Você está na página 1de 14

DIDÁTICA

Alex Ribeiro Nunes


A didática e a sua
contextualização
histórica: uma abordagem
sobre o ontem e o hoje
na arte de ensinar
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a trajetória histórica da didática, observando os seus


diferentes pressupostos teóricos, filosóficos e sociais.
 Identificar os principais marcos históricos fundamentais na constituição
da didática.
 Analisar as mudanças e os avanços da didática nos dias atuais.

Introdução
A didática está presente na vida de qualquer professor: estratégias de
sala de aula, formação teórico-prática, metodologias, posturas e ativida-
des diversificadas. Esses e tantos outros fatores importantes constituem
o fazer pedagógico e desenham os caminhos do conhecimento, que
procura realizar a mediação entre as teorias educacionais e as práticas
em sala de aula.
Neste capítulo, você terá a oportunidade de navegar e construir co-
nhecimentos sobre a trajetória histórica da didática, bem como conhecerá
diferentes pensadores e as suas teorias educacionais. Nessa perspectiva,
poderá reconhecer os principais marcos históricos de constituição da
didática e, ainda, ponderar sobre as transformações e os avanços dos
estudos e das práticas didáticas na atualidade.
2 A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar

1 A trajetória histórica da didática:


pressupostos teóricos, filosóficos e sociais
Não é incomum ouvirmos, quando o assunto é escola ou educação, falas como
“esse professor sabe muito, mas não sabe ensinar”, ou “essa professora não tem
didática”, ou, ainda, “a didática desse professor é muito ruim”. São inúmeras as
expressões relacionadas às práticas da sala de aula que reafirmam a sua importância
e necessidade para o processo de construção do conhecimento. É nesse cenário que
emerge a didática como o caminho para o saber, ou seja, a consumação da teorização.
Vale ressaltar que a palavra didática surge do grego didaktiké, com o
abrangente significado de “a arte de ensinar tudo a todos”. O termo foi em-
pregado pela primeira vez por Ratke, em 1629, e por Comenius, em 1657. Foi
a partir de Comenius que a didática ganhou força e notoriedade.
Também foi o grande pensador Comenius quem escreveu, entre diversas outras
obras, a Didática Magna, uma das mais importantes escritas do cenário educacional
mundial. Portanto, ele trouxe a prática do ensinar e aprender como pauta fundamen-
tal para esse contexto, imaginando ter descoberto um método eficaz para se chegar
à aprendizagem, de modo ágil e prazeroso. Comenius (2001, p. 13) ressalta que:

Nós ousamos prometer uma didática magna, ou seja, uma arte universal
de ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo para obter resultados; de
ensinar de modo fácil, portanto sem que docentes e discentes se molestem ou
enfadem, mas ao contrário, tenham grande alegria; de ensinar de modo sólido,
não superficialmente, de qualquer maneira, mas para conduzir à verdadeira
cultura, aos bons costumes, a piedade mais profunda.

No século XVIII, surgiu outro importante expoente que trouxe conhecimentos


revolucionários para a didática: Rousseau. Ele não pode ser considerado um
sistematizador da educação, porém a sua obra apresenta algo que se tornaria
fundamental para compreender melhor os processos de ensino e aprendizagem:
um novo e inovador conceito de infância. Rousseau surgiu como um continuador
das ideias dos didatas, no entanto, com os seus estudos e pesquisas, certamente deu
um passo muito mais além, colocando em evidência a condição do ser criança.
Assim, ele transformou o que era método em um processo natural, que aconteceria
de maneira tranquila, sem excessos, sem livros e sem nenhuma pressa.
Na tentativa de percorrer o conceito e o histórico da didática, faz-se im-
prescindível considerar os aspectos políticos, sociais e culturais, bem como
as percepções e construções de alguns pensadores e pensadoras a respeito
A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar 3

desse conceito em diferentes momentos da história. Inicialmente, Pestalozzi


(1826), nos seus escritos e na sua atuação, deu dimensões sociais à problemática
educacional. O aspecto metodológico da didática encontra-se sobretudo em
princípios, e não em regras, transportando-se o foco de atenção às condições
para o desenvolvimento harmônico do aluno.
Para Candau (1986, p. 12), a “[...] didática deve ser compreendida como
reflexão sistemática em busca de alternativas para os problemas da prática
pedagógica”. Nessa perspectiva, pode-se dizer que ela compõe a pedagogia.
Outro importante autor que traduz, no decorrer da história, a sua percepção
sobre a didática é Libâneo (1992, p. 26):

A didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Investiga os funda-


mentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. Segundo
essa ideia, a ela cabe converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em
objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses obje-
tivos, estabelecendo os vínculos entre o ensino e a aprendizagem.

De acordo com Masetto (1997), vemos em ensinar, instruir e fazer apren-


der uma reflexão sistemática sobre o processo de ensino e aprendizagem que
ocorre na escola (na sala de aula), buscando alternativas para os problemas
da prática pedagógica — portanto, tentativas de aproximação ao sentido da
didática. Nesse cenário, é possível perceber que o processo de reflexão sis-
temática visa ao estudo das teorias de ensino e de aprendizagem associadas
ao processo educativo realizado no contexto escolar (escola e sala de aula),
bem como aos resultados obtidos, em busca de alternativas para a teoria e a
prática. Como processo de ensino e aprendizagem, a didática atua em três
dimensões: humana, político-social e técnica.
Para Anastasiou e Pimenta (2002), a didática é vista como uma ação
de ensinar que está inteiramente ligada às relações entre os mais velhos e
os mais jovens, entre crianças e adultos, na família e nos demais espaços
sociais e públicos. Já para Martins (2008), a didática é a disciplina que
busca compreender o processo de ensino em suas múltiplas determinações,
para intervir nele e reorientá-lo na direção política almejada. Portanto, a
didática recebe influências dos direcionamentos políticos, mas tem o poder
de atuar sobre eles. Por fim, Morandi (2008), apoiado em Chavellard, afirma
que a didática descreve as modalidades do trabalho pedagógico sobre e
com o saber. Esse trabalho transforma um objeto–saber a ser ensinado em
um objeto de ensino.
4 A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar

Considerando as diferentes concepções defendidas por esses e diversos ou-


tros autores e autoras, encontramos na história da educação períodos históricos
nos quais emergiram novas tendências educacionais, que foram se sustentando
e se materializando como importantes correntes didático-pedagógicas. Entre
elas, destacam-se a pedagogia tradicional, a pedagogia renovada, a pedagogia
tecnicista e a pedagogia crítica.
Nessa perspectiva, para pensarmos as novas práticas educativas e vislum-
brarmos as novas possibilidades didático-pedagógicas, faz-se fundamental
que façamos um paralelo da didática com essas teorias. Dessa forma, trazer
as diferentes concepções e os períodos históricos nos ajuda a perceber os
processos de mudanças e transformações, bem como todos os atravessadores
que influenciaram — e influenciam — a educação e a didática.
É fundamental, também, problematizar todas essas teorias de modo a refletir
sobre a necessidade de diálogo entre elas. Além disso, é importante termos a
possibilidade de visualizar as tantas oportunidades de apoio e intervenção ao
sujeito no processo de ensino e aprendizagem, inclusive às crianças.

O processo histórico da didática no Brasil


Compreende-se que, a partir da década de 1980, mais enfaticamente nos
anos 1990, foi iniciada uma nova fase na educação, com a perspectiva de
uma ruptura que favorecesse a urgência em interpretar e compreender a
dinâmica de ensino e aprendizagem em sua vasta dimensão, integrando,
ainda, os seguintes aspectos: técnico, humano e político. Vale ressaltar
que esse movimento teve estreita relação com a modificação da perspec-
tiva nos estudos sobre o currículo (especialmente nos Estados Unidos e
na Europa). Nesse contexto, o currículo constitui um dispositivo no qual
que se concentram as relações entre a sociedade e a escola, assim como
entre os saberes, as práticas socialmente construídas e os conhecimentos
escolares. Podemos dizer, então, que os primeiros constituem as origens
dos segundos. Em outras palavras, os conhecimentos escolares provêm de
saberes e de conhecimentos socialmente produzidos nos diversos espaços
de referência do currículo.
Desse modo, é de máxima importância que você compreenda o processo
ocorrido na segunda metade do século XX, que reflete na prática de ensino dos
docentes até os dias atuais. Entre 1960 e 1970, eram sinônimos de qualidade
na prática de ensino:
A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar 5

 abordagem tecnicista;
 construção de planejamentos rígidos;
 domínio da sala de aula;
 enorme valorização das técnicas;
 valorização enfática nos recursos didáticos, etc.

Em 1980, ocorreu um grande marco no desenvolvimento da didática:

 ocasião do Encontro de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE);


 enorme produção acadêmica;
 professores discutindo a sua própria prática;
 o aluno é visto como um ser historicamente concebido, etc.

De 1990 até os dias atuais, o processo didático e a prática de ensino e


aprendizagem se fortaleceram:

 a didática passa a ser tema de interesse de grandes pesquisas;


 busca-se a compreensão do cotidiano e do fazer pedagógico;
 o professor é visto como agente reflexivo, pesquisador e transformador;
 a didática é assumida como disciplina prática, etc.

Enfim, a didática — e tudo o mais que a atravessa — busca a compreensão,


a análise e o entendimento dos fatos associados ao campo dos conhecimentos
pedagógicos. Assim, no decorrer da história, vai-se ampliando e transformando,
dadas as inúmeras pesquisas e os mais diversos pensadores que se debruçam
a discutir, problematizar e levantar novas formas de ensinar e aprender.

Você sabia que a didática é considerada uma ciência que estuda os saberes necessários
à prática docente e é um dos principais instrumentos para a formação do professor? É
nela que os docentes se baseiam para adquirir os ensinamentos necessários à prática.
De acordo com Libâneo (1992, p. 26), “[...] a didática trata da teoria geral do ensino”. Como
disciplina, é entendida como um estudo sistematizado, intencional, de investigação e de
prática (LIBÂNEO, 1992). Como importante área da pedagogia, a didática procura pesquisar
e estudar o fenômeno do “como ensinar”. As recentes modificações nos sistemas escolares,
especialmente na área de formação de professores, configuram uma “explosão didática”.
A ressignificação da didática aponta para um balanço do ensino como prática social, ou seja,
essas modificações têm provocado consideráveis transformações na prática social de ensinar.
6 A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar

2 Principais marcos históricos que foram


fundamentais para a constituição da didática
A didática se manifesta nas práticas sociais de várias maneiras: enquanto dis-
ciplina, enquanto campo do conhecimento, enquanto ação humana, enquanto
organização institucional, etc. De acordo com Araújo (2008), como disciplina,
a didática é desenvolvida em cursos de graduação, licenciaturas e cursos de
formação de professores, de modo a oferecer as ferramentas teórico-práticas
necessárias para que o futuro docente possa lecionar em sala de aula. Enquanto
área do conhecimento, ela aponta os grupos que pesquisam e constroem
saberes específicos nessa área. Como ação humana, a didática expressa a
preocupação dos seres humanos em preparar o ensino, organizar as aulas e
escolher as metodologias próprias para ensinar determinado conteúdo. Como
organização institucional, ela busca técnicas e metodologias que organizem os
processos institucionais de ensino e aprendizagem, para que estes favoreçam
o processo de construção do conhecimento.
Para compreender os principais marcos históricos que foram fundamentais
para a constituição da didática, faz-se necessário saber que, embora muitos
filósofos tenham se debruçado sobre a educação de modo geral, foi a partir do
século XII que surgiram os primeiros tratados sistemáticos sobre os processos
de ensinar e aprender. De acordo com Araújo (2008), são exemplos marcantes:

 Eruditio didascalia, de Hugo de San Victor, no século XII;


 De disciplinis, de Juan Luis Vives, no século XVI;
 Aporiam didactici principio, de Wolfgang Ratke, no século XVII.

Certamente, todas essas obras foram fundamentais para as compreen-


sões, mudanças e evoluções em suas respectivas épocas. Contudo, é preciso
reafirmar que nenhuma delas apresenta tanta notoriedade e grandiosidade
como a Didática Magna, de João Amós Comenius, publicada em 1657. Tanta
repercussão possivelmente se deve à complexidade e à audácia da proposta,
apresentada ali como o tratado que propunha ensinar tudo a todos.
Em seus estudos, Comenius traçou reflexões sobre a divisão social do
trabalho, que vai se tornando uma forte característica de seu tempo. Para ele,
foram quatro as modalidades de escolas: a escola do regaço materno, a escola
da língua nacional, a escola latina e a academia ou universidade.
Outro aspecto que, sem dúvida, precisa estar listado como um marco
histórico para a constituição da didática refere-se às teorizações de Rousseau.
O pensador ajudou a desenhar o caminho da didática de modo marcante,
A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar 7

apresentando algo que influenciaria todos os estudos subsequentes. A valo-


rização da infância, por ele defendida, está carregada de consequências para
a pesquisa e a ação pedagógicas, mas estas irão, ainda, aguardar mais de um
século para se concretizarem.
Enquanto Comenius, ao seguir as “pegadas da natureza”, pensava em
“domar as paixões das crianças”, Rousseau partiu da premissa da bondade
natural do homem, corrompido pela sociedade. É em sua obra O contrato social
que ele discute a reforma da sociedade, tão necessária quanto a reforma da
educação. Foi em virtude dessa vertente de seu pensamento que ele participou
da renovação ideológica que precedeu à Revolução Francesa. Para Damis
(1988, 1988, p. 13):

Há uma evolução da Didática em paralelo com a história da educação, visto


que, desde os jesuítas, passando por Comênio, Rousseau, Herbart, Dewey,
Snyders, Paulo Freire, Saviani, dentre outros, a educação escolar percorreu um
longo caminho do ponto de vista de sua teoria e prática. Vivenciada através
de uma prática social específica – a pedagogia –, esta educação organizou o
processo de ensinar-aprender através da relação professor aluno e sistematizou
um conteúdo e uma forma de ensinar (transmitir-assimilar) o saber erudito
produzido pela humanidade.

Desse modo, observa-se que a educação foi ganhando forças, e a pedagogia


foi se sustentando como ciência particular, desvinculando-se, aos poucos, da
filosofia e da teologia e reafirmando-se no cenário educacional. Contudo,
as histórias da pedagogia e da didática se misturam no tempo. Em alguns
momentos, ao resgatarmos os estudos que compõem a história da pedagogia,
muitas vezes nos referimos a teólogos e filósofos, entre outros. Algo similar
acontece quando contamos a história da didática.
Foram muitos os marcos históricos que contribuíram para que a didática
evoluísse e chegasse onde chegou. Destacam-se os seguintes nomes:

 Jean-Jacques Rousseau (1712–1778): foi um pensador que procurou


interpretar essas aspirações, propondo uma concepção nova do ensino,
com base nas necessidades e nos interesses imediatos da criança.
 Henrique Pestalozzi (1746–1827): deu grande importância ao ensino
como meio de educação e desenvolvimento das capacidades humanas.
 Johann Friedrich Herbart (1766–1841): foi um pedagogo alemão com
grande influência e relevância na didática e na prática docente. Para
ele, o fim da educação é a moralidade; a instrução é introduzir ideias
corretas na mente do homem.
8 A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar

 A. Diesterweg (1790–1866): didata alemão que estudou e pesquisou


sobre o desenvolvimento do professor.
 John Dewey (1859–1952): foi um destacado representante de uma das
tendências do pragmatismo didático. Na didática, a sua maior contri-
buição está no ensino laboral e na relação do ensino com a vida.
 Paulo Freire (1921–1997): sem dúvida, é um dos maiores pedagogos
do século XX. Como ocorreu em outras épocas, grandes pedagogos se
converteram também em grades didatas — ou, ainda, grandes didatas
se tornaram grandes pedagogos.

Enfim, é preciso ressaltar que a didática, desde a sua origem, como qualquer
outra ciência particular, estuda e pesquisa o seu próprio objeto e, dentro dele, o seu
campo de ação. No decorrer da história, muitos foram os estudos e as pesquisas que
se instituíram como marcos evolutivos e contribuíram para a ampliação, a renovação
e o alcance dos processos didáticos, bem como para as transformações da educação.

A didática é uma disciplina obrigatória no currículo dos cursos de licenciatura no


Brasil desde o início do século XX — um marco para os processos de formação de
professores e para a educação brasileira. De acordo com Libâneo (1992), a disciplina
de didática investiga os fundamentos, as condições e os modos de realização da
instrução e do ensino. Assim, busca-se revelar, no decorrer da história, elementos
e características que marcaram formas de se pensar o ensino e a aprendizagem no
âmbito dessa disciplina, principalmente no que se refere às questões relacionadas a
como ensinar e ao trabalho docente.

3 Mudanças e avanços da didática na atualidade


Para falarmos das transformações e dos avanços da didática na contemporanei-
dade, faz-se fundamental considerarmos o fato de que, com a redemocratização
do Brasil, passou a ser necessária uma formação diferenciada do corpo docente.
Assim, passou-se a buscar a formação política do professor, percebendo a
educação como ato político e social. Nesse novo cenário da educação e da
didática, o professor passou a ser visto como agente intelectual transformador,
cujo trabalho deveria ser orientado por determinada ética valorativa e cuja
prática precisaria ser abrangente e eficaz.
A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar 9

Pensar na didática para a atualidade requer pensar nos diferentes movi-


mentos que a sociedade produz e nas diversas demandas que emergem a todo
tempo. Requer, também, compreender as muitas dimensões que atravessam
os sujeitos, bem como os múltiplos contextos nos quais eles estão inseridos.
São características dos novos tempos: o ensino e aprendizagem e a prática
educativa vistos como prática social. Desse modo, a didática precisa se rein-
ventar e propor novos alcances, novas propostas e novos vieses.
Nesse novo cenário, a didática é convocada a debater a formação dos
professores, com questões que giram em torno da discussão sobre como se
ensina a ensinar, ou mesmo sobre quais são os saberes necessários ao exercício
da docência. Nessa perspectiva, é importante considerar o que dizem Marin,
Penna e Rodrigues (2012):

A Didática não é um receituário que deve informar a prática de ensino, mas


uma área de conhecimento para a compreensão dessa prática, valendo-se da
teoria como hipóteses de análise e compreensão. Trata-se de compreender as
situações de ensino, não para prescrever a prática, mas para ampliar o domínio
sobre ela, e assim contribuir nos processos de formação dos professores em
todos os âmbitos.

Hoje, no processo educacional, o professor não é mais o eixo da ação


educativa, como se pensava anos atrás. Na contemporaneidade, concebe-se o
educando como ser ativo, procedente das experiências vivenciadas em seus
múltiplos aspectos de conhecimento, tornando-se, assim o centro da prática
pedagógica. Ao professor cabe o papel de mediar a cultura elaborada.
Em suma, o ensino e aprendizagem é uma atividade dinâmica e criativa,
um acontecimento eminente, interpessoal e social que ocorre na mobiliza-
ção mental da subjetividade e da experiência sociocultural concreta, como
sugere Libâneo (1992). Na perspectiva de se pensar os processos inovadores
da didática na atualidade, emerge uma proposta que tem se firmado cada vez
mais como transformadora e eficaz junto à prática docente e à construção do
conhecimento: as metodologias ativas.
As metodologias ativas se configuram como uma inovadora prática do-
cente, a qual consiste em um processo amplo cuja principal característica é a
inserção do estudante como agente principal e responsável pela sua aprendi-
zagem. É necessário ressaltar que o processo de construção do conhecimento,
devido a diversos fatores (p. ex., a agilidade na produção de conhecimento, a
provisoriedade das verdades construídas no saber científico e, principalmente,
a facilidade de acesso à vasta gama de informação), deixou de ser baseado na
mera transmissão de conhecimentos.
10 A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar

Nesse contexto, as metodologias ativas surgem como proposta para focar o


processo de ensino e aprendizagem na busca da participação ativa de todos os
envolvidos, centrados na realidade em que estão inseridos. Assim, o estudante
torna-se protagonista no processo de construção de seu conhecimento, sendo
responsável pela sua trajetória e pelo alcance de seus objetivos. Portanto, ele
deve ser capaz de autogerenciar e autogovernar o seu processo de formação.

Confira, a seguir, alguns exemplos de metodologias ativas.

Flipped classroom – sala de aula invertida


Na sala de aula invertida, os alunos fazem uma leitura prévia do conteúdo fora da sala
de aula. Durante a aula, o professor aproveita o tempo para discussões em grupos e
para a realização de exercícios e projetos.

Problem based learning – aprendizagem baseada em problemas (PBL)


Essa metodologia ativa de ensino e aprendizagem se utiliza de problemas da realidade
para mobilizar o aprendizado.

Team-based learning – aprendizagem baseada em times (TBL)


A TBL contempla a formação de times pelos estudantes, que, gerenciados pelo pro-
fessor, devem se responsabilizar pela autoaprendizagem e pelo desenvolvimento da
aprendizagem do grupo.

Peer instruction – instrução por pares ou instrução pelos colegas (IpC)


É um ensino para a compreensão que se baseia no estudo prévio de matérias disponibi-
lizadas pelo professor e na apresentação de questões conceituais para serem discutidas.
O objetivo é promover a aprendizagem de conceitos fundamentais utilizando-se da
interação entre os estudantes.

World café
Os participantes sentam-se em grupos e, após as explicações em relação ao processo
de trabalho, é iniciada uma conversação sobre um tema predefinido.

Design thinking
Busca diversos ângulos e perspectivas para a solução de problemas, priorizando o
trabalho colaborativo em equipes multidisciplinares, atrás de soluções inovadoras.
A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar 11

Oficinas
As oficinas proporcionam momentos de interação e troca de saberes a partir de uma
horizontalidade na construção do saber inacabado. A sua dinâmica toma como base
o pensamento de Paulo Freire no que diz respeito à dialética/dialogicidade na relação
entre educador e educando.

Gamificação
A gamificação utiliza elementos encontrados em jogos e os insere em contextos
diferentes, buscando transportar o aspecto lúdico e motivacional dos games para
outros ambientes.

Grupo de verbalização e grupo de observação (GVGO)


Essa metodologia é muito utilizada quando há uma grande quantidade de partici-
pantes, pois exige que o grupo maior seja dividido em dois subgrupos. Um subgrupo
interno (GV) formará um círculo, ao passo que um subgrupo externo (GO) formará um
semicírculo e ficará ao redor das paredes da sala.

Dramatização
A dramatização na escola tem como finalidade buscar a participação dos alunos, o es-
tímulo e o convívio social, além do crescimento cultural e da linguagem oral e corporal.

Os avanços na área da didática têm contribuído muito para a transformação


do currículo escolar. Este, por sua vez, para ser eficaz e ter qualidade, deve
possibilitar a formação continuada dos professores, perceber o aluno como
principal agente no processo de aprendizagem e fazer uso inteligente das
novas tecnologias. Além disso, o currículo escolar deve estimular a utilização
de metodologias que sejam significativas e que alcancem os diferentes tipos
de alunos, de modo a proporcionar a participação destes como sujeitos do
processo educativo. Não basta incluir algumas aulas de informática e vídeo,
é preciso criar situações de aprendizagem em que o aluno construa autonomia
e motivação na sua utilização. Finalmente, para que isso seja possível, faz-se
necessário um planejamento de ensino que una os profissionais da educação
nesse processo (professores, coordenadores, agentes educacionais, diretores),
ou seja, um trabalho em equipe, para que as novas propostas didáticas sejam
compreendidas e se construa uma educação para os novos tempos.
12 A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar

Na metodologia denominada World café, as ideias-chave são anotadas em uma folha


de papel, da forma como os participantes julgarem melhor. Terminado o tempo da
primeira rodada (20–30 minutos), os participantes do grupo, exceto um (chamado de
host ou anfitrião), deverão mudar para outros grupos. Aquele que permaneceu tem a
responsabilidade de receber os novos companheiros, apresentar o que foi sintetizado e
estimular que sejam compartilhadas as conversações experimentadas nos outros grupos.
Nesse momento, inicia-se o processo de polinização cruzada, que ocorre durante
todas as demais rodadas do World café. É importante delimitar o tempo para o consenso
do grupo (3 min). Esse conteúdo deverá ser incorporado ao registro daquele grupo.
Terminada aquela rodada, os participantes (menos o host) novamente mudam de mesa
e, dependendo do objetivo, continuam debatendo a mesma questão ou recebem um
novo detalhamento ou um novo foco. Todos os participantes, exceto o host, deverão
percorrer todos os grupos.

ANASTASIOU, L. G. C.; PIMENTA, S. G. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez,


2002. v. 1.
ARAÚJO, C. B. Z. M. (Org.). Educação sem fronteiras: pedagogia. 2. ed. Campo Grrande:
UNIDERP, 2008.
CANDAU, V. M. (Org). A didática em questão. Petrópolis: Vozes, 1986.
CASTRO, A. D. A trajetória histórica da didática. São Paulo: FDE, 1981.
COMENIUS, I. A. Didactica Magna. Porto: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. Dispo-
nível em: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf>. Acesso
em: 27 jul. 2018.
DAMIS. O. T. Arquitetura da aula: um espaço de relações. In: DALBEN. S. I. L. F. et al.
(Org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho. Belo Horizonte:
Autêntica, 2010.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.
MARIN, A. J.; PENNA, M. G. O.; RODRIGUES, A. C. C. A Didática e a Formação de Profes-
sores. In: Rev. Diálogo Educacional, Curitiba, v. 12, n. 35, p. 51-76, 2012.
MARTINS, P. L. O. Didática. Curitiba: Ipebex, 2008.
MASETTO, M. Didática: a aula como centro. 4. ed. São Paulo: FTD, 1997.
MORANDI, F. Introdução à pedagogia. São Paulo: Ática, 2008.

Você também pode gostar