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O DEVIR HABITACIONAL: DO VAZIO AO EXISTENTE

TRANSFORMAÇÕES NOS TERRENOS SUBUTILIZADOS E IMÓVEIS SEM


FUNÇÃO SOCIAL DA ZONA CENTRAL DO RIO DE JANEIRO

Ciça Kaline Cruz Rosa¹

GT III – DIREITOS FUNDAMENTAIS DE TERCEIRA DIMENSÃO.


Palavras Chave: Direito à cidade, Vazios Urbanos, Planejamento Urbano,
Habitações de interesse social.

¹Arquiteta e Urbanista e Mestranda em Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da


Universidade Federal do Rio de Janeiro – PROURB/UFRJ.
E-mail: ckalinecruz@gmail.com.
Currículo Lattes:  http://lattes.cnpq.br/1588245024226634
OBJETIVOS
O Presente trabalho, tem por objetivo analisar à luz do princípio de vazios urbanos
e de direito à cidade, os terrenos subutilizados da Zona Central do município do Rio de
Janeiro, bem como as potencialidades para o desenvolvimento de projetos
arquitetônicos de Habitações de interesse social, discutidos no plano reviver o Centro
(Projeto de Lei Complementar N°11/2021 e Projeto de Lei N°190/2021).

O Plano Reviver o centro, ministrado pelo Secretário de Urbanismo da prefeitura


do Rio de Janeiro, Washington Fajardo, visa recuperar a vitalidade do Centro do Rio
para os usos de moradia e trabalho no território. O plano, visa atrair o uso residencial
para a área Central e fomentar faixas de renda diversas, fazendo com que assim haja
uma diversificação de pessoas, ocupando assim os terrenos vazios e imóveis sem função
social que, de acordo com o Estatuto da Cidade estariam enquadrados neste plano.

ABORDAGEM TEÓRICA
O número elevado de imóveis, é formado por antigos domicílios unifamiliares,
com potencial de recuperação e aplicabilidade de projetos arquitetônicos que garantam
o direito à moradia. Atualmente o déficit habitacional é de 220 mil unidades, com
478.473 domicílio vagos situados na área urbana da capital (FJP/ MCidades, 2010).
Dessa forma, propostas de alternativas de habitação são necessárias, com destaque
aquela de ocupação dos vazios urbanos em áreas centrais como uma alternativa à
proposta de implantação de conjuntos habitacionais (BENETTI, PECLY &
ANDREOLI,2017).
É sabido, na conjunção histórica da Cidade, que a questão habitacional se
configura como elemento transversal à história do município do Rio de Janeiro, contudo
não ganhou notoriedade nas mais diversas fases de conjuntura política da cidade, fator
esse evidenciado pelo delineamento da estrutura urbana e aos usos do solo (ABREU,
2003).

Em consonância a esse processo, movimentos de segregação e de afastamento da


cidade informal vem acontecendo ao passar dos anos, gerando deslocamento dos
habitantes para locais onde os equipamentos públicos e de infraestrutura se dão de
forma incipiente (LING,2017).
Segundo Maricato (1996), as classes populares têm direito à ocupação ou à
moradia, mas não direito à cidade, ou seja, os segmentos mais pobres ocupam apenas
determinados locais. Vários são os responsáveis pela evolução da estrutura urbana no
Rio de Janeiro, sendo as classes dominantes protagonistas no norteamento das reformas
urbanísticas que ocorreram ao longo do tempo.

A estrutura atual da área metropolitana do Rio de Janeiro é caracterizada pela


tendência de um modelo dicotômico, no qual há a divisão entre dois elementos: o
núcleo e a periferia, onde a cidade dos ricos se contrapõe àquela dos pobres (ABREU,
1987; BONDUKI, 1998).

É possível observar, em contraposição com o plano citado acima, que o fluxo de


trabalhadores residentes nos subúrbios ou em cidades vizinhas com destino à região
central da capital, gera um fluxo contínuo e pendular, viabilizado pelo uso massivo dos
meios de transporte público, com impacto na mobilidade urbana.
Segundo dados do Plano Diretor de Transporte da Região Metropolitana do Rio
de Janeiro (PDTU,2014), a maioria das pessoas demoram mais de 180 minutos para
chegar a zona Central do Rio de Janeiro. Outro ponto importante a ser citado é que o
Rio de Janeiro possui em sua área central uma supervalorização do solo urbano, o que
impacta na significativa especulação imobiliária dos terrenos, gerando uma quantidade
desproporcional de terrenos ociosos e subutilizados.
Sabe-se que o centro detém 41% dos postos de trabalho do Rio de Janeiro. Dessa
forma, é interessante ao Governo ou à iniciativa privada promover o uso residencial no
centro para os trabalhadores que moram em áreas longínquas. Além disso, com a atual
dinâmica, o centro permanece deserto de residentes devido ao processo de esvaziamento
da área central, gerando uma cidade desordenada e um Centro Histórico com uma
infraestrutura já consolidada que se caracteriza pela supervalorização (MARÇAL,2010;
BORDE,2006).
No Brasil, onde as injustiças sociais estão entre as maiores do mundo, propostas
de projetos de requalificação urbana podem incentivar a moradia popular nas zonas
centrais. Além de estimular a diversidade de usos, a ascensão socioeconômica das
famílias pobres e a qualidade de vida devido a mobilidade urbana e o tempo passado
dentro dos transportes públicos (GALIZA,2015; JACOBS, 2000; MARÇAL,2010).

CONCLUSÕES
Nesta vertente, apresenta-se uma análise do Centro do Rio que, apesar da
vivacidade do comércio e dos serviços, o território possui baixa densidade residencial, o
que faz com que a região fique deserta fora dos dias e dos horários comerciais.
Atualmente, com a pandemia da COVID-19, a situação se agravou, cooperando para o
enfraquecimento das atividades econômicas. A região, que já enfrentava desafios antes,
no presente a situação se tornou ainda mais desafiadora.
O principal tema do artigo é pensar como é possível, de acordo com as leis atuais
e com o novo plano do Secretário de urbanismo da prefeitura do Rio de Janeiro,
potencializar as políticas já existentes relacionadas a população em situação de rua e
pessoas que moram em zonas longínquas da cidade e fazem um movimento pendular no
transporte público todos os dias, gerando uma não qualidade de vida para as mesmas.
Outro ponto a ser falado, é sobre a ampliação de moradias de caráter social,
promovendo a requalificação do espaço, priorizando a população de baixa renda e
reduzindo assim os vazios urbanos encontrados na região, fazendo com que haja mais
segurança e caminhabilidade dos futuros e atuais moradores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, M. de A. Evolução urbana no Rio de Janeiro. 1987.

BATTAUS, D. M.; OLIVEIRA, E. A. B. de. O direito à cidade: urbanização


excludente e a política urbana brasileira. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n.
97, p. 81-106, 2016.

BENETTI, P.; PECLY, M. L..Qualidade da habitação de interesse social em três


escalas: Análise do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) na cidade do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Rio Books. UFRJ. PROURB,2017.

BONDUKI, N. G. Origens da habitação social no Brasil: arquitetura moderna, Lei


do Inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade/ FAPESP,
1998.

______ Vazios Projetuais da área urbana central do Rio de Janeiro: o avesso dos
projetos urbanos. I ENANPARQ (I Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo). Anais, p. 1-23, 2010.
BRASIL, Ministério das Cidades. Política Nacional de Habitação. Brasília, 2004

MARICATO, E. et al. Cidades rebeldes. São Paulo: Boitempo/Carta Maior, 2013.

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