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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Disciplina: (CSO) Antropologia e Tecnologias - Curso de Ciências Sociais


Semestre: 2022/01
Professora: Patrícia P. Pavesi
Aluno: Ayrton Castro de Souza
Matrícula: 2019201254
Avaliação Individual (Valor: 7,0)

Instrumento de Verificação de Aprendizagem

1 - Thomas Poell, David Nieborg, José Van Dijck e Nick Srnicek discutem a
complexidade do fenômeno “Plataformização”, que começou no universo web e
hoje envolve as micros e macros instituições, assim como a cultura, o mercado e
a economia globais e suas mudanças contínuas invisíveis para a maioria, porém
inexoravelmente impactantes para essa mesma maioria. (2,0 pontos)

a) Caracterize a partir dos quatro autores, o fenômeno Plataformização;


b) disserte sobre possíveis problemas e ganhos coletivos decorrentes do processo
de Plataformização para as sociedades que o vivenciam.

Respostas:
A) Para os autores, a plataformização é uma espécie de mudança do paradigma
visto das práticas e imaginações culturais, uma vez que, a mesma invade esses
meios, mudando suas estruturas, seus processos econômicos e
governamentais, ou seja, a plataformização encontra vários caminhos para
correr entre a sociedade, uma vez que a mesma acumula para si os dados das
pessoas para utiliza-los como mercadoria, conectando diversos grupos de
usuários em uma só rede social, como por exemplo, o Instagram, ou uma outra
rede social para serviços de mobilidade, como o Uber. Como é um efeito em
massa, tende a se dissipar ainda mais dentro da sociedade, atingindo uma
gama ainda maior de pessoas, uma vez que no meio digital não há restrições
de limite físicas ou espaciais. Outra forma de chamar atenção de quem utiliza, é
que as plataformas são muitas vezes gratuitas, o que atrai o usuário, o qual
deixa seus dados como forma de pagamento para a empresa muitas vezes sem
saber. Por último, ainda vale citar a característica de moldar o mercado, pois, o
mesmo pode filtrar os dados para saber quais produtos são interessantes para
a sociedade, e depois vender essas informações para os vendedores, gerando
lucro em cima dessa informação.
Para finalizar, no meu entendimento, a plataformização é definida nos textos
como algo derivado do desenvolvimento tecnológico e social, relacionando isso
tudo como um grande mercado que pode ser visualizado dentro desse novo mundo
de informações.

B) Os ganhos coletivos no meu ver de acordo com os textos, ficam por parte da
facilidade gerada no mercado uma vez que as plataformas entregam todos os
tipos de informações e dados, além de serviços cada vez mais variados, que
vão desde entrega de dados pessoais para empresas que tem interesse sobre
as informações dos usuários para diversos tipos de estudos comerciais, como
para os próprios usuários quando adquirem comida em uma plataforma como o
Ifood. Já os pontos negativos, ficam também no campo das informações, uma
vez que, como pode se verificar no texto, muitas vezes ferramentas baratas e
com baixo nível de segurança são ofertadas às pessoas de forma gratuita para
que sejam apenas testadas, ou, como em beneficio para grandes países ou
empresas detentoras de forças, como no caso do empréstimo da tecnologia de
reconhecimento facial dada pela China ao Zimbábue, ou como o fornecimento
de internet pela Google ou Facebook para países subdesenvolvidos com o
intuito de garantir o máximo de “mineração” de dados possível para gerar lucro
para elas mesmas.
Concluindo, a plataformização pode ser vista de maneira positiva para todos, desde
que seja utilizada de maneira correta, mas também pode ser uma arma que prejudica
os subdesenvolvidos quando aplicada nas mãos erradas.

2 - Tomando como referência empírica o Case descrito no vídeo “O plano chinês


para monitorar – e premiar – o comportamento de seus cidadãos”. BBC Mundo,
20 novembro 2017:
.
a) Caracterize o fenômeno “Dataficação” da produção social na Era das Plataformas;
b) Discuta, a partir do Case, os impactos políticos e culturais decorrentes do processo
de Dataficação para grupos socialmente vulneráveis. (2,0 pontos)

Respostas:
A) A Dataficação é um fenômeno recente que utiliza de ferramentas ou
plataformas online para registrar e coletar ações, comportamentos e
opiniões além de outros acessos dos indivíduos que fazem o uso dessas
“plataformas” (Facebook, Instagram, Twitter, Weibo, etc.) com o intuito de
transformar essas informações cotidianas postadas em seus perfis, em
dados que podem ser analisados e metrificados para serem comercializados
por empresas, ou, para serem utilizados pelo Estado, com intuito de fazer
análises quantitativas ou qualitativas desses dados.
Sua utilização não tem uma direção única, uma vez que, essas
informações filtradas são utilizadas de diversas maneiras pelos seus
possuidores. Não à toa, a frase “Os dados são o novo petróleo”, evidencia esse
novo comércio, onde se pode descobrir novos polos de consumidores de
produtos para as empresas, que já fazem uso desse tipo de análise há muitos
anos, como também para os governos, que passaram a utilizar esses dados
para poder ter evidências de diversos setores da sociedade em base desses
dados, proporcionando a oportunidade de realizar mudanças positivas para as
sociedades onde isso é aplicado de maneira que beneficie a evolução de seu
povo, ou negativas, onde o Estado se utiliza desses dados para prejudicar ou
marginalizar os povos menos favorecidos.
B) Utilizando como base o Case citado no enunciado, fica nítido que a
dataficação pode causar um impacto gigantesco dentro da cultura social de
um povo e também em seu desenvolvimento, pois, como observado nos
comentários do Case, o sistema chinês passa a utilizar de uma espécie de
“crédito” de bom comportamento para os habitantes de sua sociedade,
onde, por base de análises de suas contas, compras, tempo passado na
internet, ou qualquer outro tipo de dado que possa ser considerado
relevante para o Estado, é determinado se a pessoa tem mais ou menos
responsabilidade, como é visto em um trecho dos comentários que diz:
"Alguém que joga videogame durante dez horas por dia, por exemplo, seria
considerado uma pessoa ociosa. Alguém que compra fraldas com
frequência, por outro lado, deve ser pai (ou mãe) e seria considerado uma
pessoa com um sentido de responsabilidade", disse Li Yingyun, diretor de
Tecnologia da Sesame à revista chinesa Caixin, em 2015.
Sendo assim, o Estado se vale desses dados para decidir quais as
pessoas que podem frequentar os melhores ambientes, quais filhos podem
frequentar as melhores escolas, quais os empregos que podem ser buscados
pelas pessoas com maior ou menor pontuação, ou seja, o governo passaria a
controlar totalmente quais as pessoas que teriam acesso a informação de
qualidade, viveriam uma vida de mais qualidade, e praticamente aboliria a
oportunidade de crescimento de uma pessoa nascida em condições inferiores,
uma vez que a mesma frequentaria os locais “periféricos” dentro da sociedade
apenas por ter nascido em uma família com a pontuação social baixa.
Finalizando, o governo teria controle total da liberdade de seus cidadãos por
meio de um grande sistema complexo de dataficação, podendo gerar uma
mudança brusca de comportamento cultural de todos que ali residem, seja para
buscar uma melhor pontuação de maneira justa, ou para a exclusão total de
certas populações negligenciadas.

3 - Considerando o papel dos Algoritmos como entes sociotécnicos ativos nos


processos de Plataformização e Dataficação:
.
a) Relacione o fenômeno “Governança Algorítmica” com a noção de “Modelo”;
b) Discuta a ação dos Algoritmos a partir de uma abordagem antropológica,
considerando a noção de Cultura. (2,0 pontos)

Respostas:

A) Os fenômenos se relacionam porque, a “governança algorítmica” é algo que é


multifacetário e criado a partir dos modelos algorítmicos, pois, os mesmos são
compostos por sistemas de códigos matemáticos aplicados em ações que
visam analisar, quantificar e qualificar setores, informações, pessoas, atividades
ou tomadas de decisões. A governança algorítmica pode ser compreendida
como “o poder sendo dado aos números e as linhas de código” pois com esses
programas codificados algoritmicamente é possível negligenciar ou exaltar
pessoas, sociedades, definir padrões sociais e culturais, movimentar economias
e seu uso é de fato insubstituível numa sociedade cada vez mais
plataformizada e inserida nos meios digitais.
Vale a citação também de como é múltipla a área de ação da
governança algorítmica, uma vez que esse sistema pode ser feito
especificamente para direcionar e executar ações que causam impactos
significativos nas pessoas que vivem naquele ambiente, sendo isso claro
também com os modelos, como no modelo citado pela autora Cathy O’neil,
utilizado nas escolas de Washington D.C, o qual se baseava em critérios
complexos e elaborados, mas que não eram claros para quem era avaliado por
ele, e que, também era um sistema que foi comprovadamente visto como
viciado, uma vez que os professores mudaram seus comportamentos após a
avaliação para que seus alunos tivessem médias de acordo com as que o
algoritmo gostaria. A autora utiliza desse modelo para exemplificar o que seriam
os “ADMS – Algoritmos de destruição em massa”, que são as linhas de código
feitas muitas vezes para dar errado, ou que não são feitas da maneira correta,
fazendo com que seus erros sejam reproduzidos sem correção por quem as
criou, e afetando os envolvidos de maneira negativa.

B) Os algoritmos, dentro da sociedade, têm função de “facilitar” a vida dos


governantes ou das empresas para atingir os objetivos prescritos por esses
como o desenvolvimento social ou qualquer outra política para o Estado, e, para
as empresas, como saber quais produtos podem fazer sucesso, o que está na
moda, e no que se vale investir no mercado financeiro. Tendo em mente essa
linha de raciocínio, é nítido que a cada avanço social tecnológico,
consequentemente os algoritmos passam a ter mais lugar, pois, tudo que é feito
nos meios digitais passam pelos códigos, como podemos ver nas redes sociais,
onde os algoritmos trabalham a todo vapor para entregar o máximo de
conteúdo interessante para os consumidores daquele produto.
Sendo assim, passa a ser incorporado culturalmente, uma vez que, os
padrões de sociedade são afetados pelas modas impostas nos aplicativos de
redes sociais de forma viral, onde os “excluídos” passam a ser os que não
acessam as redes sociais, e esses por sua vez perdem espaço na “nova
sociedade” que se forma. Não só na esfera social cultural lúdica é vista essa
incorporação algorítmica, também é vista em todos os outros âmbitos da
sociedade, como em protestos, que agora são difundidos e organizados por
essas redes, ou também as campanhas políticas, como a que culminou na
eleição de Bolsonaro, vitória essa que com certeza foi comprada e baseada em
algoritmos utilizados para disseminar nos canais de comunicação suas
informações absurdas e que beiram a irrealidade.
Para concluir, o algoritmo é algo que já é pertencente ao modelo cultural
atual ao menos dos grandes centros, pois, pode ser visualizado em tudo que é
feito dentro das sociedades desses locais, uma vez que todos portam algum
tipo de tecnologia consigo e que comportam essas linhas algorítmicas e
acabam se convertendo em dados para os analisadores dessas informações.

4 - Selecione 01 texto dentre as referências bibliográficas obrigatórias da


disciplina Antropologia e Tecnologias 2022/01, (que foram apresentados na
modalidade “Seminário” - diferente do que você apresentou) e: (1,0 pontos)
a) Descreva em linhas gerais os tema, fenômeno e campo empírico investigados pelo/s
autor/es;

b) estabeleça a distinção entre a orientação teórico-metodológica, bem como alcances


e limites dos recursos, ferramentas e procedimentos utilizados na pesquisa pelo/s
autor/es.

5 - Componha um breve memorial relacionando a sua trajetória no Curso de


Ciências Sociais e as discussões propostas pela disciplina Antropologia e
Tecnologias.

Resposta: Minha trajetória no curso se inicia quando busquei a entrada na


universidade para aprender mais sobre ciência política, que era meu grande foco
desde o começo, porém, também passei a me afeiçoar com outras áreas como o
estudo cultural das sociedades, e, por eu ter interesse em fazer uma segunda
graduação voltada para a área tecnológica e especificamente para a área de sistemas,
tive interesse em fazer a disciplina, a qual me apresentou a utilização de diversas
ferramentas e modelos desse setor no qual pretendo me profissionalizar voltados para
a aplicação dentro das Ciências Sociais, algo que pretendo buscar oportunidade de me
aprofundar. Sendo assim, a disciplina me possibilitou uma nova gama de
oportunidades a serem buscadas dentro do curso, um panorama que eu ao menos não
sabia que existia dentro das ciências sociais, e que pode ser visualizado com as
discussões a respeito dos temas como Big data, Small data, Datafication, e também
com os seminários que mostravam na prática como as ferramentas eram utilizadas,
como no caso das apresentações que explicitavam quais programas foram utilizados
para as coletas de dados, em que esses dados coletados foram convertidos, e como se
pode utilizar essas informações para expor situações que ocorreram na sociedade.

Referências Bibliográficas:
SRNICEK, Nick. Platform Capitalism. Cambridge: Polity Press, 2017. (Capítulo 2 - Capitalismo
de Plataforma).
“Os principais modelos de plataforma foram reduzidos para três” - [Entrevista concedida ao
DigiLabour]. Outubro de 2019. Newsletter DigiLabour #35 - Edição Especial.
VAN DIJCK, J. NIEBORG, D. POELL, T. Plataformização. Revista Fronteiras – estudos
midiáticos 22(1):2-10 janeiro/abril 2020 Unisinos – doi: 10.4013/fem.2020.221.01
Mejias, U. A. & Couldry, N. (2019). Datafication. Internet Policy Review, 8(4). DOI:
10.14763/2019.4.1428
Vídeo: O plano chinês para monitorar – e premiar – o comportamento de seus cidadãos. BBC
Mundo, 20 novembro 2017.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42033007 .

O'NEIL, Cathy. Algoritmos de Destruição em Massa. Editora Rua do Sabão, 2021. Introdução
e Capítulo: Componentes da Bomba: o que é um modelo?
KATZENBACH, Christian; ULBRICHT, Lena. Algorithmic governance. Internet Policy Review,
v. 8, n. 4, p. 1-18, 2019.
NOBLE, Safiya Umoja; ROBERTS, Sarah T. Elites tecnológicas, meritocracia e mitos pós-raciais
no Vale do Silício. Fronteiras-estudos midiáticos, v. 22, n. 1, p. 36-46, 2020.
Seaver, N. (2017). Algorithms as culture: Some tactics for the ethnography of algorithmic
systems. Big Data & Society.

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