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SÉRIE
situações de
‘desastres’
requerem
assistentes
sociais.
E agora?
N
este mês de março de 2022, completam-se dois
anos desde que a Organização Mundial de Saúde A responsabilidade ética e a
(OMS) declarou o estado de pandemia de Co- leitura crítica
vid-19. Neste contexto de crise, que não é só
sanitária, mas social, econômica, ambiental e po- O Código de Ética do/a Assistente Social, no artigo 3º, alínea
lítica, grande parte da categoria de assistentes sociais foi con- d, prevê a participação da categoria nas situações de cala-
vocada para atuar na chamada linha de frente, para atender midades: “participar de programas de socorro à população
às camadas sociais mais expostas à situação de calamidade. em situação de calamidade pública, no atendimento e defesa
Situação essa que não se resumiu só à questão sanitária. de seus interesses e necessidades”. Contudo, há que se fazer
Em dezembro, janeiro e fevereiro, os estados da Bahia, Minas uma leitura das provisões deste artigo sob a perspectiva da
Gerais e Rio de Janeiro foram atingidos por temporais que atuação crítica.
alagaram municípios, causando desmoronamentos, rompi- A ausência das condições mínimas de moradia, com segu-
mento de barragens e encostas, que resultaram em centenas rança e dignidade para um número considerável da classe tra-
de mortes e milhares de famílias desabrigadas. balhadora, especialmente a mais precarizada, são reflexos da
Então, para se falar do trabalho de assistentes sociais em própria lógica do capital, produtora de desigualdade e pobre-
situações de calamidades, em primeiro lugar, é necessário afir- za, associada à ausência de compromisso do Estado neoliberal
mar: a crise ambiental é resultante do modelo capitalista e da na implementação de políticas públicas que tragam soluções
sua ganância infinita e sem limites, voltada à exploração exa- efetivas e permanentes para as demandas dessas populações.
cerbada das diversas frações da classe trabalhadora e do plane- Dessa forma, as práticas político-institucionais adotadas
ta, necessárias para o processo de acumulação no capitalismo. pelo Estado concorrem para vulnerabilizar certos grupos so-
O processo de desenvolvimento econômico se dá na cria- ciais. E uma apreensão sem um olhar crítico sobre esse pro-
ção de zonas de sacrifício. Desenvolve-se sacrificando pesso- cesso contribui para individualizar e culpabilizar os sujeitos
as, sacrificando os corpos. Esses corpos têm classe, cor, raça, pelas adversidades que os acometem.
gênero e etnia. Por isso, uma das tarefas da categoria nesse processo é,
Não à toa, a legislação ambiental vem sendo fragilizada, por meio da dimensão investigativa do trabalho profissional,
ignorando a existência dos povos e comunidades originárias colaborar para a construção de respostas que se distanciem
e tradicionais, do que se evidencia o desmantelamento das de ações pontuais, fragmentadas, imediatistas, com base no
legislações brasileiras, a entrega da Amazônia a madeireiros, argumento de que se trata de situações esporádicas, inespe-
grileiros, garimpeiros e dos territórios para multinacionais. radas e inevitáveis. Nas situações de calamidades, é certo que
Este é o chamado racismo ambiental, que expressa a carga as mais diversas expressões da “questão social” já presentes
desproporcional dos riscos, dos danos e dos impactos sociais nos territórios se ampliam e se agudizam.
e ambientais sobre os grupos étnico-raciais mais vulneráveis. E mesmo diante de situações de calamidades que exi-
Portanto, quando se fala em situações de calamidades, é gem respostas profissionais imediatas e, na maioria das ve-
preciso compreender que não se trata de “desastres naturais”, zes, nunca vivenciada por assistentes sociais, a profissão
eventos isolados, inesperados, casuais, descolados da socia- oferece fundamentos teórico-metodológicos, ético-políticos
bilidade burguesa. e técnico-operativos que asseguram o trabalho profissional
O que é chamado de “calamidade” ou “desastre” faz par- na direção de construção de respostas qualificadas frente às
te de uma histórica política desigual de acesso às riquezas mais diversas demandas.
Brasília (DF), 21 de março de 2022 O trabalho de assistentes sociais em situações de calamidades CFESS Manifesta
Instrumental em mãos e
articulação com movimentos
sociais
Gestão Melhor ir à luta com raça e classe em defesa do Serviço Social (2020-2023)
Presidenta Elizabeth Borges (BA) Suplentes CFESS MANIFESTA
Vice-presidenta Maria Rocha (PA) Elaine Pelaez (RJ) O trabalho de assistentes sociais em situações de
1ª Secretária Dácia Teles (RJ) Carla Pereira (MG) calamidades
2ª Secretária Daniela Möller (PR) Mauricleia Soares (SP) Conteúdo (aprovado pela diretoria):
NOSSO ENDEREÇO
SHS Quadra 6 - Bloco E -
1ª Tesoureira Kelly Melatti (SP) - licenciada Agnaldo Knevitz (RS) Comissão de Orientação e Fiscalização (Cofi)
Complexo Brasil 21 - 20º Andar 2ª Tesoureira Franciele Borsato (MS) Dilma Franclin (BA) CRESS-MG
CEP: 70322-915 - Brasília - DF Emilly Marques (ES) Organização: Comissão de Comunicação
Fone: (61) 3223-1652 Conselho Fiscal Ruth Bittencourt (CE)
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Revisão: Diogo Adjuto
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