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SUMÁRIO
Apresentação ................................................................................................3
1. Introdução .................................................................................................6
1.1. Entendendo a situação ...............................................................................6
2. Pensando estratégias para o retorno .........................................................8
2.1 Orientações pós-pandemia, na perspectiva da Educação Especial Inclusiva ..........8
3. Concluindo ...............................................................................................15
Referências ..................................................................................................16

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Apresentação

O isolamento social em virtude da pandemia da Covid-19 tem sido uma estratégia


estruturada para conter o surto e minimizar a crise sanitária que o Brasil atravessa. É importante
ainda dar continuidade aos cuidados, seguindo as indicações das autoridades da saúde para o
nosso bem e o bem de todos.
Este Guia de Orientações que chega a você é uma contribuição, ainda que singela, das
editoras Ática, Saraiva e Scipione e dos Sistemas de Ensino Anglo, Maxi e Ser, para as redes de
ensino que os acolhem, agem dando-lhes credibilidade e se apoiam em suas propostas e em seus
materiais didáticos, para levar o que há de melhor para todos os estudantes.
Serão apresentadas algumas propostas e possibilidades de atividades, que contemplam
os eixos de trabalho envolvendo todas as etapas de ensino, desde a Educação Infantil até o Ensino
Médio, passando pela Educação de Jovens e Adultos ─ EJA e por reflexões expressivas acerca da
Educação Especial e do Processo Avaliativo. Publicaremos os e-books semanalmente na
plataforma e-docente. Acompanhe as publicações e tenha um documento completo para o seu
retorno.
No e-book direcionado à Gestão Pedagógica, estruturamos dicas de planos consistentes
para que os técnicos de secretarias e equipes gestoras das Unidades Escolares tenham elementos
para compor e recompor as ações do cotidiano no período de pós-pandemia. Nesse documento,
o leitor contará com planos de trabalho que abarcam a complexidade de estruturar essas
propostas macro, considerando a rede, a escola e as pessoas que as compõem. Procuramos trazer
exemplos claros e práticos que sirvam de ponto de partida para os responsáveis pelas tomadas
de decisões, por vezes tão desafiadoras.
No segundo e-book dessa série de documentos, estruturamos possibilidades de trabalho
afetivas e cognitivas para o atendimento à Educação Infantil, em diálogos fecundos que podem
ser levados aos gestores e às famílias. Implementar uma prática pedagógica que cultive as
necessidades de respeito às culturas da infância e que ao mesmo tempo trate do brincar, do
cuidar e do educar, como ações indissociáveis, foram foco dessa produção. Dicas de
possibilidades de ações, bem como encaminhamentos para as Unidades foram expressas de
maneira didática para ajudar você a planejar estratégias para a reestruturação dos trabalhos.
No terceiro e-book, oferecemos sugestões de estruturação de trabalho para os Anos
Iniciais do Ensino Fundamental. Nesse segmento, está a grande responsabilidade pela
alfabetização e os cuidados para a estruturação e compreensão de textos de diferentes ordens
para dar acesso ao sujeito aos atos de cidadania. Organizamos, além de questões conceituais
sobre esses processos, algumas possibilidades de trabalho que podem servir de referência para
os professores no retorno às aulas.
No quarto e-book, o foco são os Anos Finais do Ensino Fundamental. As orientações
oferecidas estão a favor do processo de desenvolvimento integral dos estudantes e poderão ser
utilizadas como um apoio para a retomada das atividades escolares, tentando diminuir o impacto
causado pelo longo período de suspensão das atividades regulares. O intercruzamento das áreas
de conhecimento, a linguagem direta, envolvendo as questões da pandemia e o caráter implicado
nas competências socioemocionais foram elementos importantes nessa construção.
No quinto e-book, trabalhamos em propostas para o Ensino Médio, nossas indicações
contemplam ideias acerca dos projetos pessoais e dos projetos integradores como pontos de

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partida para a reinserção dos jovens nas discussões, no contexto escolar. Acreditamos que a
própria pandemia pode mobilizar esse público em ações que culminem em desenvolvimento de
competências relevantes para esse segmento. Nos concentramos em apoiar as reflexões em
torno do desafio: como podemos, como profissionais da educação, minimizar os impactos e
oferecer maneiras eficazes de concluir os conteúdos programados para o ano letivo?
No sexto e-book, trazemos indicações para o público de Educação de Jovens e Adultos.
Consideramos, na maior parte das vezes, senão em sua integralidade, que esse público já está no
mercado de trabalho, e o aprimoramento educacional é uma importante ferramenta, não só para
maximizar o exercício da cidadania, mas também para ajudar esse público a se reposicionar no
mercado de trabalho tão severamente agredido pelas consequências, nunca antes sentidas pela
sociedade, na economia mundial.
Neste sétimo e-book, destacamos questões próprias da Educação Especial com pontos
de atenção para possibilitar a reflexão acerca de propostas flexibilizadas que deverão ser
realizadas no retorno das atividades presenciais, desde que cuidadosamente planejadas e
considerando o direito de todos à Educação.
Para finalizar, refletiremos sobre o Processo Avaliativo e como poderemos repensar a
avaliação e seus instrumentos, nesse processo de retorno às Unidades Escolares e à prática
pedagógica presencial.
Gostaríamos de dar destaque à participação das famílias nas decisões das escolas como
elemento de profunda empatia e exercício de gestão democrática. Essa estratégia pode se
mostrar uma ferramenta importante nesse momento no qual necessitamos tanto da escuta
atenta, do olhar afetivo e das tomadas de decisões de maneira ponderada, organizada e
consistente.
Esperamos que este material agregue valor à sua rede/escola. Colocamo-nos à
disposição.
Bom trabalho!

Equipe de Assessoria Pedagógica

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1. Introdução
1.1. Entendendo a situação

Durante um período importante da pandemia causada pela Covid-19, toda a sociedade


não envolvida com os serviços essenciais, para a manutenção da saúde, alimentação e
transporte das pessoas, foi orientada (em alguns casos, obrigada) a manter o máximo de
isolamento social possível. O objetivo foi amenizar a velocidade de contaminação promovida
pela Covid-19 e não impactar o atendimento dos postos de saúde e hospitais, UTIs, com um
volume de contaminados maior do que poderiam atender, causando seu colapso, e, em
decorrência, um número de óbitos maior.
As atividades escolares estão entre as primeiras a serem interrompidas, para a proteção
dos próprios alunos e a proteção dos profissionais da Educação, tendo em vista que, mesmo
com menor probabilidade de contaminação do que pessoas mais velhas ou pessoas com
comorbidades, os estudantes são também atingidos massivamente, com número de óbitos
expressivo nesta faixa etária no mundo todo (ênfase importante neste isolamento há que ser
dada à proteção dos alunos com deficiência, pois muitos possuem uma vulnerabilidade maior
em relação à saúde geral).
E os profissionais da Educação ficariam superexpostos, tanto no traslado como na
execução de seu ofício em sala de aula e junto aos outros profissionais. É importante considerar
também o isolamento como estratégia para que alunos e profissionais da Educação não
transportassem o vírus, das escolas, das ruas, dos meios de transporte para suas casas,
contaminando seus familiares.
Dessa forma, as escolas, espaços privilegiados para a construção do aprendizado e do
desenvolvimento infanto-juvenil, permaneceram fechadas, e menos atividades pedagógicas
foram desenvolvidas, neste período. Muitas delas continuaram a oferecer alimentação às
crianças e famílias que necessitavam, contudo, o ensino a distância se efetivou?
Tudo foi muito rápido! Não tivemos tempo para um preparo procedimental e aporte
tecnológico. E a estrutura física de muitas moradias e a situação econômica de muitas famílias
dos alunos de escolas públicas não comportam esse ensino, no momento. Essa estruturação
demandaria muito tempo e dinheiro.
Na data em que este material está sendo escrito, não dá ainda para prever até quando
as escolas ficarão fechadas. Há notícias vindas de fontes do Governo Federal, e aí não sabemos
se estão sustentadas somente por desejos, ou se já haverá condições de se iniciar uma
flexibilização. Tudo dependerá de como a curva de contaminação vai se comportar, nas

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próximas semanas, e se o sistema de saúde dará conta de um aumento de pessoas necessitando
de atendimento em consequência de uma flexibilização.
Há outro grupo de opiniões, sustentado por cientistas e médicos ligados às ações
efetivas do sistema de saúde, que indicam que a proteção das crianças, dos profissionais da
Educação e seus familiares deve durar mais tempo. Este grupo, inclusive ironiza a pressa de
outros, fazendo uma metáfora face a um isolamento social parcial, dizem que este seria tão
eficiente quanto determinar um canto da piscina para que todos possam fazer xixi, ou seja, todos
ao cabo seriam contaminados... Opiniões divergentes à parte, a orientação que as escolas têm
seguido é a do isolamento e fechamento de suas portas por enquanto, com algumas iniciativas
de utilização de plataformas on-line.

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2. Pensando estratégias para o retorno
2.1 Orientações pós-pandemia, na perspectiva da Educação Especial Inclusiva

Em algumas semanas ou meses, as escolas reabrirão, as aulas voltarão, e é importante


que saibamos e divulguemos que a Covid-19 continuará entre nós, por um tempo, até que todos
estejamos imunizados, alguns porque já foram contaminados e se curaram e outros porque
vacinas seguras e eficientes foram desenvolvidas e aplicadas na população. Nesse contexto,
teremos que continuar a proteger aqueles não imunizados, especialmente os idosos e os que
apresentam comorbidades que facilitem o agravamento da Covid-19.
Para já, portanto, para esta volta às aulas que se avizinha, a situação é de convívio com
o vírus. Isso significa que a escola e seus funcionários, de maneira geral, e em particular os
professores – principal mediador entre os alunos e o conhecimento – têm um enorme desafio
pela frente, que transborda questões pedagógicas, de estrutura, de aprendizado: a delicada
missão de zelar pela saúde e pela vida dos alunos, seus familiares e de si mesmos! E não para
por aí, quando incorporamos nestas preocupações as particularidades do segmento de alunos e
funcionários que têm alguma deficiência, o desafio é mais delicado ainda, as ações têm que ser
planejadas e executadas com muito mais cuidado, com rigorosa disciplina, pois certos tipos de
deficiência deixam a pessoa mais suscetível a que a doença Covid-19 acometa com mais
gravidade, inclusive com maior possibilidade de óbito.
De antemão, todos têm que estar dispostos a operar mudanças profundas em suas
práticas e em suas preocupações, assumindo o compromisso e a responsabilidade de incorporar
atividades e comportamentos que este mundo pandêmico agora nos impõe. Várias medidas
excepcionais de cuidados com a saúde vão ser divulgadas pelas Secretarias de Educação e pelas
Secretarias da Saúde e devem ser seguidas com rigorosidade metódica para diminuir o contágio,
tais como uso de álcool em gel a 70%, uso correto de máscaras, distanciamento regulamentar
de ao menos um metro e meio, maneiras corretas de se comportar nas ruas, nos transportes
coletivos, procedimentos que deverão seguir com responsabilidade quando chegarem em casa,
principalmente nas moradias onde coabitam idosos ou pessoas com doenças/comorbidades que
as fragilizem para o vírus etc. E quando se tratar de alunos ou funcionários com deficiência, mais
rigor ainda!
O Conselho Nacional de Saúde (CNS), em sua Recomendação número 19, de 6 de abril
de 20201, lembra que o Brasil é signatário da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com

1
Fonte: <http://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1095-recomendacao-n-019-de-06-
de-abril-de-2020>. Acesso em: 8 jul. 2020.

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Deficiência, que foi recepcionada com status de emenda constitucional, e ressalva, entre outras
coisas:
1) que o Estado tomará “todas as medidas necessárias para assegurar a proteção e a
segurança das pessoas com deficiência, inclusive as que se encontrarem em situação de risco...”;
2) que, segundo o Censo de 2010, são “... 45,6 milhões de pessoas que declaram ter ao
menos um tipo de deficiência...”;
3) “... que são poucos dados sobre a infecção por Covid-19 em pessoas com deficiência...”
e outras condições debilitadoras;
4) que várias das condições físicas observadas nas pessoas com deficiência “podem
dificultar a recuperação destas pessoas” ou aumentar “o risco de contágio dessa população”.
Assim, o Pleno do Conselho Nacional de Saúde fez várias recomendações aos vários
Ministérios que atuarão nesse sentido, dando as prioridades necessárias a cada área, para o
atendimento da população com deficiência.
No que se refere às atividades pedagógicas dos alunos submetidos à Educação Inclusiva,
os alunos com altas habilidades/superdotação, com deficiência ou com transtorno do espectro
autista serão atendidos pela modalidade de Educação Especial Inclusiva (por vezes chamada
apenas de Educação Especial ou de Educação Inclusiva), de maneira a assegurar a adoção de
práticas educativas e de acolhimento segundo as medidas de acessibilidade em vigor. Devemos
nesse momento assumir que, no período de isolamento, mesmo que tenham sido instituídas
atividades on-line, estas não atingiram seus objetivos em se tratando de alunos com deficiência.
As tecnologias digitais não são plenamente acessíveis. Alunos surdos têm dificuldade, pois as
plataformas podem não ter legendas ou traduções em Libras. Se fazem leitura labial, em sala de
aula, esta pode ter sido prejudicada pelo tamanho da tela. Os cegos também podem ter sofrido
com o ‘visocentrismo’ que impera nas mídias: aulas com apelos visuais, fotos, desenhos, sem ter
a correspondente audiodescrição não permitem ao cego “ver” o conteúdo. Além desses
exemplos, todos os outros casos de deficiência, como deficiências intelectuais e autismos vão
sempre demandar um apoio para o acompanhamento das aulas em casa. Os familiares se
esforçam, mas muitas vezes, principalmente pensando num recorte socioeconômico menos
privilegiado, terão muita dificuldade em colaborar. Lembremos que o artigo 9º da Lei Brasileira
de Inclusão ─ LBI (Lei 13.146/2015)2 garante a igualdade de condições às pessoas com
deficiência, logo essas ações devem ser feitas sempre de forma equânime.

2
Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso
em: 8 jul. 2020.

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Assim, admitindo que o prejuízo para os alunos com deficiência foi grande durante a
pandemia, as instituições de ensino devem estar atentas à devida compensação nesse sentido
e devem estar mais atentas aos cuidados que a volta ao convívio social vai exigir em relação aos
que têm alguma deficiência. É o que nos traz o artigo 10 da LBI (2015):

Compete ao poder público garantir a dignidade da pessoa com deficiência ao


longo de toda a vida.
Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou estado de calamidade
pública, a pessoa com deficiência será considerada vulnerável, devendo o
poder público adotar medidas para sua proteção e segurança.

O atendimento educacional especializado deverá ser garantido, mobilizado e orientado


pelos professores regentes em articulação com as famílias. Essa articulação de todos é
fundamental para que se investigue sobre cada aluno com deficiência, individualmente, para
que se conheça em detalhes, de maneira metódica e responsável, todas as vulnerabilidades que
cada um possa ter na hipótese de contrair a Covid-19. Há que se descobrir se a deficiência que
aquele aluno possui inclui um quadro autoimune, ou de deficiência respiratória, cardíaca,
hepática, renal... enfim, é importante que os profissionais da escola tenham claro que cada
aluno com deficiência é diferente do outro e tem que ter seu atendimento individualizado, para
que não seja exposto perigosamente, por ignorância sobre suas reais condições de saúde.
Assim, por exemplo, sabemos que todos os alunos cegos ou com visão bastante
reduzida devem ser orientados a lavar enérgica, demorada e constantemente as mãos e tentar
evitar ou, se possível, eliminar o hábito de levar as mãos ao rosto, isso porque, como
consequência da deficiência visual eles necessitam tocar nas coisas para se orientar, com uma
frequência muito maior do que as pessoas videntes. Essa é uma medida de segurança de caráter
geral, para cegos, bastante importante e pode salvar vidas, mas não é apenas assim que
devemos agir. Cada cego é diferente do outro, e eles têm diferenças muitas vezes radicais entre
si: um pode gozar de excelente saúde, ser até paratleta, e ter ficado cego por lesão nos olhos
em um acidente; outro pode ter uma saúde geral bastante precária, com várias comorbidades
respiratórias, cardíacas e vasculares e ter ficado cego como consequência de contaminação pelo
vírus HIV. Observem que as orientações gerais serão de ótima valia para ambos, mas, no
segundo caso, com certeza algo mais radical tem que ser feito para protegê-lo, inclusive
educadores e família estudarem se não é o caso de prorrogarem por mais um tempo o
isolamento social, neste caso a família sendo orientada sobre algumas alternativas de estudo
domiciliar, para que o aluno não fique por tanto tempo afastado das atividades escolares.
Outro exemplo interessante é o de dois alunos adolescentes surdos, ambos sem
nenhuma oralidade, estudantes do nono ano. Contudo, um deles se comunica muito bem com

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surdos e com ouvintes, muito bem habilitado para a compreensão das orientações que serão
dadas sobre os cuidados que deverão ter para prevenir-se à contaminação pela Covid-19. O
outro, por seu lado, diferentemente do primeiro, tem bastante dificuldade de comunicação,
inclusive denotando alguma deficiência cognitiva. Também nesse caso em que dois alunos com
deficiência têm muita coisa parecida, inclusive a própria deficiência, as diferenças cognitivas e
de comunicação determinam procedimentos bastante diferentes no cuidado com cada um
deles.
Mesmo quando consideramos deficiências físicas, não sensoriais, podemos nos
surpreender com a radicalidade das diferenças, no que tange à preocupação com a pandemia.
Dois cadeirantes inteligentes, socialmente integrados, participantes ativos da comunidade
escolar: um teve paralisia infantil, mas é capitão do time de basquete sobre rodas, nadador de
travessias marítimas, saudabilíssimo, sem qualquer comorbidade; o outro é o melhor aluno da
classe, mas sua paraplegia vem de uma doença autoimune chamada neuromielite óptica,
crônica, degenerativa, e por ser autoimune é uma comorbidade gravíssima quando se trata da
Covid-19.
Estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm muita diferenciação dentro
do nível do Espectro do Autismo. Teremos os que possuem uma compreensão de realidade
muito boa, que compreendem os perigos da contaminação e atendem às regras, para seu
autocuidado. No entanto, muitos casos de autistas, até pelo seu estado de voltar-se para si
mesmo e de terem, constantemente, de realizar atos e movimentos de autorregulação, muitas
dessas estereotipias podem estar ligadas a colocar objetos ou as próprias mãos à boca. Nesse
momento de volta ao social, esses atos podem ser muito preocupantes. Também a equipe
responsável pela Educação Especial Inclusiva deve se dedicar a estratégias referentes à mudança
nas rotinas dos estudantes com TEA, pois, por terem ficado tanto tempo em suas casas e na
companhia dos familiares mais próximos, todo um esquema de reacolhimento na escola para a
readaptação desses alunos deve ser desenvolvido.
Também é importante considerarmos que uma parcela significativa dos alunos, devido
ao período de isolamento social, muitas vezes em ambientes familiares nada salutares física e
psicologicamente, irão desenvolver sintomas de estresse pós-traumático. Esses alunos,
somados aos que podem ter agravados outros quadros de doença mental, de deficiência mental
ou de deficiência intelectual, devem ser devidamente tratados ou cuidados por uma assistência
profissionalizada, em parceria com as famílias. Esses segmentos certamente serão constituídos
pelos alunos que mais necessitarão da atenção de todos, pela complexidade particular de cada
quadro e pelas dificuldades de soluções no ambiente escolar no curto prazo, pois as respostas
desses tipos de tratamentos e intervenções raramente são rápidas como essa empreitada exige.

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Então, teremos que avaliar coletivamente cada situação e, se for o caso, na práxis, desenvolver
outros procedimentos que deem conta de minimizar a instabilidade emocional e o sofrimento
dos alunos.
Todas as ações específicas relativas à pandemia, à educação e ao cuidado com cada
aluno com deficiência devem ser bem planejadas e contar com a colaboração e cooperação de
todos, inclusive do corpo discente. Para tanto, é fundamental que todos os alunos da escola
sejam bem esclarecidos sobre o vírus e a pandemia e, também sejam esclarecidos sobre cada
aluno com deficiência da sua sala e sobre as formas de ajudá-los a se protegerem. Obviamente,
tudo isso com a anuência dos alunos com deficiência, sem constrangimentos, com soluções
criadas coletivamente estimulando a participação de todos.
As informações sobre a pandemia devem ser adaptadas para cada faixa etária e
para cada tipo de deficiência, segundo seus universos de referência, seus repertórios, suas
habilidades e capacidades de compreensão.
Em todos esses casos, a lida dos educadores deverá ter como característica
principalmente dois aspectos: 1) Foco disciplinado e comprometido nos princípios que
nortearão a segurança máxima possível dos alunos face à pandemia e 2) Criatividade para poder
desenvolver todas essas demandas importantíssimas exigidas pelo momento e, ao mesmo
tempo, ministrar os conteúdos programáticos para o ano letivo no tempo que restou para
contemplá-los.
Sobre o conteúdo obrigatório referente a cada ano, as Secretarias da Educação irão
orientar os professores sobre adaptações do currículo que poderão ser realizadas neste ano de
2020, de maneira que seja exequível pelo professor e o menos prejudicial possível aos alunos.
Sem dúvida, a criatividade aqui será fundamental.
Outro fato a ser considerado como certo e que também exigirá grande criatividade,
tanto por parte da gestão escolar, como por parte dos professores em sala de aula, é a queda
abrupta na arrecadação de tributos por parte do poder público, resultado da recessão
provocada pela queda na receita da indústria, do comércio e, principalmente do setor de
serviços, responsável por quase dois terços do PIB. Espera-se, portanto, que os investimentos
em Educação, para este restante de 2020, remonte a níveis baixíssimos, basicamente à folha de
pagamento e merenda escolar. A esperança é que as verbas destinadas à Educação Especial
sejam mantidas, e isso ocorrerá de formas diferentes nas diferentes localidades. No entanto,
será necessário nessa hora acionar toda a experiência, energia e criatividade para desenvolver
atividades interessantes, inovadoras, alternativas sem custo, para que o processo de ensino e
aprendizagem ocorra satisfatoriamente, em ambiente seguro e salutar.

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Diante dessa realidade de 2020 imposta pela pandemia, logicamente é
compreensível que os objetivos de aquisição de conhecimentos e de desenvolvimento de
habilidades e posturas atitudinais éticas e esteticamente desejáveis requerem tempo. Assim,
não é uma questão de comprimir os conteúdos num espaço de tempo exíguo e... matéria dada!
Temos que pensar menos em horas e conteúdos e mais em processos nos quais seria
interessante que os alunos fossem habilitados, pensando prioritariamente em seu
desenvolvimento geral. É reorganizar a demanda que tínhamos no início do ano, apropriando-a
na medida da nova situação, com novos procedimentos e novos objetivos. Essa reorganização
pode até incluir uma parte importante de atividades a serem desenvolvidas fora da escola,
preferencialmente em casa, mas não nos esqueçamos de que as condições das casas e das
famílias de muitos dos alunos não favorecem esse tipo de ação. Portanto, tem que ser algo
importante, para ser estimulante, e de realização rápida, que não necessite de recursos nem de
auxílio de familiares, pois esses no período pós-isolamento voltarão aos seus trabalhos e talvez
numa rotina mais atribulada, para tentar compensar o tempo que ficaram parados.
De qualquer maneira, a comunidade escolar deve se reunir e estudar uma forma
de fundir 2020 e 2021, tanto no tempo dedicado à educação dos alunos, como nas metas
estipuladas para cada período letivo, tornando-os como que complementares. No caso dos
estudantes dos anos finais das etapas, que chegaram ao fim de um ciclo e têm a perspectiva da
continuidade dos estudos, não deve haver dificuldades em se pensar em uma alternativa
satisfatória. Nesses casos, os estudantes já estão há mais tempo convivendo no ambiente
escolar e terão menos dificuldade em relação a readaptações do que aqueles que participam a
menos tempo do ambiente escolar.
O Conselho Nacional de Educação, respondendo à questão sobre como deverá ser feita
a reposição das aulas perdidas neste período de isolamento social, diz que as decisões devem
ser tomadas no âmbito dos estados e municípios, pois são nessas esferas que são sopesadas as
possibilidades de solução, em vista da realidade concreta de cada cidade e cada escola.
Não podemos desconsiderar, apesar de toda tensão do momento, que o fato de estar
havendo a volta às aulas vai ser importantíssimo para todos, alunos, familiares e profissionais
da educação, supondo-se que o retorno será em momento adequado. O contato com os colegas,
a sensação de normalidade, o alívio de toda a família que experimentou longo período de
exceção, por vezes de opressão, o retorno ao trabalho dos que puderem retornar, dos que
tiverem um trabalho para o qual retornar, e também, sem dúvida, o retorno para o espaço
privilegiado para o estudo, para o aprendizado.
Independentemente das condições estruturais da escola, ela é um ambiente seguro e
acolhedor para a maioria dos alunos, principalmente para os que não têm uma situação familiar

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agradável e, mais ainda, para aqueles em situação de rua. Este, inclusive, é um momento
psicológico que pode ser muito bem aproveitado pelos professores para favorecer o processo
de ensino-aprendizagem. Muitos especialistas em Educação têm discutido essas novas questões
que este vírus nos obriga a encarar:

A educação se realiza no processo de ensino-aprendizado. Os alunos


aprendem com os professores, mas também entre si. Essa é a regra. Pode
haver exceções? Sim. Mas são raras. A educação é um processo presencial e
é um direito. Durante o isolamento social, só é possível complementar o
ensino. A educação acontece melhor quando há vínculo... (FURLANETO,
2020)3.

Dainez e Smolka (2014)4, em artigo sobre a concepção de compensação social para


Vigotski, defendem a essencialidade do trabalho de escolarização do estudante com deficiência:

[...] é a produção de uma ação que torna possíveis novas formas de


participação da pessoa na sociedade. Por meio dessa discussão, (Vigotski)
aborda o problema da educação da criança com deficiência e as
possibilidades de seu desenvolvimento como responsabilidade do meio
social. (DAINEZ, SMOLKA, 2014, p. 1097).

A concepção sobre deficiência é social. É a escola, com sua função humanizadora, ou


seja, função de tornar humanos seus alunos e alunas, principalmente neste momento, com suas
ações intencionalmente dedicadas a esse retorno, é quem continua a ter o protagonismo na
educação integral dos estudantes com deficiência. Nesse retorno é redobrado esse papel
desempenhado pelas escolas.

3
Fonte: <globo.com/sociedade/coronavírus-servico/covid-19-especialistas-discutem-rumos-da-
educacao-brasileira-após-fim-do-isolamento-social-1-24364206>. Acesso em: 8 jul. 2020.
4
Fonte: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v40n4/15.pdf>. Acesso em: 8 jul. 2020.

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3. Concluindo

Assim, como educadores, membros atuantes em nossas comunidades escolares,


devemos compreender colaborativamente nossos papéis no cumprimento da função inclusiva
em nossas escolas. Mais do que nunca, a velha noção de que não há “a” receita para os alunos
com deficiência será a melhor maneira de pensar.
O conhecimento que temos sobre cada um dos estudantes e sobre suas necessidades
específicas será o norte fundamental para engendrarmos atividades e darmos continuidade nos
currículos.
Compreendendo de forma biopsicossocial nossos estudantes com deficiência,
compreendendo que este retorno será um novo início, a ação coletiva participativa deve ser
mais estimulada, e essa ação deve ser acionada, primordialmente, pela comunicação entre
professores das salas de recursos multifuncionais e professores das salas regulares. Esta é uma
excelente oportunidade para enaltecer a escola como instituição, utilizando este momento de
valorização, de afetividade, como incentivo à participação mais entusiasmada dos estudantes e
de toda a comunidade escolar.

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Referências

BRASIL. Lei Brasileira de Inclusão. Lei 13.146/2015. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 8
jul. 2020.

CNS. Conselho Nacional de Saúde. RECOMENDAÇÃO Nº 19, de 6 de abril de 2020. Recomenda


medidas que visam a garantia dos direitos e da proteção social das pessoas com deficiência e de
seus familiares. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1095-
recomendacao-n-019-de-06-de-abril-de-2020>. Acesso em: 8 jul. 2020.

DAINEZ, D. SMOLKA, A.L.B. O conceito de compensação no diálogo de Vigotski com Adler:


desenvolvimento humano, educação e deficiência. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 40, n. 4, p. 1093-
1108, out./dez. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v40n4/15.pdf>. Acesso em:
8 jul. 2020.

FURLANETO, A. Covid-19: especialistas discutem rumos da educação brasileira após fim do


isolamento social. Disponível em: <globo.com/sociedade/coronavírus-servico/covid-19-
especialistas-discutem-rumos-da-educacao-brasileira-após-fim-do-isolamento-social-1-
24364206>. Acesso em: 8 jul. 2020.

MEC. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação esclarece principais dúvidas sobre
o ensino no país durante pandemia da Covid-19. Matéria disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-programas-e-projetos-
637152388/87161-conselho-nacional-de-educacao-esclarece-principais-duvidas-sobre-o-
ensino-no-pais-durante-pandemia-do-coronavirus>. Acesso em: 8 jul. 2020.

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