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n Documentos Técnico-Científicos

A Agricultura Familiar e o Desenvolvimento


Sustent ável: Problem as Conceituais e
Metodológico s no Contexto Histórico da
Amazônia

Resumo:
Thomas Hurtienne
Sociólogo e Doutor em Economia. Professor e
Explicita a evolução do modelo do ciclo de
Pesquisador do Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do
fronteira para a consolidação de uma tendência à
Pará (UFPA)
agricultura familiar em base de sistemas de pro-
dução mais complexos que incluem culturas per-
manentes, e pequena criação de gado. Essa ten-
dência foi detectada mais claramente no nordeste
paraense, mas comprovada estatisticamente para o
Estado do Pará e região Norte. Demonstra que a
tese do ciclo de fronteira tem uma validez limita-
da, sobretudo nas regiões de colonização mais
antiga. Contudo, mostra sistemas de produção que
se baseiam mais fortemente na pecuária no sul do
Pará e nas culturas permanentes na Transamazô-
nica que fogem da classificação simplificada co-
mo agricultura itinerante, mas implicam trajetó-
rias diferentes do nordeste paraense.

Palavras-chave:
Agricultura Familiar; Desenvolvimento Sus-
tentável; Brasil-Amazônia.

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1- INTRODUÇÃO do Norte, com poucos insumos externos, da agri-
cultura do Sul do Brasil, mais capitalizada. Po-
O desafio para qualquer análise da dinâmica rém, até no caso da Amazônia podemos encontrar
da pequena produção familiar na Amazônia e da exemplos para ambos tipos de agricultura. Desa-
sua sustentabilidade reside na dif iculdade de con- fortunadamente, essa distinção não é comum no
siderar a grande diversidade das formas da produ- debate atual sobre a agricultura do Norte já que a
ção familiar no campo. pequena produção é identificada com a agricultura
familiar ou a produção familiar sem especificar os
• Durante séculos, extrativistas tradicionais e critérios para essa denominação.
agricultores itinerantes como os grupos indí-
Essa ambigüidade dos conceitos usados
genas, caboclos e ribeirinhos (e no nordeste
reflete por um lado uma dificuldade real de
do Pará, os paraenses) foram os grupos popu-
compreender a estrutura e dinâmica diferente
lacionais mais importantes na Amazônia ru-
ral. O segmento desses camponeses agro- duma agr icultura de pousio, que ainda usa as
extrativistas ainda é importante até na Zona técnicas tradicionais de corte e queima para a
Bragantina. fertilização do solo, e que se afasta por isso muito
do tipo de agricultura permanente encontrada no
• Com a construção da ferrovia na Zona Bra- Sul, mas em outra forma também no Nordeste do
gantina no começo do século se estabelece um Brasil. Quase toda a literatura agronômica,
campesinato agrícola com a base numa agri- agroeconômica e agro-sociológica no Brasil se
cultura itinerante de pousio já altamente or i- refere mais a esta última e também a discussão
entado ao suprimento do mercado de Belém. internacional não avançou muito no entendimento
Nos anos de l940 e 1950, esse processo de co- duma agricultura de pousio relativamente estável,
lonização se estendeu à região da Guajarina que deveria ser distinguida da agricultura
(Capitão Poço e Irituia). “migratória” de derruba e queima a shifting
cultivation, além do estado de arte dos anos de
• A grande imigração de colonos do Nordeste e
l960 representados pela s obras de BOSERUP
do Sul do Brasil depois da abertura da Ama-
(1965) e RUTHENBERG (1980). Por isso a
zônia através dos novos eixos rodoviários, os
primeira vista parece compreensível que a
programas de colonização oficial e os grandes
discussão sobre os sistemas de uso da terra na
projetos foi a base para a formação de um
Amazônia ficou muito presa em conceitos
campesinato mais novo.
puramente descritivos, depreciativos ou
inadequados. Por isso até uma recuperação e
Nesse artigo, os conceitos de agricultura reconstrução histórica desses conceitos é
camponesa e agricultura familiar são usados como importante para avançar na pesquisa.
sinônimos porque ambos referem-se a predomi- Mas fora dessa dificuldade real devera-se
nância da força de trabalho familiar na produção e também considerar que num segundo plano as
na indivisibilidade de decisões de produção e de categorias usadas na Amazônia ainda estão muito
consumo. Na região Norte, o tamanho dos estabe- enraizadas numa visão depreciativa do mundo
lecimentos com uma participação do trabalho rural que, desde a colonização, raras vezes foi
familiar acima de 90% da força de trabalho usada, entendido numa forma não ideológica (COSTA
alcança até 200 ha (COSTA 1992). Respeito da 1992). Por isso a deconstrução de categorias como
relação dos produtores agrícolas com os mercados extrativismo, agricultura migratória, de caboclos,
de produtos e fatores, esses conceitos têm conota- é sumamente importante para superar as mundo-
ções diferentes: camponeses estão somente parci- visões não adequadas à diversidade social na A-
almente integrados em mercados de produtos e mazônia. Essa deconstrução também é válida para
fatores “interligados” e altamente personalizados, as tendências opostas, atualmente muito em voga,
enquanto produtores familiares estão altamente de valorizar num discurso não depreciativo estes
integrados em mercados anônimos e separados conceitos como mais adequados para a sustentabi-
(FRIEDMANN 1980, ELLIS 1993, lidade ambiental, em nível global e amazônico.
ABRAMOVAY 1992). Essa distinção entre cam- Visto de outro ângulo isso implica também a ne-
poneses e agricultores familiares é normalmente cessidade de reintroduzir categorias aparentemen-
usada para distinguir a agricultura do Nordeste e

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te estranhas à realidade amazônica como campe- 2 - DUAS VISÕES OPOSTAS DA
sinato, vilas agrárias e agricultura familiar que
PEQUENA PRODUÇÃO
transcendem a noção da pequena produção famili-
ar de subsistência. FAMILIAR: O CICLO DE
FRONTEIRA DA AGRICULTURA
Fora desses problemas reais e ideológicos ITINERANTE VS. A
com as categorias usadas devera-se lembrar tam-
ESTABILIZAÇÃO RELATIVA
bém num terceiro plano que o uso depreciativo ou
pelo menos “caritativo” de conceitos descritivos DUMA AGRICULTURA
como pequenos produtores, economia de subsis- FAMILIAR ATRAVÉS DA
tência e ciclo de fronteira foi até os anos de 1980, COMPLEX IFICAÇÃO
também um problema geral na discussão brasile i-
ra sobre o destino da pequena produção agrícola. A visão homogeneizadora da pequena produ-
Devido ao passado colonial escravista, tradições ção rural como agricultura itinerante, migrante ou
populistas primeiramente urbanas, visões anti- nômade foi compartida por diferentes vertentes:
campesinistas da esquerda tradicional, a forte
predominância das oligarquias e burguesias rurais • Os enfoques dominantes da modernização
e a dinâmica contínua das fronteiras agrárias, a agrária acusaram aos camponeses de serem agri-
pequena produção agrícola sempre foi tratada cultores itinerantes pouco eficientes e com um
mais como um fator do atraso num processo apa- grande impacto destrutivo sobre os ecossistemas
rentemente irreversível da modernização agrária primários.
em grandes empresas ou pelo menos apenas co-
mo um problema social (VEIGA 1998). A reva- • Os críticos das políticas de modernização identi-
lorização econômica da pequena produção acon- ficava-os como as vítimas nas várias fronteiras agrá-
teceu desde o fim dos anos de 1980 com a nova rias, condenados à expulsão pela pecuária ou por
bandeira da agricultura familiar como fator im- outros sistemas de produção modernos.
prescindível de qualquer economia moderna, no
• Os defensores da conservação da floresta
âmbito acadêmico, mas sobretudo no campo dos
tropical, incluindo tanto muitas ONGs como o
novos movimentos camponeses (ABRAMOVAY
Rain Forest Group do Banco Mundial, considera-
1997). Infelizmente a rápida absorção dessa nova
va-os basicamente como nutrient miners (minei-
bandeira no discurso político até na Amazônia ros de nutrientes) indiferentes aos impactos des-
não levou a uma compreensão verdadeira do trutivos da suas ações.
novo significado deste conceito frente aos velhos
conceitos. Por isso a simples troca de palavras
por razões políticas não resolve o problema du- A visão dominante do ciclo da fronteira con-
ma interpretação mais profunda e coerente da sidera esses sistemas de produção camponesa que
estrutura e dinâmica de sistemas de produção funcionam somente em base a culturas anuais no
que seguem outra lógica econômica e social que sistema de derruba e queima como altamente in-
se distingue daquela das empresas capitalistas. sustentáveis, tanto no nível econômico como no
Isso ainda é um problema sério nas regiões do nível ecológico. Os condicionantes ecológicos
Brasil com uma agricultura permanente. Mas na (solos pobres e ácidos, chuvas fortes com alto
Amazônia isso implica ainda um desafio maior potencial de lixiviação, invasão das ervas dani-
devido à grande diversidade das formas da pro- nhas e pragas), econômicos (falta de infra-
dução familiar e os problemas mais sérios da estrutura, alto custo de comercialização devido à
sustentabilidade ambiental e econômica. interligação dos mercados de fatores e produtos
via venda na folha, falta de acesso ao crédito e a
assistência técnica), jurídicos (falta de títulos de
propriedade) e sociais (tradições agrícolas não
adaptadas) apenas permitem sistemas de produção
simples e de curta permanência devido à queda da
fertilidade do solo e da demanda por terra já der-
rubada por novos agentes mais capitalizados.

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Essa posição foi justificada com o modelo 3- O CICLO DE FRONTEIRA
ecológico clássico da floresta tropical da Amazô-
nia (para uma discussão extensa ver
HURTIENNE 1997). Contudo, resultados recen- Na fase da modernização agrícola forçada
tes da pesquisa em ecologia tropical na Amazônia nos anos setenta, a pesquisa sócio-econômica
Oriental (SHIFT ENV 25 Capoeira, Nepstad et al. limitou-se basicamente à análise da expansão dos
1994) mostram que o modelo clássico precisa ser grandes estabelecimentos e da presença suposta-
revisado em vários aspectos os quais estão rela- mente transitória de colonos na fronteira agrícola
cionados diretamente com a sustentabilidade dos que praticavam uma agricultura de subsistência
sistemas de produção (por exemplo o papel das (VELHO 1976, FOWERAKER 1981).
raízes profundas da vegetação secundária para a
reciclagem da água e dos nutrientes de níveis de Transferindo as experiências do Sul (sobre-
solos mais profundos). tudo do Paraná) ao Norte, partia -se de um ciclo
típico de fronteira no qual os pequenos agriculto-
Contraponto para essa visão dominante é a res logram - apesar de terem títulos de proprieda-
tese de uma estabilização relativa dos camponeses de rural inseguros - tanto assegurar sua subsistên-
nas diversas fronteiras no Pará (COSTA 1994). À cia em base à uma slash-and-burn shifting
base de dados secundários e primários foi mostra- cultivation que segue à derruba da floresta
do que a pequena produção se baseia cada vez primária, como abastecer aos centros urbanos com
mais na complexificação dos sistemas de produ- alimentos baratos. Numa segunda fase, o sucesso
ção (integração pelo menos econômico de culturas inicial é minado paulatinamente pelo capital
perenes, pequena criação e gado), e por isso na mercantil explorador, títulos de propriedade
superação do shifting cultivation como forma inseguros, infra-estruturas insuficientes, uma
predominante. política agrária dirigida aos grandes
estabelecimentos e a queda dos rendimentos
Essa contradição aparente nas perspectivas devido aos solos pobres em nutrientes depois da
de análises reflete-se também em tendências apa- derruba da floresta primária. No final do ciclo da
rentemente contraditórias na história de ocupação: fronteira a maioria dos colonos é expulsa ou
marginalizada pela grande pecuária e pelas
• Nas zonas de colonização mais antigas como plantações de culturas perenes. No caso mais
a Zona Bragantina, a sua prolongação até a região auspicioso essa expulsão é precedida pela venda
Guajarina no nordeste paraense nos anos 1950 e da terra, transformada pelo colono em pastagem,
1960 antes da construção da Belém-Brasília (Ca- aumentando dessa maneira o seu valor. A
pitão Poço, Irituia), onde prevalece a tendência à estrutura fundiária polarizada das regiões de colo-
estabilização relativa; nização antiga reproduz-se na forma do complexo
latifúndio-minifúndio, e a maioria dos colonos
• E nas zonas de colonização mais recentes migra à próxima fronteira ou às cidades.
depois da Belém-Brasília, na Amazônia Ocidental Esse ciclo de vida na fronteira agrícola foi
(Rondônia, Mato Grosso) e no sul do Pará (Mara- estudado detalhadamente em Rondônia, Mato
bá, Transamazônica), onde o ciclo da fronteira Grosso e no sul do Pará. Durante muito tempo
provavelmente tem mais validade. esse ciclo marcou as análises da pequena agricul-
tura na Amazônia (HÉBETTE/AZEVEDO 1979,
Nossa pesquisa vai tentar mostrar de melhor MARTINE 1990, COY 1988, COY 1996,
em que medida essas duas tendências, presentes AUBERTIN 1988, LÉNA/OLIVEIRA 1992).
em qualquer fronteira, se entrelaçaram entre se, Tanto da perspectiva da economia política
predominando sempre uma delas, dependendo da (FOWERAKER 1981) como em sua versão neo-
história da ocupação, das políticas públicas e das clássica do nutrient mining (OZÓRIO DE
condições agro-ecológicas. ALMEIDA 1992, OZÓRIO DE ALMEIDA et al.
1992, SCHNEIDER 1995) esse ciclo foi conside-
rado como a tendência geral marcando a Amazô-
nia, dado que a crescente construção de estradas
garantia uma disponibilidade ilimitada de terras
baratas. Junto à imagem pouco diferenciada da

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shifting cultivation nômade essa visão do pequeno grande variedade de sistemas agrícolas
agricultor na Amazônia carateriza até hoje docu- (KITAMURA et al. 1983, SERRÃO & HOMMA
mentos e análises oficiais nacionais e internacio- 1993, WORLD BANK 1992, BURGER &
nais (WORLD BANK 1992, SERRÃO & KITAMURA 1987). Sob esse conceito, bastante
HOMMA 1993). Na sua variante neoclássica, no vago, são subsumidos sistemas tão diferentes
entanto, já foi demostrada a possibilidade de uma como os dos povos indígenas, dos caboclos e
parte da pequena agricultura se estabilizar em ribeirinhos, dos colonos da Zona Bragantina e dos
estabelecimentos médios consolidados, sobretudo migrantes vindos do Nordeste e do Sul brasileiro
na Transamazônica (OZÓRIO DE ALMEIDA et para a fronteira agrícola, como se fossem um úni-
al. 1995, WALKER/HOMMA et al. 1997). Tam- co sistema de uso da terra.
bém, de uma maneira similar trabalhos mais re-
centes, com um enfoque na economia política no A agricultura itinerante - vista como o
âmbito do CAT/LASAT em Marabá, documentam símbolo de uma economia primitiva da idade da
a possibilidade de uma acumulação “patrimonial” pedra - foi responsabilizada durante muito tempo
através do plantio e da venda de pastagem ou pela falta de desenvolvimento sócio-econômico
através da acumulação de estoques de gado na Amazônia (WAGLEY 1953). Por isso, a polí-
(REYNAL et al. 1996). tica oficial de modernização procurou repetida-
mente introduzir uma agricultura “ordenada” se-
Contudo, essa consolidação da pequena agri- gundo o padrão dominante na Europa ou no Sul
cultura parecia uma exceção numa tendência geral brasileiro (COSTA 1992). Como esses programas
à polarização fundiária e à instabilidade da agri- de modernização fracassaram - da maneira mais
cultura familiar. Ficou sem explicação o fato des- espetacular na Transamazônica - nos anos de
se ciclo de fronteira aparentemente apenas ter 1970, foi ganhando espaço a idéia de que a com-
uma validade limitada tanto nas regiões clássicas binação tradicional da extração de produtos
de colonização antiga, como a Zona Bragantina, florestais com uma agricultura de derruba e
quanto também na prolongação dessa fronteira queima como é praticada pelos grupos indígenas e
para dentro do nordeste paraense (Tomé-Açu, pelos caboclos é sustentável nos níveis ecológico
Irituia e Capitão Poço). e econômico, pelo menos sob condições de baixa
densidade demográfica, baixo nível de integração
4 - A AGRICULTURA MIGRATÓRIA ao mercado e baixo nível de rendimento
E O FRACASSO DA (MORAN 1981). Assim, o veredicto da
ineficiência econômica e da insustentabilidade
MODERNIZAÇÃO AGRÁRIA ecológica passou a ser atribuído mais
restritamente à slash-and-burn shifting cultivation
Um enfoque metodológico que prioriza o a- praticada nas regiões de colonização antiga como
nálise da dinâmica dos sistemas de produção da a Zona Bragantina e nas regiões de colonização
agricultura, vinculando fatores estruturais agro- nas fronteiras agrícolas. Ali, a capacidade de
ecológicos e sócioeconômico aos processos de suporte dos agroecossistemas parecia estar
decisão caraterísticos da agricultura familiar, tem próximo do seu limite (ou de já tê-lo
que rever a insuficiência de pesquisas e das cate- transcendido), como conseqüência da crescente
gorias usadas na Amazônia. densidade demográfica e da integração ao merca-
do (VALVERDE & DIAS 1967, BURGER /
Essa situação atinge tanto a caraterização dos KITAMURA 1987, EMBRAPA / CPATU-GTZ
agro-ecossistemas de pequeno porte presentes nas 1986).
regiões de colonização antiga e nas de fronteira Na fase da modernização agrícola forçada, a
agrícola mais recentes, quanto a avaliação da sus- partir dos anos de 1970, essa avaliação servia para
tentabilidade econômica e ecológica desses agro- legitimar a promoção unilateral da grande pecuá-
ecossistemas em comparação com outros sistemas ria e das plantações de médio porte de culturas
de uso agrícola da terra. Um dos problemas mais perenes, através de grandes subsídios e incentivos
importantes é o uso até hoje pouco diferenciado fiscais distribuídos pelas agências de desenvolv i-
do conceito da “agricultura itinerante” ou “nôma- mento estatais como a SUDAM e o BASA, e a-
de” shifting cultivation para caracterizar uma

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través da orientação unilateral das atividades de cultivation - demostraram ser muito menos dura-
pesquisa e extensão rural da EMBRAPA e da douras do que se pensava. Apenas no contexto da
EMATER (HECHT 1983, FALESI 1974, erosão do atrativo da modernização forçada dos
BROWDER 1988). estabelecimentos agrícolas grandes e médios na
Amazônia, pesquisadores de agências estatais
Porém, a expansão subsidiada da grande pe- como da Embrapa num convênio com a GTZ
cuária gerou resultados econômicos pobres e le- (EMBRAPA/CPATU-GTZ 1986, KITAMURA et
vou a uma catástrofe ecológica gigantesca, tendo al. 1983), da Universidade Federal do Pará
em vista que mais da metade do desmatamento (NAEA), do CAT/LASAT em Marabá e do LAET
dos anos de 1970 e oitenta foi produzida pela em Altamira foram levadas a reconhecer que
grande pecuária (SERRÃO/TOLEDO 1990). A segmentos dos agricultores itinerantes no nordeste
maioria dessas áreas estava num estado tão degra- e no sul do Pará já haviam-se transformado em
dado depois de um ciclo de 6 a 8 anos que foram agriculturas familiares com sistemas de produção
abandonadas; e, com uma densidade média de 0,5 mais diferenciados, com uma integração parcial
cabeças de gado por hectare as áreas restantes já de culturas perenes ou da pecuária.
não podem ser consideradas rentáveis
(BUSCHBACHER & UHL 1988). Assim, a pecu- Apesar do número crescente de pesquisas so-
ária extensiva demostrou ser apenas uma varieda- bre a pequena agricultura familiar no início dos
de especial e bastante negativa da shifting cultiva- anos de 1990, todavia faltava uma distinção clara
tion. entre os diversos tipos de pequenos agricultores
nas regiões de colonização antiga e nas fronteiras
Esse fracasso da modernização agrícola ba- agrícolas de diferentes idades.
seada nas grandes empresas e nos incentivos fis-
cais levou as agências estatais SUDAM e SERRÃO & HOMMA (1993), em seu artigo
EMBRAPA a limitar o desenvolvimento futuro da escrito para o National Research Council sobre o
pecuária à intensificação em áreas degradadas. estado atual da pesquisa e das estratégias de inter-
Sem os subsídios generosos da época anterior, venção, acentuam o significado da shifting culti-
essa intensificação provavelmente apenas poderá vation para a produção agrícola da região: meio
ser financiada através do corte das reservas flores- milhão de estabelecimentos é registrado por eles
tais remanescentes ou através de novos programas sob esse sistema de uso da terra. Porém, com a
de crédito subsidiados do FNO (MATTOS & exceção de algumas poucas diferenciações com
UHL 1994). respeito à Zona Bragantina e o nordeste paraense
e às fronteiras agrícolas clássicas, também nesse
Com a insustentabilidade da grande pecuária, texto domina o conceito muito rudimentar de uma
nos anos oitenta, os programas de modernização shifting cultivation que se nutre da fertilidade
agrícola das agências estatais passam a fomentar natural do solo produzindo rendimentos baixos
as culturas perenes em estabelecimentos de médio com métodos manuais, basicamente para a subsis-
porte intensivos em capital e apenas parcialmente tência do próprio agricultor. Como padrão or ien-
também na agricultura familiar no nordeste para- tador para o melhoramento e a intensificação dos
ense. Depois de 6 a 8 anos, como no ciclo da pe- métodos do cultivo, outros autores - como o Ban-
cuária extensiva, o cultivo de culturas perenes - co Mundial e o IMAZON - fazem referência ao
sobretudo no caso da pimenta-do-reino e do cacau sistema de produção agroflorestal de Tomé-Açu
- levou ao incremento drástico de doenças provo- que é bastante diversificado e artificial e que
cadas por fungos e à invasão de ervas daninhas combina uma variedade de culturas perenes com
(DENICH/KANASHIRO 1995). Junto com a um alto uso de mão-de-obra externa e adubo; ou
queda dos preços no mercado mundial o segundo seja, uma intensidade de capital relativamente alta
pilar da modernização também chegou a limites por hectare ou por mão-de-obra (WORLD BANK
agroecológicos e agroeconômicos, sendo ainda 1992, SUBLER & UHL 1990, TONIOLO & UHL
agravados pela redução dos programas de apoio 1996).
estatais.
Assim, ambas formas de uso da terra - con-
cebidas como alternativas duradouras à shifting

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5 - A DESCOBERTA DO sando no final a sua migração para outras áreas
rurais ou para as cidades. A única diferença en-
CAMPESINATO NA AMAZÔNIA
contrada foram as causas imediatas do êxodo ru-
ORIENTAL: AGRICULTORES ral: Na colonização dirigida como na Bragantina
FAMILIARES COM SISTEMAS isso era o minifúndio (25-50 ha), que pode garan-
DE PRODUÇÃO E tir a subsistência em regime de agricultura tradi-
cional para uma família jovem, mas não a perma-
TRAJETÓRIAS
nência para a segunda e terceira geração, e na
DIFERENCIADAS colonização espontânea como em Imperatriz o
latifúndio, que expulsa os posseiros (HÉBETTE /
Os primeiros passos para uma visão, mas di- ACEVEDO 1979, p. 150, 159, 160). Outro argu-
ferenciada, que ainda não põe em dúvida a tese do mento central ligado ao ciclo de fronteira e muito
ciclo de fronteira e da instabilidade econômica e em voga nos anos de 1970 foi que a não-
insustentabilidade ecológica inerentes à pequena rentabilidade microeconômica da agricult ura de
produção como tendência dominante, foram subsistência devido aos preços baixos dos alimen-
desenvolvidos desde o final dos anos 70 numa tos, tem uma função vital macroeconômica de
série de pesquisas no nordeste e sul do Pará. acelerar a industrialização (HÉBETTE /
AZEVEDO 1979, p. 171, 187).
6 - O SUL DO PARÁ
Em contraste com essas frentes de expansão
No sul do Pará o Centro Agroambiental do dos pequenos lavradores com uma agricultura
Tocantins (CAT), fundado em 1989 em Marabá, e itinerante de subsistência altamente instável e com
o Laboratório Sócio-agronômico do Tocantins itinerários de miséria e expulsão, os autores do
(LASAT) realizaram trabalhos de pesquisa e CAT/LASAT encontraram em Marabá frentes
desenvolvimento em cooperação com o GRET pioneiras bem diversificadas com agricultores
Groupe de Recherche et d’Echanges Technologi- familiares “empreendedores” preocupados não
ques e a Universidade das Antilhas-Guianas onde apenas com a sua sobrevivência, mas com um
eles aplicaram a metodologia francesa dos siste- itinerário de acumulação patrimonial e trajetórias
mas agrários para descrever e analisar os sistemas de evolução rápidas devido à uma “estratégia de
de produção na região de Marabá que combina- fronteira” (REYNAL et al. 1996, p. 3 e 51).
ram a produção de arroz, feijão, farinha e milho
na roça com uma expansão não esperada da pecu- No caso específico desses agricultores fami-
ária em lotes bastante grandes (100 ha antes de liares isso consiste numa trajetória, onde as famí-
1980 e 50 ha depois) (CAT 1992, publicado em lias jovens recém-chegadas do Nordeste ou Cen-
REYNAL / MUCHAGATA / TOPALL / HÉ- tro-Oeste se instalam como agregados ou arrenda-
BETTE 1996, p. 38). tários em uma parcela de terra com floresta densa,
“acumulam” via lavouras brancas, sobretudo ar-
A estrutura e dinâmica dos sistemas de pr o- roz, ou através do início de criação de gado o
dução pesquisados deferiu significativamente da dinheiro suficiente para adquirir um lote próprio
agricultura de subsistência dos “pequenos lavra- para assegurar não apenas as necessidades alimen-
dores”, encontrados nos anos de 1970 por HÉ- tares da família, mas sobretudo para aumentar a
BETTE / ACEVEDO (1979) nas várias frentes de remuneração do trabalho familiar via a impla nta-
expansão no Pará e analisados dentro do binômio ção de pastos e a criação de gado. Como a produ-
minifúndio-latifúndio do ciclo de fronteira duma tividade do trabalho na criação de gado é maior
agricultura itinerante. A monopolização precoce em relação às lavouras anuais, a acumulação do
das terras, as políticas públicas em favor dos gado como reserva de patrimônio estabiliza a
grandes proprietários, o pequeno tamanho dos situação dos agricultores, otimiza o uso de mão-
lotes, os preços baixos e as condições miseráveis de-obra familiar e possibilita de entrar numa traje-
proíbem na visão dos autores a fixação dos pe- tória de acumulação patrimonial.
quenos lavradores na terra transformando eles
temporariamente em peões nas fazendas e cau-

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Essa trajetória começa quando os agricult o- a crise do sistema de produção, provocada pela
res alcançam o patamar de 8 a 10 cabeças de gado “crise de capoeira” devido ao aumento despropor-
que já fornece o capital necessário para expandir a cional das pastagens e pela “crise técnica” da
criação e investir nas instalações necessárias co- pecuária devido à sobrelotação, encontrando, no
mo cercas. As lavouras brancas passam a ter o espaço regional, novas reservas florestais onde
papel de preparar o terreno para a ampliação das podem reproduzir o mesmo esquema de “valor i-
pastagens que depois de algum tempo rompe o zação do meio natural” ou no desenvolvimento de
equilíbrio lavouras /gado causando uma “crise de uma agricultura diversificada ou a especialização
capoeira” que na verdade é associada à uma crise no gado.
de pastagem. Para explicar este conexo os autores
mostram que os sistemas de produção baseados Essa “estratégia de fronteira” surge para os
apenas nas culturas anuais são perfeitamente re- agricultores com fraco capital de produção como
produtíveis quando a área de floresta ou de capo- o melhor meio de valorizar a terra disponível co-
eira seja 5 a 7 vezes superior à área cultivada. mo um dos “maiores triunfos da fronteira”
Como esta última é na média 3 ha, uma área de 15 (REYNAL et al. 1998, p. 51). A fronteira consti-
a 21 ha é o espaço necessário para reproduzir o tui então para os autores “um espaço econômico
ciclo das culturas anuais dentro do sistema de em movimento, onde cada um tenta tirar vanta-
corte e queima (ou no caso excepcional dum cul- gem” e que determinará o ritmo de acumulação e
tivo de 5 ha entre 25 e 35 ha), o que se adapta evolução dos sistemas de produção que pode ser
bem ao tamanho dos lotes de 100 ha até 1980 e 50 extremamente rápido para alguns, mas pode ser
ha depois (REYNAL et al. 1998, p. 38). Mas co- que para outros jamais se concretize.
mo conseqüência da valorização mais alta do tra-
balho familiar no subsistema gado, os produtores Para o caso específico de Marabá os autores
são incentivados de expandir a área de pastagem do CAT/LASAT chegaram a um modelo explic a-
além desses limites da área necessária para a re- tivo que superou por um lado a visão simplificada
produtibilidade das culturas anuais o que rompe o da agricultura itinerante de culturas alimentares na
equilíbrio inicial entre lavouras e gado. Com um fronteira, mostrando a sua viabilidade agro-
encurtamento do tempo de pousio para 3 anos a econômica em lotes acima de 25 ou 30 ha, a capa-
fertilidade do solo e a produtividade das culturas cidade empreendedora dos agricultores “pione i-
anuais diminui até tal ponto que as culturas não ros” em diversificar os sistemas de produção e o
perdem apenas a sua função de acumulação, mas seu papel ativo de usar a terra ainda disponível na
também não podem mais assegurar a base de ali- fronteira como “maiores triunfos” para a supera-
mentação que parece ser indispensável ao funcio- ção das crises dos seus sistemas de produção. Em
namento duma agricultura familiar diversificada. vez de ser apenas uma frente de subsistência a
Isso implica uma dependência maior da venda do fronteira mostrou-se uma frente pioneira com
gado (ou do leite), para cobrir as despesas de ma- grandes chances de uma promoção coletiva dos
nutenção da família o que implica uma tendência colonos até a formação de um campesinato médio,
à uma sobrelotação e um sobrepastoreio das pas- dotado de patrimônio e meios de produção relati-
tagens, causando uma “crise técnica” das pasta- vamente elevados (REYNAL et al, p. 51).
gens. Então na visão dos autores a “crise da capo-
eira” é na verdade apenas um subproduto da “cri- Mas por outro lado este modelo implica tam-
se das pastagens”. bém uma reformulação da tese do ciclo de frontei-
ra visto não como expulsão dos agricultores itine-
Para superar essa crise do sistema de produ- rantes pelas empresas capitalistas, mas interpreta-
ção os agricultores usam uma “estratégia de fron- do como uma estratégia consciente e racional de
teira”. Essa consiste na venda duma parte do “ca- acumulação patrimonial de gado e terra benefic ia-
pital gado” para a compra de mais terras dos vizi- da por uma parte dos agricultores familiares, que
nhos (no caso das localidades recentes) ou na podem superar a crise da pastagem com a venda
venda da terra valorizada para a adquisição de da terra valorizada e o deslocamento para novas
terras mais baratas em localidades novas e logo áreas baratas ainda com floresta densa. Tirada do
distantes (no caso das localidades antigas). Nos exemplo específico de Marabá, esta tese reformu-
dois casos os agricultores familiares evitam assim lada corre o mesmo risco como a tese inicial de

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generalizar numa maneira apressada uma conste- 7 - O NORDESTE PARAENSE
lação específica e fornecer apenas uma nova visão
homogeneizadora sobre as trajetórias do campesi- Enquanto o sul do Pará foi caracterizado por
nato na Amazônia. Ademais essa tese não consi- uma imigração mais recente depois da construção
dera trajetórias diferentes como a inclusão de dos novos eixos rodoviários, no nordeste paraense
culturas perenes que representa uma alternativa a colonização começou no início do século na
para a expansão desenfreada da pecuária e um Zona Bragantina e se estendeu até a região Guaja-
potencial de sustentabilidade econômica e ecoló- rina nos anos 40 e 50, antes da fase de alta imi-
gica maior. Ela também desconsidera que muitas gração para Amazônia. Mas foi exatamente este
vezes a venda da terra já valorizada para a compra campesinato a base duma agricultura itinerante de
de terra na fronteira mais distante signif ica tam- pousio que serviu como exemplo clássico para a
bém a perda de vantagens locacionais já adquir i- validez do ciclo de fronteira, da alta instabilidade
das. Tomando em conta os últimos anos, a dinâ- econômica e insustentabilidade ambiental.
mica dos sistemas de produção não seguiu apenas
a trajetória arroz > pastagem, descrita pelos auto- Uma série de autores importantes com uma
res, mas, a partir de 1992, incluiu também as cul- orientação biológica, geográfica ou agronômica
turas perenes (sobretudo cupuaçu). (CAMARGO 1948, CRUZ 1955, LIMA 1954,
EGLER 1961, SIOLI 1952, PENTEADO 1967)
Os fundamentos empíricos dessa tese pare- criaram, a base de observações verdadeiras (o
cem ser duvidosas ou pelo menos precipitadas: a desaparecimento da floresta e a degradação ambi-
“estratégia de fronteira” sugere um deslocamento ental) mas também superficiais e parciais, a ima-
muito maior daquele encontrado na própria pes- gem do pequeno produtor pobre e burro que “se
quisa do CAT/LASAT, que constata “uma rotati- entregue à rotina sem receber a mínima assistên-
vidade importante” das famílias nos mesmos lotes cia e orientação técnica, caminha a exemplo do
durante os primeiros 6 anos de 14% e nas locali- índio, avança eternamente, derruba novas árvores
dades mais antigas (com mais de 20 anos) de 7% todos os anos, prossegue nômade, mudando sem-
ao ano (REYNAL et al. 1998, p. 30). Comparando pre de região, produzindo um mínimo com a des-
essas taxas com a discussão que OZÓRIO DE truição dessa riqueza secular que a cada passo é
ALMEIDA (1992) faz sobre este assunto, pode- deitada abaixo e queimada inconscientemente”
mos concluir que essas taxas não são suficiente- (Camargo 1948). Em este discurso de Felisberto
mente altas para falar já de uma predominância da de Camargo, segundo e mais importante diretor
estratégia de fronteira como cálculo econômico do Instituto Agronômico do Norte (o antecessor
generalizado. da Embrapa Amazônia Oriental), criado por Var-
gas 1939 para desenvolver as bases científicas
A validez geral do modelo da “estratégia de para um uso racional das riquezas naturais da
fronteira” já sofre fortes dúvidas considerando o Amazônia, e apresentado na Conferência Inter-
caso da Transamazônica entre Pacajá e Rurópolis Americana de Conservação dos Recursos Reno-
pelo Laboratório Agro-Ecológico da Transamazô- váveis em Denver nos Estados Unidos em setem-
nica (LAET). Lá foram encontrados sistemas de bro 1948, já foram tocados todos os ingredientes
produção mais diversificados com um papel pre- da nova (e velha) visão dos pobres agricultores
ponderante das culturas perenes; o gado tinha nômades despreparos que seguem “o exemplo do
apenas um papel secundário. Isto representa uma índio” e na “retaguarda do caboclo” “sua obra
trajetória claramente diferente à estratégia de inconsciente de destruição” “praticando um crime
fronteira (CASTELLANET / SIMÕES / sistematizado” contra o “futuro das recursos irre-
CELESTINO 1994) (veja cap.5). Em vários estu- nováveis”, que por razão dos “solos excessiva-
dos, pesquisadores franceses do ORSTOM e bra- mente silicosos num clima tropical úmido” repre-
sileiros do Museu Goeldi questionaram a aplic abi- sentam um “problema dos mais sérios, morosos e
lidade do ciclo de fronteira tanto para este caso caros para a humanidade” (veja a discussão em
como também para Rondônia (HAMELIN 1992, Carneiro da Conceição 1990).
LÉNA 1988).

450 Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. Especial 442-466, dezembro 1999
Naturalmente não pretendemos pôr em dúvi- Ruthenberg e muitos outros já foram publicadas).
da o grande mérito de Camargo. Ele tematizou Por isso ele pode comparar no primeiro volume a
numa forma muito clara e moderna as conseqüên- agricultura itinerante na Bragantina com a “agri-
cias irreversíveis do desmatamento na Amazônia, cultura divagante” dos bantos de Angola sem
se referindo aos seus estudos pioneiros sobre a entrar nas diferenças fundamentais entre esses
fraqueza dos solos, publicados em 1948, e ao dois sistemas (PENTEADO 1967, p.96). Isso
grande peso da produção de lenha e carvão neste impede também uma visão conjunta da cultura
processo. Ele também teve um papel de pioneiro alimentícia itinerante e da produção comercial de
na defesa das culturas perenes como as mais a- tabaco, malva e algodão como segmentos dos
propriadas aos solos e ao clima da Amazônia. sistemas de produção diferenciados dos pequenos
Mas a apresentação do pequeno produtor como produtores e não como formas aparentemente
nômade e na “miséria sustentada por uma diminu- separadas.
ta produção” foi mais uma representação ideoló-
gica da visão tradicional das elites urbanas de No capítulo final ele resume de novo essa vi-
Belém do que uma descrição correta das formas são predominante na obra dele de uma “agricultu-
de produção deste campesinato sedentário que ra predatória” das lavouras de subsistência ou
abastecia Belém com alimentos, lenha, matéria - mesmo comercial com “a falta de um mínimo
prima (juta, malva, algodão) e mão-de-obra bara- indispensável à boa utilização do solo”, tota lmen-
ta, essenciais para a sobrevivência alimentar e a te “empírico” e “arcaico” “sem nenhuma inovação
acumulação mercantil da capital Belém. introduzida pelo homem” (PENTEADO 1997, p.
470). E ele menciona também de novo as planta-
Nem todos os autores mencionados ficaram ções de pimenta-do-reino e de seringueira como
somente nesse nível dum discurso depreciativo, exemplos de “emprego de técnicas racionais”,
nem Camargo mesmo. Mas uma reconstrução e devido provavelmente ao alto valor desses produ-
desconstrução da visão sobre a agricultura itine- tos.
rante mostra um profundo desconhecimento das
formas de produção camponesas e uma tendência Mas no parágrafo seguinte ele introduz fi-
nítida de valorizar apenas plantações de culturas nalmente duma forma quase surpreendente uma
perenes ou propriedades comerciais mistas de distinção entre uma agricultura de rotação de ter-
gado leiteiro e culturas de rendimento comercial ras e uma de itinerância num sentido clássico: Os
garantido com uma reciclagem do esterco, como a agricultores usam o “sistema clássico da roça e a
sempre mencionada Granja Imperial do alemão itinerância das culturas, embora limitada e cir-
Rettelbusch em Marituba (hoje um cemitério eco- cunscrita a uma determinada área, conforme já
lógico) (EGLER 1961, p. 552, SIOLI 1973, acentuamos, empresta à paisagem da Bragantina
p.332). aquele aperto de desorganização que tão bem a
caracteriza”. Isso significa para Penteado: “Não
Também a obra de referência sobre a Zona notamos na área em estudo o nomadismo do ho-
Bragantina, de PENTEADO (1967), reflete esses mem; embora se pratique a rotação de terras e,
preconceitos apenas de forma parcial. Essa obra raras vezes, a de culturas, o homem encontra-se,
apresenta uma enorme riqueza de informações mais ou menos, fixado ao solo: nisto reside uma
sobre a geografia, os solos, o clima, a produção grande diferença entre esse sistema de agricultura
agrícola e naturalmente os efeitos catastróficos do da Bragantina e aquele existente na África Tropi-
desmatamento, e além disso informações sobre os cal”. Mas este nomadismo fica circunscrito a uma
sistemas de produção agrícola e cálculos que mos- visão também muito parcial: “Enquanto que no
tram a inviabilidade da agricultura itinerante, continente africano o agricultor é obrigado a per-
computando a mão-de-obra familiar a preços de correr, diariamente, grandes distâncias, para de
mercado e informações contraditórias sobre a sua casa atingir as plantações, os colonos da Bra-
produtividade. Um problema sério é o conceito da gantina tem-nas imediatamente atrás de suas habi-
agricultura itinerante que Penteado usa no percur- tações ou não muito distante das mesmas”
so dos dois volumes sem fazer uma distinção ex- (PENTEADO 1967, p. 470).
plícita com uma agricultura de pousio (apesar de
que as obras essenciais de Boserup, Rappaport,

Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. Especial 442-466, dezembro 1999 451
Essa distinção leva Penteado até a possibili- O estudo pioneiro nessa nova ótica já foi fei-
dade da “introdução de novos sistemas agrícolas to nos anos de 1970 por SAWYER (1979) que
como ... o uso de corredores que na bacia congo- pretende analisar a base de estudos históricos e
lesa se mostraram tão eficazes”. E em contraste empíricos cuidadosa e realisticamente as condi-
com autores como Sioli ele já reconheceu que a ções que influem na absorção produtiva de mi-
Granja Imperial do Sr. Rettelbusch - modelo de grantes em áreas de fronteira, tomando em conta a
uma agricultura comercial com um sistema de enorme diversidade das experiências tanto da
reciclagem eficiente de nutrientes - não represen- colonização espontânea e da agricultura tradicio-
tava uma alternativa à agricultura tradicional. nal quanto dos projetos de colonização dirigida na
Contudo, ele atribuía o fracasso econômico da Amazônia, com o fim de superar os preconceitos
Granja Imperial à explicação pouco convincentes correntes e as generalizações apressadas. Ele rea-
como a falta de compreensão dos trabalhadores lizou a primeira revisão da história de ocupação
agrícolas, problemas da legislação trabalhista e o da Zona Bragantina e de seu prolongamento para
capital limitado. a Guajarina desde os anos de 1940. Em contraste
com a visão predominante de CAMARGO,
Mas esta distinção entre uma agricultura nô- PENTEADO e EGLER, que já nos anos de 1950 e
made e uma de rotação de terras não afetou a vi- 1960 falaram dum colapso da Zona Bragantina
são geral pessimista e depreciativa de Penteado de devido ao aumento da densidade populacional e o
que a irracionalidade dessa agricultura empírica encurtamento do pousio, ele sublinhou com dados
levou a uma destruição do meio ambiente e das dos Censos e outros materiais que a população
condições econômicas de abastecer Belém com os rural na Bragantina aumentou entre 1929/40 com
alimentos necessários. Como todo os seus suces- uma taxa anual de 3%, mas entre 1940/60 apenas
sores ele menciona o aumento popula cional drás- de 1,3% e que a produção agrária na Zona Bra-
tico para mostrar a inviabilidade da agricultura gantina expandiu desde os anos de 1920 com um
itinerante primitiva devido ao encurtamento do grau de comercialização muito alto (no caso da
pousio, sem provar a relação exata entre essas farinha de mandioca acima de 70%) e com o cul-
tendências e até deixando aberto a resposta como tivo freqüente de produtos comerciais (algodão e
na seguinte citação: “Resta saber quando a sobre- malva). Ele já põe em dúvida a explicação comun
carga demográfica, cuja pressão aumenta dia a de que a crise da rentabilidade e da produtividade
dia, romperá o frágil equilíbrio alimentar em que foi causada apenas pela diminuição da fertilidade
se encontra a região, pois não existe correlação do solo devido ao desmatamento e o encurtamen-
entre o aumento populacional e o da produção to do ciclo de pousio. Na visão dele, fatores eco-
agrícola regional, por razões ligadas não somente nômicos e sociais foram até mais importantes (a
as condições naturais, mas, e também, ao seu pró- Belém-Brasília, o capital mercantil). Partindo
prio efetivo humano” (PENTEADO 1967, p.44). dum enfoque muito similar ao da economia fami-
Essas informações parciais, correlações pouco liar, ele já criticou cálculos apresentados por Pen-
provadas e a visão geral homogeneizadora da obra teado que mostraram perdas financeiras dos colo-
de Penteado foram raramente discutidas numa nos na produção da farinha e do milho, delinean-
forma crítica, mas sempre repetidas como verda- do que isso resultou apenas porque a mão-de-obra
des já provadas. familiar foi incorretamente computada ao preço
de mercado.
Um dos problemas metodológicos fundamen-
tais para qualquer estudo sobre o campesinato no Outro mérito do estudo de Sawyer é que ele
Nordeste paraense foi a necessidade de livrar-se fez a primeira revisão ampla dos conceitos usados
dessas visões superficiais predominantes, tentan- e aplicáveis para a análise da pequena produção
do realizar ao mesmo tempo uma revisão da histó- dos colonos que chegaram do Nordeste para a
ria da colonização e uma reconstrução das estrutu- Zona Bragantina e a Guajarina. Partindo da dis-
ras e dinâmicas de desenvolvimento dos sistemas cussão internacional sobre o campesinato, ele fez
de produção. uma distinção entre os camponeses de subsistên-
cia, dispersos e morando longe dos centros urba-
nos (os caboclos e ribeirinhos) e os da pequena

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produção mercantil perto de cidades e morando duas pesquisas foi que nesses dois municípios a
mais concentradamente em ou perto de vilas (os expansão das culturas perenes, sobretudo da pi-
colonos). Dessas duas formas ele distingue ainda menta, concentrou-se nos estabelecimentos acima
os extrativistas que muitas vezes também traba- duma área total mediana de 80 ha com um grau de
lham como assalariados. capitalização já mais elevado. Mas ainda assim os
estabelecimentos familiares (abaixo do valor me-
No seu estudo particular sobre Capitão Poço diano) representaram 25% das entidades pesqui-
ele discute já as tendências para uma diferencia- sadas. Este resultado provavelmente levou aos
ção dos sistemas de produção, a grande capacida- autores a considerar a expansão das culturas pere-
de inovadora dos camponeses na introdução da nes dentro das unidades da agricultura familiar em
malva, a sua independência relativa do sistema de Capitão Poço como exceção e não como uma
aviamento e a sua integração altamente flexível tendência mais geral, apesar do fato que esses
no mercado. Mas nas conclusões ele ainda ficou mesmos autores detectaram numa análise dos
preso na visão do ciclo de fronteira, porque ele dados do Censo Agropecuário de 1980 uma alta
achava que os camponeses, expostos à exploração participação dos estabelecimentos até 100 ha no
do capital mercantil e ao declínio da fertilidade do valor de produção das culturas perenes de 76,6%
solo, não serão capazes de fazer os investimentos (BURGER / FLOHRSCHÜTZ 1984). É pelo me-
necessários para diversificar os seus sistemas de nos curioso que esses autores generalizaram par-
produção em direção à implementação de pimen- tindo de casos específicos e não das tendências
tais e pastos para gado. mais gerais do Censo.

Apenas alguns anos depois uma pesquisa do Apesar desses avanços na compreensão em-
convênio Embrapa/GTZ já pode mostrar que o pírica da dinâmica dos sistemas de produção no
processo de diferenciação dentro do segmento das Nordeste paraense, a compreensão teórica não
culturas temporárias tinha avançado muito, que os progrediu. As pesquisas dentro do convênio Em-
mercados locais de trabalho tinham um caráter brapa/Cpatu-GTZ já constataram processos de
muito dinâmico e que os camponeses mesmos (e diferenciação dos sistemas de produção com a
não os capitalistas agrários como Sawyer previa) introdução de culturas comerciais temporárias e
já começaram de implantar os pimentais numa perenes, como conseqüência disso uma certa esta-
forma inovativa de learning-by-doing e a base dos bilização econômica e territorial dos agricultores e
ingressos monetários da farinha, da malva e do alguns traços duma economia familiar diferente
algodão (KITAMURA / HOMMA / FLOHRS- do modelos neoclássico. Mas curiosamente esses
CHÜTZ / SANTOS 1983). Nesta pe squisa os resultados ficaram soltos porque a validez geral
autores já chegaram muito perto do conceito du- da visão do ciclo de fronteira (instabilidade eco-
ma agricultura familiar, que não segue a lógica nômica e insustentabilidade ambiental da agricul-
capitalista da microeconomia neoclássica, e perto tura migratória) não foi questionada, apesar de
duma superação da validez geral do ciclo de fron- muitos indícios ao contrário (BURGER /
teira e da identificação da pequena produção com KITAMURA 1987, FLOHRSCHÜTZ /
a agricultura migratória, tomando em conta a alta KITAMURA 1986, KITAMURA 1994).
estabilidade dos colonos e o alto grau de diferen-
ciação dos sistemas de produção. Isso surpreende sobretudo porque pelo me-
nos BURGER/FLOHRSCHÜTZ (1986) já consta-
Em duas outras pesquisas os mesmos autores taram num estudo muito interessante com os da-
analisaram a expansão da pimenta nas unidades dos do Censo Agropecuário de 1980 para Pará
de produção mais capitalizadas dos migrantes que os pequenos produtores (até 100 ha) produzi-
japoneses em Tomé-Açu e Igarapé-Açu (FLO- ram em somente 20% da área total dos estabele-
HRSCHÜTZ / HOMMA / KITAMURA / cimentos rurais 68% do valor da produção agro-
SANTOS1983, FLOHRSCHÜTZ 1983). Mas fora pecuária total (80% do valor da culturas temporá-
do enfoque sobre a agricultura comercial sobretu- rias sobretudo de alimentos básicos, 76,6% do
do Flohrschütz entrou numa análise interessante valor das perenes e 32,6% do valor da produção
sobre custos de reprodução dos camponeses e da animal) e empregaram 82% das pessoas ocupadas,
estrutura familiar. Um resultado importante dessas na maioria familiares (BURGER / FLOHRS-

Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. Especial 442-466, dezembro 1999 453
CHÜTZ 1984, BURGER 1986). Na verdade, longo prazo (que aliás seria também impossível
neste mesmo estudo os autores já descreveram apenas do ponto de vista matemático).
com precisão a grande diversidade das tendências
na ocupação e utilização das terras e na dinâmica Como não parecia possível transferir os re-
da população rural. Infelizmente este enfoque sultados do caso de Capitão Poço aos sistemas de
mais “macro” de analisar o papel econômico da produção menos complexos da pequena produção
pequena produção até 100 ha (e não como mais familiar da Zona Bragantina, para essa região
tarde somente até 50 ha) sobreviveu apenas em dominavam ou hipóteses gerais sobre futuros
algumas citações como aquela de SERRÃO processos de marginalização devidos à degrada-
(1995) citada acima, mas nunca foi atualizado ção ecológica, econômica e social (BURGER &
nem integrado nos trabalhos seguintes. Na verda- KITAMURA 1987) ou análises neoclássicas que
de, apenas os trabalhos de COSTA (1989,1992 e recomendavam um aumento da eficiência através
1998) e este estudo retomaram e valorizaram essa da integração em complexos agroindustriais
linha “macro” de pesquisa. (SANTANA 1990, 1995).

Apesar do fato de que os autores desse con- O estudo de Santana sobre Igarapé-Açu, ape-
vênio apresentaram estudos muito valiosos e a sar de ser um dos poucos estudos com grande
primeira consideração da participação dos peque- rigor e uma análise sistemática, demostra os limi-
nos produtores no valor de produção, eles chega- tes de um enfoque baseado na microeconomia
ram no final como Sawyer apenas à uma reformu- neoclássica: O ponto de partida é um processo de
lação do ciclo de fronteira para o Nordeste do integração evolucionário dos pequenos agriculto-
Pará que depois serviu como hipótese não questi- res. Esses, numa primeira fase apenas cultivam
onada para as novas pesquisas biológicas em Iga- produtos de subsistência para integrar-se logo
rapé-Açu na Zona Bragantina no âmbito do Pro- numa segunda fase paulatinamente à economia de
grama Shift/Capoeira. mercado através do plantio adicional de culturas
perenes, orientando-se em critérios de eficiência
Enquanto a versão clássica do ciclo de fron- econômica. A maioria dos estabelecimentos estu-
teira enfatiza processos rápidos de imigração se- dados nessa pesquisa apresenta perdas de balanço
guidos pela implantação de culturas anuais, a econômico altas porque a mão-de-obra familiar
queda da fertilidade do solo, a conversão das ter- utilizada é computada segundo os preços de mer-
ras para pastos e a venda para seguir a outras fron- cado. Por isso, a transgressão da economia de
teiras, na Zona Bragantina constata-se - apesar subsistência parece ser possível apenas através da
duma estabilidade territorial maior - um processo integração em complexos agroindustriais, em base
similar de degradação ecológica e econômica, de subsídios e do uso de insumos modernos finan-
devido ao aumento populacional e à crescente ciados através de créditos. Mas em contraste com
integração ao mercado que leva a um encurtamen- a tese do ciclo de fronteira este estudo demostra
to contínuo do ciclo de pousio e a um declínio dos também que a pequena produção tende à sua con-
preços de mercado. Como essas tendências foram solidação, embora seja num nível baixo da produ-
concebidas como lineares, o resultado desse ciclo tividade do trabalho (uma interpretação parecida a
de fronteira reformulado é o mesmo como no SCHULTZ 1966).
modelo clássico: o empobrecimento dos solos e
dos colonos que, sem dinheiro para corrigir isso Apesar das críticas metodológicas os resulta-
com insumos comprados, vendem as suas áreas dos do estudo de Santana são importantes não
para os grandes proprietários para o plantio de apenas porque ele apresenta já uma versão bem
culturas perenes ou a transformação em pastagem, sofisticada duma interpretação neoclássica com
transformando-se em assalariados rurais ou mi- um entendimento já rudimentar duma economia
grando à cidade ou a novas fronteiras agrícolas. familiar, mas sobretudo porque os dados dele,
Mas essas tendências apenas funcionaram em levantados numa forma controlada e representati-
certos períodos de crise dos sistemas de produção, va, podem ser também usados para uma interpre-
mas não como tendências lineares e gerais de tação diferente: o alto grau de integração ao mer-
cado até dos microestabelecimentos, o papel cen-

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tral da mão-de-obra familiar e um ciclo de pousio ção, a primeira vista surpreendente, que o proces-
geral de 6 anos. so de diferenciação dos sistemas de produção,
constatado já por Sawyer em 1979 e os pesquisa-
Em contraste com esse enfoque neoclássico, dores da Embrapa em 1982, avançou depois de
que analisa a pequena agricultura com as mesmas 1982 duma forma tão rápida na direção das cultu-
categorias que empresas capitalistas e abstrai ra- ras perenes e também da pecuária bovina que
dicalmente das condições ecológicas, é mais ade- Costa poderia falar já de uma tendência de com-
quado usar um enfoque integrado, baseado no plexificação desses sistemas e duma superação da
debate internacional e que combina a economia shifting cultivation como sistema de cultivo pre-
agrária da agricultura familiar com uma análise dominante.
dos agroecossistemas, considerando também as
dimensões sócio-culturais (COSTA 1995a e O que Sawyer não poderia imaginar em 1979
1995b, HURTIENNE 1997). e os autores da Embrapa apenas puderam perceber
numa forma ainda muito embrionária, aparente-
Este enfoque da agricultura familiar, que já mente aconteceu nos anos de l980 segundo os
foi usado em vários trabalhos de Jean Hébette e dados do survey. Os produtores familiares conse-
no âmbito do Centro Agropecuário da UFPA, do guiram superar a crise das culturas anuais desde o
CAT/LASAT em Marabá e no LAET na Transa- final dos anos setenta (devido sobretudo aos pre-
mazônica, seguindo mais o enfoque francês dos ços baixos), mobilizando as suas altas reservas em
sistemas agrários, foi introduzido na Amazônia força de trabalho e intensificando a jornada de
numa maneira mais sistemática pelos trabalhos de trabalho familiar para realizar investimentos na
Francisco de Assis Costa do Núcleo de Altos Es- implantação das culturas perenes e de pastagem
tudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Fe- (COSTA 1995b). Esses investimentos que alcan-
deral do Pará (UFPA). çaram taxas anuais altas, mas decrescentes (10%
1981/85, 7% 1986/ e 4% 1991/93) e que elevaram
o valor médio das plantações e pastagens por uni-
8 - A ESTABILIZAÇÃO RELATIVA dade produtiva de US$ 686 (1980) para US$
DA AGRICULTURA FAMILIAR 8.818 em 1993 foram, segundo os dados do sur-
ATRAVÉS DA vey, apenas marginalmente financiados com re-
cursos de terceiros (12% dos investimentos tive-
COMPLEXIFICAÇÃO DOS ram alguma participação externa) e fundamental-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO mente realizados à base do trabalho próprio das
famílias. Como resultado dessa dinâmica, inespe-
Os trabalhos de Costa romperam numa forma rada para agricultores familiares, a participação
mais definitiva com a visão do ciclo de fronteira e das culturas temporárias no valor de produção
da agricultura itinerante como tendências predo- bruto em 1993 foi de 17,8%, superado de longe
minantes na Amazônia, partindo por uma lado da pelas culturas permanentes (45,5%) e a produção
base empírica dos dados dos Censos agropecuá- animal de 36,7% (20% criação de porcos e aves e
rios e dos levantamentos representativos realiza- 16,7% a pecuária bovina) (COSTA 1995b, p.14).
dos no nordeste paraense (Uraim, Capitão Poço e Descontando os custos a participação no valor
Irituia) e por outro lado de um modelo teórico líquido de produção aumentou no caso das tempo-
mais rigoroso sobre a estrutura e a dinâmica espe- rárias para 21,6% e da pequena criação para 25%
cífica da agricultura familiar ou camponesa e diminuiu para as culturas permanentes (43,9%)
(COSTA 1989, 1992, 1995a e 1995b). e a pecuária bovina (10,6%) (COSTA 1997b,
p.15). Como a área das culturas temporárias (577
O ponto de partida empírico da rejeição do ha) superou a área das permanentes (536 ha) o
ciclo de fronteira e da agricultura itinerante como valor líquido por hectare das permanentes ficou
tendências predominantes foram as pesquisas no muito acima do valor das temporárias. No entanto
nordeste paraense sobre Uraim e Irituia em 1989 e nos sistemas diferenciados o rendimento por hec-
Capitão Poço na Guajarina em 1993 (COSTA tare foi mais baixo do que nos estabelecimentos
1995a e 1995b). Sobretudo os dados do levanta- com apenas culturas temporárias. Em contraparti-
mento de 101 estabelecimentos familiares em da o rendimento por mão-de-obra familiar foi
Capitão Poço foram importantes para a constata-

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mais de três vezes maior devido a um aumento fação com o consumo e o grau de fadiga da força
similar dos dias trabalhados por trabalhador. Para de trabalho familiar, que determina as estratégias
Costa isso significa uma trajetória “trabalho- de reprodução da família via decisões sobre a
extensiva” e “terra-extensiva” de “eficientização” alocação do tempo na produção de produtos dife-
que privilegia uma maior remuneração anual por rentes e a participação do autoconsumo (COSTA
cada unidade da força de trabalho familiar em vez 1994). Essas decisões familiares que dependem,
de um aumento do rendimento por unidade da por um lado, da disponibilidade da mão-de-obra
área utilizada ou também por dia trabalhado familiar e dos fatores de produção terra e capital
(COSTA 1995b, p.19). Numa visão convencional e, por outro lado, do número dos consumidores,
da microeconomia neoclássica que avalia a efic i- das necessidades culturalmente definidas, do grau
ência produtiva pela remuneração média (e mar- da auto-exploração e do grau da aversão ao risco,
ginal) de todos os fatores envolvidos, no caso da são fortemente condicionadas pelos fatores “estru-
agricultura da unidade de trabalho (dia, hora) e da turais” em nível macro e meso como o grau de
terra (ha), esta passagem para sistemas mais dife- monopólio (e a taxa de lucro) do capital mercan-
renciados não é explicável, enquanto numa pers- til, a relação dos preços do produto camponês e
pectiva analítica que toma em conta a racionali- dos produtos industriais e a relação entre produti-
dade específica da agricultura familiar, uma maior vidade regional e local dos produtos. Enquanto
remuneração anual do trabalho familiar é funda- essas forças estruturais tendem à uma deterioração
mental para aumentar a eficiência reprodutiva. sistemática das condições de reprodução familiar,
os esforços familiares orientam-se para uma ele-
Por isso, no nível teórico-metodológico, Cos- vação contínua do rendimento por trabalhador
ta ampliou o enfoque da dinâmica interna da agri- familiar “equivalente” (e não como nos modelos
cultura familiar elaborado por Chayanov, que convencionais do rendimento por ha). Essa luta
predomina no debate internacional, incluindo contínua entre forças estruturais com a tendência
numa forma sistemática os condicionantes estru- para piorar e esforços familiares com a tendência
turais no nível macro e meso, que vêm da tradição para melhorar as condições de reprodução pode
marxista defendida por TEPICHT (1973), num explicar porque as “tensões reprodutivas” sentidas
modelo da eficiência produtiva da agricultura pelos atores sociais não resultam necessariamente
familiar, que deveria explicar melhor tanto os numa adaptação passiva às condições estruturais,
fundamentos das mudanças quanto as razões da mas podem também mobilizar esforços extras
estagnação dos padrões reprodutivos dos campo- para mudanças incrementais ou até radicais dos
neses. sistemas de produção para superar as crises de
reprodução.
Este modelo deveria explicar melhor “que es-
tratégias de mudança são postas em prática por Com este enfoque Costa quer indicar uma
unidades camponesas sempre que crises no padrão pista para a capacidade bem mais inovadora dos
atual de reprodução elevam o nível de ‘tensão camponeses neste processo contraditório de adap-
reprodutiva’ a um ponto que é, ao mesmo tempo, tações passivas ou mudanças radicais em relação
suficientemente elevado para tornar agudo e visí- as condições estruturais, que implica “investimen-
vel o risco da desestruturação definitiva, e não tão tos” muito mais à base da intensificação da jorna-
extremo que chegue a bloquear ... a capacidade de da do trabalho do que do aporte de dinhe iro de
desenvolver o esforço extra - quer dizer, acima fora.
daquele necessário à reprodução familiar simples
- sem a qual a mudança inovativa/adaptativa não Todo esse esforço de modelagem teórica tem
poderá existir” (COSTA 1997b,p.6). na verdade o objetivo principal de compreender
melhor as tendências observáveis nos dados dos
Tais dinâmicas de mudança ou de permanên- Censos agropecuários e levantamentos representa-
cia resultam por um lado de “impulsos” proveni- tivos de uma superação da shifting cultivation
entes de “uma racionalidade reprodutiva micro”, como tendência primordial no campo por sistemas
que Costa detecta, à semelhança de Chayanov, no mais complexos de produção agrícola, ou nas
balanço interno da unidade familiar entre insatis- palavras de Costa “mostrar que na Amazônia vem

456 Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. Especial 442-466, dezembro 1999
se verificando, desde os anos de 1980, entre os percurso deste capítulo. Costa corre com essa
camponeses, um processo claro de reordenamento tese, apresentada como válida para toda a Amazô-
da base produtiva agrícola: a agricultura itinerante nia, o risco de postular também uma tendência
de derruba e queima -a shifting cultivation- vem homogeneizadora que não se adapta bem aos re-
cedendo lugar a sistemas agrícolas onde as cultu- sultados muito mais diferenciados, sobretudo do
ras perenes e semi-perenes tendem a apresentar último Censo Agropecuário de 1995/96.
importância crescente, ao lado de uma pecuária
bovina de pequeno porte e da criação de pequenos Em nível operacional Costa propõe um crité-
animais” (COSTA 1997b, p.2). rio simples para a distinção da agricultura famili-
ar: os estabelecimentos onde segundo os dados do
Para Costa tal dinâmica não se dá de maneira Censo a participação da mão-de-obra familiar não
uniforme. Tomando Pará como referência, pode- remunerada no conjunto do pessoal ocupado supe-
se observar nas diversas microrregiões, mas tam- ra 90% são considerados familiares (Costa
bém dentro delas entre os municípios (por exem- 1992:18). No caso do Pará, mas também para os
plo entre Capitão Poço e Irituia na Guajarina), outros Estados do Norte, os estabelecimentos até
diferenças consideráveis: enquanto em umas o 200 ha cumpriram este critério em 1985 (COSTA
processo verifica-se em ritmo acelerado, noutras 1992,p.17 e 1995a,p.7). Segundo este critério 96%
ele acontece em ritmo lento ou, eventualmente, dos estabelecimentos agrícolas na região Norte
não se manifesta. Numa análise de correlação foram considerados familiares, com uma área
estatística a um grupo de cinco variáveis com total de 16,8 milhões de hectares (37,6% da área
elevado grau de interdependência, ele encontrou total dos estabelecimentos) e 2,05 milhões de
fortes indicações como os determinantes estrutu- pessoas ocupadas (92%), um valor de produção
rais têm influído nas diferenças microrregionais que chegou a representar 73,5% do valor de pro-
da dinâmica de mudança nos estabelecimentos dução agropecuário da região Norte (90% do va-
camponeses até 200 ha: quanto maior a densidade lor das temporárias, 84,6% das permanentes e
populacional, menor o grau de monopólio do 46,2% da pecuária) (COSTA 1995a).
capital mercantil, menor o tamanho médio e a
disponibilidade de terra por trabalhador e maior a Num enfoque comparável com Costa en-
intensidade de mudança (COSTA 1995, p.35-38). quanto a caracterização da agricultura familiar, os
Grosso modo este processo foi mais forte em á- autores do convênio FAO/INCRA (1996a), entre
reas de ocupação antiga (Bragantina, Salgado e eles Veiga, Abramovay e Romeiro, desenvolve-
Baixo Tocantins) e mais fraco em microrregiões ram outros critérios operacionais para definir es-
que ainda constituem fronteiras recentes (Xingu, tabelecimentos familiares. Tomando em conta que
Tapajós, Araguaia Paraense, Marabá, Guajarina e a experiência empírica indica a existência de em-
Médio Amazonas). Mas também dentro da mesma presas familiares que contam com trabalho assala-
microrregião como a Guajarina podem coexistir riado complementar (inclusive permanente), bem
padrões de mudanças fortes (Capitão Poço) e de como de empresas patronais que podem ser equi-
estagnação (Irituia) que Costa tenta explicar com vocadamente classificadas como familiares quan-
a eficiência reprodutiva maior e tensões reprodu- do seus assalariados estão encobertos por contra-
tivas menores em Irituia devido à formação de tos de empreitada, os autores optaram por critérios
permanentes (neste caso açaí) já muito mais cedo, que provavelmente superestimam o conjunto pa-
com um autoconsumo mais alto, um rendimento tronal: a) a direção da unidade é exercida pelo
por área bem maior e trabalho despendido em produtor; b) não foram realizadas despesas com
dias/homem bem mais baixo do que em Capitão serviços de empreitada, c) sem empregados per-
Poço (COSTA 1997b, p. 23). manentes e com número médio de empregados
temporários menor ou igual a quatro ou com um
Mas apesar dessas ressalvas e diferenciações empregado permanente e número médio de em-
mas recentes, Costa chegou a formular, a base pregados temporários menor ou igual a três e d)
desse duplo esforço teórico e empírico, a tese área total menor ou igual a 500 ha no Sudeste e
duma estabilização relativa do campesinato no Sul e 1000 ha nas demais regiões.
Pará e na Amazônia como tendência predominan-
te e como contraponto às visões apresentadas no

Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. Especial 442-466, dezembro 1999 457
Segundo estes critérios, em 1985 82% dos extração no âmbito da pequena produção. Isso se
estabelecimentos agrícolas na região Norte foram deve ao uso excessivo e privilegiado do instru-
considerados como familiares, com uma área total mentário da análise microeconômica de porte
de 19,7 milhões de hectares (31,5% da área total neoclássico para formas de produção que diferem
dos estabelecimentos) e 1,8 milhão de pessoas de empresas capitalistas, à falta de clareza sobre
ocupadas (75,6%), um valor de produção que os diversos níveis e graus de sustentabilidade
chegou a representar 58% do valor de produção ambiental e à falta dum enfoque mais diferencia-
agropecuário da região (83% da mandioca, 61% do e operacional sobre os processos de decisão
do milho, 57% das aves e 46% do arroz). A renda sócio-econômica que afetam e são afetados pelos
média calculada em salários mínimos (SM) foi fatores ambientais.
mais alta do que se tinha esperado. A renda mone-
tária bruta (RMB) por ano alcançou a média de 22 Um enfoque da agricultura familiar que in-
salários mínimos por família e 5,2 salários míni- clui sistematicamente as diversas formas de uso
mos por pessoa ocupada. Atrás dessa média en- ou manejo de recursos naturais no ciclo de pousio
contram-se condições de renda bem diferentes na tradição de BOSERUP (1965) e
(FAO/INCRA 1996b): RUTHENBERG (1980) se diferencia da microe-
• Os produtores “consolidados” do grupo A conomia neoclássica que analisa a pequena pro-
(30% dos estabelecimentos, com 62% do va- dução com as mesmas categorias que as empresas
lor de produção e uma área média de 60 ha) agrícolas capitalistas, que leva ao resultado para-
com uma renda monetária bruta de 55 SM doxo de balanços anuais negativos devido à com-
por ano; putação da mão-de-obra familiar em base aos
salários pagos no mercado de trabalho, e reduz os
• Os produtores “intermediários” ou “em tran- cálculos dos agricultores à eficiência produtiva da
sição” do grupo B (21% dos estabelecimen- terra e do dia trabalhado e - já numa versão mais
tos com 17% do valor de produção e uma á- sofisticada - à redução de riscos.
rea média de 40 ha) com uma renda monetá-
ria de 17 SM; Contrastando com isso, o enfoque da agr icul-
• Os produtores “periféricos” do grupo C (50% tura familiar permite distinguir objetivos diversos
dos estabelecimentos com 21% do valor da sob condições de uma racionalidade de ação limi-
produção e uma área média de 37 ha) com tada ou contraditória bounded rationality que são
uma renda monetária de 4 SM por ano. ligados a zonas diferentes dentro da unidade fami-
liar: Primeiro, na área ou faixa da segurança ali-
mentar dominam estratégias de sobrevivência a
9 - AGRICULTURA FAMILIAR, médio e longo prazos, redução de risco, uma valo-
DESENVOLVIMENTO RURAL rização do autoconsumo e consequentemente da
“alternatividade” do “cálculo camponês” de reti-
SUSTENTÁVEL E MANEJO DOS rar-se freqüentemente do mercado na produção de
RECURSOS NATURAIS alimentos (HEREDIA 1979, GARCIA JR. 1983).
Com os dados da pesquisa de Costa foi possível
A integração sistemática das formas de uso detectar essa tendência até para o caso de Capitão
da terra, os seus graus de sustentabilidade e as Poço: Apesar do fato de que as culturas temporá-
perspectivas para um manejo mais sustentável dos rias (sobretudo mandioca) tinham rendimentos
recursos naturais ainda encontra-se num estágio anuais por hectare, por dia trabalhado e por uni-
pouco explorado na análise sócio-econômica da dade de mão-de-obra familiar bem inferiores aos
dinâmica da ocupação das terras, da formação rendimentos das culturas perenes, os camponeses
dum campesinato e da diferenciação dos sistemas alocaram na média o dobro de dias trabalhados
de produção. O IMAZON, uma entidade de pes- pelo cultivo dessas culturas como pelas perenes
quisa, apresentou alguns estudos nesta direção, aparentemente mais rentáveis. Também quando se
mas tampouco conseguiu, do meu ponto de vista, inclui, como Costa, o alto valor da pequena cria-
elaborar um marco de análise satisfatória para ção no valor das temporárias, não se alcança os
compreender a inter-relação entre usos de recur- valores das permanentes a não ser de separar as
sos naturais e formas econômicas de produção ou

458 Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. Especial 442-466, dezembro 1999
arvores frutíferas do quintal desse valor (cálculos econômica e um melhoramento das condições de
próprios à base dos dados de COSTA 1997b). vida.
Mas provavelmente é bem mais plausível de não
partir de apenas um calculo camponês, mas de Nesse sentido, o fato de a minha pesquisa no
tomar em consideração pesos diferentes para a âmbito do SHIFT / NAEA se concentrar nas ca-
segurança alimentar em qualquer ano, o que for- racterísticas da agricultura familiar como ponto de
malmente se pode fazer tomando em conta um partida não exclui a consideração de opções para a
prêmio de risco. mão-de-obra familiar no mercado local e regional
de trabalho, incluindo os cálculos das vantagens
Segundo, na zona do ingresso monetário fa- comparativas. Em contraste com os modelos de
miliar anual pode dominar uma estratégia de ma- farm-household , o meu enfoque assume o uso
ximização de curto prazo (aproveitando preços limitado, não generalizado de cálculos de custos
melhores e chances de mercado inesperados) que de oportunidade. Dessa maneira evita-se o pro-
nas condições do processo de trabalho agrícola blema de não poder explicar, por exemplo, a pro-
tomam tempo e por isso normalmente não se dis- dução contínua de mandioca embora signifique
tinguem da maximização do rendimento anual por balanços anuais negativos (KITAMURA 1983).
unidade do trabalho familiar (e não da área ou da Esse enfoque também não exclui o uso temporário
hora trabalhada). de mão-de-obra externa. O elemento central do
enfoque é a substituição dos cálculos de rentabili-
Terceiro, na zona do melhoramento da situa- dade convencionais (por exemplo, rendimento por
ção econômica a longo prazo predomina uma hectare e por dia de trabalho) pelo rendimento
orientação de investimentos mais arriscados em anual bruto ou líquido por mão-de-obra familiar
plantações de perenes, implantação de pastos e a como eixo das decisões na agricultura familiar
acumulação patrimonial de gado (veja DOPPLER (COSTA 1994).
1991,p.14, OSÓRIO DE ALMEIDA et al. 1992).
A construção precisa dos cálculos de custos e
Ainda não é possível dizer muito sobre o pe- benefícios pode ser feita com a metodologia em-
so relativo desses cálculos econômicos conflitan- pírica do enfoque francês dos sistemas de produ-
tes no marco da tomada de decisão na agricultura ção elaborado por DUFUMIER e MAZOYER
familiar na Amazônia porque apenas poucos mo- (MAZOYER 1987, DUFUMIER 1996), com as
delos e trabalhos empíricos tematizaram esses diversas variantes do Rapid Rural Appraisal
cálculos de maneira sistemática (KITAMURA et (CHAMBERS 1994) e a metodologia de levanta-
al. 1983, OSÓRIO DE ALMEIDA 1992, OSÓ- mento de COSTA (1995a e 1995b).
RIO DE ALMEIDA et al. 1992, Santana 1990,
Ellis 1993, Costa 1994 e 1995b). Um esclareci- Além disso, a construção das estruturas de
mento melhor dos processos de tomada de decisão tomada de decisão na agricultura familiar sob
na pequena produção é fundamental também para condições agroecológicas e sócio-econômicas
a aplicação prática de recomendações elaboradas variáveis também requer um enfoque metodológi-
como aquelas do projeto SHIFT “Capoeira” de co mais amplo que transgrida os limites da análise
priorizar vantagens de médio prazo em detrimento da agricultura familiar e considere a dimensão
de vantagens a curto prazo, neste caso eliminar o histórica do desenvolvimento de sistemas de cul-
uso do fogo como técnica de preparo do solo e tivo e produção no contexto dos fatores de influ-
fertilização, o que diminui a perda de nutrientes ência socio-econômica e das características agro-
da capoeira no mediano e longo prazo, mas o que ecológicas de um sistema agrícola regional e que
implica também gastos maiores para a compra de considere também os cálculos de custos e benefí-
adubo no primeiro ano para compensar este efeito. cios relacionados a essas condições e característi-
cas. O enfoque francês do sistema de produção já
O esclarecimento das estruturas mistas dos mencionado oferece essa possibilidade de combi-
cálculos sócio-econômico dos pequenos agriculto- nar a economia agrícola com a análise de agro-
res poderia indicar uma zona de convergência ecossistemas. Num diagnóstico realizado mos-
entre sustentabilidade ecológica, consolidação trou-se pelo menos a grande importância dessa
metodologia.

Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. Especial 442-466, dezembro 1999 459
Com a ajuda dessa metodologia de pesquisa importância, desde o nível dos municípios até o
empírica, entendida como variante do rapid rural nível das grandes conferências globais.
appraisal, foi realizada em Igarapé-Açu uma re- A importância central dos créditos subsidia-
construção histórica do processo de colonização e dos como o FNO Especial, a extensão rural levada
do uso da terra (SILVA et al. 1998). Essa recons- a cabo pela EMATER e de outros elementos das
trução compreendeu tanto a influência de mudan- políticas agrícolas de promoção pode ser explic a-
ças sócio-econômicas (vendas no mercado, políti- da a partir da lógica própria dos sistemas adminis-
ca agrária, oferta de créditos, complexos agro- trativo-estatais em conjunção com outros atores
industriais) como também o exame da hipótese da institucionais, podendo ser integrada na análise
queda da produtividade sistêmica (desenvolv i- dos sistemas de produção através de uma análise
mento dos rendimentos, avaliação da fertilidade econômico-institucional. Também é necessário
dos solos pelos agricultores, periodicidade do pesquisar as conseqüências dessas influências
pousio). Essa reconstrução histórica foi utilizada político-administrativas sobre o meio ambiente e
para uma melhor avaliação das mudanças dos os recursos agrários. As reações dos pequenos
sistemas de produção e dos objetivos dos peque- agricultores diante das estruturas políticas, legais
nos agricultores. Mas essa metodologia também já e econômicas, deverão ser explicadas a partir da
serviu para uma comparação rápida entre Igarapé- lógica própria da agricultura familiar e da dinâmi-
Açu e outros lugares no nordeste paraense como ca dos seus sistemas de produção e não a base das
Capitão Poço e Irituia na Guajarina e com Marabá visões freqüentemente já ultrapassadas dos atores
e Altamira, sem a necessidade de fazer grandes políticos e administrativos.
levantamentos de dados estatísticos. Não obstante
a representatividade desses levantamentos rápidos 10 - CONCLUSÃO
ser frágil, eles são geralmente bem aceitos
(CHAMBERS 1994). Os resultados dessas pri- A visão homogeneizadora da pequena produ-
meiras comparações deveriam servir como base ção rural como agricultura itinerante, migrante ou
para a realização de levantamentos mais amplos e nômade foi compartida por diferentes vertentes:
representativos. A) Os enfoques dominantes da modernização
agrária acusaram aos camponeses de serem agri-
Para integrar a perspectiva agro- cultores itinerantes pouco eficientes e com um
ecossistêmica na análise de sistemas de produção grande impacto destrutivo sobre os ecossistemas
foi utilizado também o farming systems approach primários. B) Os críticos das políticas de moder-
de RUTHENBERG (1980) e DOPPLER (1991) e nização identificavam-nos como as vítimas nas
a escola da agroecologia (ALTIERI 1987, várias fronteiras agrárias, condenados à expulsão
CONWAY1985, REIJNTJES et al. 1994), para pela pecuária ou por outros sistemas de produção
classificar os sistemas de uso da terra no Nordeste modernos. C) Os defensores da conservação da
paraense que representam uma forma situada en- floresta tropical, incluindo tanto muitas ONGs
tre a shifting cultivation e o cultivo de pousio. como o Rain Forest Group do Banco Mundial,
consideravam-nos basicamente como nutrient
Essas tentativas de articular a análise da agri- miners (mineiros de nutrientes) indiferentes aos
cultura familiar, os sistemas de produção e a pers- impactos destrutivos das suas ações.
pectiva da agroecologia de maneira produtiva têm
como objetivo uma análise dos sistemas de uso da A visão dominante do ciclo da fronteira con-
terra existentes e a elaboração de propostas para sidera esses sistemas de produção camponesa que
um desenvolvimento sustentável rural no nordeste funcionam somente em base a culturas anuais no
paraense, considerando outras formas de uso da sistema de derruba e queima como altamente in-
terra e outros atores. sustentáveis, tanto no nível econômico como no
nível ecológico. Os condicionantes ecológicos,
No nível desses sistemas de uso, os atores econômicos, jurídicos e sociais somente permitem
institucionais, as estruturas macroeconômicas e as sistemas de produção simples e de curta perma-
decisões político-administrativas são de grande nência devido à queda da fertilidade do solo e da

460 Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. Especial 442-466, dezembro 1999
demanda por terra já derrubada por novos agentes e as visões não tão diferentes do Banco Mundial
mais capitalizados. demonstram o enorme peso das noções ideológi-
cas das elites comerciais urbanas amazônicas
Essa posição foi justificada com o modelo como mundo-visões distorcidas dum mundo rural
ecológico clássico da floresta tropical da Amazô- nunca bem entendido. Infelizmente durante muito
nia. Contudo, resultados recentes da pesquisa em tempo também muitos pesquisadores bem inten-
ecologia tropical na Amazônia Oriental mostram cionados não conseguiram livrar-se desta baga-
que o modelo clássico precisa ser revisado em gem dum passado colonizador porque as evidên-
vários aspectos os quais estão relacionados dire- cias superficiais do uso do fogo numa agricultura
tamente com a sustentabilidade dos sistemas de de derruba e queima aparentemente sustentaram
produção. essa visão.

Contraponto para essa visão dominante é a A conclusão deste paper sobre os problemas
tese de uma estabilização relativa dos camponeses conceituais e metodológicos não é de negar os
nas diversas fronteiras no Pará (COSTA 1994). À problemas evidentes da sustentabilidade ambie n-
base de dados secundários e primários foi mostra- tal, econômica e social dos produtores familiares
do que a pequena produção se baseia cada vez na Amazônia, mas de ajudar num processo de
mais na complexificação dos sistemas de produ- auto-reflexão da comunidade dos pesquisadores
ção (integração pelo menos econômica de culturas para assumir o desafio dum trabalho verdadeira-
perenes, pequena criação e gado), e por isso na mente científico, mas ao mesmo tempo engajado
superação do shifting cultivation como forma para compreender melhor a sociodiversidade no
predominante. campo da Amazônia como ponto de partida para
estratégias mais adequadas para um desenvolv i-
Como a discussão das pesquisas mostrou, es- mento rural sustentável.
sa contradição nas perspectivas de análise pode
ser explicado a primeira vista pelas diferenças
significantes e contraditórias entre por um lado as Abstract:
zonas de colonização mais antigas, como a Zona
Bragantina e a sua prolongação até a região Gua- The article presents a critical review of theoretical
jarina no nordeste paraense que surgiram antes da and methodological concepts on which analytical
construção da Belém-Brasília (Capitão Poço, Iri- works about Amazon peasantries since the 1960s
tuia), e onde prevaleceu desde o início uma ten- are based. The vision of Amazon peasants as shif-
dência a uma estabilização relativa, e por outro ting cultivators with low productivity who destroy
lado as zonas de colonização mais recentes na their ecological habitat and are condemned to
Amazônia Ocidental (Rondônia, Mato Grosso) e disappear due to the advance of large properties
no sul do Pará (Marabá, Transamazônica), que (the model of the frontier cycle) is contrasted with
surgiram depois da Belém-Brasília, onde o ciclo the tendency of consolidation of family agricultu-
da fronteira parece ter mais evidência. re based on more complex production systems
including permanent cultures, small animals and
Mas a discussão das várias pesquisas mos- cattle. This tendency has been detected more cle-
trou também que a escolha do enfoque de análise arly in the Northeast of Pará, but has been statisti-
em geral foi bem mais importante do que as dife- cally confirmed also for the State of Pará and the
renças observáveis na realidade estudada e que Northern Region of Brazil. This means that the
esta escolha ficou muito enraizada e ancorada na hypothesis of the frontier cycle has limited vali-
visão predominante sobre os atores sócias no dity for older colonization regions. However,
campo como "problema social" e impedimento do research on recent frontiers showed production
progresso desde a colonização. A continuidade da systems which concentrate on cattle in the South
noção agricultura itinerante como necessariamen- of Pará and on permanent cultures at the Transa-
te predatória, arcaica e irracional desde o século mazônica. These systems cannot be simply classi-
passado até as formulações já mais científicas nos fied as shifting cultivation but they represent dif-
anos de 1960 por Penteado, o veredicto dos mo- ferent trajectories from the Northeast of Pará.
dernizadores dos anos de 1970 como Reis Velloso

Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. Especial 442-466, dezembro 1999 461
Key Words: Bragança, Estado do Pará, Brasil. Bol. Mus.
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Recebido para publicação em 27.AGO.1999.

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