Consciência corporal
Educação Física
Consciência corporal
FICHA TÉCNICA
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS
Marcos Aurélio Felipe
COORDENAÇÃO DE REVISÃO
Maria da Penha Casado Alves
Todas as imagens utilizadas nesta publicação tiveram suas informações cromáticas originais alteradas a fim de adaptarem-se
aos parâmetros do projeto gráfico. © Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN.
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Sumário
Apresentação institucional 5
Apresentação da disciplina 7
A
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no
âmbito local, das Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira
com a Secretaria de Educação a Distância – SEED, o Ministério da Educação –
MEC e a Universidade Aberta do Brasil – UAB/CAPES. Duas linhas de atuação
têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a primeira está voltada
para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo imple-
mentados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda
volta-se para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados
e especializações em Administração Pública e Administração Pública Municipal.
Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a SEDIS tem disponibilizado
um conjunto de meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os
materiais impressos que são elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e
projeto gráfico para atender às necessidades de um aluno que aprende a distân-
cia. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e que têm experiên-
cia relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material
impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias,
como videoaulas, livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e
interativos e webconferências, que possibilitam ampliar os conteúdos e a inte-
ração entre os sujeitos do processo de aprendizagem.
Assim, a UFRN através da SEDIS se integra ao grupo de instituições que
assumiram o desafio de contribuir com a formação desse “capital” humano
e incorporou a EaD como modalidade capaz de superar as barreiras espaciais
e políticas que tornaram cada vez mais seleto o acesso à graduação e à pós-
graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente em polos
presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos
de graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando
e tornando o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as
diferenças regionais e transformar o conhecimento em uma possibilidade concreta
para o desenvolvimento local.
Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento
intelectual e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram
com a Educação e com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso
e ao consumo do saber E REFLETE O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM
A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade estratégica para a melhoria dos
indicadores educacionais no RN e no Brasil.
5
Apresentação da disciplina
Caro(a) aluno(a), na Aula 1 desta disciplina, estudaremos a abordagem feno-
menológica da corporeidade que dá sustentação teórica às aulas práticas da
disciplina e ao conteúdo apresentado. Na Aula 2, você terá acesso ao conhecimento
da antiginástica e aos princípios teóricos e metodológicos dessa técnica corporal
de sensibilização.
Na Aula 3, você poderá compreender a eutonia e a busca do equilíbrio do tônus
muscular em atividades de ritmo e expressão corporal.
Na Aula 4, abordaremos a técnica de Feldenkarias em toda sua riqueza de
experiências da motricidade humana.
Na Aula 5, discutiremos as noções de tato e contato, como também a massa-
gem tal como uma técnica de relaxamento e, sobretudo, de interação e afetividade
na relação com o outro.
Na Aula 6, aprofundaremos essa perspectiva do contato humano por meio
das experiências da bioenergética e da biodança.
Na Aula 7, faremos uma viagem ao oriente e à experiência filosófica e cor-
pórea do tai chi chuan, você irá descobrir uma nova maneira de perceber seu
corpo na relação com a natureza e com o mundo.
Na Aula 8, você entrará em contato com o Método Dança-Educação Física
(MDEF), precursor da consciência corporal na educação física.
Nas Aulas 9 e 10, você poderá compreender aspectos do corpo relacionados
ao corpo, à sexualidade e ao conhecimento da educação física em vários níveis
da educação básica. Nesse percurso, espera-se que você possa descobrir e encon-
trar horizontes para acessar o conhecimento sobre o corpo nas aulas da nossa
disciplina. Isto é, descobrir seu corpo, sua motricidade e sensibilidade como
formas de se expressar, de ser e de estar no mundo de forma criativa, em toda sua
plenitude. Espera-se, ainda, que você possa ser sensível aos conhecimentos dessa
disciplina que articulam princípios teóricos e metodológicos, teoria e prática, mas,
sobretudo, objetivamos despertar cada um de vocês para a responsabilidade, a
consciência corporal e profissional de ser professor(a) de educação física na arte
de cuidar do corpo e da vida.
7
Consciência corporal e
atitude fenomenológica
Aula
1
Apresentação
O
que significa estar consciente? Somos conscientes de tudo o que se passa
ao nosso redor? Somos conscientes de nossa realidade corpórea? Nesta
aula, vamos introduzir o tema da consciência corporal.
O significado do termo consciência ultrapassa o uso comum de estarmos
cientes dos próprios estados, percepções, ideias, sentimentos e vontades. O sig-
nificado também ultrapassa o sentido usual quando se diz que alguém está
consciente se não está dormindo, desmaiado ou afastado de suas ações, como
ocorre em estado de coma ou transe, por exemplo.
Nesta aula, vamos apresentar o sentido filosófico do termo consciência que
remete a uma noção em que o aspecto ético-moral (a possibilidade de autojulgar-se)
tem conexão com o aspecto teórico (possibilidade de conhecer-se). Desse modo,
sentir, pensar e agir são dimensões de um mesmo fenômeno. Por essa razão, não
é incomum observarmos as atitudes do cotidiano e nos questionarmos: agimos
com conhecimento? Somos capazes de conhecer tudo? Quais os fenômenos
que abrangem a nossa vida psíquica? Essas são algumas das questões a serem
abordadas nesta aula.
Vamos relacionar a noção de consciência com o conhecimento do corpo.
Para tanto, iremos considerar a atitude fenomenológica, as noções de corporeidade
e motricidade como base para as dimensões metodológicas das práticas corporais
que iremos abordar nas demais aulas da disciplina Consciência Corporal.
Objetivos
11
Breve história da noção de consciência
D
o ponto de vista científico e filosófico, podemos dizer que a consciência
remete ao sujeito, tendo como centro a atividade reflexiva. Porém, o reco-
nhecimento de uma realidade interior privilegiada só existe nas filosofias
que assumem como tema a oposição entre interioridade e exterioridade, ou seja,
nas filosofias dualistas que distinguem corpo e alma, sujeito e objeto.
A elaboração decisiva da noção de consciência é dada pelo filósofo da
antiguidade grega Plotino, como sendo um retorno para a interioridade ou uma
reflexão sobre si mesmo. Mas, só com Descartes, filósofo francês do século XVII,
a noção é esclarecida e quase que universalmente aceita na filosofia ocidental,
com sua famosa frase: cogito ergo sum, que é compreendida como sendo a
autoevidência existencial do pensamento (ABBAGNANO, 1998).
Observe que a construção do conceito de consciência percorre um longo ca-
minho da antiguidade época moderna. E, hoje, o que podemos dizer da noção de
consciência? Entre os séculos XIX e XX também ocorreram mudanças na perspectiva
da compreensão da consciência e nas relações entre corpo e alma, sujeito
cognoscente, alienação e inconsciente, fenômenos relacionados diretamente com
a compreensão contemporânea da consciência. Nesta aula, vamos percorrer esse
caminho de forma panorâmica para perceber essa construção conceitual e seus
desdobramentos teóricos e práticos.
Como ponto de partida, vamos voltar à antiguidade grega e começar
nossa caminhada na busca por compreender e ampliar nossa compreensão
de consciência e sua história no pensamento ocidental. Vamos começar com
Platão, filósofo grego, que viveu entre os séculos 427-348 a.C. em Atenas, e que
viajou também pelo Oriente. Sua filosofia é marcada, portanto, por reminiscências
da cultura oriental.
Platão escrevia sob a forma de diálogos. Em um de seus diálogos, o “Fédon”,
ele reflete sobre as relações corpo e alma. Desde já, esclarecemos que o sentido de
alma na antiguidade não tinha uma conotação cristã, como percebemos hoje. A
alma relacionava-se com o intelecto. Para Platão, só ao intelecto é dado conhecer
essas ideias, por ser ele também incorpóreo. Por sua vez, o corpo seria um obstáculo
à realização do ideal de bem e de verdade a que a alma aspira. Vejamos o que
nos diz o próprio filósofo:
Durante todo o tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada
com essa coisa má, jamais possuiremos completamente o objeto de nossos
desejos! Ora, este objeto é, como dizíamos, a verdade. Não somente mil e
uma confusões nos são efetivamente suscitadas pelo corpo quando clamam
as necessidades da vida mas ainda somos acometidos pelas doenças, e
eis-nos às voltas com novos entraves em nossa caça ao verdadeiro real. O
corpo de tal modo nos inunda de amores, paixões, temores, imaginações
de toda a sorte, enfim, uma infinidade de bagatelas, que por seu intermédio
(sim, verdadeiramente é o que se diz) não recebemos na verdade nenhum
pensamento sensato; não, nem uma vez sequer! (PLATÃO, 2011, p. 55).
A primeira foi a que nos infringiu Copérnico, ao provar que a Terra não
estava no centro do Universo e que os homens não eram o centro do mundo.
A segunda foi causada por Darwin, ao provar que os homens descendem de
um primata, que são apenas um elo na evolução das espécies e não seres
especiais criados por Deus para dominar a natureza. A terceira foi causada
pelo próprio Freud com a psicanálise, ao mostrar que a consciência é a
menor parte e a mais fraca de nossa vida psíquica (CHAUÍ, 2009, p. 168).
Leituras complementares
Sinopse: Em 1905, Sabina (Emilia Fox), uma jovem russa de 19 anos que sofre
de histeria, recebe tratamento em um hospital psiquiátrico de Zurique, na Suíça.
Seu médico, o jovem Carl Gustav Jung (Ian Glen), aproveita o caso para aplicar
pela primeira vez as teorias do mestre Sigmund Freud. A cura de Sabina vem
acompanhada de um relacionamento amoroso com Jung. Após alguns anos, ela
volta à Rússia, tornando-se também psicanalista e montando a primeira creche
que usa noções de psicanálise para crianças. Décadas após sua morte, ela tem sua
trajetória resgatada por dois pesquisadores.
Atividade 1
Não é verdade que, num sentido muito real, temos imensa dificuldade em
ser nosso corpo, porque já nos inculcaram, de mil maneiras, que temos
tal ou qual corpo? Ou seja, mais do que da sua verdade e real substância,
nossos corpos são corpos que nos disseram que temos, corpos inculcados
e ensinados, feitos de linguagens, símbolos e imagens. As culturas, as
ideologias, as organizações sempre inventam um corpo humano adequado
e conforme (ASSMANN, 1994, p. 72).
Leitura complementar
Resumo
Autoavaliação
Como você percebe seu corpo? Em uma folha de papel ofício, tamanho
A4, faça o desenho de uma figura humana. Pode usar lápis grafite colorir seu
desenho se preferir. Na aula seguinte, vamos fazer a leitura desse desenho
e estabelecer relações com a percepção de si, o esquema corporal e a relação
com o mundo e com o outro. Entregue seu desenho ao tutor de seu polo.
FREUD, S. O mal estar na civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
Anotações
Aula
2
Apresentação
C
aro(a) aluno(a), onde você estiver há uma casa com seu nome. Você é o
único proprietário nessa casa que abriga suas mais recônditas memórias.
Você sabe do que estou falando? Você sabe que casa é essa? Esta, caro(a)
aluno(a), é o seu corpo. Você a conhece bem? Você habita verdadeiramente essa
casa ou faz tempo que perdeu as chaves?
Nesta aula, através da técnica da antiginástica, você vai percorrer esse
ambiente, tocar suas paredes, sentir sua estrutura, habitá-lo inteiramente. Você
vai conhecer a trajetória histórica e os princípios teóricos e metodológicos da
antiginástica, bem como realizar alguns exercícios práticos.
Nunca é tarde demais para você liberar-se de dores, rigidez muscular, ten-
sões e descobrir possibilidades inéditas do seu corpo. Preparado(a)? Vamos
começar nosso caminho de autoconhecimento e de consciência corporal. Bem-
-vindo(a) a sua casa, bem-vindo(a) a seu corpo!
Objetivos
31
31
“Seu corpo, essa casa onde você não mora”
É
com essa frase arrebatadora que a criadora da antiginástica abre seu livro.
Essa é uma técnica corporal criada pela fisioterapeuta francesa Thèrése
Betherat, nos anos de 1970. No livro “O corpo tem suas razões”, Bertherat
e Bernstein (1987) afirma que “nosso corpo somos nós. Somos o que parecemos
ser. Nosso modo de parecer é nosso modo de ser” (BERTHERAT; BERNSTEIN,
1987, p. 13). Essa afirmação coaduna com a perspectiva fenomenológica da
corporeidade estudada na aula anterior de nossa disciplina (Aula 1), concorda?
No entanto, muitas vezes, confundimos o visível com o superficial com a apa-
rência do corpo e seus padrões de beleza, por exemplo.
Nesse contexto, temos um corpo, como podemos possuir uma coisa, uma
casa, mas sem habitá-la. A proposta dessa técnica é habitar o corpo que somos.
Mas, como faremos isso? Por meio de nossas sensações, das percepções sutis do
nosso corpo, buscando as razões do nosso próprio corpo, conhecendo sua linguagem
sensível. O principal objetivo do trabalho é a consciência do próprio corpo, é
buscar ter acesso ao ser inteiro, superando os dualismos corpo e alma, psíquico
e físico. Nessa perspectiva, a compreensão de corpo afina-se profundamente
com a noção de corporeidade propostas por Merleau-Ponty (1994), em que se
busca a escuta do corpo e de sua sensibilidade. Nesse sentindo, compreende-se
que os movimentos nascem dentro do corpo e estão relacionados às experiências
vividas pelos sujeitos.
Bertherat e Bernstein (1987) chamam esses movimentos de preliminares,
ou seja, exercícios que preparam o corpo e todo o ser para viver plenamente. Na
segunda parte de nossa aula, vamos abordar esses exercícios de percepção do
corpo. Por enquanto, atemos aos aspectos teóricos dessa técnica.
A construção teórica e metodológica da antiginástica baseou-se fortemente
na experiência vivida de sua criadora, em seu próprio corpo e no corpo das
pessoas com as quais ela trabalhou. Thèrése sentia-se entediada e buscava uma
atividade que lhe propiciasse prazer. Em sua busca, encontrou a senhora Suze
L e sua aula de “ginástica”. A princípio resistiu, pois não gostava de ginástica.
Mas, ao descobrir os movimentos sutis propostos pela senhora Suze, usando
simples bolinhas de tênis, algo lhe chamou a atenção: “Que espécie de ginástica
é essa que se preocupa com meu conforto?” (BERTHERAT; BERNSTEIN, 1987,
p. 24). A tranquilidade dos exercícios provocava a tranquilidade dos alunos, o
relaxamento, o bem-estar e a descoberta de novas sensações corporais.
“Na sala sem espelhos, era ela quem nos mostrava a imagem do que poderíamos
ser” (BERTHERAT; BERNSTEIN, 1987, p. 31). Não se compreendia o corpo como
uma máquina defeituosa, mas como sujeito de suas ações.
Com a morte de seu marido, a fisioterapeuta sentiu-se bastante oprimida e
queria dar um novo rumo a sua vida. Foi então que teve acesso ao trabalho de
Ehrenfried. Nele, o corpo era considerado como matéria flexível, perfectível. Essa
foi a primeira referência teórica para a construção da antiginástica.
Leituras complementares
Atividade 1
6) Para finalizar, repetir a leitura corporal. Indagar como se sentem. Escutar as im-
pressões dos alunos sobre suas sensações, seu estado geral, entre outros aspectos.
7) Desenho da figura humana (Figura 6): pedir para desenhar a figura humana em
uma folha de papel ofício (tamanho A4), usando lápis grafite ou caneta. Pode-se
fazer isso na primeira aula e repetir no final de algumas aulas. Assim, é possível
comparar o desenho feito antes e depois, comparando se houve uma ampliação
da percepção do corpo expressa pelos desenhos e pela fala dos alunos.
No desenho da figura humana (Figura 6), você pode observar aspectos relacio-
nados ao esquema corporal, tais como a espacialidade. Dobre a folha de papel em
quatro partes e perceba em que parte do papel a figura está situada. O desenho está
bem distribuído no espaço ou figura em apenas um quadrante da folha? As partes
e proporções do corpo são adequadas ou são apenas garatujas infantis (rabiscos)?
O corpo está nu ou vestido? Podemos fazer a leitura do desenho com os alunos,
percebendo esses e outros aspectos relacionados à percepção do corpo.
No desenho seguinte (Figura 7), nota-se que a primeira imagem retrata um corpo
masculino. O mesmo,que se modifica na segunda imagem. A referida aluna tornou-
-se mais expressiva ao longo da disciplina. Outros aspectos do desenho não foram
analisados por nós, mas isso poderia ser feito por outros profissionais e em outros con-
textos que não o da formação profissional, em sessões de psicoterapia, por exemplo.
Leituras complementares
GAIARSA, J. A. Couraça muscular do caráter: William reich. São Paulo: Ágora, 1984.
O livro apresenta os fundamentos da teoria de William Reich sobre o corpo
e as couraças musculares. Pode contribuir na relação entre o corpo e os aspectos
psicológicos do comportamento humano.
Resumo
Referências
BERTHERAT, T.; BERNSTEIN, C. O corpo tem suas razões: antiginástica e
consciência de si. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
Anotações
Aula
3
Apresentação
C
aro(a) aluno(a), nesta aula, vamos conhecer a eutonia. A palavra eutonia
expressa a ideia de uma tonicidade equilibrada e harmoniosa. A etimologia
da palavra vem do grego Eu = bom, justo, harmonioso enquanto tonos =
tônus, tensão. Essa técnica foi criada pela alemã Gerda Alexander com objetivo
de melhorar a consciência corporal, ou seja, aprimorando a percepção do espaço
corporal, da respiração, de posições de controle, do tato e do contato.
A técnica é utilizada em processos pedagógicos e também em processos tera-
pêuticos. No caso da Educação Física a eutonia é usada em aulas de consciência
corporal, ampliando-se o conhecimento do corpo, dos espaços corporais, a
motricidade, o ritmo e a expressão.
No primeiro momento da aula, vamos apresentar a trajetória histórica e
os princípios teóricos da eutonia e, na segunda parte da aula, vamos conhecer
aspectos metodológicos e práticos dessa técnica que tem sido aplicada em contextos
educativos e clínicos diversos, seja com crianças, jovens, adultos ou idosos.
Com os exercícios de eutonia, podemos perceber o nosso corpo de forma
ampla, criativa, expressiva, trabalhando-se as sensações do movimento, a
respiração, o tônus muscular e sua flexibilidade, a expressão corporal e rítmica.
Preparados(as)? Vamos começar!
Objetivos
49
Conhecendo a eutonia
A
criadora da eutonia foi a alemã Gerda Alexander (1908-2008). Ela cresceu
no período entre as duas Grandes Guerras e viu nascerem inúmeras práticas
corporais como a ginástica rítmica, a dança moderna e a eurritmia de
Dalcroze que a influenciaram significativamente.
De acordo com Huberty (2013), do ponto de vista teórico, a eutonia tem
como base a psicologia de Jung e o conceito de individuação; Wallon e o
desenvolvimento psicomotor da criança e a fenomenologia de Merleau-Ponty
com sua noção de corpo e de movimento. Essas são as principais referências
fundamentais a compreensão de corpo, de ser humano e de educação aplicada
em clínicas e em espaços pedagógicos.
A eutonia apresenta uma compreensão de corpo fundada na fenomenologia de
Merleau-Ponty na qual o corpo e seu movimento ocupa um lugar de destaque. Merleau-Ponty
De acordo com Alexander (1983), o corpo não é a máquina que funciona bem Caro aluno(a), a respeito da
compreensão fenomenológica
ou mal, também não é o lado perecível do ser humano que contrasta com sua
do corpo sugere-se que releia a
alma imortal. Corpo e alma vivificam-se mutuamente, formando uma unidade. primeira aula da disciplina de
Ao atuar sobre o tônus muscular os exercícios de eutonia mobilizam também consciência corporal. Você pode
nossa psique, o interior e o exterior de nosso corpo se comunicam. Na fenomenologia também voltar ao livro didático
da disciplina Aspectos Sociofi-
e na eutonia o corpo é fonte de saber. De acordo com Dascal (2008), muitas de
losóficos da Educação Física e
nossas percepções são ainda influenciadas pela separação entre corpo e alma, reler a Aula 3 (corporeidades).
corpo e mente, razão e emoção. Mas na linha filosófica iniciada por Merleau-
-Ponty e sua filosofia do corpo, a eutonia procura propiciar o encontro com nossa
realidade corporal, ampliando a percepção do esquema corporal, da consciência
dos espaços corporais e das possibilidades de nossa motricidade na prática.
A eutonia aprofunda nosso estado de presença corporal por meio da ênfase
nas sensações e na sensibilidade. O trabalho de contato com objetos como bolas de
tênis, bambus, balões de encher e o trabalho de contato corporal com os colegas
estimula a cooperação e a afetividade. Pensando nisso, Dascal (2008) apresenta
a influência do tônus muscular sobre as emoções.
� contato consciente.
Por meio do contato com a nossa pele começamos a conhecer nosso corpo,
sua comunicação interna e externa. Outra forma de aguçar esse conhecimento
é por meio de exercícios corporais, de massagem, do contato com objetos e
Posteriores com tecidos diferentes que agucem a nossa sensibilidade. Em aulas posteriores,
Refiro-me a Aula 5 sobre o toque vamos abordar com mais profundidade esse tema, a importância da pele e do
e o contato humano.
contato para o desenvolvimento do ser humano.
No trabalho de conscientização dos espaços internos como as cavidades do
corpo, músculos profundos, proprioceptores, ossos, busca-se a percepção das
estruturas corporais. A realização de desenhos, esculturas permitem atingir esse
objetivo e conhecer o volume dos espaços do corpo. Uma das atividades a ser
solicitada aos alunos pode ser, por exemplo, o desenho de um esqueleto humano.
Essa atividade mobiliza a percepção de nossa estrutura óssea.
Portanto, o contato consciente envolve as posições de controle que consiste
basicamente em exercícios de alongamento nos quais a atenção é dirigida para a
observação de nossa postura, do jogo de forças gravitacionais e antigravitacionais a
que o corpo está submetido na postura ereta. Os exercícios de contato também envol-
vem a expressão e o contato com o outro (em duplas ou em grupos) em movimentos.
Por fim, cabe registrar que o movimento eutônico considera a intencionalidade
de nossa motricidade, ou seja, as sensações, os sentidos e significados que nosso
corpo em movimento desperta e mobiliza. Não se trata de um movimento
mecânico, mas intencional.
Leituras complementares
Atividade 1
� orientação verbal para que o sujeito percorra cada parte do corpo (leitura
corporal);
Figura 1 – Espreguiçamentos.
Fonte: Autoria Própria (2014).
Leituras complementares
Atividade 2
Autoavaliação
Desenhe um esqueleto humano. Esse desenho vai contribuir para o estudo
da eutonia e a percepção das consciências interna do corpo e de sua estrutura
óssea. Poste seu desenho na plataforma Moodle.
Referências
ALEXANDER, Gerda. Eutonia: um caminho para a percepção corporal. São
Paulo: Martins Fontes, 1983.
Aula
4
Apresentação
O
lá! Você está acompanhando bem nossas aulas de consciência corporal?
Tem percebido mudanças em sua postura, respiração, em seus movimentos?
Como você se sente em relação ao seu corpo? Nesta aula, iremos apre-
sentar aspectos teóricos e práticos do método Feldenkrais.
Assim, o método tem como ponto central a melhora da autoimagem por
meio da realização de exercícios sutis que coordenam movimento e respiração,
devendo ser feitos lentamente. Desse modo, apresentamos a compreensão de
consciência pelo movimento que identifica os princípios teóricos e metodoló-
gicos da técnica de Feldenkrais, bem como descrevemos uma aula com alguns
exercícios que permitirão o reconhecimento de lições básicas.
O método Feldenkrais integra hoje o campo da educação somática e vem se
tornando cada vez mais utilizado em aulas de dança, educação física em clínicas
de psicoterapia corporal e fisioterapia.
Objetivos
65
Consciência pelo movimento
“Consciência pelo movimento” é nome do principal livro de Mosche Feldenkrais
(1904-1984), no qual ele apresenta os fundamentos teóricos e as lições da técnica
que ele criou e que leva seu nome – Feldenkrais. De acordo com informações
da Associação Feldenkrais do Brasil, podemos dizer que se trata de um método
altamente engenhoso para aprender mais sobre si mesmo. Esse utiliza as
percepções que o movimento do corpo no espaço traz à consciência para tornar
mais eficientes e econômicos os movimentos que integram o dia a dia como
andar, descansar, levantar, alcançar. Segundo o site da Associação Feldenkrais
do Brasil ([2014], [documento online, não paginado]): “as descobertas feitas
a partir dessas ações revelam habilidades que estavam escondidas por trás de
esforços mal direcionados. Uma vez descobertas essas habilidades podem ser
desenvolvidas e integradas no dia a dia”.
Portanto, o principal aspecto do método Feldenkrais é a autoimagem. Para
Feldenkrais (1977), a autoimagem consiste de quatro componentes que estão
envolvidos em toda a ação: movimento, sensação, sentimento e pensamento. A
autoimagem é dinâmica, muda de ação para ação, sendo formada ao longo da vida.
Podemos ampliar a fundamentação teórica da noção de autoimagem por meio
dos estudos de Schilder (1999) a respeito da imagem do corpo. O autor apresenta as
bases fisiológicas, psíquicas e sociais da imagem corporal. Nesse contexto, tem-se
que cada nova postura ou movimento é registrado no esquema plástico de nossa
atividade cortical. “Qualquer coisa que participe do movimento consciente de
nossos corpos é acrescentada ao modelo de nós mesmos” (SCHILDER, 1999, p. 9).
Logo, o nosso movimento é composto por sensações, memórias que confi-
guram a imagem corporal. Essa imagem desempenha um papel fundamental
no conhecimento do nosso corpo e de seu movimento. A superfície externa do
corpo, a pele, os orifícios, os músculos colaboram com essa imagem do corpo.
Schilder (1999) apresenta também importantes reflexões sobre a estrutura
libidinal da imagem corporal. Com base nos estudos do psicanalista alemão
Sigmund Freud, a libido pertence ao nosso corpo, estando relacionada ao princípio
do prazer. Ao se observar uma criança, por exemplo, podemos perceber como
ela brinca com seu corpo, olhando as mãos, agarrando objetos, mordendo os
dedos. Essas ações são importantes na construção da imagem corporal da criança
e futuramente em sua autoimagem psíquica. O autor completa seu estudo sobre
a imagem corporal ressaltando os aspectos sociais que a envolvem. Para ele, a
imagem corporal ultrapassa os limites do corpo. Uma bengala, um chapéu, as
roupas tornam-se parte da imagem corporal.
Compreendemos que a pesquisa de Schilder (1999) complementa e amplia
a discussão da autoimagem encontrada no método Feldenkrais, abrindo outras
possibilidades de abordagem dessa técnica.
Segundo Feldenkrais (1977), a habilidade em realizar movimentos é um fator
que contribui para a valorização da autoimagem e a educação dos indivíduos.
Na perspectiva desse autor, o movimento é a base da consciência.
Saiba Mais
Informativo Nº 1 / 2001
Associação Feldenkrais do Brasil
V í d e o d e e d u c a ç ã o s o m á t i c a . < h t t p s : / / w w w. y o u t u b e. c o m /
watch?v=EOuVB_7BSW8>. Acesso em 9 maio 2014.
Trata-se de um vídeo elaborado por Debora Bolsanelo, uma das divulgadoras
da educação somática no Brasil, sobre a educação somática, seu método e seus
benefícios. Aborda um circuito de movimentos com vistas à consciência corporal.
Atividade 1
Figura 1 – Respiração.
Fonte: Autoria Própria (2014).
5) Balançando de pé: deixe seu corpo balançar para frente, para trás, para os
lados. Preste atenção nos pontos de apoio para que você possa se manter de
pé. Lentamente, desenhe círculos com o corpo (Figura 5).
Leituras complementares
Resumo
Autoavaliação
Como você percebe seu corpo com os exercícios de Feldenkrais? Participe
de um fórum virtual, organizado pelo tutor da disciplina, descrevendo sua
experiência prática com esses exercícios sugeridos em nossa aula.
Anotações
Aula
5
Apresentação
O
lá! Seguramente, você já deve ter ouvido ou pronunciado expressões
como “dar um toque”, “toque pessoal”, “toque delicado” ou, ainda, ter
se referido às pessoas dizendo que elas têm “um toque mágico” ou que
são “casca grossa”. Essas expressões e referências têm em sua base o sistema
tátil e a pele como órgão de contato e experiência. Nossa intenção é apresentar
mais uma possibilidade de expressão e comunicação do corpo, cuja sintonia
encontra-se em movimentos simples feitos através de nossas mãos e pele, dos
contatos corporais e da experiência sensível. Você irá perceber como a experiência
tátil e os contatos corporais são fundamentais para o desenvolvimento humano.
Na segunda parte da aula, iremos trabalhar com a massagem como uma
prática corporal capaz de promover o contato, a linguagem tátil, o relaxamento
e a consciência do corpo. Há milhares de anos, a massagem é utilizada por
diferentes povos para trazer alívio, conforto, aliviar dores, entre outros aspectos
ligados à saúde, ao bem-estar, ao afeto e à consciência do corpo.
Então, preparado(a)? Mãos à obra!
Objetivos
83
Uma questão de pele
Caro(a) aluno(a), começamos nossa aula tratando da pele como órgão da
experiência afetiva, bem como relacionando a experiência tátil com as noções
de comportamento, aprendizagem e desenvolvimento humano. Para tanto, nos
aproximamos da Etologia, ciência criada nos anos 1970 e que tem como enfoque
central o estudo do comportamento animal, de suas funções fisiológicas, psíquicas,
sociais e afetivas, incluindo os seres humanos.
Nesse contexto, destacamos para nossa aula sobre o toque e o contato humano
os estudos de Montagu (1988) e de Cyrulnik (1999). Os dois pesquisadores
estudam a pele e suas implicações profundas para o desenvolvimento humano,
destacando aspectos fisiológicos do tocar, as relações entre pele e sexo, tato e
idade, cultura e contato.
O corpo todo é coberto de pele e na evolução dos sentidos o tato foi o primeiro
a surgir, dando origem aos nossos olhos, ouvidos, nariz e boca. Esses últimos,
sede dos demais sentidos: visão, audição, olfato e paladar, respectivamente. O
tato é, portanto, a matriz de todos os sentidos. De acordo com Montagu (1988),
tanto a pele quanto o sistema nervoso originam-se da mais externa das três
camadas de células embrionárias, a ectoderme. Essa, por sua vez, irá se diferenciar
em cabelo, dentes e nos órgãos dos sentidos já mencionados.
A pele é compreendida como o mais extenso órgão do nosso corpo, permitindo
que o organismo aprenda o que é o seu ambiente interno e externo, renovando-se
constantemente, como é possível observar na citação que segue:
Durante toda a vida, este prodigioso tecido, a pele, encontra-se num estado
de contínua renovação através da atividade das células de suas camadas
profundas. A cada quatro horas, aproximadamente, a pele forma duas novas
camadas de células. As células da pele e das vísceras podem aparentemente
dividirem-se centenas e milhares de vezes durante a vida de uma pessoa
(MONTAGU, 1988, p. 23).
Em nosso experimento inicial, havia duas mães: uma mãe de pano e a outra
de arame. Elas foram colocadas em cubículos diferentes ligados à gaiola em
que estavam os bebês. Para quatro macacos recém-nascidos, a mãe de pano
dava leite e a de arame não. Para os outros quatros, a condição de lactação
foi invertida. Nos dois casos, os macaquinhos recebiam toda a ração de leite
através da mãe substituta [...]. Durante os primeiros quatorzes dias de vida,
a gaiola dos macacos foi revestida com um dispositivo para aquecimento
envolvido em uma fralda no chão da gaiola. Os bebês sempre tiveram liber-
dade para sair de perto do dispositivo e entrarem em contato com uma das
duas mães [...]. Os dados tornam óbvio que o contato reconfortante é uma
variável de importância crucial no desenvolvimento das respostas afetivas
[...]. Com o avanço da idade e diante da oportunidade de aprendizagem, os
que eram alimentados pela mãe de arame mostraram uma responsividade
cada vez menor em relação a ela e uma responsividade maior para a mãe
que não aleitava - a de pano (HARLOW apud MONTAGU, 1988, p. 53).
Leitura complementar
Atividade 1
Saiba Mais
Figura 1 – Shantala.
Fonte: Leboyer (1995). Adaptado por Amanda Duarte/SEDIS-UFRN.
LIDELL, L.; THOMAS, S. O novo livro da massagem. São Paulo: Manole, 2000.
O livro apresenta-se como um guia de técnicas orientais e ocidentais de
massagem.
Atividade 2
Resumo
Autoavaliação
Você já experimentou uma sessão de massagem? Caso ainda não tenha
experimentado, procure conhecer uma das técnicas e relate sua experiência.
Participe de um fórum virtual coordenado pelo tutor.
LEBOYER, F. Shantala: uma arte tradicional para bebês. São Paulo: Ground,
1995.
LIDELL, L.; THOMAS, S. O novo livro da massagem. São Paulo: Manole, 2000.
Anotações
Aula
6
Apresentação
C
omo estão seus sentimentos? Como seu corpo reage à sua atitude emocional?
Como você se sente nesse momento? Sente-se bem, com disposição, energia,
vitalidade ou precisa de ânimo? Por vezes, sentimos nosso corpo pleno de
energia, de vitalidade, de vibrações. Mas, nem sempre é assim. Às vezes, nós
nos sentimos tristes, sem forças, sem vontade, sem rumo.
Essa oscilação entre prazer e dor parece fazer parte do nosso equilíbrio vital.
Mas, para nos mantermos vivos, estarmos de bem com a vida, felizes, é preciso
fazer vibrar o nosso corpo e as nossas emoções. Desse modo, podemos nos sentir
plenos de energia, inteiros, vibrantes, em equilíbrio e prontos para criar a nossa
vida. Essa é a proposta da bioenergética e da biodança, duas técnicas que podem
contribuir para o autoconhecimento e a formação em consciência corporal.
Bioenergética e biodança são técnicas de trabalho diferentes, mas que
apresentam a mesma conexão com o corpo e com o movimento. São usadas
em contextos terapêuticos e clínicos, mas podem ser adaptadas para a educação
física, mudando-se o enfoque e os objetivos a serem alcançados. Nesta aula,
iremos tematizar os aspectos introdutórios, teóricos e metodológicos de ambas,
que podem ser aplicados em contextos educativos, com vistas à consciência
corporal e à expressão do corpo por meio do movimento.
Objetivo
99
O corpo em movimento na
bioenergética e na biodança
A
bioenergética foi criada por Alexander Lowen – a partir dos trabalhos de
Wilhem Reich –, o qual é atleta, professor de educação física e doutor em
medicina. Lowen morreu aos 96 anos de idade e praticou a bioenergética
por mais de sessenta anos. Quanto à bioenergética, busca integrar o corpo e o
espírito, razão e emoção em nossas atitudes, forma de pensar, sentir e agir. Para o
criador da bioenergética, “a vida contemporânea encoraja nossas cisões, enfatizando
a cabeça, o intelecto, as realizações materiais. A profundidade da divisão entre
mente e corpo na vida contemporânea é insana” (LOWEN, 2007, p. 18).
Na Figura 1, você pode observar o gráfico de como Lowen e Lowen (1985)
entendem a Bioenergética, destacando-se a relação entre corpo, mente e
processos energético.
Somos, portanto, o nosso corpo. “Se você é seu corpo e seu corpo é você, ele
poderá expressar quem você é. É a sua forma de estar no mundo. Quanto mais vivo
for o seu corpo, mas vivamente você estará no mundo” (LOWEN, 1982, p. 47). Essa
afirmação de Lowen corrobora a perspectiva fenomenológica por nós estudada nessa
disciplina no que se refere à compreensão de corpo e existência (ver Aula 1).
Nessa perspectiva, as nossas atitudes corporais expressam quem somos, por
isso a importância de cuidados com o corpo como encontramos nas técnicas
corporais de consciência corporal, incluindo a bioenergética, pois nos ajudam no
autoconhecimento, no equilíbrio e na expressão do corpo e do fluxo de movimento.
Desse modo, se a pessoa está bloqueada na sua habilidade de expressar sensações
e sentimentos, estará amortecendo seu corpo e reduzindo sua vitalidade. Na terapia
bioenergética, a pessoa é levada a entrar em contato consigo mesma através do seu
corpo, por meio de uma série de exercícios criada por Lowen e Lowen (1985) para
desbloquear as tensões e liberar o fluxo de movimento do corpo.
De acordo com Boadella (1992), os padrões de tensão corporal podem ser vistos
como a história congelada de uma pessoa. Assim, é preciso mobilizar o corpo: o
rosto, a nuca, a cintura, as pernas, os braços, libertando-os de tensões crônicas.
Figura 2 – Respiração.
Fonte: Foto de Paula Nunes e Maria Lúcia Sebastião.
Figura 3 – Grounding.
Fonte: Foto de Paula Nunes e Maria Lúcia Sebastião.
Nas Figuras 11 a 13, mostramos alguns exercícios de contato. Uma das carac-
terísticas de nossa vitalidade é a qualidade de estar em contato com o que pode
ser apreendido pela percepção e ficar atento ao que está acontecendo com você
e ao seu redor. Entrar em contato com o seu corpo e com o do outro por meio
de alongamentos (Figuras 6 a 9) ou em exercícios de massagem que liberam as
tensões nos ombros e na região cervical (Figura 10) ou que envolvam a entrega e
confiança no parceiro (Figuras 11 e 12) relaxam a coluna e ampliam a consciência
corporal e a nossa vitalidade.
Figura 18 – Relaxamento.
Fonte: Foto de Paula Nunes e Maria Lúcia Sebastião.
Leituras complementares
Atividade 1
Autoavaliação
Responda às questões seguintes:
Anotações
Aula
7
Apresentação
A
sabedoria oriental é milenar e diversa, sendo composta por muitas filosofias
e religiões, tais como o confucionismo, o taoísmo e o budismo. Trata-se
de um universo amplo que não seria possível abordar em uma única aula.
Nesse sentido, vamos enfocar alguns princípios filosóficos do zen-budismo e sua
relação com a experiência do tai chi chuan como prática meditativa.
Você irá perceber, nesta aula, a ligação entre conceitos, símbolos, valores,
usos e costumes da vida cotidiana que caracterizam a sabedoria oriental, com
destaque para a consciência corporal.
Objetivos
117
Noções de filosofia oriental
A
ssim como na filosofia ocidental, os filósofos do Oriente, também chamados
de sábios, discorrem acerca de princípios éticos que buscam orientar a
vida cotidiana. Uma das diferenças fundamentais é que no Oriente, a
experiência religiosa não se separa da filosofia (ZIMMER, 1986).
O budismo, por exemplo, comporta tanto uma mensagem filosófica quanto
religiosa. Em nossa aula, atemo-nos à perspectiva filosófica do budismo, rela-
cionando-o à experiência de autoconhecimento e consciência corporal através
de práticas como o tai chi chuan e a meditação.
De acordo com Zimmer (1986), o budismo foi criado na Índia, mas difundiu-se
em várias regiões da Ásia. Os monges budistas contam que o príncipe Guatama
Sidarta deixou o palácio e o reino de seu pai para conhecer o mundo e alcançar
a iluminação. Absorto na experiência da meditação permaneceu imóvel e
intocável, durante quarenta e nove noites, vivenciando a beatitude do despertar.
Compreendeu então que a experiência estava além da palavra e toda tentativa de
falar a esse respeito seria vã. Mas, persuadido por Brahmã, o senhor do universo,
Buda passou a ensinar o seu caminho para a iluminação.
Seguindo o caminho da medicina indiana, Buda apresentou um diagnóstico
a respeito da problemática humana. O âmago de sua doutrina é formado por
quatro fundamentos que constituem “Quatro nobres verdades”, a saber:
Figura 1 – Tao.
Leituras complementares
1) Movimento da folha.
6) Tocar o alaúde.
9) Chicote simples.
14) Proteger.
17) Galo dourado sobre uma perna (apoio na esquerda e joelho direito elevado).
19) Galo dourado sobre uma perna (apoio na direita e joelho esquerdo elevado).
22) Preparar para dar um soco, socar com a direita, limpar as mãos.
23) Recolher.
No contexto do tai chi chuan também podemos conhecer o chi kung, o qual é
a arte de desenvolver a energia para a saúde, a força interior, o desenvolvimento
da mente e a satisfação espiritual. É o resultado de milhares de anos de experi-
ência do homem no desenvolvimento do uso da energia, relacionando a energia
cósmica e as funções vitais. Os antigos mestres desenvolveram a arte da energia
para curar doenças, promover a saúde e a longevidade, melhorar as habilidades
de luta, expandir a mente, alcançar níveis diferentes de consciência e atingir a
espiritualidade. Os registros mostram que a partir de 2700 a.C. o chi kung tinha
se tornado um aspecto importante da medicina chinesa (KIT, 1997). De acordo
com Kit (1997), os objetivos do chi kung são:
A seguir, você verá como os princípios da prática do chi kung podem ser
resumidos.
Criar uma pérola de energia para ser irradiada centrifugamente por todas as
partes do corpo, ou para circular por ele num pequeno fluxo de chi universal.
Fundir a energia com a mente para conseguir uma unidade de corpo e espírito.
De acordo com Huang (1979), o tai chi é o princípio mais sutil do taoísmo, é o
agir sem constranger, ou seja, sem impedir o movimento do outro, mover-se de
acordo com o fluxo da natureza. Por meio dessa prática meditativa, podemos cul-
tivar a nossa energia interna e buscar o equilíbrio yin-yang, a paz e a serenidade.
Com esta aula, esperamos que você possa ter assimilado noções introdutórias
da filosofia oriental que é fundamental à experiência prática do tai chi, como
uma das possibilidades de exercício com a intenção de ampliar a percepção do
corpo e a consciência corporal em sua formação profissional e pessoal.
Leituras complementares
Resumo
Autoavaliação
Realize o exercício prático da meditação zen-budista descrito nesta aula.
Sente-se em uma posição confortável, com as costas bem eretas. Se for descon-
fortável, busque um apoio para suas costas. Mantenha os olhos fechados e em
profundo silêncio, inspire e expire. Não pense, concentre-se em sua respiração.
Percebe o fluxo de sua respiração, o ar que entra e sai de seu corpo. Sons,
pensamentos, sentimentos, são passageiros, não se apegue a nada. Mantenha
o foco na respiração, buscando aquietar seu corpo e sua mente. Permaneça
nessa atitude por um tempo e depois observe como se sente. Participe do
fórum virtual, compartilhando sua experiência.
KIT, W. K. Chi Kung para a saúde e a vitalidade. São Paulo: Pensamento, 1997.
YU, C. W. Qi Gong: antiga arte marcial interna. São Paulo: Editora On Line, 2010.
Anotações
Aula
8
Apresentação
N
esta aula, você vai conhecer o Método Dança-Educação Física, também
conhecido pela sigla MDEF, criado pelo professor de Educação Física e
bailarino Edson Claro, na década de 1980. O MDEF alia o conhecimento
científico e pedagógico ao ensino da dança. Um dos pontos mais relevantes do
método é sua relação com a consciência corporal. Logo, é preciso conhecer e
respeitar o corpo, seus limites e possibilidades para dançar, esse é o princípio
básico do MDEF.
No MDEF, você pode perceber a articulação de várias outras práticas corporais
estudas nesta disciplina de Consciência Corporal, tais como a antingiástica, a
eutonia, a biodança, a bioenergética, entre outras. Recomenda-se retornar às
aulas anteriores como forma de sistematizar e consolidar sua aprendizagem e
ampliar seu conhecimento sobre a consciência corporal.
Coragem, era assim que Edson Claro, a cada aula, a cada encontro ou
dificuldade, nos encorajava na descoberta do corpo, da profissão e da vida. Co-
ragem! Essa palavra nos dava força para perceber nosso potencial e transformar
as dificuldades encontradas, transformando vidas, experiências e conhecimentos
com muita emoção. Coragem! Vamos começar nossa aula.
Objetivos
135
Conceito e trajetória histórica do MDEF
O
MDEF foi criado a partir da experiência vivida pelo professor e bailarino
Edson Claro com o esporte, a educação física, a dança e técnicas de
consciência corporal como a eutonia e a antiginástica. Logo, a ênfase
do MDEF encontra-se na ligação entre a dança e a educação física enquanto
processo de educação.
Nota-se que o método tem um enfoque multidisciplinar, dialogando diversas
áreas de conhecimento como fisiologia, antropologia, psicologia no campo teórico
e disciplinas práticas como o ballet clássico, a dança moderna, técnicas de alon-
gamento e de relaxamento, entre outras. Assim, um dos horizontes do MDEF
diz respeito à formação profissional de modo a desenvolver o senso crítico e o
aprofundamento de conhecimentos teóricos e práticos.
Claro (1995) defende que a formação profissional em áreas como a dança e
a educação física deve ser feita de forma a articular formação teórico-prática,
enfatizando-se a vivências em seu próprio corpo. O autor expõe ainda sua
trajetória como atleta e como bailarino, apontando aspectos positivos e negativos
dessa formação em relação ao corpo.
A importância do seu encontro com a dança criativa, Claro (1995) também des-
taca, pois foi a primeira vez que ouvia falar em consciência corporal. O autor conta
que nessa prática seu corpo foi colocado em xeque por meio de processos de alon-
gamento que mostravam de forma clara os limites e possibilidades de seu corpo.
Essa experiência aproxima-se do encontro com a dança relatado por Fux
(1983). A autora diz que a dança sempre foi para ela uma forma de expressão
pessoal e um vínculo com a vida. Esse vínculo com a experiência vivida
apresenta-se no MDEF como um dos pressupostos fundamentais a partir dos
quais a consciência corporal e a aprendizagem da dança acontecem.
Além da dança criativa, o autor destaca o seu encontro com a eutonia de
Gerda Alexander, estudada em nossa disciplina (ver Aula 3). A eutonia engloba
experiências de expressão corporal e de sensopercepção por meio da imagem
corporal. Portanto, a percepção do corpo na eutonia apresentou-se a Claro (1995)
como um dos pilares para a construção do MDEF.
A técnica de Feldenkrais (ver Aula 4) também foi considerada na elaboração do
MDEF, ressaltando-se aspectos tais como a sutileza de movimentos, a percepção das
alavancas ósteo-articulares e o alongamento muscular. Logo, a antiginástica e outras
técnicas de percepção do corpo também compõem o MDEF, assim como a biodança.
Claro (1995) explicita a contribuição do seu método para a educação física e
para a consciência corporal da seguinte forma: “A contribuição da aplicação do
método dança-educação física é aliar o estudo ortodoxo da anatomia com áreas
alternativas denominadas eutonia e sensopercepção” (CLARO, 1995, p. 63).
De acordo com o autor, dança e educação física podem estar comprometidas
com a performance e o rendimento, mas é preciso uma base formativa. Nesse
contexto, o MDEF se apresenta como um método de educação, manutenção e
profilaxia ao enfatizar a sutileza do corpo e de seus gestos, buscando-se a consci-
ência corporal na compreensão do corpo e na experimentação de várias técnicas.
Atividade 1
Figura 4 – Plié.
Fonte: Autoria Própria (2014).
Figura 5 – Elevé.
Fonte: Autoria Própria (2014).
Atividade 2
Resumo
Cite três livros, que você já leu, relacionados à educação física, com o
4 título, o ano da obra e o nome do autor.
SILVA, E. M. Para além da dança: o caso Roda viva. 2006. 98f. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006.
Anotações
Aula
9
Apresentação
O
lá! Nesta aula, vamos abordar o tema das relações entre corpo, afetividade
e sexualidade. Tal temática faz parte dos conteúdos transversais da educação
básica, sendo um conteúdo que atravessa a nossa vida desde a mais tenra
infância e, como tal, merece ser abordado na formação em Educação Física.
Os laços afetivos nos constituem como seres de desejo. Tais laços vão sendo
tecidos ao longo da nossa história íntima e pessoal, mas também são recortados
pelos aspectos históricos e sociais. Nesta aula, destacamos os estudos do filósofo
francês Michel Foucault sobre a temática, a teoria da sexualidade freudiana e a
compreensão fenomenológica do afeto.
Trata-se de uma temática importante para a formação de professores de
educação Física que lidam diretamente com as questões da corporeidade.
Você também terá a oportunidade de retomar conteúdos teóricos e práticos
já trabalhados na disciplina de consciência corporal, em especial nas aulas sobre
o tocar e o contato humano e sobre a bioenergética e a biossíntese (Aulas 5 e 6,
respectivamente). Sugerimos, ainda, atividades e leituras complementares como
forma de ampliar seus conhecimentos sobre o assunto.
Objetivos
151
Uma breve história da sexualidade
O
filósofo francês Michel Foucault nos apresenta uma história da sexualidade
cuja leitura nos permite compreender como, ao longo de nossa sociedade
ocidental, diversas instituições (medicina, família, igreja, escola) foram
construindo discursos sobre a sexualidade (FOUCAULT, 1985; 1998; 1999).
De acordo com Foucault (1979), até meados do século XVI, a Igreja controlou
a sexualidade de maneira bastante frouxa com a obrigação do sacramento da
confissão anual. Mas, a partir do Concílio de Trento, em meados do século XVII,
assistiu-se a propagação de uma série de procedimentos novos, técnicas de autoe-
xame, de direção da consciência, de um movimento de controle e punição do sexo.
Para Foucault (1979; 1999), é possível perceber uma hipótese repressiva
caracterizada pela restrição e pelo controle dos discursos sobre o sexo, bem
como a institucionalização dos discursos. Nesse sentido, somos herdeiros de
uma moral baseada na família conjugal, cujo casal legítimo e procriador dita a
lei e dá lugar a uma série de sexualidades ilegítimas.
Esse dispositivo que constitui a sexualidade é formulado por uma espécie
de scientia sexualis, ou seja, uma ciência sexual, cuja pretensão é, entre outras
coisas, falar do sexo de forma neutra. Uma ciência subordinada aos imperativos
de uma moral médica normalizadora. Uma ciência defasada da própria fisiologia
do século XIX, por considerar a sexualidade apenas do ponto de vista da repro-
dução (FOUCAULT, 1979; 1999).
De acordo com Foucault (1999), o dispositivo da sexualidade é responsável
também pela administração do sexo. Tal administração ocorre basicamente por uma
teoria da degenerescência cuja matriz explicativa encontra-se na hereditariedade
carregada de doenças diversas. Assim, deve-se evitar a promiscuidade e o sexo deve
restringir-se ao casal, de preferência pertencentes à mesma classe social. Desse modo,
busca-se assegurar o capital patológico da espécie, garantido pela hereditariedade,
que ditava regras para os casamentos e as alianças de sangue.
A burguesia converteu o sangue azul em um organismo são e em uma
sexualidade sadia e opôs resistências para reconhecer um corpo e um sexo nas
classes que explorava ao mesmo tempo em que construía para si uma cultura
do corpo com diferentes cuidados, entre eles os métodos ginásticos e a educa-
ção física (FOUCAULT, 1979). Nas classes populares, dados os muitos conflitos
no espaço urbano, tais como a coabitação, proximidade, contaminação, epide-
mias, prostituição, doenças venéreas, a higiene exerceu um controle rigoroso
dos corpos. Urgências econômicas advindas do processo de industrialização e
a necessidade de mão de obra estável e competente também contribuíram para
o controle da população. Esses aspectos históricos e sociais nos ajudam a com-
preender como o nosso corpo é atravessado por questões sociais e culturais das
mais diversas naturezas, tais como as médicas, religiosas e econômicas.
De acordo com Foucault (1979), o biopoder, ou seja, o investimento sobre o
corpo vivo, sua valorização e gestão de suas forças, apresenta-se como uma das
estratégias políticas de controle social. O filósofo nos apresenta uma reflexão
Saiba Mais
Leitura complementar
KINSEY – Vamos falar de sexo. Direção de Bill Condon. EUA, 2004. Disponível
em <http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-kinsey-vamos-falar-de-sexo-
dublado-online.html>. Acesso em: 7 jun. 2014.
O filme conta a história de Alfred Kinsey sobre o comportamento sexual
masculino. Com base em critérios científicos reducionistas, o sexo é explicado
como simples estado corporal. O corpo é visto como objeto sem relações com a
intencionalidade, com a subjetividade. Por isso a importância de compreender os
aspectos históricos dessa questão, como podemos perceber na leitura de Michel
Foucault ou no mito de Eros e Psique. Aprecie o filme e reflita sobre essas questões.
Atividade 1
De acordo com Louro, Neckel e Goellner (2003), o corpo tem sido objeto da
mais meticulosa atenção, não apenas nas escolas, mas em muitas instituições
que se ocuparam de vigiar, controlar, modelar, corrigir, construir o corpo de
meninos e meninas, jovens, homens e mulheres. Nesse processo, as dimensões
de gênero e de sexualidade usualmente se tornam alvo de atenção privilegiada.
Publicidade, cinema, televisão, revistas, agências de modelos, academias de
ginástica, campanhas religiosas ou de saúde constituem-se como pedagogias
culturais e se voltam diretamente para os corpos dos sujeitos.
Nesse campo das pedagogias culturais, cabe problematizar os padrões de
gênero, beleza relacionados ao corpo e a seus afetos. No contexto da consciência
corporal, sugerimos algumas estratégias para lidar com essas questões como
técnicas de sensibilização corporal. O cinema também pode ser um aliado nesse
processo de apreciação e percepção da realidade.
Dias (2013) faz uma apreciação do filme Billy Elliot, dirigido por Stephen
Dalry, no ano 2000. No filme Billy Elliot, a luta e a dança, representadas pelo
boxe e pelo balé, são técnicas de corpo construídas socialmente, que educam os
sujeitos a partir de determinadas formas de usos do corpo e também de representações
sociais. Billy prefere a dança ao boxe. O autor destaca cenas do filme que proble-
matizam a construção essencialista do gênero masculino e feminino relacionado
às atitudes, padrões corporais e desejos.
Nessa discussão entre gênero e sexualidade, Fraga (2000) apresenta um estudo
significativo no cotidiano de uma escola. O autor acompanhou aulas de educação
física, observando essas questões que dizem respeito ao processo de educação
e de configuração de um modo de ser. Os adolescentes observados, bem como
os professores, apresentam estereótipos de gênero em relação as atividades
desenvolvidas, como o futebol e a dança, nas relações entre meninos e meninas
e outros enunciados que dizem respeito a uma certa moralidade marcada no
corpo de alunos e professores.
Atividade 2
Autoavaliação
Você possui algum tabu ou preconceito em relação à sexualidade? Reflita
sobre o tema e participe de um debate organizado pelo tutor de seu polo. Para
expressar seu ponto de vista, você pode lançar mão de algumas estratégias, tais
como um desenho, produzir um pequeno vídeo, escolher uma música, entre
outras possibilidades.
Referências
BRANDÃO, J. S. Mitologia grega. Petrópolis: Vozes, 2001.
DIAS, J.C.N.S. Do corpo como expressão: reflexões a partir do filme Billy Elliot.
In: DIAS, J.; TERRA, J.; BITTENCOURT, J. Intacta retina: corpo em movimento,
cinema e sociedade. Maceió: Editora da UFAL, 2013. p. 91-102. v. 2.
Anotações
Aula
10
Apresentação
C
aro(a) aluno(a), chegamos à nossa última aula. Espero que você tenha
apreciado o conteúdo de nossa disciplina, os textos, atividades, leituras
complementares. Ao longo da disciplina, falamos de eutonia, antiginástica,
Feldenkrais, bioenergética, Método Dança-Educação Física – MDEF, técnicas
que têm como principal objetivo despertar, sensibilizar, ampliar a percepção do
corpo e do movimento, contribuindo para o autoconhecimento, o bem-estar, a
relação afetiva com o outro.
Você deve ter percebido o quanto a experiência vivida é importante nesse
processo de consciência corporal, com a possibilidade de conhecer coisas novas, de
sentir o corpo de forma lenta, gradual, percebendo as sensações dos movimentos,
como nos sentimos ao respirar, ao tocar e sermos tocados. Esses são princípios
básicos de todas as técnicas vistas e cujo potencial educativo pode ser explorado
nas aulas de educação física.
Objetivo
169
Educação física e o conhecimento do corpo
E
m sua trajetória histórica, a educação física ocupou-se do corpo e do
movimento humano, em particular, por meio dos métodos ginásticos e dos
esportes. Nesse contexto consideravelmente longo, perpassando o século
XIX e mais da metade do século XX o corpo anátomo-fisiológico prevaleceu em
detrimento das questões históricas e sociais (SOARES, 2013).
Uma das abordagens que aparece como crítica ao modelo teórico do esporte e
das ciências naturais e que merece uma análise atenta, inclusive pela sua difusão
não somente na França mas em vários países como o Brasil, refere-se à psicomo-
tricidade e suas aplicações à educação física escolar. Os temas trabalhados no
domínio psicomotor envolvem, principalmente, o esquema corporal, a organização
espacial, o equilíbrio, a motricidade, bem como o trabalho de expressão corporal.
De fato, a psicomotricidade trouxe o corpo sujeito para a educação física a
partir dos anos 1960, na França, e dos anos 1980, no Brasil, notadamente a partir
dos estudos de Jean Le Boulch.
Le Boulch (1983) esclarece que após vinte anos no campo da educação física,
ele se conscientizou de que o contexto da educação física oficial não lhe permitiria
desenvolver suas concepções e, sobretudo, aplicá-las ao contexto escolar. “A partir
dessa data, deliberadamente, pratiquei a psicocinética” (LE BOULCH, 1983, p.
42). Ele se refere ao contexto das instruções oficiais na França, nesse período,
cujo enfoque preconizava o esporte, não havendo espaço em sua pesquisa para
uma teoria geral do movimento, tendo seus prolongamentos em diversos domí-
nios, quais sejam: escolarização, prática esportiva, mundo do trabalho, lazer,
reeducação, cinesioterapia.
Qual a situação em 1987? Questiona Le Boulch (1987). Nos últimos anos,
vimos o rápido desenvolvimento do que chamamos “técnicas de corpo”. Nesse
cenário, a escola é necessariamente influenciada por esse fenômeno contemporâneo,
na medida em que sobre o plano institucional ela deve preparar a criança para
as práticas sociais de seu tempo. Conforme esse autor, a educação física tem,
de fato, sofrido uma mutação e à ginástica generalista de outrora se substitui o
ensino por meio de um catálogo, uma espécie de manual no qual se determinam
as atividades físicas e esportivas a serem aplicadas nas aulas. O risco é de se
considerar a aprendizagem das “condutas motoras” como um objetivo em si com
vistas à socialização para tornar o sujeito apto a se confrontar com os problemas
da vida atual, tanto no trabalho quanto no lazer.
A crítica de Le Boulch (1978) é lúcida e contribui para novas abordagens
em educação física em diferentes países como o Brasil, a Argentina, a França e
Portugal. No entanto, precisa-se avançar no que diz respeito aos estudos do corpo.
O corpo, tal como compreendido por Merleau-Ponty, não se deixa aprisionar pelo
racionalismo científico. Para esse filósofo, se o corpo pode ser comparado a um
objeto, não seria ao objeto científico, mas antes à obra de arte, em sua natureza
aberta, inacabada, expressiva (MERLEAU-PONTY, 1994; 1992).
O poder não age somente por meio da hipótese repressiva, com a restrição e
o controle dos comportamentos. Esse dispositivo do poder também não age por
via única, sendo bastante visível na sexualidade, pois, ao mesmo tempo que se
buscou controlá-la se produziu a intensificação dos desejos de cada um por seu
próprio corpo. Assim, temos um novo investimento sobre o corpo que não tem
mais a forma do controle-repressão, mas do controle estimulação: “Fique nu, mas
seja magro, bonito, bronzeado. A cada movimento de um dos dois adversários
corresponde o movimento do outro” (FOUCAULT, 1979, p. 147). Não escapamos
inteiramente ao dispositivo disciplinar, ao controle de nossas atividades, horários,
gestos e pensamentos. No entanto, nós resistimos ao poder e podemos criar
estratégias de resistência, entre elas, o despertar da percepção do corpo, da
imagem corporal, das contradições sociais que atravessam nossa corporeidade.
Ao longo de nossas aulas, você deve ter percebido que jamais o corpo mereceu
tanto cuidado como hoje, para isso, fazendo uso de vários discursos, técnicas,
teorias, práticas que envolvem as relações com a alma, a beleza, a política e
também com a saúde. Percebe-se que a fragilidade do corpo, sua vulnerabilidade
à doença e sua impotência diante do envelhecimento torna-se cada vez menos
tolerada em nossa sociedade. Essas são algumas questões que fazem parte também
do cenário da consciência corporal.
A esse respeito, sugerimos que retome as Aulas 4 e 5 da disciplina “Aspectos
sociofilosóficos da educação física”, nas quais abordamos a temática da política
do corpo e da saúde, respectivamente. Essas reflexões ajudam a compreender a
consciência corporal não apenas com algo que diz respeito ao indivíduo mas ainda
à sociedade em geral. Com essas reflexões, você poderá perceber as articulações
entre o corpo dos indivíduos e o corpo social, entre normas e responsabilidades
individuais e a política sanitária e moral, bem como o lugar que a educação física
ocupa nesse projeto sanitário de promoção da saúde e do culto ao corpo na socie-
dade contemporânea, além das possibilidades de questionar os padrões vigentes.
Leitura complementar
Resumo
Autoavaliação
Elabore um plano de aula com o conteúdo Conhecimento do Corpo,
escolhendo uma ou mais prática corporal como a antiginástica, a eutonia, o
método Feldenkrais, entre outros conteúdos abordados ao longo da disciplina
de consciência corporal. O plano deve conter uma apresentação da temática,
especificar a turma, a idade dos alunos, o espaço físico e o material a ser
utilizado. Deve também conter necessariamente os objetivos, os conteúdos, a
metodologia, avaliação e referências bibliográficas.
Referências
ALEXANDER, G. Eutonia. Revue EPS, Paris, n. 162, École Normale
Supérieure, 1980.
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Esta edição foi produzida em março de 2014 no Rio Grande do Norte, pela Secretaria
de Educação a Distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (SEDIS/UFRN),
utilizando-se ITC Slimbach Std para corpo do texto e Univers LT Std para títulos e subtítulos,
sobre papel offset 90 g/m2.