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Física I

Física I
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SUMÁRIO

UNIDADE 1 - Cinemática e dinâmica da partícula...................................................................................... 7


1.1 Unidades de medidas...................................................................................................................... 9
1.1.1 O que é metrologia?..................................................................................................................... 9
1.1.2 Unidades fundamentais e secundárias......................................................................................... 9
1.1.3 Ordens de grandeza, múltiplos e submúltiplos............................................................................. 11
1.1.4 Análise dimensional...................................................................................................................... 12
1.1.5 Definição de tempo e espaço........................................................................................................ 12
1.2 Movimento uni e bidimensional...................................................................................................... 13
1.2.1 Movimento unidimensional.......................................................................................................... 14
1.2.2 Aceleração constante e o movimento retilíneo uniformemente variado (MRUV)........................ 15
1.2.3 Vetores..........................................................................................................................................16
1.2.4 Movimentos bi e tridimensional e o vetor velocidade................................................................. 18
1.2.6 Movimento relativo...................................................................................................................... 20
1.2.7 Movimento circular....................................................................................................................... 20
1.2.8 Definição de referencial e referencial inercial............................................................................... 21
1.3 Leis de Newton................................................................................................................................ 22
1.3.1 Definição de força e massa........................................................................................................... 22
1.3.2 Princípio da superposição............................................................................................................. 22
1.3.3 Leis de Newton............................................................................................................................. 23
1.3.4 Forças de atrito............................................................................................................................. 24
1.3.5 Arrasto em um fluído.................................................................................................................... 26
1.3.6 Força centrípeta............................................................................................................................ 26

UNIDADE 2 - Trabalho e energia e conservação de energia..................................................................... 29


2.1 Definições de trabalho..................................................................................................................... 31
2.1.1 Trabalho de uma força constante.................................................................................................. 33
2.1.2 Trabalho de uma força variável (força elástica)............................................................................. 33
2.1.3 Trabalho total................................................................................................................................ 38
2.2 Teorema da energia cinética............................................................................................................ 39
2.2.1 Situação com atrito....................................................................................................................... 41
2.2.2 Potência........................................................................................................................................ 42
2.3 O que é energia?.............................................................................................................................. 43
2.3.1 Forças conservativas e não conservativas..................................................................................... 46
2.3.2 Energia potencial e energia mecânica.......................................................................................... 47
2.3.3 Lei da conservação da energia...................................................................................................... 52
UNIDADE 3 -Sistemas de partículas e colisões........................................................................................... 57
3.1 Momento linear............................................................................................................................... 59
3.1.1 Momento linear e o teorema do impulso..................................................................................... 59
3.1.2 Centro de massa........................................................................................................................... 63
3.1.3 Momento de um sistema de partículas........................................................................................ 64
3.1.4 Movimento do centro de massa................................................................................................... 65
3.1.5 Conservação do momento: o movimento é eterno?.................................................................... 66
3.2 Colisões elásticas............................................................................................................................. 68
3.2.1 Equações fundamentais................................................................................................................ 68
3.2.2 Colisões elásticas unidimensionais............................................................................................... 69
3.2.3 Colisões elásticas bidimensionais................................................................................................. 70
3.3 Colisões inelásticas.......................................................................................................................... 71
3.3.1 Colisões totalmente inelásticas..................................................................................................... 72
3.3.2 Coeficiente de restituição............................................................................................................. 73

UNIDADE 4 - Dinâmica de rotações e gravitação....................................................................................... 77


4.1 Momento de inércia e torque.......................................................................................................... 79
4.1.1 Velocidade e aceleração angular.................................................................................................. 80
4.1.2 Momento de inércia de um corpo................................................................................................ 83
4.1.3 Torque e a segunda lei de Newton aplicada a rotações................................................................ 84
4.1.4 Energia cinética rotacional............................................................................................................ 89
4.2 Momento angular............................................................................................................................ 90
4.2.1 Momento angular de um sistema de partículas........................................................................... 91
4.2.2 Momento angular de um corpo rígido.......................................................................................... 92
4.2.3 Conservação do momento angular............................................................................................... 93
4.3 Gravitação........................................................................................................................................ 94
4.3.1 Lei de Newton da gravitação......................................................................................................... 95
4.3.2 Energia potencial gravitacional..................................................................................................... 96
4.3.3 Órbitas e energia........................................................................................................................... 97
UNIDADE 1

Cinemática e dinâmica da partícula


Introdução

Você está na unidade Cinemática e dinâmica da partícula. Aqui, vamos estudar conceitos
importantes para o entendimento da física, como por exemplo, as unidades de medidas de uma
grandeza, descrição de grandezas básicas e dos principais movimentos que ocorrem no nosso
cotidiano e, claro, como descrever todas essas informações de uma forma matemática.

Veremos também as leis que comandam os movimentos, conhecidas como leis de Newton,
e foram publicadas pela primeira vez em seu livro de nome Princípios matemáticos da filosofia
natural (1687).

Bons estudos!

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1.1 Unidades de medidas
Chamamos de grandeza física tudo aquilo que pode ser medido através de um instrumento de
medida. De uma forma mais ampla, podemos dizer que uma grandeza mede de forma qualitativa
e quantitativa as relações que existem nos fenômenos físicos. Existem dois tipos de grandezas: as
escalares e as vetoriais.

As grandezas escalares são aquelas que podemos entender com apenas um número (ou
escalar, como é dito na matemática). A temperatura é uma dessas grandezas, por exemplo, se
alguém disser que no dia de hoje fará 30º C, saberemos que teremos um dia de muito calor, e veja
que apenas um número foi suficiente para tirarmos essa conclusão. Outro exemplo desse tipo de
grandeza é a massa.

Temos também as grandezas vetoriais. Nesse caso, um único número não é suficiente para
descrevermos tudo que ela representa. Nós precisamos de um módulo, uma direção e um sentido,
o que quer dizer que precisamos de um valor (escalar), um eixo de referência e para qual lado do
eixo de referência essa grandeza aponta. Uma força aplicada é uma grandeza vetorial, assim como
o peso de um corpo.

Mas o que todas essas informações têm a ver com o nosso estudo de unidades de medida?
Ora, cada grandeza física, sendo vetorial ou escalar, precisa de uma unidade de medida para
representá-la e aprenderemos sobre essas unidades agora.

1.1.1 O que é metrologia?


A metrologia nada mais é do que o estudo das medidas. É uma área muito estudada e utilizada
nas engenharias, em especial na engenharia mecânica, na qual cada vez mais as empresas e
fábricas buscam saber mais sobre os processos metrológicos que evitam falhas e desperdícios,
além de melhorarem os padrões de qualidade. Segundo Fernando (2018):

a palavra metrologia vem do grego e significa estudo da medida. A necessidade


humana de medir e quantificar vem de muito tempo. A própria Bíblia faz
referência ao assunto, ao citar as medidas utilizadas na construção da Arca de
Noé. Naquela época, não havia o metro, medida que só foi criada no final do
século XVIII (FERNANDO, 2018, p. 2).

Dessa forma, podemos concluir que a metrologia é a ciência das medições e que está presente
em todos os aspectos do nosso cotidiano.

1.1.2 Unidades fundamentais e secundárias


O Sistema Internacional de Unidades é um assunto fundamental quando estudamos grandezas
físicas. Ele foi criado no ano de 1960, na cidade de Paris (França), durante a 11° Conferência Geral
de Pesos e Medidas (CGPM) (HALLIDAY, 2008).

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Esse sistema é muito importante para a globalização, já que é mais fácil de identificar as
unidades de medida em diferentes partes do mundo. Por exemplo, as unidades usadas para
distância aqui no Brasil e na Austrália são as mesmas, por exemplo, usamos a mesma escala de
temperatura.

O SI (abreviação de Sistema Internacional de Unidades) é composto por sete unidades básicas,


também chamadas de fundamentais.

A maioria dos países utiliza esse sistema métrico, salvo algumas exceções que usam o Sistema
Britânico de Unidades (também chamado de English System ou English Unit), como os Estados
Unidos e a Libéria, por exemplo.

Logo, o SI é uma padronização das unidades de medida de cada grandeza física. As unidades
fundamentais são:

Tabela 1 - Grandezas e unidades de medidas fundamentais


Fonte: HALLIDAY, 2008, p. 2.

#ParaCegoVer: a tabela apresenta as unidades de medida de cada grandeza física fundamental.


São sete grandezas: comprimento, massa, tempo, temperatura, quantidade de matéria, corrente
elétrica e intensidade luminosa.

Devemos destacar que apenas essas sete unidades fundamentais não são suficientes para
descrever todas as grandezas físicas que existem. Assim, durante a CGPM, definiu-se que todas as
unidades das grandezas ditas secundárias seriam derivadas dessas sete. Na tabela a seguir, temos
alguns exemplos de unidades derivadas do SI:

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Tabela 2 - Grandezas e unidades de medidas secundárias
Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#ParaCegoVer: a tabela apresenta as unidades de medida de algumas grandezas físicas


derivadas. São elas: velocidade, aceleração, força, voltagem, quantidade de carga, energia e
campo elétrico.

Continue seus estudos!

1.1.3 Ordens de grandeza, múltiplos e submúltiplos


Nem sempre a física trabalha com valores pequenos quando falamos de determinadas
grandezas e, por esse motivo, podemos representá-las por uma potência na base dez. Sempre
que nos referimos a essa potência, estamos falando da ordem de grandeza. Podemos citar como
exemplo a quantidade de energia de um raio que é de 109 J (em que o 9 é a ordem de grandeza
da energia).

Muitas vezes, para facilitar o estudo, usamos o que chamamos de prefixos do Sistema
Internacional de Unidades, ou, múltiplos e submúltiplos do SI. Alguns exemplos estão mostrados
abaixo:

Tabela 3 - Múltiplos e submúltiplos do SI


Fonte: HALLIDAY, 2008, p. 2.

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#ParaCegoVer: a tabela apresenta alguns prefixos do Sistema Internacional de Unidades.

A seguir, conheceremos a análise dimensional.

1.1.4 Análise dimensional


A análise dimensional está diretamente ligada à unidade de medida de uma grandeza física.
Para fazer a análise dimensional, utilizamos apenas três grandezas, são elas: massa (representada
pela letra M), comprimento (representada pela leta L) e tempo (representada pela letra T)
(MOSCA, 2009). Por exemplo, se olharmos a fórmula da velocidade média:

Sua análise seria baseada na medida de comprimento e de tempo, logo:

Notem que não temos a grandeza massa na equação da velocidade, então, teremos como
análise dimensional:

O expoente da letra T é -1, pois transpomos essa letra para o divisor e o expoente da letra M é
0, pois não temos a grandeza massa na fórmula da velocidade.

1.1.5 Definição de tempo e espaço


Definir o que é tempo não é uma das tarefas mais fáceis. Além do mais, as pessoas possuem
uma noção diferente de sua definição dependendo do seu campo de estudo, por exemplo, um
filósofo pode explicar de uma maneira completamente diferente de um físico o que é o tempo e
sua passagem.

Porém, de maneira sucinta e mais geral, podemos entender que o tempo está relacionado
com a repetição regular de algo, como a passagem dos dias, semanas e meses, por exemplo.
Assim, definimos o tempo como a medida de repetição entre algum fenômeno físico.

Já o espaço é algo mais fácil de definir, pois tem a ver com a posição espacial de um corpo.
Para entender um pouco melhor, vamos descrever a posição de todas as coisas de uma maneira
tridimensional, baseada no eixo de coordenadas xyz.

Abaixo, temos a representação da posição de um objeto nesse eixo tridimensional. Notem


que a esfera em azul possui três coordenadas e, dessa forma, podemos determinar qual a sua

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posição no espaço. Por exemplo, ela está no ponto 2 em , no ponto 3 em e no ponto 4 em , cuja
representação matemática seria (2, 3, 4).

Figura 1 - Representação de um eixo de coordenadas tridimensional


Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#ParaCegoVer: temos três semirretas desenhadas (x, y e z) e nessas coordenadas estão


marcados os pontos 2, 3 e 4. Na união desses pontos, temos uma circunferência em azul.

Logo, podemos definir o espaço com base nas posições espaciais que um corpo ocupa.

1.2 Movimento uni e bidimensional


Podemos definir todo e qualquer movimento com base em um eixo de referências pré-
determinado. Por exemplo, todo movimento que ocorre apenas no eixo de referência x dizemos
que é do tipo unidimensional, já aqueles movimentos que envolvem os dois eixos de coordenadas
mais utilizados x e y é dito como bidimensional.

Isso ocorre porque encaramos os eixos como sendo dimensões de espaço. O movimento é
denominado:

• Unidimensional

Uma única dimensão, quando utilizamos apenas um eixo.

• Bidimensional

Duas dimensões, quando utilizamos dois eixos.

Detalharemos essas definições a seguir, acompanhe!

13
1.2.1 Movimento unidimensional
Por convenção, vamos utilizar como referência para os movimentos unidimensionais apenas o
eixo . Existem dois tipos de movimento na física, os que ocorrem em linha reta e os que possuem
trajetórias curvas.

Os movimentos chamados de retilíneos são aqueles que só ocorrem em linha reta e em


uma única dimensão (eixo ), eles podem ser classificados em dois tipos, o Movimento Retilíneo
Uniforme (MRU) e o Movimento Retilíneo Uniformemente Variado (MRUV).

O primeiro é o mais simples dos dois movimentos. Ele nasce a partir do conceito de velocidade
média que vimos anteriormente. Observe a imagem abaixo:

Figura 2 - Representação de movimento em velocidade constante


Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#ParaCegoVer: na figura, temos um boneco palito que corre o mesmo espaço em intervalo de
tempos iguais.

A grandeza velocidade pode ser escrita como a razão entre a variação da posição em relação
ao tempo:

Podemos perceber que todas as velocidades são iguais


Logo, esse movimento possui a velocidade constante ao longo de todo o tempo em que ele está
acontecendo, assim sabemos que esse movimento é um MRU. Existem poucos exemplos de um
MRU no nosso dia a dia, o movimento de um trem é um deles.

Claro que teremos uma fórmula para descrever o MRU e, nesse caso, ela é dada pela função
da posição em relação ao tempo no MRU. Essa equação nos mostra todas as posições que um
móvel pode ocupar em cada instante de tempo. Aqui, a posição é representada pela letra e o
tempo pela letra t:

14
1.2.2 Aceleração constante e o movimento retilíneo uniformemente
variado (MRUV)
No dia a dia, a maioria dos movimentos que experimentamos ocorre sem que a velocidade
seja constante, como manda o MRU, dessa forma temos que descrever os movimentos com base
na mudança de velocidade.

Sabemos, do nosso cotidiano, que podemos variar a velocidade de um móvel com facilidade.
Por exemplo, um motorista para acelerar um carro deve pisar no acelerador (aumento da
velocidade) ou no freio (diminuição da velocidade). A grandeza física que mede a variação de
velocidade é chamada de aceleração. A aceleração (a) é dada pela variação da velocidade ( )
pela variação do tempo ( ):

Podemos escrever essa fórmula como sendo a diferença entre a velocidade final ( ) e a
velocidade inicial ( ) sobre a diferença entre o tempo final ( ) e o tempo inicial ( ):

A unidade de medida da aceleração no SI é o metro por segundo ao quadrado, representado


por .

No Movimento Retilíneo Uniformemente Variado (MRUV), temos uma variação da velocidade


ao longo do tempo, ou seja, temos uma aceleração, o que indica que nesse tipo de movimento
a velocidade varia de forma uniforme ao longo do tempo. Logo, o MRUV possui aceleração
constante.

A função horária da velocidade no MRUV descreve como a velocidade (v) do móvel varia
conforme o tempo (t) e é dada por:

Classificamos os movimentos do MRUV em dois tipos (JEWETT, 2012). O primeiro deles é o


movimento acelerado, que ocorre quando a velocidade e a aceleração apontam para o mesmo
sentido (lembre-se de que estamos falando de eixos de coordenadas, o que significa que essas duas
grandezas físicas apontam para o mesmo sentido do eixo: positivo ou negativo). Já o movimento
retardado vai ocorrer quando a velocidade e a posição não apontam para o mesmo sentido do
eixo de coordenadas.

Como exemplo desses dois tipos de MRUVs temos, para o primeiro, o ato de acelerar um
carro, em que a velocidade e a aceleração são positivas. Já para o segundo tipo, temos a frenagem
como exemplo, pois no momento em que os freios são acionados, a velocidade e a aceleração não

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estão mais apontando para o mesmo lado (sendo, em geral, a velocidade positiva e a aceleração
negativa).

A próxima equação que precisamos estudar no MRUV é a função horária da posição em


relação ao tempo. Ela nos mostra quais possíveis posições um móvel vai ocupar conforme o
tempo passa. Essa função é quadrática e do tipo:

Fique ligado
O MRUV é o tipo de movimento que mais presenciamos no nosso cotidiano,
por exemplo, numa estrada longa e reta, as pessoas vão sempre tentar
manter a aceleração do seu carro constante. Quem está aprendendo a dirigir
ainda não tem essa habilidade, e é por esse motivo que acabamos sentindo
“soquinhos” ao andar com uma pessoa assim.

Para finalizar o nosso estudo do MRUV, temos que ver a equação de Torricelli. Essa equação
é importante pois relaciona as grandezas de espaço percorrido, velocidade e aceleração sem
depender do tempo em que esse movimento ocorre. Dessa forma, sempre que estivermos
tratando de um MRUV em que não temos os dados de tempo, podemos utilizar a equação de
Torricelli, que é dada por:

1.2.3 Vetores
Antes de falarmos sobre vetores, precisamos tratar do significado de posição. A posição é uma
grandeza física que tem a ver com o lugar em que os corpos ocupam no espaço.

A partir de agora, a posição será descrita por um vetor posição que denominaremos como .
Todo vetor é entendido como um segmento de reta que liga a partícula a um ponto de referência.
Lembrem-se de que tratamos de referências com base nos três eixos de coordenadas. Esses três
eixos serão descritos com base em seus vetores: que correspondem aos eixos ,
respectivamente. Dessa forma, o vetor pode ser escrito como:

Na imagem abaixo, temos um vetor que vai do início do sistema de coordenadas do eixo
cartesiano até um ponto P do espaço. Notem que essa representação é tridimensional:

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Figura 3 - Representação de um vetor posição em um eixo de coordenadas tridimensional
Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#ParaCegoVer: na figura, temos um sistema com os três eixos de coordenadas x, y e z, saindo


da origem do sistema de coordenadas uma semirreta em cor azul.

As componentes vetoriais desse vetor são e as componentes escalares são ,


ou seja, os componentes escalares representam números reais. Esses números nos dão a localização
de um corpo nesse sistema de coordenadas. Por exemplo, esse vetor pode ser escrito como:

Logo, a posição desse vetor é 3, 7 e 1. Podemos escrever, então, um vetor deslocamento ( ),


já que quando a partícula se move seu vetor posição muda, dessa forma:

Considerando que e possuem localizações espaciais diferentes, logo esse vetor


deslocamento será:

Assim, de uma forma mais geral, podemos escrever o vetor posição como sendo a variação da
posição da partícula em cada eixo:

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1.2.4 Movimentos bi e tridimensional e o vetor velocidade
Podemos descrever a velocidade como a rapidez como a posição de um móvel é capaz de
mudar em um instante de tempo. Como vimos anteriormente, a posição é uma grandeza vetorial
assim como a velocidade e a aceleração. Podemos escrever a velocidade como uma grandeza
vetorial da seguinte forma:

Lembrando que o vetor posição é dado por , podemos fazer uma


analogia, assim escrevemos o vetor velocidade como:

Essas definições são de extrema importância na descrição dos movimentos vetoriais, pois
agora todas essas grandezas possuem módulo (ou intensidade), direção e sentido.

A partir desse momento, que já vimos as grandezas vetoriais, podemos descrever melhor
alguns tipos de movimento, como por exemplo, o lançamento oblíquo que ocorre quando um
objeto é projetado com um ângulo em relação à horizontal (eixo x).

Os lançamentos oblíquos ocorrem muito no nosso dia a dia. Quando um goleiro chuta a bola
para o meio do campo, ela realiza um lançamento oblíquo. Assim como o lançamento de uma bola
de basquete na cesta. A distância que esse projétil percorre depende do ângulo de lançamento dele.

Agora que já sabemos como decompor um vetor, vamos usar esse conhecimento para
descrever os movimentos bidimensionais. Todo projétil é lançado com uma velocidade vetorial
que possui uma componente em cada eixo do plano cartesiano:

Em que representa o ângulo de lançamento em relação à horizontal e as componentes do


vetor velocidade serão:

Observe abaixo como fica a decomposição vetorial da velocidade de uma bola ao ser chutada.

18
Figura 4 - Análise vetorial de um movimento oblíquo
Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#ParaCegoVer: na figura, há a representação do movimento de uma bola de futebol e a


decomposição do vetor velocidade nos dois eixos de coordenadas x e y.

Estudando o desenho acima, podemos notar que o vetor velocidade permanece igual durante
toda a trajetória da bola, porém temos uma mudança nas componentes desse vetor. Se olharmos
apenas o eixo x teremos um MRU acontecendo e, olhando o eixo y percebemos que o movimento
que ocorre é um MRUV. No início do movimento vertical, temos uma grande intensidade de ,
porém conforme o tempo passa, essa intensidade diminui fazendo com que essa componente se
torne 0, que é o que faz os objetos caírem, além da ação da gravidade, claro. A altura e o alcance
máximo dependem do ângulo de lançamento. O maior alcance é obtido para um ângulo de 45°.

Fique ligado
O máximo alcance em um lançamento oblíquo é sempre atingido em um
ângulo de 45º. Assim, se uma pessoa for fazer um disparo de uma bola de
canhão, para que uma bola vá o mais longe possível, o canhão deve estar
posicionado a um ângulo de 45º em relação ao chão (horizontal).

Pelo Princípio da Independência de Galileu, podemos estudar o lançamento oblíquo em dois


movimentos separados. O movimento na horizontal, por ser um MRU, terá sua posição dada pela
equação:

Já o movimento na vertical, por ser um MRUV, terá sua posição dada por:

. (22)

19
Apesar de parecer mais complicado tratar os movimentos com as grandezas escritas na forma
vetorial, ele fica descrito de uma maneira bem mais completa.

ção também terá essa característica, lembrando que a aceleração é a rapidez com que a
velocidade muda. A aceleração média será dada por:

E a aceleração instantânea, que é aquela em que ocorre em um exato instante, será a derivada
da velocidade em relação ao tempo:

Assim como fizemos com a velocidade, de uma maneira mais matemática, podemos escrever
a aceleração como:

1.2.6 Movimento relativo


Toda a nossa noção de movimento depende de um referencial, como vimos anteriormente.
Esse sistema de referencial depende do observador. Dessa forma, todo conceito de movimento ou
de repouso vai depender de qual sistema de referências o observador adotou para fazer seu estudo.

Existem vários exemplos de movimentos ditos relativos na física. Imagine que você é uma
pessoa (observador) que está parada na calçada. Nesse momento, passa um ônibus na sua frente,
para você as pessoas que estão dentro desse ônibus estão em movimento. Porém, se trocarmos
o observador, as pessoas que estão dentro desse ônibus estão paradas, em relação ao ônibus.

1.2.7 Movimento circular


No nosso cotidiano, temos muitos exemplos dos movimentos circulares como, por exemplo,
o movimeno de um relógio analógico, as hélices de um helicóptero ou uma roda gigante de um
parque de diversões.

Para facilitar o estudo dos movimentos circulares, também vamos dividi-los em dois. As
grandezas físicas ligadas à rotação serão descritas a seguir. A primeira grandeza que veremos é a
velocidade que será descrita de duas formas. A velocidade tangencial, que sempre forma 90° com
a trajetória da partícula, e a velocidade angular, que nos dá como a posição angular ( ) varia
conforme o movimento:

20
A unidade da velocidade angular no SI é o radiano por segundo ( ). A velocidade tangencial
será dada pela multiplicação da velocidade angular pelo raio ( ) da circunferência descrita no
movimento:

Assim como temos dois tipos de velocidade nos movimentos circulares, teremos dois tipos
de aceleração: centrípeta e centrífuga. A primeira é “aquela que puxa para dentro”, ou seja, ela
aponta para dentro do movimento. E a segunda é a aceleração centrífuga, que aponta para fora da
trajetória circular. De maneira geral, as duas acelerações têm a mesma fórmula, o que muda são
suas interpretações. Ambas possuem a mesma direção e a mesma intensidade, porém sentidos
contrários. A aceleração para o movimento circular é dada por:

Como exemplo da aceleração centrífuga, temos uma máquina de lavar roupas. Quando começa
o processo de centrifugação, a maior parte da água que está nas roupas é puxada para fora. Já
para a aceleração centrípeta temos o movimento de um pião, pois quando ele vai perdendo sua
velocidade, ele vai girando mais para dentro.

O Movimento Circular Uniforme (MCU) ocorre quando um corpo percorre uma trajetória
curva com velocidade de módulo constante. Tem como principais características, então, a
velocidade constante, ser periódico e cíclico. Podemos citar como exemplo de MCU o movimento
de um relógio analógico.

Algo que devemos notar é que muito embora digamos que a velocidade é constante, o MCU possui
aceleração. O vetor velocidade e um corpo que está em MCU é sempre tangencial à trajetória
e, dessa forma, possui intensidade constante. Ao realizar uma curva, esse vetor sofre alterações de
direção e de sentido, o que mostra que existe uma aceleração centrípeta. Assim, podemos entender
essa aceleração como a responsável pela alteração na direção e no sentido de .

1.2.8 Definição de referencial e referencial inercial


Nós já tratamos dos referenciais de um movimento. Lembre-se que o sistema de referência
depende do sistema de coordenadas que escolhemos, sendo o mais comumente escolhido o
sistema x, y e z. A escolha de um referencial depende de quem estuda o movimento.

Toda partícula que está em repouso permanecerá em repouso até que uma força externa
atue sobre essa partícula, quem nos diz isso é a primeira lei de Newton (HALLIDAY, 2008).
Logicamente essa lei leva em conta algum referencial determinado por um observador. Esse
observador é admitido como um observador inercial e esse sistema que ele observa recebe o
nome de sistema inercial.

21
1.3 Leis de Newton
Existe uma relação direta entre força e aceleração, e isso foi descrito pela primeira vez por
um físico chamado Isaac Newton (1642-1727). Ao estudo desse grande cientista demos o nome
de Mecânica Newtoniana (HALLIDAY, 2008).

A Mecânica Newtoniana não pode ser aplicada a todos os tipos de movimento que ocorrem
no universo, por exemplo, quando temos movimentos com velocidades muito altas (próximas
à da luz) devemos usar a teoria de outro cientista, Albert Einstein, a teoria da Relatividade
Restrita.

Anteriormente a Newton, pensava-se que para um corpo poder manter seu estado de
movimento, deveria ter uma força aplicada a ele de maneira constante e que os corpos possuíam
um estado natural que só era atingido quando ele estava em repouso (TIPLER, 2009).

1.3.1 Definição de força e massa


Como sempre, não é muito fácil fazer definições de grandezas físicas de um modo simples.
Porém, sabemos que podemos definir a grandeza massa como uma medida da inércia. Podemos
entender essa premissa como a quantidade de matéria que um corpo possui. A massa é uma
grandeza física escalar e sua unidade de medida pelo SI é o quilograma (kg).

Definir força é um pouco mais fácil. Uma força é tudo aquilo que é capaz de mudar a
velocidade de um corpo, ou seja, causar uma aceleração. Essa capacidade pode ou não deformar
um objeto, vai depender da intensidade da força aplicada e do objeto em que ela está sendo
aplicada.

1.3.2 Princípio da superposição


O princípio da superposição de forças nos diz que em todos os corpos há várias forças agindo
ao mesmo tempo. Por exemplo, um livro que está parado sobre uma mesa tem pelo menos três
forças agindo sobre ele, são elas:

• a força peso,

• a força normal

• e a força de atrito.

A todas essas forças agindo juntas damos o nome de força resultante. Assim, o princípio da
superposição nos mostra que a força resultante é dada pela soma de todas as forças que atuam
simultaneamente sobre um corpo.

22
1.3.3 Leis de Newton
A partir de agora, vamos estudar as leis da dinâmica, também conhecidas como leis de
Newton. A primeira lei de Newton trata justamente do estado de movimento dos corpos e pode
ser enunciada da seguinte maneira: “todo corpo persiste em seu estado de repouso, ou de
movimento retilíneo uniforme, a menos que seja compelido a modificar esse estado pela ação de
forças impressas sobre ele” (NUSSENZVEIG, 2002, p. 69).

Essa lei também é conhecida como princípio da inércia. Podemos escrever essa lei como:

Ou seja, a soma de todas as forças que atuam em um corpo é igual a zero, logo ele mantém
seu estado de movimento, seja ele um movimento retilíneo uniforme ou um estado de repouso.

Podemos citar vários exemplos de aplicações da primeira lei de Newton no nosso cotidiano. Um
dos mais usados é o de pegar um ônibus. Sempre que o ônibus está em movimento e o motorista freia,
as pessoas automaticamente sentem seu corpo indo para frente, pois elas estavam em movimento e
tendem a continuar o movimento. O cinto de segurança também é outro exemplo de aplicação dessa
lei, pois ele impede que as pessoas sejam lançadas para fora do carro durante uma colisão.

A segunda lei de Newton é aquela que relaciona a aceleração dos corpos com a quantidade
de força aplicada. Ela também é chamada de princípio fundamental da dinâmica (SERWAY, 2012).
Escrevendo essa lei de maneira matemática teremos:

Assim, percebemos que a aceleração de um corpo é causada por uma ação direta de uma força
sendo aplicada a esse corpo. A unidade de força no SI é o Newton (N) (HALLIDAY, 2008).

A terceira lei de Newton é aquela que trata da relação existente entre os corpos quando uma
força está sendo aplicada entre eles. Essa lei também é conhecida como princípio da ação-reação
e pode ser enunciada como: “a toda ação corresponde uma reação igual e contrária, ou seja, as
ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos
(NUSSENZVEIG, 2002, p. 78).

De maneira matemática, nós teremos:

Assim, podemos entender que as forças que os corpos aplicam um sobre o outro são iguais em
intensidade e em direção, porém possuem sentido contrário (ou seja, enquanto uma é positiva a
outra é negativa).

23
Da mesma maneira como vemos várias aplicações da primeira lei de Newton no dia a dia,
assim temos com a terceira lei de Newton. Por exemplo, quando um jogador de golfe dá uma
tacada na bola, a intensidade da força que o taco aplica na bola é a mesma com que a bola aplica
no taco. Ou durante uma luta, o impacto entre a mão de um atleta e o corpo do outro atleta é a
mesma, apenas o sentido da força é diferente.

1.3.4 Forças de atrito


Sempre que vamos exercer uma força sobre um objeto, ele pode se mover ou não. Isso ocorre
pelo fato de existir uma força que se opõe a esse movimento que pode ser igual à força que
estamos empregando, ou mesmo maior que essa força. A essa força de oposição damos o nome
de atrito.

Algumas situações desconsideram essa força, por ela possuir intensidade muito pequena,
como por exemplo, uma pista de patinação no gelo. Nesse tipo de superfície, a água congelada
forma uma camada quase perfeitamente lisa. Assim, ali o atrito quase não existe.

Vamos dividir a força de atrito em duas, para facilitar seu estudo. A primeira delas é o atrito
estático que age nos corpos que estão em repouso, o que vai dificultar o início do seu deslocamento.
A partir do momento em que colocamos esse corpo em movimento, teremos a ação do atrito
dinâmico. O atrito estático máximo sempre será maior que o dinâmico.

Toda força é vetorial, logo, a força de atrito possui módulo (intensidade), direção e sentido.
Para força de atrito cinético teremos o seguinte:

Já o atrito estático máximo pode ser calculado através de:

Em que e representam os coeficientes de atrito cinético e estático, respectivamente.


Esses coeficientes representam a superfície em que os objetos estão inseridos e também são
adimensionais, ou seja, não possuem unidade de medida. A tabela abaixo mostra os coeficientes
estático e dinâmico para alguns materiais quando postos em contato:

24
Tabela 4 - Tabela de coeficientes de atrito
Fonte: Adaptada de FILHO, 1984, p. 66.

#ParaCegoVer: a tabela mostra os diferentes coeficientes de atrito dependendo do material


indicado.

Analisando de uma maneira mais profunda, o atrito se deve às irregularidades microscópicas


existentes nos materiais. Podemos usar como exemplo o desenho abaixo, ao colocar o vaso em
contato com a mesa, temos as irregularidades dessas duas superfícies em contato.

Figura 5 - Representação do atrito entre duas superfícies diferentes


Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#ParaCegoVer: na figura, temos uma mesa com um vaso em cima e um zoom que mostra
como é o contato entre esses dois objetos.

Apesar de termos a impressão de que a mesa e o vaso estão em um contato perfeito, isso não
é verdade, pois a nível microscópico vemos várias irregularidades.

25
1.3.5 Arrasto em um fluído
Existem também outras forças resistivas, não apenas as de atrito, como vimos anteriormente.
Por exemplo, a força de arrasto. Para falar da força de arrasto, precisamos lembrar que os fluídos
possuem a capacidade de fluir ou de escoar, e que não apresentam estrutura sólida. Logo, um
fluído é aquela substância que está em seu estado líquido ou gasoso.

Quando os corpos se movem através de algum fluído, podemos observar que ele vai impor uma
força de resistência sobre esse corpo. A essa resistência damos o nome de força de arrasto. Essa força
é capaz de reduzir a velocidade do objeto que passa por esse fluído. Quando lidamos com pequenas
velocidades, o arrasto é quase proporcional à velocidade com que o objeto se encontra.

Podemos ver a aplicação das forças de arrasto no nosso cotidiano ao observar uma pessoa que
pula de paraquedas, pois é essa força que vai determinar a velocidade de queda dessa pessoa.

1.3.6 Força centrípeta


Para falar sobre força centrípeta, precisamos lembrar de aceleração centrípeta. Essa aceleração
é aquela que aponta para dentro do movimento. São esses vetores aceleração centrípeta que
geram uma mudança no sentido e na direção do corpo que está em movimento circular.

Através da segunda Lei de Newton, podemos definir a força centrípeta, que é tida como a
responsável por manter os corpos no movimento circular, ela é dada por:

Em que representa o raio da trajetória circular.

Assim como a aceleração centrípeta vai sempre apontar para o centro desse tipo de
movimento, a força centrípeta também o fará. Podemos usar como exemplo o movimento de um
carro. Toda vez que o carro passa por uma curva, a força de atrito entre os pneus e o asfalto faz
com que a força centrípeta mantenha o veículo preso à trajetória circular, puxando os ocupantes
para dentro do raio de movimento da curva.

26
Conclusão

Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• aprender sobre as unidades de medida e como elas influenciam no nosso cotidiano, além
da definição de tempo e espaço;

• compreender que os movimentos são descritos através de grandezas físicas e que estas
podem ser escritas de maneira escalar ou vetorial;

• analisar os movimentos unidimensionais e tridimensionais;

• estudar o movimento retilíneo uniformemente variado, que possui duas interpretações


que chamamos de movimento acelerado ou movimento retardado;

• saber um pouco mais sobre as leis de Newton, que regem os movimentos na mecânica dita
newtoniana ou de baixa velocidade.
IBLIOGRAFIA

BEER, F. P.; RUSSELL, J. Jr. E. Mecânica vetorial para engenheiros: cinemática e dinâmica. São Paulo:
Pearson Addison Wesley, 2006.

FERNANDO, P. H. L. et al. Metrologia. 1. ed. Porto Alegre: SAGAH, 2018.

FILHO, A. A.; OLIVEIRA, E. F., ROBORTELLA, J. L.C. Física mecânica. 2º grau. São Paulo: Ática, 1984.

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: mecânica. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
1 v.

JEWETT, J. W.; SERWAY, R. A. Física para cientistas e engenheiros: mecânica. São Paulo: Cengage
Learning, 2012.

MOSCA, G.; TIPLER, P. A. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termo-
dinâmica. Rio de Janeiro: LTC, 2009. 1 v.

NUSSENZVEIG, G. M. Curso de física básica: fluidos, oscilações e ondas, calor. São Paulo: Edgar
Blucher, 2002. 1 v.

YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física 1: mecânica. São Paulo: Addison-Wesley, 2008.


UNIDADE 2

Trabalho e energia e conservação


de energia
Introdução

Você está na unidade Trabalho e energia e conservação de energia. Sabemos que a dinâmica
é a parte da física que estuda os movimentos buscando compreender suas causas. No entanto,
o movimento dos corpos também pode ser estudado pela aplicação de outros dois conceitos:
trabalho e energia, que são o tema desta unidade.

Os termos trabalho e energia podem assumir diferentes significados, a depender do contexto


em que são utilizados. São comuns frases do nosso cotidiano como: “Ela está cheia de energia!”;
“Preciso de um banho quente!”; “Carregar as compras para casa me deu um trabalho e tanto!”.
Nesta unidade, iremos perceber como esses termos podem ser corretamente empregados para
descrever fenômenos naturais.

Vamos começar? Bons estudos!

30
2.1 Definições de trabalho
Neste tópico e nos subtópicos a seguir, estudaremos a grandeza trabalho, que está
estreitamente associada ao conceito de energia.

Ao exercermos uma força sobre um corpo e aumentarmos sua velocidade, como demonstra
a figura “Bola sendo jogado em direção aos pinos”, sua energia cinética K (= mv2/2) irá aumentar.
Ao diminuir a rapidez de um objeto, pela ação de uma força, sua energia cinética irá diminuir.
Chamamos de trabalho mecânico (W) a energia transferida para um objeto, ou de um objeto,
através de uma força que atua sobre ele. O trabalho será positivo quando a energia é transferida
para o objeto; e será negativo quando a energia é transferida do objeto (HALLIDAY, 2009).

Dessa forma, trabalho mecânico (W) é a energia transferida para ou de um objeto pela
aplicação de uma força; “realizar trabalho” é o ato de transferir energia. Trabalho mecânico (W) é
uma grandeza escalar e possui a mesma unidade que a energia (joule, J).

Figura 1 - Bola sendo jogada em direção aos pinos


Fonte: George Rudy, Shutterstock, 2021.

#ParaCegoVer: a imagem apresenta uma pessoa arremessando uma bola de boliche em


direção aos pinos.

Precisamos de uma expressão matemática para determinarmos o valor numérico do trabalho


mecânico (W). Para isso, vamos considerar um corpo de massa m que se move ao longo da direção
horizontal sem atrito, como uma bola de boliche deslizando sobre uma pista extremante lisa, por
exemplo. Quando uma força constante atua sobre a bola, é possível, por meio da segunda lei de
Newton (na direção horizontal, x), relacionarmos a força à aceleração:

Fx = max. (1)

31
Quando a bola sofre um deslocamento , a força altera sua velocidade desde um valor
inicial até um valor final . Para uma força invariável, a aceleração também será constante
e podemos escrever:

ou ainda:

Fazendo uso da segunda lei de Newton, substituindo ax por Fx/m e dividindo toda a equação
por 2, teremos:

Os termos do lado esquerdo da equação correspondem às energias cinéticas antes ( )e


depois ( ) do deslocamento d. Assim, o lado esquerdo da equação evidencia que a energia
cinética da bola foi modificada e o lado direito da equação indica que a mudança é igual a Fxd. Ou
seja, o trabalho realizado pela força sobre a bola é:

W = Fxd. (5)

Para estabelecer o trabalho mecânico que uma força exerce sobre um objeto quando este
sofre um deslocamento, utilizamos somente a componente da força que atua na direção do
deslocamento do objeto. A componente da força perpendicular ao deslocamento não realiza
trabalho. Imagine que a força não seja paralela ao deslocamento , mas forme um ângulo
com ele. Assim, teremos:

Fx = F cos φ.

E, assim:

ou, ainda, usando a definição de produto escalar:

O trabalho mecânico (W) que uma força exerce sobre um objeto pode ser positivo ou negativo.
Para o ângulo φ menor do que 90°, cos φ é positivo e o trabalho é positivo. Para φ maior do que
90° (e menor do que 180°), cos φ é negativo e o trabalho é negativo (HALLIDAY, 2009).

32
A unidade de trabalho no S.I. é o joule (J), outras unidades correspondentes muito usadas são
o newton-metro (N.m) e a caloria (cal, usada para representar a quantidade de energia presente
nos alimentos, por exemplo):

1 J = 1 kg · m² /s² = 1 N · m = 0.2388 cal. (8)

2.1.1 Trabalho de uma força constante


Estudaremos neste momento o trabalho que a força gravitacional pode realizar sobre um
objeto. Imagine que você lança uma bola para cima com velocidade inicial v0. Você arremessa
uma bola para cima com velocidade inicial v0 e, sendo assim, com energia cinética inicial K0 =
. Enquanto sobe, a aceleração da bola vai decrescendo pela ação da força gravitacional ,o
que significa que sua energia cinética vai sendo reduzida, porque realiza trabalho sobre a bola
durante seu deslocamento . O valor numérico desse trabalho executado sobre a bola durante
sua subida pode ser determinado utilizando a equação W = F d cos φ. A força F será substituída
mg, que representa o módulo de . Assim, o trabalho Wg executado pela força gravitacional
sobre a bola é dado por:

Wg = mgd cos φ. (9)

Durante a subida, a força possui sentido oposto ao do deslocamento , pois o ângulo φ


formado entre e é de 180°:

Wg = mgd cos 180° = mgd(−1) = − mgd. (10)

O sinal negativo da expressão (10) indica que, enquanto a bola sobe, uma energia mgd é
removida da energia cinética da bola pela ação da força gravitacional, o que justifica o fato de a
velocidade da bola decrescer durante a subida.

No instante em que a bola alcança a altura máxima e inverte seu movimento (começa a
descer), o valor numérico do ângulo φ será nulo (φ = 0°), considerando a força e o deslocamento
possuem o mesmo sentido. Assim:

Wg = mgdcos 0° = mgd(+1) = mgd. (11)

O sinal positivo da expressão (11) indica que enquanto a bola desce em direção ao solo, uma
energia mgd é transferida para a energia cinética da bola pela ação da força gravitacional, o que
justifica o fato de a velocidade da bola aumentar durante a queda.

2.1.2 Trabalho de uma força variável (força elástica)


Analisaremos aqui o trabalho que uma força variável (força elástica) pode realizar sobre um
objeto (uma mola). Muitas outras forças na natureza possuem a mesma forma matemática que a

33
força realizada por uma mola, sendo assim, analisando esta em especial, podemos compreender
as demais.

A figura “Estados de uma mola” (a) traz uma mola no seu estado relaxado (nem comprimida
nem distendida). Na extremidade da mola onde está preso o bloco está a origem do eixo x. (b) O
bloco sofre um deslocamento e a mola fica sujeita a uma variação no sentido positivo do eixo x.
Observe a força restauradora executada pela mola. (c) A mola sobre uma variação no sentido
negativo do eixo x (compressão).

Figura 2 - Estados de uma mola


Fonte: HALLIDAY, 2009, p. 162.

#ParaCegoVer: a imagem apresenta o estado da mola em três momentos.

Verifique novamente a força restauradora (HALLIDAY, 2009).

Ao comprimirmos a mola, empurrando o bloco para a esquerda, figura “Estados de uma mola”
(b), a mola afasta o bloco para a direita. Na distensão, figura “Estados de uma mola” (c), a mola
puxa o bloco para a direita, a mola puxa o bloco para a esquerda.

A mola exerce uma força proporcional ao deslocamento a partir da posição no estado


relaxado. A força elástica é estabelecida a partir da lei de Hooke:

O sinal negativo na equação (12) explicita que o sentido da força elástica é sempre contrário
ao do deslocamento da mola. A constante k é uma medida da rigidez da mola e representa sua
constante elástica. Quanto maior a força executada pela mola para um dado deslocamento, mais
rígida é a mola, ou seja, maior o valor de k. A unidade da constante elástica k no S.I. é Newton por
metro (N/m). Utilizaremos aqui os métodos do cálculo infinitesimal para determinarmos o trabalho
realizado pela força da mola. Imagine que o bloco se desloque da posição xi até a posição xf. A
expressão (6) só é utilizada quando a responsável pela realização do trabalho for força constante.
Como neste caso que estamos estudando a força é variável, pois ela é governada pela lei de Hooke
(considerando apenas a direção x, temos Fx = −kx), não poderemos usar a expressão W = F d cos φ.
Assim, a expressão matemática adequada para determinar o trabalho realizado Ws neste caso é:

34
Fazendo uso da lei de Hooke Fx = −kx, podemos escrever:

Podemos indicar o trabalho realizado por uma força elástica como:

O trabalho realizado por essa força será positivo ou negativo, a depender da posição inicial (x0)
e final (xf). Para a mola inicialmente no estado relaxado (x0 = 0), podemos escrever:

Como exemplo de uma situação real, imagine que você jogue uma bola de boliche. O módulo
da força que irá atuar sobre a bola é variável, embora sua orientação permaneça inalterada, já que
está acelerada para frente na direção horizontal. Dessa forma, não é correto usarmos a expressão
W = F d cos φ para determinarmos o trabalho executado. Suponha que a força que aplicamos
sobre a bola (na direção horizontal) varia conforme a figura a seguir.

Como exemplo de uma situação real, imagine que você jogue uma bola de boliche. O módulo
da força que irá atuar sobre a bola é variável, embora sua orientação permaneça inalterada, já que
está acelerada para frente na direção horizontal. Dessa forma, não é correto usarmos a expressão
W = F d cos φ para determinarmos o trabalho executado. Suponha que a força que aplicamos
sobre a bola (na direção horizontal) varia conforme a figura a seguir.

Figura 3 - Gráfico de uma força variável unidimensional (x) em função da posição x de uma
partícula sobre a qual a força atua
Fonte: HALLIDAY, 2009, p. 166.

#ParaCegoVer: a imagem é um gráfico de uma força variável unidimensional em função da


posição x de uma partícula sobre a qual a força atua.

Para obtermos uma expressão matemática para determinação do trabalho realizado por uma

35
força F(x) sobre a bola quando ela se desloca desde a posição xi ou x0 até a posição xf, precisamos
utilizar novamente as ferramentas do cálculo diferencial.

Vamos empregar aqui uma curva com diversas faixas estreitas de largura ∆x e intensidade
constante Fj,méd (correspondente ao valor médio de F(x) no intervalo), como você pode visualizar
na figura a seguir.

Figura 4 - Gráfico da amplitude de uma força unidimensional (x) com a área sob a curva dividida
em faixas estreitas
Fonte: HALLIDAY, 2009, p. 166.

#ParaCegoVer: a imagem apresenta um gráfico da amplitude de uma força unidimensional


com a área sob a curva dividida em faixas estreitas.

Como a força Fj,méd é constante em cada intervalo, então podemos calcular o trabalho ∆Wj
realizado em cada intervalo de deslocamento ∆x usando a expressão:

∆Wj = Fj,méd∆x. (18)

O trabalho total (aproximado) desde xi até xf será a soma de todos os intervalos ∆x:

W = ∑ ∆Wj =∑ Fj,méd ∆x, (19)

(20)

Podemos dizer que o trabalho (aproximado) realizado pela força sobre a bola é igual à área sob a
curva F(x) versus x. No entanto, essa é uma expressão aproximada para o valor do trabalho realizado.

Existe uma forma de tornar esta aproximação cada vez melhor. Para começar, podemos dividir
a curva original em faixas mais estreitas, isso fará com que a área da curva aproximada seja mais
próxima da área da curva real, conforme a figura abaixo.

36
Figura 5 - Gráfico da amplitude de uma força unidimensional (x) com a área sob a curva dividida
em faixas estreitas
Fonte: HALLIDAY, 2009, p. 166.

#ParaCegoVer: a imagem mostra o gráfico da amplitude de uma força unidimensional com a


área sob a curva dividida em faixas estreitas.

A diferença entre a área da curva aproximada e a área da curva real será tanto menor quanto
menor for largura das faixas. Ou seja, estaremos nos aproximando cada vez mais do trabalho
realizado quanto mais reduzirmos a largura das faixas (HALLIDAY, 2009).

Certamente existe um limite mínimo adequado para a largura das faixas no gráfico, porém,
matematicamente, é possível desenhar faixas infinitamente pequenas, ou em linguagem
matemática:

o que comprova exatamente a definição da integral da função F(x) para os limites xi e xf.

Dessa forma, o trabalho executado sobre a bola pela força é:

que está ilustrado graficamente na figura a seguir.

37
Figura 6 - Trabalho W descrito pela equação e representado pela área sombreada entre a curva e
o eixo x e entre xi e xf
Fonte: HALLIDAY, 2009, p. 166.

#ParaCegoVer: a imagem mostra o gráfico do trabalho W descrito pela equação e representado


pela área sombreada entre a curva e o eixo x e entre xi e xf.

Estudaremos, a seguir, sobre o trabalho total.

2.1.3 Trabalho total


No momento em que duas ou mais forças atuam sobre um objeto, o trabalho total executado
sobre o objeto é a soma dos trabalhos realizados de forma individual pelas forças.

Podemos calcular o trabalho total de duas formas:

• determinando separadamente o trabalho realizado pelas forças e somando-se os resultados;

• determinando inicialmente a resultante res de todas as forças e aplicando a equação 6,


trocando F por Fres e pelo ângulo formado entre res e .

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

38
2.2 Teorema da energia cinética
Neste tópico, analisaremos a importante relação entre o conceito de trabalho e a energia
cinética.

A energia relacionada ao estado de movimento de um objeto é denominada energia cinética


(K). Quanto maior a rapidez com que o objeto se move, maior é sua energia cinética. Se o objeto
está parado (v = 0, em repouso), sua energia cinética é nula. Assim, um objeto de massa m e
velocidade v pode ser escrito como sendo:

No S.I a unidade que representa a energia cinética (ou qualquer outra forma de energia) é o
joule (J), nesse caso estabelecida em termos das unidades de massa e velocidade 1J = 1kg · m² /s².

Podemos supor, como exemplo, um atleta participando de uma competição e que esteja
correndo numa rapidez de 3,19 m/s e possua massa de 55 kg, sua energia cinética será k = 1/2 (55
kg)(3,19 m/s)² ≈280 J.

Perceba que existe uma relação entre a variação da energia cinética da bola de boliche (desde
um valor inicial K0= m /2 até um valor final Kf = m /2) e o trabalho (W = Fxd) executado sobre
ela. Para outros objetos que se comportam como partículas, é possível generalizar essa equação.
A variação da energia cinética de ∆K (= Kf – K0) pode ser escrita como:

∆K = Kf – K0 = W, (23)

que significa que a variação da energia de uma partícula é igual ao trabalho total executado
sobre a partícula.

A expressão define o teorema trabalho-energia que pode ser enunciado da seguinte forma: a
variação da energia cinética de uma partícula é igual ao trabalho total realizado sobre a partícula
por todas as forças que atuam sobre ela.

Também podemos escrever:

Kf = K0 + W, (24)

em que a energia cinética após a execução do trabalho é igual à energia cinética antes da
execução do trabalho mais o trabalho executado.

Alguns exemplos de aplicações do teorema trabalho-energia são expostos a seguir.

39
Exemplo 1

Figura 7 - Uma partícula em queda livre


Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#ParaCegoVer: a imagem demonstra uma partícula em queda livre.

O trabalho realizado sobre a partícula de massa (m) pela força peso (mg), nesse caso, é positivo,
a velocidade da partícula aumenta e, por consequência, há um acréscimo na energia cinética.

Exemplo 2

Figura 8 - Uma partícula lançada para cima


Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#ParaCegoVer: a imagem demonstra uma partícula lançada para cima.

Neste caso, o trabalho realizado sobre a partícula de massa (m) pela força peso (mg) é negativo,
a velocidade da partícula decresce e, por consequência, existe uma redução na energia cinética.

40
Exemplo 3

Figura 9 - Uma partícula é abandonada de certa altura e atinge um meio resistente com
velocidade constante
Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#ParaCegoVer: a imagem demonstra uma partícula que é abandonada de certa altura e atinge
um meio resistente com velocidade constante.

Aqui o trabalho realizado pela força peso (mg) sobre a partícula de massa (m) é suprimido pelo
trabalho executado pela força resistente (D) do meio, a velocidade e a energia cinética se mantêm
inalteradas.

2.2.1 Situação com atrito


Como pudemos observar, para haver trabalho, é necessária a atuação de uma força F (não
perpendicular ao deslocamento ∆x), para que o corpo sofra algum deslocamento. Além disso,
vimos que o valor numérico do trabalho pode sofrer alteração entre o valor máximo, quando F
e ∆x são paralelos (ângulo de 0°), e o valor nulo, quando F e ∆x forem vetores perpendiculares
(formarem ângulo de 90° entre si).

E quando a força for aplicada no sentido contrário ao deslocamento? Considere, como


exemplo, a figura abaixo. As forças de atrito que atuam entre os pés da mesa e o assoalho da sala
realizam trabalho, para o requerido deslocamento?

41
Figura 10 - Ângulo formado entre as forças de atrito, Fat, e o deslocamento, ∆s ou ∆x, vale 180°
Fonte: MARTINI, 2016, p. 213.

#ParaCegoVer: a imagem mostra um homem empurrando uma mesa. O ângulo formado entre
as forças de atrito, Fat, e o deslocamento, ∆s ou ∆x, vale 180°.

Enquanto a mesa está sendo deslocada, as forças de atrito estão agindo no sentido oposto ao
deslocamento, mas ainda assim a mesa continua a se mover. Vamos além, na inexistência de atrito, a
velocidade com que a mesa se moveria até atingir o ponto B seria maior. Em outras palavras, a força
de atrito também altera o estado de movimento da mesa. Nesse caso, quando a força exercida é
contrária ao deslocamento (o sinal do trabalho será negativo), temos um trabalho resistente.

Importante mencionar aqui que o trabalho realizado por uma força pode ser executado com
maior ou menor rapidez. A grandeza física que traduz essa ideia, ou seja, que relaciona o trabalho
ao intervalo de tempo gasto para realizá-lo, é conhecida como potência média e é representada
por Pméd, grandeza que estudaremos a seguir.

2.2.2 Potência
A potência (P) representa a taxa de realização de trabalho. Se uma quantidade de trabalho (W)
é realizada em um dado intervalo de tempo ∆t, a potência média (Pméd) durante esse intervalo
de tempo é representada por:

A potência instantânea (P) é a taxa instantânea de realização de trabalho e é expressa através


da relação:

A unidade no Sistema Internacional (S.I.) para a potência é o Watt (W), que é obtido do Joule/
segundo (J/s). Com bastante frequência, o Horse-power (hp) e o cavalo-vapor (cv) são empregados

42
para representar a potência de automóveis e outras máquinas). Suas relações com o Watt são
mostradas a seguir:

1 hp = 746 W,

1 cv= 735 W.

Fique ligado
O quilowatt-hora (kWh) é outra unidade de energia bastante comum no
nosso cotidiano, utilizado para representar a energia elétrica consumida em
nossa residência. Esta origina-se a partir da unidade de potência:

1 kW · h = (103 W) · (3600 s) = 3.6 × 106 J = 3.6 MJ.

A potência liberada pode ser expressa por meio da força aplicada e da velocidade através da
relação apresentada a seguir:

2.3 O que é energia?


Neste tópico, estudaremos a definição de energia, um dos conceitos físicos de presença
constante em todas as nossas atividades diárias. O computador que você usa, ou o seu telefone,
necessitam de energia para funcionar. Você precisa de energia para se manter vivo. São diferentes
os tipos: a energia elétrica que alimenta o nosso telefone ou a energia bioquímica que nos alimenta.
Ambas podem ser obtidas a partir de, ou transformadas em movimento. É através do movimento
que transformamos outros tipos de energia em energia elétrica. Além disso, é também por meio
do movimento que utilizamos a energia acumulada em nosso corpo a partir dos alimentos.

Nenhuma grandeza física tem maior importância em nossa vida do que a energia. Consumo
energético, eficiência energética e “produção” de energia são de extrema importância econômica e
objeto de discussões sobre políticas nacionais e acordos internacionais. A palavra energia também
desempenha um papel importante na rotina diária de cada indivíduo: consumo energético através
de calorias alimentares e consumo energético por meio de processos celulares, atividades,
trabalho e exercício.

43
Mas, afinal, o que é energia?

O termo energia é de origem grega (Enérgeia) e significa trabalho que vem de dentro ou, ainda,
força de manifestação. Ao se tratar do termo energia, fala-se de um conceito muito importante
na física moderna, em especial a partir de meados do século XIX. Porém, esse conceito não é
exclusividade da física. Sabe-se que existem várias formas de energia. A classificação mais trivial
das formas de energia, segundo Burattini (2008), é:

• Cinética

Aquela que está associada ao movimento dos objetos.

• Potencial

Gravitacional está relacionada à interação entre corpos massivos e a elástica relaciona-se a


corpos deformados no regime elástico.

• Térmica (em gases ideais)

Está relacionada à energia cinética média interna de um sistema.

• Elétrica

Relacionada à interação entre corpos eletricamente carregados.

• Eletromagnética

Associada à propagação de radiação eletromagnética.

• Nuclear

Compõem a constituição das partículas no núcleo do átomo.

• Química

Constitui as ligações químicas entre átomos e moléculas de uma substância.

Para cada necessidade de definição do termo energia que foi surgindo ao longo da história,
construiu-se uma caracterização de uma grandeza chamada energia e, com o passar do tempo,
tentou-se realizar a unificação entre as várias definições existentes.

Um exemplo que ilustra a tentativa de unificação entre as várias definições existentes é o


cálculo do equivalente mecânico do calor. Sabe-se que por muito tempo a termologia e a mecânica
foram consideradas como campos distintos dentro da física, e que não possuíam interligação.
Essa visão se manteve até quando Joule desenvolveu um experimento que permitiu calcular o

44
equivalente mecânico do calor. Para demonstrar essa equivalência, Joule realizou as experiências
das palhetas girando-as imersas no interior de um líquido, como a água.

A figura “Representação esquemática da experiência de Joule” representa esquematicamente


o experimento desenvolvido por Joule. Ele deixava cair dois corpos, de massas M1 e M2, de
uma altura h unidos por fios de massas desprezíveis, a um eixo que fazia girar várias palhetas
dentro da água posta em um calorímetro, com um termômetro a ele acoplado. O experimento
foi reproduzido diversas dezenas de vezes seguidas, na tentativa de aferir uma variação de
temperatura mensurável.

Para fazer com que as palhetas mudassem de posição dentro do líquido, era necessário superar
a resistência oferecida pelo mesmo e, dessa forma, realizar trabalho W sobre ele.

Figura 11 - Representação esquemática da experiência de Joule


Fonte: Yuri Korchmar, Shutterstock, 2021.

#ParaCegoVer: a imagem mostra a representação esquemática da experiência de Joule.

Esse trabalho W mede, portanto, o decréscimo da quantidade de energia mecânica dos corpos
ao chegarem ao final da queda, ponto no qual estavam com energia cinética, K, de valor numérico
constatado menor ao valor da energia potencial gravitacional, U, que os corpos possuíam
enquanto estavam em repouso a certa altura h, de onde foram lançados. A intensão de Joule com
este experimento era equacionar a variação de energia potencial gravitacional do conjunto de
pesos e a variação da temperatura do líquido, que era aferida com bastante exatidão (diferenças
na temperatura de 1/200 de um grau). Dessa forma, James Prescott Joule (1818-1889) definiu que
a grandeza física calor seria uma forma de energia, determinando uma razão de transformação
entre os dois.

Durante a Idade Média, surge a noção de calórico, substância que se transferia dos corpos
mais aquecidos para os menos aquecidos até que se atingisse o equilíbrio térmico. Essa definição
admite o conceito de energia como um fluido que é transferido do corpo mais aquecido para o
menos aquecido.

45
No século XVII, surge a definição de que a energia é a capacidade de realizar trabalho. Tal
definição foi considerada coerente com a mecânica clássica, que dominava o cenário científico
da época. Dessa forma, foi possível diferenciar sistemas mecânicos conservativos dos não
conservativos. Um sistema conservativo, pela definição, é aquele em que atuam forças conservativas
consentindo que as transformações de energia aconteçam sem que haja a degradação da mesma.
Nesse tipo de sistema, a energia poderá ficar infinitamente se transformando de um tipo para
outro(s). Podemos tomar como exemplo a transformação da energia cinética em potencial elástica
em um sistema massa-mola sem atrito).

Em um sistema não conservativo, também chamado de dissipativo, uma parte da energia se


degrada, sendo convertida em um tipo de energia que não pode retornar para o tipo original, a
exemplo de um bate-estacas: a fração da energia potencial gravitacional que é transformada em
energia sonora e em calor.

Embora abstrata, a lei que rege os fenômenos naturais conhecidos até o momento é a lei da
conservação da energia (FEYNMAN, 2004). Segundo o norte-americano Richard Feynman (1918-
1988), a principal particularidade da energia é a sua conservação; que não se altera nas diversas
transformações pelas quais passa natureza.

Conforme declara Feynman: “é importante observarmos que na física atual não sabemos o
que é energia” (FEYNMAN, 2006). O autor reforça ainda que, embora existam diferentes equações
matemáticas para determinar quantitativamente o valor das formas de energia de um corpo,
não sabemos como justificar em palavras precisas a razão pela qual essas expressões assumem a
forma que têm.

2.3.1 Forças conservativas e não conservativas


Estudaremos aqui as forças conservativas e não conservativas. Imagine que você lance, em
um dia bastante ventoso, uma bola para o alto. Teremos nesse caso a ação da força realizada pelo
vento sobre a bola, também conhecida como força de arrasto, que é mais uma força que atua
sobre a bola enquanto ela sobe ou desce, ainda que a força de arrasto seja perceptível somente
em dias de vento intenso.

Mesmo na ausência de vento forte, a força de arrasto continua existindo, porém, é tanto maior
quanto maior for a velocidade do vento. A força de arrasto pode ser facilmente sentida durante
um passeio de bicicleta num dia sem vento, à medida que andamos mais depressa a força de
arrasto começa a surgir.

Vejamos uma particularidade entre a força de arrasto e a força gravitacional. Durante a subida,
a força gravitacional transfere energia cinética da bola para a energia potencial, durante a descida
ocorre o contrário, a força gravitacional transfere energia potencial para a energia cinética da bola.
Para as duas situações, podemos escrever:

46
∆U = - W. (28)

Os seguintes critérios podem ser utilizados para caracterização de forças conservativas e não
conservativas:

• 1 Uma força é dita conservativa quando o trabalho que ela realiza sobre uma partícula que
descreve um caminho fechado for nulo, caso contrário, a força é não conservativa.

• 2 Uma força é dita conservativa se o trabalho que ela realiza sobre uma partícula que se
desloca entre dois pontos quaisquer for o mesmo para todas as trajetórias que unem esses
dois pontos, caso contrário, a força é não conservativa ( força dissipativa ).

Continue seus estudos!

2.3.2 Energia potencial e energia mecânica


Vamos definir agora energia potencial e energia mecânica. A energia potencial é a forma de
energia relacionada à configuração dos objetos que constituem um sistema mecânico.

Suponha um sistema constituído por você e o planeta Terra. Sempre que a distância entre
vocês variar (aumenta ou diminuir), a energia potencial do sistema irá aumentar ou diminuir,
respectivamente.

Ao subir uma escada, a energia potencial do sistema composto por você e a Terra aumenta. Em
contrapartida, ao descer uma escada, a energia potencial do sistema você-Terra diminui. Quando
você sobe uma escada, a energia potencial do sistema você-Terra aumenta. E no caso de você
descer uma escada, a energia potencial do sistema você -Terra diminui.

Analise a seguinte situação: quando você joga uma bola para cima, figura “Bola arremessada
na cesta de basquete”, à medida que a bola vai subindo, sua velocidade vai diminuindo, até que
ela para e então começa a descer de volta até sua mão. Tanto na subida quanto na descida ela está
sempre sob a ação da força gravitacional.

47
Figura 12 - Bola arremessada na cesta de basquete
Fonte: Sergey Nivens, Shutterstock, 2021.

#ParaCegoVer: a imagem mostra um jogador de basquete arremessando uma bola de


basquete na cesta.

Enquanto a bola vai subindo, como a força gravitacional aponta sempre para baixo, o trabalho
realizado por ela sobre a bola é negativo. Ou seja, a força gravitacional está transferindo a energia
cinética da bola para a energia potencial do sistema bola-Terra. Por outro lado, enquanto a bola
está descendo, como a força gravitacional aponta sempre para baixo, o trabalho realizado por ela
é positivo. Assim, a força gravitacional está transferindo energia potencial do sistema bola-Terra
para a energia cinética da bola.

Em ambos os casos, na subida ou na descida, a variação da energia potencial tem o sinal


contrário ao do trabalho realizado pela força gravitacional. Quando a bola está subindo, a energia
potencial aumenta e o trabalho realizado pela força gravitacional é negativo. Quando a bola está
descendo, a energia potencial diminui e o trabalho realizado pela força gravitacional é positivo.
Podemos dizer que a variação da energia potencial ∆U é numericamente igual ao negativo do
trabalho realizado pela força gravitacional W. Ou, em linguagem matemática:

∆U = - W.

Tal equação serve também para outros tipos de força, como a força elástica de uma mola. A
mola do gatilho de uma mangueira de jardim, por exemplo, ou de um alicate para cortar unhas. Se
pressionamos a mola, comprimindo-a, o trabalho realizado pela força elástica é negativo, porque
a força aponta no sentido contrário ao do deslocamento.

Nesse caso, a energia potencial do sistema mão-mola aumenta, isto é, a variação da energia
potencial é positiva. Entretanto, quando aliviamos a pressão sobre a mola, permitindo que ela
volte à posição de equilíbrio, o trabalho realizado pela força elástica é positivo, pois a força aponta
na mesma direção do deslocamento. Assim, a energia potencial do sistema mão-mola diminui, ou
seja, a variação da energia potencial é negativa (HALLIDAY, 2009).

48
Determinando os valores de energia potencial

Já vimos como calcular o trabalho realizado por uma força qualquer como sendo:

e como a variação da energia potencial ∆U = - W:

Utilizaremos essa equação para calcular a variação da energia potencial em alguns casos
particulares.

Energia potencial gravitacional

Agora, calcularemos a variação da energia potencial do sistema bola-Terra durante a subida.


Considerando que a bola está se movendo na vertical, alteraremos um pouco a nossa equação,
porque faz mais sentido dizer que o movimento se dá ao longo do eixo y (com o sentido positivo
sendo para cima), geralmente usado para representar a vertical:

Como a força gravitacional é constante e tem módulo mg, apontando sempre para baixo,
podemos escrever F(y) = - mg.

Assim:

Se a energia potencial na posição yi é Ui e a energia potencial na posição yf é Uf, então


podemos escrever:

Uf – U0 = mg (yf – y0). (33)

Para facilitar o modo de calcular a variação de energia potencial, é comum assumirmos um


valor de referência para a energia potencial relacionado com um determinado ponto de referência.
Por exemplo, podemos dizer que no nível do chão a energia potencial do sistema bola-Terra é zero.

Se largamos a bola no chão, ela não se moverá, pois a força gravitacional não terá como movê-
la. Assim, na equação acima, substituiremos U0 = 0 e y0 = 0 e teremos:

49
Uf = mgyf, (34)

ou ainda:

U(y) = mgy, (35)

o que deixa explícito que a energia potencial gravitacional depende apenas da altura
que estamos em relação ao ponto de referência, aumenta quando subimos e diminui quando
descemos.

Energia potencial elástica

Usando uma argumentação semelhante em um sistema elástico, podemos calcular a variação


da energia potencial em função da compressão da mola. Nesse caso, a força não é constante, mas
mesmo assim a integral é fácil de ser resolvida.

Desse modo, a energia potencial pode ser expressa como:

em que x é a distância desde a posição de equilíbrio da mola e k sua constante elástica.

Vamos supor agora que quando jogamos uma bola para cima, apenas a força gravitacional
esteja agindo sobre ela. Nós sabemos que a força de arrasto também estará presente, mas ela
será muito pequena desde que a bola seja “pesada” (como uma bola de basquete) e a velocidade
da bola seja pequena. À medida que a bola sobe, a energia cinética (da bola) diminui e a energia
potencial (do sistema bola-Terra) aumenta. Por outro lado, quando a bola desce, a energia cinética
aumenta e a energia potencial diminui. Como tanto a variação da energia cinética da bola (∆K)
como a variação da energia potencial do sistema (∆U) estão relacionadas com o trabalho realizado
pela força gravitacional:

∆K = W (37)

∆U = - W, (38)

podemos relacionar essas duas quantidades usando a equação:

∆K = ∆U. (39)

Ou se reagrupamos os dois termos no mesmo lado da equação:

K + U = 0. (40)

Essa equação nos permite identificar uma quantidade que é constante ao longo de todo o

50
percurso. Se substituímos a variação da energia cinética da bola ∆K = Kf - Ki, e a variação da energia
potencial do sistema bola-Terra ∆U = Uf - Ui:

(Kf - Ki) + (Uf - Ui) = 0, (41)

ou ainda:

Kf + Uf = Ki + Ui. (42)

Assim, podemos dizer que há uma quantidade, que é a soma da energia cinética K com a
energia potencial U, que se mantém constante ao longo do caminho enquanto a bola sobe desde
a nossa mão até o alto, e de volta. Essa quantidade é a energia mecânica do sistema:

Emec = K + U. (43)

Fique ligado
É possível armazenar energia escalando uma montanha?

O objetivo dessa pergunta é fazer com que você perceba que uma das maneiras
de armazenar energia é nos distanciarmos do chão (nível de referência).

Para mais informações, faça uma leitura do seguinte material, acessando:

h tt p s : / / re p o s i t o r i o . u fe s . b r / b i t s t re a m / 1 0 / 7 5 2 4 / 1 / t e s e _ 8 1 0 1 _
Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Final.%20Claytor%20Vieira%20%281%29.pdf

Assim, podemos enunciar o princípio de conservação da energia mecânica: em um sistema


isolado, onde apenas forças conservativas causam variações de energia, a energia cinética e a energia
potencial podem variar, mas a sua soma, a energia mecânica Emec do sistema, não pode variar.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

51
2.3.3 Lei da conservação da energia
Como mostrado anteriormente, é muito mais fácil calcular as variações de energia cinética
e potencial entre dois eventos se apenas forças conservativas estão agindo. No entanto, é muito
mais fácil imaginar situações reais, desde as mais simples, em que existem várias forças não
conservativas agindo. Caminhar, por exemplo, só é possível pela existência do atrito entre nossos
pés e o piso. Se você não acredita, tente caminhar sobre uma superfície de cerâmica molhada, ou
sobre uma superfície de madeira encerada. Outro exemplo é um jogo de voleibol em um dia de
vento. É exatamente a presença da força de arrasto entre a bola e o ar que deixa o jogo desafiador.

Considerando que o sistema mecânico que estamos estudando (por exemplo, o sistema bola-
Terra) esteja sujeito à ação de forças externas (por exemplo, o arrasto da bola com o ar), podemos
escrever que:

W = ∆E, (44)

em que W é o trabalho realizado pelas forças externas sobre o sistema (nesse exemplo em
particular, é o trabalho realizado pela força de arrasto, que é sempre negativo), e ∆E é a variação
da energia total do sistema:

∆E = ∆Emec + ∆Et. (45)

O primeiro termo do lado direito da equação acima nós já conhecemos, é a variação da energia
mecânica do sistema (Emec = K+U). O segundo termo ∆Et representa a variação da energia térmica
do sistema. Como nós sabemos da experiência de esfregar as mãos em um dia frio, o atrito “gera”
calor. Dessa forma, a energia cinética das mãos é transformada em energia térmica pela ação da
força de atrito. Igual ocorre com a bola, embora nesse caso o aumento na energia térmica seja
imperceptível (você pode perceber o aumento na energia térmica da bola por ação da força de
atrito se, em vez de usar o ar, utilizar um material que ofereça uma força de atrito maior, como um
tecido, por exemplo).

No caso de sistemas mais complexos, como o nosso corpo, necessitamos adicionar um termo
extra nesta equação para levar em conta outros tipos de energia (a energia interna obtida a partir
da queima dos alimentos) e, assim:

∆E = ∆Emec + ∆Et + ∆Eint, (46)

em que ∆Eint é a variação da energia interna.

Em um sistema isolado, sobre o qual nenhuma força externa realiza trabalho, temos que ∆E =
W = 0. Ou seja, a energia total do sistema não varia e, dessa maneira, teremos:

52
∆Emec + ∆Et + ∆Eint = 0. (47)

Explicitando ∆Emec como a diferença entre a energia mecânica final e a energia mecânica
inicial, podemos afirmar que:

Fique ligado
Já parou para pensar por que um carrinho de montanha-russa não necessita
de motor?

Como sugestão de leitura para responder a essa questão, acesse os seguintes


links:

https://sec.sbfisica.org.br/eventos/snef/xvi/cd/resumos/T0324-2.pdf

https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/11458/Disserta%C3%A7%C3%A3o_
BrunoDarros_PROFIS.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Estamos concluindo esta unidade, espero que este estudo tenha contribuído para o seu
aprendizado, tanto para sua jornada acadêmica (profissional) quanto para o seu crescimento
pessoal e intelectual.

53
Conclusão

Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer o conceito de energia potencial, que é a forma de energia relacionada à configu-


ração de um sistema de objetos que exercem forças entre si;

• compreender a energia potencial gravitacional, relacionada a um sistema partícula-Terra;

• aprender sobre a energia potencial elástica, relacionada ao estado de compressão ou dis-


tensão de um objeto elástico a partir de sua posição de equilíbrio;

• estudar a força conservativa e não conservativa;

• compreender a energia mecânica e a energia mecânica total.


IBLIOGRAFIA

FEYNMAN, R. P. Física em seis lições. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

FEYNMAN, R.; GOTTLIEB, M. A.; LEIGHTON, R. B.; SANDS, M. L. The Feynman Lectures on Physics.
San Francisco, CA: Addison - Wesley, 2006.

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da física. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. 1 v.

MARTINI, G. Conexões com a física. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2016.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1997. 1 v.

URATTINI, M. P. T. C. Energia: uma abordagem multidisciplina. São Paulo: Livraria da Física Editora,
2008.
UNIDADE 3

Sistemas de partículas e colisões


Introdução

Você está na unidade Sistemas de partículas e colisões. Conheça aqui assuntos totalmente
importantes para todas as áreas da física, sobretudo, sistemas compostos por muitas partículas.
Nesse contexto, iniciaremos com mais uma versão alternativa das leis de Newton. Em outras
palavras, iremos introduzir e definir a grandeza momento linear e, em seguida, expressar a segunda
lei de Newton através dessa quantidade. Veremos que essa maneira alternativa irá nos levar a uma
das leis mais importantes da física: a lei da conservação do momento linear. Em seguida, iremos
introduzir o conceito de centro de massa e estudar o movimento do centro de massa desses
sistemas. Para finalizar, discutiremos de maneira bem aprofundada os conceitos e a caracterização
de colisões e sobre a importância de todos os tratamentos realizados na presente unidade.

Bons estudos!

58
3.1 Momento linear
Uma questão muito interessante a ser destacada, antes de iniciarmos o conteúdo da presente
unidade, é o fato de que muitas vezes as leis de Newton não são a melhor ferramenta para descrever
sistemas físicos, principalmente os que envolvem forças. Um bom exemplo para destacar essa
questão é: imagine um caminhão contendo cerca de 18 rodas. Esse caminhão, por algum motivo,
colide de maneira frontal com um determinado carro. Qual quantidade ou o que pode ser utilizado
para determinar o sentido do movimento dos destroços resultantes? Outro exemplo bem similar
seria: em um jogo de sinuca, o que determina a manipulação do taco para que a bola da vez possa
ser acertada de modo a ser encaçapada? Questões como essas serão totalmente trabalhadas na
presente unidade e trarão muitos conceitos interessantes e fundamentais para incrementar ainda
mais as leis de Newton.

Como respostas a essas questões podemos destacar que nos dois casos estão envolvidas
forças sobre as quais não se conhece muitas informações: as forças que atuam entre os carros
e entre as bolas de sinuca. A questão mais fundamental e que será totalmente explorada aqui é
justamente o fato de que não precisamos de nenhuma informação sobre tais forças. Dessa forma,
desenvolveremos então ferramentas alternativas para esse tratamento.

Nesse contexto, dois conceitos novos e interessantes serão explorados: o de momento linear
e o de impulso. Além disso, desenvolveremos também uma outra lei de conservação que será
denominada conservação do momento linear. Desde já, é imprescindível destacarmos que
a conservação do momento é uma lei tão importante quanto a lei da conservação de energia.
Uma característica bem interessante sobre a lei de conservação do momento é o fato de que
ela pode ser totalmente utilizada em situação em que as leis de Newton não são aplicáveis.
Como exemplo, podemos destacar como uma dessas situações os sistemas em que os corpos
se deslocam com velocidades extremamente altas (próximas à velocidade da luz) ou sistemas de
corpos microscópicos (como as partículas com altas energias e as contidas em um átomo). No
contexto da mecânica newtoniana, a lei de conservação do momento nos permite analisar muitas
situações que seriam impossíveis de serem tratadas via leis de Newton. Nesse mesmo contexto se
enquadram as colisões. Nesse caso, os corpos podem produzir como resultado da colisão forças
de interação mútua em um intervalo de tempo muito curto.

3.1.1 Momento linear e o teorema do impulso


Uma informação importante e que destacaremos mais uma vez é o fato de que a segunda
lei de Newton foi reformulada em termos do trabalho e da energia, originando o teorema do
trabalho e da energia. Essa reformulação proporcionou o tratamento de inúmeros problemas em
física, além de conduzir de maneira natural ao teorema da conservação de energia. Da mesma
maneira, iremos reformular a segunda lei de Newton, para mostrar outra forma útil de expressar
essa lei.

59
Vamos considerar uma partícula com massa m constante. Dessa forma, a segunda lei de
Newton é escrita:

Repare que colocamos a massa dentro do operador derivada, pois como mencionado, essa
é uma quantidade constante. A segunda lei de Newton então pode ser introduzida como sendo a
variação da quantidade dada por . Isso nada mais é do que o produto da massa pela velocidade.
A quantidade representada por esse produto é denominada como momento linear da partícula. O
momento linear é representado por:

É importante observar que, nessa definição, quanto maior a massa, maior será o módulo da
grandeza vetorial denominada momento linear. Outra questão importante de ressaltar é o fato
de a direção e sentido do momento linear ser a mesma do vetor velocidade, pois a massa é uma
grandeza escalar. Isso quer dizer, por exemplo, que um caminhão dos correios se deslocando
do sentido Oeste para o Leste com velocidade de apresenta momento linear de mesmo
módulo de outro caminhão idêntico se deslocando do sentido Norte para Sul, com a mesma
velocidade. A única diferença aqui seria a direção do momento linear. Os respectivos vetores
nesses casos apresentam mesmo módulo e direções diferentes.

De uma forma bem geral, e sem perda de generalidade, podemos expressar o momento linear
de uma partícula na forma de componentes representados respectivamente por:

sendo as três componentes equivalentes à equação vetorial (2). Em termos de unidades de


medida, o momento linear, no Sistema Internacional de Unidade, é dado em

Finalmente, em termos do momento linear, a segunda lei de Newton é dada por:

Em palavras, isso quer dizer que a força resultante atuante em uma partícula de massa m é
dada pela variação do momento linear da mesma em relação ao tempo.

Um fato curioso a ser destacado é que essa foi a maneira como Newton enunciou suas
leis. Nesse contexto, a quantidade conhecida hoje por momento linear era denominada como
quantidade de movimento. É muito importante destacar que essa lei apresenta validade somente

60
em sistemas físicos com referenciais inerciais, ou seja, aqueles com velocidade constante.

Observando a equação (6) é possível perceber que uma rápida variação no momento linear
necessita de uma força muito grande, enquanto o contrário também é verdadeiro. Esse é o princípio
utilizado em dispositivos de segurança em automóveis, como o airbag. Ou seja, um determinado
motorista em alta velocidade apresenta um momento linear alto. A partir do momento em que o
automóvel colide e cessa o movimento repentinamente, o momento linear do motorista se reduz
a zero. O motorista continua com seu momento linear, que se reduziria a zero em um tempo muito
pequeno caso ele se chocasse com alguma parte do veículo, por exemplo. O airbag entre o volante
e o motorista faz com que o momento linear do motorista diminua lentamente até se anular.
Dessa forma, a força atuando sobre o motorista vai diminuindo lentamente e também reduzindo
a probabilidade de lesões.

Para avançarmos, destacaremos que existem duas grandezas relacionadas ao movimento


da partícula. Essas grandezas são a energia cinética e o momento linear. Outra informação em
comum entre essas duas grandezas são a dependência da massa e da velocidade. Afinal, a energia
cinética e o momento linear são respectivamente dados por:

Nesse contexto, a grande questão é: qual a diferença entre essas duas grandezas, uma vez que
são compostas pelos mesmos princípios? Matematicamente poderíamos responder a essa pergunta
mencionando que o momento linear é um vetor e a energia cinética é um escalar. Isso não está errado,
mas queremos algo mais, ou seja, algo que traga informações físicas interessantes. No contexto da
física, para que essa diferença seja perceptível é importante definirmos uma grandeza que se relaciona
com o momento linear de maneira íntima. Essa grandeza denominaremos de impulso.

Para que o impulso seja definido, vamos inicialmente considerar uma força resultante constante
atuando sobre uma partícula em um intervalo de tempo entre o tempo e . Nesse caso, o impulso
da força resultante é definido pelo produto da força pelo tempo de atuação, ou seja:

Como podemos perceber, o impulso é uma grandeza de origem vetorial e apresenta a mesma
direção e o mesmo sentido da força resultante. Em termos de unidades, o impulso é medido em
Newton vezes o segundo, ou seja, .

Uma curiosidade interessante é que:

61
dessa forma o impulso apresenta a mesma unidade do momento linear.

Com a finalidade de analisar mais a fundo o conceito e a utilidade de impulso vamos, mais uma
vez, trabalhar com a nossa base, que é sempre a segunda lei de Newton. Nesse caso, utilizaremos
sua versão em termos do momento linear. Quando a força resultante é constante, a derivada do
momento linear também é e, nesse caso, essa variação é igual à variação total do momento linear
representada pelos vetores e , ocorridos no intervalo de tempo e . Ou seja:

Vamos comparar esse resultado com a equação inicial em que definimos o impulso (9):

Esse é o denominado teorema do impulso-momento linear que quer dizer que a variação do
momento linear, em um intervalo de tempo, é igual ao impulso da força resultante que atua na
partícula no decorrer desse intervalo.

É importante destacar que o teorema do impulso-momento linear também se estende aos


casos em que as forças não são constantes. Isso pode ser verificado ao realizarmos a seguinte
integração:

Em outras palavras, isso quer dizer que a integral da força resultante define o impulso durante
o intervalo de tempo em questão:

Dessa forma, podemos definir uma força média, dada por de forma que, mesmo quando
a força resultante variar com o tempo o impulso fica dado por:

Nesse contexto, quando a força resultante é constante, a força média equivale à força
constante e obtemos novamente a equação (9).

62
Você quer ver?
Sabemos que o airbag é um dispositivo destinado a proteger motoristas e
passageiros em caso de colisão do veículo. Mas como ele funciona? Neste
vídeo, Jean Pegoraro ensina, de maneira bem didática, como funciona o
airbag na física. Para saber mais sobre o assunto, acesse: https://www.
youtube.com/watch?v=avLqzIE2cwQ

Frente às informações tratadas até o presente momento, estamos aptos a retornar a nossa
discussão em relação às diferenças entre momento linear e energia cinética. O fato é que o teorema
do impulso-momento linear afirma que as variações do momento linear de uma determinada
partícula são originadas pelo impulso. Este depende do tempo em que a força resultante está
atuando. Já o teorema do trabalho-energia afirma que quando um trabalho é realizado sobre uma
determinada partícula, ocorre uma variação da sua energia cinética. Esse trabalho depende da
distância ao longo da atuação da força resultante.

3.1.2 Centro de massa


O centro de massa é uma quantidade muito importante a ser desenvolvida na física. Esse
conceito é muito utilizado em estudos com sistemas físicos compostos por inúmeras partículas.
Nesse caso, é possível generalizar todas as leis desenvolvidas até aqui, para sistemas mais gerais.
Para isso, podemos reformular a lei de conservação do momento linear de maneira a obtermos o
conceito de centro de massa. Nesse contexto, vamos considerar um sistema composto por inúmeras
massas representadas respectivamente por e assim por diante. Vamos considerar
que as coordenadas de cada uma dessas massas sejam dadas por
e assim sucessivamente. O centro de massa desse sistema de muitas massas é definido de forma
que suas coordenadas sejam em que:

O vetor posição do centro de massa pode ser escrito em termos do vetor posição de cada
partícula seguindo a expressão:

Com uma nomenclatura um pouco mais específica, no contexto da estatística, dizemos que
o centro de massa é a coordenada da média ponderada das partículas que compõem o sistema
físico.

63
Você quer ler
Artigo: Ilustrando a segunda lei de Newton no século XXI.

Autores: VEIT, E. A.; MORS, P. M.; TEODORO, V. D.

Ano: 2002.

Comentário: o artigo apresenta uma forma de ensinar a segunda lei de


Newton usando a modelagem computacional, de modo que, além das
tradicionais situações lineares, problemas mais reais e atuais possam ser
tratados.

Link: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1806-11172002000200014

É interessante destacar que em um corpo sólido (aquele que apresenta distribuição contínua
de massa) as somas nas equações (16) e (17) acabam se transformando em integrais e isso
pode complicar muito os cálculos. Apesar disso, algumas informações gerais podem ser tiradas.
A primeira afirmação é que, quando um determinado corpo homogêneo apresenta centro
geométrico, como por exemplo uma bola de sinuca, o centro de massa é coincidente com o centro
geométrico. A segunda afirmação é que quando um corpo possui algum eixo de simetria, como por
exemplo uma roda de bicicleta, o centro de massa estará sempre situado nesse eixo de simetria.

3.1.3 Momento de um sistema de partículas


O centro de massa é uma das quantidades mais importantes quando estamos estudando
sistemas de muitas partículas ou corpos sólidos. Apesar disso, é um pouco complicado a
visualização do real significado dessa quantidade. Nesse contexto, para a visualização e melhor
compreensão dessa quantidade, vamos trabalhar em cima do seguinte questionamento: o que
acontece com o centro de massa quando as partículas se movimentam?

Para responder a essa pergunta vamos lembrar que as componentes x e y da velocidade do


centro de massa são derivadas em relação ao tempo. Por exemplo, para as partículas 1 e 2 teremos:

As definições acima se repetem para todas as outras partículas e também para a componente y
das velocidades de cada partícula. Dessa forma, uma vez que tomamos as derivadas das equações
(16) e (17) obtemos:

64
Nesse contexto, é interessante destacar que essas equações são equivalentes à seguinte
equação vetorial:

Dessa forma, vamos denotar a massa total do sistema como sendo a soma de todas as massas
que será representada por M. Assim:

Em outras palavras, o lado direito da equação, como se pode observar, é igual ao momento
linear total do sistema. É isso que iremos demonstrar.

3.1.4 Movimento do centro de massa


Frente a todas as informações obtidas até o presente momento, vamos imaginar que você
agarre uma bola de beisebol. Sabe-se que as bolas utilizadas nesse esporte são extremamente
densas e, por isso, apresentam um grande número de partículas e, consequentemente, massas
moleculares. O fato é que o impulso que você sente ao agarrar a bola é devido exclusivamente
ao momento linear total de todas as partículas que a compõe. Apesar disso, o impulso é igual
ao fornecido por uma única partícula de massa se movendo com
uma velocidade . Isso quer dizer que a representação da equação (24) ajuda a justificar a
representação de um corpo com massas distribuídas como se fosse apenas uma partícula.

Para o caso em que a força externa resultante sobre um sistema de partícula não seja nula, o
momento linear total não é conservado e, por isso, a velocidade do centro de massa do sistema em
questão deve apresentar variações. Iremos a partir de agora analisar a relação entre o movimento
do centro de massa e as forças que atuam sobre o sistema. Nesse caso, as equações (23) e (24)
fornecem as informações sobre a velocidade do centro de massa em relação à velocidade das
partículas. Ao tomar a derivada temporal dessas equações, obtemos:

Repare que , de acordo com a segunda lei de Newton, é igual à soma vetorial das forças
atuantes na primeira partícula. Isso se repete nas parcelas seguintes correspondentes às próximas
partículas do sistema. Em contrapartida, a soma de todas as forças equivale à soma das forças
internas e externas, isso quer dizer que:

65
Um fator interessante e decorrente da terceira lei de Newton é que a soma de todas as forças
internas se anula e, então, teremos:

Diante dessas informações, obtemos conclusões interessantes. Em outras palavras, podemos


dizer que quando forças externas atuam em um corpo ou sobre um conjunto qualquer de
partículas, o centro de massa se move de maneira exata como se toda a massa do sistema estivesse
concentrada em um único ponto e estivesse sob a ação de uma força igual à força resultante de
todas as forças atuantes.

O resultado destacado acima apresenta fundamental importância ao longo de toda a mecânica,


mesmo que não pareça. Esse resultado é corriqueiramente utilizado em diversas ocasiões e é ele
quem propicia a aplicação das leis de Newton. O fato é que, nessa aplicação, precisamos considerar
os corpos como sendo pontos, mesmo que sejam compostos por distribuições contínuas de
cargas. Além disso, esse resultado explica o motivo de apenas forças externas poderem alterar o
movimento de um determinado corpo.

3.1.5 Conservação do momento: o movimento é eterno?


Uma importante questão ao introduzir momento linear é o fato de que sua importância está
totalmente ligada à interação entre dois ou mais corpos. Nesse contexto, vamos analisar a seguinte
questão em que temos um sistema ideal de dois corpos interagindo entre si. Como exemplo desse
sistema, vamos considerar dois astronautas que se tocam ao flutuarem em uma região sem campo
gravitacional, no espaço sideral. Nesse caso, podemos considerar os astronautas como partículas
sendo que cada um exerce uma força sobre a outra. Segundo a terceira lei de Newton, essas forças
apresentam mesmo módulo e direção, mas sentidos opostos. Nesse contexto, as variações do
momento linear são iguais e contrárias.

Vamos a partir do presente momento transformar essa linguagem em uma linguagem mais
técnica. Dessa forma, vamos denominar como força interna a força que uma partícula exerce
sobre a outra em um determinado sistema. A força externa é aquela exercida sobre qualquer parte
de um sistema devido a um corpo externo fora do sistema considerado. Nesse caso, denotaremos
o primeiro astronauta de e o segundo de . A força que o astronauta faz em será denotada
por e a que o astronauta faz em será denominada . Como não estamos considerando
o campo gravitacional, o sistema não sofre a ação de nenhuma força externa. Nesse contexto,
dizemos que o sistema está isolado. Em termos dos momentos lineares dos astronautas e , a
força de interação entre eles pode ser, respectivamente, escrita como:

66
É importante destacar que o momento linear de cada astronauta varia, mas essa variação não
é independente. Isso deve seguir a lei da ação e reação de Newton, dessa forma:

Repare que as taxas de variações dos respectivos momentos lineares são iguais e contrárias,
assim como a terceira lei de Newton. Assim, podemos definir o momento linear total do sistema
que será composto por:

Substituindo essa definição na equação (30) obtemos uma lei de conservação do momento
linear representada por:

Apesar da simplicidade da equação acima, precisamos de um pouco de cuidado para analisá-


la. A primeira informação notada é que a taxa de variação do momento linear total P é nula.
Em outras palavras, isso quer dizer que o momento linear total é constante. Apesar disso, é
importante destacar que o momento linear de cada astronauta pode variar. Uma segunda
informação a ser destacada é que quando forças externas estão presentes, informações adicionais
devem ser incluídas no lado esquerdo, juntamente com as forças internas. Nesse caso, devido às
ações externas, geralmente, o momento linear total não é mantido constante. Mas quando a soma
vetorial de todas as forças é nula, aí sim o momento linear total é mantido constante.

De maneira mais sintetizada, destacamos que quando a soma vetorial das forças externas é
nula, o momento linear total do sistema é mantido constante.

Essa é sem dúvida uma maneira bem simples de definir a lei da conservação do momento
linear. É importante destacar que essa é uma consequência direta obtida por meio da terceira lei
de Newton. A grande vantagem em utilizar esse formalismo é que não precisamos conhecer de
fato as forças internas entre as partículas componentes do sistema.

Assim, a conservação do momento linear também significa que suas componentes, uma vez
que é uma grandeza vetorial, também são constantes. Ou seja, se P é o momento linear total:

67
suas componentes serão dadas por:

3.2 Colisões elásticas


Grande parte das pessoas, quando perguntadas sobre o que é colisão, irão responder
algo relacionado com algum desastre e acidentes envolvendo automóveis. No nosso contexto,
usaremos outro sentido para esse termo, mas não abandonaremos essas questões envolvendo
o saber cotidiano da população. No que se refere às colisões, iremos entender como sendo uma
interação muito forte entre dois ou mais corpos em que o tempo de interação é extremamente
curto. Isso faz com que esse termo englobe também questões como os acidentes e até mesmo
bolas de sinuca, nêutrons ao se chocarem com núcleos atômicos entre outros sistemas.

O importante a ser destacado é que quando as forças entre os corpos apresentarem


intensidade muito maior do que as forças externas que atuam no sistema, podemos desprezar
totalmente essas forças externas, além de podermos considerar o sistema como totalmente
isolado. Nesse contexto, existe conservação do momento linear. Em outras palavras, isso quer
dizer que o momento linear total do sistema é uma constante.

Em termos de colisões, existem algumas características que acabam diferenciando algumas


colisões das outras. Essas características serão totalmente exploradas na presente unidade, uma
vez que esses tipos de sistemas são muito aplicáveis em todas as áreas de conhecimento da física.

Quando uma determinada força entre dois corpos for também conservativa, isso quer dizer que
nenhum tipo de energia mecânica é adquirido ou perdido para o meio durante a colisão, a energia
cinética total do sistema em questão é a mesma antes e depois da colisão. Nesse caso, nomeamos
situações desse tipo de colisões elásticas. Isso é o mesmo que dizer que em colisões elásticas tanto a
energia cinética quanto o momento linear são conservados. Exemplos clássicos de colisões elásticas
são as bolas de sinuca, nesse caso, as bolas se deformam um pouco e acabam, em seguida, recuperando
a forma inicial. Parte da energia cinética é armazenada na forma de energia potencial elástica. Logo
em seguida, essa energia potencial elástica é convertida em energia cinética novamente.

3.2.1 Equações fundamentais


Em termos de colisões, considerando corpos macroscópicos ou microscópicos, todas
as informações necessárias são encontradas nas equações da conservação da energia e na
conservação do momento linear, sendo essas dadas matematicamente pelas equações:

68
Afinal, estamos reescrevendo as leis de Newton de duas maneiras alternativas e diferentes.
Sendo elas, é claro, a conservação da energia e a conservação do momento linear. No decorrer
do nosso conteúdo, todas essas informações e discussões mais avançadas serão apresentadas de
maneira mais prática, o que irá aumentar a assimilação do conteúdo, além de servir como critério
didático e ilustrativo.

3.2.2 Colisões elásticas unidimensionais


Como critério de ilustração, vamos analisar o que acontece na colisão elástica entre dois corpos
que denotaremos como A e B. Vamos inicialmente tratar o problema de maneira unidimensional
e, em seguida, bidimensional. No caso unidimensional, a velocidade está sobre uma linha reta.
Vamos adotar como eixo de referência o x. Denominaremos, então, como velocidades dos corpos
antes da colisão . Depois da colisão . Como nesse caso há a conservação de
energia, teremos:

Já para a conservação do momento linear teremos:

Fique ligado
Uma situação simples e interessante de ser estudada é o caso em que um dos
dois corpos se encontra inicialmente em repouso. Nesse caso, sua velocidade
inicial antes da colisão é nula e a complexidade matemática do problema é
reduzida de maneira drástica. Um caso desse tipo é feito em Young e Freedman
(2010). Em outras referências, como Halliday e Mosca (2009), Nussenzveig
(1981) e Tipler (2009), existem muitos outros exemplos resolvidos que podem
te auxiliar na assimilação do conteúdo.

É importante, aproveitando a equação (38), destacar novamente que o princípio da conservação


da energia é um dos mais importantes de toda a física. Além de ele ser uma reformulação das leis
de Newton, nenhum dos sistemas físicos podem violá-lo. Isso o torna com uma aplicabilidade em
todas as áreas da física, inclusive no estudo das colisões.

69
3.2.3 Colisões elásticas bidimensionais
Para o caso bidimensional, vamos considerar um exemplo em que temos a colisão de dois
discos de hóquei em cima de uma mesa com trilhos de ar tirando o possível atrito. Nesse caso, o
disco apresenta massa e o disco apresenta massa . A velocidade inicial do disco é
no sentido positivo do eixo x. Já sua velocidade final é desconhecida. O disco se encontra
inicialmente em repouso. Nesse contexto, precisamos calcular a velocidade final e os ângulos
formados com o eixo x, após a colisão. A figura “Colisão bidimensional” é um esquema ilustrativo
da situação relatada.

Figura 1 - Colisão bidimensional


Fonte: Elaborada pelo autor, 2021.

#ParaCegoVer: a imagem mostra um esquema ilustrativo da colisão bidimensional de dois


discos de hóquei, dando a direção dos dois discos antes e depois da colisão.

Nesse caso, como a colisão é bidimensional, precisaremos utilizar as equações da conservação


da energia mais as equações no eixo e do momento linear. Dessa forma, teremos, pela conservação
da energia:

Já a lei da conservação do momento linear para a componente fornece:

70
Para a componente teremos:

A determinação dos ângulos e é feita por técnicas simples de resolução de sistemas de


equações junto a identidades trigonométricas básicas. É claro que não existe uma regra para
resolver essas equações e você pode tentar da forma que achar melhor. Essa solução é bem
explorada em Young e Freedman (2010), em que são assumidos valores para as velocidades e a
determinação dos ângulos fica mais visível. Em outras referências, como Halliday e Mosca (2009),
Nussenzveig (1981) e Tipler (2009) há muitos outros exemplos resolvidos que podem te auxiliar
na assimilação do conteúdo.

Fique ligado

A determinação dos ângulos e é feita por técnicas simples de resolução


de sistemas de equações junto a identidades trigonométricas básicas. É claro
que não existe uma regra para resolver essas equações e você pode tentar da
forma que achar melhor. Essa solução é bem explorada em Young e Freedman
(2010), em que são assumidos valores para as velocidades e a determinação
dos ângulos fica mais visível. Em outras referências, como Halliday e Mosca
(2009), Nussenzveig (1981) e Tipler (2009) há muitos outros exemplos
resolvidos que podem te auxiliar na assimilação do conteúdo.

Repare que no caso das equações (43) e (44) teremos um sistema de duas equações e duas
incógnitas a serem determinadas. Nesse caso, as incógnitas são os ângulos a serem determinados.
Utilizando técnicas de resolução de sistemas e, uma vez que as velocidades são conhecidas, fica
fácil a determinação dos ângulos.

3.3 Colisões inelásticas


Quando em uma colisão a energia cinética do sistema, depois da colisão, é menor do que
antes da colisão, denominamos essa situação de colisão inelástica. Nos casos em que os corpos
permanecem unidos após a colisão, chamamos de colisão completamente inelástica.

Nesse contexto e já de antemão, mesmo introduzindo conceitos superficiais sobre as colisões,


podemos destacar que uma colisão inelástica não precisa, necessariamente, ser completamente
inelástica. É muito comum cometermos o erro de pensar que quando os corpos permanecem
unidos as colisões são inelásticas. Ao longo do nosso conteúdo, daremos exemplos sobre alguns
casos de colisão inelástica em que os corpos não ficam unidos.

71
Ainda podemos destacar e sintetizar essas informações da seguinte maneira: em todas as
situações em que as forças externas são desprezíveis, o momento linear se conserva e o momento
linear total é o mesmo antes e depois da colisão. Apenas no caso da colisão elástica a energia
cinética antes da colisão é igual à cinética depois da colisão.

3.3.1 Colisões totalmente inelásticas


Vamos no presente momento analisar o que ocorre, em termos de energia cinética e momento
linear, em uma colisão totalmente inelástica. Precisamos destacar que outra nomenclatura para
esse tipo de colisão muito utilizada é o de completamente inelásticas. Vamos então considerar a
colisão entre dois corpos nomeados de A e B. Nesse caso, sabemos que os corpos ficam colados
após a colisão e, por isso, possuem a mesma velocidade final. Vamos considerar a situação antes
da colisão de 1 e a situação após a colisão de 2. Dessa forma, para ambos os corpos, após a colisão:

Nesse contexto, como lei da conservação do momento linear, obteremos:

Isso quer dizer que se conhecermos a massa e as velocidades iniciais dos corpos, podemos
calcular a velocidade final comum dos corpos.

Vamos considerar que um corpo de massa e componente da velocidade, na direção x, igual


a colida de maneira inelástica com outro corpo de massa , inicialmente em repouso. De
acordo com (46) a velocidade depois da colisão dos dois corpos é dada por:

Nesse caso, iremos verificar que a energia cinética total, após a colisão completamente
inelástica, é menor do que antes da colisão. Repare que o movimento acontece apenas na direção
x. Então, as energias cinéticas antes e depois da colisão são dadas respectivamente por:

Dessa forma, a razão entre a energia cinética antes e depois da colisão é dada por:

72
É claro que, seguindo a equação acima, o termo no denominador é maior que o numerador.
Isso é suficiente para dizer que a energia cinética depois da colisão é menor do que antes da colisão.

3.3.2 Coeficiente de restituição


Para finalizar, é interessante trazermos para discussão uma quantidade extremamente
interessante que ajuda na caracterização das colisões. Tal quantidade é denominada coeficiente
de restituição. É importante destacar que essa quantidade não apresenta dimensão, portanto,
é adimensional. O coeficiente de restituição é medido de acordo com as velocidades entre os
corpos que estão envolvidos na colisão. Nesse contexto, o coeficiente de restituição é medido em
termos das velocidades relativas antes e depois da colisão. Outra característica interessante dessa
quantidade e que não podemos deixar de mencionar é o fato de que, através dele, é possível
identificar se houve a conservação total ou parcial da energia cinética, ou até mesmo se ela foi
totalmente dissipada.

Matematicamente, essa quantidade é definida como sendo a razão entre a velocidade relativa
de aproximação, no instante imediato antes da colisão, e a velocidade relativa de afastamento:

Já vimos que no caso de colisões elásticas há a conservação total da energia. Dessa forma, a
velocidade relativa de aproximação e de afastamento da colisão serão iguais. Consequentemente,
o coeficiente de restituição é unitário ( ).

Já para o caso de colisões parcialmente elásticas, há a dissipação parcial de energia. Nesse


caso, a velocidade relativa de aproximação é maior do que a de afastamento. Consequentemente,
o valor do coeficiente de restituição fica entre o valor nulo e o valor unitário ( ).

Para os casos de colisões inelásticas, os corpos permanecem juntos após a colisão. Isso quer
dizer que não existe velocidade relativa de afastamento. O coeficiente de restituição é então nulo
( ).

A tabela “Coeficiente de restituição” sintetiza os resultados obtidos por nós em todas as


situações discutidas.

73
Tabela 1 - Coeficiente de restituição
Fonte: Elaborada pelo autor, 2021.

#ParaCegoVer: a tabela é um esquema que sintetiza os tipos de coeficiente de restituição,


assim como as classificações das colisões.

Finalizando o conteúdo da presente unidade estamos aptos a relembrar que, além das leis
de Newton, podemos utilizar os princípios da conservação da energia e do momento. Essas são
versões alternativas das leis de Newton quando fica difícil suas aplicações. Vale lembrar que
esses princípios de conservação são aplicados à grande maioria dos sistemas físicos ocorridos na
natureza. Daí entendemos melhor sua grande importância.

74
Conclusão

Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• entender o conceito e a importância do momento linear;

• relacionar o momento linear com o impulso;

• escrever uma lei de conservação para o momento linear;

• entender, definir e utilizar as equações de conservação no caso das colisões;

• definir a quantidade denominada coeficiente de restituição.


IBLIOGRAFIA

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da física: mecânica. 4. ed. v.1. Rio de Janeiro:
LTC, 1996.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica. 3. ed. v. 1, Mecânica. São Paulo: Edgard Blucher Ltda,
1981.

PEGORARO, J. Como funciona o airbag na física. 2021. Youtube. Disponível em: https://www.you-
tube.com/watch?v=avLqzIE2cwQ. Acesso em: 18 abr. 2021.

TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros. v. 1. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

VEIT, E. A.; MORS, P. M.; TEODORO, V. D. Ilustrando a Segunda Lei de Newton no Século XXI. Rev.
Bras. Ensino Fís., São Paulo, v. 24, n. 2, p. 176-184, jun. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172002000200014&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 18
abr. 2021.

YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física I. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010.
UNIDADE 4

Dinâmica de rotações e gravitação


Introdução

Você está na unidade Dinâmica de rotações e gravitação. Conheça aqui assuntos totalmente
importantes em todas as áreas da física, sobretudo, sistemas compostos por muitas partículas.
Nesse contexto, iniciaremos com mais uma versão alternativa das leis de Newton para o caso de
corpos rígidos. Em outras palavras, iremos introduzir e definir as grandezas importantes nesse
contexto, como por exemplo, o momento de inércia, corpo rígido, momento angular e torque.
Em seguida, iremos expressar a segunda lei de Newton através dessas quantidades, para corpos
em que as dimensões são importantes na descrição do movimento. Para finalizar, iremos tratar o
assunto de gravitação universal de Newton e as leis de Kepler e suas implicações no sistema solar.

Bons estudos!
4.1 Momento de inércia e torque
Inicialmente, ao analisarmos o movimento de rotação de um corpo rígido, iremos considerar
a rotação em torno de um eixo fixo. Como eixo fixo, iremos levar em conta aquele que permanece
em repouso em relação a algum referencial inercial, além de não mudar de direção em relação a
esse eixo. Como exemplo, o corpo rígido que gira pode ser o eixo de um motor. Outro exemplo que
podemos citar pode ser também uma peça de churrasco girando em um espeto ou carrossel. A
figura abaixo representa os ponteiros de um velocímetro, que pode ser visto como um corpo rígido,
girando em torno de um eixo fixo. Repare que o eixo passa através do ponto perpendicularmente
ao plano do diagrama. Esse plano será denominado por nós por .

Figura 1 - Grandeza angular no ponteiro do velocímetro


Fonte: YOUNG e FREEDMAN, 2010, p. 287.

#ParaCegoVer: a figura é um esquema ilustrativo da rotação do ponteiro do velocímetro.

É importante destacar que uma das formas de descrever a rotação desse corpo é a escolha de
pontos específicos, como por exemplo o , localizado sobre o corpo. É óbvio que esse método,
mesmo que correto, apresenta algumas dificuldades de representação, por esse motivo pode
não ser o ideal. Isso porque requer duas coordenadas, dadas por , para a especificação
da posição do corpo no processo de rotação. Como maneira alternativa de representação,
é importante destacar que a linha permanece fixa no corpo e gira com ele. Nesse caso, o
ângulo theta descreve a posição da rotação do corpo. Então, utilizaremos essa grandeza como a
coordenada mais ideal de representação da situação destacada.

Repare que a coordenada angular de um corpo rígido pode apresentar valores positivos ou
negativos. Dessa forma, podemos escolher como positivo o sentido anti-horário ou o horário.
Nesses dois casos, a coordenada angular irá apresentar sinal positivo e negativo respectivamente.

Ao estudar o momento de uma partícula em linha reta, nas unidades iniciais, notamos que
foi extremamente importante a especificação do deslocamento ao longo da linha reta. Aqui, de

79
maneira análoga, iremos tratar o problema em termos do deslocamento angular, especificando o
sentido positivo da rotação.

De maneira mais natural possível, o movimento de rotação será descrito em termos da


coordenada angular positiva e medida em radianos. O valor da coordenada angular em radianos
é definido na forma:

Isso quer dizer que o ângulo medido em radianos é dado pela razão entre dois comprimentos,
que dá um número puro adimensional. Considerando a circunferência, seu comprimento que
delimita a fronteira circular é dada por vezes o raio. Dessa forma, em uma revolução completa
teremos:

Assim, podemos, pelos mesmos princípios, calcular a equivalência de

4.1.1 Velocidade e aceleração angular


Como já mencionado, a coordenada angular será a utilizada por nós para especificar a
posição de rotação de um determinado corpo rígido, em um determinado instante. Em outras
palavras, isso é tão importante que podemos descrever o movimento de rotação em termos de
uma taxa de variação desse ângulo. É claro que iremos sempre fazer analogia com as quantidades
e grandezas envolvidas nos casos dos movimentos retilíneos. Ou seja, vamos considerar uma linha
de referência de um corpo que gira e faz um ângulo com o eixo , em um instante . Em
um instante posterior , o ângulo variou para . A situação descrita acima é representada pela
figura “Movimento rotacional de um corpo rígido”.

80
Figura 2 - Movimento rotacional de um corpo rígido
Fonte: YOUNG e FREEDMAN, 2010, p. 287.

#ParaCegoVer: a imagem é um esquema ilustrativo da rotação de um corpo rígido destacando


as grandezas angulares.

A velocidade angular média do corpo rígido, em um intervalo de tempo, é definida da seguinte


maneira:

É importante destacar que o subíndice indica o giro do corpo em torno do eixo , que como
já mencionado, é perpendicular ao plano do diagrama. Dessa forma, a velocidade angular
instantânea é dada pelo seguinte limite:

Ao nos referirmos à velocidade angular, estamos tratando da velocidade instantânea e não da


velocidade angular média. Outro ponto interessante de ser observado é o fato de que a velocidade
angular pode ser positiva ou negativa, e isso depende da direção de rotação do corpo rígido.

81
Fique ligado
É importante entender muito bem a diferença entre velocidade linear e angular.
Para isso, vamos considerar em uma dimensão a velocidade linear . Nesse
caso, o corpo portador dessa velocidade está se deslocando ao longo do eixo
x. Agora, vamos considerar a velocidade angular . Nesse caso, o corpo
rígido gira em torno do eixo . Em outras palavras, isso quer dizer que o corpo
não está se deslocando ao longo do eixo z com velocidade Young e Freedman
(2010) são autores que discorrem sobre essa diferença.

É claro que, em um determinado corpo rígido, distintos pontos de sua constituição giram
e movem-se em distâncias diferentes, em um determinado instante de tempo e, por isso,
apresentam diferentes distâncias em relação ao eixo de rotação. Em contrapartida, como os pontos
são do mesmo corpo rígido, eles giram com o mesmo ângulo, em um mesmo instante. Em outras
palavras, isso quer dizer que, em um dado instante, todos os pontos de um determinado corpo
rígido giram com uma mesma velocidade angular. Como já mencionado, a velocidade angular é
positiva quando os ângulos são crescentes e negativa quando os ângulos são decrescentes.

Em termos de unidades, quando o deslocamento angular é medido em radianos, a unidade de


velocidade angular é dada em radiano por segundo ( ). É importante destacar algumas outras
unidades de velocidade angular, como por exemplo, a rotação por minuto ( ).

Também não podemos deixar de discutir o caráter vetorial da velocidade angular. Em outras
palavras, é a componente z do vetor velocidade angular . A direção da componente z do
vetor velocidade angular é a direção do eixo de rotação. A direção desse componente é dada
pela regra da mão direita do produto vetorial, isso quer dizer que o vetor velocidade angular será
positivo se apresenta a direção positiva do eixo z e negativa se apresenta direção negativa do
eixo x. O tratamento vetorial é extremamente importante nos casos em que a direção do eixo de
rotação é variável.

Vamos imaginar que a velocidade angular de um determinado corpo rígido apresente uma
variação. Nesse caso, fazendo uma analogia aos movimentos retilíneos, somos capazes de afirmar
que existe uma aceleração angular. Um exemplo bem interessante para ilustrar essa afirmação é
utilizar o pedal da bicicleta. Ao executar a pedalada de maneira mais vigorosa, as rodas irão girar
mais rápido. O caso contrário é caracterizado pelo freio. Em outras palavras, ao imprimir qualquer
tipo de variação no giro das rodas, você está criando uma aceleração que pode ser positiva ou
negativa. Nesses casos, respectivamente, o giro será aumentado e diminuído.

Vamos quantificar essa grandeza que denominaremos aceleração angular. Para isso,
consideremos como sendo a velocidade angular instantânea no instante a velocidade
angular instantânea no instante . A aceleração angular média é então:

82
Ou seja, a aceleração angular média nada mais é do que a razão entre a variação na velocidade
angular e o intervalo de tempo.

A velocidade angular instantânea é dada pelo seguinte limite:

A unidade de aceleração angular é o radiano por segundo por segundo, ou seja, radiano por
segundo ao quadrado ( ). A partir do presente momento iremos, sempre que usarmos o
termo aceleração angular, nos referir à aceleração angular instantânea e não à aceleração angular
média. Também é possível expressar a aceleração angular em termos da derivada da coordenada
angular, ou seja:

Em termos de notação vetorial, podemos também fazer uma analogia com a aceleração em
movimentos lineares. Dessa forma, a aceleração angular é a derivada temporal do vetor velocidade
angular. O movimento rotacional pode ser:

• Acelerado

Quando o vetor aceleração angular apresenta o mesmo sentido do vetor velocidade angular.

• Desacelerado

Quando o vetor aceleração angular apresenta o sentido contrário ao do vetor velocidade.

É fundamental ressaltar que podemos encontrar relações entre grandezas lineares e angulares
e também utilizá-las para a caracterização dos movimentos dos corpos rígidos, que serão discutidos
mais adiante.

4.1.2 Momento de inércia de um corpo


Antes de iniciarmos, é importante mencionar o fato de que a presente seção será composta
por noções de cálculo integral. Também destacaremos algumas boas referências de cálculo
diferencial e integral para que você possa consultar.

Começaremos nosso estudo considerando corpo rígido como uma distribuição contínua de
massa. Como exemplos dessas distribuições, podemos citar os cilindros maciços ou até mesmo as

83
esferas maciças. Repare que nenhum desses casos pode ser representado por massas puntiformes.
Os casos mencionados são caracterizados por apresentarem momentos de inércia compostos pela
soma das massas e as distâncias em relação ao eixo de rotação. É aqui que entra os conceitos de
integral. Ela é introduzida para efetuar a soma dessas quantidades.

Para entender melhor o que está por trás disso, vamos considerar um corpo como sendo
formado por inúmeros pequenos pedaços de massa que serão caracterizados por . Nesse
contexto, todos os pontos contidos no interior desse elemento apresentam a mesma distância
perpendicular em relação ao eixo de rotação. Essa distância denominaremos como r e, então, o
momento de inércia do corpo rígido será definido por:

Nesses casos, é importante notar que as quantidades e r devem ser expressas em termos
das mesmas variáveis de integração. Quando de fato o objeto é unidimensional, como por exemplo
as barras delgadas, utilizamos como caracterização as coordenadas x ao longo do comprimento
e com o incremento . Já para o caso tridimensional, o elemento pode ser descrito em
termos do volume e da densidade do corpo, uma vez que a densidade ou massa específica do
corpo é dada por , de maneira que a equação acima se torne:

A equação (10) indica que o momento de inércia de um determinado corpo depende diretamente
da sua densidade, ou melhor, como essa grandeza varia em relação ao volume. Quando a densidade
de um determinado corpo é uniforme, a constante pode sair da integral, ou seja:

Uma observação interessante e que não podemos deixar de destacar é o fato de que devemos
relacionar o elemento de volume com as diferenciais das coordenadas utilizadas para descrever
o corpo e que são as variáveis de integração . O elemento de volume deve ser
sempre escolhido de modo que todos os pontos estejam aproximadamente situados a uma mesma
distância em relação ao eixo de rotação. Uma outra questão interessante é que os limites da integral
são sempre determinados pelas dimensões e forma do corpo. Isso quer dizer que corpos com
geometrias regulares podem ser mais fáceis de serem representados por integrais mais simples de
serem executadas.

4.1.3 Torque e a segunda lei de Newton aplicada a rotações


Nessa altura da nossa construção do conhecimento, já estamos aptos a afirmar que as
determinadas forças que atuam em um corpo podem de fato afetar seu movimento de translação.
Em outras palavras, isso quer dizer que o movimento do corpo, no espaço, pode ser alterado

84
devido à ação das forças. Fazendo uma analogia com esse contexto, iremos discutir, de fato, quais
aspectos relacionados a uma determinada força determinam a sua eficácia em alterar ou até
mesmo causar o movimento rotacional. Como a força é uma grandeza de origem vetorial, seu
módulo, sua direção, seu sentido e o ponto de aplicação serão extremamente importantes para
tal discussão. Um bom exemplo que ilustra essas afirmações é a utilização da chave de boca para
desfrouxar parafusos em uma roda de carro. Nesse caso, a força aplicada próxima à extremidade
da chave é muito mais eficiente do que a força aplicada próxima ao parafuso. A situação descrita
acima é representada pela figura “Força aplicada na chave de boca”.

Figura 3 - Força aplicada na chave de boca


Fonte: YOUNG e FREEDMAN, 2010, p. 287.

#ParaCegoVer: a imagem é um esquema ilustrativo da força aplicada a uma chave de boca


para desafrouxar um parafuso.

De maneira análoga, outro exemplo que pode ser citado é o caso da rotação de uma porta.
Uma força aplicada próximo às dobradiças (eixo de rotação) é menos eficiente do que a força
aplicada próximo à maçaneta. A quantidade responsável pela rotação e que caracteriza a medida
quantitativa de como uma determinada força pode causar rotação é o torque. Nesse caso, dizemos
que a força aplica um torque em torno do ponto de rotação. O torque é uma grandeza
vetorial, sua definição é dada através do seguinte produto vetorial:

É importante destacar que o módulo do produto vetorial acima é dado em termos do ângulo
entre os vetores , sendo assim:

85
Nesse caso, como já mencionado, é o ângulo entre os dois vetores. Para o caso especial em
que os dois vetores envolvidos fazem 90º entre si, a equação acima se reduz à:

Na equação acima, é a força e a distância ao ponto , onde a força está sendo aplicada.

Em termos mais técnicos, a palavra torque é mais utilizada pelos físicos, já os engenheiros, em
geral, referem-se a essa grandeza com a palavra momento. Em ambos os casos, a quantidade
é nomeada como braço de alavanca ou simplesmente braço do momento. Também é importante
destacar que o braço de alavanca é a distância perpendicular em relação ao eixo de rotação.

Fique ligado
No presente momento da construção do nosso conhecimento, você já deve ter
percebido que o torque é sempre medido em relação a um ponto específico.
Isso quer dizer que, se deslocarmos a posição desse ponto, o torque de cada
força aplicada também pode sofrer alterações. Bons exemplos desse tipo são
feitos em Young e Freedman (2010). Em outras referências, como Halliday e
Mosca (2009), Nussenzveig (2013) e Tipler (2009) existem muitos outros
exemplos resolvidos que podem auxiliá-lo na assimilação do conteúdo.

Em termos de unidades de medidas, no Sistema Internacional de Unidades, o torque é medido


em Newton vezes o metro, que nada mais é do que a unidade de força multiplicada pela unidade
de distância.

De maneira sintetizada e bem geral, ao considerar uma determinada força sendo aplicada
em um ponto , definido pelo vetor posição r em relação a um ponto de referência escolhido ,
podemos calcular o torque de três maneiras diferentes, são elas:

• Determinação direta do braço de alavanca e utilização de

• Determinação do ângulo entre os vetores e r, além do braço que será . Nesse caso,
o torque será

• Força pode ser representada em termos de uma componente radial, dada por , ao
longo da direção de e também do componente tangencial ortogonal a r. Ambas as
quantidades apresentam ângulo reto.

86
Fique ligado
Como já mencionado, o torque é uma grandeza vetorial, ou seja, não pode ser
dado em termos do produto escalar entre as grandezas vetoriais envolvidas.
Mais especificamente, o torque é definido através de um produto vetorial na
seguinte forma:

sendo r o vetor posição, em relação ao ponto de rotação, e a força aplicada a


uma distância r. Vale lembrar que o resultado do produto vetorial é caracterizado
pela regra da mão direita. Para o torque, todas as regras de produto vetorial são
satisfeitas. Você pode encontrar boas discussões sobre tal assunto em Young e
Freedman (2010); Halliday e Mosca (2009); Nussenzveig (2013) e Tipler (2009).

Diante de todas as informações apresentadas e discutidas até o presente momento, finalmente


estamos aptos a construir uma relação fundamental no contexto da dinâmica de um determinado
corpo rígido. Essa relação será dada entre o torque e a aceleração angular. Nesse contexto, iremos
verificar que a aceleração angular de um corpo rígido é diretamente proporcional à soma dos
componentes do toque ao longo de um determinado eixo de rotação. O momento de inércia é
então o coeficiente de proporcionalidade. Para que essas informações sejam realmente válidas e
comprovadas, vamos considerar um sistema constituído de inúmeras partículas e escolheremos,
como eixo de rotação, o . Vamos considerar então que a primeira partícula seja caracterizada
pela massa , estando a uma distância do eixo . Dessa forma, a força resultante
atuando sobre a partícula irá apresentar componente radial, dada por , e componente
tangencial, dada por , que é tangente à circunferência de raio , ao longo da qual a partícula
se move quando o corpo gira, e um componente ao longo do eixo de rotação. Nesse contexto,
a segunda lei de Newton para a componente tangencial fornece:

Podemos reescrever a componente tangencial da aceleração, da primeira partícula, em termos


da aceleração angular . Dessa forma:

Assim:

Repare que o lado direito da equação é idêntico ao torque ( ) da força resultante em relação
ao eixo de rotação. É claro que o subíndice no torque indica que ele é capaz de alterar o movimento

87
ao longo do eixo de rotação. A situação acima descrita é representada pela figura “Relação entre
as grandezas envolvidas na rotação de um corpo rígido”.

Repare que o lado direito da equação é idêntico ao torque () da força resultante em relação ao
eixo de rotação. É claro que o subíndice no torque indica que ele é capaz de alterar o movimento
ao longo do eixo de rotação. A situação acima descrita é representada pela figura “Relação entre
as grandezas envolvidas na rotação de um corpo rígido”.

Figura 4 - Relação entre as grandezas envolvidas na rotação de um corpo rígido


Fonte: YOUNG e FREEDMAN, 2010, p. 287.

#ParaCegoVer: a imagem é um esquema ilustrativo das grandezas envolvidas na rotação de


um corpo rígido.

É importante destacar que nenhum dos componentes ou contribui para o torque,


em torno do eixo . Isso porque nenhum deles produz variação da rotação da partícula ao redor
desse eixo. Repare também que o lado esquerdo da equação é idêntico ao momento de inércia
multiplicado pela aceleração angular. Dessa forma, podemos reescrever a equação acima na forma:

Essa é a equação obtida para uma das inúmeras partículas que compõem o corpo rígido.
Realizando processo análogo para todas as outras partículas constituintes, encontramos uma
equação final dada por:

Fazendo uma analogia com a segunda lei de Newton, podemos afirmar que a equação acima
é, sem dúvida, a equação fundamental para sistemas físicos em rotação compostos por corpos
rígidos. Ou seja, se a segunda lei de Newton afirma que a força resultante sobre uma partícula
é igual à massa multiplicada pela aceleração, a equação acima diz que o torque resultante sobre

88
um determinado corpo rígido é igual ao momento de inércia, em relação ao eixo de rotação,
multiplicado pela aceleração angular.

É importante destacar que a aceleração angular é a mesma para todas as partículas que
compõem o corpo rígido. Essa lei é aplicada em apenas sistemas contendo corpos rígidos. Cada
partícula em que as forças internas e externas são atuadas apresentam um torque que é dado pela
soma de todos os torques. Seguindo a terceira lei de Newton, as forças internas de interação entre
duas partículas são iguais e apresentam sentidos diferentes. Uma vez que essas forças atuam ao
longo da linha que une tais partículas, os braços de alavancas, em relação ao qualquer eixo de
rotação, são iguais.

Dessa forma, os torques para cada partícula são iguais, mas de sentidos contrários, resultando
em um torque nulo. É claro que todos os torques internos devem reproduzir resultante nula de
forma que a equação (17) incluía apenas torques das forças externas. Você pode consultar mais
informações, boas discussões e inúmeros exemplos resolvidos e específicos sobre esse assunto
em boas referências, como Young e Freedman (2010); Halliday e Mosca (2009); Nussenzveig
(2013) e Tipler (2009).

4.1.4 Energia cinética rotacional


Vimos nas seções anteriores que, por exemplo, quando pedalamos uma bicicleta estamos
aplicando forças em um corpo que gira e acaba realizando trabalho sobre ele. Na natureza, muitos
eventos semelhantes ocorrem com frequência e podemos dessa forma descrever esse trabalho
em termos do torque e também do deslocamento angular.

Para isso, vamos supor uma força tangencial atuando sobre a periferia de uma roda
contendo um pivô central. Uma situação interessante que ilustra bem um caso desse tipo seria
uma criança correndo ao empurrar um carrossel de um parque de diversões. Nesse caso, a roda
gira produzindo um deslocamento angular infinitesimal dado por em torno do eixo fixo durante
um intervalo de tempo também infinitesimal . O trabalho realizado pela força tangencial,
enquanto um ponto da periferia se move a uma distância , é dado por:

Observe que a quantidade é o torque produzido pela força tangencial, então:

Realizando a integração na variável angular, encontramos que o trabalho realizado pelo


torque durante um deslocamento angular é:

89
Uma observação importante é que, quando o torque permanece constante, essa integral se
transforma em uma simples multiplicação, ou seja:

Outra importante observação é que se a força atuante apresentasse uma componente radial,
essa não realizaria trabalho. Outro fator a ser discutido é que quando um torque realiza trabalho
em um determinado corpo rígido, há uma variação de energia cinética igual ao trabalho. Em
outras palavras, vamos considerar como o torque resultante sobre um determinado corpo
rígido. Vamos supor que o momento de inércia do corpo rígido seja constante, isso quer dizer que
a equação (17) é válida. Então:

Como o torque na equação acima é resultante, então a integral se torna um trabalho total
realizado sobre todo o corpo rígido. Isso quer dizer que:

A variação da energia cinética de rotação fica dada como sendo igual ao trabalho realizado
pelas forças externas do corpo. Essa é uma equação bem parecida, ou análoga, ao teorema do
trabalho-energia para uma partícula em um movimento linear.

Em termos de potência, teremos:

Na equação acima, o termo é a taxa de realização do trabalho, que é a mesma coisa que
potência, já o termo é a velocidade angular, ou seja:

Isso quer dizer que, quando um torque atua em um determinado corpo rígido, ele gira com
velocidade angular . A potência então é dada pelo produto do torque resultante e velocidade
angular . Essa, mais uma vez, é uma das equações que pode ser análoga ao caso de movimentos
lineares em que a potência é dada pelo produto escalar do vetor força com o vetor velocidade.

4.2 Momento angular


No presente momento, você deve ter percebido que estamos sempre fazendo uma analogia
com as grandezas e quantidades presentes no movimento de rotação com as do movimento
retilíneo, também conhecido como movimento de translação de uma determinada partícula. Já
discutimos anteriormente sobre a grandeza momento linear, mas no presente contexto, iremos

90
associar por analogia a essa grandeza a quantidade denominada momento angular. Essa é uma
grandeza de caráter vetorial definida na forma:

A quantidade representada por é o denominado momento angular e as quantidades


denominadas por são respectivamente as grandezas raio vetor e momento linear. Em
termos de unidade, o momento angular é dado por . Baseando-nos nessas informações,
vamos discutir algumas situações interessantes sobre o momento angular nas seções seguintes.

4.2.1 Momento angular de um sistema de partículas


Vamos inicialmente tratar o caso de um sistema de partículas em que uma determinada
partícula se move no plano . Dessa forma, seu vetor posição é dado por r e seu momento linear
. A figura “Grandezas envolvidas no estudo do momento angular” é uma ilustração da
situação tratada.

Figura 5 - Grandezas envolvidas no estudo do momento angular


Fonte: YOUNG e FREEDMAN, 2010, p. 287.

#ParaCegoVer: imagem é um esquema ilustrativo da rotação de um corpo rígido destacando


as grandezas envolvidas.

O momento angular é o vetor dado ortogonal ao plano . Repare que a direção desse vetor
é dada pela regra da mão direita originada no produto vetorial entre as grandezas envolvidas. O
módulo do vetor momento angular, segundo a definição de produto vetorial, é dado por:

91
Nesse caso, é a distância perpendicular do ponto até a linha da direção do vetor v. Essa é
a quantidade que desempenha o papel do braço de alavanca, para o momento linear, tratado no
caso do torque em seções passadas.

É importante destacar, reafirmar e relembrar que quando uma determinada força resultante
atua em uma partícula, seu momento linear e sua velocidade apresentam variações. Isso quer
dizer que o momento angular também pode apresentar variações. Com essas informações, iremos
mostrar que a taxa de variação do momento angular é igual ao torque da força resultante. Para
isso, iremos fazer a seguinte derivada temporal:

O primeiro termo dado por só pode ser zero, por se tratar de um produto vetorial entre
vetores iguais. Em outras palavras, isso quer dizer que são vetores paralelos, dessa forma:

Onde representa o ângulo formado entre os vetores (SANTOS, 2007). Dessa forma, como os
vetores são paralelos e o ângulo entre eles é de 180º, esse produto vetorial será igual a 0.

Segundo Nussenzveig (2013), a segunda derivada do vetor posição é o vetor aceleração, logo,
podemos perceber que, esse segundo termo será dado pelo produto vetorial entre a posição e a força.

No segundo termo, podemos aplicar a seguinte álgebra:

Em palavras, isso quer dizer que a taxa de variação do momento angular de uma determinada
partícula é igual ao torque da força resultante que atua sobre ela. Isso é análogo ao fato de que a
força resultante é igual à variação do momento linear.

4.2.2 Momento angular de um corpo rígido


O momento angular total de um corpo rígido que gira ao redor do eixo e com uma velocidade
angular pode ser obtido baseado nas informações fornecidas até o presente momento.

Precisamos inicialmente considerar uma fatia fina do corpo rígido que está situada no plano
. Cada uma das partículas contidas na fatia se move em um círculo com centro na origem. Em cada
instante, a velocidade linear é perpendicular ao vetor posição. Dessa forma, teremos:

92
A direção e o sentido do vetor momento angular para cada partícula, como já mencionado, são
dados pela regra da mão direita.

O momento angular total da fatia do corpo é a soma do momento angular de cada partícula.
Dessa forma:

sendo o momento de inércia da fatia do corpo rígido ao redor do eixo .

Esse procedimento pode ser realizado várias vezes para todas as fatias que sejam paralelas
ao plano . Para os pontos fora desse plano teremos uma dificuldade, pois o vetor posição r
terá componentes na direção e no sentido do eixo de rotação e também dos eixos e
. Essas informações fazem com que cada uma das partículas apresente momento angular com
componente perpendicular ao eixo de rotação .

Apesar disso, quando o eixo for de simetria, os componentes perpendiculares de partículas


que estejam em lados distintos irão se anular. Dessa forma, quando o corpo girar ao redor de um
eixo de simetria, o valor do momento angular irá permanecer ao longo do eixo de simetria,
sendo seu módulo dado por .

A velocidade angular também irá permanecer ao longo do eixo de rotação, apesar disso, para
um corpo rígido girando ao redor de um eixo de simetria, o vetor momento angular e velocidade
angular apresentam a mesma direção e também o mesmo sentido. Dessa forma:

A taxa de variação do momento angular e o torque total ficam dados respectivamente por:

4.2.3 Conservação do momento angular


Vimos na seção anterior que o momento angular serve como uma alternativa para o princípio
fundamental da dinâmica das rotações e isso também será muito importante para que consigamos
elaborar um princípio de conservação do momento angular. Como já mencionado, os princípios da
conservação de energia e de momento são leis que se estendem em todas as áreas e escalas da
natureza, daí toda sua importância para a ciência em geral. Isso tudo é possível quando o torque
externo resultante, que atua em um determinado sistema, é nulo. Nesse caso, o momento angular

93
do sistema permanece constante, ou seja, se conserva.

Vamos supor inicialmente que temos um corpo exercendo uma força sobre o corpo
. O torque correspondente será dado por . Conseguimos então escrever, respectivamente:

De acordo com a terceira lei de Newton, teremos que , além disso, vamos
considerar que os torques atuam ao longo da mesma linha e, no entanto, seus braços de alavanca
são iguais. Dessa forma, os torques dessas forças são iguais em módulo apresentando sentidos
contrários, isso é convertido na seguinte equação:

A soma dos momentos angulares é igual ao momento angular total que se conserva, ou seja:

Uma observação importante é que os torques gerados pelas forças internas conseguem
transferir momento angular de uma parte para outra do corpo rígido. Apesar disso, não podem
alterar o momento angular total do sistema.

4.3 Gravitação
É fato que as primeiras investigações envolvendo a ciência denominada física foram relacionadas
a questionamentos sobre o céu noturno. Perguntas essas, como por exemplo, por que a Terra
não cai chocando com a Terra? Por que os planetas e as estrelas se movimentam no céu? Essas e
muitas outras questões foram muito discutidas na época e isso levou ao desenvolvimento da teoria
gravitacional, ou seja, o estudo das interações gravitacionais entre dois ou mais corpos massivos.

A gravitação é uma das quatro classes de interações presentes na natureza e, sem sombra de
dúvidas, foi a primeira a ser estudada. Como por exemplo, Newton descobriu que a interação fez
a maçã cair em sua cabeça e que essa interação é a mesma que mantém os planetas em órbita,
em torno do Sol. Esse fator foi o pontapé inicial para o desenvolver da denominada mecânica
celeste e a dinâmica dos astros. Nos dias atuais, a mecânica celeste nos permite determinar como
conseguimos colocar satélites nas órbitas da Terra, ou escolher a trajetória exata para o envio
de uma nave espacial a outro planeta. Todas essas discussões e informações serão tratadas no
presente tópico.

94
4.3.1 Lei de Newton da gravitação
Um dos exemplos mais utilizados sobre atração gravitacional é, sem dúvida, a força peso que
atrai um determinado corpo massivo para o centro da Terra. Através de estudos do movimento
da luz e também dos planetas, Newton conseguiu descobrir o caráter fundamental da atração
gravitacional entre dois ou mais corpos massivos da natureza. A lei da gravitação de Newton foi
publicada no ano de 1687 e diz que: “qualquer partícula do universo atrai qualquer outra partícula
através de uma força diretamente proporcional com o produto das respectivas massas. Essa força
é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre as partículas”.

Em termos matemáticos, teremos:

Nesse caso, é o módulo da força gravitacional. Essa é a força que atua em cada partícula
massiva com as respectivas massas dadas por e .A variável r é o módulo do vetor distância
entre os dois corpos e é a constante física fundamental denominada constante gravitacional e
assume o valor .

É importante destacar que a equação (40) indica uma força gravitacional que diminui com o
aumento da distância, conforme já comentado. Um bom exemplo a ser citado seriam algumas
estrelas. Apesar de muitas serem bem mais massivas do que o Sol, elas se encontram muito
distantes da Terra e, por isso, podem ser totalmente desprezadas devido à força gravitacional de
baixa intensidade.

Um importante detalhe a ser bem frisado é a diferença entre as constantes e . Tome


muito cuidado, pois é o módulo do vetor aceleração da gravidade e é a constante universal
da gravitação. Outro detalhe bem interessante de ser explorado é que a força gravitacional sempre
atua ao longo da linha que une as duas partículas e isso define pares de ação e reação. Essas forças
apresentam módulos iguais, porém sentidos diferentes. Em outras palavras e, por exemplo, a força
com que você atrai a Terra é a mesma que a Terra te atrai e isso não é notado devido ao fato de
que a Terra é muito mais massiva que você (cerca de 1023).

Diante de todas as informações apresentadas, enunciamos a lei de gravitação em termos


da interação entre partículas. Para o caso de corpos com distribuições de massa com simetrias
esféricas, como por exemplo esferas maciças, a lei gravitacional continua a mesma. Apesar disso,
quando modelamos a Terra como um corpo esférico massivo, a força que ela exerce sobre uma
determinada partícula ou sobre um corpo de simetria esférica também é válida desde que o corpo
esteja situado fora da Terra. Isso será melhor discutido mais adiante.

Para os pontos dentro da Terra, a situação pode ser diferente. Imagine que pudéssemos fazer
um furo até o centro da Terra. Através desse furo medimos a força gravitacional em diferentes

95
profundidades do diâmetro e obtemos que a força gravitacional diminui com o aumento da
profundidade. Quando um corpo penetra no interior terrestre, ou em qualquer outro corpo esférico,
as massas dos pedaços externos, opostas em relação ao centro, exercem forças em sentidos
contrários. No ponto localizado exatamente no centro da Terra, a força gravitacional é nula.

Esses tipos de corpos são bem interessantes de serem estudados, pois os planetas e estrelas
apresentam uma tendência em serem esfericamente simétricos. Nesse caso, todas as partículas de
um corpo sofrem a ação de forças gravitacionais que possuem a tendência de aproximá-las entre
si e por isso as partículas se movem para minimizar a distância entre elas. Isso é o que justifica a
forma natural do corpo esférico. Uma curiosidade é que quando um determinado corpo celeste
apresenta massa pequena, esse efeito é bastante diminuído e isso é devido à baixa intensidade da
força gravitacional. Dessa forma, os corpos podem não assumir formas esféricas.

4.3.2 Energia potencial gravitacional


A partir do momento em que desenvolvemos o conceito de energia potencial, consideramos
a força gravitacional que atua sobre um determinado corpo, levando em conta a constante em
módulo direção e sentido. No presente contexto, sabemos que a força gravitacional é dependente
da distância entre os corpos massivos envolvidos. Isso quer dizer que em problemas que as
distâncias entre os copos variam, podem levar a forças gravitacionais variadas. Com a finalidade
de obter essas expressões, iremos considerar um corpo massivo, com massa m, fora da Terra. Para
esse caso, vamos calcular o trabalho realizado pela força gravitacional quando o corpo se move ao
longo da reta que une o centro da Terra do ponto :

Na expressão acima, o termo dado por é a componente radial da força gravitacional. Em


outras palavras, isso quer dizer que o componente aponta para fora do centro da Terra. Como a
força aponta para o centro, é negativo. Então:

Fazendo a substituição da equação (42) em (41), obtemos que o trabalho é dado por:

A trajetória, nesse contexto, pode não ser retilínea, pois o trabalho depende apenas dos
pontos inicial e final. Dessa forma, a energia potencial como sendo uma correspondência:

A energia potencial gravitacional, então, será dada por:

96
Repare que a expressão acima mostra que a energia potencial gravitacional depende do
corpo de massa m e da distância entre o corpo e a Terra. Em outras palavras, quando o corpo
se afasta da Terra, a distância r aumenta, a força gravitacional realiza um trabalho negativo e a
energia potencial aumenta. Quando um corpo cai na direção da Terra, a distância diminui e a força
gravitacional realiza um trabalho positivo, a energia potencial gravitacional então diminui.

4.3.3 Órbitas e energia


Uma importante observação que será tratada nesta seção, diante de todas as informações
apresentadas e discutidas até o presente momento, será uma situação de muita aplicabilidade.
Vamos considerar a região da vizinhança da superfície terrestre. Nesse caso, a expressão da
energia potencial gravitacional se reduz ao caso simples de que . Vamos escrever a
seguinte expressão:

Quando o corpo se encontra nas vizinhanças da superfície terrestre, podemos fazer a seguinte
substituição:

Utilizando o fato de que ,obtemos:

Ao substituir cada r pelo respectivo , obtemos a equação referente ao trabalho realizado por
uma força gravitacional constante. Em outras palavras, isso quer dizer que:

Baseados em todas as informações introduzidas e discutidas até o presente momento, estamos


aptos a discutir, com mais detalhes, os casos envolvendo as órbitas de satélites e de planetas em
sistemas gravitacionais. Dessa maneira, teremos a capacidade de verificar quais os fatores que
determinam as propriedades das órbitas e como esses corpos massivos permanecem em órbitas.
Vamos considerar o lançamento de um projétil a partir de um determinado ponto , em uma
direção , tangente à superfície terrestre. As trajetórias de (1) até (7) mostram o aumento da
velocidade inicial. Nas trajetórias (3) e (5), o projétil não retorna para o solo e acaba tornando um
satélite artificial da Terra. Se não existir nenhuma força retardadora, a velocidade quando retorna
ao ponto é igual à velocidade inicial. Nesse caso, o corpo repete o movimento de maneira

97
indefinida. As trajetórias (1) até (5) se fecham nelas mesmas e, por isso, são denominadas órbitas
fechadas. As órbitas fechadas são elipses ou, simplesmente, segmentos de elipses. A trajetória (4) é
uma circunferência, que nada mais é do que um caso específico da elipse. Já as órbitas (6) e (7) são
denominadas abertas. Repare que nessas trajetórias o projétil não retorna ao ponto A e acaba se
afastando cada vez mais da Terra. A ilustração que reproduz a situação descrita é dada pela figura
“Órbitas ao redor da Terra”.

Figura 6 - Órbitas ao redor da Terra


Fonte: YOUNG e FREEDMAN, 2010, p. 11.

#ParaCegoVer: a imagem é um esquema ilustrativo dos tipos de órbitas ao redor da Terra.

O caso mais simples de trajetória, como já mencionado, é o de órbitas circulares. Esse é


também um importante assunto a ser discutido, principalmente pelo fato de que muitos satélites
artificiais possuem órbitas quase circulares ao redor da Terra. As órbitas dos planetas do sistema
solar também são exemplos bem aproximados de órbitas circulares. De certa forma, o caso
de órbitas circulares de satélites está enquadrado no movimento circular uniforme em que a
velocidade é constante e sua velocidade tangencial é suficiente para manter o satélite ao redor da
Terra de maneira que sua distância sempre permaneça constante em relação à Terra.

Nesse caso, o raio da órbita é medido a partir do centro terrestre e a aceleração do satélite
é dada pelo módulo da aceleração centrípeta cujo sentido é sempre apontado para o centro da
Terra. Seguindo a lei da gravitação e a teoria do movimento circular, teremos que a força resultante
centrípeta deve ser igual à lei da gravitação universal, ou seja:

Isolando a velocidade no termo da direita, obtemos a seguinte expressão:

98
Essa é a relação que mostra a importância da escolha da velocidade dependente da distância.
É a relação que expressa a velocidade de um satélite em órbita circular. Além disso, a expressão
acima mostra que o movimento de um satélite não apresenta dependência da massa.

Utilizando mais uma vez os conhecimentos de movimento circular, podemos obter a seguinte
expressão da velocidade em termos do raio e do período da órbita, ou seja:

De maneira explícita, obteremos para o período a seguinte expressão:

É importante destacar que as equações (52) e (53) mostram as órbitas maiores correspondentes
às velocidades mais baixas e períodos mais longos. Uma importante relação a ser determinada é a
da energia mecânica para esses casos, ou seja:

Observe que a energia mecânica total de uma determinada órbita circular é negativa e igual
à metade da energia potencial gravitacional. Isso quer dizer que ao aumentar o raio r da órbita, a
energia mecânica também será aumentada.

Vamos no presente momento entrar em uma das discussões mais fascinantes envolvendo
gravitação e corpos celestes: as leis de Kepler. Inicialmente, vamos destacar o fato de que a palavra
planeta apresenta uma origem grega com o significado “errante”. Na verdade, sabemos nos dias
atuais que os planetas mudam constantemente suas posições no céu em relação ao fundo. Como
fundo, consideramos as estrelas e todo o resto. Sem sombra de dúvidas, um dos acontecimentos
mais importantes que marcaram os séculos XVI e XVII foi a verificação de três fatores: a Terra
é também um planeta e todos os planetas descrevem órbitas ao redor do Sol. Os movimentos
aparentes dos planetas, vistos por nós na Terra, são utilizados para determinar, de maneira
precisa, as suas órbitas.

Em 1543, foram publicadas por Copérnico a primeira e a segunda conclusão. Já a determinação


das órbitas planetárias foi realizada por volta dos anos 1601 e 1619, pelo famoso astrônomo Johannes
Kepler. Para isso, Kepler utilizou um conjunto de dados, bastante volumosos, sobre os movimentos
aparentes dos planetas. Através de um método envolvendo várias tentativas, Kepler descobriu três
leis empíricas descrevendo com alta precisão os movimentos dos planetas. São elas:

99
• I A órbita de cada planeta é elíptica e o Sol ocupa um dos focos da elipse.

• II O Sol e um determinado planeta estão ligados a uma linha que varre áreas iguais em
intervalos de tempos iguais.

• III Um planeta apresenta período proporcional à potência 3/2 do comprimento do eixo


maior da elipse, descrita pelo respectivo planeta.

O mais interessante disso tudo é que Kepler não sabia o porquê de os planetas apresentarem
esse tipo de comportamento em seus movimentos. Isso se prolongou até três gerações mais tarde,
quando Newton conseguiu deduzir todas as três leis de Kepler, de maneira matemática.

Vamos, primeiramente, considerar as órbitas elípticas mencionadas na primeira lei de Kepler. A


geometria de uma elipse corresponde a uma dimensão maior denominada eixo maior. O semieixo
maior é a metade desse comprimento. A soma das distâncias é a mesma para todos os pontos
sobre a curva. O Sol se encontra em um dos dois focos. No outro foco, não existe nada. É importante
destacar que as distâncias de cada foco até o centro da elipse é um número sem dimensões que
fica entre 0 e 1. Essa distância é denominada excentricidade. Quando a excentricidade é nula, a
elipse se transforma em uma circunferência.

É importante ressaltar que, apesar de os movimentos dos planetas serem elipses, são
aproximadamente circulares. Newton acabou verificando que quando uma força proporcional ao
quadrado da distância atua sobre um determinado corpo, as únicas órbitas fechadas possíveis são
as elipses e a circunferência. Também conseguiu provar que, quando abertas, as órbitas devem
ser parábolas ou hipérboles. Para a determinação de todas essas informações, necessitamos de
conhecimentos avançados de cálculo diferencial, que não é nosso presente objetivo. A descrição de
uma elipse e suas características são representadas pela figura “Esquema ilustrativo de uma elipse”.

Figura 7 - Esquema ilustrativo de uma elipse


Fonte: YOUNG e FREEDMAN, 2010, p. 14.

100
#ParaCegoVer: a imagem é um esquema ilustrativo de uma elipse, onde é encontrado o Sol
no sistema solar.

A segunda lei de Kepler diz sobre o tempo e a área percorrida. Mais especificamente, em
um determinado intervalo de tempo, pequeno e dado por , a linha entre o Sol e o planeta
descrevem um ângulo dado por . A área percorrida é dada pelo triângulo sombreado e com
altura r, base e área . Essas informações são mostradas na ilustração a seguir.

Figura 8 - Esquema ilustrativo das leis de Kepler


Fonte: YOUNG e FREEDMAN, 2010, p. 15.

#ParaCegoVer: a imagem é um esquema ilustrativo das leis de Kepler e suas implicações.

A segunda lei de Kepler diz que a velocidade setorial permanece constante em qualquer
ponto localizado na órbita. Isso quer dizer que quando o planeta está próximo do Sol, r é

101
pequeno e apresenta um grande valor. Quando o planeta está longe, r é grande e
apresenta valor pequeno.

Em relação à terceira lei de Kepler, já fizemos alguns cálculos parecidos no caso de órbitas
circulares. A relação obtida permanece a mesma, ainda que as órbitas sejam elípticas. Nesse caso,
temos a substituição do raio da circunferência pelo semieixo da elipse, ou seja:

Dessa forma, uma vez que o planeta descreve órbitas ao redor do Sol e não da Terra,
trocamos a massa da Terra pela massa do Sol. Além disso, o período da órbita independe da
excentricidade da elipse.

102
Conclusão

Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• entender o conceito e a importância dos movimentos de corpos rígidos;

• relacionar as grandezas angulares com as grandezas envolvidas no estudo das rotações dos
corpos rígidos;

• entender o conceito de momento de inércia, torque, momento angular e corpo rígido;

• compreender a lei da gravitação universal de Newton;

• definir as leis de Kepler da gravitação.


IBLIOGRAFIA

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da física: mecânica. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC,
1996. 1 v.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica: mecânica. 5. ed. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 2013.
1 v.

SANTOS, N. M. Vetores e matrizes: uma introdução à álgebra linear. São Paulo: Thomson Learning,
2007.

TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros. Rio de Janeiro: LTC, 2009. 1 v.

YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física I. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010.

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