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Capítulo 5
Representação Matemática
dos Geradores
5.1 Introdução
No presente capítulo são apresentados modelos matemáticos da máquina síncrona, operando
como gerador, que possibilitam algumas análises do comportamento de sistemas de potência, em
termos de sua operação tanto em regime permanente, quanto em condições transitórias, como
àquelas referentes aos estudos de estabilidade. Desta forma são apresentados, em seguida,
modelos matemáticos para as máquinas, destacando inicialmente: seus circuitos elétricos
equivalentes, equações de potência elétrica fornecida e características potência-ângulo e
posteriormente descrevendo os principais modelos dinâmicos padronizados pelo IEEE. Para o
desenvolvimento dos modelos mencionados são consideradas as transformações de Park.
As máquinas síncronas são constituídas de pólos lisos ou salientes. Às de pólos lisos são
associadas aos turbogeradores, apresentando rotor cilíndrico e operando em altas rotações
(tipicamente 1800 ou 3600 rpm). As máquinas de pólos salientes, por sua vez, são associadas aos
hidrogeradores, e operam com velocidades entre 100 e 500 rpm, normalmente.
Os modelos matemáticos das máquinas de pólos lisos são mais simples de desenvolver. Na
verdade pode-se dizer que a representação matemática destas máquinas é uma simplificação, ou
caso particular, da representação das máquinas de pólos salientes. As análises a seguir
contemplam a máquina síncrona de pólos lisos, por simplicidade de representação.
5.2
Para a presente análise é suficiente considerar um sistema simples do tipo gerador ligado
diretamente a um barramento infinito, como mostra a figura 5.1.
(i)
P
B∞
Figura 5.1 – Gerador síncrono ligado a um barramento infinito.
Através de uma forma esquemática muito simples, uma máquina síncrona operando como
gerador pode ser representada de acordo com a figura 5.2.
Ia
E
V
if d Wm
λfd
λr
ωm = ω
E
q
δ
V
ωms = ωs
λa φ
ref. síncrona
Ia
Figura 5.3 – Diagrama fasorial simplificado da máquina síncrona operando como gerador.
λ r = λfd + λa (5.1)
O fluxo enlaçado resultante ( λ r ) corresponde à soma do fluxo enlaçado produzido pela corrente
de campo ( λfd ), com o fluxo enlaçado produzido pela corrente da armadura ( λa ).
5.4
O fluxo enlaçado λfd dá origem à tensão de excitação, ou tensão em vazio ( E ), enquanto que o
fluxo enlaçado λa produz uma queda de tensão E a na armadura da máquina síncrona. A soma
destas duas tensões proporciona uma tensão resultante E r .
E a = - j.X φ . Ia (5.3)
onde:
Xϕ = reatância de magnetização da máquina síncrona, ou
reatância de reação da armadura
E r = E - j.X φ . Ia (5.4)
Xϕ
Ia
E Er
Assim, definindo:
Xϕ Xl Ra
Ia
E Er V
E = V + R a . Ia + j.(X φ +X l ). Ia (5.5)
Xs = X φ + X l (5.6)
E = V + R a . Ia + j.Xs . Ia (5.7)
Finalmente, pode-se obter da equação (5.7) o circuito elétrico equivalente do gerador operando
em regime permanente. Tal circuito elétrico é apresentado na figura 5.6.
Xs Ra
Ia
E V
Portanto, em regime permanente o gerador pode ser representado por um modelo de fonte de
tensão constante (E), atrás de uma impedância (Ra + j.Xs), ou reatância (Xs), correspondendo a
um equivalente de Thévenin.
(i)
P
B∞
Figura 5.7 – Gerador síncrono ligado diretamente a um barramento infinito.
Q
Ia
E V
O gerador considerado fornece uma potência ativa (P) e uma potência reativa (Q), portanto, a
potência complexa correspondente tem a seguinte expressão:
E-V E δ - V 0o
Ia = = (5.9)
j.Xs Xs 90o
5.7
Da expressão (5.10) podem ser extraídos os valores das potências ativa e reativa fornecidas pela
máquina, bastando considerar as partes real e imaginária. Assim, tem-se para a potência ativa:
E.V V2
P = Re {S} = .cos(δ-90o ) - .cos(90o ) (5.11)
Xs Xs
ou ainda,
E.V
P= .sen(δ) (5.12)
Xs
Já para a potência reativa vem:
⎡ E.V V2 ⎤
Q = Im {S} = - ⎢ o
.sen(δ-90 ) + .sen(90o ) ⎥ (5.13)
⎣ Xs Xs ⎦
ou ainda,
E.V V2
Q= .cos(δ) - (5.14)
Xs Xs
No caso da operação da máquina como compensador síncrono, a mesma não fornece potência
ativa (P = 0), conseqüentemente o ângulo δ é nulo. Este fato pode ser observado com o auxílio
da equação (5.12). Como o ângulo é nulo, a expressão (5.14) pode ser simplificada de acordo
com a equação (5.15).
V
Q= .(E-V) (5.15)
Xs
De (5.15) nota-se que:
• Para E > V: a máquina fornece potência reativa para o sistema, ou seja, a máquina se
encontra superexcitada;
No caso da operação da máquina como gerador síncrono, a mesma fornece uma determinada
potência ativa (P). Assim, quanto maior for a potência ativa, maior será o deslocamento angular
do rotor (δ). Este fato pode ser observado através da equação (5.12). Como o ângulo δ não é
nulo, a expressão (5.14) pode ser reescrita da seguinte forma:
V
Q= .[ E.cos(δ)-V ] (5.16)
Xs
Da expressão (5.16) tem-se que:
• Para E.cos(δ) > V: a máquina fornece potência reativa para o sistema, ou seja, a
máquina se encontra superexcitada;
• Para E.cos(δ) < V: a máquina absorve potência reativa do sistema, ou seja, a mesma se
encontra subexcitada;
• Para E.cos(δ) = V: a máquina não fornece e não absorve potência reativa. No entanto,
ela pode estar fornecendo potência ativa se δ ≠ 0.
Pmax Pe
Pm
δ
0o δo 90o
Da figura 5.9 pode-se observar que, à medida que a potência mecânica aumenta o mesmo ocorre
com a potência elétrica, pois o ângulo δ também aumenta (observar a condição de equilíbrio,
intersecção das duas características). Esta condição é válida desde que se considere Pm ≤ Pmax, ou
ainda, ângulos δ inferiores a 90o
5.9
Se a potência mecânica atingir um valor superior a Pmax , não haverá condição de equilíbrio,
sendo a máquina síncrona submetida a uma potência acelerante positiva, o que tem como
conseqüência a sua instabilidade.
A característica P-δ da máquina síncrona é útil também no entendimento físico dos problemas
relacionados com a estabilidade angular transitória de sistemas de potência.
Da expressão (5.12) e da característica potência – ângulo (figura 5.9) pode-se observar que a
máxima potência que pode ser transferida pelo gerador ao barramento infinito é de:
E.V
Pmax =
Xs
A seguir são apresentadas as equações de tensão e fluxo enlaçado para os circuitos do estator e do
rotor de uma máquina síncrona trifásica, sendo o estator descrito por variáveis relacionadas às fases
a, b e c. As variáveis do estator são transformadas, fazendo com que a máquina síncrona seja
expressa em uma base de referência d-q-0, fixa no rotor. As expressões assim obtidas, são descritas,
finalmente, através de uma representação conveniente em por unidade [p.u.]. Antes de todo este
procedimento, entretanto, são listadas as principais considerações e simplificações adotadas para a
representação matemática da máquina síncrona.
5.10
Considerações e Simplificações
Para o desenvolvimento das equações da máquina síncrona são realizadas as seguintes considerações
e simplificações:
(f) são representados três enrolamentos no rotor, sendo um enrolamento de campo e dois
enrolamentos amortecedores.
Equações de Tensão
Das considerações anteriores observa-se que a máquina síncrona é representada através de seis
enrolamentos (ou circuitos), sendo os mesmos magneticamente acoplados. O acoplamento
magnético, por sua vez, depende da posição angular do rotor. Desta forma, o fluxo enlaçado com
cada um dos enrolamentos é também uma função da posição do rotor.
Aplicando as leis da indução magnética aos enrolamentos da máquina síncrona, pode-se escrever a
seguinte equação genérica para a tensão terminal instantânea “v”, de cada enrolamento:
dΦ
v = ± ∑ R.i ± ∑ (5.17)
dt
onde:
R = resistência do enrolamento;
i = corrente no enrolamento;
Φ = fluxo enlaçado com o enrolamento.
A definição dos sinais “+” e “-”, na expressão (5.17), depende da operação da máquina como motor
ou gerador e da convenção adotada para o sentido da corrente no enrolamento.
A figura 5.10, a seguir, apresenta um diagrama esquemático dos enrolamentos do rotor e do estator
da máquina síncrona considerada.
5.11
iF d
VF b
q iD F ib
Q b
iQ
D
a a
ia
ROTOR c
c
ESTATOR ic
Figura 5.10 – Diagrama esquemático dos enrolamentos do rotor e do estator.
Como pode ser observado na figura 5.10, existem três enrolamentos no estator, cada um associado a
uma fase, e três enrolamentos no rotor: um enrolamento de campo, que é alimentado por uma fonte
de tensão contínua; e dois enrolamentos amortecedores, que são curto-circuitados. Pode-se verificar
também que o enrolamento de campo e um dos enrolamentos amortecedores estão alinhados com o
eixo “d” (eixo direto) e o outro enrolamento amortecedor está alinhado com o eixo “q” (eixo em
quadratura).
O rotor da máquina gira com uma velocidade angular ωr . Assim sendo, a posição angular do rotor
(α) aumenta continuamente com a evolução do tempo (t), podendo ser expressa por:
α = ω r .t (5.18)
Com base na equação (5.17) e no diagrama esquemático da figura 5.10 podem ser desenvolvidas as
equações de tensão para os enrolamentos do estator e do rotor da máquina síncrona.
5.12
Equações do Estator
Considerando a máquina síncrona operando como gerador, podem ser escritas as seguintes equações
de tensão para as três fases do estator:
dΦ a
v a = − R s .i a + (5.19)
dt
dΦ b
v b = −R s .i b + (5.20)
dt
dΦ c
v c = − R s .i c + (5.21)
dt
onde:
va = tensão terminal instantânea da fase “a” do estator.
vb = tensão terminal instantânea da fase “b” do estator.
vc = tensão terminal instantânea da fase “c” do estator.
Rs = resistência do enrolamento do estator (admitida igual para as três fases).
Equações do Rotor
Para o rotor da máquina síncrona podem ser escritas as seguintes equações de tensão,
correspondentes respectivamente aos enrolamentos: de campo (F), amortecedor de eixo direto (D) e
amortecedor de eixo em quadratura (Q):
dΦ F
v F = R F .i F + (5.25)
dt
dΦ D
0 = R D .i D + (5.26)
dt
5.13
dΦ Q
0 = R Q .i Q + (5.27)
dt
onde:
RF = resistência do enrolamento de campo.
RD = resistência do enrolamento amortecedor de eixo direto.
RQ = resistência do enrolamento amortecedor de eixo em quadratura.
Os fluxos enlaçados com os enrolamentos do rotor podem ser determinados pelas expressões a
seguir:
⎡ ⎛ 2π ⎞ ⎛ 2π ⎞⎤
Φ F = L FF .i F + L FD .i D − L aF .⎢i a .cosα + i b .cos⎜ α − ⎟ + i c .cos⎜ α + ⎟ (5.28)
⎣ ⎝ 3 ⎠ ⎝ 3 ⎠⎥⎦
⎡ ⎛ 2π ⎞ ⎛ 2π ⎞⎤
Φ D = L FD .i F + L DD .i D − L aD .⎢i a .cosα + i b .cos⎜ α − ⎟ + i c .cos⎜ α + ⎟ (5.29)
⎣ ⎝ 3 ⎠ ⎝ 3 ⎠⎥⎦
⎡ ⎛ 2π ⎞ ⎛ 2π ⎞⎤
Φ Q = L QQ .i Q + L aQ .⎢i a .senα + i b .sen⎜ α − ⎟ + i c .sen⎜ α + ⎟ (5.30)
⎣ ⎝ 3 ⎠ ⎝ 3 ⎠⎥⎦
sendo:
LFF , LDD, LQQ = indutâncias próprias dos enrolamentos F, D e Q do rotor.
LFD = indutância mútua entre o enrolamento de campo e o
enrolamento amortecedor de eixo direto.
LaF , LaD , LaQ = indutâncias mútuas entre a fase “a” do estator e os
enrolamentos F, D e Q do rotor.
Transformação d-q-0
As variáveis correspondentes às fases a, b e c do estator podem ser referidas aos eixos direto (d), em
quadratura (q) e de seqüência zero (0), do rotor da máquina síncrona, através da seguinte matriz de
transformação:
⎡ ⎛ 2π ⎞ ⎛ 2π ⎞ ⎤
⎢ cosα cos⎜ α − ⎟ cos⎜ α + ⎟
⎢ ⎝ 3 ⎠ ⎝ 3 ⎠ ⎥⎥
2 ⎛ 2π ⎞ ⎛ 2π ⎞⎥
T = .⎢− senα − sen ⎜ α − ⎟ − sen⎜ α + ⎟ (5.31)
3 ⎢ ⎝ 3 ⎠ ⎝ 3 ⎠⎥
⎢ 1 1 1 ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ 2 2 2 ⎥⎦
A transformação expressa por (5.31) pode ser aplicada às equações de tensão do estator e de fluxo
enlaçado do estator e do rotor. Os resultados obtidos são apresentados em seguida.
5.14
Aplicando a transformação (5.31) nas equações (5.22) a (5.24), obtém-se os seguintes valores de
fluxo enlaçado no sistema de eixos d-q-0:
Φ d = −L d .i d + L aF .i F + L aD .i D (5.32)
Φ q = −L q .i q + L aQ .i Q (5.33)
Φ 0 = −L 0 .i 0 (5.34)
sendo:
Φd = fluxo enlaçado com o eixo direto.
Φq = fluxo enlaçado com o eixo em quadratura.
Φ0 = fluxo enlaçado com o eixo de seqüência zero.
Ld = indutância de eixo direto.
Lq = indutância de eixo em quadratura.
L0 = indutância de seqüência zero.
id = corrente de eixo direto.
iq = corrente de eixo em quadratura.
i0 = corrente de seqüência zero.
Aplicando a transformação (5.31) nas equações (5.19) a (5.21), obtém-se os seguintes valores para
as tensões do estator referidas às componentes d-q-0:
dΦ d dα
v d = −R s .i d + − Φq . (5.35)
dt dt
dΦ q dα
v q = −R s .i q + + Φd . (5.36)
dt dt
dΦ 0
v 0 = − R s .i 0 + (5.37)
dt
onde:
vd = tensão de eixo direto.
vq = tensão de eixo em quadratura.
v0 = tensão de seqüência zero.
Aplicando a transformação (5.31) nas equações (5.28) a (5.30), obtém-se os seguintes valores para
os fluxos enlaçados do rotor:
3
Φ F = L FF .i F + L FD .i D − .L aF .i d (5.38)
2
3
Φ D = L FD .i F + L DD .i D − .L aD .i d (5.39)
2
5.15
3
Φ Q = L QQ .i Q − .L aQ .i q (5.40)
2
As indutâncias presentes nas equações (5.38) a (5.40), são constantes e independentes da posição
angular do rotor.
As equações de tensão e fluxo enlaçado, apresentadas anteriormente, não estão em uma forma
adequada para aplicação em estudos de sistemas de potência. Nestes, é usual considerar variáveis
normalizadas através de um sistema em por unidade. No caso das máquinas síncronas, a adoção de
um sistema p.u. conveniente permite a eliminação de constantes, simplificando a representação
matemática, além de possibilitar que as equações que descrevem a máquina possam ser expressas
em termos de um circuito elétrico equivalente. Adotando, portanto, uma base adequada pode-se
escrever em p.u. que:
L aF = L aD = L ad
L aQ = L aq
Desta forma a máquina síncrona considerada, com 6 enrolamentos e operando como gerador, pode
ser expressa através do seguinte conjunto de equações algébrico-diferenciais:
dΦ d
v d = −R s .i d + − ω r .Φ q (5.41)
dt
dΦ q
v q = −R s .i q + + ω r .Φ d (5.42)
dt
dΦ 0
v 0 = − R s .i 0 + (5.43)
dt
dΦ F
v F = R F .i F + (5.44)
dt
dΦ D
v D = R D .i D + =0 (5.45)
dt
dΦ Q
v Q = R Q .i Q + =0 (5.46)
dt
Φ d = −L d .i d + L ad .i F + L ad .i D (5.47)
Φ q = −L q .i q + L aq .i Q (5.48)
Φ 0 = −L 0 .i 0 (5.49)
Φ F = L F .i F + L FD .i D − L ad .i d (5.50)
Φ D = L FD .i F + L D .i D − L ad .i d (5.51)
Φ Q = L Q .i Q − L aq .i q (5.52)
Com o intuito de simplificar a notação, foram realizadas as seguintes considerações nas expressões
(5.50) a (5.52): LFF = LF , LDD = LD e LQQ = LQ . A velocidade angular (ωr ), que aparece nas
equações (5.41) e (5.42), pode ser obtida tomando-se a derivada da equação (5.18).
5.16
Para que o conjunto de equações representativas da máquina síncrona fique completo é necessário
que sejam acrescentadas: a equação da potência elétrica fornecida nos terminais do estator, a
equação do conjugado eletromagnético desenvolvido no entreferro e a equação de oscilação do
rotor. Estas expressões são apresentadas a seguir.
Potência Instantânea
A potência instantânea trifásica nos terminais do estator pode ser determinada através da seguinte
expressão:
p = v a .i a + v b .i b + v c .i c (5.53)
Considerando para as tensões e correntes da equação anterior a transformação d-q-0, dada pela
expressão (5.31), e adotando o sistema em p.u. do item anterior, tem-se que:
p = v d .i d + v q .i q + 2.v 0 .i 0 (5.54)
[ ( 2 2
p = − R s . i d + i q + 2.i 0
2
)] + ⎡⎢ dΦdt d
.i d +
dΦ q
dt
.i q + 2.
dΦ 0 ⎤
dt
[ ]
.i 0 ⎥ + ω r .(Φ d .i q − Φ q .i d ) (5.55)
⎣ ⎦
A primeira parcela da equação anterior está relacionada com as perdas no estator. A segunda,
corresponde à variação da energia magnética do estator. Finalmente, a terceira parcela descreve a
potência transferida através do entreferro da máquina.
Conjugado Eletromagnético
A relação entre um conjugado (T) e uma potência (P) pode ser expressa por T = P/ω, sendo ω uma
determinada velocidade angular. Assim sendo, o conjugado eletromagnético no entreferro da
máquina síncrona pode ser obtido através da relação entre a terceira parcela da equação (5.55) e a
velocidade angular mecânica do rotor. Para valores em p.u., pode-se escrever então que:
Te = Φ d .i q − Φ q .i d (5.56)
onde:
Te = conjugado eletromagnético no entreferro da máquina síncrona.
dω r 1
= .(Tm − Te ) (5.57)
dt 2.H
5.17
onde:
H = constante de tempo de inércia do conjunto gerador-turbina [MJ/MVA].
Esta constante relaciona a energia cinética armazenada à velocidade
síncrona, com o MVA de base da máquina.
ωr = velocidade angular elétrica do rotor em p.u.
t = tempo expresso em segundos.
Tm = conjugado mecânico em p.u.
Te = conjugado elétrico em p.u.
À expressão (5.57) podem ser acrescentados os efeitos dos diversos amortecimentos existentes na
máquina e não incluídos no conjugado Te. Esta parcela é denominada conjugado de amortecimento e
é proporcional a variação de velocidade do rotor. Assim sendo, tem-se que:
dω r 1
= .(Tm − Te − D.∆ω r ) (5.58)
dt 2.H
onde:
∆ω r = ω r − ω s
D = coeficiente de amortecimento em p.u.
ωs = velocidade angular síncrona (igual a 1 p.u.).
A posição angular do rotor (α) pode ser escrita de acordo com a expressão (5.18), ou seja, α = ωr .t.
Por outro lado, pode-se definir também um ângulo δ que relacione a posição angular do rotor (α),
com a posição angular de uma dada referência que se movimenta com velocidade síncrona (ωs.t).
Assim, tem-se que δ = α − ω s .t , ou ainda δ = (ω r − ω s ).t . Derivando a equação anterior obtém-se:
dδ
= ω r − ω s = ∆ω r (5.59)
dt
As equações diferenciais (5.58) e (5.59) são as equações de estado que estabelecem as oscilações do
rotor da máquina síncrona.
A constante de tempo de inércia (H), que aparece nas equações (5.57) e (5.58) tem um papel
significativo no comportamento dinâmico dos sistemas elétricos de potência. Pode-se observar
através das equações citadas que, para um desequilíbrio entre os conjugados mecânico e elétrico,
quanto maior for H, menores serão as acelerações resultantes no eixo da máquina. Os valores da
constante de tempo de inércia podem ser obtidos por ensaios de rejeição de carga ou, nos casos de
projeto, através da seguinte expressão:
H = 5,48.10-9.J.n2 / SBASE
onde:
J = momento de inércia das massas girantes (total do eixo)
n = rotação na máquina em rpm
SBASE = potência base em MVA
Com base nas equações apresentadas anteriormente é possível desenvolver diversos modelos
matemáticos para a representação da máquina síncrona. Assim sendo são descritos a seguir cinco
5.18
destes modelos, a saber: (a) modelo E’q, (b) modelo E’q constante, (c) modelo clássico, (d) modelo
de dois eixos e (e) modelo E”.
Uma Força Tarefa do IEEE apresentou em 1986 (IEEE,1986) uma publicação onde foram sugeridos
modelos padronizados para a representação das máquinas síncronas. Um resumo das características
básicas desta padronização é apresentado na tabela 5.1.
Na tabela anterior pode-se observar que a classificação do modelo da máquina considera o primeiro
número como indicativo do número de enrolamentos do rotor localizados no eixo direto
(enrolamento de campo mais enrolamentos amortecedores de eixo direto), enquanto o segundo
número indica a quantidade de enrolamentos do rotor situada no eixo em quadratura (enrolamentos
amortecedores de eixo em quadratura).
Alguns dos modelos, definidos na tabela 5.1, mais utilizados em estudos do comportamento
dinâmico dos sistemas elétricos de potência são apresentados com maiores detalhes em seguida.
O modelo E’q considera a máquina síncrona representada através de três enrolamentos, sendo dois
no eixo direto e um no eixo em quadratura. Destes três enrolamentos, dois expressam o efeito do
estator e são obtidos através da transformação d-q-0. Um deles é localizado no eixo direto (d) e o
outro no eixo em quadratura (q). O terceiro enrolamento (F) é localizado no eixo direto e representa
o campo da máquina síncrona. A figura 5.11 ilustra esta condição.
5.19
iq
Vq
q
d F
d
id iF
Vd VF
Simplificações do Modelo
Ao modelo E’q pode ser associado o circuito elétrico apresentado na figura 5.12.
X'd
I
+
E'q V
_ j ( X q X' ) I q
d
_ +
O modelo E’q pode ser representado através do seguinte conjunto de equações algébrico-diferenciais
não-lineares:
dE' q
dt
=
1
T' d o
[. E FD − E' q −(X d − X' d ).I d ] (5.60)
dδ
= ω r − ω s = ∆ω r (5.61)
dt
dω r
dt
=
1
2.H
[ ]
.{Tm − E' q + (X q − X' d ).I d .I q − D.∆ω r } (5.62)
E' q −V.cos(δ − θ )
Id = (5.63)
X' d
V.sen (δ − θ )
Iq = (5.64)
Xq
Nas equações anteriores tem-se:
A tensão EFD e o conjugado Tm são admitidos constantes, quando não são considerados,
respectivamente, os efeitos dos sistemas de excitação e dos reguladores de velocidade.
5.21
Para a representação das máquinas de pólos lisos, através do modelo E’q, é suficiente adotar a
condição de Xd = Xq , nas equações apresentadas.
Este modelo é obtido através de uma simplificação adicional no modelo E’q, ou seja, considerar
constante a tensão transitória de eixo em quadratura. Este fato faz com que o modelo passe a ser de
segunda ordem.
Considerando constante a tensão E’q nas equações diferenciais (5.60) e (5.62), e utilizando as
expressões (5.61), (5.63) e (5.64), que representam respectivamente, o ângulo δ e as correntes de
eixo direto e de eixo em quadratura, obtém-se o seguinte conjunto de equações:
dδ
= ω r − ω s = ∆ω r (5.65)
dt
dω r
dt
=
1
2.H
[ ]
.{Tm − E' q + (X q − X' d ).I d .I q − D.∆ω r } (5.66)
O circuito elétrico da figura 5.12 pode ser utilizado para representar a máquina síncrona nesta
condição. As máquinas de pólos lisos podem ser representadas pelo mesmo conjunto de equações,
bastando considerar Xd = Xq .
O modelo clássico da máquina síncrona corresponde a um caso particular do modelo E’q constante.
Nele são realizadas duas simplificações adicionais, ou seja:
Xd = Xq (5.70)
E FD = E q = E' q (5.71)
dδ
= ω r − ω s = ∆ω r (5.72)
dt
dω r 1 ⎡ E' q .V ⎤
= .⎢Tm − .sen (δ − θ ) − D.∆ω r ⎥ (5.73)
dt 2.H ⎣ X' d ⎦
5.22
I
+
E'q V
_
O modelo clássico de máquina síncrona pode ser utilizado em estudos de estabilidade de sistemas
elétricos de potência, para representar unidades geradoras afastadas da área principal a ser analisada.
Vq
q
iQ
Q
d F
d
id iF
Vd VF
Simplificações do Modelo
Ao modelo de dois eixos pode ser associado o circuito elétrico apresentado na figura 5.15.
X'd
I
+
E' V
_ j ( X'q X' ) I q
d
_ +
O modelo de dois eixos da máquina síncrona pode ser representado através do seguinte conjunto de
equações algébrico-diferenciais não-lineares:
dE' d
dt
=
1
T' q o
[
. − E' d + (X q − X' q ).I q ] (5.74)
dE' q
dt
=
1
T' d o
[. E FD − E' q −(X d − X' d ).I d ] (5.75)
dδ
= ω r − ω s = ∆ω r (5.76)
dt
dω r
dt
=
1
2.H
[ ]
.{Tm − E' d .I d + E' q .I q + (X' q −X' d ).I d .I q − D.∆ω r } (5.77)
5.24
E' q −V.cos(δ − θ )
Id = (5.78)
X' d
V.sen (δ − θ ) − E' d
Iq = (5.79)
X' q
A tensão EFD, expressa em (5.75), e o conjugado mecânico Tm, que aparece na equação (5.77), são
admitidos constantes, quando não são considerados os efeitos dos sistemas de excitação e dos
reguladores de velocidade, respectivamente.
q
iq
Vq
q
iQ
Q
d F D
d
id iF iD
Vd VF
Simplificações do Modelo
I
+
E" V
_
Equações do Modelo E”
O modelo E” da máquina síncrona pode ser representado através do seguinte conjunto de equações
algébrico-diferenciais não-lineares:
dE"d
dt
=
1
T" q o
[
. − E"d + (X q − X"q ).I q ] (5.80)
dE' q
dt
=
1
T' d o
[. E FD − E' q −(X d − X' d ).I d ] (5.81)
dE"q
dt
=
1
T" d o
[
. E' q −E"q −(X' d − X"d ).I d ] (5.82)
dδ
= ω r − ω s = ∆ω r (5.83)
dt
dω r
dt
=
1
2.H
[
.{Tm − E"d .I d + E"q .I q − D.∆. ] r } (5.84)
E"q −V.cos(δ − θ )
Id = (5.85)
X"d
V.sen (δ − θ ) − E"d
Iq = (5.86)
X"q
A tensão EFD, expressa em (5.81), e o conjugado mecânico Tm, que aparece na equação (5.84), são
admitidos constantes, quando não são considerados os efeitos dos sistemas de excitação e dos
reguladores de velocidade, respectivamente.