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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Instituto de Ciências Humanas


Licenciatura em História

Trabalho de Conclusão de Curso

“Gosto mais de ser interpretado do que de me explicar”:


Análise sobre o filme “Getúlio”

Lucas Cantos da Rosa

Pelotas, 2021
Lucas Cantos da Rosa

“Gosto mais de ser interpretado do que de me explicar”:


Análise sobre o filme “Getúlio”

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Instituto de Ciências Humanas da
Universidade Federal de Pelotas, como
requisito parcial à obtenção do título de
Licenciado em História.

Orientador: Prof. Dr. Aristeu Elisandro Machado Lopes

Pelotas, 2021
Lucas Cantos da Rosa

“Gosto mais de ser interpretado do que de me explicar”:


Análise sobre o filme “Getúlio”

Trabalho de Conclusão de Curso Licenciatura em História, como requisito parcial,


para obtenção do grau de Licenciado em História, Instituto de Ciências Humanas,
Universidade Federal de Pelotas.

Data da defesa: 26/07/2021.

Banca examinadora:

Prof. Dr. Aristeu Elisandro Machado Lopes (UFPel-Orientador)


Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Prof. Dr. Edgar Ávila Gandra (UFPel)


Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Agradecimentos

Durante os quatro anos de graduação esse foi o momento mais esperado. Sinto
nesse instante um sentimento de realização por concluir um sonho antigo e, que hoje
se torna realidade.
Agradeço à Deus pela vida e por ter me cuidado durante esses quatro anos de
graduação. À minha mãe, Cintia, que de uma forma muito especial desempenha um
papel fundamental na minha vida, se doando ao máximo para que eu realizasse meu
sonho. Se estou escrevendo esses agradecimentos hoje, foi graças a essa pessoa
amiga e companheira que tem um coração enorme e sempre nas dificuldades me
incentivou e esteve ao meu lado.
Faço um agradecimento especial ao meu orientador, Aristeu, que sonhou junto
comigo, me mostrou o caminho, corrigiu no momento certo, instruiu para que o trabalho
fosse o mais completo possível.
À minha namorada, Cristiane, que esteve ao meu lado, durante essa graduação
e, sempre me manteve no caminho para continuar trilhando esse sonho.
À minha avó, Edity, que de uma maneira especial torceu por mim e, sempre
acreditou nos meus sonhos.
Faço um agradecimento especial também ao meu amigo, Elson, por contribuir
na minha graduação, com conselhos, conversas e auxílios no inglês.
Por fim, aos meus professores do Curso de História, que indicaram o caminho,
sempre trabalhando com a ciência ao nosso lado. Com eles, aprendi que História é
viajar no tempo sem sair do presente. À Universidade Federal de Pelotas, por me
acolher e se tornar minha segunda casa, por quatro anos.
Resumo

ROSA, Lucas Cantos da. “Gosto mais de ser interpretado do que de me


explicar”, Cinema e História: Análise sobre o filme “Getúlio”. 2021. 56. Trabalho de
Conclusão de Curso, Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas, 2021.

A pesquisa histórica tem por seus objetos de pesquisa inúmeros elementos, um


deles é o Cinema. As produções cinematográficas são consideradas fontes visuais
que transmitem uma comunicação diferente para quem a está estudando nos
possibilitando adentrar em inúmeras buscas da História. Com a renovação da
História nas décadas de 1960 e 1970, outros objetos entraram em cena para serem
investigados, um deles, portanto, foi o cinema. O filme possibilita ao pesquisador um
novo caminho metodológico para sua pesquisa, não se prendendo apenas aos
objetos de pesquisa mais comuns, mas ampliando estes para a contribuição dentro
do campo da historiografia. A análise tem por objetivo compreender como História e
Cinema podem ser aliadas no que tange aos novos caminhos metodológicos, além
disso, analisar como os demais pesquisadores abordam a temática do cinema. Em
um primeiro momento, trazendo a relação História e Mídias e como essa vem se
desenvolvendo ao longo do tempo, dentro da era digital que estamos vivendo. Em
um segundo momento, analisar o filme “Getúlio” com direção de João Jardim,
lançado no ano de 2014, e refletir, a partir de uma revisão bibliográfica, como
historiadores abordam a figura de Getúlio Vargas em suas obras e como este filme
em questão retrata Vargas, em seus momentos finais na presidência da república.

Palavras-chave: Cinema e História; Getúlio Vargas; Nova História; Segundo


Governo de Vargas
Abstract

ROSA, Lucas Cantos da. “I like being interpreted more than explaining myself,”
Cinema and History: Analysis of the movie “Getúlio.” 2021. 56. Course Completion
Paper, Institute of Human Sciences, Federal University of Pelotas, Pelotas, 2021.

Historical research has several elements for its research objects, one of them is
Cinema. Film productions are considered visual sources that transmit a different
communication for those studying them, enabling us to enter into countless History
searches. Other objects entered the scene to be investigated with the renewal of
History in the 1960s and 1970s. One of them was the cinema. The film provides the
researcher with a new methodological path for his research, not just sticking to the most
common research objects but expanding these for the contribution within
historiography. The analysis aims to understand how History and Cinema can be allied
concerning new methodological paths and analyze how other researchers approach the
theme of cinema. At first, bringing the relationship between History and Media and its
development over time within the digital age we live in. At a second moment, analyze
the film “Getúlio” directed by João Jardim, released in 2014, and reflect, from a
bibliographical review, how historians approach the figure of Getúlio Vargas in his works
and how this film in question portrays Vargas, in his final moments in the presidency of
the republic.

Keys-words: Cinema and History; Getulio Vargas; New History; Second government
of Vargas
Lista de Figuras

Figura 1 “Getúlio” à mesa pensativo.............................................................. 41


Figura 2 Ministros do governo Vargas à mesa.............................................. 43
Figura 3 Vargas refletindo após discursos ................................................... 44
Figura 4 Representação de Gregório penteando o cabelo de Vargas.......... 46

Figura 5 Imagem de Gregório penteando o cabelo de Vargas...................... 46


Figura 6 Lutero Vargas mostrando onde fica o coração................................ 47
Figura 7 Getúlio escutando seus aliados....................................................... 48
Figura 8 O suicídio de Vargas....................................................................... 49
Sumário

Introdução ............................................................................................................... 09

1 Cinema como fonte ............................................................................................. 15

1.1 O uso das mídias .............................................................................................. 15

1.2 O Cinema ......................................................................................................... 21

2 “Getúlio” uma reflexão ……………………………………………………………...32

2.1 Getúlio Vargas: uma revisão bibliográfica ................................................... 32

2.2 A representação de Getúlio Vargas no filme “Getúlio” ................................ 40

Conclusão ............................................................................................................... 52

Fontes ...................................................................................................................... 54

Referências ............................................................................................................. 54
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Introdução

Este trabalho que tem como objetivo a análise do filme Getúlio, do ano de
2014 e, busca através de uma revisão bibliográfica mostrar como a representação
de Vargas é feita tanto no filme analisado como nos livros além de mostrar, qual
figura é trabalhada pelos idealizadores e diretores da obra cinematográfica. O
próprio título do trabalho faz referência não somente a uma das biografias sobre a
vida de Vargas, a qual se pauta nos diários de Getúlio, mas como na cena final do
filme, que realiza um fechamento com a frase “gosto mais de ser interpretado do
que de me explicar”. O trabalho pauta-se em mostrar como o cinema é uma fonte
inesgotável de pesquisa, abrindo diversas possibilidades para pesquisas em
diversos segmentos da História, a título de exemplo, trabalhar com a Idade Média,
que possui diversas obras que fazem referência ao período. Esse trabalho se
dedica em analisar o filme, já citado, além das questões pertinentes que são
levantadas pela obra. O objetivo desse trabalho orientasse a partir do cinema
como fonte, mostrando sua importância no meio acadêmico e como os novos
pesquisadores podem pautar-se em novas ferramentas de pesquisa, que outrora
foram levantadas pela Nova História Cultural.
Em determinados momentos o filme revela algumas curiosidades do ex-
presidente, trazendo ao público, gostos, por exemplo, pelo churrasco de São Borja,
no Rio Grande do Sul, mas também que ele não sabia amarrar o sapato. O filme
explora esse lado de curiosidades, mas também abre a possibilidade de
problematização. Isso realmente é uma representação? Isso está contido no real?
Podemos considerar que Getúlio Vargas, na forma que nos é apresentado no filme
não está sendo construído para passar a imagem de um homem limitado e
tentando deixar de lado a sua história de ditador? São apenas breves
questionamentos que podemos realizar nesse trabalho a partir da análise do filme.
Rossini (1999) dialoga com as mudanças do século XIX, a autora expõe que
com a Revolução Industrial, um estilo de mudanças ocorre na humanidade e, com
ele inúmeras invenções são realizadas e, com elas, os novos meios de
comunicação. Monica Almeida Kornis (1992) que debate em um de seus trabalhos
a temática de história e cinema, escreve que a sociedade do século XXI está
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imersa dentro de inúmeros meios de comunicação e, por ocasião, o cinema


também. Vemos as constantes mudanças nas mídias, com a invenção da televisão,
do próprio cinema, desde a Revolução Industrial, como pontua Rossini (1999)
constantes mudanças ocorreram na humanidade (invenções tecnológicas,
fotografia, cinema, telefone, telegrafo). Todos esses elementos que surgiram cada
qual no seu tempo fazem parte de um grande grupo, aquele das mídias.
É através das diversas mudanças que ocorreram na sociedade e nas formas
de pesquisa que na década de 1970, a Nova História nasce, a partir dessa
perspectiva houve uma aproximação da metodologia de História e Cinema. Não
havia, antes desse movimento, uma aproximação do historiador com o cinema,
segundo Marc Ferro (1992, p 79) “o filme não faz [fazia] parte do universo mental
do historiador.” Além de Ferro (1992) abordar o filme como sendo um objeto não
pertencente ao universo de documentos históricos dos historiadores, Kornis (1992)
também afirma que esses “documentos visuais são utilizados de forma marginal e
secundária pelos estudos históricos.” (p. 237). Não há um despertar, por parte dos
historiadores que as mídias, como filmes, jogos eletrônicos, história em quadrinhos
são fontes e devem ser trabalhadas como tais, no entanto, a afirmação de Kornis
está sujeita a década de 1990, quando esses estudos estavam em momentos
embrionários, duas décadas depois vemos que isso modificou-se, ainda que de
forma gradativa, cada vez mais os elementos midiáticos preenchem os trabalhos
da academia. E é a partir desse novo despertar que no capítulo 1 iremos abordar o
uso de elementos da mídia como fonte e sua importância no construir o saber
histórico.
A História e o Cinema a partir da Nova História Cultural começaram a
caminhar juntas, segundo Kornis (1992), nos anos de 1970 quando houve uma
grande mudança na reflexão histórica, a renovação da historiografia deu início a
“Nova História” que abria o leque de possibilidades para estudar novos objetos.
Historiadores vislumbraram que poderiam não somente trabalhar com as fontes
convencionais, os objetos que eram manuscritos, livros e afins, mas teriam nas
Mídias, formas de trabalhar a História.
Mirian Rossini (1999) em seu trabalho afirma que desde o início do cinema,
ele vem registrando imagens do cotidiano, de momentos políticos e outros eventos,
segundo a autora (1999, p. 16) “o cinema tornou-se o grande arquivo, a grande
memória dos nossos tempos.” O cinema, para Rossini (1999, p.17) possibilita
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reviver o passado, “fosse o passado recente ou o passado longínquo, que estava


fora da experiência do vivido.” Para essa autora (1999), o cinema é uma forma de
reviver o passado, trazendo consigo seus significados, sua história e memória,
transpassam para gerações futuras de forma visual, um passado longínquo ou
recente. É através dessa mídia, que podemos armazenar cenas do passado, cenas
reconstituídas do passado, ou mesmo cenas ficcionais que tenham como o
passado sua referência.
Segundo Kornis (1992, p. 239), em acordo com o pensamento de Michel
Vovelle, menciona que o filme pode ser um documento histórico, e ele também
ajuda a “ampliar seu campo de investigação e proceder a uma renovação
metodológica.” O filme é visto como uma construção, uma representação, que
recorta fatos importantes da história, muitas vezes, trabalha de forma fiel a história
presente nos livros e, outras vezes, recorta o que lhe convém e faz adaptações
conforme o produto que quer entregar aos consumidores que estarão na frente de
uma tela para prestigiar tal produto.
No campo da historiografia, encontramos trabalhos como o de Daniele Silva
e Maurício Albuquerque, autores que pesquisam sobre as mídias na História, todas
as produções que trabalham com os elementos midiáticos, ou seja, relacionados às
mídias, possui no seu eixo central o passado (quando este faz alusão a História ou
afins) e, como coloca os autores, muitas vezes por mais que os idealizadores da
obra não notem, essa produção “possui um caráter naturalmente discursivo”
(SILVA; ALBUQUERQUE, 2016, p. 234). Por mais que a obra cinematográfica seja
simples, ela está cheia de construções que podem ser problematizadas,
argumentadas e
ao serem reveladas, mostram que mesmo uma produção (aparentemente)
ingênua, pode oferecer uma análise relevante sobre o tempo presente,
sobre os mecanismos de persuasão dos veículos midiáticos, assim como
sobre os mais variados dispositivos retóricos. (SILVA; ALBUQUERQUE,
2016, p. 234)
Os filmes ou outros métodos de se representar o passado ao público são
instrumentos de grande alcance, é por meio deles que muitos conseguem ter
acesso a uma quantidade enorme de informações sobre determinado período, mas
vale ressaltar o que já disse Macedo e Mongelli (2009, p. 14), sobre a história real
ser diferente da história das telas dos cinemas. É nítido que, os filmes
necessariamente não serão cópias fiéis da história, pois trata-se de uma
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representação.
Segundo Quinsani (2010), no momento que Marc Ferro escreve o artigo
relacionado com o tema “O filme”, o autor busca traçar pontos e deixar cada vez
mais claro, que o filme pode e deve ser considerado um documento para se
trabalhar na História. O cinema, como já citado, abre um leque de possibilidades
para se estudar, qualquer imagem pode ser analisada a partir dos filmes, Marc
Ferro, de acordo com Quinsani (2010) denomina essa nova área como “sócio-
histórica cinematográfica.” (2010, p. 66).
O cinema é um elemento que perpassa o próprio filme, ele acaba se
tornando um agente da história, parte importante que conta a História, de uma
maneira diferente dos livros e outros documentos escritos: “a imagem
cinematográfica vai além da ilustração: no seu verso está expressa a ideologia dos
realizadores e da sociedade.” (QUINSANI, 2010, p. 66) A partir disso, o autor
fomenta que podemos desvendar o que não está visível, aos nossos olhos comuns,
com um olhar crítico, podemos compreender e buscar nas obras cinematográficas
uma forma de revelar o que foi pensando de forma oculta.
Entrando na análise do filme, de maneira introdutória, pois no capítulo dois,
haverá uma discussão maior, Nildo Ouriques (2014) menciona a fala de uma das
idealizadoras do projeto do filme Getúlio que transmite a mensagem que eles,
como idealizadores e direção gostariam de passar para a sociedade, ao passo que
os indivíduos, de forma emocional se envolvessem com a obra e, assim seriam
cativados pelo projeto, que ao assistir o público ficasse fascinado com o que está
sendo representado, pois esta é a história do nosso país. No entanto, a proposta
que desenvolvo neste trabalho é realizar, a partir da historiografia, uma análise de
como a figura de Getúlio Vargas é construída, nos trabalhos acadêmicos e, como
essa mesma figura é retratada no cinema, em especial no filme Getúlio (2014). é
também importante destacar que Vargas é retratado, quase sempre, na
historiografia, com grandes glórias, um líder de destaque na História do país,
entretanto, ao analisarmos o filme, podemos perceber que Vargas não é retratado
com toda essa glória.
A partir desse contexto, podemos realizar diversas problematizações a
respeito do que os autores e diretores do filme queriam transmitir para aqueles que
são apaixonados por filmes, ou até mesmo filmes históricos, ou apenas curiosos. A
intenção de passar para o público um lado do “bom velhinho” de Vargas, aquele
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que concedeu diversos benefícios para o povo, o próprio jingle de campanha de


Vargas na década de 1950 fazia referência a dar uma nova oportunidade para o
“velho”, como assim o chamavam, colocando o retratado de Getúlio novamente na
parede com os demais presidentes do país. Apesar de todas as leis trabalhistas
que Vargas sancionou em seu tempo como dignatário do Brasil ele foi um ditador e
não somente porque ele concedeu ao povo brasileiro direitos que essa colocação
não caberia a ele.
O período que Vargas esteve no poder pode ser dividido em algumas partes,
segundo Amorim e Bilhão (2010). Governo Provisório, que seria o momento que
Vargas dá o golpe em 1930, assume o poder e de forma provisória governa o país.
Janotti (1998, p. 94) afirma que o episódio do golpe foi visto como uma ruptura da
política das oligarquias, diversas manifestações populares ocorreram e acolheram
Getúlio Vargas como governante provisório. Em um segundo momento temos o
Governo Constitucional, que vai de 1934 a 1937, onde Vargas é eleito de forma
indireta para assumir a presidência do país. E é no ano de 1937 que, através do
Plano Cohen, se inicia o Estado Novo, momento que o então presidente se torna
ditador e, se utiliza de uma falsa tomada da direção do país pelos comunistas, para
permanecer no governo.
Podemos ainda destacar outro trabalho que aborda também uma figura mais
enérgica de Vargas, com Amorim que diz que
em 1937, o Brasil viveu o que daria início ao novo rumo das políticas
varguistas, se baseando regimes nazifascistas que conduziam a Europa
em direção ao nacionalismo extremado. Nesta linha ideológica Vargas cria
o Estado Novo, no qual ele próprio se colocava como chefe da nação para
conter a ameaça comunista. (AMORIM E BILHÃO, 2010, p. 1024)
Vemos, neste relato da autora, Vargas iniciando o Estado Novo, um tempo
de governo ditatorial, fechamento do congresso e o momento que governaria por
decretos lei. Junto com seus apoiadores do governo, aplica um golpe, criando uma
suposta ameaça comunista, que nunca existiu, para se perpetuar no poder. Getúlio,
nesses documentos, é trabalhado como um grande líder, repleto de ideias e
projetos sociais, além de ser sempre abordado como uma figura de pulso firme, o
que não vemos no filme trabalhado em questão.
De acordo com Amorim e Bilhão (2010), por pressões do exército, Vargas
deixa o governo (1945). Durante o Estado Novo soube jogar com os poderes
políticos da época, realizar alianças e se perpetuou no poder por tantos anos.
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Por falta de apoio do exército, o qual o auxiliou a chegar na cadeira da


presidência, Vargas sai do poder. O que Ouriques pontua é que “a trama histórica
cede lugar quase que completamente para o drama pessoal de um homem
finalmente fraco, débil e- insisto- medroso.” (2014, p. 2)
Getúlio Vargas é visto por muitos como uma grande líder da nação
brasileira. De acordo com Bresser-Pereira Vargas “foi um líder nacionalista e
populista que encontrou um país agrário e atrasado quando assumiu o governo, e
24 depois, o deixou industrializado e dinâmico”. (2009, p. 6). O autor faz uma
determinada leitura a partir de sua visão sobre a Era Vargas, ele de certa forma
descarta toda uma ditadura que Vargas implementou no Brasil na década de 1930
e uma parte da década de 1940. Vargas possui diversos atributos, suas escolhas
no seu tempo de presidente, ainda reverberam nos dias atuais, é uma figura de
chefe de nação que se destacou por seus feitos, entretanto, seu governo iniciou a
base de um golpe, em 1930, no ano de 1937 um novo golpe, por conta de uma
suposta ameaça comunista, era também um governo que tinha fortes aspirações
com o fascismo de Mussolini, na Itália.
No capítulo 1 será trabalhado o surgimento das mídias dentro da pesquisa
cientifica e como os seus elementos refletem na produção historiográfica para que
cada vez mais novas ferramentas balizem os trabalhos dentro da academia. Além
disso, destacando objetos de pesquisa das mídias, como por exemplo, os jornais,
games, HQs, cinema e etc. Dando ênfase maior no cinema, que norteia o trabalho
em questão, como a academia observa essa fonte, se há aceitação por parte dos
pesquisadores e como ela está presente na produção de diversos trabalhos na
constrição do conhecimento cientifico.
No capítulo 2 será trabalhado a partir de uma revisão bibliográfica como os
pesquisadores descrevem a figura de Vargas, desde o momento que ele entra na
política e passando por toda a sua jornada como deputado estadual,
posteriormente deputado federal até alçar o caminho para a presidência da
república, em 1930, através do Golpe de 1930, estabelecendo anos mais tarde, a
ditadura do Estado Novo e até o fim dessa ditadura, em 1946. Por fim, o capitulo de
debruçara a analisar o filme Getúlio, os desdobramentos, a importância do filme
dentro do contexto da produção historiografia e como ele contribui para uma
representação de quem foi Getúlio Vargas.
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Capítulo 1

O Cinema e a História

1.1 O uso das mídias

É na década de 1970 que surge a nova História Cultural, ela traz consigo
inúmeros elementos capazes de fomentar ainda mais a produção de conhecimento.
Segundo Peter Burke, ela não é uma descoberta nova, pois já existia na Alemanha,
entretanto com um nome diferente, há pelo menos mais de 200 anos, antes que
houvesse essa virada, como o autor vai chamar, as áreas de conhecimentos
trabalhavam de formas separadas, conforme o autor:
a abordagem interna trata da presente renovação da história cultural como
uma reação às tentativas anteriores de estudar o passado que deixavam
de fora algo ao mesmo tempo difícil e importante de se compreender. De
acordo com esse ponto de vista, o historiador cultural abarca artes do
passado que outros historiadores não conseguem alcançar. (BURKE,
2005, p. 8)
No que tange uma visão mais externa, Burke ainda comenta que a história
cultural agrega em diversos conhecimentos, outrora esquecidos, bem como
percepções que antes não eram vistas, sobre pobreza, medo, cheiro, moda, etc.
Com toda essa virada cultural, encontramos as mídias como pertencentes desse
bloco tais como, os games, as HQs, o cinema, o jornal, entre outros elementos que
podem vir a se tornar objetos de pesquisa.
Ciro Flamarion Cardoso e Ana Maria Mauad (1997), afirmam que a partir do
momento que Bloch e Febvre anunciam que os historiadores saiam de sua zona de
conforto, e partiam para novas experiências, mudanças começaram a ocorrer. Os
autores comentam que o trabalho com fontes não verbais era um desafio, que
muitos pesquisadores não queriam enfrentar, para muitos “a história faz-se com
textos” (1997, p. 568). Essas mudanças partem no sentido de observar não mais o
individual, uma época isolada ou afins, mas partindo para uma investigação do que
os autores irão chamar de transindividual. A partir disso,
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todos os vestígios do passado são considerados matéria para o


historiador (...) novos textos, tais como a pintura, o cinema, a fotografia,
etc., foram incluídos no elenco de fontes dignas de fazer parte da história
e passiveis de leitura por parte do historiador. (CARDOSO E MAUAD,
1997, p. 569)
A era que hoje se faz presente é de novas tecnologias, de novas formas de
comunicação, para além do que era utilizado no século XX, ganha uma um espaço
especial. No estudo da História e suas fontes de pesquisas não seria diferente.
Essas novas ferramentas não só não auxiliarão nas pesquisas do presente como
naquelas do futuro, buscando cada vez mais compreender comportamentos,
pensamentos de uma determinada época, de um determinado segmento, como por
exemplo, a forma de expressão da música, cinema e similares. No que tange as
mídias como fontes de pesquisa, podemos acionar autores como Arthur Itaqui
Lopes Filho (2019) que trabalha a temática de história em quadrinhos e aborda que
há uma resistência, por parte de alguns pesquisadores, em investigar o passado
com novas ferramentas, no caso supracitado, as mídias, para Lopes Filho (2019)
as diversas áreas de conhecimento têm resistido em se utilizar das mídias como
seu objeto de pesquisa. No entanto, podemos considerar que em determinadas
áreas essa resistência não existe, ou que outrora existiu, mas isso vem se
modificando ao longo do percurso temporal. Segundo o autor
é claro que muitas áreas do conhecimento tratam o fenômeno da cultura
pop como parte integrante de seus estudos, a exemplo dos estudos
pedagógicos que possuem uma vasta trajetória de pesquisa acerca do uso
das Histórias em Quadrinhos, cinema e animações como ferramenta para
a educação e o ensino. (LOPES FILHO, 2019, p. 25)
Segundo Reblin (2016), a cultura pop como objeto de pesquisa chega na
academia e para algumas áreas há uma recusa em pautar seu objeto de pesquisa
como parte dela, entretanto, em outras áreas vemos que
ao passo que os estudos culturais provocaram um novo olhar sobre a vida
em sociedade e seu universo simbólico-cultural-artístico, há campos que
se mantem mais reclusos em relação a certos temas que outros. Se hoje,
cerca de uma década e meia após a virada do século, pode ser tranquilo
abordar histórias em quadrinhos em cursos como letras, educação,
comunicação, há outras áreas do conhecimento (outras academias e
outros campos científicos) que ainda apresentam resistência. (REBELIN,
2016, p. 18)
17

Para alguns pesquisadores, segundo Reblin (2016) a cultura pop por


abordar temáticas que envolvem o entretenimento, como filmes, games, HQs e
outros, não são consideradas fontes sérias para algumas áreas, pois “não serve
para a lógica de produção, de conhecimentos ‘uteis’, que possibilitem emprego e
movimentação direta de capital.” (2016, p. 20). As mídias dessa cultura pop estão
presentes no cotidiano de todos em uma sociedade, seja em qualquer área, desde
o cinema, até a música. Todos os elementos das mídias nos auxiliam a
compreender culturalmente determinado pensamento ou ação.
Um exemplo podem ser as fotografias, as quais são situações do cotidiano,
que nos auxiliam, a encontrar respostas do passado, através dessas fotografias,
por exemplo tiradas em chão de fábricas, por famílias, etc. Há uma necessidade de
pesquisadores, das mais diferentes áreas, pensarem nas mídias, como uma
ferramenta importante para depositarem seus problemas de pesquisa.
É através dos novos objetos que além do presente, o futuro do historiador se
pautará, são esses objetos estão em uso no presente e também estarão no futuro.
Através de HQs, que são consumidas por inúmeras pessoas, que também traz
consigo significados, o cinema, como uma forma de representação cultural e outras
fontes mais. O autor ainda enfatiza, sobre o uso de elementos midiáticos como
fonte na academia, mostrando que a partir deles há um estudo das
diferentes culturas, suas variadas expressões artísticas, seus bens e seus
artefatos, e a lógica de organização social que está implícita neles torna-
se crucial para compreender o ser humano, sua vida e a forma como a
estrutura para viver. (REBLIN, 2016, p. 23)
De acordo com Reblin (2016) a cultura pop possui algumas características
indeléveis que podemos considerar, primeiramente essa cultura está ligada com os
meios de comunicação, sejam eles, os jornais, a televisão, o rádio e até mesmo, a
internet, como uma ferramenta mais recente. Além disso, o autor (2016) pontua
que por conta da Cultura Pop está ligada a essas mídias, passa também uma
ideia de mercadoria, indústria, capital: isto é, é uma cultura produzida, que
precisa vender e gerar lucro e que, para vender e gerar lucro, precisa
seduzir, lidar com um imaginário comum, articulado pelos desejos e pelos
sonhos de consumo (mesmo que alguns desses desejos e sonhos de
consomem possam ser estimulados pelos próprios veículos de
comunicação de massa); um bom filme não é apenas aquele que conta
18

uma boa história, mas aquele que vende uma boa história que seja
comprada e consumida pelas pessoas. (REBLIN, 2016, p. 26)
Abordando mais aspectos da cultura pop, o autor ainda pondera que por
conta de trabalhar com as opiniões políticas, essas mídias que fazem parte da
cultura pop elas não apenas representam a vida de uma sociedade, mas também
constroem as identidades, algumas narrativas, além de uma base ideológica. O
autor ainda afirma que
se ocupar com a cultura pop na academia, significa, em última instância,
verificar como as pessoas estão cotidianamente adaptando, criando,
transformando, usando símbolos, mitos, modelos, produzindo sentidos,
alimentando desejos dentro do ambiente contemporâneo de suas vidas
privadas e sociais, considerando aqui todas as nuances e as imbricações
de uma rede complexa de relações (econômicas, sociais, religiosas,
mercadológicas, políticas, culturais) que constituem essas mesmas vidas.
Em última instancia, ocupar-se com a cultura pop e seus inúmeros
desdobramentos em termos de produtos e seus impactos, é se ocupar
com a cultura do nosso tempo. (REBLIN, 2016, p. 28 e 29)
Lopes Filho (2019) ainda comenta que a resistência por parte dos
pesquisadores, faz referência a dois cenários, o das coisas sérias e o das coisas
não sérias. Para o autor, no cenário das coisas sérias podemos encontrar objetos
de pesquisa considerados relevantes para a academia, já no campo das coisas
não-sérias estão “abarrotado de (potenciais) objetos de pesquisa, se encontra tudo
aquilo considerado não relevante para o desenvolvimento dessas mesmas áreas
do conhecimento.” (LOPES FILHO, 2019, p. 25)
Segundo o autor (2019) no cenário das coisas não-sérias, um enorme
potencial de discussão, de pesquisa, de novos saberes está esperando
pesquisadores que tentem se reinventar, buscar novos objetos, novas formas de
análise. Lopes Filho (2019, p. 26) ainda comenta que andar pelo caminho das
coisas não-sérias inúmeras vezes trás não haver incentivo, os recursos, por vezes,
são limitados e há um desencorajamento por parte dos pares da mesma área de
conhecimento, de mestres e doutores.
Acionando a autora Beatriz de Carvalho (2007) podemos perceber em um
de seus trabalhos que a autora comenta que a valorização dos quadrinhos vai
ocorrer na Europa, na década de 1960 e, isso se dá por conta de obras como de
Umberto Eco que era um importante teórico das artes plásticas, segundo Carvalho
19

(2007, p. 79) com os trabalhos do pesquisador, “concretizaria nessa época uma


série de estudos, acadêmicos ou não, revelando um novo olhar sobre os
quadrinhos.” As coisas não sérias, trabalhado por Filho (2019), elementos como
quadrinhos, games e outros, considerados dentro desse espectro, eram rejeitados
por pesquisadores que viam a cultura pop como sendo algo que não acrescentasse
na produção acadêmica. Os trabalhos de Umberto Eco, “desafiavam os moralistas,
cientistas e críticos culturais que temiam a cultura de massa ou que não
enxergavam nada significativo nela, ajudando, assim, a cimentar as bases dos
estudos contemporâneos.” (CARVALHO, 2007, p. 80)
O livro de Umberto Eco, nome importante no que tange o assunto
quadrinhos, Apocalípticos e Integrados, segundo Carvalho (1997) é uma obra
importante que apresenta um olhar diferente sobre as histórias em quadrinhos,
Umberto Eco vai introduzir uma fase mais crítica que seria apoiada tanto na
estética como na semiótica referente aos quadrinhos fazendo com que surja “um
momento de grandes debates políticos e sociais e diversos questionamentos
artísticos e culturais, um período em que a contracultura ganhava cada vez mais
força.” (CARVALHO, 2007, p. 81)
Com o passar dos anos, as mídias tem ganhado notoriedade no meio
acadêmico, como aponta Reblin e Lopes Filho, sejam elas dos mais diferentes
segmentos. Pesquisadores estão buscando, cada vez mais, introduzir essas mídias
na produção do saber cientifico. Como já mencionado, havia uma certa resistência
por parte de pesquisadores e determinadas áreas, no entanto, estudos que se
utilizam do cinema e da imprensa, por exemplo, cada vez mais ganham espaço em
trabalhos acadêmicos, por serem fontes com um uso mais verificado a mais tempo
na historiografia.
De acordo com Cruz e Peixoto (2007), a História com seus temas e
problematizações se pauta, em diversas pesquisas, no uso de jornais, algo que era
impensável em um passado não distante, pois esse objeto de pesquisa, era
considerado não confiável, além de não passar a credibilidade. Entretanto,
podemos observar que esse pensamento já não mais existe, pois, pesquisadores,
hoje, se pautam em jornais e outros mecanismos midiáticos para realizarem suas
pesquisas, o que ocorre, é que esses documentos em formas de mídias, se tornam
monumentos e um importante instrumento de verificação, de comprovação, de
20

reflexão do passado. Segundo as autoras (2007, p. 258) o passado “não nos lega
testemunhos neutros e objetivos e que todo documento é suporte de prática social,
e por isso, fala de um lugar social e de um determinado tempo, sendo articulado
pela/na intencionalidade histórica que o constituiu.”
A imprensa, segundo Cruz e Peixoto não foi constituída para ser uma fonte
histórica, onde os pesquisadores buscam e através dela realizam suas pesquisas e
afins, ela nasceu como uma representação da vida cotidiana, do social, ela “detém
uma historicidade e peculiaridades próprias, e requer ser trabalhada e
compreendida como tal, desvendando, a cada momento as relações
imprensa/sociedade, e os movimentos de constituição e instituição do social que
esta relação propõe. (2007, p. 260)
É através de elementos midiáticos que surgem trabalhos voltados a esse
tema no meio acadêmico, como por exemplo, falarmos sobre determinado período
da História do Brasil, no que tange a linha temporal da Ditadura Civil militar,
encontraremos diversos documentos oficiais para pautar diversas pesquisas, mas é
na arte que encontraremos, em diversos momentos, expressões contra a ditadura,
músicas contra a ditadura, charges, manifestações que saiam na imprensa e,
através desse objeto, que é o jornal, podemos hoje observar e refletir sobre o
pensamento da sociedade nas décadas de 1970 e 1980. Podemos aqui perceber
que a imprensa possui um grande potencial para contribuir ainda mais nos
trabalhos acadêmicos. Cruz e Peixoto ainda comentam que um dos pontos
principais para considerar a imprensa como fonte é
enfrentar a reflexão sobre a historicidade da Imprensa, problematizando
suas articulações ao movimento geral, mas também a cada uma das
conjunturas especificas do longo processo de constituição, de construção,
consolidação e reinvenção do poder burguês nas sociedades modernas, e
das lutas por hegemonia nos muitos e diferentes momentos históricos do
capitalismo. (2007, p. 257)
Para as autoras (2007) com essa reflexão acima, é importante não apenas
ter a imprensa como um elemento de narrativas, mas tornar a imprensa, como elas
chamam, de “força ativa” (2007, p. 257), pois somente assim partiremos de uma
fonte passiva para ativa, dentro das necessidades da constituição dos diversos
modos de vida e acontecimentos. Ainda podemos considerar que, segundo Cruz e
Peixoto (2007), a escolha da imprensa como fonte histórica é pautada em escolhas
21

que o próprio pesquisador irá realizar, só que para isso se faz necessário um trato
tanto na questão teórica quanto na questão metodológica.
Um dos pontos da questão da imprensa a ser discutido e que fora
mencionado por Cruz e Peixoto (2007) é que a imprensa necessita ser
problematizada, discutida, analisada, investigada não de forma isolada, mas
conversando com diversas áreas, como, por exemplo, na questão social ou política,
vínculos com demais áreas devem ser feitos para que haja, primeiramente uma
pesquisa de fato relevante, é necessário “as conexões e vínculos não só com a
história de outras formas de comunicação, mas também com a história social mais
ampla (...).” (2007, p. 258).
Em relação ao cinema, outra mídia também com um uso mais frequente na
historiografia, é o assunto do tópico seguinte que iremos abordar certos detalhes
para compreender o cinema como uma fonte.

1.2 O cinema
O cinema, segundo Costa (2006) deu seus primeiros passos em 1895,
mas ainda não estava totalmente solidificado, pois estava ligado a outras formas
culturais, vale ainda ressaltar que “os aparelhos que projetavam filmes apareceram
como mais uma curiosidade entre as várias invenções que surgiram no final do
século XIX.” (COSTA, 2006, p. 17) Tudo era novidade para a sociedade da época,
tudo fruto das inovações tecnológicas que estavam surgindo para aquele
determinado período. Rossini (1999) comenta que todo o processo de
transformações tecnológicas que surgiam, era fruto de inovações a partir da própria
Revolução Industrial, nesse momento, como num dito popular, “as portas se
abrem” para novas invenções em diversas áreas e uma delas era o próprio cinema.
Conforme Barros irá escrever sobre o cinema podemos destacar que
considerado por muitos a ‘arte do século’, ele tem constituído, a partir de si
mesmo, uma linguagem própria e uma indústria também específica, e à
par disto não cessou de interferir na história contemporânea ao mesmo
tempo em que seu discurso e as práticas foram se transformando com
esta mesma história contemporânea. (BARROS, 2011, p. 177)
Segundo Oliveira (2002), no início do século XX, os historiadores não
utilizavam fontes não escritas e por muito tempo assim o fizeram, apenas as fontes
escritas eram “utilizadas pelo historiador consagrado, entre aquelas que formavam
22

um corpo tão cuidadosamente hierarquizado quanto a sociedade à qual ele


destinava sua obra.” (2002, p. 134) Os tempos mudaram, como afirma Oliveira, as
concepções de História também e com elas suas fontes. A afirmação de Barros a
respeito do cinema é importante de ser destacada, pois para ele
Naturalmente que, já que o próprio Cinema é relativamente recente na
história, seu uso pela Historiografia também é recente. Além disto, acresce
que também não deixa de ser recente mesmo a utilização pela
historiografia de fontes não propriamente documentais ou textuais. A
primeira metade do século XX, como se sabe, marca precisamente a
expansão das concepções de ‘fonte histórica’, já que trouxe à tona um
interesse mais vivo por fontes iconográficas, por fontes da cultura material,
pela história oral, e por tantas novas possibilidades de materiais para
serem trabalhados pelos historiadores. A fonte fílmica, que aliás integra ao
discurso verbal as dimensões da visualidade e da oralidade, enquadra-se
compreensivelmente neste mesmo movimento de expansão de temáticas
e de possibilidades de novas fontes historiográficas. (BARROS, 2016, p.
22)
Dentro do cinema temos três segmentos de filmes que podemos destacar,
de acordo com Barros, o filme histórico, que trabalha com a representação de
eventos ou personagens e ainda esse mesmo nicho trabalha com uma ideia
romantizada de um determinado personagem da História, de um determinado
evento da História, tudo para levar o consumidor final ir para as telas do cinema.
Contamos também com os filmes “de ambientação histórica, aqui considerando os
filmes que se referem a enredos criados livremente, mas sobre um contexto
histórico bem estabelecido.” (2016, p.19) Uma terceira vertente pode e deve ser
considerada que são os mais comuns em canais de televisão, na internet, utilizado
em salas de aula, que são os documentários históricos, estes, segundo afirma
Barros diferenciam-se “dos atrás mencionados filmes históricos seja pelo rigor
documental em que se apoiam, seja pelo fato de que neles o fator estético é
deslocado para segundo plano e não quem conduz os rumos da narrativa ou da
construção fílmica.” (BARROS, 2016, p. 20)
Barros (2016) afirma que a expressão, História e Cinema, de acordo com
Marc ferro, interage em comum, não tende nem para o lado do Cinema nem para o
lado da História, eles caminham próximos um do outro, a interação desses dois
meios constrói juntos possibilidades maiores de pesquisa e produção, sempre
23

haverá ensinamentos da parte de ambos os lados. Barros ainda pontua que


o cinema podia ensinar aos historiadores um novo modo de fazer a
História e representá-la, e a História podia ensinar ao Cinema um novo
modo de seu autoperceber historicamente e como fenômeno-processo em
continua transformação. (BARROS, 2016, p.17)
Barros ainda comenta que os filmes que tem na História sua referência, são
fontes para o entendermos as percepções e representações do passado, por meio
dessas obras podemos estudar a História. Podemos avançar ainda mais em
conformidade com Barros, trazendo, apenas a título de curiosidade e deixando uma
brecha para novos estudos, o Ensino de História, este tende a ganhar com a
utilização do cinema em sala de aula. Encontramos, por exemplo, nos alunos uma
certa resistência em leituras. Quando o assunto é filme, novas possibilidades,
dentro e fora da sala de aula, auxiliam tanto o professor como o estudante na
compreensão da História e também na sua problematização. O filme se torna mais
atrativo do que um livro. Vivendo a era da tecnologia, deve-se considerar a fonte
do cinema como uma possibilidade metodologia no Ensino de História e também
nas pesquisas históricas.
O cinema, assim como outras ferramentas tecnológicas, nos auxilia a
avançar na pesquisa histórica. De acordo com Mônica Faria (2012, 68 apud
EISNER, 2005, p.7) tanto o cinema como as HQs “são os principais contadores de
histórias através de imagens.” Além desses objetos já citados, Faria vai mencionar
que os games, também auxiliam em uma narrativa visual. Em conformidade com o
pensamento de Faria,
o cinema é caracterizado pela exibição rápida de uma sucessão de
imagens. Através de dispositivos mecânicos e/ou eletrônicos, que dão a
impressão de movimento sequencial e temporal, imitando, de certa
maneira, o tempo real dentro das possibilidades e intenções narrativas.”
(2012, p. 80)
Para Faria (2012, p. 83) “o cinema através da lente das câmeras mostra a
realidade ficcional e a ficção simulando o real.” Por mais que o cinema trabalhe
com cenas do real, agregue conhecimento e possua inúmeros valores culturais,
sua problematização é necessária, pois ele não tem o pacto com a verdade. As
obras cinematográficas, por mais que carreguem o slogan, baseado em fatos,
cenas são destorcidas, alteradas, com apelo ao público. Por conta disso, é que
24

esse trabalho tem como um dos objetivos, assim como outros trabalhos dentro do
conhecimento científico, se propõe a analisar o filme com um olhar de pesquisador,
historiador, preparado para realizar críticas, apontamentos e uma análise a partir
de diversos campos que nos auxiliem na problematização do trabalho em questão.
E essa problemática de mudança da História para o apelo ao público, será definida
mais para o final deste tópico.
De acordo com Faria o cinema representa a modernidade, um símbolo de
novas fontes que surgem para alçar as pesquisas a um novo patamar, a obterem
novas percepções, segundo Faria “o cinema significou também um meio
extraordinário de circulação do conhecimento, de difusão de novas expectativas e
valores culturais.” (2012, p. 83 apud OLIVEIRA, 2006, p. 135) Barros ainda
complementa sobre o uso do cinema como fonte dizendo que
se o uso do gravador e da fotografia veio trazer instrumentos
importantíssimos para os antropólogos e sociólogos dos últimos tempos,
as práticas cinematográficas vieram trazer uma contribuição fundamental
ao acenarem com a possibilidade do uso filmagem nas pesquisas ligadas
às ciências humanas, aqui considerando que a filmagem permite a
captação de imagens-som em movimento para posterior análise (por
exemplo, o ritual de uma tribo indígena ou as imagens de um determinado
distúrbio social) (BARROS, 2016, p.21)
O estudo do cinema como fonte histórica, como pontua Barros (2011), por
conta do número de obras cinematográficas que existem, e também em especial,
as obras que fazem menção a História, é um campo totalmente novo, pouco
explorado e uma fonte cheia, esperando que pesquisadores caminhem até ela,
Barros ainda consolida seu pensamento, dizendo que
a partir de uma fonte fílmica, e a partir da análise dos discursos e práticas
cinematográficas relacionados aos diversos contextos contemporâneos, os
historiadores podem apreender de uma nova perspectiva a própria história
do século XX e da contemporaneidade. (BARROS, 2016, p. 19)
O cinema, como um elemento de pesquisa, está cada vez mais ganhando
espaço no meio acadêmico, no entanto, outros elementos de pesquisa, digamos,
mais consagrados no meio dos pesquisadores, como livros, cartas, documentos
ainda lideram, possivelmente, como as principais fontes de pesquisa. Por ser um
campo novo, o cinema tende a caminhar em passos mais curtos para chegar a ter
uma notoriedade dentro dos objetos de pesquisa, entretanto Vitória Azevedo (2008)
25

pondera que a justificação do cinema como uma fonte histórica já não se faz mais
necessário, pois já é um campo que está solidificado. Mas para além disso, pautar-
se em cima do cinema, como sendo uma fonte, traz diversas possibilidades para os
pesquisadores, Barros, pontua que “os historiadores políticos e culturais podem
examinar os diversos usos, recepções e apropriações dos discursos, práticas e
obras cinematográficas.” (2011, p. 178). O cinema, que tende a História como seu
produto final, está repleto de discussões, temas a serem trabalhos,
problematizações, cabe ao pesquisador utilizar-se dessa fonte para realizar essas
discussões.
Para Kornis
as fontes são os vestígios do que foi, são as marcas que permitem
reconstruir os acontecimentos de outras épocas. Por isso, para o
historiador, fonte implica algo que encerra a verdade, pois é ela que o
levara a reconstruir os fatos, o mais fielmente possível, e deles extrair sua
significação histórica. Para aquele profissional, apoiado exclusivamente na
razão, isso significou aceitar basicamente aquelas fontes que tivessem
sido produzidas racionalmente, como por exemplo um texto de caráter
oficial, ou de natureza administrativa ou política. (1992, p. 41 e 42)
Problematizando o próprio trabalho de Kornis, o historiador precisa observar
a fonte e desconfiar dela realizando perguntas, buscando sempre tentar extrair o
máximo daquela fonte, pois não há verdade absoluta, além disso Kornis escreve
para o século XX, nesse contexto, havia se iniciado o trabalho com as mídias, mas
ainda era em menor escala do que no século XXI. O pensamento dos
pesquisadores outrora era diferente, buscando sempre se utilizar de fontes oficiais,
como ela mesma pontua ou de outras naturezas, mas para o século XX, o cinema,
assim como, as HQs, os games, jornais, era algo impensável. Conforme Kornis
alimenta em seu trabalho, “acreditava-se que a partir deles não era possível se
produzir um conhecimento objetivo, científico, racional e aceitável dentro dos novos
cânones que conduziam as pesquisas nas mais diversas áreas.” (1992, p. 42)
A História, segundo Azevedo (2008), já foi revivida em diversas
temporalidades em obras cinematográficas, desde a Pré História, até a Idade
Contemporânea temos representação da História nas telas dos cinemas. Filme
como Os Croods, que retrata uma família que vive na Pré História, é uma forma de
informação, de passar para o público uma mensagem, esse público em especial,
26

são criança. Essa forma de entretenimento atrelado ao conhecimento histórico


deve ser problematizada e sempre é necessário relembrar que seus criadores e
roteiristas não são pesquisadores, historiadores ou afins, então não possuem a
missão que um historiador tem, de trabalhar com o real. Os filmes tendem a captar
o que o seu público espera, ou seja, os seus criadores tendem a imaginar e
projetar como o público, o consumidor final desse produto, vai recebê-lo nas telas
do cinema e em suas casas. Inúmeras vezes é necessário modificar a História,
para que o consumidor final aprecie, compartilhe, dê bons feedbacks e a crítica
faça com que a obra seja alçada a um outro patamar ou que a obra seja conhecida.
Filmes que abordam as guerras, que trabalham com períodos específicos,
pautam-se na História. A exemplo disso, temos também o filme As Loucuras na
Idade Média que faz referência ao início do século XXI, lançado no ano de 2001,
que trabalha a Idade Média de uma forma cômica, um personagem do mundo
contemporâneo que parte para a Idade Média com seus conhecimentos
contemporâneos. O público desse filme são pessoas atraídas pelo humor, pela
temática, enfim, são diversos fatores que fazem com que o filme seja um sucesso.
Filmes retratando a era contemporânea, como o Tropa de Elite, que sua
idealização foi feita pra mostrar como mesmo combatendo o crime, tendo diversos
recursos e o apoio da sociedade, a polícia se corrompe. Entretanto, o público
compreendeu de uma forma diferente, como sendo eles (os policiais) os salvadores
da população, os protetores, que não havia corrupção dentro do sistema de
segurança. Esse não é um filme abordado por este trabalho, mas, no entanto, é
uma forma de analisarmos como muitas vezes a ideia original destoa e passa a ser
considerado o que o consumidor final, no caso o telespectador, compreende e
entende daquela obra.1
Podemos ainda destacar que o cinema não é apenas uma fonte, mas
também pode ser considerado como um agente da história
Assim como todo produto cultural, toda ação política, toda indústria, todo
filme tem uma história que é História, com sua rede de relações pessoais,
seu estatuto dos objetos e dos homens, onde privilégios e trabalhos
pesados, hierarquias e honras encontram-se regulamentados, os lucros da
glória e os do dinheiro são aqui regulamentados com a precisão que

1Base da análise extraída do podcast 022 Círculo de Fogo: cinema, História e distorção do canal
Leitura ObrigaHistória.
27

seguem os ritos de uma carta feudal: guerra ou guerrilha entre atores,


diretores, técnicos, produtores, que é mais cruel à medida que, sob o
estandarte da Arte, da Liberdade, e na promiscuidade de uma aventura
comum, não existe empreendimento industrial, militar, político ou religioso
que conheça diferença tão intolerável entre o brilho e a fortuna de uns e a
obscura miséria dos outros artesãos da obra. (FERRO, 1992, p. 17)
Complementando ainda o pensamento de Marc Ferro (1992), podemos
acionar, autores como Barros que também aborda a temática do cinema como um
agente histórico importante, no sentido de que termina por interferir na
própria História de diversas maneiras – seja por intermédio de sua
indústria, seja pela formação de opinião pública e de influencias na
mudança de costumes, seja por meio daqueles que dele se utilizam para
objetivos diversos, como os próprios governos e os grupos sociais que,
com a produção fílmica, impõem seus discursos, pontos de vistas e
ideologias. (2011, p. 179)
De acordo com Oliveira (2002) desde o momento que o cinema se torna
uma arte, a relação com a História se torna cada vez mais próxima, com filme que
trabalham as diversas temáticas da História, documentários que buscam retratar
acontecimentos do passado. Oliveira ainda afirma que o cinema, na União
Soviética, por exemplo, era visto como um instrumento de propaganda “quer seja
para fins científicos ou de animação, quer para educação de massas.” (2002, p.
131)
Podemos ainda considerar a citação que Oliveira (2002) realiza, ao ilustrar o
cinema como agente da história, segundo a autora
sobre o antinazismo americano por ocasião da II Guerra Mundial,
constata-se que enquanto na França, em meio a um clima de guerra civil
embrionária, os dirigentes militares ou culturais ainda não tinham
realmente decidido se seu inimigo era o nazismo ou o comunismo, nos
Estados Unidos, a escolha já havia sido feita, e mesmo antes de 1939.
Filmes como Confissão De Um Espião Nazista (1939), Quatro Filhos, O
Grande Ditador, Correspondente Estrangeiro, Tempestade D`Alma’, de
Frank Borzage, são exemplos explícitos da ideologia americana
antinazista por meio do cinema dos anos de guerra, um fenômeno, aliás,
mais claro no cinema do que no mundo da palavra escrita, no jornalismo
ou na pesquisa. (OLIVEIRA, 2002, p.131)
Barros (2016) vai pontuar que o Cinema, como um agente histórico acaba
por interferir direta ou indiferente na própria História, vale ressaltar que “o Cinema
28

tem se mostrado um instrumento particularmente importante ou um veículo


significativo para a ação dos vários agentes históricos, para a interferência destes
agentes na própria História. (2016, p.23) ele se torna importante e atrativo aos
olhos dos historiadores contemporâneos, como afirma Barros, a partir do momento
que ele pode ser utilizado como uma ferramenta para a difusão ideológica, como
também uma forma de propaganda e marketing e, é por meio disso que os
historiadores acabam por olharem para o Cinema como uma importante fonte no
sentido de analisar a sua relação com os poderes vigentes, da época que foi
realizado o filme, ou mesmo a que época esse tem se referido. A partir disso,
teremos a “arte fílmica e as práticas cinematográficas um importante objeto de
estudo para a História Política (e não apenas para a História Cultural).” (BARROS,
2016, p. 23)
Para Barros (2011, p. 180), se considerarmos o cinema como um ‘agente da
história’, no fato de que ele acaba por interferir de “forma direta ou indiretamente,
ele também é interferido o tempo todo pela história, que determina seus múltiplos
aspectos.” Barros ainda pondera que o cinema é produto da história, pois para a
sua produção, há uma contextualização da sociedade que tem produzido as obras,
todo o roteiro, os personagens, a forma de pensar, de agir e etc, por conta disso
“qualquer obra cinematografia – seja um documentário ou uma pura ficção – é
sempre portadora de retratos, de marcas e de indícios significativos da sociedade
que a produziu.” (BARROS, 2011, p. 180) Os filmes podem e devem ser
considerados fontes históricas, por conta dessa relação com a sociedade que o
produz, pois, “a mais fantasiosa obra cinematográfica de ficção carrega por trás de
si ideologias, imaginários, relações de poder, padrões de cultura.” (BARROS, 2011,
p. 180)
O filme segundo Barros
torna-se evidentemente uma documentação imprescindível para a História
cultural – uma vez que ela revela imaginários, visões de mundo, padrões
de comportamento, mentalidades, sistemas de hábitos, hierarquias sociais
cristalizadas em formações discursivas, e tantos outros aspectos
vinculados a uma determinada sociedade historicamente localizada.
(2011, p. 181)
O desafio hoje, dos pesquisadores que se pautam no cinema como seu
objeto de pesquisa é, segundo Oliveira (2002), relacionar o filme, o documentário
29

ou qualquer que seja a obra cinematográfica com a sociedade que o produz e


quais são as formas que ela enxerga os fatos e os transmitem para um público
maior, os espectadores. O cinema, como uma importante ferramenta de
transmissão de valores, conhecimento, informações, carrega consigo, não apenas
histórias romantizadas, do mocinho apaixonando-se pela donzela, por exemplo,
mas ele abarca a História, os acontecimentos, a visão que a sociedade hoje tem de
determinados períodos. Os criadores e produtos de filmes colocam nessas obras
suas impressões, seus pensamentos, sobre determinado fato. Em consonância
com Barros (2016) podemos refletir que
o cinema terminou por vir construir a partir de si mesmo uma linguagem
própria e uma indústria também específica, e ao par disto não cessou de
interferir na história contemporânea ao mesmo tempo em que seu discurso
e suas práticas foram se transformando com esta mesma história
contemporânea. Eis aqui a raiz de um complexo jogo de interrelações
possíveis que tem permitido que o Cinema se mostre simultaneamente
como ‘fonte’, ‘tecnologia’, ‘sujeito’, e ‘meio representação’ para a História.
(2016, p. 18)
O cinema é um difusor de ideias, de concepções, Barros ainda comenta que
o “cinema é um veículo privilegiado para a difusão das próprias representações
historiográficas, e como tecnologia auxiliar para a História” (2016, p. 22). O autor
ainda comenta que o cinema pode ser também um campo de resistência para com
os diversos poderes vigentes e é por isso que “o cinema tem sido um poderoso
‘agente histórico’ desde os anos que o viram surgir.” (2016, p.22). Hoje, podemos
entender que o cinema ganhou notoriedade nos meios acadêmicos, assim como as
demais fontes que tem a sua origem do meio popular, seja na área da História
como em outras Ciências Humanas.
Todas as obras cinematográficas, quer sejam elas filmes, documentários,
desenhos ou outros tipos, envolvem representação e imaginário do passado e
muitas vezes uma ressignificação desse passado. Inúmeros autores trabalham com
o conceito de imaginário e, ao abordar a temática fílmica, podemos acionar esse
conceito para balizar o trabalho. A Escola dos Annales é quem vai iniciar essa
discussão, em sua nova fase de novos métodos para a História, novos caminhos
poderiam começar a surgir. O autor que podemos utilizar que retrata o conceito de
imaginário é Jacques Le Goff, que vai dizer que o
30

imaginário pertence ao campo da representação, mas ocupa nele a parte


da tradução não reprodutora, não simplesmente trasposta em imagem do
espírito, mas criadora, poética no sentido etimológico da palavra. (1980, p.
12)
Para Le Goff, um dos nomes da Escola dos Annales, as produções do
imaginário carregam consigo um fundo de expressão da realidade histórica. As
representações feitas no cinema, nos jogos eletrônicos, nas pinturas e afins, ao
tratarem de assuntos e temas históricos, não pautam suas ideias e sua produção
apenas ao lado ficcional, mas sim, também ao lado de uma reconstrução do
imaginário histórico, trazendo inúmeras vezes veracidade para o que está sendo
lido, visto e analisado. Para Le Goff, o imaginário ele está aberto a transformações
e também a multiplicidade:
Essas imagens não se restringem às que se configuram na produção
iconográfica e artística: englobam também o universo das imagens
mentais. E se é verdade não haver pensamento sem imagem, tampouco
deveremos deixar-nos afogar no oceano de um psiquismo sem limites. As
imagens que interessam ao historiador são imagens coletivas, amassadas
pelas vicissitudes da história, e que se formam, modificam-se,
transformam-se. Exprimem-se em palavras e em temas. (LE GOFF, 1994,
p.16).
O que Le Goff aborda, é que as imagens nos permitem pensar a História,
elas carregam consigo significados e própria História. Podemos ainda considerar
trabalhos como de Stuart Hall (2016) que apresenta a representação que auxiliará
a embasar este trabalho, Hall apresenta uma ideia de representação
(...) como um ato criativo, que se refere ao que as pessoas pensam sobre
o mundo, sobre o que ‘são’ nesse mundo e que mundo é esse, sobre a
qual as pessoas estão se referindo, transformando essas ‘representações’
em objetos de análise crítica e cientifica do real. (2016, p. 11)
Hall (2016) apresenta a concepção de representação de como as pessoas
transmitem, através das mídias, para o mundo o que elas sentem sobre ele,
pensam sobre ele, consideram sobre ele, essas representações, segundo Hall
(2016) acabam sendo objetos de pesquisa, análise que ajudam a mostrar o papel
das mídias na sociedade. Segundo o autor (2016), o conceito de representação
está intimamente ligado no estudo da cultura, pois é a representação que se
conecta à cultura, o autor (2016, p. 31), ainda menciona que “representação
31

envolve o uso da linguagem, de signos e imagens que significam ou representam


objetos.”
De acordo com Hall (2016) há dois sentidos para o termo representação, um
deles faz referência a descrever ou retratar algo, trazer um certo modelo ou até
mesmo imaginação, um segundo sentido de representação seria o de simbolizar
algo, o que o autor menciona e traz para ser o seu exemplo, a cruz que traz uma
simbologia dentro do cristianismo. O autor ainda fomenta que
representação é a produção do sentido pela linguagem. Na representação,
argumentam os construtivistas, nós usamos signos, organizados em
linguagens de diferentes tipos, para comunicar inteligivelmente com os
outros. Linguagens podem usar signos para simbolizar, indicar ou
referenciar objetos, pessoas e ventos no chamado mundo ‘real’. (HALL,
2016, p. 53)
Para Hall (2016), as representações trazem consigo linguagens capazes de
fomentar comunicação com outros, podemos considerar que um filme, trabalha com
a ideia de representação e transmite assim, ao público, a sua mensagem, propaga o
que foi idealizado para o seu fim. Para o presente trabalho, o conceito de
representação de Hall (2016), auxiliará a compreender melhor o termo trabalhado,
dentro do campo das mídias na História, podemos assim, aproximar o conceito deste
trabalho. Esse conceito apresentado pelo autor, nos auxilia na fomentação da
comunicação com o outro e, além disso, nos concede a possibilidade de transmitir,
através dos elementos da mídia já citados, uma determinada linguagem, visão de
um período, que é o objetivo deste trabalho, abordando, no próximo capitulo, o filme
sobre os últimos dias de Getúlio Vargas.
32

Capítulo 2

“Getúlio” uma reflexão


2.1 Getúlio Vargas: uma revisão bibliográfica

Getúlio Vargas é uma figura emblemática da História do nosso país, é visto


como contraditório e sua trajetória política, através das suas decisões e da forma de
governar, nos mostra esse ponto de vista. Para muitos, um líder, um dos mais
nobres chefes do executivo que o país já teve, para outros, um ditador que através
do Estado Novo, reprime, censura, persegue e mata seus opositores. Para outros
ainda ele é um misto de tudo isso, ditador com a figura de um bom mocinho, que deu
direitos aos trabalhadores e por isso ele merece ser valorizado. Quando vamos para
a academia, no sentido de buscar autores que trabalhem com essa temática,
embasamos a nossa representação de alguém ou de algum período. Por exemplo, a
Era Vargas, pautada em golpe, censura, ditadura, isso são elementos que são
construídos a partir de fontes, de pesquisas, de um debruçar do pesquisador sobre
os fatos e buscar respostas e duvidar muitas vezes da fonte, tentando encontrar
novos caminhos para determinadas perguntas.
Luiz Carlos Bresser-Pereira (2009) comenta que, no ano de 2007, o jornal
Folha de São Paulo, lançou uma campanha na qual tinha como proposta escolher
o melhor brasileiro de todos os tempos e, em uma votação com 200 personalidades
brasileiras, Getúlio Vargas foi escolhido. Percebe-se que essa votação ocorreu há
14 anos, e esse nome, Getúlio Vargas, ainda gera repercussão. Outro concurso
realizado, pela emissora de televisão SBT, buscava um nome para definir quem era
o Maior Brasileiro de Todos os Tempos, Vargas disputou o concurso perdendo para
a Princesa Isabel. Portanto, Getúlio Vargas ainda continua gerando assunto
mesmo após a sua morte. Conforme Bresser-Pereira, o segundo cotado para o
prêmio foi Juscelino Kubitschek, o autor menciona que “ao escolherem os dois
grandes presidentes, os pesquisadores estavam também reconhecendo que o
grande momento da história brasileira foi de 1930 a 1960.” (2009, p. 2) Vargas é
uma figura do nosso país que tem prestígio, seu nome ainda é lembrado, seus
33

feitos ainda fazem parte no nosso presente. Destaco aqui, a visão de Bresser-
Pereira, como um economista, cientista social e político, que afirma
primeiro, que o estadista é o dirigente político que, não obstante suas
próprias fraquezas e hesitações, tem a visão antecipada do momento
histórico que seu país ou sua nação está vivendo e tem a coragem de
enfrentar o velho em nome do novo; segundo, que um momento decisivo na
história de um povo – o da Revolução Nacional e Industrial – é aquele no
qual esse povo se transforma em uma Nação não apenas formal mas real,
ao mesmo tempo em que completa sua transição para o capitalismo; e,
terceiro, que a democracia só se consolida em um Estado-nação depois que
ele completou sua Revolução Capitalista, de maneira que o controle direto
do poder político deixa de ser condição necessária para a apropriação do
excedente. Sob estas três perspectivas, concluo que Getúlio Vargas foi o
grande estadista que o Brasil teve no século XX. (BRESSER-PEREIRA,
2009, p.3)
Para compreender um pouco sobre quem é Getúlio Dorneles Vargas,
podemos acionar alguns pesquisadores para embasar nossa análise. Em
consonância com Maria Cecilia D’Araújo (2017) Vargas começou sua liderança
política no ano de 1906 quando foi escolhido para dar boas-vindas ao presidente da
época, Afonso Pena, quando este esteve no estado do Rio Grande do Sul. A autora
ainda comenta que no ano seguinte a este episódio, Vargas vai fundar um Bloco
Acadêmico Castilhista para fazer campanha para o candidato republicano à
presidência do estado do Rio Grande do Sul, o que resultou na sua vitória. Mas foi
no ano de 1909 que Vargas, segundo a autora, se torna deputado estadual, ele
vinha de uma família com laços políticos fortes, seu pai, por exemplo, era o prefeito
de São Borja, cidade onde moravam. Vargas, segundo a autora, desponta como
sendo um político, líder de movimentos e é no ano de 1913 que ele é reeleito
deputado estadual, mas renuncia por conta de Borges de Medeiros, que havia sido
eleito presidente do estado, e estava intervindo nas eleições do município de
Cachoeira do Sul para beneficiar os seus protegidos.
A carreira política de Vargas é extensa, além de ser eleito como deputado
estadual nos anos de 1909, e também no ano de 1913, entretanto, de acordo com
D’Araújo, Vargas renuncia pouco tempo depois em desacordo com a interferência de
Borges de Medeiros nas eleições de Cachoeira. É no ano de 1917 que Vargas
retorna a política é eleito como deputado estadual e no ano de 1921 reeleito
novamente. No ano de 1922 inicia seu mandato como deputado federal, no lugar de
um representante que havia falecido. E é no ano de 1924 que Vargas mais uma vez
atua como deputado federal. Entre os anos de 1928 e 1930 esteve à frente da
34

Presidência do Estado do Rio Grande do Sul, se preparando para a campanha à


Presidência do Brasil. Segundo a autora, Vargas perde as eleições contra o
candidato Júlio Prestes, apoiado por Washington Luís, mas em um primeiro
momento ele reconheceu a derrota, entretanto, seus apoiadores não. E é por isso
que,
em maio, quando o Congresso se reuniu, a Comissão de Verificação de
Poderes reconheceu a eleição dos candidatos do PRR à Câmara dos
Deputados, mas não fez o mesmo com os aliancistas de Minas e da
Paraíba. Um fato veio precipitar os acontecimentos: em 26 de julho, João
Pessoa foi assassinado em Recife. O crime teve motivação passional, mas
os aliancistas lhe atribuíram motivações políticas, e o movimento
revolucionário ganhou fôlego. (D’ÁRAUJO, 2017, p. 22)
Vargas, como pondera a autora, concorda com o golpe que vai tomar fôlego
em Minas, Porto Alegre e também no Nordeste, as unidades militares já estavam
sendo controladas pelos revolucionários. Esse movimento ganhou apoio de diversos
segmentos para sua legitimação, pois Vargas realizou múltiplos discursos que
cativaram muitos segmentos da sociedade. Podemos aqui citar uma das
características de Vargas, seus discursos eram carregados de controle, de passar
ao povo o que eles queriam escutar, ou seja, uma mensagem de esperança, de
novos direitos e afins. Vargas utilizou-se muito do discurso para perpetuar-se no
poder. Soube, além disso, dialogar com diversos setores da sociedade, ele
conseguiu se tornar um grande líder, a quem as pessoas viam uma figura de
esperança. Foi então
constatada a derrota, em 24 de outubro Washington Luís renunciou, e uma
junta militar composta pelos generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e pelo
almirante Isaías de Noronha assumiu o poder. Em 3 de novembro, Vargas
foi reconhecido pela junta governativa chefe do governo provisório da
República. (D’ÁRAUJO, 2017, p. 22)
Getúlio Vargas é um nome que é lembrado ao abordarmos o tema da História
do Brasil. Ele é uma figura que perpassa gerações, rememorado pela forma com a
qual chegou ao poder e como conduziu o país durante o período que esteve
sentado na cadeira presidencial.
Getúlio Vargas é um estadista que traz consigo grandes significados, repleto
de simbologia e, para alguns pesquisadores, a Era Vargas ainda reverbera até o
nosso momento atual. Antes da Era Vargas, em tempos de política dos
governadores e o momento que os coronéis estavam no poder, o estado brasileiro
35

pode ser considerado patrimônio de alguns, se recordarmos esses períodos


supracitados, como, por exemplo, a anteriormente chamada política do café com
leite, mas atualmente se considera como Primeira República, a presidência do
Brasil, revezava ora São Paulo, ora Minas Gerais no poder. Para Ferreira (2003),
com Vargas, em seu momento de transição em 1930, temos uma negação dos
sujeitos para uma protodemocracia, considerando um aumento da participação da
população. Neste momento de transição há um choque enorme político-social.
Segundo o escritor Lira Neto, Getúlio foi
o grande responsável pela modernização do Brasil, ao pôr em prática um
modelo nacional-desenvolvimentista capaz de direcionar, em pouco mais de
duas décadas, um país agrário para o rumo efetivo da industrialização. Sob
essa mesma perspectiva, a vasta legislação trabalhista, ao reconhecer
como legítimas as reivindicações dos operários e demais trabalhadores
urbanos, instituiu o necessário equilíbrio na relação entre patrões e
empregados, superando os resquícios da escravatura mais arcaica. A
Petrobrás, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Eletrobrás e a CLT seriam
as heranças mais eloquentes do getulismo, fenômeno que teria conseguido
estabelecer as bases de uma aliança singular entre capital e trabalho,
possibilitando a própria gênese do capitalismo no Brasil. Para outros,
contudo, o chamado populismo varguista seria a expressão mais pronta e
acabada do uso das massas como instrumento de dominação política. A
incorporação dos trabalhadores e das classes médias no cenário nacional
teria sido apenas uma forma de legitimar o líder autoritário e personalista,
dando sustentação a um projeto de poder autocrático e incompatível com a
verdadeira democracia. Daí o desdém atávico de Getúlio pelo sistema
representativo pelo parlamento e - após rasgar duas Constituições e evitar
assinar uma terceira - pelo ordenamento constitucional. Amado e odiado
com simultânea veemência, venerado e satanizado com idêntico ardor,
Getúlio segue a dividir, provocar contendas, gerar reações passionais. Por
certo, o melhor caminho para compreendê-lo, em perspectiva histórica, não
é o da devoção sincera ou da negação irrestrita. (NETO, 2014, p. 350-1)

Giselly Vieira (2015) vai mencionar que Vargas é uma figura representada por
ser um estadista “que se transforma em cristão convicto no poder, erguendo
bandeiras em favor da pátria, de Deus e da família brasileira.” (2015, p.12). A autora
ainda afirma que Getúlio, era um militante que respondia ao Partido Republicano do
Rio Grande do Sul, no entanto, ele “dialoga com os linhas-duras organizados pelo
país nas Frentes Únicas, exércitos e movimento tenentista, além de defender o
pensamento autoritário quando assume o poder federal pela revolução de 1930.”
(VIEIRA, 2015, p. 12). Vargas, como afirma a autora, possui um lado que é mutável
de acordo com cada necessidade, ou seja, ele sabe dialogar com as classes sociais,
embasar seu discurso para apelar a essas classes que são, em sua maioria, o
trabalhador. No entanto, quando bandeiras de regimes totalitários são erguidas na
36

Europa, Vargas acaba por aproximar-se dessas bandeiras. Ele foi uma figura que
pensava a frente de seu tempo, primeiro, para perpetuar-se no poder, segundo ele
precisa de mecanismos para que o poder não saísse de suas mãos, ele “impulsiona
a industrialização e traz a vida urbana como proposta da modernidade (...)” (VIEIRA,
2015, p. 12)
Outros autores ainda comentam sobre a trajetória de Vargas, Segundo
Amorim e Bilhão (2010), a base do governo era sólida, ele conseguia dialogar com
diversos setores, inclusive com os militares que buscam apoiá-lo para que estivesse
lado a lado no poder. São Paulo era um estado com mais recursos financeiros que
os demais, eram considerados, por como a “locomotiva da nação (2010, p.1022).
Eles buscavam que o Governo Federal convocasse eleições para a formação de
uma assembleia constituinte. As autoras (2010) frisam que houve uma guerra civil,
no ano de 1932, dois anos após Vargas dar o golpe no que muitos chamam de
Revolução de 1930. A Revolução Constitucionalista, como assim ficou conhecida a
guerra civil, foi contida pelo governo federal, com seus aliados, o Exército. Neste
episódio, relatado por Amorim, vemos que Vargas era um líder de pulso firme, que
em uma linguagem mais informal, apagava qualquer princípio de incêndio para que
seu governo, que nesta época ainda era provisório, fosse bem-sucedido.
Podemos citar Jorge Ferreira que, ao trabalhar o conceito de populismo, vai
mencionar que o país com a liderança de Vargas começa a desenvolver-se e
conclui dizendo que
as elites liberais que perderam o poder em 1930, contrariadas com o
intervencionismo político, os ataques à tradição liberal individualista, a
elevação dos trabalhadores à categoria de cidadãos e as arbitrariedades da
ditadura do Estado Novo, mas sobretudo assustadas com o movimento
queremista, passaram a explicar o apoio dos assalariados a Vargas
ressaltando a demagogia, a manipulação, a propaganda política, a
repressão policial, entre outros fatores, sugerindo uma relação destituída da
reciprocidade: o Estado, com Vargas, surgia como todo-poderoso, capaz de
influenciar as mentes das pessoas; a sociedade – os trabalhadores em
particular -, amedrontada com a polícia e confundida pela propaganda
política estatal do DIP, era transformada em massa de manobra e, portanto,
vitimizada. (p. 8 e 9)
Podemos ainda mencionar autores como Amorim e Bilhão (2010) que
escrevem um pouco do que foi o governo Vargas em seu primeiro momento. As
autoras mencionam que quando abordamos Vargas, em nosso imaginário passa
uma imagem de um líder populista, que buscava dentro do seu projeto político
alcançar o progresso e se tornar uma grande figura. Podemos ainda considerar que
37

Vargas chegara ao poder através de um movimento armado e, é a partir desse


momento que os caminhos políticos do país seriam modificados. Para compreender
melhor, Amorim e Bilhão comentam que “o regime implantado por Vargas desfrutava
de uma base de apoio sólida, contudo, sem conseguir neutralizar a oposição.
Destacamos o caso dos militares que apoiavam Vargas para que este se
estabelecesse junto ao poder.” (2010, p. 1022). Segundo as autoras Vargas chega
ao poder através de um golpe em 1930, e no ano de 1933, de forma indireta, através
da assembleia constituinte, é eleito presidente da república.
Entretanto, apesar de tentar dialogar com diversas classes da sociedade,
Vargas não era livre da oposição, segundo Amorim e Bilhão em 1935 ocorre um
movimento armado, que teria por líder, Luís Carlos Prestes, essa luta seria
denominada de Intentona Comunista, Carlos Prestes vai estar em ascensão na
década de 1920 com o movimento tenentista que surgira. A autora Marly Viana
(2003, p. 66) comenta que “a junção do movimento paulista com o gaúcho
desembocou na epopeia da famosa Coluna Prestes, que percorreu mais de 25 mil
quilômetros do território nacional, desafiando o governo, sem sofrer nenhuma
derrota.” Segundo Amorim e Bilhão, Vargas usa do pretexto da ameaça comunista
para tentar prorrogar as eleições de 1938, ele estaria neste momento
implementando a ditadura do Estado Novo, com o início em 1937, muito baseado em
regimes nazifascistas. Como aponta Marly Viana, os estados fortes possuíam
regimes autoritários e eram “apontados como solução para a crise do Estado da
democracia liberal e do capitalismo de livre concorrência, que parecia haver falido
depois da quebra da Bolsa de Nova York, em 1929.” (2003, p. 69).
A autora Lucia de Oliveira (2003) que discorre sobre os aspectos da
modernização durante a Era Vargas, dizendo que a população do país, no século
passado, mais precisamente nas décadas que antecederam a Vargas e até mesmo
em décadas que Vargas esteve no poder, carecia de elementos culturais, era em
sua grande maioria analfabeta, não possuía consciência e, cabia ao Estado investir
em cultura para proporcionar, à população, acesso a esses meios. Lucia de Oliveira
comenta que os “intelectuais aproveitaram a efervescência do momento político,
tentaram contribuir para a reconstrução nacional e fizera isso escrevendo livros nos
quais apresentavam diagnósticos e projetos para ‘salvar’ o Brasil” (2003, p. 330).
38

Outro elemento cultural, aproveitado pelo regime varguista, é o cinema, o


qual, segundo oliveira seria um instrumento que encantou diversas pessoas em todo
o globo terrestre, a autora comenta sobre esse instrumento que “teve um período de
crescimento graças à associação entre exibidores, produtores e cinegrafistas.”
(OLIVEIRA, 2003, p. 334). Havia ainda, por exemplo, a junção do cinema com a
música, pois, contavam com o cinema mudo que possibilitava a ascensão de
diversos artistas musicais. A autora (2003) pondera que os grupos que trabalhavam
com cinema, por exemplo, se organizaram e cobraram do governo apoio para
desempenho de suas atividades, Vargas, por receber apoio desses grupos,
comentava em discursos sobre a importância do cinema, como sendo um elemento
de instrução, comenta que o cinema seria um livro com imagens luminosas.
O rádio é outro elemento cultural da Era Vargas, Oliveira comenta sobre o
rádio como sendo uma porta de entrada ao progresso, inúmeras sociedades e
clubes começam a patrocinar os programas de rádio. Oliveira aponta que “a partir
daí o rádio vai se tornando popular e sua programação também se altera, passando
a transmitir música popular, informações de utilidade pública e humor”. (2003, p.
340). O rádio, segundo Oliveira, na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, seria
uma forma de divulgar de modo rápido as notícias e deixar os ouvintes com as
principais informações e decisões. De acordo com Amorim e Bilhão
uma das grandes forças do Estado Novo era a propaganda, por isso que o
Governo quando declara apoio aos Aliados, ele propagandeia que, tal
decisão dava-se por conta de uma negociação, no tocante a recursos para
a execução de obras de infraestrutura do país e este também alegava que a
entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi a importância estratégica
para o programa governamental que visava o aprimoramento da indústria e
do Exército Brasileiro. (2010, p. 1025).
Como apontado por Amorim e Bilhão, o Exército foi lutar na Segunda Guerra
Mundial contra regimes autoritários, entretanto, o Brasil vivia no mesmo modo que
esses regimes, com Vargas no poder, as autoras comentam que com a entrada na
guerra, “e o novo ‘ar’ para a oposição e uma contradição interna do Regime, não
afetará muito a governabilidade. Assim o Governo começa a efetivar sua política
social, destacando o foco dado aos trabalhadores.” (2010, p. 1026)
Amorim e Bilhão fomentam ainda que o governo de Vargas se pautou nos
39

operários para garantir o seu apoio,


vale destacar também que para obter os direitos assegurados pela CLT,
como salário mínimo, férias, limitação na carga horária, entre outros, o
operário deveria possuir o registro na carteira de trabalho a fim de garantir
estes benefícios e estar vinculado a um sindicato e assim a carteira de
trabalho torna-se o documento que lhe garantia a cidadania. (AMORIM;
BILHÃO, 2010, p. 1027)
De acordo com Amorim e Bilhão, já no ano de 1944, a ditadura do Estado
Novo estava se encerrando, Vargas sinaliza que estava próxima a volta da
democracia e de novas eleições, Getúlio pensou na transação de volta para a
democracia e que nesta não houvesse prejuízos em relação aos benefícios que
outrora o Estado Novo havia implementado no país. Vemos, por exemplo, Ferreira
comentar sobre o encerramento da Era Vargas, que no fim de 1944 já dava sinais de
esgotamento. Vargas, aos poucos, perdia a base política que sustentava o seu
governo, por conta dos censores do DIP se afastarem das redações de jornais, estes
começaram a criticar de forma efetiva o governo e a oposição também fazia isso
constantemente. Ferreira comentar que “os ataques das oposições veiculadas na
imprensa desmereciam particularmente a legislação trabalhista, sobretudo no
tocante à implantação do sindicalismo controlado pelo Ministério do Trabalho, (...)”.
(2005, p. 23). Segundo Ferreira, Vargas passou a ser tratado como tirano pela
imprensa, e por seus opositores, o autor ainda menciona que as manifestações
contrárias a Vargas não ficaram apenas no campo das ideias, mas foram
efetivamente para as ruas protestar contra ele.
Podemos considerar, que
entre fins de fevereiro de 1945, quando José Américo de Almeida rompeu o
cerco da censura, e 29 de outubro, com a deposição de Vargas, a
sociedade brasileira, em pleno processo de democratização política e
mobilizada em dois campos antagônicos, assistiu e participou de um
movimento de massa, de proporções grandiosas, conhecido como
queremismo. (FERREIRA, 2005, p. 25)
Ao analisar, segundo Ferreira, que a população estava sob uma ditadura,
ditadura do Estado Novo, o prestígio pelo ditador crescia com o movimento
queremista, ou seja, uma parcela considerável da população, lutava e ia às ruas
pedindo que Vargas permanecesse no poder. Ferreira comenta que havia “o receio
40

de que a democratização, sem o controle de Vargas, ameaçasse os princípios que


fundamentavam a cidadania social alcançada pelos trabalhadores desde 1930.”
(2005, p. 30)
O queremismo, como movimento, começa a se organizar, e segundo Ferreira,
os operários só compareceriam para votar, se fosse em Getúlio Vargas, somente ele
seria a chave do sucesso do país, diversos comícios era realizados e manifestações
pedindo a permanência de Vargas no poder. O autor endossa que “para os
trabalhadores, Vargas, por suas realizações e atitudes ao longo dos 15 anos na
presidência da República, tornara-se um mito.” (2005, p. 41). Amorim e Bilhão
comentam que
com pressões, o Estado Novo rui em 29 de outubro de 1945, através de um
golpe Militar, Getúlio foi deposto, em seu lugar assumiu José de Linhares,
fato este que não permitiu que Vargas passasse a faixa presidencial ao
próximo presidente, democraticamente eleito. (2010, p. 1035)
Por fim, Vargas sai da presidência e, no ano de 1951, retorna através do voto
popular. E é esse governo, ou melhor, os seus últimos dias, que serão analisados no
tópico a seguir, a partir do filme Getúlio.

2.2 A representação de Getúlio Vargas no filme “Getúlio”

O filme “Getúlio”, com direção de João Jardim, lançado no ano de 2014, retrata
os últimos dias de Getúlio Vargas no governo e em vida. Tem como roteirista George
Moura e a direção de João Jardim. O filme é estrelado por Tony Ramos como
Getúlio Vargas, e nos papéis principais, Drica Moraes como Alzira Vargas,
Alexandre Borges como Carlos Lacerda, Adriano Garib como o General Zenóbio da
costa, Marcelo Médici como Lutero Vargas e Thiago Justino como Gregório
Fortunato. a produção e distribuição do filme foram feitas através da distribuidora
Copacabana-filmes. cercado por uma pressão política por conta de fortes acusações
pelo atentado ao jornalista Carlos Lacerda, que era um grande crítico do governo de
Vargas, o presidente cometeu suicídio em 24 de agosto de 1954. fazendo um
grande recorte na vida pública dele, o filme trabalha com esses acontecimentos, ou
seja, os últimos passos de Getúlio como presidente. O filme exclui fatos da vida
pública de Getúlio, como por exemplo, o golpe que ocorre no ano de 1930, a
construção da Constituição de 1934, a ditadura do Estado Novo e grandes
41

acontecimentos que estiveram presentes no período da Era Vargas.


Getúlio Vargas inúmeras vezes ao longo do filme é representado como
alguém do bem, que quer o melhor para a população, que quer fazer o bem em prol
dos seus aliados, entre outras representações. Só que se analisarmos toda a
trajetória de Vargas para assumir o comando do país, análise esta que fizemos no
tópico anterior, vemos que ele não mediu esforços para chegar aonde chegou. Seus
discursos cheios de esperança e de um país melhor faziam com que milhares de
pessoas parassem para o ouvir, no filme, encontramos um desses momentos, onde
Vargas é aplaudido por trabalhadores após mais um de seus grandes discursos. O
filme trabalha mais a ideia de um bom velhinho do que do ditador que realmente foi.
de certa forma, a sua morte trágica o faz ser lembrado pelos seus feitos ao longo da
história, mas não se aborda o seu flerte com o fascismo. os soldados na segunda
guerra mundial, no momento que o país envia esses combatentes para a guerra,
percebem que estão combatendo o fascismo na Europa, mas ele também está
presente em terras brasileiras por conta de se reportarem a um ditador.
O filme, por mais que faça esse recorte dos últimos 19 dias de vida de
Vargas, não faz questão de mostrar como ele fez pra chegar ao poder, como ele se
perpetuou no poder, apenas um breve discurso na voz do protagonista aborda
algumas questões, que trataremos em seguida. Mentiras como a do Plano Cohen,
da suposta ameaça comunista, a instauração do Estado Novo, a censura. Ele chega
em seu mandato democrático, em 1951, no entanto, em 1954, já chega com sua
imagem desgastada e, claro, o filme vai explorar esse lado.
FIGURA 1 – “GETÚLIO” A MESA PENSATIVO

Fonte: Getúlio (04:25)


42

A figura 1 retrata um Getúlio amedrontado, sem ação, diferentemente de


como o vemos nos livros, por exemplo, falando sobre e abordando os seus feitos,
seus discursos e sua maneira de conduzir o país. A representação que se tem de
Getúlio no filme é de alguém que escuta em demasia, sempre calado, enfatizando, o
tom dramático.
O filme inicia com uma narração, sem dramatização, de toda a trajetória de
Getúlio Vargas, saindo do Rio Grande do Sul, dando um golpe em 1930 e ali se
estabelecendo até 1945. Essa narração encerra no ponto em que ele é eleito pelo
povo em 1951 e chegando até os seus últimos 19 dias de governo e vida –
momentos selecionados para a realização das cenas. Com um fundo escuro, aos
poucos a imagem de Vargas começa a surgir, de forma que a sua fala entrelaça e
delimita o momento exato do aparecimento da sua figura. Quando abordado os seus
feitos sobre os trabalhadores, a imagem aparece mais clara, o roteiro não nega um
Getúlio ditador, mas no seu decorrer, tenta mostrar uma ideia de um presidente bom,
moderno, que fez pelo país, que fez tudo para o povo. Ao passar o discurso, o filme
toma uma vitalidade, Vargas ainda como uma apresentação forte, no entanto, com o
atentado contra o seu opositor, Carlos Lacerda, sua figura parece abalar-se,
iniciando o trajeto de seus últimos momentos.
O filme mostra, como aponta Nildo Ouriques
um Getúlio cativo do medo, um homem vacilante e, sobretudo angustiado;
naquele roteiro, Getúlio nunca superou a posição de um sujeito atormentado
pelo fantasma da prisão, de alguém que deixaria o poder não na condição
de mártir, mas de um reles corrupto, encurralado pela ação oposicionista
liderada não aparecia pelo jornalista Carlos Lacerda. (2014, p.2).
O relato de Nildo Ouriques (2014) nos mostra como a apresentação de
Vargas é no filme, e é por isso que há a problematização. Vargas como um chefe do
executivo que foi na década de 1930 e 1940, articulado, buscando apoio dos
militares para se manter no poder, se articulando com a própria população para
continuar como presidente e, ao sair no ano de 1946, é apoiado por um movimento
que se levantava, o movimento queremista, no qual buscava a permanência de
Getúlio Vargas no poder.
E não podemos descartar que o lançamento do filme foi feito no dia 1º de
maio de 2014, fazendo alusão ao Dia do Trabalhador e, além disso, por Vargas em
43

seu governo realizar discursos no dia do trabalhador, a proposta de lançamento do


filme nesta data, tem um certo impacto. O autor Boris Fausto menciona que em um
dos discursos de Vargas no Dia do Trabalhador, no ano de 1951, “não se limitou a
palavras genéricas e incentivou a organização sindical dos trabalhadores para que o
ajudassem na luta contra os ‘especuladores e os gananciosos’”. (2015, p. 351).
Todo esse contexto do lançamento nos apresenta, a partir de uma visão mais
fechada dessa análise, de que para uma parcela da sociedade figuras como a de
Vargas, são as que concedem esses direitos aos trabalhadores, não são os
movimentos sociais, os movimentos de luta, os movimentos de resistência que
buscam esses direitos. Vargas, com toda a certeza, ascendeu, nessa obra, de
categoria drama, como sendo não apenas o pai dos pobres, também o pai do
trabalhador.
Figura 2 – ministros do governo Vargas à mesa

Fonte: Getúlio (17:03)


Um ponto importante de analisar no filme é a utilização no decorrer das cenas
a forma didática que a obra se apresenta ao público, a obra tenta passar os
espectadores uma representação dos últimos passos de Vargas em vida e assim o
faz trabalhando de forma didática. A figura 2 representa um desses momentos
didáticos, onde temos a figura de Nero Moura, fazendo as devidas indicações na tela
e mostrando ao telespectador quem é o personagem, introduzindo-o no contexto
para aqueles que não tem o conhecimento da História possam assim compreender.
Os produtores, a direção, os idealizadores, era necessário que quem estivesse
assistindo compreendesse todo o contexto, mas também conhecesse os
personagens. Figuras como a de Vargas, de sua filha, Carlos Lacerda e outros mais,
44

ficam evidentes, no desenvolver da história. No entanto, quando se trata de outros


personagens, que se não fossem identificados, não seria possível compreender a
narrativa, pois uma boa parcela dos personagens é importante no desenrolar da
história.
Apenas retomando o que já foi mencionado, o filme, no momento inicial,
começa com um pequeno resumo, na voz de Tony Ramos, comentando seus
passos antes durante e depois das décadas de 1930 e 1940. No final, para uma
amarração da narrativa, se faz presente uma tela com texto indicando os caminhos
que cada personagem percorreu após a morte de Vargas. A obra tem essa
preocupação em passar informações ao seu público. Talvez, por conta da duração
do filme, essas pontas soltas que ficaram, tiveram de ser trabalhadas dessa forma.
Entretanto, quem assiste, consegue de uma forma clara, compreender todo o
processo, e o desenrolar da trama. A morte de Vargas deveria ser o desfecho final
do filme, no entanto, com as diversas lacunas que a história teve, se fez necessário
utilizar-se desses mecanismos mais didáticos.
Figura 3 – Vargas refletindo após discursos

Fonte: Getúlio (01:02:07)


De acordo com o filme, a morte do major Rubens Florentino, foi certeira no
governo de Getúlio Vargas, que já não vinha tendo os melhores momentos.
Segundo Lira Neto, Carlos Lacerda, principal opositor de Vargas era o alvo,
entretanto, o major foi atingido e morto. O filme retrata uma conversa de Getúlio com
o seu chefe de segurança e menciona que os tiros que foram dados no major
acertaram de maneira direta o governo de Vargas e, de fato, a partir desse momento
contam-se os dias para que o fim de Getúlio estivesse consumado. Esse ponto é a
45

história principal do filme, da morte do major até a morte de Vargas, 1 Hora e 40


minutos de drama, tensão, medos e traições.
A figura 3 faz refere-se a um momento em Getúlio está à mesa com seus
ministros, os escutando, as suas vozes soam na mente de Vargas como um tiro, e
isso o faz realizar diversas reflexões. O recorte destacado acima faz referência a um
Getúlio já sem fôlego, diferente daquela figura do golpe de 1930. Analisando quadro
a quadro, o então presidente eleito, não tem respostas, ele parece não saber o que
fazer, como administrar a situação, pois é por meio dela que os opositores e as
próprias forças militares se alimentarão no processo de culpabilização e esperada
prisão de Vargas ou sua renúncia.
Um dos pontos que ainda podemos destacar é que, segundo Nildo Ouriques
(2014), que realiza uma crítica ao filme, o qual não trabalha se o tiro no pé que
Carlos Lacerda recebeu foi proposital ou não. A obra deixa uma ponta solta, assim
como diversas partes do filme, em uma conversa na trama, essa hipótese é
levantada, entretanto não trabalhada, como pontua Ouriques, possivelmente não
levada a sério. O autor ainda comenta que “toda a carga da ‘emoção’ é despejada
sobre Getúlio e suas insuportáveis angústias.” (2014, p. 3). Ouriques realiza a sua
análise do filme tentando problematizar essa hipótese, a qual é levantada também
neste trabalho. O filme aborda o próprio Getúlio, mas a análise que faço é de que
para no final culminar com comoção, com a morte de Vargas, é necessário que toda
a emoção, todo o sofrimento, as angústias sejam jogados sobre Vargas para que
assim o público não o veja como um ditador, mas uma figura emblemática, trazendo
comoção para quem assiste.
Ouriques ainda afirma que a visão do filme Getúlio é, sem a menor dúvida,
uma visão de Carlos Lacerda e ele destaca que tanto no real quanto na ficção,
Lacerda vence Vargas. Segundo o autor,
a trama consegue, inclusive, esterilizar a importância estratégica da Carta
Testamento de Getúlio, um documento de caráter histórico, denso, anti-
imperialista, no qual as forças que conspiram contra seu governo são
reveladas e não podem ser resumidas às denúncias de um personagem
menor como Carlos Lacerda, conhecido pelo apelido de ‘O corvo’.
(OURIQUES, 2014, p. 2)
É por meio do medo que Vargas não renuncia, o medo de ser preso. Uma
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das falas mais enfáticas de Vargas, no filme, é que ele só sairia do Palácio morto e
assim acontece no final do drama. Poucas cenas desse medo são mencionadas,
mas bem produzidas, a primeira aparição desse medo, mostra Vargas dentro de
um carro, sentado, com a faixa presidencial e, ao sair do veículo, ele olha para as
mãos e imagina que elas estão algemadas. Esse era o seu maior medo, nos seus
últimos dias de vida.
Segundo Schwarcz e Starling, a tese da responsabilidade mais ou menos
direta de Vargas no atentado era uma obsessão de Lacerda, “a qual foi fartamente
explorada por ele antes mesmo do início da apuração policial.” (2014, p. 500)
Vargas foi duramente acusado pelo atentado. As autoras ainda destacam que
possivelmente a oposição acreditasse que Vargas fosse inocente e, até mesmo
Lacerda, entretanto, “a corrupção cresceu à sombra do Catete, e Vargas, mesmo
ignorando a iniciativa criminosa de Gregório, foi leniente e não tinha como fugir da
responsabilidade.” (2015, p. 501)
Figura 4- representação de Gregório penteando o cabelo de Vargas

Fonte: Getulio (52:46),

Figura 5 – imagem de Gregório penteando o cabelo de Vargas


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Gregório Fortunato penteando o cabelo de Getúlio Vargas em um evento público, 1954. ©FGV

A figura 4 faz referência a uma cena do filme, mas na figura 5 podemos


observar o próprio fato, ou seja, houve uma preocupação em reconstruir
determinadas fotos em forma de cenas na obra e que podem ser analisadas como
uma preocupação do roteirista e também do diretor, de tentar buscar aproximar-se
da realidade como vemos na imagem acima, do chefe da segurança, cuidando do
cabelo de Vargas. O filme preocupa-se não somente em trabalhar com essas
questões, mas também, no seu decorrer, mostrar jornais de época, e no final,
mostrar como a população recebeu a notícia da morte de Getúlio Vargas. Cenas
reais, são mostradas a título de informação. O autor Ouriques faz uma importante
crítica a respeito do filme no âmbito de construção, ele menciona que a obra “não é
um filme deprimente apenas, é falso.” (2014, p. 2). No entanto, cabe ressaltar, que o
filme não tem pacto com a verdade, é ficção (como pode ser observado no capítulo
anterior), se o filme trabalha com ideias ficcionais, ele é um filme, apenas uma
representação, ele não se coloca como sendo a verdade. Vale ressaltar essa
problematização acerca do texto de Ouriques. Complementando, muitas cenas do
real, são mencionadas e está ali a preocupação em trazer essas cenas para o filme.
Cenas como a do seu caixão sendo carregado e milhares de pessoas no
entorno, formando uma grande multidão estão presentes. O autor Boris Fausto, diz
que uma das bases de apoio do governo de Vargas sempre foram os trabalhadores
urbanos. E vemos isso no dia da sua morte.
Figura 6 – Lutero Vargas mostrando onde fica o coração

Fonte: Getúlio (01:00:17)


A cena da figura 6 é um ponto importante do filme, pois, podemos criar a
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hipótese de que no final é através dessa conversa que Vargas decide pelo suicídio.
Cada elemento do filme, compondo as cenas é carregado de significados e essa tem
o seu. O tiro que culminou na sua morte foi disparado por ele, certeiramente em seu
coração, mas ao ser examinado em uma das cenas, ele sequer sabia onde ficava o
coração. O seu filho o orientou mostrando a localização. Isso culmina na cena final.
Figura 7 – Getúlio escutando seus aliados

Fonte: Getúlio (01:18:10)


A postura que Getúlio assume na figura 7 é uma imagem emblemática do
homem da década de 1930. Ele tem liderança, sabe se posicionar, assume os
riscos, corre os riscos e está disposto a fazer o que for pela presidência do país. Em
poucos e raros momentos no filme, Vargas tem essa liderança. Ouriques destaca
que Getúlio Vargas trouxe ao país a modernidade, ainda afirma que “à luz das
transformações que operou no Estado, na economia e na cultura do país, deveria
parecer fácil, mas, na verdade, é difícil observar Getúlio Vargas como o líder político
mais moderno que já possuímos.” (2014, p. 3).
A cena da figura 7 aborda exatamente o Vargas que a maior parte dos
pesquisadores conhece, um verdadeiro estadista. O autor Boris Fausto (2017) nos
auxiliando a refletir quem foi Vargas e sua figura de pulso firme, escreve que o golpe
de 1930, começa a estourar em diversos locais do país, com muita pressão e
manifestações, Vargas dá o golpe. “Getúlio deslocou-se de trem a São Paulo e daí
seguiu para o Rio, onde chegou precedido por 3 mil soldados gaúchos” (p. 278).
Esse golpe marca o fim da Primeira República e o início de uma nova Era. Em toda
a sua história de 15 anos no poder Vargas se mostrou autoritário, um ditador e são
adjetivos que o filme deixa de lado, ou melhor, é apenas citado no início como uma
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forma de contextualização.
Figura 8 – O suicídio de Vargas

Fonte: Getúlio (1:39:49)


O filme mostra que a queda final de Vargas é o seu suicídio e, possivelmente,
não por fraqueza de sua parte, pois ao longo da História vemos um homem forte,
mas talvez como um símbolo de resistência. Ouriques faz uma dura crítica ao filme,
que
há, de fato, um abismo impossível de explicar entre o solitário e perplexo
Getúlio que perambula angustiado, quase inerte, aparentemente sem
alternativas nas noites intermináveis do Palácio do Catete, e a
movimentação espontânea de massas que mobiliza milhares e milhares de
pessoas após o anúncio de sua morte, e que deixou seus adversários e
críticos em silêncio e ocultos durante meses. Getúlio aparece como se ele,
de fato, não tivesse outro recurso senão o tiro no peito. (2014, p. 3)
O nome que mais pesa na presidência da república do século XX, traça um
plano final para sua vida, “saio da vida para entrar na história”, Vargas sem dúvida
nenhuma soube usar dessa situação a sua forma de ser lembrado. A História
política do Brasil do século XX se resume a momentos marcantes, Primeira
República e suas oligarquias, a Era Vargas, a Ditadura Civil-Militar, a
redemocratização e/ou a Nova República. Vargas ganha destaque até mesmo na
divisão da História do país e mostra como foi e ainda é importante para a História do
Brasil. Nos vestibulares e concursos, Vargas é lembrado em questões, por fazer
parte da História, ou melhor, por entrar para a História. É um nome que traz consigo
diversos significados, diversos adjetivos, mas principalmente muita História.
Schwarcz e Starling escrevem que no dia do suicídio o noticiário do
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radiojornalismo, Repórter Esso anuncia com exclusividade ao país a morte de


Getúlio, com uma edição extraordinária. O escritor Lira Neto comenta que no dia do
suicídio aproximadamente 100 mil pessoas foram para a última despedida de Vargas
enquanto grupo getulistas mais exaltados atacaram as sedes e os carros de
reportagens da Tribuna Da Imprensa e de O Globo. Cerca de 3 mil
populares foram atendidos, nesse dia, pelo posto médico que servia ao
palácio, vítimas de desmaios, crises nervosas e ameaças de ataque
cardíaco. As filas se estendiam por vários quilômetros de ruas, com
homens, mulheres e crianças de todas as classes sociais.” (2014, 384)
De acordo com as autoras Schwarcz e Starling, essa multidão mais
exaltada, mencionada por Neto, estava amargurada, revoltada, partem para as ruas
empunhando diversos objetos com o sentimento também de fúria.
O centro do Rio de Janeiro foi ocupado por grupos com milhares de
manifestantes, que partiam de lugares onde as pessoas habitualmente se
concentravam para discutir política, convergiram para a Cinelândia e se
amotinaram, destruindo tudo que encontrassem pelo caminho e que
estivesse, de alguma maneira, relacionada com a oposição e Vargas.
(SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 501)
O fim de uma era, o fim de uma História, o fim de uma figura emblemática
que ganhou o século XX, sendo um dos personagens da História do Brasil mais
lembrado, Vargas soube governar. Além disso, soube fazer alianças, buscando no
povo trabalhador, um de seus aliados, o movimento queremista, é a prova disso, o
próprio movimento que ocorre na citação de Neto, é mais uma prova, de que,
Vargas marcou as décadas de 1930, 1940 e 1950. A forma que ele sai da vida e
entra para a História é digna de um belo filme. Momento esse, que o filme
analisado abordou de uma forma grandiosa. Mostrando pessoas indo as ruas,
chorar, agradecer a um presidente que na sua ambiguidade concedeu direitos ao
trabalhador, soube lutar pelo trabalhador, mesmo sendo um ditador.
Segundo Schwarcz e Starling, ele passou seus últimos dias no palácio do
Catete. “A opinião pública estava contra ele, aumentava o coro dos brasileiros que
exigiam sua renúncia, e as lealdades se dispersavam.” (2015, p. 501). Ainda, em
consonância com o pensamento da autora, as alternativas eram mínimas, se
renunciasse seria desmoralizado, se resistisse seria deposto, a própria morte,
citada por Ouriques, se torna uma nova alternativa.
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Por fim, um trecho da carta que Getúlio Vargas deixou resume toda sua
marca na História do Brasil, “(...) eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a
minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da
eternidade e saio da vida para entrar na História.” (VARGAS, 1954).
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Conclusão
O cinema, como uma ferramenta do construir o conhecimento histórico, vem
conquistando espaço na academia, outrora, havia, como já mencionado, uma certa
resistência por parte de alguns pesquisadores em pautar o cinema como sendo sua
fonte. Ao longo do tempo inseriu-se na academia como uma fonte passível de análise
por parte do historiador, quebrando as correntes das fontes mais tradicionais tornando-
se também em principal objeto de pesquisa. Não somente o cinema, mas outros
elementos midiáticos carregam consigo essa mesma missão de servir para a
construção do conhecimento científico.
O cinema, assim como qualquer outra fonte relacionada às mídias, não possui
um pacto com a verdade, assim eles apresentam uma determinada narrativa, repleta
de nuances, que geralmente exploram um lado cômico, de drama, de suspense, etc.
Diversos filmes surgiram para apresentar a Idade Média, por exemplo, não que aquela
representação seja de fato verdade, mas ela busca representar àquele período sob um
determinado olhar. Assim como os filmes da idade contemporânea que trabalham as
guerras, o próprio Capitão América é um exemplo, de que a partir do contexto de
guerra pôde ser criado um personagem que defenderia os Estados Unidos.
Essa ferramenta que baliza nosso estudo pode nos apresentar diversos
elementos para que se crie problematizações, buscando nessa fonte respostas, não
somente no próprio filme, documentário ou similar, mas que a partir da obra possamos
compreender o contexto, a narrativa, o pensamento da época. Todos esses aspectos
contribuem para a construção do conhecimento científico. A exemplo disso, o próprio
filme analisado é lançado no dia 1º de maio de 2014 – Dia do Trabalhador –, fazendo
referência a Getúlio Vargas que é reconhecido por uma parcela da sociedade como
sendo um grande líder em favor dos trabalhadores. Claro que Vargas concedeu
diversos direitos e benefícios para os trabalhadores como uma forma de ganhar mais
apoio, o que tornou sua figura reconhecida e que o trabalhador lutasse ao seu lado.
Todos os passos, assim como em jogo de xadrez, foram pensados para que Vargas
estendesse sua ditadura.
O filme com sua narrativa, de um Vargas amedrontado, angustiado, cercado de
incertezas explora um lado que pouco conhecemos de um personagem histórico que
ainda gera assunto na atualidade. Todas as curiosidades abordadas no filme tentam
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suavizar a figura de um líder político que reprimiu, que foi um ditador, deu um golpe em
1930, outro em 1937. Toda essa narrativa que os livros nos apresentam, na qual
Vargas é visto sempre como uma representação de poder, pelo tempo que esteve no
governo, de sabedoria, pois soube articular-se com diversos setores da sociedade em
busca de apoio a sua permanência no poder. Além de tudo isso, de discursos
inflamados de palavras que os trabalhadores gostavam de escutar, o próprio programa
radiofônico A Hora Do Brasil criado para dar popularidade a Vargas, serviu para
transmitir seus discursos e apresentar para a sociedade uma figura amiga, que
buscava o bem da nação.
Vargas encerrou a vida, com a célebre frase, “saio da vida para entrar na
história”, de fato entrou, ele ganha destaque na história ao ser abordado como um dos
temas de livros didáticos, de podcasts, de trabalhos como este que buscam analisar,
questionar e não somente criar Getúlio Vargas como sendo o pai dos pobres, mas
como um ditador que foi.
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