parte uma filósofa porque tudo ela ques-
tiona, tudo quer saber, e quando crescemos, deixamos essa curiosidade, esse questiona-
mento que nos é tão importante para trás. Só encontramos sentido quando questionamos
não só a atitude dos outros, ou o passado, mas quando questionamos a nós mesmo.
Além dos contratempos encontrados para o ensino da Filosofia, assim como Platão
e Sócrates, destaco três grandes rivais do nosso ensino; Política, Poesia e Técnica. Dando
grande importância a Política e a Técnica, ressaltando que usados devidamente podem
ser grandes aliados.
A política é um ponto de questionamento dentro da Filosofia, e por ela podemos
transformar a política de modo que melhore a vida dos cidadãos. A política é aquilo que
rege o modo de vida de uma sociedade, e aqueles que estão no comando não possuem
interesse em desenvolver o pensamento crítico nos cidadãos, logo, fazem o esforço
necessário para manter a Filosofia longe da escola e da vida das pessoas, mas sem ela a
transformação se torna complicada. A técnica deseja transformar as disciplinas, inclusive
a Filosofia, em produto, ou seja, com uma finalidade para o mercado de trabalho, signi-
fica tirar da Filosofia o brilho que ela possui, o mistério, significa tirar dela a liberdade de
pensar e se expressar e transformá-la numa máquina de fabricação de modelos ideológi-
cos da classe dominante.
A Filosofia não é somente um saber, ela é uma relação que possuímos com o modo
que vivemos e a forma como nos relacionamento com o conhecimento. Viver para
Filosofia é viver dando destaque ao pensar e ao modo de viver questionando. Significa
aceitar a ignorância e ultrapassá-la. O saber não ignora, o saber inicial é um caminho, não
quer dizer que seja uma verdade absoluta, e deste saber inicial nascem novos saberes
numa troca de experiências e conhecimentos entre professor e aluno. Porém, a questão
todas é não impor ao aluno um pensamento, é apresentar aquilo que se sabe e permitir
que ele se expresse e comece a pensar por si só.
Ao contrário do pensamento do texto, a Filosofia tem sim um valor diferenciado
entre os outros saberes. Se ela possui uma diferença no modo de se relacionar com o
conhecimento ela de alguma forma passa a ser especial, a Filosofia “[...] percorre alguns
caminhos que outros saberes não podem percorrer por si [...]” (KOHAN, 2008, p. 27).
Os outros saberes perpassam pela Filosofia, ela é o princípio de qualquer outro pen-
samento. A Filosofia não é superior no que se trata de abandonar as outras disciplinas,
porém a Filosofia abre a visão e permite-se criticar conscientemente as outras disciplinas.
A Filosofia então nasce como “os que filosofam” e passa por mudanças até chegar
na definição de que seria um apontamento da maneira como deve se viver, um “estilo de
vida” que não aceita imposições nem dominação. É estar em constante observação, ana-
lisando sempre a si mesmo em primeiro lugar e aos outros. Estar filosofando ou ensinar
a Filosofia é nunca aceitar os valores postos, é sempre se questionar, é ir além daquilo
que podemos ver. É dar chance ao que está abandonado, é interferir no bem público. A
Filosofia faz despertar a consciência crítica que até então estava abandonada, alienada
pelos meios de comunicação dentro de si.
Viver uma vida para a Filosofia é viver em prol do bem comum, é fazer o melhor
para si e afetar os outros também com o melhor. Filosofia é educativa porque o que se
pensa afeta o outro. É educar o pensamento na coletividade, é viver em comunidade har-
mônica. Ela é vida. E quem vive a Filosofia não pode deixar de ensiná-la, e fazer com que
todos participem de seu processo.
A Filosofia é um embate de pensamentos divergentes, entre aqueles que dese-
jam permanecer e os que desejam sair da “caverna”, por isso, além de não valorizada é
rechaçada, tida como matéria viajante sem significado para a vida do ser humano. Não
podemos esquecer que o professor de Filosofia é um dos fortes responsáveis pela
construção do pensamento do jovem na escola. Inicialmente ele como professor vai
ser superior aos jovens até se igualarem no saber através do diálogo e de troca de
conhecimentos/experiências.
Não é errado ter a Filosofia como profissão, não significa necessariamente que você
precise colocar um “preço para transmitir o que sabe” (KOHAN, 2008), você pode sem dúvi-
das dispor de tempo a mais do que é pago para ensinar. Não significa também que como
professor você impõem um conhecimento, significa sim que você o apresenta, e ao longo
da caminhada você e seus alunos constroem novos conhecimento, que tanto podem ser
iguais aos apresentados ou completamente opostos. A Filosofia é esse caminho de vida, e
assim não possuiu uma verdade única para si, ela está em constante transformação, de
acordo com seu tempo. Não é porque é um professor que não pode dizer o que pensa,
muito pelo contrário, deve sim expor suas opiniões e questões onde quer que esteja, e não
escolher por conveniência o que irá dizer de acordo com o lugar que está.
Sócrates acredita não precisar de interlocutores para que se aprenda, porém, devo
me apoderar do pensamento de Hegel neste instante, onde o “ensino deve ser sempre
mediado, pois só se aprende por intermediação” (SENNA, 2012).
A mediação realiza-se no embate entre o que predomina e insiste em perma-
necer como está e o que daí brota, ou melhor, como sua negação sob o
aspecto de superação, como um vir-a-ser. Com isto evidencia-se que a tarefa
do professor não se caracteriza pela calmaria da adequação, mas sim pela
agitação do que desestabiliza para se estabelecer (NOVELLI, 2005, p. 131).
Ou seja, para Hegel deveria haver um movimento entre aquele que aprende e o
que ensina, para que algo seja produzido, e o conhecimento verdadeiramente transmi-
tido, pois quando algo está inerte, inativo, nada se é produzido, nada pode ser alcançado
(SENNA, 2012). Não há nada de errado no professor que ensina, pois o aluno não aprende
tudo por si só, o professor é impulso.
O saber é necessário para que se governe a sociedade de modo que melhor lhe
convir, e a Filosofia chega para impedir que isto seja feito, ela tenta impedir que as pes-
soas sejam alienadas. Os filósofos querem que as pessoas tomem a Filosofia para si como
um modo de vida no sentido que ela lhe permitirá enxergar a verdade, sair da escuridão
da caverna onde só vemos sombras, aquilo que a classe dominante quer que vejamos.
“[...] opor a política dos políticos a política dos filósofos” (KOHAN, 2008, p. 63).
Não importa a época que vivemos, desde o tempo de Sócrates, tentam banir a
Filosofia da vida do homem de um modo ou de outro. Se antigamente ela precisava ser
extinta por despertar nos jovens a curiosidade e a vontade de mudar a vida na qual
viviam, atualmente ela é deixada de lado pela fama de “aula vaga”. Ela não serve, pois
não traz nada de conhecimento importante que ajuda o jovem a se inserir no mercado
de trabalho. A tecnologia e o capitalismo ditam o que é importante e o que deve ser ensi-
nado, e a Filosofia não está dentro dessa lógica, pois pensar na mudança não interessa,
o importante é produzirmos homens cada vez mais maquinizados que não conseguem
pensar por si próprios. “Mudam as acusações, ou melhor dito, o sentido outorgado à cor-
rupção pela qual a filosofia deveria responder” (KOHAN, 2008).
A Filosofia não deve se deixar dominar pelo pensamento positivista do século que
vivemos, mas não deve se excluir totalmente desse mercado, mais que uma matéria, ela
deve estar inserida nas empresas para que não permita a alienação de seus funcionários,
mas para manter “mente lúcidas e hábeis para se dar bem na selva do mercado de traba-
lho” (KOHAN, 2008).
A Filosofia é antes de qualquer coisa um enfrentamento ao modo de vida que é con-
trolado pela mídia, ela deve enfrentar e se diferenciar, sendo um destaque na multidão de
iguais. É assim a relação de saber com o próprio conhecimento, além do conteúdo.
O professor de Filosofia desperta, nesse sentido sendo a “Pedra de Toque”, o
aluno para o pensar e ainda sim transmite conhecimentos ao aluno. Ensinar Filosofia
não significa assim simplesmente transmitir ao aluno conceitos e teorias, mas também
através dela tentar afetar o modo como os outros vivem, o professor de Filosofia vai
abrir as portas para esse novo meio de pensar. Ele vai “cuidar que os outros cuidem de
si” (KOHAN, 2008).
O livro nos traz ainda um questionamento “Como ensinar filosofia desde fora da
filosofia? Como ensinar a filosofar se não se filosofa?” que nos leva a pensar que somente
um professor formado em Filosofia pode dar aulas de Filosofia. Pois ele teve anos em
contato profundo com ela e por isso dispõem de todo conhecimento necessário.
Há duas características em Sócrates das quais admito me apoderar, a existência do
afeto entre quem ensina e quem aprende e o diálogo. É preciso que o professor abre o
diálogo com a turma, que permite o aluno se expressa e mostrar a sua opinião, e é impor-
tante também que este professor veja o aluno como ser humano, e saiba que além da
escola ele possui uma vida e que muitas vezes precisa de ajuda.
Agora que a Filosofia se tornou obrigatória e está entrando nas escolas, parece que
de forma definitiva, o professor fica responsável para pensar sobre novos métodos de
dar aula, se atualizar com o tempo no qual estamos inseridos. Vivemos numa era tecno-
lógica onde o professor não consegue ignorar a presença dela nas escolas, está presente
desde o celular que o aluno carrega a televisões e data shows dentro das salas. Percebemos
desta maneira, que o professor tem a tarefa de se encaixar e encaixar a Filosofia neste
contexto de modo que ela se torne atraente para o aluno, sem deixar é claro, de lado os
assuntos filosóficos.
Os alunos são então, agentes passivos neste processo de ensino aprendizagem,
ficam ali somente ouvindo as explicações do professor, porém não são todos os alunos
que ouvem, por isso o professor deve mostrar a esse aluno à hora de ouvir e de falar,
mostrar o respeito que todos devem ter, sabendo à hora de ouvir e de falar e também de
respeitar a opinião a próximo, pois nesse processo de troca se constituirá conhecimentos
bem mais sólidos.
Então a questão é, como dar uma aula de Filosofia, fazendo com que o aluno perca
o pré-conceito existente com a disciplina, e torná-la mais acessível as mentes de hoje,
que estão voltadas para a tecnológica e para o mercado de trabalho.
Não podemos deixar os conceitos filosóficos de lado, pois eles são parte da Filosofia,
assim como as fórmulas da matemática ou da física, nem deixar de estudar a história da
Filosofia. Mas não podemos esquecer de ensinar aos alunos pensarem, aliás, ensiná-lo a
usar o pensamento que eles possuem, na verdade desenvolver a capacidade de pensa-
mento que cada um possui voltando este para o lado crítico. Precisamos ainda lembrar
que estamos lutando contra a corrente, pois não é de interesse de nenhum governante
que se faça o povo pensar. É importante então, que usemos essa história da Filosofia e
suas ideias sempre atualizando elas ao nosso tempo.
Em Cariacica tenta-se revolucionar a ideia de ensino de Filosofia, onde a disciplina
junto com Sociologia não estão na grade escolar. A intenção é fazer parte da vida escolar
do aluno. São aulas onde todos têm a oportunidade de se expressar, de dizer o que
pensa, suas ideias, a questão é dinamizar as aulas e fazer com que os alunos se tornem
ativos no processo de ensino-aprendizagem.
A ideia que eles tiverem que é de extrema importância é realmente trazer a Filosofia
para a vida cotidiana do aluno, só assim enxergarão a importância da disciplina na vida,
ajuda a entender e problematizar a realidade na qual estão inseridos.
O que os professores de Cariacica trouxeram foi a necessidade de transformar o
modo como lidamos com a Filosofia, é entender que ela precisa ser adequada, sem perder
seus valores, de acordo com o meio em que ela está, as realidades são divergentes e preci-
samos destacar isso, não se lida com a Filosofia na academia como na escola, e entre as
próprias escolas também há diferença. O professor só chega no aluno se o aluno permitir,
e isso pode ser feito através de uma simples alteração de linguagem por exemplo.
Uma coisa que chama muita atenção é a disposição dos professores de irem até as
casas do aluno conforme a necessidade, esta é uma questão que anteriormente nos trouxe
Sócrates, o afeto entre aluno e seu mestre, aquele que aprende e o que ensina, é ter res-
peito e consideração pelo outro, é enxergar no outro um humano com sentimentos e pro-
blemas que muitas das vezes conseguem ser resolvidos quando se abre espaço para uma
conversa ou uma visita, o aluno se sente valorizado. Não podemos deixar se esclarecer
mais uma vez que é importante não deixar o conteúdo, disciplina Filosofia de lado.
Temos ainda a tentativa de inserção da Filosofia no ensino fundamental. E além de
todo processo de interação entre professor e aluno, eles buscam sempre que possível
uma conversa paralela com os funcionários que trabalham nas escolas, pois eles pos-
suem uma visão de fora do processo e muitas vezes percebem aquilo que os professores
não conseguem visualizar.
trabalho quando entramos na sala de aula. Eles possuem opiniões derivadas da que escu-
taram ou viram nas mídias, e o papel da disciplina Filosofia é reverter esse quadro, fazer
o aluno receber aquela informação da mídia, pensar sobre, examinar, questionar e ai
então aceitá-la ou não.
Temos então programas, principalmente com a tecnologia que nos permite usar a
internet e nos comunicar em tempo real, que tentam enfrentar a mídia tradicional e tra-
zer a Filosofia de modo novo para a vida das pessoas, destaco a seguir a filósofa capixaba
Viviane Mosé.
Capixaba, além de filósofa é poetisa, usa uma linguagem de fácil acesso a todos os
públicos. Está sempre comentando fatos da atualidade como as manifestações que ocor-
reram e ainda fazendo postagens sobre a educação no Brasil. Ela defende a necessidade
do pensar de todo cidadãos. Defende também a necessidade de transformação da edu-
cação, pois segundo ela não é uma educação para todos.
Tem vários livros publicados com o mais recente de 2011 tratando da relação entre
Filosofia e poesia sobre a condição do homem atual, O homem que sabe. Trata de pensar
a realidade que vivemos, das transformações tecnológicas que estão acontecendo.
É uma pessoa completamente integrada na internet, com sites, posts atualizados,
e, além disso, está sempre fazendo palestras e participando de debates no Rio de Janeiro
onde mora atualmente.
Envolve-se com muitas questões e está sempre comentando e demonstrando sua
opinião livremente, participando de diversas palestras e discussões.
Abre espaço para discussões em seu facebook, onde posta informações e pelo
comentários das pessoas está sempre respondendo e gerando debates, permitindo que
o outro se expresse e haja troca de informações.
Acompanhei as publicações via facebook e twitter de Viviane Mosé. Olhei seu site
pessoal e o integrado a outras pessoas. Além disso, procurei ouvir suas falas pela rádio
CBN, onde é palestrante e comentarista.
Consequência de uma escola fragmentada, inspirada na linha de montagem
das fábricas, o modelo de gestão utilizado pela cultura e pela intelectuali-
dade brasileira é disperso e desconectado, atira para qualquer lado, cuida do
imediato e esquece o essencial. Sem planejamento, supervalorizando partes
A ideia do artigo foi trazer um apanhado geral sobre temas importantes como o
breve levantamento sobre a história do ensino de Filosofia no Brasil. Como ela, ao longo
da história, oscila entre obrigatória e optativa, como ela não é levada a sério pelos gover-
nos que passam pelo Brasil.
Usamos como base o livro de Kohan, onde nos leva a refletir sobre a relação exis-
tente entre aquele que aprende e aquele que ensina, além da reflexão sobre a ideia de
ensino e aprendizagem, refletimos também sobre a própria relação que temos com o saber.
Um exemplo prático e atual dessas reflexões está no trabalho dos professores de
Cariacica (município Brasileiro do estado do Espírito Santo, situado na Região Metropolitana
de Vitória), onde eles revelam os problemas e as lutas diárias que possuem em sala de aula,
tanto em relação aos alunos, quanto a direção e ao próprio sistema/governo.
Uma da grandes questões que interferem em todo esse trabalho e na relação que
as pessoas possuem com os saberes, e mais especificamente com a Filosofia, pode ser
percebido pelo meio das mídias. Trazemos o exemplo das mídias para demonstrar como
ela influencia no trabalho que se faz com a Filosofia dentro da sala de aula e sua relação
com a sociedade. Apesar desse exemplo ser majoritariamente negativo, tendo em vista
que não existe o interesse na propagação do saber filosófico, de uma consciência crítica,
trazemos Viviane Mosé, filósofa brasileira que possui uma ótima relação com a mídia e a
usa como meio de propagação de saber de forma a influenciar e divulgar seus trabalhos
e a própria Filosofia.
REFERÊNCIAS
http://gustavomelol.blogspot.com.br/2010/07/historia-do-ensino-de-filosofia-no.html. Acesso em: 08
ago. 2013
NOVELLI, Pedro. O ensino da filosofia segundo Hegel: contribuições para a atualidade. 2005. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/trans/v31n2/09.pdf. Aceso em: 14 de Março de 2013
KOHAN, Walter Omar. Filosofia: O Paradoxo de aprender e ensinar. Belo Horizonte: Editora Autêntica,
2008.
Projeto Filosofia e as Ciências Sociais no Ensino Infantil e Fundamental: Desafios e Perspectivas,
professores de Cariacica, 2006.
Viviane Mosé: http://www.vivianemose.com.br/;
https://www.facebook.com/MoseViviane;
https://twitter.com/vivianemose_;
http://www.usinapensamento.com.br/oquee.php
INTRODUÇÃO
1 Professor de Educação Física, pelo Instituto Federal de Goiás, campus Aparecida de Goiânia. Pesquisa sobre
Educação e Educação Física. efpesquisador@outlook.com
[ 750 ]
EDUCAÇÃO PARA EMANCIPAÇÃO 751
2 Esta obra, Dialética do esclarecimento, foi escrita por Adorno em parceria com seu grande amigo o também
alemão Max Horkheimer.
(2007, p. 114), a terminologia foi optada por Adorno e Horkheimer para se diferenciar
da expressão “cultura de massa”, pois esta dá uma falsa impressão de que seria uma
cultura que emana da massa popular, o que não é verdade, visto que é a burguesia
quem define a cultura a qual vai ser industrializada e consumida. Desse modo, a cultura
é convertida em mercadoria pela indústria cultural, o que leva a produção simbólica do
processo da cultura a se distanciar do verídico conhecimento popular e a se aproximar
dos interesses mercadológicos.
Para Adorno e Horkheimer (1985), a cultura de mercado fez com que a subjetivi-
dade se identificasse com o consumo de bens e, consequentemente, a satisfação de
necessidades fica relacionada com o ato de comprar, em razão de que será o mercado do
capital quem vai apontar quais são os valores culturais a serem adquiridos/consumidos.
A educação mercadoria se beneficia desse processo ideológico e manipulador da cons-
ciência em interesse dos dominantes. As relações sociais estão interpostas pela domina-
ção ideológica da indústria cultural e da educação mercadoria, onde todas as relações
tornaram-se mercantilizadas pelo valor-de-troca.
De acordo com Marx (2017) é o valor-de-troca que faz gerar valor para a mercado-
ria. Uma educação, portanto, sucedida pelo valor-de-troca, se torna uma educação em
forma de valor e ganha com isso seu caráter fetichista. Um fetichismo bem peculiar para
exemplificar, é analisando os altos valores cobrados pelas Instituições de Ensino Superior
(IES) privadas em suas mensalidades, justificados na inserção de seus egressos no mer-
cado e consequente “valorização” de sua força-de-trabalho. A IES pública também não
escapa desse fetichismo, em que para conquistar uma vaga na educação pública é pre-
ciso competir, e todo esse processo, como nas privadas, é indispensável para se obter a
dita “valorização” de sua força-de-trabalho.
Os estudos filosóficos da obra Dialética do esclarecimento reflexionados por Adorno
e Horkheimer contra essa mercantilização das relações sociais, baseia-se no impasse
[...] com que defrontamos [...], como o primeiro objeto a investigar: a auto-
destruição do esclarecimento. Não alimentamos dúvida nenhuma – e nisso
reside nossa petitio principii – de que a liberdade na sociedade é inseparável
do pensamento esclarecedor. Contudo, acreditamos ter reconhecido com a
mesma clareza que o próprio conceito desse pensamento, tanto quanto as
formas históricas concretas, as instituições da sociedade com as quais está
entrelaçado, contém o germe para a regressão que hoje tem lugar por toda
parte. Se o esclarecimento não acolhe dentro de si a reflexão sobre esse ele-
mento regressivo, ele está selando seu próprio destino. Abandonando a seus
inimigos a reflexão sobre o elemento destrutivo do progresso, o pensamento
Não é por acaso que Adorno e Horkheimer refletem sobre a destruição do esclare-
cimento. O esclarecimento ocorre pela via da educação, contudo, como ela está interme-
diada pelas instituições, e essas, estão a serviço da cultura de dominação, sem as reflexões
necessárias para o entendimento desse processo de “regressão”, o aclaramento findará
e a consciência dos sujeitos passará a servir pela sua autodestruição. A educação merca-
doria é um dos protagonistas ao abandono da educação esclarecedora e libertadora-de-
-si, educando para a aceitação do autoritarismo burguês-estatal.
As ideias marxistas para a educação, só terão sentido, segundo Mészáros (2008, p.
55), se houver o rompimento radical com a cultura hegemônica burguesa de dominação.
Isso universalmente pode processar-se com o ato consciente de desafiar o pensamento
dominante de internalização, que hoje permeia a favor do capital através da educação
mercadoria, com função suprema de servir às “[...] exigências da ordem estabelecida”.
Iniciemos com Paulo Freire ao falar da necessidade de real libertação do ser social:
Na medida em que a Ação Cultural para a libertação é um ato de conheci-
mento e um método de ação transformadora da realidade através do qual
as massas populares são desafiadas a exercer uma reflexão crítica sobre sua
própria forma de estarem sendo [vividas], as classes dominantes, obvia-
mente, não podem aceita-la (FREIRE, 2014, p. 149) (Grifo nosso).
A “Ação Cultural” tem por objetivo desenvolver a cultura dos indivíduos, relacionan-
do-se com as ideias e obras, com as formas e símbolos, tudo isso mediante a aquisição de
conhecimento emancipatório. A primeira fase de reflexão crítica do indivíduo deve partir
dele mesmo, ou seja, de sua própria vivência, e é exatamente esta reflexão que a cultura
dominante não aceita, nem tão pouco a viabiliza. Romper com a cultura dominante, em
primeiro lugar, é ter uma educação que dê possibilidades para a autorreflexão.
A consciência individual ou a autorreflexão acontece pela existência real do indiví-
duo, pois ele consegue sentir, pensar e agir. A vida é mediada pelas relações sociais, por
uma sociedade formada por indivíduos, cada qual, com sua consciência. A consciência
individual está internalizada e as relações sociais “[...] acaba[m] contribuindo para a for-
mação social de cada um: é a consciência-de-si [em referência ao pensamento hege-
liano]” (BAPTISTA, 2007, p. 18).
A educação emancipatória parte deste princípio, o da autoconsciência, formada,
segundo Mészáros (2008, p. 47), por um “sistema de internalização”. Esse sistema é cons-
tituído por “[...] todas as suas dimensões, visíveis e ocultas”. A internalização do ser social
na atualidade está estabelecida pelo sociometabolismo do capital. Lidamos, então, com
a imprescindibilidade de rompimento e substituição dessas formas de internalização por
algo concreto e emancipatório.
Mészáros faz uma pergunta na intenção de entender este objeto:
Será o conhecimento o elemento necessário para transformar em realidade
o ideal da emancipação humana, em conjunto com uma firme determinação
e dedicação dos indivíduos para alcançar, de maneira bem-sucedida, a autoe-
mancipação da humanidade, apesar de todas as adversidades, ou será, pelo
contrário, a adoção pelos indivíduos, em particular, de modos de comporta-
mento que apenas favorecem a concretização dos objetivos reificados do
capital (MÉSZÁROS, 2008, pp. 47-48)?
soluções de ensino “[...] podem ser completamente invertidas, desde que a lógica do
capital permaneça intacta”. Pois, de nada adianta uma educação pseudocrítica, que criti-
que sem alterar o status quo.
Para uma tangível educação emancipatória, Marx (2012) é bem enfático:
Absolutamente condenável é uma ‘educação popular sob incumbência do
Estado’. Uma coisa é estabelecer, por uma lei geral, os recursos das escolas
públicas, a qualificação do pessoal docente, os currículos etc. e, como ocorre
nos Estados Unidos, controlar a execução dessas prescrições legais por meio
de inspetores estatais, outra muito diferente é conferir ao Estado o papel de
educador do povo! O governo e a Igreja devem antes ser excluídos de qual-
quer influência sobre a escola. No Império prussiano-alemão [...] é o Estado
que, ao contrário, necessita receber do povo uma educação muito rigorosa
(MARX, 2012, pp. 45-46) (Grifo nosso).
Marx apresenta elementos que nos permitem compreender a atenção dada por
ele às questões educacionais. Nesses elementos, Marx se posiciona sobre o papel do
Estado na organização da educação. Toda essa crítica disparada por ele vai na direção de
criticar a educação de controle estatal, fazendo-se necessário o rompimento com as
escolas diretamente influenciadas pelo Estado e pela Igreja, por meio de uma educação
pensada para ser emancipatória, “haja vista, o enorme poder ideológico e o caráter clas-
sista assumidos por essas duas instituições” (BORGES NETTO; LUCENA, 2014, p. 736).
Ilustrando a crítica de Marx para a realidade brasileira, temos a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB) que define e regulariza como deve se dar a organização da educação
no Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Ministério da Educação que
foram elaborados pelo Estado na promessa de serem diretrizes de auxílio a professores
na execução de seus trabalhos, bem como, tem-se instituições de educação básica e
superior, mantidas por determinadas entidades religiosas. São casos como esses ilustra-
dos, que para Marx (2012), tornam-se indispensáveis nos debates populares a favor de
uma educação sem interferência dos interesses particulares.
O diálago é sem dúvida a artilharia da sociedade. Com ele, consegue-se encontrar
soluções reais que coibam o sofrimento de toda a natureza, não só a humana. Conforme
propõe Freire (2001), são pelos aspectos e situações significativas da realidade que pelo
o diálago se permite reconhecer e compreender a totalidade concreta. Desta maneira,
argumenta que
[...] a questão fundamental, neste caso, está em que, faltando aos homens
uma compreensão crítica da totalidade em que estão, captando-a em peda-
ços nos quais não reconhecem a interação constituinte da mesma totalidade,
não podem conhecê-la. E não o podem porque, para conhecê-la, seria neces-
sário partir do ponto inverso. Isto é, lhes seria indispensável ter antes a
visão totalizada do contexto para, em seguida, separarem ou isolarem os
elementos ou as parcialidades do contexto, através de cuja cisão voltariam
com mais claridade à totalidade analisada (FREIRE, 2001, p. 96) (Grifo nosso).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
presente por via das ações irrefletidas do passado e dessa maneira construir um futuro
refletido e gracioso.
Por fim, aponta-se para a libertação universal por meio da conscientização indivi-
dual. O método transformador começa pela concreta compreensão da realidade. É fun-
damental demonstrar viávelmente e de um novo ponto de vista o projeto socialista
emancipatório, criado pelos proletários e necessário para o rompimento com o poder
burguês-estatal. Os pensamentos adorniano, freireano e meszariano, para além da teoria
marxista, também carregam as suas singularidades e suas divergências entre si, mediante
seus conceitos e categorias, mas que não se relacionam com os diálogos aqui propostos,
cujo o foco foi a luta contra o antagonismo de classes pela via da educação, luta esta,
partilhada por todas as referências deste ensaio. UNIVO-NOS!
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Juliene do Couto1
Soraya Vieira Santos2
INTRODUÇÃO
Pode-se afirmar que a temática da escola de tempo integral assim como a educa-
ção integral estão presentes desde o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932)
que propõe princípios e bases com a finalidade de tornar a escola pública, laica, obriga-
tória e gratuita, e ainda garantir ao indivíduo o direito ao acesso a esse modelo de escola.
O modelo de escola única propiciaria uma educação integral. O Manifesto prevê ainda
que as repartições públicas, ou seja, o Estado é responsável pela organização dos meios
de acesso a fim de garantir que a escola seja acessível a todos, independentemente da
classe social.
Em relação aos marcos históricos atuais, a temática da ampliação da jornada esco-
lar na rede púbica de ensino e, consequentemente, a temática da educação integral foi
regulamentada por meio do Programa Mais Educação. Criado pela Portaria Interministerial
nº 17/2007 e regulamentado pelo Decreto 7.083/10. Constitui-se como estratégia do
Ministério da Educação para indução da construção da agenda de educação integral nas
[ 764 ]
A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA NOS PPP’S DAS ESCOLAS EM TEMPO INTEGRAL DE GOIÂNIA 765
redes estaduais e municipais de ensino que amplia a jornada escolar nas escolas públicas,
para no mínimo sete horas diárias, por meio de atividades optativas nos macrocampos:
acompanhamento pedagógico; educação ambiental; esporte e lazer; direitos humanos
em educação; cultura e artes; cultura digital; promoção da saúde; comunicação e uso de
mídias; investigação no campo das ciências da natureza e educação econômica. Esse
entendimento está presente desde a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 no artigo 34, que
indica que no Brasil o ensino fundamental deve ser progressivamente ministrado em
tempo integral.
Com isso, esse assunto vem sendo discutido por diversas áreas do conhecimento,
especialmente pela área educacional. É praticamente unânime a posição favorável à
implantação de escolas integrais públicas e a ideia de que por meio delas possa ser ofere-
cida uma educação integral, embora alguns estudiosos ressaltem que é possível oferecer
uma educação integral também em uma escola de tempo parcial. A defesa de mais tempo
na escola ocorre, sobretudo, em decorrência das condições socioculturais das famílias que
procuram por uma escola de tempo integral, sendo que em sua maioria são provenientes
de classes desfavorecidas em que os pais, cuidadores ou responsáveis precisam trabalhar o
dia todo e necessitam de um lugar que seja seguro e tranquilo para deixarem as suas crian-
ças. Além de representar segurança e tranquilidade, a escola integral representa também
a “possibilidade de ingresso em atividades que, de outra forma, os alunos não poderiam ter
acesso, particularmente no que se refere às diferentes modalidades de artes, línguas
estrangeiras, informática, esportes e outros” (SANTOS, 2014, p. 49).
Nessa perspectiva, a escola pode estar modificando o seu papel principal que é
socializar o conhecimento, isto é, mediar a apresentação do conhecimento de forma sis-
temática aos alunos, para incorporar novos papéis. Miranda (2005) ao discutir sobre a
função da escola destaca que a primeira função da escola é socializar o conhecimento ao
instruir os alunos para o mundo. A escola deve ser o local que os alunos frequentem para
se orientarem e se emanciparem mediante “a aquisição de conhecimentos, saberes, téc-
nicas e valores que lhes permitam viver em uma sociedade mediada por esses conheci-
mentos, saberes, técnicas e valores” (MIRANDA, 2005, p. 642). A autora ressalta ainda
que à escola é atribuído o dever de conceber às novas gerações princípios e valores para
a vida social.
No entanto ao preocupar-se sobretudo com a socialidade dos alunos e não com o
conhecimento, a escola perde seu caráter definidor. Nesse sentido a escola é designada
para ser um espaço com objetivo de promover a “convivência dos alunos, à experiência
de socialidade” (MIRANDA, 2005, p. 641). A escola torna-se apenas um local para viver
com seus pares e não necessariamente para aprender. Libâneo (2014) critica essa com-
preensão de escola e, para além disso, evidencia que há dois modelos de escolas. Uma
destinada para os ricos em que a escola tem a função de mediar o conhecimento e a
aprendizagem e uma outra para os pobres em que a escola tem o caráter de acolhi-
mento. A escola assume papéis de caráter assistencialista e deixa de cumprir o seu ver-
dadeiro papel que é ensino-aprendizagem. O autor chama atenção ainda para o fato de
que a escola deve sim acolher os alunos independentemente da sua classe social e suas
diferenças culturais. Entretanto, a escola não pode se limitar somente a essa função. É
fundamental que a escola viabilize o ensino e a aprendizagem aos alunos para que não
caia na armadilha de exclusão social.
Conforme destaca Libâneo (2014, p. 258):
O essencial da escola é o conhecimento no sentido de processo mental, de
meio de desenvolvimento de capacidades intelectuais. Privar crianças e
jovens do acesso e domínio do conhecimento científico organizado, da cul-
tura, da arte, é praticar exclusão social dentro da escola, antecipando a exclu-
são social na sociedade.
Nesse sentido, Nóvoa (2009, p. 65) esclarece que a escola que não promove “ins-
trumentos básicos do conhecimento e da cultura, não é uma ‘escola cidadã’”. É primor-
dial que a escola que é destinada aos pobres propicie aos seus alunos conhecimento e
aprendizagem, semelhantemente à escola que é destinada aos ricos.
Contudo, como abordado anteriormente, entre os estudiosos, pesquisadores e
educadores, todos corroboram em defesa da escola integral e da educação integral, indi-
cando a necessidade de que na escola de tempo integral ocorra educação integral. Assim,
a literatura evidencia que há distinções entre os termos e, concomitantemente, concei-
tua-os. No caso da escola integral, conforme Libâneo (2014, p. 266) justifica-se pela
“ampliação da permanência dos alunos na escola para o que se supõe reorganização do
espaço e do tempo escolares visando prover atividades diferenciadas de tipo lúdico,
esportivo, artístico, para além daquelas providas nas salas de aula”. Portanto a escola
não pode se resumir a um lugar que somente assegure a convivência e a experiência dos
alunos com os seus pares ou apenas reduzir-se à repetição dos conceitos cotidianos.
Os estudiosos ressaltam ainda que a escola integral pública no Brasil não possui
estrutura física adequada para funcionar em jornada ampliada. Geralmente são escolas
que funcionavam em tempo parcial e se tornaram escolas de tempo integral sem que a
sua infraestrutura fosse modificada. Conforme analisa Barra (2014, p. 132), “a adaptação
do espaço deve considerar princípios de funcionalidade e de racionalidade na relação aos
usos a que se prestam”. Entretanto, na prática a escola tem sido um espaço improvisado
que possibilita o mínimo de condições de funcionamento com condições precárias, e isso
atinge os professores diretamente, pois gera implicações para o trabalho pedagógico,
conforme discutido por Santos (2014), Coelho (2014) e Libâneo (2014).
METODOLOGIA
das escolas, consistindo nas siglas REE e RME, juntamente com o número para represen-
tar cada escola (por exemplo: REE-07 e RME – 14).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ariès relata que na primeira fase da criança havia uma espécie de sentimento e cui-
dado por parte dos adultos em relação à criança. Contudo, esse sentimento se restringia
somente aos primeiros anos da criança em que ela era considerada um ser “engraçadi-
nho” e isso divertia os adultos. Como afirma Ariès (2016, p. 10) “as pessoas se divertiam
com a criança pequena como com um animalzinho”. Esse sentimento foi chamado de
“paparicação” e não ultrapassava os primeiros anos de vida da criança. Segundo o autor,
isso ocorria devido à incidência de mortalidade infantil que era extremamente alta, além
do infanticídio que era uma prática aceita e tolerada na época, desde que acontecesse
em segredo ou em forma de acidente. Desse modo, era muito comum que a criança não
ultrapassasse os oito anos de vida.
Por outro lado, se a criança sobrevivesse, ultrapassando esse período crítico em
que o nível de mortalidade era alto, ela era inserida no mundo dos adultos e seria con-
fundida entre eles, isto é, a criança passaria a ser vista e tratada como um adulto.
Conforme afirma Ariès (2016, p. 99) “assim que a criança tinha condições de viver sem a
solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos
e não se distinguia mais destes”. É válido destacar que os trajes da criança não se distin-
guiam dos trajes dos adultos. Ariès (2016) afirma que ao sair dos cueiros (um tecido que
era enrolado ao corpo do bebê), a criança se vestia de modo semelhante ao adulto,
porém essa vestimenta variava de acordo com a condição dos homens e mulheres. Era
responsabilidade dos adultos ensinar à criança o ofício do trabalho, além de transmitir os
valores e conhecimentos. O aprendizado acontecia por meio da ajuda da criança nas
tarefas que os adultos desempenhavam, assim como a socialização. Essa convivência e
aprendizado nem sempre efetuava-se com os pais, geralmente, a criança ao adquirir o
mínimo de independência quer fosse da mãe ou de sua ama, passaria a viver na casa de
outra família.
A obra de Ariès (2016) permite ainda compreender como o sentimento pela criança
e suas particularidades foram conquistando espaço e preservação. Segundo o autor,
“uma grande mudança nos costumes se produziria durante o século XVII [...] Uma noção
essencial se impôs: a da inocência infantil [...] Cerca de um século mais tarde, essa ideia
da inocência infantil havia-se tornado um lugar-comum” (ARIÈS, 2016, p. 83-84). A criança
passou a ser considerada como um ser com necessidades distintas dos adultos e assim
separada do mundo dos homens e mulheres para ter o seu próprio mundo, conforme as
suas particularidades e limitações.
A família começou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma
tal importância, que a criança saiu de seu antigo anonimato, que se tornou
impossível perdê-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pôde
mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar o seu
número para cuidar melhor dela (ARIÈS, 2016, p. 11).
é atribuído a ela pela família. Com isso a debilidade e a fraqueza da criança passam a ser
questionadas. Sendo que anteriormente essas condições eram ignoradas e sem impor-
tância, pois a infância era desprezada. Assim uma nova ideia se instaura:
É preciso vigiar as crianças com cuidado, e jamais deixá-las sozinhas em
nenhum lugar, estejam elas sãs ou doentes [...] é preciso que essa vigilância
contínua seja feita com doçura e uma certa confiança, que faça a criança pen-
sar que é amada, e que os adultos só estão a seu lado pelo prazer de sua com-
panhia. Isso faz com elas amem essa vigilância, em lugar de temê-la (ARIÈS,
2016, p. 88).
“as brincadeiras trazem vantagens em todas as etapas da vida das crianças” (RME-08,
2016, p. 62-63).
Ao reconhecer a criança como um sujeito sócio-histórico-cultural, a RME-15 (2016,
p. 26) destaca em seu PPP que é preciso considerar a criança em uma perspectiva inte-
gral que valorize os “aspectos afetivos, psicológicos, motores, cognitivos, como também
suas individualidades e subjetividades, possibilitando a convivência e a interação da
mesma, com outras crianças e com os adultos”. Dessa forma a escola deve oferecer-se
como um ambiente seguro e acolhedor a fim de favorecer a aprendizagem e o desenvol-
vimento da criança. O documento indica que a infância é um momento extremamente
significativo e por esse motivo o sonho, a fantasia e a brincadeira devem predominar.
Porém chama a atenção para as condições objetivas e adversas em que as “questões
sociais, econômicas e culturais” podem não corroborar com essas vivências. Nesse sen-
tido, a RME-15 (2016, p. 29) afirma que seus alunos vão para a escola em busca do saber,
no entanto as crianças são acompanhadas por “graves problemas sociais como fome,
falta de higiene e saúde, uso de drogas, violência, baixa autoestima, exigindo da institui-
ção uma nova visão de práticas pedagógicas e sociais, diferenciadas e abrangentes”.
O PPP referente à RME-18 considera o Estatuto da Criança e do Adolescente e res-
salta que a criança assim como o adolescente são seres que têm direitos e que estão em
desenvolvimento. Devido à essa condição necessitam de proteção e cuidado. Destaca
que a criança é ao mesmo tempo um ser “individual e social, a criança tem capacidade
de questionar, raciocinar, opinar, imaginar, fazer escolhas, a partir das múltiplas relações
com o outro e a cultura”. Diante disso esclarece que a escola deve ser um espaço facilita-
dor e envolvente a fim de promover “atividades criativas e expressivas tendo por obje-
tivo a dinamização da aprendizagem” (RME-18, 2016, p. 13).
O PPP da RME-21 não apresenta explicitamente a sua concepção de infância. No
entanto, pode-se averiguar que a escola de certa forma possui uma ideia, mesmo que
implícita em relação à criança. A exemplo disso no item “Projetos desenvolvidos nas
Atividades Especificas”, o projeto intitulado “Leitura e Escrita – No mundo encantado da
Poesia” aborda os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001) como norteador das ativida-
des relacionadas à Arte. O PPP garante ser fundamental que “a música, os jogos e as brin-
cadeiras façam parte desse universo” (RME-21, 2016, p. 80).
Igualmente os PPP’s referentes as escolas RME-11, RME-19 e RME-20 não apresen-
tam claramente uma ideia acerca da infância. Apesar disso, são documentos que indicam
que o trabalho pedagógico deve ser refletido acerca do aluno e de suas necessidades e
que as atividades devem ser lúdicas e prazerosas. Estes PPP’s tratam das implicações
referentes ao aluno e também das atribuições relacionadas ao processo ensino-aprendi-
zagem e desenvolvimento.
A RME-11 aborda a questão das fases da criança e, para tanto, recorre às Diretrizes
Curriculares para a Educação Fundamental da Infância e da Adolescência (2008). O item
“Articulação – Da Instituição com a Última Etapa da Educação Infantil” chama a atenção
devido à preocupação que a escola demonstra ao receber as crianças provindas dos Centros
Municipais de Educação Infantil – CMEI(s) e creches que atendem a Educação Infantil. O
PPP indica ações com o objetivo de “apresentar às crianças alguns espaços da escola e os
seus futuros colegas, buscando amenizar o estranhamento do ambiente que poderá surgir
quando vierem para a unidade escolar no próximo ano” (RME-11, 2016, p. 47-48).
Pode-se afirmar que de certa forma os PPP’s da RME-11 e RME-20 se aproximam,
no sentido de que ambos abordam a necessidade dos pais em terem um local seguro
para as suas crianças. A escola é vista como um local seguro que além de cuidar e prote-
ger, também educa. Conforme tratado anteriormente, a escola recebe atribuições que
está além de suas primeiras responsabilidades. Outras funções estão sendo assumidas
devido às demandas que vem sendo agregadas à escola, conforme o princípio de sociali-
dade discutido por Miranda (2005). Em relação a essa questão a RME-20 (2016, p. 11) de
forma bastante aligeirada relata que diante das condições familiares, os pais que “exer-
cem atividades profissionais fora de casa contarão com a certeza de que seus filhos serão
bem cuidados e encaminhados no transcorrer de sua vida escolar”.
No caso da RME-19 no item “Concepção de Aprendizagem e Desenvolvimento” a
oficina é apontada como intervenção pedagógica. O documento destaca que ao partici-
par da oficina o aluno é envolvido em experiências educativas que podem resultar na
construção de conhecimentos integrados. Com base nesse pensamento o PPP assegura
que as oficinas “investigam a realidade cognitiva da criança, permitem a mobilização e a
organização das crianças em torno do assunto que irá despertar sua curiosidade”. Assim,
o aluno é “respeitado na íntegra em seu desenvolvimento” (RME-19, 2016, p. 29).
A RME-13 no item “Desenvolvimento – Concepções de Sociedade, Sujeitos e
os Diferentes Tempos de Vida” esclarece que na Rede Municipal de Educação-
RME a fim de possibilitar a formação integral ao aluno, o processo de apren-
dizagem foi reorganizado conforme “as fases do desenvolvimento humano:
infância, pré-adolescência e adolescência, que definem formas próprias de inserção no
mundo social, de construção da identidade, de apropriação de conhecimentos”. Dessa
3 Chama a atenção o fato de que não só a ideia acerca da infância é tratada de forma semelhante nos documentos
da RME-04 e RME-14 mas, as discussões apresentadas nos documentos contém trechos idênticos.
Município de Goiânia (2014) para declarar que busca “atender os direitos das crianças
por meio das múltiplas linguagens”. Afirma ainda contemplar as vivências da criança,
assim como as suas experiências e significados por ser um “processo constante de cons-
trução e apropriação de conhecimentos variados, não delimitados/fechados”. Nesse sen-
tido destaca a importância do currículo na Educação Infantil, já que por meio do currículo
é possível favorecer “situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagens orientadas de
forma integrada, a fim de que possam contribuir para o desenvolvimento das capacida-
des infantis de relação interpessoal” (RME-07, 2016, p. 17). A escola declara ainda, buscar
“atender os direitos das crianças por meio das múltiplas linguagens” (RME-07, 2016, p.
44). O desenvolvimento das múltiplas linguagens da criança propicia efetivar a concreti-
zação “da aprendizagem e desenvolvimento nos aspectos biológicos, sociológicos e peda-
gógicos” (RME-07, 2016, p. 30).
Nesse sentido destaca que por meio do currículo na Educação Infantil é possível
favorecer “situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma inte-
grada, a fim de que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis
de relação interpessoal” (RME-07, 2016, p. 44). Por fim reitera que é a concepção de
criança enquanto cidadã que fundamenta o trabalho pedagógico juntamente à Educação
Infantil. É essa junção que possibilita reconhecer a criança e suas relações “com o mundo
físico e social, o que a faz produtora de uma cultura específica [...] reconhecendo o que
lhe é característico, seu poder de imaginação, fantasia e criação, com a finalidade de
defender a garantia de seus direitos” (RME-07, 2016, p. 29-30).
Diante da análise realizada nos PPP’s da Rede Municipal de Educação do muníci-
pio de Goiânia é possível afirmar que as escolas de maneira geral apresentam uma con-
cepção visível de infância e de criança. Pode-se afirmar que a unidade presente nos
PPP’s da RME no que se refere à infância está vinculada à própria Proposta Político
Pedagógica para a Educação Fundamental da Infância e da Adolescência (2016). Trata-se
de um documento que prevê por meio de uma política educacional a manutenção e
continuidade da implementação dos Ciclos de Formação e Desenvolvimento Humano
no munícipio de Goiânia.
Ao contrário, a Rede Estadual de Educação, por sua vez, não possui um documento
como forma de política educacional que unifique a concepção de infância e criança nas
instituições escolares que atendem o Ensino Fundamental. Ao menos é o que pode-se
afirmar conforme a análise nos PPP’s da REE. Dentre os sete documentos coletados,
apenas um apresentou uma concepção de infância, mas ainda assim, a ideia expressada
é vaga e aligeirada.
Pode-se perceber que o quê o PPP expressa é condizente com uma certa preocu-
pação acerca da criança no que se refere a hábitos saudáveis. Obviamente a preocupa-
ção expressada é considerável. De fato é necessário que a criança logo cedo, em seus
primeiros anos de vida inicie uma rotina saudável. De modo que ela internalize as apren-
dizagens relacionadas aos hábitos saudáveis e seja capaz de executá-las. Entretanto o
documento da REE-03 não discute em momento algum a respeito de um conceito mais
amplo de criança e tampouco de infância.
A única indicação presente acerca da criança é apresentada logo no início do PPP,
em que há uma citação de um trecho do tratado que foi oficializado como lei internacio-
nal que ocorreu na Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança e do Adolescente
(1989). O trecho se refere ao direito de liberdade de expressão da criança incluindo “a
liberdade de procurar, receber, partilhar informação de todos os tipos independente-
mente de fronteiras, seja oral, escrita ou impressa, na forma de arte ou através de qual-
quer outro meio de escolha da criança” (REE-03, 2016, p. 5).
No item “Apresentação” o PPP discute sobre o projeto de Escola Integral e seu
dever de propiciar à criança e ao adolescente “posturas e valores que preparam o cida-
dão para a vida”. Afirma que o projeto de Escola Integral é “ousado e arrojado, pelos seus
objetivos e ideais, de tamanha envergadura educacional e social”. Destaca que toda
criança e adolescente necessita de práticas diárias saudáveis. Assim o projeto de Escola
Integral pode propiciar uma “rotina com hábitos de alimentação saudável e nos horários
corretos, higiene pessoal, socialização, horário de estudo, lazer educativo, e o estímulo
de valores sociais, humano e familiar”. O documento discute sobre o dever que a escola
tem de não “ser multifacetada e sim multidisciplinar e integrada. Integrada no sentido
mais amplo que esta palavra pode nos descrever, da criança estar e/ou se tornar comple-
tamente parte do todo”. Reitera ainda a necessidade de envolvimento da equipe para
que o trabalho pedagógico seja aperfeiçoado e “em prol de um bem comum: A educação
em sua totalidade”. O PPP indica, também, que para “estabelecer esse ideal educativo é
preciso unir e integrar trabalho, dedicação, disposição capacitação e principalmente
ação” (REE-03, 2016, p. 8-9).
Nos demais PPP’s que não explicitam claramente nenhuma discussão relacionada à
criança e infância, é possível constatar que em quatro documentos há uma certa preocu-
pação em relação ao currículo e à educação da criança. Contudo a referência acerca da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
e ser sim considerada um sujeito em potencial para o futuro, mas que já é, no momento
atual, sujeito de direitos e sujeito capaz de aprender e construir conhecimento.
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publicado originalmente em 1973].
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In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.). Projeto político – pedagógico da escola: uma construção
possível. Campinas: Papirus, 1998, p. 1-12.
INTRODUÇÃO
1 Professora do curso de Psicologia, pela Universidade Federal de Goiás, campus Goiânia. Pesquisa sobre Licencia-
tura em Psicologia. jordandabalduino@gmail.com
2 Graduanda do curso de Psicologia, pela Universidade Federal de Goiás, campus Goiânia. Bolsista PIBIC-PROLI-
CEN. Pesquisa sobre Licenciatura em Psicologia. nayarafeitosapsi@gmail.com
[ 784 ]
Licenciatura em Psicologia 785
está presente na Educação Básica enquanto uma disciplina obrigatória, mas seus conhe-
cimentos perpassam diferentes âmbitos educativos.
Parte-se do pressuposto de que as práticas docentes contribuem para a formação
dos futuros psicólogos, por aproximá-los da complexidade da escola e dos processos aí
implicados, enquanto um espaço psicossocial. Nesse contexto, a escola se apresenta
como um lugar privilegiado para a formação do profissional de diferentes áreas de psico-
logia. Segundo Oliveira, Duarte e Vieira (2010):
A prática pedagógica é entendida como uma prática social complexa, acon-
tece em diferentes espaços-tempos da escola, no cotidiano de professores
e alunos nela envolvidos e, de modo especial, na sala de aula, mediada pela
interação professor-aluno – conhecimento. Nela estão imbricados, simulta-
neamente, elementos particulares e gerais. Os aspectos particulares dizem
respeito: ao docente – sua experiência, sua corporeidade, sua formação,
condições de trabalho e escolhas profissionais; aos demais profissionais da
escola suas experiências e formação e, também, suas ações segundo o
posto profissional que ocupam; ao discente – sua idade, corporeidade e sua
condição sociocultural; ao currículo; ao projeto político pedagógico da
escola; ao espaço escolar suas condições materiais e organização; à comu-
nidade em que a escola se insere e às condições materiais e organização; à
comunidade em que a escola se insere e às condições locais (OLIVEIRA;
DUARTE; VIEIRA, 2010).
Diante disso, é possível afirmar que todas essas características do espaço escolar e
da prática educativa devem ser consideradas na relação teoria e prática e, consequente-
mente na questão da transposição didática de conteúdos científicos, como é o caso do
Ensino de Psicologia para alunos e profissionais da Educação Básica que muitas vezes
nunca tiveram acesso à esse tipo de reflexão.
Considerando a importância da relação Psicologia e Educação e o espaço escolar
como integrante do processo constituinte do sujeito, o curso de graduação de Psicologia
na UFG campus Goiânia, nasceu na Faculdade de Educação em 2005 com objetivo de
estabelecer um contraponto importante à concepção de ensino superior que vem orien-
tando uma grande ampliação dos cursos de graduação em instituições privadas, com seu
forte impulso mercadológico, uma vez que, a Universidade Pública reúne as melhores
condições para estabelecer um padrão de qualidade diferenciado de ensino (PPP-FE/
UFG, 2007).
A Formação do Professor de Psicologia advém, sobretudo, do compromisso que
tradicionalmente tem norteado a Faculdade de Educação da Universidade Federal de
tinha como objetivo incentivar a formação docente e promover a relação entre Educação
Básica e Ensino Superior. Como não há disciplina obrigatória de Psicologia na Educação
Básica, os bolsistas se inseriam através de parcerias com professores de outras discipli-
nas obrigatórias, disciplinas optativas, além de oficinas.
Já o estágio em parceria com a Rede Municipal de Educação do município de
Goiânia é dividido em duas partes. No Estágio Supervisionado em Formação do Professor
de Psicologia I os estagiários ficam imersos na rotina dos Centros Municipais de Educação
Infantil (Cmei) a fim de conhecer o trabalho e a rotina dos profissionais. No Estágio
Supervisionado em Formação do Professor de Psicologia II os estagiários constroem e
ministram um curso para os Auxiliares de Atividades Educativas dos Cmeis, cargo para o
qual a exigência é o Ensino Médio de modo que esses profissionais muitas vezes não pos-
suem qualquer conhecimento sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil.
Embora não sejam processos formativos excludentes, cabe enfatizar que essa apro-
ximação não se resume a regência de sala de aula, mas que envolve a inserção do aluno
em contextos educativos formais e informais, exigindo a necessidade de retomar e de
refletir sobre os conhecimentos teóricos e práticos apreendidos durante a formação para
poder enfrentar os desafios e as demandas postos pela realidade escolar. A atividade do
professor de psicologia diz respeito à atuação na relação ensino e aprendizagem, na pro-
dução e difusão dos conceitos atinentes à ciência psicológica, na interface com as demais
ciências e outras áreas do conhecimento, como a sociologia, a filosofia, a arte, a biologia
entre outras, de acordo com a necessidade dos diferentes contextos educativos.
Pensar a licenciatura de Psicologia suscita discussões a respeito de diferentes con-
cepções, muitas vezes frágeis e generalistas de: sociedade, educação, escola, docência,
currículo, juventude, formação humana, entre outras, presentes atualmente nos debates
instituídos acerca da formação de professores e das escolas no Brasil. Nesse contexto,
Coelho (2003) critica uma formação de professores que visa tão somente atender uma
demanda de mercado, em que receitas e técnicas são priorizadas.
De acordo com Miranda (2005), apesar de estreita e necessária, a relação entre
Psicologia e educação está marcada por uma tensão desde seu processo de reconheci-
mento. Marcada historicamente por uma constituição não linear e que, segundo Antunes
(1988), se produz na negação, superação, oposição e mesmo complementação de dife-
rentes teorias da Psicologia que ganham tanta força que extrapolam as obras de seus
teóricos e passam a dominar o cotidiano dos professores em sala de aula através de uma
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Também de modo bem geral, hoje eu penso que a relação psicologia e edu-
cação não é tão simples quanto eu imaginava, muito menos que a psicologia
contribua com a educação como se fosse a única ciência capaz de responder
os desafios colocados por ela. Apesar de a psicologia ser uma ciência muito
importante para se pensar e mesmo intervir sobre os problemas colocados
pela escola (educação em sentido mais estrito) e pelo processo de socializa-
ção (educação em sentido mais geral), ela sozinha não é capaz de solucionar
tais desafios. Outro equívoco é partir de saberes outros, como a sociologia, a
psicologia e a economia, para se pensar a educação, como se ela fosse um
recipiente vazio em que outras ciências depositassem suas hipóteses, teses e
resultados sobre o fenômeno escolar. Essa relação unidimensional não res-
peita os meandros da relação psicologia (e outros saberes) e educação. Afinal,
historicamente, a educação contribuiu decisiva e ativamente às teorias psico-
lógicas, em especial as do desenvolvimento e aprendizagem. Assim, a relação
psicologia e educação é muito mais contraditória e tensa do que eu imagi-
nava e a fecundidade dessa relação reside justamente naquilo que as apro-
xima e naquilo que as distancia (trecho retirado do questionário).
Tal reflexão não retira a importância dessa articulação tanto na prática docente
quanto na própria formação teórica de futuros professores. Segundo os alunos H. J. e
M. (2016):
A experiência de docência, possibilitada pelo Pibid, viabiliza um contato
prático com a realidade educacional e escolar, com todos os seus dilemas,
dificuldades e imprevistos, que em muito se distanciam da vivência teó-
rica proporcionada pelas disciplinas de licenciatura. Fato que acaba pro-
porcionando um aprofundamento teórico dos conteúdos ministrados
nessas disciplinas e nas disciplinas gerais do curso de Psicologia. Processo
que eleva nossa qualidade de formação acadêmica enquanto futuros pro-
fessores e psicólogos.
No relatório de estágio de C., F., H., L. e T. (2011), os estagiários afirmam que “tra-
duzir é trair o significado dos conceitos. Na verdade, a tentativa e os esforços maiores
eram de aproximar o saber acadêmico com o cotidiano dos participantes”. Tal afirma-
ção denota o desafio da transposição didática para que não se perca o cunho científico
do conteúdo ministrado. Os bolsistas C. R. e L. (2015) também relatam dificuldades
afirmando a
necessidade de adaptação de temas profundos e estudados em termos téc-
nicos e acadêmicos para uma linguagem e nível de compreensão que faça
sentido aos alunos, ao mesmo tempo em que se deve ter cuidado para não
infantilizá-los e tratar o tema com a importância necessária para que, de fato,
promova impacto e transformação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
aplicada, da mesma forma que uma prática que não seja embasada teoricamente perde
a cientificidade e propaga as crenças dominantes do senso comum.
Muitos estudantes de licenciatura em Psicologia da UFG campus Goiânia reclamam
da ausência de uma disciplina sobre didática na grade curricular do curso. A construção
de planos de curso e de aula, reflexão sobre metodologia e uso de equipamentos durante
as aulas são questões que são discutidas de forma mais enfática durante o estágio ou nas
supervisões do Pibid. Apesar de serem temas que atravessam as demais disciplinas, eles
apontam que faltam espaços específicos para suprir tal demanda. Por outro lado, uma
queixa recorrente dos licenciandos é a carga horário do curso que requer muito tempo,
impossibilitando o desenvolvimento de outras atividades de pesquisa e extensão.
Junta-se à isso o fato das disciplinas de licenciatura coincidirem com os períodos de maior
carga teórica no bacharel. Diante disso, é importante pensar em espaços para discussão
de questões didáticas, mas para isso necessitaria de uma reestruturação do curso de gra-
duação de Psicologia.
Mesmo com as diversas críticas que os alunos tecem a respeito da formação em
Psicologia e, especificamente, da Licenciatura em Psicologia foi possível perceber a impor-
tância da licenciatura e da prática docente como complementação da formação do psicó-
logo. Segundo dados analisados no questionário, todos os alunos afirmam que a licenciatura
complementa parcialmente ou totalmente as discussões realizadas no bacharel.
Além disso, tal formação amplia a visão de educação, possível área de trabalho de
futuros psicólogos e, ao mesmo tempo, espaço que perpassa a atuação psicológica em
diversos espaços que o profissional esteja inserido. A licenciatura proporciona uma visão
mais abrangente do sujeito e do contexto em que ele está inserido, atitude essencial
para o psicólogo. Os saberes pedagógico, crítico-contextual e didático-curricular, bem
como a relação teoria e prática, são transpostos, considerando as diferenças e contradi-
ções, da prática educativa para a prática psicológica proporcionando um maior preparo
profissional dos futuros psicólogos. Da mesma forma que o olhar acurado do psicólogo
faz parte da prática docente de modo a compreender o estudante em sua totalidade e
identificar demandas que precisam ser respondidas pelo próprio professor ou por profis-
sionais de outras áreas.
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INTRODUÇÃO
1 Mestre em Psicologia pela PUC-GO, graduada em Psicologia pela PUC-GO, Professora do curso de Letras e Peda-
gogia, pela Universidade Estadual de Goiás, campus de São Luís de Montes Belos/GO. Pesquisa sobre Desenvol-
vimento/Aprendizagem e Formação de Professores. fernanda.tavares@ueg.br
[ 797 ]
798 Fernanda Maria Siqueira Tavares
Jodelet e Moscovici (1990, p. 36) afirmam que as Representações Sociais são “uma
forma de conhecimento, socialmente elaborada e compartilhada, que tem um objetivo
prático e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”.
Assim sendo, é uma teoria que traz conteúdos para uma ampla reflexão acerca das repre-
sentações embutidas nas práticas dos professores.
Nessa perspectiva, a pesquisa se fundamenta nas teorias de Moscovici (2012), par-
tindo da ideia de que as representações são elaboradas no seio social, consensualmente
pelos indivíduos, isto é, compartilhada pelos indivíduos que as criaram. Dentro dessa rea-
lidade, somos confrontados diariamente com inúmeras informações, novas ou não,
frente as quais espera-se que manifestemos a seu respeito. Para tal, é necessário uma
comunicação com os pares, pois as informações circulam exatamente nesses processos
de comunicação.
Sá (1994, p. 42) afirma que só há Representações Sociais (RS) quando “o objeto se
encontra implicado, de forma consistente, em alguma prática do grupo, aí incluída a da
conversação [..].” Logo, para que haja representação social é necessário que haja a comu-
nicação entre o grupo sobre o assunto.
Para Reis (2014), a partir de uma análise das representações sociais de professores
do curso de Pedagogia acerca dos saberes sobre as práticas aprendidas em seu processo
formativo e dos utilizados em suas práticas pedagógicas, os professores tendem a distan-
ciar suas práticas pedagógicas daquelas que aprendem em seu curso de formação. Uma
vez que o abuso sexual nem se faz presente nas ementas dos cursos, é possível inferir
que os professores não são formados para enfrentar esse desafio e, muito menos, para
desenvolver metodologias que auxiliem na aprendizagem desses sujeitos.
A violência, conforme Odalia (2012), é uma realidade com a qual se convive, sendo
suas raízes permeadas por elementos históricos, culturais, sociais, políticos e econômi-
cos. Nesse sentido, a violência contra a criança e o adolescente é uma prática antiga, que
ganha significados e tratamentos diferenciados, de acordo com os períodos históricos de
ocorrência e as concepções de infância neles vigentes.
Na contemporaneidade, há respaldos legais direcionados à proteção e garantia dos
direitos da criança e do adolescente, instaurados pela Constituição Federal (CF/88) e pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/90. No entanto, as crianças e os
adolescentes continuam expostos a inúmeras formas de violência, inclusive a de caráter
sexual. A violência sexual está cada vez mais presente na sociedade, atingindo todas as
faixas etárias, classes sociais e sujeitos de ambos os sexos, trazendo às vítimas,
da criança vítima de abuso. Uma vez que se trata de uma pesquisa qualitativa descritiva,
o acesso à população, a “amostra”, se deu por conveniência, considerando, o perfil da
prevalência na cidade de São Luís de Montes Belos, no estado de Goiás, a dificuldade de
recrutamento de participantes (em especial por se tratar de tema que pode gerar cons-
trangimento) para pesquisa com tema central sobre o “abuso sexual infantil”; e, por
outro lado a existência de conselho tutelar estruturado e presente nas escolas.
As entrevistas foram realizadas individualmente, com um roteiro semiestruturado,
para a geração de dados que futuramente foram tratados com o programa IRaMuTeQ,
técnica que optamos para análise dos dados e que será descrita posteriormente. Duarte
(2004, p. 215) indica que “entrevistas são fundamentais quando se precisa/deseja mapear
práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais
ou menos bem delimitados”. O que justifica a escolha da entrevista como a técnica para
coletar dados, além do que ela permite apreender as informações desejadas. O tipo de
entrevista utilizado foi a semidiretiva, pois possibilita maior liberdade, para ambas as
partes (entrevistador e entrevistado), pois mesmo com o roteiro pré-definido, é possível
incluir e descartar itens durante as entrevistas.
Assim foram realizadas 08 entrevistas semidiretivas com professores que tiveram
alunos vítimas de abuso sexual em suas salas de aula nos últimos 03 anos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1 – Dendograma das Classes, Representação Social do Abuso Sexual Infantil em Professores
do Ensino Fundamental
Classe 2. A Identificação dos casos por “comentários”. (16, 5 %). Nesta classe os
professores relatam que tem conhecimento dos casos por comentários entre os próprios
professores; alguns sujeitos afirmam que é preciso ter muita reserva e cuidado com os
comentários, então “não se deve comentar muito”, porém reconhecem que os sinais ou
indícios são passados de professor para professor e a principal suspeita vem do baixo
desempenho escolar, associado a alguns traços de comportamento. Também encontra-
mos nesta classe um discurso que afirma a inexistência de formação para reconhecer e
tratar destes casos. Palavras com presença significativa na classe e elevado Chi², apresen-
tadas por ordem do maior Chi² para o menor: comentar (comentários), gente, igual,
mundo, não, professor, como, formação, entender, né, assim, trabalhar, caso, lembrar,
dificuldade, corredor, colega
Frases típicas da Classe 2:
Mas a gente escuta n casos e normalmente são próprios professo-
res que comentam mesmo lá no cmei a gente sempre toma muito cuidado
com essas coisas porque quando eles são pequeninhos igual no cmei
eles não tem essa visão ainda mas aqui a gente não comenta com alunos não.
(Sujeito 07).
igual essa menina que ela foi minha aluna no quarto ano eu acho que eu nem
cheguei a comentar com as meninas eu não lembro se eu falei era
pra gente ficar de olho né e assim (Sujeito 04).
porque vai que não é e os pais vem tirar farinha a gente supõe igual nesse ca
so a gente sabia do menino por isso falou mas quando é só suspeita
a gente não fica falando não porque tem todo tipo de colega tem assunto na
escola que não ficamos comentando não. (Sujeito 04).
eu imaginei mas não sei se descobriu quem foi entre as colegas que
vocês comentaram é quem contou como assim ela já não estava mais com
a gente né e aí muita gente ficou sabendo. (Sujeito 05).
a gente mesmo que comenta uma hora ou outra que vamos conversar sobre
os alunos a gente fala dos que têm dificuldade às vezes acontece dos profes-
sores comentarem nos corredores entre si ou não. (Sujeito 06).
e você que procurou as coordenadoras para poder saber porque a gente sem-
pre comenta sobre a aprendizagem do aluno e a gente tenta entender o por-
quê daquela criança não desenvolver e normalmente isso acontece com todos
os professores ou só professor e coordenador. (Sujeito 06).
às vezes não é tão reservado assim comenta com outra e quem tiver
perto escuta mas era com outra professora e não com alguém de fora e nesse
período vocês tiveram alguma formação para os professores de como traba-
lhar ou identificar a criança que vou abusada. (Sujeito 06).
sempre acontece essas conversas na sala dos professores ou tem algum
ambiente não aqui nós horários de intervalos em reuniões mas não temos um
horário para isso. (Sujeito 07).
sempre tem aquelas que querem aparecer que quer falar mas não sabe tam-
bém não para os professores não você tá perguntando se os professo-
res acham isso normal não quando conversa é abertamente mas não é
um assunto do dia (Sujeito 07).
a gente não tem nenhum ambiente às vezes nós estamos aqui conversando e
alguma pessoa passa e nós professores temos esse hábito de troca de infor-
mações. (Sujeito 07).
igual cada um vai pra sua sala e às vezes quando surge a oportunidade ou
o assunto não sei fala sim e quando o menino vai de uma sala pra outra
a gente as vezes fala também. (Sujeito 04).
Classe 3. Fatos Marcantes e Família. (21, 5 %). Os discursos típicos desta classe rela-
tam episódios marcantes, envolvendo as crianças abusadas, que parecem confirmar de
modo inequívoco para os professores tratar-se de uma situação de abuso; também são
relatados episódios que apontam negligência, ausência, ocultação ou negação da parte
da família, especialmente em sua relação com vida escolar. Também aparecem, ainda
que em menor frequência, relatos de alerta ou acionamento do Conselho Tutelar, em
seguida a algum dos fatos marcantes relatados. Palavras com presença significativa na
classe e elevado Chi², apresentadas por ordem do maior Chi² para o menor: lá, aí, menina,
agora, tio, sozinho, roupa, dormir, dia só, levar, pensar, cocô, direito, colocar, contar.
Frases típicas da Classe 3:
aí a mãe fazia direito ela ia de biz aí ela deixava ela lá batia a campanhinha e
sumia ninguém via ela só via a menina todo dia ela fazia isso. (Sujeito 04).
eu já tive a gente desconfiava que tinha eu tinha um aluno ano passado
no cmei que uma vez eu percebi assim eu banhava ele aí a hora que
ele tirou a roupinha e ele subiu lá aonde a gente dava banho. (Sujeito 05).
a tia acionou o conselho né agora eu não lembro na época se as meninas já
tinha acionado o conselho ele já era aluno lá não eu só fiquei sabendo quando
ele era da minha sala. (Sujeito 01).
o conselho iniciou o trabalho dele e levou a menininha para iporá no iml só que
chegou lá e parece que nesse dia não teve atendimento e depois eles tira-
ram a menina da escola a gente não sabe mais o que aconteceu eu não sei o
que aconteceu. (Sujeito 07).
Só fique sabendo desse dessa vez que eu trabalhei 3 anos na escola vander-
lei lá eu não me lembro mas na 4 de outubro eu tinha um aluninho que era
contrária a essa, pois os professores pesquisados afirmam nunca terem tido nenhum tipo
de formação, nem para identificar os casos e nem para encaminhar.
Na Classe 1 de respostas os professores afirmam que as crianças vítimas de abuso
sexual têm um prejuízo na aprendizagem, atrapalhando o desempenho das mesmas na
escola, mas quando questionados sobre o papel que eles (os professores) podem desem-
penhar, eles afirmam que podem apenas dar um apoio moral. Não acreditam ser neces-
sário adaptar as práticas educativas diante dessas mudanças comportamentais, pois “é
um problema de casa”.
Já na Classe 2 as repostas se referem às formas de identificação, que remetem a
um conhecimento prévio do assunto, porém quando questionados sobre como identifi-
car, os mesmos afirmaram que aprenderam com a prática, pois nunca tiveram formação
para isso. Muitas vezes, por causa do baixo rendimento escolar, os professores trocam
informações entre si, momento esse onde acaba “surgindo o assunto”.
Wolf (1998, apud Williams, 2005) afirma que para que as ações de prevenção sejam
eficazes é necessário em um primeiro momento buscar eliminar/reduzir fatores sejam
sociais, ambientais ou culturais que possam ter influência sobre os atos de violência: “[...]
as ações envolvidas podem ser capacitações de profissionais e pessoas envolvidas dire-
tamente com a criança, tais como pais e professores” (p. 174). Logo, é necessário que os
professores sejam capacitados para educar as crianças sobre os riscos e consequências
do abuso sexual.
Além de educar as crianças sobre os riscos, o professor tem como função detectar
os comportamentos que servem como um pedido de socorro. Williams (2005) diz que:
[...] um enfoque secundário tem como objetivo a detecção precoce de crian-
ças em situação de risco, impedindo a repetição dos atos agressivos, sendo
que os esforços são no sentido de reduzir o stress causado pelo sistema legal
que a criança enfrenta, considerando que a postura dos profissionais que
lidam com a criança pode produzir ou amenizar danos psicológicos à vítima
(p. 174).
Para que isso ocorra, é necessário muito mais que uma “troca de informação”
(Classe 5) como relatado pelos professores entrevistados, é preciso uma busca árdua
e continuada.
Os professores entrevistados ressaltam que há o envolvimento e a participação da
família na maioria dos casos de abuso (Classe 3 e 4) e que isso deixa marcas irreparáveis
nas crianças, mas mesmo diante dessa situação esses profissionais se mostram passivos,
alguns chegam a relatar que “não adianta fazer nada, o Conselho só vem aqui, faz o ocor-
rência e vai embora, depois só vai sujar o nome da escola”.
Para que a rede de proteção realmente funcione é necessário que cada um
assuma o seu papel e esteja atento às necessidades das crianças, pois essa proteção
é um trabalho conjunto que pode dar certo, quando todos envolvidos assumirem
suas responsabilidades.
Outro fator recorrente nas entrevistas foi a dificuldade dos professores em manter
a confidencialidade, pois em diversos momentos relatam existir muita “fofoca” (classes 2
e 5) sobre o assunto, os profissionais não demonstram em suas falas o cuidado em res-
guardar a criança, uma vez que conversam sobre o abuso em “qualquer lugar” (nos cor-
redores, em reuniões de planejamento com a presença de todos os profissionais que
trabalham na escola), não tendo controle sobre a abrangência da disseminação da infor-
mação, o que pode levar à criação de um estereótipo, uma vez que se torna “assunto de
corredor” e consequentemente pode levar à exclusão da criança que já sofre as conse-
quências do abuso e precisa enfrentar mais essa agressão.
A representação social de abuso sexual infantil nesses sujeitos está focada integral-
mente na família, logo eles não conseguem vislumbrar um papel ativo dentro do pro-
cesso de proteção, fazendo assim um julgamento moral, simplificando um processo
extremamente complexo, delegando culpa somente à família e afirmando que só em
alguns casos é que a escola tem o papel de denunciar. Assim sendo, eles se eximem de
sua função estabelecida por lei, e ninguém fala em como ajudar essa criança, ficando a
mesma à margem da sociedade, estereotipada e muitas vezes excluída, tendo um pro-
cesso de aprendizagem cada vez mais prejudicado e podendo levar à evasão escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
despreparo quanto a essa informação, uma vez que afirmam conversar sobre esse
assunto na sala dos professores, e outras poucas vezes no corredor da escola.
As reflexões suscitadas e a análise de dados, nos permitem afirmar que os objeti-
vos propostos foram alcançados. Nesse percurso observou-se que os professores ainda
encontram muitas barreiras para lidar com o abuso sexual infantil, assunto esse per-
meado por tabus, incertezas, medo e questionamentos. Logo, é possível pensar que as
representações sociais, nesse contexto, ainda estão sendo construídas, e os conhecimen-
tos existentes precisam ser oportunizados a todos que participam da rede, em especial
àqueles que trabalham nas escolas.
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INTRODUÇÃO
A temática da educação inclusiva em sua interface com a psicologia tem sido discu-
tida em artigos como: Educação, Psicologia Escolar e Inclusão: Aproximações Necessárias
(GOMES et al., 2011) e Psicologia e Inclusão Escolar: Reflexões Sobre o Processo de
Subjetivação de Professores (GOMES; DE SOUZA, 2012). A partir dessas leituras, reitera-
-se a necessidade de fomentar contínuas discussões tangentes à mediação inclusiva, ao
seu papel e à sua relevância, tanto referente ao professor quanto ao assistente educacio-
nal. Nesse sentido, este artigo propõe-se a discutir uma questão central: Em quais aspec-
tos se pode destacar a importância do atendimento prestado por assistentes educacionais
a alunos com necessidades educacionais específicas para a educação inclusiva?
No âmbito do ensino regular, o Programa de Monitoria na educação inclusiva
na Universidade Federal de Goiás (UFG) tem como objetivo disponibilizar aos alunos
com necessidades específicas recursos e estratégias que favoreçam sua integração
social e o desenvolvimento de sua aprendizagem. O Programa é direcionado a dis-
centes dos cursos de licenciaturas da UFG, sendo que a assistência se caracteriza por
1 Graduanda de Licenciatura em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Email: jordanagracielle18@
hotmail.com
2 Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFG e professora adjunta da FE/UFG
na disciplina Psicologia da Educação. Email: soraya_vieira@hotmail.com
[ 815 ]
816 Jordana Gracielle de Jesus Sousa; Soraya Vieira Santos
METODOLOGIA
No tocante à cena em tela e sob análise, retome-se que este é estudo feito a partir
de uma experiência, e com foco nas interações entre a pesquisadora e dois alunos em
particular com necessidades educacionais específicas. A pesquisadora teve contato com
os dois alunos como parte de suas atividades como assistente educacional no âmbito do
Programa de Monitoria da UFG. Ao longo do semestre letivo, o acompanhamento aos
alunos foi realizado duas vezes por semana, sob a orientação da Profa. Joycelaine, de
forma a identificar demandas dos alunos assistidos: Pedro5, que possui traços de autismo
e diagnóstico de TDA/H, e Lucas, também com diagnóstico de TDA/H, ambos estudantes
do 3° ano do Ensino Fundamental I.
3 O trabalho de monitoria foi realizado por uma das autoras do texto, Jordana Gracielle de Jesus Sousa, no
CEPAE, sob orientação da professora de português da turma (3º ano do Ensino Fundamental), Profa. Joyce-
laine de Oliveira.
4 Nessa parte, a narrativa que no diário de campo está posta no presente é transposta para o passado, dado que
as práticas relatadas já ocorreram. Acredita-se que esse procedimento dá maior fluidez à leitura do relato.
5 Com o fim de proteger a identidade dos estudantes, neste relatório eles são referidos como Pedro e Lucas,
ao invés de seus nomes verdadeiros. Os nomes são fictícios, não tendo qualquer relação lógica com os nomes
dos alunos.
Sobre os alunos
A descrição desta seção propõe dar ao leitor uma visão um pouco maior sobre
cada aluno assistido, seus gostos e suas necessidades, a partir dos registros no diário de
campo. Lembrando, contudo, que a descrição é um recorte e que não representa o todo
complexo e singular de cada um.
Pedro
Pedro é um menino de oito anos, que estudava em uma escola pequena, com
poucos alunos em sala, da rede particular de ensino. Como todos os alunos
que chegam à escola pela primeira vez, ele teve os seus estranhamentos, os
seus desafios ao adentrar e conviver em um espaço novo.
As análises do diário de campo mostram que é uma criança criativa e muito parti-
cipativa, sobretudo nas aulas de Português: quase sempre pede para ler sua atividade
para a turma. Além disso, gosta de ver desenhos e filmes, e se empolga com atividades
que fogem ao comum, como trabalho de apresentação em grupo, atividades lúdicas (tea-
tro, filmes) e atividades ao ar livre.
Todo pai ou responsável do aluno matriculado no CEPAE precisa conversar com
o Setor de Psicologia e deixar um histórico escolar, além de, caso o estudante tenha
algum laudo, deixar uma cópia. Assim, Pedro é diagnosticado com Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDA/H), com alguns comportamentos que cor-
respondem ao espectro autista. Foi perceptível, mediante observações e análises
dos registros de campo, sua dificuldade em compreender emoções do outro e de
reconhecer seus próprios sentimentos, o que corroborou para uma interação social
desafiadora no âmbito escolar. Isso porque comumente ficava irritado a partir de
interpretações das atitudes dos colegas, as quais não eram correspondentes com a
real intenção deles. Tendo em vista que a escola é um meio social em que interações
ocorrem a todo momento, trabalhar uma boa relação de Pedro com o outro foi um
dos desafios postos para a assistente.
Para além do âmbito social, Pedro apresentava dificuldades em matemática, em
raciocínios que exigiam pensamento abstrato e algumas interpretações sobre o que era
para ser feito em alguma atividade, sendo necessária também a assistência para mediar
essa compreensão.
Lucas
Lucas também é um menino de oito anos, novato e que, assim como Pedro,
passou por um período de adaptação. Ele estudava em uma escola da rede
pública de ensino.
A criança não sabe senão viver sua infância. Conhecê-la pertence ao adulto.
Mas o que vai prevalecer nesse conhecimento: o ponto de vista do adulto ou
o da criança? (WALLON apud ALMEIDA, 2008, p. 77).
6 Ministrado dias 21 e 26 de junho de 2018, pela Ms. Leana Vilmar Mendes, graduada em Psicologia na Pontifícia
Universidade Católica de Goiás (PUC-GO 2003), com ênfase em processos de aprendizagem, memória e motiva-
ção e com ensino de habilidades para crianças com autismo.
7 Vale ressaltar que no CEPAE, a partir do 3º ano do ensino fundamental, as áreas do conhecimento são ministra-
das por professores formados em cada área e, portanto, a turma tinha seis professores diferentes.
momentos bem pontuais para o vídeo. Embora fosse um assunto do qual ele gostava,
logo se voltava para sua carteira, focando em desenhar num papel que havia pego no iní-
cio da aula.
Foi possível perceber que, apesar de Lucas não olhar atentamente para o professor
ou demorar para iniciar as atividades, ele compreendia a aula. Exemplo disso foi regis-
trado no fim de agosto, um episódio em que Pedro, como de costume, não olhava para a
professora na hora da explicação da atividade, e estava em pé ao lado da sua carteira,
mexendo em algumas folhas de revista, material distribuído para a realização do exercí-
cio proposto. Como tentativa de ponderar se Lucas havia compreendido, a pesquisadora
perguntou ao aluno o que a professora queria que eles fizessem. A resposta foi tranquila
e objetiva: o aluno disse em poucas palavras, o que a professora acabara de explicar, e
que, aos olhos da mediadora, não seria possível por conta de sua postura corporal (em
pé). O que ocorre aqui é também o que ocorre em vários momentos da sala de aula,
segundo Almeida (1999): espera-se que o aluno que aprende é aquele que está sentado,
imóvel e que olhe fixamente para o professor.
Almeida (1999) retoma conceitos de Wallon (1971) e sustenta que o movimento é
diversas vezes confundido com indisciplina e desatenção, sendo portanto, visto como ini-
migo do aprendizado. O que se defende a partir da teoria walloniana, no entanto, é que
o movimento tem a capacidade de expressar e de representar emoções, configurando-se
inclusive como aquele que pode possibilitar a apreensão do conhecimento.
Reconhecer o movimento como aspecto constituinte da pessoa completa tem
implicações pedagógicas, sobretudo exemplificadas aqui pela situação de Lucas, uma vez
que compreendida sua singularidade e o papel do movimento em sua aprendizagem, evi-
ta-se impor à criança a um padrão imóvel de receber o conhecimento, além da percep-
ção de que eliminar o movimento não é garantia de aprendizagem, e pode inclusive
dificultar a concentração do aluno. Isso se mostra pela concepção de Wallon (2007), na
qual atividade intelectual e atividade emocional se constituem em uma relação antagô-
nica: conforme a emoção é representada (por meio da fala, do movimento, entre outras
formas), a atividade reflexiva predomina no sujeito. Lucas poderia estar alegre com a ati-
vidade que envolveria revistas e colagens e talvez por isso, estivesse de pé e olhando as
figuras, mas sua postura corporal não significou que ele não tenha entendido, pelo con-
trário, estar de pé e se movimentando permitiu-lhe a representação de seu entusiasmo
e a apreensão da fala da professora. Este foi um episódio simbólico e que propiciou um
novo olhar para o aluno no decorrer do ano letivo. De alguma maneira, esta situação
ele e as outras crianças, ou seja, outras crianças também precisam da atenção dos adul-
tos. Ele pareceu ter entendido e, por exemplo, passou a permanecer mais tempo em sala
nas aulas de Português, realizando as tarefas.
Considera-se que isso foi um enorme avanço, o que reforça a necessidade e a
importância do trabalho de assistência. Um trabalho que se fundamenta no diálogo
com as crianças assistidas, com as demais crianças da classe e com os professores, e
que a cada dia faz pensar e pautar ações e intervenções centradas na aprendizagem
dos alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
8 Considerando-se uma sala de aula com aproximadamente trinta alunos, muitas vezes é a percepção
do assistente que corrobora para a visão do professor sobre um ou outro aluno em particular.
Assim, como se pode concluir, o envolvimento constante e cada vez maior das ativi-
dades de assistência com os estudantes Pedro e Lucas permitiram trocas importantes entre
a assistente e as professoras de português e de ciências, mais especificamente. Essas trocas
ensejaram aos professores o reconhecimento das dificuldades dos alunos assistidos, desen-
cadeando um discernimento substancial sobre seus ritmos e avanços. Vale salientar que o
olhar sobre o desempenho teve (e deve ter) como parâmetro o próprio aluno com necessi-
dades específicas, e não a turma. Dessa forma, promove-se um olhar que compreende os
variáveis ritmos de aprendizagem e de interação de cada criança e engendra a todos que
fazem parte desse processo, a sensibilização acerca de questões que envolvem estratégias
de ensino e percepção sobre a singularidade de cada um.
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INTRODUÇÃO
[ 828 ]
A PRESENÇA DE WALLON NA PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA 829
Mesmo que não tenha proposto nenhuma teoria pedagógica, pode-se falar em
uma pedagogia explícita e uma implícita pensadas por Wallon (ALMEIDA, 2000). A pri-
meira diz respeito às análises da Educação Nova e da Educação em geral e ao Projeto de
reforma do ensino francês no pós-guerra, que ficou conhecido como Projeto Langevin-
Wallon. Nesses textos, o autor defende que a educação escolar deve superar a dicotomia
indivíduo-sociedade, pautada nos princípios de justiça e dignidade, pensando uma
mesma educação para todos e para cada um. “A escola é”, então, segundo Wallon, “toda
a vida da criança”. Ela é indispensável para o processo de humanização, pois representa
o meio e o grupo em que ela se forma e pode formar novas possibilidades. Ela é a síntese
entre o passado, produção de conhecimento por toda a Humanidade, presente, momento
da troca, e futuro, construído pelas crianças.
Quanto à psicologia, compreende o ser humano como completo, concreto, contex-
tualizado e em construção em todos os momentos. Para análise, propôs a divisão didá-
tica da mente em conjuntos funcionais: motor, cognitivo, afetivo e pessoa. Cada conjunto
oferece diferentes recursos para o processo de sociabilidade e de aprendizagem e todos
eles estão articulados e presentes em todas as atividades da pessoa, que é a unidade e
multiplicidade de cada um (MAHONEY, 2004). Em todo esse processo de construção de
si e do conhecimento, o outro ou o socius assume papel de destaque. Nessa perspectiva,
ninguém constrói a si mesmo e o mundo sozinho. É na relação com o outro que a pessoas
e o mundo são construídos.
Diante do exposto, é possível observar que o conhecimento dessa teoria tem muito
a contribuir para o debate no campo da Psicologia da Educação e para as intervenções
pedagógicas e psicológicas na escola. Surge, então, o questionamento: Seriam as contri-
buições de Wallon para os campos da Psicologia e da Educação bem exploradas no Brasil
na contemporaneidade? É isso que o presente artigo busca investigar.
A fim de compreender o estado da arte da produção sobre Wallon na atualidade
brasileira, o presente estudo foi feito a partir de pesquisa bibliográfica, isto é, por meio
de um conjunto ordenado de procedimentos para busca de soluções, cuja aproximação
com o objeto de estudo é mediante as fontes bibliográficas (LIMA & MIOTO, 2007).
Dessa forma, foi realizado um levantamento de artigos no Portal Scielo, em novem-
bro de 2018. Com a palavra-chave Wallon, foram encontrados 33 artigos, publicados no
período de 2003 a 2017. Por meio do critério de apropriação da teoria psicológica de
Wallon, foram selecionados 28 artigos. Tal material foi fichado e analisado, elaborando-
-se categorias de articulação entre os artigos e as contribuições de Wallon para a
educação, com a finalidade de discutir como esse autor aparece na produção acadêmica
brasileira. Os itens analisados em cada artigo foram: tema central, ideias básicas, trechos
mais importantes, comentários críticos e considerações finais. Com os trabalhos analisa-
dos, foi possível pontuar algumas considerações importantes quanto à distribuição dos
artigos ao longo do tempo, os temas ou conceitos wallonianos discutidos, os autores
associados e as obras mais citadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entretanto, ainda que tenha se tornado conhecido a partir da década de 1980 entre
os educadores brasileiros, nota-se no Quadro 1 que a presença do autor ainda é tímida
no que se refere às revistas acadêmicas abrigadas no portal Scielo, uma vez que apenas
28 trabalhos foram selecionados em todo o acervo. Uma busca simples no mesmo portal
com a palavra-chave “Piaget”, por exemplo, retorna com um total de 195 artigos, ao
passo que a palavra “Vygotsky” resulta em 274 textos2. A prevalência de Piaget e Vygotsky
no discurso educacional poderia ser discutida à luz de diversos fatores, mas de acordo
com Grandino (2010, p. 32), isso também pode se explicar a partir das impressões que
Wallon deixa em seus leitores:
Da amplitude de referências conceituais decorre a visão geral que os leitores
têm de seus textos, normalmente referidos como de difícil compreensão.
Acontece que sua análise recorre aos diferentes campos do conhecimento e
está impregnada de referências médicas e a autores pouco familiares ao
nosso contexto.
Assim, o autor acaba por ser secundarizado e pouco estudado, tanto no campo da
educação como no campo da Psicologia. O Quadro 1 também informa sobre as revistas
acadêmicas nas quais os textos foram publicados, de maneira que pode-se notar certa
dispersão entre revistas destes dois campos do conhecimento. No campo da educação o
periódico Educação e Pesquisa foi o que mais publicou trabalhos relacionados a Wallon
(três artigos), ao passo que no campo da Psicologia a revista Psicologia em Estudo se des-
taca com o mesmo número de artigos (três). Chama atenção também os três trabalhos
veiculados no periódico Psicologia Escolar e Educacional, uma vez que essa revista se
situa exatamente no campo de intersecção entre essas duas áreas do saber, quais sejam,
educação e psicologia.
Tendo em vista os temas e conceitos relacionados a Wallon nos textos seleciona-
dos, no estudo dos artigos foi possível identificar as seguintes categorias: Afetividade/
2 Levantamento realizado no dia 03 de outubro de 2019, utilizando essas palavras no item "pesquisa de artigos”
no portal Scielo. Vale ressaltar que com a grafia "Vigotski" obteve-se 182 trabalhos, ao passo que a palavra
"Vygotsky" resultou em 274.
Assim, para falar de emoção em Wallon é preciso, antes, falar da pessoa completa,
que se constitui a partir da afetividade, mas num constante processo relacionado tam-
bém aos conjuntos funcionais da cognição e do ato motor. Esses conjuntos se organizam
ao longo do desenvolvimento da criança, por exemplo, de maneira que em alguns
momentos um predomina e os outros tornam-se menos evidentes, e assim sucessiva-
mente. Nesse processo o eu vai se constituindo na relação com o outro, o que explica a
prevalência da discussão sobre a relação eu-outro em nove dos artigos selecionados
(FONTES & VASCONCELOS, 2007; PESSOA & COSTA, 2014; ARANHA, 2015; SMITH &
SPERB, 2007; OLIVEIRA & GEBARA, 2010; ALMEIDA, 2014; BUSSAB, PEDROSA & CARVALHO,
2007; CORSI, 2011; TEIXEIRA, 2003).
Como a temática da emoção prevalece nos textos, parece também evidente que a
questão da relação cognição-afetividade apareça nos trabalhos, como ocorre em seis
deles (FERREIRA & ACIOLY-RÉGNER, 2010; SOUZA, 2011; TEIXEIRA, 2003; BUSSAB,
PEDROSA & CARVALHO, 2007; BORGES, ALMEIDA & SOUZA, 2014; CINTRA & ALMEIDA,
2014). Trata-se de uma discussão fundamental para educadores e professores em geral,
uma vez que enquanto a escola é predominantemente relacionada ao aspecto da cogni-
ção, Wallon argumenta que a pessoa não pode ser cindida e, portanto, aluno e professor
são seres completos, com cognição e também afetividade. Nesse sentido,
[...] mesmo na escola, as relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão
do conhecimento implica, necessariamente, uma interação entre pessoas.
Portanto, na relação professor-aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o
afeto está presente. (ALMEIDA, 1999, p. 107).
marcada por um olhar dialético e por uma perspectiva de análise da realidade a partir de
suas contradições. A discussão feita a partir dos artigos selecionados indica, entretanto,
que esta concepção de homem está praticamente ausente nos trabalhos relacionados ao
autor, ou pelo menos não foi claramente explicitada. Uma explicação possível para esta
invisibilidade da concepção walloniana de homem estaria na associação frequente do
autor à teoria de Vigotski, como mostra o gráfico abaixo.
Quanto às obras de Wallon mais citadas nos artigos analisados, o gráfico 3 indica a
prevalência do livro “A evolução psicológica da criança”, que aparece em 18 trabalhos
(FONTES & VASCONCELOS, 2007; PESSOA & COSTA, 2014; GUHUR, 2007; ALMEIDA, 2014;
BUSSAB, PEDROSA & CARVALHO, 2007; CORSI, 2011; LOOS-SANT’ANA & GASPARIM, 2013;
BISSOTO & ALMEIDA, 2014; CARVALHO, 2003; SOUZA, 2011; FONTES, 2005; TEIXEIRA,
2003, ALMEIDA, 2012; BRAZÃO, 2015; CARVALHO, LOPES & CANCELA, 2015; GARANHANI
& NADOLNY, 2015; MONÇÃO, 2015; SMITH & SPERB, 2007). Trata-se de um livro publicado
por Wallon em 1941 e que sintetiza as ideias centrais do autor, apresentando os conjuntos
funcionais (afetividade, ato motor, conhecimento e pessoa) de maneira bastante didática,
além de, no capítulo final, descrever as características principais de cada uma das fases do
desenvolvimento. O livro possui duas traduções para o português, sendo também de fácil
acesso, o que em geral explica sua predominância nos artigos.
Dentre os 28 artigos analisados, o segundo livro de Wallon mais frequentemente
citado é “As origens do caráter na criança”, que aparece em 13 trabalhos (FONTES &
VASCONCELOS, 2007; PESSOA & COSTA, 2014; ALMEIDA, 2014; BUSSAB, PEDROSA &
CARVALHO, 2007; CORSI, 2011; FERREIRA & ACIOLY-RÉGNER, 2010; VERÍSSIMO, 2011;
SILVA, 2007; BRAZÃO, 2015; SMITH & SPERN, 2007; FONTES, 2005; GUHUR, 2007;
CARVALHO, 2003). Este livro, publicado em 1931 é dividido em três partes, e reproduz os
cursos ministrados na Universidade de Sorbonne, em Paris, por Henri Wallon nos perío-
dos de 1929 a 1931, considerando manifestações físicas e emocionais como imprescindí-
veis para a formação do caráter. Por referir-se sobretudo à teoria das emoções, explica-se
sua prevalência entre os artigos citados, uma vez que, como vimos acima, este é o tema
predominante nos trabalhos analisados.
O livro “Psicologia e Educação da Infância”, por sua vez, publicado em 1935, traz
uma compilação de textos do autor sobre assuntos diversos, inclusive sobre a relação
entre psicologia e educação, sobre a psicologia como ciência, as etapas da personalidade
da criança e sobre a formação de professores, assim, seu aparecimento em 11 (FONTES,
2005; ALMEIDA, 2012; OLIVEIRA & GERABA, 2010; ALMEIDA, 2014; BISSOTO & ALMEIDA,
2014; CARVALHO 2003; FONTES & VASCONCELOS, 2007; PESSOA & COSTA, 2014;
ARANHA, 2015; GUHUR, 2007; GARANHANI & NADOLNY, 2015) dos artigos selecionados
se relaciona com as próprias temáticas descritas no gráfico 1.
Dentre as demais obras de Wallon identificadas nos artigos, destaca-se “Do ato ao
pensamento”, de 1942, que aparece em oito trabalhos (BUSSAB, PEDROSA & CARVALHO,
2007; FERREIRA & ACIOLY-RÉGNER, 2010; LOOS-SANT’ANA & GASPARIN, 2013; BISSOTO
& ALMEIDA, 2014; BRAZÃO, 2015; SMITH & SPERN, 2007; GRANHAHI & NADOLNY, 2015;
BRAZÃO, 2015) e que apresenta uma importante contribuição do autor à compreensão
da passagem da inteligência prática à inteligência verbal, e “Objetivos e métodos da psi-
cologia”, publicado em 1931, com uma coletânea de artigos de Wallon sobre temas diver-
sos e que aparece também em oito trabalhos (VERÍSSIMO, 2011; TEIXEIRA, 2003;
ALMEIDA, 2012; BRAZÃO, 2015; BORGES, ALMEIDA & SOUZA, 2014; GUHUR, 2007;
ALMEIDA, 2014; CARVALHO, 2003). Entretanto, embora predomine referências às obras
originais do autor, alguns trabalhos apenas fundamentam-se em comentadores de sua
teoria, sem citação direta de obras de sua autoria, como é o caso de Vasconcelos (2015),
Moreira e Sousa (2016) e Fetzner (2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa sobre a produção acadêmica brasileira que recorre a Wallon como fun-
damentação teórica merece ainda ser aprimorada e, certamente, o estudo bibliográfico
aqui esboçado apresenta apenas um início para essa profícua discussão. Contudo, essa
breve incursão em artigos do campo da educação e da psicologia relacionados ao autor
indica a necessidade de aprofundamento no estudo de sua obra e de compreensão de
seus pressupostos, pois trata-se de um autor que apresenta grandes contribuições à aná-
lise do desenvolvimento da criança e, como consequência, à questão educacional.
Quanto ao fato de Wallon ser ainda um pesquisador quase desconhecido para mui-
tos autores contemporâneos e a questão de que seu nome aparece raramente em biblio-
grafias científicas, Gratiot-Alfandéry (2010, p. 28) afirma:
Sua obra conta com uma dezena de livros com numerosas reimpressões. Ele
escreveu centenas de artigos, e existem traduções de seus livros em alemão,
inglês, árabe, espanhol, italiano, grego, japonês, polonês, português, russo,
para citar apenas algumas. [...].
Wallon se dirigiu a públicos diversos e qualquer de seus escritos revela uma
cultura excepcionalmente extensa e de uma infatigável curiosidade para a
evolução científica de seu tempo. Homenagens que lhes foram rendidas, em
vida e após seu desaparecimento, por grandes especialistas, entre eles, psi-
quiatras, psicólogos e pedagogos, e mesmo sociólogos e linguistas. Todos
destacam sua preocupação maior: um melhor conhecimento da criança, das
condições de seu desenvolvimento físico e psicológico e das exigências de
sua educação. Talvez essa ligação indissociável estabelecida entre essas duas
abordagens gere incompreensões e muitos mal-entendidos. Para alguns, ele
parece ter sido um autor difícil de ler, em razão de sua vontade constante de
encontrar a expressão justa e rigorosa, de controlar a experimentação; para
outros, ele parecia especialmente ansioso para colocar suas observações na
prática pedagógica e, acima de tudo, atento às atividades do ensino.
Assim, trata-se de um autor fundamental, que contribuiu não apenas para dis-
cussões sobre afetividade, mas para a compreensão do homem em sua totalidade,
indicando, portanto, muitas possibilidades para o aprimoramento do ato educativo.
Nesse sentido, a compreensão de Wallon acerca do desenvolvimento colabora com
uma visão não restrita desse processo, abrangendo uma explicação complexa, que
comporta idas e vindas e permite, assim, uma visão dialética do homem. De acordo
com Gratiot-Alfandéry (2010, p. 33), o autor questiona a visão linear de desenvolvi-
mento, como se fosse um sucessivo alargar de possibilidades internas: “Wallon demons-
tra que, muito diferentemente disso, o desenvolvimento humano é marcado por
avanços, recuos e contradições e, para melhor compreendê-lo, é preciso abandonar
concepções lineares de análise e interpretação”.
O estudo da teoria walloniana apresenta, portanto, uma enorme contribuição à
compreensão da criança como uma pessoa constituída por afeto, cognição e movimento
e que já é, nesse momento de seu desenvolvimento, uma totalidade. Nessa perspectiva,
Wallon é também um autor que pode em muito colaborar com processos que
vislumbram a importância da infância e que defendem a criança naquilo que ela é, e não
como um vir a ser, no futuro, como propõe a ideia de que a educação deva preparar o
“cidadão do futuro”. A criança, para Wallon, já é completa. Além disso, como todo ser
humano, é concreta e contextualizada, situada em determinado tempo e espaço e é em
construção, nunca pronta e sempre se desenvolvendo.
Por fim, tendo o presente estudo mostrado que Wallon é predominantemente
associado à temática da emoção, ratifica-se a necessidade de aprofundamento em sua
obra, uma vez que no campo educacional, especialmente, esse tema tem sido recorrente
nos últimos anos. A Base Nacional Comum Curricular3, promulgada em 2017, indica a
necessidade de promoção das denominadas habilidades e competências socioemocio-
nais e, assim, a discussão em torno do que são essas habilidades e em que medida é pos-
sível “educar” as emoções se mostra crescente no Brasil. Ainda que Wallon não tenha
abordado diretamente esta questão, ao apresentar sua concepção de afetividade refe-
rida em outros conjuntos funcionais e, portanto, como constitutiva da pessoa, o autor
nos auxilia a pensar criticamente processos que visam à administração e controle das
emoções, em nome da formação de competências socioemocionais. Trata-se, certa-
mente, de um eixo de análise importante a ser enfrentado tanto no campo da Psicologia
como no campo da Educação.
Retomando, portanto, o objetivo inicial deste texto, verifica-se que Wallon está
pouco presente na produção acadêmica brasileira, a despeito da fertilidade de sua teo-
ria e das sólidas contribuições que oferece à compreensão da criança e do homem em
geral. Psicólogos e educadores se beneficiam de seus pressupostos, de forma que se
faz necessário retomar suas colaborações, sobretudo em tempos de individualismo
exacerbado, de tentativa de fragmentação e reducionismo do ser humano, e de con-
trole da afetividade.
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______. _, Laurinda Ramalho de. A questão do Eu e do Outro na psicogenética walloniana. Estud.
psicol. (Campinas), Campinas, v. 31, n. 4, p. 595-604, Dec. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/
3 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que regulamenta quais são as aprendizagens essen-
ciais a serem trabalhadas nas escolas brasileiras públicas e particulares de Educação Infantil, Ensino Fundamen-
tal e Ensino Médio.
PEREIRA, Caciana Linhares. Piaget, Vygotsky e Wallon: contribuições para os estudos da linguagem.
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SMITH, Vivian Hamann; SPERB, Tânia Mara. A construção do sujeito narrador: pensamento discursivo na
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TEIXEIRA, Edival Sebastião. A questão da periodização do desenvolvimento psicológico em Wallon e em
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WALLON, Henri. Os meios, os grupos e a psicogênese da criança. In: Psicologia e educação da criança.
Trad. Ana Rabaça e Calado Trindade. Lisboa: Editorial Vega, 1979, p. 161-176.
ZAZZO, René. Henri Wallon: Psicologia e Marxismo. Trad. Calado Trindade. Lisboa: Editorial Vega, 1978.
INTRODUÇÃO
1 Graduada em Psicologia/Professora dos cursos de licenciatura Letras, Matemática, História, Geografia e Pedago-
gia; bacharelado em Psicologia, Turismo e Patrimônio pela Universidade Estadual de Goiás, campus Cora Cora-
lina e campus Inhumas. Mestranda no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Língua, Literatura e Inter-
culturalidade (POSLLI) na UEG/Campus Cora Coralina. Pesquisa sobre (língua e discurso). lilianbarbosamorais@
gmail.com
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DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E ALFABETIZAÇÃO 847
Desta forma, Ferreiro (2011) apresenta os objetivos da alfabetização nos dois pri-
meiros anos iniciais, a saber:
[...] compreensão do modo de representação da linguagem que corresponde
ao tema alfabético de escrita; compreensão das funções sociais da escrita,
que determinam diferenças na organização da língua escrita e, portanto,
geram diferentes expectativas a respeito do que se pode encontrar por
escrito nos múltiplos objetos sociais que são portadores de escrita (livros
diversos, jornais, cartas, embalagens de produtos comestíveis ou de medica-
mentos, cartazes na rua etc.); leitura compreensiva de textos que correspon-
dem a diferentes registros de língua escrita (textos narrativos, informativos,
jornalísticos, instruções, cartas, recados, listas etc.) enfatizando a leitura
silenciosa mais que a oralidade convencional; produção de textos respei-
tando os modos de organização da língua escrita, que correspondem a esses
diferentes registros; atitude de curiosidade e falta de medo diante da língua
escrita. (FERREIRO, 2011, p. 23-24).
maneiras de apresentar esse mundo da escrita e da leitura para a criança por meio de
práticas, da pré-escola, que permitam o contato espontâneo, como a escrita do nome, o
ato do professor ler e escrever, o folhear de livros e revistas, etc.
Diante da importância desta etapa, faz-se necessário refletir sobre as concepções
teóricas trabalhadas em sala de aula e buscar apoio de outras ciências como a psicologia
do desenvolvimento, no que se refere aos aspectos psicomotores, a fim de garantir um
ensino que visa à formação de sujeitos críticos e comprometidos com a sociedade em
que vivem.
O desenvolvimento psicomotor é uma área de estudo da psicologia, sobre o desen-
volvimento humano, que aborda a importância do corpo e sua função na vida dos indiví-
duos e a relação com a estrutura psicológica para concretização das ações; sendo que
seria impossível o homem expressar seu pensamento em gestos e atitudes se não fosse
pela motricidade.
Os estudos de Le Boulch (1982), Coste (1981) e Wallon (2010) se comunicam e per-
mitem compreender as terminologias adotadas nesta área de conhecimento, que são
imprescindíveis para sua aplicação na pré-escola.
O corpo, base dos atos motores, desde a Grécia antiga era fruto de questionamen-
tos entre os gregos. Para Platão (apud COSTE, 1981, p. 10), o corpo era “[...] lugar de tran-
sição da existência no mundo de uma alma imortal.” Segundo Platão, o corpo é submisso
à alma por ser esta imortal. A boa forma física associada à saúde contribuía para o bom
desenvolvimento moral e intelectual do indivíduo. Outros intelectuais da época, ao con-
trário de Platão, exaltavam a beleza física do corpo.
Complementando, Maine Biran (apud COSTE, 1981, p. 13) associou de fato o movi-
mento a um elemento fundamental da estrutura cognitiva do “eu”, onde coloca que:
O esforço muscular é o fundamento da vida psíquica: ele permite que se
afirme o sentimento do eu, força voluntária que supera obstáculos que o
mundo lhe opõe. É na ação que o eu toma consciência de si mesmo e do
mundo. É ainda a vontade que determina a vida psicológica; mas passa a ser,
doravante, uma vontade atuante, viva e sujeita às afeições corporais: a vida
emotiva e a vida somática não estão isoladas. (COSTE, 1981, p. 13).
oposição. Mesmo quando afirma, por vezes, sua unidade.” Portanto, a psicomotricidade
veio confirmar a ligação indissociável entre o corpo e o intelecto.
Essa educação psicomotora, por meio dos componentes da psicomotricidade, arti-
cula a relação entre corpo e mente. As emoções, sensações, ações e reações da criança
estão integradas com o intelecto e demonstram a maneira de agir e se expressar no meio
social. Quanto a isso, Le Boulch (1982) defende que:
A educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma expe-
riência ativa de confrontação com o meio. A ajuda educativa, proveniente
dos pais e do meio escolar, tem a finalidade não de ensinar à criança compor-
tamentos motores, mas sim de permitir-lhe, mediante o jogo, exercer sua
função de ajustamento, individualmente ou com outras crianças. No estágio
escolar, a primeira prioridade constitui a atividade motora lúdica, fonte de
prazer, permitindo à criança prosseguir a organização de sua ‘imagem do
corpo’ ao nível do vivido e de servir de ponto de partida na sua organização
práxica em relação com o desenvolvimento das atitudes de análise percep-
tiva. (LE BOULCH, 1982, p. 129).
Fica claro que essa manifestação tônica está ligada a automatismos característicos
de cada etapa comportamental do sujeito submetido à maturação funcional.
Estabelece-se então o diálogo tônico, outra característica comunicativa do tono
até o oitavo mês de vida do bebê, que caracteriza por uma tripla função da mãe para
como bebê: de proteção de estímulos negativos, de satisfação de tensões interiores e de
oferta de estímulos sensitivos para o desenvolvimento. Isto é, o bebê apresenta reações
espontâneas, quando submetido ao desprazer (ex: agressão), e reage com tensões glo-
bais de seu corpo, fecha os punhos, levanta os braços e ao prazer (ex: amamentação)
reage com sinais de relaxamento, os dedos afrouxam e diminui o ritmo respiratório;
sinais que somente a mãe consegue interpretar, devido ao vínculo afetivo envolvido
neste processo (WALLON, 2010).
Coste (1981) concorda com a ideia de Wallon (2010), relatando que a consciência
corporal da criança gradualmente se desenvolve graças ao seu amadurecimento neurofi-
siológico e às relações afetivas estabelecidas com seu núcleo familiar. O outro constitui
papel indispensável considerando que, ao manipular seu corpo, identifica seus membros
e, ao imitar a imagem do outro se movimentando, aprende a movimentar-se no espaço.
Wallon (2010, p. 153) aceita essa importância do papel do outro nesta etapa de
desenvolvimento ao ressaltar que o vínculo afetivo é essencial para aprendizagem do ato
motor. Este autor reforça que “o ato motor não se limita ao domínio das coisas, mas,
através dos meios de expressão, suporte indispensável do pensamento, submete-o às
mesmas condições a que está submetido.” Isto sublinha a influência do ato motor na
evolução mental da criança, já que ambos estão integrados e submetidos aos mesmos
fins expressivos.
ajusta sua motricidade e, pode ser desenvolvida por meio de atividades psicomotoras,
trabalhadas principalmente nas escolas, que possibilitem às crianças desenvolver suas
potencialidades cognitivas, motoras e afetivas (LE BOULCH, 1982).
A estruturação espacial requer que a criança tenha domínio do seu corpo e a capa-
cidade de usá-lo para se movimentar nos mais diferentes espaços, integrando o seu ser
ao meio ambiente. Esta estruturação espacial engloba muito mais que espaços físicos
como paredes, portas, ruas, casas, etc. A criança precisa reconhecer, intervir e agir nes-
ses espaços, que se configuram em diferentes ações (LE BOULCH, 1982).
A escola é um ambiente proporcionador de atividades para que as crianças pos-
sam desenvolver noções espaciais e se movimentarem com autonomia. Passeios em
praças, shoppings, cinema, ruas, auxiliam no desenvolvimento dessa estruturação
espacial da criança.
A orientação temporal é a habilidade mais complexa, no sentido de ser construída
com as crianças, pois diz respeito à capacidade de abstração para, então, conseguir dife-
renciar o tempo real, o cronológico e o imaginário. Desenvolver a orientação temporal
ajuda as crianças a se incluírem no universo em que vivem. Isto envolve a noção de
sucessão de acontecimentos no tempo, do dia e da noite e na organização de ritmos diá-
rios como dormir, alimentar, etc. Também favorece a comunicação da criança com mais
facilidade ao fazer suas narrativas e percepções do ambiente que a rodeia. Le Boulch
(1982, p. 111) vem dizer que a orientação temporal estruturada culmina no que ele chama
de personalidade expressiva, que seria “a organização temporal do movimento que é a
característica essencial do que classicamente se chama um movimento bem coorde-
nado, ou seja, harmonioso.”.
Portanto, a orientação temporal tem grande influência na linguagem e na com-
preensão dos fatos que pressupõem uma sucessão temporal. Cabe ao educador selecio-
nar métodos que possibilitem um bom desenvolvimento desse componente da criança.
A coordenação motora grossa está relacionada ao desenvolvimento geral da
criança, bem como a organização do ritmo e percepções que trabalham os movimen-
tos dos membros superiores e dos membros inferiores. Diz respeito a habilidades como
dançar, correr, pular, subir e descer escadas, chutar, caminhar, etc. Para possibilitar um
bom desenvolvimento dessas habilidades, as atividades físicas, jogos, música, dança
são essenciais.
mais contato a criança tem com objetos e ambientes diferentes, maior sua experiência e
estruturação das ações.
No processo educacional, possibilita-se às crianças vivenciar situações lúdicas
diversas por meio de seu próprio corpo e seu movimento, experimentando e brincando.
Passam a conhecer e saber de seus limites, alcançando um desenvolvimento global de
suas funções psicomotoras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
segundo Le Boulch (1987, p. 43), nesse sentido, “desempenha um papel central já que ela
termina no ingresso a uma imagem do corpo operatório, condição da disponibilidade
pessoal em relação ao meio material e humano”. Ou seja, o trabalho psicomotor na pré-
-escola permite à criança ter domínio sobre o seu corpo, o que facilita na adaptação
escolar subsequente a pré-escola.
Uma exemplificação dessa fala de Le Boulch (1987) é que a criança com seis anos
de idade, estando no primeiro ano do ensino fundamental, apresenta um linguajar com-
posto por vocabulários que aprende no convívio familiar, sendo conhecimentos prévios
que a criança possui sobre sinais gráficos que são sistematizados por meio de atividades
mediadoras, como as fichas de leitura que a levam a perceber que cada objeto ao seu
redor possui um símbolo linguístico sonoro e gráfico.
Ao perceber a educação psicomotora concebendo o corpo como um instrumento
que se desenvolve por meio de uma educação funcional, a psicomotricidade se coloca ao
alcance da atitude educativa, auxiliando professores e profissionais da educação a lidar
com déficits psicomotores que atrapalham o desenvolvimento da criança no processo de
alfabetização. Assim, teóricos como Le Boulch (1987) apresentam exercícios que os pro-
fessores podem utilizar na pré-escola para evitar dificuldades psicomotoras que compro-
metam a alfabetização.
Para este autor, os jogos e as atividades de expressão livre permeiam os exercícios
dirigidos a esta finalidade e, segundo ele, o jogo “pelo valor simbólico que representa, é,
ao mesmo tempo, revelador das verdades, das frustrações das crianças e salvador pelos
desbloqueios que permite”, ou seja, representa uma ferramenta eficaz que possibilita à
criança expressar e autorreconhecer o que fortalece sua identidade pessoal e motora (LE
BOULCH, 1987, p. 46).
Este autor sugere, para a estruturação da lateralidade, exercícios de manipulação,
malabarismo e arremesso. Orienta o professor a não pronunciar a palavra direita e
esquerda, para evitar influências na lateralidade, que é de ordem neurológica. Nas ativi-
dades de manipulação e malabarismo o professor pode utilizar sacos de sementes peque-
nos e propor que o lance de uma mão para a outra, no qual trabalha a coordenação
óculo-manual imprescindível para escrita e leitura.
Um tipo de jogo abordado por Le Boulch (1987, p. 62) se desenvolve da seguinte
forma: “posicionar duas crianças, uma em frente à outra, com uma das mãos às costas;
pedir-lhes para agarrarem, o mais rápido possível, uma bolinha que é colocada entre as
duas”. Nesta atividade o professor pode verificar a habilidade manual da criança, o que
ajuda a reforçar a hipótese sobre sua lateralidade.
Na realização destas atividades o professor necessita ajudar a criança a localizar tam-
bém sua dominância auditiva e o lado do corpo que melhor executa os movimentos. Para
isso, jogos de manipulação com a bola explorando à frente, atrás, à direita, à esquerda, em
cima (da cabeça), embaixo (das pernas), pegar a bola com a mão direita, depois com a
esquerda, colocar a bola nos pés, nas pernas, na barriga, em volta do pescoço, passar por
circuitos com bambolês, traçar linhas no chão com giz e pedir para se equilibrarem com o
pé esquerdo, depois com o direito. Identificar ruídos ao bater objetos, para diferenciação
dos sons, como agulhas de tricô, copos de metal, lápis, talheres... todos estes exercícios tra-
balham tanto a lateralidade quanto o esquema corporal, a estruturação espacial e a acui-
dade auditiva, fundamentais no processo de alfabetização.
No caso da estruturação espacial, os exercícios de rastros e pegadas precisam ser
trabalhados previamente, pois a criança só identifica a pegada se conhecer quem a pro-
vocou. A atividade de completar desenho deve ser livre e sem desenhos pré-estabeleci-
dos para que a criança se expresse conforme seu ponto de vista. Assim como os
quebra-cabeças devem ser montados e colocados por ela própria. Outra forma de estru-
turar a orientação espacial é a simbolização gráfica, que pode ser desenvolvida por meio
da identificação espacial das figuras em um flanelógrafo (para cima, para baixo, à direita,
à esquerda, em diversas posições).
Quanto à orientação temporal pode ser trabalhada por meio do reconhecimento
de traçados geométricos na vertical, na horizontal, curva, reta, exercícios de discrimi-
nação, como por exemplo, colorir o círculo maior, o que está à esquerda, utilizando
exercícios de referência. Localizar seu próprio corpo em relação a si próprio e a outrem.
Na orientação temporal pode-se pedir para identificar a posição antes e depois, utili-
zando um ponto de referência como na seguinte atividade proposta por Grosso e
Bellotti (1976, p. 96): “colorir as flores que estão depois da tulipa e as que estão antes
do narciso”. Essa atividade permite que as crianças internalizem noções espaciais e
temporais utilizadas no grafismo.
No que se refere à habilidade manual, de acordo com a coordenação motora fina
das mãos e dos dedos que facilita a escrita, Le Boulch (1987, p. 68) enfatiza atividades
como: modelagem, recorte e colagem. Elas “educam a flexibilidade e firmeza da mão, a
sensibilidade tátil [...] ; desenvolve uma boa dissociação dos dedos e uma boa mobilidade
do punho [...] ; exercita a leveza e a precisão dos gestos”.
Desta forma, para o aprimoramento das habilidades visuais específicas das crian-
ças, Grosso e Bellotti (1976, p. 50) propõem atividades de: “retire o avião de um conjunto
de carrinhos, separe os blocos do mesmo tamanho, guarde, numa caixa, os pratinhos da
mesma cor, separe os pincéis de cola dos pincéis de tinta”. São atividades de percepção
de semelhanças e diferenças de cor, forma, detalhe externo e interno de imagens, da
mais notória para a menos notória. Elas ajudam a criança a perceber na alfabetização
proximidades e divergências entre as palavras, uma capacidade exigida na leitura.
As atividades de figura-fundo, segundo Grosso e Bellotti (1976, p. 53), auxiliam as
crianças a identificarem, num texto, um conjunto de palavras e letras no corpo de pala-
vras: “acompanhar com os olhos o movimento de uma bandeirinha, do voo de pássaros,
de aviões, borboletas... Procurar objetos (figuras num fundo semelhante: grilos, na
grama; lagartas, nas plantas etc)”, competência indispensável para aquisição da leitura.
A constância de percepção de forma e tamanho é outra habilidade necessária na
leitura e na escrita, pois permite que as crianças reconheçam palavras repetidas em
variados contextos de leitura e escrita. Para isso a memória visual da palavra é outra
característica que o processo de aquisição da lectoescrita necessita.
A discriminação e memória auditivas são essenciais na leitura e escrita, pois permi-
tem à criança diferenciar as palavras pelo som, a fixar explicações do professor e copiar
em situações de ditado. O trabalho com rimas, adivinhações, enfoque na sílaba final,
palavras dentro de outras palavras, sons isolados e repetir uma série de palavras com
sentido e sem sentido são excelentes exercícios que ajudam a criança a desenvolver e
ampliar sua memória auditiva (GROSSO E BELLOTTI, 1976).
Ampliar a capacidade de compreensão das crianças é possível por meio de ativida-
des que, conforme Grosso e Bellotti (1976, p. 76-78), permitam “perceber a ideia princi-
pal, identificar detalhes e pormenores, interpretar sequência lógica dos fatos, antecipar
conclusões, avaliar criticamente o que escuta”. São habilidades imprescindíveis para o
sucesso na alfabetização, pois a criança alfabetizada deve compreender o que se lê e não
apenas decifrar signos linguísticos.
Sendo assim, Grosso e Bellotti (1976, p. 80) salientam que é preciso que a criança
perceba a ligação entre “o que fala, o que escreve e o que se lê”, ou seja, que saiba rela-
cionar sons com símbolos gráficos reconhecendo a utilidade da leitura e escrita no seu
dia a dia, que cumpre função social da alfabetização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
dos aspectos de esquema corporal, tempo e espaço, lateralidade e linguagem, que reper-
cutem nas questões psicológicas e cognitivas que, de algum modo, interferem na apren-
dizagem no momento de alfabetização.
É por meio das atividades psicomotoras que essa base se constrói. No sentido em
questão, a psicomotricidade é uma excelente aliada à alfabetização, por meio dela a
criança vivencia situações lúdicas com seu corpo em movimento, constrói seu eu, seu
esquema corporal, sua lateralidade, sua estruturação espacial e temporal e aprimora sua
linguagem; aqui o movimento é uma das primeiras linguagens da criança, sua linguagem
corporal, que a permite comunicar-se e explorar o meio e gradualmente construir seu
sistema linguístico.
Nota-se, então, que corpo e mente são indissociáveis e que se aprende mais e
melhor quando os sentidos são estimulados pelo contato com outras crianças, ver, sentir,
tocar, assim sendo, por meio de experiências táteis e cinestésicas busca-se o desenvolvi-
mento global desta criança.
Fundamental, o ritmo de desenvolvimento e aprendizagem de cada criança e ter
clareza de que, se ocorrer déficit na alfabetização, este pode ser amenizado com a ajuda
da educação psicomotora ou da reeducação psicomotora.
E nessa perspectiva a psicologia do desenvolvimento muito tem a contribuir. Sendo
ela a ciência que pesquisa os aspectos motores do desenvolvimento humano, nos leva à
compreensão dos componentes básicos da psicomotricidade, bem como seus conceitos
essenciais e imprescindíveis ao processo de alfabetização.
Em suma, esta pesquisa bibliográfica possibilitou verificar que a psicomotricidade
é imprescindível para o processo de alfabetização, pois desenvolve habilidades psicomo-
toras importantes para o êxito na alfabetização. Ressalta a importância da ciência psico-
logia ao trazer para o debate aporte teórico sobre o desenvolvimento psicomotor
indispensável ao processo de alfabetização.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Ministério da
Educação. Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, 2012.
TEBEROSKY, Ana. Aprendendo a escrever: perspectivas psicológicas e implicações educacionais. 3. ed.
São Paulo: Ática, 1997.
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FERREIRO, Emília. Com todas as letras. 17. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
1999.
GROSSO, Lia Dalva Jaci; BELLOTTI, Thelma. Preparando para a leitura e escrita. In: GROSSO, Lia Dalva
Jaci; BELLOTTI, Thelma. Como prepara a criança para ler e escrever. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio
Editora, 1976. p. 49-86.
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Brizolara. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
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LIMA, Adriana Flávia Santos de Oliveira. Pré-Escola e Alfabetização: uma proposta baseada em P. Freire
e J. Piaget. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1987.
TEBEROSKY, Ana. Aprendendo a escrever: Perspectivas psicológicas e implicações educacionais. 3. ed.
São Paulo: Ática, 1997.
WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
UNIDADE IV
DIDÁTICA,
PRÁTICAS
DE ENSINO
E ESTÁGIO
INTRODUÇÃO
1 Graduanda do curso Pedagogia, pela Universidade de Brasília – UnB, campus Darcy Ribeiro. Pesquisa sobre Ciclo
de vida profissional docente e Extensionista no projeto “Círculos Formativos com Professores Iniciantes/Ingres-
santes”. ericaenpm@gmail.com
2 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade de Brasília. Pesquisa sobre Ciclo de vida profissional
docente e Extensionista no projeto “Círculos Formativos com Professores Iniciantes/Ingressantes”. ancamon-
teiro@me.com
3 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade de Brasília. Pesquisa sobre Ciclo de vida profissional
docente e Extensionista no projeto “Círculos Formativos com Professores Iniciantes/Ingressantes”. emanoela-
galvao@gmail.com
4 Professora do curso Pedagogia, pela Universidade de Brasília – UnB, campus Darcy Ribeiro. Pesquisa sobre Ciclo
de vida profissional e coordenadora do projeto de extensão “Círculos Formativos com Professores Iniciantes/
Ingressantes”. shirleidesc@gmail.com
[ 868 ]
A DIDÁTICA HISTÓRICO-CRÍTICA 869
(GASPARIN, 2015). Esse projeto foi elaborado a partir de discussões promovidas pelos
pesquisadores integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Atuação
de Professores/Pedagogos – GEPFAPe da Faculdade de Educação5 da Universidade de
Brasília – UnB.
O GEPFAPe foi criado em 2010 e conta com a participação e colaboração de profes-
sores universitários e da educação básica, estudantes de graduação e da pós-graduação,
bem como de pedagogos que atuam em ambientes não escolares, integrantes da comu-
nidade local e demais profissionais da educação. O objetivo do grupo é estudar, investi-
gar e examinar sistematicamente a formação e atuação dos professores. Consonante a
isso, pesquisas realizadas por integrantes tão diversos contribuíram para a elaboração do
citado projeto de extensão, uma vez que apontam que os professores iniciantes/ingres-
santes passam por dificuldades no início da carreira.
Essas adversidades circunscrevem-se às especificidades do cotidiano docente que
se potencializam no início da carreira, tendo como algumas causas: a cultura organizacio-
nal da escola, a infraestrutura inadequada, a transposição didática dos saberes disciplina-
res à realidade da rotina escolar, dentre outras. Diante de tais problemáticas, as atividades
desse projeto de extensão universitária buscam colaborar com a formação continuada
dos professores participantes considerando as múltiplas facetas da profissão docente.
Posto isso, a organização do projeto “Círculos formativos com professores inician-
tes/ingressantes” relaciona-se com a experiência acadêmica promovida pelo GEPFAPe.
De tal maneira que o objetivo principal dessa ação extensionista é possibilitar o fortale-
cimento da carreira docente dos professores iniciantes/ingressantes da rede pública de
educação do Distrito Federal, por meio do exercício reflexivo de produção coletiva de
conhecimentos acerca das problemáticas observadas no próprio cotidiano de trabalho.
Outros objetivos são: a) Contribuir com a formação inicial dos estudantes extensionistas
da Universidade de Brasília; b) Colaborar com a formulação de políticas públicas de edu-
cação em vistas do apoio aos referidos professores.
O projeto de extensão é organizado em círculos formativos que são intrínsecos a
compreensão proposta por Paulo Freire a respeito dos Círculos de Cultura (TONIOLO,
HENZ, 2017), e o entendimento de Reis (1996) sobre a concepção de extensão
processual-orgânica.
Esse processo formativo ocorre por meio da troca de experiências, pela sistemati-
zação de conhecimentos científicos e pelo relacionamento entre os participantes.
Assim, este trabalho visa possibilitar a análise dessa ação enquanto possibilidade
de exercício da pedagogia histórico-crítica. Ademais, examinar as práticas de ensino que
envolvem educandos em diferentes etapas formativas e integrantes de um mesmo pro-
jeto de extensão, tem o potencial de contribuir com os estudos sobre a práxis extensio-
nista (KOCHHANN, 2016).
METODOLOGIA
A discussão proposta por este trabalho surge da experiência dos Círculos Formativos
e de sua estrutura formativa, concernente ao campo de estudo “Didática, práticas de
ensino e estágio”. Conforme citado anteriormente, esse projeto de extensão é estrutu-
rado de acordo com os procedimentos metodológicos, propostos por Gasparin (2015),
relativos à didatização da pedagogia histórico-crítica. Desta forma, para além da descri-
ção do projeto de extensão optou-se por examinar seus vínculos metodológicos com a
didática para a pedagogia histórico-crítica.
Em vistas desta finalidade, contou-se com o aporte teórico de autores como
Gasparin (2015), no que concerne a explicitação didática da “teoria dialética do conheci-
mento com a correspondente metodologia de ensino-aprendizagem” (GASPARIN, 2015,
p. 5); Reis (1996) que conceitua a extensão universitária processual-orgânica; Kochhann
(2016, 2017) que colabora com a compreensão da concepção de extensão universitária e
seus vínculos com a formação inicial e continuada de professores, dentre outros. Estes
trabalhos são enfatizados, pois contribuíram com a compreensão da metodologia dos
círculos e sua relação com uma concepção de extensão processual-orgânica.
Tendo em vista a análise a partir da pedagogia histórico-crítica, o presente trabalho
organiza-se de forma a discutir os Círculos Formativos a partir dos aportes teóricos supra-
citados e da metodologia proposta pelo grupo de extensionistas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
7 Conforme Cruz (2017), a profissionalidade docente refere-se as atividades realizadas no exercício profissional que
tangem a intencionalidade educativa que por sua vez são influenciadas pelo contexto histórico-social da profissão.
Ressalta-se, dessa maneira, que o processo entre teoria e prática não é linear, é
contínuo e se desenvolve a partir da prática social, visando retornar a esta com conheci-
mentos novos e mais críticos, possibilitando uma transformação social (GASPARIN, 2015).
Portanto, o presente projeto de extensão busca a construção coletiva de conhecimentos,
possibilitando a formação docente em duas esferas (inicial e continuada), de forma a
suprir lacunas, reelaborar o senso comum e transformar efetivamente a realidade social.
Como “não se elabora uma concepção sem método” (SAVIANI, 2013, p. 4), o pro-
cesso pedagógico dos círculos formativos possui metodologia embasada na pedagogia
histórico-crítica. É importante ressaltar que tal metodologia vem sendo construída e
aprimorada no decorrer dos semestres de trabalho, considerando-se sempre que o
conhecimento é elaborado e reelaborado de forma conjunta, assim, o projeto passa por
alterações construtivas, sendo, então, muito mais um processo de formação do que uma
estrutura rígida pré-determinada.
Cabe elucidar, que durante os quatro semestres de realização desse projeto de
extensão ele passou por mudanças, adaptações e ressignificações teóricas. Essas trans-
formações concernem ao movimento de aperfeiçoamento intrínseco à práxis, que nunca
se esgota e sempre visa uma reflexão crítica. Por isso, neste trabalho é descrito o
momento atual em que se encontra a referida ação extensionista.
Em vistas do exposto anteriormente, inicia-se a elucidar quais são os cinco passos
da didática para a pedagogia histórico-crítica.
para ser percebida por diferentes perspectivas de forma a colaborar com a vinculação do
conteúdo a ser estudado e a prática das professoras.
Considera-se a problematização um “elemento-chave na transição entre a prática
e a teoria [...]. É o momento em que se inicia o trabalho com o conteúdo sistematizado”
(GASPARIN, 2015, p. 33). Ao questionar a prática social daquele determinado conteúdo,
é possível detectar questões e iniciar o desmonte da realidade, orientando todo o traba-
lho a ser desenvolvido posteriormente.
No momento nomeado “parceria com especialista” é realizada uma aula sobre o
tema em estudo. O professor especialista convidado apresenta o conteúdo sistemati-
zado aos participantes procurando vinculá-lo a prática das professoras, selecionando os
conteúdos adequados às exigências do grupo, que são levantadas tanto antes do círculo
(durante a definição das temáticas) quanto no momento da problematização. O especia-
lista elabora, portanto, as questões levantadas durante o momento de “problematiza-
ção”. Essa fase corresponde à “instrumentalização”, ao confronto entre a prática social
dos alunos com o conteúdo sistematizado trazido pela especialista:
A instrumentalização é o caminho pelo qual o conteúdo sistematizado é
posto à disposição dos alunos para que o assimilem e o recriem e, ao incor-
porá-lo, transformem-no em instrumento de construção pessoal e profissio-
nal. (GASPARIN, 2015, p. 51).
Esse momento, portanto, evidencia o abstrato, que media a transição entre o empí-
rico para o concreto (GASPARIN, 2015; SAVIANI, 2013) e, por esse motivo, é essencial
para a construção do conhecimento.
Esse especialista também participa do momento do “debate”, que segue e dialoga
com a “instrumentalização”, buscando responder as dúvidas dos participantes e provocar
reflexões. O debate é o momento dedicado a discussão do conteúdo exposto, das questões
que levaram a seleção do tema em estudo, das novas dúvidas, dos relatos de experiência,
sendo, portanto, um espaço em que os sujeitos participam ativamente da construção de
relações entre as suas práticas sociais e os conhecimentos apresentados pela especialista.
Nesse momento, inicia-se a síntese do que foi discutido ao longo da manhã.
A catarse concerne a uma conclusão do que foi estudado e vivenciado ao longo do
Círculo, todos são motivados por meio de dinâmica a expressarem o que entenderam e
quais os possíveis impactos que serão efetivados na sua atuação profissional. Também
reflete-se sobre as novas concepções acerca dos problemas selecionados, sob um prisma
mais consciente, pois este é o momento de sistematização da nova percepção da prática
social, da nova visão da realidade, quando “o novo conteúdo de que o aluno se apropriou
não é, portanto, algo dado pelo professor, mas uma construção social feita com base em
necessidades criadas pelo homem” (GASPARIN, 2015, p. 125).
Ressalta-se esse momento como aquele de “efetiva aprendizagem” (GASPARIN,
2015). Por mais que essa ocorra ao longo de todo o processo, a catarse é o momento cul-
minante da modificação do pensamento, já que
Ao início do processo, tudo era percebido como empírico, um tanto confuso.
Agora a mesma realidade passa a ser vista e compreendida em sua forma
concreta, é entendida como fruto de plurideterminações: já não se apresenta
como natural, mas histórica. O conteúdo empírico torna-se concreto.
(GASPARIN, 2015, p. 126).
Durante a “catarse”, são realizadas dinâmicas que são planejadas pela equipe res-
ponsável por tal, em que se busca realizar sínteses e reflexões sobre tudo o que foi apre-
sentado e discutido.
Considera-se que a transformação da prática social, o novo posicionamento
frente à realidade e aos desafios identificados durante a problematização, ocorre pos-
teriormente ao Círculo, porém não de forma imediata e linear, já que “esse processo de
compreensão do conteúdo ainda não se concretizou como prática. Esta exige uma ação
real do sujeito que aprendeu, requer uma aplicação” (GASPARIN, 2015, p. 140). A trans-
formação se dá a partir dos novos conhecimentos construídos e das instigações reali-
zadas na catarse, os sujeitos não se posicionarão da mesma forma que faziam
previamente pois se modificaram
intelectualmente e qualitativamente em relação a suas concepções sobre o
conteúdo que reconstruíram, passando de um estágio de menor compreen-
são científica a uma fase de maior clareza e compreensão dessa mesma con-
cepção dentro da realidade. Há, portanto, um novo posicionamento perante
a prática social do conteúdo que foi adquirido. (GASPARIN, 2015, p. 140).
de estudo proposta, como o projeto contribuiu para sua prática social (de forma a iden-
tificar alterações na prática), sugestões para os semestres seguintes, dentre outras.
Diante dessas considerações, na figura 3 apresenta-se as relações existentes
entre a didática para a pedagogia histórico-crítica e o projeto de extensão:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Portaria 395, 2018. Disponível em: https://www.sinprodf.org.br/portaria-no-395-de-14-de-
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FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Centauro, 2001.
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HUBERMAN, Michael. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, A. (org.). Vida de
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KOCHHANN, Andréa.In: XVIII ENDIPE, 2016. Disponível em: https://www.ufmt.br/endipe2016/
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REIS, Renato Hilário dos. Histórico, Tipologias e Proposições sobre a Extensão Universitária no Brasil.
Cadernos UnB Extensão: A universidade construindo saber e cidadania. Brasília, 1996. Disponível em:
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SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 19. ed. Campinas: Autores
Associados, 2013.
SILVA, Kátia Augusto Curado Pinheiro Cordeira da. Epistemologia da práxis na formação de
professores: perspectiva crítico-emancipadora. 1. ed. Campinas: Mercado das Letras, 2019.
INTRODUÇÃO
1 Mestre em Direito Constitucional, Doutorando em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
orientando da Professora Doutora Iria Brzezinski.
[ 888 ]
A DESCONSIDERAÇÃO DAS TEORIAS PEDAGÓGICO-DIDÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES 889
Neste contexto, o ápice deste estudo converge-se para o destaque quanto à omis-
são da Plano Nacional de Educação em relação à didática como instrumento de formação
de professores, culminando com a conclusão da relevância e necessidade do tema para
edificação do profissional do magistério.
Justifica-se o estudo como alerta em relação às discussões acadêmicas que giram
em torno do Plano Nacional de Educação, sobretudo quanto ao questionamento sobre
qual espécie de professor pretende-se forma com o atual programa político educacional
em vigor.
O estudo que se apresenta propõe debate sobre a contribuição da didática na for-
mação de professores, cujo domínio desta ciência está longe de resolvida no campo
material e ou estrutural, justamente por acreditar que o magistério aproxima-se do dom
intangível não afeto a qualquer interessado (a) a seguir uma profissão, mas sim assumir
uma missão, um sacerdócio.
Será assim apresentado em três seções, sendo a primeira destinada a demonstrar
a real função da educação, para deste modo construir uma análise crítica do Plano
Nacional de Educação no que correspondente à formação de professores.
A segunda seção descreve as políticas públicas previstas como adequadas à forma-
ção de professores, as quais relacional diretamente com melhoria de condições salarias,
estrutura física dos estabelecimentos educacionais, viabilização da qualificação pessoal,
concluindo pela natureza político pedagógica do Plano Nacional de Educação.
Na terceira e última seção apresenta o referencial teórico ressaltando autores que
se dedicam e dedicaram sua vida acadêmica na missão de apresentar a ciência da educa-
ção como instituto social, porém, não exclusivamente político, merecendo destaque o
sociólogo Florestan Fernandes, o filósofo Dermeval Saviani, e pedagogo José Carlos
Libaneo, que convergem conclusão comum no sentido de apontar a extraordinária neces-
sidade da criação de pauta governamental em favor da pedagógica-didática como requi-
sito essencial na formação de professores.
Destaca-se assim a problemática do trabalho proposto: Qual (ais) seria(m) o(s)
requisito (s) mínimo(s) pedagógicos-didáticos necessário(s) para formação de
professores?
METODOLOGIA
capitalistas são os proprietários dos meios de produção, logo, o Estado também está ser-
vindo aos seus interesses – acumular mais capital.
De acordo com Engels (1995), essa conjuntura, de subordinação aos interesses do
capital, é elemento fundamental para compreensão do conceito de Estado. O autor acre-
dita que o Estado não existiu desde sempre. Segundo ele, existiram inúmeras sociedades
que dispensaram dessa instituição. No entanto, o Estado torna-se indispensável a partir
de certo grau de difusão econômica, no momento em que a propriedade privada pro-
voca as desigualdades sociais e surgem as classes sociais.
Diante disso, surgem as lutas de classes e as necessidades do Estado em proteger a
classe dominante. A classe que detém os meios de produção institucionaliza, por meio do
Estado, seu controle econômico, por meio de instituições políticas e jurídicas (Engels, 1995).
Isso esclarece o papel do Estado, na institucionalização e avaliação das políticas públicas.
Com essa compreensão de que o Estado brasileiro é predominantemente capita-
lista, ressalta-se o que vem acontecendo na gestão do presidente Bolsonaro (gestão
2018). Recentemente, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) anunciou, por meio do
ministro da educação, um corte de 30% de repasses orçamentários para todas as univer-
sidades federais, principalmente no campo dos cursos de Filosofia e Sociologia.
Em um primeiro momento, segundo o jornal “O Globo”, conforme notícia divul-
gada em 01 de maio de 2019, a referida autoridade alegou a existência de “balburdia”
para justificar o corte. Posteriormente, a pasta governamental teria informado que a
motivação se baseava em questões operacionais, técnicas e isonômicas.
Diante dessas declarações, a Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia
(ANPOF) e outras 62 associações divulgaram uma nota de repúdio, ressaltando que:
Uma das maiores contribuições dos cursos de humanidades é justamente o
combate sistemático a visões tacanhas da realidade, provocando para a refle-
xão e para a pluralidade de perspectivas, indispensáveis ao desenvolvimento
cultural e social e à construção de sociedades mais justas e criativas.
Seguiremos combatendo diuturnamente os ataques à universidade pública e
aos cursos de humanidades movidos pelo ressentimento, pela ignorância e
pelo obscurantismo, também porque julgamos que esta é uma contribuição
maiúscula da área de humanidades para o melhoramento da sociedade à
nossa volta.
Essa medida política, na realidade, acaba por atender aos interesses da classe
dominante no sentido de enfraquecer o movimento educacional de formar uma
respeito da formação do professor. Isso é feito na LDB, Lei nº 9.394/96, onde se localizam
discussões voltadas especificamente para essa finalidade. Por exemplo, o título VI -
“Profissionais da Educação” e artigos que incidem sobre a formação de professores,
como o art. 62 que delimita a formação inicial de professores em cursos de licenciaturas
como formação mínima para o exercício docente.
Pelo exposto, frise-se que no Brasil, em especial no plano do mundo vivido, a edu-
cação escolar, conforme pensamento de BRZEZINSKI (2018, p. 99) é um direito comprado
pela classe privilegiada, servindo como aporte à ideologia neoliberal. No entanto, deve-
-se lutar por ela como um direito “de todos”, de responsabilidade do Estado e da família
com “coparticipação” da sociedade.
Adequada a conclusão de LIBANEO (2006) sobre a real função da educação, por
consequência, da função principal que deveria se ocupar o Plano Nacional de Educação:
Sigo uma tradição no pensamento educacional brasileiro, embora nem sem-
pre compartilhada entre as várias facções de educadores, de que a conquista
da igualdade social na escola consiste em proporcionar a todas as crianças e
jovens, em condições iguais, o acesso aos conhecimentos da ciência, da cul-
tura, da arte, o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais, a forma-
ção da cidadania. Quando falo em igualdade, quero me referir ao mesmo
direito à escola, ao domínio da ciência e da cultura e ao desenvolvimento das
habilidades cognitivas, e é precisamente o que chamo de escolaridade igual,
escola comum, ensino comum.
Vale aqui relembrar as políticas públicas anteriores ao PNE de 2014, é preciso men-
cionar que o período anterior, gestão do governo Lula (2003-2011) foi caracterizado por
ser uma gestão voltada aos direitos sociais. Nesse momento, a comunidade escolar pode
receber investimentos, entre os quais, para formação de professores em nível superior
nas Licenciaturas, valorização dos profissionais do magistério, criação de novas universi-
dades, com sua respectiva interiorização e implantação de Piso Salarial Nacional.
O PNE, instituído pela Lei nº 13.005, sancionada no governo de Dilma Rouseff,
trouxe uma política pública distributiva e redistributiva referente à educação brasileira,
determinando metas e estratégias educacionais para os próximos dez anos (2014-2024).
O referido ato normativo discorre o quantitativo de vinte metas para a educação
brasileira, observando-se que, expressivamente, quatro delas (anexo da lei), são voltadas
ao que tange a formação e valorização de professores da educação básica, discussões
nas metas 15, 16, 17 e 18.
A meta 15 discorre a respeito da formação docente, tendo como objetivo garantir,
em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
para a criação de uma política nacional de capacitação dos profissionais da educação até
2024, para que todos os professores da educação básica possuam curso superior. Além
disso, assegura-se que todo o professor dos anos finais do ensino fundamental e médio
possua formação superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em
que atuam.
A meta 16 do PNE propõe formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores
da Educação Básica e garantir que 100% dos docentes devem ter uma formação conti-
nuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextuali-
zações dos sistemas de ensino.
Quanto à formação docente, cumpre mencionar a crítica que se faz (BRZEZINSKI,
2018, p. 112) aos mecanismos facilitadores de acesso e permanência de docentes em
nível superior. Entende-se que a regra disposta no artigo 62, §4º, da Lei nº 12.796/2013
Pode se concluir que no Brasil as políticas públicas não dão ênfase no modo de ver
pedagógico das coisas, isto é, o interesse pelas demandas pedagógicas reais das escolas
e das aprendizagens dos alunos. O que sempre tem havido há décadas, como atesta
(LIBANEO: 2006) é um modo de ver ora burocrático, ora sociologizado, ora politicizado,
tal como atualmente reincide um modo de ver economicizado.
Demonstra-se, pois, que os legisladores, os pesquisadores da área da educação, os
políticos e militantes de partidos políticos, precisariam ter em mente que, em paralelo à
análise política ou à análise sociológica da educação, há uma análise pedagógica, e que
essa análise tem sua especificidade que, em última instância, é a formação humana, ou
seja, a produção de mudanças qualitativas no modo de ser e agir dos sujeitos em situa-
ções educativas, em contextos socioculturais e políticos concretos. Profissionais que
estão fora do campo teórico da pedagogia, embora decidam sobre políticas educacionais
ou investiguem a educação, raramente se dão conta de que, no final de contas, tudo pre-
cisa culminar na qualidade da formação humana.
O que se obtém da evolução do pensamento educacional é a forte tendência da
sociologização do pensamento pedagógico, em que a análise pedagógica fica subsumida
na análise sóciopolítica, ou seja, campo científico da educação e no campo institucional,
um declínio da análise pedagógico-didática das questões educacionais por parte dos pla-
nejadores e gestores das políticas educacionais e dos pesquisadores da academia e inte-
grantes de movimentos e sindicatos ligados aos professores.
Frente a este cenário, LIBANEO (2006) atesta que:
“Posso, enfim, formular minha terceira conjetura: nas polarizações e diver-
gências sobre as funções da escola pública hoje, em nível institucional e no
campo intelectual da educação, verifica-se que o fator pedagógico-didático
tem sido o elo perdido entre as políticas públicas da educação e as práticas
reais que acontecem nas escolas e salas de aula.
Advertência semelhante nos traz Florestan Fernandes (1966, p. 81) quando men-
ciona a consequência da escola pensada e influenciada pelas políticas públicas capitalis-
tas e econômicas:
“A escola divorciada do ambiente, neutra diante dos problemas sociais e dos
dilemas morais dos homes, incapaz de integrar-se no ritmo de vida de uma
‘civilização em mudança’, só pode atuar como um foco de conservantismo
sociocultural. Ela não pode funcionar como um fator de mudança e de inova-
ção, porque ela própria está organizada para ser um foco de estabilidade
social e de retenção do passado no presente”.
Veja que o citado professor elenca as principais habilidades que devem constituir a
formação do professor que, minimamente, garantem a possibilidade de que qualquer
diretriz ou estratégia apresentada pelas políticas públicas deveriam, antes de tudo, preo-
cupar em transmiti-la ao profissional, base sólida e inseparável de todo o sistema de
ensino que se pretende erguer em uma sociedade.
E é justamente a ausência dessa orientação no Plano Nacional de Educação (PNE
2014-2024) que embala o presente trabalho, nos sentido de instigar análise crítica e fomen-
tar o debate quanto à construção das paredes e telhados do novel sistema de ensino, sem
nenhuma preocupação do alicerce principal: a formação didática do professor.
Para encerrar a fundamentação teórica sobre a imperiosa necessidade de ter o
Plano Nacional de Educação concentrado esforços – ao menos de forma norteadora –
para formação pedagógica-didática do professor, não se pode aqui furtar de resgatar as
lições do filósofo da educação, professor Demerval Saviani, quando apresenta a pedago-
gia histórico-critica no quadro de tendências críticas da educação brasileira.
Como afirmado alhures o problema central converge-se para o questionamento da
finalidade da educação brasileira e dos meios para alcançá-la, frente ao debate entre o
politicismo pedagógico e pedagogismo político, contexto este cuja denominação “peda-
gogia crítico-social cunhada por José Carlos Libaneo é citada por SAVIANI (2008, p. 72)
como sendo resultado do trabalho de análise da prática dos professores, redefinindo a
didática à luz da concepção pedagógica.
Neste sentido, revela-se fundamental a exaltação das dicotomias das teorias edu-
cacionais relacionadas à objeção levantadas contra a pedagogia histórica-crítica, em
especial a dicotomia entre forma e conteúdo apontada por SAVIANI (2008, p. 74-76):
A questão central da pedagogia é a questão dos métodos, dos processos. O
conteúdo, o saber sistematizado, não interessa à pedagogia como tal. É nesse
sentido que faço referência ao fato de que o cientista tem uma perspectiva
diferente da do professor em relação ao conteúdo. Enquanto cientista está
do professor, pilar base fundamental que servirá de alicerce para qualquer sistema de
ensino que se pretenda projetar para o futuro de uma nação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
habilidades didáticas como requisitos mínimos exigidos para aqueles que almejam se
tornar professores.
Finalmente, sem qualquer intenção de exaurir a base teórica que se funda o tema
apresentado nestas linhas, fica evidenciada a lacuna que posteriormente poderão se
debruçar os estudiosos da linha de pesquisa em políticas públicas educacionais, notada-
mente aqueles que se proponham a realizar estudo empírico, com visitas e entrevistas
junto à escolas e aos professores, a fim de extrair análise de dados reais que possam evi-
denciar a gestão de habilidades pedagógicas-didáticas entre os profissionais de magisté-
rios, e sua relação com as instituições de ensino da rede pública e privada, bem como
com as instituições que se mantém nas primeiras posições dos rankings e avaliações pro-
movidas pelo Ministério da Educação.
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INTRODUÇÃO
[ 904 ]
FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A PERSPECTIVA TRANSDISCIPLINAR 905
Quando falamos em formação integral Edgar Morin (1999) nos alerta no sentido da
necessidade de mudança de via/caminho para se chegar a essa formação, é preciso ir
além das disciplinas, devemos humanizar a educação, o que só será possível a partir do
pensamento complexo, possibilitando o estudo do ser e da sua realidade a partir da pers-
pectiva ontológica. Morin (1999) define o pensamento completo como aquilo que é
tecido em conjunto, onde o mundo deve ser visto como um todo indissociável e a religa-
ção dos seres e dos saberes faz-se necessária em nossas vidas.
Gadotti (2003) traz em sua discussão que:
A educação, para ser transformadora, emancipadora, precisa estar centrada
na vida, ao contrário da educação neoliberal que está centrada na competiti-
vidade, sem solidariedade. Para ser emancipadora a educação precisa consi-
derar as pessoas, suas culturas, respeitar o modo de vida das pessoas, sua
identidade (GADOTTI, 2003, p. 3).
Diante desta reflexão é triste o que vemos nos dias atuais, alguns professores
ainda persiste em oferecer práticas pedagógicas tradicionais contrárias às necessida-
des das crianças, sem conexão com a realidade do sujeito o que tem gerado um sofri-
mento discente. A falta de sentido no que aprender nega a subjetividade provocando
uma crise social.
Moraes (2015) argumenta:
O conhecimento transdisciplinar decorre dessa dinâmica complexa e, por-
tanto, não linear do conhecimento, que pressupõe movimento constante e
condições de percepção dessa tessitura comum por parte do sujeito que
conhece, ou seja, da capacidade de compreensão de sua dinâmica complexa
e que requer, por sua vez, a religação dos fenômenos, processos, fatos e coi-
sas. (MORAES, 2015, p. 14).
Assim como Moraes, Nicolescu em seus estudos e pesquisa traz também defini-
ções de transdisciplinaridade;
A transdisciplinaridade como o prefixo trans indica, diz respeito àquilo que
está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas
e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo pre-
sente para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.
(NICOLESCU, 1999, p. 2).
O contexto atual requer dos professores nova postura, novos saberes, novas estra-
tégias e habilidades, características essas que serão adquiridas ao longo de sua carreira
docente, perpassando por diversas formações na busca pela transformação do sujeito
ressignificando o fazer pedagógico.
Torre (2008) sugere:
Não podemos continuar educando com os métodos de ontem os alunos que
viverão amanhã. A fragmentação do conhecimento nos levou a modelos de
formação também fragmentados e dispersos, em que às vezes são privilegia-
dos as formas, os conteúdos, as burocracias, a despeito do próprio sentido da
formação, que é o crescimento pessoal, o desenvolvimento da consciência
comunitária, os valores ético-profissionais, a convivência e a cidadania.
(TORRE, 2008, p. 56).
Para que haja essa transformação se faz necessário que ela parta do sujeito autor
principal do processo de transformação, no caso o professor, caso o contrário podem
participar de diversas formações continuadas e saírem da mesma forma, com os mes-
mospensamentos e as mesmas práticas defasadas sem inovar suas metodologias dificul-
tando o processo de aprendizagem significativa que até então deveria ser provocado e
dar sentido ao sujeito.
Suanno salienta que:
As inovações no trabalho docente, no modelo de educar, em perspectiva
complexa e transdisciplinar, demandam a orientação do sujeito cognoscente
no processo de aprendizagem. (SUANNO, 2015, p. 2002).
Essa reforma deve começar na universidade onde estão sendo formados os educa-
dores que atuarão na formação das novas gerações, a partir de uma formação crítica,
busca a autoeducação, que os capacite educar de acordo com as necessidades exigidas
pelo futuro, onde o aluno passar a ter seu papel como sujeito construtor do seu próprio
conhecimento.
Perrenoud salienta que para formar um profissional reflexivo é preciso acima de
tudo formar um profissional capaz de dominar sua própria evolução, construindo compe-
tências e saberes mais ou menos profundos a partir de suas aquisições e de suas expe-
riências. (PERRENOUD, 2002, p. 78).
Os saberes profissionais são, pois, saberes da ação. Essa hipótese reforça a ideia de
que os saberes profissionais são trabalhados e reconfigurados no contexto do próprio
trabalho. Segundo (NÓVOA, 2002; PERRENOUD, 2000).
…O docente em busca de uma formação e de novos saberes para a sua pro-
fissão, busca conhecer novas teorias, e este processo faz parte da construção
profissional, mas não bastam, se estas não possibilitam ao professor relacio-
ná-las com seu conhecimento prático construído no seu dia-a-dia, e possibi-
lite uma reflexão da prática educativa. (NÓVOA, 2002, p. 87).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Marilene Marzari1
Hidelberto de Sousa Ribeiro2
Victor Alves Santos3
INTRODUÇÃO
1 Doutora em Educação e professora dos cursos de licenciatura, pela Universidade Federal de Mato Grosso, Cam-
pus Universitário do Araguaia. Pesquisa sobre formação de professores e didática. marilenemarzari@gmail.com
2 Doutor em Sociologia e professor dos cursos de licenciatura e bacharelado, pela Universidade Federal de Mato
Grosso, Campus Universitário do Araguaia. Pesquisa sobre educação e questões agrárias. hidelbertos@gmail.com
3 Graduado em Geografia e professor do Curso de Licenciatura em Geografia, pela Universidade Federal de Mato
Grosso, Campus Universitário do Araguaia. Pesquisa sobre o ensino de geografia. victor.santosalves@hotmail.com
4 – No Curso de Didática, de um ano, os acadêmicos que desejavam exercer a docência cursavam as disciplinas
de didática geral, didática especial, psicologia educacional, administração escolar, fundamentos biológicos da
educação e fundamentos sociológicos da educação.
[ 915 ]
916 Marilene Marzari; Hidelberto de Sousa Ribeiro; Victor Alves Santos
A TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL
Disso decorre que, quando uma palavra nova é aprendida pelo sujeito, o seu desen-
volvimento está apenas começando, uma vez que no início “[...] é uma generalização do
tipo mais elementar que, à medida que a sujeito se desenvolve, é substituída por gene-
ralização de um tipo cada vez mais elevado, culminando o processo à formação dos ver-
dadeiros conceitos” (VYGOTSKY, 2001, p. 246). Em relação aos conceitos:
A lógica formal considerava o conceito como um conjunto de traços do objeto
afastado do grupo, como um conjunto de traços gerais. Por isso o conceito
surgiria como resultado da paralisação de nossos conhecimentos sobre o
objeto. A lógica dialética mostrou que o conceito não é um esquema tão for-
mal, um conjunto de traços abstraídos do objeto, mas que oferece um conhe-
cimento muito mais rico e completo do mesmo (VYGOTSKY, 2004, p. 120).
Por isso importância de Davídov para a educação escolar ao criar a teoria desenvol-
vimental que visa a apropriação dos conceitos científicos, a fim de que os estudantes rea-
lizem generalização de pensamento e não somente das coisas. Desse modo, Davídov
buscou os fundamentos teóricos em Vygotsky e em Leontiev. Em Vygotsky alguns dos
conceitos acima abordados e em Leontiev na estrutura psicológica da atividade consti-
tuída pela necessidade, motivo (objeto), finalidade, condições e tarefas de sua realização
e os elementos estruturais da atividade – ação – operação e tarefas. Nessa estrutura, a
atividade está relacionada com o motivo (objeto), a ação com a finalidade e a operação
às condições materiais e espirituais dos sujeitos.
Para Leontiev (2005), a necessidade é a condição primeira de toda atividade,
porém, em si, a atividade não determina a orientação concreta, uma vez que é no objeto
que ela encontra sua determinação, ou seja, o objeto torna-se motivo da atividade –
aquilo que move o sujeito a agir para satisfazer suas necessidades. Assim, a atividade se
efetiva quando ocorre o encontro entre necessidade, motivo e objeto. Esse processo
marca o início da transição da atividade do nível material para o nível psicológico.
Diferente disso, quando não há coincidência entre motivo (objeto) e objetivo se
está diante de ação da atividade, pois “[...] um ato ou ação é um processo cujo motivo
não coincide com seu objetivo, (isto é, com aquilo para o qual ele se dirige), mas reside
na atividade da qual ele faz parte” (LEONTIEV, 2005, p. 69). Nesse sentido, as ações
dependem das finalidades e são dirigidas por operações que são os procedimentos
necessários para realizar uma determinada ação e as operações com as condições tanto
materiais como espirituais.
O referencial teórico produzido por Leontiev constitui-se em contribuições
importantes para a educação escolar, na medida em que se compreende que é pela
atividade que o sujeito aprende e se desenvolve. Desse modo, a escola, enquanto
espaço de apropriação da cultura produzida pela humanidade, tem papel fundamental
no sentido de superar a concepção de transmissão mecânica do patrimônio cultural.
Daí a importância da estrutura psicológica da atividade criada por Leontiev e de seus
elementos estruturais para subsidiar a elaboração da estrutura interdisciplinar da ati-
vidade de estudo por Davídov.
Vasily Vasilyevich Davídov, filósofo e psicólogo russo, teve sua trajetória acadê-
mica, marcada por pesquisas no campo da psicologia pedagógica. Seus estudos funda-
mentaram-se na teoria histórico-cultural e na estrutura psicológica da atividade para
criar a atividade de estudo que tem como base a formação do pensamento teórico-cien-
tífico dos escolares.
5 Daniil Borisovich Elkonin (1904 – 1984), psicólogo soviético, conhecido no Brasil pela publicação do livro sobre
Psicologia do Jogo.
“[...] o pensamento que se realiza com ajuda das abstrações e generalizações de caráter
lógico-formal somente leva a formar os chamados conceitos empíricos” (DAVÍDOV, 1988,
p. 104).
O pensamento empírico se constitui pelo “[...] conhecimento do imediato na reali-
dade, justamente do aspecto que se expressa pela categoria de existência presente [...]”
(DAVÍDOV, 1988, p. 123). O conceito formado a partir do pensamento empírico, segundo
Davídov (1988), permite somente a compreensão aparente do objeto, impedindo que se
desvelem suas conexões internas e essenciais, uma vez que a formação desse conceito
acontece pelo caminho do concreto, sensorial e imaginável, conduzindo a uma generali-
zação empírica. Daí que esse conhecimento se limita a descrever, nomear, quantificar,
catalogar, expor, esquematizar o que é possível de ser observado diretamente e imedia-
tamente pelos sentidos.
Para avançar no processo de aprendizagem é imprescindível a formação do pensa-
mento teórico que se constituí a partir da abstração e da reflexão teórica, na qual se
identificam as relações genéticas do objeto do conhecimento, seu princípio geral que
serve como uma base para a análise do objeto, desde sua origem (gênese) até as trans-
formações e relações internas que o constituem. Assim, o pensamento teórico
Isso implica dizer que o objetivo primeiro da teoria desenvolvimental é fazer com que
os envolvidos no processo educativo desenvolvam a capacidade de pensar por si mesmos.
Dessa forma, o professor tem papel fundamental para organizar meios e situações adequa-
das para apropriação, por parte dos escolares, das experiências histórico-sociais.
Nessa perspectiva, os escolares, no início da atividade de estudo necessitam,
segundo Davídov (1988), da ajuda constante do professor ou dos colegas mais experien-
tes, para que, no decorrer do processo, adquiram a capacidade de pensar, na medida em
que se apropriem do conteúdo das diferentes disciplinas ao identificarem o nuclear ori-
ginário do conteúdo e, a partir disso, deduzam as suas múltiplas determinações. Assim, a
identificação do nuclear ajuda a reproduzir mentalmente o objeto.
Segundo Davídov (1988), o escolar deve pensar teoricamente a respeito de um
objeto de estudo e, com isso, formar um conceito teórico para lidar com ele em situa-
ções concretas de vida prática. Para isso, é fundamental a resolução de situações-pro-
blema, pois se o conteúdo for transmitido em forma de produto, os escolares
dificilmente se apropriam do conhecimento científico, que requer a busca pela com-
preensão da essência dos nexos internos das coisas, para permitir a realização da aná-
lise e da generalização.
Essa fala nos remete a um período em que a educação escolar, respondia a uma
ideologia voltada à formação de sujeitos passivos, obedientes e cerceado da liberdade de
expressão e de criticidade.
Somente com o processo de redemocratização do país, na década de oitenta, foi
possível a inserção dessas teorias críticas em cursos de formação de professores para
fazerem parte da atividade de estudo nos diferentes níveis da educação. Assim,
Que o caminho encontrado hoje para a melhoria do ensino no Brasil, acredito
que, é através da teoria histórico-cultural, assim, vamos preparar melhor os
futuros educadores. Por quê? Porque nós que trabalhamos com as licenciatu-
ras, estamos apenas repetindo conceitos, não estamos ensinando os nossos
alunos a pensar (M. A. L. M. Entrevista realizada em 29 junho de 2018).
No que diz respeito aos fundamentos teóricos “[...] os estudos [...] foram importan-
tes para abrir a minha mente, aprendi muito e preciso estudar mais. Minha formação foi
toda empírica” (M. A. L. M. Entrevista realizada em 29 junho de 2018). Essa formação
empírica, recebida durante a formação profissional, seja inicial e/ou continuada, acabou
repercutindo no exercício da profissão docente ao reproduzir o modelo de educação que
forma somente o pensamento empírico, importante, mas insuficiente para intervir criti-
camente na sociedade.
O mais significativo tem sido que, no decorrer dos estudos, a maioria dos partici-
pantes foi tendo a “[...] consciência da insuficiente clareza e precisão dos seus conceitos,
das contradições que eles determinam, do fato de que frequentemente são inadequados
para interpretar novos aspectos da realidade” (LEONTIEV et al. 2005, p. 10). Exemplo
disso foi a fala da entrevistada que diz: “Eu estou aprendendo, não sabia fazer essa rela-
ção entre sentido e significado” (M. A. L. M. Fala no dia 15 março de 2016). Dessa maneira,
“[...] quando não corre a correspondência entre o significado social e o sentido pessoal
das ações na atividade pedagógica, a mesma se assume como uma atividade alienante”
(BERNARDES, 2012, p. 87).
Diferente disso, a atividade pedagógica entendida com práxis demanda que pro-
fessores e alunos estejam em atividade de estudo. Isso faz com que “[...] antes de levar o
aluno a pensar, leva o professor a pensar” (E. M. L. Fala no dia 18 agosto de 2017).
Tal realidade, ratifica a necessidade dos grupos de estudo e/ou de formação conti-
nuada, para recriar a formação docente, tradicionalmente pautada na concepção empí-
rica de conhecimento, na qual “Nós não aprendemos essas categorias para ensinar na
perspectiva crítica. Estamos vendo hoje” (M. A. L. M. Fala no dia 29 maio de 2018).
Para compreender e intervir na realidade, é necessário, segundo Davídov (1988),
desenvolver o pensamento teórico e isso requer que o sujeito deixe de operar com repre-
sentações e passe a agir com conceitos. Nessa perspectiva, é possível conceituar um
objeto quando se compreende sua essência/nuclear, ou seja, quando se pode traçar
idealmente o caminho de produção desse objeto. Sem isso, o conhecimento é adquirido,
mas apenas de forma empírica, o que leva à superficialidade e a pouca consistência teó-
rica para poder intervir na sociedade.
Quanto as questões didático-pedagógicas, uma das entrevistadas diz que teve difi-
culdade em fazer os questionamentos para os estudantes. “Eu percebi o quanto sou tra-
dicional. Eu estava travada e não conseguia fazer os questionamentos que eram possíveis
de serem feitos para que os estudantes desenvolvessem a cognição” (M. B. P. C. Entrevista
realizada em 25 maio de 2018). Outra relata,
Sinceramente, nós estamos precisando mudar as nossas aulas. A didática
desenvolvimental é o caminho e eu, infelizmente, vim descobrir muito tarde
na minha vida [...] se tivesse conhecido a vinte anos atrás eu seria outra pro-
fessora (M. A. L. M. Entrevista realizada em 29 junho de 2018).
[...] foi fundamental na minha vida, tanto para uma transformação pessoal
como profissional [...], para começar a pensar na educação em uma perspec-
tiva diferente daquela que a gente tinha antes. Então, a visão de que você é
detentor do conhecimento e pode transmitir, esse conhecimento para uma
infinidade de pessoas, principalmente por intermédio da aula expositiva, foi
um divisor de água (I. D. C. M. Entrevista realizada em 16 julho de 2018).
[...] percebo claramente que hoje tenho uma outra compreensão. Eu tenho
tudo em mente? Não. Eu compreendi tudo? Também não. Mas os estudos
são de grande valia, nossas discussões, as inferências, as interferências, as
leituras, as paradas que a gente faz. [...]. No grupo quanta coisa a gente inter-
naliza e consegue apreender a partir dessas trocas, dessas socializações, des-
sas interações (M. B. P. C. Entrevista realizada em 25 maio de 2018).
É revelador [risos] porque é impossível sair de lá sem uma tese nova para ser
discutida, para ser pensada. [...] É imprescindível estar junto, é muito motiva-
dor tudo que a gente discute, até o fato da gente perceber o quanto que os
colegas avançaram também, o tanto que você entendeu, porque, muitas
vezes, você acha que seu conceito está errado, mas essa coisa do poder, do
poder falar, do poder estar discutindo, de poder ouvir o que o colega ponde-
rou a respeito do que você estava pensando, faz muita diferença. As leituras,
as leituras coletivas, por mais que elas sejam lentas, são necessárias para a
interpretação, porque a leitura feita por você sozinho não te permite refletir
ou destacar questões que são importantíssimas para aprender o conceito do
texto (M. M. S. Entrevista realizada em 29 junho de 2018).
O projeto mostrou que não é o professor que tem que mostrar o que sabe,
mas fazer com que o aluno se desenvolva e aprenda (M. A. L. M. Entrevista
realizada em 29 junho de 2018).
Assim, podemos dizer que os três anos de estudo, pautados em discussões, desa-
fios, renúncias, resistências, experiências e produções teóricas, sinalizam para mudanças
significativas por parte de cada um dos integrantes do projeto de pesquisa, e, também,
dos estudantes que vivenciaram outras perspectivas de estudar e se sentirem sujeitos do
processo educativo.
Por tudo isso, a teoria desenvolvimental tem sido um caminho para pensarmos em
mudanças na educação escolar “[...] uma vez que ela dinamiza o processo de mudanças,
pois possui métodos ativos, possibilita o diálogo e a liberdade conscientes” (M. A. L. M.
Entrevista realizada em 29 junho de 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
formação de professores, seja inicial e/ou continuada, a partir dos anos oitenta, com o
processo de abertura política do país.
Nesse contexto, ganha visibilidade os estudos de Vygotsky, que desenvolveu a teo-
ria histórico-cultural, que traz conceitos importantes para a compreensão do processo
de desenvolvimento e aprendizagem dos sujeitos. Dentre os quais, os signos/linguagem/
palavra que se constitui como medidor entre o sujeito e o mundo e imprescindível ao
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Soma-se a esse referencial, a teo-
ria da atividade, que juntas fornecem as bases para a criação da teoria desenvolvimental,
que tem como objetivo a formação do pensamento teórico dos escolares.
Apropriar-se desses referenciais teóricos ainda se constitui em desafio para os par-
ticipantes da pesquisa que, em sua maioria, possuem uma formação pautada em uma
perspectiva de ensino-aprendizagem empírica, como se refere Davídov (1988), e ensi-
nam a partir dos princípios desse paradigma teórico, mas que estão dispostos a buscar
outras alternativas para o exercício da docência, seja na educação básica ou superior.
Embora a maioria dos participantes do projeto reconheça que esses referencias
teóricos trazem conceitos complexos, principalmente porque a formação inicial e/ou
continuada priorizou o estudo empírico, sentem a necessidade de buscar outra concep-
ção de educação que supere a ideia de
[...] mostrar o que nós sabemos para o aluno, não lhes damos condições para
pensar o que se passa a sua volta, o que está acontecendo na universidade,
na região, no país, no mundo. Nós não estamos lhes dando oportunidades
para a vivência com os conteúdos, não lhes permitimos refletir o objeto estu-
dado (M. A. L. M. Entrevista realizada em 29 junho de 2018).
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Davydov: a escola e a formação do pensamento teórico-científico. In: LONGAREZZI, Andréa Maturano;
PUENTES, Roberto Valdés (Orgs.). Ensino desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais
representantes russos. Uberlândia: EDUFU, 2013.
INTRODUÇÃO
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino para a Educação Básica no Instituto Federal Goiano –
Campus Urutaí. E-mail: haniellycarvalho@outlook.com. Pesquisa sobre a violência sexual contra crianças e
adolescentes.
2 Doutora em Biologia Celular e Estrutural pela Universidade Estadual de Campinas. Docente do Programa de
Pós-Graduação em Ensino para a Educação Básica no Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí. E-mail: mayara.
barbosa@ifb.edu.br
[ 934 ]
EDUCAÇÃO SEXUAL 935
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Partici- Descrição
pante
P1 26 anos de idade, casada, três filhos, acadêmica de pedagogia, atuando na educação infan-
til há um ano e três meses, responsável pela turma do Jardim I.
P2 28 anos de idade, solteira, católica, acadêmica de pedagogia, atuando na educação infantil
há dois anos, responsável pela turma do Maternal.
P3 29 anos de idade, solteira, espírita, acadêmica de pedagogia, atuando na educação infantil
há um ano, responsável pela turma do Jardim II.
P4 38 anos de idade, viúva, um filho, católica, graduada em história e pedagogia e pós-gra-
duada em história regional, atuando no Ensino Fundamental I há dez anos, responsável
pela turma do 1° ano.
P5 38 anos de idade, divorciada, dois filhos, evangélica, graduada em pedagogia, atuando no
Ensino Fundamental I há sete anos, responsável pelas turmas do 4° e 5° ano.
P6 41 anos de idade, casada, dois filhos, católica, acadêmica de pedagogia, atuando no Ensino
Fundamental I há três anos, responsável pela turma do 3° ano.
P7 42 anos de idade, casada, três filhos, graduada em pedagogia, atuando no Ensino
Fundamental I há seis meses, responsável pela turma do 2° ano.
P8 56 anos de idade, casada, dois filhos, católica/espírita, graduada em pedagogia, atuando no
Ensino Fundamental I há treze anos, responsável pelas turmas do 4° e 5° ano.
Fonte: elaborado pelas autoras.
Nas discussões levantadas, P8 disse que tratar esse tema na escola demanda muita
responsabilidade e conhecimento. A participante teceu alguns comentários fundamentan-
do-se na ideia de que o tema deve ser tratado exclusivamente pela família. Porém, ela
mesma relatou o trabalho realizado com uma criança do maternal no sentido do controle
dos esfíncteres para o abandono do uso de fraldas. Foi possível esclarecer que esse traba-
lho que estão realizando configura-se como educação sexual e que esta está presente nas
diversas significações que damos ao nosso cotidiano (ARAÚJO, COMARÚ E THIENGO, 2018).
Em relação aos envelopes com as perguntas e rubricas de avaliação, no envelope
vermelho havia a pergunta “O que é sexualidade” e a resposta esperada, baseada em
Louro (1997) seria: a sexualidade é algo que é construído e moldado ao longo da vida. É
marcada por questões históricas, culturais e científicas. Manifesta-se de forma única, sin-
gular em cada ser humano, e a partir dela se emergem valores, afetos e sentimentos.
Trata-se de uma expressão cultural que transcende o entendimento biológico do sexo.
No envelope amarelo a pergunta se referia a “Qual o papel do (a) educador (a) no
que diz respeito à educação sexual?” e a resposta esperada era: A intenção de introduzir
esse assunto no âmbito escolar torna-se evidente pela inserção da “orientação sexual”
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) na forma de temas transversais. O profes-
sor é o responsável por abrir um caminho de comunicação para que a educação para a
sexualidade seja abordada sem nenhum preconceito. Ele deve orientar e esclarecer os
educandos conscientizando-os sobre os valores em exercer sua sexualidade de uma
forma que seja responsável, sem trazer consequências para seu futuro. Este trabalho
deve ser feito problematizando, questionando, debatendo diferentes tabus, preconcei-
tos, crenças e atitudes existentes na sociedade, ampliando o leque de conhecimentos e
de opções para que o próprio aluno tenha autonomia para escolher o seu caminho
(ALTMANN, 2003). É importante ressaltar que toda a equipe pedagógica deve estar
envolvida na construção de um Projeto Político Pedagógico para esta temática e, ainda,
deve ser realizado sem ausentar a responsabilidade da família.
Já o envelope verde era perguntado “Porque é importante trabalhar a educação
sexual na educação infantil?”, com a seguinte resposta esperada: A educação sexual na
educação infantil se configura como uma fonte de cuidado e proteção à criança (SPAZIANI;
MAIA, 2015) e visa atingir os seguintes propósitos: respeitar e orientar as crianças sobre
as expressões da sexualidade que surgem na infância (perguntas como: de onde vêm os
bebês?); sanar as suas curiosidades sobre o tema; refletir sobre as questões de gênero
(porque meninos e meninas são diferentes do ponto de vista biológico?), bem como
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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n. 21, 2003.
ARAÚJO, Brenda Odete Pfeifer de; COMARÚ, Michele Waltz; THIENGO, Edmar Reis. Educação sexual
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INTRODUÇÃO
[ 947 ]
948 Diane Ângela Cunha Custódio; Tereza Cristina Barbo Siqueira
resolver essa questão seria a inserção do tema na grade curricular dos cursos de for-
mação inicial e nos programas de formação continuada, dada a importância dessa
temática. De acordo com Moura, Silva e Araújo (2016., p. 12): “A relevância de se tratar
das questões de gênero e diversidade sexual na escola tem um pressuposto impor-
tante, que é a formação de identidade do indivíduo, que por muitas vezes a necessi-
dade da discussão e compreensão”.
A escola, em sua função social, caracteriza-se como um espaço democrático que
deve criar condições favoráveis à discussão de questões sociais e possibilitar o desenvol-
vimento do pensamento crítico. Para tanto, é preciso que os educadores levem para o
espaço escolar informações e as contextualizem pois, dessa forma, estará oferecendo os
caminhos para que os educadores reflitam e adquiram mais conhecimentos. Neste con-
texto incluem-se, também, as questões relativas a sexualidade e diversidade sexual, con-
siderando que essas abordagens são fundamentais para reverter a atual situação de
preconceito e discriminação dentro e fora da escola.
Entretanto, sabe-se que grande parte dos educadores deparam-se com dificulda-
des para abordar e refletir sobre essas temáticas, especialmente porque não possuem
preparo nem informações e conhecimentos que os habilitem para isso.
Considerando esses aspectos, o presente trabalho está estruturado em três partes:
na primeira apresenta-se uma reflexão sobre a diversidade sexual na escola e o papel do
professor; na segunda parte discorre-se sobre a diversidade sexual e como a escola pode
contribuir para o fim do preconceito e discriminação; e na terceira parte, a discussão está
voltada para a diversidade sexual e a formação docente.
trabalho com a sexualidade na escola não seja realizado, entre as quais pode-se mencio-
nar a falta de conhecimento e informações e a insegurança. Assim, o educador acaba
optando por ignorar essas questões ou abordá-las superficialmente (MENDES, 2016).
Visto que nos espaços escolares, a sexualidade se manifesta em suas diversas for-
mas, instaurando regras e estabelecendo mudanças sobre como os indivíduos dão sen-
tido e valor à sua conduta, desejos, sentimentos e sonhos, torna-se necessário que o
professor discuta essas questões em sala de aula sem preconceitos e discriminações,
levando em conta a valorização da diversidade, de modo a realizar um trabalho que vai
repercutir de forma positiva no meio social, dentro e fora da escola (NOVAK, 2013).
Conforme destacado por Vortman, Cardoso e Silva (2018), a sociedade está repleta
de diversidades, sendo que nela misturam-se diversos tipos de pessoas, de culturas, de
conceitos. Essa diversidade precisa ser entendida e, principalmente respeitada, mesmo
porque essa é uma garantia dada ao cidadão pela própria Constituição Federal/1988 que
em seu artigo 3º, inciso IV define como um dos objetivos do país “promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação” (BRASIL, 1988, p. 15).
Em vista disso, é preciso desenvolver a cultura da valorização da diversidade, de
modo que se exerça desde cedo “a função social que possibilite a compreensão das
semelhanças entre os seres humanos e a diversidade existente em cada um deles”
(VORTMAN; CARDOSO; SILVA, 2018, p. 340).
A escola, por sua vez, precisa aceitar e estabelecer a convivência com a diversi-
dade, incluindo aí a diversidade sexual. A instituição escolar se constitui no primeiro lugar
em que crianças e jovens passam a ter contato com a diversidade, com culturas diferen-
tes das suas e, a partir de então, começam os questionamentos, sendo que estes são
colocados aos professores diariamente. O que tem ocorrido, contudo, é que os educado-
res não têm preparo para trabalhar corretamente essas temáticas (VORTMAN; CARDOSO;
SILVA, 2018).
Os autores mencionam que, embora o papel dos professores seja o de mediação
do tema, alguns preferem mudar de assunto e adiar ao máximo possível essa discussão
em sala de aula, seja por falta de preparo, seja por não se sentirem a vontade em debater
sobre a diversidade sexual. De um modo geral, a abordagem do tema acaba ficando a
cargo dos professores da área de ciências biológicas, visto que é nesta que insere-se o
estudo do corpo (VORTMAN; CARDOSO; SILVA, 2018).
fontes e novas abordagens que o torne capaz de propor aos educandos uma nova visão,
para eliminar preconceitos, discriminações e desrespeito. E para isso é necessário inves-
timentos em sua formação.
De acordo com Moura, Silva e Araújo (2016, p. 16), no âmbito do sistema educacio-
nal, o professor é percebido como o agente transmissor do conhecimento e é nele que
os educandos buscam o conhecimento. Neste contexto, o seu papel na escola e na sala
de aula “é promover tal conhecimento, como também estimular ações de pensamentos
reflexivos”. Sendo assim, muitas vezes o aluno pode recorrer a ele para discutir sobre
sexualidade, entretanto, o docente nem sempre se dispõe a isso por várias razões tais
como religiosidade, vergonha, omissão, preconceito, despreparo, etc. Diante disso, fica
evidente a necessidade e importância de uma formação que contemple a questão de
diversidade sexual, tanto inicial como continuada.
O que a escola tem feito é atuar no sentido de construir a identidade de gênero dos
sujeitos. As práticas curriculares nela desenvolvidas, assim como todas as outras práticas
sociais, impõem aos corpos de crianças e jovens disposições, atitudes, hábitos e compor-
tamentos que, num dado momento e espaço sociais, são vistos como adequados à for-
mação de meninos e meninas, conforme destaca Louro (1995).
Pode-se dizer que a escola assenta-se em um modelo de educação que privilegia
e naturaliza as hierarquias de gênero, pois o discurso presente nas brincadeiras e nas
atividades de sala de aula ainda é perpassado por preconceitos, com o sistema de
ensino produzindo e contribuindo para manter as desigualdades existentes na socie-
dade (ROSA, 2016).
Entretanto, uma ação diferente é possível. Considerando que os processos educa-
tivos estão vinculados à socialização, é imprescindível a compreensão da análise de
gênero na escola, de forma a contribuir para que sejam adotados comportamentos e
práticas não-sexistas, para a aceitação da diversidade e tolerância ao outro. A partir
disso, a escola poderá contribuir para o questionamento da norma estabelecida (DIAS;
OLIVEIRA, 2015).
Uma iniciativa neste sentido seria a inclusão de temáticas relativas à corporei-
dade, sexualidade e diversidade sexual na escola, uma vez que ela constitui um espaço
propício à problematização dessas questões, podendo torná-las visíveis, possíveis de
reflexão e, simultaneamente, criar espaço para o questionamento das atitudes que
legitimam padrões binários de acordo com uma lógica sexista e discriminadora (DIAS;
OLIVEIRA, 2015).
Na concepção de Ferreira e Luz (2009), no espaço escolar são produzidas, reprodu-
zidas, reafirmadas, desconstruídas e legitimadas as imagens e representações de gênero
e sexualidade. Trata-se de um espaço contraditório, que tanto pode reproduzir como
transformar. Essa ambiguidade e contradição deve-se ao fato de que ele, ao mesmo
tempo que acolhe as diferenças, seja dos alunos, funcionários e até da comunidade que
o cerca, pode adotar práticas omissas e mecanismos que contribuem para assegurar a
invisibilidade desses sujeitos.
Na ação transformadora, o papel dos educadores/as é de grande relevância, desde
que sua prática pedagógica esteja voltada para o questionamento e reflexões sobre as
normas reprodutoras das injustiças e desigualdades entre as pessoas. Sendo assim, cabe
ao professor/a o desenvolvimento de um trabalho não voltado somente para a tolerância
e ao respeito às diferenças mas, também, que enfrente cotidianamente os conflitos que
norteiam a sociedade, visto que a diversidade e a diferença não suscitam apenas res-
peito e tolerância. Considerando que são construídas culturalmente e socialmente, elas
precisam ser indagadas e problematizadas (SILVA, 2013).
As questões referentes à sexualidade e diversidade sexual não podem ser tratadas
a partir de conceitos naturalizados, sendo necessário uma visão mais ampla, abrangendo
a produções sociais e culturais, conforme destacado por Campello (2015). Neste con-
texto, a autora enfatiza ser “fundamental que professores e professoras possam revisitar
suas práticas de modo a questionar a ordem social imposta e contemplar novas possibi-
lidades de ensino, baseadas em indagações e problematizações acerca da normalidade
cristalizada” (CAMPELLO, 2015, p. 47). Assim, a instituição escolar, por meio de seus pro-
fissionais, poderá contribuir para uma educação cidadã e libertadora, conforme mencio-
nado no início deste item.
Neste contexto, entende-se que é importante e necessário oferecer aos profissio-
nais da educação diretrizes e recursos para lidarem com a diferença, seja ela qual for, o
que poderá contribuir para a construção de espaços educativos livres de preconceito,
opressão e mais democrático. De grande contribuição neste sentido é a formação do/a
docente para a diversidade, assunto sobre o qual se discorrerá no item a seguir.
3 Em 2011, a SECAD foi reestruturada, agregando o “I” de inclusão, tornando-se Secretaria de Educação Conti-
nuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECAD) (FÉLIX, 2015).
No que tange à formação inicial de docentes, esses temas deveriam ser contempla-
dos em diversas disciplinas, áreas e cursos, mas não existe, em geral, um espaço especí-
fico para sua abordagem. Nesse sentido, gênero e sexualidade acabam sendo trabalhados
à margem, por docentes pessoalmente engajados e não a partir de meios institucionais
que lhes assegurem sustentabilidade e relevância no âmbito dos currículos voltados para
a formação inicial (FÉLIX, 2015).
Para que o docente tenha domínio dessas questões, seja capaz de refletir e proble-
matizá-las, o seu processo de formação é muito importante. Nessa perspectiva, Ferreira
e Luz (2009, p. 42) afirmam que: “A inclusão de temas como gênero e sexualidade nos
cursos regulares e de educação continuada oferecerá base teórica e metodológica para
que o docente tenha segurança para apresentar e debater questões que, por sua rele-
vância, não podem ser tratados de qualquer maneira”.
Entretanto, não é isso que se tem constatado. Conforme ressaltam Unbehaum,
Cavasin e Gava (2010), a maioria dos cursos de formação inicial docente não apresenta,
em sua grade curricular, propostas de trabalho envolvendo temas relacionados à educa-
ção em sexualidade e gênero. Como algumas consequências dessa ausência tem-se a
dificuldade dos docentes em trabalhar com essas temáticas em sala de aula; a persistên-
cia da cultura sexual da escola, com a tendência de dessexualizar os sujeitos e o espaço;
a reprodução de uma abordagem da educação sexual baseada na prevenção de DST/
AIDS e de gravidez na adolescência, não priorizando diversos outros aspectos relaciona-
dos à sexualidade humana, como por exemplo, relações de gênero, sentimentos e emo-
ções, direitos sexuais e reprodutivos.
Também em relação à formação continuada, não se tem constatado ações adequa-
das que contribuam para ajudar os professores a enfrentar os desafios que lhes são
impostos pelas questões da sexualidade e diversidade sexual na escola, bem como os
Para a reversão dessa realidade, e para que a formação de docentes habilite esses
profissionais para o trabalho com as temáticas relativas a gênero, sexualidade e diversi-
dade sexual, esta deve ser,
pautada pelo critério epistemológico4 quanto à diversidade sexual, a qual
está presente nas instâncias de construção do conhecimento científico, com-
preendendo as relações de dominação e os aparelhos e dispositivos que
naturalizam o preconceito e as desigualdades a partir do sexo biológico.
Assim sendo, o currículo do cursos de licenciatura precisam abordar a diver-
sidade sexual de forma sistêmica e despida de preconceitos a partir de seus
conhecimentos (VORTMAN; CARDOSO; SILVA, 2018, p. 338).
4 Implica no estudo científico que trata da natureza, origens, validade, limites, crença e justificação do conheci-
mento (JENSEM, 2013).
Em suas colocações, a autora destaca que o currículo pode ser tanto modificado
como modificador dos contextos em que atua e, portanto, configura-se como um campo
de luta, tensões e disputas envolvendo significações e identidades. Isto significa que ele
nunca é neutro pois,
desde a seleção dos conteúdos, autores/as, materiais didáticos, perspectivas
teórico-metodológicas etc., tudo opera em torno da produção de sentidos e
de relações de poder. Nesses termos, pensar em currículos de formação
docente que contemplem gênero e sexualidade como questões importantes
é uma operação ética, política, pedagógica e institucional atravessada por
disputas e tensionamentos (FÉLIX, 2015, p. 226).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das análises feitas neste trabalho, foi possível constatar que no espaço
escolar a diversidade cultural, sexual, social, étnico-racial, entre outras, está presente.
Isso torna necessária a busca de maneiras para lidar com as diferenças de modo a des-
construir atitudes preconceituosas e discriminadoras. É importante levar em conta que
pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero diferentes frequentam a escola
e precisam ter sua sexualidade e identidades sexuais respeitadas.
A ação nos educadores no sentido de orientar os educandos neste sentido, é fun-
damental. E para lidar com essas questões eles precisam recorrer às suas competências
REFERÊNCIAS
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handle/123 456789/17202. Acesso em: 15.jul.2019.
INTRODUÇÃO
1 Graduanda do curso de Licenciatura em Química, pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Goiano, campus Rio Verde. Pesquisa sobre formação de professores. Adrielly-aparecida2010@hotmail.com
2 Professora/Orientadora, pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Goiano, campus Rio Verde.
Pesquisa sobre Educação do Campo, Formação de Professores, Saberes, Práticas Educativas e Ensino de Ciên-
cias. rosenilde.nogueira@ifgoiano.edu.br
[ 963 ]
964 Adrielly Aparecida de Oliveira; Rosenilde Nogueira Paniago
De acordo com Pimenta e Lima (2011), a finalidade do estágio é colaborar com o pro-
cesso de formação dos licenciandos, para que estes, ao analisar e compreender os espaços
de sua atuação, possam proceder a uma inserção profissional crítica, transformadora e
criativa. Além disso, as autoras incentivam que o ECS seja desenvolvido por meio da inves-
tigação. Neste sentido, no regulamento de ECS do IF Goiano (2017), é orientado aos esta-
giários desenvolverem um projeto de ECS baseado na investigação de situações relacionadas
ao ensino e outras situações pedagógicas da escola de educação básica.
Ao focalizar a formação na e para a pesquisa no ECS, defende-se a necessidade e a
importância de os licenciandos adquirem a habilidade da pesquisa, para que, como futu-
ros professores não sejam meros reprodutores de ideias e de conhecimentos alheios à
realidade da escola de educação básica. Por isso, a importância da elaboração e desen-
volvimento de projetos durante o ECS com o objetivo de que os estagiários desenvolvam
a prática de investigação para que futuramente possam mobilizar em sala de aula dife-
rentes estratégias didáticas, bem como encontrar soluções para as situações desafiantes
a enfrentar em sala de aula e desenvolver-se profissionalmente. Nesta direção, Carvalho
(2012) afirma que a inclusão dos licenciandos, nos processos investigativos referentes
aos problemas educacionais da escola, em relação ao ensino- aprendizagem é uma ação
importante na formação desse novo professor.
Diante do exposto, esta pesquisa objetiva identificar contribuições e fragilidades
do ECS do curso de Licenciatura em Química do IF Goiano, Campus Rio Verde para a for-
mação do professor pesquisador. No ECS do IF Goiano, Campus Rio Verde os estagiários
são incentivados a desenvolverem um diagnóstico e, posteriormente, um projeto de
ensino, momento em que fazem uma intervenção no ambiente escolar e/ou sala de aula,
portanto, pressupõem-se que estas ações são possibilitadoras de uma formação na e
para a pesquisa. As questões que conduzem a pesquisa são: acaso o ECS do IF Goiano,
Campus Rio Verde contribui para a formação do professor pesquisador? Quais os limites
e fragilidades deste processo?
PERCURSO METODOLÓGICO
Me deixou mais próximo dos alunos e ver a realidade deles, não só a reali-
dade dentro da escola, mas a realidade fora, muitas vezes o que a gente
vivencia dentro da sala é um gancho da vida deles lá fora. Como é a vida deles
do lado de fora, na sociedade, na rua, com família, igreja, escola, grupo de
estudo. (GABRIEL, 2018)
diretamente, por condições internas e externas, tais como aspectos socioculturais, polí-
ticos, econômicos e ambientais.
Na continuidade das análises, outra estagiária sinaliza outras características impor-
tantes para a formação docente, quando diz que “ser professor não é somente aplicar o
conteúdo, e sim saber avaliar as dificuldades e necessidades de cada turma, a realidade
de cada aluno, pois estes fatores afetam diretamente na capacidade de aprendizagem
dos mesmos” (CAROL, 2018). Neste mesmo sentido outras estagiárias apontam: “[...] o
futuro professor deve conhecer como é essa convivência, como os alunos dessa geração
se comportam e como transmitir seu conhecimento para gerar a aprendizagem necessá-
ria através da observação da professora mais experiente” (ANA, 2018)
Eu considero que o estágio em si, me ajudou como futura professora; é muito
gratificante voltar na escola e ver o reconhecimento dos alunos e, ao me gri-
tarem (“OHHH TIAA” !!!). É contagiante o ambiente escolar, quando os alunos
e veem como professor e te cumprimenta e te respeita, isto é muito gratifi-
cante. (BELA, 2018)
o primeiro contato que eu tive com a sala de aula e com o âmbito escolar” (RAFAEL,
2018). Já outro destaca o domínio de sala, característica indispensável de um professor,
“te dá segurança frente à sala, principalmente na hora de ter domínio sobre a sala que é
um dos pontos mais complicados que tem na minha opinião” (GABRIEL, 2018).
Ademais, as narrativas revelam que o período de vivência está ocorrendo de forma
reflexiva, o que proporciona o desenvolvimento de aprendizagens necessárias para uma
formação baseada na investigação. Uma estagiária sinaliza isto ao afirmar que o ECS
“permite que eu tenha um outro olhar sob o ambiente escolar antes de realmente entrar
nesse ambiente para atuar profissionalmente” (GISELE, 2018). Dois estagiários testemu-
nham: “Ao fim do estágio, foi possível refletir sobre a importância do estágio no currículo
acadêmico, pois estas experiências permitem ao acadêmico que pretende seguir profis-
sionalmente a carreira docente, vivenciar a realidade em sala de aula” (CAROL, 2018).
[...] adquiri uma melhor compreensão da rotina e vivência na escola, sendo: a
interação professor e aluno, relação da coordenadora com os professores,
reuniões e intervalo na sala dos professores. A equipe pedagógica me auxi-
liou na realização do estágio, orientando e facilitando a convivência com os
alunos e demais professores da unidade escolar, com isso, as horas realizadas
vivenciando a rotina da escola foram de suma importância para compreen-
der e aprender o funcionamento da escola. (GABRIEL, 2018).
No meu estágio minha professora supervisora não ajudou muito. O meu pri-
meiro estágio foi bem ruim, a professora não ajudou, praticamente não
acompanhei as aulas dela. Porque ela chegava, não explicava o conteúdo, só
ficava mandando os alunos fazerem alguma coisa, então me serviu de muita
coisa não. (LUCAS, 2018)
O professor que eu observei, que dava aula de química não é formado na
área e ele meio que me restringiu de algumas coisas. Ele propôs para mim
não acompanhar a vivência no colégio que ele iria assinar como se eu tivesse
cumprido todas as minhas horas. Tive dificuldade de relacionamento com
ele. (ANA, 2018).
Por sua vez, Carvalho (2012) afirma que o PPP de uma escola deve representar o
pensamento da comunidade escolar. Dessa forma, analisar o PPP da escola constitui um
momento importante de conhecimento do âmbito escolar. Logo, o diagnóstico se confi-
gura numa situação de pesquisa, considerando que o estagiário ao fazer uso de diferen-
tes instrumentos de coleta de dados, tais como a entrevistas, observação, análise de
documentos, se vê em uma situação favorável à pesquisa.
Pimenta e Lima (2011) colaboram com esta reflexão, ao afirmarem que o ECS reali-
zado na forma de projetos estimula nos estagiários o desenvolvimento de uma postura
investigativa e de um olhar sensível e interpretativo às questões da realidade da escola.
Nesse sentido, as narrativas dos estagiários sinalizam aspectos relevantes para a forma-
ção docente, numa perspectiva que incita a reflexão e a investigação. Um dos estagiários
testemunha:
Eu precisava ver as dificuldades que tinha a escola antes de elaborar o pro-
jeto. Também precisava ver com quem eu estava trabalhando, para então
pensar numa forma de discutir aquele problema que está acontecendo na
sociedade; então optei pela questão do cerrado como tema do projeto, para
que os meninos do ensino fundamental se conscientizassem sobre as ques-
tões da conservação do meio ambiente eles (LUCAS, 2018).
pois quem deseja ser professor precisa ter esse interesse, pois são nestes eventos, que
nós crescemos como profissionais e é o que aumenta o nosso curriculum” (BELA, 2018).
Para além disto, um dos estagiários sinaliza suas reflexões sobre a publicação de
trabalhos:
Sempre é importante, se a gente faz todo um processo de pesquisa, a gente
tenta encontrar resultados fazer toda a parte que é importante e a gente não
publicar, não divulgar não vamos estar contribuindo para educação e para o
progresso da educação, da ciência, geral da humanidade (PEDRO, 2018).
Bela e Ana apontam fragilidades quanto aos recursos oferecidos pela escola de
educação básica para a efetivação de seus projetos de ensino. Bela assinala que apesar
da escola ter uma sala de informática disponível, os computadores não estavam funcio-
nando durante o seu estágSio, o que dificultou a efetivação de seu projeto. A estagiária
ainda afirma que o problema acontece na maioria das escolas por onde passou. Ana, por
sua vez, denuncia que teve dificuldades na efetivação do seu projeto, por conta da grande
quantidade de alunos em uma única sala de aula.
A narrativa acima exemplifica que nem sempre a escola de educação básica tem
condições de oferecer tempo suficiente para a efetivação de projetos. Carol ainda cita
que o calendário da escola de educação básica é muito corrido, o que dificulta o estagiá-
rio cumprir todas as etapas e horas exigidas para a efetivação do ECS.
Do ponto de vista da supervisão, dois estagiários revelam aspectos que sinalizam
ausência de orientação por parte do professor supervisor da escola de educação básica
durante o desenvolvimento do projeto de estágio:
Na primeira turma, que foi no primeiro horário, eles chegam bem agitados
querendo conversar. Por que de início eu dei uma aula expositiva e logo após
eu entrei com a aplicação do projeto, para mim conseguir dar essa aula expo-
sitiva foi difícil e nos últimos horários também foi difícil, porque eles estavam
agitados querendo ir embora, então o mais difícil é conseguir conte-los
(RAFAEL, 2018).
Eu tive dificuldade em chamar a atenção dos alunos, porque eles ficavam
mexendo no celular e bem no dia minha professora supervisora tinha faltado
e era substituta. Eles não me deram muita atenção, ficavam mexendo no
celular e eu dizendo que não podia, então minha dificuldade foi chamar a
atenção deles ainda mais que eram alunos do ensino fundamental, foi bem
difícil (ANA, 2018).
ao defenderem a pesquisa no estágio afirmam que “Na realização dos estágios, o diálogo
pedagógico é o principal eixo do projeto, no qual o papel do professor orientador de
estágios é problematizar e possibilitar situações para a aprendizagem, de modo que os
estagiários possam ir construindo seu conhecimento”. Desta forma, defende-se a impor-
tância do processo de supervisão constante, seja do docente orientador, seja do docente
supervisor para que o estágio na e pela pesquisa se concretize na instituição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
e não podem abrir espaço para outras atividades, mesmo que influenciem significati-
vamente na aprendizagem dos alunos.
Por fim, os resultados sinalizam que há necessidade de um efetivo diálogo entre os
formadores, orientadores de estágio, bem como um processo formativo colaborativo
entre estes, com vistas a minimizar os problemas observados e potencializar as possibili-
dades do estágio na e pela pesquisa.
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INTRODUÇÃO
1 Professor dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio de Comércio Exterior, Edificações e Química, pelo
Instituto Federal de Goiás, campus Anápolis. Mestre em Educação em Ciências e Matemática pela Universidade
Federal de Goiás. Pesquisa sobre Educação Matemática e Educação Estatística, numa perspectiva crítica. aly-
son_afo@hotmail.com
2 Professora na Universidade Federal de Goiás, Regional Goiás. Doutoranda em Educação em Ciências e Matemá-
tica pela Universidade Federal de Goiás. Pesquisa sobre Formação de Professores e Saberes Docentes. bruna-
cardosocruz@gmail.com
3 Professora Titular do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Edu-
cação em Ciências e Matemática, pela Universidade Federal de Goiás. Doutora em Educação pela Universidade
Metodista de Piracicaba. Pesquisa sobre Formação de Professores, Ensino e Avaliação da Aprendizagem. dalvae-
terna@gmail.com
[ 981 ]
982 Alyson Fernandes de Oliveira; Bruna Cardoso Cruz; Dalva Eterna Gonçalves Rosa
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com Gatti e Barreto (2009), a carreira docente trata-se de uma profissão
dominantemente feminina, há muito tempo. Contudo, a participação das mulheres é
mais forte na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental, pois, de
2016 12 00 08 01 21
2017 10 01 02 02 15
2018 09 00 08 01 18
Total por turno e sexo 31 01 18 04 -
Fonte: Elaborado pelos autores.
É notório, por meio dos dados, como é pequena a participação de homens em cur-
sos de formação voltados para educação/cuidado de crianças, e essa situação nos chama
a atenção para discussões a respeito da necessidade de relações mais iguais entre
homens e mulheres no mundo do trabalho. A ideia de desigualdade de gênero no
ambiente da educação infantil é abordada por alguns autores, como Jensen (1993), que,
ao falar sobre essa conjuntura, afirma que não há um número excessivo de mulheres
ocupando essas funções, mas sim uma escassez de homens. Isso, segundo o autor, está
relacionado a questões socioculturais e socioeconômicas, em que os homens se distan-
ciam da docência para crianças não só pelos preconceitos culturalmente construídos na
sociedade, mas também pela histórica desvalorização profissional dos professores da
educação básica, refletida nos baixos salários e nas precárias condições de trabalho.
Segundo Pereira e Favaro (2017) embasados no Plano Nacional de Qualificação, do
Ministério do Trabalho e Previdência Social, “as mulheres lideram a presença em escolas,
universidades e cursos de qualificação”. Talvez essa liderança também se justifique pelas
transformações sociais que ocorreram na configuração do trabalho docente, marcadas
pelas relações de gênero nos últimos tempos. A despeito de apontar um avanço signifi-
cativo no campo da escolarização, esse estudo constata que as mulheres ainda estão
sujeitas a menor remuneração em relação aos homens, mesmo desempenhando a
mesma atividade.
Outro aspecto que nos chamou a atenção está relacionado à idade dos alunos esta-
giários do curso de Pedagogia, conforme se observa no Gráfico 1.
É possível verificar que, dentre os alunos matriculados nos últimos três anos, um
pouco mais de um quinto (20, 4%) possuem mais de 40 anos de idade, sendo que 7, 4%
desses estudantes estão matriculados no turno matutino e 13% no noturno. Dessa
forma, podemos dizer que a maior parte dos estudantes “mais velhos” está em sala de
aula no período noturno, podendo-se inferir que eles trabalham durante o dia e estu-
dam durante a noite.
É importante ressaltar que a presença de estudantes “mais velhos” no ensino supe-
rior é uma forte tendência. Vários motivos evidenciam o aumento do acesso desses alu-
nos ao ensino superior, dentre eles: a procura por uma melhor colocação no mercado de
trabalho; melhorias no salário; aumento da oferta de cursos à distância e em menos
tempo; e também o desejo de ter uma segunda graduação.
Gráfico 1 – Faixa etária dos alunos matriculados na disciplina “Estágio na Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino Fundamental III”, do curso de Pedagogia da FE/UFG
Ainda com base no Gráfico 1, podemos identificar que nos últimos três anos a
maioria dos estudantes do turno matutino possui idade entre 16 e 24 anos. Muito se dis-
cute sobre como esses jovens estudantes permanecem no ensino superior, se trabalham
no período oposto ao curso, se recebem bolsas de estudo fomentadas por órgãos fede-
rais ou pela própria instituição de ensino, ou se ainda recebem ajuda financeira de seus
responsáveis. Dentre esse público, pudemos observar, por meio de análise dos dados
coletados, que boa parte está no mercado de trabalho, seja como auxiliares de ensino,
estagiários remunerados ou como pesquisadores, possuindo alguma bolsa de iniciação
científica. Logo, percebemos que esses estudantes já estão atuando na área profissional
por eles escolhida, seja por meio do ensino ou da pesquisa.
Embora haja um acentuado crescimento no ensino superior, o percentual de acesso
de jovens é ainda muito restrito, abarcando somente 19% da faixa etária de 18 a 24 anos
(IBGE, 2009). Comparando a conjuntura brasileira com a de outros países mais desenvol-
vidos, percebemos que o acesso ao ensino superior, no final da década de 1990, já alcan-
çava 45% dos jovens de 18 a 21 anos nos EUA e 69% na Coréia do Sul (IBGE, 2009).
Os aspectos profissionais discutidos inicialmente também foram mencionados no
questionário, em que uma das perguntas consistia em saber se o estagiário conciliava
estudos com trabalho. Esses dados estão representados no Quadro 2.
2016 12 9 8 7 4 2
2017 11 4 8 3 3 1
2018 9 9 7 8 2 1
Total 32 22 23 18 9 4
Fonte: Elaborado pelos autores.
Assim, percebemos que mais de 75% dos alunos matriculados nessa disciplina exer-
cem atividades remuneradas de forma conjunta aos estudos. O lado positivo dessa com-
binação se dá pelo fato de os estudantes trabalharem na área em que estão se formando,
terem experiência sobre o campo profissional em que possivelmente atuarão ao fim da
graduação e, acima de tudo, se responsabilizarem por suas despesas, tanto dentro quanto
fora da universidade. Já o lado negativo de unir os estudos com o trabalho, é a extensa
carga horária desenvolvida neste último, o que prevalece em vários estudos, como
Carrano (2002), que cita as principais dificuldades encontradas por aqueles que se sub-
metem a essa ação, tais como: desgaste físico, atrasos, impossibilidade de realizar pes-
quisas antes das aulas, de ir à biblioteca, de alimentar-se adequadamente, além da falta
de tempo para tirar dúvidas com professores, realizar atividades sociais etc.
Em uma de suas pesquisas com estudantes do curso de Pedagogia, Abrantes (2012)
aborda que unir trabalho e estudos pode atrapalhar o rendimento acadêmico, devido à
rotina cansativa envolvendo inúmeras atividades. Assim, esses estudantes recorrem aos
finais de semana e, muitas vezes, às madrugadas para conseguir cumprir todas as exigên-
cias da vida acadêmica. Esse foi um aspecto observado na turma de estagiários do
período noturno, no ano de 2018, pois muitos estudantes chegavam atrasados, sem se
alimentar, cansados e, muitas vezes, sem conseguir fazer as leituras dos textos propostos
para discussões em sala de aula, devido à longa jornada de trabalho diária. Isso também
ocorreu com a turma do matutino desse mesmo ano, na qual os estudantes não conse-
guiam ficar até o fim da aula pois precisavam sair mais cedo para não se atrasarem no
Quadro 3 – Temas de interesse para pesquisas e estudos dos alunos estagiários dos turnos
matutino e noturno
Matutino Noturno
Temas
2016 2017 2018 2016 2017 2018
Inclusão 1 1 0 2 0 0
Literatura Infantil 2 4 5 2 0 1
Formação de Professores 1 0 0 1 0 0
Alfabetização e Letramento 0 0 0 1 0 4
Jogos e Brincadeiras (Ludicidade) 3 2 3 2 1 2
Tecnologias 0 0 0 2 0 1
Gênero, Identidade e Sexualidade 1 3 1 1 0 0
Profissionalização Docente 0 0 0 2 0 0
Processo de Ensino e Aprendizagem 4 0 0 0 1 0
Disciplinas de Áreas Específicas
2 3 0 1 3 2
(Ciências, Matemática e Geografia)
Música e os Cinco Sentidos 0 0 0 0 0 2
Desenvolvimento Intelectual 0 0 0 0 0 1
Violência na Escola 1 0 3 0 0 0
Fonte: Elaborado pelos autores.
Sabendo que os estagiários poderiam escolher mais de um dos temas que os inte-
ressavam para pesquisas e estudos, observamos que o tema Literatura Infantil estabele-
ceu uma crescente quanto à predileção nos três anos sequentes, sendo indicado por dois
alunos em 2016, quatro alunos em 2017 e cinco alunos em 2018, no turno matutino. Em
menor proporção, esse tema também gera interesse nos alunos do noturno, sendo indi-
cado por dois alunos em 2016 e 2018, respectivamente.
Outra temática buscada nos três anos, em ambos os turnos, foi Jogos e Brincadeiras,
escolhida por três alunos do matutino em 2016 e 2018 e por dois alunos em 2017. Já no
noturno, dois alunos em 2016, um aluno em 2017 e outros dois alunos em 2018 escolhe-
ram a temática. Esse é um tema bastante trabalhado e discutido no curso de Pedagogia,
em que os estudantes são munidos de referenciais teóricos, como Piaget (1978), que fala
sobre a importância dos jogos para o desenvolvimento das crianças de forma integral nos
aspectos cognitivos, afetivos, físico-motores, morais, linguísticos e sociais, e Vygotsky
(1989), que aborda a importância da brincadeira na educação infantil referindo-se ao
desenvolvimento cognitivo, à imaginação, à socialização. Inferimos que os estagiários se
interessam pela temática, principalmente, por ser utilizada na proposta pedagógica da
Rede Municipal de Educação de Goiânia e, portanto, nos estágios curriculares realizados
durante a graduação.
O Processo de Ensino e Aprendizagem foi um tema de bastante interesse entre os
estagiários do turno matutino no ano de 2016 (quatro alunos), porém, nos anos seguin-
tes, não foi escolhido. No noturno, esse tema só foi selecionado por um aluno em 2017,
e ninguém o escolheu nos anos seguintes.
Já o tema Gênero, Identidade e Sexualidade, foi mencionado somente pelos alunos
do turno matutino nos três anos da pesquisa, sendo um em 2016, três em 2017 e um em
2018. Assim como os temas Alfabetização e Letramento e Tecnologias, mencionados
somente pelos estudantes do noturno, sendo um em 2016 e quatro em 2018, para o pri-
meiro tema em questão, e dois em 2016 e um em 2018, para o segundo tema.
Mesmo que as autoras Gatti e Garcia (2011, p. 217) constatem que é possível ver a
não articulação entre as áreas de conhecimento específico e as de formação em educa-
ção na formação inicial de professores, e que os estudantes acabam não compreendendo
como trabalhar em sala de aula após terem cursado essas disciplinas, em nossa pesquisa
elas foram bastante citadas pelos alunos nos três anos e nos dois turnos. Categorizadas
por nós como Disciplinas de Áreas Específicas, no turno matutino apareceram aqueles
que mostraram interesse por temas relacionados à Matemática e a Ciências, sendo dois
em 2016 e três em 2017. Já no noturno, além da Geografia ser citada em 2018 por um
aluno, apareceram alguns outros estudantes que possuíam predileção pelas disciplinas
Matemática e Ciências, sendo um aluno em 2016, três em 2017 e dois em 2018, desta-
cando que em Ciências o interesse se dava pela questão da Educação Ambiental.
A Inclusão foi uma temática citada pelos estudantes do matutino somente nos dois
primeiros anos da pesquisa (2016 e 2017), sendo um em cada ano. E no noturno, somente
por dois alunos em 2016. Já o tema Violência na Escola, foi citado somente por estagiá-
rios do turno matutino, sendo um em 2016 e três em 2018. Alguns dos temas foram cita-
dos somente por alunos do noturno, como Música e os Cinco Sentidos, por dois alunos
somente em 2018, e Desenvolvimento Intelectual, por um aluno em 2018.
Temas como Formação de Professores e Profissionalização Docente foram pouco
citados entre os participantes da pesquisa em toda a sua duração, sendo que o primeiro
tema foi escolhido apenas por um aluno em 2016, em ambos os turnos, e o segundo,
somente por dois alunos em 2016, período noturno.
Muitos temas se repetem no decorrer dos três anos analisados, tendo “altos e bai-
xos”. Para Aguiar (2006), essas alterações podem estar relacionadas com questões de
afinidades e habilidades, mas principalmente por esses temas estarem ligados aos con-
textos sociais e culturais que os estudantes estão inseridos e, também, pelas possibilida-
des de orientadores que possam acompanhá-los no Trabalho de Conclusão de Curso.
Observamos que a escolha dos temas de interesse dos estudantes estava relacio-
nada às disciplinas cursadas, às questões de afinidade, mas principalmente por já terem
tido algum contato com a temática, seja no trabalho, em sala de aula ou até mesmo nas
atividades de estágio.
Nesse sentido, acreditamos que o estágio pode auxiliar nas escolhas e formas de
atuação profissional docente, principalmente quando é desenvolvido em uma perspec-
tiva de práxis, uma vez que a afeição às temáticas e o trabalho realizado no campo de
estágio contribuem para que os estudantes optem por trabalhar em determinados ramos
do ensino, pesquisa e extensão no decorrer da graduação, e também posteriormente,
quando estiverem exercendo a profissão. Destarte, o estágio contribui de maneira signi-
ficativa para a construção da identidade do futuro profissional e colabora com sua pro-
fissionalização. A realização do estágio é, portanto, um momento primordial para a
formação docente (AGUIAR, 2006).
Como mencionado anteriormente, o estágio supervisionado é um espaço de encon-
tro com as práticas docentes por meio de vivências e desenvolvimento de práxis, cujos
futuros professores, ao se depararem com a realidade das instituições de ensino e do
trabalho docente, questionam a formação e os conhecimentos adquiridos em face das
especificidades e da complexidade do ensino.
Com essa compreensão, a partir dos dados coletados, pudemos verificar quais
eram as expectativas de aprendizagem dos acadêmicos do curso de Pedagogia quanto à
alunos em 2016, dois em 2017 e quatro em 2018) e 11, 1% do noturno (dois alunos em
cada um dos anos pesquisados). Araújo (2009) ainda destaca que, na maioria dos cursos
de licenciatura, o estágio supervisionado influencia nas diversas práticas docentes elabo-
radas pelos futuros professores, sendo que ele e a prática docente estabelecem uma
relação dialética e caminham juntos no processo de formação docente.
Também é possível observar que 11, 1% dos participantes da pesquisa esperavam
compreender como o estágio supervisionado poderia auxiliá-los quanto ao Processo de
Ensino-Aprendizagem dos conteúdos escolares. Libâneo (1994, p. 90) comenta sobre a
relação estabelecida nesse processo, afirmando que “a relação entre ensino e aprendiza-
gem é uma relação recíproca na qual se destacam o papel dirigente do professor e a ati-
vidade dos alunos”. Assim, o ensino procura “estimular, dirigir, incentivar, impulsionar o
processo de aprendizagem dos alunos” (LIBÂNEO, 1994, p. 90). Dessa forma, esses estu-
dantes, sendo na maioria do turno matutino, com 7, 4% do total, e 3, 7% do noturno,
devem estar cientes de que, para que a aprendizagem se efetive nesse processo e para
que consigam compreendê-lo, é preciso que práticas sejam desenvolvidas por eles
durante o tempo de estágio, de diferentes modalidades e exercícios, consolidando os
conhecimentos ali trabalhados.
Já a Relação Professor-Aluno, foi uma das expectativas de aprendizagem com
menos incidência nas respostas dos estudantes, com um total de 5, 55%, sendo 3, 7% no
matutino (um aluno em 2016 e outro em 2018) e 1, 85% no noturno (um aluno em 2018).
Segundo Pimenta (2005), um aspecto fundamental na formação do professor é que ele
compreenda seu lugar na relação professor-aluno, pois em todo processo de aprendiza-
gem humana, a interação social e a mediação do outro é imprescindível. Assim, é impor-
tante que nesse momento de ida à escola campo, o estagiário vivencie essa interação de
forma mediadora, promovendo um trabalho voltado à socialização das crianças, envol-
vendo pais e comunidade.
Aprender sobre a Relação Teoria e Prática estabelecida no campo escolar tam-
bém era uma das expectativas dos estudantes para a disciplina “Estágio na Educação
Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental III”. Discussões sobre esse tema estão
presentes há muito tempo nos cursos de formação de professores. Santos (2016, p. 8)
destaca que a “relação teoria e prática tem ganhado relevância, haja vista o potencial
formativo de que este binômio se reveste, bem como pela perspectiva dicotômica com
a qual o mesmo historicamente tem sido conduzido em configurações curriculares e
práticas de formação”. Para o autor, a teoria é a forma como o conhecimento se
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que as pessoas com mais idade estão retornando aos estudos, e que mais da metade dos
estudantes pesquisados precisam conciliar estudo e trabalho.
Apesar de reconhecer as contribuições desta pesquisa para a formação docente,
entendemos que ainda há muitas discussões e reflexões a serem realizadas. Destacamos
que o estágio contribui significativamente para a formação profissional do futuro pro-
fessor, uma vez que a prática interligada à teoria possibilita o desenvolvimento de
autonomia e a construção da identidade profissional, tornando-se uma ação social em
prol do processo de ensino e da aprendizagem, de modo que o estágio seja entendido
como um momento de práxis, tendo como sustentação o aporte teórico que permite
compreender a totalidade da realidade em que o sujeito está inserido. Acreditamos
que tanto a formação de maneira mais ampla quanto o estágio supervisionado são
espaços significativos para o desenvolvimento das aprendizagens e dos conhecimentos
profissionais docentes.
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INTRODUÇÃO
1 Docente dos cursos de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Goiás, Regional Jataí. Doutora em Educação. E-mail: renatafef@hotmail.com
2 Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás,
Regional Jataí. Graduada em Educação Física pela mesma instituição. Bolsista CAPES. E-mail: brunaveira-12@
hotmail.com
3 Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás,
Regional Jataí. Graduada em Pedagogia pela mesma instituição e Bacharel em Direito (CESUT/Jataí). Bolsista
FAPEG. E-mail: dbelarminavc@gmail.com
4 Docente do curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Goiás, Regional Jataí, Doutora em Educação. E-mail: isa.scarlarti@gmail.com.
5 Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás,
Regional Jataí. Graduanda em Pedagogia pela mesma instituição. Bolsista CAPES. E-mail: nataliaassiscarvalho@
hotmail.com
6 Docente do curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Goiás, Regional Jataí, Doutora em Educação. E-mail: camilaoliveira.ufg@gmail.com.
7 Poema Aninha e suas pedras, de Cora Coralina. Disponível em: https://www.culturagenial.com/cora-coralina-
-poemas-essenciais/. Acesso em: 8 set. 2019.
[ 999 ]
1000 Renata de Assis; Bruna Assis; Belarmina Cruvinel; Domingues; Natalia Carvalho; Camila de Oliveira
valorizar o belo, o poético, o desejo, o que faz sentido no cotidiano das pes-
soas concretas. Enfim, implica pensar o conhecimento científico da univer-
sidade e o conhecimento estético/poético – a sapiência da vida (p. 12, grifos
no original).
forma, eles por meio da experiência vivenciada na exposição, elaboraram, com base na
própria interpretação, várias associações entre a obra escolhida por eles e o conteúdo
estudado em sala de aula, o que será apresentado no decorrer deste constructo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesse processo, a mesma autora defende que fazer a aula implica na articulação
de algumas dimensões que são basilares à tarefa de educar:
falamos na presença de uma dimensão ética na aula quando nela a ação é
orientada pelos princípios do respeito, da justiça, da solidariedade, que são
promotores do diálogo.
A dimensão ética do trabalho docente se articula com:
– uma dimensão técnica, que diz respeito ao domínio dos saberes (conteúdos
e técnicas) necessários para a intervenção em sua área e à habilidade de
construí-los e reconstruí-los com os alunos;
– uma dimensão estética, que diz respeito à presença da sensibilidade na
relação pedagógica e sua orientação numa perspectiva criadora;
Nesse sentido, faz-se mister entender a experiência educativa em tela como uma
preocupação com esse processo de formação docente complexa visando a defesa de um
grupo profissional detentor de um conjunto de saberes inerentes ao seu fazer específico,
que traz consigo um caráter político, conforme afirma Gauthier (2003, p. 21):
A experiência vivenciada no MAC e registrada por meio dos relatórios dos alunos permi-
tiu uma aproximação entre arte e educação, entre fruição e teoria estudada.
Para exemplificar, uma das alunas9 analisa sua obra, relacionando-a com o trabalho
docente, e descreve:
podemos indagar que essa espécie de tapete seja o cenário em que o profes-
sor atua, ou seja, é mais que um local de trabalho apenas. A cor escura desse
tapete pode sugerir a presença de currículos ocultos e de ideologias impostas
que não são evidenciadas no âmbito educacional, pode ser também os obje-
tivos das organizações políticas dominantes não expressos com clareza justa-
mente para que seja dificultado o surgimento de questionamentos. As cordas
vermelhas fixadas nesse pano de fundo podem estar representando todos os
componentes que fazem parte do âmbito educacional em que as cordas mais
espessas podem simbolizar o professor, a escola e os alunos, e as cordas
menos espessas podem simbolizar os conteúdos, os recursos didáticos e as
metodologias presentes na instituição de ensino. Essas cordas podem estar
representando então todos os fatores que interferem o trabalho docente.
Como as cordas estão fixadas de maneira mais ou menos circular pode-se
indagar o movimento do trabalho do professor que não é estático e nem pre-
visível, dependendo sempre de fatores externos como os políticos, culturais,
econômicos e outros (A-DA, 2019, p. 1, grifos da aluna).
9 Os nomes foram substituídos por nomes fictícios, no formato de códigos, como forma de manter o sigilo dos
participantes.
Outros assuntos vistos durante as aulas também foram mencionados nas análises
e na apresentação dos alunos, como por exemplo a construção da identidade docente.
O exemplo mostrado a seguir permite perceber o processo que cada aluno, professor,
ou qualquer outro profissional vivencia e constrói durante a sua trajetória pessoal,
social e profissional.
A arte que escolhi como ligação, eu escolhi por vários motivos. Primeiro pelo
sentido de crescimento, algo que vai desde a base, que às vezes é simples e
vai se moldando e crescendo, onde em cada etapa deste crescimento, cores,
são diferentes, mas agregam e faz com que haja um crescimento rico, lindo e
coeso. Segundo pelo fato de haver ligações entre cada trama, ou seja, para
crescer precisamos também fazer laços com os outros, laços esses que
podem ser fortes ou não, mas laços que não podem ser negados na nossa
existência, e que por mais simples que for, ajuda-nos a crescer em conheci-
mentos. Essa união, diálogo e troca de experiências é importante para o
docente e seus alunos (A-FA, 2019, p. 1).
Partindo desta premissa, pode-se destacar que esta vivência, desenvolvida na dis-
ciplina ministrada, demonstra a necessidade de se extrapolar o espaço da sala de aula e
de se relacionar teoria, prática e outros elementos, neste caso a arte e a fruição, como
meio articulador do pensar e do conhecer de forma mais profunda os conteúdos a serem
trabalhados nos cursos de graduação.
Ressalta-se que alguns alunos que cursaram a disciplina, mesmo naturais de Jataí
ou residentes na cidade há anos, não conheciam o MAC, e sentiram a importância dessa
visita e das atividades que a sucederam para a sua formação pessoal e profissional res-
pondendo de forma positiva ao problema norteador, apontando para a pertinência dessa
iniciativa. Retomando as palavras de Cora Coralina, que orientaram a construção deste
texto, é sempre tempo para recomeçar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
1 Pedagogo pela PUC Goiás. Estuda as questões do Ensino Fundamental, temáticas de gênero e Educação de
Jovens e Adultos. Caio_henrique_gyn@hotmail.com
2 Doutor em Educação pela UFG, Professor do Programa do Curso de Pedagogia e Pós Graduação em Educação
da PUC Goiás. Diretor da Escola de Formação de Professores e Humanidades da PUC Goiás. romilsonmartinsi-
queira@hotmail.com
[ 1011 ]
1012 Caio Henrique Oliveira e Silva; Romilson Martins Siqueira
Ainda neste sentido, Libâneo (2001) amplia o conceito de educação como prática
social, sendo compreendida enquanto
conjunto dos processos, influências, estruturas e ações que intervêm no
desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o
meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e
classes sociais, visando a formação do ser humano. A educação é, assim, uma
prática humana, uma prática social, que modifica os seres humanos nos seus
estados físicos, mentais, espirituais, culturais, que dá uma configuração à
nossa existência humana individual e grupal (p. 7).
Se tomarmos como ponto de partida que a educação escolar no Brasil esteve his-
toricamente voltada à educação dos nobres, ou seja, de uma parcela elitizada no país,
haveremos de observar que uma educação para o povo, para todos, como política
pública, ela não se efetivou. A ausência de um projeto de educação para todos causou
grandes índices de analfabetismo. Desta forma, a educação básica e, por consequência,
a Educação de Jovens e Adultos (EJA), só começaram a ganhar forças a partir da década
de 1930, quando se começa no Brasil um amplo movimento social em defesa do acesso,
laicidade e gratuidade da educação pública.
Mais especificamente, por volta dos anos de 1940, os estudos educacionais come-
çaram a identificar os altos índices de analfabetismo na população adulta do país, fato
que se somou à decisão de criar um fundo no qual se destinaria recursos para serem
investidos na alfabetização de adultos. Com a criação da Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), foi-se solicitado a todos os países que se
integrassem ao programa internacional. Soma-se a isso, a necessidade de uma nova
perspectiva sobre a educação, e consequentemente, a modalidade de ensino de EAJA
(BRASIL, 2001).
Essas transformações sociais e um projeto de educação para todos, de cunho gra-
tuito e de qualidade social, deu à modalidade de ensino de EJA uma certa força, visibili-
dade e necessidade histórica que acarretou na luta pela criação de políticas públicas para
o ensino de jovens e adultos. Da mesma forma, faz-se necessário conhecer quem são os
sujeitos aos quais estão inseridos nesta modalidade de ensino.
Se por um lado a história da educação do Brasil configurou privilégios de acesso à
educação escolar aos grandes senhores, aos nobres portadores de riquezas e status
sociais, por outro, os sujeitos que se localizavam às margens deste status, não eram
alfabetizados, tão pouco escolarizados. Eram tidos como mera força de trabalho e nada
precisavam saber a não ser cumprir com o que lhe era ordenado.
As poucas políticas públicas para a modalidade de ensino de EAJA também não
cumpriram seus objetivos: os sujeitos continuavam analfabetos e os índices de defa-
sagem escolar aumentavam. Os índices de analfabetismo podem ser explicados tam-
bém pelos fatores que geram as desigualdades sociais. Ou seja, os sujeitos destinados
a essa modalidade de ensino, são, em sua maioria, trabalhadores que optam por tra-
balhar ou estudar, dado que sem trabalho não teriam sustento, não teriam o neces-
sário para a subsistência.
Para legitimar a segregação e exclusão dos sujeitos da EJA, as retóricas e as políti-
cas para esta modalidade têm centrado foco na ideia de que “o analfabetismo era conce-
bido como causa e não efeito da situação econômica, social e cultural do país. Essa
concepção legitimava a visão do adulto analfabeto como incapaz e marginal, identificado
psicologicamente e socialmente com a criança” (BRASIL, 2001, p. 20).
Da mesma forma, a história da EJA também precisou marcar posicionamento con-
trário frente a uma concepção de que o “adulto analfabeto era uma criança”. Refutar
essa compreensão era necessária para se desfazer determinados preconceitos que se
tinham sobre o analfabeto. Neste campo, as próprias psicológicas modernas contribuí-
ram para o debate interno nesta Ciência, a fim de desmistificar a ideia de uma psicologia
comportamentalista em que o adulto apresentava condições de aprendizagens inferio-
res que as das crianças. Deste modo, o adulto analfabeto começa a ser idealizado/concei-
tuado por uma nova perspectiva. Esta afirmava que adulto é um sujeito pensante,
produtivo, capaz de solucionar seus próprios problemas (BRASIL, 2001).
Por volta do início dos anos 50, várias críticas foram sendo levantadas em relação
à campanha de 19473. Estas críticas destacam problemas relacionados tanto às questões
didático-pedagógicas, quanto às administrativas e financeiras. Elas denunciavam “[..] o
caráter superficial do aprendizado que se efetivava no curto período da alfabetização, a
inadequação do método para a população adulta e para as diferentes regiões do país”
3 Em relação à Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), esta foi a primeira iniciativa gover-
namental para a educação de jovens e adultos no Brasil. Promovida pelo Ministério da Educação e Saúde, a
partir de 1947, tinha por objetivo levar a “educação de base” a todos os brasileiros iletrados, nas áreas urbanas
e rurais. Foi organizada uma ampla estrutura administrativa apta a mobilizar nos estados da federação recur-
sos administrativos, financeiros, pedagógicos e doutrinários. A União teve um forte papel indutor, cabendo às
unidades federadas a contratação de docentes, instalação das classes, matrícula dos alunos e supervisão das
atividades desenvolvidas.
(BRASIL, 2001, p. 22). Tais críticas ainda contribuíram para que um novo paradigma fosse
consolidado, tanto no campo da educação de jovens e adultos, no problema do analfa-
betismo, quanto na perspectiva que se tinha sobre o sujeito da ação docente nesta
modalidade. Neste sentido, Paulo Freire ganha centralidade nos debates acadêmicos,
políticos e pedagógicos da EJA:
O pensamento pedagógico de Paulo Freire, assim como sua proposta para a
alfabetização de adultos, inspiraram os principais programas de alfabetiza-
ção e educação popular que se realizaram no país no início dos anos 60. Esses
programas foram empreendidos por intelectuais, estudantes e católicos
engajados numa ação política junto aos grupos populares. [...] Em janeiro de
1964, foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetização, que previa a dissemi-
nação por todo Brasil de programas de alfabetização orientados pela pro-
posta de Paulo Freire. A preparação do plano, com forte engajamento de
estudantes, sindicatos e diversos grupos estimulados pela efervescência polí-
tica da época, seria interrompida alguns meses depois pelo golpe militar
(BRASIL, 2001, p. 22-23).
Deste modo, as ideias de Paulo freire atribuem à educação uma nova perspectiva.
Está em pauta a ação educativa enquanto ação de transformação social. Suas ideias pro-
nunciam que tanto a alfabetização, a educação, e principalmente, a educação de jovens
e adultos, “[...] deveriam partir sempre de um exame crítico da realidade existencial dos
educandos, da identificação das origens de seus problemas e das possibilidades de supe-
rá-los” (BRASIL, 2001, p. 23).
Para além da dimensão política e social, Paulo Freire ainda infere sobre o papel do
educador e o comprometimento do mesmo com a educação nesta modalidade de ensino
e elenca a necessidade de um entendimento do sujeito analfabeto como homens e
mulheres pensantes, produtores e possuidores de uma cultura (BRASIL, 2001).
Assim, a história da EJA é a história dos sujeitos que não tiveram acesso à educa-
ção, por sua invisibilidade e reconhecimento como sujeitos em sua humanidade, pela
ausência de políticas públicas e pela desigualdade social.
Já do ponto de vista do estudo realizado na escola pública de Goiânia, a observa-
ção participativa-critica-reflexiva possibilitou reconhecer que os sujeitos da institui-
ção/campo de estágio como trabalhadores, subempregados ou desempregados. A
condição precária do trabalho marcou o lugar social por eles ocupados nas classes
sociais menos favorecidas. Ouvindo-os em suas histórias de vida, percebeu-se que o
principal fator de exclusão do acesso à escolarização se deu pela opção pelo trabalho
como forma de subsistência.
Neste sentido, a EAJA se caracteriza como uma modalidade de ensino destinada a
atender um público cujo direito e o acesso à educação lhes foram negados na infância e/
ou na adolescência, pela inadequação do sistema de ensino, pela falta de oferta e/ou de
vagas ou por suas condições sócio econômicas. Todavia, é necessário que o profissional
desta modalidade de ensino atue de forma a compreender que o acesso à educação é
um direito social do sujeito e que a EAJA não é uma modalidade de ensino de compensa-
ção pelo tempo perdido, mas sim de direitos. Isto exige do professor um comprometi-
mento e uma atuação pautada pela ética profissional.
4 Os recortes que compõem este item são frutos de observações esporádicas que marcaram os momentos do
estágio. Se por um lado elas expressam o cotidiano daquilo que foi percebido, por outro, não podem ser toma-
dos como generalizações.
isolados que não são associadas ao contexto da vida dos educandos, acabam por tratá-
-los de forma infantilizada pelo seu conteúdo. Assim,
[...] tanto as palavras quanto os textos das cartilhas nada têm que ver com a
experiência existencial dos alfabetizandos. E quando o tem, se esgota esta
relação ao ser expressada de maneira paternalista, do que resulta serem tra-
tados os adultos de uma forma que não ousamos sequer chamar de infantil
(FREIRE, 1981, p. 12).
Neste sentido, Freire afirma que a formação pedagógica e formação política são
inseparáveis na práxis educativa e que a leitura de mundo antecede e medeia a leitura do
discurso. Deste modo, a formação docente deve acontecer fundada num processo contí-
nuo que seja capaz de desenvolver a criticidade na/pela práxis educativa. A práxis docente
deve ser alicerçada na ação – reflexão – ação, para que assim se comprometa com uma
formação transformadora:
As intervenções foram realizadas em sete encontros, sendo que três (03) destes
compõem este relato. Todos os encontros foram orientados por planejamentos que tive-
ram como ponto de partida a realidade dos educandos. Nesta perspectiva, as aulas foram
desenvolvidas na perspectiva de temas geradores.
Destaca-se que a relação arte/educação/alfabetização permeou todos os encon-
tros que compõem este relato de trabalho. Em relação ao primeiro encontro, a perspec-
tiva do trabalho se deu com a temática da imigração e com o tema gerador “História,
cultura e arte: um olhar a partir de Lasar Segall”. Foram objetivos deste encontro: a)
ampliar a formação científico-cultural dos discentes; b) identificar que emigração, imigra-
ção e migração é um processo ao qual o sujeito muda de pais, estado ou região; c) iden-
tificar o processo de migração, bem como um pouco das causas políticas, econômicas e
sociais as quais levam os sujeitos a emigrarem, imigrarem e migrarem.
O segundo encontro deu-se pela mesma temática, porém, com maior foco na pro-
dução artística. Foram objetivos deste encontro: a) compreender os elementos históri-
cos, geográficos e políticos da época em que as obras foram produzidas; b) reconhecer
formas e escolas de arte que envolvem a técnica de pintura do pintor em estudo; c)
vivenciar a produção artística e o processo de leitura e escrita.
Em relação a estes encontros, destaca-se que à ação educativa se deu inicialmente
pelo estudo de um vídeo explicativo sobre a vida do pintor e explorado por meio do
debate de ideias que tiveram como propósito o levantamento das palavras geradoras.
Essas palavras foram anotadas no quadro formando um banco de palavras que foram
decompostas em silabas e apresentadas suas famílias fonéticas5 para a formulação de
novas palavras.
Especificamente no segundo encontro, foi proposto uma produção artística não
infantilizada que visava a releitura das obras de arte apresentadas durante à ação
educativa.
O terceiro encontro partiu de uma proposta da escola que tinha como tema
“Educação e Sustentabilidade”. O objetivo era vivenciar práticas de conscientização
e produção de materiais sustentáveis. A partir da produção de um sabão caseiro, os
educandos vivenciaram práticas de leitura, de escrita e de produção do próprio pro-
duto estudado.
5 Ainda que se compreenda hoje que o processo de leitura se dê em uma perspectiva de letramento, optou-se
aqui por vivenciar a proposição freiriana e, a partir dela, articular conhecimentos e processos de alfabetização
de modo interdisciplinar e contextualizado.
CONCLUSÃO
Se tomarmos como princípio que o trabalho com a EJA deve permitir a produção
de vivências que tragam sentidos e significados para a vida de cada educando, pode-se
dizer que
É neste sentido que este trabalho expõe seus resultados afirmando a importância
de uma ação diferenciada e interdisciplinar que considere o conhecimento científico e a
vivência de mundo como elementos constitutivos da ação docente.
Deste modo, a proposta com uso da arte proporcionou aos educandos um senti-
mento de bem-estar ao lidarem com recursos e técnicas com às quais eles habitual-
mente não tinham costume (tinta, pincel, colagem, etc). Mais do que isso, destaca-se a
importância para educação do olhar a partir de uma perspectiva estética vivenciada
nos encontros. Isso proporcionou, sobremaneira, uma formação humana alinhada à
formação escolar.
Outro aspecto relevante a ser ressaltado diz respeito ao sentimento de aprendiza-
gem apresentado pelos educandos aos términos dos encontros. Acredita-se que a parti-
cipação no processo de ensino aprendizagem foi o elemento crucial que proporcionou o
desenvolvimento deste sentimento. Isso pôde ser comprovado a partir de falas: “gosto
de aula assim, porque assim eu aprendo”; “nossa, como é importante a gente saber isso”;
“então eu sou migrante?”; “vamos conversar e depois escrever?”. Estas falas expressam
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INTRODUÇÃO
1 Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica Goiás (Bolsista Capes-Prosup), Mestre em Educação
pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2007), graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação Ciên-
cias e Letras de São Luís de Montes Belos (1998). Professora efetiva da Universidade Estadual de Goiás – Câmpus
São Luís de Montes Belos, na linha de Didática e Práticas de Ensino; Coordenadora pedagógica do Câmpus; edi-
tora da Revista Eletrônica Ícone; coordenadora do grupo de pesquisa Educação, formação docente e linguagem/
GPEFDL. Pesquisa sobre Formação de professores. maria.goretti@ueg.br ORCID: 0000-0002-9207-0561
2 Egressa do curso de Pedagogia, na Universidade Estadual de Goiás – Câmpus São Luís de Montes Belos. Bolsista
de Iniciação Científica (PVIC-UEG). Pesquisa sobre Formação de professores. jackybemfica@gmail.com
[ 1028 ]
CONSTRUÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE REFLEXIVA 1029
sua prática pedagógica explanando como esses saberes contribuem para uma prática
reflexiva na ação.
Algumas questões nortearam este trabalho, a saber: a formação de professores é
um processo de elaboração contínua que vai adquirindo forma no dia a dia, na sala de
aula? Para o professor que inicia, a escola se torna espaço de aprendizagem constante
por meio da interação com os alunos, com os colegas de trabalho e pelas vivências do dia
a dia? Os cursos de formação de professores oferecem possibilidades que o futuro pro-
fessor em formação construa seus saberes pedagógicos?
A sala de aula é formada por alunos reais, constituída por diversos sujeitos do
aprender, necessitando de uma prática docente reflexiva – algo que o professor iniciante
terá que desenvolver por meio da teoria articulada com a prática/ experiência. Sendo
assim, Pimenta (2012) afirma que é nesse confronto que a prática reflexiva é construída
e os saberes pedagógicos são reelaborados conforme as necessidades pedagógicas pos-
tas pelo real.
Para discutir esta temática, o presente texto foi organizado em três subtítulos:
o primeiro intitulado “Da socialização do saber à construção da identidade profissio-
nal”, que aborda as diferentes etapas pelas quais passam os professores iniciantes
na docência.
O segundo, intitulado “O professor reflexivo: um breve histórico de sua gênese e
suas implicações no cotidiano do trabalho docente” explana sobre a trajetória da cons-
trução do termo “reflexivo” abordando de forma sucinta a sua gênese.
O terceiro subtítulo, intitulado “Relato de experiência: memórias do início da carreira
docente” apresenta as vozes de professores iniciantes e experientes – para identificar as
dificuldades e peculiaridades vivenciadas no período da iniciação profissional docente, bem
como o momento de tensão enfrentado na transição de estudante para professor.
teoria e prática no início de sua carreira profissional docente? b) Você percebeu alguma
dificuldade em colocar os conceitos estudados na Universidade em prática? c) Como a
escola se organiza para colaborar com o professor em início da carreira docente? d) Você
teve dificuldade no desenvolvimento ou em colocar em prática “métodos de ensino” na
ministração dos conteúdos? e) Somente para professores experientes: Como você recebe
os professores que estão em início de carreira?
As respostas foram lidas e analisadas buscando averiguar se apresentava aspectos
pontuais e relevantes no que tange à compreensão do início da carreira docente – tema
proposto nesse estudo. Os participantes voluntários foram dois (2) professores experien-
tes com mais de 15 anos de carreira (ambos são licenciados em Pedagogia) e dois (2) alu-
nos – professores. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Em relação aos professores iniciantes, ambos se encontravam na fase final do pro-
cesso de formação no curso de Pedagogia e ao mesmo tempo iniciavam trajetória na
docência. Objetivando preservar a suas identidades, as falas são identificadas por meio
de nomes fictícios, sendo Cristal e Rubi para os professores experientes e Jade e Safira
para os professores iniciantes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com essa reflexão na ação é possível criar estratégias para potencializar o trabalho
docente, refletindo ainda no momento da ação pedagógica, sendo um meio de desenvol-
vimento dos saberes advindo da experiência do educador. O terceiro ponto conceituado
por Schön (2007) é a reflexão sobre a ação, isto é, a reflexão que ocorre depois da ação
profissional, por meio do processo de refletir sobre a ação pedagógica e o conhecimento
contido nela. É analisá-la, reconstruindo-a mentalmente, promovendo uma nova percep-
ção dessa ação. Isso irá possibilitar ao professor perceber o que ocorreu antes e durante
a ação bem como ter o entendimento de como foram resolvidas as surpresas – algo que
não está de acordo com as nossas expectativas.
A partir dessa reflexão sobre a reflexão na ação, o profissional docente conseguirá
desenvolver novas formas de agir, pensar e de resolver os problemas, em outras palavras,
o docente conseguirá assimilar as experiências proporcionadas pelo erro e pela reflexão,
tomando consciência do que deu errado e tentando novamente de forma diferente. Para a
mobilização e integração dos saberes docentes, a reflexão e as experiências vivenciadas
permitem a conquista de autonomia e a descoberta do próprio eu professor.
Pimenta (2008) critica a concepção de “competência” usada por Schön e ressalta
que este conceito está substituindo o conceito de saberes e conhecimentos no caso da
educação, que não se trata de uma simples questão conceitual, mas que, “essa substitui-
ção acarreta ônus para os professores, uma vez que o expropria de sua condição de
sujeito do seu conhecimento, [...], os saberes são mais amplos, permitindo que se criti-
que, avalie e supere as competências.” (PIMENTA, 2008, p. 41ss).
Dessa forma, segundo Pimenta (2008), Schön propõe
O praticismo e o individualismo são alguns dos riscos que pode levar o conceito de
professor reflexivo bem como a prática/ação reflexiva à banalização. Muitas vezes, tem
se abordado o tema como uma grande solução para a formação de professores e muitos
tendem a voltar apenas para a prática, esquecendo-se da teoria. Pimenta (2008, p. 24)
ressalta que “o saber docente não é formado apenas da prática, sendo também nutrido
pelas teorias da educação”. Nesse quesito, vale salientar a importância da práxis pedagó-
gica, isto é, uma prática que seja guiada pela teoria e não ceder à tendência em acreditar
que na teoria é uma coisa e na prática é outra.
Contreras (2002), em perspectiva semelhante à defendida por Pimenta, considera
que o profissional que reflete não deve fazer isso somente analisando a sua própria prá-
tica, mas deve também, observar toda a estrutura organizacional, os valores e as condi-
ções de trabalho. O professor deve compreender como o modo de organização e controle
do “seu” trabalho interfere na sua prática educativa e na sua autonomia profissional.
Pois, como alerta Pimenta (2008).
O individualismo da reflexão, a ausência de critérios externos potenciadores
de reflexão crítica, a excessiva (e mesmo exclusiva) ênfase nas práticas, a
inviabilidade da investigação nos espaços escolares e a restrição dessa neste
contexto. (PIMENTA, 2008, p. 43).
É preciso entender que teoria, prática e reflexão são peças fundamentais para o
desenvolvimento do fazer pedagógico. Assim, a reflexão pode ser entendida como um
fator que articula a teoria com a prática, onde uma não caminha sem a outra, portanto,
são indissociáveis. Pimenta (2008) salienta ainda que, a teoria tem importância funda-
mental na formação dos docentes, pois dota os sujeitos de variados pontos de vista para
uma ação contextualizada, sendo este profissional capaz de assimilar os vários contextos
que envolvem a educação como o social, histórico, cultural, organizacional e o de si pró-
prio como profissional.
Pimenta (2008) defende a prática reflexiva como possibilidade de superar o prati-
cismo, ao mesmo tempo em que, oferece subsídios para o professor entender e atuar de
forma crítica e coletiva para além do contexto educacional que está inserido. Uma outra
questão fundamental que pode ser elencada é o entendimento de que a reflexão é evi-
dentemente um processo coletivo e não algo individual como apresentada na perspec-
tiva de Schön. Pimenta (2008) utiliza o conceito de Zeichner (1992) ao considerar que a
prática reflexiva, enquanto prática social, só pode ser realizada na coletividade onde pro-
fessores se apoiem e se estimulem mutuamente para transformar os espaços escolares
em comunidades de aprendizagem.
Nessa perspectiva, ficam evidentes dois aspectos importantes para que em vez de
críticas se tenha possibilidades: o primeiro é a relevância de uma base teórica para que
esta possa auxiliar os obstáculos da prática cotidiana escolar, ou seja, uma inseparabili-
dade entre teoria e prática. O segundo é que a reflexão não pode ser feita de forma indi-
vidualizada, mas coletiva, avançando para uma reflexão sobre a ação institucionalizada e
não somente nos espaços estreitos da sala de aula.
Sendo assim, diante do que foi discutido, é possível afirmar que, se tornar um pro-
fessor crítico reflexivo não é algo simples, mas, requer um posicionamento crítico e uma
base teórica sólida para que o professor seja capaz de entender os fatores que interfe-
rem diretamente na sua prática pedagógica e que necessita de um acompanhamento
para sua efetivação.
Assim, o professor crítico reflexivo não deve se ater somente a questões de como
ensinar bem o conteúdo, mas principalmente, considerar os determinantes sociais, polí-
ticos, culturais e institucionais, para então, se posicionar de forma crítica reflexiva enten-
dendo a sua deliberação profissional, sendo capaz de ir além da reflexividade cognitiva
para a reflexividade compartilhada, objetivando uma prática pedagógica que contribuirá
para a formação de cidadãos críticos e reflexivos.
medos dentre outros sentimentos. É notável que esse professor iniciante passa por um
período quando é necessário relacionar a teoria com a prática, bem como o (des)conhe-
cimento construído na Universidade.
Conforme salienta Garcia (1999),
Nessa mesma perspectiva, Tardif e Raymond (2000, p. 217) defendem que a socia-
lização “é um processo de formação do indivíduo que se estende por toda a história de
vida e comporta rupturas e continuidades”. Assim, esse processo não pode ser unidire-
cional como salienta Garcia (1999), mas deve ser compartilhado com todos os envolvidos
na instituição para que sejam acomodadas as situações de enfrentamento, integrando o
professor iniciante num processo de aprendizagem.
conteúdo trabalhado, domínio de sala, alunos com considerados com transtornos psi-
cológicos, dificuldades de aprendizagem, ausência da família na escola e a intensa
cobrança por resultados.
À vista disso, percebe-se que o professor iniciante aprende a ser profissional em
diferentes momentos e em diferentes situações, como ao planejar uma aula sobrecarre-
gada de informações, com metodologia que não deu certo; na dificuldade que alguns
alunos enfrentam para entender determinado conteúdo, pois essas experiências o faz
pensar sobre sua prática e desse modo ele planejará outra forma de ensinar aos alunos.
A sala de aula é realmente um espaço desafiador em todos os sentidos e a construção da
prática docente em grande parte se dá na relação com os alunos, ou seja, no processo
ensino-aprendizagem.
É nesse jogo intenso de procura, de sobrevivência, de conciliação, entre anseios,
projetos, dúvidas, inseguranças, erros e acertos, dentro de uma estrutura pessoal, profis-
sional e institucional que o professor iniciante se encontra-se forma, procurando equilí-
brio dinâmico e pedagógico sem menosprezar os seus ideais profissionais, o qual a si
mesmo se reajusta, tendo em mente o sonho que o motiva e que dá sentido aos seus
esforços para se manter na profissão – professor.
De acordo com Nóvoa (1992, p. 15), “os professores são profissionais produtores de
saber e de saber-fazer”. O professor movimenta diariamente conhecimentos, habilidades,
competências e o saber-fazer na sala de aula para realizar suas diversas atividades. São os
conhecimentos e os saberes que servem como base para o ofício de ser professor.
Para Pimenta (2012), é preciso reinventar os saberes pedagógicos a partir da prá-
tica social da educação e de ensinar. A superação da fragmentação dos saberes da docên-
cia, em saberes da experiência, científicos e/ou pedagógicos se dará ao considerar a
prática social como referencial de início e fim, ou seja, “uma ressignifação dos saberes na
formação de professores.” (Idem, p. 28). Os futuros professores, frequentantes dos cur-
sos de formação não estarão totalmente aptos a falar em saberes pedagógicos, uma vez
que este se produz na ação cotidiana, mas por outro lado, poderão adquirir os saberes
sobre a educação e sobre a pedagogia (saberes científicos).
O professor é possuidor de um saber plural, estratégico, heterogêneo, que envolve
conhecimentos, um saber-fazer amplo e diverso, que são provenientes de fontes varia-
das. É um saber social por ser partilhado e socializado com outros e partir dessa ação é
incorporado, modificado e adaptado diante dos momentos e fases pelas quais passa um
profissional docente.
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS:
memórias do início da carreira docente
Percebe-se pelas falas dos professores (Cristal, Rubi e Safira) as dificuldades encon-
tradas no início da carreira docente no que tange a relação teoria e prática, percebendo
que estas são indissociáveis, (GARCIA, 1999; GUIMARÃES, 2003). É evidente que nesse
início a teoria e prática são compreendidas um tanto desarticuladas entre si. Segundo
Costa e Oliveira (2007) o professor se vê diante de uma dificuldade de articular os instru-
mentos teóricos de que dispõe para, de alguma maneira, analisar as situações vividas e
tomar as decisões que se fizerem cabíveis em cada contexto.
Discutindo sobre a dificuldade em colocar os conceitos vistos na Universidade em
prática (questão 2), os professores entrevistados afirmam o seguinte:
Tive dificuldades sim, principalmente com os professores mais velhos de ser-
viço. Você chega cheia de sonhos, com uma bagagem cheia para praticar,
com uma alegria de está fazendo o melhor. Deparei com paredes que impe-
dia de fazer o que eu aprendi, como as chacotas de professores (coitada isso
é só no início). Nada que eu fazia dava certo. (Professora Cristal).
Percebi que a realidade das escolas nas quais trabalhei eram bem diferentes
dos modelos citados na universidade. Para tanto, tive que adaptar-me às rea-
lidades, baseando-me em todos os conceitos teóricos que havia visto na
Percebe-se por meio das falas das professoras Cristal, Jade e Safira que a dificul-
dade encontrada em relação ao suporte pedagógico foi em não passar para esse profes-
sor iniciante os instrumentos e informações necessárias para o bom desempenho
profissional. O que certamente compromete o planejamento e o trabalho pedagógico,
uma vez que a escola possui o Projeto Pedagógico no qual estão as concepções teóricas
metodológicas que orientam o fazer pedagógico (processos de ensino/aprendizagem e
de avaliação da aprendizagem), bem como os cronogramas, projetos a serem desenvol-
vidos pela escola e as datas das reuniões. Não receber estas informações compromete e
dificulta o trabalho pedagógico do professor.
No que se refere às dificuldades encontradas em relação aos métodos, conteúdos
e metodologias na ministração do ensino (questão 4) os professores mencionam que:
Na verdade, a minha faculdade de quatro anos, eu tive que aprender tudo
novamente na prática em um mês que foi quando fui monitora no Peti.
Quando fui para a escola sofri muito, tive que aprender sozinha, observando
e errando até acertar. (Professora Cristal).
Recebendo o apoio de diversos professores mais experientes que eu, não tive
dificuldades relevantes. As situações que aconteciam e que atualmente acon-
tecem devem ser compartilhadas com outros para que, pela troca mútua de
experiências e conhecimentos, os problemas sejam resolvidos ou pelo menos
minimizados. (Professor Rubi).
Eu ainda tenho dificuldade em relacionar alguns métodos de ensino. Acho
que o docente que inicia sua carreira passa por um processo de testar méto-
dos diferentes até encontrar um que seja mais satisfatório, mas sempre há
uma misto entre tradicionalismo, construtivismo e sócio interacionismo.
(Professora Jade).
Tenho aprendido muito nesse início, pois preciso aprender primeiro para
depois ensinar. Esse início é muito difícil, a inexperiência e a insegurança se
você realmente está ensinando certo, se o aluno está aprendendo; a
transposição do conteúdo requer um tempo para aprender uma vez que são
muitas disciplinas. Mas, não basta só saber o conteúdo, tem que saber ensi-
nar. Tive dificuldade em dois sentidos: o primeiro por não ter domínio de
todos os conteúdos. Tenho que estudar muito para relembrar e até mesmo
aprender o conteúdo que será ministrado; e o segundo porque tenho que ir
testando os métodos e observando qual é a melhor forma para a sala apren-
der. E para aqueles alunos que têm dificuldade de aprendizagem o desafio é
ainda maior, pois tenho que procurar um método que melhor o contemple
diante da sua dificuldade. (Professora Safira).
O ato de ensinar é entendido como uma ação de compartilhar algo que se sabe.
Como cita Freire (1996, p. 12) “quem ensina ensina alguma coisa a alguém”. Durante a
iniciação na docência o professor irá perceber que precisa aprender para ensinar e não
somente isso, mas que também, é importante conhecer seus alunos, a vivência e a forma
única de cada um aprender.
Assim, por meio das falas dos professores fica evidente que o professor não nasce
pronto, ele se faz dia após dia num processo contínuo de formação, de teoria e prática,
da experiência, dos erros, de tentativas sobre o que não deu certo, das trocas com os
próprios alunos e outros professores. No exercício da prática docente, os saberes são
diversos e estes precisam ser mobilizados pelo professor. Para tanto, saber os conceitos
é importante para quem está iniciando, mas não se restringe a este saber.
Analisando o depoimento dos professores, vemos que aparece de modo explícito
o que Tardif (2002) afirma que, nesses primeiros anos de profissão o professor iniciante
tenta de todas as formas oferecer um ensino de qualidade. E nessa trajetória, tentará
encontrar métodos, meios e instrumentos que melhor encaixem na prática e que o aju-
dem a problemas, ministrando suas aulas com segurança, de modo que o aluno aprenda.
O espaço escolar, campo de trabalho do professor, se integra como cenário onde
precisa ser articulado o conhecimento dos professores experientes com o dos iniciantes,
bem como um alicerce pedagógico que busca contribuir no processo de transição de
futuro professor a professor. A troca baseada nas relações coletivas constitui um fator
importante para a formação desse profissional. Por mais simples que possam parecer
essas trocas, certamente contribui para que o professor no início de carreira se norteie
em relação ao ensino, à metodologia, ao planejamento da prática pedagógica, ao apro-
fundamento teórico, às dimensões constitutivas da escola e em relação a outros fatores
que somente o tempo e ofício de ensinar trarão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer as memórias dos docentes no início da
carreira docente, como se dá esse processo de transição de futuro professor a professor.
Para tanto, foi desenvolvida pesquisa qualitativa, teórica e de campo. Com professores
experientes e em início de carreira.
A partir dos dados coletados é possível considerar que a condição de professor ini-
ciante põe em evidência a relevância da formação inicial e continuada do professor. Por
meio da vivência no cotidiano escolar que o enriquece dia após dia. É literalmente, entrar
em choque com a realidade, aprender, descobrir, experimentar, enfim, sobreviver na
profissão. Ficou evidente que o processo de socialização inicial é fase de grande impor-
tância para o início da carreira docente, uma vez que, surgem nessa fase as primeiras
marcas da identidade docente. Pois, como argumenta Guimarães (2006) é um processo
onde o professor iniciante se vê num impasse entre as lacunas da formação inicial e
aquilo que ele ainda precisa aprender. É nessa trajetória, entre erros e acertos, nas mar-
cas das primeiras experiências, trocas e relações sociais com outro (entre alunos, profes-
sores, pais, instituição), que o professor se constitui profissional e consolida sua
autoridade docente.
Em relação ao papel da escola no início da carreira docente, as falas dos sujeitos da
pesquisa nos levaram a perceber o quão importante é o papel da escola no que tange a
articulação entre conhecimento, saberes e conceitos que envolvem o espaço escolar,
dando suporte, orientação, apoio pedagógico para o enfrentamento da realidade e coti-
diano escolar. A influência ou contribuição da escola no processo de formação conti-
nuada do professor iniciante, embora seja apresentado pelos professores entrevistados
como relevante, não foi identificada por meio dessa pesquisa, uma vez que afirmaram
não terem tido esse auxílio de forma institucional e coletiva.
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http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302000000400013.
INTRODUÇÃO
1 Pedagoga pela Universidade Estadual de Goiás – UEG e membro do Grupo de Estudos em Formação de Profes-
sores e Interdisciplinaridade – GEFOPI. anacarolinesousa@gmail.com.
2 Graduanda em Pedagogia pela UEG e membro do GEFOPI. helenribeiro98@gmail.com.
3 Doutoranda em Educação pela Universidade de Brasília – UnB; mestra em Educação, Linguagem e Tecnologias
pela UEG; membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Atuação de Professores/Pedagogos (GEP-
FAPe/UnB) e do Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade (GEFOPI/UEG). eneida.
silva@ueg.br.
[ 1047 ]
1048 Ana Caroline Martins de Sousa; Helen Ribeiro de Jesus; Maria Eneida da Silva
Rio de Janeiro4; 6. a divisão da turma em treze duplas e um trio; 7. a definição dos espaços
de investigação por sorteio ; 8. A criação de um grupo de apoio no aplicativo de WhatsApp;
9. o envio de um Ofício da universidade, via docente da disciplina, a ser apresentado à
instituição a ser pesquisada; 10. a adoção de um caderno de campo para o relato da fase
da observação do espaço; 11. o preenchimento de uma ficha com todas as ações da ati-
vidade de campo, assinada pelo responsável da instituição investigada; 12. o registro
com fotos do espaço investigado; 13. a elaboração de uma proposta interventiva para a
atuação do pedagogo nos espaços da pesquisa; 14. a apresentação, em formato de semi-
nário para a turma, da produção parcial da pesquisa; 15. A produção de um relatório da
pesquisa e da proposta interventiva em formato de devolutiva pedagógica; e 16. a apre-
sentação, em formato de seminário para todas as turmas de Pedagogia do campus, do
relatório final da pesquisa de campo.
Diante do exposto, os objetivos desse trabalho é apresentar e discutir as possibili-
dades de formação e atuação do pedagogo em espaços escolares e não escolares, bem
como socializar uma das atividades empíricas realizadas no projeto de ensino da disci-
plina Pedagogia em Espaços Não Escolares enquanto práticas de ensino na educação
superior com vistas à formação do pedagogo para a atuação além da sala de aula. A
experiência formativa socializada nesse artigo foi realizada na Circunscrição Regional de
Trânsito (CIRETRAN) de Luziânia, um órgão do Departamento Estadual de Trânsito –
DETRAN nos municípios do interior dos estados.
As práticas de ensino da disciplina Pedagogia em Espaços Não Escolares se susten-
tam na própria ementa da disciplina, nos teóricos que discutem a temática, no Manual
de Estágio em Contextos Não Escolares, bem como no Projeto Pedagógico do Curso de
Pedagogia do campus e na Resolução CNE/CP n.01/2006.
Para o alcance dos objetivos propostos para o artigo, trazemos um breve histórico
do Curso de Pedagogia e da Resolução CNE/CP n. 01/2006 que ampara legalmente a for-
mação do pedagogo e seus espaços de atuação e sua importância para as discussões
sobre a docência ampliada; apresentamos uma breve discussão teórica e a metodologia
utilizada para o desenvolvimento da disciplina e a culminância das atividades propostas;
e, por fim, socializamos a experiência formativa no CIRETRAN e discutimos a importância
de práticas de ensino voltadas para a epistemologia da práxis e também a indissociabili-
dade pesquisa-ensino-extensão.
4 VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Estágio em contextos não escolares – UERJ. Volume Único. Rio de Janeiro:
Fundação CECIERJ, 2012.
Uma constante e histórica luta por identidade: é essa a marca do Curso de Pedagogia
no Brasil. Segundo Brzezinski (1996), a Pedagogia surge por volta dos anos de 1930 e
vem, ao longo dos anos, lutando para ter reconhecidas suas características próprias. Seu
surgimento se deu nas Escolas Normais; porém, apenas no ano de 1939, foi regulamen-
tada como curso, num período de grandes transformações sociais e consequentemente
educacionais. Por isso, é importante compreender todo o contexto histórico no qual esse
curso surge.
Nesse período, a educação de forma geral passou por grandes transformações e,
mais precisamente em 1932, foi o ano marcado pela luta de 26 educadores da Associação
Brasileira de Educação que, descontentes com a desorganização da educação nacional
produziram um documento intitulado “A reconstrução educacional do Brasil: ao povo e
ao governo”. Conhecido como o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, o docu-
mento propunha ao governo um plano geral de educação com a defesa de uma escola
única, pública, laica, obrigatória e gratuita, opondo-se à escola da época que chamaram
de tradicional.
A partir de tais mudanças, outras lutas foram desencadeadas em prol da criação de
uma universidade brasileira, bem como pela melhor formação dos professores que, até
o momento estava sob a tutela da Escola Normal, como explica Brzezinski (1996), e obje-
tivava somente a formação de profissionais para atuarem em escola fundamental, com-
plementar e nas próprias Escolas Normais. Esta instituição foi por quase um século o
local formal e obrigatório para formação de professores e foi onde ocorreram as primei-
ras experiências dos cursos pós-normais, ao que Brzezinski (1996, p. 19) se refere como
o “gérmen dos cursos superiores de formação de pedagogos”. Por conseguinte, está aí a
importância da Escola Normal para a história da Pedagogia, apesar de essas escolas esta-
rem em constante instabilidade, o que acabava atrapalhando a formação docente.
Libâneo (2010) relata que o curso de Pedagogia surge como bacharelado, no qual
se formava o “Técnico em Educação” e que foi regularizado no ano de 1939. Anos depois,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 4.024 de 1961, ainda trazia em seu
escopo esse tipo de formação técnica. Um ano depois, foi promulgado o Parecer n.
251/62, do Conselho Federal de Educação – CFE, que regulamentava a formação de pro-
fessores, estruturando o tempo mínimo para a formação de bacharéis e licenciados, em
que eram três anos para concluir o bacharelado e mais um para a licenciatura, processo
esse que ficou conhecido como 3+1. Já o Parecer CFE n. 292 de 1962 extingue as diferen-
ças entre bacharelado e licenciatura, mantendo, contudo, a formação de especialistas
nas distintas habilitações.
Em meados dos anos de 1970, houve incessantes manifestações dos educadores
em busca da identidade do curso de Pedagogia, com lutas para a não extinção do curso.
Vislumbraram que isso poderia se tornar possível quando da indicação de Valnir Chagas
ao Conselho Federal de Educação e que ele proporia ações para a valorização do magis-
tério e a reformulação curricular do curso de Pedagogia. Entretanto, os educadores per-
ceberam que, para isso, dever-se-ia levar em consideração as demais licenciaturas, pois
todas têm a mesma essência, ou seja, a formação para a docência.
Os professores, portanto, mobilizaram-se para que se redefinisse o curso de
Pedagogia, que seu currículo levasse em consideração as individualidades regionais e
locais, e para tanto, relataram por meio do Movimento Nacional a necessidade de se
definir diretrizes para as formações dos profissionais da educação. Para além disso, os
princípios do Movimento Nacional não se resumiam somente na resolução dos conflitos
educacionais, nem na elaboração de uma proposta de reformular os currículos. Esse
Movimento se transformou na Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da
Educação – ANFOPE, que liderou intensas lutas para a reformulação dos cursos de forma-
ção de educadores em todo o país. Em seus documentos produzidos coletivamente,
objetivava-se a não distinção entre a formação de professores e a formação do especia-
lista, reafirmando que a Pedagogia é também uma licenciatura e precisava ser tratada
como tal (LIBÂNEO, 2010).
Brzezinski (1996) e Libâneo (2010) afirmam que o capitalismo influenciou muito nas
mudanças de currículo do curso de Pedagogia dos anos de 1960 a 1980, pois as escolas
passaram a ser locais de treinamentos em massa, com o objetivo de capacitar os traba-
lhadores que o sistema exigia, além de estar levando a ideologia da Reforma Universitária
de 1968 a introduzir um modelo de divisão de trabalho na escola, levando a prática peda-
gógica à fragmentação. As Faculdades de Filosofia, por exemplo, sofreram uma ação ten-
denciosa, o que fez com que se transformassem em centros de transmissão de
conhecimento, sem ligação nenhuma com a pesquisa e a produção de novos saberes.
Diante disso, o curso de Pedagogia passou a ter uma linha de formação voltada
para a prática, não abrangendo ou abrangendo pouco a teoria, o que fez com que o curso
tivesse um caráter exclusivamente profissionalizante. O curso de Pedagogia, segundo
Brzezinski (1996), era inferiorizado diante das outras licenciaturas, essas já sendo
inferiores perante os demais cursos. Com isso, os professores com mais qualidade forma-
tiva optavam por não lecionar no curso de Pedagogia e sim nas demais licenciaturas.
Durante a Ditadura Militar, os educadores mais dedicados à profissão tiveram em
suas ações grandes repressões por parte do governo, porém essas ações foram reprimi-
das, mas nunca abafadas, explica Brzezinski (1996). Nesse período, houve serias mudan-
ças educacionais, com as Leis n. 5.540 de 1968 e n. 5.692 de 1971, sendo a primeira a
reforma universitária e a segunda a reforma do ensino de 1° e 2° graus. A primeira lei
acarretou mudanças nos cursos de formação de professores, consequentemente na
Faculdade de Educação, e também proporcionou a criação dos Institutos de conteúdo
específico e da Faculdade de Educação. O Parecer n. 252 de 1969 e a Resolução n. 2 de
1969 definiram a estrutura da Faculdade de Educação, ao que ficaram determinados o
Currículo do curso de Pedagogia, a duração do curso, os conteúdos e as disciplinas obri-
gatórias da parte comum e da parte diversificada do currículo.
Ainda, em meio ao conjunto das legislações, como os Pareceres n. 252 e n. 632 de
1969; a LDBEN de 1961; a Lei n. 5.540 de 1968; e a Resolução n. 2 de 1969 é construído
um manual orientador da estruturação da forma e da dimensão do curso de Pedagogia.
Analisando esses documentos, percebe-se que a legislação não proporcionou em
momento algum espaço e caminhos para uma Pedagogia mais crítica, autônoma e refle-
xiva. Libâneo (2010, p. 135) explica que
em nenhum momento, no âmbito da legislação, estruturou-se um curso des-
tinado especificamente a formar o investigador, o pensador das questões da
educação em geral e do ensino em particular. Ora, o que os críticos da
Pedagogia teimam em ignorar é que os estudos pedagógicos no Brasil sem-
pre tiveram, via de regra, a conotação restrita de formação de professores e
de técnicos em educação, desconsiderando sua outra função de propiciar a
reflexão teórico-científica sobre educação.
legisladores de 1969 julgavam que tais mudanças acabariam por fim com essa indefini-
ção. Anos depois, o relator Valnir Chagas propõe, com a Indicação n. 67 de 1975, uma
nova regulamentação aos estudos superiores da educação, o que fez o rompimento com
Parecer n. 252 de 1969. Entretanto, esse ato não foi permitido graças à resistência dos
educadores brasileiros que passaram a assumir os estudos e debates para definir o rumo
das reformulações dos cursos de formação de professores, pois viam nessas ações do
relator o perigo de extinção do curso de Pedagogia.
No Brasil, portanto, o curso de Pedagogia corria risco de extinção por conta do for-
mato profissionalizante que o caracterizou, principalmente no período da Ditadura
Militar, ao contar com uma área prática, com pouco ou sem nenhuma relação com os
estudos epistemológicos. No I Seminário de Educação Brasileira, um marco na luta do
movimento dos educadores, os problemas sociais foram abordados nos trabalhos desses
educadores quase sempre relacionados à educação, o que deu início então, a uma pro-
posta de escola democrática. Essas ideias apresentadas direcionavam a questão ao
Conselho Federal de Educação (CFE) para que se definissem mudanças na formação de
pedagogos; que se discutissem a extinção ou não o curso; a formação geral ou especia-
lista desse curso; a formação mais teórica ou prática; o pedagogo como reprodutor ou
produtor de conhecimentos; dentre outros pontos.
Mas esse Seminário não conseguiu uma definição identitária para o curso.
Entretanto, foi de grande importância, pois fez com que a questão sobre a formação de
professores tivesse uma reflexão coletiva em nível nacional. Esse momento foi conside-
rado o início do movimento nacional de reformulação dos cursos de formação de educa-
dor, um movimento social que teve sua especificidade marcada pelas resistências as
mudanças impostas pelo CFE ao curso de Pedagogia.
Acerca do referido movimento iniciado no I Seminário, Libâneo (2010) diz que este
foi de grande influência para os cursos de formação que temos hoje. Porém, esse movi-
mento encontrou algumas dificuldades, como não ter uma base teórica suficiente ou
uma análise mais apurada, até mesmo pela própria legislação. Dessa forma, o autor relata
que ainda há problemas para se resolver, e que dessa forma é preciso continuar na busca
por soluções.
Na contínua busca por melhorias para a educação pública, básica e superior, bem
como para a formação de professores, a ANFOPE foi uma das entidades que muito cola-
borou muito para a elaboração da Resolução CNE/CP n. 01 de 2006 que trata do real
papel do pedagogo, sua formação e sobre onde e com qual público ele deve atuar. Apesar
do longo caminho que a Pedagogia ainda tem que percorrer em busca de sua identidade,
com explicou Libâneo (2010), esse documento foi um marco para o curso de Pedagogia.
Na referida Resolução de 2006, são abordados procedimentos a serem observados
no planejamento e avaliação dos cursos de Pedagogia, nos termos explicitados no Parecer
CNE/CP n. 5 de 2005, por exemplo, que versa sobre espaços escolares e não escolares de
atuação, indagando que “nesta perspectiva, a docência é compreendida como ação edu-
cativa e processo pedagógico, metódico e intencional, construído em relações sociais,
étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da
Pedagogia” (BRASIL, 2005 apud MACHADO, 2013, p. 43).
Antes da Resolução entrar em vigor, havia a Base Comum Nacional da qual surgi-
ram as diversas mudanças em se tratando da formação e atuação do pedagogo. Conforme
Brzezinski (1996, p. 201) essa formação e atuação “deve constituir-se dos seguintes ele-
mentos: formação inicial de qualidade; condições de trabalho dignas e formação conti-
nuada como direito do profissional e dever da agência contratante”. Sendo assim, pode-se
ter semelhanças de discussões nos eixos da ANFOPE que tratam de ambientes escolares,
incluindo o conhecimento da docência e não escolares nas demais áreas de atuação.
O Parecer CNE/CP n. 03 de 2006 foi questionado, pois em parecer anterior, o peda-
gogo só poderia ser gestor por meio de formação em curso de Pós-Graduação. Dessa
forma, após estudos com relatores, foi reconhecido que o pedagogo traz consigo a baga-
gem de gestor, sendo o único profissional com este viés reconhecido ainda na graduação,
ficando acordado que somente os demais licenciados que quisessem atuar como gesto-
res teriam que fazer uma pós-graduação. (BRASIL, 2006).
Deste modo, o pedagogo é formado para a docência ampliada, estando assim
assegurado pela Resolução CNE/CP n. 01 de 2006 que respalda sua formação e atuação
tanto nos ambientes escolares da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino
Fundamental, no ensino Médio, na modalidade Normal, na Educação Profissional,
Educação de Jovens e Adultos, quanto nos ambientes não escolares. O Artigo 5º define,
dentre outras coisas, que
Tanto no espaço escolar quanto fora dele, o pedagogo tem formação para o desem-
penho de conhecimentos pedagógicos de planejamento, coordenação, avaliação e acom-
panhamento tanto de atividades próprias da educação, como de projetos e experiências
educativas não-escolares (BRASIL, 2006). A referida Resolução também trata da produ-
ção de conhecimentos científico-tecnológicos do campo educacional em contextos esco-
lares e não-escolares enquanto atuação referendada pela formação do pedagogo.
Marx e Engels (1998, p. 10) afirmam que a burguesia não sobreviveria “sem revolucionar
os instrumentos de produção, portanto as relações de produção e, assim, o conjunto das
relações sociais”.
Curado Silva e Limonta (2014) dizem que o trabalho é ontológico e fator organiza-
dor da sociedade para a transformação de si e do outro e que é preciso compreender o
momento atual em que a classe trabalhadora está, a cada dia mais expropriada e explo-
rada por uma lógica liberal que tem exigido, no caso dos professores, uma nova forma-
ção inicial que tenha relação orgânica com o futuro local de trabalho, onde deverá ser
realizada a formação continuada. Partindo dessa lógica discutida pelas autoras, tem sido
completamente negligenciada a epistemologia na formação docente e a determinação
da Resolução CNE/CP n. 01 de 2006 e outras legislações no que tange à formação e às
possibilidades de atuação do pedagogo também em espaços não escolares.
As autoras pontuam ainda que a escola é um importante ambiente de formação,
mas não pode se tornar o preferencial ou único porque serão desconsideradas “as prin-
cipais características do trabalho docente, sua complexidade e sua importante função
social de formação para a cidadania que exigem, também, sólida formação teórica”
(CURADO SILVA; LIMONTA, 2014, p. 16). A formação de professores que considere os
conhecimentos teóricos aliados e imbricados à prática para que aqueles subsidiem a
compreensão desta, é discutida por Curado Silva (2017, p. 4) ao destacar a importância
da indissociabilidade entre teoria e prática, enquanto uma epistemologia da práxis que
busca estabelecer a relação entre a práxis e o conhecimento e, nessa ques-
tão, a perspectiva materialista-histórica tem muito a contribuir para o campo
pedagógico, principalmente no que tange à formação de professores, visto
que sua fundamentação é rica em elementos críticos ao que se pensa da rela-
ção teoria e prática.
Figura 2 – Roda de conversa sobre atuação dos pedagogos em espaços não escolares
5 Os CIRETRAN’s são unidades do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) nas cidades do interior dos esta-
dos e funcionam como delegacias regionais que atendem várias cidades por elas abrangidas e estão vinculadas
ao DETRAN daquele estado. Disponível em: https://guiadetranbrasil.blogspot.com/2017/09/detran-ciretran-di-
ferenca.html?m=1. Acesso em: 25 abr. 2019.
Para resolver a situação demonstrada nas Figuras 6 e 7, foi sugerido que haja uma
restruturação do espaço de atendimento com a separação dos gabinetes de trabalho por
seções específicas para cada demanda e que os armários sejam colocados em outra sala
ou que seja instalado, ao menos, um separador de ambientes. Foi observada também a
falta de segurança no local, a ausência de câmeras para resguardar tanto os funcionários
quanto o público de quaisquer crimes.
Foi sugerida a organização da sala dos arquivos para serem colocadas as caixas
armário distintos, etiquetadas separadas por data e tipo de documentos para que se tor-
nasse mais eficiente a busca e a própria guarda. Outra sugestão foi a de nomear um
único servidor responsável por essa sala de arquivos para a otimização do trabalho e do
atendimento ao público. As Figuras 8, 9 e 10 mostram como a sala de arquivos estava
para que as sugestões fossem apresentadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do
trabalho. São Paulo: Cortez, 2007.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BRZEZINSKI, Iria. Pedagogia, pedagogos e formação de professores: busca e movimento. Campinas:
Papirus, 1996.
BRASIL. Resolução CNE/CP n. 01/2006. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
Pedagogia, Licenciaturas. Diário Oficial da União (DOU), Poder Executivo, Brasília, DF, 15 de maio, 2006.
CURADO SILVA, Kátia Augusta Pinheiro Cordeiro; LIMONTA, Sandra Valéria. Formação de professores
em uma perspectiva crítico-emancipadora: a materialidade da utopia. In: CURADO SILVA, Kátia Augusta
Pinheiro Cordeiro; LIMONTA, Sandra Valéria. (Orgs.). Formação de professores na perspectiva crítica:
resistência e utopia. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014. p. 11-28.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2010.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. 3. ed. São Paulo: Global, 1988.
OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales. Algumas ideias força e ponto de tensão relacional em didática,
currículo e formação de professores. In: LIBÂNEO, José Carlos; SUANNO, Marilza Vanessa Rosa;
LIMONTA, Sandra Valéria (Org.). Qualidade da educação pública: políticas educacionais, didática e
formação de professores. Goiânia: Kelps, 2013. p. 131-149.
ALMEIDA, Renato Barros de ; MOHN, Rodrigo Fideles Fernandes; SOUZA, Rosiris Pereira de. Dimensão
ontológica do trabalho e trabalho docente no início da carreira: marcas singulares para professores
iniciantes e ingressantes. In: TEIXEIRA, Zenaide Dias; KOCHHANN, Andréa; PORTO, Marcelo Duarte
(Org.). Educação, Gestão e Tecnologias: caminhos entrelaçados. Curitiba: CRV, 2018. p. 113-127.
Andréa Kochhann
INTRODUÇÃO
[ 1066 ]
CURRICULARIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UNCISAL 1067
O autor deixa claro que a ruptura é grande e que precisa enfrentar algumas con-
tradições e realinhamento de ordem política, visto o percurso histórico das universida-
des brasileiras e as atividades extensionistas existentes, em atendimento ao capital.
Considera o que o FORPROEX (2012) defende no sentido das diretrizes das ações
extensionistas apresentarem a questão da formação cidadã dos estudantes calcada na
interdisciplinaridade e interprofissionalidade, nas mudanças a partir da produção do
conhecimento e interação com as questões complexas contemporâneas, indissociabili-
dade em um processo e com fins de curricularização.
Isso pode dificultar ou travar o avanço que a extensão universitária, a nosso ver,
precisa ter no sentido da concepção acadêmica, caso não se discuta e perceba os mean-
dros da redação. É preciso ser pensado até que ponto evento e curso são extensão ou
atividades complementares. Até que ponto prestação de serviço será compreendida
dentro do processo formativo extensionista de concepção acadêmica. O protagonismo
acadêmico denota a participação ativa em todo processo da atividade e não meramente
como ouvinte.
Essa questão provavelmente pode gerar uma certa instabilidade nos atuais currícu-
los, que em sua maioria, estão completos de carga horária teórica no turno em que o
aluno está matriculado, sendo necessário um repensar das atividades formativas e de
suas respectivas cargas horárias, o que fomenta pensar que sendo atividade obrigatória
será em contra turno como o estágio ou serão ofertadas as ações de extensão em dias
que a turma ficará livre, sem aulas, visto que a carga horária de ensino irá diminuir. Isso
leva a crer que a gestão dos cursos precisa articular suas turmas e seus horários, a fim de
quiçá deixar um dia livre para que possam ser ofertadas as ações de extensão.
Essas questões precisam ser pensadas, visto que é resguardado o direito do acadê-
mico escolher as ações de extensão a ser por ele desenvolvidas, o que também gera a
questão do curso e da instituição ofertar variadas ações e não somente uma única e obri-
gatória. Pois, a participação na extensão enquanto processo formativo e não meramente
complementar, precisa ser pensada de acordo com o perfil do egresso que se espera no
Projeto Pedagógico de Curso ou segundo a identidade que o estudante pretende compor
o seu perfil profissional.
Questiono também que a referida Resolução não expressou de maneira direta e
objetiva sobre a produção acadêmica-científica, apenas indiretamente. A Resolução
CNE/CES n. 07/2018 obriga as Instituições de Ensino Superior a reorganizarem seus currí-
culos e implementarem a extensão universitário no processo formativo de no mínimo 10
% dos créditos totais do curso, no prazo máximo de 3 anos, visto que o PNE (2014) já
anunciava essa obrigatoriedade para os currículos iniciados em 2015.
Figura 1 – Minicurso
Figura 7 – NDE’S
Outro grupo ficou responsável pela escrita do currículo dos cursos que ali repre-
sentavam e um rascunho de organização das matrizes contemplando os 10% da carga
horária de extensão universitária, conforme Figura 12.
Outro grupo ficou responsável pela elaboração do esquema das ações, bem como
pela elaboração de um modelo de acompanhamento, da avaliação e sistematização das
ações, conforme Figura 13.
Como já era previsto, a retomada das atividades seriam no mês no setembro, den-
tro do CACUN. Assim, foram organizadas várias atividades para serem realizadas conco-
mitantemente ao congresso, no sentido de avançarmos com as tratativas.
No dia 25 de setembro de 2019, das 8 h às 12 h, na sala da Pró-Reitoria de Graduação,
ocorreu uma reunião técnica sobre o cumprimento das demandas das Pró-Reitorias de
Graduação e Extensão, no tocante a análise de carga horária, distribuição das mesmas e
aprovação das Resoluções, bem como a forma de conduzir os processos a partir das refe-
ridas decisões, conforme Figura 14.
Como parte das atividades de curricularização das ações de extensão, se faz impor-
tante o momento de avaliação de projetos, sejam de pesquisa ou extensão, para pensar
o processo de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Assim, participamos
da comissão de avaliação de trabalhos de pesquisa e extensão, no dia 26 de setembro de
2019, das 16 h às 18 h, e debatemos com os acadêmicos além da teoria e metodologia,
mas também possibilidades de indissociabilidade, conforme Figura 18.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desse texto foi discutir sobre a curricularização e acreditação das ativi-
dades de extensão universitária considerando a Resolução CNE/CES n. 07 de 2018 e dis-
cutir sobre a pesquisa-ação realizada na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de
Alagoas, na cidade de Maceió, a qual passou a realizar mediante a preocupação com as
discussões de obrigatoriedade da extensão universitária no processo formativo, em aten-
dimento inicialmente a Meta 12.7 do PNE (2014-2024) e posteriormente em cumpri-
mento à Resolução supracitada.
A Resolução CNE/CES n. 07 de 2018 traz alguns elementos que necessitam ser pen-
sados para serem compreendidos e como consequência serem apresentados nos docu-
mentos da instituição e nos currículos dos cursos. Para tal uma agenda de ações a curto,
médio e longo prazo, se faz importante para que seja um processo pensado de mudança
e não somente instituído enquanto obrigatoriedade.
A UNCISAL tem se preocupado com essas questões e se adiantado nas discussões.
Um ponto positivo é que estamos avançando pouco a pouco em relação à participação
dos representantes da gestão das três Pró-Reitorias nas discussões. Outro ponto positivo
foi o envolvimento dos NDE’S nas discussões e início do processo de pensar um novo cur-
rículo para seus cursos, em que não haja a negligência com as disciplinas de fundamentos
de cada curso e nem deixe de atender as demais Resoluções, mas que a extensão univer-
sitária seja acreditada como componente curricular obrigatório e, principalmente, se
REFERÊNCIAS
BRASIL. Resolução CNE/CES n. 07, de 18 de dezembro de 2018. Estabelece as Diretrizes para a Extensão
na Educação Superior Brasileira e regimenta o disposto na Meta 12.7 da Lei nº 13.005/2014, que aprova
o Plano Nacional de Educação – PNE 2014-2024 e dá outras providências. Diário Oficial da União – DOU
nº 243, 19.12.2018, Seção 1, p. 49 e 50.
FORPROEX. Plano Nacional de Extensão Universitária. 2012. In:
http://www.utfpr.edu.br/estrutura-universitaria/pro-reitorias/prorec/diretoria-de-extensao/
documentos-da-extensao-de-ambito-nacional/politica-nacional-de-extensao-universitaria-
forproex-2012/view
PNE. Plano Nacional de Educação. 2014. In: http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_
metas.pdf
REIS, Renato Hilário dos. O currículo enquanto instrumento viabilizador da articulação Ensino, Pesquisa
e Extensão. In: Cadernos de Extensão Universitária. Ano 1. N. 4. Universidade Federal do Espírito
Santo, 1995.
Andréa Kochhann1
INTRODUÇÃO
1 Doutoranda em educação pela PUC-GO, Doutora em educação pela UnB, Mestre em Educação pela PUC-GO,
Especialista em Docência Universitária pela UEG, Pedagoga pela UEG. Docente da UEG. andreakochhann@
yahoo.com.br
[ 1085 ]
1086 Andréa Kochhann
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CURRICULARIZAÇÃO E ACREDITAÇÃO
DAS ATIVIDADES EXTENSIONISTAS:
dilemas na educação, compromissos políticos e pedagógicos
pesquisa, porque para sua construção é preciso não só mudança de consciência mas,
quiçá, de informação e/ou formação, bem como de acompanhamento e avaliação das
ações de forma permanente e que possa fomentar as mudanças e adequações ao que
uma ação extensionista pode oferecer na formação do estudante.
Na pesquisa de doutorado, ficou constatado mediante as análises, que um dos
motivos para as poucas produções e os limites emergidos, seja a não apropriação por
parte da universidade da extensão no processo formativo, o que pode à falta de com-
preensão da concepção e do sentido da extensão universitária enquanto práxis, acadê-
mica, processual e orgânica e/ou à falta de assumência por parte das instituições e dos
pares, especificamente nas possibilidades do processo formativo e, principalmente no
tocante a uma avaliação e acompanhamento das ações.
Com esse cenário é preciso discutir que a extensão universitária é considerada como
uma das funções das Instituições de Ensino Superior, relacionada à sua prática indissociável
com o ensino e a pesquisa. Apesar de ser vista por alguns como uma dimensão de menor
expressão dentro das universidades, ou da visão simplista da função de retorno à comuni-
dade não acadêmica na forma de oferta de programas e projetos, a extensão universitária
vem sendo realizada, principalmente nas instituições públicas, e carece de estudos que
relacionem essa dimensão ao tripé e à formação acadêmica, a qual pode gerar emancipa-
ção ou alienação, dependendo da concepção e sentido assumidos.
Parte-se do pressuposto de que a extensão universitária precisa ser compreendida
enquanto princípio educativo, pois o trabalho educativo ou pedagógico precisa ocorrer
nas atividades dos projetos de extensão, caso contrário se configura apenas como pres-
tação de serviço ou assistencialismo, como mera parte prática das atividades da univer-
sidade. Compactuando com essa questão, o conceito de extensão universitária segundo
o FORPROEX (2012, p. 15) “A Extensão Universitária, sob o princípio constitucional da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo interdisciplinar, edu-
cativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre
Universidade e outros setores da sociedade.”.
Entendemos que a extensão universitária no processo formativo pode vir a ser
para a manutenção ou emancipação das relações sociais, tornando-se, a nosso ver, um
importante elemento de análise. Nosso intuito é organizar o percurso de discussão sobre
a curricularrização da extensão universitária, valendo-nos das concepções, acompanha-
mento e avaliação no sentido dos pares, pois a curricularização enquanto
As dimensões partem do macro para o micro, de forma que todas dimensões pre-
cisam ocorrer primando pela efetivação das atividades, ou seja, é preciso pensar nas polí-
tica de gestão para elaborar o plano acadêmico, o qual deve ser assegurada pelas
questões de infraestrutura, pensando na relação universidade e sociedade, alcançando
um produto acadêmico. Portanto, as cinco dimensões são indissociáveis e precisam ser
efetivadas. Para tal precisam ser compreendidas. Além das concepções, diretrizes de
uma ação de extensão e as dimensões da extensão universitária é importante compreen-
der os critérios da concepção orgânico-processual nas atividades extensionistas práxis
crítico-emancipadoras, segundo Reis (1996) e o Ofício Circular 263/1994, segundo Quadro
2, são:
Critérios da concepção
Ofício circular 263/1994
processual-orgânica
Critérios da concepção
Ofício circular 263/1994
processual-orgânica
Compromisso
financiamento, permanência da ação e a disponibilidade do pessoal
institucional
definição política-filosófica, democratização e redistribuição do poder,
sentido que a instituição atribui às ações extensionistas, relação teoria-
prática, redimensionar conteúdos curriculares, modificar o conceito de aula
Possíveis decorrências
e sala de aula, conceito de currículo e sua decorrente operacionalização,
nas instituições
articulação das variadas instâncias gestoras e decisórias, financiamentos
das ações extensionistas e alocação de carga horária e ação para a
diversidade.
Fonte: Ofício Circular 263 (1994). Elaboração: Autora.
É necessário que uma ação extensionista seja pensada não somente para atender
a comunidade mas, principalmente para atender a formação do estudante, tanto que a
relevância acadêmica é o primeiro critério, somado a relevância que a ação terá para a
comunidade, bem como ser possível a realização das ações, partindo do compromisso da
instituição, pautada nas decorrências da mesma. Pensando nas concepções e diretrizes
de uma ação de extensão, nas dimensões da extensão universitária e nos critérios da
concepção orgânico-processual, apresentamos que é preciso avaliar as ações seguindo
elementos avaliativos do FORPROEX (2001) e Reis (1995), os quais devem aparecer de
forma explícita no escopo do projeto, que são:
• considerar a situação do contexto internacional e nacional-local para elaborar
uma ação extensionista com base na realidade concreta,
• avaliar a pesquisa, o ensino e a extensão de maneira orgânica e simultânea e
não de forma linear e fragmentada, percebendo no movimento a indissociabili-
dade, apesar de suas dificuldades,
• perceber a que interesses político-ideológicos a ação serve, se para a formação
docente ou o atendimento ao mercado neoliberal e quais serão as implicações
desses interesses no movimento formativo,
• analisar o processo democrático do poder da universidade, pois muitas vezes
ocorre a concentração de decisão nas mãos de alguns gestores que podem estar
distantes da realidade concreta e/ou o processo democrático ser meramente
camuflado e vigorar a uma sutil imposição de poder,
priori uma análise das questões históricas e culturais que fomentam a formação de con-
ceitos nos partícipes, para então, a organização didática do experimento, visando à modi-
ficação mental dos conceitos.
Por isso, o experimento didático-formativo, segundo Libâneo (2000, p. 5) “[...] pro-
cura caracterizar um método de pesquisa pedagógica essencialmente fundamentada na
teoria histórico-cultural”, que se apresenta como um processo de intervenção por parte
do pesquisador que atua de forma ativa do experimento, no intuito de perceber como
ocorrem as mudanças no processo cognitivo do aluno – no caso desse experimento –
como ocorrem as mudanças conceituais dos pares componentes do CIEXT sobre a temá-
tica e, por consequência, as mudanças de atitude pedagógica, em um processo
desenvolvimental.
Os pedagogos começam a compreender que a tarefa da escola contemporâ-
nea não consiste em dar às crianças uma soma de fatos conhecidos, mas em
ensiná-las a orientar-se independentemente na informação científica e em
qualquer outra. Isto significa que a escola deve ensinar os alunos a pensar,
quer dizer, desenvolver ativamente neles os fundamentos do pensamento
contemporâneo para o qual é necessário organizar um ensino que impul-
sione o desenvolvimento. Chamemos esse ensino de desenvolvimental
(DAVÍDOV, 1988, p. 3).
Destarte, nos valemos desse método para que pela comunicação do educador/
pesquisador com as crianças/docentes/gestores sejam efetivados o desenvolvimento das
capacidades dos mesmos com efetivas mudanças cognitivas/conceituais. Por isso, nossa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AQUINO, Orlando Fernández. O experimento didático-formativo: contribuições para a pesquisa em
didática desenvolvimental. EDUCERE, 2014. In: http://www.uece.br/endipe2014/ebooks/livro2/O%20
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na Educação Superior Brasileira e regimenta o disposto na Meta 12.7 da Lei nº 13.005/2014, que aprova
o Plano Nacional de Educação – PNE 2014-2024 e dá outras providências. Diário Oficial da União – DOU
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INTRODUÇÃO
[ 1101 ]
1102 Dayse de Oliveira; Nathalia Ramos; Priscila dos Santos; Shirleide Cruz; Solange Cardoso
do processo seletivo, professores que ofertarão vagas, etc; até as questões mais comple-
xas como a elaboração do projeto, o estudo da bibliografia sugerida, a prova escrita, a
entrevista, o preenchimento do currículo Lattes, dentre outros. Diante disso, achamos
oportuno formalizar essa prática que até então era informal para algo mais sistematizado
para que mais professores e estudantes pudessem receber essas orientações e até
mesmo despertar nas pessoas que acham a pós-graduação “uma possibilidade distante”,
algo possível. Assim, formalizamos as nossas dicas e orientações em uma oficina que
engloba todas as etapas do processo seletivo. A nosso ver, tal proposta se configura
abrangente e para além de um seleto grupo e tem uma proposta acessível e com uma
configuração do que acreditamos ser a extensão universitária.
Como metodologia optamos pelo levantamento bibliográfico para fundamentar
nosso referencial teórico. E para compreender o papel da extensão universitária a partir
da visão dos cursistas foi aplicado um questionário com perguntas abertas buscando
aprofundar a compreensão sobre a relação universidade e escola. O questionário,
segundo Gil (2010, p. 128), pode ser definido “como a técnica de investigação composta
por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pes-
soas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses,
expectativas, situações vivenciadas etc.”. Assim, nas questões de cunho empírico, o ques-
tionário foi utilizado para coletar as informações da realidade.
Para compreender as relações que incidem sobre a extensão universitária, discuti-
remos inicialmente, a partir do levantamento bibliográfico, como o campo do conheci-
mento tem compreendido essa relação entre universidade e escola.
Pensar essa relação e promover ações que aproximem essas duas instituições
de ensino (escola e universidade) é uma possibilidade de superar o distanciamento
promovido historicamente, em que a Universidade se constitua como um lugar ele-
vado da sociedade.
Ao contrário do estágio supervisionado ou outras práticas de ensino que se colo-
cam apenas como espaço de aplicação de conhecimento ou reprodução de conhecimen-
tos adquiridos anteriormente, a extensão universitária se apresenta como uma prática
de ensino, que além de promover a troca de saberes ainda possibilita a construção e pro-
dução de novos conhecimentos. E é ainda um espaço vasto de aprendizagem e possibili-
dades de práticas de ensino em diversas áreas do conhecimento que busca promover a
unidade teoria e prática e articular ensino e pesquisa.
Contudo, ressaltamos que nem toda ação ou projeto de extensão é capaz de pro-
mover esse movimento de interrelação e produção de conhecimento. Pois, de acordo
com Reis (1996, 1993), historicamente, no Brasil, a extensão vem apresentando duas ver-
tentes básicas, a primeira seria a eventista – inorgânica, que está centrada na realização
de eventos e prestação de serviços, não se relacionando com o processo de ensino-
-aprendizagem e a produção de conhecimento. Nesta linha as atividades se organizam
pela difusão de conhecimento (palestras, cursos, seminários, etc.), difusão de cultura
(apresentação de orquestras, peças de teatro, corais e outros) e prestação de serviços
(assistência jurídica, técnica, educacional, etc.). A segunda vertente se denomina proces-
sual orgânica, e se caracteriza por desenvolver ações de caráter permanente, que são
inerentes ao processo formativo e a produção do conhecimento, ou seja, esta linha da
extensão relaciona o ensino e a pesquisa, dentro de uma parceria político-pedagógica
com a sociedade.
Nos ancoramos na vertente processual orgânica e adotamos como conceito de
extensão a concepção apresentada no I Encontro de Pró-reitores de Extensão das
6 O Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX) emite documentos em
seus encontros. Neste trabalho trazemos trechos da Política Nacional de Extensão Universitária e o conceito de
extensão apresentada no I Encontro de Pró-reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, reali-
zado por este fórum.
Quadro 1 – Quadro sobre as diferentes etapas do processo seletivo PPGE/FE/UnB em cada edital
Outra questão foi esclarecer os períodos que são abertos os editais, marcando
dois momentos diferentes dirigidos ao mestrado acadêmico e profissional e ao douto-
rado acadêmico.
O segundo ponto apresentou as sete linhas de pesquisa do programa, bem como
os pré-requisitos para o ingresso como aluno regular, que vão desde a exigência da
segunda língua para mestrado e terceira para doutorado até a compreensão de todos
os passos determinados no edital. Das linhas de pesquisas em educação foram citadas:
Políticas públicas e gestão da educação (POGE), Escola, aprendizagem, ação pedagó-
gica e subjetividade na educação (EAPS), Profissão docente, currículo e avaliação
(PDCA), Educação em ciências matemática (ECMA), Educação, tecnologias e comunica-
ção (ETEC), Educação ambiental e educação do campo (EAEC), Estudos comparados em
educação (ECOE), as quais ofertam as vagas que são diluídas em cada uma delas. E que
devem ser considerados os diferentes objetos de análise das pesquisas. Ainda foi sina-
lizada a necessidade de busca dos professores credenciados no programa e estudo dos
respectivos currículos para que se estabeleça o desenvolvimento assertivo dos proje-
tos a serem submetidos, tendo em vista a especificidade do olhar sobre os objetos em
cada área do conhecimento.
As orientações sobre o ingresso também consideraram as diversas formas de par-
ticipação na universidade, buscando a vivência e conhecimento através dos espaços for-
mativos tendo em vista o seu caráter público. Foram expostas as possibilidades que
guardam a dimensão extensionista como pilar processual e orgânico dessa instituição
escolar, objetivando a pesquisa na sociedade e por seus sujeitos. Dos espaços que possi-
bilitam essa formação permanente e aproximação com os debates relevantes ao
momento histórico, estão os grupos de pesquisa vinculados às suas respectivas linhas; as
A PESQUISA
práxis como atividade conscientemente orientada, que ocorre de forma criativa, no qual
o homem cria/transforma e se transforma ao mesmo tempo, é possível pensar que a
compreensão da relação teoria e prática, constituindo uma práxis que transforma o tra-
balho pedagógico se alinha a essa compressão de práxis apontada por aquele autor.
Na segunda temática de maior recorrência na fala dos professores, que se refere a
aquisição de conhecimentos, temos as seguintes respostas: unir os dois ambientes de
modo que ambos agreguem conhecimento; de suma importância, pois desta forma
oportuniza os educadores se apropriar de conhecimentos antes inexistentes; relação de
troca de conhecimentos, a universidade se desenvolvendo junto a escola; é uma rela-
ção direta e de dependência, indispensável para o progresso da humanidade; muito
importante para basear o trabalho e trazer informações para o universo acadêmico.
As atividades e projetos de extensão universitária reforçam a relação entre
Universidade e escola, na tentativa de aproximação e superação do distanciamento pro-
movido historicamente, em que a Universidade se constituiria como um espaço elevado
da sociedade. As respostas destacadas refletem esse movimento de interlocução e inter-
dependência entre os níveis de educação, no qual a produção do conhecimento se daria
na relação estabelecida entre os espaços, em que ambos contribuiriam igualmente.
Dessa forma as universidades ao buscarem uma nova produção do conhecimento
precisam “estar vinculadas às escolas, buscando a superação junto a elas através da prá-
xis” (CURADO SILVA, 2005, p. 12). Através dessa articulação mais próxima, algo que não
ocorre hoje com uma completude satisfatória, possivelmente acabe ou diminua esse dis-
tanciamento relatado por alguns professores, pois escola e universidade estariam se
retroalimentando a partir de uma unidade entre teoria e prática, constituindo uma prá-
xis. A extensão universitária nessa perspectiva seria um espaço articulador entre escola
e universidade.
Embora tenhamos algumas respostas que reflitam a articulação entre os níveis de
ensino, essa não é uma percepção de todos, alguns professores pontuam para a falta de
articulação entre ambos os espaços, como: “distante. Os mestres e doutores precisam
estar mais próximos do lócus da escola (docentes, discentes e outros)”; “sinceramente,
não sei expor, porque nunca tive contato dentro da Secretaria com essa relação”.
Com o objetivo de analisar os conceitos de extensão formulados pelos cursistas
temos a integração da universidade e a sociedade sendo pensada como interligação, neces-
sária, útil e diferenciada; como uma relação direta entre universidade e comunidade/
sociedade; como oportunidade de expansão de mentes, lugares, desejos, sonhos e sua
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos, então que a relação Universidade-escola foi considerada pelos sujeitos par-
ticipantes da pesquisa como um espaço de construção de uma relação teoria e prática
promovedora da transformação da organização do trabalho pedagógico muito próxima
da linha de pensamento de Vazquez (2011) que reconhece a práxis como condensadora
da unidade teoria-prática enquanto ato intencional e situado social e historicamente. Foi
vista ainda como um espaço-tempo de construção e trocas de conhecimentos. Embora
ainda apareçam indicações de distanciamento e uma visão unilateral de produção de
conhecimento, dando-se primazia à universidade nesse contexto.
Em relação ao conceito de extensão as respostas se associam a concepção proces-
sual orgânica e endossam uma parceria política-pedagógica com a sociedade na produ-
ção de conhecimentos em seus diferentes espaços e seus sujeitos participantes. Contudo,
a ideia de prestação de serviço pareceu não estar de todo esquecida devendo, desta
maneira, ser sempre questionada.
Acreditamos que realizamos um primeiro movimento de análise que pode ser apro-
fundado quando avançarmos em outros processos de acompanhamento dos sujeitos
que vivenciaram oficina, caso venham a ser aprovados nos cursos de a formação stricto
sensu que porventura pleitearem, e assim percebemos movimentos de retroalimentação
da extensão em seus percursos formativos o os sentidos de extensão construídos.
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VAZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da Práxis. São Paulo. Expressão Popular, 2º Edição, 2011.
INTRODUÇÃO
1 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade de Brasília. Pesquisa sobre Ciclo de vida profissional
docente e Extensionista no projeto “Círculos Formativos com Professores Iniciantes/Ingressantes. ancamon-
teiro@me.com
2 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade de Brasília. Pesquisa sobre Ciclo de vida profissional
docente e Extensionista no projeto “Círculos Formativos com Professores Iniciantes/Ingressantes. emanoelagal-
vao@gmail.com
3 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade de Brasília. Extensionista no projeto “Círculos Formativos
com Professores Iniciantes/Ingressantes. jvc_1109@yahoo.com.br
4 Professora Doutora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. anasheila.costa@gmail.com
5 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade de Brasília. Pesquisa sobre Ciclo de vida profissional
docente e Extensionista no projeto “Círculos Formativos com Professores Iniciantes/Ingressantes. ericaenpm@
gmail.com
6 Esse projeto está cadastrado no Sistema de Extensão (Siex) da Universidade de Brasília e é desenvolvido como
disciplina obrigatória (Projetos 3.1 e 3.2) e optativa (Projeto 3.3), de acordo com o Projeto Acadêmico do curso
de Pedagogia (2002) da UnB.
[ 1114 ]
A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA ENQUANTO PRÁTICA DE ENSINO 1115
Ingressantes”, que foi concebido para estar em diálogo com professores em atuação na
Educação Básica.
Em se tratando de extensão universitária, o referido projeto a posiciona como uma
dimensão mútua e dialógica, que possibilita a construção de conhecimento conjunta,
contrapondo-se à noção de extensão eventista-inorgânica que posiciona o “locus” do
saber (REIS, 1996) na Universidade. Isso posto, considera-se a extensão como uma ativi-
dade que vai além da prestação de serviços, que possibilita o desenvolvimento de ações
flexíveis e coerentes com as realidades e demandas sociais.
A Universidade de Brasília é “uma universidade transformadora, com a missão de
produzir, integrar e divulgar conhecimento, formando cidadãos comprometidos com a
ética, a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável”7. No artigo 4º inciso II
do seu estatuto (2011) estão dispostos os três pilares que sustentam a organização e o
desenvolvimento das atividades universitárias:
a Universidade organiza e desenvolve suas atividades em conformidade com
o princípio de liberdade de ensino, pesquisa e extensão e de difusão e socia-
lização do saber, sem discriminação de qualquer natureza. (UNIVERSIDADE
DE BRASÍLIA, 2011, p. 25).
Tendo os três alicerces como base para mediação da transformação social, ressal-
ta-se, neste trabalho, o papel da extensão universitária no desenvolvimento de práticas
e processos de ensino-aprendizagem. Os artigos 54 e 55 do Estatuto e Regulamento
Geral da Universidade de Brasília (2011) tratam de forma específica da extensão e colo-
cam como objetivo dessa
intensificar relações transformadoras entre a Universidade e a sociedade,
por meio de processo educativo, cultural e científico e que cabe à Universidade
assegurar o desenvolvimento dos programas e projetos de extensão e con-
signar em seu orçamento recursos para esse fim. (UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA, 2011, p. 25).
8 A coordenação pedagógica é um espaço tempo de trabalho coletivo remunerado e com carga horária dentro da
jornada de trabalho, assegurada pela lei 12.796/2013, especificamente no artigo 62-A a garantia da formação con-
tinuada no espaço de trabalho. pela resolução n°02/2015 do Conselho Nacional de Educação (COSTA et al., 2019).
tinham dificuldade de gerir o tempo dentro da sala de aula, perpassando pelo planeja-
mento, ou pela falta desse, o sentimento de culpa e frustração quando não conseguem
cumprir o proposto. O motivo principal, segundo as professoras, que gerava tanta dificul-
dade é a quantidade de conteúdo a ser cumprido ao longo do ano. Além disso, ressalta-
ram as distrações dentro da sala de aula, a conversa paralela e a indisciplina dos alunos
como fatores que contribuem para a não concretização do planejamento.
Entretanto, levantaram uma questão acerca do tempo “perdido” quando os alu-
nos se interessam pelo conteúdo e querem compartilhar suas vivências: “É um momento
que foge da programação, mas é um momento construtivo [...] É um tempo precioso,
porque é sobre a prática social do aluno e também é um conhecimento válido”
(PROFESSORA 01).
Em seguida, tivemos a palestra da especialista convidada. De início, ela apresen-
tou dados para contextualizar a aula, relacionando o cenário atual da educação (taxas
de evasão e analfabetismo) com o tempo em sala que é desperdiçado ou mal geren-
ciado. Ela ressaltou o caráter intencional da aula, que deve sempre ser uma ação pla-
nejada, preparada e organizada de forma colaborativa. A questão da cooperação e do
coletivo como forma de planejamento e organização foi enfatizada em diversos
momentos ao longo de sua fala.
Finalizando-se a exposição oral da professora, foi aberta a palavra para a turma,
propondo-se um debate sobre os tópicos trabalhados. O motivo encontrado pelo grupo
para um baixo rendimento nas aulas foi que antes o professor tinha um papel de trans-
missor e o aluno, receptor, porém, atualmente há o conceito de professor eficiente e
aluno como também produtor de conhecimento, um aluno que pensa e dá significado ao
que aprende e “pensar leva tempo”.
Além disso, houve muitos relatos demonstrando preocupação com o cumpri-
mento de documentos oficiais, como o Projeto Político Pedagógico e o Currículo em
Movimento da Educação Básica do Distrito Federal9, devido às diferentes realidades e
planejamentos. As professoras relataram, também, que o planejamento não é geral
para a sala, então para uma turma única às vezes elas precisavam fazer diversos plane-
jamentos diferentes.
Análise
Percebe-se que as diferentes vivências dos dois grupos de professores fizeram com
que os debates, apesar de muitas vezes tratarem sobre o mesmo assunto, demonstras-
sem que as possibilidades e desafios fossem muito distintos. O grupo de iniciantes tem
interesse nesse tema devido às características de descoberta e pelo conhecimento pré-
vio que não necessariamente consegue ser aplicado no cotidiano escolar. Já o grupo de
professores experientes demonstrou dificuldades relacionadas mais ao cansaço, à sensa-
ção de ter pouco tempo para si. Reitera-se, portanto, que
A carreira docente é uma trajetória marcada historicamente, contextual-
mente vivenciada e construída no trabalho e pelo trabalho. Essa movimenta-
ção é marcada por etapas que apresentam características específicas, de
Pôde-se perceber, além disso, uma segurança e participação mais intensa no grupo
de professores experientes, bem como uma maior interação entre os pares, tanto durante
o encontro quanto em relatos de tarefas cotidianas. O coletivo foi ressaltado em ambos
os encontros como potencializador de um tempo organizado, porém, em um deles foi
colocado como possibilidade e no outro, uma ação mais próxima da realidade.
Segundo Cruz (2017) a relação entre o professor iniciante e seus pares pode ser um
elemento facilitador (ou dificultador) da afirmação da profissionalidade. Então, reitera-se
a necessidade de uma prática condizente com a realidade social na qual esse profissional
está inserido. O conhecimento é fruto da existência social dos sujeitos e, dessa forma, a
construção deve ser contextualizada e intencional, buscando reflexões acerca da reali-
dade com o objetivo de modificar a ação social (GASPARIN, 2015).
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INTRODUÇÃO
[ 1130 ]
É PELA VIA DA LINGUAGEM QUE EU HEI DE EXPRESSAR 1131
Logo, podemos afirmar que as vivências do sujeito em sua formação, com as múl-
tiplas linguagens abrangem imensas possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento,
podendo assim, ampliar a constituição das relações sociais do mesmo desde a infância.
Por meio desse entendimento, ressaltamos que nossa pesquisa será norteada pelo
método dialético. Como afirma Minayo (2012, p. 24), o método dialético pode ser defi-
nido da seguinte forma, “a dialética trabalha com a valorização das quantidades e da qua-
lidade, com as contradições intrínsecas às ações e realizações humanas, e como o
movimento perene entre parte e todo e exterioridade dos fenômenos”. A pesquisa de
campo é empregada com a finalidade de adquirir informações sob um problema, que nos
norteia na busca de uma resposta ou de uma hipótese.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim sendo, com base nos estudos em Vygotsky e em nosso Projeto de Estudo,
Investigação e Mediação Pedagógica, compreendemos que a linguagem é essencial-
mente um signo mediador e transformador, que contribui ativamente para do desenvol-
vimento cognitivo e social das crianças em instituições de educação infantil. Portanto, a
linguagem configura-se como uma forma de interação, e que viabiliza por meio da prá-
tica pedagógica a interação social.
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INTRODUÇÃO
Os alunos de hoje são bem diferentes dos da antiguidade, uma vez que fazem parte
da geração que nasceu na transposição da era analógica para a era digital; um grupo
humano que têm facilidade para lidar com toda essa tecnologia; estão sendo acostuma-
dos a receber informações de maneira rápida, preferem hipertextos e a internet, a pla-
nos cartesianos, tradicionais e métodos infrutíferos; preferem prints de telas do que a
utilização dos materiais escolares, muitas vezes. Por isso, este novo tempo tecnológico e
multimidiático precisa também de instituições educacionais que se voltem para as tecno-
logias digitais de informação e comunicação (TDIC’s) com uma nova percepção. (SOARES,
et al., 2018).
1 Licenciado em Normal Superior pela UniMB. Pedagogo pela Faculdade Alfa América. Licenciado em Letras pela
FAERPI. Especialização em Docência Universitária pela UEG (Universidade Estadual de Goiás). Especialização em
Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade Brasileira de Educação e Cultura (FABEC). Integrante do
GEFOPI – Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade da UEG – Campus São Luís de
Montes Belos, Goiás. Professor do Curso de Pedagogia da Faculdade Delta em São Luís de Montes Belos. E-mail:
profviniciusfagundes@gmail.com.
2 Doutora em Educação pela UnB, Mestre em Educação pela PUC/GO, Especialista em Docência Universitária pela
UEG, Pedagoga pela UEG, Coordenadora do GEFOPI – Grupo de Estudos em Formação de Professores e Inter-
disciplinaridade, Integrante de GEPFAPE-Grupo de Estudos e Pesquisa em Formação e Atuação de Professores/
Pedagogos, Representante do Estado de Goiás na ANFOPE, Dedicação Exclusiva na Universidade Estadual de
Goiás, Câmpus São Luís de Montes Belos.
[ 1139 ]
1140 Vinícius Fagundes dos Santos; Andréa Kochhann Machado de Moraes
Este texto foi elaborado com base nos teóricos concernentes à temática, emba-
sado nos trabalhos do estado do conhecimento e na análise empírica da “Oficina
Letramento Digital, Educação e mídias nos anos iniciais do Ensino Fundamental”, do Curso
“FORM-AÇÃO: Encontro de Formação de Professores”, oferecida pelo GEFOPI – Grupo de
estudo e formação de professores e interdisciplinaridade, ligado à Universidade Estadual
de Goiás, Campus São Luís de Montes Belos, aos professores do 4º e 5º anos do Ensino
Fundamental da Rede Pública Municipal de São Luís de Montes Belos.
Diante do exposto, buscou-se oferecer aos professores da Rede Pública Municipal de
São Luís de Montes Belos que estavam participando, alguns apontamentos, conhecimen-
tos específicos e experiências empíricas sobre a utilização das TDIC’s e demais multimeios
tecnológicos que podem ser inseridos na prática docente, a fim de promover a ampliação
dos conhecimentos científicos, curriculares, formação didática e melhoria do desenvolvi-
mento da aprendizagem por parte dos alunos. O curso buscou conceber as TDIC’s não
somente como instrumentos didático-metodológicos na prática docente, mas também
como meio facilitador da propagação do conhecimento científico, incentivador da criativi-
dade no processo de ensino e aprendizagem e como ferramenta humanizadora na docên-
cia, proporcionando a reflexão sobre as multifaces do homem pelo viés da complexidade.
Para tanto, a problemática apresentada neste texto é compreender como a prática
docente pode vir a ser transdisciplinar valendo-se de multimeios tecnológicos e de meto-
dologias criativas para promover o desenvolvimento da aprendizagem? Nesta ótica, o
objetivo geral é apresentar fundamentos que comprovam como a prática docente pode
vir a ser transdisciplinar valendo-se de multimeios tecnológicos e de metodologias criati-
vas para promover o desenvolvimento da aprendizagem. Os objetivos específicos são: a)
Abordar teoricamente como a transdisciplinaridade pode estar presente na práxis
docente, embasando-se em autores que atuam com as temáticas. b) Apresentar concep-
ções da utilização das TDIC’s na prática docente, relacionando-as com os resultados da
Oficina Letramento Digital, educação e mídias nos anos iniciais do Ensino Fundamental I,
oferecido aos professores integrantes. c) Refletir sobre a atual situação docente frente às
mídias, conhecendo suas resistências e práxis. d) Promover a dialética entre a práxis,
metodologias criativas e transdisciplinaridade.
METODOLOGIA
Para a elaboração deste artigo e como base empírica para a elaboração deste
texto, foram analisadas as ações práticas, formativas e colaborativas que o GEFOPI
RESULTADOS E DISCUSSÕES
encarada como um escape para as tradicionais práticas de ensino utilizadas ainda, atual-
mente. Com o desenvolvimento das mais diversas tecnologias, inúmeros benefícios
oriundos dessas invenções foram trazidos à tona, para facilitar algum processo, seja ele
industrial ou ideológico. Mas é inegável que as tecnologias trouxeram melhoramentos
nos mais diversos projetos e situações. As tecnologias são diversificadas em casa época.
Kenski (2018, p. 2) advoga que
As tecnologias existentes em cada época, disponíveis para utilização por
determinado grupo social, transformaram radicalmente as suas formas de
organização social, a comunicação, a cultura e a própria aprendizagem.
Novos valores foram definidos e novos comportamentos precisaram ser
aprendidos para que as pessoas se adequassem à nova realidade social viven-
ciada a partir do uso intenso de determinado tipo de tecnologia.
p. 56-57). Para ela, as causas são inúmeras, uma vez que, não é por incompetência ou
também por má vontade dos profissionais da educação que estão envolvidos no trabalho
docente, mas é importante também citar a falta de conhecimento dos professores para
o melhor uso pedagógico dessa tecnologia, seja ela inovadora ou também tecnologias
mais antigas, bem como a falta de formação e capacitação durante o período de forma-
ção acadêmica.
É relevante ressaltar que, boa parte dos cursos de formação de professores não
tem em suas matrizes curriculares de ensino, um programa real de formação e capacita-
ção para utilização dos multimeios tecnológicos. As instituições acadêmicas, mesmo
cientes da modernização das ferramentas e instrumentos midiáticos, são precárias no
ensino dos novos professores. Uma vez que, faz parte do programa didático e curricular
do professor, capacitar-se por meio de cursos e também pela práxis, com o intuito de
conhecer ainda mais o que essas tecnologias podem promover no ambiente de ensino.
Mesmo com a falta de formação específica para os professores atuais, é necessá-
rio compreender a importância da tecnologia para o processo de ensino e de aprendi-
zagem nas unidades escolares atuais. Moran, Masetto e Behrens (2000, p. 10) advogam
que a “tecnologia apresenta-se como meio para colaborar no processo de aprendiza-
gem. Ela tem sua importância apenas como instrumento para favorecer a aprendiza-
gem de alguém.”
Os autores afirmam que “não é a tecnologia que vai resolver o problema
Educacional do Brasil”, mas que ela pode ser de grande valia se for utilizada de forma
correta e adequada, com os objetivos específicos bem traçados, formação e capacita-
ção profissional adequada, ambientes educacionais tecnológicos e informatizados dis-
poníveis e, acima desses elementos, tendo também o professor como mediador de
todo este processo, objetivando também o trabalho didático transdisciplinar. (MORAN;
MASETTO; BEHRENS, 2000, p. 10).
Mas o que torna o trabalho transdisciplinar? Suanno (2014, p. 1576) atesta que
Para tanto, esse curso veio de encontro com a necessidade de todos os professores
que estão inseridos no programa curricular das disciplinas do 4º e 5º ano do ensino fun-
damental do Município de São Luís de Montes Belos. Como temática principal, este curso
teve como intuito, incentivar os professores partícipes a utilizarem com mais frequência
os meios tecnológicos que estão presentes em suas escolas, como computador, aparelho
de data show, conexão com a internet, smartphones, televisores e caixas acústicas, para
deixar em suas aulas mais atrativas, criativas e também transdisciplinares; não deixando
para trás os conteúdos do currículo e também os projetos contidos no Projeto Político
Pedagógico das instituições de ensino.
Para a introdução da Oficina Letramento digital foi apresentada a ementa que tinha
como intuito: a) Refletir sobre o papel das tecnologias digitais de informação e comuni-
cação e suas definições na educação; b) Compreender a importância da gestão dos meios
tecnológicos em benefício a prática Educacional; c) Promover conceitos relevantes sobre
a utilização das diversas ferramentas pedagógicas na prática cotidiana do professor; d)
Apresentar maneiras transdisciplinares para a promoção pensamento científico e com-
plexo por meio da utilização das tecnologias educacionais e concluiu com a parte prática
do curso, conhecendo diversos meios tecnológicos como o computador e seus dispositi-
vos periféricos, programas facilitadores e editores, os múltiplos cabos e entradas dos
Fazenda (2008) afirma que essa definição, como se pode constatar supracitada-
mente, é bastante abrangente, para tanto não é suficiente para dar embasamento e fun-
damento às práticas interdisciplinares nem para pensar-se uma formação interdisciplinar
de professores. A interdisciplinaridade vai além da mesclagem de duas ou mais discipli-
nas, constituindo-se uma relação intrínseca entre o currículo, o ensino e a temática trans-
versal que permeia a realidade do alunado.
Ter uma prática interdisciplinar é também abordar conteúdos similares dentro de
matrizes curriculares, mas é também propor momentos dialéticos que partam para a
transdisciplinaridade que pode ser concebida etimologicamente pela concepção do pre-
fixo “trans que corresponde ao que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através
das diferentes disciplinas e além de todas as disciplinas, remetendo também à ideia de
transcendência.” (NICOLESCU, 2002, p. 9).
Para o autor, a Transdisciplinaridade é uma nova postura diante do conheci-
mento, é a assimilação de uma cultura, compreensão do ser que estar por detrás desta,
é uma arte, no sentido da capacidade de articular a multirreferencialidade e a multidi-
mensionalidade do ser humano e do mundo, podendo enxergá-lo e concebêlo como
um ser multifacetado, dotado de capacidades múltiplas, referenciais sociais, políticos,
filosóficos, humanos e ecoformativos. Ela implica numa postura sensível, intelectual e
transcendental perante si mesmo e perante o mundo, e ciente de que o homem é
Em seus estudos, Moran (1997, p. 4) advoga que “ensinar utilizando a Internet pres-
supõe uma atitude do professor diferente da convencional.” O docente não partirá de
conceitos cartesianos e meramente burocráticos em sua forma de ensinar. Não utilizará
de métodos infrutíferos que não avaliam e observam a realidade dos alunos. Ele optará
por uma prática transdisciplinar que pensa no aluno com um ser complexo, como um
todo. “O professor não é o “informador”, o que centraliza a informação”, aquele que,
segundo as teorias tradicionais, detém todo o conhecimento, tendo o aluno como uma
tábua rasa. “O professor é o coordenador do processo, o responsável na sala de aula.” A
ele é incumbida a missão de atuar de forma responsável, dinâmica e criativa, para assim
poder alcançar êxito no processo de ensino e de promoção da autonomia.
Umas das primeiras atividades didáticas do professor, segundo Moran (1997, p. 6)
“é sensibilizar os alunos, motivá-los para a importância da matéria, mostrando entu-
siasmo, ligação da matéria com os interesses dos alunos, com a totalidade da habilitação
escolhida.” É trabalhar de forma transcendente, colocando e ofertando significados aos
alunos; trazendo suas realidades como exemplos para situações-problemas matemáti-
cos, textos da Língua Portuguesa, situações político-sociais em Geografia e História, con-
textualizando de forma real para que o ensino torne-se verdadeiro, partindo assim para
a transdisciplinaridade.
Para tanto, é possível atuar de forma dinâmica e transdisciplinar em ambiente de
ensino formal, valendo-se de multimeios tecnológicos e das TDIC’s como instrumentos
facilitadores. Entretanto, é preciso planejar as ações didáticas, uma vez que “o planeja-
mento é um meio para programar as ações docentes, mas é também um momento de
pesquisa e reflexão intimamente ligado à avaliação”, para que tais ações, após planejadas
sejam executadas primando o ensino de qualidade, compreendendo o aluno como ser
complexo e dotado de conhecimentos que podem colaborar e aliar-se com os currículos
da escola. (LIBÂNEO, 2013, p. 1).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegou-se a conclusão para o momento que ainda há muito que se fazer para
inserir as tecnologias no ambiente educativo. Desde políticas públicas de incentivo à
formação específica do professor que deseja ter os conhecimentos necessários para o
manuseio dessas tecnologias, até a automatização e instalação de instrumentos multi-
midiáticos nas unidades escolares. Em São Luís de Montes Belos, cidade locus da ofi-
cina analisada, a Secretaria Municipal de Educação e Prefeitura Municipal tem adquirido
lousas digitais, aparelhos projetores, computadores, salas 3D, com o intuído de apri-
morar o ensino e o incentivo ao professor, chegando os resultados até o alunado, que
deve ser o maior beneficiado.
Para tanto, concluímos para o momento que a prática transdisciplinar pode ser
efetivada por meio da utilização das TDIC’s em sala de aula, pelo viés das metodologias
criativas, promovendo a transcendência dos conteúdos curriculares, partindo para trans-
formações intensas e verdadeiras na realidade dos alunos que têm a presença de profes-
sores que manuseiam bem tais instrumentos. Uma didática transdisciplinar pode ser
verdadeira e efetiva quando utilizada corretamente, com instrumentos medidores dispo-
níveis e com o devido planejamento, organizando ações e práticas que servirão de cami-
nhos para o sucesso.
REFERÊNCIAS
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universitários: Inovações Epistemológicas e Tecnológicas para ensinar e para aprender. 2014.
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MORAN, José Manuel. Como utilizar a internet na educação? 1997. Relatos de experiências. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19651997000200006. Acesso em:
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SOARES, Deyse Mara Romualdo; TELES, Gabriela; SENA, Thayana Brunna Queiroz Lima; LOUREIRO,
Robson Carlos; LIMA, Luciana de. As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICS)
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VIEIRA, Márcia de Freitas. Efetivação do uso de Tecnologias na Educação: Desafios na formação de
recursos humanos. 2011. Universidade Aberta de Portugal. Disponível em: https://www.academia.
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recursos_humanos. Acesso em: 29 set. 2009.
INTRODUÇÃO
A cada dia o ambiente educacional, seja ele em que esfera for, tem se carregado de
instrumentos metodológicos e didáticos que estão se tornando meios facilitadores da
relação entre o conhecimento científico e a formação acadêmica. Meios estes que são
eixos integradores, conectando o conhecimento científico ao empírico, práticas mera-
mente expositivas em ambientes dialógicos, promovendo assim a abertura para a eman-
cipação da criatividade dos aprendentes.
Para tanto, é preciso refletir sobre a prática docente para também refletir sobre os
seus resultados e assim, poder acrescentar instrumentos metodológicos criativos que
facilitem a promoção da aprendizagem científica, curricular e sistemática. É preciso reco-
nhecer o ensino diferenciando-o da educação. Moran, Masetto e Behrens (2000) corro-
boram neste parecer, apontando que “ensino e educação são conceitos diferentes. O
ensino destina-se a ajudar os alunos a compreender áreas específicas do conhecimento
1 Licenciado em Normal Superior pela UniMB. Pedagogo pela Faculdade Alfa América. Licenciado em Letras pela
FAERPI. Especialização em Docência Universitária pela UEG (Universidade Estadual de Goiás). Especialização em
Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade Brasileira de Educação e Cultura (FABEC). Integrante do
GEFOPI – Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade da UEG – Campus São Luís de
Montes Belos, Goiás. Professor do Curso de Pedagogia da Faculdade Delta em São Luís de Montes Belos. E-mail:
profviniciusfagundes@gmail.com.
[ 1153 ]
1154 Vinícius Fagundes dos Santos
METODOLOGIA
DISCUSSÃO E RESULTADOS
conteúdo sobre e para a vida, que trabalhe para além das disciplinas e per-
ceba a relação do humano com todas as áreas da esfera educacional, social,
ecológica e planetária, que atenda às necessidades de formação de um cida-
dão transformador de sua realidade (SUANNO, 2016, p. 82).
ser social, cultural ou científico. Tais práticas podem trazer sensibilidade, criatividade,
humanização, formando e transformando realidades adversas.
Sendo assim, os conteúdos curriculares devem ser pensados a fim de promover a
emancipação do conhecimento e não e estagnação do raciocínio e da reflexão, deixando
o alunado inerte às transformações à sua volta. Segundo Garrutti e Santos (2004) a apren-
dizagem deve
ser significativa para que os educandos construam o conhecimento próprio,
criativo e, portanto, original. As informações, quando trabalhadas em um
contexto compreensível, passam a compor a estrutura cognitiva dos alunos.
Com efeito, as informações se transformam em conhecimento. (GARRUTI;
SANTOS, 2004, p. 171).
Para Nicolescu “a transdisciplinaridade, como o prefixo trans [...] diz respeito àquilo
que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das disciplinas e além de qualquer
disciplina” (NICOLESCU, 2000, p. 15), correspondendo a conceitos que transcendem a
escola e a sala de aula de forma a dialogar com as realidades, independentes das situa-
ções, uma vez que, o homem apresenta conceitos coletivos que interpassam sua existên-
cia numa realidade complexa. Para tanto, compreende-se que
A Transdisciplinaridade engloba e transcende o que passa por todas as disci-
plinas, reconhecendo o desconhecido e o inesgotável que estão presentes
em todas elas, buscando encontrar seus pontos de interseção e um vetor
comum. (MELLO; BARROS; SOMMERMANN, 2005, p. 207).
etapa deverá posteriormente ser sucedida por uma etapa superior transdis-
ciplinar. Em seguida, em 1972 e em 1977, Piaget volta a utilizar o termo. Tanto
a Pluridisciplinaridade como a Interdisciplinaridade não mudam a relação
homem/saber, uma vez que sujeito e objeto continuam dicotomizados, por
estarem reduzidos a um único nível de realidade e estruturados pela noção
de integração[...] (MELLO; BARROS; SOMMERMANN, 2005, p. 207).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da Complexidade na prática pedagógica dos professores
universitários: Inovações Epistemológicas e Tecnológicas para ensinar e para aprender. 2014.
EdUECE – Livro 4 – 00395. Disponível em: http://www.uece.br/endipe2014/ebooks/livro4/25.%20
PARADIGMA%20DA%20COMPLEXIDADE.pdf. Acesso em: 20 set. 2019.
INTRODUÇÃO
[ 1164 ]
A DIDÁTICA NA PERSPECTIVA MONTESSORIANA E A EDUCAÇÃO INFANTIL 1165
buscando se e como cada autor, clássico ou contemporâneo, tenta romper com o esta-
belecido ou preservá-lo no campo da educação.
Saviani (2007) construindo a historicidade do campo da Didática, resumidamente,
coloca que nos séculos XVII, XVIII e XIX, houve ênfase nas proposições educacionais que
se dirigiam aos métodos de ensino, formulados a partir de fundamentos filosóficos e
didáticos. A partir do século XX, o autor destaca a manutenção de ideias tecnicistas que,
impulsionada por abordagens positivistas, mudaram o modelo tradicional de ensinar
para um mais instrumental2. No mesmo período histórico, houve a influência do primado
dos fundamentos biológicos e psicológicos da educação, o que influenciou o campo da
Didática, com mudanças que giraram em torno da: 1) revisão da elaboração de planos de
ensinos para o planejamento do ensino; 2) dos objetivos do processo ensino e aprendiza-
gem; 3) da seleção de conteúdos e técnicas de ensino; 4) da organização da aula e; 5) dos
conteúdos. Embora possamos afirmar que a história favoreceu mudanças importantes
no campo da Didática, Saviani (2007) afirmou que ainda se fazia muito presente uma
metodologia tradicional de ensino, com foco na transmissão de informações, na autori-
dade docente, na percepção dos alunos, como meros ouvintes que deveriam memorizar
os conteúdos dados. A abordagem tradicional foi severamente criticada pela corrente
denominada didática crítico-social dos conteúdos, cuja consequência foi a incorporação
de uma nova proposta de educação, cujo princípio é a transformação da realidade social
(LIBÂNEO, 2001).
Do campo da formação docente, nos associamos a Pimenta (2001) que advoga a
necessidade do estudo e revisão dos temas clássicos da Didática no campo da formação
de professores. Na companhia da autora, entendemos que cada autor, em seu momento
histórico, compreendeu o processo de ensino e de aprendizagem de maneira própria,
ajudando a reforçar ou resistir as deliberações de determinados projetos sociais. Portanto,
a assunção de concepções – homem, mundo, educação, sociedade, expressam uma ado-
ção epistemológica e essa, obviamente, sustenta um projeto social (GIL, 2008; LIBÂNEO,
2001; FRANCO e PIMENTA, 2010; FRANCO e GUARNIERI, 2011; FRANCO.; PIMENTA;
ALMEIDA, 2011). Nesse sentido, o estudo dos autores clássicos da Pedagogia, sua com-
preensão histórica e epistemológica, envolve ter clareza sobre o sentido dos conceitos
assumidos, além do que deliberam para o processo educacional.
2 O modelo instrumental foi severamente criticado por educadores da corrente denominada Didática crítico-so-
cial dos conteúdo, estes tinham como fundamento uma proposta de educação como elemento transformador
da realidade (LIBÂNEO, 2001).
3 GIOVANI, Caló. Maria Montessori in J. Chateau (dir.). Os Grandes Pedagogos. Trad. de Maria Emília Ferros Moura.
Lisboa: Livros do Brasil, s/d, [1968].
como Pedagogia Científica. Foi reconhecida por ter implantado uma pedagogia voltada
para o sentimento, para o aluno, o interesse, a espontaneidade e a liberdade das crian-
ças, contribuindo com uma nova didática na educação infantil, que considera as crianças
importantes, valorizadas como sujeito, respeitadas em suas características pessoais no
espaço e no tempo em que vivem.
reconhece que a criança constrói a si mesma. É uma Didática que leva ao entendimento
de que a pedagogia revela a psicologia, e não o oposto (MONTESSORI, 1937, p. 94).
A concepção de criança, por sua vez, está relacionada a um ser em construção.
Para Montessori, a criança seria hoje o adulto de amanhã e nessa perspectiva sua educa-
ção deve ser voltada para sua humanização, de modo que ela se desenvolva na virtude
da paz e independência. Essa concepção de infância exige uma didática para o lúdico,
brincadeira, atividade livre de aprendizagem e espaço educacional adequado. Pensa-se a
criança como um ser histórico-cultural, capaz de explorar os espaços e os objetos que
encontra ao seu redor. Estabelece relações com as pessoas, elabora explicações sobre os
fatos e fenômenos que vivencia.
A concepção de professor o sustenta como “estimulador e orientador da aprendi-
zagem, cuja iniciativa principal seria uma decorrência espontânea do ambiente”
(MONTESSORI, 1937, p. 13). Didaticamente, ele é o construtor da ambiência educativa,
ensina pouco, observa muito e orienta as atividades psíquicas das crianças e seu cresci-
mento psicológico. Para Oliveira e Bortoloti (2012), o professor montessoriano é uma
pessoa que observa, estuda, indaga e se deixa indagar, respeita, educa pelo exemplo, é
sereno, tem controle de si e de seus impulsos, prepara o ambiente tornando-o atraente
e agradável para que a criança possa descobrir sua capacidade de crescer e desenvolver-
-se. Na sala de aula respeitando a si e aos outros, procurando desenvolver o gosto pela
ordem, pela organização e pelo silêncio.
A ação docente torna-se gerenciadora das experiências de aprendizagem a criança,
buscando compreender os “períodos sensitivos”, que para autora representam os saltos
repentinos ou acesso do desenvolvimento da criança numa nova direção. A ação docente
exige uma postura passiva do professor perante a criança, exige suprimir sua autoridade
para que a criança possa desenvolver-se plena e satisfatoriamente (MONTESSORI, 1936).
Didaticamente, pensando nos períodos sensitivos, como orientou Montessori
(1936, p. 156), a ação docente gera a compreensão da “desordem do primeiro momento
como algo necessário”, ajuda a criança a controlá-lo apenas com “olhar”, deixando que a
criança perceba a si mesma. Assim, a ação docente permite que a criança passe dos pri-
meiros movimentos desordenados aos movimentos ordenados espontâneos e faça uma
espécie de escolha, a partir de suas próprias tendências, que antes estavam confusas na
desordem inconsciente dos seus movimentos. Para Montessori, seria assim que “a
criança, consciente e livre, se revela a si mesma”.
Envolvem didaticamente atividades com figuras geométricas, com cores, texturas, chei-
ros, sabores, desenham, modelam, colam, cortam, perfuram, ouvem músicas, brincam
de pesquisadores etc. Envolvem elementos culturais, psicológicos e fisiológicos, mos-
trando diferenças ou características e peculiaridades, de modo que, progressivamente, a
criança se sinta preparada para construções mais elaboradas.
Na especificidade do material didático construído pela autora destaca-se seu
aspecto essencialmente sensorial, ou seja, é pensado para trabalhar cada sentido em
particular e desenvolver qualidades sensoriais das crianças, incorporando materiais ana-
lítico e abstrato. A criança é livre para agir sobre material didático, esse fica sujeito a sua
ação, mas já estavam preestabelecidos pela professora, como por exemplo: conjuntos de
jogos e outros materiais que estimulem o espírito da criança. O material didático ainda
deve ser distribuído em distintos espaços, precisa ser classificado de acordo com a forma
e como deve ser utilizado, por exemplo: psicomotricidade, vida prática, vida sensorial e
cada conteúdo que deve ser trabalhado, sem se esquecer de um “canto para leitura”, no
qual as crianças encontram livros que podem manejar, mesmo antes de aprenderem a ler
e escrever (CARBONEL, 2016, p. 30).
O material didático incorpora os materiais educativos e estes adquirem imenso
relevo na didática montessoriana. Ela compôs uma série de objetos que possibilitam ao
aluno a percepção da qualidade, forma, cor, dimensão, grau de aspereza, peso, tempera-
tura, cor e som. Os materiais educativos têm preponderante papel na ação pedagógica,
pois pressupõem a compreensão das coisas a partir delas mesmas, tendo como principal
função estimular e desenvolver na criança, um impulso interior que se manifesta no tra-
balho espontâneo do intelecto.
Montessori produziu uma série de cinco grupos de materiais didáticos: 1) Exercícios
Para a Vida Cotidiana; 2) Material Sensorial; 3) Material de Linguagem; 4) Material de
Matemática; e 5) Material de Ciências. Cada grupo tem como objetivo proporcionar à
criança a possibilidade de construir, através do exercício manual, as próprias estruturas
mentais. Os materiais didáticos se constituem de peças sólidas de diversos tamanhos e
formas: caixas para abrir, fechar e encaixar; botões para abotoar; série de cores, de tama-
nhos, de formas e espessuras diferentes; coleções de superfícies de diferentes texturas e
campainhas com diferentes sons. O Material Dourado, por exemplo, é um material didá-
tico confeccionado em madeira, é composto por: cubos, placas, barras e cubinhos, ele foi
pensado para ensinar as regras do sistema de numeração e o trabalho com múltiplos. O
material ajuda na numeração e facilita a aprendizagem dos algoritmos da adição, da
didáticos, são colocadas em uma caixa, da qual a criança retira um bilhete, lê em voz alta
e relaciona com o material disposto no ambiente. Nesse sentido, a criança passa a
conhece as letras que serão introduzidas na análise das palavras.
A didática montessoriana foi pensada para acompanhar o desenvolvimento das
potencialidades da criança, pode ser assim resumida: a) respeita a natureza da criança; b)
possui aplicação universal; c) revela a criança em sua potencialidade para o trabalho inte-
lectual; d) promove a autoeducação com extrema satisfação; e) trabalho pelo aprender
fazendo, experimentando cada aprendizagem; f) gera o agir espontâneo; g) gera auto dis-
ciplina; h) promove o respeito à personalidade da criança, dando-lhe espaço para sua
independência biológica; i) promove o respeito as necessidades individuais da criança; j)
identifica o ritmo de trabalho da criança; l) promove ajuda mútua; m) possibilita o desen-
volvimento das faculdades intelectuais, capacidade de deliberação, iniciativa e escolhas
independentes, ; n) ajuda na constituição da base da boa cidadania.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Associados, 2005.
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Pedagogia histórico-crítica. Campinas/SP: Autores Associados, 2013.
Luciene Batista1
Denise Silva Araújo2
Helvécio Goulart Malta de Sá3
INTRODUÇÃO
1 Doutoranda em Educação, pela Universidade Federal de Goiás, campus Goiânia. Bolsista CAPES. Professora na
Rede Municipal de Educação de Goiânia. Pesquisa sobre Formação de Professores da Educação Infantil. luciene-
batista.lu@hotmail.com
2 Pós-doutoranda em Educação pela PUC Goiás. Doutora em Educação pela Universidade Federal de Goiás. Pro-
fessora e coordenadora do Curso de Pedagogia da UFG, campus Goiânia. Pesquisa sobre trabalho e formação
docente. denisearaujo17@gmail.com
3 Mestre em Educação, pela PUC Goiás. Professor do Instituto Tecnológico de Goiás Sebastião Siqueira Pesquisa
sobre trabalho e formação docente na educação profissional. helveciogms@gmail.com
[ 1179 ]
1180 Luciene Batista; Denise Silva Araújo; Helvécio Goulart Malta de Sá
cria para a aprendizagem, nas interações. O desenvolvimento não segue uma linha reta,
do mais simples para o mais complexo, não há um ideal a atingir, há infinitas possibilida-
des que vão se constituindo nas relações entre os pares, os espaços e os conhecimentos
disponibilizados. Dessa forma, a aprendizagem é um aspecto necessário ao desenvolvi-
mento, com a imprescindível contribuição do meio sociocultural. Nem toda aprendiza-
gem leva ao desenvolvimento, mas pode impulsioná-lo, ou não.
A zona de desenvolvimento proximal possibilita esboçar o porvir da criança e sua
condição ativa do desenvolvimento, promovendo o acesso não simplesmente ao que já
foi consolidado, como também aquilo que está em processo de amadurecimento. Assim,
“o estado de desenvolvimento mental de uma criança só pode ser determinado se forem
revelados os dois níveis: o nível de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento
proximal” (VYGOTSKY, 2008, p. 98). Destaca-se que a zona de desenvolvimento proximal
no momento presente será o nível de desenvolvimento real mais tarde.
Nesse sentido, a noção de zona de desenvolvimento proximal possibilita afirmar
que o bom aprendizado é aquele que se adianta ao desenvolvimento, possibilitando a
criação de novas zonas de desenvolvimento proximal, propiciando o despertar de vários
processos internos de desenvolvimento, capazes de atuar somente quando a criança
interage com o meio social e com diferentes sujeitos, em colaboração. Contudo, a apren-
dizagem não é desenvolvimento, não coincidem, porém quando bem organizado mobi-
liza diferentes processos de desenvolvimento, sem o qual seria impossível de ocorrer. O
desenvolvimento progride de forma mais lenta, atrás do aprendizado, essa sucessão
resulta na zona de desenvolvimento proximal (VYGOTSKY, 2008).
Tomando como referência os estudos vygotskyanos sobre a relação entre desen-
volvimento e aprendizagem, na pesquisa aqui apresentada, procurou-se responder a
seguinte questão: como o trabalho educativo com a formação de conceitos pode contri-
buir para o surgimento de zonas de desenvolvimento proximal?
RESULTADOS E DISCUSSÃO
quais existem características semelhantes que, mediante a palavra, podem ser cataloga-
dos ou categorizados em uma classe definida, concebendo uma noção geral. Por meio do
conceito cotidiano, a criança toma consciência do objeto nele representado, mas ainda é
incapaz de trabalhar conceitualmente, pois não adquiriu consciência do seu próprio ato
de pensar, pelo qual construiu a representação do objeto. A criança não compreende
quais os procedimentos ou operações utiliza ou utilizou para construir aquela represen-
tação do objeto.
Segundo a autora citada, os conceitos científicos vão do abstrato ao concreto,
quando a criança, já demonstra ser capaz de reconhecer o próprio conceito que o objeto
representa, isto é, a propriedade intrínseca e essencial o objeto que faz parte de um sis-
tema conceitual. Com base nessa tese, pode-se assegurar que a criança não vê apenas o
objeto em si, mas as relações que os interpenetram, as quais foram produzidas histórica
e culturalmente.
Barbosa (1997) menciona que a coordenação entre os conhecimentos cotidianos e
científicos foi analisada por Vygotsky relacionando-os à questão da instrução escolar e
do desenvolvimento. Os conceitos cotidianos parecem se desenvolver de forma mais
espontânea, já os científicos necessitam de uma instrução formal. Vygotsky (2010a) con-
siderou três elementos fundamentais inerentes ao processo formativo de conceitos pela
criança. O primeiro refere-se ao estabelecimento de relações entre os conceitos, for-
mando sistemas; o segundo implica a conscientização da própria atividade mental, por
último, consequência dos dois primeiros elementos, seria a relação especial estabelecida
entre a criança e o objeto do conhecimento, quando tem a possibilidade de refletir acerca
da essência do objeto.
Para Vygotsky (2010a, p. 295), a tomada de consciência dos conceitos se efetiva
por meio da formação de um sistema de conceitos, “os conceitos científicos são os por-
tões através dos quais a tomada de consciência penetra no reino dos conceitos
infantis”.
Dessa forma, considera-se que a existência de um conceito advém de um sistema
de conceitos, existindo na medida em que há uma atividade mental consciente. Assim,
para sistematizar os conceitos apreendidos a criança tem que tomar consciência deles,
sendo capaz de reconstruí-las ao nível da imaginação, renovando a sua expressão discur-
siva, relacionado às generalizações dos processos psíquicos.
Por meio desta generalização a criança cria uma pirâmide de conceitos, admitindo
a passagem mental de uma propriedade particular de um objeto a outro por intermédio
do conceito geral, deslocando-se para cima e para baixo e dificilmente em sentido hori-
zontal. O processo de formação de conceitos compreende um sentido mais complexo ao
nível do pensamento, aceitando-se um intercâmbio simultâneo do geral ao particular e
deste ao geral.
Conforme explicitado por Vygotsky o desenvolvimento humano é constituído e
materializado por meio do desenvolvimento social e histórico, assim o desenvolvi-
mento da criança é definido social e historicamente. Quando as crianças frequentam
uma instituição educacional, o professor as confronta com as zonas de desenvolvi-
mento proximal, por meio das atividades escolares, no sentido de conduzir seus pro-
gressos em direção ao estágio da aprendizagem formal, estas atividades auxiliam as
crianças a adquirir motivos e métodos para o domínio do mundo adulto, com a inter-
venção do professor (HEDEGAARD, 1996).
Para Hedegaard (1996), a criança está inserida em uma sociedade desde o seu nas-
cimento, na qual o conhecimento está disponibilizado como procedimento-padrão para
lidar com pessoas e coisas. Este conhecimento societário foi classificado por Davidov em
duas formas de conhecimentos: conhecimento empírico e conhecimento teórico, cada
um associado a procedimentos epistemológicos específicos.
O conhecimento empírico versa acerca das semelhanças e diferenças no fenômeno
e emerge de sua observação e comparação. O objeto individual é compreendido por
meio de procedimentos epistemológicos, isolado de suas conexões espaciais e cronoló-
gicas, de modo que possa ser observado, comparado, categorizado e lembrado. O imagi-
nário e a linguagem são os meios utilizados para este fim. Na exposição empírica o objeto
individual funciona como uma realidade independente.
O conhecimento teórico trabalha com um sistema integrado de fenômenos e não
com o fenômeno individual, isolado. Por meio do procedimento epistemológico teórico,
o objeto é observado enquanto se transforma. Essas relações se revelam na recriação do
objeto em sua relação com outros objetos. Esta reprodução tem o caráter de exploração
experimental das relações e mudanças, tanto da modificação concreta do mundo quanto
de transformações mentalmente imaginadas.
Para Hedegaard (1996), o conhecimento teórico não pode ser obtido em formato
verbal ou literário, embora ele apareça inicialmente, no nível científico, em formas ver-
bais e literárias. A autora afirma que as crianças na escola aprendem o procedimento
epistemológico empírico em suas atividades práticas cotidianas, restando obter o proce-
dimento epistemológico teórico. O conhecimento teórico deve ser adquirido por meio da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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de uma instituição filantrópica. 2006. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
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1997. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo, FEUSP, São Paulo, 1997.
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______. ______. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2010a.
______. ______. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2010b.
INTRODUÇÃO
1 Mestranda em Educação pela PUC- Goiás. Aluna do Grupo de Pesquisa “Teoria Histórico-Cultural” coordenado
pelo professor José Carlos Libâneo. Professora da educação básica. “O presente trabalho foi realizado com apoio
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES) - Código de financiamento 001
E-mail: danielaamelia2011@hotmail.com.
2 Coordenadora de Curso e de Pólo pelo Instituto Federal Goiano. Pólo Minaçu, Campus Ceres. Professora do
Sistema Estadual de Educação de Goiás e da Prefeitura Municipal de Educação de Minaçu. E-mail: elzilenel.m@
hotmail.com.
3 Graduada em Pedagogia/ mestranda em Educação da Universidade Federal do Tocantins-UFT. Professora da
Rede Municipal de Palmas-TO. Pesquisa sobre formação de professores e escolas criativas. E-mail: marina-
carlla@gmail.com
[ 1191 ]
1192 Daniela Amélia de Moura; Elziline Maria Lopes de Souza; Marina Carla da Cruz Queiroz
Nacional de Educação - PNE, aprovado no ano de 2014 (meta nº 5); o Programa Todos
Pela Educação, movimento da sociedade civil, elaborado no ano de 2006 (meta nº 2) e os
Planos Municipais de Educação.
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) surge, neste contexto,
como uma forma de contribuir com o esforço de garantir a alfabetização até o final do
ciclo alfabetizador. O Programa está estruturado em quatro eixos de atuação: Formação
Continuada para Professores Alfabetizadores e Orientadores de Estudo; Distribuição de
Materiais Didáticos; Avaliação e Gestão, Mobilização e Controle Social. A formação con-
tinuada de Professores Alfabetizadores e Orientadores de Estudo é o eixo central em
torno do qual giram os demais. Busca-se, pela articulação dos quatro eixos, o aperfeiçoa-
mento da prática pedagógica do Professor Alfabetizador.
As ações deste programa respaldam-se na Política Nacional de Formação de
Profissionais do Magistério da Educação Básica, instituída pelo Decreto nº 6.755, de 29
de janeiro de 2009. Como política nacional a formação continuada é entendida como
componente essencial da profissionalização docente, devendo integrar-se ao cotidiano
da escola, e pautar-se no respeito e na valorização dos diferentes saberes e na experiên-
cia docente. Logo, a formação continuada se constitui no conjunto das atividades de for-
mação desenvolvidas ao longo de toda a carreira docente, com vistas à melhoria da
qualidade do ensino e ao aperfeiçoamento da prática docente.
Ao decorrermos à análise desse material, procuramos responder as seguintes per-
guntas: a) o que é interdisciplinaridade? B) Como o PNAIC conceitua e trabalha a interdis-
ciplinaridade? c) Que envolvimentos as abordagens teóricos e práticas do material de
estudos do programa têm para a realidade da sala de aula?
Portanto é importante essa análise do didático-metodológico que sustenta as prá-
ticas pedagógicas e o direcionamento apresentado pelo programa do Pacto Nacional
Pela Alfabetização na Idade certa, abordando uma serie de conceitos que se espera
serem assimilados pelos professores.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Definição de interdisciplinaridade
Portanto não existe consenso entre os autores que haja uma interação entre as dis-
ciplinas. Para Morim (2001), por exemplo, não necessariamente acontece o diálogo entre
as áreas:
A interdisciplinaridade pode significar, pura e simplesmente, que diferentes
disciplinas são colocadas em volta de uma mesa, como diferentes nações se
posicionam na ONU, sem fazerem nada além de afirmar, cada qual, seus pró-
prios direitos nacionais e suas próprias soberanias em relação às invasões do
vizinho. Mas interdisciplinaridade pode significar também troca e coopera-
ção, o que faz com que a interdisciplinaridade possa vir a ser alguma coisa
orgânica (MORIN, 2001, p. 115).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que se planejou com esse estudo, vemos que a proposta do PNAIC se
dá, de algum modo, a favor da formação de um professor interdisciplinar, o que signi-
fica que o programa propicia a interação entre saberes originários de diferentes disci-
plinas. O programa trabalha, para isso, a experiência docente, propondo e apresentando
atividades significativas que contemplam duas ou mais disciplinas. Também são abor-
dados conceitos que se espera serem apreendidos pelo professor, podendo se direcio-
nar suas ações.
A finalidade primordial é reconstruir a prática docente, transformando, primeira-
mente, o ser, fazendo-o pensar interdisciplinarmente, de modo que possa se convencer
da relevância despercebemos convergências, mas também divergências entre as práticas
propostas nos cadernos do PNAIC e o embasamento teórico no qual se ancoram. Algumas
das atividades pedagógicas registradas nos cadernos como exemplos frutíferos de práti-
cas interdisciplinares, a nosso ver, ainda espelham tentativas de um trabalho integrado,
mas que apenas justapõem disciplinas, uma vez que cada uma delas trata as temáticas
sob sua ótica; ou seja, elas se aproximam do mesmo objeto de ensino, mas não se inter-
-relacionam de modo a contemplar todo o complexo conhecimento acerca desse mesmo
objeto; não materializam efetivamente um diálogo entre as áreas dos saberes, diálogo
este que seria marcado por contribuições e trocas.
Concluímos, que o PNAIC revela um empenho na tentativa de produzir uma forma
diferente para que o ensino interdisciplinar marque as salas de aula da primeira etapa do
Ensino Fundamental. No entanto, conceitualmente, busca tornar visíveis as articulações
entre as áreas, para enriquecimento de saberes, trocas, contribuições. Embora há déca-
das já se discuta a interdisciplinaridade na educação, a práxis ou o fazer pedagógico
nessa perspectiva ainda é um desafio e precisa ser exemplificado pelos próprios cursos
de licenciatura. Acreditamos, assim, que estamos ainda dentro do esperado por Santomé
(1998): a interdisciplinaridade constituindo um objetivo nunca completamente alcan-
çado e, por isso, sempre buscado.
REFERÊNCIAS
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Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Alfabetização para todos: diferentes
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Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Planejando a alfabetização; integrando
diferentes áreas do conhecimento: projetos didáticos e sequências didáticas. Ano 1, unidade 6.
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Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 jun.
2014. Seção 1, Edição Extra.
INTRODUÇÃO
Esse estudo se propõe a apresentar um relato parcial sobre a experiência forma-
tiva com professores coordenadores na Rede Municipal de Educação de Goiânia no ano
de 2019. Para tanto, fez uma análise do trabalho com a alfabetização realizado por essa
rede de ensino a fim de propor intervenções que possibilitem uma reflexão teórico-prá-
tica sobre o tema para aqueles que trabalham com essa temática. O trabalho toma como
objeto a formação continuada, especificamente a formação continuada em alfabetização
com professores coordenadores do Ciclo I3.
Para explorar o tema, consideraram-se os estudos que tomam o ensino como tra-
balho e o professor como um trabalhador, bem como as contribuições da Ergologia ao
apontar meios e procedimentos metodológicos para que as mudanças na organização do
trabalho sejam realizadas pelos próprios trabalhadores, em uma perspectiva de conhe-
cer o trabalho e transformá-lo, pelos próprios trabalhadores, mediante uma formação no
e pelo trabalho. Tais estudos lançaram o desafio de considerar algo até então pouco
1 Professora da Rede Municipal de Educação de Goiânia, Mestre em Educação pela UFG. Pesquisa sobre o tema:
Trabalho docente e Alfabetização. odiliana@hotmail.com
2 Professora da Rede Municipal de Educação de Goiânia, Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino pela UNI-
VERSO. Pesquisa sobre o tema Alfabetização. rafaelasegatti81@gmail.com
3 Ciclo de Alfabetização segundo o MEC
[ 1203 ]
1204 Odiliana Ribeiro de Souza; Rafaela Segatti Lopes
4 O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é composto por um conjunto de avaliações externas em
larga escala que permite ao Inep realizar um diagnóstico da educação básica brasileira e de alguns fatores que
possam interferir no desempenho do estudante, fornecendo um indicativo sobre a qualidade do ensino ofer-
tado. Em 2019, algumas siglas apresentadas nesta pesquisa deixaram de existir, como a sigla ANA, por exemplo.
Portanto, todas as avaliações passarão a ser identificadas somente pelo nome Saeb, acompanhado das etapas,
áreas de conhecimento e tipos de instrumentos envolvidos. As aplicações se concentrarão nos anos ímpares e a
divulgação dos resultados, nos anos pares. Um dos destaques da reestruturação é a afirmação de dimensões da
qualidade educacional que extrapola a aferição de proficiências em testes cognitivos. As condições de acesso e
oferta das instituições de Educação Infantil passarão a ser avaliadas. Disponível em: http://portal.inep. gov.br/
educacao-basica/saeb. Acesso em: 23 fev. 2019.
5 ANA- Avaliação Nacional da Alfabetização. Instituída a partir de 2016, constitui-se uma avaliação externa que
objetivava aferir os níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e Matemática
dos estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas. As provas aplicadas forneciam três resul-
tados: desempenho em leitura, desempenho em matemática e desempenho em escrita.
6 A Provinha Brasil foi uma avaliação diagnóstica que visava investigar as habilidades desenvolvidas pelas crianças
matriculadas no 2º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas brasileiras. Aplicada duas vezes ao ano,
a avaliação era dirigida aos alunos que passavam por, pelo menos, um ano escolar dedicado ao processo de
alfabetização.
refletir e agir com eles e não por eles-para eles. Nessa perspectiva, concebe-se que é
necessário refletir com os coordenadores pedagógicos, a partir do espaço da escola,
acerca das condições concretas de realização do trabalho com a alfabetização sobre os
modos de fazer e as concepções teóricas que subsidiam o ensino na alfabetização. Bem
como sobre as limitações reais, individuais e coletivas da realização do ofício e algumas
possibilidades de organizar o trabalho pedagógico em alfabetização que considerem os
sentidos tanto de quem aprende quanto de quem ensina.
Compreender como se dá a organização do trabalho docente no espaço da escola
demanda entender também o que se espera desse trabalho. Nesse aspecto, Marta
Jiménez Jaén (1991) contribui para a reflexão sobre questões conceituais que os docen-
tes põem em movimento para realizar seu trabalho:
Por mais que o trabalho seja programado, planejado, em consequência de
forças externas, há uma certa autonomia docente para adaptar métodos,
técnicas, introduzir materiais novos, pensar atividades fora do programa,
adequar o ensino a determinados grupos de estudantes etc., pelo simples
fato de o trabalho ser realizado por seres humanos – professores – com
outros seres humanos – alunos. Isso garante que muitas decisões, pelo
menos como possibilidade, sejam inalienáveis (JAÉN, 1991, p. 82).
Nota-se que, dessa forma, não se nega ou tampouco se toma o que os professores
já realizam em sala como algo errado ou menor, mas se pretende partir disso, mediante
discussões não hierarquizadas, para que os professores reflitam e se sintam capazes “de
orientar sua prática pedagógica (…) construindo um novo fazer que tivesse o sentido de
aperfeiçoar o que já vem sendo desenvolvido” (ESTEBAN, 2015, p. 141).
Para direcionar o trabalho de fortalecimento dos coletivos de trabalho enfocando
o trabalho dos professores alfabetizadores, foi necessário estabelecer um processo de
escuta ativa acerca do perfil dos envolvidos para que a escola pense junto sobre seus
desafios e se proponha a alavancar projetos de mudança em comum. Nesse sentido, um
fazer coletivo vai sendo delineado pelos próprios trabalhadores do ensino, buscando
problematizar ao longo da formação questões, como: o que fazemos? Como fazemos?
Como podemos fazer melhor? Como mudar? Existem outras formas de alfabetizar? Como
mobilizar as crianças na aprendizagem da linguagem escrita? O que fazer frente às dificul-
dades de aprendizagem? O que fazer com as famílias para o êxito dos alunos?
Todas essas questões fomentam discussões sobre os sentidos e significados do
ensinar e do aprender a ensinar nesse processo. Esse ponto de partida possibilita consi-
derar a “escola real”, o que está sendo vivido e realizado nas práticas cotidianas de sala
de aula. Também é necessário que mudanças estruturais na forma de organizar o
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pelo fato de a formação estar em andamento ainda não foram totalmente sistema-
tizadas as atividades realizadas e as avaliações dos cursistas. Quanto ao conteúdo das
atividades presenciais e das verbalizações dos cursistas durante os encontros, percebeu-
-se que as temáticas levantadas nos encontros se configuraram em eficazes provocações,
no sentido de possibilitarem aos cursistas refletirem sobre o seu trabalho.
Em um estudo exploratório sobre o trabalho docente em alfabetização na Rede
Municipal de Educação de Goiânia, um questionário intitulado Levantamento das ações
referentes à alfabetização – 2019 foi encaminhado a todas as instituições escolares que
possuem o Ciclo I (Ciclo de Alfabetização para essa rede de ensino), sendo direcionado ao
agrupamento A – 6 anos. O intuito foi conhecer o que os professores fazem, contem-
plando temas como: a organização da rotina de sala de aula em alfabetização, o planeja-
mento e o perfil funcional dos professores alfabetizadores do agrupamento A. Várias
questões postas interferem nas diversas formas de organizar e realizar o trabalho docente
em alfabetização. Essa percepção agregou ao planejamento dos professores formadores.
Dentre as questões, elencou-se o tema do planejamento das aulas para realizar aqui
alguns apontamentos.
Especificamente no item ‘planejamento’ percebeu-se a predominância de ativida-
des voltadas para a apropriação do sistema de escrita, como: atividades para reconheci-
mento de letras do alfabeto e de sílabas, construção de palavras com junção e substituição
de sílabas, leitura para reconhecimento de letras, palavras e sílabas, escrita de palavras e
frases a partir de imagens. O levantamento também apresenta planos de aulas nos quais
os professores afirmam priorizar atividades de leitura e escrita. Porém, a análise das ati-
vidades realizadas, aponta para a apropriação da linguagem escrita somente como regis-
tro e memorização de letras e sílabas, não abordando a reflexão sobre os conhecimentos
da escrita para a construção dos princípios e as propriedades do sistema de escrita
7 Orientações para o trabalho com a alfabetização-2019, documento da SME que apresenta os conteúdos respec-
tivos à aprendizagem da linguagem escrita, apresentando cada prática de linguagem, bem como sugestões para
ampliar as formas de desenvolvê-las.
8 O Avalia Goiânia-2019 é um instrumento de avaliação de sistema que avalia os descritores de leitura. É destinado
ao 2º ano - agrupamento B, 6º ano - agrupamento F e 9º ano - agrupamento I.
o estudo dos gêneros textuais. A continuidade dessa discussão foi posta nos encontros
formativos seguintes.
Sobre o documento Orientações para o trabalho com a alfabetização, envolvendo
ações específicas para professores alfabetizadores e professores coordenadores, os
coordenadores pontuaram que ter um documento escrito sobre a alfabetização que
demarque as funções de cada profissional tem sido um facilitador na realização das
orientações, pois muitas vezes existe a não adesão ao que é orientado pela falta de uma
“comprovação” e isso, ajuda a respaldar o trabalho do professor coordenador na escola.
Quanto à forma de abordagem do tema da alfabetização durante os encontros,
os professores coordenadores relataram que os conhecimentos específicos da temá-
tica são proveitosos, pois eles se sentem mais seguros para orientar o trabalho e a
forma contempla os reais entraves à realização do trabalho na escola. Tal afirmativa
confirma as discussões trazidas dos estudos para tratar o tema do trabalho docente.
Estudos estes que confirmam a ampliação dos conhecimentos dos trabalhadores, tanto
os científicos quanto os da experiência na condução do próprio trabalho. Esta é uma
das competências que afinam o gesto profissional, contribuindo também para o forta-
lecimento do gênero profissional.
Nesse sentido, essa proposta formativa nos coloca questões éticas e políticas como
formadoras, reafirmando a necessidade de sempre partir dos saberes e valores que cons-
tituem os sentidos sobre o trabalho, ou seja, que orientam aquilo que os professores
coordenadores realmente fazem. Isso também gera uma demanda ética de nossos cur-
sistas, uma vez que eles assumem a necessidade de, no diálogo com outros coordenado-
res via formação continuada, ampliarem seus conhecimentos conceituais e os saberes da
própria experiência de trabalho, contribuindo direta e indiretamente no trabalho do
coletivo de professores das escolas a que pertencem.
Esse movimento, realizado pelos próprios sujeitos da formação, os embasam a
conhecer e transformar a sua prática pedagógica, oferecendo subsídio teórico e prático
para seus desafios no que se refere aos conhecimentos da alfabetização. Esse subsídio,
ao qual denominamos teórico-prático, interfere nos modos de realizar o planejamento
de atividades, a articulação entre as práticas de linguagem (oralidade, leitura, escrita,
analise linguística/semiótica) e o acompanhamento das aprendizagens dos alunos.
Além disso, o contato com esses profissionais também forma os formadores,
pois a escuta ativa gera outras demandas formativas que precisam ser contempla-
das, estudadas e discutidas com eles. Assim, outras possibilidades de organizar o
trabalho pedagógico nas escolas vão surgindo, seja na escuta, nos momentos coleti-
vos de formação, nas avaliações dos encontros na qual fazem sugestões, bem como
em outros instrumentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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da Ergonomia da atividade. In: REUNIÃO NACIONAL DA ANPEd, 37, 2015, Florianópolis. Anais...
Florianópolis: ANPEd, 2015.
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portuguesa nos anos iniciais: apontamentos metodológicos sobre a alfabetização como processo
discursivo. In: ASSIS, Eleone Ferraz de; CARVALHO, Fernanda Rocha Bomfim; LUTERMAN, Luana Alves.
Pesquisas em língua e literatura: múltiplos olhares. Curitiba: CRV, 2018
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SOUZA, Odiliana Ribeiro de. O trabalho do alfabetizador nos anos iniciais da educação fundamental
na rede municipal de educação de Goiânia: uma análise a partir da ergologia. Dissertação (Mestrado
em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2019.
INTRODUÇÃO
[ 1218 ]
A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES ALFABETIZADORES 1219
Ademais, é importante ressaltar que a ênfase dada a esta temática se motiva pela
sua importância sobre o processo de conquista da cidadania como prática social, por
meio da alfabetização plena. Alpem disso, a formação específica para atuar no contexto
de alfabetização contribui para que o docente desenvolva melhor sua didática se aproxi-
mando da realidade de seus alunos.
Logo, compreende-se que a formação e o resultado da profissionalização docente
decorrem de fatores que acompanham o profissional desde o início de sua formação pes-
soal e acadêmica. Reconhecer-se no processo constante de busca e aperfeiçoamento
para o campo de atuação não é papel somente pedagógico, mas decorrente e necessário
para que se apresente como excelente profissional independente da área.
Compreendemos que dentro do espaço escolar o professor tem a possibilidade de
utilizar de todo seu construto teórico, associando-o com sua prática pedagógica com o
fito de obter êxito no processo ensino-aprendizagem. Assim ponderamos a necessidade
de entender os processos de cada etapa da aprendizagem, pois é mediante a formação
específica que o docente ganha maior autonomia sobre suas ações, por ter a credibili-
dade de suas bases conceituais que associada a uma didática específica da área resulta
satisfatoriamente em resultados positivos dentro do ambiente escolar.
Acredita-se que a prática exercida pelo docente diz e reflete muito sobre sua for-
mação, construção social, cultural e teórica. Permitindo que o mesmo reveja suas ações
educativas, buscando o progresso e maior aproximação das necessidades de seus alunos.
Portanto, ter atribuído a prática docente as bases teóricas neste contexto de ensino
torna o processo de aprendizagem enriquecedor para envolvidos fortalecendo cada vez
mais as ações dentro do espaço pedagógico.
Sendo assim, atentar-se para práticas mediadas por meio de teorias torna-se um
passo adiante das insuficiências que cerceiam a escola, a formação inicial e continuada e
as políticas educacionais que, se não deixam a desejar, muito se distanciam da realidade
dos envolvidos. Faz-se mister que o docente compreenda que precisa de bases científicas
capazes de sustentar o que faz, dar significado ao conteúdo e suas finalidades fora da
escola, ou seja, na vida real de seus alunos.
Percebe-se que a prática docente demonstra compromisso político e ético entre o
professor e seus alunos, em que aquele, por meio de sua formação, busca a transforma-
ção destes assumindo seu papel de mediador no processo de construção do conheci-
mento (Schimitt, 2011). E, é essa responsabilidade de educar para emancipar que constrói
o perfil docente tornando-o mais responsável e consciente sobre suas ações, resultando
assim em transformação social.
A proposta que conduziu este estudo buscou salientar a importância das constru-
ções e formações sociais e teóricas que impactaram e refletiram profundamente nas prá-
ticas desenvolvidas pelos professores participantes da pesquisa, partindo do princípio
que a didática desenvolvida por cada docente diz muito a respeito do seu caminho pes-
soal e acadêmico trilhado. O professor tem como sua melhor ferramenta de ensino, a sua
própria didática que lhe permite a observação e intervenção sobre os resultados obtidos.
Desse modo, sua própria conduta consciente faz com que atente-se às novas práticas de
ensino, demostrando compreensão sobre as especificidades de estar à frente do pro-
cesso de alfabetização.
Entendemos que o melhor feedback que conduz o docente a uma prática respon-
sável ocorre no seu cotidiano, junto de sua turma acompanhando o desenvolvimento
da mesma, visto que a formação está associada as constantes mudanças que decorrem
não só no campo pedagógico, mas na sociedade que influência diretamente neste
espaço de aprendizagem.
Ponderamos ser de grande importância a formação desse profissional associar a
pesquisa sobre seu ambiente de trabalho para que se tenha uma prática que condiz com
seu papel dentro de uma sociedade, haja vista que se tratando do tema alfabetização,
considerado estado da arte de debates políticos e educacionais, deve-se olhar para o
mestre que está à frente das séries iniciais.
Seguimos a linha de pesquisa de autores que tratam das temáticas: formação de pro-
fessores, educar pela pesquisa, prática de ensino e história oral. Escolhemos por trabalhar,
em nossa pesquisa, com, DEMO (2015), MELLO (2000), PERRENOUD (2001), PIMENTA
(2002), TARDIF (2002), e THOMPSON (1992), objetivando maior compreensão e entendi-
mento das respectivas peculiaridades dos temas propostos, dentre outros que pesquisam
sobre a temática e buscam a compreensão sobre: “o que é estar alfabetizado?”, “Como
alfabetizar para emancipação?”e “Como a formação do professor contribui para essas
inquietações?”. Essas indagações dentre outras pertinentes ao contexto de ensino muitoo
revelam sobre a práxis docente, reflexos de sua formação e atuação em sala de aula.
O Objetivo geral do trabalho é buscar esclarecer a temática emergente “Formação
de professores que atuam como alfabetizadores” e os resultados desta formação no
ambiente de ensino. Os objetivos específicos apontam para a problematização da for-
mação inicial ser o caminho que resulta em práticas conscientes dentro dos espaços
Por meio de toda construção acadêmica desenvolvida sobre a temática até os dias
atuais, compreendemos que a formação docente não ocorre somente nas universidades,
trata-se de uma formação que alcança um campo bem mais amplo sobre a construção
destes conhecimentos. É possível por meio da história acompanhar avanços e retroces-
sos que caminham juntos da formação deste profissional. Ao retratar a formação pode-
mos, junto da mesma, considerar aspectos vivenciais, históricos, teóricos e práticos que
são internalizados com o decorrer do tempo.
Novos olhares se manifestam sobre a compreensão da prática docente, formação e
atuação, contribuições que se aproximam do objeto de estudo partem dos pensamentos
de Tardif (2002), que identificou que os saberes professorais se constituem desde as expe-
riências pessoais, ambientes de formação teórica e acadêmica e a relação com outros pro-
fissionais da área. Ao se deparar com novas construções a articulação sobre o já aprendido
e as novas experiências partem para a reconstrução de um novo conhecimento que será
ressignificado permitindo outros olhares e intervenções sobre o campo de atuação.
Nos anos de 1990, diante de um cenário de completa instabilidade e reformas
administrativas, predominava o modelo de políticas neoliberais. Afirma PEREIRA (1999),
que o contexto educacional fez parte de uma nova proposta de governo, em que se
tinham novos objetivos que envolviam a educação. As políticas educacionais se tornaram
estado da arte dentro dos debates em contextos internacionais e nacional, um marco
para o campo educacional ocorreu após a promulgação da lei 9.394/96 (BRASIL, 1996),
Lei está de Diretrizes e Bases da Educação, tal lei propõe que a formação de docentes
para atuarem nos anos iniciais devem ocorrer preferencialmente nos cursos de licencia-
tura em pedagogia. Além disso, tornou-se obrigatório que o professor para atuar na edu-
cação básica possui-se formação acadêmica em nível superior, licenciatura, estabelecido
de acordo com o artigo 62º da legislação. Todavia encontra-se na prática inúmeras diver-
gências que ocorrem dentro do processo de gestão escolar que flexibiliza parte do
pressuposto que o professor possui o domínio necessário para intervir na realidade que
está inserido e tem bem definidos: o que ensinar, como proceder e em quais contextos
deve intervir ou mediar.
Considerando outras perspectivas, pode-se pensar em um profissional que assume
uma postura crítica sobre sua atuação pedagógica, permitindo relações da formação his-
tórica e atual serem pertinentes em seu campo de atuação. Concordamos com Pimenta
(2002), ao afirmar que:
À primeira vista, a relação teoria e prática é bastante simples. A prática seria
a educação em todos os seus relacionamentos práticos e a teoria seria a ciên-
cia da Educação. A teoria investigaria a prática sobre a qual retroage mediante
conhecimentos adquiridos. A prática, por sua vez, seria o ponto de partida do
conhecimento, a base da teoria e, por efeito desta, torna-se prática orien-
tada conscientemente. (PIMENTA, 2002, p. 99).
Diante de tudo que foi colocado até o exato momento, compreendemos que estu-
dos sobre o tema tem enfatizado que é por meio da prática do professor que se torna
possível promover de outras formas o pensar e o agir em sala, mobilizando saberes anti-
gos, reconstruindo-os e colocando-os em novos cenários, desenvolvendo assim mais um
dos ofícios de ser professor.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para uma melhor aproximação sobre o campo de interesse para pesquisa foram sele-
cionados 05 alfabetizadores, dentre os encontrados que atuavam em escolas Estaduais no
referido município. Identificamos os mesmos por meio de seus sobrenomes, Alves, Barros,
Silva, Vieira, Apolinário e a seguir será relatado trechos das entrevistas feitas com os parti-
cipantes considerados pertinentes para dar significado a pesquisa.
Realizou-se transcrições das entrevistas e de forma minuciosa ocorreu a análise
das mesmas, observando desde o seu processo de alfabetização até o momento que se
tornaram alfabetizadores, recortando os trechos pertinentes à escrita. De forma respei-
tosa e ética as entrevistas ocorreram de acordo com a metodologia de pesquisa e histó-
ria oral e as transcrições foram feitas na íntegra.
Para uma melhor apreciação dos achados da pesquisa buscamos analisar nas respos-
tas a significação da compreensão de prática atribuída pelo discurso dos entrevistados,
atentando-nos a observar o comprometimento deles com o processo de alfabetização.
O primeiro docente entrevistado foi identificado como Alves (2016), ministrava
aulas numa escola estadual do interior goiano, desde o ano de 2006 até o ano de 2016,
ano de realização da pesquisa, sua formação inicial é em Geografia com pós-graduação
Lato Sensu em educação infantil, por meio da formação continuada do mesmo identifi-
camos a necessidade de buscar construtos teóricos que se aproximassem do seu campo
de atuação. Em relato, o mesmo descreve que as atividades e conteúdo que eram minis-
trados em sua formação inicial se voltavam e relacionavam com o campo geográfico, sem
aproximar-se da realidade das séries iniciais. Ao responder sobre sua pós em educação
infantil, descreve “foi muito bom com as aulas presenciais o tempo todo, é muita coisa
interessante, muitas oficinas, foi muito bom.”
Nota-se, por meio do que nos foi relatado, que o curso realizado possuiu um valor
significativo para sua atuação, ressaltando o que viu de mais valia: “sim, de lidar especial-
mente com as crianças pequenas. [...] Ao questioná-lo sobre qual método de avaliação
que utilizava, Alves discorreu dizendo “então eu faço uma mistura eu trabalho o constru-
tivismo [...] é um misto também do tradicional, não abandono porque eu acho que fun-
ciona não só um, mas os dois juntos”.
É de grande valor para o campo pedagógico quando o docente reconhece a neces-
sidade de se aperfeiçoar para estar à frente do trabalho. A formação inicial desse profis-
sional pode não ter sido na área específica, mas no decorrer de sua prática reconheceu
que precisava se atualizar e aproximar-se da realidade que estava inserido, refletindo
sobre seu contexto de formação e trabalho. Ainda que a pós realizada não o fez abando-
nar suas práticas tradicionais de ensino, lhe deu bases sobre novas metodologias de
ensino que se encaixam com o contexto de das séries iniciais.
É possível perceber pela fala deste profissional que a formação específica na área
da pedagogia permitiu-lhe maior sensibilidade no tocante aos acontecimentos dentro
de sala, associando a ministração de conteúdo com uma prática mesclada de metodo-
logias que consigam acompanhar bem a didática utilizada, ponderando o momento
específico e o uso de melhores recursos didáticos que colaboram para desenvolver a
ministração de conteúdo.
O terceiro docente alfabetizador foi Silva (2015), o mesmo ministrou aulas em outra
escola da rede pública. Atua no campo educacional há 16 anos e sua formação ocorreu
no Magistério e na Pedagogia. A pós-graduação lato Sensu foi em educação infantil, e
Plano Nacional de alfabetização na idade certa (PNAIC).
Ao ser questionado sobre qual metodologia utiliza para o processo de alfabetizar,
relata que:
Desde que eu estou aqui trabalhando, a gente faz uma mistura de métodos,
não tem um método definido, a gente não trabalha só um, então depende do
tipo de aprendizado do aluno, a gente identifica mais ou menos como ele
aprende e a gente vai usando aquele método mais misturado, a gente não faz
só o construtivismo, só o método tipo da cartilha, a gente usa todos os méto-
dos, mas faz uma mistura, como diz uma salada.
O participante, deixa claro que não utiliza somente uma metodologia, mas faz um
revezamento de métodos que busca a aproximação de sua realidade. Foi direcionado
uma pergunta a respeito do aprendizado por meio dos jogos e brincadeiras e sua res-
posta foi: “utiliza bastante em seu contexto de ensino, ressaltando que a observação
sobre a aprendizagem dos alunos se mostra diferente, com emoção, alegria e vontade de
aprender, porque aprendem brincando.”.
O quarto alfabetizador foi Vieira (2015), trabalhou numa outra escola, durante
trinta anos na alfabetização. Graduado em licenciatura em Letras e pós-graduada Lato
Sensu em Língua Portuguesa e outras diversas áreas que se relacionam com áreas a afins
da alfabetização. Considerado o pioneiro na área de alfabetização em na cidade do inte-
rior goiano em que ocorreu a pesquisa, mesmo sua formação não sendo específica na
área fez de sua didática seu instrumento de trabalho, nos dias atuais ainda oferta aulas
particulares em sua residência.
Quando perguntamos ao entrevistado sobre a metodologia dos cursos que partici-
pou e que possuía relação com o campo de alfabetização, nos foi relatado que:
O que mais sofri foi na época de dar aula expositiva, aquelas aulas... difícil. Na
alfabetização também fiz cursos e cursos, muito tempo de curso, lá em
Goiânia, no Hugo de Carvalho Ramos, fiz curso mais de 20 dias, para alfabeti-
zar mesmo, como se diz eu tenho meu certificado de alfabetizador mesmo.
Pelos relatos, percebemos que o entrevistado considerou que dar aulas com meto-
dologias diferentes foi uma grande dificuldade encontrada e que buscou em mais cursos
de pós-graduação para que conseguisse sanar suas dificuldades encontrando nos resul-
tados sua afirmação e certificado para ser vista como alfabetizador.
Quando questionado sobre sua metodologia para alfabetizar, relata:
Meu processo era desde o início usava silabação, depois quando já não podia
mais, teve um tal de CBA, que chegou para gente, para mim foi um sacrifício,
esse CBA partia do todo, não era mais silabação, você partia da palavra e para
mim foi difícil, porque meus treinamentos mesmo, acho que o processo de
silabação era um processo que não poderia ter saído de jeito nenhum. Porque
as crianças tinham muita facilidade para estar aprendendo, depois que pas-
sou para estes outros métodos foi difícil alfabetizar. (VIEIRA, 2015).
Indagado se por meio da sua prática conseguia perceber dificuldades com relação
ensino e aprendizagem dos alunos, ela respondeu que:
Muito, muito... porque uma vez é você trabalhar a sílabas separadas, para
depois juntar com outras, uma vez é você dar a palavra que ele nem conhece,
você pegar daquela palavra para você seguir...até mesmo nem assim tinha
cartilha para você seguir, eu achei muito difícil. Não me adaptei muito a esse
[...] só que depois acabou logo também.
necessário pelo fato de que se tornaria possível agregar a sua prática reflexões sobre
seus feitos e resultados, fazendo com que suas práticas sejam mais responsivas no
tocante a importância do ato de ensinar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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MATTOS, Elenir Maria Andreolla. CASTANHA, André Paulo. A importância da pesquisa escolar para
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fracasso. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.
PIMENTA, Selma Garrido. (Org.) Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 2002.
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SCHIMITT, Miguel Ângelo. A prática reflexiva como elemento transdormador do cotidiano educativo:
reflexões preliminares. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/6071_3239.pdf.
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TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
THOMPSON, Paul. A voz do passado. São Paulo: Paz e Terra, 1992. p. 17.
INTRODUÇÃO
1 Doutoranda em Educação pela Universidade de Brasília – UnB; mestra em Educação, Linguagem e Tecnologias
pela Universidade Estadual de Goiás – UEG; membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e atua-
ção de Professores/Pedagogo (GEPFAPe/UnB) e do Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisci-
plinaridade (GEFOPI/UEG). eneida.silva@ueg.br.
2 Aqui a ordem dos termos segue o preceito constitucional por se tratar de um projeto institucionalizado na Pró-
-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Estadual de Goiás. Contudo, por opção metodológica,
utilizamos ao longo do texto a pesquisa em primeiro lugar por acreditarmos que não existe ensino sem pesquisa
(FREIRE, 1996; DEMO, 2006) e que a pesquisa precede as demais atividades e com elas está em constante situa-
ção de pertencimento.
[ 1233 ]
1234 Maria Eneida da Silva
3 Sujeito emancipado na universidade emancipa sujeitos na escola; sujeitos da escola emancipados são atores na
emancipação da universidade, ocorrendo assim, a contra hegemonia.
Essa foi uma pesquisa que, mesmo quando estava em andamento, obteve resulta-
dos no que tange ao processo formativo dos acadêmicos por conta das atividades articu-
ladas da tríade pesquisa-ensino-extensão. A pesquisa dispôs de possibilidades de
interlocução, ação e produção intelectual para a emancipação humana, pois desenca-
deou processos formativos sistematizados, voltados a sujeitos que se constroem social,
política e culturalmente (DA SILVA, 2016).
Para tanto e com vistas à formação acadêmico-científica de um sujeito crítico e
socialmente responsável, o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e exten-
são tem sido amplamente discutido para que possa ser cumprido o que está disposto
desde a Constituição da República Federativa do Brasil – CF (BRASIL, 2017), em seu Artigo
207; na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei n. 9.394/1996; e em
políticas públicas específicas, como a Política Nacional de Extensão, oriunda das discus-
sões do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas
Brasileiras – FORPROEX. Essa é uma política que prima pela extensão universitária como
processo educativo, cultural e cientifico por meio da articulação entre o ensino e a pes-
quisa de forma indissociável e assim viabilizando a relação transformadora entre univer-
sidade e sociedade (FORPROEX, 2012).
Nesse mesmo viés, o Plano Nacional de Educação (PNE), que foi sancionado pela
Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, estabelece uma concepção de universidade autô-
noma, assegurando que tais atividades são necessárias para o desenvolvimento cientí-
fico, tecnológico e cultural do país. Por conseguinte, o Plano define metas e estratégias
para a melhoria do sistema educacional do país, destacando-se a Meta 12 que prevê a
elevação da taxa bruta de matrícula na educação superior, e cuja estratégia 12.7 prevê
que para o alcance dessa Meta é necessário, dentre outros expedientes, “assegurar, no
mínimo, 10% (dez por cento) do total de créditos curriculares exigidos para a graduação
em programas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritaria-
mente, para áreas de grande pertinência social; [...]” (BRASIL, 2014, p. 73).
Não obstante ser imprescindível, foi somente a partir da década de 1960 que a
extensão universitária brasileira se apresentou com a possibilidade de articulação com o
ensino e a pesquisa. Nesse momento, os jovens universitários tiveram a possibilidade de
participar ativamente de ações e se engajarem nos movimentos sociais, tendo Paulo
Freire como o grande disseminador de ações extensionistas com caráter acadêmico.
Posterior às concepções de Freire (1983) sobre extensão universitária e anterior à
Política Nacional de Extensão (FORPROEX, 2012), Reis (1996) discute duas concepções de
é objetificada nocivamente tanto quanto banaliza a vida do outro. É nesse momento que
um mendigo, por exemplo, torna-se invisível, torna-se mais um na estatística.
Portanto, alienado, o sujeito não enxerga possibilidades de mudança, apenas
reproduz a estrutura vigente em que o trabalhado continua existindo somente para
garantir as necessidades básicas, mas não o capacita para assumir responsabilidades de
guiar e de orientar a sociedade para a mudança. Assim se relacionam o trabalho, o capi-
tal e a alienação, promovendo a objetificação do mundo e a consequente desumanização
do sujeito. Na contramão de tudo isso, está o processo de emancipação humana ou revo-
lução social pela perspectiva do trabalho (MARX, 1998).
Diante da importância da teoria de Marx sobre emancipação, trazemos para a dis-
cussão a revolução pela liberdade e autonomia de pensamento e de ação do indivíduo
perante a sociedade e perante si mesmo, revogando imposições nascidas com o capita-
lismo. A conscientização do ser na coletividade e do trabalho não alienado desencadeia
a luta do sujeito por seus direitos civis, políticos e sociais e isso pode ser conseguido pela
educação com a construção do conhecimento.
Assim, a emancipação humana está vinculada à capacidade de lutar por direitos con-
tra qualquer tipo de opressão social, moral ou intelectual e a consequente exigência dos
direitos à educação, à cultura, à segurança, à saúde etc. É o não conformismo do sujeito
de se julgar culpado pela situação de seu “fracasso” no mundo; mas a coragem de se refa-
zer pela luta, consciente de que “mudar é difícil, mas é possível” (FREIRE, 1996, p. 80).
Dessa forma, para que haja uma formação crítico-reflexiva e uma autonomia de
pensamento é preciso questionar as imposições e determinações históricas com o obje-
tivo de transformar a realidade por meio da educação. Essa transformação requer pen-
samento crítico e o conhecimento advindo de estudos e pesquisas pode nos permitir
qualificar o pensamento, desenvolvendo a criticidade para transformar pela ação. Esse
alcance requer que sejamos mais que espectadores dos fatos e situações ou da empiria
que nos cerca; que conheçamos, analisemos e mudemos nossa prática. Para tanto,
Curado Silva (2008, p. 45) pontua que “[...] refletir para conhecer a realidade não é o
movimento simples de pensar sobre os problemas cotidianos, mas um devir histórico [...]
luta orgânica pela transformação da sociedade, isso é emancipação na pesquisa”. E assim,
caminha-se rumo à emancipação humana por meio da formação histórica, cultural e
científica do sujeito.
Nesse mesmo sentido, a formação de professores precisa ser concebida como um
processo constituído por conhecimentos não dicotomizados, por uma unidade
que se inserem atividades processuais e orgânicas desenvolvidas pela práxis crítica com
a produção de conhecimento. Nesse sentido, Curado Silva (2011) esclarece que essa for-
mação crítico-emancipadora prima pela indissociabilidade teoria e prática na práxis, o
que pode ser alcançado com base no currículo formativo, considerando sempre o tripé
da universidade para que os alunos vivenciem e pratiquem o conhecimento em um pro-
cesso contínuo e orgânico.
Tais reflexões esclarecem e conduzem à conscientização da educação enquanto
processo histórico-social que possibilita a formação de professores interligada à cons-
ciência do devir histórico, cujas análises das práticas cotidianas a partir do conhecimento
científico transformam-se em pontes para a práxis. Por isso, é importante formar profes-
sores que assumam posturas reflexivo-críticas como uma estratégia para o círculo for-
mação-atuação-formação, visto que “a educação é um fenômeno e uma prática
complexos, porque é práxis humana. [...] A educação reproduz a sociedade, mas tam-
bém, pode projetar a sociedade que se quer” (PIMENTA, 2013, p. 92). Isso é ser professor
e formar professor: conduzir a formação de sujeitos críticos e emancipados que percebam
que podem transformar suas vidas, primeiramente, e por consequência, a sociedade.
Para que se efetivem tais propósitos, tanto na educação de forma geral quanto
especificamente na formação de professores, um dos caminhos é o letramento, ou
seja, a leitura crítica do mundo que tem como resultante a emancipação humana. Por
conseguinte, o desenvolvimento de pesquisas que advenham do ensino e sejam apre-
sentadas à comunidade externa na forma de ações de extensão trará resultados que
possibilitarão à sociedade e aos atuantes diretos nas ações a discussão sobre nosso
papel na e para a educação.
A importância de tais discussões está no fato de que os pesquisadores4 podem
modificar sua práxis por meio da ação em sala de aula e fora dela, conscientizando os
colegas em formação para as possibilidades do aprender, do conhecer e do refletir sua
profissão. Pimenta (2013, p. 99) pontua que o conhecimento é poder e que “possibilita a
criatividade, a proposição de caminhos outros às formas como a sociedade está organi-
zada, o que confere a condição de cidadania”.
4 Reforçamos a concepção de Freire (1996, p. 29) que “[...] o que há de pesquisador no professor não é uma quali-
dade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a
indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba
e se assuma, porque professor, como pesquisador”.
5 Um software que permite comunicação pela internete por meio de conexões de voz e vídeo – que possibilita que
os encontros e discussões teóricas mensais do GEFOPI (que hoje acontecem no Câmpus Luziânia), bem como os
eventos do grupo contem com a participação de qualquer membro, independente da distância física.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação Scrito Sensu em Educação Profissional e Tecnológica (Mestrado Pro-
fEPT) do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) em associação com o Instituto Federal de Goiás (IFG). Gra-
duada em Direito e pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade de Direito da UFG. Membro
do grupo de pesquisa Panecástica e Kadjót. Email: querenita@gmail.com
2 Doutora em Educação pela PUC-GO. Docente e pesquisadora do IFG. Professora no Programa de Pós-Graduação
Scrito Sensu em Educação Profissional e Tecnológica (Mestrado ProfEPT). Membro do grupo de pesquisa Pane-
cástica e grupo Kadjót. Email: helena.claudia@gmail.com
3 Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea pela UFBa. Pós-Doutor em Tecnologias da Inteligência e
Design Digital pela PUC-SP (2009), Pós-Doutor em Estudos Culturais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(2011), Pós-Doutor em Poéticas Interdisciplinares pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2016). Professor
Associado da Universidade Federal de Goiás, onde coordena o Media Lab UFG e pesquisador visitante na UFRJ.
Email: cleomarrocha@gmail.com
[ 1248 ]
TECNOLOGIAS NA TRÍADE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO DO INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS 1249
As políticas institucionais dos IFs têm convergido para práticas educativas na ges-
tão e no contexto didático-pedagógico da tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, permeada
pelo uso das tecnologias como dispositivo técnico, como artefato sociocultural e como
eixo educativo. Além disso, o uso das tecnologias está carregado de concepções discursi-
vas que consideram a natureza do uso e significado, seja como comunicação (linguagem)
ou relação social que se pretende estabelecer. Nesse sentido, Feenberg (1999; 2005) res-
saltou que o uso da tecnologia poderá ocorrer numa concepção determinista, instru-
mentalista, subjetivista ou crítica.
No presente trabalho, apresentaremos a contextualização e a discussão do uso das
tecnologias nas práticas educativas da tríade EPE dos Institutos Federais, a partir de uma
revisão de literatura com um breve resgate histórico da Rede Federal de Educação
Profissional e Tecnológica no Brasil e a criação dos Institutos Federais. Em seguida, abor-
daremos a tríade EPE, a partir de seu processo de construção e significado nos IFs. Após
essa etapa de fundamentação teórica, observaremos o objeto da pesquisa que se con-
substancia no conceito e concepções sobre a tecnologia, estabelecendo uma relação dia-
lógica com a EPT e a tríade EPE no Instituto Federal de Goiás (IFG).
A apresentação do retrato das tecnologias na tríade EPE dos IFs terá como aporte
os resultados parciais de uma pesquisa em desenvolvimento que tem como corpus os
documentos institucionais do IFG e os projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão desenvol-
vidos nos anos de 2017 e 2018, no âmbito dos Câmpus Goiânia e Anápolis do IFG.
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
E TECNOLÓGICA E A REDE FEDERAL
O processo histórico de surgimento da Rede Federal dos IFs apresenta-se sob dis-
cussão teórica de diversos autores que direcionam duas possibilidades quanto ao seu
papel e seu projeto político, social, econômico e pedagógico no contexto histórico da EPT
no Brasil: primeiro como política pública estratégica para a educação profissional e tec-
nológica, em que os IFs se concretizam como uma revolução no país dos trabalhadores
na visão de Pacheco (2008, 2011a, 2015b). Por outro lado, como luta de projetos políticos
antagônicos para a educação, objetivando reificar as estruturas falidas de formação de
trabalhadores para o mundo do trabalho com base na dualidade humana e técnica (MOLL
et al., 2010).
A Rede Federal e a realidade do IFG, desde seu surgimento como Escola de
Aprendizes e Artífices até sua institucionalidade atual se apresenta como uma Instituição
de Ensino Público Federal de natureza sui generis. A criação dos Institutos Federais em
2008 faz parte do processo histórico que visa compreender a EPT no país e sua relação
com a formação profissional e tecnológica dos trabalhadores do Brasil. Essa, por conse-
quência, abrange as práticas educativas de uso das tecnologias na gestão do conheci-
mento e na educação de eixo tecnológico que permeia o processo didático-pedagógico
dos IFs.
Nessa perspectiva, com a Lei de criação dos IFs e a elevação desses à condição de
Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs) por meio da Lei de Inovação, se consolidou a
regionalização com a consolidação de unidades em diversas capitais e interiores do país;
a verticalização com a ampliação do papel e da responsabilidade dos IFs na oferta de
diversos níveis de ensino e uma nova institucionalidade ao apresentarem-se como insti-
tuições que oportunizam a “travessia” (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2012).
Historicamente, a educação profissional, técnica e industrial fez parte de uma
Constituição Federal pela primeira vez em 1937 e com a Reforma Capanema em 1941, a
educação profissional é ampliada para o nível médio. A partir de 1959 são criadas as pri-
meiras Escolas Técnicas Federais com natureza autárquica e autonomia. Mais tarde, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação de 1971 previu que o currículo de segundo grau seria
constituído pela formação técnica-profissional que atendesse às demandas econômicas
e políticas urgentes da época para o mercado de trabalho.
De 1978 a 1996, tem início a transição de Escolas Técnicas para Centros Federais
de Educação, Ciência e Tecnologia (CEFETs) e a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 passou
a propor um capítulo para tratar da EPT, a partir do seu papel educativo de inclusão
social e acesso democrático à educação. A partir de 1997 até 2010 inicia-se uma tran-
sição de regime político que considerou a EPT no Brasil como relevante e estratégica
enquanto política social para a educação da classe trabalhadora e como proposta de
superação dos modelos econômicos de formação de trabalhadores sob uma perspec-
tiva dicotômica e tecnicista.
Consolidou-se assim a expansão da EPT com a Lei Federal n. 11.892/2008, que
criou os IFs em todos os estados brasileiros e no DF, com oferta de 50% das vagas para o
Ensino Médio Integrado ao Técnico. Nesse período entrou em vigência o Decreto n.
5.154/2004, que previu a integração do Ensino Médio à EPT, a organização da estrutura
sócio-ocupacional e tecnológica, a articulação das áreas de educação, trabalho, emprego,
ciência e tecnologia, o trabalho como princípio educativo, a relação teoria e prática
(BRASIL, 2004a) e a execução de Políticas Públicas de execução dos Planos de Expansão
da Rede Federal. Ressalta-se que a Rede Federal nesse ano de 2019 completa 110 anos
de existência.
Neves e Pronko (2008, p. 72/73) enfatizaram ainda que a Educação Média e
Tecnológica foi pauta do documento denominado “Proposta de Política Pública para a
Educação Profissional e Tecnológica”, que explicitou a natureza diversa da educação tec-
nológica e da educação profissional, apresentando como diretrizes principais dentre
outros o de:
[…] registrar, sistematizar, compreender e utilizar o conceito de tecnologia,
histórica e socialmente construído, para dele fazer elemento de Ensino,
Pesquisa e Extensão numa dimensão que ultrapasse concretamente os limi-
tes das aplicações técnicas, como instrumentos de inovação e transformação
das atividades econômicas em benefício do cidadão, do trabalhador e do
país. (BRASIL. MEC/SEMTEC, 2004, p. 12).
4 Dados obtidos no sistema “Visão” do IFG em 20/02/2019, podendo sofrer alterações conforme matrículas e
exclusões discentes realizadas. O Visão pode ser acessado no endereço eletrônico: http://visao.ifg.edu.br
cientificamente (BRASIL, 1988). Na Rede Federal, esse princípio compôs a realidade dos
CEFETs no Ensino Superior e foi ampliado para o Ensino Médio Integrado à EPT com a
criação dos IFs em 2008.
No contexto do IFG, uma análise preliminar dos documentos institucionais do
regulamento docente do IFG e do Relatório de Alinhamento das Câmaras de Regulação
(IFG, 2017) demonstrou o desafio de implementar indissociabilidade do EPE para os
professores da EPT no Ensino Médio Integrado nas áreas comuns do Ensino curricular
como Matemática, Geografia, História, Linguagens, Química, dentre outros. Essa reali-
dade é mais latente em detrimento da exaustiva jornada docente das áreas de forma-
ção específica em todos os níveis de ensino ofertados. Essas ocorrências inviabilizam a
realização da tríade EPE, que, muitas vezes, limita-se ao Ensino ou ao Ensino e Pesquisa
ou ao Ensino e Extensão. Além disso, a Pesquisa e a Extensão ainda são consideradas
atividades extracurriculares, posto que a prioridade são as aulas regulares constituídas
na matriz curricular.
As ações de EPE no IFG, em mais de dez anos de criação dos IFs, ainda encontram-
-se em construção. No tocante à Extensão, a Resolução CONSUP/IFG n. 24, de 8 de julho
de 2019 compreende as suas ações como de caráter orgânico-institucional e orgânico-
-pedagógico, apresentando em seu art. 3º como um processo de cunho educativo, cultu-
ral, social, político, artístico, esportivo, científico e/ou tecnológico que ocorre articulado
de forma indissociável ao Ensino e à Pesquisa, sendo “desenvolvida mediante ações sis-
tematizadas voltadas às questões sociais relevantes construídas na interação dialógica
entre a instituição e a sociedade, para promover o desenvolvimento local e regional, bem
como possibilitar a dinamização do conhecimento” (CONSUP/IFG, 2019).
Ressalta-se que no IFG, culturalmente a dimensão Pesquisa teve prioridade em
relação a sua regulamentação, sistematização, gestão e prática educativa, enquanto as
dimensões Ensino e Extensão foram regulamentadas nos últimos dois anos e ocorriam
sem observar um fluxo contínuo que proporcionasse a devida memória de suas ações.
Nesse sentido, as ações de Pesquisa ocorriam na antiga estrutura do CEFET-GO no
Ensino Superior.
A pesquisa científica e tecnológica no Ensino Médio Integrado regular passou a
ser instituída a partir da criação do IFG e viabilizada por meio de Editais de Iniciação
Científica regular ou voluntária no ano de 2010. Na Educação de Jovens e Adultos a
pesquisa se fez presente e regulamentada em 2019, com oferta de bolsas de pesquisa
para essa modalidade.
As ações de Extensão são realizadas desde a época de Escola Técnica Federal por
meio de Acordos de Cooperação Técnica ou por iniciativa dos proponentes da própria
Instituição. Até 2018 as ações de Extensão ocorriam por meio de editais, cooperação
técnico científica, parcerias, convênios e ações de iniciativa dos proponentes. Em 2019,
as ações de Extensão foram devidamente regulamentadas no Conselho Superior
(CONSUP) do IFG.
As ações de Ensino carecem de regulamentação do CONSUP do IFG, mas ocor-
rem de forma sistematizada desde 2016, após a Instrução Normativa PROEN n.
03/2016 regulamentar e normatizar os projetos de Ensino no âmbito do IFG, todavia
sem fluxo processual transparente e dados acessíveis eletronicamente para acompa-
nhamento e avaliação.
Assim, apresentado o retrato da tríade EPE no contexto do IFG, trataremos do con-
ceito e concepção discursiva da tecnologia e sua relação como eixo educativo, artefato
sociocultural e dispositivo técnico na realidade dos IFs.
O termo tecnologia tem origem grega em techné, que é arte, técnica; e logos, pala-
vra, raciocínio, estudo, significando de forma simplista a discussão da técnica
(ABBAGNANO, 2007). Outra definição de tecnologia é aquela que afirma serem instru-
mentos de ampliação das capacidades humanas para a memória, inteligência, imagina-
ção e percepção (LÉVY, 1999) ou instrumento de poder para o controle e a coerção social
(MARCUSE, 2001).
Os primeiros movimentos de reflexão sobre a tecnologia possuíam uma visão tec-
nicista, ou seja, pensando-a apenas em sua racionalidade, eficiência e produtividade
como ferramenta do trabalho e da vida. Essa visão instrumental ignorava as relações
humanas e tecnológicas presentes na realidade, compreendendo as tecnologias como
parte dos fenômenos previsíveis.
A partir de 1960, a Escola de Frankfurt passou a ter um olhar crítico dos fenômenos
presentes nas relações humanas e tecnológicas, com a compreensão do ser humano na
totalidade em que se constitui e não um ser dicotomizado, fragmentado, mas composto
por dimensões que se interrelacionam. Na concepção de Pinto (2005), o homem toma
consciência da realidade a partir do trabalho realizado no contexto da vida dinâmica e
dos seus objetos em constante mobilidade no mundo, pois o meio único de realizar a
união do homem com a realidade é pela ação específica sobre os objetos dispostos ao
redor do homem. Defendeu que as máquinas inviabilizavam a transformação qualitativa
da “forma de manuseio” em relação à realidade, posto que o trabalho passa a poupar o
trabalhador, retirando-lhe o controle sobre sua própria qualificação.
No mesmo caminho Marcuse (2001) apontou que a tecnologia pode servir como
instrumento de dominação e/ou emancipação do homem, pois qundo coloca a máquina
como centro e se institui como instrumento, o sentido da tecnologia para ele se torna
irracional, adquirindo um caráter opressor e explorador com padronização dos compor-
tamentos sociais.
No esforço de compreender as diferentes abordagens epistemológicas e ontológi-
cas da tecnologia, Feenberg (1999; 2003) por meio da “Filosofia da Tecnologia”, a classi-
ficou em relação ao valor que lhe é dado nas ciências e na sociedade e por outro lado, a
sua relação com o ser humano a partir da concepção de poder. Essa sistematização resul-
tou em quatro concepções discursivas sobre as tecnologias denominadas: Determinismo;
Instrumentalismo; Substantivismo e Teoria Crítica.
A tecnologia é autônoma de acordo com Feenberg (2003, p. 6) no “sentido de que
a invenção e o desenvolvimento têm suas próprias leis imanentes, as quais os seres
humanos simplesmente seguem ao interagirem nesse domínio técnico.” Porém, será
humanamente controlável caso o desenvolvimento tecnológico seja considerado a partir
da intencionalidade humana. Quanto ao seu valor apresenta-se como neutra em seu
caráter axiológico, enquanto dispositivo técnico ou carregada de valores, ou seja, obser-
vando uma filosofia de vida, a finalidade e o uso da tecnologia de acordo com o contexto
sociocultural, político e econômico.
As teorias filosóficas instrumentalistas e deterministas ganharam robustez no final
do século XIX com Darwin e Marx, indo do progressismo ao determinismo tecnológico
para fundamentar o avanço da humanidade em direção à liberdade e felicidade. Essas
teorias são tidas como tecnocratas, que de acordo com o entendimento de Feenberg
(1999, p. 4, tradução nossa) é “um sistema administrativo abrangente que é legitimado
tendo por referência a especialização científica e não à tradição, o direito ou à vontade
das pessoas. Até que ponto a administração tecnocrática é realmente científica é outra
matéria”5. Essas duas concepções diferem apenas no caráter do controle da tecnologia,
5 “[By ‘technocracy’ I mean] a wide-ranging administrative system that is legitimated by reference to scientific
expertise rather than tradition, law, or the will of the people. To what extent technocratic administration is
mas suas bases são reificadoras da tecnologia com tendência a compreendê-la como
ciência e um fenômeno natural, a partir da modernização das sociedades para um modelo
único para o mundo.
O determinismo apresenta sua concepção em Marx, compreendendo a tecnologia
como determinante da sociedade por meio de um caminho linear de desenvolvimento,
todavia sem ser controlada pelo homem. Baseia-se no movimento de crença na moder-
nização e avanço tecnológico, ou seja, a tecnologia é a força motriz da história e das
necessidades humanas.
No instrumentalismo, a tecnologia é neutra e controlável pelo homem, sendo
essa uma filosofia espontânea no mundo ocidental, de forma que os meios e os fins são
independentes. Esse tipo de visão sustenta o discurso atual de que “as armas não
matam as pessoas, mas pessoas matam as pessoas” (Feenberg, 2003, p. 5), tirando
qualquer valor cultural ou político sobre a tecnologia. É a teoria que nega as influências
da tecnologia sobre o mundo, os homens e os objetos, tendo como diretriz a eficiência
produtiva em seu uso.
Já as teorias substantivistas e críticas compreendem a tecnologia como carregada
de valores substantivos em sua essência. O uso e a propagação da tecnologia não são
inocentes, pois de acordo com Feenberg (1999, p. 2, tradução nossa) “as ferramentas que
utilizamos moldam o nosso modo de vida nas sociedades modernas onde a técnica se
tornou generalizada. Nesta situação, meios e fins não podem ser separados.”6 O autor
(idem, tradução nossa) salienta ainda que a tecnologia tem influência na essência
humana, pois “como fazemos as coisas determinam quem e o que somos. O desenvolvi-
mento tecnológico transforma o que é ser humano.”7 Na teoria substantivista esse pro-
cesso ocorre de forma autonôma, uma vez que a tecnologia quando liberada, cessa as
restrições que a envolvem e controlam. A autonomia da máquina se sobrepõe a natureza
humana, dominando-a.
Feenberg (2003, p. 6) movimenta a teoria que considera coerente com os tempos
atuais: a crítica da tecnologia, que questiona o uso das tecnologias pelo homem e
sociedade, buscando assim uma reflexão para esse uso de forma alternativa. A ideia
homens sobre o mundo para transformá-lo”. Libâneo (2005, p. 3) ressalta que as práticas
pedagógicas “implicam necessariamente decisões e ações que envolvem o destino
humano das pessoas, requerendo projetos que explicitem direção de sentido da ação
educativa e formas explícitas do agir pedagógico.” A prática educativa não é neutra, mas
carregada de valor, de uma ordem, não podendo “suprimir da pedagogia o fato de que
ela lida com valores, objetivos políticos, morais, ideológicos.” (idem, p. 3).
Desse modo, no que se refere à gestão, as tecnologias podem, de acordo com
Sancho (2006, p. 30) organizar o “tratamento, armazenamento, transmissão e a recupe-
ração da informação do trabalho.” Integrar as tecnologias à dimensão da gestão do
conhecimento nas Instituições favorece a utilização das bases de dados, transparência
dos atos e dos documentos institucionais e a troca de informações e comunicações com
a comunidade interna e externa. A sistematização de um ciberespaço institucional inte-
grado, acessível e socializado mostra-se como possível caminho para superar a fragmen-
tação das ações da tríade EPE a nível de direito à informação, à memória e ao exercício
pleno do direito à educação, com inclusão social e digital plena.
No que concerne às ações didático-pedagógicas, o debate mostra-se entre a edu-
cação para as tecnologias ou educação tecnológica e as tecnologias educativas. Araújo
(2008) esclarece que a apropriação das tecnologias, em especial do computador, na rea-
lidade da educação perpassa a compreensão dos diversos posicionamentos teóricos e
discursos pedagógicos sobre o uso das tecnologias que influenciam em seu caráter peda-
gógico. Contudo, a dimensão individual e coletiva do uso das tecnologias na educação
deve ser repensada no processo didático-pedagógico, sob um olhar crítico que vise opor-
tunizar o acesso e utilização de forma mais isonômica possível.
A educação tecnológica na EPT dos Institutos Federais prescinde de um debate sobre
sua institucionalidade e identidade, superando a concepção de uso das tecnologias como
ferramentas para alcançar metas traçadas pela legislação, pelos regulamentos institucio-
nais, pela pesquisa ou pelo mundo do trabalho, mas aprofundando o pensamento crítico e
reflexivo sobre a função das tecnologias na vida enquanto como eixo formativo.
Nesse sentido, em pesquisa realizada no âmbito do IFG em 2011 e 2012 (GOMES et
al., 2016, p. 204/205), foram apresentados entraves quanto a inovação e tecnologias no
IFG no que se refere a necessidade de desenvolver políticas que incentivem a produção
e a apropriação do conhecimento que desvelem os problemas sociais; definir e investir
em áreas estratégicas, valorizando a vocação de cada câmpus e promover maior
PERCURSO METODOLÓGICO
8 O referido sítio eletrônico do IFG é utilizado para a gestão e execução de eventos institucionais, cadastros de
editais e de propostas de pesquisa e extensão na instituição. O endereço eletrônico do SUGEP é https://sugep.
ifg.edu.br/eventos
9 Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC): destinado a estudantes dos cursos de gradua-
ção do IFG; Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica nas Ações Afirmativas (PIBIC-Af): destinado
a estudantes dos cursos de graduação do IFG que ingressaram no IFG através do sistema de cotas; Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI): destinado a estudan-
tes dos cursos de graduação do IFG; Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica no Ensino Médio
(PIBIC-EM): destinado a estudantes dos cursos técnicos de nível médio do IFG; Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação Científica no Ensino Médio – EJA (PIBIC-EM/EJA): destinado a estudantes dos cursos de nível médio
na modalidade EJA do IFG e o Programa de Cadastro de Projetos de Pesquisa – CPP.
experiências para o percurso formativo. Porém, verificou-se que no ano de 2019 a PROEN
publicou pela primeira um edital unificado para propostas de Ensino dos 14 Câmpus,
visando a centralização e integração das ações e dados dessa dimensão.
Limitando-se ao recorte temporal da pesquisa, no sistema SUAP foram localizados
para o ano de 2017 o cadastro de 02 Projetos de Ensino para o Câmpus Anápolis e 18
para o Câmpus Goiânia. Em relação ao ano de 2018, foram 07 projetos de Ensino proto-
colados em Anápolis em detrimento de 24 projetos protocolados no Câmpus Goiânia.
Enfatiza-se que devido a dificuldades de ordem material na pesquisa, os dados
levantados limitaram-se apenas ao Câmpus Anápolis e aos Projetos de Ensino relativos a
2018 nos sistemas GUIA e SUAP, em que foram mapeados apenas 03 projetos com refe-
rência ao uso de tecnologias do total de 09 projetos cadastrados e desenvolvidos em
2018, a saber: Educação Inclusiva e Diversidade, Revista Literária Virtual e Lentes de con-
tato: fotobiografia.
10 Projeto Alvorada: Inclusão social e produtiva de Pessoas Egressas do Sistema Prisional; o Projeto de Qualifica-
ção do Sistema Único de Assistência Social pela Transversalização com a Política de Igualdade Racial, o Projeto
Sanear Cidades e o Projeto de cadastro de Agricultores para participação na Feira Agroecológica do IFG de
alimentos orgânicos. Nos dois primeiros projetos, a Plataforma Moodle do IFG será utilizada como Ambiente
Virtual de Aprendizagem (AVA) para desenvolvimento dos projetos.
Esse campo não pretende ser a conclusão final, mas apenas considerações iniciais
de uma pesquisa em desenvolvimento. Observa-se que em relação a pesquisa documen-
tal realizada no IFG, as mudanças ocorridas nos documentos ainda convergem para o
entendimento da dimensão Ensino, Pesquisa e Extensão de forma fragmentada ou justa-
posta, sem considerá-la em sua relação sistêmica de ações. Esse fato é ratificado nas
ações não integradas das três dimensões nos eventos institucionais, nos editais de pro-
postas de projetos e nas lacunas de sistematização dos dados da tríade.
Observa-se que essas mudanças e revogações de documentos institucionais coin-
cidem com as diretrizes presentes no Plano de Desenvolvimento Institucional (IFG, 2019)
atual, que apontam para uma nova institucionalidade e um movimento de repensar as
ações da tríade EPE. Além disso, intensificou-se o debate ético-democrático em âmbito
institucional com a abertura de consulta pública às demandas e regulamentos institucio-
nais, que são levados à discussão nas diversas instâncias político-pedagógicas que com-
põem o IFG.
No que tange às tecnologias, os documentos norteadores convergem para a prá-
tica educativa de gestão como foi constatado no Plano Diretor da Tecnologia da
Informação do IFG vigente, que propõe em seu planejamento repensar a integração
futura dos sistemas institucionais para gestão do conhecimento no IFG com maior efe-
tividade e transparência aos processos e ações institucionais da tríade Ensino, Pesquisa
e Extensão.
Apesar dos esforços, atualmente nos sistemas institucionais e fluxos processuais
as dimensões Ensino, Pesquisa e Extensão ocorrem de forma dissociada e justaposta
na dimensão político-pedagógica do IFG, urgindo ações que contemplem a relação dia-
lógica e integrada dessas práticas educativas. Na dimensão Ensino, os projetos e seus
resultados não estão publicizados para a sociedade e nos projetos de Pesquisa e
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INTRODUÇÃO
[ 1270 ]
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA OFERTA DE DISCIPLINAS SEMIPRESENCIAIS EM CURSOS SUPERIORES 1271
Contextualização e fluxos
Caracterização do Curso
O Curso foi organizado em duas etapas e seus respectivos módulos. A primeira foi
denominada de “Formação” e a segunda de “Planejamento”.
No primeiro módulo, da primeira etapa, os conteúdos foram destinados às dis-
cussões das mudanças macroeconômicas, sociais e culturais que acabaram por deli-
near a “nova economia”, a atual sociedade do conhecimento, também, denominada
sociedade da informação. E daí, partiu-se para, numa contextualização histórica, refle-
xões mais específicas sobre as realidades que impactaram a Educação, mais especifica-
mente, a EaD.
O segundo módulo escrutinou o Ambiente de Ensino e Aprendizagem – AVEA e as
principais ferramentas utilizadas e recomendadas pelo CEAR na construção de discipli-
nas. Foram disponibilizadas atividades treino para reconhecimento e compreensão da
funcionalidade de cada um dos recursos e interfaces de trabalho apresentadas.
O módulo três cuidou dos aspectos orgânicos e elementares para uma boa con-
dução das relações e das atividades no AVEA. Sob o título “Netiqueta e gerenciamento
do tempo”, foram postos na pauta os desafios da docência voltados à EaD na atuali-
dade e como o professor deve se portar mediante às exigências educacionais contem-
porâneas. Contudo, a notação de maior peso ficou por conta das discussões sobre a
intervenção do professor/tutor na administração de conflitos virtuais reais, as quais
foram estruturadas com uso da ferramenta “Fórum”. A estratégia metodológica utili-
zada foi o “Estudo de Caso”.
O quarto e último módulo propôs um aparente ensaio ou introdução à segunda
etapa do Curso. Esse box subsidiou uma detalhada instrumentalização pedagógica para
Dentre esses boxes, serão abordados os boxes, que são módulos, os quais tratam
de assuntos pedagógicos necessários à elaboração de disciplinas:
• Bases Normativas.
• Detalhando os Formulários.
• Organização do Trabalho Acadêmico.
• Encontro Presencial.
• Pasta Digital.
No Módulo 1 “Bases Normativas” foram apresentados três textos normativos fun-
damentais ao planejamento de um componente, no formato EaD:
• A
Portaria MEC N. 4059/2004, que regulamentou a possibilidade da oferta de
20% (vinte por cento) da carga horária total dos cursos de graduação na moda-
lidade semipresencial.
• A
s Diretrizes básicas para a estrutura curricular dos cursos de graduação da
UEG, regulamentadas pela Resolução CsU n. 682, de 7 de agosto de 2004 – Cap.
1 – Da estrutura curricular, Art. 1º, § 4º, que imputa ao Projeto Político Pedagógico
do Curso a previsão de disciplinas na modalidade semipresencial.
• A
minuta de resolução que visa a aprovação do regulamento para oferta de dis-
ciplinas na modalidade semipresencial na UEG. Todos os docentes/cursistas
foram chamados, via fórum de discussões, a contribuir com o esboço da resolu-
ção em tela, já que essa ainda estava em fase de discussões para posterior
aprovação.
No segundo módulo, com a pergunta “O que interessa ao desenhista educacional
na análise dos materiais produzidos para a EaD?”, iniciou-se o detalhamento dos formu-
lários utilizados na composição das disciplinas. Todos os formulários foram disponibiliza-
dos e cada campo desses instrumentos foram minuciosamente apresentados e
justificados. Esse box trouxe um pouco da experiência adquirida pela equipe do CEAR, ao
longo dos trabalhos já executados em EaD. Alguns equívocos metodológicos e dúvidas
mais frequentes, daqueles que elaboraram uma disciplina em EaD pela primeira vez,
foram expostos no Curso, como por exemplo:
• I ncoerência na execução de fóruns, quando esses não conduziam à interação
dos participantes.
• A
usência de mediação/participação docente em especial nas interfaces sociais
do AVEA.
Assim concebida, para se fazer um instrumento real de formação discente, essa ati-
vidade deveria expressar uma complexidade superior à mera transcrição de conteúdos e
execução de fórmulas, e corroborar no processo de atribuição de sentido aos conteúdos,
contextualizando-os com a vida, contribuindo, assim, com a formação de sujeitos aptos
ao exercício crítico-reflexivo.
A compreensão da disciplina foi trabalhada a partir dos elementos sistematizados
na Figura 2, na qual se demonstra a relevância da AO na formação do discente, sendo o
docente conscientizado sobre essa importância e a necessidade de se investir em ativi-
dades mais elaboradas, priorizando propostas reflexivas.
O uso de textos e outros recursos extraídos da internet nas atividades online, bem
como questões autorais, também, foram objeto de discussão, que se desenvolveu à luz
da legislação vigente (BRASIL, 1998).
As dificuldades operacionais com o uso das tecnologias e de programas básicos
para editoração de textos foi outra demanda identificada nas experiências da equipe de
desenho educacional e pontuada no módulo 3 – box Organização do Trabalho Acadêmico.
Com o objetivo de superar embaraços dessa natureza, foram prescritas orientações para
sistematização de pastas e arquivos com apoio de ilustrações e exemplos práticos.
Quando discutidas as especificações da semipresencialidade, pensada e elaborada
a estrutura e apresentada uma versão preliminar da disciplina, os cursistas participantes
receberam no AVEA um convite para encontro presencial, no qual aconteceria a resolu-
ção de eventuais pendências e o parecer devolutivo dos tutores referente à primeira ver-
são da disciplina, que fora postada no AVEA.
Os arquivos devidamente organizados e revisados pelos desenhistas/tutores
também foram depositados no AVEA, sob o recurso banco de dados disponibilizado
pelo Moodle.
As anotações foram inseridas nos arquivos editáveis e tinham a intenção de aper-
feiçoar e, até mesmo, corrigir quaisquer problemas detectados na conferência do mate-
rial realizada pela equipe de desenho educacional. O que não eximia o docente/cursista
da responsabilidade, nem tampouco o expropriaria das questões autorais.
O acatamento das inserções da tutoria foi facultado ao docente/cursista. No
entanto, caberia à versão final outra avaliação minuciosa e, uma vez não atualizados os
arquivos ou não justificada a permanência das “incorreções”, a aprovação no Curso
poderia ser comprometida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil do professor
Idade %
20 a 30 anos 13, 8
31 a 40 anos 42, 3
41 a 50 anos 25, 4
51 a 60 anos 16, 9
Acima de 61 anos 1, 5
Tempo de atuação na docência %
1 a 5 anos 20
6 a 10 anos 26, 9
11 a 15 anos 25, 4
16 a 20 anos 16, 9
Acima de 21 anos 10, 8
Nível de formação %
Especialização 38, 5
Mestrado 41, 5
Doutorado 16, 2
Pós-doutorado 3, 8
Fonte: Elaboração dos autores.
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INTRODUÇÃO
1 Coordenadora de Curso e de Pólo pelo Instituto Federal Goiano. Pólo Minaçu, Campus Ceres. Professora do Sis-
tema Estadual de Educação de Goiás e da Prefeitura Municipal de Educação de Minaçu. “O presente trabalho foi
realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES) - Código
de financiamento 001 Email: elzilenel.m@hotmail.com
2 Mestranda em Educação pela PUC- Goiás. Aluna do Grupo de Pesquisa “Teoria Histórico-Cultural” coordenado
pelo professor José Carlos Libâneo. Professora da educação básica. “O presente trabalho foi realizado com apoio
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES) - Código de financiamento 001
Email: danielaamelia2011@hotmail.com
[ 1288 ]
ENSINO DESENVOLVIMENTAL E A FORMAÇÃO DE CONCEITOS MATEMÁTICOS 1289
que consiste e de que forma essa formação se constitui como base para a aprendizagem de
conteúdos matemáticos nos anos iniciais do Ensino Fundamental I, especialmente nos anos
iniciais, para tanto surgiu o interesse pelo tema, o anseio e a angústia eram maiores durante
as aulas de matemática, por que o aluno muitas vezes somente conseguia manifestar o
conhecimento empírico da operação matemática e dos problemas, porém a construção do
conhecimento científico internalizado ficava comprometida.
A partir daí a observação se tornou mais constante, e ano após ano, essa realidade
tem se apresentado na maioria das salas de aula de Ensino Fundamental. A motivação se
apresenta mediante ao vislumbre de um meio que faça a relação entre a formação de
conceitos no ensino escolar, proporcionando assim, a aprendizagem significativa para
que o aluno cada vez mais conquiste sua autonomia e a alegria de realmente aprender.
Vasconcellos, 2009 diz que “a douta alegria é aquela que vem de sentido do que se faz,
do não estranhamento, do prazer de fazer, de se superar, de conhecer de se sentir aco-
lhido, amado, de ser sentir crescendo, de ver crescer sua potência”.
Neste sentido se faz necessário analisar os avanços da história da educação, e as
novas propostas do contexto educacional para sanar as dificuldades apresentadas pelos
alunos quando se deparam com os problemas matemáticos. Formar conceitos científicos
é um trabalho complexo que encontra resistências, pois, para isto depende de grande
esforço intelectual, por meio desta perspectiva atribui-se a este processo a necessidade
de maior entendimento da apropriação da cultura produzida e acumulada social e histo-
ricamente, para a aquisição da competência matemática.
A proposta de formação de conceitos matemáticos nesta perspectiva contempla
um olhar mais integral a cerca da ciência, arte, cultura, ética e técnica dos conteúdos dis-
ciplinares, na busca da promoção da sua aplicabilidade, uma formação mais autônoma e
contextualizada, dispondo de recursos para a pesquisa, delegando ao aluno envolvi-
mento e dedicação as atividades propostas, buscando assim inseri-lo em pé de igualdade
com o contexto social contemporâneo, que faz alusão a profissionais capazes de resolver
situações problemas e conflitos constantes e inerentes ao diversos tipos de ambiente em
que o indivíduo se apresente.
Através da análise do contexto escolar, este estudo se propõe verificar a importância
da formação de conceitos matemáticos na aprendizagem escolar, tendo como referência
os princípios da teoria histórico-cultural, como meio auxiliar a resolução de problemas
matemáticos, por intermédio de práticas intencionais, analisando a necessidade do traba-
lho contextualizado, através da atividade de estudo como forma básica para a organização
do ensino, investigar se muito dos vários problemas com a disciplina de matemática está
intimamente ligados a falta de competência conceitual ou metodológica.
Este é um problema que promove muitas indagações no âmbito escolar, pois
para que esta situação tenha uma perspectiva de resolução é necessário além de uma
prática voltada para a fixação de exercícios, se tenha um olhar voltado para a formação
de conceitos matemáticos e a própria atividade de estudo, que surge neste contexto
não como foco no conteúdo em si, mas os modos de pensamento e ações mentais
conexos a esse conteúdo.
Em um novo contexto educacional integrar os conhecimentos a realidade do
aluno é uma urgência, cada vez mais, o educador precisa se envolver no processo edu-
cativo com o intuito de apresentar situações inovadoras que vá de encontro aos anseios
do aluno. Propor o trabalho de investigação dentro do ambiente escolar é oportunizar
ao aluno relacionar os vários conhecimentos, a ele oferecido, fazendo com que inte-
grem de maneira significativa os conhecimentos ao cotidiano, traçando assim uma
maior significação ao processo de aprendizagem, bem como, à sua atuação na socie-
dade atual. A teoria histórico-cultural de Vigotsky e a teoria do ensino desenvolvimen-
tal de Davídov traz outras possibilidades do pensar didaticamente sobre os processos
de ensino e aprendizagem.
DESENVOLVIMENTO
A aprendizagem a partir desta reflexão nos aponta para um autodomínio dos pro-
cessos escolares, a busca por uma educação que permita ao aluno avançar, envolvendo-
-se ativamente, a partir da teoria histórico-cultual, percebe-se que o pensar pedagógico
se depara com um novo olhar para seus processos, permitindo assim que se promova
uma aprendizagem embasada nas construções diárias. O trabalho pedagógico neste sen-
tido ganha um caráter mais dinâmico e de pesquisa, a percepção do meio e das condi-
ções de aprendizagem transcorrem para um ideal investigativo e envolvente, permitindo
a atuação do aluno em todo o processo de construção do conhecimento.
Libâneo (2016), diz que a aprendizagem é realçada pelo papel da atividade humana
sócio-histórica e coletiva na formação dos processos psíquicos superiores, aponta como
caráter de mediação cultural no processo do conhecimento. Ao mesmo tempo enfatiza
que é através da atividade individual de aprendizagem que os indivíduos podem se apro-
priar ativamente da experiência sociocultural da humanidade. Nesse sentido ele acredita
que a visão histórico-cultural do ensino busca compreender como o funcionamento psí-
quico das pessoas está relacionado com o contexto histórico, cultural e institucional em
que ele ocorre.
Os signos culturais, entre os quais estão os conteúdos de ensino a serem
aprendidos são, assim, manifestações da cultura humana social e historica-
mente produzida, devendo ser interiorizados como condição de desenvolvi-
mento humano, portanto, de formação da personalidade e humanização. Há
que se considerar em relação a esses conteúdos que, à medida que são cons-
tituídos em relações intersubjetivas, sua apropriação pelos indivíduos
implica, também, a interação social entre os que ensinam e os que apren-
dem, razão pela qual formas de convivência e cooperação são meios essen-
ciais de aprendizagem. (LIBÂNEO, 2016, p. 356).
uma nova visão de mundo, dentro de um todo sem desprezar suas especificidades,
levando em consideração a possibilidade de constituir em um indivíduo por meio do
ensino e da educação, e formar certas capacidades ou qualidades mentais que não tinha
anteriormente.
Segundo Dante (2000), o objetivo da aprendizagem matemática é fazer com que o
aluno desenvolva o raciocínio lógico. Com as contribuições da teoria histórico-cultural, o
ensino de matemática transcorre para o desafio do aluno através das situações problema
para o desenvolvimento da habilidade com cálculos e resolução de problemas, tornan-
do-o capaz de solucionar as questões que surgem no dia a dia, preparando-o para a vida
futura. Contudo, com o desenvolvimento tecnológico e o aprimoramento dos conceitos
matemáticos, não se pode prever que habilidades este aluno deverá possuir para enfren-
tar os novos problemas impostos pelo crescente avanço tecnológico.
Neste sentido, o ensino de matemática tem um caráter mais investigativo, onde,
através do desafio dos problemas matemáticos seja oportunizado ao aluno se envolver
com as aplicações matemáticas. Tornando os processos mentais mais complexos, resul-
tando em aulas mais interessantes e desafiadoras, trabalhando com alunos ativos indivi-
dualmente ou em grupos, cabendo ao professor lançar estratégias que facilite ao aluno
construir sua aprendizagem.
Mais do que nunca precisamos de pessoas ativas e participantes, que deve-
rão tomar decisões rápidas e, tanto quanto possível, precisas. Assim, é neces-
sário formar cidadãos matematicamente alfabetizados, que saibam como
resolver, de modo inteligente, seus problemas de comércio, economia, admi-
nistração, engenharia, medicina, previsão do tempo e outros da vida diária.
E, para isso, é preciso que a criança tenha, em seu currículo de Matemática
elementar, a resolução de problemas como parte substancial, para que
desenvolva desde cedo sua capacidade de enfrentar situações-problemas.
(DANTE, 2000, p. 15).
Ao propor a ação de planejar o docente convive com entraves, entre eles a falta de
conhecimento sobre a real intencionalidade desta ação, a burocratização dos sistemas
escolares e até mesmo a mudança na postura empírica atribuída a atividade pedagógica
por décadas. O conhecimento teórico promove uma ruptura significativa com a visão
simplista adotada pela escola de que o aluno deve cumprir com os conteúdos programá-
ticos para fim exclusivo de promoção gradual de etapas, sem que este aprendizado ver-
dadeiramente se efetive.
Como instrumento de reprodução, a escola tende a manter as convenções
sociais e a moldar o sujeito de forma que ele se adapte e mantenha essas
convenções. Nesta contextualização e nesta visão de mundo não há anorma-
lidade, por exemplo, na busca constante de receitas por parte dos professo-
res, na atitude efêmera e impessoal dos pesquisadores na área da educação,
na existência de um discurso pedagógico imposto que absorve teorias e teó-
ricos da moda e produzem falsos movimentos de mudança, na inconsistência
teórica que se mantém na prática dos professores e na resistência que a
mesma produz frente à transformação. (COLLARES, 1995, p. 77).
prática escolar e ruptura com a comodidade dos resultados imediatos, se resume a mais
uma ideologia no ambiente educacional.
Sobre a relação aluno e professor, essa deve possibilitar uma linguagem que inte-
gre os sujeitos da aprendizagem, sendo importantíssimo para que o aprendiz se predis-
ponha a compreender e atribua significado ao novo conhecimento.
À escola cabe ensinar, isto é, garantir a seus alunos a aprendizagem de habi-
lidades, competência e atitudes consideradas relevantes para a formação
dos cidadãos. As grandes transformações sociais, econômicas e políticas da
sociedade contemporânea tornaram a apropriação do conhecimento, mais
especialmente dos conceitos e habilidades relativas à leitura, escrita, cálculo
e resoluções de problemas, meios indispensáveis à inserção do indivíduo na
sociedade, ao exercício da cidadania. (SILVA e SOUZA, 1995, p. 45)
Por vários anos a educação matemática foi vista como um acúmulo de informações
acerca das regras e fórmulas, que resultava em uma aprendizagem técnica e condicio-
nada, com o passar do tempo e estudos cada vez mais minuciosos do contexto escolar, o
olhar para as disciplinas lógicas transcorreram para uma visão mais contextualizada onde
a aplicabilidade de teorias e fórmulas passa a ganhar mais enfoque, atribuindo ao traba-
lho educativo um caráter investigativo, onde o aluno compreendendo as mais variadas
situações problemas formula suas hipóteses e chega a resultados possíveis, abando-
nando as práticas decorativas, adotando uma postura que os leva à compreensão do
problema e trabalha as informações de forma mais ativa e eficaz.
[...] se é possível pensar de outro modo, segundo novas formas de racionali-
dade e se a busca pelo conhecimento objetivo decorre da interação da subje-
tividade do sujeito com o mundo exterior, se é requerido ultrapassar a
barreira dos sabres disciplinares, pela conjunção proporcionadas por varia-
dos saberes dispostos de forma hologramática para ampliar a compreensão,
mister se faz incorporar ao método toda a multiplicidade de recursos e pro-
cedimentos que, mantendo-lhes a rigor, incentive a criatividade e a liberdade
do pesquisador. (FAZENDA, 2014, p. 24).
A priori, não seria um mau se houvesse uma análise do processo educativo em sua
totalidade, adotando a estas diferentes variáveis em seu levantamento de dados, con-
tudo, a mensuração de resultados se dá a partir de um único instrumento, que além de
desprezar a trajetória do aluno, promove comparabilidade, adotando classificações aos
resultados em detrimento a incentivos.
Os países desenvolvidos estão engajados em um movimento de profunda
reestruturação de seus sistemas educacionais em nome da busca de uma
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desse texto foi pensar sobre os desafios enfrentados pelos professores
para refletir sobre a formação dos conceitos matemáticos no processo de ensino apren-
dizagem dos alunos. Segundo Davídov, o ensino desenvolvimental facilita o desenvolvi-
mento da mente do aluno, contribuindo para seu pensamento teórico e consequentemente
desenvolve sua personalidade. O objetivo do ensino, nesse aspecto é estimular nos alu-
nos as capacidades cognitivas necessárias para que possam assimilar e utilizar com eficá-
cia esse conhecimento em estudo, podendo com autonomia realizar as relações entre as
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– uma experiência pedagógica nas 3ª e 4ª séries do primeiro grau, Editora da Universidade/ UFRGS,
Porto Alegre, 1995.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Currículo: a atividade humana como princípio educativo. São Paulo:
Liberdad, 2009.
VAZ, D. A. F. Experimentando, conjecturando, formalizando e generalizando: articulando investigação
matemática com o Geogebra. Revista Educativa. Goiânia, v. 15, n. 1, p. 39-51, jan./jun. 2012.
INTRODUÇÃO
1 História em Quadrinhos como pratica de ensino para a formação de leitores e mudanças de atitudes. Pesquisa
realizada na Escola Municipal Rita Caldas Castrillon.
2 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ensino, Associação ampla IFMT-UNIC (PPGEn/UNIC) Bolsista
CAPES. Pesquisa sobre Ensino, Currículo, Saberes Docentes. E-mail: ornagui@uol.com.br.
3 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE/UFMT). Pesquisa sobre Meio Ambiente, Políti-
cas Públicas, migração, imaginário, racismo e diversidade étnica. robertamoraes01@gmail.com
4 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ensino, Associação ampla IFMT-UNIC. Pesquisa sobre Ensino,
currículo, saberes docente. E-mail: kenia_artes@hotmail.com
5 Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo. Docente da Universidade de Cuiabá – UNIC. Pes-
quisa sobre Ensino, currículo, saberes docentes. E-mail: serafim.bertoloto@gmail.com
6 Pós-doutorado Júnior CNPq/UFMT. Docente da Faculdade de Comunicação Social – UNIC e do Programa de
Pós-Graduação em Ensino(PPGEn/UNIC). Currículo, Saberes Docentes. E-mail: fonsecaanagraciela@gmail.com
[ 1302 ]
HISTÓRIA EM QUADRINHOS (HQ) 1303
RESULTADOS E DISCUSSÃO
quem recebe o agradecimento. É este acúmulo de práticas que fará do aluno uma pes-
soa virtuosa.
A campanha do obrigado é um poderoso instrumento para desenvolver a iniciativa,
a vontade própria, a espontaneidade e a criatividade da criança, bem como, promover a
transformação do seu comportamento e o aproveitamento nas salas de aula. A prática
voluntária do bem faz com que ela se sinta útil e amada pelas pessoas com as quais con-
vive em sociedade. Além do mais, fortalece os laços de amizade e aumenta a autoestima.
O ato de fazer algo em favor do outro é o mesmo que para si. É uma forma de praticar o
amor-próprio, o respeito, a responsabilidade e a compreensão.
A campanha não é uma competição e sim uma caminhada. Para estimular a cam-
panha foi realizada a primeira oficina de Ikebana com a finalidade de levar para casa uma
Flor de Luz e por ela receber o primeiro obrigado realmente significativo, o objetivo era
fazer com que os alunos recebessem no mínimo 10 “obrigados” por dia.
A cada obrigado recebido por uma ação desenvolvida na escola, em casa, entre os
amigos os alunos faziam o registro no Livro da aprendizagem. Cabe ressaltar aqui que no
início da Campanha os alunos registravam um número maior de obrigados que era per-
ceptível pelo registro e que à medida que a professora trabalhava as concepções de gra-
tidão o número de obrigado iam diminuindo. O que parecia ser um ponto negativo foi
exatamente o contrário.
Ao compreender e internalizar a essência do conceito de agradecimento o registro
diminuiu, não porque não recebiam a mesma quantidade, mas porque antes eles regis-
travam o obrigado sem ter realizado nenhuma ação simplesmente para ficar com um
número maior que a do colega, ou seja, mentiam. Com a mudança de atitudes eles foram
registrando somente os obrigados que haviam recebido. Passaram a ser sinceros não
com o outro, mas consigo mesmo.
Assim, para desperta o desejo de uma ação estimável em si mesma sem nenhuma
intencionalidade subsequente, o professor precisa mais do que ensinar o valor das nos-
sas ações, precisa possibilitar a reflexão acerca deste valor que passa a ser visualizar
como um Dever, não um Dever como uma obrigação mas pela necessidade de uma ação
que seja universal.
Ao reconhecer que mentir é uma ação de desrespeito por si mesmo e não pelo
outro, o aluno repensa e muda suas atitudes, pois mentir não é, e não deve ser uma lei
universal. E se persistir no ato de mentir, as ações no futuro não teria credibilidade diante
das pessoas. Assim, desenvolver ações para o bem estar universal, é levar o aluno a uma
dialética entre o pensar o teórico e a ação prática.
Desta forma, a oficina de Ikebana que teve como objetivo a implantação da
Campanha do obrigado e o recebimento do primeiro obrigado surtiu um efeito imediato
não só nos alunos envolvidos no projeto como também no olhar da gestora que solicitou
a realização de uma oficina com toda a equipe escolar.
O contato com a flor modificou o olhar das crianças sobre a natureza e o meio
ambiente assim como de toda equipe escolar. A observação da flor, a forma como a mesa
de trabalho é organizada durante a confecção da Ikebana, o cuidado com os pensamen-
tos para que sejam bons e puros foram fundamentais. Nas oficinas foram trabalhadas
pequenas atitudes que ao longo do tempo modificaram ainda mais o comportamento de
forma geral trazendo mais calma e paciência.
As oficinas de Ikebana foram realizadas com o objetivo de trazer o belo e a natu-
reza para perto de todos. Vivificar a flor é trabalhá-la para que viva mais e traga beleza
para dentro de casa ou do ambiente em que for colocada. Tirar uma flor de seu ambiente
não é impedi-la de viver, mas sim aproximá-la das pessoas.
Assim, o projeto Planeta Azul passou a fazer parte do processo ensino aprendiza-
gem e ao final de cada atividade desenvolvida, escolhia-se uma forma de registro como
desenho, recorte e colagem ou escrita que era socializado com a turma. Para o registro
utilizou como instrumento didático, a caderno intitulado “Livro de aprendizagem” que
funciona como um diário onde são registrados tanto as experiências vividas pelas perso-
nagens como a percepção das próprias crianças. O que iniciou como uma proposta para
modificar e melhorar as atitudes passou a ser algo tão eficaz que auxiliou de forma posi-
tiva a apropriação da leitura e da escrita.
Além das revistas em quadrinho “Turma do Planeta Azul” o professor a cada
semana trabalhou um pensamento relacionado ao tema que estava sendo abordado na
edição do mês e que leva a refletir sobre as ações e atitudes que devemos ter no coti-
diano. Outro instrumento que favoreceu este pensar foram as músicas do “Planeta Azul
por um Mundo Melhor” que por meio das letras e da melodia mudam o sentimento das
crianças e consequentemente as ações. Ao trabalhar com música o professor permite
que as crianças expressem não só as ideias como favorece o contato com a arte musical.
No entanto, não basta ouvir a música, o professor precisar refletir com as crianças o sig-
nificado de cada letra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que não é fácil, e que o grande diferencial para alcançar os resultados
esperados é a gestão educacional contar com uma equipe de trabalho comprometida
com os objetivos da escola e projetos que contribui para a formação dos alunos visando
um conhecimento para a vida, para a cidadania e para o mundo do trabalho.
Contudo, na pratica educativa acreditamos que grande desafio consiste em resga-
tar valores como compreensão, fraternidade, gratidão, generosidade, alegria, justiça,
ética, disciplina, flexibilidade, honestidade, paz, integridade, responsabilidade e amor,
valores caros na sociedade atual.
Os valores humanos são fundamentos morais e éticos da consciência humana.
Todos os seres humanos podem e devem tomar conhecimento dos valores a eles ineren-
tes. Muito das causas que afligem a humanidade está na negação destes valores como
suporte e inspiração para o desenvolvimento integral do potencial individual e conse-
quentemente do social.
Assim, uma escola coerente com a sociedade é, sobretudo, uma escola que traba-
lha coletivamente os rumos, anseios e ideais a serem alcançados. Ao implantar o projeto
na escola, os alunos identificaram com as ações dos personagens e aprenderam a ter ati-
tudes positivas e melhoraram o comportamento o que favoreceu a aprendizagem signi-
ficativa. E aos poucos foi se transformando, tornando agentes observadores no mundo
letrado, possibilitando a agir e a comportar-se como leitores, descobrindo o essencial das
práticas sociais tais como: melhor relacionamento entre os colegas, preservação do
ambiente escolar e comunitário, além de melhorar o relacionamento familiar.
Quando o aluno redefine seu pensar e suas ações ele não só contribui com a
equipe gestora escolar num visão macro de disseminar ações altruístas que geram
comportamento pró-sociais, como também colabora com as transformações sociais a
qual está inserido.
REFERÊNCIAS
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RODRIGUES, Aroldo. ASSMAR, Eveline Maria Leal. JABLONSKI, Bernardo. Psicologia Social. 28. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
INTRODUÇÃO
A fotonovela teve início na década de 1940 na Itália e sua origem foi motivada pela
crescente popularização do cinema e pela fama dos atores. Segundo Ferrarezi e Grando
(2016), “a estabilização e o aperfeiçoamento técnico da fotografia, o acesso mais ou
menos difícil de um público geral ao cinema e a inexistência ou difusão limitada da tele-
visão são também fatores importantes para o surgimento e o sucesso desse gênero” (p.
7). No Brasil, as fotonovelas tiveram seu auge entre 1950 e 1970.
Este tipo de publicação é um processo de produção, seleção e montagem, fixado
em um texto e colocado à fruição do público. Por seu caráter de diagramação, disposição
dos textos e das fotos, a fotonovela se apoia na memória visual e no uso de linguagens.
1 Graduando do curso Licenciatura em Química pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás,
campus Inhumas. Pesquisa sobre Ensino de Química. Pedro.cardoso@ifg.edu.br
2 Professor do curso Licenciatura em Química pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás,
campus Inhumas. soniajuliagyn@gmail.com
3 Professor de Artes pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, campus Inhumas..monica-
mitchell@ifg.edu.br
[ 1316 ]
A FOTONOVELA NO ENSINO DE QUÍMICA 1317
A Fotonovela
Não foi fácil obter informações sobre a história e a confecção da FN. Além de
encontrar informações desconexas é um tema que não foi muito estudado nesta pers-
pectiva de estudo. Um livro de 1974, foi a principal fonte para a confecção do trabalho, o
livro Fotonovela e Indústria Cultural: estudo de uma forma de literatura sentimental fabri-
cada para milhões de autorias de Angeluccia Bernardes Habert. A história das FN se con-
funde muito com a história do cinema, pois as FN surgiram como sendo resumos dos
filmes apresentados nas salas de cinema. Ferrarezi e Grando definem a FN em seu livro
Matemática e fotonovela, conexões possíveis para jovens estudantes. Para as autoras, “a
fotonovela é uma forma de narrativa que utiliza foto e texto. Podemos classificá-las como
gênero, por conta da sua especificidade (2016, p. 22).
No Brasil as FN tiveram um período de 25 anos de grande sucesso, principal-
mente com o público feminino. Forneciam as suas “leitoras” um formato de uma nova
dona de casa: uma imagem de mulher moderna construída por meio da ficção. As foto-
novelas foram sendo superadas pelas histórias em quadrinhos, trazendo os desenhos
em substituição das fotos. A revista Capricho era uma das principais divulgadoras da
fotonovela no Brasil, sendo substituída nessa perspectiva pelas revistas de histórias em
quadrinho do Pato Donald, Mickey e Tio Patinha, que estavam em alta no período
(FERRAREZI; GRANDO, 2016).
Para a confecção da FN várias etapas foram seguidas, desde o tamanho das fotos,
o início com um espaço para o resumo da história, disposição das fotos na página, os
balões com as falas, o enquadramento, o texto e a foto. A fotonovela pode ser um gênero
textual muito incomum dentro do ambiente escolar, diferenciando das narrativas de
aventuras, reportagens, notícias, receitas, seminários etc. As fotonovelas podem ser con-
sideradas como uma forma de intertextualidade, pois para compor as histórias produzi-
das, utilizamos a narrativa oral e a escrita presente, na química e na arte.(FERRAREZI;
GRANDO, 2016).
O projetos de trabalho
Sob esse referencial, nesta pesquisa, foi elaborado e aplicado um projeto de traba-
lho com os seguintes objetivos: compreender as etapas de elaboração de um projeto,
conhecer a linguagem da fotonovela, conteúdo de química que possam ser dramatiza-
dos, conhecer técnicas de fotografia, diagramar uma fotonovela, divulgar as fotonovelas
no ensino de química; e desenvolver valores humanos e atitudes nos alunos, tais como
respeito pela opinião dos colegas, pelo trabalho em grupo, pelo professor, responsabili-
dade e ética.
Nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006), afirma-se que;
Trabalhar em grupo dá flexibilidade ao pensamento do aluno, auxiliando-o
no desenvolvimento da autoconfiança necessária para se engajar numa dada
atividade, na aceitação do outro, na divisão de trabalho e responsabilidades,
e na comunicação com os colegas. Fazer parte de uma equipe exercita a auto-
disciplina e o desenvolvimento de autonomia, e o automonitoramento (p.
27).
No referido documento, onde trata sobre o ensino de química, ele afirma que, “um
projeto pedagógico escolar adequado não é avaliado pelo número de exercícios propos-
tos e resolvidos, mas pela qualidade das situações propostas, em que os estudantes e os
professores, em interação, terão de produzir conhecimentos contextualizados” (BRASIL,
2006, p. 106).
de quatro meses. Para a intervenção didática foram necessárias cinco aulas, sendo de 1
hora e 30 min, totalizando 540 minutos conforme apresenta a quadro 1 a seguir:
dividimos a turma em quatro grupos, que deveria se reunir naquele momento, e pro-
por um tema para a FN relacionado ao conteúdo de química, como mostra o quadro
02, abaixo;
Quadro 2 – Temas escolhidos pelos grupos
Um dia foi marcado para os estudantes tirarem as fotos, todos no mesmo dia
para terem orientações sobre ângulo, posicionamento, qualidade de imagens e o con-
teúdo com as falas. Utilizaram as dependências do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Goiás, Câmpus Inhumas, as salas de aula e os laboratórios de
química e informática.
Após todo este processo, separou-se um dia para a apresentação dos trabalhos e
dar as devidas considerações sobre cada FN. Apresentamos também as notas de cada
alunos e os critérios de avaliação, baseados nos ideais de projeto de trabalho. A avaliação
na perspectiva de projeto, é realizado em todo o processo, para todos os estudantes da
turma atribuídas as partes do trabalho. Como mostra a quadro 03 abaixo;
Nota Atividade
0, 4 Participação da primeira atividade
0, 4 Confecção do roteiro e da história
0, 4 Participação da tiragem das fotos
0, 4 Montagem da Fotonovela
0, 4 Fotonovela
Total: 2, 0
Neste grupo eles trabalharam a arte com a química. Durante a fotonovela contou a
história do pintor Portinari, durante um período de sua vida e mostrou como o efeito do
chumbo em sua vida. Com a parte da química mostrou as características do chumbo que
podem causar a doença que o pinto possuía, que era saturnismo. O grupo apresentou bem
a história do pintor mais deixou a desejar no propósito de utilizar a fotonovela com auxílio,
para compreender o conteúdo de química. O grupo trabalhou mais a parte artística e nem
tanto o conteúdo químico A Figura 2 apresenta uma parte da fotonovela.
Neste grupo eles trabalharam como uma forma de se usar a química. Este grupo
durante a fotonovela contou a história da morte de um empresário, utilizou muitos prin-
cípios da química forense. Utilizaram a química para entender como conseguiram retirar
a impressão digital, e explicou bem as propriedades do carvão, presentes em alguns pós
de retirada de impressão digital. O grupo apresentou uma boa história envolvendo os lei-
tores durante a leitura, mas o grupo deixou a desejar no propósito de utilizar a fotono-
vela com auxílio, para compreender o conteúdo de química. Contaram muito bem a
história mais durante a explicação química deixaram a desejar, sendo sucintos e breves.
A seguir nas figuras 03, mostram um pouco da FN:
Neste grupo eles trabalharam a explicação dos grupos da Tabela Periódica. Os estu-
dantes durante a fotonovela contou a história de reinos da tabela periódica, que se
encontrava em guerra para se tomar o trono de cada um. Utilizaram a química expli-
cando como era composto cada grupo da tabela periódica, a quantidade de elétrons ali
presente. O grupo apresentou bem história, e os alunos conseguiram colocar o conteúdo
de química dentro da FN. Este grupo atingiu bem o propósito, utilizando a FN para expli-
car o conteúdo de tabela periódica, e utilizou um seriado atual para confecção da foto-
novela. A seguir na Figura 4, mostra a capa da FN:
Grupo 04 – Açúcares
A maior dificuldade apresentada pela maioria dos estudantes foi encaixar o con-
teúdo químico em alguma história e assim produzir a fotonovela. Mas todos conseguiram
superar esta dificuldade, elaborando histórias que envolvia guerras entre os reinos da
tabela periódica, uma resolução de crime, a história de vida de um pintor e o dia a dia
presente em uma sala de aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
estratégias de ações diferentes, tornando assim a química escolar mais atraente e signi-
ficativa para os estudantes.
REFERÊNCIAS
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FERRAREZI, Simone Terezinha; GRANDO, Regina Celia. Matemática e fotonovela: conexões possíveis
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HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre:
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KEMMIS, S.; MCTAGGART, R. Como planificar la investigación-acción. Barcelona: Laertes, 1988
INTRODUÇÃO
[ 1330 ]
UMA PROPOSTA DE INCLUSÃO 1331
superdotação” (BRASIL, 1996, s/p). O processo de inclusão demanda mudanças nas estru-
turas físicas e na forma de pensar das pessoas. A sociedade ainda é permeada de vestí-
gios excludentes e preconceituosos, sendo necessário formar cidadãos conscientes e
críticos, que valorizem as diferenças.
Na escola todos os alunos têm o direito de participar, de modo que possam apren-
der o mesmo conteúdo. As práticas educativas dos professores devem garantir este
direito, onde todos os alunos, inclusive os da educação especial devem fazer parte do
processo de ensino-aprendizagem. Na Educação Física, a inclusão é uma demanda cada
vez mais marcante, neste cenário, os professores devem promover ações pedagógicas
capazes de contribuir para o desenvolvimento de todos os estudantes, sem excluir
nenhum, mas sempre incluindo e fazendo com que esse aluno sinta-se e seja integrante
de cada aula.
Neste sentido, o presente trabalho trata-se de uma prática na Educação Básica,
tendo como objetivo discorrer sobre conteúdo de esporte adaptado e sua aplicabilidade
no espaço escolar na disciplina de Educação Física, em um colégio da rede pública esta-
dual da cidade de Pires do Rio-GO, com os alunos do ensino fundamental do 6º, 7°, 8º e
9º ano, onde foi proposto aos alunos: a composição de maquetes, painéis e a prática de
esportes adaptados (voleibol sentado, goalball, basquete em cadeiras de roda e futebol
para cegos).
Delineamos ainda como sendo parte dos objetivos específicos: i) promover a refle-
xão dos alunos sobre a temática da inclusão e da diferença; ii) proporcionar diálogos e
vivências teórico-práticas, devido ao fato da necessidade de conscientização dos alunos
em relação ao público alvo da educação especial. Além do processo de integração e
inclusão de todos os alunos, essa prática auxiliou no trabalho com a empatia entre os
pares. Partindo disso, temos como ponto central de motivação e pergunta de pesquisa:
como os esportes adaptados podem contribuir com a inclusão dos alunos público alvo da
educação especial?
Na literatura a maioria dos trabalhos acadêmicos trata o Esporte Adaptado como
um meio facilitador para os deficientes praticarem as modalidades esportivas. Para Costa
(2015) a inserção dos esportes adaptados na proposta curricular, é uma opção, devido a
sua estruturação baseada nas especificidades da população com deficiência, destacando,
o goalball, como sendo uma possibilidade para os estudantes com deficiência visual de
exercerem essa prática esportiva de forma independente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No que tange a inclusão do aluno público alvo nas aulas de Educação Física, Munster
(2013); Chicon e Sá (2013) destacam que esta população tem sua participação limitada, e
muitos são excluídos das aulas. A participação escassa deste público está relacionada
com a constituição dessa disciplina no contexto histórico, em que teve vínculo estreito
com os ideais de eugenismo, higienismo e militarismo. Assim, privilegiando o desempe-
nho físico dos estudantes, o corpo forte e saudável. Outro aspecto que contribui para a
exclusão dos estudantes da educação especial nas aulas é a falta de adaptações nas ati-
vidades propostas pelos professores (CHICON; SÁ, 2013).
Os estudos de Rodrigues (2004); Munster (2013); Alves e Duarte (2013); Fiorini e
Manzini (2015); Seabra (2006) dentre outros, indicam a necessidade de organizar as aulas
de acordo com a especificidade da turma, e dos estudantes público alvo da educação
especial. E, caso seja necessário às práticas pedagógicas dos professores devem estar
permeadas de adequações quanto ao currículo, à metodologia, as regras das atividades,
na forma de instrução e nos ambientes.
alunos sejam elas culturais, étnicas ou outras. Nesse mesmo sentido Costa; Munster
(2017, p. 368) ressaltam que:
Atender a diversidade presente em sala de aula não significa restringir a par-
ticipação do estudante com deficiência visual aos conteúdos curriculares
específicos, ou seja, esportes já sistematizados e adaptados à prática dessa
população em campeonatos oficiais; ao contrário, consiste em possibilitar
que todos os estudantes (que apresentam ou não deficiências) vivenciem os
conteúdos curriculares de acordo com suas competências e necessidades
educacionais.
Essa prática pedagógica possibilitou a conscientização dos alunos, inclusive dos pro-
fessores e os agentes envolvidos neste processo que puderam perceber que a Educação
Física tem muito a oferecer à inclusão, mas para isso o professor necessita experimentar
novas possibilidades de intervenções que vão além dos esportes convencionais, incremen-
tando assim o seu repertório pedagógico com uma Educação Física inclusiva a qual o con-
teúdo seja adequado às características do aluno, e não o contrário.
Entretanto, a escola deve ajustar seu currículo em prol de ações inclusivas per-
meando não somente a prática pedagógica em sala de aula, mas também o projeto peda-
gógico com vistas a organizar os serviços de apoio necessários ao processo educacional
dos alunos com deficiência e também realizar adaptações curriculares de acordo com o
nível individual de cada aluno. Pois, “as adaptações curriculares visam proporcionar a
equiparação de oportunidades de acesso dos estudantes com deficiência ao currículo
escolar, de modo a favorecer um melhor aproveitamento em seu processo educacional”
(COSTA; MUNSTER, 2017, p. 362).
Os resultados a partir da prática pedagógica proporcionou por meio dos esportes
adaptados identificar como os alunos avançaram num sentido crítico – reflexivo acerca
do aluno público alvo da educação especial, tendo uma tomada de consciência, perce-
bendo que os alunos da educação especial não são incapacitados, pois durante a prática
os que não são da educação especial puderam se perceber em outras condições huma-
nas, diferente daquelas que já conhecem e vivem, observando e compreendendo como
são seus movimentos e como eles podem se relacionar e conviver com outras pessoas e,
assim desenvolver a compreensão da diversidade no modo de interagir com o mundo.
A vivência dos esportes adaptados pelos alunos público alvo da educação especial
contribuiu para a melhora da autoestima, do autoconhecimento, das potencialidades,
visto que puderam se perceber pertencentes ao grupo, gerando um bom convívio social
diante da diversidade, além dos benefícios físicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ressaltamos que o uso do esporte adaptado como conteúdo a ser explorado nas
aulas de Educação Física ocorrerá à medida que os professore compreenderem que os
currículos devem ser construídos para além do modelo tradicional e isto envolve capaci-
tar esse professor, não somente sobre o esporte adaptado, bem como adaptações curri-
culares com enfoque na inclusão de alunos com deficiência.
Entretanto, o professor necessita experimentar novas possibilidades de interven-
ções que vão além dos esportes convencionais, incluindo novas possibilidades ao seu
repertório pedagógico com uma Educação Física inclusiva a qual o conteúdo seja ade-
quado às características do aluno, e não o contrário. A realização de práticas inclusivas
pode favorecer a abertura de um espaço para a reflexão e o diálogo sobre as diferenças
e o respeito mútuo, desenvolvendo as habilidades sociais no ambiente escolar, propor-
cionando oportunidades para esclarecimentos, mudanças de atitudes, colaboração e fle-
xibilidade no relacionamento interpessoal, principalmente dentro de cada turma.
Nessa perspectiva, é necessário que os sistemas de ensino incentivem a qualifica-
ção dos profissionais, através de ações que promovam uma formação contínua, porém é
importante ressaltar que a formação dos professores se constrói também a partir do seu
cotidiano em sala de aula. Mas para isso a escola deve assumir uma nova postura frente
à inclusão com mudanças de paradigmas, ações, atitudes, apoio aos docentes, reestrutu-
ração nas formas de organizar as práticas pedagógicas na escola, mudanças na infraes-
trutura, recursos materiais e apoio da família e agentes escolares.
Mediante os objetivos estabelecidos nesta pesquisa, salientamos que ocorreu uma
discussão acerca do conteúdo de esporte adaptado, bem como a aplicabilidade destes
no espaço escolar nas aulas de Educação Física. Os alunos foram capazes de perceber a
importância das atividades desenvolvidas por meio das reflexões promovidas sobre a
inclusão e diferença, estabelecendo assim a conscientização deles em relação ao público
alvo da educação especial. Não podemos deixar de lado todo o processo de integração e
inclusão que ocorreu durante e após as atividades desenvolvidas e o respeito que foi
estabelecido entre os pares.
A motivação na realização desta prática pedagógica foi fundamental e tendo levan-
tado a pergunta de pesquisa, como os esportes adaptados podem contribuir com a inclu-
são dos alunos público alvo da educação especial? Ficou evidente que os esportes
adaptados contribuem efetivamente no processo de inclusão dos alunos nas aulas de
Educação Física, bem com na integração entre todos no espaço escolar, levando em con-
sideração o respeito às diferenças. Somo seres e temos limites e potencialidades que
devem ser valorizadas.
Por fim, o que se espera como consequência é que as diferenças passem a ser
não como um entrave no processo educacional, mas uma condição essencial para o
desenvolvimento humano em qualquer contexto de ensino-aprendizagem. Assim, a
inclusão escolar contribuirá para o desenvolvimento não apenas do aluno público alvo
da educação especial, mas, principalmente, na formação de valores e na convivência
com a diversidade.
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FALKENBACH, Atoz Prins; CHAVES, Fernando Edi; NUNES, Dileni Penna; NASCIMENTO, Vanessa Flores.
A inclusão de crianças com necessidades especiais nas aulas de educação física na educação infantil.
INTRODUÇÃO
1 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade Estadual de Goiás, Campus Anápolis de Ciências Socioeco-
nômicas e Humanas da UEG. jordanak2016@hotmail.com.
2 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade Estadual de Goiás, Campus Anápolis de Ciências Socioeco-
nômicas e Humanas. raquel01rezende@gmail.com.
3 Professora do curso de Pedagogia, pela Universidade Estadual de Goiás, Campus Anápolis de Ciências Socioe-
conômicas e Humanas da UEG. Pesquisa sobre formação de professores, política de formação de professor e
alfabetização. egcanderi@gmail.com
[ 1342 ]
PROPOSTA PEDAGÓGICA DA CARTILHA CAMINHO SUAVE 1343
METODOLOGIA
A escolha do material para análise foi feita pela professora da disciplina que levou
em consideração os aspectos: a) data da publicação – compreendo cartilhas antigas até
as mais recentes; b) dar preferência por aquelas que foram mais adotadas nas escolas da
cidade de Anápolis; c) assegurar que o conjunto do material selecionado abarcasse dife-
rentes propostas de alfabetização4.
Para o desenvolvimento do trabalho foi necessário levantar as informações catalo-
gráficas da cartilha, identificar como ela está organizada, os conteúdos de ensino com os
quais ela trabalha, como eles estão organizados, que critérios de organização do ensino
da ortografia foram empregados, os tipos de textos que mais aparecem, quais os objeti-
vos que o trabalho com os textos pretendem alcançar, como é abordada a questão da
variação linguística, entre outros fatores que são relevantes para o trabalho docente e
para a formação dos estudantes.
Nesse texto apresentaremos o resultado da análise da 131ª edição da Cartilha
Caminho Suave. Para a realização da análise buscou-se inicialmente levantar os dados
catalográficos, a biografia da autora e o contexto histórico em que a obra foi produzida,
pois é uma forma que se tem de compreender as questões que estavam sendo colocadas
naquele momento histórico.
A cartilha Caminho Suave foi escrita por Branca Alves de Lima. Nascida em
São Paulo em 1910 e morreu em 2001 fez o curso normal na Escola Normal
do Braz (atual Escola Estadual Padre Anchieta). Começa a lecionar em 1929 e
teve experiência de quinze anos de trabalho em classe de 1° grau, com
extraordinários resultados (MARTELLOTTA, 2013, s/p).
Branca Alves de Lima não só foi autora mas também empresária, pois a editora que
publica a cartilha foi criada por ela.
Ela foi publicada pela primeira vez em 1948 e tornou um fenômeno de vendas, cir-
culação e apropriação, segundo afirmação de Valez (2018). Calcula-se que, desde 1948,
quando teve sua primeira edição, até meados da década de 1990, foram vendidos 40
milhões de exemplares. Em 1995, ela foi retirada do catálogo do Ministério da Educação.
Apesar de não ser mais o método “oficial” de alfabetização dos brasileiros, ainda vendeu
cerca de 10 mil exemplares por ano. Em 2011, estava na sua 131ª edição.
Em relação a forma de apresentação gráfica do material pode-se observar que ela
não apresenta um sumário em nenhuma de suas edições e que, o material, ao qual tive-
mos acesso não era acompanhado do guia do professor, pois ela é uma exemplar desti-
nada aos alunos e não aos professores.
Com base nos estudos que realizamos pudemos identificar que as cartilhas e os
livros didáticos de um modo geral são acompanhadas por um guia do professor. Que fun-
ciona como um material de orientação para o trabalho a ser desenvolvido pelo professor.
Nesses guias ou manuais normalmente aparece, em cada lição, orientações didáticas e
sugestões de como apresentar um cartaz correspondente à palavra-imagem, forma de
encaminhar as discussões ou as atividades.
O manual que acompanha os livros destinado ao professor pode auxilia-lo no seu
trabalho no sentido de lhe oferecer elementos para compreender a proposta pedagógica
nele contida contribuindo com elementos para a tomada de decisão a partir da análise
que ele faz do material. Por outro lado, este material, também pode contribuir para cer-
cear a autonomia didática do professor na medida em que ele passa a ser entendido
como uma prescrição a ser seguida e o professor sendo impedindo de tomar decisões
sobre a forma de abordar e desenvolver determinados conteúdo, visto que isso pode ser
entendido como uma prescrição e o professor sendo visto como mero executor de pro-
postas elaboradas por “especialista”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As primeiras cartilhas que surgiram no Brasil no início do século XIX e eram impor-
tadas de Portugal e tinha a pretensão de se ensinar a ler e escrever. Vale ressaltar que até
o ano de 1808 não era permite publicar livros no Brasil. Durante esse período em que
não se publicava livros em nosso país, os professores produziam o seu próprio material
para alfabetizar os seus alunos.
A alfabetização era definida como sendo o simples fato de reconhecer letras, síla-
bas, palavras e de também saber grafá-las de acordo com as regras da ortográfica vigente
no período. O indivíduo que soubesse codificar e decodificar era considerado alfabeti-
zado. A compreensão de diferentes tipos de textos e seus modos de leitura não era
levado em consideração.
O método de alfabetização trabalhado na Cartilha Caminho Suave é o silábico, que
se enquadra como sendo sintético em que se começa a ensinar consoantes, vogais e con-
sequentemente os ditongos – ai, ei, oi, ui. O segundo passo é a junção de consoante e
vogal que se forma sílabas e em seguida reúne-se as sílabas para formar as palavras.
Tal método foi denominado pela autora como “alfabetização pela imagem” em que
se valia de imagens que representariam letras associadas a lição do dia vendo nisto uma
estratégia de auxiliar a memorização das letras
[...] pois tinha notado que o ensino de leitura, como simples exercício monó-
tono, não desenvolve a energia intelectual da criança, que então se limita a
acompanhar passivamente a professora, sem estimulo, nem procurar vencer
espontaneamente as dificuldades. (O Estado de São Paulo, 1991 apud
VALDEZ, 2018, p. 73).
o objeto nem sempre corresponde com a realidade vivida pela criança, além de estabe-
lecer uma relação acrofônica que não condiz com as experiências cotidiana das crianças.
A relação entre a forma gráfica “a” não corresponde com o corpo da abelha da mesma
maneira que a forma gráfica da letra “b” não corresponde com uma barriga. Este tipo de
associação feita por um adulto desconsidera que a criança em fase de alfabetização tem
uma percepção literal da realidade e que e não consegue compreender metáforas, e,
este tipo de associação pode servir como obstáculo para a crianças operar com o conhe-
cimento do sistema alfabético da língua, na medida em que ela não vê sentido na relação
que está sendo estabelecida pela autora da obra.
Foto feita pelas autoras retirada da 131ª edição da Cartilha Caminho Suave, páginas 32 e 33.
grupo social e das condições de acesso à cultura letrada. Além também um modelo único
de família e de infância idealizada.
Sobre esta concepção de família Mazzeu (s/d) afirma que a cartilha deixa subenten-
dido, a partir da palavra-chave que é utilizada, que se refere ao cotidiano de uma família
de classe média, branca, formada por um casal, os filhos (daí a preocupação com o bebê),
em que o trabalho doméstico é realizado por uma empregada, a Zazá. E que nos fins de
semana essa família passeia em um sítio e que podem contemplar os animais e de onde
podem trazer frutas e que as crianças têm como principal atividade o brincar e comer.
Uma concepção totalmente idealizada da criança e da família brasielira.
Após a apresentação destes personagens é proposto algumas atividades com enfo-
que na psicomotricidade em que a criança deveria marcar X nas partes do corpo de
Fábio, ligar o que ele está fazendo a sua sombra, completar o rosto de Didi, entre outros
exercícios de colorir, ligar, marcar X, cobrir o pontilhado, circular, desenhar, e é claro que
cada atividade, seja ela de desenhar, pintar, marcar X ou circular, trabalha uma concep-
ção diferente e um conteúdo vinculado ao desenvolvimento da psicomotricidade (noção
de tamanho-maior/menor, lateralidade-esquerda/direita, igual/diferente, perto/longe,
novo/velho, aberto/fechado). Prática pedagógica muito influenciada pelos estudos da
psicologia que chegou ao Brasil por volta da década de 1930 sob influência do pensa-
mento escolanovista.
Em seguida, começam as lições sobre as vogais, que são associadas a personagens
(letra a – corpo da abelha, letra e – tromba do elefante, letra i – torre da igreja, letra o –
ovo e letra u – unha).
Para ensinar as vogais primeiro é solicitado que a criança cubra os pontilhados na
forma gráfica da letras do alfabeto cursivo. As crianças deveriam primeiro contornar
esses pontilhados para depois copiar as letras, após é apresentados as vogais tanto com
alfabeto maiúsculas quanto minúsculas. Mais adiante é apresentado os encontros vocá-
licos (união de vogais e semivogais para formar sílabas exemplo: ai, au, ei, eu, ia, oi, ou,
ui, uá, uai). Para o trabalho com os encontros vocálicos também é solicitado que cubram
o pontilhado e só depois escrever, ou melhor copiar.
Após o trabalho com os encontros vocálicos é apresentado as famílias silábicas
(consoante mais vogal). O critério de escolha e organização desse trabalho é a ordem
alfabética, ou seja, a sequência em que se colocam as letras do alfabeto. O uso dessa
ordem tem relação com a ideia que está expressa na própria palavra alfabetizar de que
bastaria ensinar os alunos as formas gráficas das letras e suas combinações para que
pudessem ler e escrever. Porém, essa forma de organizar o processo não leva em conta
que a escrita ortográfica da língua portuguesa, segundo Faraco (2012) obedece a dois
princípios: o da transparência fonológica e o da memória etimológica e que nem sempre
há uma relação biunívoca entre fonema e o grafema (escrita e fala não tem uma relação
biunívoca – CA, CE, CI, CO, CU). Essa forma de organizar o ensino da escrita pode criar
obstáculos para as crianças, na medida em que elas não conseguem, ainda, reconhecer
as especificidades da fala e da escrita.
Mazzeu (s/d) afirma que a escolha das palavras apresentadas na Cartilha basea-
vam-se em critérios técnicos em que, cada uma delas, contém um aspecto relevante do
nosso sistema ortográfico que precisa ser dominado. Da palavra barriga até Zazá todas as
sílabas iniciais são formadas por uma consoante e uma vogal, sendo esta vogal sempre o
“a”. E que o principal objetivo do uso dessas palavras não é o seu significado, mas sim
introduzir para as crianças as chamadas dificuldades ortográficas (dígrafos, sílabas trava-
das – terminadas por consoantes e as letras g, c, z, s e x). Todavia esse tipo de compreen-
são do ensino da ortografia acarreta uma falta de reflexão sobre determinados aspectos
importantes da ortografia, levando os estudantes aa uma memorização sem a com-
preensão do sentido daquilo que está sendo aprendido.
No final da cartilha são apresentados pequenos textos com histórias curtas em que
as crianças deveriam ler e responder a algumas perguntas de interpretação de texto
(verificação de leitura). Aborda-se o uso e das diferenças das letras “m/n” e “p/b”, bem
como, o emprego das regras de acentuação.
Sobre os critérios técnicos de apresentação das palavras a serem trabalhados as
crianças Mazzeu (s/d) e Faro (2012) concodam que é necessário ser observado pois, isto
pode-se facilitar a compreensão das regularidades ortográficas da língua portuguesa do
Brasil deixando o apelo para memorização somente daquelas formas gráficas arbitrárias,
pois elas envolvem uma complexidade maior para o seu aprendizado.
As consoantes são apresentadas por meio de 36 palavras-chave, que são elas:
barriga, cachorro, dado, faca, gato, jarra, laranja, macaco, navio, pato, rato, sapo,
tapete, vaca, xadrez, Zazá, cebola, gema, garrafa, barata, passarinho, casa, moça, cha-
péu, galinha, telha, quatro, queijo, asno, árvore, anjo, ambulância, alfinete, homem,
avião e foguete.
Ainda sobre a definição das regras ortográficas pode-se afirmar que, ao longo do
tempo, ela vem se modificando e buscando uma adequação dentro da sociedade. Ao
buscar recuperar o movimento histórico da normatização da língua escrita Faraco (2012)
nos remete que ao período medieval em que os textos eram mais voltados para uma
questão jurídica e religiosa e a sua circulação eram bem restrita, não havia uma ortogra-
fia padrão, cada região empregava-a de uma forma. As vezes encontrava-se diferenças
ortográficas dentro de uma mesma região.
Já no renascimento os editores passaram a colocar um critério que buscava pautar-
-se na transparência fonológica, que tinha como objetivo uma proximidade entre a forma
gráfica e o fonema (fala e escrita). Ocorre que a ortografia portuguesa só se fixou no
século XX, e buscou-se uma ortografia simplificada que também tivesse uma transparên-
cia fonológica. Todavia, segundo Faraco (2012), só em 1931 o governo brasileiro, seguiu a
linha definida no primeiro Acordo Ortográfico assinado pela Academia Brasileira de
Letras e da Academia Ciências de Lisboa, e oficializou a ortografia simplificada tornan-
do-a obrigatória no país em 1933.
Ocorre que essa decisão foi revertida quando da promulgação da Constituição de
1934 no artigo 26, o último, em que foi inserido o seguinte texto: “Esta Constituição,
escrita na mesma ortografia da de 1891 e que fica adotada no País, será promulgada pela
Mesa da Assembleia, depois de assinada pelos Deputados presentes, e entrará em vigor
na data de sua publicação” (art. 26). Isto significou que as regras da ortografia do portu-
guês do Brasil tomou por base o Português de Portugal do sec. XIX, o que significou,
segundo Faraco (2012) um enorme retrocesso nos caminhos da resolução do problema
ortográfico brasileiro.
Sendo assim houve a necessidade em 1990 em unificar a ortografia desde 1980, para
que os estudos históricos colocassem a língua comum como fatores de aproximação.
Se, no passado, houve condições semelhantes para se fazer uma reforma
radical da ortografia do português, este tempo já passou há muito. Em vir-
tude da própria história da nossa ortografia, teremos de conviver com seus
dois princípios – o da transparência fonológica e o da memória etimológica.
(FARACO, 2012, p. 119).
Os tipos de textos que mais aprecem na cartilha Caminho Suave são textos peque-
nos formados por frases/orações curtas cujo maior objetivo é apresentar uma pequena
história que surge a partir de uma palavra que contém a sílaba a ser ensinada e traba-
lhada com as crianças. Os textos também são utilizados no fim da cartilha (figura 2) com
o objetivo de trabalhar a “interpretação de texto”, singular e plural, bem como, para
apresentar o uso de “p-b” e “m-n”. Tais textos buscam alfabetizar, ensinando a ler e
escrever, mas utilizam uma concepção de leitura e escrita como decodificação dos sinais
gráficos transformando-os em sons e codificar os sons da fala transformando-os em
sinais gráficos. Esses tipos de textos de acordo com Andaló (2001) são chamados de
pseudotextos, que são frases soltas sem coerência e coesão desconsiderando a criativi-
dade própria da criança. A consequência dessa concepção de escrita, conforme observa
Cagliari (1991) resulta em dificuldades das pessoas para escrever textos coesos e coeren-
tes. Para ele a cartilha apresenta textos pobres, refletindo nas dificuldades que este pos-
sui para escrever.
Foto feita pelas autoras retirada da 131ª edição da Cartilha Caminho Suave, página 118.
No que tange a discussão sobre a variação linguística que do ponto de vista dos
autores Bagno (2006) e Faraco (2012) é uma característica da fala, um fenômeno próprio
que ocorre devido à diversificação dos sistemas da língua em relação às possibilidades de
mudanças de seus elementos e ela só existe porque a linguagem pode ser modificada
por fatores como idade, região, sexo, classe social, grau de formalidade, etc. A variação
pode ser regional, social e estilística e nesse sentido precisa ser observada durante o pro-
cesso de ensino da língua escrita, sob o risco de não se compreender as hipóteses que as
crianças levantam quando estão escrevendo e considerar os “erros”, que elas cometem,
como um problema de falta de inteligência ou de atenção, mas que revela uma forma de
pensar da criança.
Na cartilha analisada não foi verificado nenhuma atividade que levasse em consi-
deração as questões relacionadas a variação linguística o que pode ser classificado como
uma negação da diversidade, visto que a língua escrita não é um espelho da fala e a varia-
ção tem como principal característica trabalhar as diversidades da fala.
A língua materna é, sem dúvida, aquela que se domina melhor, e a que se trata da
língua adquirida de forma natural, por meio da interação com o meio, sem intervenção
pedagógica e sem uma reflexão linguística consciente.
Assim, segundo Travaglia (2009) a maneira como o professor compreende a natu-
reza fundamental da língua altera substancialmente o modo como estrutura seu traba-
lho em termos de ensino. Por isso é importante definir (ou revisitar) quais são os objetivos
de ensino de língua materna, pois é a partir da delimitação das finalidades que se torna
pertinente refletir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por tudo isso que foi apresentado pode-se admitir que a Cartilha Caminho Suave
foi criada a partir de uma concepção de ensino baseada na memorização e de que a lei-
tura e a escrita são tidas como codificação e decodificação sem se ocupar com os textos
e como esses são empregados nas diversas situações que as práticas sociais colocam
para o emprego da leitura e de escrita.
O ensino da alfabetização empregado nessa cartilha era centrado na leitura de síla-
bas, palavras e em alguns aspectos gramaticais. O trabalho com a ortografia é organizado
de uma forma em que a língua escrita é entendida como espelho da fala.
Ela também não faz qualquer relação com a questão da variação linguística, des-
considerando assim as diversidades linguística.
Quanto aos textos apresentados possui pouca ou quase nenhuma coesão/coerên-
cia e informatividade.
Com tudo que foi pesquisado e analisado, nos remete que, a cartilha “Caminho
Suave” não oferece elementos suficientes para uma alfabetização que vá além da codifi-
cação e decodificação.
REFERÊNCIAS
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Sem local, editora Positivo, sem data.
INTRODUÇÃO
Iniciamos essa reflexão por meio de uma discussão levantada por Charlot (2006, p.
12): “[...] a questão fundamental a ser resolvida por aquele que ensina é saber como pro-
vocar uma mobilização intelectual daquele que aprende”. O mesmo autor discorre em
seu texto sobre uma crise de identidade nas ciências da educação, a qual ainda está em
fase de construção da sua própria personalidade, em especial com a finalidade de se
estabelecer como uma área do saber.
Além disso, vivemos tempos de aceleração de mudanças, tanto sociais como cien-
tíficas. Do ponto de vista do senso comum, observa-se a sua presença marcante no
[ 1355 ]
1356 Luciana da Veiga; Mauricio Peixoto; Márcia de Assis; Cesar da Silva; Katy Domingues
entretenimento expresso, por exemplo, no sucesso de filmes e seriados onde temas cien-
tíficos são às vezes foco principal, às vezes pano de fundo das narrativas.
Ainda mais, o conhecimento científico está cada vez mais disponível em fontes que
não a sala de aula. Para o bem ou para o mal, os meios digitais trazem incríveis inovações
científicas, mas também algumas trágicas distorções do conhecimento.
Nestas circunstâncias, é necessário preparar pessoas para pensar, capazes de refle-
tir, principalmente no que tange aos conhecimentos que norteiam as suas vidas cotidia-
nas. Os conhecimentos que estão inseridos na sala de aula, como por exemplo a
metacognição, podem ser valiosos para auxiliar na formação do pensamento crítico.
O precursor da metacognição foi Flavell (1970), que definiu como uma “cognição
sobre a cognição, portanto entendemos, no escopo deste estudo, a metacognição como
um discurso de segundo nível sobre a cognição, ou seja, “o conhecimento que construí-
mos sobre como percebemos, recordamos, pensamos e agimos, ou seja a capacidade de
saber o que sabemos” (PEIXOTO et al., 2007).
Benefício importante destes conceitos é que a metacognição permite construir nas
salas de aula a cultura do pensar, permitindo aos alunos uma forma de explicitar preco-
cemente modalidades de pensamento, e nesse sentido sendo capazes de compartilhá-
-las (DAVIS, et al., 2005). Glaser (1994) relata que a metacognição tem sido uma das áreas
de investigação que mais tem contribuído para promover as novas configurações de
aprendizado e instrução.
De acordo com Ribeiro (2003) a prática da metacognição no ambiente de ensino
promove a possibilidade de conduzir os estudantes a uma melhoria da atividade cogni-
tiva e motivacional e, consequentemente, levando-os a uma potencialização do processo
de aprender, melhorando assim o desempenho escolar. Além disso, a autora ainda relata
que os indivíduos mais eficientes na execução de tarefas acadêmicas apresentam com-
petências metacognitivas bem desenvolvidas, compreendendo bem a finalidade das
tarefas propostas, assim como são capazes de planificar a sua realização, aplicar e alterar
conscientemente estratégias de estudo, e ainda, de avaliar o seu próprio processo de
execução (RIBEIRO, 2003).
Nesse sentido, o presente artigo tem como metodologia adotada a pesquisa concei-
tual qualitativa onde discutiu-se a importância da metacognição para o processo de ensi-
no-aprendizagem, principalmente para a aprendizagem baseada na mobilização do sujeito
em seu autoconhecimento, de forma a estimular o pensamento reflexivo e autonomia.
REVISÃO DA LITERATURA
tem como principal objeto de investigação o processo de ensino. Vale ressaltar que a didática
não pode considerar o processo de ensino sem que considere a aprendizagem.
Desta forma, ensino e aprendizagem como enfatizado anteriormente podem ser
observados por diferentes lentes, e que dependendo da abordagem poderão ser enten-
didos e ter os atores desse processo definidos de formas distintas, surgindo as diferentes
teorias de aprendizagem.
Moreira (2013) engloba as teorias de aprendizagem em três grandes grupos: com-
portamentalismo, construtivismo e humanismo, e destaca o surgimento de pesquisas na
corrente ligada ao modelo representacional. Contudo, Ostermann e Cavalcanti (2011)
destacam cinco grupos, enfatizando a importância de destacar uma teoria de transição
entre behaviorismo clássico e o cognitivismo e acrescentam em separado, as contribui-
ções das teorias socioculturais como sendo uma teoria a parte do humanismo, diferente
de Moreira, que encaixou alguns dos estudiosos desta corrente, no humanismo, como
por exemplo, Paulo Freire.
Vale ressaltar que existem muitas divergências em relação a como organizar e cate-
gorizar essas correntes. Pois ao escolhermos uma lógica para categorizar, incluímos crité-
rios e atributos que nos parecem mais importantes, mas que não são necessariamente
consensuais. Portanto, surgem diferentes interpretações, o que nos sugere não tomar as
categorias como estanques ou imutáveis, para que possamos ter um melhor entendi-
mento sobre as teorias de aprendizagem, afinal, as ciências da aprendizagem estão sem-
pre em contínua transformação (BIZERRA; URSI, 2014).
Na Figura 1, apresentamos a classificação utilizada por Moreira (2017), a qual
embasa as nossas pesquisas. Nessa perspectiva, podemos perceber que a primeira cor-
rente, comportamentalista, atribui importância para o estudo, naquilo que se pode com-
provar empiricamente, ou seja, a credibilidade da pesquisa está na conduta observável e
nas suas consequências. O que nos leva a considerar a forte influência das correntes dos
pensamentos empiristas e racionalistas. Já no cognitivismo aparece a necessidade de
explicar o funcionamento da mente, e de como se processa o conhecimento interna-
mente, surgindo a revolução cognitivista. Nesta se atribui importância a aprendizagem
por duas óticas, a de aquisição de informação e a de aquisição do conhecimento, consi-
derando os atores responsáveis pelo processo de aprender e ensinar, como sujeitos intei-
ros, compostos pelas dimensões: pensamento, sentimento, ação e interação (PORTILHO,
2011). É a partir dessa revolução, que Moreira separa do cognitivismo a perspectiva
humanista, a qual dá ênfase para essas dimensões citadas por Portilho (2011).
Figura 1 – Esquema proposto por Moreira (2017) para os principais enfoques teórico à aprendizagem e ao ensino e alguns dos
seus representantes
Fonte:
Nesse sentido, citamos Wertsch (1993), que enfatiza que os estudos socioculturais
são de grande importância para aproximar e reconhecer a relação essencial entre os pro-
cessos mentais humanos e os cenários culturais, históricos e institucionais. Portanto,
devemos buscar sempre entender o aprendiz por meio da totalidade desses conceitos, e
desta forma, poderemos buscar um melhor entendimento da figura do aluno que encon-
tramos diariamente em nossas salas de aulas
Pozo (2014) alerta que para responder melhor as novas demandas da sociedade
devemos repensar nossas formas de aprender e ajudar os outros a aprenderem, basean-
do-se muitas vezes na intuição e no sentido comum, além disso, nos apoiar na ampla
bagagem de conhecimentos científicos acumulados nas últimas décadas pela Psicologia
de Aprendizagem Humana, integrando as teorias tradicionais, as quais são necessárias
para elaborar um novo modelo de ensino-aprendizagem. O qual deve ser mais integrado
e mais completo, como é o funcionamento mental que conduz as mudanças cognitivas.
Surge a necessidade do indivíduo se autoconhecer, conhecer como aprende e qual
a melhor forma de fazer a gestão do seu aprendizado, para ter sucesso nesse no cenário
contemporâneo, a fim de que ele possa estar inserido, ou mesmo “alfabetizado” de
acordo com as demandas presentes no seu cotidiano.
A metacognição é uma ferramenta importante para esse autoconhecimento tendo
potencial para lidar com o desenvolvimento do aprendiz e de suas capacidades cogniti-
vas para o aprendizado.
Finalmente imbuídos por esse sentimento de querer fortalecer os estudantes a
fazer a gestão do seu pensamento e a sua capacidade de aprendizado, requisitos fun-
damentais nos dia de hoje, conforme mencionado anteriormente, lembramos das pala-
vras de Descartes em seus escritos no Discurso do Método; “Aqueles cujo raciocínio é
mais ativo e que melhor ordenam seus pensamentos, com o intuito de torná-los claros
e inteligíveis, sempre podem convencer melhor os outros daquilo que propõem, mesmo
que falem somente o baixo bretão e nunca hajam aprendido retórica”. (DESCARTES,
2009, p. 42).
De acordo com Arroyo (2013) a autonomia e a liberdade proposta pela ação edu-
cativa que é muito difundida por meio das ideias de Paulo Freire não é algo que surgiu
com ele, mas que vem de longa data por meio da pedagogia humanista. Esta tem como
foco principal, compreender os educandos e educadores como pessoas no sentido amplo
desse conceito, ou seja, como seres humanos, e dessa forma, seres livres e que não se
repetem. Portanto, o sentido de garantir a autonomia e a liberdade se constrói no ato de
aprender. Aprender a ser livre, aprender a ensinar, aprender a liberdade, e isto para
Arroyo (2013) é o verdadeiro sentido do processo de transgressão, onde é necessário
aprender a liberdade para ensinar a liberdade.
Metacognição: O conceito
Com certeza a década de 1970 foi o marco inicial para as pesquisas sobre a meta-
cognição da forma como ela é compreendida hoje (MARAGLIA, 2018). Flavell foi o
ideais ali presentes. Disto resulta outro fluxo, agora descendente: o controle, a determi-
nar a manutenção do processamento cognitivo em sua situação atual ou então sua modi-
ficação de modo a corrigir eventuais falhas ou dificuldades percebidas.
Assim, temos a clara noção do que é o pensamento de segundo nível dito anterior-
mente, que surge deste processo consciente ou inconsciente (como afirma Efklides
(2008) de movimentação de informações, demonstrando um pensar sobre o pensar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tecnologia é uma produção humana e além de permitir que o homem atue sobre
o meio em que vivem, pode ser entendida como uma forma de leitura do mundo. Além
disso, tecnologia, ciência e sociedade estão intimamente ligadas. A ciência que permite o
desenvolvimento de novas tecnologias é a mesma que se desenvolve pela utilização des-
tas novas tecnologias, numa relação de mútua alimentação, atuando na sociedade e
sendo demandada por ela (PEIXOTO, et al., 2007).
O termo “tecnologia” é muitas vezes associado apenas a produção científica no
campo das ciências duras, no entanto, tecnologia é muito mais que isso e, podemos pen-
sar em tecnologia em outras áreas.
Podemos pensar então em tecnologia educacional pautados em duas perspectivas
diferentes, uma técnico-científica, onde o aperfeiçoamento do ensino é enfatizado e
outra onde a tecnologia educacional que pode ser entendida como a utilização sistemá-
tica de conhecimentos científicos e tecnológicos visando à solução de problemáticas no
ensino. Esta última enfatiza o processo de aprendizagem que leva ao pensamento crítico,
com o objetivo de saber o que e como fazer para potencializar as capacidades investiga-
tivas dos alunos, estimulando competências e habilidades cognitivas, o que implica dire-
tamente na capacidade de resolução de problemas, enfrentamento de dilemas, tomada
de decisões e no estabelecimento de estratégias de ação (CROCHICK, 1998 apud PEIXOTO,
et al., 2007).
Segundo Sancho (1998) existem três tipos de tecnologias educacionais: as organi-
zadoras, as instrumentais, e as simbólicas. As tecnologias organizadoras, que lidam com
a gestão, controle da aprendizagem da atividade produtiva e das relações humanas, pre-
sente no currículo, nas disciplinas e em variadas técnicas de mercado. As instrumentais
são os instrumentos de ensino-aprendizagem, como livro, quadro de giz, retroprojetor,
televisão ou vídeo.
Figura 3 – Estratégias de ensino enquanto estratégias de aprendizagem cognitivas e metacognitivas. Baseado em Maraglia (2018)
Fonte:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modelo tradicional de ensino tem sido muito criticado, principalmente pela caracte-
rística de dominação da escola imposta ao aluno, o qual fica sujeito à delegação de conteúdos
estipulados por uma minoria no poder. Nesta perspectiva o aluno por vezes se mantém alie-
nado, imóvel, cumprindo o que lhe é determinado pelo sistema de ensino instaurado. Mesmo
que em certos casos esta afirmação não seja realidade, ela é a mais comum.
Pensando em um ensino que deveria ter uma função social de preparação do indi-
víduo para sua atuação em sociedade (que é o que aqui defendemos), se faz necessário
romper com o sistema imposto é propor meio para que isso aconteça.
É na formação de um aluno crítico, capaz de refletir e pensar a própria realidade
tanto individual quanto grupalmente que a metacognição inserida no contexto de ensino
pode ser ferramenta importante na ruptura proposta acima, pois, a metacognição é de
fato autorreflexão, processo introspectivo que torna o aluno ativo em seu processo de
aprendizagem e também em sua atuação em outros âmbitos (TARRICONE, 2011).
Por se tratar de uma tecnologia simbólica, a inserção da metacognição não neces-
sita de equipamentos específicos e altos investimentos. Requer apenas preparo e cui-
dado, por isso entendemos que ela pode ser fomentada, mas depende de questões
relacionadas ao nível de ação individual.
Desta forma, o uso da metacognição como ferramenta didática no ensino pode pre-
parar os sujeitos para atuarem no contexto de problemas sociais e tomada de decisões que
requer pensamento crítico, habilidades e competências, e que o atual modelo de ensino
praticado na maioria das escolas brasileiras é incapaz de oferecer ao aluno.
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INTRODUÇÃO
A escolha desse tema se fez por meio de vivências, onde pôde ser observado como
os laboratórios de informática muitas vezes não são utilizados de forma prazerosa, signi-
ficativa e pedagógica para a aprendizagem dos alunos nas escolas municipais de Goianésia
do terceiro ao quinto ano. Atualmente, se observa que as tecnologias estão inseridas em
todas as áreas, no entanto nas escolas ainda há uma certa dificuldade em utilizá-la de
forma pedagógica. Mas o seu uso é muito importante no processo de ensino-aprendiza-
gem das crianças, pois as tecnologias são recursos que o professor pode utilizar em sala
de aula, como uma ferramenta que serve para ampliar o ambiente educacional e propor-
cionar a mediação entre professor e aluno, com o objetivo de favorecer a aprendizagem
e desenvolvimento.
Pode-se constatar que as tecnologias estão atuando constantemente em nosso
meio, em especial a TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) e a TDIC (Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação) estão por toda parte, dessa forma elas acabam
também fazendo parte da educação, como apresentado acima, mas infelizmente ainda
há certa resistência pelas escolas com relação ao uso pedagógico das mesmas. No
entanto, deve-se lembrar de que o uso da TIC e TDIC de forma correta em sala, é
vantajoso para o processo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, como nos
aponta Mercado (2002, p. 26).
[ 1373 ]
1374 Kariele de Sousa Silva
Mas para que as tecnologias possam ser integradas a educação de acordo com
Oliveira Netto (2005), é necessário infraestrutura tecnológica adequada e professores
com formação para o uso das mesmas. A inserção desses novos recursos em sala de aula
traz contribuições as quais beneficiarão a aprendizagem do aluno, além de ser um dife-
rencial nas estratégias de ensino
De acordo com Melo e Antunes (2002), os computadores estão proporcionando
uma verdadeira revolução no processo de ensino/aprendizagem, devido seus diferentes
tipos de abordagem de ensino que podem ser realizados através deles, devido as diversi-
dades de programas usados no ensino. Mas a maior contribuição do computador como
ferramenta educacional, é o fato de permitir questionamentos dos métodos e processos
de ensino utilizados.
Como fora pontuado as tecnologias, quando usadas de forma pedagógica traz mui-
tas vantagens para aprendizagem. Mas claro que não é apenas os equipamentos tecno-
lógicos em si que ajuda no processo, é a forma que o educador usa, ou seja, é o uso das
tecnologias de forma pedagógica, pois sozinhas não trazem benefício significativos para
o processo de aprendizagem.
Durante o desenvolvimento do trabalhado será abordado sobre as políticas públi-
cas de tecnologia na educação. Onde será discorrera sobre alguns programas relacio-
nado a introdução das TIC na educação e a formação de professores para fazer uso delas
na prática docente, conceitos de tecnologia, tecnologia educacional. Além disso, tam-
bém será apresentado como ocorreu a implantação dos laboratórios de informática nas
escolas municipais de Goianésia. Por fim, serão discutidos os resultados da análise dos
dados da pesquisa. Tendo este trabalho por objetivo analisar de que forma o laboratório
de informática é usado para contribuir no planejamento de conteúdos propostos na
matriz e o desenvolvimento dos alunos.
Com o intuito de coletar dados para o trabalho, foi realizada uma pesquisa de
campo em três escolas públicas municipais de Goianésia. a técnica utilizada para coleta
de dados foi a aplicação de questionário para três coordenadores, onze professores, três
dinamizadores e quarenta e cinco alunos do terceiro ao quinto ano do ensino fundamen-
tal das escolas selecionadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Portanto, o uso da tecnologia educacional não se resume em usar por usar, mas dar
sentido, um significado à prática desses meios tecnológicos.
O mundo está mudando e a escola necessita ir se adequando, exigindo um novo
perfil de professor que busque atuar com qualidade em qualquer situação e lugar. Essa
nova formação deve abranger todas as oportunidades de ação profissional, uma forma-
ção que contribua para transformação da escola, capacitando o professor para agir em
diversas áreas. Como nos argumenta Kenski (2013, p. 91)
Formar professores com qualidade e conhecimento teórico e prático para
atuar em múltiplas frentes, além dos espaços tradicionais da educação regu-
lar – como educação a distância; educação mediada pelas tecnologias; edu-
cação cooperativa, empreendedora inclusiva etc. –, é uma necessidade que a
nova cultura e a nova sociedade exigem.
Na realidade atual como fora apresentando acima, exigi um professor que domine
diferentes áreas, sendo uma dessas, o uso dos recursos tecnológicos de forma pedagó-
gica. É visível que não é necessário que ele domine por completo o uso desses recursos,
mas deve ter conhecimento das possibilidades de utilizar esses recursos na prática da
sala de aula (OLIVEIRA NETTO, 2005).
Mas os cursos de licenciatura fornecem uma formação insuficiente nessa área,
atualmente os acadêmicos ingressos à estes cursos como forma de suprir as suas
necessidades de formação na área das tecnologias, procuram por conta própria cursos
complementares como nos destaca Alves (2013, p. 117).
[...] os professores egressos dos cursos de licenciatura procuram, eles mesmo,
a formação completar que melhor satisfaça suas necessidades como, por
exemplos, cursos com tecnologias para gestão de sistemas de ensino, cursos
sobre ambientes virtuais de aprendizagem, cursos sobre algum tipo de apli-
cativo, cursos de informática aplicada à educação. Além disso, como agentes
de sua própria aprendizagem, eles vão procurando, inclusive no ciberespaço,
de forma autodidata ou pela interação com os colegas, novos conhecimentos
que satisfaçam as necessidades de sua prática. [...]
B 2008 30 Proinfo
C 2009 Proinfo
25
Com o intuito de coletar dados para o trabalho, foi realizada uma pesquisa de
campo em três escolas públicas municipais de Goianésia. a técnica utilizada para coleta
de dados foi a aplicação de questionário para três coordenadores, onze professores, três
dinamizadores e quarenta e cinco alunos do terceiro ao quinto ano do ensino fundamen-
tal das escolas selecionadas.
Baseado no que foi apontado pelos entrevistados, e levando em consideração as
respostas dos professores e dinamizadores, a estrutura dos laboratórios de informática
nas escolas onde realizada a pesquisa, possuem algumas falhas. Seja por máquinas com
defeitos, falta de internet e/ou má qualidade da mesma, são pontos que acabam por
interferir no desenvolvimento das aulas planejadas pelos professores e, consequente-
mente na aprendizagem dos alunos.
Sobre o planejamento das aulas nos laboratórios de informática, de acordo com
os professores regentes, as mesmas são repassadas para os dinamizadores para que
possam elaborar atividades, pois bem se sabe a necessidade do planejamento para
que as aulas de resultados significativos, pois o computador é uma ferramenta, e o
resultado irá depender de como ele será usado. Esse suporte traz informações, mais
cabe ao professor planejar a aplicação da mesma em sala de aula (MELO; ANTUNES,
2002). Pois a chave para a integração das tecnologias com o ensino, é o bom planeja-
mento (MORAES; LIRA, 2002). As aulas citadas anteriormente, segundo os coordena-
dores, atendem as necessidades da matriz curricular, atendendo, portanto, o objetivo
de alcançar um ensino de qualidade.
Foi possível analisar, baseando nas respostas dos alunos e afirmações dos dinami-
zadores e professores regentes, que durante o ensino no laboratório de informática, os
alunos aprendem conteúdos diversos, além de gostarem das aulas. Com isso, nota-se
que tais aulas planejadas e aplicadas têm resultados na aprendizagem dos discentes, já
que os mesmos até citam vários conteúdos que já aprenderam e algumas atividades que
mais gostam de realizar. Observa-se então que as aulas no laboratório são vantajosas e é
uma forma diferente de se trabalhar o conteúdo, como nos afirma Marques e Caetano
(2002, p. 136).
O computador, permite novas formas de trabalho, possibilitando a criação de
ambientes de aprendizagem em que os alunos possam pesquisar, fazer ante-
cipações e simulações; confirmar ideias prévias; experimentar; criar solu-
ções; construir novas formas de representação mental. Além disso, permite
a interação com outros indivíduos e comunidades, utilizando os sistemas
interativos de comunicação; favorece a leitura, comunicação e o trabalho em
grupo; possibilita desenvolver maior autoconfiança e motivação para a
aprendizagem, produção e interação de conhecimento no espaço e tempo.
cresçam juntos, onde um alimenta novas ideias para o outro. Com isso se exige uma boa
formação para o professor, ou seja, que essa formação relacionada ao uso das tecnolo-
gias de forma pedagógica passe a ter maior atenção dos cursos de licenciatura, para que
ocorra assim uma revisão e aperfeiçoamento do currículo dos cursos, e com isso haja
profissionais mais capacitados. E com relação ao dinamizador, espera-se que ele passe a
ser um professor, preparado para trabalhar com tecnologias de forma pedagógica, e não
um profissional de qualquer área ou uma pessoa sem formação nenhuma, como a pes-
quisa constatou.
Essas falhas destacadas acima precisam ser estudadas e resolvidas não só em rela-
ção à capacitação dos profissionais, mas também no seu entendimento sobre a impor-
tância do uso da tecnologia educacional. Pois o professor hoje tem uma nova função a de
mediador. Por meio dessa formação de professor para o uso das tecnologias, ele ganha
essa nova identidade de mediador da aprendizagem, o qual sabe escolher as informa-
ções mais importantes, e trabalha para que elas se tornem significativas para os educan-
dos, além de motivar e incentivar, definir limites, organizar atividades que de pesquisa,
ritmos, interação, equilibrando o planejamento e a criatividade (MORAN, 2004).
Levando-se em conta o que foi apresentado, o trabalho possibilitou investigar e
aprofundar sobre um tema pertinente na educação, trazendo conhecimentos de
grande relevância e enriquecimento acadêmico para ambas as pesquisadoras, contri-
buindo para maior entendimento sobre o tema abordado e com certeza refletindo na
área de atuação, além de despertar para a busca de capacitação voltada para o uso
pedagógico da tecnologia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi observado como os laboratórios de informática muitas vezes, não são utilizados
de forma significativa para a aprendizagem dos alunos nas escolas. E foi partindo dessa
premissa, que teve o desejo para buscar entender quais problemas e dificuldades encon-
tradas nos laboratórios de informática referentes ao processo de aprendizagem dos alu-
nos. Tendo o trabalho por objetivo, analisar de que forma o uso do laboratório de
informática contribui para o planejamento de conteúdos propostos na matriz e o desen-
volvimento dos alunos.
Para atingir os objetivos deste, além do embasamento teórico da pesquisa biblio-
gráfica, foi realizada uma pesquisa de campo em três escolas municipais da cidade de
Goianésia/GO, com alunos dos terceiros, quartos e quintos anos do ensino fundamental
que um deles não tem conhecimento na área da tecnologia, e somente um dos entrevis-
tados cursa pedagogia e tem conhecimento em informática. Sabendo disso, fica claro
que as falhas em relação à formação do dinamizador, são ainda mais escassas.
Sobre a articulação dos conteúdos da matriz curricular, baseando no que os profes-
sores e coordenadores responderam, há sim um planejamento dos professores tanto para
a sala de aula regular, como também para as atividades que serão desenvolvidas no labo-
ratório de informática. Sendo esse plano construído a partir da matriz curricular, e são
adaptadas as atividades para o laboratório, entendendo que essas aulas é um meio de fixar
os conteúdos de forma lúdica, depoimento esse, dado pelo, ENTREVISTADO C3 (2017).
O que se vê em todos os aspectos observados, é que há sim dificuldades pertinen-
tes como, a falta ou queda de sinal da internet, computadores estragados, formação do
profissional, que acabam por refletir no ensino e na aprendizagem, os quais devem ser
solucionados. A investigação realizada diante da problemática apresentada, abre cami-
nho para a procura pela solução dos mesmos.
Espera-se que os argumentos apresentados na pesquisa possam contribuir para
orientar professores do ensino fundamental nos anos iniciais da rede municipal de
Goianésia, sobre a necessidade da prática e do uso pedagógico de forma significativa
nos laboratórios de informática, e o que pode propiciar de forma benéfica à aprendiza-
gem do aluno. Além disso, deseja-se também que esse trabalho possa auxiliar em pes-
quisas futuras sobre o tema, abordando por exemplo, a formação do professor no
aspecto acadêmico, como também em formação continuada voltada para as tecnolo-
gias educacionais.
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INTRODUÇÃO
[ 1386 ]
ANÍSIO TEIXEIRA: o empreendedor da escola pública brasileira 1387
Por força do cargo assumido, entrou, pela primeira vez, em contato com uma
literatura pedagógica e um sistema público de educação que não conhecia.
Em oposição à cultura, à organização, à competência docente dos colégios
nos quais estudara, deparou-se – na capital do seu estado natal – com a
pobreza de recursos materiais e humanos. Observou também a dispersão e a
desarticulação dos serviços educativos, o despreparo do professor, a imora-
lidade, a corrupção e a acomodação dos poderes públicos, alimentando a
ineficiência da máquina estatal. (NUNES, 2010, p. 16).
No decorrer dos anos de 1924 e 1929, Anísio realizou diversas viagens aos Estados
Unidos e à Europa, o que facilitou ao pesquisador obter novas experiências no campo
de gestão educacional. O contato com o filósofo americano John Dewey4 tornou-se um
marco em sua trajetória intelectual e profissional. No ano de 1930, Anísio publicou a
tradução de dois ensaios de John Dewey, que adquiriram o nome de “Vida e educação”
(NUNES, 2010). Dewey denunciava sistematicamente que, a ameaça da democracia
não estava fora de seu país, mas dentro do próprio, nas atitudes pessoais cotidianas e
nas instituições. De acordo com Nunes (2010, p. 19), o conhecimento pragmático de
John Dewey propiciou a Anísio Teixeira “um guia teórico que combateu a improvisação
e o autodidatismo, permitiu-lhe operacionalizar uma política e criar a pesquisa educa-
cional no país”.
O professor Dewey acreditava que a educação era uma permanente reconstrução
da experiência. A influência desse pragmatismo5 é que incentivou Anísio a se lançar para
além da incumbência de gestor das reformas educacionais e projetar-se também como
filósofo da educação. Sua inquietude permanente diante dos fatos, era a sua principal
marca enquanto pensador crítico, julgando a verdade não como algo categórico, mas que
se investiga perenemente.
4 Dewey é conhecido nos Estados Unidos como um filósofo ‘radical’, profundamente engajado, na teoria e na
prática, na luta política e social do seu tempo, em movimentos sociais e em experiências de organização social
e política, com posições democrático – radicais, sociais-democratas e mesmo socialistas. Disponível em: https://
deweypragmatismo.wordpress.com/sobre-john-dewey/. Acesso em: 06 de Set. 2019.
5 O pragmatismo é um pensamento filosófico criado, no fim do século XIX, pelo filósofo americano Charles San-
ders Peirce (1839-1914), pelo psicólogo William James (1844-1910) e pelo jurista Oliver Wendell Holmes Jr (1841-
1935). Eles se opunham ao intelectualismo, considerando o valor prático como critério. Disponível em: https://
www.significados.com.br/pragmatismo/. Acesso em: 06 de Set. de 2019.
6 O escolanovismo acredita que a educação é o exclusivo elemento verdadeiramente eficaz para a construção
de uma sociedade democrática, que leva em consideração as diversidades, respeitando a individualidade do
sujeito, aptos a refletir sobre a sociedade e capaz de inserir-se nessa sociedade. Disponível em: https://educa-
dor.brasilescola.uol.com.br/gestao-educacional/escola-nova.htm. Acesso em: 20 de Set. de 2019.
registrada da época (NAGLE, 1974) e permaneceu nas várias reformas que sucederam
nos sistemas públicos estaduais de educação no contexto brasileiro. Essas reformas, bus-
caram o rompimento com a inércia nas políticas educacionais da República Brasileira e se
definiram pela chegada à área educacional de uma legítima preocupação com a amplia-
ção da escolarização.
No decorrer do tempo, o discurso republicano adquiriu maior consistência e des-
pontaram, nos estados, as políticas que incentivariam a escolarização em massa dos
cidadãos brasileiros. Essas reformas, estimularam a ampliação das vagas nas unidades
educacionais, e durante a década de 20 houve uma tendência de introduzir uma concep-
ção de escola com atribuições e incumbências sociais ampliadas. De acordo com Nagle,
sucedeu-se entre os anos de 1920 e 1929:
Segundo Anízio, a escola pública para ser eficiente deveria ser de tempo integral
tanto para os docentes quanto para os alunos. Esse modelo educacional é apontado
como solução para a educação primária em sua obra Educação Não É Privilégio. A escola
deveria ser de tempo integral, obrigatória, laica e municipalizada, com o objetivo de con-
siderar os anseios de cada comunidade. O ensino deveria ser articulado para atender os
alunos da escola primária ao ensino universitário. Para consolidar o projeto, Anísio pro-
punha a criação de fundos financeiros pelo poder público.
A perseverança na defesa dos ideais democráticos e da educação igualitária, quali-
fica a trajetória de Anísio Teixeira e o credencia como um dos maiores pensadores brasi-
leiros na contemporaneidade (GOUVEIA NETO, 1973). Sua defesa não é apenas uma
paixão. É requintada por uma filosofia educacional e uma compreensão profunda da his-
tória social brasileira. É iluminada, conforme afirmava Florestan Fernandes, pela sua ima-
ginação pedagógica (Florestan Fernandes, in Lima Rocha, org., 1992, p. 46).
De acordo com Nunes (2000) Anísio integrou uma geração de intelectuais nas pri-
meiras décadas do século XX, que se preocupava em estruturar a nação e instruir sua
população mediante uma cultura que pudesse garantir a sua unidade pela reforma do
sistema educacional, pelo ensino público e pela edificação de um campo cultural a partir
da universidade. A inquietação desse educador, bem como a de outros correligionários
que lhe foram contemporâneos, criou um forte impasse com o Estado autoritário.
Em 1951, o então ministro da educação Ernesto Simões da Silva Filho, convidou
Anísio para assumir na esfera federal a Secretaria Geral da Campanha – posteriormente
denominada Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (Capes), insti-
tuída no mês de junho do mesmo ano e por ele adaptada no órgão que incentivou os
cursos de pós-graduação. No ano subsequente, assumiu no lugar de Murilo Braga de
Carvalho, o cargo de diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep) (FARIAS
et al., 2001).
Sua habilidade de estrategista colocava os órgãos sob a sua condução, como
o INEP, por exemplo, não só a produzir pesquisas que dessem suporte ao seu
projeto, através do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais e dos centros
regionais articulados, por via de regra, às universidades locais, mas, sobre-
tudo, a oferecer, através dos resultados dessas pesquisas, subsídios para um
planejamento educacional que, na medida das possibilidades, era realizado,
em alguns de seus aspectos, mediante convênio entre o INEP e as secretarias
de educação estaduais. Estes convênios patrocinaram equipamentos para
escolas primárias, construção de centros de aperfeiçoamento docente e cur-
sos voltados para o objetivo de produzir um profissional atualizado e compe-
tente e, em última instância, contribuir para incentivar a ampliação da
escolaridade primária nas escolas públicas e minimizar, sempre que possível,
suas deficiências. Não é por acaso que, ao mesmo tempo em que criava o
Centro Brasileiro de Pesquisa Educacional, capitalizava a luta pela escola pri-
mária e pelo controle da formação docente. É que, sendo os educadores
especialistas em processos, em modos de pensar, ser-lhes-ia possível, atra-
vés da generalização da instrução, transmitir os modos pelos quais a ciência
chegava a certos resultados em seu exame sobre a realidade brasileira. A
meta era a maioridade do povo brasileiro não só pela valorização da cultura
popular, mas também pela sua transformação em instrumento efetivo de
construção da sua autonomia (NUNES, 2000, p. 11).
Vale ressaltar que o otimismo com a ciência, com o método científico e com suas
aplicações técnicas, levou Anísio ao entusiasmo, também, em acreditar numa nova
escola brasileira. A sociedade estava passando por mudanças, inserindo novas expe-
riências democráticas, portanto era necessário que a escola estivesse preparada para
capacitar o homem moderno, para integrá-lo à nova sociedade. Por essa razão,
assegurava que seria “fácil demonstrar como todos os pressupostos em que a escola
se baseava foram alterados pela nova ordem de coisas e pelo novo espírito de nossa
civilização” (TEIXEIRA, 1968, p. 17).
De acordo com Anísio era possível acreditar na reconstrução da educação funda-
mentadas em bases científicas, a partir da ruptura com o tradicionalismo e o empirismo
depreciativo que por um longo período induziu a reflexão sobre os assuntos pertinentes
à educação brasileira. Ele afirmava que era preciso um conhecimento das distintas reali-
dades escolares do país, em todas as dimensões, e que a partir dessa consciência, seria
exequível uma estratégia de mudança relevante na formação dos docentes. Entretanto,
a expressão conhecimento da realidade escolar, assim como outras incluídas no discurso
educacional renovador, gradualmente se transformou simplesmente em um slogan edu-
cacional para um número expressivo de profissionais da educação brasileira.
De acordo com Santos (2014), são inúmeras as contribuições de Anísio para a for-
mação do pensamento pedagógico da educação brasileira, com destaque na valorização
da escola pública de qualidade (gratuita para todos), e a idealização da educação integral.
Esses ideais apregoados pelo pesquisador, estavam em consonância com os princípios
que norteavam a Escola Nova, da qual foi seu precursor no Brasil. Ele fundamentava suas
teorias educacionais e idealizava um novo modelo de educação e de escola sob o prisma
de pelo menos cinco aspectos relevantes:
O primeiro aspecto fundamental que Anísio Teixeira considerava fundamen-
tal era a educação como um bem que não poderia ser negado, fazendo parte
da formação do ser humano, de fato, um direito. Como segundo aspecto des-
taca-se a educação não como um privilégio, mas para Anísio Teixeira, a edu-
cação era dever e baseada numa consciência fundante. O terceiro aspecto, a
educação de base deve ser geral e humanista. Para Anísio Teixeira, a educa-
ção envolvia a participação da sociedade e dos movimentos que nela ocor-
rem, daí a necessidade de ser geral. Para Anísio Teixeira o quarto aspecto é:
a escola pública é a máquina que prepara a democracia. Referindo-se a
escola pública, Anísio aponta-a como mecanismo necessário, porém reco-
nhece os problemas existentes na máquina ideal em vista do real (SANTOS,
2014, p. 200).
Com base em uma teoria sobre o Estado, Anísio Teixeira enfatizava que a educação
deveria ser compreendida como um bem público proporcionada pelas esferas governa-
mentais, estabelecendo-se como um direito universal e não privilégio de alguns cida-
dãos. A educação deve ser idealizada como um processo sistemático, deliberativo,
progressivo e inacabado de desenvolvimento intelectual dos indivíduos de uma nação.
Portanto, para que a democracia ocorra de fato, é necessário um ensino público voltado
para a democracia, o que confirma uma relação estreita entre educação e Estado. Na
obra Educação não é privilégio, o autor introduz relatos de Gabriel Prestes sobre a evi-
dência democrática da escola.
A instrução do povo é, portanto, sua maior necessidade. Para o governo, edu-
car o povo é um dever e um interesse: dever, porque a gerência dos dinheiros
públicos acarreta a obrigação de fornecer escolas; interesse, porque só é
independente quem tem o espírito culto, e a educação cria, avigora e man-
tém a posse da liberdade (TEIXEIRA, 1971, p. 58).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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______. A educação e a crise brasileira. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1956.355p.
INTRODUÇÃO
1 Artigo desenvolvido a partir dos estudos da disciplina Clássicos da Modernidade e Educação, do Curso de Peda-
gogia da UEG – Câmpus São Luís de Montes Belos.
2 Acadêmica do Curso de Pedagogia – Câmpus São Luís de Montes Belos. laraslmb@hotmail.com
3 Acadêmica do Curso de Pedagogia – Câmpus São Luís de Montes Belos. marcia2977@gmail.com
4 Professora do Curso de Pedagogia – Câmpus São Luís de Montes Belos. wanessalando@yahoo.com.br
[ 1405 ]
1406 Lara Célia Lima; Márcia Santos; Wanessa Cristina Landó
que a classe que domina o plano material (econômico, social e político) tam-
bém domina no plano espiritual (das ideias).
O que a autora traz é que na maioria dos casos o empregado não se reconhece no
produto final ao qual dedicou seu trabalho, de forma que seu trabalho se torna uma mer-
cadoria, tornando-se uma coisa que existe em si e por si, surgindo o princípio da “mais
valia” onde o trabalho das classes baixas, mal pago, acaba gerando lucros exorbitantes
aos detentores dos meios de produção.
Chauí (1994) conclui que a ideologia foi sendo construída com o passar do tempo
com o intuito de estabelecer dominação e exploração dos detentores dos capitais
incluindo a onda tecnológica e cientifica atual.
Para melhor compreensão faremos uma breve trajetória histórica na visão de Marx
e Engels.
METODOLOGIA/PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Marx em uma de suas obras de destaque “O Manifesto”, elucida a luta travada con-
tra a ideologia.
O manifesto da liga comunista foi escrito em 1847, em formato de panfleto político,
a referida obra é um dos textos mais lidos da humanidade, no entanto, a derrota do
movimento revolucionário, fez com que o próprio “Manifesto” caísse no ostracismo por
uma década. O movimento comunista precisou se reorganizar sob novas perspectivas,
levando em conta o desenvolvimento do capitalismo e o novo papel político aberto pela
existência de partidos operários até então inexistentes.
Na medida em que os mercados aumentavam suas necessidades de produção a
manufatura tornou-se insuficiente, perdendo espaço devido à expansão do vapor e da
maquinaria, dando lugar aos industriais e aos burgueses modernos. Momento em que a
grande indústria criou o mercado mundial, Marx e Engels (2000, p. 46) afirmam que:
A descoberta da América, a circunavegação da Áfica, abriram um novo campo
de ação à burguesia nascente. Os marcados das Índias Orientais e da China, a
colonização da América, o intercâmbio com as colônias, o aumento dos meios
de troca e das mercadorias em geral deram ao comércio, à navegação, à
indústria, um impulso jamais conhecido antes e, em consequência, favorece-
ram o rápido desenvolvimento do elemento revolucionário na sociedade feu-
dal em decomposição.
Na medida em que se aumentou o capital todas as classes legadas pela Idade Média
foram colocadas em segundo plano.
Isso deixa claro que a burguesia moderna é baseada em modos de produção e de
troca de longo processo de desenvolvimento. Marx e Engels (2000, p. 47) afirmam que “o
poder político do Estado moderno nada mais é do que um comitê para administrar os
negócios comuns de toda a classe burguesa”, ou seja, o papel desenvolvido pela burgue-
sia foi extremamente revolucionário, por onde passou conquistou poder e destruiu todas
as relações feudais, patrimoniais e idílicas. Dilacerando impiedosamente os variados
laços feudais que ligavam o ser humano a seus superiores naturais, eliminando todo e
qualquer vínculo entre homens que não fosse o “nu e cru”, o frio e insensível “pagamento
em dinheiro”.
Ainda de acordo com Marx e Engels (2000) fez-se da dignidade pessoal um simples
valor de troca e no lugar das inúmeras liberdades já reconhecidas e duramente conquis-
tada colocou a liberdade de comércio sem escrúpulos. Retirou a máscara das ilusões polí-
ticas e religiosas e colocou a exploração aberta, despudorada, direta e árida. Despojou-se
de suas auréolas de respeito e veneração, transformando seus trabalhadores e assalaria-
dos. Marx e Engels (2000, p. 48) afirmam que:
[...] no lugar da exploração mascarada por ilusões políticas e religiosas colo-
cou a exploração aberta, despudorada, direta e árida.
A burguesia despojou de sua aureola todas as atividades até então conside-
radas dignas de veneração e respeito. Transformou em seus trabalhadores
assalariados o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência.
Para Marx e Engels (2000, p. 48) a burguesia retirou seu sentimentalismo até
mesmo das relações familiares reduzindo-as ao jogo de interesses estritamente finan-
ceiro, vejamos:
A burguesia rasgou o véu de comovente sentimentalismo que envolvia as
relações familiares e as reduziu a meras relações monetárias.
[...]
A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumen-
tos de produção e, por conseguinte, as relações de produção, portanto todo
o conjunto das relações sociais.
Diante disso entende-se que as relações fixas e cristalizadas por crenças e opiniões
são dissolvidas e mesmo as novas relações envelhecem antes de se consolidarem.
Assim o sagrado é profanado, o sólido e estável é volatizado, fazendo com que os
homens encarem a realidade nua e crua onde as relações são recíprocas e atendem às
necessidades de um mercado global e exigente.
Marx e Engels (2000, p. 49), destacam que: “Com o rápido aperfeiçoamento de
todos os instrumentos de produção, com as comunicações imensamente facilitadas, a
burguesia arrasta para a civilização todas as nações, até mesmo as mais bárbaras”, com
isso a burguesia cria um mundo a sua imagem e semelhança, pois, obriga todas as nações
a adotarem o seu modo de produção sob pena de extinção.
diferentes entre si, todas possuem uma medida em comum, por isso é possível calcular
seu valor.
O que difere, no entanto é o trabalho, que é a substancia social existente em todas
as mercadorias. O trabalho deve ser visto e compreendido como “trabalho social” e não
apenas com um simples trabalho, para explicitar o entendimento de trabalho social Marx
e Engels (1978, p. 75), compreendem que:
[...] Uma mercadoria tem um valor por ser uma cristalização de um trabalho
social. A grandeza de seu valor, ou seu valor relativo, depende da maior ou
menor quantidade dessa substancia social que ela encerra, quer dizer, da
quantidade relativa de trabalho necessário à sua produção.
Ou seja, o trabalho é medido pelo tempo gasto em sua produção. Além deste há de
se falar em “salário”, o salário é limitado ao valor do produto, mas o valor do produto não
se limita ao salário. Para calcular o valor do produto é necessário acrescentar seu valor
social, o tempo de trabalho dedicado a este e todo o suporte (maquinário/tecnologia)
para produção da matéria prima, somente ao final, consegue-se chegar ao valor final,
sendo que nem sempre o valor da remuneração salarial chegará ao valor real do produto
final. Neste sentido Marx e Engels (1978, p. 76) dizem que:
Diante disso Marx e Engels (1978) apontam as revoltas da massa que dão origem à
revolução, para eles o trabalhador precisa ter amor ao que faz e ao seu trabalho, sua luta
se baseava na igualdade entre todos, a abolição do direito de sucessão, educação iguali-
tária, ou seja, a doutrina comunista em sua pura essência.
As pessoas (dominadas) têm o poder de inverter a dominação, mas é necessária
união de forças e organização para tal, ou seja, as ideologias “não são históricas”, nesse
sentido Chauí (1994, p. 85) afirma que:
Dessa maneira, não só os acontecimentos históricos são explicados de modo
invertido (o fim explica o começo), mas tal explicação ainda permite que a
classe dominante justifique suas ações, fazendo-as aparecer como as razões
da história. Atribui-se à história uma racionalidade que é apenas a legitima-
ção dos dominantes.
realmente é o Estado pela ideia de Estado que a classe dominante almeja, substituindo
assim a realidade pelo “legal” encarnado pelo Estado.
A ideologia é, portanto um instrumento de dominação de classe, sua origem está
na existência da divisão da sociedade em classes contraditórias e em luta. Seu papel prin-
cipal é impedir que a dominação e a exploração sejam percebidas em sua realidade con-
creta, dissimulando e ocultando a existência das divisões sociais como divisões de classes.
No início da ascensão de uma nova classe é comum que esta represente os interesses
coletivos, no entanto ao atingir o objetivo, a classe ascendente torna-se dominante tam-
bém e seus interesses se tornam particulares, e precisam ser mantidos com a aparência
de que esteja lutando por interesses coletivos, ou seja, esconde que nasceu da luta de
classes para servir a uma classe na dominação.
Com isso surge a ilusão social, concebida pela sociedade de estar sendo represen-
tada por seus pares, enquanto na verdade estes estão sendo dominados. Para exercer
essa dominação, os dominadores usam de todos os meios para se manterem no poder,
inclusive o Direito e as leis, como mencionado acima. Contudo percebe-se que já faz
parte do pensamento das massas, que o local ao qual se ocupa na sociedade, seja classe
alta ou baixa, e que já estava predeterminado para tal. Foi inculcado que este é um ato
natural, que quando se nasce pobre, deverá prevalecer pobre por toda a vida, e quando
se nasce rico este está predestinado a perpetuar sua riqueza aos seus descendentes e
assim por diante, em momento algum se é dito que essa realidade é passível de mudança,
pois esse tipo de pensamento despertaria o poder adormecido dentro do indivíduo que
vive a margem da pobreza ou da “riqueza”.
Neste contexto Karl Marx discorda que exista uma classe média, para ele ou se per-
tence à classe baixa ou a classe alta, a ideia de classe média foi construída para dar aos
integrantes da classe baixa a ilusão de que se é possível e até fácil pertencer à classe alta
e que “basta querer e dedicar-se”, enquanto na verdade a classe média é como se fosse
uma bolha, que flutua entre as classes baixa e alta, mas que não sai do lugar.
Neste sentido Chauí (2000, p. 13-14) assim descreve:
Ora, estamos agora diante de uma sociedade que eliminou a escravidão e a
servidão, uma sociedade onde começa a dominar um tipo de homem que se
valoriza a si mesmo não por seu sangue ou família (como é o caso do senhor
feudal que vale por sua linhagem), mas por ter adquirido poder econômico e
começar a adquirir poder político e prestígio social como recompensa de seu
esforço pessoal, de sua capacidade de trabalho e de poupança. Estamos
agora diante do burguês.
Diante da explícita dominação exercida de uma classe sobre outra, ocorre o esta-
belecimento de grupos de indivíduos com características e anseios comuns, instituídos
como corporações, que buscam uma organização que defenda o trabalho e a ascensão a
uma classe mais favorecida.
De acordo com Marx e Engels (2010, p. 84):
[...] a consequente exclusão de pessoas não qualificadas de tais estabeleci-
mentos, a oposição de interesses entre os diversos ofícios, a necessidade de
defender um trabalho aprendido arduamente e a organização feudal de todo
o país foram as causas que levaram os trabalhadores de cada ofício a se orga-
nizarem em corporações.
Com as classes sociais cada vez mais separadas e definidas, sobretudo pelo tipo de
trabalho que desempenham na sociedade, percebe-se que, historicamente, as desigual-
dades sociais acompanham a evolução do homem e seu meio social, e são reproduzidas
em todas as esferas da sociedade (educação, saúde, política).
Muitas desigualdades sociais como, por exemplo, as diferenças entre classes, são
vistas e tratadas como heranças culturais, de modo que, certas diferenças jamais pode-
rão ser superadas.
Entretanto, há muitos estudos que sugerem que por meio da educação seria possí-
vel extinguir essas diferenças, onde, na medida em que um indivíduo adquire um elevado
grau de conhecimentos científicos, que nesta linha de pensamento só pode ser adquirida
através da escolarização, esse sujeito teria então a chance de ascender socialmente. Em
sua tese, Barbosa (2004, p. 52) propõe a seguinte visão:
E ainda conforme Laraia (2003, p. 67): “Homens de culturas diferentes usam lentes
diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas”, desta forma podemos com-
preender que a cultura condiciona a maneira como o homem enxerga seu meio social
modificando-o de acordo com seus interesses.
Interesses estes que foram definidos nos estudos Orosco apud Bourdieu (2013,
p. 2) afirmando que “...o indivíduo é um ator socialmente configurado em seus mínimos
detalhes, onde, seus gostos, preferencias, aptidões, posturas corporais e aspirações rela-
tivas ao futuro profissional seriam socialmente constituídos”. Em uma sociedade mar-
cada por conflitos de interesses percebe-se que a educação tem cada vez mais sido
utilizada como ferramenta de alienação para justificar as atrocidades de seus atos, como
explica Orosco apud Bourdieu (2013, p. 2) dizendo que:
Em sua análise, Bourdieu nos oferece uma nova interpretação da escola e da
educação onde, o que se via como igualdade de oportunidades,
Desta forma fica evidente que nunca se alcançou o objetivo de igualdade social,
sendo que mesmo nos dias atuais vivenciamos uma realidade massacrante acerca do peso
da origem social, desigualdade social, luta de classes, crenças, gênero sexual e tantos outros
que acabam por obstaculizar o acesso adequado a uma educação de qualidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
[ 1418 ]
HERBART E DAVYDOV 1419
METODOLOGIA
modo que cada indivíduo seja receptivo a todas as formas de atividade que caracterizam
o homem como um ser espiritual (HILGENHEGER, 2010).
O processo formativo consiste em uma ampla ação de constituição do ser
humano, não apenas abarcando o sentido de apresentar regras e informações, ou de
memorização de conteúdos e conceitos típicos de cada componente curricular, mas de
oportunizar situações em que seja despertado o interesse do estudante em múltiplos
aspectos. Por multiplicidade, entenda-se não apenas a variação de sentido e intensi-
dade de interesse, mas a capacidade de relacionar diferentes objetos a diferentes con-
ceitos e em diferentes situações.
Compreende-se, segundo as leituras de Freitas e Zanatta (2006), que a instrução
educativa consiste em educar a inteligência e a vontade do estudante e produzir nele
verdadeiros interesses, direcionando sua atenção às coisas, ideias, experiências, fazendo
surgir para ele o objeto de aprendizagem. Despertar o interesse do estudante é colocar
em sua consciência o gosto pelas virtudes, pelo bem, pela beleza, pela verdade, uma
aprendizagem prazerosa. Embora o estudo, como bem frisa Herbart (2010), dure um
período determinado de tempo, o interesse deve perdurar por toda a vida.
Lourenço Filho (2002) sintetiza o método pedagógico estruturado por Herbart,
com base nesses conceitos, cujos passos formais trazem impregnados os princípios filo-
sóficos e psicológicos de sua teoria. São eles: 1) Clareza da apresentação dos elementos
sensíveis de cada assunto, que envolve o trabalho do professor fundado na intuição do
aluno, levando-o a ver, ouvir, sentir diretamente a realidade de seu ambiente; 2)
Associação, em que o aluno relaciona as novas noções com as que já possui, desenvol-
vendo a apercepção; 3) Sistematização, que consiste em o professor levar o aluno das
imagens isoladas à organização de conceitos, em uma crescente generalização, alcan-
çando princípios gerais, regras, leis e definições; 4) Aplicação, ou, seja, aplicar os conhe-
cimentos alcançados a situações práticas, utilizá-los em situações concretas.
Para Dalbosco (2018) na história convencional da pedagogia, Herbart tem sido
retratado como pedagogo que seria conservador, defensor intransigente dos conteú-
dos e que, no processo ensino-aprendizagem, menosprezaria o papel ativo do aluno
em função do papel diretivo do professor. Entretanto ele deve ser considerado como
um precursor moderno dos métodos ativos que não destituiu a autoridade legítima do
professor e do seu papel de dar direção intelectual ao processo pedagógico. Embora
mantenha a centralidade formadora do professor, atribui-se ao estudante um lugar
Davydov (1982, p. 311) defende a ideia de que a formação do conceito teórico tem
início “não com um choque direto” com o objeto de conhecimento, mas “na relação
mediatizada com o objeto”. Segundo esse autor, a principal função da escola é providen-
ciar os meios para os alunos formarem esse modo teórico-conceitual de pensar para se
apropriarem dos conhecimentos histórica e socialmente constituídos.
O papel do estudante, no processo de ensino, implica em sua participação ativa, de
modo que se mobilize intelectualmente, a partir de ações que promovam o pensamento
teórico. É inegável, pois, a orientação e o planejamento dos professores, embora o apren-
dizado ocorra a partir da mobilização do estudante, a partir do momento em que ele, de
fato, se coloca em atividade de estudo.
O objeto a ser ensinado/aprendido tem sua origem em um processo real de
investigação. Essa forma real se apresenta na atividade de estudo dos alu-
nos como atividade reprodutiva, isto é, eles reproduzem o caminho já feito
por outros ao pensar e investigar o objeto para chegar ao seu conceito.
Nesse caminho se encontram as vias de realização da unidade entre os
aspectos histórico e lógico no desenvolvimento da cultura humana
(DAVYDOV, 1988, p. 166).
isoladamente, mas também suas ações no contexto da atividade das outras pessoas, ou
seja, pressupõe certa atividade conjunta” (Leontiev apud DAVYDOV, 1988, p. 32).
O papel do estudante em Herbart, é seguir o caminho traçado pelo professor, inte-
ressando-se pela possibilidade de estabelecer relações entre conceitos, fatos, ideias.
Entretanto, o faz de maneira ativa mas acrítica. A reflexividade sobre o processo é secun-
darizada. Em Davydov, por outro lado, a boa aprendizagem é a que resulta em novas for-
mações mentais, ampliando as possibilidades do aluno para compreender de forma cada
vez mais complexa e aprofundada os objetos em suas relações concretas na sociedade. A
boa aprendizagem necessariamente implica desenvolvimento da consciência, em desen-
volvimento mental do sujeito.
A partir da realização da atividade de estudo desenvolve-se nos estudantes, junto
com a assimilação dos conhecimentos teóricos, a consciência e o pensamento teórico.
No curso da formação da atividade de estudo, nos escolares menores se constitui e se
desenvolve uma importante neoestrutura psicológica: as bases da consciência, o pensa-
mento teórico e as capacidades psíquicas a eles vinculadas (reflexão, análise, planeja-
mento) (DAVYDOV, 1988).
O papel do estudante, para Davydov, é aquele cujas ações implicam em pensa-
mento e da reflexão, em criatividade e em transformação de si e da realidade, não
somente em um devir distante, mas na realidade viva de seu cotidiano. Acontece que
o desenvolvimento da consciência e da autonomia perpassa o desenvolvimento de
capacidades subjetivas, intelectuais e práticas, e isso depende da apropriação de con-
ceitos teóricos (originados no método da reflexão dialética). O estudante, ao ser desa-
fiado a pensar como os cientistas pensaram e percorrer caminhos que o levem à origem
e à essência do objeto de estudo, percebe-se como um ser que desempenha um papel
essencial e insubstituível no processo de ensino e aprendizagem, mas, sobretudo, no
processo histórico e social.
Enquanto a instrução educativa de Herbart concebe a aprendizagem como um pro-
cesso em que o conhecimento já vem pronto, acabado, o ensino desenvolvimental defen-
dido por Dvydov proporciona meios para a apropriação do objeto de estudo que se dá
por meio do procedimento da ascensão do abstrato ao concreto e que orientam o plane-
jamento do professor e a atividade de estudo do aluno de forma a proporcionar ao estu-
dante percorrer caminhos que o levam a redescobrir o que já foi descoberto; a
compreender como se dá o processo de produção do conhecimento, mediante a forma-
ção do pensamento teórico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Herbart considerava uma prática pedagógica bem sucedida, aquela que formasse o
caráter do estudante a partir da apropriação de uma cultura moral. Essa tem, para o
homem, muito mais importância que a cultura intelectual. De nada adianta o estudante ter
suas faculdades cognitivas desenvolvidas se seu senso de moralidade e ética é desequili-
brado. A educação forjaria homens de vontade forte, de disciplina inquestionável, capazes
de se autogovernarem e permanecerem em um suposto caminho de retidão e honra.
O papel do estudante, nesse contexto, é o de tornar-se flexível, qual barro nas
mãos de um oleiro. A metáfora serve para ilustrar a plasticidade e a maleabilidade do
espírito humano segundo a pedagogia Herbartiana, cuja cotidiana ação didática seria
intencionalmente desenvolvida a fim de despertar múltiplos interesses no estudante,
cuidando para que não se desviasse do caminho da moral e da ética. Havia, enfatize-se,
a preocupação com uma formação para além dos conteúdos, abrangendo a amplitude da
complexa humanização do ser humano.
Davydov, cujos estudos ressaltavam a capacidade cognitiva e a capacidade do
pensamento abstrato de escolares ainda na infância, propôs um ensino que oportuni-
zasse o desenvolvimento mental do sujeito e que pudesse ser traduzido em um desen-
volvimento de amplitude tal que se refletisse no modo de relacionar-se consigo mesmo
e com o mundo.
O foco de Davydov não era o auto-governo, a instrução e a disciplina, tal como
Herbart; mas os processos mentais realizados pelo estudante e que, em diferentes
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
[ 1436 ]
FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE EM MEIO AS POLÍTICAS NEOLIBERAIS 1437
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
principal das políticas educacionais deveria ser muito mais com o lucro do que com a
qualidade do ensino.
É preciso destacar ainda que mais recentemente, com a Constituição Federal de
1988 e a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9394/96,
houve a contemplação de princípios e normas que representaram um avanço no que diz
respeito à valorização do exercício do magistério, mas que na prática, não surtiram os
efeitos necessários, tendo em vista que não é de interesse do estado neoliberal a promo-
ção de políticas de valorização devidas ao docente.
Ainda de acordo com Ramos (1999), o professor, nesse contexto, é aquele que
utiliza de suas potencialidades múltiplas, ou seja, como já foi apresentado o professor
desenvolve uma formação polivalente, capaz de produzir uma excelente aula, para que
o aluno sinta que assistiu a um ótimo show. Não há, portanto, uma preocupação em
discutir conteúdos, em debater as questões mais relevantes, em explicitar contradi-
ções, mas apenas em transmitir um conhecimento superficial, resumido, pronto, para
satisfazer o aluno. O que se vê que o aluno não participa do processo de promoção e
da transmissão do conhecimento, não é sujeito do processo educativo, mas apenas
assimilar e espectador.
Verifica-se que o trabalho docente, visto como espetáculo, tem como pressu-
posto agradar ao cliente, fazer com que este fique fascinado com o produto apresen-
tado, na escola, a aula, que se tornou uma mercadoria e que precisa ser vendida no
mercado competitivo.
Nesse sentido, Cortella (2008), esclarece que a sala de aula se tornou um lugar de
espetáculo com cenas teatrais, em que se requer atenção contínua, há o ator principal
que sabe interpretar e catalisar os sentidos, e uma plateia disposta a viver voluntaria-
mente emoções.
Assim, ele descreve o espaço da sala de aula: a distribuição se dá de forma que o
ator ocupe um espaço em nível de altura acima do público, de modo a ser visto por todos
e destacar-se, o referido espaço é amplo em relação ao restante, permitindo ao profes-
sor uma ampla liberdade de movimentação.
Contudo, o que se vê é a escola sendo transformada em coadjuvante de todo esse
processo de reestruturação, fazendo com que o trabalho docente, mesmo firmado no
domínio de vários campos do conhecimento, não torne o indivíduo crítico, no sentido da
compreensão das desigualdades e discriminações sociais. É possível perceber que a
intencionalidade dos neoliberais está tendo êxito, estão conseguindo impor seus argu-
mentos como verdades e como única opção possível para sairmos da crise.
Infelizmente a educação que deveria ser um instrumento de emancipação humana,
têm se tornado mecanismos de perpetuação e reprodução desse sistema. Não obstante
acredita-se que pudesse contribuir com uma transformação social a partir de lutas,
enquanto categorias de classes.
Assim considerando que de acordo com Cortella (2008), o educador é um profissio-
nal politicamente comprometido, com consciência ou não disso, já que a educação está
envolvida na estrutura social, não há possibilidade de pensar a educação como uma ati-
vidade socialmente neutra, sendo assim, não é razoável aceitar que o papel do professor
seja reduzido a mero retentor e ou transmissor de conteúdo.
Conforme Cortella (2008), o educador é aquele que tem um papel político/pedagó-
gico, reafirmando assim que na atividade educacional não há neutralidade e nem abso-
lutamente restrita, ou seja, a educação escolar e os professores possuem uma autonomia
relativa, que por vezes possibilita mudanças desejadas na sociedade, a partir da constru-
ção coletiva de inovação na prática educativa.
Para Cortella (2008) a sala de aula é um espaço para confrontos, conflitos, rejei-
ções, antipatia, paixões, adesões, medos e sabores. Por isso, essa sala exala humanidade
e precariedade; a tensão contínua do compartir conduz, às vezes, as rupturas emociona-
das ou a dependências movidas pelo temor da solidão; afinal, ser humano é ser junto, e
ser junto implica em custo sensível.
De acordo com Freire (2005), é também na sala de aula que a partir da busca do
conteúdo programático que se inicia o diálogo, que implica um pensar crítico. Acredita-se
que a partir desse diálogo entre professor e aluno, o docente deixa de ser apenas trans-
missor de conteúdo, e passa a ser mediador do processo de construção do conheci-
mento, uma vez que ao fazer uso de sua autonomia consegue também dialogar com um
aluno autônomo e crítico.
ensino, através das políticas públicas de educação desenvolvidas no país e também, com
suas experiências de prática docente em instituições precárias e que não oferecem as
mínimas condições de ensino, bem como os estereótipos que parte da sociedade tem
com relação aos professores, desvalorizando a profissão.
Ainda segundo Pimenta (2012) ao ingressar no curso de formação inicial, os futuros
professores já possuem conhecimentos prévios sobre os saberes necessários para a prá-
tica docente. Estes conhecimentos são resultados da junção de diversas características
de professores que de uma maneira ou outra deixaram um legado sobre o que é ser um
bom ou mau professor. Essa mesma autora esclarece que o saber docente está intima-
mente ligado a prática como imitação de modelos, ou seja, grande parte dos alunos
aprendem a partir da observação e imitação de seus professores, mas também desenvol-
vem seu próprio modo de ser pois, “nesse processo escolhem, separam aquilo que con-
sideram adequado, acrescentam novos modos, adaptando-se aos contextos nos quais se
encontram” no exercício da profissão docente. (PIMENTA, 2002, p. 7).
Retomando os quatro pilares que constroem os saberes da profissão do profes-
sor conforme Tardif (2010), tem-se inicialmente os saberes profissionais, que são sabe-
res que são apropriados no decorrer da vida e da história do professor, adquiridos ao
longo de sua formação inicial e continuada e que se fundamenta nas ciências da edu-
cação, portanto, constitui-se de um “conjunto de saberes transmitidos pelas institui-
ções de formação de professores” (p. 36). Em relação aos saberes disciplinares, estes
correspondem aos diversos campos do conhecimento, aos saberes de que dispõe a
sociedade e que estão integrados às universidades sob a forma de disciplina. Segundo
Tardif (2010, p. 38) “os saberes disciplinares são integrados igualmente à prática do
professor como os saberes profissionais e emergem da tradição cultural dos grupos
sociais produtores de saberes sendo transmitidos nos diversos espaços educativos”.
Também Tardif (2010) caracterizou os saberes docentes, o que comumente chama de
discursos, objetivos, conteúdos e métodos que orientam o processo de ensino, pois
são a partir destes saberes que as instituições escolares categorizam e apresentam os
saberes sociais por elas definidos e selecionados como modelo da cultura que se diz
erudita. E por último, Tardif (2010) chama de saberes experienciais aqueles desenvolvi-
dos no trabalho cotidiano do professor. Estes saberes são incorporados à experiência
individual e coletiva sob a forma de habitus, ou seja, o estilo próprio de ensinar, mace-
tes da profissão e outras ações práticas que se incorporam aos saberes do professor
enquanto parte identitária do professor.
O desencanto com a profissão pode ser analisado a partir de Lapo e Bueno (2003)
quando afirmou que da mesma maneira que o se tornar professor é um processo contí-
nuo, construído no cotidiano das práxis educativa, também o deixar de ser professor se
constituí de um longo processo que envolve as políticas públicas de valorização do magis-
tério, precarização da escola, desvalorização do professor, dentre outros imperativos que
constituem de motivos para o desencanto e abandono da profissão docente.
Na mesma linha de pensamento, Huberman (2000) descreveu sete fases ou ciclos
de vida profissional do professor. A partir desses oito ciclos pode-se perceber o desen-
canto da profissão docente como um processo gradual e sistematizado que aflige tanto
os que já estão na profissão como aqueles que pretendem ingressar.
A primeira fase se refere à entrada na carreira, sobretudo, nos primeiros três anos
de profissão quando o professor se sente motivado, mas ao mesmo tempo decepcio-
nado quando confrontado a realidade com as teorias estudadas em sala de aula. Nesta
fase apresentam também a indiferença, a agitação e a frustração. Há aqueles profissio-
nais que se “sentem frustrados por não serem atendidos nas suas expectativas iniciais;
encontram-se também as limitações impostas pelas instituições que podem ocasionar
hesitações e desencanto” (HUBERMAN, 2000, p. 39).
A segunda fase consiste ao período de estabilização e afirmação da profissão atra-
vés da formação pedagógica. Neste período há um aperfeiçoamento do repertório e das
competências, juntamente com o aprimoramento da experiência docente e das habilida-
des necessárias para efetivação de sua prática. Nesta fase o professor é flexível, promo-
vendo a contextualização de suas aulas.
A terceira fase denominada de diversificação é caracterizadas por novos saberes
pedagógicas, experimentos em relação aos conteúdos aplicados em sala de aula, negan-
do-se a cair na rotina e mantém-se entusiasmado pela docência. Busca novos desafios
como uma forma de aprimoramento da prática profissional.
A quarta fase denominada pôr em questão caracteriza pelo início de seus questio-
namentos e inquietações sobre a profissão. É uma fase de desencantamento com a pro-
fissão, sentimento de fracasso diante das rotinas de trabalho e julgamento de si mesmo
em relação a sua prática docente. É um momento de avaliação de sua trajetória profis-
sional e muitas vezes se sente frustrado pelo que fez e deixou de fazer durante os anos
de magistério.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
do assunto como Saviani (2009), Gentili (1996), Cortella (2008), Tardif; Lessard (2012),
Fichtner (2012) e Geraldi (2010), entre outros. A partir deles o texto foi estruturado em
seções, sendo os assuntos: as políticas neoliberais fazendo um breve recorte histórico,
em seguida as implicações do trabalho docente e a identidade do professor, e dando
sequência as contribuições dos autores acerca dos saberes docentes, e finalizando as
seções com o desencanto com a profissão docente.
A partir das leituras realizadas foi possível constatar que os princípios que funda-
mentam as políticas educacionais, com o viés neoliberal não contempla de maneira
satisfatória os princípios humanos, culturais, inclusivos, haja vista que, a proposta que
está posta é voltada para o individualismo, realização de satisfação pessoal em detri-
mento da coletividade.
Chega-se ao entendimento de que a formação de professores vai partir dessa pers-
pectiva no qual o professor será mero mecanismo para que ela sirva de intermédio na
relação entre educação mercadoria e o aluno cliente. Sendo assim, sugere-se que essa
visão deve ser superada já na formação dos futuros professores, haja vista o caráter
humano que permeia o trabalho docente.
Foi possível constatar a partir da pesquisa bibliográfica realizada que os professo-
res são conscientes ou não, profissionais politizados, capazes de realizar uma análise crí-
tica das políticas educacionais propostas para serem desenvolvidas. Estes profissionais
são desafiados, enquanto professores e pesquisadores das ciências humanas e sociais a
agir com uma atitude que reverencie a formação ética, que valoriza e respeita o humano
como ser de totalidade em todas as suas dimensões, sociais, políticas, culturais, as quais
estão acima de qualquer interesse de mercado.
Conclui-se que as influências das políticas neoliberais no trabalho docente, leva
para compreensão de o mesmo tenha uma conduta polivalente, capaz de realizar um
espetáculo em sua atuação, haja vista que, na perspectiva neoliberal o professor terá
que lançar mão de malabarismos para atender as exigências impostas pelo mercado de
trabalho e pelo cliente, contrapondo-se a essa perspectiva, esta pesquisa apresenta
ainda uma reflexão acerca da escola como espaço de emancipação.
Por fim compreende-se que o papel do professor é tão essencial no processo de
formação e mediação do conhecimento, que por meio da dialogicidade constante na
relação entre professor e aluno, o docente ao gerir, organizar, mediar e orientar o pro-
cesso de ensino-aprendizagem, se torna por meio de sua autonomia no espaço da sala de
aula, o verdadeiro autor e ator de sua aula, ainda que na forma de espetáculo, contra-
riando assim as exigências apresentadas pelas políticas neoliberais.
Ressalte-se que não houve a pretensão nesse estudo de esgotar o assunto em tela,
mas tão somente buscar realizar uma reflexão acerca de um tema atual e relevante para
a sociedade, sobremaneira, para os docentes que estão vivenciando no dia a dia as exi-
gências das políticas neoliberais, as quais influenciam demasiadamente de forma não
muito positiva as aulas ministradas no cotidiano das escolas brasileiras, contudo, em con-
trapartida pode-se constatar que embora haja muitas limitações para atuação do profes-
sor no modelo atual, em que o mesmo se vê praticamente “forçado” a ministrar uma
aula em formato de espetáculo, ainda lhe resta uma autonomia ainda que relativa, pos-
sibilitando ao professor por meio do diálogo gerado a partir do conteúdo programático,
desenvolver nos alunos um pensamento crítico voltado para uma ordem social exclu-
dente e desumana, que reforça as estruturas de uma sociedade capitalista. Entende-se
que sendo o trabalho docente realizado por um indivíduo para outro indivíduo, com-
preende-se que deve ser nessa perspectiva mais humana da docência que a mesma pre-
cisa ser desenvolvida desde a formação do futuro educador.
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INTRODUÇÃO
[ 1449 ]
1450 Gilcéia Leite dos Santos Fontenele
ao 9º ano). No entanto o 3º ciclo foi implantado como experiência piloto no ano de 2013,
em cinco escolas que aderiram à proposta. A universalização do 3º ciclo no DF se deu em
2018, em atendimento à meta 2 do Plano Distrital de Educação (PDE), 2015-2024). Nesse
sentido, hoje, a organização escolar em ciclos no DF apresenta a seguinte organização: 1º
ciclo (educação infantil); 2º ciclo (1º bloco, 1º ao 3º ano – Bloco Inicial de Alfabetização,
2º bloco – 4º e 5º anos); e 3º ciclo (1º bloco, 6º e 7º anos, e 2º bloco, 8º e 9º anos), admi-
tindo-se a reprovação ao final de cada bloco (3º ano, 5º ano, 7º ano e 9º ano) em cada
ciclo. (FONTENELE, 2019).
Com o intuito de iniciar um estudo sobre o trabalho pedagógico e avaliação realiza-
dos nos ciclos (anos finais) é que realizei esse estudo procurando responder ao questio-
namento: como o processo avaliativo está articulado à organização do trabalho
pedagógico no contexto da organização escolar em ciclos, em âmbito nacional?
O objetivo geral foi composto e compreende em: analisar como o processo avalia-
tivo está articulado à organização do trabalho pedagógico no contexto da organização
escolar em ciclos, em âmbito nacional.
PERCURSO METODOLÓGICO
Essa pesquisa se desenvolveu por meio de uma abordagem qualitativa com a análise
documental, partindo do entendimento de que os documentos são quaisquer materiais
escritos que possam ser usados como fontes naturais de informações (LÜDKE; ANDRÉ,
1986), procuro resgatar as teses e dissertações dos bancos de dados da Biblioteca Digital
de Teses e Dissertações para apreender nestes escritos como os processos avaliativos rea-
lizados nas salas de aula se articulam ao trabalho pedagógico realizado nos ciclos. A base
epistemológica da pesquisa é a crítico-dialética, referenciada por Gamboa (2006).
Destaco que este estudo um capítulo da minha dissertação de mestrado, intitu-
lada: A avaliação no 3º ciclo e suas implicações na organização do trabalho pedagógico
de uma escola pública do Distrito Federal, sob a orientação da professora Edileuza
Fernandes Silva e defendida no Programa de Pós-graduação da Universidade de Brasília
na linha de pesquisa: Profissão Docente, Currículo e Avaliação (PDCA – FE/UnB), defen-
dida no dia doze de julho de 2019.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Título
Nº Ano/ Instituição Autor Área Em que consiste a pesquisa
D13 2015/ Pontifícia Concepções e Silvia Reis Educação Investigação a respeito dos
Universidade práticas de Fernandes desdobramentos das
Católica de Goiás avaliação orientações de organismos
(PUC-GO) vigentes em internacionais adotadas na
escolas públi- política educacional
cas: a influência brasileira, na atuação das
das políticas escolas e dos professores,
educacionais no no que diz respeito às
trabalho dos práticas de avaliação da
professores. aprendizagem e seu
impacto na qualidade de
ensino.
Fonte: Biblioteca Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/. Acesso em: 09 out. 2018.
A pesquisa realizada por Silvia Reis Fernandes tem como objetivos: buscar as
relações entre os objetivos e os procedimentos da avaliação da aprendizagem na visão
dos professores; identificar as formas de recepção e apropriação das diretrizes das ava-
liações sistêmicas e das ações por parte dos diretores, dos coordenadores pedagógicos
e dos professores; identificar os desdobramentos da recepção e da apropriação por
parte dos professores na sala de aula e na aprendizagem dos alunos; as principais estra-
tégias voltadas para o processo avaliativo e o trabalho dos professores, cujas orienta-
ções estão presentes na política educacional das escolas vinculadas à Secretaria
Estadual de Educação de Goiás (Seduc-GO). Fazem parte da metodologia desta pes-
quisa: observações e entrevistas com gestores, coordenadores pedagógicos e profes-
sores, realizadas no ano de 2014.
Os resultados da pesquisa revelam que as políticas educacionais baseadas em
resultados promovem o esvaziamento do currículo escolar e padronizam o ensino-apren-
dizagem, assim, os objetivos da educação ficam subordinados a critérios econômicos,
submetidos a resultados da avaliação em larga escala os professores se tornam executo-
res de orientações externas à escola, o que empobrece o trabalho pedagógico e os alu-
nos têm a formação escolar prejudicada pelo ensino baseado na preparação para os
4 A letra “D” significa dissertação, ou seja, D1, quer dizer dissertação um, D2, dissertação dois e assim
sucessivamente.
Após a exposição dos trabalhos encontrados, darei ênfase aos que têm relação
mais direta com o meu objeto de pesquisa: D1, D2, D3, D4, D7, D8 e T1.
Pesquisa D1 – Organização do ensino em ciclos e práticas avaliativas no ensino fun-
damental: um estudo em uma escola pública estadual paulista. (SATO, 2007).
O contexto e o objeto da pesquisa: uma escola da rede pública de ensino funda-
mental – ciclo I da rede estadual paulista. Os participantes foram professores, equipe
pedagógica e funcionários. O objeto desse estudo são as práticas avaliativas escolares
nos ciclos.
Os objetivos: investigar junto à equipe pedagógica, aos professores e aos funcioná-
rios as concepções e as práticas associadas à organização do ensino em ciclos; indicar
quais valores permeiam as práticas avaliativas escolares e constituem o ambiente avalia-
tivo da sala de aula; informar que relação é possível identificar entre o ethos escolar e as
práticas avaliativas; esclarecer quais dificuldades que podem ser identificadas nessa rela-
ção e como são eventualmente superadas.
Metodologia/Instrumentos: a metodologia apresenta cunho qualitativo, envol-
vendo observações na fase exploratória, do conselho de classe, de reuniões de pais, de
salas de aula, entre outras. Foram realizadas entrevistas com professores, funcionários e
equipe pedagógica.
Os achados da pesquisa: concluí que a concepção de ciclos é polissêmica e muitas
vezes imprecisa, predominando, na prática, a concepção de oposição ao sistema seriado
e à dilatação/flexibilização do tempo; há movimentos de resistência e adaptação à escola
não seriada e à não reprovação relacionadas, geralmente, às condições de trabalho, que
dificultam a prática efetiva de avaliação processual e formativa.
Pesquisa D2 – A progressão continuada rompeu com os mecanismos de exclusão?
(BIANI, 2007).
O contexto e o objeto da pesquisa: acompanhamento, por um ano letivo, em uma
escola da Rede Estadual Campinas, em duas turmas de 4ºs anos, que adotaram a progres-
são continuada nos ciclos.
O objetivo: analisar a seletividade, o fracasso escolar e a exclusão após a implanta-
ção da Progressão Continuada na Rede Escolar Pública Estadual de São Paulo.
Metodologia/Instrumentos: perspectiva do Materialismo Histórico Dialético (MHD)
de abordagem qualitativa e estudo de caso. Os procedimentos utilizados foram:
observações cotidianas (em salas de aula, recreios, sala dos professores) e entrevistas
com alunos e professores.
Os achados da pesquisa: a progressão continuada não rompeu com mecanismos e
processos de seleção, fracasso e exclusão, levando a escola a manter o seu caráter sele-
tivo e excludente. Nesse contexto, os mecanismos de exclusão estão intimamente liga-
dos aos processos avaliativos e intensificaram a produção das desigualdades dentro da
escola, contribuindo para a manutenção das desigualdades existentes na sociedade. Por
outro lado, de acordo com a pesquisa realizada, pode-se afirmar que a implementação
da proposta da Progressão Continuada criou condições objetivas para as discussões
acerca das finalidades da educação, da função social da escola, da organização e da cul-
tura escolar, das práticas pedagógicas e da qualidade na educação, o que poderá contri-
buir para repensar a escola seletiva e com a construção de uma escola para todos.
Pesquisa D3 – Avaliação, ciclo e progressão no ensino de Matemática: uma conse-
quência refletida ou uma saída aleatória? (ANDRADE, 2008).
O contexto e o objeto da pesquisa: escolas da Rede Pública do Estado de São Paulo
(estadual e municipal), tendo com objeto de estudo o fracasso escolar na disciplina de
Matemática.
O objetivo: compreender os métodos, as estratégias e os instrumentos de avalia-
ção, que podem ser vistos como possível fator para a manutenção do baixo desempenho
e na iminente possibilidade de fracasso na disciplina de Matemática e a forma como
esses assuntos se inter-relacionam.
Metodologia/Instrumentos: a pesquisa foi de natureza qualitativa/quantitativa,
com a aplicação de questionários para 20 professores e a realização de entrevistas com
7 professores de Matemática, que iniciaram a carreira do magistério antes da implanta-
ção dos ciclos, em São Paulo.
Os achados da pesquisa: a utilização dos instrumentos de avaliação sempre foi
vista como capaz de efetuar a mediação entre o desempenho escolar (atribuição de con-
ceitos ou notas) e a capacidade de apropriação de conhecimento por parte do aluno
(sucesso ou fracasso na disciplina). Nesse sentido, observou-se, com o estudo realizado,
uma ausência de mudanças na estrutura escolar para a efetiva implantação dos ciclos,
incluindo o currículo, os critérios, os métodos e os instrumentos de avaliação, que conti-
nuam sendo os mesmos da seriação. A pesquisa levou, portanto, à compreensão de que
6 A Recuperação Intensiva constitui-se de classes para os alunos que demandam mais oportunidades de apren-
dizagem para a superação de dificuldades. Esse processo ocorre durante um ano, com um número reduzido de
alunos, garantindo, ao final, a promoção para a série subsequente a que estavam matriculados. (AMBROSIO,
2015). Disponível em: https://repositorio.unesp. br/handle/11449/149240.. Acesso em: 10 out. 2018.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse breve estado do conhecimento teve como objetivo analisar como o processo
avaliativo está articulado à organização do trabalho pedagógico no contexto da organi-
zação escolar em ciclos, em âmbito nacional, procurando trazer a discussão apresentada
nos trabalhos encontrados na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações sobre estas temá-
ticas em estudo, tendo o marco temporal os anos de 2007 a 2018.
Diante da análise geral, realizada em todos os estudos encontrados, observei que
as temáticas dos trabalhos pesquisados estão ligadas a dois dos eixos desta pesquisa: a
avaliação e a organização escolar em ciclos. Cabe considerar, porém, que nestes estudos,
os ciclos estão relacionados ao tipo de organização escolar, que adota uma perspectiva
diferenciada da realidade pesquisada, o Distrito Federal. A rede pública do estado de São
Paulo, por exemplo, adotou a aprovação automática, já no DF optou-se pela progressão
continuada das aprendizagens, na qual se admite a reprovação dos estudantes ao final de
cada ciclo (no 3ºano e ano 5º ano do 2º ciclo – ensino fundamental I) e (7º ano e 9º ano
do 3º ciclo – ensino fundamental II). Nos ciclos para as aprendizagens, se flexibilizou o
tempo e o espaço para as aprendizagens.
Observei que a maior parte dos trabalhos se origina de universidades de São Paulo
e de pesquisas em escolas paulistas, esse contexto remete a Freitas (2004) quando diz
que, nos anos noventa, houve uma supervalorização das avaliações externas, tanto que,
“em São Paulo, a aprovação do aluno no final do ciclo chegou a ser definida não pelo pro-
fessor, mas por uma avaliação externa” (p. 149). Nessa perspectiva, Freitas (2004) salienta
que esse tipo de avaliação, se tornou uma verdadeira expropriação do trabalho do pro-
fessor, que planejava e desenvolvia o ensinoaprendizagem, mas não podia avaliar o estu-
dante de acordo com o seu próprio ritmo e a sua evolução, o que determinava a aprovação
e a reprovação, era um teste quantitativo e classificatório externo à escola. Essa reali-
dade gerou inquietações na esfera educacional do estado de São Paulo implicando nos
dados das pesquisas encontradas no banco de dados da Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações (BDTD), que priorizou, principalmente, o tema avaliação nos ciclos.
Outra questão observada é a própria organização escolar, enquanto em São Paulo,
se divide os anos escolares em ciclo I (1ª a 4ª séries) e ciclo II (5ª a 8ª séries), no DF ado-
ta-se a seguinte distribuição dos anos escolares: 1º ciclo (educação infantil); 2º ciclo –
Ensino Fundamental I, que é composto pelo 1º bloco (1º, 2º, 3º anos – chamado de Bloco
Inicial de Alfabetização – BIA); pelo 2º bloco (4º e 5º anos) e pelo 3º ciclo – Ensino
Fundamental II, que compreende o 1º bloco (6º e 7º anos) e o 2º bloco (8º e 9º anos). Esta
investigação corresponde ao 3º ciclo do ensino fundamental II.
A investigação desenvolvida nesse estudo apresenta significativa relevância peda-
gógica, pois busca compreender como o processo avaliativo vem sendo realizado no 3º
ciclo, um tipo de organização escolar prevista em lei, uma política pública, que faz parte
do Plano Distrital de Educação do DF (2015-2024).
Finalmente, destaco que as pesquisas sobre os ciclos no Distrito Federal apresen-
tam, ainda, uma relevância política, por estudar os anos finais do ensino fundamental,
visto que, historicamente, os estudos realizados estão mais voltados para os anos iniciais
da educação básica, do que para os anos finais do ensino fundamental. Por isso as
REFERÊNCIAS
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vufind/. Acesso em: 09 out. 2018.
INTRODUÇÃO
[ 1465 ]
1466 Luana Rosa de Araújo Silva; Rodrigo Soares Guimarães Rodrigues
devido embasamento científico e que permitam entender, de fato, quem é este profissio-
nal, como se dá (ou deve se dar), sua formação e trabalho, o que, consequentemente,
justifica a importância do presente texto para a realidade descrita.
Reafirma-se que ele não é o único, mas que o seu trabalho possui sim significância
ímpar no alcance do objetivos propostos pelo modelo de educação e por que não, de
nação, como descrito na própria resolução CNE/CEB Nº 04/2010, que entende que os
fazeres educativos:
devem evidenciar o seu papel de indicador de opções políticas, sociais, cultu-
rais, educacionais, e a função da educação, na sua relação com um projeto de
Nação, tendo como referência os objetivos constitucionais, fundamentando-
-se na cidadania e na dignidade da pessoa, o que pressupõe igualdade, liber-
dade, pluralidade, diversidade, respeito, justiça social, solidariedade e
sustentabilidade (BRASIL, 2010).
Com base no cenário contemporâneo supracitado, tem-se como ponto crucial para
o debate, a necessidade de investigar as relações que se constituem entre as concepções
pedagógicas mapeadas na história da educação brasileira, na construção e desenvolvi-
mento de um trabalho docente capaz de ressignificar realidades e de que forma (ou for-
mas), ocorre essa tomada de consciência e ressignificação da realidade pelo trabalho. É
de consciência pública que a educação recebe influências e responde intrinsecamente à
ação efetiva de determinantes diversos, capazes de incidir diretamente nos papéis sociais
assumidos por processos formativos, bem como por seus sujeitos, os quais acarretam
diretamente nos rumos e definições que permeiam a forma como se fez e se faz educa-
ção neste planeta e, é claro, neste país. Concepções de ensino aprendizagem resultam
assim, por consequência, diretamente das influências que as condicionam e determinam,
o papel que seus processos formativos assumem, bem como seus objetivos de manuten-
ção ou mudança da realidade. Percebe-se a relevância de tais concepções para a educa-
ção brasileira desde a legislação que norteia, como aparece no artigo 206 da Constituição
da República Federativa do Brasil ou na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
lei 9394 de 1996, ambas as citações transcritas abaixo:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte
e o saber;
III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;[…](grifo nosso) (BRASIL,
Constituição da República Federativa do Brasil, 1988).
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensa-
mento, a arte e o saber;
III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; […](grifo nosso)
(BRASIL, Lei 9394, 1996).
trabalho. Ou seja, uma boa compreensão, com embasamento teórico acerca realidade
que o circunda e que possibilite a este uma práxis segura e de fato capaz de atender as
reais demandas de seu meio. Diante disso, é essencial que o profissional busque o enten-
dimento de como ocorrem as relações entre a escola, o ato de educar e a influência desta
prática e de sua identidade profissional neste contexto, percebendo, entendendo e dife-
renciando a relação existente entre o uso que faz de suas ações e o uso que os outros
fazem destas.
Visualizando-se sob esta perspectiva, deve-se pensar que formação este profissio-
nal deve ter. Mais do que isso, cabe ainda uma reflexão profunda de quais saberes ele
deve possuir, em que conhecimentos deve se pautar sua prática e suas ações. Outra
questão delicada refere-se ao exercício do ato de estar a frente de uma sala de aula e
como exercê-lo, respeitando a fina fronteira entre o todo que envolve o processo de
construção do conhecimento. Existe aqui uma compreensão de que a espistemologia da
práxis é fundamental para se ter o alcance do que se objetiva. Esta por sua vez com-
preende uma relação que pode ser entendida como um processo social, heterogêneo e
complexo, que permitem ao profissional construir reflexão e consciência de elementos
que de fato permeiam o seu trabalho. Desta maneira, tal epistemologia entendida aqui
está diretamente relacionada com as demandas que permeiam a atuação do docente,
uma vez que se este não constrói sua unicidade teoria-prática buscando atender as
necessidades reais de sua ação, este processo pode se tornar ineficaz ou insuficiente.
Entender tal questão exige a compreensão da natureza e da especificidade do fazer
pedagógico. Levando-se este contexto para dentro da escola é possível ver que o traba-
lho é interativo e que, a docência deve ser vista como um ato coletivo, sob uma concep-
ção que se pauta em uma relação onde o indivíduo age no coletivo e sobre as coletividades,
ocorrendo o processo inverso também: as coletividades também agem sobre o ser. Nesta
realidade, estabelece-se assim um paralelo com o pensamento gramsciniano, no qual o
professor se constituiria como um intelectual orgânico: ou seja, um organizador das von-
tades coletivas. O significado que a palavra intelectual ganha de Antônio Gramsci (1986),
é de fundamental importância para este trabalho, na medida em que irá fundamentar as
análises aqui propostas.
Em Gramsci (1986), o intelectual é um detentor do saber e parte do principio de
que toda e qualquer atividade humana é um atividade intelectual. Neste contexto,
seria impossível separar o homo faber do homo sapiens, pois toda atividade humana
exige um mínimo de interferência de suas faculdades mentais, o que tornaria inviável
chamar de intelectual somente aquele faz grande uso de sua intelectualidade. Dentro
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Doutoramento. Curso de pós-Graduação em História Social. Universidade Severino Sombra, Vassouras/
Rio de Janeiro, 2001.
INTRODUÇÃO
[ 1479 ]
1480 Christina Miranda e Carvalho; Henrique Rezende; Hélder da Silveira
O CURRÍCULO E O PROFESSOR
Desde a implementação das DCN para os diferentes níveis de ensino, muitas pro-
postas curriculares têm sido discutidas e reformuladas. O professor ocupa a centralidade
nesse processo curricular, em virtude de ser o mediador do conhecimento e relacionar-
-se diretamente com a construção dos saberes dos estudantes, por estar presente no
dia-a-dia da sala de aula. No entanto, a atuação do professor no contexto escolar perma-
nece desconsiderada na elaboração e na implementação das reformas curriculares. Tal
concepção é apontada por Cruz (2007) ao declarar que
[...] apesar do campo educacional registrar uma multiplicidade de estudos
sobre subjetividade, identidade, carreira, processos de formação e constitui-
ção de saberes docentes, as políticas educacionais tentam, mas não conse-
guem efetivamente, favorecer que os que atuam na escola participem do
processo reformativo, subsidiando a formulação de propostas curriculares
(p. 192).
Neste cenário, é preciso dar voz àqueles que se relacionam diretamente à forma-
ção dos sujeitos, aos que estão diariamente nas salas de aula e que observam e sabem
sobre as diferentes questões e aspectos do ambiente escolar, ao vivenciá-lo e expe-
rienciá-lo. Cruz (2007), Arroyo (2013) e Schiabel e Felício (2018) destacam que, no
âmbito escolar, o professor detém um dos papéis mais importantes do processo curri-
cular, devendo, portanto, ser capaz de exercer sua autonomia na (re)construção do
currículo e obter espaço como sujeitos de experiências. Assim, terão oportunidade de
atender as necessidades de seus educandos, as especificidades locais e as diversidades
sociais, não assumindo o secundarismo atribuído ao seu papel frente ao currículo e às
reformas curriculares.
A educação brasileira tem sido delineada, desde o final dos anos de 1980, por polí-
ticas educativas de caráter neoliberal que consolidam um modelo educacional com
ênfase em currículos centralizados e regulados por mecanismos de avaliação. Trata-se de
uma política de interface entre o currículo, a gestão e o trabalho docente, direcionada
aos conceitos de desempenho, eficiência, eficácia e produtividade, sendo estes, os indi-
cadores do modelo de gestão mais apropriado para alcançar a melhoria da qualidade da
educação (SANTOS, 2004; HYPÓLITO, 2010; HYPÓLITO; VIEIRA; LEITE, 2012; HYPÓLITO;
IVO, 2013; MESQUITA; CARDOSO; SOARES, 2013). A esse despeito, Mesquita e Soares
(2011) reiteram que
Louzada e Marques (2015) ratificam que o Governo utiliza estratégias por meio das
políticas públicas educacionais, valendo-se de argumentos como desempenho, quali-
dade e eficiência para reduzir o currículo, a avaliação e a formação docente a mecanis-
mos de controle, interferindo diretamente “na formação das chamadas gerações futuras,
assumindo um direcionamento e definindo o que é importante que aprendam” (p. 716).
Salientam que a busca por bons resultados se faz a partir da eficácia de estratégias e fer-
ramentas de controle, articulando a avaliação ao sucesso dessas estratégias. “Costura-se,
então, uma relação entre currículo e avaliação onde o primeiro se vincula ao segundo de
forma sutilmente dependente” (p. 718).
Fecha-se um caminho que inicia com a avaliação, passando pelo currículo e
desembocando na formação docente. Esta, responsável por produzir os pro-
fissionais capazes de lidar com os conteúdos selecionados pelo currículo,
para fazerem com que estudantes aprendam e tenham bom rendimento nas
avaliações externas. Um emaranhado de políticas que tem como objetivo
produzir resultados mensuráveis e demonstrar, assim, sua eficiência
(LOUZADA; MARQUES, 2015, p. 722).
proposto uma aprendizagem, que deve ser mensurada por meio das avalia-
ções, mas que desconsidera o contexto escolar, as peculiaridades dos alunos
e sua evolução no processo de ensino-aprendizagem (p. 390).
Corroborando com o exposto, Arroyo (2013) ao discutir sobre a ausência dos pro-
fessores, das professoras e dos educandos no currículo, como sujeitos de experiências e
vivências, destaca que sua existência é notada nas avaliações. Para tanto, o autor faz uso
do termo “ausências-presenças dos autores da ação educativa” para retratar tal aspecto.
Os mestres aparecem presentes nos rituais de avaliação, responsabilizados
pelos resultados dos seus alunos, merecedores ou não de prêmios, bônus,
julgados como qualificados ou desqualificados, responsáveis, assíduos ou
irresponsáveis. Somente nesse ritual de avaliação-aprovação-reprovação
importa quem falou nas aulas e quem escutou, quem ensinou e quem apren-
deu (ARROYO, 2013, p. 54).
LDB (BRASIL, 1996), bem como os preceitos expostos nas DCN da Educação Básica
(BRASIL, 2013) e nas metas e estratégias do Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL,
2014) em vigência.
De acordo com Diniz-Pereira (2016) o discurso oficial defende a BNCC como um ins-
trumento importante para a gestão do currículo da EB. No entanto, o autor declara que
a Base ocupa centralidade no debate educacional e que, apesar das diferentes linhas de
pensamentos existentes no campo do currículo “existe hoje uma posição consensual
entre os acadêmicos do campo, mesmo que fundamentada em argumentos diferentes.
Trata‑se da rejeição e das críticas à proposta atual da BNCC” (p. 286).
Somando-se a isso, vivemos nos dias atuais, a possibilidade de construção de uma
BNCC para os cursos de formação de professores. Esse discurso já está tomando corpo a
partir de preceitos legais, ao incluir no Art. 62 da LDB, o §8º “os currículos dos cursos de
formação de docentes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular”, por meio
da Lei Nº 13.415 de 16/02/2017 (BRASIL, 2017a). Santos e Diniz-Pereira (2016) advertem
que a iminência de uma BNCC para a formação docente sinaliza a volta de mecanismos
que garantam a padronização da formação desses profissionais.
Lopes (2004), entre outros autores, declara que o currículo vem assumindo centra-
lidade nas políticas educacionais no mundo globalizado. A autora declara que as mudan-
ças nas políticas curriculares recebem tanta ênfase, ao ponto de serem analisadas como
se fossem a própria reforma educacional. Destaca também que, a educação tem sido
submetida aos critérios econômicos e ao mercado produtivo e que “a formação de um
sujeito autônomo, crítico e criativo é colocada a serviço da inserção desse sujeito no
mundo globalizado, mantendo, com isso, a submissão da educação ao mundo produtivo”
(p. 114).
Assim, a cada novo Governo que assume, mudanças na educação são declaradas
como indispensáveis, sendo a maioria dessas mudanças direcionadas à reforma curricu-
lar, ficando as práticas curriculares anteriores à reforma “negadas e/ou criticadas como
desatualizadas, de forma a instituir o discurso favorável ao que será implantado: mudan-
ças nas políticas educacionais visando à constituição de distintas identidades pedagógi-
cas consideradas necessárias ao projeto político-social escolhido” (LOPES, 2004, p. 110).
Lopes (2004) declara sua defesa para que existam “espaços de reinterpretação
capazes de permitir a um Governo, com um projeto político-social diverso dos marcos
estabelecidos pelo neoliberalismo, modificar os rumos das políticas curriculares e insti-
tuir outras relações com a prática nas escolas” (p. 111). No entanto, a autora salienta a
necessidade de um diálogo voltado para a produção de múltiplos sentidos para as políti-
cas curriculares e não simplesmente limitar ou constranger as possibilidades de reinter-
pretação pelo contexto da prática.
Esse diálogo não pode se desenvolver por intermédio dos processos de ava-
liação especialmente centrados no modelo de formação de competências,
pois tais processos apenas visam ao controle do que é executado em sala de
aula. Ao estabelecerem uma vinculação restrita entre resultados de avalia-
ção e medida de qualidade da educação, a avaliação limita-se à dimensão de
medida de habilidades, perdendo sua dimensão social de diagnóstico do pro-
cesso e de orientadora de políticas públicas (LOPES, 2004, p. 116).
Sacristán (1999, p. 61) afirma que “o currículo é a ligação entre a cultura e a socie-
dade exterior à escola e à educação; entre o conhecimento e cultura herdados e a apren-
dizagem dos alunos; entre a teoria (ideias, suposições e aspirações) e a prática possível,
dadas determinadas condições”.
Dito isso, percebemos com clareza que a formação e o desenvolvimento dos alu-
nos e futuros professores e professoras relacionam-se diretamente ao currículo devido
à ideologia, à cultura e ao poder nele configurados, que são determinantes no pro-
cesso educacional.
Para Sacristán (2000) o professor exerce sua autonomia como mediador do pro-
cesso educacional, no momento da transposição do currículo prescrito para o currículo
em ação quando ele
Ainda sobre o currículo oculto, Moreira e Candau (2007) destacam que nem sem-
pre ele é percebido pela comunidade escolar por não estar explícito nos planos de ensino
e propostas pedagógicas, pois envolve atitudes e valores transmitidos pelas relações
sociais e pelas rotinas do cotidiano escolar. Sobre o currículo formal, os autores revelam
que os diferentes saberes dos quais derivam os conhecimentos escolares são oriundos
do currículo formal.
Diante de tantas discussões e situações que se encontram engendradas no currí-
culo consideramos pertinente apresentar, mesmo que brevemente, algumas proposi-
ções das teorias do currículo, no intuito de incorporar às nossas discussões, diferentes
concepções e embasamentos sobre essa temática.
4 Pacheco (2009, p. 392) elucida que William Pinar, um dos nomes mais presentes nas discussões curriculares, é
um dos que promoveram a ruptura epistemológica mediante a proposta teórica da “reconceitualização”, enun-
ciadora do currículo como um projeto que responde prioritariamente à dimensão humana do sujeito.
tempo que o papel crítico da teoria do currículo perde seu propósito se estiver separado
de suas implicações normativas.
Nenhum professor quer soluções da teoria do currículo – no sentido de ser
instruído sobre o que ensinar. Isso é tecnicismo e enfraquece os professores.
Contudo, como em qualquer profissão, sem a orientação e os princípios deri-
vados da teoria do currículo, os professores ficariam isolados e perderiam
toda autoridade. Em outras palavras, os professores precisam da teoria do
currículo para afirmar sua autoridade profissional (YOUNG, 2014, p. 195).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
1 Mestrando em Educação, pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Pesquisa sobre Políticas Públicas Edu-
cacionais. alexazizassis@hotmail.com
2 Professora de Matemática, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Câmpus Goiânia.
Pesquisa sobre Políticas Públicas Educacionais. aline.mesquita@ifg.edu.br
[ 1497 ]
1498 Alex do Carmo Aziz Assis; Aline Mota de Mesquita Assis
a burocracia da entidade pública. Estas fundações de apoio são pessoas jurídicas priva-
das, formadas pelo registro de consolidação e constituição no Tabelionato de Pessoas
Jurídicas. Contudo, é importante frisar que as fundações de apoio não surgiram por lei
(federal, estadual ou municipal) muito menos são mantidas pela União, Estados,
Municípios ou Distrito Federal, assim elas não se enquadram no rol de entidades públicas
sendo, portanto, atreladas à atuação do Ministério Público de nível estadual ou federal
nos termos do Código Civil e do Código de Processo Civil vigente (BRASIL, 2002).
Diante destas considerações, o presente artigo, que é parte inicial de uma pesquisa
mais ampla vinculada à dissertação de Mestrado em Educação do primeiro autor desse
texto, na Pontifícia Universidade Católica de Goiás, tem como meta investigar, por meio
de uma análise bibliográfica, a relação entre as fundações de apoio e a universidade
pública, sua historicidade e definições de cunho jurídico.
Assim, o presente trabalho busca responder às seguintes questões que norteiam a
pesquisa:
1) O que fazer para melhorar o entendimento do que seriam fundações de apoio?
2) Como seria a melhor conceituação de fundações de apoio utilizando aspectos
jurídicos e educaconais?
Com o intuito de responder estas questões propõe-se a execução deste estudo.
Pode-se dizer que a pergunta central a ser respondida por esta pesquisa é: como se dá o
processo de formação das fundações de apoio?
Com vistas a responder às perguntas levantadas, objetiva-se:
• melhorar o processo de entendimento e esclarecimento do que sejam funda-
ções de apoio, contribuindo de forma significativa para a formação de conceitos
jurídicos educacionais, especificamente, do conceito de fundações de apoio na
perspectiva de política educacional;
• auxiliar no desenvolvimento do pensamento e conhecimento teórico, contri-
buindo com a elevação da capacidade de abstração do mesmo, desenvolvendo
o seu pensamento político educacional e formalizando o conhecimento
científico;
• propor um caminho para a realidade social no qual as fundações de apoio são
inseridas no ambiente universitário brasileiro.
METODOLOGIA DA PESQUISA
Inicialmente fiz uma busca no Banco de Teses e Dissertações da Capes, por ser um
banco de teses e dissertações de um órgão do governo federal brasileiro que traz os traba-
lhos e dissertações de todos os cursos de pós-graduação no país, sendo uma fonte de infor-
mação segura e confiável. A escolha por este banco de dados deu-se pelo grande número
de Programas de Pós-Graduação inclusive o da Educação e a grande produção de pesquisas
de dissertações, bem como também nem todo trabalho acadêmico é divulgado por meio
de outro banco de teses e dissertações. A opção por esta permite que: a) uma maior abran-
gência, considerando que existem outros programas de Pós-Graduação em outras localida-
des; b) os programas dedicam-se a formação de professores e ao seu desenvolvimento
para a atuação em ensino e pesquisa. Primeiramente utilizei como descritor a palavra
“Fundações de Apoio”. A utilização da palavra chave “Fundações de Apoio” é necessária,
pois a utilização no singular da palavra “Fundação de Apoio” remete-se a entidade ligada
necessariamente a áreas como saúde, segurança pública, etc. Constatei que o período de
tempo relativo à pesquisa do tema delimitei o período de “2006 até hoje”, no caso,
25/06/2017, não permitindo a alteração desta data. Como encontrei apenas 08 trabalhos.
Utilizando os dados disponíveis no sistema, classifiquei-os conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Teses e Dissertações abordando o tema Fundações de Apoio, de acordo com a área
do conhecimento, para o período de 2006 até 25/06/2017
Área do Conhecimento Dissertações Teses Total
Administração 1 0 1
Ciências Contábeis 3 0 3
Direito 2 0 2
Educação 2 0 2
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base em dados do Banco de Teses e Dissertações da Capes.
Analisando essa tabela, constatei que o trabalho que me interessa está nas áreas
de Educação e Direito. Após uma leitura dos resumos dos trabalhos relacionados a essas
áreas do conhecimento concluí que o que mais se aproximam dos objetivos deste projeto
de pesquisa, descrevendo e/ou analisando uma forma de conhecer acerca das Fundações
de apoio é apenas o que está descrito na Tabela 2.
Área do
Título Autor Ano Nível Instituição Conheci-
mento
Fundações de apoio
Thomas Augusto
– regime jurídico – auto- 2013 Dissertação PUC-SP Direito
Ferreira de Almeida
nomia universitária
O Público e o Privado nas
Universidades Públicas:
Análise da fundação de
Luciana Rodrigues
apoio privada FADESP no 2010 Dissertação UFPA Educação
Ferreira
gerenciamento dos
recursos para a UFPA
(2004 a 2008)
Fundações de Apoio
Universitário no Contexto
das Políticas para
Aluísio João de
Educação Superior nos 2006 Dissertação UFU Educação
Carvalho
Anos de 1990: A expe-
riência da Universidade
Federal de Uberlândia
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base em dados da Tabela 1.
Com o intuito de saber como e o que foi desenvolvido em cada dissertação listada
na tabela 2, fez-se uma leitura detalhada dos objetivos e procedimentos metodológicos
de cada uma delas. Essas análises passam a ser descritas abaixo.
Almeida (2013) propõe elaborar uma análise jurídica das fundações de apoio às ins-
tituições Federais de Ensino Superior (IFES), com destaque para o entendimento dentre
os entes do Terceiro Setor. O objetivo é trazer uma aproximação ao regime jurídico das
recentes alterações legislativas promovidas pela Lei 12.349 de 15/12/2010 que modifica-
ram o papel das fundações de apoio como a Lei nº 8.958 de 20/12/1994. A origem das
fundações de apoio é trazida dentro da visão da Administração Pública em tratar das
entidades de direito privado a flexibilidade da gestão para a execução das tarefas exigi-
das. A metodologia utilizada é exploratória e descritiva, ou seja, como uma visão estrita-
mente hegeliana de análise do contexto social. O objeto desse estudo é a partir da
Carvalho (2006) tem como objetivo central analisar o papel da Fundação de Apoio
Universitário (FAU) frente à Universidade Federal de Uberlândia (UFU) no contexto das polí-
ticas educacionais para a educação superior. Além disso, pretende-se analisar as implica-
ções e relações da FAU frente à UFU, suas dificuldades, o impacto da Fundação com relação
ao trabalho docente, sua contribuição no que diz respeito ao financiamento, e a autonomia
universitária no contexto das políticas educacionais, em especial aquelas voltadas para a
educação superior. Quanto ao aspecto metodológico, Carvalho (2006) mostra que é de
cunho investigativo e possibilita ao pesquisador construir uma visão mais global nos aspec-
tos social, econômico e político dentro do materialismo histórico dialético.
Quanto ao objeto de estudo, Carvalho (2006) diz que escolha da FAU decorreu da
grande interação que ela possui com a UFU, por meio do conjunto das Unidades
Acadêmicas que compõem essa Universidade.
A coleta de dados adotado foi a entrevista semiestruturada. As análises desenvol-
vidas evidenciam que a Fundação de Apoio Universitário, na sua relação com a UFU,
muito tem contribuído para a dinamização das ações administrativas no âmbito das
Unidades acadêmicas e da própria Universidade como um todo.
Observou-se, também, que para a maioria dos sujeitos entrevistados a participa-
ção de docentes da Universidade em atividades desenvolvidas por meio da FAU não tem
trazido maiores prejuízos para o conjunto das atividades desenvolvidas por meio da FAU.
Quanto à privatização da educação superior, os sujeitos entrevistados evidenciam
que a atuação das fundações como a FAU não é determinante, pois essa privatização tem
caminhado por outras trilhas e já atingiu patamares em que a manutenção de algumas
instituições públicas, gratuitas, acaba se constituindo em fator de equilíbrio entre as ins-
tituições nesse nível de ensino.
Conclui-se, ainda, que se as Universidades tivessem maior autonomia, certamente,
a atuação e o papel de fundações como a FAU seriam bastante minimizados.
Acerca da historicidade, Paes (2010) afirma que as fundações foram criadas pela
visão da solidariedade humana que busca mecanismos de ajuda, assistência e legalidade
aos indivíduos em penúria pessoal e social. Inicialmente as fundações foram iluminadas
pela devoção às artes, ao conhecimento, à cultura e à fraternidade, alocando recursos
para uma função social ou filantrópica. Durante o caminho, elas se tornaram um
ocorreram uma gama de transformações sejam de ordem técnica, política, social e/ou
econômica e têm trazido várias transformações. Hoje é exigido que as instituições de
ensino superior públicas aumentem o ingresso de estudantes de baixa renda e que par-
ticipem de forma mais presente do crescimento social dos seus acadêmicos. Por outro
lado, diversos grupos das instituições de ensino superior públicas cobram uma maior
qualidade e um grande engajamento com o trabalho cientifico.
Para Santos (2003), as universidades públicas vivem um ciclo de identidade resul-
tante das diferenças entre as visões tradicionais e as que durante todo século XX lhe
foram colocadas. No início, a preocupação com o conhecimento, raciocínio crítico e estu-
dos científicos e humanísticos, importantes e necessários eram praticamente exclusivas
das elites de que a universidade pública atendida. Atualmente, a educação universitária
atua na produção de conhecimentos úteis à formação da mão-de-obra qualificada exi-
gida pelo desenvolvimento capitalista hoje conhecido com capital neoliberal. A falta de
gestão da universidade pública para realizar essas funções, até contraditórias, levou o
Estado e os conglomerados financeiros a buscarem longe do ambiente universitário
novos caminhos capazes de atingir as metas. Ao se desviar da força motriz na produção
da pesquisa, a universidade entra em uma crise de perspectiva do seu papel social.
Através desse cenário se fortalecem as fundações de apoio como um modelo de
gestão das universidades trazendo parcerias para a regulamentação de novas políticas
para a propagação e divulgação do conhecimento.
Rocha (2012) afirma que as características das fundações de apoio são: solidarie-
dade social, terceiro setor, identidade na diversidade, cultura democrática, nova institu-
cionalidade, transformação do conhecimento universitário para o conhecimento
pluriversitário, acesso à extensão universitária, integração com a sociedade e apoio ao
desenvolvimento da ciência e tecnologia.
Sobre a solidariedade social, a fundação de apoio, com base na realidade, mostra a
preocupação em transformar e emancipar a sociedade. Para Rocha (2012), a fundação
tem como obrigação apoiar o cumprimento da missão institucional da universidade,
além de dar respaldo ao cumprimento das questões sociais.
O terceiro setor, o qual é constituído por organizações sociais, organizações de
interesse público, organizações não governamentais e fundações, são entidades servem
o Estado no atendimento ao interesse público no que concerne aos serviços primários,
como educação, saúde, habitação, dentre outros. Na relação entre fundações de apoio e
universidades públicas é importante dizer que a produção de conhecimento em ensino,
pesquisa e extensão é através dessa parceria. Está claro que as universidades públicas
não conseguem sobreviver mediante o quadro em que o Estado brasileiro se encontra.
Segundo Rocha (2012), as fundações de apoio visam atender o público, o bem coletivo.
Rocha (2012) mostra também que a preocupação com a identidade na diversidade,
posta pelo processo neoliberal, é bastante conflituosa e desafiadora, contudo as funda-
ções de apoio buscam encontrar uma identidade principalmente de atuação para que se
cumpra o objetivo traçado. Sobre a cultura democrática, o autor diz que o papel das fun-
dações de apoio é a busca de modificar o pensar, o agir e o sentir, e essas contribuições
consolidam uma nova realidade social.
Rocha (2012) traz consigo a transição do conhecimento universitário para o conhe-
cimento pluriversitários com uma nova visão para a universidade, sendo mais franca e
menos hierarquizada, tratada numa perspectiva global do conhecimento universitário.
Nesse trajeto tem por meta responder as demandas sociais pela democratização radical
da universidade, encerrando um ciclo de exclusão de camadas sociais.
Acerca da extensão universitária, Santos (2003) mostra que para que se tenha efe-
tividade em suas ações é necessário o apoio universitário na solução dos conflitos sociais
e da discriminação social e por fim se dê incrementos de participação aos grupos sociais
excluídos e marginalizados.
Sobre o papel da integração das fundações com a sociedade e no apoio ao desen-
volvimento científico e técnico, Santos (2003) afirma que as fundações de apoio possuem
um papel na mediação entre a sociedade e a universidade, sendo traçado as demandas
sociais dentro da universidade e levando informação para fora das paredes da universi-
dade. Podem ainda trazer esclarecimentos na propagação e aplicação prática, bem como
na construção de tecnologias de cunho social a partir da percepção universitária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme descrito nos tópicos anteriores, alguns questionamentos para este cami-
nho têm surgido no Brasil, mas de forma bem tímida. As primeiras indagações que fun-
damentam esta pesquisa são “Qual o papel das fundações de apoio nas universidades
públicas brasileiras?”; “Como se dá a participação público-privado nas universidades
públicas, considerando as fundações de apoio?”.
Portanto, analisar as fundações de apoio com base no materialismo histórico
dialético é uma pesquisa em aberto, viável e necessária, que considera as relações e
inter-relações entre os objetos analisados, considera os contextos histórico, social e
político, as suas contradições numa sociedade capitalista que defende direitos iguais
para uma sociedade desigual. Através de observação e análise do real papel das funda-
ções de apoio nas universidades, com recorte para as universidades federais, pode-se
aprofundar nesta temática pouco estudada. É importante frisar que o presente artigo
não teve a ousadia de esclarecer pontos obscuros sobre essa vertente, visou apenas
uma análise dissertativa sobre o assunto, objetivando trazer à luz tópicos a serem futu-
ramente estudados.
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UNIDADE V
DIÁLOGOS
ABERTOS
SOBRE A
EDUCAÇÃO
BÁSICA
INTRODUÇÃO
1 Professor do curso de Licenciatura em Ciências Sociais e Licenciatura em Química, pelo Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – IFG/ Campus Anápolis. Pesquisa sobre Educação, Trabalho e Políticas
Públicas. Mylla567@gmail.com
2 Professor do curso de Licenciatura em Ciências Sociais, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Goiás – IFG/ Campus Anápolis. Pesquisa sobre Educação, Trabalho e Políticas Públicas. paneladeferro@hot-
mail.com
[ 1511 ]
1512 Kamylla Pereira Borges; Reynaldo Zorzi Neto
METODOLOGIA
políticas públicas educacionais, que de uma forma ou outra, tratam a EPT no Brasil, desde
a década de 1970 até a atualidade.
A análise dos documentos seguiu os passos genéricos propostos por Bardin (1977)
para análise de conteúdo. Os dados da pesquisa provenientes do conteúdo dos docu-
mentos foram processados com o auxílio do software NVivo 10. O NVivo 10 é um pro-
grama de apoio a análise de dados qualitativos que permite a armazenamento, codificação
e classificação de informações textuais, imagens ou vídeos (Nodari et al., 2014). As cate-
gorias para análise de conteúdo foram definidas posteriormente a partir do agrupamento
dos dados, realizado com o auxílio desse Software.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1 – Linha do tempo das principais políticas públicas voltadas para a EPT da década de
1970 até 2017
(LDB) que mudou a organização do ensino no Brasil, criando dois níveis o 1º e 2º Graus.
As alterações mais contundentes estavam relacionadas ao 2º grau, neste nível, a referida
lei instituiu a política de profissionalização universal e compulsória (BRASIL, 1971). Ao
concluírem o 2 Grau os alunos receberiam, então, um certificado de habilitação profissio-
nal e estariam aptos a se inserirem no mercado de trabalho.
A reforma se justificava pela necessidade de mão de obra qualificada, pois na
época, o Brasil passava por um processo de industrialização acelerado e grandes expec-
tativas de crescimento, para compor essa demanda por força de trabalho eram necessá-
rios trabalhadores qualificados.
O artigo 1º da referida lei traz como objetivo do 1º e 2º graus a formação para o
desenvolvimento das potencialidades como auto realização, qualificação para o traba-
lho e preparo para o exercício consciente da cidadania. Nesse primeiro artigo nota-se
uma concepção abrangente de educação com três finalidades que se complementam
e que poderiam significar uma formação integral do ser humano. Nesse primeiro
momento não há associação da qualificação com o “mercado” em si, pois o termo “tra-
balho” aparece isolado, o que dá margem a interpretação de que a lei se refere ao con-
ceito amplo de trabalho, não apenas como sinônimo de emprego, relacionado aos
interesses do capitalismo.
No entanto, quando continuamos a análise do restante do documento, percebemos
que é exatamente o contrário. O art. 5º especifica que o currículo de cada sistema de
ensino será formado por uma parte chamada de educação geral e outra formação especial
e explica que a formação especial estará relacionada a “sondagem de aptidões e iniciação
para o trabalho, no 1º grau e habilitação profissional no 2º grau” essa habilitação profissio-
nal deveria estar em consonância com as necessidades do mercado de trabalho.
A associação da formação com as necessidades do mercado, demonstra que a
concepção de trabalho é limitada aos interesses do modo de produção capitalista.
Nesse caso, o trabalho é sinônimo de emprego, de trabalho assalariado. E a educação
acaba se restringindo ao conjunto de conhecimentos necessários para atender as
demandas desse mercado.
O art. 6º especifica que as habilitações profissionais poderiam se dar em regime
de colaboração com as empresas, nesse caso as empresas e instituições privadas
influenciariam a organização dos currículos da parte especial da formação, visando
adequar satisfatoriamente a formação aos interesses do mercado. Apesar da lei espe-
cificar no art. 21º que o ensino de 2º grau se destinava a “formação integral do
trabalho para outros. Para o autor, na melhor das hipóteses, restarão os cursos tecnoló-
gicos mais curtos e específicos para os egressos da Formação técnica e profissional.
Nesse contexto, perde-se o horizonte da Formação Omnilateral, e mais uma vez
entra em cena o conceito de educação como mercadoria, no qual há o atrelamento dos
objetivos das políticas educacionais as demandas econômicas e de mercado. A Educação
Profissional e Tecnológica não mais será integrada ao Ensino Médio, ela substituirá
parte do Ensino médio. A Lei 13415/2017 abre a possibilidade para uma qualificação
para o trabalho com caráter de terminalidade, com certificados intermediários, o que
poderá fragmentar e esvaziar a formação profissional, reduzindo-a a pura preparação
para o mercado.
Levando-se em consideração que os sujeitos da etapa educacional do ensino médio
são os alunos matriculados nas escolas públicas, oriundos das camadas populares, Mota
e Frigotto (2017, p. 363) ressaltam que essa Reforma vem como um mecanismo para
administrar a “questão social”, entendida como umas das “configurações assumidas pelo
capital-trabalho e pelas expressões ampliadas das desigualdades sociais, imprimindo
relações de poder”. Os autores ressaltam a influências dos Organismos Multilaterais que
veem os pobres como empecilho para o crescimento econômico, criando instabilidades
políticas que afetam a acumulação do capital.
Por isso as reformas são necessárias, para criarem condições necessárias para
expansão do capital, administrando a grande massa de jovens da classe trabalhadora,
condenando-os a um trabalho simples, em uma formação fragmentada que nega os fun-
damentos básicos das ciências que poderiam permitir o entendimento e domínio da rea-
lidade e sociedade humana e sua luta pela emancipação (MOTTA; FRIGOTTO, 2017).
A ideia de promover no Ensino Médio o desenvolvimento de habilidades e com-
petências que maximizam a inserção do jovem no mercado de trabalho, constitui-se
em uma ideologia, injusta e ardilosa, pois os “cortes no orçamento da educação e os
repasses de recursos públicos para setores privados ofertarem cursos aligeirados e de
baixo valor tecnológico agregado vão de encontro à ideologia do capital humano”
(MOTA; FRIGOTTO, 2017, p. 361). Isso, implica pensar que a trajetória de implementa-
ção e uma política pautada na imbricada relação entre a formação para o trabalho e o
ensino médio, não deveriam acontecer de modo impositivo, via MP ou decretos, pois
pressupõe efetiva discussão e o enfretamento com diferentes frações da sociedade,
inclusive com os contrários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
médio (Lei 13415/2017), que reduz novamente a EPT a preparação para o mercado, de
acordo com os interesses capitalistas, aprofunda a dualidade educacional existente no
país e aniquilando a possibilidade de integração entre a formação profissional e o
ensino médio.
Portanto, percebe-se que as políticas educacionais relacionadas a EPT no Brasil tra-
zem uma concepção de educação e o trabalho fortemente influenciadas pelo processo
de desenvolvimento do capitalismo no Brasil, fundamentados na Teoria do Capital
Humano, sem considerar, portanto, expressões coletivas e democráticas, de princípios e
métodos pedagógicos humanistas centrados na integração.
Assim sendo, é fundamental mantermos viva a luta por um projeto de formação
integral, alicerçado no tripé trabalho, cultura e ciência como forma de assegurar a eman-
cipação humana. No qual, o trabalho seja concebido como princípio educativo articulado
a inclusão social, laboral e política dos sujeitos, numa perspectiva integrada e relação
ontológica e histórica entre educação e trabalho seja valorizada.
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INTRODUÇÃO
1 Mestre em educação profissional e tecnológica pelo Instituto Federal de Goiás – Câmpus Anápolis, com tema em
Educação e tecnologia. Professor da Secretaria de Educação do DF. Email: navegarpreciso@yahoo.com.br
2 Doutora em Educação pela PUC – Goiânia, professora do Instituto Federal de Goiás – Câmpus Anápolis. Email:
helena.claudia@gmail.com
[ 1528 ]
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA AS TECNOLOGIAS 1529
tablets e celulares em sala de aula são suficientes para dar conta do processo de
ensino-aprendizagem?
Este artigo pretende levantar algumas reflexões em torno do discurso sobre o pro-
fessor em sua relação com as tecnologias. Busca-se, portanto, trazer alguns pontos que
auxiliam na construção do panorama da relação entre os docentes e as tecnologias.
Assim, o tema é desenvolvido a partir de estudos e pesquisas realizadas e dialogando
com o trabalho desenvolvido na pesquisa do Mestrado em Educação Profissional e
Tecnológica (ProfEPT) pelo Instituto Federal de Goiás (Câmpus Anápolis), se estruturando
sobre 70 artigos extraídos de revistas científicas registradas como Qualis A1 e A2 na
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), dos quais foram
extraídos 20 artigos que exploram ou perpassam o tema formação de professores e tec-
nologias. O artigo é construído a partir de análises de artigos situados no tema formação
de professores, educação e tecnologia no que tange à formação de professores e pelos
referenciais teóricos: referenciação epistemológica, Vieira Pinto (2005); para educação
Dermeval Saviani (2007, 2009); António Nóvoa (1992) para formação de professores;
para a discussão em educação e tecnologia, Joana Peixoto (2007, 2012), Raquel Barreto
(2006). E Maria Laura Franco (2012) e Laurence Bardin (2006) para análise de conteúdo.
O trabalho doravante desenvolvido parte de uma contextualização histórica, no contexto
sócio-político, seguido da análise dos artigos selecionados e por fim, tece algumas consi-
derações sobre o conjunto da análise juntamente com suas conclusões.
para esses mesmos produtos. Com a crise do modelo taylorista-fordista nos anos 60-70,
o mundo passa por uma transformação das relações político-econômicas (ANTUNES,
2007; SANTOMÉ, 1998). O toyotismo, filosofia de trabalho implantada pela empresa
japonesa Toyota, surge com foco não mais no produto, mas no consumidor e na redução
de custos e com uma ideia de qualidade total sobre bens e serviços prestados (ANTUNES,
2007). Consequentemente, houve a diversificação da produção visando agradar ao con-
sumidor por meio da satisfação de suas necessidades específicas, ao mesmo tempo em
que realizava a pulverização de estoques. Esse modelo se disseminou pelas demais gran-
des empresas. De modo similar, no campo da educação, e consequentemente a forma-
ção de professores se acompanhou este percurso voltando suas orientações pedagógicas
para esta filosofia (CHARLOT, 2014). Isto não é nenhuma novidade em si, pois o ensino ao
longo da história, pós-Revolução Industrial, seguiu as exigências das elites econômicas.
Assim, por exemplo, foi – enquanto prevaleceu o modo de pensar fordista – segmentado
em disciplinas havendo a separação total entre elas, trazendo um tipo de alienação do
conhecimento como um todo e a valorização do ensino técnico o qual direcionava o
jovem para uma profissão. Vigorando o modelo toyotista, configura-se uma educação
com base em satisfação na necessidade dos alunos como consumidores do conheci-
mento. Vigora um pensamento em que o professor é aquele que deve estimular as habi-
lidades e competências dos alunos para que se tornem úteis ao mercado, sendo
portadores de múltiplas competências, capazes de atender as demandas do mercado
(DUARTE, 2016).
É provável que isto reforçou o ensino no Brasil dentro de uma dualidade educacio-
nal (MOURA, 2007; FRIGOTTO, 2011). Ou seja, um ensino voltado para pobres e outro
para as elites. No primeiro, valorizando-se a formação de mão de obra para o mercado,
enquanto no segundo na formação de classes dirigentes. De acordo com Frigotto (2011),
essa dualidade ainda é anterior ao período fordista, pois no Brasil se desenvolveu um
ensino que atendesse as necessidades imediatas das elites, seja de escassez de trabalha-
dor no campo ou na cidade.
Assim sendo, de acordo com ele, as redes de ensino no Brasil estiveram ligadas
diretamente ao processo de industrialização nas décadas de 1950 e seguintes. A partir
dos anos 60 e 70 o Brasil ainda possuía um grande número de analfabetos e uma indús-
tria carente de mão de obra para a sua ocupação. As redes de ensino se ampliaram e
aumentou a demanda por professores. Surgiram as escolas normais. Segundo Saviani
(2013), os anos seguintes a 1980 foram tempos de esperança, já que foram marcados
pela volta à democracia e por novas perspectivas que ajudariam a reestabelecer
modelos pedagógicos mais condizentes com as necessidades populares. Mas isso não
aconteceu e se arrastou até meados da década seguinte quando foi aprovada a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, cujas bases ainda não atendiam plena-
mente as necessidades dos mais pobres, haja vista que o período foi marcado por gover-
nos neoliberais, deixando lacunas entre o ensino profissional e o regular, além de políticas
educacionais financiadas por organismos internacionais em atendimento a seus interes-
ses (MOURA, 2007; NEVES E PRONKO, 2008).
Foi, portanto nesse contexto que em fins dos anos 90 foi criado o Programa
Nacional de Informática na Educação (ProInfo) em 1997 visando equipar os estabeleci-
mentos de ensino com computadores. Em 2006, foi criada a Universidade Aberta do
Brasil (UAB) objetivando a expansão do ensino superior por meio da educação a distância
(EAD). Esses programas foram discutidos nos trabalhos de Araújo (2014) e Marcon, (2015)
e Dourado (2008), os quais explicitaram não só problemas de infraestrutura, como pro-
gramas que tiveram como prioridade políticas tecnicistas e instrumentalistas e care-
cendo de planos efetivos de formação pedagógica e formação de professores adequados,
entre outros.
Aliada a essa questão, a formação de professores, por meio da modalidade a
distância, tem sido objeto de muitas polêmicas e disputas no que concerne a
sua pertinência, qualidade, acompanhamento, produção de material didáti-
co-pedagógico, avaliação, centralidade ou não do papel do professor, entre
outras questões (DOURADO, 2008, p. 904).
A partir dos anos de 2003, com a ascensão de um governo de esquerda, era espe-
rado o fim da dualidade da educação ou de programas que reduzissem as desigualdades
do ensino, mas o governo ainda seguiu os ditames do mercado seguindo com uma polí-
tica de educação fragmentada (FRIGOTTO, 2011). Mas ressalta-se que embora tenha se
mantido a política econômica semelhante à do governo antecessor (OLIVEIRA, 2003;
FRIGOTTO, 2011), outras práticas foram mais contundentes na atenção ao ensino. Cita-se
a formação de 14 novas universidades; ampliação dos Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia – IFs); realização de políticas de jovens e adultos, indígenas e afro-
descendentes, entre outros, mas ainda permaneceu a critica a falta de políticas para uma
abrangência que contemplasse a todos (Frigotto 2011).
A partir de 2016, com o impeachment de Dilma Roussef, retoma-se às políticas
neoliberais com a retomada de reformas mais conservadoras com ênfase em privatiza-
ções de estatais e supressão de direitos nas reformas trabalhista e reforma
previdenciária. Esta última não conseguiu ser aprovada no governo de Temer, mas o atual
governo nesse momento trabalha com a antiga perspectiva neoliberal para o avanço
dessa reforma.
No ensino também foi aprovada a Reforma do Ensino Médio que perpetua um
modelo dividido entre um que forma para a universidade e outro que mantém os estu-
dantes em nível mediano de profissionalização Frigotto (2011). Também no momento há
intenções do governo de se implementar projetos de educação à distância; militarização
de escolas; e apoio a ideias com a desescolarização, tal qual nos EUA onde se faculta às
famílias o ensino de seus filhos. Coloca-se em dúvida muitos desses projetos porque,
entre outros, os investimentos públicos foram congelados por 20 anos (BRASIL, 2016)3 e,
junto a isso, o governo pratica cortes em educação (denominados “contingenciamentos”
corroborando para prognósticos pessimistas, sem perspectivas de políticas de valoriza-
ção dos docentes.
É notória a discussão em torno da necessidade de formação de professores. No
entanto, Barreto (2006) já chamava atenção a essa responsabilização dos docentes
sobre os atrasos na educação pelos pressupostos evocados nos denominados cursos
de atualização e capacitação docente. Assim sendo, também é interessante salientar a
superação de cursos de formação meramente prescritivos que não ultrapassam a pers-
pectiva instrumental. Evidenciar causas, ausências que circundam a formação docente
é necessário.
3 PEC 95/2016.
4 Frigotto faz uma crítica à Reforma do Ensino Médio que inclui em suas bases a introdução das tec-
nologias na sala de aula. Mas crítica dois pontos importantes: o risco de uma fetichização da tecno-
logia e a responsabilização do professor pelo anacronismo que se encontra a educação no Brasil.
Pode ser conferido na entrevista concedida à Anped. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Cb-
4wIcsUABI Acesso em: 25/10/2018
5 Ominilateral aqui já era um termo utilizado por Marx onde se integra educação, ciência e cultura opondo-se
a uma educação fragmentada visando o atendimento dos interesses da indústria alienando o homem de sua
completude sem que realize o desenvolvimento de suas potencialidades.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
artefatos. De igual modo, Santos (2011), Zandavalli e Pedrosa (2014) enfatizam a necessi-
dade de domínio das TIC por parte dos professores em oposição ao modo tradicional de
se ensinar. “De nossa parte, também nos associamos a esses pesquisadores e defende-
mos a adoção de um novo modo de formação de professores” (p. 840). A pesquisa de
Karsenti et al. (2008), com alunos e professores na formação inicial de professores no
Canadá, revela que apesar da posse e domínio e do conhecimento da importância das
TIC, poucos a utilizam em sala de aula. O artigo de Rangel et al. (2015) não revela pon-
tualmente onde se dá a ausência de maior habilidade dos professores de língua portu-
guesa, mas sugerem que “a mediação e a construção dos letramentos múltiplos, por
meio das tecnologias digitais, envolvem processos mais amplos” (p. 380) e não restritos
apenas ao domínio das habilidades e competências da leitura e da escrita esperada dos
professores desta área.
Por outro lado, Bevort & Beloni (2009) demonstram, para além da formação de
professores, preocupação com o pedagógico numa abordagem e formação crítica para a
compreensão das tecnologias. A preocupação com o pedagógico também está presente
no texto de Peixoto (2007) revelando também preocupação com a lacuna existente entre
a formação dos professores na área da informática educativa.
Os resultados das pesquisas de Martins e Flores (2015) também apontaram para a
premência de ampliação da formação continuada de professores, fato que está em dis-
sonância com as ações predominantes do ProInfo, concentradas na aquisição de equipa-
mentos e de infraestrutura.
Couto (2014) propõe uma nova formação de professores com a utilização de recur-
sos centrados nos audiovisuais investigando a realização de um trabalho com professo-
res jovens que utilizam esse recurso para o ensino-aprendizagem. Na perspectiva da
formação de professores para EAD, também é perceptível uma vertente de discursos
favoráveis à formação de professores em EAD e outra que analisa o processo de forma
mais crítica. Dourado (2008) faz levantamento de dados da educação para propor a inser-
ção da EAD como elemento formador do docente. “Projeto pedagógico que garanta uma
sólida formação teórico-prática, professores com formação stricto sensu, condições ade-
quadas de oferta, de laboratórios e bibliotecas, material didático-pedagógico em cursos
presenciais e a distância.” (p. 910). Garonce (2012) identificou os impactos provocados
pela tecnologia da videoconferência pela internet, ou webconferência, nação educativa
(modo de ensinar), focando as alterações nos papéis docentes. Os resultados da pesquisa
apontaram que, quanto aos papéis pedagógicos, os impactos da utilização da
Moon (2008) faz a defesa de uma formação de professores leigos para atender a
necessidade de preencher a ausência de professores no mundo.
Mas para Barreto (2008, 2012), dentro dos parâmetros atuais, a educação a distân-
cia é ressignificada como objeto de consumo e o papel do professor se não é apagado é
precarizado. E isso ocorreria dentro de uma prioridade econômica, primeiramente. “...
Com as TIC, é possível ampliar o acesso à educação e, ao mesmo tempo, reduzir o seu
custo” (p. 993). Em outro artigo, Giolo lembra que apesar de terem crescido os cursos de
formação docente em EAD, critica-se a formação de professor exclusivamente virtual
pelo fato de prescindir da socialização que, segundo ele, é elemento essencial para uma
boa formação (GIOLO, 2008).
Outro aspecto posto nos artigos, diz respeito à crise docente, à mediação e ao
desempenho escolar a partir da perspectiva da formação de professor. O uso de recursos
tecnológicos sofisticados não tem assegurado transformações nas práticas pedagógicas
nas escolas. Há descompasso entre a produção das TIC e a produção escolar. Este é o
cerne da questão TIC versus escola e, portanto, indaga-se o processo da formação de
professores. A incorporação de tecnologias nesse âmbito contribui, no mais das vezes,
para acelerar a crise de identidade dos professores (ALONSO, 2008).
Belloni e Gomes (2008) reflete se também a “aprendizagem espontânea” da criança
e do adolescente com a necessária intervenção de um adulto como mediador num pro-
cesso de aprendizagem, de acordo com as teorias de Piaget e Vygotsky, influenciam no
aprendizado das TIC. Dessa forma, a autora sugere mais pesquisas que aprofundem esse
aspecto, até a “re-invenção” da pedagogia. As TIC podem ensinar novas formas de
aprender, mas por si só não ensinam como desenvolver o senso crítico, daí a importância
do professor no ensino-aprendizado.
Por fim, Fartes e Santos (2011) levantam algumas “teses” em relação à formação
docente na Educação Profissional e Tecnológica (EPT): as atuais estruturas pedagógicas e
organizacionais da EPT têm resultado em dilemas e paradoxos que interferem significati-
vamente na cultura profissional dos docentes. Entre as contradições mencionadas, a
diversidade de profissionais oriundos de diversas áreas, algumas das quais até sem for-
mação pedagógica, exclusivamente técnica ou com formação no ensino básico, mas sem
formação para correlacionar mundo do trabalho e educação; Outra tese levantada é a de
que “as identidades docentes vem sendo compreendidas em meio a um cenário de ‘pre-
cariedade, instabilidade e vulnerabilidades’” (p. 380).
Assim também há quem defenda uma formação antes de tudo, voltada para a
filosofia da tecnologia, pois segundo Barbosa (2013) é fundamental incluir a formação
e discussão da filosofia da tecnologia nos cursos de formação, pois evidenciam a repro-
dução por parte dos docentes a respeito de visões acríticas e concepções equivocadas
sobre tecnologia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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______. Tecnologias e relações pedagógicas: a questão da mediação. Revista Educação Pública.
Cuiabá, 2016, v. 59, p. 367-379.
INTRODUÇÃO
1 Secundarista no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, pela Universidade Federal de Goiás, Bolsista
PIBIC – EM. Pesquisa sobre as relações entre educação e tecnologia. jbtome2@gmail.com
2 Licenciando em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal de Goiás. Bolsista PROLICEN. Pesquisa sobre as
relações entre educação e tecnologia. marcosantonio_12@hotmail.com
3 Licenciando em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal de Goiás. Bolsista PIBIC. Pesquisa as relações
entre educação e tecnologia. rafaellacv03@gmail.com
[ 1543 ]
1544 João Pedro de Brito Tomé; Marcos Antonio Alves Filho; Rafaella Castro Vieira
emergentes, já que estes são direcionados aos países em desenvolvidos. Como destaca
Libâneo (2014, p. 1),
documentos gerados em conferências internacionais ou formulados especifi-
camente para a definição de políticas públicas para a educação, têm induzido
os sistemas de ensino de países emergentes a opções quanto à concepção de
escola, currículo e formas de funcionamento, frequentemente mesclando
visões humanistas, economicistas, pragmáticas e tecnicistas.
PERCURSO DA PESQUISA
Este presente artigo é um recorte de duas pesquisas de iniciação científica que ver-
sam sobre as finalidades educativas presentes nos documentos dos organismos interna-
cionais para a inserção de tecnologias no ambiente escolar. Com base nos princípios do
materialismo histórico-dialético, como aporte teórico de rigor conceitual, analítico e
metodológico, buscamos superar a separação entre sujeito e objeto de modo a entender
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Outro ponto que cabe destacar é que todos os documentos analisados tem como
público-alvo o próprio governo. Isto evidencia a necessidade dos os organismos multila-
terais se relacionarem de forma direta ou indireta com políticas públicas nacionais de
países emergentes e subdesenvolvidos. Silva (2018) ainda destaca que a internacionaliza-
ção do capital e suas reconfigurações no seu modo de produção são elementos impor-
tantes na formulação de políticas públicas de educação no Brasil, pois a relação dos
países com o capital internacional é cada vez mais próxima.
4 No intuito de não confundir os excertos das produções analisadas com citações diretas, os excertos estarão
em itálico.
Nesta lógica, o professor se torna um mero comovedor do aluno, o que acaba des-
caracterizando seu trabalho docente, o ensino-aprendizagem, os saberes científicos e
assim desvalorizando a função social do professor e consequentemente, da escola. Nesta
perspectiva, Milagres (2017) reitera que
Assim, a AMI é posta como forma de transformar o sujeito por meio da apropria-
ção de habilidades que irão transformar a sociedade em que se insere, agregando valor
principalmente à economia, o que evidencia sua lógica voltada para o mercado de traba-
lho. O documento caracteriza que,
nosso desafio é aproveitar o potencial das tecnologias da informação e comu-
nicação para promover as metas de desenvolvimento da Declaração do
Milênio, isto é, erradicar a pobreza extrema e a fome, implementar o ensino
fundamental universal, promover a igualdade de gênero e a autonomia das
mulheres, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, comba-
ter o HIV/SIDA, a malária e outras doenças, assegurar a sustentabilidade
ambiental e o desenvolvimento de parcerias globais para o desenvolvimento
que permitam a realização de um mundo mais pacífico, justo e próspero (D6,
2014, p. 16).
A lógica com que estes organismos se articulam em uma espécie de política com-
pensatória, em que cumpre “um papel de integração social, pois supre os pobres de
conhecimentos mínimos, especialmente alfabetização e matemática, bem como de habi-
lidades de sobrevivência, como planejamento familiar, cuidados com a saúde, nutrição,
saneamento e educação cívica” (LIBÂNEO, 2013, p. 6).
À vista disso fica evidente como países em desenvolvimento validam os discursos
de tais organismos ao focar na prática, na promoção de metas, sistemas de avaliação e
implantação de políticas, e assim assegurar a educação nos moldes neoliberais. Isto
posto, Bendrath e Gomes (2016, p. 160) destacam que
podemos considerar tais políticas como pré-requisitos para concessão de
empréstimos internacionais, onde os sistemas de metas funcionam como
reguladores das políticas vigentes, contribuindo para a adequação entre os
interesses do Estado e dos Organismos Internacionais, colocando a educação
como fator de análise creditícia.
As tecnologias são criadas pelo ser humano e são fruto de sua relação com a natu-
reza e com a sociedade. Com isto, cabe ressaltar que ao tratar a tecnologia como um ins-
trumento mediador do trabalho humano, levemos em consideração, também, o fato da
tecnologia não ser um elemento neutro nesta relação. Sendo assim, “o artefato não é em
O processo formativo não pode ser aligeirado ou vazio de conteúdo, mas ao con-
trário, deve possibilitar ao indivíduo fundamentos teóricos para que possa compreender
seu contexto social e intervir na sua realidade. Ou seja, mais do que atender as demandas
é necessário questionar quem as cria e quem se beneficia com ela.
A partir disto, a tecnologia não pode ser analisada como mera ação de causa e
efeito, mas sim compreender como o homem – sujeito histórico-social – se apropria das
tecnologias para concretizar o próprio mundo humano. Consequentemente,
para cada sujeito, o instrumento é carregado de multiplicidade de sentidos.
O sentido instrumental de um artefato material é constituído pelo conjunto
de valores funcionais e subjetivos que ele pode potencialmente assumir no
seio da atividade de um sujeito. Todo instrumento contém, sob uma forma
específica, o conjunto das relações que o sujeito pode tecer com a realidade
sobre e na qual ele permite agir (LIBÂNEO; SUANNO, 2011, p. 107).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Associados, 2014.
INTRODUÇÃO
1 Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Professor de Geografia do Centro de Ensino e
Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de São Paulo.
2 “Tive coragem de mudar a saúde e mudei, com OS’s. Vou implantar OS’s para transformar a educação de
Goiás na melhor do Brasil, como fiz na saúde. Eu tenho um remédio para vocês. Não adianta querer ganhar
no grito. O governo só vai pagar o que dá conta.” Em: "Professor eu respeito, baderneiro não" – O Popular
Veja mais em: https://www.opopular.com.br/noticias/blogs/jarbas-rodrigues/blogs-jarbas-rodrigues-1.288/
marconi-professor-eu-respeito-baderneiro-n%C3%A3o-1.879672. Publicado no dia 19 de Junho de 2015. Con-
sultado no dia 5 de Setembro de 2019.
[ 1556 ]
A (ANTI)PEDAGOGIA DE POLÍCIA 1557
3 Vou usar esse conceito para evidenciar a radical diferença entre escolas militares das forças armadas que são
parte de suas estruturas das escolas que foram ocupadas e passaram a ser geridas pela Polícia Militar.
4 Eram 51 escolas militarizadas até Junho de 2019, dados obtidos na SEDUC. São incontáveis os projetos de mili-
tarização de novas escolas em Goiás e em outros estados do país. Há também um processo de militarização de
escolas municipais na Bahia e também em Goiás. E no dia 5 de Setembro de 2019 o Governo Federal anunciou
um projeto de nível federal para criação de centenas de escolas cívico-militares.
promovam a escola como ambiente democrático, plural por tanto (em termos éticos,
mas também estéticos e étnicos).
Este artigo, escrito por um único autor, é fruto de trabalho coletivo de minuciosas
leituras e longos diálogos no grupo de estudos sobre educação democrática. As leituras
e debates sobre a militarização foram realizadas ao longo do ano de 2018 e contou com
a participação de estudantes do CEPAE-UFG, de cursos de graduação e de pós graduação
da UFG, bem como com a presença de professores desta universidade. O referido grupo
de estudos é parte de um projeto de pesquisa cadastrado na Universidade Federal de
Goiás intitulado “Espaço-tempo na\da escola”.
O texto se estrutura em apontamentos e observações críticas sobre elementos
constitutivos da tomada da Polícia Militar da gestão e controle de escolas estaduais de
Goiás, evidenciando aspectos que vão de formas de organização do espaço escolar, pas-
sando por imposições corpóreas, e chegando à questões político-pedagógicas e também
de natureza financeira.
Nos encontros do grupo de estudos reunimos evidencias, referências bibliográfi-
cas, conversas com estudantes e professores que atuam nestas escolas policializadas,
bem algumas monografias publicadas por militares da escola de cadetes de Anápolis, é
deste material que surge este artigo.
Convém salientar que as leituras e apresentações realizadas no referido grupo de
estudo não se limitaram aos textos críticos deste processo, nos dedicamos também à
textos escritos por militares do Curso de Formação de Praças de Anápolis do Comando
da Academia da Polícia Militar de Goiás (CAPM)5.
Ao longo de mais de um semestre dedicado à leituras sobre a policialização das esco-
las, pudemos nos dedicar a leituras diversas, que abordaram desde aspectos de natureza
mais pedagógica indo até questões administrativas e do plano da vida cotidiana.
5 A Academia da Polícia Militar de Anápolis tem um programa de pós-graduação e extensão. Merece destaque,
nas orientações das pesquisas que estudamos, a participação da professora Edna Rodrigues Araújo, mestre em
Letras e professora do referido programa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apresento abaixo alguns dos pontos que foram debatidos a partir das leituras e
apresentações feitas no grupo. Estes pontos não encerram a totalidade dos problemas a
serem compreendidos e nos convidam a seguir estudando e pesquisando a temática.
1. O adolescente como criminoso em potencial e a escola como cadeia preventiva
Em nossos primeiros questionamentos ao longo das leituras, apresentações deba-
tes realizados nos estudos sobre militarização de escolas destinava-se à compreender a
forma como os adolescentes são vistos e tratados. Aqui, tal qual elabora Djaci David de
Oliveira (2016, fica evidente que parte das justificativas e apoios à tomada da escola pela
Polícia é que o jovem, sobretudo jovem, e ainda mais notadamente pobre e negro, é um
perigo potencial para a sociedade brasileira, não a toa é exatamente nesta faixa de idade
(somada à raça e classe) que temos índices de assassinatos que nos fazem estar entre os
países que mais matam no mundo.
Portanto jovens, adolescentes, são vistos e compreendidos, de modo geral, mas
ainda mais se forem pobres e negros, como perigo à ordem social. Neste sentido a escola
deixa de ser um lugar de convívio e aprendizagem para se tornar um lugar de contenção.
Torna-se um espaço de “pré-encarceramento”, um tipo de cadeia preventiva onde o ato
de controlar assalta o de educar. Enquanto parte da sociedade defende a redução da
maioridade penal a escola tomada pela Polícia Militar se antecipa fazendo a escola a
antessala da prisão, um ensaio didático do encarceramento.
Neste sentido, parte dos pais e responsáveis acabam apoiando a mesma polícia
que mata jovens como uma forma de protegê-los da criminalidade, acreditando que a
polícia dentro da escola inibe más influências dentro da escola. Mais uma vez estamos
diante da radical troca de finalidade da escola, que deixa de ser um espaço de formação
para ser um espaço de contenção.
Curiosamente parte significativa vê a atuação da polícia da rua com medo, mas
aceita que esta mesma polícia atuem dentro das escolas. A cultura do medo, o esterió-
tipo do adolescente perigoso dão enfase à policialização das escolas. Mas o crescente
número de escolas tomadas pela Polícia Militar coloca em questão, inclusive por parte
É regra básica, parte do pacote, da tomada do controle das escolas pela Polícia
Militar em Goiás o processo de cobrança de mensalidade. Pode-se debater, se é mensa-
lidade, há quem argumente (embora tenhamos visto o contrário) de que a contribuição
é voluntária, mas é fato inegável que a arrecadação de dinheiro por meio de pagamentos
mensais é regra nas escolas onde a polícia atua e foi inclusive questionado em termos
legais em diferentes momentos (ver, por exemplo, TAVARES, 2016).
Não só os estudiosos e pesquisadores questionam o caráter público das escolas da
Polícia e sua cobrança de mensalidade, em 2019 a Universidade de São Paulo colocou em
questão se estudantes de escolas militares poderiam compor as vagas destinadas à esco-
las públicas e chegou a barrar a entrada destes estudantes nestas vagas6.
É preciso lembrar ainda que se não a totalidade, parte significativa destas escolas
policializadas adota reserva de vagas para filhos e filhas de militares, o que coloca em
questão o sentido público destas instituições e que também cria um fator determinante
para que estas escolas tenham uma média superior em índices educacionais, visto que
pré-seleciona seus estudantes.
Há um modo operacional médio, uma fórmula, utilizada pelas mais de cinquenta
escolas militarizadas em Goiás para cobrança de seus estudantes. A “contribuição” men-
sal é destinada à Associação de Pais e Mestres, que via de regra é gerida por um militar.
6 “As matrículas, inclusive de um que passou em medicina, foram canceladas sob argumento de que colégios
militares não podem ser equiparados a escolas públicas uma vez que cobram ‘ contribuições’ e ‘ quotas mensais
dos alunos.” Em: “USP cancela matrículas de alunos de colégios militares, e Exército reage.” https://www1.folha.
uol.com.br/educacao/2019/02/usp-cancela-matricula-de-alunos-de-colegios-militares-e-exercito-reage.shtml.
Consultado dia 8 de Semtembro de 2019.
Estas Associações não são parte da esfera pública constitutiva da escola, são um terceiro,
e por isso não estão submetidas às regras de captação e prestação de contas próprias à
esfera pública. As associações de pais e mestres das escolas militares, responsáveis pela
captação de voluptuosas quantias de dinheiro, ocupam um limbo administrativo a ser
compreendido pois não são públicas, mas também não se podem afirmar privadas. Mas
é fato que captam muito dinheiro ao longo do ano.
Tavares (2016) nos lembra que o Estado não pode pedir de forma aleatória ou par-
ticularizada contribuições voluntárias. Segundo ele, a Constituição prevê o princípio da
gratuidade do ensino em todos os níveis de um escola pública e algo diferente disso é
ilícito. Nas palavras do autor:
Este é um estado liberal – democrático, estado liberal democrático tem
receita originária, quando o Estado aluga um terreno, presta um serviço e
isso gera dinheiro, etc. e receita derivada, quando o estado multa alguém, ou
arrecada tributos. A grande receita do Estado vem de tributos. O modo como
esse dinheiro será gasto será discutido pelo parlamento, e o poder executivo
irá executar o que o parlamento decidir[...] O estado não vive, portanto, de
contribuições voluntárias. Não existe isso na ordem jurídica. E se ele está,
portanto, recebendo contribuição voluntária, isso é uma ilegalidade, porque
por via transversa, você está malferindo o princípio da gratuidade do ensino
público. (TAVARES, 2016, p. 57).
os elementos constitutivos que vão da ética à estética. Crianças fardadas é algo que em
si merece ser pensado. Qual a razão pedagógica disto?
Evidentemente não são todas as famílias que podem destinar quase um salário
mínimo para comprar uma farda no começo do ano e ainda seguir pagando cerca de 100
reais por mês ao longo de todo ano. Assim a militarização atua também como funda-
mento de ampliação de segregação socioeconômico, pois não adianta simplesmente os
pais terem apreço pelo modelo militar de escola, eles terão que ter também dinheiro.
Um dos sentidos mais caros e determinantes do público é ser e estar disponível a todos,
as escolas militarizadas definitivamente não atendem este critério.
O fato é que em média estas fardas custam entre seiscentos e oitocentos Reais,
podendo ser inclusive mais caras do que isso. E quem vende estas fardas, há uma licita-
ção seguindo os moldes exigidos em instituições públicas? De quem são estas empresas
que produzem e vendem fardas? Elas atuam em caráter de monopólio nestas escolas?
Seus donos tem ligação pessoal ou empresarial com membros da Associação de Pais e
Mestres ou com a gestão e administração militar destas escolas? Onde podemos ter
acesso a estes dados? Estas eram perguntas que fazíamos nos estudos e pesquisas do
nosso grupo e que até aqui seguimos sem respostas.
Ainda que não tenhamos acesso a estes dados, tanto das empresas que vendem far-
das, como dos montantes recolhidos com a cobrança de mensalidade e sua prestação de
contas, fica patente que há um processo de mercantilização do ensino público por meio da
policialização destas mais de cinquenta escolas estaduais em Goiás. Há um mercado espe-
cífico, há montantes significativos de dinheiro envolvido, e seria ético que a Secretária de
Educação e a Polícia Militar de Goiás viesse a público explicar e expor tais dados.
Todos estes processos, seja de gestão financeira por meio de Associação de Pais e
Mestres ou da venda de fardas impõe de forma abrupta um processo de terceirização da
gestão e controle das escolas. Parte do projeto das OS’s pode ser visto na forma de ges-
tão das escolas militarizadas.
desenvolvidas? Porque usar cabelo curto, com nível de detalhamento específico (máquina
número 2 para meninos) gera melhor aprendizado? Que evidencias científicas existem
dessa relação entre imposição estética e apropriação dos conteúdos?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Educar é processo amplo e repleto, não pode ser confundido nem por um momento
com a assimilação de regras e de comportamentos. A amplitude dos processos educacio-
nais, postos em curso por profissionais que se dedicaram a compreender e estudar con-
cepções e estratégias pedagógicas, não pode ser reduzida à imposição disciplinares.
Substituir processos de ensino e aprendizagem por imposição de disciplina militar
é de uma incomensurável perda qualitativa e coloca em risco a própria realização do sen-
tido e funcionamento de uma sociedade baseada em instâncias democráticas.
Policiais não são professores, embora alguns professores atuem como policiais, os
policiais não tem formação e portanto não estão capacitados para formarem crianças e
jovens dentro de escolas. E convém salientar, não é para formar seres humanos e nem
tão pouco para fomentar o desenvolvimento de suas habilidades que a policialização das
escolas está em curso. Trata-se, isto sim, de tratar a adolescência como um crime em
potencial, que a forma de prevenir, cercear liberdades, controlar a estética do corpo e do
gesto, amputar a rebeldia própria da juventude e criminalizar a revolta.
O fim da educação mora na disciplina.
Não há educação possível onde fardas e armas se impõe sobre livros e debates.
Nenhum menino pensa melhor e aprende mais por ser obrigado a manter seu
cabelo cortado em dois centímetros de comprimento.
Nenhuma menina aprende mais por estar de fardas, sem unhas ou cabelos
pintados.
Escola é lugar de pluralidade ética, étnica e estética.
Escola é lugar de promoção da diferença e não da imposição da sujeição e da obe-
diência cega.
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VANEIGEM, Raoul. Aviso aos alunos do básico e do secundário. Lisboa: Antigonas, 1996.
______. A arte de viver para as novas gerações. São Paulo: Conrad, 2002.
INTRODUÇÃO
Com quantos gigabytes / Se faz uma jangada / Um barco que veleje / Que
veleje nesse informar. (Gilberto Gil).
1 Professora do Instituto Federal Goiano – Campus Trindade. Pesquisa sobre relação entre educação, ciência,
tecnologia e ensino de Ciências da Natureza. natalia.oliveira@ifgoiano.edu.br
2 Professora do Instituto Federal Goiano – Campus Trindade. Pesquisa sobre os processos de ensino e aprendiza-
gem, formação de professores e tecnologias educacionais. valeria.lima@ifgoiano.edu.br
3 Graduando do curso Engenharia de Controle e Automação pelo Instituto Federal de Goiás – Campus Goiânia.
Pesquisa sobre robótica na educação. muriaviana@gmail.com
4 Professora do Instituto Federal Goiano – Campus Trindade. Pesquisa sobre formação de trabalhadores da edu-
cação, – Linha de Políticas Públicas). ruth.viana@ifoiano.edu.br.
[ 1568 ]
O USO DE AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO BÁSICA 1569
5 A época a referida portaria ainda estava em vigência, sendo posteriormente revogada pela Portaria nº 1.134, de
10 de outubro de 2016.
Não basta colocar a nova tecnologia nas escolas para mudar a mentalidade
dos professores e demais agentes da escola. A EAD ultrapassa a disposição de
materiais instrucionais ao seu usuário, sendo o atendimento pedagógico de
importância fundamental e deve ocupar lugar central no processo, como os
professores e seus alunos devem ocupar o lugar central na formulação das
políticas educacionais.
Isto é, uma vez que essas tecnologias são artefatos culturais e, como tal, consti-
tuem-se em instrumentos simbólicos, que se configuram nas relações entre os sujeitos e
as práticas sociais (PEIXOTO, 2015), mais do que entender as tecnologias como ferramen-
tas ou instrumentos “facilitadores” da prática educativa, é preciso compreender a rela-
ção construída ou a se construir entre as práticas pedagógicas e as tecnologias, uma
relação não se dá pela subordinação de uma campo a outro, mas na ligação entre uma e
outra coisa. O termo mediação aqui utilizado sintetiza o movimento que, ao mesmo
tempo, institui e é instituído na relação objetivação-subjetivação. Ou seja, trata da sub-
jetividade que se relaciona reciprocamente com a objetividade, ou seja, com a realidade
tal qual está posta.
Com isso, queremos dizer que ao tratar da mediação no campo do ensino e apren-
dizagem reafirmamos que a importância desse processo didático-pedagógico está na
relação aluno, objeto de conhecimento e professor, como um processo educacional cal-
cado na reciprocidade e dialética.
Refletir sobre a prática exige uma leitura analítica da experiência para, assim, iden-
tificar avanços e áreas que necessitam mudanças e/ou maior empenho. O processo é
contínuo e desafiador, e a cada dia cresce a percepção de que um país do tamanho do
Brasil só conseguirá superar sua defasagem educacional por meio do uso intensivo de
tecnologias em rede, da flexibilização dos tempos e espaços de aprendizagem, e da ges-
tão integrada de modelos presenciais e digitais. A educação a distância está, indubitavel-
mente, modificando todas as formas de ensino e aprendizagem, inclusive as presenciais,
que tendem cada vez mais a utilizar as metodologias semipresenciais, flexibilizando a
necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos, as mídias, as lingua-
gens e os processos presenciais e digitais. Entretanto, essa visão fundamentalmente ins-
trumental dessa modalidade de ensino, ou das ferramentas por ela incluídas, deve ser
colocada em questão, uma vez que a relação com a técnica nunca é puramente instru-
mental, mas possui como característica o fato de permitirem a transmissão de elemen-
tos de ordem abstrata ou simbólica (PEIXOTO, 2015).
A integração entre os processos educativos e as tecnologias não acontece de
maneira natural, mas devem ser entendidas como processos partícipes do desenvolvi-
mento humano, tanto social quanto cultural, culminando na alteração de nossa forma de
pensar, conforme a tecnologia da inteligência artificial modifica as formas de acessar e
organizar as informações (LÉVY, 1999). Podemos então dizer com isso que as tecnologias
também têm um importante papel na esfera simbólica cultural e social e devem ser com-
preendidos em sua reciprocidade, para além do antagonismo entre a dimensão cultural
e a técnica.
Compreender o contexto enquanto parte integrante do uso, tanto ou mais que as
funcionalidades técnicas é um importante fator para compreender a relação pedagógica
estabelecida entre os meios tecnológicos e o ensino-aprendizagem. Definir a relação
entre sujeito e objeto de conhecimento, entre teoria e prática e, nesse caso, as relações
entre sujeitos e objetos em contexto social, cultural e tecnológico perpassado pelo uso
das tecnologias da informação e comunicação é fundamental para se compreender a
relação dialética presente nesse modelo didático-pedagógico perpassado pelas tecnolo-
gias da informação e comunicação.
Analisar o papel que as tecnologias têm desempenhado na vida social implica não
somente explorar as características técnicas dos meios, mas buscar entender as condi-
ções sociais, culturais e educativas de seus contextos. Esse enfoque é primordial para
perceber as possibilidades que se estabelecem com o uso das modernas tecnologias, que
podem ser compreendidas como os produtos das relações estabelecidas entre sujeitos
com as ferramentas tecnológicas que têm como resultado a produção e disseminação de
informações e conhecimentos. Significa dizer que as tecnologias da informação e da
comunicação não devem ser pensadas apenas como ferramentas, mas como um con-
junto de processos usados em interação entre pessoas, que põem em discussão ques-
tões individuais, referentes aos interesses e subjetividades dos sujeitos, e questões
coletivas, referentes aos contextos socioculturais dos indivíduos. Assim, as tecnologias
de informação e/ou comunicação possibilitam ao indivíduo ter acesso a uma ampla gama
de informações e complexidades de um contexto (próximo ou distante) que, num pro-
cesso educativo, pode servir como elemento de aprendizagem, como espaço de sociali-
zação, gerando saberes e conhecimentos científicos.
É preciso analisar criticamente a inserção das tecnologias nos processos educacio-
nais, de modo a esclarecer qual é a sua real contribuição. Não se trata de apenas incor-
porar o conhecimento das modernas tecnologias e suas linguagens. É preciso avançar.
Uma educação mediada pelos usos de tecnologias necessita estabelecer uma comunica-
ção entre os conhecimentos, os sujeitos e seus contextos. Faz-se necessário dialogar com
os meios, em vez apenas de falar deles. Assim, em sua complexidade, pode-se dizer que
o ensino mediado por tecnologias é uma abordagem pedagógica processual, que circula
entre os sujeitos e os meios tecnológicos a partir de relações entre o senso comum e a
ciência, a ação e a reflexão, a razão e a sensibilidade, a objetividade e a subjetividade, o
coletivo e o individual, o convencional e o não-convencional.
Por trás das técnicas e no meio delas, agem e reagem ideias, projetos sociais, uto-
pias, interesses econômicos, estratégias de poder – o espectro inteiro dos jogos huma-
nos em sociedade. Assim, toda afetação de um sentido unívoco da “técnica” só pode ser
duvidosa (LÉVY, 1999).
METODOLOGIA
A pesquisa apresentada neste artigo é um estudo de caso (GIL, 2008), que tornou
possível um aprofundamento em um caso empírico e, além disso, discutir o fenômeno
estudado em sua relação contextual. O caso em questão é o uso do AVA nos cursos
técnicos integrados ao ensino médio do IF Goiano – Campus Trindade, que foi analisado
a partir de dados obtidos dos sujeitos que o realizam.
A coleta de dados foi realizada por meio de questionários, sendo elaborados dois
modelos, destinados, respectivamente, aos alunos e aos professores da referida institui-
ção. Esse instrumento de coleta abordou questões, cujas respostas proporcionaram uma
melhor compreensão de como ocorre o ensino e a aprendizagem no AVA e, além disso,
da percepção dos sujeitos sobre a interatividade nesse ambiente. Os professores foram
questionados, em relação ao AVA, sobre o planejamento das atividades, dificuldades na
utilização, visão sobre a participação dos alunos e suas interações no ambiente. Aos dis-
centes, questionou-se sobre as dificuldades com o AVA, nível de compreensão das ativi-
dades, interatividade e como o conteúdo é ministrado.
É pertinente destacar que o ambiente virtual de aprendizagem utilizado na institui-
ção é o moodle6 (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment), uma plata-
forma de livre acesso, que possui várias ferramentas para a postagem de conteúdo e
atividades. Ainda que o sujeito possua noções operacionais em informática provenientes
de experiências anteriores, a diversidade de ferramentas e configurações demandam
tempo de ambientação, tornando-se fundamental um profissional capacitado para a
orientação de tal uso.
Na instituição pesquisada não há um profissional específico para assessoria sobre
o moodle, que esteja disponível em todo o horário de expediente para ajudar os discen-
tes e docentes na utilização. No entanto, este trabalho é realizado em diversos momen-
tos pela coordenação do Núcleo de Educação a Distância. Uma breve formação é
ministrada no início dos semestres letivos aos professores, por docentes e gestores que
possuem maior familiarização com o ambiente. Os discentes também são auxiliados pelo
referido núcleo e por alunos vinculados a projetos de ensino com essa finalidade.
A presente pesquisa contou com 21 participantes – 09 professores e 12 alunos.
Ressalta-se que os questionários foram aplicados no período de maio a junho de 2018. O
público-alvo da pesquisa possui familiaridade com o ambiente virtual, pois os alunos pes-
quisados cursam os segundos e terceiros anos dos cursos técnicos integrados e os profes-
sores utilizaram a plataforma moodle por, no mínimo, seis meses. A seguir são
apresentados os dados dos questionários e algumas considerações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
AVA. Além disso, é provável que esse fato seja explicado devido a facilidade de correção
das atividades, pois é possível que o sistema corrija as respostas automaticamente.
Ainda que a maioria dos professores já tenham utilizado outros ambientes virtuais
antes do moodle, apenas três docentes disseram não possuir dificuldade com a organiza-
ção de atividades. Os demais indicaram dificuldades na utilização das ferramentas, em
explicar virtualmente o conteúdo e seus objetivos, na organização de tempo para pes-
quisa e na elaboração do material proposto.
Além disso, sobre a dificuldade na utilização do AVA de modo geral, quatro decla-
raram possuí-la às vezes, dois afirmam ter sempre e, os demais, não possuírem. De
acordo com os que possuem algum tipo de dificuldade, o ambiente não possui um layout
de fácil entendimento, com funcionalidades confusas, necessitando muito tempo de pes-
quisa para o uso. A falta de treinamento corrobora para esta situação, assim como a falta
de tempo para uma maior dedicação ao estudo do próprio AVA, principalmente em vista
de atividades além do trabalho, a exemplo da capacitação em cursos de pós-graduação.
Os dados apresentados sobre a prática docente no AVA demonstram que ela ocorre
como uma reprodução do ensino presencial, no sentido de que a pouca formação para o
uso se associa às dificuldades relatadas. Para o planejamento das atividades e do mate-
rial didático-pedagógico, é elementar o conhecimento do recurso digital a ser utilizado,
o que se caracteriza como uma especificidade da modalidade EaD que deve ser contem-
plada nos processos formativos (ARAÚJO; PEIXOTO, 2016).
Quando questionados sobre a interatividade entre os alunos, cinco professores dis-
seram que buscam promover a interação entre eles, os demais responderam “às vezes”,
sendo essas maneiras por meio de fóruns, chat ou discussões em grupo, para que os alu-
nos possam conversar entre si pelo ambiente virtual. Ademais, para a interação profes-
sor-aluno, em uma escala de 0 a 10, possui média 5, 89, ainda que cinco dos professores
consideram como nota 7, outros (2) colocaram notas como 0 e 1.
Os dados apontam uma lacuna em relação ao referencial educacional que nor-
teia a organização do trabalho pedagógico dos docentes pesquisados. Segundo Libâneo
(2005), os processos de ensino se constituem como práticas educativas, dotadas de
intencionalidade cujas atividades possibilitam a apropriação do conhecimento teórico-
-científico, sendo necessária uma teoria educacional norteadora de tais processos,
pela qual se estabelece a relação entre o ensino e suas finalidades educativas. Nesse
sentido, em que pese se tratar aqui do ensino mediado por tecnologias, afirma-se que
o trabalho pedagógico deve ser orientado por um referencial educacional, tal qual o
ensino presencial.
Na educação, de modo geral, o que define a intencionalidade do ato didá-
tico são os seus elementos organizadores. Na docência realizada na educa-
ção online, o professor organiza sua aula a partir dos mesmos elementos
que utiliza em qualquer processo educativo. São selecionados os conteú-
dos, definem-se os objetivos e os métodos de ensino. No espaço online, o
docente organiza os recursos tecnológicos que devem ser utilizados em
consonância com os conteúdos e objetivos a serem alcançados (ARAÚJO;
PEIXOTO, 2016, p. 409).
Quanto ao uso do AVA pelos alunos, cinco deles afirmaram utilizá-lo todos os dias,
outros cinco quando possuem atividades e os dois restantes apenas em finais de semana.
Nove alunos disseram nunca ter utilizado esse tipo de ambiente antes do ingresso no IF
Goiano, enquanto os demais já utilizaram anteriormente. Oito alunos afirmam não pos-
suir dificuldade em usar o moodle, enquanto quatro dizem que “às vezes”, por acharem
as ferramentas um pouco confusas.
Sobre frequência de interação entre professor e aluno no AVA, as respostas dos
alunos foram bem divididas, sendo que um considerou como “sempre”, quatro em
“muito”, quatro como “pouco” e três como “raro ou nunca”. Na interação entre os dis-
centes, metade consideram como pouca, quatro como muito e dois como raro ou nunca.
Mostra-se, a partir desses dados, que a interação no AVA está falha, então, apesar das
oportunidades deixadas pelos professores por meio de fóruns, os alunos tendem a não
discutir com colegas ou com professores.
O material didático utilizado no ambiente é composto principalmente por vídeos
(11), slides (10) e textos (9), seguido de apostilas (8), sites (7), jogos (2) e outros (1), como
fóruns e chats. Seis alunos dizem possuir dificuldade, às vezes, para aprender; um afirma
ter sempre, e cinco não ter dificuldade. Esse quadro é associado pela descrição feita
pelos pesquisados de que o material é extenso ou mal explicado, o que acaba por gerar
confusão e se alinha ao dado obtido com os professores sobre a sua dificuldade de ela-
boração das aulas virtuais. Percebe-se então que a dificuldade do professor pode dificul-
tar a aprendizagem do aluno.
Os alunos pesquisados afirmam não terem grandes dificuldades na realização de
atividades. Mas, quando a possuem, ela se dá principalmente nos questionários, visto
que é o tipo mais usado. Alguns afirmam que a pouca afinidade com a disciplina, somada
a opiniões de que o conteúdo é extenso e mal explicado, contribui com a dificuldade.
Quanto ao incentivo para o uso do AVA, apenas dois alunos disseram que não se
sentem motivados, por julgar o conteúdo como desinteressante. Oito alunos responde-
ram que “às vezes” possuem, normalmente quando são assuntos interessantes e passa-
dos de forma mais atrativa. Os outros dois alunos, que afirmam sentir-se motivados,
dizem que o conteúdo é importante, ainda que complicado.
Analisando as respostas obtidas pelos questionários, foi possível notar que um dos
problemas entre os alunos é a falta de interesse, tendo em vista que eles consideram as
atividades extensas em geral. É fato que diversos motivos podem influenciar esse qua-
dro, mas, ao buscar maneiras para tentar melhorar este aspecto, faz-se pertinente bus-
car outras formas, mais criativas e interativas, de trabalhar conteúdos a distância.
Esses dados remetem a um aspecto amplamente discutido na modalidade EaD: a
possibilidade de maior autonomia do aluno em relação a sua aprendizagem. No entanto,
“o problema é que a escola, como instituição, está ainda marcada pela lógica da trans-
missão, fazendo colidir a lógica das TIC e a lógica escolar” (ALONSO, 2008, p. 755). Ainda
que o uso das tecnologias tem sido associado à relativização do papel do professor como
transmissor de conhecimento, os dados da presente pesquisa indicam que a atuação do
aluno no AVA está ocorrendo com a realização de atividades restritas ao conteúdo minis-
trado no ensino presencial que é direcionado pelo docente.
De acordo com Toschi (2011), a autonomia na EaD se relaciona à ideia de que as
atividades propostas pelo professor no ambiente virtual possam ser desenvolvidas pelo
aluno de forma que ele seja ativo no seu processo de aprendizagem, o que difere da con-
cepção de professor como transmissor do conhecimento e o aluno como receptor pas-
sivo. No entanto, essa participação do aluno, que o responsabiliza por sua aprendizagem,
não isenta o professor do devido planejamento e do seu papel em proporcionar situa-
ções de aprendizagem que possibilitem a formação autônoma.
A dificuldade dos professores com a utilização do ambiente virtual mostra que a
formação é essencial para que se possa proporcionar situações de aprendizagem ativa
pelos alunos. A interação entre o discente e o docente não aparenta ser o problema,
tendo em vista de que a maioria dos alunos responderam que há interação, ainda que
pouca. Além disso, no questionário os professores afirmaram buscar essa interação, o
que leva à conclusão de que, ainda que haja os meios para a comunicação, executá-la
virtualmente ainda é uma falha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÂO
O tema desta pesquisa é a gestão escolar tendo como âncora a teoria da atividade
desenvolvida por A. N. Leontiev e expandida por Y. Engeström como um sistema
de atividades.
Atuar na área educacional exige unir o trabalho com conhecimento científico
(ensino e aprendizagem) a práticas de gestão voltadas à formação do indivíduo para a
transformação social. Na escola, essa união adquire contornos próprios, tornando ainda
mais relevantes as relações entre práticas de gestão e trabalho educativo e pedagógico.
Porém, em geral, os métodos de gestão que se encontram nas escolas, no Brasil, são
aqueles que se caracterizam mais fortemente pela semelhança aos métodos da produ-
ção fabril, com foco na racionalização da produção, numa posição contrária aos interes-
ses educativos e pedagógicos de formação do indivíduo para a transformação social.
Como defendeu Paro (1986), a educação só contribuirá para a transformação social se,
nos grupos dominados, servir de instrumento para a superação da condição de classe.
Com os estudos durante os cursos de mestrado e doutorado em educação, desper-
tou-me a atenção a teoria da atividade, uma abordagem que surgiu como
1 Graduação em Administração. Doutor em Educação (PUC-Goiás). Professor do Instituto Federal de Goiás – Cam-
pus Uruaçu/Goiás. Pesquisador no Diretório de Pesquisa CNPq-PUC-Goiás – Educação, História, Memória e Cul-
turas em diferentes espaços sociais. E-mail: rafael.rabelo@ifg.edu.br
[ 1588 ]
A GESTÃO ESCOLAR COMO UM SISTEMA DE ATIVIDADES 1589
Ainda segundo Paro (1986), uma Administração Escolar voltada para a transforma-
ção social deve seguir alguns pressupostos básicos, como:
• A especificidade da Administração Escolar: essa especificidade só pode aconte-
cer a partir do momento em que ela seja oposta à administração empresarial
capitalista. Em termos políticos, o aspecto específico numa administração esco-
lar voltada para a transformação social deve ser antagônico ao modo de admi-
nistrar da empresa capitalista, uma vez que os propósitos capitalistas são
contrários à transformação social.
quando há, esta se resume a aspectos técnicos ou burocráticos, não contribuindo para a
qualidade do ensino/aprendizagem.
SUJEITO OBJETO
Fonte: (DANIELS, 2003, p. 114).
atividade, representada por Vygotsky. Segundo Engestrom, ainda que seja uma explica-
ção centrada na idéia de mediação, a limitação consiste em analisar o indivíduo sem con-
siderar todo o contexto no qual está inserido.
Na segunda geração da teoria da atividade, representada por Leontiev, surge uma
explicação mais aprofundada que visa superar aquilo que foi considerado como uma res-
trição da teoria de Vygotsky, ou seja, da primeira geração. Leontiev, em seus trabalhos
acerca dos problemas do desenvolvimento do psiquismo humano, afirmou:
Este enfoque encontrou sua expressão na concepção da atividade psíquica
como uma forma peculiar de atividade, como um produto e um derivado da
vida material, da vida externa, que se transforma [...] na atividade da cons-
ciência; aqui se vai a explicação como tarefa central de investigar a própria
estrutura da atividade e sua interiorização (LEONTIEV, 1983, p. 105).
ocorre, com suas regras e divisão de trabalho; no nível micro está o agente individual
operando com ferramentas.
Estrutura do Sistema de Atividade
Figura 6 – Estrutura do Sistema de Atividade humana
Instrumentos
Regras Divisão
Comunidade do trabalho
Fonte:
Fonte: Engeström (2002,Engeström
p. 36), ( 2002, p.36)
Esta parte do texto é norteada pela tentativa de fornecer uma explicação da ges-
tão na escola como um Sistema de Atividades, tendo em vista a formulação de Engeström.
Busco, desse modo, aplicar o conceito de Sistema de Atividades à compreensão da ges-
tão escolar.
Para isso, busco trabalhar com conceitos de alguns autores como Vitor Henrique
Paro, José Carlos Libâneo, Heloisa Luck e outros que trabalham essa perspectiva da
Gestão na área da educação, em especial na escola como atividade humana.
Tendo como referência Paro (1986), retomo a ideia referente à gestão como ati-
vidade humana e à administração em duas dimensões que se entrecruzam. A primeira,
considerada administração em geral, é uma atividade desenvolvida somente pelo ele-
mento humano e, para isso, o sujeito estabelece objetivos a serem cumpridos. Esses
objetivos são atingidos por meio da utilização racional dos recursos materiais e
conceituais necessários para nortear as ações estabelecidas pelo próprio ser humano
na busca de seus resultados pessoais. Essa atividade humana genérica (administração
em geral) acontece em uma sociedade capitalista, predominante nos dias de hoje, ou
seja, essa administração em geral é realizada em um mundo capitalista. Então, esse
entendimento de administração em geral, assim como a administração geral, “é carac-
terizado pela utilização racional dos recursos buscando-se atingir determinados objeti-
vos”. Assim sendo, o que distinguirá uma da outra são os objetivos pessoais
(administração em geral) ou voltados para conceder respostas necessárias ao mundo
capitalista (administração geral).
A organização, o objeto de estudo da administração, entendida neste momento
como a escola, abriga em si distintas atividades humanas, tais como: o ensino, o planeja-
mento, a atividade política, filosófica, a atividade estudantil etc. Como organização, a
escola é composta por inúmeros departamentos específicos onde ocorre a divisão do
trabalho ligado às distintas atividades, dentro da comunidade denominada escola. Todas
as atividades desempenhadas nesses departamentos específicos são realizadas dentro
de normas, regras e procedimentos estabelecidos pela escola junto aos órgãos responsá-
veis em elaborar a legislação vigente para o ensino básico e médio. Essas atividades
desenvolvidas nos departamentos específicos são realizadas pelos sujeitos envolvidos na
comunidade – escolar, ou seja, os agentes educacionais. Estes utilizam os vários instru-
mentos ou ferramentas que são necessárias para mediar a execução das diferentes ativi-
dades. Nesse sentido, pode-se dizer que na escola ocorrem inúmeras atividades
simultâneas, conforme os inúmeros departamentos e sujeitos. Todas essas atividades se
entrecruza, para se chegar a um resultado comum esperado que é o egresso preparado
para o mercado de trabalho ou para ingressar no ensino médio e superior.
A administração como atividade humana genérica, desenvolvida em uma socie-
dade capitalista, tida como moderna, onde prevalece um modelo de gestão burocrática,
como, por exemplo, na escola, é representada por meio do modelo estudado e desenvol-
vido por Taylor. Essa Instituição, entendida como sistema de atividades segundo a con-
cepção descrita por Engestrom, pode ser caracterizada como se segue.
A escola é tida como a instituição privilegiada onde ocorre a produção do saber
humano, de forma crítica e voltada à solução de problemas presentes na vida em socie-
dade. Todavia, numa análise que parte dos resultados do sistema de atividades cha-
mado escola, destaco a seguinte observação: esses resultados se resumem
predominantemente à formação de mão de obra especializada, capaz de assegurar aos
nas práticas docentes, não no sentido pedagógico ou científico e sim no sentido da racio-
nalização/burocratização.
Ouso afirmar que, embora seja importante que a escola disponha e utilize instru-
mentos normativos e formais, a ênfase exagerada nesses instrumentos e dispositivos,
pela própria natureza da concepção racional/burocrática que a orienta, conduz ao dis-
tanciamento de fins pedagógicos e científicos, culturais e sociais, dentro da escola.
Considerando as relações com os sistemas de atividade externos, a escola caracte-
riza-se como uma comunidade que, nesse modelo racionalizado/burocratizado, tem sua
coerência interna afetada pela distinção entre os órgãos que estabelecem a política de
funcionamento e sua operacionalização pela própria escola. Além disso, internamente, é
possível verificar a difícil articulação entre as escolas e departamentos, a qual cinde a
comunidade organizativa institucional, não permitindo a ligação dessas atividades que
deveriam ser relacionadas umas com as outras. Com a divisão do trabalho operacionali-
zada pelo regime departamental, os docentes, assim como as disciplinas, são agrupados
em departamentos específicos, sob regime de trabalho assentado em distribuição das
atividades dos alunos e dos professores em torno de um sistema de créditos.
As regras e instrumentos materializados nos documentos internos e externos refe-
rentes à escola norteiam todas as atividades dessa Instituição, como, por exemplo: PPC
(Projeto Pedagógico de Curso, instrumento de concepção de ensino e aprendizagem de
um curso); PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional, instrumento de planejamento e
gestão que considera a identidade da instituição, sua filosofia de trabalho, sua missão,
diretrizes pedagógicas orientadoras das ações, sua estrutura organizacional e as ativida-
des acadêmicas que desenvolve e/ou pretende desenvolver para um período de 5 anos);
PPI (Projeto Pedagógico Institucional, documento construído com a participação da
comunidade acadêmica, que explicita a visão política, filosófica e metodológica que a
instituição assume diante do compromisso com o ensino, pesquisa e extensão).
Os sujeitos – agentes educacionais envolvidos na escola – desempenham o papel dos
diretores que exercem as práticas de gestão, coordenadores que desempenham as práti-
cas pedagógicas no âmbito da gestão e professores que trabalham a aquisição do conheci-
mento pelos alunos entre outros. Esses agentes são subordinados às regras e normas
impostas pela instituição, distanciando-se cada vez mais do objeto que é a organização.
Os instrumentos nessa gestão burocrática são as ferramentas de pressão e con-
trole utilizados sobre os sujeitos envolvidos na escola. Dentre outros, podem ser citados:
as legislações internas e externas vigentes, relacionadas ao ensino; o sistema de ponto
utilizado pelas escolas para controle do horário de chegada e saída dos docentes, discen-
tes e pessoal técnico-administrativo; relatórios quantitativos utilizados pela escola, bus-
cando aferir o índice de desempenho dos alunos, dos docentes e da própria instituição
perante o ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio).
Ante o exposto, cabe-me ressaltar a contradição interna do modelo racional/buro-
crático de gestão adotado na escola: em se tratando da eficácia e da eficiência já não
alcança seu objetivo, pois se encontra anacrônico e descompassado em relação às
mudanças sociais e ao mundo do trabalho, assim como às formas de organização e estra-
tégias de ação. A predominância desse modelo vai de encontro à eficiência e eficácia da
gestão, pois seus próprios princípios (centralização, hierarquização, burocratização, con-
trole), se considerados a partir do conceito de sistemas de atividades proposto por
Engestrom, estabelecem uma contradição entre as distintas atividades que os compõem.
Os sujeitos que a integram, em cada sistema de atividades, orientam suas ações para
objetivos que nem sempre coincidem entre si e as atividades acontecem sem relação
umas com as outras. Assim, essa Instituição torna-se um sistema que não consegue res-
ponder nem às suas necessidades internas nem às necessidades que lhe são apresenta-
das de fora oriundas da sociedade.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Para a realização do trabalho, recorri a diversos autores, entre eles: Chiavenato (2003)
e Silva (2001) para trabalhar acerca da história da administração; Paro (1986) que distingue
administração em geral como atividade genérica humana pela qual o indivíduo utiliza a
racionalidade e recursos disponíveis para a realização de determinados fins, e administra-
ção geral o que é uma maneira específica da administração inserida no sistema produtivo
capitalista, visando à criação de novas ferramentas de trabalho e à racionalização cada vez
maior dos recursos, permitindo a produção e acumulação de bens materiais.
A análise teórica foi sustentada em Leontiev e principalmente em Engestrom, em
especial o Sistema de Atividades. Engestrom (1987) desenvolveu a análise dos sistemas
de atividades, em que demonstra que a relação sujeito-objeto é influenciada por diver-
sos artefatos mediadores, presentes nas relações entre indivíduos em “comunidades”. As
relações do sujeito com a comunidade são mediadas por ferramentas “artefatos media-
dores”, levando-se em conta as “regras” que regulamentam os procedimentos tidos
como certos entre os envolvidos da comunidade na qual o sujeito está inserido. Essas
comunidades se caracterizam também por uma necessária “divisão do trabalho”, pode-
res e responsabilidades entre os envolvidos do sistema de atividade.
Acredito que a teoria da atividade humana como sistema mostra-se útil para aná-
lise da contradição que marca a escola e, amparada numa concepção democrática de
organização e gestão, poderá servir para se pensar outros modelos de gestão.
Por fim, este estudo representa um trabalho humilde diante da complexidade do
tema e da riqueza com que pode ser analisado. Caracteriza-se apenas como uma tenta-
tiva de aplicar a teoria da atividade para uma análise crítica da gestão na escola. Por se
tratar da interpretação de uma teoria, limitei-me às minhas experiências enquanto pes-
quisador, iniciante não só no tema como também na prática da pesquisa. Ainda assim,
acredito que este estudo deva ser considerado por seu caráter inovador no campo da
Gestão Escolar e por apresentar alguns pontos de reflexão que poderão servir para futu-
ras análises, mais aprofundadas e consistentes.
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INTRODUÇÃO
Esse estudo teve origem a partir das experiências como professora do Ensino
Médio durante vinte e cinco anos na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
(SEEDF), como coordenadora pedagógica nos últimos anos e orientadora de estudos do
Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, no ano de 2014.
A formação docente sempre despertou em mim interesse e algumas inquietações
que foram acentuadas quando comecei atuar como coordenadora pedagógica nessa
modalidade de ensino. Essas inquietações me fizeram buscar o espaço acadêmico para
poder compreender a formação continuada de professores e conseguir desenvolver a
desafiadora função de coordenadora pedagógica. Comecei a participar do Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre a Formação e Atuação de Professores/Pedagogos, que desen-
volve estudos sistemáticos acerca da formação e atuação de docentes, envolvendo a
investigação das múltiplas determinações e contradições na implementação das políticas
de formação e valorização, no processo do desenvolvimento docente e no exercício da
profissão, com uma abordagem sóciohistórico dialética. Esse momento foi o fio condutor
para ampliar o meu olhar sobre a formação continuada.
O Ensino Médio no Distrito Federal tem sido pauta de debates e agendas em dife-
rentes espaços sociais, principalmente diante de dados estatísticos como as altas taxas
de reprovação e evasão escolar e baixos resultados demonstrados por meio do Índice de
[ 1607 ]
1608 Alessandra Batista de Oliveira
Essa perspectiva se efetiva no campo educacional pela práxis, isto é, unidade de teo-
ria e prática na busca da transformação e de novas sínteses no plano do conhecimento e
no plano da realidade histórica. O materialismo histórico dialético é apoiado num tripé em
movimento: de crítica, de construção do conhecimento “novo”, e da nova síntese no plano
do conhecimento e da ação, ou seja, a práxis em sua dimensão transformadora.
Segundo Netto (2011), esse método de pesquisa propicia o conhecimento teórico,
partindo da aparência e visa alcançar a essência do objeto. Alcançando a essência do
objeto, o pesquisador reproduz, no plano ideal, a essência do objeto que investigou.
Nesse processo, os instrumentos e também as técnicas de pesquisa são os mais variados,
desde a análise documental até as formas mais diversas de observação, levantamento de
dados, etc.
A escolha pela abordagem do materialismo histórico dialético se deu pelo reconhe-
cimento da ciência como um produto da história e da ação humana. Nessa perspectiva,
o método caracteriza-se pelo movimento do pensamento por meio da materialidade his-
tórica da realidade humana nas suas relações sociais. Assim, a formação continuada de
professores precisa ser pensada como um processo de construção social e histórica. E,
nessa construção se fundamenta nas principais categorias do método: a matéria, a cons-
ciência e a prática social.
Nesse sentido, a formação continuada de professores é uma temática que se apre-
senta sempre em pauta, e que representa um campo de disputa ideológica e política. O
professor é visto como um grande protagonista para transformar a Educação. Porém,
diante do que está posto, é preciso questionar qual a função da escola para a sociedade
moderna e que tipo de professor se quer formar, que projeto de educação está sendo
construído e consolidado. As questões são complexas, mas são necessárias para a com-
preensão do objeto de pesquisa para que nesse processo dialético e contraditório possa-
mos ir além da aparência e caminharmos em direção da essência do objeto.
A escolha por categorias de análise é fundante para refletir e compreender uma
realidade social concreta em um determinado tempo e lugar. Cury afirma:
Para mediar é preciso entender a teia de relações que são construídas historica-
mente sobre o fenômeno que se pretende estudar, é preciso fazer esse movimento cons-
tante para apreender as múltiplas determinações que constituem o objeto de pesquisa.
É interessante destacar que em muitas situações concretas, é delegada ao profes-
sor a função de mediador no processo de aprendizagem e quais implicações esse papel
pode trazer para o trabalho docente? Essa mediação é uma mediação reprodutora de
uma ideologia dominante ou uma mediação crítica? Essa mediação busca trazer as con-
tradições postas na sociedade capitalista e que permeiam o trabalho docente?
Nesse movimento dialético, e por meio das categorias de análise é que buscamos
compreender os sentidos que os professores do Ensino Médio construíram a partir da
formação continuada do Pnem. Cabe destacar que as categorias propostas de análise se
inserem num contexto da práxis, como uma ação transformadora, que permita trazer a
essência e desvelar como o fenômeno da política se revela na aparência e nesse movi-
mento tentar ultrapassar as barreiras do abstrato, e entender o concreto, a materiali-
dade sobre os sentidos que a política “provoca” nos sujeitos. Assim, construir e
desenvolver uma educação em que o sujeito seja capaz de pensar de forma crítica, autô-
noma e emancipadora.
Alguns critérios foram estabelecidos para delinear a pesquisa, apresentando o
seguinte contexto:
• Rede pública – Secretaria de Educação do DF;
• Educação básica – Ensino Médio;
• Sujeitos-professores que participaram da formação/Pnem em 2014;
• Uma Escola de Ensino Médio em cinco Coordenações Regionais de Ensino (CRE’s)
diferentes (escolas que são tradicionais em trabalhar com essa etapa de ensino);
• Coordenações Regionais de Ensino escolhidas: Plano Piloto, Ceilândia, Gama,
Sobradinho e São Sebastião (que são localizadas em diferentes espaços geográ-
ficos do Distrito Federal (DF) e apresentam características socioeconômicas
distintas);
• Critérios na escolha dos professores: um professor por cada área de conheci-
mento (ciências humanas e ciências exatas);
• No total foram entrevistados 10 professores;
Diante desse contexto, organizamos a pesquisa em três capítulos, o primeiro capí-
tulo com o título: O Estado do Conhecimento: a formação continuada de professores
para o Ensino Médio. Fizemos uma revisão bibliográfica no intuito de entender o que já
foi investigado e pensado sobre o tema proposto na pesquisa. Foi possível construir um
estado do conhecimento sobre a formação continuada de professores que atuam no
ensino médio, e constatar que o campo da formação continuada para os professores que
atuam nessa etapa de ensino é algo muito novo. A maioria dos trabalhos encontrados
abordam questões específicas das áreas de conhecimento/disciplinas e não as questões
de âmbito geral que são pertinentes ao trabalho docente. Lembrando que o recorte tem-
poral da pesquisa foi a partir de 2013, data da regulação e implementação do Pnem, até
2016. As sínteses dos artigos encontrados apresentam como elementos centrais: a for-
mação continuada, a prática pedagógica, a discussão curricular e a relação teoria e prá-
tica. Na maioria dos estudos encontrados não se evidencia a questão do trabalho docente
como um eixo norteador da formação continuada.
Ainda no primeiro capítulo buscamos construir um diálogo sobre o campo de
conhecimento sobre a formação continuada de professores para o ensino médio, reco-
nhecendo que é uma arena de disputas e de muitas contradições. Buscamos nesse capí-
tulo fazer uma síntese do processo histórico da formação docente para o ensino médio,
de suas concepções, bem como os aspectos conceituais da formação continuada de pro-
fessores no Brasil e apresentando alguns programas de formação continuada que foram
implementados no ensino médio.
No segundo capítulo, intitulado por O Ensino Médio e o PNEM como formação
continuada geral e específica, buscamos construir um percurso histórico pontuando
momentos importantes no cenário do Ensino Médio no Brasil, e consequentemente, os
avanços e retrocessos que marcam essa etapa da educação. Nesse cenário contraditório,
apresentamos o Pnem, em busca de promover um diálogo articulado com essa política
de formação. Nessa perspectiva, iniciamos o nossa conversa, apontando as ações estra-
tégicas que foram articuladas para a consolidação do Pacto, os eixos norteadores dessa
formação continuada, suas concepções metodológicas e a organização do processo for-
mativo no DF.
No terceiro capítulo, apresentamos Os sentidos elaborados pelos professores em
relação ao PNEM, nos referenciamos em Vigotski e em Bakthin, por entendermos que o
processo de construção da linguagem de do pensamento humano estão imbricados por
uma teia de relações entre palavras, significados e sentidos que precisamos mediar para
promovermos o diálogo. Assim, quando buscamos conhecer os sentidos elaborados
pelos professores que participaram dessa formação, estamos procurando compreender
processos bem particulares aos professores, mas que ao mesmo tempo constitui a situa-
ção de muitos outros.
No último capítulo são apresentadas as análises das entrevistas realizadas com dez
professores que participaram da formação, e a partir das falas desses sujeitos,
emergiram algumas categorias de análise, que são: atualização, o trabalho docente, for-
mação inexpressiva, descontinuidade das formações e reconhecimento do professor.
Essas categorias, juntamente com os descritores apresentados nesse capítulo, podem
nos aproximar da compreensão das múltiplas determinações que constituem o nosso
objeto de estudo. É preciso termos clareza que esse é um exercício complexo, dialético e
contraditório para realmente conhecermos os sentidos dessa formação continuada.
REFERENCIAL TEÓRICO
uma unidade do pensamento verbalizado, pois ele é linguagem e ao mesmo tempo pen-
samento. É importante destacar a multiplicidade de significados que as palavras podem
ter, dependo, é claro, dos diferentes contextos que elas podem ser inseridas.
O homem constrói sua subjetividade por meio de elementos da realidade objetiva.
É nesse processo de subjetivação e objetivação que o sujeito constrói ou se apropria dos
significados, que são construções históricas e sociais, que vão constituir os sentidos,
constituindo sua visão de mundo e seu modo de ser, pensar, sentir e agir. Nesse processo
de construção é que queremos conhecer o sentido do trabalho para os professores que
atuam no Ensino Médio, por meio de suas narrativas, fazendo um diálogo com o momento
da carreira desse docente.
Desse modo, os significados que são construídos e transmitidos ao longo de todo
percurso histórico são internalizados pelos indivíduos na sociedade, compondo, assim, a
sua dimensão subjetiva. Assim, as bases formativas e as vivências ao longo da carreira
podem inferir nos sentidos que os professores do Ensino Médio atribuem ao trabalho
docente e como eles se reconhecem na sua profissão.
Os significados aparecem ao homem como um caráter particular, individual. Porém,
esse aspecto individual é que constitui a categoria sentido. Esse movimento de internali-
zação e externalização em que os indivíduos se apropriam dos significados sociais é o que
constitui os sentidos. A linguagem é um elemento fundante para a compreensão dos sen-
tidos, pois é por meio dela, que o indivíduo expressa sua subjetividade e objetividade.
O estudo, ao propor entrevistas como instrumentos metodológicos para coletas de
dados, considera indispensável que essas falas ou mensagens, sejam verbais, silenciosas
ou simbólicas, envolvem todo um processo de construção histórica da humanidade,
assim como, as condições econômicas e socioculturais em que esses sujeitos estão inse-
ridos. Vale destacar:
O significado de um objeto pode ser absorvido, compreendido e generali-
zado a partir de suas características definidoras e pelo seu corpus de signifi-
cação. Já o sentido implica a atribuição de um significado pessoal e objetivado
que se concretiza na prática social e que se manifesta a partir das
Representações Sociais, cognitivas, subjetivas, valorativas e emocionais,
necessariamente contextualizadas (FRANCO, 2012, p. 13).
Cabe destacar que a apreensão dos sentidos é uma tarefa difícil, por não se revelar
facilmente, e muitas vezes mostrar uma intenção na aparência, e uma ideologia implícita
em sua essência – percebidas ou não pelo sujeito locutor – ou seja, muitas vezes, nem os
RESULTADOS E DISCUSSÃO
reflexão da prática, porém, não nos relataram avanços e/ou mudanças concretas em sua
prática pedagógica.
Essa reflexão da teoria e prática são elementos que ficam explícitos nas falas dos
professores. Em vários momentos eles relatam a importância de se refletir ou repensar
sua prática, sinalizam também a necessidade de se compreender as bases teóricas que
constituem seu trabalho. No entanto, contraditoriamente, apontam como necessidades
formativas modelos de técnicas que os ensinem e facilitem o seu trabalho em sala de
aula, de maneira que consigam fazer com que os alunos aprendam os conteúdos por eles
ministrados. Essas respostas parecem indicar que não rompem com o modelo da repro-
dução, ênfase da prática pedagógica tecnicista.
Nesse contexto, e com base nos relatos dos professores, a relação entre teoria e
prática é marcada por um cenário onde a práxis, muitas vezes, se sobrepõe a teoria, e
não são entendidas como uma unidade. Essa práxis acaba sendo desvelada como reite-
rativa ou imitativa, que segundo Vázquez (2011, p. 277), “[...] não provoca uma mudança
qualitativa na realidade presente, não transforma “criadoramente”, ainda que contribua
para ampliar a área do já criado e, portanto, para multiplicar quantitativamente uma
mudança qualitativa já produzida. Não cria”.
Apesar de o Pnem ser apontado pela maioria dos professores como uma formação
que promoveu o debate e a aproximação entre os pares, permitindo momentos de refle-
xão sobre a prática pedagógica, também é apontado pelos entrevistados como mais uma
formação continuada que não alterou a dinâmica do trabalho, e que nós percebemos
não fazer rupturas e ressignificações na relação entre forma e conteúdo.
O sentido do Pnem se revela na fala de nossos respondentes, como não sendo uma
formação diferente de outros cursos realizados, e esse movimento repleto de contradi-
ções e múltiplas determinações, nos conduziu a entender mais uma categoria de análise,
o baixo impacto dessa formação. Percebemos a necessidade da formação continuada
avançar para conseguir atender aos anseios e a realidade dos professores que atuam
nessa etapa da educação.
O baixo impacto dessa formação continuada está associado aos professores, por
muitas vezes, não se sentirem autores dessa formação, e serem apenas executores/sociali-
zadores das ações propostas pelos programas de formação continuada, que se apresentam
na forma de um “guia prático”, como interpela Santos (2014). Tais propostas se realizam
sem reconhecer as experiências e os saberes dos professores para a construção desse
processo de formação. Santos, também aponta que essas tais práticas não apresentam
resultados significativos pelo distanciamento dos problemas educacionais.
Na mesma linha de análise, apresentamos uma categoria emergida das respostas
obtidas dos professores, em relação ao Pnem, que merecem destaque sobre as necessi-
dades formativas e sobre qual a função da formação continuada para eles. Os respon-
dentes foram unânimes em relatar a falta de formação continuada voltada para o ensino
médio. Ou seja, a ausência de políticas que contribuam com o trabalho pedagógico dos
professores atuantes na etapa Ensino Médio. O Pnem se apresentou como um marco e
política inaugural, de forma específica para os professores do Ensino Médio, principal-
mente por se tratar de uma política com foco de abrangência nacional.
Evidencia-se, ainda, que os professores desejam formação específica que contemple
as áreas de conhecimento (matemática, química, física, etc), trabalhando com a diversi-
dade, em especial com os alunos portadores de necessidades especiais, e mais uma vez,
apontaram que precisam de formação para trabalhar com as novas tecnologias e conhece-
rem as necessidades dos seus alunos dentro do contexto da sociedade contemporânea.
As inovações tecnológicas oriundas da reestruturação produtiva desencadeiam,
por conseguinte, a necessidade de se incorporar o uso de ferramentas tecnológicas no
processo de formação humana. É importante ressaltar que as inovações estão em todos
os campos da sociedade e tem reflexo direto na vida do ser humano e principalmente na
sua formação acadêmica e profissional. O professor, diante dessas inovações e da incor-
poração dessas ferramentas tecnológicas no ambiente escolar e nos processos de ensino
e aprendizagem, busca na formação continuada elementos para enfrentar essa nova rea-
lidade. Nesta direção, o emprego das tecnologias de informação no ambiente escolar e
no processo pedagógico precisa ser construído sobre um amplo debate das transforma-
ções que se quer inserir na escola, bem como em todo projeto de educação. Portanto,
entendemos que a formação pode ser a arena dessas discussões.
Além dessa preocupação, alguns dos professores entrevistados apontaram outra
necessidade formativa saber trabalhar com os alunos portadores de necessidades espe-
ciais, como, por exemplo, algumas deficiências cognitivas. Nas escolas que nossos res-
pondentes são atuantes, existem salas de recursos com professores preparados para
atender esses alunos. Porém, esses atendimentos, muitas vezes, acontecem em horários
contrários. Durante o período das aulas esses alunos estão assistindo as aulas com os
diversos professores que compõem a grade curricular da escola, e esses professores
muitas vezes não estão preparados para atender esses alunos. Daí os professores apon-
tarem a necessidade de formação continuada voltada para a educação especial.
Quando analisamos as falas dos professores, os relatos apontam outra categoria de
análise: a descontinuidade das políticas de formação continuada. A maioria dos docentes
entrevistados questiona o fato de o curso não ter tido continuidade, no ano seguinte,
como estava previsto. Relataram com certa insatisfação como a fragmentação e a des-
continuidade das ações ou políticas no campo educacional fragilizam ainda mais o traba-
lho docente.
Essa descontinuidade apontada pelos professores marca o cenário das políticas
educacionais públicas no Brasil, e, consequentemente, no DF, onde, em cada gestão de
governo, são apresentadas a comunidade escolar e a sociedade programas ou projetos
de reformas educacionais que inferem princípios e valores orientadores de mudanças
nos processos formativos, e que atendem dentro desse contexto toda a lógica capitalista
neoliberal. Santos (2014, p. 111) afirma:
A reforma educacional instituída pelo Estado, em colaboração com os orga-
nismos multilaterais, a partir dos anos 90, deu primazia, como dito antes, a
uma racionalidade produtiva e competitiva, que promoveu a difusão dos
valores do gerencialismo neoliberal.
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VIGOTSKI, Lev Semiónovich. Pensamento e Linguagem. Tradução de Paulo Bezerra. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2010.
INTRODUÇÃO
1 Doutor e mestre em Ciências da Religião, graduado em Filosofia e em Teologia pela Pontifícia Universidade
Católica de Goiás(PUC/GO). Professor titular da Universidade de Rio Verde e professor pesquisador no grupo
Educação Social: Ensino, Pesquisa e Extensão/UNIRV. Professor da educação básica na rede pública do estado
de Goiás, CEPMG – Unidade Carlos Cunha Filho. E-mail: josereinaldoquinteiro@yahoo.com.br.
2 Mestra em Letras – Literatura e Crítica Literária – Pontifícia Universidade Católica – PUC /Goiás, graduada em
Letras pela Universidade de Rio Verde; Especialista no Ensino de Língua Portuguesa e Literaturas pela UniRV;
Professora da FAR (Faculdade Almeida Rodrigues) e da educação básica na rede pública do estado de Goiás,
CEPMG – Unidade Carlos Cunha Filho. E-mail: rosimeiresoares34@gmail.com.
[ 1624 ]
Sociabilidade, saberes e projetos de inclusão na conjuntura do colégio estadual da PM 1625
bem como produzir algo concreto que, normalmente, é apreciado pela toda comunidade
interna e externa.
Esta produção está dividida em três tópicos. No primeiro, traz-se a história de criação
da escola-foco, seguido dos principais saberes (Religioso, Popular, Filosófico e Científico)
que permeiam a relação entre os seres que ali promovem sua sociabilidade sob ótica do
contexto filosófico. No segundo tópico, busca-se assegurar a construção e reconstrução
dos saberes, partindo de aspectos teóricos com vistas a pensar prática de projetos.
Essa metodologia de projetos é intensificada, no terceiro tópico, a partir da descri-
ção de três grandes projetos observados in loco, sendo Parada Literária, Jogos Internos
dos Colégios Militares (JINCOM) e Feira de Ciências.
Para tanto, questionam-se: quais saberes se destacam dentro de uma unidade mili-
tar de ensino? Como esses saberes de reconstroem? A partir de que relações se mani-
festa a sociabilidade? Como esses elementos se vinculam com a legislação educacional
vigente com vistas a promover inclusão? O ponto de partida para essa problemática é a
observação da metodologia de projetos a qual esta produção visa demonstrar.
METODOLOGIA/PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
O presente trabalho é fruto de observação in loco, uma vez que os autores também
são professores da educação básica na escola-foco, há mais de uma década. Nesse
período, já refletiram com os demais docentes, nos momentos coletivos, acerca dos pos-
síveis aproveitamentos pedagógicos das práticas pedagógicas, especialmente sobre os
projetos em destaque nesta produção. Então, interessou-se em sistematizar e apresen-
tar as percepções metodológicas das referidas atividades.
De natureza qualitativa3, este artigo utiliza o tipo de pesquisa de campo4, por se
estruturar a partir de observações in loco e o bibliográfico5 para sistematização dos pro-
3 “[...] os dados são coletados através de interações sociais (p. ex.: estudos etnográficos e pesquisas participantes)
e analisados subjetivamente pelo pesquisador). Ou seja, o fenômeno é a interpretação subjetiva do fato” (APPO-
LINÁRIO, 2004, p. 155).
4 “A pesquisa de campo detém-se na observação do contexto no qual é detectado um fato social (problema), que
a princípio passa a ser examinado e, posteriormente, é encaminhado para explicação por meio dos métodos e
técnicas específicas. Trabalha com a observação dos fatos sociais colhidos do contexto natural –, apresentados
simplesmente como eles se sucedem em determinada sociedade. A primeira é a mais fundamental regra é con-
siderarmos o fato social como coisa” (FACHIN, 2003, p. 133).
5 “A pesquisa bibliográfica diz respeito ao conjunto de conhecimentos humanos reunidos nas obras. Tem como
finalidade fundamental conduzir o leitor a determinado assunto e proporcionar a produção, coleção, armazena-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Colégio Estadual da Polícia Militar de Goiás, CPMG, Unidade Carlos Cunha Filho é
uma instituição com amparos legais na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB
9394/96), na Lei Complementar 26/1998, Parecer CEE 11/2011 e Resolução CEE 003/2018
do Conselho Estadual de Educação e Lei Complementar 26/1998, bem como atende às
normativas previstas no Estatuto da Criança e Adolescente, Lei (8.069/90); tem com prin-
cípio defender fortalecer os valores humanos agregados à pratica sociocultural do
Civismo e da Cidadania8.
mento, reprodução, utilização e comunicação das informações coletadas para o desenvolvimento da pesquisa.
Constitui-se do ato de ler, selecionar, fichar, organizar e arquivar tópicos de interesse para a pesquisa em pauta,
é uma constante na vida de quem se propõe estudar (FACHIN, 2003, p. 125).
6 “Consiste em procurar a confirmação de uma hipótese através da verificação das consequências previsíveis da
própria hipótese” (ABBAGNANO, 1970, p. 220).
7 JINCOM ocorreu em abril/2019; Feira de Ciências em maio/2019; Parada Literária em agosto/2019.
8 O lema Civismo e Cidadania foi instituído em 12 de setembro de 1969, à época do Ato Institucional 05 (AI-5) –
baixado pelo Governo Militar em dezembro de 1968 e vigou a dezembro de 1978 –, em que determinava aos
colégios administrados pelos militares a incluíssem a disciplina obrigatória Educação Moral e Cívica (EMC) em
suas matrizes. A finalidade dessa disciplina era desenvolver um culto à Pátria, aos seus símbolos, às tradições,
às instituições e aos grandes vultos da história e, nesta intenção, preparar o indivíduo para o exercício dos valo-
res morais, vivendo-os em sociedade, a defender o patriotismo em ações coletivas. Após quatros décadas, a
ditadura não existe, caiu; não há a disciplina Educação Moral e Cívica (EMC) e as matrizes dos Colégios Militares
se tornaram comum aos demais Colégios de Escolas Públicas (BARROS, 2017 [s.p]); entretanto, o respeito aos
valores patrióticos são cultivados sob a orientação da divisão de ensino do Colégio Militar, no caso específico,
da escola-campo de pesquisa, influenciado ao corpo discente na construção da prática sociocultural de que só
se obtém um estudo de qualidade estudando, pesquisando observando os valores como o respeito ao próximo,
ao professor (a), aos pais ou responsáveis e à hierarquia civis e militares. Na unidade escola em foco, há inde-
pendência didática e metodológica dos professores ao ministrarem a sua disciplinas; obviamente garantindo a
qualidade do ensino. Assim, a disciplina moral e cívica migrou de um componente curricular obrigatório para o
não-obrigatório. Entretanto, em se falando dos valores patrióticos, esse ofício foi atribuído Comando de Ensino
nos momentos de formação disciplinar dos alunos (as) e mediante a execução dos Projetos tais como: Feiras
Pedagógicas, Paradas Literárias, Jogos Internos dos Colégios Militares, os complexos para os ritos de formaturas
e das festas comemorativas.
9 Na sociedade moderna, compreendendo-a dentro do conceito de Bauman (2001), como sociedade líquida, não
há regra fixa, tudo é flexível. O indivíduo se encaixa ao ambiente em que melhor lhe é possibilitado viver bem
consigo mesmo e com os outros. Ele se adapta ao ambiente, entretanto, somente quando lhe é útil. Seria uma
mentado dos valores instáveis. Para que isso se efetue, há os projetos desenvolvidos na
unidade de ensino que tendem a potencializar a formação do indivíduo, visando o seu
encaixe nos espaços escolares e não escolares, considerando os seus aspectos pessoais e
sociais, seus valores não fixos e invertidos em prol da sociabilidade.
Nesse processo formativo, in loco, a construção dos saberes é alicerçada na práxis,
aos quatro pilares da educação os quais são “aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a viver juntos e aprender a ser” (DELORS, 2000, p. 89).
Essa sociabilidade do indivíduo contribui diretamente para que o processo ensino-
-aprendizagem aconteça; nele, há a condição de continuar a reinventar a vivência em
sociedade. O indivíduo se envolve nos programas extraclasse10, adquire os referenciais
teóricos e práticos desenvolvidos na unidade de ensino a fim de compreender a vida
humana e a própria vida, uma vez que são neles que se encontram as indicações para
analisar e resolver as situações conflituosas e constantemente vulneráveis e que dizem
respeito à história da humanidade, aos estudos da formação física do universo e ao domí-
nio das linguagens humanas11.
ação de caráter pragmático, utilitário; o relacional individual e coletivo são transitórios, momentâneos; a reli-
gião, o trabalho, a família, a política e cultura apresentam-se como paradigmas estruturais diferenciados; o
retorno às suas bases novas estruturais são formadas e formatadas. Nesse encontro e reencontro reinventados
com a sua pertença, o indivíduo busca pela própria liberdade permanentemente; isso significa que ele se apro-
xima da própria emancipação; torna algo sólido em líquido e, com liberdade, responsabilizando-se pelos seus
atos. Por conta de se adaptar na estrutura social, o indivíduo passa não questionar a situação em que se sente
bem, até porque tudo é volátil, as críticas não são bem aceitas, elas são meras reflexões ingênuas. No campo das
decisões políticas, esse indivíduo, dentro do conceito de sociedade líquida, é mais controlado, ele não tem muito
espaço, trabalhado com a ideia de que o capitalismo é bom e que quem controla toda a situação são os grandes
chefes que encantam os seus subalternos com a ideia de que todos devem conhecer os meandros dos modos
de produção, tomando de posse, como exemplos, das imagens das pessoas, principalmente quando a intenção
é intensificar o consumismo na sociedade. Assim, o indivíduo, é levado a abandonar seus valores tradicionais e
pessoais, os seus diários individuais, para de fato, vivenciar os valores de uma sociedade líquida que lhe venha
garantir a legitimidade de ser individual, mesmo que haja mudanças em constates de cargos, funções e paradig-
mas, há uma quebra de laços para a autoafirmação.
10 Prodec: o Programa de Desporto Educacional Complementar (Prodec), objetiva incentivar e apoiar os projetos
esportivos em visem desenvolver as potencialidades dos estudantes em que se destaca os Jogos Internos do
Colégio da Polícia Militar de Goiás (JINCOM). O Prodec é um projeto em que a unidade escolar necessita criar
situações para a sua execução em programas de educação física. À escola cabe à propositura à Subsecretaria
Regional de Educação e ao Conselho Escolar da Unidade o que gera uma diversidade de propostas esportivas
como Handebol, Voleibol, Futsal, Jogos de Xadrez e Queimadas.
Outros programas e projetos: a escola desenvolve projetos voltados para o ensino médio como o PJF – Programa
Jovem de Futuro (apoiado pelo Instituto Unibanco em parceria com a SEDUC); o Projeto Agente Jovem, o SIAP,
os Estágios Remunerados e a Jornada Ampliada (PPP, 2019, p. 9-13).
11 Se equivale ao que o MEC avalia na prova no Enem, ao término do 3ª série do ensino médio em níveis: das
Ciências da Natureza e suas Tecnologias, abrangendo as áreas da química, da física, da biologia, da energia e da
preservação ambiental; das Ciências Humanas e suas Tecnologias ocupando-se dos conteúdos que diz respeito à
história, à sociologia, à geografia e à filosofia; das Linguagens e Códigos onde se encontram as abordagens sobre
a língua portuguesa, a literatura, as artes, a educação física e as línguas (inglês e espanhol) e da Matemática, que
inclui comparações numéricas, sistemas de medidas, álgebra, interpretação de gráficos e tabelas, entre outros
(BRASIL, 2006).
12 O Ego não é parte integrante da consciência “[...] além disso, este Eu supérfluo é nocivo. Se ele existisse, arran-
caria a consciência de si mesma, dividi-la-ia, insinuar-se-ia em cada consciência como uma lamela opaca. O Eu
transcendental é a morte da consciência. Com efeito, a existência da consciência é um absoluto porque a cons-
ciência está consciente dela mesma. Isto quer dizer que o tipo de existência da consciência é o de ser consciên-
cia de si. E, ela toma consciência de si enquanto ela é consciência de um objeto transcendente” (SARTRE apud
SANTOS, 2008, p. 51).
13 O indivíduo intenciona à própria consciência em uma postura fenomenológica diante da realidade, face ao mis-
tério, face ao objeto. Só aos indivíduo é dada a possibilidade de conhecer, reconhecer e significar o objeto
perceptível ao seu exterior, embora ele, o objeto perceptível, permaneça um mistério para o indivíduo porque
o apreender, para este indivíduo, só o é, na dimensão do eterno retorno (QUINTEIRO, 2014, p. 197).
O Saber Religioso
14 Estes elementos são características básicas para que haja o fenômeno religioso. O Saber religioso apropria-se de
um destes elementos do fenômeno religioso como fonte de conhecimento para o indivíduo; conhecer a Deus,
mediante uma prática espiritual e leituras dos textos sagrados, desencadeia discursos religioso criando, assim,
discursos teológicos ainda que frágeis diante da exegese e da hermenêutica bíblica.
15 Há uma tônica de que quem vive praticando o bem agrada a Deus, afasta-se do mal, e isso se faz com boas ações
em que o resultado sempre é a prosperidade econômica, a saúde física e mental. É crença de que a devolutiva
de Deus é infalível; esta justificativa se aproxima do pensamento de Agostinho (2006, p. 10-11), para quem Deus
é o Bem, o mal é a ausência Dele.
16 Entre os semelhantes, é cultivado para prática das sete virtudes cardeais as quais são: humildade, generosidade,
caridade, mansidão, castidade, temperança e diligência. Contrárias às virtudes cardeais, estão a prática dos
setes pecados capitais os quais são: a soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça (FÉLIX, 2010, [s.p]).
O Saber Filosófico
O Saber Popular
17 “A interdisciplinaridade [...] é compreendida como uma forma de trabalhar em sala de aula, na qual se propõe
um tema com abordagens em diferentes disciplinas. É compreender, entender as partes de ligação entre as dife-
rentes áreas de conhecimento, unindo-se para transpor algo inovador, abrir sabedorias, resgatar possibilidades
e ultrapassar o pensar fragmentado. [...] Conceber o processo de aprendizagem como propriedade do sujeito
implica valorizar o papel determinante da interação com o meio social e, parcialmente, com a escola. Situações
escolares de ensino e aprendizagem são situações comunicativas, nas quais os alunos e professores copartici-
pam, ambos com um influência decisiva para o êxito do processo” (BARROS, 2012, p. 3-4; 9).
18 Entende-se que as ciências são as disciplinas estudadas no espaço escolar as quais oferecem, ao educando, as
primeiras noções pesquisadas e comprovadas no campo da arte, das ciências, da educação física, do ensino
religioso, da geografia, da história, da língua estrangeira, da língua portuguesa e da matemática.
O Saber Científico
19 O ethos aqui é compreendido na dimensão conceitual weberiana, como um valor. Para Weber (2004), os valo-
res capitalistas vão influenciar as práticas religiosas protestantes à maneira racionalizada a seus ritos, mitos e
crenças. “O ethos de um povo é o tom, o caráter e a qualidade de sua vida, seu estilo moral e estético, e sua
disposição; é a atitude subjacente em relação a ele mesmo e ao seu mundo que a vida reflete.” (GEERTZ, 1989,
p. 92).
20 Os professores escolhem os novos livros didáticos que tem vida útil de 3 anos. A unidade de ensino, por ser uma
escola pública, recebe estas obras as quais “são referentes ao Programa do Livro Didático – PNLD adquiridas e
distribuídas para todo país, por intermédio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, após criteriosa
avaliação da Secretaria de Educação Básica, para que professores e estudantes contem com materiais de quali-
dade física e pedagógica (COTRIM, [s.p], 2014).
respondendo pela renovação das leis e teorias científicas, manutenção e surgimento das
novas ciências.
A construção das relações sociais do indivíduo, em seu modo de vida, ocorre entre
o público e o privado, construindo e reconstruindo a própria intimidade em um espaço
de consumo mediado pelas relações de consumo, quer seja bens simbólicos, quer seja
bens materiais, porém, saturados de significados25.
Essa oferta de produtos se encontra nos variados espaços em que o indivíduo vive
e convive e é levado a consumi-los em ambientes das suas relações sociais. E, dessa
forma, o que é privado se mistura com o que é público; “hoje o espaço íntimo se con-
verte numa espécie de cenário onde cada um deve montar o espetáculo da sua própria
personalidade” (SIBILIA, 2009 [s.p].
Vê-se que a sociabilização leva o indivíduo a buscar naturalmente vários caminhos
para se autoafirmar na sociedade. As imagens, vistas e projetadas na contemporanei-
dade, são mais virtuais do que reais; passam a compor a rotina entre as representações
do que se pode sustentar do que é sagrado e do que é profano26, prevendo resultados
imediatos para o seu benefício imediato, de forma que:
As representações coletivas atribuem muitas vezes às coisas às quais se refe-
rem propriedades que aí não existem sob nenhuma forma e em nenhum
grau. Do objeto vulgar, podem fazer um ser sagrado muito forte. Entretanto,
ainda que puramente ideais, os poderes que lhe são conferidos agem como
se fossem ideais; determinam a conduta do homem com a mesma necessi-
dade que as forças físicas (DURKHEIM, 1989, p. 284).
Nessa sociabilização, cria-se o que se tem valor para a vida individual e social e,
com forças expressivas, as pessoas, as coisas, até mesmo a escolha de uma profissão,
25 “O objeto é um ser que está permanecendo no mundo”. O indivíduo é o ser que se projeta nesse objeto. Nesta
relação objeto/sujeito sempre há significação; o objeto nunca é esgotado pelo indivíduo em suas interpretações
(QUINTEIRO, 2014, p. 38).
26 A ideia de sagrado e profano é sustentada na dimensão em que os espaços e neles a convivência com os seus
pares, autoridades, ritos e mitos, pessoas fazem parte da rotina do indivíduo.
passam a fazer parte de uma hierarquia de valores. O individual exige vivência de repre-
sentações sociais, ou seja, exige o envolvimento com o coletivo; ocorre-se assim o ápice
do processo de socialização do indivíduo. Nesse sentido, apoiando-se Durkheim (1989 p.
284-331), a vida social e a sociabilização só é possível ao indivíduo graças à disponibili-
dade do simbolismo, o qual é reinventado a cada instante, sob a formação da consciência
individual e coletiva, assim denominadas de forças ideais norteadora da vida em socie-
dade das pessoas.
Parada Literária
27 Cada sala (a escola-objeto possui 17 turmas, no Ensino Médio) elege um livro literário (clássico ou moderno) ou
tema inspirado em suas experiências a ser apresentado no dia da Parada Literária; decide-se o trecho da obra
que será contemplado e a linguagem artística para a referida apresentação.
28 Em 2019, foram apresentadas as seguintes obras: Cordel Encantado; Vida e Obra de Luís de Camões; O Pequeno
Príncipe; La llorona; Chapeuzinho Vermelho; Lisbela e o Prisioneiro; Auto da Compadecida; A Bela Adormecida;
Navio Negreiro; Romeu e Julieta; Mil Beijos de Garoto; Orgulho e Preconceito.
29 Temas eleitos em 2019: Cultura Goiana; Literatura de Cordel; Música de Luiz Gonzaga; Episódio do Chaves.
30 Considerando a obra escolhida, os alunos se organizam em equipes, sendo: 1) ornamentação do espaço físico;
2) elaboração de lembrancinha temática; 3) equipe de limpeza; 4) duas equipes para apresentação. Em cada
equipe de trabalho, há um líder que se relaciona diretamente com o professor orientador e com o grupo. Assim,
há uma estruturação de “governança” a fim de que todos produzam sua parte para o objetivo maior: apresenta-
ção do projeto.
durante o evento. Configura-se, dessa forma, a reconstrução dos saberes por meio de
projetos in loco.
Feira de Ciências
35 A metodologia do projeto Feira de Ciência se aproxima da que é utilizada na Parada Literária, mas de diverge por
mobilizar, durante o processo de organização, alunos com aptidões diferentes.
36 Os séries e turmas são divididas por disciplinas dentro da área do conhecimento Ciências da Natureza, isto é,
algumas turmas apresentam experiências dentro das especificidades dos componentes curriculares Química,
Física ou Biologia.
37 Em 2019, houve apresentação de experiências de Aquaponia (alunos expuseram hortaliças e outras ervas culti-
vadas a partir dessa técnica); Efeito Neon; Jogo de espelhos; Jogos interativos com pregos; Ponte sobre o amido
de milho; Descontaminação da água; Animais em extinção; Corpo Humano; Doenças Tropicais; Doenças sexual-
mente transmissíveis; Automedicação; Soltar foco pela boca (experiência com amido de milho), Vegetação do
cerrado brasileiro; Ervas medicinais.
38 Normalmente, são os regentes das disciplinas Química, Física ou Biologia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
39 Há uma reorganização dos espaços físicos da instituição. Cada sala de aula se transforma em um ambiente
ornamentado com o tema do experimento de forma que se torna um lugar acolhedor e, por si só, já estabeleça
diálogos temáticos com os visitantes.
40 O dito indica possibilidades de sentido que podem ser construídas no enunciado, que é de natureza polifônica,
pois conterá a matéria-prima utilizada para estabelecer outros enunciados (DUCROT, 1987 [s.p. ])
41 Destaque para uma experiência, realizada na Feira de 2019: ponte de amido de milho em que o participante
devesse passar rapidamente, sob pena de se afundar na substância.
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INTRODUÇÃO
1 Doutorando em Educação, pela Universidade de Brasília, campus Darcy Ribeiro. Pesquisa sobre Educação do
Campo e Desenvolvimento Territorial Rural. Email: angeloeafcpa@gmail.com
[ 1642 ]
A EDUCAÇÃO DO CAMPO E O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL 1643
do território dos seus educandos, que se coadune com a realidade histórica e sociocultu-
ral dos sujeitos coletivos do campo.
Nessa perspectiva, argumentamos que “só há sentido em se discutir uma proposta
educacional específica para as necessidades dos trabalhadores do campo se houver um
projeto novo de desenvolvimento para o campo, que seja parte de um projeto nacional”.
(ARROYO, et al., 2005, p. 13).
Silva (2014, p. 24) salienta que “o projeto pode ser conservador ou transformador
e, por isso, também contraditório entre formar para o mercado de trabalho ou para uma
perspectiva omnilateral.” Temos ciência de que, o projeto educacional assim como pode
favorecer e promover a libertação do ser humano, das amarras da ignorância e das som-
bras da escuridão, também pode, por outro lado, promover o seu aprisionamento, apro-
fundando o processo de estranhamento/alienação em que está submetido e vive.
O modelo de educação que defendemos traz em seu sentido e bojo princípios que
estão ligados diretamente ao respeito à vida; trata-se, pois, de um projeto de educação
em que se promova a construção de outro capítulo da história dos sujeitos coletivos do
campo, onde eles mesmos sejam os protagonistas desta história de lutas e sonhos, lágri-
mas e enfrentamentos, mas também de realização e materialidade, porque outro espaço
camponês é possível.
Este modelo por sua vez, pressupõe fazer-se uso dos princípios que fundamentam
tudo o que defende e propõe a Educação do Campo, fundada com base em uma educa-
ção pluricultural, onde a diversidade do conhecimento e dos saberes populares é consi-
derada tão importante quanto o conhecimento científico, para a produção de novos
conhecimentos; daí, que a Educação do Campo, pode vir a compreender o desenhar de
um novo paradigma, em que seu modelo busca alcançar a liberdade dos sujeitos.
Segundo Silva (2014).
2 Segundo Milton Santos, para o geógrafo Claude Raffestin não é possível assimilar paisagem e espaço, pois para
este pensador da geografia os dois conceitos são finalmente duas coisas muito distanciadas uma da outra,
encerrando dois signos que comunicam mensagens diferentes a uma mesma geoestrutura.
explicar-se por si mesmos. O espaço, segundo Santos (1996), constitui a matriz na qual
as novas ações substituem as ações passadas. É nele, portanto, presente, porque pas-
sado e futuro3.
Desta forma, a questão problema levantada nesse trabalho reflete sobre: Qual a
importância, ou não, da contribuição da Educação do Campo no processo de construção
de um desenvolvimento territorial rural, a partir das ações e reflexões dos sujeitos cole-
tivos do campo? O questionamento aqui apresentado parte da premissa de que a
Educação do Campo pode possibilitar, dentro de suas condições e realidades, no diálogo
com, a construção de uma formação humana e profissional, a partir da ação reflexão dos
princípios dos movimentos sociais camponeses; onde o campo possa ser compreendido
enquanto espaço de possibilidades, de construção de um novo território, fruto das rela-
ções sociais ensejadas pelos movimentos socioterritoriais, fazendo com que seus sujeitos
sintam-se e vejam-se enquanto agentes e construtores de sua própria historicidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
[...] os homens são seres de práxis. São do quefazer, diferentes, por isto
mesmo, dos animais, seres do puro fazer. Os animais não admiram o mundo.
Imergem nele. Os homens, pelo contrário, como seres do quefazer, emergem
dele e, objetivando-o, podem conhecê-lo e transformá-lo com seu trabalho.
(FREIRE, p. 143).
se dá somente com práxis, que por sua vez, deve incidir diretamente nas estruturas a
serem transformadas.
Daí que o projeto político-pedagógico da Educação do Campo precisa estar atento
para os processos produtivos que conformam, hoje, o ser trabalhador do campo, e parti-
cipar do debate sobre as alternativas de trabalho e opções de projetos de desenvolvi-
mentos locais e regionais que podem devolver dignidade para as famílias e as comunidades
camponesas. É assim, pois, que entendemos a possibilidade de transformação da reali-
dade, a partir do desenvolvimento territorial rural, construído e em construção pela via
da Educação do Campo, a partir de seus diálogos e suas resistências em construção.
Freire nos ensina que “o esforço revolucionário de transformação radical destas
estruturas não pode ter, na liderança, homens do quefazer e, nas massas oprimidas,
homens reduzidos ao puro fazer”. (FREIRE, p. 144. Grifos do autor).
Pensar isso do ponto de vista pedagógico mais amplo, enquanto processos de
humanização-desumanização dos sujeitos, e pensar como estes processos podem/devem
ser trabalhados nos diferentes espaços educativos do campo, deve permear as táticas e
estratégias de um novo processo educacional para a construção do modelo de desenvol-
vimento territorial rural viável aos sujeitos coletivos do campo.
Nessa perspectiva, a educação profissional do campo terá tanto mais lugar no pro-
jeto político e pedagógico da Educação do Campo se não se fechar em si mesma, vincu-
lando-se com outros espaços educativos e políticas de desenvolvimento no e do campo,
com a dinâmica social em que estão inseridos seus sujeitos. Deste modo, a educação pro-
fissional do campo irá cumprir com sua vocação universal de ajudar no processo de
humanização das pessoas, libertando-as como sujeitos do seu tempo histórico.
Nesse interim, pensamos que, a educação e o desenvolvimento, quando trabalha-
dos na perspectiva humana, constituem-se em territórios de suma importância para
assegurar aos sujeitos do campo o acesso à uma política de direitos. Desta forma, defen-
demos enquanto alternativa para assegurar esse direito, a construção da Educação do
Campo, e via seus princípios a produção de um projeto alternativo de desenvolvimento
territorial rural, que possibilite aos sujeitos do campo o alvorecer de sua garantia de vida,
com respeito e dignidade.
É urgente entender que, a Educação do Campo, constituída a partir da luta social,
da reflexão coletiva, de práticas educativas alternativas e de resistência da luta e da
construção da Reforma Agrária dos Movimentos Sociais do Campo, não é e nem se limita
à luta pela terra, mas também, luta pela educação, como parte de um projeto político e
social muito maior, um projeto de vida e de nação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É válido salientar que, ao longo da realização dos trabalhos desta pesquisa, com-
preendeu-se a importância que tem assumido o processo de constituição de um territó-
rio, em espacial aos sujeitos coletivos do campo, ou seja, dos movimentos socioespaciais
e socioterritoriais, para os quais implica permanentemente repensar o papel da educa-
ção aos homens e mulheres que vivem e se reproduzem na e da terra, bem como lutar e
ressignificar a luta por e para a efetivação de novas políticas que lhes venham ser bené-
ficas, porque inclusivas e participativas. Por outro lado, isso implica, sobretudo, na cons-
trução e definição de novas estratégias que sejam capazes de conciliar de forma integrada
os processos de educação e de desenvolvimento dos seus territórios.
Nesse sentido, torna-se necessário partir da compreensão de que a educação tem
função fundamental na formação da classe trabalhadora do campo e de seus filhos, vol-
tada à construção de um projeto de território que seja vivo e cada vez mais composto por
lugares e espaços de possibilidades e alternativas. Assim sendo, é imprescindível pensar
também, a Educação do Campo para o desenvolvimento do território rural, e para tal,
desta forma, é urgente e necessária iniciar a organização dos sujeitos coletivos do campo,
desde a educação básica até o nível superior, passando pela formação técnica-profissional
específica, como é caso da educação profissional do campo, necessária para a constru-
ção de outro desenvolvimento de projeto de vida e de campo.
Desta forma, pensamos que, o desenvolvimento territorial rural, produto da luta e
das ações reflexões dos movimentos sociais camponeses, apresenta enquanto estraté-
gias a defesa da Educação do Campo, logo, da luta pela Reforma Agrária, da luta pela
terra e território e dos movimentos socioterritoriais do campo. “Apreender, a partir da
materialidade da vida real, as relações entre os fenômenos e suas dimensões que ajudam
a compor e determinam seu movimento é aspecto de visão materialista e histórico-dialé-
tica do conhecimento”. (CALDART, 2017, p. 13). Ademais, compreendemos que os movi-
mentos sociais tem em seu projeto de Reforma Agrária um caráter eminentemente
popular, em que “a luta pela terra se junta com afirmação da agricultura camponesa e de
soberania alimentar, que por sua vez se juntam com a agroecologia e o trabalho campo-
nês associado”. (Idem).
Nestes termos, acreditamos que, “a construção de um projeto camponês de desen-
volvimento territorial para sua autonomia é fundamental para a melhoria da qualidade
de vida, pois há um aumento de sua capacidade de resistência” (FERNANDES, 2016,
p. 22).
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Pinheiro Cordeiro da; LIMONTA, Sandra Valéria (Orgs.). Formação de professores na perspectiva
crítica: resistência e utopia. Brasília-DF: Editora Universidade de Brasília, 2014, p. 11-28.
INTRODUÇÃO
1 Docente da Seduc-Go e Mestranda do PPEEB – Cepae – UFG. Pesquisa sobre Ensino de Leitura no Ensino Médio).
Guara.arss@gmail.com
2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica – Cepae, UFG, Campus Goiânia. Pes-
quisa sobre ensino de língua e sua funcionalidade, formação de professores de língua portuguesa entre outros.
Elisandra. Filetti@yahoo.com.br
[ 1654 ]
PRODUTO EDUCACIONAL SOBRE LEITURA SEGUNDO A CONCEPÇÃO FUNCIONALISTA DE LINGUAGEM 1655
das escolas estaduais goianas apresenta baixo desempenho em leitura, segundo ENEM e
SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica)3, mas principalmente, porque leitura
proficiente é fundamental para o cidadão contemporâneo. Assim, propõe-se a analisar
se as relações entre Matrizes de Habilidades e Competências do ENEM e o CR da Seduc-GO
de fato contribuem para a formação de leitores proficientes, e posteriormente, elaborar
um blog, como produto educacional.
Após estudo bibliográfico, foram elaboradas e desenvolvidas, com os estudantes
de uma escola estadual no bairro Cidade Livre, em Aparecida de Goiânia, sequências
didáticas de natureza funcionalista segundo Halliday (1974), Halliday e Hasan (1991),
Halliday e Matthiessen (2004) ;Duarte (2015) e Neves (2010, 2011, 2013), sobre leitura,
uma vez que a leitura permeia todo o processo de ensino-aprendizagem escolar, e é
usada para estabelecer relação entre os conhecimentos socialmente produzidos. A for-
mação de leitores mais eficientes não é relevante apenas para a realização de avaliações
em larga escala, mas principalmente para situações cotidianas em sociedade.
Desde o início da colonização do Brasil (século XVI), a educação nunca foi uma prio-
ridade da maioria dos governantes brasileiros. Até 1980, apenas a decodificação de gra-
femas era suficiente para atender aos interesses do capital econômico, mas
posteriormente, segundo Geraldi (2015), o sistema educacional nacional passou por
várias transformações, foram três leis de diretrizes, os parâmetros curriculares e mais
recentemente, a Base Nacional Curricular Comum todas visando melhorar a qualidade
do ensino ministrado nas escolas. Desse modo, implantam novas propostas de avaliação,
sem considerar as condições físicas e materiais das escolas ou opiniões dos professores,
que, geralmente, não são consultados sobre as possibilidades de mudanças no ensino de
Língua Portuguesa na educação básica brasileira, que mesmo com contribuições das pes-
quisas linguísticas comuns nos cursos de Letras, ainda se caracteriza por uma prática
marcada pelo ensino de gramática normativa, com um viés prescritivo, predominando
uma concepção de língua, na qual segmentos como Fonologia, Morfologia e Sintaxe são
estudados em palavras e frases isoladas, como Neves (2001), constatou em estudo reali-
zado na capital paulista, na década de noventa do século XX.
3 http://portal.inep. gov.br/educacao-basica/saeb/resultados.
No final desse século, também ampliaram as vagas nas escolas públicas que abriga-
ram os filhos das classes trabalhadoras, de modo que a heterogeneidade social e linguís-
tica passou a circular no ambiente escolar. Todavia, os conteúdos curriculares de Língua
Portuguesa ainda a valorizavam a arte do bem falar, conforme os conceitos da Retórica e
da gramática tradicional, e do bem escrever, de acordo com os modelos clássicos dos
cânones literários. Contudo, a partir de 1990, os Parâmetros Curriculares Nacionais reco-
nhecem a importância da leitura para a formação do jovem cidadão e concebem a lin-
guagem como parte da sociedade que a produz, com todas as implicações histórico-sociais
e não um produto acabado. Portanto, a leitura é produzida no processo de interação
entre leitor, texto e autor, no qual os conhecimentos e os contextos de produção (socio-
culturais, históricos e econômicos) convergem para produzir diferentes sentidos.
Nesse contexto, o ensino de Língua Portuguesa tornou-se uma prioridade, pois era
visto como gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria
interioridade (PCN, 1999, p. 33), ou seja, o exercício da cidadania pressupõe o desenvol-
vimento de habilidades de leitura e de escrita, pois dessa maneira os estudantes seriam
pessoas mais críticas e autônomas. Sendo assim, as aulas de Língua Portuguesa deveriam
considerar o uso real e contextualizado da linguagem, pois, segundo Neves (2002), tudo
na língua se explica de acordo com a comunicação que se produz, e os componentes fun-
damentais do significado são os componentes funcionais. Para Antunes (2002, p. 80), “o
ensino de língua deve desenvolver competências linguísticas e discursivas com atividade
sociointeracional valorizando as dimensões cultural e política das interações verbais”.
LEITURA
ENEM
VIES FUNCIONALISTA
PRODUTO EDUCACIONAL
Inicialmente, os blogs serviam para apresentar novos sites que surgiam no mundo
cibernético, buscados conforme áreas de interesses específicas do internauta, e se pro-
pagaram com rapidez por não exigirem muitos conhecimentos técnicos. O blog também
tem a vantagem de poder ser atualizado de modo datado, deixando registradas situações
peculiares de quem o produz ou de quem interage, de acordo com suas concepções ideo-
lógicas, sendo uma ferramenta bastante útil para identificar posições acerca de um tema,
a interlocução dos usuários e sua capacidade de argumentação.
No caso específico do blog com a sequência didática funcionalista será possível oti-
mizar o tempo dos educadores da rede pública estadual goiana, que possuem carga
horária de trabalho extensa. E, geralmente, alegam falta de tempo para realizar cursos
de formação continuada. Assim, por meio do blog, será possível os educadores dialogar
sobre possibilidades de uso de outras estratégias de ensino de leitura.
Outros aspectos pedagógicos do blog são: possiblidade de interação autor/ texto/lei-
tor, por meio do espaço para os comentários, o livro de visitas e os murais virtuais, que
rompem as barreiras do espaço-tempo entre a tríade citada anteriormente. Agora, o leitor
pode exercer seu papel de coautor, apresentando quase que imediatamente seu ponto de
vista sobre o texto lido, ampliando sua compreensão, e levando o autor a repensar suas
E de acordo com essa concepção que se propõe, o blog com a sequência didática
funcionalista, visando a interação entre os professores de Língua Portuguesa do Ensino
Médio, espera-se que haja a participação ativa para a criação de um espaço de reflexão
sobre o ensino de leitura numa visão funcionalista da linguagem, superando a visão meca-
nicista que está sendo imposta nas escolas. Assim, o blog será também uma ferramenta de
resistência política e de ressignificação da prática docente. Esses aspectos serão observa-
dos com a finalização da atual pesquisa que se estenderá ainda por dois anos, após a con-
clusão de meu mestrado, estando ligada ao projeto de pesquisa coordenado pela Profa.
Dra. Elisandra Filetti Moura (PPGEEB/CEPAE/UFG), que trata da abordagem funcionalista
no ensino de língua portuguesa na educação básica, do qual sou participante.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fonte: https://guaraarss.wixsite.com/clikdeleitura.
Aguardo as contribuições dos colegas professores para que seja criado um grupo
de estudo funcionalista na modalidade a distância.
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
[ 1666 ]
A TERTÚLIA LITERÁRIA DIALÓGICA COM CRIANÇAS E ADULTOS E A PRÁTICA DOCENTE 1667
Os diálogos, a partir desta concepção, servem para chegar em acordos e não para
impor opiniões com base em posição de poder, daí a sua denominação como diálogo igua-
litário. Com essa mesma lógica, é que a inteligência cultural é discutida. A inteligência,
nesse contexto, vai além daquela acadêmica ou obtida em testes de QI7 e abrange uma
pluralidade de dimensões da interação humana: inteligência académica, inteligência prá-
tica e inteligência comunicativa (FLECHA, 1997). Por esse motivo, “a ‘inteligência’ é um
potencial cognitivo: é moldável, aprende-se, transforma-se e desenvolve-se em função das
oportunidades criadas em cada contexto social e cultural” (AUBERT et al., 2016, p. 145).
7 O primeiro teste de inteligência foi criado por Alfred Binet em 1905, então diretor do laboratório de psicologia
da Sorbonne, por solicitação do Ministério da Educação da França. Ele elaborou um instrumento que consistia
de um conjunto de tarefas breves, relacionadas aos problemas da vida quotidiana, que, supostamente, implica-
vam certos procedimentos racionais básicos, para identificar crianças que necessitariam de educação diferen-
ciada. Binet, no entanto, defendia que a inteligência era por demais complexa para ser expressa por um único
número (QI) e negou-se não apenas a qualificar o QI como inteligência inata, como também a considerá-lo um
recurso geral para a hierarquização de alunos, segundo seu valor intelectual, chegando mesmo a prever a pos-
sibilidade do mau uso de suas escalas de inteligência. Essa profecia se concretizou após a sua morte, em 1911,
quando suas instruções foram distorcidas pelos hereditaristas americanos, que logo transformaram sua escala
em um formulário aplicado de forma rotineira a todas as crianças, para classifica-las segundo seu QI inato.(CAR-
RAHER, 1989; GOULD, 1991 apud MAIA e FONSECA, 2002).
alcança a ação” (p. 185), ela busca o sucesso escolar de todos e todas. Apontando o com-
promisso que os professores devem ter, afirma:
Se a aprendizagem dialógica pretende superar as desigualdades sociais, a
solidariedade deve ser um de seus elementos fundamentais. Dinâmicas e
comportamentos solidários questionam a raiz do individualismo imposto
pelo dinheiro e pelo poder. A comunidade educacional deve responder à
colonização do mundo da vida da escola realizada pelos sistemas de poder e
dinheiro, e isso deve ser feito a partir de uma perspectiva solidária [...] uma
educação solidária tem de oferecer aprendizagens máximas e da melhor qua-
lidade a todos os e as estudantes, independentemente de quais sejam suas
diferenças. (p. 184).
Para que as diferenças sejam respeitadas e para que não haja exclusão, temos o
princípio da igualdade de diferenças. Não basta reconhecer as diferenças para que auto-
maticamente se produza mais igualdade, é necessário que todas as pessoas sejam incluí-
das e suas vozes sejam ouvidas. A orientação em busca de objetivos igualitários é o
caminho para uma educação mais democrática e que visa diminuir a desigualdade social.
Para a aprendizagem dialógica o que deve ser feito nas escolas é”valorizar as dife-
renças ao mesmo tempo em que as abordamos com igualdade. Nesse caso, quando a
diversidade é tratada de forma igualitária, é convertida, então, em um fator indispensá-
vel para a aprendizagem na sociedade da informação”. (AUBERT et al., 2016, p. 192).
A Tertúlia Literária Dialógica começou a ser desenvolvida em escolas da rede
pública de Goiânia em 2014, com o projeto Comunidades de Aprendizagem em
Goiânia-GO: Possibilidade de Inovação Na Formação Docente e de Melhoria da
Aprendizagem na Educação Básica, uma parceria entre duas escolas municipais e a
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Mesmo com o encerramento
do projeto em 2016, as escolas mantiveram a parceria com a universidade e continuaram
com algumas atuações.
Foi por meio da tertúlia que alguns dos professores dessas escolas tiveram a oportu-
nidade de entrar em contato com a literatura clássica e trabalhar com ela em sala de aula.
A tertúlia é um meio pelo qual os clássicos, caracterizados pela humanização e atemporali-
dade, alcançam pessoas que não têm acesso à essas obras, promovendo uma ruptura com
o elitismo cultural, à medida que elas vão se inserindo na cultura letrada. Esta atividade
educativa abre espaço para se trabalhar a leitura para além da decodificação, para a cons-
trução de novas leituras da realidade, pois parte da interação com o texto e contexto dos
participantes, bem como suas experiências de vida. Partem de leituras do seu mundo
Essa metodologia vem sendo desenvolvida pelo CREA há mais de 10 anos e é reco-
nhecida em âmbito internacional por centros de investigação renomados no campo da
pesquisa, como a Universidade de Harvard, devido ao impacto sócio-político que ela traz
para a transformação da sociedade. (GÓMEZ et al., 2006). No Brasil, vem sendo empre-
gada pelo NIASE desde 20029.
Como o objetivo chave é a transformação da realidade social, a metodologia comu-
nicativa coloca especial ênfase nas interações que tem lugar a vida social, centrando-se
nas dimensões sociais que provocam a exclusão e naquelas que levam à inclusão. “Daí
que se vincule à utilidade social e defenda uma ciência social democrática que não seja
somente patrimônio de especialistas” (GÓMEZ et al., 2006, p. 13). As metodologias que
se baseiam no conhecimento da realidade social, segundo os mesmos autores, devem
responder às questões: “Como a conhecemos? De que maneira deve-se atuar para des-
cobri-la, construí-la, transformá-la ou acordá-la?” (p. 17) Cada teoria social vai responder
de maneira diferente, de acordo com suas proposições e sua maneira de ver o mundo
social. O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi próprio dessa metodologia e
foi criado pelos pesquisadores do CREA:
• Relato comunicativo com as professoras das turmas: o objetivo foi conversar
sobre a compreensão da professora de sua realidade e suas interpretações do
cotidiano da turma. “[...] esta técnica se centra fundamentalmente no debate
sobre a construção do mundo da vida cotidiana do sujeito, já que o mundo social
tem uma peculiar estrutura de sentido e relevância para todas as pessoas, que
vivem e nele atuam” (CREA, 1998, p. 73).
Neste trabalho, apresentamos e discutimos dois relatos comunicativos de profes-
soras que realizaram a Tertúlia Literária Dialógica no ano de 2018 em escolas públicas de
Goiânia. Uma delas é professora de uma turma de 4º ano do Ensino Fundamental e a
outra é professora de uma turma de Educação de Adolescentes, Jovens e Adultos. Os
relatos fazem parte de duas pesquisas de mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Educação da UFG.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Elementos transformadores
Relato comunicativo com a professora do Ensino Relato com a professora da EAJA
Fundamental
A TLD potencializa a dimensão instrumental. Avanço na leitura e escrita dos alunos adultos.
Ressignificação da sua prática a partir da atuação Superação das barreiras: medo e constrangi-
da TLD. mento na leitura, compartilhamento de expe-
riências e comentários.
Contribuição da TLD para o desenvolvimento da A TLD oportuniza o surgimento de conteúdos
leitura para as crianças. interdisciplinares para a ampliação do
conhecimento.
Os princípios da aprendizagem dialógica não Compreensão da importância dos princípios
servem apenas para o momento da TLD – são dialógicos e aplicação na TLD.
vivenciados no restante da aula.
Fonte: realizado pelas pesquisadoras.
Flecha (1997) ressalta, a esse respeito, que a tertúlia literária dialógica oportuniza
o que o autor chama de confiança interativa, isto é, um clima de confiança gerado pela
A TLD é uma atuação que propõe essa aproximação dos sujeitos com a produção
literária da humanidade tida como de maior valor (a literatura clássica), considerando
que qualquer pessoa, mesmo aquelas em fase inicial de escolarização são capazes de
interpretar o lido e relacioná-lo com o seu mundo, o seu contexto, o seu cotidiano, con-
tribuindo para uma interpretação mais ampla de todos os participantes. Por ser livro
eterno que nunca sai de moda, como afirma Machado (2009), as obras consideradas
cânones tem esse poder de ainda serem atuais, “se revelam novos, inesperados, inédi-
tos” (CALVINO, 1993, p. 12). Quando os sujeitos conseguem relacionar aquela história da
obra lida com a sua própria eles estão reafirmando o valor do livro clássico.
Essa luta também é do professor progressista que deve ajudar o educando no pro-
cesso de aprendizagem para que ele perceba que estudar é tão sério quanto prazeroso
(FREIRE, 2006). Por isso, Freire (2011) discute sobre curiosidade epistemológica e rigoro-
sidade metódica, tão importantes para a construção do conhecimento: “[...] quanto mais
criticamente se exerça a capacidade de aprender, tanto mais se constrói e desenvolve o
que venho chamando ‘curiosidade epistemológica’, sem a qual não alcançamos o conhe-
cimento cabal do objeto” (p. 26-27). Essa discussão é tão importante quanto a dimensão
instrumental da aprendizagem, o princípio em que o acesso ao conhecimento sistemati-
zado não é desprezado. Flecha (1997) afirma que:
[...] o dialógico não se opõe ao instrumental, mas sim à colonização tecnocrá-
tica da aprendizagem. É dizer, evita que os objetivos e procedimentos sejam
Elementos Exclusores
Relato comunicativo com a professora do Ensino Relato com a professora da EAJA
Fundamental
Pequena quantidade de livros clássicos disponí- Dificuldade de os alunos adultos lerem previa-
veis na escola. mente em casa
Nunca ter realizado outra atividade de literatura Pequena quantidade de livros clássicos voltados
na escola. para adultos (os disponíveis são voltados para o
público infanto-juvenil)
A literatura sempre fez parte da vida pessoal e
docente, mas não trabalhava na dimensão
dialógica, não conhecia os princípios da aprendi-
zagem dialógica.
Fonte: realizado pelas pesquisadoras.
Quando o estudante não tem a oportunidade de fazer uma leitura prévia da obra
escolhida, a compreensão da leitura e a possibilidade de aprendizagem podem ser afeta-
das, uma vez que não se garante de forma efetiva a interação subjetiva entre pessoa e
texto. Esse é um desafio maior para os estudantes jovens e adultos porque suas ativida-
des geralmente não se restringem à escola somente e isso deve ser um ponto a ser obser-
vado pela professora.
Antes da TLD ter sido apresentada para a escola, a professora do Ensino Fundamental
disse que nunca tinha realizado atividade de literatura com seus alunos nessa instituição.
Foi um elemento apontado como exclusor pelo pouco conhecimento sobre literatura,
mas a professora se mostrou disposta e instigada a desenvolver a atuação.
Enquanto estudante minha relação com a literatura foi péssima! Enquanto
professora sempre procurei e procuro levar a literatura como algo leve, pra-
zerosa, significativa e muitas vezes divertida. Mas considero um salto na
minha formação pessoal e profissional a experiência com Tertúlia. A partir do
momento que conheci a Tertúlia houve uma ressignificação da literatura na
minha prática. (Professora – entrevista).
[...] de que sei algo e de que ignoro algo a que se junta a certeza de que posso
saber melhor o que já sei e conhecer o que ainda não sei. Minha segurança se
alicerça no saber confirmado pela própria experiência de que, se minha
inconclusão, de que sou consciente, atesta, de um lado, minha ignorância,
me abre, de outro, o caminho para conhecer. (p. 132).
Desse modo, Freire (2011) nos mostra que os professores também estão em cons-
tante processo de aprendizado e que a Tertúlia Literária Dialógica é uma atuação que
possibilita relações mais dialógicas em sala de aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
elementos transformadores pelos relatos das professoras e cinco (5) elementos excluso-
res. Acreditamos que é importante ressaltar que os elementos exclusores apontados não
são em relação à atividade em si, mas fazem referências aos desafios e dificuldades para
uma boa realização da tertúlia.
O trabalho evidenciou aspectos positivos ao se trabalhar com a Tertúlia Literária
em sala de aula, tanto com crianças quanto com adultos. Além de aprendizagens de con-
teúdos escolares, percebemos por meio das falas das professoras que a atuação desen-
volve valores solidários e dialógicos. Concluímos que devemos lutar por relações mais
dialógicas nas escolas e que a tertúlia é uma oportunidade para isso, por meio da inser-
ção da literatura em sala de aula.
REFERÊNCIAS
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outra escola é possível. São Carlos: EdUSCar, 2012.
INTRODUÇÃO
1 Aluna do PPGE/FE-UFG, 15ª Turma de Doutorado. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância e
sua Educação em Diferentes Contextos (NEPIEC/FE-UFG). Professora do Departamento de Educação Infantil do
CEPAE/UFG. Email:ana-rogeria-aguiar@hotmail.com
2 Professora do PPGE/FE-UFG. Dra. em Educação. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância e
sua Educação em Diferentes Contextos (NEPIEC/FE-UFG).Email:ivonegbarbosa.ufg@gmail.com
[ 1681 ]
1682 Ana Rogéria de Aguiar; Ivone Garcia Barbosa
Com relação aos estudos sobre as palavras, Vygostky (idem) destaca a relação
entre pensar e falar. Segundo o autor, as palavras possuem elementos históricos que
caracterizam diferentes sujeitos e objetos. A palavra, dessa ótica vygotskyana, é o instru-
mento mais importante do pensamento e, ainda, como destacaram Barbosa (1997) e
Aguiar (2004), as palavras contêm conceitos. Seus sentidos e significados são construídos
a partir das diferentes vivências.
O desenvolvimento infantil relacionado ao desenvolvimento da linguagem foi um
aspecto investigado por Vygotsky (2003). Em seus estudos sobre as funções psíquicas,
ele afirmou que ensino, aprendizagem e desenvolvimento são processos inter-relaciona-
dos. A aprendizagem antecipa-se ao desenvolvimento e o impulsiona, suscitando novas
dinâmicas quanto às relações interfuncionais das funções psíquicas – percepção, aten-
ção, memória, pensamento, linguagem – que estão mais ou menos estruturadas por dife-
rentes mediações ou em formação. Por essa razão, as instituições educativas se tornam
essenciais na constituição do conhecimento, pois podem trazer algo novo no desenvolvi-
mento daquelas funções, à medida que pressupõe desafios para as crianças, dispondo e
colocando à disposição problematizações e dados explicativos sobre a realidade que a
circundam e seus determinantes.
As obras dos autores russos e de alguns de seus estudiosos brasileiros nos instigam
a buscar compreender o desenvolvimento infantil analisando as interações que aconte-
cem entre crianças, até porque esses momentos são consideravelmente ricos em lingua-
gem. Em seus trabalhos, Vygotski (2001a, 2001b, 1996) e Luria (2017, 2013, 1987, 1979)
procuraram desvendar o caminho o qual os conceitos científicos e espontâneos
Sabe-se, a partir do referencial teórico apresentado, que os conceitos não podem ser
decorados já que, como explicou Barbosa (1997, 2019), os conceitos são vivos e se formam
no processo de apropriação da criança e o estabelecimento de diferentes elos do objeto
que está sendo conhecido. Relacionamos, então, o processo de formação de conceitos ao
processo de tomada de consciência, também estudado por Vygotsky (2001b).
Quando o conceito já está elaborado, pode ser expresso por meio da palavra, ins-
trumento da linguagem já abstraído pela criança. Os conceitos se constituem no pro-
cesso de aprendizagem infantil e têm grande contribuição no desenvolvimento do
pensamento, principalmente no caso dos conceitos científicos. A formação de conceitos
científicos começa no momento em que a criança assimila um novo significado, ou seja,
o desenvolvimento do significado das palavras está subordinado e ao desenvolvimento
dos conceitos científicos e espontâneos.
No que diz respeito à linguagem escrita o autor nos provocou pensar sobre a traje-
tória que a criança percorre para dominar os signos culturais e historicamente construí-
dos e que não serão apropriados sem que se compreenda o seu significado. Segundo o
autor, é necessário ampliar o universo cultural da criança, mais que ensinar mecanica-
mente a grafar letras. Assim afirma Vygotsky (2015, p. 1)3
A criança é ensinada a traçar as letras e a formar palavras com elas, mas não
se lhe ensina a linguagem escrita. O mecanismo da leitura é enfatizado a tal
ponto que a linguagem escrita, como tal, fica esquecida, razão pela qual o
ensino do mecanismo da escrita e da leitura prevalece sobre a utilização
racional desse mecanismo. (VYGOTSKY, 2015, p. 1).).
3 Texto traduzido por Suely Amaral Mello e Regina Aparecida Marques de Souza.. Digitação do espanhol para o
português, acadêmicas Jeanne Karla Lima Fernandes e Mariana Cristina Moreira Santos.
Por sua função psicológica, o desenho infantil é uma linguagem gráfica pecu-
liar, um relato gráfico sobre algo. A técnica do desenho infantil demonstra,
sem dúvida, que, na verdade, se trata de um relato gráfico, ou seja, uma lin-
guagem escrita peculiar. (VYGOTSKY, idem, p. 13).
Diferente da escrita, esta fase da linguagem é, além disso, simbólica em pri-
meiro grau. A criança não representa as palavras, mas os objetos e as repre-
sentações de tais objetos. No entanto, o próprio desenvolvimento do
desenho infantil não é algo que se compreenda por si só, algo que se origine
de maneira puramente mecânica. Há nele seu momento crítico, quando se
passa do simples rabisco de lápis em papel à utilização de suas marcas como
sinais que representam ou significam algo. (idem, p. 14).
Já no que diz respeito à brincadeira e ao brinquedo, Vygotsky afirma que estes são
utilizados pelas crianças durante atividades de brincar, de forma intencional e organi-
zada, articulando diferentes linguagens que poderão ser compreendidas pelo “outro” a
partir de relações concretas e significativas do cotidiano. Estas vivências contribuem no
processo de constituição da linguagem escrita a medida que possibilitam o desenvolvi-
mento das funções psíquicas e a organização do pensamento e da linguagem.
Luria (1986) nos apresenta elementos importantes que colaboram neste debate,
pois considera o percurso da história da linguagem, denominado por ele por história da
emancipação da palavra. De acordo com o autor, a criança faz uso das palavras em diver-
sos contextos, passando de uma estrutura simpráxica para uma estrutura sinsemântica.
Deste modo, a observação da ontogênese facilita-nos fatos complementares
que permitem considerar que a palavra nasce de um contexto simpráxico,
separando-se progressivamente da prática, e converte-se em um signo autô-
nomo, que designa um objeto, uma ação ou uma qualidade (e mais adiante
uma relação). É neste momento que ocorre o verdadeiro nascimento da pala-
vra diferenciada como elemento do complexo sistema de códigos da língua
(LURIA, 1986, p. 31).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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aprendizagem. São Paulo: Ícone/ Editora da Universidade de São Paulo, 1988c.
INTRODUÇÃO
Neste artigo busca-se entender as reais conquistas ou ainda os desafios para a edu-
cação oferecida ao povo do campo, passando pela legislação e a dimensão do financia-
mento. Nossos estudos têm indicado que a condução de muitas ações voltadas para a
educação rural considera apenas os aspectos geográficos, ou seja, entende a educação
nos espaços rurais em contraposição à educação urbana. Esta condução e interpretação
acabam por idealizar uma educação “no” campo, em um determinado lugar.
A educação que considera as especificidades dos sujeitos que são partes integran-
tes deste processo vai para além das questões geográficas. Neste sentido, referimo-nos
à educação “do” campo, ou seja, para o povo do campo. Assim, ora utilizaremos esta
contração e, ao final deste artigo, esperamos ter superado esta dualidade de expressões
que carregam diferentes significados.
1 Doutorando e Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, professor efetivo da Rede
Municipal e Estadual de Educação do Estado de Goiás.
2 Doutora em Educação pela PUC Goiás, professora no Programa de Pós Graduação e Pesquisa em Educação da
PUC Goiás.
[ 1692 ]
EDUCAÇÃO “NO” OU “DO” CAMPO 1693
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante toda a vida, homens e mulheres com o intuito de compreender sua iden-
tidade recorrem à história de seus antepassados. Compreender o hoje em função do
ontem não é uma tarefa fácil, principalmente quando esta busca está associada a longos
períodos. Os primeiros obstáculos surgem pela falta de documentos oficiais que descre-
vem esse processo sobre ângulos opostos.
A preocupação em preservar a memória de nossa história por séculos foi desconsi-
derada, ocasionando dificuldades e incertezas para aqueles que procuram reconstruí-la.
Desta forma, objetivando compreender as políticas públicas educacionais atuais para a
“educação do/no campo: processo de urbanização”, recorremos as 7 (sete) legislações
brasileiras: As Constituições Federais de 1824; 1891; 1934; 1937; 1946; 1967 e 1988 e as
Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nºs 4.024/61, 5.692/71 e 9.394/96.
A primeira Carta Magna do Brasil sela definitivamente o processo de separação
entre os dois países: Brasil e Portugal. O texto tem traços de um liberalismo moderador
com predominância no fortalecimento do poder pessoal do imperador.
Documento legal importantíssimo da época esboça um projeto político para o
Brasil com vários dispositivos. No entanto, para a educação, o texto da primeira
Constituição, referendada em 25 de março de 1824, traz dois dispositivos, apenas os inci-
sos XXXII e XXXIII do art.179. Um deles assegurava a gratuidade da instrução primária e o
outro se referia à criação de instituições de ensino nos termos do disposto a seguir:
Art.179. A inviolabilidade dos Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos Brasileiros,
que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é
garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte:
[...]
XXXII. A instrução primária é gratuita a todos os Cidadãos.
XXXIII. Colégios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das
Sciencias, Bellas Letras e Artes (BRASIL, 1824).
Considerando que uma minoria da população tinha acesso à “instrução”, termo uti-
lizado à época no texto da carta para tratar da questão da educação, não é difícil concluir
que para o povo do meio rural o acesso a esse serviço dificilmente seria efetivado.
A Constituição de 1891 – primeira Constituição da República – também não faz
menção à educação rural. Mais uma vez o povo que reside no meio rural é esquecido ou,
em outras palavras, impedido do direito à educação. No entanto, avanços aconteceram
em relação ao ensino. No artigo 72, parágrafos 6° e 24°, respectivamente, fica garantida
a laicidade e a liberdade do ensino nas escolas públicas.
A fixação do homem no ambiente rural era do interesse dos grandes latifundiários, como
também a pouca importância que se dava à educação para estes trabalhadores.
Diante do exposto, fica nítido até esse momento da história do Brasil, que a educa-
ção para o povo residente no meio rural sequer foi mencionada. O fato pode ser com-
preendido, visto que a elite dominava tanto o poder político quanto as riquezas do país.
Pela análise dos documentos oficiais, o Estado brasileiro abarca uma dívida impagável
com o povo do meio rural diante do tratamento dado à educação.
No Brasil, todas as constituições contemplaram a educação escolar, mere-
cendo especial destaque a abrangência do tratamento que foi dado ao tema
a partir de 1934. Até então, em que pese o Brasil ter sido considerado um
país de origem eminentemente agrária, a educação rural não foi sequer men-
cionada nos textos constitucionais de 1824 e 1891, evidenciando-se, de um
lado, o descaso dos dirigentes com a educação do campo e, do outro, os res-
quícios de matrizes culturais vinculadas a uma economia agrária apoiada no
latifúndio e no trabalho escravo. (MEC/PARECER Nº 36/2001. p. 3).
De acordo com o texto, é nítida a fragilidade do sistema, porém, com avanços sig-
nificativos. O atendimento escolar na zona rural está sob a responsabilidade da União e
passa a contar, nos termos da legislação vigente, com recursos vinculados à sua manu-
tenção e desenvolvimento. O importante a destacar é que naquele momento, ao contrá-
rio do que se observa posteriormente, a situação rural não é integrada como forma de
trabalho, mas aponta para a participação nos direitos sociais. A interpretação do novo
texto pode, no entanto, estar ligada a um conjunto de intencionalidades, uma vez que o
Pelo texto do artigo fica evidente que a proposta educacional, no geral, tem um
olhar especial para formação de mão de obra para as indústrias. As turbulências da época
ocasionadas pela Revolução de 1930 favoreceram essas transformações, respaldadas
pelo governo de Getúlio Vargas, que direcionou a implantação de mudanças significati-
vas no plano das políticas internas, afastando do poder do Estado, oligarquias as quais
representavam os interesses agrário-comerciais.
Amparado nestas mudanças, o governo Getulista opta por uma política industriali-
zada com uma proposta de substituição de mão de obra imigrante pela nacional, que é
favorecida pelo êxodo rural, ocasionado pela decadência cafeeira. Todo esse movimento
de urbanização da cidade e fortalecimento da indústria, que requer um trabalhador mais
Sob a égide da ditadura é promulgada em 1967, uma nova Constituição que tinha
como proposta a tentativa de garantir acesso gratuito à educação (ensino primário) aos
filhos dos empregados, obrigando as empresas convencionais agrícolas e industriais a
oferecerem a eles esta modalidade de ensino (BRASIL, 2002).
As décadas de 1960 e 1970 são marcadas pela continuação do desenvolvimento de
programas para a educação no meio rural, entre os quais aqueles que se apoiavam na
utilização do método pensado por Paulo Freire. Estes programas contribuíram para dar
um ponto final à oposição cidade-campo, principal alvo do ruralismo pedagógico na luta
ideológica, por estabelecerem um vínculo entre desenvolvimento e educação (CALAZANS,
1993, p. 33-34).
É oportuno ressaltar que no campo legal específico da educação, a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (LDB) de 1961 (Lei nº 4.024/61) revelava uma preocupação especial
em promover a educação nas áreas rurais para frear a onda migratória que levava um
grande contingente populacional do campo para as cidades. Já a LDB de 1971 (Lei nº
5.692/71), outorgada em pleno Regime Militar, fortaleceu a ascendência dos meios de
produção sobre a educação escolar, colocando como função central da escola a forma-
ção para o mercado de trabalho em detrimento da formação geral do indivíduo. A edu-
cação para as regiões rurais foi alvo dessa mesma compreensão utilitarista ao ser
colocada a serviço da produção agrícola. (BRASIL, 1971).
Essa afirmação pode ser claramente observada no Artigo 11, § 2º, a saber: “Na
zona rural, o estabelecimento poderá organizar os períodos letivos, com prescrição de
férias nas épocas do plantio e colheita de safras, conforme plano aprovado pela com-
petente autoridade de ensino” (BRASIL, 1971). No entendimento do artigo fica clara a
preocupação em manter um calendário de férias que não prejudicasse financeiramente
os donos de terras. A educação para eles não estava associada à emancipação dos seus
empregados e, sim, com a qualificação de mão de obra prestada pelos estudantes e
suas famílias.
Um dado importante a considerar diz respeito à formação de professores para
atuar no meio rural que não foi contemplada na Lei 5.692/71. O artigo 29 da referida Lei
propõe orientações para que essa formação estivesse de acordo com as diferenças cul-
turais de cada região do País. Levando em consideração que o meio rural apresenta dife-
renças atípicas, evidentemente, a formação dos professores deveria ser diferenciada;
entretanto, a Lei não trouxe especificações claras nesse sentido.
No capítulo VI da Lei 5.692/71 encontram-se dois artigos que tratam do financia-
mento: os de número 49 e 51, respectivamente, fazem referência à responsabilidade das
empresas e dos proprietários de terra. Fica evidente o descompromisso do poder público
com a educação para esse povo, pois a responsabilidade é exclusivamente das empresas
e proprietários de terra. A Lei evidencia bem o período histórico da época. Vejamos o
texto dos artigos:
Artigo 49. As empresas e os proprietários rurais, que não puderem manter
em suas glebas ensino para os seus empregados e os filhos destes, são obri-
gados [...] a facilitar-lhes a frequência à escola mais próxima ou a propiciar a
instalação e o funcionamento de escolas gratuitas em suas propriedades.
[...]
Artigo 51. Os sistemas de ensino atuarão junto às empresas de qualquer
natureza, urbanas ou agrícolas, que tenham empregados residentes em suas
dependências, no sentido de que instalem e mantenham, conforme dispuser
o respectivo sistema e dentro das peculiaridades locais, receptores de rádio
e televisão educativos para o seu pessoal (BRASIL, LEI 5.692/1971).
O curioso é que o artigo 28 da Lei 9.394/96 ao tratar das diretrizes para a educação
rural propõe leves mudanças para as escolas rurais, isso se comparado aos artigos 26 e
27 da Lei supracitada. A ênfase é dada às necessidades e interesses da zona rural, como
a adequação do calendário escolar junto com os eventos climáticos e ciclos agrícolas de
cada região, o que possibilitaria um estudo mais agradável e motivador às crianças, pois,
assim, seus estudos teriam relação direta com o seu meio.
A evolução mais evidente está no parágrafo único do artigo 28, que direciona as
propostas de fechamento de unidades escolares somente depois de ouvidas todas as ins-
tâncias interessadas. Exemplo de democracia e de lutas dos movimentos sociais, pois
esta alteração só ocorreu em 2014, 18 anos após a promulgação da LDB 9.394/96. Vale
destacar que embora a legislação estabeleça inovações e adequações, sozinha não tem
força para sua materialização, uma vez que o país tem em suas raízes resquícios de uma
sociedade classista, na qual os interesses individuais sobrepõem os interesses coletivos.
As políticas para a educação, que se materializam no arcabouço legal, dão passos
maiores em 2001, quando foi promulgado o Plano Nacional de Educação (Lei nº
10.172/2001), o qual, embora estabeleça entre suas diretrizes o “tratamento diferen-
ciado para a escola rural”, recomenda numa clara alusão ao modelo urbano, a organi-
zação do ensino em séries, a extinção progressiva das escolas multisseriadas e a
universalização do transporte escolar. Observe-se que o legislador atentou-se mais na
inadequação da infraestrutura física e a necessidade de formação docente especiali-
zada exigida por essa estratégia de ensino. Vejamos o texto da Lei 10.172/2001 que
trata desta temática:
transportar alunos para a cidade ou para escolas núcleos, levando grande parte dos
municípios brasileiros a transportar os alunos para a cidade.
Com uma abordagem diferente da Lei nº 10.172/2001, o Decreto Presidencial bra-
sileiro nº 7.352 de 04 de novembro de 2010 também estabelece mudanças quanto ao
tratamento da educação para o povo do campo. Baseia-se em 5 (cinco) princípios, que
são importantes e evidenciam o campo das suas articulações contra hegemônicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que a ausência de legislação parece não ser mais o indicador de pro-
blemas para a Educação do campo no Brasil. Os princípios estabelecidos na Constituição
Federal de 1998, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, de 1996), Lei nº
13.005, de 25 de junho de 2014, Resoluções do CNE/CEB e o Decreto 7.352/2010 estão
promovendo novas possibilidades e direcionamentos diante das formas que deverão
se organizar as escolas do campo, tanto no que tange seus princípios pedagógicos e
metodológicos como os da gestão democrática, promovendo assim relação de parceria
com a comunidade.
Contrapondo a esse pensamento, é perceptível o distanciamento entre aquilo
que está previsto ou estabelecido na legislação e a realidade da educação para as
comunidades rurais (o real distante do legal). As escolas que ainda resistem no meio
rural são relegadas ao esquecimento, sem o mínimo de condições de um atendimento
digno aos seus educandos.
Pelas leituras foi possível constatar dois pontos fundamentais: o primeiro, não há
educação do campo e sim educação no campo; o segundo, “urbanizou-se” a educação no
campo, mas não com mesmas oportunidades.
A discussão então, não resume somente, em construção e manutenção de esco-
las no campo. É preciso ter escolas no campo sim, mas com bases sólidas amparadas
em políticas públicas que garantam esse direito que foi negado por toda a história bra-
sileira. Uma educação que não seja extensão daquela oferecida na cidade, mas aquela
que tenha uma proposta de educação para o campo, onde seus profissionais estejam
ali por opção, não por obrigação ou punição. Um lugar que possa desenvolver projetos
de interesse da comunidade, onde o seu financiamento não tenha a finalidade do lucro
ou promoção política.
Enfim, uma educação do campo que seja capaz de garantir o desenvolvimento social
e econômico de forma igualitária a esse povo, que até então, é desprovido desse direito.
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histórica. 3. ed. Brasília: Liber Livro Editora, 2011.
INTRODUÇÃO
1 Coordenadora Pedagógica do CEI Presbiteriana Renovada Central em Anápolis – Goiás – Doutoranda em Educa-
ção – PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS – 2019 – E-mail:sarahhluz@yahoo.com.br
[ 1708 ]
A APRENDIZAGEM POR MEIO DAS INTERAÇÕES E BRINCADEIRAS NO CONTEXTO DA BNCC 1709
Contudo, ainda são muito significativas as dificuldades que existem para a educa-
ção da criança pequena tanto em termos qualitativos quanto quantitativos, em âmbito
nacional, estadual e municipal.
Historicamente as concepções de infância, direitos das crianças e educação infantil
foram modificando-se com o passar dos anos. Com as mudanças econômicas, políticas,
sociais e culturais ocorridas na sociedade, foram implantando políticas públicas para a
infância, de acordo com as esferas de atuação governamental, como assistência social,
saúde e a educação.
Com base no exposto, o objetivo deste estudo é saber qual a importância das inte-
rações e brincadeiras na Educação Infantil e como elas contribuem para a aquisição da
aprendizagem para as crianças no espaço educacional.
A metodologia aplicada englobará um estudo bibliográfico, documental, descritivo.
Fundamentado nos seguintes autores: Kuhlmann Jr (1998), Oliveira (1995), Vygotsky
(2007), MEC (2017).
O presente estudo está dividido em três partes: Os marcos legais que embasam as
novas diretrizes: Base Nacional Comum Curricular; Documentos Curriculares para Goiás;
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil; O processo de Aprendizagem
por Vygotsky; Relatos de experiências e as Considerações Finais.
De acordo com Nascimento et al. (2017), toda a evolução ocorrida nas últimas
décadas, visando melhorias na Educação Infantil, contribuiu para definir uma política
nacional que resguarda o direito das crianças e se preocupa também com a preparação
de profissionais para essa atuação. Desse modo é possível compreender alguns aspetos
da Educação Infantil.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017, vem reforçar a con-
cepção da criança como protagonista e institui os cinco Campos de Experiência e objeti-
vos de aprendizagem baseados nos seis Direitos de Aprendizagem.
O Documento Curricular para Goiás (DCGO), foi elaborado coletivamente, com o
objetivo de estudar a BNCC para construir os currículos goianos a partir dessa ação. Esse
estudo ainda está em plena atividade, estendido agora para vários municípios goianos,
visando uma unificação no estado que tenha como resultado a melhoria do ensino.
Com a BNCC aprovada, os trabalhos nos Estados e municípios se intensifica-
ram ainda mais, sempre com o apoio do MEC. Nessa etapa o processo passa
a ter foco na implementação dela e em todos os passos que devem ser segui-
dos para que ela chegue às salas de aula de forma efetiva. (GOIAS, 2018, p. 7).
São grandes os desafios à vista, porque ainda falta muito para que o currículo da
Educação Infantil para Anápolis Goiás esteja pronto, mas é importante ressaltar que o
trabalho já está acontecendo e há práticas maravilhosas que estão em vigência e que
vale a pena conferir.
Aqui é possível elaborar estratégias pedagógicas para que a criança possa evoluir
no aprendizado. Esta é a zona cooperativa do conhecimento. O mediador ajuda a criança
a concretizar o desenvolvimento que está próximo, ou seja, ajuda a transformar o desen-
volvimento potencial em desenvolvimento real.
O brinquedo é um mundo imaginário onde a criança pode realizar seus desejos. O
ato de brincar é uma importante fonte de promoção de desenvolvimento, sendo muito
valorizadas na zona proximal, neste caso em especial as brincadeiras de ‘faz de conta’.
Sendo estas atividades utilizadas, em geral, na Educação Infantil fase que as crianças
aprendem a falar (após os três anos de idade), e são capazes de envolver-se numa situa-
ção imaginária.
Através do imaginário a criança estabelece regras do cotidiano real.
Relatos de experiências
Além da interação com adultos, a interação com outras crianças é muito rica em
possibilidades de aprendizagem, proporcionando à criança vivências que permitem se
identificar com as outras crianças. Um exemplo disso poderia ser dado quando uma
criança menor, que ainda não tem conceitos formados sobre as brincadeiras de roda,
entra em contato com crianças maiores, que já tem esse conceito formado.
A figura 2, confirma que o brincar permite, ainda, aprender a lidar com as emoções.
Pelo brincar, a criança equilibra as tensões provenientes de seu mundo cultural, cons-
truindo sua individualidade, sua marca pessoal e sua personalidade, bem como a impor-
tância da interação social para a construção do indivíduo (OLIVEIRA, 2012).
A criança, ao nascer já manifesta a necessidade de aprender. Ela passa, então, a
explorar o mundo que a cerca, até encontrar as primeiras barreiras. Diante dos obstácu-
los, a criança começa a construir as estruturas de pensamentos. Assim, no ato de brincar,
a criança está tendo a oportunidade de desenvolver-se integralmente.
Ela experimenta, descobre, inventa e confere suas habilidades. Brincar é indispensá-
vel à saúde física, emocional e intelectual da criança. É um ato natural que, quando bem
cultivado, contribuirá futuramente para a eficiência e equilíbrio do adulto (DCNEB, 2013).
Vygotsky, mostrou em seus estudos que as brincadeiras infantis mostram o cami-
nho para a recuperação da inteligência criativa, adormecida ou bloqueada pela compul-
siva interferência adulta. Uma interferência que acaba orientando a criança para
atividades que reprimem sua fantasia, seus pensamentos, e a busca por respostas e reso-
luções para os seus problemas.
A figura 3, apresenta a imagem, onde a criança vivência essa situação com as outras
crianças e, internaliza em sua mente, assim em um determinado momento ela irá imitar
o que presenciou. Desta forma a criança aprende tudo, sendo coisas boas ou ruins, pois
ainda não tem capacidade de discernir o certo e o errado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebeu-se com este estudo que as interações e brincadeiras são muito impor-
tantes para a aprendizagem das crianças nesta fase de Educação Infantil. Os documentos
atuais afirmam em uníssono que a criança deve ser respeitada como criança, e aprender
brincando, faz parte do processo, devendo ser estimulado por pais e professores.
Todos os documentos da educação infantil analisados, das Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), apontam que a aprendiza-
gem ocorre por meio das interações e brincadeiras, garantindo os direitos já
estabelecidos.
A BNCC instituiu os eixos estruturantes da educação infantil, onde devem ser asse-
gurados seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento:
Na primeira etapa da Educação Básica, e de acordo com os eixos estruturan-
tes da Educação Infantil (interações e brincadeiras), devem ser assegurados
seis direitos de Aprendizagem e desenvolvimento, para que as crianças
tenham condições de aprender e se desenvolver. São eles: Conviver, Brincar,
Participar, Explorar, Expressar, Conhecer-se (BRASIL, 2017, p. 25).
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INTRODUÇÃO
1 Mestre pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás, campus samam-
baia (tema principal da pesquisa: história da educação infantil) polianacm1@gmail.com
2 Professora doutora pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, campus samambaia (tema
principal da pesquisa: história da educação infantil) ssc444@gmail.com
3 Kuhlmann Jr. relata que durante a idade média a pobreza era vista sob um ângulo religioso, que ora a tratava
como um voto sagrado, ora como uma desgraça a ser suportada. Aos ricos cabia a obrigação de aliviar a misé-
ria alheia pela caridade. No século XVIII se percebe uma mudança na concepção de pobreza, que já estava em
grande parte secularizada. Nesse sentido, cabia a sociedade e ao Estado medidas para minimizar a pobreza.
Assim, criara-se leis e “instituições sociais nas áreas da saúde pública, do direito de família, das relações de
trabalho, da educação. […] São iniciativas que expressam uma concepção assistencial a que denominamos assis-
tência científica – por se sustentar na fé, no progresso e na ciência característica daquela época” (KUHLMANN
JR., 2001, p. 60). Nos arriscamos a afirmar que era uma concepção que tratava a assistência de forma racional.
[ 1719 ]
1720 Poliana Carvalho Martins; Sônia Santana Costa
Kuhlmann Jr.(1998) relata que a creche não era difundida de forma ampla e irres-
trita no Brasil. Antes, era um “mal necessário”, pois expunha as contradições da socie-
dade do final do século XIX e início do século XX. Ela era necessária para colaborar e
conciliar a contradição entre o papel materno defendido (de “esposa do lar” e as condi-
ções de vida da mulher pobre e trabalhadora que era compelida a trabalhar fora para
garantir o sustento da família.
Nesse sentido autor acrescenta ainda que a maternidade e o trabalho feminino
compõem esse quadro de forças, mas que é a constituição da sociedade capitalista com
a urbanização e a organização do trabalho industrial que são determinantes nesse pro-
cesso, embora não conforme a história dessas instituições de modo linear.
O autor critica uma visão etapista da história da educação infantil que toma como
concepção uma evolução linear: primeiro a fase médica, seguida pela assistencial e tendo
como ápice a fase educacional, entendida como superior em oposição aos outros aspec-
tos. Entretanto, o desenvolvimento das instituições de educação infantil não escapa tão
facilmente às condições estabelecidas pela sociedade.
Dando um salto temporal, apontamos um marco relevante no cenário social é a
promulgação da LDB 4024/61, que pela primeira vez incluía os jardins de infância no sis-
tema educacional brasileiro.
Nesse contexto Raupp (2004) relata que os primórdios do movimento por creches
universitárias estão inseridos no movimento mais amplo de luta por creches na década
de 1970 que foi incorporado pelos movimentos sociais, “pelas mulheres trabalhadoras,
feministas, empregadas de empresas públicas e privadas e pelos sindicatos, que reivindi-
cavam o atendimento à criança na faixa etária de 0 a 6 anos” (RAUPP, 2004, p. 201). Ela
ressalta que:
Foi nesse contexto de reivindicações dos movimentos sociais com a vigência
de dispositivos legais que as creches passaram a ser uma luta de comunida-
des universitárias como um direito de assistência à criança na ausência da
mãe, um período, segundo Rosemberg (1989), caracterizado pela multiplica-
ção de novas formas de luta por creche: é a organização de empregados de
empresas públicas e privadas que levanta dados sobre necessidades, elabora
projetos, avalia custos, forma (RAUPP, 2004, p. 202).
Além das necessidades trabalhistas, Raupp (2004) também avalia que o fato de a
educação infantil se transformar em uma das habilitações mais populares na pedagogia,
premiu as universidades a terem campos de estágio e observações nas Unidades
Universitárias de Educação Infantil. A proximidade com a vida universitária, mais a
diversificação de funções que as UUEIs vão desenvolvendo (por ex. ser campo de estágio),
acaba por influenciar sua função e identidade como veremos mais adiante neste trabalho.
Raupp (2004) segue explicando que a grande expansão das creches nas universida-
des acontece de 1980 a 1992, com a criação de 15 unidades. Ela cita que das 52 Instituições
Federais de Ensino Superior (IFES) 19 instalaram 26 creches. Ou seja, em algumas universi-
dades foram criadas mais de uma unidade. A autora destaca a em 33 instituições há ausên-
cia de creches, e que outras IFES detem mais de uma desses espaços educacionais.
Neste momento histórico já estamos adentrando a década de 1990, momento, que
conforme nos relata Didonet (2007) se inaugura um tempo profícuo e efervescente em
idéias, pesquisas, experimentos e legislação no campo da Educação Infantil. Foi também
o momento em que a educação infantil realmente alcançou expressão nacional, seja pela
demanda, seja pela oferta. Neste momento houve intensas lutas para a passagem das
creches e pré-escolas do sistema de assistência para o sistema educacional, e o autor res-
salta que isso não aconteceu de forma “natural”:
Falo em embates porque o espaço que a educação infantil ocupa hoje na
legislação e na política educacional brasileira não resulta de uma evolução
natural dos sistemas de ensino. É conquista de uma ação persistente, de
sólida argumentação, com intensa mobilização e pressão social. Seu avanço
tem dependido, também, de hábil negociação com a área econômica e com
setores educacionais e etapas de ensino resistentes e temerosas de terem de
partilhar recursos financeiros escassos. (DIDONET, 2007, p. 45).
O autor continua fazendo um apanhado dos marcos importantes nos últimos trinta
anos. Inicialmente, cita o Movimento Nacional Criança e Constituinte, organizado em
1986, visando elaborar uma proposta para a Assembléia Nacional Constituinte (ANC) na
área da infância. Esse movimento contou com mais de 600 organizações governamentais
e não governamentais engajadas nesse processo de luta pelos direitos das crianças desde
o nascimento até os dezoito anos. Neste contexto a educação infantil foi enfocada como
estando articulada aos demais direitos. Um dos fatos mais importantes foi que as pro-
postas do Movimento foram aceitas na íntegra, resultando no inciso XXXV do art. 7º, no
inciso VI do art. 30, em parte do art. 208 e no art. 227 da Constituição Federal. O art. 227
foi a maior vitória, pois colocou os direitos da criança e do adolescente como caráter de
prioridade absoluta.
Entre os resultados desse Movimento que marcaram a trajetória da educa-
ção infantil podemos destacar: (a) a educação infantil passou a ser direito da
criança; (b) a educação infantil vai do nascimento aos seis anos de idade; (c)
O autor prossegue destacando que, apesar da LDB considerar faixas etárias dife-
rentes para a creche e para a pré-escola, propõe que ambas tenham as mesmas atribui-
ções: cuidar e educar. Sendo esse binômio o conceito que vai proporcionar a integração
da creche e da pré-escola.
Didonet (2007) destaca ainda a atuação das organizações sociais, especialmente a
OMEP/Brasil (Comitê Nacional Brasileiro da Organização Mundial para a Educação Pré-
escolar) e o MIEIB (Movimento Interfóruns de Educação Infantil no Brasil) que vem
cobrando do Estado e da Sociedade a responsabilidade na atenção integral à criança. E
ressalta que tanto os congressos, seminários, fóruns e encontros, e a produção acadê-
mica têm buscado elaborar teorias e práticas que versam sobre a educação das crianças
até cinco anos de idade.
Raupp (2004) corrobora esta última afirmação ao relatar que as UUEIs têm se arti-
culado e discutido suas questões em vários fóruns da área, a saber: I Encontro Nacional
de Coordenadores de Creches Universitárias, outubro de 1987, Florianópolis; Seminário
Financiamento de Políticas Públicas para Crianças de 0a 6 anos, outubro de 1987, São
Paulo; II Simpósio Nacional de Educação Infantil e IV Simpósio Latino-Americano de aten-
ção Integral à Criança, novembro de 1996, Brasília; Seminário Internacional da Organização
Mundial da Educação Pré-Escolar/OMEP, julho de 2000, Rio de janeiro; I Seminário de
Creches em Universidades Paulistas: as Creches Públicas nas Universidades Paulistas –
em busca de um significado, setembro de 2000.
Nos anos que se seguiram à LDB foram publicados três documentos nacionais
que explicitam as diferentes concepções de educação infantil em disputa. São eles: Os
Subsídios para Credenciamento e Funcionamento das Instituições de Educação Infantil
(1998)4; os Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil5 (1998) e as
4 Este documento visava orientar e regular a inserção das instituições de educação infantil nos Sistemas de Ensino,
bem como os submetem aos conselhos de educação.
5 Visa estabelecer referências de um currículo para a educação infantil, devido a sua massiva distribuição tornou-
-se praticamente a grande referência entre os professores.
Apesar do discurso impactante, as políticas geradas sob essa agenda acabam por
implementar um atendimento de baixa qualidade que produz novos processos de exclu-
são, pois são políticas focais destinadas ao alívio da pobreza. No entendimento da autora
(e nosso) são propostas políticas de uma educação pobre para pobres, que só retroali-
menta o sistema que é excludente (CANAVIEIRA, 2012).
Ao discutir as políticas para a primeira infância nos governos Lula (2003-2010)
Canavieira (2012) problematiza essas políticas e contextualiza seu processo de constru-
ção que abarcou contribuições de movimentos sociais, dos intelectuais da área e organis-
mos multilaterais. A autora ressalta que a elaboração dos documentos legais desse
período foi fruto de uma intensa “batalha de idéias”, pois os sujeitos que participaram
desse processo possuíam diferentes posições e concepções sobre o campo da educação
infantil. Neste contexto, o cenário analisado parecia estar sempre em movimento, com
construções e desconstruções, avanços e retrocessos, em constante movimento. A
autora descreve sua pesquisa como “tentar desenhar um mapa em meio ao terremoto”
(CANAVIEIRA, 2012, p. 7).
Para alcançar seu intento, a autora analisou o contexto de elaboração dos seguin-
tes documentos neste período histórico: Orientações sobre convênios entre secretarias
municipais de educação e instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem
6 Diferente dos referenciais, as diretrizes se propõem a oferecer princípios orientadores para que cada sistema/
rede/instituição desenvolva seu currículo respeitando a realidade local.
fins lucrativos para a oferta de educação infantil (BRASIL, 2009a) Indicadores de Qualidade
na Educação Infantil (BRASIL, 2009b); Projeto de Cooperação Técnica para construção de
Orientação Curricular (BRASILIA, 2009c) e as Novas Diretrizes Curriculares para Educação
Infantil (BRASIL, 2009). Após a análise, a autora observou a preferência do Governo
Federal na expansão da educação infantil por convênios, por ser a forma mais barata.
Prosseguindo, a mesma ressalta que a construção de políticas públicas em um
governo que se diz de esquerda (em que pesem todas as contradições enfrentadas por
este), procurou conciliar diferentes posições quanto a concepção de educação da
pequena infância, mas acabou por impor seus posicionamentos. Entretanto, ela ainda
considera esse processo como democrático visto que:
[...] a elaboração dos marcos regulatório, com a presença de pesquisadores
que se fundamentam em diferentes aportes teóricos, tem se constituído como
parte da identidade desta etapa da educação, mas ainda tem sido um ensaio
muito incipiente de democratização e da tentativa de construir uma educação
infantil crítica e emancipatória – contra o ideário dos organismos multilaterais
de homogeneização da infância pobre[...] (CANAVIEIRA, 2012, p. 11).
Costa (2007) relata que em 2004 o governo federal propôs o Ensino Fundamental
de 9 anos através do documento “Ensino Fundamental de nove anos – Orientações gerais
(BRASIL, 2004) que foi publicado pela Secretaria de Educação Básica (SEB), do
Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental (DPE) e da
Coordenação Geral do Ensino Fundamental (COEF). Posteriormente essa proposta se
transformou na Lei nº 11.114 de 16 de maio de 2005. Essa ação governamental já estava
prevista na Lei nº 10.172/2001, que instituiu o Plano Nacional de Educação e estabeleceu
“a implantação progressiva do ensino fundamental de nove anos, com a inclusão das
crianças de seis anos” (BRASIL, 2004, p. 14).
O governo justifica essa medida como desejável pedagogicamente por proporcio-
nar mais tempo de escolarização obrigatória para as crianças, para dessa forma, evitar a
repetência. Entretanto, Costa (2007) ressalta que a legislação citada traz em seu bojo
uma contradição, pois se por um lado, aumenta o tempo de permanência no ensino fun-
damental, de outro, a retira antecipadamente da Educação Infantil, etapa da Educação
Básica que se preocupa historicamente com as especificidades da criança dessa faixa etá-
ria segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil (1999).
A autora afirma que o Governo supõe superar essa contradição estabelecendo
uma série de orientações visando resguardar os direitos da criança: recomenda que esse
Por fim, Costa (2007) destaca que mesmo com esses avanços nos dispositivos
legais, em nosso país as leis não traduzem nas necessárias mudanças na realidade. Ainda
como parte deste cenário em constante movimento temos a lei 12.796 de 4 de abril de
2013 que modifica a LDB e estabelece a educação básica como sendo obrigatória dos
quatro aos dezessete anos, obrigando aos pais de crianças de 4 anos a matriculá-las no
sistema de ensino. Também institui que a Educação Infantil receberá crianças de zero a
cinco anos, sendo que as de zero a três deve freqüentar a creche e as de quatro e cinco
anos a pré-escola.
Além disso, a legislação citada acrescenta novas regulamentações a essa etapa da
educação que não tinha sido realizada antes: prescreve a carga horária de 800 horas por
ano, distribuídas em 200 dias letivos, propõe que o turno parcial deva ter no mínimo qua-
tro horas e as integrais sete horas, a freqüência mínima exigida é de 60 % e a instituição
deve expedir documento que relate o processo de desenvolvimento e aprendizagem das
crianças de quatro e cinco anos.
Outro documento que engendra políticas públicas educacionais é a Base Nacional
Comum Curricular – BNCC, que foi primeiro apontada pela Constituição Federal Brasileira
(BRASIL, 1988), que em seu artigo 210 demandou que o estabelecimento dos conteúdos
mínimos para o Ensino Fundamental quando buscou assegurar formação comum a todos
os educandos do sistema educacional. Mais tarde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação,
a LDB, dispôs que:
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do
ensino médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada,
em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma
parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da socie-
dade, da cultura, da economia e dos educandos (BRASIL, 2017, p. 19).
intuito de criar uma unidade curricular, e foram elaborados entre os anos de 1997 e
2000. No âmbito da Educação Infantil foram apresentados os Referenciais Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (RCNEIS). Esses referenciais tiveram um impacto nas
instituições visto que foram amplamente divulgados e tiveram versões impressas distri-
buídas por todo o país. Inúmeras críticas foram tecidas a esse documento, tanto pela
forma antidemocrática como foi construído (FARIA E PALHARES, 1993; CERISARA, 1999),
desconsiderando o debate da área, como por seu teor e apontam-se diversas restrições
a esse documento.
Considera-se esse primeiro momento como um esforço para criar o embrião da
BNCC, que seria um desdobramento destes parâmetros com maior detalhamento.
Entretanto, seguindo a ordem cronológica, o esforço do MEC se dirige para o debate
sobre as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil em dois momentos: em 1999 e
em 2009.
Lopes e Sobral (2014) chamam a atenção para a elaboração desse último docu-
mento, afirmam que foi encomendado a Sônia Kramer pelo Conselho Nacional de
Educação um trabalho que deveria considerar as produções, recomendações e ações já
efetivadas no âmbito do Programa Currículo em Movimento, o documento “Subsídios
para Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. Diretrizes Curriculares
Nacionais Específicas para a Educação Infantil” (KRAMER, 2009), que deveria ser o texto
referência para elaboração das novas Diretrizes. Entre outras definições, esses subsídios
apontam que:
As propostas pedagógicas das instituições de educação infantil devem res-
peitar o direito das crianças à apropriação e construção dos conhecimentos e
a ampliação do universo cultural, considerando o currículo como conjunto de
experiências culturais onde se articulam saberes da experiência, da prática,
fruto das vivências das crianças e conhecimentos que fazem parte do patri-
mônio cultural, na perspectiva da formação humana (KRAMER, 2009, pp. 23).
A linguagem e a brincadeira são definidas, nesse documento, como elemen-
tos articuladores entre os saberes e os conhecimentos que, por sua vez, são
apresentados em eixos organizadores das experiências de aprendizagem...
(LOPES E SOBRAL, 2014).
planejar as singularidades dos bebês e das crianças das demais faixas etárias. Para Lopes
e Sobral (2014) os bebês praticamente não aparecem na Resolução Nº 5 de 17 de dezem-
bro de 2009 (BRASIL, 2009), o que leva aos professores e demais profissionais das insti-
tuições a ficarem sem orientações específicas. As autoras também consideram que as
diretrizes da Resolução Nº 5/2009 propõe um currículo orientado por campos de expe-
riência e afirmam:
Entendemos que um currículo por experiência se ancora, principalmente, nas
teorizações de Dewey (2002) em textos publicados desde 1902, por exemplo,
A criança e o currículo, e considera que as experiências são plurais, globais e
se relacionam aos contextos da vida cotidiana, não podendo ser confundidas,
inclusive, com projetos de trabalho. No entanto, defendemos que para um
professor planejar situações e intervenções envolvendo experiências, ele
precisa de conhecimento aprofundado sobre os conteúdos ou objetos de
aprendizagem e de seus processos de produção e transformação em áreas
específicas de estudo ou campos disciplinares (LOPES E SOBRAL, 2014, p. 97).
dos testes estandardizados. Além disso, essa Base parte de uma falácia, pois o currí-
culo unificado não é garantia de democratização de aprendizagens. Percebe-se que o
grande impeditivo para os estudantes brasileiros consolidarem suas aprendizagens não
está na falta de elementos curriculares mínimos (exaustivamente divulgados pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais e pelo Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil ambos de 1998), mas nas desiguais condições socioeconômicas que
determinam a qualidade das aprendizagens. Portanto, sem estabelecer uma articula-
ção entre a política educacional e efetivas políticas de combate e erradicação da
pobreza, bem como uma melhor distribuição de renda no país, vai-se sempre comba-
ter os “efeitos dos déficits de aprendizagem”, nunca suas causas. Esse processo acaba
por levar a uma busca por culpados, e o que vemos mais comumente é a responsabili-
zação dos professores pelo fracasso dos estudantes.
Uma ressalva necessita ser feita no caráter do documento, diz respeito ao nivela-
mento da educação que será feito pelo padrão mínimo. Freitas (1995) alerta que, ape-
sar de se tratar de um documento normativo, a Base pode ser utilizada para padronizar
a educação oferecida nas escolas públicas, favorecendo a centralização e o controle
sobre a ação de professores e gestores, deslocando o centro das decisões do nível local
para as salas dos tecnocratas da educação. Por fim, a padronização da educação serve
à lógica de formar subjetividades em conformidade com uma única visão de mundo.
Por mais que haja espaço para o “currículo diversificado”, nossa experiência com os
RCNEIs (para citar a experiência da educação infantil) nos mostra que os documentos
oficiais, quando estabelecidos nesses moldes, acabam por se tornar mandatários
quando chegam às escolas.
No tocante à parte específica da educação Infantil na BNCC, questionamos a esco-
lha teórica dos campos de experiência. Por que importar um modelo de educação estran-
geiro frente à capacidade de produção científica em educação que nosso país já possui?
Há um grande esforço teórico, por parte dos intelectuais brasileiros que estudam a infân-
cia, de elaborar uma pedagogia que seja adequada às singularidades da criança pequena,
em diversas áreas do conhecimento. Para citar duas grandes tentativas de sistematiza-
ção do ensino nesta etapa da educação básica menciono a pedagogia histórico-crítica (já
adotada como referencial curricular em algumas cidades do Brasil como Bauru/SP e
Cascavel/PR) e a pedagogia da infância (base da proposta curricular de Goiânia). Do ponto
de vista conceitual, observa-se na BNCC que há uma imprecisão de termos deliberada,
que pode gerar um ecletismo teórico e comprometer a materialização do documento no
cotidiano da escola. Além disso, uma leitura desatenta ou pouco fundamentada dos
campos de experiência pode levar os professores a crer que se tratam das áreas dos
RCNEIs com nova roupagem.
A conjuntura recente exposta neste trabalho inspira cuidados. As tendências em
expandir a educação infantil por salas em escolas mais a ambiguidade de orientações
deixada pela BNCC podem gerar retrocessos para nossas crianças, reforçando a visão da
educação infantil como preparação do ensino fundamental, concepção já criticada que a
área vem despendendo grandes esforços para superar. Nesse cenário, mais do que nunca,
os professores devem se instrumentalizar para conseguirem reelaborar os documentos
oficiais em suas práticas pedagógicas e nas discussões das políticas públicas, e assim con-
tribuindo para que a educação infantil não retroceda, e sim continue ampliando sua con-
cepção de criança como sujeito de direitos.
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INTRODUÇÃO
[ 1737 ]
1738 Viviane Carrijo Volnei Pereira
conquistas que o diferencia e o singulariza diante de outros tantos grupos. A autora ainda
afirma que as vivências no ciclo de carreira profissional são decisivas para mudar o curso
de vida pessoal e, também para o desenvolvimento do trabalho docente no espaço em
que o professor se insere.
Acrescentamos ainda que nesse contexto de inserção do professor alfabetizador
no Ciclo de Alfabetização e dos processos formativos do ciclo de vida profissional, temos
um lugar de identidade individual que se produz num grupo, forjando uma identidade
coletivizada, com sentidos, valores, particularidades que se localizam especificamente
neste grupo, se produz e é produzido de acordo com a relação material que se projeta no
dia a dia da construção história sobre ele.
Para Huberman (1992, p. 38), o desenvolvimento de uma carreira é, assim, um pro-
cesso e não uma série de acontecimentos. Para alguns, esse processo pode parecer
linear, mas, para outros, há patamares, regressões, becos sem saída, momentos de arran-
que, descontinuidades. Nesse contexto, buscamos compreender os processos formati-
vos do ciclo de vida profissional do professor alfabetizador da rede pública de ensino do
Distrito Federal; bem como a particularidade, sua “práxis” pedagógica na alfabetização.
Monografia/
Bases de pesquisa Tese Dissertação Artigo Painel
tcc
SCIELO - - - - -
IBCIT, CAPES, 3 3 - - -
BCE-UnB
ANPAE 2006-2019 - - - - -
ANPED 2006-2019 - - - 1 -
GOOGLE - - - 2 -
ACADÊMICO
ENDIPE 2006-2019 - - - - 1
EDUCERE 2006-2019 - - - 2 -
RELEPE 2006-2019 - - - - -
Redestrado - - - - -
2006-2019
Revistas - - - 6 -
A1, A2, B1, B2, B3
TOTAL 3 3 - 11 1
Fonte: Base de dados pesquisados entre abril-julho de 2019.
Narrativa autobiográfica - 1 4 - 5
Grupo focal - - 1 - 1
Fonte: Base de dados pesquisados entre abril-julho de 2019.
ESTADO DO CONHECIMENTO:
OLHARES SOBRE O CICLO DE VIDA PROFISSIONAL
iniciais da educação básica, em escolas da rede pública de ensino de Curitiba? Nesse con-
texto, toma como base o ciclo de vida profissional de Huberman (1992) e também outros
referenciais, como, Marcelo García (1999), Mizukami (1986), Libâneo (1999), Saviani
(1991; 2012), Martins (2008), Palácios (1980) e Veiga (2011).
A referida pesquisa desenvolveu-se numa abordagem qualitativa, tendo como ins-
trumentos de coleta de dados a observação e a entrevista semiestruturada, realizadas
com sete professoras concursadas e regentes em turmas dos anos iniciais de duas esco-
las municipais da Educação Básica da rede pública de ensino de Curitiba; buscando, assim,
caracterizar a prática pedagógica de professores em diferentes momentos da carreira
docente dos anos iniciais da educação básica; explicitar a orientação teórica metodoló-
gica que está na base dessas práticas pedagógicas e relacionar as práticas pedagógicas
dos professores às características do ciclo de sua vida profissional.
O estudo revelou que (i) as práticas pedagógicas das professoras em todas as fases
da carreira docente se caracterizam pela utilização de diferentes materiais didáticos,
aulas bastante criativas e posturas carregadas de comprometimento com a profissão; (ii)
as professoras criaram uma forma de organização de trabalho dividindo a elaboração dos
planos de aulas entre elas por disciplina, numa atitude de colaboração e troca de expe-
riências; (iii) a orientação teórico-metodológica expressa nas práticas pedagógicas das
professoras estão predominantemente baseadas na abordagem da escola nova, porém,
algumas apresentam traços e influências de outras abordagens; (iv) as primeiras fases do
ciclo de vida profissional do professor apresentam semelhanças às características apre-
sentadas por Huberman, porém, as práticas pedagógicas nas fases finais, revelam contra-
dições com as características das respectivas fases apresentadas pelo autor.
Quanto à terceira dissertação “Razões que mobilizam o exercício docente nos anos
iniciais da Educação Básica” (PITTA, 2018), destacamos que o estudo buscou caracterizar
as razões que mobilizam professores, atuantes nos anos iniciais da Educação Básica de
uma escola pública e uma privada, a continuarem no exercício da docência. A metodolo-
gia, de cunho qualitativo, teve seis (6) professoras entrevistadas em um conjunto de 26
docentes de duas realidades: 19 de uma escola privada e sete de uma pública da rede. A
análise dos dados foi pautada na Análise Textual Discursiva de Moraes e Galliazzi (2015).
As categorias a priori, que fizeram parte desta dissertação, são as fases definidas
de acordo com o ciclo de vida de Huberman (1989; 1990; 2000). Dessas fases, a princípio,
somente três se constituíram devido à caracterização dos sujeitos, sendo elas as três pri-
meiras: 1ª categoria a priori – Primeira fase – período de 1 a 3 anos de carreira docente;
como tema o ciclo de carreira docente ou termos afins. Esse levantamento dialogou com
Huberman (2000), Chakur (2005) e Cavaco (1995); apontando como resultados, que há
uma carência significativa de pesquisas sobre o ciclo de carreira docente e uma necessi-
dade de se olhar a carreira por um viés, que seja mais amplo e que ultrapasse esse movi-
mento marcado por etapas: início (busca), meio (estabilidade) e fim (reclusão), uma vez
que podemos encontrar professores com significativo tempo de carreira e ainda em
momento de ascensão. Indicou também que há linhas de força que coexistem nos
momentos de transição de uma fase para outra. E ainda que existe um ciclo de carreira
que acontece de forma individual e ao mesmo tempo coletivo, ou seja, cada professor
vivencia e sente as fases da carreira de forma singular, a partir do seu contexto social e
da sua singularidade, mas há nessa trajetória pontos de intercessão pelos quais todos
passarão, o que torna o ciclo algo coletivo.
O último trabalho encontrado no descritor Ciclo de carreira docente foi o painel “O
ciclo de carreira e as condições de trabalho: aproximações e relações possíveis”
(CARDOSO, SILVA, FRANÇA, 2018), publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional de
Didática e Práticas de Ensino (ENDIPE), apresentou três pesquisas teóricas cujo foco é o
estudo sobre trabalho docente que envolve questões relativas à carreira e às condições
do trabalho. A primeira pesquisa realizou um estudo do tipo “estado da arte” e fez um
mapeamento das teses e dissertações disponíveis no sítio eletrônico da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) entre 2007 e 2017 que tenham
investigado o ciclo de vida profissional de professores das escolas públicas do Distrito
Federal (DF). A segunda pesquisa analisou a carreira docente na rede pública do Distrito
Federal, sob a ótica da valorização dos professores pressuposta no plano de carreira e
em outras estruturas da profissão. E a terceira pesquisa, ainda em desenvolvimento,
busca compreender de forma crítica e dialética as condições do trabalho docente, evi-
denciando a precarização e a intensificação; bem como o entrelaçado que há nas rela-
ções contraditórias presentes na Educação Infantil e as mediações que marcam o trabalho
dos docentes. O painel teve como referencial teórico Huberman (2000), Ferreira (2002),
Kuenzer e Caldas (2009).
Como resultados apresentados no painel, as pesquisas revelaram a necessidade de
mais investigações para analisar a vida profissional e, consequentemente delinear o perfil
dos professores das escolas públicas do Distrito Federal. As análises também apontaram
que a carreira desses professores ocupa lugar de destaque entre as demais Unidades da
Federação com ênfase nos salários, posicionados entre os maiores do país. Porém, discute
a valorização da carreira sob outras perspectivas, tais como políticas públicas, legislações
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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MARX, Karl. O Capital – Volume I. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1982.
INTRODUÇÃO
1 Professora do Departamento de Educação Infantil do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Uni-
versidade Federal de Goiás (DEI/CEPAE/UFG). E-mail institucional: rosiris_pereira_souza@ufg.br
[ 1754 ]
SIGNIFICADOS E SENTIDOS DO TRABALHO DOCENTE PARA PROFESSORES INICIANTES 1755
o trabalho não se apresenta como uma objetivação criativa, mas como alienação [...]”
(HÚNGARO, 2008, p. 52).
Para Marx (2010), a alienação pelo trabalho impede o desenvolvimento
humano e, nesse ato, o desenvolvimento singular e genérico dos homens. Portanto,
nessa ótica, apresenta-se como desrealização. Ou seja, um projeto de sociedade que
se pretenda emancipador envolve necessariamente a luta pela superação do trabalho
alienado, porém, é sempre importante frisar que o trabalho concreto como atividade
humana consciente é ontologicamente insuprimível (LUKÁCS, 1979).
A compreensão do trabalho em sua dimensão ontológico-filosófica é central para
o desvelamento das relações sociais. De acordo com Húngaro (2008), na teoria
Marxiana, o trabalho – enquanto categoria – articula os complexos sociais na
produção material da vida social. Nessa perspectiva, o trabalho passa a ser concebido
como elemento fundante – objetivação fundamental para o entendimento da
sociedade e dos processos de exploração do homem pelo homem –, sendo, ao
mesmo tempo, importante compreendê-lo dentro da lógica capitalista de produção, ou
seja, na forma de trabalho alienado.
A compreensão do trabalho docente – incluindo o trabalho docente na
educação infantil, assim como, a apropriação das categorias trabalho manual e intelec-
tual, material e não material, produtivo e improdutivo no modo de produção capitalista
–, foi baseada em estudos que ampliam e diversificam as categorias marxianas do traba-
lho na contemporaneidade, tais como Antunes (1995, 2001); Saviani (1994,
2003); Mascarenhas (2002); Frigotto (1998).
Segundo Kuenzer e Caldas (2009), o trabalho docente não escapa à dupla
face do trabalho na sociedade capitalista (concreto e abstrato), cuja função é produzir
valores de uso e valores de troca. Em relação à produção de valor, faz-se necessária a
compreensão de que o trabalho produtivo, em Marx, indica o trabalho que amplia a acu-
mulação e valorização do capital, ou seja, que produz valor de troca e mais-valia, enquanto
que o trabalho improdutivo é justamente o oposto. Para essas autoras, a produção de
valores de uso no processo de trabalho se desenvolve na atividade do homem que realiza
uma transformação sobre o objeto de sua ação, subordinada a um determinado fim, ou
seja, à realização de um produto ou serviço para atender às necessidades humanas.
Portanto, uma parte da natureza será adaptada às necessidades do homem por meio da
mudança de sua forma sem que esse processo tenha como finalidade a produção de
excedentes para acumular riqueza (KUENZER; CALDAS, 2009, p. 22).
reprodução e contestação [...]”. (CALDAS, 2007, p. 3-4). Essa análise impõe a necessidade
de compreensão da natureza própria do trabalho educativo, produzido e reproduzido
por meio da tensão dialética entre as determinações estruturais da realidade social e de
suas próprias determinações específicas, por meio das quais se produz a alienação e, ao
mesmo tempo, são engendrados espaços de autonomia relativa (CALDAS, 2007, p. 7).
Não há como negar que o trabalho docente está submetido ao forte impacto
das transformações e avanços materiais alcançados na sociedade capitalista contem-
porânea e, portanto, às alterações em sua natureza, formas de organização e conse-
quentes relações e condições de trabalho (OLIVIERA, 2004) que objetivam, sobretudo,
mas não somente, responder às demandas mercadológicas da sociedade capitalista
contemporânea.
A partir das contribuições teóricas de Marx – no âmbito do modo de produção
capitalista –, pode-se compreender que elementos complexos e multifacetados são ins-
critos na categoria trabalho. Trazendo esse debate para o campo do trabalho docente,
pode-se reafirmar que o entendimento da categoria trabalho e seu movimento pendular
(trabalho concreto/trabalho abstrato) é basilar para uma compreensão ampliada do tra-
balho docente e sua manifestação no campo da educação infantil.
Sobre o trabalho docente na educação infantil, é importante destacar ter sido a
partir da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional nº 9.394/1996 que essa etapa passou a integrar a primeira fase da educação
básica. Assim, instituiu-se uma nova compreensão relativa à formação e atuação de
professores para essa demanda. As mudanças no campo da legislação se constituem
em aspectos importantes e determinantes para as transformações das concepções
sobre o trabalho docente nessa etapa, revelando novos significados e sentidos.
No atual contexto, cada vez mais, são apresentadas situações instáveis e precárias
para os trabalhadores em geral e da educação ‒ em especial, com perdas de direitos e
conquistas, ampliação do desemprego estrutural e desvalorização social ‒, tudo isso
orquestrado pela lógica destrutiva do capital (ANTUNES, 2001). A partir dessa compreen-
são ampla sobre as condições de trabalho, é importante destacar as condições de traba-
lho dos professores que atuam na educação infantil. De acordo com indicadores
educacionais e pesquisas recentes, a educação infantil é a etapa educativa que agrega o
maior número de professores sem a formação mínima estabelecida pela legislação nacio-
nal. Em algumas pesquisas, é marcante a questão da desvalorização dos professores
dessa etapa, visto que acumulam as piores condições de trabalho, a maior jornada de
trabalho e os menores salários em relação aos demais professores de outros níveis e eta-
pas da educação, conforme apontam os dados de pesquisas de Gatti e Barreto (2009);
Oliveira e Vieira (2012); Vieira (2013) e Oliveira (2013).
É no contexto do modo capitalista de produção que o trabalho docente na
educação infantil deve ser analisado, reafirmando a ideia de que a escola e as instituições
de atendimento da educação infantil são locais de trabalho e que os professores, inseri-
dos em relações de trabalho, são trabalhadores por comporem a classe-que-vive-do-tra-
balho (ANTUNES, 1995, 2001). Portanto, sendo afetados diretamente ou indiretamente
pelas grandes transformações vividas pela sociedade e pela nova forma de ser da classe
trabalhadora nos dias de hoje. Esse cenário reafirma a importância e a atualidade das
postulações de Marx (1978, 1984) sobre o trabalho na sociedade capitalista e sobre as
formas de subsunção formal e real do trabalho ao capital. Sem desconsiderar, é claro, a
natureza e especificidade do trabalho docente que não se concretiza na transformação
direta da matéria natural (SAVIANI, 2003). No seu trabalho, o professor atua com outros
ujeitos em processos de aprendizagem e desenvolvimento, em geral menos experientes
em relação aos conhecimentos científicos e à cultura, dizendo de outra forma, o objetivo
do trabalho docente é a formação humana.
Mesmo que o trabalho do professor possua uma especificidade que o diferencia
do sentido estrito de trabalho, proposto por Marx no século XIX, isso não o isenta de
ser um trabalho que passou pelo processo de assalariamento (seja na instituição
pública ou privada), sendo submetido a processos de alienação, aproximando-o da
condição de proletariado – termo entendido como expressão concentrada dos
sofrimentos que infligem os trabalhadores (trabalho produtivo) no modo de produção
capitalista (VÁSQUEZ, 1977). Nessa perspectiva, as observações de Marx sobre o
trabalho do professor são lapidares, pois:
[...] um mestre escola é um trabalhador produtivo quando trabalha não só
para desenvolver a mente das crianças, mas também para enriquecer o dono
da escola. Que este inverta seu capital numa fábrica de ensinar, em vez de
numa de fazer salsicha, em nada modifica a situação. O conceito de trabalho
produtivo não compreende apenas uma relação entre atividade e efeito útil,
entre trabalhador e produto do trabalho, mas também uma relação de pro-
dução especificamente social, de origem histórica, que faz do trabalhador o
instrumento direto de criar mais-valia. Ser trabalhador produtivo não é
nenhuma felicidade, mas azar [...]. (MARX, 1984, p. 584).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
INTRODUÇÃO
1 Mestrando em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Professor da Universidade
Estadual de Goiás (UEG), Campus Campos Belos. Pedagogo, Especialista em Administração Educacional. Mem-
bro do grupo de pesquisa Teorias da Educação e Processos Pedagógicos, da Pontifícia Universidade Católica de
Goiás, coordenado pelo prof. Dr. José Carlos Libâneo. luizmarles@hotmail.com.
[ 1769 ]
1770 Luiz Marles
colaborar com o modelo social vigente. Os educadores tinham o papel de educar a futura
geração de citadinos para apenas trabalhar, não se atentando com as necessidades edu-
cacionais apresentadas pela população existente.
Na atualidade deparamos com uma organização profissional de professores frag-
mentada, entre duas orientações de formação, a clássica e a contemporânea. Esse é uns
dos problemas encontrados no preparo dos educadores na contemporaneidade. Sem
dúvida, ao analisar os documentos contemporâneos norteadores da formação de docen-
tes na modernidade evidenciamos algumas divergências instrutivas no ato da capacita-
ção de especialistas da área educacional. Inquestionavelmente, no ambiente preparativo
de educadores presente, advieram alterações que ajudaram no desenvolvimento do pro-
cedimento, sendo oferecidos dessa forma, critérios formativos excêntricos para configu-
ração do mecanismo formador hodierno. Segundo a Lei nº 13.478, de 30 de agosto de
2017, que altera a LDB, 9394/96.
2 Conservadorismo: [Política] Doutrina ou ideologia que defende a conservação ou a mudança gradual do que,
numa sociedade, é considerado tradicional, opondo-se a reformas sociais ou alterações político-econômicas
radicais.
Para fundamentar o trabalho científico foi realizada uma pesquisa qualitativa com
os professores do Povoado Prata. Para isso foi realizada a perscrutação feita com 14 edu-
cadores da localidade de duas unidades escolares do Colégio Estadual Profº Irany Nunes
do Prado e da Escola Municipal Covanca.
O Colégio Estadual Professora Irany Nunes do Prado, passou por diversas situações
conforme relata os mais antigos moradores até chegar a presente data. Primeiro foi
criada a Escola Reunida Municipal Prata, por causa da comunidade que se chama Prata,
comunidade esta que herdou o nome do rio que passa ali, denominado de Prata. Já a
Escola Municipal Covanca foi fundada no dia 17 de agosto de 1981, inicialmente na
Fazenda Covanca, sob a direção da Prof.ª Irene Alves Teixeira. Hoje em dia ela está em
Colaborando com essa linha de raciocínio pode ser notado quais são as caracterís-
ticas primordiais de um educador contemporâneo, o profissional da educação deve sem-
pre se permitir aprender novos conhecimentos com a finalidade de ter todos os saberes
necessários para formar o cidadão do amanhã. Certamente o educador precisa exercer a
sua identidade de pesquisador, e buscar a todo o tempo por métodos aos quais tem o
desígnio de ajudar na performance do ato de educar, modificando diariamente os velhos
costumes tradicionais impregnados na instrução moderna. Conforme Nóvoa (1998), “[...]
os professores são por vezes profissionais muitos rígidos, que têm dificuldade em abando-
nar certas práticas, nomeadamente quando elas foram empregues com sucesso em
momentos difíceis das suas carreiras” (p. 29). Desse modo, contribui negativamente o
norteamento da educação presente, cooperando no renascimento de várias práticas de
ensino encanecidas, concepções as quais estão na mira do contexto educativo para
serem exterminadas.
Os envolvidos na pesquisa também foram indagados sobre a seguinte pergunta,
você já participou de alguma formação? Quantas? Os índices demonstraram que (50%)
dos profissionais participaram de algum tipo de curso contínuo, mas não souberam dizer
quantas. No entanto, a maioria dos educadores submergidos na análise confirmou a pre-
sença em algum preparo contínuo de docentes, demonstrando preocupação com a pró-
pria formação e com os seus alunos, pois a preparação didática se reflete na educação
dos estudantes. Uma boa docência forma excelentes alunos, e ao mesmo tempo tem sua
parcela de responsabilidade na constituição de uma sociedade mais justa e democrática,
porquanto teremos futuramente indivíduos conscientes do seu agir social interagindo na
civilização presente.
[...] a prática docente não é apenas um objeto de saber das ciências da edu-
cação, ela é também uma atividade que mobiliza diversos saberes que podem
ser chamados de pedagógicos. Os saberes pedagógicos apresentam–se como
doutrinas ou concepções provenientes de reflexões sobre a prática e norma-
tivas que conduzem a sistemas mais e menos coerentes de representação e
de orientação da atividade educativa (TARDIF, 2008, p. 37).
Acompanhado essa linha de pensamento, pode ser dito também que só teremos
professores praticando a sua profissão com compromisso e significação escolar, se os
próprios perceberem a importância de se manterem atualizados sobre tudo o que o cer-
cam, e tirar proveito das situações, seja elas de caráter social ou educacional.
Indubitavelmente os educadores devem enxergar a sua importância, pois, são os incum-
bidos pela educação futura.
seu ato de educar, pois investir na instrução atualmente não é prioridade para o
governo atuante.
Os educadores também responderam sobre a seguinte pergunta: quem são os
responsáveis pela falta de investimento na formação continuada dos professores?
Aproximadamente 79% dos integrantes da investigação educacional disseram que o
governo é o principal culpado pela ausência de investimento para a formação conti-
nuada dos professores. Sendo assim, as culpas da carência de novos métodos de apren-
dizagem são dos políticos que não oferecem os subsídios necessários para melhorar a
ação pedagógica. Esta afirmação pode ser vista ao observar os argumentos do profes-
sor C e K, que dizem “Acredito que seja o governo, problemas com falta de cursos de
reciclagem, baixa remuneração, péssimas condições de trabalho e outros problemas
enfrentados por esses profissionais”. O professor J organizou o seu argumento com as
seguintes palavras “a responsabilidade é do governo que não prioriza a educação e a
péssima gestão da coordenação da creche que não concentra esforços”. Nessa acepção
compreende-se que a capacitação continuada dos profissionais da educação só acon-
tecerá ativamente se os incumbidos por governar o país investirem decisivamente no
método contínuo de aprendizagem.
Na concepção de Azzi (2009), “[...] a docência passa a ser vista como trabalho a par-
tir de sua profissionalização, que ainda apresenta uma série de limitações sociais, econô-
micas, politicas e culturais” (p. 41). A maioria dessas circunscrições precisam ser sanadas
pelo sistema governamental, que é responsável para solucionar todos os problemas da
sociedade, e os de caráter educativos devem ser enxergados especialmente por essa
classe representativa devido à importância da educação na formação dos sujeitos.
Para fechar a pesquisa foi direcionada a seguinte pergunta aos professores, você
Acha que cada profissional deveria investir na própria formação? Cerca (65%) dos educa-
dores responderam que, sim, e, complementaram enfatizando a importância de ficar
sempre atualizando em relação às novas exigências sociais para saber trabalhar dentro
do ambiente escolar. A alegação dos professores A e D comprova o fato ilustrado ante-
riormente, o docente A articulou desse modo “Certamente. Penso que somos quem mais
conhecemos nossas limitações e ao mesmo tempo nossas necessidades, sendo assim,
investimos na área certa com o objetivo de sanar nossas dificuldades”. O professor D res-
pondeu da seguinte maneira: “Acho que sim, porém, há certa acomodação por parte dos
professores, outras vezes também falta o recurso financeiro para investir”. Nessa linha
pensamento fica claro a relevância do próprio educador em investir na sua formação,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa demonstrou através dos seus dados bibliográficos coletados, dois fato-
res, que de um modo geral influenciam de forma significativa quando se fala do ingresso
da preparação contínua de professores: o primeiro a falta de interesse por parte dos
educadores em reformar as suas técnicas de ensino; o segundo fator é a escassez de
investimentos na formação dos docentes. Todavia, esses são os principais vilões que
impedem o desenvolvimento integral das práticas educativas continuadas atualmente,
deixando assim, uma lacuna de conhecimento entre o professor e os alunos.
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise da formação conti-
nuada no ambiente da educação moderna, foi verificado se atualmente existem tentativas
para qualificar a ação professoral, sobretudo, por meio de atividades continuadas, visto
que, é essencial o docente especializar-se a todo o momento para não ficar desatualizado
na área em que atua e não causar problemas de aprendizagem aos seus alunos.
Ao realizar a pesquisa científica foi possível notar que a maioria dos professores
modernos, não se capacitam para melhorar a sua didática em sala de aula, noutras pala-
vras, ficam a mercê da sua formação inicial, deixando-se sucumbir no mundo fechado do
tradicionalismo, que causa graves problemas de ensino a seus alunos. Entre eles, pode
ser mencionando o prejuízo de aprender novos conhecimentos somente utilizando as
práticas antigas, sem que os estudantes desenvolvam o gosto pelos saberem apresenta-
dos. Pois, se o professor não diversificar as suas aulas, as exposições educativas caem na
rotina e, os alunos não sentem prazer em estudar.
Dado a importância do assunto apresentando, é de suma importância que o pro-
fessor esteja sempre atualizado, porque em algum momento será cobrado por seus alu-
nos em sala e terá que saber. Em decorrência disso, é primordial que os educadores se
capacitem diariamente, principalmente, através de cursos de caráter contínuo. Mas não
se pode deixar de mencionar a relevância das próprias instituições escolares de não pro-
porcionarem as formações. No entanto, os estabelecimentos educacionais só vão ofertar
essas especializações se houver uma injeção de investimentos por parte dos responsá-
veis pela educação para desenvolver essas preparações formativas. Muitas vezes, esse é
o principal motivo dos docentes não se capacitarem, em função da baixa remuneração
do profissional da educação.
Certamente, o professor ao ter noção de tudo ao seu redor, não terá dificuldades
em transmitir saberes, porém, para chegar a esse estágio o educador necessita adquirir
REFERÊNCIAS
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continuada para profissionais da área da educação. Carapicuíba – São Paulo: Educar soluções digitais
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INTRODUÇÃO
1 Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Tocantins – UFT. Graduada em Pedagogia pela Universi-
dade Estadual da Bahia – UNEB. Graduada em matemática-Faculdade de Ciências da Bahia – FACIBA. Especialista
em Matemática pela Faculdade do Noroeste de Minas – FINOM. Especialista em Gestão Escolar e Coordenação
Pedagógica pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Especialista em Gestão Educacional – Faculdade São
Salvador – FSS. Atua como coordenadora Pedagógica na Escola Municipal José Cardoso de Lima e formadora na
área de matemática, com professores dos anos finais do Ensino Fundamental em Luís Eduardo Magalhães-BA,
erienemacedo2013@gmail.com. ORCID: 0000-0001-6239-279X.
2 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Goiás (2011). Mestre em Educação pela Universidade de
Brasília (1995). Especialista em Avaliação Educacional (UnB – 1998). Especialista em Administração Educacional:
política, planejamento e gestão (UnB/UNITINS – 1992). Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Ciências
Filosofia e Letras de Araguari, MG (1988). Atuou como Coordenadora de Cursos de Graduação: Normal Superior
e Pedagogia, nos Câmpus de Palmas e Miracema. Atualmente é professora do Curso de Pedagogia, campus de
Miracema, professora do Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação, Câmpus de Palmas e Pró-rei-
tora de Graduação da Fundação Universidade Federal do Tocantins – UFT. Atua na área Educacional, atuando
principalmente nos seguintes temas: formação, profissionalização e prática docente; avaliação educacional e
avaliação institucional. vaniapassos@uft.edu.br. ORCID: 0000-0002-6086-1705.
[ 1788 ]
UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE O PROTAGONISMO DOCENTE NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS 1789
Ao discutir a formação, Antônio Nóvoa (1995, p. 17) ressalta que a base desta é a
reflexão dos sujeitos sobre sua própria prática docente, analisando as teorias implíci-
tas, as atitudes, exercitando uma rotina de autoavaliação na intenção de orienta o pró-
prio trabalho.
Assim, reflexão na ação é a reflexão desencadeada durante a realização da ação
pedagógica, sobre o conhecimento que está implícito na ação. É a formação do professor
que determinará a sua prática, tornando-o capaz de resolver problemas, enfrentar desa-
fios, conduzir o educando de modo a atendê-lo também individualmente, preparando-o
para conviver com as tendências inovadoras.
PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
produção destes produtos é a fonte de renda da família. Após a parte prática, os alunos
realizaram a exposição e socializaram as produções, a receita e experiência vivida.
57% Culinária
A imagem abaixo representa a exposição das produções que foram feitas nas ofici-
nas de sabão, vale ressaltar que para a parte prática, a presença da família de alguns alu-
nos foi extremamente importante, ao mesmo tempo em que demostraram a experiência
de vida, se sentiram valorizados.
Fonte: http://emjosecardosodelim.blogspot.com.
prática e exposição. A imagem abaixo ilustra a exposição de receitas expostas no dia “D”,
as quais foram trabalhadas durante a oficina de culinária.
Fonte: http://emjosecardosodelima.blogspot.com.
Fonte: http://emjosecardosodelima.blogspot.com.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
[ 1799 ]
1800 Danyela Martins Medeiros
METODOLOGIA
social, mas, precisam que governos e sociedade identifiquem essa condição e, a partir
desse reconhecimento, adotem as políticas públicas pertinentes. Essa mesma autora
acrescenta que para dar concretude ao conceito de valorização dos profissionais da
educação é preciso considerar alguns elementos indispensáveis: a formação inicial e
permanente – que significa formação contínua e atualizada –, carreira e jornada com-
patíveis, condições adequadas de trabalho e um salário que permita o exercício e o
reconhecimento da profissão.
Destes elementos discutiremos aqui as condições de trabalho docente nos Anos
Iniciais nas escolas públicas do Distrito Federal pesquisadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
informal. Apenas da RAIII, que por ser uma escola de menor porte com o atendimento à
8 turmas por período, vimos essa situação amenizada. Mas, quanto ao barulho nas ativi-
dades que exigem mais esforço intelectual como a realização dos textos do Relatórios de
Avaliação dos Alunos – RAv, que são bimestrais, os professores desta mesma escola rela-
tam que, assim como nas demais escolas, não conseguem ou têm dificuldades em produ-
zir os relatórios bimestrais na escola:
[...] Mas a nossa escola a nossa realidade a gente é bem assistido com relação
a materiais: tem internet tem computador a gente tem acesso a impressão...
Sala de informática para as crianças...Sala de Leitura então assim...todo
material que a gente precisa a gente tem material é...é...de papelaria. A gente
tem...a nossa realidade é de uma assistência boa.(GF – RAIII, 15/08/2017)
2 O termo carências se refere aqui a ausências de professores regentes afastados temporariamente para assumi-
rem um cargo de diretor, vice-diretor, coordenador e supervisor pedagógico. Além disso, existem os afastamen-
tos por licenças médicas ou para estudo remunerado. Para suprir tais carências são contratados professores
temporariamente, porém, em carências mais curtas, geralmente de até 15 dias e na ausência de um professor
em Contrato temporário essas carências são supridas pelos Coordenadores e Supervisores Pedagógicos.
[...] não desmerecendo os colegas mas tem muito contrato temporário então
a questão de cada ano numa escola acaba que essa dificuldade de construir
essa identidade [...] (RA I – VD, 24/05/2017)
3 A síndrome de Burnout é definida por Maslach e Jackson (1981) como uma reação à tensão emocional crônica
gerada a partir do contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente quando estes estão
preocupados ou com problemas. A síndrome envolve: exaustão emocional, despersonalização, com sentimen-
tos e atitudes negativas – coisificação da relação e falta de envolvimento pessoal no trabalho com tendência de
uma evolução negativa, afetando a habilidade para realização do trabalho e o atendimento ou contato com as
pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização.
levar trabalho para casa. Para amenizar as condições precárias de estrutura física, os pro-
fessores são “liberados” para redigirem os relatórios bimestrais de avaliação em casa,
devido ao barulho excessivo e falta de materiais como computadores e impressoras para
a realização desta tarefa que exige um ambiente que favoreça a concentração para deta-
lhamento das informações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que há uma precariedade nas condições de trabalho, definida pela falta de materiais e/
ou de recursos materiais e/ou humanos, e pelo desvio das funções do coordenador peda-
gógico, que atua objetivamente como professor substituto. A profissionalidade docente
pela relação com o espaço-tempo da coordenação pedagógica é constituída em meio as
dificuldades apresentadas pelas condições de trabalho dadas. As consequências dessas
precariedades são a intensificação e sobrecarga de trabalho que geram o adoecimento e
possível afastamento desse professor da sua rotina profissional denotando assim fragili-
dades quanto ao pertencimento à profissão docente.
O espaço-tempo da Coordenação Pedagógica, espaço remunerado dentro da jor-
nada de trabalho é um tempo de contribuições para as condições do trabalho docente,
mas, que apresentam em contradição desafios e dificuldades, tais como a falta ou a pre-
cariedade de materiais, como internet, computadores e impressoras, espaços físicos ina-
dequados para o trabalho intelectual devido ao barulho peculiar das escolas e recursos
humanos; assuntos administrativos/burocráticos que, por vezes, sobrepõem os pedagó-
gicos; projetos da SEEDF em desacordo com os da escola; o excesso de eventos e ativida-
des na escola sobrepõe as questões de aprendizagem e a função de ensinar. Como
contribuições destacamos: o trabalho coletivo, socialização dos saberes profissionais;
fortalecimento das relações interpessoais entre todos os servidores da escola; formação
continuada na escola, nas coletivas; acesso a cursos com certificação pela EAPE – Centro
de Aperfeiçoamentos dos Profissionais da Educação ou outras instituições autorizadas;
tempo para planejamentos, pesquisas e avaliações; elaboração de materiais e uso de
recursos tecnológicos; espaço para decisões mais democráticas com todos da escola;
momentos de relaxamento e descontração.
A valorização profissional é sentida pelos professores sujeitos da pesquisa na cons-
tituição da jornada de trabalho, nas estratégias de formação efetuadas no espaço-tempo
da coordenação pedagógica favorável ao trabalho coletivo colaborativo e realizado com
maior autonomia. Apesar da valorização reconhecida pelo grupo investigado esses mes-
mos professores, apontam que há uma precariedade nas condições de trabalho, que
dividem espaço com as conquistas profissionais encontradas simplesmente pela existên-
cia do Espaço-tempo da Coordenação Pedagógica.
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
1 Professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Mestre em Educação na Linha Profissão Docente,
Currículo e Avaliação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília. Doutorando
em Educação – PPGE –UnB. Integrante do Grupo de Pesquisa Sobre Formação e Atuação de Professores Peda-
gogos – GEPFAPe.
[ 1813 ]
1814 Fernando Santos Sousa
Eu acho que esses dois conceitos têm que estar muito claros na cabeça do
Pedagogo. Uma professora não consegue criar um ambiente educativo sem
que saiba disciplinar. Assim como o homem também tem que criar isso. [...]
Em relação ao cuidado é algo que o profissional tem que dar conta, seja cui-
dar de menina ou de menino. (Pedagogo 03).
Nos últimos anos no campo de estudos sobre formação de professores, tem se evi-
denciado a discussão a respeito da função docente, na busca pela especificidade da ação
de professoras e professores. Em tempos de ofensiva do discurso neoliberal, conservador,
do avanço de projetos que defendem o denominado notório saber, chega até os estudiosos
do campo a demanda por maior clareza de que formar professoras e professores incide em
constituir diferentes formas de se estabelecer a construção da profissionalidade. Já que as
formas com que essas professoras e professores se constituem dependem de diferentes
condições materiais, objetivas, subjetivas, em um processo de relação com o outro, histo-
ricamente, economicamente, culturalmente e biograficamente.
Neste contexto, tem se propagado os estudos a respeito do processo de profissio-
nalização de professoras e professores e da construção da profissionalidade. Diferentes
autores se debruçam sobre as discussões a respeito do conceito de profissionalidade, em
suas diferentes abordagens e perspectivas. Cruz (2011) em sua tese de doutoramento
apresenta um compilado desses contextos sobre suas diferentes perspectivas epistemo-
lógicas de análise da profissionalidade.
A profissionalidade é construída desde a formação inicial até o fim da carreira
docente, e sua discussão nos ajuda a compreender como diferentes elementos subjeti-
vos em sua relação com a objetividade se estruturam. Os marcos regulatórios ao qual
professoras e professores estão imersos trazem importantes elementos do trabalho
docente, como por exemplo, a intensificação a desvalorização e as marcas do gênero.
Procuramos compreender a profissionalidade em sua dimensão crítica, enten-
dendo que professoras a constroem estabelecendo relações dialéticas entre diferentes
instâncias, por meio da objetividade e subjetividade. Entre elas os conhecimentos teóri-
co-práticos da docência, que na educação infantil apresenta especificidades, como a
forte concepção relacionada ao educar e ao cuidar. E o contexto de realização do traba-
lho. Que a depender pode influenciar de diferentes formas o processo de construção da
profissionalidade, como desenvolveremos no decorrer do tópico.
Nessa perspectiva, consideramos importante a discussão estabelecida por Roldão
(2007) ao caracterizar o ensinar como principal especificidade da ação docente. Tal pers-
pectiva nos ajuda a ir contra o esvaziamento do papel de professoras e professores, que
têm sido adjetivados de dinamizadores, mediadores, organizadores, interlocutores, tios/
tias, intelectuais, etc.
A tese de Facci (2006) discute a respeito do esvaziamento da função do professor,
sendo necessário retomar e clarificar a real atividade do trabalho docente. A valorização
do trabalho docente perpassa a função organizativa entre aluno, professor/professora e
os conhecimentos elaborados pela humanidade no decorrer de seu processo histórico, a
autora defende a luta contra o esvaziamento, retirada da principal atividade docente: o
ensinar. Neste sentido critica diferentes correntes que tem influenciado de forma signifi-
cativa o campo da formação de professores, como por exemplo, o professor reflexivo e
a pedagogia das competências.
Compreende-se que formar professores incide em constituir identidades e os estu-
diosos do campo da formação tem se debruçado em seus estudos a diferentes formas de
se enxergar a constituição dessa identidade. Apple (1988) e Enguita (1991) têm apostado
na compreensão de professores como trabalhadores, destacando e problematizando
aspectos de sua autonomia, raça, classe e gênero.
Vaillant & Garcia (2012) entendem a identidade centrada no domínio de competên-
cias muito específicas e relativas a instrução na performatividade e na auto responsabili-
zação por meio do desenvolvimento profissional docente. Já Tardif (2002) discute a
identidade e a profissionalidade docente interpretada sob a perspectiva dos saberes que
professoras e professores mobilizam no exercício de seu trabalho, por meio de suas fon-
tes e modalidades no ensino e no decorrer da carreira
Neste sentido Facci (2006) problematiza que para ir na contra mão do esvazia-
mento da docência é necessário empreender a prática e os estudos acerca do trabalho
do professor, que só fará sentido por meio de uma intervenção na escola. O que é ser
professor? Para nós o professor ensina algo a alguém, sendo seu objeto de trabalho o
conhecimento, a ser desenvolvido por meio do ensino. Por meio de sua ação é possível
intervir e influenciar na formação do processo de consciência dos indivíduos que passam
pela escola, contribuindo assim para o seu professo de humanização. Para isso faz-se
necessário a busca por respostas a perguntas simples, porém necessárias de esclareci-
mento: Qual a função da escola? Qual a função de professoras e professores?
A demanda pela clareza da função de professores e professoras e como ela tem
sido mediada por outras funções que professoras e professores vem assumindo no con-
texto atual, sem perder a clareza do real objeto de trabalho: o conhecimento. Sendo
assim consideramos que a principal ação do professor é ensinar e que para realizar essa
ação surge a necessidade do uso de metodologias que facilitem essa ação, é quando ele
acaba assumindo o cuidado, a disciplina em diferentes processos de mediação.
Em relação aos pedagogos entrevistados entende-se que essa compreensão nem
sempre está clara socialmente e que no contexto da educação infantil pode acarretar em
inúmeros desconfortos que influenciam de forma considerável no processo de constru-
ção da profissionalidade desses professores.
Com base nesses extratos de fala e das discussões realizadas até aqui, compreen-
demos novamente as marcas do gênero na atividade e na construção da profissionali-
dade docente desses pedagogos e da falta de clareza em relação à especificidade da
ação docente.
É importante esclarecer a nossa compreensão em relação ao ensinar na educa-
ção infantil como a ação intencional de professoras e professores com o objetivo de
desenvolvimento da criança de acordo com suas demandas de desenvolvimento, não
em uma perspectiva escolarizante de crianças enfileiradas em salas de aula desenvol-
vendo atividades de cartilha para que sejam alfabetizadas, mas também fora da defesa
da educação infantil de caráter assistencialista e espaço que não exige profissionais
formados em nível superior, condições de trabalho dignas e espaços adequados para o
desenvolvimento do trabalho de professores que proporcionem uma aprendizagem de
qualidade para alunas e alunos.
Na educação infantil o ensinar exige a indispensável mediação entre o binômio cui-
dar – educar, este primeiro compreendido na divisão sexual do trabalho como restrito a
mulheres, sendo não só uma atuação desonrosa e desvalorizada para homens como
também passível de desconfiança, resultando em um constante processo de vigia e regu-
lação da ação docente.
[...] a escola tem um pouco de cuidado em colocar homens como professores
de crianças muito pequenas, principalmente com aqueles que ainda são
muito dependentes, como as crianças de três anos. (Pedagogo 02).
[...] Apenas com alguns cuidados que são diferentes em relação a mulher,
como por exemplo, sentar no colo do professor, abraçar demais, pois são ati-
tudes que podem ser interpretadas erroneamente por outros que observam.
(Pedagogo 04).
[...] Existe limitação quando se trata em cuidar de forma mais íntima da
criança, o mais complicado é você levar a criança ao banheiro. (Pedagogo 01).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
1 Doutoranda em Educação PPG, PUC – Goiás. Docente de Didática e Prática da UEG – Universidade Estadual de
Goiás, câmpus São Luis de Montes Belos e Sanclerlandia. karlavitoriano@yahoo.com.br.
2 Professor Doutor, Coordenador do PPG em Educação – PUC Goiás; Professor da disciplina: Fundamentos da
Educação, 2019/1. aldimarjd@hotmail.com.
3 Professor Doutor do PPG em Educação – PUC Goiás; Professor da disciplina: Fundamentos da Educação, 2019/1.
libaneojc@uol.com.br.
[ 1828 ]
EDUCAÇÃO E A MILITARIZAÇÃO DO ENSINO 1829
O tema assume relevância posto ser um tema atual e que tem provocado discus-
sões e debates nas universidades, nos congressos, seminários, encontros de estudiosos
da educação, docentes e acadêmicos das licenciaturas em todo país, principalmente após
as eleições majoritárias no Brasil em 2018.
Adotou-se neste trabalho a metodologia de pesquisa bibliográfica descritiva, con-
siderando as discussões e análises já realizadas por teóricos sobre o assunto. Nesse sen-
tido foram consultados alguns dos principais expoentes em pesquisas em educação nesta
área de estudo, tais como: Fernandes (1966), Horta (1994), Lourenço Filho (2002), Cunha
(2014, 2016), Lenoir (2016), Libâneo (2016, 2017) e outros.
O corpo do texto foi estruturado em três tópicos a fim de desenvolver o raciocínio
sobre o sentido da educação, considerando uma breve discussão sobre seus primórdios
até os dias atuais. Em seguida procurou-se trabalhar o conceito e a compreensão das
finalidades educativas e finalmente passou-se a analisar o processo de militarização que
tem se observado no sistema educacional brasileiro/goiano e seus impactos no processo
ensino aprendizagem.
A problemática a ser discutida propõe compreender quais aos impactos da milita-
rização da rede estadual de ensino em Goiás no processo ensino-aprendizagem? Busca-se
discutir as finalidades educacionais na sociedade brasileira contemporânea, a educação
enquanto prática social e ao mesmo tempo analisar o processo de militarização do ensino
que vem se tornando uma realidade no sistema público de educação, e até mesmo um
‘modelo’4 para outros estados da federação, nas escolas da rede estadual de Goiás, na
capital e em municípios do interior, na primeira década dos anos 2000.
Este trabalho é fruto das leituras, reflexões e discussões realizadas durante a dis-
ciplina de Fundamentos da Educação, cursada no primeiro semestre, do corrente ano,
no Programa de Pós-graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de
Goiás (PUC-Goiás), sob a orientação dos professores que dividiam a ministração das
aulas da disciplina.
4 Os colégios sob a orientação do CPMG (Comando da Polícia Militar do Estado de Goiás) tem sido referência para
outros Estados que pretendem implementar militarização do ensino, pois os colégios militarizados de Goiás são
muito bem avaliados e vistos como uma receita de sucesso, por aqueles que defendem o projeto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
igualmente, a sua estrutura e funcionamento, bem como a sua relevância para a comu-
nidade a que ela serve. Nesta relação há que se levar em conta que a escola, e os proces-
sos educativos tanto contribuem para a formação intelectual e integral do homem,
quanto ao mesmo tempo em que por ele é estabelecido o valor social que a educação
possui. Nas palavras de Florestan Fernandes
[...] a importância da educação como técnica social e as funções que ela
chega a desempenhar na formação da personalidade dependem estrutural-
mente do modo pelo qual os homens entendem socialmente, por causa de
suas concepções de mundo e das suas condições de existência, as relações
que devem se estabelecer entre educação e a vida humana. (1966, p. 71).
[...]
A cogumelação de escolas, sem recursos materiais e humanos adequados,
corrompeu o alvo inicial de formar professores para o ensino médio, dotan-
do-os de recursos para revolucionar o padrão de ensino ministrado nos giná-
sios e nos colégios.
[...]
O referido desnivelamento das instituições escolares explica-se, pois, como
parte do mecanismo das reações societárias ambientes às inovações escola-
res.(FERNANDES, 1966, p. 76).
Com a Ditadura Militar que se impôs no país em 1964 o novo ideal que se esperava
atingir baseava-se na filosofia desenvolvimentista da economia que havia iniciado no
período JK e João Goulart, nesse sentido o crescimento configurava-se como uma impor-
tante estratégia para o Brasil. Investir na industrialização da economia e da sociedade e
para isso seria necessário investir na formação do homem para atender ao mercado eco-
nômico. A educação assume, assim, um papel pragmatista com o fortalecimento da edu-
cação profissional oferecida nas escolas profissionalizantes. Essa tecnificação do ensino
assume um caráter hegemônico no processo ensino aprendizagem.
A partir da década de 1980, do séc. XX ganham destaque as políticas neoliberais
que influenciaram e ainda influenciam enormemente as práticas educacionais de países
periféricos, tais como o Brasil, promovendo mais desigualdade e exclusão, pois orientam
os interesses no sentido de favorecer determinada parcela da população, especifica-
mente a elite econômica, os empresários e o capital. Tais princípios são fortemente pre-
sentes nos processos educativos escolares da atualidade e, destarte, importa discutir
quais as finalidades educativas diante desta perspectiva.
Vale ressaltar que a proposta de militarização das escolas e da sociedade, mesmo
no período da ditadura militar, não se inserem nos princípios do neoliberalismo. Tanto na
década de 1910 como 1964, os seus fundamentos, da militarização do ensino, são do
pensamento conservador, sendo que na década de 1910, inserido em um ambiente libe-
ral e na década de 1960, uma negação do liberalismo.
no poder, logo, um discurso permeado pela ideologia e pelos interesses expressos por
esses grupos sociais.
As finalidades educativas são, portanto, permeadas por concepções políticas, ideo-
lógicas, sociais e acadêmicas que no seu conjunto constituem o arcabouço de elementos
que impactarão diretamente na definição de currículo, de didática, organização da escola
e da atuação prática pedagógica do profissional na busca para a formação do ser humano.
No plano acadêmico, as finalidades educativas são definidas nos marcos
das correntes filosóficas, epistemológicas, sociológicas, psicológicas, etc.,
que vigoram no campo educacional e que se apresentam hoje em posições
fortemente conflitantes. Sejam quais forem as instâncias em que são defi-
nidas, as finalidades educativas são portadoras de critérios de valoração de
objetivos, isto é, do sentido que atribuem ao processo educativo, e de
modalidades de aplicação em termos de práticas de ensino-aprendizagem.
(LIBÂNEO, 2017, p. 2).
Militarização do ensino:
o impacto para o processo ensino-aprendizagem
É bem verdade que essa concepção não recebeu apoio de toda a sociedade. Horta
afirma que “a proposta de militarização da juventude, feita por Francisco Campos em
1938, encontrará viva oposição nos próprios meios militares e não se concretizará”
(HORTA, 1994) Intelectuais e membros da sociedade civil também revelaram um posicio-
namento contrário à ação de princípios e instruções militares na formação do cidadão.
No entanto, estes princípios foram sendo infiltrados lentamente de modo que a socie-
dade nem se deu conta dos discursos velados introduzidos por meio de disciplinas esco-
lares e práticas oriundas da formação dada no Exército.
Analisando recentemente o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985) Luiz
Antônio Cunha (2014) em um artigo sob o título “O Legado da Ditadura para a Educação
Brasileira” aponta duas consequências responsáveis por confirmar a tese de que dá título
ao seu trabalho, as quais seriam em primeiro lugar: a educação tratada em função da
simbiose Estado-capital e em segundo lugar: a educação tratada como instrumento de
regeneração moral do indivíduo e da sociedade.
Em relação à primeira consequência, Cunha (2014, p. 361) esclarece que “A dita-
dura não inventou a dualidade setorial pública/privada na educação [...] o que ela fez foi
intensificar essa dualidade fundante da educação brasileira” em todos os níveis de ensino.
Esse com certeza foi um dos fenômenos que ficaram do período do governo militar que
contribuíram para que a rede pública fosse cada vez mais negligenciada pelos governos
pós-militares, em detrimento do ensino privado. A ruptura começou, a partir de 2003,
com período em que o país teve à frente governos populares, que buscaram romper com
esse estereótipo.
A simbiose Estado-capital desenvolveu-se seguindo as particularidades específicas
em cada etapa, desde a educação básica até o ensino superior, verificando-se que “o
empresariado do ensino foi bastante favorecido pela legislação tributária concedendo
privilégios à rede privada e aos empresários da educação” (CUNHA, 2014, p. 363) tanto
nas escolas de educação básica quanto nas instituições de ensino superior.
Porém, segundo Cunha (2014) aponta em sua análise sobre a herança deixada pelo
governo militar que a contradição em relação a esta questão residia no fato de que,
Mais do que nunca, a estrutura discriminatória do ensino superior ficou apa-
rente: universidades públicas para os estudantes de mais elevado capital cul-
tural, universidades e faculdades isoladas privadas para os outros5. [...] Parte
5 Grifo nosso.
Na segunda consideração, analisada por Cunha (2014), a educação deve ser o ins-
trumento que promova a regeneração moral. Essa perspectiva era a justificava, daque-
les que defendiam a proposta, de militarização da educação básica e que nos anos
1990 incorporou essa premissa, herança da ditadura militar que por sua vez incorpo-
rou os ideais do Positivismo de Auguste Comte, cuja ideologia tornou-se orientadora
da luta do Exército.
Aliado a este pensamento, Cunha (2014) destaca que, na busca pelos valores posi-
tivos encontrava-se a ala católica conservadora para quem “a ideia de crise da sociedade
residia no egoísmo da elite e do povo” (p. 368) e, portanto impunha-se retomar os
padrões e as tradições da sociedade cristã do século XVIII. Compreendendo, desse modo,
acreditava-se que a “regeneração moral da sociedade passava [...] por uma educação
pautada pela busca do bem comum, mediante o altruísmo, para os positivistas e a cari-
dade, para os católicos” (p. 368).
Seguindo esse raciocínio, e encabeçado pelo Estado, caberia à escola, por meio de
uma educação oriunda da instrução militarizada, a tarefa de promover a reestruturação
dos princípios nacionalistas, valores morais e cristãos que encontravam-se ameaçados
pelo comunismo.
A ideia subjacente era de que se impunha ‘enfrentar o desafio maior do
século, em que as nossas mais caras tradições democráticas cristãs se veem
ameaçadas pelo materialismo marxista’. [...] Essa ideia gerou outra, após o
Golpe de Estado: a de que o ‘saneamento moral da sociedade’ constituiria
uma condição indispensável para o desenvolvimento. (CUNHA, 2014, p. 368).
A igreja católica, depois do Concílio Vaticano II, direciona seus interesses para as
camadas menos favorecidas da sociedade, faz uma opção pelos pobres, fundamentada
na chamada Teologia da Libertação. Nesse período a disciplina Educação Moral e Cívica,
impregnada de cristianismo e pensamento altamente conservador, torna-se obrigatória
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após essa breve reflexão sobre a concepção de educação, das finalidades educati-
vas na sociedade contemporânea brasileira e em especial sobre os impactos da militari-
zação da educação pública no Estado de Goiás compreende-se que sob a égide das
políticas neoliberais e dos interesses de uma elite conservadora evidencia-se uma con-
tradição por parte desta mesma sociedade brasileira que, viveu duas décadas de uma
ditadura militar cruenta, período no qual havia o cerceamento tanto, dos direitos civis
quanto, das liberdades individuais, dentre outras formas de coerção. Nesse contexto
uma parcela da sociedade levanta a bandeira de militarização do ensino, como panaceia
para resolver os problemas sociais cujas origens vão além das questões exclusivamente
educacionais, demonstrando por outro lado uma clara confusão em relação aos reais
objetivos educacionais.
Considerando todas as lutas empreendidas pelos homens ao longo da história da
humanidade, em especial a partir do surgimento e fortalecimento da vida urbana e das
mudanças nas relações de produção de bens de consumo, a luta pelo direito à escolari-
zação para todos sempre esteve presente nos anseios das camadas menos favorecidas.
A sociedade por meio dos seus governos, representantes de entidades e cidadãos
da sociedade civil, notadamente possuem um histórico de se empenharam em desenvol-
ver um sistema educacional que proporcionassem a cada criança, jovem, adulto, homem
ou mulher o acesso aos conhecimentos sistematizados sócio historicamente construídos.
A concepção de educação enquanto prática social reverberou no país, nos cursos de for-
mação de professores e nas práticas pedagógicas nos últimos 40 anos. E na atual conjun-
tura reflete o ideal de muitos teóricos, estudiosos e professores da educação básica.
Embora, nesse sensível processo de construção e reelaboração do ensino-aprendi-
zagem as finalidades educativas, enquanto fruto de uma prática social, são por sua natu-
reza, contraditórias e conflituosas e passam de alguma maneira, a ser relacionadas a
diversos interesses políticos, econômicos, ideológicos, religiosos e culturais elas, as fina-
lidades educativas, são elementos importantes para definir todos as orientações
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INTRODUÇÃO
Certa vez, Paulo Freire e Carlos Alberto Torres, reuniram-se para discutir temas que
seriam abordados em um livro que escreveriam conjuntamente sobre as novas exigên-
cias na educação do século XXI. No momento em que Torres perguntou-lhe quais seriam
estes temas, Freire, prontamente, respondeu-lhe: “Carlos, teremos que criticar o neoli-
beralismo que é o novo demônio de nossos dias” (2008, p. 42).
Que teria o neoliberalismo de tão diabólico para a educação a ponto de despertar
palavras duras em um homem conhecido por sua doçura e generosidade? Que conse-
quências perversas tal política econômica poderia provocar no campo educacional que
muito preocupou Paulo Freire?
Torres (2018) relata que Paulo Freire, no cargo de secretário municipal de educação
de São Paulo, no governo do PT, entre os anos 1990-1992, recebeu a visita de uma dele-
gação do Banco Mundial com vistas a convencê-lo a aceitar o financiamento do banco e,
assim, poder concretizar seus projetos de reforma curricular e de treinamento do magis-
tério. Indignado com as sugestões feitas pela delegação, Freire sugeriu a eles que voltas-
sem a lhe falar quando conseguissem resolver os problemas da educação norte-americana
primeiramente. Em seguida, comunicou à então prefeita Luiza Erundina que renunciaria
[ 1843 ]
1844 Fernanda Gomes Coelho Junqueira
ao cargo, caso o empréstimo fosse aceito. Permaneceu exercendo sua função durante
toda a administração do PT em São Paulo, período este em que nenhum empréstimo
para a área da educação tenha ocorrido.
Num momento do auge da interferência dos organismos internacionais nas políti-
cas educacionais dos países periféricos, o que movera Paulo Freire a negar radicalmente
intercâmbios com o banco? Por que razão Paulo Freire atacou tanto o neoliberalismo e
muito se preocupou com o avanço do pensamento neoliberal na educação?
Freire nunca escondeu sua aversão ao neoliberalismo, um “verdadeiro inimigo” da
pedagogia emancipatória que tanto defendeu.
Nas palavras de Scocuglia,
Freire é incisivo ao rechaçar a pós-modernidade neoliberal e defender a pós-
-modernidade progressista e crítica. Para isso, aposta na possibilidade de
concretização do que foi negado pela modernidade às camadas populares
(aos oprimidos, aos subalternos, aos esfarrapados do mundo) e no rechaço
do absolutismo da razão técnica-econômica-instrumental que atrofiou as
possibilidades concretas da hominização (2006, p. 13).
2 Dados divulgados pelo IBGE em junho de 2019 na última Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua.
O NEOLIBERALISMO
3 Grupo encabeçado por Hayek cujos participantes eram contrários ao Estado de Bem-Estar Social e ao New Deal
Americano. Tinha como objetivo combater o keynesianismo e o solidarismo e implantar um novo tipo de capita-
lismo. O nome do grupo deve-se à pequena estação Mont Pèlerin, na Suíça, onde o grupo se reunia.
Desde o início dos anos 90, organismos internacionais, como o Banco Mundial (BM)
e o Fundo Monetário Internacional (FMI) passaram a influenciar demasiadamente as
políticas educacionais brasileiras. A interferência das agências internacionais na defini-
ção das políticas públicas nos países de Terceiro Mundo intensificou-se devido “à rees-
truturação global da economia regido pela doutrina neoliberal” (LIBÂNEO, OLIVEIRA,
TOSCHI, 2012, p. 34). O ideário neoliberal provocou a ressignificação do sentido da edu-
cação no que diz respeito à formação, à produção de conhecimento e à emancipação.
Foi com o toyotismo, ainda nas décadas de 80 e 90, que houve um deslocamento
da função da escola: de espaço de formação para o espaço de preparo para o trabalho,
fortalecendo o papel econômico da educação para a competitividade das economias glo-
balizadas (GENTILI, 2018).
A educação brasileira, desde então, assumiu um modelo mercantilista e instrumen-
tal, e sua gestão passou a ser orientada por critérios gerencialistas, com ênfase na pro-
dutividade, eficiência dos serviços, programas de responsabilização – accountability – e
de avaliação. A educação foi transformada em mercadoria, assim como a forma de
administrá-la.
Os organismos financeiros internacionais – Banco Mundial e o Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID) – exigiram como contrapartida aos investimentos concedidos
aos países da América Latina adequações das políticas educacionais às políticas de ajuste
econômico, “exigindo a crescente desregulamentação das leis trabalhistas e a
Como a escolha do léxico nunca é uma atividade neutra, há, no ideário neoliberal,
uma adoção de terminologias que deixam transparecer sua visão de educação e de
gerência no campo educacional. Alunos e pais de alunos tornaram-se clientes, consumi-
dores; professor tornou-se insumo, instrumento. Segue abaixo a concepção de professor
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento:
Por otro lado, existe la necesidad de reforzar los insumos educativos conside-
rados críticos para mejorar la calidad de los aprendizajes: i) profesores: reco-
nocido como elrecurso más importante, es preciso mejorar la selección,
contratación y entrenamiento de profesores para atender esta nueva
demanda, además de la necesidad de fortalecer los procesos de acompaña-
miento (coaching) ato do el cuerpo docente (Banco Interamericano Mundial,
[2013], p. 5 – Grifo nosso).
5 O Banco Mundial, criado em 1944, é uma entidade que tem ampliado suas áreas de atuação para além da
reconstrução nacional pós-conflito, a saber: infraestrutura, energia, política econômica, educação, saúde, habi-
tação, meio ambiente e administração pública (DECKER, 2017).
6 Para um maior aprofundamento, sugiro a leitura da pesquisa original em: DECKER, Aline. A formação docente
no projeto político do Banco Mundial (2000-2014). 2015. 234 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Univer-
sidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2016.
7 Decker ocupou-se, em sua dissertação de Mestrado em analisar documentos produzidos pelo Banco Mundial
entre os anos de 2000 e 2014. São eles: 1) Brazil teachers development and incentives: a strategic framework
– BTDI-2001 (WORLD BANK, 2001); 2) Improving teaching and learning through effective incentives: what can
we learn from education reforms in Latin America? – ITL-2005 (WORLD BANK, 2005); 3) Achieving world class
desse discurso para justificar a inserção do setor privado na educação, haja vista a inca-
pacidade do Estado em atender à crescente demanda pela educação. E ao desqualificar
a escola pública, aponta as parcerias público-privadas como solução para uma educação
de qualidade.
Um dos reflexos da política neoliberal na educação brasileira pode ser observada
pelo crescimento acelerado das licenciaturas em EaD. Shiroma observa que, desde mea-
dos dos anos 90, o BM já tinha como projeto privatizar a educação, “solapando-se o con-
ceito de Universidade e sua tríplice missão, ensino, pesquisa e extensão”8 (2000 apud
SHIROMA et al., 2017, p. 36). O crescimento dos cursos em EaD nas instituições públicas
foi vigoroso, porém nada se compara com o setor privado, uma vez que “o governo não
teve dificuldades em repassar a ele a formação do professor, presenteado ainda com
tudo o mais que esse movimento significava em termos de produtos a serem consumi-
dos” (Idem, p. 38). Por meio dos dados produzidos pelo Instituto de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e publicados no Censo do Ensino Superior 2017
(BRASIL, 2017), observa-se que 87, 9% das Instituições de Educação Superior são priva-
das. No período compreendido entre 2007 e 2017, o setor privado cresceu 53, 1% e o
público, 41, 7%. O número de matrículas nos cursos de graduação nesse mesmo período
cresceu 375, 2%, em contrapartida, na modalidade presencial, o crescimento registrado
foi de apenas 33, 8%. Quanto à EaD, predominam os cursos de licenciatura, enquanto
que, na modalidade presencial, os cursos de bacharelado. Tais dados vão ao encontro do
que pesquisadores já haviam concluído com base em dados de 2013: “Sedutora para o
mercado e seus investimentos, a área da Educação [...] viu-se, ademais, assaltada pela
internacionalização e, após 2007, pelo capital financeiro” (SHIROMA et al., 2017, p. 36).
A massificação do ensino com a expansão galopante do Ensino Privado Superior e
com a implantação dos cursos à distância reforça o que temos comentado até agora: os
organismos financeiros foram exitosos em subordinar os princípios formativos da educa-
ção aos princípios econômicos.
Em suma, valendo-me das contribuições de Shiroma et al. (Idem, p. 39):
education in Brazil: the next agenda – EEBRASIL-2010 (BRUNS; EVANS; LUQUE, 2010); 4) Learning for all: inves-
ting in people‘s knowledge and skills to promote development. World Bank Group Education Strategy 2020 –
WBSE-2020 (WORLD BANK, 2011); 5) Making schools work new evidence on accountability reforms – MSW-2011
(WORLD BANK, 2011); 6) Professores excelentes: como melhorar a aprendizagem dos estudantes na América
Latina e no Caribe – PE-2014 (BRUNS; LUQUE, 2014).
8 Segundo o Censo de Educação Superior de 2017, das 2448 Instituições de Ensino Superior no Brasil 82, 5% são
faculdades.
A esta altura de nossa reflexão, julgamos estar consolidada a ideia de que as políti-
cas neoliberais para a educação enfatizam uma formação utilitarista e pragmática em
detrimento da formação humana.
9 Barbara Bruns é a economista principal responsável no BM pela educação da América Latina e do Caribe. Javier
Luque é especialista sênior e ponto focal para a região da América Central do BID. David Evans é economista
sênior no escritório do economista-chefe para a região da África do BM.
10 Para aprofundar esta questão do gerencialismo no campo educacional, recomendo a leitura do artigo: HYPO-
LITO, Álvaro M. Reorganização gerencialista da escola e trabalho docente. Educação: Teoria e Prática, Rio Claro,
vol. 21, n. 38, p. 50-78, out./dez., 2011.
11 Seus estudos são fruto da pesquisa de doutorado intitulada A internalização da agenda do capital em Cursos de
Pedagogia de Universidades Federais (2006-2015), realizada no Centro de Ciências da Educação (CED) da Uni-
versidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (TRICHES, 2016). Nessa pesquisa, a autora investigou a reforma dos
Cursos de Pedagogia em 27 Universidades Federais, após a definição das Diretrizes Curriculares Nacionais para
o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura.
12 Segundo Shiroma et al. (2017, p. 23), a reconversão do trabalhador promovida pela reconversão produtiva den-
tro das empresas impôs também a reconversão da educação e do professor de maneira a “subordinar a Educa-
ção escolar e a formação docente às demandas do setor produtivo”.
Paulo Freire defendeu uma educação emancipadora, por meio da qual o indivíduo
conquistaria sua autonomia, liberdade e participação ativa na sociedade, ou seja, uma
educação que permitisse pensar criticamente a realidade e a intervir nela. A pedagogia
freireana objetiva o protagonismo e não a sujeição. A educação é tomada como um pro-
cesso de humanização voltada à formação e não ao treinamento. Em seu livro Pedagogia
da autonomia, Freire (2004, p. 33) já nos alertava que “[...] transformar a experiência
educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente
humano no exercício educativo: o seu caráter formador”.
A visão humanista de educação defendida por Freire vai de encontro à visão instru-
mental orientada pelos organismos internacionais. Como bem salientou Gadotti (2007, p.
66), “Paulo Freire sonhava com uma nova sociedade, um mundo onde todos coubessem.
Não um mundo feito apenas para alguns”. “E é uma imoralidade para mim, que se sobre-
ponha, como vem fazendo, aos interesses radicalmente humanos, os do mercado”, escre-
veu Freire indignado (2004, p. 100).
Muito o incomodou a “nova ordem mundial” e ele se posicionava de maneira trans-
parente, ética e coerente diante daquilo em que acreditava e pelo que lutava. “Daí a crí-
tica permanentemente presente em mim à malvadez neoliberal, ao cinismo de sua
ideologia fatalista e a sua recusa inflexível ao sonho e à utopia” (Idem, p. 14) e tomado
de ‘legítima raiva’ escreveu:
Daí o tom de raiva, legítima raiva que envolve o meu discurso quando me refiro
às injustiças a que são submetidos os esfarrapados deste mundo. [...] Em tempo
algum pude ser um observador acizentadamente imparcial, o que, porém,
jamais me afastou de uma posição rigorosamente ética (Idem, p. 14).
“Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar
certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por outro lado,
reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos. Tão
importante quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético
ao ensiná-los. É a decência com que faço. É a preparação científica revelada
sem arrogância, pelo contrário, com humildade (Idem, p. 103).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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professores no Brasil: leituras a contrapelo. Araraquara/SP, Junqueira&Marin, 2017.
INTRODUÇÃO
1 Mestrando bolsista CNPq no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação. Linha de Pesquisa: Teorias
da Educação e Processos Pedagógicos da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Pró-reitoria de Pós-Gradua-
ção e Pesquisa na Escola de Formação de Professores e Humanidades. pregador@pregador.org. “A produção
deste texto integra as atividades do Grupo de Pesquisa Teorias da Educação e Processos Pedagógicos do PPGE
da PUC Goiás, dentro do projeto financiado pelo CNPq: Concepções de diferentes agentes educativos sobre
finalidades educativas escolares no século XXI: um estudo no Estado de Goiás”. Orientador: Prof. Dr. José Carlos
Libâneo. Atualmente o acadêmico é aluno especial UNIFESP 2019/1 SEA: Metodologias de Investigação e Análise
documental na pesquisa em História da Educação. Ministrada pelo Professor Dr. Fernando Rodrigues de Oliveira.
2019/2. Disciplina: História e historiografia da educação brasileira. Ministrada pela Profa. Dra. Claudia Panizzolo.
[ 1863 ]
1864 Edmar Moreira Alves
política brasileira e, não raras vezes, os discursos políticos se imiscuem nos discursos reli-
giosos. Alguns motivos específicos para essas ações internas podem ser observados,
como a militância, o uso eficiente dos meios de comunicação, a constituição e a constru-
ção de um sistema ideológico singular.
O contexto social como representação ética e moral é exibido de forma simbólica
em suas categorias conservadoras pelos processos nos quais um grupo ou uma socie-
dade partilham um sistema de representação de valores. As mentalidades, as formas, os
símbolos e os mitos passam a ser parte da história cultural brasileira, tendo por objeto o
coletivo, o automático, o repetitivo.
Dessa forma, os novos parâmetros conservadores, fortalecidos pelos conceitos capi-
talistas neoliberais da nova história, representam o sentido das mentalidades coletivas,
gerando uma dependência restrita ao social e em seu reconhecimento como identidade e
formas institucionalizadas. Assim, as finalidades educativas conservadora religiosa e suas
ações culturais refletem uma história de sistemas de crenças, de valores e de representa-
ções em diferentes grupos e épocas em suas ações e seus juízos dos sujeitos sociais.
No intuito de elucidar as finalidades educativas religiosa e as práticas que as com-
põem, faz-se necessário, sobretudo, um olhar acurado sobre o conjunto de ações e de
objetos, de signos e de imagens culturais que regularam a relação da história cultural.
As reformas educativas nos marcos do neoliberalismo têm seu início nos anos 1980
em países da Europa, expandindo-se, em seguida, para as Américas e a África em torno
de cinco estratégias: criar novos padrões de gestão dos sistemas de ensino e das escolas;
reformulação dos currículos; priorização de aspectos financeiros e administrativos; e pro-
fissionalização e formação de professores e sistemas de avaliação em larga escala, tendo
como eixo um novo conceito de qualidade educacional baseado em resultados de desem-
penho dos alunos em provas nacionais.
A história educacional brasileira e a influência conservadora religiosa foram e conti-
nuam sendo um fenômeno sociocultural. O conservadorismo brasileiro defende o fortale-
cimento de instituições tradicionais como a família, a religião e a escola. A ideologia
conservadora apresenta-se como forte propensão a exercer o controle social por meio da
educação, estabelecendo ações de manutenção e reprodução do atual estado das coisas
vigente na sociedade. A linguagem religiosa conservadora é uma expressão mítica, e o mito
utiliza-se de linguagem metafórica, na qual os signos exibidos levam a crer que a aparência
vale pelo real, gerando uma dependência demasiadamente restrita ao social e, às vezes,
absurda em seu reconhecimento como identidade e formas institucionalizadas.
OBJETIVO
Eixos
Objetivos Indicadores
temáticos
Teses Analisar a relevância e a qualidade das Número de citações das palavras-chave.
Dissertações teses, das dissertações e dos artigos
Artigos propriamente ditos identificando a
representatividade e as referências no
ambiente acadêmico.
Autores Identificar a relevância e a representati- Valor do índice por formação acadêmica
vidade dos no âmbito acadêmico. do autor.
Tema Avaliar, por meio dos resumos, palavras- Nota dada em relação ao alinhamento à
-chave o alinhamento ao tema e aos pesquisa.
objetivos propostos pela pesquisa em
questão.
Realizar a pesquisa bibliográfica orientada pela árvore de palavras-chave para a pesquisa sem
nenhuma crítica ou filtro à busca.
Catalogar as teses, dissertações e artigos científicos resultantes da pesquisa bibliográfica utilizando a
ferramenta mais adequada.
Submeter o banco de dados das teses, dissertações e artigos científicos catalogados aos filtros a fim
de depurá-lo.
Selecionar e definir a sequência de leitura das obras.
Definir a necessidade de novas pesquisas em motores de busca a fim de melhorar o enquadramento
teórico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não nascemos humanos; tornamo-nos humanos. É assim que somos definidos por
Campbell (1998), que considera que a humanidade verdadeira só acontece quando per-
mitimos que nossos potenciais aflorem, quando as ações socioculturais se tornam um
verbo a ser aplicado no futuro imediato, à medida que convivemos com as diferentes ins-
tituições, como a família, a escola, a religião, entre outras. Parece, de fato, que ainda
estamos longe de sermos plenamente humanos.
O processo de humanização é uma manifestação quase impossível de se concretizar,
tão distante quanto o desejo de ser hominídeo. É sabido que a civilização não foi um acon-
tecimento inevitável, mas sim resultado da criatividade e da convivência entre humanos.
Há cerca de dez mil anos, quando se deu o início, no Oriente, da Idade da Pedra
Polida, ou período Neolítico, o homem desenvolveu o cultivo da terra, a domesticação de
alguns animais, poliu ferramentas de pedra, fez cerâmica, aprendeu a tecer e, por fim,
estabeleceu o sistema de aldeamentos.
Nossos ancestrais paleolíticos desenvolveram a prática de sepultar os mortos, cuida-
dosamente, em tumbas edificadas ou escavadas. Esse cuidado denotava uma atitude para
com os espíritos dos antepassados que remonta aos períodos mais antigos. A terra na qual
repousavam os ancestrais era considerada o solo do qual brotam, de forma mágica, os sus-
tentos alimentícios da comunidade. É importante a percepção que mostra o ser humano
preso à terra e nela abrindo covas que alimentam os vivos e abrigam os mortos.
O conceito de cultura, segundo Alfredo Bosi (1992), em seu livro Dialética da
Colonização, refere-se à ação de morar e ocupar uma terra; expandindo esse sentido,
denota a ação de trabalhar e cultivar o campo. Desse modo, o termo derivado do idioma
Latim culturus, a terminação urus evidencia a noção de tender a, ou do tempo que está
por vir, ou de se movimentar em sua direção. Cultura, colônia e culto derivam da palavra
colo. Seu particípio passado é cultus, e o particípio futuro é culturus. Portanto, o conceito
de cultura, como Bosi nos apresenta, considera a operação de uma consciência de grupo,
sujeito à intervenção externa, que sai de dentro da existência social agregando os proje-
tos para o futuro. Bosi apresenta cultura como uma herança de valores e objetos com-
partilhados por um grupo humano relativamente coeso. Denota-se que o sistema de
crença, doutrina e conjuntos de convicções pessoais baseia-se no apego à tradição, aos
hábitos e aos costumes antigos. O estadista irlandês Edmund Burke (1790) sinaliza como
ações conservadoras a rejeição sistemática às mudanças ou inovações, a preferência
pelo antigo, pelo espírito conservador. No sentido político, o conservador age de forma
ideológica, com apego exagerado às raízes históricas da nação, aos valores herdados dos
antepassados como forma de controle social.
Dentre as várias concepções usadas para o termo cultura, propomos, no contexto
desta pesquisa, um sistema de signos e significados criados pelos grupos sociais. Ele se
produz e reproduz por meio da interação social entre indivíduos que elaboram seus
modos de pensar e sentir, constroem seus valores, desenvolvem suas identidades e suas
diferenças estabelecendo suas rotinas.
O conceito de cultura, segundo Marilena Chauí (1995), toma o sentido de invenção
coletiva de símbolos, de valores, de ideias e de comportamentos, de modo a afirmar que
todos os indivíduos e grupos são seres e sujeitos culturais. Valorizam-se o patrimônio cul-
tural imaterial, os modos de fazer, a tradição oral, a organização social de cada comuni-
dade, os costumes, as crenças e as manifestações da cultura popular que remontam ao
mito formador de cada grupo.
A visão de Botelho (2010) defende que na linha de continuidade há uma incorpora-
ção da dimensão antropológica da cultura, tendo em vista a formação global do indiví-
duo, a valorização de seus modos de viver, de pensar e de fruir, de suas manifestações
simbólicas e materiais, e que busca, ao mesmo tempo, ampliar seu repertório de infor-
mação cultural, enriquecendo e alargando sua capacidade de agir sobre o mundo.
DESDOBRAMENTO DO PROBLEMA
fatos culturais. Assim, vale a pena suscitar a reflexão sobre a prática de linguagem edu-
cacional conservadora religiosa empregada no Brasil em tempos atuais.
A linguagem conservadora religiosa faz alegações sobre entidades (anjos, deuses,
demônios etc.) e sobre fatos rotineiros ao mesmo tempo que orienta comportamentos
culturais e de algum modo orienta suas ações. Certo é que as crenças e os desejos reli-
giosos conservadores no Brasil, pode e deve ser visto como estados intencionais, estados
da mente que se relaciona com o sociocultural.
Na perspectiva da linguagem conservadora religiosa, as imagens “reino das trevas”,
“reino dos céus”, “coração pecador”, “coração santo”, “coração de Jesus e Maria”, “fogo
do inferno” e outras fortalecem a linguagem ética e moral no contexto das instituições
sociais e estão fortemente vinculadas entre si:
expressa por meio de atos de fala são atos assertivos, diretivos, comissivos, expressivos
e declarativos.
A finalidade educativa da linguagem religiosa utilizada em sala de aula é prática,
expressiva e não referencial, baseada fundamentalmente em imagens, como formas de
expressões “sui generis” da linguagem humana que diz enriquecer a vida em diferentes
instituições de um modo inigualável.
Mirian Jorge Warde (2000) aborda em seu ensaio “Contribuições da história para a
educação brasileira” duas situações simples. A precariedade historiográfica da educação
e o fato de que o objeto em análise nada deve ser oposto ao dele ao estabelecer os fatos.
A historiografia educacional brasileira há de ser, por decorrência crítica epistemológica e
ideológica, desenhada por traçados desiguais entre o real histórico e sua multiplicidade.
Pode se dizer que a história da educação brasileira é filha tardia de ideias e aportes ideo-
lógicos múltiplos.
fortalecem a projeção das imagens, dos valores, do culto à pátria e a seus símbolos e
das tradições familiares.
Nota-se que a história educacional brasileira e a perspectiva conservadora reli-
giosa, seja católica ou protestante, foram e continuam sendo um fenômeno sociocultu-
ral. É inegável o fato de que as práticas escolares perpassam pelo social e suas práticas
institucionais, reafirmando as oportunidades para adquirir novos motivos, competências
sociais, pensamentos e habilidades conceituais. Atualmente, o conservadorismo brasi-
leiro, em suas ações subliminares, defende o fortalecimento de instituições tradicionais
como a família, a religião e a escola.
Hedegaard (2004) desenvolve suas pesquisas aproximando as ações educativas
escolares e a aprendizagem como parte do processo qualitativo. Este ocorre na interação
entre a pessoa e o social, pela mediação de instrumentos simbólicos culturais, pelos
quais a atividade psicológica da criança perpassa pelo processo de abstração, generaliza-
ção e formação de conceitos, elaborando e interiorizando conhecimentos e práticas
sociais históricas.
A perspectiva da didática para o desenvolvimento humano, baseada no duplo
movimento do ensino, usa conceitos cotidianos (conservadores ou não) do aluno em
seus diferentes ambientes institucionais. Com orientações do professor mediador quali-
ficado, torna-se eficaz o alinhamento entre conceitos práticos e teóricos. Esse movi-
mento duplo de ensino é resultado de pesquisa de Mariane Hedegaard, proveniente dos
escritos de Lev S. Vygotsky e Vasily V. Davydov, a base da teoria histórico-cultural.
A relação entre conceitos teóricos científicos e conhecimentos cotidianos pessoais
é frequentemente desenvolvido pela escola e sofre os reflexos de tradições gerais da
sociedade. A situação social do aluno é dependente das tradições gerais da sociedade em
que ele se encontra, criando, de forma dialética, as condições socioculturais em suas
interações científicas. Diferentes contextos institucionais, quando colocados de forma
particular no contexto das crianças, geram um envolvimento real e ativo, assumindo
estruturas cognitivas específicas de participação (HEDEGAARD, 2002; 2008).
Claro, nenhum desenvolvimento vem diretamente do que compreende ape-
nas os pré-requisitos necessários para isso, não importa em que detalhe
podemos descrevê-lo. O método da dialética marxista exige irmos mais longe
e investigar o desenvolvimento como um processo de ‘auto movimento’, isto
é, investigar suas relações de movimentos internos, contradições e transi-
ções mútuas para que seus pré-requisitos apareçam nele como seus próprios
momentos de mudança. (LEONTIEV, 1978, p. 105).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
1 Graduanda do curso de Pedagogia, pela Universidade Federal de Goiás – Faculdade de Educação/UFG, Câmpus I
Colemar Natal e Silva. Bolsista de Iniciação Científica (PIVIC/CNPq). Pesquisa sobre Fracasso Escolar com ênfase
à discussão sobre qualidade da educação. E-mail: castroanaluisa19@gmail.com.
2 Professora associada à Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Educação/UFG, Câmpus Colemar Natal e
Silva. Vinculada ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicologia, Educação e Cultura e ao Programa de Pós – Gra-
duação em Educação, à linha de pesquisa Fundamentos dos Processos Educativos, tem se dedicado aos estudos
e pesquisas sobre as relações entre desigualdades sociais e desigualdades educacionais com ênfase à temática
do fracasso escolar. E-mail: ginaggfaria@gmail.com
[ 1877 ]
1878 Ana Luisa Rocha Castro; Gina Glaydes Guimarães de Faria