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Fases da psicoterapia:

fenômenos do campo
analítico
EIZIRIK, C. L., AGUIAR R. W, SCHESTATSKY, S. S. Psicoterapia
de orientação analítica: fundamentos teóricos e clínicos.
Porto Alegre: ArtMed, 2015
Psicoterapia de Orientação Psicanalítica

A psicoterapia de orientação analítica, a exemplo da psicanálise, pode ser


estudada de acordo com suas três fases:

Início; Etapa intermediária; Término


✓Dicotomia confiança- • Resolução de conflitos; • Luto pela separação.
desconfiança;
Fase inicial
• Definição:
• Etapa que se estende do primeiro contato do paciente com o
terapeuta ate o estabelecimento de uma aliança terapêutica sólida.
• Pode ocupar algumas sessões ou perdurar por meses.
• Levar em consideração
• As características da personalidade do paciente ;
• Habilidades do terapeuta em manejar as questões dessa etapa
Preocupações

• Motivação;
• Recursos egóicos;
• Metas terapêuticas

• Não se pode considerar a etapa inicial


como concluída
• enquanto está sendo cogitada a
possibilidade de realização de uma
psicoterapia de orientação analítica.
Fase inicial
O grande risco nessa etapa é a interrupção abrupta do tratamento!
Exame das motivações → Boa aliança terapêutica → Evitar o término precoce!

Receber
Satisfazer um Criar uma relação Satisfazer
aconselhamentos
cônjuge ou outra simbiótica de necessidades
e suporte para
pessoa; dependência; profissionais.
momentos difíceis;

✓ Discutir com o paciente tais motivações e auxiliar a descobrir motivações mais


apropriadas e construtivas.

Falsas motivações irredutíveis → Abandono do tratamento!


Fase inicial
➢ O conjunto de todas as formas pelas quais o paciente vivencia com a pessoa do
psicanalista, na experiência emocional da relação analítica.

➢ Quais formas?

As As relações
representações objetais que As fantasias Distorções
que ele tem com habitam seu inconscientes; perceptivas.
seu próprio self; psiquismo;
Permite as interpretações do psicanalista que
possibilitem a integração:

Do presente com o passado;

Do imaginário com o real;

Do inconsciente com o consciente


Contratransferência:
Irritação;
Inquietude;
Ansiedade;
Pesar;
Compaixão;
Atração sexual;
Falta ou excesso de empatia pelos problemas que o paciente traz.
Fase inicial

Contratransferência:

• Identificar e compreender a
contratransferência podem ser
muito úteis no trabalho com o
paciente e no estabelecimento
de uma aliança terapêutica.
Ilustração clínica 1

• Um terapeuta de 41 anos estava atendendo a uma paciente de 36 anos em psicoterapia de


orientação psicanalítica, duas vezes por semana. A paciente notou que ele parecia distraído e
perguntou-lhe se alguma coisa o estava incomodando. Ele respondeu que o seu filho tinha
sido diagnosticado com uma forma de leucemia e que estava muito preocupado com o
resultado. A paciente foi simpática e disse que admirava sua disposição em ser honesto com
ela e em compartilhar detalhes de sua vida pessoal. Ela ate se sentiu mais próxima por causa
de tal revelação. Entretanto, a cada sessão subsequente, a terapia desviava o seu foco. Toda
a vez que a paciente chegava , perguntava ao terapeuta como estava seu filho. O terapeuta
parecia aliviado por ter uma paciente que se preocupava com sua situação e lhe contava,
detalhadamente, sobre a quimioterapia que o filho estava recebendo e sua resposta ao
tratamento. Também compartilhava seus próprios sentimentos de culpa e impotência.
Depois de um período de várias semanas, a paciente percebeu que passava mais tempo
escutando o relato da doença e do tratamento do filho do terapeuta. Por fim, ela sentiu que
não podia mais consultar com o terapeuta, porque estava lhe pagando honorários para ouvir
os problemas dele. Profundamente ressentida, decidiu sair da terapia, sem explicar a razão,
pois não queria ferir os sentimento do terapeuta.
Aliança terapêutica:

O que o Atentar à contratransferência e às resistências;


terapeuta
deve Examinar as motivações;
fazer?
Criar um ambiente acolhedor de aceitação das
dificuldades do paciente ;
Respeitar a dor e o sofrimento do paciente
O que pode contribuir para que não
aconteça a aliança terapêutica?
• Medo de perder o controle ou de enlouquecer;
• Medo de se deprimir;
• Fantasias eróticas;
• Reproduzir relações desastrosas;
• Mudanças que implicam abandono de antigas defesas;
• Criar um vínculo de dependência máximo.
Revisando os objetivos!

• Desenvolver uma sólida aliança terapêutica;


• Definir os problemas emocionais do paciente e os motivos que o levam a
terapia;
• Acessar as estratégias defensivas utilizadas pelo paciente e seus modos de
comunicar isso ao terapeuta;
• Esclarecer as origens do sofrimento psíquico do paciente ;
• Identificar seus principais conflitos intrapsíquicos, suas relações de objeto
primitivas e seus traumas;
• Detectar e analisar as resistências mais precoces.
Exemplo de trecho clínico – Iniciando o trabalho com as defesas

• T: Mesmo quando perguntei como você vivencia sua ansiedade, você me olhou como se eu
tivesse falando uma língua estranha. Depois você foi capaz de dizer “borboletas”. Então seguiu
me contando o que pensava a respeito das coisas, mas fica complicado – você dispersa e por aí
vamos. Vojo claramente há ansiedade aqui. Quando ela começou?
• P: Vindo para cá, não antes. Eu queria me tratar com alguém e você foi recomendada, mas,
francamente, muito do que eu tenho que falar é de natureza íntima e sexual, então a vi e pensei
“Oh não, ela não tem idade suficiente” (risos).
• T: Não tem idade suficiente. Quer dizer que você teve uma reação emocional quando me viu – o
que foi isso?
• P: É, mais propriamente medo de me confessar. Um medo que me parece normal. Estou falando
com uma estranha sobre os meus problemas de natureza emocional ou ate mesmo física, e você
é da minha idade ou mais jovem do que eu e uma mulher atraente.
Exemplo de trecho clínico – Iniciando o trabalho com as defesas

• T: Então qual foi a sua reação emocional?


• P: Bem, ansiedade, seguramente.
• T: Então há certa ansiedade com relação a todo o processo de se abrir e de se deixar
conhecer por outra pessoa, talvez, especialmente, alguém que você considera jovem e
atraente. Então novamente percebemos que há sentimentos ambivalentes aqui.
• P: Sim, eu realmente tenho sentimentos ambivalentes.
• T: Uma parte de você procura alguém para se abrir, falar sobre tudo isso de forma a
poder ser ajudado, mas outra parte sua está apavorado.
• P: Sim.
• T: E você percebe como está lidando com essa ansiedade?
• P: Usando as palavras como um escudo protetor ou algo assim?
• T: Você está adivinhando ou acha que esta é uma das formas de evitar...
• P: Eu acho que é isso que estou fazendo com você. Eu, o que estou fazendo comigo é não
me aprofundar o suficiente.
Fase intermediária
• Período que se estende do momento no
qual o terapeuta identifica uma razoável
aliança terapêutica estabelecida ate a
ocasião em que uma séria proposta de
término passa a ser discutida.

Definição: • Riscos
• Conluios narcísicos;
• Impasses;
• Interrupções;
• Intelectualizações não acompanhadas de insight
Fase intermediária
• Intervenções
• Interpretações acerca das resistências;
• Interpretações acerca da conflitiva inconsciente do paciente

• Objetivos
• paciente neuróticos: examinar, analisar explorar e resolver os sintomas e
as dificuldades emocionais do paciente ;
• paciente borderline: construção de self coeso, com capacidades
simbólicas mais eficazes e espaço mental para pensar as angústias
inerentes à vida.
• Toda forma de conduta, algo
exagerada
• que se manifesta como uma maneira
Actings única de substituir algum conflito ou
angústia que não consegue ser
(atuações): lembrada, pensada, conhecida,
simbolizada, verbalizada ou contida.
• Resistências:
• Resultante de forças, dentro do paciente, que se opõem ao analista ou aos
processos e procedimentos da análise, criando obstáculos na funções de
recordar, associar, elaborar, bem como o desejo de mudar.

• Insight:
• A atividade interpretativa do psicanalista leva aos insights do analisando,
sendo que a lenta elaboração dos mesmos irá possibilitar a obtenção de
mudanças psíquicas.
Fase intermediária
Indicadores Resistências que não se resolvem, não se modificam, não se repetem;
de
Alterações na aliança terapêutica;
perturbação:
Episódios agressivos e destrutivos agudos;

Falta de progresso terapêutico;

Regressões repetitivas, actings.

Qualquer tentativa séria de abandonar a terapia, ferir-se ou ferir alguém;

Sentimento ou feeling do terapeuta que a terapia não está evoluindo.


Ilustração clínica 2
• Clara, 27 anos, sexo feminino, profissional da área da saúde, procura
tratamento por sentir-se confusa, sem critérios para a escolha de
companhias masculinas e isolada da família; relata extrema intolerância com
a presença da mãe, labilidade afetiva e choro fácil. Expõe-se à noite pela rua
sem se cuidar, frequentando bares em zona de meretrício, com riscos à
segurança pessoal. Descreve mal-estar e desconforto por ter que relatar seu
sofrimento e necessitar de tratamento. Gostaria de não precisar de
ninguém, muito menos de uma psicoterapeuta; detesta combinar horários e
ter limites. Diz estar decidida a não abrir mão de uma relação com um
homem alcoolista que a expõe a riscos, acordando-a durante as noites para
que o busque em bares. Aprecia demais “situações atípicas”, sendo esse
traço conhecido por todos que com ela convivem; segundo costuma ouvir
dos familiares é sempre e a “princípio do contra”.
• Suas sessões são extremamente difíceis e
trabalhosas.
• Têm longos silêncios, presença pesada e
negativista.
• Desafiadora, falta, atrasa-se, argumenta que tinha
Ilustração anunciado ser “do contra”, mantendo
comportamentos autodestrutivos e, mesmo
clínica 2 assim, comparecendo às sessões.
• Ataca os vínculos o tempo todo, reeditando com o
terapeuta sua relação mais primitiva com os
objetos internos sadicamente atacados.
Fase final
Definição:
• Período que se estende da primeira menção
séria de término do tratamento até o minuto
final da última sessão combinada, para que o
tratamento de fato termine.

• Riscos
• Términos fora dos timings adequados.
• Impasses relacionados ao fim do
tratamento.
Objetivo
• Ajudar o paciente a examinar
suas condições reais de vida para
um término;
Intervenções • Trabalhar as questões relativas
Balanços; ao luto pelo fim do pelo fim do
Elaboração da separação. relacionamento com o terapeuta;
• Identificar os ganhos
conquistados e as situações que
ainda merecem atenção
Quais indícios o terapeuta pode ter para saber que a etapa de término
se aproxima?

Mudança nos sintomas que determinam o tratamento ou que podem ter surgido ao
longo deste;
Vida sexual;

Relações familiares;

Reações profissionais;

Relações sociais;

Quantidade de angústia e culpa;

Contato com a realidade.


Quanto mais o terapeuta Os indícios são tanto
puder deduzir dos relatos mais significativos quanto
essas modificações, mais menos
verdadeiras e fidedignas, “propagandeados” pelo
como indicadores, serão. paciente.

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