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INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA

CAMPUS JARAGUÁ DO SUL


CURSO DE LICENCIATURA EM FÍSICA

KENIA REGINA STREICH


KIRSTI EMELI STREICH

PROJETO DE PESQUISA

TÉCNICAS FORENSES DE REVELAÇÃO DE DIGITAIS: PRINCÍPIOS QUÍMICOS,


FÍSICOS E BIOLÓGICOS ENVOLVIDOS.

JARAGUÁ DO SUL
MARÇO/2018
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
No contexto atual, observa-se cada vez mais o predomínio dos meios midiáticos como
forma de lazer e “passatempo”. Dentro do leque de possibilidades, encontram-se as séries de
televisão que podem ser de diversas vertentes, mas buscando, sobretudo o entretenimento e
atração do público em geral. Destacam-se aqui, de modo especial, as séries e filmes que tem
como tema as ciências forenses e a investigação criminal, as quais despertam a curiosidade dos
telespectadores a cerca dos processos de resolução dos crimes. Entretanto, algumas vezes os
meios midiáticos representam os processos científicos forenses de maneira superficial e
exagerada, negligenciando conceitos científicos (CRUZ et al, 2016; SILVA e ROSA, 2013).
Para Silva e Rosa (2013, p.149) “a ciência forense é uma área interdisciplinar que envolve
física, biologia, química, [...], com o objetivo de dar suporte às investigações relativas à justiça
civil e criminal”.
Acredita-se que o estudo de ciências de base como a química, física e biologia ocorre de
maneira mais eficiente quando realizado de maneira experimental, como pode ser observado no
estudo de Silva (acesso em 2018) denominado “A perícia papiloscópica apresentada como
alternativa para o ensino da química no estado de Roraima”. Neste estudo, o autor se propôs a
empregar a reprodução de cinco técnicas forenses para identificação de digitais como forma de
instigar e despertar a curiosidade científica, concluindo que a proposta metodológica de ensinar e
divulgar os princípios químicos através da perícia de identificação de digitais contribuiu para a
assimilação dos conhecimentos apresentados em sala de aula.
Nesse contexto, a proposta deste trabalho surge, sobretudo, do interesse pela investigação
forense e compreensão dos métodos e técnicas empregados nesta ciência. Dessa forma, este
trabalho se propõe a estudar os princípios químicos, físicos e biológicos envolvidos nos processos
de identificação de digitais através de diferentes técnicas, a fim de se compreender o que ocorre
nesses processos, retratados constantemente em séries de grande audiência como sendo algo
simples, rápido e conclusivo.
Dessa forma, este projeto está organizado em subdivisões, apresentando-se inicialmente o
problema de pesquisa, os objetivos gerais e específicos, uma breve revisão bibliográfica expondo
alguns conceitos a cerca da datiloscopia. Em seguida, elencam-se as hipóteses formuladas para o
problema proposto e posteriormente descreve-se a metodologia a ser empregada na aplicação do
presente projeto.
2 PROBLEMA

Quais os princípios químicos, físicos e biológicos envolvidos nas técnicas forenses de revelação
de digitais?

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL


Estudar as técnicas forenses de revelação de digitais a partir de processos químicos, físicos e
biológicos envolvidos.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


 Apresentar os diferentes tipos de técnicas utilizadas para a revelação e coleta de digitais
utilizadas nas ciências forenses;
 Reproduzir as técnicas forenses de revelação de digitais estudadas em laboratório;
 Compreender os fenômenos químicos, físicos e biológicos envolvidos nas técnicas
forenses de identificação de digitais.

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 Papiloscopia

O interesse humano por digitais vem desde a pré-história, pois há na Nova Escócia o
registro de uma mão demonstrando digitais em espiral, a qual foi presumivelmente feita por um
nativo pré-histórico que viveu na região. Já no Século IX, na Índia, os analfabetos podiam
legalizar seus documentos a partir do uso de suas digitais. No ano de 1686, Marcelo Malphighi
estuda a superfície da pele com um microscópio e identifica a existência de saliências na região
dos dedos das mãos humanas (CRUZ et al, 2016; MAIA, 2013).

Em 1823, Johannes Evangelista Purkinje, identificou nove padrões diferentes de


impressões digitais no estudo que desenvolveu para a sua tese em anatomia humana. Entretanto,
o primeiro método científico de identificação foi aceito apenas em 1879, cujo reconhecimento se
deve a Alphonse Bertillon. Surge então, a antropometria, combinando medições físicas coletadas
através de procedimentos detalhadamente descritos (MAIA, 2013).
Juan Vucetich Kovacevich elaborou seu próprio método para arquivamento e
identificação de pessoas através de suas digitais, denominando essa nova área de
icnofalangometria, denominação esta que foi substituída mais tarde por datiloscopia. O Sr.
Kovacevich tem grande importância para as ciências forenses, pois através da implantação do seu
sistema de identificação em uma delegacia em La Plata, resolveu em 1892, o primeiro crime
através da identificação do criminoso pelas suas digitais (CRUZ et al, 2016, MAIA, 2013).

Dessa forma, estabelece-se a papiloscopia (estudo das impressões dérmicas), como parte
integrante e indispensável das ciências forenses de investigação em geral. A papiloscopia
subdivide-se em datiloscopia, quiroscopia, podoscopia e poroscopia, as quais se dedicam
respectivamente, ao estudo das impressões digitais, das impressões de palmas das mãos, das
impressões deixadas pelas palmas dos pés e por fim pela impressão dos poros deixados no
datilograma (CRUZ et al, 2016; ALVES, 2013). Neste estudo, a subdivisão que nos interessa é a
datiloscopia.

4.1.1 Datiloscopia

Para compreender como funciona a datiloscopia, deve-se entender um pouco sobre a


estrutura da pele humana. Portanto, a pele humana é a membrana que cobre todo o corpo,
tornando-se assim o seu maior órgão. A pele é composta por basicamente três camadas
denominadas de hipoderme, derme e epiderme, sendo a primeira a mais interna, a segunda a mais
espessa, que por sua vez é coberta pela terceira que se assemelha a uma fina membrana, na qual
estão localizadas as cristas papilares (estrias) e os sulcos (vales). Destaca-se que as papilas são
encontradas apenas nas superfícies palmares (mãos) e plantares (pés) (MAIA, 2013; ALVES,
2013).
Os princípios da datiloscopia compreendem a perenidade, a imutabilidade e variabilidade.
A perenidade parte do pressuposto que os desenhos datiloscópios estão formados no ser humano
a partir do sexto mês de gestação. Já o princípio da imutabilidade acredita que o desenho das
digitais humanas não se modifica sem a ação de um agente externo como queimaduras, por
exemplo. Pelo princípio da variabilidade, não são encontradas duas digitais iguais, sendo que em
um mesmo indivíduo todos os datilogramas dos dedos de suas mãos são diferentes entre si
(ALVES, 2013).
A marca de uma digital de um dedo é denominada datilograma e pode ser dividida em três
partes de acordo com o caráter de suas linhas: região marginal que está mais relacionada à parte
superior da marca digital, ou seja, mais próximo da ponta do dedo; a região nuclear é o centro da
marca de digital; e por fim a região basilar que fica mais próxima à dobra do dedo (MAIA, 2013;
ALVES, 2013). Além disso, as digitais podem ser de quatro tipos: com arco, com presilha
interna, com presilha externa e verticilo, conforme a Figura 1.

Figura 1 – Tipos fundamentais de digitais: arco, presilha interna, presilha externa e


verticilo.
FONTE: Adaptado de ALVES, 2013.

4.2 Técnicas forenses de revelação de digitais

Nas ciências forenses, muitas são as técnicas possíveis para a revelação de digitais. De
modo geral, a mais adequada para cada situação é determinada a partir da identificação do local
onde está a digital, ou seja, tipo de superfície e o tempo aproximado da marcação. Citam-se aqui
as técnicas do pó, do vapor de iodo, da ninidrina, do nitrato de prata e do vapor de cola. Não se
pretende descrever neste momento cada técnica, pois a metodologia apresenta como se dá a
aplicação de cada técnica que será estudada.

5 HIPÓTESES

 As técnicas de revelação de digitais utilizadas nas ciências forenses utilizam princípios


diretamente relacionados à física, química e biologia;
 Para cada superfície onde se encontra uma digital latente existe uma técnica adequada de
revelação;

6 METODOLOGIA

A metodologia que será utilizada nessa pesquisa é a experimental, que conforme Severino (2007,
p.123) “toma o próprio objeto em sua concretude como fonte e a coloca em condições técnicas de
observação e manipulação experimental nas bancadas e pranchetas de um laboratório”. Dessa
forma, determinou-se as técnicas de identificação de digitais a serem reproduzidas e estudadas
em laboratório, com base na fundamentação teórica apresentada anteriormente.

6.1 Materiais e equipamentos necessários


Para o desenvolvimento desta pesquisa, serão utilizados os seguintes reagentes químicos: dióxido
de titânio (TiO2), cristais de iodo, cianoacrilato (C5H5NO2), nitrato de prata (AgNO3) e água
destilada. Já os equipamentos e materiais que serão empregados são, entre outros: folha sulfite,
Beckers, pincel de blush, erlenmeyer, vidro de relógio, aquecedor, papel alumínio, balão
volumétrico, capela com exaustor e pipetas.

6.2 Procedimentos

6.2.1 Técnica do pó
Diversos pós podem ser utilizados na identificação de digitais latentes, como o óxido de
ferro, dióxido de manganês, dióxido de titânio, carbonato de chumbo, por exemplo (ALVES,
2013). Nesta pesquisa o pó a ser empregado é o dióxido de Titânio (TiO2).
Diante disso, primeiramente, deve-se marcar uma digital na superfície de uma folha
sulfite, de um vidro de relógio ou similar, a fim de observar as diferentes reações da digital ao pó
em relação à superfície que esta se encontra. Em seguida, com o auxílio de um pincel macio de
blush (pincel de maquiagem) toma-se uma pequena porção do dióxido de Titânio que deve ser
levemente pincelada sobre a digital a ser analisada, retirando-se o excesso do pó delicadamente.
Após destacada a digital sobre a superfície, registra-se uma imagem da mesma a fim de
identificar a que pessoa esta pertence.
6.2.2 Técnica do vapor de Iodo
A técnica de vapor de iodo é utilizada para revelar digitais latentes em pequenos objetos,
superfícies metálicas e porosas. Esta técnica será desenvolvida de duas maneiras diferentes: No
primeiro caso, marca-se a digital em superfícies de vidro e de plástico. Em seguida, deposita-se o
material a ter a digital identificada no interior de um saco plástico com zíper. Imediatamente,
adiciona-se, com o auxílio de espátula uma pequena porção de cristais de iodo. Lacra-se o zíper e
agita-se a embalagem, provocando a sublimação do iodo e posterior aderência do vapor à digital.
Feito isso, registra-se uma imagem da digital.
A segunda técnica a ser empregada, consiste em marca-se a digital sobre as superfícies de
vidro, plástico e papel. Em seguida, dentro de uma capela com exaustor, posiciona-se um
aquecedor e um erlenmeyer sobre este, mantendo um vidro de relógio nas proximidades do
experimento. Adiciona-se, com o auxílio de uma espátula, uma pequena porção de cristais de
iodo no interior do erlenmeyer. No topo da vidraria posiciona-se o material a ter a digital
revelada, tomando-se o cuidado de manter a superfície com a digital em contato com o interior do
tubo. Feito isso, aciona-se o aquecedor a uma temperatura suficiente para que se observe a
sublimação do iodo sinalizada através de um vapor lilás. Aguarda-se a digital ser revelada em cor
caramelo e registra-se a mesma.

6.2.3 Técnica do vapor de cola


Para a técnica de revelação de digitais a partir do cianoacrilato, utiliza-se uma cola que
contenha esta substância em sua composição (nesta pesquisa utilizaremos a Super Bonder). De
semelhante maneira, as outras técnicas, marca-se a digital em superfícies de vidro e papel. Em
seguida, dentro de uma capela com exaustor, posiciona-se um aquecedor e sobre este um Becker
de 600ml. Posteriormente, sobre uma bolinha feita de papel alumínio, adiciona-se 4 gotas da cola
e dispõe-se a mesma no interior do Becker (deve-se observar que a cola não pode entrar em
contato com o Becker) que está sobre o aquecedor. Dessa forma, põem-se o material que contém
a digital no interior do Becker, acionando-se em seguida o aquecedor. Aguarda-se a revelação da
digital e registra-se a mesma.

6.2.4. Técnica de nitrato de prata


Primeiramente prepara-se uma solução de nitrato de prata a uma concentração de 5%.
Depois que a solução de nitrato de prata está pronta, marca-se a superfície de vidro com a digital
e em seguida, mergulha-se o objeto na solução de nitrato contida em um becker por
aproximadamente 30 segundos. Decorrido o tempo necessário, retira-se o objeto da solução e
dispõe-se o mesmo em uma câmara escura, a fim de aguardar a secagem do reagente.
Posteriormente, o objeto seco deve ser exposto á luz solar, que provocará a redução do material
que está na superfície do objeto e posterior destaque em relação ao restante da superfície. Logo,
registra-se a imagem da digital, pois esta tende a desaparecer devido ao processo de oxidação que
ocorre.

6.3 Tratamento dos dados


Para estudar os dados obtidos a partir dos experimentos, serão utilizados recursos gráficos
como tabelas e gráficos para analisar e comparar o tempo do procedimento, eficácia e nitidez nas
digitais obtidas para cada técnica. A partir disso, serão estudados os princípios químicos, físicos e
biológicos envolvidos em cada método de revelação de digitais.

6.4 Orçamento
Na Tabela 1 está apresentado o orçamento médio necessário para o desenvolvimento desta
pesquisa.

Tabela 1 – Orçamento dos materiais necessários para o desenvolvimento do projeto de pesquisa.


Material Custo (R$)
Pincel de Blush (maquiagem) 50,00
Dióxido de Titânio Disponível no laboratório
Embalagem plástica com zíper 5,00
Cristais de iodo Disponível no Laboratório
Nitrato de Prata Disponível no Laboratório
Supercola 10,00
Vidrarias (Becker, erlenmeyer, pipetas, etc) Disponível no Laboratório
Capela com exaustor Disponível no Laboratório
Equipamentos (câmara escura, aquecedor,etc) Disponível no Laboratório
TOTAL R$65,00
FONTE: Elaborado pelo autor.
6.5 Cronograma
Atividade Março Abril Maio Junho Julho
Apresentação do projeto de pesquisa X
Reprodução das Técnicas de identificação de digitais X X
em laboratório
Análise dos princípios químicos, físicos e biológicos X X X
envolvidos em cada técnica.
Edição do artigo da pesquisa X X X X
Apresentação da pesquisa X X

7 REFERÊNCIAS

ALVES, Manoel Geralcino. Biotecnologia aplicada à segurança pública: Estudo e adequação


do método da ninidrina para revelação de impressões digitais em superfícies porosas.
Dissertação em Biotecnologia. Universidade Federal de São Carlos: São Carlos, 2013.
CRUZ, Antônio A.C. et al. A ciência forense no ensino de química por meio da experimentação
investigativa e Lúdica. Revista Química Nova na Escola. v.38, n.2, p.167-172, Maio de 2016.
MAIA, Francisco Sílvio. Criminalística Geral. Ceará: Fortaleza, 2013. Disponível em:
<tmp.mpce.mp.br/esmp/apresentacoes/.../02_Criminalistica_Geral_29_11_2012.pdf>, acesso em
27 de março de 2018.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23.ed. São Paulo: Cortez,
2007.
SILVA, Francisco James Oliveira. A perícia Papiloscópica apresentada como alternativa
para o ensino da Química no estado de Roraima. Disponível em: www.fenappi.com.br/wp-
content/.../09/ARTIGO-Francisco-James-Oliveira-Silva.pdf, acesso em 22 de fevereiro de 2018.
SILVA, Priscila Sabino da; ROSA, Mauricio Ferreira da. Utilização da ciência forense do seriado
CSI no ensino de química. Revista Brasileira de Ensino de Ciência & Tecnologia. v.6, n.3,
p.148-160, set-dez de 2013.

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