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A vida não existe sem a continuidade pais-filhos. O ciclo vital depende do instinto biológico da procriação,
mas o homem, com sua natureza complexa, ultrapassa este nível instintivo.
Desde o V milênio a.C., quando o homem descobriu que participava da procriação, com o ato sexual, através
da observação dos animais que ele começava a criar em cativeiro, tendo tornado-se agricultor e criador de rebanhos, a
paternidade tornou-se um fato cultural. Foi inclusive origem do sistema político patriarcal, pois o homem passou a se
dar o direito de ter posses, inclusive a posse da esposa, para que gerasse filhos comprovadamente seus. Começam aí as
primeiras organizações sociais, a propriedade e as disputas de poder e posse através das guerras. Assim, desde os
primórdios da humanidade ter um filho ganhou importância para além do plano instintivo.
“Entre os hebreus, a pertença de um filho era testemunhada pela mãe. Entre os romanos, bastava o reconhecimento
paterno. Na atualidade, a última palavra pertence ao DNA.” (Jerusalinski, Folla de São Paulo, 24 julho 1994)
“Até o século 17, conta ele, o amor aos filhos não era coisa óbvia: basta lembrar o renascentista Montaigne que diz ter
perdido “duas ou três crianças” em tenra idade. Um pai que nem recorda quantos filhos teve! As críanças oscilam então
entre o mundo dos animais e o dos adultos. São tratadas com o descaso devido aos primeiros, ou, se recebem
consideração, é como adultos em miniatura. Nem se imagina então o que será a grande descoberta dn séculn 18: a
existência de um mundo próprio e autônomo da infância.” (Renato Janine Ribeiro, Folha de São Paulo, 24 de julho de
1994).
Ser pai e mãe provoca, então, a criação de mais sentidos do que se poderia pensar biologicamente.
Para nós, "seres racionais", a paternidade é carregada de significados afetivos, espirituais, culturais e até
mesmo ideológico-políticos.
Os "papéis" de pai e de mãe, coloridos pelos mais diversos simbolismos, geralmente são “impostos”
socialmente aos casais, que nem sempre questionam o que significam para eles.
O "crescei e multiplicai-vos" da Bíblia atinge várias pessoas com sua carga de religiosidade. A necessidade
econômico-fínanceira de se “ter mais braços." para ajudar em casa leva uma grande parcela da população a gerar
filhos. O temor de não dar conta de "sustentar mais bocas" age na direção oposta.
A afirmação da virilidade e do poder falocêntrico do homem e da fecundidade e do desejo de agradar ao
parceiro por parte da mulher, idealizações culturais, são também um tipo especial de pressão.
“A realização pessoal de uma mulher reconhece, na atualidade outras vias além do fogão e da mamadeira, na
medida em que ela participa igualitariamente das artes e dos ofícios que constituem os valores sociais da modernidade.
Neste marco ter um filho aparece como um valor equivalente a outros possíveis.” (Jerusalinski, Folha de São Paulo, 24
de julho de 1994)
“Porém, nas comunidades onde vigora um estrito controle da natalidade, como China e Singapura, a restrição à
gravidez é vivida pelas mulheres como uma privação. Estaríamos diante de uma disposição particular de desejar o
proibido, ou se trataria de uma tendência incoercível própria da feminilidade?
Freud nos oferece neste ponto a sua famosa equação “pênis=filho”, através da qual sustenta a idéia de que tanto
o filho quanto o pênis constituem um modo de dar corpo a um valor essencial nas nossas culturas. Mais do que um
evento natural, ou uma realização instintiva, ter um filho representa, para uma mulher, uma forma de restituir em seu
corpo o que a cultura Ihe assinalou como uma falta. Assim, a procura da maternidade seria um modo simbólico de
realizar a sua feminilidade.”
Numa ótica mais social, ajudar patrioticamente o País, gerando cidadãos produtores ou, ao contrário, participar
da contenção demográfica, por motivos ideológico-políticos, pode também influenciar na opção de um casal.
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A eterna necessidade do ser humano de vencer a morte pode ser vivida simbolicamente num filho.
Deixar a nossa marca no mundo, mesmo após a nossa morte, é possível graças à nossa capacidade de criação.
Nossa criatividade pode se exprimir em obras diversas, inclusive um filho. Entretanto, o filho é uma
"criação", uma "obra" especial, pois o produto final ultrapassa o criador.
Além desses significados gerais, ser pai, ou ser mãe, está carregado de fantasmas pessoais, que dependem da
história libidinal de cada casal. Neste sentido, o que foi vivido enquanto filho/filha costuma determinar expectativas e
fantasias em torno do ideal de ser pai ou mãe. É possível querer reproduzir o modelo dos pais, ou mesmo sentir-se
coagido a repeti-lo, mesmo não gostando dele, ou, ao contrário, fazer o oposto do molde do qual querem se livrar a
qualquer custo, mesmo que seja necessário, para isso, tentar burlar os contornos da lei que nos humaniza, isto é, a
interdição do incesto.
Aliás, hoje em dia, estamos encontrando muitos casais que buscam alternativas e novos modos de relacionar
com o filho e perdem o jeito de estimulá-los, mas também de dar-lhe limites e regras, e acabam permissivos,
incestuosos, no que se refere à liberdade que dão ao filho, o qual se torna um verdadeiro tirano dos pais que fazem dele
a “encarnação” de sua realização fálica.
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O planejamento familiar, a escolha de ter ou não ter um filho, ou de tê-lo em determinado momento da vida,
tem sido muito valorizado. Entretanto, não se tem dado a devida importância aos aspectos inconscientes desta
opção.
O filho existe no desejo dos pais mesmo antes de nascer. Este desejo é algo mais profundo que a simples
vontade de gerar uma criança.
O desejo é algo do inconsciente, algo que cria um “espaço interno de espera” nos pais, que vai ter
influências sobre as futuras relações pais-filhos.
A situação de “objeto do desejo” dos pais é primordial no início de vida. É a capacidade de desejar que
leva a mãe a exercer todos os cuidados da maternagem para garantir a sobrevivência do filho. O filho, devido à sua
imaturidade, depende quase de modo absoluto deste desejo de sua mãe. Com a evolução, aos poucos, a criança vai
descobrindo seu próprio desejo e se separa dos pais. O filho torna-se sujeito de seu próprio desejo.
Este novo ser, que deseja, muitas vezes não corresponde ao desejo idealizado dos pais. Surgem aí conflitos.
Muitos pais não conseguem deixar o filho “ser” e tentam moldá-lo à "sua imagem e semelhança".
Outros sentem-se decepcionados e rejeitam seus "pequenos patinhos feios", se não
correspondem a seu ideal...
Serão os pais capazes de discernir seus próprios desejos e idealizações projetados nos filhos?
Permitem aos filhos a descoberta de si mesmos, como sujeitos que fazem sua própria história?
Muitos pais tentam compensar através de seus filhos frustrações próprias e dizem: “Meu filho vai ser o que eu
não consegui ser...”
É difícil, mas não impossível, amá-los e respeitá-los desde bebês como indivíduos que têm o direito de fazer
suas próprias escolhas.
Muitos pais sentem-se perdidos diante da falta de compreensão do que ocorre com seus filhos. Sentem-se
inexperientes e pouco capacitados para assumir os papéis de pai e mãe.
Gostariam de evitar quaisquer sofrimentos de seus filhos, pois não suportam a impotência de não poder,
efetivamente, ajudá-los num determinado momento de crise.
Geralmente os pais ficam em dúvida quanto ao modo de equilibrar a medida justa de estímulos e liberdade de
experimentação e, por outro lado, de limites e proteção para seus filhos.
Este equilíbrio é uma busca que é facilitada quando os pais permitem a si mesmos, aprender com seus filhos a
difícil arte de se relacionar com os outros e poder rever sua própria relação com seus pais.
Estas todas são questões sobre as quais temos de refletir, se queremos questionar conosco mesmos o que
significa ter um filho e como é nossa relação afetiva com ele.
A busca dos significados, a compreensão do que ocorre conosco diante de um filho e os nossos sentimentos
amorosos por ele são os primeiros passos no sentido de acolher bem a criança que vai nascer ou até mesmo refazer
vínculos que estejam difíceis com um filho já em desenvolvimento.
Colocar-se no lugar do filho, pesquisar o que ele sente e pensa e buscar compreender o que está se passando
com ele, na sua evolução, vem complementar a compreensão de nossas atitudes e sentimentos enquanto pais. É aí que a
relação pais-filhos passa a fluir de um para o outro de modo construtivo.
Esta relação afetiva entre pais e filhos é uma troca estruturante, com vínculos especiais de afeto, respeito e
diálogo, que permitem à criança se tornar pessoa e aos pais se realizarem.
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Compreender o que significa ser pais nos leva a criar com eles um vínculo de confiança e ajuda mútua para que
possamos decodificar os simbolismos que marcam a história de seu filho.
Deixar os pais falar, inicialmente, de suas queixas em relação ao filho e fazê-los precisar que tipo de
sofrimento experimentam, diante das dificuldades daquele, é o primeiro passo numa entrevista. É importante tentar,
com perguntas, delimitar quais condutas os pais consideram inadequadas nos filhos, desde quando as perceberam, como
reagem diante delas e que sentimentos experimentam. Além disso, qualquer palavra, comentário, ou situação que nos
pareçam inusitados devem ser anotados e, a seguir, pesquisados com os pais. Mesmo que seja numa segunda entrevista
podemos dizer aos pais: “Achei interessante o que você me disse outro dia. Como é mesmo isto? Será que eu
compreendi direito?”
Além de saber sobre os sintomas da criança é interessante pesquisar o que os pais acham de seu filho. Uma
pergunta sobre o “jeitão” da criança, do tipo — “e, sem ser seus problemas, que tipo de criança ele ou ela é?” — pode
nos ajudar muito na compreensão do caso que vamos buscar diagnosticar.
Nessa primeira entrevista também é interessante pesquisar o ideal dos pais, suas percepções sobre si mesmos e
as possíveis culpas que vivenciam, com perguntas do tipo: “O que significa para você ser pai, ou mãe?” “Qual o seu
jeito de relacionar com seu filho?” Como era sua família?” “Você se parece com algum de seus progenitores? Qual? Por
quê?”
Também é interessante pedir a descrição de um dia na vida da criança, o que nos permitirá saber, com menos
racionalizações dos pais, quais contatos eles têm efetivamente e que oportunidades de encontro ocorrem para estarem
com o filho no dia-a-dia.
Nesta primeira entrevista é também importante esclarecer para os pais que procedimentos serão utilizados no
diagnóstico psicomotor e começar a levá-los a compreender que vamos buscar decodificar as condutas aparentes da
criança, o que implica em lançar um olhar sobre o simbolismo das condutas que estão latentes e sobre os motivos que se
manifestam indiretamente no sintomas e no modo de ser da criança.
Evidentemente, se os pais precisarem falar de outros temas que não estes, devemos deixá-los prosseguir, como
numa espécie de associação livre, neste primeiro encontro e, posteriormente, buscar complementar os dados já citados.
Numa segunda entrevista, os dados de gestação, nascimento e desenvolvimento da criança devem ser
pesquisados. É lógico que nos interessa saber com que idade, por exemplo, a criança andou, mas talvez a situação em
que o fez seja mais importante para nos levar a esta outra dimensão simbólica que queremos delimitar para
compreender seus sintomas. Assim: “andou enquanto os pais estavam viajando sem a criança?”; “andou para ir de
encontro a algo que desejava, um brinquedo, que o pai ou a mãe seguravam estimulando-a?”; “andou, mas caiu e parece
que ficou com medo e não se arriscou mais a dar outros passos?” — todas estes são exemplos de condutas que podem
revelar fatos interessantes sobre a história simbólica os quais estruturam as relações do sujeito com seus pais e seu
entorno.
É importante saber o que se refere à dinâmica de relações:
No nascimento — “o que sentiu a primeira vez que viu seu filho?” ; “como ele era, que tipo de bebê?”;
“como escolheram seu nome?”; “este tem algum significado que os pais valorizam?”; “como o pai e a mãe
participaram deste momento?”.
No início de vida: “nos primeiros meses como o filho era?”; “quem cuidava dele?”; (se houve uma babá
importante, “como ela era?”); “qual era seu jeitão de mamar? (tranquilo, voraz, etc.); “e a cada conquista
evolutiva, como se saía?”.
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No momento atual: como é seu sono, sua alimentação, sua saúde, sua sociabilidade, sua pesquisa da
sexualidade e suas manifestações nessa área, além de sua adaptação e aproveitamento na escola.
No âmbito familiar: como se relacionam com as famílias materna e paterna, que antecedentes de doenças
ou possíveis distúrbios existem, e quais “fantasias” sobre sua genealogia atravessam os sentimentos dos
pais em relação ao filho.
Todos estes dados serão pesquisado, como numa conversa, e não como um interrogatório, em quantas
entrevistas se fizerem necessárias. De modo geral, não menos que duas e no máximo quatro, antes de se ver a criança,
junto com seus pais, no primeiro encontro, ou alternando com um primeiro contato com a criança e seus pais, se estes
sentem muita urgência para que vejamos o filho, ou se acharmos necessário ter uma primeira impressão sobre a criança,
para depois buscar mais dados com os pais sobre ela e seus relacionamentos.
De uma entrevista para a outra, é interessante rever os dados já levantados e, marcar quais ainda será
interessante pesquisar num próximo encontro.
O importante no contato com os pais é que se estabeleça uma relação de confiança mútua e de colaboração
para ajuda à criança, sem culpabilizá-los em demasia, ou deixá-los comodamente instalados em condutas que podem ser
até origem de problemas reativos de seus filhos. Mobilizá-los para a mudança, na entrevista de contrato de atendimento
psicomotor, após o diagnóstico global, requer que esta aliança tenha se solidificado, nos diversos encontros. Isto os
levará a compreender melhor a decodificação da conduta do filho feita através das entrevistas, desenhos, observações de
jogos, testes e exames psicomotores realizados durante o diagnóstico, os quais o psicomotricista relacional discutirá,
com os pais, antes de aceitar uma criança em tratamento e fazer um prognóstico de evolução do caso.
1. IDENTIFICAÇÃO
3. ANTECEDENTES PESSOAIS
Concepção
A criança foi desejada? Planejada? Foi acidental? Houve tratamento para engravidar?
Posição na ordem de gestações.
Abortos naturais? Provocados? Posição em relação à criança.
Natimortos? Posição em relação à criança.
Filhos vivos. Sexo. Idade. Posição da criança em relação a eles.
Filhos mortos. Causa mortis. Idade do falecimento. Posição da criança em relação a eles.
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Gestação
a) aspectos emocionais:
Quanto tempo após o casamento? Idade dos pais.
O que significa ser pais para cada um dos progenitores?
Como foi a aceitação da gravidez?
Como se sentiu grávida?
Como os pais se relacionaram nesse período?
Imaginaram como seria a criança que ia nascer? Tiveram sonhos com ela? Preferência por sexo? Por que?
Quando sentiu a criança mexer? Como reagiu a esta sensação?
Prepararam o espaço do quarto e enxoval?
Como escolheram o nome da criança? O que o nome significa para os pais?
b) aspectos físicos:
Enjoou durante a gravidez? Quanto tempo?
Vomitou? Quanto tempo?
Fez tratamento pré-natal? Preparação para parto sem dor?
Fez exame de sangue? Alguma radiografia? Alguma transfusão de sangue?
Levou algum tombo?
Doenças durante a gestação.
Condições de nascimento
Em casa? Hospitalar?
Natural? Fórceps? Cesariana?
Descrição do parto : Duração desde os primeiros sinais até nascimento; bolsa rompeu antes ou foi rompida na
hora?
Posição do nascimento: De cabeça? De ombros? De nádegas?
Reações dos pais : Como se sentiram a primeira vez que viram o filho? Como o acharam? Parecia com algum
familiar?
Primeiras reações da criança: Chorou logo? Ficou vermelha demais, roxo ou preta? Quanto tempo? Precisou de
oxigênio? Quanto tempo? Incubadora? Quanto tempo? Qual o APGAR?
Reações nos primeiros dias: Teve icterícia? Amarelado? Alguma doença?
Desenvolvimento
Sorriu
Sentou
Engatinhou
Ficou em pé
Andou Caiu muito? Teve medo? Parou de andar em algum momento?
Muito dada a correrias? Agitou-se após a marcha?
Dentição ( 1a e 2a )
Amamentação: Como era o jeito de dar o seio? A mãe gostava de amamentar?
—Seio E o jeito da criança? Era voraz ou mais tranquila? Sugava bem?
—Mamadeira Vomitava? Rejeitava alimentação? Horário?
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Comida de sal Como foi feito o desmame?
OBS: para cada função deve-se anotar a idade e que situações ou fatos especiais ocorreram nesse momento.
Momento atual
Um dia na vida da criança
Manipulações e hábitos Usou chupeta? Quanto tempo? Como largou? Que atitude os
pais tomaram?
Chupa ou chupou o dedo?
Roeu ou rói unha?
Puxa a orelha?
Arranca os cabelos?
Morde os lábios? Morde alguma roupa?
Alguma mania ou tique?
Qual a atitude tomada diante destes hábitos?
Faz birras? É chorão? Emburrado?
Conta muitas mentiras? Em que situações?
Tira dinheiro escondido?
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Os pais são exigentes? É castigada quando não tira notas
boas?
Gosta da professora? Como se relaciona com colegas?
Tem dificuldade específica em alguma matéria? Acompanha
a turma?
Consegue concentrar-se bem em sala de aula?
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Sexualidade Curiosidade sexual? Faz perguntas? A quem?
Que atitudes e respostas os pais lhe dão?
Masturbação? Quando? Qual atitude dos pais?
Brincadeiras sexuais? Quando? Qual atitude dos pais?
Alguma experiência traumatizante nesta área?
Foi feita educação sexual? Por quem?
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Antecedentes familiares
Há alguém nervoso na família? Como é esse nervosismo?
Fez tratamento psiquiátrico? Medicação? Internação?
Algum deficiente mental?
Alguém tem vícios? Bebe? Joga? Drogas?
Alguém com ataques ou convulsões?
Alguém com asma ou alergia?
OBS: as questões devem ser respondidas considerando-se pai, mãe, avós, tios e primos.
No decorrer do atendimento à criança, seja em Terapia Psicomotora individual, seja de grupo, é importante
deixar uma via de comunicação aberta entre os pais e o psicomotricista.
Algumas vezes os pais estarão presentes à própria sessão da criança, seja porque ela está vivendo alguma
dificuldade de separação de um dos progenitores, seja porque ela tem algo a comunicar aos pais e precisa da ajuda do
terapeuta para fazê-lo.
Também em caso de pais muito dominadores e que buscam invalidar a autonomia da criança pode ser
necessário que o terapeuta proponha algumas sessões conjuntas da criança e família, para melhor decodificar a relação
entre eles e intervir na dinâmica simbólica que se estabeleceu entre eles.
De modo geral, é necessário ter entrevistas de acompanhamento com os pais, pelo menos uma a duas vezes em
cada ano de tratamento.
As entrevistas podem ocorrer com alguma peridiocidade determinada (mais vezes no ano), se o caso o exigir,
ou esporadicamente, quando se fizer necessário. Os pais podem sentir necessidade de conversar ou comunicar algo ao
terapeuta do filho. Também ocorrências nas sessões podem tornar imprescindível clarear com os pais o sentido, por
exemplo, de atrasos, falhas, ou de acontecimentos específicos que a criança nos traz. Neste caso, é o terapeuta que toma
a iniciativa de marcar um horário para entrevista com os pais.
Geralmente, se houver necessidade de um atendimento a nível terapêutico dos pais, pode ser necessário
encaminhá-los a especialista em terapia de casal. Aí é necessário o bom entrosamento com o profissional que for
atendê-los.
No caso de grupos de crianças, também é interessante realizar alguns grupos de pais para acompanhamento,
nos quais há trocas de experiências sobre os filhos. Se as sessões forem registradas em vídeo, pode-se passar trechos
para os pais, para ilustrar a evolução do grupo e ajudá-los a decodificar as condutas e o momento relacional em que se
encontra o filho, o que tem demonstrado ser muito eficaz para mudanças, inclusive familiares, em relação a alguma
dificuldade da criança.
A experiência com esses grupos de pais tem sido rica, pois eles podem relativizar o problema de seu filho e até
aprender ou ensinar aos outros pais algumas estratégias de relacionamento que deram certo quando utilizadas por eles.
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