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nome de Eric J.

Hobsbawm va-

O le por todo um programa de


marxismo heurístico" (como
11

queria Sartre): investigação inspirada OS TRABALHADORES


pelo método de Marx, mas feita com Estudos sobre a História do Operariado
mentalidade aberta, empenhada em
compreender uma realidade infinita-
mente rica.
Hobsbawm acumulou, ao longo dos
anos, uma quantidade espantosa de co-
nhecimentos; sua erudição, contudo,
não lhe acarreta a ilusão de saber pre-
viamente cm que consistem os proble-
mas específicos de cada experiência his-
tórica submetida ao seu exame. O que
ele aprendeu com Marx não lhe basta:
seu rnarxisrno inquieta-o, espicaça-lhe
a curio,sidade, leya-o a' se interrogar
sobre .a verdade in,édita de cada comple-
xo de contradições.
Como .éientlsta, Hàbsbawm proc'u-
ra d~Scerult 'a, ~im'ensãó univer,s'àl dos·
fehôméfi,o,s_, 'esfor:Ç;J-:-~e por dCS~cpbrir; a
lei deÍes: f\fils .:itmcà 5e, esquece' de. qÚe
a un'iv~;;<illda'de-é G~~éfeta, nã~. Í1ilui' Ós'
mati~·es ·e.n~ctilià~rc1àÇ\,s, 4â <:~da~ê.a~o.'. , .
, &~~ ' !1,ç'l;il,;iÇão. ~ó!t:l)í:ál~o~Ih\J!Jqllta ", ' ,
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ER!C J. HOBSBAWM

OS TRABALHADORES
Estudos sobre a História do Operariado

ffi
PAZE TERRA
©ERJCJ.HOBSBAWM

Coleção PENSAMENTO CRÍTICO


Vol.45

CTP-I3rasil. Catalogação-na fonte


Sindicato Nacioll<:tl dos Editores de Livros, RJ
SUMÁRIO

H599t
Hobsbaw1n, Eric J.
Os trabalhadores: estudo sobre a história do ~p_erariado . ,
Eric Hobsbawtn; tradução de Marina Leão Teixeira Vtnato de Medeiros.
-São Paulo:
Paz e Terra, 2000

Tradução de: Labouring tnen Prefácio .................................................................................... . 7


Bibliografia
1. Thomas Paine ..................................................................... . 11
ISBN 85-219-0351-0
2. Os Destruidores de Máquinas ............................................. . 17
1. Trabalhadores L Título lf. Série 3. O Metodismo e a Ameaça de Revolução na Inglaterra ........ . 37
4. O Artesão Ambulante ......................................................... . 51
CDD-331
81-0379
CDD-331 5. O Padrão de Vida Inglês de 1790 a 1850 ............................. . 83
6. A História e as "Satânicas Fábricas Escuras" ..._.................. 131
7. O Debate do Padrão de Vida: um Pós-escrito....................... 149
8. Flutuações Econômicas e Alguns Movimentos Sociais
desde 1800 .. . .. ... . .. ... . .. .... .. .... ... ... . .. .... .. .... .. .... .. .... ... . .. ... . .. ... .. 155
EDITORA PAZ E TERRAS/ A
Rua do Triunfo, 177 9. Os Trabalhadores Ingleses do Gás, 1873-1914 .................... 189
Santa Ifigênia, São Paulo, SP - CEPOJ212-0J0 1O. Os Sindicatos Trabalhistas Gerais na Inglaterra,
Te!.: (011) 223-6522
1889-1914........................................................................... 213
E-mail: vendas@pazeterra.com.br
Home Page:www.pazeterra.com.hr
11. Sindicatos Nacionais Portuários.......................................... 241
12. HyndmaneaFSD ............................................................... 271
13. O Dr. Marx e os Críticos Vitorianos..................................... 281
2000
14. Os Fabianos Reconsiderados............................................... 293
I1npresso no Brasil/Pri111ed in RruzJl
15. A Aristocracia do Trabalho na Inglaterra do
319
Século Dezenove ....... ··································· ······················
16. Tendências do Movimento Trabalhista Inglês
367
desde 1850 .......................................................................... .
17. Costumes, Salários e Carga de Trabalho na Indústria
399
do Século Dezenove ...... ······················································
429
18. Tradições Trabalhistas························································· PREFÁCIO

OS ENSAIOS AQUI PUBLICADOS consistem parcialmente


de artigos de vários diários, alguns deles bastante inacessíveis, e par-
cialmente de estudos não publicados, produto ou subproduto do inte-
resse de vários anos na história e assuntos da classe trabalhadora. Eles
abrangem, principalmente, do fim do século dezoito até a Primeira
Guerra Mundial e classificam-se de uma maneira geral em quatro gru-
pos: até a metade do século dezenove,estudos do "novo-sindicalismo"
de 1889-1914, estndos do renascimento do socialismo na Inglaterra no
fim do século dezenove, e um grupo de documentos gerais abrangen-
do um período cronológico bastante mais amplo.Amaioriadestes têm
urna coisa negativa em comum. Ficam fora dos limites da história cro-
nológica direta ou narrativa dos movimentos trabalhistas. Isto foi ini-
ciado com inteligência pelos Webbs e G .D .H. Cole, e na idade do ouro
da história do trabalhismo inglês que começou cerca de quinze anos
atrás, u1n certo número de estudiosos excedentes continuaram, amplia-
ram ou reviram o trabalho deles. Contudo, tem havido comparativa-
mente poucos estudos sobre as classes trabalhadoras corno tais (ao
contrário das organizações e movimentos trabalhistas), e sobre as con-
dições econômicas e técnicas que per1nitiram aos movilnentos traba-
lhistas serem eficientes, ou que os impediram de ser eficientes. Nos
últimos anos este campo começou a atrair maior atenção, mas está ain-

7
6
da bastante escassamente cnltivado. A maioria dos ensaios deste volu-
Macmillan and Lawrence and Wishart, pela permissão de reeditar
me pertencem à última categoria.
material que apareceu antes em suas páginas ou sob o seu patrocínio.
Vários são expositivos. AAristocracia Trabalhista: Costumes,
Salários e Carga de Trabalho e o A rtesiio Ambulante foram as primei-
ras tentativas de reunir material sobre esses assuntos e considerar algu- Londres, Dezembro de 1963
mas de suas implicações. Isto se aplica também aos estudos sobre o
"novo sindicalismo". Outros são polêmicos, ou com o caráter de revi- E. J. Hobsbawm
sões históricas. Assim Os Destruidores de Máquinas tenta rever as opi-
em brA não s~r p_or peq_uenas_correções e alterações, a edição inglesa
niões tradicionais do Luddismo, O Metodismo e a Revoluçiio refuta a
ochura e identica a ed1çao encadernada de 1964 Ist - . "f·
bem conhecida controvérsia de Elie Halévy de que Wesley salvou a ca que t d · o nao s1gm 1-
0 au or esconheça as críticas que foram f ·t- , 1
Inglaterra da convulsão social no começo do século dezenove, e os suas ·1fi - e1 as a a gumas de
,, , ' rmd açoes, ou teria escrito os documentos reimpressos aqui exa-
documentos sobre o padrão de vida são contribuições para a controvér- t amcnte a mesma forma se t" - pretendido
. fazer isso em 1967.
, , , ivesse
sia entre os historiadores que se tornou bastante intensa nos últimos
anos. Os Fabianos Reconsideraram também se destina a rever as opi-
niões tradicionais sobre o assunto. Outros documentos tratam de vários
aspectos da ideologia radical, trabalhista e socialista. Já que alguns dos
ensaios foran1 escritos para diários não-especializados ou para u1n
público não-especialista, são menos carregados do aparato habitual de
erudição do que aqueles destinados principalmente aos especialistas.
Contudo, espero que mesmo os aparentemente mais especializados
contenha1n algo de interesse geral; porque tentei torná-los mais genéri-
cos do que os seus títulos possam algumas vezes sugerir.
A maior parte dos documentos reeditados foram deixados subs-
tancialmente inalterados, a não ser por pequenas correções ou modifi-
cações, e algumas .referências à literatura subseqüente. As principais
exceções são o documento principal sobre o padrão de vida, no qual
incorporei material reunido desde 1957, ou incluídos em outros artigos
não reeditados aqui, e Tendências do Movimento Trabalhista Inglês,
publicado pela primeira vez em 1949, que tem uma última parte rees-
crita e muito ampliada. Ocasionalmente acrescentei um breve pós-
escrito em trabalho subseqüente que afeta o meu argumento. Os leito-
res que desejarem explorar mais a questão devem consultar a
bibliografia completa do trabalho inglês sobre a história do trabalhis-
mo desde 1945, publicada nos primeiros números do Bulletin of the
Society.for the Study of Labour History.
Apresento meus agradecimentos aos editores da Economic His-
tory Review, History Today, Marxism Today, àNew Leji Review, à fale-
cida New Reasoner, à New Statestman, Past & Present, e aos Srs.

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THOMAS PAINE

UMA REVOLUÇÃO MODERADA é uma contradição em ter-


mos, embora umputsch, golpe ou pronunciamento não seja. Por mais
limitados que sejam os objetivos ostensivos de uma revolução, a luz da
Nova Jerusalém deve brilhar através das rachas da alvenaria do Esta-
belecimento eterno que ela abre. Quando a Bastilha cai, os critérios
normais do que é possível sobre a terra são suspensos, e os homens e
mulheres naturalmente dançam nas ruas antecipando a utopia. Os
revolucionários, e1n conseqüência, são cercados por um halo milenar,
por mais teimosas ou por mais modestas que possam ser suas propos-
tas verdadeiras.
Tom Paine refletiu esta luz de arco-íris de uma era "na qual tudo
pode ser procurado". Ele viu diante de si "uma cena tão nova e transcen-
dentalmente inigualada por qualquer coisa no mundo europeu, que o
nome de revolução é diminutivo do seu caráter, e ergue-se numa rege-
neração do homem." "A era atual," sustentava ele, "merecerá doravan-
te ser chamada a Era da Razão, e a geração atual parecerá ao futuro
como o Adão do novo mundo." A América havia se tornado indepen-
dente, a Bastilha havia caído, e ele era a voz de ambos estes aconteci-
mentos maravilhosos. "Uma participação em duas revoluções," escre-
veu ele para Washington, "é vi ver para algum propósito."

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E apesar disso as verdadeiras propostas políticas deste homem desde então. Evidentemente um triunfo triplo desses não é devido a
profunda e instintivamente revolucionário foram quase ridicula1nente acidente.
moderadas. Seu objetivo, "a paz universal, a civilização e o comércio", É devido em parte ao fato de que Paine era o povo para o qual
era o da maioria dos livre-cambistas Vitorianos. Ele negou deliberada· escreveu, os homens que se fizeram por si mesmos, auto-educados,
mente qualquer intenção de "mera refor1na teórica" em assuntos eco- autocoufiantes ainda não divididos finalmente em patrões e emprega·
nômicos. A iniciativa privada era suficientemente boa para ele e "o dos. O homem que foi sucessivamente aprendiL de fabricante de cabos,
processo mais eficiente é o de melhorar as condições do homem atra· professor, suboficial, negociante de fumo, jornalista e "uma pessoa
vés do seu interesse". Sua análise dos males da sociedade, ou seja, de engenhosa, esperando introduzir suas invenções mecânicas na
que a guerra e os impostos altos estavam no fundo disso tudo, ainda é Inglaterra", podia falar por todos eles. Incidentalmente, ele tinha a
doutrina bem fundada no cinturão dos executivos do Sussex, exceto mesma afinidade misteriosa com o público como inventor e como jor-
nas ocasiões em que os lucros dos ar1na1nentos e o medo do comunis- nalista. A mais popular estrutura isolada da Revolução Industrial, a jul-
mo superein o horror dos altos gastos do governo.A incursão mais radi- gar por suas inumeráveis reproduções nos jarros, é a ponte de ferro
cal de Paine no processo econômico foi um imposto de herança de dez sobre o Wear, construída segundo o projeto pioneiro de Paine, embora
por cento proposto para financiar as pens(ies da velhice. Quando veio - caracteristicamente- sem lucros para ele. A descoberta da revolu·
para a França, ele- como outros "Jacobinos)) ingleses - juntou-se à ção co1no um fato deu-lhe, como a seus leitores, a enorme confiança
Gironda, e foi moderado inesmo nesse grupo. num futuro que era deles.
Que ele tenha sido, não obstante, u1n revolucionário, não é sur- Na verdade, a descoberta o fez. A não ser pela luta na América,
preendente. Houve, afinal de contas, uma ocasião em que os industriais em 1776, ele podia ter se tornado uma figura literária de segunda
sólidos estavam preparados para erguer barricadas (ou mais precisa· ordem, ou mais provavelmente um inventor e industrial fracassado,
mente, para apoiar o seu erguimento) contra as forças da iniqüidade porque a ciência aplicada permaneceu a sua primeira e última paixão.
que impediam "a felicidade geral da qual a civilização é capaz", prefe· Seus amigos - inas poucos outros - o teriain ad1nirado como um
rindo reis e duques a homens de negócio. O que é surpreendente é o astro espirituoso e encantador da sociedade de uma cidade pequena,
sucesso extraordinário de Paine, e na verdade provavelmente sem um esportista e um bom parceiro no xadrez ou no picquet* Teriam
paralelo, como porta-voz da revolta. Isto é que o transforma num pro· deplorado moderadamente seu gosto pelo conhaque, e poderiam oca·
blema histórico. sionalmenle comentar a ausência de qualquer vida sexual em alguém
Outros panfletários têm algumas vezes conseguido dar o golpe aparentemente tão sensível aos encantos da beleza. Se ele não tivesse
que justifica a vida do agitador e que o transforma por um momento na emigrado para a América com uma recomendação do astuto Franklin,
voz do homem comum. Paine fez isso três vezes. Em 1776 Common teria sido esquecido. Se ele não tivesse renascido na Revolução, teria
Sense cristalizou as aspirações meio-formuladas pela independência sido lembrado apenas numa tese rara de PhD.
americana. Em 1791 sua defesa da Revolução Francesa, The füghts of Mas ele é inesquecível; e bastante tipicamente, não no mundo do
Man, disse quase tudo que os Radicais Ingleses gostariam de dizer liberalismo ortodoxo, mas no universo sectário darebel ião política e teo-
algumas vezes sobre seu assunto. Diz-se que vendeu 200.000 exem· lógica; e isto apesar do seu fracasso político uniforme, exceto como jor·
pl;res em alguns meses, numa ocasião em que toda a população da nalista, e da sua falta de extremismo. (Ele foi o único membro da Con-
Inglaterra, inclusive as crianças e outros analfabetos, era menor do que venção Francesa que lutou abertamente contra a sentença de morte de
a da Grande Londres de hoje. Em 1794 sua Age ofReason tornou-se o Luiz XVI, embora tenha sido o primeiro a clamar pela república). Seis
primeiro livro a dizer positivamente, cm linguagem compreensível às
pessoas comuns, que a Bíblia não era a palavra de Deus. Isso permane·
,:, NT -Jogo ele 2 a 4 pc~soas con1 32 cartas.
ceu como a afirmação clássica do racionalismo da classe trabalhadora

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das oito vidas publicadas antes da mais recente, do Professor Aldridge, costume que mantinha os homens escravizados e ignorantes foi uma
são de esquerdistas; um comunista publicou suas obras completas. revelação.
Por quê? Porque para a maioria dos leitores de Paine a salvação Em todas as páginas da Age «fReason, como através de gerações
pela iniciativa privada não era a resposta, o que quer que eles pudes- de grupos de discussão da classe trabalhista, fulge a exaltação da des-
sem ter pensado. A oposição a ele e a eles era ostensivamente contra o coberta de como isso é fácil, uma vez que se tenha resolvido a ver cla-
"privilégio" que impedia o caminho da "liberdade"; mas na verdade ramente, a descobrir que o que os padres dizem sobre a Bíblia, ou os
era também contra as forças novas e não-reconhecidas que impeliam ricos sobre a sociedade, está errado. Por todo o Rights of Man brilha a
os homens tais como eles próprios para a pobreza. Eles eram bastante evidência da grande verdade. Para B urke esta razão revolucionária sig-
independentes - como artesãos hábeis, pequenos negociantes ou nificava que "toda a roupagem decente da vida deve ser arrancada vio-
lentamente" para deixar "nossa natureza nua, trêmula" revelada em
fazendeiros - para verem por si mesmos como o futuro, não devido
todos os seus defeitos. Paine não tinha medo de uma nudez que reve-
ao próprio grau de sua opressão (como o proletaiiado marxista) os des-
lasse o homem, feito por si mesmo, na glória de suas infinitas possibi-
tinava à revolução, mas porque era ridículo e irracional que ho1nens
lidades. Sua humanidade permanecia nua, como os atletas gregos, por-
indepeudentes não devessem triunfar. Por outros 25 anos os artesãos
que estava em posição para a luta e o triunfo. Mesmo agora, quando
racionalistas do tipo de Paine não procuraram sua salvação através da
lemos essas frases simples e claras nas quais o bom senso eleva-se ao
"união geral" e uma comunidade cooperativa. Mas a pobreza para eles
heroísmo e uma ponte de ferro fundido cobre a distância entre Thetford
já era um fato coletivo, a ser solucionado e não simplesmente evitado.
e a nova Jerusalém, ficamos eufóricos e comovidos. E se acreditamos
Por estes e para estes pobres autoconfiantes Paine falou. Sua aná- no homem, como podemos deixar, mesmo agora, de animá-lo?
lise importa menos do que sua dedicação iuabalável e arrogante a eles,
expressa com aquela "razão e energia profundas" que Condorcet admi-
(1961)
rava tanto nele. Quando ele falou da felicidade humana, foi o fim da
pobreza e da desigualdade que tinba em mente. A grande questão da
Revolução, apesar de sua devoção aos impostos baixos e à livre inicia-
tiva, foi "se o homem deve herdar seus direitos e ter lugar na civiliza-
ção universal. Se os frutos do seu trabalho devem ser gozados por ele
mesmo ... Se o roubo deve ser banido dos tribunais e a miséria dos paí-
ses." Era que "nos países que chamamos de civilizados vemos a velhi-
ce indo para os asilos e a mocidade para a forca". Era que a aristocra-
cia dominava "aquela classe de pessoas pobres e iniseráveis que estão
tão numerosamente dispersas por toda a Inglaterra, que devem ser avi-
sadas por uma proclamação de que são felizes."
Mas Pajne não disse só aos seus leitores que a pobrezaerainco1n-
patível com a felicidade e a civilização. Disse-lhes que a luz da razão
havia raiado em homens como eles próprios para terminar com a
pobreza, e que a Revolução mostrou como a razão deve triunfar. Ele foi
o menos romântico dos rebeldes. O bom senso auto-evidente e prático
do artesão transformaria o mundo. Mas a simples descoberta de que a
razão pode cortar como um machado através da vegetação rasteira do

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2

OS DESTRUIDORES DE MÁQUINAS

É HORA TALVEZ de reconsiderar o problema da quebra de


máquinas no começo da história industrial da Inglaterra e outros paí-
ses. Quanto desta forma de equívocos do início da luta da classe traba-
lhadora são ainda largamente sustentados. mesmo por historiadores
especializados. Assim, um excelente trabalho publicado em 1950 pôde
ainda descrever o Luddisrno simplesmente corno urna "Jaquerie*
industrial sem propósito e frenética", e urna autoridade eminente que
contribuiu mais do que a maioria para o nosso conhecimento dela, pas-
sa sobre os tumultos endêmicos do século dezoito com a sugestão de
que estes eram o transbordamento da excitação e da animação'. Tais
equívocos são, acho eu, devido à persistência das opiniões sobre a
introdução de maquinaria elaborada no começo do século dezenove, e
às opiniões quanto ao operariado e à história do sindicalismo formula-
das no fim do século dezenove, principalmente por Webbs e seus
seguidores Fabianos. Talvez devamos distinguir as opiniões e as pre-
sunções. Em grande parte das discussões sobre a quebra de máquinas
ainda se pode detectar a presunção dos apologistas econômicos da
classe média do século dezenove, de que se devia ensinar aos operários

0
:' NT- Revolta camponesa na Prança e1n J 358.

17
a não baterem com a cabeça contra a verd.ade econômica, por mais
,, Para m.uito~ não-especialistas os termos "destruidor de máqui-
intragável que fosse; dos Fabianos e Liberais, de qne os métodos com
nas e L~dd1ta sao mtercambiáveis. Isto é apenas natural, porque as
emprego da força na ação trabalhista são menos eficazes do que as
1~surre1ço?s de 18.11 -1813, e de alguns anos após Waterloo neste pe-
negociações pacíficas; de ambos, de que o início do movimento traba-
nado, atra1ram mais a atenção pública do que quaisquer outras, e acre-
lhista não sabia o que estava fazendo, mas simplesmente reagia, cega-
d1ta-~a-se ex1g1rem mais força militar para a sua supressão. o Sr. Dar-
mente e às apalpadelas, à pressão da miséria, co1no os animais nO labo-
vall fez bem em nos lembrar de que os 12.000 soldados empregados
ratório reagem às correntes elétricas, As opiniões conscientes da contra os Ludditas excederam grandemente em tamanho 0 exército
maioria dos estudiosos podem ser resumidas como se segue: o triunfo ~~e Wellmgton levou para a Península em 1808. Contudo a preocupa-
da mecanização era inevitável. Podemos compreender e simpatizar Çdo natural que se tem com os Luddnas tende a confundir a discussão
com a longa ação de retaguarda que todos, exceto uma minoria de tra- da quebra de.máquinas em geral, que começa como um fenômeno sério
balhadores favorecidos, empreenderam contra o novo sistema; mas (se se P_Dde dizer propriamente ter tido um começo) em algum momen-
devemos aceitar sua derrota inevitável e sem propósito. to do seculo dezessete e continua até mais ou menos 1830. Realm ente,
~ · d
As presunções tácitas são inteiramente discutíveis. Nas opiniões a senc e revoltas dos trabalhadores rurais que Hammonds batizo d
"~1· · ue
conscientes há obviamente uma boa dose de verdade. Ambas, contu- u tlma msurreição de trabalhadores" em 1830 foi essencialmente
do, obscurecem uma boa parte da história. Assim elas tornam impossí- um,a ofens_iva importante contra a maquinaria agrícola, embora des-
vel qualquer estudo real dos métodos de luta da classe trabalhadora no trmsse mc1denta~mente também uma quantidade razoável de equipa-
período pré-industrial. No entanto tal estudo é extremamente necessá- me~to mdustnal . Em pnme1ro lugar, o Luddismo, tratado como um
rio. Um olhar muito apressado sobre o movimento trabalhista do sécu- fenomeno isolado para fins administrativos, abrangia vários tipos dife-
lo dezoito e começo do dezenove mostra como é perigoso projetar o rentes de quebra de máquinas, que na maior parte existiam indepen-
quadro da revolta desesperada e retirada, tão familiar de 1815-48, d~ntemente uns dos outros, exceto antes e depois. Em segundo lugai-, a
longe demais no passado. Dentro de seus limites, e eles eram, intelec- rap1da derro:a do Ludd1smo levou a uma crença generalizada de que a
tual e organizacionalmente muito estreitos, os movimentos do longo quebra de maqumas nunca era bem-sucedida.
surto econômico que ter1ninou com as guerras N apoleônicas não Vamos ,considerar o primeiro ponto. Há pelo menos dois tipos de
foram nem desprezíveis nem completamente malsucedidos. Grande q~ebra de maqumas, bastante diferentes da quebra incidental dos dis-
parte deste sucesso foi obscurecido pelas derrotas subseqüentes: a turb1os comuns contra os altos preços ou outras causas de desconten-
forte organização da indústria de lã do oeste da Inglaterra decaiu com- tamento - por exemplo, uma parte da destruição no Lancashire em
pletamente para só reviver na ascensão dos sindicatos gerais durante a 1811 '.e no Wiltshire em 18265• O primeiro tipo não implica nenhuma
primeira grande guerra; as corporações de ofícios dos trabalhadores host1h~ade especial contra as máquinas como tal, mas é, sob certas
belgas de lã, suficientemente fortes para vencer acordos coletivos vir- cond1çoes, um meio normal de fazer pressão contra os empregadores
tuais na década de 1760, decaíram após 1790 e até o começo da déca- ou os trabalhadores extras. Como foi notado com 1·ustiça os Ludd't
dN'h . , ias
da de 1900 o sindicalismo esteve morto para fins práticos'. e ottmg amshire, Leicestershire e Derbyshire "estavam usando os
Contudo não há realmente nenhuma desculpa para ignorar de ata:ues contra a maquinaria, quer nova ou veJha, coino meio de forçar
qnalquer modo a força destes primeiros movimentos na Inglaterra; e a seus empregadores a fazer-lhes concessões com relação a salários e
5
menos qne percebamos que a base do poder estava na quebra das outras questões ." Este tipo de destruição era uma parte tradicional e
~stabelec1da do conflito industrial no período do sistema doméstico de
máquinas, nas arruaças e na destruição das propriedades em geral (ou,
labncação, e nas primeiras fases das fábricas e das minas. Ele não era
em termos modernos, na sabotagem e na ação direta), não vemos sen-
d1~1g1do apenas contra as máquinas, mas também contra as matérias-
tido neles.
pnmas, produtos acabados, ou mesmo a propriedade privada dos
18
19
empregados, dependendo do tipo de danos a que estes eram mais sen- Certamente a destruição das máquinas foi a arma mais importante usa-
síveis. Assim, em três meses de agitação em 1802, os tosquiadores de da nos famosos tumultos de 1778 (os ancestrais do Luddismo), que
Wiltshire queimaram montes de feno, celeiros e choças de negocian- foram essencialmente parte de um movimento para resistir às reduções
tes de tecidos impopulares, abateram suas árvores,destruíram carrega- de salários.
mentos de pairo, bem como atacaram e destruíram suas fábricas'. Em nenhum destes casos - e outros podem ser mencionados -
A prevalência desta "negociação coletiva através da arruaça" é houve qualquer questão de hostilidade às máquinas como tais. Ades-
bem demonstrada. Assim - para tomar simplesmente os ofícios têx- truição era simplesmente uma técnica do sindicalismo no período ante-
teis do oeste da Inglaterra - os negociantes de tecidos queixaram-se rior, e durante as primeiras fases da Revolução Industrial. (O fato de os
ao Parlamento em 1718 e 1724 que os tecelões "ameaçaram demolir sindicatos organizados dificilmente existire1n ainda nos ofícios envol-
suas casas e queimar seu trabalho a menos que concordassem co1n suas vidos, não afeta grandemente o argumento. Nem tampouco o fato de,
condições 8." As disputas de 1726-7 foram travadas no Somerset, Wilt- com a chegada da Revolução Industrial, a destruição adquirir novas
shire e Gloucestershire, bem como em Devon, por tecelões "invadin- funções.) Ela era mais útil, quando tinha que ser feita pressão intermi-
do as casas (dos patrões e furadores de greves), estragando a lã e cor- teme sobre os patrões, do que quando tinha que ser mantida pressão
tando e destruindo as peças nos teares e os utensílios do ofício'." Elas constante: quando os salários e as condições mudavam subitamente,
terminaram em algo parecido com um contrato coletivo. O grande como entre os trabalhadores têxteis, ou quando os contratos anuais che-
tumulto dos trabalhadores têxteis em Melksham em 1738 começou gavam para renovação simultânea, como entre os mineiros e marinhei-
com os trabalhadores cortando todas as correntes dos teares pertencen- ros, mais do que quando, digamos, a entrada no mercado tinha que ser
tes ao Sr. Coulthurst... por ele ter baixado os Preços"';" e três anos mais firmemente restrita. Ela põdc ser usada por todos os tipos de pessoas,
tarde empregadores ansiosos na mesma área estavam escrevendo para desde os pequenos produtores independentes, através das formas inter-
Londres pedindo proteção contra as exigências dos homens de que mediárias tão típicas do sistema de produção doméstica, até os assala-
nenhum estranho devia ser empregado, sob pena de destruição da lã". riados mais ou menos completamente capacitados. Contudo dizia res-
E assim por diante, durante todo o século. peito principalmente mais às disputas que surgiam do relacionamento
Novamente, quando os mineiros de carvão tinham chegado ao social típico da produção capitalista, do que entre empresários empre-
ponto de dirigir suas exigências contra os empregadores de mão-dc- gadores e os homens que dependiam, direta ou indiretamente, da venda
obra, usaram a técnica da destruição. (Na maior parte, naturalmente, as da sua força de trabalho a eles; embora este relacionamento existisse
insurreições dos mineiros ainda eram dirigidas contra os altos preços ainda em formas primitivas, e estivesse confundido com as relações da
dos alimentos, e os exploradores julgavam-se responsáveis por eles.) pequena produção independente. Vale a pena notar que os distúrbios e
Assim, no campo de carvão de Northumberland, o incêndio da maqui- destruições deste tipo parecem mais freqüentes na Inglaterra do século
naria da boca do poço fez parte dos grandes tumultos da década de dezoito, com a sua Revolução "burguesa" por trás, do que na França do
1740, que deu aos homens um aumento de salários bastante grande". século dezoito". Certamente os movimentos dos nossos tecelões e
Novamente, as máquinas foram despedaçadas e o carvão incendiado mineiros são muito diferentes das atividades superficialmente pareci-
nos tumultos de 1765, o que deu aos mineiros a liberdade de escolhe- das com as dos sindicatos das associações de assalariados e1n áreas con-
rem seus empregadores no fim do contrato anual". Leis do Parlamen- tinentais muito mais primitivas 18 .
to contra o incêndio de poços foram baixadas a intervalos durante a O valor desta técnica era óbvio, tanto como meio de fazer pres-
última parte do século". Mesmo em 1831 os grevistas em Bedlington são nos empregadores, como de garantir a solidariedade essencial dos
(Durham) destruíram mecanismos de içamento". trabalhadores.
A história da destruição de fôrmas no ofício de malharia do East O primeiro ponto é admiravelmente apresemado numa carta do
Midlands é por demais conhecida para precisar ser contada de novo' 6• secretário da câmara municipal de Nottingham em 1814". Osfabrican-

20 21
tes de malha, em bastidores, comunicava ele, estavam agora em greve fábrica ou localidade, percorrendo toda a região, convocando aldeias,
contra a firma de J. e George Ray. Já que esta firma empregava princi- oficinas e fábricas por uma mistura de apelos e força (embora poucos
palmente homens que possuíam seus próprios teares, eram vulneráveis trabalhadores precisassem de muita persuasão nas primeiras fases da
22
a uma simples suspensão das encomendas. A maioria das firmas, con- luta) • Mesmo muito mais tarde as demonstrações e reuniões de mas-
tudo, alugavam os teares aos fabricantes de malha "e através deles sa constituíam uma parte essencial das disputas trabalhistas - não só
adquiriam controle total de seus trabalhadores. Talvez a maneira mais para intimidar os empregadores, como para manter os homens juntos
eficaz pela qual a combinação podia coagi-los era o seu meio anterior e auimados. Os tumultos periódicos dos marinheiros do Nordeste, no
de continuar a guerra destruindo seus bastidores." Num sistema tempo em que os contratos de trabalho eram fixos, são um bom exem-
doméstico de indústria, onde pequenos grupos de homens, ou homens plo"-'; as greves dos portuários modernos outro24. Evidente1nente a téc-
isolados, trabalhavam espalhados em numerosas aldeias e pequenas nica Luddista estava bem adaptada para esta fase da guerra industrial.
casas de campo, de qualquer maneira não é fácil conceber qualquer Se os tecelões ingleses do século dezoito (ou os madeireiros america-
método que possa garantir uma parada eficaz. Além do mais, contra nos do século vinte) foram um grupo de homens proverbialmente
empregadores locais comparativamente pequenos, a destruição de desordeiros, havia sólidos motivos técnicos para serem o que eram.
propriedades - ou a ameaça constante de destruição - seria bastan- Quanto a este ponto também temos alguma confirmação de um
te eficaz. Onde, como na indústria de roupas, tanto a matéria-prima moderno líder sindical que, quando criança, viveu a transição de uma
como o artigo acabado são caros, a destruição de lã ou da roupa pode indústria de lã de doméstica para o sistema de fábrica. "É necessário
bem ser preferível à dos teares2º. Mas nas indústrias se1ni-rurais ines- lembrar", escreve Rinaldo Rigola," "que naquela época pré-socialista
mo o incêndio das medas, celeiros e casas dos empregadores pode afe- a classe trabalhadora era uma turba, não um exército. As greves escla-
tar seriamente sua conta de lucros e perdas. recidas, ordeiras e burocráticas eram impossíveis. (R. é u1n conserva-
Mas a técnica tem outra vantagem. O hábito da solidariedade, dor extremo entre os líderes sindicais - E.J.H.) Os trabalhadores só
que é o fundamento do sindicalismo eficaz, leva tempo para aprender
podiam lutar por meio de demonstrações, gritaria, incitação e vaias,
- mesmo onde, como nas ininas de carvão, ele se sugere naturalmen-
intimidação e violência. O Luddismo e a sabotagem, embora não ele-
te. Leva mais tempo ainda para integrar o código de ética inconteste da
vados à categoria de doutrinas, tinham apesar de tudo de fazer parte dos
classe trabalhadora. O fato de os fabricantes de malhas em bastidores métodos de luta."
espalhados no East Midlands poderem organizar greves eficazes ccm-
Devemos agora nos voltar para o segundo método de destruição,
tra as firmas empregadoras, por exemplo, atesta um alto nível de
que é geralmente considerado como a expressão da hostilidade da clas-
"moral sindical"; mais alto do que poderia normalmente ser esperado
nesse período da industrialização. Além do mais, entre homens e se trabalhadora às novas máquinas da Revolução Industrial, especial-
mulheres mal pagos, sem fundos de greve, o perigo de furadores de mente as que economizam mão-de-obra. Naturalmente, não pode
greves é sempre agudo. A quebra de máquinas foi um dos métodos de haver nenhuma dúvida do grande sentimento de oposição às novas
contra-atacar estas fraquezas. Desde que o equipamento de içamento máquinas; um sentimento bem fundado, na opinião de nada menos que
de um poço de mina N orthumbriano fosse quebrado, ou o alto-forno de uma autoridade como o grande Ricardo". Contudo três observações
uma fundição galesa posto fora de serviço, havia pelo menos uma devem ser feitas. Primeiro, esta hostilidade não era nem tão indiscri-
garantia temporária de que a fábrica não funcionaria". Este era apenas minada nem tão específica como se tem presumido muitas vezes.
um dos métodos, e não aplicável em toda parte. Mas todo o complexo Segundo, com exceções locais ou regionais, ela foi surpreendentemen-
de atividades que os administradores do século dezoito e começo do te fraca na prática. Finalmente, ela de maneira alguma se restringiu aos
dezenove chamavam de 'Tumulto" conseguiam o mesmo fim. Todos trabalhadores, mas foi partilhada pela grande massa da opinião públi-
estão familiarizados com os bandos de militantes ou grevistas de uma ca, inclusive muitos industriais.

22 23
(i) O primeiro ponto ficará claro, se considerarmos o problema dores de máquinas do Lancashire de 1778-90 distinguiram claramente
como ele se apresentava ao próprio trabalhador. Ele estava preocupa- entre máquinas de fiar de 24 fusos ou menos, que eles pouparam, e as
do, não com 0 progresso técnico abstratamente, mas com os ~roblemas grandes, adequadas apenas para uso em fábricas, que destruíram1º. Na
gêmeos práticos de impedir o desemprego e manter o padrao de vida Inglaterra, que estava mais familiarizada com as relações sociais da
habitual, que incluía fatores não-monetários tais como a liberdade e a produção que anteciparam aquelas do capitalismo industrial, sem dúvi-
dignidade, bem como os salários.Assim, não era às máqu.inas como ta! da este tipo de comportamento é menos inesperado do que em outros
que ela objetivava, mas a qualquer ameaça a estes - acima de tudo a lugares. Nem devemos ler demais a respeito. Os homens de 1760 esta-
mudança total nas relações sociais da produção que o ameaçavam. Se vam ainda longe de compreender a natureza do sistema econômico que
esta ameaça vinba da máquina, ou de alguma outra parte, dependia das estavam prestes a enfrentar. Apesar de tudo, é evidente que a luta deles
circunstâncias. Os tecelões de Spitaltields insurgiram-se contra as não foi urna simples luta contra o progresso técnico como tal.
máquinas pelas quais "um homem pode produzir tanto ... como quase Nem há, na maior parte, qualquer diferença fundamental na ati-
vinte sem elas" em 1675; contra os usuários de chita estampada em tude dos trabalhadores em relação às máquinas, tomada como um pro-
1719; contra os imigrantes que trabalhavam abaixo do preço em l 736; blema isolado, nas primeiras e últimas fases da industrialização. É ver-
e eles destruíram teares contra o corte de salários na década de 1760": dade que em muitas indústrias o objetivo de impedir a introdução de
mas 0 objetivo estratégico destes movimentos era o mesmo. Por volta máquinas indesejáveis havia cedido lugar, com o advento da mecani-
de l 800 os tecelões ocidentais e os tosquiadores entraram simultanea- zação completa, ao plano de "capturá-las" para os trabalhadores que
mente em ação; os pri1neiros se organizaram contra a inundação do gozavam de padrões e condições sindicais, enquanto tornavam todas
mercado de trabalho por trabalhadores extras, os últimos contra as as medidas praticáveis para minimizar o desemprego tecnológico.
rnáquinas 28 • Contudo, o objetivo deles, o controle do mercado de traba- Esta política parece ter sido adotada improvisadarnente após a década
lho, era 0 mesmo. Inversamente, quando a mudança não trazia absolu- de 18401 ' e durante a Grande Depressão, mais genericamente após o
tamente desvantagem aos trabalhadores, não encontramos nenhuma meio da década de 18901'. No entretanto, há muitos exemplos de opo-
hostilidade especial contra as máquinas. Entre os tipógrafos, a adoção sição direta às máquinas que ameaçam criar o desemprego ou rebaixar
de prensas movidas a motor após 1815 parece haver causado pouca o trabalhador mesmo hoje em dia''. No funcionamento normal da eco-
perturbação. Foi a revolução posterior na composição de tipos que, já nomia da iniciativa privada os motivos que levaram os trabalhadores a
que ameaçava um rebaixamento por atacado, provocou a l~ta ~ Entre
20
não confiar nas novas máquinas na década de 181 Ocontinuam convin-
0 coineço do século dezoito e o ineio do dezenove a meca111zaçao e os
centes na década de 1960.
novos implementos aumentaram grandemente a produtividade do (ii) O argumento até agora pode ajudar a explicar por que, afinal
mineiro de carvão; corno a introdução, por exemplo, das explosões de de contas, a resistência às máquinas foi tão pequena. O fato não é geral-
dinamite. Contudo, como eles deixaram a posição do cortador intoca- mente reconhecido, porque a mitologia da era pioneira do industrialis-
da, não ouvltnos falar de nenhu1n movin1ento ünportante para resistir mo, que homens como Baines e Samuel Smiles refletiram, exageraram
às mudanças técnicas, embora os mineiros fossem proverbialmente os tumultos que ocorreram realmente. Os homens de Manchester gos-
ultraconservadores e arruaceiros. A restrição da produção praticada tam de pensar cm si mesmos não só como monumentos da iniciativa e
pelos trabalhadores sob a iniciativa privada é uma questão totalme~te da sabedoria econômica, como também - uma tarefa mais difícil -
diferente. Ela pode ocorrer e ocorre em indústrias completamente nao- como heróis. Wadsworth e Mannreduziram os tumultos do Lancashire
mecanizadas - por exemplo, na indústria de construção; nem depen- no século dezoito a proporções mais modestas". Na verdade temos
de ela de 1novimentos ostensivos, organizações ou insurreições. registro apenas de alguns movimentos de destruição realmente gene-
Em alguns casos, na verdade, a resistência à máquina foi com bas- ralizados tais como os dos trabalhadores rurais, que provavelmente
tante consciência uma resistência nas mãos do capitalista. Os destrui- destruíram a maioria das debulhadoras nas áreas afetadas," as cornpa-

24 25
nhias especializadas de pequenos grupos de tosquiadores na Inglater- mendado a Paralisação do Emprego de Máquinas usadas para debulhar
ra e e1n outras partes 36. e talvez os tumultos contra os teares movidos a Milho e para outros Fins". "As máquinas," alegou ele, "têm tanto direi-
motor em 1826". As destruições do Lancashire de 1778-80 e de 1811 to à proteção da Lei como qualquer outro tipo de Propriedade""'.
restringiram-se a áreas limitadas e número limitado de fábricas. (Os Nem isto é de surpreender. Os empresários capitalistas completa-
grandes movimentos do East Midland de 1811-12, não foram, como mente desenvolvidos formavam uma pequena minoria, mesmo entre
vimos, absolutamente dirigidos contra a nova maquinaria.) Isto é devi- aqueles cuja posição era tecnicamente a de auferidores de lucros. O
do não só ao fato de qne nm pouco de mecanização era considerada pequeno lojista ou patrão local não queria uma economia de expansão
inofensiva. Como foi acentuado'~. a maioria das máquinas tendiam a ilimitada, acumulação e revolução técnica, a selvagem briga de foice
ser introduzidas em ocasiões de prosperidade crescente, quando o ní- que condenava os fracos à falência e ao status de assalariado. Seu ideal
vel de empregos estava melhorando e a oposição, não totalmente era o sonho secular de todos os "pequenos homens", que encontrou
mobilizada, pôde ser dissipada por algum tempo. Quando as dificulda- expressão periódica em Leveller, no radicalismo Jeffersoniano ou
des voltaram, o momento estratégico para se opor aos novos implc- Jacobino, uma sociedade em pequena escala de proprietários modestos
mentos havia passado. Novos trabalhadores para operá-los já haviam e assalariados em condições confortáveis, sem grandes distinções de
sido recrutados, os operários antigos ficaram de fora, capazes apenas riqueza ou poder; embora sem dúvida, em sua maneira discreta, fican-
de destruições ao acaso de seus competidores, incapazes de se impo- do mais ricos e mais confortáveis o tempo todo. Esse era um ideal irrea-
rem sobre a máquina. (A menos, naturalmente, que tivessem bastante lizável, e mais ainda na evolução muito rápida das sociedades. Lem-
sorte de possuir um mercado especializado que não fosse afetado pela bremo-nos, contudo, de que aqueles a quem isso era dirigido na Europa
produção à máquina, como os que fabricavam sapatos à mão e os do começo do século dezenove constituíam a maioria da população, e
alfaiates fizeram nas décadas de 1870 e 80.) Um motivo pelo qual a fora de indústrias tais como a do algodão, da classe empregadora". Mas
destruição pelos tosquiadores era muito mais persistente e séria do que mesmo o empresário capitalista genuíno podia pensar de duas maneiras
a pelos outros foi que estes homens-chaves altamente especializadas e quanto às máquinas.A crença de que ele devia favorecer inevitavelmen-
organizados mantiveram muito controle sobre o mercado de trabalho, te o progresso técnico como uma questão de interesse próprio não tem
mesmo após a mecanização parciaF 9 . fundamento, mesmo que a experiência do capitalismo francês e do capi-
(iii) A mitologia dos industriais pioneiros obscureceu também a talismo inglês posterior não estivessem disponíveis. Bastante diferente
avassaladora simpatia pelos destruidores de máquinas em todos os da possibilidade de ganhar mais dinheiro sem máquinas do que com
segmentos da população. No Nottinghamshire não foi denunciado um elas (em mercados protegidos etc.), só raramente eram as novas máqui-
único Luddita, embora muitos dos pequenos patrões devessem conhe- nas proposições lucrativas imediatas e óbvias.
cer perfeitamente bem quem quehrou seus bastidores'°. No Wiltshire Há, na história de qualquer implemento técnico, um "limiar de
onde se sabia que os intermediários que terminavam as roupas e os lucro" que é atravessado bastante tarde - quanto maior o capital que
pequenos patrões simpatizavam com os tosquiadores," os verdadeiros tem que ser enterrado numa máquina, mais tarde. Daí, talvez, a prover-
terroristas de 1802 não puderam ser descobertos.42 Os negociantes e bial falta de sucesso comercial dos inventores, que enterram o seu pró-
fabricantes de lã de Rossendale baixaram, eles próprios, resoluções prio dinheiro e de outras pessoas em seus projetos enquanto eles ainda
contra os teares movidos a inotor alguns anos antes de os homens des- são inevitavelmente imperfeitos e de maneira alguma evidentemente
truí-los''. Durante a insurreição dos trabalhadores de 1830 o Escrivão superiores aos seus rivais não-mecanizados 47 . Natural1nente, a econo-
dos Magistrados de Hindon, no Wiltshire, comunicou que "onde a tur- mia de livre iniciativa pode superar estes obstáculos. O que foi descri-
ba não destruiu a maquinaria, os fazendeiros expuseram a mesma a fim to como o "vasto surto do século" de 1775-1875 criou situações, aqui
de ser destruída"" e Lord Melbourne teve que enviar uma circular em e ah, que forneceram aos empresários em algumas indústrias - a do
termos incisivos aos Magistrados que havia "em muitos casos reco- algodão por exemplo - o ímpeto para saltar além do "limiar"' 8 • O pró-

26 27
prio mecanismo de acumulação do capital numa sociedade passando estas se chocavam com interesses mais antigos e maiores. Os proprie-
poru1narevolução forneceu outros. Desde que houvesse concorrência, tários rurais ocidentais em alguns condados devem ainda brindar à
os progressos técnicos da seção pioneira espalhavam-se sobre um sombra de uma hierarquia feudal desaparecida numa sociedade imutá-
campo bastante largo. Contudo não devemos nos esquecer de que os vel: de qualquer maneira não havia nenhum traço significativo de polí-
pioneiros eram minoria. A maioria dos capitalistas tomaram a nova tica feudal nos governos Whigs, após 1688. A simpatia de Londres iria
máquina no primeiro caso não co1no uma ar1na ofensiva para obter provar ser de inestimável valor para os novos industriais quando sua
maiores lucros, mas como uma arma defensiva para se proteger contra ascensão monetária começou no último terço do século. Em questões
a falência que ameaçava o competidor retardatário. Não ficamos sur- de política agrária, comercial ou financeira o Lancashire podia estar
presos ao ver E.C. Tufnell em 1834 acusando "muitos patrões do em conflito com Londres, mas não na supremacia fundamental do
comércio de algodão ... do comportamento vergonhoso de incitar os empregador em busca de lucros. Foi o Parlamento não reformado no
trabalhadores a se voltarem contra os fabricantes que eram os primei- seu período mais ferozmente conservador que introduziu o laissez-
ros a expandir suas máquinas de fiar"". Os pequenos produtores e os faire total nas relações entre empregador e trabalhador. A economia da
empresários médios estavam numa posição a1nbígua, mas sem poder livre iniciativa clássica dominava os debates. Nem Londres tampouco
independente para mudá-la. Eles podiam antipatizar com a necessida- hesitava em bater nas juntas dos dedos dos seus representantes locais
de de novas máquinas, quer por elas alterarem sua maneira de viver, mais antiquados e sentimentais se eles deixassem "de manter e apoiar
quer porque, sob qualquer consideração racional, elas não eram real- os drrertos da propriedade de qualquer tipo, contra a violência e a
1nente bom negócio no momento. De qualquer maneira eles as viam agressão"-" 2 .
como reforçando a posição do grande empresário modernizado, o prin- No entanto, até a última parte do século dezoito, o apoio do Esta-
cipal rival. As revoltas da classe trabalhadora contra as máquinas de- do ao empresário inovador não era irrestrito. O sistema político da
ram a esses homens sua oportunidade; muitas vezes eles a aproveita- Inglaterra de 1660 até l832 era destinado a servir aos industriais ape-
ram.Pode-se concordar razoavel1nente com o estudante francês de nas na medida em que abrissem caminho à força do dinheiro para den-
quebra de máquinas que observa que "algumas vezes o estudo detalha- tro do círculo dos interesses adquiridos de um tipo mais antigo -pro-
do de um incidente local revela o movimento Luddita menos como prietários com mentalidade comercial, comerciantes, financistas,
uma agitação do trabalhador, do que como um aspecto da competição ricaços etc. _Na melhor hipótese eles podiam apenas esperar uma par-
entre o lojista ou fabricante atrasado e o progressista-"º. cela do bamJ de carne de porco proporcional à pressão que fizessem, e
Se o empresário inovador tinha o grosso da opinião pública con- no :orneço do século dezoito os industriais "modernos" eram até então
tra ele, como conseguiu ele se impor? Por meio do Estado. Foi bem apE ias grupos ocasionais de provincianos. Daí, em certas ocasiões,
comentado o fato de que na Inglaterra a Revolução de 1640-60 marca um, certa neutralidade do Estado nas questões trabalhistas, de qual-
o momento decisivo na atitude do Estado em relação à inaquinaria. quer maneira até o meio do século dezoito". Os fabricantes ocidentais
Após 1660, a hostilidade tradicional aos equipamentos que tomam o de roupas se queixavam amargamente que a maioria dos juízes de paz
pão da boca dos homens honestos deu lugar ao encorajamento da ini- locais estavam predispostos contra eles'". A atitude do governo nacio-
ciativa em busca de lucros, qualquer que fosse o custo social''. Este é nal nos tumultos dos tecelões de 1726-7 coutrasta surp;eendentemen-
um dos fatos que nos justifica em considerar a Revolução do século tecom adaHome Office da década de 1790 em diante. Londres lamen-
dezoito como o verdadeiro começo político do moderno capitalismo tou que os fabricautes locais de roupas hostilizassem sem necessidade
inglês. Durante todo o período subseqüente o aparelho central do Esta- os homens prendendo os arruaceiros; ridicularizava as sugestões de
do tendeu a estar, se não adiante da opinião pública em questões eco- que eles eram sediciosos; sugeriu que ambas as partes se reunissem
nô1nicas, então pelo menos mais disposto a considerar as reivindica- amigavelmente, de forma que uma petição apropriada pudesse ser
ções do empresário totalmente capitalista - exceto, é claro, quando redigida e o Parlamento pudesse agir''. Quando isto foi feito, o Parla-

28 29
mento sancionou um acordo coletivo que deu aos homens grande parte
do que desejavam, ao custo de uma "desculpa" perfunctória "pelos minas de carvão se a redução dos salários nas minas do Tyne edo Wear-
tumultos passados"", Novamente, a freqüência da legislação ad hoc s_1de podia "ser efetuada sem perigo para a tranqüilidade do distrito ou
no século dezoito 57 tende a mostrar que nenhuma tentativa sistemática, nsco de destruição de todas as minas, com toda a maquinaria, e 0 valio-
consistente e geral foi feita para obrigar o seu cumprimento, À medida so capital nelas investido". Ele achava qne não". Inevitavelmente, 0
que o século avançava, a voz do industrial se tornou cada vez mais a empregad~r que se defrontava com esses riscos fazia uma pausa antes
voz do governo nestas questões; mas anteriormente ainda era possível de provoca-los, com medo de que "sua propriedade e talvez sua vida
aos homens lutar ocasionalmente com grupos de patrões em termos (pudessem) correr perigo em conseqüência"." "Muito mais patrões do
mais ou menos justos. que se podia esperar," notou Sir John Clapham com injustificada sur-
Chegamos agora ao último e mais complexo problema: qual a presa, apmaram a manutenção das Leis dos Tecelões de Seda de Spi-
eficácia da destruição de máquinas? É, acho eu, justo afirmar que a talfields, porque sob elas, alegavam eles, "o distrito viveu num estado
negociação coletiva através do tumulto foi pelo menos tão eficiente de quietude e repouso"'''.
como qualquer outro meio de exercer pressão sindical, e provavelmen- Podem o tumulto e a quebra de máquinas, contudo, deter 0 avan-
te mais eficiente do que qualquer outro meio disponível antes da era ço do progresso técnico? Patentemente uão pode deter 0 triunfo do
dos sindicatos nacionais para grupos tais como os tecelões, marinhei- cap1ta~1s~o industrial como um todo. Numa escala menor, no entanto,
ros e mineiros. Isso não é afirmar muito. Os homens que não gozam da eles nao sao de maneira alguma a arma desesperadamente ineficiente
proteção natural dos pequenos números e escassas habilidades de que se tem leito parecer. Assim, supõe-se que 0 medo dos tecelões de
aprendiz, que podem ser salvaguardadas pela entrada restrita no mer- Norw1ch impediu a introdução de máquinas lá". O Luddismo dos tos-
cado e monopólios de contratação das Firmas, estavam em qualquer quiadmes ~o Wiltshire em 1802 certamente adiou a generalização da
caso obrigados normalmente a ficar na defensiva. O sucesso deles por- rnecamzaçao; uma petição de 1816 nota que "no tempo da Guerra não
tanto devia ser medido pela sua capacidade de manter as condições havia nenhuma percha* nem Bastidores em Trowbridge mas lamento
estáveis- por exemplo, níveis de salários estáveis - contra o desejo relat~r que estão a~ora aumeutaudo Todo Dia"'''. Por paradoxal que
perpétuo e bem anunciado dos patrões de reduzi-los ao nível da fome 58 • pareça, a destru1çao pelos mdefesos trabalhadores rurais em 1830
Isto exigiu urna luta incessante e eficiente. Pode"se alegar que a esta- parece ter sido a mais eficiente de todas. Embora as concessões sala-
bilidade no papel era minada constantemente pela lenta inflação do nais em breve perdidas, as máquinas de debulhar não voltaram de
século dezoito, que fraudava com firmeza o jogo contra os 1ssalaria- rnrne1ra alguma na velha escala 6". Quanto desse sucesso foi devido aos
dos;'" mas seria pedir demais das atividades do século dezoi J enfren- h~1 iens, q~anto ao Luddismo latente ou passivo dos próprios empre-
tar isso. Dentro dos seus limites, dificilmente se pode neg1r que os gaG Jres, nao podemos, contudo, determinar. No entretanto, qualquer
tecelões de seda de Spitalfields se beneficiaram com os seus tumul-

l
que SeJa a verdade na questão, a iniciativa veio dos ho1nens, e até esse
tos60. As disputas dos barqueiros, marinheiros e mineiros no Nordeste, ponto eles podem reivindicar uma parcela importante em qualquer
das quais temos registros, terminaram, não raro, com a vitória ou um desses sucessos.
compromisso aceitável. Além do mais, o que quer que tenha aconteci-
do nos engajamentos individuais, o tumulto e a destruição de máqui-
(1952)
nas proporcionaram aos trabalhadores reservas valiosas em todas as
ocasiões. O patrão do século dezoito estava constantemente conscien-
te de que urna exigência intolerável produziria, não uma perda de
lucros temporários, mas a destruição de equipamento importante. Em
1829 a Comissão dos Lordes perguntou a um proeminente gerente de A * NT - Máquina co1nposta de vários tambores guarnecidos de corda para tornar ., 1 _
lo o pelo dos estofos. pai a e

30
31
NOTAS J 8. Le ~ompagnonnage de E. M. Saint-Léon, (Paris 1901), I, cap. 5.
19. Asp1nall, op. cit., p. 175.
1. J. H. Plumb, England in the Eighteenth Century (Harmondsworth 1950), p. 20. Os homens de Bolton fora1n acusados em J 826 d h l . d .
i·ãod t d ·f d e averp aneJa oadestru1-
150: T.S. Ashton, The Industrial Revolution (Londres 1948), p. 154. ., e o os os ios e algodão e1nbalados para exportação be1n co1no das ma· .
(Public R l 1· 1Off. H . ' 'guinas.
2. L. Dechesne, L'AvCnem,entduRégirne Syndical à Verviers (Paris 1908), p. 51- ecl e tcc, orne Ofticc Papcrs HO 40/ J 9 Fl t 1 H
abril de 1826). , , e c1erpara obhouse20de
64 e disperso.
3. F. O. Darvall, Popular Disturbance and Puhlic Order in Regency England 21. Cf a discussão destes problemas cn1 Le Sabotage de E. Pouget (P . d)
pp. 45 ss. .., ans n. . ,
(Londres 1934), p. 1.
4. P. ex,, máquinas de fabricar lãe seda no Wiltshire, 1náquinas de fabricar papel 22. P. ex., os metalúrgicos galeses en1 18 J 6 (Th cr· . 26 o
. • , .. ._ e11me:,, ut.1816),ngreve
em Buckinghamshire, 1náquinas dcfahricar ferro em Berkshire (Puhlic Record Officc, geia! de 184~ (The R1s1ngs r?fthe Luddites, Chartistes and Plugdraivers, de F.--Peel
tlo1ne Office Papers, HC) 13/57, pp. 68-9, l 07, 177; Sessões 25/21 disperso); J. L. e B. Mcckmonchv1ke 1888, pp. 341-7), e os mineiros alemães c1n 1889 (P Grcb B. ,
Ha1n1nond, The Vil/age Labourer (várias edições) é o relato mais acessível; vertam-
cks Sturz d B b · · e, 1s1nar-
, ~ u ... ergar e1terstreik vom Mai 1889, Hist. Ztschr. CLV1I, p. 91).
bém duas te:-.es não publicadas: N. Gash, The Rural Unrest in England in 1830 (Oxford 23. Asprnal! ' op · cit ., p · l 9fr· "N'ao posso
·· de1xar
· de pensar que as reuniões mati-
.. . ,
Exanlination Schools) e Alice Cobon, The Revolt of the Harnpshire Agricultura! n<11s e as chan1adas atuahnente são o laço de união."
Lahourers (Biblioteca da Universidade de Londres). . 24. TheStory(~fthe!Jockers'StrikedcH.L. SinitheV. Nash (Lo d· i 9)
5. Para discussão dos tumultos pela alta de preços, The Coal Industry o.fthe d1sperso. , n ies 88 ,
Eighteenth Century de T. S. Ashton e J. Sykes, (Manchester 1929), cap. VIII, The C'ot- 25. Rinaldo Rigola e il Movimento Operaio nel Biellese de R Rig )1 (B .·
ton Trade and Industria/ Lancashire ele A. P. Wadsworth e J. de L. Mann, (Manchester 1930),p.19.R.nãorelatanenhumadestruiçãoverdadeira 1 t , 1- ·. ( a, a11
1931 ), pp. 355 ss. chapeleiros. 'pe os cce oes, apenas pelos
6. Darvall, op. cit., cap. VIII disperso.
26. Veja ~apítulo sobre "Maquinaria" en1 seus Principies. Sobre esta inser1·1·io
7. Bonner e Middleton 's Bristol Journal, 31/7/!802. Alguns destes fora1n devi- apenas na 3H d .- Wi · ' ·
• - e_ içao, ver orks and Correspondence of I>avid Ricardo de Sraffa
do a disputas trabalhistas comuns, alguns à oposição às novas máquinas. Ver The Dohb, (Cambndge 1951), J, p. lvii·ix. e
SkiLLed LahourerdeJ. L. e B. Han11nond; para urn relato do 1novimento The Early En-
27. London L(fé in the Eighteenth Centurv de M. D. Gcor<re (Londr . 19 S)
glish Trade Unions de A. J\spinall (ed), (Londres 1949), pp. 41-69 para alguns dos pp. 187-8, 180. · e ' es 2 ,
documentos.
1 28. Parl._Papers l 802, Relatório da Comissão sobre a Peticão dos Fabricantes
8. House of Commons Journals, XVIII, p. 715 (1718); XX, p. 268 (1724).
L e ~oupas de La, 247, 249, 254-5. Rufes and articles of .. The lVó(;len-C'loth Weaver'~·
9. House of Co1nmons Journals, XX, pp. 598-9 (1726); Salisbury Assize
Society... 1802 (British Mus. 906. k. 14 ( J ). '
Records pergunta no Wiltshire Times de 25/1/1919 (Wiltshire Notes & Queries).
l O. Gcntleman ·s Magazine ( 1738). p. 659. 33 .
29. The London Conzpositor de E. T-:Iowc e H. waJte
· (Londres 1948), pp. 226-
11. Public Recorei Oflice. Statc Papers Domestic Geo. 2 (1741), pp. 56, 82-3.
30. Wadsworth e Mann, op. cit., pp. 499-500.
l 2. The Afiner's Unions of Northumberland and Durham de E. Wclbourne.
(Cambridge 1923), p. 21. 3 J. Industria! De111ocracy de S e B Webb (L d . 1898)
. . • ·- · · , on res , cap. VIH: Ne\v
P1 ocesses and l\!lachincry.
13. Ashtori e Sykes, op. cit., pp. 89-91.
14. 1OGeo. 2, e. 32, ! 7 Geo. 2, e. 40, 24 Geo. 2, e. 57, 31 Geo. 2. e. 42 (The En- , 32. Para a n1udança política dos con1positorcs de tipos cf. The !iistorv of'tl ,
glish Coai Industry in the Seventeenth and Eightccnth Centuries, de E. R. Turner, Englneers de fioi-ve e VViúte; engenheiros J. B. Jcffcrys, (Londres 1945 ) •
1 2
_;1:, 4
Amer. Hist. Rev. XXVII p. 14). Turner parece haver negligenciado 13 Gco. 2, c-.21, 9 156-7; traha!hadores e1n chapas de estanho, The Tinplate lndustrv de ;.P~· ,
(Londres 19 J 4), pp. l 83-4, cap.1X. • . 1ones.
Geo. 3, e. 29, 39 e40Geo .. 3, e. 77, 56 Geo. 3, e. 125 que são tan1bém dirigidos contra
. , , . 33., The ~ :inting Trades de J. Lofts, (Nova Iorque 1942) para a longa luta dos
a destruição das nünas. (Rurn 's Justice of the Peace, ed. Chitt)~ 1837 edn. vol. III, pp. 1

643 ss). t1pog1 afos a1ne11canos contra a revolução técnica na década de 1940
15. Welbourne, op. cit.. p. 3 J. 34. P. cit., p. 412 Ver tainbém análise detalhada da sorte de Hai~grcaves, pp. 476
16. A IIistory o.f lhe Machine- Wrought Hosiery and Lace Ma1n{factures de W. ss.
Fe\kin, (Londres 1867) é a principal autoridade. , _35. Sei. Ctee. on Agricu!ture, 1833, 64 estin1ativas -- sen1 dúvida com alo-um
l 7. Para as minas francesas cf. Les mines de charhon en France au XV!ffe sú)- ex,igei 0 =-de que apenas l e111 l 00 das 1náquinas de debulhar que existiam ante: de
cle de M. RoulT, (Paris 1922). 1830 cstao agora cm uso ern Wilts e Bcrks.

32
33
36. Sobre a agitação dos tosquiadores estrangeiros, The Luddite Movemcnt in mente, com a legislação contrária caindo en1 obsolescência, a menos que ocorresse
France, de F. R. Manuel, Journ. Mod. Hist. 1938; pp. 180 ss.; id., L'introduction dcs u1na campanha ativa e eficiente dos trabalhadores. Cf. a rescisão das cláusulas de salá-
Machines en France et les Ouvriers, Rev. d'Hist. Mod. N. S. XVIII, pp. 212-5. ()ver- rio no Statutc of'Artificers c1n 1813 (W. Sn1art, Econ. Annals ofthe Nineteenth Centu-
dadeiro Luddismo na França parece ter sido virtualmente lin1itado aos tosquiadores, ry, 1801-20, p. 368).
com 1nenos sucesso do que na Inglate1Ta, embora as intenções Ludditas fossem algu- , 54. The Case as it now stands between the C!othiers, Weavers and other Manu-
1nas vezes expressas por outros. Ver os documentos em Le Régime de !'Industrie en
France de 1830a 1840 de G. e H. Bourgin, (Paris 1912-41),3 vols.
:o
jacture~' i.vith.regard th_e late Riot, in the Count,v oj'iVilts, de Philalethes, Londres,
1739 (Carnbndge Un1v. L1b., Acton d. 25. l 005), p. 7. [)e qualquer n1aneira até 17 Gco,
37. Skilled Labourer, de Hamn1ond, p. 127. 3, e. 55 os chapeleiros conscguiran1 u1na Lei proibindo qualquer patrão de sentar no
38. J. Mod. H. de Manuel, p. 187, Darvall, disperso. Ver também a nota en1 ban~o numa disputa que lhe dissesse respeito - o que é 1nais do que os trabalhadores
C.'haracte1; Objects and t,ffects ofTrade Unions de Tufnell, ( l 834), p. 17, sobre a rclu- rurais puderan1 conseguir.
lânciados homens que operavain realmente as máquinas em aderir à greve contra eles, 55. Public Recorei ()ffice: State Papers Domestic Geo. I, 63: pp. 72, 82, 93-4,
Mas T. admite que eles aderiram, ameaçados ou persuadidos por seus colegas desem- 64: pp. l-6, 9-10 (esp. 2-4).
pregados. 56. Journals of thc House of Co1nmons, xx, p. 747.
39. Os tosquiadores (tosadores) ergueram a felpado tecido acabado e raspara1n- 57. Burn 'slustice ofthe Peace, ed. cit., III, pp. 643 ss., V. pp. 485 ss., 552 ss., dá
na con1 pesadas tosquiadeiras de ferro. Eles tinham que ser não só muito fortes co1no um quadro revoltante desta massa de legislai;ão intennitentc não coordenada.
muito hábeis. . . 58. De'. fl1ndcrne Kapitalismus, de W. Sombart, I, ii, p. 803 para tuna bibliogra-
40. Darvall, op. cit., p. 207. fia disto; Capital I, de K. Marx ( 1938 edn), pp. 259-63. "The Case as it now stands .. "
41. Aspinall, op. cit., 57-8. (Nota 54 aci1na), pp. 29. 41, dá argun1entos típicos.
42. Thomas Helliker, executado como tal em 1803 é gerahnente considerado 59. The Profit Inflation and the Industrial Revolution 175 l- l 800 de E J.
inocente. Han1ilton, Q. .lourn. Econ., pp. 56 (1942), 256. ' ' .
60. Skilled Labourer, ?e Hammond, a observação de M. D. George, op. cit., p.
214.
43. Economic History of Rossendale de G. H. Tupling, (Manchester 1927). p.
:o
l de que os preços dos tecidos pelas Leis não era comparável con1 0 de outros ofí-
44. MS. Correspondência de M. Cobb, empregado dos Juízes de Salisbury, na cios dura~tc o per~odo, pode ser verdadeira. Mais iinportante é o colapso drástico dos
preços apos a rescisão das Leis (ibid., p. 374).
Biblioteca de Wiltshir e Archacol. & Nat. Hist. Soe., Devizes: 26 Nov. 1830.
61. Ha1n1nond, ibid., p. 26.
45. Circular lmpressade 8 Dez. 1830. Esta é mencionada em Village Labourer
de Hammond (Guild Books edn) II, pp. 71-2. 62. Willia1n Stark sobre os n1otivos porque a maquinaria não foi adotada no
46. Ver a brilhante análise do "pequeno-burguês democrata" no Discurso de co1nércio de lã penteada de Norwich e as reduções de salários fonun coinbatidas.
Marx ao Conselho Central da Liga Co1nunista, Sel. Works ofMarx & Engels, II, pp. 63. The SpitaficldsActs, deJ. H. Clapham, 1773-1824, Econ. Journ. XXVI pp.
463-4.
160-1.
64. l-Ia1n1nond, op. cit., p 142. The Transfcrence ofthe Worstcd Industry frorn
47. A frase "Limiar do lucro" é de G. Gilfillan (Invention as a Factor in Eco-
Norfolk to thc We1't Riding, de J. ft Claphain, Econ. Jour. XX, discute a questão com
nomic History, Supp, to Journ. Econ. Hist., Dez. 1945). grande detalhe.
48. Eles foram ajudados pelo baixo preço das novas máquinas. Um fabricante
65. Hamrnond, ibid., p. 188.
ocidental de roupas instalou ináquinas de Fiar com 70-90 fusos por 9 cada em 1804.
66. TheAgriculture of Berkshire, de Clutterhuck (Londres & Oxford J 861) pp
Daí a possibilidade da mecanização aos pouco1'. 41-42. ' .
49. Tufnell, op. cit., p. 10.
50. Manuel,./. Mod. li., p. 186.
51. Econ. Hist. oj'England de E. Lipson, (4' edn) II, pp. CXXXV-Vl, III, pp.
300-313, 324-8. A Concise Econ. Hist. of Britain de Sir John Clapham, p. 30 l. nota
corretamente a ''traço extra de dureLa que parece ter feito parte da vida pública na Era
da Restauração.''
52. YerNota45 acima.
53. Para a "mudança revolucionária" neste período ver Hist. ofTrade Unionism
de S. e B. Webb (1894), pp. 44 ss. Mas as atas parlamentares podem dar a iinpressão
errada. O curso norn1al dos acontecünentos foi que o laissez-faire progrediu calma-

34
35
3

O METODISMO E A AMEAÇA DE
REVOLUÇÃO NA INGLATERRA

O METODISMO IMPEDIU A REVOLUÇÃO, ou o desenvolvi-


mento de um movimento revolucionário na Inglaterra? A pergunta há
muito interessa aos historiadores. O período de 1789-1848 é cheio de
revoluções em todas as partes da Europa Ocidental, mas não na
Inglaterra, e ele parece também ser o período em que o Metodismo
cresceu mais rapidamente neste país. Que o Metodismo tenha mantido
a Inglaterra imune à revolução é, na verdade, uma crença generaliza-
da. A History of the English People do falecido Elie Halévy sustenta
fortemente esta opinião. Pode, portanto, ser útil elucidar as relações
entre o Metodismo e a ameaça de revolução neste período.
Sabemos, naturalmente, que John Wesley e os primeiros líderes
da sua Seita Religiosa, bem como o dos Metodistas Calvinistas de
Whitefield, desaprovavam violentamente a revolução. Eles eram con-
servadores extremos em política, opostos não só à revolução social,
como também à reforma liberal e racional que mais tarde tornou-se tão
intimamente identificada com o não-conformismo inglês do século
dezenove, ao sindicalismo e a outras manifestações da atividade traba-
lhista. Daí ser um engano alegar que o trabalhismo e o sindicalismo
modernos buscam sua inspiração em Wesley. Ele ficaria chocado com
isso. Os Wesleyanos da Cornualha sentiam orgulho por seus membros
não tomarem parte em greves e agitações. Os Metodistas Calvinistas

37
, , e a oiaram a emancipação Católica Romana e os Não-Reformado não tivesse a sabedoria suficiente para ceder pacifica-
excomungaram·o~qu, p Os Wesleyanos da radical Leicestcr eram mente à pressão dos reformadores da classe média (ou para ser exato, à
inembros dos s1n Icdtos. , verno notaram rapidamente que os pressão das massas sob a liderança dos reformadores da classe média).
conservadores. Os agentes do go . a Seita Religiosa Mas a Câmara dos Lordes teve a sabedoria suficiente para ceder, e o par-
Wcsleyanos eram pilares do status quo. Na verdade, - f . tido reformista a rapidez de fazer um acordo que lhe deu talvez menos
evi~ou até o moviinento militante de temperança queº, na~-c~~ o~~I:~ do que seus porta-vozes mais eloqüentes - os partidários de Jeremy
N Wesley nem os pr1meuos e
mo radical tinha em tanta conta. e1n . - ·ct~· Bentham, por exemplo-haviam exigido, mas evitaram as conseqüên-
, , ·e uer descritos como democratas c1n suas 1 etas
leyanos podem ser s q . . t 1797 e 1849 ocorreu um cias imprevisíveis de maior agitação das massas. Quanto aos revolucio-
deoraanizacãocpropagandada1grep,een re . . ·t nários, eles foram durante todo o período inexperientes, pouco claros
certobnúme;·o de cismas do corpo principa.l, _p~·1nc1p~lmcnte pol~t~~a~ mentalmente, mal organizados e divididos.
. . . 1 1850 o Wesleyanismo to1 hberahzado, e po
motivo. Depois ce · . · resto do nãa- Não houve assim nenhuma revolução e o Metodismo Wesleyano
mente falado tornou-se bastante °'.'.us ~arecid~dco:~(J790 até 1849),
0
era hostil a ela; mas daí não se segue que o segundo fato foi a causa do
. . ·mo Em suai·uventude e penodo me 10 primeiro. O Metodismo não foi responsável pela moderação e flexibi-
conf 01 m1s · - • d qual esta-
contudo, ele certa1nentc não era assim, e este e o per10 o no lidade dos políticos parlamentares ou dos radicais Utilitários. Nem
mos principalmente interessados. pode ser ele responsabilizado pelas franquezas do movimento revolu-
, Jução na Inglaterra nos
Embora não houvesse nen h uma revo . cionário entre as classes trabalhadoras. A fim de demonstrar isto, é
{,_ . . e dezenove, houve, entretanto, u1na boa dose de senu- necessário descobrir- na medida em que isto é possível -4ue efei-
:~~~~s r~~o~~~ionário em extensas áreas d~ p~s'/a;~~;~~~1~~: to ele teve na política das classes trabalhadoras inglesas em nosso
durante o desolado meio século do meio da deca .ª ,e . , - período, e especialmente durante os dois períodos principais de inquie-
d década de 1840. Se os verdadeiros surtos de vwlencia foram p~u. tação dentro dele, os anos dos Ludditas até Peterloo ( 1811-19) e os
a _ s n1.o foi porque em certas ocas1oes
s !imitados e bastante pequeno , ' d anos de 1829 até 1849 que abrangem a agitação da Reforma, a grande
co., e e d 1841-2 por exemplo -
, gran es
- durante a pavorosa depressao e , . . , ~d· se reforma dos sindicatos e das fábricas e os movimentos da Lei Antipo-
massas de súditos ingleses não estivesse1n com raiva: de~~spe:~a <l~1. a- bres, ao chartismo, e a principal inquietação agrícola. Isto implica uma
,, , a uase ual ueraçãopolítica.Aforçad0Cart1smo , ig. resposta à pergunta mais geral: que poder tinha a religião organizada,
pronta',par dl[ . q d~a pela tibieza das tentativas reais de traduzi- e em particular as várias seitas não-conformistas, sobre as classes tra-
mos, nao po e ser me e

lo em revolta. d te balhadoras no período do começo do industrialismo?


Como ale o-ou l,,enine- u1n especialista no assunto- u1na ~ .- A primeira pergunta que devemos fazer é se os Wes!eyanos eram
. , ,-ao das co~dicões de vida das inassas, e u1n aumento de sua attv1- suficientemente fortes em número para isso de algum modo fazer uma
noraç · , 1 - De e haver
da<le política não é suficiente para causar uma rcvo uçao. ~ . diferença decisiva. Porque é bastante claro que as outras seitas não-
t' mbém uma,crise nos negócios da ordem reinante, e um corpo ~ ~e~o­ conformistas não partilhavam do seu conservantismo político (com
a . . . , d o1novimento.Amboscstavdm exceção dos Metodistas Calvinistas, qne estavam localizados ao norte
lucionários capaz de d1r1g1r e coman ar . d·· t·
, entes Com a exceção possível dos anos que precederam imc ia a- e no centro do País de Gales, que não eram um centro industrial impor-
aus ,, . f d 1832 a cla"edominante inglesa nunca per- tante), Os "velhos dissidentes" -Independentes (Congregacionalis-
mente aLe1 da Re orma e /~ / , _, - e alo-o como uma
deu o controle da situação pollt1ca. E conceb1vel.4u e p· l· menta tas), Batistas de vários tipos, Presbiterianos-Unitários (que não devem
"situação revolucionária" possa ter se desenvolvido, se o dr a ser confundidos com a Igreja da Escócia, que tinha algnma força entre
os imigrantes do Tyneside) estavam totalmente descomprometidos de
___ 18 48) · s rincípios apoiar o governo, e não tinham nenhum respeito qualquer que fosse
-:, NT - iVIovimento de reforma dcmocrátic.~1 na Inglalc11 d ( 18. - CUJO p
pela autoridade constituída como tal, que ainda os discriminava ofi-
estavam con::.ignztdos na chamada "Pcoplc's Charter

39
38
cialmente de várias maneiras. Os três primeiros grupos haviam na ver- trabalhista. Quando Lorde Londonderry expulsou os grevistas após a
dade se deslocado há muito tempo para a "esquerda", e os partidários greve do carvão de 1844, dois terços dos Metodistas Primitivos do cir-
mais ativos da Revolução Francesa tinham vindo dentre eles. Inques- cuito de Durham ficaram sem casas. (Isto foi numa ocasião em que os
tionavelmente eles se tornaram mais respeitáveis após a década de Wesleyanos estavam se felicitando porque seus membros não toma-
1790 quando se tornaram mais numerosos. Se a influência do Metodis- ram parte nas greves exceto à força.) Quem quer que tenha oferecido a
mo, que ajudou a reanimá-los, é responsável por isto, e em caso afir- outra face, não foram os Primitivos. Além do mais, embora os prega-
mativo, até que ponto, pode ser discutido. A pergunta não pode serres- dores fossem excluídos da política, vários "provavelmente interpreta-
pondida conclusivamente. Tudo que se pode dizer é que há mLntos ram isto como significando que eles estavam apenas proibidos de dis-
outros motivos possíveis para que eles tenham se tornado 1nenos cursar a favor dos Tories."
Jacobinos, principalmente o fato de que a maioria dos ingleses entre Mesmo entre os Wesleyanos, o povo era menos conservador do
1793 e 1814 tinha, por motivos óbvios, pouca simpatia peloJ acobinis- que seus líderes; certamente em Leicester. Pelo menos um ministro do
mo. Daí, aquele Puritano típico do século dezessete, Zeehariah Cole- Yorkshire chegou exatamente a tempo para impedir os Ludditas de
man, na Revolution in Tanner's Lane de Mark Rutherford, se queixar enterrarem uma de suas baixas no cemitério Wesleyano, entre discur-
amargamente do "triste desvio dos dias, mesmo em meu tempo, e1n sos políticos; do que podemos concluir que os Metodistas não estavam
que os Dissidentes constituíam a classe insurrecta." Apesar de_ tudo, acima da destruição de máquinas. Nas áreas remotas, onde nenhuma
suas simpatias permaneceram o tempo todo com a causa do Rad1cahs- seita análoga penetrou - como em Dorset- os Wesleyanos puderam
mo e da Reforma, e eles apoiaram ambos ativamente. até se tornar líderes sindicais, como fez Toupuddle Martyrs. Antes da
Os vários grupos cismáticos Metodistas não simpatizavam poli- década de 1850, contudo, isto era em grande parte a exceção.
ticamente com os Wesleyanos. Os Kilhamitas ou N ew Connexion (que Que força, então, tinham os Wesleyanos relativamente às outras
saíram em 1797) afirmavam orgulhosamente em 1848 que eles haviam denominações, e à população total (que incluía um número muito gran-
antecipado há muito tempo o liberalismo que era então toda a moda. de de apáticos e uma pequena minoria de secularistas)'?
Um de seus pregadores emNorthampton tinha até sido preso em 1816 A única informação adequada que temos sobre estas questões é
pela propaganda radical. Os Bible Christians ( 1815) seguiram o seu que o Censo Religioso de 1851, e é também bom resumir isto, portanto,
próprio caminho em silêncio em Devon e outras partes do Sudoeste, e antes de voltar às apalpadelas para períodos menos bem documentados.
finalmente colonizaram parte do Kent. Delas, contudo, era habito fe- Falando de uma maneira geral, isto nos dá o seguinte quadro das áreas
roz do velho testamento dos eleitos caminharem a salvo das chamas da industriais da Inglaterra e do País de Gales. As grandes cidades e algu-
perdição; e essas opiniões não levam necessariamente à passividade mas áreas atrasadas de mineração e ferro, mas de maneira alguma todas,
social. Eles iriam ser ativos nos sindicatos de trabalhadores rnrars. O eram relativamente pouco religiosas (isso equivale a dizer, menos de 25
mesmo é verdade, até em maior extensão, quanto aos n1ais sérios dos por cento da população total compareceu a serviços religiosos no
cismáticos, os Metodistas Primitivos ( 18 l l ). Estes, a mais puramente domingo do censo). Bristol, Leicester, Nottingham, Leeds e Liverpool,
"proletária" das seitas importantes, separou-se porque os w:sleyanos contudo a última por causa dos seus muitos católicos romanos, mostra-
eram insuficientemente democráticos na questão da pregaçao por lei- ram números de freqüência bastante altos. Das áreas industriais o Lan-
gos e inulheres, e oPostos às ca1npanhas de propaganda de 1nassa d?s cashire, a mais importante, era também a de espírito menos religioso. O
grandes "ofícios rehgiosos ao ar livre" reanimadores que os evangelis- Nordeste vinha em seguida na escala da apatia. O Staffordshire estava
tas americanos haviam introduzido. Seus redutos iriam ser entre os dividido na questão. No outro extremo da escala estava a Gales do Sul,
1nineiros do norte, os trabalhadores rurais e os operários do Stafford- onde a freqüência religiosa somando 40 por cento da população total
shire. Aqui o Metodismo Primitivo estava tão intimamente identiEc~­ não era fora do comum-p. ex., em Pontypool, Merthyr, Bridgend-
do con1 os sindicatos a ponto de se tornar, praticamente, tuna rel1g1ao o West Riding, e certas partes de Derby, Leiccster e Nottinghamshire.

41
40
As áreas rnrais eram, naturalmente, em média, muito mais freqüentado-
sucesso~ tanto co1n os Priinitivos corno co1n outros dissidentes. No
ras de igreja do que as urbanas.*
Derbysh!fe eles eram geralmente superados em número.
Novamente, com a exceção do Lancashire, as cidades e as áreas
Po.rtanto, podia-se esperar que o Metodismo como um todo tives-
industriais eram mais não-conformistas do que Anglicanas, A Igreja da
se uma :ntluência política importante sobre as agitações populares
Inglaterra era não só um grupo minoritário na maioria delas, como era
somente no Norte. M1dlands, East Anglia, e no extremo Sudoeste; 0
muitas vezes completamente superada, Em oito sindicatos da Lei dos
Wesleyarnsmo corno tal apenas no West Riding. Vale a pena acentuar
Pobres do West Riding e em parte dos Potteries, por exemplo, os prin- o ?onto, por,que uma grande parte da inquietação radical e revolucio-
cipais corpos não-conformistas (Independentes, Batistas, Wes- naria do penodo teve lugar em áreas nas quais ambos eram fracos: em
leyanos) eram mais de duas vezes mais numerosos do que a Igreja. Na Londres, Bnstol e Birmingham, na Gales do Sul e 110 East Midlands.
Gales, naturalmente, a Igreja era uma força desprezível, por motivos Grand.e parte dela, naturalmente, teve lugar em áreas nas quais a região
nacionais. Entre os não-conformistas, contudo, os Metodistas como orgarnzada como tal era fraca - no Lancashire e nas cidades por
um todo não eram igualmente fo1tes em toda parte. exemplo. '
Falando de uma maneira geral, eles não constituíam uma força Qual era a situação em. ocasiões anteriores? Desde 0 tempo dos
séria ao sul da linha traçada do Wash até Dudley no Black Country e dali Ludd1tas os lVletod1stas haviam aumentado muito mais depressa do
para Oeste até a costa galesa; exceto em certas partes de Norfolk. Eles que ª.populaçao como um todo, ou mesmo do que a população urbana.
eram também extremamente fortes na Cornualha. Ao sul desta linha o Reunindo todas as suas seitas, eles era1n quase quatro vezes n1aiores
não-conformismo que importava era o dos "velhos dissidentes" -'os em 1851 do que em 1810; considerando apenas os Wesleyanos, bastan-
Independentes e Batistas. Na Gales do Sul os Metodistas eram até fra- te acima de ?uas vezes e meia. Embora não saiba1nos praticamente
cos. Até os Metodistas Calvinistas, com seu apelo ao Galeísmo, eram nada a r,espe1to dos outro.s dissidentes, é provável que, na Inglaterra
invariavelmente sobrepujados quer pelos Independentes quer pelos tomada a parte da Gales, os Metodistas provavelmente cresceram mais
Batistas. Os velhos dissidentes mantinham também bolsões de territó- depressa do que eles até 1850, com algumas exceções locais. Daí em
rio Metodista, notadamente no East Midlauds. Na verdade, dentro das 1811-19 ou em 1830 eles terem sido obviamente relativa e absoluta-
áreas industriais do Norte e do Midland o Metodismo era realmente m~n~e mais fracos do que em 1851, quando possuíam talvez meio
forte apenas em três partes: uma região com centro nos Peninos do Sul m1lh~o de membros (300.000 Wesleyanos) numa população total de 18
- isto é, as partes industriais do West Riding, o Derbyshire e partes do milhoes. O prmc1pal padrão da distribuição geográfica já estava_
Lancashire contígua ao Yorkshire, Durham e partes do Staffordshire. falando grosseiramente - estabelecido em 181 O; os principais redu-
Destas apenas os distritos têxteis do West Riding e, naturalmente, a Cor- tos do Metodismo no Yorkshire e em outras partes já existiam. Mesmo
nualha e o Lincolnshirc, podem ser considerados como feudos indiscu- dentro destes redutos eles eram em geral mais fracos, e 0 número de
tíveis dos Wesleyanos. Em Durham eles foram postos em apuros e mui- seus membros mais fluentes. Não parece provável que um corpo de
tas vezes superados em número pelos Metodistas Primitivos. (Em digamos, 150.000 em 10 milhões de ingleses e galeses em 1811 pudes~
se ter exercido uma importância decisiva.
Norfolk, o centro principal do sindicalismo dos trabalhadores rurais
mais tarde, eles foram consistentemente superados cm nún1ero por . Podemos apesar de tudo detectar alguma influência moderadora
importante dos Wesleyanos em qualquer dos seus redutos durante a
eles.) No Staffordshireeles tiveramqne competir-algumas vezes sem
p.nme1ra metade do século dezenove? No Yorkshire não há nenhum
smal real disso. Huddersfield, Leeds, Birstall, Wakefield eram (depois
*A população total, que inclui criança~, os doentes etc .. éohviamentc nrnito maior do que de Nottmgham) os pnnc1pais centros do Luddismo; eles eram os cen-
a população potencial freqüentadora de igrejas. Não há nenhum 1neio conveniente de estimar tros de.alguns dos mais fortes circuitos Metodistas no West Riding. (0
quanto~ homens ou mulheres adultos erain freqüentadores potenciais.
Metodismo D1ss1dente era amda desprezível
· .) O"'
vves t R'd·
I 1ng, nova-

42
43
t r derado por Leeds - que, lembramos, tinba uma freqüência à
~~~~ a~ormalmente alta para uma cidade industrial-fez.demonstra-
do à influência moderadora dos Wesleyanos. A estrutura industrial e
social da Cornualhaera, em muitos sentidos, arcaica. Os mineiros qua-
ções e tumultos tão entusiasticamente para a Lei da Reforma como lificados, por exemplo, podiam continuar a se considerar não como tra-
uai uer outro lugar. Rosetas francesas, cocares e tricolores abunda-
d.~.
ram.qDurante a ecad·a de 1830 e 40 ele foi talvez o reduto mais
q . ·firme
h
balhadores assalariados mas como subempreiteiros ou sócios segundo
os assim chamados acordos "tributo". Daí a sensação de que os traba-
do Radicalismo e Í:lo Cartismo violento no Norte. Huddersneld trn a~ lhadores como classe, opostos aos empregadores como classe, se
segunda congregação Wesleyana mais forte no West R1d10g em 1815, desenvolveu lentamente e tarde. A primeira "disputa trabalhista" ocor-
e certamente aquela que havia crescido mais rapidamente durante todo reu em 183 l, a primeira greve real em 1857. A forma característica da
o peno, do desde
. 1814 . Contudo Huddersfield era o centro de uma c res1s-
. agitação social na Cornualha - e os mineiros eram um grupo prova-
tência quase insurrecional à nova Lei dos Pobres, e seus art1smo velmente desordeiro - era o tumulto contra os altos preços dos ali-
resistiram até o fim na greve revolucionária geral pela Carta em 1839. mentos em ocasiões de escassez. Como na França do século dezoito,
Ele foi também um centro notado do Owenismo. Bradf~rd tmha con- os trabalhadores consideravam não o empregador, mas o intermediá-
gregação Wesleyana mais forte no Riding cm 1851, e fora um reduto rio que auferia os lucros como o inimigo verdadeiro. Mas, com
da seita por quarenta anos. Mas Bradford era um centro do, Cartismo. Metodismo ou sem Metodismo, os mineiros e outros trabalhadores da
Quando Feargus O'Connor planejou percorrer o Norte apos s~r solto Cornualha ainda marcharam para as cidades para se apoderar dos ali-
da cadeia, foram organizadas reuniões para ekem dezessete cidades mentos, violentamente para impedir a exportação de milho, ou para
nas quais, presumivelmente, ele esperava o maior apmo - dez d:las forçar a venda de alimentos a preços justos, da maneira clássica dos
oo~MI~. R.d. "Em 1851 os Metodistas · . nessas cidade_ const1turnm arruaceiros do século dezoito; no ano difícil de 1846-7, por exemplo.
1
a go en rte 5 (s heffield) a 12 e 15 por cento da populaçao.
f ·total (Tod-· Além do mais, os mineiros - quer de carvão quer de metal -
morden, Dewsbury, Keighley). Por irónico que pareça, m na menos constituíam um corpo isolado de homens, muitas vezes geografica-
Metodista destas cidades - Sheffield - que o Cartismo fo1, durante mente separados do resto do povo trabalhador e preocupado menos
todo este período, menos inclinado ao extremismo. " . com política do que com suas lutas econômicas especializadas. Daí em
d d ,
A ver a e e que o Metod1.smo se desenvolveu
· nesta
. area bem muitas partes do país eles tomarem uma parte surpreendentemente
como o Radicalismo. Havia motivos perfeitamente co~~1ncentes ~ara pequena nas agitações radicais e Cartistas. No Yorkshire, Lancashire e
que os tecelões de lã e de fio de lã penteada do West R1dmg dev~s~em acima de tudo no Staffordshire, eles entraram em greve no ano deses-
estar desesperados e turbulentos. Os ganhos semanais dos teceloes de perado de 1842,junto com o resto dos operários entre os quais viviam;
lã penteada caíram de 34s. 6d. em 1814 para 2 ls-_em 1821; de 20s. e_m e quando este vasto movimento de greve fundiu-se com o Cartismo
1829 para 12s. em 1838. Enquanto isto acontecia,.º Metodismo n~o 1 eles podem ser considerados como tendo estado no mais intenso dele.
tinha mais nenhuma chance de impedir grande numero de!_es de se
rebelarem do que o Arcebispo de Canterbury. Na verdade, mw:l1S ope-
! (Dificilmente qualquer dos Cartistas proeminentes, parece terem sido
mineiros de carvão.) Nos principais campos de carvão do Nordeste e
' . "'esleyanos devem ter tomado parte nas grandes ag1taçoes: na Gales do Sul, eles não fizeram greve, embora estivessem a ponto de
ranos "' . l' . C -r smo formar um sindicato nacional que chegou a ponto de explodir cerca de
NaCornualha, poroutro lado, oradicahsmopo 1t1coeo ai 1
eram fracos entre os mineiros que eram os principais de~ensores d~s um ano mais tarde. Muito provavelmente os campos de carvão que saí-
"'
vves 1eyanos. N·ao de\'emos concluir apressadamente que isto era dev1- ram em 42 teriam esperado até então também, se não fossem puxados
para dentro pelos operários das fábricas que os cercavam. Na Gales do
Sul os Metodistas foram desprezíveis. No Nordeste, os Metodistas
':'York, J,eeds, Shefficld, Kcighley, Halifax. Bradford, Todmordcn, IJuddersField,Dews- Primitivos, com seu patrocínio dos sindicatos, predominaram. Os
bury e Bm11slcy.
Wesleyanos não podem ser considerados responsáveis pela passivida-

44
45
de destas comunidades mineiras em 1842. Daí ser provavelmente mais décadas de 1830 e 1840; algumas vezes sob fundamentos políticos
prudente atribuir a falta de interesse e a franqueza do Cartismo da Cor- (como em Leicester), mais genericamente sob fundamentos ostensiva-
nualha a dois fatores não relacionados com a religião de lá. mente morais, tais como a temperança (como na Cornualha e em outras
Outra afirmação de ter impedido a revolução foi oferecida em partes). Muitos Wesleyanos devem ter tomado parte nas agitações
favor dos Metodistas Primitivos pelo seu historiador oficial H.B. radicais e revolucionárias, do Luddisrno ao Cartismo, com seus com-
Kendall, ao escrever em 1906. Ela se apóia principalmente no fato de panheiros não-Wesleyanos. A eficácia do conservantismo oficial Wes-
que os primeiros grandes progressos desta seita ocorreram no Not- leyano muitas vezes tem sido exagerada.
tinghamshire e no Leicestershire em 1817-19; isto vale dizer, em dois Isto pode ser devido a um equívoco fundamental dos motivos que
dos principais redutos do Luddismo e do radicalismo. São citados levaram os trabalhadores no princípio da industrialização da Inglater-
exemplos de aldeias abandonando as doutrinas "niveladoras". Esta ra às várias seitas. Presume-se com muita facilidade que eles fizeram
afirmação não pode ser tomada também muito seriamente. Em primei- isso como uma alternativa à política revolucionária ou radical. Até cer-
ro lugar, as vinte e tantas aldeias emNottinghamshire, nas quais os Pri- to ponto sim. Nas primeiras fases da transformação capitalista das
mitivos se estabeleceram em 1817-18, eram avassaladoramcnte a par- cidades e do ca1npo encontramos muitas vezes, na verdade, seitas -
te menos industrializada do condado; elas continham apenas algo místicas, apocalíticas, quietistas - que pregam a resignação e o com-
como 7 porcento dos bastidores de fazer malhas do condado. (Em Lei- pleto não-envolvimento nos assuntos de um mundo mau. O drama
cestershire, contudo, eles foram provavelmente mais bem-sucedidos magnífico de Gerhartmann, The Weavers, que se baseia num relato
entre os trabalhadores de malhas.) Em segundo lugar, os progressos documentário da revolta dos tecelões silesianos de 1844, contém um
Metodistas nesta área foram temporários, e muito do terreno foi perdi- relato maravilhoso de um velho sectário deste tipo. Cultos místicos da
do novamente na década de 1820 e não recuperado até muito mais Virgem semelhante espalharam-se pelas áreas industriais da Bélgica
tarde. Em terceiro lugar, o East Middlands não se tornou notavelmen- na mesma ocasião, enquanto um corpo denominado de Nazarenos
te menos radical após 1818. Na verdade, Leicestershire é um dos luga- abria caminho entre os trabalhadores rurais húngaros sem terras mais
res onde os Metodistas mais ativos do que de hábito parecem ter sido tarde no século. Mas há outra espécie de religião que pode se apoderar
Cartistas entusiastas. Teria sido surpreendente se os tecelões de teares da massa miserável do povo nessas ocasiões. Pregadores, profetas e
de mão e os fabricantes de meias, cuja renda semanal havia- segun- sectários podem invocar o que os trabalhadores poderiam considerar
do o Carlista Metodista Thomas Cooper de Leicester- caído para 4s. mais como pedidos de ação do que de resignação. Essas seitas são
6d. por semana em 1841, não tivessem sido radicais quando passaram igualmente bem documentadas. No cinturão do cobre da Rodésia do
fome. Norte, por exemplo, em nossa geração, as Testemunhas de Jeová
Podemos portanto resumir as relações entre o Metodismo e a desempenharam por algum tempo um papel semelhante ao dos Meto -
ameaça de revolução de certa forma como se segue. A liderança oficial distas Primitivos nos poços de mina de Durham.
da Seita Religiosa desbrava mantê-la inteiramente fora de quaisquer Sabemos muito pouco sobre a vida das pessoas comuns na
agitações radicais, quanto mais revolucionárias. Mesmo que ela tives- Inglaterra durante a Revolução Industrial para dizer com alguma con-
se conseguido isso, contudo, a força do Wesleyanismo provavelmente fiança como elas consideravam o seu não-conformismo. Tudo que
não era suficientemente grande, e não muito bem distribuída, para afe- sabemos é que o Metodismo progrediu quando o Radicalismo progre-
tar a situação decisivamente. Mas, na realidade, os membros não se dia e não quando ele se tornava mais fraco, e também que o grande
mantiveram fora das agitações radicais. É provável que o Wesleyanis- "renascimento religioso" normalmente não ocorria quando as condi-
mo tenha perdido terreno para as seitas politicamente radicais tais ções econômicas estavam chegando ao seu pior estado, por exemplo,
como os Metodistas Primitivos, e houve certamente uma oposição no fundo das depressões do comércio. Os períodos em que o Wes-
crescente nas fileiras ao conservantismo dos líderes, notavelmente nas leyanismo recrutou mais rapidamente- a uma média anual de 9.000

46 47
- 14.000 membros, foram também, com a única exceção dos anos de NOTA
surto econômico de 1820-4, períodos de crescente agitação popular:
1793-4 (a época da agitação Jacobina), 1813-16 (à medida que a o- _~.a~i,r~ação_clássica da opin_ião de que o Metodis1no i1npediu a revolução na
inquietação aumentava nos últimos anos das Guerras Napoleónicas), ~õiatena t:sta_n~ H1~tory (~fthe Engltsh People in lhe Nineteenth Centur); de E. Halévy,
1831-4 (durante as agitações Owenitas e da grande Reforma, quando ol. I, 1nas ela e cons1deravelmente abrandada no úl tiino vohnne desta grande obra a apa-
foi alcançada a taxa mais rápida de aumento), 1837-41 (Cartismo) e r~~er, .º Vo_l. IV(~ 841-52). Desde que este docun1ento foi publicado ( 1957) apareceu a
p11n1elfa discussao geral realn1ente ade11uada do Metod" · d ·
1848-50 (a última onda do Cartismo). Inversamente, quando o Car- . . . ·, . -. ismo e os movimentos popula-
1es, ou SCJa, The Mak111g qfthe English VVórkino Cla~s de E p Thom . (! d
tismo declinou, o mesmo aconteceu com as seitas. A primeira metade 1963)0S·Th . .. " ' ·· pson,onres
.. · ' 1· 01~pson,cujoobjetLvoémuiton1aisamplodoqueon1eu,pai1ilhadomeu
da década de 1850 viu a maioria dos corpos não-conformistas, cet1c1s1no de Halevy, embora por motivos Jigcira1nente diferentes Ele d·
exe J , d M · . . '"""' ·· a nu1nerosos
Metodistas ou de outro modo, perdendo membros firmemente no que mp os e etod1stas rad1ca1s e mes1no revolucionários Estou 1·ncli· 11 ad
. ·- . ·. ·
·
o a aceitar sua
foi, na verdade, a única recessão importante em sua história uo século opiniao de que o renascentismo algu111as vezes ou n1uitas "assurniu o comando exata-
mente no ponto c1n c1ue as· aspira,- yoes ' po )'1t1cas
· ' ou temporais cncontraran fracasso'',
dezenove. 1850 marca o fim de uma fase no desenvolvimento do não- ,. ., · 10
( :· c1t., p.389), mas Jª q~1e ele concorda que o tenômeno oposto tambétn teve lugar, e já
0
conformismo, como na do movimento trabalhista. Quando ambos
q ~~meu ~l:_cun1cnto nao pretende discutir o renascentisn10 en1 qualquer detalhe não
renasceram, foi sob condições diferentes. Este paralelismo peculiar desejo 1nod1hcar o texto atual. O pregador local Metodista que teve un1 , 1 '_, ·
pode ser explicado quer dizendo que as agitações radicais levaram nente na ""insun·eição" d p _.d ( , . . , pape procm1-
-. . e ent11 ge qucoconeu entre dois penodosrenascentistas) con-
outros trabalhadores para o Metodismo como uma reação contra elas, tnma o meu argumento-e odo S · Th , D ·
.· ., . , , . L ompson. e u1namaneira geral, contudo, eu con-
s1de1ana este ultt1110 tratan1ento do assunto con10 n1a 1·s · r· ·t· t, .· d
quer que eles se tornaram Metodistas e Radicais pelos mesmos moti- , . _ <.sais a0110 oqueo1neunos
pontos e1n que os dois cstao em desacordo.
vos.Ambas são provavelmente verdadeiras. Em geral, a segunda inter-
pretação é talvez a mais provável, já que, como vimos, a insatisfação
entre as fileiras Wesleyanas contra o anti-radicalismo de seus líderes
cresceu marcantemente durante as décadas de 1830 e 1840.
A verdade é que o tempo estava trabalhando contra o Wesley
político embora favorecesse o Wesley evangelista, e isto inevitavel-
mente enfraqueceu a eficiência política da sua Seita Religiosa forte-
mente organizada e autoritária. Mas mesmo que ele tenha sido total-
mente eficaz, é pouco provável que o Wesleyanismo pudesse ter
impedido uma revolução se outras condições a houvessem favorecido
na primeira metade do século dezenove. O mundo do nosso próprio
século está cheio de revoluções feitas pelas massas de homens e
mulheres profundamente piedosos, que aderem a corpos religiosos -
quer hindus, cristãos ou budistas - cu_jos líderes não favorecem a
i
resistência à autoridq_de constituída; e de movi1nentos revolucionários
compostos desses homens e mulheres. Não há nenhum motivo para
acreditar que as condições do começo do século dezenove tornaram a
religião como tal uma forte salvaguarda contra a revolução na Europa 11
como ela é na Ásia hoje.
(1957) !
f
48
l 49
4

O ARTESÃO AMBULANTE

A HISTÓRIA DO TRABALHO NO SÉCULO DEZENOVE é


de movimento e migração. Este artigo trata de uma parte dela, o assim
chamado "sistema ambulante" entre os trabalhadores organizados e
geralmente aprendizes. O sistema é agora uma coisa tão do passado
que poucos vestígios dele restam nas regras e constituições dos sindi-
catos, geralmente tão apegados às tradições. Contudo, houve tempo
em que qualquer associação profissional que proporcionava benefí-
cios aos seus membros deixavam de adotá-las; exceto em ocupações
localizadas em áreas isoladas.
O funcionamento geral do sistema é bastante familiar - há boas
descrições dele na autobiografia de Henry Broadhurst, na The Old
Trade Unions, de Kiddiers, e em outros lugares'. O homem que deseja-
va deixar a cidade para procurar trabalho em outra parte recebia um
"ünpresso", "llcença" ou "documento", identificando-o como membro
regular da associação. Ele apresentava-o ao secretário local ou funcio-
nário auxiliar do "alojamento", "clube" ou "sede" da cidade estranha-
geralmente um botequim- recebendo em troca jantar, alojamento, tal-
vez cerveja e uma licença de ambulante. Se houvesse trabalho a fazer,
ele o pegava; o "livro de visitas" (se houvesse) era naturalmente conser-

51
vado na sede, uma bolsa local não-oficial de trabalho. Se não houvesse viço que o ambulante encontrava em suas viagens. Apesar disso, o sis-
nenhum, ele seguia em frente. Se não conseguisse trabalho permanen- tema funcionava. Na verdade, entre muitos sindicatos ele foi por
te suficiente para se transferir para uma nova filial do sindicato o viajan- muito tempo o único método de auxílio-desemprego; em alguns dos
te devia no devido tempo voltar à sua cidade de origem, tendo feito o cir- ofícios de construção até o século vinte.
cuito de todas as filiais: entre os tipógrafos este grande circuito tinha
cerca de 4.500 km de extensão na década de 1850', entre os fabricantes
de escovas mais de 1.930 km na década de 1820'. Os métodos de paga- II
mento da ajuda ao ambulante variavam. Ele podia ser pago por dia ou
distância, caso em que as matrizes cuidadosas cuidavam de se certificar Conhecemos extremamente pouco a respeito da história inicial
de que o ambulante foi de filial para filial pelo caminho mais curto, for- do sistema- ele era assim chamado pelo menos por um sindicato -
necendo algumas vezes cartões de itinerários. A ajuda para o fim de embora sua similaridade com o costume continental dos artífices de
semana era geralmente mais alta do que para os dias úteis. viajar tenha muitas vezes sido notada''. Na verdade, a pesquisa não alte-
Os pagamentos ficavam quer (nas fases iniciais do sistema) rou fundamentalmente o quadro esboçado pelos Webbs em 1894, um
inteiramente nas mãos das filiais que, de tempo em tempo, compen- tnbuto a esses extraordinários estudiosos. Entre os cortadores de lã do
savam suas despesas umas com as outras diretamente, ou através da Devon, a itinerância organizada existia desde 1700, espalhando-se
matriz: 4 1nais tarde isso se tornou cada vez mais centralizado. Mais para os ofícios apresentados entre 1700 e 1726'. Os tecelões de
tarde também foi usado algumas vezes um sistema de cheques. O Taunton parecem ter tido um acordo rudimentar de itinerância em
8
ambulante, ao partir, recebia um talão de cheques válido por tantos 1707, embora a tecelagem, como ofício distinto da cardação, conti-
dias - noventa e oito entre os pedreiros, menos entre os padeiros 5 - nuasse organizada numa base puramente local'. Os surradores de
e descontava os cheques de ajuda em cada filial. Essa centralização couro tinham uma federação de itinerância no meio do século, os cha-
ajudou a prevenir a ruína do sistema, seu abuso por ambulantes sem peleiros na década de l 770' 0 • Os acordos de itinerância entre os estam-
direito absolutamente a qualquer ajuda, ou por homens que haviam padores de chita, fabricantes de papel e tipógrafos eram tão adiantados
esgotado seu máximo anual de dinheiro como ambulantes. As estatís- na virada do século que eles devem ter florescido por bastante tempo
ticas excepcionalmente completas, nas quais grande parte deste arti- antes dela. No começo do século dezenove certamente a evidência se
go é baseado, tinha o mesmo objetivo. O secretário local tinha que acumula. Estão registrados os "impressos" entre os sapateiros em 1803
estar em condições de verificar a legitimidade dos pretendentes - e a ajuda aos ambulantes entre os carpinteiros de Preston em 1808". Os
porque até a falsificação dos bilhetes de ambulantes não era desco- estampadores de chita relatam viagens titânicas em busca de trabalho
nhecida, especialmente entre os tipógrafos, alguns dos quais viaja- de 1.600 e 2.130 quilômetros". Por ocasião da Comissão Escolhida
vam com "documentos" emitidos por filiais inteiramente míticas até sobre os CombirationActs, os ofícios de Dublin tinham acordos de iti-
serem apreendidos por colegas vigilantes. As circulares mensais, por- nerância com os ingleses;'' Francis Place encontrou em Londres sedes
l
tanto, continham listas dos homens em viagem e informações seme- dos chapeleiros, ferreiros, carpinteiros, fabricantes de botas e sapatos,
lhantes. Não que a ajuda aos ambulantes fosse numa escala abundan-
te; entre os pedreiros era de 6d. por dia até o fim do século.* Daí a
ajuda ser razoavelmente suplementada passando o chapéu em volta
l metalúrgicos, padeiros, alfaiates, bombeiros, pintores e vidraceiros,
encadernadores e outros 14 • e podia ser presumido o sistema de itinerdn-
cia entre muitos ofícios há muito estabelecidos".
com regularidade entre os colegas e seus ajudantes em qualquer ser- 1 Embora W. J. Ashley não pensasse assim, o problema da origem
do sistema é importante. Manifestamente, a itinerância era uma insti-
1 tuição central de vários sindicatos antigos, e é difícil ver como algumas
'~O sistema de pagar a ajuda por quilôrnctro viajado diminuía a dificuldade dessas taxas
das federações ou clubes profissionais que tanto assustaram as ;utori-

!
unifonnc.~.

52 53
dades após 1792 puderam ter surgido sem ela. Seria ela a expressão da Assim eles eram, e permaneceram, inteiramente adaptados ao homem
mobilidade recém-descoberta do artesão, como foi sugerido",ou ela isolado. Não enc~ntrei nenhum caso no qual fosse feita provisão para
surgiu de uma velha tradição viva de trabalhador ambulante? Como ela a mulher e a familia do trabalhador; na verdade, uma das primeiras
se generalizou? queixas contra os tecelões era que eles deixavam suas famílias emdifi-
À primeird vista a evidência "moderna" parece a mais forte. Até culd_ades enqua.nto viajavam24 • Se eles tivessem sido originalmente
onde sabemos aqui não há nenhum registro dos costumes e instituições destmados a enfrentar o desemprego, dificilmente poderiam ter deixa-
como o tour de France continental ou o Wanderpjlicht. O sistema do de ter em mente o trabalhador casado. Então novamente eles eram
ambulante inglês parece, desde o início, não fazer parte do acabamen- e~trito senso da_ palavra, sistemas de itinerância. Os caldeÍreiros, gu~
to fi na1 da educação do artesão, 111as artifícios para enfrentar o desem- ajudavam em viagens por terra "ou navegadas à vela ou a vapor" des-
prego sazonal ou irregular; este foi o caso entre os cardadores de lã, de o começo da década de 1830" são, acho eu, únicos. Os fabricantes
tecelões e chapeleiros do West Country. (Sem dúvida eles foram usa- de Máquinas a Vapor não davam auxílio-viagem em navios costeiros
dos também bastante cedo como um meio de conceder ajuda à greve, até a década de 1840" e os tipógrafos apenas emendaram "itinerante"
garantindo contra a vita1nização etc., importantes funções posterio- por "viajada" em 1872". Certamente, mesmo nas décadas de 1850 e
res.) Além do mais, a itinerâneia organizada no século dezoito parece 1860 havia um forte preconceito entre os pedreiros contra qualquer
ter sido limitada a poucos ofícios". Os alfaiates tinham sedes elabora- modo de VIaJ.ªr a não ser por pôneis de Shank, o único "prudeute". Não
das em Londres e Dublin desde a década de 1720, em Birmingham pelo esta claro se isto era un1 velho costume, ou simplesmente uma raciona-
menos, antes da década de 1770", mas eles não adotaram a itinerâneia lização, à luz da moralidade Vitoriana, de um outro mais velho ainda'"
até pouco antes da década de 1860, talvez durante ou após o colapso Um sistema destinado a enviar homens de áreas inativas para outra~
das profissões estritamente fechadas nas cidades nas décadas de 1820 al!vas pode ter considerado meios de viagem mais expeditos, por
e 1830'~. Não há nenhuma dúvida de que após, digamos, 1790, o siste- exemplo o nav10 costeiro muito usado'~. Que peso podemos atribuir à
ma foi adotado por ofícios previamente não-itinerantes e aperfeiçoado evidência do século dezenove de uma crença de que "nenhum homem
por estes. Em hora os pedreiros devam ter viajado, não temos nenhum conhece sua própria capacidade ou o que vale até ter trabalhado em
registro da prática entre outros construtores antes do século dezenove. mais ~idades do que uma" ,30 é incerto. Nossa ignorância dos costumes
Os chapeleiros não adotaram o ''ünpresso" até 1798 2 º, e1nbora tives- e,tradições dos primeiros assalariados é profunda já que eles quase não
sem sedes na década de 1730" e um certo tipo de federação itinerante tem registros, assim a prevalência de tais crenças é bastante possível".
na década de 1770. Talvez eles usassem uma forma intermediária do Certamen.te, em alguns casos, a itinerâneia organizada simples-
sistema, tal como encontramos entre os estampadores de chita, na qual mente sistematizou velhos hábitos. "Será necessário que os ambulan-
os ambulantes eran1 oficialmente autorizados a fazer coletas entre seus tes vmdos por esta. estrada tragam suas licenças consigo. Você exigirá
colegas"'. da mesma forma licenças de qualquer um que possa sair daqui (sic )"
Nem é totalmente impossível que o sistema possa ter sido inven- -. diz o sapateiro de Portsmouth e igualmente o de Bath, anunciando
tado em um lugar - o West Country parece mais provável - e fosse a fundação de um sindicato local em 1803". Os carpinteiros de Bir-
então disseminado pelos trabalhadores ambulantes de lã, ou talvez por mmgham fundaram uma sociedade em 1808 principalmente para indi-
pedreiros ambulantes das pedreiras ocidentais. As instituições e rituais car uma casa para "a recepção de trabalhadores viajando com o fim de
dos sindicatos do último ofício são geralmente consideradas como consegmr emprego e qne são comumente chamados de VAGABUN-
devendo muito às dos trabalhadores de lã, e os "impressos" podem fa- DOS"'-'. Os fundidores de ferro de Bolton, em J 809, assumiram a exis-
zer parte do débito". tência de um_a rede não-oficial dessas estações, porque eles estão con-
Por outro lado, há arcaísmos nos velhos sistemas itinerantes que fiantes, ao tundarem seu sindicato local, de que as despesas dos
indicam à lembrança, de qualquer maneira, costumes mais antigos. vagabundos estrangeiros serão "reembolsadas a esta Sociedade pela

54 55
outra da qual o membro assim ajudado (com "jantar, um quartilho de locais eram em certo sentido independentes, e reconhecidas como inte-
cerveja, aloja1nento por uma noite e dois shi11ings em dinheiro para grando um todo nacional, como na indústria da lã, a itinerância é mais
levá-lo até a próxima cidade") possa pertencer" 34 • Evidentemente a facilmente explicada; e isto pode explicar o seu pronto aparecimento
prática daitinerâncianão era por si mesma nova. Na verdade, a opiniã.o entre os trabalhadores da lã. Mas por que os sapateiros, chapeleiros e
de que os sistemas de itinerância era1n destinados a garantir a mob1b- surradores de couro, todos os quais trabalhavam em mercados local-
dade pede a pergunta. O que os primeiros sindicatos queriam não era a mente auto-suficientes e tinha1n pouco motivo para conhecer muito
mobilidade como tal, mas a mobilidade financeiramente segura, ou sobre outras cidades", dedicaram-se a isso antes da década de 17900"
seu controle no interesse de um ofício localmente fechado. "Nenhum Provavelmente a atração do grande ímã, Londres, explique em parte."
dos seus mc1nbros," alegaram os sapateiros sobre os chapeleiros e sur- No entretanto, parece difícil explicar a itinerância como um todo sem
radores de couro, "suportaram vagar como vagabundos desemprega- presumir alguma espécie de tradição de viajar (de qualquer maneira
dos"." Que eles deviam vagar afinal de contas era presumido. em alguns ofícios) análoga aos hábitos continentais dos quais se desen-
Não havia nenhum motivo por que não devessem. As Leis do volveram as instituições do Cmnpagnonnage* Entre os pedreiros
Estabelecimento dificilmente incomodavam o artesão. Os Webbs afir- havia certamente essa tradição; talvez entre os tipógrafos; talvez entre
mam categoricamente que eles não encontraram nenhum caso isolado um ou dois dos outros.
de um sindicalista do século dezoito removido por força delas;'" e uma É sempre insatisfatório deixar um caso devido a evidências nega-
grande coleção de certificados de estabelecimento de Newark não tivas; e aqui podemos, na melhor hipótese, deixar o veredito aberto.
registra nenhum pedreiro, tipógrafo ou fabricante de escovas isolado U1na coisa é clara: tanto fatores "antigos" como "modernos" contri-
(embora mais tarde os últimos tivessem uma estação de viajantes na buem para modelar o sistema, mesmo concedendo que os velhos costu-
cidade no começo do século dezoito)", e apenas um chapeleiro e sur-
rador de couro durante mais de um século' 8 • O maior obstáculo às via-
l mes, que deviam ser adaptados às necessidades do novo sindicalismo,
'' tenham sido trans1nitidos apenas a um ou dois ofícios. Um sistema tão
aens não era a lei, mas a exclusividade do ofício das cidades (embora i peculiar e altamente organizado só podia ser erigido sobre uma funda-
fsto tenha enfraquecido no século dezoito, e de qualquer maneira difí- ção bem construída de costumes. Por outro lado, sua adoção geral pelos
cil de fazer cumprir em tempos de expansão)'~. Contudo os ofícios 1 ofícios refletem sem dúvida a necessidade de defender os monopólios
estritamente organizados de Dublin, que excluíam até sindicalistas ! locais e aprendizes de artesãos contra os novos desafios econômicos.
40
estrangeiros, enviava e recebia ambulantes •
A verdadeira pergunta é como o artesão chegava a vagar por todo
0 país para começar. A questão é que uma rede nacional de ".estações." lil
de Exeter até York tal como vemos entre, digamos, os pnme1ros fabn-
cantes de escovas, é muito diferente do padrão produzido pelas migra- Entre os clubes de ofícios inais velhos, o sistema itinerante tornou-
ções normais da mão-de-obra que é principalmente regional". Nem a se a própria espinha dorsal do sindicato. Os chapeleiros e os fundidores
viagem sistemática é adotada automaticamente pelos ofícios com for- de fen·o construíran1 até seus e1nb1emas e1n torno dela, os últünos mos-
tes flutuações sazonais: se os chapeleiros viajavam no século dezoito, trando um modelador ambulante com sua mochila dizendo "Irmão de
os alfaiates não 42 • Nem as operações normais do sindicalismo criaram ofício, pode me dar um emprego" e recebendo a resposta "Se não puder-
redes nacionais nesta fase inicial. Na França, onde a itinerância era
completamente independente dos sindicatos e na mão dos antigos e
*'Não precisamos presumir qualquer ligaçüo entre a::, .~ocicdadcs de viajantes, ingleses e
bastante inadaptáveis co1npagnonnages, os sindicatos não criaram
continentais em suas rormas desenvolvida~: emhora o paralelismo entre ~uas instituições -
organizações nacionais até a década de 1880 - ou como os chapelei- rituai~ e hábitos de hcbcr, o 1-fcrhcrr;e e a sede do cluhc, o Geschenk e o donativo ao amhulantc. o
ros no próprio fim do Segundo Império''. Onde as unidades industriais schmachen e a colocaçf10 na lista ncgrn de homens ou patrões, - seja ~urprccndente.

56 57
mos, ajudaremos você". Os sapateiros de Nantwich tiveram o cuidado Esta pequena frase cruel reflete a mudança radical do sistema
de incluir em sua procissão do ofício em 1833 "um colega totalmente quando este encontrava o desemprego maciço do começo do século
preparado para viajar, com seu equipamento acondicionado nas costas e dezenove-:-qucr o desemprego tecnológico que destruiu os estampa-
a bengala na mão" 47 • Pelo meio do século dezenove o sistema era muito dores de chita, cardadores de lã etc., quer o desemprego cíclico menos
dissei;inado. Em 1860 ele estava em uso entre os tipógrafos, litógrafos, permanente de 1820-50, mais igualmente cataclísmico. Mais uma vez
alfaiates, fabricantes de carruagens, encadernadores de livros, ferreiros, observamos que o sistema não tinha sido projetado para enfrentar as
maquinistas, fabricantes de máquinas a vapor, pedreiros, carpinteiros, contingências do capitalismo industrial. Ele se adaptava admiravel-
fundidores de ferro, tanoeiros, sapateiros, fabricantes de caldeiras, bom- mente aos velhos cardadores de lã: um grupo um tanto pequeno de arte-
beiros, assentadores de tijolos e vários outros ofícios. 48 sãos móveis, num ofício flutuante, funcionando sob condições razoa-
Os motivos porque ele se espalhou são claros. Em primeiro lugar velmente estáveis longo o prazo. Em casos extremos deste tipo, como
(embora este possa não ter sido seu propósito original) ele ajudava os os Webbs mostraram, ele podia substituir virtualmente toda a negocia-
fundos de greve e proporcionava um meio de opor-se à vitimização. ção coletiva ostensiva-" 2 • Como única forma propriamente desen~olvi­
Mesmo no fim do século conhecemos o caso de pedreiros que habil- d.a de ajud~ aos desempregados, ela foi geralmente adotada pela maio-
mente iam para a estrada assim que começava uma disputa, para não ria. dos oficiais que tinham necessidade desses pagamentos; mas
sobrecarregar os fundos 49 ; naturahnente o homem que conseguia um enfrentou as tensões gigantescas do capitalismo moderno, e acima de
trabalho temporário enquanto a luta estava em curso era uma grande tudo com o ciclo comercial, ela entrou em colapso.
vantagem. A luta pelo reconhecimento e um pagamento padrão levava Poderia parecer que o sistema não foi solicitado além de suas for-
quase invariavelmente a vitimizações, mesmo que fosse bem-sucedi- ças. até as décadas de 1830 e 1840, embora os tipógrafos de Londres já
da. Se os homens tinham que ser "sacrificados" - a frase é dos tipó- estivessem fazendo campanha contra ele na década de 183055• Depois
grafos - eles devem ter certeza de um meio de vida, e o sistema itine- disso, ele enfrentou mau tempo. Podemos acompanhara processo bas-
rante normalmente lhes dava tratamento especialmente favorável, tante bem nos registros do pequeno Journeymen Steam-Makers (fun-
distinguindo-os algumas vezes dos viajantes comuns. Os pedreiros dado e'.°
1826; desde 1921 parte daAmalgamatcd Engineering Union)
davam aos ambulantes em greve um cartão verde e aos comuns um como e mostrado na Tabela!.
branco. Aitinerância assim reforçou grandemente o poder de barganha
dos homens, um ponto já bem estabelecido entre os cardadorcs de lã no
meio do século dezoito 50 • Disto para um cálculo mais sofisticado de Tabela I. Itinerância entre os Fabricantes Ambulantes
economia política era apenas um passo. Removendo o desempregado de Máquinas a Vapor, 1836-41 *
de lugares com pouco serviço, e mantendo-os em circulação, a itine- Ano Membros Filiais
rância mantinha limitada a oferta no mercado de trabalho. "Se não Nú1nero total de
viajantes ajudados
pudéssemos," escreveu o Sindicato Geral dos Carpinteiros em 1846,
iS36-7
"manter nosso transporte ambulante ... uma redução geral de salários 525 13 44
i837-8 695
teria tido lugar"." Os tipógrafos formularam isto mais claramente. A 15 224
1838-9 794 18 289
itinerância, notou a Typographic Protection Circular em maio de 1839-40 876 18
1840-1 893
1849, tornou-se agora um método de ajuda em vez de encontrar traba- 981 22 673
1841-2 994
lho, "de forma que o ofício está mantendo virtualmente uma lei de 24 2.226
pobres local... pela qual a ajuda aos pobres é dispensada aos seus
pobres casuais, sendo o pagante da tarifa o empregado, e os Guardiães
*Relatórios Anuais. O nú1nero de viajantes ajudados é dado ~cparadamentc para cada
disso os funcionários da Sociedade". filial.

58
59
Os Fabricantes de Máquinas a vapor não eram nem especialmen- Mechanics", nunca havia se fiado puramente na itinerância- talvez
te migratórios, nem especialmente pouco prósperos. Muito mais sur- um dos motivos pelos quais tenha reorganizado os Fabricantes de
preendentes são os números de outros sindicatos contemporâneos. Os Máqui~a.s a Vapor um tanto mais velha 60 • A ambiciosa Associação
Fundidores de ferro em 1840 pagaram a maior parte de f 11.500 a T1pograhca Nacional havia abolido a itinerância totalmente na década
ambulantes - para um quadro social total, de empregados e desem- de 1840, mas a queda repentina de preços levou-a à falência, e sua
pregados, de menos de 3 .500. Sete anos antes eles tinham gasto apenas sucessora, a Associação Tipográfica Provincial ( 1849), retornou a ela,
f 800". Os quatro sindicatos principais de editores, com 3.400 mem- embora desconfiada". Não foi senão em 1872 que a ajuda estática foi
bros em 1841-2, ajudaram não menos de 7.200 viajantes entre si mtroduzida definitivamente, embora grandes unidades locais - de
naquele ano". Naturalmente grande parte destes eram ambulantes a Manchester, Leeds, Londres, Liverpool e Sheffield - já a tivessem
longa distancia, movendo-se desesperadamente através de muitas adotado'''. Mesmo o antiquado Sindicato Geral dos Carpinteiros intro-
filiais em busca de trabalho, e registrados em cada uma; mas isso não duzm-o em 1863, sem dúvida em conseqüência da fundação da mais
diminui a carga financeira. Como disse o Sindicato Geral de Carpin- moderna Amalgamated Carpenters em 1860. Dos grandes ofícios iti-
teiros, vívida e pouco gramaticalmente: nerantes, poucos continuaram a confiar exclusivamente na itinerância
como os pedreiros, que a conservaram até o século atual, enchendo a~
Por toda a extensão e largura da nossa terra natal não há um recanto ou aldeia
cinco páginas do seu livro de regras com "leis dos Ambulantes".
por que alguns dos nossos me1nbros não tenham perambulado ern busca de
emprego; nossas estradas têm parecido as de u1na oficina mecânica, ou u1na Desta ocasião em diante a itinerância declinou rapidamente.
poderosa 1nassa de seres humanos em movi1nento; te1nos vários casos en1 que
vinte ou trinta hon1ens num só grupo, de diferentes ofícios mecânicos, encami-
nhando-se de cidade para cidade, pedindo licença para trabalhar.. .-% IV

A experiência da década de 1840 levou a uma mudança maior: a Antes de estudar1nos este declínio e as suas causas, vamos recor-
generalização do auxílio-desemprego. Os motivos para isto não eram dar a mobilidade muito surpreendente de muitos artesãos médio-Vito-
evidentemente financeiros, porque o custo de perambular não era alto rianos, tal como indicado pelas estatísticas de itinerância de seus sin-
por pessoa", e era mais facilmente suplementado por coletas locais e
hospitalidade privada do que o pagamento estático aos sem trabalho. 1 dicatos. (Já que estes sindicatos eram muito mais representativos do
que muitas vezes tem sido presumido 61 , é razoável supor que eles lan-
Parece mais que o desemprego maciço daqueles anos impressionou çaram luz sobre os habitantes dos trabalhadores desorganizados nos
pela primeira vez os sindicatos comuns não-migratórios co1n a incon- ofícios por eles abrangidos, embora estes possam não ter sido tão
veniência de um método de ajuda totalmente nômade. Mais uma vez móveis.) Assim em 1872, quando a itinerânciajá estava em declínio e
os Fabricantes de Máquinas a Vapor ilustram o argumento. Em 1836 a o de~emprego era baixo, 6 por cento dos Fundidores de Ferro pegaram
filial de Londres introduziu pagamento estático aos sem trabalho por cartoes de viagem, e a porcentagem dos homens que faziam isso não
conta própria, para grande desgosto da matriz. Por volta de 1847, nove cam regularmente abaixo de 10 por cento até depois de 1888. AAmal-
e outras filiais, desde Leeds até Portsmouth, haviam seguido a lideran- gamated Taüors em 1877 tinha 5-6 por cento de seus membros viajan-
ça de Londres. Na revisão das Regras em 1848 as filiais receberam for- do, d~s quais cerca de um sexto voltaram às suas sedes no próprio ano;
malmente o direito de instituir tais pagamentos; em 1851 ele foi intro- isto e, 4-5 por cento do quadro social do sindicato transferiram seus
duzido nacionalmente como uma alternativa à itinerância'". Mais ou locais de trabalho durante este ano através da itinerância. A porcenta-
1nenos na mesma ocasião, os Fundidores de Ferro introduziram um gem de cartões de viagem pedidos entre 1869 e 1877 foi mais ou menos
pagamento "donativo" semelhante'°. A nova Amalgamated Society of a mesma. Entre os tipógrafos provinciais os números são ainda mais
Engineers começou a vida com ele, mas depois sua ancestral, a "Old smvreendentes. Entre fevereiro de 1873 e dezembro de 1876 0 sindi-

60
61
cato emitiu documentos de viagem numa média anual de exatamente
mentos, novamente, não podem ser medidos com . ,-
nos ofícios a_mbulantes tradicionais provavelmenf:~~:::;:~ss~~~~ea~
menos de 25 por cento do seu quadro social total (embora um quarto de
todos estes viessem de quatro Filiais grandes e muito fluidas em Man-
vam em viaJar em alg , ·- '
chester, Liverpool, Birmingham e Belfast). Já que a viagem média uma ocasiao em suas vidas além da. .
d ecorrentes da de - E , s viagens
incluía várias estações, o número total de ajudas era naturalmente havido r h pressao. m todos os ofícios, contudo, parece ter
muito maior - cerca de 100 por cento do quadro social do sindicato rava Lna~~v~a~n a razo~velmente ~ítida entre a maioria, que não espe-
num ano próspero 64 • . Jar- a nao ser em c1rcunstâncias muito fora do co
Não é fácil analisar estes números. Alguns homens viajavam - uma vez t~rem se estabelecido, e uma minoria que tiuha muito :ua11.ns
f orm1ga no pes. ,
constanten1ente, como os trabalhadores itinerantes americanos -
especialmente entre os pedreiros, tipógrafos e fundidores de ferro.
Entre os últimos, os nômades permanentes raramente montavam a
Tabela II. Viagens entre F d'd
mais de 1O por cento dos que estavam viajando, e depois de 1870 nun- os un 1 ores de Ferro, 1850-1908 *
ca montaram a mais de 1-2 por cento do quadro social total, exceto no (1)
(2)
ano do colapso de 1878-9. Entre os tipógrafos, cujo ofício era assola- Períodos (3)
Número médio
do pelo casualismo, a proporção era provavelmente mais alta, embora Número médio dos
anual de viajantes
membros por década,
não possamos dizer de quanto,já que só os Fundidores de Ferro tenta- ajudados no último
dividido pelos
ram realmente calcular o grau de nomadismo permanente. Um núme- sábado do ano
números da col. (2)
1
ro muito maior de homens trabalharam durante as depressões do ofí- l 1850 9**
73
cio. Na década de 1860 a porcentagem de mecânicos desempregados ! 860-9 71

que iam para a estrada era de cerca de 35, e a dos bombeiros mais ou
6
111cnos a rnesma ~. Um nú1nero desconhecido - principalmente de
l 1870-9
1880-9
75
60
52
126
190
1890-9 232
jovens - vagaram por alguns anos. Não há nenhu1na estatística, mas 44
1900-8 361
63***
o costume era forte. George Odger, o sapateiro da Cornualha, veio para 295
Londres após esse Wande1jahre66 • O jovem Robert Knight, subseqüen-
temente chefe dos Fabricantes de Caldeiras, foi "ver o mundo" antes
de voltar para casa em Devon; nem foi ele o único em seu ofício a fa- - Quaisquer que fossem os tipos exatos de movimento - e est'
zer isso'''. O engenheiro John Burns foi para a África Ocidental e via- sao apenas algumas das espécies que a análise inade as
jou pelo continente antes de voltar para Battersea e alcan 'ar fama polí- sob o nome geral de "mobilidade da mão-de-o~ra" q_uahd~ amontoa
dúvida q · · - nao a nenhuma
tica"'. Mesmo entre os trabalhadores rurais, Joseph Arch v 1gou pelo sul G ue a maiona deles declinou. Por volta da década de 1870
do Midlands e pela Gales antes de se estabelecer, e o jo em George h :orge Ho"'.ell pôde descrever o sistema como obsoleto". Como d
Edwards pa,"lsou um ano em terras estrangeiras - a cerca de quarenta a Ito, os numeras dos Fundidores de F - . e
e oito quilômetros do seu sindicato nativo da Lei dos Pobres."° F. W. (Tabela II). , erro sao os mais completos
Galton, ele próprio membro de um antigo ofício, relatar a vivacidade
da tradição mesmo na década de 1890"'. Outros homens novamente,
*Relatórios do, F d'd
nesse período de rápido crescimento industrial, eram semi-nô1nades, . s un 1 ores de ferro. Mas antes de 1868 . . . ~
gem estava mteirainente nas mãos das filiaió.. a d1stnbmçao de cartões de via-
deixando u1n lar pennancnte por períodos variáveis, ou mudando suas ** Números não disponíveis para l 850 e 1852
famílias de tempos em tempos, especialmente entre os construtores, - ***O au1nento pode refletir o cresci1nento do cÍe. ., , .
saos f_undidores, devido ao desenvolviinento da inold s'en1p:cg~ te~n0Jog1co entre alguns artc-
artesãos especializados e trabalhadores supervisores". Estes movi-
orgamzou - bem co1no às depres'iões de 1903-4 e 190;gem a maqu111a - que o sindicato não

62
63
o número de viajantes caiu, absoluta e relativamente, durante a cada vez que procuravam, ou conseguiam, um emprego além da distân·
segunda metade do século, e se tomarmos outro índi~e, a porcenta~e~ ciaà pé de suas casas. Londres é um exemplo disto". O bonde substituiu
dos membros que pedem anualmente cartões de viagem, o d~chmo o ambulante.* Isso nem precisa significar um declínio na mobilidade a
continuou mesmo entre 1900 e J 908. Nem mesmo a grande catastrofe longa distância. Os sindicatos do "novo modelo" que introduziram o
da Grande Depressão fez mais do que retardar sua queda. Na verdade, auxílio-desemprego introduziram também métodos de transferiras tra-
nada é mais revelador do que uma comparação da itinerâ~ci~ nos '·,~nos balhadores dos lugares sem trabalho para os com, mais eficientes do que
negros" de, digamos, 1841-2 e 1879. Nos primóros o Smd1cato Tipo· os sistemas itinerantes que confiam na sorte. Os Mecânicos, Fabri·
gráfico do Norte ajudou cerca de cinco vezes mais vrnpntes do que tm· cantes de Máquinas à Vapor, Fabricantes de Caldeiras, Fundidores de
ha de membros; no último a Associação Tipográfica Provincial aiudou Ferro, Carpinteiros Amalgamados e outros aperfeiçoaram planos para
apenas cerca do dobro dos seus membros,em viagens* . pagar ou adiantar passagens de trem aos seus membros para empregos
o declínio é especialmente palpavel nas viagens durante a distantes 7('; os carpinteiros tentaram até transformar-se nuina câ1nara
depressão. Na década de J 860, 35 por cento dos mecânicos desempre· nacional de compensação de mão-de-obra para o seu ofício 77, Estes arti-
gados viajaram; na década de 1890, 1O por cento; na década de 1900, fícios não eram, de uma 1naneira geral, muito bein sucedidos- na ver-
4 por cento; de 1910 até 1914, I por cento''. Entre os ~ab~1cantes de dade, como o benefício da emigração, que tornou-se popular no mesmo
Máquinas a Vapor a proporção de viagens em relaçao a ajuda de período, eles são interessantes principalmente como sinais da adoção
desempregados estáticos variou entre 1:2e1:6 na de:ada de 1850'. crescente de idéias econômicas ortodoxas- mas elas não eram despre-
entre J -4e1:11 na década de 1860; entre 1: 1Oe1 :60na decadade 1870, zíveis.
1: 15 e .1:70 na década de 1880. Mais surpreendente ainda é o declínio Além do mais, os fatores que causaram o declínio foram, em
entre os tipógrafos tradicionalmente itinerantes. Entre 1880 e 1.889 a parte pelo menos, compensados por outros. Isto provavelmente é
ajuda a viajantes montou entre 20 por cento e 40 por cento da ajuda a menos verdadeiro quanto à for1na mais importante de itinerância, a
desempregados; entre 1890 e 1899 entre 6 por cento e 20 por cen:o: viagem devido à depressão, que tendia a diminuir com muita constân·
entre J 900 e 1906 nunca subiu a mais do que 9 por cento e carn ate S eia, exceto nos anos catastrofica1nente maus**. A itinerância dos
por cento. O tipógrafo itinerante estava se extinguindo rapidamente."" jovens, por outro lado, era mais do que 1nantida viva. Em primeiro
Embora a ajuda a itinerantes fosse a única lorma de donal!vo, esta ten- lugar a corrente de aprendizes das áreas de baixos salários para as de
dência era até certo ponto disfarçada. A velocidade com que o paga· alto salário continuou imperturbável, ainda mais já que certos ofícios
mento ao desempregado estático revisse o seu velho rival, torna isto - constrnção por exemplo - nas cidades vieram a confiar para seu
bastante claro. Entre os bombeiros que reintroduziram o pagamento recrutamento de artesãos principaln1ente nessa imigração78 • A investi-
estático em 1901, evidentemente porque estavam começando a se_nllr gação de Lawrence em l 897n mostra que vários ofícios mal pagos em
4
a necessidade de algum tipo de auxílio-dese1nprego,' ele era vinte Bristol, o grande porfüo do West Country, eram compostos principal·
vezes mais importante do que a ajuda itinerante desde o começo. mente desses viajantes, a maioria deles considerando a cidade como
Essa diminuição da itinerância não significa nccessar1an1ente um seu primeiro ponto de parada. Muitos desses jovens, naturalmente,
declínio na mobilidade. Da década de 1880 cm diante, por exemplo, o
crescilnento dos transportes urbanos tornara1n possível -de qualquer *- NT-Aqui há um trocadilho intraduzível: lram ==bonde e Lram =ambulante.

maneira para os trabalhadores mais abonados - procurarem trabalho **Mas a itinerância, a curlo prazo dentro das grande~ conurbaçõcs (NT: fusão física de
cidades próximas) pode ter substituído muitas viagens a longa dislâucia, mesmo aqui. Assim as
num inercado mais amplo sem mudarem autotnalicamente de inorad1a seis sedes do Tyne:-.idc dos Bombeiros em 1892 tiverain uma média de talve7 70 dos seuc. 600
membros circulando entre elas - cada um Yisitando duas ou trê~ cidade5 (Uniled Operative
,., l 841-2: J 226 membros. fi.036 ajudas a viajante:-.; 1879: 5.200 memb1:0:, 11.900 ajuda~ Plomben;, 1892, Relatórios trimestrais). Já que muitos sindicatos proibiam a concessão de <ijuda
dentro de um pequeno raio da matriz, tais viagen.~ nuritas vezes não eram regit.tradas.
a viajantes ( inclu~ive pagamento por fins de semana, quando os homens não viaJaVmll.

65
64
viajavam direto de sua pequena cidade natal para a cidade, especial- falta de serviço''. Trinta e oito anos mais tarde os tipógrafos de Man-
rne'ute porque devia haver um núcleo de conterrâneos ou parentes tra- chester, pelo contrário, defenderam a idéia do auxílio-desemprego
balhando lá, que podiam encontrar trabalho para eles 80 • Assim a trans- recém-introduzido com o argumento de que ele "permitiria aos mem-
ferência de alguns trabalhadores de juta de Dundee para Barrow in bros permanecerem em várias cidades esperando serem chamados
Furness fez logo com que essa cidade se tornasse "u1na espécie deves- para o trabalho, mantendo-os juntos de suas famílias e impedindo os
tíbulo, através do qual os jovens dundonianos passavam para o mundo membros de vagabundarem rnascateando o seu trabalho pelo país"; na
exterior" 8 '. Por outro lado, o jovem tinha grande probabilidade de abrir verdade na presunção oposta"'. Dito cruamente, ternos aqui a diferen-
caminho para o seu lugar final de permanência por fases, porque uma ça entre homens que aceitaram o ciclo do ofício como a forma típica de
vez com a responsabilidade de mulher e família, a vida errante não depressão, tanto nacional como transitória, e homens que não aceita-
mais era fácil, e o impresso, o alojamento e a ajuda lhe haviam dado um ram. Mas este era um novo ponto de vista. Co1no mostrou Labrousse,
contato com o país. Não há nenhuma dúvida de que nas últimas fases as crises cíclicas não eram, no que dizia respeito ao grosso dos traba-
da itinerância, o sistema foi muito usado como u1n melo de fazer o lhadores, a crise típica até entrar bem no século dezenove85 • De qual-
equivalente do "grand tour" do artesão; exatamente como fez freqüen- quer maneira, até a década de 1850 seus efeitos pareceram sufocados
temente o benefício da emigração. por aqueles de outros tipos de crises, gerando desemprego que não
Além do mais, com a mecanização de certos ofícios, apareceu um podia ser resolvido ficando no lugar: p. ex., as mudanças tecnológicas
novo incentivo às viagens, e causou amargas queixas durante a Grande que suspenderam as atividades das formas mais antigas de artesanato
Depressão 82 • Em vez de ser totalmente treinado como um artesão com- industrial. Além do mais, o que podemos chamar de setor não-capita-
pleto, o jovem era posto a fazer o trabalho de um homem como "apren- lista da economia continuou bastante grande, e o setor capitalista bas-
diz" - ganhando menos que o salário completo. Se ele quisesse
tante localizado e diversificado, para fazer a migração temporária
ganhar o salário de um homem, tinha que arranjar emprego em outra
parecer uma fuga exeqüível dos colapsos. O pedreiro, atingido pela
oficina ou outra cidade, onde apenas sua habilidade de realizar o traba-
depressão em Norwich, podia esperar razoavelmente encontrar
lho contava mais do que a sua falta de status corno trabalhador comple-
emprego temporário nas pequenas cidades da East Anglia; "'o mecâni-
to; embora naturalmente este tipo de movimento se refletisse apenas
co podia sentir que a cidade seguinte em sua rota itinerante podia não
rnuito fracamente nas estatísticas da itinerância.
sofrer de falta de serviço". Só nas depressões importantes o caráter
nacional do colapso se afirmava por si mesmo, como o próprio viajan-
te descobria lançado nos caminhos de partir o coração que as estatísti-
V
cas registram*. Daí a importância capital da fome da década de 1840
Apesar de tudo, apesar desses fatores compensadores, há pouca na suspensão das atividades do sistema; embora sobrevivessem, as
dúvida de que a itinerância, no velho sentido, tenha crescido menos. condições que fizeram a itinerância parecer exeqüível numa escala
Porquê? menor, por muito tempo depois. Novamente, uma era cujo porta-voz
Vamos considerar primeiro o declínio das viagens devido à era Cobbett dificilmente iria ainda considerar as depressões como
depressão. Em alguma ocasião entre as décadas de 1840 e de 1870 teve interrupções temporárias da expansão econômica triunfante, que pas-
lugar uma profunda mudança na atitude dos tipógrafos em relação ao
desemprego. A Conferência Delegada Tipográfica em 1849 ouviu o "'Um caso cxtrcmoda década de 1840: um tipógrafo pegou um cartão cm Londres a 1° de
março de 1848, vollando pouco menus de um ano 1nais Larde. Ele havia viajado para Brighton e
argumento de que a itinerância era essencial já que um homem com
contornando a co~ta sul até Bristol, daí via Birminghain. Liverpool e Carlisle até Edinburgh,
família grande não podia nem se mudar com facilidade nem emigrar; Stranraer, Belfast. Dublin e dezenove cidade~ irlandesas, voltando a Londres via Liverpool,
alegação essa que presumia que a migração era a resposta necessária à Yorkshire e Cambridge. Ajudado em setenta cidades, ele havia Lrabalhado cm lrês.

66 67
saria bastando ficar-se firmemente sentado por alguns meses. Tabela III. Cidades nas quais os Pedreiros ambulantes
Podemos debater como e quando teve lugar a transição, mas dificil- têm licença ficar mais de um dia
mente podemos esperar que a opinião otimista fosse grandemente
popular entre os trabalhadores antes da década de 1850. Ano Nú1nero Comentários
O pêndulo mais tarde devia oscilar demais. Tanto na Grande
Depressão como na depressão interguerras encontramos os sindicatos 1849 4 2 dias
quase exaurindo seus fundos na crença de que estes eram os colapsos 1853 4 3 dias em Londres
habituais, que poderiam passar rapidamente. A obstinada relutância em 1855 6
migrar entre as guerras dos trabalhadores nas áreas deprimidas pode 1862 7
bem refletir as últimas sobrevivências desta fé na capacidade do siste- 1868 li 2, 3 ou 4 dias
ma econômico de consertar-se por si mesmo em todas as circunstâncias. 1871 20
Seria errado, contudo, deter-se exclusivamente nesta fé na expansão 1875 29
inglesa. Na medida em que as inovações do começo da década de 1850 1887 48
-pagamento por desemprego estático etc. - significam um reconhe-
cimento do ciclo comercial, elas marcaram uma fase importante na edu- tinham uma maioria de membros recrutados localmente; de sete em
cação do movimento trabalhista; o reconhecimento de que a economia Bradford, seis tinham. Mas em Sheffield e Birmingham, que ainda
capitalista não era algo a ser evitado, mas tinha que ser enfrentado pela es:avam numa fase mais efervescente da expansão industrial, só três
compreensão de suas leis específicas de movimento. oficios em doze e três em dez respectivamente eram constituídos prin-
Esta atitude nova e mais madura em relação ao sistema econômi- cipalmente de nativos da cidade. Quanto mais indolente a corrente da
co explica grande parte do declínio da itinerância dos desempregados. expansão, menor o número de artesãos ambulantes varridos para ela.
Ele não explica completamente o declínio de outras formas de mobili- A segunda força responsável pela maior imobilidade foi 0 declí-
dade. Talvez valha a pena mencionar três causas possíveis disto. nio do casualismo, o concomitante inevitável da indústria competitiva
A natureza da expansão industrial - o tamanho crescente do em pequena escala no mercado do laissez-faire". Até que ponto 0
mercado de trabalho por um lado, a mudança no ritmo por outro - casu_alismo (ou, o que é mais ou menos a mesma coisa, o desemprego
desencorajaram a itinerância. O efeito do primeiro é acentuado nitida- persistente para uma seção da força de trabalho) diminuiu, não sabe-
mente pelos números dos Pedreiros. Em 1849 seu sindicato considera- n;os at~da; mas, uma tendência para diminuir desde a última parte do
va apenas quatro cidades como merecedoras de mais de um dia de esta- seculo e observa:el, embora o assunto ainda espere investigação.
da em busca de trabalho - Londres, Manchester, Liverpool e _ O terceiro fator é a especialização crescente do aprendiz de arte-
Birmingham. Em 1887 havia quarenta e oito dessas cidades. A Tabela sao. O ideal do antigo artesão, com o seu treinamento completo, capaz,
111 resume o processo, tal como refletido em várias edições das leis de como o ;elho construtor de moinhos, de poder realizar qualquer tare-
7
itinerância do sindicato.~ ª fa do ofic10 ~m qualquer parte do país, pôde ser mantido apenas para
Evidentemente pode-se esperar que os pedreiros se estabeleçam uma proporçaodos profissionais que diminuía constantemente. Talvez
localmente, por algum tempo pelo menos; que façam viagens mais cur- houvesse interess~ próprio nas queixas de que os assentaqores de tijo-
tas, ou mais diretamente de um centro importante para o seguinte; e que los de Bradford nao podiam ser admitidos no sindicato, porque eram
os pedreiros locais se sintam menos vezes obrigados a pôr o pé na estra- a~enas me10-tremados e, se fossem transferidos para outras cidades,
da. O efeito análogo de um ritmo decrescente de expressão, sob certas nao se podia esperar que ganhassem o salário completo; 9" ou sobre 0
circunstâncias, é iguahnente acentuado na pesquisa de Lawrence em t~emamento inferior dos mecânicos do West Country ou das cidades
1897 88 • Nesse ano estimou-se que dos onze ofícios em Leeds, nove texteis do Yorkshire. Contudo havia alguma verdade nisso. Mesmo os

68
l 69
homens cuja especialização não indicava um declínio na habilidade
eram afetados. No meio do século dezoito, os trabalhadores da lã capa- ram na realidade- emb . T , .
citados do Yorkshire e do West Country tinham sido organizados numa sem isso antes do séculoo~:r:in1!ografos'de Londres e escoceses fizes-
federação; no fim do dezenove, o Sindicato Geral dos Trabalhadores menos importante, isto foi desncce~s7r~~J~;:~o:l: se tornava cada vez
Têxteis do Yorkshire recusou-se a organizar o Vale do Stroud, embora seu desaparecimento final na décad~ d p. . ,
,Gontudo, lamentaram
a rime1ra uerra Mundial.
convidado a fazê-lo~ tão pouco as duas áreas parecem agora ter em
comum. Na década de 1850, os empregados dos estaleiros e os fabri-
cantes de caldeiras pertenciam ao mesmo sindicato; mas tinham a VI
maior dificuldade em compreender os problemas uns dos outros". Se
essa especialização era de treinamento ou de estrutura comercial, ela Resta fazer ainda uma pcrg t· Q _.
provavelmente fez o sistema de itinerância, em comparação, parecer uma tal mobilidade o . d un a. ue eteno teve um sistema de
Ceito:g;~ ;:: 1 ~~~~;~c;~sva:~~~::t~sª~::ndições
1
menos importante até para muitos dos seus defensores. trabalho locais? de
Mas à medida que os velhos motivos para a itinerância perdera1n apogeu, ter chegado perto do ideal clássic . . em, em seu
sua força, a oposição a ela falou cada vez mais alto. A seção itinerante perfeitamente móvel N- d . . , o de uma torça de trabalho
de um determinado ofício incluía, além de bons homens com hábitos nivelamento das e ·d. ~o _ev1a,portanto a itmerância ter levado a um
migratórios, trabalhadores ocasionais que esperavam se aproveitar do não há nenhum; m~~ei~~oes na area ahrangida por ela? Infelizmente
- d de provar isto. Em primeiro lugar as "co d.
pico das demandas nos vários lugares, e ta1nbém um número inuito çoes e trabalho" que d , . • n 1-
grande de trabalhadores marginais e abaixo do padrão; os primeiros a escolha de um trabalh!i~ emt ser responsave1s pela determinação da
serem despedidos, os últimos a serem admitidos. Uma geração de arte- das quais somente uma ourden re empregos incluem muitas variáveis,
, ' nas - tempo-pad e
sãos imbuídos de prudência e auto-ajuda cresceu firmemente menos ou jornada de trabalho s- 1 rao, pagamento por peça
- , ao rea mente compará · E .
entusiasmada quanto a subsidiar o que ela sentia como sendo suas ove- radas por si mesmo podem • ._ ·1 -, . veis. stas, cons1de-
' . ser mais i uso rias do que reveladoras *E
lhas negras. Já nas décadas de 1840 e 1850 a tensão entre os tipógrafos segundo lugar, esse saláno e estatística das horas tal .. , m
ambulantes e não-ambulantes era marcante'". Se o sistema sobreviveu antes do último quarto de s •. 1 como possuunos
por tanto tempo, foi em grande parte porque o número de trabalhadores lados como a tipografia ~crua-~- mesmo para ofícios hem documen-
< 1amente proporcion ~ · d
eventuais era suficientemente grande para estabelecer um importante completas suficicntem , . am senes e tempo
interesse adquirido nele; a Sociedade Tipográfica de Manchester estava Finalm ente ~omparave1s para resistir a muita análise
algu )en_te, os pequeuos efeitos niveladores da itinerância (se é que há
assolada por uma crise importante quando tentou aboli-lo em 18519'.
Como o orador na reunião delegada de 1856 disse, "ele conhecia buin: ; : : ~tp~~~~~:~a~~~or~idos
por outr?s fatores; alguns contri-
homens que estavam viajando desde que ele era aprendiz. Era impossí- . , , como o novo habito da n · -
l!va entre as associações de empregador . d. egociaçao cole-
vel terminar a itinerância devido ao vasto nú1ncro de sujeitos incorrigí- grandes áreas·'s outros n-ao , - . es e os sm icatos abrangendo
veis na profissão."" "Todos admitiam," disse outro orador, "que as via- ' necessariamente com 0 0 · d
são industrial.** ' ntmo a expan-
gens transformava:ri: ho1nens bons cm maus.''q 5 Era iguahnente óbvio,
como os Estucadores notaram em 1879, que o auxílio-viagem benefi- *Mcsmoo· , .
s nume1os dos ganho~· reai~ semanai .
ciava os membros da profissão que tinham formiga nos pés (que prova- fim do século, não nos permitem julgar el · , ' . s, VIrtualmenle não-existentes antes do
0
velmente, ceteris paribus, não eram os melhores trabalhadores nem os lho, do controle sohre as condicões ele 1 . b 1'11nento n1u1to Importante da regularidade do traba-
- • · r,1 a 10 e o status geral .
mais desejáveis) proporcionalmente muito mais do que a maioria%. vns de promoçaoe dos fatores tradicion·lis lodo. . . . que o acompanha, das perspecti-
. '., sosqumsaJUdmnaot b·JJ 1
empregos alternativos, onde ele len1 Jih, d d d , . ra a ia< or escolher entre
Assim a hostilidade às viagens que os observadores notaram nas déca- "'* . er a e e tazer 1so.o
·· Assun, entre 1850 e 1870 . !" . . ·
. 'os sa <1nos seman·us dos ( , f b.
das de 1890 e 1900 é fácil de compreender"·'. Poucos sindicatos o aboli- su brramcom inuitarapidcL" 05 do SL d . .
. , · 1
' . ' · · lpogra os iscateiros no nordeste
· 1 oestciura,muitopouco.Com. d , .
Importantes, os pequenos efeitos da 1nobilidade a b - p~ra os coinestcs movimentos
m ulante sao quase impossíveis de deterrninar.
70

71
Pode ser que uma análise mais apurada revele alguns efeitos mais alguma ocasião por volta de 1890* Até que ponto o fluxo de artesãos
mensuráveis da itinerância; assim encontramos uma uniformidade ambulantes, deslocando-se ao longo dos itinerários habituais, determi-
ligeiramente maior entre os pedreiros marcadamente migratórios no na as direções nas quais essas fórmulas viajaram? Novamente não
norte da Inglaterra do que entre os assentadores de tijolos, embora isto sabemos, por que a rede desses caminhos é difícil de traçar através da
seja provavelmente pequeno demais para ser importante. Pode ser ascensão e queda das filiais locais dos sindicatos. Por baixo deste
também que números mais completos sobre as antigas profissões fluxo, contudo, podemos algumas vezes descobrir, esmaecidamente, 0
fechadas que requeiram habilidade, que tinham uma tradição de itine- plano básico habitual; talvez naquelas hospedarias cuja longa familia-
rância mais longa no meio do século dezenove, revelem uma tendên- ridade recebeu o nome de uma profissão. Em 1849, um quinto dos alo-
cia mais surpreendente para nivelar as condições"'. Mas a dificuldade jamentos ou estações de ajuda dos pedreiros estavam, afinal de contas,
em medir a influêucia dos artesãos ambulantes não deve nos levar a situadas ainda nas "Masons' Arms", "Bricklayers' Arms" e "Carpen-
subestimá-los. Sabemos que eles disseminaram o sindicalismo, fun- ters' Arms". Entre esse ano e 1859 "Masons' Arms" era usado - não
dando filiais locais em suas viagens; 100 algumas vezes, na verdade, as necessariamente continuamente- em pelo menos vinte cidades dife-
matrizes tentavam deliberadamente transpor etapas excepcionalmen- rentes101. Faze1nos bem en1 lembrar estes viajantes carregando as fer-
te longas fundando estações ou filiais de ajuda. Sabemos também que
o viajante agia como um elo entre as diferentes áreas, transmitindo
1 ramentas, vagando pelas estradas, hospedando-se em alojamentos que
haviam sido fixados pelo uso de gerações de seus predecessores.
informações sobre os níveis de salário locais, aconselhando sobre as Grande parte disto é especulação. O que é menos especulativo é
melhores ocasiões de iniciar um movimento salarial, urna enciclopé- o fato indiscutível de que a mobilidade não eliminou, e nem podia, as
dia ambulante de conhecimento sindical comparativo"". Até que pon- discrepâncias locais muito mercantes, mesmo dentro de pequenas
to as formas de demanda "estereótipos sindicais" padronizados, cuja regiões. Os tipógrafos são um caso em questão. Não precisamos nem
essência era preenchida pelas negociações locais- se deslocavam ao
longo dos itinerários de viagem estabelecidos?
1 considerar as variações entre níveis de salário de distritos, que eram
extremamente grandes.'º' Vamos nos lembrar simplesmente da pro-
Não sabemos,jáquc as regras de trabalho ou os regulamentos dos posta feita pela filial de Birmingham, em 1891, de que devia ser esta-
sindicatos locais não fora1n muito estudados 1º1ª; contudo o que sabe- belecido um nível uniforme para todas as filiais dentro de um raio de
mos é sugestivo. Os dos assentadores de tijolos de Sheffield, por exem- nove quilômetros e meio de qualquer grande centro tipográfico-difi-
plo, fixavam uma semana de trabalho padrão de 49,5 horas no começo cilmente uma distância excessiva. A proposta foi recusada como
do século vinte. A maioria das cidades do West Riding tinham ames- impraticável, com muito pouca discussão 105 • Outro debate na mesma
ma semana padrão; mas ela vigorava também do outro lado dos Peni- assembléia delegada ilustra ainda mais claramente as dificuldades da
nos, no vale do Ribble, ao longo da costa do Lancashirc ao norte e ao padronização através da simples mobilidade. Perguntou-se se o tipó-
sul do estuário do Ribble, de Merseyside até Blackpool e Fleetwood; e grafo ambulante devia exigir o nível da sua cidade, se o daquela em que
num cinturão de cidades desde Ribble via Darwen até Bolton. O resto se encontrasse fosse inferior? Teoricamente todos concordaram que
dos assentadores de tijolos do Lancashire tinham jornadas bastante devia. Na prática, todos os tipos de dificuldades foram levantados.
diferentes-de 5~ ou 54 horas por semana 1n2 • Ou tomemos outra regra Como os homens de Sheffield podiam obter seu nível em Chesterfield?
de Sheffield, fixando pagamento extra para os trabalhadores em gale- Como podiam os tipógrafos do vale na Gales do Sul esperar encontrar
rias, obras de esgotos e chaminés. Regras deste tipo, de uma forma os cinco shillings extra por semana para pagar aos viajantes de Cardiffº
mais padronizada, só aparecem em acordos trabalhistas em certas par- Não seria melhor para o homem de Manchester em Preston aceitar 0
tes do país - Yorkshire, Midlands oriental e o nordeste (embora tais
pagamentos não estivessem limitados a essas regiões)""". Podemos até ':'Em Newcastle ele~ aparecem cm 1893, em Sunderland ern 1894, como mostram as edi-
observá-los em suas viagens; assim eles chegara1n ao Tyneside en1 ções revistas da regra.

72 73
nível mais baixo de Preston do que o auxílio-desemprego ainda mais
baixo de Manchester? direitos sobre o papel, que se esperava levar à fundação de numerosos
Sem dúvida um êxodo em massa dos centros de baixos salários, Jornais provinciais, paraestabelecerum nível nacional de notícias. Eles
um afluxo maciço de homens organizados recusando-se a trabalhar se viram mcapazes de fazer mais do que sugerir um aumento padrão de
abaixo do nível, pode ter nivelado as condições. Mas segundo a natu- po~centagem sobre o que quer que já estivesse em vigor localmente'°s.
reza das coisas isto raramente podia acontecer. Tomemos o exe1nplo Ate os fabncantes de caldeiras - em seu período de laissez-faire _
extremo dos tipógrafos em 1841 -2, quando o número de viajantes era tiveram que recuar. Seu plano original de estabelecer métodos unifor-
o dobro do total combinado do número de membros do sindicato - m.es de pagamento de horas-extras e trabalho noturno em todo 0 país
digamos, estimativamente, duas ou três vezes o número de membros fracas~ou_d1ante d_a hostrhdade das filiais; e entre 1842 e 0 começo das
regularmente empregados. Suponhamos que estes 7 mil e tantos ambu- negocraçoes pord1stnto e nacional na década de 1870 e 1880 cada lo ..
ld d · · ca
lantes tenham circulado apenas por quarenta filiais das setenta e duas ~ a e era ~nte1ramente autônoma 109 • Não foi o mecanisino do mercado
que existiam em 1850. Depois, em média, cada filial podia esperar livre quem velou as condições de trabalho na Inglaterra- a não ser den-
receber cerca de três ambulantes por semana, nada com probabilidade tro de um mercado de trabalho local muito pequeno.
suficiente para afetar o mercado de trabalho local em circunstâncias
normais'° 6 • O próprio fato de que a itinerância bem organizada espalha-
(1951)
va os homens em excesso com pouca densidade sobre uma grande
área, uma medida defensiva, tornava difícil usar o sistema para fins
agressivos. Além do mais, o fluxo de ambulantes não se espalhava por PÓS-ESCRITO
igual por uma espécie de planície, mas era forçado através de um
número limitado de canais estreitos - os empregadores locais. Fora
Não houve nenhum tratamento sistemático do sistema ambulan-
da constrnção e das empreitadas, onde a multiplicidade de pequenas
te desde a publicação deste documento, mas várias histórias dos sindi-
firmas e scrviç-os flutuantes, ou um número menor ainda de empreen-
catos e ouüas organizações publicadas desde então proporcionam
dimentos extremamente grandes, tornavam as condições mais flui-
detalhes ad1c1ona1s. Cf., em particular, The TypographicalAssociaúon
das"", havia assim pouca possibilidade de nivelar os salários seriamen-
(Oxford 1954) de A. E. Musson, que discute o assunto completa e com-
te pela simples mobilidade. A disposição dos artesãos ambulantes de
~etente_mcnte, como qualquer história do ofício de tipógrafo deve, e
se deslocarem dos centros menos atraentes para os mais, não estava e1n
dúvida. Uma proporção suficientemente grande deles estava prepara-
~he Fnendly S~cieties in Englar~d 1_815-75 (Manchester 196 l), de p
· J. Gosden, esp. pp. 76-7 e Apend1ce A, que dão estatísticas e acor-
da, de qualquer maneira, em alguma fase de suas carreiras, para se
dos de ambulantes para tais corpos.
comportarem como homens econômicos. Mas a capacidade deles de
fazerem isso dependia da capacidade de absorção da cidade desejada.
A menos que houvesse uma grande expansão súbita da tipografia em
geral em Birmingham, os tipógrafos de Smcthwick ou Halesowen, NOTAS

e1nbora dispostos, só podia1n ir para lá se e quando houvesse vagas.


1. The .'úor.v of"His L{f(: Tbld hy Himself( 1901) de Henry Broadhurst 21-4·
Esse nivelamento como teve lugar deve ter sido portanto um processo
The Old ~ra~e Unions (Londres 1930), de W. Kiddier, cap. J; ver tainbéni ~f~;Or\" {
lento, gradual, a longo prazo e não muito surpreendente. Trade .Vntonls1n (lª ed), de S. e B. Webb, pp. 438-9; Unemploytnent (ed. 1930) d·W0

Mesmo que tivessem lugar grandes expansões, não era fácil usá- Bevendge, pp. 241 ss. e ·
las para um nivelamento geral sistemático sob as condições do meio do . 2. "Typographical Ren1iniscences" de um velho "Typo", Tvpoaraphical e· . _
lar, Junho 189 ! , p. 8. . º trlu
século. Os tipógrafos consideraram se deviam usar a revogação dos
3. W. Kiddier, op. cit., pp. 16-17.
74
75
27. Report r~f'the Proceedings ofthe Meeting o.flJelegatesfnnn the P1vvincial
4 p B eLaivs ofOperative Carpenters_and Joiners St)ciety :~fBir"!in_gham
Typographical Associaâon (Manchester 1873), p. 15. O Sindicato Geral dos Carpin-
·.. le8x3.,3)YIV· pro\;avchnente parte <la Operative Builders Un1on (B1bhoteca
(est. maio , , teiros proibiu especificainente as viagens por diligência ou água, exceto para atraves-
Pública de Birnlinghan1239882). . . R ., . sar o Canal, para a qual era concedido 3s. 6d. (Regras de 1836).
, . p d . . Reg1·a:;, 1871 e depois· Opcrános Padeiros, egtdS,
5. Operanos e reiros, ·, ' 28. Henry Broadhurst, op. cit., p. 13.
1873. 29. Cf. Autobiography ( 1876), Life of,\'ir ~Vilf ian1 fàirbarn (cd. Polc, 1877), de
Historie and Econo1nic de W. J · Ashley,
6. s. e B. Webb, op. cit., p. 24 ·, ,ºui·vei-'s,
) J
William Lovett, eAutohioxraphy ofanArtisan (Londres l 84 7), de C. Thon1son.
PP· 249;~~dustry, Trade and People in Exeter, 1688-1800, de Hoskins (Exeter 1935), 30. F. Galton, em S. e B. Webb, op. cit., p. 438.
31. The London Mason in the Seventeeníh Century, Knoop e Jones, pp. 58-9,
pp. 58-6 l. . 191 62, para a insignificância do nosso conhecimento mesmo num ofício bem estudado.
8. Econo111ic Histor.v of Englond, III, de L1pson, p. - -: , h, C ·-
9. A Short Essay UponTrade in Generalh:raloveroflus Countryandt t on.\ Daí tambén1 a dificuldade de usar registros em grande parte sobre mestres-artesãos
para lançar luz sobre os assalariados viajantes- p. ex., os registros de lojas de operá-
titution ( 174 l ), pp. 40-1 (Museu Britânico).
rios pedreiros livres, tais corno as de Alnwick e Swalwell, descritas no Vorgeschichte
[O S e B. Webb, op. cit., pp. 32, 48. . .
11: rhe
EarlyEnglish Trade Unions (Londres 1949), deAsp1nall, pp. 76ss., The u. Anfaenge d. Frehnaurerei in Eng!and (Berlim 1907) de W. Begemann, The Scottish
.11 'ff"·t ·v (Londres 1923),dePostgate,p.25. A1ason and the Masun l-Vord ( 1939), Knoop e Jones, etc .
Bul e e1;.\~. ;~e(~~rnorial oÍthe J~urneymen Culico Printers_and others connected with 32. Aspinall, op. cit., pp. 75, 79.
. r 1 (Londres 1804) pp. 12-13 (Biblioteca Goldsm1th). 33.1.\egras e Ordens a serem Observadas por uma Sociedade de Socorros Mútu-
1
t1e1r 1nue · ' . . . , 4) 295-6. os de Carpinteiros e Marceneiros Viajantes ... Est.12 de julho de 1808 (Biblioteca Públi-
13. Sefect Co1nmittee onArt1sans and Ma(hlnery (182 , PP·
14. Life of Francis Place (Londres 1898), deGraham Wal_lal\, p. 2_11. . - l ca de Birrninghain), Regras f, XIII, XV. Sou grato ao Sr. Jack Corbett de Binningharn
. 68-9· Drinking Usage5 of the Unaed K111gc oni por 1ne fornecer esta referência.
1s.S.eB.Webbs,op.c1t.,pp. · . . . . .·
1844 ed. . 128, 132, 168), també1n registra-os entre os alfa1aLes e .esfoladore/s,_e ~ns1- 34. Centenary Souvenir ofthe Friendly Society of /ronfounders (Manchester
~ua-o ent~~ os fabricantes de vidro, joalheiros, torneiras de n1ade1ra e 28 ofic1os e1n 1909), p. 20.
35. Aspinall, op. cit., p. 83. U1n exen1plo de itinerância desorganizada entre os
metal do tipo Birmingham. . d
16. Jndustrial Organization in the Sixteent!1 and Seventeenth Centunes, e sapateiros pode ser encontrada no divertido Sixty Years Gleaningsfrom Life's Harvest,
Unwin, p, 227~ Concise Erononiic History ofBrita.111, de Clapha~, ~· 2~~.' , - de John Brown (Ca1nbridge e Londres J 858), pp. 234, 44, para o qual o Sr. John Salt-
17. The Rook ofEnglish Trad.es (1808) menc1~~a-o entre os ch<tpclciros eoscar 1narsh do King's College, Catnbridge, chamou n1inha atenção. Brown finalmente
dadores de lã· mas isto obviamente não merece confiança (1823 ed. 441). abriu um salão de bilhar em Cainbridge, após uma carreira acidentada e, a acreditar
,18. sefect Docunients ... The Tailoring Trat~e (Londres 189~), d,e F. Galtoi~g· 35 nele, uniformemente brilhante .
. AS , .· , l Poem on the Societv of Journeyinen Tatlor.1 (B. M, J 8. e, 36. English Poor Law History, 1, de S. e B. Wcbb, p. 336.
paraLondres, af}JICO- · E Ed. b gh Lifeof!v!an-
(169) para Dublin, se1n data, mas provavelmente 172 ); para , . 111 ur , 37. W. Ki<ldicr, op. cit., pp. 16-17.
sie Wauch._ Tailorin Dalkcith (Edingurgh 1828), de D. M. Maolf, p. 44. 38. Cerca de 900 ce11ificados de Newark estão publicados na Record Series da
19 . F. Galton, op. cit., LXXXI e disperso. Thoroton Society, IX, pt. in A Misceflany ( l 943). Eles cobrem operíodode J 69711822.
77) Os Place Papers por estranho
20. Place Papers (B · M · Add · Mss ' · 27799 ' :. , . 39. Knoop e Jones, op. cit., pp. 9-18.
e pareca contên1 muito poucas infonnações sobre a 1t1neranc1a. 40. lndustrial De1nocracy de S. e B. Webb, p. 75, para a exclusividade de
qu 21'. London Life in the Eighteenth Century, de M. D. George, P· 293. Dublin.
22 S e B Webb, op. cit., p. 24, n. . , 41. P. ex., dos 105 certificados de Newark para artesãos e homens solteiros ape-
23: 1bict., ~. 111, n. certamente o único sinal verdadeiro de antigihdade esta~n.tre nas u1na dúzia vê1n de fora do Nottinghamshire e dos condados vizinhos. Ver também
. " banco vago seinpre reservado na ohc1na
os cardadores de lã, que tinham sempre ~m . . 'E r
h Trades loc. em geral Lahour Migration in England 1800-50, deA. Rcdford.
sobre o qual i:ts pessoas que viajavan1 podiam descansar (Book oj .ng ts , 42. F. Galton, op. cit.,LXXVII.
cit.). 43. Histoire du Mouvement Syndica! en France 1789-1910, de Paul Louis, pp.
24. Lipson, op. cit., P· 393. ) f Sh · - 15155. Mas Coutume ChapeliCre (Paris 1941) de Vial sugere que, entre os chapelei-
25. History ofthe United Sociely of Boilermakers and lro11 and, tee lp
ros, acordos itinerantes rudimentares estavan1 em vigor na Restauração. Sobre a rela-
builders (Newcastle l 905), de D. C. Cu1nmings, p. 31. . .. " , ção entre compagnonnages e sindicatos, veja Le Mouvement Ouvrier et les Jdées
26. Fabricantes de Máquinas a Vapor, 1846, Regras 1ev1st.ts.

'!-,
77
76
Sociales en France, fase. II, de E. Labrousse, pp. 71-82 (Paris, Centro de Documen- , ?1. Os documentos do sindicato provincial de tipógrafos do período estão dis-
tfü;ão Universitária, 1948). pon1~ei_s nos extratos completos MSS dos Wehbs e seus secretários, Coll. EA, XXX
44. Cf. The Trial of. Joun1ey1nen Hatters ofMaccle,~field (Macclesfield e Lon- na_Brb_liotec~ ~a Escola de Economia de Londres; cf. lá as Regras de 1844 daAssoci~
dres 1806), no qual a 1naioria dos argu1nentos girava e1n torno de se os patrões e açao T1p{:gr~f1c~Nacional e o debate sobre itinerância na assembléia delegada de 1849
homens locais (a) sabiam quais era1n os níveis de salários em Stockport, ou (b) deviam daAssoc1açao Tipográfica Nacional.
ser afetados por esse conhecimento (Biblioteca Goldsnlith). . 62.~sscn1~l~i~ delegada de 1856 da Associação Tipográfica Nacional; relató-
45. The Cotton Trade and Industrial Lancashire de Wadsworth - Mann, p. nos 1nensa1s das f1ltais.
377, sugere a itinerância entre os sapateiros na década de 1750 (History ofTrade _63. Cf. o .cálcu:o de M. e 1. Jeffery: "Thc Wages, Hours and Trade Custon1s of
Unionism de S. e B. Webb, pp. 46, 51, 80). thc Skdled Engrn~er 111 1861". Econ. Hist. Rev. (1947), XVU, 29-30. Os sindicatos
46. SurreyApprenticeships 1711-31 (SurreyRccord Soe. vol. XXX), XV, onde J~enos ~e~ o~·gan1zados fora~ ~pesar de tudo altamente representativos do corpo ge-
se estin1a que cerca de 40 por cento dos aprendizes vinha1n de fora da cidade dos ral de tr~balhado.res em seu ofic10, nessas cidades que eles abrangiam; cf. os cálculos
patrões. As cidades 1nenos importantes també1n atraíam naturalmente forasteiros, 1nas ~e ~rch1b.ald .Ne1ll (Associaç_ão Inglesa, 1875) sobre o grau de sindicalização da pro-
o 1nagnetismo de Londres era excepcional. Muitos voltaran1 para as províncias após ftssao
. de construtor
. . .· em Bradíord. Para o co1neco
, da déc'a d a de 1890 possu1111os
' as pes-
cumprir o seu teinpo, ou nos maus tcn1pos (The LondonBookhinder5 l 7SO-l 806 de C. ~uisas locais 1nest1máveis feitas pelos Webbs para sua History, Coll. EA IV (B'b- 1
E. Howc (1950), p. 29). ltoteca da E.E.L.). '
47. "Thomas Dunning's Rcminiscenses" (ed. Chaloner) c1n Tras. Lancs. Ches. 64. Relatórios da Sociedade de Socorros Mútuos dos Fundidores de F
S ,· d d A , erro.
Antiq. Soe. ( 1947), LIX, p. 98. r • o~ie a e nu:1.1?amada dos Alfai~tes, Associação Tipográfica Provincial, esp. a Cir-
t
48. Report on Trade Societies (Associação de Ciência Social, 1860), pp. 141-6, cul~u ~·~· de maio de 18_77. Os nu1neros dos Alfaiates para J 869-77 vêm do Daily
dá u1na lista incompleta. Ch1on1cle_ de~ de fevereiro de 1879 - obviainente con1 unicados pelo sindicato, por
49. Rolling Stone mason ( 1936) de Fred Bower, pp. 45-6, u1na descrição adnli- 1 que el~s nao sao prontarnent~ calculáveis nos seus relatórios. Grande parte destas fon-
rável do artesão permanente1nente itinerante; Aspinall, op. cit., p. 78, para os sapatei- tes, e.stao na Howcll Collectron, _lnstitut_o Bishopsgate, Londres. Deve-se notar que a
ros de Bath em 1803: "Sir, tenho ordens de infonná-lo de que esses ho1nens ... que quabd~d: de me~bro da Associação Tipográfica não é cxatainente 0 mestno que da
podem deixar a cidade estão se preparando o 1nais depressa possível, e alguns já parti- Associaçao de Ajuda p_or Quilometragcn1 estabelecida para cuidar da sua itinerância
ram"; "Rc1niniscenses" deDunning, op. cit., pp. 1O1 ss., para o bom uso feito desta téc-
nica pelos sapateiros de Nanl\vich.
1 em 1861. A_lgumas sociedades locais filiavam-se a uma ma:; não a outra. Jsto não afe-
ta substancialmente a natureza dos nún1eros.
50. Jndustrial !Jeinocrucy de S. e B. Webb, p. ! 62. 6::·
~- Jeffery, op. cit.. p. 61. Estou em débito con1 os funcionários do Sindicato
51. Our Society's Iíistor.v (Manchester, 1939), de Higenbottam, p. ! 8. das Prohssoes d~ B{~mbciro pela permissão de consultar seus relatórios da década de
52. Jndustrial Democracy, de S. e B. Webb, pi. II, cap.1, disperso. 1860, quando o ~1.nd1cato teve por algum ten1po auxílio-desemprego estático.
53. The London Compositor (1947), de Ellic Ho\ve, p. 226. A hostilidade n1es- 66. The L!fe and Labours of George Odger (Londres J 877).
mo na década de 1820 é registrada etn A Workingn1an 's Way in the World, heing the 67. D. C. Cum1nings, op. cit., pp. 62, 156.
J\utobiography ofa Journeyn1an Printer (Londres 1853), de C. M. S1nith, pp. 13-14. 68. John Burns ( 1908), de W. C. Grubb.
54. Centenary Souvenir. 69. _The Story º!His Lif'e, Told by Himse/f(l 898), de Joseph Arch. p. 40; Fronr
55. Typographical Circular (fevereiro 1891), P. 1O, citado da assen1bléia dele- Crowscanng to Westnunster ( 1922), de G. Edwards, p. 27. .
gada de 1842 do Sindicato Tipográfico do Norte. Se os tipógrafos de Londres são 01ni- 70. Na Histo0· ofTrade Unionisn1, de S. e B. Webb, p. 438.
tidos, a carga de itinerantes era proporcional1nente ainda n1ais pesada. . 7L R. C. on the Housing ofthe Working Classes (I 884-5), XXX. 3707. 3754,
56. Higenbottam, loc. cit. pata esses. cor~s.tru~or~s em Londres, ou My Life, de George Lansbury ( J 928), ca . I
57. Typographicq,l Circular (junho 1891 ), p. 8. ()s pedreiros pagavan1 u1na aju- para essa Ja1r11lia snn1nômade. p '
da diária de 6d. até a década de 1880, e esti1nava1n o custo de hospedar por u1na noite 72. Conflic~s o_f'Capital and Labour ( ! 878, 29 ed.), p. ! 41.
em outros 6d. 73. J. B. Jciferys, op. cit., p. 128.
58. Relatórios anuais, e várias edições das Regras revistas. . 73a. Rel~ttôrios semestrais da Associação Tipográfica Provincial: relatórios
59. (.~entenary Souvenir, p. 36. Exige imediatamente auxílio-doença, que tendo anuais dos Fabncantcs de Máquinas a Vapor.
sido inflacionado em conseqüência da falta de auxílio-desemprego estático, caiu 74. Operários Bon1beiros Unidos, 2º Relatório Trimestra!, 1900: "Anterior-
abruptamente. mente qu.ando os ho1ncns estavarn ernpregados. havia um desejo geral de conservar
60. The Story o/the Engineers (1945) deJ. B. Jcffrerys, pp. 19-21. seus serviços por uma extensão razoável de tempo. Agora não inostrarn nenhuma con-

78 79
sideração, en1 alguns casos os homens são admitidos num dia e despedidos no dia um descrédito para a profissão cuja arte ele passou sete anos para adquirir... Coino clas-
seguinte". Ibid., 2º Relatório Trimestral, 1902. se os que pera111bulam são quase criaturas perdidas" (I 849), assen1bléia delegada).
75. O R. C. 011 the Housing qf the lVorking Classes discute alguns destes proble- Men1oirs ofa Social Ato1n de W. E. Adams (Londres 1903), vol. I, cap, XXXL esboça
mas; n1as con1 a exceção dos tren:-. <los trabalhadores, sabernos pouco sobre as n1udan- alguns destes tipos.
ças na viagem para o trabalho antes do século vinte. 93. Minutas da Sociedade Tipográfica de Manchester, extraida na Coll. EA,
76. Os carpinteiros estavam preparados para adiantar passagens até 483 quilô- XXX, PP· 58-9 (Biblioteca E.E.L.); também a Manchester Typoiraphicaf Society
rnetros; ernbora tivessem reduzido isto à 1netade durante a Grande Depressão (Regras Centenary Souvenir (Manchester 1898).
da Sociedade Amalgainada dos Carpinteiros e Marceneiros, 1874, 1886). 94. Loc. cit., p. 7.
77. The Amaigamated Society ofCarpenters and Joiners (Londres 1867) de E. 95. lbid. p. 6.
Beesly, pp. 5·6. 96. Annual Reportfor 1879 (Binningham 1880) da Associação Nacional de
78. "Tntlux of Population into EastLondon' deH. Lle\veliyn, etn /,ffe andlabour, Operários Estucadores. O auxílio-desemprego "seria mais benéfico para um inaior
de C. Booth, III, pp. 74, 96; Problems of Unemploye1nent in the london Building Trade º?~1ero de nossos rncrnhros que não podem viajar do que o auxílio-viagem para os que
(1907), de N. B. Dearle. v1aJam''.
79. Local Variations in Wages ( 1899), de F. W. La\vrence. Os resultados da sua . ·- 97 .. ~~ve~i~ge, op. cit., ( l 930 ed.), pp. 241-5; Hcnvell. op. cit., pp. 141-2, para a
pesquisa entre os sindicatos são dados muito completainente, pp. 56-80. Eles abran- op1n1ao of1c1al t1p1ca do sindicato.
gen1: assentadores de tijolos, pedreiros, carpinteiros, estucadores, bon1beiros, pinto- . 98. Isto ainda aguarda estudo. A Industrial Democracy não contén1 1nuito à res-
res, tipógrafos, fabricantes de caldeiras, maquinistas, encadernadores de livros, litó- peito; tVages in Practice and 1heory (1928), de J. W. F. Rowc, dificihncntc ren1onta
grafos e fundidores de ferro. a]é1n de 1906. Mas nas indústrias importantes con10 construção naval tiveram luuar
0
80. H. L\cwcllyn-Stnith, op. cit., pp. 129 ss., esp. p. 134.AR. e:. on Poor Lu~vs, desenvol vitnentos iinportantes na década de 1870 e 1880.
Apêndice IX, p. 729, afirma positivainente que muitos ho1nens do campo que migra- 99. P._ ex.,~- Kiddier, op. cit., p. 124. Mas estes eram preços por peça, que são
vam para Londres vinhan1 para ofícios conhecidos. Mas isto não exclui u1n elemento so1nente_ma1s fac1lmenle padroniLados do que os preços por tetnpo,já que lên1 relação
de incerteza, co1no 1nostra a experiência de Will Thorne (!v!y Li/'e Battles, sem data, pp.
49·53).
l menos direta co1n os ganhos semanais.
100. P. ex., dos tipógrafos nas Potteries, uma fase importante entre Lancashire
81. From Workshop to War Cabine! (1923) de G. Ban1es, p. 20. e Binninghan1 (Cull. EA, XXX, 77, BibliotecaE.E.L.).
82. R. C. on Depression ofTrade (Parl. Papers XXII, 1886), p. S (Maquinistas 1Ol. F. Bower, op, cit., pp. 45-6.
de Dorkcnfield), p. 9 (Glasgow, Maquinistas de St. H. ollo"J). p. ! 2 (Maquinistas de 1Ola. A coleção mais acessível destas, en1 forma in1pressa, é a dos assentadores
Neath), p. 18 (Fundidores de Ferro Bury), etc.
1 de tijolos na Biblioteca da E.E. L., que pode ser suplantada pela Circular do Ofício da
Sociedade dos Operários Assentadores de Tijolos (Ordem de Londres).

l
83. Associação Tipográfica Provincial, 1849, assernbléia delegada.
84. Associação Tipográfica Provincial, 1872, assembléia delegada. p. 18. 102. Detalhes na "Standard Tin1e Rates", l 909. Em algun1as cidades só se tra-
85. Cf. sua Crise de l'Ancien Régúne; também o valioso capítulo do curso da balhava 45 horas.
Sorbonne já citado. 102a. Regras de Trabalho da Sociedade dos Operários Assentadores de Tijolos
86. Broadhurst, op. cit., cap. II. (Orden1 de Londres) em Jarrow, Hull, Loughborough, Nevvcastle e Gateshead
87. Cf. as grandes variações na prosperidade local indicadas 1nesn10 na década Sheflield, Bridlington, Leicester, Lincoln, Nottingha1n e Sunderland. Regras seme~
de ISSO nas respostas do sindicato à R. C. on Depression of Trade; tan1bé1n as gran- lhantes, 1n~s aplicando-se principahnente a fonnas de trabalho local especialiLado,
de~ variações de salários entre localidades vizinhas, p. ex., Wakcficld e Barnsley (Coll. poços de 1n1na, quebra-n1ares, trabalhos ligados à agulha e do coinércio de anzóis e
EA, IV: Conselho de Ofícios de Barnsley, Biblioteca E. E. L.). não t_ão unifonne no fraseado con10 os outros, ocorrem em Plyinouth, Portsinou;h,
87a. Regras dos ()perários Pedreiros destas datas. Red~n:I~ e Rotherhain. Deve-se notar que a coleção de cerca de cinqüenta regras que
88. Op, Cit., pp. 56·79. analisei e pobre para o sudeste do Lancashirc, n1as bastante representativa das outras
89. Unempfoyement. A Prohlem of Industry ( 1909), de W. Bcvcridge, cap. V, partes do país.
para urna discussão geral di"J"JO. 103. Regras da Sociedade dos Operários Pedreiros, 1849, 1852, 1859. As cida-
90. Coll. EA, X, 255 (Biblioteca E.E.L.). des são: Bristo~, Lceds, Penrhyn, Princetown, Aberdare, Avon, Grantham, Liverpool,
91. Cumniings, op. cit., p. 61. R_etford, Warnngton, Neath, Southport, Old Swan (Birmingham?), Lcainington,
92. Associação Tipográfica Provincial, 1856, assembléia delegada, disperso; F1shponds (provaveln1entc o mes1no que o Bristol "Anns"). Outras "Builders Anns"
cf. ta1nbém: "Você conhece qual é a condição do ambulante. A aparência do homctn é usadas eram e1n Brighton, Birmingharn, Chester-le-Slreet e Londres.

80 81
" de E .Ectv.1ards, (Ensaio Premiado da
. d and thc R c1nc dy · ·
104. "The D isea e d· . 1850) citado em Howc, op. c1t., PP·
. , . f de Londres Lon ies, - ,
Sociedade de T1pog1a os d, l' . E'le eºtiina os níveis escoceses em 12 -
· pletos esaanos. ·' · 18
305-7, dá nú1ncros muito con1 22. d sudeste 18-24s., sudoeste s.
! 9s. por semana, do norte da Inglateffa e1n 18- s., o.
e Londres 25s. 1· . o1Deleoute Meeting (Manchester
. - · .- f Proceec ings ·<>
105. Assoc1açao T1pog1 a ica, . ·. h· nuito tipicamente surgiu de un1a
6 O . ble1na de B1nn1ng an1, l .
1891) pp. 67-8, 75- . pio
,
d' .
d , l ·vação con ic1ona
1 a uma semelhante nas cidades cir-
· 5
de cisão
·
arbitrada tornan o a e e . . h
· b · · B1rm1n° a1n
começou imediatamente uma
cunvizinhased~p:.~ga1~ent~sn1a1~ ª~~~~· EA xXx, PP· 73-5; Coll. EA, lV, P· 118
campanha de s1nd1cahzaçao loca~ ( 01dbur, S1nctl1viick).
(Dedley), PP· 294-8 (West Br~)mwtch.. . . ~1ninforn1ante de J. Dunlop, Drinking
O PADRÃO DE VIDA INGLÊS
106. Mas a tensão podia ser muito p101. 1844)
. · d K. lom (7ª ed. Londres , P·
J 32 denuncia un1a filial dos
'
DE 1790 A 1850*
u1~l
A ••• ,

Usages oj the Unlte • bia até trinta ambulantes por tnes, se1n
Esfoladores, com vinte e cinco ho1nens, que rece
dúvidae1n 1841-2.
107. Rowe, op. cil., pp. 65-.7. . . A p:r . v, r1· Recotd ( 1899), Slatter e
h' f 1 · · · ation i;t\· ita ·
l 08. The Typograp ica ' s~ocr , p.adronização dos preços por peça
_ · . · r foi 0 progresso na <
Hackett, p. 39. Nao multo in~~o . 52-3). Só foi recomendada u1na cor-
. do enl ! 891 (assembleia
rea ]1za delegada, PP· S, ·
·
relação local com os ganhos ~or tempo. . , Reora" dos Portos altan1cnte padro- 1 O DEBATE SOBRE O PADRÃO DE VIDA no começo do
109. Cum1nings, op. c1t., p. 33. Comp~iedasnavios na década de 1890. industrialismo tem continuado agora por cerca de trinta anos. Entre os
nizadas para consertos e obras de inanutcnçao e ' .
historiadores acadêmicos, na Inglaterra de qualquer maneira, o pêndu-
lo oscilou para longe da opinião clássica, mantida pelos pesquisadores
e historiadores de todas as opiniões políticas' até o aparecimento da
Economic History of Modem Britain, de Clapham. Hoje é heterodoxo
acreditar que o começo da iudustrialização foi uma catástrofe para os
trabalhadores pobres deste ou de outros países, quanto mais que seu
padrão de vida declinou. Este artigo se propõe a mostrar que a opinião
correntemente aceita é baseada en1 evidências insuficientes, e que há
alguma evidência importante a favor da antiga opinião. Até onde for
possível, proponho-me a evitar usar o tipo de evidência (Comissões
Reais, relatos de observadores) que tem sido criticado como tenden-
ciosos e não-represenLativos. Não creio, na verdade, que eles sejam
indignos de confiança. É perigoso rejeitar o consenso de contemporâ-
neos informados e inteligentes, uma n1aioria dos quais, co1no até os crí-
ticos admitem 2, adotam a opinião pessimista. É ilegítimo presumir que

* Estou grato à equipe da~ bibliotecas da Customs Housc, Go!ds1nilh e da Escola de


Higiene e Medicina Tropical pela ajuda, e ao Prof. T.S. Ashton e ao Sr. John Savilc pelos crnnen-
tários e críticas.

83
82
mesmo os reformadores que mobilizam o apoio público chamando a menos, e (b) que a industrialização sob as condições então prevalentes
atenção para os exemplos dramáticos de um mal geral, uão estejam de ex1g1a quase certamente uma diversão mais fatigante dos recursos do
fato atacando um mal geral. Mas o caso clássico pode ser baseado, até consumo do que é teoricamente necessário, porque o mecanismo dos
certo ponto, em evidência quantitativa e, a fim de evitar argumentos
rnvestlmentos era ineficiente. Uma grande proporção das economias
irrelevantes, confiarei principalmente neles. No interesse da conve-
acumula_das não foram diretamente investidas absolutamente na indus-
niência, a opinião clássica (Ricardo-Malthus-Marx-Toynbee-Ham-
tnal!zaçao, lançando assim uma carga muito maior de economias sobre
mond) será chamada de escola pessimista, a opinião moderna (Cla-
o resto da co~nunidade. Nos países com uma carência aguda de capital,
pham, Ashton-Hayek) de escola otimista.
un;a depressao dos padrões de vida populares era quase inevitável. Nos
pai ses tais como a Inglaterra, onde a fartura de capital estava teorica-
mente dispo.nível, era provável, simplesmente porque grande parte do
~ue estava disponível não foi realmente colocado no investimento mais
Talvez valha a pena fazer uma observação inicial. Não há nenhum utrl. ~a melhor hipótese, portanto, devemos esperar que as melhoras no
motivo a priori para que o padrão de vida devesse subir marcadamente padrao de _vida sepm muito mais lentas do que podiam ser; na pior, não
devemos frear surpresos de encontrar deterioração.
no começo do industrialismo. Uma subida inicial deve certamente ter
tido lugar, sob fundamentos demográficos\ mas ele pode ser na verda- Não há nenhum motivo para supor que nos países com uma
de muito ligeiro e não precisa ser duradouro uma vez que o novo ritmo população rapidamente crescente e uma grande reserva de mão-de-
do aumento da população foi estabelecido. Devemos nos lembrar que a obra rural imigrante, a carência como tal tenha probabilidade de
diminuição da mortalidade, que é provavelmente a responsável princi- 1mpehr para CJma os salários reais para mais do que grupos limitados
pal pelo nítido aumento da população, precisa ser devido não a um d'.:' trabalhadores. Pode-se alegar que a industrialização e a urbaniza-
aumento do consumo percaJJita por ano, mas a u1naregularidade maior çao melhorei~ automaticamente os padrões de vida em qualquer caso,
da oferta; isto é, à abolição das carências e fomes periódicas que flage- porque os salanos mdustriais normalmente tendem a ser mais altos do
laram as economias pré-industriais e dizimaram suas populações. É que os não-industriais ou os rurais. Mas (a) não estamos simplesmen-
bastante possível o cidadão industrial ser pior alimentado num ano nor- te preocupados com os rendimentos de uma seção dos trabalhadores
mal do que o seu predecessor, desde que seja alimentado com mais pobres, mas de todos. Não devemos isolar qualquer grupo de trabalha-
regularidade. dores pobres,. quer inelhores quer piores financeiramente, a menos
Isto não significa negar que o aumento da produção, que excedeu que ele constitua a maioria da população. Além do mais (b) 0 argu-
grandemente o da população, causasse a longo prazo uma melhora ~ento ~em sempre é correto. Assim enquanto em 1nuitos países con-
absoluta nos padrões de vida materiais. O que quer que possamos pen- t1~entais os índices sociais, como os de mortalidade e de alfabetiza-
sar da posição relativa dos trabalhadores comparados com outras clas- çao, aumentam mais depressa nas cidades do que no campo, na
ses, e qualquer que seja a nossa teoria, nenhum estudioso sério nega que Inglaterra ISto nem sempre é assim. Ultimamente (c) devemos tomar
o grosso das pessoas no nordeste da Europa estavam materialmente em cmdado ao mterpretar as diferenças qualitativas entre a vida urbana e
melhores condições em 1900 do que em 1800. Mas não há nenhum rural,"industri,~1 ~ ~ré~:ndustrial automaticamente como diferenças
motivo para que os padrões de vida devam melhorar em todas as oca- emre ~elhor e p10r . Amenos que tragamos imponderáveis para a
siões. Se melhorarem, depende da distribuição dos recursos adicionais d1scussao, os homens das cidades não estão necessariamente em
produzidos pela população. Mas nós sabemos que no começo do indus- melhores condições do que os homens do campo; e como os Ham-
trialismo (a) não havia nenhum mecanismo eficaz para tornar a distri- monds mostraram, os imponderáveis podem também ser !arreados do
buição da renda nacional mais eqüitativa e havia vários para torná-la lado pessimista da balança. ,

84
85
Um argumento final deve ser dado. Os otimistas muitas vezes te quando o argumento para o período 18 l 5-40 e tanto gira em grande
tende111 a exonerar o capitalismo da culpa por essas más condições parte em torno da questão de se a curva do custo de vida inclinava-se
quando admitem terem elas existido. Eles alegam que estas são devi- para baixo mais iugrememente do que a dos salários em dinheiro
do à iniciativa privada insuficiente, a dores de cabeça do passado pré- sendo admitido que ambas tendiam a cair. Nos casos extremos, clara:
industrial ou a fatores se1ne1hantes. Eu não 1ne proponho a entrar nes- mente, p. ex., quando os preços caem e os salários sobem ou vice-ver-
sas discussões metafísicas. Esse capítulo diz respeito principalmente sa, até um índice rarefeito pode ser confiável. Neste caso, contudo, as
ao fato, e não à acusação, absolvição ou justificação. O que teria acon- possibilidades de erro são muito maiores.
tecido se todos os cidadãos da Europa em 1800 tivessem se comporta- _ Agora os nossos nú1neros para os salários em dinheiro são prin-
do co1no os manuais de econo1nia rnandava111, e se não tivesse havido cipalmente taxas por tempo para artesãos habilitados (Tucker, Bow-
obstáculos ou atritos, não é uma questão para historiadores. Eles estão, ley). Quanto aos trabalhadores por peça sabemos muito pouco. Já que
no primeiro caso, preocupados com o que aconteceu. Se isso pode ter conhecemos pouco sobre a incidência do desemprego, tempo curto
acontecido de maneira diferente, é uma questão que pertence a outra etc., os nossos números não podem ser considerados como um reflexo
discussão. confiável dos gauhos reais. (Clapham, a propósito, não fez nenhuma
tentativa de descobrir a extensão do desemprego, embora mencionau-
do a falta de dados a respeito. Seu índice do vol. 1 nem contém a pala-
II vra.) .Para grandes seções dos "trabalhadores pobres" - os poucos
habilitados, aqueles cuja renda não pode ser claramente expressa em
Podemos agora considerar as opiniões da escola "otimista". Seu termos de salários regulares em diuheiro, estamos quase completa-
fundador, Clapham, confirmou priucipalmente nos cálculos dos salá- mente no escuro. Portanto não possuímos uada que possa ser conside-
rios reais que mostrou terem subido no período de 1790 a 1850 em oca- rado como um índice adequado dos salários em dinheiro hoje. A fra-
siões em que os contemporâneos, e os historiadores que os seguiam, quc_za dos números do custo de vida é igualmente grande. Silberliug foi
supunham que os pobres estavam ficando mais pobres. Do lado do crüicado por Cole, por Judges, e mais recentemeute por Ashton, 0 mais
dinheiro estes cálculos dependiam principalmente das coleções bem eminente dos "otimistas" 5 • Para fins práticos não é mais seauro gene-
conhecidas de dados sobre salário de Bowley e Wood. Do lado do cus- ralizar sobre o custo de vida da classe trabalhadora nesta ba~e. Na ver-
to de vida eles dependiam quase inteiramente do índice de Silberling.' dade, prático, ao contrário de metodológico, têm sido lançadas dúvi-
Não é exagero dizer que a versão de Clapham da opinião otimista se da.s nessas tentativas de coustruir índices de salários reais para a
mantinha ou caía por Silberling. * pnme1ra metade do século dezenove. Assim os uúmeros de Ashton
Percebe-se agora geralmente que a base estatística das conclu- para os preços a varejo em algumas cidades do Lancashire, em 1790-
sões de Clapham é fraca demais para suportar o seu peso; especialmen- 1830'. uão mostram nada como a queda de pós-guerra que Silberling
leva.na alguém a esperar''. O índice de Tucker dos salários reais do arte-
*Até ccrlo ponto ele dependia tambéin ligeirmncntc da escolha do período. Hoje, quan- são, de Londres mostra que a melhoria importaute de sua posição no
do a maioria dos historiadore" econfünicos coloca o ponto crítico entre o período p6~- N apoleôni- penado de 1810-43 ocorreu em 1813-22'. Mas, como veremos, estes
co de dificuldades e a ''idade do ouro" dos Vitorianos bastante 1nais cedo do que certa vez estava
foram anos de consumo de carne per capita estagnado ou em queda em
em moda - en1 1842-3 cm vez de em 1848 ou por volta disso poucos negariam que as coi"as
1nelhorararn rapidamente na Inglaterra (embora não na Irlanda) do começo da década dos qua- Londres, e de açúcar e fumo nacionalmente; fatos esses que dificil-
renta cm diante, com a crise de 1847 i1llc1Ton1pcndo u111 período de progresso e111 vez de iniciá- mente apóiam a presunção do aumento dos salários reais.
lo. l\1as a ad1nissão de que o 1neio e o fim da década de quarenta foi urna época de melhoria não Em defesa de Clapham deve ser dito que ele foi mais cuidadoso
significa que Lodo o período de 1790-1842 ou 1815-42 tainbém foi, embora isto seja algumas
vezes prcsu1nido c1n discussões descuidadas, como por Chaloncr e IJcndcrson em H istory Today, em sua conclusão do que alguns dos vulgarizadores otimistas têm sido.
de julho de 1956. Assim o índice de Silbcrling por si mesmo mostra os custos de vida

86 87
como tendo permanecido razoavelmente constantes por cerca de vinte comia cevada desde 1800. Mas a estimativa de McCulloch de queres-
anos após 1822, subindo e descendo em torno de uma tendência nive- tavam apenas 20.000 comedores de centeio em 1839 é praticamente
lada. Não foi senão após 1843 que eles caíram abaixo do nível de 1822. ingênua. (Incidentalmente, sua fonte para a Cornualha'' parece falar
Um índice posterior de Tucker mostra que entre 1822 e 1842 os sala- apenas da área de St. Austell, não de toda a região.) O aumento do con-
rios reais dos artesãos de Londres subiram acima do nível de 1822 cm sumo de carne apóia-se no aumento presumido do peso do gado ven-
apenas quatro anos, o aumento médio para todo o período, mesmo para dido em Smithfield, tendo o número verdadeiro dos animais apenas
eles, sendo só de cerca de 5 ou 6 por cento. As duas décadas de, na mantido o ritmo com o crescimento da população de Londres desde
melhor hipótese, relativa estagnação dos salários reais - que R.C.0. 1740-50. Mas (a), como veremos, o número de animais vendidos em
Matthews confirma para a década de 18308 - são importantes, embo- Smithfield não havia mantido o ritmo com o crescimento da população
ra muitas vezes omitidas do argumento. Na verdade, somos levados a de Londres, como McCulloch deve ter sabido perfeitamente bem, e
concluir que Clapham tem tido uma passagem surpreendentemente pelo menos um contemporâneo sabia". Além do mais, (b) a opinião de
fácil, graças em grande parte à extrema fraqueza da resposta do seu que o peso aumentado dra1naticamente tenha sido virtuahnente con-
principal opositori J.L. Hammond, 9 que aceitou virtualmente a~ ~s:a­ fundido no pátio por Fussel''. Finalmente, (c) a estimativa de McCul-
tísticas de Clapham e mudou o argumento inteiramente para terntonos loch de 363 quilos como peso contemporâneo da carcaça de carne de
morais e outros não-morais. vaca era grosseiramente inflacionada. Outras estimativas dão-lhe 303
Contudo, atualmente, as deficiências do argumento de Clapham quilos (182 l), 285,7 quilos (1836), 290,3 (Smithfield 1842),'"enquan-
têm sido admitidas e o mais sério dos otimistas, o Professor Ashton, na to tanto Braithwaite Poole (1852) como os açougueiros de Smithfleld
verdade abandonou-as, embora este fato nem sempre tenha sido perce- consultados quanto à estimativa de McCulloch em 1856 foram tam-
bido'". Em vez disso, ele se apóia em argumentos ou presunções de três bém menos confiantes". Para o vestuário, McCul!och confiou na que-
tipos. Primeiro, cm vários argu1nentos teóricos destinados a prova.r'!ue da de preços dos artigos de algodão e não na evidência direta. Para a
um aumento dos salários reais deve ter tido lugar. Segundo, em eviden- Escócia ele deu uma comparação confiante, inas estatisticamente não-
cias factuais de aumento da prosperidade material-tal como melho- documentada, entre o passado e o presente. Ele não mencionou as bata-
rias em habitação, alimentos, vestuário etc. Terceiro, na até onde se tas, laticínios, secos e molhados etc.
possa julgar- presunção sem apoio de que a parte da população tra- Sua base estatística era assim frágil, e sua prevenção estava à
balhadora cujos salários reais melhoraram deve ter sido maior do qu.e beira da velhacaria. (Os críticos do industrialismo não foram os únicos
a parte cujos salários reais não aumentaram. Admite-se que as :ond1- a escolher a evidência que lhes conviesse.) Os estudiosos otimistas
ções para parte da população trabalhadora não melh~raram. N ª,° m.e subseqüentes não investigaram a evidência com muita profundidade.
proponho a discutir o primeiro lote de argumento~, ia, que, se ha evi- Assim os dados sobre o consumo de carne parecem ter sido quase total-
dência de que 0 padrão de vida não melhorou s1gmficatlvamente ou em mente negligenciados. Até o documento do Professor Ashton sobre o
todos os períodos importantes, eles automaticamente caem por terra'. padrão de vida, 1790-1830, talvez a discussão recente mais completa,
Talvez valha a pena observar como é escassa a evidência consti- e vastamente mais erudito do que McCulloch, se apóia em dados escas-
tuinte para a opinião otimista hoje, quando ela não pode mais confiar sos e disperses 18 •
no tipo de apoio de Clapham. Ela se apóia essencialm_ente no tipo de A evidência é certamente vaga demais para apoiar a presunção,
evidência apresentado por McCulloch, um antigo ot1m1sta, embora que parece hoje fundamental para a opinião otimista, de que a propor-
hoje ela seja muitas vezes menos detalhada". Agora o caso.d: McC".l- ção da população trabalhadora cujas condições melhoraram deve ter
loch12 apóia-se sobre os seguintes fundamentos. A subst1tmç_ao dopa~ sido maior do que o resto. Não há, como vimos, nenhum motivo teóri-
branco pelo escuro é mostrada pelo conhecido, mas não medido, dech- co para fazer esta presunção sobre o período de 1790 a 1840 e tantos.
nio no consumo de cercais escuros desde 1760, na Cornualha, que Isso, naturalmente, é impossível verificar devido à falta de dados ade-

88 89
quados sobre a estrutura da renda inglesa na época, mas o que sabemos aqui; de qualquer maneira os números do consumo real lançam uma
sobre esta estrutura em períodos posteriores (e quanto a isso em perío- luz mais confiável sobre os salários reais. Contudo, sabemos muito
dos admitidamente mais folgados financeiramente) não a apóia. Como pouco sobre a estrutura real da população para isolar os movimentos
tenho tentado mostrar exaustivamente em outra parte 1º, cerca de 40 por dos índices da classe trabalhadora do resto dos "trabalhadores pobres"
cento da classe trabalhadora industrial em períodos posteriores vive- e das outras classes. Mas isto só seria incômodo se os índices mostras-
ram na linha da pobreza ou abaixo dela, isto é, no nível de subsistência sem um aun1ento razoavelmente marcante, o que não é 0 caso. Já que
ou abaixo quanto às definições prevalentes deste conceito. Talvez 15 os ~trabal~adores pobres" formam evidentemente a maioria da popu-
por cento pertencessem a um stratiun favorecido que estava em condi- laçao, um md1ce geral mostrando estabilidade ou deterioração dificil-
ções evidentes de melhorar seus salários reais em quase todas as oca- mente é.compatível com uma melhoria significativa da sua situação,
siões. Isto é, o primeiro grupo vivia no que equivalia a um mercado de e1nbora isso não exclua inelhorias entre uma 1ninoria deles.
trabalho permanentemente farto, o segundo em um de escassez relati-
va de trabalho permanente, exceto dnrante colapsos sérios. O resto da A. Índices sociais
população trabalhadora estava distribuída entre dois grupos. Só se
admitirmos que em 1790-1850 o stratwn favorecido fosse marcada- Nossos melhores índices são as taxas de mortalidade (expectati-
mente maior, o stratum pobre marcadamente menor do que mais tarde va média de vida, mortalidade infantil, TB, etc.), taxas de morbidez e
ou que pelo menos cinco sétimos do stratu1n intermediário era mais dados antropon1étricos. Infelizmente na Inglaterra não temos quais-
parecido do que diferente da aristocracia trabalhadora, a opinião oti- quer ~ados antro~ométricos confiáveis tal como os franceses, e qual-
mista, até onde se basear em presunções sobre a estrutura da renda, se quer md1ce de saude tal como a porcentagem dos recrutas rejeitados.*
mantém. Isto não é muito plausível, e até que haja mais evidências para Nem temos quaisquer números úteis de morbidez. As Sociedades de
a presunção otimista, não há nenhum motivo para fazê-la. No interes- Socorros Mútuos, cujos conselheiros atuariais fizeram alguns cálculos
se da brevidade, não pretendo me aprofundar mais na discussão com- ute1s sobre as taxas de doença 2º, não pode1n ser consideradas como
plexa da estratificação social entre os "trabalhadores pobres" aqui. amostras representativas, já que concorda-se que elas incluam princi-
Assim parece claro que a opinião otimista não se baseia numa palmente os trabalhadores mais prósperos ou estavelmente emprega-
evidência tão forte como se pensa muitas vezes. Nc1n há n1otivos teó- dos; e de qualquer maneira, como demonstra Farr ( 1839)' 1, há muito
ricos avassaladores a seu favor. Ela pode, naturalmente, acabar sendo pouca evidência decorrente deles antes dessa data. É possível que 0 tra-
correta, mas até que tenha sido muito mais adequadamente apoiada ou balho com registros de hospitais possa nos permitir encontrar algo
discutida, parece não haver nenhum motivo importante para abando- 1na1; sobre as tendências das doenças, inas há muito pouca coisa dis-
nar a opinião tradicional. Em virtude do fato de que há também evidên- pornvel atualmente para julgamento."
cia estatística tendendo a apoiar essa opinião, o caso para a sua reten- Devemos, portanto, confiar nas taxas de mortalidade. Estas têm
ção se torna mais forte. suas limitações**, embora tenha sido alegado plausivelmente que mes-

. , ':' N~o podemo~ \~resumir que os mi li tare.~ inglc>,es deste período, ou prí~ioneiros, .~ejan 1
lil urna amost1a repre~ental!va da populaçl'ío.
. ,.. ,.'. De~dc 1957 a opinião tradicional da mudança de população neste período tern sido cri-
Podemos considerar três tipos de evidências a favor da opinião Lic~da mm to seriamente, especialmente por J .T. Krause em "Changes in English Fertility and Mor-
pessimista: aquelas relacionando-se com (a) a mortalidade e a saúde, t,ality 178 l, -1 ~50", (Ec(~n. flist. -~ei:. ~I, 1858). _Contudo, pode-se ainda concordar por enquanto,
co'.11 ~P. ~ea~c e \\-.A. Cole (Rrrt1sh t.conmnic Growth 1688-1959, p. 125), e1n que ''atualmente a
(b) o desemprego e (c) o consumo. Em vista da fraqueza dos dados ev1denc1~~ nao parece tã~ a_va~s<.tladora de estarmos justí ficado>, em invciier completmnente 0 qua-
sobre salários e preços, discutimos acima, é melhor não considerá-los dro suge11do pelas cstatrsl1cas cruas, por mais defeituosas como estas sem dúvida são."

90 91
mo as mais cruas delas- mortalidade geral abaixo da idade de 50 anos" mortalidade no período de 1811 a 41 é evidentemente de algum eso
para o caso pessnmsta, amda mais à medida que o trabalhador mo~er­
- seja um indicador sensível dos padrões de vida. Apesar disso, uma
taxa de mortalidade alta on crescente, uma baixa expectativa de vida, no, especialmente os estudos da Holanda durante e depois d II G
não devem ser negligenciadas. Não precisamos de qnalqner modo ficar ra Mn d" 1 t d r . a uer-
n ia , en e a igar tais taxas muito mais diretamente ao total da
muito perturbados pelas imperfeições conhecidas dos números, onde
renda e consumo de alimentos do que outras condições sociais.*
emergem tendências durante períodos de tempo. De qualquer maneira,
a pior imperfeição, o fato de os nascimentos serem menos completa-
B. Desemprego
mente registrados do que as mortes, ajuda a corrigir uma tendência pes-
simista. Porque à medida que o registro melhora, as taxas de mortalida-
. ~á esp,aço para muito mais trabalho sobre este assunto cu. a
de registradas também caem automaticamente no papel, embora negligencia e totalmente inexplicável Aqui· de . .· ' J
realmente elas possam mudar muito menos na realidade. . _ · seio s1mp1esmente cha-
O movimento geral das taxas de mortalidade é razoavelmente mar a atenJªº para algumas informações dispersas que apóiam mais
uma op1n1ao pess1m1sta do que rósea.
bem conhecido. Sob fundamentos teóricos, tais como os discutidos por
Mckeown e Brown 24 , é quase inconcebível que não haja uma queda da d, Po~ pouco que saibamos a respeito do período anterior ao meio
real das taxas de mortalidade devido às melhorias nos padrões de vida ecada _de 1840, mm tos estudantes concordariam que o sentido real
da melhona entre as classes trabalhadoras foi devido port t
no começo da industrialização, pelo menos por algum tempo. As taxas a , . ' , an o, menos
de mortalidade geral caíram marcadamente da década de 1780 até de um aumento nos n1ve1s de salários, que muitas vezes permaneceu
1810 e daí em diante subiram até a de 1840. lsto "coincidiu com uma ~~~;eendentemente estável durante anos, mas à ascensão dos trabalha-
mudança na distribuição etária favorável a uma taxa de mortalidade ma de e~pregos m~1to malpagos para outros menos malpagos, e aci-
ds
baixa, ou seja, um aumento na proporção daqueles saudáveis ao meio d e tudo a um dechmo no desemprego ou a uma regularidade maior
da vida"". Os números, portanto, reduzem o aumento real das taxas de e emprego. Na verdade, o desemprego no período anterior tinha sido
mortalidade, presumindo a mesma composição etária durante todo o severo. Vamos cons1_derar certos componentes e aspectos dele.
período. Diz-se que o aumento tem sido devido principalmente à mor- Podemos considerar primeiro o pauperismo, o coração perma-
talidade infantil e jovem mais alta, especialmente nas cidades, mas os n~nte da pobreza, flutuando relativamente pouco com as muda .
c1chcas - mesmo em l 840 2" A , . nças
números de Glasgow de 1821-35 sugerem que lá isso foi devido prin- . d ·. - . s tendencias de pauperismo são difí-
cipalmente a um aumento marcante da mortalidade dos homens em ce1ls Ne determmar, devidamente às mudanças fundamentais causadas
pe a ova Lei dos Pobres mas 1, , . .
idade de trabalhar- a maior nos grupos etários de 30 até 60 anos"'. As ' e seu a cance e suf1c1enternente indicado

condições sociais são a explicação aceita para isto. Edmonds, que dis- pelo fato de que no começo da década de 1840 al 1O
t d - go como por cen-
cute os números de Glasgow, observou ( 1835) que "isto é exatamente a a ~opulaçao total era provavelmente de pobres. Para fins de com-
o que pode ser esperado que ocorra, na suposição da população adulta faar;~ao,, entre 1850 e 1880 a proporção de pobres em relação à popu-
crescente possuindo um grau mais baixo de vitalidade do que seus pre- ç total nunca fo1 mais alta do que 5 a 7 por cento (1850). Sua média
decessores imediatos"". Por outro lado, não podemos nos esquecer ~a de 4 a 9 por c~nto na década_ de 1850 e de 4 a 6 por cento na de 1880.
que as taxas de mortalidade não melhoram drasticamente até muito te s:~bres do penado_que nos diz respeito não estavam necessariamen-
mais tarde-digamos, até as décadas de 1870 a 1880-e podem vor- pwres cond1çoes do que o resto, porque Tufnell, no Segundo
tanto ser menos importantes para o movimento dos padrões de vida do
que algumas vezes se supõe. (Alternativamente, de que os padrões de *O ProL McKeown de Birmingham chamou minha atem ã
taxas holandesas de inorte edoencadur:i1tc e sua d· , ' ç o para estes. O aumento das
vida melhoram muito mais vagarosamente após a década de 1840 do sivamenteàsvariações·'o•o.' d .' · q~e aaposagucrra,dcvetersidodevidaexclu-
. u '"' nsurno e a 1unentos Já q . -
que muitas vezes se supõe). Apesar de tudo, o crescimento das taxas de habitação- não melhoraram scriainente durant~·o u,e ~» ~utras cond1çocs soc_iais - p. ex., a
peno cm yue as taxas declinaram.
0

92
93
Relatório Anual dos Comissários da Lei dos Pobres, estimou que os
trabalhadores rurais comem talvez 30 por cento menos em peso de pro- fins de ajuda, como para fins de discussão política (notadamente pela
dutos alimentícios do que os pobres. Este era também o caso das cida- Liga_da Lei Antimilho). Além do mais, várias destas pesquisas impõem
des em depressão como Bradford-on-Avon, onde em 1842 o consumo confiança, sendo evidentemente baseadas em pesquisas sérias e deta-
médio de carne da classe trabalhadora não chegava a dois terços do lhad~s feitas por comerciantes locais insensíveis e com mentalidade
estat1stica.
mínimo dos asilos de pobres".
O impacto do desemprego estrutural não pode ser medido. Os que Apesquisade Bolton por Ashworth pode ser resumida na Tabela
1 segumte:
foram mais afetados por ele foram muitas vezes precisamente aqueles
pequenos artesãos independentes, trabalhadores de fora ou trabalhado-
res em meio-expediente cujos sofrimentos, à baixa da catástrofe abso-
Tabela I. Desemprego cm Bolton em 1842 *
luta, se refletiam na queda dos preços por peça, no subemprego, em vez
de na cessação do trabalho. Os sofrimentos dos maiores grupos entre
Oficio Total
eles, aqueles que operavam o meio-1nilhão ou coisa parecida de teares Total empregado Percentagem
empregado em tempo integral
à mão"' (que podem ter representado talvez um milhão e um quarto ou desempregada
ent 1836 ou parcial em 1842
mais de cidadãos") têm sido amplamente documentados. Se, tomando
Fábricas 8.124
os números mais modestos de Gayer, Rostow e Schwartz, tivermos em 3.063 (tempo integral) 60
Fundidores de Ferro 2.110
mente que no curso da década de 1830 bem mais da metade destes tece- 1.325 (1neio cxped.) 36
Carpinteiros iso 24 84
lões abandonaram seus teares, temos alguma medida do possível Assentadorc::. de Tijolos i2o i6
Pedreiros 87
impacto do desemprego estrutural nesta ocupação, embora natural- 150 50
Alfaiates 66
1nente isto não seja nenhum guia para qualquer outro. 500 250 50
Sapateiros 80 40 50
Quanto ao impacto dos colapsos cíclicos ou outros períodos de
depressão aguda, temos uma boa quantidade de evidências para dois Ponte .. "' E1tat1s11cos da depressào atua{ do comércio em Halton" de
destes (1826 e 1841-2) e evidências dispersas para outras datas". Os /{. Ashworth, .lourn. Sta/. Soe. V ( 1842), p. 74.

números que possuímos tendem naturalmente, até certo ponto, a exa-


gerar o sofrimento, porque as áreas particularmente más tinham mais . Pode~se ver que o desemprego dos fundidores de ferro neste cen-
probabilidade de atrair a atenção do que as atingidas menos duramen- tro rndustnal era mais alto do que a média nacional do Sindicato dos
te; especialmente em 1826, quando a nossa fonte é uma comissão de Fundidores de Ferro, que era então de cerca de 15 por cento.
ajuda. Apesar de tudo, os números são tão surpreendentes que podem Novame?te, na Sala de Vanxhall de Liverpool" pouco mais de 25
suportar uma boa dose de deflação. Eles sugerem que nas áreas dura- por cento de terreiros e maquinistas estavam deseinpreaados· em
Du d '' · 0
·,
mente atingidas do Lancashire entre 30 a 75 por cento da população n. ee _pouco mais de 50 por cento dos mecânicos e dos operários
total pode ter ficado sem recursos durante este colapso; nas áreas laní- navais. Ligeiramente abaixo de 50 por cento dos sapateiros de Liver-
geras do Yorkshire, entre 25 a 100 por cento; nas áreas têxteis da Escó- pool, mais da metade dos alfaiates de Liverpool, dois terços dos alfaia-
cia, entre 25 a 75 porcento. Em Salford, por exemplo, metade da popu- tes de Londres"' estavam desempregados, apenas 5 dos 160 alfaiates de
lação ficou total ou parcialmente desempregada, em Bolton cerca de Dundee trabalhavam em tempo integral. Três quartos dos estucadores
um terço, em Burney pelo menos 40 por cento''. b_em mais da metade dos assentadores de tijolos de Liverpool, quas~
Quanto ao colapso de 1841-2, que foi quase certamente o pior do cinco sextos dos pedreiros, três quartos dos carpinteiros, construtores
século, nossos números são mais representativos, porque tuna grande
quantidade de informações foram colhidas nesta ocasião, não só para *As pcrc·' t· ;- I
de 1816 .", . en dgens nao. evain cm conk1 os aumentos po~sívcis da força trabalhadora dcs-
- , e assim exagera o desemprego. Mas elas podem servir como uma ordem de grandeza.

94
95
de telhados de ardósia, bombeiros, etc., em Duudee estavam sem resgatadas"". Em Stockport (onde, como vimos, o desemprego mon-
nenhum trabalho. Nem tampouco metade dos "trabalhadores" e quase tava a 50 por cento) a renda média semanal dos totalmente emprega-
três quartos das mulheres trabalhadoras da sala de Liverpool. A Tabela dos era de 7s 6 e 1/4 d., a média dos parcialmente empregados de 4s. 7
e 1/2d'3 •
li seguinte resume várias pesquisas contemporâneas:
O efeito dessas depressões sobre o consumo felizmente pode ser
medido. Ele foi profundo. Na sala Vauxhall de Liverpool os ganhos
Tabela II. Desemprego em algumas cidades de 1841a1842 totais tinham sido reduzidos à metade desde 1835, o consumo de carne
Habilitados En1prcgados Desentprcgados tinha sido reduzido à metade, o consumo de pão havia continuado está-
Cidade
pi o trabalho vel, o consumo de farinha de aveia havia dobrado, o consumo de bata-
dahavia subido mais de um terço". Em Manchester o declínio pode ser
Totalmente Parcialmente
medido ainda mais precisamente. Entre 1839 (não um ano notável de
Liverpool, Vauxhall 4.814 1.841 595 2.378 qualquer maneira) e 1841 as receitas dos 50 lojistas de Salford desce-
2.866 4.145
Stockporl 8.215 1.204 ram corno se segue: 4-1
964 1.604 2.355
Colnc 4.923
Bury 3.982 l.107
9.500 5.000 5.000
Oldham 19.500
(meio cxped.) 1839 1841 (emfs)

Accrington 727
3.738 1.389 1.622 13 comerciantes de gêneros 70.700 47.JOO
(têxteis) 1.563
4.109 981 2.572 14 açougueiros 27.800 17.200
Wigan
1Omerceeiros 63.800 43.300
13 comerciantes de fazendas, etc. 35.400 22.300
A lista pode ser prolongada. (Para alguns índices de desemprego
de operários habilitados neste período veja o ensaio precedente, O
Outros números para os declínios do consumo de carne durante
Artesão Ambulante, pp. 41-9 .) "
Esses nú1neros significam pouco, a menos que nos lembremos do os colapsos são citados na p. 84. Contudo, um caso particularmente
que eles implicam para o padrão de vida. Clitheros (população normal, horrível, embora admitidamente excepcional, pode ser citado, combi-
6.700, emprego normal nas cinco fábricas principais, 2.500) tmha nando os efeitos do declínio secular e a depressão cíclica: Bradford-
2.300 pobres em 1842; a Haworth das Brontes (população 2.400), on-Avon, na moribunda área lanígera do oeste da Inglaterra (cujo
308'". 20 por cento da população de Nottingham esta ·a ne. Lei dos apoio aos extremos da força física do Cartismo é assim explicado ape-
Pobres, 33 por cento da de Paisley vivia de caridade". l 'i 120 prn· cen- nas muito persuasivamente). Nesta cidade trágica, nas 13 semanas de
to da população de Leeds tinha uma renda de menos de une 'hilling por Iº de outubro a 19 de dezembro de 1841, os 8.309 habitantes consumi-
cabeça por semana;'º mais de um terço das famílias da Sala de Vaux- ram 4.308 quilos de carne e 9.437 pães de 1,8 quilos. Mas deste total,
hall de Liverpool tinham uma renda de menos de cinco sh1Jlmgs por 2.721 quilos foram comidos por 2.400 dos cidadãos mais prósperos e
semana; na verdade, a maioria delas não tinha absolutamente nenhu- os 400 internos do asilo para velhos, deixando 1.401 quilos de carne
ma renda visível". 3.196 dos 25.000 habitantes de Huddersifield (ou237 gramas por semana) para os outros 5.909. O consumo de pão e
tinham uma renda média de 8d por pessoa por semana. Em Bradford, carne desde 1820 caiu de 75 por cento"'.
mesmo em janeiro de 1843, "muitos dos mais respeitáveis tinham há Já que todos, exceto urna minoria dos trabalhadores, não pos-
muito tempo empenhado os seus relógios e outros valores, e foram suíam quaisquer reservas que fossem para ateuder tais contingências,
incapazes de resgatá-los; e as roupas empenhadas agora raramente são o desemprego provavelmente os mergulharia na miséria. Eles podiam

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empenhar e empenharam sens bens. Mas isto pode ser desprezível. capaz de resistir a todas as reduções de ,salários desde 181550. Entre os
Assim em Ancoats e Newtown (Manchester), 2.000 famílias (8.866 desempregados que trabalhavam nas estradas de Manchester em 1826
pessoas) em 1842 possuíam entre si 22.417 cautelas de penhor; mas o 3.56 erai~ t_:abalhadores, principalmente irlandeses, e apenas 89 n~
valor médio destas por família montava a mero fl 8s. Uma amostra ramo dos texters, embora tsto sem dúvida indique a maior relutância
maior de 10.000 famílias, que é menos tendenciosa em relação aos dos homens "respeitáveis" em se desclassificarem. Por outro lado
mais pobres, tinham uma média estimada de ;f2 l 6s. em cautelas de numa amostra dos "operários da classe mais pobre" analisada por tra'.
penhor cada. (12.000 famílias na miséria representavam então um balhadores na _a1udaem Glasgow durante o colapso de 1837 havia bem
terço da população). O que isto representava em equipamento domés- mais de u1n ''sindicalista" para cada dois "tecelões"s'.
tico pode ser imaginado: aos níveis correntes, um colchão, colcha, len- .. lnfel~zmente as estatísticas dispersas dos sindicatos (entre os
çóis e duas fronhas podiam ser empenhadas por um total de 11 s. quais os numeras do desemprego dos Fundidores de ferro remontam
l l ,5d". Contudo, se presumirmos a renda de uma família em lOs., f 3 ~o nosso pc~'.od~; algum material pode ser retirado das contas dos
mesmo em bens empenháveis dificilmente manteriam uma família ambulantes ) ,ºªºnos ajudam, em parte porque os sindicatos com as
desempregada por inais do que seis semanas. melhores estat1sticas eram muito pequenos para serem representati-
Mas quanto tempo durou o desemprego? Em 1841-2 ele podia vos, em parte porque esses sindicatos continham normalmente um
durar por mais de um ano, como é mostrado pelas várias contagens fei- setor anormalmente próspero de seus ofícios. Assim, a média de
tas em 1843 ' 8 • Mas mesmo se supusermos que um homem tenha fica- · 1us1ve
desemprego .para os Fundidores· de ferro de 1837 ate' 1842 1nc · era
do desempregado por 6 meses, e de ser capaz de sobreviver à custa dos de_pouc,o mais ~e. 13 por cento (1841: 18,5 por cento). Por mau que isto
seus bens domésticos por 6 semanas, ele terá que viver de ajuda ou sei a pata um ofrc10 que requer habrl1tação numa ocupação que normal-
endividar-se, ou ambos. E supondo que o seu crédito com os comer- mente era_extremamente próspera, e durante um período de não menos
ciantes locais seja bom por dois meses, ele ainda terá que pagar, diga- do que seis anos, isso co1n toda a certeza minilniza a severidade do
mos, f 8 de dívidas quando estiver de volta ao trabalho em tempo inte- desemprego em 1841-2; e talvez também o mínimo de desemprego
gral, o que (a uma taxa semanal de pagamento ou resgate de 2s.) permanente nesse ofício no pico de um surto de prosperidade (como
prolongaria os efeitos do desemprego sobre o seu padrão de vida por e~ 1836), q,ue freou em 5 porcento. Além do mais, mesmo assim como
outros 18 meses. Esses cálculos são, naturalmente, especulativos, mas sa?, ~stes numeras são ilusórios, porque não levam em conta a duração
podem servir para sugerir o efeito dos cataclismos periódicos que medra do desemprego por membro. Felizmente os gastos do sindicato
tinham probabilidade de atingir o trabalhador do começo do século com a a1uda a ambulantes (que reflete esta duração, porque os paga-
dezenove. mentos representam os dias de desemprego e não simplesmente os
Exceto nos anos de 1839-42, naturalmente é provável que os homen~ desempregados) indica o grau desse horror. Assim, enquanto
efeitos do desemprego ou expediente incompleto fossem distribuídos a relaçao entre o desemprego em 1835 e 1842 está grosseiramente
desigualmente, sendo sempre pior entre os não-hahilitados e os traha- entre 1 e 2, a relação entre a ajuda a amhulantes em 1835 e 1842 está
lhadores de ofícios em declínio, menos entre os habilitados em ocupa- entre_ l ,e_ 14. Nenhuma discussão que feche os olhos às ondas maciças
ções não-cíclicas. Assim, em Burney, 83 por cento dos miseráveis de mISena que s~bmergrram grandes seções dos trabalhadores pobres
vivendo de caridade em 1843-3 eram compostos de famílias de tece- em cada depressao pode afirmar ser realista.
lões e trabalhadores". Enquanto em Londres (outubro de 1841) dizia- O ~omadismo proporciona outro índice pouco usado de desem-
sc que quase dois terços dos 26.000 alfaiates da Capital estavam sem prego, ia que os trabalhadores sem trabalho tendiam a viajar à procura
trabalho, normalmente raramente mais de um terço ficava desempre- de.emprego. O total verdadeiro de nomadismo foi bastante grande para
gado mesmo na má estação, embora este número seja bastante alto para apavorar os admrmstradores Tudor que ficavam perturbados com
um ofício que havia sido 100 por cento sindicalizado em 1830 e fora mendigos robustos. O único "censo" completo dos ambulantes, 0 rea-

98 99
. d d. .1 - Derwent do Cumberland, Índices de desemprego tais como estes podem pesar diretamente
lizado em
1
;;~~t ~~e1 ~f7º~~~~lu:n;~ ~:ºambulantes da Lei dos Po-
sobre o argumento entre otimistas e pessimistas) como no caso do ofí-
cio de construção, onde a opinião otimista (Clapham) baseada nos
reg1strou · . . ) _como prova da natureza
1848 (mclumdo estes e
bres), 42. 000 em números rapidamente decres- "salários reais" se choca com particular agudeza com a opinião pessi-
cíclica deste aspecto dodcseill~;~~;;-- OOO, 18 .oow. Compensan-
24
centes nos anos subsequentes. . 1 '. . ntos comuns ne1n a Lei dos
mista (Postgate), baseada também em evidência literária"'. Não há
nenhum debate sobre os salários relativamente bons dos artesãos cons-
- savam nem os a 01ame ~
do ague1es que naou - .. ndo os "artesãos ambulan- trutores. Contudo, o índice de tijolos de Shannon" mostra que a produ-
. ovavclmente nao compensa ção, e daí também o emprego, na indústria flutuou da seguinte manei-
Po b res, mas pr . . d. tos podemos bem ter algo
didos por seus sm 1ca , ·
tes" que eram t en ª .· d · s sentidos desta ra: os períodos de rápida expansão (p. ex., 1800-4) são seguidos por
como 1.000 ambulantes por semana passandodnos ~13 .000 ambulan- períodos de expansão mais lenta (p. ex., 1805-14) e estes por sua vez
lapso Se a esumat1va e que · ·
estrada durante um co . . 1832'; indica informação incompleta ou por colapsos (p. ex., 1815-19). Tanto as últimas fases criam desempre-
tes passaram por Preston em 1832 e 1847-51, é uma questão go, porque numa indústria 1igada à expansão- e que recrutava casual-
um aumento do desemprego entre mente sob a iniciativa privada, tende de qualquer maneira a produzir
um excesso de força de trabalho- mesmo um retardamento da expan-
abertaEstá claro, contudo, que a itinerâ~cia.te~d~~~~u:;n~::~~: ~:~~~ são lançará os trabalhadores marginais no desemprego. Numa era de
ras Napolêonicas até o come;4º da decad:vi~oaoa~mentodosambu­ industrialização pioneira sob a iniciativa privada este efeito será muito
devido àflutnaçãocomercial,. dem parte dgados nascidos na Irlanda em maior, porque os trabalhadores ainda não estão acostumados a uma
1 .. !· ndeses-querd1zer, csempre . - economia flutuante e cega. Assim os construtores nos lugares pré-
antes lf a . . ·" A Tabela lll seguinte ilustra esta tenden-
ve'f. de colhedores sazonais . ( industriais estão acostumados a uma força de trabalho cujo tamanho é
eia: razoavelmente bem ajustado ao total "normal" de consertos e substi-
tuições, e talvez a uma expansão gradual da demanda pelos consumi-
1 III Tendências da itinerância de 1803-34
Tab ea dores conhecidos*
Agora sabemos de fato que os construtores, inclusive os artesãos,
Ambulantes irlandeses saídos de
Grande Estrada do Norte N1iddlesex*':'* Berks** Wilts'"**
tenderam a se tornar excepcionalmente militantes no começo da déca-
Ambulantes com passes da de 1830. Há também alguma evidência literária sobre pobreza e
Irlandeses***
miséria entre eles. O argumento de Clapham não pode explicar o pri-
todos*
meiro ou admitir o segundo, mas o índice de Shannon explica ambos,
1803 569 (Royston) porque ele sugere um surto de prosperidade curto e vivo na construção
1807-28 540 1.464 301 80 em 1820-4, seguido por uma expansão que retardava em 1825-9 e um
1.811 7 1.811
1811-12 1.0!4 1.974 690 121
2.894 1.816 58 1.816
1.148
colapso marcante em 1830-4.
1815-16 1.821 4.583 1.850
1820 7.000 2.044 1.81 l Novamente a nossa infor1nação da Escócia confirma a existência
1.826 3.307
1.826 331
1.831 9.281 5.428 4.510 de forte desemprego. Em Edinburgh o surto de progresso na constru-
1.831 1.751
ção do começo "da década de vinte foi seguido de desastre- o núme-
ro de pedreiros que trabalhava na cidade caiu de cerca de 3.000 no fim
de 1825 para pouco mais de 100 no fim de 1827 - e os anos de 1826-

*V. e. H. Cambridgeshirc, II, 103- 4 . , , , .. 1834 XXXVIII, pp. 249-50


'H· ReportofR. C. on Poor Law,App. E. lar/. Plapu.1 ' *O caso de grandes cidades importante~ e das ohras públicas é um tanto diferente.
*'*'~ Mes1na fonte. Inclui os pobres escoceses.

]() 1
too
32 foram os piores jamais experimentados por este ofício em Edin- . . Se outros estudos puderem nos dar números mais adequados
burgh. A média semanal dos ganhos de um homem nestes sete anos são sobre
.
o desempreao
_ b
na primeira metade d o secu
, 1o e, uma questao
- adis-
.
dadas como de! Is. 3d. Outros ofícios de construção registram igual- cut1r. Eles certamente serão incapazes de medir adequadamente o
mente dificuldades então, embora o renascimento do sindicalismo no ~~s~mprego ocas10nal, sazonal ou intermitente e o grosso permanente
começo da década de 1830 pareça marcara seu fim' 8 • Nada é mais plau- subemp1ego, embora nenhuma estimativa de salários reais ue
sível do que, no começo da década de trinta, devia haver tanto pobreza neghgenc1e isto valha muito. Uma estimativa para Leeds é dad q
como descontentamento. Este exemplo mostra com muita clareza co- Tabela IV, na página seguinte. · ªna
mo é perigoso confiar no que pretende ser evidência estatística, negli- _Ela quase certamente subestima o caso, porque as estimativas
genciando ao mesmo tempo fatores quantitativos igualmente impor- antenores m~stram que os construtores de Londres trabalharam duran~
tantes, que nem sempre surgem tão facilmente registrados como no te uma estaçao de 6. a 7 meses. ' 6 ' e as est1mat1vas
tr · •
conte1nporâneas mos-
ofício da construção. ª~· p. ex., q~~ d01s terços dos pintores de Edinburgh ficam parados 4
Tampouco a força desses argumentos é limitada aos construto- meses_ por ano . No entanto, ela indica o tipo de deduções ue têm
res. Elas se aplicam a todos os tipos de outros ofícios (inclusive aos tra- se'. feitas n_os níveis de s~lários teóricos para compensa; os gan~~~
balhadores e seus dependentes ligados a eles) que fizeram a transição m~d10s rears_mesmo em epocas de relativa prosperidade. A massa de
do ritmo do movimento económico pré-industrial para o industrial. Os ~~~1os que nao requerem habilitação e, por definição, casuais, não está
fabricantes de móveis de Londres cujas más condições Mayhew des- p1 eend1da nesta lrsta ou em gualqueroutra praticável. Contudo tal-
creve, e cujo declínio é mostrado pelo colapso de seus sindicatos e vez valha
d a, pena
· citar a est11nativa geral de um observador con t empora-
' ,
acordos coletivos em nosso período, constituem um caso em questão •
59
neo ~argucia compro~ad,a e um bom senso de informação estatística.
Estudos locais revelariam sem dúvida casos semelhantes em outros enry Mayhew nao e um informante desprezível. E se como E p
Thompson
_ d nos lem b rou u 1t1mamente
· ' discus-
outra vez e1n sua valiosa · ·
lugares, talvez entre os metalúrgicos de Sheffield, após o colapso da
sua "idade do ouro" nas décadas de 181 O e 1820. Muitas vezes se ::~ o pro~lema do_pa~rão de vida, a "controvérsia depende realmen-
esquece que alguma coisa como o desemprego "tecnológico" não se . e um~ est1mat1va quanto a que grupo estão aumentando mais
limitou puramente àqueles trabalhadores que foram realmente substi- ~~udes. q~e puderam partilhar dos benefícios do progresso eco-
tuídos pelas novas máquinas. Ele pode afetar quase todas as indústrias om1co e aqueles que foram impedidos' - então a estimativa de
M ayew Merece nossa atenção": 6 -'
e ofícios pré-industriais que sobreviveram na era industrial; isto é,
muitos, como mostrou Clapham. Sem dúvida a expansão geral do
Estü~ando as classes trabalhadoras como estando entre quatro e cinco ·ih- .
começo do período industrial (digamos, de 1780-1811) tendeu a dimi- em numero acho
_ . ,· ,
d ,. 1nt oes
que po emas af1rmar segurainente ( ... )que( ... ) mal há traba-
nuir o desemprego exceto durante as crises; sem dúvida as décadas de 1 0
f h. suficiente para o e1nprego regular de n1etade dos nossos trabalhadores d"
dificuldades e ajustamento após as guerras tendeu a tornar o problema o1ma quelapenas J .500:000 estão co1npleta e constanten1ente cmpregadose
enquanto .500.000 mais estão empre d , ,
mais agudo. Desde o fim da década de 1840, como tentei mostrar em 1 500 000 , , , . , , ga os apenas Inetade do ten1po, e os
~ . re~tantes completamente desempregados, conseguindo um dia de
outra parte,''" as classes trabalhadoras começaram a se ajustar à vida trabalho ocas1onaln1ente pelo afastamento de alguns dos outros(,~.
sob o novo conjunto' de regras econômicas, reconheceram e - até
onde a "política económica" e a política do sindicato puderam fazer
~u ~ão atribuiria _muito peso a isto ou a qualquer outra estimati-
isso- se opuseram. Mas é altamente provável que o período de 1811- va, ate ela pode ser venficada por números dignos de confian a Infe-
42 presenciou problemas anormais e desemprego anormal, tais como hzmente isto ainda~ não é .possível - e pode nao
- ser nunca_ç porque
.
,
não são revelados pelos índices gerais de "salários reais". os nossos, da_dos sao mm to dispersos para nos permitir deflacionar
qualquer md1ce de salário real que escolhermos para elab Ofdf. . T Ud O

102 103
que podemos dizer é que o desemprego cíclico era evidentemente
Tabela IV. Desemprego médi'! por ano, e salá~!os
semanais corrigidos para este, Leeds, 1838 muito mais alto antes do meio da década de quarenta do que depois,
porque os números dos sindicatos que se tornam disponíveis após 1850
Ofícios que Salários Salários
Ofícios que Salários Salários (e que são razoavelmente representativos para pelo menos parte dos
trabalham semanais sen1anais
trabalham semanais semanais trabalhadores habilitados em mecânica, metais e construção naval)
11 ineses corrigidos
12 meses corrigidos
não podem mostrar nada parecido com as catástrofes registradas aci-
2416 2416 Alfaiates 161- 1418 ma. Entre 1850 e 1914, o pior ano para qualquer grupo de sindicatos foi
Figurinistas 17111
191- Marceneiro~ 19/6 1879, quando 53 por cento do grupo de mecânicos ficaram sem traba-
Ferreiros 191-
Selciros 211- 1913
Jvioageiros 261- 261- lho; o pior período de forte desemprego consecutivo foi 1884-7, quan-
Fabricantes de
Surradores
do 11,9 por cento do mesmo grupo ficou sem trabalho. O desemprego
plainas 211- 211-
de couro 201- 1911 médio anual para os seis anos mais prósperos entre 1850 e 1873 foi 1,3
Armeiros 25/- 251- Fundidores por cento para os mesmos ofícios, o que é muito melhor até do que os
de bronze 25/- 24/1
números dos Fundidores de ferro para o período pré-1850, e incompa-
Tanoeiros 201- 19/l
Mecânicos 241- 241- ravelmente melhor do que 1841-2. Podemos afirmar certamente que os
Moldadores de números do desemprego lançam dúvidas em quaisquer cálculos oti-
Tipógrafos 211- 19/3
ferro 25/- 251-
221- 221- mistas que os negligenciem. Mas por si mesmos os nossos dados são
Torneiros
Consertadores insuficientes para estabelecer urna opinião alternativa.
de Fios 4/6 416
Preparadores 616 616

IV
Salários Ofícios que Salários Salários
Ofícios que Salários
trabalham semanais semanais
trabalham semanais semanais
corrigidos
C. Nú1neros do Consun10
corrigidos 9meses
lOmeses

1118 Pintorc~ 201- 151- A discussão dessas fontes negligenciadas é necessariamente bas-
Sapateiros 14/-
Passadores 151- tante longa, e os seus aspectos técnicos foram relegados para um
Bombeiros 23/- 19/2
de roupa 201- Apêndice especial. Como a Inglaterra não era um estado burocrático,
Classificadores
24/- 181- não temos dados nacionais oficiais, exceto para artigos totalmente
211- 1716 Torcedores de lã
de lã importados. Apesar de tudo, podemos obter muito mais informações
do que tem sido trazidas até agora para a discussão. Isto mostra que, do
Torneiros de 13/6
14/2 Estucadores 181- fim da década de 1790 até o começo da de 1840, não há nenhuma evi-
1nfüicira 171-
221- 1814 Assentadores dência de qualquer aumento importante no consumo per capita de
Pedreiros 1713
de tijolos 23/-
",onsertadores
vários gêneros alimentícios, e e1n alguns casos a evidência de uma que-
Tecelões 13/- 10110
de rn 51- 319 da temporária que ainda não tinha sido completamente compensada no
Chapeleiros 241- 201- Enchedores meio da década de 1840. Se o caso para a deterioração neste período
de lã 6/- 416
pode ser estabelecido com firmeza, sugiro que isso seja feito com base
Tintureiros 221- 16/6
Cardadores de lã 141- 1118 nos dados do consumo.
Construtor de O chá, o açúcar e o fumo, sendo totalmente importados, propor-
181- 15/- Serradores
carros
de madeir<l 20/- 151- cionam números nacionais de consumo que podem ser divididos pela

105
104
população estimada para dar um índice grosseiro do consumo per
p~rfodo até l 825. º:números de Smithfie]d6& mostram que, enquanto
capita". Contudo, notamos que Clapham, embora otimista e conscien-
o mdrce d~ populaçao de Londres subiu de 100 em l 801para202 em
te dos números, habihnente recusou-se a usá-los como um argumento l 841,. o numero de anima·rs de corte mortos subrn
. apenas até l 46 de
a seu favor, já que o consumo absoluto per capita neste período foi •
baixo, e aumentos tais corno ocorreram foram desapontadoramente carnerros. ate 176 no mesmo período. A Tabela V seguinte dá os nú~e­
ros por decadas:
pequenos. Na verdade, o contraste entre a curva antes e depois do meio
da década de 1840 quando ela começa a subir vivamente, é um dos
argumentos mais fortes do lado pessimista'". Todas as três séries mos-
tram uma ligeira tendência de subida e após a década de 1840 uma Tabela V. ~umento da porcentagem decenal da população de Londres
subida muito mais viva, embora o consumo de fumo tenha caído (pro- arne de Vaca e Carneiro em Smithfield, 1801 -51 ,
vavelmente devido ao aumento de direitos alfandegários) na década de Datado l\!Jédia de Números índice População
181 O. A série do fumo inclui o consumo irlandês após o meio da déca- Censo anin1ais
Aumento decenal
da de 1820 e é assim difícil de usar. A série do chá também é difícil de
interpretar, uma vez que ela reflete não só a capacidade de comprar, População Vaca Carneiro Vaca Carneiro
como também a tendência secular de abandonar as velhas bebidas por 1801 1800-4 100 100 100
uma nova. A importância de tomar chá foi muito debatida pelos con- 1811 1810-12 119 105 119 +19
temporâneos, que estavam longe de considerá-lo um sinal automático 1821 +5 +19
1819-22 144 j 13 135 +25 +8 +16
de melhora nos padrões de vida. Em todo caso ela só mostra quatro 1831 1830-4 173 127 152 +29
1841 +14 +17
períodos de declínio- 1815-16, 1818-19, umaquedadramaticamen- 1840-3 202 146 176 +30 +19
1851 1850-2* +24
246 198
te viva em 1836-7 após uma subida viva, e uma queda mais lenta em 193 +43 +47 +17'1'"'
1839-40. O chá parece ter sido imune aos colapsos de 1826 e, mais sur-
preendente ainda, de 1841-2, o que o torna suspeito como índice de
Pode-se ver que o .:auine 11 t 0 d ªcarne d e vaca ficou
.. atrás do da
padrões de vida. O fumo não reflete o colapso de l 836-7, mas reflete _
os outros, embora não muito. De qualquer maneira, este artigo mostra populaçao em todas as décadas até a de 1840 A , d .
• f.. ~ · carne e carneiro tam-
bem icou atras - embora . .
um consumo virtualmente estável. O açúcar é o indicador mais sensí- . menos - exceto na pnmerra década. De
vel, embora - devido aos vários fatores externos - ele nem sempre uma maneira geral é assim quase certo um declínio per capita do con-
reflita os movimentos do ciclo comercial. Ele mostra bem os colapsos sumo de carne em Londres até a década de 1840.
de 1839-40 e 1841-2. Falando de uma maneira geral, não há nenhuma O imposto de consumo sobre peles e couro fornece números um
tendência para o aumento do consumo de açúcar acima do pico tanto mais grosseiros. (As fontes são discutidas no Apêndice). A Tabela
Napoleónico até bem dentro da década de 1840. Há um forte declínio VI segumte resume o pouco que pudemos obter deles:
pós-guerra, uma forte elevação para níveis bastante mais baixos após
l 818, uma ligeira elevação-quase um platô- até 1831, e depois um
declínio igualmente lento ou estagnação até 1843 ou 1844. O chá, o
açúcar e o fumo não indicam nenhuma elevação marcante nos padrões
*A escolha de datas-hasc para , · · -
de vida, mas além disto pouco pode ser deduzido das séries grosseiras. lh"d· . . . ' osanimaisnaopodeserrígida.Portanto 1800-4f. ,,
t a. pois. digamos, 1800-2 daria nú me. , 1 , .. · --:- 01 csco-

O caso da carne é diferente. Aqui possuímos pelo menos dois seguinte. Para carneiros, foi usada a data-b~~: ~etrssun~s, s~~estr?1an~o o aun!ento na década
1843 exaltaria o crescimento da década. A escol!: 84? ~' -p~r~ ~.nmne1 ~ cxcess1:'amente alto de
índices, os números de Smithfield para Londres durante todo o perío- substancialn1cntc. . la de datds d1st1ntas nao mudana os resultados
do, e o rendimento do imposto de consumo sobre couros e peles para o
**A possível razão para este nú1nero baixo se encontra na Apêndice.

106
107
Tabela VI. Renda do Imposto de Consumo sobre Couros e Peles em los, seis mais de 5,89 quilos, quatorze mais ou menos a média''. Onde
Londres e no Resto do País em 1801 o _consumo principal variou tão largamente - entre 4,65 e 6,91 para
(1800-1 para Imposto de Consnmo) = 100
nao menc10nar os 8,53 de Anglesey, há campo tanto para um declínio
~ais cedo no_ c~nsumo pe; capita de alguns lugares corno para uma
Data População Renda do Campo Renda
de Londres
1 compensaçao cons1deravel entre condados. Contudo não é meu
propósito sugerir explicações. Tudo que podemos diz~r é que um
ISO!
1811
100
114.5 'ºº
122 'ºº
107 aume~to do ~onsumo per capita de pão branco neste período à custa de
1821 136 106•• 113* nmguem esta fora de questão. O consumo de trigo pode ter caído com
1825 150 135 150
ou sem o consumo adicional da batata, ou algumas áreas podem tê-lo
visto au~entar à custa de outras (com ou sem um aumento das batatas).
Sem nos aprofundarmos mais na discussão um tanto complexa Nao temos nenhuma estatística geral sobre o consumo de outros
das fontes, parece claro que os números não indican1 um aumento gêneros alimentícios comuns. É difícil ver qualquer coisa exceto um
importante no consumo per capita de carne. declínio do leite, porque a posse de vacas deve ter diminuído com a
Quanto aos cereais e à batata, o forte da dieta do pobre, podemos urbanização (embora provavelmente continuasse nas cidades em maior
também descobrir algumas coisas. O tato fundamental é que, como os escala do que é algumas vezes admitido) e devido ao declínio da dieta
contemporâneos já sabiam, 64 a produção e as i1nportações de trigo não rural tradicional que se apoiava fortemente nas "carnes brancas". As
mantiveram o ritmo do crescimento da população, de forma que o total est1mat1vas da posse de vacas em Londres não merecem confiança. Em
de trigo disponível per capita parece ter caído constantemente do fim face de uma das 20.000 vacas metropolitanas e suburbanas em 1854
do século dezoito até as décadas de 1840 ou 1850, o total de batatas dis- temos outra das 10.000 em 1837; urna ou ambas têm probabilidade· d~
poníveis crescendo mais ou menos na mesma taxa. 70 Os melhores estarem erradas". Contudo, mesmo em 1862, alguns grupos afortuna-
números para o aumento da produtividade de trigo" mostram produ- dos de trabalhadores pobres ficaram com a velha dieta; os tecelões de
ções razoavelmente estáveis até 1830, um aumento modesto de cerca seda de Macclesfield consumiram 1, 17 litros por cabeça por semana,
de 1Opor cento na década de 1830 e um surpreendentemente grande de em face dos 0,312 litros dos tecelões de Coventry, dos 0,215 litros dos
40 porcento após 1840, o que está de acordo com o quadro do aumen- tecelões de Spitaffields e das 0,039 de Bethnal Green". Mas toda a evi-
to muito rápido nos padrões de vida após os efeitos da depressão de dência indica um declínio no consumo de leite. O mesmo não se deu
1842 terem passado. Segue-se que, qualquer que seja a evidência lite- com a manteiga, ~ue era evidentemente - e naturalmente, já que 0 pão
rária, algumas pessoas devem ter trocado o trigo, presumivelmente, tmha uma parte tao grande na dieta do trabalhador- considerada uma
pelas batatas. A opinião mais simples seria a que uma mudança impor- necessidade maior do que a carne"'. Em Dukinfield e Manchester
tante de pão preto para branco já teria tido lugar, digamos, por volta de ( ~ 836) os gastos com ela eram comparáveis aos da carne, e a compara-
1790, e que a tendência para se afastar do trigo teve lugar depois disso; çao com 1841 mostra que eles eram bastante inelásticos". Os poucos
mas isto não explicaria a tendência quase certa de se afastar do pão pre- orçamentos comparáveis de Eden" mostram um padrão semelhante de
to para o branco no Norte e no Oeste. Mas isto pode ter sido "pago" por despesas, embora talvez um gasto bastante menor com manteiga do que
u1n declínio do consumo ]Jer capita e1n outras partes. Isto é tecnica- con: carne. O pobre assim comia manteiga; apenas o miserável podia
mente possível. O consumo insignificante de produtos de pão entre os ser mcapaz de fazê-lo. Não .é impossível que o consumo de manteiga
trabalhadores rurais em 1862 foi de cerca de 6,58 quilos por semana. aum~ntasse durante a urbanização, porque as outras coisas para passar
Doze condados" consumiram menos do que isto-de 4,65 a 5,32 qui- no. pao -p. ex., banha ou gordura de carne - devem ter sido mais difí-
ceis de obter quando as pessoas tinham menos porcos e o consumo de
"'Por motivos discutido~ ahaixo isto está provavelmente minimizado. carne era baixo e errático. O consumo de queijo parece ter diminuído,

108 109
porque muitos trabalhadores urbanos parecem não terem tido ou terem não significa que os ingleses do começo do século dezenove tinham
desenvolvido o estilo de substituí-lo pela carne. Em Dukinfilelde Man- um_ padrão de vida "asiático". Isto não faz sentido, e tais afirmações
chester eles gastavam muito menos com queijo do que com manteiga, e levianas causaram mm ta confusão. A Inglaterra era quase certamente
em 1862 os trabalhadores rurais comiam-na muito, mesmo compensan- melhor alimentada do que todas exceto as áreas rurais mais prósperas,
do a sua posição ligeiramente melhor, do que o "pobre urbano". O ovo ou as classes mais abonadas, dos países continentais· mas então tinha
parece ter sido de pequena importância. O consumo per capita dificil- sido assim, como indicaram Drummond e WilbrahaU:8' muito antes da
mente pode ter subido. A opinião de que o consumo de artigos perecí- Revolução Industrial. O ponto em questão não é se caímos tão baixo
veis diminuiu, ou dificilmente pode ter subido muito antes da era das como os outros países, mas se, pelos nossos próprios padrões, melho-
estradas de ferro, foi também adotada por outros estudiosos, embora ramos ou detenoramos, e em qualquer dos casos, de quanto.
tenba sido contestada sob fundamentos não muito óbvios".
Um aumento notável de consumo é, contudo, registrado para os
peixes 80 • O consumo per capita em Birmingham - desprezível em V
1829 - mais do que dobrou em 1835 e continuou a crescer numa rápi-
da proporção até 18408 '. Indubitavelmente isto melborou o valor nutri- Não há assim nenhuma base forte para a opinião otimista, de qual-
tivo da dieta do pobre, embora não possa indicar qne ele sentisse estar quer maneira para o período desde c. de 1790 ou 1800 em diante até 0
comendo melhor; porque o pobre sempre teve um preconceito marcan- meio_da década de 1840. A plausibilidade da deterioração e a sua evidên-
te contra este ai imento barato e abundante, e "a classe mais baixa de pes- cia nao devem ser desprezadas com ligeireza. Este capítulo não tem 0
soas alimenta a idéia de que o peixe não é alimento bastante substancial propósito de discutir a evolução dos padrões de vida no século dezoito
para elas, e preferem a carne" 8'. Eles bem podiam ter passado para o Já que a ~iscussão principal sobre os padrões de vida foi sobre 0 períod~
peixe porque não tinham recursos suficientes para a carne. entre o f.1m das Guerras Napoleónicas e "alguma data não especificada
A evidência não é assim absolutamente favorável à opinião "oti- entre o hm ~o Cartismo e a Grande Exibição". É inteiramente provável
mista". Embora ele não estabeleça necessária ou firmemente a opiuião que os padroes de vida tenham melhorado durante a maior parte do sécu-
pessimista, o estudo do consumo pelo contrário a indica. O crescimen- lo dezoito. Não é improvável que, em algum momento logo após 0 come-
to da adulteração reforça ligeiramente o caso pessimista. O aumento da ço da Revolução Industrial - que é talvez melhor situada na década de
adulteração tem sido posto em dúvida, mas sob fundamentos comple- 1780 do que na de 17608" - eles deixaram de melhorar e declinaram.
tamente inadequados. Ela cresceu rapidamente". A pesquisa do Lancei Talvez o meio da década de 1790, o período da Speenhamland e da carên-
na década de 1850"' acentua muito claramente os seguintes pontos: (i) cia, marque o ponto crítico. Na outra extremidade, o meio da década de
todos os pães testados em duas amostras separadas estavam adultera- 1840 certamente marca um ponto crítico.
dos; (ii) mais da metade da farinha de aveia estava adulterada; (iii) Podemos, portanto, resumir como se segue. A opinião clássica foi
todos os chás exceto os de alta qualidade estavam invariavelmente expressa nas palavras de Sidney Webb: "Se os Cartistas em 1837 tives-
adulterados; (iv) um pouco menos da metade do leite e (v) toda man- sem pedido uma comparação do seu tempo com 1787, e tivessem obti-
teiga estavam aguados. Mais da metade dos doces de frutas e conser- do um relato justo da verdadeira vida social do trabalhador nos dois
vas incluíam matérias nocivas, mas isto pode ter sido devido simples- períodos, é quase certo que teriam registrado um declínio positivo do
mente à má produção. O único artigo de uso comum que não era padrã.o de ~ida de grandes classes da população" 87 • Esta opinião não
grandemente adulterado era o açúcar, quase 90 por cento do qual pare- tem sido ate agora tornada insustentável. Pode ser que outras evidên-
ce ter sido puro, embora muitas vezes sujo. cias a desacreditem; mas terão que ser evidências muito mais fortes do
A discussão do consumo de alimentos assim lança dúvida consi- que até agora têm sido apresentadas.
derável sobre a opinião otimista. Contudo, deve ser acentuado que isto (1957-63)

110 111
17. Statistirs of British Com1nerce ( 1852); de Braithwaite Poole; The Food of
NOTAS
London (1856) de G. Dodd, p. 213.
J 8 Alén1 das fontes usuais de salários (Bowley e Wood, Gilboy, Tucker) este
I. Cf. lista de J. L. Ham1nond na "The Industrial Revolution an<l Discontent",
documento contém. de fato, apenas 1naterial factual sobre os preços do Lancashire tira-
Econ. Hist. Rev. II (1930), pp. 215-29. dos de Rowbotton1, o Manchester Merrury e Manchester Merchants and Foreign
2. "The standard of lifc ofthe workers in England, 1790-1850'' de T. S. Ashton Trade 1794-1858 (1934) ele A. Redford, e u1na opinião de Thomas Hol1nes. Este últi-
(J. Econ. Hist. Suplemento IX (1949), pp. 19-38. n10 é a única fonte nova que apóia a opinião otimista. Naturalmente. o objetivo do Prof.
3. "Medical Evidence relating to English population changes" de T. McKco\VO Ashton no docun1ento foi n1ais de proporcionar novos argu1nentos do que nova evi-
e R. G. Brown, Population Studies, IX (1955), p. l !9. Acho difícil fugir da conclusão dência.
dap.141. 19. Veja abaixo, capítulo 15.
4. Economic History ofModern Britain 1, p. 601 de Clapha1n. Pode-se notar que 20. P. ex., "Contributions to Vital Statístics" de F.G.P. Neison, J. Stat. Soe. VIII
0 valor das coleções Bowley-Wood de dados de salários cm dinheiro não está e1n dis- (1845), pp. 290 ss.; IX ( 1846), pp. 50 "·
cussão. O que é legíti1no duvidar, mes1no à luz da recente tentativa de reabilitar o e~fo­ 21. Na Statistical Account, II de J. McCullouch.
que de Clapha1n (British Econonúc Growth 1688-1959 de Dcanc e Cole, Ca~1~ndge 22. No entanto, duas longas séries para Doncaster e Carlisle (1850) no Reports
1962), é até que ponto ele representa os 1novimentos cios ganhos reais como diferente to the General Roard of Health aponta1n na mes1na direção.
das taxas, e até que ponto un1 índice realista de salário real pode ser elaborado co1n base 23. "An atte1npt to evolve a comprehensive indicator to quantify the componcnt
nisto, se pelo uso de Silberling ou Gayer-SchwartzRost0'0/. Deane e Cole, naturahnen- 'health, including dcmographic conditions'" de S. S\varoop, World Paper N" 8,
te, ad1nitem que o desemprego afetaria tal índice. WHO/PI-IA/25 (22 nov. 1955), reproduzido. Devo esta referência aos Srs. Jefferys,
5. The Conrm,an People, Cole & Postgate; 5•,'hort History ofthe British Working Escola de Higiene e Medicina Tropical, Londres.
('lass Movement, daG.D.H. Cole(ed. 1947);A.V. Hudges naRiv. Stor. lta/iana, 1951, 24. loc. cit.
pp. 162-79; T. S.Ashton, loc. cit. 25. "Thc Population Problen1 during the Industrial Revolution" de T.H. Mar-
6. T.S.Ashton, loc. cit. shall, Economic History ( 1929), p. 453.
7. "Real Wages of Artisans in London 1729 1935" de R. S. Tucker (J. A1ner: 26. "()n the Mortality ofGlasgow and on the increasing Mortality in England"
Stat. Assn. XXXI (1936, nº 193). de T. R. Edmonds, Lancet, II ( 1835-5), p. 353. Resumido por Farr em McCulloch, op.
8. A Study in Trade Cycle History: Economic Fluctuations in CTreat Britain, cit., II.
1833-42 (Cambridge 1954). 27. "On the law of n1ortality" de T.R. Edmonds, Lancet, 1 (1835-6), p. 416.
9. J. L. Ha1nmond, loc. cit., e J.H. Clapham, I, ix-x. 28. Assin1 en1 581 sindicatos o nú1nero de pobres fisican1ente capazes só
1O. T. S. Ashton, loc. cit., e Econo1nic History ofEng/and: The Eighteenth Cen- aumentou de um oitavo desde o trin1estre do Dia da Anunciação de 1941 até o de 1842:
tury (1955), pp. 233-5. J. Stat. Soe. VI (1843), p. 256.
11. T. S. Ashton em J. Econ. Hist., e The Industrial Revolution ( 1948). 29. Devizes and VViltshire Gazette, de 13 de jan. de 1842.
12. Statistical Account of the British Enipire (1839), 11, PP· 494 ss. 30. Eco1101nic History ofModern Rritain de Clapharn, 1, p. 179, Gayer, Rostow
13. Select Con1mittee on Agriculture, Par!. Papers, J 833, V. P. 3431 ss. e Schwartz, citados por Neil Smelser, Social Change in rhe Industrial Revo!ution
J 4. London cd. C. Knight ( 1842), II, p. 318 (capítulo: "S1nithfield") esti1na o (1959) dão u1n nú1nero menor de 240.000 e1n J 830, mas con10 acentua Clapha1n,
auinentodapopulaçãode 1740-50até 1831em218porcento,dacarnedevacacm110, jamais foi feito ncnhun1 censo deles.
de carneiro c1n 117 por cento. Como o autor ta1nbén1 ten1 consciência de que a estima- 31. Concordando com Smelser, op. cit., p. 139, presumo que entre 30 a 50 por
tiva de Davcnant de 167,8 quilos para o peso da carcaça de carne de vaca no co1neço cento dos teares erain operados por outros 1ne1nbros da família do tecelão; tambén1-
do século dezoito é provavelmente baixa demais, é difícil compreender corno ele co1no estimativa grosseira- três filhos por fan1ília.
cheo-a às suas conclusões otimistas sobre o aumento do consun10 per capita de carne 32. Co1no C. Chishohn, "(Jn thc statistical pathology of Bristol and of Clifton"
o
(Edinhurgh lvf edical and Surgira! Journal, de 19 de julho de 1817, p. 274) que cita u1n
en1 Londres.
15. "The size of English cattle in the eighteenth century" de G. E. Fu,<;sell, Agri- censo (ou estimativa) feito pelo Prefeito e1njaneiro de 1817, unia época de cc)Jnércio
cultura{ Historv, III (1929) pp. 160 ss.; tainbé1n Agric. Hist. IV (1930). Me Culloch crescente após um grave colapso, mas de altos preços. Então 3.045 pessoas ficaram
aceita a estilna~iva de Sinclair dos pesos de Smithfield em 1785 se1n criticá-los. total ou parcialmente desempregadas numa população total de talvez 78.500. Isto
16. Select Conuni!!es on the Depressed State qfA.griculture. Parl. Papers, 1821, podia, naturaln1entc, representar 15 por cento ou tnais da população, se o tan1anho
IX, p. 267; General Stalistics qfthe British r.·1npire ( 1836); Knight, op. cit., II, p. 325. médio da família for considerado como de 4 pessoas.

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33. A fonte principal é o Report ofthe Committee appointed ata 1neeting on the de 1833. Esse foi um período de grande flutuação comercial e inuita excitação políti-
second of"A1ay J826.for. .. relief (~f"the ''WORKING MANUFACTURERS''. (Londres ca". (S.S. Duncan de Bristol).
1829). Os Hon 1e Office Pappers (p. ex., HC)40/19 para 1826, cartacleJ.W. Paget, Pres- 55. O Select Comnúttee on lrish Vagrants, Pari. Papers, XVI ( 1833), p. 362 (40)
acentua especificamente que eles não eram colhedores sazonais.
tou on Darwan) contê1n tan1bém 1naterial importante.
34. Statistics ofthe Vauxhall Ward, Liverpool cleJ. Finch (Liverpool 1842); um 56. Econontic llisfory ofModern Britain, I, p. 548 de Claphain, esp. a nota de
trabalho de priineira orcle1n, que dá os números do desen1prego para cada camada da rodapé retu1nbante; The Rui/ders' History de R. W. Postgatc (1923), p. 33.
classe trabalhadora, e nú1neros de tempo parcial divididos e1n trabalho durante 5, 4, 2 57. "Bricks, a trade inclex" de H. A. Shannon, Econonlica, 1934.
e 1 dia. Os dois últi1nos grupos ele classifica co1no dese1npregados, os dois priineiros 58. Pasta de recortes de jornais sobre as condições das classes trabalhadoras en1
Edinburgh e Leith durante e antes de 1853, na Goldsmiths' Collection B. 853 (Bi-
como en1pregados.
35. Report of the Statistical Co11u11ittee appoin!ed hy the Anti-Corn Law Con- blioteca da Universidade de Londres).
j'erence held in London 8-12th A1arch 1842 (Londres, sem data). Todos os dados deste 59. London Labour and lhe London Poor, III, pp. 232 ss. de H. Mayhew. Para
parágrafo, exceto quando declarado de outra fonna, são deste con1péndio valioso. u1na crise semelhante entre os alfaiates 1825-34, The Red Republican, I, 23 (1850), pp.
36. Facts and Figures. A periodical record o.f statistics applied to current ques- 177-9.
60. "The TrampingArtisan", loc. cit.
tions (J,ondres, out. 1841 ), p. 29.
61. The London Trades1nan ( 1747) de R. Ca1npbell.
37. Ver aci1na, capítulo 4.
38. Repor! to the General Board of Iiealth: Clitheroe (1850), ibid. Haworth 62. Goldsrnith Col!ection, B 853.
63. The Making (~fthe EnglL~h Working Class ( 1963), p. 250 de E. P. Thompson,
(1853).
39. Statistical Con1mitles qfAnti-corn-Laiv League, p. 45. co1n quen1 estou em débito por un1a Ie1nbrança da citação de Mayhew.
64. London Labourand the London Poor II, pp. 364-5.
40. Facts and Figures, loc. eit.
65. "Condition of thc Town of Leeds and Its lnhahitants", J. Stat. Soe. II ( 1839),
41. Finch, op. cit., p. 34.
42. Report qf the Cornmittee ... for the relic~f of the !Jistressed Manufacturers p.422.
66. As fontes 1nais acessíveis para elas são Groivth and Fluctuations ofthe
(Londres 1844).pp. 19,41.
43. Citado em Notes on a Tour in the i'vfanufacturing Districts ofLancashire de British Econoniy J 790-1850 de Gayer, Rostow e Sehwart7.
67. Hendcrson e Chaloner, loc., eit., confunde1n a distinção usando os números
W. Cooke-Taylor (Londres 1842), pp. 216-17.
do consu1no de açúcar para 1844-7 para indicar u1na inelhora que, p. ex., os nú1neros cio
44. Finch, op. eit. p. 34.
45. Distress in Manchester; Evidence .. ofthe stats ofthe Lahouring Classes cm consun10para1837-43 não mostran1.
68. Há nu1nerosas fontes iinpressas para estes: Para o século dezoito,Econon1ic
1840-2 (Londres 1942). p. 55.
46. Deviz.es and Wiltshire Gazette de 13 de jan. de 1842. History (~f"England, The Eighteenth Century cleAshton. Depois, f/. ofLords Sessional
Papers 56 o[ 1822: Carne de gado e carneiro vendida em Stnithfield l 790-182 I · Pari
47. J. Adshead. op. cit .. pp. 18-24.
48. Par!. Papers 1843, XXVII, Inspetores de Fábrica, pp. 313-15. Reporto( Papers, 1837-8, XLVII, p. 164; Statistical Ilustrations of the British Em pire ( 1827), p:
Coninlittee ... for the reliefofthe Distressed lvlanufacturers, pp. 27-8, 41, 62 .. l 05: "Statistieal Account of the 1narkcts of LoJJclon" de J. Fletcher, J. Sist. Soe. X
( 1847), p. 345; Dodd, op. cit. p. 241. As fontes dão nú1neros se1nanais. Para os nú1ne-
49. Report of Conunittee ... p. 62.
50. Facts and Figures, pp. 29 ss. Sei. Ctee. on Mani{/áctarers' E111ploynlent ros da população ver"The Population of London 1801-81" de R.Price-Williams,J. R.
Stat. S. XLVIJl (1885), p. 340.
(Pari. Papers 1830, X, p. 226).
51 . ()bsrrvalions upon the poorest class of operatives in Cilasgow in 1837, de 69. W. Jacob e1n Select Committee on 1he State ofAgricuiture, Pari. Papers.
1836, VIII. i. Q. 26-32.
C. R. Baird, Journ. Stat. Soe. I, p. 167.
52. Report to the General Board o[Health; Keswick ( 1852), p. 45. Parte ela dimi- 70. Acompanhei os cálculos da Flistory and Social lnjluence o/the Potato
nuição foi devida a regra· da Lei dos Pobres iinpedindo os ambulantes a longa clistân- (Cambridge 1949) de R. N. Salaman, Apêndice IV, que discute as fontes. Outras esti-
mativas, tais con10 as de Drescher ("The Development ofAgricultural Production in
eia.
53. Repor! ofRoyal ('om1nission on the Poor Law, Apêndice E, Pari. Papcrs, Great Britain anel Ircland from the early Nineteenth Century", Manchester School,
maio l 955) concordam que a produção de trigo sirnplesmente deixou de manter o rit-
1834.XXXVIIl, p. 318.
54. R. C. on Poor La•v, Joc. cit., pp. 305-6: "Não se pode negar que os nossos mo com a população. A opinião de que o grosso da transfcrênci a do pão preto para o
relatórios anuais tendem a provar que o grosso cio número dos nossos ambulantes branco já havia tido lugar cm 1790, é reforçada pela discussão em British Econornic
pobres dobrou entre os anos que terminarain cm [ 9 de janeiro de 1822 e 19 de janeiro Growth 1688- 1959, pp. 62-7 de P. Deane e W.A Cole.

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71. ''What Yields in England 1815-59" de M.J.R. Hcaly e E.L . .Tones, J. R. Stat. (i)Aadoção de um novo tipo de dieta não marca a priori nem uma
S. Serie A. vol 125, pt. 4, 1962. ,, melhora nem uma deterioração dos padrões de vida. A primeira opi-
72. Opriniciro, citado em "The Rising Standard ofLiving in England 1800-50 nião parece ser sustentada por alguns otimistas quanto ao pão branco,
de R.M. Hartwell, Ec. Hist. Rev. XIII, ,1961, p. 412; o segundo de London as it is ... de chá, etc., a segunda por pessimistas como J, Kuczynski (History of
John Hogg (Londres 1837), p. 226. . . ~ , LabourConditions ), Um novo alimento só pode ser considerado como
73. Seis no Sudeste e no Sul, o resto condados industna1s. Nenhum numero e
evidência de um padrão de vida em elevação se for adotado por ser con-
dado para seis outros condados do sul e do sudoeste.
74. 6th Report ofthe Medical Officer to the Privy Council ( 1863), pp. 216-330: siderado superior (nutritiva ou socialmente) ao velho, e se for compra-
O Alimento das Classes Pobres Trabalhadoras. U1na investigação pioneira. do sem sacrificar o que as pessoas consideram co1no necessidades.
75. Ibid. Assim o simples fato de uma nova dieta ser nutritivamente inferior a
76. A pesquisa (não-quantitativa) da dieta dos trabalhadores urbanos na Ro.~al uma velha é irrelevante, exceto para o nutricionista. Se o pão branco é
Conunission 011 the Poor Laws, Ap. B., Par!. Papers, 1834, XXXVI, P. 40 dos questio- adotado por ser considerado um sinal de padrão mais alto, então sua
nários pcu-ecein mencionar a manteiga principalmente como parte das dietas bastante
adoção deve ser considerada como um sinal de melhoria. Inversa-
pobres. . .. . 1nente, se - como era geralmente sustentado no começo do século
77. "Expenditure of thc Working Classes in Duk1ni1eld andManchester in 183· 6
e 1841 de W. Ncild,J. Sta!. Sue. IV (1841), p. 320. dezenove (Village Labourer de Hammond, pp. 124 e 125 para opi-
78. The State ofthe Poor. 6 casos. E1n três são dadas as quantidades: 72,3 gra- niões) - os trabalhadores se voltarem para o chá a fim de tornar tole-
mos, 129 ,6 gra1nos, 226,8 gra1nos (cardador de lã). . rável uma dieta cada vez mais sombria, o aumento do hábito de tomar
79. "Progress and Poverty in Britain 1780-1850" deA.J. Taylor (H1stor:v XLV, chá não pode provar um padrão de vida crescente. Ninguém afirmaria
! 960). p. 22. para críticas R.M. Hartv;.1ell 1961, loc. cit., pp. 409, 412. . . que os trabalhadores de Sunbury que em 1834 viviam de "pão, batatas,
80 . Negligenciei h,to na versão original, mas está rapida1nente d1scut1do cm
~ ~
um pouco de chá e açúcar" (R. C. on Poor Laws, Pari. Papers, 1834,
R.M. Hartwell. op. cit.
81. Facts and f'igures principally relaling lo Rai/Pv"ays and Con1merce, de XXXVl) estavam em melhor situação só porque seis anos antes -
San1uel Salt (Londres e Manchester 1848), p. 3. estou presumindo que eles comiam com pão-provavelmente haviam
82. Harwell, op. cit., p. 411. consumido menos de todos estes alimentos novos.
83. Cf. The HistoryofFoodAdufteration inGreat Britain in the Nineteenth C'en- O problema geral foi bem formulado há muito tempo por Grot-
turv de John Burnett (Londres Ph. D !958). jahn em Ueber Wandhungen in der Volksemaehrung (Leipzig 1902),
. 84. }(Jod and its adulteration de A I-I Hassal ( 1855)
A industrialização 1eva a uma mudança - exceto durante as fomes -
85. The En[?lishman 's Food de J Drumn1ond eA Wilbraham ( 1939).
86. "The Industrial Revolution Reconsidered" de J U. Nef., 1. ~Econ. Hist., III na dieta tradicional e nutritivamente adequada embora monótona. Se
(1943).
for gasto o suficiente na nova dieta, ela pode ser igualmente boa e mais
87. Lahour in the l.ongest Reign de S. Webb, Fabian Tract 75 (1897), P· 2. variada. Coutudo, muitas vezes somente o trabalhador bem pago pode
gastar bastante com ela, e poucos trabalhadores conhecem o suficien-
te inicialmente para escolher uma dieta nova adequada. (Veja as recla-
APÊNDICE mações da má administração doméstica na R.C. on Poor Laws, 1834,
PROBLEMAS DO CONSUMO DE ALIMENTOS XXX VI, disperso). Daí, para rendas iguais, a velha dieta é normal-
mente nutritivamente melhor do que a nova. Até que os trabalhadores
Quatro problemas devem ser considerados: (i) o problema teóri- ganhem bastante, ou que os governos tomem 1nedidas adequadas, a
co da mudança dos velhos para os novos tipos de dieta, (ii) o problema industrialização tende a produzir uma população mais mal-alimentada
técnico da medida e o uso das fontes, (iii) o problema das tendências e por algum tempo. Coutudo, se culparmos a dieta do começo do século
(iv) 0 problema das verdadeiras quantidades consumidas. Os três serão dezenove, não é só porque o dietista prefere a magnífica dieta prescri-
discutidos cm termos de consu1no de carne. ta do velho N orth Country (ver p. ex,, Review of the Reports to the

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Board ofAgriculture for the Northem Department de Marshall (York the Board of Agricuhurefor the Northern Department de Marshall
1808), ao pão branco, batatas, chá e açúcar, mas porque a nova dieta (York, 1.808), p. 214). E razoável também presumir que na Inglaterra, ao
continha menos alimentos que os ingleses consideravam como descjá- cont~ano do continente, o trabalhador que comia "comida de John Bull
vejs, do que os anteriores. -pao,carnedevacaecerveja"(R. C. onPoorLaw , 1834 - , XXXVI ,res-
(ii) É razoável, especialmente na Inglaterra com a sua mística de postas de Warsop) não se consideraria co1no extre 1namente rico, mas
comer carne, tomar o consumo de carne corno critério do padrão de como decentemente pago, ao passo que um que não pudesse comer
vida. Contudo, todas as nossas fontes têm fraquezas consideráveis. carne regularmente se consideraria como quase-miserável. (Faz-se
Há as estimativas gerais nas quais Gregory King (citado na En- le.mbrar a frase de '_'A Lady" -Domestic Cookery (1819), p. 290,
glish Social History de Trevelyan (ed 1946, p. 276) é o primeiro a nos aconselhando a cozmhar para os pobres: "Corte uma casca superior
interessar. Elas afirmam que metade das famílias pobres no fim do mrnto grossa de pão, e ponha-a dentro da panela onde a carne de vaca
século dezessete comia carne diariamente, a maior parte do restante salgada está fervendo e quase pronta; a casca atrairá um pouco da gor-
comia-a duas vezes por semana, e só os pobres uma vez por semana. O dura, e quando estiver inchada, não será um prato intragável para aque-
quanto confiamos nisto depende de nossa estimativa da precisão e jul- les que raramente comem carne".)
gamento desse homem competente. Estimativas gerais posteriores, Parece claro que após a década de 1790 o consumo de carne dos
tais como as de Mulhall (Dictionary of Statistics) de 36,3 quilos por tr_abalhadores rurais diminuiu, como diminuiu provavelmente a cria-
ano em 1811-30, 39,5 em 1831-50 não são baseadas em nenhum fato çao de porcos n_o campo. Para o Shropshire ambas as diminuições pare-
conhecido, uma vez que não havia censos de gado durante este perío- cem ~stabelec1das ("The State of Agriculture in Shropshire, 1775-
do. Como veremos, elas são quase certamente altas demais. 1825 de J. P. Dodd, Trans. Shropshire Archaeological Society, LV
Nosso maior corpo isolado de informações sobre o consumo de (1954), P· 2; Review of Reports ... for the Western District (1810) de
carne vem de descrições, orçamentos e algumas investigações que mal Marshall, p. 242)'. Na década de 1830 os pastores locais e pessoas
podem talvez merecer o nome de pesquisas sociais. Para o século
semelhames acreditavam que, das 899 paróquias, os trabalhadores de
dezoito a evidência mais impressionante vem das 70 e tantas dietas
491 podrnm_ viver comendo carne com os níveis de salários existentes;
prescritas dos asilos de velhos no State of the Poor de Eden, já que a
ma_s os rendimentos detalhados mostram (a) que a carne raramente sig-
dieta dos pobres é obviamente elaborada para o tipo menos próspero e
mficava carne de açougue e (b) que ela não era comida normalmente
exigente de trabalhador. Sessenta destas dietas prescritas serviam
com re~~landade ou sem quantidade. (Estes rendimentos são discuti-
carne três vezes por semana ou mais, quinze de cinco a sete vezes por
dos em Further Notes on the Progress of the Working Classes" de R.
semana. Quando são dadas as quantidades, elas são algumas vezes sur-
G1ffen, J.R. Stat. Soe. XLIX (1886), pp. 55-61, 81-9). Na verdade 0
preendentemente altas-226,8 gramas por refeição por pessoa. O que
quadro dos trabalhadores do Hampshire em 1813 comendo baco~ e
os homens consideravam desejável para os trabalhadores adultos que
trabalhavam duro pode ser visto das dietas da colheita (Agriculture of carne de porco n~ _vinagre apenas, os de Berkshire bacon, parece ser
Bedfordshire (1813), p. 584, Agriculture of Hertfordshire ( 1813), p. razoavelmente t1p1co. (Agnculture of'Hampshire, de Vancouver, p.
219, de Batchelor): carne três vezes por dia inclusive um quarto ou um 338; Agnculture of'Berkshire
. . , de Mavor, p. 419·, R . C. on roor
n L aws,
terço de carne de açougue, de vaca ou carneiro diariamente. Não sabe- XXX!, pergunta 14, disperso). A primeira estimativa de quantidades
mos onde fica o consumo médio entre estes dois extremos convencio- feita em 1862, mostra que os trabalhadores rurais comeram em médi~
nais. Não é pouco razoável presumir que ele tenha aumentado durante 453,6 g,ramas por semana por adulto (6th Report ofMedical Officer to
o século dezoito, e era bastante alto na década de 1790, quando a situa- Przvy Counctl, l 863). E difícil acreditar que esta dieta, embora prova-
ção alimentar tornou-se pior: "Agora eles jantam carne de açougue, velmente uma melhoria sobre a do começo do século dezenove, fosse
batatas e pudim" (Westmorcland, 1793, em Review !!f the Reports to mais farta em carne do que a do fim do século dezoito, ou que os

118 119
homens alimentados com ela tivessem desenvolvido o mito do rude
Keighley (1855) comiam 567 gramas (uma família), duas famílias
John Buli, alimentado a carne de vaca. . . . .
comiam cerca de 226 gramas por cabeça, 15 não mais do que 425 gra-
Quanto às cidades, devemos esquecer as esumat1vas ot1m1stas
mas mas geralmente muito menos, ao passo que metade não compra-
dos observadores da classe média que viam os trabalhadores comendo
va carne ou absolutamente não calculava o seu consu1no por semana
2,7 quilos de carne ou por volta disso por semana (Lectures on the
Economy of Food, 1857; The Family Oracle of Hea!th, 1824 de W. (Repari to lhe General Board ofHealth: Keighley, 1855). Dos pobres
Lethaby). Até o cuteleiro de Sheffield em 1855 de Le Play parece ter urbanos investigados pelo Conselho Privado em 1862 (loc.cit) 96 por
tido um consumo adulto anual de apenas 36,7 quilos, o que e conside- cento comiam carne, sendo o consumo médio de 92 gramas por adul-
ravelmente menos (Les Ouvriers Européens (1855) de Le Play, p. 197). to, indo de 517 gramas dos costureiras de luvas até 92 gramas dos tece-
lões de seda de Macclesfield.
Uma estimativa para uma família de artesão em Londres em 1841),
aanhando 0 bom salário de 30 shillings, permite um consumo semanal Para comparação podemos notar que em 1936-7 a classe mais
;er capita de 1,3 quilos, digamos uma ração adulta de 1,8 qmlos: Ao pobre, aqueles que ganhavam menos de f 2, IOsOd. por semana,
nível de 20 shillings este diminui para 630 gramas, ao de 15 sh1ll111gs comiam em média 862 gramas de carne por semana (The People 's
para 450 gramas, estimativas que incidentalmente mostram a elast1c1- Food de W. Crawford e H. Broadley, pp. 177-88), ao passo que as die-
dade da demanda da renda alta e o grande alcance do consumo (The tas prescritas da lei dos pobres recomendadas por Chadwick na déca-
Rights ofthe Poor (1841) de S.R. Bosanquet, pp. 97~8). Os d_ms quecs- da de 1830 iam de 227 a 454 gramas ("Sufficient and insufficient die-
. • · de 18º4
t1onar1os ~J ("ar/
r, . Jºapers
, , 1834
~ , XXXVI) dao resultados
• _ nao taries" de W. Guy, J. R. Stat. Soe. XXVI (1863, p. 253). Assim não é
diferentes dos rurais. De algo como 57 cidades sobre as quais sao da_do~ pouco razoável presumir que o consumo médio urbano de carne por
detalhes adequados das dietas da classe trabalhadora, a carne nao e cabeça na primeira parte do século dezenove foi pelo menos um terço
mencionada ein 1O, o consumo é descrito co1no " a1np 1o" , "d ec~nt e"ou abaixo do da classe mais pobre em 1936-7, e provavelmente não muito
"quatro ou mais vezes por semana" em 6, em algumas termos tais como mais do que453 gramas, se tanto. O da carne de açougue foi obviamen-
" ocasiona
· 1men te " , "um pouco" , "u1na vez por mês" em 24, e ncnhu1na te muito menos.
quantidade é mencionada para o resto, exceto para 7 casos º~?e o con- Restam as fontes estatísticas. Estas consistem principalmente
sumo é descrito como "justo" ou "um ou dois dias por semana . ~carn~e das séries de Smithfield e do Imposto de Consumo, mas também de
comida era normalmente mais de porco do que de açougue (isto e, alguns outros dados dispersos. Outras pesquisas sem dúvida virão se
bacon, porco no vinagre), embora o porco em épocas comuns,_a carne acrescentar a elas.
de açougue nos domingos e feriados seja a_lgumas vezes _men:10,nada. A principal fraqueza da série de Smithfield é que ela não inclui
A resposta de Limehouse (Londres) pode fornecer uma l!gaçao c~m o toda a carne vendida em Londres.já que negligencia a de porco, e tan-
custo de vida: "Uma família pode sobreviver com f 100 com_came to a carne de animais 1nortos em casa como no ca1npo, que era vendida
duas vezes por semana; consistindo o passadio geral~~ sopa, m1~gau, principalmente em Newgate. A respeito do porco pouco sabemos,
pão, batatas, arenques e outros peixes quando baratos . Mas uma ien- exceto que a criação urbana de porcos era quase desprezível: na área
da de quase f 2 por semana era alta. . . urbana de Birmingham em 1843 só eram criados 3.375 porcos.
Os números de Neil d para Manchester e Dukmficld, 1836 e 1841
(Apêndice ao Second Repari of"the Inquiry into the Stare ofLarge
(J. Stat. Soe. IV, p. 320) são os mais detalhados para as áreas mdus-
Towns. Pari. Papers 1845, XVIIT, p. 134). Os outros tipos de carne de
triais. Em 1836 a despesa média per capita lá ia de 2,5d. a l 1,5d. por
animais mortos ein casa quase certa1nente diminuiu. Na verdade,
semana, estando a moda mais perto de 3d. do que de 4d. Aos preços cor-
algum consumo de carne indicado pelos números do mercado pode ser
rentes isto dificilmente teria comprado 450 gramas. Algumas outras
devido a uma transferência da carne de animais mortos em casa para o
estimativas: os melhores da classe deprimida dos criadores de la de
açougue como, me diz o Dr. Pollard, teve lugar em Sheffield. Nossa
120
121
ignorância sobre a morte em casa dá assim, aos nossos números, como Figures, principally relating to railways and commerce, de Samuel
que uma teudência para cima. Salt, Londres e Manchester 1848, p. 57):
Não temos nenhuma estimativa quantitativa para carne de ani-
mais mortos no campo antes do fim da década de 1840 (Repari of the
Ano (;ado
Commissioners ... relating to Smithfield Market, Pari. Papers 1850, Número de Porcos Carneiro
(aproxim. milhares)
XXXI: The Food of London (1856) de G. Dodd, P. 273). Mas, pelos
motivos que se seguem, não acredito que isso invalide os números de 1839 43 57.000 -
Smithfield, que foram certamente considerados como representativos 1840
66.000
1841 322
do meio da década de 1830. ( On the condition of the agricultura/ clas- 1842
66.000
4.086 98.000
ses ofGreat Britain and lreland. Com extratos dos documentos parla- 1843 7.197 142.000
mentares e evidências de 1833 a 1840, e comentários pelo editor fran- 1844 6.789 132.000 -
1845 23.682
cês, publicado em Viena. Com um prefácio de Henry Drummond, 1846
234.000 55.000
53.586 327.000
Esq.1842, vol. II, p. 259). 104.162
Fornecimentos de carne de animais mortos na Escócia por vapor
para Londres já são notados no meio da década de 1830, sendo o tem- , . Podemos portanto admitir que as estradas de ferro não perturbaram
po do transporte de cerca de dois dias (London as it is, de John Hogg, senamente o quadro até depois da depressão de 1842. Esta opinião é
Londres, 1837, p. 273; The Englishman's Food, de Drummond e reforçad: pelo movimento dos preços do mercado da carne em Londres
Wilbraham, 1939, pp. 262-3). Talvez possamos tomaro meio da déca- para a decada de 1840 (Pari. Papers 1850, III, pp. 310 ss. ). Estes mos-
da de 1820 como a data em que esta forma de transporte tornou-se eco- ~am que os ammais mais baratos ;endidos (por Stone *) a 3s 1d. a 3s
nomicamente importante. Mas embora esta fonte de suprimento clara- ,~d: em 1840-2, e depms disso cairam marcadamente, mantendo uma
mente não fosse mais desprezível, exceto no verão, não conheço media de cerca de 2s. 8d. pelo resto da década de 1840, exceto durante os
nenhuma sugestão das fontes contemporâneas de que ele fosse de for- "'.'ºs maus de 1847-8. (0 preço do carneiro, contudo, não mostra tal que-
ma algu1na suficientemente grande para preencher a lacuna entre a da, embora o preço da vitela mostre, inclusive a partir de 1842.)
população e a carne que existia nesta década. As estradas de ferro, natu- , P~r ~Lmo lado, em períodos anteriores houve uma diminuição
ralmente, fizeram uma diferença ainda maior tanto para o suprimento marcada dd Cdrne morta. Ela quase cam para a metade de 1818 a J 830
de carne de animais mortos no campo como de carne viva, especial- (Smzthjield Commission, p. 892). Podemos admitir que isto compen-
mente dos Condados Metropolitanos, que haviam enviado previamen- sas~e os novos supr1r:ientos possíveis de carne morta por vapor neste
te carcaças de carne para a cidade, sendo que o principal aumento de penado, mesmo que isso não inclua estes suprimentos.
carne morta vinha agora de mais longe (Smithfield Commission, p. Há dúvidas se mesmo em 1850 Smithfield tenha perdido muito
795, 892-3). Mas em 1842 isso claramente ainda não havia afetado terre~o para os outros mercados. Em todo caso, apesar da considerável
muito os suprimentos (London, ed. C. Knight ( 1842) II, p. 322; ver pressao, as testemunhas diante da Comissão Smithfield não estavam
também a evidência de R. Moseley para a Estrada de Ferro dos Con- dispostas a dizer que tinha (p. 250 ss., 1.105). No máximo podemos
dados Orientais na Smithfield Commission, p. 1871 ). O aumento real- pmtanto sustentar que os números de Smithfield minimizam cada vez
mente drástico de carne ou transporte de gado por estrada de ferro pare- mais o número de carneiros disponíveis em Londres,já que a venda de
ce ter aparecido no meio da década de quarenta, como a tabela seguinte carnelfo morto passou para Ncwgate (Report, p. 17), opinião essa que
para o tráfego do gado cm pé na Grand Junction Railway de Liverpool
(um porto importante para o tráfego irlandês) ilustra. (Fonte: Facts and * NT- Peso equivalente a 14 libras ou 6.35 quilos.

122 123
é apoiada pela tendência das Vendas de carneiro de Smithficld ficarem número que possa ser usado nacionalmente, e nenhuma série que pos-
para trás nos três meses em que as vendas de carne morta foran1 mais sa sequer ser usada regionalmente. Nossa fonte nacional mais impor-
animadas - dezembro a fevereiro (p. 1866). Por motivos óbvios a tante é o Imposto de Consumo sobre couros e peles, que foi aceito
carne morta dificilmente podia ser trazida para o mercado no verão. como indicador potencial dos suprimentos de carne por Deanc e Cole,
Pode1nos assim concluir - no estado atual do nosso conheci- seguindo o seu uso para este fim na versão original deste capítulo.
mento - (a) que a série de carneiros pode ser um tanto afetada; (b) A questão principal quanto à série do Imposto de Consumo -
que a série de carne de vaca não é realmente afetada; (c) que inver- gue pára cm 1825 - é até que ponto afinal ela pode ser usada como
samente a negligência da carne morta introduz uma tendência oti- índice do consumo de carne'' Tudo que se pode dizer é que ela foi usa-
mista entre 1818 e 1830 e (d) que o efeito distorcivo dos novos méto- da como tal desde 1821 (S. C. on the Depressed State of Agriculture,
dos de transporte ou fontes de suprimento não tem probabilidade de Pari. Papers, 1821, IX). Infelizmente só as séries nacionais estão dis-
ser muito grande até o começo da década de quarenta, quando o con-
poníveis para períodos mais longos, exceto para um único que distin-
sumo per co11ita de qualquer maneira estava começando a au1ncntar.
guia entre a produção de Londres e das Country Collections (Bibliote-
De uma maneira geral, portanto, a série de Smithfield pode ser usa-
ca da Customs House). Algumas das séries nacionais estão também à
da para Londres sem hesitação demasiada. Desde a publicação ori-
disposição na S. C. on Agriculture, Pari. Papers, 1833, V, p. 628; Pari.
ginal deste documento ela tem sido assim usada cada vez mais
Papers, 1830, XXV, p. 61; 1851-2, XXXIV, p. 503 e nas Statistical
(Abstract of British Historical Statistics ( 1962) de B.R. Mitchell e
Illustrations of the British Empire (1825), pp. 68-9. Para os problemas
Phyllis Deane, p. 341).
destas séries, ver Growth and Fluctuations of"the British Economy, de
Tem sido alegado que estes números são afetados por um supos-
Gayer, Rostow e Schwartz, li, p. 720). Os números para as Country
to aumento do tamanho médio dos animais vendidos em Smithficld.
Não há nenhuma evidência disto. A estimativa para o peso da carcaça Collections individuais devem ter existido em certa ocasião, porque
contemporânea de carne de vaca que temos são de 303 quilos para eles são usados na S. C. on lhe Depressed State of"Agriculture, 1821,
1821, 286 para 1836 (outra estimativa para esta data é de 297 quilos) e mas os únicos que parecem sobreviver na Biblioteca Customs são um
de 290 quilos para 1842. Isto é, grosseiramente da ordem de 272-317 Sumário das Contas dos Coletores Rurais para Direitos Consolidados
quilos que a Marinha fixou como o tamanho dos animais a serem com- no Imposto de Consumo de 5 jan. 1826 até 5 jan. 1827, que dá apenas
prados para salga no fim do século dezoito. (Se/ect Commitee on the uma comparação estática das ordens de grandeza. Estes impostos de
Depressed State ofAgriculture, Pari. Papers 1821, IX, p. 267; General consumo têm a vantagem de que a taxa para todas exceto vclino e per-
Statistics of the British Empire (1836); On the condition of the agricul- gaminho e <Jgumas peles raras (alce, gamo, veado) permaneceu com-
tura/ classes ... (1842) de H. Drummond, TI, p. 261, citando Youatt; C. pletamente inalterada para todo o período, exceto para o período de
Knight op. cit., II, p. 325; British Economic Growth 1688-1959 (1962) 1812-22 quando foram dobradas. Elas eram normalmente taxadas pelo
de Phyllis Deane e W.A. Cole, pp. 69-70, citando Beveridge). O qua- peso cm libras, de forma que - pelo menos até certo ponto - com-
dro geral portanto poderia parecer de algum aumento do tamanho dos pensam as mudanças de tamanho dos animais. Daí as receitas reais
animais no século dezoito, que Deane e Cole estimam em cerca de 25 poderem ser usadas como índice da produção, embora se dividirmos a
por cento, mas nenhum aumento importante em nosso período. Do receita em 1812-22 por dois, o resultado ser bastante mais baixo do que
começo da década de 1840 cm diante pode bem ser que o aumento seja o resto da curva justifica, presumivelmente devido a uma quantidade
mais importante. maior de evasão. A fim de evitar as complicações que surgem quando
Resta-nos a grande e irrespondível pergunta, até que ponto a série se procura reunir séries representando, digamos, carneiros ou gado
de Smithfield é representativa das tendências gerais. Não podemos bovino dentre as peles surradas, curtidas ou preparadas em óleo, em
presumir que seja, mas infelizmente após 1825 não temos nenhum suas várias subvariedades, tenho confiado na produção bruta das cole-

124 125
ções, embora isto também inclua peles de outros animais, e sendo
assim bastante mais grosseiras do que "é desejável.* Tabela A. Receita bruta do Imposto de Consumo sobre Peles e Couros
1796-1826 como porcentagens de 1801
Os números da produção bruta anual para Londres e o Campo
estão impressos no verso da TabelaAcomo porcentagens de 1801, indo Ano Londres Campo Ano Londres Campo
o ano fiscal de 5 de julho até 5 de julho. 1796-7 87 96 1811-2
Veremos que a receita de Londres não mostrou nenhum sinal de 1797-8 89 96
126 128
1812-3* 97
aumento absoluto até 181 O. Parece pouco provável que o consumo de 1798-9 94 117
92 1813-4 106
1799-1800 103 119
carne medida nesta base tenha se recuperado até qualquer coisa pare- 96 1814-5 110 120
1800-1 100 100
cida com o nível de 1800 em 1820, mesmo compensando pela minimi- 1801-2 94
j 815-6 100 106
100 1816-7
zação das séries, mas o surto econômico do começo da década de 1820 1802-3 97 106
89 99 1817-8
1803-4 108 111
foi marcante. As séries não são incompatíveis com os números de 87 100 1818-9 116
1804-5 90
Ili
Smithfleld. As províncias estavam claramente em melhores condições 106 1819-20 110
1805-6 87 106
111 1820-1
_ou pelo menos ficavam menos para trás - exceto nos anos bastan- 1806-7 84
113 106
113 1821-2
te maus de 1815-21. 1807-8 108 101
84 114 1822-3%
1808-9 142 123
Os números locais verdadeiros, tal como dados na Comissão de 94 119 1823-4 142 129
1809-10 90
1821, demonstram, acima de tudo, a notável elasticidade da renda da 122 1824-5 150
1810-11 107 135
122 l 825-6***
demanda para a carne. Assim, entre 1818 e 1820, as matanças de Bir- 137 133
minaham caíram de 29 por cento. As de Walsall de 38 por cento, as de
Dudley de 29 por cento, as de Leeds de 19 por cento, as de Liverpool
As comparações por década só são possíveis para Liverpool e
de 18 porcento, mas as de Manchester só de 13 porcento e de Shefüeld
Manchester uo período de 1801-20, e mostram um declínio do cousu-
de 12 porcento. Inversamente a matança de vitelas em Liverpool subm
mo per capita em Liverpool e um aumento provável em Mauchester.
de cerca de 25 por cento cm 1803-5, a de carne de vaca de 37 por cen- Veja a Tabela B:
to ( 1814-17), de 26 por cento em Manchester no mesmo período. A
Todos os dados fornecidos naS. C. 011 the Depressed State o/Agri-
depressão de 1842 mostra igualmente quedas abruptas. No comércio
culture (1828) (pp. 243-4, 265-7) estão tabulados no verso da Tabela e.
de lã de Yorkshire estimou-se que o consumo de carne e gêneros redu-
Para Birmingharn os números para 1818 são 127, 91e582; para
ziu-se à metade desde 1835-6, em Kendall que ele tenha caído de um
1819, 104, 93 e 470; para 1820, 9 l, 90 e 388. Pode-se observar que a
terço, em Rochdale que tenha ficado na metade de 1837 (Report ofSta-
de1 ressão de 1815-16 parece uão afetar a matança de vacas em qual-
tistical Committee ofthe Anti-Com Law League, pp. 18, 28, 33).
qut ·das quatro cidades, e a carue de vitela apenas em uma. Só a carne
Esta última estimativa parece modesta, já que C. Kuight (op. cit.,
de c,arneiro é cousistentemente afetada. Isto é surpreendente, já que
II, p. 325) dá os uúmeros das matanças de Rochdate como 180 bois pm
deviamos normalmente esperar que a carne mais barata fosse meuos
semana em 1836, 65-70em 1841. O movimento total de 14 magareles sensível a essas flutuações.
de Manchester caiu def 27.800em 1839 paraf 17.200 em 1841. (Dis-
tres.1· in Manchester ... de J. Adshead, Londres 1842, p. 55).

_ . *Novos direitos: os números representam a metade da sua produção. Con1pensam a eva-


sao maior!
*Produção bruta é o que os coletores cobravam. As contas são elaboradas da maneira anti-
ga. o ''Débito" diante do "Crédito". **Volta aos velhos direitos.
***Os números anuais representan1 a produção de meio ano multiplicado por dois.

126
127
TabelaB 2
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Liverpool i\ilanchester ~ -O
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Aumento percentual da
população de 1811-20 sobre a de 1801-11 22 25
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Aun1en!o percentual da 1natança média anual ~" > -O
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de carne de vacu. 1ncsmos período5 18 29 o
Au1ncnto percentual de carne de vitela o 20 "!
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Aumento percentual de ccirn.e de carneiro 12 25
,..,
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Algumas estimativas individuais estão também à disposição para
Dundee e Glasgow, l833 (na M'Queen, op. cit.), Wolverhampton, Li-
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verpool, Manchester, Glasgow, Newcastle para 1848-50 (em Braith- ·;::
waite Poole, op. cit.). Para Glasgow, estas mostram um aumento de 25 '"s. ~
por cento na carne de vaca, uma diminuição de 60 por cento na de vite-
la e de 10 por cento na carne de carneiro. Há também números para
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matanças semanais comparativas em Leeds, 1835-6 2.450 animais e
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= " °'. .,. .,."'
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1836, 65-70em 1841 (C. Knight. op. cit., p. 325). Não sei quais são as
fontes para estes números. ~ 2
A questão da mudança do tamanho dos animais ainda não foi dis-
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cutida. Tudo que se pode dizer é que em Londres o consumo de carne u "' "' "' "' 00 00 00 00 00

de vaca deve ter diminuído a menos que o peso médio da carcaça de 'O .:
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gado bovino tenha aumentado pelo menos 40 por cento entre 180 l e
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1841, o dos carneiros de pelo menos 15 por cento. Mesmo que o peso ~
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médio de ambas tenha subido de 25 por cento ou coisa parecida, uma e
diminuição ainda é provável. o~= o
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Todos estes números são globais; isto é, eles não distinguem o :!
consumo da classe trabalhadora do resto, ou o consumo das diferentes e 2
camadas dos pobres que trabalham. Isto significa que estão sujeitos a s" ·e
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erros de interpretação do lado otimista, porque as mudanças do consu- u"


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mo de carne pela seção relativamente pequena da população que comia u õo
muita carne, têm um peso desproporcionadamente forte. As possibili- ~
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dades de erro inerentes a esses números podem ser avaliadas pelo
seguinte exemplo. O Repor! of the Statisúcal Committee appointed by
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the Anti-Com Law Conference, realizada em Londres de 8 a 12 de o


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março de 1842 (Londres, sem data), p. l 8, estima que em Leeds o con- "
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sumo diminuiu de 25 por cento desde 1835-6; mas já que o consumo


das classes mais favorecidas não havia diminuído, ela estimou a redu- .,.
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ção do consumo da classe trabalhadora em 50 por cento. "
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128
129
6

A HISTÓRIA E "AS SATÂNICAS


FÁBRICAS ESCURAS"

DURANTE A MAIOR PARTE DOS ÚLTIMOS cento e cin-


qüenta anos o debate sobre como era1n as condições sociais no come-
ço do capitalismo industrial foi bastante parcial. A maioria do povo
inglês na primeira metade do século dezenove estava convencida de
que a chegada do capitalismo industrial havia trazido para ela priva-
ções pavorosas, que ela havia entrado numa era desoladora e cruel. Da
mesma forma a maioria dos observadores habilitados e instruídos. Os
economistas presumiram que as condições dos trabalhadores pobres
deviam ser bastante miseráveis: grande parte da teoria deles tinha por
fim mostrar por que isto era inevitável. (Afinal de contas, considere a
notória teoria da população de Robert Malthus, no sentido de que a
população devia crescer mais depressa do que os meios de subsistên-
cia, de forma que os pobres deviam estar praticamente à beira da sub-
sistência ou da fome. Ninguém aplica esta teoria à Inglaterra hoje, pelo
simples motivo de que a classe trabalhadora inglesa não está obvia-
mente à beira da fome. Por outro lado essas teorias são aplicadas, mes-
mo hoje, a países como a Índia, onde o grosso da população é desespe-
radamente pobre. As teorias que explicam, certa ou erradamente, por
que a se1ni-inanição é inevitável só parecem plausíveis, mesmo para
aqueles que as elaboram, quando há semi-inanição a ser explicada). Os
estatísticos e os investigadores sociais não tiveram nenhuma dificul-

131
dade em mostrar que o poder produtivo e o comércio da Inglaterra esta- A escola jovial de historiadores sobre o começo da Inglaterra
vam aumentando aos saltos; mas embora alguns dos mais loucamente industrial tem que explicar uma massa de fatos muito inconvenientes:
entusiasmados deles tentassem provar que as condições do povo ha- a opinião majoritária dos observadores e estudantes contemporâneos,
viam também melhorado, eles acharam isso muito mais difícil, de o enorme peso da documentação sobre as horríveis condições sociais
qualquer modo até o meio da década de 1840. Na verdade, a opinião da e econômicas da população trabalhadora na primeira metade do sécu-
maioria estava contra eles. Um carregamento completo de livros- lo dezenove e, naturalmente, o maciço descontentamento dos trabalha-
azuis, panfletos, jornais e outras literaturas foi publicado sobre os pro- dores pobres, que irrompiam, repetidas vezes, em vastos movimentos
blemas sociais. Poucos que tenham lido muito destes escritos saem de radicalismo, sindicalismo revolucionário, cartismo, em tumultos e
com alguma impressão a não ser de considerável depressão. Tão pou- tentativas de levantes armados.
cos argumentos havia sobre o horror geral da situação entre as massas A maneira mais simples de fazer isso é alegar que todos os con-
trabalhadoras neste período, que historiadores subseqüentes de todos temporâneos estavam enganados, porque as estatísticas mostram que
os matizes de opinião política estavam geralmente de acordo sobre ela. as coisas estavam melhores do que antes, e melhorando o tempo todo,
Conservadores, Liberais e Fabianos rejeitaram Marx e Engels em ou quase o tempo todo. "Eu estava tendo num trabalho o outro dia,"
outros sentidos, mas o relato de Engels da Inglaterra em 1844 e as des- disse um personagem do romance melancólico de Disraeli Sybil
crições de Marx das condições sociais do século dezenove eram subs- (1845), "que as estatísticas provaram que as condições gerais do povo
tancialmente aceitas como padrão. Muitas pessoas aceitaram as evi- eram muito melhores neste momento do que em qualquer período
dências de Marx e Engels, embora discordassem de suas análises e conhecido da história": o argumento estatístico tem sido há muito tem-
conclusões. Até o fim da Primeira Guerra Mundial não houve realmen- po a âncora-mestra dos otimistas neste campo de estudos. Contudo,
te nenhuma discussão sobre o assunto, a não ser a respeito de detalhes não foi senão há cerca de trinta e cinco anos que um estudioso ameri-
secundários. Como pode ser visto no capítulo l3 abaixo, poucos estu- cano, o Professor Silberling, achou que havia descoberto uma base
estatística firme para a opinião de que o padrão de vida estava subindo
diosos sérios puderam fazer mais do que descobrir alguns revestimen-
neste período, e durante uma geração a escola jovial atrelou sua fé prin-
tos de prata numa nuvem muito grande e muito preta.
cipalmente a ele. Ele elaborou um índice de salários em dinheiro e do
Os historiadores que quiseram adotar uma posição diferente - e
custo de vida para a primeira metade do século dezenove e, combinan-
nos últimos trinta ou quarenta anos eles foram muito influentes- tive-
do ambos, chegou à conclusão de que os salários reais da classe traba-
ram uma tarefa muito difícil em mãos. Este artigo se propõe a discutir
lhadora haviam subido. Obviamente, se ele estiver certo, todas as
algumas das maneiras pelas quais eles tentaram enfrentá-la. Acontece
outras evidências eram pelo menos parcialmente irrelevantes. Se elas
que um exemplo particularmente flagrante dessa atribuição de falsa
diziam que as coisas eram pretas, ou estavam até ficando mais pretas,
aparência do começo da Inglaterra industrial tinha acabado de ser deviam ser pouco representativas ou estar enganadas. Tudo que resta-
publicada: a nova edição da Condition ofthe Working Class in England va era explicar por que uma ilusão tão generalizada foi para diante.
de Engels, por dois pesquisadores da Universidade de Manchester, Infelizmente, durante os últimos dez anos o índice de Silberling foi
W.H. Chaloner e W.O. Henderson. Contudo, eles não estão sós em seus desacreditado. Em primeiro lugar mostrou-se que simplesmente não
métodos, embora felizmente os historiadores que partilham suas opi- sabemos o suficiente para elaborar essas séries realisticamente. Co-
niões estejam agora perdendo influência. Além do mais, os leitores que nhecemos os níveis de salários em dinheiro de muitos trabalhadores
não são historiadores podem também achar útil estudar algumas das (geralmente capacitados) em níveis portempo, e uma porção de níveis
maneiras pelas quais as pessoas tentam argumentar que o preto é bran- por peça, que não são, naturalmente, muito úteis por si mesmos. Não
co, ou pelo menos que ele não é preto, ou provavelmente se o for, a cul- conhecemos quase nada do que as pessoas ganhavam realmente.
pa não é de ninguém. Quantas horas-extras ou inferiores à jornada diária elas trabalhavam?

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Quantas vezes elas ficavam desempregadas e por quanto tempo? a nova edição de Engels é um exemplo particularmente bom de como
Quem sabe? Quanto ao índice do custo de vida, ele é igualmente vaci- eles fizeram isso. Agora há uma técnica acadêmica bem conhecida e
lante, baseando-se em grande parte em palpites. De qualquer maneira, venerável para provar que, digamos, o deserto não é seco e estéril. O
sabemos pela experiência moderna como os índices de custo de vida crítico acentua que ele não é verdadeiramente sem água e sem vida. Há
podem ser cheios de armadilhas em nossa própria época, quando são poços nele e torrentes ocasionais temporárias, e algumas vezes chove.
feitos esforços consideráveis para recolher estatísticas especificamen- Camelos e beduínos, e vários animais, descendo até moscas e mosqui-
te para sua compilação. O que é mais, podemos realmente pegar os tos, vivem em muitas partes dele, bem como as plantas, algumas vezes
estatísticos em descuido. Por exemplo, eles alegam que o custo de vida em profusão. Nem é ele tampouco composto todo de areia. Portanto,
caiu fortemente após as guerras napoleónicas, de forma que as pessoas constitui um exagero louco e pouco erudito dizer que o deserto é seco
ficaram em melhores condições. Mas por acaso os verdadeiros preços e estéril, e embora o verdadeiro estudioso não questione os motivos das
no varejo pago nas lojas de algumas cidades do Lancashire em 1830 outras pessoas ("Está longe de ser fácil provar o motivo que inspira os
foram descobertos, e estes inostram que os comerciantes do Lan- atos praticados por qualquer homem", como dizem os Drs. Chaloner e
cashire pagavam mais ou inenos a mesma coisa que em 1790. Nova- Henderson quando atacam Engels por lançar dúvidas nos motivos dos
mente, as séries estatísticas alegam qne os artesãos de Londres melho- capitalistas), está bastante claro que aqueles que dizem isso são pouco
raram sua posição muito rapidamente entre 181 Oe 1820. Pode ser que eruditos ou provavelmente movidos por um preconceito contra os
sim, mas acontece que sabemos, por outras fontes, que o consumo de desertos. Admitidamente há uma porção de evidências de que muitas
carne por cabeça da população de Londres caiu notavelmente neste pessoas consideram os desertos a esta luz, mas elas deviam ser inais
período, isto é, os londrinos em geral não puderam comprar mais espertas. Este método é extraordinariamente útil: foi útil, por exemplo,
carne. Um terceiro exemplo é ainda mais revelador. O falecido Sir John para provar que nunca houve coisas tais como revoluções (inclusive a
Clapham, fundador da escola "jovial", censurou R.W. Postgate em ter- Revolução Industrial). Um historiador realista disse certa vez que é
mos muito profissionais, por que este alegou, com base em outras evi- possível definir assim a agricultura de subsistência como para provar
dências, que os construtores na década de 1830 estavam sofrendo que ela nunca existiu em parte alguma, e o mesmo vale para os deser-
muito. As estatísticas não mostravam que seus salários em dinheiro tos, as revoluções, a pobreza - capitalismo crescente ou decrescente,
estavam subindo, e que eles eram (como é absolutamente verdadeiro) ou o que quer que escolhamos. O único problema é que, se o estudioso
bastante bem pagos? Mostravam. Mas acontece que para o ofício de se encontrasse realmente num deserto, não seria ajudado pela prova de
construção temos também realmente alguma idéia do desemprego; e que este, estrita1nente falando, não existisse, ou se existisse, não seria
as estatísticas (indiretas) para ela mostram que o começo da década de tão seco e estéril como inuitas vezes se dizia. Felizmente, para eles pró-
1830 foi um período de profunda depressão para o ofício de construtor. prios, os historiadores do começo da era industrial inglesa, tendo pro-
Evidentemente, havia uma massa de construtores desempregada. (Não vado por estes meios, p. ex., que a "Década Esfomeada de Quarenta"
havia, naturalmente, nenhum auxílio-desemprego então.) Nada é mais está mal denominada (como o Dr. Chaloner tentou fazer um panfleto da
natural do que muitos deles estarem em farrapos e esfomeados, e que, Associação Histórica), não se verão eles próprios, na situação de um
como sabemos, esta profissão normalmente capacitada e bem paga se trabalhador inglês ou irlandês desse período.
tornar extremamente descontente e radical. Os historiadores joviais tentaram sistematicamente desacreditar
A tentativa de provar estatisticamente que o começo do capitalis- desta maneira a evidência contemporânea. O fato de os Drs. Charloner
mo deixou o povo em melhores condições financeiras falhara, por e Henderson terem se concentrado em Engels é devido ao fato de que
enquanto. O Professor Silberling foi calmamente descartado. Os his- o seu livro sobre as condições da classe trabalhadora era a única obra
toriadores joviais são deixados com a massa de evidências, que perma- contemporânea importante que tentava tratar da classe trabalhadora
nece sombria. O que podem eles fazer'' Podem tentar desacreditá-la, e como um todo, de que foi impressa consistentemente, e é geralmente

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considerada (e com razão) pelos historiadores não-Marxistas como Chaloner e Henderson acentuam, que este caso ocorreu em 1801; tam-
"um relato digno de confiança que eles podem recomendar com segu- bém que a testemunha que o comunicou afirmou que o trabalho notur-
rança aos seus alunos" (p. xix). Mas vale à pena lembrar que tenta\Ivas no só havia sido introduzido porque umafábricahavia se incendiado e
semelhantes têm sido feitas para desacreditar outros observadores os donos dobraram os turnos em outra para manter os trabalhadores
contemporâneos e os Relatórios Parlamentares, por exemplo, o do empregados. (Sem dúvida eles não pensaram absolutamente em seus
Professor W. Hutt no volume Capitalism and the Historians ( 1954) próprios lucros). Mas isto não é nem aqui nem lá. Se um homem diz:
editado pelo Prof. F.A. Hayes, autordeRoad to Serfdom, )ivro esse que "quando os soldados são mantidos em parada por muito tempo, alguns
francamente parte em defesa do bom nome do capitalismo contra os deles podem desmaiar; posso dar-lhe um exemplo concreto onde isto
historiadores. certa vez aconteceu", a validade da afirmação não é afetada afirmando
A primeira e mais simples maneira de fazer isso é acentuara? des- que isso aconteceu há muito mais tempo do que se podia pensar, ou de
lizes e en·os secundários de Engels, que são muito numerosos. E sur- que eles foram mantidos na parada pelo melhor dos motivos. Engels
preendente como se pode fazerum livro parecer suspeito arrolando sis: podia ser atacado se dissesse "A imoralidade está aumentando aos sal-
tematicamente todos os erros de transcrição e semelhantes: ate tos ultimamente; como testemunha este caso" que então verificou-se
examinarmos a natureza destes erros. Ser mostrado página após pági- referir-se há quarenta anos. Mas ele não diz isto.
na que Engels não citou textualmente seus livros-azuis, que ele escre- O segundo exemplo é ainda mais esclarecedor, porque Engels não
veu "16 anos" quando a fonte diz "17", que ele disse que uma amostra baseia absolutamente seu relato justificadamente sombrio das condi-
de crianças foi tirada de uma Escola Dominical, embora fossem duas, ções de moradia em Edinburgh num artigo publicado em 1818. Baseia-
e assim por diante, naturalmente mina a confiança do leitor. Mas isso º em relatos datados respectivamente de 1836, sem data (1818), 1842 e
prova apenas que quem quer que deseje citar livros-azuis textua!men- 1843, o que é bastante contemporâneo para 1844. (Porque não devia ele
te deve ir às fontes originais e não tirar as citações de Engels~ nao que usar um artigo de 1818 se este confirma, como afirma Engels, a evidên-
relato de Engels seja indigno de confiança. Na verdade, os casos con- cia de 1836, 1842 e 1843? Os Drs. Chaloner e Henderson não preten-
0
cretos em que Engels resvala ou alegam que o preconceito o levou a dar dem que o artigo de 1818 dê uma impressão errada das coudições pos-
uma impressão errada ou enganadora dos fatos, podem ser contados teriores de moradia). Há, realmente, como os editores indicam, um
nos dedos das duas mãos, e algumas das acusações estão erradas. Este engano neste relato. Duas frases, presumivelmente tiradas do relatório
não é o local para examiná-las em detalhe, mas vale a pena mencionar de 1842, se referem não a Edimburgh mas a Tranent, embora este rela-
as duas que um crítico do Sunday Times recolheu como exemplos par- tório contenha também uma descrição das favelas de Edinburgh. Os
ticularmente maus do seu "embuste". O primeiro é "um relato sensa- Drs. Chaloner e Henderson não sugerem que os pequenos trechos sobre
cional da taxa de natalidade ilegítima entre as operárias numa fábrica Edinburgh que Engels não cita - supostamente por um deslize -
em particular (a qual) verificou-se referir-se não a 1840 masª. 180 l "; dêem uma impressão melhor dessa cidade do que as fontes que ele cita.
segundo "um relato sombrio das condições sanitárias de Edmburgh Em outras palavras: não há nenhuma evidência aqui de que Engels te-
0
(que se apóia) num artigo escrito em 1818". nha "topado", e nenhuma evidência de que o seu relato dê uma impres-
Quanto ao primeiro caso, Engels não diz que ela teve lugar em são errada do que dizem suas fontes, ou da realidade.
J 840. No decorrer da análise dos efeitos sociais do excesso de trabalho A segunda maneira de desacreditar Engels é alegar que as fontes
e do trabalho noturno ele cita o caso (relatado na Comissão de Pesquisa que ele usa são pouco representativas ou seletivas. Este é um método
de Fábricas de 1833) de uma fábrica que no passado introduzira turnos bem conhecido de lançar dúvida sobre a evidência contemporânea das
noturnos de doze horas, que desmoralizaram tanto os trabalhadores- más condições sociais. Ele se dá grosseiramente como se segue: "Estes
ª taxa de ilegitimidade dobrou durante os dois anos em que o sistema livros-azuis (ou livros, panfletos ou artigos) não eram pesquisas desin-
funcionou - que teve que ser abandonado. Acontece, como os Drs. teressadas da verdade. Eles foram compilados por reformadores, apai-

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137
xonadamente ansiosos em desacreditar o capitalismo). Portanto esco· Numa palavra, este método de tentar desacreditar a evidência
lheram os piores casos, porque estes causariam maior indignaç~o contemporânea baseia-se em dois tipos de cegueira. Constitui ceguei-
pública. Não se segue que as coisas eram em geral absolutamente tao ra não ver que homens bons podem ficar legitimamente ultrajados
más." Um bom exemplo disto é o tratamento dos Drs. Chaloner e Hen· mesmo por6.000 desgraçadas miseráveis (como Blake escreveu: "Um
derson das famosas (ou melhor infames*) mulheres nas minas: "O cão esfomeado no portão do seu dono, faz prever a ruína do Estado").
relato de Engels da mineração de carvão na Inglaterra na décad~ de Constitui cegueira ainda maior não ver o abuso geral por trás dos exem-
1840 pode dar aos leitores a impressão de que as mulheres e as cnan- plos excepcionais que os reformadores e os revolucionários muitas
ças trabalhavam sob a terra em todos os distritos carvoeiros. Na reali· vezes (mas de maneira alguma sempre) usam para levantar a opinião
dade nesta ocasião 0 emprego das mulheres estava virtualmente hm1- pública contra ele. O historiador do século vinte e um que lance dúvi-
tado às minas do West Riding, Lancashire, Cheshire, Escócia e Gales das sobre as privações dos velhos aposentados, porque descobre que
do Sul" e eles acrescentam: "o número de trabalhadoras envolvidas era uma porção deles não são tão miseráveis como alguns dos casos cita-
bastante pequeno. Em 1841 cerca de 6.000 mulheres e meninas empre· dos pelos que fazem campanhas por melhores pensões, será um tolo. O
gadas sob a terra e na boca do poço em todos os tipos de minas da historiador que faça o mesmo pelos sofrimentos que provocaram uma
lnalaterra. Nas minas de carvão 1.185 mulheres acima de 20 anos e classe dominante não notável por seu coração mole em relação aos
1. l65 mulheres abaixo dessa idade estavam empregadas sob a terra e pobres a produzir uma montanha de evidências sobre suas privações e
na boca dos poços" (p. xxv). Eles acrescentam também que Engels a reconhecer a necessidade de reformá-las, não é mais sábio. Se, além
disse que a Lei de 1842 proibindo o emprego de mulheres e cnanças disso, ele usa os mesmos métodos para defender os capitalistas cujos
sob a terra era virtualmente letra morta, já que nenhum inspetor havia críticos ele acusa de usar contra eles, é triplamente cego. ·
sido nomeado em virtude dela: mas ele estava errado. Havia sido no- Mas isto é exatamente o que os Drs. Chaloner e Henderson, e
meado um instrntor. outros autores da mesma escola, fazem. Eles culpam Engels, por
A natureza deste procedimento pode ser ilustrada aplicando-o a exemplo, que fornece um relato bem conhecido dos sofrimentos das
algum outro tópico. O argumento seria então como se segue:"( a) as pes- costureiras, por não mencionar que "as condições desesperadas destas
soas disseram que há um problema de vício de drogas, mas na reahda· moças infelizes receberam muita publicidade dos jornais, e a situação
de há apenas 6.000 viciados dos quais não mais de 2.400 tomam real· delas havia atraído a simpatia pública", e por deixar de citar 0 caso
mente morfina. (b) Sugeriu-se que este é um problema geral, mas ele (contado no Northern Star) em que uma magistrada havia tido pieda-
realmente só ocorre em todas as cidades importantes exceto Newcastle de de uma destas moças (p. xxiv). "Isto dificilmente parece" dizem
e Birmingharu. Afinal de contas, não vamos perder nossas cabeças e eles, "como se as classes médias fossem totalmente indiferentes aos
começar a fazer acusações malucas contra os traficantes. de drogas." sofrimentos das costureiras." O fato é que isso não parece absoluta-
Quanto a se 0 único inspetor pela Lei de 1842 tinha probabilidade de ter mente nada, a não ser um magistrado isolado que teve pena de uma
feito muita diferença em 1844, precisamos apenas citar um inspetor moça. Embora típico, o que os Drs. Chaloner e Henderson não suge-
posterior para apenas um distrito mineiro, no sentido de que kvana de rem que fosse, ele não discute que nada efetivo foi feito pelas moças.
4 a 5 anos para inspecionar uma vez todas as minas do seu distnto. Res· Resta apenas acrescentar (a) que os editores não contestam absoluta-
ta simplesmente acrescentar que Engels, tão longe de sugerir .que.° mente a descrição de Engels dessa situação, e (b) que Engels não deixa
número de mulheres nas 1ninas era maior do que era, realmente reimpri- de mencionar o clamorpúblico,já que observa que no começo de J 844
miu a tabela detalhada contendo as estatísticas citadas acima (p. 274). "a imprensa estava cheia de histórias das dificuldades entre as costu-
reiras" e dedica uma longa nota de rodapé à "Canção da Camisa" de
~' N'f -Aqui há uin trocadilho intraduzível:fanwus =famosas e in:fUmous =infames. Thomas Hood, a qual, como ele nota, apareceu no Punch (pp. 239-40).

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Acho que não precisamos perder muito tempo com outras ilustrações comum para um imperador) e liberou-o. Os Drs. Chaloner e Hender-
das tentativas do editor para aplicar uma falsa aparência. son devem refletir a respeito disto.
O terceiro método de desacreditar a evidência contemporânea O quarto método de desacreditar a evidência contemporânea é
consiste em alegar que ela é parcial contra os capitalistas, e portanto alegar que ela não é suficientemente boa. Isto naturalmente é mais fácil
(presumivelmente) reflete mais a tendência do autor do que a dos fatos. quando os abusos em questão são de forma a não se prestarem a esta-
A edição atual de Engels é um bom exemplo disto, porque os autores tísticas precisas. Um exemplo útil é o da moral dos donos das fábricas.
alegam essencialmente que "Engels em 1842 era um jovem enraiveci- "Uma acusação que ele fez repetidamente era que uma fábrica inglesa
do com uma apara de madeira muito grande sobre o ombro" que era ponco melhor do que um harém e que os fabricantes tinham rela-
cobrou-se de uma dívida a seu pai, um comerciante piedoso da Renâ- ções imorais com suas empregadas." Mas "pouco há (no Relatório da
nia, atacando a burguesia inglesa. Não precisamos perder o nosso tem- Comissão de Pesquisa de Fábricas) em apoio da afirmação de Engels"
po psicoanalisando o jovem Engels, porque os motivos que podem ou (p. xxvi, 168 n.). Mas Engels não diz que as fábricas eram pouco
não tê-lo impelido a tornar-se comunista são totalmente irrelevantes. melhores do que haréns. Ele diz (p. 168) que as moças estavam à mer-
Os ultrajes do Congo que Roger Casement e E.D. Morei denunciaram cê de seus patrões; que alguns patrões não seduziam suas moças
há cinqüenta e tantos anos não são menos reais porque pelo menos um enquanto outros o faziam, e em casos extremos não havia nada que os
dos investigadores tinha peculiaridades psicológicas muito marcadas. impedisse de fazer isso por atacado. Tais casos eram conhecidos. Nem
(Não há, a propósito, nenhuma evidência qualquer que seja de que devemos esperar um padrão muito alto no passado, considerando o
Engels não sentisse uma fúria perfeitamente genuína e compreensível tipo de pessoas que se tornavam patrões nos primeiros dias do sistema
contra a burguesia inglesa simplesmente devido ao que ele via à sua fabril* Tudo isto parece bastante razoável, pelo menos para uma era
volta em Manchester). A pergunta pode serrespondida muito simples- apresentada nas caricaturas de chefes perseguindo suas datilógrafas
mente citando os editores. "É compreensível", dizem eles (por entre
em volta das mesas, desde que não esperemos provar isso por estatís-
sugestões de que não seja), "que Engels deve ter tido uma opinião som-
ticas precisas, ou mesmo aproximadas, do número de patrões que
bria da cena inglesa quando chegou no fim de 1842 ... Não é de admi-
seduzem realmente as moças das fábricas. Pela natureza das coisas,
rar que Engels achasse que havia vindo para um país onde de uma
embora bem conhecida a prática, essas estatísticas não têm probabili-
maneira geral se trabalhava demais, comia-se de menos e ganhava-se
dade de ser confiáveis ou estar disponíveis. Eu realmente não sei quão
pouco" (xxviii-ix). Podemos acrescentar (embora os editores evitem
generalizada era essa sedução, e nem, naturalmente, os Drs. Chaloner
dizer isso diretamente) que isso é compreensível, porque ele havia de
e Henderson. Contudo sei que se pedíssemos ao romancista do século
fato vindo para um país onde de uma maneira geral se trabalhava
dezenove que nos conta, repetidas vezes, sobre os filhos das famílias
demais, comia-se de inenos e ganhava-se pouco". Se seguirmos
burguesas que tinham sua primeira experiência sexual com as empre-
Engels enquanto ele caminha através das fábricas de algodão e favelas
de Manchester neste livro, não teremos nenhuma dificuldade em pro- gadas de seus pais, a prova estatística da freqüência relativa desses epi-
duzir horror e fúria mesmo há 114 anos de distância. Por que então evo- sódios, eles não poderiam fornecê-la. Estou preparado para acreditar
car as brigas de família de Engels o Há uma história contada a respeito nos romancistas sem estatísticas, em parte porque eles são bons obser-
do falecido Imperador Francisco José que visitou uma cidade da vadores, em parte porque a coisa está longe de ser improvável. Por que
Boêmia onde, por mais chocante que pareça, a salva real irão foi dispa-
rada. O imperador chamou o prefeito para pedir uma explicação. ':'De passagem noto u1n dos freqüentes deslizes e erros da nova tradução. O tradutor, cujo
respeito pelas moças das fábricas é evidentemente menor do que o de Engels, diz "inclinação para
"Majestade", disse o prefeito tremendo, "há três motivos pelos quais
a castidade'' em vez de "ocasião" ou "incentivo" (confundindo sc1n dúvida o alemão Veranlas-
não disparamos a salva. O primeiro é que não tínhamos pólvora ... " sung co1n Veranlagunf<). A velha tradução, p. ex., em Marx mui Engels on Rritain, em hora mais
"Obrigado," disse o monarca (revelando uma perspicácia fora do tosca como de hábito, é também como de hábito 1nais precisa.

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não devemos acreditar em Engels em terreno semelhante, até haver pa dos próprios trabalhadores: "na década de 1840 muitas privações
uma forte evidência em contrário? Resta acrescentar que os editores entre os trabalhadores eram devidas à pobreza "secundária" ou "auto-
contra-atacam Engels sugerindo que ele é o último a atirar pedras por- i.ndu~'.da" - resultado da despesa excessiva e inútil em bebidas, jogo e
que "sua própria amante (Mary Burns) fôra operária numa fábrica de fumo (C~aloner e Henderson, History Today, 1956, p. 855). O segun-
algodão" (p. xxvi). É evidente que algumas pessoas acham difícil dis- d~, que nao precis~ nos deter também, é que os horrores deste período
tinguir entre um chefe que seduz sua equipe ameaçando despedi-la, e mo eram devidos a crueldade ou a má-vontade: muitas pessoas, inclu-
um homem que vive maritalmente com uma antiga moça de fábrica sive capitalistas, eram boas e cheias das melhores intenções. Sem dúvi-
durante 18 anos até a morte dela, sendo a moça reconhecida como sua da, mas como sabemos, o caminho para o inferno está calçado de boas
mulher efetiva mesmo entre "meus conhecidos filisteus". (A recusa de intenções. A acusação contra o capitalismo do começo do século deze-
se casar oficialmente era co1nu1n há muito tempo entre os socialistas nove não fica menos preta se presumirmos que cada capitalista era
continentais por motivo de princípios). Como se sabe perfeitamente, como os Irmãos Cheeryble de Dickens, e que não havia absolutamente
Engels teve sua única briga importante com Marx, quando este deixou nenhum Gradgrind. Isso tornaria a acusação ainda mais preta, porque
de demonstrar suficiente simpatia pela perda daquele com a morte de mostraria que os horrores do período não eram devido aos "abusos" de
Mary Burns. Não precisamos mais prosseguir nesta acusação contra homens maus, mas a alguma coisa na natureza da sociedade.
Engels. . O terceiro recurso é afirmar que, por más que as coisas fossem,
O último método e sem dúvida o mais eficiente de desacreditar a ainda assim constituíam uma melhora em relação ao período anterior.
evidência sombria de Engels e de outros contemporâneos seria produ- , Esta linha é também bastante vulnerável, e consiste em pichar 0
zir uma quantidade igual de evidências do outro lado. Contudo, a esco- seculo dezmto para fazer o dezenove parecer menos preto. Até certo
la jovial já fez isto, limitando a maior parte de suas energias às críticas ponto isto é fácil, porque se conhece tão menos sobre os padrões de
negativas e à especulação. vida do século demito, que ninguém pode dizer com certeza que 0 pre-
Segue-se por tudo isto que consideráveis esforços têm sido feitos to sei a a cor errada. Por acaso, a opinião de que as condições do sécu-
para sacudir a opinião sombria (e tradicional) das condições do povo lo dezoito eram superiores em algum sentido às do começo do século
trabalhador inglês na primeira metade do século dezenove, mas até dezenove não é tão extravagante como os Drs. Chaloner e Henderson
agora com pouco resultado. No caso do livro de Engels estes esforços sugerem: o pouco que se conhece sobre os movimentos do padrão de
têm sido bastante heróicos. Os dois editores trabalharam evidentemen- vida .popular sugerem alguma melhoria na parte inicial do século
te durante anos conferindo cada referência de Engels, descobrindo dez01to, e nenhuma melhoria ou deterioração da década de 1790 em
cada deslize e erro, para não mencionar alguns que não estão lá. Rara- diante. No estado atual dos conhecimentos eu nem gostaria de imagi-
mente um livro tem sido sujeito a tal exame sistemático e dolorosa- nar o que aconteceu entre ambas. Contudo, o argumento anti-século
mente hostil. Pode-se dizer bastante categoricamente que este sai dele dezoito é interessante não tanto como um exemplo de confiança mal-
com a bandeira tremulando; muito melhor, na verdade, do que se podia colo,cada, mas como uma ilustração de manual da falta de imaginação
esperar. (Gostaria que o mesmo pudesse ser dito de todas as tentativas hrntonca e humana e de realismo que aflige tantos dos estudiosos "j avi-
subseqüentes dos Marxistas de fazerem relatos das condições das clas- ais". Isto pode ser mostrado pelo exemplo bem conhecido dos "e~pre­
ses trabalhadoras sob o capitalismo)''. gados domésticos" v. "trabalhadores de fábricas''.
Tendo deixado de abalar a evidência contemporânea seriamente, ,Oargumento quase universal dos otimistas é que os empregados
aos historiadores joviais restam três recursos. O primeiro, sobre o qual domesticos e os que trabalhavam fora antes da Revolução Industrial
não precisamos perder tempo algum, é admitir que as coisas eram hor- eram explorados tão cruelmente como o proletariado das fábricas,
ríveis, mas afirmar que isto não era culpa do capitalismo: a taça que- enquanto seu pagamento e condições materiais eram piores. Mas este é
brou-se mas ela "partiu-se em minhas mãos''. Por exemplo, foi por cu!- um contraste artificial. O começo do período industrial não foi de subs-

142 143
trabalho. A doença do "amolador" (grosseiramente, a silicose) foi pior
tituição dos empregados domésticos por operários de fábricas, exc~to
em Sheffield no começo do século dezenove do que no dezoito, porque
em muito poucos ofícios (têxteis externos e especialmente_ algodao,
mais amoladores estavam se acumulando nas pequenas oficinas numa
dificilmente até 1850 se tanto). Pelo contrário: ele os multiphcou_. Que
cidade maior, mais suja e mais enfumaçada, onde a melhoria das con-
isso mais tarde os tenha levado à morte pela fome, como os tec_eloes de j
dições de trabalho e habitação simplesmente não tinham mantido o rit-
teares manuais, ou levado a outra parte, é outra questão, por si mesma
mo com o aumento da demanda de cutelaria.
relevante quanto ao problema das condições sociais no começo do capi-
talismo; mas a questão é que os tecelões de teares manuais e outro_s que Até este ponto o argumento sobre as más condições (corretamente
foram levados à fome não eram simplesmente "sobreviventes da idade • observadas) dos trabalhadores domésticos é um argumento contra a opi-
nião jovial da primeira metade do século dezenove; e não, como achmn
média", mas uma classe multiplicada, e em grande parte cnada como
parte da industrialização ca1Jitalista em, su~s.fases tnic1a1.~ e~a~a~ente seus proponentes, a favor dela. O fato de, em meio a toda esta depressão,
como os operários das fábricas. Os exercitas de costureiras cosendo as fábricas serem geralmente bastante menos horríveis do que as casas,
camisas de algodão em seus sótãos por 2s. 6d. ou 3s. 6d. por s~mana per- sótãos ou oficinas de porão, é verdadeiro, mas tão despropositado como
tencem tanto à história do crescimento da indústria do algodao como as o conselho do magistrado de coração mole (que os Drs. Chaloner e Hen-
fiandeiras à máquina nas fábricas ou, quanto a is~o, os escravos negros derson citam contra Engels) à costureira que estava diante dele. Ele disse
que aumentavam aos saltos a produção de algodao v!fgem nos estado~ à moça para arranjar mn emprego numa oficina, em vez de trabalhar para
do sul da América em resposta à insaciável demanda do Lancas~lf~. E intermediários exploradores. Mas (deixando de lado o fato de que um ate-
tão pouco realista deixar fora do quadro os trabalhadores que uao_ tos: lier de costura na década de 1840 estava, como mostra Engels, longe de
sem das fábricas no começo do período industnal, como sena limitar a ser um mar de rosas) a essência do ofício de costureira nessa época era de
discussão dos efeitos sociais da introdução da máquina de escrever nos uma profissão com poucas fábricas. Sem dúvida se o magistrado fosse
salários e classificação dos trabalhadores das fábricas que as produzem profeta, pode1ia ter dito à moça que dentro de um século tudo seria muito
e projetmn em massa, e deixar de fora os datilógra:os.. . . . • diferente, e as moças como ela ganharimn a vida como assistentes de loja,
· Agora, quaisquer que teuham sido as cond1çoes_ soc~ms da mdu~­ operárias de fábricas, garçonetes ou nos escritórios. Mas isso a teria ani-
tria doméstica e do trabalho fora antes da mdustr~ahzaçao, elas est~­ mado, ou a nós, quando observmnos a cena miserável daquela época?
vam quase destinadas a ficar piores durante ela. (E por 1sso ~ue a pra- Contudo, o argumento sobre a superioridade do trabalho em
tica de documentar as más condições dos trabalhadores domest1cos do fábrica sobre o trabalho doméstico não está só no fato de ele ser real-
século dezoito pelos relatórios da década de 1840- como fazem os mente melhor, mas que ele tinha que ser melhor. E isto expõe de manei-
Drs. Chaloner e Henderson (p. xiv)-é tão ridícula. I_'.lcidentalmente, ra extremamente viva aqueles que fizeram isso. Considere este extra-
eles acusam Engels amargamente por não usar a ev1denc1a contempo- to de um velho livro de história: *
rânea). Como G.D.H. Cole disse certa vez: . Embora os sentimentalistas ficassem chocados pela dissolução
"Doze casas em más condições sanitárias na encosta de uma col ~­ da vida de família, apesar disso o Comissário (investigando as condi-
na podem constituir uma aldeia pitoresca, mas mil e duzentas constJ- ções dos tecelões de teares manuais) considerou que "a felicidade
h ,,
tuem um sério incômodo, e doze mil uma praga e um orror. . doméstica não é promovida mas prejudicada por todos os membros da
Mas é precisamente isto o que estava acontecendo neste penado: família se misturando e se acotovelando uns aos outros constantemen-
as aldeias estavam se transformando em cidades, enquanto as melho- te no mesmo quarto",** Na opinião do Comissário o homem melho-
rias das condições sanitárias e d e habitação, se ultrapassava de alguma
forma 0 nível da aldeia, não mantinha o ritmo com o seu crescimento.
Daí, a propósito, o advento de novas doenças epid~micas após _1830, *Industrial and Commercia! Revolutions, de L. Knowles, p. 86 (ed. 1933).
**A .~oluç~io de dar-lhes vários quartos não ocorreu ao Comissário, parece.
tal como 0 cólera. O mesmo é verdadeiro em relaçao as cond1çoes de

145
144
rava moralmente trabalhando em horários regulares, o que se dizia cri-
ar hábitos regulares. m,e: '.'É
o resultado natural, Sr. McQuedy, desse sistema de habilidade
Agora, como o próprio Engels acentua, os trabalhadores desse naut1ca do estado, que a sua ciência (de economia política burguesa)
período sem dúvida eram muitas vezes ignorantes, brutalizados e de_f~~de. ,Rac1~nm a alimentação da tripulação e dobrar as rações dos
of1c1a1s, e a maneira certa de provocar um motim a bordo de um n .
imprevidentes, e não admira. Teria sido romântico dizer que eles em apuros Sr M Q d ,, E. . av10
deviam estar certos, porque- como sabemos - eles não gostava1n de ·, '. e. ue y. iaass1mquealnglaterrapareciaaosolhos
entrar nas fábricas a menos que compelidos a isso, ou que suas idéias dos membros mtehgentes das classes dominantes no período que está
agora recebendo
b uma falsa aparência ineficazmente · A descr· . •
. 1çaoecor-
de felicidade doméstica eram ideais. Ao mesmo tempo os observado-
res da classe média que dizia1n coisas co1no estas, e os historiadores reta, em_ ornpossamos discordm da análise. Nada que a escola jovial
que os repetiam, evidentemente não tinham nenhuma idéia do que o t~nha feüo a mvalidou. Mas uo caso de sermos tentados por estas cita-
capitalismo industrial fez realmente com os sentimentos das pessoas çoes das fontes da classe donunante a ter idéias erradas sobre aqueles
bem como com seus corpos. Ouso afirmar que o Comissário acredita-
que as !1zeram, simplesmente vale a pena citar a continuacão do diálo-
go: "Nao temos tempo de discutir causas e efeitos agora',, d" D
va honestamente que as famílias seriam mais felizes se os homens, F 11' t "V . ', 1sse o r.
mulheres e crianças fossem separados, cada um trabalhando numa ~, 10 . ~inos nos hvrar do inimigo." E os membros reunidos da
fábrica do começo do século dezenove em vez de em casa. Ouso afir- ~lasse d'.'mmante fargaram suas análises, ergueram os braços e saíram
mar que os reformadores da Lei dos Pobres acreditavam honestamen- as _pressas do Chammml Hall para espalhar os trabalhadores miserá-
veis dentro da noite.
te que os pobres melhoravam moralmente pela separação dos maridos
das mulheres nos asilos de pobres; por tudo que sei eles devem ter pen-
sado que isso melhorava tarubém a felicidade doméstica. No que diz (1958)
respeito às vítimas destas opiniões, os resultados eram tão maus co1no
-talvez piores do que- se eles tivessem sido alcançados por cruel-
dade deliberada: a degradação desumana, impessoal e insensível do
espírito dos bomens e mulheres e a destruição de sua dignidade. Talvez
isto fosse historicamente inevitável e até necessário. Mas a vítima
sofria- o sofrimeuto não é privilégio das pessoas bem informadas. E
qualquer historiador que não possa apreciar isto não merece ser lido.
Vamos resumir. No romance Crotchet Castle de Thomas Pea-
cock (publicado em 1831) há um momento em que as discussões dos
personagens da classe superior reunidos no Chainmail Hall são inter-
rompidos por uma multidão na porta: "O Capitão Swing" chegou, e os
trabalhadores rurais miseráveis se revoltaram. O Rev. Dr. Folliot, um
Tory inteligente, diz que aqui está a prova da "marcha da mente" - o
progresso do qual os capitalistas estão sempre se gabando: a guerra
camponesa. O Sr. MacQuedy, o economista escocês, que representa a
pura ideologia do capitalismo, diz que isto é impossível. Como pode a
guerra camponesa e a "marcha da mente" serem reunidas? O Sr. Chain-
mail, reacionário romântico, diz que a causa é a mesma tanto na idade
média como atualmente: "pobreza no desespero". E o Dr. Folliot resu-

146
147
7

O DEBATE DO PADRÃO DE VIDA:


UM PÓS-ESCRITO

OS DOIS ENSAIOS PRECEDENTES foram, em sua forma ori-


ginal, um ataque àqueles que acreditaram que a Revolução Industrial
havia levado a uma melhora substancial do padrão de vida do povo
inglês. Durante os anos em que comparativamente pouco pensamento
histórico sobre as revoluções industriais teve lugar, esta opinião se
estabeleceu por si mesma generalizadamente e no meio da década de
1850 havia se transformado em algo como uma ortodoxia acadêmica.
Embora o Capítulo 5 não seja de maneira alguma o único a criticar os
"otimistas", ele foi provavelmente a afirmação mais elaborada do caso
contra eles e foi portanto não só largamente mencionado na discussão
muito animada sobre o assunto que desde então se desenvolveu,' como
também - e talvez naturalmente- considerado como uma tentativa
de alegar que o padrão de vida havia se deteriorado neste período.Uma
vez que a controvérsia obscurece a visão, pode valer a pena repetir o
que está, espero, expresso com suficiente clareza em todos os meus tra-
balhos, ou seja, de que niio é isso que me proponho a provar.
O objetivo do trabalho era demolir a opinião "otimista" de que
uma melhora substancial das rendas reais da maioria dos ingleses que
trabalhavam no primeiro período da industrialização pode ser estatisti-
camente demonstrada. Isto não significa que a opinião oposta, "de .que
houve uma deterioração substancial ou qualquer outra" nas rendas reais

149
tenha sido estabelecida, ou possa ser estabelecida sobre as evidências plesmente com base em cálculos globais dos movimentos da renda
disponíveis atuahncnte. Meu argumento reduzia-se "à afirmação de nacional, em estatísticas pouco representativas (p. ex., aquelas que dão
que nenhuma certeza neste campo é possível até agora, mas que a hipó- as rendas ~u o consumo das classes ricas sem problemas financeiros,
tese de um aumento marcante ou substancial do padrão de vida da maio- ou de localidades ou ocupações individuais), e menos ainda em funda-
ria dos ingleses entre o começo da década de 1790 e o começo da de mentos a priori da teoria. É por isto que a hipótese deve ceder ao fato
1840 é, no ponto em que estão as coisas, extremamente improvável"'. se os ~ois ~stiverem em conflito e o fato estiver certo, e também por~
Mesmo os dados do consumo que, juntamente com a discussão do que nao ira nenhuma hipótese a priori que nos permita alegar com
desemprego, constituem a principal contribuição do documento para a qual~uer grau de convicção que nas fases iniciais da industrialização 0
discussão, não são apresentados como conclusivos, mas sin1plesrnente padrao de vida dos trabalhadores pobres deva subir ou cair a uma cer-
corno evidências que não podem ser desprezadas levianamente, mas ta taxa, ou de qualquer maneira se alterar. Sob fundamentos teóricos
que até agora tinham sido desprezadas irrefletidamente. um aumento substancial do padrão de vida neste período histórico é
Este caso negativo é agora geralmente bastante aceito, embora o provavelmente a hipótese menos provável, mas nem um aumento
debate continue entre aqueles que sustentam que no todo houve algu- modesto nem um declínio modesto estão excluídos.
ma melhora das rendas reais, aqueles que ainda acham que há um caso As discussões até agora não têm sido, portanto, inconclusivas.
para alguma deterioração, e os agnósticos, que incluem aqueles que Elas têm eliminado, por enquanto, a hipótese de um aumento substan-
sugerem que "a natureza inconclusiva do debate atual... talvez seja crnl das rendas reais médias, embora deixando em aberto a escolha
uma garantia para supor que uma melhora substancial, geral e demons- entre outras. Elas eliminaram assim, pelo menos cm suas versões mais
trável dos salários reais dos trabalhadores industriais não ocorreu simples, o argumento por meio do qual os estudiosos otimistas tenta-
senão nas décadas de 1850 e 1860"). Contudo, este é um debate bastan- ram evitar a interpretação tradicional e predominantemente sombria
te marginal. Seus limites são agora muito estreitos, e para a maioria de dos efeitos sociais da Revolução Industrial e as evidências e argumen-
nós não importa grandemente se se verificar que houve um pequeno tos sobre os quais ela se baseou. Elas mais uma vez atribuíram ares-
aumento.Um pequeno declínio ou absolutamente nenhuma mudança ponsabilidade de invalidar esta opinião tradicional aos otimistas. No
nas rendas reais da maioria dos trabalhadores. Para muitos fins a afir- entanto, isto foi akançado a custa de limitar o debate em grande parte
mação de que as rendas reais não mudaram muito, em média, de uma ao terreno escolhido originalmente pelos "otimistas", ou seja, aos cál-
maneira ou de outra, durante o período em discussão, provavelmente culos qnant1tal!vos de coisas tais como as rendas reais. E ao fazerem
bastará. isso correra1n o :isco .de nos desviar do problema histórico real que os
Contudo, seria melhor ser claro quanto ao tipo de evidência-que observadores ongma1s da Revolução Industrial e os historiadores clás-
poderia nos dar uma resposta conclusiva, se ela estivesse disponível. sicos viram, mas os "otimistas" deixaram de ver. Os efeitos da Re-
Se tivéssemos números para o consumo de carne para uma amostra volução Industrial sobre os trabalhadores pobres são tanto econômicos
representativa da população, e não simplesmente para Londres, eles (no sentido estreitamente quantitativo e material) como sociais. Os
iriam longe no sentido de resolver a questão. Se pudéssemos imaginar dois não podem ser isolados uns dos outros. E agora que a tentativa de
um índice de desemprego (ou de emprego em parte do tempo) que provar que os benefícios econômicos foram tão grandes que não havia
pudesse ser usado para deflacionar os cálculos dos salários reais, isso realmente ne~hum motivo de descontentamento foi rejeitada, é tempo
também ajudaria muito para resolver a questão, a menos que fosse de voltarmos a perspectiva mais ampla e mais sensível dos historiado-
positivamente contraditado pelos dados do consumo. E se pudéssemos res pré-Claphamistas.
descobrir algum modo de estabelecer a estrutura social e da renda da O caso deles foi reformulado em termos modernos como se
população trabalhadora inglesa com algum grau de precisão, isso aju- segue: A Revolução Industrial foi uma coisa má para os trabalhadores
daria um bocado. Inversamente, a questão não pode ser resolvida sim- pobres - pelo menos durante várias décadas - porque produziu

ISO 151
"pressão sobre o consu1no e os padrões de vida materiais da massa da eco_nómica da Inglaterra no século dez . .
população numa ocasião em que esta foi forçada a se adaptar a mudan- Felizmente da mesma i· mto sem realmente mencioná-la
' orma como , · ·
ças sociais importantes"'. (Vale a pena repetir que isto não implica' entrou após algumas décadas de , \"de a propna Revolução industrial
uma tendência absoluta dos padrões se deteriorarem, embora muitos , . so 1 aonocentrodad1sct. - h' , .
e econom1ca, assim tamb ~ , , . · 1ssao 1stor1ca
tradicionalistas provavelmente acreditassem que isso aconteceu até a - . emosaspectos,soc10lógi da d . ,
estao mars uma vez atraindo t - . 9 cos tn ustr1a11zacão
. a ençao sér 1a D ,. ~
década de 1840). conduzrr o debate dos se . ' . . . . oravante sera impossível
O debate até agora se concentrou quase inteiramente na primeira · us e1e1tos sociais e eco " . .
como um argumento sobre as d ., nom1cos srmplesmente
metade desta afirmação, e obviamente tinha que se concentrar. Se os , . ren as reais.
Uma volta à tradicão deve revela ,.
otimistas estavam certos, e os pobres, embora subjetivamente perturba- opinião pessimista. Atu~lmente e\· - 'r ~ais uma vez o peso total da
dos e infelizes, simplesmente chorassem durante todo o caminho para te em termos de salá . . a nao po e ser estabelecida puramen-
c rios reais, e talvez a ev'd"' ·,
seus jantares de domingo cada vez mais fartos, então a análise dos efei- qualquer certeza embora a q ·t- - 1 encra nunca nos permita
tos sociais da industrialização exigiu evidentemente muita revisão. ' ues ao nao esteja d
podemosdizeréque"otrabalh d ' 'd. , , encerra a. Tudo que
Além do mais, grande parte da história inglesa do começo do século , 1d a or me 10 permane . .
nive a subsistência nu111a oc ·- ceu muito perto do
dezenove tornou-se extremamente difícil de compreender, notadamen- . asiao em que est
era do aumento da str .· . ava cercado pela evidên-
a 11queza nacwnal d
te o descontentamento popular desesperado, generalizado e iniguala- mente produto do seu próprio trabalh 'gran e parte dela transparente-
velmente profundo do período. Mas a segunda metade do caso clássico te transparentes para as me . d ' oepassagem,pormeiosigualmen-
foi sempre de importância igual ou mesmo maior. O trabalho pioneiro , . aos os seus patrõ "10 I
pode ser estabelecido em termos não-~a . es . sso provavelmente
de Engels de 1844, por exemplo, provavelmente presta mais atenção à quer um capaz de apreciar a profundidad~enars, pelo menos para qual-
sociologia da industrialização do que aos padrões de vida materiais, e das pessoas comuns como total do transtorno nas vidas
certamente presta mais atenção a estes do que aos movimentos reais dos '' os pensadores do St J
T.L. Peacock não foram , . , eam ntellect Society de
salários verdadeiros'. J.L. e B. Hammond, os expoentes clássicos do Quando a pressão eco1 " . , e seus sucessores m d .. _
. o ernos ainda nao são.
"pessimismo", aplicaram uma tensão igual aos fatores sociológicos 6• 1om1ca que mantinha o. . dr- -
logo acima do nível num p , d J s pa oes nao mais do que
isto é realista. Mesmo se não levarmos em conta o elemento da ' er10 o e e expansão , " · ·
combinada com os efe .t d econo1n1ca impetuosa é
exploração deliberada, a dureza de coração dos ricos em relação aos . I os o transtorno social . " . . ,
torna muito difícil de resp•)n•le O ; . , o caso pess1m1sta" se
pobres, o fracasso do liberalismo económico de dar quaisquer respostas , ' ' r. que e mais 1 ,d
os fatos da história inalesa N . , e e esta e acordo com
às suas necessidades sociais, e outras características da industrialização b , · uma mterpretaçã . b .
lamento popular do come d , o som na, o descontcn-
capitalista no começo do século dezenove, constitui um lugar co1num . ço o seculo deze f .
mterpretaçãootimistaelee'q . . nove az sentido; numa
sociológico que "é típico, especialmente do primeiro impacto dos novos uase mexphcável N
que no saldo as condições d . o entanto, a opinião de
padrões econômicos, deles ameaçarem ou romperem as relações sociais , as pessoas comuns t .
as decadas de 1790 e 1840 e . . .. se ornaram piores entre
prévias, euquanto não fornecem imediatamente novos artifícios de segu- . naos1gmhcaum· · ·- .
mrstados períodos precedentes e subse .. a op1mao iguahnente pessi-
rauça em seu lugar"'. Além do mais, é uma questão de observação o fato
amda uma opiniãopredetcrminad· bguentes e;n suahrstona, e menos
de que a Revolução Industrial produziu um "deslocamento catastrófico .d d aso re as tendencras a l
sent I o a pauperização absoluta. , ongo prazo no
nas vidas das pessoas comuns" 8 • Talvez seja significativo o fato de a opi-
nião "otimista" tender só a maxi1nizar os ganhos materiais dos pobres,
como também minimizar o impacto da Revolução Industrial. Tanto
Clapham como Ashtom acentuaram a natureza gradual e contínua da NOTAS
mudança econômica, e Ashtom, que suspeitava francameute da própria
l.Asprincipaisc 011 t··b · - ·
expressão "revolução industrial", conseguiu escrever toda uma história . . . II u1çoes1nglesasacstad· , .- ~ .
Cap1tahsmo e os Historiadores" de D Wo . . iscussao tem sido até agora: "O
. odruff, (Journ. Econ. Hist. XVI, 1956, p. 1);
152
153
The I-!ungry Forties de W.H. Chaloner (Associação Histórica, Séries de Auxílio aos
Professores, I~ 1957)~ "Thc British Standard ofLiving 1790-1850" de, E.J. Hobsbawn,
(Econ. Hisl. Rev. X; p. 1, 1957); Condition ofthe ivorking Class in England, edição de
F. Engels, de W.H. Chaloncr e W.O. Henderson (Londres 1958); "Investrnent, Con-
su1nption and the Industrial Revolution" de S. Pollard ( Econ. Iíist. Rev. XI; p. 2, 1958);
"Interpretations ofthc Industrial Rcvolution in England" de R. M. Hartwell (Journ.
Econ. Hist., XIX; 1959); "Prog:ress and Povcrty in Britain 1780-1850" deA.J. Taylor 8
(History XLV, fev. 1960); "The Rising Standard of Living in England 1800-50" de
R.M. Harwell ( Econ. Hist. Rev. XIII; p. 3, 1961 ); EnAnglaterre: Revolution industriel-
le et vie matérielle des classes populaires, de E.J. Hobsbawn (Annales XVII, p. 6, FLUTUAÇÕES ECONÔMICAS
1962); "The Standard of Living during the Industrial Revolution: A Discussion" de E ALGUNS MOVIMENTOS
E.J. Hobsbawn eR.M. Hartwell (Econ. Hist. Rev. XVI, p. 1, 1963); The Making ofthe
b"nglish Working-Class de E.P. Tho1npson (Londres 1963); pt. II. A questão foi discu- SOCIAIS DESDE 1800
tida incidentalmente num certo nú1nero de outras ohras.
2. Hobsbawn eHartwell, op. cit., pp. 120, 123.
Desde a publicação original deste livro o debate continuou. Pode ser feita men-
ção dos artigos de J.E. Willia1ns e R.S. Neale na E·con. Hist. Rev. XIV, 3, 1966. Un1
aspecto da questão foi significativamente adiantado; o estudo da dieta (ver Plenty and
Want de J. Burnett, 1966; Our Changing Fare de T.C. Barker, J.C. r..1ackensie e J. Yud-
kin ed., 1966)
3. A1nerican and British Techno!ogy in lhe Nineteenth Century de HJ. Hah-
ESTE CAPITULO* TRATA das expansões periódicas e súbitas
bakuk (Cambridge 1962); pp. 138-9.
em tamanho, força e atividade dos movimentos sociais, principalmen-
4. Pollard, op. cit.
5. Despreza-se muitas veLes o fato de Engels não acreditar que a revolução pro-
te na Europa do século dezenove e começo do vinte.** O período é,
letária in·ompessc na Inglaterra devido a tuna tendência à pauperização absoluta, mas grosseiramente falando, aquele em que as flutuações econômicas de
devido a u1na tendência a longo prazo no sentido da polarização social, e aos colapsos uma econornia industrial e capitalistas são de importância decisiva; a
periódicos e desastrosos. O desemprego periódico intolerável seria, se há algun1a dit'e- área única na qual as estruturas da sociedade em geral, e o mercado de
rença, o estúnulo (edição de Chaloner & Henderson, p. 334 ). Suas opiniões sobre salá- trabalho em particular, são razoavelmente semelhantes. Por este moti-
rios eran1 marcadas pela cautela. Ele supunha que os salários "n1édios" deviam estar vo países tais como aAustralásia e os Estados Unidos foram omitidos.
aciina do "mínüno" - o que por si 1nesmo pern1itiria "a u1na família em que houves- O artigo tratará principahnente das questões de por que esses movi-
se u1n certo número de assalrn:iados (ser) razoavehncnte abonada"; e podia estar con- mentos são "inconstantes" e descontínuos, por que eles ocorrem quan-
sideraveln1entc aciina dele, se "o nível de cultura dos trabalhadores" tornas~e ilnpos- do ocorrem; e, em menor grau, com os problemas da coordenação
sível baixar o nível de salário; p. ex., "se os trabalhadores estivessem acostun1ados a
internacional. Já que a medida contínua, embora grosseira, é quase
cotner carne várias vezes por semana" (pp. 90-2).
impossível exceto para fenô1nenos tais co1no greves e inovimentos
6. P. ex., The BleakAge (Ed. Penguin), p. 15.
sindicais, estes serão considerados principalmente. Da mesma for1na,
7. Jndustrialization and Lahorde Wilbert E. Moore (Ithaca 1951 ), p. 21.
8. Origins of(JurTim,e de Karl Polanyi (Londres 1945), p. 41.
já que o material, pobre como é, é muito melhor para a Inglaterra-de
9. Cf. Social Change in lhe Jndustrial-Revo!ution de Neil Smclser (Londres
1959 e The Making ofthe English Working-Class de E.P. Thompson (Londres 1963).
Baseado nurn docu1nento lido na assembléia anual da Sociedade de História Econômi-
1O. E.P. Thompson, op. cit. p. 318. ca em abril de 1951 .
.,.,,, E1n henefício da hrevidadc chainarei este fenômeno de "explosões'' ou "saf!os".

154 155
qualquer maneira antes da década de 1890-do que para os outros paí- "explosão" do começo da década de 1830 na Inglaterra viu antigas
ses, são usados principalmente os dados ingleses. Mesmo assim, gran- sociedades de ofícios locais adotarem técnicas completamente novas
de parte da discussão deve permanecer especulativa. de coordenação nacional, e a fusão de idéias cooperativo-socialistas e
As mais dramáticas das súbitas expansões dos movimentos sindicalistas. A da década de 1870 presenciou a extensão do sindicalis-
sociais são as grandes revoluções sociais de 1789-1917; mas o padrão mo à agricultura, o começo da conquista trabalhista de áreas anterior-
de descontinuidade é bastante geral mesmo em épocas menos pertur- mente mais fracas, como a costa nordeste de Gales do Sul, e as primei-
badas e em campos mais estreitos. O gráfico do número de membros ras experiências sérias de representação trabalhista independente. Ade
de virtualmente todos os movimentos sindicais, por exemplo, parece 1889-90 presenciou não simplesmente extensões regionais e a conquis-
uma série de degraus inclinados, ou de largos vales interrompidos por ta de novas indústrias e tipos de trabalho, como mudanças das técnicas
picos agudos, ou uma combinação de ambos; muito raramente ele é das sociedades dos antigos ofícios, e o impacto das idéias socialistas nas
uma simples inclinação ascendente. Na Inglaterra os "saltos" sobre os táticas práticas do movimento. Se nos limitarmos principalmente a
quais estamos mais bem informados são aqueles de 1871-3, 1889-91 e estudar as variações quantitativas, é simplesmente por conveniência,
1911-13. Cada um mais ou menos dobrou a força básica do movimen- porque estas parecem fornecer um índice razoavelmeute útil das varia-
to sindical, embora mesmo os picos mais altos fossem temporariamen- ções qualitativas mais complexas.
te alcançados durante os períodos explosivos'. Sabemos muito pouco Os "saltos" atraíram notavelmente pouca atenção entre os estu-
paramediro tamanho das explosões iniciais-p. ex., aquelas de 1833- dantes. Os estudiosos realizaram recentemente algum trabalho sobre o
5, 1838-42, e outras, 2 ou aquela da maioria dos países continentais período antes de 1859,' algumas vezes, sem observar claramente que
antes da década de 1890. Depois dessas seu tamanho varia. Os sindi- as explicações que oferecem não se aplicam aos períodos subseqüen-
catos noruegueses aumentaram cerca de duas vezes e meia em 1904-6, tes. Há também uma literatura razoavelmente ampla sobre a correla-
os austríacos cerca de três vezes, os húngaros pouco menos do que ção dos movimentos trabalhistas com o cicio comercial, mostrando
dobraram; os suecos pouco mais do que dobraram em 1905-7 e assim que o tamanho e a atividade dos movimentos aumentam em épocas
por diante. As "explosões" mais bem conhecidas, que por acaso estão favoráveis às negociações, e declinam em outras 5 . Estas, também, ne1n
também entre as mais recentes, na França e nos EU A em 1936-7, mos- sempre estão conscientes de que suas conclusões não são universal-
tram algo como uma quadruplicação e uma duplicação respectivamen- mente, ou simplesmente, aplicáveis. Com raras exceções'' deixam de
te dentro do auo. Algumas vezes a descontinuidade é considerada não se atracar com o problema, porque o tamanho dos "saltos" não tem
num aumento absoluto em números, mas numa mudança súbita de nenhuma relação aparente com o tamanho da oscilação cíclica para
direção na curva do número de membros, p. ex., na Alemanha após cima e para baixo no qual ele ocorre, de qualquer maneira após 1850.
1899'. As variações súbitas e vivas no total da atividade trabalhista, p. Os anos de 1868-73 foram admitidamente desproporcionados em sur-
ex., greves - em contraposição do número de membros das organiza- tos econômicos, mas dificilmente se afirmaria que as oscilações para
ções são, naturalmente, tão bem conhecidas a ponto de não necessita- cima de 1887-90 ou 1909-12 na Inglaterra foram tão maiores do que as
rem de prova. de 1880-2, 1896-1901 ou 1904-7 para explicar a ausência de "explo-
As curvas, naturalmente, não podem revelar toda a verdade. A sões" comparáveis naqueles anos. Alegou-se realmente7 que os gran-
coisa característica sobre as nossas "explosões" é que elas marcain des "saltos" ocorrem após colapsos excepcionalmente severos, que
mudanças qualitativas bem como quantitativas. Elas são, na verdade, marcam os trabalhos com o valor da organização. Contudo, embora
geralmente expansões do movimento dentro de novas indústrias, isto possa ser um fator contribuinte na Inglaterra em 1889 como nos
novas regiões, novas classes de população; elas coincidem com o EUA em 1933-7, obviamente não se aplica à virada da década de 1860,
amontoamento de novas organizações, e a adoção de novas idéias e uma época de "saltos" quase universais por toda a Europa; para muitas
políticas tanto pelas unidades novas como pelas existentes. Assim, a das expansões continentais dos movimentos sociais de 1899-1908 ou

156 157
para a Inglaterra em 1911-13. Não existe, portanto, nenhuma explica- subempreiteiros, ou outras formas de pequenos produtores de utilida-
ção adequada do feuômeno - de qualquer maneira após 1850. Tudo des a caminho de se juntarem à classe trabalhadora; com o grande cor-
que sabemos é que eles estão relacionados de alguma forma com flu- po de mão-de-obra casual, flutuante e irregular; ou com o trabalho
tuações cíclicas a curto prazo, e provavelmente também com os longos semi-agrícola. Assim, para o bomem casual do século dezenove, uma
períodos de mudança econômica com os quais muitos estudantes ope- depressão poderia significar não uma fronteira absoluta entre o traba-
ram agora: as expansões econômicas do período até 1815, desde a lho e a ociosidade, mas simplesmente um aumento da extensão dos
década de 1840 até o começo da de 1870, e do fim da década de 1890 períodos sempre presentes entre trabalhos, um encurtamento dos
até a Primeira Guerra Mundial, e os períodos de dificuldade e crise que períodos de trabalho, uma diferença mais de grau do que de espécie.
alternam com eles. Para o produtor independente ou o que trabalha fora, isso pode não sig-
nificar absolutamente desemprego, mas simplesmente trabalho mais
duro em horários maiores a fim de equilibrar o orçamento mais ade-
li quadamente. Além do mais, não podemos sequer presumir que o esta-
do geral do mercado de trabalho fosse quase o mesmo entre aqueles
Nossa primeira tarefa deve ser ver que luz as mudanças no meio para quem os índices dos sindicatos não se aplicassem como entre
de vida e condições de trabalho das classes trabalhadoras lança sobre aqueles para quem eles se aplicassem. No mínimo devemos presumir
o problema. Os índices mais usuais utilizados pelos estatísticos, os dos um volume muito maior de desemprego constante, embora oculto, do
salários, custo de vida e desemprego, são extremamente defeituosos; que os índices mostram 1º. O seu uso é assim perigoso, embora se torne
primeiro, devido a nossa ignorância abismal da maneira pela qual menos arriscado à medida que mais trabalhadores venham a se adap-
várias classes da população ganham sua vida e como as flutuações eco- tar num modelo padrão de assalariados em tempo integral, embora em
nômicas as afetaram; segundo, devido aos obstáculos técnicos dos pró- níveis diferentes de renda e status.
prios índices que, ele qualquer maneira, raramente foram elaborados Finalmente, não possuímos nenhum índice utilizável para certos
para o nosso propósito. O fato de a maioria deles serem médias de com- fatores importantes que afetam o comportamento da classe trabalhado-
ponentes cujo movimento varia grandemente, e poderem mesmo ra-por exemplo, a intensidade e o desconforto do trabalho - e pode-
simultaneamente ire1n em direções diferentes 8 não é, talvez, porque os mos, na melhor hipótese, improvisar algumas séries dispersas e parciais.
grandes "saltos" normalmente afetam amplamente diferentes grupos
ao mesmo tempo. No entanto é importante lembrar que eles muitas
vezes obscurece1n tais distinções vitais como as existentes entre a III
seção dos trabalhadores que viveram normalmente - pelo menos na
Inglaterra sob condições de pleno emprego, e aqueles que viveram nor- Armados com esses instrumentos frágeis, o que podemos desco-
malmente num mercado de trabalho abarrotado'. Um obstáculo mais brir sobre as nossas "explosões"? Muito pouco menos após 1850 do
sério é este. Se um índice de salário ou desemprego é para ser usado, que antes, apesar da abundância crescente do nosso material. Em
deve-se presumir que ele se aplique a uma classe assalariada regular, algum momento na década de 1840 bá um divisor de águas econômi-
11
empregada de uma forma razoavelmente permanente, e suprindo a co, cuja natureza só agora está começando a atrair a atenção .Antes de
maioria de suas necessidades por co1npras a dinheiro num inercado. 1850, e em alguns países atrasados após essa data também, os movi-
Quanto mais remontarmos de 1880-1913, ou quanto mais nos afastar- mentos sociais fora1n grandemente afetados por aumentos catastrófi-
mos de países altamente proletarizados como a Inglaterra ou a Saxo- cos e simultâneos da miséria para a maioria da população trabalhado-
nia, menos representativos eles se tornam. Eles não podem ser aplica- ra, que inesmo a evidência mais superficial revela. As expansões
dos sem o maior cuidado com os trabalhadores domésticos, ocorreram na pior fase dos colapsos ou perto dela. Podemos ter tanta

158 159
certeza disso que o Prof. Rostow pôde elaborar um "índice" legítimo, padrão sazonal da inquietação "pura" do velho tipo: subindo até um
embora um tanto arbitrário" "de tensão social" para 1792-1850 na pre- pico secundário em direção ao rim do ano, após os efeitos imediatos da
sunção de que a pior fase do colapso e um aumento do preço dos ali- colheita terem se abrandado, e em direção a um pico importante nos
mentos (sendo os dois normalmente combinados) indicavam inevita- meses que precedem imediatamente à nova colheita. (Ver Tabela !).
velmente uma inquietação máxima. Os Professores Labrousse e Apesar disso a "explosão" do colapso permanece a regra antes de
Ashton mostram por que isso devia ser assimu. As depressões então 1850, mantida sem dúvida pelas políticas contemporâneas de salário,
co1neçavam principalmente no setor agrário-1nuitas vezes com más pela zona estreita que separava os trabalhadores da miséria, mesmo
colheitas - e afetavam o setor industrial através de falta de matérias- nos bons tempos, pela rigidez do sistema de distribuição de alimentos
primas, mas principalmente através da contração do corpo principal da e fatores semelhantes.
demanda interna, que era rural. Em conseqüência, tendia a ocorrer alto Depois de 1850 as coisas mudaram. O ciclo comercial teve a sua
desemprego em ocasiões de preços de fome*, situação essa que com- vitória geral- 1857 foi talvez a primeira crise de âmbito mundial. O
pelia ao tumulto. Podemos acrescentar que na falta de sindicatos, e das fundo da depressão e o pico do custo de vida não tendiam mais a coin-
políticas de emprego que eram adotadas, se é que eram, só muito mais cidir. Na verdade, o contrário era o verdadeiro: a escassez de 1853-5
tarde, as depressões significaram normalmente cortes de salários drás- foi a primeira que não produziu inquietação importante na maioria dos
ticos para os trabalhadores menos capacitados das fábricas, e quedas países,'" sendo iniciado pelo emprego excepcionalmente pleno desse
muito abruptas nos ganhos para a vasta penumbra de artesãos semi de- surto econô1nico monumental 17 • De qualquer maneira, o desapareci-
pendentes e pessoas que trabalhavam fora". mento das fomes e o nivelamento das flutuações do custo de vida na
Europa Ocidental nas duas gerações subseqüentes, fizeram com que o
velho padrão perdesse um pouco da sua característica.
Tabela 1. Sazanaliáade dos tumultos na Inglaterra e na Gales, 1740-1800" * Nenhum padrão igualmente distinto o substituiu. Em primeiro
lugar, uma ampla variedade de países, cada um numa fase diferente de
Porcentagem das áreas perturbadas onde ocorrcra1n tumultos
desenvolvimento econômico, entravam agora na órbita da economia
Janeiro 8 Maio 33 Sele1nbro 22 capitalista, e em muitos destes o velho ritmo ainda era dominante, e
Fevereiro 5.5 Junho 35.S Outubro 25 permaneceu importante em outros com um nível geral de ganhos
Março li Julho 25 Novembro li
Abril 22 Agosto 14 Dezembro ]
excepcionalmente baixo. Os mineiros Jacquerie belgas ele 1886, as
grandes greves políticas dos anos de depressão de 1893 e 1902 são pelo
menos tão proeminentes na história social desse país como a expansão
sindical da oscilação para cima de 1904-7' 8 • (1902, na verdade, foi um
Esta análise só pode ser aplicada à lnglatena com a ~uma reser- grande ano para greves gerais por toda a Europa)' 8 • Os movimentos ita-
va. O primado do ciclo comercial genuíno aqui está muit< em dúvida lianos apresentam um "padrão de depressão" quase clássico até bem
após 1815 ou talvez mesmo desde a década de 1780, embora a nature- dentro do século vinte; notadamente nos tumultos de âmbito nacional
za "Labroussiana" dos nossos mercados de exportação se1n dúvida o de janeiro a maio de 1898, que foram provocados por um salto à moda
tenham influenciado, e a política do interesse agrícola até 1846 prova- antiga do custo de vida"'. Até a expansão do sindicato principal em
velmente manteve os preços dos alimentos flutuando mais erratica- 1901, pode ter coincidido com um mergulho em vez de uma elevação
mente do que precisavam ter feito. Assim não encontramos o claro da curva econômica," 1 e o velho custo de vida padrão estava ainda
muito vivo cm 1906". Na gênese da Revolução Russa de 1905 os
*'Tendendo os preços locais a flutuarem rápida e <lc\ordenadamentc. períodos de depressão- no meio da década de 1880 e no começo da
*'Os tumullus são registrados cm 36 anos do período. de 1900- são mais imediatamente importantes do que as expansões

160 161
Tabela II. Sazonalidade da inquietação na Inglaterra, 1800-50 *''' deram a reviver em épocas de colapso, quando as formas de atividade
industrial eram desaconselháveis,* da mesma forma como inesmo
Ano Descrição Parte do Ano (::Vlescs
de pico sublinhados)
antes de 1850 as expansões dos sindicatos haviam, algumas vezes sem
atrair mais do que a atenção local, tendido a ocorrer na oscilação para
1802-3 Sindicatos, Luddismo cima dos surtos econômicos, p. ex., em 1792, 1818, 1824-5 e 1844-6. 23
dos tosquiadore~, etc abril a julho
1808 Greve dos tecclãcs do
Apesar de tudo, continua a ser verdade que "saltos" surpreendentes
Lancashire junho tendiam a ocorrer, menos no fundo dos colapsos, e mais nas épocas das
1811-12 Ludditas de Nottinghmn março; novembro oscilações cíclicas para cima, de emprego crescente ou, nu1n caso
1812 Ludditas de Nottinghan1 novembro-dezembro especial de grande importância no século vinte, de guerra.
Ludditas do Lancashire man,:o-abril
Ludditas do Yorkshire fevereiro-junho (Abril) Muito pode ser dito sobre as implicações políticas destas mudan-
J816 Luddismo e trabalhadores ças, que levaram a uma espécie de dispersão da inquietação, tanto entre
rurais maio-junho as diferentes classes de um país, como entre diferentes países. A história
1817 ''Levantes" dos fabricantes
de cobc1tores de Derby e de 1848, por exemplo, bem podia ter sido diferente se o leito mais pro-
Huddcrsfield começo de junho fundo dos países dominados por um ritmo industrial não tivesse ocorri-
1818 Greves no Lancashire julho-agosto do alguns anos previamente- em 1839-4204 ; se o velho e o novo ritmos
1819 Peterloo (!gitação da Reforma) começo do verão-agosto
1826 Luddismo abril-maio
tivessem coincidido mais proximamente sobre todo o Continente. A his-
1830 Levante dos trabalhadores tória inglesa da década de 1880 foi muito afetada pelo fato de os picos do
rurais outubro-novembro movimento irlandês- u1n negócio de pequenos vendedores e rendeiros
1830 *'"*Campanhas das Dez Horas
(Região Norte)
- terem ocorrido nos leitos cíclicos de 1879-81 e 1886-7 e não, como
janeiro-março
1831 "'**Tumultos da Reforma novc1nbro aqueles do Movimento Trabalhista Inglês, na oscilação para cima de
1832 '"**Tumultos da Reforma niaio 1888-91 ". Novamente, o observador não pode deixar de notar o ritmo
1833 ''""* Cmnpanha das De? Horas Janeiro-março estranhamente sincopado dos "saltos" dos sindicatos europeus entre
1834 Sindicatos Consolidados janeiro-abril
Grand National: expansão 1889 e 1914, notadamente o hábito das principais tensões inglesas
1nuíto rápida (março?) (1889-90 e 1911-13) de caírem em ritmos continentais comparativa-
1837 Campanhas da Lei Anli-Pobres janeiro-começo de junho novembro mente 1nenos acentuados**. Fenômenos sc1nelhantes podem ser obser-
1838-9 Cartismo deze1nbro-junho (maio-junho)
Cartis1no: Levante de Newport de?embro
vados nas expansões de âmbito mundial dos sindicatos na segunda meta-
1842 Cartismo: greve geral ago~to de da década de 1930, que foi bastante menos marcada na Inglaterra do
1843 Gales: Tumultos de Rebecca 111aio-junho que na maioria dos outros países, inclusive notadamcnte, em 1nuitas
1948 Cani~n10 abril-junho
colônias e dependências inglesas." Tais mudanças estão refletidas na
evolução das idéias e das táticas daqueles que acreditavam na revolução
do surto econômico da agitação industrial no fim da década de 1890. européia ou mundial, desde as presunções tradicionais dos homens de
Tampouco, naturalmente, o padrão de depressão desapareceu inteira- 1848 até as complexidades da "lei do desenvolvimento desigual" de
mente em países como a Inglaterra, após esta ter perdido o seu prima-
do.Observou-se que as campanhas de isenção, mesmo após 1850, ten-
':'A distinção nítida entre a ação industrial e política é, contudo, artificial, especialmente
no Continente, onde sindicatos pen11anentemente fracos confiavam habitualmente em fazcrcam-
**Esta tabela inclui apenas os episódios principai~, e não é a%Íln estritmnente compará- p(Jnha política.
\, e! com a Tabela I. As fonte<; são nurnerosas demais para arrolar convenientemente. *':'O renascimento trabalhista russo de 1912 e a greve geral belga de 1913 são as princi-
***Afetados pelo horário parlamentar. pais exceções c011Linentais.

162 163
Lenine. Podemos, contudo, acrescentar que a interdependência política Tabela IIL Mudanças dos Padrões da Classe Trabalhadora
crescente dos países, e a força unificadora de coisas tais como as guerras antes das Expansões Sindicais, 1871-2, 1889-90 e 1911-12
têm até certo ponto neutralizado esta "dispersão". Ano Mudanças Pobres por 1.000 "Pobres geralmente
O novo modelo de "explosão" não é assim tão fácil de analisar. de consumo de população fisicamente
Certamente a análise dos índices disponíveis das condições de traba- (a) (b) capazes" por 1.000
lho é mais complicada, embora ajude a resolver o problema da oportu- de população
nidade exata dos "saltos". O mais mensurável destes, na Inglaterra, (e)

ocorre na oscilação para cima dos ciclos comerciais, mas parecem ter !. 1867-72
sido produzidos nos períodos em que importantes grupos de trabalha- 1867 1 45.0 6.9
1868 3 48,0
dores se tornaram menos abonados. 7,7
1869 4 47,7
Os números dos salários reais são muito artificiais e pouco confiá- 7.8
1870 3 48,8 7.9
veis para medir isto. Felizmente temos algumas indicações grosseiras, 1871 4 48.2 7.7
porém mais realistas, de números de consumo para certos artigos de 1872 o 43,0 6,6
consumo geral e os rendimentos dos pobres. Esta evidência não é de li, 1886-9
1886 6 29.9
maneira alguma conclusiva, embora mostre que entre 1867 e 1911, o 3.7
1887 2 29.9 3.7
nosso padrão se adapte às três oscilações para cima nas quais as expan- 1888 4 29,0 3,7
sões tiveram lugar, não se adapte às duas nas quais elas estiveram ausen· 1889 3 27,9 3,5
tes, e pode ou não se adaptar à de 1903-7 na qual não houve nenhuma III. 1908-11
1908 5 25.7
atividade sindical importante, mas- a julgar pela eleição geral de 1906 3.2
1909 1 26.1 3.5
- um "salto" político marcante. A Tabela TU" estabelece a data para as 1910 3 25,9 3,6
três expansões de 1871-2, 1889-90 e 1911-12. Ela mostra que a propor- 1911 j 24.8 (d) 3.5
ção do pauperismo de adultos fisicamente capazes deixou de cair entre
o leito do colapso e o período justamente anterior à "explosão", e pôde
até mostrar uma tendência a subir. Per contra, nos períodos de 1880-a e (a) Esta série expressa o número dos seis artigos seguintes cujo
1893-8 houve um declínio razoavelmente constante, embora não em consumo por cabeça caiu no ano: Chá, Açúcar, Fumo, Cerveja, Passas
1902-7*. Da mesma forma uma tendência mais forte de comprar menos de Groselha e de Uva, Chocolate, Café e Arroz. Fontes, como usados
certos artigos de consumo geral aparece antes das "explosóes", do que em "Some Statistics Relating to Working Class Progress" de G.H.
nas oscilações para cima que não contém nenhuma. Wood; J.R. Stat. Soe. vol. 62 (1889): Para 1900-11 os artigos usados
em "The Course of Real Wages in London 1900-12" de F. Wood,J. R.
Stat. Soe. vai. 77 (1913-14). Já que sua tabela inclui Carne e Farinha
mas exclui Arroz e Café, as séries não são comparáveis. A inclusão d~
outros artigos nas primeiras séries não muda a forma delas.
(b)C.R. sobre a Lei dos Pobres (Pari. Papers, 1909, XXXIX;Ap.
p. 117), Relat. da Com. do Gov. Local (Pari. Papers, 1912-13, XXXV;
*Todo este período. contudo, presencia uma tendência geral de aumento do pauperisn10 p. 152): füta proporção inclui todos os pobres, e assim difere da que
dos fisicamente capazes, que pode ser devida à depressão anonnal em Londres, c1n seu pico de
exclm os msanos e casuais que é dada algumas vezes (Pari. Papers,
1905-6. Daí o pauperis1no dos fisicamente capazes cm 1903-7 não mostra u1n simples malogro
em declinar dos níveis de depressão - na verdade, o colapso dificilmente teve qualquer impac-
1910, LIII; p. 29).
to sobre ele - mas um salto abrupto em 1905-6. (c) Relatórios da Comissão do Governo Local.

164 165
(d) Desde Jºde janeiro de 1911 as pessoas que haviam recebido idéia melhor do que aconteceu com os trabalhadores não organiza-
auxílio para pobres desde Jºde janeiro de 1908 ficaram h:bihtadas as dos". Em 1889 o desemprego nas principais indústrias cíclicas apre-
Pensões para a Velhice; daí decorre o declínio da proporçao, em parte sentou um forte declínio do grande pico de 1886, nivelando-se um
ou no todo (Pari. Papers, J 912-13, XXXV, pp. viii, 105, 117) .. pouco em 1888-9 e subindo um pouco em 1889-90. Os números do
Assim está razoavelmente claro que o dinheiro estava freando desemprego entre os construtores, tipógrafos, marceneiros, mostra-
escasso para a família da classe trabalhadora no fim da décad~ de 1860. vam o atraso esperado em 1887-8, diminuíram mais fortemente em
lsto é apresentado pelas estatísticas dos Od~fellows; _a sarda ~essa 1888-9 e nivelaram em 1889-90. Algumas indústrias, contudo, que
Sociedade subiu constantemente de 1864 ate 1869 e nao começou a sabemos terem sido grandemente afetadas pela "explosão" subse-
· rca1mente ate'- 1871" . O aumento do pauperismo foi bastante. sur-
ca1r qüente, eram heterodoxas. Os fabricantes de botas e calçados tiveram
preendente para causar um aperto marcante d~ aplicação da Ler dos seu pico de desemprego em 1888 e apenas haviam começado o seu
Pobres em 1869 e 1871,'" porque ele for atnbmdo, sem nenhuma e.vi- declínio". Os ferroviários e maquinistas de trem tiveram também picos
dência óbvia, à complacência. O período mais apertado parece ter sido de desemprego atrasados em 1887 e 1888. Em 1911 o aumento do
em 1870. A evidência para 1886-9 é um pouco menos forte, embora emprego é mais uniforme. Até os construtores cujos números de
bastante sugestiva. O declínio dos salários reais nos anos antes de 1911 desemprego tinham sido vagarosos por uma década, estavam saindo
é uma questão de conhecimento comum"'. Sobre o 1rromp1ment,o de da sua depressão, embora houvesse uma dispensa estranha, e bastante
1833-5 dificilmente sabemos alguma coisa,jáque nos faltam os nume- atípica de 5 por cento deles em junho, que pode ser interessante"'.
ros tanto do consumo geral como da lei dos pobres. Seria impmdente Infelizmente, é difícil comparar a experiência deste com a dos
concluir muita coisa nos poucos números que possuímos. Embora os outros países. Os dados são mais escassosn e em virtude do estado
preços do trigo por atacado estivesse1n cai~do, sa~e1~1os~que os ,preços 1nenos industrializado das outras áreas, menos representativos das
a varejo não djminuíam em proporção, se e que d1m1nu1am. Os resul- classes que participam dos movimentos trabalhistas. Da forma como
tados de uma investigação sobre as suas mudanças desde 1814 pela são) eles se adaptam razoavelmente ben1. Assitn, os números do con-
Convenção Carlista de 1839" podem ser resumidos nas palavras de um sumo e a evidência geral sugerem um aumento te1nporário das dificul-
dos questionários: "Enquanto os salários estavam camdo constante- dades trabalhistas no fim da década de 1880 e no começo da de 1870,
mente as provisões não estavam. Minha memória pode me servir para de qualquer maneira na Prússia". Para a Saxônia, temos a mesma
1830. A diferença, se é que bá alguma, é insignificante de qu~lquer dos impressão para o fim das décadas de 1880 e 1890 por alguns números
1ad os.· ""o quadro "geral é assim, os salários se arrastando atras dos
r .pre-
d
de consumo de carne por cabeça;" para toda a Alemanha e para'" algu-
ços nas fases iniciais destes surtos econômicos, enqua~to o dec 1~n1~J o mas cidades bastante separadas o mesmo parece se aplicar em 1904-6."
desemprego e a expansão das horas-extras ou outras formas elast1cas Que valor devemos atribuir a estes e outros índices isolados e insidio-
de ganhar ainda não haviam dado início ao aumento.. . sos é outra queslão. Talvez valha a pena notar que os primeiros passos
A si luação do desemprego é mais complexa. D1ficilmcnte sabe- da organização do trabalho em países da Ásia são largamente atribuí-
mos alguma coisa sobre o início da década de. 1830, excet,o que ~
3 dos ao atraso dos salários atrás dos preços nos surtos econômicos anor-
mais do tempo de guerra, que podem ser considerados como um exem-
desemprego entre os fundidores de ferro favorecidos subm ate 1·8.33 ·.
Apesar disso, de uma maneira geral ele deve ter declmado do prco de plo extremo do que temos estado descrevendo". Há espaço para muito
1832, embora isto possa não ter afetado os homen:s atmgrdos pelas mais pesquisas neste campo difícil.
mudanças tecnológicas. Em 1871 o desemprego vmha. melhorando Nem é possível sem pesquisas e cálculos laboriosos e provavel-
por dois anos ou coisa parecida nas indúst~ias .metalúrgicas, e estava mente vãos, fazer quaisquer estimativas gerais das mudanças anuais
apenas começando a melhorar na construçao, tipografia e outras ocu- em intensidade e desconforto do trabalho cm qualquer país europeu do
pações menos cíclicas e mais apáticas, o que podia, contudo, dar uma nosso período. Que estes têm uma ligação importante com as "expio-

166 167
sões" é altamente provável. Há alguma evidência geral quanto a este (A última expansão, 1900-2, teve lugar numa época de rápida
assunto 4--1 e é interessante que os períodos de "explosão" estão normal- mecanização e queda de produção por cabeça, e não se adapta). Uma
mente entre os poucos nos quais as exigências de horários mais curtos correlação semelhante emerge se compararmos os efeitos da expansão
que, neste período, podem geralmente ser considerados por seu valor sindical de 1889-91 em diferentes companhias ferroviárias inglesas.
nominal,* desempenham uma parte importante nas lutas trabalhistas: Se tomarmos a taxa de ferimentos não-fatais dos ferroviários como um
as Comissões de Horários Curtos do começo da década de 1830, a guia grosseiro das mudanças de intensidade do trabalho, veremos que
Campanha das Nove Horas de 1871-2, aCampanba das Oito Horas do ela sobe vivamente em três campainhas importantes entre l 886e 1891,
fim da década de 1880 e começo da de 1890 ocorrem à mente neste e cai, algumas vezes abruptamente, em três outras". A Tabela V com-
país. Podemos também medir a importância deste fator comparando o para a sorte do principal sindicato de ferroviários uas companhias inte-
comportamento dos grupos cujo trabalho foi intensificado com aque- ressadas:4b
les em que não foi. Assim os números excelentes de Simiand mostram
cinco períodos principais de atividade trabalhista em dois campos de
carvão do norte da França entre 1850 e 1920. A Tabela IV mostra que 1àbela V. Expansão do Número de Membros e
Filiais da Sociedade Amalgamada de Estradas de Ferro em
os campos nos quais a intensificação do trabalho teve lugar foram Dois Grupos de Companhias, 1888-91
aqueles nos quais a atividade trabalhista foi maior, até 1893.
Companhias cuja taxa de acidentes

(1) Subiu* (II) Caiu**


Tabela IV. Intensidade do Esforço e Greves nos Campos de
44
Carvão do Norte e do Passo de ('alais, 1850-90 1 . Número de filiais e1n J 888 91 55
2. Número de Filiais com pequena
Aumento (diminuição) líquida por cabeça*'*' mudança do número de 1nembros,
como porcentagens de 1888 14 33
Anos l\:orte Passo Comentários 3. Nú1nero de filiais novas, 1888-91,
de Calais como porcentagens de 1888 61.5 29
4. Número de Filiais novas e crescentes
1864-6 +8,5 -9.5 Irro1npimcnto no Norte 1866 1888-91, como porcentagens de 1888 144 96
1870-2 +27 +26,5 " ern ambos 1872
1882-4 +3,5 -0,5 " no Norte l 884
1886-9 +0,5 +17 " no P. de C. 1889-93

Contudo, as dificuldades de usar dados parciais deste tipo, mui-


tas vezes inadequados e insidiosos, são muito grandes. De qualquer
maneira, mais trabalho é necessário antes de podermos dizer até que
ponto essas mudanças em esforço são função de movimentos cíclicos
"'Estas podem algU1nas vczc~ ser exigências de aumentos de salários disfarçadas através
do pagainento de horas-extra. Mas durante a Grande Depressão na Inglaterra elas eram muitas - p. ex., nas depressões, como sugere Simiand;" as funções da inelas-
vezes exigências disfarçadas para espalhar o do.emprego igualmente. ticidade dos salários, nos surtos econômicos desse da oferta de mão-
** O au1nento ou queda da porcentagem na produção por ho1nem-dia e em H.P. das de-obra - e até que ponto eles expressam fatores a longo prazo'".
máquinas por 100 trabalbadore~ foi calculado, o primeiro ano de cada série= 100. As düninui-
ções na proporção de H.P. foram acrescentadas, os aumentos subtraídos do pri1nciro nún1cropara
fazer u1na compensação gro~scira por essa parte da produção aumentada que não é atribuível ao ~' London and NW, G. Northcrn e North Eastern.
esforço físico extra. ** G. Western, London and SW e GreatEastern.

168
169
Tampouco sabemos exatamente a importância que eles têm nas men·
todas as três fases principais da economia, a da transição para o indus-
tes dos trabalhadores comparados com outras causas de descontenta-
trialls1no, da "livre concorrência" clássica, e a das formas tnodernas do
mento. Enquanto isso podemos apenas ficar inquietamente conscien-
estado e do capitalismo das corporações,* embora cada uma tenha suas
tes da sua possível importância para o nosso problema.
próprias formas de inelasticidade, hem como seus fatores neutraliza.
dores específicos. Nos países que começam tarde no caminho da
V
industrialização podemos - como na Itália - encontrar curiosas
combinações de todos estes. Para a maior parte do século dezenove a
Tudo isto, contudo, só nos diz e1n que momento no curto prazo é análise é significativa já que temos, falando de uma maneira geral, que
mais provável ocorrer uma "explosão". Mas o ponto crítico da questão considerar apenas as economias em ascensão, e podemos negligenciar
é se toda a situação trabalhista é suficientemente inflamável para pegar as principais modificações introduzidas pelas fases posteriores do
fogo. (Não é, naturalmente, necessário que todas as seções da mão-de- desenvolvilnento econômico. Assim, a intervenção ativa do governo
obra devam estar a ponto de combustão espontânea, porque as "explo- antes de 1914 é limitada principalmente a fornecer uma estrutura legal
sões" têm grande poder de se propagar por si mesmas, uma vez tenham para as negociações industriais, para as ações policiais, para as rela-
começado numa área da indústria)". Nem todo ciclo comercial produz ções com seus próprios empregados, que são normalmente (fora os fer-
essa inflamabilidade geral. Na Inglaterra após (850, ela parece ocor- roviários) uma seção importante da classe trabalhadora, para interfe-
rer grosseiramente a cada duas décadas 50 .As tendências mais duradou- rência ocasional nas grandes disputas, e gestos ocasionais encorajadores
ras de nossos índices lançam pouca luz sobre este problema. As pelos governos de esquerda como os de Waldeck Rousseau na França,
"explosões" do começo das décadas de 1870 e 1900 aparecem em Zana.rdelli e Giolitti na Itália, tendendo a reforçar as expansões inci-
períodos seculares de surto econômico, os das décadas de 1830e 1880- pientes dos movimentos sociais. A formação de enormes combinações
90 em fases seculares de depressão. O de 1872 ocorre no fim de um comerciais c1n nosso período não leva até agora a importantes mono-
período de desemprego provavelmente decrescente, dinheiro e salá- pólios-associados com a mão-de-obra** mas, inclinando o equilíbrio
rios reais crescentes; o de 1889 durante um desemprego mais forte, das negociações vivamente a favor dos empregadores, geralmente iria
dinheiro estável e salários reais em alta; o de 1911 enquanto o desem- intensificar a atitude antiquada do governo em relação aos sindicatos.
prego cai, os salários em dinheiro per1nanece1n estáveis e os salários O reconhecimento sério, as negociações coletivas institucionalizadas
reais em queda. Os problemas da década de 1830 - se é que se quer etc., estão apenas começando a se desenvolver51 • Isto não significa que
arriscar um palpite sobre o período - pode ter coincidido com o a nossa análise não possa ser aplicada, niutatis m_utandi, às fases pos-
desemprego crescente e a queda dos salários reais e em dinheiro. As teriores. Embora devamos esperar que cada fase do desenvolvimento
"explosões" continentais ocorrem contra movimentos que dificilmen- econômico tenha os seus próprios padrões de acumulação e combus-
te são 1nais uniformes. tão, há u1na certa semelhança familiar entre todas elas 52 • É incerto se
Evidente1nente o estudo de séries estatísticas isoladas não nos devemos considerar todo o processo quanto à necessariamente gros-
levará mais longe. Devemos considerar a "explosão" como um todo, seira analogia do motor de combustão interna comum, cuja explosão é
cm relação à estrutura da economia, e a fase particular da mudança eco- inflamada por uma centelha externa, ou do motor Diesel mais elegan-
nômica na qual ela ocorre. Talvez a presunção mais útil seja que, sob te, no qual a própria compressão produz a explosão. Podemos encon-
as condições dos séculos dezenove e começo do vinte, o processo nor-
mal de desenvolvimento industrial tende a produzir situações explosi- *Ou, para aqueles que preferem os termos Sehumpcterianos, <is três "ondas de Kon-
vas, isto é, acumulações de material inflamável que só pega fogoperio- dratiev" que mais do yuc cobrem o nosso período.
dica1nente, co1no se estivesse co1nprünido. Isto pareceria ser assim em ''*Discutir as interessantes exceçõe~ a c~ta afirmação nos tiraria do caminho da discus-
são atual.

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trar exemplos de ambos. De qualquer maneira, uma vela de ignição básico de venda. O algodão não explodiu na década de 1880, mas ajus-
está prontamente disponível no ciclo comercial, ou nos acontecimen- tou-se gradualmente; a lã, a que faltava qualquer dessa maquinaria
tos políticos. como o algodão nas décadas de 1820 e 1830 - e a mineração de car-
Mesmo quando todas as simplificações tenham sido feitas, o vão, que sofreu sob a escala móvel de preços, "explodiram"*.
fenômeno permanece bastante complexo. Talvez a maneira mais con- Podemos assim concluir que os fatores de depressão a longo pra-
veniente de abordá-la seja portanto tomar uma "explosão" particular zo (tal como expressos em ciclos dentro desses períodos) ajudaram a
como ponto de partida: a de 1889-90 na Inglaterra. Embora esta esteja acumular material inflamável em vez de pôr-lhe fogo. Contudo, deve-
tradicionalmente associada à Greve das Docas de Londres, a organiza- se lembrar que a pressão direta da Grande Depressão sobre a mão-de-
ção dos não-capacitados, e o "renascilnento do socialismo"; na verda- obra na Inglaterra foi bastante mais fraca do que no período de 1815-
de tocou quase todas as partes industriais do país, e uma grande varie- 47, ou entre as guerras. Essa pressão se limitou, naturalmente, aos
dade de indústrias e categorias de mão-de-obra com filiações políticas períodos seculares de depressão. Nos períodos seculares de expansão
muito variáveis 53 • podia haver menos motivos para os empregadores atacarem as condi-
Podemos dispor os vários grupos afetados por este fenômeno ções de trabalho diretamente, mas os efeitos indiretos das políticas
numa espécie de espectro. Numa extremidade dele encontramos aque- comerciais podem ser igualmente sérios, p. ex., as mudanças na dire-
les cuja "explosão" era dominada pelo ciclo comercial (no cenário ção dos investimentos. Até o ponto em que esses fatores - que não
específico mais amplo da Grande Depressão), p. ex., os mineiros de precisamos analisar mais aqui - afetam as condições de trabalho e dos
carvão e as indústrias pesadas tradicionais; na outra extremidade, gru- salários, eles já foram rapidamente considerados na seção IV acima.
pos como os trabalhadores do gás, quase não afetados pelos movimen- Podemos em seguida agrupar as nossas indústrias de maneira
tos cíclicos. Na verdade, a maioria dos grupos estava em algum lugar diferente. Numa extremidade da balança podemos colocar aquelas que
entre estes extremos, embora os fatores cíclicos que os afetavan1 não aumentaram sua produção ou atividades sem qualquer mudança técni-
fossem tanto os golpes repentinos do desemprego ou os cortes de salá- ca ou organizacional importante, p. ex., a dos trabalhadores do gás; na
rios nos colapsos, como formas mais indiretas e graduais de pressão outra aquelas que estão passando por uma rápida revolução técnica do
que se abatia sobre eles, quando os patrões tentavam escapar à tendên- tipo com mais probabilidade de afetar os trabalhadores, p. ex., a produ-
cia geral de as margens de lucro caírem. Os movimentos dominados ção em massa na fabricação de roupas. Uma vez que a Inglaterra (ao
pelo ciclo começaram bem antes do irrompimento principal - entre contrário da Alemanha ou EUA contemporâneos) não estava, de uma
os mineiros, no leito do preço de venda do carvão, nos estaleiros, logo maneira geral, passando por qualquer mudança muito surpreendente
após seu ano mais desastroso, no algodão até mais cedo". Eles tiveram na técnica ou na organização comercial, a maior parte dos grupos neste
efeito imediato surpreendentemente pequeno sobre o resto do país, que período estão reunidos perto da primeira extremidade da balança,
esperou que a centelha viesse dos marinheiros, estivadores e trabalha- embora alguns, bastante proeminentes na explosão - trabalhadores
dores do gás dois anos mais tarde". Além do mais, eles continuaram
na indústria de botas e sapatos, os homens dos bondes, eletricistas, tra-
semi independentemente do movimento principal, embora algumas
balhadores das indústrias químicas, moinhos de farinha e óleo, traba-
vezes, como os mineiros do TUC, aliando-se a ele em busca de exigên-
lhadores em roupas etc. - estão mais perto da outra. Isto nos permite
cias comuns ( 1889-93). Dos sindicatos mais amplos entre os não-capa-
citados, o que tinha o seu quartel-general nos estaleiros do nordeste era
As principais conquistas do algodão - a formação da Card-Room Amalgamation
o único que não estava sob liderança socialista".
(1886), sua ad1nissào de fiandeiros de anel (1887), a formação da Associação Amalgamada dos
Podemos notar de passagem que a "capacidade de explosão" era Tecelões dos Condados do Norte (1884), e a negociação da lista de fiação final de Bolton (1887),
menor onde existiam instituições regulares consideradas capazes de todas antedatatn a expansão. Há apenas sinais fraco:-. de ''capacidade de explosão" aqui cm 1889-
salvaguardar a posição geral de negociação dos homens, e seu mínimo 90, em comparação com a década de 1830 e 191l-l2.

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mular a água que sobe como a impedem de transbordar até ela ter atin-
distingnir as duas formas principais pelas quais a mudança da técnica
gido urna certa altura.
acumulava tensões. O mecanismo explosivo é menos simples nas fases seguintes da
A primeira destas é melhor ilustrada pelo caso classicamente mudança técnica. Talvez o fator mais importante que ajuda os movi-
puro dos trabalhadores de gás entre suas duas "explosões" de 1872 e mentos sociais descontínuos seja a tendência das próprias inovações se
1889. A indústria deles expandiu a produção num ritmo uniforme, reunirem; fenômeno esse que não precisa1nos investigar 1nais aqui*.
quase não afetada pelas inovações técnicas e, exceto pelo mercado de Assim por volta da virada da década de 1880 vários grupos de traba-
subprodutos secundários, não afetada pelo ciclo comercial.* Além do lhadores foram afetados simultaneamente por elas - tipógrafos,
mais, ela trabalhou sem capacidade ociosa substancial para complicar maquinistas de trem, trabalhadores em roupas, botas e calçados, bem
o quadro". Por 16 anos ela ficou virtualmente livre dos sindicatos ou corno novos grupos inteiros como os eletricistas. Mas as mudanças téc-
dos problemas trabalhistas- até a demanda quase universal de 1889, nicas normalmente deslocam grupos tanto dentro da indústria como
não por aumentos de salários, mas por um turno mais curto - isto é, fora dela, ou de qualquer maneira alteram suas posições de negocia-
por uma intensidade diminuída do trabalho. O aumento desta iutensi- ção, criando descontentamento por rebaixamento, e a possibilidade de
dade pode ser medido grosseiramente: de 1874 a 1888 o total de car- organização rápida pela abertura de novas táticas a outros. A "explo-
vão carbonizado nos gasômetros de Londres subiu de 76 por cento, o são" de 1889 não é talvez a melhor para o estudo deste fenômeno. Não
número de turnos trabalhados de apenas 48 por cento;'" embora isto encontramos aqui - o que foi obviamente um fator importante por trás
subestime grandemente a "sensação" em contraposição à intensifica- dos irrompimentos da década de 1830- o rebaixamento dos trabalha-
ção "real" do trabalho.** Mas o mesmo processo que causou o descon- dores domésticos e dos artesãos que trabalhavam com as mãos após
tentamento dos trabalhadores tornou também a administração tempo- sua "idade do ouro" no período revolucionário e N apoleônico; o colap-
rariamente muito mais vulnerável à pressão deles. Isto também pode so dos ganhos dos tecelões de teares manuais, das associações fecha-
ser medido. A indústria cedeu à exigência de um turno de 8 horas em das locais de artesãos que produziam bens de consumo - alfaiates,
vez de 12 virtnalmente sem luta (sem dúvida com um olhar de soslaio fabricantes de móveis, talvez construtores; a ameaça aos artesãos-
para a indústria elétrica que estava crescendo), embora se acreditasse chave industriais diante das máquinas - cardadores de lã e fiandei-
então que isto envolvesse um aumento de 33 por cento na folha de ros60. Encontramos, contudo, mudanças secundárias, mas não desprezí-
pagamento sem quaisquer fatores de cornpensação-" 0. Temos assim u1n veis, para a esquerda entre vários grupos de ofícios, 61 e uma inquietação
mecanismo muito elegante, que produz suas tensões crescentes; uma menos facilmente defmível entre esse grupo sensível, os trabalhadores
vela de ignição sob a forma de um aumento temporário desproporcio- em casa semi-independentes e os subempreiteiros na orla das indús-
nalmente grande na vulnerabilidade da administração, e também um trias de bens de consumo. 62 De qualquer maneira uma mudança no apa-
mecanismo de retardamento. Porque após cada repente de mudança relho da produção envolve uma mudança na superestrutura das insti-
técnica e organizacional tanto os patrões como os trabalhadores se tuições e políticas que se apóiam nele; já que estes são até certo ponto
rígidos, o ajustamento** não tem probabilidade de ser suave ou ime-
adaptam a formas específicas de relações que, como todas as institui-
diato. Podemos quase certamente encontrar um período de experimen-
ções, são razoavelmente inelásticas, represas que tanto ajudam a acu-

*Houve algurna discussão sobre isso em relação ao sistcnm Schumpcteriano de desen-


volviinento econômico.
*' Masjáque trabalhadores sazonais do gás trabalhavmn em ocupações ciclicmnente sen- **O "ajustamento" é um tcnno geral e relativo. Alguns ajustamentos são feitos 1nais
síveis - p. ex., fabricação de tijolos - eles devem ter sido afetados por elas. facilmente do yue outros, alguns não podem absolutamente ser feitos no curso da vida de uma
*':'Uma vez que qua:::.c 4Liaisquer mudança~ no trabalho pesado, que eqabclcça o c,eu rit- economia produtora de lucros.
mo convencional, têm probabilidade de ser consideradas corno causando desconforto.

175
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lação, tanto por parte dos patrões como dos trabalhadores - e daí de este será mais curto do que quando as condições do surto econômico
inquietação latente ou aberta - antes de um novo padrão de relações secular adiam a urgência das exigências organizadas, ou quando novos
industriais suceder o velho. Ahistória das relações industriais na indús- centros crescem no isolamento de Le Creusot, das minas da Silésia, ou
tria de botas e calçados antes do "acordo" de 1895'' pode ilustrar o que do sertão de Quebec. A impotência ou a ignorância podem prolongá-lo
acontece durante o período de inovações técnicas; a história das rela- artificialmente porque os trabalhadores das novas indústrias (ou quan-
ções entre a Federação de Navegadores e os sindicatos de marinheiros to a isso os velhos trabalhadores), dispondo apenas de técnicas antigas
e estivadores pode mostrar o que acontece durante a transição para nma inadequadas, podem simplesmente não saber o que fazer em seguida.
estruturaoligopolista64 • Ambas as indústrias foram muito afetadas pela Assim nos anos antes do irrompimento de 1834 podemos vê-los lan-
"explosão" de 1889. O sindicalismo mineiro e têxtil em muitos países çando olhares em volta à procurar de novas técnicas de organização
segue padrões semelhantes. Contudo estes subprodutos das mudanças nacional ou industrial com que enfrentar os problemas que frustravam
técnicas produzem material explosivo, em vez de explosões, embora os métodos das sociedades de artesãos locais 66 • O começo da década de
em alguma parte da massa inquieta haja muita probabilidade de ser 1900 está cheio de discussões estratégicas e táticas semelhantes em
geradas uma centelha. vários países europeus*. Vários fatores podem precipitar essas admis-
No entanto estes são fatores inerentes ao ritmo do crescimento sões artificialmente retardadas de trabalhadores na atividade trabalhis-
industrial, e à estrutura social do país, que impedem qualquer dissipa- ta organizada. As notícias de agitação trabalhista em outra parte, uma
ção gradual dessa inquietação. Alguns destes atrasos de tempo são vez penetram na nova área, podem provocá-la. Da mesma forma os
familiares aos sociólogos e historiadores. Por conveniência, vamos acontecimentos e tensões políticas, p. ex., a eleição geral francesa de
considerar aqui apenas uma espécie. As expansões industriais no sécu- 1936 ou o estabeleci menta de governos provinciais do Congresso na
lo dezenove normalmente encontravam sua força de trabalho (com
Índia em 1937 67 • Em muitos países da Europa pode-se suspeitar que os
algumas exceções) fora da classe trabalhadora industrial, p. ex., nas
acontecimentos políticos e militares do meio da década de 1860, segui-
aldeias, ou fora da mão de obra industrial regular'''. Estes novos recru-
dos do grande surto econômico do começo da década de 1870, são em
tas eram muitas vezes atraídos pela perspectiva de melhores ganhos e
grande parte responsáveis pelas notáveis "explosões" simultâneas em
outros incentivos, e em conseqüência, por algum tempo, mais bem
tantos lugares.
contentados. (Eles não podiam ser mais dóceis: os ex-camponeses têm
O mecanismo disto pode ser ilustrado pelos ferroviários ingleses,
o seu próprio ritmo de descontentamento, que é algumas vezes mais
proeminentes em todas as três expansões entre 1850 e 1914; e diferin-
feroz do que o dos trabalhadores estabelecidos). De qualquer maneira
do de muitos ferroviários estrangeiros não impedidos de se organiza-
eles não eram condicionados a desempenhar o jogo industrial segundo
rem pela lei, e estando entre os últimos em vez dos primeiros grupos
suas próprias regras. O processo de condicioná-los a isso foi estudado
industriais a fazerem isso'". Fora da plataforma do maquinista capaci-
do ponto de vista do patrão, mas menos vezes do que isso, do .líder tra-
tado e das categorias das oficinas muitos deles eram atraídos das
balhista, a quem ele também serve. O hábito da solidariedade indus-
trial deve ser aprendido, como o de trabalhar uma semana regular; bem aldeias, ou outros grupos não-organizados''º. Além dos fatores já men-
como o senso comum de exigir concessões quando as condições são cionados, a estrutura da indústria forçou neles virtualmente um padrão
favoráveis, não quando a fome sugere. Há assim um atraso de tempo explosivo: eles tinham que se organizar numa base de todas as catego-
natural, antes que os novos trabalhadores se transformem num movi- rias e numa rede completa-por si mesma uma tarefa difícil exigindo
mento trabalhista "eficaz". Quando as indústrias crescem em torno de novas técnicas - ou não se organizavam absolutamente70 . Contudo,
um núcleo suficientemente forte de mão de obra "madura", como logo que haviam se estabelecido, tornaram-se imediatamente centros
durante a Segunda Guerra Mundial na Inglaterra, ou quando as condi-
ções estão sob ataque direto, como nos períodos de depressão secular, ·;:Principalmente i:>ubrc sindicalis1no industrial vcro.us artesanal.

176 177
de atividade trabalhista, especialmente no campo, ajudando assim a qualitativas no movimento tão características da "explosão" mais típi-
propagar a "explosão" da qual faziam parte". Eles saltaram, com uma ca. Estas nor1nalmente têm sido associadas com novos tipos de lideran-
limitação, do atraso extremo para outra das posições de liderança e ça, organização ou exigências, por si mesmas sem dúvida produto do
mais efetivas do movimento trabalhista. período de mudança econômica com que a "explosão" tentou chegar a
Na prática estes vários tipos de padrões estão combinados em um acordo: Oweni stas e Cartistas na década de 1830, a Associação
todas as "explosões": indústrias estáticas e em expansão, indústrias Internacional dos Trabalhadores e seus movimentos semelhantes no
tecnicamente inertes e dinâ1nicas, fatores cfclicos a curto e longo pra- fim da década de 1860 e começo da de i 870, o socialismo renascido
zo, retardamento etc. Assiin o movimento dos mineiros foi não só uma Marxismo ou de outra forma- no fim da década de 1880, 1890 e
campanha salarial cíclica ortodoxa mas, segundo os slogans de um começo da de 1900, ou além desses sua ala esquerda revolucionária ou
Salário Mínimo e um Dia de Oito Horas, uma tentativa de enfrentar a sindicalista. Se preferirmos podemos considerar este como outro
pressão a longo prazo sobre os padrões dos mineiros de carvão. Ela s_e exemplo dessa rigidez institucional que ajuda a tomar os movimentos
preocupou muito também com o deslocamento dos grupos estabeleci- descontínuos. Os líderes e organizadores estabelecidos -por exem-
dos, porque (como entre os marinheiros) o fim da década de 1880 pr_e- plo para a liderança do Congresso Sindical da década de 1880-podia
senciou um recrutamento anormalmente rápido de mão-de-obra nao muito bem ter realizado muita da organização que foi deixada aos agi-
habilitada''. As estradas de ferro mostraram um padrão semelhante ao tadores Marxistas e quase Marxistas; mas foi para os últimos que os
dos trabalhadores em gás,'' embora excitado pela situação muito me- não-organizados tiveram que se voltar em busca de ajuda e conselho.
nos favorável da indústria, e à sua maior vulnerabilidade às flutuações. A nova liderança ajudou a dar às "explosões", tais como eram, uma
As Docas de Londres, como Beatrice Potter''' as descreveu, apresen- individualidade histórica; tanta que o leigo automaticamente pensa em
tam um quadro quase clássico da competição por lucros decrescentes Owen e no Grand National, em Burns, Mann e os Estivadores, nos
por uma indústria em expansão, mas tecnicamente estagnada - e daí Sindicalistas, quando as explosões das décadas de 1830, 1880 e 1910
de pressão aumentada sobre os trabalhadores. A indústria de constru- são mencionadas, e continua inenos consciente da "explosão" ideolo-
ção naval, a outra grande pioneira da expansão, teve problemas seme- gicamente não tão surpreendente de 1871-2. À parte o lado de relações
lhantes. Novamente nota-se a vulnerabilidade aumentada à pressão da públicas da questão, contudo, eles ajudaram a fundir uma massa de dis-
Mão-de-Obra, que transformou a Greve das Docas de 1889 num suces- cretos movimentos locais, regionais ou seccionais nu1n todo maior. Os
so tão portentoso: entre 1878 e 1888 a tonelagem entrada e liberada nas grandes sindicatos nacionais que tudo abarcavam dos não-organiza-
Docas de Londres aumentou de mais de 35 por cento'' (o aumento dos após 1889 foram aqueles dominados pela ala esquerda. Esti-
76
111 édio nos outros portos afetados pela expansão fol 1nuito 1naior) vadores e Trabalhadores do Gás; aqueles que não foram, tenderam a
enquanto 0 número de alguns homens-chaves habilitados - os permanecer puramente seccionais ou regionais 08 • Além disto, eles for-
homens das chatas, por exemplo- declinou realmente''· Pilhas de neceram a força unificadora maior dos objetivos e palavras de ordem
material explosivo foram amontoadas por todo o país, prontas para a comuns. Sem os Owenistas em 1834, ou os Seis Pontos da Carta após
centelha. 1838, as forças muito heterogêneas (e muitas vezes contraditórias) dos
Um fator final deve ser rapidamente mencionado: a parte desem- descontentes quase certamente não teria1n se tornado uma força nacio-
penhada pelos corpos de agitadores, propagandistas e organizad?res, nal única, embora frágil. Os historiadores podem simplesmente ter
armados com novas idéias e novos métodos, e prontos para leva-los notado sua coexistência. O mesmo é verdadeiro, e1n menor extensão,
para áreas até então inerentes e não-organizadas. Se1n dúvida as "ex- a respeito de palavras de ordem tais como aquelas do Dia de Oito Horas
plosões" generalizadas são possíveis sem eles: os tumultos dos p~eços na década de 1880 e começo da de 1890. Em certos momentos corpos
periódicos e simultâneos sobre muitas partes da Inglaterra do seculo tais como os Internacionais da classe trabalhadora conseguiram até
dezoito são exemplos, embora lhes faltem precisamente as inovações imprimir utn selo comum em "explosões" simultâneas em diferentes

178 179
países, embora talvez eles atribuíssem esperanças muito ardentes a dratiev, se preferirmos chamar as fases qualitativamente diferentes da
essas atividades.* Contudo quando o ímpeto ideológico é maior do que evolução econômica de "ciclos"). Os fatores cíclicos puramente a cur-
o proporcionado por resoluções da conferência e assim por diante, o to prazo poderiam parecer explicar a oportunidade das "explosões"
seu poder de fazer as centelhas saltarem de um país para os outros não dentro dos ciclos individuais, mas não muito mais.
deve ser subestimado. Ele fez isso em 1830 e 1848; e a "explosão" na
Europa Central em 1905-7 deveu mais do que um pouco às notícias da
(1952)
maior na Rússia. 79
Podemos resumir rápida e experimeutalmente. Só a análise indi-
vidual pode revelar a combinação específica das tensões que com-
NOTAS
põem qualquer "explosão" determinada, e as tentativas de descobrir
exatamente a mesma combinação (em contraposição a uma semelhan-
1. Short History of the British Working-Class Moven1ent (1948) de G.D.H.
ça familiar geral dos padrões) têm probabilidade de ser malsucedidas. Cole, é a fonte nlais conveniente para os números relativos à Inglaten·a disponíveis
Assim na Inglaterra os fatores principais na década de 1830 foram tal- desde a década de 1860. As séries contínuas individuais para certos ofícios recuam
vez o deslocamento secular dos grupos previamente bem estabeleci- mais no tempo, mas requere1n uso cuidadoso. Para os outros países veja a referência 3
dos, e a pressão direta sobre os padrões trabalhistas. Nas décadas de abaixo.

1860 e 1870 os retardamentos e as descontinuidades do crescimento Esta é a forma de um movimento crescente. Utna vez bem estabelecida, espe-
cialmente uma vez ganha a 1naioria do povo que ele comece a organizar, ou u1n alto
técnico podem ter sido os mais importantes. Em 1889 a situação pare-
grau de reconhecimento público, a "capacidade de saltar" é menos evidente nos inem-
ce ter sido dominada pelo padrão peculiar da estagnação técnica da bros, embora não na atividade.
Grande Depressão, a atividade comercial em expansão e a queda de 2. Para o primeiro, History ofTrade Unionisn1 de S. e B. Webb (1894c cd. sub-
lucros. Em 1911 todos os fatores principais podem ser pesquisados, seq.) caps. 3-4; History ofthe Trade Union Organiz.ation in the Potteries ( 1931) de W.
embora as descontinuidades técnicas e a queda dos salários reais se Warburton, caps. 3-5; The Lancashire Cotton lndustry (1904) de S. Chap1nan, cap. 9;
destaquem."' Sem dúvida análises mais completas tentariam distinguir Congresso Sindical, The Martyrs ofTolpuddle (1934); "Atempts at General Union
as menores "famílias" de "explosões" dentro da maior que foi consi- 1829-23" de G.D.H. Cole, Int.Rev. Social HistOl)', IV (1939); para o último, as nun1e-
rosas histórias <lo Cartismo.
derada aqui: aquelas dos países engajados na transição da sociedade
3. As fontes mais acessíveis: Ahstract of"Forei{{n Lahour Statistics (desde
pré-industrial para o capitalismo industrial, aquelas do "mercado- 1899); Lahour Gazette (desde 1894); "The Grovvth of Trade Unions since 1913", Int.
livre" clássico do século dezenove e do capitalismo competitivo,** e Lah. Rev. (1922), III, p. 78 e (1922), IV, p. 53; Die Gewerkschaftshewegung de W.
aquelas das modernas economias capitalistas, dominadas pelo gover- Kulemann (Jcna, 1900 e e<ls. posteriores) e o desigual lnt. Handbuch d. Gewerks-
no, a competição imperfeita e a "segunda Revolução Industrial", e as chajiswesens. Estatísticas úteis estão disponíveis em várias obras secundárias, p. ex.,
várias maneiras pelas quais o desenvolvimento desigual das econo- para a França, Hist. d. Mouv. Syndical Français (Paris 1937) de G. Lefranc; para a
Itália, Storia de! Mov. Operaio lia/. (Milão 1947) de R. Rigola; para a Alemanha,
mias combinam e se encaixam nestas. Não é nem possível nem dese-
Gesch. d. deutschenfreien Gewerkschajien (Jcna 1922) de K. Zwing; para a Bélgica,
jável fazer isto aqui. Contudo, podemos sugerir que outros estudos não Le Parti Ouvrier Be/ge (Bruxelas 1925) de E. Vandervelc; para a Suécia, Wages in Swe-
se preocupem muito com os fatores cíclicos (a menos, como Kon- den 1860-1932 (Londres 1935) de Svenilsson, II; para a Áustria, Gesch. d. oesterr.
Gewerschajfen (Viena 1908 e eds. posteriores) de J. Dcutsch; para a Rússia, Gew-
* APri1neira Internacional simples1nente pela organização comum, a Segunda pelo arti- erkschaftshewegung in Russland 1905-14 (Berlim 1927) de W. Grinewitsch.
fício de demonstraçõe:::. de massa simultâneas para exigências padrão, à qual deve1nos o 1ºde 4. Le Mouv: Ouvrier et les ldées Sociales en France (Paris, sem data), de C.E.
Maio. Labrousse; British Economy ofthe Nineteenth Century (Oxford 1948) de W.W. Ros-
** Provavehnenle o único caso "puro" deste tipo, não significativmnente destorcidopela tow, pt, II.
transição da pré-indústria, pela fase n1onopolista, ou por mnba:::., é o da Inglaterra na segunda 5. P. ex., "Cycles of Strikes" de A.H. Hansen, Arner: Econ. Rev. XI (1921), p.
metade do século. 616; British Trade Unions (Londres 1947) de N. Barou, pp. 86-7, Ap. VI.

180
181
t'anni di Movirnento Operaio Genovese (Milão 1932) de M. Bettinotti, pp. 54-5, 63, e
6. P. ex., "The Theory of Union Growth'', de 1-lorace B. Davis, Q. Journ. Econ.
os nún1eros admiravelmente co1npletos em Origini, Vicende e Conquisti delle Organi-
LV (1940-1), pp. 621ss.,632-3.
zzazione Operaie aderenti alfa Cam,eradel Lavoro in Milano (Milão, Società Umani-
7. Davis,loc.cit.,p.623.
taria, 1909).
8. Ver, porexen1plo, "On the Rate ofWages in Manche::.ter and Salford and the
22. Ver a crítica de A. Boscolo. "! Moti del 1906 en1 Sardegna ", Movimento
Manufacturing Districts of Lancashire 1839-59" de D. Chadwick, J. R. Stat. Soe.,
XXIII (1860), p. I, que n1oslra que as proporções de 6 em 6 artesãos habilitados em Operaio, II Uunho-julho 1950), pp. 9-1 O.
n1etal subiram, as de 2 em 7 dos graus semi-habilitados subira1n, 3 perrnaneccn:un está- 23. Temos apenas evidência fragmentária e indireta para aqueles antes de 1824-
veis e 2 caíram; enquanto de 3 graus não habilitados 1 pennaneceu estável e 3 caíram. 5, p. ex., em The Early English Trade Unions (Londres !948) de A. Aspinall, pp. 7,
9. Cf. a oposição dos artesãos habilitados cm ofícios favorecidos ao radicalis- 246-313; British Working-Class A1ovements 1789-1 R75 (Londres 195 l) de Cole e
mo das décadas de 1830 e 1840 (S. e B. Wcbb, op. cit. ed. 1894), pp. 180-1 . Filson, pp. 149-58. Para 1824-5 veribid.,p. 241; S. e B. Webb, op. cit.. pp. 98-100. Para
10. É ilusório deduzir por eles u1na dúzia de períodos de "pleno en1prego vir- 1844-6, The Con1mon People (Londres 1946) de Cole e Postgate, pp. 316-17.
tual" dos padeiros entre 1800 e 1914 (Rostlnv, op. cit., p. 33) ou presumir que esse ter- 24. O outro país industrializado, a Bélgica, parece realmente ter ficado em parte
n10 tenha a 1nesrna conotação no século dezenove que hoje. intocado pela crise do co1neço de l 848. Ver "La Belgique en 1848'' de J. Dhondt. Actes
11. Principal niente na França, por Labrousse e outros. Ver J. Fourastié e1n IX' du CongrCs Historique de la Rev. de J948 (Paris 1948), p. 120.
CongrCs lnternationale des Sciences Historiques (Paris 1950), I, p. 223. O Professor 25. U1n exen1plo anterior e surpreendente disto pode ser encontrado no sul da
Ashton observou também que fenômenos tais co1no o "Paradoxo de Gibson" de Inglaterra. Em 1830 a inquietação dos trabalhadores rurais parou a poucos quilôme-
Keynes (A Treatise on Money, II) não parece ser válido antes da década de 1840. tros dos centros têxteis tradicionalmente tu1nultuosos, que estavan1 progredindo eco-
12. ()p. cit., pp. 124-5. A escolha dos pesos para os preços do trigo parece arbi- ncnnicamcnte. (Ver a correspondência de M.S. Cobb, Wilts Arch. and Nat. Hist. Soe.
trária à prin1eira vista. Library, Devizes). E1n 1839, quando a força física do Cartisrno dominou a últirna
13. La Crise de l 'Hconornie Française à ta Finde 1'J\ncien Régirne (Paris 1944), (P.R.0. Home Office Papers, H.(). 40/40, 40/48), inquietação agrária no país, 1narca-
de C. E. Labrousse, Introdução; La Poli tique f~inanciére et Econ. de l 'Asscmhlée Cons- da pela queima de nledas e delitos semelhantes, foi no seu ponto nlais baixo para a
tituante (Paris, sen1 data), de C.E. Labrousse, cap. TJ, pp. 16-24. década (ver o relatório parla1nentar anual "Nu1nbers of Criminal OlTen<lers" de 1834).
14. Mas veja "TheCourse ofWage Rates in Five Counties" de E. Phelps Brown Entre elas as áreas de inquietação c1n 1830 e 1839 cobrem a tnaior parte do país, mas
e S. Hopkins, ()xford Econ. Papers, N. S. II Uunho 1950), pp. 234-5, e1n oposição à dificiltncntc se superpõen1.
opinião geralmente aceita de que a estrutura salarial tendeu a se tornar menos flexível. 26. Organized Lahour in Four Continenls (Londres 1939) H.A. l'vlarquand (e<l);
15. Fonte: a crôn'ica co1npleta, embora não exaustiva, dos tu1nultos e1n A1etho- Labor Problenn' in South-east Asia (Yale 1947) de V. Thompson; Labor ü1 the Philip-
dis1n and the Corn1non People ofthe Eighteenlh Century (Londres 1945) de R. Wear- pine Economy (Stanford 1945) de K. Kurihara; Trade Unionism inbulia (Bombai1n
rnouth. 1948), de S.D. Punekar, põen1 isso e1n relevo.
16. Para as exceções -Pied1nont-ver I Partiti Popolari (Florença J 900) de 27. Os índices do consun10 são preferíveis aos do salário real, c1n virtude da
A. Prilli, p. 22. ausência das fraquezas conhecidas dos n(uneros do custo de vida. A Tabela dá tanto as
17. Invcrsan1ente, as depressões tên1 tendido a se tornaren1 períodos de queda taxas gerais dos pobres (que são sobrecarregadas pelos velhos e enfermos), cotno as
de custo de vida, co1npensando assitn parciahnente o efeito do forte de::.en1prcgo. CL dos adultos nonnais e fisicamente capacitado::., que podem ser to1nadas co1no urna
Studies in the Developmen! qfCapitalism (Londres 1946) de M. H. Dobb, p. 334, verificação grosseira sobre a taxa de desen1prcg:o sindical, da qual elas diverge1n de
18. Le Socialisrne en Belgique (Paris, 1903) de J. Destrée e E. Vandervclde, Pt.
li, caps. I, 4, 1O. Vandervelde, op. cit.
1 n1aneira bastante interessante. Deve-::.e tomar cuidado para não usar estes números
como indicadores 1nais do que gerais, ou fora do seu objetivo. Assim eles não se pres-
19. Theorie u. Praxisd. Getteralstreiks(Jena, 1908)deE. Georgi, pp. 52, 57, 89 tam para contribuir para a discussão sobre o 1novünento dos ciclos de salários reais e
-para a Bélgica, Suécia, Triestre e Barcelona, De Spoorw;:;stakingen van 1903 (Lei-
en1 dinheiro (ver Dunlop, Keynes, Tarshis e Richardson em Econ. J. XLVIII ( 1938), p.
dcn 1935) deA.J.C. Rueter. Vcrtmnbérn the (;eneral Strike (Chapei Hill 1931) de W.H.
412; XLIX (1939). pp. 34, 150, 425; Ruggles, Dunlop, Tarshis e1n Q.J. Econ. LV
Crook. Para as greves gerais russas de 1902-3, An h,'con. Hist. ofRussia (Londres,
( 1940-1941 ), pp. 130, 683, 691, 697), e eles na verdade não apóian1 claratncnte qual-
1914) deJ. Mavor, 11, Lv. 7, Cap. 1.
quer dos lados em controvérsia.
20. L'Itafia nel !898, Turnulti e ReazJone (ed. Milão, 195 J) de N. Colajanni,
28. J.R. Stat. Soe. XL( 1877). pp. 42 ss., "So1ne statistics of theAffiliated Orders
caps. 3, IT. Para u1na lista detalhada dos tunn1ltos, Almanacco Socialista de 1899.
of Friendly Societics"; tmnbén1 the Manchester Unit.v r~f"Odd.felloivs (Londres 1869),
21. Há evidência em ambos os sentidos en1 L 'llalie Econ. et Social e 1861-1812
de F.G.P. Nelson.
(Paris 1913) de E. Len1onon, pp. 159-78. Sohre as "explo.\'Ôes" ,1indicais de 1901 Ven-

182 183
29. Cf. Minuta de Goschen de 1869 e a Circular da Junta de Governo Local de 44. Fonte: Le Salaire des Ouvriers des Mines de Charbon en France (Paris
2 de dezembro de 1871. 1907), de F. Simiand, Tabela B (p. 112), pp. 351-5.
30. Alegou-se (Labour Gazette (1912), p. 2) que a seca do verão de 1911 acen- 45. Parl. Papers, 1893-4, LXXIX, "Return of Inuries to Railway Servants".
tuou o aumento do custo de vida; n1as não se pode ter certeza de até que ponto isto afe- Estes nú1neros excluem os ferilnentos não causados pelo movimento dos trens, que
taria o movin1cnto que estava no seu auge em agosto-setembro. não ficaran1 conveniente1nente disponíveis senão apôs 1896. Tampouco dão eles a
31. B.M. Add. MSS 34, 245 Ae B. Os relatórios representam betn apenas algu- proporção dos feridos em relação àqueles "expostos ao risco", cujo nú1nero n1uda a
mas áreas, notada1nente das cidades escocesas e da lnglaten·a Ocidental. uma taxa diferente da dos ferroviários. (Ver o Rai!way Accident Reports anuais). Os
32. Loc. cit., B p. 284. Ver tainbém "The Standard of Living of the English cálculos se1nelhantes para períodos posteriores são mais difíceis devido à mudança
WorkingClass, 1790-1830", de T.S. Ashton, .lourn. Econ. Hist. Supl. IX ([949). dos métodos de comunicação de acidentes etn 1906, a ambos os nJétodos de comuni-
33. Three Sources of Une11iployn1ent (Genebra 1935) de Woytinsky. cação e à classificação dos trabalhadores interessados, en11896. Para os períodos ante-
34. J.R. Stat. Soe. LXII (1899), pp. 640-2. riores não possuímos nenhu1n dado útil. Cf., The Rate o.f Fatal and 1Von-Fatal Acci-
35. J.R. Stat. Soe. LXVII (1904), p. 58. dents in and about Mines and on Railways (Londres 1880) de F.G.P. Neison;
36. (Jnernploynient (ed. 1930), de W.H. Beveridge, p. 429. disponível na Biblioteca da Real Sociedade de Estatística. Também do mestno, "Ana-
37. Os números do dese1nprego :;,ão escassos antes da década de 1890, e não lytical View ofRailway Accidentes II", J. R. Stat. Soe. XVII (1854), p. 219.A taxa de
muito usados antes do século vinte. O material para os nú1neros do consumo está ben1 acidentes fatais não é útil para o nosso objetivo.
pesquisado em Die Konsumtion d. wichtigsten Kulturlaender (Berlin1 1899) de K. 46. Nú111eros sindicais con1pilados do Anllual Reports da Sociedade Amalga-
Apelt. ()s nú1neros dos salários e preços são n1ais abundantes, n1as os perigos de mani- mada de Empregados Ferroviários, 1888-91.
pular os índices de salários reais devem ser evidentes pelas discussões dos padrões da 47. Op. cit., pp. 242-3.
classe trabalhadora inglesa na primeira 1netadc do século. 48. Ver a discussão em "On the recent considerable increase in the numbers of
38. Apelt, op. cit., p. 22 (pão), p. 95 (café); Gesch. d. deutschen Sozia!- reporteei accidents in factories" de H. Verney, J.R. Stat Soe. LXXlII (191 O), p. 95. Para
demokratie (Stuttgart 1898) de F. Mehring, II, pp. 320-1. Mas é sugerida uma nlclho- números semelhantes alemães e austríacos n1ostrando um aumento secular na taxa de
ra nas condições de vida, se1n evidências, cm Die sozialdemokr: GewerkschaJien in acidentes industriais desde as décadas de 1880 e 1890, ver art. "Unfallstatistik" nas
IJeutschland seit d. Erlass d. Sozialistengesetzes de (Jena 1896) de J. Sch1nocle, p. 39. edições iniciais da Hwb. d. Staatswissenschqfien.
39. "Fleischverbrauch im Kgr. Sachsen" de R. Martin, Ztschr. d. Kg!. Saechs. 49. Os métodos exatos pelos quais eles fazem isso, merecem mais estudos. A
Statist. Bureaus (1895), pp. 119 ss., 150: "Stoerungen in1 dcutschen forma geral da curva assinalando sua propagação poderia, contudo, parecer a da dis-
Wirtschaftslcben", Schnften d. Vereinsf Soziaipolitik, vol. 109 (1903), pp. 5, 238). seminação de epiden1ias, pânicos e fenómenos sociais semelhantes (The Objective
40. "Kosten d. Lebenshaltung in dcuteschen Grosstaedten", Schr(ften d. V.f Study of('rowd Behaviour, 1952; de L.S. Penrosc). Os fatores organizacionais e polí-
Soz. Pol. vol. 145 (1914), !, 93 (Halle), 211 (Leipzig), 145, 11, 58 (Banneo), 145, IV, 49 ticos impediriam normalmente a curva de declinar da maneira esperada.
(Chemnitz), 384 (toda a Alemanha). O acordo de nlercado entre o movimento destas 50. As tentativas para descobrir periodicidades nlais precisas -p. ex., u1na de
séries é notável. 17 anos nos EUA (l)avis, op. cit., pp. 621-2) são melhor evitadas atuahnente. Nem
41. hnportante aumento do custo de vida em Paris no fi1n da década de 1880 e poden1 ser discernidas qualquer relação regular entre as ''explosões" e as fases dos
co1neço da de 1890 são sugeridos por G. Morcau, Le Syndicalisrne (Paris 1925), pp. períodos econômicos, en1bora seja tentador procurá-las na direção do firn de cada
312 ss., e C. Tyszka, Loehne u. Lehenskosten in Westeuropa im 19. Jh. (Leipzig 1914), uma. Contudo, en1bora isto se adapte bastante bem- 1847-8 para o período de 1817-
p. 21. Ncnhu1n dado útil de consumo para os centro:;, franceses industriais e urbanos 48, 1868-73 para o de 1848-73, 1889-93 para a "Cirande Depressão" e as expansões
estão, contudo, prontamente disponíveis, sendo as estatísticas Octroi para certas cida- do tempo de guerra para 1896-1920- não explica as ''explosões" a 1neio-tern10
des (Bulletin de Statistique efLegisLation Cornparée, anual) n1uito difíceis de usar. O como aquelas do con1eço da década de 1830 na Inglaterra e de ! 898-1907 no conti-
estudo sério destas fontes começou recentemente: cf. L 'Octroi de DUon au XIX sii:cle nente. O Cartismo se adaptaria, já que é discutível se na Inglaterra o ponto crítico real
(Paris 1955) de R. Laureni. secular chegou nlais no con1eço do que no fim da década de 1840). U1na vez que
42. The Industrial YVorkerinlndia (Londres 1939) de B. Shiva Rao, p. 181, The temos apenas seis fases en1 nosso período, a 1nanipulação estatística não nos pode aju-
Labor Moveinent in Japan (Chicago 1918) de Sen Katayan1a,p. 36, para o período da dar aqui.
guen·a sino-japonesa, 1896-7. 51. O Webh MSS. (Coll EA, VI, BibliotecadaE.E.L.) conté1n uma lista interes-
43. L'AvCnement du Régirne Syndical à Verviers (Paris 1908) de L. Dcchesne, sante dos sindicatos ingleses no começo da década de 1890 tendo acordos nacionais,
pp. l 02 ss., sobre a importância da luta contra o "sistema de dois teares" na gênese do locais, de oficina:;, ou nenhun1 con1 patrões. Para a prevalência dos acordos locais e de
irro1npimento de 1906. Esta é uma das poucas rnonografias da "explosão" sindical. oficina (quando existe algu1n), ver ''Fort<;chritte d. Arbeitstarifvertrages in Deutsch-

184 185
land, Oesterreich, etc." de H. Koeppe, Jrb . .f Nationaloek. u. Statistik, XLlV (1912), 60. Sobre a "idade do ouro", Cole e Filson, op. cit., p. 20, e o consenso da opi-
p. 362; The LaborMove1nent in Postwar Franre (N. 1. 1931) de D. Saposs, pp. 190 ss. nião quanto à ineficácia das Leis de Co1nbinação contra os "artesãos", "The Combi-
52. Pode-se alegar que 1nuitos processos sociais seguetn esse padrão, que pode nation La\vs" de ~1.D. George,Econ. Hist. Rev. Vl (1936), p. 172. Sobre o colapso das
ser chamado "a transfonnação da quantidade en1 qualidade" por alguns, n1udança "que fortes co1nbinações locais de negociação, The Tailoring Trade ( 1896) de F. CJalton, p.
desloca tanto o seu ponto de equilíbrio que o novo não pode ser alcançado pe!o velho 1 xxxi e disperso; London Labourand the London Poor (1861-2), de H. Mayhe\v, III,
por pas~os infinitesiinais" por outros. (Theory of Econ. Deve!opment de J .A. Schun1- pp. 232-41 -fabricantes de móveis. Para os cardadores de lã e fiandeiros, Character,
peter, p. 64 n.) ObiectsandEffécts qf"Trades 'Unions (1834) de E.C. Tufnell, pp. 49-62; The A1arcrqft
53. Não existe até agora nenhuma história adequada da explosão do "Novo Fa1nily, (Rochdale 1889) de W. Marcroft; An inquiry into the origin, procedure and
Sindicato" de 1889-90. Os Webbs são notavelmente fracos sobre isso, e tentativas resu/ts qf'the strike ('.ffhe operative cof!on .spinners . . J836-7 ( l 838) de H. Ashworth.
recentes de reavaliar o problema, como o "New Unionisn1 in Britain 1889-90" de 61. Jeffcrys, op. cit., p. III, cap 6: "Econotnic and Political Origins of the Labour
A.E.P. Duffy (Econ. Hist. Rev. 2a. ser. XIV (1961 ), pp. 306-20) não acrescentam nada Party'' (tese M.S.) de D.M. Good (Biblioteca E.E.L.). o pequeno grupo de ofícios que
de real interesse e servem 1nais para disfarçar o proble1na da descontinuidade. Alguns requere1n habilitação que entrou para a Cornissão de Representação Trabalhista diri-
aspectos desta explosão são tratados e1n outros capítulos do presente volume. Entre as gida pelos socialistas antes de Taff Vale consi:-.tia e1n grande parte daqueles afetados
histórias dos sindicatos de especial interesse, pode-se notar The Mine1:s· (Londres por essas 1nudanças.
1948) de R.P. Arnot; The Story oflhe Rngineers (Londres 1945) de J. W. Jefferys; R. W. 62. P. ex., os trabalhadores domésticos que trabalhmn fora no ofício de botas e
Postgate, op. cit.; His!Of)' of the National Union of Boot and Shoi! ()peratives 1874- calçados en1 Bri<>tol e Non.vich. L. Dechesne, op. cit., pp. 131 ss. para inquietação
1957 (Oxford 1958) de A. Fax; The Railway111en (Londres 1963) de P. Bagwell; Short
semelhante entre osfaçonniers do oficio da lã na Bélgica na década de 1890.
History ofthe General Union ofTextile Workers (Heck1nondwike 1920) de B. Turner;
63. Industrial De111ocracy (ed. 1902) de S. e B. Webb, pp. 185-92, Cap. VIII;
The Story of Naísopa (Londres 192.9) de R.B. Suthers.
"The Origins of Industrial Peace" de E. Brunner. Oxf Econ. Papers. N.S. 1 Uunho
54. R.P. Arnot, op. cit., cap. III; "The Knights of Labour in Britain 1880-190 l"
1949), pp. 247-60; Alan Fox, op. cit.
de H. Pelling (Econ. Hist. Rev. "2a. ser. lX ( 1956), pp. 313-31; Trade Unionisn1 in
64. The Shipping Federution 1890-1950 (Londres 1950) de L.H. Po\vell, caps.
/\.herdeen l 878-1900 (Abcrdeen 1955) de K.D. Buckley, Trade Union (froevth, S1ruc-
2-3.
tureand Po/icy (Londres 1962) de H.R. Turner para os sindicatos de algodão; "Labour
65. Os estudos ale1nães são os 1nais sisternáticos: R. Ehrenberg, Kruppstudien
Federation", de E.R. Pease, Toda.v (junho J 887). A.E.P. Duffy, loc. cit., discute estes
III, "Fruehzeit d. KruppschenArbeiterschaff', Thuenen-Archiv III ( 1908), pp. l- 165,
pri1nórdios extensivai11ente.
e o "Auslese undAnpassung" volumes da Schr(fien d. V.f Soz. Pol. Vais. 133-5, I-IV
55. Para o ítnpeto de Londres, M.v Life 's Battles (se1n data) de W. Thorne;
( 1910-12). Os habilitados tendiam a vir n1ais de antecedentes artesãos.
Memories and Rejlexions (1931) de Toni Mann e Ben Tillet; Men1oirs de Torn Mann
66. Atteinpts at Geneal Unions de G.D.H. Cole, op. cit.
(1923); Snlith e Na:-.h, op. cit.; para o do norte, The Life r~/"Sir Jarnes Se;rto11, Agitator,
67. Estes, naturaltnente, não são necessarian1ente independentes das raízes eco-
hy Hinv;elf( 1936 ); My Stonny Vo.vage Through L!fe ( 1925) de J. Havelock Wilson, pp.
134-6, caps. XVI, XVIH; lhe T/mes, 28jan.- l 9 fev., 1889. nômicas do descontentan1ento trabalhista, Grine\vitsch, op. cit., p. 145, dá nú1neros
56. Ver abaixo, p. J 82. que acentuatn be1n este efeito estilnulante dos acontecimentos políticos individuais
57. louro. Gas L. LIV (1889), p. 683. sobre a participação sindical na Rússia, 1905-6.
58. Calculado dos relatórios anuais dos balanços das Companhias Metropoli- 68. Para os maquinistas de locon1otivas, E11gil1es and Men (Lecds J 921) de J.
tanas de C·ás (Pari. Pap. 1870-1906) e a Analysis ofMetropolitan and .5uburhan Gas R. Raynes e The Lighted F/a11re (Londres 1950) de N. McKillop; para o resto, P. Bag-
Company Accounts anual de John Field (desde 1869). Já que os foguistas eram avas- well, op. cit. O corpo geral de ferroviários, e1nbora ativo c1n 1871-2 e 1889-91 não
saladorainente pagos nu1na base direta de ternpo, as taxas não mudaran1, e só existiam esteve en1 ação efetiva até depois de 1907; Trade Unioní::,111 on the Raifl-i:ays de Cole e
horas-extras sob a forma de turnos-extras (cf., Wage Census 1906, Pari. Pap., 1910, Arnot (Londre<> 1917). Para o início relativainente cedo dos ferroviários e1n outros paí-
LXXXIV), o total de salários de carbonização pode ser usado como u1n índice dos tur- ses, Rigola, op. cit. p. 228; V. Tho1npson, op. cit., p. 53; Vl. Kule1nann, op. cit., p. 333:
nos de homens. Histuires des Chenúnots et de leur Syndicats (Paris l 948) de G. Chaun1el; Hovv Col-
59 . .lourn. Gas L. LlV (1889), pp. 458, 838, 885. Na verdade, revelou-se 1naior /ective Bargainúig \Vorks (N.I. 1942) de H.A. Mi li is (cd.), p. 323.
até 47 e 53 porcento em Londres e no~ subúrbios, 35 e 36 porcento nas províncias 69. P. ex., "Thc Influx of Population into East London" de H. Llewellyn-Smith,
(11nalysis, 1889-91 de Fiel d). Por não considerar as economias dos turnos de oito horas em Lljé and Lobour de C. Booth, III, 58-166; R. C. on Housing (~f the VVorking Classes,
antes de 1889, Journ. Gas L. 1.000 ( 1888), p. 894. 1885; P 1O,615; L(f"e in a Railway Factory (Londres 1916) deAlfrccl Williams.

186 187
70. Daí o interesse geral dos sindicatos ferroviários no sindicalismo industrial,
greves gerais e outras técnicas trabalhistas novas. Ver as obras citadas na ref. 68 aci~
ma, cA.J.C. Rueter, op. cit.
71. Estou grato à Dame Florence Hancock pela informação sobre isto no Wilt-
shire. Ver também A History of the English Agricultura! Lahourer 1870-1920 (Lon-
dres 1920) de F.E. Grecn. pp. 118, 253.
72. Arnot, op. cit., p. 112. Statistical Abstract 1875-90, Parl. Pap., 1890,
LXXVIII, p. 156 para os marinheiros. 9
73. The Scottish Railway Strike (Edinburgh 1891) de J. Mavor; J. Mavor no
Econ. Joum. I (1891 ), p. 204.
74. NaLife and Labour inLondon de Booth, vol. IV.
75. Pari. Pap. 1902, XLIV: R. C. sobre o porto de Londres, p. 232.
OS TRABALHADORES INGLESES
76. Um cálculo baseado no Dictionaf)' ofstatistics (cd. 1898) de Mulhal, mos- DO GÁS, 1873-1914'
tra um aumento médio de tonelagem entrada e liberada em Londres, Liverpool,
Cardiff, Newcastle, Shields, Bristol, Hull e Glasgow de entre 45 e 50 porcento.
77. Censo de 1881, 1891. Novamente, a vulnerabilidade foi proporcionalmen-
te maior do que assim medida, porque a complexidade aumentada de um porto que se
expandiu sem racionalizar o seu layout e métodos colocou um prêrnio aumentado
sobre os trabalhadores experientes, que conheciam as cordas embaraçadas mais firme-
mente, Ver, por exemplo, The Liverpool Docks Prohlem (Liverpool 1912) de R.
Williams, pp. 21-2 e abaixo pp. 211-13. O ESTUDANTE da história da negociação coletiva leva geral-
78. E.J. Hobsbawn, loc. cit. mente nma grande desvantagem, assim qne pára de registrar os fatores
79. Jrb. .f Nationaloekonomie, 1905, p. 580, sobre a greve ferroviária Tcheca;
exíguos, e tenta analisá-los. Muitas vezes não é possível desembaraçar
J'he Austrian Revolution (Londres 1924) de Otto Bauer, cap. IV, sobre as greves de
janeiro de 1918.
a influência, digamos, do sindicato, das muitas outras que modelam a
80. O relato mais co1npleto desta "explosão" é The Growth of British Industri- política e a organização industrial; e mesmo que seja, poucas indústrias
al Relations (Londres 1959) de E.H. Phelps Brown, VI, mas Industrial Proble1ns and de qualquer maneira são suficientemente documentadas para permitir-
Disputes (Londres 1920) deAskwith, Watney e Little, op. cit., e outras obras contem- lhe ir muito mais longe. Contudo bá pelo menos uma indústria na qual
porâneas ainda devem ser consultadas. é possível um total razoável de análise quantitativa; a indústria ingle-
sado gás no fim do século dezenove e começo do vinte. Embora, como
serviço público, e em grande parte sob propriedade municipal e mono-
polista, não é necessariamente típica da indústria inglesa neste perío-
do, vale bem a pena investigar e este capítulo tenta fazer isso.
Consideremos primeiro o problema. A indústria inglesa de gás
apresenta um exemplo notável e extremo da ascensão do sindicalismo.
Os trabalhadores do gás eram- em comum com outros considerados
convencionalmente como "não-capacitados" ~considerados como
incapazes de um sindicalismo forte e estável; e na verdade, com exce-
ções locais e fugazes,' eles nunca haviam formado organizações
importantes e duradouras antes de 1889. Durante 17 anos antes dessa
data eles não possuíam absolutamente nenhum sindicato identificável.
Contudo, quando em 1889 eles exigiram concessões que, sustentava-

188 189
se de uma maneira geral, elevaria a folha de pagamento da indústria de retortas, carvoeiros etc.) e por operários. Em 1889 os salários de car-
u111 terço, 3 suas exigências foram atendidas virtualmente sem luta. bonização - o único guia confiável'' - totalizavam entre 9,2 e 14, 1
Além do mais, os novos sindicatos se mantiveram contra o contra-ata- por cento da despesa total cm nove gasômetros de Londres e provin-
que subseqüente. Sobre uma grande parte do país, portanto, a indústria ciais; uma média de 13,4 em Londres, e menos de 11,1 em Manches-
mudou da noite para o dia de totalmente desorganizada numa excep- ter, Birmingham, Leicester, Stafford e Warrington'. O custo real da
cionalmente sindicalizada; com importantes resultados etn sua estru- mão-de-obra por 28,315 m' 1.000 pés cúbicos/NT de gás produzido
tura e política. Por que mudou ela? Por que ela permaneceu mudadaº variava entre 2,26 d. e 5,29 d. em 20 cidades em 1883, entre 1,84 e 4,80
Que resultados tiveram a ascensão do sindicato? em 1888 (verTahelal).
A questão deve interessar outros além dos estudantes do sindica- Daí, não ser surpreendente verificar que o progresso técnico era
lismo. O quadro geral nas indústrias inglesas estabelecidas após o fim extremamente lento. A fabricação de gás na década de 1880 era ainda
da Grande Depressão é de estagnação técnica, e uma tendência para a reconhecidamente o que fora no começo do século". O carvão era tra-
queda da produtividade por homem'. Entre as poucas exceções a isto zido para os gasômetros em carroças ou chatas, e levado do cais ou
está a indústria do gás; e 1889 marca um ponto crítico cm sua história pátio para a casa de retortas em carrinhos de mão ou pequenos cami-
técnica bem co1no na das relações industriais. nhões. A carbonização propriamente dita- o trabalho de manter e ali-
mentar os fogos, enchendo as retortas com carvão, espalhando o coque
- era ainda essencial mente não- mecanizado. A retorta, "um pequeno
tubo horizontal dentro do qual algumas centenas de quilos de carvão
são postos a cada quatro ou cinco horas, e bem mais do que a 1netade
A indústria do gás, nos trinta anos após 1860, era excepcional- do peso em coque é retirado nos mesmos intervalos" 9 , estava tendendo
mente protegida. Desde 1860 a concorrência local de cortar a gargan- talvez a se tornar um tanto maior. O método primitivo de enchê-la pela
ta havia sido substituída, por vários Atos do Parlamento, por um que- pá de um homem só persistiu nos pequenos gasômetros locais. Nos
bra-cabeças de armas de monopólios locais, em número crescente de grandes eram erguidos grandes pás e impelidas dentro dela por grupos
propriedade dos municípios. Ela não tinha concorrência, porque a ele- de três homens: um processo excepcionalmente laborioso no calor e
tricidade ainda não estava seriamente no campo. Estava imune das flu- clarão da casa de retortas, exigindo homens musculosos. Grupos de
tuações cíclicas, porque o seu principal mercado comprador, a ilumi- foguistas e carvoeiros trabalhavam em turnos de doze horas (dezoito
nação pública e particular, era muito inelástica, e1nbora sujeita a horas na mudança de sistema no fim da semana), porque a produção era
violentas flutuações sazonais regulares. O uso do gás na indústria era necessariamente contínua 1º.
pequeno, mesmo os fogões a gás estavam na sua infância5 e apenas o A natureza primitiva da operação básica havia começado a tentar
mercado dos subprodutos relativamente pouco importantes remetia as os inventores, e desde o começo da década de 1870 (na verdade após as
depressões. Assim os gasômetros crescian1 com o cresci1nento da primeiras greves dos carvoeiros) fora1n feitas sérias tentativas de meca-
população da cidade, sem qualquer necessidade de esforço, exceto o nizar a alimentação, mas pouco conseguiram, devido à barateza da
necessário para produzir bastante gás de qualidade regulamentar. mão-de-obra''. De qualquer maneira a idéia realmente nova de fazer as
Não havia assim nenhum incentivo competitivo importante para retortas inclinadas ou verticais, usando assiln a força da gravidade para
a mudança técnica. Nem era a indústria incomodada pelos altos custos enchê-las, não foi geralmente adotada até depois de 1889, quando
da mão-de-obra, porque ela era aquela coisa relativamente fora do (como veremos) o incentivo para o reequipamento em larga escala foi
comum na Inglaterra do meio do século dezenove, uma indústria de muito maior". O trabalho do foguista havia sido afetado mais seriamen-
processo contínuo altamente capitalizada impelida quase inteiramen- te com a adoção crescente do acendimento gerador e regenerador no
te por homens especializados semi-habilitados (os foguistas da casa de começo da década de 1880 (após um início abortado na década de

190 191
Tabela I. Custo da Mão-de-Obra (carbonização) por 28,315 m·' se apagar, Quase tudo dependia de sua força e julgamento excepcionais
de gás vendido em 1883 e 1888 (Pennies) como indivíduos e grupos. Por que, então eles não conseguiriam se
Cidade 1883 1888 Cidade 1883 1888 organizar permanentemente antes de 1889° É verdade que eles eram
Londres* 3,49 3,34 Brighton 3.53 3,13 bem pagos. Cinco shillings por turno ou mais ou menos não era de
Subúrbios*'*' 4,03 3,53 Bristol 5,29 4,80 maneira alguma má paga na década de 1880", embora trabalhassem
Binninghain 3,02 2,45 1,ivcrpoo! 3,59 3,56
Bolton 3,31 3.47 Newcastle 3,01 2,92
muito mais duramente por ela do que os homens habilitados reconhe-
Lceds 4,47 4,24 Plymouth 2,95 3,06 cidos em faixas salariais semelhantes, e tivessem pouca oportunidade
Leicester 259 2,52 Portsea 2.26 1.84 de ganhos extras, É verdade também que nenhum ataque importante
Manchester 2.99 2.78 Preston 4.84 3,95
Oldha1n 3,49 3,36 Sheffield 2,77
em seus salários e condicões de contrato parecem ter sido feitos duran-
2,71
Salford 4,39 3.38 te a Depressão. Apesar de tudo, já que há poucos sinais de uma políti-
Bath 2,38 2,45 ca deliberada de "altos-salários"", os níveis de salários dos carvoeiros
são mais um reflexo de sua força potencial de negociação, do que uma
(Fonte: Análise da~ Contas da Companhia de Oás, de Field, 1883, 1888)
prova de sua satisfação. Eles não explicam por que permaneceram
1860). O acendimento do gerador queimava não o carvão, mas monó- desorganizados.
xido de carbono, que podia ser transportado para onde era necessário e Dois fatores, um real, o outro convencional, nos ajudam a expli-
depois aceso, com menos calor e tiragem, introduzindo mais ar dentro car isso. O trabalho era extremamente casual. As flutuações sazonais
dele; o acendimento do regenerador acrescentou o princípio da recupe~ eram ilnensas: a carga do inverno era três vezes - segundo um obser-
ração do calor desperdiçado. O efeito geral destes melhoramentos fm vador americano, cinco vezes - a carga do verão 16 , e a força da mão-
tornar a manutenção do calor regular ligeiramente menos dependente de-obra do inverno podia ser o dobro da dos meses de verão", Até a
da firmeza, experiência e habilidade do foguista. Nenhuma tentativa companhia cuja política trabalhista era tão avançada quanto a sua hos-
séria foi feita para racionalizar a organização dos gasômetros. Aqui e ali tilidade aos sindicatos era implacável, a South Metropolitan, emprega-
uma empresa introduziu três turnos de oito horas em vez de dois de l _2 va 20-25 por cento mais no inverno do que no verão' 8 • A contratação
horas, mas tão pouco impacto tiveram estas experiências sobre a opi- casual levou como de hábito ao subemprego persistente, de forma que
nião técnica, antes que os homens começassem por seus próprios moti- mesmo no período de pico do inverno em excesso de carvoeiros
vos e exigi rum dia de oito horas, que o principal jornal do ramo afirmou desempregados podia persistir'", Os grevistas podiam portanto ser
não ter conhecimento da existência deles u. facilmente substituídos; especialmente quando as direções organiza-
No papel, portanto, a posição de negociação dos carvoeiros e vam a importação de furadores-de-greves de todo o país: uma greve em
foguistas, os homens-chaves de todo o processo, quando t !es foram ser Bristol foi furada por gente de todo o Oeste, e de Liverpool; uma greve
o núcleo do sindicato, era excepcionalmente forte. Eles l 0drnm apli- de Halifax de Londres, Burnley e York'°,
car um estrangulamento nos gasômetros sempre que quisl3Sem. Uma É verdade que na prática a contratação era muito menos casual do
redução relativamente ligeira cm seus esforços, e o poder de ilumina- que teoricamente, Em primeiro lugar, os gasômetros há muito aprecia-
ção do gás cairia abaixo da exigência legal; ou mesmo, as luzes podiam vam as vantagens de uma baixa rotatividade da mão-de-obra, e até cer-
to ponto do "capitalismo do bem-estar"," em segundo lugar, os mes-
mos homens sazonais voltavam ano após ano, tanto que até cxigia1n
':'As três companhias metropolitanas, Gas, Light and Coke. Sou!h Metropolitan e Con1- um "direito adquirido ao emprego" com o qual era considerado peri-
merciaL
goso interferir22 • Novamente, muitos carvoeiros desenvolveram uma
:":' 14 (em 1888 fundidas cm 12) companhias suburbanas.
''"''*Não há números provinciais disponíveis antes de 1883, embora os números de Lon- alternação sazonal regular dos empregos - gasômetros no inverno e
dres remontem a 1869. olaria no verão era a mais comum, e1nbora não a única 2-', e assim goza-

192 193
vam de bastante segurança. Contudo a sazonalidade enfraqueceu a ser aceito; 28 como vimos, não há nenhum sinal de nenhuma mecaniza-
chance de negociação efetiva. Uma firma sempre tinha seis meses fol- ção importante, embora grupos de homens-chaves em alguns gasôme-
gados nos quais revogar as concessões concedidas no pico do Natal, tros grandes possam ter sido afetados pela introdução experimental de
substituir e treinar novamente os seus homens. Os homens podiam alguns aparelhos.
sempre ser tentados com empregos realmente permanentes. Afinal de A intensificação do trabalho é, naturalmente, o que devemos
contas, os carvoeiros era1n necessariamente homens adultos'.' 4, e por- esperar encontrar numa indústria que continua a expandir a produção
tanto casados, e podiam bem pensar duas vezes antes de se tornarem por 17 anos, sem fazer quaisquer mudanças importantes na técnica ou
migrantes sazonais. organização dos gasômetros. Assim, tomando 1874 como 100, o total
Além do mais, os carvoeiros tinham um peso morto de tradição e de carvão carbonizado dos gasômetros de Londres que fazia relatórios
convenção contra eles. Eles não tinham aprendizado, e sua habilidade havia, em 1888, subido a 176; o total de gás produzido a 187 -
podia rapidamente ser adquirida por qualquer trabalhador promissor enquanto o total de salários para a carbonização (permanecendo as
do pátio. Eles próprios eram considerados como trabalhadores tempo- taxas inalteradas) só tinham subido a 148"9 • Assim em 14 anos cada car-
rários substitutos, que podiam e deviam ser postos a trabalhar no pátio voeiro havia, em média, aumentado a sua produção consideravelmen-
se o serviço estivesse folgado ou se isso conviesse à firma 2 'i, A ad1ninis- te - a maior parte dela, embora de maneira alguma toda, por esforço
tração não achava que eles precisassem de incentivos especiais; eles muscular extra. Contudo, o esforço que ele próprio sentia estar fazen-
continuavam a ser pagos num nível uniforme por turno, embora bas- do era muito maior do que isto.
tante mais alto do que em outros lugares"''. É importante que quando Constitui um grande engano tornar números estatísticos gerais
eles se organizaram, fizeram isso nu1n único sindicato industrial com como medida desse esforço subjetivo. A demanda se expandiu; mas
muitas outras categorias da indústria, ainda que, de um ponto de vista tem que haver inevitavelmente um intervalo de tempo entre esta
de negociação, eles virtualmente canegassem o resto, e pudessem com expansão e a contratação de novos homens, durante o qual a velha
bastante facilidade ter formado um sindicato do ofício. A indústria equipe teve que trabalhar muito mais duramente. Se forem contratados
moderna de processo contínuo operada por homens semi-habilitados novos homens, eles não podem começar até que novas casas tenham
era rara. O padrão do "trabalhador-artesão" ainda era considerado sido construídas e novas retortas instaladas- e no intervalo, mais uma
co1no o normal na indústria; e amenos que os carvoeiros (como os cor- vez, a velha equipe, operando equipamento velho inadequado, teve
tadores de carvão) fizessem exigências que os colocassem claramente que trabalhar como o diabo para manter alta a pressão do gás. Porque
na camada superior, continuariam sendo tratados como da inferior. a indústria, como sabe1nos pelas queixas a1nargas das ad1ninistrações
Foi, portanto, necessário u1n ímpeto considerável para superar este em 1889-90, funcionava sem nenhuma capacidade ou equipamento
peso morto da tradição e do trabalho irregular. importante de reserva. Além do mais, em algumas ocasiões podia ter
lugar uma "aceleração" do turno em serviço e não dos outros. As 12
horas dos carvoeiros consistiam de pacotes alternados de esforço cur-
II to e duro, e descanso completo·'°. Se este equilíbrio de trabalho e des-
canso fosse ligeiramente alterado - mesmo que o trabalho total não
Qual era a natureza deste ímpeto? Não há dúvida absolutamente fosse aumentado, inesmo que ele fosse compreensivehnente diminuí-
de que os carvoeiros reclamaram da intensificação do trabalho. O pró- do- o carvoeiro podia ainda achar que estava trabalhando mais dura-
prio fato de que a exigência de homens em 1889, embora diferentes mente ou menos confortavelmente: por exemplo, se fosse introduzida
suas circunstâncias locais, era quase universalmente por um turno de 8 umaretorta bastante inaior que precisasse de 1nenos carga porém mais
horas, confirma iston. Por outro lado, o argumento dos pioneiros do demoradas. Mas mesmo que não houvesse nenhuma mudança real no
sindicato, de que a mecanização foi a causa do seu problema, não pode esforço, o próprio fato da mudança podia cansar descontentamento

194 195
legítimo. O trabalho de rotina semi-habilitado é uma coisa muito con- Trabalhadores Gerais" de Londres de Will Therne e Eleanor Marx·
vencional, funcionando em ritmo, e em padrões, que foram testados e embora existissem também corpos locais independentes 35 , Esta coor~
desenvolvidos inconscientemente durante longos períodos; o balanço denação excepcional numa indústria largamente espalhada de muitas
da foice do camponês, a pá do carvoeiro da marinha ou do gasômetro, umdades auto-suficientes é devida sem dúvida à adoção universal de
ou 0 esfregão da dona-de-casa. A própria falta de mecanização forçou certas exigências-padrão: turno de oito horas com um número fixo de
carvoeiro a se transformar numa máquina especializada. retortas e cargas para os carvoeiros, aumentos de salários para os tra-
0
balhadores fora dos turnos. Haviam algumas outras exigências _
"Até agora (esta) adaptação significa que os homens que trabalham ao l~do :'d1verü'.:'entos" e repo~so remunerado no Nordeste, feriados pagos e
dele, cujo serviço é transportar cargas no carrinho de mão ... até à porta da for- a abohçao da subempreitada, mas eles dificilmente alteram 0 quadro.
nalha, podem transportar no carrinho de mão o dia inteiro, mas não podetn exe- Mesmo as cidades que há muito tempo estávam em turnos de oito
cutar as operações na fornalha; enquanto o homem da fornalha, se posto no
horas" entraram de todo o coração na exigência por menos retortas e
pátio, onde tem serviços gerais a fazer, a princípio estará muito despreparado
cargas. Outro motivo é provavelmente a influência dos socialistas, que
para essa labuta ... " 31
dommavam os trabalhadores de gás de Londres, e cujos grupos locais
Quanto mais especializadas e cansativas as condições de traba- naturalmente estavam ligados a eles - por exemplo no Lancashire
lho, maior a necessidade de se adaptar a elas completamente por York~hire e Bri~tol. Não é assim de surpreender que os trabalhadore~
enquanto, e maior o desconforto de qualquer mudança, mesmo para do gas chegassem mais perto de organizar um sindicato realmente
melhor-de qualquer maneira a curto prazo. nac10nal do que qualquer outro grupo de trabalhadores recém-organi-
Podemos presumir portanto legitimamente que os 17 anos de zados em 1889, com a fugaz exceção dos marinheiros.
expansão ininterrupta acumulou tensões e descontentamentos que
eram bastante suficientes para irromperem na primeira oportunidade:
o surto econômico de 1888-1890. (Devemos nos lembrar que, se as III
administrações das companhias de gás foram insensíveis às flutuações
do ofício, os carvoeiros não foram: assim, numerosos carvoeiros sazo- As exigências dos homens eram ambiciosas. A Gas Light and
nais trabalhavam no verão numa indústria tão sensível como fabrica- Coke Company estimou o custo anual delas em f 50.000," a Birming-
ção de tijolos.) Na segunda metade de 1888 sinais de inquietação são ham Corporatlon achou que elas adicionariam cerca de f 8.000 _
fracamente discerníveis na imprensa do ramo". Na primeira metade de f 10.000 a uma folha de pagamento de f 35.000,'~ Bradford viu um
1889 foram formados sindicatos separados em Birmingham, Londres extra de f 5.000," Glasgow de f 20.000"'. Ceder a tais exigências,"
e Bristol (o último fundindo-se em breve com o de Londres), e houve apr:sentadas por um corpo ad hoc de homens não-habilitados que até
problemas no West Riding33 • Em agosto os londrinos haviam ganho o entao nunca haviam conseguido organizar um sindicato estável, pare-
Dia de Oito Horas, e a inquietação havia chegado ao Lancashlfe, ao cia ~rotesco. Contudo entre junho e dezembro de 1889 muitos dos
Nordeste, Nottingham, Sheffielde Rotherham, Derby, Bath, Swansea, gasometros importantes do país cederam, sequer testando a força dos
Northampton, Norwich, Glasgow e Edinburgh (que formou um sindi- homens". Este fato notável exige explicação.
cato separado) 34 • As únicas áreas importantes em que nada parece ter . O f~to era que a indústria descobriu por si mesma estar tempora-
acontecido foram as Potteries e Monmouth - East Glamorgan. A namente a mercê dos seus carvoeiros. A posição delas foi amargamen-
maior parte dos homens entrou em três sindicatos: os Trabalhadores de te resumida pelo autonzado Journal ofGas Lighting:"
Gás e Fabricantes de Tijolos de Birmingham, o Sindicato Trabalhista
do Tyneside e Nacional (mais tarde Sindicato Amalgamado do Tra,ba- "Uma agradável perspectiva abre-se diante destes cavalheiros", escreveu ele a
respeito dos diretores e men1bros conservadores da com1·ssa-o
. . , "com o progrcs-
.
lho ), mas principalmente no "Sindicato dos Trabalhadores de Gas e

197
196
so do inverno. Pode haver apenas retonas suficientes ou apenas espaço de anna-
7.cnainento suficiente para prosseguir, se as coisas correretn confortavelmente
grama de reorganização técnica importante, e reequipamento- e isto
nos gasó1netros, e a tunna da tarde está contente de ficar esperando por ali cotn antes que seus mercados protegidos tivessem sido seria1nente invadi-
as pálpebras inertes até a aplicação da pressão noturna exigir que cada retorta dos pelos rivais. De qualquer maneira, os números falam por si mes-
seja carregada a fim de 1nanter os recipientes (de gás) fora do chão. Supo- mos. A adoção de três turnos de oito horas nos principais gasômetros
nhamos, contudo, que os antigos grupos sejain dispersos, e outros improvisa- !01 geral, e duradouro (ver Tabela II)".
dos tcnhatn que ser postos no lugar deles. Então a posse de algun1as retortas
extra para ajudar o funcionamento menos regular e eficiente dos novos operá-
rios pode fazer toda a diferença entre nutnter o supri1nento e n1ergulhar acida-
de na escuridão ... Quaisquer que sejam as lições que estes problemas trabalhis-
Tabela II. Categorias da Casa de Retortas em turnos de 8 horas em 1906
em cidades de 100.000 habitantes e mais.
tas dêe1n aos administradores do gás, provam a necessidade de manter a fábrica
e1n estado satisfatório, de forn1a a havertcn1po para mudar de atitude no caso de Região Carvoeiros porcen- Todas as Categorias Porcen
un1a 1nudança co1npleta cio pessoal operário.,. tagent das Retortas -tagem

Sh 12h Sh
A indústria havia caído numa rotina, e trabalhava sem margem. Londres
12h
2.127 481'' 82 4.862 1.612 75
Não havia nada entre ela c o colapso, exceto os esforços pessoais de Condados do Norte 243 o 100 539 o IOO
homens experientes. Quando estes a1ncaçaram entrar en1 greve, foi Yorks., Lancas., Cheshirc 1.623 82 95 3.809 153 96
N. & W. Midlands 742 o
como se Jeeves tivesse ameaçado, de repente, deixar Bertie Woester.
Resto lngl. e Gales
100 1.702 s 100
168 46 79 355 175 67
Mas o colapso era uma coisa que a indústria não podia an-iscar. Total Reino Unido':'* 5.505 609 90 13.457 2.097 86
Completamente à parte das suas repercussões eleitorais, nos gasôme-
tros de propriedade inunicipal, o Gás estava exatamente então obser- Fonte: Pesquiso de Ganhos e Horas, Parl. Papers. LXXXIV de 19 !0
vando ansiosamente os progressos de um ri vai potencial, a Eletricidade.
Em Londres, pelo menos, as estações de força tinham exatamente Nos cinco anos de 1880-4 as companhias metropolitanas de gás
começado a ser construídas seriamente". Qualquer sinal de qnc o gás gastaram uma média anual de mais ou menos f 127.000 na "expansão
não era confiável podia encorajar as autoridades públicas imprudentes de prédios e maquinaria" (excluída a compra de terrenos). Nos três anos
a introduzir a eletricidade. Não era isso exatamente que havia aconteci- Imediatamente seguintes ao advento do sindicato, 1890-2, elas gasta-
do em Halifax?" Além do mais, os monopólios são sempre impopula- ram uma média anual de f 320.000 - e os preços haviam caído consi-
res, e o veto da mão-de-obra local tinha que ser levado em conta, após deravelmente desde 188449 • A adoção de nova maquinaria progrediu
as leis de 1884-5 e 1888. Embora os Fabianos estivessem errados ao mais rapidamente na Inglaterra do que em qualquer outra parte'º.
presumir que a propriedade municipal garantia uma política trabalhis- . . O aumento conseqüente em eficiência e produtividade pode ser
ta progressiva - em Manchester ela evidente1nente não garantiu46 - md1cado mnito grosseiramente por alguns números. Assim, entre 1874
certas aLLtoridadcs (Edinburgh, Bradford, Leeds, Birmingham)" proce- e 1888 os salários da carbonização (por 28,315 m' de gás vendido) caiu
deram politicamente e reconheceram o sindicato. a uma taxa média anual de cerca de 1,8 por cento. Entre 1893 e 1911
(quando o declínio terminou incólume) eles caíram a uma taxa média
anual de 3,2 por cento; entre 1900 e 1911, na verdade, a uma média de
IV 4,5 por cento por ano". Esta queda não foi devida a um declínio dos

O efeito do sindicato sobre a indústria foi surpreendente, e total- *Uma cmnpanhia, ao derrotar o sindicato en1 1890, reintroduziu o dia de 12 horas e 0
mente benéfico. Numa ocasião em que muitas indústrias iuglcsas esta- manteve, principalmente por arnour propre.
**Nas pequena\ cidades e gasôtnetros, o dia de 12 horas manteve-se por si rnesrno com
belecidas estavam contentes cm estagnar, o Gás embarcou num pro- algum sucesso.

198
199
níveis de salários. Estes, na verdade, anmentaram em muitos gasôme- Não há nenhuma dúvida de que o desejo de eliminar a mão-de-
tros importantes de entre 2 e 1O por cento nos anos de surto econômi- obra habilitada foi o melhor incentivo nas fases iniciais deste reequi-
co de 1897-1901". Como a diminuição absoluta das folhas de paga- pamento, quando as economias dos novos métodos eram ainda uma
mento da carbonização demonstram (ver Tabela Ili), isso foi em
grande parte devido à economia de mão-de-obra nas casas de retortas.
1 questão de discussão, e a folha de pagamento havia subido suficiente-
mente alto, para acabar, por enquanto, com os lucros declarados. A
Um estudante em 1914 podia observar que mecanização não começou seriamente a se pagar até o novo século,-"4 e
f mesmo então os técnicos de gás - especialmente nos gasômetros
"o número de homens de casa de retortas empregados por n1ilhão de pés cúbi- 1 médios e pequenos - puderam discutir o assunto sem chegar a quais-
cos de gás fabricados por semana foi reduzido sucessivan1ente de pouco acima quer conclusões reais". (Apesar disso, em 1901 foram os méritos dos
de 12 para algo entre 2 e 3.''"-'
diferentes métodos mecânicos que foram discutidos, tantas vezes
quantos os dos manuais contra os processos mecanizados). Tampouco
se pode afirmar com justiça que o modo de sindicalismo permaneceu
Tabela III. Salários de Carbonização nos principai.v gasômetros da
como o único, ou mesmo o principal incentivo. O progresso da eletri-
Inglaterra.*
cidade, e as formas rivais de produção de gás, a importância crescente
Ano Total Ano Total do aquecimento, cozinha e consumo industrial de gás (que tornaram a
indústria mais sensível às flutuações industriais, enquanto tendia a
1891'" 1.020 1905 905
1906 798 igualar a carga de gás entre as diferentes estações e diferentes horas do
1892-9*":<* 957
1900**~"'' 1.049 JY07 893* ''*** dia), o crescimento do mercado de subprodutos, as f1utuações e a ele-
1901 1.044 1908 867 vação dos preços da matéria-prima: todos estes preocupavam mais o
1902 966 1909 817
787
administrador do gás ou engenheiro do começo do século vinte do que
1903 939 1910
1904 942 o problema do trabalhador habilitado.
Contudo não pode haver dúvida de que o ímpeto inicial foi devi-
Ponte: Análise de Field e1n :L 000 do ao sindicato". Pela primeira vez, depois de 1889, as discussões dos
especialistas não têm uma nota de urgência, os inventores acentuam
Além do mais, o carvão era usado mais eficientemente. Desde o que seus aparelhos são projetados deliberadamente com a intenção de
meio da década de 1890 a quantidade carbonizada, que havia até então serem operados pelo homem médio, e não o excepcionalmente grande
aumentado a uma taxa ligeiramente menor do que a produção de gás ou pequeno, forte ou rápido, que ainda podia ser escolhido no merca-
nos gasômetros de Londres, tendeu a permanecer estável, e até a cair do de trabalho, mas que não mais abriria mão, alas, da vantagem para
ligeiramente. A produção de gás continuou a se expandir mais o_u a negociação da sua relativa indispensabilidade57 • Pela primeira vez
menos à mesma taxa que autes de 1888, embora um pouco menos uni- descobriu-se que o que a indústria precisava era "alguma coisa que
formemente. faça pela fabricação de gás o que a ceifadeira auto-enfardadora faz no
campo da colheita" 58 •
*Municipalidades de Londrc~, suburbanas e provinciai~, con1panhia-~ provinciais como Contudo, apesar destes esforços, o sindicato permaneceu com o
na Nota 40. Com as seguintes modificações: Leeds saiu entre 1893 e 1907; BradJiJ1d entra desde
J 900; Preston sai desde 1894; Liverpool desde 1898; DerbY entre l 898 e 1906; Rochester e
controle parcial da situação, enquanto a toda a sua volta os "novos sin-
Chotfwm entrain desde 1895. dicatos" de 1889 caíam como paus de boliche. De qualquer maneira ele
0 :'* Pico da folha de pagamento depois doc. aun1entos de 1889-90. manteve o seu controle em cerca de 30 a 50 cidades, muitas delas
**'~Média anual.
importantes," o mesmo em 1908, o pior período para os "novos sindi-
**'···Inclui os aumentos de salários de 1897-1900.
·''"~**O aurncnto é devido á reentrada de /,eeds na tabela. catos", sua organização pode ser descrita co1no "considerável" 60 •

200 201
Novamente devemos perguntar, por quêº As grandes concessões d.e da de gás. O pico do inverno era ainda o dobro da demanda do verão. e
1889 tinham sido seguidas por contra-ataques determinados da admi- embora a diferença entre o número de trabalhadores de inverno e verão
nistração. Até certo ponto estes tinham tido sucesso, porque uma vez tivesse sido reduzida à metade entre 1885 e 1906, havia ainda cerca de
as firmas estivessem, corno a South Metropohtan em 1889-90, pr.epa- 10.000 trabalhadores sazonais num total de 72.000". Além do mais, a
radas para lutar até 0 fim a qualquer custo - e a própria firma.estima- mecanização, a sazonalidade decrescente da fabricação de tijolos, e a
va este em f 100.000 durante três meses''' - elas podiam ohvrnmen:e depressão do ramo de construção após 1900 não pode ter deixado de
superar 0 sindicato. Além do mais, as administrações tiveram o verao produzir efeito nos carvoeiros, porque eles haviam providenciado as
de 1890 para porem suas casas em ordem, tentarem forçar os seu s
60
ocupações regulares de verão para 1nuitos 68 . Nos empregos de verão
homens a contratos a 1ongo prazo, despedir os criadores de casos, etc. -. novos e mais casuais o trabalhador de gás sazonal podia esperar salá-
o ataque foi, é verdade, detido naquele verão pela vitórmdos homen,s rio mais baixo e menos regular do que nos dias cansativos, embora bem
numa greve amargamente travada em Leeds, que por motivos de ~oh­ pagos da fabricação de tijolos à mão. Ele iria se sentir em conseqüên-
tica m~nicipal não estava inclinado a uma guerra total. Essa v1tona, cia com o espírito menos independente no inverno. Admitidamente,
chegando na pior estação do ano, animou ~s filiais do smd1cato por tudo isto foi até certo pouto iniciado por outros fatores. A expansão
toda a parte'''. Mas mesmo sem ela, havia duvidas do smd1cato poder contínua da indústria mais do que absorveu os homens afastados pelas
ter sido varrido imediatamente. máquinas; entre 1885 e 1906 o número médio de trabalhadores nas
"Eles têm bastante espaço para armazenar o gás?" perguntava o empresas de gás que faziam relatórios para o governo mais do que
Journa/, lastimando-se após Leeds 6'. "As casas retortas são amplas, dobrou
69
. Daí não surgiu nenhum "exército de mão-de-obra de reser-
facilmente operadas e suficientemente cstoc~das co~ rnaqu1nar~,e va" excepcionalmente grande. Além do mais, a proporção menor de
aparelhos para economizar mão-de-obra dos tipos°'.ª'.~ aprovados. homens das casas de retl1rta ainda mantinha o controle do gargalo vital
Elas não eram. E se fossem o "O carvoeiro de gas , adm1trn o pre- da produção, e a porcentagem decrescente dos seus salários em relação
sidente da Sociedade Inglesa do Norte de Administradores do Gás, "é às despesas totais da firma tornava os empregadores mais prontos a
um operário habilitado - pode ser um tipo de habilidade mmto ele- negociar com eles'º. Apesar de tudo, em comparação os carvoeiros
mentar, mas que não pode ser adquirida a qualquer ,momento, como estavam certamente mais fracos e as fir1nas menos vulneráveis em
alguns imaginam"" e "Carvoeiros descontentes tem mfehz.mente 1910doqueem 1888.
amplos meios de fazerem os gasômetros sofrerem( ... ) dcsp.erd1çand.o Os aparelhos para economizar mão-de-obra e simplificá-la, contu-
carvão ou continuando a fazer seu traba1ho de uma tnane1ra insubordi- do, não desalojam automaticamente os grupos-chave de trabalhadores
nada." Era uma admissão importante: a indústria teve que tratar sua dos seus redutos. Eles só fazem isso quando esses grupos são incapazes
mão-de-obra como "artesãos", que exigisse1n incentivos, e não como de manter sua indispensabilidade relativa (isto é, sua força de negocia-
simples "operários", que "não possuíam nada a não ser o simples valor ção) durante o período decisivo de transição, e não podem portanto "cap-
do trabalho" 66 • turar" os novos aparelhos para o sindicalismo reconhecido, a taxa-
Por que, no entanto, a mecanização dos 15 anos subseqüentes não padrão e as condições-padrão de trabalho. Assim, nas últimas décadas
conseguiu 0 que 0 contra-ataque imediato n~o pôde? Evidentemente, do século dezenove os tipógrafos em quase toda parte, e os maquinistas
a posição de negociação absoluta do carv~c1ro ~stava um tanto. ~nfra­ habilitados em menor extensão na Inglaterra "captaram" a composição
quccida. A fabricação de gás não dependia mms tanto d.a hab1hdade mecanizada de tipos e as máquinas-ferramentas automáticas, assimilan-
manual, força e coufiabilidade, e as flutuações sazomus com o seu do o novo trabalho semi-habilitado para o status do velho artesão; os
casualismo conseqüente não diminuiu tão rapidamente como o uso do maquinistas an1ericanos não conseguirain fazer isso, e permanecera1n
abastecimento manual de carvão, porque elas dependiam menos da virtualmente sem sindicatos por cerca de 30 anos. Se um grupo-chave
maneira como 0 trabalho era organizado, do que da natureza da deman- pode conseguir fazer isto vai depender, naturalmente, de uma combina-

202 203
ção de muitos fatores variáveis, mas os carvoeiros de gás estavam favo- Primeiro, ela fornece um modelo claro e elegante de uma explo-
ravelmente colocados. O sonho da máquina perfeita operada por qual- são sindical. Um corpo de trabalhadores tecnicamente bastante capa-
quer homem escolhido na rua foi perseguido, mas não com muito suces- zes de forte negociação coletiva tem, por motivos de costume ou con-
so imediato". Assim a força de trabalho para as novas máquinas não venção, deixado de desenvolver sindicatos. Durante um período de
podia ser recrutada, como na mineração de carvão a céu aberto num cor- tempo há uma discrepância crescente entre a estrutura técnica e orga-
po de homens completamente diferente, mas vir dos velhos carvoeiros. 72 nizacional razoavehnente estática da indústria e a expansão da sua
Além do mais, se, havia progresso técnico, não havia nenhuma revolu- produção. Isto produz, por um lado, uma acumulação gradual de des-
ção técnica. A indústria inglesa de gás do século dezenove tinha sido contentamento, e por outro uma sensibilidade e vulnerabilidade cres-
estropiada há muito tempo pela relutância, natural mas perigosa, de jo- centes da administração à pressão dos trabalhadores. Um estímulo
gar fora o forte investimento de capital representado pelos gasômetros externo relativamente ligeiro basta então para produzir a explosão. Os
velhos e ineficientes. Já que eles eram em grande parte um monopólio, sindicatos, anteriormente quase desconhecidos, tornaram-se univer-
podiam repassar os seus altos custos facilmente para os consumidores. 73 sais da noite para o dia. Contudo, embora elegante, este modelo não é
Desde que, contudo, a indústria confiasse até certo ponto em sua fábrica universal. Ele pode servir para explicar as explosões dos sindicatos em
mais velha (na qual, como vimos, a posição de negociação dos carvoei- certas indústrias, ou certos aspectos das explosões gerais, mas prova-
ros tendia a ser muito forte), ela proporcionava um certo grau de prote- velmente não mais.
ção não só para os seus carvoeiros, mas também para os dos gasômetros Segundo, o gás fornece um exemplo surpreendente de uma
mais modernos. Finalmente, o ritmo da sua expansão foi comparativa- indústria gue entra num período de modernização quase inteiramente
mente descansado;" muito mais lento, por exemplo, do gue a grande devido à pressão da mão-de-obra, e portanto dos efeitos tecnológicos
invasão de trabalhadores em múltiplos ramos ou certos tipos de produ- benéficos da militância trabalhista. Sem dúvida este exemplo é tam-
ção em massa entre as guerras, o que criou grandes reservas de mão-de- bém um tanto atípico, mas ele tem considerável interesse geral. O con-
obra desorganizada mesmo em indústria muito fortemente organizada servantismo tecnológico é generalizado, especialmente nos países de
como a de engenharia. Em adição a tudo isto os trabalhadores continua- industrialismo arcaico como a Inglaterra, e o folclore dos comercian-
ram a gozar a dupla proteção da lei, gue impunha certos padrões de ser- tes, que se reflete em grande parte até da opinião pública informada,
viço, e do público, ambos como usuários e - cada vez mais importante tem consistentemente tendido a apresentar exigências trabalhistas
- como eleitores municipais; ou, dizendo de maneira diferente, da inca- militares como um mero obstáculo à mudança. Elas não são. Quando
pacidade técnica da indústria de manter estoques realmente bastante o comércio é suficientemente lento, elas podem constituir um estímu-
grandes com os quais manter os serviços durante as principais interrup- lo essencial.
ções. A indústria teve portanto que se resignar aos sindicatos, e se isso foi Terceiro, o gás ilustra a força considerável dos grupos de traba-
demais, de cobrir o lance dos sindicatos-porque era a isto gue se resu- lhadores habilitados ou de outra forma indispensáveis numa situação
miam realmente os crescentes esquemas populares de co-sociedade 75 • de inovação tecnológica, especialmente quando esta tem lugar dentro
Os sindicatos, nesse ínterim, conseguiram, mesmo num período de de uma indústria já velha, bem estabelecida e fortemente capitaliza-
depressão, salvaguadar seus status contra as máquinas 76 • da". Ao contrário de tantos outros sindicatos da safra de 1889, ostra-
balhadores do gás nunca foram efetivamente desalojados das posições
que haviam ocupado então. Naturalmente é possível imaginar situa-
V ções nas quais eles poderiam ter sido, e nas quais teria valido mais a
pena aos patrões desalojá-los. Mas o fato de eles não entrarem em
A história da sindicalização dos trabalhadores ingleses de gás é colapso sob o contra-ataque dos patrões da década de 1890 como tan-
portanto instrutiva em três sentidos: tos outros sindicatos efetivamente entraram, permanece.

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Uma quarta reflexão é sugerida pela experiência dos trabalhado- comparáveis. En1 alguns casos eles se referem clara1nente apenas ao~ salários de car-
res do gás. De todas as indústrias do fim do século dezenove, a do gás, bonização, c1n outros incluen1 o de purificação - uma questão de somenos; ou mes-
mo "a todos o~ ordenados e salários dos gasômetros". Eles assim exageran1 ligeira-
sendo um serviço público, era a inais intimamente envolvida com a
mente a porcentagem da carbonização.
propriedade pública, o controle público e a opinião pública'". Sua força 8. Muitos dos detalhes técnicos do G.J., esp. vol. 49 ( l 887), p. 299: Discurso
de barganha sem dúvida decania em grande parte disto, e talvez tam- presidencial aos Administradores da Associação de Gás de Midland. Para uma biblio-
bém do seu gosto pelas filiações políticas. Por ocasião da sua fundação teca geral, ver: Bibliography ofCoal Gas ( 1892) de W, R. Cheslcr. Ver também: Gas-
a combinação do controle público com a força de mão-de-obra de works (ed. 1904) de S. Hughes e O'Connor, p. 81.
9. G.J. vol. 54(1889), p. 54.
negociadores potencialmente fortes era excepcional. Desde então ela
1O. My LUC Battles (Londres, setn data) de W. Thornc, pp. 36-9, descreve uma
se tornou muito menos forte. Provavelmente a natureza excepcional 1nudança de turno de 24 horas.
desta indústria explica por que os historiadores do sindicalismo pres- 11. "The Problem of the Day" (G.J. vol. 54 ( 1889), p. 594). Também ibid. vol.
taram tão pouca atenção ao episódio extraordinário da emergência 55 ( 1890) p. 1. 182.
súbita, e do triunfo dos trabalhadores do gás e à transformação da 12. Mas dificuldades de patentes detiveram sua introdução entre 1889 e 1899
indústria que eles conseguiram. (ver a "Early History ofinclined Retorts" e1n (J. J. vol. 79 ( 1902), esp. p. 541.
13. G.J. VOS 53 (1889). p. 894.
14. Royal c:o1n1nission on Labour 1891-3, Grupo C. Evidência de W.A. Valon
para o Instituto do Gás sobre salários, horas e 1nudanças desde 1887 (pp. 25, 696 ss.);
NOTAS també1n as séries de níveis de salários 1838-91 na evidência de Livescy, pp. 26, 709.
15. Contudo, parece ter sido uma prática pagar ligeiramente mais do que o ní-
1. As principais fontes para este artigo são: ( 1) os relatórios anuais da matéria vel corrente no distrito para 1não-de-obra não-habilitada. ("TheManagement ofWork-
das co1npanhias de gás privadas e municipais (Parliarnentar.v Papers, 1881-2 em dian- men", G.J. vai. 52 ( 1888), p. 286. Ta1nbé1n discussão de um documento sobre o mes-
te); (2) os relatórios anuais dos balanços das Co1npanhias Metropolitanas de Gás (Par- mo assunto de R. Fish na reunião do Instituto do Gás, Glasgow, julho l 887 (ibid. vol.
lian1entary Papers, 1870-1906); (3) Análise das C'ontas das Companhias de Gás de 49(1887),p. 109).
Field ( 1869 até hoje) que cobre Londres desde 1869, os subúrbios de Londres desde 16. Popplcwell, op. cit., pp. 161-2; G.J. vol. 55 (1890), p. 1.182.
1880 e uma seleção de companhias provinciais desde 1883; (4) o inestimável e volu- 17. R. C. en Lahour, Grupo C, pp. 26-022-26.430.
mosoJournaL ofGas Lighting (semanal), que contém informações con1pletas e discus- 18. lbid., p. 26.695.
sões de todos os aspectos da indústria. Ele é aqui citado como G.J. (5) as Transactions 19.Assim G.J. vol. 54(1889), p. 65, lamenta que a introdução dos turnos de oito
de várias associações de a<lrninistradores de gás, técnicos e outros ligados à indústria. horas deixe o trabalho de inverno aberto "apenas para un1a população trabalhadora
J\s fonte~ sindicais - en1bora bastante copiosas desde 1890- são menos úteis. 1nigrante" ,já que os melhores homens estarão todos regularmente en1pregados.
2. Para as agitações anteriores ver: History (~f the Gaslight and Coke Cornpany 20. G.J. Vol. 54 ( 1889), pp. 538, 712, 739, 862. Os diretores de Liverpool escre-
(Londres 1948) de S. Everard, pp. 122-3 ( 1825), p. 201 ( 1859). p. 244 (1867-72). Tam- verain para 26 cidades pedindo furadores de greves.
bém The London Gas Stokers. /\ Report hy the Connnittee of their Trial etc. (Londres 21. "The Managemcnt ofVVorkmcn" -3 artigos, loc. cit.- recomendou fun-
1873), e os arquivos contemporâneos da Behive. dos de acidente a doenças, pagos pelos ho1nens, e aposentadoria, porque "u1na vez que
3. Ver abaixo sec. 111. um homem tenha pennanecido por alguns anos empregado na companhia, há a pers-
4. Economic flistory ofModern Britain Ili de Clapha1n; lncreasinJ? Returns de pectiva de 'perder sua pensão' por 1nau co1npo1ta1ncnto ou negligência" ... (p. 331 ).
G. T. Jones; The Economic History ofSteel-Making 1867-1930 de D. L. Burn. 22. lbid .. p. 244.
5. "The Gas Industry" de F. Populewell etn Seasonal Trades de S. Webb e A. 23. R. C. on Labour, Grupo C, pp. 24.919, 25.748. Tanto os sindicatos de Lon-
Freeman(Londres 1912).pp. 181-3. dres como de Birmingham organizara1n automatica1nente os fabricantes de tijolos
6. Já que (a) a casa de retortas era a chave para o sindicalis1no do gás e (b) os bem como os trabalhadores de gás. Para outras alternativas sazonais ver G.J. vol. 52
salários de carbonização são a n1elhor aproxin1ação para o custo da mão-de-obra da (1888), p. 286 (Colheita); J. R. Stat. Sec. ( 1911 ), pp. 693 ss. (estiva, carregamento de
produção real de gás. carvão); Therne, op. cit. (marinharia); Gas-workers and General Lahourers Union:
7. Report to the Board o.fTrade on the Relation r~fWages in certain Industries to Le1nbrança da Conferência de 1904 (trabalho de fábrica miscal.); Trans. Inc. Gas fnsti-
the Cost r~f Production (BPP 1890-1: LXXVIII). Estes dados não são estritan1cntc tute ( 1890) (Tripulações de iates em Southa1npton).

206 207
24. Os jovens raramente eram suficientemente fortes. Ver também Econ. Cidade 1888 Média 1890- 1 Percentagem do au1nento
Journ., Junho 1911; "Underemploye1nent and the Mobility of Labour" de Heath.
25. Popplewell, op. cit., p. 165. O treinan1ento de grupos de ho1nens que tinham Londres 343.846 506.965 47
Subúrbios 54.746 84.062 53
que trabalhar juntos, levam muito mais tempo, contudo, do que a falta de habilitação
8 Municipalidades* 159.682 216.188 35
dos homens isolados poderia indicar. Daí grande parte da vulnerabilidade da indústria IOCompanhías*'º 139.091 189.398 36
às greves (R. C'. on Labour, Grupo C, p. 26.702).
26. Até a Earnings and Hours Enquiry (Par{. Papers 1910, LXXXIV) de 1906 42. G.J. vol. 54 ( 1889), p. 781, onde u1n editorial sustenta que a derrota isolada
dá apenas 144 carvoeiros en1 trabalhos por tarefa num total de 11.655. Contudo, no da Companhia de Gás de Bristol após uma curta greve deve selar a sorte de todas as
estrangeiro, o pagamento pelos resultados era 1nuito mais generalizado (cf. "Nou- companhias. Também seus relatórios, dispersos.
vcllcs Methodes de Sal aires" de M. Henry La1ning, crn Societé Technique de l 'Indus- 43. lbid. p. 683 (8 de outubro 1889).
trie du Gaz., Compte-Rendue du 32~ Congres 1905). 44. O lento progresso da iluminação elétrica na Inglaterra durante a década de
27. Há pouco para confirmar a opinião do G.J. vol. 55 ( 1890), p. 583, de que isto 1880 não é ncnhu1n guia para ansiedade causada pelo progresso mundial nesta oca-
era simplesmente um 1novimcnto salarial disfarçado; en1bora, naturaln1ente, u1na sião,
mudança de doze para oito horas significasse o aumento dos níveis semanais, se os 45. G.J. vol. 53 ( 1889), p. 707; também disperso para estas preocupações.
ganhos não devessem cair. 46. Çf History oflocal Govern1nent in Manchester, III, de Redford, cap. 23.
28. Thorne, op. cit., p. 64. Mas ele 1nenciona també1n o acendimento regenera- 47. G.J. vol. 54 (1889), pp. 798, 1.072; vol. 56 (1890), p. 39.
dor e a aceleração simples (pp. 65-6), o que é mais provável. 48. Os relatórios anuais sohrc Changes in Wages and flours (Pari Papers,
29. Estes números são calculados dos relatórios anuais dos balanços das Co1n- Con1ércio), disponível desde 1893, n1ostra1n que com poucas exceções (Biackburn,
panhias Metropolitanas. 100 carvoeiros em 1897, West Hatlepool, 60 carvoeiros e1n 1899) nenhu1n gasôtnetro
30. G.J. vol. 50 (1887), pp. 109-10. Para ama análise completa de trabalho importante mudou do turno de doze horas para o de oito entre 1893 e 1906.
muito semelhante, ver R. C. on I,abour, Grupo C. (Indústria Química) Parl. Pap. 1893- 49. Dos relatórios anuais dos Balanços (Conta de Capital).
Y, XXIV, pp. 656 ss. També1n Thorne, op. cit. pp. 39,65-6. 50. Para ton1ar o caso das Retortas Inclinadas: "se1n dúvida o método n1ais
31. Dangerous Trades (Londres 1902), T. Oliver (cd.), p. 572. in1portante de economizar 1não-de-obra nos gasô1netros". Em 1900 a Inglaterra havia
32. Em Leith, Salford, Bolton e Binningham. instalado, 20 por cento mais delas do que todos os outros países da Europa e os EUA
33. G.J. vol. 53 (1889), pp. 32, 170, 355, 778, 915 ss. juntos, e tinha bem mais do dobro da capacidade do que a sua rival mais próxiina, a
34. Ibid. vol. 54 disperso. As agitações são registradas nas seguintes áreas: Alemanha. (Modern Methods ofSavinJ:: Labour in Gas Works de C. E. Brackenbury
(Londres 1901 ), p. 16), G.J. vol. 79, p. 542, dá uma capacidade total inglesa de mais
Lancashire & Chesshire 27 Sul e Sudoeste da Inglaterra 3 de 1.076.000 m·' por ano. Londres possuía uma capacidade de Retortas Inclinadas igual
Yorkshire 15 Midlands Oriental 2 a cerca de 20 por cento da sua produção, a amostra de Field da capacidade das 1nunici-
Costa Nordeste 5 Escócia 2 palidades provinciais igual a 25 por cento.
Midlands Ocidental 4 Anglia Oriental 1
Quanto à maquinaria para abastecer de carvão, Brackenbury afirma ter sido isto
Londres 4 Gales do Sul
virtualmente un1 1nonopólio inglês (op. cit:, p. 25; Ga.<,·}vorks Plant & Machinery
(1905),pp.13-14).
35. P. ex., Lcith, Bolton. 51. Análise de Field para os gasômetros de Londres.
36. P. ex., Dundec, Liverpool, Nottingham, Southampton, Darligton, Bolton, 52. Relatórios Anuais sobre Changes in Wages, etc. O ciclo seguinte de aumen-
Birkcnhead, Burnley e Bristol. tos ocon·eu e1n 1911-13. Os aumentos de Londres en1 1897 totaliLara1n cerca de 7 ,5
37. R. C. on Labour, Grupo C, pp. 29.470-82. por cento sobre a taxa média.
38. G.J. vol. 54 (1889), p. 458. 53. Popplewell, op. cit., p. 178.
39. lbid., p. 838, 54. Ver Tabela III.
40. lbid., p. 885.
41. Na verdade, o aumento da folha de pagamento da indústria acabou sendo até
n1aior: * Birmingham, Bolton, Lccds, Leicester, Manchester Nottinghain, Oldham e Salford.
Total de Salários de Carbonização em vários Gasômetros Ingleses 1888 e ** Bath, Brighton, Bristol, Derby, Liverpool, Newcastle, Plymouth, Portsea. Preston e
1890-I Em fs. (Fonte: Análise de Field) Sheffield.

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55. P. ex., Report.1· qf Proceedings of Associations ofGas Engineers a11d Gas 74. Cf., por exemplo, o docu1nento de E. W. S1nith sobre "Improve1nents in Car-
Managers ( 1902), pp. 24 ss.; 213 ss.; ( 1903), p. 87. bonization in Recent Years" (Rep. of Proc. o.fi\ssocs. o.f'Gas Enxineers and Gas Ma-
56. Cf G.J. vols. 55-7 disperso; esp. vol. 54, p. 589, "TheProblem ofthe Day". nagers ( 1901 ), pp. 291 ss.). Tainbém vale a pena notar que, en1bora, como vin1os (n.
57. G.J. vol. 57 (1891), p. 943: "Mas o desejo do autor era ter todo o trabalho 50) as Retortas Inclinadas progredira1n en1 alguns lugares, outros forain lentos e1n
organizado para que qualquer trabalhador comu1n pudesse realizá-lo". (Uma pá e adotá-las. Das oito co1npanhias provinciais da a1nostra de Ficld, com uma fabricação
transporte para as retortas inclinadas). total de 352.890 1n-' cm 1902, só urna tinha então introduzido Retortas Inclinadas, con1
58. lbid. vol. 54 (1889), p. 594. uma capacidade anual de 1.186.985 m-' (lsto não significa que elas não tivessen1 pro-
59. Esta é uma estimativa muito grosseira, retirada dos relatórios do Sindicato gredido tecnicamente, naturaln1ente).
dos Trabalhadores do Gás, a N. A1nal. Union of Lahour, e os relatórios de assuntos tra- 75. Popplcwell, op. cit., pp. 194-6, dá particulares das vinte con1panhias (oito
balhistas no C.J. Ele<; incluíam 1nuitas cidades grandes do norte. Binninghain, Bristol; delas, inclusive a~ Três Grandes, na área de Londres) que po:-..suían1 esquen1as de co-
várias cidades galesas, etc. sociedade. Duas de:-.. tu:. foran1 adotadas entre 1890 e 1899, três entre J 900 e 1905, qua-
60. Popplewell, op. cit., p. 159. torze en1 1908-9. Os pagamentos totali7.arain un1 bônus médio sobre os salários de4,85
61. R. e·. on Labour, Grupo C, p. 26.913. Manchester também lançou um con- porcento. Estespaganientos não estão incluídos nos números de salários usados neste
tra-ataque inicial con1 sucesso. artigo.
62. CJ.J. vol. 55 (1890), disperso: p. 925 insinua que esta foi u1na cainpanha 76. Cf., Relatórios do Sindicato dos Trabalhadores do Gás, p. ex., Quarterfy
coordenada. Verta1nbé1n ibid., vol. 56 ( 1890), editorial de 19 de julho. Contudo, a ten- Repor! jul-set. 1903, pp. 74-5, para detalhes completos dos termos negociados para
tativa de impor contratos a longo prazo é por si 1nesn1a uma ad1nissão de derrota, numa operar as Retortas Inclinadas em S. Shiclds.
indústria infestada de mão-de-obra casual no passado. 77. Cf A11rericun and British Technoiogy in the nineteenth century (Can1bridge
63. Fift.v Years ofthe Natiotial Union (~{General and Municipal Workers ( 1939), 1962) de H.J. Habbakuk, para u1na discussão completa destes problemas.
p. 71. Para um relato desta greve, que dese1npenhou uma parte itnportante na forma- 78. As estradas de ferro, o caso co1npai·ável inais próxin10, não tinhain nenhun1
ção do senti1nento trabalhista independente en1 Leeds., cf., "Homagc to Tom Maguir" setor de propriedade pública nesta ocasião.() transporte 1nunicipal baseado e1n tecno-
de E.P. Thompson. em t:ssa.rs in Lahour History de A. Briggs e J. Saville (Londres logia avançada ainda estava na sua infância.
1960), pp. 299 ss.
64. Vol. 56 (1890). p. 72.
65. Ibid., p. 288. Isto pode explicar o declínio aparente na preocupayão da admi-
nistração cornos problemas trabalhistas n1ais tarde: doravante presutnia-se que os car-
voeiros, etc., tinhan1 que ser "acomodados" nun1 grau muito 1naior, como coi::.a natural.
66. Para uma breve discussão deste problen1a, ver tneu "General Labour Unions
in Britain, 1889-1913" (Econ. Hist. Rev: Sec. Series Vol. 1, pp. 2 & 3 ( 1949) pp. 123 ss.,
esp. pp. 125-9.
67. Popplewell, op. cit., p. 208.
68. Ibid. pp. 168-71, e refs. con10 na nota 23.
69. lbid. p. 208.
70. Assüne1n 1889 os salários de carbonização constituían1 cerca de 38 porcen-
to da folha total de pagainento nos gasô1netros de Londres; e1n 1906 só cerca de 25 por
cento (calculado dos Parl. Papers 1890-1, LXXVIII, pp. 61 ss. e Par!. Papers 19 JO,
LXXXlV: Trabalhadores do gás). A queda foi, naturaln1ente, e1n grande parte devida
à grande expansão nos custos distributivos da indústria.
7 l. G.J. vol. 58 (1891), p. 658.
72. Fato esse ref1etido nas taxas das novas operações, que erain clarainente fixa-
das em relação aos salários dos trabalhadores habilitados, e não (como por exemplo no
ofício de construção) acrescentando alguns pennies à taxa do não habilitado. Ver o
S!andardTime Rates ofWages in the United Kingdorn anual.
73. Histur:v ofthe Gaslight and Coke Cornpany de S. Everard, p. 254.

210 211
10

OS SINDICATOS TRABALHISTAS
GERAIS NA INGLATERRA, 1889-1914*

OS "SINDICATOS TRABALHISTAS GERAIS" que incluem


todas as classes de mão-de-obra, independentemente de habilitação on
ocupação, existiram, em uma ou outra ocasião, em inuitos países indus-
triais. Na Inglaterra, onde eles desempenham nma parte maior no sindi-
calismo moderno do que em outras partes,** eles foram permanentemen-
te estabelecidos em força desde o fim da década de 1880. Embora os
"sindicatos gerais" tenham usado muitas das técnicas de negociação do
sindicalismo dos "ofícios" do passado, e tenham tendido cada vez mais a
adotarem as do "sindicalismo industrial'',' eles não podem ser totalmen-
te analisados em termos de qualquer das duas destas divisões clássicas da
organização sindical. Eles têm, na verdade, desempenhado três funções
bastante distintas - muitas vezes simultaneamente. Como sindicatos de
"classe" eles têm tentado unir todos os trabalhadores contra todos os
patrões, geralmente sob inspiração socialista ou revolucionária. Como

*Meus agradeci1nentos são devidos aos funcionários do Sindicato Nacional dos Traba-
lhadores Gerais e Municipais por 1nc darem acesso às fontes à sua disposição.
'"""'Embora cxistain poderosos exe1nplos estrangeiros; p.ex., o Sindicato Australiano de
Trabalhadores.

213
sindicatos de "trabalhadores", eles têm tentado fornecer organização efe- catos "novos", eles entraram gravemente em colapso na depressão do
tiva aos trabalhadores incapazes ou excluídos do sindicalismo de classe começo da década de 1890; mas ao contrário de algumas outras, as
ortodoxo. Como sindicatos "residuais", finalmente, eles organizaram sociedades "gerais" não se recuperaram completamente até depois da
qualquer corpo de trabalhadores não-efetivamente abrangidos por outros expansão renovada de 1911-14. Entre as duas expansões elas parece-
sindicatos (e alguns que eram): nem a primeira nem a terceira funções exi- ram ter disparado suas mechas, e muito definitivamente perderam ter-
gem qualquer forma especial de organização. Na verdade, os modernos reno. A Tabela l dá um breve quadro comparativo da sorte de vários
sindicatos de "classe" - os Trabalhadores Industriais do Mundo nos tipos de sindicatos "novos" (todos compostos de homens "convencio-
EUA e em outras partes, o Único Sindicato Grande no Canadá, os vários nalmente" não-habilitados) entre 1892 e 1912.
sindicatos comunistas entre as guerras - têm estado entre os principais É claro que teinos aqui três padrões: as sociedades de "ofícios"
propagandistas do sindicalismo "industrial" rigoroso. Mas o problema de com os seus membros estáveis (e restritos); os Sindicatos Gerais, flu-
tuando, mas sem qualquer tendência marcada para cima, contudo
organizar os "não-habilitados" e os "trabalhadores", quando os "habilita-
subindo quase verticalmente após 1911; e os sindicatos "industriais"
dos" e os "artesãos" já estavam e1n sindicatos próprios fortes e exclusi-
ou compostos, crescendo firmemente desde 1900, embora bastante
vos, exigiu táticas e políticas peculiares dos sindicatos "gerais": É com
depressa após 1911. Em, digamos, 191 O podia ter parecido que o
estas, e com suas mudanças, que este artigo se preocupará principalmen-
segundo grupo estava destinado, se não a substituir, então a eclipsar
te, embora uma pesquisa delas, envolva também algumas análise da com-
cada vez mais o terceiro. Mas, na verdade, aconteceu o oposto. Ambos
posição real destes sindicatos. O assunto é, geral, negligenciado.
os grupos (a) e (b) se fundiram para formar os dois vastos sindicatos
Os sindicatos formados na expansão do fim da década de 1880
gerais atuais. Podemos assim distinguir três fases no desenvolvimen-
recrutaram trabalhadores de todos os graus de habilitação, e adotaram
to dos sindicatos gerais: as expansões de 1889-92, o declínio relativo
numerosas formas de organização. Contudo não é nenhum acidente
de sua importância entre 1892 e 191 O, e sua expansão renovada, e
que o ''Novo Sindicalismo" seja normalmente associado co1n as gran-
como se verificou, permanente, após 1911. Cada uma destas fases
des sociedades "gerais", os maiores e mais proeminentes corpos pro-
desenvolveu suas formas peculiares de organização e política.
duzidos pelo movimento-Estivadores, Trabalhadores do Gás, Sindi-
cato Trabalhista do Tyneside e um certo número de outros*. Muitos Tabela 1. *Número de membros de certos sindicatos 1892-1912 (em milha-
destes desde então têm-se fundido para formar os dois sindicatos res); núniero anual médio de n1e111bros acima do período de 3 a 2 anos
gigantes dos Trabalhadores Gerais em Transportes e Trabalhadores
1892,4 1895,7 1898-1900 1901,3 1904,6 1907-9 1911-12
Gerais e Municipais que hoje incluem algo como um quarto do total
dos membros dos sindicatos ingleses. Contudo, a história deles não Todos os
tem sido de maneira alguma de sucessos ininterruptos. A falta de esta- sindicatos 1.555 1.614 1.895 2.010 2.058 2.492 3.277
"Gerais"(li) 76 69 88 81 67 74 186
tísticas confiáveis torna impossível medir a força relativa e absoluta
"Todos os
dos sindicatos "gerais" do "Novo Sindicalismo" de 1889-92; mas sua graus"(b) 19 22 29 34 45 60 109
força proporcional era sem dúvida muito grande'. Como muitos sindi- "Ofícios
Locais"(e) 12 12 12 12 li 12 24

':'Os principais são: Trabalhadores do Gás e Trabalhadores Gerais 1889; mais tarde: S.N. (a) Estivadores de Londres, Trabalhadores de Gás de Londre,~, Trabalhadores de Gás de Bir-
dos Trabalhadores do G:ís e Trabalhadores Gerais; S.N. dos Trab. Gerais; aqui chmnados de: Tra- minghmn, SNUT, Sindicato Nacional Unido dos Trabalhadores.
balhadores do Gás de Londres, S. dos Trab. em Docas, Cais, 1\!Iargem do Rio e Gerais 1889, aqui (hj Homens de Carros de Londres, Carroceiros Unidos, Trabalhadores Unidos cm Bondes e
chamados de: 1::.1·1ivndores de Lo11dre.1 ou Eslivadores); S. T. das Margens do Tyhe e Gerais Veículos, Empregados Municipais, Estivadores de Liverpool.
( 1889), 1nais tarde: Sindicato Nacional Unidos dos Trabalhadores, aqui chmnada de Traba- (e) Estivadores ele Londres, Barqueiros de Tâmisa, Arrumadores de Cardi!T, Carroceiros do Cais
lhadores do Gás de Birminglwm; Sindicato Nac. Un. dos Trabalhadores (1889), Sindicato dos do Mersey e de Carris, Salinciros de Winsford.
Trabalhadores (1898), Federação Nacional das Mulheres Trabalhadoras ( 1906). ':'Fonte: Relatórios sobre os Sindicatos.

214 215
II 1 do Trabalho da Margem do Tyhe, 1886-93), 8 tanto com idéias sindicais
quanto co1n alguma transformação social ou moral mais ampla ein
A teoria em mente dos fundadores dos sindicatos gerais de 1889 (e 1 mente. Ambos os sindicatos de trabalhadores "fracos'', e corpos polí-
de seus predecessores) era razoavelmente simples. O "trabalhador", ticos-industriais tenderam a crescer mais ou menos nas mesmas oca-
móvel, indefeso, mudando de um ofício para outro, era incapaz de usar as siões de tensão e inquietação social; e no Fim da década de 1880 um
táticas ortodoxas do sindicalismo dos ofícios. Possuindo "simplesmente
1 corpo de organizadores e propagandistas socialistas estava mais urna
o valor geral do trabalho" 3 ele não podia, como o "homem habilitado", vez disponível na Inglaterra. Pode-se, contudo, imaginar que os gran-
reforçar um certo valor de carência por vários métodos restritivos, assim 1 des sindicatos "gerais" nacionais e regionais de 1889 foram a prole de
"mantendo alto o seu preço"4. Sua única chance port;u1to erarecn1tar para um casamento entre o sindicalismo classista dos socia1istas e os planos
um sindicato gigantesco todos aqueles que possivelmente podiam furar mais modestos dos próprios não-habilitados.* A expansão do começo
suas greves - em última análise todo homem, mulher ou adolescente
"não-habilitado" do país, e assim criar uma vasta profissão fechada.
1
f
da década de 1870, em outros sentidos uma precursora importante -
e negligenciada - do "Novo Sindicalismo", produziu sindicatos de
"Se nos limitarmos," disse Will Thorne, "a uma indústria particu- um tipo muito mais seccional9 •
lar, tal como a dos gasômetros, apenas, e se essas outras pessoas em 1 Esta, então, era a teoria. Não se pode compreender completamen-
várias partes do país forem deixadas desorganizadas, então, se tivermos te suas fraquezas sem se lembrar das crenças contemporâneas sobre a
uma disputa com qualquer das companhias de gás, estes homens seriam estruturada classe trabalhadora, acima de tudo sobre aquela fronteira
trazidos para serem postos em nosso lugar."-" Teoricamente, portanto, nítida que separava o "habilitado" do "não-habilitado", o "artesão" do
não havia nenhum limite para o sindicato e os seus líderes reconhece- "trabalhador''. À primeira vista a nitidez desta separação é surpreen-
ram isso. O Sindicato Trabalhista das Margens do Type logo transfor- dente; para a1nbos, classe média e artesão, os economistas acreditavam
mou-se no Sindicato Trabalhista Nacional Unido. Um corpo puramen- que as recompensas do trabalho (com ou sem assistência) fossem geral-
te regional na Gales do Sul chamava-se a si mesmo de Sindicato mente proporcionais ao mérito e à superioridade física, intelectual e
Nacional Unido dos Trabalhadores da Grã-Bretanha e Irlanda, a União moral'". Uma escala gradualmente ascendente, tal como aquela sugeri-
Trabalhista do Lancashire transformou-se na União Trabalhista Ingle- da pela nossa divisão em "não-habilitado", "semi-habilitado"**, pode
sa, mesmo que o seu raio efetivo fosse contraído para cerca de trinta e ter parecido mais adequada para essas opiniões. Mas, na verdade, o tra-
dois quilômetros de Piccadilly, em Manchester. Isto não era grandilo- balho estava dividido em dois grupos: um "diferenciado pelo treina-
qüência, mas -pensava-se- o simples reconhecimento dos fatos. mento e experiência, a tal ponto que a sua transferência para outras ocu-
Da mesma forma, a reconbecida fraqueza dos "trabalhadores" pações envolveria, ceteris paribus, uma apreciável perda industrial", o
levou-os a se apoiar muito mais do que os "artesãos" na pressão políti- outro "a massa geral de mão-de-obra rude ou não-habilitada" 11 , não-
ca e na ação legislativa''. Assim surgiu uma aliança natural entre diferenciados, e não-ligados a qualquer ocupação especial.
homens politicamente bastante imaturos procurando organizar certos 1 Na mente de muitos, esta distinção camuflava uma outra muito
grupos "fracos" de trabalhadores - estivadores, trabalhadores do gás, mais antiquada - a linha pré-industrial entre o "artesão" habilitado

l
da lã, etc. - e os socialistas revolucionários da década de 1880, que completo, o verdadeiro fabricante das coisas, e o "trabalhador" que
forneceram, ou converteram, os líderes da maioria, mas não de todos, simplesmente lhe servia de criado". Tampouco era esta distinção pura-
os sindicatos gerais'. Seria artificial traçar uma fronteira exata entre mente tradicional. Temos lembrado cada vez mais o quanto a organi-
aqueles que começaram como "sindicatos trabalhistas" comuns (como
os Operários do Chá de Tillet, o ancestral do Sindicato dos Esti- f * O único sindicato geral com uma rede rcalmcnlc nacional, os Trabalhadores do Gás,
vadores), caindo sob a liderança socialista mais tarde, e aqueles orga- ! conseguiu isto cm grande parte através da ajuda de grupos socialistas locais.
nizados, como os sindicatos Owenistas (e talvez a Federação Nacional ':'* IVIas csla cla~sificação não se tornou familiar alé o século atual.
r
216
l 217
zação industrial inglesa do século dezenove, de qualquer maneira década de 1880 as fileiras dos "trabalhadores" conterem um número
antes da era da produção e1n 1nassa e da."diluição", estava reahnente crescente de homens imediatamente capazes de sindicalismo ortodo-
disposta num molde pré-industrial. Construtores e maquinistas, fabri- xo, e muitas vezes de grande força de negociação. Tudo que eles pre-
cantes de caldeiras e alfaiates podiam ainda imaginar razoavelmente cisavam era o ímpeto de se organizarem, e esta explosão de 1889 !hes
que eram capazes de fazer casas, máquinas, navios e roupas sem a aju- deu". Mas mesmo o "trabalhador geral" ideal da convenção Vitoriana
da conveniente, mas uão indispensável, do trabalhador; como o cozi- - fluído, mudando de ofício para ofício, dando a sua ajuda não-dife-
nheiro de um hotel podia, em caso de emergência, produzir um jantar renciada tão bem ou tão mal onde quer que fosse posto - era prova-
sem a ajuda do descascador de batatas e do lavador de garrafas. Alter- velmente muito menos comum do que se supunha. Além do mais, à
nativa1nente, a posição deles como sube1npreiteiros ou co-patrões dos medida que a mecanização e os métodos fabris modernos se generali-
trabalhadores 1-' os levaria ta.Jnbém a considerar a diferença entre, arte- zaram, os patrões começaram a duvidar até se lhes saltava todo o "val-
são" e "trabalhador" como de espécie, não simplesmente como aque- or especial":'" Os sindicatos gerais assim se viram recrutando homens
la entre artesão praticante e aprendiz, de grau 14 • Os salários mais altos, demais que, por um motivo ou por outro, tinham o poder de se fazer
o respeito maior, os outros pré-requisitos ponderáveis e ilnponderáveis escassos, de causar perda apreciável na transferência, ou de valer
do "aristocrata do trabalho" seria assim interpretado como um tributo incentivos por maior eficiência, que era a base da força ortodoxa de
à sua excelência peculiar; e aqueles grupos de semi-habilitados que, negociações, uma força bem armada inesperada.
por um motivo ou por outro, conseguiram obtê-los - fiandeiros de Isto foi favorável para eles, porque o trabalhador genuinamente
algodão, maquinistas de locomotivas, alguns cortadores de carvão - flutuante ou móvel, embora habilitado, era diabolicamente difícil de
assimilariam prontamente sua posição de "artesãos". organizar sob condições de laissezcfaire. Os sindicatos compostos des-
Mas esses grupos constituíam uma minoria dos ofícios organiza- ses homens - os Dragadores na Inglaterra, os IWW na América'" -
dos, e antes da introdução do voto em bloco no Congresso Sindical na ficavam contentes se pudesse1n inanter algumas centenas de membros
década de 1890, seu peso numérico total de qualquer maneira não era regulares, e alguns escritórios ou centros regulares, de onde pudessem
apreciado 15 • recrutar uma massa de membros temporários e exercer controle tempo-
O padrão "trabalhador-artesão" era assim convencional tanto rário do emprego quando e onde a luta se acendesse. As vastas profissões
quanto real; e cada mudança industrial e técnica tendia, de forma ge- fechadas nacionais, regionais ou 1nesmo locais nas quais o velho Sindi-
ral, a au1nentar seu irrealismo. Os "artesãos" eram todos membros de cato Geral via a sua salvação, gerahnente eram difíceis de inanter, além
grupos que exerciam força efetiva de negociação (embora não neces- do primeiro fluxo de expansão. Não é assim de surpreender que os líde-
sariamente por serem habilitados ou treinados num ofício). Mas os res dos sindicatos gerais devessem ter modificado a sua política. O que
"trabalhadores", definidos por exclusão, não possuíam necessaria- parece surpreendente é que eles devessem estar inconscientes das suas
mente apenas homens sem essa força, embora fosse fácil concluir que inadequações desde o começo, e se apegassem a elas por tanto tempo.
isto assim cra 16 . Pelo contrário. A Grande Depressão yju a mão-de-
obra na defensiva, e os líderes do movimento mais inclinados a refor-
çarem as barreiras restritivas contra os furadores de greves do que a Ili
disse1ninarem o sindicalismo. Daí, apesar de certos progressos dos
grupos semi-habilitados em direção ao status de "artesão",* no fim da O fundamento oficial dos sindicatos foi a "filial local" com-
preendendo todos os tipos de trabalhadores'º. Uma divisão mais realis-
*Os Estivadore" dl: Londres, Barqueiros do Tync Tâmisa, Arrumadores do Norte. Lodos ta era baseada nos ofícios, lugares de emprego e coisas semelhantes.
emergiram con10 sindicatos oficiais enlre 1870 e 1873. Os Operários em Bota5 e Calçados.
Tecelões de Algodão, Üpl':rários da Sala de Cardar e Ventilar. Maquinistas de Locomotivas cslão
Os trabalhadores do gás," pioneiros e o maior dos sindicatos gerais,
enlre aqueles que crescera1u durante a Depressão. proporcionam exemplos de ambos. A organização na área flutuante de

218 219
Londres era geral, quarenta e quatro dias das sessenta e uma filiais em podia ser pequena. Os melhores números disponíveis, de uma lista
1897, trinta e sete das cinqüenta e cinco em 1906 sendo assim descri- ocupacional do SNUT em 1895," dá 1.088 em 11.000 membros como
tas ou não-especificadas, Parece claro que estas Filiais nasceram dos "mão-de-obra geral"; dois anos antes uma proporção semelhante havia
núcleos originais de carvoeiros organizados em torno de seus gasôme- pertencido às filiais gerais do mesmo sindicato: 2.700 em 22.000 em
tros locais; mas o líder do sindicato resistiu fortemente às tentativas de treze filiais das 103 na costa nordeste, três em treze em Sheffield." Não
dividir estas aglomerações, algumas vezes da força de milhares, em se pode realmente concluir muito desses números ocupacionais.
ramos de ofícios do padrão provincial". Isto tinha a vantagem de lhes
permitirmudaranaturezaem vez de dissolver-se, como aconteceu gra- Tabela II. Sindicato dos Trabalhadores em Gás.
dualmente, os carvoeiros originais desapareceram. Apesar de tudo, Número de filiais "Gerais" nos distritos em vários períodos, 1890-1911 *
isso deve ter sido extremamente inepto, porque o encontramos cons- "Gerais"
tantemente suplementado pela organização do "lugar de emprego" de Distrito Ano Número total
de filiais Parcialmente ou
um tipo ou de outro. Isolados do dos secretários de distrito, o homem Totalmente não-especificado
de Londres gastava muito do seu tempo circulando por empregos de
construção, cais de carvão e fábricas, verificando cartões e coisas pare- Birmingham 189 6 (a) 25 o o
cidas. Um pouco da inépcia é indicada pelo fato de que os membros que
1899 (a) 33 o o
1909 30 1 1
reclamavam compensação contra uma grande firma contratante Bristol 1891 (b) 10 o o
vinham de não menos do que sete filiais tão distantes como West Ham 1893 li o o
e Battersea". Os gerentes de instituições, tais como o Sindicato Unido 1896 II 1 o
do Trabalho do norte, permitia às suas filiais, existiam, mas as tentati-
1904 8 o o
Lancashire 1903 41 10 IO(h)
vas que eram feitas de tempos em tempos - pelos delegados do norte Leeds 1890·1 28 2 o
e construtores de Londres - para dar-lhes funções oficiais além da de 1891-2 23 9 (e) o
simples cobrança de contribuições, encontraram resistência." 1896 30 7 (e) o
Mersey 1891 21 9 2
Fora de Londres, contudo, o número de filiais ocupacionais ou de
1896 14 4 o
emprego superava - fora os portos e pequenas cidades grandemente Costa Leste 1909 33 8-9 o
superadas em número - as filiais gerais, como a Tabela II, abaixo, Nordeste 1896 16 1 o
inostra. 1899 36 4 o
Fica assim claro que, desde o início, os membros dos sindicatos 1904 37 1-2 o
gerais não se encaixavam facilmente numa organização destinada aos
móveis e fluidos, e àqueles não-ligados a indústrias individuais. (a) "Confederações de ofícios Metalúrgicos de Birmingham" em força.
Até que ponto na verdade eram as organizações sindicais desti- (b) As "Gerais" aqui incluem um certo número de filiais municipais; tan1bém tal vez alguma mão-

nadas ao trabalhador "geral''? Já que o termo é vago, e o seu sentido de-obra de maquinistas. O Lanchashire descreve-se a si mesmo co1no "ocupacionalmente orga-
nizado" até 1911 (NUGMW (1929) Lembrança, p. 26).
varia com a região e a indústria, não podemos dizer. Além do mais, (e) Ilusório. P. ex., em l 896 as "gerais" incluem até seis filiais municipais e urna de trabalhado-
muitos dos nossos números se referem a filiais, e uma filial "geral" res siderúrgicos.
pode ter consistido não de trabalhadores gerais, mas simplesmente de
uma coleção variada de ofícios, cada um pequeno demais para uma
filial separada. De uma maneira geral, é claro que a proporção de tra- *Os nún1eros de Leeds e Merscy de 1890-2 de balanços publicados localmente (Bibl.
Ingl. Cienc. Pol.; Co. E, B. CVI), os outros de Declarações Tri1nestrais. Já que as filiais não são
balhadores gerais subia em tempo de expansão, ou durante grandes descritas unifonncmcnte de distrito para distrito, ou de ano para ano, estes dados só podem ser
greves, quando eles afluíam para os sindicatos. Em tempos normais ela apresentados de 1naneira fragmentária.

220 221
Uma coisa, contudo, é clara. Os Sindicatos Gerais, de qualquer Tabela III. Sindicato Nacional Unido do Trabalho.
maneira entre 1892 e 1911, dependiam muito mais de sua presença em Filiais fechadas 1896-1900, através da perda de membros *
certas indústrias e grandes fábricas do que de sua capacidade de recrutar Ocupação Total fechado Total de filiais cnt ocupação,1893
indiscriminadamente, daí (pode-se supor) de uma maneira geral de um
tipo de trabalhador mais estável e regular do que eles tinham pensado ori- 1896-1900 Totalmente Parcialmente

ginalmente". O reconhecimento local pelos patrões, naturalmente, Trabalhadores de estaleiros 3 43 5


reforçou esta tendência. Assim no distrito de Leeds os trabalhadores do Ferro e aço 2 8 3
gás de dois grupos "reconhecidos" de tintureiros e trabalhadores do gás Rio, margens 5 t3 2
Produtos quünicos, chumbo.
constituíam doze das vinte e oito filiais em 1891, dez das vinte e três em cobre 4 14 o
1891-2, dezesseis das trinta em 1896. Nacostanordesteaforçado SNUT Mão-de-obra de maquinaria 5 to 6
nos estaleiros - onde ele era reconhecido - está bem acentuada na Dragagens, construtores 3 8 1
Geral 10 17 4
Tabela III. Assim, embora algo como metade da força de filiais em 1893 Outros 4 18 4
em mão-de-obra geral se dissolveu, quinze dezesseis avos da força dos
estaleiros permaneceu estável. Embora não tenhamos números compa-
ráveis para outros sindicatos, é claro que as coisas era1n mais ou menos
ve1mente estava1n muito mais concentrados. A estin1ativa abaixo, na
as mesmas neles. A Liga de Proteção ao Trabalho apoiava-se em grande
Tabela IV, está provavelmente do lado conservador.
parte na sua presença no Arsenal de Woolwich (além do seu controle
Tendo estabelecido esses apoios, possivelmente - embora não
sobre os carregadores especializadas de grãos e madeira das docas), os
possamos medir a extensão - no J. R. Clynes chamava de "classes de
trabalhadores de gás de B irmingham em seus laços com a Corporação,
até o pequeno Trabalhadores Gerais e de Máquinas de Bolton notou que trabalho nas quais os maus efeitos da concorrência não podiam ser sen-
"ganhamos um apoio substancial co1n alguns patrões" 28 . tidos"1', o sindicato podia enfrentar as más ocasiões. É bastante notável,
E estes eram, é claro, principalmente os grandes. Assim sabemos e totalmente ao contrário do sindicalismo americano, que os sindicatos
que, numa ocasião em que todas as 300 e tantas filiais dos traba- gerais eram evidentemente bastante capazes de se agarrarem a indús-
lhadores de gás tinham apenas cerca de 29.000 membros, cinco filiais trias sujeitas ao ciclo comercial co1no em outras partes. Na verdade,
apenas de trabalhadores cm máquinas, borracha, pontes, algodão e fer- entre os trabalhadores do gás, os distritos de Bristol, Leeds e Lancashire
ro, cada um dos homens numa única firma, constituíam cerca de 3.000 tinham fortes núcleos de mão-de-obra do gás e municipal, mas Birm-
do total; 29 e os relatórios do distrito deixam claro como todo o sindica- ingham foi organizado em torno dos ofícios metalúrgicos, a Gales do
to podia ser "carregado", especialmente durante uma depressão, por Sul das chapas de estanho e tubos, o nordeste (como o SNUTmaior) dos
algumas filiais grandes das fábricas'°. É duvidoso se podemos estimar navios e maquinaria, Barnsley e Nottingham de ferro, aço e homens do
até que ponto as filiais do sindicato geral eram constituídas de empre- alto da mina, Hull das docas de estanho. Uma vez que uma firma tole-
gados de grandes fábricas, ou de fábricas isoladas. Contudo, a tentati- rasse ou aceitasse o sindicato, co1no os construtores navais fizeram com
va seguinte pode dar apenas uma ordem de grandeza, embora os efei-
tos posteriores do colapso de 1902-4 possa exagerar um tanto a ~'Relatórios anuais, (1893 e 1896-1900). Mais dez filiais fccharm11dcvidoàsecessão para
importância das grandes fábricas. Supondo um grau igual de "concen- outros sindicatos, falência dos patrôes, etc. 1893 é um ano-hase justo, e1nbora c1n 1896 o distrito
tração" em Barnsley (para o qual não temos nenhum detalhe) como em de Lincolnshirc (Docas, mão-de-obra de maquinaria, geral) tivesse ido e o distrito de Shcfficld
(principalmente ferro. aço e carvão) tivesse subido de treze para trinta e quatro filiais e de 704
Nottingham, vemos que cerca de metade das filiais dos sindicatos fora paral .955 me1nbros. A tabela tem probabilidade assim de subestiniar a estabilidade elo [erro e aço,
de Londres estava nas "firmas grandes". Os 1nembros, é claro, prova- e de superestí1nar a das docas e trabalhos fluviais no sindicato.

222 223
mingham, Lancashire e Llanelly objetaram. O trabalho por peça esta-
a SNUT," um colapso não traria a expulsão e destruição de outra forma
va se tornando cada vez mais popular, 33 e de qualquer maneira o ofício
inevitável. Evidentemente, a inilitância com consciência de classe dos
de estanhador havia acabado de decidir "seguir as máquinas", isto é,
primeiros líderes tinha menos probabilidade de se recome_ndar num tal
abandonar a restrição da produção". Da mesma maneira, o Sindicato
estado de coisas do que uma política cautelosa e conc1hatona.
dos Trabalhadores, cuja força principal estava no maquinista semi-
Tabela IV, Sindicato dos Trabalhadores de gás, habilitado, iria mais tarde apoiar a mecanização contra a qual tantos
Segundo Tri1nestre, 1905. J?iliais em "firmas grandes"* sindicatos mais antigos lutaram' 5 •
Filiais com ntembros Mas houve uma mudança mais surpreendente. Como muitos sin-
Número Dezembro 1905
Distrito principalmente dicatos gerais os trabalhadores de gás haviam sonhado originalmente
de Filiais rvie1nbros
em "iirn1as grandes" na unificação final de todas as sociedades de trabalhadores num único
sindicato grande," ou, como segunda alternativa melhor, na intercam-
Barnslcy 22 2.018
6-8
' bialidade universal dos cartões dos sindicatos: "um homem, um
33 2.346
Birmingharn
Brislol, sudoeste 20 !.472 5·6 passe"". Do ponto de vista dos trabalhadores que mudavam ou nôma-
1.644 6
Costa leste IS des, indo de emprego para emprego, e de ofício para ofício, nada podia
4.665 15-20
Lancashire 37 sermai s lógico. Onde quer que eles fossem, qualquer que fosse seu sin-
4.012 24
Lecds 34
- 5.758 dicato, qualquer grupo ad hoc de trabalhadores organizados podia agir
Londres
35 3.801 26·8 como uma sociedade isolada para o fim de exercer o controle temporá-
Nordeste 7
10 Incl. e1n Londres
Nottingham
2.234 13-14 rio dos empregos. Nos canteiros de obras, por exemplo, isto acontecia
Gales do Sul 28
234
102-13 freqüentemente. Mas já que o trabalhador flutuante não constituía real-
Total (sem Londres)
mente o núcleo do sindicato geral, "um home1n, um passe" encontrou
uma acolhida cada vez mais indiferente dos campeões da tática alter-
nativa, que podemos chamar de "um passe, um emprego", o monopó-
IV lio do emprego local. Cada sindicato, tendo talvez acabado de raspar o
reconhecimento local, veio a considerar os imigrantes, não co1no
Insensivelmente, então, a política foi modificada. O sindicato reforços que lhe permitissem sustentar os baluartes num mercado de
clássico de "trabalhadores" sabia perfeitamente bem que pouco tinha trabalho sempre em mutação, mas como furadores de greve em poten-
a ganhar sem uma greve; de qualquer maneira uma greve ocasional.** cial. "Tome qualquer cais do país," alegava Ernest Bevin em 1914.
Mas 0 SNTU bem entrincheirado no Tyneside, gabou-s ·de sua mde- "Qual é o problema sério que temos que enfrentarº É que onde os
pendência d~s greves exatamente como os fabricantt; de calde~­ homens foram organizados há mais tempo, e tenham sido capazes de
ras*** Os londrinos Marxistas do Sindicato dos Trabalhat :ires de Gas estabelecer certas condições, o patrão está sempre fazendo o máximo
continuaram a abolição do trabalho por peça, em lugar do qual eles para atrair um grande excesso de mão-de-obra à sua volta a fim de inti-
queriam um salário de alto padrão de vida; mas os homens de Bir- midar os hornens." 38 Se a mobilidade indiscriminada deve ser encora-
jada, os sindicalistas podem ser uma ameaça tão grande como os não-
sindicalistas.
A área de Londres co1nprecnde toda" as filiais que não estejam em di<;trilus separados,
Os líderes originais, céticos quanto ao monopólio dos empregos
eª" filiais de Notthinghan1.
,.,,.,,Em 1892, \ 899 e \ 902. por exe1nplo, mais da 111ctade da renda dos trabalhadores do mantidos pelos "trabalhadores", não se pertnrbaram por causa disto.
gás foi cn1 benefício contestado. Os homens móveis, como os construtores, e talvez os trabalhadores de
~ ::'*'*'Seus Relatórios Anuais dão Labclas detalhadas. Gcralincnte cerca de 90 por cento das
maquinaria semi-habilitados do Middlaud em expansão e longe de
disputas eram resolvida~ pacificamente; o que prova um alto grau de reconhecimenlo.

225
224
cristalizados, podiam manter a velha opinião. (Daí o apoio do distrito mo seccional de certos grupos "não-habilitados" da Federação Ame-
de Londres aos trabalhadores de gás, e talvez o porta-voz do Smd1cato ricana do Trabalho entre 1896 e 1935, os Condutores de Veículos, os
dos Trabalhadores para a velha palavra de ordem cm 1911-14)". Os Serventes de Pedreiro, etc. Se não tivesse havido uma segunda expan-
revolucionários que pensavam em termos de militância de classe são vinte anos após a primeira, ela bem poderia ter sido assimilada no
detectariam o perigo "reformista" no restricionismo e defenderiam o padrão-de-ofício, como nos EUA41 •
grande sindicato único, corno Larkin e Connolly fizeram. Contudo, na O "novo sindicalismo" de 1889 tornou-se assim desconfortavel-
verdade, está claro em l9 l 0-14 que o sindicato de todos os trabalhado- mente como o "velho sindicalismo" que certa vez combatera, e as polí-
res "não-habilitados", embora desejável, não seria de uma massa de ticas dos seus líderes 1nudaram de acordo. Os Marxistas revolucioná-
trabalhadores individuais flutuantes, mas de muitos monopólios de rios que lideraram os Estivadores e os Trabalhadores de gás então,
empregos locais e profissões fechadas, cujos interesses espedais foram cada vez mais substituídos por socialistas muito mais concilia-
tinham que ser salvaguardados, se tivessem que des1stlf de sua mde- dores (embora por causa dos velhos tempos de outrora alguns deles
pendência. As discussões de unidade extremamente importantes entre continuassem a chamar a si mesmos de Social Democratas Marxistas).
0 Conselho Nacional de Trabalhadores Gerais e a Federação dos Tra-
Ernest Bevin, não Tom Mann, iria dominar os Estivadores após sua
balhadores em Transportes em 1911-14 chegaram a um impasse exa- segunda expansão. Os Trabalhadores de gás, uma organização muito
tamente sobre este ponto40 . Foi somente cerca de dez anos mais tarde, marcadamente "dominada pelo partido", cujo líder era um protegido
quando o Sindicato dos Estivadores (cm grande parte do modelo da de Engels, cujas éminences grises do começo da década de 1890 eram
organização de Bristol de Bevin) havia desenvolvido um esquema de os Marx-Avclings, e muitas de cujas posições-chaves eram ocupadas
autonomia para os grupos de ofícios, que as vastas fusões que deram pelos social-democratas, tornou-se o sindicato do Rt. Hon. J.R. Cly-
origem aos Trabalhadores em Transporte e Gerais e aos Trab_alhadores nes, e um corpo nitidamente moderado.
Gerais e Municipais tornou-se possível". (Contudo, a adoçao de uma
organização mais flexível foi simplesmente uma condição d~ seu
sucesso; a força que impelia sindicatos distintos no sentido da fusa o era V
em grande parte a inquietação política e revolucionária). . .
Podemos assiin distinguir três fases nas táticas do s1nd1cato ge-
Contudo, depois de 1906 a queda dos salários reais e a inquieta-
ral: 0 sindicalismo geral antiquado de 1889-92, o sindicalismo "sec- ção das fileiras forçaram os sindicatos mais uma vez à ofensiva. Os
cional" cauteloso, limitado e conservador de 1892-1910, e a 9nsia problemas do recrutamento maciço e da negociação agressiva obriga-
revolucionária pela fusão, o sindicalismo industrial ou a organização ram os líderes a reconsiderar suas táticas. Até então isto não tinha sido
"geral" articulada do moderno Trabalhadores em Transporte, que sur- realmente necessário. O ímpeto da expansão de 1889 havia dado a eles
giu das expansões de 1911-20. Tanto a primeira c~1n_o a terceira pre,t,en- todos a força ofensiva de que precisavam originalmente. Quando o
diam a oraanização de todos os trabalhadores nao-hab1htados . A colapso e os ataques dos patrões tinham eliminado todos, exceto os
b • A •

segunda - principalmente sob pressão das c!fcunstancias - renun- mais fortes, os sindicatos gerais descobriram poderosos recursos
ciara1n a isso, limitando-se à organização daqueles grupos capazes da defensivos que lhes permitiu sobreviver. Eles diluíram seus riscos
negociação antiquada. É importante, por exemplo, que ela falhasse entre indústrias e áreas ne1n todas as quais eram capazes de atacar ao
totalmente em organizar os geralmente fracos - p. ex., as mulheres. mesmo tempo. Eles agiram, na verdade, como um "banqueiro" conve-
Apesar do seu entusiasmo inicial pela organização das mulheres_, os niente, para uma multiplicidade de unidades de negociação locais e
32.000 membros dos trabalhadores de gás em 1908 compreendiam seccionais". Essa diluição dos riscos era absolutamente essencial, por-
apenas cerca de 800 mulheres42 • O sindicalismo geral neste período que o sindicato de "trabalhadores" enfrentava atuarialmente riscos
entre as expansões havia na verdade se tornado algo como o smd1cahs- totalmente imprevisíveis: a qualquer momento os seus fundos podiam

226
227
ser drenados por disputas entre mestres e ."artesãos", ou entre sindica- _ "_Para mui;~s sindicatos gerais, contudo, o problema da negocia-
tos habilitados. Daí nada teria sido ganho, se o SNUT se transformas- çao mdustnal resolveu-se por si mesmo não tanto num problema de
se nnm puro sindicato de estaleiros, ou os Estivadores se dividissem formar corpos abrangendo uma indústria inteira, mas num de recruta-
em sociedades de ofícios distintas de beira d' água e de chapada de esta- mento, de demarcação, e de desmexer seus ovos. O recrutamento era
nho. Pelo contrário, o incentivo de recrutar largamente permaneceu. fácil, de,qualquer maneira em épocas de expansão. A demarcação era
Assim os Trabalhadores de gás admitiram os homens do alto da mina mais d1fic1l, porque eles naturalmente atravessavam quaisquer frontei-
que haviam recusado originalmente," e os três sindicatos gerais prin- ras mdustnais que pudessem ser traçadas. Foi na verdade sobre esta
cipais usaram o surto econômico de 1898-1900 para fazer importantes rocha que o sindicalismo sistemático finalmente fundou-se na década
conquistas~ seus únicos progressos realmente sólidos entre as duas de 1920". Contudo, certas combinações locais tinham sido feitas há
expansões- no carvão, ferro, aço e chapas de estanho na Gales do Sul, mmto tempo - os estivadores de Bristol prometeram não invadir os
e na área de N ottingham-Derby-Yorkshire do Sul. Se muitos dos mem- galvanizadores, os Trabalhadores de gás renunciando aos carregado-
bros flutuavam, isso não precisava enfraquecer o sindicato desde que res de carvão" - e as grandes federações como os Trabalhadores em
este tivesse um núcleo de filiais regnlares. Pelo contrário, um influxo Transportes de alguma ajuda.* Mas dentro de cada sindicato os ofícios
constante de taxas de admissão e assinaturas temporárias simplesmen- formavam uma .ma.ssa co~fusa; a menos, corno aconteceu algumas
te acresciam os fundos das sociedades qne não podiam cobrar as altas vezes, que um d1stnto particular fosse predominantemente composto
taxas dos sindicatos de artesãos46 • de, hm,~ens. de uma indústria, e pudesse assim formar uma "seção de
Os esquerdistas mais agudos, contudo, haviam reconhecido há oficw de.facto. O SNUT assim tinha os seus grupos geograficainente
muito tempo a necessidade de uma tática agressiva mais adequada. d1stmtos de beira d' água e reparos navais, os Estivadores seu distrito
Mesmo nos dias de 1889 todos os tipos de federações e "estados maio- de chapas de estanho, os trabalhadores de gás seus tintureiros etc No
res" centralizados tinham sido sugeridos47 • Tom Mann, incomparavel- entanto _isso não era suficiente. Desde 1893 os Trabalhadores de. gás
mente o mais capaz dos radicais, tinha até usado a pequena expansão de do Smd1cato dos Trabalhadores de Gás desejavam se federar com os
1898-1900 para fundar um corpo a meio caminho entre sindicatos"- n:i1n~1ros, com que1n estavam os seus interesses estratégicos; como 0
gerais" e "industriais", o Sindicato dos "Trabalhadores", que iria abran- smd1cato de Carregadores de Carvão havia feito. Mas os tintureiros e
ger todas as indústrias e graus de habilitação, inclusive os mais altos'~. trabalhadores nas indústrias químicas do sindicato objetaram forte-
Este sindicato não foi muito bem-sucedido senão depois de 1911, quan- mente em pagar taxas de admissão para o que era completamente
do se tornou um dos sindicatos gerais importantes, e que conservou por mele_vante para eles, e o assunto foi engavetado. 53 Enquanto a velha
muito tempo certas ambições ecumênicas". As teorias de Mann permi- orgamzação indiscriminada existiu, os ofícios inevitavelmente atra-
tiram, contudo, que este fizesse um progresso excepcional entre ostra- palhariam uns aos outros.
balhadores rurais, e na maquinista da produção em massa dos Mid- Quando os sindicatos cresceram depois de 1906, e acima de tudo
lands, onde a coordenação dos vários graus de habilitação era urgente, quando aceitaram indústrias localizadas, tiveram assim que desenvolver
e os sindicatos nacionais de artesãos relativamente fracos. Desde 1906, maiorflex1b1hdade. Os Estivadores tomaram a dianteira nisto sem dúvi-
contudo, outros sindicatos - novamente em grande parte sob o impul- da devido às suas unidades fortemente marcadas e contrasta~tes de tra-
so da esquerda - despertaram para a importância do recrutamento balhadores de beira d'água de Bristol e de chapas de estanho de Gales
"estratégico", e negociação sistemática de todos os graus. Certamente que dommavam o sindicato, e estes foram forçados a conceder a cad~
em 1911 os estivadores de Bristol estavam recrutando sistematicamen- uma considerável autonomia. Em 1911-14 podemos ver as sementes do
te graus estrategicamente importantes'º, e o Sindicato dos Estivadores
como um todo adotou a causa do "sindicalismo industrial" e a nova Fe- , ~"O fato dos sindicatos de fora (como os Trabalhadores de gás e 0 SNUT) filiados cm
deração dos Trabalhadores em Transportes com entusiasmo. beneficio dos seus membros de transporte era .sinal de flexibilidade bem-vinda.

228 229
novo modelo brotando no oeste: o "Distrito de Chapas de Estanho" foi fundamentalmente novo"'. Além do mais, o pouco que sabemos do pro·
convertido numa seção de ofício, para ser u1n modelo para as outras e, cesso real de "escolher" novas habilitações - algumas vezes de uma
até uma brecha maior, foi estabelecida uma "seção de galvanização" ordem bastante alta - nos mostra o jovem trabalhador vagando de
numa base principalmente não-geográfica". O Sindicato de Transportes uma fábrica para outra, talvez de um ofício para outro, certamente de
e Trabalhadores Gerais iria mais tarde ser organizado sobre autonomia uma máquina ou departamento para outro antes de se instalar final-
sistemática de ofícios. Isso teve sua recompensa. Em 1910 os Esti· mente57. Em segundo lugar, a grande irregularidade, sazonalidade e
vadores foram, falando nacionalmente, um dos menos bem-sucedidos, flutuação de muitos empregos sem aprendizagem sugerem maior flui·
e de maneira alguma o maior sindicato geral. No curso dos vinte anos dez do que existe realmente. Assim uma grande proporção de carvoei·
seguintes eles iriam alcançar os Trabalhadores do gás organizados ros de gás era1n migrantes sazonais que enchiam os' claros no verão
menos sistematicamente, para se tornarem o maior sindicato do país. como fabricantes de tijolos, trabalhadores em construção, colhedores,
Mas, se a adoção da autonomia de ofícios era sistemática ou não, todos ou mesmo como cm Southampton, como tripulantes de iates 58 • Quan·
os sindicatos gerais se moveram na tnes1na direção. Por ocasião da gran- do não havia, teoricamente, nada que ligasse o trahalhador a um ofício
de fusão após a I Guerra Mundial, eles estavam a caminho de se torna· ou firma em particular, a fluidez potencial e real eram facilmente con·
rem alianças de ofícios e seções industriais, em vez de, como no passa· fundidas. Em terceiro lugar, a posição "legal" dos mais habilitados era
do, unidades locais de negociação. É como tal que eles funciouam hoje. muitas vezes exatamente a mesma dos não-habilitados, de cujas
fileiras eles eram recrutados, e a cujas fileiras podiam voltar a qualquer
momento, quer pertnanentemente, ou por um período, quando os
VI negócios estavam lentos~ 9 . Tecnicamente, o estivador alta1nente espe-
cializado, ou operário das docas, que podia dispor de um emprego a
Traçamos o lento progresso dos Sindicatos Gerais desde a políti· qualquer momento que desejasse, podia ser tanto um casual como o
cade 1889 até a moderna federação das seções industriais. Restaexpli· rato de cais desprezado, e igualmente olhado com desprezo como
car esta lentidão, e esboçar alguns dos seus resultados. "não-habilitado" pelo "artesão" 60 •
Pode ser sugerido um certo número de motivos por que as alian· O fato de os trabalhadores de ambos os lados da distância mante·
ças de profissões fechadas locais, compostas de empregados regulares, rem-se cm seus próprios lugares como "artesãos" e "trabalhadores"
talvez restringindo a entrada para seus empregos, continuassem a pen- provou ser de considerável vantage1n para os sindicatos gerais em seu
sar em si 111esmas como algo como sindicatos flutuantes, ou porque período de formação. Eles evitara1n essa concorrência com os "ofí-
maquinistas semi-habilitados, organizando profissões modernas de cios" que destruiu os Knights of Labor nos EUA mais mecanizados no
produção cm massa, deixaram de perceber que sua posição de negocia· fim da década de 1880"'. Porque mesmo que tivesse ocorrido aos tra·
ção diferia essencialmente da dos trabalhadores assentadores de tijo· balhadores dos estaleiros ou aos homens do alto da mina que sua força
los 55 . Em pritneiro 1ugar, a distância entre "trabalhador" e "artesão", de barganha precisava de reforço pela dos fabricantes de caldeiras ou
embora não tão real como na convenção, era bastante real. Um fazia cortadores, eles eram fracos demais para pensar, como os Knights fize-
aprendizado, o outro conseguia o emprego de qualquer modo. Mesmo ram, em forçar o sindicato a aceitar seus ter1nos, e os "ofícios" não se
o carvoeiro de gás experiente ou o 1narinheiro podiam ver por si mes- sentiam com necessidade disso nos deles. Apesar dos avisos da sua
mos as mudanças nas indústrias mais facilmente do que podiam con· esquerda''' o progresso e diluição da mecanização não pareceu, até
ceber um fabricante de caldeiras transformando-se num carpinteiro. depois de 1906, apresentar perigos urgentes ou incontroláveis. A polí·
Daí o progresso da mecanização pareceria, para começar, simples· tica clássica de restrição ainda parecia exeqüível. Qualquer dos dois
mente como alguma coisa que acrescentava ao número de "trabalha· novos graus estranhos podiam ser mandados formar sindicatos pró·
dores" em face dos "artesãos", e assiln não criar nenhum problema prios, que não complicassem ou enfraquecessem as negociações dos

230 231
,- . como os maquinistas mandaram os eletricistas, os .fabrican- dade que faltava aos outros sindicatos. Muito antes de uma nova indús-
artesaos. , , · t mar os tria ou região ter se desenvolvido a ponto de estabelecer sindicatos pró-
tes de botas à mão inandavam os fabricantes a maquina or. .
"''' como os tipógrafos facilitaram a formação de uma socieda~e prios, ela teria sido invadida e, caso receptiva, organizada por um sin-
Seus '
. . d . b· Ih d~ res de "impressão'',. e os f und'd
1 ores de ferro nao dicato geral''". Os campeões do sindicalismo industrial sistemático
d1stmta e tra a a o . • • · " o estavam assim errados em acreditar que os sindicatos gerais desapare-
.. nenhuma tentativa de organizar os fundidores a maquma . u
f1zeram . _ · , s taxas de ceriam, mesmo que todas as suas seções industriais fossem para sindi-
o "artesão" podia tentar capturar a ináqu1na paras~ inesmo, a. . ,,
- 1· o'grafos maquinistas e fabncantes de caldeiras catos apropriados, a descasualização reduzisse seus núcleos de traba-
artesao, como os 1p • · · d lhadores "gerais" 67 • Na falta de qualquer autoridade dominante que
tentaram fazer, e em parte conseguira1n(,'i. Só rara1nente o s1nd1cato ~
ofício se sentia impelido a estender sua jurisdição sob~e n~)vos gru~~s determinasse os campos a serem organizados, eles conservariam suas
funções residuais, e tenderiam assim a se beneficiar anormalmente de
de homens não-habilitados ou semi-habilitados - a tecmca que.mm~
qualquer expansão importante do sindicalismo. Assim os Sindicatos
tarde iria permitir à Federação America.na do Trabalho co,mpet1r ~,ºr:' ~
de Trabalhadores, nunca com mais de 5.000 membros entre 1898 e
. . . 1 ma·1s moderna.* Além do mais, onde os sindicatos de nao
sua r1va " - " da 1910, afirmavam ter 150.000 em 1914, quase todos eram homens e
h ab1·1·tados" tinham s1.d o ·farma d os. pa1·a lutar com os. artesaos mulheres que, embora não fossem "trabalhadores não-vinculados"
1 · ) blemas de
mesma forma que os mestres (p.ex., nos esta1e1ros • os pro .
simplesmente não encontraram nenhum outro sindicato em sua região
Un .idade eram cm grande parte acadêmicos.
· 1 t
h
os trabal a-. ou indústria pronto a recebê-los.
Dcsde que os artesãos continuassem com~ acen es e . . . . ~
Inversamente, o incentivo para organizar sindicatos "industriais"
odestos os sindicatos gerais estavam livres para criar ra1zes.
d ores 1n • . · d ( , mo a de sistemáticos permaneceu fraco por muito tempo. Até 1914 a negocia-
ro-anizando aqui uma indústria totalmente neg1i?encia a co . . ção era esmagadoramente local, ou na melhor hipótese regional. Até a
~r:nsportes), lá os graus inferiores de uma.indústna na.qual os si:d~~~­ I Guerra Mundial, além do mais, a estrutura salarial permaneceu, de
tos de ofícios estavam estabelecidos mais altos (navios, ferro.- ç , qualquer maneira para os "não-habilitados", esmagadoramente tradi-
maquinismos), ou áreas inteiras negligenciadas pela l.ocahzaçao ~~ cional68. A ponto de os patrões lixarem os salários dos "não-habilita-
sindicalismo (Devon e parte dos Midlands), ou gr~~os mte1'.º' de o I dos" simplesmente pela "taxa do distrito" para esse trabalho, e a pon-
.· equenos ou espalhados (os Artesãos Galeses" . . ou os Cardadores to de as variações locais serem substanciais69 , um forte argumento para
CIOS p d .- d ato aran-
de lãdo Yorkshire)*** que prefcriam os recursos eums1~ ic. *';'.'* a "profissão regional fechada" do ideal do sindicato geral permaneceu.
de ou precisavam do apoio de outros graus em sua mdustna. - A Os vários ofícios que surgiram na famosa greve do Black Country de
, - d " elho" sindicalismo após 1875, e a local!zaçao da 1913 exigiam muito naturalmente não só concessões seccionais, mas
estao-naçao o v
indú~tria os deixaram com uma boa seleção de grupos fortes para orga- um mínimo geral do Black Country de 23 shillings'°. Desde que o tra-
. . · · . . lhes deu uma elast1c1-
nizar. E o forte incentivo para d1 1utr seus nscos . balhador pudesse sentir que a sua negociação dependia exatamente da
mesma forma do mercado "geral" de trabalho da área como da situa-
- · ·d· s·il·tdeCardaréumexcm-
* O recrutan1ento dos Fiandeiros de anel pelos O peranos a ' ' .
ção em sua indústria específica (local ou nacionalmente), um sindica-
to "geral" propriamente articulado podia realmente provar ser a forma
plo inglês. - ofício das chapas de estanho (fundado e1n 1889):
'!'*Trabalhadores de nianutençao no · '· mais vantajosa de "sindicalismo industrial".
Eles entrara1n para a NUGM\V en1 1935. Sem dúvida esta era uma fase temporária. No momento em que
:":'* Tatnbém agora no NUGMW. . . ,
~ .. . . . d mctai~. certos oficiais de faca e pequenos os construtores e estivadores começaram a negociar nacionalmente, a
':'*'~'' Os hmncns das pedrei1 as, inmeiros e . - . .. · I bili-
. , , . fábricas de cimento, ameaçados pela maqumana, ho1nens 1a estrutura tradicional dos salários dos maquinistas havia sido abalada
objetos de m~t«L tano~1~?s ~1~ , . ·indicatos de moleiro~ de Larinha, fabricante~ de papel, tra-
t<J.dos e111 wornhos de lar mha etc. Os s , . ·idos e novas indúslrias surgiram pela guerra e os ferroviários haviam adotado uma política moderna de
ba\hadores em produtos químico~ e outros a\taincntc mcc<1niz, . .
cm ! 889, nia:::. não tiveram muito sucesso independente.
exigir os salários que o tráfego pudesse suportar, o caso para o "sindi-

233
232
33, para utna classificação n1ais elaborada. O "sindicalisn10 indu:;.trial" tradicional é
caEsmo industrial" sistemático estava vastamente mais forte. Além do
aqui chamado de sindicalismo industrial "rigoroso" ou ''sistemático".
mais, coisas tais co1no juntas comerciais, leis de salário mínimo etc. "Sindicalismo de ofício" aqui significa a organi1ação para graus e seções indi-
forneciam um método alternativo de enfrentar o problema da "taxa do viduais de traba!hadorcs (ou grupos de graus intiina1nente aliados) que negocia1n inde-
distrito para o trabalho não-habilitado". Mas em 1911-14, quando teve pendente e separada1nente.
lugar a expansão decisiva dos sindicatos gerais, um pouco de tudo isto "Sindicalismo industrial" aqui significa o tipo de organização que procura unir
havia acontecido. Os sindicatos gerais foram assim os principais bene- e coordenar a negociação de todos os grupos cujas negociações afetam u1nas às outra:;,
ficiários da expansão- embora numa forma não-inconsistente com a substanciahnente; organização de "todos os graus". Etn virtude da mudança de tama-
nho da área de negociação isto é até certo ponto uma distinção dos períodos históricos
negociação industrial. Isto explica, talvez, seu sucesso surpreendente
be1n corno da função; nias nada tem a ver com a "habilitação", "aprendizado'' ou
após 1911 ao absorverem seus rivais industrialmente organizados, que ·'indústrias" no sentido do censo. Ne1n são o sindicalismo de ofício c o sindicalistno
haviam, entre 1900 e 191 O, sido relativamente tão mais bem-sucedi- industrial encontrados necessariamente da forma pura, ou mutuan1ente exclusiva.
dos. Os Trabalhadores em Bondes e Veículos, ao se fundirem com os 2. Todos os nú1ncros são pouco dignos de confiança. Os relatórios do Conselho
Trabalhadores Gerais em Transportes, os Empregados Municipais, ao de Ofícios Locais, contudo (p. ex., de Bristol, Norwich. Bolton e Leicester), indicam
entrarem para formar os Trabalhadores Gerais e Municipais, obtive- a importância relativa dos vários corpos. Por exemplo, em Bristol en1 1890 a "força do
ram uma dupla vantagem: a de negociarem com outros graus em sua sindicato geral" constituía cerca de 1netade da força total do "novo sindicato" e 30-40
porcento da força total do sindicato (Bri:-otol, T. C. 1891, Rei. An.).
indústria e, até certo ponto, a de coordenarem suas negociações com as
3. Uneinplo_ven1ent in Lancasliire (Manchester 1909) de S. J. Chapman e H. M.
dos numerosos empregos facilmente intercambiáveis (ou os numero- Hal:;,Vv·orth, p. 83,
sos empregos cujas taxas de salário era1n fixadas umas em relação às 4. Ver Industrial De1nocrocy, de Webb, disperso, mas esp. caps. X e XI.
outras), dos quais eles organizaram um lote. Bastante diferente do fato 5. C. R. sobre Mão-de-Obra, Grupo A, Evidência 24.943.
de que, com a existência do gigantesco Trabalhadores Gerais em 6. Os grupos sen1i-habilitados de mineiros e operários de algodão estão neste
Transportes, foi muito mais fácil fundir-se com ele do que, digamos, como em outros sentidos a lneio-caminho entre os ·'velhos'· e "novos" sindicatos (Short
formar o sindicato composto organizado nacionalmente dos trabalha- HistOf}' of Rrilish H't)r/úng-Class Move111ent (ed. 1948) de Cole, pp. 245-6. Cf. tanibéin,
os debates sobre o dia legal de 8 horas no Relatório TUC ( 1889), notadamente W. Matkin,
dores de transportes rodoviários, com o qual os carroceiros de 1911-14
p. 55.
ainda sonhavam". Os Sindicatos Gerais tinham vindo para ficar. Sua 7. Co1n exceção dos prin1eiros líderes do SNUT, os Trabalhadores de gás de
força e vantagens eram tais que eles continuaram a crescer. Certa- Birn1inghan1 (que eran1 Chamberlainitas) e talvez o Sindicato Nacional Unido de Tra-
mente, a menos que houvesse uma transformação revolucionária do balhadores-para a qual ver Ris e and Proxress of"the National A1nalgc11nated Lohour-
movimento sindical, qualquer esperança de eliminá-lo após 1911 era er's Union (Can.liff 1891) de T. J. OºKecffe.
utópica. Se o seu crescimento, apesar da flexibilidade que ele deu à 8. Ver E. R. Pcasc (o Fabiano), seu secretário, sobre isso em To-da.\" (junho
expansão sindical inglesa, não criou mais problemas do que resolveu, 1887). Ele entrou em colapso no co1neço <la década de 1890, entrando suas relíquias
para os Trabalhadores de Gás. Os relatórios sobreviventes estão na BibL Ingl. Cie.
é outra questão. Pol.. Cu!. E. B .. CV!.
9. A "General Labourersº' '·A1nalgamated Union" de Patrick Kenney (que
(1949) sobreviveu à Grande Depressão de un1a forma so1nbria) foi principalmente uma ten-
tativa de aplicar os princípios de fusão aos trabalhadores en1 con:-otrução (Builders 'His-
tory de Postgatc, pp. 298-9) e não com 1nentalidade tão ecu1nênica. Ele continuou u 1n
NOTAS sindicato de trabalhadores en1 construção. Mas houve alguns sindicatos "geraisº', p.
ex., a Liga Trabalhista de Londres e dos Condados.
. Para as definições tradicionais do sindicalistno de ''ofícios" e "industrial''. cf. 10. Principies de Marshall, 1, II, 7 (8ª ed., p. 26) para uma afirmação extrema .
British Trade Unions ( ! 947) de N. Barou, pp. 20-6; Trade Union l)ocuments ( 1929) de A Comissão Real sobre os Pobres Velhos ( 1895), Evidência 16, pp. 545 ss. para unia
W. Milne-Bailey, pp. 122-134; Organized La/Jour(ed. 1924) de G. D. H. Cole. pp. 28- opinião de um conselheiro da classe trabalhadora da cidade de Birn1ingham.

234 235
11. Dict. Pol. Econ. de Palgrave, artigo: "Labour, Skilled" (II, p. 527). Para ver- Empregados Municipais para formar os Trabalhadores Gerais e Municipais. Ele
sões menos sofisticadas deste dualismo cf., Oxford English Dictionary, "Labourer" absorveu vários outros sindicatos.
( 1903); Relatório da Industrial Remuneration Conference (Londres 1873), pp. 4-9; e 22. Conferência de 1890, p. 7.
na verdade Jinguajar comum contemporâneo. 23. Dos Relatórios Trimestrais das estatísticas de 1904-5 da Compensação dos
12. "Como o seu título de 'não-habilitado' insinua, ele não tem nenhum ofício Trabalhadores.
1nanual e não tem nenhu1n sindicato" - Working Men and Women, de u1n Trabalhador 24. Relatórios da Conferência (1892); p. 37; (1894), p. 91; (1898), p. 50; ( 1900),
(Londres 1879). "Em vez de ser co1npetente para agir como um artesão ele só foi mui- p. 17. Para os despenseiros o SNUT ver seus Relatórios da Conferência dos Delega-
tas vezes capaz de produzir un1 artigo particular de mobiliário, e algumas vezes ape- dos, (1890), pi). 7, 20; (fevereiro 1992), pp. 48-9.
nas uma parte desse artigo foi confiada a ele" - W. G. Bunn cm Industrial Re1nunera- 25. Relatório Anual ( 1895), p. 7. Isto foi cerca de metade a dois terços dos mem-
tion Conference (1885), pp. 168-9. bros no1ninais pagos.
13. Ver Methods oj Industrial Ren1uneration (1892) de D. E. Schloss, para os 26. R.elatôrio Anual (1893), pp. 7 ss. Uma análise completa e mais valiosa das
métodos em voga. filiais.
14. Evidência de R. Knight na C. A. sobre Mão-de-Obra (Grupo A, Evidência
27. "Why thc Nc\v Union was Founded", folheto Ido Sindicato dos Traba-
20.801 ss.), e o capítulo fantástico sobre "Thc Unskilled Labourer" em A Warking
lhadores, 1898 (Bibl. lngl. Cie. Pol., Col. E. B., XI).
Man, op. cit.
28. Sindicato Unido de Trabalhadores Gerais e de Máquinas, Relatório Anual
15. Cf., as reclamações sobre o domínio do carvão e do algodão nas Notas do
(Bolton 1893) (Bibl. Jngl. Cie. Pol., Col., E. B. CV!).
Mês do (conservador) Trade Unionist (outubro 1899).
29. Trabalhadores <le gás, Minutas Executivas Gerais: 13 de março 1904, 13
16. Cf, History qf"Trade Unionisn1 (lª ed. 1894) de Webh, pp. 388-9, onde
inoças vendedoras de fósforos e carvoeiros de gás são classificados como fracos e não- novembro 1904; 19fevcrciro 1905 (BibliotecaNUGMW).
habilitados. Eles deviam saber melhor (cf., H. W. Massingham, colega deles, na "The 30. Trabalhadores de gás, Quarto Trimestre ( 1905), p. 15 (Bristol).
Trend ofTrade Unionis1n" em Fortnightly (1892) I,VIII, p. 450). 31. Trabalhadores de gás, Quarto Trimestre (1901 ), p. 13 (Lancashire).
17. Assim os arrumadores de Cardiff, os trabalhadores das docas e do rio Tyne, 32. Os construtores navais do Tyne reconheceram as escalas de ajuda do sindi-
tiveram reconheci1nento imediato e permanente, e u1na profissão fechada virtual. cato desde l 893 (Minutas Executivas L.UTyneside e Nacionais; março, p. 7; abril, p.
(Le1nbrança NUCiMW (1929), p. 13). O mesn10 é verdade co1n relação aos Traba- 1O). Biblioteca do NUGMW).
lhadores de gás de várias cidades. 33. Cunferência de 1902 (Trabalhadores de gás), p. 16; Segundo Trimestre,
18. Cf., a evidência de Sir B. Browne na Conüssão Real sobre a Lei dos Pobres, (1904), p. 15.
Apend. vol. VIU, pp. 86. 211 ss., 86.286, 86.299, 86.301; Prof. S. Chapman, ibid., p. 34. 111e Tinplate lndustry (1914) de J. H. Jones, pp. 229-30. Os Sindicatos
84.798; ou o Relatório da Comissão Especial sobre o Trabalho Não-habilitado da Gerais estavam firmemente estabelecidos ali, desde 1900.
Sociedade da Organização de Caridade ( 1908), p. 6. 35. Discurso presidencial de W. Beard no Relatório do Sindicato dos Traba-
19. Para o TIM, The /WW(Novaiorque 1920) deP. F. Brissendene The Decline lhadores, julho 1916, pp. 3, 6.
ofthe JHIW de 1. S. Gambs (Nova Iorque 1932). Para as Dragagens, a evidência de John 36. "O que desejamos tanto ver... un1a Fusão de todos os Trabalhadores", Tra-
Ward na C. R. sobre a Lei dos Pobres (vol. VIII) e p. ex., o relatório sobre a greve do balhadores de gás, Primeiro Trilnestre, l 897, p. 11.
Reservatório Lcighton no Relatório Trimestral do Sindicato de Dragagens Uaneiro 37. Trabalhadores de gás, Segundo Relatório Semestral (1889-90), p. 5; Segun-
1914),pp.31-4. do Relatório Anual (1894), p. 9, 1894 Conf. 117-18.
20. Os problemas dessas filiais niisturadas são discutidos na History of Labour
38. Conferência Especial sobre a Fusão (Federação Nacional dos Traba-
in the US de J. Con1mons e associados, U, pt. 6, cap. 1O (Asse1nbléias Mistas dos
lhadores em Transportes e Conselho Nacional dos Trabalhadores Gerais) 1914; p. 47.
Knights of Labor); The Ameriran Federation ofLabour (1933) de L. Lorwin, pp. 70-
Um documento importante.
1 (Sindicatos Trabalhistas Federais), e Trade Unions in Canada ( 1948) de H. A. Logan.
39. lbid., p. 28.
pp. 347 SS., 389 ss.
21. Seus Balanços e declarações trimestrais são as fontes n1ais importantes; 40. Propostas Conjuntas para a Fusão 1914 (Federação Nacional dos Traba-
seguidas pelos Relatórios da Conferência e Minutas Executivas que sobrevive1n. Para lhadores ern Transportes e Conselho Nacional Trabalhista Geral) contém um resu1no
o Sindicato ver as duas Lembranças do Jubileu (1929 e 1939), a Letnbrança do Jubileu dos acontecimentos desde 1906. VVorld ofLabour(cd. 1915) de Cole, pp. 235-7. "The
do seu Distrito do Norte (Newcastle 1939), e as men1órias de Will Thornc e J. R. Union, Its Work and Proble1ns" (Londres, TGWU 1945) l, pp. 5-7 discute o assunto,
Clynes. Não há nenhu1nahistória real disso. En1 1924 ele fundiu-se com o SNUT e os embora não muito precismnente.

236 237
4 J. Para a organização da autonomia dos ofícios ver "The Union. Its Works and

l
Proble1ns" I e IL Os Trabalhadores Municipais e (ierais simplesmente especializaram balhou no seu tempo, meio expediente na fábrica de b . . . , .
açougue e fazenda "fo1· lev"1io , ·d· d f'b . otas e calçados, foi menino de
funcionários industriais no QG para atender os interesses seccionais. ' " a v1 a e a nca" e t ·
dordepancla~de1net·J.! ferrcir lh d .. orn(~U-sca1ternat1van1cntesol<la-
cina de máquinas e f~b~icantc ~;1i~rr:~:~:~q(uRne11lsa·tt~, ~JuWdaUnte de bancada nu1na ofi-
42. Relatório sobre os Sindicatos, 1912-13. Foi sem dúvida devido a esta falha
que a Federação Nacional das Mulheres Trabalhadoras estabeleceu-se como um sin- ,apren ct··tzad o pela un1gração
· · segui d · ·d , ono . (março 1917) , p . 9) . o
dicato geral independente desde 1906. . '- ,. n o e catan o e bem d1scuf1d I d . •.
11111g(l914)deN. BD 1 V
. ear e, caps. -VIL · ono n ustnalfrai-
43. Lorwin, op. c;it,, sobre os Condutores de Veículos (p. 536).
58. I~1stituto Trans. Gas. ( l 890), p. 80 .
44. A1y L(fe's Battles (sem data) de Will Thorne, p. 142; Trabalhadores de gás.
59.C.R.sobreoTrabalho GrupoA E ·ct· ·
Terceiro Tri1nestre ( 1896 ), p. 9, para declarações oficiais neste sentido. . ' , v1 enc1a 25 .744(W.A. Valon)
60. John Burnett da Diretoria de Ofícios d '" ,
45. NUGMW ( 1929), Letnbrança, p. 47, para os pritnórdios. engenheiro, classificou os arrumado . d _· o Departa1.nento do 1rabalho, un1
46. A rotatividade era considerável. Assitn no distrito de Sunderland os Traba- · ' rcs e carv ao carregad d - .
casuais con10 "não-habilitados" 1 R ... b, ores e graos e estJvadores
lhadores de gás em 1900-2 recrutou 4.072 e perdeu 4.432 para manter utn nún1ero de ' · 1 o e1ato110 so re Greves ( 1889).
. . 61. Ver J. Co1nmons e associados, o . ciL If C' - . .. .
1ne1nbros total de 4.000 e tantos (Conferência de 1902, p. 11 ). ni1·m1ntheUSA d S p p ' ' ap.8 lO,H1storvofTradeUn10-
. ' , e·. erc 11nan, pp. 114-16. · ·
47. Por exemplo, The Neev Trades Unionisn1 ( ! 890) de Mann e Tillet, um pedi-
. 6.2. Por exen1plo, John Burns, op. cit., J. B. Jcffe . . . -
do de liderança pelos conselhos de ofícios; ou The Labour Progrtanme (1888) de J. L. Maqu1n1stas de certos homens se1ni h b'J · d rys mostra que a ad1n1ssao dos
. · ' - a 1 ita ose1n 1892 sobp· - d ,
Mahon. Ver também Clem Ed\\1 ards sobre ''Labour Federation" no Econonúc Journal, nominal. <::tory r~f lhe t.'ngineers ( 1944), pp. 136-8). ,. tcssao a e::.querda, toi
1893. 63. 50Year.1·oftheETU"(Ma ·h . 193 . .
48. "Why the New Union \\1as Fonned", \oc. cit., W. Beard no Relatório do de Webb, pp. 418-9. . nc estcr . 9),lndustnal Democracy(ed. 1902)
Sindicato dos Trabalhadores, loc. cit. 64. The Story r~f'Natsopa ( 1929) de R B S h
49. Organized Lahour (ed. 1924) de Cole, p. 32: "na inente de alguns dos seus Machine Mou!ders (()ldha1n) H. l ! , .· A . . ut crs, pp. 12-13;A1nal. S. Plate and
funcionários um Trabalhadores Industriais do Mundo embrionário com toda a mão- E. D .. p. 163). , e a ono nua! (1894), p. 5 (Bibl.lngl. Cie. Pol., Col.
de-obra co1no !:>Ua província. 65. lndustriaf Democracy de Webbs cap VII! "N p
50. Relatório dos Estivadores (inarço 1911 ), p. 2. "· Th, f . , · . ' · , e\\' rocesses and M J •
ery , e --011donSoc1etyofCompositors(l948)d Ell' H . acun-
51. Relatório TUC ( 1927). pp. 99 ss. e tc oweeH.Waite,pp.231-3.
52. Trabalhadores do gás, Minutas Executivas Gerais (7 agosto 1904). 67.TheGreaterUnionism(l913)deCo1 ·M 11 .
53. Conferência de 1894, pp. 127-8. Para filas-1nenos bem sucedidas se1ne- 1915) d_e Cole, pp. 239-40 é menos ext-re1no. ee e OI, p. 17; World qf Labour(ed.
lhantes o SNUT, ver Assembléia de Delegados (fevereiro 1891), pp. 7-8. 68. WagesinPracticeandTheory(1928)dcJ W R ~
54. Relatório dos Estivadorc::. (março 1911 ), p. 5; (iunho 1911 ), p. 2. 69 R · · · owepp 151-6
. o1.ve,op.c1t.,pp.69-71,74-5.Vertambé Lo· L : • ••
55. Por exemplo, Relatório do Sindicato dos Trabalhadores (.'ietembro 1916), p. W. Lawrence ( 1898) 0 8 t· h . . m ca Vanattons 1n VVages de F.
· an1an os dos distritos sindi" ·. · .
11: "estávainos todos exultantes pelo que todos nôs considerávamos nosso sucesso pequene7.a da área de negocia1·ão O C . . .d S . , . cais constttue1n guias para a
191 OConstn1çãoeTrabalhoeniM " · enso os.alanosdel906( LXX
inaravilhoso (em 1904) ... mais ainda porque a classe de hon1en:'. organizados (em d··) . . . - p.ex., XIV de
dos salários-padrão dos trabalh d a e1r<t ,nos pe1 tnite observar as notave1s
, · ·
variações
ESA, Birminghan1) era considerada como i1npossível. Isso foi no tempo en1 que a clas-
Lancs. do Sul. . ' a ores en1 areas bastante pequenas-porexemplo, no
se dos inaquinistas semi-habilitados não era gerahnente conhecida e certamente não
reconhecida." 70. Industrial Proble111s and f)úputes ( 1920) de A k . h
71 C " ' · n · S Wlt • p. 252 Cap XXV
56. Trabalhadores de gás, Terceiro Trin1estre (1896) (Will Thorne): "O Sr. . on erenc1a.cspec1al sobre Fusão ( 1914), pp. 25-6. , . .
Stcvenson não reconhece que há competição n1aior entre os trabalhadores do que entre
os mecânicos, através do rápido di:senvolvi1nento e simplificação da maquinaria; que
o artesão habilitado é n1ais ligado ao seu ofício particular do que o trabalhador não
habilitado?" (pp. 8-9). "A maquinaria que econo1niza mão-de-obra está reduzindo o
anteriormente habilitado ao nível da mão-de-obra-não-habilitada" (o que era, natural-
1nente, concebido co1no o clá<>sico "servir de criado") ("U1n discurso de John Burns
sobre o Congresso de Liverpool" ( 1890), p 6).
57. Cf., de uma série de biografias sen1anais de me1nbros proeminentes do
Sindicato dos Trabalhadores: um i'abricante de ferramentas de 32 anos de Bilston tra-

238
239
.t

11

SINDICATOS NACIONAIS PORTUÁRIOS

AS BATALHAS, TRIUNFO E DERROTAS mais dramáticas do


assim chamado "Novo Sindicalismo" do fim do século dezenove e do
começo do vinte ocorreram nos portos ingleses. Suas greves, tal como
o confronto de 1889 dirigido por John Burns, Tom Mann e Ben Tillett,
são lembradas por muitos para quem poucos outros episódios na histó-
ria do trabalhismo são familiares. Seus lock-outs e contra-ofensivas
dos patrões foram numa escala igualmente vasta. Um líder dos estiva-
dores, ErnestBevin, tornou-se o sindicalista do século vinte mais fami-
liar entre o público leigo. É portanto natural que a história das agitações
portuárias tenha sido mais cornumente escrita e1n termos dos seus
acontecimentos e personalidades dramáticas embora, como acontece,
nem mesmo uma narrativa histórica adequada deste tipo exista ainda.
Contudo, não é meu objetivo contar novamente ou completar essa nar-
rativa, mas em vez disso considerar os motivos pelos quais o sindica-
lismo nos portos ingleses emergiu como o fez e quando o fez.
Falando de uma maneira geral, ele emergiu entre 1889 e 1914.
Antes de 1889 a mão-de-obra portuária não era absolutamente organi-
zada séria ou permanentemente. Após as grandes greves e lock-outs de
1911-12, o sindicalismo nunca recaiu na insignificância. A primeira

241
questão com a qual estamos preocupados é portanto aquela do princí· Gerais), os homens do porto e os carregadores de navios constituíam o
pio tardio e difícil do sindicalismo portuário. Isto exige explicação, seu núcleo; em Harwich os ferroviários; em Grimsby o sindicato geral
porque hoje em dia constitui uma banalidade o fato de a mão-de-obra de fora dos Trabalhadores de gás e os marinheiros (que também come·
portuária constituir uma posição de negociação extremamente forte. çaram o movimento em Glasgow e Liverpool)'. Em outros portos ain·
As greves das docas, como as greves ferroviárias, podem causar per- da, cada seção do trabalho era organizada separadamente numa base de
das financeiras maciças ou ruptura de um grande setor da economia - semi-ofício. Certos grupos, notadamente as equipes permanentes de
especialmente em áreas dependentes do comércio de ultramar - atra· manutenção e os operadores de máquinas, podiam ser organizados por
sando ou impedindo o transporte de mercadorias e matérias-primas. A sindicatos de ofícios externos ou sem ofícios tais corno os Traba-
mão-de-obra do cais é poderosa porque sua capacidade de faLer greve lhadores de gás, ou mesmo - como os guindasteiros de Glasgow -
é poderosa, e em geral os sindicatos portuários têm uma forte tradição pelos Fundidores de Aço. Todo padrão possível de sindicalismo pode
de militância. De Santos a São Francisco, de Sydney a Liverpool, a ser encontrado no porto: sindicalismo separado e de ofícios locais,
ameaça de greve dos estivadores é ainda considerada extremamente como entre os arrumadores de carvão; sindicalismo de ofícios compos-
séria. Contudo na verdade- com a exceção de certos ofícios especia· tos, como entre os carroceiros e os inarinheiros; sindicalis1no geral,
lizados tais como os homens das chatas - a organização sindical no como entre os membros de vários sindicatos gerais dos portos, e todas
porto tem geralmente sido lenta em se desenvolver. Neste sentido a as variedades de sindicalismo local, regional e nacional'.
Jnglaterra não difere grandemente da maioria dos outros países i ndus· Da mesma forma, a base geográfica natural da força do sindica·
triais adiantados. to portuário é o porto, ou mesino, dentro do porto, o cais ou desembar·
A segunda questão diz respeito à forma que a organização portuá· cadouro especializado. Um porto fortemente organizado, tal como
ria tomou, e aqui a experiência inglesa é inenos comparável com aque- Birkenhead, pode existir quando o sindicalismo cm outras partes vir·
la dos outros países. O porto é uma indústria com fronteiras fluidas e tualmente entrou em colapso. Uma parte fortemente organizada de um
nenhuma forma exata, já que o seu trabalho consiste na carga e descar· porto, tal como o sul de Liverpool ou Londres, pode existir entre a
ga de carregamentos, no transporte de mercadorias através da água (por desorganização do resto. Há pouco motivo estratégico ou tático para
chatas ou balsas), na beira do cais (por caminhão, vagonetes e outros que o sindicalismo portuário não deva crescer portanto como u1n
equipamentos inecânicos), e do cais para as estradas de ferro, ar1nazéns mosaico de sindicatos baseados localmente, de estrutura muito dife·
e outras partes (por trem, e no fim do século dezenove, cavalo e carro· rente, talvez numa federação frouxa, talvez não. E na verdade isto é o
ça). Ela compreende também a manutenção das instalações e máquinas que não pareceu pouco provável em certa ocasião. Em 1813, porexem·
permanentes do cais, o complexo de empregos burocráticos do pessoal pio, pelo menos sete organizações monopolizaram o sindicalismo por·
de "colarinho branco" de conferir, despachando e dispondo em geral tuário em um ou mais portos, e um navio costeiro visitando os portos,
das mercadorias, força pequena mas decisiva para o fluxo (pilotos, tri· digamos, da costa leste da Inglaterra, podia encontrar um padrão sin·
pulações de rebocadores e manobreiros ), e uma força maior de supervi· dica! diferente em cada um*
sores, policiais oficiais e não-oficiais e guardas para impedir perdas
excessivas de mercadorias. 1 Daí o porto não ter nenhum núcleo óbvio e
*'Assim emAbcrdeen ele lidaria principahncnte cmn o Sindicato Nacional dos Traba-
predestinado para o seu sindicato, tais como os homens das casas de lhadore'.> do Cai.'., em Oundec co1n o Sindicato Escocês de Trabalhadores do Cais. nos portos do
retortas nos gasômetros, os ajustadores e torneiros das fábricas antiqua· Fife e Lcith mais u1na vez com o SNTC, em Blyth com os Va7adores e Estivadores do Norte da
das de maquinaria, os cortadores na mineração ou os fiandeiros no algo· Inglaterra, em Newcastle co1n uma variedade de sindicatos, cm Sunderland com as Sociedades
Federai" da Costa Nordeste, no:::. Hmtlepools mais mna VCL principalmente com os Vazadores. cm
dão. Em várias ocasiões e em vários lugares, quase qualquer grupo pode MiJdlcsbrough com os Estivadores de Londres, em Hull con1 pralicamente todos os sindicatos
se tornar o núcleo de um sindicato. Em Bristol (que ia se tornar a base da indústria, em Goole somente cmn o SNTC, mas cm Gri1nsby com os Trabalhadores de gás, e
doméstica do moderno Sindicato dos Trabalhadores de Transportes em Boston e portos do sul com o~ Estivadores de Londres.

243
242
1
Contudo a direção básica do sindicalismo portuário inglês não década de 1880, como as docas de Gênova no mesmo período, estavam
era local ou seccional, mas desde o começo regional ou mesmo nacio- 1nais próxin1as do ofício dos carregadores centro-africanos do que da
nal, e seu resultado final foi o Sindicato de Trabalhadores em Trans- indústria moderna'. Segue-se que o quadro habitual de uma indústria
portes Gerais em 1922, na verdade um sindicato industrial de trabalha- composta esmagadoramente de trabalhadores casuais e não-habilita-
dores portuários e de transporte rodoviário concentrados num dos é altamente enganador. Pelo contrário: o carregador especializado
sindicato geral. Foi sugerido que esta realização notável deveu-se à de carne ou grãos, o descarregador de carvão e o carregador de sal, o
habilidade e à personalidade de Ernest Bevin, mas isto é exagerar os estivador ou carregador que arrumava a carga de exportação a bordo
méritos de qualquer líder sindical individual, mesmo de uma figura tão do navio, tinha que ter pelo menos as qualidades do misturador de fer-
impressionante como a dele. Os líderes sindicais, ao contrário dos ro - força e destreza de alcance limitado, e muito freqüentemente as
generais do exército, não aprendem sua estratégia e tática em escolas qualidades do artesão completo ou operário supervisor - iniciativa,
de estado-maior e as praticam em exercícios, mas exclusivamente no larga experiência, capacidade de tomar uma variedade de decisões
próprio trabalho e durante o combate. A escola de Bevin foi o sindica- para atender às necessidades de carregar e descarregar os mil e um
lismo portuário de 1889-1914, mais sua própria consciência da neces- navios não-padronizados, e a capacidade de supervisionar homens.
sidade do sindicato nacional, e das implicações estratégicas e táticas Mesmo que não fossem muito altamente habilitados pelos padrões
desta necessidade, remetem a experiência e as tendências do trabalho convencionais - a Junta de Trabalho dos ofícios correspondente, um
portuário neste período. Quais eram estas tendências? maquinista, descrevia os arrumadores de carvão corno "não-habilita-
dos"'•- sua força de barganha era considerável.
Mas, como os "homens de processo" na indústria química, a
II equipe da plataforma do maquinista nas estradas de ferro, como, na
verdade, os níveis-chaves em qualquer indústria moderna em contra-
Tecnicamente falando, o trabalho da estiva era espantosamente posição à produção por ofício, os especialistas constituíam apenas uma
primitivo em 1889. Naturalmente é verdade que a irregularidade porcentagem, embora bastante grande, do total'. Nos portos totalmen-
essencial das chegadas e partidas dos navios impõe limites até hoje à te especializados, como os portos de carvão do nordeste e da Gales do
racionalização e mecanização da faina portuária, 4 mas no fim da déca- Sul, eles podiam constituir uma porcentagem mais elevada, como
da de 1880 não havia, em absoluto com exceção dos cais, guindastes, podiam novamente nas docas totalmente especializadas, tais como os
guinchos e ferrovias de beira de cais. virtualmente nenhum equipa- embarcadouros de grãos de Millwall, os embarcadouros de sal de Li-
mento mecânico. A revolução técnica que iria mecanizar a carga e des- verpool ou os embarcadouros de madeira da costa leste. Nos portos de
carga de grãos e carvão,,e até certo ponto da madeira, não foi iniciada exportação, onde a arrumação a bordo do navio era da maior importân-
seriamente senão no fim da década de 1890 e começo da de 1900, e o cia, eles podiam ser mais importantes do que nos de importação. Con-
seu progresso foi lento. A melhor descrição do trabalho nas docas de tudo, em geral - especialmente nos três grandes portos gerais de Lon-
Londres em 1908'" dificilmente menciona equipamento mecânico dres, Liverpool e Hull, e no grande porto de importação de Bristol, os
exceto no Cais Vitória (trigo, carne congelada e carvão), e mesmo em "homens de processo" eram simplesmente a ponta-de-lança de um
1914 mnito içamento de carvão em Liverpool era feito em cestas vasto exército de carregadores, empurradores, carroceiros, ajudantes
manuais, enquanto a descarga de grãos por sacos estava longe de ser em geral e não sei o que mais, cuja habilidade e força precisavam ser
extinto em Bristol mesmo após a mecanização da 1 Guerra Mundial'h. pequenas, cuja contratação era genuinamente casual, e cuja organiza-
As tarefas especializadas eram feitas por homens especializados, as ção sindical era de partir o coração 8 •
tarefas não-especializadas por homens não-especializados. Tecnica- A totalidade desta estrutura de mão-de-obra estava envolvida na
mente, as docas de Liverpool, tais como descritas por Sexton no fim da neblina da "contratação casual". Os efeitos disto eram, naturalmente,

244 245
de aumentar ainda mais a diferença entre os estivadores "fortes" e "fra- econo1nistas suficientes para apontar a ineficiência desconcertante do
cos". O estivador ou carregador de grãos, 111esmo quando oficialmente sistema de mão-de-obra casual, e todas as medidas sérias de descasua-
não-organizado, era virtualmente imune ao casualismo. O número de lização envolviam uma diminuição relativa ou absoluta da força de
homens na multidão que se acotovelava nos portões do cais que eram , mão-de-obra concorrente. Afinal de contas, não tinha sido demonstra-
fortes, equilibrados e com nervos de ferro suficientes para tentar correr do que a força de trabalho de 1912 nas docas de Liverpool era quase
paracimae para baixo vibrando as pranchas de desembargue com sacos 1 duas vezes maior do que a que podia ter enfrentado o pico da demanda
de cinqüenta quilos em seus 01nbros - quanto mais conseguir - era sob condições de ótima eficiência na contratação? 13 Mas embora
muito pequeno. Para fins práticos o homem especializado era tão alguns líderes sindicais pudessem ter apreciado as vantagens dadesca-
insubstituível como um criador de moldes9 • Por outro lado, especial- 1 sualização de um ponto de vista de barganha, os homens se opuseram
mente em ocasiões de rápida expansão do co1nércio, a chance de um dia a isso.Uma coisa era impedir novos homens de entrar para a profissão;
avulso de trabalho atraía para os cais menos especializados grande 1 outra completamente diferente lançar Bill e Jack (e talvez a si mesmo)
número de remanescentes, homens incapazes, por qualquer motivo, de no olho da rua. Uma coisa era garantir trabalho mais ou menos regular,
trabalhar em alguma outra coisa, e dispostos a tentar o serviço para o porque alguém era mais rápido e mais forte, ou porque alguém havia
qual o mínimo de força, experiência e regularidade bastariam"'. A exis- subornado o capataz, ou conhecia sua mãe de algum vilarejo de Water-
tência de um considerável exército de mão-de-obra de reserva, por ine- ford; outra completamente diferente condenar Bill e Jack (ou mais pro-
ficiente que fosse, naturalmente baixava os padrões dos demais, e fazia vavelmente a si mesmo) a se tornar urna "preferência B" permanente,
com que os níveis mais baixos da profissão se tornassen1 cada vez mais condenado a trabalho menos regular e a menos dinheiro. Quanto mais
residuais. Havia, portanto, dois - ou melhor três - problemas para o pobre e mais casual o estivador, mais se apegava ele à justiça grossei-
organizador sindical das docas. O primeiro era o problema normal do ra do casualismo, mesmo que esta fosse apenas ajustiça da loteria, na
sindicato de ofício: como estabelecer e manter restrição na entrada para qual qualquer um podia tirar o número da sorte. O que quer que o eco-
o ofício. Os estivadores "habilitados" e de "supervisão" tinham em nomista on o organizador dissesse, portanto, a autopreservação impe-
grande parte os mesmos métodos de resolvê-lo como os artesãos nor- lia o estivador não-habilitado a uma política de solidariedade; de dis-
mais 11. Na verdade, à medida que o volume do co1nércio se expandia fir- tribuição "justa" do trabalho que estivesse disponível. Em Londres,
memente sem qualquer mecanização eqnivalente, os homens de qual- onde a descasualização foi imposta pelos patrões como uma medida
quer cais estabelecido tenderiam sempre a estar um pouco adiante do comercial, o sistema de preferência estava em vigor, em Liverpool,
jogo - apenas o suficiente quanto ao tempo que tomava para treinar onde o Sindicato era forte, ele não pôde ser introduzido; e mesmo
novos carregadores de carvão ou descarregadores de sal, e fazer acor- então, as fileiras colidiram contra o novo esquema, e o acordo que deu
dos razoáveis. Quando foram abertas docas completamente novas, a ao Sindicato um controle virtual sobre toda a força de mão-de-obra do
posição deles podia não ser tão fácil, embora com um pouco de deter- porto, teve que ser imposto aos homens de Birkenhead por meio dos
minação e organização eles pudessem ser estabilizados logo. Pode-se furadores de greves"·
imaginar que o choque do movimento de 1889 forneceu exatamente o Naturalmente, o restricionismo podia funcionar a longo prazo. À
estímulo para esse esforço extra, porque nos portos de carvão da Gales medida que o volume do comércio do porto crescia, mesmo uma força
do Sul e do Norte, e em muitos outros lugares, as organizações de esti- detrabalhoestabilizadaemcercade29.000, em vez de cerca de 16.000
vadores de "ofício" os estabeleceram muito rapidamente e asseguraram ou 20.000 podia começar a usar o seu valor de escassez na negociação
todas as vantagens da restrição, reconhecimento e profissão fechada - e no devido tempo isto aumentou grandemente a força das organi-
que eles nunca mais iriam perder depois". zações de estivadores ou trabalhadores portuários na Inglaterra e no
Mas o problema dos não-habilitados não podia ser resolvido pelo estrangeiro. A curto prazo, contudo, o sindicalismo portuário foi força-
restricionismo antiquado. Teorica1nente poderia ter sido, porque havia do a aperfeiçoam ovas táticas de negociações combinadas e sindicalis-
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mo "industrial". Desde 1910, quando encontramos pela primeira vez na estrutura cada .vez mais integrada do grande porto moderno, a força
os estivadores de Bristol recrutando deliberadamente grupos de traba· de barganha suficiente para aterrorizarum embarcadouro não era, afinal
lhadores do porto "estrategicamente vitais"," e a Federação Nacional de contas, tão grande na totalidade de Londres. Além do mais - e este é
dos Trabalhadores em Transportes foi fundada, os problemas do sindi· sem dúvida o fator mais importante- mal os "artesãos" haviam estabe·
calismo industrial foram constantemente discutidos na indústria; e não lecido a sua posição, a mecanização começou a expulsá-los dela. O
simplesmente, como cm alguns outros lugares, pelos intelectuais. Mas escoado~ ~e grão matou o carregador especializado de grãos, o carrega-
isto originou o terceiro problema do organizador das docas: como
impedir as seções "fortes" de organizarem seus próprios sindicatos de
I dor mecamco de carvão enfraqueceu os arrumadores. A diferença entre
estivadores e não-estivadores começou a desaparecer em alguns portos 17
quase-ofícios, deixando os "fracos" à mercê do mercado, ou, falhando quando homens "semi-habilitados" vieram para fazero serviço. Oresul·
isto, como garantir a coordenação mais eficaz entre os vários tipos de tado disto a curto prazo bem podia se fazer o sindicato de ofício cerrar
sindicatos. O perigo do sindicalismo separado era real. O porto no qual suas fileiras, e traçar com mais cuidado a linha de demarcacão entre ele
todas as seções importantes do trabalho portuário estivesse num único e o resto dos trabalhadores, e isto parece realmente ter ac~ntecido. Ou
sindicato era raro. Bristol foi talvez o maior exemplo. Em Londres, por então podiam ser organizados novos sindicatos de "ofícios"'". Mas a lon-
exemplo, os estivadores, trausportadores em chatas, guindasteiros e go prazo isso também incutia neles a necessidade da ação comum den-
carregadores de carvão tinham suas próprias sociedades, enquanto os tro da indústria como um todo. Os problemas dos estivadores não
carregadores especializadas do lado sul entraram para uma federação podiam ser enfrentados efetivamente sem enfrentar aqueles dos traba·
local de sindicatos independentes locais (alguns portuários, outros lhadores portuários co1nuns. Dos numerosos sindicatos de "ofícios"
não), chamada Liga de Proteção ao Trabalho. O Sindicato dos Esti· poucos sobreviveram às funções do começo da década de vinte, exceto
vadores foi deixado com um grupo misto de homens especializados e os Arrumadores de Cardiff, e alguns estivadores "especialistas". Quer
trabalhadores portuários comuns. eles entrassem para o SGTT ou, como alguns, para o SNTGM", entra-
Felizmente havia vários motivos que impediam os dois níveis de ram para os graus mais baixos. Naturalmente, muito antes de a fusão ser
se afastarem muito, como pareceu provável em certa ocasião. Em pri· seriamente considerada, as necessidades de negociação haviam \evado
meiro lugar, para o mundo exterior eles eram todos "trabalhadores" as várias sociedades a uma federação razoavelmente íntima.
iguais. Na verdade, até certo ponto, a posição técnica deles eram ames·
ma: a de teoricamente serem totalmente trabalhadores "casuais", sem
nenhum direito a emprego regular". Na prática, naturalmente, os III
"homens habilitados" eram regulares mas, como o servo feudal rico do
fim da idade média cujo status servil o vincula aos seus companheiros Do ponto de vista comercial a perspectiva de fortes sindicatos
menos afortunados, o estivador livre de cuidados não achava fácil ser portuários não em-teoricamente- inaceitável. A indústria precisa-
"aceito" pelo mundo exterior. O sindicato de Londres teve alguns pro· va mmto de racionalização. Dificilmente é dizer muito que ela ainda
blemas com o Conselho de Ofícios de Londres em 1885 por causa disto. estava na fase da Estrada de Ferro Stockton·Darlington ou das estradas
Em segundo lugar, ao contrário dos fabricantes de caldeiras ou carpin· com ~edágio. O principal equipatnento comum proporcionava uma
teiros, os estivadores habilitados não possuíam um conjunto-padrão coleçao heterogênea de usuários particulares e não-padronizados. (Em
razoável de qualificações e experiências. Cada embarcadouro ou cais alguns casos - notadamente em Londres antes de 1908 - nem mes-
tinha o seu conjunto especial de problemas e costumes, não necessaria· mo o equipamento básico era planejado e administrado centralizada.
mente duplicados em qualquer outro lugar, e aqueles que eram habilita· mente). Um emaranhado de usuários pequenos e grandes, grandes
dos neles constituíam, por assim dizer, um corpo puramente localizado. companhias portuánas, municipalidades (como em Bristol), grandes
Daí serem eles, apesar de sua habilidade, relativamente fracos, porque expedidores e massas de pequenos administradores de cais particula-

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res e mestres estivadores alinhavam-se à beira do cais, cada um com o alguma forma as suas condições. Assim não há nenhuma evidência em
seu reservatório de mão-de-obra casual do qual supria suas exigências Liverpool de que elas diferissem substancialmente no norte não-orga-
de mão-de-obra violentamente flutuantes, cada um impondo suas pró- nizado e no sul do porto menor mas não-sindicalizado 24 .
prias condições em todos os cais e todas as cargas. O homem pequeno, Poroutro lado, necessitado de reorganização sistemática, o negó-
o subempreiteiro, dominava todo o quadro, porque mesmo as grandes cio de expandir os grandes portos tinha se tornado tão viscoso a ponto
unidades subcontratavam uma grande parte do trabalho, e quando não de causar a todos exceto os subempreiteiros perdas realmente sérias.
o fazia1n, o sistema casual de contratação punha os capatazes numa Williams, o campeão do esquema de Liverpool, dá qualquer número
posição 1nuito parecida com a dos subempreiteiros - e1nbora seus de exemplos''. Um navio é parcialmente descarregado, mas a carga
lucros bem pudessen1 ser ganhos ilicitan1ente, por suborno, emprésti- não pode ser transferida rapidamente dos cais, onde está amontoada;
mos em dinheiro e coisas parecidas"'. Este grupo, naturalmente, tinha ela detém outras, e custa o pagamento de horas-extras para transferir.
o mais forte interesse na continuação do sistema. O pequeno adminis- As mercadorias são deliberadamente deixadas no cais, prontas para
trador de cais particular ou mestre carregador estava contente com um pegarem um navio antecipado, porque o remetente prefere pagardes-
sistema que lhe fornecia uma reserva permanente de t'não-de-obracon- pesas extras do que arriscar-se à demora da armazenagem pesada e da
tra flutuações súbitas, salvaguardando-o assim contra a concorrência aparelhagem de manuseio; enquanto isso elas também ocupam o espa-
dos usuários maiores. Os capatazes de Liverpool importados por Man- ço disponível. O navio mercante tradicionalmente encosta no cais de
chester se recusaram categoricamente a trabalhar sob qualquer sistema manhã para fazer a entrega das suas mercadorias, mas ela pode ter que
senão o de contratação absolutamente casual que lhes dava uma posi- ir a três ou quatro lugares, e no momento em que chega a eles, a contra-
ção tão favorecida (e sem dúvida tão lucrativa)". tação está terminada, os estivadores estão ocupados ou foram e1nbora
Contra este sistema podem ser feitas várias objeções sob funda- e as mercadorias têm que esperar outro dia - usando espaço mais
mentos comerciais. A eficiência da mão-de-obra negligente que ele valioso ainda. Evidentemente a mecanização e qnalquer acordo que
enconrajava era espantosamente baixa, e a força de trabalho total exce- constitua uma contratação mais racional e flexível para todo o porto se
dia grandemente até as exigências tnáxünas. Apesar disso, estes eram recomendaria por si rr1esmo para a comunidade comercial, desde que
pontos que atingia1n mais os economistas de fora que olhavam do alto eles pudessem se reunir para exa1ninar o assunto mais de um ponto de
toda a situação do que os cmbarcadores e administradores de cais preo- vista comum do que do ângulo limitado da firma individual. O estímu-
cupados em carregar e descarregar uma série de cargas desconexas. lo da sublevação de um grande sindicato, e a assistência com tato dos
Mais perturbadora era a Lotai falta de padronização, que tornava a funcionários do governo, os ajudaram a fazer isso.
negociação do preço de cada carga um tanto imprevisível. Um sindica- Antes de 1914 temos, na realidade, alguns exemplos dessa racio-
to forte bem podia, assim disseram os comerciantes de carvão de Lon- nalização deliberada, nas grandes Companhias das Docas de Londres
dres à Comissão Trabalhista, simplificar e padronizar os assuntos". (1891-1912), em Liverpool, e em alguns portos menores como Goole
Isto é, desde que ele fosse "sensível" e não tentasse elevar os custos da e Sunderland - embora os 1.000 ou 2.000 homens envolvidos nos
mão-de-obra "irrazoavelmentc", porque mesmo quando fir1nas gran- dois últimos não possam se comparar em importância aos 4.000 ou
des pagavam qualquer coisa até dois terços da sua despesa anual ou até 8.000 de Londres ou aos 29.000 de Liverpool"'. O esquema de Londres
50 por cento do total de recibos comerciais de mão-de-obra", a indús- só indiretamente foi conseqüência do levante de 1889, embora aquele
tria era naturalmente sensível. Por outro lado, quando não havia fosse adotado por recomendação de Charles Booth das pesquisas
nenhum sindicalisn10, os estivadores comuns não-especializados sociais, ele próprio um grande armador. Foi, naturalmente, limitado a
podiam pegar o emprego ou deixá-lo, sob as condições oferecidas, e de uma grande firma c suas associadas- a Companhia das Docas de Lon-
qualquer maneira a fluidez da mão-de-obra - alguém sempre se dres e da Índia, e finalmente as várias companhias associadas da
mudaria de embarcadouro para embarcadouro - tendia a igualar de "Comissão Conjunta" - e foi muito mais uma medida direta de racio-

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nalização interna, virtualmente não afetada pelas complexidades de tas. A história do sindicalismo antes de 1889 é ainda muito obscura, mas
negociar com uma multidão de patrões distintos e com um sindicato o primeiro movimento geral parece ter ocorrido no surto econômico de
forte. Seu resultado foi muito mais de aumentar a intensidade do traba- 1871-3, e sido deixado para trás, salvo o primeiro acordo salarial de Lon-
lho do que de descasualizar, porque embora a porcentagem do trabalho dres na lembrança dos últimos sindicalistas, uma organização perma-
realizado pelos estivadores "permanentes" subisse de 30 para 38 por nente de estivadores. Os acontecimentos em Liverpool são até menos
cento entre 1894-6 e 1902-4," a porcentagem de trabalho por peça claros, embora pareça ter havido uma greve em 1879 e um acordo sala-
aumentou na Doca Victoria e Albert de pouco menos de 19 por cento rial em 1885 3ºª. Em todo o casoi o primeiro movimento nacional ocorreu
em 1894 para pouco menos de 81 por cento em 1904". Além do mais a em 1889-90, e estabeleceu sindicatos fortes, resultando em profissões
transferência dos tipos mais flutuantes de trabalho para os subemprei- virtualmente fechadas, em vários portos importantes. Para alguns dos
teiros tornou até a descasualização existente mais aparente do que real. sindicatos e portos especializadas e habilitados isto foi o fim da conten-
O esquema de Liverpool, embora mais modesto do ponto de vista téc- da- no Tyne, por exemplo, ou até certo ponto no sul de Londres- por-
nico, foi muito mais ambicioso, porque envolveu cerca de 60 firmas e que eles foram imediata e permanentemente reconhecidos. Em outras
um sindicato em todo o porto. Por outro lado a concentração real da partes o contra-ataque se desenvolveu, estimulado pelo poder excessivo
produção, e a regularização do trabalho portuário, tinham ido um tan- que se supunha que as grandes profissões fechadas detinham, porque
to mais longe uo Mersey do que no Tâmisa. Onze das 63 firmas empre- uma coisa é reconhecer os 1.000 ou 1.500 arrumadores de carvão de
gavam 17 .000 dos 28.000 trabalhadores, principalmente é claro os Cardiff, cuja importância estratégica era tão grande como sua parcela do
grandes embarcadores com suas linhas regulares; só duas grandes fir- custo local da produção e exportação de carvão era pequena," e outra
mas, a White Star e a Leyland Dominion, receberam não menos de completamente diferente reconhecer um porto totalmente sindicaliza-
7 .000 estivadores no esquema real". Por consenso comum, além do do". Algumas vezes o contra-ataque não foi coordenado, resolvendo
mais, as docas dos navios do norte, que usavam quase 80 por cento da uma Firma ou grupo de firmas importantes resistir, e o resto aguardando
mão-de-obra, e as docas médias 30 que atendiam o comércio costeiro, os acontecimentos. Este era o padrão entre os comerciantes de carvão e
tinham exigências excepcionalmente regulares. Na verdade, como na esmagadores de sementes de Londres, e quanto a isso, os trabalhadores
indústria do gás, a regularização gradual da demanda fez mais a tempo de gás 33 • Algumas vezes era um contra-ataque planejado e coordenado
de igualar as flutuações da demanda do que os esquemas reais para a ao longo de toda a frente, dirigido pela recém-fundada Federação de
descasualização. Será evidente que as condições para uma reorganiza- Navegação, como em Cardiff (1891) e Hull (1893)". Outras vezes fica-
ção não eram desfavoráveis - especialmente quando o porto estava va a meio caminho entre os dois. Em conseqüência desta ofensiva o sin-
loucamente próspero. Além do mais, sob a oligarquia dos grandes dicalismo sério foi varrido, exceto entre os negociadores "fortes" corno
embarcadores, algo como a simbiose de Detroit entre patrões e sindi- as habilidades especializadas, estivadores, barqueiros etc., em certos
catos podia bem vir a existir. Na verdade, veio. portos especializados, notadamente os de exportação de carvão, e em
certas áreas relativamente favoráveis como Birkenhead e Briston. Na
primeira, os sindicatos sempre haviam resistido- até as relíquias de um
IV sindicato da década de 1840 sobreviveu até o século vinte- e os proble-
mas especiais da carga de exportação, bem como a falta de concentração
Mas a ascensão e o reconhecimento dos sindicatos não é uma ques- entre os patrões, e o isolamento de Liverpool, ajudaram o sindicato.* No
tão tão simples. Bastante diferente das consideráveis variações locais, último porto, o sindicato pode ter sido ajudado pelo fato de a própria
eles tendiam - eles sempre tendem - a passar através de uma série de
"figuras" como uma dança ou namoro antiquado, ou, já que a metáfora
*O Sobre as diferenças das condições de trabalho entre Liverpool e Birkenhead- espe-
militar é apropriada, através de uma série de investidas e réplicas pron- cialmente falla de distinção entre marinheiros e ho1ncns do cais -ver Shaw Enquiry, p. 142 (344 ).

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cidade controlar não só as instalações do porto, como ser ela própria uma intransigente de Lorde Devonport, explique esta divergência. Certa-
grande empregadora de mão-de-obra portuária, especialmente no mente não há nenhuma dúvida da deliberação com que os patrões de
comércio de grãos, e daí sujeita a alguma pressão política. Londres, sob sen comandante-em-chefe, começaram a provocar o sin-
Pouco mudou comparativamente entre o colapso após 1889 e a dicato para uma segunda greve, a implacabilidade com que pressiona-
expansão de 1910-14, que mais uma vez abrangeu virtualmente todos ram com sua força superior num ajuste de contas, e a implacabilidade
os portos. Os portos fortes registrararp. alguns progressos modestos, os igual com que começaram, após a vitória, a reduzir os estivadores de
fracos - a maioria- absolutamente nenhum, etnbora provavelmen- Londres a um estado de casualismo desorganizado. O esquema da
te o caso de Liverpool, cujos níveis de salários permaneceram inalte- Comissão Conjunta para descasualizar sua mão-de-obra foi delibera-
rados desde 1885 até 1915, fosse excepcional. Em 1910-14 o padrão damente abandonado, as velhas listas de "Permanentes" e de Prefer-
de 1889 se repetiu, mas sob condições mais favoráveis para os sindica- ência "A" foram apagadas, e os furadores da greve de 1912 tiveram
tos. Bastante diferente das mudanças políticas e administrativas do preferência sobre todos os outros"'. A amargura gerada por esta greve
período interveniente, nenhum rompimento da prosperidade dos por- não desapareceu totalmente. Mesmo hoje (1964) os homens se recu-
tos veio a encorajar os patrões a diminuírem os custos. Além do mais, sam a trabalhar com os filhos dos furadores da greve de 1912. Contu-
as organizações que se expandiam agora alé1n dos seus picos anterio- do, apesar do declínio catastrófico do número de membros do sindica-
res não eram combatentes novatas, mas veteranas experientes de inais to, Londres não retornou à desorganização, e o sindicato era agora tão
de vinte anos de ca1npanha. A expansão não era mais a série mal-coor- forte que mesmo a recaída temporária de uma região ou outra não inter-
denada de revoltas independentes - no Clyde, Mersey e Tâmisa - rompia mais a ascensão geral. Com a Primeira Guerra Mundial, natu-
mas continham a frouxa, mas não totalmente ineficaz estrutura de uma ralmente, a esperança de destruir o sindicalismo portuário desapareceu
Federação Nacional de Trabalhadores em Transportes, estabelecida para sempre.
em 1910". A estratégia e as táticas eram mais altamente desenvolvidas A greve do Mersey, por outro lado, levou diretamente ao pleno
do que em 1889, porque líderes como Mann e Til!ett haviam pensado reconhecimento. Foi criada uma comissão conjunta de proprietários e
muito nelas, e as experiências dos sindicalistas revolucionários conti- homens, e o Esquema Portuário evoluiu. Os efeitos disto foram vistos
nentais e americanos estava1n disponíveis e, o que é mais, discutidas imediatamente. Quando os londrinos fortemente pressionados apela-
pelo quadro de líderes militantes. Em conseqüência não se desenvol- ram para uma greve nacional de simpatia em 1912, Liverpool, atenta
veu nenhum contra-ataque nacional, e o mais sério dos contra-ataques em não fazer nada que pudesse perturbar a sua posição agora privile-
locais, o do Tâmisa, foi apenas parcialmente bem-sucedido. giada, recusou-se a entrar na greve (embora Bristol, o velho centro do
A diferença entre o Tâmisa e o Mersey é especialmente instrnti- sindicalismo industrial, entrasse). Os sindicatos de Liverpool perma-
va. Em a111bos, o levante começou mais ou menos da mesma n1aneira, neceram na extrema direita do movimento, porque tinham a essa altu-
em Liverpool; na verdade, ele foi muito ma[s espontâneo do que em ra estabelecido uma força repressora virtual sobre a contratação em seu
Londres, onde o sindicato oficial estava por trás dele, embora a lide- porto, e-para fins práticos - sua batalha seccional foi ganha 3·/.
rança revolucionária de TomMann lhe desse coesão. Ambos os patrões
entraram em acordo, como tinham feito tantas vezes em 1889 e esta-
vam fazendo em todo o país, porque forarü apanhados desprevenidos V

e francamente perderam a coragem"". Contudo, enquanto em Londres


eles logo se arrependessem de sua concessão e contra-atacassem, em Contudo, esta intensificação das diferenças regionais - os esti-
Liverpool a greve simplesmente reforçou a colaboração das duas par- vadores escoceses se separaram até dos de Liverpool e formaram seu
tes. Talvez, à parte todas as considerações de diferenças comerciais, a próprio sindicato - foi apenas temporária. A tendência geral era na
existência da nova Autoridade do Porto de Londres, sob a liderança direção oposta. O ímpeto inicial no sentido do sindicato nacional ou

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federação era do lado dos homens - quase totalmente estratégico. sem as diferenças locais, por mais independentes que fossem as uego-
Diante de initnigos especiahnente concentrados, inclusive a poderosa ciações locais, por mais irrelevantes que fossem as exigências, diga-
Federação de Navegação organizada nacionalmente, era desejável mos, dos estivadores do Tyne em relação às dos de Plymouth ou Sligo,
coordenar as várias forças sindicais, embora nos anos de relativa ina- elas foram facilmente unidas num movimento geral. Em 1889 eles
tividade sindical entre 1892 e 1910 toda a questão fosse um tanto aca- haviam na realidade organizado dois amplos movimentos - um
dêmica. Além do mais, o grosso dos trabalhadores em transportes eram baseado no Tâmisa no sul e no leste, o outro baseado no Clyde e no
organizados com instabilidade, e não-reconhecidos, e quanto mais ífa- Mersey, e cobrindo também o resto da Escócia e do Mar da Irlanda". A
cos seus sindicatos, maior seu desejo de alargar os objetivos da organi- expansão de 1911 uniu estes num só, embora bastante frouxamente.
zação. Quando os estivadores de Londres e os marinheiros falharam, Por outro lado, um sindicato genuinamente nacional não podia
no meio da década de noventa, elas tentaram se reforçar organizando surgir até que as verdadeiras exigências dos estivadores fossem por si
uma vasta Federação de Trabalhadores em Transportes internacional mesmas capazes de ser reduzidas a um denominador comum. Mas isto
que devia enfrentar o sindicato nacional dos patrões por uma concen- era excepcionalmente difícil, exceto no sentido vago de que todos os
tração ainda mais vasta das forças dos trabalhadores, plano esse que estivadores num determinado momento tivessem probabilidade de
não foi muito bem-sucedido'". Tampouco é de surpreender que a ini- sentir a necessidade de um aumento de salários, e o fator mais preciso
ciativa para a Federação dos Trabalhadores em Transportes de 1911 de que os movimentos dá indústria de navegação produziam um certo
devesse ter vindo do sindicato de Londres em luta. Mas num período volume de padronização interportos, e incidentalmente tornassem as
de militância e expansão geral até os sindicatos estabelecidos - alianças temporárias com os marinheiros não só possíveis como alta-
embora reservando seus direitos especiais - podia1n ver vantagens mente desejáveis. Assim o irrompimeuto de 1889 não foi simplesmen-
numa ligação mais ampla. A indústria portuária era constantemente te inglês, tinha havido também greves de estivadores em Hamburgo
perseguida pelo espectro do furador de greves - o trabalhador rural (1888), Bremerhaven ( 1888), Rotterdam ( 1889) e sem dúvida em
não-habilitado que inundara as docas, o marinheiro de folga ou o esti- outras partes. Por outro lado não havia nenhuma exigência-padrão
vador da reserva demão-de-obra casual que existia em outras partes, geralmente aceitável como o Dia de Oito Horas que podia unir os por-
transportado pelos patrões até um porto em greve para substituir o sin- tos. Em virtude do casualismo do trabalho e das grandes variações dos
dicalista cm greve. Ninguém era realmente imune. Num ajuste de con- níveis (ver Apêndice II), até a exigência de um salário mínimo não foi
tas real, estava claro que os patrões podiam normalmente vencer, des- padronizada facilmente.
de que a luta fosse até o fim e até os sindicatos "de ofícios" protegidos Contudo, a coordenação entre os patrões, para a qual Bevin cha-
estavam portanto ávidos - numa ocasião em que as exigências prin- mou a atenção no lnquérito Shaw, já sugeria a necessidade de coorde-
cipais estavam em suspenso- em evitar o combate isol. •do que signi- nação uacional entre os homens. Os proprietários de navios, os mais
ficava a derrota certa. Acrescentando a isto, a grande on la de radica- monolíticos no ataque bem como na retirada, decidiram sobre a padro-
lisn10 entre as fileiras tendia a tragar os interesses adquiri los locais, e nização do salário nacional depois das greves de 1911 (que trouxeram
a desprezar o argumento de que um acordo local com os patrões era o o reconhecimento do sindicato dos marítimos e a sua rápida conversão
ideal que o sindicato devia almejar. Alem do mais, todos os portos eram num sindicato virtual da companhia); 1913 já trouxera um aumento
ligados pelos rriarinheiros, cujas organizações eram necessaria1nente nacional dos salários dos marítimos, (1917) à padronização real do
nacionais, e cujas agitações partiram dos movimentos tanto de 1899 salário nacional". Até que ponto o movimento teria progredido nas
como de 1911'9. As agitações saltaram de porto em porto, já que elas docas sem a guerra, podemos apenas imaginar. Em todo o caso a guer-
não se espalhavam facilmente pelas rotas terrestres. Alguns meses ra o acelerou, porque os aumentos do custo de vida - e a ameaça de
após o irrompimento de 1889 o sindicato de Clyde-Liverpool havia se pós-guerra de desemprego renovado-forçou os estivadores em toda
estabelecido de Limerick até os portos do Fife"'. Por maiores que fos- parte a considerar mais ou inenos os inesmos problemas na mesma

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ocasião, e a radicalização do movimento trabalhista os unificou. Mais portuária característica de uma série de batalhas gigantescas antes da
uma vez o sindicato de Londres tomou a iniciativa num movimento concessão do reconhecimento. Ao mesmo tempo os patrões tinham
nacional por um salário mínimo diário de 16 shillings e um sistema que alcançar um grau de concentração que lhes permitisse considerar
nacional de descasualização (que não foi conseguido, porque em 1939 o problema da indústria como um todo, e não simplesmente como um
três quartos dos estivadores ainda eram casuais). O Inquérito Shaw de de empresários ou seções individuais dentro dela; ou então seções de
1920 que investigou a exigência, é notável por dois motivos. Ele cons- grandes patrões com opiniões mais amplas tinham que ser efetivamen-
tituiu a base de uma acordo nacional para toda indústria, e o sucesso da te contrapostas à multiplicidade das pequenas seções com uma pers-
campanha habilmente liderada por Ernest Bevin, convenceu os sindi- pectiva mais estreita.Nas docas este ímpeto vinha provavelmente mais
catos separados do valor da negociação nacional. Um sindicato nacio- dos proprietários de navios do que dos empresários portuários, por
nal se apoiaria doravante em fundamentos mais firmes do que a sim- motivos que pertencem à história econômica da uavegação inglesa.
ples solidariedade de classe ou as exigências intermitentes das grandes Contudo, embora os grandes embarcadores tais como os Holts em Liv-
batalhas grevistas. O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes erpool pudessem estar agudamente conscientes da inconveniência da
Gerais foi organizado pouco depois. anarquia portuária que uma regularização das relações iudustriais
Que luz esta pesquisa do sindicalismo portuário antes do Sindi- podia mitigar, da hostilidade dos embarcadores à organização dos
cato dos Trabalhadores em Transportes e Gerais lança sobre nossas marinheiros, que estava intimamente ligada à organização portuária,
perguntas iniciais? Ela sugere que elas devem ser respondidas em ter- transformou-se inicialmente numa poderosa força anti-sindical, e
mos da lógica da posição dos estivadores, mas também das mudanças assim adiou o reconhecimento dos sindicatos nos portos 44 •
históricas que alteraram o cenário da negociação portuária coletiva. Finalmente, uma nova perspectiva econômica do governo prova-
Os portuários se organizaram relativamente tarde por três moti- velmente era necessária para aplainar o caminho do reconhecimento.
vos. Primeiro - embora isto não fosse provavelmente de nenhuma Foi a consciência dos possíveis perigos para toda a economia de quais-
importância nos principais portos ingleses - porque os portos antigos quer greves importantes, e especialmente das principais interrupções
podem ter desenvolvido formas tradicionais de associações ou corpo- dos transportes, ou dos riscos políticos dos imensos conflitos trabalhis-
rações de organização empresarial e trabalhista que, mesmo em deca- tas, que causaram essa tendência crescente do governo de mediar as
dência, podiam impedir o caminho do sindicalismo, embora raramente disputas trabalhistas e finalmente de regulamentar as relações indus-
fossem capazes de ser adaptados às funções do sindicalismo''. Segun- triais, e que emerge pela primeira vez com a intervenção de Rosebery
do, devido à natureza da terça de trabalho da qual muitos dos estivado- na guerra do carvão de 1893.
res eram recrutados e da alta proporção dos não-habilitados e organiza- Antes da Grande Depressão de 1873-96, esta tripla reorientação
cionalmente fracos em suas margens. Mas terceiro, e principalmente, da mão-de-obra, patrões e governo dificilmente era de se esperar. Mas
porque a força potencial dos portuários simplesmente não era mobili- a Depressão produziu a sensação de que a economia inglesa como um
zável nas condições e sob as presunções do meio do século dezenove. todo ficou pela primeira vez vulnerável, porque "a nossa posição como
O sindicalismo de ofício só era aplicável à seções limitadas da principal nação industrial do mundo não é tão inconteste como
indústria, e estas - ao contrário dos cortadores de carvão ou (na antes"''. Antes deste período até os apologistas da classe média, ansio-
Inglaterra) dos fiandeiros de algodão- não afetavam automaticamen- sos por descobrirem os motivos contra as greves, mal podiam afirmar
te o resto, quanto mais carregavam-nos juntos. Os patrões exigiam que em alguma data não-especificada mas remota no futuro a econo-
muito mais provas da capacidade de organização permanente do que mia podia ser prejudicada por elas.* De 1889 em diante, contudo, o
eles e muitos outros consideravam como uma força heterogênea de
operários não-habilitados do que teriam feito com, digamos, os traba- * Work m1d Payde f,cone Lcvi (Londres 1877), p. 94: ''Provei, na verdade, em 1ninhacon-
lhadores dos estaleiros ou os fabricantes de caldeiras. Daí a história ferência anterior, que até 1873 pelo menos, o crnnércio e a indústria da Inglaterra não haviain

258 259
argumento de que essas disputas são "prejudiciais(. .. ) para a força de do na estratégia e nas táticas das operações sindicais como tais, o que
produção do país .. "' é ouvido cada vez mais. E também -talvez devi- é considerado como um asPecto necessário inas subordinado do movi-
do à experiência das grandes greves deste tipo - o são as declarações mento geral, ele forneceu um corpo sistemático de pensamento estra-
sobre a força demolidora das greves nacionais dos transportes". tégico e tático sobre os movimentos trabalhistas, tais como os líderes
O período da Grande Depressão criou também essa sensação de dos trabalhadores que não queriam, ou não podiam, mai,s usar as táti-
concentração industrial que ajudou a ensinar à mão-de-obra que a cas tradicionalmente aperfeiçoadas do sindicalismo mais velho, de
"indústria" mais do que o "patrão". isoladamente ou em grupos peque- que estavam muito necessitados. Ben Tillett, deduzindo suas primei-
nos ou locais. era a força que a confrontava na guerra industrial; e foi esta ras idéias estratégicas de uma conferência no East End sobre Napoleão
sensação de que o capital estava se estendendo para fora dos estreitos por um arcebispo subseqüente de Canterbury, e mais tarde, Arthur
limites da firma e do comércio que foi o principal argumento, do lado da Horner, lendo Clausewitz na cadeia, refletiram esta necessidade urgen-
mão-de-obra, para tais táticas novas como aquelas do sindicalismo te dos líderes sindicais de uma teoria da guerra industrial. O socialismo,
industrial.* Que a concentração tenha prosseguido muito mais lenta e na verdade, lhes deu essa teoria, e é por isso que ambos os corpos de
indiretamente na Inglaterra do que na Alemanha ou nos EUA é muito novos líderes sindicais e de novo pensamento sobre a organização e
menos importante do que, até onde a mão-de-obra pôde ver, ela estives- política sindical, nasceram dele ou se ligaram prontamente a ele.
se prosseguindo muito mais obviamente do que antes. O que é mais, as Esta tripla reorientação explica também a tendência dos portuários
concentrações mais patentes eran1 aquelas nas quais os patrões se uni- de criarem sindicatos industriais e gerais abrangendo tudo, mas acima de
ram para derrotar os operários, tais como a Federação de Navegação e a tudo nacionais, apesar da tendência interna à auto-suficiência local e sec-
Federação dos Empregadores em Engenharia da década de 1890. O pro- cional. Do lado dos patrões foi quase certamente a Federação de Nave-
cesso, tanto nas relações industriais como políticas, foi o que os estrate- gação que impôs uma perspectiva nacional -pelo menos na luta contra
gistas nucleares chamam de "escalada.. , cada golpe de um lado produzia os furadores de greves organizados nacionalmente- sobre os sindicatos
uma concentração de forças maior do outro. A década de l 890já é era das que de outra forma não pudessem ter tido uma. Do lado da mão-de-obra,
grandes disputas trabalhistas de âmbito nacional, tais como os lock-outs foi quase certamente a liderança socialista dos estivadores de Londres, o
dos portos (nos quais a batalha estratégica), a disputa do carvão em toda corpo portuário n1ais dinâmico, e o único que finalmente tornou-se o
a área federada em 1893 e o lock-out nacional da engenharia. núcleo do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes e Gerais, quedes-
Finalmente, o período da Grande Depressão produziu um movi- de o princípio ro1npeu os lilnites da organização seccional local, ou no
mento socialista nacional e internacional, que forneceu inevitavel- caso do sindicato "irlandês .. de Liverpool, os limites nacionais. Se os sin-
mente muitos dos líderes mais inteligentes e dinâmicos dos novos sin- dicatos permanentes de estivadores tivessem podido emergir vinte anos
dicatos. Embora na verdade este movimento (exceto talvez yuanto a mais cedo, quase certamente teriam feito uso como um ajuntamento, tal-
grupos em sua ala anarquista) não estivesse particularn1ente interessa- vez finalmente como uma federação frouxa de portos e zonas marítimas
independentes. Mas eles c1nergiram na era do renascimento socialista, e
sofrido cmn as muitas perturhações que haviam lido lugar-. pelo menos não até qualquer pon- é característico que, alguns anos após o seu nascimento, os sindicatos
to material-, e que a concorrência externa não havia até então superado a indú~Lria inglesa. Mas
ingleses (por iniciativa dos esquerdistas de Londres) organizassem uma
o que ainda não aconteceu pode ainda acontecer. O perigo permanece, c1nbora pos:-.a não ser imi-
nente.. , Até L.L. Price cm fnduyfrial Peace (Londre.~ 1887), que analisa especificamente as gre- Federação Internacional de Navios, Docas e Rios a fim de sindicalizar ati-
ves ern termos de guerra, deixa inleinunente de considerar entre os seus danos possívei~ aquele~ vamente não só todos os portos ingleses, como todos os estrangeiros, um
contra a economia empreendimento caracteristicamente socialista*. Do lado do governo,
':' The fndustriuf Syndicalist de T. Mann, l; 1910. É al!mnentc significativo que Ernesl
Bevin no Shaw Enquiry. p. 21 (223 ), argumente a favor de uma única exigência nacional porque
"as condições de vida se tornaram muito padronizadas pelo funcionamento dos ;;:rondes mo110- ·:,Não só os mari11hciros. ma.~ lambén1 - mais significativamente - o sindicato de J,i-
pólios e trusts e a distribuição de alimentos". (0 itálico é meu, E..J.H.) verpool entrou sob a liderança de Londres.

260
261
foi claramente a consciência crescente do "problema das docas" como APÊNDICE I
um problema social nacional - um dos muitos para o qual o governo se
via agora aceitando algnm tipo de responsabilidade - que preparou o Tipos de trabalho portuário em alguns portos:
palco para as soluções nacionais. Como indicou Beveridge, foi o "exem-
plo principal" do emprego casual, e o emprego casual era um dos princi- 1. HULL 1897
pais componentes do problema do desemprego, que por sua vez foi o Trabalhadores e outros, empregados diretamente pelos
motivo principal do governo, a partir da década de 1880, se ver obrigado donos de navios 6.000
a empregar a legislação sistemática do bem-estar que levou finalmente à Carregadores de grãos dos navios 500
securidade social moderna. Carregadores de quantidade 600
Que o sindicato nacional devesse emergir mais sob a forma de um Içadores e despejadores de carvão 600
corpo geral do que industrial não foi evidentemente inevitável embo- Homens de chatas, etc. 900
ra, dada a estrutura do sindicalismo inglês e as fronteiras fluidas da Estivadores (homens dos empreiteiros) l.500
indústria, isso fosse bastante provável. Na verdade, o sindicalismo Trabalhadores de passeio, carregadores de frutas, etc. 500
portuário tornou-se industrial, embora ligado a um corpo geral. Ape-
Fonte: The position of lhe dockers and sailors in J N97 and the Jnternational Fed-
nas, devemos tomar cuidado para não confundir a "indústria" tal como
eration o/Ship, Dock and River \Vorkers, de To1n Mann (Clarion J 897), p. 11.
operava realmente em termos de relações trabalhistas com as indús-
trias ideais elaboradas pelos estrategistas do trabalhismo e do governo
II. SOUTHAMPTON 1890
ou os economistas. Eles pensaram em termos de "transporte", ou pelo
Carregadores de milho, carregadores de carvão, estiva, carga geral
menos de transporte aquático. A vida funcionava em termos de "por-
e descarga de navios.
tos". O transporte por mar e por terra se encontra no porto, mas o gros-
so dos seus problemas nas relações trabalhistas estão namaiorparte em
Fonte: Sindicato dos Trabalhadores en1 Docas, Embarcadouros, Margens dos
outros lugares, e suas condições de funcionamento eram diferentes. É Rios e Gerais, Relatório Anual, 1890, 92.
por isto que tais alianças estratégicas óbvias como aquelas entre os
estivadores e os marinheiros nunca durara1n muito, e os sonhos ocasio- III. BRISTOL 1890
nais de solidariedade do transporte nacional ou mesmo internacional Mão-de-obra de navios
nunca foram de importância senão momentânea. É verdade que as mercantes de frutas Algodão e linhaça importada
docas têm uma relação mais íntima e mais permanente com o transpor- Mercadorias gerais Carregadores de grãos
te rodoviário do que com as estradas de ferro com os marinheiros. Por Carregadores de quantidade Homens de chatas.
motivos históricos o sindicato inglês cresceu como un1a organização Estiva
conjunta destes dois grupos ligados, mais uma coleção heterogênea de fOnte: loc. cit., pp. 44 ss.
outros, embora possivelmente possa não ter feito isso. A questão é que,
até hoje, uma greve portuária é essencialmente baseada no poder IV. GLASGOW 1919
desarticulador dos ho1nens sobre o portos, os que operan1 entre o cais Homens de carga geral 7.000
e o navio ou entre um navio e outro, e não dos que entram e saem pelos Pesadoras de grãos 120
portões do porto. Homens de madeiras 300
Homens de carvão 300
Homens de minérios 350

262 263
Equipes de administradores de cais particulares 400 VII.ARDROSSAN 1919
Empregados do truste do Clyde 1.400 Trabalhadores (casuais) 80
Arrumadores de carvão (casuais) 32
Fonte: Shaw enquil)', Apêndice,77. Guindastes e suspensão (permanentes) 36
Emharcadores (permanentes) 4
V. LIVERPOOL 1919 Homens do cabrestante (permanentes) 4
Marinheiros (inclusive homens de guinchos, prendedores) 9.200 Operadores de cordas (permanentes) li
Carregadores (inclusive guindasteiros, conferentes, Maquinistas (permanentes) 4
contadores de saída, anotadores de peso, tanoeiros, etc. 13.800 Foguistas (permanentes) 4
Homens de carvão 2.000 Eletricistas (permanentes) 2
Homens das barcaças 2.000
Homens dos rebocadores 600 Fonte: loc. cit.,Apêndice l 17.
Vigias ?
Ho1nens da turma de terra ? VIII. LONDRES 1908
Milho e madeira (Comercial do Surrey) cerca de 1Opor cento
Fonte: loc,. cit.,Apêndice 52. Descarga de grãos (Millwall) 4porcento
Estivadores habilitados 12 por cento
VI. SWANSEA 1919 Outros (London & lndia Docks Co.) 20 porcento
Trabalhadores (casuais) 1.000 Donos de navios 13 porcento
Guindasteiros (casuais) 51 Embarcadouros inclnsive alguma mão-de-obra
Marcadores (casuais e permanentes) 64 especializada, p. ex., estivadores não-sindicalizados
Capatazes (permanentes) 10 nas docas 41 por cento
Pesadores (permanentes) 15 Victoria e Albert 7 4 por cento
Anotadores de números (permanentes) 1l
Porteiros das docas (permanentes) 61 Fonte: Relatório da Sociedade da ()rganização de Caridade sobre Mão-de-Obra
Rebocadores e barcas (permanentes) 16 Não-habilitada, julho 1908, pp. 28-30.
Turmas de dragagem (permanentes) 37
Casas de força e hidráulicas (permanentes) 30
Vigias (permanentes) 7
Burocratas (permanentes) 68 APÊNDICE II
Outros (exclusive o departamento de locomotivas) 25
5 outros patrões importantes: Salários diários nos portos ingleses 19 J4
Homens casuais 345
Homens permanentes 22 Londres de 5s. 3d. a 7 s. 6d.
Sonthampton 5s.5d.
Fonte: loc. cit., Apêndice 98, 1O1. Plymouth 7 s. ou 4s. !Od.
Bristol 7s.
Avonmouth 5s.6,5d.

264 265
Gloucester 7s. valor, notadamente a C~.R. sobre o Trahalho, a C.R. sobre as Leis dos Pobres, o
Relatório de um Trihuna! de Inquérilo relativo aos Trahalhadores eni Transportes.
Cardiff 5s.6d. ou 6s.6d.
(Inquérito Shaw) de 1920 e, numa extensão 1nenor, a ('0111. Conjunta Sel. sobre a Lei
Swansea 7.s.
do Porto de Londres de 1908. Da literatura sobre as grandes disputas, Story oflhe
PortTalbot 8.s. Dockers' Strike (1889) de H. Llewelly Smith e V. Nash, Industrial Warfare (1912) de
Liverpool 4s.6d. Ss. Watney eLittle e Industrial Proble111s and Disputes (1920) de LordeAskvvith devem
Manchester 5.s. ser suplernentados por relatos periódicos. As autobiografias de Bem Tillett, Tom
Garston 4s. Mann, Jan1es Sexton, Harry Gosling e J. Havelock Wilson são rnais úteis quanto ao
ambiente do que aos fatos; das biografias, a de Tom Mano (de Dona Torr, cf. també1n
Preston 4s.9d.
To1n Mann and His Times 1890-2, Our /Jistory, pp. 26-7, 1962, C.P. Grupo de Histori-
Barrow in Furness 5s.7,5d. adores) contéin pouco de novo. Ernest Bevin (deAllan Bullock), diz relativamente pouco
Glasgow 5s.ou 6.s.8d. sobre o período anterior. Há uma ampla e excelente literatura sobre as condições sociais e
Ardrossan 6s.4d. econômicas das docas, e especialmente sobre o casualismo, que é indispensável para o
Greenock 6s.8d. estudante sério.
Ss. !Od. 4. Mechanization in A1nerican lndustry de H. Jerome (Bureau Nacional de
Aberdeen
Pesquisa Económica 1934).

r Dundee 6s.3d.
4a. O valioso docun1ento apresentado por Ben Tillett à Com. Conjunta Sele-
Grangemouth 6s.8d. cionada sobre a lei do Porto de Londres (Par!. P. X, 1908, pp. 677-82, 705-101 ).
1 Leith Ss. lOd. 4b. Tribunal de Inquérito a respeito dos Salários dos Trabalhadores e1n Trans-
,,
1:
Tyne (ferrovia) Ss.l,5d. portes e das C'ondições de E111prego da Müo-de-()bra Portuária (Par!. P XXIV, 1920)
1 W. Hartlepool 7s. l ld. doravante citado co1no ínquéri10 Sha~i:, pp. 136 (338), 153 (355), 212 (414).
5. The l(fe o.f Sir James Sexton Agitator, by Hirnself (Londres 1936), pp. 109-
Middlcsbrough Ss. e 8s.
13. Cf. para comparação, Socialis1no e classe operaria nel Genovesato dallo sciopero
Hull 5s.7,5d. de! 1900 alia scissione sindacalista 1, de G. Perillo (li Movimento Operai o e Socialista
Goole 6s.6d. in Luguria, VI, 4, 1960, p. l 09).
6. Repor! on Strikes, 1889, Tabela II (e 6176).
Fonte: Shaw Enquiry, Apêndice 130: Estes nú1neros vêe1n do lado dos patrões. 7. E1n Londres três organiLações de homens especializados -Estivadores,
Eles são dados pela ordetn dos pacotes do redor da costa a partir de Londres. Barqueiros e Liga de Proteção do Trabalho- tinham em média 6.000-8.000 n1en1bros
nos anos entre as expansões do sindicato. Cerca de 45.000 portuários podem reahnen-
te ter saído na grande greve de 1912 (Industrial Wa1:fGre, de Watney e Little, pp. 90-1 ).
Ver tainbém Apêndice l.
NOTAS 8. The Story ofthe Dockers'Strike de H. Llewellyn Smith e V. Nash (Londres
l 889) é a melhor introdução a Londres; Sexton, op. cit., à atividade portuária cm Liv-
1. Para lllna classificação útil, Le Régi111e du Travai! dans les principaux Ports erpool nos priineiros dias. C.R. sobre i\1üo-de-(Jbra (Grupo B) é uma mina de infor-
de la Mer de l 'Europe de C. (Jillês de Pélichy (Louvain-Bruxelas-Paris 1899). mações sob muitos aspectos disso, Cf., Report on ... dock labour in Liverpool de E.
2. Map of unions in British ports da Federação Nacional dos Trabalhadores em Rathbonc (Relatórios da Soe. Econômica e Estatística de Liverpool, 1904).
Transportes, 1913 (?) (LSE Col. EB cv 18) dá uma excelente pesquisa desta variedade. 9. l!neniployment de W. H. Beveridgc (cd. 1930), p. 83.
3. As inforn1açõcs sobre os sindicatos portuários neste período são copiosas l O. li.fe and Lahourde Booth, 11, p. 88, discute o "emprego residual", sohre isto
n1as não sistemáticas. Os relatórios in1pressos e a "Dockers' Record" do Sindicato dos nas docas de Manchester, C.R. sobre as /,eis dos Pobres de T. Fox, P. 83.945.
Trabalhadores das Docas, E1nbarcadouros, Margens dos Rios e Gerais com base em 11. Para o restricionismo ver evidência de H. Gosling (chateiro) à Coni. C'on-
Londres sobrevive1n, tnas pouco inaterial não impresso de antes de 1914; o Sindicato junta sobre a Lei do Porto de Londres 1903 (Parl. P. VIl l 1903, pp. 250-1) e da Liga
Nacional dos Trabalhadores das Docas com base c1n Liverpool deixou apenas vestí- Unida de Proteção ao Trabalho dos Estivadores à Com. Conjunta sobre a lei do Porto
gios espalhados. Depois de 191 O a Federação Nacional dos Trabalhadores em Trans- de Londres 1908 (Pari. P X, 1908), P. 9.426. Os estivadores de Londres cobravmnf 1,
pot1es fornece informações valiosas. Os Docun1entos Parla1nentares são de grande exceto para os filhos dos n1en1bros.

266 267
12. A profissão fechada no Tyne parece ter vindo e1n 1889 (Juhifee History of 30. Docas Clarcnce e Princes.
National Union <~fGe11eral andAfunicipaf Workers, 1929, p. l3). Em 1910-11 acordos 30a. Pesquisa de Bevin no Inquérito ShaH,; pp. 5 (207) ss; Evidência de M. Rei d
de conciliação- u1n índice razoável <le reconhecimento- abrangera1n os arnnnado- snbre 4 greve de 1879, ibid., p. 133 (335).
res no nordeste, Cardiíf e Ne\vport, e os estivadores de Greenock e Bristol. Relatório 31. Industrial !Jemocracy de S. e B. Webb (ed. 1902), pp. 478-9, para alguns
TUC\911,pp. \06ss.). outros exe1nplos.
13. The Liverpool Docks Prohle111s de R. Williams (Soe. Econ. e Estat. de Li- 32. Tal co1no e1n Cardiff em 1890, con1 as suas 16 filiais de portuários do Sindi-
verpool 1912), p. 15. cato Nacional de Estivadores e Trabalhadores Unidos, dois de armadores e barqueiros,
14. Le Travai! Casuel dans les Ports Anglais de J. Malutgue (Paris 1913), pp. os arruinadores, e uma profissão fechada de marinheiros. (Conselho de Ofícios de
297-8. Card(ff. Relatório, 1890).
15. Dockers Record, março 1911, p. 2. 33. C.R. sohre Mão-de-Obra, Grupo C: evidência de T. Gardner, G. Ada1ns (P.
16. Bristol ernpregava apenas cerca de 100 hornens regularn1entc con10 traba- 31.626-61 ).
lhadores de manutenção. Os outros eram todos tecnicarncnte casuais. (C.R. sohre as
34. Cf., os documentos da Federação de Navegação na C.R. sobre Mão-de-
Leis dos Pohres XVI, p. 85). CL Par!. P. X, 1908, P. 9.401 para os estivadores de Lon-
Obra, Grupo E. (Par!. P. XXXV de 1892,Apêndices); tambén1 Clem Edwards sobre o
dres: "somos todos casuais". lock-out de Hull no Econ. Journ. 1893, e cm geral "Trade Unions and Free Labour"
17. Federação Nacional dos Trabalhadores e111 Transportes: Mapa dos sindi-
de J. Savillc, em A. Briggs e J. Savilee (eds) Essays in Labour History (Londres 1960).
catos nos portos ingleses. 1913? (LSE Col. EB cv 18), p. 3.
35. Para uma discussão disso, ver The Worfd (d'f_,abour de G.D.H. Cole, The
18. P. ex., guindasteiros ou corpos tai:-. como o Sindicato Unido Protetor dos
Greater Unionism, de G.D.H. Cole e W. Mellor (ambos 1913).
Operadores de Motores, Operadores de Guindastes e Serventes Hidráulicos e de
35a. lndustrial Wa1:/úre (Londres 1912) de Watney e Little, pp. 80-5. () an1bien-
Caldeiras - unia pequena sociedade de Londres. Algu1nas vezes estes ho1nens cntra-
te é eshoçado vividamente na Strange Death of Liberal Enx!and de George Danger-
van1 para :-.indicatos externos, p. ex., etn Liverpool nos Trabalhadores de Gás, ou e1n
field.
Swansea no SNTU.
36. Maluegue, op.cit., pp. 286-7, citando H.Orbell do sindicato.
19. As seções portuárias e <lc cais do Sindicato Nacional Unido do Trahalho e
37. Para sua oposição à fusão co1n outros sindicatos, até estar seguro das salva-
os Chateiros do Tyne entranun no SGNTM.
20. A evidência de Sexton para a (C.R. sobre as Leis dos Pobres (P. 84.243) guardas, ver o relatório da Conferência Especial sobre a Fusão, convocada pela Fed.
sobre os "usuários" elas docas de Liverpool. Cf., tan1bé1n Beveridge, op. cit. (ed. N. dos Trabalhadores en1 Transportes e o Conselho Nacional dos Trabalhadores
Gerais, J 914 (LSE Col. EB civ. ii) p. 24.
1909), 264 11.
21. Relatório de Squire e Maitlancl, (C.R. sohre as Leis dos Pobres XVI, p. 84. 38. Mnnoirs de Ton1 Mann (1923), pp. 135 ss.: The position ofthe dockers and
22. C.R. sobre 1\tlão-de-Obra (Grupo C), P. 27.741, 27.772-5. sailors in 1897 de Ton1 Mann (Clarion 1897); para as repercuções internacionais, Le
23. Relation qf'Wages to Cost qf'Production in Cer!ain !11dustries (C. 6.355 de Régime du Travail dans lesprincipaux Ports de laMerde !' Europe de Gillés de Pélichy
(Louvain-Bruxclas, Paris 1899).
1891 ), pp. 172 ss.
24. Maluêgue, op. cit., p. 48. Mas os pagan1entos extra e as horas-extras <life- 39. Junta de Co1nércio, Dep. Trabalhista: Repor! on Strikes in 1889, pp. 4-5 (C
6.176).
riain.
25. R. Williains, op. cit., pp. 21-3. 40. Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Docas, Relatório Anual l 890-1;
26. Sohre Londres, Cotnissão da Lei dos Pobres, Beveridgc e a Labour Gazette. também Sexton, op.cit.
Sobre Liverpool, 011e Year's Working <~fthe Liverpool Dock Schen1e ele R. Williatns 41. O sindicato de Londres depois de 1889 cobria toda a costa sul, toda a costa
(Liverpool 1914 ). OT & GWlJ tnanteve també1n alguns <los seus acordos temporários leste até o Humber, con1 colônias en1 Middlesbrough e Dundee e paitilhava a Gales do
cm Liverpool (Dept. de Pesquisa do T & GWU). Sul con1 uni sindicato regional, o Sindicato Nacional dos Trahalhadores Unidos.() sin-
27. Beveridgc, op. cit. (ed. 1930), p. 90.A porcentagem combinada dos ho1nens dicato de Liverpool cobria o resto das ilhas britânicas. Os dois eram divididos pela
Permanentes e de Preferência "A" subiu de 63 por cento c1n 1894-6 para 78,5 por cen- Gales (não organizada) a co~ta nordeste, onde, com outros corpos locais e de ofícios,
to em 1902-4. o Sindicato Nacional Unido do Trabalho mantinha o terreno. Existiam tan1bé1n corpos
28. Sociedade da Organização de Caridade: Report on Unskiffed J,ahour (Lon- locais de trabalhadores especiais. O fluxo do 1noviinento entre então e 1911 co1nplica-
dres 1908), p. 121. Outras docas já estavam e1n grande parte em trabalho por peça. va o quadro de certa forma.
29. Arquivos do T & GWU. As outras grandes finnas erarn W. Berrie, Pacific 42. "Militancy and intcr-union rivalries in British shipping 191 !-29" de B.
Steatn Navigation, Lan1port & Holt, Mannion, T & J. Harrison, Elder Den1pster. Moggridge (lnt. Rev. o.f'Social History 6, 1961, 375-412).

268 269
43. The Porters of London de Walter M. Stern (Londres 1960) para essas orga-
nizações iniciais; inas "Chapters in the History of London Watersi<le Labour" de H.
Llewcllyn Smith (Econ. Jornal lI, p. 605) já indicara que o afluxo de homens dos
outros ofícios havia inundado as velhas organizações da 1nargcm norte do Tâ1nisa-
a seção n1ais importante do porto. Para relatos dessas velhas organizações, ver L 'or-
ganiz;ation du travai! dans fes portsflaniands de L.B.C. Gilles de Pélichy (Louvain-
Bruxelas-Paris 1899).
44. Cf. History of the Shipping Federation de L. H. Powell (Londres 1950) e
"Trade Unions and FreeLabour" deJ. Saville, en1Essays in Lahour HistorydeA. Brig- 12
gs e J. Saville (eds) (Londres 1960).
.. 45. Report.\' (~f the R. C. on the Depression ofTrade and Jndustry 1887, p. 55 e.
4893). HYNDMAN E A FSD
46. Prcâinbulo a uma lei de conciliação de 1890, citado ern The Groivth (d
British Industrial Reiations de E.H. Phclps Brown (Londres 1959), p. 188. Para un1a
fonnulação mais fatniliar e extren1a trinta anos mais tarde, Industrial Proble1ns and
Disputes de Lorde Askwith (Londres 1920), p. 67: "Se essa luta ocorresse ... an·uinaria
as chances de produção das quais depende o futuro."
47. Strikes and Social Problen1s de J. Shield Nicholson (Londres 1896), p. 135.

A FEDERAÇÃO SOCIAL DEMOCRÁ TICAhá muito tempo é


a criança-problema dos historiadores trabalhistas, especialmente os
Marxistas ou aqueles mais ansiosos em "situá-la" do que simplesmen-
te em narrar a sua evolução errática. Ela simplesmente não pode ser
aprovada. Ela simplesmente não pode ser condenada. Ela certamente
não pode ser deixada de lado. O estudante menos sutil da sua "história"
é forçado a complexidades, contradições e matizes desacostumados.
Qual é precisamente a sua contribuição para a evolução do movimen-
to trabalhista inglês moderno?
Ela não pode ser deixada de lado porque foi, afinal de contas, a
primeira organização socialista moderna de importância nacional na
Inglaterra; uma realização pioneira não diminuída pela demonstração
do Dr. Tsuzuki* de que o seu Marxismo era vacilante e lento em se
desenvolver, nem pelas exigências de prioridade de homeus e grupos
locais esquecidos. Porque a questão quanto à FSD não é só a de ela ter
sido a primeira no campo, mas de ter durado. Através de cisões, crises,
flutuações loucas do número de membros e da atividade, ali brilha a luz
inextingüível da continuidade, e o que é mais, da presença política
nacional. Ela foi a principal representante inglesa do Marxismo desde

* H.M. Hyndman e o Socialismo Inglês de Chushichi Tsuzuki (Oxford 1961).

270 271
o começo da década de ! 880 até 1920, quando contribuiu para o inci- tarde do Partido Comunista, até ser dissolvido pelo trabalhismo ofi-
piente Partido Comunista com o maior bloco dos seus membros e líde- cial, nem o fato de a primeira maioria trabalhista num conselho local
res originais. Marx não gostava dela, Engels se opunha a ela, William (em West Ham, em 1898) ser uma coalisão de radicais, irlandeses e a
Morris deixou-a, jnnto com muitos dos seus membros brilhantes. Ela FSD. Mas a sua maior realização foi proporcionar uma introdução ao
sobreviveu. Os dissidentes que se afastaram de tempos em tempos movimento trabalhista e uma escola de treinamento para uma sucessão
desapareceram em alguns anos, como a Liga Socialista da década de dos militantes mais bem dotados da classe trabalhadora: para John
1880, permaneceram conventículos totalmente sem importância como Burns, Tom Mann e Will Thorne, para George Lansbury e até para
o SPGB (1906) ou, na melhor hipótese, se transformaram em corpos Ernest Bevin. Conseqüentemente também, apesar da sua negligência
de influência regional como o Partido Socialista dos Trabalhadores na freqüente do sindicalismo, os seus membros ou aqueles formados em
margem do Clyde (1903). Até o seu fundador e chefe paternalista, sua escola era1n em sua maioria eficazes co1no líderes sindicais.
H.M. Hyndman, foi expulso quando tentou impor a ela o seu imperia- Suas realizações merecem atenção pelo menos por terem sido
lismo durante a Primeira Guerra Mundial. (Os Hyndmanitas, um cor- tantas vezes desprezadas pelos seus críticos, que compreendem prati-
po sem nenhuma importância posterior, desapareceram até terminar camente todo o corpo do movimento trabalhista moderno, inclusive os
finalmente a bistória formal da FSD nos primeiros meses da II Guerra Comunistas, cuja atitude oficial em relação à sua ancestral direta foi no
Mundial.) passado determinada em geral pela hostilidade de Marx e Engels e
Repetidas vezes os antigos dissidentes voltaram a ela, como pelas críticas muito merecidas de Lenine. (Apenas uma predisposição
Aveling ou Tom Mann, ou os rebeldes contra o reformismo de outros a priori contra a FSD pode explicar as tentativas feitas de fazer de con-
grupos entraram para ela ou fundiram-se com ela, por falta de qualquer ta que a Liga Socialista de William Morris e seus colegas era tndo
outra organização Marxista duradoura de objetivos nacionais. Repeti- menos um fracasso objeto e quase imediato na política: destruída den-
das vezes seu absoluto poder de permauecer permitiu-lhe recuperar-se tro de cinco anos pelas próprias brigas e cisões internas às quais a FSD
das conseqüências dos seus gigantescos erros políticos, compostos de provou ser tão resistente). Mas naturalmente os erros e falhas da FSD
uma mistura de sectarismo e oportunismo. O que é mais, repetidas eram tão titânicas que os críticos podem ser perdoados por se demora-
vezes os seus rivais da esquerda foram perdidos de vista. Esse não é um rem nelas. Ela revelou uma falta de realismo político sem paralelo em
registro desprezível. qualquer outro grupo contemporâneo de socialistas, exceto Sidney e
Tampouco devemos desprezar as suas realizações. Embora ela Beatrice Webb entre a Guerra dos Boers e a eleição de 1906. No meio
nunca elegesse um MP* independentemente, e fosse muito menos da década de l 880 ela se tornou não só ridícula como impopular acei-
bem-sucedida do que o Partido Trabalhista Independente em conse- tando a ajuda dos Tories para candidaturas parlamentares que recebe-
guir conselheiros locais, se estabeleceu como a principal organização ram então simplesmente algumas dúzias de votos. Ela foi declarada-
socialista em várias áreas, notadamente em Londres, onde a tradição mente hostil aos sindicatos e, a não ser pelo sólido instinto dos seus
provincial não-conformista do PTI nunca teve muito apelo, enquanto militantes, não teria tido parte alguma no grande renascimento sindi-
a FSD assumiu a forte herança local do radicalismo secularista que se cal de 1889. Embora ela tivesse senso suficiente para participar na for-
estendeu de Tom Paine via os Owenitas até Charles Bradlaugh. (Em mação da Comissão de Representação Trabalhista, deixou deliberada-
parte alguma é menos verdadeiro que o socialismo inglês descende mente o futuro Partido Trabalhista em 1901 para se recolher num
mais de Wesley do que de Marx). Não é nenhum acidente o fato de o isolamento sectário. Ela não desempenhou nenhum papel importante
Conselho de Ofícios de Londres ser um reduto da FSD, como mais na grande oscilação para a esquerda antes da I Guerra Mundial, embo-
ra isto tomasse a forma ideológica de uma volta ao socialismo revolu-
-:, NT - Membro do Parlamento. cionário, ou 1nesmo ao Marxismo formal. Ela foi, na verdade, coino

272 273
Marx, Engels e Lenine nunca se cansaram de repetir, mais uma seita do "Marxista-Leninista"). Isto não faz sentido, pelo menos porque no
que uma organização política séria. tempo de Hyudman (depois de 1917 ele dificilmente contava mais) a
única ortodoxia Marxista contra a qual medir os desvios nacionais ou
Influência de Hyndman outros era a alemã, tal como representada por, digamos, Kautsky. Mas
a verdade é que Hyndman simplesmente não representava absoluta-
Quanto deste sectarismo inato, que tanto fez para torná-la ridícu- mente uma tendência Marxista clara. Ele era u1n seguidor bastante
la, era devido a este líder ditatorial, H.M. Hyndman, cuja biografia ortodoxo de Marx na teoria econômica, tal como a compreendia, e cer-
(como mostra o Professor Tsuzuki) fundiu-se virtualmente com a sua tamente acreditava na luta de classes, embora tivesse suas reservas
história desde 1881 até 1914? A pergunta não foi feita por aqueles quanto ao materialismo histórico. Ao mesmo tempo combinava isto
numerosos críticos desta obra útil, que a trataram principalmente como com uma idéia ingenuamente utópica da revolução, baseada em lem-
uma excursão à história da exceutricidade inglesa ou à idade do ouro branças francesas, e um traço consistente de imperialismo jingoísta,
dos Clubes do Pall-Mall e do music-hall. Hyndman é na verdade um antialemã - na verdade racial, que não devia nada a qualquer tradição
assunto compensador para o tipo de tratamento meio admirador e meio esquerdista inglesa. (Ao contrário de muitos outros homens do movi-
ridicularizador que hoje em dia produz os musicais do West End sobre mento socialista inglês, ele vinha originalmente do Toryismo e não do
os Eduardinos ou a década de vinte, embora o ProfessorTsuzuki não o ambiente Liberal Radical ou Cartista). Nos assuntos práticos ele não
tenha tratado assim. Há um sabor picante no quadro deste cavalheiro, tinha absolutamente nenhuma política consistente, e daí nenhuma teo-
jogador de críquete e corretor da bolsa levando as massas trabalhadoras ria consistente. Nem ele nem ninguém mais na FSD - com a exceção
em direção à revolução, de sobrecasaca e cartola, reforçado por aquele do maníaco Belford Bax que escreveu histórias Marxistas pioneiras-
outro esteio da FSD, a Condessa de Warwick (cujas relações pessoais produziu nada muito superior a bons textos diretos de propaganda.
com S.M. Eduardo VII eram as mais íntimas), no trem que ela pediu Comparados ao nível contemporâneo de textos teóricos em tais parti-
para levá-la para casa da conferência da Federação. Além do mais, as dos continentais social-democráticos co1no o alemão, austríaco, russo,
peculiaridades individuais muito marcadas de Hyndman e a sua tendên- italiano e francês, a produção teórica da PSD é completamente despre-
cia de considerar os fracassos "do movimento" corno um pai considera zível. As contribuições realmente interessantes e originais à teoria
o fracasso de um filho desapontador de obter o Certificado Geral de Marxista nestas ilhas vieram de homens como William Morris e James
Educação, tornam tentador escrever a história da FSD cm termos da sua Connolly.
personalidade, e de atribuir os seus fracassos ao seu próprio. Por outro lado é surpreendente quão pouco os sofismas indivi-
Até certo ponto eles foram. A personalidade de Hyndman torna- duais de Hyndman afetaram a FSD, onde eles por acaso entraram em
va difícil para ele colaborar exceto com inferiores. Em conseqüência conflito com a sua orientação fundamental. Assim ele não conseguiu
aqueles líderes daFSD que não se afastaram, ou entraram na oposição, impor nem o seu jingoísmo, nem o seu imperialismo e anti-semitismo
eram mais leais do que um grupo muito brilhante, embora claramente à Federação. Pelo contrário, quando esta chegou ao ponto crítico,
bastante mais dotados do que o grupo equivalente do PTT. Sua falta de abandonou-o nestes assuntos. Isto foi em parte porque a FSD estava na
tato, falta de hipocrisia, sarcasmo e presunção óbvia tornam as suas prática muito menos centralizada, e certamente muito menos sob o
ine111órias um prazer de ler, mas constituíam uma responsabilidade controle de Hyndman, do que ele teria desejado: suas filiais eram alta-
política óbvia. Sua versão altamente individual da teoria e a vacilação mente autônomas. Isso foi em parte também porque a Federação, na
incerta entre o espírito utópico, o sectarismo e o oportunismo na práti- medida em que era genuinamente arraigada na classe trabalhadora,
ca, complicavam as relações da FSD com o movimento internacional. adotava espontaneamente as atitudes mais familiares aos trabalhado-
O Professor Tsuzuki, ecoando Denis Hea\ey, chama-o de "Anglo- res militantes, p. ex., em assuntos sindicais. Seria demais explicar as
Marxista" (para distinguir sua tradição do "Marxista-Russo" ou do peculiaridades de Hyndman pelas peculiaridades da FSD, mas não

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demais afirmar que ela as tolerava porque ambas se adaptavam à sua (que a FSD com ambição heróica, tentava fazer os seus membros estu-
própria tradição ou (como os seus jirigoís1no e imperialis1110) parece- darem) ficavam confortados pelo conhecimento de que ele estava lá.
ram durante muito tempo ser irrevelantes para eles. Em terceiro lugar, a tradição não era tão revolucionária co1no
Essa tradição era primeiro e mais do que tudo proletária, como intransigente: militante, baseada firmemente na luta de classes, mas
todas as tradições nativas do movimento trabalhista inglês neste perío- completamente incapaz de enfrentar (como um irlaudês como Con-
do. A FSD nem atraía nem mantinha intelectuais da classe média cria- nolly) os problemas da revolta ou da tomada do poder, para os quais
dos em casa em qualquer quantidade, embora como a coisa mais pró- não havia nenhum precedente dentro da memória viva da Inglaterra.
xima do Marxismo continental, atraísse intelectuais emigrados russos Em certo sentido as reações dos homens criados nesta tradição não
como Theodoro Rothstein. A união entre os intelectuais e o movimen- eram nitidamente distintas daquelas dos antigos Cartistas ou Radicais
to trabalhista não foi feita até o período de, digamos, 1910-20, porque da classe trabalhadora, das quais elas na verdade descendiam. Daí não
antes disso até os Fabianos, que os atraíram, mantiveram-se à distân- ser surpreendente que numa questão como a Guerra dos Boers o refle-
cia do movimento trabalhista. Daí incidentalmente a fraqueza anormal xo de oposição da FSD estava muito mais na linha do PTI e dos Radi-
da teoria socialista inglesa, inclusive o Marxismo, nesta, a idade do cais-Liberais do que do semi-imperialismo dos Fabianos, ou das pró-
ouro do pensamento Marxista internacional. O equivalente inglês de prias hesitações chauvinistas de Hyndman. Em outro sentido eles eram
Luxemburgo e Hilferding não foi um socialista mas um liberal, J.A. completamente distintos dos Radicais-Liberais. Para eles, como para
Hobson. tantos Cartistas, a idéia de uma aliança com a classe média era intole-
Em segundo lugar esta tradição, ao contrário da que os conserva- rável, embora muita concordância em determinados assuntos pudesse
dores e reformistas tentaram impingir ao povo inglês, não era pura- temporariamente lançar os liberais e os trabalhadores juntas. A idéia de
mente empírica e anti-teórica. Como os Dissidentes tradicionais (mas que o capitalista liberal ou humanitário e o trabalhador esquerdista per-
ao contrário dos Metodistas emocionalmente saturados), como os tenciam ambos a um único movimento "progressista" que se empe-
Owenitas e os Secularistas que eram seus ancestrais, os homens da tra- nhava contra a "reação" para melhorar a sociedade existente, os ultra-
dição da FSD queriam ler, estudar e discutir, e elaborar uma teoria ge- java. Nenhum membro da FSD pensaria seriamente em pedir a Lloyd
ral da sorte dos trabalhadores e do mundo em geral pelo pensamento George para se pôr à testa desse movimento progressista unido, como
sistemático. A idéia de que o Marxismo foi imposto "de fora" a esses Keir Hardie fez certa vez, quanto mais um liberal mais identificado
homens é ilusória: estudar e refletir sobre um grande pensador da clas- com os capitalistas.
se trabalhadora era tão natural para os alfaiates escoceses como James Finalmente, a tradição daFSD era mais a de uma elite e vanguar-
Macdonald, ou para os fabricantes de sapatos ateus do Northampton- da da classe trabalhadora, do que a de um movimento de massa: mais
shire da FSD, como fora para seus pais e avós estudar e refletir sobre do pensamento e leitura dos trabalhadores militantes que dedicavam
Robert Owen, Paine e Spence, e para seus bisavós discutiras desígnios grande parle do tempo à causa, do quedo homem médio. Todos deviam
do senhor à luz dos Institutos de Calvino. A inclinação pela teoria pertencer ao sindicato, da rnes1na for1na se esperou certa vez que todos
(embora concebida crua e desajeitadamente) não era simplesmente um assinassetn a Carta e talvez lessem ou ouvissem ler o Northern Star,
tributo à paixão perene dos trabalhadores pela instrução. Fazia parte da mas não se esperava que todos fossem Owenitas, Secularistas ou um
busca dos trabalhadores da sua teoria, que havia levado os estudantes pregador leigo Metodista Primitivo no campo de carvão.
artesãos do Instituto de Mecânica de Londres a ressentirem a tentativa Tanto esta tradição de elite como o fato de as raízes do reformis-
dos seus patronos Bcntha1nitas de concentrarem o ensino em assuntos mo terem penetrado tão profundamente na classe trabalhadora ingle-
científicos e técnicos, com exclusão de Hodgskin, Owen e Thompson. sa, ajudaram a transformar facilmente estas atitudes da tradição da
O conhecimento da classe significava o poder de mudar o mundo, e FSD em sectarismo. A intransigência nativa da FSD não era provavel-
mesmo aqueles que não podiam se dar bem com O Capital de Marx mente muito maior do que a do militante social-democrata continental

276 277
típico (embora a tradição de que todos deviam ser membros de um par- Especialmente, ele não pode fugir à culpa pelo fracasso da FSD
tido de massa fosse muito mais forte 1á,já que não havia nenhuma ou- em explorar sua posição única como organização socialista pioneira na
tra orgauização trabalhista de massa). Mas no continente os movimen- Inglaterra. A amargura de Engels teve bons motivos. Ele viu a FSD jo-
tos de massa podiam se desenvolver com base numa atitude política gar fora uma oportunidade após outra na década de 1880 quando ela
que na Inglaterra simplesmente isolava uma minoria militante, que por estava virtualmente sozinha em campo, ele viu Hyndman alienar par-
sua vez reagia ao seu isolamento exaltando-o. Os Marxistas nas áreas tidários valiosos, e os maiores progressos do movimento deixados
têxteis da Saxônia e do norte da França operavam num universo polí- quer aos Marxistas forçados a agirem independentemente dela, quer a
tico inteiramente criado por eles mesmos: partido, sindicato, impren- elementos indesejáveis teoricamente inuito 1nais confusos. O "novo-
sa, eram todos deles. Eles não enfrentaram o problema de, digamos, a sindicalismo" de 1889-90 e o triunfo dos candidatos independentes da
FSD tentar eleger um candidato por um reduto sindical há muito esta- classe trabalhadora em 1892 demonstram o que pode ter sido conse-
belecido como Burnlex. Nem o sectarismo da FSD era tão grande guido: mas não foi a FSD que o conseguiu. Em vez disso, ela impediu
como se supôs em certa ocasião: foi o PTI e não aFSD que, como o Pro- estas realizações e por sua vez nunca se recuperou completamente da
fessor Tsuzuki mostra, destruiu a fusão proposta dos dois grupos na sua perda de iniciativa.
década de 1890, e os membros da FSD foram para a militância do sin- O livro do Professor Tsuzuki não discute muitos destes assuntos.
dicato com prazer. Apesar de tudo, o sectarismo de uma minoria isola- Ele é mais uma peça valiosa de história narrativa - a melhor do seu
da de "progressistas" pertence à tradição da FSD, como pertencera à tipo - que por longo tempo permanecerá como base de outros traba-
dos Owenistas, e ela não achou a liderança não-parlamentarista e rígi- lhos talvez mais analíticos. Sem ter lido a dissertação bastante grande
da de Hyndman incompatível por este motivo. na qual se baseia o livro, é difícil julgar quanto do excelente inglês é
Fazer de Hyndman mais a expressão do que o criador da FSD não devido ao autor e quanto à edito.ração de Henry Pelling, ou quanto o
é subestimar sua parte individual nela. Ele deu a ela muito, notadamen- livro é terminado difere em ênfase do original. Contudo, constitui um
te uma firme orientação no sentido do Marxismo e do movimento tra- reflexo sobre os historiadores ingleses (e especialmente os Marxistas)
balhista internacional. Não é destituído de importância o fato de, que a primeira história utilizável da organização Marxista pioneira
embora nos EUA o Marxismo ortodoxo nunca se haver libertado com- neste país - se excetuarmos o trabalho cronologica1nente mais limi-
pletamente da sua dependência dos intelectuais e das comunidades tado de Edward Thompson sobre William Morris, ao qual inexplica-
imigrantes que o trouxeram consigo como sua herança, na Inglaterra velmente é feita pouca referência - deva ser obra de um estudioso
ele tornou-se totalmente assimilado pela vanguarda trabalhista nativa. japonês.
(Uma inclinação pela teoria não significa automaticamente uma incli-
nação pela teoriaMarxista). O Partido Comunista Inglês por este moti- (1961)
vo desenvolveu um grupo de primeira ordem de líderes proletários
nativos muito mais cedo do que tnuitos partidos muito maiores do seu
tipo (p. ex., Horner, Pollitt, Campbell e Gallagher). Isto não foi histo-
ricamente inevitável, e o infatigável trabalho de propaganda pioneiro
de Hyndman pelo Marxismo deve .receber uma parte do crédito. Por
outro lado a liderança superior pode indubitavelmente ter dado à FSD
um sucesso muito maior e tê-la tornado muito inais influente no movi-
mento trabalhista mais amplo do que ela jamais foi. E Hyndman, que
monopolizou a liderança, não pode fugir à responsabilidade por gran-
de parte deste fracasso.

278 279
13

O DR. MARX E OS CRÍTICOS


VITORIANOS

DESDE O APARECIMENTO do Marxismo como uma força


intelectual, dificilmente um ano - no mundo anglo-saxônico desde
1945, dificilmente uma semana -tem passado sem alguma tentativa
de refutá-lo. A literatura resultante da refutação e da defesa tem setor-
nado cada vez mais desinteressante, porque cada vez mais repetitiva.
As obras de Marx, embora volumosas, são limitadas em tamanho, é
tecnicamente impossível mais de um certo nú1nero de críticas originais
serem feitas delas, e a maioria delas foram feitas há muito tempo.
Inversamente, o defensor de Marx se vê cada vez mais dizendo as mes-
mas coisas repetidas vezes, e embora possa tentar com dificuldade fa-
zer isso em novos ter1nos, mes1no que isto se torne impossível. Um
efeito de novidade só pode ser conseguido de duas maneiras: comen-
tando, não sobre o próprio Marx, mas sobre Marxistas posteriores, e
conferindo o pensamento de Marx com os fatos tais como vieram à luz
desde que o último crítico escreveu. Mas mesmo aqui as possibilida-
des são li1nitadas.
Por que então o debate continua entre os estudiosos - porque é
natural que ele continue entre os propagandistas de ambos os lados-,
que não estão preocupados principalmente com a originalidade? As
idéias não se transfor1nam em forças até que se apoderem das massas
e isto, como os agentes de propaganda reconhecera1n, exige inuita

281
repetição ou mesmo magia. Isto se aplica lauto àqueles de nós que con· completamente diferente. Admitidamente os autores ingleses acharam
sideram Marx um grande home1n e os seus ensina1nentos politicamen- anormalmente fácil manter sua calma. Nenhum movimento anticapi-
te desejáveis, como àqueles que têm a opinião oposta. Contudo, outro talista os desafiou, e entre 1850 e 1880 teria sido difícil encontrar um
motivo é a pura ignorância. Constitui uma ilusão melancólica daque· súbito inglês nato que chamasse a si mesmo de socialista em nosso sen·
les que escrevem livros e artigos achar que a palavra impressa sobrevi· tido, quanto mais de Marxista. A tarefa de refutar Marx não era portan·
vc. Aliás, isso raramente acontece. A grande maioria das obras impres- to nem urgente nem de grande importância prática. Felizmente, como
sas entra nu1n estado de animação suspensa após algu1nas se1nanas ou o Rev. M. Kaufmann, talvez o nosso mais antigo "especialista" não-
anos da publicação, do qual são ocasionalmente acordadas, por perío· Marxista do Marxismo, disse, Marx foi um teórico puro que não ten·
dos igualmente curtos, pelas pesquisas dos estudantes. Muitas delas tau pôr suas doutrinas em prática. (Utopiasfrom Sir Thomas More to
aparecem em línguas além do alcance de muitos comentaristas ingle· Karl Marx, 1879, p. 241). Pelos padrões revolucionários ele pareceu
ses. Mas mesmo quando não aparecem em outras línguas, são muitas até ser menos perigoso do que os anarquistas e foi portanto algumas
vezes tão esquecidas como os críticos originais burgueses de Marx na vezes comparado com aqueles comedores de fogo; para vantagen1 dele
Inglaterra. E apesar disso o comentário deles lança luz não só na histó· por Broderick (Nineteenth Century Apl. 1884, p. 639), para sua des·
ria intelectual do nosso país no fim do período Vitoriano, como naevo· vantagem por W. Graham do Queens College, de Belfast, que obser·
lução geral da crítica a Marx. vou que o anarquista tinha "um método e lógica( .. .) que falta aos revo·
Eles nos atacam principalmente pelo seu tom, que difere bastan· lucionários rivais da escola de Karl Marx e o Sr. Hyndman" (The Social
te consideravelmente do que desde então se tornou usual. Assim, o Pro· Prohlem, l 886, p. 423). Em conseqüência, os leitores burgueses se
fessorTrevor·Roper, que escreveu um ensaio sobre o Marxism and the aproximavam dele num espírito de tranqüilidade ou- no caso do Rev.
Study of History (Problemas do Comunismo V, 1956) há alguns anos, Kaufmann - de indulgência cristã, que a nossa geração perdeu:
estava longe de ser atípico do tom do anti· Marxismo dessa década
desencorajadora. Ele gastou uma grande quantidade de espaço pro· "Marx é un1 Hegeliano na filosofia e um adversário bastante amargo dos ininis-
pondo a própria proposição implausível de que Marx não fez nenhuma tros da religião. Mas ao fonnar uma opinião sobre as suas obra<; não deve1nos
contribuição original para a História exceto "espanar as idéias já pro· nos permitir ter preconceitos contsa o home1n". (,\'ocialism, 1874, p. 165).
postas por outros pensadores e ancxá·las a um dogma filosófico cru",
de que a sua interpretação histórica foi inútil para o passado e totalmen· Marx evidente1nente retribuiu o ctnnprimento, porque reviu o rela-
te desacreditada como base de previsão para o futuro, e de que ele não to de Kaufmann de si mesmo num livro posterior por instigação de um
teve influência significativa sobre os historiadores sérios, enquanto "conhecimento mútuo" não identificado. (Ver capítulo de Kaufmann em
aqueles que afirmavam ser Marxistas ou escreveram "o que Marx e Subjects ofthe Dav: Socialism, Labour and Capital, 1890· l, p. 44).
Lenine teriam chamado de bistória social 'burguesa' ou eram um exér· A literatura inglesa sobre o Marxismo, como observou Bonar,
cito de escoliastas obscuros con1entando atarefadamente as escolias não sem presunção (Philosophy and Political Economy, 1893, p. 354),
uns dos outros". Em resumo, foi largamente aceito o argumento de que mostrou assim um espírito calmo e judicioso já faltando nas discussões
a reputação intelectual de Marx tinha sido inflada grosseiramente, por· alemãs sobre este assunto. Houve alguns ataques aos motivos de Marx,
gue, "refutada por todos os testes intelectuais, a interpretação Marxista sua originalidade ou integridade científica. O tratamento da sua vida e
da história é constante e irracionalmente justificada apenas pelo poder obras foi principalmente expositivo, e quando se discorda dele, é mais
Soviético". porque os autores não leram ou entenderam o suficiente, do que por·
As obras dos críticos Vitorianos de Marx estão na maioria e jus· que eles confundiram acusação com exposição. Admitidamente suas
tamente esquecidas; um aviso para aqueles de nós que se engajam nes· exposições foram muitas vezes defeituosas. Duvido que exista alguma
ta discussão. Mas quando mergulharmos nela encontramos u1n tom coisa mesmo se aproximando de u1n sumário não-socialista, utilizável

282 283
dos principais princípios do Marxismo, como eles seriam entendidos dos até, em princípio, para aprenderem com ele. Com uma exceção: a
hoje, antes da History ofSocialism (1900) de Kirkup. Mas o leitor pode teoria trabalhista do valor ou, para ser mais preciso, os ataques de Marx
esperar encontrar, até onde for possível, um relato real de quem era às justificações correntes do lucro e dos juros. Tal vez o fogo crítico fos-
Marx e do que o autor pensava que ele era. se concentrado contra estes porque a acusação moral contida na frase
Ele pode esperar encontrar, acima de tudo, uma admissão quase "o trabalho é a fonte de todo o valor" afetava mais os crentes confian-
universal da sua estatura. Miiner, e1n suas conferências de 1882 na tes no capitalismo do que a previsão do declínio e queda do capitalis-
Whitechapel (Nationa/ Review 1931, p. 477) o admirava francamente. mo. Se era assim, eles criticavam Marx precisamente por um dos ele-
Balfour em 1885 achou absurdo comparar as idéias de Henry George mentos menos "Marxistas" do seu pensamento, e que, embora numa
forma mais crua, os socialistas pré-Marxistas, para não mencionar
co1n as dele "quer etn relação a força intelectual delas, consistência
Ricardo, já haviam proposto. Em todo o caso a teoria do valor era con-
delas, domínio dele do raciocínio e1n geral ou do raciocínio econômi-
siderado como "o pilar central de todo o Socialismo alemão e moder-
co dele em particular". (Report ofthe Industrial Remuneration Con-
no" (Socialism de Graham, 1891, p. 139), e urna vez ela caísse, o prin-
ference, 1885, P. 344). John Rae, o mais perspicaz dos nossos primei-
cipal trabalho crítico estava feito.
ros "especialistas" ( Contemporary Socialism, 1884, reeditando
Contudo, além disso parecia claro que Marx tinha muito a contri-
artigos anteriores) tratou-o com igual seriedade. Richard Ely, um pro-
buir, notadamente uma teoria de desemprego crítica do Malthusianis-
fessor americano de inclinações vaga1nente progressistas cujo French
mo tosco que ainda estava em voga. Suas opiniões sobre população e
and German Socialism foi publicado aqui em 1883, observou que os o "exército de mão de obra de reserva" foram não só apresentadas sem
bons juízes colocavam o Capital "no mesmo nível que Ricardo" e que críticas (como em Rae), como foram citadas algumas vezes com apro-
"quanto à capacidade de Marx há unanimidade de opinião" (p. 174). vação, ou mesmo parcialmente adotadas, como pelo historiador eco-
W. H. Dawson (German Socialism and Ferdinand Lassalle, 1888, pp. nômico pioneiro o Arquidiácono Cunningham (Politics and Econo-
96-7) resumiu o que era quase certamente a opinião de todos exceto, mics, 1885, p. 102) - ele havia lido o Capital desde 1879 ("The
como ele nota, do 1niserável Duehring, a quen1 os críticos recentes de Progress of Socialism in England", Contemp. Rev., jan. 1879, p. 247)
Marx tentara1n inutihnentc reabilitar: "E1nbora os seus ensinamentos - e William Srnart de Glasgow, outro economista cuja fama é devida
possa1n ser considerados, ningué1n se aventurará a disputar acngenho- ao seu trabalho em história económica (Factory fndustry and Socia-
sidade de mestre, a rara perspicácia, a argumentação cerrada e, deixc- lism, Glasgow 1887). Da mesma forma as opiniões de Marx sobre a
se acrescentar, a polê1nica incisiva que é demonstrada nas( ... ) páginas divisão do trabalho e maquinaria encontraram aprovação geral, p. ex.,
(do Capital)"*. do crítico do Capital no Athenaeum, 1887, J.A. Hobson (Evolution of
Este coro de louvores é menos surpreendente quando nos lem- Modem Capitalism, 1894) ficou claramente muito impressionado
bramos que os primeiros comentaristas estavam longe de desejar rejei- com elas: todas as suas referências a Marx tratam deste tópico. Mas
tar Marx in tolo. Em parte porque alguns deles o consideravam um alia- escritores ainda mais ortodoxos e hostis como J. Shield Nicholson de
do útil em sua luta contra a teoria do laissez-faire, em parte porque eles Edinburgh (Principies of Political Economy !, 1893, p. 105) observa-
não apreciava1nas implicações revolucionárias de toda a sua teoria, em ram que o seu trata1ncnto disto e assuntos correlatos "é tanto erudito
parte porque, sendo tranqüilos, eles estava1n genuinamente prepara- como exaustivo, e vale be1n a pena ler". Além disso, suas opiniões
dos para considerá-lo segundo os seus rnéritos; eles estava1n prepara- sobre salários e concentração econômica não podem ser postas de lado.
Na verdade, alguns comentaristas estavam tão ansiosos por evitar uma
rejeição total de Marx, que William Smart escreveu a sua crítica de
"'Os leitores podem encontrar algu1nas destas opiniões no Apêndice de Dona Torrà rcim-
1887 do Capital especificamente para encorajaras leitores que pudes-
pres~ào de 1938 do Copital, Vol 1: 1nas ela obviamente consultou apenas uma pequena fra~:ão da
literatura disponível. sem ter sido dissuadidos pela crítica da teoria do valor de estudar o

284 285
livro, que continha muita coisa "de valor muito grande, tanto para o não ouviu falar previamente das seguintes controvérsias históricas
historiador como para o economista" (op. cit., p. I). Marxistas, o que lhe causou espanto: de que "a própria reforma é atri-
Um manual elementar destinado a estudantes universitários da buída a uma causa econômica, que a duração da Guerra dos Trinta
Índia (Political Economy, 1895 de M. Prothero) resume razoavelmen- Anos foi devida a causas econômicas, as Cruzadas à fome feudal de
te bem o que os não-marxistas viam em Marx; tanto melhor por ser terra, a evolução da família a causas econômicas, e que a opinião de
ligeiramente ignorante e refletindo assim mais as opiniões correntes Descartes dos animais como máquinas pode ser relacionada ao cresci-
do que o estudo individual. Três coisas foram escolhidas: a teoria do mento do sistema de Fabricação" (p. 367).
valor, a teoria do desemprego, e a realização de Marx como historia- Naturalmente a sua influência foi mais marcada entre os nossos
dor, a primeira para aceptuar que "a estrutura econômica da sociedade historiadores econômicos, dos quais apenas Thorold Rogers pode ser
capitallsta atual excedeu a estrutura econômica da sociedade feudal" considerado como totalmente insular em inspiração. Cunningham em
(p. 43). Na verdade Marx fez o seu maior impacto como historiador, e Cambridge, como vimos, o havia lido com simpatia desde o fim da
entre os economistas com um enfoque histórico do assunto deles. (Por década de 1870. Os homens de Oxford-talvez devido à tradição ger-
ora, ele dificilmente influenciara os historiadores não-econômicos mânica muito mais forte entre os Hegelianos locais-conheceram-no
profissionais da Inglaterra, que ainda estavam mergulhados na rotina antes de haver grupos Marxistas ingleses, embora a única crítica inci-
da história puramente constitucional, política, diplomática e militar). dental de Toynbee à sua história (The Industrial Revolution) esteja por
Apesar dos autores recentes, não havia realmente nenhuma disputa acaso enganada.* George Unwin, talvez o historiador econômico
entre aqueles que o liam sobre a sua influência. Foxwell, um acadêmi- inglês mais impressionante da sua geração, dedicou-se ao seu assunto
co anti-Marxista tão a1nargo como se podia encontrar na década de através de Marx, ou de qualquer maneira para refutar Marx. Mas ele
1880, mencionou-o como coisa de esperar entre os economistas que não tinha nenhuma dúvida de que "Marx estava tentando chegar aos
"mais haviam influenciado os estudantes sérios neste país" e entre tipos certos de história. Os historiadores ortodoxos ignoram todos os
aqueles que haviam produzido o progresso marcante no "sentimento fatores mais significativos do desenvolvimento humano" (Studies in
histórico" deste período ("The Economic Movement in England", Economic History, XXTII, JXVI).
Q.Jnl. Econ., 1888, pp. 89, 100). Mesmo aqueles que rejeitavam a
Tampouco houve muito desacordo quanto à sua realização como
"teoria peculiar, e em minha opinião errônea, do valor dado no Capi-
historiador do capitalismo (suas opiniões sobre períodos anteriores o
tal" sentiram que os capítulos históricos deviam ser julgados diferen-
crí~ico do Athenaeu1n achou "insatisfatórias e bastante superficiais",
temente (Shield Nicholson, op. cit., p. 370). Poucos duvidaram que,
ma elas foram normalmente negligenciadas e, na verdade, muitos dos
graças ao estímulo de Marx estamos agora começando a ver que gran-
seu. mais brilhantes aperçus e de Engels não estavam ainda à disposi-
des seções da história terão que ser reescritas à esta nova luz" (Kirkup.
ção do grande público). Mesmo a crítica inglesa mais extensa e hostil
op. cit., p. 159), aparentemente ignorando a demonstração do Profes-
do seu pensamento - o Socialism de Flint ( 1895, escrito principal-
sor Trevor Roper de que o estímulo não era de Marx, mas de Adam
mente em 1890-1 ) - admite:
Smith, Hume, Toqueville ou Fustel de Coulanges". Bosanquet (Philo-
sophical Theory ofthe State, 1899, p. 28) não tem nenhuma dúvida de
"Onde só Marx realizou um trabalho men1orável como teórico histórico, foi c1n
que a "opinião econô1nica ou materialista da história" está "principal- sua análise e interpretação da era capitalista, e aqui deve seradn1itido que ela pres-
mente relacionada co1n o nome de Marx", embora "ela possa também
ser ilustrada por muitas controvérsias de Bucke e Le Play". Bonar (op.
cit.), embora negando especificamente que Marx inventara o materia- *' 10ynbcc discordou da opinião de Marx de que a classe dos pequenos proprietários rurais
havia desaparecido cn1 1760 (cd. 1908, p. 38). Contudo, as opiniões recente~ estão 1nais com
lismo histórico - ele exemplifica muito propriamente o pensador do Marx do que com Toynhcc. Espero que a revelação deste fato não leve alguns historiadores a reve-
século dezessete, Harrington, como pioneiro (p. 358)-apesarde tudo rem suas opiniões.

286 287
tau um serviço eminente, mesmo por aqueles que acham a sua análise n1ais sutil do
que acurada, e suas interpretações n1ais engenhosas do que verdadeiras" (p. J38). tar, notadamente em Cambridge, o principal centro acadêmico da eco-
nomia. O pritneiro ataque sério à cultura de Marx como vimos, veio
1

Flint não estava sozinho nem em sua desconfiança inglesa de "uma de dois professores de Cambridge em 1885 (Tanner e Carey), embora
tendência ao super-refinamento do raciocínio" (Athenaeum, 1887), nem Llewellyn-Smith de Oxford - um lugar muito menos "antimarxista"
e1n sua ad1nissão dos méritos de Marx como historiador do capitalismo; naquele tempo - não recebesse a crítica muito tragicamente, obser-
mais especialmente do capitalismo do século dezenove. A prática moder- vando simplesmente, alguns anos mais tarde, que as "citações de Marx
na é lançar dúvidas sobre a cultura, integridade e o uso das fontes dele e de dos livros azuis são muito importantes e instrutivas, embora nem se1n-
Engels (cf. Capitalism and the Historians e as ctiticas recentes a Engels pre dignas de confiança" (Two lectures on the books ofpolitical eco-
porW. H. Chalonere W.O. Henderson), mas os contemporâneos raramen- nomy, Londres, Birmingham e Leicester, 1888, p. 146). É mais o tom
te exploraram este caminho da crítica, já que parecia patente para eles que de difamação do que o conteúdo desta obra que é interessante: frases
os males que Marx atacava eram por demais reais. Kaufmann falou por como "as expressões algébricas vira-latas" do Capital ou "uma inquie-
muitos quando observou que "embora ele nos apresente exclusivamente o tação quase criminosa no uso de autoridades que nos autorizam a con-
lado sombrio da vida social contemporânea, não pode ser acusado de siderar outras partes da obra de Marx com desconfiança" (pp. 4, 12)
deturpação deliberada" (Utopim, p. 225). Llewellyn-Smith (Economic indicam -pelo menos em assuntos econôn1icos - algo mais do que
Aspects ofState Socialism, 1887, p. 77) achou que "embora Marx tenha desaprovação cultural. Na verdade, o que deixou Tanner e Carey lou-
colorido o seu quadro escuro demais, ele prestou um grande serviço cha- cos não foi simplesmente o seu tratamento da evidência - eles se
mando a atenção para as características mais lúgubres da indústria moder- esquivaram da "acusação de falsificação deliberada( ... ) especialmen-
na, para as quais é útil fecharmos os olhos". Shield Nicholson (op. cit., p. te já que a falsificação parece tão desnecessária" (isto é,já que os fatos
370) achou o seu tratamento em alguns sentidos exagerado, mas também de qualquer maneirajá eram bastante pretos)- mas "a injustiça de toda
que "alguns dos males são tão grandes que o exagero parece impossível". esta atitude em relação ao Capital" (p. 12). Os capitalistas são mais bon-
E mes1no o ataque mais feroz à sua bonafides co1no estudioso não se atre- dosos do que Marx lhes dá crédito; devemos ser injustos com ele. Essa,
veu a sustentar que Marx tivesse colorido de preto um quadro branco, ou de uma maneira geral, parece ser a base da atitude dos críticos.
mesmo cinzento, mas na melhor hipótese que, pretos como eram os fatos, Mais ou menos na mesma ocasião Foxwell de Cambridge desen-
eles algumas vezes continham "riscas prateadas" de evidência às quais volveu a nova linha familiar de que Marx era um maníaco com o dom
Marx não havia prestado nenhuma atenção (J .R. Tanner e F.S. Carey, Com- da tagarelice, que só podia apelar para os imaturos, notadamente entre
ments on the use ofthe Blue Books made by Karl Marx in Chapter XVof' os intelectuais; um homem- apesar do aviso de Balfour- a ser equi-
the Capital, Clube Econômico de Cambridge, Termo de maio, 1888). parado com Henry George:
O tom moderno de ansiedade histérica estava completamente O Capital foi bem calculado para apelar para o entusiasmo um
ausente nas primeiras criticas burguesas a Marx? Não. Desde o tanto diletante daqueles que eram suficientemente instruídos para per-
momento e1n que u1n movjmento socialista inspirado no Marxismo ceberem e ficarem revoltados pela condição penosa dos pobres, mas
apareceu na Inglaterra, a crítica a Marx de cunho moderno, procuran- não suficientemente pacientes ou tcitnosos para descobrirem as causas
do desacreditar e refutar com exclusão da compreensão, també1n reais desta miséria, ne1n suficientemente treinados para perceberem a
começou a aparecer. Algumas delas estavam em obras continentais tra- falsidade total dos remédios de charlatão tão retórica e eficazmente
duzidas para o inglês: notadamente do meio da década de oitenta. apresentados (loc. cit., p. 99).
Obras continentais hostis estavam agora traduzidas: Socialismo}' Diletante, não paciente ou teimoso, falsidade total, charlatão, retó-
foday (1885), de Laveleye, Quintessence ofSoâalism ( 1889) de Scha- rica: a carga emocional do vocabulário dos críticos se acun1ula. A
effle. Mas o anti-Marxismo nascido em casa tan1bém começou abro- Foxwell devemos também (através do austríaco Menger) a populariza-
ção do jogo alemão de salão de atacar a originalidade de Marx e consi-
288
289
Webb, Wallas, Olivier e alguns outros discutiram o Capital, que muitos
derá-lo como um saqueador de Thompson, Hodgskin, Proudhon, Rod-
dos Fabian Essays mnadureceram. E se, alguns anos mais tarde, Sidg-
bertus, ou quaisquer outros autores anteriores que caíram no goto do crí-
wick pôde falar da "confusão fundamental ( ... )que o leitor inglês, acho
tico. Os Principies de Marshall ( 1890) trataram disto numa nota de roda-
eu, dificilmente precisa perder tempo em examinar, no momento em
pé, embora a referência indicada da demonstração de Menger da falta de
que os mais capazes e influentes entre os socialistas ingleses têm agora
originalidade de Marx fosse retirada após a quarta edição (1898). A opi-
o cuidado de guardar dela uma boa distância" de Marx (Econ. Jnl. V, p.
nião de que Rodbertus e Marx- os dois eram muitas vezes equiparados
343), não foi por causa das ironias Sidgwickianas que eles fizeram isso,
- cometiam "principalmente exageros ou inferências de doutrinas de
mas devido ao argumeuto Wicksteediano - e talvez, podemos acres-
antigos economistas" (Flint, op. cit., p. 136) ou de que algum outro anti-
centar, devido à inabilidade dos Marxistas iugleses em defenderem a
go pensador- Rodbertus (Rodbertus, 1889 de E.C.K. Gonner) ou
economia política Marxista contra os seus críticos. Os trabalhadores
Comte (Flint, op. cit.)-havia dito o que Marx queria dizer sobre a his-
ainda insistiam no Marxismo, e se revoltavam contra a antiga WEApor-
tória mais cedo e muito melhor, já uos traz para um universo familiar. O
que eles não o ensinavam; 1nas não até que os acontecimentos tivessem
próprio Marshall, o maior dos economistas de Cambridge, mostrou a sua
demonstrado que a confiauça dos críticos de Marx em suas próprias teo-
combinação habitual de marcada hostilidade emocional a Marx e igual-
rias era mal-colocada, ou excessiva, o Marxismo reviveu como uma
mente marcada tortuosidade* Mas no todo, os anti-Marxistas empeder-
força acadêmica. É pouco provável que ele desapareça da cena acadê-
nidos permanecera1n em minoria no século dezenove, e por uma geração
mica outra vez.
depois disso tenderam a seguir mais a linha Marshaliana tangencial da
ironia do que o ataque em escala total. Porque o Marxismo perdeu rapi-
damente aquela influência que provoca discussões.
NOTA
Por estranho que pareça o tipo calmo da crítica a Marx provou ser
muito mais eficaz do que o tipo histérico. Poucas críticas a Marx foram
mais eficazes do que "Das Kapital - uma crítica" de Phili p Wicksteed
Marshall e Marx
que apareceu no To-day socialista em outubro de 1884. Era escrita com
Marshall parece ter con1eçado se1n qualquer opinião n1arcada sobre Marx.A úni-
simpatia e cortesia, e com apreciação total "dessa grande obra", "dessa ca referência naEcononlics ofindustry ( / 879) é neutra, e mcsrno na primeira edição dos
seção notável" em que Marx discute o valor, "desse grande lógico" e até Principies há sinais (p. 138) de queen1 certa ocasião o perigo para o capitalisrno de Hen-
das "contribuições de extrema importância" que Wicksteed julgava ry (Jcorgc o preocupou mais do que o de Marx. As referências a Marx nos Principies
Marx ter feito na última parte do volume!. Mas, o que quer que possa- são as seguintes: ( 1) un1a crítica da '>Ua "'doutrina arbitrária" de que o capital é apenas
mos agora peusar do enfoque marginalista puro à teoria do valor, o arti- aquele que "d:,'í. aos seus proprietcírios a oportunidade de esbulhar e explorar os outros''
(p. 138). (Da terceira edição 1825 - isto é transposto e elaborado). (2) De que os eco-
go de Wickstced fez mais para criar a sensação errônea entre os socia-
no1nistas devern evitar o tern10 "abstinênciaº', escolhendo em vez disso algo como "ser-
listas que a teoria do valor de Marx era de certa forma irrelevante para a viço'·, porque-pelo n1enos assin1 interpreto o acréscilno de un1a nota de rodapé neste
justificação econômica do socialismo do que as diatribes emocionais de ponto~- "Karl Marx e os seus seguidores divertiran1-sc n1uito contemplando as acu-
um Foxweil ou um Flint ("o maior fracasso na história da economia"). mulações de riqueza que,resulta1n da abstinência do Barão de Rothschild" (p. 290).
Foi num grupo de discussão em Hampstead no qual Wicksteed, Edge- (Esta referência é retirada do índice da terceira edição, embora não do texto). (3) De que
worth ** - outro marginalista que evitava o emocionalismo- Shaw, Rodbertus e Marx não forain originais en1 suas opiniões, que afirmam que "o paga1nen-
10 de juros é um assalto ao trabalho", e são criticados con10 um argumento circular,
embora "oculto pelas frases Hegeliana nlisteriosas nas quais Marx se deleitava" (pp.
*Suas opiniões são discutidas e1n maior extensão numa Nota especial abaixo. 619-20). (Na segunda edição é feita un1a tentativa para substituir u1n resumo da doutri-
*'~ Edgeworth, que nunca se preocupara cn1cstudar Marx seriamente, parece ter partilha- na de Marx da exploração pclacaricaturaantcriordela( 1891)).(4) U1nadefesade Ricar-
do da rejeição total dos economistas de Cambridge e da aversão por Marx (Coflecred Papers, III, do contra a acusação de ser um teórico do valor do trabalho, como foi afirmado falsa-
pp. 273 ss., numa crítica escrita em 1920). Contudo, não há ncnhurnacvidência de ele ter expres- mente não só por Marx corno pelos não-Marxistas inal infonnados. (Esta defesa é
so esta opinião publicamente no velho século.

291
290
progressivaniente claboradac1n edições subseqüentes). D~ve-se 1~1nbrar que Mar:-.hall
tinha uma admiração grande demais por Ricard.o para desejar Jan~a-lo ao mar como um
ancestral dos teóricos socialistas, como muitos outros econo1n1stas -Foxvvell por
exemplo- estavam prontos para fazer. Mas a tarefa de mostrar que ~icardo não e1~a un;-
teórico do trabalho é complexa, como ele parece ter apreciado. Assim notamos nao so
que todas as referências de Marshall e Marx são críticas ou ~olêm,icas - o único ~éri­
to que ele lhe concede, já que ele viveu na época pré-Frcudian~, e un1 bo1n coraçao-
como tambéin que a sua crítica parece se basear nun1estudo rntnto menos <letal_ha<lo das
obras de Marx do que se poderia esperar, ou do que foi realizado pelos economistas aca- 14
dêmicos contemporâneos.

OS FABIANOS RECONSIDERADOS

OS FABIANOS sempre foram fortes em relações públicas.


Essencialmente um corpo de intelectuais, eles nunca precisaram de
outros para tocar o seu próprio clarim, porque no máximo da sua
influência inicial (em 1892) algo como dez por cento do número de
membros masculinos da Sociedade consistia de jornalistas e escrito-
res, e Bernard Shaw estava entre eles. Eles atraíram editorialistas e his-
toriadores exatamente por este motivo. Aqueles que podiam tocar seu
próprio clarim não só tocavam mais alto do que os que não podiam,
como forneciam automaticamente material para os críticos musicais;
aqueles cuja carreira consiste em redigir e provocar comentários escri-
tos ou impressos constituem um presente para as pessoas que têm que
confiar em documentos a fim de redigir notas de rodapé. O que é mais,
o som dos clarins Fabianos é particularmente tentador. A sociedade
tem afirmado uma influência extraordinária na vida pública inglesa,
especialmente entre a sua fundação e o fim da I Guerra Mundial, e mui-
tas pessoas têm aceito estas afirmações. Os Fabianos afirmaram des-
truir a influência do Marxismo na Inglaterra; ter inspirado o Partido
Trabalhista; ter anunciado e na verdade lançado os fundamentos do

292 293
estado do bem-estar; ou mais modestamente, da reforma municipal e truídos todos os seus outros projetos políticos, eles não tinham nenhu-
do Conselho do Condado de Londres. ma outra escolha.
Estas afirmações, e a relativa facilidade de pesquisas sobre elas, Alan Macbriar descarta a principal afirmação dos Fabianos, de
atraiu um número muito grande de historiadores, particularmente duran- terem "rompido o encanto do Marxismo" na Inglaterra, com igual jus-
te o período do governo trabalhista de 1945, cuja inspiração direta pare- tiça: "A afirmação é extravagante, porque o Marxismo não lançou
cem ser Fabiana, e que continua um primeiro-1ninistro Fabiano, nove nenhu1n encanto sobre a Inglaterra". Pode-se também acrescentar que
ministros de gabinete Fabianos, e uma clara maioria de Fabianos entre os não há nenhuma evidência de que as críticas específicas dos Fabianos
394 M.Ps. O Dr. Alan Macbriar, o mais elaborado historiador Fabiano, ao Marxismo fossem particularmente eficazes mesmo nos círculos aos
arrola pelo menos cinco destes por estudiosos de três continentes, todos quais eles tinham acesso. A alternativa particular deles à economia
escritos desde 1942 sobre a Sociedade, e um punhado de attigos indo des- Marxista -inclusive o marginalis1no neoclássico, foi apresentada por
de o Joumal of the History of!deas até o Journal of Economic History. Shaw nos Ensaios Fahianos - dificilmente deixou qualquer marca
Sua lista, sendo publicada em 1962, não é exaustiva. Todos estes estudio- sobre o resto dos não-Marxistas ou socialistas reformistas ingleses.
sos deviam mais cedo ou mais tarde ter descoberto no curso do seu traba- As afirmações deles de terem lançado os fundamentos do estado
lho (como o presente autor, que é um deles, descobriu) que estavam per- do bem-estar são ligeiramente mais plausíveis, porque os Fabianos
dendo o seu tempo, exceto, é claro, até onde estavam conseguindo os seus certamente exerce1n sua influência inais direta como redatores do
PhDs. As afirmações Fabianas são em grande parte mitológicas e as pes- material de propaganda para o movimento trabalhista e de várias pro-
quisas sobre a Sociedade portanto tornaram automaticamente a forma, postas concretas de reforma. Além do mais, os Webbs estavam desde o
em geral, de suas explosões sistemáticas. começo da década de noventa em diante em contato com um certo nú-
Os Fabianos não foram os inspiradores e pioneiros do Partido mero de formuladores da política atual futuros dos mais altos círculos
Trabalhista. Em face dos outros grupos socialistas e trabalhistas da do governo, oposição e funcionalismo público. Apesar disso na verda-
safra da década de 1880 eles realmente na maioria das vezes se opuse- de, as propostas Fabianas específicas de reforma socialmente foram
ram à fundação de um partido independente da classe trabalhadora, e adotadas e, quando foram, "em nenhum caso reproduziram os planos
até onde não se opuseram, "parece certo que o Partido Trabalhista Fabianos em detalhe, onde estes tinham sido expostos em seus folhe-
Independente e o Partido Trabalhista teriam passado a existir sem a tos" (Macbriar). Sem dúvida há motivo para discussão aqui, mas adis-
assistência deles, que foi na maior parte equívoca e não 111uito provei- cussão deve ser marginal. As afirmações de outros homens e outros
tosa" (Macbriar). Pode-se seguramente ir adiante e afirmar que a con- grupos de terem conduzido as reformas específicas do período 1906-
tribuição deles para a formação do Partido Trabalhista Independente 14 (que foram algumas vezes, como no caso do Seguro Nacional,
foi como o Dr. Siegfried Brüngcr mostrou recentemente em seu estu- implementadas de uma forma francamente anti-Fabiana), e as doutri-
do de Engels e do Movimento Trabalhista inglês* - nitidamente nas sobre as quais o futuro estado do bem-estar devia se basear, são
menor do que ado pequeno grupo de Engels, e a contribuição deles ao muito mais fortes. O falecido Lorde Baeveridge, embora em contato
Partido Trabalhista incomparavelmente menor do que a do PT! e nota- com os Webbs, nunca foi um Fabiano ou mesmo um socialista de qual-
velmente menor do que a da Federação Marxista Social Democrática, quer tipo. As teorias econômicas dos Marshallianos de Cambridge e de
Há evidências de que antes de 1914 (quando Sidney Wcbb tornou-se J.A. Hobson, que estavam intimamente associados com o grupo muito
administrador do Partido Trabalhista) os Fabianos tomaram até a nova eficaz dos Liberais esquerdistas que ficaram independentes em 1906,
organização com muita seriedade; e então só porque, tendo sido des- são muito mais fortes do que as dos Fabianos.
Até a afirmação modesta deles de reformadores municipais,
especialmente em Londres, pode ser seriamente reduzida proporcio-
,., Friedrich Engeb und die britische so1.iaJiqische l3e\vegund 1881-95 (E. Berlün 1962).
nalmente. Uma obra recente de P. Thompson de Oxford tendeu a redu-

294 295
encontrar um registro menos afinado com o do movimento socialista e
zi-la a dimensões consideravelmente menores até do que os historia- trabalhista no período de 1889 a 1914.
dores passados, inclusive Macbriar e o presente autor, permitira1n. Eles estavam igualmente desafinados com os Liberais, embora a
O fracasso dos Fabianos nas grandes coisas é até certo ponto miti- "saturação" do Partido Liberal fosse a coisa mais próxima de uma polí-
gado pela atividade infatigável deles, seus dotes como redatores de tica Fabiana coerente que pôde ser descoberta durante este período.
panfletos e projetos administrativos, seu largo círculo de relações polí- Não foi simplesmente o fato de eles falharem inteiramente em apren-
ticas e, acilnade tudo, pela auto-abnegação co1n a qual estava1n prepa- der o essencial da política do partido, que era (como Engels reconhe-
rados para ajudar toda e qualquer pessoa ou grupo que considerassem ceu) dos Liberais fazerem concessões ao trabalho apenas sob a amea-
capazes de promover a sua causa. Contudo, na realidade, esse fracas- ça de perder o voto trabalhista, e não porque eles pudessem de alguma
so é ainda maior do que um mero des1nantela1nento do mito no pode- forma ser persuadidos a se tornarem socialistas sem perceber. Não foi
ria sugerir. Ele é devido à notável atipicidade deles. Eles não estavam só espantosa falta de senso político que levou os Webbs a unirem seus
nem na corrente liberal nem na da classe trabalhadora da política ingle- destinos aos dos Imperialistas Liberais e a negligenciarem ou subesti-
sa, até onde estas segue111 cursos distintos. Eles certan1entc não eram mare1n os homens que realmente deviam contar no renascimento Li-
conservadores. Eles não tinham, na realidade, nenhum lugar na tradi- beral - Campbell-Bannerman ou Lloyd George - como também
ção política inglesa, nem- apesar de se orgulharem seu realismo polí- subestimaram Keir Hardia. Foi também que eles falharam completa-
tico - reconheciam este estado de coisas. mente em perceber a direção do liberalismo de esquerda que injetou
Tanto a ideologia como a política deles estavam bastante fora de realmente um elemento de reforma social e de ideologia não-laissez-
rapport com o resto da esquerda. Os Marxistas, por exemplo, quer os faire no Partido Liberal; e fizeram isso porque não eram, na realidade,
sectários da Federação Social Democrática de Hyndman, quer o grupo em qualquer sentido Liberais, mesmo no sentido amplo e genérico no
pequeno e relativamente sem importância de Engels estavam muito qual virtualmente todos os ingleses da esquerda eram pelo menos
mais perto da principal corrente do trabalhismo inglês do que eles. A filhos ilegítimos da tradição liberal-radical.
FSD favorecia um partido independente da classe trabalhadora, seus A falta de contato deles com o movimento trabalhista isolou-se
membros (apesar do líder deles) tomaram uma parte ativa na organiza- dos trabalhadores; a falta de contato deles com a tradição radical-
liberal e na verdade sua hostilidade a ela, isolou-os do grosso dos
ção trabalhista do período de 1889-92, eles deram alguns passos no
intelectuais esquerdistas ingleses. Nenhum dos dois isolamentos era
sentido da fundação do Partido Trabalhista (embora o deixassem sub-
afinal inevitável. Houve um momento - entre 1890 e 1892 - em
seqüentemente), se opuseram à Guerra Sul-Africana, e apesar do
que por falta de qualquer outro núcleo nacional, os socialistas da
imperialismo do seu líder e do apoio à I Guerra Mundial, permanece-
classe trabalhadora e os militantes trabalhistas teriam se reunido em
ram predominantemente antiimperialistas e antibélicos. Só os Fabi-
torno da bandeira Fabiaua; mas a Sociedade sentiu-se infeliz com
anos, entre os grupos socialistas, se opuseram à formação de um parti-
eles, e per1nitiu que suas sociedades provinciais se afastassem indo
do independente do trabalho, apoiaram o imperialismo, recusaram-se para o novo Partido Trabalhista Independente após 1893. No mesmo
a se opor à Guerra dos Boers, não se interessaram pelas preocupações período a combinação de idéias socialistas e ligações liberais deles
tradicionais internacionais e antibélicas da esquerda, e seus líderes atraiu o tipo de intelectuais esquerdistas socialmente críticos que
praticamente não tomaram parte nos renascimentos sindicais de 1889 estavam despreparados, para abandonar o que consideravam como a
ou 1911. Numa ocasião em que todo o movimento se uniu cm total opo- herança democrática-radical e Jacobina do liberalismo: W.H. Mas-
sição ao julgamento Taff Vale, os historiadores do sindicalismo favo- singham, J.A. Hobson (que esteve em certa ocasião muito perto dos
receram uma solução de compromisso e Sidney Webb foi formalmen- Fabianos). O antiliberalismo deles afastou-os, como o seu fracasso,
te declarado inaceitável como representante do trabalho na Comissão em aprender a direção da, digamos, análise econômica e histórica de
Real de conciliação de 1903, que os sindicatos boicotaram. É difícil
297
296
Hobson do industrialismo e imperialismo, e sua antecipação do Key- palavra de ordem de propaganda foram duas ou três frases frouxamen-
nesianismo levou-os a rejeitar o traço iritelectual mais poderoso da
te associadas com o Fabianismo, mas não as idéias Fabianas. Poucos
análise econômica reformista. É característico que, quando funda-
autores sérios sobre a sociedade tiveram suas idéias mais consistente-
ram a Escola de Economia de Londres, os Webbs preferiram a orto-
mente negligenciadas do que os Webbs. Suas obras são apreciadas
doxia de Cannan à economia esquerdista de Hobson, a quem eles dei-
como monumentos de erudição; mas as conclusões que eles tiram de
xaram de oferecer um posto.
suas pesquisas (ou no interesse das quais eles as realizaram) ainda são
Ao mesmo tempo os Fabianos, ou melhor, o punhado de líderes
virtualmente desconhecidas.*
que imprimiram sua política numa sociedade que continha a gama e
Qual é a explicação dessas excentricidades no pensamento e na
variedade usual de opiniões esquerdistas, era1n sen1 dúvida socialistas,
prática Fabiana? Ela deve ser procurada, acho eu, segundo duas linhas:
embora de um tipo fora do comum. Eles se transformaram nos padroei-
investigando a situação intelectual da Inglaterra na década de 1880 e a
ros do reformismo, e não têm ninguém a não ser a si mesmos a culpa-
composição social dos Fabianos. Nenhum dos dois têm muito mais do
rem por isso, embora dificilmente tivessem previsto que as opiniões
que contato incidental com o movimento trabalhista.
que em sua juventude representavam a extrema direita do movimento
socialista seria um dia responsabilizada pelo radicalismo excessivo.
Eles não eram, naturalmente, radicais. É simplesmente o fato de que a
II
direita do Partido Trabalhista hoje está tão à direita que mesmo o Fabi-
anismo da década de 1890 parece perigosamente subversivo ao lado
Dois pontos sobre a composição social dos Fabianos são imedia-
dele.' Apesar de tudo, é significativo que tanto Shaw como os Webbs
tamente óbvios. Eles constituíam - e este foi talvez o único fator de
terminaram suas carreiras como partidários entusiásticos do Comu-
união entre os membros de outra forma heterogêneos - um corpo
nismo Soviético. "Seus corações", escreve o último historiador oficial
esmagadoramente não-proletário. Eles eram também, como uma orga-
da Sociedade Fabiana dos Webbs após 1933 - "estavam na Rússia e
nização socialista da classe média, extremamente anômalos. Por~tie
só na Rússia." 2 Moderados embaraçados ansiosos para anunciar sua
na Inglaterra, talvez porque a ascensão do socialismo proletário foi
inspiração mais Fabiana do que Marxista, preferiram atribuir isto à
menos maciça e apressada do que nos países continentais, as décadas
degenerescência senil; mas nenhum estudante cuidadoso do pensa-
de 1880 e o começo da de 1890 não produziram nenhum fluxo daque-
mento anterior quer de Shaw quer dos Webbs encontrará qualquer
les jovens intelectuais, impressionantes, embora temporário no senti-
coisa incoerente com isso em suas lealdades posteriores. Eles sempre
do das fileiras da democracia-social. Não temos nenhum equivalente
acreditaram numa reconstrução completa da sociedade. Eles nunca se
do jovem Croce e seus contemporâneos, do jovem Somba.rt, de Lucien
comprometeram com o aparelho político inglês da sua juventude. Eles
Herr, Jaures e a falange de normaliens, dos brilhantes intelectuais vie-
eram não só não-liberais, mas pelas definições da sua época, anti-libe-
rais, e foram realmente atacados como tais continuamente desde pelo
menos o começo do século vinte. Foi a razão e não o coração que os le- ·:,Este é marcadmnente o caso da Industria! Democracy, que é não só o melhor livro iso-
lado jamais eo.crito sobre o:::. sindicatos inglese.~ e uma peça de patrocínio especial pelos "velhos"
vou para a direita; e quando sob o impacto da guerra e da crise levou- líderes sindicai~ da época contra os ''novos". corno contém toda urna teoria de democracia, 0 esta-
os para a esquerda, e convenceu Beatrice Webb que Marx estava certo d~ e a trar'.sição parn o socialismo. O conteúdo do livro foi suficienle1nente inleressante para ins-
pirar Lenme, que o traduziu, em algumas passagens decisivas c1n \.Vhat Is To Be Dane. Mas a
e os Fabianos errados,' eles o seguiram sem arrependimento. Apenas a
Industrial Demorracy é lido tão pouco, que o uso dele por Lenine é inadvertido ou atribuído a
normalidade deles os derrotou mais uma vez. O que os converteu foi ~1ma leitura.daHisWrJ ofTrade Unionisrn, ao qual falta muito deste interesse histórico. Tampouco
sua opinião da "inevitabilidade do gradualismo", não sua convicção da e a lndustrzal Dcmocracy, ou as Seis Conferências dos V/ebbs sobre Democracia ( 1896), ou seu
artigo sobre o assunto no Po!itícal Science Quarterl.Y ( 1896), a1nbo~ cobrem lcrrcno sc1nclhanlc,
necessidade do socialismo. Ou melhor, o que teve sucesso com uma
largamente ou sequer mencionados na história do pensan1ento político.

298 299
nenses que se tornaram Austro-Marxistas, quanto mais dos russos que Exceto em 1892, quando ele atraiu um certo número de socialis-
se tornaram social-democratas, ou social-revolucionários quase sem tas da classe média de outra forma sem lar, o número de trabalhadores
exceção* Os Fabianos foram o único corpo socialista inglês a apelar realmente praticantes (isto é, membros não-oficiais do sindicato) nun-
especificamente para os intelectuais, e após 1906 o movimento socia- ca excedeu a 1Opor cento do número de membros identificáveis, e cons-
lista inglês de estudantes desenvolveu-se das sociedades universitárias tituía provavelmente uma proporção menor do total de membros.* A
Fabianas. Mas eles não tinham nenhum corpo de membros entre os massa dos inembros da classe média recai em dois grupos um tanto dife-
estudantes universitários até o meio da década de 1890, e depois ape- rentes: membros das classes médias tradicionais que desenvolveram
nas um punhado em Oxford cujo desenvolvimento subseqüente uma consciência social, tuna aversão pela sociedade burguesa, ou algu-
demonstra sua atipicidade. (0 mais importante entre eles, L. S. Amery, ma outra forma de dissidência, e o corpo muito mais interessante de pro-
terminou como imperialista Churchilliano). A tendência radical, fissionais que se fizeram por si mes1nos. Entre os primeiros, o grande
esquerdista ou simplesmente de reforma social entre os intelectuais foi bloco de mulheres da classe média emancipadas ou presumivelmente
estimulada pelo renascimento trabalhista, mas - até a primeira guer- merece atenção especial. Elas constituíam mais de um quarto do núme-
ra, ou no mínimo na "estranha morte da Inglaterra Liberal" após 1906 ro total de membros em 1890, antes da expansão, e entre um quinto e um
- ela permanecen esmagadoramente ligada ao Partido Liberal. Em sexto dele desde então até 1906. Não é de snrpreenderque a única emen-
conseqüência, muito do trabalho feito pelos intelectuais socialistas no da jamais levada para a "Base" Fabiana foi a favor do sufrágio femini-
continente foi feito pelos liberais na Inglaterra. A crítica básica do no. É a este grupo de radicais da classe média tradicional, que guia Sid-
imperialismo e do capitalismo financeiro que um Lenine produziu na ney Webb para os membros acionistas dos grupos socialistas' - o
Rússia, um Hilferding na Áustria, uma Luxemburgo na Alemanha, na problema do que fazer com esse dinheiro manchado não era infreqüen-
Inglaterra veio do Liberal Hobson. Um casal Liberal, J.L. e Barbara temente discutido entre os Fabianos, e se reflete no Widowers 'Houses
Hammond, produziu as clássicas histórias esquerdistas - e críticas - de Shaw - que era presumivelmente endereçado.
da industrialização na Inglaterra. Mesmo depois do colapso do Partido O segundo grupo inclui escritores e jornalistas (como Bland e
Liberal, os homens que elaboraram os fundamentos da moderna teoria Shaw), altos funcionários públicos feitos por si mesmos (como Webb ),
social-democrata foram, e muitas vezes permaneceram, Liberais, professores, artistas, profissionais liberais, e também organizadores
como Marshall, Keynes e Beveridge. profissionais e políticos que podem ser considerados como os traba-
Os Fabianos, como muitos socialistas da classe média no fim do lhadores burocráticos das fileiras. Em 1890 metade da amostra identi-
século dezenove, foram portanto anomalias*'' Há alguma coisa na sua ficável consistia dessas pessoas, omitindo aquelas das carreiras tradi-
composição social que ajuda a explicar o aparecimento desse grupo'' cionais da medicina, do direito e do clero. Em 1892 a proporção teria
sido mais alta, a não ser pelo afluxo temporário dos socialistas da clas-
se trabalhadora. Se pensarmos no Fabiano característico das décadas
*'Este afluxo de intelectuais no, ou nas vizinhanças do movimento trahalhista é certas de 1880 e começo da de 1890, pensaremos inevitavelmente nas mulhe-
vezes atrihuído crradainente à sua ''alienação''. Qualquer que possa ter sido o caso depois de
1945, os 11ormatien.1· da década de 1890 eram a coisa mais próxima da elite reconhecida da Fran~a. res independentes, muitas vezes ganhando a vida como escritoras, pro-
que era afinal de contas a "repuhliquc de.~ professeurs ". fessoras ou até como datilógrafas; nos jornalistas e escritores feitos por
*':' Podc-~c ter que fazer uma exceção parcial para os estetas e os homens da~ artes e ofí- si inesmos; nos funcionários públicos feitos por si mesmos, funcioná-
cios da década de 1880, que parecem - Morris, Walter Crane, Oscar \:Vil de - ter sido bastante
comurncntc atraídos para o socialismo. Até que ponto a aversão da classe 111édia a Oscar Wilde.
rios políticos e conferencistas itinerantes; nos empregados e profissio-
que coincide com o contra-ataque ao trabalhismo, refletiu tambéin ódio i1 dissidência política, nais liberais como T. Bolas que editava o Practical Socialist (o primei-
valeria à pena in,,cstigar. Afinal de contas, rne~mo a questiío de Parnell, o caso contra o líder da
insurreição e aquele contra o destruidor dos tabus familiares da classe média, nem sc1nprc é dis-
tinguível com clareza. '"Há listas impressas elos membros para 1890, 1891, 1892. 1904 e 1906.

300 301
vam apenas em proporção ao seu incentivo financeiro, uma espécie de
ro órgão do reformismo socialista) "em seu laboratório químico, elétri- antecipação do conceito de cornunisrno 6 .
co e tecnológico" e em J. M. Fells e E. Garcke, cujo Factory Accounts Seria um exercício interessante e instrutivo seguir a pista destes
(1888) constitui um marco miliário inicial na história inglesa da admi- elementos administrativos, profissionais, arrivistas ou "intelectual-
nistração científica. Elas eram as "novas mulheres" sobre as quais mente superiores" através da teoria Fabiana, especialmente a de Shaw
Shaw escreveu, mas também os "novos homens", elevando-se pelos e Webb; por exemplo, em seu débito para com o economista americano
interstícios da estrutura social e econôn1ica tradicional da Inglaterra F. A. Walker, a versão deles da teoria da "locação da capacidade", na
Vitoriana, ou antecipando uma nova estrutura. preocupação dos Webbs pela "eficiência", que mesmo nos seus primei-
A importância deles entre a liderança Fabiana não pode ser ros anos foi um pilar decisivo da sua crença no socialismo, e numa
numericamente estimada, por que indivíduos como Webb e Shaw variedade de outras - muitas vezes estilísticas - maneiras. Em mui-
valiam mais do que um, mas uma amostra pode apesar de tudo ser ins- tos casos ela é muito mais sofisticada do que o grito do coração do jovem
trutiva. Dos vinte e um que se sentavam na administração Fabiana no J. R. Macdouald, que clamava pelo socialismo como uma "revolução
curso de 1892, cinco eram mulheres, dois trabalhadores, seis provavel- dirigida do gabinete; para ser não de brutal necessidade, mas de desen-
mente membros das velhas classes média e superior (definidas, na fal- volvimento intelectual; para ser, na verdade, nma revolução dos com-
ta de outras indicações, pela educação em Oxford ou Cambridge), e parativamente em boa situação"'. Contudo a presunção de que os pro-
oito provavelmente membros da nova camada profissional da classe fissionais da classe média desempenhariam nma parte muito maior do
média inferior (inclusive um que não pôde ser identificado). que a classe trabalhadora na consecução do socialismo, de que eles pró-
Agora estes membros do que Webb e Shaw chamavam de "nou- prios estariam entre os seus beneficiários, e na verdade que o seu modo
velle couche social e", o "proletariado intelectual", o "proletariado lite- de vida o antecipava, pertence muito firmemente ao Fabianismo.
rário", os "de casacos pretos" ou o "proletariado prorissional" 5 , dese1n- Era evidente naturalmente que o auto-interesse de nma camada
penharam um papel-chave na teoria Fabiana. Não se supunha que eles socialista da classe média não fornecia motivo suficientemente forte
fossem particularmente pobres, embora Shaw insistisse em certas oca- para o progresso do socialismo. Na verdade, mentes claras como a de
siões em "minha própria classe, a dos elegantes-esfarrapados". O sta- Shaw estavam conscientes de que um apelo ao anta-interesse seria
tus deles era simplesmente o então comparativamente fora do comum afastar do socialismo 8 , os membros jovens e socialmente em ascensão
de uma classe média assalariada. Toda a estrntura do socialismo dos das classes profissionais. Já que eles não acreditavam na classe traba-
Webbs gira em torno desses profissionais. Eles são os administradores lhadora ou na luta de classes, eram forçados a recair sobre forças vagas
treinados, imparciais e científicos e conselheiros especializados que tais como o progresso da educação e o esclarecimento de todas as clas-
ses- Webb até reduzir o preconceito de classe a uma espécie de socie-
criaram um tribunal de recursos alternativo do lucro. Pela origem eles
dade debatedora eternaº - e ao crescimento de nma cousciência e
surgiram principalmente da classe capitalista, mas o crescimento da
altruísmo social. Admitidamente isto não foi completamente insípido
democracia e da instrução abriu suprimentos alternativos de trabalha-
como parece. Tanto o progresso do esclarecimento - o reconheci-
dores mentais, e eles portanto seriam cada vez mais recrutados de
mento da racionalidade do socialismo - como o da consciência social
baixo. Desde 1888 O li vier havia notado a separação crescente da pro-
da classe média refletiam "nossa consciência crescente" da tendência
priedade e da administração no co1nércio, e assim a ascensão de urna
da evolução, estimulada ignalmente pela necessidade de as classes
classe de administradores assalariados, e os Webbs prestaram particu-
médias chegarem a um acordo com o eleitorado da classe trabalhado-
lar atenção ao crescimento das novas profissões, que eles considera-
ra1º. No entanto a questão era que não se esperava que este reconheci-
vam corretamente como, geralmente, tendo status assalariado. E no
mento da racionalidade e uecessidade do socialismo encoutrasse qual-
ato dessas profissões, do funcionalismo público em diante, eles viram
quer resistência fundamental da classe média. Uma vez estimuladas,
uma alternativa funcional para um sistema no qual os homens trabalha-
303
302
elas perceberiam, por assim dizer, que esta forma de organização pos que afetavam o status social de uma aristocracia proprietária de
social lhes servia tão bem senão melhor do que a capitalista. De qual- terras), na falta de um eleitorado da classe trabalhadora e de qualquer
quer maneira, os Fabianos nunca deixaram o seu socialismo da classe movimento trabalhista disposto ou capaz de desafiar a estabilidade
média numa tendência a fazer favores à classe trabalhadora, ou uuma social. Do lado militar e político repousava sobre a estabilidade do
transferência consciente de fidelidade de classe. O deles continuou um equilíbrio do poder de 1815, que deixou a lnglaterra no controle dos
socia1ismo dos "comparativamente em boa situação". mares e co1n uma voz decisiva nos negócios internacionais. As refor-
À primeira vista parece estranho para corpos de homens que mas eleitorais da década de 1860, as unificações dos EUA e da Ale-
representam, se é que representam, uma camada social de poder, manha, a emergência do Japão, e a "Grande Depressão" depois de
influência e prosperidade crescentes dentro do capitalismo, erguerem 1873 minaram todos estes três pilares.
a bandeira do socialismo em seu próprio benefício; mesmo a de um Em conseqüência, o conjunto de crenças teóricas que dominaram
socialismo deliberadamente gradualista e não-revolucionário. Na ver- a Inglaterra médio-Vitoriana, como a aliança Whig-Liberal-Radical
dade, contudo, a situação intelectual peculiar da Inglaterra ajuda a que forneceu suas maiorias parlamentares quase intactas de 1846 até
explicar porque os Fabianos fizeram isso. 1874, rompeu-se. Uma mudança do pensamento "individualista" para
"coletivista" reflete o ajustamento intelectual necessário. Deve-se
notar, para começar, que este era um problema intelectual do liberalis-
III mo, porque nenhum outro corpo coerente de doutrina estava disponí-
vel. Não havia, para fins práticos, nenhum socialista, e os conservado-
A estrutura econômica e política- e com ela a intelectual - da res que ensaiavam pensar em vez de sentir eram, pelo inenos em suas
Inglaterra no meio do século dezenove repousava sobre três apoios, teorias econômicas e legais, liberais. Daí, não só a grande maioria dos
todos os quais estavam declinando mais on menos rapidamente entre socialistas nativos da classe média (ou qualquer outra) do renascimen-
1865 e 1890. Economicamente elarepousavaemnosso monopólio vir- to da década de 1880 começarem suas vidas intelectuais como Radi-
tual da produção industrial mundial, c numa economia excepcional- cais-Liberais, como- mais paradoxalmente- a tomada sistemática
mente "livre" de escala razoavelmente pequena, dirigida pelo dono, por empréstimo da atitude "prussiana" em relação ao Estado e sua jus-
firmas particulares competitivas que cresceram sob ela, e uma riqueza tificação Hegeliana veio via T. H. Grcen, um radical de esquerda; os
de recursos espontanea1nente acu1nulados ou exploráveis que torna- Milners, Llewellyn-Smiths, Morants, Haldanes, e outros reformado-
vam desnecessária a organização elaborada ou o planejamento dos res da máquina do Estado vieram do interior dos mesmos círculos inte-
investimentos ou da produção. Isto, por sua vez, proporcionava a base lectuais de ou em torno de Oxford, e as ideologias imperialistas siste-
de uma ortodoxia de liberalismo econômico laissez,faire que tinha a máticas foram no primeiro exemplo elaboradas não só pelo ex-radical
força da lei natural: um mundo no qual, como na física Newtoniana, os Disreli, como pelos esquerdistas políticos da safra mais recente tais
preços como a água encontravam o seu nível natural, os salários, como como Dilke, Chamberlain e Ceei! Rhodes. O passado liberal ou radi-
as pedras, quando aumentados pouco naturalmente, devia1n descer, e cal deles indicava pouco mais do que alguma animação intelectual. É
canecas de um quartilho não comportavam litros. Era uma ortodoxia tão ilegítimo supor que a teoria do maduro Sidney Webb foi tirada do
que virtualmente não fazia nenhuma provisão (pelo menos no campo radicalismo ortodoxo da sua juventude, como supor que o maduro Mil-
muito importante da produção) para a "interferência do estado", cujos ner ou Haldane tiveram a aprovação de John Stuart Mill.
efeitos, quando não dirigidos "com o único propósito de desestabilizar Já que a teoria liberal apareceu para ser tão completamente com-
a interferência do Estado" 11 devia ser ruinosa. Politicamente repousa- prometida com laissezcfaire - algumas modificações marginais e a
va no compromisso peculiar de 1832, pelo qual os velhos governantes disposição dos interesses seccionais de exigirem dispensa cotno casos
políticos aplicaram a política dos fabricantes (exceto em certos cam- especiais, dificilmente afeta o argumento - o curso mais óbvio pare-

304 305
ceu ser procurar justificações alternativas de "interferência coletivis-
argumento destruidora da confiança, que (como toda a ala Jacobina do
ta" ou do "Estado". Tudo isto tenderia automaticamente a ser conside-
radicalismo à qual ele pertenceu) permitia muito mais no sentido da
rada como "socialista", termo esse, mesmo cm 1897, nas palavras de
ação coletiva do que o laissez-faire. Por outro lado urna variedade de
um francês inteligente chegado aos Fabianos, que significava não mais
tradições não-liberais possíveis - principalmente estrangeiras -
do que qualquer doutrina oposta ao laissez-faire ... e que concede à
podiam ser coibidas para elaborar uma teoria alternativa do laissez-
sociedade, qualquer que seja a forma, o direito de intervir na produção
faire: o Hegelianismo alemão na filosofia, os econon1istas históricos e
e acima de tudo na distribuição da riqueza''.
Kathedersocialisten (também alemão), os Positivistas (franceses), e o
Ele não tinha até a década de 1880 nenhuma ligação com qual-
verdadeiro socialismo (tanto francês como alemão). Todos estes tinham
quer movimento socialista nativo, porque não havia nenhum, e os a vantagem de não estarem historicamente entrelaçados com O laissez-
estrangeiros eram remotos demais para parecerem ameaçadores. Ele
jaire. Ambos os enfoques tinham os seus campeões. Mas duas coisas
foi na verdade o simples antônimo do laissezcfaire, e usado corno tal devem ser notadas. Primeiro, que o modo normal do progresso da
- algumas vezes em preferência deliberada ao seu uso atual - pelos esquerda do radicalismo-liberal era via um desenvolvimento das idéias
vários escritores não-socialistas e até por alguns do começo do movi- radicais, porque a localização normal da esquerda inglesa no passado
mento socialistau. Embora ele normalmente, mas de maneira alguma imediato tinha sido no flanco esquerdo do Partido Liberal. Era natural
invariavelmente, tivesse alguma espécie de ligação com o bem-estar que a Federação Social Democrática se desenvolvesse de uma aliança
social e a condição do pobre como a frase "problemas sociais", não ti- dos clubes radicais de trabalhadores, que Henry George fornecesse a
nha mais nenhuma e podia ter menos. O Arquidiácono Cunningham, ponte entre o Radicalismo e o Socialismo para tantos dos primeiros
pioneiro da história económica, esboçou o Progresso do Socialismo na socialistas ingleses, e que o movimento trabalhista se recusasse - não
Contemporary Review de 1879 e concluiu que "os capitalistas recebe- totalmente logicamente- a opor os Conservadores contra os Liberais na
rão bem qualquer reorganização comercial que lhes dê uma vida mais política. Inversamente, os corpos que romperam deliberadamente com
calma. Isto é, acreditamos, não um remédio para as inisérias do pobre, a teoria liberal (outros além dos Marxistas com consciência de classe),
1nas um alívio aos cuidados do rico de que o socialismo está descendo normalmente representavam tendências imperialistas, dos grandes
sobre nós". Ele parece ter considerado o capitalismo de Estado racio- negócios ou outras frouxamente classificáveis como "de direita" 1'1•
nalizado que recomendou como aparentado do Marxis1no. A necessi- Agora os Fabianos - de qualquer maneira o grupo que determi-
dade de encontrar alguma alternativa para o laissez-faire, a prontidão nou a política e a ideologia da sociedade - pertencem com muita fir-
em definir qualquer alternativa dessas como "socialismo", e a capaci- meza ao segundo grupo, parte em sua teoria, parte em suas filiações.
dade dos ingleses neste período de distinguirem o "socialismo" do No Methodenstreit internacional dos economistas, que na verdade
movimento da classe trabalhadora, proporcionou portanto um pano de separou os liberais dos antiliberais não-socialistas, os Webbs eram par-
fundo muito adequado para a sua versão peculiar pelos Fabianos* tidários extremos, embora tácitos, da escola "histórica". O débito deles
Contudo, havia, teoricamente, duas maneiras de desenvolver u1na para com os Hegelianos de Oxford é muito menor do que Halévy
teoria social mais proximamente na linha com as realidades do que a supôs, mas não pode haver nenhuma dúvida de que as teorias cozinha-
ortodoxia do laissezcfàire do passado, e especialmente uma que legiti- das em casa que Sidney Webb estava aperfeiçoando (via Spencer e
masse as novas atividades do estado e do comércio. Isso podia ser feito Darwin) antes do seu casamento com Beatrice, corriam surpreenden-
desenvolvendo certos traços do radicalismo liberal, p. ex., a linha de temente paralelas com as deles. É interessante que os Webbs tivessem
encontrado os seus associados políticos mais compatíveis por tanto
tempo no grupo dos imperialistas liberais que formavam em torno
"'Para a calma com que até Marx era considerado neste período, ver o Capítulo 13, O D1:
daquele coletivista Bismarckiano, R.B. Haldane. É igualmente inte-
!Vlarx e os Críticos Vizorianos.
ressante que tanto os Webbs como Shaw devessem- em parte em li-
306
307
nha com o débito deles para com a economia de F. S. Walkcr, o ameri- Primeiro, a composição social da Sociedade Fabianaera peculiar
cano - ter mostrado uma preferência inarcante pelos negócios gran- não só por ser reso1utamente não-proletária, como porque continha
des, ou mesmo monopolistas, sobre os negócios pequenos e médios, uma grande proporção de uma "nouvelle couche sociale", cuja impor-
como sendo ambos mais eficientes, de maior visão, capazes de pagar tância eles reconheciam totalmente. Muito possivelmente em ambos
salários mais altos, e menos comprometidos com o laissez-.faire 15 • estes sentidos ela foi única no movimento socialista internacional.
Estas filiações explicam tanto a anomalia das atitudes Fabianas Embora houvesse muitos grupos socialistas co1npostos na verdade
dentro do movimento trabalhista até a Primeira Guerra Mundial, como principalmente de não-proletários, é difícil pensar em algum que não
a sua ineficácia. Porque na situação real da Inglaterra, aqueles que se reivindicasse o status honorário da classe trabalhadora ou consideras-
desligavam por si mesmos das tradições liberais poderosas e profun- se a si mesmo cm certo sentido como subordinado à classe trabalhado-
damente arraigadas tinham probabilidade de falhar. O paradoxo da ra ou "às massas".
Inglaterra era que mesmo as teorias e políticas mais em desacordo com Segundo, o grupo Fabiano proeminente era tanto não-Marxista
as ortodoxias Cobdenitas do passado, só tinham sucesso até o ponto cm não-Jacobino/radical como não-liberal. Ele considerava não tanto o
que eram aliadas ao liberalismo histórico ou operadas na estrutura capitalismo como o tipo de capitalismo Cobdenita do laissez,faire da
dele. Joseph Chamberlain falhou; Campbcll-Bannerman e Lloyd Inglaterra médio-Vitoriana como seu inimigo imediato e principal.
George tiveram sucesso. Milner e Rhodes eram, nos termos da políti-
Terceiro, a teoria socialista que veio a do1ninar a Sociedade era
ca inglesa, excêntricos; mas os ''imperialistas liberais'' não eram. Ape-
tanto não-Marxista como não-liberal. As filiações dela eram com as
sar disso nenhum dos fracassos Fabianos nem suas filiações faz deles
teorias que, em outros contextos políticos, pertenciam ao imperialis-
simples ideólogos do imperialismo, do capitalismo de corporação e da
mo) grandes negócios, administração do governo e a direita política.
burocracia do Estado que pertence a ele. Eles eram em suas próprias
Os Fabianos que pertenciam a outras tradições tentavam ficar em
inentes socialistas. Se não tivessem sido, provavehnente não teriam
silêncio ou se afastar da sociedade.'' O antiliberalismo da Sociedade
estabelecido ligações com o movimento trabalhista e socialista, quan-
foi, naturalmente, largamente reconhecido, em todos os acontecimen-
to mais gravitado mais no interior da órbita deles. O socialismo deles
tos a partir do meio da década de 1890. "De coração (os seus) princi-
era de um tipo pecualiar, parcialmente porque a rejeição deles da tradi-
ção principal e proletária do socialismo forçou-os a procurarem outra pais líderes são burocratas, não democratas" foi escrito desde 1901,
que não se apoiasse na classe trabalhadora, e a rejeição deles do radi- embora a oposição histórica à "velha gang" sobre estes fundamentos
calismo-liberal fechou algumas outras avenidas teóricas óbvias; par- só tivesse se desenvolvido entre 1966 e 1914. "'
cialmente porque a ortodoxia profundamente entrincheirada e domi- Quarto, as verdadeiras políticas da Sociedade, até pouco antes da
nante do laissez-faire médio-Vitoriano fez realmente as diferenças Primeira Guerra Mundial, estavam quase sempre em desacordo com
entre as teorias que exigem 1naior ação do Estado contra ela parecerem aquelas da maioria das outras seções da esquerda política, radical ou
pequenas e relativamente sem importância. A frase "somos todos socialista. Os Fabianos eram na verdade, até o ponto em que eles se
socialistas agora" parecia menos cínica do que parece hoje. desligaram da esquerda, muito mais sectários do que Marxistas.
Constitui alegação deste documento que estas quatro peculiari-
dades estão intima1nente ligadas umas com as outras. Em caso afirma-
IV tivo, então a revisão da história Fabiana deve ir além da simples redu-

Nenhuma hipótese que procura ligar as idéias com o seu pano de


"'Este foi noladmnente o caso de Williünl Clark e, o ensaísta Fabiano que pertencia mais
fundo social pode ser provada para satisfação total de todos. Podemos finnc111cntc ü tradição Jacobina-radical; de Grahmn Wallas, um liberal instruído e provavelmen-
portanto simplesmente, em conclusão, resumir a evidência principal. te também com Rarnsay l\1acdonald.

308 309
Nova Lei da Reforma de 1891 constituía uma proposta tão utópica
ção quantitativa da influência Fabiana que até agora tem sido a sua como a proposta deles de municipalizar o fornecimento de leite, a
principal realização. Os Fabianos não podem ser considerados, coLno Constituição dos Webbs de uma Comunidade Socialista, ou quanto a
Eduard Bernstein os considerou quando tirou o seu "revisionismo" da isso o Relatório da Minoria da Comissão da Lei dos Pobres completa-
experiência inglesa e dos contatos Fabianos, como simplesmente um mente natimorto. E nada poderia ter sido mais pouco prático do que a
grupo particular1nente empírico, teimoso e anti-romântico dentro do estratégia e táticas políticas reais dos Fabianos durante o período em
movünento socialista inglês, e por este rnotivo os pioneiros da rejeição que eles seguiram objetivos políticos total ou parcialmente fora dos do
ou revisão do Marxismo doutrinário". Ele não pode ser considerado, Partido Trabalhista. (Após isso eles cessaram de ter qualquer política
como o seu último historiador oficial ainda o considera, como o funda- própria, e a história da Sociedade não interessou a ninguém exceto aos
dor de uma "tradição Fabiana básica" da abolição da pobreza através seus membros, ou a alguns especialistas nos casos do Partido Traba-
da legislação e da administração; do controle comunitário da produção lhista na década de 1930).
e da vida social, e da conversão do público inglês e da classe governan- Romper com as implicações passadas do Fabianismo tem que ser
te inglesa ... por uma barragem de fatos e propaganda "inforn1ada" 18 • mais completo do que essa crítica negativa. Eles devem ser considera-
Os Fabianos não eram "revisionistas" no sentido que a palavra dos não como uma parte essencial do movimento socialista e trabalhis-
adquiriu por volta do fim da década de 1890, porque poucos dos seus ta (por mais eficaz ou ineficaz, reformista ou radical), mas como uma
membros mais eloqüentes jamais foram Marxistas (embora vários parte "acidental". A história deles deve ser escrita não em termos do
tivessem estado na Federação Social Democrática), porque o que eles renascimento socialista da década de 1880, mas nos termos das reações
rejeitavam não era simplesmente algumas partes da teoria Marxista- da classe média à destruição das certezas médio-Vitorianas, à ascensão
de maneira alguma todas* - mas o sectarismo e o tráfico de frases da uova camada, novas estruturas, novas políticas, dentro do capitalis-
românticas insurrecionais, que íoi realmente rejeitado por muitas mo inglês: como uma adaptação das classes médias inglesas à era do
outras pessoas, inclusive Frederick Engels, e porque a esquerda ingle- imperialismo. Teríamos então ainda que explicar porque a Sociedade
sa tinha teorias estabelecidas bastante suficientes de mudança gradual surgiu dentro do pequeno movimento socialista da década de 1880 (e
e gradativa sem ter que esperar que os Fabianos as formulassem. Tam- não, como as outras tendências de reforma social ou imperialista das
pouco havia qualquer coisa especificamente nova ou Fabiana quanto a classes média e superior, fora dele ou em sua periferia); porque eles
escrever panfletos eficientes em apoio da esquerda, na verdade até permaneceram dentro da sua órbita, e na verdade gravitaram mais em
sobre assuntos socialistas ou semi-socialistas. A recusa deles de "man- sua direção; e porque vários indivíduos proeminentes entre eles foram
ter opiniões características sobre a Questão do Casamento, Religião, sempre, co1no demonstrou o desenvolvimento subseqüente deles,
Arte, Economia Abstrata, Evolução Histórica, Meio Circulante, ou socialistas dentro do sentido tradicional do termo, e não simplesmen-
qualquer outro assunto além dos seus próprios interesses especiais de te pessoas que usavam a palavra socialismo como um pseudônimo
Democracia e Socialismo práticos" 19 (inclusive política e guerra exter-
vago ou conveniente para fins que, fundamentalmente, não implica-
vam a socialização da econo1nia.
na), não provaria ser a Sociedade particularmente prática, mesmo que
Estas são perguntas secundárias, especialmente a última, que
isso fosse verdade. A capacidade deles de esboçarem medidas especí-
podem ser em grande parte reduzidas ao problema biográfico de
ficas de reforma só seria um sinal de teimosia se eles tivessem também
alguns indivíduos. Apesar de tudo devem serrespondidas. Contudo, se
analisado (como raramente faziam de qualquer maneira eficiente)
os Fabianos são considerados, como sugeri, como a expressão de uma
como estas reformas poderiam ser implementadas. Por falta disto a
"nova camada social", elas podem ser respondidas sem muita dificul-
dade. Porque a posição dos novos quadros assalariados profissionais,
':'Poucos Marxislas teriam discordado scriamcnle, ou discordaram, do ensaio de William administrativos, tecnológicos e intelectuais do capitalismo pós-lais-
Clarkc sobre a Base Industrial do Socialismo nos Ensaios Fabianos.

311
310
sez-faire tem dois gumes. Geralmente indispensáveis nas versões
1nodernas da economia capitalista, muitas vezes recrutados nas classes cientemente de acordo com a sociedade para se sentir útil socialmen-
médias estabelecidas ou assemelhados socialmente (e no caso dos te. Entre as muitas falhas dos Fabianos, a falha de analisar a natureza e
administradores industriais, financeiramente) à classe rica, nem a ini- a base histórica do seu modelo da elite socialista não é a menos sur-
ciativa privada nem o n1otivo do lucro são essenciais para o funciona- preendente.
mento deles'º. Além do mais (como no caso dos Fabianos), eles cons- Nossa segunda pergunta já está em parte respondida. O resto da
tituem muitas vezes uma elite de inteligência e capacidade, recrutada resposta, sugerimos, é a seguinte. O Fabianismo emergiu na Inglater-
de baixo. Pode haver motivos sociais e históricos para que os membros ra e não em outra parte, porque na Inglaterra a "nouvelle couche socia-
dessa camada devam considerar sua fortuna ligada à do capitalismo, le" era realmente nova. O administrador ou burocrata instruído mais
mas, como Sidney Webb nunca se cansava de repetir, não niotivos.fun- velho, o gerente ou o co1nerciantc tecnologicamente ou cientificamen-
cionais. Um "socialismo" igualmente adaptável para funcionar sob o te treinado, até o trabalhador de escritório, ou quanto a isso um sistema
capitalismo pós-laissez,faire ou o socialismo expressa esta situação nacional de educação primária, secundária e superior, constituíam
perfeitamente. lugar comum naAlemanha e na França desde o com eco do século deze-
Surgem duas perguntas finais, se o argumento até agora tem sido nove, mas não na Inglaterra. Até 1897 um observador capaz da cena
aceito. A primeira é por que os principais Fabianos deviam ter espera- inglesa'' ainda podia se maravilhar com os primeiros resultados da
do, na situação real da Inglaterra, que a "nova camada social" abando- educação e seleção primárias por meio de exames. Os primeiros meni-
nasse a tentação da vida regalada capitalista pelas recompensas menos nos da Escola Semi-Interna de Londres que entraram para o alto fun-
tangíveis do socialis1no; a segunda, por que e1n termos sociais essa c10nalismo público, a Igreja ou o ensino nas escolas públicas, valem
ideologia deve ter surgido nesta ocasião na Inglaten-a e não em outra mnda a pena ser lembrados pelo nome. A transformação do jornalismo
parte. numa "profissão liberal que atraia especialistas de todos os tipos para
A primeira destas perguntas pode também ser respondida com as suas colunas" foi uma questão de ontem. A administração pública,
razoável facilidade. A opinião Fabiana de que recompensas o profis- que havia crescido modestamente para pouco mais de 100.000 homens
sional devia esperar é clara. Em ter1nos materiais elas são, como ocupados em 1881 estavam prestes a subir para quase 300.000 cm
vimos, "uma certa concepção do que constitui um modo de vida ade- 191 l; as profissões (e seus serviços subordinados) que haviam subido
quado numa (determinada) classe da sociedade ... (e) uma renda que de um terço entre 1851 e 1881, estavam prestes a subir de dois terços
represente esse padrão" 21 • E1n ter1nos não materiais elas são inais as nos trinta anos seguintes. Estava surgindo u1na nova camada. Nunca é
recompensas do trabalho intere8'ante e criativo, "uma vida de interes- fácil para um grupo desses, especialmente em suas primeiras fases, se
se fascinante para o exercício da faculdade, e na consciência do servi- adaptar numa estrutura social não projetada para contê-lo, e que ele
ço prestado, do que acumular riquezas para si mesmos e seus descen- não é suficientemente forte para modificar. O socialismo da classe
dentes "22. É interessante que o escritor e especialmente o cientista média dos Fabianos reflete a relutância, ou a incapacidade, das pessoas
devam servir de modelo Fabiano aqui, poré1n mais interessante ainda por quem eles falavam, de encontrar um lugar firme na estrutura da
que o profissional socialista do futuro deva parecer tão admiravelmen- classe média ou superior do fim da Inglaterra Vitoriana.
te o tipo ideal do profissional liberal da classe média da Inglaterra Vito-
riana: em situação suficientemente confortável para não precisar per-
seguir o dinheiro por motivos inateriais, suficientemente seguro num
nível social aceito e respeitado para não ter genuinamente inveja do
rico ocioso ou dos aproveitadores comerciais, suficientemente interes-
sado em seu trabalho para persegui-lo no seu próprio interesse, e sufi-

312
313
NOTAS
APÊNDICE

Composição Social da Sociedade Fabiana 1890-1907 (a) Sem membros provinciais.


(b) Estimativo. Os membros TU foram tomados como critério.
1890 1892 1904 1906 "Não dos ofícios" refere-se a homens como Keir Hardie, nessa época
Nú1nero total de 1ncmbros 188 626 (a) 767 1060 políticos ou funcionários c1n te1npo integral.
Tamanho da ainostra 67 197 194 244 (e) Estimativo. As pessoas que se acreditavam ganhar a maior
Trabalhadores dos ofícios
parte da sua renda ou passar a maior parte do seu tempo escrevendo
7 48 19 15
não dos ofícios 2 6 15 19
foram contadas. Este grupo se superpõe com o (4).
(d) Trabalho em instituições, organizações de caridade, Parla-
Total (h) 9 54 34 34 mento, organização em tempo integral ou propaganda. Os números
E1npregos da classe média:
( 1) Jornalistas, escritores(e) 12 32 19
não incluem os "Trabalhadores não dos ofícios" semelhantes.
31
(2) Universidades 4 10 33 44 (e) Apenas alguns destes são Altos Funcionários Públicos.
(3) Professores 5 17 13 14 (j) Pintura, artesãos, teatro, música. As firmas técnicas de arte,
(4) Sociais e Políticos (d) 4 6 9 13
(S) Funcionários Públicos (e)
como Morris Emery Walker estão, contudo, sob (10).
6 8 13 13
(6) Lei 2 3 7
(g) (9) e ( 1O) são muito hipotéticos. (9) compreende lojistas, pre-
(7) Negócios, c01nércio 3 5 8 8 gadores de cartazes, tipógrafos, corretores de apostas, donos de pen-
(8) Arte' (j) 3 5 6 9 são, agentes de seguro, viajantes comerciais e empregados. (10) inclui
(9) "'Classe média inferior'' (g) l4 5 9
( 10) "Profissionais" (g) 5 8
cientistas, técnicos, contadores, editores, bibliotecários, serviços
4 6
(ll)Médicos 4 5 13 17 administrativos e de salários inais altos. Mas os dois são reunidos
(12) Clero 11 28 31 19 melhor como "de casacos pretos".
Mulheres 49 117 140 253

116 314 334 497


NOTAS

1. The Trades Union Congress 1868-1921 (Londres 1958) de B.C. Roberts, pp.
Para este período estão disponíveis várias listas impressas dos
360.4.
membros, das quais tentei descobrir as ocupações de tantos Fabianos 2. The Story qfFahian Socia/is1n (Londres l 961) de M.l. Cole, p. 252.
quanto possível. As fontes para esta análise são numerosas demais para 1. Our Patnership (I"ondres 1948) de B. Wehb, p. 490.
mencionar, mas -tal era o caráter da Sociedade Fabiana- há indica- 4. "The personal duty ofthc rich"' no The Christian Socialist IV. 1858, p. 427.
ções biográficas disponíveis para uma boa quantidade de membros. A 5. Cf. segundo en::.aio Fabiano de Shaw, Fabian Tract 41, pp. 26-8; Socialisn1 in
En;:;land de S. Webb. p. 37; Memorando de Sh::nv sobre aConüssão Fabianade Refor-
amostra resultante não é, naturalmente, representativa. O número de
ma de l 3 de dez. 1911 nos Fabian Papers; os Webbs no New States1na11 I, p. 686 e,
ministros religiosos, médicos e sindicalistas, que tem probabilidade de desenvolvendo a leoria n1ais co1npletan1ente, en1 Decay oj'Capitalist Civi/ization, pp.
ser 1nais ou 1nenos exaustivo, pode servir corno u1na verificação dos 121-5.
restantes. 6. Cf, Socia/is1n and Superior Broins, l 894 de G.B. Shaw (Fabian Tract 146,
Os grupos 1-1 O incluem algumas mulheres cujas profissões são 1909) disperso. 1na:-. esp. pp. IS- 18; The Case for Equality (Clube Liberal Nacional,
conhecidas; mas a maioria ainda não estava profissionalmente ocupada. Círculo Político e Econômico. H. elatórios: SS, 1913), pp. 6-7. O argu1nento de Shaw é
principaln1ente a favor de rendas iguais, en1bora deva-se notar que isso iinplica-e na
verdade :.e regozija·--· a superioridade do talento da elite profissional. Mas pode U:nn-

315
314
bém ser to1nadu, é pelos Webbs ele foi assim tornado, como u1n argu1nento para o 19. Shaw em F. Tracl 70, p. 3.
incentivo socialista em face do incentivo capitalista para o trabalho. Isto, nu1na formu- 20. "E da mesma forma como um gerente se tornou necessário para qualquer
lação 1nodesta é: "Para onde quer que se volte encontra-se en1 cada classe da socieda- empreendimento de ta1nanho mais do que insignificante, também podemos prever
de tuna certa concepção do que constitui um modo de vida adequado a essa classe da
com confiançaque ... ele pcrn1anecerá por todo o tempo um funcionário indispensável,
qualquer que seja a forma da sociedade.'' The Works Ma1iagerTo-dayde S. Wcbb (Lon-
sociedade; e todos nela têm por fim e exigcn1 uma renda que represente esse padrão.
dres 1917), pp. 5-6. Todo este livrinho é extre1na1nente revelador.
Ninguém pede seriamente para ter mais do que outras pessoas da sua classe" (The
21. The caseforequali~v de Shaw, p. 6. Cf., també1n Works Managerde Wcbb,
Case. p. 6). Numa formulação mais ambiciosa é "a própria prin1eira peculiaridade da
p. 156.
capacidade excepcional, ou seja, a de, ao contrário da sünples capacidade bruta para a
22. Works Managerde Webb, p. 157.
labuta do trabalho de rotina, ele é exercido cn1 seu próprio benefício, torna o seu pos-
23. Social Tran.)formations of the Victorian Age (Londres 1897) de T.H.S.
suidor o mais miserável dos hon1ens se for condenado à inação". (S. e S. B., p. 18).
Escott.
7. To-day, N.S. 7,jan.-junho 1887, pp. 67-8.
8. "Embora a presunção deva ser sernpre de que nossos recrutas das profissões
e dos negócios tenham se juntado a nós, se não lhes faltasse a energia excepcional e o
jeito prático que ainda pernlite aos homens fazere1n fortunas ... Falando por mim ines-
n10 como profissional. .. posso dizer que quanto mais minha capacidade se torna
conhecida, mais 1ne vejo pressionado a atirar cotn a pá guinéus dentro dos meus pró-
prios bolsos cm vez de escrever docu1nentos Fabianos ... Todo cavalheiro solteiro
jovem esperto e de bom coração aprecia de dois a dez anos de desinteresse, durante os
quais bom trabalho pode ser obtido dele, inas a longo prazo ele fica cansado de ser
desinteressado." F. Tract 41, p. 27.
9. "Durante toda a história duas opiniões são possíveis, e deve1nos adotar uma
ou outra segundo o nosso conhecin1ento e te1npera1nento." F. Tract 69, 1896, p. 17.
10. Ibid., pp. 4, 6.
11. StateAidandState lnte1:ference (Londres 1882) de G.S. BadenPowell, p. 29
12. Le socialisrn enAngleterre (Paris 1897) de A. Métin, p. 20.
13. Cf Some Leading PriHciples de Cairncs, p. 316, objetando ao uso da pala-
vra por J. S. Mill; Principies of Political Econo1ny, de Sidgwick, p. 527.; L(fC of"Coh-
den (cd. 1903) de Morley, p. 303.
14. Cf., o excelente lmperialisn1 and Social Reform (Londres 1960) de B. Se1n-
mel.
15. Em acréscimo às passagens ben1 conhecidas de Bcatrice Webb (Our Part-
nership, p. 205) e de Sha\V (Undershaft em Major Barbara, o único meio-irônico
Socialismfor Millionaires), vale a pena fazer referência a Moral Aspects ofSocialism
de Sidney Ball (F. Tract 72, 1896), com sua defesa da concentração industrial - "utn
monopólio, não do privilégio 1nas da eficiência'', e csp. The Trust Movement in British
Jndustry (Londres 1907) de H.W. Macrosty. O autor, funcionário público graduado e
n1embro da administração Fabiana, opõe-se à destruição do truste, e justifica as com-
binações inglesas por sere1n dependentes "unica1nente da sua eficiência como instru-
mentos de produção e distribuição" (p. 345).
16. Labour Leader 8 junho 1901. Cf., ta1nbén1 E. Aves em Economic Journal,
1898, p. 512; Denu;cracy and Reaction, 1904, de T. Hobhouse, e The Nation 1907, p.
182 (The career of Fabianistn").
17. Zur Theorie und Geschichte des Socialismus IT (Berlim 1904), p. 38.
18. The story of Fahian Socialism (Londres 1961) de Margarct Cole, XIV.

316 317
15

A ARISTOCRACIA DO TRABALHO NA
INGLATERRA DO SÉCULO DEZENOVE

A EXPRESSÃO "ARISTOCRACIA DO TRABALHO" parece


ter sido usada desde o meio do século dezenove pelo menos para des-
crever certa camada superior distinta da classe trabalhadora, mais bem
paga, mais bem tratada e geralmente considerada como mais "respei-
tável" e politicamente mais moderada do que a massa do proletariado.
Este ensaio é uma tentativa de pesquisar o que sabemos a respeito dos
aristocratas do trabalho do século dezenove. Ele divide-se em três par-
tes: introdução geral; tentativa de estimar o tamanho da camada nos
vá'ios períodos, e uma discussão de alguns problemas especiais dela.

!. ALGUNS PONTOS GERAIS

As subdivis6es do século dezenove

A história do século, e com ela a da classe trabalhadora, divide-


se em três períodos razoavelmente bem definidos, cada um dos quais
consiste de uma fase de prosperidade comercial geral (da década de
1780 até o fim das Guerras Napoleónicas, da década de 1840 até o
começo da de 1870, do fim da de 1890 até a Primeira Guerra Mundial)
sucedida por uma fase de dificuldades comerciais gerais (181 S -

319
década de 1840, a "Grande Depressão" da década de 1870- a de 90, derados como aristocratas do trabalho no sentido nacional - por
a crise entre as guerras). O primeiro período (década de 1780- a de exemplo, os carvoeiros de gás, quase dois terços dos quais ganhava
1840), a idade clássica da "Revolução Industrial" presenciou o nasci- 35s. por semana cm 1906'. Contudo, em certos casos, eles se conside-
mento da moderna classe trabalhadora. O segundo (da década de 1840 ravam como aristocratas comparados com a massa dos seus colegas de
- a de 90) presenciou o capitalismo tal como erigido sobre os primei- trabalho; como por exemplo, os estivadores de Londres, se compara-
ros fundamentos, reinar supremo. Ele pode ser considerado como o vam com os trabalhadores comuns das docas.
período clássico da aristocracia do trabalho do século dezenove. Com
o terceiro (década de 1890- 1939) entramos na era do imperialismo A natureza da aristocracia do trabalho
e capitalis1110 de 1nonopólio e, tecnica111ente falando, do desenvolvi-
mento da produção em inassa, e a grande expansão das indústrias Socialmente falando, a camada mais bem paga da classe traba-
secundárias e terciárias. Entramos também no período da crise perma- lhadora fundiu-se com o que pode ser imprecisamente chamado de
nente da economia capitalista inglesa. Contudo, as mudanças mais sur- "classe média inferior". Na verdade a expressão "classe média infe-
preendentes ocorreram depois de 1914. A primeira metade do período rior" foi usada algumas vezes para incluir a aristocracia do trabalho 2 •
foi incluída nesta discussão, principalmente porque a massa de pesqui- Na primeira parte do século isto teria significado principalmente lojis-
sas estatísticas feitas entre 1890 e 1914 lançam uma luz retrospectiva tas, alguns patrões independentes, capatazes e gerentes (que eram
inestimável sobre o século dezenove. geralmente trabalhadores promovidos). Perto do fim do século teria
significado também empregados e assemelhados.Assim em Bolton na
O que é a aristocracia do trabalho? década de 1890, ela incluía "os empregados, guarda-livros, gerentes
mais bem pagos e a melhor parte do pessoal trabalhador"' (em contra-
Não há nenhum critério único, simples, de participação na aris- posição aos patrões, clérigos, solicitadores, médicos, comerciantes em
tocracia do trabalho. Pelo menos seis fatores diferentes devem, teori- larga escala"). Em Salford, mais ou menos na mesma época, ela incluía
camente, ser considerados. Prirneiro, o nível e a regularidade dos ga- "viajantes comerciais( ... ) empregados, tipógrafos litográficos, marce-
nhos do trabalhador; segundo, suas perspectivas de securidadc social; neiros, assistentes de marceneiros, descendo até os carvoeiros"'1 -
terceiro, suas condições de trabalho, inclusive a maneira como ele foi sendo os trabalhadores aristocratas habilitados, se se pode falar em
tratado pelos capatazes e patrões; quarto, suas relações com a camada superioridade, superiores em status social a muitos trabalhadores
social acima e abaixo dela; quinto, suas condições gerais de vida;final- burocratas. O quadro mais abrangente desta camada composta é dado
mente, suas perspectivas de progresso futuro e as dos seus filhos. pela Comissão Departamental sobre Professores deAlunos,jáque esta
Destes o primeiro é incomparavehncnte o mais importante, e também ocupação parece ter sido recrutada principalmente dos seus filhos. Em
o único sobre o qual temos alguma coisa como informações co1nple- Birmingharn eles vinham dentre os filhos dos trabalhadores (40 por
tas, embora inadequadas. Podemos portanto usá-lo como nosso crité- cento) e gerentes de pequenas oficinas, empregados (15 por cento) e
rio principal. Durante todo o século o homem que ganhava um bom pessoal dos ofícios. Em Merthyr eles vinham dentre os carvoeiros já
salário regular era també1n o ho1nem que economizava o suficiente que pratica1nente inais ninguém morava lá) "ou de uma classe ligeira-
para evitar a Lei dos Pobres, para inorar fora das piores áreas de corti- mente afastada dela - a dos capatazes das minas de carvão e capata-
ços, para ser tratado com algum respeito e dignidade pelos patrões e zes de turma como os chamam". Em Bradford eles vinham de uma
para ter alguma liberdade na escolha do seu emprego, para dar aos seus "classe melhor", em Manchester dentre "trabalhadores, mecânicos ou
filhos chance de uma educação melhor e assim por diante. A regulari- pequenos lojistas", em Lambeth da "classe dos artesãos e da classe dos
dade dos ganhos é importante. Os trabalhadores que ganhavam salá- comerciantes", em Exeter dos "empregados e uma certa proporção de
rios bons, mas irregulares ou flutuantes, não eram normalmente consi- capatazes ou caixas das lojas". Os candidatos a uma escola de treina-

320 321
mento de Chelsea eram recrutados dos carpinteiros e marceneiros, dos Novos Sindicatos de 1889 acreditava-se que as fronteiras da aris-
empregados, jardineiros, alfaiates e negociantes de tecidos, viajantes e tocracia e do sindicalismo deviam normalmente- porque as grandes
agentes comerciais, maquinistas, ferreiros e carpinteiros de rodas, pin- ondas de organização geral e não-habilitada eram temporárias-coin-
tores, operadores de máquinas das fábricas, gerentes ou subgerentes das cidir, até onde estas fossem afinal quaisquer sindicatos. "Como 0 seu
fábricas, merceeiros, fabricantes de botas e calçados, marceneiros, titulo de 'não-habilitado' indica", escreveu A Working Man, "ele não
fazendeiros, contadores e mordomos (bem como órfãos e prol'essores tem nenhu1n ofício manual e nenhun1 sindicato." 9 Na verdade acredi-
de colégio)5 • Contudo, devemos nos lembrar que muitas comunidades tava-se co1numente que os sindicatos não constituíam grupos de traba-
inglesas do século dezenove consistiam quase completamente de traba- lhadores tão fortes para indicar que eles já eram fortes"'. Havia verda-
lhadores manuais, 6 de forma que a aristocracia do trabalho seria vir- de nesta identificação da aristocracia do trabalho com os sindicalistas:
tualmente pura. o registro sindical de Londres de 1871 mostra como eram poucas, e
Este sombreamento da aristocracia do trabalho em outras cama- como eram fracas, as filiais dos sindicatos nos distritos do East End".
das é importante, porque ajuda a explicar suas atitudes políticas. Assim A fronteira entre a aristocracia do trabalho e as outras era muitas vezes
o seu radicalismo-liberal persistente no século dezenove é facilmente geográfica.
co1npreendido, *como també1n o seu fracasso em organizar um parti- Entre os "trabalhadores" e a aristocracia do trabalho viviam tra-
do independente da classe trabalhadora. Só quando o imperialismo balhadores que não pertenciam a nenhum dos dois grupos, mas se dis-
começou a separar a aristocracia do trabalho (a) da classe gerencial e farçavam em cada um: trabalhadores em melhor situação, trabalhado-
do pequeno patrão com a qual ela havia se fundido e, (b) das classes res habilitados comuns e outros parecidos. Nenhuma linha nítida
vastamente expandidas dos burocratas - uma aristocracia do trabalho separava a aristocracia do trabalho destes, embora o aristocrata certa-
nova e politicamente conservadora- o partido trabalhista a atraiu. mente se considerasse superior em espécie a estes "homens que, embo-
Se as fronteiras da aristocracia do trabalho eram fluidas de um ra muito honestos e ansiosos de se saírem bem, por deficiência de ins-
lado do seu território, era1n precisas do outro. Um "artesão" ou "artífi- trução contudo, e talvez alguma por falta de força moral e coragem( ... )
ce" não deve sob nenhuma circunstância ser confundido co1n um "tra- não (são)( ... ) iguais à primeira classe de homens."" Na verdade 0
observador superficial pode algumas vezes considerar a classe traba-
balhador". "O credo do artesão em relação ao dos trabalhadores é que
lhadora simplesmente como um complexo de grupos e graus seccio-
os últimos são uma classe inferior e que devem fazê-los conhecer e
nais com suas superioridades e inferioridades sociais, se1n observar as
ficarem no seu lugar." 7 O secretário do Sindicato dos Fabricantes de
distinções importantes.
Caldeiras ficou espantado à idéia de permitirem a um trabalhador fa-
zer o serviço de um artesão porque "não seria desejável para u1n
homem de uma classe ir para outra classe"; o secretário dos Operários
II. O TAMANHO DA ARISTOCRACIA DO TRABALHO
Fiandeiros estava certo de que seus ho1nens eram diferentes dos en1en-
dadores de fios c dos menos habilitados em geral em sua capacidade
Até a década de 1840
superior. "Os patrões têm tido uma esplêndida seleção e eles selecio-
nam os gigantes( ... ) na capacidade de trabalho."" Antes da ascensão
Há dúvidas se neste período podemos falar afinal de uma aristo-
cracia do trabalho, embora seus elementos já existissem. Há até dúvi-
*'Antes do período do imperialismo, oco1Te1n grupos conservadores entre a aristocracia das se podemos falar afinal de um proletariado num sentido desenvol-
do l1-abalho, p. ex., entre os fiandeiros de algodão. 1nas podem normalmente ser explicados por vido, porque esta classe ainda estava no processo de emergir da massa
circunstâncias especiais tais cmno a oposição liberal its [,eis da Fábrica, fraqueza local excepcio-
nal das seitas não-conformistas, dependência de uma clientela aristocrática, emergência recenlc
dos produtores secundários, pequenos patrões, camponeses, etc., da
de mn amhiente conservador no campo ou na cidade pequena, etc. No todo eles são excepcionais. sociedade pré-industrial, embora em certas regiões e indústrias ela já

322 323
tivesse tomado forma razoavelmente definida*. Isto torna o processo primeiro Censo que fez respostas - parciais - distinguindo os ofi-
de análise extremamente difícil. Neste período é provavelinente mais ciais dos operários) cerca de 80 por cento dos oficiais alfaiates, cerca
simples trabalhar com o conceito de "pessoal que trabalha" ou "pobres de 71 por cento dos oficiais fabricantes de calçados, quase 90 por cen-
que trabalham" que estava então muito em uso, 13 isto é, incluir todos to dos oficiais ferreiros empregavam 0-2 homens, embora cerca de 60
aqueles que eram explorados e oprimidos pelo capitalismo industrial por cento dos oficiais construtores, pouco mais de 60 por cento dos cur-
em um grupo: proletários definidos, trabalhadores fora semiproletá- tidores, bastante mais de 50 por cento dos cervejeiros e bem menos da
rios, pequenos produtores e comerciantes revoltados com os grandes metade dos fabricantes de máquiuas e motores empregavam entre 3 e
capitalistas, e as formas transitórias e intermediárias entre eles 14 • Ape- 19 homens. (Os três primeiros grupos compreendiam 8 por cento da
sar de tudo pode ser útil do ponto de vista da análise isolar essa seção população masculina não-agrícola de dez anos e mais, os quatro segun-
da dos "pobres que trabalham" que pode ser considerada como prole- dos um pouco mais) 17 • Podemos presu1nir portanto, co1no estimativa
tária, isto é, que consiste substancialmente de trabalhadores assalaria- grosseira, que uas indústrias não-transformadas radicalmente os assa-
dos que não possuíam nenhum meio importante de produção. lariados podiam constituir uma média entre 50 e 80 por cento da popu-
Não temos nenhuma estimativa geral da proporção dos "pobres lação ocupada, constituindo os não-trabalhadores pelo menos metade
que trabalhavam" que eram proletários, principalmente porque os dela, e provavelmente muito mais. (A indústria de construção é excep-
estatísticos contemporâneos classificavam automatica1nente os traba- cional entre as indústrias de ofícios pela alta proporção dos trabalha-
lhadores habilitados e especializados com os patrões e produtores dores em relação aos artesãos). Dois exemplos de evidência a respeito
independentes, distinguindo os patrões apenas na agricultura, embora do assunto podem ser dados pelo que valem. Uma investigação na
habitualmente isolassem os "trabalhadores" - isto é, os não-habilita- cidade de Hull em 1839, que distinguiu os artesãos empregados dos
dos, os mineiros e grupos semelhantes como uma classe separada 13 • Se não-empregados, mostra cerca de 75 por cento da população ocupada
tomarmos essa seção do país que ainda era pré-industrial, isto é, aque- como sendo de trabalhadores 1·'. Um único contador zeloso em New-
les e1npregados "no comércio varejista e em ofícios manuais como castle fez o mesmo em 1851: cerca de 80 por cento dos não-classifica-
patrões ou trabalhadores" cm 1841, e os compararmos com os núme- dos nem como oficiais nem como trabalhadores ou barqueiros foram
assim enumerados como "jornaleiros", isto é, assalariados 19 • Uma
ros descritos como trabalhadores (não-agrícolas), descobriremos que
amostra bastante mais completa dos 12 distritos de contagem de New-
nos condados agrícolas da Inglaterra os trabalhadores constituíam
castle mostra o número de trabalhadores como sendo quase igual ao
entre um sexto e metade do número de mestres-oficiais e operários, e
número combinado dos jornaleiros e outros não-oficiais. Uma amos-
normalmente entre um quarto e um terço. A proporção deles nas áreas
tra de cinco distritos de contagem em Bristol dá uma proporção um tan-
urbanizadas tais como Middiesex, Surrey, Kent, Edinburgh e na cida-
to menor de trabalhadores em relação aos jornaleiros, embora a dife-
de de York era mais ou menos a mesma, embora talvez um pouco mais rença possa não ser importante.
alta 16 • A dos condados escoceses puramente agrícolas era muito mais
Nas indústrias fabris - têxteis, mineração, ferro e aço - a pro-
baixa. Dentre os "oficiais e operários" a proporção de cada um, e dos
porção de assalariados em tempo integral era uaturalmente muito mais
pequenos produtores independentes de artigos, variava. Em 1851 (o alta, porque os trabalhadores externos semiproletários - malhadores
de bastidor, tecelões de teares manuais, etc. -deviam ser computados
*Na verdode naturahnentc muitos trabalhadores ingleses já dependiam inteiramente dos entre eles. A proporção de não-habilitados era também notavelmente
salários para a sua subsi~Lência; mas a forma destes salários era ainda muitas ve7es eo1no entre os mais alta, mesmo quando o trabalho das mulheres e criauças uão pre-
trabalhadores do1nésticos fora, alguns tipos de mineiros, etc., mais a de um preço por artigos ven-
didos (p. ex., peças de fazenda) do que de.força de trabo/ho vendida. O ponto onde este~ paga-
valecia. Contudo, todos exceto alguns trabalhadores supervisores e
mentos deixarn de ser um preço por artigos e se transfonnain nu111 nível de salário por peça nem especialistas nestas ocupações eran1 ainda inuitas vezes considerados
se1npre é fácil de determinar num período de transição. como "trabalhadores", embora de um tipo superior.

324
325
Em geral, portanto, é melhor para este período não distinguir os
Décadas de 1840-90
elementos da "aristocracia" proletária do resto dos "pobres que traba-
lhavam". Uma pesquisa em Bristol em 1838 estabeleceu que 15,7 por Neste período o problema da camada intermediária e transitória
cento dos chefes de família da classe trabalhadora eram depositantes torna-se menos penoso. De qualquer maneira agora é mais fácil distin-
em bancos de poupança, membros de sociedades de beneficência ou de guir um proletariado no sentido estrito - embora trabalhando em
clubes Profissionais. Que Hull em 1839 mostra entre 10 e 13 por cento pequenas unidades de produção. Apesar de tudo, uma zona grande
dos trabalhadores que possuíam casas "amplamente mobiliadas", em embora decrescente de produção secundária das oficinas ainda cerca-
contraposição a entre 25 e 30 por cento de casas "mal mobiliadas", o va a indústria moderna. Se a fabricação de calçados e de roupas em
que é talvez um critério mais preciso2º Isto pode servir como um guia fábricas fez progressos, especialmente a partir da década de 1870, em
grosseiro para o tamanho da camada superior da "população trabalha- 1891 havia ainda na Escócia um patrão para cada quatro alfaiates assa-
dora". Além disto, podemos, naturalmente, estabelecer categorias lariados e um para cada dois sapateiros. Se as rendas, malhas, lãs,juta
individuais de trabalhadores que possam ser considerados como traba- e o resto dos têxteis se tornaram ofícios fabris, as numerosas pequenas
lhadores aristocratas, e que mostravam algumas vezes o conservantis- indústrias metalúrgicas das áreas de Birmingham e Sheffield permane-
mo típico e a exclusividade seccional do seu tipo; notadamente entre ceram complexos de oficinas especializadas e produção feita fora. Na
aqueles artesãos cuja posição não era substancialmente afetada, onde verdade na área de Birmingham até 1931 quase 1O por cento dos que
ela não era realmente reforçada pela revolução industrial: tipógrafos, estavam empregados e1n fundições, processos secundários e "outras
metalúrgicos, 21 artesãos produtores de artigos de luxo e coisas pareci- indústrias metalúrgicas", e 25 por cento dos que estavam empregados
das. Não foi por uenhum acideute que os tipógrafos de Manchester se na indústria de joalheria e laminados - e estas indústrias compreen-
recusaram a comemorar a Lei da Reforma 22 ao passo que os fundido- diam 120.000 pessoas - eram patrões ou produtores independentes".
res de ferro evitaram greves e acreditaram em negociações pacíficas, Apesar de tudo, embora a produção em pequena escala se renove até
e, os maquinistas deixaram de to1nar parte no movimento para o Sindi- certo ponto a cada fase do desenvolvimento capitalista, ela faz e fazia
cato Geral e permaneceram neutros em 1842". Na verdade é difícil isso numa escala decrescente e numa dependência crescente do
lembrar de um fabricante de máquinas ou fundidor de ferro que fosse empreendimento em grande escala.
importante nos grandes movimentos de 1830-42, embora vários outros Algumas estimativas gerais para o tamanho da aristocracia do
artesãos o fossem. Contudo, as mudanças que afetaram mes1no aque- trabalho durante este período podem ser feitas. A primeira é a estima-
les que entre 1780 e 1815 pudessem ter sido considerados como aris- tiva de Dudlcy Baxterdaquela seção da classe trabalhadora que ganha-
tocratas do trabalho foram tão complexas e extensas, que é melhor não va um nível médio de salário de 28s. ou mais em 1867. Esta compreen-
tentar uma avaliação geral.* dia 0,83 milhões de homens dos 7,8 milhões de homens, mulheres e
crianças da classe trabalhadora (inclusive trabalhadores agrícolas e
empregados domésticos) ou cerca de 11 por cento. Se deduzirmos os
*Estes cálculos lançam algu1na luz sobre o problema muito discutido do que aconteceu trabalhadores agrícolas e os empregados domésticos do sexo femini-
com o padrão de vida da classe trabalhadora. A opinião clássica de que ele diminuiu no período
após l 815 ten1 sido posta em dúvida por Clapham, Ashton e outros historiadores econôtnicos. O
no, a porcentagem é alguma coisa abaixo de 1Y'. A segunda é baseada
argu1nento deles se apóia principalmenle sobre a controvérsia de que os índices dos salários reai~ no número de membros dos sindicatos antes da expansão de 1889-
clcvanun-se entre 18 J 5 e a década de 1840. Isso já foi minado pelas dúvidas que foram lançadas isto é, dos "negociadores fortes" característicos deste período. A pri-
sobre as estatísticas do custo de vida nas quais ela se apóia. Apesar disso, pode-se mostrar que os
meira estimativa confiável do número de membros em geral dos sindi-
salários reais de alguns trabalhadores provavelmente subiran1. Mas se, como aleguei aqui, a
camada favorecida da população trabalhadora era muito menos nu1nerosa do que o resto, a opi- catos, aquela dos Webbs de 1892, coloca-os por volta de 20 por cento
nião otimista cai por terra. Contudo, este não é o lugar para perseguir esta importante discussão. da classe trabalhadora, o que provavelmente está do lado alto. Se redu-
Ver. capítulos 5-7.
zirmos isto à metade para compensar os não-aristocráticos organiza-

326
327
dos (mulheres trabalhadoras em algodão, muitos mineiros, sindicatos Tabela 1. Ofícios em 1865 com níveis de salários
não-habilitados da safra de 1889, etc.) não erraremos de muito.* Deve- semanais de 40 shillings e acima
se lembrar que Mayhew estimou a porcentagem dos homens da socie- Estaleiros: alguns construtores de navios estampadores à n1áquina, cortadores de
Ferrovias: alguns 111aquinistas moldes
dade no ofício médio de Londres em cerca de 10"'. Estas estimativas Encadernação de livros: trabalhadores por peça Couro: surradores de Londres
são realmente baseadas em palpites mais ou menos plausíveis, e só são acabadorc.~ Vidro: muitos homens habilitado.~
dadas aqui porque não são incoerentes com as inelhores para o perío- expedidores Tipo:srajia: composição de jornais, leitores.
Instrumentos cient(ficos: muitos trabalhadores alguns operadores de máquinas e 1naqui-
do subseqüente.
*Cutelaria: forjadores de arquivos, malhado- nistas
Uma estimativa, também baseada em Baxter, do tamanho da res, polidores (esp. acima de 12 pol.), fa.bri- Fabricantes de instrumentos musicais: alguns
camada inferior - daqueles que ganhavam menos de 20s. - pode ser cante.~ de serras, muitos polidores de serra Litágrafos: 1nuitos
dada em henefício da inteireza. Ela monta a 3,3 milhões ou pouco mais Construçao naval: alguns capatazes Entalhadores de madeira: muilos
Marceneiros: alguns Fabrica11tes de relógios: muitos; alguns fabri-
de 40 por cento da classe trahalhadora, exclusive os trabalhadores agrí- Chapeleiros: muitos trabalhadores manuais cantes de relógios
colas, soldados, pensionistas e empregados domésticos do sexo femi- habilitados Malharia: alguns supcrvisore,~ de fábrica
nino". Esta porcentagem é também curiosamente parecida com aque- Joalheria: muitos homens habilitados Torneiros de Osso e Marfim: alguns
Ferro: alguns lingadores; mais roladores de Cerâmica: modeladores de barro, muitos
las reveladas pelas pesquisas sociais subseqüentes. forja; muitos ferreiros e malhadores amoldadores, muitos foguistas de biscuit
Para a composição real desta aristocracia, Baxter é um guia Têxteis: estmnparia de morim; misturadores Aço: muitos fundidores, forjadores e inclina-
pouco confiável, já que as suas estimativas negligenciam completa- de core~, branqueadores, lintureiros, dores. roladores
mente as irregularidades dos ganhos e tiram a média dos ganhos muito Fonte: Wage~ and Earnings of the Working Classes ( 1867) de Leone Lcvi
altos e muito baixos em cada ofício da maneira habitual dos investiga-
dores Vitorianos. A composição do movimento sindical em 1875 cons-
titui um guia melhor. Pouco mais da metade dela era constituída de Esta tabela indica mais a composição da superaristocracia do que
artesãos em ofícios pouco afetados (exceto em seus materiais e na da média dos artesãos prósperos e pode ser comparada com a do perío-
força aplicada às ferramentas manuais) pela revolução industrial: do 1890-1914 (ver Tabela V, p. 292). Podemos notar que a lista, com-
construtores, maquinistas, construtores de navios e outros parecidos, e pilada para a primeira metade do século, não teria sido interpretada de
vários ofícios 1nais antigos (tipógrafos, marceneiros, alfaiates, fabri- maneira muito diferente.
cantes de garrafas, encadernadores de livros, fabricantes de carruagens
Podemos seguir a pista da aristocracia do trabalho mais de perto?
e assemelhados). O resto era composto principalmente de mineiros,
Não a ponto de fazer estimativas numéricas confiáveis.** Apesar de
trabalhadores em ferro e aço e operários têxteis habilitados dos quais
tudo, é possível uma pesquisa geral. Três fatos se destacam: o declínio
os últimos constituíam o grupo menor, mas numericamente o mais
do trabalho doméstico e a ascensão correspondente do sistema fabril;
estável. Uma lista dos ofícios com os níveis de salários semanais mais
o declínio relativo dos têxteis e dos velhos ofícios dos artigos de con-
altos pode suplementar esta (ver Tabela!).
sumo e a ascensão das indústrias pesadas e metalúrgicas; a ascensão do
trabalho feminino. Todos os três estão ligados. Assim a ascensão do tra-

~'Salários pagos por homens habilitados aos seus trabalhadores a sere1n deduzidos. Nos
*As cslatísticas do nú1nero de memhros dos sindicatos anles da expansão de 187 J-3 ~ão ofícios de ferro e aço foi feita con1pensação para isso.
pouco representalivas exceto para ofícios ou cidades isoladas. Aquelas do meio da década de ** Os nú1neros do Censo Salarial de 1886 são pouco confiáveis. Eles diferem tão subs-
M~lcnta - após o abrandamento do afluxo de 1871-3 mas antes da contração da Grande tanciahncnte da orde1n mais graduada do Censo Salarial de l 906- e sem causas óbvias - que
Depressão - estão viciadas pela organização desigual dos diferentes ofícios ··aristocratas". Daí é melhor negligenciá-los. Provavelmente a diferença é devida a 1886 registrar níveis de salários
aquelas de 1890-4. 1ncnos os "não-aristocratas", constituírem o melhor guia. e 1906 registrar ganhos.

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balho feminino é estatisticamente mascarada pelo seu declínio em Na indústria de fios de lã penteadas a proporção de homens adultos
algumas indústrias domésticas: embora a porcentagem de mulheres (fora a tecelagem) reduziu-se à metade entre 1853 e 1886". O mesmo
ocupadas não aumentasse significativamente entre 1851e1891, não é verdade com relação aos tecelões de lã do sexo masculino em Leeds
menos do que 122.000 desapareceram de ocupações tais como a fabri- e o pesado distrito lanígero"' embora o principal declínio pareça ter
cação de fitas, rendas, chapéus de palha, camisas, luvas e costura28 • ocorrido após a década de 1870. Na malharia a proporção de homens
O declínio do trabalho doméstico pode ou não ter aumentado a caiu de três para dois quintos da força total de trabalho entre 1851 e
proporção dos trabalhadores aristocratas, ou melhorado a posição dos 1891. Só na indústria de rendas ela subiu numa força de trabalho em
trabalhadores nas indústrias afetadas, mas ele tornou a aristocracia do declínio, graças ao declínio do trabalho à mão. Daí naquelas indústrias
trabalho mais proeminente e baixou a temperatura política das indús- têxteis nas quais as aristocracias do trabalho se estabeleceram - algo-
trias interessadas. Os trabalhadores domésticos das grandes indústrias dão, malhas, rendas- elas se tornaram mais proemineutes embora os
que produziam para vender tendiam a morar em aldeias ou bairros da trabalhadores têxteis constituíssem provavelmente uma porcentagem
cidade especializados (p. ex., Spitafields e Cradley Heath) e eram fácil decrescente da aristocracia do trabalho em todo o país. (Contudo, isto
e obviamente constituídos de grandes aglomerações que dependiam de pode ter sido iniciado pelo declínio dos trabalhadores externos e espe-
um ou dois patrões. São conhecidos exemplos de patrões fabricantes cialistas prósperos - os cardadores de lã, retalhadores, tosquiadores e
de pregos que controlavam 1.800 - 2.000 trabalhadores'''. Assim o assemelhados, que haviam encontrado algo como uma aristocracia em
declínio deles diminuiu o tamanho médio da unidade. Na pequena períodos anteriores).
fábrica ou no complexo labiríntico de oficinas especializadas interli- O mesmo é verdade com relação a outras indústrias de bens de
gadas, tais como encontramos na indústria de malhas, no comércio de consumo, com a exceção de muitos ofícios de oficinas metalúrgicas
armas de Birmingham ou em alguns ofícios de Shefficld, o artesão em pequena escala. Onde o sistema fabril se desenvolveu mais, a situa-
indispensável ou o operário especializado não só era mais importante ção da aristocracia do trabalho era semelhante àquela dos têxteis,
como se considerava como tal. Também a coesão era mais difícil. Os e1nbora seus números possam ter sido menores e sua posição menos
trabalhadores de fora de Cradley Heath fizeram suas tentativas de sin- garantida quanto mais "moderno" era o sistema fabril. A produção
dicalismo malsucedidas enquanto os artesãos de Birmingham mal fabril, ou por sistemas análogos, só deu origem a uma aristocracia do
conheciam sequer as sociedades de ofícios. (O terrorismo de Sheffield trabalho de bom tamanho no século dezenove quando a maquinaria era
foi uma reação defensiva contra a ascensão da máquina e da fábrica e imperfeita e dependente de alguma habilidade manual importante; a
a depressão de uma forma especial de subempreitar o trabalhador indústria inglesa de algodão é a única entre as indústrias européias
externo, e assim não afeta o argumento. De qualquer maneira não foi deste tipo que fazia fiandeiros numa tal aristocracia, sendo a primeira
um sinal de radicalismo, mas uma alternativa a ele)"'. tecnicamente a mais primitiva. Contudo, nas fábricas de botas na déca-
O 111esmo é verdade com relação à proporção crescente de mulhe- da de 1860 a aristocracia (30s. e mais) parece ter montado a mais de 20
res (um índice da proporção crescente da mão-de-obra não-habilitada) por cento 35 • Quando a expansão tomava a forma de subempreitada,
nas várias indústrias. Embora isto criasse a possibilidade de um prole- produção para a veuda e exploração máxima geral dos operários, as
tariado feminino organizado, que não foi largamente utilizado antes da aristocracias do trabalho podiam se manter-por exemplo especiali-
década de 1880, e então apenas no algodão, tendia a deixar os homens zando-se em trabalho de alto nível - exceto no meio de uma massa
habilitados mais obviamente proeminentes e dominantes. Assim a por- crescente de trabalhadores externos ou artesãos deprimidos. A Tabela
centagem de fiandeiros do sexo masculino ua força de trabalho total da II, tirada do Censo de 1906, ilustra a situação dessas indústrias de ofí-
fábrica de algodão caiu de 15 em 1835 para 5 em 1886," enquanto a cios sofrendo transição, embora estes não fossem necessariamente os
proporção de mulheres e moças adolescentes subiu de 48, 1, em 1835 ofícios afetados em 1850-90.
para 60,6 em 1907, com uma média de cerca de 55 em nossas décadas".

330 331
Tabela II. Ocupações habilitadas em 1906 com porcentagem anormal- trias era extremamente alta, talvez tão alta como 70-75 em maquina-
mente alta de trabalhadores do sexo masculino mal pagos
ria,-i8 e a posição relativa deles certamente melhorou. A ascensão da
Ocupação Porcentagem Porcentagem "plebeus"
construção de navios de ferro baixou a porcentagem dos aristocratas,
"aristocratas" 40s. e 25 s.e menos que tinha sido esmagadora nos navios de madeira, embora nem todos
mais igualmente prósperos,'" e ela permaneceu provavelmente em 50-60
por cento até a ascensão das máquinas automáticas 4º. O número de
Selaria, Arreios, Chicotes 12.5 35,4
Valises, Maletas, Misc. Couro 19,6 31.9
tipógrafos- outra indústria com uma alta porcentagem de habilitados
Chapeleiros 39,7 27,8 - também mais do que triplicou. O caso da indústria do ferro e aço é
Tanoeiros !8,9 27,3 ligeiramente diferente. A porcentagem de homens habilitados no ferro
Marcenaria 19 22,7
era alta - quase 44 na amostra de Levi de 186541 e os salários eram
Alfaiataria de encomenda 29,4 41.6
Encomenda e Conserto, Botas altos, mas os ganhos eram irregulares e o total real de pobreza entre eles
e Calçados 5,1 40,8 parece ter sido alto, como eram a miséria geral e o atraso dos seus cen-
tros. Cidades como Middlesbrough, Wolverhampton e Neath chegam
Fonte Censo salarial de 1906 quase ao máximo em qualquer lista de analfabetismo ou pauperismo
da velhice'". Apesar de tudo, os salários nominais anormalmente altos
Em compensação a aristocracia do trabalho desses ofícios pode e a prevalência universal da subempreitada tornou o ferro e o aço um
ter declinado como uma proporção do grupo total. reduto da aristocracia do trabalho.
(Pode-se observar que a ascensão das fábricas causou uma dimi- Os ofícios de construção também cresceram relativamente, e
nuição dos grupos mais mal pagos e um aumento dos menos insonda- como conservaram suas velhas estruturas, mantiveram a força da aris-
velmente pagos. Contudo, já que o conceito de "semi-habilitado" ain- tocracia do trabalho.
da não era familiar quer para os patrões quer para os trabalhadores,'" O período portanto presenciou provavelmente uma transferência
eles eram considerados pelos aristocratas e outros simplesmente como do centro de gravidade dentro da aristocracia do trabalho dos velhos
trabalhadores que operavam as máquinas). ofícios pré-industriais para as novas indústrias metalúrgicas, e a emer-
Este declínio foi acentuado pela ascensão das indústrias quase gência de alguns elementos da aristocracia do trabalho em ofícios pre-
totalmente não-aristocráticas tais como a de transportes e mineração viamente considerados (erroneamente) como compostos essencial-
de carvão, e1nbora a aristocracia em ambas provavelmente aumentas- mente de trabalhadores. Sua força numérica relativa não pode,
se durante o período". Em 1851 os mineiros, marinheiros, ferroviários, contudo, ter aumentado.
carroceiros e assemelhados perfaziam algo em torno de meio milhão;
em l 881 a mais de 1,3 milhões. Contudo, este aumento constituiu, na Da década de 1890 até 19 J4
verdade em grande parte, uma transferência dos trabalhadores rurais
ou outros trabalhadores não-habilitados para ocupações um tanto mais Neste período começam a aparecer estatísticas genuinamente
bem pagas, e assim perturbou menos a hierarquia geral da classe traba- úteis. Emergimos da obscuridade para algo como a luz do dia. Acima
lhadora do que se poderia pensar. de tudo, possuímos estimativas gerais confiáveis do tamanho das
Por outro lado o período viu um reforço imenso da aristocracia várias camadas da classe trabalhadora, sendo os elementos semi prole-
do trabalho na ascensão das indústrias metalúrgicas. Assim os traba- tários agora menos importantes do que antes.
lhadores do ferro triplicaram seu número entre 1851 e 1881, constru- Já que muitas pesquisas sociais estava1n mais interessadas em iso-
tores navais, maquinistas e assemelhados mais do que triplicaram os lar a miséria do resto do que em separara conforto excepcional, sabemos
deles. A porcentagem de homens habilitados em muitas destas indús- mais sobre a camada do fundo do que sobre a de cima. As estimativas são

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333
coerentes umas co1n as outras. Na Londres de Booth os "pobres", os ocupação habilitada carecia de uma porcentagem de homens que
"muito pobres" e a "classe mais baixa" constituíam entre si 30,7 porcen- ganhasse uma renda de baixo nível, bastante diferente da hierarquia dos
to da população total dos 40 por cento da classe trabalhadora. Na York de ofícios mais ou menos aristocráticos etn profissões geralmente "habili-
Rowntree (1899) as classes equivalentes constituíam 27,8 por cento da tadas", carpinteiros e marceneiros entre os construtores, fabricantes de
população e 43 por cento dos assalariados que trabalhavam''. Uma esti- pincéis de pintura entre os fabricantes de escovas, tipógrafos de jornal no
mativa mais impressionista para Potteries (1900) dá mais ou menos o ofício de tipografia, etc-" 0 . Nos ofícios estáveis como construção e maqui-
mesmo número: três oitavos". Quarenta porcento é portanto uma medi- naria, aqueles que ganhavam 25s. ou menos em 1906 (não um mau ano)
da grosseira bem suficiente da seção "submersa" dos trabalhadores, dos constituíam cerca de 1Opor cento: contudo, outros ofícios podiam, como
quais dois terços iria1n, nu1na ocasião ou outra de suas vidas - princi- vimos, carregar uma "cauda" inuito mais longa.
palmente na velhice - se tornar realmente miseráveis; a última degra- O tamanho real da aristocracia variava grandemente de uma
dação". Deve-se notar que esta seção é consideravelmente maior do que indústria para outra. Podemos dividir as indústrias convenientemente
o número daqueles que ganhavam o que era tecnicamente um "salário de em três grupos: aquelas nas quais a aristocracia constituía cerca de 20
trabalhador". Assim as famílias cuja renda era menor do que 2ls. cons- por cento do número total de homens em 1906, aquelas nas quais ela
tituíam apenas 13,8 por cento dos assalariados de York, e a "linha prin- constituía cerca de 10 por cento e aquelas nas quais ela constitua signi-
cipal da pobreza" na pesquisa de Bowley e Burnett-Hurst de Cinco ficativamente menos do que 1Opor cento.
Cidades de 1910-12 foi traçada acima de 13 ou 13,5 por cento das famí- Contudo, o nível da aristocracia do trabalho não é medido abso-
lias ou 16 por cento dos trabalhadores". (A porcentagem de Rowntree lutamente mas também relativamente. Daí ser importante distinguir
daqueles que viviam na "pobreza principal" era de 12,7). aquelas indústrias nas quais os aristocratas tinham abaixo deles uma
As estimativas para a camada de cima são também razoavelmen- quantidade anormalmente grande de trabalho mal pago, e as outras.
te coerentes u1nas com as outras. Owen estimou-a em um oitavo - (tabela IV)
digamos 13 por cento - em Potteries em 1900. Na amostra de Booth É claro que com algumas exceções - algodão, botas e calçados,
dos 75.000 trabalhadores de Londres 17 por cento ganhavam acima de ferrovias e talvez roupas - o tamanho da seção mal paga é, grosseira-
40s., mas ele considerou isto um tanto favorável demais. A classe "F" mente, inversamente proporcional àquela dos aristocratas. Podemos
nas suas investigações do East End continham 14,9 por cento de traba- portanto presu1nir que o conservantis1no extremo dos aristocratas do
lhadores.'" Contudo, a amostra de 356.000 trabalhadores das 38 indús- algodão surgiu do conhecimento de que eles defendiam posições de pri-
trias cobertas no Censo Salarial de 1886 incluíram apenas 8, l por cen- vilégio nu1na indústria na qual, em condições normais, teriam permane-
to com salários acima de 35s". Podemos supor como um guia grosseiro cido muito mais baixo: e o conservantismo um tanto menos extremo dos
que a aristocracia do trabalho incluía não mais do que 15 por cento da trabalhadores em botas e calçados pelo fato de eles terem conseguido um
classe trabalhadora, embora isso possa ser aumentado pela inclusão grupo anormalmente grande de "rendas médias" do que teria sido de ou-
dos empregados, guarda-livros, gerentes, etc. "mais bem pagos". To- tra forma uma proporção muito maior de rendas baixas. Na verdade
das as impressões concorda1n que eles constituíam uma minoria um sabemos que os trabalhadores ingleses de algodão foram os únicos do
tanto pequena49 • seu tipo na Europa Ocidental a organizarem sindicatos de ofício perma-
O ponto importante a notar sobre esta aristocracia do trabalho é que nentes; os trabalhadores em botas e calçados o único grupo composto
ela não incluía todos os trabalhadores que podiam ser tecnicamente des- em parte de trabalhadores fabris de produção em massa a organizarem
critos como habilitados ou como artesãos. Embora seja seguro dizer que sindicatos permanentes antes do fim do século dezenove.
praticamente nenhuma mulher ganhava mais do que o salário de um tra- Na verdade, as posições políticas e econômicas dos aristocratas
balhador, e quase tão seguro dizer que poucos "trabalhadores" ganha- do trabalho reíletem umas às outras com precisão fantástica. A tabela
vam o suficiente para fazer parte dos 15 por cento, dificilmente qualquer V arrola algumas das ocupações mais bem pagas:

334 335
Duas coisas impressionarão o leitor: prilneira, a mudança decisi- Tabela IV. Porcentagem de "plebeus" em certas indústrias, 1906
va da "superaristocracia" dos ofícios para ôs metais, e uma menor exten- Trabalhadores masculinos que ganhavam 25s. e menos
são para a indústria do algodão, desde 1867 (compare a Tabela!); segun-
Grupo Alto
da, o fato de todos estes aristocratas (com exceção dos maquinistas de Ferroe Aço 31,4 Algodão 40.6
trem e um grau de maquinistas) pertencerem a ofício nos quais o traba- Construção naval 32,2 Construção 25.4
lho por peça era prevalente ou forçado pelos sindicatos". A Sociedade i'vfaquinaria e Pabricação de Caldeiras 29.7 Marcenaria 22,7
Unida dos Maquinistas, contudo, apenas tolerava isso, embora seus Tipografia 16.0
membros mais bem pagos estivessem na verdade recebendo por peça. O Vários Metais 31,I Malharia 33.3

trabalho por peça provou ser a forma de pagamento de salário mais ade-
Grupo Afédio
quada para o capitalismo em mais sentidos do que Marx previu. Roupas 36,2 Produtos Químico~ 40,3
Cerâmica 40,4 Ferrovias 49,7
Tabela III. Indústrias com alta, média e baixa proporção de Ofícios Variados 42,4 Serviços Públicos 40,5
aristocratas do trabalho em 1906
Grupo Baixo
Ganhos dos trabalhadores masculinos 40.s. e n1ais 45s. e mais
Ali1ncntos, Bebidas, Fumo 47,3 Borracha 54,6
Altos Lã 50 Seda 51.9
l-'ahricação de Ferro e Aço 26,8 19,6 Botas e Calçados Prontos 39 Juta 69.8
Maquinaria, l-'ahricação de caldeiras 21.2 11,3 Tijolos e Telhas 50,2 Linho 66.9
Construção naval 22 14,9
"Várias indústrias 1netalúrgicas" 20 11,4
Algodão 18.6 10,l Tabela V. Ocupações nas quais mais de 40 por cento dos
Construção 18,2 6,8 trabalhadores masculinos ganhavam 40 shillings ou mais e1n 1906
IVlarccnaria. etc. 19,1 9,0
Tipografia 3 J.6 19,2
Ocupação 40.~. e mais 45s. e mais
Malharia 19,1 10,6

lvlédios Laminadores (conslrução nava!) 81,7 73.7


Roupas 11.2 6,2 Calafates (construção naval) 78,3 6 J ,4
Cerâmica 11,3 6,1 Fiandeiros de Algodão (contagem de 80 c acima) 77.6 52,6
Profis~õesvariadas* 10,3 5,4 Rendeiros (brai;o de alavanca) 77,4 67,0
Produtos químicos 9,3 4,6 Maquinistas (ferrovias) 71,7 54,9
Ferrovias 8,7 5,6 Rebitadores (construção naval) 70,5 60,5
Serviços Públicos 8,5 3,6 l"arninadorcs (maquinaria, salário por peça) 68,5 50,3
Fíandeiros de Algodão (contagem de 40-80) 67,9 48,3
Baixos
Engrenagens e Laminação (aço. salário por peça) 61,5 52,l
Ali1nentos, Bebidas, Fumo 7,8 3,7
3,0 Rebitadores, Calafatcs (maquinaria, por peça) 56,7 38,0
Lã 5.7
Botas e calçados prontos 5,4 2,1 Torneiros (maquinaria. peça) 48,8 30,4
f'abricação de Tijolos e Telhas 5,4 2.4 Ajustadores (maquinaria, peça) 47,6 26,6
Borracha 6,8 3,6 Fiandciros de Algodão (contagem abaixo de 40) 44,9 20,4
Seda 3,4 1,4 Laminadores (n1aquinaria, salário por tempo) 44 16,4
Juta 2,2 0,8 '' Pudladorcs (ferro e aço, peça) 39,7 27.2
Linho 4,9 2.6
f::
Fonte: Censo Salarial (N.B. Este não inclui a 1nincração de carvão) .1*

336 337
Com as exceções parciais dos maquinistas e dos homens das maioria semi-habilitados e casuais. Os fabricantes de botas e calçados
locomotivas todos os homens desta lista·pertenciam a sindicatos com tinham sido derrotados recentemente num combate importante com os
uma tradição conservadora ininterrupta. Os fiandeiros de algodão patrões sobre a questão da mecanização, e estavam numa fase de
investiram suas economias pessoais e dos sindicatos nas fábricas de recuo 56 • Os Trabalhadores em bronze enfrentavam o declínio da mol-
algodão". Os trabalhadores habilitados dos estaleiros em Jarrow e dagem e a ascensão dos "menos habilitados" em estamparia e prensa-
Newcastle fizeram o n1esmo e1n sua indústria e os fabricantes de cal- gem, mudanças de longo alcance nas exigências e uma derrota séria na
deiras enviaram seus funcionários para se tornarem funcionários nas Arbitragem de 1900 que enfraqueceu grandemente o sindicato".
associações dos seus patrões". Os rendeiros eram ultra-respeitáveis. Para resumir: neste período os aristocratas do trabalho continua-
Os fundidores de aço estavam na verdade entre os primeiros sindica- ram substancialmente do mesmo tipo e composição que no terceiro
tos a apoiarem a Comissão de Representação do Trabalho. Isto pode quartel do século dezenove, embora seu centro de gravidade mudasse
ser porque eles eram, em certo sentido, um "sindicato novo" (organi- mais na direção das indústrias metalúrgicas.
zado em 1886). O aço era uma indústria peculiar porque recrutava para Não é fácil resumir esta discussão do tamanho da aristocracia do
ela mais extensamente os trabalhadores que subiam de nível do que trabalho. O seu tamanho relativo aumentou ou diminuiu? Não sabe-
qualquer outro ofício aristocrático, e o sindicato-provavehnente por mos realmente o suficiente para dizer. Num palpite, ela não era prova-
este motivo-tinha gostos inais industriais do que artesanais e era u1n velmente maior nas décadas de 1860 e 1870 do que acamada favoreci-
forte partidário da profissão fechada compulsória. Contudo, seu líder da tinha sido antes de 1850 (pelo menos devido à grande transferência
Jonh Hodge era e permaneceu um liberal e não um socialista. O sindi- do trabalho não-aristocrático da agricultura, onde ele continuou fora da
cato mais velho dos trabalhadores do ferro se recusou a filiar-se ao Par- "hierarquia proletária", para as áreas industriais). Mas sua posição
tido Trabalhista até 1912". como aristocracia era muito mais firme. Por exemplo, não era mais
Durante este período, contudo, certos membros há muito estabe- verdade que os colapsos a afetavam mais severamente do que aos não-
lecidos da aristocracia do trabalho começaram a sentir a concorrência aristocratas, como foi alegado certa vez 58 • Da década de 1870 até 1900
da maquinaria e a ameaça de rebaixa1nento. Mais uma vez isto se refle- ela provavelmente aumentou. Num período de queda de preços e dos
te em suas atitudes políticas. Não muitos sindicatos se filiaram à custos de vida e uma nova gama de artigos de consumo mais baratos é
Comissão de Representação do Trabalho antes do julgamento Taff mais fácil para a camada marginal superior dos trabalhadores intenne-
Va1e. Eles era1n, com exceções desprezíveis, os principais sindicatos diários ou médios se beneficiar de um padrão aristocrático, embora os
"novos" da safra de 1889 e os seguintes sindicatos "velhos": Traba- "plebeus" provavelmente conseguissem pouco disso a não ser uma
lhadores em bronze, Encadernadores de livros de Londres, Operários subsistência ligeiramente menos apertada. Contudo, provavelmente é
NU de Botas e Calçados Tipógrafos de Londres, Pintores, Polidores à inseguro concluir qualquer coisa da nossa pesquisa exceto que a aris-
Francesa, Fundidores de Ferro, Trabalhadores de Fantasia em Couro, tocracia do trabalho representava uma média de, digamos, 1Oa20 por
Operários Navais e Associação Tipográfica. Destes os Encaderna- cento do tamanho total da classe trabalhadora, embora em regiões ou
dores de Livros estavam no meio de uma luta contra a inecanização e a indústrias individuais ela pudesse ser maior ou menor.
diluição, os Tipógrafos ocupados enfrentando o desafio das máquinas Negligenciei deliberadamente as variações regionais de níveis
de linotipo e monotipo, os Polidores à Francesa e Trabalhadores de de salários. Elas eram extremamente grandes, embora a partir da déca-
Fantasia em Couro típicos dos ofícios perseguidos pela subdivisão e da de 1870 se multipliquem sinais de padronização e uma diminuição
subempreitada, os Fundidores de Ferro ameaçados pela ascensão da do diferencial. Contudo, dentro de cada região a aristocracia local
moldagem à máquina e os Operários navais lutando para se manter podia ocupar a mesma posição relativa com os seus "plebeus", conti-
contra os ofícios ascendentes da construção naval de metal 55 • Os pinto- nuando as outras coisas iguais, embora seu nível absoluto, co1no na
res n1aJ podia1n ser consjderados um ofício aristocrático, sendo na Escócia, pudesse ser mais modesto do que em outras partes.

338 339
III. O LUGAR DA ARISTOCRACIA DO Nessas indústrias os patrões que contratavam trabalhadores tinham em
TRABALHO NA ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL irrente as escalas de salários, e os trabalhadores por sua vez deter1nina-
vam que tipo de salário cobravam por considerações tradicionais: o
Nesta seção vou considerar três problemas: o "diferencial'" entre que tinha sido considerado um salário "justo'" ou um diferencial esta-
os aristocratas do trabalho e o resto, a distância entre eles e a pequena belecido; o que os outros trabalhadores numa posição semelhante (ou
burguesia e os patrões, e o problema da "co-cxploração". numa posição que parecesse comparável) obtinham'". Podemos por-
tanto distinguir entre dois tipos de indústria: os ofícios tradicionais nos
O "diferencial" quais os diferenciais fixados se mantinham bem, e as novas indústrias,
nas quais as considerações capitalistas haviam varrido as velhas tradi-
O principal motivo por que há um grande diferencial entre ocu- ções, e os níveis inais baixos eram em conseqüência relativamente pio-
pações habilitadas e não-habilitadas, "aristocráticas" e "plebéias'" no res, os aristocratas relativamente melhores 60 . Deve1nos nos lembrar,
capitalismo é que o exército industrial de reserva de desempregados e contudo, que (a) o salário dos "trabalhadores" em todas as indústrias
subempregados, que determina os movimentos gerais de salários, afe- era, em origem ou essência, sempre uin salário de subsistência e (b) que
ta as diferentes categorias de trabalhadores de maneira diferente. Ele os elementos tradicionais per1naneceram por muito tempo eficazes no
funciona no primeiro exemplo principalmente mantendo baixos os capitalismo inglês e ainda não estão mortos. O principal resultado dis-
salários daquele tipo de trabalho que se expandem com mais facilida- to durante o século dezenove foi permitir aos patrões contratarem até
de: isto é, dos menos habilitados. Um motivo específico para isso na aristocratas do trabalho por muito menos do que poderiam ter conse-
Inglaterra era que os aristocratas do trabalho gozavam geralmente do guido, já que eles eram lentos para aprender como cobrar mais "o que
poder de tornar o seu trabalho artificialmente escasso, restringindo a o tráfego podia trazer" do que o que consideravam um salário "justo"
entrada na profissão, ou por outros meios. Se eles perdessem isto - para um homem habilitado em comparação com outros homens habi-
por exemplo pela ascensão incontrolável das máquinas - deixariam,
litados e com os trabalhadores. Por outro lado, por este sistema, a fron-
teira entre o aristocrata do trabalho e o trabalhador era provavelmente
como os cardadores de lã, de ser aristocratas do trabalho. Daí na
muito mais nítida e fixa.
Inglaterra Vitoriana haver sempre alguns grupos de trabalhadores que
Falando de uma maneira geral, nos ofícios tradicionais o "traba-
viviam virtualmente sempre em condições de pleno emprego, enquan-
lhador" ou "ajudante" recebia cerca da metade do salário do artesão ou
to urna massa inuito maior vivia virtualmente sempre no que era para
um pouco mais. O State of the Poor de Eden estimou os salários dos
os patrões um mercado maravilhoso de compradores. O desenvolvi-
artesãos rurais em 1795 em 2s. 6d. a 3s., os trabalhadores rurais em 1s.
mento do capitalismo era de diminuir esta segurança relativa dos aris-
6d. por dia. Em Macclesfield em 1793 os artesãos ganhavam 3s ., ostra-
tocratas do trabalho, e as duas Guerras Mundiais foram para remover
balhadores Is. 8d. Os salários dos operários navais de Portsmouth
a velha pressão do exército industrial de reserva sobre os não-habilita-
entre 1793 e 1823 eram em média cercado dobro do dos seus trabalha-
dos. Daí houve uma diminuição marcante do diferencial desde 1914.
dores". Em muitas ocupações urbanas mais tarde no século dezenove
Antes disso, contudo, estas forças ainda não eram fortes. (e talvez mesmo antes) o diferencial parece ter sido menor - talvez
Contudo, na verdade outra força uniu os salários dos diferentes mais perto de 40 por cento - embora possamos duvidar se ele seria
graus por diferenciais rígidos em ofícios de padrão antiquado: o costu- muito menor se tomarmos, não os ganhos médios do artesão (que
me.* O salário do servente de pedreiro pendia do salário do pedreiro incluem, como vimos, uma inaioria que ganhava um salário subaristo-
jornaleiro, embora fizesse isso por um fio moderadamente elástico. crático ), mas apenas aqueles dos aristocratas. Assim, nos ofícios de
construção os artesãos parecem ter ganho mais como 30 ou 40 por cen-
"'Ver Capítulo 17. to acima dos trabalhadoresr'2 . Corno regra geral podemos dizer que o

340 341
diferencial podia chegar mais perto de 100 por cento, qnanto mais em muitos ofícios os salários médios de um menino, mulher e moça
forte, mais exclusivo e "aristocrático" o ofício; ou alternativa1nente se podiam somar aqueles de um homem adulto''''.
tornar maior, quanto menor a taxa do "distrito" para a mão-de-obra O que aconteceu com estes diferenciais durante o século dezeno-
não-habilitada (como por exemplo, nas áreas puramenterurais).Assim ve? Nossa informação sobre a primeira metade é defeituosa demais
em Manchester o nível dos trabalhadores oscilava em torno de 50 por para nos permitir dizer muito, mas é claro que entre a década de 1840
cento dos níveis dos ajustadores de máquinas entre 1830 e 1871 e 1890 o diferencial se alargou, e que ele não se estreitou substancial-
enquanto em Leeds, onde o nível dos ajustadores era mais baixo, assim mente (se na verdade não continuou a se alargar) entre a década de
também era o diferencial. Em Londonderry os trabalhadores ganha- 1890 e 1914. Isto conflita com a afirmação de Marshall de que os salá-
van1 coerentemente menos do que a inetadc dos salários dos operários rios da mão-de-obra não-habilitada haviam subido mais depressa do
navais entre 1821e1834'''. Em compensação, 100 porcento é nm guia que os da habilitada, mas as observações de Marshall sobre o assunto
de mão-de-obra habilitada e não-habilitada são excepcionalmente
suficientemente útil para a diferença entre o mais alto e o mais baixo,
pouco dignas de confiança (ou talvez esperançosas) 67 •
e1nbora não para os níveis intern1ediárlos.
As peculiaridades do mercado de trabalho inglês tomam este
A situação é bastante diferente nas novas indústrias, exceto quan-
período anormalmente favorável para o desenvolvimento de altos
do o nível de subsistência do trabalhador não-habilitado for a base de
diferenciais. Assim a Inglaterra teve durante todo o período de 1851-
toda a estrutura salarial'''. Aí o diferencial era não só maior como mais
1911 cerca de 108 mulheres em idade de trabalho ( 15 aos 49 anos) para
elástico. Assim entre 1823 e 1900 os salários dos fiandeiros de máqui-
cada 100 homens; um excesso muito grande do tipo de mão-de-obra
nas automáticas nunca foram menores do que 221 por cento dos salá-
mais mal pago, nem todo o qual era absorvido pela demanda crescen-
rios dos grandes tecelões por peça e só caíram abaixo de 200 por cento
te por empregados domésticos na segunda metade do século. Como
em quatro anos. Na indústria do ferro os salários dos pudladores varia- vimos, as indústrias domésticas que haviam empregado em parte mui-
vam entre 200 e 240 por cento dos salários dos trabalhadores de 1850 tas mulheres caíram catastroficamente depois de 1851 - p. ex., a
até 1883. No alvejamento o diferencial entre os rendeiros à mão (mas- fabricação de rendas, luvas e chapéus de palha, e certas formas de mão-
culinos) e as mulheres que operavam as máquinas de alvejar de 1850- de-obra feminina na mineração e na agricultura também desaparece-
83 (as últimas= 100), variavam entre 230 e 393. Os operários importan- ram'''. Novamente, o trabalho infantil permaneceu surpreendentemente
tes do ofício de rendas em Nottingham na década de 1860 ganhavam importante neste país, não mostrando nenhuma tendência significativa
três vezes ou inais o salário dos enfeitadores e concertadores65 . adiminuirem indústrias importantes até muito tarde no século. Em 1891
Estes diferenciais excepcionalmente grandes eram devidos ou a ele constituía ainda quase 5 por cento da população total ocupada, com-
salários excepcionalmente altos para certos trabalhadores (especial- parados com menos de 3 porcento naAlemanha'''. lncvitavelmente isto
mente nas indústrias altamente cíclicas, nas quais a curva de suprimen- baixou os padrões de muitos não-aristocratas.
to de mão-de-obra podia realmente inclinar-se para trás em épocas Há bastante evidência de que o intervalo entre os aristocratas e a
muito atarefadas), ou a salários excepcionalmente baixos para os não- camada inferior alargou-se nas décadas do meio século, muito ao con-
habilitados; tais como aqueles das mulheres e crianças, que podiam ser trário das afirmações gerais, neste sentido70 . Isto aconteceu certamen-
seguradamente diminuídos muito abaixo do mínimo de subsistência. te nos ofícios de construção em Londres, embora nesta indústria o dife-
Isto era especialmente importante nos ofícios com diferenciais incer- rencial seja provavelmente mais rágido do que em muitas outras. Entre
tos mas restrição de entrada eficaz; daí as queixas constantes em ofí- 1850 e 1870 os níveis habilitados subiram mais vezes, e mais cedo
cios como a tipografia quanto à multiplicação dos aprendizes e à intro- numa média de três anos do que os não-habilitados. A evolução dife-
dução de mulheres. Contudo, podia ter havido um diferencial fixo rente dos salários dos homens e mulheres - sendo as mulheres par
mesmo para estas. De qualquer maneira Dudley Baxter acreditava que excellence a categoria mais mal paga e mais facilmente substituível-

342 343
apontam na mesma direção. Na indústria de tecidos de lã penteada o sardas suas flutuações muito maiores (1900 = 100)". É possível que a
aumento do salário médio dos homens entre 1855 e 1866-8 (1850 = crença na tendência dos salários dos não-habilitados subirem mais
100) foi de 66 por cento, das mulheres de 6 por cento. Na indústria do depressa do que os dos habilitados seja devida a uma má interpr?tação
algodão os ganhos médios semanais dos fiandeiros automáticos subiu desta tendência maior de flutuar, não insensível à tendência. E fácil
de 1850-71 de 8s. 3d. das tecelãs (mulheres) de 3s. Entre 1856 e 1870 o observar que os salários dos não-habilitados em Sheffield subiram 13
índice do nível padrão para os fabricantes de moldes e cortadores subiu pontos entre 1872 e 1873 (subindo os maquinistas 8 pontos e os fundi-
de seis pontos, dos trabalhadores em máquinas de quatro; as compara- dores 5 pontos), ou que eles subiram 24 pontos entre 1880 e 1881 (con-
ções para o período de J 834 até 1884 em Manchester dão resulta dos tra 13 e 6 respectivamente) ou 20 pontos entre 1888 e 1889 (contra 3 e
semelhantes. Na verdade, uma fábrica de máquinas de Manchester 4 pontos). É fácil ignorar o fato de que eles caíram 14 pontos em 1874-
mostra que os ajudantes de laminadores ganharam ligeiramente menos 5 (contra umaumentode5 e uma queda de 1ponto), que eles caíram24
em 1874 do que a média de 1851 enquanto os salários dos laminadores pontos em 1883-4 (contra a perda de 2 e 2 pontos), e 35 pontos em
havia subido de 25 por cento. Nas minas de carvão do Lancashire os J 890-2 (contra 14 e 10 pontos). Tomado tudo em conjunto, a tendência
salários dos descarregadores não-habilitados caíram entre 1850 e geral para os salários dos habilitados subiram mais depressa do que os
1880, os dos carroceiros semi-habilitados subiram, os dos carvoeiros dos não-habilitados.
e maquinistas subiram mais ainda. Nos estaleiros o diferencial entre Já que as décadas do meio do século foram um período de preços
laminadores e ajudantes era de 85 por cento em J 863-5, 88 por cento crescentes, segue-se que o padrão de vida dos aristocratas melhorou
em J87 J-7 e 91 por cento em 1891-1900". A ausência de séries com- relativamente ainda mais do que seus ganhos reais. Mais uma vez,
paráveis de ganhos, ou mesmo de níveis salariais para trabalhadores sabemos muito pouco a respeito disto. Há poucos inventários dos bens
habilitados e não-habilitados -devido à nossa ignorância dos salários da família de um trabalhador habilitado". Apesar disso, sabemos o
dos não-habilitados - torna essas comparações difíceis. Contudo, suficiente cm geral do "artesão" bem vestido e bem calçado com o seu
uma estimativa geral para o Lancashire de 1839-59 confirma essa relógio de ouro, móveis maciços e comida sólida para indicar o con-
impressão72 • traste com as massas miseráveis que tomavam emprestado alguns shil-
Naturalmente não devemos esperar que este diferencial tenha lings do "prego" - 60 por cento de todos os penhores em agosto de
alargado suave e firmemente. Houve ocasiões em que os salários dos 1855 eram de Ss.ou menos em valor, 27 porcento de 2s. 6d. ou menos 75
não-habilitados subiram mais depressa do que os dos habilitados -p. - e que viviam no limite da subsistência76 .
ex., cm áreas que se expandia1n rapidamente e nos surtos econô1nicos. É praticamente certo que esta tendência continuou até a Primeira
Houve ocasiões- especialmente nos colapsos - em que eles caíram Guerra Mundial. Assim os cálculos de Rowe mostram a porcentagem
mais depressa. Já que o salário normal do não-habilitado era determi- média dos níveis dos trabalhadores não-habilitados na construção, nas
nado por uma saturação normal do mercado de trabalho, devemos minas de carvão, a indústria do algodão, máquinas e as estradas de for-
esperar que ele seja bastante mais sensível do que o salário do habilita- ro caindo entre 1886 e 1913 de 60,2 até 58,6 dos habilitados, apesar do
do, e daí se mover mais aos arrancas. Assim, segundo o índice de liaeiro estreitamente do diferencial entre os construtores. No algodão
b
ganhos de Polla.rd nos ofícios pesados de Sheffield em 1850-1914, as a questão é bastante clara77 • (Naturalmente, é inteiramente prováveJ
flutuações dos ganbos dos não-habilitados eram entre três a quatro que houve áreas e ocasiões em que isto não foi assim). O problema real
vezes maiores do que as dos fundidores habilitados de 1850 a 1896, do período do começo do imperialismo é quão importantes eram ostra-
entre duas, e três vezes maiores do que as dos maquinistas habilitados. balhadores semi-habilitados, e o que aconteceu com os salários deles.
Os ganhos médios dos maquinistas na década de 1890-1900 eram 39 No período das décadas de 1840-70 eles podem ter ganho ligeiramen-
pontos acima dos de 1951-60, os dos fundidores eram 31 pontos mais te melhor do que os trabalhadores, mas quase certamente - se é que
altos enquanto os dos não-habilitados só tinham subido 18 pontos ape- Chadwick é algum guia- a posição deles não melhorou significativa-

344 345
mente em relação aos aristocratas do trabalho. Entre 1886 e 1913 eles como rebaixados de classe)8'. Contudo, há uma quantidade de exem-
perderam terreno para a aristocracia do trabalho, exceto - mas a exce- plos de trabalhadores em melhores condições subindo nos postos
ção é importante- nas indústrias metalúrgicas que estavam sofrendo médios da classe empregadora, embora poucos deles se tornando
as primeiras fases da revolução da produção em massa e do algodão. muito ricos. A pequena escala de mnitas indústrias e a prevalência uni-
Seus níveis médios nas cinco indústrias de Rowe permaneceram está- versal da subempreitada tornava isto bastante possível, e na verdade
veis em cerca de 77 por cento dos habilitadosn. obscurecia a linha entre o trabalhador e o patrão'". Além do mais, mes-
mo naquelas indústrias em que dificilmente qualquer trabalhador
A aristocracia do trabalho e as camadas mais altas podia esperar começar uma firma bem-sucedida o caminho para as
altas posições administrativas nas pequenas fábricas estava bem aber-
A relação entre a aristocracia do trabalho e as camadas mais altas to. Muitos gerentes de fábricas de algodão nas décadas de 1890 e
quase certamente pioraram durante o fim do século dezenove, e isto começo da de 1900 parecem ter vindo das fileiras do sindicato dos fian-
co1neçou a afetar seriamente o seu status, embora não os seus ganhos. deiros; da mesma forma como o principal fabricante de garrafas de
Aqui estamos em território mal pesquisado, porque pouco se sabe Castleford fora certa vez secretário geral do sindicato. É fato aceito que
sobre assuntos tais como perspectivas de pro1noção, de "e1nergir da muitos gerentes de trabalhadores em ferro e aço eram capatazes pro-
classe trabalhadora" e sobre assuntos semelhantes. movidos"'.
Embora o melhor estudo sobre o assunto tenha sido feito para Contudo, seria errado presumir que as opiniões da aristocracia do
uma pequena cidade dinamarquesa" a situação geral é clara. A classe trabalho fossem grandemente afetadas pelas perspectivas - remotas,
trabalhadora tornou-se progressivamente mais distinta das outras clas- na melhor das hipóteses - de deixarem sua camada. O que os afetava
ses e internamente recrutada, e as chances dos seus membros (ou seus era o conhecimento de que ocupavam uma posição firme e aceita logo
filhos) se estabelecerem como patrões ou produtores independentes se abaixo dos patrões, mas muito longe acima do resto. Em muitos países
tornou progressivamente pior desde os primeiros dias do industrialis- continentais havia, mesmo na década de 1880, uma quantidade de
mo. Apesar de tudo, é evidente que até o fim do século dezenove as pos- rivais para esta posição. Havia fortes grupos da pequena burguesia
sibilidades dos aristocratas do trabalho se estabelecerem independen- próspera e do campesinato rico; corpos grandes e respeitados de fun-
temente ou entrarem para as classes e1npregadoras não eram de 1nodo cionários públicos, padres secundários, professores de colégio, ou
algum desprezíveis. Devemos, naturalmente, negligenciar uma boa mesmo empregados de escritório. Havia sistemas de instrução pública
quantidade de mudanças sociais que não os tirou fora dessa camada da primária e secundária que proporcionavam meios alternativos de subir
"classe média inferior", à qual, como vimos, eles eram considerados na escala social pela força, destreza manual, treinamento em ofício e
como pertencendo socialmente. Muitos dos 5 por cento dos membros experiência do aristocrata do trabalho: a diferença social entre o traba-
do sindicato dos funileiros que se estabeleceram independentemente lho físico e mental era muito mais marcada, mesmo nos níveis inais
c,ada ano na dê.cada de 1860* provavelmen~ não a deixaram; nem os baixos. Na Inglaterra (o caso da Escócia é um tanto diferente) nenhum
lideres do sindicato que se estabeleceram como estalajadeiros ou tipó- destes existia, exceto o sacerdócio ou o ministério não-conformista; e
grafos agentes de notícias 80 • (Inversamente, um capataz tipógrafo, fi- o primeiro era em grande parte recrutado da classe dirigente, ao passo
lho de um joalheiro fabricante de relógios independente, neto de um que o últilno servia muitas vezes como uma 1igação entre a aristocra-
funileiro e fabricante de fogões, ou um maquinista da BSA, filho de um cia do trabalho e as fileiras inferiores da classe empregadora. Nenhum
pequeno maquinista independente de Birmingham, não se sentiriam sistema de educação primária geral existia até 1870, de educação
secundária até 1902. As camadas de burocratas e funcionários eram de
importância desprezível. (Assim em 1841 havia apenas 114.000 fun-
*Calculados do~ seu:::. Relatório~ Trimestrai5. cionários públicos e "outras pessoas instruídas" - o que inclui ban-

346 347
queiras, comerciantes, corretores e agentes bem corno empregados, operações sem aumentar grandes massas incontroláveis de capital cir-
lojistas, homens de atividades literárias e científicas - na Inglaterra culante, proporciona "incentivos" a todos os grupos de trabalhadores
em cerca de 6,5 milhões de pessoas em idade de trabalhar), que vale a pena agradar, e permite à indústria enfrentar flutuações agu-
A era imperialista mudou tudo isto, substituindo os patrões não- das da demanda sem ter que arcar com urna carga permanente de despe-
administradores ou acionistas por proprietários-administradores, sas indiretas. (Por este motivo certas variedades de subcontratação são
introduzindo uma cunha de trabalhadores burocratas, e en1 menor ainda largamente usadas nas indústrias com grandes flutuações da
extensão de técnicos e administradores recrutados independentemen- de1nanda, tais como o comércio de roupas, e nas indústrias primitivas
te entre os aristocratas do trabalho e os "patrões", reduzindo a posição que sofriam rápida expansão, tais corno o surto de construção de casas
social relativa deles, limitando suas chances de promoção e criando da década de 1930). Poroutro lado ele apresenta desvantagens, que tem
urna "hierarquia alternativa" de servidores civis e do governo local e feito o capitalismo desenvolvido em grande escala abandoná-lo pela
professores, Em 1914 este processo tinha certamente caminhado um administração direta, emprego direto de todos os níveis, e a provisão de
pouco, embora ele fizesse mais sentido no Sul e nas cidades portuárias "incentivos" pelas várias formas de pagamento por resultado. Histori-
do que nas comunidades puramente industriais ou de mineração do camente ele pode ser considerado como uma fase transitória do desen-
Norte e na "orla céltica". Adrnitidamente muitas das novas camadas volvimento da administração capitalista, da mesma forma como a com-
eram, de urna forma ou de outra, filhas da "classe média inferior" pra e venda de postos no serviço público e a contratação do exército por
(inclusive as seções da aristocracia do trabalho), mas isto não alterou o subcontratos nos séculos dezesseis e dezessete pode ser considerada
efeito delas. De qualquer maneira é seguro dizer que no fim da era como urna fase transitória de desenvolvimento das burocracias e forças
Edwardianao intervalo acima da aristocracia do trabalho havia se alar- militares modernas. Proponho chamar este fenômeno de "co-explora-
gado, embora o abaixo dela ainda não tivesse se estreitado significati- ção", na medida em que ele transformou muitos membros da aristocra-
vamcnte'4. cia do trabalho em co-ernpregadores dos seus colegas, e dos seus traba-
lhadores não-habilitados85 •
"Cu-exploração" Até que ponto era generalizada a co-exploração? Que efeito teve
ela sobre a natureza da aristocracia do trabalho'' O segundo ponto é
O capitalismo em suas primeiras fases se expande, e até certo pon- mais fácil de discutir que o primeiro.
to funciona, não tanto subordinando diretamente grandes corpos de tra- É fácil exagerar a contribuição da co-exploração para a constitui-
balhadores aos patrões, mas subcontratando a exploração e a adminis- ção de uma aristocracia do trabalho. Ela foi quase certamente muito
tração. A estrutura característica de urna indústria arcaica tal corno a da generalizada na primeira metade do século, quando a aristocracia não
Inglaterra no começo do século dezenove é aquela na qual todos os estava totalmente desenvolvida. Muitos aristocratas se opunham a ela
níveis exceto os trabalhadores mais baixos contén1 ho1nens ou mulhe- sob a forma de subcontratos e de subcontratar os capatazes, ou mesmo
res que tenham alguma espécie de "incentivo de lucro".Assirn o empre- sob a forma de pagamento porresultados,já que achavam com razão que
gador de maquinaria pode subcontratar a fabricação de urna locomoti- isso era um artifício para explorá-los ao máximo. Assim, os aristocra-
va com um "patrão por peça" que empregaria e pagaria os seus próprios tas de trabalho incontestos tais corno os maquinistas, se opunham rigi-
artesãos com o preço'; e estes por sua vez empregariam e pagariam os damente ao trabalho por peça (quanto mais ao subcontrato), e talvez
seus próprios trabalhadores. O empregador pode também contratar e tivesse1n sucesso em reduzir o pagainento por resultados, co1no certa-
pagar capatazes, que por sua vez contratariam, e teriam um interesse mente tiveram sucesso em retardar a sua expansão 8'' até o período do
financeiro em pagar essa mão-de-obra que não trabalhasse por subcon- impertalisrno; ao passo que os operários navais, embora acostumados
trato. Esse labirinto de subcontratos interligados apresenta certas van- aos subcontratos de grupos, eram esmagadoramente pagos por tem-
tagens. Ele permite o empreendimento em pequena escala expandir as po"'. A hostilidade dos sindicatos a esses sistemas de subcontrato como

348 349
"domínio por peça", "camaradagem", "domínio-frotado", etc. foi ra- fora do comum, seus dentes tinham sido arrancados em parte pelo sin-
zoavelmente constante, corno tal sobreviveu numa forma vestigial na dicalismo, em parte pelos contratos de grupos genuinamente coopera-
fiação de algodão até 1949 e nos estaleiros até mais tarde. Finalmente, tivos (embora estes estivessem declinando rapidamente)"". Na forma
o subcontrato como sistema geral pode bem favorecer a emergência mais geral de contratação de trabalhadores habilitados ou pagando os
não tanto de uma aristocracia do trabalho mas de uma massa que se seus não-habilitados, ou os trabalhadores habilitados sendo pagos
esforça, e muitas vezes não particularmente próspera, de pequenos pelos resultados enquanto os seus ajudantes eram pagos portempo, ela
patrões e exploradores, alguns dos quais conseguiram emergir na prevaleceu també1n no algodão, na cerâmica, nas ininas, e na verdade
camada dos patrões enquanto outros recaem de tempos em tempos no de uma ou outra forma em muitas indústrias nas quais o trabalho por
trabalho assalariado. As "indústrias exploradoras" típicas da Inglater- peça predominava. O subcontrato-direto estava certamente declinan-
ra e do Continente não eram necessariamente aquelas co1n uma forte do depressa desde a década de 1870 (exceto para as indústrias e situa-
aristocracia do trabalho. Assim, devemos considerar a co-exploração ções mencionadas anteriormente). Comparativamente pouco sobrevi-
mais como algo que reforçou a posição de uma aristocracia do traba- veu à Primeira Guerra Mundial". O mesmo é verdade com relação aos
lho que existia do que co1no algo que por sl mesmo permitiu que ela homens habilitados contratando os não-habilitados. Estes sistemas
passasse a existir. Provavelmente o seu principal resultado foi o de foram cada vez mais substituídos pelo trabalho por peça comum, ou (a
acentuar a sensação de superioridade qualitativa que os seus membros partir de 1900) por métodos mais "científicos" de pagamento por
tinham sobre os "plebeus" e os trabalhadores intermediários. Os capa- resultados, o que serviu para aumentar os ganhos de muitos aristocra-
tazes e supervisores que constituíam 3-4 por cento da força de trabalho tas do trabalho, mas serviu também- como o acontecimento mostrou
em muitas indústrias na década de 1860"" e todos os quais, durante todo -para destruir a barreira entre eles e os trabalhadores por peça semi-
o século dezenove, tinham um elemento de co-exploração e subcontra- habilitados. Contudo, podemos presumir que a co-exploração coloriu
to ligado a elesN foram sempre tão agudamente conscientes disto - as relações de muitos aristocratas do trabalho para níveis inferiores até
pelo menos na forma do direito de contratar e despedir - que eram o último quartel do século dezenove; sendo as exceções principais os
geralmente considerados pelos trabalhadores como "homens do ofícios de construção, maquinaria e alguns ofícios antigos 92 .
chefe". O simples fato de pagar o salário de um trabalhador tornava o
artesão um tipo superior de trabalhador, não simplesmente um traba-
lhador mais bem pago, mesmo que ele não tivesse interesse em explo- IV. A ARISTOCRACIA DO TRABALHO SOB O
rá-lo realmente. Além do mais essas relações tornavam mais fácil para CAPITALISMO DE MONOPÓLIO
os aristocratas do trabalho manterem uma exclusividade e uma restri-
ção dos números que podiam de outra forma ter sido difíceis de man- Se esta pesquisa se concluísse simplesmente em 1914 sem algu-
ter, p. ex., na fabricação de caldeiras e algodão. mas palavras sobre o desenvolvimento futuro da aristocracia do traba-
Até que ponto prevaleceu a co-exploração? Sob a forma de sub- lho do século dezenove, daria uma impressão ilusória. Porque 1914
contratação ela prevaleceu largamente na indústria do ferro e aço, marca um "Veranico" ilusório para esta ca1nada, corno marca para o
construção de navios de ferro, uma parte da mineração de carvão (nota- capitalismo inglês como um todo. As novas tendências que iriam miná-
damente nos Midlands ), todas as oficinas em pequena escala ou ofícios la já haviam surgido, embora só algumas já tivessem se feito sentir. O
"explorados", muitos ofícios de transportes tais como a estiva, no período de 1914 em diante iria ver um colapso da velha aristocracia do
período da construção rápida, nas obras públicas, construção de ferro- trabalho comparável ao colapso dos velhos ofícios manuais habilita-
vias e minas e assemelhados, e e1n vários outros ofícios. Nas indústrias dos, e os trabalhadores-chave especializados ligados às indústrias
de construção e maquinaria ela estava certamente lutando numa ação domésticas - cardadorcs de lã, tosquiadores, entalhadores e asseme-
de retaguarda no período de 1850-73, e na tipografia onde ela não era lhados - nas décadas após as Guerras Napoleónicas, embora prova-

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velmentc mais sério. Podemos notarresumidamente os seguintes fato- teriam pertencido à aristocracia do trabalho em 1900. Apesar de tudo,
res: Primeiro, as regiões das "indústrias básicas" do século dezenove houve uma mudança. Mesmo na área de Birmingham, que votou em
(isto é, os redutos da aristocracia do trabalho de então) declinaram nas Chamberlain, o conservantismo e o imperialismo desde 1886 até 1945
Áreas Deprimidas dos anos interguerras. Segundo, a mudança dos sis- mudou subseqüentemente para o Trabalhismo.
temas de pagamento de salários fizeram com que o diferencial entre A análise da aristocracia do trabalho sob o capitalismo do mono-
"habilitados" e "não-habilitados" se estreitasse firmemente de 1914 pólio deve portanto continuar um tanto diferentemente daquela do
até a década de 1950, embora nas indústrias de trabalho por peça isto capitalismo do século dezenove. Posso concluir simplesmente suge-
não fosse necessariamente refletido num estreitamente equivalente rindo algumas das linhas pelas quais ela pode continuar; observando
dos ganhos. Terceiro, a ascensão de uma classe grande de operadores que pode não ser mais possível torná-la simplesmente uma análise da
de máquinas semi-habilitados pagos principalmente pelos resultados, camada 1nais be1n paga da classe trabalhadora inglesa~ 1 . Primeiro, ela
e a diminuição relativa em números do velho tipo não-habilitado do terá que notar as sobrevivências e adaptações da aristocracia do sécu-
trabalhador "ajudante" preencheram grande parte do grande intervalo lo dezenove; inclusive a expansão de que era então um grupo numéri-
que certa vez separara o aristocrata do plebeu; além do mais, em algu- ca e politicamente muito pequeno, o funcionalismo per1nanente e1n
mas indústrias a inecanlzação rebaixou realmente os aristocratas do tempo integral dos sindicatos e os políticos em tempo integral entre os
trabalho. Quarto, o crescimento continuado da camada burocrática, líderes trabalhistas. Segundo, ele terá que acentuar a nova aristocracia
administrativa e técnica (o "escritório" contra a "oficina") baixou a do trabalho de trabalhadores burocratas, técnicos e semelhantes assa-
posição social deles ainda mais, relativamente e talvez absolutamente; lariados que (até agora com exceções seccionais ou temporárias) se
porque os novos técnicos e administradores podiam agora ser recruta- considera tão "diferente" da classe trabalhadora a ponto de permane-
dos não só dos filhos dos aristocratas do trabalho do velho tipo, mas cer em grande parte conservadora na política e não-organizada, exce-
também dos filhos e filhas da primeira geração da camada burocrática to em associações especiais. Terceiro, ela terá que enfrentar a emergên-
e técnica. cia de uma camada relativamente satisfeita de "plebeus" promovidos
Este rebaixamento é até certo ponto refletido na mudança da polí- ao trabalho fabril semi-habilitado, para garantir os empregos dentro e
tica dos sindicatos dos antigos trabalhadores aristocratas. Não constitui em torno do aparelho vastamente inchado do governo e assim por dian-
nenhum acidente alguns dos sindicatos mais conservadores do fim do te; daqueles grupos geralmente organizados pelos dois grandes Sindi-
século dezenove - maquinistas, fabricantes de caldeiras, fundidores catos Gerais que, emboraco1neçando como organizações revolucioná-
de ferro e vários grupos de trabalhadores em minas- terem hoje setor- rias e mesmo Marxistas, se tornaram cada vez mais redutos da política
nado os sindicatos nos quais a liderança esquerdista é mais marcada. sindical direitista""'.
Contudo, não se pode falar de um rebaixamento por atacado da aristo- Finalmente, ela terá que considerar seriamente as implicações do
cracia do trabalho. Algumas seções (nas indústrias antiquadas) manti- comentário de Engels de que
veram seus diferenciais virtualmente intatos - p. ex., o algodão, onde
"o proletariado inglês está se tornando cada vez mais burguê~, de forn1aqueesta
os sindicatos também permaneceram muito conservadores. Algumas 1nais burguesa de toda:-, as nações eslá aparente1nente desejando e1n última aná-
eram protegidas pelo monopólio dos piores resultados dos colapsos, lise a posse de uma aristocracia burguesa e um proletariado burguês beni co1no
como no ferro e aço; algu1nas, como a construção, sobreviveram com de u1na burguesia. Para tnna nação que explora o mundo inteiro isto é natural-
pequenas mudanças importantes do século dezenove; outras, como a mente até certo ponto justificável.'"15
tipografia, ajustaram-se às novas mudanças tecnológicas antes de 1914.
Outras ainda se beneficiaram pela ascensão de novas indústrias: carros, Até que ponto, sob as condições do imperialismo, monopólio e
obras elétricas, maquinaria leve e assemelhados. Mesmo hoje há mui- capitalismo de estado, todos - ou a maioria dos - trabalhadores rece-
tos grupos que pertencem aos trabalhadores mais bem pagos como bem algum benefício da posição imperialista do seu país? Até que pon-

352 353
6. P. ex., Picture r~f'a Mani{facturing District (1856), de E. Potter, pp. 22-3. De
to toda a classe trabalhadora inglesa está na posição daqueles grevistas
unia população esti1nada em 2 ! .000 a classe média é estimada cn1 500, a classe 1nédia
do norte da Itália contra os quais em 1917 - como conta Gramsci% - inferior que não ganha salários em 1.500, inclusive as famílias.
foi enviada uma brigada de soldados da atrasada Sardenha? "Para que 7. (Jur Ne1v A1aster (1873) de Thomas Wright, pp. 3, 6. Cf., o extraordinário
vocês vieram a Turim?" os comunistas lhes perguntaram: "Viemos para capítulo sobre ''O Trabalhador Não-Habilitado" e1n lVorking Men and ivomen e um
reprimir a elite que está em greve". "Mas aqueles que estão em greve Trabalhador ( 1879).
não são a elite; eles são trabalhadores e são pobres''. "Estes caras são 8. R.C. Labour, 1893·4, XXX!T, p. 2.801·10. XXXV, pp. 789·801.
todos da elite: todos eles usam colarinho e gravata e ganham 30 liras 9. Loc. cit. També1n G. Howelt: Conflicts ofCapital and Lahour(I890) p. 175.
10. London Lahour de Mayhew, III, pp. 231-2. "O fato de pertencer a alguma
por dia. Eu conheço a gente pobre e como ela se veste. Em Sassari eles
dessas sociedades que invariavelmente distinguem a classe melhor elos trabalhadores
são pobres; e nós ganhamos ! lira e 50 por dia". No século dezenove este da pior", English Pleasure Carriages de W. B. Adams ( 1837), p. 187, que por este
problema mal surge, porque migalhas como essas dos super lucros que motivo não acredita que os sindicatos sejan1 perigosos. Statistical Tables and Returns
eram atiradas aos trabalhadores certamente iam para a aristocracia do ofTrude Unions (1887); R. C. Trade [fnions, evidência de Applegarth ( 1867, XXXll,
trabalho e não para muitos outros. Na fase moderna do capitalismo p. 168).
inglês isto pode não ser mais assim. Contudo, a análise da estratificação l l. Beehive, 25 n1arço 1871. Assi1n os Maquinistas, Assentadores de Tijolos,
da classe trabalhadora e dos resultados políticos dos trabalhadores rece· Carpinteiros e Pedreiros combinados tinham J 3 filiais com 1.001 membros nos bair-
ros atuais do East End, tnas 29 co1n 3.2041ne1nbros ao sul do Tâ1nisa.
berem benefícios seccionais, pormenores e irreais que sejam, pode aju·
12. R. C. onAged Poor, 1895, pp. 16.545-9, evidência de H. Allen, secretário da
dar.nos a compreeender os problemas da classe trabalhadora inglesa do
Sociedade Profissional dos Trabalhadores crn Joalheria, Birmingha1n. Vcrtambé1n W.
meio do século vinte, mesmo que as divisões reais dentro dela não B. Adains, op. cit., pp. 188-9 para a hierarquia social entre as várias classes de fabri-
sejam mais sempre aquelas que eram típicas do século dezenove. cantes habilitados de carruagens.
O conceito de "aristocracia do trabalho" desempenha uma gran· 13. The Profetariat (1937) de G. Briefs, p. para exemplos.
de parte na análise Marxista da evolução dos movimentos trabalhistas. 14. Assi1n Mayhew, op. cit., III, p. 311 classifica os "pobres" e1n três divisões:
Ele tem sido usado também por outros observadores - por exemplo J. artesãos, trabalhadores e profissionais secund<frios.
A. Hobson. Os anti· Marxistas tenderam a lançar dúvidas sobre ele, 15. HMSO: Guias para as Fontes Oficiais 2. Census Reports of Great Britain
180/./931 (1951), pp. 27 ss.
como sobre tantas outras partes da análise Marxista. Assim um traba·
16. Os condados com população inineira foram on1itidos neste cálculo. A fonte
lho polêmico recente observa que "a teoria da aristocracia do trabalho 1nais conveniente para os nútneros ocupacionais de 184 l é An Analysis of the (Jccu-
é tão artificial como a teoria da luta de classes dentro do campesina· pations ofthe Peopfe de W. F Spaekman (1847).
to"". Espero que este ensaio tenha mostrado que, até onde diz respeito 17. An Econonúc History ofModern Britain de J. H. Clapha1n, II, p. 35 para
ao século dezenove na Inglaterra, ele se apóia em fundamentos sólidos resu1no mais conveniente dos rendiinentos. Estou com Clapha1n en1 presumir-para
de realidade econômica e política. esta:-, ocupações-que os patrões que deixan1 de co1nunicar o número de en1pregados
são principaln1ente pequenos produtores auto-en1pregados.
18 . ./. R. Sta!. S., IV (1841), p. 164; mas os 75 porcento incluem 1nuitos tipos
transitórios.
NOTAS
19. Co1nunicações MS do Censo de 1851, PRO, HO !07. O recenseadorcon1u-
nicou sobre o 552 4jD. distr. de contage1n. 17, pp. 434 ss.
Todas as referências até 1906 são aos ilnportantes volu1nes da Earnings and
20. "Condition ofthe Working Class in Bristol" de B. Fripp, J. R. Stat. S. II, p.
Hours Enquiry (Censo Salarial) a menos que declarado de outra forma.
372: "Condition ofthe Working Class in Hull'', ibid., V. pp. 2 ! 2 ss. Os números foram
2. Dep. Cttee on Pupil Teatchers, 1898, XXV I, disperso e esp. p. 2.692; cf. tan1-
calculados deduzindo o nú incro de casos pertencentes aos "níveis n1édios e mais altos"
bém R. C'. on Poor La-w, 1905-9, Ap. VIII, p. 86.298, Sir B. Browne (construtor naval).
(213). O nún1ero 1nais alto é baseado apenas no nún1ero de n1ora<lias da classe traba-
3. t.ffects ofthe Factory System (1899), de Allen Clarkc.
lhadora cujos móveis pudera1n ser verificados.
4. Jnterdep. Cttee on Physical Deterioration, 1904, XXXII, pp. 4.422-4.
21. Capital de K. Marx, L eap. 24 para os nlotivos da sua força aun1entada.
5. Pupil Teachers. pp. 2.287·8, 8.524, 4.397, S.329, II.479, 3.471.

354 355
22.MinutesofManchesterTvpographical Society, Webb, Col. EA, XXX, p. 51 A, Resposta aos Questionários TU (pp. 274-87). (58 porcento em 8 pátios ingleses, 66
(Biblioteca da EEL). e1n 6 escoceses são habilitados).
23. Hist. TU (1894) de Wcbb, pp, 180-2, Story ofthe Engineers (1946) de J. R. 41. Levi (1865), op. cit., p 122. Metade dos "lingadores" com os seus ajudantes
Jofferys, pp, IS, 22, foran1 cncaininhados para cada grupo.
24, Conurhation (1948) do Grupo do Midland Ocidental, pp, 122-3, 42. Ver Registrar-Ceneraf's Reports para o analfabetisn10; The Ar;ed Poor
25. The National !ncome (1868) de D. Baxter, Ap. IV. (1894) dcC. Booth,AtThe Works ( ! 900) de Lady Bell, p. 94, para a miséria da velhice.
26. Op. Cit., III, p. 231. 43. Poverty (edição popular) de B. S. Ro\vntree, pp. 150-l.
27. Chegou-se a ele co1no se segue: As subdivisões V-VII de Baxter (hotnens 44. The Sta/Tordshire Potter (1900) de H. Owen, pp. 346-7.
que ganhavam menos de 20 shillings) e todos os trabalhadores de sexo fe1ninino e 45. Charles Booth emR.C on Aged Poor (1895), pp. l0.860-2.
crianças, com as exceções declaradas. Já que os preços era1n inais altos na década de 46. Livelihnodand Poverty (1915) de A. L. Bowley e A. R. Burnett-Hurst. Esta
1860 do que no fi1n cio século, os liinites escolhidos provavelmente superesli1naran1 o pesquisa negligencia irregularidades dos ganhos, exceto no ofício de constn1ção.
tan1anho da aristocracia do trabalho. Em 1858 um salário de 27s. (não contando as per- 47. Booth, IX, p. 371; !, p. 35.
das pelo 1nau te1npo) não era considerado como suficiente para 1nanter a família de u1n 48. General Report on the Wages ofthe li/anual Labour Classes in the UK, pp.
trabalhador e1n construção ele Liverpool con1 três filhos longe da "pobreza"; cf. Town 1.893-4, 1-XXXIII.
Life pelo autor de Liverpool Life, etc. (1858) 1 pp. 65-6. 49. Não saben1os con1pletamcnte como estas estimativas seriam afetadas pelo
28. "OnForty Years Industrial Changes in England and Walcs" dcT.A. Wolton, maior conhecimento da renda fan1iliar como un1 todo. Os nú1neros pioneiros de Bow-
Trans. Manchester Stat. Soe. (1897-8), pp. 153 ss. dá os números convcnicnte1ncnte. ley 'e Burnett-Hurst, op. cit., sugerctn que cin algu1nas áreas as rendas fa1niliares
29. The Industrial Development of Binningham and the Black Country ( 1939), podcn1 ter sido n1uito aun1entaclas pelos ganhos além do dos pais. Na a1nostra deles um
de G. C. Allen, p. 126. trabalhador sustentava em n1édia a si mesmo e 1,3 outros. Números anteriores suge-
30. O inelhor do 1novünento deles: Associação Nacional para Promoção da re1n que em algun1as áreas industriais o n1esmo era verdadeiro (p. ex., "Income and
Ciência Social, Report on Trade Societies (1860), pp. 521 ss., esp. 540-1; R. C. on Expenditure of the Working Classes in Manchester and Dukinfield in 1836 anel J 841"
Trades Unions (1876) disperso. Ver também as 1nemôrias de Dronfield e Uttley en1 de W. Niekl, J. R. Stat. S., IV, pp. 320 ss.). Ma:-. em outras áreas- campos de carvão
Notes and Qaeries, 1948, pp, 145-8, 279-80. (Bowley e Burnett-Hurst), cidades portuárias (Condições da Classe Trabalhadora em
31. Wages in the Nineteenth Century (1900), ele A. L. Bowley, p. [ 17. Hull, .!. R. Stat. S., V, p. 213), etc.-, isto provavehnente não era assim. U1na amostra
32. !íistof}· (~fVlitges in the Cotto11 Trade ( 191 O), de G. H. Wood, p. 136. das respostas do Censo MS para Newcastle e1n 1851 mostra inenos de 5 por cento de
33. J. R Stat. S., LXV (1902), p. 109. esposas trabalhando. e1n Bristol cerca de 15 por cento. As investigações de Booth da
34. lbid. pp. 116, 125, renda fa1niliar dos trabalhadores crn vinte ofícios de Londres-I, p. 381- mostram
35. Miscell. Statistics, 1866, LXXIV, p. 743. que entre os mais bcrn pagos (38s. e acima) os ganhos de todos os outros 1nembros da
36. Não tenho nenhum registro do uso moderno da palavra "sc1ni-habilitado" fatnília somavan1 apenas cerca de 1Oporcento do nível se1nanal padrão do pai. Na ver-
antes de 1894 (Conferência da Gas Workers and General Labourers' Union, p. 77) dade podemos presun1ir que a função principal dos outros que trabalhavatn na família
embora o NED não o registre antes de 1926. Para u1n reconhecimento inicial deles nessas áreas ou indústrias era elevar a renda se1nanal ao nível nonnal do nível do tra-
co1no grupo, o VVorkers' Union Record, sete1nbro 19 l 6, p. 11, referindo-se ao movi- balhador, se os ganhos do pai fosse1n insuficientes para conseguir isto. O salário do pai
n1ento na BSAde Binninghan1, 1904, era a renda da fan1ília e, os ho1nens que não podiain manter suas famílias se conside-
37. Raihi:ay Labour J830-70de P. W. Kingsford (Tese PhD, Biblioteca da Uni- rarian1 a si n1es1nos com razão con10 pertencendo a u1na classe n1uito n1ais pobre do
versidade de Londres), 1951, p. 6, mostra os "habilitados'' subindo de cerca de 9 para que a aristocracia do trabalho e bem podia1n perder o respeito próprio. A rejeição apai-
cerca de 12 porcento entre 1847-50 e 1884; rnas os níveis adn1inistrativos e ele super- xonada do Teste de Recursos pelos trabalhadores entre as guerras- nluitas vezes aris-
visão declinara1n de 6,7 por cento en1 1850 para 3,7 por cento e1n 1884. tocratas do trabalho rebaixados - apóia esta opinião. Contudo. os ganhos-extra da
38. "The Wagcs, f-Iours and Trade Custo1ns ofthe Skillecl Engineer in 1861" de fainília poden1 ter aumentado o tarnanho da aristocracia do trabalho em alguns casos.
J. e M. Jofferys, Econ Hist. Rev., XVII, 1(1947), p. 30:1. R. Stat. S., LXVlll (1905), p. Por outro lado não sabemos até que ponto isto foi causado pela necessidade de atender
384. aos 1nembros pobres da família (principalmente os velhos). As respostas e1n The Aged
39. The Shipwrights 'Journal (Sunclerlancl 1858), pp. 20-1 para as queixas. Poor de Booth (Coluna: Assistência de Parentes) não fornecem infonnações suficien-
40. R. C. on Trade Unions, 1867, XXXII, p. 17.167 (35 porcento daFábricade temente quantitativas, mas sugerem (a) que havia muito disso, e (b) que no mínimo o
Ferro do Tâinisa não-habilitados), pp. 17 .363-4 (cerca de 50 por cento dos construto- aluguel dos velhos era pago, "uma indicação do que se receava acüna ele todas as coi-
res de navios de ferro são trabalhadores). R. C. on Labour, 1892, XXXVI, p. iii, Grp. sas" (p. 159).

356 357
50. Booth, V, p. 74, IX, p. 21 O, VI, p. 230; R. C. Lahoar Gp. C, pp. 18.820-6,
65. Algodão: calculado de Wood, op. cit., p. 131; ferro e alvejamento: Levi
18.860-1.
( 1885), PP 143, 126; rendas: Müc. Suas. (1866), p. 274.
51. Jndustriul Den1ocracy ( i 897) de Webb, pp. I, 286.
66. Baxter, op. eit., p. 49.
52. "The recruiting of the employing classes from thc wage-carners in the cot-
67. Principies, 8ª edição, p. 716. Tambén1 p. 3.
ton industry" de Chaprnan e Marquis, ./. R. Stat. S., ( 1912); The Labour Question in
Britain (1896) de P. de Rousiers, pp. 261 ss.; Econornic and Political Origins ofthe 68. Co1no .isso era generalizado nas áreas rurais pode ser visto pelo inapa do
Censo de 1851 reimpresso en1 Econ. Hist. of Modern Hritain, ll, de Claphain.
Labour Partv, de f). M. Good (Tese,, Biblioteca da BEL, 1936), pp. 221-2.
53. TÍ1e Aged Poor de Booth, p. 113; History of the United Society 1~f Boiler- 69. "Statistik der jugendlichen Fabrikarbeiter" de K. Oldenberg, Shmoiler's
Jahrhuch, XVlll, p. 969.
niakers (1905) de D. C. Cumnlings, pp. 103, 119, Econonúc History of British Ship-
huilding 1870-1914. deS. Pollard (Tese PhD, Biblioteca da Universidade de Londres, 7º·A glimpse at the Social Conditions (~f the lVorking Classes during the early
part oj the present century ( 1860) de J. D. Burn. p. 30.
1950), p. 159.
54. Men qf'Steel ( 1951) de A. Pugh. p. 81; Fro111 \Vork1nan '.s Cottage to \Vindoor 71. Construção: Wages in thc Nineteenth Century de Bo\vley, p. 90; Jncreasing
Return (1933) de G. T. Jones. pp. 258 ss.; J. R. Stat. S., LX!V ( 1901). Tecidos de lã pen-
Castle (1931) de John Hodge, pp. 61, 138-9.
55. Encadernadores de Livros. The London of Bookhinders ( l 952) de E. l-lowe teada: J. R. 5tat S., LXV, pp. 110-111. Algodão: VVages in the Cotton Trade ( 191 O) de
e J. Child, cap. XXI: "A Luta pelo Pleno Emprego": Tipógrafos: The London Society G. H. Wood, p. 131. Maquinaria:.!. R Stat. S., LXIX, pp. 158-9; Tr. Manchester ,l.,'tat
of Compositors ( 1940) de E. l-Iowe e H. Waite. pp. 202-6: A Hundred Years of Prngress S., 1.884-5, pp. 13, 30; Wages and Earning.1· qf'the Working Classes ( 1885) de Leon~
( l 953) de S. Gillespie, pp. III ss.; ver Relatórios para os índices de desen1prego. tan1- Lev1, p. 102. Carvão: Levi. loc. cit., p. 136. Estaleiros: J. R. Stat. S., LXXII, pp. 174 ss.
hén1Annual Report ofAmal. Society of?late and Machine i'1oulders (Oldham), 1894, . 72. "On the rate ofWages in Manchester anel Salford and the 1nanufacturing dis-
tncb of Lancashire 1839-59" de D. Chadwick, ./ R Stat. S.. XXIII (1859).
p. 5; Construtores Navais: Pollard, op. cit., pp. 156-9.
56. History ofthe f\lational Union of Boot & Shoe Operatives ( 1958) de A. Fax. 73. "Wages and Earnings in the Sheffield Trades, 1851-1914" de S. Pollard, 110
Yorkshire Bul!etin r~f Economic and Socai! Research, VI ( 1954 ), p. 62.
caps. 212,
57. G. C. Allen, op. cit., pp. 228-31, 251-2; Brass Chande/ier (1940) de R. D. 74. 1-es Ouvriers des Deux Mondes de Le Play, 2 ser., IH, p. 69: tan1bé1n P. de
Rousiers, op. cit., pp. 14 ss.
Brest, cap. X, pp. 80-1: lVomen 's \Vork and Wages ( 1906) de Caclbury. t\1athesoon,
. 75. Tahulur Returns on Paivnhroking (Liverpool 1860), não paginado. Bi-
Shann, p. 263 e c1n geral, The Life q{VV J. Davis de W. A. Dalley.
58. "Statistics of the present Depression ofTrade at Bolton" de l-1. Ash\votth. J. blioteca de Goldsn1ith, pp. xix, 60 (2).
R. Sutt. S., V ( 1842), p, 79. Daí o 1nodo. expre:-.so na época cartlsta: "Basta baixar a clas- ~ . 76 Not Like This ( 1953) de Jane \\7alsh, para u1n quadro da n1argem de subsis-

se do artesão deste país ao nível do trabalhador e a Carta terá que ser concedida". R. C. tencta 1nes1no no século vinte; RoundAhout a Pound a lVeek ( 1913) da Sra. P. Reeves.
Trade Unions, 1867, p. 8.753. O:. movin1entos radical e Cartista das décadas de 1830 77. RoVv·e, op. cit., p. 49. Cotton Te.Ytile lVages in the United States and (7reat
e 40 foram tão generalizados em grande parte porque os artesãos con1 algun1as exce- Britain 1860-1945 (N. I. 1948), de R. Gibson, p. 56.
78. A 1nudança da 1não-de-obra 1nal paga para ocupações 1nais be1n pagas que
ções, estavam de fato sendo temporariamente rebaixados.
59. Wages in Theoryand Practice (1929) de .T. W. F. Rowe, pp. 156 ss. para un1a tev~ lugar durante todo o período após a década de l 840-p. ex., da agricultura para
a m'.~eração e estradas de ferro, da rnão-cle-obra não-habilitada para o trabalho semi-
boa discus:-.ão disto.
60. Nlayhew, op. cit., III, faz esta distinção n1uito claran1ente. ~abtlitado ~u do trabalho do1néstico para o fabril - não afeta por si mesn10 a estrati-
ftcação social.
61. Eden, disperso. Wages in the Nineteenth Century de Bewley, p. 61 ; "ASta-
tistical Account of the Parish of Ma<lron, Cornwall, ./. R. Stat. S., II, p. 217. 79. So:âale Umschichtungen in einer daenischenMittelstadtde T. Gei!!er (Acta
Juntlandica, 1951 ). ...
62. l'he Bui!der's History ( 1923) de Postgate; "Statistics ofWages in the UK in
the Last 100years" de A: L. Bowley, Vl-Vll,J. R. Stat. S., LX111(1900), VIJ1. J.R. Stat. 80. P. ex., John Doherty (Webb, Hist. TU, p. 104), Martin Jude (The Miners'
Unions o.fNorthun1berland and Durha1nm de Wetbourne, 1923, p. 61), William New-
S., LXlV (1901); Bowley, op. cit,, p. 90.
63. "Statistics ofWages in the UK in the last JOO years" de A. L. Bowley e G. ton (Wehh, p. 188 s.), T. Dunning o fabricante de calçados (Reminiscências de Dun-
nings, Trans. Lancs. & Chesh. Antig. Soe. LIX, 1947).
Wood, XXI, J. R. Stat. S., LXVIIl (1905), pp. 137, 376-7, 380-1.
64. Kingsford, op. cit., p. 145 para as estradas de ferro. Journaf ofGas Lighting 81. Solo Tnanpet(l 953) de T.A. Jackson, pp. 26-7, Worker UnionRecord, abril
1922.
52 ( 1888), p. 286 para o gás. Estatísticas de Trevethin (Pontypool), ./. R. Stat. S., Til, p.
82. Nat. Ass. for Prom. Soe. Sei.: Report on Trade Societies (1860), pp. 530-
370 para dragagen:-. e carvoeiro".
534.

358
359
83. Chapman e Marquis, op. cit., R. C. Labour, Gp. C, 30.069-81; Econonúc O primeiro é baseado na proporção de mulheres e crianças numa
!íistory of Steebnaking 1867-1939 (1939) de D. L. Burn, pp. 3-12. indústria. O argumento é o seguinte: uma alta proporção de mulheres
84. Ver tarnbén1 Arnount and Distrihution other tha11 ~Vages heforv the income
e crianças sempre demonstra um nível geral baixo de salários ou uma
to exemplion !imit in UK de Cannan e Bowley (British Ass., !910). Nenhu1n número
"cauda" grande de artesãos rebaixados. Contudo, não é possível deter-
bon1 está disponível para o declínio da administração pelo dono ou a ascensão de uma
camada distinta de ''técnicos e administradores''.
1ninar por aí se a aristocracia do trabalho na indústria é tão pequena a
85. i\.1.ethods oflndustrial Rernuneratio11(J892) de D. F. Schloss é a obra- ponto de ser desprezível (como na juta) ou simplesmente distinta da
padrão. Ver também numerosos Inquéritos Parlamentares sobre Trabalho, Sindicatos, massa (como no algodão). Além do mais, certas ocupações são intrin-
Leis dos Patrões e Empregados, o Sistema de Exploração Máxima e assuntos sen1c- secamente inadequadas para as mulheres e os adolescentes (p. ex.,
lhantes, e monografias de algun1as indústrias explorada<> ao rnáximo. fabricação de gás). Uma proporção anormalmente alta de meninos
86. J. e M. Jefferys, op. cit., p. 43. nestas pode demonstrar salários deprimidos para os homens ou, mais
87. 84,5 porcento da amostra de 1886 na construção de navios de madeira eran1
provavelmente, uma vantagem anormal para os homens, e daí uma
pagos por tempo. Os carpinteiros opunham-se aos subcontratos nos estaleiros desde
1882, R. C. Lahour, R. 22.077.
aristocracia de trabalho potencialmente maior (como talvez em alguns
88. Baxter, op. cit., p. 48.
campos de carvão).
89. Schloss, op. cit., cap. XII. O segundo é baseado na proporção de trabalhadores idosos. O
90. Ibid. cap. XIII. Para a localização das queixas sobre os subcontratos em cer- argumento aqui é o seguinte: Uma proporção anormalmente alta de
tas indústrias e áreas, cf., S'. C. on Afines, 1866, XIV, S. C. on Master & Servant, 1866. ho1nens com mais de, digamos, sessenta anos numa ocupação indica
Xlll, R. C. Labour(l891-1893), disperso. que o trabalho é muito habilitado e muito leve (como na fabricação de
91. The Pa_ymentqf'Wages (1918) de Cl. D. H. Cole, resume a posição.
relógios) ou que ele é simplesmente muito leve (como na vigilância de
92. Industrial Democracy, de Webb. cap. v, para a ntelhor discussão das atitu-
portões) ou que a ocupação atrai os velhos e eufermos e co;tém assim
des por tc1npo e trabalho por peça.
93. Para u1na discussão mais co1nplcta. ver Capítulo 16, Trends in the British provavelmente uma alta preparação de não-aristocratas. Se o trabalho
Labour Mouve1nent. pp. 316 seq. é especialmente duro, uma proporção relativamente alta pode ser abso-
94. Ver Capítulo 1O de (Ieneral Lahour Unions in Britai11 J8f!Y-1913, pp. 179 lutamente bastante baixa. Podemos assim concluir que as ocupações
seq.; Trade Unionisn1 and Munitions ( 1923) de G. D. H. Cole, p. 205. para "idosos" são muito aristocráticas ou muito plebéias. Contudo,
95. Selected C:orrespondence ( l 934) de Marx-Engels, pp. 115-16. devemos ter e1n inente que em muitas profissões é afinal materialmen-
96. La Questione Meridionale (Ro1na 1951) de A. Gra1nsci, pp. 18-19. te impossível para os velhos trabalhar, p.ex., põr carvão nas retortas de
97. The Pattern o.f Cornrnunist Revolution ( 1953) de H. Scton-\Vatson, p. 341. gás ou pudlamento de ferro.
Ao considerarmos estes dois argumentos devemos nos lembrar
que as ocupações não-habilitadas devem esperar conter normalmente
APÊNDICE uma pequena porcentagem dos muito jovens e dos muito velhos.
O terceiro é baseado nas estatísticas de analfabetismo. O argu-
Algumas n1aneiraspo5;síveis de descobrir a con1posição da aris- mento aqui é um pouco mais complicado. (a) Pode-se sustentar que as
tocracia do trabalho. Os níveis de salários e. quando disponíveis, os áreas "aristocráticas" serão menos analfabetas do que as plebéias. Mas
ganhos têm sido usados como o principal critério de participação na deve-se ter em mente que há uma tendência geral das velhas ocupações
aristocracia do trabalho. Em virtude da falta de dados antes da década econômicas, bem ou mal pagas, serem mais analfabetas do que as
de 1890, alguns métodos suplementares de análise podem ser sugeri- novas-p.ex., no começo do século dezenove (um tanto surpreenden-
dos. Eles têm a desvantagem dos fatos estarem abertos a diferentes temente) para uma parte da agricultura ser mais alfabetizada do que a
interpretações, isto é, de qne se precisa saber a priori qual a interpreta- indústria. (b) Pode-se sustentar que uma disparidade anormal entre a
ção a ser preferida. É por isso que eles não foram usados no texto. alfabetização dos homens e mulheres indica uma condição anormal-

360 361
mente deprimida das mulheres, e daí dos não-habilitados e da mão-de-
obra de baixo nível em geral. Proporção de meninos e 1nulheres em ocupações, 1865
O quarto é baseado nas estatísticas de pauperismo, especial men-
Ofícios com 1nenos de 30 por cento de meninos, menos 1nulhercs:
te na velhice. Aqui a presunção é que as áreas menos aristocráticas con-
terão também mais pauperismo na velhice. Contudo, em contraposi-
A Oj(cios leves B Ofi'cios mais pe.w1do~· C Trabalho JH-:~·ado
ção a isto há (a) o fato de que o pauperismo na velhice será geralmente
*Instrumentos musicais 1' Maquinaria Fervura de açúcar
menor nas comunidades locais apertadas onde a ajuda da vizinhança e
*Litógrafos *Serradores, Tanoeiros Moleiros
da família é comum (p.ex., nas aldeias e cidades pequenas) e (b) de que
certas regiões 1nostrarn u1na tendência notavehnente maior em econo- * Instru1nentos Científicos "'Construção Naval Trabalhadores de pedreiras

mizar para a velhice do que outras. ?':' Alfaiíltcs para Homens ?*Construção Fabricantes de sal
* Peleteiros, Curtidores ?~'Cerzi dores Cervejeiros
Os dois primeiros argumentos nos permitem acompanhar o cur-
so da aristocracia do trabalho seccionalmente, os dois segundos regio- ''Fabricantes de rclógio5 de

nalmente ou localmente.As estatísticas para eles estão disponíveis nos bolso e parede Chafarizes Fervedores de sabão

Censos, nos Escrivães Gerais e nos Relatórios da Lei dos Pobres. *Fabricação de carruagens Trabalhadores de gás

Para ilustrar o primeiro ponto. A tabela seguinte mostra a propor- ?* Fabricação de arreios Fabricantes de tijolos

ção de meninos e mulheres em várias ocupações em 1865 (Fonte: Levi). * Fabricaçüo de pentes
Pode parecer portanto que, na falta de outras informações, a pro-
porção de meninos e mulheres principalmente nos ajuda a descobrir os D Ofícios com menos de 30 por cento de n1cninos e mais de 30 porcento de mulheres:

ofícios habilitados com uma grande "cauda" de trabalhadores deprimi-


dos que de outra forma podiam passar despercebidos. Seria um enga- * Encade1nação de !ivrus !xJlas e sapatos
~'Fabricantes de cslojos de couro
no usar os números demais - p. ex., concluir que os tipógrafos em
1865 continham uma aristocracia do trabalho menos forte ou marcada ::: Entalhe de madeira

do que os alfaiates. *Chapeleiros

O segundo ponto igualmente é inconclusivo. Assim uma análise * Ouro e prata

do censo escocês de 1861 mostra que os homens de 60 e mais consti-


tuíam mais de 1O por cento da força de trabalho em numerosas indús- E Ofícios leves: F Pesados ou enérgicos (mais de 30

trias fabris, principalmente têxteis e as relíquias da indústria domésti- por cento de meninos e mulheres)

ca; e de 7 a 1Opor cento do içamento de carvão, gasômetros e pedreiras. *Tipografia Mineração de carvão.

Mas eles constituíam também mais de 1O por cento num certo nú1nero ?*Marcenaria ?* f<'erro

de ofícios, tais coino o de construção, fabricantes de sapatos, tanoeiros E~tofaria Produtos químicos

e cuteleiros que não tinham nenhum direito a se considerarem como '?':·Cutelaria *Vidro
especialmente deprimidos. ?*Fabricantes de escovas ?*Outros 1netais. a16m do ferro

O terceiro critério dá resultados mais interessantes. Pode1nos ?*Outros trahalhos de madeira

dividir as áreas ocupacionalmente especializadas da Inglaterra e de


Gales em dois grupos, o "velho" e o "novo". Dentro das velhas áreas há
uma distinção clara entre áreas agrícolas e as velhas cidades de ofícios.
Nas primeiras - tomando 1863 como nosso ponto de observa-
ção - o analfabetismo masculino era razoavelmente alto - 28 a 36 *Conhecidos como aristocráticos, ou por conlcrcni uma alta proporção de aristocratas.
?*Contendo un1a aristocracia. mas também muitos lrabalhadorcs deprünidos.

362
363
por cento, 29 por cento para os soldados, e o analfabetismo feminino mo feminino fosse ainda muito mais alto, e os condados Orientais e do
coerenteinente mais baixo do que o dos ho1nens. (Mas este fenômeno Midland Oriental bem como alguns do vale do Tâmisa nos quais ele era
só havia surgido na década de 1850). Nas últimas, geralmente, o anal- surpreendente (com a média conjunta alcançando ou excedendo SO por
fabetismo era muito mais baixo do que a média, mas as mulheres eram cento no Hertfordshire, Huntingdonshire, Bedfordshire). Apesar de
menos instruídas do que os homens-p. ex., em Melksham (têxteis de tudo, o Lancashire tinha uma taxa de analfabetismo masculino mais alta
West Country) as porcentagens eram de 23 a 26 respectiva1ncnte, em do que todos exceto os nove piores condados agrícolas. A Gales do Sul
Stroud (têxteis do West Couutry) de 21 a 24, em Bristol 19 a 26, em e os Midlands Ocidentais estavam até então no fim da lista. Uma vez
Rotherhithe (construção naval e ofícios ribeirinhos) 16 a 23. Dentro 1 que a grande expansão da mineração de carvão ainda estava por vir,
das novas áreas podem ser feitas três distinções. Primeiro, há cidades Durham tinha u1n analfabetis1no masculino muito baixo e não muito
nas quais a mão-de-obra habilitada era forte, com um analfabetismo menor do que a média feminina (24 e 49 por cento). A expansão da
coerentemente baixo. Estas algumas vezes são difíceis de distinguir mineração iria tornar esta uma área relativamente muito analfabeta,
das velhas cidades de ofícios, mas é significativo que não só os velhos ilustrando assim graficamente os efeitos chocantes da industrialização
centros de construção naval, co1no os novos centros de construção e sobre as condições do povo. Entre 1841-5 e 1874-8 o progresso tanto
reparos navais como Birkenhead ( 15 a 25 por cento) tivessem pouco entre os homens como as mulheres foi o mais lento e1n Londres, o
analfabetismo. Segundo, há os centros atrasados e analfabetos de Nordeste, Yorkshire e Worcesteshire. No fim da década de 1870 os mais
mineração e comércio de ferro e as áreas semido1nésticas, de semi-ofí- analfabetos dos condados industriais continuaram sendo aqueles da
cios, espantosamente barbarizadas dos West Midlands. Nestas tanto os Gales do Sul, Worcestershire e StafTordshire e as áreas de mineração do
homens como as mulheres são ignorantes, embora as últimas um tan- Norte. O diferencial entre os homens e as mulheres continuou mais
to mais. Em 1863 a média conjunta excedia 45 por cento- número ter- amplo no Lancashire.
rível - em lugares tais como Merthyr (64), Dudley (59), Ncath (52), A investigação detalhada confirma este quadro. As porcentagens
Wolverhampton (47), Walsall (46) Monmouth (47) e na verdade no mais altas para os homens (acima de 20 por cento) ocorriam agora nos
Staffordshire e na Gales do Sul como um todo. Terceiro, há áreas têx- centros não-habilitados domo Liverpool, nas áreas de mineração como
teis nas quais os homens eram moderadamente e as mulheres chocan- Easington, Bishop Auckland, Barnsley, Houghton-le-Spring, nos cen-
temente analfabetos.Assim em todas as principais cidades algodoeiras tos de ferro e aço como Middlesbrough, Warrington, Hunslet, mas
as mulheres era1n duas vezes mais analfabetas do que os homens, também nos centros lanígeros deprimidos como Dewsbury. O analfa-
estando a média dos homens entre 25 e 30 por cento. O mesmo é ver- betismo feminino, o dobro do dos homens, ocorria em cidades como
dadeiro para as cidades tanígeras, embora o analfabetismo masculino Kcighley, Halifax, Bradford, Boiton, Bury, Salford, Manchester, Old-
fosse muito mais baixo, talvez devido à idade maior da indústria. As ham, Preston, Blackburn e Bumley. Segundo a natureza das coisas a
mulheres nas cidades de malhas e rendas estavam espantosa1nente alfabetização específica dos trabalhadores aristocráticos é cada vez
mais bem situadas. mais difícil de descobrir porque os centros dos seus ofícios (p. ex.,
O progresso da alfabetização entre o primeiro registro de estatís- Swindon e York co1n suas oficinas ferroviárias) são inuitas vezes como
ticas em 1838-9 e 1874-4 modifica um pouco o quadro. Em 1838-9 as aquelas cidades de tamanho médio cercadas por áreas rurais nas quais
áreas de fazendas ainda não estavam tão bem situadas. Elas podem ser se poderia esperar encontrar boa instrução -p. ex., Lancaster. Apesar
divididas em três partes: o extremo Norte (Cumberland, Westmoreland, de tudo, a diferença entre a cidade ferroviária de Doncaster e a cidade
Northumberland) que eram os condados mais alfabetizados de todos, mineira de Barnsley é surpreendente.
exceto Londres, talvez devido à influencia dos seus vizinhos escoceses Podemos concluir que as áreas com alfabetização coerentemen-
instruídos; os condados do Sul e do Sudoeste onde o analfabetismo te alta não pode1n normalmente ser consideradas co1no "aristocráti-
masculino era quase tão grande como em 1864, embora o analfabetis- cas" no sentido do século dezenove, embora possam conter trabalha-

364 365
dores altamente pagos, apesar de inseguros. Devemos, permanecendo
as outras coisas iguais, esperar encontrar um alto grau de pobreza
secundária aqui. As áreas com um amplo diferencial entre homens e
mulheres, por outro lado, e aquelas com analfabetismo coerentemente
baixo, deviam ser os principais centros da aristocracia do trabalho.
A análise da pobreza dos velhos confirma isto em parte, embora 16
ela mostre centros de mineração de carvão coerentemente em melho·
res condições neste sentido do que os centros de ferro e aço (p. ex., em
1894 em Glamorgan, Monmouth e Carmarthen em dezoito s111d1catos 1 TENDÊNCIAS DO MOVIMENTO
46 por cento ou mais de todas as pessoas acima de sessenta e cinco anos TRABALHISTA INGLÊS DESDE 1850
eram pobres cm seis: Llanelly (36), Neath (37), Pontypool (38),
Swansea (39) Bridgend (40), Bedwellty (42). Em Northumberland,
Durham e North Riding, Middlesbrough (46) eram de longe os p10res
centros de miséria dos velhos). Falando de uma maneira geral (sem
contar as aldeias miseráveis) os piores centros eram aqueles das c1da·
des portuárias não-habilitadas e centros semelhantes - Londres, Ll·
verpool, Bristol - os centros de ferro e aço, e os pontos negros hab1· ESTE ENSAIO não é uma história do movimento trabalhista,
tuais da indústria semidoméstica em pequena escala de Midland - mas uma tentativa de discutirem detalhe um tanto maior do que é feito
Dudley, Kiddermiuster e assemelhados. . habitualmente, o funcionamento de dois conceitos-padrão que os
A análise do analfabetismo e da miséria dos velhos, portanto, aiu· Marxistas usam paraexplicarcertas tendências dos movimentos traba·
da a dar alguma profundidade, e até certo pouto modificar o nosso qua· lhistas sob o capitalismo: o conceito de uma "aristocracia do trabalho"
dro da estratificação da classe trabalhadora. gozando de privilégios especiais e portanto inclinada a aceitar as opi·
(1954) niões dos seus patrões; e a da "espontaneidade" do movimento que, de
uma forma bastante mais primitiva, leva a resultados semelhantes. É
provável que ambos estes fossem tirados originalmente da experiência
inglesa. Certamente o Imperialism de Lenine, que discute o primeiro,
deve muito ao trabalho anterior dos pensadores ingleses socialistas e
até liberal-radicais sobre o assunto. Ele é menos conhecido do que o
seu What Is To Be Dane, que contém uma discussão completa do últi·
mo, reflete uma leitura cuidadosa e extremamente crítica da grande
defesa dos Webbs do movimento sindical inglês "espontâneo", que
Lenine havia traduzido e1n seu exílio siberiano pouco antes. 1 Certa-
mente a Inglaterra é o locus classicus para ambos no século dezenove.
Uma análise tal como esta pode lançar luz sobre a força e a natureza do
"reformismo" do movimento inglês hoje. De qualquer maneira este
esboço pode servir para estimular a discussão sobre um assunto de
maneira alguma completamente explorado até agora.

367
366
a ascensão de concorrentes sérios no estrangeiro, e de um movimento
trabalhista político em casa, obrigou a classe dominante a fazer impor·
Algumas palavras sobre o caráter geral da econo1nia inglesa e do tantcs n1udanças administrativas e políticas, e a ro1nper, em certos sen-
desenvolvimento do movimento trabalhista podem servir como intra· tidos, decisivamente com uma política de laissezfaire.
dução. O capitalismo inglês no seu apogeu (cerca de 1850-75) era, A gravidade da sua crise recaiu sobre o capitalismo inglês entre
falando de uma maneira geral, um negócio em pequena escala, altamen- duas guerras, quando a lnglatcrra adquiriu rapidamente todas as carac-
te competitivo, de e1nprcsários individuais. (Mesmo a forma de organi- terísticas-padrão do imperialismo, tal como definido por Lenine: nota.
zação de capital conjunto foi lenta em se generalizar até o fim do sécu- damente a concentração da produção até o ponto do monopólio e do
lo). Além do mais, ele era tecnicamente um sistema conservador. A oligopólio, e a "criação com base no 'capital financeiro' de uma oligar-
grande era da revolução técnica e organizacional inglesa na indústria quia financeira". A situação desesperada revelada pela TI Guerra
estava, de uma maneira geral, terminada em 1850. Os triunfos da "ofi· Mundial acelerou a fusão do Estado e dos grandes negócios.
ciua do mundo" foram obtidos mais aplicando o progresso técnico dos Correndo o risco de alguma supersimplificação, portanto, pode-
primeiros pioneiros mais genericamente, do que sendo os prüneiros em mos dividir o nosso período em três fases:(!) até 1875, pré-monopo·
aparelhos novos e revolucionários. Até a I Guerra Mundial as novas lista; (2) 1875-1918, transitória-com, talvez, o divisor de águas deci-
indústrias, baseadas nos tipos mais modernos de mecanização, produ- sivo exatamente onde Lenine o colocou, por volta de 1900; (3) a partir
ção em massa, etc., foram obscurecidas pelas velhas indústrias básicas de 1918, completamente monopolista. Deve-se lembrar que o progres-
relativamente estáveis como a mineração de carvão, têxteis e a fabrica- so do monocapitalismo foi acompanhado também por mudanças
ção de máquinas antiquadas. A fusão do aparelho do Estado com o importantes na estrutura industrial, notadamente a ascensão de novas
comércio capitalista, tão característica do capitalismo moderno, mal indústrias baseadas na mecanização e tipos modernos de organização
tinha começado. A Inglaterra Médio-Victoriana era uma partidária ain- fabril, bem como por um aumento no tamanho das unidades industriais
da mais lógica da "livre iniciativa" do que o comércio americano, por- e comerciais.
que ela rejeitava até as tarifas. O fato de a sua política de laissezfaire se O desenvolvimento do movimento trabalhista recai em grande
apoiar em certas vantagens temporárias não afeta a situação. parte nos mesmos períodos. Nossa primeira fase presenciou um movi-
Este era, de uma maneira geral, o estado de coisas até 1875. Daí mento razoavelmente pequeno de sindicatos de ofício ou do tipo sec-
por diante podemos distinguir três fases principais no progresso - ou cional, sociedades de socorros mútuos e assemelhados, tendendo poli.
melhor, regresso - do capitalismo inglês. Da Grande Depressão de ticamente a aceitar a estrutura liberal. Nossa segunda presenciou un1a
1873-96atéa1 Guerra Mundial, o crescimento do capitalismo de mono- série de expansões que mudaram a escala do movimento: em 1889-90,
pólio no sentido da concentração industrial, o crescimento da moderna em 1910-14 e durante a Primeira Guerra Mundial, os primórdios de um
produção em massa, etc., foi anormalmente lento, comparado com a movimento político distinto dos partidos tradicionais e que exigiam
Alemanha e os Estados Unidos, enquanto o da política imperialista, e políticas incompatíveis com a fase do laissez·faire capitalismo; e tam-
do aparelho do Estado imperialista, foi bastante rápido. O investimen- bén1 o renascimento dos grupos revolucionários e socialistas. Nossa
to estrangeiro e o renascimento do velho comércio básico de exporta- última presenciou o inovimento co1no um todo convertido -teorica-
ção após a depressão obscureceu a deterioração fundamental da posi- mente-à necessidade de substituir o capitalismo, embora ao mesmo
ção internacional da Inglaterra apenas o suficiente para tornar o tempo lançando raízes firmes no solo do capitalismo de monopólio, a
comércio relutante em empreender aqueles esquemas grandes e onero- ascensão de um Partido Comunista. Estes não foram, naturalmente,
sos de reequipamento e reorganização que haviam sido largamente dis- ajustamentos graduais. A tendência geral do movimento se fez sentida
cutidos durante a depressão. (A geração atual de pensadores comerciais através de uma série de curvas em ziguezague, períodos de progresso
está culpando a passada amargamente por esta omissão). Por outro lado radical sucedidos por outros de conservantismo relativo ou regressão

368 369
absoluta. Assim, os períodos de militância no começo da década de
começou até o período da Grande Depressão. Daí as vantagens dos
1850, no fim da de 1860 e começo da de 70, o começo da de 1890,
"negociadores fortes" serem desproporcionalmente grandes.
1910-14, o meio e o fim da de 1930, e 1941-5 foram seguidos porosci-
Mas as condições das negociações (reais ou implícitas) emergi-
lações na direção oposta, tais como, por exemplo, a mudança marcada ram quase inteiramente do regateio dos inumeráveis mercados de tra-
para a direita no Congresso Sindical após a Greve Geral, e no governo balho, seccionais e regionais. (Não se deve superestimar neste perío-
trabalhista depois de 1945. do, exceto para fins muito lünitados, ou numa análise inuito geral, o
papel do mercado de trabalho "nacional"). Em geral eles não foram,
inicialmente, conseqüência de uma política consciente. Os patrões
II eram hostis aos sindicatos em princípio, exceto quando forçados a
negociar com eles. Não foi senão até as décadas de 1860 e 1870 que/
O conceito de "aristocracia do trabalho" era familiar para todos descobriram que os mecanismos formais para facilitar as relações tra-
os estudantes do movimento trabalhista do século dezenove na balhistas eram desejáveis de um ponto de vista comercial, e que a nego-
Inglaterra. Mas ao analisá-lo, devemos distinguir be1n nitidamente ciação de corpos de trabalhadores com corpos de patrões recebia
entre a era pré-imperialista e as outras. Na "idade do ouro" do capita- vários graus de reconhecimento oficial ou não-oficial. Este foi o perío-
lismo inglês sua parcela dos lucros comerciais dependia, para fins prá- do da legislação sindical de 1867-75, de vários corpos para a concilia-
ticos, da força direta de negociação (ou, o que vem a dar na mesma ção e acordos de escala móvel, da defesa dos sindicatos pelos comer-
coisa, do valor da escassez e da capacidade de resistir) dos grupos indi- ciantes como meio para evitar perturbações'. Mas isto foi em grande
parte um reconhecimento de fatos estabelecidos, embora fosse sem
viduais de trabalhadores; e da determinação disto, as organizações tra-
dúvida apressado pelo medo da força política dos artesãos urbanos,
balhistas, sindicatos, cooperativas, sociedades de socorros mútuos -
que venceram o voto parlamentar em 1867. Em outras palavras: a
desempenharam uma parte vital.* A "aristocracia do trabalho" tendeu
transformação dos trabalhadores cartistas militantes em aristocratas
a ser um grupo nitidamente demarcado. Entre 1850 e 187 5 os salários
do trabalho respeitáveis, o que Thomas Cooper notou e deplorou,' teve
reais subiram apenas para aqueles cuja renda em dinheiro podia ser ele- lugar "espoutaneamente", sem qualquer mudança importante da polí-
vada mais depressa do que os preços. Além do mais, só os trabalhado- tica capitalista, e com mudanças conscientes relativamente pequenas,
res com recursos substanciais podiam - individualmente, ou através na política trabalhista'.
de corpos como as cooperativas - ter acesso aos artigos de consumo Com o reconhecimento oficial do sindicalismo e a chegada da
de boa linha e qualidade, que estivessem aos níveis de preço da classe Grande Depressão na década de 1870, a colaboração das classes cons-
média. Para o resto, os trapos e artigos adulterados que constituíam cientes e deliberada fez-se abertamente. Agora os Fabricantes de
sinônimos "baratos e sórdidos", tinham que bastar; porque os alimen- Caldeiras podiam cantar (1872):
tos baratos de ultramar não começaram a chegar senão na década de
1870 e, com algumas exceções, a produção de artigos de consumo Agora é verdade que o capital
para, o mercado barato de massa (roupas feitas, por exemplo) não Deve correr os riscos todos,
Como sob o sol a nau
Exposta aos ventos todos;
*'Isto não significa, como foi declarado muitas vezes, que somente os aprendizes de arte-
sãos, ou aqueles que comandavarr1 o que era então consideradocon10 ''habilitação" podiam gozar Do comércio sentir o fluxo e refluxo inicial,
dela: embora a prevalência das formas antiquadas, quase pré-industriais de habilidade artesanal Deve conhecer a concorrência crucial.
- p. ex , fabricação de máquinas e trabalhos de construção - co\orisse111 muito do 1novimento Portanto é justo e salutar
~indicai.
Os empregados devem insistir,
370
371
E ajudar com todas as suas forças competitivas de sua indústria, ou dos fabricantes de caldeiras que
Os patrões a competir.-1 devolveram aos seus patrões qualquer perda financeira devida ao tra-
balho malfeito ou a greves não-autorizadas dos seus membros,' sim-
Foi agora que os grandes sistemas de sindicalismo quase-comer- plesmente precisava ser generalizada, e colocada num cenário de
cial foram organizados nos ramos principais de exportação-fiação de negociação institucional e de políticas do século vinte, para parecer a
algodão, construção naval, os campos de carvão do nordeste - para política dos Conselhos Gerais da TUC pós-1945.
serem expostos à admiração geral na Industrial Democracy dos É importante lembrar que a aristocracia do trabalho ou, até o pon-
Webbs: 1 to onde os dois não eram a mesma coisa, o movimento trabalhista do
período, necessariamente excluíram muitos, talvez a n1aioria dos tra-
"O patrão ra7.oável e o trabalhador sindicalista razoável; o capitalista justo e o balhadores. Para começar, só um número limitado era capaz de orga-1·
trabalhador justo, o burguês de coração grande, a1nigo dos trabalhadores e o nização sindical de qualquer espécie. A imensa massa de semi proletá-
proletário de rnente burguesa estreita condicionam-se uns aos outros, e são
rios, os pobres flutuantes, irregularmente empregados, trabalhadores
ambos corolúrios de u1na e n1esnu1 relação, cujo f undan1cnto era a posição eco-
nón1ica da lnglate1Ta do meio do século dezenove ( ... )"1' externos ou operários das pequenas oficinas, o meio-mundo de misé-
ria que emerge do London Labor and the London Poor de Mayhew na
A colaboração da classe dos aristocratas do trabalho nas décadas década de 1850, ou da pesquisa de Charles Booth nas décadas 80 e 90,
de 1880 e 90 foi, naturalmente, numa escala mais limita.da do que as estavam, para fins práticos, fora do alcance dos sindicatos. Além do
versões posteriores. Ela contava com a operação lucrativa da econo- mais, até o ponto em que certos corpos de trabalhadores tinham afini-
mia inglesa, desde que o livre comércio continuasse, e limitou os seus dades com este substrato flutuante- migrantes sazonais, como ostra-
balhadores do gás, homens contratados casualmente, como nas docas,
esforços a manter o seu próprio chefe ou a sua própria indústria num
ou tnuitos dos níveis mais baixos das fábricas de então- eles sofriam
estado apropriado para garantir concessões. Não havia até agora
de incapacidades semelhantes. A força do cartismo havia se apoiado
nenhuma crença geral de que o movimento
precisa1nente em sua capacidade de mobilizar essas vastas inassas dos
"está preocupado com a prosperidade da indústria( ... ) possa encontrar 1nais uso incompletamente proletarizados. Os grandes surtos político-indus-
para un1a indústria eficiente do que urna abandonada, e os sindicatos possam triais militantes de 1889 e 19 ll iriam fazer o mesmo. Mas todos estes
usar a sua força para promover e guiar a reorganização científica da indústria, tiveram sucesso porque foram além dos limites do sindicalismo estrei-
be1n co1no obter as vantagens n1ateriais desta reorgani;;ação'". to, e deram ao movimento revolucionário ou socialista liderança e
perspectiva. Na falta dessa consciência política, estas seções da popu-
Esse sindicalismo comercial organizado nu1na escala nacional, como lação trabalhadora continuaram, por alguma extensão de tempo, não-
as conferências Mond-Turner de 1927-8 sugeriram, emergiu da desco- organizadas e não-representadas. Não se deve esquecer que, fora de
berta dos sindicatos de que a economia capitalista inglesa estava em alguns centros, um sistema fabril completamente desenvolvido, ou
estado de crise grave. Menos ainda havia qualquer tendência de. modi- qualquer unidade de produção em grande escala, não se desenvolveu
ficar as táticas tradicionais dos sindicatos. Não foi senão até o fim da até o fim do século'.
década de 1940 que foi possível para um Conselho Geral da TUC acei- Um reflexo semelhante do arcaísmo relativo da estrutura indus]
tar um congela1ncnto de salários numa ocasião de lucros forte1ncnte triai inglesa é o tamanho do que podemos chamar da população "dócil"
crescentes, a fim de garantir a estabilidade da economia como um todo. As estradas de ferro americanas, por exemplo, organizaram cedo sindi
Apesar de tudo, em essência, a atitude seccional dos operários do algo- catos fortes. As estradas de ferro inglesas, contudo, providas de pessoal
dão durante a Grande Depressão, que se recusaram a fazer campanha (fora da plataforma do maquinista e dos níveis da oficina) principal-
por um dia de oito horas porque isso podia prejudicar as perspectivas mente do grande reservatório da mão-de-obra barata e intimidada das

372 373
relíquias do começo do capitalismo tais como os sistemas de subcon-
aldeias, não conseguiram fazer isso senão muito mais tarde; e quando o
tratação, e assemelhados, que transformavam muitos trabalhadores
sindicalismo chegou, foi em grande parte sob a forma do sindicato
habilitados ou de supervisão em verdadeiros co-patrões dos seus cole-
industrial. Contudo é verdade que a lentidão das mudanças técnicas, e a
gas menos favorecidos, porque os sindicatos - como o dos Maqui-
proteção e imobilidade relativas de certos ofícios, compensaram isto
até certo ponto. Quando, por motivos históricos, u1n núcleo de "nego- nistas - inuitas vezes lutaran1 contra estes, ou não fizeram nenhum
ciadores fortes", dispostos a lutar, já existia, não era tão fácil submergi- esforço para perpetuá-los.''' Mais importante é o fato de que a escassez
lo numa inundação de mão-de-obra barata. Assim os fiandeiros à dos trabalhadores re!ativamente prósperos era função do excesso rela-
máquina do Lancashire conservaram e aumentaram o controle da sua tivo no resto do mercado de trabalho. Toda a questão do sindicato de
indústria, e se tornaram a espinha dorsal de toda uma série de sindicatos ofício clássico consistia em manter o ofício, e a entrada para o ofício,
de vários níveis, inclnsive de mulheres, na indústria algodoeira; ao pas- restrita - muito ao contrário dos argumentos atuariais para excluir
so que nos Estados Unidos as mudanças mais temerárias deixaram cor- aqueles trabalhadores menos saudáveis ou qualificados que simples-
pos semelhantes no nordeste encalhados como pequenos grupos de mente esvaziariam os fundos do sindicato enfraquecendo a força de
artesãos, enquanto uma indústria de n1ão-de-obra barata com sindica- negociação de outras maneiras. Daí o sindicalis1no universal estava
tos fracos foi construída em outra parte. Mesmo entre os grupos inferio- fora de discussão embora muitos sindicatos o favorecessem honesta-
res, fatores como a solidariedade nacional dos irlandeses ajudaram a mente, exceto quando ele p,u·ecia ameaçar o monopólio seccional de
criar organizações bastante boas aqui e ali - entre os estivadores, por emprego deles.
exemplo. De uma maneira geral, contudo, foram precisas duas gerações Apesar de tudo, o sindicalismo seccional deste tipo não era sem
de lutas para enfraquecer decisivamente a docilidade tradicional de valor mais amplo. Afinal de contas, ele tinha duas faces: se ele lutasse
grande parte da mão-de-obra barata inglesa. contra o resto da classe trabalhadora por sua posição especial, lutava
também contra o chefe (até o reconhecimento, de qualquer maneira),
pelo direito a uma parcela dos seus lucros - uma parcela pequena e
III estável. No curso desta luta ele estabeleceu não simplesmente uma
série de mecanismos e instituições que se tornaram propriedade
O terceiro fator e mais importante em limitar o tamanho da aris- comum do movimento - Conselhos de Ofícios, o Congresso dos
tocracia do trabalho era a crença, que dominava as políticas de contra- Sindicatos, a maneira eficiente de administrar os negócios do sindica-
tação de muitos patrões, de que os trabalhadores podiam ser divididos to, a estratégia e as táticas das campanhas a curto prazo- mas todo um
em dois grupos: os "artesãos", que possuíam habilidades ou qualifica- sistema de ética da militância"'. O aristocrata do trabalho podia usar
ções especiais, e a massa da "mão-de-obra comum", que podia ser con- uma cartola e pensar em assuntos comerciais exatamente como o seu
tratada, despedida, ou trocada à vontade, sem fazer qualquer diferença patrão, mas quando os piquetes estavam na rua contra o chefe, ele sabia
apreciável na eficiência; da qual havia normalmente uma superoferta o que fazer. Além do mais, ele desenvolveu, numa base estreita, uma
disponível na maioria dos lugares, exceto talvez no próprio ápice de solidariedade e consciência de classe, uma crença de que desde que um
um surto econômico cíclico ou sazonal. Apenas certos tipos de traba- homem trabalhava por salário seus interesses eram determinados
lhadores estavam em posição de tornar ou manter o seu trabalho bas- exclusivamente por esse fato: uma convicção que se tornou uma parte
tante escasso, ou bastante valioso, para concluir um bom acordo. Mas
as condições relativamente favoráveis que eles conseguiam eram, em ' Uma exceção importante eram algumas formas de trabalho infantil na indústria algo-
1
'

grande parte, conseguidas realmente a custa dos seus colegas inenos doeira e de mineração de carvão, que os sindü:alos lularam por muito tempo e duramente para
favorecidos; não simplesmente à custa do resto do mundo que o comér- con5crvar; nestes casos os 1ncmbros cstavain principahncnte explorando ao 1náxitno seu'.> pró-
prios filhos.
cio inglês dominava. Não precisa1nos acentuar a prevalência dessas

374 375
valiosa da tradição trabalhista inglesa. O secretário do sindicato dos é igualmente significativo - nos corpos importantes dos até então
fiandeiros ou dos sopradores de vidro podia se tornar gerente da fábri- não-privilegiados e mal pagos, e no que podemos chamar de movimen-
ca ou empresário; mas enquanto fosse um homem do sindicato, com- to trabalhista profissional dos políticos, funcionários dos sindicatos e
portava-se como tal. E a existência de um forte núcleo de sindicalismo
outros especialmente susceptíveis à persuasão capitalista.*
em muitas indústrias básicas (porque os sindicatos de ofícios eram,
Por paradoxal que pareça, os menos "confiáveis" destes eram
graças à nossa estn1tura industrial, 1nuito mais bem-sucedidos do que
alguns dos velhos aristocratas do nosso primeiro período, porque a
os americanos) tornou muito mais fácil expandir os objetivos do movi-
nova era minou a posição deles de privilégios especiais. É bastante
meuto mais tarde.
provável que, relativamente falando, a posição do artesão habilitado
inglês nunca foi mais alta do que na década de 1860, nem o seu padrão
de vida e acesso à instrução, cultura e viagens (pelos padrões contem-
IV
porâneos) tão satisfatório, nem a distfmcia entre ele e os pequenos
fabricantes locais que o empregavam tão estreita, nem entre ele e a
O advento do imperialismo mudou este estado de coisas. Se
massa de "1não-de-obra" tão larga.':"'' Mas a primeira se alargou, à
vamos falar de u1na "aristocracia do trabalho" de tendências reformis-
tas neste período, estaremos descreveudo alguma coisa muito mais medida que a produção se concentrou e o dono-administrador deu
complexa do que a próspera "classe dos artesãos" da década de 1860. lugar à corporação de capital conjunto, e à medida que todo um con-
Então havia massas de trabalhadores ingleses que, para fins práticos, junto de novas técnicas administrativas e graus burocráticos se intro-
não haviam se beneficiado do capitalismo inglês. Quanto mais avan- duziram entre o "homem habilitado" e o seu patrão. A última distância
çamos na era imperialista, mais difícil se torna pôr-se o dedo sobre gru- se estreitou, à medida que também graus semi-habilitados intermediá-
pos de trabalhadores que não tiraram, de uma maneira ou de outra, rios - operadores de máquinas e assemelhados - encheram o abis-
alguma vantagem da posição da Inglaterra; que não foram capazes de mo entre "artesão" e "trabalhador", e empurraram até o próprio arte-
viver bem melhor do que o teriam feito num país cuja burguesia pos- são para o que ele considerava como trabalho semi-habilitado. Muitos
suísse menos reivindicações acumuladas sobre os lucros e dividendos membros do Sindicato Unido dos Maquinistas hoje não teriam sido
no estrangeiro, ou força para impor as condições do comércio com as admitidos no seu predecessor na década de 1880. Além do mais, a
áreas atrasadas. Ou, já que não há nenhuma correlação simples entre o generalização da comida barata, dos artigos de consumo baratos pro-
padrão de vida e a moderação política, sobre os trabalhadores aos quais duzidos em massa, da instrução pública e da seguridade social dimi-
não se podia fazer sentir que os seus interesses dependiam da continua- nuíra1n as vantagens anormais dos salários inais altos no período ini-
ção do imperialismo. É realmente verdade que os "benefícios" do cial. Finalmente, é claro, a crise interguerras iria atingir precisamente
imperialis1no, e suas pro1nessas, eram distribuídas desigualmente as indústrias básicas da Inglaterra do século dezenove nas quais o "ve-
entre os vários trabalhadores em qualquer momento dado; e que alguns lho" movimento trabalhista estava mais firmemente entrincheirado.
dos mecanismos para distribuí-los não entraram em funciona1nento Passo a passo o aristocrata do trabalho se viu forçado a entrar nas filei-
completo até os anos interguerras. É igualmente verdade que a crise ras da classe trabalhadora; e, no todo, ele deslocou-se para a esquerda.
crescente da economia inglesa complicou o padrão. Mas, no todo, a Daí a sua presteza, após 1900, em aliar-se com os socialistas no Partido
mudança permanece. Trabalhista; cm romper com o Partido Liberal que havia apoiado apai-
Na década de 1880, então, procuramos o "proletariado burguês" xonadamente; finalmente em apoiar até um programa socialista.
do qual Marx falou, quase inteiramente entre a camada dos "artesãos"
favorecidos. No período imperialista os encontran1os não só lá, e nos
':'':'Ver, Capílulo 15.
grupos totalmente novos de trabalhadores privilegiados, mas - e isto ':":'Ele estava, na verdade_ sendo rnencionado cada vez mais corno da "classe média baixa".

376
377
Enquanto isso, contudo, novos grupos de "aristocratas do traba- força de negociação desprezível para respeitável. A moderna legisla-
lho" haviam surgido nos graus administfativos, técnicos e burocráti- ção de seguridade social trouxe de qualquer maneira um ligeiro alívio
cos, e é entre estes que devemos procurar o verdadeiro "proletariado das horríveis ansiedades daqueles sem absolutamente quaisquerreser-
burguês do imperialismo", lisonjeado pelos seus dirigentes (a nova vas financeiras. Duas guerras inundiais trouxeram até a contingência
imprensa popular era principalmente dirigida a eles), recusando-se até única da escassez de mão-de-obra. Para os párias totais dos cortiços do
a se considcrare1n co1no membros da classe trabalhadora. A posição meio do século dezenove, mesmo melhoramentos modestos pareciam
especial deles não era nem mesmo dependente da negociação coletiva, ganhos absolutos. O artífice habilitado consideraria com razão a intro-
como a dos "artesãos" tinha sido; os ganhos reais deles nos níveis infe- dução da máquina semi-automática operada a um ou dois pennies aci-
riores não eram 1nuito mais altos do que os dos artesãos: eles tiravam ma da taxa do trabalhador, como um meio de intensificar a exploração.
muitas das suas vantagens diferenciais e1n ter1nos de u1n status social O trabalhador não-habilitado bem poderia, feitas todas as reservas,
mais alto. Em conseqüência, já que o objetivo principal deles era se ele- considerar isso como uma promoção triunfante por algum tempo pelo
varem acima dos graus mais bem pagos dos trabalhadores cm mangas menos. O arcaísmo da estrutura industrial inglesa no período anterior
de camisa, a hostilidade política deles ao trabalhismo era satisfatoria- aumentou o efeito dessas inudanças.
mente intensa. Só gradualmente a crise da economia imperialista os Além do mais, o que quer que tenha acontecido ao não-privile-
trouxe para o movimento trabalhista. Surgiram sindicatos burocráti- giado como um todo, seções deles sem dúvida melhoraram sua posi-
cos, em pequena escala, na década de 1890, e novamente pouco antes ção, pelo menos através das mudanças automáticas na distribuição e
dai Guerra Mundial. As conseqüências dessa guerra trouxeram os pri- estrutura das indústrias. Enquanto os velhos centros de mão-de-obra
mórdios do sindicalismo profissional entre os cientistas, professores habilitada se tornavam áreas abandonadas, habitadas por desemprega-
universitários e assemelhados, e a firme sindicalização de pelo menos dos a longo prazo, os velhos centros de mão-de-obra casual e baixo
um grupo de empregados burocráticos, os empregados do Funciona- nível se tornaram sedes relativamente prósperas de produção em mas-
lismo Público. Mas não foi senão até os últimos anos da II Guerra sa da indústria leve, distribuição etc. Entre 1929 e 1937 a taxa de
Mundial, com sua expansão dos sindicatos profissionais e de supervi- desemprego em Londres nunca chegou à metade da do litoral nordes-
sores, e a sublevação política que fizeram as massas de homens e te.''' Na década de 1880 os estivadores tinham sido considerados- e,
mulheres burocratas e administradores votarem no trabalhismo pela embora eles conti vesse1n grupos mais fortes, considerados co1n razão
primeira vez, que ocorreram mudanças realmente importantes (embo- como um corpo tipicamente fraco e impotente; em 1948 eles estavam
ra provavelmente ainda não-decisivas) na aliança destes grupos. entre os trabalhadores mais altamente pagos. Novamente, a vasta
Mais importantes ainda foram as mudanças no status da massa da expansão do governo central e local proporcionou uma grande quanti-
mão-de-obra até então não-privilegiada, não-reconhecida e não-orga- dade de empregos protegidos e relativamente seguros para os trabalha-
nizada, ilustradas pela distância que se estreitava entre as taxas de salá- dores pouco qualificados que, anteriormente, teriam feito parte inevi-
rio "habilitadas" e "não-habilitadas"*: Os aperfeiçoamentos moder- tavelmente do reservatório casual. Seria interessante esboçar o
crescimento destas redes de "interesses adquiridos na estabilidade",
nos da produção trouxeram a oportunidade de ascensão de empregos
não-habilitados para semi-habilitados; do subemprego casual para o por exemplo em áreas como a Gales do Sul e Londres, nas quais o Par-
regular, embora não-necessariamente contratos mais bem pagos; da tido Trabalhista teve o controle do patrocínio municipal por um longo
período. Podem-se multiplicar esses exemplos.

':'Assim a taxa do trabalhador em construção, 50 porcento da do artesão antes de 1914 é


hoje de 80 porcento dela. A generalização do pagamento por resultados significou, contudo, q~c ':' Con1parc o julgamento de Schulze-Gaeverni11. 110 começo do século de que ''O proble-
os ganhos não foram nivelados da 1ncs1na maneira que as taxas. ma do desemprego é principalmente um proble1na de Londres e da camada prolelária inferior".

378 379
O que é ainda mais importante, os não-privilegiados pela primei- democratas Marxistas. (Podemos acrescentar que ele foi facilmente o
ra vez se tornaram capazes de usar os métodos de negociação do movi- mais bem-sucedido dos sindicatos gerais fundados em 1889). Contu-
mento trabalhista em larga escala. A escala da negociação coletiva do dentro de vinte anos ele havia mudado consideravelmente para a
aumentou; ela teve lugar mais e mais numa teia de instituições públi- direita; e as grandes figuras da sua segunda e terceira gerações - o
cas ou semi públicas; ela foi apoiada pela pressão de um movimento Reto e Honrado J.R. Clynes, Lorde Dukeston, Sir Tom Williamson-
trabalhista independente e ameaçador. Para o sindicato de ofício esta- estão n1ais ou menos tão longe à direita do Partido Trabalhista quanto
belecido (digamos dos Fabricantes de Caldeiras ou Tipógrafos) isto possível. A história do Sindicato dos Estivadores, outro filho de 1889,
pouco significava; porque eles já eram reconhecidos, e a sua força de e ancestral dos Trabalhadores em Transportes de hoje, é ligeiramente
negociação era de qualquer maneira formidável. Para os até então fra- mais complexa.
cos e não-privilegiados, ela trouxe uma mudança profunda e, como Ele entrou em colapso bastante sério entre 1892 e 191 O, e teve que
veremos, tentações importantes. ser reanimado por outro acesso de expansão agressiva, que deu à sua
É verdade que a crise da economia inglesa neutralizou estas ten- liderança rebelde original um segundo período de proeminência; além
dências. Possivelmente, se o país tivesse enfrentado uma crise catas- do mais, certas seções que o constituíam, tais como os homens do ôni-
trófica cujos efeitos sobre o padrão de todos os trabalhadores tivesse se bus, enfrentaram problemas que os empurraram, também, para a esquer-
tornado palpável, isso as teria suplantado completamente. Mas os
da. Contudo, se acompanharmos a carreira do maior dos líderes da sua
lucros acumulados do monopólio mundial e do império, a posição
segunda geração, o Sr. Ernest Bevin, das suas origens social-democráti-
estratégica do capitalismo inglês, protegeram tanto os trabalhadores
cas Marxistas em Bristol, através do seu período de ativa agitação sindi·
como os patrões contra um impacto da realidade cruel demais, até uma
calista industrial, até o sucesso, uma carreira tão afastada da do chefe
ocasião em que o movimento trabalhista de "livre iniciativa" da déca-
radical do maior sindicato do país, e entrando finalmente no Gabinete
da de 1870 tivesse tido tempo de se alargar no poderoso movimento
como Secretário do Exterior, a tendência geral é suficientemente óbvia.
Fabiano-reformista do nosso século. Assim, o movimento para a
Os dois grandes sindicatos dos proscritos de 1889 se tornaram os dois
esquerda entre os velhos aristocratas do trabalho foi mais lento e mais
pilares principais do conservantismo do movimento inglês.*
parcial do que se podia ter esperado, embora fosse inconfundível nos
sindicatos de ofício clássicos tais como os Maquinistas Unidos; embo-
ra o Secretário Geral dos Fabricantes de Caldeiras hoje possa ser ouvi-
V
do dizendo coisas que fariam o seu predecessor da década de 1880 se
torcer na sepultura, e os veneráveis Fundidores de Ferro, que remon-
tam a 1809, são hoje um sindicato de esquerda de níveis semi-habilita- O que torna estas mudanças tão complexas é a notável combina-
dos relativa1nente inal pagos. Mas se eles mudaram, ainda mais sur- ção de correntes políticas que fluem tanto para a direita como para a
preendentemente, outros também, notadamcnte os dois grandes esquerda; e intensificação local do reformismo num cenário geral de
Sindicatos Gerais de Transportes e Trabalhadores Municipais, que radicalização, por exemplo. Vimos que na idade do ouro do monopó-
hoje constituem um quarto do número total de membros do sindicato. lio mundial inglês, a classe dominante havia comprado a estabilidade
O ancestral dos Trabalhadores Municipais, o Sindicato dos Traba- social, e o que ela considerava como produção eficiente,** a um preço
lhadores de Gás de Will Thorne, começou a vida no ano do levante,
1889, como a coisa mais perto de um corpo "vermelho" concebível O Sindicato de Trabalhadores Gerais e de Transportes mudou para a esquerda novmnen-
antes da fundação dos partidos comunistas. Eleanor Marx constituía tc, graças à sucessão um tanto inesperada ao trono de F Cou~in~ yue devia a sua ascensão no sin-
dicato a este ele1nento da esquerda e representava.
uma força na sua diretoria; seu marido redigia suas regras e objetivos; **Pelos padrõe~ modernos de administração da rnão-dc-obrae!aeragrosseiramente ine-
virtualmente todos os seus líderes nacionais e distritais eram social- ficiente. Ver, Capítulo 17.

380 381
grotescamente barato, como Joseph Chamberlain foi o primeiro alem-
Grande Depressão (especialmente de 1880 até o meio da década de 90)
brar aos seus colegas 11 • Teorica1nente o caso para o reformismo delibe-
presenciou tanto uma radicalização do movimento (o renascimento do
rado, ou uma "economia" consciente "de a] tos salários" corno meio de
socialismo, a organização de sindicatos novos e militantes) como urna
obter ambos sob as condições da nova era, foi forte; e numerosos gru-
intensificação do embourgeoisement* dos velhos sindicatos, cujos pri-
pos de intelectuais, desde Toynbee e Alfred Marshall até Sidney e
mórdios nota1nos acima.
Beatrice Webb, forçaram-na. O mesmo fizeram alguns patrões, por
irônico que pareça muitas vezes ho1nens cujas ligações com as colô-
O historiador olhando para trás sobre todo o período fica portan-
nias eram especialmente íntimas, como as firmas de cacau, chocolate to impressionado tanto pelos retrocessos maciços da colaboração das
e sabão. Na prática, contudo, os capitalistas estavam conscientes de classes como pelos seus grandes progressos. O desemprego da
uma ameaça crescente, e raramente inclinados a fazerem concessões, Depressão da década de 1880 fez mais para abalar a crença dos sindi-
exceto sob coação. O imperialismo inglês, afinal de contas, desde o calistas ingleses na iniciativa privada libertada do que o reconheci-
começo, registrou um passo para trás, do monopólio mundial potencial mento oficial da aristocracia dos ofícios para reforçá-la. O contra-ata-
para o verdadeiro monopólio de u1n quarto do mundo; embora em que desesperado dos patrões contra o sindicalismo radical de 1889 e
números absolutos o últilno possa ser maior do que o primeiro. Mas depois destruiu realmente grande parte dele; mas seu resultado princi-
prccisa1nente na ocasjão em que os horizontes ilimitados estavam se pal a longo prazo foi empurrar até os velhos sindicatos conservadores
contraindo para eles, os comerciantes ingleses pareceram ser solicita- para urna simbiose com os socialistas -para um Partido Trabalhista
dos através de concessões diretas, através de taxação ou de outra for- independente potencialmente distinto do Liberalismo da classe média.
ma, a pagar mais dos seus lucros do que antes a mais trabalhadores. O partido foi durante anos pouco mais do que um fraco grupo de pres-
(Não estou discutindo aqui se, de fato, estavam; mas era isso que pare- são sobre o flanco dos Liberais; e facilmente apaziguado. Mas enquan-
cia para o comerciante individual.) Certamente eles foram solicitados to os líderes trabalhistas parlamentares eram domados (poucos deles
a abandonam direito de "fazerem o que quisessem com o que lhes per- jamais foram realmente selvagens), o fracasso do imperialismo
tencia" ao que estavam acostu1nados. Edwardiano de manter as condições da classe trabalhadora precipita-
As concessões foram portanto extorquidas pela força; e seguidas ram outro irrompirnento de inquietação trabalhista, dirigido pelos sin-
de contra-ataques cada vez mais desesperados, que forçaram até a dicalistas das fileiras e sindicalistas industriais. AI Guerra Mundial
mão-de-obra moderada para a esquerda. A decisão dos sindicatos de fez ainda mais para alienar os trabalhadores de uma crença no sistema
formarem um Partido Trabalhista ( 1898-1906) em conseqüência do capitalista, rompeu a lealdade do Partido Trabalhista aos Liberais, a
ataque ao seu starus legal é o exemplo mais bem conhecido. Na verda- qw meles substituíram dentro de poucos anos; e até comprometeram
de, tanto o reformismo como o ataque podem ser vistos em ação simul- o p rtido teorica1nente com urr1 programa socialista. Realmente, de
taneamente. Assim após a Greve Geral de 1926 os donos do carvão e 1921 até 1934 os patrões contra-atacaram com muito efeito. Em 1934
as seções mais estúpidas do Partido Conservador reagiram da maneira os sindicatos dificilmente tinham mais membros do que em 1913, o
tradicional pelo esmagamento do sindicato e a legislação punitivaanti- Partido Trabalhista estava reduzido a um resto de 50 e tantos membros
sindical. Enquanto isso outro grupo de patrões, chefiado por Sir Alfred do Parlamento, e por força da miséria humana sem paralelo o custo
Mond do truste químico, enfrentou a ameaça da maneira exatamente inesperadamente alto dos serviços sociais, notadarnente o auxílio-
oposta, convidando a liderança do Congresso Sindical para as notórias dcsemprego, havia sido restaurado numa base "atuarialmente sólida".
conferências sobre a paz e a racionalização industrial que, sob o nome Tampouco os líderes moderados do movimento resistiram fortemente,
de conferências Mond-Turner, se tornara1n u1n ponto de referência na estando eles próprios ansiosos para recuarem da posição radical incô-
história da colaboração de classes. Da mesma forma, ambas as tendên-
cias coexistiram no movimento trabalhista. Assim o período geral da
* NT -Aburguesamento.
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383
moda para a qual a inquietação de 1911-26 os havia forçado; se não, ção genuína da Inglaterra às realidades econômicas e políticas do
como Macdonald, Snowden, J.H. Thomas e outros, de se bandearem período pós-imperial deve produzir profundas mudanças nas políticas
inteiramente para os proletários.Apcsardisso o principal resultado das inglesas doméstica e externa. Na verdade, um dos argumentos menos
décadas interguerras duramente enfrentadas foi de alienar um núcleo anunciados dos campeões do Mercado Comum Europeu foi que a
sólido de milhões de cidadãos permanentemente (é seguro dizer) de exposição às economias européias destruiria a força do imenso interes-
qualquer partido que não pron1etesse o socialismo. A avalanche de se adquirido no conservantls1no econômico e técnico tanto entre os
1945 foi a resposta. Isto não significa que a liderança reformista do comerciantes como os sindicatos, levando à falência os inais ineficien-
movimento trabalhista tenha se tornado absolutamente menos ligada tes dos primeiros e destruindo os segundos. O argumento de que o
ao status quo; se há algu1na diferença o caso foi o oposto. É positiva- reformismo inglês em sua forma atual depende de uma certa proteção
mente tão fácil justificar uma política moderada nas frases socialistas contra as realidades econômicas não depende da presunção de que a
como nas liberais ou conservadoras; as primeiras podem ser até mais exploração imperial continue como antes". Ela pode ser reformulada
eficientes. Mas se a consciência socialista da classe trabalhadora ingle- para depender de uma ou mais de quatro presunções.
sa é mais potencial do que real; se realmente ela é a todo momento A primeira destas é a vantagem imensa e crescente que todas as
transformada no seu oposto no contexto de um movi1nento reformista economias adiantadas têm sobre todas as atrasadas ou fracamente desen-
e instituições imperialistas, devemos apesar de tudo estar errados em volvidas. A segunda é a falta de depressões econômicas sérias, isto é, de
subestimar o processo amargo da educação política que a ensinou a desemprego em massa, desde 1941 . A terceira é a força anormal do
rejeitar totalmente o capitalismo, embora possa não saber completa- movimento trabalhista na Inglaterra. A quarta é a sobrevivência da
mente o que significa tal rejeição. exploração econômica imperialista antiquada ou remodelada, que não é
inteiramente desprezível. Contudo, não é de maneira alguma certo que o
ajustamento à oposição econômica inglesa real no mundo transformaria
VI o movimento trabalhista inglês de reformista em revolucionário, pelo
menos porque há claramente fatores importantes desfavoráveis a qual-
Contudo o que surpreende o observador é mais a sobrevivência quer tentativa drástica de resolver as dificuldades econômicas a custa
do que o enfraquecimento do reformismo inglês; mais o fracasso de um dos trabalhadores, notadamente a competição política entre os setores
partido co1nunista ou da esquerda sernimarxista de avançar decisiva- capitalista e socialista do mundo". Portanto é bobagem prever tal trans-
mente, do que a mudança do espírito político do movimento como um formação, embora não seja mais bobagem do que alegar que o trabalhis-
todo. mo ocidental entrou numa era de contentamento econômico permanen-
Costumava-se alegar que esta força era devida aos benefícios da te. Para os fins deste ensaio a profecia não é de qualquer maneira
exploração imperial e durariam portanto apenas enquanto os trabalha- necessária. Estamos aqui preocupados mais com o mecanismo pelo qual
dores ingleses aiuda estivessem protegidos por ela contra todos os uma liderança cada vez mais reformista tem sido mantida.
rigores da sua posição. Este argumento, embora obviamente supersim- O problema de um mecanismo desses surge porque é evidente
plificado em todas as ocasiões, ainda não perdeu inteiramente a sua pela luta persistente entre a esquerda e a direita dentro do movimento
força, porque a coisa mais surpreendente quanto à Inglaterra pós-1945 trabalhista, que o reformismo no sentido normalmente dado a ele pela
é a lentidão extraordinária com que todas as seções da política inglesa liderança trabalhista está longe de um domínio incontestado. Nos
se ajustaram ao declínio e à quedado império britânico. Dificilmente se movimentos trabalhistas tais como aqueles dos EU Anão existe abso-
pode afirmar que o processo começou seriamente até o meio da déca- lutamente nenhuma ala esquerda e o socialismo não desempenha
da de 1950. e mesmo no começo da década de 19600 seu progresso era nenhuma parte importante. Nos partidos social-democráticos que
muito modesto. É discutível, e na verdade provável, que uma exposi- dominam vários países da Europa, tais como a Alemanha Ocidental, a

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Áustria e a França, os desafios sérios às políticas da direita de suas lide- sugestões para a modernização da estrutura e política do sindicato sem-
ranças ou não existe1n, ou vê1n de fora dó partido, p. ex., dos co1nunis- pre vieram de qualquer que fosse a esquerda contemporânea - os
tas. Na Inglaterra eles são persistentemente fortes. Além do mais, de Marxistas até a década de 1880, os Marxistas-sindicalistas na de 1910,
tempos em tempos a força deles está evidentemente aumentando, os comunistas nas de 1930 e 1940. Os militantes e os líderes das filei-
como no período de 1957 a 1962, que presenciou o fim do longo domí- ras, ou os líderes dos sindicatos novos e não-estabelecidos ou velhos e
nio da TUC por um bloco automático de direita, e a derrota conseqüen- a1neaçados, tenderam a gravitar para a esquerda. Se ela não existisse, o
te da liderança do Partido Trabalhista em combate aberto. movimento teria que inventá-la, porque como vimos, o líder sindical
Há quatro motivos para esta força da esquerda. O primeiro é que combativo conservador ou moderado do tipo de John L. Lewis ou
a aspiração no sentido de uma sociedade nova e não simplesmente Ja1nes Hoffa, nos EUA, tem sido na verdade uma ave muito rara na
inelhorada está profunda1nente arraigada nos movimentos trabalhistas Inglaterra. Em resumo, a esquerda foi e é parte maciça e integral do
europeus, e provavelmente em todos os movimentos trabalhistas exce- movimento trabalhista que permaneceu em essência unido, eleitoral-
to os muito anormais. Isto não significa que ele seja muito eficiente na mente e e1n suas atividades sindicais. De que tamanho, continua uma
prática. O segundo está no sentido maciço de solidariedade e unidade questão de discussão, mas mesmo a cerração da publicidade favorável
de classe da classe trabalhadora inglesa. Mesmo hoje, o principal ape- que cerca todo líder de direita - p. ex., o falecido Hugh Gaitskell -
lo do Partido Trabalhista, na verdade esmagador, ao seu eleitorado, é nunca conseguiu obscurecer a falta relativa de apelo eleitoral deles, e a
de que ele é um partido da classe. O terceiro está no fato muitas vezes popularidade muito maior da esquerda entre os militantes do partido*
negligenciado de que a mão-de-obra inglesa não sofreu a divisão que Apesar de tudo, qualquer que fosse sua força, a esquerda da clas-
separou os comunistas dos social-democratas no resultado de revolu- se trabalhadora tem sido normalmente muito mais ineficaz do que a
ção de 1917, porém mais uma divisão que empurrou os trabalhadores direita, exceto em momentos ocasionais de extrema tensão social.
anteriormente liberais para um partido independente da classe traba- Quase sempre ela tem sido fraca demais para fazer mais do que modifi-
lhadora, e oficialmente socialista. Este fato foi reconhecido por Lenine car uma política controlada pela direita. Sua força tem sido suficiente
e a Internacional Comunista e levou-os a apoiarem a política excepcio-
para conseguir a posição mais conveniente da qual liderar o Partido Tra-
nal de insistir com os comunistas ingleses para entrarem no Partido
balhista ligeiramente para a esquerda do centro. Mas a sua política tem
Trabalhista mais a fim de o converterem a se apoderarem dele, do que
sido quase invariavelmente na melhor hipótese um tanto para a direita
de competirem com ele. Apesar dos desvios ocasionais para a política
do centro, e na pior (como em 1923-4, 1929-31 e na década de 1950)
alternativa, em grande parte sob pressão internacional - co1no em
muito para a direita dele. Mesmo em 1945-50 o governo trabalhista só
1928-35 e após 1948 - a política de empurrar o trabalhismo para a
era "de esquerda" pelos padrões liberais e não pelos socialistas, ou mes-
esquerda em vez de criar um partido alternativo de massa permaneceu
mo por aqueles de um radicalismo populista tais como do segundo
anormal para os comunistas ingleses. A exclusividade doutrinária pro-
governo de F.D. Roosevelt. É esta inferioridade quase permanente da
gressiva do Partido Trabalhista, e sua tendência de proibir de fazerem
esquerda em relação à direita (e dentro da esquerda, dos revolucioná-
parte dele ou de a ele se associarem uma gama crescente de opiniões e
rios em relação aos não-revolucionários) que tem que ser explicada.
organizações, tornou naturalmente o objetivo original da filiação
comunista formal ao Trabalhismo bastante acadêmica.
O quarto motivo é que a esquerda na Inglaterra (como cm certo *'A falta de divisão clciloral no movimento trabalhista condenou os partidos rivais do Par-
sentido na Austrália), sempre teve uma função real embora não-revolu- tido Trabalhista, a falta de divisão dentro do movimento sindical favoreceu-os. Assítn o Partido
cionária dentro do movimento, ou seja, a de tornar o refor1nis1no efeti- Trabalhista Independente desapareceu alguns anos após se desligar do Partido Trabalhista cm
1932. apesar dos seus numerosos NlPs. porque sua base sindical era desprezível. O Partido Comu-
vamente refonnista. Ela se1npre atuou co1no o banco de cérebros do nista, que nuncil conseguiu ou confiou nuin ckilorado distinto. permaneceu pouco afeLado por
movimento, especialmente do lado industrial. Virtualmente todas as seus fracas~o.~ eleitorais, devido à sua força nos sindicatos.

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VII 1no, a menos que o siste1na deixe de levar cm conta o minimum da exi-
gência sindicalista de "o trabalho de um dia justo pelo pagamento de um
Nesta fase a teoria da "espontaneidade" dos movimentos trabalhis- dia justo". (Quando ele não leva, a consciência sindical parece insinuar
tas mais bem conhecida sob aforma da distinção de Lenine entre a "cons- automaticamente mudanças de segunda ordem). Os movimentos traba-
ciência sindical limitada" que os inovimentos desenvolvem espontanea- lhistas espontâneos, portanto, têm probabilidade de atuarem como se o
mente e a "consciência socialista" que eles não desenvolvem, se torna capitalis1no fosse permanente, reduzindo suas aspirações socialistas,
relevante. O argumento de Lenine é duplo". Por um lado a experiência quando elas existem, a apêndices políticamente irrelevantes das suas
espontânea dos trabalhadores é limitada aos problemas da sua luta eco- atividades "reais", ou ao apoio de grupos políticos de pressão. Isto não
nômica, isto é, às relações entre patrões e trabalhadores. Mas um senti- é simples1nente por ser a propaganda burguesa mais velha, mais in-
do mais amplo dos objetivos, estratégias e táticas socialistas alongo pra- fluente e mais onipresente do que a ideologia socialista, mas porque até
zo não deve decorrer desta experiência, mas somente da "esfera das os movimentos socialistas precisam, em suas atividades do dia-a-dia,
relações entre todas as várias classes e camadas, o estado e o governo'' , 1'i agir como se o capitalismo fosse permanente a maior parte do tempo.
o que está além da perspectiva "espontânea" do proletariado, pelo 1nenos Exceto nas raras ocasiões de crise revolucionária, um grau mais alto de
inicialmente. Por outro, na falta dessa perspectiva, os rnovüncntos consciência política, um esforço especial, é necessário para impedir o
espontâneos têm probabilidade de serem levados na direção da esteira da movimento de ser levado para um simples reformismo; a menos que
ideologia burguesa. Os detalhes da análise de Lenine estão abertos à algum fato óbvio como pura fome ou desemprego em massa mantenha
indagação, mas a importância da sua distinção é fundamental. o estado de espírito revolucionário dos trabalhadores.
Para o nosso fim talvez seja útil elaborá-la e refraseá-la. A expe- Um movimento socialista consciente, e notadamente um partido
riência "espontânea" da classe trabalhadora a leva a desenvolver duas comunista, fornecem esse fator especial. Se uma classe trabalhadora se
coisas: por nm lado um conjunto de reivindicações imediatas (p. ex., liga a um movimento desses na fase decisiva do seu desenvolvimento
salários mais altos) e de instituições, modos de comportamento etc., quando ela estabelece tais ligações, terá alguma garantia interna con-
destinados a obtê-las; por outro- mas de uma forma muito mais vaga tra o impulso para o reformismo, porque a consciência e a unidade da
e não invariavelmente - um descontenta1nento geral com o sistema classe (solidariedade, lealdade) são duas lições mais elementares da
existente, uma aspiração geral após uma 1nais satisfatória, e um perfil experiência proletária espontânea. Mas se, corno no caso inglês, ela se
geral (cooperativo contra competitivo, socialista contra individualista) liga a um movimento formado em grande parte no molde pré-Marxista,
de medidas sociais alternativas. O primeiro grupo de idéias é pela natu- não terá. A lealdade e a inércia teórica que ela retira da sua experiência
reza das coisas muito mais preciso e específico do que o segundo.Além espontânea manterá suas ligações tradicionais, e - a menos que ocor-
do mais elas funcionam o tempo todo, ao passo que o segundo é de ram catástrofes bastante extraordinárias, e 1nesrno então de maneira
pequena importância prática - embora de imensa importância moral alguma ligeira ou rapidamente - ela permanecerá com elas. Enquan-
- exceto nos momentos comparativamente raros em que a derrubada to o Trabalhismo for o "nosso" movimento, as divergências locais e
do sistema existente parece provável ou imediatamente praticável.* seccionais com este ou aquele aspecto da sua política e comportamen-
Sob condições de capitalismo estável a "consciência sindical" é bastan- to não afetarão a lealdade básica.*
te compatível com a aceitação de facto (ou mesmo formal) do capitalis-
*As condições para uma 1nudança de lealdade não foram invc\ligadas \eriamcnte, em ho-
~ Lenine deixou de observar que um vago - e conseqüente1nente inteirmuente ineficaL ra várias dessas mudanças estejmnregistradas- nonnalmeute de social-detnocrática para comu-
- espírito utópico pode ser u1n produto da experiência proletária tão "espontâneo'' quanto o nista. ou ele liberal para \Ocialista, 1nas oca~ionalmente (como naAlc1nanha Ocidental) de comu-
reformismo. Os sindicatos de ofício ingleses não são neste sentido mais espontâneos do que o nista para a direita. Pode-se sugerir resumidamente três: uma divisão organizacional, a ascensão
anarquis1no cspunhol. A fraqueza de ambos é não eqabelecer nenhu1na ligação funcional entre as de uma nova região ou geraçao não afetada pelas lealdades do velho movimento, e um fracasso
lutas e1n pequena escala do dia-a-dia dos trabalhadores e a batalha principal pelo poder. \ realmente espetacular ou abdicação do velho movünento, ou uma combinação de todas três.
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A "espontaneidade" permite às fileiras serem levadas passiva-
Os períodos mais militantes de sedução trabalhista ou esmagamento
mente para a direita (ou manterem a lealdade a uma esquerda tradicio-
trabalhista - notadamente no fim da década de 1890 foram aqueles
nal); mas ela impele os quadros do movimento no sentido da modera-
nrn quais a política trabalhista escapou do controle dos governos para
ção. O punhado de regras empíricas simples baseadas na consciência
cair sob o controle de visão muito mais curta dos consórcios privados
e solidariedade de classe, pelas quais a base determina sua conduta
de capitalistas e advogados ultraconservadores. * O sonho de um país
política, não oferecem muita orientação num nível mais alto. Enquan-
to o movimento estiver fora da lei, perseguido e não-reconhecido, não hvre de smd1catos e de Partido Trabalhista (quanto mais dos socialis-
é necessária muita orientação, e algumas vezes se detecta na esquerda tas) ainda adoça as conversas da horn de almoço desses homens de
teórica uma certa nostalgia desta situação direta, urn desejo de prolon- negócios que não têm nenhuma experiência da vida industrial - cor-
gar por meio de condenações a priori de todos os compro1nissos, coa- retores de valores, banqueiros e seus assemelhados - ou do pequeno
lizões ou manobras, a idade de ouro em que nada perturba a mente do comerciante indefeso, e encontra um eco nos discursos dos políticos
militante simples que luta duramente. Mas a menos que o sistema capi- mais estúpidos e nas publicações dos senhores-da-imprensa mais feu-
talista seja derrubado mais cedo, o reconhecimento e as suas comple- dais Mas mesmo entre 1921e1933, quando a "luta até sobrar um"
xidades resultantes chegam, de uma forma ou de outra, a todos os obteve o controle temporm-iamente e tentou forçar o trabalhismo a cair
movimentos trabalhistas quando elas são fortes demais para serem de joelhos, eles eram, como vimos, sempre mantidos em alguma espé-
negligenciadas ou destruídas. Neste ponto só a teoria revolucionária cie de xeque pela ala dominante e moderada do Partido Conservador
ou compromisso moral mais firme e mais claro podem garantir o qua- assistida tacitamente pelos Liberais. Nos 1no1nentos de medo e histeria
dro trabalhista contra o simples reformismo. ainda podem ser feitas tentativas de ataque ao Trabalhismo ao longo de
Na Inglaterra, onde a classe trabalhadora tem sido por quase um toda a lmha; mas os governantes de um país do qual 90 por cento dos
século por demais forte para ser desejada longe pelas classes dominan- cidadãos vivem de salários e dois terços dos quais são trabalhadores
tes, seu rnovilnento tem sido emaranhado na teia da conciliação e da 1nanuais, tên1 sido por demais espertos para entregar-se a eles, mesmo
colaboração mais profundamente, e por muito mais tempo, do que cm na década de 1930, quando o fascismo europeu fez a derrota do traba-
qualquer outra parte. Em muitos países da Europa, a decisão de tolerar lhismo parecer tentadora e possível.
o movimento trabalhista e de funcionar com ele cm vez de contra ele Há, numa situação dessas, dois fatores que impele1n o 1novimen-
foi tomada não antes do fim do século dezenove. Na França ela ocor- to trabalhista para a direita. Por um lado, os simples detalhes técnicos
reu na década de 1880, após o fim da histeria pós-Comuna, na Ale- da atividade sindical reconhecida numa economia capitalista moderna
manha após Bismaryk, com a abolição das leis anti-socialistas, na envolve os líderes, acima do nível da loja ou oficina, numa rede de ati-
Itália após o fracasso da repressão Crispi. Na Inglaterra, contudo, tan- vidades conjuntas com patrões e o estado, da mesma forma que a sim-
to a aceitaçào oficial do sindicalismo como a da massa do eleitorado (e, ples existência de um partido da classe trabalhadora que é um governo
neste caso, predominantemente proletária) ocorreu no meio da década em potencial ou sócio nas coalizões do governo nos sistemas parlamen-
de 1860. Recente trabalho histórico lançou muita luz sobre a busca de tares. Este é um problema para os partidos comunistas bem como para
alma entre as classes dominantes que precedeu as decisões deliberadas os social-democráticos, como na França durante a Frente Popular e nos
de fazer isso 16 • A partir desse 1no1nento nenhu1na tentativa sistemática períodos pós-guerra imediatos. Por outro, há os esforços sistemáticos
de suprimir o movimento trabalhista foi feita na Inglaterra, exceto por
seções particulares do comércio, nunca inteiramente apoiadas mes1no
, ':'.O ~ue saiu "c!Tado" com o contra-ataque dos patrões da década de J 890- para 0 qual
pelos mais conservadores dos governos. Pelo contrário, a postura fun- ver .St1~d1e.:· 111 Labour flisrory (Londres l 960) de J. Savillc cm A. Briggs e J. Saville _foi que
damental do governo e cada vez mais das indústrias in1portantes tein mna ot..-:ns1va destinada aos sindicatos novos e fracos, ou determinados sindicatos. desenvo\veu-
sido mais a do domador de leões do que a do caçador de caça graúda. se - por uma série de decisões legais - nunia que ameaçava todo um movimento lrabalhisla
inclusive as seções 1nais moderadas. '

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do governo e (normalmente grandes) negócios destinados a reforçar a ticipação no Conselho Privado- a trabalhadores (1914) pertencem a
moderação trabalhista e enfraquecer os revolucionários. Os co1nunistas esta era liberal.
até agora têm sido em grande parte dispensados destes, porque o gover- Uma característica especial do capitalismo inglês favoreceu a
no e os negócios os têm considerado coletivamente como irreconciliá- absorção das organizações trabalhistas no aparelho do governo, o que
veis, mas não é de maneira algu1na impossível (especialmente desde também começou antes de 1914: a falta de uma burocracia profissio-
cerca de 1960) que as mesmas táticas sejam aplicadas a eles. nal de u1na administração social. Tanto ele como os primeiros sistemas
estatais rudimentares de administração trabalhista e seguridade social
tiveram que ser improvisados quase simultaneamente. No contexto de
Vil! uma política de conciliação parecia tão natural admitir os sindicalistas
no funcionalismo público - na década de 1890 muitos deles já esta-
Devemos considerar este processo dos pontos de vista um tanto vam esperando tais postos após se aposentarem" - como usar seus
diferentes dos patrões, do governo (isto é, os grupos dominantes ado- serviços estatísticos. A Lei do Seguro Nacional de 1912 incluiu até os
tando um ponto de vista político nacional em contraposição a um indi- sindicatos como parte da administração do seguro-saúde como "socie-
dades aprovadas", proporcionando assim àqueles sem muita força de
vidual ou seccional) e trabalhista.
negociação um motivo sólido para manter os seus me1nbros enquanto
Pouco precisa ser dito sobre os patrões.já que a atitude deles per-
ao mesmo te1npo desencorajava a militftncia excessiva. Depois disso
manece ade uma relutância fundamental absolutaein aceitar a existên-
foi apenas um passo para as técnicas modernas de emaranhar o traba-
cia de um movimento trabalhista, exceto como um mal menor. Isto se
lhismo numa rede de corpos consultivos e deliberativos, que foram
reflete no tratamento geral da imprensa de virtualmente qualquer
desenvolvidos particularmente no curso das duas Guerras Mundiais, e
greve ou exigência sindical, e um folclore fortemente sobrevivente na
têm sido da maior importância desde 1945 '". Os sindicatos são hoje
classe média sobre os males da "ditadura sindical". Mesmo hoje o tra-
intermediários vitais entre o estado e os trabalhadores.
balhador que se recusa a entrar para um sindicato tende a ser conside-
A ascensão do Partido Trabalhista após 1918 apresentou o pro-
rado como uma figura heróica, o administrador da loja como um tira- blema especial de um possível governo Trabalhista. Dada a moderação
no, mitigado apenas por uma educação inadequada que os diretores de dos líderes do partido, nunca houve nenhuma dúvida séria quanto à sua
cinema fingem achar cômica, o sindicato como uma subespécie do solução. Desde 1923 era claro que uma coalizão dos Liberais e Traba-
totalitarismo. A "administração" - especialmente das firmas grandes lhistas, mesmo sob um primeiro ministro Trabalhista, era não só tole-
e inteligentes-aceitaramhá muito tempo o sindicalismo, tanto nacio- rável como realmente desejável como um meio de desviar a "irrespon-
nal co1no localmente, tnas com relativa1nente poucas exceções, os sabilidade.""
patrões não tomaram a iniciativa de do1nar o movimento trabalhista. O efeito desta política de conciliação e reconhecimento sobre o
Contudo, na política, os partidos não-trabalhistas e os governos militante trabalhista "espontâneo" é complexo. Na sua forma mais sim-
têm, de 1867 em diante, tomado deliberadamente tais iniciativas. O ples, a couraça de ignorância e alheamento da tentação pode se desca-
Partido Liberal tentou estabelecer-se como partido "do povo" (o que mar, deixando-o como presa fácil da hospitalidade, da falsa camarada-
incluía os trabalhadores), e bem podia tertido sucesso ao fazer isso, se gem, ou mesmo da simples cortesia dos poderosos. Num nível
não fosse a relutância dos políticos mais velhos como Gladstone e de ligeiramente menos elementar, o ex-militante pode identificar o reco-
certos grupos de homens de negócios do partido em pagar o preço nhecimento do seu partido ou sindicato, e o seu próprio sucesso pes-
necessário em "interferência do governo". O patrocínio dei iberado de soal, com o sucesso do movimento. Que um homem como ele possa ter
candidatos trabalhadores, a promoção de ministros da classe trabalha- progredido tanto é não simplesmente, pode ele refletir, um reflexo da
dora (1906), as primeiras concessões de honras reais-tal como par- força do movimento, como demonstra realmente suas realizações.

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Mais objetivamente, adescobertade que a política e a negociação mais tenha abandonado suas convicções socialistas imediatamente, ou abso-
altas são bastante mais complicadas do que um simples agitador, pro- lutamente. No começo da década de trinta ele ainda estava preparado
pagandista e organizador possa ter suspeitado, pode perturbá-lo. Se para cooperar intimamente com G.D. H. Cole e outros esquerdistas, e
rebelde, o militante "espontâneo" pode reagir a esta descoberta com até 1936 ele declarou sua crença no socialismo numa forma que a direi-
uma cobertura de hostilidade ao parlamento, à política, e a todas as ta Trabalhista da década de 1950 teria considerado como extremista.
outras instituições que põem cm perigo a pureza do movimento, e uma Contudo, na verdade, o negócio do sindicalismo tinha que continuar, e
corrente dessa hostilidade muitas vezes corre através das primeiras sob as condições vigentes após a Greve Geral, isso significava, achava
fases da história quando esta absorção do trabalhismo na vida oficial ele, aumentar a colaboração com o Estado e a administração. A lógica
tem lugar; p. ex., na Inglaterra de 1911 até 1926. desta posição levou-o ao Ministério do Exterior em 1945.
Mas inevitavelmente, mesmo o mais revolucionário deve travar A carreira de Bevin, contudo, ilustra também outro fator do movi-
os combates para a melhoria e a reforma segundo a natureza do terre- mento trabalhista inglês que tornou o abandono da "espontaneidade"
noi que é aquela do cálculo "realista" numa economia capitalista e num ainda mais difícil: o seu antiintelectualismo marcado. Esta característi-
estado capitalista. Isso quer dizer que eles devem transigir, fazer alia- ca, muitas vezes encontrada nos movimentos trabalhistas espontâneos,
dos, e agir em geral como reformistas. Se ele quer ser eficiente numa é em certo sentido um índice da força da consciência de classe deles,
economia capitalista estável, mesmo o líder do sindicato comunista sendo a participação da classe definida corno "trabalhando com as pró-
deve fazer isto, quaisquer que seja1n suas reservas e cálculos particu- prias mãos". Em outro sentido, ela é um índice das suas limitações. Na
lares. Uma 1nunicipalidade comunista num estado não-comunista medida em que os intelectuais socialistas tragam para dentro do movi-
deve se comportar na maior parte do tempo de maneira muito parecida mento, como Lenine sugeriu, apenas esse alargamento das perspectivas
com qualquer outra municipalidade esquerdista. É assim apenas natu- políticas que corrige a sua "espontaneidade", a desconfiança de todos
ral que para muitos militantes trabalhistas "espontâneos" a alternativa os intelectuais perpetua a estreiteza do 111ovimento. Naturalmente esta
para a militância descuidada é para.fins práticos um reformismo efi- desconfiança é algumas vezes justificada. O grosso dos intelectuais
ciente dentro de um ambiente capitalista que é considerado como Per- Trabalhistas ingleses (e para ser justo com Bevin, ele também não con-
manente de .facto, ou que é considerado, na melhor hipótese, como fiava neles), eram migrantes relativamente tardios do liberalismo, cujo
sujeito apenas a mudanças graduais e intermitentes. efeito líquido sobre o Trabalhismo era certamente o de não empurrá-lo
O apelo de tal empirismo é talvez mais bem ilustrado pela carrei- em direção à esquerda. Ta1npouco o "ouvrierisn1e" espontâneo dos
ra do falecido Ernest Bevin, o mais influente líder sindical do período movimentos proletários está inevitavelmente ligado a uma ideologia
pós-1918, e talvez com Arthur Horner dos mineiros, o mais capaz reformista. Na França (onde o Partido Comunista mostra sinais disso)
(embora provavelmente inferior em inteligência a Horner e certamente ele está historicamente ligado a uma espécie de Jacobinismo Robes-
inferior em alt1uísmo). Bevin, como vilnos, começou como um ho1nem pierrista, nos países hispânicos muitas vezes com tradições anarquistas
da extrema esquerda- ele preferiu deliberadamente os Social Demo- de ação direta. Contudo, na Inglaterra as tradições de antiintelectualis-
cratas ao PTI como sendo mais revolucionário- e não pode ser consi- mo da classe trabalhadora são em grande parte reformistas, e a exclusi-
derado como moderado por inclinação ou tradição natural. Apesar dis- vidade de classe se perpetua e, na verdade, as acentua.
so, na realidade, sua carreira é de moderação política crescente. Poderia
parecer claro- embora sua biografia lance apenas luz indireta sobre a
questão'º - que o fator mais importante em sua evolução foi a desco- IX
berta de que o capitalismo não estava se decompondo, acentuado como
este estava pela derrota da Greve Geral e uma visita às indústrias então Para resumir. As raízes do reformismo inglês estão sem dúvida na
muito florescentes dos EUA. Não há nenhuma evidência de que Bevin história de um século de supremacia econômica mundial e na criação

394 395
de uma aristocracia do trabalho, ou ainda mais genericamente, de toda rar pelo seu momento histórico para chegar. A primeira destas táticas
u1na classe trabalhadora que tirava vantagens disso. Inversamente, a tem pouca probabilidade de ser eficaz em situações não-revolucioná-
manutenção da crença de que o capitalismo inglês é um negócio em rias. A segunda (como mostra a história do Partido Social Democráti-
funcionamento, e não sujeito ao colapso imediato, é uma condição co Alemão antes de 1914) pode simplesmente resultar numa conver-
necessária (mas provavel1nente não-suficiente) para a sua sobrevivên- são tácita ao reformismo.
cia. Um segundo motivo, e não desprezível para a sua manutenção,
pertence à superestrutura da história. É que o movimento trabalhista (1949/63)
inglês foi formado e 1noldado na ocasião em que a tradição dominante
era a de un1 radicalis1no-liberal reformador, cuja marca ele ainda traz.
Contudo, o terceiro motivo e talvez o mais importante para a sua sobre- NOTAS
vivência é mais geral do que específico. É que, em condições de capi-
1. Industrial Den1ocrac_y (Londres 1898).
talismo estável ou florescente, e de reconhecilncnto oficial dos movi-
2. Ern virtude dos último~ Jesenvolvi1nentos imperialistas, a defesa de Joseph
1nentos trabalhistas, uma política reformista é "natural" porque é a Cha1nbcrlain deles no con1eço da década de 70 é cspeciahnentc significativa. Ver o seu
política óbvia e prática, e uma política revolucionária correspondente- Speeches, ed. C. Boyd, I, p. 27 f.
mente difícil. Portanto a inclinação espontânea da paisagem política e 3. The L{fé <~fThonras ('ooper, \Vritlen hy 1-limsell (Londres l 872). p. 393 f.
social tenderá para fazer os movimentos trabalhistas se moverem fur- 4. Isto é, antes do nleio da década de 1860. Pode-se talvez excetuar o trabalho
da escola Socialista Cristã dos filantropos da classe 1nédia cujos esforços ajudaram a
tiva1nente em direção ao reformismo, a menos que eles resistam a isso;
garantir a legislação das sociedades de Socorros mútuos da década de 1850. Quanto
e inesmo - 111uitas vezes - quando eles resiste1n. no trabalhisn10, a History ofTrade Unionism dos Webbs exagerou a prevalência do
Isto não significa que os movimentos trabalhistas nessas circuns- "novo 1node\o" das sociedades unidas, co1no o dos Maquinistas, e a aceitação da eco-
tâncias (que são comuns a todos ou à maioria dos países não-socialis- non1ia liberal pelos líderes trabalhistas e dos novos niovimentos-quer cooperadores
tas desenvolvidos hoje) devem se tornar reformistas. Fatores históricos dos Maquinistas ou de Rochdale- não tencionavan1 em sentido algu1n abandonar os
seus objetivos a longo prazo. Era simplesn1ente que o conteúdo das velhas palavras de
tais como a impregnação de um movimento por uma ideologia revolu-
ordcn1 1nudarain para um novo contexto econôn1ico; até que, por falta de uma teoria
cionária na fase decisiva do seu desenvolvimento, ou a recusa do Esta- socialista clara, elas se tornaram cada vez inais privadas de sentido.
do e dos patrões em conciliarem-na, podem iniciar o irnpulso natural 5. Citado no Lahour's Fonnative Years (Londres 1948) de J:B: Jefferys, p. 48
no sentido do reformis1no. Os movimentos revolucionários podem 6. "British Spectacles" de Rosa de Luxe1nburgo, Leipziger Volkszeitung, 9 maio
1899. Ela está enganada e1n pensar que o do1nínio indisputado da indústria inglesa era
imaginar estratégias para a transformação da sociedade que não exi-
necessário para o funciona1nento desse tipo de colaboração.
jam (exceto na autodefesa e após a vitória) barricadas ou insurreições, 7. Relatório do Conselho Geral da TUC sobre as conferências Mond-Turner
ou mudanças políticas súbitas e cataclísmicas.'' Eles podem na verda- (Relatório TUC; 1928, p. 209).
de não ter nenhuma outra escolha, se não forem impelidos para o insur- 8. Ver nieu Labour 's Turning Point (Londres 1948), pp. 10 ss. e 104.
recionismo casual das minorias, tal co1no tentado na esquerda européia 9. c:t: Studies in the Develop111ent of Capitalism de Dobb, pp. 263-7.
10. Cf: La Coutume ouvrii:re ( 1913) de Maximc J,eroy, para uma discussão das
no período sindicalista antes da I Guerra Mundial, ou a auto-exclusão
"obrigações" do sindicalisn10, pp. 190-361.
maciça de um movimento trabalhista que afirme simplesmente espe- 11. "Que seguro a riqueza achará ser vantajoso proporcionar contra o risco ao
qual ela sem dúvida está sujeita?" (isto é, agora que o trabalhisn10 está deixando de ser
dócil); S'peeches, ed. Boyd, I; p. 130.
"'Uma tal perspectiva parece ter estado na mente de Frcdcrick Engcl~ cm seu~ últimos
anos para a Alemanha, 1nas corno todos os Marxistas cm todos os tempos, ele considerou as pers- 12. É possível que ele nunca tenha dependido. Cf.,After Jmperialis111 deM. Bar-
pectiva~ pacíficas, ou mesmo graduais em alguns países no contexto geral de uma situação mun-
rat Brown (1963).
dial na qual os desenvolvimentos revolucionários "antiquados"' de algumas regiões - EÍlgeh 13. Wirtschqftsvvunder oder keines? (Viena 1963), de T. Prager.
pensava na Rússia- reagiriam sobre os não-antiquados. 14. What Is to Be L)one? Partes 11 e III, Selected Works II.

396 397
15. Loc. Cít., p. 99.
16. Cf. esp. "The TcnthApril of Spencer Walpolc: the problen1 of revolution in
relation to rcfonn, 1865-7'' de Royden Harrison (lnten1ational Revierv ofSocial His-
tory VII; 1962, p. 352) e The Age r~fbnprovement (Londres 1959) de Asa Briggs, Capí-
tulo X.
17. Our Partnership (Londres 1948) de Beatricc Webb, p. 24.
18. CL Trade Unions and the State (Londres 1934), de W. Milne-Bailey, The 17
State and the Trade Unions (Londres 1960) de D. F. Macdonald, Trade Unions and the
Governrnent (Londres 1960) de V. L. Allen. Para as operações em tc1npo de guerra des-
ta política, cf. 111e Britsh YVar l!,'conomy (1957) de Lord Inn1an, Manpo>ver ( 1957) de
Parker, todo~ da história oficial da Segunda Guerra Mundial.
COSTUMES, SALÁRIOS E CARGA DE
19. Cf. The First la/Jour Governn1ent (Londres l959) de R. Lyn1an. TRABALHO NA INDÚSTRIA
20. The Life and Titnes r~{Ernesl Bevin, vol. l (Londres 1959) de Alan Bullock,
esp. pp. 390-446 e 505.
DO SÉCULO DEZENOVE

O PRINCIPIO BÁSICO da economia da iniciativa privada no


século dezenove era comprar no mercado mais barato e vendemo mais
caro. Para o patrão, comprar a mão-de-obra no mercado mais barato
significava comprá-la pela taxa mais baixa de unidade de produção,
isto é, comprar a mão-de-obra mais barata da mais alta produtividade.
Inversamente, para o trabalhador, vender o seu trabalho no mercado
mais caro significava logicamente vendê-lo pelo preço mais alto pela
produção unitária mínima. Obviamente era vantagem para o assenta-
dor de tijolos receber 7 d. por urna hora, o que significava o assenta-
mento de 50 tijolos em vez de 100. A situação ideal almejada pela
economia clássica era aquela cm que a taxa do salário era fixada exclu-
sivamente através do mercado sem a intervenção da compulsão econô-
mica de qualquer das partes. Para os patrões isto significava ter um
exército permanente de mão-de-obra de reserva de todos os graus
necessários de habilitação, para o emprego permanente dos trabalha-
dores, pleno ou melhor superpleno. Significava também que ambas as
partes seriam atuadas por motivos de mercado: os patrões pela busca
do mais alto lucro possível (o que significava o mais baixo custo pos-
sível da mão-de-obra), os trabalhadores pela busca do salário mais alto
possível (o que significava sensibilidade completa aos incentivos sala-
riais). Por grosseiras que sejam estas supersirnplificações, elas repre-

398 399
sentam apesar de tudo as partes relevantes daquele modelo teórico 3. O segundo marca o aprendizado completo das regras do jogo.
sltnples de u1na economia de mercado auto-reguladora à qual muitos (Não importa, para o nosso fim, que a esta altura o modelo ideal de uma
economistas e comerciantes aspiran1 e que eles acreditavan1 estar em econo1nia de 111ercado auto-reguladora estivesse, exceto talvez no
grande parte em funcionamento. mercado internacional de dinheiro, deixando até de ser aproximada-
A questão era que nem os patrões nem os trabalhadores reconhe- mente realista). Os trabalhadores começaram a exigir o que o tráfego
ciam completa1nente as regras deste jogo ou o que elas significavan1. podia suportar e, onde tinham alguma escolha, a medir o esforço pelo
Isto era devido em parte ao fato de elas serem irreais. Assim mesmo os pagamento. Os patrões descobriram maneiras genuinamente eficien-
trabalhadores majs abertos aos incentivos salariais só o são até o pon- tes de utilizar o tempo de trabalho dos seus trabalhadores ("adminis-
to em que a seguridade social, o conforto no trabalho, o lazer, etc., com- tração científica").
petem com o dinheiro. Mas era devido também a uma tendência ao
comportamento econômico básico não em análise racional a longo
prazo mas aos Costumes, empirismo ou cálculo a curto prazo. Neste
ensaio proponho-me a discutir alguns dos efeitos disto sobre a produ-
tividade do trabalho no século dezenove.* As conclusões desta discus- Como podiam os trabalhadores no começo da economia indus-
trial decidir que salários e condições aceitar e que esforço aplicar ao seu
são podem ser resumidas como se segue:
1. Há dois divisores de águas principais na história do século trabalho, supondo que tivessem alguma escolha? Eles raramente nos
disseram, de forma que somos forçados a conjeturar, baseados em parte
dezenove do emprego da mão-de-obra industrial: um, provavelmente,
na observação, e em parte na análise dos dados históricos dispersos.'
nas décadas por volta do meio do século, o outro na direção do fim da
Nenhum problema inicial de determinação do salário surgia para
Grande Depressão. Ambos marcam mudanças, ou o começo das
os não-habilitados ou aqueles com oferta abundante. Eles tinham que
mudanças, na atitude tanto dos trabalhadores como dos patrões.
aceitar um salário de subsistência (se fossem homens), ou um fixado
Ambos, incidentalmente, coincidem com os pontos decisivos na evo-
de tal maneira simplesmente para atraí-los para longe do (digamos)
lução de outros aspectos da economia.
trabalho ruraF. (As mulheres e as crianças naturalmente recebiam
2. O primeiro marca o aprendizado parcial das "regras do jogo". menos do que o da subsistência, mas já que a taxa deles era fixada nor-
Os trabalhadores aprenderam a considerar o trabalho como uma mer- malmente em relação ao salário masculino, podemos desprezá-los). O
cadoria a ser vendida nas condições historicamente peculiares de uma fato de os salários da mão-de-obra não-habilitada serem fixados nos
economia capitalista livre; mas, onde eles tinham escolha na questão, custos de subsistência ou em volta deles é esmagadoramente atestado
ainda fixavam o preço básico pedido e a quantidade e qualidade do tra- pelos teóricos, industriais e historiadores. Podemos portanto tomar o
balho por critérios não-econômicos. Os patrões aprenderam o valor da salário de subsistência do trabalhador não-habilitado ou abundante on
utilização intensiva em vez de extensiva da mão-de-obra e em n1enor do trabalhador rural como ponto de referência, em relação ao qual
extensão dos incentivos, mas ainda mediam o grau de utilização da todos os outros graus fixavam suas próprias posições. Devemos negli-
mão-de-obra pelo costume, ou empiricamente - se é que inediam. genciar os problemas decorrentes do pagamento de salários em espé-
cie. A "subsistência" não era, naturalmente, um absoluto fisiológico,
*'A produtividade do trabalho é geralmenle sinônimo de produçiio por homem-hora ou mas uma categoria convencional variando e1n diferentes ocasiões em
unidade se1nelhante. Tal uso nonnalinente deixa de distinguir entre aquela~ mudanças na produ- lugares diferentes.
ção devidas à 1naquinaria e aquelas devida:-. a outras causas, p. ex., mudanças na organização, pes-
O trabalhador habilitado característico dos ofícios pré-indus-
soal. na utilização eficiente do tempo, esforço e habilidade dos trabalhadores. Neste ensaio a
expressão se aplica exrlusivanrente ao segundo tipo de 1nudanças. Na prática, naturalmente. os triais poderia esperar obter idealmente cerca de duas vezes mais do que
dois tipos de mudanças geralmente andam lado a lado e são difíceis de separar. o trabalhador comum, um diferencial de grande antigüidade e persis-

400 401
tência, porque podemos encontrá-lo na fixação de preços e salários de res efetivos podem no máximo ser favorecidos com uma inclinação de
Diocleciano como naquela dos Juízes de Paz ingleses sob Henrique VI cabeça''.
e Carlos II, na Itália do século dezoito, na França, nos ofícios de cons- Hierarquias semelhantes são atestadas para as novas indústrias,
trução de Barcelona no século dezenove, e sem dúvida em outras par- em Alsàce, Lancashire, as oficinas de maquinaria, e em outras partess.
tes. (Estas são, naturalmente, taxas, não ganhos). Na verdade, o ho- O status sem dúvida refletia diferenças salariais, ou as diferenças sala-
mem habilitado tendia a obter bastante menos do que este diferencial, riais se consolidavam cm costume; mas os trabalhadores não distin-
especialmente quando era incapaz de restringir a entrada dos graus guiam claramente entre estes e o status que acreditavam estar ligado ao
não-habilitados, e mais quando a entrada era efetivamente restrita, trabalho: um tipógrafo que não conseguisse um salário mais alto do
como quando o homem habilitado era branco, o não-habilitado preto. que, digamos, um alfaiate local se consideraria como mal pago, qual-
Na prática a relação entre as taxas do trabalhador pré-industrial e o quer que fosse a demanda relativa para cada um no mercado.
artesão - digamos o pedreiro e seu ajudante- era mais provável ser Os diferenciais tradicionais eram, naturalmente, menos impor-
de dois para três ou de três para cinco, do que de um para dois'. tantes nas novas indústrias e naquelas dominadas pelo trabalho por peça
Como um homem habilitado iria fixar o seu padrão salarial em (exceto até o ponto em que o preço original lançado para os vários graus
relação a outro homem habilitado? O cálculo aqui, embora tácito e de trabalho tivessem sido estabelecidos com referência à escala de salá-
muitas vezes inconsciente, era bastante complexo. Por um lado cada rios previamente existente). É perigoso exagerar o papel dos costumes
trabalhador poderia se considerar como pertencendo a uma camada na estrutura salarial de uma economia co1npletamente industrial con10
particular- digamos de artesãos em contraposição aos trabalhadores alguns estudantes recentes fizeram, embora os costumes sem dúvida a
- e esperaria portanto um salário de acordo com o seu status social: os deformem. (Afinal de contas, os padrões pelos quais os trabalhadores
pedreiros, telheiros e carpinteiros esperariam ganhar salários grossei- julgavam u1n salário como aceitável ou não, não eram o único fator na
ramente da mesma orden1 de grandeza, como os ferreiros, maquinis- fixação deste). A questão é que a estrutura salarial de uma economia
tas, alfaiates habilitados e fabricantes de sapatos. Por outro lado den- capitalista desenvolvida não era constituída num vazio. Ela começou
tro de cada camada ou indústria havia uma hierarquia bem definida, como uma modificação ou distorção da bierarquia salarial pré-indus-
trial e só gradualmente veio se aproximar do novo padrão; mais rapida-
embora nem sempre seja claro se isto representava capacidade de ga-
mente nas áreas de falta aguda ou excesso de mão-de-obra, nas econo-
nho ou se os ganhos a refletiam. Assim, os fabricantes de carruagens
mias dominadas por flutuações comerciais abruptas, do que em outras;
em 1837 não constituem um corpo uniforme, mas composto de classes
e certamente mais depressa naquelas economias que tiveram sucesso
assumindo postos uma depois da outra ... o corpo dos fabricantes de
em destruir ou desorganizar as organizações de autodefesa dos peque-
carrocerias são os primeiros da lista; depois vêm os fabricantes de
nos produtores ou trabalhadores pré-industriais. Contudo, o importan-
chassis; depois os decoradores; depois os ferreiros; depois os fabrican-
te a ter em mente é que o cálculo do salário do trabalhador permaneceu
tes de molas; depois os carpinteiros de rodas, pintores, laminadores,
por muito tempo, e ainda permanece até certo ponto, um cálculo em
fabricantes de braçadeiras e assim por diante. Os fabricantes de carro-
grande parte decorrente do costume e não do mercado.
cerias são os mais ricos de todos e constituem entre si u1na espécie de Um resultado importante disto foi que os patrões quase certa-
aristocracia para a qual os outros trabalhadores erguem os olhos com mente conseguiam sua mão-de-obra habilitada no século dezenove
sentimentos meio de respeito, meio de inveja. Eles sentem sua impor- abaixo do custo do mercado. Isto se aplica não só aos países com um
tância e tratam os outros co1n consideração variada: os fabricantes de nível salarial geralmente baixo tais como a Alemanha e a Bélgica,
chassis têm direito a uma espécie de familiaridade condescendente; os co1no tambétn à Inglaterra. Parece claro que, mesn10 compensando as
decoradores são considerados bons demais para serem desprezados; flutuações cíclicas abruptas às quais eles estavam sujeitos, os fundido-
um capataz dos pintores eles podem tratar com respeito, mas os pinto- res de ferro e maquinistas na Inglaterra antes, digamos, de 1840,

402 403
viviam num mercado vendedor maravilhoso e podiam ter exigido padrões eram tão bem aceitos que quando os trabalhadores tinham
muito mais do que a taxa de 30s. ou parecida que os maquinistas do escolha - não havia muitas vezes nenhuma diferença importante
Lancashire recebiam na década de 1850". Obviamente a competição entre as taxas por tempo e por peça: cada uma podia ser transformada
entre as pequenas firmas e a falta de sindicatos eficientes desempenha- na outra com pouca dificuldade. O patrão de trabalhadores por tempo
vam o seu papel, bem como o fato de que os homens exigiam uma parte sabia grosseiramente qual a produção por peça que obteria, o patrão de
do preço extra deles em termos de satisfações não-econômicas, tais trabalhadores por peça (como Adam Smith observou)" sabia que não
como independência da supervisão, tratamento digno e mobilidade. tinha probabilidade de obter mais deles do que a produção-padrão pela
Apesar de tudo a modéstia de suas exigências eram e permanecem semana de trabalho aceita, embora eles pudessem tê-la feito em menos
ünportantes, con10 qualquer australiano chegando a este país está dias. As estatísticas que temos tendem a mostrar que nas indústrias
pronto a atestar. Quanto mais tradicional e hierárquica a sociedade não-mecanizadas a produção tendia a l1utuarmais ou menos numa ten-
deles, maior ela era. dência uniforme. A produtividade uas minas do Ruhr (exceto para o
Uma vez que só podemos especular sobre "o que o tráfego pode- período de l 796- l 802e o começo da década de 1830) permaneceu bas-
ria suportar" naquele te1npo, não podemos naturalmente medir o tama- tante firme de 1790 até 1850 entre 87 e 97 por cento do nível de 1850.
nho do bônus que os patrões tiravam da rei utância dos seus trabalha- Nas minas de cobre de Halle ela mediou de 12-13 toneladas por
dores em cobrá-lo. Poder-se-iaimaginarquc era pelo menos tão grande homem-turno para cada período do ciclo comercial entre 1800 e 1850.9
como o bônus que eles tinham tirado no século dezoito da "inflação- Na mineração de carvão na França ela foi igualmente estável entre
lucro" do Professor Hamilton. Parece provável também guc as opi- 1834 e 1852."' Este nível não era necessariamente o mais alto que se
niões deles sobre a produtividade individual eram afetadas por ele. O podia obter, mas é provável que os operários trabalhassem o mais dura-
esforço do trabalho do operário, ou padrão de produção por unidade de mente que podiam, ou se esperava tradicionalmente que o fizessem,
tempo, era também determinado mais pelo costume do que pelo cálcu- sujeito à condição de que eles sentissem por si mesmos estarem rece-
lo do mercado, de qualquer maneira até que ele começasse a aprender bendo um salário "justo" e que o trabalho não interferia com o confor-
as regras do jogo. O ideal de "um dia justo de trabalho por um dia jus- to deles no trabalho e no lazer. Naturalmente os trabalhadores rudes, o
to de pagamento" tinha, e tem, pouco em comum com o ideal de com- trabalho forçado, ou outros dedicados a fazer um trabalho desagradá-
prar no mercado 1nais barato e vender no tnais caro. Os critérios para vel ou não-tradicional para o qual não tinham nenhum padrão habitual,
um dia justo de trabalho são provavelmente complexos demais para sendo destreinados ou sem prática, os trabalhadores se sentindo mal
uma análise apressada. Eles dependiam em parte de considerações pagos, ou incapazes de sentirem gualguerorgulho em sua labuta, natu-
fisiológicas (p. ex., a velocidade de trabalho eo esforço que um homem ralmente só trabalhavam duramente quando obrigados. Mas o prazer
podia manter indefinidamente, compensando os descansos durante e no trabalho é mais comum do que se pensa. As pesquisas de De Mao na
entre os dias ou turnos de trabalho); de considerações técnicas (p. ex., década de 1920 mostraram que na Alemanha 67 por cento dos traba-
a natureza das tarefas que se podia esperar que ele cumprisse no curso lhadores habilitados e até 44 por cento dos não-habilitados disseram
de um dia ou turno); de considerações sociais (p. ex., a necessidade de que sentiam mais prazer do que aversão por seu trabalho." O estigma
um grupo trabalhar num ritmo que pern1itisse aos membros mais len- moral contra a moleza era e permaneceu n1uito grande entre esses gru-
tos acompanhá-lo e por sua vez ganhar um salário justo de um dia); de pos. O patrão que admitia esses tipos de trabalhadores pré-industriais,
considerações morais (p. ex., o orgulho natural que um homem tem em ou aqueles que os tomavam como modelo, podia estar razoavelmente
fazer um trabalho o melhor que pode); de considerações econômicas certo de obter deles inicialmente tanto trabalho por unidade de tempo
(p. ex., que quantidade de trabalho podereccberum "salário justo"); de quanto era sociahnente esperado, a menos ou até que introduzisse os
considerações históricas e sem dúvida de outras. Eles eram impostos critérios da economia de mercado. Naturalmente essa rigidez de pro-
por uma pressão coletiva poderosa'. Na verdade, como sabemos, esses dução podia ser incômoda quando ele exigisse que a produtividade

404 l. 405
A
aumentasse rapidameute, ou que os trabalhadores se ajustassem rapi- com uma punição rigorosa do trabalho malfeito, como fizeram os
damente a 1nudanças dos processos de trabalho. 12 fabricantes de caldeiras."
Portanto é claro que os trabalhadores habilitados, na verdade tal- O período que se seguiu à Grande Depressão pode ter presencia-
vez todos os trabalhadores que sentissem algum respeito próprio e não do uma mudança mais fundamental de atitude, já que presenciou uma
fossem incitados à revolta, não aplicavam os critérios de mercado para revolução mais fundamental na economia e na estrutura da força de tra-
a medida dos seus esforços. Os não-habilitados eram naturalmente balho. Em primeiro lugar, como Rowe mostrou, certos grupos de tra-
habitualmente explorados e mal pagos, mas os patrões não esperavam balhadores - p. ex., os ferroviários - começaram pela primeira vez
deles, de qualquer maneira, mais do que o mínimo absoluto de traba- a exigir o que o tráfego podia suportar. Em segundo lugar havia, num
lho voluntário, e confiavam - talvez erradamente, antes da idade da certo número de indústrias em vários países, u1n afrouxa1nento muito
produção em massa moderna - na disciplina ou na "energia" para marcado da produtividade individual, ainda mais surpreendente em
obter deles tanto esforço quanto podia ser esperado. u contraste com a ascensão muito rápida do terceiro quarto do século.
Assim, na mineração de carvão na França, a produção por homem-dia
(trabalhadores subterrâneos, l 900 = 100) subiu de 62 na década de
II
1840 para 100 em 1887-95, após o que caiu lentamente para 95 em
1909-1914. Na Alemanha, a produtividade por trabalhador na minera-
Em alguma ocasião por volta do meio do século observamos um ção de carvão duro subiu de45 em 1844-52 para 1Olem1887-94 (1900
= 100) após o que permaneceu grosseiramente estável até 1913." A
ajustamento consciente dos trabalhadores habilitados às "regras do
produção por cabeça na mineração inglesa e belga, nos ofícios de cons-
jogo", pelo menos na Inglaterra. Assim os sindicatos começaram na
trução de Londres, e na fiação de algodão no Lancashire da década de
década de 1840 a reconhecer a natureza peculiar do ciclo comercial cm
1890 em diante, mostrou tendências semelhantes." Mesmo se com-
suas precauções para o desemprego, e um pouco mais tarde a desenvol-
pensarmos, quando necessário, o efeito dos rendimentos que dimi-
ver as políticas características de um sindicalis1no de "novo n1odelo":
nuíam, ou o aumento dos trabalhadores não-produtivos algumas vezes
restrição da entrada, máxima mobilidade da mão-de-obra entre áreas
compreendidos nestes totais, ou o encurtamento das horas, a tendência
de pleno emprego e de falta, benefícios de emigração, o uso sistemáti-
permanece bastante sugestiva. Em um ou dois casos isso foi especifi-
co de benefícios de socorros mútuos, e assim por diante. 14 Con10 sabe-
camente atribuído a um certo afrouxamcnto,do esforço individual de
mos, a teoria econômica por trás destas políticas pretendiam a criação trabalho dos homens' 8 • É pelo menos possível que certos grupos de tra-
de uma escassez permanente de mão-de-obra habilitada, de forma a balhadores começassem agora a deixar que sua produção caísse siste-
elevar o seu preço de mercado. Nova1nente, co1no veremos, os traba- maticamente, a menos que tnantida por incentivos, ou então que o
lhadores habilitados, bem como os patrões nas décadas de 1850 e 1860, enfraquecimento das formas mais velhas de disciplina ou tradição do
tendiam a favorecer as formas mais curtas possíveis de contrato de tra- trabalho produzissem o mesmo resultado.
balho de forma a permitir a qualquer das partes negociar por melhores Muito embora os militantes industriais como Tom Mann desen-
condições com o menor atraso possível. Mas, 1nesmo compensando as volvessem a teoria da negociação do livre mercado variando o esforço
exceções do laissez,faire às quais os sindicatos naturalmente se apega- de trabalho do operário na década de 1890," o afrouxamento conscien-
vam (especialmente a proteção legal e o sindicalismo), isto era apenas te e sistemático deste tipo era sem dúvida raro. Quando proposto ele
uma adaptação parcial à negociação do livre mercado. Os critérios de encontrava uma grande indignação moral não só - naturalmente,
um "salário justo" per1naneceram os costu1neiros em multas indús- embora ilogicamente -por parte dos patrões, como dos próprios tra-
trias, aqueles de um "dia justo de trabalho" igualmente inflexíveis. Na balhadores habilitados e seus simpatizantes"'. A tendência de afrouxar
verdade alguns sindicatos combinaram a negociação do laissez-faire minava o respeito próprio dos trabalhadores mesmo que isso melho-

406 407
rasse a sua posição no mercado; e o respeito próprio é u1na coisa muito para mantê-la trabalhando. Daí a primeira metade do século dezenove
mais fundamental do que as categorias historicamente fugidias da eco- é qualquer coisa exceto laissez-faire em suas relações trabalhistas. Na
nomia do livre mercado. Inglaterra ela presenciou a codificação da Lei de Patrões e Emprega-
Entre 1880 e 1914, portanto, os trabalhadores começaram a per- dos, que punia as violações de contrato mais severamente para os
der as vantagens de que até então tinham gozado devido à ignorância homens do que para os patrões," a proscrição sistemática embora nem
dos trabalhadores das "regras do jogo" ou da relutância deles em segui- sempre eficiente dos sindicatos e das greves - a revogação das Leis
Jas, e das quais eles tinham obtido benefícios consideráveis. Algumas Combinadas fez relativamente pequena diferença quanto a isto - um
vezes, como na fiação de algodão inglesa, o quase monopólio os pro- gosto marcado pelos contratos de trabalho a longo prazo e inelásticos
tegia contra os efeitos desta perda; 21 outras vezes não. Devemos por- como o vínculo anual ou mensal dos mineiros," e aquela peça impla-
tanto nos voltar para o lado do quadro dos patrões. cável de coação legal-económica, a Nova Lei dos Pobres. Em outras
partes mecanismos semelhantes eram comuns.
Estas coisas eram em parte racionalmente justificáveis ein termos
III de teoria contemporânea, embora não totalmente; porque os patrões
estavam apenas dispostos demais a abandonar o laissezcfaire quando
Se a falha de aprender ou aplicar as regras do jogo fez com que os este não lhes convinha. Assim os vínculos anuais) e1nbora co1npreensí-
trabalhadores muitas vezes trabalhassem mais dura1nente e por 1nenos veis como uma reação às faltas locais de mão-de-obra, como nas minas
dinheiro do que teoricamente precisassem ter feito, a falha dos patrões do século dezoito, não eram facilmente defensáveis por nm discípulo de
de aprendê-las ou aplicá-las fez com que eles utilizassem a mão-de- Adam Smith. Contudo, o que não é justificável é a negligência extraor-
obra que contrataram com uma ineficiência notável. dinária do problema da produtividade e da utilização eficiente da mão-
Ao considerar o comportamento dos empresários do século de-obra. Falando de uma maneira geral, os patrões presu1niram que a
dezenove devemos naturalmente distinguir entre o que pudesse ser folha de pagamento mais baixa por horas mais longas significava um
ineficiente hoje, mas pudesse ser racionalmente justificado sob as Clm- custo mais baixo de mão-de-obra por unidade de tempo; que o esforço
dições então prevalecentes, e o que pudesse não ser. (Não precisamos dos trabalhadores não podia ser muito aumentado acima de uma norma
concordar com as justificações racionais dos primeiros patrões, mas determinada, embora eles fossem n1uitas vezes preguiçosos demais
precisamos reconhecer simplesmente que elas eram racionais). Os pri- para perceber isto; que o problema da produtividade era essencialmen-
meiros empresários industriais acreditavam, não sem alguma justifi- te de mecanização combinado com a disciplina; e que os incentivos
cação, que a sua força de trabalho era em grande parte impermeável aos eram principalmente úteis como um auxiliar a isto, se é que eram. Os
incentivos monetários, relutantes cm trabalhar da maneira que lhes manuais para industriais e gerentes, embora dedicando muita atenção à
convinha, ou na verdade de entrarem absolutamente a serviço deles. utilização econônlica das matérias-prilnas, negligenciavam quase
Como Townsend observou em 1780: completamente o problema da administração da mão-de-obra.''
Isto é, naturalmente, para supersimplificar a parte desempenhada
Os pobres pouco saben1 dos n1otivos que esti1nula1n as categorias 1nais altas à pelos incentivos no esquema dos primeiros empresários. Eles foram de
ação - orgulho, honra e a1nbição. E1n geral é apenas a fo1ne que pode incitá- fato largamente usados, em parte sob a forma de salários por peça, em
los e convencê-los a trabalhar. 22 parte sob a de subcontratos.Apesar disso nenhum dos dois era incoeren-
te com a opinião resumida acima. O subcontratante era um tipo de
E, podemos acrescentar, apenas a disciplina que os manteria tra- empresário, e os empresários eram naturalmente sensíveis aos incenti-
balhando. Portanto era lógico que os patrões usassem a coação, não- vos. Além do mais, ele estabelecia o ritmo para aqueles subordinados a
económica bem como econômica, para recrutar a força de trabalho e ele que não gozavam de incentivos, e na verdade a prevalência da sub-

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contratação pareceu tornar os incentivos para os próprios trabalhadores dente considerável, uma vez os trabalhadores estivessem treinados e
e1n grande parte desnecessários, exceto no caso de salários por tarefa experientes; maior talvez do que eles pudessem ter conseguido por
genuinamente coletivos fixados por turmas. A chefia por peça, chefia salários altos e esforços mais intensos. Assim os mineiros belgas de
contratada, ou como quer que fosse chamado, o artesão habilitado - carvão eram mais mal pagos do que aqueles do Ruhr; a produção deles
fiandeiro, laminador ou fundidor- que pagava ele mesmo aos seus por homem-turno entre 1886 e 1910 foi consistentemente de 30 a 40
assistentes não-habilitados não raro em taxas diretas por tempo, o capa- por cento abaixo da dos alemães. Mas durante o mesmo período (1892-
taz ou chefe de turma que, quase invariavelmente, trabalhava numa 191 O) o custo da mão-de-obra do carvão belga, medido como uma por-
base de comissão ou co1no subemprejteiro: 26 estes estabeleciam o ritmo centagem do seu preço na boca da mina, era menor: 53,9 contra 55,9
e o resto não tinha nenhuma opção senão acompanhá-lo. por cento.;' Novamente, as pequenas oficinas podem ser capazes, tal-
Tampouco era o pagamento por resullados por si mesmo (em vez pela supervisão rigorosa e outros fatores, de terem custos de mão-
contraposição ao subcontrato) concebido primariamente como um de-obra mais baixos do que todas exceto as oficinas muito grandes e
meio de aumentar a produtividade, mas como um meio de impedi-la de eficientes: de qualquer maneira os números de Rostas para a indústria
cair abaixo da norma. Como o Dr. John, especialista galês em ferro inglesa em 1937 parecem sugerir isto' 1 • Muitas das prüneiras oficinas
afirmava, essa era a única maneira de garantir que os trabalhadores eram pequenas, e quando assim era e o capital era pequeno os empre-
"cumprissem o seu dever" quando não podiam ser efetivamente super- sários podiam pensar ser boa política utilizar o fator abundante, a mão-
visionados". Ou, para citar M. Ponson de Liêge: de-obra, e111 vez do escasso, mesmo ao custo de algu1na ineficiência do
trabalho por trabalhador. Finalmente parece provável que mesmo com
O trabalho por dia é o tnétodo mais desvantajoso nas nlinas. porque os trabalha- poucos incentivos, o trabalho não-habilitado ou simples pode ser utili-
dores, não tendo nenhum interes:-ie cm trabalhar ati vamcnte, em grande parte zado muito mais ineficientemente do que o trabalho habilitado ou
afrouxam o total dos seus esforços assim que ces:.a a supervisão.'x
complexo, simplesmente porque o seu ritmo pode ser supervisionado
e controlado mais efetivamente, quer pelo homem quer pela máquina.
Na verdade temos exemplos de grande poços sendo cavados em Um manual americano padrão de "administração científica" estima que
salários por tempo nas primeiras dezenas de metros, enquanto a super- a mão-de-obra não-habilitada e as tarefas burocráticas de rotina direta-
visão é possível, mas a taxas por peça daí por diante." Em geral, se for mente supervisionadas em pequenos grupos funcionam com 50 por
necessário un1 aurnento do esforço ele é conseguido ''trabalhando com cento de eficiência, os operadores de máquinas semi-habilitados a 38-
afinco", embora isto possa significar dar incentivos a um número limi- 40 por cento, os mecânicos habilitados e completos a 30 por cento, c os
tado de "cavalos atrelados aos varais". Naturalmente, os graus de tra- homens altamente habilitados e completos tais como os fabricantes de
balhadores que resistiam à supervisão disciplinada - p. ex., os arte- ferramentas a 25-28 por cento." Mas isto não altera o fato de que para
sãos habilitados- não podiam ser tratados assim.;" cada unidade de salário paga os patrões obtinham muito menos do que
Este argumento não se aplica da mesma maneira às indústrias que poderiam, e em grande parte não tinham consciência disto.
sempre foram pagas por resultados, por exemplo as indústrias domés- Novamente, a combinação de uma força de trabalho não-habilita-
ticas, nas quais o trabalho por peça era uma forma degenerada do preço da, destreinada e a mecanização tenderam a cegá-los. De qualquer
que os artesãos anteriormente independentes recebiam pela venda do maneira não se pode esperar que a mão-de-obra rude seja eficiente: pre-
seu produto, ou em ocupações que tomavam essas indústrias direta- cisa-se orçar uma produção per capita baixa. O aumento da produção
mente como modelo. devido à inovação técnica era tão vasto que era fácil esquecer o quanto
Embora esta atitude não possa ser justificada, pode ser com- maior ela poderia ter sido com uma exploração eficiente. "Com a ajuda
preendida. A combinação dos custos dos salários ultrabaratos com os dos dedos mecânicos", exclamou o Dr. Ure," "um inglês com sua má-
esforços-padrão habituais da mão-de-obra dava aos patrões um exce- quina de fiar pode produzir diariamente mais fio do que 200 dos fian-

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deiros mais diligentes do lndostão". Parecia não importar que eles horas parecia um turno médio razoável diante do carvão.40 Mas até
pudessem ter produzido mais, porque poucos empresários perceberam 1901 , 80 por cento de todos os trabalhadores belgas ainda trabalhavam
as economias potenciais da exploração realmente eficiente do trabalho. onze horas em excesso." Quando em 1889 os sindicatos forçaram a
O Cardüzg andSpinning Master'sAssistantde 1832 prevenia os patrões indústria inglesa de gás a adotar três turnos de oito horas em vez de dois
contra rearrumar sua maquinaria uma vez instalada, 1nesrno que achas- de doze horas, a indústria acreditou estar enfrentando (a) uma perda
sem a an-umação menos do que ideal,já que os custos da reorganização líquida em eficiência e (h) um método de trabalho completamente sem
excederiam provavelmente às economias. 35 Contudo isto era um enga- precedentes; mas vários gasõmetros do país haviam funcionado em tur-
no patente. Talvez seja impossível, de qualquer maneira sem trabalho nos de oito horas durante até cinqüenta anos, seus resultados estavam
demorado e laborioso, fazer u1na estimativa dessa ineficiência, 1nas disponíveis para inspeção, e acontecia que a indústria era uma na qual a
temos pelo menos um guia dela no Relatório da Comissão da ONU discussão técnica era particularmente animada e infor1nada.42
sobre as Indústrias Têxteis da América Latina ( 1950), algumas das Esta resistência ao conhecimento é também compreensível. Na
quais são extremamente arcaicas. Este estudo pioneiro tenta separar a prática uma grande eficiência da mão-de-obra significava salários mais
ineficiência devida à maquinaria obsoleta ou defeituosa daquela devi- altos e horas mais curtas. Mas e1n primeiro lugar nenhu1n comerciante
da a outros fatores, principalmente à 1ná organização -p. ex., excesso gosta de elevar os seus custos a 111enos que esteja certo de recuperá-los,
de pessoal, em outras palavras utilização ineficiente da mão-de-obra. e os empresários não tinham nenhnma garantia rígida. Em segundo, era
Ele conclui que ambas são causas igualmente importantes de ineficiên- indesejável encorajar os trabalhadores a exigir salários mais altos e horas
cia. No Brasil e no Equador, na mais tecnicamente antiquada das indús- tnais curtas, porque onde iriam parar tais exigências? Era inais seguro,
trias estudadas, a reorganização melhoraria mais a eficiência do que embora menos eficiente, ficar com os velhos hábitos, a menos que a pres-
novos investimentos. "Ao contrário do que sempre se supôs," diz o rela- são sobre as margens de lucro, concorrência aumentada, as exigências
tório, "a má organização e administração afetam tanto a produtividade da 1não-de-obra ou outros fatos inevitáveis forçassem u1na mudança.
como a falta tradicional de capital."·" Nenhum historiador do começo Mas os períodos importantes de ajustamento econômico após as Guer-
da Europa industrial ficará sequer surpreso diante desta descoberta. ras Napoleónicas e o colapso de 1873 sujeitaram os patrões exatamente
As tentações de uma economia de mão-de-obra barata tornou os a este tipo de pressão, e daí levou a modificações importantes no méto-
patrões igualmente relutantes em reconhecer a sua ineficiência quando do de utilização da mão-de-obra. No período pós-Napoleónico o efeito
isso lhes foi apontado. Admitidamente, poucos estavam preparados foi retardado, já que os patrões tentaram primeiro exaurir as possibilida-
para instruir os industriais em administração científica exceto o cientis- des de cortar os custos da mão-de-obra estendendo as horas e cortando
ta raro como Charles Babbage:'° Poroutro lado, o fato de os baixos salá- as taxas de salário em dinheiro. Durante a Grande Depressão (1873-96)
rios e longas horas não sere1n necessariamente idênticos aos custos de os novos métodos tenderam a ser adotados mais rapidamente. Gros-
mão-de-obra mais baixos foi provado repetidas vezes nos negócios, e seiramente falando, o meio do século trouxe o começo da substituição da
pode realmente ser observado. Brassey deu larga publicidade à sua pro- utilização do trabalho "extensivo" por "intensivo", a última parte da
va.33 Como Lujo Brentano acentuou, mesmo a experiência do grande Grande Depressão o começo da substituição da utilização "intensiva"
aumento salarial de 1872 provou isso, embora ele fosse considerado empírica, pela racional ou da "administração científica".
como enunciando u1n paradoxo e inuitos observadores sitnplesmente
se recusaram a acreditar nos seus olhos. 30 ANew Lanark de Owen havia
levantado a questão décadas antes. O judicioso Ponson, que deu estatís- IV
ticas de produção por homem-dia para os cortadores de carvão de 113
pedras em quatro países cujos turnos iam de seis até quinze horas, con- Embora seja muito provável que a eficiência da utilização do tra-
cluiu em 1853, sem qualquer tendência filantrópica detetável, que oito balho subisse após a década de 1840, isto não é fácil de estabelecer

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estatisticamente. Contudo, é claro que o sistema das relações trabalhis- pagamento de salários". Onde os autores tinham sido neutros quanto
tas na Inglaterra sofrcn mudanças fundamentais, e outras análogas são às taxas por peça ou ligeiramente hostis, agora se tornavam mui to entu-
observáveis em outras partes (por exemplo, na legalização das greves siastas quanto a elas, p. ex., McCulloch e Michel Chevalier'8 • Segun-
de Napoleão Ili). A compulsão não-econômica desapareceu virtual- do, os patrões em vários países mostraram uma tendência marcada a
mente com o declínio do vínculo dos 1nineiros e outros contratos lon- estenderem os pagamentos por resultados - isto é, pagamentos de
gos, a abolição das Leis dos Patrões e Empregados e a legalização total incentivos - inicialmente em grande parte em combinação com a
do sindicalismo. Podemos traçar a extensão dos contratos de trabalho subempreitada e chefia por peça. Tudo isto levou Marx à opinião fami-
curtos na década de 1850, particularmente na Escócia;" mas também liar de que o pagamento por resultados era o tipo de pagamento de salá-
numa variedade de acordos locais de ofícios de construção. A chefia rios mais adequado ao capitalismo'". Já que não temos nenhuma esta-
por peça e a subempreitada, esses concomitantes quase invariáveis da tística confiável, não podemos estimar o sucesso destes esforços.
rápida industrialização, capitalista em suas primeiras fases, pode bem Algumas vezes eles falharam, como entre os maquinistas e construto-
ter passado o seu pico, de qualquer maneira nas indústrias mais res ingleses 50 . Outras vezes tiveram sucesso, como quando a Krupp
velhas." As modificações na Lei dos Pobres (p. ex., em 1867) tendeu introduziu o trabalho por peça após 1850 juntamente com a produção
também a transformá-la de um instrumento de coação trabalhista num em inassa,-" ou quando os novos campos de carvão tais co1no aqueles
1

de ajuda. 45 Não raro estas mudanças legais ratificavam uma situação de da Gales do Sul pagavam a maioria dos seus trabalhadores por resulta-
facto. Obviamente a substituição de uma negociação não-desejada por dos, enquanto nos campos mais velhos (como no N ardeste) apenas cer-
uma desejada tinha probabilidade de melhorar o moral dos operários tos graus tais como os apanhadores de carvão tinham sido pagos
habilitados, e daí sua produtividade. (Isto era mais importante nos paí- assim". Mas a tendência- observada nos relatórios dos inspetores de
ses de laissezfaire doutrinário do que onde o paternalismo era genera- fábricas inglesas - não está em dúvida''. Ela foi vastamente acelera-
lizado, co1no na indústria pesada alemã, mas este não é lugar p~lra dis- da pela construção maciça de estradas de ferro, que eram pagas quase
cutir estas diferenças interessantes). Mais importante, o movimento inteiramente por resultados, e ajudou a espalhar largamente o princí-
para encurtar as horas ganhou teffeno, em parte através da legislação, pio do trabalho por peça, p. ex., na agricultura alemã," e na indústria de
em parte através de acordos e negociações privadas, como no meio- construção. Finalmente, é claro que a relutância em aumentar os salá-
fcriado de sábado, que entrou e1n uso razoavehnente geral a partir da rios em dinheiro diminuiu. As taxas de salários em dinheiro tomaram
década de 1840 entre os construtores e em algumas partes das provín- uma tendência marcada para ci1na na maioria dos países da Europa
cias, c cm Londres a partir do meio da década de cinqüenta"'. As horas Ot idental após a metade do século, e as primeiras defesas tímidas de
mais curtas obrigava1n virtuahnente os patrões e elevaram a produtivi- un l "economia de altos salários" puderam ser ouvidas''. Contudo
dade, e o fato de que isto pôde ser feito era agora mais amplamente est,.mos bastante no escuro quanto ao aumento real da eficiência do
apreciado. trabalho, e é claro que vastas áreas da indústria permaneceram resolu-
Sabemos tão pouco sobre os sistemas de administração e paga- tamente antiquadas.
mento de salários que é perigoso generalizar sobre eles, especialmen- Após 1850 navegamos em águas muito menos carentes de
te em virtude da incrível complexidade da cena industrial. Só três fatos mapas. Já que este foi precisamente o período em que a eficiência do
são absolutamente certos. Primeiro, de que da década de 1830 em dian- trabalho veio a ser considerada um assunto de estudo especial, pelo
te os economistas, que haviam previamente discutido sistemas de menos tão importante como o do uso eficiente do equipamento e da
pagamento de salários apenas incidentalmente - como em Adam matéria-prima, atraindo o pesquisador, o engenheiro, o departamento
Smith, Malthus, Say e Sismondi - começaram a prestar atenção sis- do governo e outros fornecedores de material histórico.
temática a eles. A partir do fim da década de 1830 os tratados de eco- O principal incentivo para mudar veio da tendência bem conhe-
nomia continham normalmente uma seção especial sobre a forma de cida de as margens de lucro declinarem na Grande Depressão. Este é

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também o período em que a competição imperfeita se fez sentir em fica descobriu que o esforço ótimo era muito mais alto do que se acre-
larga escala, em que a "segunda revoluçãü jndustrial" pôs-se en1 mar- ditara possível, e assim, na prática, tornou-se um conjunto de métodos
cha, e em que um movimento trabalhista poderoso emergiu em vários mais para elevar do que para manter o esforço.
países, composto, além do mais, de trabalhadores que conheciam cada Tudo isto envolveu mudanças consideráveis no comportamento
vez mais as "regras do jogo". Se a pressão da competição ou do traba- dos patrões. Podemos acompanhar a evolução do pensamento deles,
lho foi mais importante em voltar as idéias dos patrões em direção à efi- ou melhor, dos engenheiros de produção - nos debates da Sociedade
ciência da mão-de-obra é incerto. As alegações foram provadas para Americana de Engenheiros Mecânicos desde cerca de 1886. Eles
ambos"'. Do nosso ponto de vista a pressão da mão-de-obra é a mais começaram como uma busca dos incentivos para substituir a supervi-
interessante, embora se deva ter em mente que a escala e complexida- são efetiva ou o "ímpeto" dos primeiros tempos. Daí a primeira pre-
de crescentes da produção industrial tornaram as firmas mais vulnerá- ocupação deles foi com a elaboração de novas formas de pagamento
veis a elas do que previamente, bem como tornando os velhos métodos por resultados, e os principais métodos em voga atualmente - os sis-
de administração da 1não-de-obramenos aplicáveis. Como um dos dis- temas de prêmios em bônus dos tipos Halsey e Rowan, os Taylor,
cípulos de F. W. Taylor disse: "Nós costumávamos induzir os trabalha- Gantt, etc. - foram inventados na década seguinte. Os engenheiros
dores, mas- especialmente se eles forem habilitados - ( ... )não têm foram levados então a considerar os sistemas de custo; e na verdade em
que tolerar isso"". Um dos motivos pelos quais eles não tinham, como alguns países os contadores de custos foram os verdadeiros pioneiros
observa um historiador da administração científica, era que tinha que do movimento, como na Inglaterra, onde Fells e Garcke (dois jovens
haver agora "um substituto para a supervisão efetiva característica da membros da Sociedade Fabiana, por interessante que pareça) publica-
loja pequena." 55 ram suas Factory Accounts em 1887''". Daí as discussões se voltaram
A "administração científica" foi a conseqüência." Em suas fases naturalmente para a própria organização e administração, e foi neste
iniciais, com as quais estamos preocupados aqui, ela consistia de três ponto que Frederick Winslow Taylor interveio dominando daí por
elementos principais: diante todo o movimento.
(a) uma análise cuidadosa do processo de produção, sua divisão Antes de 1914 e fora dos EUA mal estamos ainda preocupados
cm segmentos simples e o estabelecimento de normas de trabalho para com a administração científica no sentido moderno - a racionaliza-
cada um; ção baseada em estudos de tempo e movimento e coisas parecidas.
(h) um sistema de contabilidade de custos que permitisse à firma Contudo, de uma forma mais empírica, mesmo isto estava implícito na
descobrir o custo da mão-de-obra de cada operação e mantê-lo sob produção em massa pelas máquinas ou processos especializados que
observação constante; agora se expandiam grandemente; particularmente oudc a mão-de-
(e) a elaboração de sistemas de iucenti vos ou supervisão capazes obra era o fator oneroso. Desconhecendo o Taylorismo, os patrões de
de fazer os trabalhadores trabalharem na intensidade máxima. Para botas e sapatos de Bristol, que imaginaram um "sistema de grupo" por
fins práticos isto então significava pagamento por resultados. volta de 1890, aplicaram os seus princípios. Eles subdividiram o pro-
Na prática estes cra1n gcrallnente combinados com a mecaniza- cesso e se certificaram de que o grupo fosse "atendido pela mão e pelo
ção, embora isto não fosse teoricamente essencial. É possível ter meca- pé e nunca ficasse esperando por qualquer coisa, ao passo que quando
nização sem administração científica cónscicnte como no começo do eles tinham que "procurar" seu próprio trabalho havia uma perda de
século dezenove, e administração científica sem investimento de capi- tempo envolvida"'''. Qualquer processo novo envolvia automatica-
tal em novas ináquinas. Para con1eçar, a administração científica par- mente essa computação dos custos da mão-de-obra. Quando ele era
tilhavaa velha opinião de que havia um esforço da mão-de-obra ótimo, executado por mão-de-obra barata e dócil, como em muitas fábricas
sendo a tarefa do gerente impedir os trabalhadores de caírem abaixo novas de artigos de consun10, isto não era importante, porque o custo
dele. Mas ao abandonar o costume e a tradição a administração cientí- dos salários de qualquer maneira era baixo. Contudo, o núcleo da nova

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revolução industrial era uma indústria que tivesse sido até então ope-
rada esmagadoramente numa base semimanual por trabalhadores peça, como em Oldham, onde predominavam as companhias, de capi-
autoconfiantes e altamente pagos: metais e maquinaria. Aqui a transi- tal conjunto.''"
ção para o novo sistema tinha que ser imaginada e enfrentada muito O objetivo dessas inovações era, naturalmente, de baixar o custo
mais conscientemente do que em outras partes. Tampouco é de sur- da mão-de-obra por unidade de produção. Se isto não era conseguido,
preender que em conseqüência os metalúrgicos, até então bastante o patrão não ganhava nada pela intensificação do trabalho exceto tal-
conservadores, se tornassem em muitos países do mundo os líderes vez algumas economias gerais de capital e trabalho em outras secões
característicos dos movimentos trabalhistas militantes. A história des- de produção. Os trabalhadores atrasados ou dóceis não apresenta~am
ses movimentos desde a greve dos patrões ingleses de 1897 pode ser nenhum problema. Idealmente podia ser possível "impeli-los" sim-
escrita em grande parte nos termos dos metalúrgicos, tanto que - por plesmente pela velocidade da máquina ou a eficiência da supervisão,
exemplo - os movimentos contra a guen-a de 1916-18 seguiram um pagando-lhes taxas simples por tempo e apropriando-se de todo o ga-
ritmo estabelecido quase exclusivamente por eles. (Basta simplesmen- nho. Este, o assim chamado "sistema continental'',''' era aplicado al~u­
te que pensemos no sindicato de Merrheim na França, nos e1nprcgados mas_ vezes, p. ex., quando o ofício de fitas de Coventry passou a ser pro-
das lojas de Berlim, nos empregados ingleses das lojas, nas fábricas d~üdo em fábricas na década de 1850 e em muitas das primeiras
Putilov de Petrogrado, nas fábricas Manfred Weiss de Budapeste, nos fabncas de botas e calçados."' A prática generalizada de subornar
metalúrgicos de Turim e Milão.) "cavalos de guiso" ou "perseguidores" como mercadores de ritmo para
Contudo, se a racionalização estava na sua infância, o pagamen- o resto também evitava o problema do pagamento de incentivos. Os
to por resultados e os esquemas de incentivo progrediram rapidamen- trabalhadores ligeiramente menos incapazes ou estúpidos podiam
te. Na Inglaterra eles foram impostos à Sociedade Unida dos Maqui- receber uma simples gratificação ou prêmio por toda a produção além
da norma, independente de quanto fosse. Até que os sindicatos dos
nistas em 1903, após os amargos conflito, da década de 1890, e
tecelões acabassem com ele, este sistema foi muito usado no Lan-
aumentaram firmemente até a guerra de 1914"'. AArmstrong-Whit-
cashire": Contudo os trabalhadores fortes ou "instruídos" tinham que
worth passou para a administração científica antes de 1900; a Siemens-
receber incentivos mais realistas, do contrário eles simplesmente se
Schuckert de Viena adotou o prêmio em bônus nesse ano 61 • A rápida "acon1oda va1n".
generalização do pagamento por resultados não está em dúvida. Na
A importância esmagadora do pagamento por resultados nesta
Inglaten-a 5 porcento de todos os trabalhadores em maquinaria e fabri-
fase reflete portanto em grande parte o fato de que os patrões tinham
cação de caldeiras estavam nele em 1886, 27 ,5 por cento em 1906.
agora que operar com uma classe trabalhadora que conhecia as "regras
Entre os torneiros: 6-7 por cento em 1886, 46 por cento cm 1914; entre
do jogo" e faria um esforço proporcional à recompensa, quer fosse ou
os operadores de máquinas: 11 por cento em 1986, 47 por cento em não organizada em sindicatos. Isto também desencorajou o trabalho
1913."4 Podemos observar freqüentemente a mudança dos salários por comum por peça, porque sob tal sistema os custos da mão-de-obra só
tempo para por peça, como nas usinas siderúrgicas da Lorena (espe- eram baixados por cortes periódicos das taxas, um processo sempre
cialmente as maiores), 65 nas fábricas ferroviárias inglesas, 66 nas estra- impopular. Daí todos os novos sistemas de pagamento por resultados
das de fcn-o alemãs e em outras partes.''' Mesmo onde os salários por tenderem a fazer o pagamento automaticamente regressivo, isto é,
peça tinham sido a regra há muito tempo, como no algodão, a Grande pago por cada aumento de produção a uma taxa mais baixa do que para
Depressão trouxe modificações importantes. No mínimo - como na o aumento anterior; fato esse geralmente, e inuitas vezes intencional-
lista de Fiação de Bolton em 1887 - eles produziram uma sistemati- mente, obscurecido pela sua imensa complexidade. Mas embora a
zação geral das taxas por peça; mas podia levar também ao reconheci- diminuição dos custos da tnão-de-obra se tornasse assim automática e
mento franco da "aceleração" como um elemento dos salários por tácita teorica1nente, na prática isto raramente acontecia. As fir1nas
raramente tinham eficiência, especialistas habilitados o suficiente ou
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fixadores de taxas para calcular defiuitivameute o preço das tarefas. A Nesta discussão resumida eu supersimplifiquei necessária e
produção em massa raramente era tão padrouizada que as mercadorias deliberadamente.Assim concentrei-me sobre um aspecto dos esque-
permanecessem as mesmas por longos períodos. Os métodos técnicos mas de incentivo - os salários regressivos do trabalho por peça -
e os produtos mudavam. Os novos esquemas de pagamento portanto com a exclusão de vários outros métodos de obter substancialmente
muitas vezes deixavam de garantir ajustamentos tranqüilos. Eles os mesmos resultados; algumas vezes, como no caso do próprio sis-
podiam até, como na maquinaria, criar aqueles conflitos constantes tema de Taylor, à custa de outras firmas tirando a nata do mercado de
sobre a determinação do preço de novas tarefas ou máquinas que fize- trabalho local. Além do mais, eu me concentrei sobre um aspecto da
ram a fortuna dos administradores de oficinas. Daí a tendência moder- administração científica, a ecouomia direta real do tempo da mão-de-
na de voltar aos salários simples por tempo (baseados, contudo, numa obra por trabalhador, em vez de em outros aspectos que, embora eco-
norma de produção por unidade de tempo muito mais cientificamente nomizando capital cm vez de mão-de-obra, têm uma relação muito
calculada e controlada), como na indústria automobilística americana. direta também sobre o uso eficieute do tempo da mão-de-obra; por
No entanto, antes de 1914, a administração científica e a extensão do exemplo, vários sistemas de revezamento e de trabalho contínuo que
pagamento por resultados ainda andavam juntas, como testemunham foram também grandemente reformados e expandidos uo período
as obras de Alfred Marshall." após 1880, parte em reação à pressão da mão-de-obra por horas mais
Mal há qualquer necessidade de demonstrar os resultados dos curtas." Ilustrei também o argumeuto principalmente de alguns paí-
novos métodos. Jewkes e Gray calcularam a extensão da aceleração ses ribeirinhos do Atlântico, a fim de evitar complicar mais a discus-
na fiação de algodão entre 1876 e 1906, concordando suas estimati- são considerando diferenças importautes da crouologia do desenvol-
vas com aquelas dadas na época pela Comissão Real sobre a vimeuto industrial. O objetivo desta simplificação é de dirigir a
Depressão do Oficio.'' Contudo, a economia real no custo da mão-de- atenção para as conclusões principais, como estabelecidas auterior-
obra-23 porcento entre 1876 e 1886-foi detida daí por diante pela mente. Estas são obviamente muito experimentais. Até que muito
resistência dos operários. O aumento de produção por cabeça que se mais trabalho tenha sido realizado sobre as cargas de trabalho e a pro-
seguiu à mudança dos salários por tempo para por resultados - e o dução por homem no século dezenove, elas não podem ser satisfato-
dos acidentes que também se seguiu freqüentemente - é tão óbvio riamente verificadas. Esses estudos devem distinguir, o mais possí-
que dificilmente precisa de documentação. Nosso manual americano vel - como a pesquisa tantas vezes tem deixado de fazer- entre os
estima a eficiência do trabalho por peça ou prêmio em 78 por cento em vários efeitos de redução de custo da mecanização e outras formas de
contraposição às porceutagens do trabalho por tempo citadas ante- reorganização na divisão do trabalho, das maneiras tentadas pela
riormente." Um único exemplo do nosso período deve bastar. Na Comissão da ONU para a Indústria Têxtil da América Latina. Isto
indústria belga do vidro a produção por homem permaueceu estável envolverá um trabalho considerável, e a cooperação de estudantes
em 750-800 unidades de pé duraute a década de 1890; subiu de cerca com boas qualificações em engenharia e contabilidade bem como
de 25 por cento até 1903 quando os pagamentos por resultados foram históricas, porque envolverá a análise dos processos de trabalho e a
introduzidos, juntamente com um aumento do dia de trabalho; e daí contabilidade de custo de muitas tarefas individuais. Talvez porque
por diante disparou para cima em 1909, com flutuações, até cerca de o material dispouível raramente lance muita luz sobre os esforços de
300 por cento do nível de 1890 e 200 por cento do de 1903." Os pa- trabalho individuais e porque os historiadores raramente são qualifi-
trões estavam enfim conscientes das econo1nias fantásticas no custo cados para realizar essas análises, a importâucia das mudanças para
da mão-de-obra que a utilização científica do trabalho podia trazer. É as quais este documento tentou dirigir a ateução, tenha sido um tan-
pelo menos discutível que a drenagem desta reserva pela exploração to subestimada.
eficiente fosse tão importante para o progresso contínuo da economia
como a redução dos outros custos. 06

420 421
12. Cf., algumas das queixas dos patrões ainericanos contra os trabalhadores
NOTAS habilitados ingleses, p. ex., British lnunigrants in lndustrialAnierica 1790-J 950 (Har-
vard l 953) de R.T. Berthoff, p. 66. Mas possivehnente ta1nbé1n as queixas inversas dos
1. Wages in Practive and Theory (1928) deJ.W.F. Rowe, e The Social Founda- patrões e capatazes ingleses sobre os americanos, de que eles nào trabalhavam sern
tions of1Vage Policy (1955) de Barbara Wootton, sugere1n maneiras de enti:entar este incentivos específicos, p. ex., Special Ctee. on Unskilled Labour, pp. 108-9,
problema. 13.A Traitiseon Weaving (Glasgow 1846)de Geo. White, reclamaqueháadnü-
2. P. ex., Railway Labour 1830-70 de P. W. Kingsford (Dissertação PhD, Bi- nistração do trabalho de1nais puramente coatora, e atribui isto em parte à 1ná qualida-
blioteca de Univ. de Londres), p. 145. Uma discussão útil da base desta ''taxa distrital" de da 1não-de-obra, ein parte ao fato de que "tal estado da sociedade no qual, como
para a 1não-dc-obra do ponto de vista <la ad1ninistração está no Journal r~f'Gas Ligh- conosco, a mão-de-obra geralmente excede a de1nanda por ela, tem unia tendência a
ting. lii ( 1888), p. 286. Ela faz parte de uma série sohre "The Management of Work- provocar indiferença à sua melhoria e vem a ser tratado como urn estado de coisas em
n1en". Para alguns fatores que tendc1n a elevar a "taxa distrital" acilna do n1ínimo estri- associação necessária conjunta" (pp. 330-1 ). A sintaxe é obscura, mas o sentido geral
tamente econômico, cf. ''Work and Wages in East London Now and Twenty Years é claro.
Ago"' de R. New1nan (Charity Organization Revieiv, Uulho 1887), p. 273; Life and 14. lndustriaf Dcn1ocrac)' de S. e B. Webb, disperso: J. B. Jefferys, op. cit.;
Lahour ... de Charles Booth, 2ª ser. V, pp. 365 ss.) ''Trade Union Policy in the Scots Coa\fields 1855-85" de A. Youngson CEc. Hist. Rev..
3. Labor in England andAmerica (Washington 1876) de E. Young: Storia de! 2a ser., vi, 1, 1953). Ver tambén1 o Capítulo 4 da presente obra, O Artesão An1bulante
laboro in Italia- secolo XVI!! (Milão 1944) de L. Dei Pane, Ap. III; Histoire Écon. ~-~~- .
de la France de H. Sée, ii, p. 179; ra Question Sociale en Espagne deAngel Marvaud 15. R.C'. on Laboro'. Grupo A, 1893-3, xxxii, P. 20.769.
(Paris 19 l O), p. 426. Para os diferenciais na Inglaterra, ver Capítulo 15 da presente 16. Short Histol)' t~f Lahour Conditions in France (1946) de J. Kuczynski, p.
obra. A Aristocracia do Trabalho na Inglaterra do Século Dezenove, p. 272 seq. 179; Shorl HistoryofLahour Conditions in Gerrnany, (1945) deJ. Kuczynski, 1. 151.
4. English Pleasure Carriages (Londres 1837) de W.B. Adarns, pp. 188-9. Pode-se observar que estes cálculos inspira1n n1ais confiança ainda porque os seus
5. P. ~x., "Die Fabriksbevoelkerung des Oberelsass im Jahre 1850" de VolL resultados não se adapta1n bem à tese geral do autor.
(Ztschr..f d. des. Staatswissenschaft, vii, p. 136): "Der Drucker hasst den Steçher, die- 17. Steinkohllenpreise u. Da111pf'kraftkosten (Leipzig 1914) de M. Saitzew, p.
ser faehrt stolz anjenem vorueber; der Zelchner und der Ma ler spricht 1nit Verachtung 141; Increasing Return (Cambridge 1933) de G.T. Jones. p. 90; Wages and Whour in
voo Spinnern ... " e os vários comentários sobre a recusa dos "1necânicos" de abando- C:otton Spinning (Manchester 1935) de Jcwkes e Gray, pp. 42 ss.
narem seu status mesmo sob grande pressão econôn1ica na Sociedade de Organizai; ão 18. P. ex., na indústria de construção. As primeiras queixas de que os patrões
da Caridade, Special Committee on Unskilled Lahour ( 1908), p. ex., pp. 102, 112. tinham dificuldade e1n obter "un1 dia de trabalho por un1 dia de salário" e que os traba-
6. The Story of the Engineers ( 1945) de J.B. Jefferys, p. 23; "On the Rate of lhadores são 1nais preguiçosos do que costumava1n ser, são mencionados no P1vgress
Wages in Manchester and Salford .. 1839-59'' de D. Chadwick (Journ Stat Soe., xxiil, ofthe Working Class 1832-67 (1867) de J.M. Ludhnv e Lloyd Jones, pp. 267 ss., inas
1859). a discussão é vaga demais para nos perrnitir julgar se o que pesa lá estava nestas quei-
7. P. ex., a evidência do Sr. Dent- u1n capataz de construção- sobre esse nive- xas, se é que estava.
lamento coletivo no Special Ctee. sohre Unskilled Labou1'. op. cit., p. 104. l 9. Cf., "Se o trabalho e a habilidade são '1nercaclorias con1erciáveis' enlão os
8. Wealth oj'Nations, cap. viii (Cannan (ed) i, pp. 83-4). Cf tainbén1 Workshop possuidores dessas 1nercadorias estão justificados em vender o seu trabalho e habili-
A1anage111entde F. S1nith (scn1 data'? 1884 ), p. 1: ''No interesse da conveniência o tem- dade da1nes1na 1nm1eira co1no u1n chapeleiro vende um chapéu ou o açougueiro vende
po é con1putado con10 o equivalente do trabalho feito" carne de vaca ... Se (a dona-de-casa) ... só pagar dois xelins, terá que ficar contente co1n
9. Geschichle der Las;e der Arbeiter in Deutschland (6ª ed., Berliin, 1954) de J. u1na qualidade inferior de carne de vaca ou uma quantidade menor." (What /s Ca 'Can-
Kuczynski. i, pp. 112-16. n.v?, panfleto publicado pela Federação Internacional de Trabalhadores e1n Navios,
10. T\1inistério das Obras Públicas, Stalistiques de ['Industrie minérale (Paris Docas e Rios, 2 de outubro 1896). Cf., tan1bém Le Sahotage (Paris, sem data) de E.
1935). Pouget. capítulo 2: "La 'marchandise' travai!". A questão é discutida à propos da ale-
! 1. Jov in \Vork (1928) de H. De Mann. Contudo, deve-se notar que as investi- gada queda de produtividade neste período, por Saitzew, op. cit., p. 155.
gações pion;iras alen1ãs de A. Levenstein sobre esta questão derain resultados diame- 20. P. ex .. The Decay ofCapitalist Civi/ization ( l 923) de S. e B.Webb, p. 162.
traln1ente opostos (Die 11.rheiter.jJ-age. Mun ich 1912). 60,5 por cento da ~ua ainostra de 21. Jewkcs e Gray, op. cit., p.45.
Mineiros, 75, 1 porcento dos seus trabalhadores têxteis, e 56,9 por cento dos seus meta-
22. Disserlation on the Poor Laws by a We/1-\Visher ofMankind (J. To\vnsend),
lúrgicos (todos trabalhando com paga1nento por resultados) expressaram aversão pelo J. R. McCulloch (ed), Sca1re and Valuable E,"conomica/ Tracts ( [ 859), p. 404.
trabalho; 15,2, 7, l, e 17 por cento rcspectivainente, prazer ativo.

422 423
23. "Master and Servant" de D. Simon, em J. Savillc (ed), De1nocracy ond the 37. On the Econon1y qf lVfachiner_v and Manufactures ( 1832), Babbage, inci-
Labour Movernent ( 1954), pp. 160 ss. denlahnente, insiste tan1bé1n forte1nente no pagamento de incentivos sob a forma de
24. Sua história é contada e1n "The Miners' Bond in Norlhumber land and participação nos lucros.
Durhain", de Hylton Scott, Proc. /\.ntiq. ofNewcastle-upon-Tyne, 4 ser. II ( 1946-50), 38. On ivork and Wages ( 1873) de T. Brassey, disperso. O assunto parece ter
pp. 55-78, 87-98. atraído grande atenção pela primeira vez durante as discussões sobre o encurtamento
25. Dos n1anuais sobre fiação de algodão que consultei, os seguintes se limitan1 do dia ou se1nana de lrabalho. Cf., "Exigindo sete dias de trabalho obté1n-se menos de
a cálculos de oficina, on1itindo em alguns casos até os cálculos de salários: The Cotton seis dias de trabalho. Esta é urna verdade largamente verificada." -O superintenden-
S'pinner's Co1npanion (Glasgow 1834) de G. Galbraith: The Practical Cotton Spinner te de 1naquinaria da Eastern and Continental Steam Packet Co., citado em Statistics
(Edinburgh l 845) de A. Kennedy; The A1anager'sAssistant. being a condensed treati- and Facts in Reference to the Lord's Day (1852) de.John T. Baylee, p. 68.
se on the cotton m,ani~facture (Hartford, Conn. 1850) de Daniel Snell. Scott'.1· Practical 39. Ueber d. Verhaeltnis v. Arheitslohn u. Arheitszeit zurArbeitsleistung (2" ed.,
Cotlon Spinner and Manuracturer (3ª ed. Londres e Manchester 1851) (R. Scott) con- Leipzig 1893) de L. Brentano.
sidera o problema de pagamento aos fiandeiros e aconselha a manter os livros de paga- 40. Ponson, op. ciL, iv. pp. 275-82.
mento numa forma adequada para o cálculo da eficiência produtiva - 2 páginas cm 41. I-Ja11dwoerterbuch der Stadtsivissenschajfen, artigo '"Arbeitszeit''.
395. O único livro digno do seu no1ne, The Carding and Spininning lVfaster's Assistant 42. The Journal of CTas Lighting, liii ( 1889), p. 894. afirma não ter consciência
or the Theory and Practice r~f Cotton ,)'ipinning (Glasgow 1832) de J.M. (J. Mont- de nenhuma cidade onde o sistema de turnos de três vezes oito horas estivesse en1 voga,
gomery) trata do problema da administração da mão-de-obra- e1n 3 ou 4 páginas - cn1bora de fato (loc. cit., pp. 953, 1.000, 1.043) ele estivesse funcionando durante
essencialmente como um problc1na de "boa ordem uniforn1e e autoridade própria" (p. quinze anos e1n Burnlcy, há dezoito cm Hull, há doze en1 Bristol, e pelo inenos há nove
221). Dos manuais de tecelagem The Art ofVVeaving ( 1845) de C.C.Gilroy, é purmnen- etn Birkenhcad, para não 1nencionar Dundee e Liverpool, onde o sistema re1nonta a
tc técnico e histórico, e Geo. White, op. cit. (Glasgow 1846), considera a adnlinistração "quarenta ou cinqüenta anos" (loc. cit., 1 ( 1887), pp. 109-1 O). Ignorância sen1elhante
dos e1npregados u1n dos quatro assuntos não de tecelagc1n que devetn ser dominados, de práticas bem estabelecidas por casas co1nerciais in1portantcs é co1nbatida por (J.
Lilwall), Practica! Testimonies to the Benefits Attending the Early Payment ofWages
n1as dedica apenas 5 páginas a ele (pp. 329-34) cm contraposição a 16 à escolha do fio,
... (Early Closing Association, 1858), que publica tuna lista iinprcssionante de firn1as
31 a vários cálculos relacionados com o trabalho, e 9 à urdidura cm teares 1nanuais.
de Londres que pagavarn nas sextas-feiras e/ou dando u1n meio-feriado no sábado.
26. Cf. Methods ofIndustrial Ren1uneration ( l 892), de D. Schloss, capítulo xil.
43. P. ex., Econonúc Develop11rents in Victorian Scotland (1936) de W. I-I. Mar-
27. The Industria{ DevelopmentofSouth Wales (Cardiff !950) de A. H. John, p.
wick, pp. 178-8; Proc. Industrial Ren1uneration Conference (1885), p. l 06·, Sel. Ctee.
80. on Master and Servant ( 1866), XIII, pp. 1.281-l .320 ss., 701- l 5. 469 ss .. 562 ss.;
28. Traité de l'exploitation des mines de Houi/le (Liêge 1854) de A. T. Ponson,
Report on Trade Societies ( 1860) da Associação Nacional para a Pro1noção da Ciên-
iv,p. 120. cia Social, pp. 290, 332-3; Papers and Discussion on Social Econo111y ( 1863) da Ass.
29. A.T.Ponson, Ioc. cit., iv. Mas Ponson aconselha tan1bém supervisão inces-
Nac. Pro1n. Ci. Soe .. pp. 24, 37 (sisten1a de horas entre os pedreiros na Escócia);
sante, quando possível, mesmo quando as escavações são pagas por metro cúbico
Coleção Webb, C'oll. EA 31 (Biblioteca Inglesa de Ciência Política), MS. pp. 258-64
(i(l832), pp. 320-1). (sistetna de horas introduzido entre os Assentadores de Tijolos de Birn1ingha1n, 1865),
30. Contudo, o patrão ou capataz esperto levaria e1n conta ta1nbém o costu1ne p. 311(greve1nalsucedida en1 Glasgow entre eles, 1849); The Builder's History (s.d.)
local entre os trabalhadores, n1esmo quando isto não fosse baseado e1n considerações de R.W.Postgate, p. 209. Workshop lV!anagenient (s.d. '! 1884) de F. Snüth, original-
práticas decorrentes da experiência local, "l'abandon des habitudes invétérées eles 1nente dirigido aos construtores e 1narceneiros, observa que o pagmnento por hora
ouvriers estchose difficile à obtenir" e, não a ser in1postaexceto quando absolutatnen- substitui "gradual 1nas certamente" o pagan1ento por dia contra a oposição cios traba-
te necessária, na opinião de Ponson (op. cit. ii, p. 598). lhadore' (p. 32).
3 l. Saitzew, op. cit., pp. 141, 175-6. 44. Exceto, naturalmente, no Continente onde este.foi o período do começo da
32. Productivity, Princes and Distribution (Cambridge 1937) de L. Rostas, p. industrialização e daí da expansão da chefia por peça e o subcontralo. C.f, Die Akkor-
37. darbeit in Deutschlund (Leipzig 1903) de L. Bernhard, di:,perso.
33. Cost and Production Handbook (Nova Iorque 1942) de L.P. Alford, p. 45. The English Poor únv Syste1n (1888), de P. Aschrott, Pt. l, sect. xii-xiii.
1.333. 46. Sobre a literatura geral do sabatisn10, que se n1ultiplicou a partir do 111eio da
34. Dictionary ofArts, Manufactures andMines (ed. 1863), i, p. 529. década de quarenta, cf. The Literature ofthe Sabbath Question, ii (Edinburgh 1865) de
35.0p.cit.,p.218. R. Cox. Sobre as alividadcs e sucessos do 1novi1ncnto do Fechan1ento Cedo, Gou-
36. O relatório é resumido na International Labour Review, agosto 1952. vernment, Legal and General Saturday Half Holiday (4ª ed. 1857) de J. R. Taylor; The

424 425
perda igual para o patrão", e a conveniência de ter mão-de-obra especializada semi-
Haff Hoiiday Question ( 1856) de John Lil\vall; (J.Lihvall), Practical Testúnonies ... habilitada para cada 1náquina (pp. 5-6, 13-14 ).
( 1858), que trata principalmente de Londres, nuts contém inforn1ação incidental sobre 62. Jefferys, op. cit., pp. 129-30, 154-5; lVages and Lahour Conditions in
o progresso (anterior) do movi1nento nas províncias. Das firmas de Londres que pra- British Engineerint: (1937) de M.L, Yates, pp. 86, 88. 98.
ticavam o fechamento cedo e dando datas da sua introdução. muitas afinnain tercon1e- 63. S. C. on Govt. Contracts (2.469); Auslese u. Anpassung in den Siemens-
çado isso nos últimos três anos, praticamente todas na década de 1850. Schuckert lVerken de J. Deutsch (Schriften des Vereins f. Sozialpolitik, voL cxxxiv).
47. Devo este argun1ento a L. Bernhard, op. cit.. pp. 3-8. 64. Yates, op. cit., p. 98; Censo dos Salários de 1906, CD. 5.814 (1911 ), p. 15.
48. Cf., Statistical Account de McCulloch, ii, p. 43, que vai a ponto de atribuir 65. L'Ouvrierdans les mines defer ... de Briey (Paris 1914) de A. Carbonnel de
a superioridade da indústria inglesa à prevalência do trabalho por peça. Canisy, pp. 81-2; Ent!oehnungsrnethoden in d. suedivestdeutsh-luxe1nhurgischen Eis-
49. Capital, i (ed. inglesa 1938), pp. 561 ss. enindustrie (Berlin1 l 906) de L. Bosseln1ann, p. 144.
50. Jefferys, op. cit., p. 63; Postgate, op. cit.. p, 149. 66. !Jfe in a Raihvav Factory (1916) de A. Williams.
51. R. Ehrenbcrg, Kruppstudient III (Thuenen-Archiv, iii, pp. 53, 89 ss.) 67. "D. Arbeitstaritvertrag in1 Deutschen Reich" de A. Zi1nmermann,
52. The Pa.nnent ofWages (ed. 1928) de G.D.H. Cole, p. 10. (Schmollers Jahrb., xxxi, 1907, p. 339), Arheits- u. Lohrnverhaeltnisse i.d. Berliner
Maschínenindustrie de Dora Landé (Schriften des Vereins r. Sozialpolitk, vol.cxxxiv,
53. cr., a observaç5o de Leonard Horner em 185 J sobre "a proporção (de tra-
191 O) e inuito tnais literatura ale1nã.
balho por peça) e1n relação aos salários semanais sendo fixados diariamente sobre o
68 . .Jcwkes e (Jray, op. cit., pp. 60 ss. 82 ss.
aun1ento".
69. R.C:. on Labour, Grupo C, 1893-4, xxiv, Ps. 33.296-9.
54. L. Bernhard, op. cit., pp. 39 ss.
70. Indusiria! Den1ocracy de S. e B. \Vebb. pp. 397 :-.s., 401 n.
55. Parte como um meio de evitar a radicalização política dos trabalhadores, 7 ! . Schloss, op. cit.. p. 53.
como por Mundella (Mundella, 1951, de W.H. Annytage, p. 23) e 1nais tarde por 72. Jndust1y and Trade, Livro 2, cap. xii.
Joseph Chatnberlain, 1nas també1n sob fundan1entos de produtividade, p. ex., \-Vork- 73. Je\vkes e Gray, op. ciL, pp. 41-2; Royal Cotnnússion ofTrade, citado em D.
men and Wages at Hon1e andJ\hroad ( ! 868) de Brassey e John Warcl, un1 grande cren- Grossbetrieh (1895) de Schulze-Gaevernitz, p. 117.
te nas verdades da economia política: ·'Uma opinião é ali1nentada, por um número con- 74. Alford, op. cit., p. 1.133.
siderável de pessoas, de que os altos salários tendem a gerar hábitos de ociosidade e 75. Untersurhungen ueber Preisbildung: Belgien de E. Mahaiin (Schriften des
dissipação entre os trabalhadorc<;. Esta opinião se apóia sobre dados muito incertos e Vereins f. Sozialpolilik, vol. cxLiv B), p. 269 (O livro é em francês).
inconclusivos. Os salários são a recompen:-.a e o encorajainento da indústria, a qual, 76. E que a superioridade da indústria a1nericana sobre a inglesa foi em grande
como qualquer outra qualidade humana, aumenta cm proporção ao cncorajan1ento que parte devida a isso. Cf., a observação fecunda, feita e1n 1872, de que na Inglaterra
recebe. Quando os salários são altos, geralmente encontrainos os trabalhadores mais "econo1nia de 1não-de-obra" significava alguma coisa que deslocava a inão-de-obra,
ativos, diligentes e per:-.everanles do que quando <;ão baixos" (p. 216 ). enquanto no<; El!A significava alguma coisa que dinúnuía o tempo de trabalho de utna
56. Scientific Managen1ent (:Harvard 1914) de C.B. Thon1pson, pp. 684 ss.: The detern1inada tarefa. (A Treatise on ... Woodworking Machines de J. Richards, Londres
Econonúcs r~fEfficiency (NI 1914) de N. Brisco, p. 5. Cf., também F. Smith, op. cit., e Nova Iorque 1872, pp 55-6.).
( 1884), p. 2, "Nestes dias de competição excessiva, é n1ais do que nunca necessário que 77. L'Organisation du 1ravail dans les usines à.feu continu (Paris 1912) de P.
o patrão possa obter o equivalente co1npleto do que gasta en1 salários''. Boulin e Eight Hours Work (1894) de J. Rae, para os desenvolvimentos em nosso
período.
57. Tho1npson, op. cit., p. 685.
58. Scientific Managen1ent inAmerican lndustry (NI 1929) de l-1.S. Person, p. 7.
59. Scientific Manage1nent (Columbia 1915) ele H.B. Drury, para um breve
esboço e história do 1novilnento a1ncricano em suas prin1eiras fases.
60. The Afakint: ofScient1fic Management. ii (1946) de L. Urwick e E.F.L.
Brech, pp, 22, 90, 148. O valor do paga1nento por resultados em contraposição aos
salários por tetnpo para apropriação do custo é acentuado en1, p. ex., "Die
Entloehnungs1nethoden in der dcutschen Metallindustrie" de C. Heiss. (Sch111ollers
Jahrb.xxxvii, 1913),p.1.479.
61. Report of Factory Jnspertorsfor J894, p. 213: Industrial Democracy de S.
e B. Webb, p. 399. Cf. tainbém o conselho para F. Sn1ith, op. cit., no mes1no sentido,
porque "cada nlinuto (que os artesãos) gasta1n de suas ocupações apropriadas (é) uma

427
426
18

TRADIÇÕES TRABALHISTAS

QUE PARTE o costume, a tradição e a experiência histórica


específica de um país desempenham em seus movimentos políticos?
Até agora no que diz respeito ao movimento trabalhista, o problema
tem sido discutido mais freqüentemente pelos políticos (Marx versus
Weslcy) do que pelos historiadores. Proponho-me neste ensaio a ilus-
trá-lo com urna comparação da experiência da França e da Inglaterra,
os países com a história mais longa de movimentos trabalhistas.
O movimento trabalhista, quer política quer industrialmente
considerado é, naturalmente, um fenômeno novo na história. Quer haja
ou não continuidade entre as associações de artesãos assalariados e os
primeiros sindicatos, constitui simples arqueologia pensar no movi-
mento da década de 1870, ou mesmo na de 1830 em termos, digamos,
das sociedades dos artesãos chapeleiros ou surradores de couro. No
entanto, historicamente falando, o processo de organizar novas insti-
tuições, novas idéias, novas teorias e táticas raramente co1neça como
urna tarefa deliberada de engenharia social. Os homens vivem cerca-
dos por urna vasta acumulação de mecanismos passados, e é natural
recolher os mais adequados destes e adaptá-los para os próprios fins
(ou novos) deles. O historiador, naturalmente, que registra estes pro-
cessos, não deve se esquecer da função específica que se espera que as
novas instituições preeucharn; nem deve o analista funcional se esque-

429
cer de que o cenário histórico específico deve colori-las (e talvez
ajudá-las, embaraçá-las ou desviá-las). do mais, foi a ideologia revolucionária que se recomendou por si mes-
Vamos tomar um par de exemplos extremos. Em 1855 os pedrei- ma automaticamente aos trabalhadores e intelectuais progressistas que
ros de ardósia de Trelazé, descontentes com as suas condições econô- formaram o núcleo da liderança do movimento. Os trabalhadores de
micas, resolveram entrar em ação: marcharam sobre Angers e procla- porcelana de Limoges eram republicanos, e facilmente mudaram os
maram uma Comuna insurrecta, 1 presumivehnente co1n a Comuna de métodos sindicalistas por políticos; assim quando o sindicato deles foi
1792 e1n suas mentes. Nove anos mais tarde os mineiros de c;;u·vão de assaltado, eles prontamente organizaram uma comuna insurrecta. 5 A
Ebbw Vale estavam igualmente agitados. As cabanas das aldeias do Esquerda do departamento de Nievre opôs-se ao coup d'étatde Napo-
vale seguiram marchando para as montanhas, puxadas por bandas. leão, e foi organizada numa sociedade secreta conhecida como a "Jeu-
Foram feitos discursos, fornecido chá pela cabana do Ebbw Vale a 6d. ne Montagne" .6
por cabeça e a reunião terminou com o canto da Doxologia.' Tanto os Na Inglaterra a situação é mais complexa, porque a tradicão ori-
mineiros galeses como os pedreiros bretões estavam engajados em agi- ginal radical-democrática havia desenvolvido duas alas, send; a linha
tações econômicas bastante semelhantes. Evidentemente elas diferiam, entre elas (estou supersimplificando) em grande parte aquela entre os
porque as histórias dos seus respectivos países haviam diferido. A acu- artesãos e artífices sindicalistas das cidades mais velhas, e os novos
mulação da experiência passada, na qual se inspiraram quando apren- centros fabris e de mineração: radicais-secularistas por um lado,
deram como se organizar, para que se organizar, onde recolher o seu Metodistas-dissidentes do outro. Em Londres, por exemplo, a tradição
quadro de líderes e a ideologia que esses líderes personificavam, eram, não-conformista nunca realmente criou raiz como uma tradição
pelo menos em parte, elementos específicos franceses e ingleses: falan- esquerdista; o que pode explicar a influência relativamente maior do
do de uma maneira geral podemos dizer que, no primeiro caso, eram as Marxismo aqui em épocas posteriores. Mesmo um trabalhador natu-
tradições revolucionárias e no últi1no as radicais não-confonnistas. ralmente religioso como George Lansbury viu-se na Federação Social
Novamente, as ilustrações concretas podem ser úteis. Os tece- Democrática Marxista no princípio da sua carreira política, e nunca foi
lões e subempreiteiros de Lyon, desejando organizar um sindicato em atraído para os templos dissidentes, mas para a Igreja da Inglaterra-
1828, naturalmente organizaram sua sociedade de "Mutualistas" pelo um estado de coisas muito fora do comum. Nas províncias o caminho
modelo revolucionário. Assim eles descreveram o ano de sua fundação levou muito mais naturalmente para o PTI ou o púlpito-leigo Meto-
como o "Ano Um da Regeneração", um eco óbvio do Jacobinismo, e dista. Temos, na verdade, duas linhas de descenso intelectual. Uma vai
se organizaram cm pequenos grnpos conspiratórios, que parecem ter de homens como Tom Paine, através de homens como os radicais ateus
devido alguma coisa aos mecanismos Babouvistas,* 3 embora talvez do período de Owen-Carlile, até os secularistas médio-Vitorianos
também aos velhos Compagnonages,' e à necessidade prática de evitar como Holyoake e Bradlaugh e, depois de 1880, os Marxistas. Desta
a Lei Chapelier. Novamente, sob o Segundo Império, o programa tra- tradição o movimento trabalhista inglês retirou alguns dos seus meca-
balhista foi patentemente retirado da doutrina clássica Jacobina-radi- nismos organizacionais mais importantes: a "Sociedade de Corre-
cal; os esquerdistas simplesmente recorreram a Robespierre e St. Jus!, spondência" da década de 1790, o panfleto, o jornal da classe trabalha-
se não a Hébert e Jacques Roux para inspiração, enquanto os liberais dora, a petição ao Parlamento, a reunião e o debate públicos, etc.;
procuraram a deles na direita. No fim da década de 1890 Emille também, naturalmente, o pouco interesse que ele tem na teoria.
Pouget, o anarquista e mais tarde líder do CGT, modelou o seu jornal Num certo sentido esta primeira tradição remonta àquela filial
Le Pere Peinard em título e em estilo no Pere Duchêne de Hébert.Além dos dissidentes do século dezessete que, no dezoito, evoluíram no sen-
tido do deísmo e mais tarde ao agnosticismo. Parte da outra tradição,
* NT - François Émile Babeuf, de1nagogo francês que conspirou contra o Diretório e foi especialmente na Escócia calvinista, remonta diretamente à revolução
condenado à morte. Sua doutrina, que é u1na espécie de Comunismo, chama-se hahouvisnro. do século dezessete que ainda se travava em termos de ideologia reli-
giosa. Mesmo na Inglaterra o sectário independente persistiu como um
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tipo puro-p. ex., no Zechariah Colernan de MarkRutherford. 7 Essen- rios estavam ideologicamente em igualdade com republicanos secula-
cialmente, contudo, a tradição trabalhista do dissidente vem do renas- ristas respeitáveis ingleses como George Odger. É importante que a
cimento Metodista; mais especificamente, da série de desvios de rumo forma moderna de revolucionarismo, o Partido Co1nunista, em certos
após 181 O dos quais o Metodista Primitivo é o mais conhecido. Foi sentidos marcou um rompimento tão grande com as tradições france-
nesta escola que os novos proletários fabris, trabalhadores rurais, sas co1no com as inglesas, embora em outros ele continuasse ambas.
mineiros e outros do tipo aprcndera1n como dirigir um sindicato, O destino da que é ostensivamente uma das tendências mais vio-
tornando corno modelo para si templo e circuito. Basta que se leia o lentas do trabalhismo francês, a anarquista, ilustra a questão. Em geral
relatório distrital de um sindicato de trabalhadores rurais da East- os pequenos artífices e artesãos que constituíam o principal sustentá-
Anglia" para ver o quanto eles deviam a isso. Dos Metodistas, também, culo do anarquismo francês eram extremamente militantes. (Contudo,
corno o Dr. Weannouth mostrou, vieram mecanismos importantes de o pai espiritual deles, Proudhon, era marcadamente pacífico.) Eles
agitação de massas e propaganda: a reunião no campo, a reunião da 1utaram, muitas vezes sem nenhum ponto de apoio excluído - como
classe e outros.Acima de tudo, no entanto, a dissidência forneceu o ter- fizeram seus equivalentes nos pequenos ofícios metalúrgicos de
reno ideológico de reunião para a liderança do moviinento, especial- Sheffield - e atraíram facilmente os intelectuais radicais. Mas da
mente nas áreas de mineração. Quando Lord Londonderry expulsou os mesma forma como os terroristas de Sheffield eram extremamente
líderes da agitação dos mineiros de Durham em 1943, dois terços do moderados em suas políticas," também os anarquistas franceses esta-
circuito Metodista Primitivo local se viram viti1niLados, 9 e quando na vam essencialmente na ala moderada do seu movimento. O maior
década de 1870 um sindicato de trabalhadores rurais do Lincolnshire triunfo deles, o CGT, mudou do ultra-revolucionarismo aparente para
se viu em dificuldades, pensou em se fundir com os Metodistas Pri- uma social-democracia cuidadosa com uma velocidade notável após o
mitivos. Evidentemente esta seita foi para os mineiros de Durharn da irrompirnento da I Guerra Mundial. Além do mais, essa seção do socia-
década de 1840 ou os trabalhadores do Lincolnshire da de 1870, o que lismo francês que iria mais tarde apoiar a política de apaziguamento
o Partido Comunista é para os trabalhadores franceses hoje, o quadro apaixonadamente demais, e colaborar com Pétain- Dumoulin, Belin
da liderança. e outros - retirou sua força em grande parte da ala anarquizadora do
Esse fenômeno religioso não é muito desconhecido na França. movimento pré-1914. De uma maneira geral o sistema político francês
Em certas partes do sul a minoria huguenote sempre foi, por motivos havia aprendido há muito tempo a enfrentar estas formas de revolucio-
óbvios, inclinada ao anticonservantismo, e forneceu portanto um narismo rnais velhas, e muitas vezes intrinsecamente moderadas.
número desproporcionado de líderes esquerdistas. Mas de um modo Quando o Partido Comunista Francês foi organizado em 1920, entrou
geral isto não é de grande importância para o movimento trabalhista imediatamente para ele grande número de figuras respeitáveis da clas-
francês. É fácil de explicar os diferentes graus de radicalismo político se média, porque "a tradição de que o filho da família começa a sua car-
na Inglaterra e na França por essa diferença de tradição. Mas a explica- reira na extrema esquerda, sob o olhar indulgente do clã, para terminá-
ção será verdadeiraº la na mais respeitável das posturas"" estava bem estabelecida. Na
Urna tradição revolucionária pode ser politicamente moderada; verdade, um grupo de ferroviários revolucionários que iria fornecer
uma religiosa não precisa ser. Quando os partidários mais importantes vários líderes do novo partido (Sémard, Monmousseau, Midol) a prin-
da Comuna de Paris voltaram do exílio em 1880 se viram na maior cípio recusou entrar para ele por este motivo. Ele não foi "bolcheviza-
parte'° na extrema direita de um movimento que estava caindo rapida- do" até alguns anos mais tarde."
1nente sob a influência socialista. Uma disposição de erguer barricadas Urna tradição religiosa, por outro lado, pode ser muito radical. É
não indica necessariamente um programa extremista. Durante a 111aior verdade que certas formas de religião servem para aliviar a dor das ten-
parte do século dezenove a tradição revolucionária francesa foi sim- sões sociais intoleráveis, e fornecer urna alternativa à revolta. Algu-
plesmente um aspecto do radicalismo-liberal francês, cujos partidá- mas, como o Wesleyanismo, podem fazer isso deliberadamente. Con-

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hinos, escolas dominicais, bandas e coros do templo, clubes etc., sur-
tudo, até, o ponto em que a religião é a língua e a estrutura de toda a ação giram no norte. Na verdade, eles eram uma casa a meio-caminho entre
geral das sociedades subdesenvolvidas - e também, numa grande o liberal-radicalismo político ortodoxo e o PTI com o qual as Igrejas
extensão, entre as pessoas comuns da Inglaterra pré-industrial - as logo se fundiram 14 • Este fenômeno que ocorreu há menos de sessenta
ideologias da revolta serão também religiosas, anos, teria evidentemente sido impossível num país em que as tradi-
Dois fatores ajudaram a manter a religião como uma força poten- ções pré-seculares da política não tivessem criado raízes particular-
cialmente radical na Inglaterra do século dezenove. Primeiro, o acon- mente profundas.
tecimento decisivamente político da nossa história, a revolução do O segundo fator foi a tensão psicológica extraordinária do come-
século dezessete, tinha sido travada numa ocasião em que a língua ço do industrialismo no país industrial pioneiro- a rápida transforma-
secular moderna da política ainda não havia sido adotada pelas pessoas ção de uma sociedade tradicional, baseada no costume; o horror, o
comuns: foi uma revolução Puritana. Ao contrário da França, portan- arrancamento súbito das raízes. Inevitavelmente as massas dos desar-
to, a religião não estava identificada principalmente com o status quo. raigados e a nova classe trabalhadora procuraram uma expressão emo-
Além do mais, os hábitos custam a morrer. Na década de 1890 encon- cional dos seus mal-ajustamentos, alguma coisa para substituir a velha
tramos um exemplo quase puro do enfoque medieval ou puritano: as estrutura de vida. Da mesma forma como as minas de cobre da Rodésia
Igrejas Trabalhistas. John Trevor, que as fundou, era um mal-ajustado do Norte hoje se congregam nas Testemunhas de Jeová, e entre os
surgido de uma daquelas seitas pequenas e superpiedosas da classe tra- Basutos o cataclismo da mudança social encontra expressão uum
balhadora ou dos puritanos rancorosos da classe média inferior que renascimento dos cultos de feitiçaria e mágica, assim também por toda
estavam sempre se separando para organizar comunidades mais devo- a Europa o começo do século dezenove foi uma era de atmosfera reli-
tas. Como outros movimentos intelectuais médio-Vitorianos, a Dis- giosa supercarregada, intensa e muitas vezes apocalíptica, que se
sidência estava rachando lentamente sob o impacto das mudanças expressava em campanhas evangelizadoras nas áreas de mineração,
políticas e sociais após 1870, e durante a Grande Depressão, Trevor foi assembléias gigantes no campo, conversões, etc. Agora onde quer que
atraído para o movimento trabalhista após várias crises de consciência esteja a religião organizada, de uma maneira geral, uma força forte-
e uma carreira espiritual um tanto cheia de vicissitudes. Incapaz de mente conservadora - como era a Igreja Católica Romana - o movi-
conceber um novo movimento político que não devia ter tambétn sua mento trabalhista ativo necessariamente se desenvolvia independente-
expressão religiosa, ele transformou o trabalhismo numa religião. Ele mente dela. Na França, além do mais, a grande experiência emocional
não era um Socialista Cristão; ele acreditava que o movimento traba- da Revolução havia gerado, do combustível puramente secular, seu
lhista fosse Deus, e construiu o seu aparelho de igrejas, escolas domi- próprio fogo emocional para aquecer a vida fria dos trabalhadores.
nicais, hinos etc., em tomo disso. Naturahnentc os sombrios artesãos Lembramo-nos do velbo da década de 1840 morrendo com as palavras
dissidentes do Yorkshire e do Lancashire não seguiram a sua teologia "Ob sol de 1793, quando o verei erguer-se novamente?" A grande ima-
peculiar, que pode ser mais bem descrita como um unitarismo eterea- gem da República Jacobina acenava, e era em torno da república per-
lizado. Contudo, eles tinham sido criados num ambiente no qual o tem- sonificada que as emoções dos homens e mulheres que lutavam se reu-
plo era o centro da sua vida social e espiritual. A Grande Depressão (e niam facilmente. da mesma forma como mais tarde na Alemanha e na
coisas tais como a Tarifa McKinley de 1891) os tornaram cada vez Áustria elas se reuniam em torno da personificação das suas próprias
mais conscientes da divisão dos interesses dentro dos templos entre lutas, os partidos Marxistas e seus líderes. Na Inglaterra não havia
irmãos patrões e empregados; e nada era mais natural do que supor que nenhuma experiência viva dessas; mas houve os conventículos e sei-
a divisão política devesse tomar a forma de uma secessão no templo, tas dissidentes, independentes do Estado, comparativamente demo-
da mesma forma como antes a divisão entre Wesleyanos e Metodistas cráticos, e vivos. Daí aquela experiência que é tão típica do movimen-
Primitivos havia sido entre grupos politicamente radicais e conserva- to trabalhista inglês, o jovem trabalhador "vendo a luz", muitas vezes
dores.Assim as Igrejas Trabalhistas, com a sua parafernália familiar de
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como um Metodista Primitivo, e traduzindo seus objetivos políticos lições, táticas e palavras de ordem políticas, embora inadequadas. Foi
em termos da Nova Jerusaléin. 15 extremamente difícil afastar-se do fato de que a tradição revolucioná-
Isto não o torna necessariamente em nada menos consciente da ria glorificava a revolta armada "do povo" contra "os ricos"; ou dos
classe ou militante. Evidências da natureza fortemente militante dos métodos consagrados dessa revolta- comunas insurrectas, ditaduras
Metodistas Primitivos em algu1nas regiões abundam; e ocasionalmen- revolucionárias, etc. Se ela fosse transformada no seu oposto, uma teo-
te - como no longínquo Dorset - até os Wesleyanos conservadores ria de gradualismo e colaboração social, por exemplo, isto só poderia
puderam ver o ponto de reunião dos líderes trabalhistas locais. Tam- ser feito indiretamente; por exemplo, usando os seus aspectos radicais-
pouco esta tradição impediu os homens de fazerem maiores progres- liberais contra os comunistas, como a CGT de interguerras e a Igreja
sos políticos. Em nossa própria épocaArthur Horner (um rapaz evan- Católica pós-1945 tentaram fazer idealizando suas tradições Proudho-
gelista) e William Gallacher (cuja primeira experiência política foi nianas em contraposição às Babou vistas eBlanquistas; ou- como fez
naquele subproduto da dissidência, o movimento de temperança) tor- Gambetta" - acentuando o interesse comum de todas as classes "do
naram-se ambos comunistas. povo" contra algum inilnigo comum externo, como a "Reação" ou o
Devemos então considerar as nossas duas tradições como tantas "Clerical ismo". Mas o próprio processo de aparar suas arestas só podia
massas informes de material plástico, a serem modeladas para se adap- ser conseguido na prática glorificando a Revolução teoricamente. O
tarem à forma do estado de espírito e situação prática dos seus movi- conservador genuíno tinha, mais cedo ou mais tarde, que romper com-
mentos? Nenhu1na teoria pode sern1enos adequada à conversão nu1na pletamente com ele. Mas a tradição de dissidência, até o ponto em que
doutrina da "inevitabilidade do gradualismo" do que a de Marx; ape- era religiosa, não estava ligada à qualquer programa ou registro espe-
sar disso entre o fim da grande Depressão e a I Guerra Mundial isto foi cial, embora associada há muito tempo a exigências políticas particu-
feito, tacitamente ou por atos surpreendentes de acrobacia exegética, lares. A ilusão da afirmação moderna de que o "Socialismo inglês vem
num certo número de países. A Igreja Católica Romana tem insistido de Wesley e não de Marx" está precisamente nisto. Até o ponto em que
em algumas máximas de política social mais firmemente do que na o socialismo (ou quanto a isso o liberalismo radical) era uma crítica
indesejabilidade de organizar os patrões e empregados separadamen- específica a um sistema econômico particular. e um conjunto de pro-
te; contudo, sem exceções importantes, as organizações conjuntas que postas de mudança, ele veio das mesmas fontes seculares que o Mar-
ela tem patrocinado nos países industriais foram impelidas para fora do xismo. Até o ponto em que ele era simplesmente uma maneira apaixo-
movimento trabalhista ou - após algumas lutas - transformaram-se nada de apresentar os fatos da pobreza, não tinha nenhuma ligação
em sindicatos comuns." As idéias, na verdade, são mais elásticas do intrínseca com qualquer doutrina política particular. De qualquer
que os fatos. No entanto, uma tradição política ou ideológica, especial- maneira, era necessária apenas uma pequena mudança de ênfase teo-
mente se resume padrões genuínos de atividade prática no passado, ou lógica para transformar o dissidente ativamente revolucionário num
é incorporada em instituições estáveis, tem vida e força independente, quietista (tanto os Anabatistas como os Quakers tinham feito isso no
e deve influir no comportamento dos movimentos políticos. A teoria do passado), ou permitir que o esquerdista militante se transformasse num
material plástico é evidentemente uma supersimplificação. moderado. A diferença entre a elasticidade das duas tradições pode ser
Quando, contudo, tentamos estimar o papel real que estas insti- ilustrada pelos casos individuais: a mudança de John Burns de agita-
tuições desempenham, enfrentamos uma das tarefas mais difíceis do dor revolucionário para Ministro Liberal significa inevitavelmente um
historiador. Alguns pontos podem, contudo, ser sugeridos legitima- ro1npimento com as suas crenças Marxistas anteriores. Por outro lado
mente. Assim, em primeiro lugar, a tradição de dissidência, sendo poli- o Sr. Love, o dono da mina de Brancepeth, um homem de sindicato em
ticamente bastante imprecisa, era muito mais maleável do que a revo- sua juventude, que destruiu a Associação de Mineiros de Durham em
lucionária. Por trás dela não havia nenhuma experiência histórica 1863-4, pôde terminar sua vida como a tinha começado, como um
específica dessas como a Revolução Francesa, com os seus programas, Metodista Primitivo ativo e piedoso. 18

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Um segundo ponto segue-se ao primeiro. Uma tradição revolu-
cionária é por sua própria existência um cha1nado para a ação constan- ticos sempre terem constituído uma parte desproporcionalmente gran-
temente sugerido, ou de simpatia com a ação. O Levante de Newport de dessa organização, quer nos movimentos ingleses "neo-sindicalis-
de 1839 foi, numericamente falando, um caso muito mais sério do que tas" de 1889 e 1911, os enlatadores de sardinha de Douarnenez, a
o Levante de Páscoa de Dublin de 1916, embora dirigido de maneira maquinaria leve inglesada década de 1930, quer até os sindicatos ame-
muito pior; contudo o seu efeito nos dez anos seguintes foi muito ricanos e canadenses da mesma década.) Em épocas de mudança polí-
menor do que o da aventura irlandesa, e o seu impacto na tradição tica rápida e grande tensão, contudo, sua presença ou ausência pode
popular inglesa, ou mesmo galesa, incomparavelmente menor. Um bem ser um fator independente sério; por exemplo, na Alemanha após
ajustou-se num quadro no qual o orgulho do lugar tinha sido reservado 1918.
há muito tempo para "o rebelde"; o outro não. A tradição revolucionária, então, era por sua própria natureza
Um transformou-se portanto facilmente em inspiração ou mito, política; a tradição de dissidência muito menos diretamente política. O
o outro simplesmente um incidente histórico obscuro. A diferença é de quanto esse fato contribuiu para o carátcrmuito mais político do movi-
importância considerável, porque não é a disposição de usar a violên- mento trabalhista francês, não é fácil dizer. Os movimentos sindicais
cia, mas um certo jeito político de usarou ameaçar com a violência que fracos geralmente tendem a tirar força adicional das campanhas polí-
torna os movimentos revolucionários.Nenhum outro país europeu tem ticas, ao passo que os fortes tendem a não se preocupar com isso; e os
uma tradição de tumulto tão forte como a Inglaterra; e uma que persis- sindicatos franceses durante todos os séculos dezenove e vinte foram
tiu bem depois do meio do século dezenove. O tumulto como parte nor- muito mais fracos do que os ingleses. Apesar de tudo, isto não explica
mal da negociação coletiva estava bem estabelecido no século dezoi- totalmente dois fenômenos surpreendentes: a velocidade muito maior
to". A coação e a intimidação foram vitais nas primeiras fases do com que a opinião da classe trabalhadora francesa se tornou socialista,
sindicalismo, quando a imoralidade de furar as greves ainda não tinha e a intercambialidade muito maior da agitação política e industrial.
se tornado parte do código de ética do trabalhismo organizado. Seria Assim, na França, o movimento trabalhista e socialista começou
tolice afirmar que, se a Inglaterra possuísse uma tradição revolucioná- a tomar as municipalidades cerca de vinte anos antes do que na Inglater-
ria, teria tido também portanto uma revolução. Contudo, é razoável ra. O primeiro distrito inglês a ter uma maioria irlandesa-radical-traba-
afirmar que episódios como os Levantes do Derbyshire e de Newport lhista foi Wcst Ham em 1898. Contudo desde 1881 o Parti Ouvrier
bem podiam ter ocorrido mais freqüentemente, e situações extrema- ganhou sua primeira maioria em Commentry. Em 1892, quando os con-
mente tensas, como a de Glasgow em 1919, não teriam sido resolvidas selheiros socialistas (muitas vezes nem mesmo eleitos como tais) ainda
tão facilmente.'ª eram excessivamente raros na Inglaterra, só os Marxistas revolucioná-
Naturalmente, é bem verdade que no trabalho diário normal do rios - sem contar os Possibilistas, Alemanistas e os vários outros cor-
movimento trabalhista, a presença ou ausência de uma tradição revo- pos que exibiam o rótulo socialista - dominaram mais de 12 munici-
lucionária não é de importância imediata. Do ponto de vista de obter palidades, entre elas lugares como Marselha, Toulon e Ronbaix. A
salários mais altos c melhores condições, a disposição dos pedreiros de disparidade ainda é mais marcada nas eleições parlamentares.
Trelazé de proclamarem a república social por lá, cá aquela palha não Novamente, as atividades políticas dos sindicatos ingleses sem-
era nada mais e nada menos do que uma forma extremamente militan- pre foram extremamente limitadas, embora isto tenha sido obscureci-
te de demonstração de massa. Ela pode até não ser a maneira mais efi- do pelo fato de que aqueles que tomaram parte nelas fossem também
ciente de alcançar suas exigências econômicas imediatas. Ou então, muitas vezes sindicalistas. Eles financiam o Partido Trabalhista,
pode ser simplesmente útil, porque ao organizar os trabalhadores fra- embora esteja longe de ser claro (exceto em certos casos bastante espe-
cos e desorganizados contra uma oposição forte, as táticas agressivas ciais) até que ponto os sindicalistas votam no Trabalhismo porque os
e brilhantes são sempre as mais eficazes. (Daí os revolucionários polí- seus sindicatos apóiam o partido, ou se eles são tanto sindicalistas
como votantes do Trabalhismo porque são "pessoas da classe trabalha-
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dora". Certamente os candidatos sindicais puros raramente têm sido ta ineficiência, como entre os anarquistas, que não precisa ser levada a
bem-sucedidos. Na Londres das décadas de l 870e 1880 os candidatos sério. Mas sua possibilidade é sempre explícita. O historiador do car·
apresentados pelo Conselho de Ofícios de Londres tiveram votações tismo, por exemplo, mal pode deixar de ficar triste pela tibieza extraor·
notadamente piores do que os apresentados pelas organizações políti· dinária deste maior de todos os movimentos de massa do trabalhismo
cas como a Sociedade Nacional Secular," c na década de 1950 o con· inglês; e o que é mais, pela equanimidade com que a classe dominante
vocador eleito (comunista) dos empregados de lojas uuma grande inglesa o considerou, quando não assustada pela revolução estrangei·
fábrica de motores podia ter uma votação ridícula numa área cheia de ra. 21 Esta equanimidade era justificada. Os cartistas não tinham nenhu·
homens que, em suas fábricas, votaram nele e - o que é ainda mais ma idéia qualquer que fosse do que fazer se a campanha deles de reco·
importante - o seguiram. A agudeza da distinção é especialmente lher assinaturas para uma petição tivesse que falhar em converter o
clara no caso de um homem como Arthur Horner, que foi tanto uma Parlamento, como naturalmente falharia inevitavelmente. Porque até
figura política como um sindicalista - uma combinação que é muito a proposta de uma greve geral ("mês sagrado") foi, como os seus
rara. (Aneurin Bevan, por exemplo, foi uma figura política de grande adversários indlcara1n, simplesmente outra maneira de expressar a
importância, mas nunca desempenhou um papel de qualquer grande incapacidade de pensar em alguma coisa a fazer:
conseqüência no sindicato dos mineiros.) A carreira de Horner recai
em dois segmentos distintos: o período inicial, quando ele era princi· "Será que va1nos soltar centenas de milhares de ho1nens desesperados e esfo-
paimente um líder político, com uma poderosa base local em Maerdy, n1eados sobre a sociedade sern ter qualquer objetivo específico e1n vista ou
qualquer plano de ação estabelecido, 1nas confiando nu1n capítulo de acidentes
e afinal, quando- após sua expulsão das principais posições do Par·
quanto a quais serão as conseqüências?( ... ) Oponho-1nc a fixar u1n dia para o
tido Comunista - ele se concentrou em seu trabalho sindical. Mas o feriado até que tenha1nos 1nelhor evidência, primeiro quanto a praticabilidade
Horner que se tornou o líder mais capaz que os n1ineiros ingleses da coisa, ou a probabilidade dela ser levada a efeito; e en1 seguida quanto à
jamais tivera1n, embora fosse um ornamento do seu partido, não era etn inaneira pela qual ela irá ser e1npregada."'·
qualquer sentido importante um líder dele."
Da mesma forma, é difícil pensar em qualquer greve política Além do mais, quando algo como uma greve geral espontânea ocorreu
bem-sucedida ou sequer seriamente tentada na Inglaterra, embora no verão de 1842, os cartistas foram incapazes de fazer qualquer uso
sejam comuns as greves de simpatia ou solidariedade (que entram nos dela, e ela foi menos efetivado que o tumulto espontâneo dos trabalha·
termos mais estreitos de referência do sindicalismo). A Greve Geral de dores agrícolas em 1830, que, na verdade, foram em grande parte bem·
1926 pertence a esta classe. É difícil conceber um equivalente inglês sucedidos em seu objetivo limitado de deter o progresso de mecaniza·
para as greves gerais a favor da reforma eleitoral que os movimentos ção nas fazendas. E o motivo para a ineficácia do cartismo foi, pelo
dirigidos pelos Marxistas lideraram no continente, muitas vezes com menos em parte, devido a pouca familiaridade dos ingleses com a pró·
muito sucesso, entre 1890 e 1914; como na Bélgica e na Suécia. As gre· pria idéia da insurreição, da organização necessária para a insurreição,
ves políticas não são inconcebíveis na Inglaterra, especialmente em e da transferência do poder.
épocas de excitação intensa e quase revolucionária, como em 1920, Inversamente, o movimento de Resistência Francês durante a II
quando uma foi ameaçada contra a intervenção inglesa na guerra rus· Guerra Mundial não foi deliberadamente uma tentativa de tomar o
so-polonesa. Contudo a existência de uma tradição política quase cer- poder, em todo o caso por parte dos comunistas que, como de hábito,
tamente as favorece mais, embora naturalmente o objetivo delas seja constituíram de longe o seu contingente mais importante e ativo. O
sempre mais limitado (exceto durante épocas de revolução) do que argumento de que ele foi apresentado como uma desculpa para fins de
seus advogados têm suposto muitas vezes. propaganda após 1945 e durante a "guerra fria", é uma mentira jorna-
Terceiro, e mais importante, uma tradição revolucionária tem por lística, e tem sido conclusivamente rel'utado25 • Ele nunca teve qualquer
fim por definição a transferência do poder. Ela pode fazer isso com tan· plausibilidade ou evidência a apoiá-lo, exceto concebivelmente as ali·

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vidades independentes de alguns grupos locais que foram contra a
política central ou não tinham consciência dela. Contudo a questão é bém como traidoras: como durante a Comuna de Paris, durante o perío-
que nas condições do movimento francês era necessário u1n esforço do da Frente Popular e especialmente durante a Resistência. (Num cer-
especial para impedir a Resistência de fazer o que poderia ter parecido to sentido isto é simplesmente outra expressão da aspiração interna ao
ser a forma lógica (embora não necessariamente a mais aconselhada) poder numa tradição revolucionária: os Jacobinos e seus herdeiros
de um lance para assumir o poder; de que os grupos de resistência. dei- sempre se consideraram como potencialmente ou realmente uma força
xados aos seus próprios mecanismos, bem podiam ter seguido seus de governo ou que carregava o estado.)" Por outro lado, uma aversão
narizes nas tentativas locais de assumir o poder"'. É extremamente moral pela agressão e pela guerra como tal sempre esteve profunda-
pouco provável que qualquer movimento inglês, embora militante e mente entranhada no movimento trabalhista inglês, e é claramente
radical, fizesse isso espontaneamente. uma das partes mais importantes da sua herança radical-liberal - e
Até que ponto essas diferenças de tradição são importantes na muitas vezes, especificamente da sua herança dissidente. Não foi por
prática, deve permanecer uma questão de especulação. Evidentemente acidente que em 1914 o PT! foi o único partido socialista não-revolu-
elas não são decisivas. Elas afetam mais o estilo das atividades de um cionário num país beligerante - e na verdade quase o único partido
movimento do que a natureza delas ou dele. Apesar disso o estilo pode socialista em qualquer país -que como um corpo se recusou a apoiar
ser de interesse mais do que superficial, e pode bem haver ocasiões em a guerra: mas então, a Inglaterra era o único país beligeramente no qual
que é o homem, ou melhor, o movimento. Obviamente isto raramente dois ministros - ambos Liberais - renunciaram ao gabinete pelo
será assim quando - por exemplo - os inovimentos se conformam 1nesmo motivo. Vezes sem conta a oposição à agressão e à guerra tem
com padrões rigidamente determiuados de organização, ideologia e sido o método mais efetivo de unificar ou dinamizar a esquerda ingle-
comportamento, como entre os partidos comunistas. Apesar disso sa: no fim da década de 1870, por ocasião da Guerra dos Boers, duran-
todos com conhecimento dos movimentos comunistas sabem que a te a década de 1930, e novamente no fim da década de 1950.
uniformidade internacional extrema que foi imposta a eles desde o O contraste entre os movimentos pacifistas da França e da
meio da década de 1920 em diante ("bolshevização") não impediu Inglaterra após 1945 é particularmente esclarecedor, porque é difícil
mais as diferenças surpreendentes na atmosfera e estilo nacional dos encontrar quaisquer fatores outros além daqueles da tradição para
comunistas do que a uniformidade do sacerdócio católico torna a igre- explicá-lo. A França não teve nenhum movimento de massa pacifista
ja irlandesa idêntica à italiana ou holandesa. Quando as forças cons- espontâneo, mas apenas uma fase em que o Partido Comunista pôs
cientes que modelam a movimento são menos fortes, os efeitos estilís- suas energias por trás de um apelo antinuclear, e portanto recolheu
ticos da tradição podem ser até mais óbvios. muitas assinaturas. Os ingleses não tiveram nenhuma organização
Um exemplo instrutivo é o do "movimento pela paz'', que sem- política importante disposta a mobilizar a opinião pública contra a
pre foi anormalmente forte na Inglaterra, e relativamente fraco na guerra nuclearou capaz de fazer isso. (A ligação íntima entre o "Movi-
França. (Ele não deve ser confundido com o movimento antimilitaris- mento pela Paz Mundial" e os comunistas provavelmente adiou a
ta, que algumas vezes corre paralelamente a ele.) Um patriotismo emergência de um movimento pacifista de massa de base ampla na
agressivo e algumas vezes militante foi, desde os Jacobinos, profunda- Inglaterra até o fim da pior histeria ela "guerra fria".) Por outro lado, um
mente entranhado na extrema esquerda francesa, e na verdade domi- grupo não-oficial de pessoas pôde improvisar a Campanha implicita-
nou-a exceto em certos períodos históricos (p. ex., de circa de 1880 até mente pacifista pelo Desarmamento Nuclear, que se tornou não
1934) quando a bandeira tricolor foi segura por outras mãos. Pode-se somente o movimento antinuclear mais maciço do mundo, com a pos-
ir até o ponto de sugerir que os períodos de unidade e poder máximo do sível exceção daquele dos japoneses, e um modelo para (menos bem-
trabalhismo francês foram aqueles em que ele pôde estigmatizar as sucedido) os imitadores estrangeiros, como uma força importante na
classes dominantes não simplesmente como exploradoras mas tam- política inglesa fora dos seus termos estreitos de referência. Porque foi
em grande parte sobre a questão da "paz" que a esquerda dentro do
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movimento trabalhista se reuniu para derrubar o longo domínio de uma 2 l. Assiln nas eleições de 1882 da Junta Escolar de Londres os candidatos sin-
dicalistas (exceto quanto a un1 membro que já participava) atuarain extre1namente
liderança de direita do partido.
1nal; enquanto Helen Taylor e Aveling, cujas ligações eram principalmente políticas
ou ideológicas, foram eleitos.
22. Inversamente na França, Pierre Scmard, u1n sindicalista puro de origem, foi
NOTAS por algu1n te1npo Secretário geral do Partido Co1nunista, e Léon Mauvais, (secretário
da CGTU e1n 1933) tornou-se secretário organizador do PC e1n 1947. Charles Tillon,
tarnbé1n com antecedentes principalmente sindicalistas na Bretanha- 1nas con1bina-
1. La vie ouvriCre en France sous /e secondE;,npire (Paris 1946) de G. Duveau,
do com a política municipal - tornou-se o principal organizador 1nilitar da resistên-
p. 543.
cia co1nunista e 1ninistro no governo de De Gaulle; con10 fez Lucien Midol. A lista
2. The history ofthe South Wales Miners (Londres 1926) de Ness Edwards, p.
pode ser prolongada.
39.
23. Cf. Puhlic order in the age r~f the Chartists (Manchester 1960) de F. C. Mather.
3. Le 1nouven1e11t ouvrier et les idées sueiales en France de 18 J5 à lajin du XIX 24. Williain Carpenter cm The Charter, 2 ! julho 1839.
siêcle de E. Labrousse. (Os Cursos da Sorbonne: Fase. III), pp. 83-4. 25. Stalin and the French Conimunist Party J 94 J-7 deA.J. Rieber (Nl e Londres
4. Gewerkvereine u. Unterneh1nerverbaende in Frankreich (Leipzig 1879) de 1962) discute a questão extensivainente, pp. 142-55.
W. Lexis, pp. 123-4. 26. Rieber, op. cit., pp. 150-1.
5. W. Lexi~, op. cit., pp. 183-4. 27. O exe1nplo aparente mais óbvio do contrário, o caso Drcyfus, prova a ques-
6. Duveau, op. cit., pp. 89-91. tão. Seu efeito dentro do 1novin1ento trabalhista foi dividir e não unir; porque contra a
7. 'The Revolution in Tanner's Lane de Mark Rutherford. "reunião dos políticos Socialistas em torno da causa da República an1eaçada e uni rap-
8. Reeditado e1n Labour's Turning Point 1880-1900 (Londres 1948) de EJ. prochen1ent entre a maioria dos grupos socialistas" deve estar estabelecido o reforço
Hobsbawm (ed), p. 89. de um sindicalismo antipolítico (History ofSociaiist Thought III, p. 343 de G.D.H.
9. Son1e working-class movetnents o.fthe nineteenth century (Londres 1948) de Cole), para não mencionar a divisão causada pela aceitação de cargo no gabinete por
R.F Weannouth, p. 305. Millerand.
10. l)e l'Jntroduction du Marxisme en France (Paris 1947) de A. Zévaes, pp.
11655.
11. Para a combinação da ação direta e da n1oderação extren1a em Sheffield, cf.,
A history of labour in Sheffield (Liverpool 1959) de S. Pollard.
12. Physiologie du parti cotttppjunistefrançais (1948) de A. Rossi, p. 317.
13. Sobre a crise no PC fi·ancês, cf. Thefirstfive years ofthe Cotnintern II (Nova
Iorque 1953) de L. Trotsky, quase disperso, 1nas esp, pp. 153-5, 281-2, 321.
14. Cf. "The Labour Church Movc1nent" de K.S Tnglis fnlernational Review r<f
Social History III ( 1958).
15. Para esta e as passagens seguintes, ver o capítulo sobre Seitas Trabalhistas
e1n n1eu Prin1itive Reheis (Manchester 1959).
16. Çf, La pensée syndica/efrançaise (Paris 1948) de R. Goetz-Girey, pp, 96 ss.
17. Cf., esp, Discours prononcé le 12 aoút à là réunion électorale du XXême
arrondissement (Discours ... de Léon Gamhetta, ed. J. Reinach, Paris 1895).
18. The miners' unions of Northuniheriand and Durham (Ca1nbridgc 1923) de
E. Welbourne, P. 115.
19. Halévy, op. cit., 1, pp. 148 ss. Para a negociação coletiva pelo tumulto, ver
acima, Capítulo 2 (pp. 15 seq).
20. Revolt on the Clyde (Londres 1936) de W. Gallacher, cap. X para u1n relato
auto-crítico por um dos "líderes da greve, nada mais; nós nos esquece1nos de que éra-
1nos líderes revolucionários".

444 445
Revoluções e A Era do Capital (Ed.Paz e
Terra) foram calorosamente acolhidos
BlE
pela crítica e pelo público. A História do
Marxismo, que ele coordenou junto com
outros historiadores, foi publicada em
Rol
doze volumes com sucesso pela Paz e Ter-
Os
do• ra que igualmente publicou Os Revo-
lucionários, Estratégiaspara uma Esquerda
Racional, Mundos do Trabalho, Nações e
Nacionalismo desde 1780, História Social
do Jazz e Pessoas Extraordinárias.
O presente volume - Os Trabalhado-
res- contém diversos ensaios sobre ques-
tões e episódios de um campo no qual
Hobsbawm é reconhecido como uma
. das autoridades cieptífic~; yiv?s:·a his,-
tória do movimento:ópe;á~ip;~~'! ~stu~ .• :
dos que tr9t,aPJ. das €c)ridiÇões:4~ ~t~ba~':;
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