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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ – UNIFAP

ARQUITETURA E URBANISMO

CONFORTO AMBIENTAL 1

REVISÃO DOS CONCEITOS DE CONFORTO AMBIENTAL


AULA MINISTRADA PELO PROF. ME. BRUNO SILVA
O QUE É CONFORTO AMBIENTAL

Possui diferentes interpretações e percepções, subjetivas, porém podendo ainda ser


percebido, sentido, vivenciado e até mesmo medido, classificado e normatizado.
• “Conforto – Ato ou efeito de confortar(-se) ; Consolo, alívio ; Do inglês ‘comfort’:
bem-estar material ; comodidade”. (FERREIRA, Aurélio. 1986).
• “Conforto – Experiência agradável; sensação de prazer, plenitude; bem-estar
material, comodidade física satisfeita; aconchego”. (HOUAISS, Antônio. 2001).
CONFORTO AMBIENTAL NA ARQUITETURA
Entende‐se por conforto ambiental o conjunto de características ou estratégias capazes de fornecer
boas condições térmicas, lumínicas e acústicas que satisfaçam as necessidades humanas através de
técnicas passivas no ambiente construído.

Isso significa que o ambiente deve ser pensado para proporcionar condições adequadas à realização
das diversas atividades humanas como o estudo, o trabalho, o descanso e outras.

• “Sempre que tratamos dos problemas do Conforto Ambiental na Arquitetura, uma preocupação
deve, a todo momento, estar presente – a relação existente entre as distintas áreas que o compõem,
ou seja, como ocorre a interdependência entre Iluminação, Conforto Térmico, Ventilação e Acústica,
no ato de projetar...”.(SOLANO VIANNA e GONÇALVES, 2001, p.232).
CONFORTO AMBIENTAL NA ARQUITETURA

O PROJETISTA NÃO PODE ENTENDER O CONFORTO AMBIENTAL COMO UMA


ESPACIALIZAÇÃO DA ARQUITETURA E URBANISMO E SIM COMO PARTE DO PROCESSO
PROJETUAL EM TODAS AS SUAS ETAPAS, DESDE O PARTIDO ARQUITETÔNICO ATÉ A
SUA EXECUÇÃO.
CLIMATOLOGIA
• “A Bioclimatologia aplica os estudos do clima (climatologia) às relações com os
seres vivos ... através da edificação é possível tirar proveito ou evitar as condições
climáticas, de forma a propiciar um ambiente interno confortável para os
usuários” (LabEEE) ;
• Antes de traçar o primeiro rabisco do projeto, deve-se ter como premissa um
estudo do clima e do local; a) LV-ARQ – Levantamento de dados para arquitetura.
NBR 16636-2:2017, pg 4.
• Um bom projeto de arquitetura deve responder simultaneamente à eficiência
energética e às necessidades do conforto do usuário em função das informações
obtidas da análise climática e formuladas no programa de necessidades.
CLIMATOLOGIA
ESCALAS CLIMÁTICAS
Para fazer um análise clara e organizada do
clima, ele pode ser dividido em três escalas
distintas: macroclima, mesoclima e
microclima.
Macroclima: Descreve as características
gerais de em termos de sol, nuvens,
temperatura, ventos, umidade e
precipitações compreendendo de áreas
muito vastas da superfície terrestre; porém
pode não ser conveniente para descrever as
condições do entorno imediato do edifício.
CLIMATOLOGIA
CLIMA EQUATORIAL
• Pluviosidade alta, com muita chuva,
(2.000 a 3.000 milímetros por ano);
• Temperatura média anual em torno
de 26°C, com pouca variação;
• Umidade relativa do ar é elevada,
(média anual de 90%);
• Úmido, com alto índice de FONTE: https://pt.climate-data.org/
evaporação e altas temperaturas por
todo o ano;
• No verão, as temperaturas podem
chegar a 35°C durante o dia;
• No inverno, as temperaturas podem
chegar a 18°C durante a noite.
CLIMATOLOGIA
Mesoclima: Refere-se
a áreas menores que
as consideradas no
macroclima. Aqui as
condições locais de
clima são modificadas
Campo Litoral Cidade
por variáveis como a
vegetação, a topogra-
fia, o tipo de solo e a
presença de
obstáculos naturais ou
artificiais.

Deserto Florestas Vale


CLIMATOLOGIA
Microclima: É a escala mais próxima ao nível da edificação, podendo ser concebido e alterado pelo
arquiteto. As particularidades climáticas do local podem representar benefícios ou dificuldades
adicionais, que podem não estar sendo consideradas nas escala do macro e mesoclimáticas.
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS
• O projeto de edificações adequadas ao conforto dos ocupantes e eficientes
energeticamente se dá, primeiramente, através do conhecimento das variáveis climáticas;

Variáveis Climáticas
Relação:
Principais: -Chuvas
- Radiação Solar incidente - Vegetação
- Luz Natural - Permeabilidade do solo
- Temperatura - Águas superficiais e subterrâneas
- Ventilação - Topografia
- Umidade ...E características locais alteradas
pelo homem
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS - RADIAÇÃO

É a principal fonte de energia


para o planeta (calor) e
constitui uma importante
fonte de luz (conforto visual -
evolução olho humano).
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS - RADIAÇÃO
Transferência de calor por radiação nas edificações
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS - RADIAÇÃO
• A radiação solar (onda curta) que entra por uma abertura no edifício incide nos corpos, que se
aquecem e emitem radiação de onda longa. O vidro sendo praticamente opaco à radiação de
onda longa, não permite que o calor encontre passagem para o exterior, superaquecendo o
ambiente interno (efeito estufa)
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS - RADIAÇÃO
• Nas escalas meso e
microclimáticas a radiação solar
pode ser interceptada pelos
elementos vegetais e topográficos
do local.
• Em locais arborizados a vegetação
pode interceptar entre 60% e 90%
da radiação solar, causando uma
redução substancial da
temperatura do solo. Isto
acontece porque o vegetal
absorve parte da radiação solar
para seu metabolismo
(fotossíntese). Além disso o
movimento do ar entre as folhas
retira grande parte do calor
absorvido do sol.
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS – LUZ NATURAL
• Além dos fenômenos térmicos, a radiação solar é a principal fonte de luz natural;
• Uma parte da luz que penetra em um edifício, principalmente sua parcela direta, é
absorvida e convertida em calor;
• Na escala microclimática se pode tirar partido de fontes indiretas de luz. Quando uma
superfície refletora é iluminada por uma fonte de luz primária como a luz solar ou a luz do
céu, resulta em uma fonte indireta de luz;
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS – LUZ NATURAL

Modelos para céu claro, parcialmente encoberto (anisotrópico) e encoberto (isotrópico).

Aberturas Zenitais Aberturas Laterais


VARIÁVEIS CLIMÁTICAS –
TEMPERATURA
• Grandeza física escalar que pode ser definida como a
medida do grau de agitação das moléculas que compõem
um corpo;
• Resulta basicamente dos fluxos das grandes massas de
ar e da diferente recepção da radiação do sol de local
para local;
• Varia de acordo com a radiação solar, ventilação natural
e umidade relativa dor ar (AMPLITUDE TÉRMICA);
• INÉRCIA TÉRMICA: capacidade de um material
armazenar o calor e de o restituir pouco a pouco de um
meio para o outro;
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS – TEMPERATURA
O arquiteto pode tirar vantagens das propriedades de inércia térmica para resfriar ou aquecer o ambiente.

OBS: Capacidade térmica – diz respeito à quantidade de calor que você precisa fornecer à um elemento
construtivo por m² para que ele eleve a sua temperatura em 1º C.
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS – TEMPERATURA
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS – VENTILAÇÃO

A ventilação Natural é, após o


sombreamento, a estratégia
bioclimática mais importante do brasil.
Conforme a Tabela 6.1, a grande maioria
das capitais brasileiras exige a
ventilação natural como principal
estratégia no verão e mesmo ao longo
do ano todo.

EXERCE TRÊS DIFERENTES FUNÇÕES


- Resfriamento psicofisiológico;
- Renovação do ar;
- Resfriamento Convectivo;
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS – VENTILAÇÃO
Gráfico Rosa dos Ventos para Macapá/AP – Relação
frequência x velocidade dos ventos.

• Diferenças nas temperaturas das massas de


ar geram o seu deslocamento da área de
maior pressão (ar mais frio e pesado) para a
área de menor pressão (ar quente e leve).
VARIÁVEIS CLIMÁTICAS – UMIDADE

• Resulta da evaporação da água contida nos mares, rios, lagos e na terra, bem como a
evapotranspiração dos vegetais. Locais com alta umidade reduzem a transmissão da radiação
solar, pela absorção e redistribuição na atmosfera. Porem, altas umidades relativas dificultam a
perda de calor pela evaporação do suor aumentando o desconforto térmico;
• Quanto maior a temperatura do ar, menor sua densidade e, em consequência, maior quantidade
de água poderá conter;
• Se o conteúdo de água evaporada é maior possível para aquela temperatura, diz-se que o ar está
SATURADO.
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Segundo LAMBERTS (2014), a EFICIÊNCIA ENERGÉTICA na arquitetura pode ser entendida como um
atributo inerente à edificação representante de seu potencial em possibilitar conforto térmico, visual e
acústico aos usuários com baixo consumo de energia. Portanto, um edifício é mais eficiente
energeticamente que o outro quando proporciona as mesmas condições ambientais com menor
consumo de energia.
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Usando a 1a. Lei da Termodinâmica:
A eficiência é a razão entre a energia que sai do processo e a energia que entra nele.
E = [Energia de Saída/Energia de Entrada] <= 1 (admensional)

A Primeira Lei da Termodinâmica se relaciona com o princípio da conservação da energia. Isso quer
dizer que a energia em um sistema não pode ser destruída nem criada, somente transformada.

Usando a 2a. Lei da Termodinâmica:


A eficiência é a razão entre a energia mínima teoricamente necessária para a realização de um
processo e a energia efetivamente usada no processo.
E = [Energia Mínima/Energia Utilizada] <= 1 (admensional)

Desse modo, pela Segunda Lei da Termodinâmica, não é possível que o uma energia se converta integralmente em
outra forma de energia.
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Em termos econômicos:
Eficiência Energética pode ser
definida como a quantidade
de energia por unidade de
produto.
[kwh/US$]; [kwh/ton]; [kwh/m3];
outros
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Outro Conceito:
Eficiência Energética é um conjunto de práticas que reduza os custos com a energia e/ou aumente a
quantidade de energia oferecida sem alteração da geração.

É IMPORTANTE ENTENDER QUE:


1- Eficiência energética não é racionamento de energia;
2- Eficiência energética é distinta de limitar a demanda de potência, apesar de esta muitas vezes ser
consequência direta da redução do consumo.
CONTEXTO HISTÓRICO
• O sistemas de ar condicionado e iluminação artificial passaram a ser largamente utilizados, dando ao
projetista uma posição bastante cômoda perante os problemas de adequação do edifício ao clima.
Surgiu, então, um estilo Internacional de edifícios.

• O estilo internacional foi exportado como símbolo de poder assim como os sofisticados sistemas de
condicionamento e as técnicas construtivas sem sofrer readaptações às características culturais e
climáticas do local de destino

• Com a crise do Petróleo de 1973, desencadeada por forças geopolíticas inesperadas, o mundo passou
a dar mais atenção para os limites de reservas energéticas globais. Houve, portanto, grandes
investimentos no setor de fontes renováveis e eficiência energéticas , capazes de sanar o problema da
finitude dos recursos.
VARIÁVEIS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
VARIÁVEIS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
VARIÁVEIS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
VARIÁVEIS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
VARIÁVEIS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
VARIÁVEIS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO
ARQUITETURA E CLIMA
O PAPEL DO ARQUITETO
O ideal é que o arquiteto tenha conhecimento básico de todos os conceitos relativos ao
desempenho energético de edificações para tornar possível e eficiente a multidisciplinaridade
de seu projeto.
ARQUITETURA E CLIMA
O projeto consciente deve buscar tirar partido de cada uma das variáveis climáticas para garantir ao
edifício uma perfeita interação entre o homem o meio em todas as escalas (urbana, arquitetônica,
construtiva e imediata).
ARQUITETURA E CLIMA
Avaliação do desempenho térmico das edificações

- Conhecimento do clima local;


- Escolha dos dados climáticos para o projeto: mês em estudo, dados necessários,
confiabilidade, fonte;
- Adoção de partido arquitetônico adequado ao clima e as funções: forma mais apropriada,
orientação e dimensionamento das aberturas, localização de diversos blocos no espaço físico,
sombra projetada das edificações, máscara, elementos externos de proteção solar (construções,
vegetação);
- Tomadas de decisões de projeto: materiais adequados -> avaliação
do desempenho que o edifício poderá ter -> “Temp int máx. X Temp. ext. média”
ARQUITETURA E CLIMA

“Um desempenho térmico satisfatório da arquitetura apenas com recursos


naturais, pode não ser possível em condições climáticas muito rígidas”

“Em localidades onde a temperatura externa média é superior ao limite do


conforto humano, ou seja, 28°C, não é possível garantir, internamente às
construções, temperaturas dentro da faixa de conforto apenas utilizando-se
recursos naturais – condicionamento passivo”

Uso consciente e adequado da eficiência energética.


ARQUITETURA E CLIMA
Boa arquitetura: Assiste ao PROGRAMA DE NECESSIDADES DO CLIENTE e a ANÁLISE CLIMÁTICA de
forma a responder simultaneamente à eficiência energética e às necessidades de conforto.

CLIMA FRIO CLIMA QUENTE-ÚMIDO CLIMA QUENTE-SECO


Proteger contra: Proteger contra: Proteger contra:
- Frio (baixas - Calor (elevadas - Calor (altas temperaturas de
temperaturas) temperaturas) dia)
- Ventos - Insolação - Frio (baixas temperaturas à
Controle: - Umidade noite)
- Reduzir perda de calor; Controle: - Insolação direta
- Ação dos ventos; - Dissipar calor e umidade - Reduzida umidade.
- Ganhar calor solar; por ventilação Controle:
- Gerar calor interno. - Reduzir ganho de calor - Controle da amplitude
solar térmica por inércia térmica
- Evitar armazenamento - Ventilação seletiva
térmico. - Reduzir ganho calor solar
- Resfriamento evaporativo
ARQUITETURA E CLIMA
Clima e Arquitetura: Quente e Úmido

-Não há variação de temperatura significativa a noite: não há frio apenas alívio térmico, devido a
alta umidade que armazenam calor de dia nas partículas de água que devolvem ao ar o calor retido
e dificultam a dissipação de calor do solo;
-Aberturas grandes para permitir a ventilação nas horas em que a temperatura interna for mais alta
que a externa;
-Construções (materiais de paredes e coberturas) -> Inércia não muito grande, pois dificulta a
retirada de calor armazenado durante o dia;
- Vegetação não de e impedir a passagem dos ventos -> devem produzir sombra mas não impedir a
ventilação;
ARQUITETURA E CLIMA
Partido Arquitetônico – Forma

A forma arquitetônica pode ser de grande influência no conforto ambiental em uma edificação e no seu
consumo de energia, visto que interfere diretamente sobre os fluxos de ar no interior e no exterior e,
também, na quantidade de luz e calor solar recebidos pelo edifício.
“Um mesmo volume de espaço interior pode ter formas diversas, apresentando comportamentos
térmicos e visuais distintos”
REVISÃO

• CONCEITO DE CONFORTO AMBIENTAL;


• CONFORTO AMBIENTAL NA ARQUITETURA;
• CLIMATOLOGIA;
• VARIÁVEIS CLIMÁTICAS;
• CONCEITO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA;
• VARIÁVEIS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA;
• ARQUITETURA E CLIMA;
REFERÊNCIAS

LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F.O.R. Eficiência energética na


arquitetura. [3.ed.] Rio de Janeiro,2014.
Ler Capítulos 1,2 e 3.
CORBELLA, Oscar; YANNAS, Simos. Em busca de uma arquitetura
Sustentável para os Trópicos: Conforto Ambiental. Revan. Rio de Janeiro,
2003.
http://www.labeee.ufsc.br

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