Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
REVISÃO ACADÊMICA
Maria Lucia Brandão
PROJETO GRÁFICO
Conecte Estúdio Design
CAPA
Alessandra Herrero | Conecte Estúdio Design
DIAGRAMAÇÃO
Jefferson Montessi | Conecte Estúdio Design
EDITORES DE ÁREA
Emergências
Evandro Tinoco Mesquita
Vinício Elia Soares
Unidade Coronariana
Marco Antonio de Mattos
Ricardo Mourilhe Rocha
Arritmias
Fernando Eugênio dos Santos Cruz Filho
Olga Ferreira de Souza
Prevenção Cardiovascular
Andréa Araújo Brandão
Nelson Albuquerque de Souza e Silva
Cardiogeriatria
Elizabete Viana de Freitas
Roberto Gamarski
Cirurgia Cardíaca
Alexandre Siciliano Colafranceschi
Henrique Murad
Doenças Congênitas
Francisco José Araújo Chamié de Queiroz
Luiz Carlos do Nascimento Simões
Cardioncologia
Hugo Tannus Furtado de Mendonça Filho
Wolney de Andrade Martins
Insuficência Cardíaca
Denilson Campos de Albuquerque
Marcelo WesterlundMontera
Miocardiopatias
João Manoel de Almeida Pedroso
Marcelo Imbroinise Bittencourt
ISBN: 978-85-99409-02-2
1.5
AGRADECIMENTOS
Quando nos deparamos com uma obra pronta, pensamos pouco sobre o trabalho e os
custos de sua publicação. A fantasia dos leitores é de que o autor, ungido por alguma
inspiração divina, idealiza a obra e que esta se materializa pela vontade, sem qualquer
esforço adicional. Quisera fosse assim.
Esta obra nasceu do empenho de nossos cardiologistas, com esforço, suor, custos,
alegrias e angústias próprias de qualquer projeto.
Esta obra não pertence a uma só pessoa. É produto do esforço individual de vários
autores e nasceu de uma idealização coletiva da diretoria da SOCERJ. Foi decisiva a
determinação obstinada da Dra Glaucia Maria Moraes de Oliveira de que o livro fosse
lançado ainda no início de sua gestão. Tivemos, portanto, poucos meses, desde a
escolha dos autores até a publicação.
Cada um dos autores, diferente da ideia da “unção divina”, contou com o esforço de
anos de estudo, pesquisas e de suas experiências profissionais, além de horas de seu
tempo pessoal para elaborar seus capítulos. Agradecemos de forma individual a cada
um deles, bem como aos editores de área, que revisaram cada palavra escrita e cada
opinião presente neste livro.
Deixamos o último agradecimento, não por descuido, mas para dar destaque, aos
nossos patrocinadores. Mais que recursos, eles demonstraram que acreditam e
incentivam o desenvolvimento científico de nossos cardiologistas. Foi espantoso
perceber o crédito que deram a esse projeto. Amil, Pró-Cardíaco e TotalCor, obrigado.
Nós também acreditamos em vocês.
NOTA
Alexandre Rouge
UTI Cirúrgica - Instituto Nacional de Cardiologia/MS - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
CTI de Pós-operatório - Hospital Barra D’Or – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Anna Karinina
Hospital Pró-Cardíaco – Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Hospital Samaritano – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Andrea De Lorenzo
Clínica de Diagnóstico por Imagem (CDPI) – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Instituto Nacional de Cardiologia/ MS - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Andréa do Carmo Ribeiro Barreiros London
Cardiologista – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Bruno Ganimi
Hospital Pró-Cardiaco – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Cesar Nascimento
Setor de Ecocardiografia - Instituto Nacional de Cardiologia / MS – Rio de Janeiro, RJ
- Brasil
Daniel ArkaderKopiler
Serviço de Reabilitação Cardíaca - Instituto Nacional de Cardiologia/MS - Rio de
Janeiro, RJ - Brasil
Clínica Vitacor de Medicina do Exercício – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Ernesto de Meis
Instituto Nacional de Câncer (INCA) - Área de Trombose e Hemostasia - – Rio de
Janeiro, RJ - Brasil
Esmeralci Ferreira
Serviço de Cardiologia - Hospital Universitário Pedro Ernesto - Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Clínica Status Cor - Hospital Mario Leoni - Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Gabriel Camargo
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Clínica de Diagnóstico por Imagem (CDPI) - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Guilherme Lavall
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Hospital Pró-Cardíaco - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Ilan Gottlieb
Clínicade Diagnóstico por Imagem (CDPI) e Multi-Imagem – Rio de Janeiro, RJ -
Brasil
Instituto Nacional de Cardiologia/ MS - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Jorge Sabino
Hospital Pró-Cardíaco - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
José KawazoeLazzoli
Instituto Biomédico - Centro de Ciências Médicas - Universidade Federal Fluminense
(UFF) – Niterói, RJ - Brasil
Serviço de Cardiologia / Cor Diagnose – Hospital Santa Teresa – Petrópolis, RJ -
Brasil
Kalil LaysMohallem
Hospital Pró-Cardíaco – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Luciano Mannarino
Serviço de Emergência - Hospital TotalCor-RJ - Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Marcel Coloma
Núcleo de Estudos e Tratamento do Tabagismo / UFRJ – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Clínica PARARFUMAR – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Marcelo Hadlich
Instituto Nacional de Cardiologia/ MS - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Labs D’Or - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Marcelo Rivero
Instituto Nacional de Cardiologia / MS – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Marcelo WesterlundMontera
Hospital Pró-Cardíaco – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Renata Mattos
Instituto Nacional de Cardiologia INC/MS – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Ricardo Mourilhe-Rocha
Serviço de Cardiologia - Hospital Universitário Pedro Ernesto – Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Unidade Coronariana - Hospital Pró-Cardíaco – Rio de Janeiro, RJ –Brasil
Roberto Bassan
Disciplina de Cardiologia - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
RJ) – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC) – Rio de Janeiro, RJ -
Brasil
Roberto Esporcatte
Serviço de Cardiologia – Hospital Universitário Pedro Ernesto - Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Hospital Pró-Cardíaco - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Roberto Gamarski
Hospital Pró-Cardiaco – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Roberto Pozzan
Serviço de Cardiologia - Hospital Universitário Pedro Ernesto - Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Roselee Pozzan
Disciplina de Diabetes e Metabologia - Faculdade de Ciências Médicas - Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro, RJ – Brasil.
Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC-Rio) – Rio
de Janeiro, RJ –Brasil
Viviane Soares
Instituto Nacional de Cardiologia / MS – Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Esta obra é uma inovação em todos os sentidos. O fato mais evidente é o de ser um
livro eletrônico, mas existem diferenças substanciais em relação às outras excelentes
publicações disponíveis no mercado. Primeiramente, este não é um livro-texto, que
procura esgotar o conhecimento a respeito de um tema. Em nenhum momento foi nossa
intenção competir com os ótimos compêndios publicados por outras sociedades, mas
introduzir um formato de fácil leitura e assimilação. Buscamos mimetizar o processo de
atendimento clínico, quando um paciente, do qual não temos qualquer informação, nos
procura e provoca os questionamentos que se passam durante os processos diagnóstico
e terapêutico. Este é o racional do formato adotado, em que cada capítulo se inicia com
um caso clínico, seguido de cerca de dez perguntas que procuram delinear o
atendimento clínico-cardiológico.
Desejamos aos leitores um ótimo proveito deste livro, e os convidamos para enviar
sugestões, críticas e questionamentos ao e-mail socerj@socerj.org.br
PREFÁCIO
Para uma nova época, um novo formato de livro. Inovando, avançando junto com a
dinâmica do estado atual da Cardiologia, a SOCERJ se coloca como uma das grandes
sociedades regionais em nível internacional. A Sociedade de Cardiologia do Estado do
Rio de Janeiro tem destacada importância no Brasil. Sempre esteve presente em todas
as atividades científicas da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Sua participação
ajudou a SBC a tornar-se uma das mais fortes e pujantes Sociedades do mundo.
Trata-se de um trabalho que só uma sociedade pode organizar. São 18 seções, com dois
editores cada; 122 capítulos, com dois autores cada. Estamos diante, portanto, do
trabalho de mais de 200 colegas que colocaram o associativismo, a causa de uma
sociedade acadêmica, ao lado de todas as suas atividades diárias. Tudo para chegar a
esta proposta. A partir de um caso clínico, são discutidos os temas da cardiologia.
Seguem-se perguntas, soluções, apresentação de vídeos, imagens, fotos. Assim, nós,
cardiologistas, podemos dialogar com o novo, com as mudanças que se fazem
necessárias, com o conhecimento científico mais atual.
Temos grandes e pequenos estudos, educação continuada das mais variadas formas,
Congressos, Simpósios, Jornadas, Diretrizes, Jornais, Revistas. E a internet nos dando
atualização, acesso aos mais variados sites de cardiologia. Sem contar com o Dr
Google! Mas um livro como este proposto pela SOCERJ traz os assuntos tratados com
profundidade, na sua total amplitude, do caso concreto, das dúvidas de como resolvê-lo
da melhor forma, até o tratamento. Os livros são e continuarão sendo nossas bíblias.
Neles vamos procurar o verdadeiro conhecimento de forma apropriada. O livro virtual
é a continuidade da tradição dos escribas, mas renovada pelas múltiplas possibilidades
de acesso que proporciona.
Parabéns, SOCERJ por esta iniciativa! Nós, como cardiologistas clínicos, agradecemos
aos colegas do estado do Rio de Janeiro pelo envolvimento nesta obra que nos será
muito útil.
AC - Antraciclínicos
ACC - American College of Cardiology
ACV - Aparelho cardiovascular
AD - átrio direito
AE - Átrio esquerdo
AHA - American Heart Association
AO - aorta
AP - Artéria pulmonar
AR - aparelho respiratório
ARC - Academic Research Consortium
ASLO - antiestreptolisina-O
AVA - área valvar aórtica
AVE - acidente vascular encefálico
B4 - quarta bulha
BB - Betabloqueador adrenérgico
BEE - Bordo esternal esquerdo
BM - Biomarcadores
BNF - Bulhas normofonéticas
BNP - Peptídeo natriurético tipo B
bpm - Batimentos por minuto
BRA - Bloqueadores dos receptores da angiotensina
BRE - bloqueio de ramo esquerdo
CA - Câncer
CF - Classe funcional
CIV - comunicação interventricular
CR - cardiopatia reumática
Cr - Creatinina
CRC - cardiopatia reumática crônica
CRM - Cirurgia de revascularização do miocárdio
CS - coreia de Sydenham
DAC - Doença arterial coronariana
DBT - dobutamina
DCNT - Doenças crônicas não transmissíveis
DCV - Doença cardiovascular
DDVE - Diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo
DLP - dislipidemia
DM - Diabetes mellitus
DPN - Dispneia paroxística noturna
DSVE - Diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo
EA - estenose aórtica
EAM - Estalido de abertura mitral
EAO - Estenose aórtica
EBGA - estreptococo beta-hemolítico do grupo A
ECO - Ecocardiografia
ECOTT - Ecocardiograma transtorácico
EM - estenose mitral
ERO - Orifício regurgitante efetivo
ESCARDIO - Sociedade Europeia de Cardiologia
FA - Fibrilação atrial
FC - frequência cardíaca
FE - Fração de ejeção
FEVE - Fração de ejeção do ventrículo esquerdo
FR - Frequência respiratória
FReu - Febre reumática
GLS - Global longitudinal strain
HAP - Hipertensão arterial pulmonar
HAS - hipertensão arterial sistêmica
Hb - Hemoglobina
Hto - Hematócrito
HVE - Hipertrofia ventricular esquerda
IA - Insuficiência aórtica
IAM - infarto agudo do miocárdio
IAO Insuficiência aórtica
IC - Insuficiência cardíaca
ICD - Insuficiência cardíaca descompensada
ICFEN - Insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal
IECA - Inibidor da enzima conversora de angiotensina
IL-6 - Interleucina-6
IM - insuficiência mitral
IMC - índice de massa corporal
INC - Instituto Nacional de Cardiologia
INR - International Normalized Ratio
IRC - Insuficiência renal crônica
irm - Incursões respiratórias por minuto
IT - Insuficiência tricúspide
IVE - insuficiência ventricular esquerda
K - Potássio
LES - lúpus eritematoso sistêmico
Leuco - Leucograma
M1 - Componente mitral da primeira bulha
MAPSE - excursão sistólica do plano anular mitral
Mg - Magnésio
MIS - Membros inferiores
MSD - membro superior direito
MSE - membro superior esquerdo
MV - Murmúrio vesicular
Na - Sódio
NYHA - New York Heart Association
P2 - Componente pulmonar da segunda bulha
PA - pressão arterial
PAP Pressão de artéria pulmonar
PCR - Proteína C-reativa
PCR-t - proteína C-reativa titulada
PE - derrame pericárdico
PHT - Tempo de meia-pressão (pressure half time)
PN - Peptídeos natriuréticos
PSAP - Pressão sistólica de artéria pulmonar
PVM - prolapso da válvula mitral
QT - Quimioterapia
RCD - Rebordo costal direito
RCR - Ritmo cardíaco regular
RI - resistência insulínica
RNM - Ressonância nuclear magnética
RT - Radioterapia
RX - Raios X
Sat - saturação de oxigênio
SC - Stent convencional
SCA - Síndrome coronariana aguda
SCR - Síndrome cardiorrenal
SCRA - Síndrome cardiorrenal aguda
SVE - sobrecarga ventricular esquerda
TC - tamponamento cardíaco
TD - Tempo de desaceleração
TJ - turgência jugular
Tn - Troponina
TRIV - Tempo de relaxamento isovolumétrico
TS - Trombose de stent
TVM - Troca valvar mitral
Ur – Ureia
VA - Valva aórtica
VD - ventrículo direito
VE - ventrículo esquerdo
VEd - Diâmetro diastólico VE
VEs - Diâmetro sistólico VE
VHS - velocidade de hemossedimentação
VM - Valva mitral
VMPB - valvuloplastia mitral por cateter-balão
VO - via oral
VRI - Ventriculografia radioisotópica
VR - Volume regurgitante
VSVE - via de saída do ventrículo esquerdo
VT - Valva tricúspide
Sumário
Colaboradores
Apresentação
Prefácio
SEÇÃO 1. Emergências
Choque
Tromboembolismo Pulmonar
Parada Cardiorrespiratória
Choque Cardiogênico
Emergências Hipertensivas
SEÇÃO 4. Arritmias
Flutter Atrial
Taquicardias Supraventriculares 1
Taquicardias Supraventriculares 2
Febre Reumática
Insuficiência Mitral
Estenose Mitral
Insuficiência Aórtica
Estenose Aórtica
Doença Mitroaórtica
Abordagem da Insuficiência Tricúspide: Fatores Determinantes
Dislipidemia e Obesidade
Síndrome Metabólica
O Modelo SIMPLE
SEÇÃO 8. Cardiogeriatria
Síncope no Idoso
Fibrilação Atrial
Teste Ergométrico
Ecocardiograma
Esquerda M
Revascularização do Miocárdio
do Exercício Aeróbico
Revascularizado
Cardiomiopatia Dilatada
Cardiomiopatia Hipertrófica
Cardiomiopatia Restritiva
Miocardites
Cardiomiopatia Chagásica
Cardiomiopatia de Takotsubo
CASO CLÍNICO
Paciente do sexo masculino, 55 anos, ativo, sem sintomas clínicos e sem problemas
médicos conhecidos até então, apresenta dor precordial de forte intensidade, opressiva,
em repouso, com irradiação para membro superior esquerdo, acompanhada de
sudorese. A dor se estende por vários minutos e motiva a procura de atendimento em
serviço de emergência. O paciente é então medicado (não sabe informar com que
drogas) e, após alguma melhora da dor, liberado do serviço de emergência. Não houve
realização de eletrocardiograma.
OBJETIVOS
1. Identificar a dor torácica e outros sintomas sugestivos de isquemia
miocárdica como a grande procura de atendimento médico de emergência.
2. Descrever os princípios básicos que norteiam a abordagem de pacientes com
dor torácica nos serviços de emergência.
3. Sintetizar características clínicas, métodos diagnósticos relevantes e
peculiaridades específicas das condições médicas de maior gravidade que se
manifestam com dor torácica.
4. Apresentar uma proposta de sequência de ações que objetive identificação e,
consequentemente, tratamento de condições de risco ou descarte das mesmas,
possibilitando a liberação do serviço de emergência com segurança.
“Estima-se que de cinco a oito milhões de indivíduos com dor no peito ou outros
sintomas sugestivos de isquemia miocárdica aguda sejam vistos anualmente nas
salas de emergência nos Estados Unidos. Esse número representa cerca de 5% a 10%
de todos os atendimentos emergenciais naquele país. Como a maioria desses
pacientes são internados para se avaliar uma possível síndrome coronariana aguda,
isto gera um custo médio estimado de 3 a 6 mil dólares por paciente. Ao final desse
processo diagnóstico, cerca de 1,2 milhão de pacientes recebem o diagnóstico de
infarto agudo do miocárdio e outro tanto de angina instável. Por conseguinte, cerca
da metade a 2/3 dos pacientes com dor torácica internados acabam não confirmando
uma causa cardíaca para os seus sintomas, resultando num gasto desnecessário de 5
a 8 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos.
PERGUNTAS
1. Quais são os princípios que devem nortear a abordagem de pacientes com dor
torácica?
Quadro 1
Diagnóstico diferencial da dor torácica e categorias de risco
Pacientes com condições médicas de baixo risco não devem ser inadequadamente
hospitalizados e tampouco permanecer por períodos de tempo excessivos nos serviços
de emergência para terem suas condições de baixo risco esclarecidas. Hospitalizações
indevidas e permanência prolongada desnecessária em serviços de emergência geram
problemas de natureza técnica, logística, administrativa e econômica (Quadro 1).
História clínica
Exame físico
Métodos complementares
Terapia
b) Angina instável
História clínica
Exame físico
Mesmas considerações do IAM com magnitude dos eventos de uma maneira
geral menos exuberante.
Métodos complementares
Comentários
Terapia
c) Pericardite
História clínica
Exame físico
Atrito pericárdico
Eventualmente sinais de tamponamento (hipotensão, turgência jugular, pulso
paradoxal, abafamento de bulhas)
Métodos complementares
Comentários
Terapia
História clínica
Exame físico
Hipertensão, hipotensão
Eventualmente anemia e hipoperfusão periférica
Assimetria de pulsos arteriais
Sopro de insuficiência aórtica, atrito pericárdico (pericardite ou
hemopericárdio)
Derrame pleural (mais frequente do lado esquerdo)
Isquemia de membros ou de vísceras
Acidente vascular encefálico
Métodos complementares
Comentários
Atenção para o diagnóstico diferencial com IAM, pois a administração
equivocada de fibrinolíticos oferece enorme risco.
Terapia
e) Embolia pulmonar
História clínica
Início agudo com dispneia e dor (dispneia habitualmente mais evidente que a
dor), tosse é comum, eventualmente hemoptise.
Dor anginosa central (cor pulmonale), dor pleurítica (infarto pulmonar)
Fatores de risco para doença venosa tromboembólica estão muitas vezes
presentes (imobilidade, cirurgia, gestação, anticoagulantes, neoplasias,
insuficiência cardíaca, trombofilia).
Exame físico
Dispneia e ansiedade
Taquipneia, taquicardia, estertores pulmonares
Evidências clínicas de cor pulmonale ou de trombose venosa profunda
podem estar presentes.
Insuficiência respiratória em algumas oportunidades
Métodos complementares
D-dímero tem importante valor preditivo negativo
Radiografia de tórax muitas vezes é normal.
Redução de PaO2 e aumento da D(A-a)O2 muitas vezes são observadas
(PaO2 normal não afasta o diagnóstico).
Elevação de troponina e/ou BNP conferem critérios de maior risco.
Tomografia e cintigrafia são importantes ferramentas diagnósticas.
Eco com Doppler venoso auxilia no diagnóstico da trombose venosa
profunda.
Comentários
Terapia
Anticoagulantes
Fibrinólise para condições de alto risco
Cirurgia ou intervenção baseada em cateter para casos muito selecionados
f) Pneumotórax espontâneo
História clínica
Exame físico
Métodos complementares
Comentários
Terapia
g) Rotura de esôfago
História clínica
Exame físico
Dispneia
Síndrome de resposta inflamatória sistêmica, insuficiência respiratória,
choque (geralmente após 24 horas)
Métodos complementares
Comentários
Terapia
Pacientes com síndromes coronarianas isquêmicas agudas que não foram identificadas e
que são indevidamente liberados do hospital têm, como consequência, um expressivo
aumento de mortalidade e de morbidade2.
Pacientes ainda sem diagnóstico confirmado, mas que tiveram descartadas condições
ameaçadoras da vida e de emergência e que permanecem estáveis clinicamente após um
determinado período de tempo de observação (de 4-12 horas dependo da instituição e
do perfil do paciente), sem alterações no eletrocardiograma e sem elevação de
marcadores de necrose miocárdica em determinações seriadas, podem ser submetidos a
um método de estresse e serem liberados do serviço de emergência, caso não haja
evidências de isquemia induzida pelo estresse (Quadro 2).
Quadro 2
Sequência de ações
IAM=infarto agudo do miocárdio; ECG=eletrocardiograma; BRE=bloqueio de ramo esquerdo; ICP=intervenção
coronariana percutânea primária, 1ª=primária; IECA=inibidor da enzima de conversão da angiotensina;
ETE=ecocardiograma transesofágico; TC=tomografia computadorizada; ETT=ecocardiograma transtorácico;
BNP=peptídeo natriurético do tipo B; cTnI=troponina cardíaca; AI=angina instável; FEVE=fração de ejeção do
ventrículo esquerdo; RM=revascularização miocárdica cirúrgica; AINH=anti-inflamatórios não hormonais
O teste ergométrico em esteira é o método ideal para essa finalidade. Métodos de
imagem com estresse farmacológico são alternativas para pacientes incapazes para o
exercício. Métodos de imagem (com exercício ou estresse farmacológico) também são
alternativas para pacientes com limitação na interpretação do eletrocardiograma de
repouso4.
Referências
1. Sabatine MS, Cannon CP. Approach to the patient with chest pain. In: Bonow
RO, Mann DL, Zipes DP, Libby P, eds. Braunwald’s Heart Disease: a
Textbook of Cardiovascular Medicine. 9th ed. Philadelphia: Elsevier; 2011.
p.1076-86.
2. Bassan R, Pimenta L, Leães PE, Timerman A, Volschan A, Polanczyk C, et al;
Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz de Dor Torácica na Sala de
Emergência. Arq Bras Cardiol. 2002;79(supl. 2):1-22.
3. Brown JE, Hamilton GC. Chest Pain. In: Marx JA, Hockberger RS, Walls
RM, Adams J, Barsan W, Biros M, eds. Rosen’s Emergency Medicine:
concepts and clinical practice. 7th ed. Philadelphia: Mosby/Elsevier; 2009.
p.132-41.
4. Daubert MA, Jeremias A, Brown DL. Diagnosis of acute myocardial
infarction. In: Jeremias A, Brown DL, eds. Cardiac Intensive Care. 2nd ed.
Philadelphia: Saunders / Elsevier; 2010. p.97-105.
5. Field JM. Pathophysiology and initial triage of acute coronary syndromes. In:
Field JM, Kudenchuk PJ, O’Connor RE, Hoek TLV, Bresler MJ, Mattu A, et
al. The Textbook of Emergency Cardiovascular Care and CPR. Philadelphia:
Lippincott Williams & Wilkins; 2009. p.1-10.
ABORDAGEM INICIAL DA SÍNDROME
CORONARIANA AGUDA
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 52 anos, portador de hipertensão arterial, dislipidemia, ex-
tabagista e com história familiar positiva para doença arterial coronariana, foi admitido
em serviço de emergência com relato de desconforto torácico. Relata ter apresentado,
aproximadamente 18 horas antes da chegada ao hospital, quadro de dor retroesternal
durante exercício em academia, que melhorou alguns minutos após cessar exercício. Em
sua residência voltou a apresentar desconforto torácico em repouso, com duração mais
prolongada. Relata na chegada melhora do quadro álgico, porém ainda com desconforto
residual. Nega outros sinais e sintomas.
OBJETIVOS
1. Analisar os princípios terapêuticos do tratamento a pacientes com suspeita
clínica de síndrome coronariana aguda (SCA).
2. Sistematizar o atendimento multidisciplinar a ser realizado nos pacientes com
SCA na sala de emergência.
3. Discutir as medidas não farmacológicas e farmacológicas à luz das
evidências científicas atualmente disponíveis na SCA.
PERGUNTAS
1. O quadro clínico descrito é compatível com síndrome coronariana aguda?
Sim. O paciente apresenta fatores de risco para doença arterial coronariana e a dor
torácica referida possui características sugestivas de angina típica.
Abordagem inicial:
Diagnóstico
Eletrocardiograma
Manter à beira do leito equipamentos de ressuscitação cardiopulmonar
Avaliação cardiológica de emergência para pacientes com SCA com choque
cardiogênico, insuficiência ventricular esquerda (IVE) ou taquiarritmia
ventricular sustentada.
Intervenções iniciais:
Referências
1. Antman EM, Anbe DT, Armstrong PW, Bates ER, Green LA, Hand M, et al.
ACC/AHA Guidelines for the Management of Patients with ST-elevation
Myocardial Infarction; A report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
(Committee to revise the 1999 Guidelines for the Management of Patients
with Acute Myocardial Infarction). J Am Coll Cardiol. 2004;44(3):E1-E211.
2. Roger VL, Go AS, Lloyd-Jones DM, Adams RJ, Berry JD, Brown TM, et al;
American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics
Subcommittee. Heart disease and stroke statistics--2011 update: a report from
the American Heart Association. Circulation. 2011;123(4):e18-e209. Erratum
in: Circulation. 2011;123(6):e240; 2011;124(16):e245.
3. ISIS-2 (Second International Study of Infarct Survival) Collaborative Group.
Randomised trial of intravenous streptokinase, oral aspirin, both, or neither
among 17,187 cases of suspected acute myocardial infarction: ISIS-2. ISIS-2
(Second International Study of Infarct Survival) Collaborative Group. Lancet.
1988;2(8607):349-60.
4. Harrington RA, Becker RC, Ezekowitz M, Meade TW, O'Connor CM,
Vorchheimer DA, et al. Antithrombotic therapy for coronary artery disease:
the Seventh ACCP Conference on Antithrombotic and Thrombolytic Therapy.
Chest. 2004;126(3 Suppl):513S-48S.
5. ISIS-4 (Fourth International Study of Infarct Survival) Collaborative Group.
ISIS-4: a randomised factorial trial assessing early oral captopril, oral
mononitrate, and intravenous magnesium sulphate in 58,050 patients with
suspected acute myocardial infarction. ISIS-4 (Fourth International Study of
Infarct Survival) Collaborative Group. Lancet. 1995;345(8951):669-85.
6. Rude RE, Muller JE, Braunwald E. Efforts to limit the size of myocardial
infarcts. Ann Intern Med. 1981;95(6):736-61.
7. Roberts R, Rogers WJ, Mueller HS, Lambrew CT, Diver DJ, Smith HC, et al.
Immediate versus deferred beta-blockade following thrombolytic therapy in
patients with acute myocardial infarction. Results of the Thrombolysis in
Myocardial Infarction (TIMI) II-B Study. Circulation. 1991;83(2):422-37.
8. Canadian Cardiovascular Society; American Academy of Family Physicians;
American College of Cardiology; American Heart Association, Antman EM,
Hand M, Armstrong PW, Bates ER, Green LA, Halasyamani LK, et al. 2007
focused update of the ACC/AHA 2004 Guidelines for the Management of
Patients with ST-elevation Myocardial Infarction: a report of the American
College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines. J Am Coll Cardiol. 2008;51(2):210-47. Erratum in: J Am Coll
Cardiol. 2008;51(9):977.
9. Meine TJ, Roe MT, Chen AY, Patel MR, Washam JB, Ohman EM, et al;
CRUSADE Investigators. Association of intravenous morphine use and
outcomes in acute coronary syndromes: results from the CRUSADE Quality
Improvement Initiative. Am Heart J. 2005;149(6):1043-9.
DOENÇA CARDÍACA TRAUMÁTICA
CASO CLÍNICO
Paciente do sexo masculino, 55 anos, sem antecedentes mórbidos conhecidos, ao reagir
a assalto foi vítima de lesões por arma branca. O instrumento utilizado pelo agressor
foi uma faca de cozinha pontiaguda. Cinco facadas foram desferidas, quatro
promoveram lesões cutâneas e de partes moles sem maiores gravidades; a última,
entretanto, atingiu a face anterior do hemitórace esquerdo e teve como consequência,
expressiva hemorragia quando a vítima, numa reação praticamente instintiva, removeu a
faca que havia se alojado em seu tórax.
A vítima foi então levada por seus familiares, por meios próprios, para um hospital
com serviço de emergência. Deu entrada em estado crítico, com respiração agônica,
francamente hipotenso e extremamente bradicárdico. Em curtíssimo intervalo de tempo,
após a chegada ao hospital, ocorreu parada cardíaca.
(caso continua ao final do capítulo)
OBJETIVOS
1. Discutir as modificações no suporte básico de vida e no suporte avançado de
vida em cardiologia no cenário do trauma.
2. Descrever noções básicas sobre ressuscitação com tórax aberto e suas
indicações.
3. Sintetizar aspectos relevantes relacionados aos mecanismos de lesão,
reconhecimento diagnóstico e manuseio inicial de pacientes vítimas de
injúria cardíaca traumática penetrante e não penetrante.
4. Analisar pericardiocentese e toracotomia no cenário da injúria cardíaca
traumática.
PERGUNTAS
1. Que medidas devem ser adotadas imediatamente neste caso?
Para abertura de vias aéreas, a tração no ângulo da mandíbula sem inclinação da cabeça
(jaw thrust) deve ser empregada em vez da elevação da ponta da mandíbula com
inclinação da cabeça (head tilt – chin lift).
Acontece quando ocorre livre comunicação entre cavidades cardíacas e espaço pleural.
Tal condição muitas vezes ocorre em vítimas de lesões por arma de fogo. Em
hemorragias maciças, as vítimas frequentemente evoluem rapidamente para parada
cardíaca e muitas vezes morrem antes de receberem cuidados médicos. Para aqueles
que chegam ao hospital, a toracotomia no Serviço de Emergência pode ser indicada
(Figura 1).
Figura 1
Injúria traumática cardíaca penetrante
• Tamponamento cardíaco:
4. Quais são as considerações relevantes para o clínico sobre a injúria cardíaca não
penetrante?
A injúria cardíaca não penetrante usualmente resulta de colisões entre veículos
automotores em alta velocidade. Atropelamentos, acidentes com bicicletas, golpes
sobre o tórax (eventualmente em práticas desportivas), entre outros, também podem
promover injúrias cardíacas não penetrantes7.
A maior parte dos pacientes com injúria cardíaca não penetrante apresentar-se-á com
alterações eletrocardiográficas e de marcadores de necrose de menor relevância.
Embora muitos tenham um curso hospitalar benigno e não requeiram medidas de maior
complexidade, as alterações eletrocardiográficas e de marcadores de necrose podem
ser preditores de evolução desfavorável (hipotensão, arritmias, insuficiência cardíaca).
Assim sendo, tal grupo de pacientes deve ser acompanhado com atenção.
Após 72 dias de internação hospitalar, o paciente recebeu alta para sua residência. Um
ano depois, retornou ao hospital para rever a equipe de profissionais envolvida em seu
tratamento. Encontrava-se totalmente reabilitado para suas atividades de vida, feliz e
com planos para o futuro de sua família.
Referências
1. Cave DM, Gazmuri RJ, Otto CW, Nadkarni VM, Cheng A, Brooks SC, et al.
Part 7: CPR techniques and devices: 2010 American Heart Association
Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency
Cardiovascular Care. Circulation. 2010;122(18 Suppl 3):S720-8.
2. Vanden Hoek TL, Morrison LJ, Shuster M, Donnino M, Sinz E, Lavonas EJ,
et al. Part 12: cardiac arrest in special situations: 2010 American Heart
Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency
Cardiovascular Care. Circulation. 2010;122(18 Suppl 3):S829-61. Erratum
in: Circulation. 2011;123(6):e239; 2011;124(15):e405.
3. Working Group, Ad Hoc Subcommittee on Outcomes, American College of
Surgeons. Committee on Trauma. Practice Management Guidelines for
Emergency Department Thoracotomy. Working Group, Ad Hoc Subcommittee
on Outcomes, American College of Surgeons ─ Committee on Trauma. J Am
Coll Surg. 2001;193(3):303-9.
4. Wall MJ, Tsai PI, Mattox KL. Traumatic heart disease. In: Bonow RO, Mann
DL, Zipes DP, Libby P, eds. Braunwald’s Heart Disease: a textbook of
cardiovascular medicine. 9th ed. Philadelphia: Elsevier; 2011. p.1672-8.
5. Cook CC, Gleason TG. Great vessel and cardiac trauma. Surg Clin North
Am. 2009;89(4):797-820.
6. Eckstein M, Henderson SO. Thoracic trauma. In: Marx JA, Hockberger RS,
Walls RM, Adams JG, Barsan WG, Biros MH, et al., eds. Rosen’s
Emergency Medicine: concepts and clinical practice. 7th ed. Philadelphia:
Mosby/Elsevier; 2009. p.387-413.
7. Winfield RD, Lottenberg L. Secondary and tertiary triage of the trauma
patient. In: Gabrielli A, Layon AJ, Yu M, eds. Civetta, Taylor and Kirby’s
Critical Care. 4th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2009.
p.1109-28.
8. Working Group, Ad Hoc Subcommittee on Outcomes, American College of
Surgeons. Committee on Trauma. Practice Management Guidelines for
Emergency Department Thoracotomy. Working Group, Ad Hoc Subcommittee
on Outcomes, American College of Surgeons ─ Committee on Trauma. J Am
Coll Surg. 2001;193(3):303-9.
CHOQUE
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 60 anos, em tratamento para hipertensão arterial e diabetes, com
amlodipina, enalapril e metformina, é admitido na emergência com quadro de dor
torácica sudorese e hipotensão, iniciado após atividade física.
Exame físico:
PA =72x38mmHg; FC =135bpm; Peso =90,60kg; Altura =1,72m; Cintura abdominal
=115cm; IMC =30,6kg/m2
Turgência de jugulares a 45°
AC RR em 4t c/ b4+b3; pulmões limpos; sem edemas em MSIS
Glicemia capilar =180g/dL; Gasometria arterial: Ph =7,12; PO2 =68,4; PCO2 =28,2;
SO2 =81%.
ECG: Elevação do segmento ST em DI, aVL, V1 a V6
Radiografia de tórax: Hipertensão venocapilar pulmonar
OBJETIVOS
1. Analisar as ferramentas para o diagnóstico de choque.
2. Descrever o quadro clínico e aspectos fisiopatológicos do choque.
3. Discutir medidas farmacológicas e não farmacológicas para o tratamento do
choque cardiogênico.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa dos sintomas
apresentados por este paciente?
• Choque hipovolêmico
Hipotensão:
Hipoperfusão:
Categorias funcionais:
Choque hipovolêmico
Choque cardiogênico
Choque obstrutivo
Choque distributivo
• Choque cardiogênico
• Choque distributivo
Suporte hemodinâmico
FC < 110bpm
PAM >60-65mmHg (não cardiogênico), PAM >80mmHg ? (coronariopatia)
POAP entre 14-18mmHg (não cardiogênico), POAP entre 20-25mmHg ?
(cardiogênico)
ITSVE >55g/m/bat/m2
Otimização da utilização de O2
hemoglobina >8g%
SaO2 >92%, PaO2 >60mmHg
SvO2 >55-65%, SvcO2 > 70%
lactato sérico <2,2mEq/L
Figura 3
Condutas iniciais, com base na avaliação clínica, de pacientes que se apresentam com distúrbios hemodinâmicos.
Figura 4
Abordagem escalonada de pacientes com distúrbios hemodinâmicos.
PVC=pressão venosa central; POAP=pressão de oclusão de artéria pulmonar; IC=índice cardíaco; VO2=consumo de
oxigênio; SDMO=síndrome de disfunção de múltiplos órgãos
Outros dispositivos usados para melhorar o estado de choque são: o balão intra-aórtico
cujo objetivo é melhorar a perfusão coronariana para inflar em diástole, gerando maior
pressão de pulso; e um desinflar na sístole, que diminui a resistência à expulsão do
fluxo de sangue através do coração, reduzindo as exigências de oxigênio. Dispositivos
de assistência ventricular são úteis mas sempre indicado como ponte para transplante
cardiaco3.
Referências
1. Reynolds HR, Horchman JS. Cardiogenic shock: Current concepts and
improving outcomes. Circulation. 2008; 117:686-97.
2. Beal AL, Cerra FB. Multiple organ failure syndrome in the 1990s. Systemic
inflammatory response and organ dysfunction. JAMA. 1994;271:226-33.
3. Antman EM, Anbe DT, Armstrong PW, Bates ER, Green LA, Hand M, et al;
American College of Cardiology; American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines; Canadian Cardiovascular Society. ACC/AHA
Guidelines for the Management of Patients with ST-elevation Myocardial
Infarction: A report of the American College of Cardiology/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines (Committee to revise the
1999 Guidelines for the Management of Patients with Acute Myocardial
Infarction). Circulation. 2004;110:e82-292. Erratum in: Circulation.
2005;111:2013-4; 2007;115:e411; 2010;121:e441.
4. Rivers E, Nguyen B, Havstad S, Ressler J, Muzzin A, Knoblich B, et al;
Early Goal-Directed Therapy Collaborative Group. Early goal-directed
therapy in the treatment of severe sepsis and septic shock. N Engl J Med.
2001;345:1368-77.
5. Lundberg JS, Perl TM, Wiblin T, Costigan MD, Dawson J, Nettleman MD, et
al. Septic shock: an analysis of outcomes for patients with onset on hospital
wards versus intensive care units. Crit Care Med. 1998;26:1020-4.
6. Andersen HR, Nielsen TT, Rasmussen K, Thuesen L, Kelbaek H, Thayssen P,
et al; DANAMI-2 Investigators. A comparison of coronary angioplasty with
fibrinolytic therapy in acute myocardial infarction. N Engl J Med.
2003;349:733-42.
7. Widimský P, Groch L, Zelizko M, Aschermann M, Bednár F, Suryapranata H.
Multicentre randomized trial comparing transport to primary angioplasty vs
immediate thrombolysis vs combined strategy for patients with acute
myocardial infarction presenting to a community hospital without a
catheterization laboratory. The PRAGUE study. Eur Heart J.
2000;21(10):823–31.
8. Widimský P, Budesínský T, Vorác D, Groch L, Zelízko M, Aschermann M, et
al; PRAGUE Study Group Investigators. Long distance transport for primary
angioplasty vs immediate thrombolysis in acute myocardial infarction. Final
results of the randomized national multicentre trial - PRAGUE-2. Eur Heart J.
2003;24(1):94-104.
9. National Heart Lung and Blood Institute. [Internet]. Health Information for the
Public. Health Topics. What is cardiogenic shock? [cited 2011 Jul 27].
Available from:
<http://www.nhlbi.nih.gov/health/dci/Diseases/shock/shock_what.html>
DISSECÇÃO AÓRTICA AGUDA
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 62 anos, com história de hipertensão arterial de longa data com
tratamento irregular, foi admitido em Unidade de Emergência com queixa de dor em
região anterior do tórax, de forte intensidade, com irradiação para o dorso. Foi
realizado ECG que não evidenciou alterações isquêmicas agudas.
OBJETIVOS
1. Discutir o diagnóstico diferencial de dor torácica na sala de emergência.
2. Analisar os aspectos fisiopatológicos, epidemiológicos, as manifestações
clínicas e os métodos diagnósticos da dissecção aórtica aguda.
3. Avaliar a abordagem terapêutica atual da dissecção aórtica aguda.
PERGUNTAS
1. Quando se deve suspeitar do diagnóstico de dissecção aórtica?
Pacientes com dissecção aórtica (DA) tipicamente têm apresentação de dor torácica de
forte intensidade, de caráter agudo, tipo “cortante ou rasgando o peito” com localização
torácica anterior, quando a aorta ascendente está envolvida; ou posterior, quando há
envolvimento da aorta descendente. O Registro Internacional de Dissecção Aórtica
(IRAD)1 observa que 73% dos pacientes têm esse tipo de apresentação.
Dissecção sem dor tem sido reportada, mas é relativamente incomum. Em subanálise do
registro IRAD1, 6,4% dos pacientes não tinham dor torácica como apresentação inicial.
Esses pacientes eram mais idosos, com prevalência maior de diabetes. Outros sintomas
como síncope, insuficiência cardíaca (IC) e acidente vascular encefálico (AVE) também
são mais frequentes nesse grupo de pacientes2.
Na presença de dor torácica, a ausência de alterações eletrocardiográficas
características de isquemia levam à forte suspeita de DA, especialmente quando
associada à história de hipertensão arterial sistêmica1.
Quando se atende um paciente com dor torácica, outros diagnósticos etiológicos devem
ser lembrados, como: síndromes coronarianas agudas com ou sem supradesnivelamento
do segmento ST, pericardite, embolia pulmonar, insuficiência aórtica sem dissecção,
aneurisma aórtico, dor musculoesquelética, pleurite, colecistite, úlcera péptica e
pancreatite. Para se realizar um diagnóstico diferencial preciso, é fundamental a
valorização de sinais e sintomas característicos a cada uma delas.
Em revisão de 464 pacientes do registro IRAD1, 65% dos pacientes eram homens com
idade média de 63 anos. O fator predisponente mais importante da DA é a HAS, tendo
sido encontrada em 72% dos pacientes no registro IRAD; história de aterosclerose foi
encontrada em 31% dos pacientes1,4.
O trauma torácico raramente causa uma clássica dissecção, mas pode ocasionar uma
ruptura localizada na região do istmo aórtico por mecanismo de desaceleração em
acidentes automobilísticos7. A gestação, em especial no terceiro trimestre, pode estar
associada à DA na presença de síndrome de Marfan. A gestação isolada não parece
associada à DA1,8-10.
Figura 2
ETE com imagem de dissecção envolvendo o tronco coronariano esquerdo.
Os pacientes com envolvimento da aorta descendente podem se apresentar com isquemia visceral, insuficiência renal,
isquemia de membros inferiores ou sinais de paraplegia devido à isquemia medular.
De acordo com estudo de Von Kodolitsch et al.20 que avaliou 250 pacientes com
suspeita de DA, dos 128 pacientes que tiveram o diagnóstico confirmado, 96%
apresentavam alguma combinação de três características clínicas: dor torácica de início
abrupto de caráter cortante, alargamento de mediastino na radiografia de tórax e
variação >20mmHg na pressão sistólica de membros superiores. Apesar da utilidade
dessa estratégia diagnóstica, a maioria dos pacientes necessita de exames de imagens
para confirmação diagnóstica1.
Eletrocardiograma
Radiografia de tórax
Aortografia
A aortografia tem sido substituída pelos métodos menos invasivos. Sua indicação fica
restrita quando os exames menos invasivos não estão disponíveis ou são inconclusivos
e existe uma forte suspeita de dissecção envolvendo a aorta ascendente.
Tomografia computadorizada
Ressonância magnética
Na maioria dos serviços a RM fica reservada para os pacientes em que a TC não foi
capaz de definir adequadamente o sítio de entrada da dissecção, informação importante
para a programação cirúrgica (Figura 3).
Figura 3
Imagem de reconstrução de ressonância com linha de dissecção em aorta descendente (tipo B).
Ecocardiograma transtorácico
O ETT, apesar de ser o exame de imagem mais utilizado para a avaliação do coração,
fornecendo dados relevantes, é limitado no estudo da aorta, com análise inadequada da
aorta ascendente distal, arco aórtico e aorta descendente. Em alguns pacientes pode-se
diagnosticar um flap em aorta proximal, mas a sensibilidade é baixa. O ETT é mais útil
para o diagnóstico das complicações da dissecção, incluindo a análise da insuficiência
aórtica, derrame pericárdico e função ventricular22.
Ecocardiograma transesofágico
O ETE deve ser realizado nos pacientes com grande suspeita diagnóstica e
instabilidade hemodinâmica. O exame deve ser realizado após sedação e ventilação
mecânica. A TC é geralmente indicada para screening diagnóstico, como exame inicial,
especialmente em departamento de emergência. Se os resultados da TC não são
diagnósticos e a suspeita de DA persiste, o ETE ou a RM estão indicados. A RM é
preferida em pacientes com dissecção crônica e hemodinamicamente estáveis ou para
acompanhamento da dissecção. A aortografia deve ser reservada para pacientes com
forte suspeita de dissecção e quando todos os métodos disponíveis forem inconclusivos
(Figura 5).
Figura 5
Algoritmo de manejo da dissecção aórtica
RNM=ressonância magnética; ETT=ecocardiograma transtorácico; ETE=ecocardiograma transesofágico; Angio
TC=angiotomografia computadorizada
O esmolol (50-200mcg/kg/min), por ter uma meia-vida curta, pode ser de mais fácil
manuseio. Em pacientes com contraindicação ao uso de betabloqueador, utilizar o
verapamil ou diltiazem intravenoso28. O alvo da PA deve ser 100-120mmHg de
sistólica ou o menor nível tolerado. Se após o uso de betabloqueador a PA permanecer
acima desses níveis, inicia-se o nitroprussiato de sódio (0,25-0,5mcg/kg/min), somente
após o controle da FC. O seu efeito vasodilatador pode induzir taquicardia reflexa,
aumentando a tensão na parede aórtica. A monitorização contínua da PA com uma linha
intra-arterial é indicada para pacientes que estejam em uso de nitroprussiato. Apesar de
o nitroprussiato ser o agente anti-hipertensivo ideal, outras drogas como enalaprilato
venoso, verapamil ou diltiazem podem ser utilizados. Outros vasodilatadores como
hidralazina que aumentam o estresse da parede aórtica devem ser evitados28.
Os pacientes que evoluem com hipotensão mantida sem uso de drogas anti-
hipertensivas devem ser avaliados quanto à perda sanguínea, hemopericárdio com
tamponamento ou insuficiência cardíaca. A reposição volêmica como medida inicial
para estabilização hemodinâmica deve ser utilizada. Deve-se evitar o uso de
inotrópicos porque por aumento da tensão da parede aórtica, podem piorar a dissecção.
Em casos de tamponamento, a pericardiocentese pode acelerar o sangramento e
choque16,28. O ETT e ETE são os procedimentos diagnósticos de escolha para o rápido
diagnóstico da DA e determinação da causa da instabilidade hemodinâmica16.
Em revisão de 464 pacientes do registro IRAD, 72% dos pacientes com dissecção tipo
A foram tratados cirurgicamente, em contraste com somente 20% do tipo B1.
Figura 6
Foto de correção cirúrgica de dissecção com colocação de tubo valvado.
Uma abordagem cirúrgica mais agressiva com correção do arco aórtico pode ser
necessária quando há envolvimento do arco aórtico com ruptura ao nível dos vasos da
base. Parada circulatória com hipotermia pode ser necessária nesses casos30.
A taxa de mortalidade para DA tipo A é alta, 1-2% por hora após o início dos
sintomas9. A mortalidade cirúrgica para o tipo A varia de 7% a 36% em centros com
experiência. Essa mortalidade é bem mais baixa do que aquela com tratamento clínico
que é de 50% nas primeiras 48 horas do início dos sintomas1.
Os fatores preditivos mais importantes da mortalidade hospitalar são: idade >70 anos,
início abrupto da dor, hipotensão choque ou tamponamento, insuficiência renal,
ausência de pulso e supra de ST no ECG31.
A fenestração com balão ou a colocação de stents pode ser necessária para tratamento
de isquemia mesentérica, renal ou periférica que persiste após o tratamento cirúrgico
das DA tipo A ou tratamento clínico das DA tipo B36.
As causas de reintervenção cirúrgica ou percutânea são: recorrência ou extensão da
dissecção, formação aneurismática localizada, deiscência ou infecção do enxerto ou
regurgitação aórtica37.
12. Como o paciente com DA deve ser acompanhado após a alta hospitalar?
A formação tardia de aneurisma tem relação com o diâmetro inicial da falsa-luz, como
foi demonstrado por Song et al.38. Nesse estudo, um diâmetro ≥22mm da falsa-luz
relacionou-se com o surgimento de aneurisma.
Um exame de imagem, de preferência RM, deve ser realizado antes da alta hospitalar
com acompanhamento em três, seis e doze meses, mesmo em pacientes assintomáticos;
e posteriormente a cada dois anos se não houver evidência de progressão da dissecção.
As seguintes anormalidades devem ser investigadas: extensão ou recorrência da
dissecção, formação de aneurisma, e leak nos pontos de anastomose ou sítios dos
stents16.
Referências
1. Hagan PG, Nienaber CA, Isselbacher EM, Bruckman D, Karavite DJ,
Russman PL, et al. The International Registry of Acute Aortic Dissection
(IRAD): new insights into an old disease. JAMA. 2000;283(7):897-903.
2. Park SW, Hutchison S, Mehta RH, Isselbacher EM, Cooper JV, Fang J, et al.
Association of painless acute aortic dissection with increased mortality.
Mayo Clin Proc. 2004;79(10):1252-7.
3. Mészáros I, Mórocz J, Szlávi J, Schmidt J, Tornóci L, Nagy L, et al.
Epidemiology and clinicopathology of aortic dissection. Chest.
2000;117(5):1271-8.
4. Larson EW, Edwards WD. Risk factors for aortic dissection: a necropsy
study of 161 cases. Am J Cardiol. 1984;53(6):849-55.
5. Januzzi JL, Isselbacher EM, Fattori R, Cooper JV, Smith DE, Fang J, et al;
International Registry of Aortic Dissection (IRAD). Characterizing the young
patient with aortic dissection: results from de the International Registry of
Acute Aortic Dissection (IRAD). J Am Coll Cardiol. 2004;43(4):665-9.
6. Januzzi JL, Sabatine MS, Eagle KA, Evangelista A, Bruckman D, Fattori R, et
al; International Registry of Aortic Dissection Investigators. Iatrogenic aortic
dissection. Am J Cardiol. 2002;89(5):623-6.
7. Smith MD, Cassidy JM, Souther S, Morris EJ, Sapin PM, Johnson SB, et al
Transesophageal echocardiography in the diagnosis of traumatic rupture of
the aorta. N Engl J Med. 1995;332(6):356-62.
8. Elkayam U, Ostrzega E, Shotan A, Mehra A. Cardiovascular problems in
pregnant women with the Marfan syndrome. Ann Intern Med.
1995;123(2):117-22.
9. Nienaber CA, Eagle KA. Aortic dissection: new frontiers in diagnosis and
management: Part I: from etiology diagnostic strategies. Circulation.
2003;108(5):628-35.
10. Nallamothu BK, Mehta RH, Saint S, Llovet A, Bossone E, Cooper JV, et al.
Syncope in acute aortic dissection: diagnostic, prognostic, and clinical
implications. Am J Med. 2002;113(6):468-71.
11. DeBakey ME, Henly WS, Cooley DA, Morris GC Jr, Crawford ES, Beall AC
Jr. Surgical management of dissecting aneurysms of the aorta. J Thorac
Cardiovasc Surg. 1965;49:130-49.
12. Daily PO, Trueblood HW, Stinson EB, Wuerflein RD, Shumway NE.
Management of acute aortic dissections. Ann Thorac Surg. 1970;10(3):237-
47.
13. Farber A, Wagner WH, Cossman DV, Cohen JL, Walsh DB, Fillinger MF, et
al. Isolated dissection of the abdominal aorta: clinical presentation and
therapeutic options. J Vasc Surg. 2002;36(2):205-10.
14. Bossone E, Rampoldi V, Nienaber CA, Trimarchi S, Ballotta A, Cooper JV, et
al; International Registry of Acute Aortic Dissection (IRAD) Investigators.
Usefulness of pulse deficit to predict in-hospital complications and mortality
in patients with acute type A aortic dissection. Am J Cardiol.
2002;89(7):851-5.
15. Svensson LG, Labib SB, Eisenhauer AC, Butterly JR. Intimal tear without
hematoma: an important variant of aortic dissection that can elude current
imaging techniques. Circulation. 1999;99(10):1331-6.
16. Tsai TT, Nienaber CA, Eagle KA. Acute aortic syndromes. Circulation.
2005;112(24):3802-13.
17. Ganaha F, Miller DC, Sugimoto K, Do YS, Minamiguchi H, Saito H, et al.
Prognosis of aortic intramural hematoma with and without penetrating
atherosclerotic ulcer: a clinical and radiological analysis. Circulation.
2002;106(3):342-8.
18. Movsowitz HD, Levine RA, Hilgenberg AD, Isselbacher EM.
Transesophageal echocardiographic description of the mechanisms of aortic
regurgitation in acute type A aortic dissection: implications for aortic valve
repair. J Am Coll Cardiol. 2000;36(3):884-90.
19. Nienaber CA, Fattori R, Mehta RH, Richartz BM, Evangelista A, Petzsch M,
et al; International Registry of Acute Aortic Dissection. Gender-related
differences in acute aortic dissection. Circulation. 2004;109(24):3014-21.
20. von Kodolitsch Y, Schwartz AG, Nienaber CA. Clinical prediction of acute
aortic dissection. Arch Intern Med. 2000;160(19):2977-82.
21. Bansal RC, Chandrasekaran K, Ayala K, Smith DC. Frequency and
explanation of false negative diagnosis of aortic dissection by aortography
and transesophageal echocardiography. J Am Coll Cardiol. 1995;25(6):1393-
401.
22. Erbel R, Engberding R, Daniel W, Roelandt J, Visser C, Rennollet H.
Echocardiography in diagnosis of aortic dissection. Lancet.
1989;1(8636):457-61.
23. Nienaber CA, von Kodolitsch Y, Nicolas V, Siglow V, Piepho A, Brockhoff
C, et al. The diagnosis of thoracic aortic dissection by noninvasive imaging
procedures. N Engl J Med. 1993;328(1):1-9.
24. Sommer T, Fehske W, Holzknecht N, Smekal AV, Keller E, Lutterbey G, et al.
Aortic dissection: a comparative study of diagnosis with spiral CT,
multiplanar transesophageal echocardiography, and MR imaging. Radiology.
1996;199(2):347-52.
25. Evangelista A, Garcia-del-Castillo H, Gonzalez-Alujas T, Dominguez-
Oronoz R, Salas A, Permanyer-Miralda G, et al. Diagnosis of ascending
aortic dissection by transesophageal echocardiography: utility of M-mode in
recognizing artifacts. J Am Coll Cardiol. 1996;27(1):102-7.
26. Erbel R, Alfonso F, Boileau C, Dirsch O, Eber B, Haverich A, et al; Task
Force on Aortic Dissection, European Society of Cardiology. Diagnosis and
management of aortic dissection. Eur Heart J. 2001;22(18):1642-81.
27. Penn MS, Smedira N, Lytle B, Brener SJ. Does coronary angiography before
emergency aortic surgery affect in-hospital mortality? J Am Coll Cardiol.
2000;35(4):889-94.
28. Isselbacher EM, Cigarroa JE, Eagle KA. Cardiac tamponade complicating
proximal aortic dissection. Is pericardiocentesis harmful? Circulation.
1994;90(5):2375-8.
29. DeSanctis RW, Doroghazi RM, Austen WG, Buckley MJ. Aortic dissection.
N Engl J Med. 1987;317(17):1060-7.
30. Lai DT, Robbins RC, Mitchell RS, Moore KA, Oyer PE, Shumway NE, et al.
Does profound hypothermic circulatory arrest improve survival in patients
with acute type A aortic dissection? Circulation. 2002;106(12 Suppl 1):I218-
28.
31. Mehta RH, Suzuki T, Hagan PG, Bossone E, Gilon D, Llovet A, et al;
International Registry of Acute Aortic Dissection (IRAD) Investigators.
Predicting death in patients with acute type a aortic dissection. Circulation.
2002;105(2):200-6.
32. Suzuki T, Mehta RH, Ince H, Nagai R, Sakomura Y, Weber F, et al;
International Registry of Aortic Dissection. Clinical profiles and outcomes of
acute type B aortic dissection in the current era: lessons from the International
Registry of Aortic Dissection (IRAD). Circulation. 2003;108(Suppl 1):II312-
7.
33. Eggebrecht H, Nienaber CA, Neuhäuser M, Baumgart D, Kische S,
Schmermund A, et al. Endovascular stent-graft placement in aortic dissection:
a meta-analysis. Eur Heart J. 2006;27(4):489-98.
34. Kusagawa H, Shimono T, Ishida M, Suzuki T, Yasuda F, Yuasa U, et al.
Changes in false lumen after transluminal stent-graft placement in aortic
dissections: six years’ experience. Circulation. 2005;111(22):2951-7.
35. Chen LW, Dai XF, Lu L, Zhang GC, Cao H. Extensive primary repair of the
thoracic aorta in acute type A aortic dissection by means of ascending aorta
replacement combined with open placement of triple-branched stent graft:
early results. Circulation. 2010;122(14):1373-8.
36. Duebener LF, Lorenzen P, Richardt G, Misfeld M, Nötzold A, Hartmann F, et
al. Emergency endovascular stent-grafting for life-threatening acute type B
aortic dissections. Ann Thorac Surg. 2004;78(4):1261-6.
37. Fattori R, Bacchi-Reggiani L, Bertaccini P, Napoli G, Fusco F, Longo M, et
al. Evolution of aortic dissection after surgical repair. Am J Cardiol.
2000;86(8):868-72.
38. Song JM, Kim SD, Kim JH, Kim MJ, Kang DH, Seo JB, et al. Long-term
predictors of descending aorta aneurysmal change in patients with aortic
dissection. J Am Coll Cardiol. 2007;50(8):799-804.
TROMBOEMBOLISMO PULMONAR
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 72 anos, secretária, atendida previamente em emergência
cardiológica com quadro de fibrilação atrial associada à estenose valvar mitral
reumática com área valvar mitral aferida ao ecocardiograma em 1,1cm2. Na sequência
de sua evolução, já em preparo pré-operatório, após o quarto dia de internação,
apresentou hemiplegia em dimídio direito. Submetida à tomografia computadorizada de
crânio, identificou-se infarto cerebral frontoparietal esquerdo, atribuído a
tromboembolismo, com degeneração hemorrágica. Naquele momento encontrava-se
anticoagulada com enoxaparina na dose de 1mg/kg aplicada duas vezes ao dia, que foi
prontamente suspensa, sendo então utilizadas meias elásticas em coxas e pernas
bilateralmente para profilaxia da trombose venosa profunda. Após 14 dias de
internação a paciente foi liberada para seguimento ambulatorial. Em 10 dias retornou
ao hospital com referência a novo episódio de dispneia em repouso acompanhada de
sudorese fria e hemoptise.
O exame físico revelava:
PA =60x30mmHg; FC =103bpm; FR =38rpm
Palidez cutâneo-mucosa; Turgência jugular a 45º
Ausculta pulmonar com diminuição do murmúrio vesicular em terço inferior do
HTD na face anterior.
RCR 2T B1 aumentada P2 aumentada
Abdômen atípico
Membro inferior direito com plegia e aumento de volume em relação ao esquerdo
com dor à breve mobilização pelo examinador. Panturrilha direita sem
“empastamento”.
Figura 1
Eletrocardiograma da paciente relatada
Sinal de McGuinn-White: S1Q3T3
EcoDoppler colorido venoso dos membros inferiores: Ausência de trombos ou refluxos
anormais no sistema venoso dos membros inferiores.
Figura 2
Ecocardiograma transesofágico da paciente
OBJETIVOS
1. Analisar as condições clínicas afeitas à intercorrência de embolia pulmonar.
2. Discutir a abordagem diagnóstica e terapêutica sistematizada de embolia
pulmonar.
3. Descrever as medidas preventivas para o tromboembolismo pulmonar.
4. Avaliar o prognóstico de curto e longo prazo, descrevendo-se os preditores
de mortalidade.
PERGUNTAS
1. Qual a importância do diagnóstico de embolia pulmonar e que critérios adotar
para o diagnóstico de certeza?
Quadro 1
Escore de Wells8
EP=embolia pulmonar; bpm=batimentos por minuto
Quadro 2
Escore de Geneva revisado8
Telerradiografia de tórax:
A identificação de uma telerradiografia de tórax normal é útil no diagnóstico da EP
quando o paciente se apresenta com dispneia, dor torácica pleurítica e taquicardia. É
um elemento útil no descarte do diagnóstico diferencial, ainda que seu valor preditivo
negativo seja limitado. O exame normal é menos frequente em pacientes idosos.
O ICOPER identificou que 82% dos pacientes >70 anos apresentavam telerradiografia
de tórax anormal. Outras anormalidades listadas foram: a atelectasia, o infiltrado
parenquimatoso, a efusão pleural, a elevação do diafragma homolateral ao pulmão
afetado10.
Eletrocardiograma:
O eletrocardiograma é um dos exames iniciais a serem realizados em casos de suspeita
de EP, e tem sido amplamente estudado. É útil não só para o diagnóstico de EP,
notadamente nos casos em que ela é maciça, mas também para excluir outras doenças
como as síndromes isquêmicas coronarianas agudas e a pericardite. Há de se acentuar
que as alterações eletrocardiográficas são precoces e transitórias, podendo estar
presentes somente nas primeiras 48 horas, o que implica que ele deve ser realizado de
modo precoce e seriado, pois os achados eletrocardiográficos geralmente desaparecem
quando a disfunção do VD retorna ao normal.
Gasometria Arterial
A gasometria arterial em vigência da EP revela frequentemente hipoxemia, um aumento
do gradiente alveolocapilar e alcalose respiratória. Nenhum desses dados pode ser
utilizado para diagnosticar ou descartar o diagnóstico de EP. Isso é particularmente
verdadeiro no paciente idoso, no qual há uma natural queda da pressão parcial arterial
de oxigênio e um aumento do gradiente alveolocapilar de oxigênio. A melhor aplicação
da gasometria arterial no paciente com suspeita diagnóstica de EP é a orientação quanto
à suplementação de oxigênio ou intervenções no equilíbrio ácido-básico12.
Dímero-D
Diversos métodos de identificação têm sido desenvolvidos com sensibilidades
variadas, desde quase 100% a 80%. Testes poucos sensíveis (como a aglutinação do
látex ou de hemácias) não devem ser utilizados para, isoladamente, excluir a EP. Já o
teste ELISA, um ensaio imunológico, exibe uma sensibilidade de 84,8% e uma
especificidade de 68,8%, enquanto que na dosagem pelo Látex, a sensibilidade não é
maior do que 75%, com um nível de especificidade semelhante13. Entretanto, apesar de
sensibilidade maior, o ELISA requer de 3-4 horas para ser realizado. Considerando sua
baixa especificidade, especialmente na presença de outras doenças, seu uso fica de
sobremaneira limitado ao atendimento de emergência.
Ainda que o método exiba uma série de vantagens potenciais, a literatura aponta uma
sensibilidade reduzida do ecocardiograma transtorácico (50%), com uma
especificidade de 90% para a EP.
O caso clínico apresentado descreve uma paciente com alta probabilidade clínica de
embolia pulmonar, com repercussões hemodinâmicas graves (hipotensão arterial). A
proximidade temporal do acidente vascular hemorrágico impõe contraindicação
absoluta ao emprego de trombolíticos ou mesmo a anticoagulação por qualquer método.
Os exames complementares de patologia clínica apenas orientaram a conduta
terapêutica sindrômica inicial.
Os fatores de risco primários para a formação do trombo são: a estase venosa, a lesão
endotelial e a hipercoagulabilidade, já de há muito descritas por Virchow2. A estase
venosa pode se originar de imobilizações devido a fraturas, especialmente do quadril e
membros inferiores, de lesão neuromotora, ou de outra condição incapacitante. Outras
causas de estase são: a elevação da pressão venosa pela insuficiência cardíaca
congestiva, as sequelas de eventos trombóticos prévios, as compressões extrínsecas por
tumores pélvicos, além de estados de hiperviscosidade17,18.
6. A abordagem inicial deve ser com heparina não fracionada ou heparina de baixo
peso molecular?
As HBPM são atualmente preferidas às HNF, por serem seguras, efetivas e dispensarem
monitoramento laboratorial. Situações como sangramentos graves, trombocitopenia e
osteoporose são menos frequentes com HBPM do que com heparina não fracionada.
Ainda que esta tenha estabelecido sua eficácia ao longo de meio século, há uma
tendência atual em substituir o predomínio do seu uso pelo das HBPM13.
Quadro 3
Agentes trombolíticos disponíveis no mercado brasileiro e aprovados pelo FDA para emprego na EP 3
A HNF via subcutânea, na dose de 5.000 unidades a cada 12 horas, mostra-se eficaz na
redução do risco de EP; no entanto sua recomendação se circunscreve a pacientes de
risco moderado como aqueles submetidos a cirurgias gerais ou em pacientes clínicos,
incluindo os idosos hospitalizados portadores de doenças agudas. As heparinas de
baixo peso molecular exibem vantagens adicionais com relação à heparina não
fracionada. Estas incluem uma maior biodisponibilidade e uma meia-vida maior, o que
permite que sejam administradas duas ou três vezes por dia. Ambas dispensam controle
laboratorial.
A inserção de filtro na veia cava inferior (FVCI) tem o objetivo de evitar que êmbolos
migrem para os pulmões, considerando que, predominantemente, os êmbolos se
originam dos membros inferiores. A inserção do FVCI é eficaz na prevenção da
recorrência da EP e do óbito a ela relacionada, no período intra-hospitalar a partir de
então. A incidência da recorrência a partir da instalação do filtro varia de 2,6% a
5,6%, sem nenhuma diferença significativa entre os diversos modelos disponíveis. As
razões da recorrência são: a migração do filtro na luz da cava inferior, a instalação
inadequada, a formação de trombos a partir do filtro, filtração inadequada do material
embólico e trombose da cava proximal no ponto de implantação25.
A eficácia do uso prolongado do FVCI ainda é incerta uma vez que esse não interfere na
formação de trombos nem no desenvolvimento da circulação colateral. A morte
relacionada ao implante do FVCI é rara, ainda que situações como a migração do filtro
ou perfuração da cava inferior possam ocorrer.
Referências
1. Ouellette DW, Patocka C. Pulmonary embolism. Emerg Med Clin North Am.
2012;30(2):329-75.
2. Heit JA. The epidemiology of venous thromboembolism in the community.
Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2008;28(3):370-2.
3. Volschan A, Caramelli B, Gottschall CA, Blacher C, Casagrande EL, Lucio
EA, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz de Embolia
Pulmonar. Arq Bras Cardiol. 2004;83(supl 1):1-8. Erratum in: Arq Bras
Cardiol. 2004;83(4):364.
4. Carvalho MRM, Oliveira GMM, Pantoja MR, Godoy PH, Luiz RR. Embolia
pulmonar no paciente idoso internado. Rev SOCERJ. 2005;18(2):141-7.
5. Kearon C. Diagnosis of pulmonary embolism. CMAJ. 2003;168(2):183-94.
6. The PIOPED Investigators. Value of the ventilation/perfusion scan in acute
pulmonary embolism. Results of the prospective investigation of pulmonary
embolism diagnosis (PIOPED). The PIOPED Investigators. JAMA.
1990;263(20):2753-9.
7. Iles S, Hodges AM, Darley JR, Frampton C, Epton M, Beckert LE, et al.
Clinical experience and pre-test probability scores in the diagnosis of
pulmonary embolism. QJM. 2003;96(3):211-5.
8. Le Gal G, Righini M, Roy PM, Sanchez O, Aujesky D, Bounameaux H, et al.
Prediction of pulmonary embolism in the emergency department: the revised
Geneva score. Ann Intern Med. 2006;144(3):165-71.
9. Penaloza A, Verschuren F, Dambrine S, Zech F, Thys F, Roy PM. Performance
of the Pulmonary Embolism Rule-out Criteria (the PERC rule) combined with
low clinical probability in high prevalence population. Thromb Res. 2012.
Epub ahead of print.
10. Goldhaber SZ, Visani L, De Rosa M. Acute pulmonary embolism: clinical
outcomes in the International Cooperative Pulmonary Embolism Registry
(ICOPER). Lancet. 1999;353(9162):1386-9.
11. Raghav KP, Makkuni P, Figueredo VM. A review of electrocardiography in
pulmonary embolism: recognizing pulmonary embolus masquerading as ST-
elevation myocardial infarction. Rev Cardiovasc Med. 2011;12(3):157-63.
12. Geske JB, Smith SB, Morgenthaler TI, Mankad SV. Care of patients with
acute pulmonary emboli: a clinical review with cardiovascular focus. Expert
Rev Cardiovasc Ther. 2012;10(2):235-50.
13. Hunt JM, Bull TM. Clinical review of pulmonary embolism: diagnosis,
prognosis, and treatment. Med Clin North Am. 2011;95(6):1203-22.
14. Burns SK, Haramati LB. Diagnostic imaging and risk stratification of patients
with acute pulmonary embolism. Cardiol Rev. 2012;20(1):15-24.
15. Klok FA, Mos IC, Kroft LJ, de Roos A, Huisman MV. Computed tomography
pulmonary angiography as a single imaging test to rule out pulmonary
embolism. Curr Opin Pulm Med. 2011;17(5):380-6.
16. Robert-Ebadi H, Righini M. [Diagnosis of pulmonary embolism]. Rev Mal
Respir. 2011;28(6):790-9.
17. Bogaard HJ, Abe K, Vonk Noordegraaf A, Voelkel NF. The right ventricle
under pressure: cellular and molecular mechanisms of right-heart failure in
pulmonary hypertension. Chest. 2009;135(3):794-804.
18. Hoeper MM, Granton J. Intensive care unit management of patients with
severe pulmonary hypertension and right heart failure. Am J Respir Crit Care
Med. 2011;184(10):1114-24.
19. Prandoni P, Piovella C, Spiezia L, Dalla Valle F, Pesavento R. The optimal
duration of anticoagulation in patients with venous thromboembolism: how
long is long enough? Panminerva Med. 2012;54(1):39-44.
20. Eichinger S, Kyrle PA. Duration of anticoagulation after venous thrombosis.
Vasa. 2012;41(1):11-7.
21. Keeling D, Baglin T, Tait C, Watson H, Perry D, Baglin C, et al; British
Committee for Standards in Haematology. Guidelines on oral anticoagulation
with warfarin - fourth edition. Br J Haematol. 2011;154(3):311-24.
22. Daley MJ, Lat I. Clinical controversies in thrombolytic therapy for the
management of acute pulmonary embolism. Pharmacotherapy.
2012;32(2):158-72.
23. Januel JM, Chen G, Ruffieux C, Quan H, Douketis JD, Crowther MA, et al;
IMECCHI Group. Symptomatic in-hospital deep vein thrombosis and
pulmonary embolism following hip and knee arthroplasty among patients
receiving recommended prophylaxis: a systematic review. JAMA.
2012;307(3):294-303.
24. Galanis T, Kraft WK, Merli GJ. Prophylaxis for deep vein thrombosis and
pulmonary embolism in the surgical patient. Adv Surg. 2011;45:361-90.
25. Sahni A, Lem V. Inferior vena cava filters: a concise review. Hosp Pract
(Minneap). 2011;39(3):71-8.
26. Santoro G, Innocenti D, Meucci F, Squillantini G, Agostini C, Rosso G.
Inferior vena cava filters: any indications anymore? G Ital Cardiol (Rome).
2011;12(9):566-76.
27. Young T, Tang H, Hughes R. Vena caval filters for the prevention of
pulmonary embolism. Cochrane Database Syst Rev. 2010;(2):CD006212.
28. Torbicki A, Perrier A, Konstantinides S, Agnelli G, Galiè N, Pruszczyk P, et
al; ESC Committee for Practice Guidelines (CGP). Guidelines on the
Diagnosis and Management of Acute Pulmonary Embolism: the Task Force
for the Diagnosis and Management of Acute Pulmonary Embolism of the
European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J. 2008;29(18):2276-315.
29. Becattini C, Vedovati MC, Agnelli G. Prognostic value of troponins in acute
pulmonary embolism: a meta-analysis. Circulation. 2007;116(4):427-33.
30. Sanchez O, Trinquart L, Caille V, Couturaud F, Pacouret G, Meneveau N, et
al. Prognostic factors for pulmonary embolism: the prep study, a prospective
multicenter cohort study. Am J Respir Crit Care Med. 2010;181(2):168-73.
31. Volschan A, Albuquerque D, Tura BR, Knibel M, Esteves JP, Bodanese LC,
et al; EMEP (Estudo Multicêntrico de Embolia Pulmonar) Investigators.
Predictors of hospital mortality in hemodynamically stable patients with
pulmonary embolism. Arq Bras Cardiol. 2009;93(2):135-40.
PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA
Luciano Mannarino
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 81 anos, branco, casado, aposentado, procurou atendimento no
ambulatório de cardiologia do hospital com queixa de dor torácica e cansaço.
DA: Início há um mês com cansaço e dor torácica retroesternal típica aos médios
esforços. Não referiu queixas respiratórias, digestivas ou neurológicas. No momento do
atendimento referiu cansaço, mal-estar geral e soluços.
Figura 1
ECG inicial do paciente relatado
Cedido pelo Serviço de Emergência do Hospital totalCor-RJ
Figura 2
ECG 2 do paciente relatado
Cedido pelo Serviço de Emergência do Hospital totalCor-RJ
OBJETIVOS
1. Rever as Diretrizes Internacionais de RCP da International Liaison
Comittee on Resuscitation (ILCOR)
2. Analisar os novos fluxogramas de condutas usadas no suporte básico (BLS) e
avançado de vida em cardiologia (ACLS).
3. Discutir medidas farmacológicas e elétricas vitais utilizadas na RCP.
PERGUNTAS
1- Como foram organizadas as diretrizes de ressuscitação cardiopulmonar da
International Liaison Committee on Resuscitation?
A síndrome coronariana aguda está em primeiro lugar entre as cardiopatias que podem
apresentar fibrilação ventricular. Esse desfecho não apresenta relação direta com a
gravidade da coronariopatia e pode se manifestar a qualquer momento da evolução da
doença.
1. RCP é encorajada com compressões torácicas somente para o leigo que testemunha
uma parada cardíaca súbita, pois é mais fácil de ser executada por indivíduos não
treinados e pode ser facilmente instruída por telefone pelo atendente do Serviço
Médico de Emergência (SME).
2. A avaliação da respiração "Ver, ouvir e sentir” foi removida do algoritmo de SBV.
Esses passos demonstraram ser inconsistentes, além de consumir tempo.
4. A sequência A-B-C permanece para o cuidado neonatal, pois quase sempre a causa
de PCR nos recém-nascidos é a asfixia.
6. A ênfase maior das Diretrizes 2010 é a necessidade de uma RCP de alta qualidade,
incluindo:
7. O soco precordial não deve ser usado em PCR extra-hospitalar não presenciada. O
soco precordial poderá ser considerado para pacientes com TV instável (inclusive TV
sem pulso) presenciada e monitorizada se não houver um desfibrilador imediatamente
pronto para uso. No entanto, ele não deverá retardar a RCP nem a aplicação dos
choques.
12. O protocolo de um choque versus a sequência de três choques foi estabelecido nas
diretrizes de 2010. Devem ser usadas cargas de 360J e 200J nos desfibriladores com
onda elétrica monofásica e bifásica, respectivamente. Se um choque não eliminar a FV,
o benefício incremental de outro choque é baixo, e o reinício da RCP provavelmente
terá maior valor do que outro choque imediato.
14. Após obter o acesso venoso (IV) ou intraósseo (IO), adrenalina deverá ser utilizada
na dose de 1mg a cada 3-5 minutos, podendo ser substituída pela vasopressina na dose
de 40UI em substituição à primeira ou segunda dose da adrenalina2.
15. Amiodarona deverá ser utilizada na dose de ataque de 300mg IV seguida de nova
dose de 150mg IV nos casos de FV refratária às manobras de ressuscitação.
16. A capnografia quantitativa com forma de onda está indicada para a avaliação da
efetividade das manobras de ressuscitação, quando disponível.
Quadro 1
TIMI risk score para o IAMCSST
5. Qual a propedêutica indicada para o caso?
Referências
1. Field JM, Hazinski MF, Sayre MR, Chameides L, Schexnayder SM, Hemphill
R, et al. Part 1: Executive Summary: 2010 American Heart Association
Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency
Cardiovascular Care. Circulation. 2010;122(18 Suppl 3):S640-56.
2. Deakin CD, Morrison LJ, Morley PT, Callaway CW, Kerber RE, Kronick SL;
Advanced Life Support Chapter Collaborators. Part 8: Advanced life
support: 2010 International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and
Emergency Cardiovascular Care Science with Treatment Recommendations.
Resuscitation. 2010;81(Suppl 1):e93-e174.
3. Scanavacca MI, Brito FS, Maia I, Hachul D, Gizzi J, Lorga A, et al;
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes para Avaliação e Tratamento
de Pacientes com Arritmias Cardíacas. Arq Bras Cardiol. 2002;79(supl.
5):1-50.
4. Morrow DA, Antman EM, Parsons L, de Lemos JA, Cannon CP, Giugliano
RP, et al. Application of the TIMI risk score for ST-elevation MI in the
National Registry of Myocardial Infarction 3. JAMA. 2001;286(11):1356-9.
5. Piegas LS, Feitosa G, Mattos LA, Nicolau JC, Rossi Neto JM, et al;
Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz da Sociedade Brasileira de
Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com
Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol. 2009;93(6 supl. 2):e179-
e264. Erratum in: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.
6. Amiodarone Trials Meta-Analysis Investigators. Effect of prophylactic
amiodarone on mortality after acute myocardial infarction and in congestive
heart failure: meta-analysis of individual data from 6500 patients in
randomised trials. Amiodarone Trials Meta-Analysis Investigators. Lancet.
1997;350(9089):1417-24.
DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA
GESTAÇÃO
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 41 anos, procurou atendimento médico por “dor de cabeça” e “falta
de ar”, iniciada há 24 horas. Refere que a “dor de cabeça” não obteve alívio
satisfatório com novalgina e paracetamol, e que o desconforto respiratório não teve
melhora após mudança de decúbito em domicílio.
Encontra-se na vigésima sexta semana de sua primeira gestação (datada pela USG de 1º
trimestre). Participou de quatro consultas de pré-natal, sem intercorrências nas
consultas. Exames realizados no pré-natal, de sangue e urina, não tiveram alterações.
Nega comorbidades. Faz uso de sulfato ferroso desde a última consulta.
Exames laboratoriais:
Hemoglobina =10,2g/dL; LDH =380U/l; Ur =38mg%; Cr =1,1mg%; TGO =60U/l;
Ácido úrico =7,2mg%; Bilirrubina total =1,1mg%; Proteinúria de 24 horas
=5068mg/24h
Condução do Caso:
OBJETIVOS
1. Revisar conceitos relacionados à doença hipertensiva específica da gravidez.
2. Discutir as medidas farmacológicas e não farmacológicas para o seu manejo
clínico.
PERGUNTAS
1. Qual o diagnóstico diferencial para os sinais e sintomas apresentados pela
paciente? Que exames laboratoriais devem ser solicitados na avaliação inicial?
Existem evidências sugerindo que são entidades diferentes; contudo 15-25% das
gestantes com hipertensão gestacional evoluem para pré-eclâmpsia, passando a
apresentar características diferentes das hipertensas sem proteinúria6.
Hipertensão gestacional:
Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia:
Hipertensão crônica:
Pode ocorrer associação das condições clínicas. Uma mulher com hipertensão crônica
pode desenvolver piora dos níveis de pressão arterial, proteinúria ou novas alterações
de exames laboratoriais (plaquetometria ou enzimas hepáticas), configurando caso de
pré-eclâmpsia sobreposta1,2,23.
Plaquetopenia: <100.000/mm3
Proteinúria: ≥5g nas 24 horas
Oligúria: <500ml nas 24 horas
Restrição severa ao crescimento fetal
Edema pulmonar ou cianose
Acidente cerebrovascular
A síndrome HELLP é uma das formas de pré-eclâmpsia grave; seu diagnóstivo envolve
demonstração de hemólise, elevação de enzimas hepáticas e plaquetopenia. Os
seguintes critérios1,2,5 devem estar presentes:
Plaquetas <100.000/mm3
Conduta expectante envolve estado fetal tranquilizador (sem sinais de sofrimento fetal),
estado materno tranquilizador (PA controlada, ausência de sintomas, exames
laboratoriais estáveis ou preferencialmente normais), idade gestacional menor que 34
semanas e ausência de maturidade fetal.
Seja para a profilaxia da eclâmpsia seja para a profilaxia da recorrência das crises
convulsivas eclâmpticas, gestantes com diagnóstico ou suspeita diagnóstica de pré-
eclâmpsia grave devem ser submetidas à terapia com sulfato de magnésio. Pacientes
sob essa terapia devem ter sua diurese mensurada com periodicidade horária por meio
de cateter vesical de demora.
Monitoração clínica de sinais de toxicidade deve ser realizada com frequência através
da avaliação de reflexos tendinosos profundos, nível de consciência e frequência
respiratória. Em sinais de intoxicação, deve ser interrompida a infusão imediatamente,
e a paciente deve receber 10ml de gluconato de cálcio a 10%, em 3min, como antídoto.
O efeito do gluconato de cálcio é transitório, podendo ser necessárias novas doses para
antagonismo do magnésio. Parada cardíaca ou respiratória por toxicidade deve ser
imediatamente tratada com medidas de ressuscitação, incluindo entubação orotraqueal e
ventilação mecânica.
O nível de pressão arterial-alvo pode ainda ser individualizado, tendo em vista que
muitas gestantes possuem níveis tensionais basais muito baixos (<90x75mmHg),
apresentando assim sintomatologia com 150x100mmHg. O controle da pressão arterial
deve ser implementado simultaneamente ao inicio da terapia com sulfato de magnésio
para profilaxia de eclâmpsia.
Quadro 1
FDA: nível de drogas na gestação – riscos inerentes
Hidralazina: Nível C pelo FDA. Inicia-se com 5mg intravenoso em 1-2 minutos; se o
alvo não é atingido em 20 minutos pode ser administrada outra dose em bolus de 5-
10mg, dependendo da resposta inicial. A dose máxima em bolus é 20mg.
Nitroglicerina: Nível C pelo FDA. Preferência nos casos de pré-eclâmpsia com edema
pulmonar por sua propriedade venodilatadora. Pode ser empregada nas doses de 5-
200mcg/min, sendo uma droga segura na gravidez.
Outras drogas podem ser associadas, porém com menor evidência na literatura ou
menor perfil de segurança fetal: betabloqueadores, diuréticos e clonidina.
Prefere-se a betametasona 12mg 1x/dia, num total de duas doses. Como segunda opção,
pode ser utilizada a dexametasona 6mg 2x/dia, por dois dias consecutivos (total de
quatro doses)5. Na ausência dessas duas drogas, a eficácia de hidrocortisona
endovenosa, na dose de 500mg a cada 12 horas, por 48 horas (quatro doses), é
questionável5.
Mulheres que estejam recebendo terapia com hidrocortisona por qualquer outra
indicação, também devem receber a terapia com betametasona ou dexametasona5.
10. Quais as medidas não farmacológicas que podem ser implementadas? Que
outras terapias podem ser utilizadas?
Restrição de sal: não existem evidências que suportem essa medida. Estudo
observacional em pacientes com pré-eclâmpsia não demonstrou redução da pressão
arterial com restrição de sal, mas demonstrou um aumento na velocidade de depleção
de volume, o que pode ser danoso31.
Recomendações Finais
Referências
1. Gabbe SG, Simpson JL, Niebyl JR, Galan H, Goetzl L, Jauniaux ERM, et al.,
eds. Obstetrics: normal and problem pregnancies. 5th ed. Philadelphia:
Elsevier; 2007.
2. Steegers EA, von Dadelszen P, Duvekot JJ, Pijnenborg R. Pre-eclampsia.
Lancet. 2010;376(9741):631-44.
3. Roberts JM, Redman CW. Pre-eclampsia: more than pregnancy-induced
hypertension. Lancet. 1993;341(8858):1447-51. Erratum in: Lancet.
1993;342(8869):504.
4. von Dadelszen P, Menzies J, Magee LA. The complications of hypertension in
pregnancy. Minerva Med. 2005;96(4):287-302.
5. Magee LA, Helewa M, Moutquin JM, von Dadelszen P; Hypertension
Guideline Committee; Strategic Training Initiative in Research in the
Reproductive Health Sciences (STIRRHS) Scholars. Diagnosis, evaluation,
and management of the hypertensive disorders of pregnancy. J Obstet
Gynaecol Can. 2008;30(3 Suppl):S1-48.
6. Magloire L, Funai EF. Gestational hypertension. In: Basow DS, ed.
UpToDate. Waltham, MA: UpToDate; 2011.
7. von Dadelszen P, Magee LA, Lee SK, Stewart SD, Simone C, Koren G, et al.
Activated protein C in normal human pregnancy and pregnancies complicated
by severe preeclampsia: a therapeutic opportunity? Crit Care Med.
2002;30(8):1883-92.
8. Norwitz ER. Defective implantation and placentation: laying the blueprint for
pregnancy complications. Reprod Biomed Online. 2006;13(4):591-9.
9. Wolf M, Kettyle E, Sandler L, Ecker JL, Roberts J, Thadhani R. Obesity and
preeclampsia: the potential role of inflammation. Obstet Gynecol. 2001;98(5
Pt 1):757-62.
10. Catov JM, Ness RB, Kip KE, Olsen J. Risk of early or severe pre-eclampsia
related to pre-existing conditions. Int J Epidemiol. 2007;36(2): 412-9.
11. Xiong X, Demianczuk NN, Buekens P, Saunders LD. Association of
preeclampsia with high birth weight for age. Am J Obstet Gynecol.
2000;183(1):148-55.
12. von Dadelszen P, Magee LA. Could an infectious trigger explain the
differential maternal response to the shared placental pathology of
preeclampsia and normotensive intrauterine growth restriction? Acta Obstet
Gynecol Scand. 2002; 81(7):642-8.
13. Conde-Agudelo A, Villar J, Lindheimer M. Maternal infection and risk of
preeclampsia: systematic review and metaanalysis. Am J Obstet Gynecol.
2008;198(1):7-22.
14. Henao DE, Saleem MA, Cadavid AP. Glomerular disturbances in
preeclampsia: disruption between glomerular endothelium and podocyte
symbiosis. Hypertens Pregnancy. 2010;29(1):10-20.
15. Barton JR, Sibai BM. Gastrointestinal complications of pre-eclampsia.
Semin Perinatol. 2009;33(3):179-88.
16. Zeeman GG. Neurologic complications of pre-eclampsia. Semin Perinatol.
2009;33(3):166-72.
17. Dusse LM, Rios DR, Pinheiro MB, Cooper AJ, Lwaleed BA. Pre-eclampsia:
relationship between coagulation, fibrinolysis and inflammation. Clin Chim
Acta. 2011;412(1-2):17-21.
18. Borzychowski AM, Sargent IL, Redman CW. Inflammation and pre-
eclampsia. Semin Fetal Neonatal Med. 2006;11(5):309-16.
19. Gaber LW, Spargo BH, Lindheimer MD. Renal pathology in pre-eclampsia.
Baillieres Clin Obstet Gynaecol. 1994;8(2):443-68.
20. Barton JR, Sibai BM. Gastrointestinal complications of pre-eclampsia.
Semin Perinatol. 2009;33(3):179-88.
21. Fang CJ, Richards A, Liszewski MK, Kavanagh D, Atkinson JP. Advances in
understanding of pathogenesis of aHUS and HELLP. Br J Haematol.
2008;143(3):336-48.
22. Foley MR, Strong HT Jr, Garite JT. Obstetric Intensive Care Manual. 2nd ed.
Toronto: McGraw-Hill; 2004.
23. Hutcheon JA, Lisonkova S, Joseph KS. Epidemiology of pre-eclampsia and
the other hypertensive disorders of pregnancy. Best Pract Res Clin Obstet
Gynaecol. 2011;25(4):391-403.
24. Pettit F, Brown MA. The management of pre-eclampsia: what we think we
know. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2012;160(1):6-12.
25. Lucas MJ, Leveno KJ, Cunningham FG. A comparison of magnesium sulfate
with phenytoin for the prevention of eclampsia. N Engl J Med 1995; 333:201
26. Which anticonvulsant for women with eclampsia? Evidence from the
Collaborative Eclampsia Trial. Lancet 1995; 345:1455.
27. Duley L, Henderson-Smart D. Magnesium sulphate versus phenytoin for
eclampsia. Cochrane Database Syst Rev 2003; :CD000128.
28. Belfort MA, Anthony J, Saade GR, et al. A comparison of magnesium sulfate
and nimodipine for the prevention of eclampsia. N Engl J Med 2003;
348:304.
29. Libby P, Bonow OR, Mann DL, Zipes DP, eds. Braunwald’s Heart Disease: a
textbook of cardiovascular medicine. 8th ed. Philadelphia:
Saunders/Elsevier; 2007.
30. Yankowitz J, Niebyl JR. Drug therapy in pregnancy. 3rd ed. Philadelphia:
Lippincott, Williams & Wilkins; 2001.
31. Nabeshima K. [Effect of salt restriction on preeclampsia]. Nihon Jinzo
Gakkai Shi. 1994;36(3):227-32.
32. Davies GA, Wolfe LA, Mottola MF, MacKinnon C; Clinical Practice
Obstetrics Committee; Society of Obstetricians and Gynaecologists of
Canada; Canadian Society for Exercise Physiology. Exercise in pregnancy
and the postpartum period. Joint SOGC/CSEP Clinical Practice Guideline
n.129, June 2003. [cited 2011 Nov 20]. Available from:
<http://www.sogc.org/guidelines/index_e.asp>
33. American Academy of Pediatrics Committee on Drugs. Transfer of drugs and
other chemicals into human milk. Pediatrics 2001;108:776-89.
34. Ministério da Saúde [Internet]. Saúde Brasil 2009: uma análise da situação
de saúde e da agenda nacional e internacional de prioridades em saúde.
Brasília; 2010. [acesso em 2011 nov 20]. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/SAUDE_BRASIL_2009_COLETIVA.
35. Lopes E, Melo HK, Silva CGL, Camisão C, Libert EO, Braga FC. Perfil das
pacientes com diagnóstico de doença hipertensiva da gestação internadas na
UTI de uma maternidade de gestão compartilhada no RJ. Programa Científico
do XVI Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva; 2011 nov 9-12; Porto
Alegre, RS. Disponível em <http://cbmi.org.br>
Seção 2. Unidade Coronariana
CASO CLÍNICO
Como a dor não cessasse após 30 minutos, resolveu procurar atendimento médico em
unidade pública de pronto atendimento, próxima ao local do futebol. Ao chegar à
consulta, aproximadamente 50 minutos após, o médico solicitou eletrocardiograma de
12 derivações, constatando supradesnivelamento de 2mm, de V2 a V6.
OBJETIVOS
1. Discutir a conduta diagnóstica para a síndrome coronariana com
supradesnível do segmento ST.
2. Analisar a fisiopatologia do IAMCSSST
3. Identificar a melhor estratégia terapêutica para a síndrome coronariana com
supradesnível do segmento ST.
4. Analisar o tratamento adjuvante para esta síndrome.
PERGUNTAS
1. Qual a hipótese diagnóstica para o caso clínico apresentado?
1. sintomas isquêmicos;
2. alterações eletrocardiográficas indicativas de isquemia (elevação, depressão
do segmento ST ou bloqueio completo do ramo esquerdo (BCRE) novo);
3. desenvolvimento de ondas Q patológicas ao eletrocardiograma;
4. evidência, em exames de imagem, de perda de viabilidade miocárdica ou
contratilidade segmentar anormal1.
O estudo ISIS-2 (Second International Study of Infarct Survival)12 foi outro grande
marco na história do tratamento do infarto, ao demonstrar o benefício da associação do
ácido acetilsalicílico ao fibrinolítico na redução de mortalidade no tratamento nesse
grupo de pacientes12.
O emprego dos fibrinolíticos é seguro, porém alguns efeitos adversos são bem
conhecidos. Estão associados, se houver excesso, a quatro acidentes vasculares
encefálicos (AVE), principalmente hemorrágicos, a cada mil pacientes tratados. Os
preditores independentes para AVE devido à fibrinólise são: idade avançada, baixo
peso, sexo feminino, antecedente de doença cerebrovascular e hipertensão arterial na
admissão.
Quadro 1
Emprego dos fibrinolíticos no infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST
IAM=infarto agudo do miocárdio; ECG=eletrocardiograma; SK=estreptoquinase
Contraindicações absolutas:
Qualquer sangramento intracraniano
Acidente vascular encefálico isquêmico nos últimos três meses
Dano ou neoplasia no sistema nervoso central
Trauma significante na cabeça ou face nos últimos três meses
Sangramento ativo ou diátese hemorrágica (exceto menstruação)
Qualquer lesão vascular cerebral conhecida (malformação arteriovenosa)
Suspeita de dissecção da aorta
Contraindicações relativas:
História de acidente vascular encefálico isquêmico ou patologias
intracranianas não listadas nas contraindicações absolutas
Gravidez
Uso atual de antagonistas da vitamina K: quanto maior o INR maior o risco
de sangramento
Sangramento interno recente < 2 a 4 semanas
Ressuscitação cardiopulmonar traumática ou prolongada (>10min) ou
cirurgia <3 semanas
Hipertensão arterial não controlada (pressão arterial sistólica >180mmHg ou
diastólica >110mmHg)
Punções não compressíveis
História de hipertensão arterial crônica importante e não controlada
Úlcera péptica ativa
Exposição prévia à estreptoquinase (mais de cinco dias) ou reação alérgica
prévia
Dois grandes estudos, o GISSI-2 (Gruppo Italiano per lo Studio della Sopravvivenza
nell’Infarto Miocardico II)17 e o ISIS-3 (Third International Study of Infarct
Survival)18 compararam a estreptoquinase com o rt-PA e não encontraram diferença na
mortalidade entre os dois fibrinolíticos, cabendo ressaltar que em ambos foi utilizada
como terapia coadjuvante a heparina subcutânea, o que pode ter influenciado a eficácia
do rt-PA.
O ASSENT II20, que incluiu cerca de 17000 pacientes com até seis horas do início dos
sintomas de IAM, comparou a TNK-tPA com o regime acelerado da rt-PA e demonstrou
eficácia equivalente entre os dois agentes, incidência de hemorragias cerebrais
idênticas, menor necessidade de transfusões e menor taxa de hemorragias não cerebrais
com o TNK-tPA. A grande vantagem da TNK-tPA é o modo de administração, através
de bolus único, o que reduz os erros de dosagem e facilita sua aplicação em regime
pré-hospitalar.
Quadro 2
Regime de doses de fibrinolíticos
Aspirina e clopidogrel devem ser administrados a todos os pacientes, desde que não haja contraindicação para seu uso.
HNF=heparina não fracionada
Grines et al.22, em 2002, constataram que pacientes com alto risco de IAM em hospitais
sem laboratório de cateterismo podem ter um resultado melhor quando transferidos para
PTCA primária versus trombólise no local. No entanto, isso exigirá um estudo mais
aprofundado. O atraso marcado no processo de transferência sugere um papel para a
triagem de pacientes diretamente pelos centros especializados em ataque cardíaco22.
Steg et al.23 verificaram que o tempo do início dos sintomas deve ser considerado
quando se seleciona a terapia de reperfusão no IAM. Trombólise pré-hospitalar pode
ser preferível à ICP primária para aqueles pacientes tratados dentro das primeiras duas
horas após o início dos sintomas, cuja transferência para um centro com ICP primária
seria além desse tempo, não havendo impacto sobre o desfecho primário em 30 dias
combinado de morte, reinfarto não fatal e acidente vascular encefálico incapacitante23.
Ratcliffe et al.26 relatam que a trombólise tem sido a estratégia de reperfusão pilar para
o IAMCSST, por vários anos. Os resultados clínicos a curto e longo prazo são
superiores quando se opta pela reperfusão com ICP primária; porém a incorporação
dessa estratégia no cenário do NHS (National Health System), em que pese oferecer
melhores desfechos clínicos, exigirá uma substancial reorganização dos serviços26.
Fosbøl et al.27, sabendo que a angioplastia tem sido superior à fibrinólise em pacientes
jovens com IAMCSST, resolveram estudar esse fato na população idosa8. Concluíram
que os efeitos em longo prazo (acompanhamento de três anos) da angioplastia primária
comparados à fibrinólise em pacientes com IAMCSST não são afetados pela idade27.
Com base em estudos de 30 anos atrás, sabe-se que a aspirina reduz a recorrência do
IAM e a morte nos pacientes com diagnóstico de angina instável.
Outros antiplaquetários
Novos antiplaquetários
O maior benefício foi obtido no grupo tratado com prasugrel em relação ao desfecho
combinado primário (morte cardiovascular, infarto do miocárdio ou acidente vascular
encefálico) (9,3% x 11,2%), principalmente pela redução significativa de infarto do
miocárdio não fatal com redução do risco relativo de 23,9%.
No estudo Platelet Inhibition and Patient Outcomes (PLATO) pacientes com síndrome
coronariana aguda sem supra de ST (estratégia conservadora ou invasiva) ou
IAMCSST com planejamento para angioplastia primária foram randomizados para
clopidogrel 75mg/d com dose de ataque de 300mg ou ticagrelor com dose de ataque de
180mg e 90mg, duas vezes ao dia. Os pacientes indicados para a angiolplastia
poderiam também receber uma dose adicional de 300mg de clopidogrel (dose total de
ataque de 600mg)37. O desfecho primário combinado (morte por causa vascular, infarto
do miocárdio ou acidente vascular encefálico) foi reduzido de 11,7% no grupo
clopidogrel para 9,8% no grupo ticagrelor. A morte por causa vascular foi
significativamente reduzida de 5,1% para 4,0% e infarto do miocárdio de 6,9% para
5,8%. Não houve diferença significativa nas taxas de sangramento na comparação entre
os dois grupos.
Anticoagulantes
Nitratos
O emprego de nitratos por via venosa está indicado na presença isolada ou associada
de isquemia persistente, falência de bomba, IAM extenso e hipertensão arterial
sistêmica. A indicação rotineira nas primeiras 24-48 horas não possui evidências de
vantagem.
As situações que contraindicam seu uso por via endovenosa são o comprometimento
clínico e/ou eletrocardiográfico de ventrículo direito, hipotensão e bradicardia16.
Betabloqueadores
Fármacos deste grupo estão indicados nas primeiras 24 horas na presença de congestão
pulmonar ou fração de ejeção ≤40, na ausência de hipotensão (PA sistólica <100mmHg)
ou contraindicações para o seu uso (estenose bilateral de artéria renal,
hipersensibilidade, gravidez)16.
Estatinas
As complicações podem ser muitas, desde aquelas decorrentes do próprio infarto até
aquelas decorrentes do seu tratamento 16. São elas:
Referências
1. Thygesen K, Alpert JS, White HD; Joint ESC/ACCF/AHA/WHF Task Force
for the Redefinition of Myocardial Infarction. Universal definition of
myocardial infarction. Eur Heart J. 2007;28(20):2525-38.
2. The Joint European Society of Cardiology/American College of Cardiology
Committee for the redefinition of myocardial infarction. Myocardial
infarction redefined--a consensus document of The Joint European Society of
Cardiology/American College of Cardiology Committee for the redefinition
of myocardial infarction. Eur Heart J. 2000;21(18):1502-13.
3. DeWood MA, Spores J, Notske R, Mouser LT, Burroughs R, Golden MS, et
al. Prevalence of total coronary occlusion during the early hours of
transmural myocardial infarction. N Engl J Med. 1980;303(16):897-902.
4. Davies MJ, Richardson PD, Woof N, Katz DR, Mann J. Risk of thrombosis in
human atherosclerotic plaques: role of extracellular lipid, macrophage, and
smooth cell content. Br Heart J. 1993;69(5):377-81.
5. Rajavashisth TB, Liao JK, Galis ZS, Tripathi S, Laufs U, Tripathi J, et al.
Inflammatory cytokines and oxidized low density lipoproteins increase
endothelial cell expression of membrane type 1-matrix metalloproteinase. J
Biol Chem. 1999;274(17):11924-9.
6. Slowik MR, Min W, Ardito T, Karsan A, Kashgarian M, Pober JS. Evidence
that tumor necrosis factor triggers apoptosis in human endothelial cells by
interleukin-1-converting enzyme-like protease-dependent and -independent
pathways. Lab Invest. 1997;77(3):257-67.
7. Braunwald E. The open-artery theory is alive and well--again. N Engl J Med.
1993;329(22):1650-2.
8. Holmes DR Jr. Cardiogenic Shock: a lethal complication of acute myocardial
infarction. Rev Cardiovasc Med. 2003;4(3):131-5.
9. Gibson CM. Time is myocardium and time is outcomes. Circulation.
2001;104(22):2632-4.
10. Katritsis D, Karvouni E, Webb-Peploe MM. Reperfusion in acute myocardial
infarction: current concepts. Prog Cardiovasc Dis. 2003;45(6):481-92.
11. Franzosi MG, Santoro E, De Vita C, Geraci E, Lotto A, Maggioni AP, et al.
Ten-year follow-up of the first megatrial testing thrombolytic therapy in
patients with acute myocardial infarction: results of the Gruppo Italiano per
lo Studio della Sopravvivenza nell’Infarto-1 study. The GISSI Investigators.
Circulation. 1998;98(24):2659-65.
12. ISIS-2 (Second International Study of Infarct Survival) Collaborative Group.
Randomised trial of intravenous streptokinase, oral aspirin, both, or neither
among 17,187 cases of suspected acute myocardial infarction: ISIS-2. ISIS-2
(Second International Study of Infarct Survival) Collaborative Group. Lancet.
1988;2(8607):349-60.
13. Fibrinolytic Therapy Trialists’ (FTT) Collaborative Group. Indications of
fibrinolytic therapy in suspected acute myocardial infarction: collaborative
overview of early mortality and major morbidity results from all randomised
trials of more than 1000 patients. Fibrinolytic Therapy Trialists’ (FTT)
Collaborative Group. Lancet. 1994;343(8893):311-22. Erratum in: Lancet.
1994;343(8899):742.
14. White HD. Thrombolytic therapy in the elderly. Lancet.
2000;356(9247):2028-30.
15. Boersma E, Maas AC, Deckers JW, Simoons ML. Early thrombolytic
treatment in acute myocardial infarction: reappraisal of the golden hour.
Lancet. 1996;348(9030):771-5.
16. Piegas LS, Feitosa G, Mattos LA, Nicolau JC, Rossi Neto JM, Timerman A,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz da Sociedade
Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio
com Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol. 2009;93(6 supl.
2):e179-264. Erratum in: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.
17. The International Study Group. In-hospital mortality and clinical course of
20,891 patients with suspected acute myocardial infarction randomised
between alteplase and streptokinase with or without heparin. The
International Study Group. Lancet. 1990;336(8707):71-5.
18. ISIS-3 (Third International Study of Infarct Survival) Collaborative Group.
ISIS-3: a randomised comparison of streptokinase vs tissue plasminogen
activator vs anistreplase and of aspirin plus heparin vs aspirin alone among
41,299 cases of suspected acute myocardial infarction. ISIS-3 (Third
International Study of Infarct Survival) Collaborative Group. Lancet.
1992;339(8796):753-70.
19. The GUSTO Investigators. An international randomized trial comparing four
thrombolytic strategies for acute myocardial infarction. The GUSTO
investigators. N Engl J Med. 1993;329(10):673-82.
20. Assessment of the Safety and Efficacy of a New Thrombolytic (ASSENT-2)
Investigators, Van De Werf F, Adgey J, Ardissino D, Armstrong PW, Aylward
P, Barbash G, et al. Single-bolus tenecteplase compared with front-loaded
alteplase in acute myocardial infarction: the ASSENT-2 double-blind
randomised Trial. Lancet. 1999;354(9180):716-22.
21. Widimský P, Groch L, Zelízko M, Aschermann M, Bednár F, Suryapranata H.
Multicentre randomized trial comparing transport to primary angioplasty vs
immediate thrombolysis vs combined strategy for patients with acute
myocardial infarction presenting to a community hospital without a
catheterization laboratory. The PRAGUE study. Eur Heart J.
2000;21(10):823-31.
22. Grines CL, Westerhausen DR Jr, Grines LL, Hanlon JT, Logemann TL,
Niemela M, et al; Air PAMI Study Group. A randomized trial of transfer for
primary angioplasty versus on-site thrombolysis in patients with high-risk
myocardial infarction: the Air Primary Angioplasty in Myocardial Infarction
study. J Am Coll Cardiol. 2002;39(11):1713-9.
23. Steg PG, Bonnefoy E, Chabaud S, Lapostolle F, Dubien PY, Cristofini P, et al;
Comparison of Angioplasty and Prehospital Thrombolysis in acute
Myocardial infarction (CAPTIM) Investigators. Impact of time to treatment
on mortality after prehospital fibrinolysis or primary angioplasty: data from
the CAPTIM randomized clinical trial. Circulation. 2003;108(23):2851-6.
24. Widimský P, Budesínský T, Vorác D, Groch L, Zelízko M, Aschermann M, et
al; PRAGUE Study Group Investigators. Long distance transport for primary
angioplasty vs immediate thrombolysis in acute myocardial infarction. Final
results of the randomized national multicentre trial--PRAGUE-2. Eur Heart J.
2003;24(1):94-104.
25. De Luca G, Suryapranata H, Ottervanger JP, Antman EM. Time delay to
treatment and mortality in primary angioplasty for acute myocardial
infarction: every minute of delay counts. Circulation. 2004;109(10):1223-5.
26. Ratcliffe AT, Pepper C. Thrombolysis or primary angioplasty? Reperfusion
therapy for myocardial infarction in the UK. Postgrad Med J.
2008;84(988):73-7.
27. Fosbøl EL, Thune JJ, Kelbaek H, Andersen HR, Saunamäki K, Nielsen TT, et
al; DANAMI-2 Investigators. Long-term outcome of primary angioplasty
compared with fibrinolysis across age groups: a Danish Multicenter
Randomized Study on Fibrinolytic Therapy Versus Acute Coronary
Angioplasty in Acute Myocardial Infarction (DANAMI-2) substudy. Am
Heart J. 2008;156(2):391-6.
28. Nielsen PH, Maeng M, Busk M, Mortensen LS, Kristensen SD, Nielsen TT, et
al; DANAMI-2 Investigators. Primary angioplasty versus fibrinolysis in acute
myocardial infarction: long-term follow-up in the Danish acute myocardial
infarction 2 trial. Circulation. 2010;121(13):1484-91.
29. Bueno H, Betriu A, Heras M, Alonso JJ, Cequier A, García EJ, et al;
TRIANA Investigators. Primary angioplasty vs. fibrinolysis in very old
patients with acute myocardial infarction: TRIANA (TRatamiento del Infarto
Agudo de miocardio eN Ancianos) randomized trial and pooled analysis with
previous studies. Eur Heart J. 2011;32(1):51-60.
30. Di Lorenzo E, De Luca G, Sauro R, Varrichio A, Capasso M, Lanzillo T, et
al. The PASEO (PaclitAxel or Sirolimus-Eluting Stent Versus Bare Metal
Stent in Primary Angioplasty) Randomized Trial. JACC Cardiovasc Interv.
2009;2(6);515-23.
31. Stone GW, Lansky AJ, Pocock SJ, Gersh BJ, Dangas G, Wong SC, et al;
HORIZONS-AMI Trial Investigators. Paclitaxel-eluting stents versus bare-
metal stents in acute myocardial infarction. N Engl J Med.
2009;360(19):1946-59.
32. Antithrombolic Trialists’ (ATT) Collaboration, Baigent C, Blackwell L,
Collins R, Emberson J, Godwin J, Peto R, et al. Aspirin in the primary and
secondary prevention of vascular disease: collaborative meta-analysis of
individual participant data from randomised trials. Lancet.
2009;373(9678):1849-60.
33. Mehta SR, Tanguay JF, Eikelboom JW, Jolly SS, Joyner CD, Granger CB, et
al; CURRENT-OASIS 7 trial investigators. Double-dose versus standard-
dose clopidogrel and high-dose versus low-dose aspirin in individuals
undergoing percutaneous coronary intervention for acute coronary syndromes
(CURRENT-OASIS 7): a randomised factorial trial. Lancet.
2010;376(9748):1233-43.
34. Cheng ZM, Jiang LX, Chen YP, Xie JX, Pan HC, Peto R, et al. Addition of
clopidogrel to aspirin in 45,852 patients with acute myocardial infarction:
randomized placebo-controlled trial. Lancet.2005;366(9497):1607-21.
35. Sabatine MS, Cannon CP, Gibson CM, López-Sendón JL, Montalescot G,
Theroux P, et al; CLARITY-TIMI 28 Investigators. Addition of clopidogrel to
aspirin and fibrinolytic therapy for myocardial infarction with ST-segment
elevation. N Engl J Med. 2005;352(12):1179-89.
36. Wiviott SD, Braunwald E, McCabe CH, Montalescot G, Ruzyllo W, Gottieb
S, et al; TRITON-TIMI 38 Invetigators. Prasugrel versus clopidogrel in
patients with acute coronary syndromes. N Engl J Med. 2007;357(20):2001-
15.
37. Cannon CP, Harrington RA, James S, Ardissino D, Becker RC, Emanuelsson
H, et al; PLATelet inhibition and patient Outcomes Investigators. Comparison
of ticagrelor with clopidogrel in patients with a planned invasive strategy for
acute coronary syndromes (PLATO): a randomised double-blind study.
Lancet. 2010;375(9711):283-93.
38. Antman EM, Morrow DA, McCabe CH, Murphy SA, Ruda M, Sadowski Z, et
al; ExTRACT-TIMI 25 Investigators. Enoxaparin versus unfractionated
heparin with fibrinolysis for ST-elevation myocardial infarction. N Engl J
Med. 2006;354(14):1477-88.
39. Yusuf S, Peto R, Lewis J, Collins R, Sleight P. Beta blockade during and after
myocardial infarction: an overview of randomized trials. Prog Cardiovasc
Dis. 1985;27(5):335-71.
40. First International Study of Infarct Survival Collaborative Group.
Randomised trial of intravenous atenolol among 16,027 cases of suspected
acute myocardial infarction: ISIS-1. First International Study of Infarct
Survival Collaborative Group. Lancet. 1986;2(8498):57-66.
41. Yusuf S, Wittes J, Friedman L. Overview of results of randomized clinical
trials in heart disease. I.Treatments following myocardial infarction. JAMA.
1988;260(14):2088-93.
42. Miller CD, Roe MT, Mulgund J, Hoekstra JW, Santos R, Pollack CV Jr, et al.
Impact of acute beta-blocker therapy for patients with non-ST-segment
elevation myocardial infarction. Am J Med. 2007;120(8):685-92.
43. Brandler E, Paladino L, Sinert R. Does the early administration of beta-
blockers improve the in-hospital mortality rate of patients admitted with acute
coronary syndrome? Acad Emerg Med. 2010;17(1):1-10.
44. Théroux P, Taeymans Y, Morissette D, Bosch X, Pelletier GB, Waters DD. A
randomized study comparing propanolol and diltiazem in the treatment of
unstable angina. J Am Coll Cardiol. 1985;5(3):717-22.
45. Parodi O, Simonetti I, Michelassi C, Carpeggiani C, Biagini A, L’Abbate A,
et al. Comparison of verapamil and propanolol therapy for angina pectoris at
rest: a randomized, multiple-crossover, controlled trial in the coronary care
unit. Am J Cardiol. 1986;57(11):899-906.
46. Hansen JF. Treatment with verapamil after an acute myocardial infarction.
Review of the Danish studies on verapamil in myocardial infarction (DAVIT I
and II). Drugs. 1991;42(Suppl 2):43-53.
47. O’Connor RE, Bossaert L, Arntz HR, Brooks SC, Diercks D, Feitosa-Filho
G, et al; Acute Coronary Syndrome Chapter Collaborators. Part 9: Acute
coronary syndromes: 2010 International Consensus on Cardiopulmonary
Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science with Treatment
Recommendations. Circulation. 2010;122(16 Suppl 2):S422-65.
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA SEM
ELEVAÇÃO DO ST
CASO CLÍNICO
OBJETIVOS
1. Descrever a fisiopatologia das síndromes coronarianas sem supra de ST.
2. Discutir a abordagem risco-dependente das síndromes coronarianas agudas
sem supra de ST.
3. Analisar as evidências das novas terapias antitrombóticas disponíveis.
4. Discutir risco trombótico versus risco hemorrágico na escolha das opções
terapêuticas a serem adotadas.
5. Avaliar o momento adequado para a realização da intervenção coronariana.
PERGUNTAS
1. Como descrever a fisiopatologia das síndromes coronarianas agudas (SCA) sem
supra de ST?
Os escores de risco mais utilizados para predizer risco a curto e médio prazo de
eventos isquêmicos são o TIMI e o GRACE10. Estes escores guardam diferenças entre
si quanto a: população estudada, desfechos, características basais, mas são ferramentas
úteis que auxiliam o clínico a tomar decisões em relação à abordagem terapêutica.
Pelo seu poder discriminativo, o escore GRACE comparado ao escore TIMI fornece
maior acurácia na estratificação de risco na admissão e na alta10. É importante salientar
que qualquer escore de risco funciona apenas como instrumento para ajudar o médico
no seu processo de decisão, não podendo nunca ser o único balizador na estratégia a
ser adotada.
À medida que a terapia antitrombótica evoluiu, com inibição cada vez maior da cascata
de coagulação e agregação plaquetária, o risco isquêmico foi progressivamente
reduzido à custa de substancial aumento no risco hemorrágico. Sangramento está
associado a aumento da mortalidade intra-hospitalar e em longo prazo. Esse aumento de
mortalidade decorre do sangramento diretamente e também da necessidade de
hemotransfusão e suspensão de drogas antitrombóticas.
Frente ao paciente com SCA sem supra de ST, duas estratégias distintas podem ser
adotadas. A primeira, considerada conservadora ou funcional, consiste na otimização
da terapia anti-isquêmica e, se houver estabilização clínica, segue-se uma estratificação
funcional. A angiografia e a intervenção ficam reservadas para os pacientes que não se
estabilizam inicialmente ou demonstram isquemia espontânea ou induzida por teste
provocativo. A segunda, considerada invasiva ou anatômica, prevê coronariografia
rotineira e intervenção coronariana quando justificada.
A questão da melhor estratégia a ser adotada foi avaliada em vários estudos e meta-
análises12-16. A comparação entre esses estudos não é simples, pois existem diferenças
em metodologia, população e taxa de revascularização nos braços conservadores.
Analisadas em conjunto, as principais conclusões dessas meta-análises são12-16:
do momento da randomização até o fim do seguimento dos estudos a
estratégia invasiva foi capaz de reduzir o desfecho combinado de morte e
infarto;
quanto maior a diferença de taxas de revascularização entre os grupos, maior
o benefício a favor da estratégia invasiva;
o benefício é claramente maior nos pacientes de alto risco;
não há diferença por sexo quanto ao benefício em pacientes de alto risco,
portanto homens e mulheres devem ser abordados da mesma forma.
mulheres de baixo risco não se beneficiaram da estratégia invasiva.
Os pacientes idosos (>75 anos) em geral apresentam um risco maior de eventos quando
se apresentam com SCA. O quadro clínico nem sempre é claro. Sintomas atípicos e de
menor intensidade são comuns. Por outro lado, o diagnóstico diferencial de dor torácica
se expande. Pneumonia, embolia pulmonar, doença musculoesquelética e doença do
refluxo gastroesofageano são comuns e dificultam o diagnóstico correto.
A estratégia invasiva geralmente não é adotada nesse subgrupo de pacientes após SCA.
Entretanto, estudos científicos mostram que esses pacientes são os que mais se
beneficiam dessa estratégia, de modo que a idade, per se, não deve ser utilizada como
critério para se adotar uma estratégia conservadora17,18.
Outra questão que é sempre motivo de debate diz respeito ao melhor momento para que
a intervenção seja realizada. É bem estabelecido que os pacientes que se apresentam
com instabilidade clínica ou hemodinâmica (dor refratária à terapia máxima,
insuficiência cardíaca, arritmias ventriculares complexas, hipotensão) são de muito alto
risco e devem, por esse motivo, ser submetidos o mais rápido possível a estudo
hemodinâmico e procedida a revascularização. Felizmente a maioria dos pacientes se
apresenta de modo estável e para esses pode-se definir o momento ideal para a
intervenção.
Parece haver um tempo mínimo para que a terapia antiplaquetária atinja seu efeito
máximo protetor de forma que, se a intervenção for realizada imediatamente ou nas três
primeiras horas da admissão, há um nítido aumento de complicações relacionadas ao
procedimento em si, com oclusão de ramos colaterais e embolização de material
aterotrombótico. Com o tempo, a terapia antitrombótica atinge seu efeito pleno e a
incidência de eventos relacionados à intervenção é reduzida; entretanto se o momento
do procedimento é atrasado demais, novamente a incidência de eventos trombóticos se
eleva pelo risco natural da doença. O maior desafio é, portanto, definir a melhor janela
de tempo que permita o benefício máximo da terapia antiplaquetária sem expor o
paciente ao risco de uma intervenção tardia.
Uma boa linha de cuidado para definir o momento da intervenção é estabelecer uma
abordagem risco-dependente, indicando intervenção imediata para aqueles pacientes
instáveis; nas primeiras 24 horas naqueles de alto risco com GRACE escore ≥140 e nas
primeiras 72 horas para aqueles com GRACE escore <140.
5. No paciente com disfunção renal, que cuidados devem ser tomados em relação
aos medicamentos e à coronariografia?
É comum a presença de algum grau de disfunção renal em pacientes com SCA. Nos
pacientes com doença renal crônica é comum a apresentação de insuficiência cardíaca.
Os sintomas de dor torácica são incomuns. O uso de antiplaquetários e anticoagulantes
nesses pacientes representa um risco maior de sangramento e, geralmente, eles não
recebem toda a terapia orientada pelas diretrizes.
Antagonistas dos canais de cálcio têm três subclasses com efeitos e características
hemodinâmicas distintas. Nifedipina foi comparada com metoprolol em estudo
interrompido precocemente por excesso de reinfarto no grupo nifedipina23. Verapamil e
diltiazem em pacientes com função ventricular normal demonstraram benefício
reduzindo reinfarto e morte súbita27,28.
Duas drogas, mais recentemente, foram adicionadas ao arsenal terapêutico das SCA
sem supra de ST. A ivabradina, um inibidor seletivo do nó sinusal, que pode ser uma
ótima opção em pacientes selecionados com contraindicação aos betabloqueadores29.
Ranolazina demonstrou redução de isquemia recorrente e classe de angina no estudo
MERLIN30, mas não foi capaz de reduzir a mortalidade.
7. Com tantas opções, como escolher a terapia antiplaquetária? Como proceder nos
casos de pacientes com necessidade de cirurgia e que já estão recebendo terapia
antiplaquetária?
O início de ação do clopidogrel é considerado lento, mesmo após uma dose de ataque
de 300mg e, como já discutido, a rapidez no início de ação é fundamental para maior
proteção de novos eventos isquêmicos. Estudo32 comparou a dose de 600mg como
ataque, seguida de 150mg/dia por sete dias; e, a partir daí, 75mg/dia com a dose
clássica 300mg/75mg. A maior dose esteve associada a aumento nas taxas de
sangramento sem melhora na redução de desfechos isquêmicos. O único subgrupo que
se beneficiou dessa estratégia de dose dobrada foi aquele que realizou intervenção
coronariana percutânea32. Uma dose de 600mg tem início de ação mais rápido e mais
potência na inibição da agregação plaquetária, sendo atualmente a melhor dose para
pacientes nos quais a estratégia invasiva foi a selecionada.
Apesar do benefício de seu uso em associação ao AAS, o clopidogrel tem uma série de
limitações. Pode-se citar que é uma pró-droga que necessita dupla metabolização
hepática, que 85% da droga é inativada pelas esterases plasmáticas, que há ampla
variedade na resposta farmacodinâmica, polimorfismo genético, interação com outras
drogas, presença de pacientes hiporrespondedores. Essas limitações da droga
motivaram a busca por novas opções terapêuticas que fossem mais eficazes e com
maior preditibilidade na resposta.
Nesse ensaio, prasugrel foi testado apenas após a anatomia coronariana ser conhecida e
a intervenção planejada, sendo portanto esse o único contexto em que sua utilização foi
aprovada. Estudo (TRILOGY-ACS) ainda em andamento, está testando seu uso em
pacientes de alto risco, selecionados para tratamento conservador, com doses reduzidas
para idosos e pacientes de baixo peso corporal.
A maioria dos estudos avaliando a eficácia dessa classe de drogas nas SCA foi
conduzida em uma época anterior aos novos antiagregantes plaquetários, o que torna
difícil a avaliação de sua real efetividade no tratamento contemporâneo. A avaliação
conjunta desses estudos demonstrou redução de morte e infarto apenas naqueles em que
a intervenção foi realizada37.
Anticoagulantes nas SCA têm a função de inibir a geração e atividade da trombina. São,
portanto, efetivos no tratamento das SCASSST, mas sua efetividade máxima para
reduzir infarto está na associação com a terapia antiplaquetária40.
O primeiro anticoagulante a ser empregado foi a heparina não fracionada (HNF) que
inibe de forma indireta a trombina; é usada em infusão venosa contínua, necessita
monitorização constante pelo TTPa e tem faixa terapêutica estreita entre 50-75s.
Valores <50s têm risco trombótico elevado e >75s aumentam o risco hemorrágico sem
benefício antitrombótico adicional.
10. Quais as novas perspectivas farmacológicas para o tratamento das SCA? Quais
as estratégias a serem adotadas para evitar sangramento?
Mais evidências são necessárias para definir o real papel dessas drogas na abordagem
das SCASSST.
Sangramento é a complicação não isquêmica mais frequente das SCA. Sua incidência é
difícil de avaliar pela variedade de definições empregadas nos estudos. Sangramento
maior quando ocorre, aumenta o risco de morte em quatro vezes, infarto em cinco vezes
e AVE em três vezes nos 30 dias seguintes47. A melhor abordagem do sangramento é sua
prevenção. O risco hemorrágico de cada paciente deve ser estimado como primeiro
passo para prevenir futuros sangramentos. Escolha de drogas com melhor perfil de
segurança, ajuste apropriado de doses corrigidas por peso, idade e função renal,
exposição aos antitrombóticos pelo menor tempo possível, escolha do acesso radial
sobre o femoral para intervenção quando possível, utilização de dispositivos de
oclusão arterial quando optado pelo acesso femoral são algumas das medidas que
reduzem o risco de complicações hemorrágicas48,49.
Sangramentos gastrointestinais são a manifestação hemorrágica mais frequente após
SCA. Se não houver contraindicação, inibidores de bomba de prótons devem ser
usados de forma rotineira nos pacientes de maior risco48,49.
Referências
1. van Miltenburg-van Zijl AJ, Simoons ML, Veerhoek RJ, Bossuyt PM.
Incidence and follow-up of Braunwald subgroups in unstable angina pectoris.
J Am Coll Cardiol. 1995;25(6):1286-92.
2. Braunwald E. Unstable angina. A classification. Circulation. 1989;80(2):410-
4.
3. Holmvang L, Clemmensen P, Lindahl B, Lagerqvist B, Venge P, Wagner G, et
al. Quantitative analysis of the admission electrocardiogram identifies
patients with unstable coronary artery disease who benefit the most from
early invasive treatment. J Am Coll Cardiol. 2003;41(6):905-15.
4. Kaul P, Fu Y, Chang WC, Harrington RA, Wagner GS, Goodman SG, et al;
PARAGON-A and GUSTO llb Investigators. Platelet IIb/IIIa Antagonism for
the Reduction of Acute Global Organization Network. Prognostic value of ST
segment depression in acute coronary syndromes: insights from PARAGON-A
applied to GUSTO-IIb. PARAGON-A and GUSTO IIb Investigators. Platelet
IIb/IIIa Antagonism for the Reduction of Acute Global Organization Network.
J Am Coll Cardiol. 2001;38(1):64-71.
5. Antman EM, Tanasijevic MJ, Thompson B, Schactman M, McCabe CH,
Cannon CP, et al. Cardiac-specific troponin I levels to predict the risk of
mortality in patients with acute coronary syndromes. N Engl J Med.
1996;335(18):1342-9.
6. Reichlin T, Hochholzer W, Bassetti S, Steuer S, Stelzig C, Hartwiger S, et al.
Early diagnosis of myocardial infarction with sensitive cardiac troponin
assays. N Engl J Med. 2009;361(9):858-67.
7. Giannitsis E, Becker M, Kurz K, Hess G, Zdunek D, Katus HA. High-
sensitivity cardiac troponin T for early prediction of evolving non-ST-
segment elevation myocardial infarction in patients with suspected acute
coronary syndrome and negative troponin results on admission. Clin Chem.
2010;56(4):642-50.
8. Thygesen K, Mair J, Mueller C, Huber K, Weber M, Plebani M, et al.
Recommendations for the use of natriuretic peptides in acute cardiac care: A
position statement from the Study Group on Biomarkers in Cardiology of the
ESC Working Group on Acute Cardiac Care. Eur Heart J. 2011.[Epub ahead
of print].
9. Morrow DA, Rifai N, Antman EM, Weiner DL, McCabe CH, Cannon CP, et
al. C-reactive protein is a potent predictor of mortality independently of and
in combination with troponin T in acute coronary syndromes: a TIMI 11A
substudy. Thrombolysis in Myocardial Infarction. J Am Coll Cardiol.
1998;31(7):1460-5.
10. Aragam KG, Tamhane UU, Kline-Rogers E, Li J, Fox KA, Goodman SG, et
al. Does simplicity compromise accuracy in ACS risk prediction? A
retrospective analysis of the TIMI and GRACE risk scores. PLoS One.
2009;4(11):e7947.
11. Subherwal S, Bach RG, Chen AY, Gage BF, Rao SV, Newby LK, et al.
Baseline risk of major bleeding in non-ST-segment-elevation myocardial
infarction: the CRUSADE (Can Rapid risk stratification of Unstable angina
patients Suppress ADverse outcomes with Early implementation of the
ACC/AHA Guidelines) Bleeding Score. Circulation. 2009;119(14):1873-82.
12. Yan AT, Yan RT, Tan M, Eagle KA, Granger CB, Dabbous OH, et al;
Canadian Acute Coronary Syndromes Registry Investigators. In-hospital
revascularization and one-year outcome of acute coronary syndrome patients
stratified by the GRACE risk score. Am J Cardiol. 2005;96(7):913-6.
13. Mehta SR, Cannon CP, Fox KA, Wallentin L, Boden WE, Spacek R, et al.
Routine vs selective invasive strategies in patients with acute coronary
syndromes: a collaborative meta-analysis of randomized trials. JAMA.
2005;293(23):2908-17.
14. Bavry AA, Kumbhani DJ, Rassi AN, Bhatt DL, Askari AT. Benefit of early
invasive therapy in acute coronary syndromes: a meta-analysis of
contemporary randomized clinical trials. J Am Coll Cardiol.
2006;48(7):1319-25.
15. O’Donoghue M, Boden WE, Braunwald E, Cannon CP, Clayton TC, de
Winter RJ, et al. Early invasive vs conservative treatment strategies in
women and men with unstable angina and non-ST-segment elevation
myocardial infarction: a meta-analysis. JAMA. 2008;300(1):71-80.
16. Fox KA, Clayton TC, Damman P, Pocock SJ, de Winter RJ, Tijssen JG, et al;
FIR Collaboration. Long-term outcome of a routine versus selective invasive
strategy in patients with non-ST-segment elevation acute coronary syndrome a
meta-analysis of individual patient data. J Am Coll Cardiol.
2010;55(22):2435-45.
17. Wallentin L, Lagerqvist B, Husted S, Kontny F, Ståhle E, Swahn E. Outcome
at 1 year after an invasive compared with a non-invasive strategy in unstable
coronary-artery disease: the FRISC II invasive randomised trial. FRISC II
Investigators. Fast Revascularisation during Instability in Coronary artery
disease. Lancet. 2000;356(9223):9-16.
18. Bach RG, Cannon CP, Weintraub WS, DiBattiste PM, Demopoulos LA,
Anderson HV, et al. The effect of routine, early invasive management on
outcome for elderly patients with non-ST-segment elevation acute coronary
syndromes. Ann Intern Med. 2004;141(3):186-95.
19. Montalescot G, Cayla G, Collet JP, Elhadad S, Beygui F, Le Breton H, et al;
ABOARD Investigators. Immediate vs delayed intervention for acute
coronary syndromes: a randomized clinical trial. JAMA. 2009;302(9):947-
54.
20. van’t Hof AW, de Vries ST, Dambrink JH, Miedema K, Suryapranata H,
Hoorntje JC, et al. A comparison of two invasive strategies in patients with
non-ST elevation acute coronary syndromes: results of the Early or Late
Intervention in unStable Angina (ELISA) pilot study. 2b/3a upstream therapy
and acute coronary syndromes. Eur Heart J. 2003;24(15):1401-5.
21. Mehta SR, Granger CB, Boden WE, Steg PG, Bassand JP, Faxon DP, et al;
TIMACS Investigators. Early versus delayed invasive intervention in acute
coronary syndromes. N Engl J Med. 2009;360(21):2165-75.
22. Katritsis DG, Siontis GC, Kastrati A, van’t Hof AW, Neumann FJ, Siontis
KC, et al. Optimal timing of coronary angiography and potential intervention
in non-ST-elevation acute coronary syndromes. Eur Heart J. 2010;32(1):32-
40.
23. Riezebos RK, Ronner E, Ter Bals E, Slagboom T, Smits PC, ten Berg JM, et
al; OPTIMA trial. Immediate versus deferred coronary angioplasty in non-ST-
segment elevation acute coronary syndromes. Heart. 2009;95(10):807-12.
24. Telford AM, Wilson C. Trial of heparin versus atenolol in prevention of
myocardial infarction in intermediate coronary syndrome. Lancet.
1981;1(8232):1225-8.
25. Lubsen J, Tijssen JG. Efficacy of nifedipine and metoprolol in the early
treatment of unstable angina in the coronary care unit: findings from the
Holland Interuniversity Nifedipine/metoprolol Trial (HINT). Am J Cardiol.
1987;60(2):18A-25A.
26. Yusuf S, Wittes J, Friedman L. Overview of results of randomized clinical
trials in heart disease. I. Treatments following myocardial infarction. JAMA.
1988;260(14):2088-93.
27. Hansen JF. Treatment with verapamil after an acute myocardial infarction.
Review of the Danish studies on verapamil in myocardial infarction (DAVIT I
and II). Drugs. 1991;42(Suppl 2):43-53.
28. Moss AJ, Oakes D, Rubison M, McDermott M, Carleen E, Eberly S, et al.
Effects of diltiazem on long-term outcome after acute myocardial infarction in
patients with and without a history of systemic hypertension. The Multicenter
Diltiazem Postinfarction Trial Research Group. Am J Cardiol.
1991;68(5):429-33.
29. Borer JS. Therapeutic effects of I(f) blockade: evidence and perspective.
Pharmacol Res. 2006;53(5):440-5.
30. Morrow DA, Scirica BM, Karwatowska-Prokopczuk E, Murphy SA, Budaj
A, Varshavsky S, et al; MERLIN-TIMI 36 Trial Investigators. Effects of
ranolazine on recurrent cardiovascular events in patients with non-ST-
elevation acute coronary syndromes: the MERLIN-TIMI 36 randomized trial.
JAMA. 2007;297(16):1775-83.
31. Yusuf S, Zhao F, Mehta SR, Chrolavicius S, Tognoni G, Fox KK; Clopidogrel
in Unstable Angina to Prevent Recurrent Events Trial Investigators. Effects of
clopidogrel in addition to aspirin in patients with acute coronary syndromes
without ST-segment elevation. N Engl J Med. 2001;345(7):494-502. Erratum
in: N Engl J Med. 2001;345(23):1716; 2001;345(20):1506.
32. CURRENT-OASIS 7 Investigators, Mehta SR, Bassand JP, Chrolavicius S,
Diaz R, Eikelboom JW, Fox KA, et al. Dose comparisons of clopidogrel and
aspirin in acute coronary syndromes. N Engl J Med. 2010;363(10):930-42.
Erratum in: N Engl J Med. 2010;363(16):1585.
33. Wiviott SD, Braunwald E, McCabe CH, Montalescot G, Ruzyllo W, Gottlieb
S, et al; TRITON-TIMI 38 Investigators. Prasugrel versus clopidogrel in
patients with acute coronary syndromes. N Engl J Med. 2007;357(20):2001-
15.
34. Wallentin L, Becker RC, Budaj A, Cannon CP, Emanuelsson H, Held C, et al;
PLATO Investigators. Ticagrelor versus clopidogrel in patients with acute
coronary syndromes. N Engl J Med. 2009;361(11):1045-57.
35. Sibbing D, Morath T, Stegherr J, Braun S, Vogt W, Hadamitzky M, et al.
Impact of proton pump inhibitors on the antiplatelet effects of clopidogrel.
Thromb Haemost. 2009;101(4):714-9.
36. O’Donoghue ML, Braunwald E, Antman EM, Murphy SA, Bates ER,
Rozenman Y, et al. Pharmacodynamic effect and clinical efficacy of
clopidogrel and prasugrel with or without a proton-pump inhibitor: an
analysis of two randomised trials. Lancet. 2009;374(9694):989-97.
37. Roffi M, Chew DP, Mukherjee D, Bhatt DL, White JA, Moliterno DJ, et al.
Platelet glycoprotein IIb/IIIa inhibition in acute coronary syndromes. Gradient
of benefit related to the revascularization strategy. Eur Heart J.
2002;23(18):1441-8.
38. Stone GW, Bertrand ME, Moses JW, Ohman EM, Lincoff AM, Ware JH, et al;
ACUITY Investigators. Routine upstream initiation vs deferred selective use
of glycoprotein IIb/IIIa inhibitors in acute coronary syndromes: the ACUITY
Timing trial. JAMA. 2007;297(6):591-602.
39. Giugliano RP, White JA, Bode C, Armstrong PW, Montalescot G, Lewis BS,
et al; EARLY ACS Investigators. Early versus delayed, provisional
eptifibatide in acute coronary syndromes. N Engl J Med. 2009;360(21):2176-
90.
40. Eikelboom JW, Anand SS, Malmberg K, Weitz JI, Ginsberg JS, Yusuf S.
Unfractionated heparin and low-molecular-weight heparin in acute coronary
syndrome without ST elevation: a meta-analysis. Lancet.
2000;355(9219):1936-42. Erratum in: Lancet. 2000;356(9229):600.
41. Murphy SA, Gibson CM, Morrow DA, Van de Werf F, Menown IB, Goodman
SG, et al. Efficacy and safety of the low-molecular weight heparin enoxaparin
compared with unfractionated heparin across the acute coronary syndrome
spectrum: a meta-analysis. Eur Heart J. 2007;28(17):2077-86.
42. Ferguson JJ, Califf RM, Antman EM, Cohen M, Grines CL, Goodman S, et al;
SYNERGY Trial Investigators. Enoxaparin vs unfractionated heparin in high-
risk patients with non-ST-segment elevation acute coronary syndromes
managed with an intended early invasive strategy: primary results of the
SYNERGY randomized trial. JAMA. 2004;292(1):45-54.
43. Fifth Organization to Assess Strategies in Acute Ischemic Syndromes
Investigators, Yusuf S, Mehta SR, Chrolavicius S, Afzal R, Pogue J, Granger
CB, et al. Comparison of fondaparinux and enoxaparin in acute coronary
syndromes. N Engl J Med. 2006;354(14):1464-76.
44. Stone GW, McLaurin BT, Cox DA, Bertrand ME, Lincoff AM, Moses JW, et
al; ACUITY Investigators. Bivalirudin for patients with acute coronary
syndromes. N Engl J Med. 2006;355(21):2203-16.
45. Mega JL, Braunwald E, Wiviott SD, Bassand JP, Bhatt DL, Bode C, et al;
ATLAS ACS 2-TIMI 51 Investigators. Rivaroxaban in patients with a recent
acute coronary syndrome. N Engl J Med. 2012;366(1):9-19.
46. Tricoci P, Huang Z, Held C, Moliterno DJ, Armstrong PW, Van de Werf F, et
al; TRACER Investigators. Thrombin-receptor antagonist vorapaxar in acute
coronary syndromes. N Engl J Med. 2012;366(1):20-33.
47. Eikelboom JW, Mehta SR, Anand SS, Xie C, Fox KA, Yusuf S. Adverse
impact of bleeding on prognosis in patients with acute coronary syndromes.
Circulation. 2006;114(8):774-82.
48. Hamm CW, Bassand JP, Agewall S, Bax J, Boersma E, Bueno H, et al; ESC
Committee for Practice Guidelines. ESC Guidelines for the management of
acute coronary syndromes in patients presenting without persistent ST-
segment elevation: The Task Force for the management of acute coronary
syndromes (ACS) in patients presenting without persistent ST-segment
elevation of the European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J.
2011;32(23):2999-3054.
49. Wright RS, Anderson JL, Adams CD, Bridges CR, Casey DE Jr, Ettinger SM,
et al. 2011 ACCF/AHA focused update on the Guidelines for the Management
of Patients with Unstable Angina/Non-ST-Elevation Myocardial Infarction
(updating the 2007 guideline): a report of the American College of
Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines developed in collaboration with the American College of
Emergency Physicians, Society for Cardiovascular Angiography and
Interventions, and Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol.
2011;57(19):1920-59. Erratum in: J Am Coll Cardiol. 2011;57(19):1960.
ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO PÓS-INFARTO
AGUDO DO MIOCÁRDIO
Gabriel Camargo
Ronaldo de Souza Leão Lima
CASO CLÍNICO
OBJETIVOS
1. Discutir como estratificar clinicamente, de maneira simples, um paciente
após um infarto agudo do miocárdio.
2. Identificar métodos complementares não invasivos disponíveis para essa
avaliação.
3. Identificar métodos complementares invasivos que estão disponíveis para
essa avaliação.
4. Avaliar quando indicar e o que esperar de cada uma dessas ferramentas de
auxílio diagnóstico e prognóstico.
PERGUNTAS
1. Qual o objetivo da estratificação de risco pós-IAM?
A mortalidade média no primeiro ano é de 10% (passando para 5%/ano nos anos
seguintes). A grande maioria dos óbitos (85%) no primeiro ano ocorre por doença
arterial coronariana (DAC), sendo 50% dos casos por morte súbita; 50% dos casos
previstos para os primeiros três meses e 33% nas três primeiras semanas
A anamnese e o exame físico auxiliam a compor o quadro do paciente com risco maior.
História de idade avançada, sexo feminino, IAM antigo, diabetes e hipertensão arterial
ou achados de hipotensão, taquicardia, localização do IAM e, se na parede anterior, o
tipo de síndrome coronariana aguda, a extensão do infarto e a identificação de
arritmias. A classificação de Killip é um sistema interessante de estratificação pela sua
simplicidade e por permitir identificação de subgrupos com riscos bastante diferentes.
Uma rápida caracterização das funções sistólica e diastólica em repouso, a
identificação de isquemia miocárdica espontânea e, tão logo o paciente ultrapasse 72
horas iniciais até aproximadamente o 5º dia pós-IAM, uma rápida identificação da
capacidade de exercício e a detecção de isquemia miocárdica residual. Finalmente, a
informação da gravidade e extensão da doença obstrutiva coronariana determinada por
cinecoronariografia previamente realizada também auxiliará na predição dos resultados
adversos no pós-IAM.
Quadro 1
Critérios e pontuação do escore TIMI para pacientes com IAM com supradesnivelamento do segmento ST.
Fonte: Morrow et al.1
Quadro 2
Escore TIMI para angina instável e IAMSSST.
Outro papel para ecocardiografia de repouso, não só na fase aguda mas em toda a
evolução do quadro, é a pesquisa de complicações mecânicas do IAM. A necrose do
músculo cardíaco pode evoluir para ruptura levando à comunicação interventricular
(CIV)5 se ocorrer ao nível do septo interventricular, ou à hemorragia intrapericárdica
se acometer a parede livre do VE6,7. Enquanto a CIV com seu fluxo interventricular
turbulento e intenso pode ser mais facilmente reconhecida com o uso do Doppler e
mapeamento em cores, a ruptura de parede livre é mais difícil de ser identificada,
chamando a atenção a presença de derrame pericárdico e sinais de tamponamento
(nenhum dos dois achados é patognomônico desse diagnóstico em pacientes com SCA).
Outro dado que pode ser obtido com esse exame é a presença ou ausência de
viabilidade miocárdica e o número de segmentos viáveis. Embora estudo randomizado
recente14 tenha levantado dúvidas quanto à importância desse achado, ainda é
amplamente aceito que negar tratamento de revascularização a pacientes que tenham
miocárdio viável em território isquêmico significa privá-los de maiores chances de
sobrevivência, ao menos no médio prazo15.
O intervalo de tempo para que a cintilografia seja obtida nessa situação é de mais de
seis horas após a injeção e ainda assim estarão representando o momento pré-
intervenção23. Uma nova cintigrafia feita 24 horas após e comparada com essa de fase
aguda permite de forma incomparável determinar a quantidade de miocárdio salvo pelo
procedimento. Esse fato de prognóstico comprovado infelizmente é de difícil
aplicabilidade, pois exige um Laboratório de Medicina Nuclear funcionante a qualquer
hora (7 dias/ 24 horas). Após a fase aguda em pacientes de risco baixo e intermediário,
é utilizado o estresse farmacológico, geralmente com dipiridamol. O estresse físico
submáximo também pode ser realizado antes da alta hospitalar.
Quadro 3
Preditores de alto risco em exame de cintilografia de perfusão miocárdica.
Um conceito que merece ser comentado no resultado do exame, diz respeito à indução
de déficits contráteis e queda da fração de ejeção à cintilografia. Tratando-se de
pacientes com maior probabilidade de doença multivascular, as informações obtidas
pelo gated-SPECT aumentam as chances de identificar padrões de alto risco sem
comprometer a acurácia25. Embora as imagens de perfusão reflitam a distribuição
sanguínea no pico do estresse, a análise da contratilidade global e segmentar é feita
apenas durante a aquisição das imagens, o que costuma ocorrer em geral 15min após
exercício físico ou 30-45min após o estresse farmacológico. Pode-se então deduzir que
as alterações contráteis diagnosticadas pelo gated-SPECT indicam a presença de
atordoamento miocárdico pós-isquemia significativa. Além disso, a droga utilizada foi
o dipiridamol, que tem a função de provocar vasodilatação coronariana, levando à
heterogeneidade de fluxo entre os territórios vasculares, porém a indução de isquemia
verdadeira (fenômeno de roubo) é incomum e ocorre com maior frequência em
pacientes multiarteriais25.
Figura 4
Imagens de realce tardio à RMC.
(A) Eixo curto segmento apical do VE mostrando intensa captação transmural do meio de contraste envolvendo o
septo, a parede anterior e lateral do VE (delimitação pontas de seta).
(B) Corte de eixo longo três câmaras do VE também evidenciando intensa captação transmural do meio de contraste
envolvendo o septo anterior, região apical e lateroapical (delimitação pontas de seta). A chance de melhora de
contratilidade nesses segmentos após revascularização é inferior a 2%.
Figura 5
Imagens de realce tardio à RMC.
(A) Eixo curto segmento médio do VE mostrando captação endocárdica do meio de contraste envolvendo menos de
50% da espessura parietal do segmento inferolateral (ponta de seta).
(B) Corte de eixo longo três câmaras do VE não evidenciando significativa captação do meio de contraste. A chance
de melhora de contratilidade nesses segmentos após revascularização é superior a 40%, sendo superior a 70% em
áreas sem realce.
Outras informações que podem ser obtidas com o exame, porém ainda com pequena
utilização e menor validação, são: avaliação da extensão do edema miocárdico
utilizando imagens pesadas em T2, estando esse achado relacionado à área sob risco
(estimativa de miocárdio a ser salvo); pesquisa e injúria de reperfusão (no-reflow) e
hemorragia intramiocárdica, ambos os achados relacionados a pior prognóstico36,37.
Esses métodos permitiram maior precisão na avaliação do que pode ser feito, muito
superior ao que se depreende apenas da análise da anatomia coronariana, da função
regional isolada em repouso ou a presença ou ausência de ondas Q no ECG.
Referências
1. Morrow DA, Antman EM, Charlesworth A, Cairns R, Murphy SA, de Lemos
JA, et al. TIMI risk score for ST-elevation myocardial infarction: A
convenient, bedside, clinical score for risk assessment at presentation: An
intravenous nPA for treatment of infarcting myocardium early II trial substudy.
Circulation. 2000;102(17):2031-7.
2. Antman EM, Cohen M, Bernink PJ, McCabe CH, Horacek T, Papuchis G, et
al. The TIMI risk score for unstable angina/non-ST elevation MI: A method
for prognostication and therapeutic decision making. JAMA.
2000;284(7):835-42.
3. Appleton CP, Firstenberg MS, Garcia MJ, Thomas JD. The echo-Doppler
evaluation of left ventricular function. A current perspective. Cardiol Clin.
2000;18(3):513-46.
4. Shah PM, Archibald D, Lopez B, Cohn JN. Prognostic value of
echocardiographic parameters in chronic congestive heart failure: the V
HEFT study. [Abstract]. J Am Coll Cardiol. 1987;9(Suppl):202A.
5. Topaz O, Taylor AL. Interventricular septal rupture complicating acute
myocardial infarction: from pathophysiologic features to the role of invasive
and noninvasive diagnostic modalities in current management. Am J Med.
1992;93(6):683-8.
6. López-Sendón J, González A, López de Sá E, Coma-Canella I, Roldán I,
Domínguez F, et al. Diagnosis of subacute ventricular wall rupture after acute
myocardial infarction: sensitivity and specificity of clinical, hemodynamic
and echocardiographic criteria. J Am Coll Cardiol. 1992;19(6):1145-53.
7. Pollak H, Diez W, Spiel R, Enenkel W, Miczoch J. Early diagnosis of
subacute free wall rupture complicating acute myocardial infarction. Eur
Heart J. 1993;14(5):640-8.
8. Coma-Canella I, Gamallo C, Onsurbe PM, Jadraque LM. Anatomic findings
in acute papillary muscle necrosis. Am Heart J. 1989;118(6):1188-92.
9. Nishimura RA, Schaff HV, Shub C, Gersh BJ, Edwards WD, Tajik AJ.
Papillary muscle rupture complicating acute myocardial infarction: analysis
of 17 patients. Am J Cardiol. 1983;51(3):373-7.
10. Sicari R, Picano E, Landi P, Pingitore A, Bigi R, Coletta C, et al. Prognostic
value of dobutamine-atropine stress echocardiography early after acute
myocardial infarction. Echo Dobutamine International Cooperative (EDIC)
Study. J Am Coll Cardiol. 1997;29(2):254-60.
11. Schinkel AF, Poldermans D, Elhendy A, Bax JJ. Prognostic role of
dobutamine stress echocardiography in myocardial viability. Curr Opin
Cardiol. 2006;21(5):443-9.
12. Picano E. Stress Echocardiography. 2nd ed. Berlin: Springer-Verlag; 1994.
13. McCully RB, Roger VL, Mahoney DW, Karon BL, Oh JK, Miller FA Jr, et al.
Outcome after normal exercise echocardiography and predictors of
subsequent cardiac events: follow-up of 1,325 patients. J Am Coll Cardiol.
1998;31(1):144-9.
14. Bonow RO, Mauer G, Lee KL, Holly TA, Binkley PF, Desvigne-Nickens P, et
al; STICH Trial Investigators. Myocardial viability and survival in ischemic
left ventricular dysfunction. N Engl J Med. 2011;364(17):1617-25.
15. Allman KC, Shaw LJ, Hachmovitch R, Udelson JE. Myocardial viability
testing and impact of revascularization on prognosis in patients with coronary
artery disease and left ventricular dysfunction: a meta-analysis. J Am Coll
Cardiol. 2002;39(7):1151-8.
16. Yao SS, Chaudhry FA. Assessment of myocardial viability with dobutamine
stress echocardiography in patients with ischemic left ventricular dysfunction.
Echocardiography. 2005;22(1):71-83.
17. Mathias W Jr, Arruda AL, Andrade JL, Filho OC, Porter TR. Endocardial
border delineation during dobutamine infusion using contrast
echocardiography. Echocardiography. 2002;19(2):109-14.
18. Tsutsui JM, Xie F, O’Leary EL, Elhedry A, Anderson JR, McGrain AC, et al.
Diagnostic accuracy and prognostic value of dobutamine stress myocardial
contrast echocardiography in patients with suspected acute coronary
syndromes. Echocardiography. 2005;22(6):487-95.
19. Lindvall K, Erhardt LR, Lundman T, Rehngvist N, Sjögren A. Early
mobilization and discharge of patients with acute myocardial infarction. A
prospective study using risk indicators and early exercise tests. Acta Med
Scand. 1979;206(3):169-75.
20. Shaw LJ, Peterson ED, Kesler K, Hasselblad V, Califf RM. A metaanalysis of
predischarge risk stratification after acute myocardial infarction with stress
electrocardiographic, myocardial perfusion, and ventricular function imaging.
Am J Cardiol. 1996;78(12):1327-37.
21. Mark DB, Hlatky MA, Harrell FE Jr, Lee KL, Califf RM, Pryor DB. Exercise
treadmill score for predicting prognosis in coronary artery disease. Ann
Intern Med. 1987;106(6):793-800.
22. Valeur N, Clemmensen P, Saunamäki K, Grande P; DANAMI-2 Investigators.
The prognostic value of pre-discharge exercise testing after myocardial
infarction treated with either primary PCI or fibrinolysis: a DANAMI-2 sub-
study. Eur Heart J. 2005;26(2):119-27.
23. Miller TD, Christian TF, Hopfenspirger MR, Hodge DO, Gersh BJ, Gibbons
RJ. Infarct size after acute myocardial infarction measured by quantitative
tomographic 99mTc sestamibi imaging predicts subsequent mortality.
Circulation. 1995;92(3):334-41.
24. Heller GV, Brown KA, Landin RJ, Haber SB. Safety of early intravenous
dipyridamole technetium 99m sestamibi SPECT myocardial perfusion
imaging after uncomplicated first myocardial infarction. Early Post MI IV
Dipyridamole Study (EPIDS). Am Heart J. 1997;134(1):105-11.
25. Lima RS, Watson DD, Goode AR, Siadaty MS, Ragosta M, Belle GA, et al.
Incremental value of combined perfusion and function over perfusion alone
by gated SPECT myocardial perfusion imaging for detection of severe three-
vessel coronary artery disease. J Am Coll Cardiol. 2003;42(1):64-70.
26. White HD, Norris RM, Brown MA, Brandt PW, Whitlock RM, Wild CJ. Left
ventricular end-systolic volume as the major determinant of survival after
recovery from myocardial infarction. Circulation. 1987;76(1):44-51.
27. Alfakih K, Reid S, Jones T, Sivananthan M. Assessment of ventricular
function and mass by cardiac magnetic resonance imaging. Eur Radiol.
2004;14(10):1813-22.
28. Rehr RB, Peshock RM, Malloy CR, Keller AM, Parkey RW, Buja LM, et al.
Improved in vivo magnetic resonance imaging of acute myocardial infarction
after intravenous paramagnetic contrast agent administration. Am J Cardiol.
1986;57(10):864-8.
29. Krittayaphong R, Boonyasirinant T, Chaithiraphan V, Maneesai A,
Saiviroonporn P, Nakyen S, et al. Prognostic value of late gadolinium
enhancement in hypertensive patients with known or suspected coronary
artery disease. Int J Cardiovasc Imaging. 2010;26(Suppl 1):123-31.
30. Krittayaphong R, Saiviroonporn P, Boonyasirinant T, Udompunturak S.
Prevalence and prognosis of myocardial scar in patients with known or
suspected coronary artery disease and normal wall motion. J Cardiovasc
Magn Reson. 2011;13(1):2.
31. Kim RJ, Wu E, Rafael A, Chen EL, Parker MA, Simonetti O, et al. The use of
contrast-enhanced magnetic resonance imaging to identify reversible
myocardial dysfunction. N Engl J Med. 2000;343(20):1445-53.
32. Schinkel AF, Bax JJ, Poldermans D, Elhendy A, Ferrari R, Rahimtoola SH.
Hibernating myocardium: diagnosis and patient outcomes. Curr Probl
Cardiol. 2007;32(7):375-410.
33. Schwitter J, Wacker CM, van Rossum AC, Lombardi M, Al-Saadi N,
Ahlstrom H, et al. MR-IMPACT: comparison of perfusion-cardiac magnetic
resonance with single-photon emission computed tomography for the
detection of coronary artery disease in a multicentre, multivendor,
randomized trial. Eur Heart J. 2008;29(4):480-9.
34. Chiu CW, So NM, Lam WW, Chan KY, Sanderson JE. Combined first-pass
perfusion and viability study at MR imaging in patients with non-ST segment-
elevation acute coronary syndromes: feasibility study. Radiology.
2003;226(3):717-22.
35. Krittayaphong R, Chaithiraphan V, Maneesai A, Udompanturak S. Prognostic
value of combined magnetic resonance myocardial perfusion imaging and late
gadolinium enhancement. Int J Cardiovasc Imaging. 2011;27(5):705-14.
36. Kramer CM. The prognostic significance of microvascular obstruction after
myocardial infarction as defined by cardiovascular magnetic resonance. Eur
Heart J. 2005;26(6):532-3.
37. Bruder O, Breuckmann F, Jensen C, Jochims M, Naber CK, Barkhausen J, et
al; Herzinfarktverbund Essen. Prognostic impact of contrast-enhanced CMR
early after acute ST segment elevation myocardial infarction (STEMI) in a
regional STEMI network: results of the "Herzinfarktverbund Essen". Herz.
2008;33(2):136-42.
38. Knoebel SB, McHenry PL, Phillips JF, Pauletto FJ. Coronary collateral
circulation and myocardial blood flow reserve. Circulation. 1972;46(1):84-
94.
39. Levin DC. Pathways and functional significance of the coronary collateral
circulation. Circulation. 1974;50(4):831-7.
40. Torres MA. Estratificação de risco pós-infarto do miocárdio. Rev Soc
Cardiol Rio Grande do Sul. 2008;13:1-6.
41. Schwarz F, Flameng W, Ensslen R, Sesto M, Thormann J. Effects of coronary
collaterals on left ventricular function at rest and during stress. Am Heart J.
1978;95(5):570-7.
42. Goldberg HL, Goldstein J, Borer JS, Moses JW, Collins MB. Functional
importance of coronary collateral vessels. Am J Cardiol. 1984;53(6):694-9.
43. Dilsizian V, Cannon RO 3rd, Tracy CM, McIntosh CL, Clark RE, Bowon RO.
Enhanced regional left ventricular function after distant coronary bypass by
means of improved collateral blood flow. J Am Coll Cardiol.
1989;14(2):312-8.
44. Dewood MA, Spores J, Notske R, Mouser LT, Burroughs R, Golden MS, et
al. Prevalence of total coronary occlusion during the early hours of
transmural myocardial infarction. N Engl J Med. 1980;303(16):897-902.
45. Fox KA, Goodman SG, Klein W, Brieger D, Steg PG, Dabbous O, et al.
Management of acute coronary syndromes. Variations in practice and
outcome; findings from the Global Registry of Acute Coronary Events
(GRACE). Eur Heart J. 2002;23(15):1177-89.
46. van’t Hof AW, de Vries ST, Dambrink JH, Miedema K, Suryapranata H,
Hoorntje JC, et al. A comparison of two invasive strategies in patients with
non-ST elevation acute coronary syndromes: results of the Early or Late
Intervention in unStable Angina (ELISA) pilot study. 2b/3a upstream therapy
and acute coronary syndromes. Eur Heart J. 2003;24(15):1401-5.
47. Boden WE, O’Rourke RA, Crawford MH, Blaustein AS, Deedwania PC,
Zoble RG, et al. Outcomes in patients with acute non-Q-wave myocardial
infarction randomly assigned to an invasive as compared with a conservative
management strategy. Veterans Affairs Non-Q-Wave Infarction Strategies in
Hospital (VANQWISH) Trial Investigators. N Engl J Med.
1998;338(25):1785-92. Erratum in: N Engl J Med. 1998;339(15):1091.
48. Cannon CP, Weintraub WS, Demopoulos LA, Vicari R, Frey MJ, Lakkis N, et
al; TACTICS (Treat Angina with Aggrastat and Determine Cost of Theraphy
with an Invasive or Conservative Strategy)—Thrombolysis in Myocardial
Infarction 18 Investigators. Comparison of early invasive and conservative
strategies in patients with unstable coronary syndromes treated with the
glycoproteinIIb/IIIa inhibitor tirofiban. N Engl J Med. 2001;344(25):1879-
87.
49. Solomon SD, Zelenkofske S, McMurray JJ, Finn PV, Velazquez E, Erti G, et
al; Valsartan in Acute Myocardial Infarction Trial (VALIANT) Investigators.
Sudden death in patients with myocardial infarction and left ventricular
dysfunction, heart failure, or both. N Engl J Med. 2005;352(25):2581-8.
Erratum in: N Engl J Med. 2005;353(7):744.
50. Moss AJ, Zareba W, Hall WJ, Klein H, Wilber DJ, Cannom DS, et al;
Multicenter Automatic Defibrillator Implantation Trial II Investigators.
Prophylactic implantation of a defibrillator in patients with myocardial
infarction and reduced ejection fraction. N Engl J Med. 2002;346(12):877-
83.
51. Buxton AE, Lee KL, DiCarlo L, Gold MR, Greer GS, Prystowsky EN, et al.
Electrophysiologic testing to identify patients with coronary artery disease
who are at risk for sudden death. Multicenter Unsustained Tachycardia Trial
Investigators. N Engl J Med. 2000;342(26):1937-45.
52. Reddy VY, Reynolds MR, Neuzil P, Richardson AW, Taborsky M,
Jongnarangsin K, et al. Prophylactic catheter ablation for the prevention of
defibrillator therapy. N Engl J Med. 2007;357(26):2657-65.
53. Bass EB, Elson JJ, Fogoros RN, Peterson J, Arena VC, Kapoor WN. Long-
term prognosis of patients undergoing electrophysiologic studies for syncope
of unknown origin. Am J Cardiol. 1988;62(17):1186-91.
CHOQUE CARDIOGÊNICO
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 73 anos, com antecedentes de infarto do miocárdio de parede
inferior há cinco anos, sem terapia de reperfusão. Histórico de diabetes mellitus do tipo
2, hipertensão arterial, hipercolesterolemia e tabagismo. Foi admitido na Unidade de
Emergência com dor torácica de início há três horas, do tipo constrictiva.
OBJETIVOS
1. Identificar precocemente os sinais de choque cardiogênico (CC), suas causas
e fatores precipitantes.
2. Discutir a fisiopatologia e o diagnóstico do choque cardiogênico.
3. Discutir o prognóstico e a importância da revascularização precoce.
PERGUNTAS
1. Como interpretar os dados do caso clínico apresentado?
Embora não esteja com hipotensão arterial à admissão, o paciente já apresenta sinais
clínicos de baixo débito cardíaco e consequente má perfusão orgânica. O
eletrocardiograma demonstra sinais de infarto prévio da parede inferior e alterações
compatíveis com infarto anterior extenso na fase superaguda (primeiras três horas de
evolução).
Após restabelecer o fluxo normal na artéria culpada, pode-se tratar também a artéria
circunflexa devido à persistência do choque circulatório e da importância anatômica do
vaso e da oclusão crônica da artéria coronária direita. Se a despeito da adequada
revascularização percutânea e de todas as medidas de suporte orgânico implementadas,
o paciente persistir com sinais de baixo débito cardíaco (avaliado pelo cateter de
Swan-Ganz) e de má perfusão periférica, pode-se evoluir em complexidade com o
implante, por exemplo, de um dispositivo de assistência ventricular esquerda, para que
se mantenha a viabilidade orgânica, enquanto se espera a melhora da disfunção
ventricular esquerda (miocárdio “estonteado”). As medidas mais agressivas de
assistência circulatória devem ser avaliadas em relação ao estado neurológico e de
viabilidade dos órgãos e sistemas, dentro de uma expectativa de recuperação clínico-
funcional do paciente.
Considerando-se o tempo para início dos sinais e sintomas, a maioria dos pacientes que
desenvolve choque cardiogênico por infarto agudo do miocárdio, desenvolvem-no após
a internação, mais especificamente dentro das primeiras 24 horas após o infarto. Os
casos restantes ocorrerão nos dias seguintes, com alguns casos sendo adiados por até
uma semana1-4.
Critérios hemodinâmicos:
Idade avançada
Infarto do miocárdio de localização anterior
História de hipertensão arterial
História de diabetes mellitus
Doença coronariana multivascular
História de infarto do miocárdio prévio
Diagnóstico prévio de insuficiência cardíaca
Infarto com supradesnivelamento do segmento ST
Presença de bloqueio de ramo esquerdo no eletrocardiograma
Insucesso no tratamento trombolítico
Fluxo TIMI <3 depois da revascularização percutânea
Níveis aumentados de proteína C-reativa
Presença de doença arterial periférica e doença cerebrovascular
Pacientes com grave doença cardíaca prévia, como doença valvar, e associada com
reserva cardíaca limitada, podem apresentar choque cardiogênico mesmo após um
pequeno infarto ou como consequência de endocardite bacteriana aguda.
Figura 1
Etiologias do choque cardiogênico. Casuísticas combinadas do Shock Trial Registry e do Shock Trial (total de 1422
pacientes). Outras causas incluem choque causado por valvopatias graves, cardiomiopatia dilatada, hemorragia,
intoxicações por betabloqueadores e bloqueadores dos canais de cálcio, obstruções dinâmicas ao trato de saída do
ventrículo esquerdo, embolismo pulmonar e dissecção aórtica.
Fonte: adaptado de Hochman et al.5
6. Quais são as complicações mecânicas do IAM?
Estudos3,6 de autopsias mostraram que pelo menos 40% do miocárdio ventricular deve
estar envolvido (infartos novos e antigos) nos pacientes com choque circulatório. No
entanto, várias observações provenientes dos estudos Shock Trial9 e Shock Trial
Registry5,7 põem em dúvida essa tradicional fisiopatologia do choque cardiogênico:
O óxido nítrico (NO) é produzido a partir da L-arginina pela família das sintetases de
NO. Há três formas da óxido nítrico-sintetase (NOS): neural (n NOS), indutível (iNOS)
e endotelial (eNOS). O NO produzido em níveis baixos pela eNOS endotelial é uma
molécula protetora, com importante papel na regulação do tônus vascular basal, da
pressão arterial e da perfusão tissular. No entanto, os elevados níveis de óxido nítrico
liberados pelos macrófagos, através da iNOS, podem ser tóxicos para agentes
microbianos, parasitários ou tumorais, mas também para as células sadias.
Figura 2
A clássica espiral fisiopatológica do choque miopático está à direita, em preto. O papel da síndrome de resposta
inflamatória sistêmica do choque cardiogênico está à esquerda, em vermelho
Fonte: adaptada de Hochman et al.9
Menon19 concluiu que pacientes com choque cardiogênico miopático podem apresentar
síndrome clínica semelhante à sepse, com resistência vascular sistêmica normal ou
reduzida e aumento das citocinas inflamatórias19.
Estudo de Kohsaka11 et al. verificou que aproximadamente 20% dos pacientes com
infarto agudo do miocárdio e choque cardiogênico apresentavam grave síndrome de
resposta inflamatória sistêmica e, naqueles com resultados positivos de rastreamento
microbiológico, observou-se risco dobrado de mortalidade, quando comparados aos
que não tiveram culturas positivas. Concluiu-se que a redução da resistência vascular
sistêmica, no início da síndrome do choque circulatório, em pacientes que apresentaram
positividade nas culturas, poderia significar que a vasodilatação inapropriada tenha
papel relevante na fisiopatologia e no mecanismo de manutenção do choque,
constituindo risco para infecção11.
Eletrocardiograma
Achados laboratoriais
Radiografia de tórax
Ecocardiografia
Monitorização hemodinâmica
O cateterismo da artéria pulmonar também pode ser considerado útil nas seguintes
situações:
Quadro 1
Perfil hemodinãmico do choque cardiogênico e suas diversas etiologias
PVC=pressão venosa central; POAP=pressão de oclusão da artéria pulmonar; DC=débito cardíaco; RVS=resistência
vascular sistêmica; PDFAP=pressão diastólica final da artéria pulmonar; VD=ventrículo direito
Cinecoronariografia
Web et al.29 analisaram os seguintes intervalos para a reperfusão: até 3 horas, entre 3-6
horas, e ≥6 horas, e observaram as seguintes taxas de mortalidade, respectivamente:
31%, 50% e 62%29. O tratamento de reperfusão tem benefício quando ocorre até 12-18
horas do início do choque7-10,22,23,30,31.
Nas lesões trivasculares, com oclusão da ARI e lesões <90% nos dois outros
principais, aconselha-se intervenção imediata na ARI e revascularização completa
depois. No caso de lesões graves no tronco da coronária esquerda ou dos três vasos
>90%, a indicação seria de cirurgia de revascularização imediata43.
Uma vez que 87% dos pacientes com choque cardiogênico têm acometimento
multivascular, a discussão se situa sobre as modalidades de revascularização: ICP, ICP
de múltiplos vasos ou cirurgia. Observa-se nítida tendência nos últimos anos, de
aumento das intervenções percutâneas múltiplas, embora a Sociedade Americana9 de
Cardiologia recomende a revascularização cirúrgica para a doença trivascular grave9.
Diretriz43 recentemente publicada recomenda a revascularização completa nos
pacientes com choque cardiogênico, devendo-se realizar a intervenção percutânea em
todos as grandes artérias epicárdicas com estenoses críticas43.
Manejo transfusional
Pacientes instáveis podem se beneficiar de um protocolo transfusional baseado na
medida da saturação venosa central, sendo o gatilho (trigger) para hemotransfusão uma
saturação venosa central de oxigênio <70% (considerando hematócrito <30%,
hemoglobina <10g/dL e o paciente já adequadamente ressuscitado
hemodinamicamente).
Manejo de volume
A hipovolemia pode estar presente nesses pacientes e contribuir para a má perfusão
orgânica. A reposição de volume é difícil e idealmente deve ser feita de forma
judiciosa, com etapas de aproximadamente 250mL, e guiada pela união de parâmetros
clínicos, laboratoriais e hemodinâmicos. O exame físico com ênfase na ausculta
pulmonar deve ser realizado antes e depois de cada etapa de volume. O débito urinário
deve ser monitorado. Parâmetros laboratoriais que indiquem a adequação da
microcirculação/perfusão tecidual (saturação venosa central ou de sangue venoso
misto, deltaCO2, lactato) devem ser utilizados como meta de tratamento.
Pacientes que não tenham respondido à prova inicial de volume ou que já apresentem
sinais de grave congestão pulmonar devem ser monitorados de forma invasiva, e a
reposição de volume guiada pela avaliação evolutiva de parâmetros hemodinâmicos: a
cada etapa de volume devem ser avaliadas as alterações na pressão capilar pulmonar e
no débito cardíaco. Se possível, um método de avaliação de parâmetros
hemodinâmicos dinâmicos, ao invés de parâmetros estáticos, deve ser utilizado para
guiar a terapêutica.
Suporte ventilatório
Suporte circulatório
Tratamento farmacológico
A escolha da droga pode ser guiada pelo nomograma abaixo. Já a sua titulação deve
envolver, assim como o manejo de volume, a união de parâmetros clínicos,
laboratoriais e hemodinâmicos.
O uso sequencial de ECLS e dos LVAD tem ocorrido em pacientes com choque
cardiogênico, geralmente como ponte para o transplante cardíaco5. Estudo51
retrospectivo de 138 pacientes com choque cardiogênico após IAM com supradesnível
de ST analisou dois grupos: um conservador, que recebeu apenas tratamento médico
intensivo e balão intra-aórtico; e o agressivo, que foi tratado com angioplastia, cirurgia
e/ou suporte circulatório mecânico (ECMO - oxigenador com membrana extracorpórea-
e/ou LVAD) como ponte para o transplante. O grupo que recebeu revascularização teve
menor mortalidade que o conservador (63% vs. 81%). O subgrupo de revascularização
que recebeu dispositivo de assistência circulatória/transplante teve menor mortalidade
que aquele sem os dispositivos (33% vs. 63%). O benefício da redução de mortalidade
se estendeu ao longo do período de seguimento de 48±16 meses51.
Estudo52 randômico comparou o Tandem Heart com o balão intra-aórtico nos pacientes
com choque cardiogênico após o IAM. No primeiro, com 41 pacientes, constatou-se
benefício hemodinâmico do LVAD em relação ao BIA, porém houve maior número de
complicações com os dispositivos, tais como hemorragia grave, isquemia de membros
ou febre. As taxas de mortalidade em 30 dias foram, respectivamente, 42% no primeiro
grupo e 45% no segundo (p=0,86)52.
Ensaios clínicos randômicos são necessários para a avaliação mais completa do papel
das diferentes modalidades de suporte circulatório nos pacientes com choque
cardiogênico após infarto.
Suporte metabólico
Manter controle glicêmico de acordo com protocolos locais.
Total: 60,1%
Miopático (insuficiência ventricular esquerda): 59,2%
Comunicação interventricular (CIV): 87,3%
Insuficiência mitral: 55%
Infarto do ventrículo direito: 55%
Tamponamento cardíaco: 55%
Apesar de a mortalidade dos pacientes com choque cardiogênico ainda ser elevada,
83% dos pacientes que sobrevivem apresentam classe funcional I ou II em um anoo que
justifica a alocação de recursos médicos para o tratamento dessa grave enfermidade.41,
Referências
1. Goldberg RJ, Spencer FA, Gore JM, Lessard D, Yarzebski J. Thirty-year
trends (1975 to 2005) in the magnitude of, management of, and hospital death
rates associated with cardiogenic shock in patients with acute myocardial
infarction: a population-based perspective. Circulation. 2009;119(9):1211-9.
2. Hollenberg SM, Kavinsky CJ, Parrillo JE. Cardiogenic shock. Ann Intern
Med. 1999;131(1):47-59.
3. Reynolds HR, Hochman JS. Cardiogenic shock: current concepts and
improving outcomes. Circulation. 2008;117(5):686-97.
4. Cove ME, MacLaren G. Clinical review: mechanical circulatory support for
cardiogenic shock complicating acute myocardial infarction. Crit Care.
2010;14(5):235.
5. Hochman JS, Buller CE, Sleeper LA, Boland J, Dzavik V, Sanborn TA, et al.
Cardiogenic shock complicating acute myocardial infarction--etiologies,
management and outcome: a report from the SHOCK Trial Registry. SHould
we emergently revascularize Occluded Coronaries for cardiogenic shock? J
Am Coll Cardiol. 2000;36(3 Suppl A):1063-70.
6. Alonso DR, Scheidt S, Post M, Killip T. Pathophysiology of cardiogenic
shock. Quantification of myocardial necrosis, clinical, pathologic and
electrocardiographic correlations. Circulation. 1973;48(3):588-96.
7. Califf RM, Bengtson JR. Cardiogenic shock. N Engl J Med.
1994;330(24):1724-30.
8. Hochman JS. Cardiogenic shock complicating acute myocardial infarction:
expanding the paradigm. Circulation. 2003;107(24):2998-3002.
9. Hochman JS, Sleeper LA, Webb JG, Sanborn TA, White HD, Talley JD, et al.
Early revascularization in acute myocardial infarction complicated by
cardiogenic shock. SHOCK Investigators. SHould we emergently
revascularize Occluded Coronaries for Cardiogenic Shock. N Engl J Med.
1999;341(9):625-34.
10. Topalian S, Ginsberg F, Parrillo JE. Cardiogenic shock. Crit Care Med.
2008;38(1 Suppl):S66-74.
11. Kohsaka S, Menon V, Lowe M, Lange M, Dzavik V, Sleeper LA, et al;
SHOCK Investigators. Systemic inflammatory response syndrome after acute
myocardial infarction complicated by cardiogenic shock. Arch Intern Med.
2005;165(14):1643-50.
12. Okuda M. A multidisciplinary overview of cardiogenic shock. Shock.
2006;25(6):557-70.
13. Lehmann A, Boldt J. New pharmacologic approaches for the perioperative
treatment of ischemic cardiogenic shock. J Cardiothorac Vasc Anesth.
2005;19(1):97-108.
14. Sam F, Sawyer DB, Xie Z, Chang DL, Ngoy S, Brenner DA, et al. Mice
lacking inducible nitric oxide synthase have improved left ventricular
contractile functions and reduced apoptotic cell death late after myocardial
infarction. Circ Res. 2001;89(4):351-6.
15. Schulz R, Wambolt R. Inhibition of nitric oxide synthesis protects the isolated
working rabbit heart from ischaemia-reperfusion injury. Cardiovasc Res.
1995;30(3):432-9.
16. Cotter G, Kaluski E, Blatt A, Milovanov O, Moshkovitz Y, Zaidenstein R, et
al. L-NMMA (a nitric oxide synthase inhibitor) is effective in the treatment of
cardiogenic shock. Circulation. 2000;101(12):1358-61.
17. TRIUMPH Investigators, Alexander JH, Reynolds HR, Stebbins AL, Dzavik
V, Harrington RA, Van de Werf F, et al. Effect of tilarginine acetate in patients
with acute myocardial infarction and cardiogenic shock: the TRIUMPH
randomized controlled trial. JAMA. 2007;297(15):1657-66.
18. Lim N, Dubois MJ, De Backer D, Vincent JL. Do all nonsurvivors of
cardiogenic shock die with a low cardiac index? Chest. 2003;124(5):1885-
91.
19. Menon V, Slater JN, White HD, Sleeper LA, Cocke T, Hochman JS. Acute
myocardial infarction complicated by systemic hypoperfusion without
hypotension: report of the SHOCK trial registry. Am J Med.
2000;108(5):374-80.
20. Granger CB, Mahaffey KW, Weaver D, Theroux P, Hochman JS, Fillon TG, et
al; COMMA Investigators. Pexelizumab, an anti-C5 complement antibody, as
adjunctive therapy to primary percutaneous coronary intervention in acute
myocardial infarction: the COMplement inhibition in Myocardial infarction
treated with Angioplasty (COMMA) Trial. Circulation. 2003;108(10):1184-
90.
21. APEX AMI Investigators, Armstrong PW, Granger CB, Adams PX, Hamm C,
Holmes D Jr, O’Neil WW, et al. Pexelizumab for acute ST-elevation
myocardial infarction in patients undergoing primary percutaneous coronary
intervention: a randomized controlled trial. JAMA. 2007;297(1):43-51.
22. Menon V, Hochman JS. Management of cardiogenic shock complicating acute
myocardial infarction. Heart. 2002;88(5):531-7.
23. Holmes CL, Walley KR. The evaluation and management of shock. Clin Chest
Med. 2003;24(4):775-89.
24. Esporcatte R, Rangel FOD, Rocha RM. Choque cardiogênico. In: Esporcatte
R, Rangel FOD, Rocha RM. Cardiologia Intensiva: bases práticas. Rio de
Janeiro: Revinter; 2005. p.121-8.
25. Col NF, Gurwitz JH, Alpert JS, Goldberg RJ. Frequency of inclusion of
patients with cardiogenic shock in trials of thrombolytic therapy. Am J
Cardiol. 1999;73(2):149-57.
26. Canadian Cardiovascular Society; American Academy of Family Physicians;
American College of Cardiology; American Heart Association, Antman EM,
Hand M, Armstrong PW, Bates ER, Green LA, Halasyamani LK, et al. 2007
focused update of the ACC/AHA 2004 Guidelines for the Management of
Patients with ST-elevation Myocardial Infarction: a report of the American
College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines. J Am Coll Cardiol. 2008;51(2):210-47. Erratum in: J Am Coll
Cardiol. 2008;51(9):977.
27. NRMI 4 Investigators. The National Registry of Myocardial Infarction 4
Quarterly Data Report. South San Francisco, California: Genentech, March
2003
28. Singh M, White J, Hasdai D, Hodgson PK, Berger PB, Topol EJ, et al. Long-
term outcome and its predictors among patients with ST-segment elevation
myocardial infarction complicated by shock: insights from the GUSTO-I trial.
J Am Coll Cardiol. 2007;50(18):1752-8.
29. Stone GW, Cox D, Garcia E, Brodie BR, Morice MC, Griffin J, et al. Normal
flow (TIMI-3) before mechanical reperfusion therapy is an independent
determinant of survival in acute myocardial infarction: analysis from the
primary angioplasty in myocardial infarction trials. Circulation.
2001;104(6):636-41.
30. Webb JG, Sanborn TA , Sleeper LA, Carere RG, Buller CE, Slater JN, et al;
SHOCK Investigators. Percutaneous coronary intervention for cardiogenic
shock in the Shock Trial Registry. Am Heart J. 2001;141(6):964-70.
31. Abdel-Qadir HM, Ivanov J, Austin PC, Tu JV, Dzavík V. Temporal trends in
cardiogenic shock treatment and outcomes among Ontario patients with
myocardial infarction between 1992 and 2008. Circ Cardiovasc Qual
Outcomes. 2011;4(4):440-7.
32. Singh M, White J, Hasdai D, Hodgson PK, Berger PB, Topol EJ, et al. Long-
term outcome and its predictors among patients with ST-segment elevation
myocardial infarction complicated by shock: insights from the GUSTO-I trial.
J Am Coll Cardiol. 2007;50(18):1752-8.
33. Rangel FOD. Uma estratégia de tratamento do infarto agudo do miocárdio
com supradesnível do segmento ST baseada na otimização do uso da
intervenção percutânea primária. Análise da mortalidade na fase hospitalar e
dos fatores pronósticos a longo-prazo. [Tese de Doutorado]. Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); 2005.
34. Almeida Júnior GL, Esporcatte R, Rangel FO, Rocha RM, Gouvêa e Silva
GM, Tura BR, et al. Therapy of advanced heart failure adapted to
hemodynamic objectives acquired by invasive hemodynamic monitoring].
Arq Bras Cardiol. 2005;85(4):247-53.
35. Task Force on Myocardial Revascularization of the European Society of
Cardiology (ESC) and the European Association for Cardio-Thoracic
Surgeons (EACTS); European Association for Percutaneous Cardiovascular
Interventions (EAPCI), Wijns W, Kolh P, Danchin N, Di Mario C, Falk V,
Folliguet T, Garg S, et al. Guidelines on Myocardial Revascularization. Eur
Heart J. 2010;31(20):2501-55.
36. Klein LW, Shaw RE, Krone RJ, Brindis RG, Anderson HV, Block PC, et al;
American College of Cardiology National Cardiovascular Data Registry.
Mortality after emergent percutaneous coronary intervention in cardiogenic
shock secondary to acute myocardial infarction and usefulness of mortality
prediction model. Am J Cardiol. 2005;96(1):35-41.
37. Giri S, Mitchel J, Azar RR, Kiernan FJ, Fram DB, McKay RG, et al. Results
of primary percutaneous transluminal coronary angioplasty plus abciximab
with or without stenting for acute myocardial infarction complicated by
cardiogenic shock. Am J Cardiol. 2002;89(2):126-31.
38. Holmes DR Jr, Bates ER, Kleiman NS, Sadowski Z, Horgan JH, Morris DC,
et al. Contemporary reperfusion therapy for cardiogenic shock: the GUSTO-I
trial experience. The GUSTO-I Investigators. Global Utilization of
Streptokinase and Tissue Plasminogen Activator for Occluded Coronary
Arteries. J Am Coll Cardiol. 1995;26(3):668-74.
39. Marcolino MS, Simsek C, de Boer SP, van Domburg RT, van Geuns RJ, de
Jaegere P, et al. Short- and long-term major adverse cardiac events in patients
undergoing percutaneous coronary intervention with stenting for acute
myocardial infarction complicated by cardiogenic shock. Cardiology.
2012;121(1):47-55.
40. Babaev A, Frederick PD, Pasta DJ, Every N, Sichrovski T, Hochman JS;
NRMI Investigators. Trends in management and outcomes of patients with
acute myocardial infarction complicated by cardiogenic shock. JAMA.
2005;294(4):448-54.
41. Himbert D, Juliard JM, Steg G, Karrillon GJ, Aumont MC, Gourgon R.
Limits of reperfusion therapy for immediate cardiogenic shock complicating
acute myocardial infarction. Am J Cardiol. 1994;74(5):492-4.
42. Menon V, White H, LeJemtel T, Webb JG, Sleeper LA, Hochman JS. The
clinical profile of patients with suspected cardiogenic shock due to
predominant left ventricular failure: a report from the SHOCK Trial Registry.
SHould we emergently revascularize Occluded Coronaries in Cardiogenic
shock? J Am Coll Cardiol. 2000;36(3 Suppl A):1071-6.
43. Levine GN, Bates ER, Blankenship JC, Bailey SR, Bittl JA, Cercek B, et al;
American College of Cardiology Foundation; American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines; Society for Cardiovascular Angiography
and Interventions. 2011 ACCF/AHA/SCAI Guidelines for Percutaneous
Coronary Intervention. A report of the American College of Cardiology
Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
and the Society for Cardiovascular Angiography and Interventions. J Am Coll
Cardiol. 2011;58(24):e44-122.
44. Dellinger RP, Levy MM, Carlet JM, Bion J, Parker MM, Jaeschke R, et al;
International Surviving Sepsis Campaign Guidelines Committee; American
Association of Critical-Care Nurses; American College of Chest Physicians;
American College of Emergency Physicians; Canadian Critical Care Society;
European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases;
European Society of Intensive Care Medicine; European Respiratory Society;
International Sepsis Forum; Japanese Association for Acute Medicine;
Japanese Society of Intensive Care Medicine; Society of Critical Care
Medicine; Society of Hospital Medicine; Surgical Infection Society; World
Federation of Societies of Intensive and Critical Care Medicine. Surviving
Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Severe Sepsis
and Septic Shock: 2008. Crit Care Med. 2008;36(1):296-327. Erratum in:
Crit Care Med. 2008;36(4):1394-6.
45. Bocchi EA, Vilas-Boas F, Perrone S, Caamaño AG, Clausell N, Moreira MC,
et al. I Diretriz Latino-Americana para Avaliação e Conduta na Insuficiência
Cardíaca Descompensada. Arq Bras Cardiol. 2005;85(supl. 3):1-48.
46. Dünser MW, Mayr AJ, Ulmer H, Knotzer H, Summann G, Pajk W, et al.
Arginine vasopressin in advanced vasodilatory shock: a prospective,
randomized, controlled study. Circulation. 2003;107(18):2313-9.
47. Russell JA, Walley KR, Singer J, Gordon AC, Hébert PC, Cooper DJ, et al;
VASST Investigators. Vasopressin versus norepinephrine infusion in patients
with septic shock. N Engl J Med. 2008;358:877-87.
48. Wisniewski K, Galyean R, Tariga H, Alagarsamy S, Croston G, Heitzmann J,
et al. New, potent, selective, and short-acting peptidic V1a receptor agonists.
J Med Chem. 2011;54(13):4388-98.
49. Dickstein K, Cohen-Solal A, Filippatos G, McMurray JJ, Ponikowski P,
Poole-Wilson PA, et al; ESC Committee for Practice Guidelines (CPG). ESC
Guidelines for the Diagnosis and Treatment of Acute and Chronic Heart
Failure 2008: the Task Force for the Diagnosis and Treatment of Acute and
Chronic Heart Failure 2008 of the European Society of Cardiology.
Developed in collaboration with the Heart Failure Association of the ESC
(HFA) and endorsed by the European Society of Intensive Care Medicine
(ESICM). Eur Heart J. 2008;29(19):2388-442. Erratum in: Eur Heart J.
2010;12(4):416; 2010;31(5):624.
50. Thiele H, Smalling RW, Schuler GC. Percutaneous left ventricular assist
devices in acute myocardial infarction complicated by cardiogenic shock. Eur
Heart J. 2007;28(17):2057-63.
51. Tayara W, Starling RC, Yamani MH, Wazni O, Jubran F, Smedina N.
Improved survival after acute myocardial infarction complicated by
cardiogenic shock with circulatory support and transplantation: comparing
aggressive intervention with conservative treatment. J Heart Lung Transplant.
2006;25(5):504-9.
52. Dang NC, Topkara VK, Leacche M, John R, Byrne JG, Naka Y. Left
ventricular assist device implantation after acute anterior wall myocardial
infarction and cardiogenic shock: a two-center study. J Thorac Cardiovasc
Surg. 2005;130(3):693-8.
53. Burkhoff D, Cohen H, Brunckhorst C, O’Neill WW; TandemHeart
Investigators Group. A randomized multicenter clinical study to evaluate the
safety and efficacy of the TandemHeart percutaneous ventricular assist device
versus conventional therapy with intraaortic balloon pumping for treatment of
cardiogenic shock. Am Heart J. 2006;152(3):469.e1-8.
54. Thiele H, Sick P, Boudriot E, Diederich KW, Hambrecht R, Niebauer J, et al.
Randomized comparison of intra-aortic balloon support with a percutaneous
left ventricular assist device in patients with revascularized acute myocardial
infarction complicated by cardiogenic shock. Eur Heat J. 2005;26(13):1276-
83.
TAQUIARRITMIA NO IAM E
INDICAÇÃO DE DESFIBRILADOR
IMPLANTÁVEL
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 61 anos, natural do Rio de Janeiro.
Queixa principal: “Muitos choques do aparelho”
HDA: Paciente dá entrada no setor de emergência relatando ser portador de
cardioversor-desfibrilador automático (CDI) implantado há quatro anos, tendo hoje
apresentado três choques deflagrados pelo dispositivo em intervalo de
aproximadamente oito horas. Relata ainda que sua história se iniciou há 15 anos quando
teve quadro de infarto anterior extenso, sendo atendido com várias horas de início do
quadro, optando-se por tratamento conservador.
Evoluiu com disfunção de ventrículo esquerdo (VE), sendo medicado, na época, com
inibidores de enzima de conversão (IECA), diuréticos, estatina, carvedilol e AAS. Há
quatro anos teve episódio de síncope precedida de palpitação. Procurou assistência
médica, sendo realizado Holter que revelou vários episódios de taquicardia ventricular
não sustentada. O ecocardiograma revelou acinesia anterior extensa e fração de ejeção
(FE) de 30%.
PA =145X96mmHg; FC =76bpm
RCR 3T B3, SS +/6+ foco mitral. Restante sem anormalidades.
Durante o exame clínico o paciente fica subitamente pálido e relata que “vai tomar um
choque” e, poucos minutos depois, recebe acionamento do dispositivo, retornando ao
normal.
OBJETIVOS
1. Discutir a fisiopatologia das arritmias ventriculares nos pacientes portadores
de IAM.
2. Revisar as indicações para o implante de cardioversores-desfibriladores
automáticos.
3. Discutir o manejo clínico desses pacientes e as possíveis complicações do
uso desses dispositivos.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso em questão?
Uma das complicações decorrentes do uso de CDI é o acionamento repetitivo. Quando
ocorre o acionamento repetitivo, duas hipóteses diagnósticas são cabíveis:
acionamentos apropriados por arritmias ventriculares malignas de caráter repetitivo ou
incessante (tempestade ventricular) ou acionamentos inapropriados por causas várias
(arritmias supraventriculares, interferências externas e problemas com cabo-eletrodo).
A definição de acionamento repetitivo é variável, mas em geral se considera como
anormal a ocorrência de mais de três acionamentos em 24 horas.
Pacientes que sofrem de IAM têm maior risco de morte súbita por causas cardíacas,
sobretudo taquiarritmias ventriculares.
A sobrevida pós-IAM melhorou nos últimos 30 anos, porém ainda existe risco de morte
súbita por taquiarritmia ventricular, principalmente em pacientes com remodelamento
cardíaco e disfunção VE5.
No entanto, a presença dessas arritmias não é indicador de futura FV, pois ocorre
igualmente nos pacientes com e sem FV. A presença de episódios de taquicardia
ventricular não sustentada que se apresentam na fase aguda do IAM não parece estar
associada a maior risco de morte durante a hospitalização ou no primeiro ano pós-IAM.
Mais ainda, a supressão dessas arritmias, supostamente premonitórias, mostrou-se não
somente ineficaz em prevenir a ocorrência de FV, como deletéria, aumentando a
mortalidade total6.
Estudos realizados nos anos 1980 revelaram que a FE diminuída, esta sim era fator
preditor de morte após o IAM, notadamente quando na presença de arritmia ventricular
espontânea observada em acompanhamento ambulatorial7.
O maior risco de morte súbita ocorre nos primeiros dois anos pós-IAM. Apesar de
vários métodos terem sido propostos para se estratificar pacientes com maior chance
para morte súbita (variabilidade do QT, Holter, estudo eletrofisiológico invasivo,
eletrocardiografia de alta resolução) nenhum se mostrou útil para uso rotineiro. Existem
marcadores de alerta que podem indicar o paciente de alto risco para presença de
arritmias ventriculares malignas, como a presença de FE <35% associada à ocorrência
de taquicardia ventricular não sustentada ao Holter e à presença de episódios sincopais
ou de palpitações taquicárdicas inexplicadas7.
O uso do CDI foi visto como promissor desde seus primeiros implantes, em 1979, no
intuito de reduzir morte súbita por taquiarritmia ventricular pós-IAM. Eles são
projetados para diagnosticar arritmias ventriculares graves e reverter a arritmia através
de terapia elétrica. Essa terapia apresenta um sucesso maior que 97%4.
Pacientes com FE >35% pós-IAM não são candidatos a implante de CDI; pacientes
com FE entre 30% e 40% devem ter a FE reavaliada a cada seis ou 12 meses4; entre
25% e 35% os maiores benefícios se situam no grupo de pacientes com FE próximo de
25%; entre 30% e 35%, a presença de fatores coexistentes com ICC classe funcional
NYHA II ou III, taquicardia ventricular não sustentada ou induzida e a presença de
complexos QRS prolongados confirmam a necessidade do implante de CDI; já na
ausência desses fatores, com FE entre 30% e 35%, o CDI pode ser postergado4,10,12;
com FE ≤25% o CDI pode ser indicado mesmo sem fatores coexistentes.
Evolução do caso:
O paciente foi admitido e causas reversíveis foram eliminadas. Foi submetido à
ablação por radiofrequência com mapeamento de substrato, ocorrendo eliminação dos
acionamentos durante o seguimento (Figura 1).
Figura 1
Registro de acionamento do CDI por unidade de tempo. O gráfico de barras relata o número de episódios de arritmias
tratado pelo CDI no período de um ano. Nota-se aumento do número de acionamentos até a data do procedimento de
ablação (). Após este procedimento, não foi mais detectado nenhum acionamento.
Referências
1. Israel CW, Barold SS. Electrical storm in patients with an implanted
defibrillator: a matter of definition. Ann Noninvasive Electrocardiol.
2007;12(4):375-82.
2. Bänsch D, Böcker D, Brunn J, Weber M, Breithardt G, Block M. Clusters of
ventricular tachycardias signify impaired survival in patients with idiopathic
dilated cardiomyopathy and implantable cardioverter defibrillators. J Am
Coll Cardiol. 2000;36(2):566-73.
3. Araujo N, Carvalho H, Maciel W, Andréa E, Belo LG, Luiz E, et al.
Distúrbios psíquicos em pacientes portadores de cardioversor-desfibrilador
implantável. [Abstract]. Reblampa. 1997;10(4):234.
4. Myerburg RJ. Implantable cardioverter-defibrillators after myocardial
infarction. N Engl J Med. 2008;359(21):2245-53.
5. Braunwald E. Shattuck Lecture: Cardiovascular medicine at the turn of the
millennium: triumphs, concerns, and opportunities. N Engl J Med.
1997;337(19):1360-9.
6. The Cardiac Arrhythmia Suppression Trial (CAST) Investigators.
Preliminary report: effect of encainide and flecainide on mortality in a
randomized trial of arrhythmia suppression after myocardial infarction. The
Cardiac Arrhythmia Suppression Trial (CAST) Investigators. N Engl J Med.
1989;321(6):406-12.
7. Antman EM, Morrow DA. ST-segment elevation myocardial infarction:
management. In: Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, Libby P, eds. Braunwald's
Heart Disease: a textbook of cardiovascular medicine. 9th ed. Philadelphia:
Saunders/Elsevier; 2012. p.1111-79.
8. Waldo AL, Camm AJ, deRuyter H, Friedman PL, MacNeil DJ, Pauls JF, et al.
Effect of d-sotalol on mortality in patients with left ventricular dysfunction
after recent and remote myocardial infarction. The SWORD Investigators.
Survival With Oral d-Sotalol. Lancet. 1996;348(9019):7-12. Erratum in:
Lancet. 1996;348 (9024):416.
9. Julian DG, Camm AJ, Frangin G, Janse MJ, Munoz A, Schwartz PJ, et al.
Randomised trial of effect of amiodarone on mortality in patients with left-
ventricular dysfunction after recent myocardial infarction: EMIAT. European
Myocardial Infarct Amiodarone Trial Investigators. Lancet.
1997;349(9053):667-74. Erratum in: Lancet. 1997;349(9059):1180;
1997;349(9067):1776.
10. Cairns JA, Connolly SJ, Roberts R, Gent M. Randomised trial of outcome
after myocardial infarction in patients with frequent or repetitive ventricular
premature depolarisations: CAMIAT. Canadian Amiodarone Myocardial
Infarction Arrhythmia Trial Investigators. Lancet. 1997;349(9053):675-82.
Erratum in: Lancet. 1997;349(9067):1776.
11. Irvine J, Dorian P, Baker B, O’Brien BJ, Roberts R, Gent M, et al. Quality of
life in the Canadian Implantable Defibrillator Study (CIDS). Am Heart J.
2002;144(2):282-9.
12. Kuck KH, Cappato R, Siebels J, Rüppel R. Randomized comparison of
antiarrhythmic drug therapy with implantable defibrillators in patients
resuscitated from cardiac arrest: the Cardiac Arrest Study Hamburg (CASH).
Circulation. 2000;102(7):748-54.
13. Zipes DP, Camm AJ, Borggrefe M, Buxton AE, Chaitman B, Fromer M, et al;
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force;
European Society of Cardiology Committee for Practice Guidelines;
European Heart Rhythm Association; Heart Rhythm Society. ACC/AHA/ESC
2006 Guidelines for Management of Patients with Ventricular Arrhythmias
and the Prevention of Sudden Cardiac Death: a report of the American
College of Cardiology/American Heart Association Task Force and the
European Society of Cardiology Committee for Practice Guidelines (Writing
Committee to develop Guidelines for Management of Patients with
Ventricular Arrhythmias and the Prevention of Sudden Cardiac Death):
developed in collaboration with the European Heart Rhythm Association and
the Heart Rhythm Society. Circulation. 2006;114(10):e385-e484.
14. Moss AJ, Hall WJ, Cannom DS, Daubert JP, Higgins SL, Klein H, et al.
Improved survival with an implanted defibrillator in patients with coronary
disease at high risk for ventricular arrhythmia. Multicenter Automatic
Defibrillator Implantation Trial Investigators. N Engl J Med.
1996;335(26):1933-40.
15. Buxton AE, Lee KL, Fisher JD, Josephson ME, Prystowsky EN, Hafley G. A
randomized study of the prevention of sudden death in patients with coronary
artery disease. Multicenter Unsustained Tachycardia Trial Investigators. N
Engl J Med. 1999;341(25):1882-90. Erratum in: N Engl J Med.
2000;342(17):1300.
16. Greenberg H, Case RB, Moss AJ, Brown MW, Carroll ER, Andrews ML.
MADIT-II Investigators. Analysis of mortality events in the Multicenter
Automatic Defibrillator Implantation Trial (MADIT-II). J Am Coll Cardiol.
2004;43(8):1459-65.
17. Bardy GH, Lee KL, Mark DB, Poole JE, Packer DL, Boineau R, et al; Sudden
Cardiac Death in Heart Failure Trial (SCD-HeFT) Investigators. Amiodarone
or an implantable cardioverter-defibrillator for congestive heart failure. N
Engl J Med. 2005;352(3):225-37. Erratum in: N Engl J Med.
2005;352(20):2146.
18. Hohnloser SH, Kuck KH, Dorian P, Roberts RS, Hampton JR, Hatala R, et al;
DINAMIT Investigators. Prophylactic use of an implantable cardioverter-
defibrillator after acute myocardial infarction. N Engl J Med.
2004;351(24):2481-
19. Steinbeck G, Andresen D, Seidl K, Brachmann J, Hoffmann E,
Wojciechowski D, et al; IRIS Investigators. Defibrillator implantation early
after myocardial infarction. N Engl J Med. 2009;361(15):1427-36.
20. Epstein AE, DiMarco JP, Ellenbogen KA, Estes NA 3rd, Freedman RA,
Gettes LS, et al; American College of Cardiology/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to revise
the ACC/AHA/NASPE 2002 Guideline Update for Implantation of Cardiac
Pacemakers and Antiarrhythmia Devices); American Association for
Thoracic Surgery; Society of Thoracic Surgeons. ACC/AHA/HRS 2008
Guidelines for Device-Based Therapy of Cardiac Rhythm Abnormalities: a
report of the American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to revise the
ACC/AHA/NASPE 2002 Guideline Update for Implantation of Cardiac
Pacemakers and Antiarrhythmia Devices) developed in collaboration with the
American Association for Thoracic Surgery and Society of Thoracic
Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2008;51(21):e1-62. Erratum in: J Am Coll
Cardiol. 2009;53(16):1473.
21. Reddy VY, Reynolds MR, Neuzil P, Richardson AW, Taborsky M,
Jongnarangsin K, et al. Prophylactic catheter ablation for the prevention of
defibrillator therapy. N Engl J Med. 2007;357(26):2657-65.
BRADIARRITMIAS E INDICAÇÃO DE PACE
PÓS-IAM
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 65 anos, hipertenso, em uso atual de atenolol 50mg e clortalidona
12,5mg/dia para tratamento de hipertensão arterial sistêmica. Apresentou queixa de dor
torácica, acompanhada de sudorese e náuseas, de caráter opressivo, que se acentuou ao
final de oito horas. Procurou Unidade de Pronto Atendimento para avaliação do quadro,
uma vez que houve piora da dor bem como sensação de fadiga em repouso.
PA =110x50mmHg; FC =40bpm FR =28irpm
Não havia turgência jugular, entretanto foi observada a ocorrência de ondas A “em
canhão”.
Ritmo cardíaco regular em dois tempos, com pulmões limpos e sem edemas em MMII.
Foi submetido a tratamento para síndrome coronariana aguda com uso de trombolítico
(estreptoquinase 1.500.000UI), com presença de critérios clínicos de reperfusão. Fez
uso também de antiplaquetários, estatinas, sendo na ocasião evitado o uso de nitratos e
betabloqueadores, uma vez que apresentava discreta hipotensão arterial e bradicardia.
Figura 1
Eletrocardiograma inicial do paciente
OBJETIVOS
1. Discutir bradicardia pós-infarto agudo, descrevendo as características
clínicas dos pacientes, fatores de risco para essa condição e condução
adequada do quadro.
2. Identificar os pacientes com real necessidade de estimulação cardíaca
temporária e definitiva.
PERGUNTAS
1. Como explicar os mecanismos fisiopatológicos e a incidência das bradiarritmias
pós-IAM?
Já nos pacientes com infarto da parede anterosseptal do VE, pode ocorrer uma lesão
isquêmica aguda do sistema His-Purkinje, devido à necrose septal associada. Estes
pacientes, a despeito da gravidade da lesão coronariana, também estão sob risco de
evolução para BAVT, necessariamente devido a bloqueio em regiões mais distais do
sistema de condução, conferindo um caráter mais grave a esta condição4.
Essa complicação implica pior prognóstico, bem como aumento significativo na taxa de
mortalidade. O aumento do risco de morte observado nos primeiros 30 dias pós-IAM
inferior e anterior está bem estabelecido. No entanto, quando o bloqueio da condução
AV ou intraventricular complica o infarto agudo do miocárdio, o prognóstico de longo
prazo para sobreviventes está relacionado principalmente à extensão da lesão
miocárdica, o grau de insuficiência cardíaca e à maior incidência de complicações
hemodinâmicas. A mortalidade intra-hospitalar média do infarto inferior complicado
por BAV é de 23%, e chega a 29% quando o bloqueio AV é total, mesmo com uso
adequado de estimulação ventricular provisória.
Cerca de 1/3 dos pacientes que evoluem com BAVT associado a infarto inferior já
apresentam arritmia na chegada à sala de emergência. Os outros 2/3 desenvolvem graus
mais acentuados de bloqueio AV nas próximas 24 horas. Na maioria dos casos,
portanto, o aparecimento de BAV de alto grau costuma ocorrer nos primeiros três dias
após o IAM inferior7.
O infarto de parede inferior, na grande maioria dos pacientes, cursa com um bloqueio
AV localizado acima do feixe de His. Geralmente está associado com bradicardia
transitória, com ritmo de escape de frequência de aproximadamente 40bpm, QRS
estreito e uma baixa mortalidade. As anormalidades de condução, nesse contexto,
tendem a ser transitórias (resolução dentro de sete dias), geralmente responsivas à
atropina e isoproterenol, sendo muitas vezes bem toleradas8,9. Portanto, em tais
circunstâncias, geralmente não há necessidade de implante de MP definitivo.
O bloqueio AV relacionado ao IAM de parede anterior, por sua vez, está mais
frequentemente localizado abaixo do NAV10, associado com um ritmo de escape
instável, de QRS largo e com uma mortalidade extremamente elevada (até 80%). O grau
de complicações arrítmicas está diretamente relacionado à extensão da necrose
miocárdica. Além disso, distúrbios da condução intraventricular ocorrem mais
frequentemente, num contexto de IAM anterosseptal, como resultado de isquemia e
necrose do sistema de condução5,10. A presença de distúrbios da condução
intraventricular durante um IAM está associada a prognóstico desfavorável a curto e a
longo prazo, além de risco aumentado de morte súbita cardíaca (MSC)6.
Neste caso clínico, o paciente foi submetido à estimulação cardíaca temporária pois
apresentava BAVT com frequência ventricular de 35bpm não responsiva à infusão de
atropina e hipotensão associada.
Classe I
BAV do 3º grau (total), consequente a IAM, persistente >15 dias (Nível de evidência
C).
Classe IIa
No caso clínico citado, o paciente evoluiu com bradicardia sinusal associada à BAVT
intermitente após 15 dias de observação. Optou-se pelo implante de marca-passo
definitivo dupla-câmara DDD, que foi realizado sem intercorrências.
Potencial Conflito de Interesses
Referências
1. Meine TJ, Al-Khatib SM, Alexander JH, Granger CB, White HD, Kilaru R,
et al. Incidence, predictors, and outcomes of high-degree atrioventricular
block complication acute myocardial infarction treated with thrombolytic
therapy. Am Heart J. 2005;149(4):670-4.
2. Harpaz D, Behar S, Gottlieb S, Boyko V, Kishon Y, Eldar M. Complete
atrioventricular block complicating acute myocardial infarction in the
thrombolytic era. SPRINT Study Group and the Israeli Thrombolytic Survey
Group. Secondary Prevention Reinfarction Israeli Nifedipine Trial. J Am
Coll Cardiol. 1999;34(6):1721-8.
3. Wong CK, Stewart RA, Gao W, French JK, Raffel C, White HD. Prognostic
differences between different types of bundle branch block during the early
phase of acute myocardial infarction: insights from the Hirulog and Early
Reperfusion or Occlusion (HERO)-2 trial. Eur Heart J. 2006;27(1):21-8.
4. Engelen DJ, Gorgels AP, Cheriex EC, De Muinck ED, Ophuis AJ, Dassen
WR, et al. Value of the electrocardiogram in localizing the occlusion site in
the left anterior descending coronary artery in acute anterior myocardial
infarction. J Am Coll Cardiol. 1999;34(2):389-95.
5. Hindman MC, Wagner GS, JaRo M, Atkins JM, Scheinman MM, DeSanctis
RW, et al. The clinical significance of bundle branch block complicating
acute myocardial infarction. 1. Clinical characteristics, hospital mortality,
and one year follow-up. Circulation. 1978;58(4):679-88.
6. Newby KH, Pisanó E, Krucoff MW, Green C, Natale A. Incidence and
clinical relevance of the occurrence of bundle-branch block in patients
treated with thrombolytic therapy. Circulation. 1996;94(10):2424-8.
7. Berger PB, Ryan TJ. Inferior myocardial infarction. High-risk subgroups.
Circulation. 1990,81(2):401-11.
8. Behar S, Zissman E, Zion M, Hod H, Goldbourt U, Reicher-Reiss H, et al.
Prognostic significance of second-degree atrioventricular block in inferior
wall acute myocardial infarction. SPRINT Study Group. Am J Cardiol.
1993;72(11):831-4.
9. Col JJ, Weinberg SL. The incidence and mortality of intraventricular
conduction defects in acute myocardial infarction. Am J Cardiol.
1972;29(3):344-50.
10. Zimetbaum PJ, Josephson ME. Use of the electrocardiogram in acute
myocardial infarction. N Engl J Med. 2003;348(10):933-40.
11. Behar S, Zissman E, Zion M, Goldbourt U, Reicher-Reiss H, Shalev Y, et al;
SPRINT Study group. Complete atrioventricular block complicating inferior
acute wall myocardial infarction: short- and long-term prognosis. Am Heart
J. 1993;125(6):1622-7.
12. Ryan TJ, Antman EM, Brooks NH, Califf RM, Hillis LD, Hiratzka LF, et al.
1999 update: ACC/AHA Guidelines for the Management of Patients with
Acute Myocardial Infarction: Executive Summary and Recommendations: A
report of the American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines (Committee on Management of Acute
Myocardial Infarction). Circulation 1999;100(9):1016-30.
13. Martinelli Filho M, Zimerman LI, Lorga AM, Vasconcelos JTM, Rassi A Jr,
Carvalho ACC, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade
Brasileira de Arritmias Cardíacas. Diretrizes Brasileiras de Dispositivos
Cardíacos Eletrônicos Implantáveis (DCEI). Arq Bras Cardiol.
2007;89(6):e210-37.
COMPLICAÇÕES MECÂNICAS NO
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM)
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 75 anos, branco, aposentado, natural do Rio de Janeiro.
No terceiro dia de internação evoluiu com piora do quadro de dispneia, com franca
congestão pulmonar, hipotensão arterial (PA =70/50mmHg), além de extremidades frias.
Feito diagnóstico de choque cardiogênico, sendo o paciente transferido para um
hospital equipado com laboratório de hemodinâmica.
Figura 1
ECG de admissão
OBJETIVOS
1. Avaliar as possíveis complicações do infarto agudo do miocárdio, sua
incidência e fatores de risco.
2. Identificar as manifestações clínicas do IAM.
3. Descrever os exames complementares para diagnóstico do IAM.
4. Discutir a terapêutica adequada para o IAM.
PERGUNTAS
1. Qual a incidência e os fatores de risco relacionados às complicações mecânicas
após IAM?
Incidência
Sua incidência irá variar de acordo com a presença ou não de terapia de reperfusão1,2:
Fatores de risco
CIV
A CIV pós-IAM pode ser observada tanto nos pacientes com lesão univascular
(especialmente artéria descendente anterior) ou multivascular, necrose miocárdica
extensa e circulação colateral insuficiente. O risco é maior quando ocorre oclusão
completa do vaso6-8.
IM aguda
A maioria dos pacientes com IM sem ruptura do músculo papilar e que permanecem
hemodinamicamente estáveis, apresentarão melhora com tratamento clínico (uso de
trombolítico) ou intervencionista (realização de ICP), não necessitando de troca ou
reparo valvar mitral11,12.
A ruptura do músculo papilar é uma condição com elevado risco de morte, podendo ser
parcial ou completa. A ruptura do músculo posteromedial é muito mais frequente
quando comparada ao anterolateral. O primeiro tem irrigação sanguínea da artéria
descendente posterior, enquanto o último tem dupla irrigação, proveniente das artérias
descendente anterior e circunflexa11,13,14.
A RPLVE pode se manifestar como morte súbita em pacientes com IAM silencioso ou
não detectado. Nos casos de ruptura completa usualmente ocorre hemopericárdio e
morte por tamponamento cardíaco. A ocorrência de atividade elétrica sem pulso em
paciente com primeiro episódio de IAM, na ausência de sinais clínicos evidentes de
insuficiência cardíaca confere um valor preditivo de 95% para o diagnóstico de
RPLVE15. Nos casos de ruptura incompleta ou subaguda, existe a presença de um
trombo organizado, e o pericárdio “veda” a perfuração ventricular. Estes casos podem
evoluir com ruptura completa e tamponamento, formação de um falso aneurisma ou um
divertículo de VE16-18.
O exame físico pode revelar: sinais de falência de VD com turgência jugular, pulso
paradoxal e choque cardiogênico13.
CIV
IM aguda
RPLVE
CIV
A confirmação diagnóstica pode ser feita com a inserção de cateter na artéria pulmonar,
que demonstra um shunt esquerdo-direito. Ocasionalmente, pode ser visualizada no
traçado de pressão capilar pulmonar uma onda V gigante, em decorrência da acentuada
sobrecarga de volume e reduzida complacência atrial e ventricular. O ecocardiograma
uni e bidimensional com Doppler colorido na maioria das vezes estabelece o
diagnóstico; eventualmente há necessidade de realização de ecocardiograma
transesofágico para melhor avaliação da extensão do defeito septal13 (Figura 2).
Figura 2
Ecocardiograma evidenciando defeito septal23
IM aguda
RPLE
CIV
IM aguda
Ricardo Mourilhe-Rocha
Ana Amaral Ferreira Dutra
CASO CLÍNICO
Paciente L.M.C., masculino, 65 anos, foi admitido em unidade de emergência com dor
torácica típica. Apresentava em sua história clínica hipertensão arterial sistêmica
(HAS), resistência insulínica (RI) e dislipidemia (DLP).
OBJETIVOS
1. Identificar a pericardite e o tamponamento cardíaco como complicações
possíveis das síndromes coronarianas agudas.
2. Discutir a abordagem diagnóstica da pericardite e do tamponamento
cardíaco.
3. Discutir o manejo clínico da pericardite e do tamponamento cardíaco no
contexto de pós-infarto agudo do miocárdio (IAM).
PERGUNTAS
1. Qual é a principal hipótese diagnóstica para o quadro clínico apresentado e seus
principais diagnósticos diferenciais?
No caso clínico relatado, como o paciente esteve assintomático e voltou a ter sintomas
no 15º dia de IAM, pode-se considerar uma complicação de origem mais tardia como
novo infarto, trombose intra-stent ou pericardite tardia (Síndrome de Dressler). Devido
à exuberância dos dados clínicos e eletrocardiográficos, o diagnóstico de Síndrome de
Dressler parece ser o mais apropriado.
As principais complicações agudas e subagudas do IAM são:
De um modo geral, a pericardite pode produzir dor do primeiro dia até seis semanas
após um infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST. A dor
da pericardite pode ser confundida com angina pós-infarto, infarto recorrente ou
ambos2.
Uma característica importante para a distinção é a irradiação da dor para ambas as
bordas do músculo trapézio, um achado quase patognomônico de pericardite e que,
raramente, é observado no desconforto isquêmico. O desconforto da pericardite
geralmente se torna pior durante a inspiração profunda, tendo alívio ou diminuição
quando o paciente se senta ou se inclina para a frente (por vezes em posição de “prece
maometana”)2.
O tratamento deve sempre ser instituído precocemente, tão logo feito o diagnóstico.
Deve-se realizar imediatamente a drenagem percutânea do líquido pericárdico às cegas,
ou com auxílio de ecocardiograma bidimensional, para guiar o melhor ponto de
introdução da agulha.
A realização de janela miocárdica cirúrgica é uma opção nos centros com cirurgiões
cardíacos, em que haja suspeita de derrames loculados ou que não tenham volume
suficiente para tornar a pericardiocentese – método de eleição – um método seguro.
O tratamento da complicação que gerou o derrame pericárdio é imperioso. Intervenções
cirúrgicas devem ser recomendadas precocemente para tratamento das complicações
mecânicas e manutenção de drenagem pericárdica até a resolução do quadro que
propiciou este evento.
Potencial Conflito de Interesses
Referências
1. Maisch B, Seferović PM, Ristić AD, Erbel R, Rienmüller R, Adler Y, et al;
Task Force on the Diagnosis and Management of Pericardial Diseases of the
European Society of Cardiology. Guidelines on the Diagnosis and
Management of Pericardial Diseases: executive summary; The Task Force on
the Diagnosis and Management of Pericardial Diseases of the European
Society of Cardiology. Eur Heart J. 2004;25(7):587-610.
2. Libby P, Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, editors. Braunwald’s Heart
Disease: a textbook of cardiovascular medicine. 8th ed. Philadelphia:
Saunders/Elsevier; 2008.
3. Dressler W. The post-myocardial infarction syndrome. A report of forty four
cases. AMA Arch Intern Med. 1959;103(1):28-42.
4. Markel G, Imazio M, Brucato A, Adler Y. Colchicine for the prevention of
recurrent pericarditis. Isr Med Assoc J. 2008;10(1):69-72.
5. Imazio M, Bobbio M, Cecchi E, Demarie D, Pomari F, Moratti M, et al.
Colchicine as first-choice therapy for recurrent pericarditis: results of the
CORE (COlchicine for REcurrent pericarditis) trial. Arch Intern Med.
2005;165(17):1987-91.
6. Imazio M, Bobbio M, Cecchi E, Demarie D, Demichelis B, Pomari F, et al.
Colchicine in addition to conventional therapy for acute pericarditis: results
of the COlchicine for acute PEricarditis (COPE) trial. Circulation.
2005;112(13):2012-6.
EMERGÊNCIAS HIPERTENSIVAS
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 60 anos, hipertenso e dislipidêmico há pelo menos cinco anos, em
uso irregular de medicamentos anti-hipertensivos. Nega tabagismo. Faz uso de enalapril
10mg/dia, anlodipina 5mg/dia, hidroclorotiazida 25mg/dia e sinvastatina 10mg/dia. Há
três dias, não fazia uso de medicações. Foi admitido no setor de emergência de um
hospital geral com agitação psicomotora, não tolerando decúbito, apresentando intensa
dispneia e desconforto precordial.
Figura 1
Eletrocardiograma do paciente à admissão
Figura 2
Radiografia de tórax do paciente à admissão
OBJETIVOS
1. Discutir a abordagem da dispneia na sala de emergência.
2. Conceituar emergência e urgência hipertensiva definindo seus objetivos
terapêuticos.
3. Discutir o tratamento farmacológico e não farmacológico do edema agudo de
pulmão.
4. Identificar condições de risco elevado para o desenvolvimento de
complicações da hipertensão arterial e suas consequências.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso descrito e como os exames
complementares auxiliam na confirmação diagnóstica?
Quadro 1
Diferenças clínicas entre urgências e emergências hipertensivas
O tratamento deve ser realizado com fármacos administrados por via parenteral
iniciados na sala de emergência e continuados, quando possível, em ambiente de
terapia intensiva. O objetivo terapêutico é a redução de 25% da pressão arterial na
primeira hora; em seguida a redução para níveis em torno de 160x110mmHg da segunda
à sexta hora; e a normalização da pressão em seguida, em 24 horas. Reduções abruptas
podem estar relacionadas à má perfusão cerebral, renal e coronariana. Algumas
situações como acidente vascular cerebral isquêmico necessitam da manutenção de
pressão de perfusão cerebral elevada e o objetivo deve ser a manutenção de uma
pressão arterial média de 100mmHg.
Nas dissecções da aorta, a pressão arterial deve ser reduzida de forma mais abrupta e
para valores menores de 100mmHg de pressão arterial sistólica, acompanhada de
adequada redução da frequência cardíaca. Nesses casos, é bastante utilizada a
associação de betabloqueador endovenoso (labetalol, esmolol ou metoprolol) e
nitroprussiato de sódio.
Surge ainda a necessidade de conceituar outras duas situações clínicas que, apesar de
semelhantes àquelas previamente descritas, não fazem parte das crises hipertensivas.
São elas: a pseudocrise hipertensiva e a hipertensão grave assintomática.
Figura 3
Manifestações clínicas das emergências hipertensivas
Estima-se que cerca de 1% dos pacientes hipertensos tenham crise hipertensiva no ano
ou 1/4 das emergências clínicas seja de natureza hipertensiva6. Levando-se em conta
que a prevalência da hipertensão arterial na população adulta mundial é elevada (cerca
de 30%), é imperativo que medidas preventivas e terapêuticas adequadas sejam
instituídas para a redução da morbidade e da mortalidade por doenças
cardiovasculares.
A elevação abrupta da pressão arterial pode ser entendida pelo importante aumento da
resistência vascular em resposta ao excesso de produção de catecolaminas,
angiotensina II, vasopressina, aldosterona, tromboxano e/ ou endotelina, ou a deficiente
produção de vasodilatadores endógenos, como óxido nítrico (NO) e prostaciclina,
parecem precipitar o aumento da vasorreatividade e levar à EH.
Quadro 2
Anti-hipertensivos de uso mais frequente, suas doses e efeitos colaterais
Novos fármacos estão surgindo como alternativas interessantes no tratamento das crises
hipertensivas, porém ainda não estão disponíveis para uso no Brasil. Dentre eles
destacam-se: clevidipina, um bloquedor dos canais de cálcio di-hidropiridínico de
terceira geração com ação seletiva; a nicardipina, outro bloqueador de canais de cálcio
de segunda geração com alta seletividade vascular; e o fenoldopan, um agonista
dopaminérgico com ação sistêmica e renal 8. As vantagens dos novos fármacos estão
fundamentalmente na sua ação rápida e seletiva, conforme demonstrado no Quadro 3.
Além do tratamento medicamentoso, o edema agudo de pulmão deve ser tratado com
suporte ventilatório adequado, visto que a hipoxemia presente constitui uma ameaça à
vida.
Quadro 3
Vantagens dos novos fármacos para as crises hipertensivas
Posteriormente, são identificados dois grupos de pacientes: aqueles que já fazem uso de
medicação anti-hipertensiva e pacientes sem diagnóstico e tratamento prévios de HAS.
Naqueles pacientes já em uso de medicação, as medidas seriam: reajuste de doses,
identificação de pacientes não aderentes à terapêutica e retorno do tratamento, adição
de diuréticos ao esquema terapêutico e redução da ingesta de sódio. Nesses pacientes,
o tempo de atingimento das metas terapêuticas pode ser de mais de 24 horas. Em
pacientes sem tratamento anti-hipertensivo prévio, a redução da pressão arterial pode
ser feita em algumas horas com a utilização de drogas como furosemida (20mg),
clonidina (0,2mg) e captopril (12,5mg).
Sabe-se ainda que pacientes com hipertensão arterial em estágio III, com hipertensão
arterial resistente (pressão arterial não controlada apesar do uso de três fármacos em
dose plena) e portadores de nefropatia ou cardiopatia associada necessitam de um
seguimento ambulatorial mais curto com ajustes posológicos quando necessário, pois
podem desenvolver complicações hipertensivas com maior frequência3.
Referências
1. Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, Libby P, eds. Braunwald’s Heart Disease: a
textbook of cardiovascular medicine. 9th ed. Philadelphia: Saunders; 2011.
2. Knobel M, Knobel E, Sousa JMA. Condutas em Terapia Intensiva
Cardiológica Rio de Janeiro: Atheneu; 2009.
3. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cushman WC, Green LA, Izzo JL Jr, et
al; National Heart, Lung, and Blood Institute Joint National Committee on
Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure;
National High Blood Pressure Education Program Coordinating Committee.
The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention,
Detection, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure: the JNC 7
report. JAMA. 2003;289(19):2560-72. Erratum in: JAMA. 2003;290(2):197.
4. Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Hipertensão;
Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum in: Arq
Bras Cardiol. 2010;95(4):553.
5. Montera MW, Almeida DR, Tinoco EM, Rocha RM, Moura LA, Réa-Neto A,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. II Diretriz Brasileira de
Insuficiência Cardíaca Aguda. Arq Bras Cardiol. 2009;93(3 Suppl 3):2-65.
6. Passarelli O Jr, Povoa R, Martin JFV, Colombo FMC. Emergências
Hipertensivas na Prática Clínica. São Paulo: Segmento Farma; 2009. p.211-
8.
7. Brandão AA, Amodeo C, Nobre F, Fuchs FD, eds. Hipertensão. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2006.
8. Cline DM, Amin A. Drug Treatment for Hipertensive Emergencies: new
concepts and emerging technologies for emergency physicians. Emergency
Medicine Cardiac Research and Education Group. January, 2008 volume 1.
Available from:
<http://www.emcreg.org/pdf/monographs/2008/Cline2007.pdf>
9. Dickstein K, Cohen-Solal A, Filippatos G, McMurray JJ, Ponikowski P,
Poole-Wilson PA, et al; ESC Committee for Practice Guidelines (CPG). ESC
Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure
2008: the Task Force for the Diagnosis and Treatment of Acute and Chronic
Heart Failure 2008 of the European Society of Cardiology. Developed in
collaboration with the Heart Failure Association of the ESC (HFA) and
endorsed by the European Society of Intensive Care Medicine (ESICM). Eur
Heart J. 2008;29(19):2388-442. Erratum in: Eur Heart J. 2010;12(4):416;
2010;31(5):624.
SUPORTE VENTILATÓRIO NA UNIDADE
CORONARIANA
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 75 anos, negra, hipertensa de longa data, admitida na UC com queixa
de cansaço e falta de ar, iniciados há aproximadamente uma hora. Ao exame físico
apresentava PA = 210x120mmHg e FC =90bpm. Cianose de extremidades. RCR com
B4 de VE. MVUA com estertores crepitantes até ápice de ambos os hemitórax. Não
havia sopros ao exame cardiológico. Nega doença pulmonar ou tabagismo. Nega
alergias. Faz uso irregular de enalapril 10mg/dia e hidroclorotiazida 25mg/dia.
Impressão clínica: Edema agudo de pulmão de etiologia hipertensiva.
OBJETIVOS
1. Discutir as indicações de suporte ventilatório na Unidade Coronariana (UC).
2. Discutir os parâmetros ventilatórios ideais nos pacientes submetidos à
ventilação mecânica.
3. Avaliar os benefícios da ventilação não invasiva e invasiva.
4. Avaliar os efeitos da ventilação com pressão positiva sobre o sistema
cardiovascular.
PERGUNTAS
1. Quais as indicações de suporte ventilatório na UC e seus objetivos?
A ventilação mecânica invasiva com pressão positiva ocasiona redução da pré e pós-
carga sem reduzir a pressão arterial média; portanto os pacientes podem se beneficiar
muito dessa estratégia e, nas situações clínicas, o alívio da musculatura respiratória
associado à diminuição das incursões negativas torácicas pode melhorar
significativamente o paciente3.
O uso da ventilação não invasiva com pressão positiva (VNI) para tratamento de
pacientes com insuficiência respiratória aguda ou crônica agudizada foi, certamente, um
dos maiores avanços da ventilação mecânica nas últimas duas décadas.
O uso da VNI em grupos selecionados de pacientes, como por exemplo, pacientes com
exacerbação de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), é responsável pela
diminuição da necessidade de entubação, mortalidade e custos do tratamento, motivo
pelo qual seu uso vem se tornando cada vez mais frequente.
• Interfaces
Estudo publicado em 2010 mostra efetividade das técnicas de VNI em pacientes com
quadro de EAP de etiologia isquêmica, mostrando melhora dos parâmetros oximétricos
e hemodinâmicos, com redução dos índices de IOT e também de mortalidade14.
b) DPOC
A evidência mais forte para o benefício do uso da VNI, tanto para a diminuição da
necessidade de entubação quanto para a redução da mortalidade, é no tratamento da
exacerbação da DPOC.
c) Resgate pós-extubação
Insuficiência respiratória após a extubação pode ocorrer mesmo após uma adequada
condução do desmame; até o momento não há nenhum parâmetro objetivo que possa
identificar os pacientes em risco. Cerca de 13% a 19% dos pacientes extubados
necessitam de reentubação. Eles apresentam mortalidade sete vezes maior que os
extubados com sucesso4.
d) Estratégia de desmame
Quadro 1
Contraindicações ao uso da VNI4
Pacientes admitidos em EAP cardiogênico devem ser submetidos à VNI como primeira
linha de tratamento caso não apresentem contraindicações.
Em situações clínicas em que existe instabilidade clínica, sonolência importante ou
fadiga respiratória, deve ser instituída prontamente a ventilação mecânica invasiva, sem
tentativa de ventilação não invasiva.
• Modos ventilatórios
Figura 1
Efeitos da mudança do débito cardíaco sobre a PaO2 na presença de diversas relações V/Q pulmonares3
O aumento do débito cardíaco eleva o efeito de shunt pulmonar, porém gera redução do
espaço-morto. A adoção de medidas auxiliares (infusão de dobutamina, hemácias,
controle de temperatura) pode elevar a pressão venosa de oxigênio e consequentemente
da pressão arterial de oxigênio em algumas situações clínicas de hipoxemia refratária24.
O uso de ventilação com pressão positiva resulta em aumento das pressões intrapleural
e intra-abdominal, assim como elevação dos volumes intrapulmonares. A extensão das
consequências dessas variações relativas a qualquer que seja a pressão das vias aéreas
depende da complacência da parede torácica e pulmonar do paciente. A PEEP causa
queda do retorno venoso, que pode ser mais acentuada em casos de hipovolemia
significativa. O principal responsável pelo retorno venoso sistêmico é a pressão interna
de átrio direito, que depende da interação complexa entre quatro variáveis que são:
pressão pleural, pressão venosa sistêmica, volemia e tônus simpático3,24.
Situações em que há elevado esforço respiratório geram queda da pressão pleural, com
consequente aumento do retorno venoso para o átrio direito e redução do retorno
venoso para o átrio esquerdo3.
Figura 2
Variação da interação cardiopulmonar: da ventilação espontânea à ventilação controlada3.
Como citado, pacientes que apresentam disfunção de VD apresentam piora clínica com
o uso de PEEP por piora do débito cardíaco. Esses pacientes devem ser ventilados com
baixos valores de volume corrente (5-6ml/kg), com níveis de PEEP baixos (em torno de
5-6) e em modos controlados até que haja estabilidade clínica2,3.
Referências
1. Roussos C, Macklem PT. The respiratory muscles. N Engl J Med.
1982;307(13):786-97.
2. Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, Libby P, eds. Braunwald’s Heart Disease: a
textbook of cardiovascular medicine. 9th ed. Philadelphia: Saunders; 2011.
3. Barbas CSV, Bueno MAS, Amato MBP, Hoelz C, Rodrigues-Junior M.
Interação cardiopulmonar durante a ventilação mecânica. Rev Soc Cardiol
Estado São Paulo. 1998;3:28-41.
4. Carvalho CRR, Franca SA, Okamoto VN. III Consenso Brasileiro de
ventilação mecânica. J Bras Pneumol. 2007;33(supl 2S):S51-151.
5. Richards GN, Cistulli PA, Ungar RG, Berthon-Jones M, Sullivan CE. Mouth
leak with nasal continuous positive airway pressure increases nasal airway
resistance. Am J Respir Crit Care Med. 1996;154(1):182-6.
6. Navalesi P, Fanfulla F, Frigerio P, Gregoretti C, Nava S. Physiologic
evaluation of noninvasive mechanical ventilation delivered with three types
of masks in patients with chronic hypercapnic respiratory failure. Crit Care
Med. 2000;28(6):1785-90.
7. Criner GJ, Travaline JM, Brennan KJ, Kreimer DT. Efficacy of a new full
face mask for noninvasive positive pressure ventilation. Chest.
1994;106(4):1109-15.
8. Antonelli M, Pennisi MA, Pejosi P, Gregoretti C, Squadrone V, Rocco M, et
al. Noninvasive positive pressure ventilation using a helmet in patients with
acute exacerbation of chronic obstructive pulmonary disease: a feasibility
study. Anesthesiology. 2004;100(1):16-24.
9. Räsänen J, Heikkilä J, Downs J, Nikki P, Väisänen I, Viitanen A. Continuous
positive airway pressure by face mask in acute cardiogenic pulmonary
edema. Am J Cardiol. 1985;55(4):296-300.
10. Bersten AD, Holt AW, Vedig AE, Skowronski GA, Baggoley CJ. Treatment of
severe cardiogenic pulmonary edema with continuous positive airway
pressure delivered by face mask. N Engl J Med. 1991;325(26):1825-30.
11. Lin M, Yang YF, Chiang HT, Chang MS, Chiang BN, Cheitlin MD.
Reappraisal of continuous positive airway pressure therapy in acute
cardiogenic pulmonary edema. Short-term results and long-term follow-up.
Chest. 1995;107(5):1379-86.
12. Pang D, Keenan SP, Cook DJ, Sibbald WJ. The effect of positive pressure
airway support on mortality and the need for intubation in cardiogenic
pulmonary edema: a systematic review. Chest. 1998;114(4):1185-92.
13. Mariani J, Macchia A, Belziti C, Deabreu M, Gagliardi J, Doval H, et al.
Noninvasive ventilation in acute cardiogenic pulmonary edema: a meta-
analysis of randomized controlled trials. J Card Fail. 2011;17(10):850-9.
14. Shilov AM. [Using noninvasive positive pressure (mask) pulmonary
ventilation in patients with acute myocardial infarction]. Anesteziol
Reanimatol. 2010;(3):37-42.
15. Lightowler JV, Wedzicha JA, Elliot MW, Ram FS. Non-invasive positive
pressure ventilation to treat respiratory failure resulting from exacerbations
of chronic obstructive pulmonary disease: Cochrane systematic review and
meta-analysis. BMJ. 2003;326(7382):185.
16. Keenan SP, Sinuff T, Cook DJ, Hill NS. Which patients with acute
exacerbation of chronic obstructive pulmonary disease benefit from
noninvasive positive-pressure ventilation? A systematic review of the
literature. Ann Intern Med. 2003;138(11):861-70.
17. Ram FS, Picot J, Lightowler J, Wedzicha JA. Non-invasive positive pressure
ventilation for treatment of respiratory failure due to exacerbations of chronic
obstructive pulmonary disease. Cochrane Database Syst Rev. 2004;
(3):CD004104.
18. Vitacca M, Ambrosino N, Clini E, Porta R, Rampulla C, Lanini B, et al.
Physiological response to pressure support ventilation delivered before and
after extubation in patients not capable of totally spontaneous autonomous
breathing. Am J Respir Crit Care Med. 2001;164(4):638-41.
19. Esteban A, Frutos-Vivar F, Ferguson ND, Arabi Y, Apezteguía C, González
M, et al. Noninvasive positive-pressure ventilation for respiratory failure
after extubation. N Engl J Med. 2004;350(24):2452-60.
20. Burns KE, Adhikari NK, Meade MO. Noninvasive positive pressure
ventilation as a weaning strategy for intubated adults with respiratory failure.
Cochrane Database Syst Rev. 2003;(4):CD004127.
21. Snyder JV, Pinsky MR (eds). Oxygen Transport in the Critically Ill. Chicago:
Year Book Medical; 1987.
22. Kouraki K, Schneider S, Uebis R, Tebbe U, Klein HH, Janssens U, et al.
Characteristics and clinical outcome of 458 patients with acute myocardial
infarction requiring mechanical ventilation. Results of the BEAT registry of
the ALKK-study group. Clin Res Cardiol. 2011;100(3):235-9.
23. Amato MB, Barbas CS, Medeiros DM, Magaldi RB, Schettino GP, Lorenzi-
Filho G, et al. Effect of a protective-ventilation strategy on mortality in the
acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 1998;338(6):347-54.
24. Kotanidou A, Armaganidis A, Zakynthinos S, Mavrommatis A, Roussos C.
Changes in thoracopulmonary compliance and hemodynamic effects of
positive end-expiratory pressure in patients with or without heart failure. J
Crit Care. 1997;12(3):101-11.
25. Miro AM, Pinsky MR. Hemodynamic effects of mechanical ventilation in
mechanical ventilation and assisted respiration. In: Contemporary
management in critical care. Churchill Livingstone: New York; 1991. p.73-
90. Available from: <http://trove.nla.gov.au/work/6273884>
26. Fessler HE, Brower RG, Wise RA, Permutt S. Effects of positive end-
expiratory pressure on the gradient for venous return. Am Rev Respir Dis.
1991;143(1):19-24.
Seção 3. Doença isquêmica / Doença
crônica
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 69 anos de idade, apresentando há 12 meses desconforto torácico
anterior, localizado em região retroesternal, relatado como uma sensação de aperto ou
peso, sem irradiação, que surgia ao subir rápido os três andares do local onde trabalha
e que melhorava com repouso, com duração aproximada de 5min. Há seis meses o
desconforto passou a lhe acometer ao subir dois lances de escada. Negava dispneia,
palpitações, síncope ou pré-síncope, náuseas ou vômitos.
Pulmões limpos, com murmúrio vesicular audível em ambos os hemitórax. Não havia
visceromegalias, nem edema de membros inferiores. PA =140x90mmHg em ambos os
braços e 148x86mmHg em ambas as pernas.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Como identificar a dor torácica de origem isquêmica (anginosa)?
Vários adjetivos têm sido utilizados para descrever a qualidade da dor que, muitas
vezes, não é interpretada pelos pacientes como uma dor em si, mas um desconforto
descrito como: “aperto”, “queimação”, “peso” ou “sufocante”1,3. Dificilmente, a
isquemia miocárdica produz dor em pontada ou aguda e não sofre modificações com a
posição do corpo ou respiração1,3. Os episódios de isquemia miocárdica, em geral,
duram poucos minutos. Habitualmente, produz dor retroesternal que pode se irradiar
para pescoço, mandíbula ou braços1-3.
A angina é considerada típica quando três das seguintes características estão presentes:
dor em aperto relacionada aos esforços ou emoções, retroesternal e que alivia com o
repouso ou nitrato sublingual. A angina é atípica quando apresenta duas destas
características; e dor não anginosa quando apresenta apenas uma destas
características2,3.
Quanto à gravidade:
Classe I: quando a angina é de recente começo, grave ou acelerada, com
menos de dois meses de duração, ocorrendo mais de três vezes ao dia e
precipitada por menos exercício, mas sem dor em repouso, nos últimos dois
meses1.
Classe II: quando a angina ocorre em repouso, subaguda, dentro do mês
precedente, mas não nas últimas 48 horas.
Classe III: quando a angina ocorre em repouso, aguda, dentro das últimas 48
horas1.
Durante a anamnese a presença de outros sintomas como dispneia, náuseas e/ou vômitos
e síncope ou pré-síncope também devem ser questionados, uma vez que dispneia pode
ser um equivalente anginoso em pacientes com isquemia miocárdica, principalmente
nos portadores de diabetes mellitus (DM). Náuseas e vômitos podem estar presentes em
casos de infarto agudo do miocárdio e angina instável grave; e síncope ou pré-síncope
podem ser manifestações clínicas de baixo débito ou arritmias ventriculares graves1-3.
Existe a possibilidade de precipitação de angina durante o uso de tabaco e cocaína e o
uso recente de ambos deve também ser questionado1,3.
5. Que sinais devem ser procurados em pacientes com dor torácica isquêmica
(angina)?
Mesmo considerando que o exame físico, em geral, não é muito útil para confirmar a
presença de DAC, exame cuidadoso pode revelar a presença de doença valvar ou
cardiomiopatia hipertrófica, que são condições associadas com angina1,2. A evidência
de aterosclerose extracardíaca, como diminuição de pulso carotídeo, sopro em uma das
carótidas, diminuição dos pulsos em membros inferiores, índice tornozelo-braquial
anormal ou aneurisma abdominal aumentam a chance de DAC2.
Por outro lado, em paciente com alta prevalência pré-teste de doença, um teste negativo
não afasta a possibilidade do diagnóstico. Embora seja bastante especulativo predizer a
probabilidade da presença da DAC pela história e exame físico, Diamond e Forrester5
(Tabela 1), em estudo clinicopatológico, demonstraram que é possível por meio do tipo
de dor, idade e sexo, predizer com boa acurácia a probabilidade de DAC4,5. Esse
estudo foi posteriormente confirmado em estudos prospectivos realizados na
Universidade de Duke e Stanford7-9. A presença de fatores de risco como tabagismo,
dislipidemia, diabetes e alterações eletrocardiográficas (presença de ondas Q ou
alterações do ST-T) aumentam o valor preditivo do método4,5. Desses fatores, o
diabetes é o que tem maior influência sobre o risco5. O estudo de Stanford mostrou que
o modelo funciona bem para pacientes com angina típica, mas para pacientes mais
jovens com dor atípica o modelo magnifica a probabilidade da DAC7.
Tabela 1
Probabilidade pré-teste de DAC em pacientes sintomáticos de acordo com idade e sexo
Quadro 1
7. Quais os diagnósticos diferenciais que devem ser considerados em pacientes com
dor torácica?
De acordo com a estimativa proposta por Diamond e Forrester5 (Tabela 1), sendo o
paciente do sexo masculino, com 69 anos de idade e história de angina típica, pode-se
deduzir uma probabilidade da presença de DAC obstrutiva significativa de
aproximadamente 94%. Como, além disso, o paciente apresenta três fatores de risco
para aterosclerose coronariana: hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e história
familiar prematura de DAC, a probabilidade pode chegar a 97%.
Este caso ilustra a importância que a história clínica e o exame físico têm na estimativa
da presença de DAC obstrutiva estável4,5,7-9.
Referências
1. Libby P, Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, eds. Braunwald’s Heart Disease: a
textbook of cardiovascular medicine. 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2008.
2. O’Rourke RA, Fuster V, Alexander RW, eds. Hurst’s The Heart. Manual of
Cardiology. 10th ed. New York: McGraw-Hill; 2001.
3. Gibbons RJ, Chatterjee K, Daley J, Douglas JS, Fihn SD, Gardin JM, et al.
ACC/AHA/ACP-ASIM Guidelines for the Management of Patients with
Chronic Stable Angina: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
(Committee on Management of Patients with Chronic Stable Angina). J Am
Coll Cardiol. 1999;33(7):2092-197. Erratum in: J Am Coll Cardiol.
2001;38(1):296; 1999;34(1):314.
4. Diamond GA, Staniloff HM, Forrester JS, Pollock BH, Swan HJ. Computer-
assisted diagnosis in the noninvasive evaluation of patients with suspected
coronary disease. J Am Coll Cardiol. 1983;1(2 Pt 1):444-55.
5. Diamond GA, Forrester JS. Analysis of probability as an aid in the clinical
diagnosis of coronary-artery disease. N Engl J Med. 1979;300(24):1350-8.
6. Chaitman BR, Bourassa MG, Davis K, Rogers WJ, Tyras DH, Berger R, et al.
Angiographic prevalence of high-risk coronary disease in patient subsets
(CASS). Circulation. 1981;64(2):360-7.
7. Pryor DB, Harrell FE Jr, Lee KL, Califf RM, Rosati RA. Estimating the
likelihood of significant coronary artery disease. Am J Med. 1983;75(5):771-
80.
8. Sox HC Jr, Hickam DH, Marton KI, Moses L, Skeff KM, Sox CH, et al. Using
the patient’s history to estimate the probability of coronary artery disease: a
comparison of primary care and referral practices. Am J Med. 1990;89(1):7-
14. Erratum in: Am J Med. 1990;89(4):550.
9. Pryor DB, Shaw L, McCants CB, Lee KL, Mark DB, Harrell FE Jr, et al.
Value of the history and physical in identifying patients at increased risk for
coronary artery disease. Ann Intern Med. 1993;118(2):81-90.
10. Goldman L, Hashimoto B, Cook EF, Loscalzo A. Comparative
reproducibility and validity of systems for assessing cardiovascular
functional class: advantages of a new specific activity scale. Circulation.
1981;64(6):1227-34.
11. Campeau L. Grading of angina pectoris. Circulation. 1976;54(3):522-3.
LINHAS GERAIS DA ESTRATIFICAÇÃO DO
RISCO: EVIDÊNCIAS E RECOMENDAÇÕES
NA PRÁTICA CLÍNICA
Roberto Esporcatte
Elias Antonio Yunes
CASO CLÍNICO
Paciente do sexo masculino, 65 anos, com história prévia de hipertensão, diabetes
mellitus tipo 2 e dislipidemia, procura atendimento ambulatorial por quadro de
desconforto precordial em aperto, de moderada intensidade, com irradiação para o
membro superior esquerdo, desencadeada aos esforços como caminhada de
aproximadamente 15 minutos ou subir dois lances de escada, e que melhora ao cessar o
esforço. Faz uso regular há cinco anos de hidroclorotiazida 25mg/dia, losartan 50mg
2xd, metformina 850mg 3xd e glibenclamida 5mg 2xd.
Quadro 1
Exames laboratoriais do paciente relatado
Figura 1
ECG do paciente relatado
OBJETIVOS
1. Avaliar a importância da probabilidade pré-teste para a tomada de decisão
em relação à investigação diagnóstica e estratificação de risco.
2. Discutir os diferentes aspectos a serem avaliados para definir o risco de
eventos cardiovasculares
3. Discutir os exames complementares que podem ser utilizados para auxiliar na
estratificação de risco e suas indicações na prática clínica.
4. Propor um algoritmo com a sequência de avaliação e indicação dos métodos
complementares para diagnóstico e estratificação de risco.
PERGUNTAS
1. Qual o primeiro passo na investigação diagnóstica do paciente em questão?
Diante de um paciente que se apresenta com queixa de dor precordial, o primeiro passo
a ser dado é definir qual a probabilidade pré-teste de se confirmar o diagnóstico de
doença arterial coronariana (DAC), pois a partir dessa avaliação serão definidos os
próximos passos na investigação. A probabilidade de o paciente ser portador de DAC
baseia-se nas características clínicas da dor, no sexo e na idade do paciente. (Tabela
1)1 Os três elementos da dor a serem considerados são:
A angina deve ser considerada típica quando as três características estão presentes;
atípica (provável) quando duas destas estão presentes; e não anginosa quando uma ou
nenhuma característica estiver presente2. A probabilidade pré-teste é considerada baixa
quando <10%; intermediária quando entre 10% e 90%; e alta quando >90%3.
Tabela 1
Probabilidade (%) de DAC em pacientes sintomáticos
Os quatro aspectos da DAC que podem ser analisados para estratificação do risco são:
avaliação clínica, resposta aos testes provocativos, quantificação da função ventricular
e extensão da doença pela avaliação da anatomia coronariana4. Vale lembrar que essa
não é uma sequência de avaliação linear e nem todos os pacientes precisam ter, na sua
estratificação, os quatro aspectos investigados, já que em pacientes de baixo risco
provavelmente não será necessária a avaliação da anatomia coronariana.
3. Qual a importância da avaliação clínica inicial na estratificação de risco?
A estratificação pela avaliação clínica deve ser sempre a primeira a ser utilizada e é
um passo imprescindível na avaliação do risco cardiovascular. A história e o exame
físico podem dar informações prognósticas fundamentais. A graduação da dor é um
ponto importante na anamnese, e pode ser feita usando-se a classificação da Sociedade
Canadense de Cardiologia (Quadro 2)5. Na história clínica, além de caracterizar o
padrão dos sintomas, a identificação de fatores de risco com importância prognóstica
como HAS, DM, dislipidemia, tabagismo e história familiar, a idade do paciente, os
sintomas de IC e a história prévia de IAM são fundamentais6. Também devem ser
pesquisadas outras condições que possam desencadear ou exacerbar isquemia (Quadro
3)7.
O exame físico em geral não colabora para o diagnóstico por não apresentar sinais
clínicos específicos, mas pode ser útil para a identificação de fatores de risco e
comorbidades que auxiliem no diagnóstico como HAS, sinais de doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC), xantelasma, doença vascular aterosclerótica não
coronariana (pulsos diminuídos, sopro carotídeo ou renal, aneurisma de aorta
abdominal)8. O exame durante episódio anginoso pode revelar algumas alterações
como terceira ou quarta bulhas, sopro de insuficiência mitral ou estertores basais.
Nessa etapa da estratificação também devem ser incorporados alguns exames como o
ECG, os exames laboratoriais e a radiografia de tórax.
Quadro 2
Graduação da angina de peito, segundo a Sociedade de Cardiologia Canadense
Fonte: Campeau5
Quadro 3
Condições que podem desencadear ou exacerbar isquemia
Radiografia de tórax
Exames laboratoriais
Eletrocardiograma
Os testes podem ser feitos sem ou com imagem e, nesse caso, com estresse físico ou
farmacológico. A informação sobre prognóstico vem não só da detecção da isquemia,
mas principalmente de sua gravidade, extensão e da capacidade funcional do paciente.
O Quadro 4 apresenta a especificidade e a sensibilidade dos testes provocativos para o
diagnóstico de DAC11.
Normalmente testes de estresse não devem ser indicados para pacientes assintomáticos
sem DAC conhecida, mas pode ser razoável no caso de diabéticos que pretendam
iniciar atividade física vigorosa, para os que têm evidência de isquemia na
monitorização ambulatorial do ECG ou para aqueles com calcificações coronarianas
graves na tomografia computadorizada9.
Quadro 4
Especificidade e sensibilidade dos testes não invasivos11
TE= teste de esforço; Eco=ecocardiograma; RM=ressonância magnética; PET=tomografia por emissão de pósitrons
Teste ergométrico
Cintilografia miocárdica
Pode ser realizada tanto com estresse físico quanto farmacológico, sendo este último
indicado a pacientes que não sejam capazes de realizar o esforço físico ou que
apresentem alterações no eletrocardiograma que impossibilitem a interpretação do
resultado no estresse físico. O exame realizado com estresse físico agrega várias
informações prognósticas importantes dadas pela ergometria, como a presença de
sintomas, tolerância ao esforço e alterações hemodinâmicas. Tem indicações não só
para estratificação de risco, mas também para diagnóstico e pesquisa de
viabilidade17,18.
Ecocardiograma de estresse
Assim como a cintilografia, também pode ser realizado com estresse físico ou
farmacológico e pode ser usado para avaliação diagnóstica, prognóstica e de
viabilidade. Apresenta também alto valor preditivo negativo18. O risco de eventos
futuros depende e é proporcional tanto ao número de alterações segmentares no eco em
repouso quanto ao número de regiões com alteração segmentar induzida pelo
estresse4,17.
O Quadro 5 apresenta os achados nos testes não invasivos e sua correlação com o risco
anual de morte7.
Quadro 5
Resultados dos testes não invasivos e risco anual de morte
Fonte: Gibbons et al.8
Ressonância magnética
Coronariografia
A angiografia coronariana tem papel importante na investigação diagnóstica e avaliação
prognóstica da doença coronariana estável. Ela fornece informações sobre a função
ventricular e a anatomia coronariana, ajudando a definir as possíveis opções
terapêuticas, mas não é capaz de mostrar a importância funcional da lesão coronariana
como os métodos não invasivos. Alguns achados que classicamente conferem mau
prognóstico são a doença multivascular e a estenose grave do tronco da coronária
esquerda (TCE) ou do terço proximal da artéria descendente anterior (DA). Em
pacientes sintomáticos tratados, a identificação de apenas uma das três artérias
coronárias principais com estenose >50% já eleva a taxa de mortalidade anual para
aproximadamente 2%.
Pacientes de alto risco para eventos adversos de acordo com testes não
invasivos, mesmo que apresentem apenas sintomas leves ou moderados: (I-
B).
Pacientes com angina estável classe III (CCS), principalmente se refratários
ao tratamento medicamentoso: (I-B).
Pacientes com angina estável e indicação de cirurgia de grande porte
(principalmente as vasculares) que apresentem critérios de risco alto ou
moderado nos testes não invasivos: (I-B).
Pacientes com testes não invasivos inconclusivos ou com resultados
conflitantes: (IIa-C).
Pacientes com alto risco de reestenose após ICP se a localização da possível
lesão tem importância prognóstica: (IIa-C).
Referências
1. Diamond GA, Forrester JS. Analysis of probability as an aid in the clinical
diagnosis of coronary-artery disease. N Engl J Med. 1979;300(24):1350-8.
2. Diamond GA. A clinically relevant classification of chest discomfort. J Am
Coll Cardiol. 1983;1(2 Pt 1):574-5.
3. Emond M, Mock MB, Davis KB, Fisher LD, Holmes DR Jr, Chaitman BR, et
al. Long-term survival of medically treated patients in the Coronary Artery
Surgery Study (CASS) Registry. Circulation. 1994;90(6):2645-57.
4. Fox K, Garcia MA, Ardissino D, Buszman P, Camici PG, Crea F, et al; Task
Force on the Management of Stable Angina Pectoris of the European Society
of Cardiology; ESC Committee for Practice Guidelines (CPG). Guidelines on
the Management of Stable Angina Pectoris: executive summary: the Task
Force on the Management of Stable Angina Pectoris of the European Society
of Cardiology. Eur Heart J. 2006;27(11):1341-81.
5. Campeau L. Letter: Grading of angina pectoris. Circulation. 1976;54(3):522-
3.
6. Rosengren A, Dotevall A, Eriksson H, Wilhelmsen L. Optimal risk factors in
the population: prognosis, prevalence, and secular trends; data from Göteborg
population studies. Eur Heart J. 2001;22(2):136-44.
7. César LAM, Mansur AP, Armaganijan D, Amino JG, Sousa AC, Simão AF, et
al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes de doença coronariana
crônica: angina estável. Arq Bras Cardiol. 2004;83(supl. 2):2-43.
8. Gibbons RJ, Abrams J, Chatterjee K, Daley J, Deedwania PC, Douglas JS, et
al; American College of Cardiology; American Heart Association Task Force
on Practice Guidelines (Committee on the Management of Patients with
Chronic Stable Angina). ACC/AHA 2002 Guideline Update for the
Management of Patients with Chronic Stable Angina--summary article: a
report of the American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines (Committee on the Management of Patients
with Chronic Stable Angina). J Am Coll Cardiol. 2003;41(1):159-68.
9. Libby P, Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, eds. Braunwald’s Heart Disease: a
textbook of cardiovascular medicine. 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2008.
p.353-1405.
10. Snow V, Barry P, Fihn SD, Gibbons RJ, Owens DK, Williams SV, et al;
American College of Physicians; American College of Cardiology Chronic
Stable Angina Panel. Primary care management of chronic stable angina and
asymptomatic suspected or known coronary artery disease: a clinical practice
guideline from the American College of Physicians. Ann Intern Med.
2004;141(7):562-7. Erratum in: Ann Intern Med. 2005;142(1):79.
11. Kones R. Recent advances in the management of chronic stable angina I:
approach to the patient, diagnosis, pathophysiology, risk stratification, and
gender disparities. Vasc Health Risk Manag. 2010:6:635-56.
12. Daly C, Norrie J, Murdoch DL, Ford I, Dargie HJ, Fox K; TIBET (Total
Ischaemic Burden European Trial) study group. The value of routine non-
invasive tests to predict clinical outcome in stable angina. Eur Heart J.
2003;24(6):532-40.
13. Fletcher GF, Mills WC, Taylor WC. Update on exercise stress testing. Am
Fam Physician. 2006;74(10):1749-54.
14. Hung J, Chaitman BR, Lam J, Lesperance J, Dupras G, Fines P, et al.
Noninvasive diagnostic test choices for the evaluation of coronary artery
disease in women: a multivariate comparison of cardiac fluoroscopy,
exercise electrocardiography and exercise thallium myocardial perfusion
scintigraphy. J Am Coll Cardiol. 1984;4(1):8-16.
15. Mark DB, Hlatky MA, Harrell FE Jr, Lee KL, Califf RM, Pryor DB. Exercise
treadmill score for predicting prognosis in coronary artery disease. Ann
Intern Med. 1987;106(6):793-800.
16. Mark DB, Shaw L, Harrell FE Jr, Hlatky MA, Lee KL, Bengtson JR, et al.
Prognostic value of a treadmill exercise score in outpatients with suspected
coronary artery disease. N Engl J Med. 1991;325(12):849-53.
17. Lepor NE, Pohost GM. Cardiovascular Imaging to risk-stratify in chronic
angina. Rev Cardiovasc Med. 2009;10 (Suppl 1):S30-7.
18. Rocchi G, Fallani F, Bracchetti G, Rapezzi C, Ferlito M, Levorato M, et al.
Non-invasive detection of coronary artery stenosis: a comparison among
power-Doppler contrast echo, 99Tc-Sestamibi SPECT and echo wall-motion
analysis. Coron Artery Dis. 2003;14(3):239-45.
19. Schinkel AF, Bax JJ, Geleijnse ML, Boersma E, Elhendy A, Roelandt JR, et
al. Noninvasive evaluation of ischaemic heart disease: myocardial perfusion
imaging or stress echocardiography? Eur Heart J. 2003;24(9):789-800.
20. Pennell DJ, Sechtem UP, Higgins CB, Manning WJ, Pohost GM, Rademakers
FE, et al; Society for Cardiovascular Magnetic Resonance; Working Group on
Cardiovascular Magnetic Resonance of the European Society of Cardiology.
Clinical indications for cardiovascular magnetic resonance (CMR):
Consensus Panel report. Eur Heart J. 2004;25(21):1940-65.
21. Fass AE. Chronic coronary disease in the post-COURAGE Era: a new
paradigm. Cardiol Rev. 2010;18(6):292-7.
22. Yusuf S, Fallen E, Harrington RA, Guyton RA. Clinical decisions.
Management of stable coronary disease. N Engl J Med. 2007;357(17):1762-
6.
23. Taylor AJ, Cerqueira M, Hodgson JM, Mark D, Min J, O’Gara P, et al;
American College of Cardiology Foundation Appropriate Use Criteria Task
Force; Society of Cardiovascular Computed Tomography; American College
of Radiology; American Heart Association; American Society of
Echocardiography; American Society of Nuclear Cardiology; North
American Society for Cardiovascular Imaging; Society for Cardiovascular
Angiography and Interventions; Society for Cardiovascular Magnetic
Resonance. ACCF/SCCT/ACR/AHA/ASE/ASNC/NASCI/SCAI/SCMR
2010 appropriate use criteria for cardiac computed tomography. A report of
the American College of Cardiology Foundation Appropriate Use Criteria
Task Force, the Society of Cardiovascular Computed Tomography, the
American College of Radiology, the American Heart Association, the
American Society of Echocardiography, the American Society of Nuclear
Cardiology, the North American Society for Cardiovascular Imaging, the
Society for Cardiovascular Angiography and Interventions, and the Society
for Cardiovascular Magnetic Resonance. J Am Coll Cardiol.
2010;56(22):1864-94.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO:
CONCEITOS E APLICAÇÃO CLÍNICA DAS
EVIDÊNCIAS
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 68 anos, hipertenso, veio à consulta cardiológica devido à dor
precordial opressiva, sem irradiação, ao carregar peso ou subir escada e melhora da
dor ao interromper o esforço. Nega dor a pequenos esforços ou repouso. Relata início
do quadro há aproximadamente dois meses, sem progressão dos sintomas desde então.
Refere uso irregular de enalapril 10mg 1x/dia e AAS 100mg em dias alternados. Nega
doença pulmonar, tabagismo ou claudicação intermitente. Nega também alergia
medicamentosa.
PERGUNTAS
1. O que diz a literatura sobre o tratamento farmacológico da angina estável?
O estudo SAPAT (Swedish Angina Pectoris Aspirin Trial)2 avaliou 2.035 pacientes,
com idade entre 30-80 anos, randomizados para receber 75mg/dia de AAS ou placebo.
No seguimento em 50 meses, o AAS reduziu a incidência de eventos primários de IM e
morte súbita em 34% e de incidência de eventos vasculares secundários em 32%.
Os IECA são recomendados para pacientes com angina estável com infarto do
miocárdio, disfunção ventricular (fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE)
<40%), hipertensão, diabetes ou doença renal crônica (Grau de recomendação I, nível
de evidência A). Podem ser utilizados em todos os pacientes com DAC ou outras
doenças cardiovasculares (Grau de recomendação IIa, nível de evidência B)8.
Betabloqueadores
Os efeitos benéficos dos betabloqueadores em pacientes com angina estável são
mediados pela redução na demanda de oxigênio miocárdio, pela diminuição da
frequência cardíaca (FC), da contratilidade e do estresse da parede ventricular
esquerda. Esta classe de drogas aumenta o tempo de diástole, com isso reduz o
consumo de oxigênio e melhora a perfusão coronariana. No esforço físico reduz a
elevação da pressão arterial e melhora a capacidade de exercício. Aumenta o limiar de
angina e reduz sua frequência, além de diminuir a necessidade do uso de nitratos.
Entretanto, há ausência de evidências do uso de betabloqueadores para melhorar a
sobrevida ou reduzir a incidência de IAM em pacientes com angina estável na ausência
de infarto do miocárdio prévio ou insuficiência cardíaca9,16.
A anlodipina, possivelmente o BCC com maior evidência clínica neste grupo, no estudo
PREVENT22, mostrou redução de eventos coronarianos e pode ser utilizada em
pacientes com disfunção ventricular esquerda por apresentar pouca, se alguma,
atividade inotrópica negativa. Os BCC di-hidropiridínicos são recomendados em
pacientes que não toleram os betabloqueadores (Grau de recomendação I, nível de
evidência B) ou associados a um betabloqueador quando este não consegue
isoladamente controlar a angina (Grau de recomendação I, nível de evidência B)8.
Associados a um betabloqueador, bloqueia-se o principal efeito adverso do grupo que é
a taquicardia reflexa. A combinação do betabloqueador com o BCC costuma ser
particularmente benéfica quando da coexistência de angina e hipertensão arterial8.
O estudo INVEST23 constatou uma redução no número de pacientes com angina de 65%
para 25% utilizando verapamil em vez de atenolol, sem diferença na mortalidade após
dois anos. As indicações atuais deste grupo são o tratamento da angina estável,
isquemia silenciosa e vasoespasmo. Em pacientes com angina, ambos têm boa
indicação naqueles intolerantes aos betabloqueadores (Grau de recomendação I, nível
de evidência B). Quando associado a um betabloqueador, a fim de potencializar o
efeito cronotrópico negativo e a redução da pós-carga e consequentemente o consumo
miocárdico, seu uso deve ser feito com cautela pelo risco elevado de bradicardia (Grau
de recomendação IIb, nível de evidência B). Tanto o diltiazem quanto o verapamil são
contraindicados em pacientes anginosos com insuficiência cardíaca descompensada e
no período pós-infarto agudo do miocárdio devido ao seu efeito inotrópico negativo8.
Nitratos
O primeiro relato do uso de nitrato oral para angina pectoris data de 1867. As
impressões iniciais indicavam um efeito relaxante sobre a musculatura vascular e na
performance cardíaca. Indivíduos com angina do peito, testados com nitrato,
apresentaram melhora da gravidade da dor e até mesmo a resolução completa do
sintoma quando usado no início do desconforto24.
Trimetazidina
Estatinas
A relação entre níveis lipídicos e aterosclerose foi sugerida em 1856 pelo alemão
Rudolph Virchow. Até poucos anos antes do aparecimento das estatinas havia relatos de
crianças com hipercolesterolemia familiar da forma monozigótica, sem outros fatores
de risco, que morriam de infarto aos 10 anos ou 15 anos de idade. Ao mesmo tempo,
populações como a japonesa, que possui níveis de lipídeos notoriamente baixos,
apresentava baixa incidência de eventos coronarianos31. Os primeiros hipolipemiantes
usados eram de difícil aceitação devido aos inúmeros efeitos colaterais. Em 1994, foi
publicado o Scandinavian Simvastatin Survival Study 32 (4S), apresentando a primeira
estatina que reduzia o colesterol e a incidência de infartos miocárdicos.
Os triglicerídeos devem ser tratados quando em valores ≥200 mg/dL usando uma
estatina. O objetivo é reduzir o colesterol não HDL para <130mg/dL. Valores
≥500mg/dL levam a risco aumentado de pancreatite e devem ser tratados com uma
associação de estatina e fibratos8,35.
O controle rigoroso da pressão arterial e do peso corporal, além dos níveis séricos de
lipídeos e glicemia, é capaz de diminuir significativamente os eventos
cardiovasculares. De acordo com as recomendações das diretrizes brasileiras de
hipertensão, pacientes diabéticos com PA entre 130-139mmHg e 80-89mmHg podem
ser tratados com modificação de estilo de vida por um tempo máximo de três meses.
Pacientes com PA ≥140x90mmHg no momento do diagnóstico ou durante o seguimento
devem receber tratamento medicamentoso em conjunto com modificação do estilo de
vida. Sugere-se que a meta de PA seja 130x80mmHg37.
Todos os agentes anti-hipertensivos podem ser utilizados, sendo que na maioria das
vezes, dois ou mais deles precisam ser associados para que os objetivos do tratamento
sejam atingidos. Existem vantagens no uso de bloqueadores do SRAA e na associação
destes com um antagonista dos canais de cálcio. A associação de IECA com BRA se
mostrou eficiente para promover maior redução da proteinúria.
Mais recentemente, a associação do inibidor direto da renina, alisquireno, com a
losartana, também resultou em redução adicional da albuminúria em pacientes com
nefropatia diabética. Os betabloqueadores devem ser utilizados nos pacientes
diabéticos portadores de DAC crônica, e o carvedilol se mostrou efetivo em reduzir
proteinúria em pacientes diabéticos37.
Estudos clínicos têm demonstrado que a redução do LDL-C nos diabéticos promove
benefício similar à redução do LDL-C em pacientes com doença coronariana manifesta.
Estudos clínicos consistentes demonstraram que a redução do LDL-C <70mg/dL
promove redução adicional na manifestação de eventos cardiovasculares em pacientes
com doença coronariana quando comparada à redução para a meta de LDL-C
<100mg/dL. Assim, a Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção de
Aterosclerose34 inclui a meta <70mg/dL como opcional para os pacientes diabéticos,
uma vez que estes são considerados como grupo de risco equivalente aos portadores da
doença aterosclerótica (Grau de recomendação IIa, nível de evidência D). As estatinas
devem ser utilizadas como primeira linha para tratar esses pacientes, e quando houver
intolerância ou refratariedade já com uso de estatinas em altas doses, deve ser
associada a ezetimiba34.
A meta de PA a ser atingida com o tratamento da HAS em pacientes com DRC deve ser
PA ≤130x80mmHg. Todas as classes de anti-hipertensivos são eficazes na redução da
PA nesses pacientes37.
O tratamento anti-hipertensivo nesses pacientes deve visar não apenas à redução da PA,
mas também à redução da proteinúria. Os IECA e os BRA II reduzem a proteinúria e a
progressão da DRC independentemente da doença de base. Os inibidores diretos de
renina parecem efetivos na redução da PA e da albuminúria em pacientes diabéticos,
porém o número de estudos ainda é reduzido e poucos pacientes dos estudos são
portadores de DRC estágios 4 e 5. Em muitos desses pacientes, a hipervolemia
contribui significativamente para a hipertensão.
O Brasil tem atualmente uma população de idosos crescente, sendo que até 2020, esta
será a sexta maior população do mundo. O idoso possui características próprias na
forma de apresentar a doença coronariana, no modo de responder ao tratamento
farmacológico e no modo de manifestar efeitos colaterais. Soma-se a este fato a
carência de estudos grandes e controlados que tenham incluído esses pacientes, de
maneira que muitas vezes o uso de certas drogas é uma extrapolação dos achados para
pacientes mais jovens8.
O AAS na dose 75-325mg/dia deve ser prescrito para todo paciente idoso, exceto
aqueles com alergia ou doença péptica importante. Seu efeito adverso mais comum
nessa faixa etária é o desconforto gastrintestinal e sangramento. Geralmente uma
formulação entérica melhora sua tolerância. O clopidogrel serve como opção nos
intolerantes.
Já o estudo HOPE estudou o uso do IECA ramipril em pacientes com doença vascular
ou diabetes e pelo menos um fator de risco para DAC. Dos 9000 incluídos, 55% eram
>65 anos, e os benefícios da terapia com ramipril mostrou-se mais impressionante do
que nos mais jovens. O uso dos IECA deve ser considerado em todo idoso com
isquemia miocárdica, independente de sintomas ou função ventricular, a não ser que
haja contraindicações42. Estudos que usaram betabloqueadores em pacientes com
angina e em prevenção secundária demonstram que tais agentes possuem benefício em
todas as faixas etárias. Geralmente estes são bem tolerados tanto em jovens como em
idosos. Deve-se ter cuidado especial com a bradicardia induzida (ajuntada a doenças
do sistema de condução) e naqueles com história de broncoespasmo. Outras condições
que justificam o uso cauteloso são: diabetes, doença vascular periférica grave e
depressão mental43.
A ranolazina é o antianginoso mais recente liberado pelo FDA americano, não sendo
comercializado no Brasil, por enquanto. Nos EUA é liberado para uso em pacientes não
controlados pelos antianginosos clássicos. Sua ação limita o influxo de sódio para
dentro do miócito e assim o subsequente influxo de cálcio ocasionado pela isquemia.
Esse efeito normaliza a disfunção diastólica e melhora o balanço demanda-oferta de
oxigênio no miocárdio. Em vários pequenos estudos mostrou alívio da angina estável e
aumento do tempo para o aparecimento de angina durante o esforço21.
Referências
CASO CLÍNICO
OBJETIVOS
1. Analisar os fatores a serem considerados na tomada de decisão terapêutica:
fatores de risco coronariano e comorbidades, sintomatologia sugestiva de
isquemia miocárdica, grau/carga de isquemia miocárdica objetiva.
2. Discutir a utilização de tratamento anti-isquêmico apropriado/otimizado.
3. Avaliar a presença de disfunção ventricular esquerda segmentar e/ou global.
4. Avaliar a necessidade de investigação invasiva adicional.
5. Identificar a melhor forma de tratamento para estes pacientes.
PERGUNTAS
1. Quais são os fatores de risco e os antecedentes cardiovasculares e clínicos a
serem considerados?
1. Faixa etária
2. Sexo
3. Outros fatores de risco coronariano
4. IAM prévio
5. Revascularização miocárdica prévia
6. ICC
7. Comorbidades
Faixa etária
Faixas etárias mais avançadas podem favorecer a escolha do tratamento clínico
isolado, seja pela menor expectativa de vida e consequente menor impacto na
sobrevida independente da forma terapêutica, pela menor atividade física habitual
(muitas vezes por limitações ortopédicas) ou pela presença de comorbidades que
aumentam o risco do emprego dos métodos terapêuticos invasivos. No entanto, não
representam uma contraindicação formal para a intervenção, especialmente em relação
à angioplastia coronariana. Além disso, não se deve deixar de considerar o fato de que
mesmo os pacientes idosos, quando clinicamente muito limitados pela angina do peito
(apesar do tratamento farmacológico otimizado), podem ter maior benefício com o
tratamento de revascularização.
Sexo
Muito embora o sexo, em si, não seja critério importante para a escolha do tipo de
tratamento, deve ser lembrado que as mulheres podem apresentar sintomatologia clínica
menos precisa e típica do que os homens. Esse fato tem sido atribuído a diferenças na
percepção dolorosa, mecanismos fisiopatológicos distintos, fenômenos de vasoespasmo
da macro e da microcirculação, muito mais frequentes nas mulheres que nos homens, e
que tanto podem mitigar a expressão clínica da doença como também magnificar a
repercussão de uma lesão anatômica1. Além disso, as mulheres, apesar de todo o
progresso tecnológico recente, ainda exibem resposta tardia menos favorável do que os
homens quando submetidas à revascularização miocárdica2.
Comorbidades
A presença de outras doenças clínicas e cardiovasculares, como a insuficiência renal, o
enfisema pulmonar, as neoplasias, o acidente vascular encefálico, a doença
aterosclerótica carotídea, a síndrome da imunodeficiência adquirida, etc., no contexto
de uma lesão proximal da artéria descendente anterior, está associada a aumento de
morbimortalidade a curto/médio prazo independentemente da forma de tratamento a ser
adotado.
O risco adicional inerente a essas doenças deve ser muito bem avaliado na tomada de
decisão de qualquer procedimento invasivo de revascularização miocárdica nesses
pacientes e a presença de um determinado tipo de comorbidade ou de várias de suas
combinações, pode, adicionalmente, contribuir para que a escolha da revascularização
se incline para a angioplastia ou para a cirurgia.
Quando presente - o que ocorre na maioria dos casos onde existe obstrução com
significado hemodinâmico – a angina do peito é o principal guia a indicar a magnitude
da isquemia miocárdica e a eficácia ou não do tratamento, seja medicamentoso ou por
revascularização. Pode, eventualmente, não estar presente (isquemia silenciosa),
meramente por características próprias do paciente, já que o diabetes, a idade avançada
e a hibernação miocárdica são fatores predisponentes da sua ausência7-9. Outras vezes
ela se expressa de forma sutil e atípica, porém não menos importante, através de
desconforto ou mal-estar torácico, dispneia de esforço ou sinais de baixo débito
cerebral (equivalente anginoso).
Por outro lado, alguns pacientes não toleram determinadas drogas ou suas doses
recomendadas, ou definitivamente não aderem às mudanças de hábitos de vida
(supressão do tabagismo, dieta hipossódica e/ou hipoglicídica, etc.), o que poderá
limitar o tratamento clínico ou qualquer outro a ser preconizado.
7. Qual a melhor forma de tratamento para este paciente com doença univascular
proximal da artéria descendente anterior?
Sabe-se, por experiência clínica e evidência científica que um paciente com lesão
obstrutiva de 70% na porção proximal da artéria descendente anterior não tem,
necessariamente, que ser tratado por angioplastia coronariana ou por cirurgia, já que a
indicação de revascularização miocárdica baseada apenas na anatomia coronariana não
reduz a mortalidade nem previne um futuro IAM3,10-12,20.
Por outro lado, parâmetros clínicos e de imagem que detectam isquemia e disfunção
ventricular esquerda têm grande importância na tomada de decisão de se revascularizar
ou não um determinado paciente com esse perfil anatômico, por identificarem aqueles
que realmente podem se beneficiar com a revascularização e os que podem permanecer
(e se beneficiar) em tratamento clínico isolado10-12,21. Esses conhecimentos
contemporâneos baseados em evidências e diretrizes enfatizam a necessidade e
importância da participação do cardiologista clínico na tomada de decisão do tipo de
tratamento a ser aplicado no paciente, a partir do conjunto dos dados clínicos,
invasivos e não invasivos.
1) Se não tem, é importante saber se tem isquemia miocárdica de esforço. Se não tem
isquemia, o tratamento da obstrução próxima da artéria descendente anterior é clínico,
com forte ação sobre os fatores de risco e utilização de aspirina e estatina10-12. Por
outro lado, se tem isquemia ao esforço, mas é assintomático, é necessário graduar essa
isquemia.
Referências
1. Douglas PS, Ginsburg GS. The evaluation of chest pain in women. N Engl J
Med. 1996;334(20):1311-5.
2. Jacobs AK. Coronary intervention in 2009: are women no different than men?
Circ Cardiovasc Interv. 2009;2(1):69-78.
3. Boden WE, O’Rourke RA, Teo KK, Hartigan PM, Maron DJ, Kostuk WJ, et
al; COURAGE Trial Research Group. Optimal medical therapy with or
without PCI for stable coronary disease. N Engl J Med. 2007;356(15):1503-
16.
4. Nissen SE, Nicholls SJ, Sipahi I, Libby P, Raichlen JS, Ballantyne CM, et al;
ASTEROID Investigators. Effect of very high-intensity statin therapy on
regression of coronary atherosclerosis: the ASTEROID trial. JAMA.
2006;295(13):1556-65.
5. BARI 2D Study Group, Frye RL, August P, Brooks MM, Hardison RM,
Kelsey SF, MacGregor JM, et al. A randomized trial of therapies for type 2
diabetes and coronary artery disease. N Engl J Med. 2009;360(24):2503-15.
6. Silber S, Herdeg C. Drug-eluting stents for diabetic patients. A critical
appraisal of the currently available data from randomized trials. Herz.
2008;33(3):196-205.
7. Janand-Delenne B, Savin B, Habib G, Bory M, Vague P, Lassmann-Vague V.
Silent myocardial ischemia in patients with diabetes: who to screen. Diabetes
Care. 1999;22(9):1396-400.
8. Fleg JL. Prevalence and prognostic significance of exercise-induced silent
myocardial ischemia in apparently healthy subjects. Am J Cardiol.
1992;69(7):14B-18B.
9. Bolli R, Hartley CJ, Rabinovitz RS. Clinical relevance of myocardial
"stunning". Cardiovasc Drugs Ther. 1991;5(5):877-90.
10. Task Force on Myocardial Revascularization of the European Society of
Cardiology (ESC) and the European Association for Cardio-Thoracic
Surgery (EACTS); European Association for Percutaneous Cardiovascular
Interventions (EAPCI), Wijns W, Kolh P, Danchin N, Di Mario C, Falk V,
Folliguet T, et al. Guidelines on Myocardial Revascularization. Eur Heart J.
2010;31(20):2501-55.
11. Patel MR, Dehmer GJ, Hirshfeld JW, Smith PK, Spertus JA; American
College of Cardiology Foundation Appropriateness Criteria Task Force;
Society for Cardiovascular Angiography and Interventions; Society of
Thoracic Surgeons; American Association for Thoracic Surgery; American
Heart Association, and the American Society of Nuclear Cardiology
Endorsed by the American Society of Echocardiography; Heart Failure
Society of America; Society of Cardiovascular Computed Tomography.
ACCF/SCAI/STS/AATS/AHA/ASNC 2009 Appropriateness Criteria for
Coronary Revascularization: a report by the American College of Cardiology
Foundation Appropriateness Criteria Task Force, Society for Cardiovascular
Angiography and Interventions, Society of Thoracic Surgeons, American
Association for Thoracic Surgery, American Heart Association, and the
American Society of Nuclear Cardiology Endorsed by the American Society
of Echocardiography, the Heart Failure Society of American, and the Society
of Cardiovascular Computed Tomography. J Am Coll Cardiol.
2009;53(6):530-53.
12. Patel MR, Dehmer GJ, Hirshfeld JW, Smith PK, Spertus JA.
ACCF/SCAI/STS/AATS/AHA/ASNC/HFSA/SCCT 2012 Appropriate use
criteria for coronary revascularization focused update: a report of the
American College of Cardiology Foundation Appropriate Use Criteria Task
Force, Society for Cardiovascular Angiography and Interventions, Society of
Thoracic Surgeons, American Association for Thoracic Surgery, American
Heart Association, American Society of Nuclear Cardiology, and the Society
of Cardiovascular Computed Tomography. J Am Coll Cardiol.
2012;59(9):857-81.
13. Shaw LJ, Berman DS, Maron DJ, Mancini GB, Hayes SW, Hartigan PM, et
al; COURAGE Investigators. Optimal medical therapy with or without
percutaneous coronary intervention to reduce ischemic burden: results from
the Clinical Outcomes Utilizing Revascularization and Aggressive Drug
Evaluation (COURAGE) trial nuclear substudy. Circulation.
2008;117(10):1283-91.
14. Pasquet A, Robert A, D'Hondt AM, Dior R, Melin JA, Vanoverschelde JL.
Prognostic value of myocardial ischemia and viability in patients with
chronic left ventricular ischemic dysfunction. Circulation. 1999;100(2):141-
8. Erratum in: Circulation. 1999;100(14):1584.
15. Previtali M, Fetiveau R, Lanzarini L, Cavalotti C, Klersy C. Prognostic value
of myocardial viability and ischemia detected by dobutamine stress
echocardiography early after acute myocardial infarction treated with
thrombolysis. J Am Coll Cardiol. 1998;32(2):380-6.
16. Klein LW, Weintraub WS, Agarwal JB, Schneider RM, Seelaus PA, Katz RI,
et al. Prognostic significance of severe narrowing of the proximal portion of
the left anterior descending coronary artery. Am J Cardiol. 1986;58(1):42-6.
17. Wu KC, Lima JA. Noninvasive imaging of myocardial viability: current
techniques and future developments. Circ Res. 2003;93(12):1146-58.
18. 18. Tonino PA, Fearon WF, De Bruyne B, Oldroyd KG, Leesar MA, Ver Lee
PN, et al. Angiographic versus functional severity of coronary artery stenoses
in the FAME study
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0735109710014397 -
item1#item1 fractional flow reserve versus angiography in multivessel
evaluation. J Am Coll Cardiol. 2010;55(25):2816-21.
19. White CJ, Ramee SR, Collins TJ, Jain A, Mesa JE. Ambiguous coronary
angiography: clinical utility of intravascular ultrasound. Cathet Cardiovasc
Diagn. 1992;26(3):200-3.
20. Hueb W, Soares PR, Gersh BJ, César LA, Luz PL, Puig LB, et al. The
medicine, angioplasty, or surgery study (MASS-II): a randomized, controlled
clinical trial of three therapeutic strategies for multivessel coronary artery
disease: one-year results. J Am Coll Cardiol. 2004;43(10):1743-51.
21. Allman KC, Shaw LJ, Hachamovitch R, Udelson JE. Myocardial viability
testing and impact of revascularization on prognosis in patients with coronary
artery disease and left ventricular dysfunction: a meta-analysis. J Am Coll
Cardiol. 2002;39(7):1151-8.
22. Roques F, Nashef SA, Michel P, Gauducheau E, de Vicentiis C, Baudet E, et
al. Risk factors and outcome in European cardiac surgery: analysis of the
EuroSCORE multinational database of 19030 patients. Eur J Cardiothorac
Surg. 1999;15(6):816-22.
23. Sianos G, Morel MA, Kappetein AP, Morice MC, Colombo A, Dawkins K, et
al. The SYNTAX Score: an angiographic tool grading the complexity of
coronary artery disease. EuroIntervention. 2005;1(2):219-27.
DOENÇA MULTIVASCULAR COM FUNÇÃO
SISTÓLICA PRESERVADA
CASO CLÍNICO
Paciente do sexo masculino, 68 anos, negro, natural do Rio de Janeiro, apresentando
episódios de dor precordial opressiva, irradiada para o membro superior esquerdo, de
curta duração, desencadeada por esforços de intensidade moderada (andar dois
quarteirões), iniciada há um ano.
História medicamentosa: em uso regular de AAS 100mg, losartana 50mg pela manhã,
hidroclorotiazida 25mg, atenolol 25mg pela manhã e sinvastatina 20mg.
Exame físico: PA =170x100mmHg; FC =88bpm; Peso =98,20kg; Altura =1,78m; Cintura
abdominal =108cm; IMC =30,09kg/m2.
Lúcido, corado, hidratado. Sem turgência de jugulares, RCR B4, sem sopros, PVJ
normal, pulsos carotídeos sem alterações. MV audível universalmente sem ruídos
adventícios. Edemas em MMII 2+/4+
OBJETIVOS
Neste caso, as hipóteses diagnósticas são restritas uma vez que a manifestação clínica
apresentada é fortemente sugestiva de angina típica, e o paciente apresenta alta
probabilidade de ser portador de doença arterial coronariana (DAC) frente ao quadro
clínico característico, às diversas comorbidades apresentadas e à resposta isquêmica
ao teste ergométrico.
Para confirmação diagnóstica bem como para avaliação prognóstica podem ser usados
os exames complementares como o eletrocardiograma, o teste ergométrico, o
ecocardiograma de estresse, a cintilografia miocárdica de esforço e repouso e a
ressonância magnética. O exame confirmatório é a coronariografia na qual se pode
utilizar exames como o ultrassom intracoronariano ou a reserva de fluxo fracionada
(FFR) para estimar a gravidade das lesões.
Eletrocardiograma (ECG)
Um eletrocardiograma normal não é capaz de excluir a presença de obstrução
coronariana. Porém algumas alterações podem sugerir a presença de doença arterial
coronariana como áreas de inatividade elétrica, onda T negativa, pontiaguda e
simétrica, onda T positiva, pontiaguda e simétrica ou infradesnivelamento do ponto J e
do segmento ST em derivações que exploram uma área determinada.
Ecocardiografia
O ecocardiograma de repouso pode contribuir para o diagnóstico e o prognóstico dos
pacientes portadores de DAC estável, sendo considerado uma ferramenta fundamental
para a definição terapêutica. Anormalidades da motilidade parietal regional
(hipocinesia, acinesia ou discinesia) sugerem a presença de doença arterial
coronariana. O relaxamento ventricular, refletido pela velocidade de enchimento
ventricular diastólico precoce, pode estar prejudicado em pacientes portadores de
DAC crônica. O enchimento diastólico se torna ainda mais anormal ao exercício
quando a isquemia se intensifica. A pressão diastólica final ventricular esquerda pode
estar elevada secundariamente à complacência ventricular diminuída, à falência
ventricular esquerda sistólica ou à combinação desses dois processos. A avaliação da
função ventricular sistólica, pelo ecocardiograma de repouso, será relevante para a
definição da estratégia terapêutica a ser empregada uma vez que os pacientes com
disfunção ventricular sistólica são os que mais se beneficiam dos procedimentos de
revascularização miocárdica10.
Ecocardiografia de estresse
A ecocardiografia sob estresse apresenta boa acurácia para detecção de isquemia
miocárdica em pacientes com probabilidade pré-teste intermediária ou alta de serem
portadores de doença arterial coronariana11-13. Quando comparada ao teste
ergométrico, a ecocardiografia sob estresse tem maior sensibilidade e especificidade
para o diagnóstico de DAC. Tanto o estresse farmacológico com dobutamina ou o
estresse pelo exercício físico apresentam acurácia diagnóstica semelhantes (83% e
85%, respectivamente). O exame pode ser aplicado em pacientes impossibilitados de
realizar atividades físicas ou mesmo em pacientes com limitações à realização do teste
ergométrico, tais como: alterações eletrocardiográficas, bloqueio do ramo esquerdo,
hipertrofia ventricular esquerda e portadores de marca-passo. A avaliação da
gravidade da doença arterial coronariana pelo ecocardiograma de estresse também
pode ser decisiva para a definição do melhor tratamento a ser empregado.
Esse exame pode fornecer uma sensibilidade média de 88% e uma especificidade de
72%, resultados superiores ao eletrocardiograma de esforço. O exame pode ser
particularmente útil naqueles pacientes que apresentam contraindicações relativas ou
absolutas ao uso do teste ergométrico convencional com anormalidades no ECG de
repouso, bloqueio de ramo esquerdo, hipertrofia ventricular esquerda ou uso de
digitálicos. Pelo fato de ser um exame relativamente caro, não deve ser usado como
teste de rastreamento em pacientes nos quais a prevalência de DAC é baixa. Para os
pacientes com dificuldade para se exercitar adequadamente, o estresse farmacológico
com dipiridamol ou adenosina pode ser usado com acurácia diagnóstica semelhante10.
A angina ocorre quando a demanda miocárdica por oxigênio excede a oferta. Diferentes
fatores podem aumentar o trabalho cardíaco e, consequentemente, a demanda
miocárdica por oxigênio. A elevação da frequência cardíaca, da pressão arterial, da
contratilidade miocárdica e da tensão na parede ventricular podem desencadear
episódios de angina em pacientes portadores de lesões coronarianas significativas. O
aumento no consumo de oxigênio comumente provém da liberação de norepinefrina dos
terminais adrenérgicos no coração e no leito vascular coronariano, que representa a
resposta fisiológica ao esforço, emoção ou estresse mental.
A angina estável é definida como aquela que pode ser desencadeada por um nível
determinado de esforço físico e ser aliviada por repouso ou mesmo pelo uso de
nitratos. Os objetivos no tratamento dos pacientes portadores de doença arterial
coronariana crônica envolvem o uso de terapias para aliviar os sintomas, minimizar a
isquemia, reduzir as taxas de infarto agudo do miocárdio (IAM) e melhorar a
sobrevida. Esses objetivos podem ser alcançados através de diferentes tratamentos
como a terapia farmacológica anti-isquêmica, mudanças nos hábitos de vida ou através
da revascularização miocárdica percutânea ou cirúrgica. Este capítulo tem como
objetivo definir como esses tratamentos podem influenciar a evolução dos pacientes
coronariopatas multivasculares com função ventricular preservada.
Os fatores de risco apontados por esses estudos são amplamente difundidos e o seu
detalhamento foge ao escopo deste capítulo. Pode-se ressaltar, no entanto, a
importância da hipertensão arterial sistêmica que pode estar associada à presença de
coronariopatia subclínica. Essa predisposição dos hipertensos persistiu mesmo quando
os pacientes com diabetes e hipertrofia ventricular esquerda foram excluídos15. A
presença de diabetes também foi apontada como importante fator de risco para
coronariopatia silenciosa, principalmente no subgrupo de pacientes do sexo masculino.
Além desses, o tabagismo, a elevação do colesterol total, a redução do HDL colesterol,
a presença de outras doenças vasculares, a história familiar precoce da enfermidade e a
idade avançada estão relacionadas com a presença de doença arterial coronariana
aterosclerótica16.
O desfecho primário, morte por qualquer causa e infarto agudo do miocárdio não fatal
incidiu sobre os dois grupos de forma semelhante (19% no grupo da angioplastia
associada ao tratamento medicamentoso e 18,5% no grupo do tratamento
medicamentoso isolado). Mesmo quando os infartos agudos do miocárdio
periprocedimentos foram excluídos, a taxa de eventos foi semelhante (16,2% e 17,9%,
respectivamente). A taxa de hospitalização por síndromes coronarianas agudas foi
12,4% no grupo da angioplastia e 11,8 % no grupo do tratamento médico otimizado. A
curva de mortalidade nos dois grupos foi virtualmente idêntica. Após o
acompanhamento por 4,6 anos, 21,1% dos pacientes do grupo da angioplastia
necessitaram de revascularização adicional comparado aos 32,6% dos pacientes que
estavam no grupo em tratamento medicamentoso otimizado (p<0,001)20.
Algumas críticas foram feitas ao estudo COURAGE20. Entre elas está o fato de apenas
6,4% dos pacientes inicialmente considerados para participar do ensaio clínico terem
efetivamente entrado no estudo. Foram excluídos os pacientes que não tiveram lesões
angiograficamente passíveis de intervenção, falha medicamentosa e pacientes graves
com angina refratária, insuficiência cardíaca, disfunção ventricular grave, lesão de
tronco ou estratificação funcional com critérios de gravidade. Outra importante crítica
foi que, apesar da terapêutica medicamentosa otimizada, a ocorrência de angina
progressiva resultou em uma elevada taxa de crossover (33%) para revascularização,
em pacientes randomizados para tratamento clínico isolado.
O estudo BARI 2D24, que avaliou pacientes diabéticos com DAC, não apresentou
diferenças significativas na mortalidade de pacientes submetidos à CRVM associada ao
tratamento clínico otimizado em comparação aos pacientes que apenas receberam o
tratamento clínico otimizado24. Nesse trabalho foram excluídos pacientes com doença
de tronco, e foi incluído apenas um pequeno número de pacientes com disfunção
ventricular e doença proximal de DA o que pode ter influenciado os resultados.
A análise do SYNTAX trial27 com seguimento de três anos, também demonstrou não
haver diferenças significativas nas taxas de eventos cardiológicos ou
cerebrovasculares em pacientes com escores SYNTAX baixos, tratados com ICP ou
cirurgia. Nos pacientes com escores intermediários, as taxas de repetição de
revascularização foram significativamente maiores naqueles tratados com ICP (CRM
10,1% x ICP 17,4%; p=0,01), assim como as taxas de IAM ou de eventos
cardiovasculares (IAM: CRM 3,2% x ICP 7,6%; p=0,02; eventos cardiovasculares:
18,9 CRM x 27,4% ICP; p=0,02). Em pacientes com lesões coronarianas mais
complexas (escores SYNTAX 33) os eventos cardiovasculares, exceto o AVE, foram
mais frequentes naqueles tratados com ICP (19,5% x ICP 34,1%; p<0,001).
O mais recente seguimento dos pacientes incluídos no estudo MASS II26 comparou o
resultado entre a CRVM, a ICP e o TM após 10 anos de seguimento. O desfecho
primário (taxas de morte, infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento
ST ou angina refratária) ocorreu em 33,0% dos pacientes do grupo CRVM, 42,4% no
grupo ICP e 59,1% no grupo em TM (p<0,001). No acompanhamento dos primeiros
cinco anos, não houve diferença significativa dos desfechos primários entre a ICP e o
TM (hazard ratio [HR] 0,93; IC95% 0,67–1,30); porém houve efeito protetor da CRVM
em relação à ICP (HR 0,53; IC95% 0,39–0,72; p<0,001) e ao TM (HR 0,43; IC95%
0,32–0,58; p<0,001) em 10 anos.
1. Combate ao tabagismo
2. Controle da dislipidemia
3. Controle da hipertensão arterial
4. Controle dos níveis glicêmicos e do diabetes
5. Tratamento da obesidade
6. Combate ao sedentarismo
O paciente do caso clínico tem sintomas anginosos aos médios esforços, com função
ventricular esquerda preservada e anatomia coronariana com acometimento trivascular.
O teste de esforço não o inclui num grupo de alto risco funcional. As medicações
cardiológicas não estão otimizadas, podendo-se aumentar a dose de betabloqueador,
acrescentar nitrato e, se necessário, bloqueador de canais de cálcio de longa duração,
do tipo di-hidropiridínico.
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 66 anos, natural de Mambaí (GO), foi encaminhada ao ambulatório
de cardiologia geral com queixa de cansaço e dispneia progressiva aos médios
esforços, com cerca de oito meses de evolução.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar o quadro clínico?
Em relação ao desfecho primário avaliado, morte por todas as causas, não houve
vantagens da cirurgia em relação ao tratamento farmacológico contemporâneo. Essa
notícia trouxe um alvoroço na comunidade médica, pois até então esses eram os
pacientes que realmente se beneficiavam da intervenção. Porém se deve ter cautela na
interpretação desses resultados, pois se observa uma alta taxa de crossover nesse
estudo. Nove por cento dos pacientes randomizados para RMC passaram para o grupo
de TFO. Dezessete por cento dos pacientes no “braço clínico” passaram para o grupo
da RMC (essa alta taxa de crossover se deu pela piora nos sintomas, por
descompensação aguda do quadro ou ainda pela decisão da família ou mesmo do
médico assistente). Com isso, os resultados foram apresentados conforme a intenção de
tratamento (intention to treat, que representa uma análise pré-especificada) e conforme
o protocolo (per protocol, que por não ser especificada previamente, coloca os
resultados em questionamento). Após o crossover, como saber se os grupos mantiveram
a mesma homogeneidade? Observando os resultados apresentados per protocol, houve
uma redução de 24% na mortalidade global dos pacientes do grupo RMC, porém esse
benefício só foi notado após dois anos de seguimento.
Existe uma série de limitações nessa meta-análise, sendo as principais o fato de todos
os estudos serem retrospectivos e não randomizados; o maior estudo incluiu apenas 353
pacientes, e 12 estudos incluíram menos de 100 pacientes cada.
No início dos anos 2000, os betabloqueadores foram introduzidos para o manejo dos
pacientes com disfunção ventricular, visto a alta efetividade na redução da
morbimortalidade no contexto da IC6. Logo, a eficácia da revascularização deveria ser
reavaliada, à luz dos bloqueadores adrenérgicos e devices implantáveis, outra
importante ferramenta.
Novamente deve-se ter cautela na interpretação desses resultados. Repare que 619
pacientes representam apenas 51% dos 1212 pacientes do estudo STICH. Ou seja, 49%
da população não realizou nenhuma pesquisa de viabilidade! Ainda pior, essa pesquisa
não foi realizada de forma randômica, e sim a critério do investigador! (as
características basais dos subgrupos podem ter influenciado na indicação do teste de
viabilidade). E mais, como seriam os resultados da viabilidade se fossem aplicados
outros métodos, como a ressonância magnética ou a tomografia com emissão de
pósitrons (PET)?
À luz dos resultados atuais, a pesquisa de viabilidade não deve ser abandonada da
prática clínica. A tomada de decisão médica ainda deve ser respaldada em estudos
antigos, até que se tenham dados que apontem, de forma cega e randômica, a real
evolução clínica dos pacientes com miocárdio viável e disfunção ventricular, com
estratégias diferentes de tratamento.
A melhor tomada de decisão que respeite uma prática clínica baseada em evidências
exige o cumprimento de um processo sequencial: obter a queixa clínica do paciente de
modo que se possa desenvolver a pergunta correta; realizar a pesquisa adequada na
literatura e, finalmente, validar e aplicar os resultados a realidade de cada paciente.
Referências
1. Mansur AP, Armaganijan D, Amino JG, Sousa AC, Simão AF, et al;
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes de Doença Coronariana
Crônica Angina Estável. Arq Bras Cardiol. 2004;83(supl. 2):2-43.
2. BARI 2D Study Group, Frye RL, August P, Brooks MM, Hardison RM,
Kelsey SF, MacGregor JM, et al. A randomized trial of therapies for type 2
diabetes and coronary artery disease. N Engl J Med. 2009;360(24):2503-15.
3. Velazquez EJ, Lee KL, Deja MA, Jain A, Sopko G, Marchenko A, et al;
STICH Investigators. Coronary-artery bypass surgery in patients with left
ventricular dysfunction. N Engl J Med. 2011;364(17):1607-16.
4. Allman KC, Shaw LJ, Hachamovitch R, Udelson JE. Myocardial viability
testing and impact of revascularization on prognosis in patients with coronary
artery disease and left ventricular dysfunction: a meta-analysis. J Am Coll
Cardiol. 2002;39(7):1151-8.
5. Task Force on Myocardial Revascularization of the European Society of
Cardiology (ESC) and the European Association for Cardio-Thoracic
Surgery (EACTS); European Association for Percutaneous Cardiovascular
Interventions (EAPCI), Wijns W, Kolh P, Danchin N, Di Mario C, Falk V,
Folliguet T, et al. Guidelines on Myocardial Revascularization. Eur Heart J.
2010;31(20):2501-55.
6. Packer M, Coats AJ, Fowler MB, Katus HA, Krum H, Mohacsi P, et al;
Carvedilol Prospective Randomized Cumulative Survival Study Group.
Effect of carvedilol on survival in severe chronic heart failure. N Engl J
Med. 2001;344(22):1651-8.
7. Camici PG, Prasad SK, Rimoldi OE. Stunning, hibernation, and assessment of
myocardial viability. Circulation. 2008;117(1):103-14.
8. Bonow RO, Maurer G, Lee KL, Holly TA, Binkley PF, Desvigne-Nickens P,
et al; STICH Trial Investigators. Myocardial viability and survival in
ischemic left ventricular dysfunction. N Engl J Med. 2011;364(17):1617-25.
9. Canty JM Jr, Suzuki G. Myocardial perfusion and contraction in acute
ischemia and chronic ischemic heart disease. J Mol Cell Cardiol.
2012;52(4):822-31.
10. Cadenas S, Aragonés J, Landázuri MO. Mitochondrial reprogramming
through cardiac oxygen sensors in ischaemic heart disease. Cardiovasc Res.
2010;88(2):219-28.
11. Najjar SS, Rao SV, Melloni C, Raman SV, Povsic TJ, Melton L, et al;
REVEAL Investigators. Intravenous erythropoietin in patients with ST-
segment elevation myocardial infarction: REVEAL: a randomized controlled
trial. JAMA. 2011;305(18):1863-72.
12. Beltrami CA, Finato N, Rocco M, Feruglio GA, Puricelli C, Cigola E, et al.
Structural basis of end-stage failure in ischemic cardiomyopathy in humans.
Circulation. 1994;89(1):151-63.
13. Beanlands RS, Nichol G, Huszti E, Humen D, Racine N, Freeman M, et al;
PARR-2 Investigators. F-18-fluorodeoxyglucose positron emission
tomography imaging-assisted management of patients with severe left
ventricular dysfunction and suspected coronary disease: a randomized,
controlled trial (PARR-2). J Am Coll Cardiol. 2007;50(20):2002-12.
14. Williams MA, Ades PA, Hamm LF, Keteyian SJ, Roitman JL, Squires RW.
Clinical evidence for a health benefit from cardiac rehabilitation: an update.
Am Heart J. 2006;152(5):835-41.
15. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM, Rohde LE, Oliveira
WA, Almeida DR, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz
Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol. 2009;93(1
supl.1):1-71.
16. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FA, Bertolami, MC, Afiune Neto A, Souza
AD, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Departamento de Aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2007;88(supl.
1):2-19.
Seção 4. Arritmias
CASO CLÍNICO
Nessa ocasião fazia uso regular de amiodarona 300mg/dia, varfarina sódica cristalina
3,75mg/dia, sinvastatina e besilato de anlodipino 10mg/dia.
Exames laboratoriais:
Hemoglobina =12,2g/dL; Glicose =110mg/dL; Hemoglobina glicada =6,2%; Creatinina
=1,12mg/dL; Taxa de filtração glomerular (TFG) =59,63mL/min, T4 livre =1,2; TSH
=2,4.
OBJETIVOS
1. Discutir mecanismos e fatores de risco para a ocorrência de FA e sua
associação com a síndrome metabólica e a apneia do sono.
2. Avaliar a importância do controle e tratamento dos fatores clínicos que
agravam e perpetuam a FA.
3. Analisar as medidas farmacológicas e não farmacológicas que visam ao
controle dos episódios de fibrilação atrial.
4. Identificar os fatores de risco para ocorrência de eventos tromboembólicos e
como fazer a anticoagulação.
PERGUNTAS
1. Quais são os mecanismos e os fatores de risco para a ocorrência de FA e sua
associação com a síndrome metabólica e a apneia do sono?
Wijffels et al.1, em 1995, utilizando a estimulação elétrica atrial rápida (400bpm) por
várias semanas induzindo FA por períodos curtos, demonstraram que a própria arritmia
poderia gerar FA de caráter sustentado (FA perpetua FA). Esse processo foi
denominado remodelamento elétrico, caracterizado por encurtamento da refratariedade
atrial com perda da adaptação do período refratário efetivo (PRE) atrial a mudanças de
FC e, com isso, aumentando a vulnerabilidade atrial.
Para o diagnóstico de síndrome metabólica são necessários pelo menos três dos cinco
fatores: obesidade visceral, hipertensão arterial, hipertrigliceridemia, níveis baixos de
colesterol HDL e glicemia de jejum >110mg/dl. O estado pró-inflamatório, o estresse
oxidativo e a dilatação do AE são fatores comuns na patogenia da síndrome metabólica
e da HAS e no mecanismo da FA, induzindo o processo de remodelamento atrial6.
Nesta fase, para a prevenção de novos surtos, o tratamento dos fatores associados é
fundamental para a interrupção do remodelamento atrial e controle da arritmia. O
tratamento farmacológico para prevenção da arritmia não foi eficaz e também não
houve tratamento dos fatores associados, tendo sido o paciente indicado à ablação por
cateter, que também não conseguiu um controle adequado dos surtos de FA.
Quadro 1
Tratamento de prevenção de recorrências de FA baseado na presença de cardiopatia estrutural.
HA=hipertensão arterial; DAC=doença arterial coronariana; IC=insuficiência cardíaca; HVE=hipertrofia ventricular
esquerda; NYHA=New York Heart Association
Fonte: European Heart Rhythm Association22
Quadro 2
Critério CHADS2 para identificação de pacientes portadores de FA e risco de eventos tromboembólicos
AVE=acidente vascular encefálico; AIT=ataque isquêmico transitório
Fonte: European Heart Rhythm Association22
Quadro 3
Critério CHA2DS2-VASC para a identificação de pacientes portadores de FA e risco de eventos tromboembólicos
Fonte: European Heart Rhythm Association22
Tabela 1
Fatores de risco maior e não maior para a ocorrência de AVE e eventos tromboembólicos em pacientes com FA não
valvar
Fonte: European Heart Rhythm Association22
A doença vascular aterosclerótica foi incorporada como importante fator de risco para
eventos tromboembólicos. Diversos estudos anteriores já tinham ressaltado o risco de
AVE em pacientes com IAM, porém a presença de infarto prévio não era considerada
quando se avaliava o risco de AVE no paciente com FA. A presença de placas
complexas, na aorta ascendente ou torácica, também confere um prognóstico ruim nos
pacientes com FA e representam fatores de risco independentes. Uma informação nova,
de grande relevância clínica, foi a identificação de que o sexo feminino representa
grupo de risco para a ocorrência de eventos tromboembólicos. A idade acima de 75
anos é um dos critérios utilizados pelo CHADS2, porém o risco de AVE e eventos
tromboembólicos inicia-se no paciente >65 anos, sendo este risco contínuo à medida
que se associam outros fatores de risco e a arritmia se torna mais frequente. No novo
critério do CHA2DS2-VASC a idade acima de 75 anos passou a contar 2 pontos.
Novos agentes anticoagulantes surgiram nos últimos três anos em busca de uma opção
terapêutica à varfarina. Dois agentes se destacaram nesse cenário: o inibidor direto da
trombina e os inibidores do fator Xa. O primeiro a ter seus resultados apresentados foi
a dabigatrana no estudo RE-LY24 (Randomized Evaluation of Long-term
anticoagulant therapY with dabigatran etexilate), mostrando ser uma opção segura e
eficaz em comparação à varfarina.
Esse estudo analisou cerca de 18.000 pacientes com FA e pelo menos um fator de risco
para eventos tromboembólicos em 951 centros em 44 países. A varfarina foi comparada
ao dabigatran na dose de 110mg ou 150mg em duas tomadas/dia. Pelo perfil de
segurança e eficácia já estabelecida com a varfarina, foi um estudo de não inferioridade
em que a dose de 110mg não foi inferior à varfarina, enquanto a dose de 150mg foi
superior à varfarina na redução de eventos tromboembólicos sem aumentar o risco de
sangramento. Ambas as doses reduziram significativamente sangramento intracerebral.
Este fármaco já foi aprovado pelo Federal Drug Administration (FDA) e pela
ANVISA sendo uma nova opção terapêutica para a prevenção de fenômenos
tromboembólicos nos pacientes com FA. Por ser um fármaco com excelente perfil de
segurança e eficácia, que não necessita de monitorização sanguínea e não apresenta
interação com alimentos, acredita-se ser uma excelente opção terapêutica nessa
população de pacientes.
No grupo dos inibidores do fator Xa, dois novos fármacos: o rivaroxaban e o apixaban
tiveram seus resultados recentemente apresentados. O estudo ROCKET FA
(Rivaroxaban Once-daily oral direct factor Xa inhibition Compared with vitamin K
antagonism for prevention of stroke and Embolism Trial in Atrial Fibrillation)25
avaliou o rivaroxabana em cerca de 14.000 pacientes com FA e pelo menos dois ou três
fatores de risco para eventos tromboembólicos em 45 países e 1178 centros. A
varfarina foi comparada à rivaroxabana na dose de 20mg ou 15mg uma vez ao dia. A
dose de 15mg foi reservada aos pacientes com clearance de creatinina entre 30-
49ml/min. O estudo também foi de não inferioridade em que de acordo com o desfecho
primário de eficácia o tratamento com dose fixa, uma vez ao dia de rivaroxabana foi
não inferior à varfarina em relação à prevenção de AVE ou embolia sistêmica. Em
relação à segurança, frequência de sangramentos e de eventos adversos foi semelhante à
varfarina. Nesse estudo, observou-se um aumento de sangramentos pelo trato
gastrointestinal, entretanto menos hemorragias intracranianas, sangramentos de órgãos
críticos e menos hemorragias fatais. Este novo agente anticoagulante já foi aprovado
pelo Federal Drug Administration (FDA).
A partir dos dados da Euro-Heart Survey27, uma coorte com 3978 pacientes com FA,
foi proposto um esquema para avaliação de risco de sangramento chamado HAS-BLED
(Hypertension, abnormal renal/liver function, stroke, bledding history or
predisposition, labile INR, elderly >65 years, drug/alcohol concomitantly) (Quadro
4). Um escore de risco ≥3 indica alto risco e, portanto, um cuidado maior com o
paciente, devendo ser realizadas avaliações regulares de INR assim que se inicia a
terapia anticoagulante. Pode-se observar que são semelhantes os fatores de risco para
eventos tromboembólicos e para sangramento, portanto o HAS-BLED pode auxiliar na
identificação daqueles pacientes com maior potencial de sangramento; este escore não
deve ser utilizado como contraindicação à terapia anticoagulante.
Quadro 4
Critério para avaliar risco de sangramentoHAS-BLED
Referências
1. Wijffels MC, Kirchhof CJ, Dorland R, Allessie MA. Atrial fibrillation begets
atrial fibrillation. A study in awake chronically instrumented goats.
Circulation. 1995;92(7):1954-68.
2. Tieleman RG. The pathophysiology of maintenance of atrial fibrillation.
Pacing Clin Electrophysiol. 2003;26(7 Pt 2):1569-71.
3. Lévy S, Breithardt G, Campbell RW, Camm AJ, Daubert JC, Allessie M, et
al. Atrial fibrillation: current knowledge and recommendations for
management. Working Group on Arrhythmias of the European Society of
Cardiology. Eur Heart J. 1998;19(9):1294-320.
4. Falk RH. Atrial fibrillation. N Engl J Med. 2001;344(14):1067-78. Erratum
in: N Engl J Med. 2001;344(24):1876.
5. Magnani JW, Lopez FL, Soliman EZ, Maclehose RF, Crow RS, Alonso A. P
wave indices, obesity, and the metabolic syndrome: the atherosclerosis risk
in communities study. Obesity (Silver Spring). 2012;20(3):666-72.
6. Watanabe H, Tanabe N, Watanabe T, Darbar D, Roden DM, Sasaki S, et al.
Metabolic syndrome and risk of development of atrial fibrillation: the
Niigata preventive medicine study. Circulation. 2008;117(10):1255-60.
Erratum in: Circulation. 2010;122(7):e433.
7. Jibrini MB, Molnar J, Arora RR. Prevention of atrial fibrillation by way of
abrogation of the renin-angiotensin system: a systematic review and meta-
analysis. Am J Ther. 2008;15(1):36-43.
8. Gami AS, Hodge DO, Herges RM, Olson EJ, Nykodym J, Kara T, et al.
Obstructive sleep apnea, obesity, and the risk of incident atrial fibrillation. J
Am Coll Cardiol. 2007;49(5):565-71.
9. Fuster V, Rydén LE, Cannom DS, Crijns HJ, Curtis AB, Ellenbogen KA,et al;
Task Force on Practice Guidelines, American College of
Cardiology/American Heart Association; Committee for Practice Guidelines,
European Society of Cardiology; European Heart Rhythm Association; Heart
Rhythm Society. ACC/AHA/ESC 2006 Guidelines for the Management of
Patients with Atrial Fibrillation -- executive summary: a report of the
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines and the European Society of Cardiology Committee for
Practice Guidelines (Writing Committee to revise the 2001 Guidelines for the
Management of Patients with Atrial Fibrillation). Eur Heart J.
2006;27(16):1979-2030. Erratum in: Eur Heart J. 2007;28(20):2046.
10. Alboni P, Botto GL, Baldi N, Luzi M, Russo V, Gianfranchi L, et al.
Outpatient treatment of recent-onset atrial fibrillation with the “pill-in-the-
pocket” approach. N Engl J Med. 2004;351(23):2384-91.
11. Wyse DG, Waldo AL, DiMarco JP, Domanski MJ, Rosenberg Y, Schron EB,
et al; Atrial Fibrillation Follow-up Investigation of Rhythm Management
(AFFIRM) investigators. A comparison of rate control and rhythm control in
patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2002;347(23):1825-33.
12. Hart RG, Halperin JL. Atrial fibrillation and thromboembolism: a decade of
progress in stroke prevention. Ann Intern Med. 1999;131(9):688-95.
13. Dawber TR, Kannel WB, Lyell LP. An approach to longitudinal studies in a
community: the Framingham Study. Ann N Y Acad Sci. 1963;107:539-56.
14. Feinberg WM, Blackshear JL, Laupacis A, Kronmal R, Hart RG. Prevalence,
age distribution, and gender of patients with atrial fibrillation. Analysis and
implications. Arch Intern Med. 1995;155(5):469-73.
15. Psaty BM, Manolio TA, Kuller LH, Kronmal RA, Cushman M, Fried LP, et
al. Incidence of and risk factors for atrial fibrillation in older adults.
Circulation. 1997;96(7):2455-61.
16. Benjamin EJ, Wolf PA, D’Agostino RB, Silbershatz H, Kannel WB, Levy D.
Impact of atrial fibrillation on the risk of death: the Framingham Heart Study.
Circulation. 1998;98(10):946-52.
17. Gorter JW. Major bleeding during anticoagulation after cerebral ischemia:
patterns and risk factors. Stroke Prevention In Reversible Ischemia Trial
(SPIRIT). European Atrial Fibrillation Trial (EAFT) study groups.
Neurology. 1999;53(6):1319-27.
18. Dentali F, Douketis JD, Lim W, Crowther M. Combined aspirin-oral
anticoagulant therapy compared with oral anticoagulant therapy alone among
patients at risk for cardiovascular disease: a meta-analysis of randomized
trials. Arch Intern Med. 2007;167(2):117-24.
19. Lip GY, Edwards SJ. Stroke prevention with aspirin, warfarin and
xilmelagatran in patients with non-valvular atrial fibrillation: a systematic
review and meta-analysis. Thromb Res. 2006;118(3):321-33.
20. Watson T, Kakar P, Lip GY. Stroke risk stratification in atrial fibrillation:
something to EXAMINE more closely. Int J Clin Pract. 2007;61(1):6-9.
Erratum in: Int J Clin Pract. 2007;61(3):534.
21. Fuster V, Rydén LE, Cannom DS, Crijns HJ, Curtis AB, Ellenbogen KA, et al;
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines; European Society of Cardiology Committee for Practice
Guidelines; European Heart Rhythm Association; Heart Rhythm Society.
ACC/AHA/ESC 2006 Guidelines for the Management of Patients with Atrial
Fibrillation: a report of the American College of Cardiology/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines and the European Society of
Cardiology Committee for Practice Guidelines (Writing Committee to revise
the 2001 Guidelines for the Management of Patients with Atrial Fibrillation):
developed in collaboration with the European Heart Rhythm Association and
the Heart Rhythm Society. Circulation. 2006;114(7):e257-354. Erratum in:
Circulation.2007;116(6):e138.
22. European Heart Rhythm Association; European Association for Cardio-
Thoracic Surgery, Camm AJ, Kirchhof P, Lip GY, Schotten U, Savelieva I,
Ernst S, et al. Guidelines for the Management of Atrial Fibrillation: the Task
Force for the Management of Atrial Fibrillation of the European Society of
Cardiology (ESC). Eur Heart J. 2010;31(19):2369-429. Erratum in: Eur
Heart J. 2011;32(9):1172.
23. Wann LS, Curtis AB, January CT, Ellenbogen KA, Lowe JE, Estes NA 3rd, et
al; ACCF/AHA Task Force Members. 2011 ACCF/AHA/HRS focused update
on the management of patients with atrial fibrillation (updating the 2006
guideline): a report of the American College of Cardiology
Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines.
Circulation. 2011;123(1):104-23. Erratum in: Circulation. 2001;124(5):e173.
24. Connolly SJ, Ezekowitz MD, Yusuf S, Eikelboom J, Oldgren J, Parekh A, et
al; RE-LY Steering Committee and Investigators. Dabigatran versus warfarin
in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2009;361(12):1139-51.
Erratum in: N Engl J Med. 2010;363(19):1877.
25. Patel MR, Mahaffey KW, Garg J, Pan G, Singer DE, Hacke W, et al;
ROCKET AF Investigators. Rivaroxaban versus warfarin in nonvalvular
atrial fibrillation. N Engl J Med. 2011;365(10):883-91.
26. Granger CB, Alexander JH, McMurray JJ, Lopes RD, Hylek EM, Hanna M,
et al; ARISTOTLE Committees and Investigators. Apixaban versus warfarin
in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2011;365(11):981-92.
27. Lip GY, Nieuwlaat R, Pisters R, Lane DA, Crijns HJ. Refining clinical risk
stratification for predicting stroke and thromboembolism in atrial fibrillation
using a novel risk factor-based approach: the Euro-Heart Survey on atrial
fibrillation. Chest. 2010;137(2):263-72.
FIBRILAÇÃO ATRIAL: ENFOQUE NA
ABLAÇÃO
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 71 anos, hipertenso, com episódios diários de palpitações,
síncopes e lipotímia. História prévia de ablação de flutter atrial há um ano e em uso de
propafenona e warfarina. Holter de 24 horas evidenciava ritmo sinusal bradicárdico
(FC média de 50bpm) com episódios de fibrilação atrial (FA) paroxística seguida de
pausas sinusais sintomáticas de até 4,5s. Ecocardiograma transtorácico mostrou
ausência de cardiopatia estrutural e leve aumento de átrio esquerdo (AE: 44mm).
Encaminhado pelo médico assistente com diagnóstico de doença do nó sinusal e
indicação de implante de marca-passo.
Foi então realizado novo procedimento de ablação, agora para isolamento das veias
pulmonares para tratamento da FA (Figura 2), mantendo-se em uso de warfarina e
sotalol. Em consulta de follow-up, 30 dias pós-ablação, a monitorização de eventos do
marca-passo mostrou ausência de novos eventos arrítmicos, sendo suspensa a droga
antiarrítmica. Na consulta de revisão de três meses não apresentava queixas, porém foi
identificado um único episódio de FA com duração de 1 hora e 20 minutos ocorrido
dois meses após o procedimento (Figura 1), sendo mantida a warfarina.
Figura 2
Mapeamento eletroanatômico do átrio esquerdo realizado durante o procedimento de ablação, demonstrando as lesões
de radiofrequência aplicadas ao redor das veias pulmonares (pontos vermelhos, cinzas e amarelos) que levaram ao
isolamento elétrico.
Reavaliação seis meses pós-procedimento, por sua vez, mostrou inexistência de novos
eventos arrítmicos (Figura 3), sendo suspenso o uso de warfarina, substituído pela
aspirina. Após três anos de acompanhamento, o paciente se mantém assintomático e sem
episódios de FA documentado na monitorização de eventos do marca-passo (Figura 4).
Figura 3
Histograma de episódios de FA registrados pelo marca-passo. Após o episódio de recorrência precoce (seta
vermelha), nenhum outro episódio foi documentado nos meses subsequentes (seta azul), mesmo na ausência de drogas
antiarrítmicas.
Figura 4
Histograma de episódios de FA registrados pelo marca-passo, demonstrando ausência total de FA três anos após o
procedimento.
OBJETIVOS
1. Analisar criticamente as indicações atuais para ablação de FA.
2. Rever as opções de tratamento de pacientes portadores de doença do nódulo
sinusal e FA paroxística.
3. Discutir os resultados e as indicações de terapia anticoagulante em pacientes
submetidos à ablação de FA.
4. Demonstrar a capacidade dos marca-passos definitivos de monitorar a
ocorrência de arritmias atriais.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa dos sintomas?
Nos últimos anos, a ablação por cateter se consolidou como uma opção terapêutica bem
estabelecida para o controle do ritmo em pacientes portadores de FA. O
acompanhamento a longo prazo dos pacientes submetidos à ablação, confirmou o
elevado índice de sucesso da manutenção do ritmo sinusal com esse procedimento,
comparativamente ao uso de drogas antiarrítmicas5. A maioria dos estudos incluiu
pacientes com FA paroxística ou persistente, sintomática na doença cardíaca estrutural
mínima ou inexistente.
Além disso, está também estabelecido que recorrências da FA nesse período inicial
(denominada “recorrência precoce”) ocorrem em até 30% dos pacientes, sendo essa
também uma razão para manutenção da ACO nesse período. A recorrência precoce não
indica falência do procedimento e provavelmente está relacionada a fatores
inflamatórios, apesar de estatisticamente ser um fator preditivo de risco para
recorrência tardia da arritmia. No caso em questão, o paciente apresentou um episódio
de FA sustentada (1h e 20min - Figura 1) documentada pelo dispositivo. Apesar disso,
evoluiu sem nenhum outro episódio no acompanhamento em longo prazo, mesmo na
ausência de drogas antiarrítmicas.
Esta pergunta ainda não está completamente respondida. Pequenos trabalhos têm
sugerido que a mortalidade de pacientes submetidos à ablação com êxito é semelhante à
de pacientes sem FA. Há estudos multicêntricos com grande número de pacientes em
andamento atualmente (CABANA e RAAFT2) que vão ajudar a elucidar essa questão.
Referências
1. Ferrer MI. The sick sinus syndrome in atrial disease. JAMA.
1968;206(3):645-6.
2. Curzi GF, Mocchegianni R, Ciampani N, Pasetti L, Berrettini U, Purcaro A.
Thromboembolism during VVI permanent pacing in cardiac pacing. In:
Gomez FP, ed. Electrophysiology and Tachyarrhythmias. Madrid: Editorial
Grouz; 1985. p.1203-6.
3. Hluchý J, Milovský V, Pavlovic M, Uhliariková H, Makovíni M.
Parasympathetic overactivity and its evaluation in patients with sinus nodal
dysfunction. Int J Cardiol. 1991;33(3):357-64.
4. Mandel WJ, Hayakawa H, Allen HN, Danzig R, Kermaier AI. Assessment of
sinus node function in patients with the sick sinus syndrome. Circulation.
1972;46(4):761-9.
5. Shah AN, Mittal S, Sichrovsky TC, Cotiga D, Arshad A, Maleki K, et al.
Long-term outcome following successful pulmonary vein isolation: pattern
and prediction of very late recurrence. J Cardiovasc Electrophysiol.
2008;19(7):661-7.
6. Calkins H, Reynolds MR, Spector P, Sondhi M, Xu Y, Martin A, et al.
Treatment of atrial fibrillation with antiarrhythmic drugs or radiofrequency
ablation: two systematic literature reviews and meta-analyses. Circ Arrhythm
Electrophysiol. 2009;2(4):349-61.
7. Noheria A, Kumar A, Wylie JV Jr, Josephson ME. Catheter ablation vs
antiarrhythmic drug therapy for atrial fibrillation: a systematic review. Arch
Intern Med. 2008;168(6):581-6.
8. Jaïs P, Cauchemez B, Macle L, Daoud E, Khairy P, Subbiah R, et al. Catheter
ablation versus antiarrhythmic drugs for atrial fibrillation: the A4 study.
Circulation. 2008;118(24):2498-505.
9. Wazni OM, Marrouche NF, Martin DO, Verma A, Bhargava M, Saliba W, et
al. Radiofrequency ablation vs antiarrhythmic drugs as first-line treatment of
symptomatic atrial fibrillation: a randomized trial. JAMA.
2005;293(21):2634-40.
10. Pappone C, Augello G, Sala S, Gugliotta F, Vicedomini G, Gulletta S, et al. A
randomized trial of circumferential pulmonary vein ablation versus
antiarrhythmic drug therapy in paroxysmal atrial fibrillation: the APAF Study.
J Am Coll Cardiol. 2006;48(11):2340-7.
11. Zimerman LI, Fenelon G, Martinelli Filho M, Grupi C, Atié J, Lorga Filho A,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes Brasileiras de
Fibrilação Atrial. Arq Bras Cardiol. 2009;92(6 supl.1):1-39.
12. European Heart Rhythm Association; European Association for Cardio-
Thoracic Surgery, Camm AJ, Kirchhof P, Lip GY, Schotten U, Savelieva I,
Ernst S, et al. Guidelines for the management of atrial fibrillation: the Task
Force for the Management of Atrial Fibrillation of the European Society of
Cardiology (ESC). Eur Heart J. 2010;31(19):2369-429.
13. Gillis AM, Skanes AC; CCS Atrial Fibrillation Guidelines Committee.
Canadian Cardiovascular Society Atrial Fibrillation Guidelines 2010:
Implementing GRADE and achieving consensus. Can J Cardiol.
2011;27(1):27-30.
14. Wann LS, Curtis AB, January CT, Ellenbogen KA, Lowe JE, Estes NA 3rd, et
al; ACCF/AHA Task Force Members. 2011 ACC/AHA/HRS focused update
on the management of patients with atrial fibrillation (updating the 2006
guideline): a report of the American College of Cardiology
Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines.
Circulation. 2011;123(1):104-23.
15. Hindricks G, Piorkowski C, Tanner H, Kobza R, Gerds-Li JH, Carbucicchio
C, et al. Perception of atrial fibrillation before and after radiofrequency
catheter ablation: relevance of asymptomatic arrhythmia recurrence.
Circulation. 2005;112(3):307-13.
16. Themistoclakis S, Corrado A, Marchlinski FE, Jais P, Zado E, Rossillo A, et
al. The risk of thromboembolism and need for oral anticoagulation after
successful atrial fibrillation ablation. J Am Coll Cardiol. 2010;55(8):735-43.
17. Saad EB, d’Avila A, Costa IP, Aryana A, Slater C, Costa RE, et al. Very low
risk of thromboembolic events in patients undergoing successful catheter
ablation of atrial fibrillation with a CHADS2 score ≤3: a long-term outcome
study. Circ Arrhythm Electrophysiol. 2011;4(5):615-21
TAQUICARDIA VENTRICULAR E
INDICAÇÃO DE CARDIODESFIBRILADOR
INTERNO
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 58 anos, casada, do lar, natural do Rio de Janeiro, residente em
Guadalupe. Em tratamento para hipertensão arterial e diabetes com losartana 50mg/dia
e metformina 850mg/dia. Em dezembro 2010 foi atendida em UPA próxima à sua
residência por palpitação, dispneia e sudorese fria de início súbito, evoluindo com
rebaixamento do nível de consciência e apresentando ao ECG de entrada taquiarritmia
com QRS largo (Figura 1). Realizada cardioversão elétrica (CVE) e iniciada
amiodarona. A Figura 2 mostra o ECG feito após a cardioversão.
Figura 1
ECG 1: dez 2010
Taquicardia com QRS largo preenchendo critérios de Brugada para taquicardia ventricular (TV): batimentos de fusão,
intervalo RS >100ms em precordiais e duração do QRS >140ms.
Figura 2
ECG 2: após cardioversão elétrica (dez 2010)
Ritmo sinusal, presença de bloqueio de ramo direito de terceiro grau.
Evolução clínica:
Após o diagnóstico de taquicardia ventricular (TV) e CVE com retorno ao ritmo sinusal
foi iniciada amiodarona intravenosa (IV). Durante sua permanência houve recidiva da
TV com incremento da amiodarona IV, sendo realizada nova CVE, evoluindo com
bradicardia sinusal sintomática e instalação de marca-passo (MP) provisório. A
paciente apresentou recidiva da TV, sendo submetida a várias CVE seguidas e após
suas reversões apresentava baixa frequência cardíaca (FC) e instabilidade
hemodinâmica. Foi posteriormente transferida para outra instituição em 13/3/2011.
Figura 4
ECG de evolução da paciente em uso de amiodarona e levofloxacina
Ritmo sinusal com intervalo QT prolongado e taquicardia ventricular polimórfica do tipo Torsades de Pointes
deflagrado por batimento ventricular sobre a onda T.
Figura 5
EEF em 28/03/11
Ritmo sinusal; QRS 90ms; Int. PR 174ms; QT 520ms; QTc 498ms; A-H 56ms; H-V 54ms.
Figura 6
Indução de taquicardia ventricular durante estimulação ventricular com protocolo de extra-estímulos em ponta de VD.
Figura 7
Ablação da TV durante EEF/ Ablação com sucesso
Demonstração da aplicação de radiofrequência durante TV com reversão a ritmo sinusal na zona-alvo. Após essa
aplicação de RF a arritmia não foi mais induzível.
Após EEF evoluiu sem novos episódios de TV, hemodinamicamente estável e com
recuperação progressiva da FC com redução de drogas.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Quais são as hipóteses diagnósticas para o caso apresentado?
A paciente possui fatores de risco para doença coronariana como hipertensão arterial,
diabetes mellitus e sedentarismo. Recebeu investigação para doença coronariana,
através de cineangiocoronariografia, com resultado negativo. Em pacientes com fatores
de risco para doença coronariana e taquicardia ventricular documentada, torna-se
necessário descartar a presença de doença coronariana ativa como substrato reentrante
para a taquicardia ventricular e, se for o caso, tratá-la1-3.
A paciente do caso clínico não apresentava disfunção ventricular esquerda grave apesar
dos fatores de risco, mas durante a evolução apresentou diversos episódios de
taquicardia ventricular monomórfica, de caráter incessante e com instabilidade
hemodinâmica, de etiologia a esclarecer. Durante a evolução, a paciente apresentou
alargamento do intervalo QT após início de drogas antiarrítmicas, como a amiodarona e
outras drogas potenciais como a levofloxacina que podem causar alargamento
secundário do intervalo QT e arritmias ventriculares por mecanismo de pós-potenciais
tardios. Neste caso, deve-se suspender a droga antiarrítmica para impedir novo surto de
taquicardia ventricular ou seu caráter incessante e, caso necessário, está indicado o
implante de marca-passo provisório para manter a frequência cardíaca um pouco mais
elevada e prevenir novos surtos até a normalização do intervalo QT16-23.
Classe I
Classe IIa
Classe III
TV incessante (NE C)
3. Quais são os estudos clínicos internacionais sobre o tema?
Os resultados desses estudos permitem afirmar que o CDI é o tratamento mais eficaz
para a prevenção secundária de MSC em portadores de cardiopatia estrutural.
Para os pacientes já tratados, que possuem substrato cardíaco estrutural que preencham
os critérios das diretrizes brasileiras/internacionais1,7,30,31 para a prevenção secundária
de MSC ou doenças cardíacas hereditárias com indicação de terapia através de choque
ou burst, está indicado o implante de CDI7,12,39,40.
A RMC em pacientes não isquêmicos e que não apresentam realce tardio parece
demonstrar um baixo risco de eventos (TV/FV), o que poderia questionar a indicação
do CDI nesses pacientes70,71. Entretanto mais estudos ainda devem ser realizados para
que efetivamente se possam conhecer os fatores que conferem maior risco de eventos
nos pacientes com miocardiopatia e selecionar aqueles que mais se beneficiariam da
prevenção com CDI72,73.
Referências
1. Martinelli M, Zimerman LI, Lorga AM, Vasconcelos JTM, Lorga Filho A,
Fagundes AA, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade
Brasileira de Arritmias Cardíacas; Departamento de Estimulação Cardíaca
Artificial. Diretrizes Brasileiras de Dispositivos Cardíacos Eletrônicos
Implantáveis (DCEI). Arq Bras Cardiol. 2007;89(6):e210-38.
2. Myerburg RJ, Kessler KM, Estes D, Conde CA, Luceri RM, Zaman L, et al.
Long-term survival after prehospital cardiac arrest: analysis of outcome
during an 8 year study. Circulation. 1984;70(4):538-46.
3. Furukawa T, Rozanski JJ, Nogami A, Moroe K, Gosselin AJ, Lister JW.
Time-dependent risk of and predictors for cardiac arrest recurrence in
survivors of out-of-hospital cardiac arrest with chronic coronary artery
disease. Circulation. 1989;80(3):599-608.
4. Priori SG, Aliot E, Blomstrom-Lundqvist C, Bossaert L, Breithardt G,
Brugada P, et al. Task Force on Sudden Cardiac Death of the European
Society of Cardiology. Eur Heart J. 2001;22(16):1374-450. Erratum in: Eur
Heart J. 2002;23(3):257.
5. The CASCADE Investigators. Randomized antiarrhythmic drug therapy in
survivors of cardiac arrest (the CASCADE Study). The CASCADE
Investigators. Am J Cardiol. 1993;72(3):280-7.
6. The Antiarrhythmics versus Implantable Defibrillator (AVID) Investigators. A
comparison of antiarrhythmic-drug therapy with implantable defibrillators in
patients resuscitated from near-fatal ventricular arrhythmias. The
Antiarrhythmics versus Implantable Defibrillator (AVID) Investigators. N
Engl J Med. 1997;337(22):1576-83.
7. Domanski MJ, Sakseena S, Epstein AE, Hallstrom AP, Brodsky MA, Kim S,
et al. Relative effectiveness of the implantable cardioverter-defibrillator and
antiarrhythmic drugs in patients with varying degrees of left ventricular
dysfunction who have survived malignant ventricular arrhythmias. AVID
Investigators. Antiarrhythmics Versus Implantable Defibrillators. J Am Coll
Cardiol. 1999;34(4):1090-5.
8. Connolly SJ, Gent M, Roberts RS, Dorian P, Roy D, Sheldon RS, et al.
Canadian implantable defibrillator study (CIDS): a randomized trial of the
implantable cardioverter defibrillator against amiodarone. Circulation.
2000;101(11):1297-302.
9. Sheldon R, Connolly S, Krahn A, Roberts R, Gent M, Gardner M.
Identification of patients most likely to benefit from implantable cardioverter-
defibrillator therapy: the Canadian Implantable Defibrillator Study.
Circulation. 2000;101(14):1660-4.
10. Bokhari F, Newman D, Greene M, Korley V, Mangat I, Dorian P. Long-term
comparison of the implantable cardioverter defibrillator versus amiodarone:
eleven-year follow-up of a subset of patients in the Canadian Implantable
Defibrillator. Circulation. 2004;110(2):112-6.
11. Kuck KH, Cappato R, Siebels J, Rüppel R. Randomized comparison of
antiarrhythmic drug therapy with implantable defibrillators in patients
resuscitated from cardiac arrest: the Cardiac Arrest Study Hamburg.
Circulation. 2000;102(7):748-54.
12. Connolly SJ, Hallstrom AP, Cappato R, Schron EB, Kuck KH, Zipes DP, et
al. Meta-analysis of the implantable cardioverter defibrillator secondary
prevention trials. AVID, CASH, and CIDS studies. Antiarrhythmics vs
Implantable Defibrillator study. Cardiac Arrest Study Hamburg. Canadian
Implantable Defibrillator Study. Eur Heart J. 2000;21(24):2071-8.
13. Lau EW, Griffith MJ, Pathmanathan RK, Ng GA, Clune MM, Cooper J, et al.
The Midlands Trial of Empirical Amiodarone versus Electrophysiology-
guided Interventions and Implantable Cardioverter-defibrillators
(MAVERIC): a multi-centre prospective randomised clinical trial on the
secondary prevention of sudden cardiac death. Europace. 2004;6(4):257-66.
14. Larsen G, Hallstrom A, McAnulty J, Pinski S, Olarte A, Sullivan S, et al;
AVID Investigators. Cost-effectiveness of the implantable cardioverter-
defibrillator versus antiarrhythmic drugs in survivors of serious ventricular
tachyarrhythmias: results of the Antiarrhythmics Versus Implantable
Defibrillators (AVID) economic analysis substudy. Circulation.
2002;105(17):2049-57.
15. Sheldon R, O’Brien BJ, Blackhouse G, Goeree R, Mitchell B, Klein G, et al.
Effect of clinical risk stratification on cost-effectiveness of the implantable
cardioverter-defibrillator: the Canadian Implantable Defibrillator Study.
Circulation. 2001;104(14):1622-6.
16. Leenhardt A, Lucet V, Denjoy I, Grau F, Ngoc DD, Coumel P.
Catecholaminergic polymorphic ventricular tachycardia in children. A 7-year
follow-up of 21 patients. Circulation. 1995;91(5):1512-9.
17. Priori SG, Napolitano C, Tiso N, Memmi M, Vignati G, Bloise R, et al.
Mutations in the cardiac ryanodine receptor gene (hRyR2) underlie
catecholaminergic polymorphic ventricular tachycardia. Circulation.
2001;103(2):196-200.
18. Laitinen PJ, Brown KM, Piippo K, Swan H, Devaney JM, Brahmbhatt B, et
al. Mutations of the cardiac ryanodine receptor (RyR2) gene in the familial
polymorphic ventricular tachycardia. Circulation. 2001;103(4):485-90.
19. Lahat H, Pras E, Olender T, Avidan N, Ben-Asher E, Man O, et al. A
missense mutation in a highly conserved region of CASQ2 is associated with
autosomal recessive catecholamine-induced polymorphic ventricular
tachycardia in Bedouin families from Israel. Am J Hum Genet.
2001;69(6):1378-84.
20. Priori SG, Napolitano C, Memmi M, Colombi B, Drago F, Gasparini M, et al.
Clinical and molecular characterization of patients with catecholaminergic
polymorphic ventricular tachycardia. Circulation. 2002;106(1):69-74.
21. Schwartz PJ, Priori SG, Napolitano C. The long QT syndrome. In: Zipes DP,
Jalife J (eds). Cardiac Electrophysiology: From Cell to Bedside. 4th ed.
Philadelphia: Saunders/Elsevier; 2000. p.597-615.
22. Romano C, Gemme G, Pongiglione R. [Rare cardiac arrhythmias of the
pediatric age. II. Syncopal attacks due to paroxysmal ventricular fibrillation].
Clin Pediatr (Bologna). 1963;45:656-83.
23. Ward OC. A new familial cardiac syndrome in children. J Ir Med Assoc.
1964;54:103-6.
24. Jervell A, Lange-Nielsen F. Congenital deaf-mutism, functional heart disease
with prolongation of the Q-T interval and sudden death. Am Heart J.
1957;54(1):59-68.
25. Wang Q, Curran ME, Splawski I, Burn TC, Millholland JM, VanRaay TJ, et
al. Positional cloning of a novel potassium channel gene: KVQT1 mutations
cause cardiac arrhythmias. Nat Genet. 1996;12(1):17-23.
26. Curran ME, Splawski I, Timothy KW, Vincent GM, Green ED, Keating MT. A
molecular basis for cardiac arrhythmia: HERG mutations cause long QT
syndrome. Cell. 1995;80(5):795-803.
27. Wang Q, Shen J, Splawski I, Atkison D, Robinson JL, Moss AJ, et al. SCN5A
mutations associated with an inherited cardiac arrhythmia, long QT
syndrome. Cell. 1995;80(5):805-11.
28. Abbot GW, Sesti F, Splawski I, Buck ME, Lehmann MH, Timothy KW, et al.
MiRP1 forms IKr potassium channels with HERG and is associated with
cardiac arrhythmia. Cell. 1999;97(2):175-87.
29. Splawski I, Tristani-Firouzi M, Lehmann MH, Sanguinetti MC, Keating MT.
Mutations in the hminK gene cause QT syndrome and suppress IKs function.
Nat Genet. 1997;17(3):338-40.
30. Splawski I, Timothy KW, Sharpe LM, Decher N, Kumar P, Bloise R, et al.
Ca(V)1.2 calcium channel dysfunction causes a multisystem disorder
including arrhythmia and autism. Cell. 2004;119(1):19-31.
31. Mohler PJ, Schott JJ, Gramolini AO, Dilly KW, Guatimosim S, duBell WH,
et al. Ankyrin-B mutation causes type 4 long-QT cardiac arrhythmia and
sudden cardiac death. Nature. 2003;421(6923):634-9.
32. Moss AJ, Zareba W, Hall WJ, Schwartz PJ, Crampton RS, Benhorin J, et al.
Effectiveness and limitations of beta-blocker therapy in congenital long-QT
syndrome. Circulation. 2000;101(6):616-23.
33. Priori SG, Schwartz PJ, Napolitano C, Bloise R, Rochetti E, Grillo M, et al.
Risk stratification in the long-QT syndrome. N Engl J Med.
2003;348(19):1866-74.
34. Brugada P, Brugada J. Right bundle branch block, persistent ST segment
elevation and sudden cardiac death: a distinct clinical and
electrocardiographic syndrome. A multicenter report. J Am Coll Cardiol.
1992;20(6):1391-6.
35. Brugada R, Brugada J, Antzelevitch C, Kirsch GE, Potenza D, Towbin JA, et
al. Sodium channel blockers identify risk for sudden death in patients with
ST-segment elevation and right bundle branch block but structurally normal
hearts. Circulation. 2000;101(5):510-5.
36. Chen Q, Kirsch GE, Zhang D, Brugada J, Brugada P, Potenza D, et al. Genetic
basis and molecular mechanism for idiopathic ventricular fibrillation. Nature.
1998;392(6673):293-6.
37. Brugada J, Brugada R, Antzelevitch C, Towbin J, Nademanee K, Brugada P.
Long-term follow-up of individuals with the electrocardiographic pattern of
right bundle-branch block and ST-segment elevation in precordial leads V1 to
V3. Circulation. 2002;105(1):73-8.
38. Dumaine R, Towbin JA, Brugada P, Vatta M, Nesterenko DV, Nesterenko W,
et al. Ionic mechanisms responsible for the electrocardiographic phenotype of
the Brugada syndrome are temperature dependent. Circ Res. 1999;85(9):803-
9.
39. Mok NS, Priori SG, Napolitano C, Chan NY, Chahine M, Baroudi G. A newly
characterized SCN5A mutation underlying Brugada syndrome unmasked by
hyperthermia. J Cardiovasc Electrophysiol. 2003;14(4):407-11.
40. Ortega-Carnicer J, Benezet J, Ceres F. Fever-induced ST-segment elevation
and T-wave alternans in a patient with Brugada syndrome. Resuscitation.
2003;57(3):315-7.
41. Belhassen B, Glick A, Viskin S. Efficacy of quinidine in high-risk patients
with Brugada syndrome. Circulation. 2004;110(13):1731-7.
42. Hermida JS, Denjoy I, Clerc J, Extramiana F, Jarry G, Milliez P, et al.
Hydroquinidine therapy in Brugada syndrome. J Am Coll Cardiol.
2004;43(10):1853-60.
43. Mizusawa Y, Sakurada H, Nishizaki M, Hiraoka M. Effects of low-dose
quinidine on ventricular tachyarrhythmias in patients with Brugada syndrome:
low-dose quinidine therapy as an adjunctive treatment. J Cardiovasc
Pharmacol. 2006;47(3):359-64.
44. Maron BJ, Roberts WC, Epstein SE. Sudden death in hypertrophic
cardiomyopathy: a profile of 78 patients. Circulation. 1982;65(7):1388-94.
45. Maron BJ, Bonow RO, Cannon RO 3rd, Leon MB, Epstein SE. Hypertrophic
cardiomyopathy. Interrelations of clinical manifestations, pathophysiology,
and therapy (1). N Engl J Med. 1987;316(13):780-9.
46. Maron BJ, Bonow RO, Cannon RO 3rd, Leon MB, Epstein SE. Hypertrophic
cardiomyopathy. Interrelations of clinical manifestations, pathophysiology,
and therapy (2). N Engl J Med. 1987;316(14):844-52.
47. Spirito P, Bellone P. Natural history of hypertrophic cardiomyopathy. Br
Heart J. 1994;72(6 Suppl):S10-2.
48. Wigle ED, Rakowski H, Kimball BP, Williams WG. Hypertrophic
cardiomyopathy. Clinical spectrum and treatment. Circulation.
1995;92(7):1680-92.
49. McKenna W. Sudden death in hypertrophic cardiomyopathy: identification of
the “high risk” patient. In: Brugada P, Wellens HJJ. Cardiac arrhythmias:
where to go from here? Mount Kisco, NY: Futura; 1987.
50. Cannan CR, Reeder GS, Bailey KR, Melton LJ 3rd, Gersh BJ. Natural history
of hypertrophic cardiomyopathy. A population-based study, 1976 through
1990. Circulation. 1995;92(9):2488-95.
51. Kyriakidis M, Triposkiadis F, Anastasakis A, Theopistou A, Tocta R,
Barbetseas J, et al. Hypertrophic cardiomyopathy in Greece: clinical course
and outcome. Chest. 1998;114(4):1091-6.
52. Maron BJ, McKenna WJ, Danielson GK, Kappenberger LJ, Kuhn HJ,
Seidman CE, et al; Task Force on Clinical Expert Consensus Documents.
American College of Cardiology; Committee for Practice Guidelines.
European Society of Cardiology. American College of Cardiology/European
Society of Cardiology Clinical Expert Consensus Document on Hypertrophic
Cardiomyopathy. A report of the American College of Cardiology Foundation
Task Force on Clinical Expert Consensus Documents and European Society
of Cardiology Committee for Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol.
2003;42(9):1687-713.
53. Maron BJ, Spirito P, Shen WK, Haas TS, Formisano F, Link MS, et al.
Implantable cardioverter-defibrillators and prevention of sudden cardiac
death in hypertrophic cardiomyopathy. JAMA. 2007;298(4):405-12. Erratum
in: JAMA. 2007;298(13):1516.
54. Watkins H, McKenna WJ, Thierfelder L, Suk HJ, Anan R, O’Donoghue A, et
al. Mutations in the genes for cardiac troponin T and alpha-tropomyosin in
hypertrophic cardiomyopathy. N Engl J Med. 1995;332(16):1058-64.
55. Redwood CS, Moolman-Smook JC, Watkins H. Properties of mutant
contractile proteins that cause hypertrophic cardiomyopathy. Cardiovasc Res.
1999;44(1):20-36.
56. Roberts R, Sigwart U. New concepts in hypertrophic cardiomyopathies, part
I. Circulation. 2001;104(17):2113-6.
57. Fananapazir L, Tracy CM, Leon MB, Winkler JB, Cannon RO 3rd, Bonow
RO, et al. Electrophysiologic abnormalities in patients with hypertrophic
cardiomyopathy. A consecutive analysis in 155 patients. Circulation.
1989;80(5):1259-68.
58. Fananapazir L, Chang AC, Epstein SE, McAreavey D. Prognostic
determinants in hypertrophic cardiomyopathy. Prospective evaluation of a
therapeutic strategy based on clinical, Holter, hemodynamic, and
electrophysiological findings. Circulation. 1992;86(3):730-40.
59. Behr ER, Elliot P, McKenna WJ. Role of invasive EP testing in the evaluation
and management of hypertrophic cardiomyopathy. Card Electrophysiol Rev.
2002;6(4):482-6.
60. Marcus FI, Fontaine G. Arrhythmogenic right ventricular
dysplasia/cardiomyopathy: a review. Pacing Clin Electrophysiol.
1995;18(6):1298-314.
61. Corrado D, Basso C, Thiene G, McKenna WJ, Davies MJ, Fontaliran F, et al.
Spectrum of clinicopathologic manifestations of arrhythmogenic right
ventricular cardiomyopathy/dysplasia: a multicenter study. J Am Coll
Cardiol. 1997;30(6):1512-20.
62. Furlanello F, Bertoldi A, Dallago M, Furlanello C, Fernando F, Inama G, et
al. Cardiac arrest and sudden death in competitive athletes with
arrhythmogenic right ventricular dysplasia. Pacing Clin Electrophysiol.
1998;21(1 Pt 2):331-5.
63. McKenna WJ, Thiene G, Nava A, Fontaliran F, Blomstrom-Lundqvist C,
Fontaine G, et al. Diagnosis of arrhythmogenic right ventricular
dysplasia/cardiomyopathy. Task Force of the Working Group Myocardial and
Pericardial Disease of the European Society of Cardiology and of the
Scientific Council on Cardiomyopathies of the International Society and
Federation of Cardiology. Br Heart J. 1994;71(3):215-8.
64. Peters S, Peters H, Thierfelder L. Risk stratification of sudden cardiac death
and malignant ventricular arrhythmias in right ventricular dysplasia-
cardiomyopathy. Int J Cardiol. 1999;71(3):243-50.
65. Peters S. Left ventricular impairment in arrhythmogenic right ventricular
dysplasia: what we can learn from angiography. Cardiology. 1995;86(6):473-
6.
66. Peters S, Reil GH. Risk factors of cardiac arrest in arrhythmogenic right
ventricular dysplasia. Eur Heart J. 1995;16(1):77-80.
67. Bauce B, Nava A, Rampazzo A, Daliento L, Muriago M, Basso C, et al.
Familial effort polymorphic ventricular arrhythmias in arrhythmogenic right
ventricular cardiomyopathy map to chromosome 1q42-43. Am J Cardiol.
2000;85(5):573-9.
68. Marcus F, Towbin JA, Zareba W, Moss A, Calkins H, Brown M, et al;
ARVD/C Investigators. Arrhythmogenic right ventricular
dysplasia/cardiomyopathy (ARVD/C): a multidisciplinary study: design and
protocol. Circulation. 2003;107(23):2975-8.
69. Strauss DG, Selvester RH. The QRS complex--a biomarker that “images” the
heart: QRS scores to quantify myocardial scar in the presence of normal and
abnormal ventricular conduction. J Electrocardiol. 2009;42(1):85-96.
70. Assomull RG, Prasad SK, Lyne J, Smith G, Burman ED, Khan M, et al.
Cardiovascular magnetic resonance, fibrosis, and prognosis in dilated
cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol. 2006;48(10):1977-85.
71. Strauss DG, Selvester RH, Lima JAC, Arheden H, Miller JM, Gerstenblith G,
et al. ECG quantification of myocardial scar in cardiomyopathy patients with
or without conduction defects: correlation with cardiac magnetic resonance
and arrhythmogenesis. Circ Arrhythm Electrophysiol. 2008;1:327-33.
Available from: <http://circep.ahajournals.org/content/1/5/327.full>
72. Strauss DG, Poole JE, Wagner GS, Selvester RH, Miller JM, Anderson J, et
al. An ECG index of myocardial scar enhances prediction of defibrillator
shocks: an analysis of the Sudden Cardiac Death in Heart Failure Trial. Heart
Rhythm. 2010;8(1):38-45.
73. Oliveira Neto, NR. Escores eletrocardiográficos. In: Eletrocardiografia
Clínica: uma abordagem baseada em evidências. Rio de Janeiro: Revinter;
2010. p.345-58.
TERAPIA DE RESSINCRONIZAÇÃO
CARDÍACA
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 42 anos, portador de miocardiopatia dilatada idiopática
sabidamente há cinco anos. Quando feito o diagnóstico, apresentava sintomas discretos
de cansaço aos grandes esforços. Na ocasião o ecocardiograma demonstrava aumento
de câmaras esquerdas e uma fração de ejeção (FE) de 40%.
Figura 1
Eletrocardiograma basal do paciente relatado, demonstrando bloqueio de ramo esquerdo.
OBJETIVOS
1. Entender a fisiopatologia da dissincronia cardíaca.
2. Analisar o processo de ressincronização e discutir as possíveis respostas ao
tratamento.
3. Identificar pacientes que possam se beneficiar da terapia de ressincronização
cardíaca.
4. Discutir perspectivas futuras relacionadas à técnica.
PERGUNTAS
1. Qual a definição de dissincronia cardíaca e seu significado na insuficiência
cardíaca
Figura 2
Eletrocardiograma do paciente após ser submetido a implante de marca-passo ressincronizador.
Classe I
Classe IIa
Classe I
Classe IIa
Os marcadores de não resposta são: não correlação entre a parede com ativação mais
tardia e a localização do eletrodo do ventrículo esquerdo e a quantidade de fibrose
ventricular avaliada pela cintilografia miocárdica ou ressonância magnética cardíaca.
Parece que a resposta tende a ser superior em paciente com miocardiopatia dilatada
não isquêmica do que isquêmica. A otimização dos intervalos de estimulação
atrioventricular e interventricular pelo ecocardiograma (método de Ritter para o
intervalo AV e integral do fluxo aórtico para o intervalo VV) podem conseguir um
benefício adicional.
Referências
1. Sweeney MO. Wood shop, Sun Tzu, and patient selection for cardiac
resynchronization therapy. Heart Rhythm. 2011;8(7):1095-8.
2. Chung ES, Leon AR, Tavazzi L, Sun JP, Nihoyannopoutos P, Merlino J, et al.
Results of the Predictors of Response to CRT (PROSPECT) Trial.
Circulation. 2008;117(20):2608-16.
3. Cleland JG, Daubert JC, Erdmann E, Freemantle N, Gras D, Kappenberger L,
et al. Longer-term effects of cardiac resynchronization therapy on mortality in
heart failure [the CArdiac REsynchronization-Heart Failure (CARE-HF) trial
extension phase]. Eur Heart J. 2006;27(16):1928-32.
4. Bristow MR, Saxon LA, Boehmer J, Krueger S, Kass DA, De Marco T, et al;
Comparison of Medical Therapy, Pacing, and Defibrillation in Heart Failure
(COMPANION) Investigators. Cardiac-resynchronization therapy with or
without an implantable defibrillator in advanced chronic heart failure. N Engl
J Med. 2004;350(21):2140-50.
5. Kass DA. Pathobiology of cardiac dyssynchrony and resynchronization. Heart
Rhythm. 2009;6(11):1660-5.
6. Martinelli M, Zimerman LI, Lorga AM, Vasconcelos JTM, Lorga Filho A,
Fagundes AA, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade
Brasileira de Arritmias Cardíacas; Departamento de Estimulação Cardíaca
Artificial. Diretrizes Brasileiras de Dispositivos Cardíacos Eletrônicos
Implantáveis (DCEI). Arq Bras Cardiol. 2007;89(6):e210-38.
7. Authors/Task Force Members, Dickstein K, Vardas PE, Auricchio A, Daubert
JC, Linde C, McMurray J, et al. 2010 Focused Update of ESC Guidelines on
Device Therapy in Heart Failure: an update of the 2008 ESC Guidelines for
the Diagnosis and Treatment of Acute and Chronic Heart Failure and the 2007
ESC Guidelines for Cardiac and Resynchronization Therapy. Developed with
the special contribution of the Heart Failure Association and the European
Heart Rhythm Association. Eur Heart J. 2010;31(21):2677-87.
8. Solomon SD, Foster E, Bourgoun M, Shah A, Viloria E, Brown MW, et al;
MADIT-CRT Investigators. Effect of cardiac resynchronization therapy on
reverse remodeling and relation to outcome: multicenter automatic
defibrillator implantation trial: cardiac resynchronization therapy.
Circulation. 2010;122(10):985-92.
9. Beshai JF, Grimm RA, Nagueh SF, Baker JH 2nd, Beau SL, Greenberg SM,
et al; RethinQ Study Investigators. Cardiac-resynchronization therapy in heart
failure with narrow QRS complexes. N Engl J Med. 2007;357(24):2461-71.
SÍNCOPE EM CORAÇÃO NORMAL
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 24 anos, sem história de cardiopatia prévia, em avaliação de perda
súbita e recorrente da consciência e possibilidade de liberação médica para atividade
física.
História familiar: Pai hipertenso e mãe hígida. Não tem irmãos. Desconhece histórico
de morte súbita ou inexplicada na família.
Exame físico: Lúcida, orientada, corada, hidratada, eupneica, afebril. Sem queixas.
Pulmões limpos. RCR 2T BNF s/sopros. Pulsos periféricos palpáveis e isócronos
bilateralmente. Abdome e membros sem alterações significativas.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
Quando o médico se depara com um paciente jovem e coração normal com relato de
perda súbita da consciência, grande número de fatores etiológicos pode estar
envolvido. Sendo assim, o raciocínio clínico deve ser direcionado para as hipóteses
diagnósticas inerentes a esse grupo.
Quando a epilepsia se manifesta por crises tônico-clônicas e de grande mal pode levar
à perda transitória da consciência; no entanto, comumente, os pacientes estarão não
responsivos por tempo mais prolongado e apresentarão estado pós-comicial típico
(sonolência, algum grau de desorientação, dor muscular). Abalos musculares podem
estar presentes tanto na síncope como na epilepsia, sendo a principal diferenciação
entre ambos a duração do episódio: enquanto na epilepsia o episódio tende a ser
prolongado, na síncope envolverá apenas alguns segundos de duração. Outro dado de
suma importância é que na síncope os movimentos ocorrerão após a perda da
consciência e queda ao solo, enquanto na epilepsia habitualmente ocorrerão antes da
perda de consciência6.
Nos pacientes com coração estruturalmente normal as causas de síncope podem ser
divididas em: situações relacionadas à queda da resistência vascular periférica e
alteração do controle autonômico, como as síncopes reflexas e as disautonomias e em
estados de diminuição do débito cardíaco como na hipovolemia, nas obstruções
dinâmicas ao fluxo sanguíneo e os distúrbios do ritmo cardíaco, resultando em queda da
pressão arterial e hipoperfusão cerebral global7.
O sistema nervoso autonômico (SNA) controla de forma involuntária a maior parte das
funções vitais do corpo, incluindo o sistema cardiovascular, gastrointestinal, urinário, o
controle da temperatura corporal, do sistema metabólico e reprodutivo. Quando existe
uma falha nesse complexo sistema, está-se diante de um processo chamado
disautonomia também conhecida como falência autonômica.
Estudos populacionais revelam que cerca de 1/3 dos pacientes apresentam recorrência
do evento sincopal em três anos de seguimento, sendo o número de episódios de
síncope ao longo da vida o maior preditor dessa recorrência (Tabelas 1 e 2)14,15.
Tabela 1
Prognóstico dos pacientes com diagnóstico incerto e baixo risco >40 de acordo com o
número de episódios sincopais ao longo da vida
Tabela 2
Prognóstico dos pacientes com diagnóstico incerto e baixo risco > 40 de acordo com o número de episódios sincopais
nos últimos dois anos
O teste consiste em uma mesa inclinável com plataforma para apoio dos pés, cintos de
segurança e monitorização da FC e da PA através de pletismografia digital que
fornecerá os dados a cada batimento do coração. O paciente permanece deitado
inicialmente por 10-20 minutos (fase de repouso) e logo após a cama é inclinada a 60º
ou 70º. A fase inclinada dura de 20min a 45min, dependendo do protocolo utilizado.
Durante a inclinação é realizada potencialização com nitrato ou nitroglicerina
sublingual para aumentar a sensibilidade do teste.
A classificação das respostas, inicialmente proposta por Sutton, foi modificada no
estudo VASIS II (Quadro 2)18.
Quadro 2
Classificação das respostas ao Tilt Test
O teste de inclinação não deve ser indicado em pacientes com hipotensão postural
detectada ao exame físico; em pacientes com histeria de conversão; ataque isquêmico
transitório e/ou acidente vascular encefálico ou infarto agudo do miocárdio nos últimos
três meses; estenose aórtica moderada a grave; hipertensão pulmonar e doença
coronariana e/ou cerebrovascular críticas.
A monitorização por Holter 24-48h na síncope tem mais valor quando os sintomas são
muito frequentes. Para eventos mais raros a monitorização de eventos (sistema looper)
ou até mesmo o sistema implantável pode ser de grande valia para a correlação evento
x sintoma, ou mesmo para a sua exclusão (sintoma sem evento arrítmico) (Quadro 3).
Quadro 3
Critérios diagnósticos para monitorização eletrocardiográfica da síncope
Fonte: adaptado de Guidelines for the Diagnosis and Management of Syncope (version 2009)6
Quadro 4
Indicações atuais para realização do EEF
Fonte: adaptado de Guidelines for the Diagnosis and Management of Syncope (version 2009)6
Testes neurológicos:
Eletroencefalograma (EEG): Somente indicado na suspeita clínica de epilepsia. Pode
ser útil para diagnosticar pseudossíncope psicogênica (com vídeo EEG) quando normal
durante um ataque provocado.
Medidas posturais como dormir com cabeceira levemente elevada colocando um calço
nos pés da cama (cerca de 20cm de altura), levantar-se em etapas e de forma lenta ao
acordar ou após longos períodos em posição supina. Manobras de contrapressão
isométricas: atos como cruzar e descruzar as pernas, contração da musculatura das
panturrilhas como durante a flexão plantar e apertos de mão ou contração dos braços
podem ser úteis e devem ser recomendados aos pacientes com episódios
anunciados21,22.
O treinamento postural (tilt training), inicialmente descrito por Ector et al.23 tem
ganhado espaço no manejo não medicamentoso dos pacientes com síncope
neurocardiogênica recorrente, sobretudo pelo seu baixo custo e facilidade de execução.
Orienta-se o paciente à realização de pelo menos uma e idealmente duas sessões
diárias de treinamento postural, com duração média de 30-40min, recomendando-se
apoiar as costas sobre uma parede vertical com os pés 15-20cm de distância da mesma,
em ambiente livre de objetos que possam trazer lesões em caso de queda, com apoio
próximo e sob a observação de algum familiar, garantindo assim a segurança do
treinamento. O mecanismo pelo qual o treinamento postural é capaz de melhorar a
tolerância ortostática ainda não é bem conhecido, acredita-se vir da dessensibilização
de receptores autonômicos relacionados ao disparo da reação neurocardiogênica24,25.
Uma droga útil, sobretudo no manejo de pacientes com hipotensão postural ortostática
e, em alguns casos, de síncopes vasovagais, é a fludrocortisona (dose: 0,1-0,4mg/dia),
um mineralocorticoide que promove aumento da retenção de sódio e expansão do
volume circulante efetivo31. Outras alternativas são os agentes alfaestimulantes como a
midodrina (5-40mg/dia divididos em três a quatro tomadas), vantajosa por seus poucos
efeitos colaterais e eficácia na redução de episódios32.
Outras drogas têm sido utilizadas com algum sucesso no manejo de pacientes com
síncopes refratárias; é o caso dos inibidores de recaptação de serotonina como a
fluoxetina e a sertralina33, e drogas como a eritropoietina capaz de corrigir estados
anêmicos e agir como vasoconstrictora direta relacionada a seu efeito sobre o ácido
nítrico periférico34.
Deve-se lembrar que apesar do tratamento, mais de 30% dos pacientes continuam a
experimentar episódios regulares de síncope vasovagal.
Atividades profissionais que envolvam alto risco para o paciente e para terceiros (ex:
piloto de avião, motorista profissional, atletas de alta performance) devem ser
reconsideradas e o paciente orientado a se afastar da atividade até o controle completo
dos sintomas6.
Uma pequena parcela dos pacientes com síncope e coração estruturalmente normal
apresenta uma doença grave muitas vezes não identificada através dos métodos
habituais de avaliação. Entre elas estão: a síndrome de Wolff- Parkinson-White e as
canalopatias (síndrome de Brugada, síndrome do QT longo, QT curto, TV
catecolaminérgica e FV idiopática).
Referências
CASO CLÍNICO
L.F.B.S., 76 anos, hipertenso leve, controlado com losartana 50mg/dia. Refere história
de palpitação taquicárdica regular em surtos de curta duração há cerca de 10 anos.
Esses sintomas se intensificaram em duração e frequência nos últimos seis meses. No
momento, além de palpitação persistente refere cansaço progressivo até aos pequenos
esforços e desconforto precordial tipo opressão.
Ao exame físico:
PA =146x85mmHg; FC =90-150bpm; RCR com breves períodos de irregularidade, 2T
BNF.
Estertores crepitantes bibasais na ausculta pulmonar. Abdômen sem alterações.
Membros inferiores com edema perimaleolar com cacifo bilateral discreto.
Figura 1
ECG de admissão
Como o paciente tivesse apresentado mínima elevação dos níveis de troponina foi
realizada a cinecoronariografia que não evidenciou lesões ateroscleróticas obstrutivas
significativas.
OBJETIVOS
1. Discutir os critérios eletrocardiográficos e os aspectos fisiopatológicos,
epidemiológicos e clínicos que caracterizam a taquiarritmia.
2. Discutir o tratamento farmacológico e não farmacológico: quando e como
indicar.
3. Analisar complicações da taquiarritmia e indicações de anticoagulação.
PERGUNTAS
1. Qual a principal hipótese diagnóstica para o caso relatado?
Trata-se de síndrome taquicárdica associada à insuficiência cardíaca (classe funcional
II – NYHA) e síndrome edemigênica com leve congestão pulmonar e sistêmica.
Nas situações em que o contexto clínico sugere duração acima de 48 horas, devem-se
usar medicações para controle da resposta ventricular (betabloqueador ou antagonistas
dos canais de cálcio intravenosos) e anticoagulação.
Na maioria dos casos, o FLA faz parte de processo agudo de doença, tais como: pós-
operatório de cirurgia torácica, infarto agudo do miocárdio ou doença pulmonar
descompensada, de modo que habitualmente não é necessário tratamento de manutenção
após a recomposição do ritmo sinusal.
Convém destacar que tais arritmias (FLA e FA) têm risco semelhante para a ocorrência
desses eventos e, portanto, a decisão pela profilaxia via anticoagulação deve estar
baseada na classificação de risco.
Segundo o escore CHADS2, o paciente em questão tem elevado risco para evento
cardioembólico, pois recebe grau 3: insuficiência cardíaca + hipertensão arterial +
idade >75 anos (vide capítulo de fibrilação atrial para maiores detalhes). Existe,
portanto, indicação para anticoagulação contínua com warfarina.
Outra complicação que pode estar presente em taquiarritmias crônicas de origem atrial
ou ventricular é a taquicardiomiopatia, forma reversível de insuficiência cardíaca
caracterizada pela dilatação e disfunção sistólica do ventrículo esquerdo que
geralmente regride quando a taquiarritmia é controlada.
No caso clínico em questão o tratamento escolhido foi ablação por radiofreqüência que
resultou em resolução completa dos sinais e sintomas de insuficiência cardíaca e
significativa melhora da função sistólica do VE em exame ecocardiográfico evolutivo,
caracterizando a presença de taquicardiomiopatia associada.
Referências
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 74 anos, hipertenso de longa data, em uso regular de losartana e
hidroclorotiazida. Evoluiu com queixa de pré-síncope de repetição nos últimos dois
meses, quando foi documentada a presença de bloqueio atrioventricular total com
escape ventricular em torno de 35bpm. Encaminhado para serviço especializado,
submeteu-se a implante de marca-passo definitivo dupla-câmara. Recebeu alta
hospitalar em 24 horas, sem intercorrências. Após cinco meses do implante, começou a
apresentar adinamia, cansaço aos esforços, febre baixa vespertina e perda ponderal.
Foi então encaminhado para avaliação cardiológica.
OBJETIVOS
1. Analisar as características e condições clínicas suspeitas de infecção
relacionada ao marca-passo.
2. Discutir o manejo e o tratamento desta condição.
3. Rever as opções de tratamento e possíveis complicações relacionadas.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa dos sintomas?
Essa condição pode ocorrer precocemente (até seis meses do implante) e tardiamente
(após seis meses)1. A infecção relacionada ao marca-passo pode se manifestar no
primeiro ano após o implante ou até vários anos depois5,6.
1. Diabetes mellitus
2. Doença neoplásica de base
3. Reintervenção precoce (em especial, troca de gerador)
4. Idade avançada
5. Inexperiência do operador
6. Tratamento prévio com anticoagulante ou corticoide
7. Insuficiência cardíaca ou renal (clearence de creatinina <60ml/min)
8. Febre nas últimas 24 horas antes do implante
9. Utilização de marca-passo temporário antes do implante
Nos demais casos, a remoção completa do sistema deve ser o principal objetivo
terapêutico. A remoção percutânea é o método preferencial pela menor morbidade
associada, mas requer operadores experientes e treinados para tal. Dessa forma, a
remoção cirúrgica (cardiotomia) é uma opção válida e utilizada em diversos centros.
Vale lembrar que os eletrodos antigos (implante de longa data) representam um desafio
e apresentam maior dificuldade técnica para o explante percutâneo, em função da
extensa fibrose desenvolvida ao longo do tempo17. A extração percutânea completa é
obtida em 81% a 93% dos casos, com uma taxa de complicação maior em torno de
2,5% e mortalidade que varia de 0,04% a 0,6%17.
Segundo o estudo de Margey et al.20, o tempo médio de reimplante foi de 28 dias e, nos
pacientes dependentes do marca-passo, foi de sete dias após o explante do sistema.
Referências
1. Sopeña B, Crespo M, Beiras X, García del Campo E, Rivera A, Gimena B,
et al. Individualized management of bacteraemia in patients with a permanent
endocardial pacemaker. Clin Microbiol Infect. 2010;16(3):274-80.
2. Baddour LM, Bettmann MA, Bolger AF, Epstein AE, Ferrieri P, Gerber MA,
et al. Nonvalvular cardiovascular device-related infections. Circulation.
2003;108(16):2015-31.
3. Sohail MR, Uslan DZ, Khan AH, Friedman PA, Hayes DL, Wilson WR, et al.
Management and outcome of permanent pacemaker and implantable
cardioverter-defibrillator infections. J Am Coll Cardiol. 2007;49(18):1851-
9.
4. Grammes JA, Schulze CM, Al-Bataineh M, Yesenosky GA, Saari CS, Vrabel
MJ, et al. Percutaneous pacemaker and implantable cardioverter-defibrillator
lead extraction in 100 patients with intracardiac vegetations defined by
transesophageal echocardiogram. J Am Coll Cardiol. 2010;55(9):886-94.
5. Wilkoff BL. How to treat and identify device infections. Heart Rhythm.
2007;4(11):1467-70.
6. Nery PB, Fernandes R, Nair GM, Summer GL, Ribas CS, Menon SM, et al.
Device-related infection among patients with pacemakers and implantable
defibrillators: incidence, risk factors, and consequences. J Cardiovasc
Electrophysiol. 2010;21(7):786-90.
7. Klug D, Lacroix D, Savoye C, Goullard L, Grandmougin D, Hennequin JL, et
al. Systemic infection related to endocarditis on pacemaker leads: clinical
presentation and management. Circulation. 1997;95(8):2098-107.
8. Durack DT, Lukes AS, Bright DK. New criteria for diagnosis of infective
endocarditis: utilization of specific echocardiographic findings. Duke
Endocarditis Service. Am J Med. 1994;96(3):200-9.
9. Ellenbogen KA, Kay GN, Lau CP, Wilkoff BL, eds. Clinical Cardiac Pacing,
Defibrillation, and Resynchronization Therapy. 3rd ed. Philadelphia:
Saunders; 2007.
10. Da Costa A, Lelièvre H, Kirkorian G, Célard M, Chevalier P, Vandenesch F,
et al. Role of the preaxillary flora in pacemaker infections: a prospective
study. Circulation. 1998;97(18):1791-5.
11. Lekkerkerker JC, van Nieuwkoop C, Trines SA, van der Bom JG, Bernards
A, van de Velde ET, et al. Risk factors and time delay associated with cardiac
device infections: Leiden device registry. Heart. 2009;95(9):715-20.
12. Eggimann P, Waldvogel F. Pacemaker and defibrillator infections. In:
Waldvogel FA, Bisno AL, editors. Infections Associated with Indwelling
Medical Devices. 3rd ed. Washington, DC: American Society for
Microbiology Press; 2000. p. 247.
13. Baman TS, Gupta SK, Vallefactors for mortality in patients with cardiac
device-related infection. Circ Arrhythm Electrophysiol. 2009;2(2):129-34.
JA, Yamada E. Risk
14. de Oliveira JC, Martinelli M, Nishioka SA, Varejão T, Uipe D, Pedrosa AA,
et al. Efficacy of antibiotic prophylaxis before the implantation of
pacemakers and cardioverter-defibrillators: results of a large, prospective,
randomized, double-blinded, placebo-controlled trial. Circ Arrhythm
Electrophysiol. 2009;2(1):29-34. Erratum in: Circ Arrhythm Electrophysiol.
2009;2(1):e1.
15. Baddour LM, Epstein AE, Erickson CC, Knight BP, Levison ME, Lockhart
PB, et al; American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and
Kawasaki Disease Committee; Council on Cardiovascular Disease in Young;
Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia; Council on
Cardiovascular Nursing; Council on Clinical Cardiology; Interdisciplinary
Council on Quality of Care; American Heart Association. Update on
cardiovascular implantable electronic device infections and their
management: a scientific statement from the American Heart Association.
Circulation. 2010;121(3):458-77.
16. Bertaglia E, Zerbo F, Zardo S, Barzan D, Zoppo F, Pascotto P. Antibiotic
prophylaxis with a single dose of cefazolin during pacemaker implantation:
incidence of long-term infective complications. Pacing Clin Electrophysiol.
2006;29(1):29-33.
17. Bracke FA, Meijer A, van Gelder LM. Pacemaker lead complications: when
is extraction appropriate and what can we learn from published data? Heart.
2001;85(3):254-9.
18. Trappe HJ, Pfitzner P, Klein H, Wenzlaff P. Infections after cardioverter-
defibrillator implantation: observations in 335 patients over 10 years. Br
Heart J. 1995;73(1):20-4.
19. Braun MU, Rauwolf T, Bock M, Kappert U, Boscheri A, Schnabel A, et al.
Percutaneous lead implantation connected to an external device in
stimulation-dependent patients with systemic infection: a prospective and
controlled study. Pacing Clin Electrophysiol. 2006;29(8):875-9.
20. Margey R, McCann H, Blake G, Keelan E, Galvin J, Lynch M, et al.
Contemporary management of and outcomes from cardiac device related
infections. Europace. 2010;12(1):64-70.
21. Baddour LM; Infectious Diseases Society of America’s Emerging Infections
Network. Long-term suppressive antimicrobial therapy for intravascular
device-related infections. Am J Med Sci. 2001;322(4):209-12.
22. Victor F, De Place C, Camus C, Le Breton H, Leclercq C, Pavin D, et al.
Pacemaker lead infection: echocardiographic features, management, and
outcome. Heart. 1999;81(1):82-7.
23. Massoure PL, Reuter S, Lafitte S, Laborderie J, Bordachard P, Clementy J, et
al. Pacemaker endocarditis: clinical features and management of 60
consecutive cases. Pacing Clin Electrophysiol. 2007;30(1):12-9.
24. Sandre RM, Shafran SD. Infective endocarditis review of 135 cases over 9
years. Clin Infect Dis. 1996;22(2):276-86.
TRATAMENTO DA EXTRASSISTOLIA E
TAQUICARDIA VENTRICULAR NÃO
SUSTENTADA EM PACIENTES COM
CORAÇÃO ESTRUTURALMENTE NORMAL
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 40 anos, casado, auxiliar de telecomunicação, natural do Rio de
Janeiro, com queixas de coração com batimentos descompassados. A queixa se referia
à ocorrência diária de irregularidade dos batimentos há cerca de dois anos. Nos
últimos seis meses, houve piora da falta de ar, referida como ocorrendo aos médios
esforços (NYHA classe funcional II).
AD: Nega edemas de MMII, dispneia paroxística noturna e dor precordial. Nega
processo infeccioso agudo.
HPP: Uso de amiodarona e atenolol sem melhora da sintomatologia.
H Social: Ex-tabagista de 20 cigarros diários tendo parado há um ano. Etilista social.
Exame Físico
Paciente vígil, orientado, corado, hidratado, eupneico, acianótico, anictérico e afebril
PA =120x70mmHg; FC =82bpm. Íctus palpável no 6º espaço intercostal esquerdo com
duas polpas digitais. Ritmo cardíaco irregular em 2 tempos, sem sopro ou turgência
jugular. Pulmões limpos. Abdômen flácido, indolor, peristáltico, sem massas ou
megalias. Membros com pulsos palpáveis e sem edemas.
Laboratório
Hemograma: sem alterações em séries vermelha e branca e nas plaquetas.
Bioquímica: eletrólitos, escórias nitrogenadas, hepatograma e hormônios tireoidianos
normais.
Imunologia: Sorologia para HIV, doença de Chagas e hepatite A, B e C negativas.
ECG:
O eletrocardiograma apresentado era semelhante a muitos obtidos durante as crises de
palpitação referidas pelo paciente. Ritmo apresentado sempre sinusal, sem alterações
específicas da repolarização com um padrão bigeminado pela presença de extrassístole
ventricular (ESV) monomórfica, com morfologia do tipo bloqueio de ramo direito
(BRD) e SÂQRS em torno de 90º. Na derivação V1 o padrão morfológico era qR
(Figura 1).
Figura 1
Eletrocardiograma com ritmo sinusal, padrão bigeminado pela presença de extrassístole ventricular monomórfica,
morfologia do tipo bloqueio de ramo direito.
Na derivação V1 o padrão morfológico era qR
OBJETIVOS
1. Discutir a abordagem diagnóstica, utilizando a análise sistemática do ECG na
localização da extrassistolia ventricular e taquicardia ventricular não
sustentada no coração estruturalmente normal.
2. Discutir os diagnósticos diferenciais das doenças que cursam com as
arritmias ventriculares com a finalidade de estratificação de risco de morte
cardíaca súbita.
3. Analisar medidas farmacológicas e não farmacológicas que visem ao
tratamento da extrassistolia ventricular e taquicardia ventricular não
sustentada (TVNS) no coração estruturalmente normal.
PERGUNTAS
1. Qual a prevalência de extrassístoles na população?
Figura 2A
Figura 2B
Figuras 2A e 2B
Teste ergométrico com alta prevalência de extrassístoles ventriculares. (Figura 2A) e supressão no pico do exercício
(Figura 2B).
Figura 3
Holter de 24h da paciente com longo ciclo de bigeminismo ventricular e de taquicardia ventricular não sustentada.
Figura 4
Holter 24h com gráfico de incidência de extrassístoles hora a hora e a variação da frequência cardíaca nas 24h.
Como visto, a morfologia da ESV/TVNS correlaciona-se com seu local de origem. Isso
também é verdade para a correlação da morfologia, localização da arritmia e presença
de cardiomiopatia subjacente.
Figura 5
Ecocardiograma com leve aumento do ventrículo esquerdo (dimensão sistólica de 4,0cm e diastólica de 5,8cm). Fração
de ejeção (Teichholz) de 58%. Função sistólica preservada em repouso e movimento assincrônico do septo
interventricular.
4. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa da disfunção
ventricular?
Normalmente a frequência cardíaca (FC) média nas 24h, avaliada pelo Holter, situa-se
entre 60-70bpm. A ocorrência de FC média aumentada pela presença de quantidade
elevada e frequente de ectopias pode, por si só, levar ao aparecimento de disfunção
ventricular. Cardiomiopatia induzida por taquicardias supraventriculares5,6 e
ventriculares7 incessantes tem sido descrita, bem como sua reversão quando o processo
taquicárdico é revertido. Como contraponto, as miocardiopatias podem estar
acompanhadas de arritmias ventriculares de diferentes morfologias e complexidades
como ESV e surtos de TVN. A ocorrência de taquicardiomiopatia é normalmente
acompanhada de morfologia de ESV ou TVN, ou pelo menos uma delas é mais
prevalente, enquanto que na presença de miocardiopatias existem diferentes ectopias,
traduzindo processo mais difuso da doença miocárdica.
Figura 7
Estudo eletrofisiológico do paciente, registrando eletrograma pelo cateter de mapeamento com uma precocidade de
100ms, sugerindo que essa posição seja a origem da extrassístole ventricular.
Figura 8
Estudo eletrofisiológico. Mostra a posição radiológica do cateter de ablação, nas duas oblíquas direita e esquerda,
respectivamente, OAD e OAE.
OAE=oblíqua anterior esquerda; OAD=oblíqua anterior direita
Figura 9
Estudo eletrofisiológico com estimulação (pace-mapping), visando a obter uma concordância nas 12 derivações com
similaridade do complexo QRS estimulado com o QRS da extrassístole ventricular, indicando que o local da
estimulação é o mesmo da origem da extrassístole ventricular.
Figura 10
Estudo eletrofisiológico com aplicação de energia de radiofrequência na ablação.
Figura 11
Estudo eletrofisiológico demonstrando o desaparecimento das extrassístoles ventriculares após ablação.
Figura 12
Eletrocardiograma pré-ablação e pós-ablação.
Após a ablação foi repetido o Holter, que evidenciou redução importante no número de
ESV, ficando com 311 ESV e assintomático. A Figura 13 exibe o gráfico de incidência
de ectopias ventriculares antes e depois da ablação, demonstrando a diminuição
significativa das arritmias ventriculares.
No follow-up de um mês foi possível demonstrar regressão dos sintomas e o ECG sem
ESV. O ecocardiograma mostrou normalização da FE com diminuição dos diâmetros
cavitários (Figura 14).
Pós-ablação
Figura 13
Estudo eletrofisiológico com gráfico de incidência de ectopias ventriculares antes e depois da ablação com diminuição
significativa das arritmias ventriculares.
Figura 14
Eletrocardiograma da paciente após ablação.
Referências
1. Hiss RG, Lamb LE. Electrocardiographic findings in 122,043 individuals.
Circulation. 1962;25:947-61.
2. Hinkle LE Jr, Carver ST, Stevens M. The frequency of asymptomatic
disturbances of cardiac rhythm and conduction in middle-aged men. Am J
Cardiol. 1969;24(5):629-50.
3. Kennedy HL, Whitlock JA, Sprague MK, Kennedy LJ, Buckingham TA,
Goldberg RJ. Long-term follow-up of asymptomatic healthy subjects with
frequent and complex ventricular ectopy. N Engl J Med. 1985;312(4):193-7.
4. Josephson ME, Callans DJ. Using the twelve-lead electrocardiogram to
localize the site of origin of ventricular tachycardia. Heart Rhythm.
2005;2(4):443-6.
5. Fenelon G, Wijns W, Andries E, Brugada P. Tachycardiomyopathy:
mechanisms and clinical implications. Pacing Clin Electrophysiol.
1996;19(1):95-106.
6. Cruz FE, Cheriex EC, Smeets JL, Atié J, Peres AK, Penn OC, et al.
Reversibility of tachycardia-induced cardiomyopathy after cure of incessant
supraventricular tachycardia. J Am Coll Cardiol. 1990;16(3):739-44.
7. Sternick EB, Bahia FC, Gontijo Filho B, Vrandecic MO. [Cardiomyopathy
induced by incessant ventricular tachycardia ("tachycardiomyopathy"): cure
after control of arrhythmia]. Arq Bras Cardiol. 1992;58(3):209-14.
8. Feitosa GS, Nicolau JC, Cruz FES, Scanavacca MI, Rassi S, Brofman P, et
al; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Cirurgia
Cardiovascular (SBCCV); Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial
(DECA) da SBCCV. Diretriz para Avaliação e Tratamento de Pacientes com
Arritmias Cardíacas. Arq Bras Cardiol. 2002;79(supl. 5):1-50.
9. Zipes DP, Camm AJ, Borggrefe M, Buxton AE, Chaitman B, Fromer M, et al;
American College of Cardiology; American Heart Association Task Force;
European Society of Cardiology Committee for Practice Guidelines;
European Heart Rhythm Association; Heart Rhythm Society. ACC/AHA/ESC
2006 Guidelines for Management of Patients with Ventricular Arrhythmias
and the Prevention of Sudden Cardiac Death. A report of the American
College of Cardiology/American Heart Association Task Force and the
European Society of Cardiology Committee for Practice Guidelines (Writing
Committee do develop Guidelines for Management of Patients with
Ventricular Arrhythmias and the Prevention of Sudden Cardiac Death)
developed in collaboration with the European Heart Rhythm Association and
the Heart Rhythm Society. Europace. 2006;8(9):746-837.
TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES
PARTE 1
CASO CLÍNICO
Paciente de 23 anos, com história de palpitações desde os 16 anos de idade, de início e
término súbitos, em precórdio, com duração de cerca de 15min, término espontâneo e
sem relação com o esforço.
OBJETIVOS
1. Descrever o mecanismo das taquiarritmias nas síndromes de pré-excitação
ventricular.
2. Apresentar as características clínicas e avaliação de risco da síndrome.
3. Analisar as possibilidades de tratamento clínico e invasivo por estudo
eletrofisiológico e ablação por radiofrequência.
PERGUNTAS
1. Quais são as hipóteses diagnósticas para o caso descrito?
A associação de crises de taquicardias paroxísticas em pacientes jovens com um
padrão eletrocardiográfico de intervalo PR curto e bloqueio de ramo, durante o ritmo
sinusal, foi descrita em 1930 por Wolff-Parkinson-White (WPW)1. A existência desses
achados no ECG de repouso sugere tratar-se de uma arritmia que utiliza uma via
acessória como parte do circuito.
Esses pacientes podem apresentar outras arritmias como, por exemplo, fibrilação atrial
(FA) e flutter que não dependem da via acessória como parte do circuito, mas que
também ativa parte do ventrículo através dela e por isso são chamadas taquicardias
pré-excitadas.
As vias acessórias são conexões musculares que promovem uma continuidade elétrica
entre o átrio e o ventrículo e podem ser classificadas conforme suas conexões
anatômicas2,3: a) via atrioventricular (feixe de Kent clássico), que une átrio ao
ventrículo pelo anel valvar, tanto mitral quanto tricuspídeo b) via nódulo-ventricular,
que conecta o nódulo AV direto ao ventrículo; e c) via fascículo-ventricular, que
conecta o sistema His-Purkinje ao ventrículo.
Durante o ritmo sinusal, a ativação ventricular ocorre por duas frentes – através do
sistema His-Purkinje (tecido de condução lenta) e através da via acessória (tecido de
condução rápida). Como o impulso atrial passa diretamente para o ventrículo pela via
acessória, sem o atraso da condução nodal, o intervalo PR do ECG encontra-se curto. A
onda Delta é caracterizada pelo alargamento da porção inicial do QRS, em virtude da
ativação ventricular através da via acessória. Como não existe a presença de sistema de
condução nesse momento, a propagação do impulso elétrico no ventrículo ocorre
lentamente, como na extrassístole ventricular. Após o impulso atrial passar pelo nódulo
AV, ocorre uma rápida ativação do restante do ventrículo, através do sistema His-
Purkinje, levando a um estreitamento do restante do QRS no ECG.
Figura 2
ECG realizado durante a crise de taquicardia.
A história natural e a apresentação clínica dos pacientes com VA são bastante variáveis.
Os pacientes com WPW apresentam sintomas de palpitações, desconforto torácico e
síncope, relacionados às crises de taquicardia ortodrômica. Essa arritmia apresenta
característica benigna, porém pode influenciar enormemente na qualidade de vida do
paciente, além do risco de degeneração para FA.
A maioria dos pacientes não se encontra nesse grupo de alto risco. Muitos apresentam
crises de taquicardia reentrante AV ortodrômica, sem ter complicado com fibrilação
ventricular e exibem pré-excitação constante no ECG. Como o risco de morte súbita
nesse grupo é bastante variável, a avaliação através de EEF se torna importante. Os
achados do EEF que traduzem maior risco incluem: 1) período refratário anterógrado
<250ms; 2) múltiplas vias acessórias; 3) indutibilidade de taquicardia ortodrômica; e
4) localização septal da via acessória.
Figura 3
ECG pós-ablação, revelando desaparecimento da onda delta e intervalo PR normal.
Referências
1. Wolff L, Parkinson J, White PD. Bundle-brunch block with short P-R interval
in healthy young people prone to paroxysmal tachycardia. 1930. Ann
Noninvasive Electrocardiol. 2006;11(4):340-53.
2. Wood FC, Wolferth CC, Geckeler GD. Histologic demonstration of accessory
muscular connections between auricle and ventricle in a case of short P-R
interval and prolonged QRS complex. Am Heart J. 1943;25(4):454-62.
3. Prystowsky EN, Browne KF, Zipes DP. Intracardiac recording by catheter
electrode of accessory pathway depolarization. J Am Coll Cardiol. 1983;1(2
Pt 1):468-70.
4. Packer DL, Gallagher JJ, Prystowsky EN. Physiological substrate for
antidromic reciprocating tachycardia. Prerequisite characteristics of the
accessory pathway and atrioventricular conduction system. Circulation.
1992;85(2):574-88.
5. Gollob MH, Seger JJ, Gollob TN, Tapscott T, Gonzales O, Bachinski L, et al.
Novel PRKAG2 mutation responsible for the genetic syndrome of ventricular
preexcitation and conduction system disease with childhood onset and
absence of cardiac hypertrophy. Circulation. 2001;104(25):3030-3.
6. Klein GJ, Bashore TM, Sellers TD, Pritchett EL, Smith WM, Gallagher JJ.
Ventricular fibrillation in the Wolff-Parkinson-White syndrome. N Engl J
Med. 1979;301(20):1080-5.
7. Timmermans C, Smeets JL, Rodriguez LM, Vrouchos G, van den Dool A,
Wellens HJ. Aborted sudden death in the Wolff-Parkinson-White syndrome.
Am J Cardiol. 1995;76(7):492-4.
8. Klein GJ, Gulamhusein SS. Intermittent preexcitation in the Wolff-Parkinson-
White syndrome. Am J Cardiol. 1983;52(3):292-6.
9. Pappone C, Santinelli V, Rosanio S, Vicedomini G, Nardi S, Pappone A, et
al. Usefulness of invasive electrophysiologic testing to stratify the risk of
arrhythmic events in asymptomatic patients with Wolf-Parkinson-White
pattern: results from a large prospective long-term follow-up study. J Am
Coll Cardiol. 2003;41(2):239-44.
10. Leitch JW, Klein GJ, Yee R, Murdock C. Prognostic value of
electrophysiology testing in asymptomatic patients with Wolff-Parkinson
White pattern. Circulation. 1990;82(5):1718-23.
11. Kunze KP, Schlüter M, Kuck KH. Sotalol in patients with Wolff-Parkinson-
White syndrome. Circulation. 1987;75(5):1050-7.
12. Calkins H, Yong P, Miller JM, Olshansky B, Carlson M, Saul JP, et al.
Catheter ablation of accessory pathways, atrioventricular nodal reentrant
tachycardia, and the atrioventricular junction: final results of a prospective,
multicenter clinical trial. The Atakr Multicenter Investigators Group.
Circulation. 1999;99(2):262-70.
13. Scheinman MM. NASPE Survey on Catheter Ablation. Pacing Clin
Electrophysiol. 1995;18(8):1474-8.
14. Blomström-Lundqvist C, Scheinman MM, Aliot EM, Alpert JS, Calkins H,
Camm AJ, et al; American College of Cardiology; American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines; European Society of
Cardiology Committee for Practice Guidelines. Writing Committee to
Develop Guidelines for the Management of Patients with Supraventricular
Arrhythmias. ACC/AHA/ESC Guidelines for the Management of Patients
with Supraventricular Arrhythmias--executive summary: a report of the
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines and the European Society of Cardiology Committee for
Practice Guidelines (Writing Committee to Develop Guidelines for the
Management of Patients with Supraventricular Arrhythmias). Circulation.
2003;108(15):1871-909.
TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES
PARTE 2
CASO CLÍNICO
Figura 1
Eletrocardiograma basal: normal
Figura 2
Eletrocardiograma mostrando taquiarritmia com complexos QRS estreitos.
OBJETIVOS
1. Discutir possibilidades diagnósticas para TPSV.
2. Explicar o mecanismo da taquicardia supraventricular.
3. Descrever a apresentação clínica de taquicardia supraventricular.
4. Discutir as possibilidades de tratamento clínico e invasivo de TPSV.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso apresentado?
O caso em questão trata de taquicardia por reentrada nodal. Esta corresponde há cerca
de 50% das TPSV, sendo bem mais comum em mulheres, na terceira década de vida.
Encontra-se ainda alta incidência próxima aos 60 anos de idade. A frequência cardíaca
oscila entre 100bpm e 280bpm. Diferente das outras arritmias, as palpitações na
taquicardia por reentrada nodal (TRN) são mais bem percebidas em pescoço e não no
precórdio.
Outra confusão diagnóstica é o prolapso de válvula mitral (PVM). Por ser tratar de
arritmia de pacientes jovens, sem cardiopatias, o PVM pode ser evidenciado ao acaso
durante investigação, sem que tenha qualquer relação com o quadro clínico.
O diagnóstico de palpitações por TRN é bem simples quanto existe o registro do ECG
durante a crise. O ECG característico revela taquicardia com QRS estreito (menor
120ms), RR regular e intervalo RP’ curto (distância entre o início do QRS e a onda P
retrógrada), gerando uma onda pseudo-r’ em V1. No entanto a maioria dos pacientes
pode passar longos anos sem conseguir documentar as crises, já que estas apresentam
duração variável e pode ocorrer resolução espontânea antes da avaliação médica em
emergências.
A TPSV com QRS largo (maior 120ms) pode ocorrer quando um dos ramos se torna
refratário na presença de frequência cardíaca elevada ou pela sequência ciclo longo-
ciclo curto (fenômeno de Ashman).
O Holter de 24h tem pouco valor nessa investigação, já que depende da presença de
sintomas exatamente nas 24h de monitorização, exceto para os pacientes que
apresentam sintomas frequentes (várias crises por semana). O monitor de eventos (até
14 dias) tem melhor indicação.
O teste de esforço também tem pouca utilização, a não ser nos casos em que a arritmia
seja iniciada por esforço.
Durante o ritmo sinusal, o impulso elétrico se propaga para o ventrículo através da via
de condução rápida (beta), que apresenta período refratário longo, e produz o complexo
QRS. O mesmo impulso sinusal também se propaga pela via lenta (alfa), que apresenta
período refratário mais curto, e atinge o nódulo AV/Feixe de His após este ter sido
ativado pela via de condução rápida beta, encontrando-se em período refratário.
Um extraestímulo atrial pode ser bloqueado na via rápida, por apresentar período
refratário mais longo, sendo conduzido para os ventrículos pela via lenta. Isso provoca
um prolongamento do intervalo PR. O atraso da condução AV pela via lenta pode ser
suficiente para que a via rápida recupere a sua excitabilidade, conduzindo o impulso
elétrico retrogradamente para os átrios, o que dará inicio à taquicardia conforme
esquema a seguir (Figura 3).
Figura 3
Mecanismo da forma comum de TRN
Em A: mecanismo de dupla-via nodal
Em B: ativação ventricular durante o ritmo sinusal
Em C: ativação atrioventricular durante a taquicardia
Figura 4
Primeira parte do ECG revelando taquicardia por reentrada nodal. Observe a presença de onda P’ retrógrada muito
próxima ao QRS (intervalo RP’ curto), assemelhando-se à onda R’. Segunda parte do ECG em ritmo sinusal.
Observe o desaparecimento da pseudo-onda R’.
Os pacientes que apresentam crises de palpitações por taquicardia reentrante nodal são
geralmente jovens e saudáveis, por isso a dificuldade no diagnóstico. Não existem
comorbidades ou outras condições predisponentes para esta arritmia.
Por não se tratar de arritmia com iminente risco de morte, a indicação de ablação
dependerá de fatores clínicos e da preferência do paciente. A decisão terapêutica será
influenciada pela frequência e duração dos sintomas, resposta ao tratamento clínico,
tolerância à crise, resposta ao tratamento clínico e necessidade de uso de drogas a
longo prazo.
Referências
Febre Reumática
Insuficiência Mitral
Prolapso Valvar Mitral
Estenose Mitral
Insuficiência Aórtica
Estenose Aórtica
Doença Mitroaórtica
Abordagem da Insuficiência Tricúspide: Fatores Determinantes
Endocardite Infecciosa Subaguda: Abordagem Diagnóstica e Terapêutica
Prótese Valvar em Mulher Jovem x Anticoagulação
FEBRE REUMÁTICA
CASO CLÍNICO
Dados básicos: adolescente, sexo feminino, 13 anos, peso 45kg, altura 1,50cm.
Doença principal: FReu
Comorbidades: amigdalites de repetição
Fatores de risco cardiovascular: avó materna hipertensa; primo paterno com FReu.
Quadro clínico:
Adolescente atendida em setor de emergência com queixas de febre moderada e
dores articulares intensas, acompanhadas de edema e calor locais há alguns dias,
inicialmente em joelho direito passando ao esquerdo, com impotência funcional.
Concomitante a esse quadro, tem sentido cansaço aos esforços, dor precordial e
taquicardia.
Exame físico:
Bom estado geral, acianótica, palidez cutâneo-mucosa, leve taquipneia, sem
edemas. TAx. 37,5°C
PA =100/60mmHg; FC =120bpm; pulsos palpáveis com amplitude um pouco
diminuída; jugulares não túrgidas.
ACP: RCR 3T B1 hipofonética, B2 normofonética, presença de B3
SSR ++/4+ em FM com irradiação para axila esquerda
Pulmões limpos
Abdome sem visceromegalias
Membros inferiores sem edema. Dor à palpação do joelho esquerdo, com edema e
calor locais.
Medicação em uso: sem medicação até atendimento em setor de emergência.
Exames complementares
ECG: taquicardia sinusal. PR =0,20s. Sinais de hipertrofia ventricular esquerda.
Radiografia de tórax (RX): cardiomegalia leve a moderada; congestão venocapilar
pulmonar.
OBJETIVOS
1. Analisar um caso de clínico de febre reumática aguda com ênfase na forma
clássica da doença, reiterando a diversidade desse aspecto e a importância
da história no diagnóstico.
2. Apresentar as possibilidades de diagnóstico diferencial e os critérios
clínicos e laboratoriais disponíveis para a confirmação da doença.
3. Traçar as condutas terapêuticas mais bem indicadas em cada situação clínica
e nos diferentes graus de comprometimento do aparelho cardiovascular e de
outros sistemas envolvidos.
4. Destacar a importância do tratamento profilático primário e secundário da
febre reumática no contexto epidemiológico da prevenção de novos surtos e
também na redução de sua prevalência.
PERGUNTAS
1. Qual o diagnóstico mais provável neste caso, e que diagnósticos diferenciais
devem ser excluídos com base na história clínica?
Acomete pessoas geralmente na faixa etária de 5-15 anos e é considerada a maior causa
de cardiopatia adquirida em crianças e jovens nos países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento, representando no Brasil um sério problema de saúde pública, pois é
responsável por um grande número de admissões hospitalares e cirurgias cardíacas
para tratamento das sequelas valvares. Comprometendo pessoas jovens, em fase de
formação escolar e crescimento profissional, acarreta ônus familiar e social bastante
relevantes1-3.
É uma doença de distribuição universal, cuja prevalência muito alta no século passado
apresentou queda importante após o maior acesso ao uso de antibióticos, na segunda
metade do século XX, mas de maneira mais significativa nos países desenvolvidos7.
Acredita-se que essa redução seja devida não somente ao uso de antibióticos, mas às
melhores condições socioeconômicas e provável menor virulência das cepas
estreptocócicas. Em países como Japão, Inglaterra e Estados Unidos, estima-se uma
prevalência média abaixo de 0,5-1:100.000 habitantes8. Entretanto, nas duas últimas
décadas, tem sido observado um novo aumento da incidência, principalmente na
América do Norte e Europa, associada a formas mais agressivas do agente
estreptocócico, como os sorotipos M1, M5 e M189.
Quadro 1
Critérios de Jones revisados em 2002
A artrite é a manifestação mais frequente da FReu, ocorrendo em 60-80% dos casos; é
autolimitada e não deixa sequelas. Está, com frequência, associada à cardite ou outros
sinais maiores. A forma típica da doença ocorre de duas a quatro semanas, em média,
após a infecção estreptocóccica, podendo envolver várias articulações, geralmente as
maiores, de caráter migratório, até cinco dias em cada articulação. Ocorrem: limitação
aos movimentos e sinais de edema e calor locais, sendo a dor intensa, porém
respondem bem aos salicilatos. À parte desse quadro típico, podem ocorrer
monoartrite, acometimento de pequenas articulações e resposta insatisfatória aos
salicilatos3.
A coreia de Sydenham (CS) ocorre geralmente em pacientes do sexo feminino, rara nos
maiores de 20 anos, cuja prevalência varia entre 5-36%, de apresentação mais tardia,
até seis meses após a estreptococcia. Pode vir isolada ou associada à cardite17. É uma
desordem neurológica, caracterizando-se por movimentos incoordenados e
involuntários, labilidade emocional e disartria.
O eritema marginado se caracteriza por área avermelhada com bordas nítidas,
irregulares e centro claro, principalmente em tronco, fugazes. É raro, ocorrendo em
torno de 3% dos casos. Os nódulos subcutâneos são também pouco frequentes, 2-3%
dos casos, mas muito associados à cardite grave. São arredondados, até 2cm de
diâmetro, firmes, móveis, indolores, na superfície de tendões extensores17.
Os critérios menores são mais inespecíficos, como: febre no início do quadro, sem
características especiais, melhora com anti-inflamatórios; artralgia de grandes
articulações, sem impotência funcional, também migratória, deve ser considerada
apenas na ausência de artrite; o intervalo PR do ECG pode estar aumentado acima de
0,20s. Os reagentes inflamatórios da fase aguda, embora inespecíficos, ajudam na
identificação da inflamação e no seguimento. São utilizados: a velocidade de
hemossedimentação (VHS), que aumenta nas primeiras semanas; a proteína C-reativa
(PCR), que aumenta no início da fase aguda; a alfa-1-glicoproteína ácida, que também
aumenta no início e se mantém mais tempo e a alfa-2-globulina, que também se eleva no
início e se mantém, podendo ser utilizada no seguimento da doença1.
A cardite tende a surgir em torno de quatro a seis semanas após o quadro infeccioso e
pode variar amplamente em sua forma de apresentação, com quadros clínicos muito
leves ou inaparentes até os extremamente graves, geralmente sob a forma de
pancardite1.
Seu diagnóstico pode ser mais difícil quanto mais brando for o acometimento. Essas
situações são preocupantes, pois podem resultar em sequelas cardíacas valvares
importantes.
Os sinais clínicos mais comuns são taquicardia, presença de sopro cardíaco por
insuficiência valvar e insuficiência cardíaca (IC). As válvulas mais acometidas são,
primeiramente a mitral, depois mitral e aórtica e por último, aórtica. É pouco frequente
o acometimento tricúspide e raro o pulmonar. O exame clínico pode mostrar soprologia
sistólica mitral, sopro diastólico da insuficiência aórtica, sopro diastólico em casos de
valvulite mitral (sopro de Carey Coombs) e atrito pericárdico devido à pericardite.
Esta pode vir com derrame pericárdico, em geral leve a moderado, causando
abafamento das bulhas, que não evolui para constrição. Nesses casos, o paciente se
queixa de dor precordial atípica20,21.
Quadro 2
Formas de apresentação da cardite reumática conforme o nível de gravidade
Está indicada a internação hospitalar para melhor avaliação dos sintomas, orientação
ao paciente e introdução da medicação com vistas ao controle da IC e do processo
inflamatório, além da erradicação do foco estreptocócico1,23.
O repouso, no caso de cardite moderada a grave, deve ser relativo, por quatro semanas,
na dependência da normalização da provas laboratoriais.
Nos pacientes mais graves ou refratários, pode ser indicada a pulsoterapia com
metilprednisolona venosa, na dose de 30mg/kg/dia, máximo de 1g/dia, durante três dias
e repetir semanalmente, até a melhora do quadro, tomando cuidado com outros focos
infecciosos do paciente. Nos casos de cardite leve, não há consenso, podendo ser
indicado o uso de corticoide ou não, ou então anti-inflamatório não hormonal (AAS),
embora a tendência seja o tratamento com uso de corticoide, pois os pacientes evoluem
com melhora mais rápida1,21,23.
Quadro 3
Recomendações para profilaxia primária da FReu
Quadro 4
Recomendações para profilaxia secundária da FReu
A história natural do paciente com CRC traduz a evolução das lesões da válvula mitral
na maioria dos casos. Inicialmente lesões de insuficiência valvar que são bem toleradas
às vezes durante muitos anos, podem evoluir para dupla-lesão mitral ou para
calcificação e fibrose com desenvolvimento de estenose da válvula nos casos mais
graves.
Outra publicação recente relata a persistência da FReu aguda (novos casos) na região
de Abruzzo, na Itália35; os autores têm o cuidado de esclarecer de que não se trata de
pacientes imigrantes, mas sim de crianças de origem italiana, de classe média e sem
dificuldades de acesso a serviços de saúde. Eles concluem afirmando que “a FReu
aguda está longe de ser erradicada, mesmo em países ocidentais desenvolvidos”.
Programas de prevenção têm se mostrado eficazes em outros países, e com alta relação
custo-benefício, tanto para profilaxia primária, quanto para secundária3,38,39. No Brasil,
iniciativas regionais têm sido realizadas ao longo dos últimos 30 anos1,40-44; no entanto,
o Ministério da Saúde ainda não reconheceu a FReu como uma doença negligenciada e
que necessita de organização em todo o território nacional e normatização através de
um programa amplo, com registro de participantes, priorização no atendimento e
internação, controle de faltosos, e medidas educativas garantidas, como está
pressuposto no desenho de um programa de profilaxia eficaz1,3,39,45.
Referências
1. Barbosa PJB, Müller RE, Latado AL, Achutti AC, Ramos AIO, Weksler C, et
al; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Pediatria;
Sociedade Brasileira de Reumatologia. Diretrizes Brasileiras para
Diagnóstico, Tratamento e Prevenção da Febre Reumática. Arq Bras Cardiol.
2009;93(3 supl. 4):1-18.
2. Goldenstein-Schainberg C. Febre reumática. Rev Pediatria Moderna.
2008;44(1):5-13.
3. WHO Expert Consultation on Rheumatic Fever (RF) and Rheumatic Heart
Disease (RHD). Rheumatic fever and rheumatic heart disease: report of a
WHO Expert Consultation, Geneva, 29 October – 1 November 2001. World
Health Organization: Geneva; 2004. WHO Technical Report Series; 923.
4. Kiss MHB. Comportamento articular da febre reumática. Rev Soc Cardiol
Estado São Paulo. 1993;3:26-31.
5. Pileggi GCS, Ferriani VPL. Manifestações articulares atípicas em crianças
com febre reumática. J Pediatr. 2000;76(1):49-54.
6. Guilherme L, Ramasawmy R, Kalil J. Rheumatic fever and rheumatic heart
disease: genetics and pathogenesis. Scand J Immunol. 2007;66(2-3):199-207.
7. Seckeler MD, Hoke TR. The worldwide epidemiology of acute rheumatic
fever and rheumatic heart disease. Clin Epidemiol. 2011;3:67-84.
8. Carapetis JR, Steer AC, Mulholland EK, Weber M. The global burden of
group A streptococcal diseases. Lancet Infect Dis. 2005;5(11):685-94.
9. Veasy LG, Tani LY, Daly JA, Korgenski K, Miner L, Bale J, et al. Temporal
association of the appearance of mucoid strains of Streptococcus pyogenes
with a continuing high incidence of rheumatic fever in Utah. Pediatrics.
2004;113(3 Pt 1);e168-72.
10. Müller RE. Estudo longitudinal de pacientes portadores de cardiopatia
reumática no Rio de Janeiro [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro:
Fiocruz/MS; 2008.
11. Meira ZM, Goulart EM, Colosimo EA, Mota CC. Long term follow up of
rheumatic fever and predictors of severe rheumatic valvar disease in
Brazilian children and adolescents. Heart. 2005;91(8):1019-22.
12. Xavier RMA, Nolasco M, Müller R, Santos M, Lima ABR, Lucas MJ, et al.
PREFERE: da informação à prevenção. Editorial Laranjeiras. 2004;1(4):61-
3.
13. Guilherme L, Faé KC, Kalil J. Etiopatogenia da febre reumática. Rev Soc
Cardiol Estado São Paulo. 2005;15(1):7-17.
14. Jones TD. The diagnosis of rheumatic fever. JAMA. 1944;126(8):481-4.
15. Ferrieri P; Jones Criteria Working Group. Circulation. 2002;106(19):2521-3.
16. Juneja R, Tandon R. Rheumatic carditis: a reappraisal. Indian Heart J.
2004;56(3):252-5.
17. Working Group on Pediatric Acute Rheumatic Fever and Cardiology Chapter
of Indian Academy of Pediatrics, Saxena A, Kumar RK, Gera RP,
Radhakrishnan S, Mishra S, Ahmed Z. Consensus guidelines on pediatric
acute rheumatic fever and rheumatic heart disease. Indian Pediatr.
2008;45(7):565-73.
18. Marijon E, Ou P, Celermajer DS, Ferreira B, Mocumbi AO, Jani D, et al.
Prevalence of rheumatic heart disease detected by echocardiographic
screening. N Engl J Med. 2007;357(5):470-6.
19. Vasan RS, Shrivastava S, Vijayakumar M, Narang R, Lister BC, Narula J.
Echocardiographic evaluation of patients with acute rheumatic fever and
rheumatic carditis. Circulation. 1996;94(1):73-82.
20. Diógenes MSB, Carvalho AC. Cardite reumática: peculiaridades
diagnósticas e terapêuticas. Rev Soc Cardiol Estado São Paulo.
2005;15(1):71-8.
21. Cilliers AM. Rheumatic fever and its management. BMJ.
2006;333(7579):1153-56.
22. Vijayalakshmi IB, Mithravinda J, Deva AN. The role of echocardiography in
diagnosing carditis in the setting of acute rheumatic fever. Cardiol Young.
2005;15(6):583-8.
23. Spina GS. Doença reumática: negligenciada, mas ainda presente e mortal.
Rev Med (São Paulo). 2008;87(2):128-41.
24. Robertson KA, Volmink JA, Mayosi BM. Antibiotics for the primary
prevention of acute rheumatic fever: a meta-analysis. BMC Cardiovasc
Disord. 2005;5(1):11.
25. Lee JL, Naguwa SM, Cheema GS, Gershwin ME. Acute rheumatic fever and
its consequences: a persistent threat to developing nations in the 21st century.
Autoimmun Rev. 2009;9(2):117-23.
26. Manyemba J, Mayosi BM. Penicillin for secondary prevention of rheumatic
fever. Cochrane Database Syst Rev. 2002;(3):CD002227
27. Pelajo CF, Lopez-Benitez JM, Torres JM, de Oliveira SK. Adherence to
secondary prophylaxis and disease recurrence in 536 Brazilian children with
rheumatic fever. Pediatr Rheumatol Online J. 2010;8:22.
28. Meira ZMA, Goulart EMA, Rocha FD, Bragança CA, Mota CCC. Influência
dos surtos de recidiva da febre reumática no desenvolvimento de valvopatia
crônica em crianças e adolescentes. Rev Med Minas Gerais.
2008;18(4):236-42.
29. Aoun NBT, Albanesi Filho FM, Rachid MBF, Fernandes LAV, Messias JAS.
Endocardite infecciosa em adolescentes. Análise dos fatores de risco de
mortalidade intra-hospitalar. Arq Bras Cardiol. 1997;69(6):407-12.
30. Prendergast BD, Tornos P. Surgery for infective endocarditis: who and when?
Circulation. 2010;121(9):1141-52.
31. Carapetis JR. Rheumatic heart disease in developing countries. N Engl J
Med. 2007;357(5):439-41.
32. American College of Cardiology; American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines (Writing Committee to revise the 1998 guidelines for the
management of patients with valvular heart disease); Society of
Cardiovascular Anesthesiologists, Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K,
de Leon AC Jr, Faxon DP, Freed MD, et al. ACC/AHA 2006 guidelines for
the management of patients with valvular heart disease: a report of the
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines (Writing Committee to revise the 1998 guidelines for the
management of patients with valvular heart disease) developed in
collaboration with the Society of Cardiovascular Anesthesiologists endorsed
by the Society for Cardiovascular Angiography and Interventions and the
Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2006;48(3):e1-148.
Erratum in: J Am Coll Cardiol. 2007;49(9);1014.
33. Pomerantzeff PM, Barbosa GV, de Sousa Filho BS, Brandão CM, Ribeiro EJ,
Costa FD, et al. Diretrizes de Cirurgia nas Valvopatias. Arq Bras Cardiol.
2004;82(supl. 5):22-33.
34. Braunwald NS, Brais M, Castaneda A. Considerations in the development of
artificial heart valve substitutes for use in infants in small children. J Thorac
Cardiovasc Surg. 1976;72(4):539-46.
35. Breda L, Marzetti V, Gaspari S, Del Torto M, Chiarelli F, Altobelli E.
Population-based study of incidence and clinical characteristics of rheumatic
fever in Abruzzo, Central Italy, 2000-2009. J Pediatr. 2011 Nov 19. [Epub
ahead of print].
36. Gerber MA, Baltimore RS, Eaton CB, Gewitz M, Rowley AH, Shulman ST,
et al. American Academy of Pediatrics. Prevention of rheumatic fever and
diagnosis and treatment of acute Streptococcal pharyngitis: a scientific
statement from the American Heart Association Rheumatic Fever,
Endocarditis, and Kawasaki Disease Committee of the Council on
Cardiovascular Disease in the Young, the Interdisciplinary Council on
Functional Genomics and Translational Biology, and the Interdisciplinary
Council on Quality of Care and Outcomes Research: endorsed by the
American Academy of Pediatrics. Circulation. 2009;119(11):1541-51.
37. Herdy GV. Desafio da profilaxia secundária na febre reumática. Arq Bras
Cardiol. 1996;67(5):317.
38. Soudarssanane MB, Karthigeyan M, Mahalakshmy T, Sahai A, Srinivasan S,
Subba Rao KS, et al. Rheumatic fever and rheumatic heart disease: primary
prevention is the cost effective option. Indian J Pediatr. 2007;74(6):567-70.
39. Nordet P, Lopez R, Dueñas A, Sarmiento L. Prevention and control of
rheumatic fever and rheumatic heart disease: the Cuban experience (1986–
1996–2002). Cardiovasc J Afr. 2008;19(3):135-40.
40. Torres RP. Febre reumática. Epidemiologia e prevenção. Arq Bras Cardiol.
1994;63(5):439-40.
41. Gracie ESL, Sbaffi F. Epidemiologia da febre reumática e o programa de
erradicação e profilaxia da febre reumática no estado do Rio de Janeiro. Rev
SOCERJ. 1996;9(1):11-4.
42. Snitcowsky R. Rheumatic fever prevention in industrializing countries:
problems and approaches. Pediatrics. 1996;97(6 Pt 2):996-8.
43. Mota CCC, Meira ZMA. A prevenção da febre reumática. Rev Med Minas
Gerais. 2002;12(3 supl.1):S3-S8.
44. Müller RE, Kuschnir MCC, Tura BR, Xavier RMA, Schilke ALT,
Nascimento FF, et al. A new strategy for rheumatic fever prevention through
health education - PREFERE Program, Rio de Janeiro, Brazil. Proceedings of
the World Congress of Cardiology; 2008 18-21 May 2008; Buenos Aires,
Argentine. Circulation. 2008;118(18 Suppl 2):P1141.
45. McDonald M, Brown A, Noonan S, Carapetis JR. Preventing recurrent
rheumatic fever: the role of register based programmes. Heart.
2005;91(9):1131-3.
46. Guilherme L, Alba MP, Ferreira FM, Oshiro SE, Higa F, Patarroyo ME, 1
Anti-Group A streptococcal vaccine epitope. structure, stability, and its
ability to interact with HLA class II molecules. J Biol Chem.
2011;286(9):6989-98.
INSUFICIÊNCIA MITRAL
CASO CLÍNICO
Dados básicos: paciente masculino, 38 anos, peso 70kg, altura 1,70cm
Doença principal: febre reumática
Comorbidades: amigdalites de repetição, arritmia cardíaca
Fatores de risco cardiovascular: pai hipertenso. Avô paterno coronariopata.
Quadro clínico:
Paciente vem apresentando, nos últimos seis meses, queixas de cansaço aos esforços
anteriormente tolerados como: subir escadas e caminhar mais rápido e ainda episódios
de palpitação relacionados aos esforços maiores.
Exame físico:
Bom estado geral, eupneico e normocorado.
Aparelho cardiovascular: íctus visível e palpável no 6o EIE, para fora da linha
hemiclavicular anterior. Foi palpado também um frêmito sistólico no foco mitral e B3
na ponta. O ritmo cardíaco era regular com FC =92bpm. A B1 estava hipofonética, o
componente pulmonar da segunda bulha se apresentava hiperfonético e havia a presença
da B3. Foi detectado um sopro holossistólico +++ /4+. Os pulsos eram normais e a PA=
120x80mmHg. O restante do exame físico era normal.
Exames complementares:
O ECG mostra ritmo sinusal, com extrassístoles supraventriculares ocasionais, sinais
de sobrecarga atrial e ventricular esquerdas.
OBJETIVOS
1. Analisar as ferramentas para o diagnóstico clínico da insuficiência mitral.
2. Descrever os aspectos da fisiopatologia da insuficiência mitral.
3. Discutir os aspectos dos principais exames complementares para elucidação
diagnóstica e quantificação da lesão.
4. Discutir as medidas para o tratamento clínico e cirúrgico da insuficiência
mitral.
PERGUNTAS
1. Quais as principais causas da insuficiência mitral?
A insuficiência mitral (IM) é a lesão valvar cardíaca mais prevalente1-3. Nos países em
desenvolvimento, a principal causa dessa alteração é a febre reumática, que provoca
fibrose, rigidez e retração de um ou ambos os folhetos, além da fusão das cordoalhas
tendinosas e músculos papilares, resultando na falha de coaptação dos folhetos durante
a sístole. Nos países desenvolvidos, onde a febre reumática foi praticamente
erradicada, a causa mais comum de IM é o prolapso da valva mitral, seguido das
degenerações com calcificação anular, da endocardite infecciosa, das cardiomiopatias
e das dilatações do anel nas cardiopatias isquêmicas3-5.
2. Como explicar os sintomas da IM?
Com a evolução da doença, a IM grave, se não tratada, provoca em fase mais avançada,
hipertensão pulmonar, dilatação e disfunção do ventrículo direito. Nessa fase, os sinais
e sintomas de insuficiência cardíaca descompensada - edema de membros inferiores,
hepatomegalia dolorosa e turgência jugular - estarão presentes3-5.
Na impossibilidade do reparo, por razões anatômicas, a troca valvar pode ser feita com
próteses biológicas ou metálicas. Não há diferenças de morbimortalidade entre as duas,
porém, as próteses biológicas têm o benefício de não necessitar de anticoagulação de
longo prazo. No entanto, as biopróteses apresentam um risco maior de degeneração e
disfunção, principalmente nos pacientes mais jovens (marcadamente nas crianças e
adolescentes), necessitando de reoperação em 10-15 anos. Já as próteses metálicas têm
maior durabilidade, porém requerem anticoagulação por toda a vida, com maior risco
de complicações hemorrágicas ou trombóticas. Em ambas as próteses, a incidência de
disfunção ventricular progressiva no pós-operatório é maior que nos reparos da valva
e, além disso, a presença de próteses cardíacas representa situação de alto risco para
endocardite infecciosa17-21.
6. Como deve ser feita a profilaxia secundária para febre reumática?
No caso apresentado, a profilaxia foi suspensa aos 21 anos; no entanto, como aos 38
anos o paciente já apresentava sinais clínicos e laboratoriais de IM grave, com
indicação cirúrgica, é provável que aos 21 anos, a lesão fosse leve a moderada ou
moderada e a profilaxia deveria ter sido mantida.
Referências
1. Nkomo VT, Gardin JM, Skelton TN, Gottdiener JS, Scott CG, Enriques-
Sarano M. Burden of valvular heart diseases: a population-based study.
Lancet. 2006;368(9540):1005-11.
2. Otto CM. Clinical practice. Evaluation and management of chronic mitral
regurgitation. N Engl J Med. 2001;345(10):740-6.
3. American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines; Society of Cardiovascular Anesthesiologists; Society for
Cardiovascular Angiography and Interventions; Society of Thoracic
Surgeons, Bonow RO Carabello BA, Kanu C, de Leon AC Jr, Faxon DP,
Freed MD, et al. ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients
with valvular heart disease: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
(Writing Committee to revise the 1998 Guidelines for the Management of
Patients with Valvular Heart Disease): developed in collaboration with the
Society of Cardiovascular Anesthesiologists: endorsed by the Society for
Cardiovascular Angiography and Interventions and the Society of Thoracic
Surgeons. Circulation. 2006;114(5):e84-231. Erratum in: Circulation.
2007;115(15):e409.
4. Carabello BA. Progress in mitral and aortic regurgitation. Prog Cardiovasc
Dis. 2001;4396):457-75.
5. Meira ZM, Goulart EM, Colosimo EA, Mota CC. Long term follow up of
rheumatic fever and predictors of severe rheumatic valvar disease in
Brazilian children and adolescents. Heart. 2005;91(8):1019-22.
6. Desjardins VA, Enriquez-Sarano M, Tajik AJ, Bailey KR, Seward JB.
Intensity of murmurs correlates with severity of valvular regurgitation. Am J
Med. 1996;100(2):149-56.
7. Perloff JK. Physical Examination of the Heart and Circulation. 4th ed. New
York: People’s Medical Publishing House (PMPH-USA); 2009.
8. Quiñones MA, Otto CM, Stoddard M, Waggoner A, Zoghbi WA; Doppler
Quantification Task Force of the Nomenclature and Standards Committee of
the American Society of Echocardiography. Recommendations for
quantification of Doppler echocardiography: a report from the Doppler
Quantification Task Force of the Nomenclature and Standards Committee of
the American Society of Echocardiography. J Am Soc Echocardiogr.
2022;15(2):167-84.
9. Zoghbi WA, Enriquez-Sarano M, Foster M, Grayburn PA, Kraft CD, Levine
RA, et al; American Society of Echocardiography. Recommendations for
evaluation of the severity of native valvular regurgitation with two-
dimensional and Doppler echocardiography. J Am Soc Echocardiog.
2003;16(7):777-802.
10. Enriquez-Sarano M, Miller FA Jr, Hayes SN, Bailey KR, Tajik AJ, Seward
JB. Effective mitral regurgitation orifice area: clinical use and pitfalls of the
proximal isovelocity surface area method. J Am Coll Cardiol.
1995;25(3):703-9.
11. Hall S, Brickner ME, Willet DL, Irani WN, Afridi I, Grayburn PA.
Assessment of mitral regurgitation severity by Doppler color flow mapping
of the vena contracta. Circulation. 1997;95(3):636-42.
12. Buchner S, Debl K, Poschenrieder F, Feuerbach S, Riegger GA, Luchner A,
et al. Cardiovascular magnetic resonance for direct assessment of anatomic
regurgitant orifice in mitral regurgitation. Circ Cardiovasc Imaging.
2008;1(2)148-55.
13. Westenberg JJ, Doornbos J, Versteegh MI, Bax JJ, van der Geest RJ, de Roos
A, et al. Accurate quantitation of regurgitant volume wit MRI in patients
selected for mitral valve repair. Eur J Cardiothorac Surg. 2005;27(3):462-6.
14. Iung B, Gohlke-Bärwolf C, Tornos P, Tribouilloy C, Hall R, Butchart E, et al;
Working Group on Valvular Heart Disease. Recommendations of the
management of the asymptomatic patients with valvular heart disease. Eur
Heart J. 2002;23(16):1253-66.
15. Swedberg K, Cleland J, Dargie H, Drexler H, Follath F, Komajda M, et al;
Task Force for the Diagnosis and Treatment of Chronic Heart Failure of the
European Society of Cardiology. Guidelines for the diagnosis and treatment
of chronic heart failure: executive summary (update 2005): The Task Force
for the Diagnosis and Treatment of Chronic Heart Failure of the European
Society of Cardiology. Eur Heart J. 2005;26(11):1115-40.
16. Varadarajan P, Joshi N, Appel D, Duvvuri L, Pai RG. Effect of Beta-blocker
therapy on survival in patients with severe mitral regurgitation and normal
left ventricular ejection fraction. Am J Cardiol. 2008;102(5):611-5.
17. Skoularigis J, Sinovich V, Joubert G, Sareli P. Evaluation of the long-term
results of mitral valve repair in 254 young patients with rheumatic mitral
regurgitation. Circulation. 1994;90(5 Pt 2):II167-74.
18. Moss RR, Humphries KH, Gao M, Thompson CR, Abel JG, Fradet G, et al.
Outcome of mitral valve repair or replacement: a comparison by propensity
score analysis. Circulation. 2003;108(suppl 1)II90-7.
19. Enriquez-Sarano M, Sundt TM 3rd. Early surgery is recommended for mitral
regurgitation. Circulation. 2010;121(6):804-11.
20. Grigioni F, Avierinos JF, Ling LH, Scott CG, Bailey KR, Tajik AJ, et al.
Atrial fibrillation complicating the course of degenerative mitral regurgitation
determinants and long-term outcome. J Am Coll Cardiol. 2002;40(1):84-92.
21. Gammie JS, Sheng S, Griffith BP, Peterson ED, Rankin JS, O’Brien SM, et al.
Trends in mitral valve surgery in the United States: results from the Society of
Thoracic Surgeons Adult Cardiac Surgery Database. Ann Thorac Surg.
2009;87(5):1431-7.
22. WHO Expert Consultation on Rheumatic Fever (RF) and Rheumatic Heart
Disease (RHD). Rheumatic fever and rheumatic heart disease: report of a
WHO Expert Consultation, Geneva, 29 October – 1 November 2001. World
Health Organization: Geneva; 2004. WHO Technical Report Series; 923.
PROLAPSO VALVAR MITRAL
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 61 anos, divorciada, cabeleireira, natural do Espírito Santo,
residente em Magé, RJ.
Doença principal: prolapso de válvula mitral
Comorbidades: hipertensão arterial sistêmica (HAS), infarto agudo do miocárdio
(IAM) em 1995, tuberculose pulmonar 2007 tratada, depressão. Etilista social.
Fatores de risco cardiovascular: hipertensão arterial, etilismo, dislipidemia
Queixa principal: dor torácica e palpitação
Quadro clínico:
Paciente relata início, há um ano, de dispneia aos esforços moderados e dor torácica,
que melhorava com o repouso e em decúbito dorsal, além de palpitação que iniciava e
cessava espontaneamente. Relata ainda episódio de tonteira, algumas vezes com perda
da consciência (síncope).
Exame físico:
PA =120x80mmHg; MSD =130x80mmHg; MSE =135x82mmHg; IMC =25kg/m2;
eupneica, hipocorada, anictérica, boa perfusão periférica, extremidades quentes em
regular estado geral.
Exames complementares:
Radiologia do tórax: área cardíaca normal, retificação do arco médio, átrio esquerdo
(AE) aumentado, sugere aumento do VD, circulação pulmonar normal (Figuras 1 e 2).
ECG: ritmo regular sinusal, 75bpm, bloqueio de ramo esquerdo 1º grau, sobrecarga
atrial esquerda (Figura 3).
Fonocardiograma (fono): B1 normofonética, sopro telessistólico, B2 normofonética,
pulso carotídeo com forma e amplitude normais (Figuras 4 e 5).
Figuras 1 e 2
Radiografia de tórax em PA e perfil da paciente relatada.
Figura 3
ECG da paciente relatada
Figura 4
Fono e ECG da paciente relatada.
Figura 5
Pulso carotídeo e ECG da paciente relatada.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Qual o provável diagnóstico do caso clínico?
As queixas mais comuns relacionadas ao PVM são: dor torácica atípica, palpitações
secundárias a arritmias, fadiga, intolerância aos exercícios e transtornos psiquiátricos
como: ansiedade, síndrome do pânico, sudorese, palidez e hipotensão postural6-8.
O clique audível no PVM se deve à tensão produzida pelo alongamento das cordas
tendíneas, da cúspide ou cúspides da válvula mitral durante o prolapso em direção ao
átrio esquerdo e o sopro pela abertura valvular, permitindo turbilhonamento do sangue
oriundo do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo nesta fase sistólica9.
Ao ecocardiograma:
Os pacientes devem ter acompanhamento clínico regular. Alguns pacientes devem ter
observação mais rigorosa, no caso daqueles que apresentam1,2,6-8:
É importante salientar que aqueles que evoluem com regurgitação mitral severa,
arritmias ventriculares complexas, prolongamento do intervalo QT no ECG e história
de síncope, apresentam potencial para morte súbita cardíaca12.
De uma forma geral, condutas clínicas como indicar exercícios aeróbicos, cortar
cafeína e álcool, controle de estresse, melhoram muito os sintomas.
Trata-se de uma paciente muito sintomática, porém com poucas alterações nos exames
complementares. No ECG não há distúrbio no ritmo cardíaco e/ou aumento de
cavidades (cabe ressaltar que a paciente, por apresentar palpitação, deveria ser
submetida a exame de Holter 24h). O ecocardiograma evidencia sinais de degeneração
mixomatosa mitral, mas não demonstra sobrecarga de cavidades.
Referências
1. Braunwald E. Mitral valve prolapse. In: Libby P, Bonow RO, Zipes DP,
Mann DL, eds. Braunwald’s Heart Disease: a textbook of cardiovascular
medicine. 4th ed. Philadelphia: W.B.Saunders; 1992. p.1107-10.
2. ACC/AHA Guidelines for the Management of Patients with Valvular Heart
Disease. A report of the American College of Cardiology/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines (Committee on Management
of Patients with Valvular Heart Disease). J Am Coll Cardiol.
1998;32(5):1486-588.
3. Hurst JW, Anderson RH, Becker AE, Wilcox BR, eds. Atlas of the heart.
New York: Gower; 1988.
4. Boudoulas H, Kolibash AJ Jr, Baker P, King BD, Wooley CF. Mitral valve
prolapse and the mitral valve prolapse syndrome: a diagnostic classification
and pathogenesis of symptoms. Am Heart J. 1989;118(4):796-818.
5. Flack JM, Kvasnicka JH, Gardin JM, Gidding SS, Manolio TA, Jacobs DR
Jr. Anthropometric and physiologic correlates of mitral valve prolapse in a
biethnic cohort of young adults: the CARDIA study. Am Heart J. 1999;138(3
Pt 1):486-92.
6. Perloff JK, Child JS, Edwards JE. New guidelines for the clinical diagnosis
of mitral valve prolapse. Am J Cardiol. 1986;57(13):1124-9.
7. Playford D, Weyman AE. Mitral valve prolapse: time for a fresh look. Rev
Cardiovasc Med. 2001;2(2):73-81.
8. O’Rourke RA. Syndrome of mitral valve prolapse. In: Alpert JS, Dalen JE,
Rahimtoola SH, eds. Valvular Heart Disease. 3rd ed. Philadelphia:
Lippincott Williams & Wilkins; 2000. p.157-82.
9. Hadlich R. Curso básico de semiologia cardiovascular 2011. Universidade
Corporativa SBC [online]. Disponível em:
<http://www.cardiol.br/universidade>
10. Nishimura RA, McGoon MD, Shub C, Miller FA Jr, IIstrup DM, Tajik AJ.
Echocardiographically documented mitral valve prolapse. Long-term follow-
up of 237 patients. N Engl J Med. 1985;313(21):1305-9.
11. Blaya C, Manfro GG. Transtorno do pânico: diagnóstico e tratamento. Rev
Bras Psiquiatr. 2006;28(1):86-7.
12. Boudoulas H, Wooley CF. Floppy mitral valve/Mitral valve prolapse: sudden
death. In: Boudoulas H, Wooley CF, eds. Mitral Valve: floppy mitral valve,
mitral valve prolapse, mitral valvular regurgitation. 2nd ed. Armonk, NY:
Futura; 2000. p.431-48.
13. Devereux RB. Recent developments in the diagnosis and management of
mitral valve prolapse. Curr Opin Cardiol. 1995;10(2):107-16.
14. Mylonakis E, Calderwood SB. Infective endorcaditis in adults. N Engl J
Med. 2001;345(18):1318-30.
15. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de Valvopatias -
SBC 2011. I Diretriz Interamericana de Valvopatias - SIAC 2011. Arq Bras
Cardiol. 2011;97(5 Supl 1):1-67.
ESTENOSE MITRAL
CASO CLÍNICO
OBJETIVOS
1. Reconhecer a alta especificidade da anamnese e exame clínico no
diagnóstico da doença valvular.
2. Analisar os exames complementares disponíveis que confirmam o
diagnóstico e determinam a estratégia terapêutica.
3. Discutir as estratégias terapêuticas e sua intervenção no curso da doença.
4. Analisar as medidas de prevenção primária e secundária da estenose mitral.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso apresentado?
Dispneia e cansaço aos esforços são sintomas comuns em pacientes com estenose mitral
(EM) além de hemoptise, tromboembolismo e insuficiência ventricular direita.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com mixoma atrial esquerdo, EM congênita,
doenças infiltrativas (mucopolissacaridoses), endocardite infecciosa, LES, artrite
reumatoide e síndrome carcinoide2,3.
2. Como confirmar o diagnóstico de EM?
A área valvular mitral em adultos normais varia de 4,0cm2 / 6,0cm2. Quando ocorre
redução dessa área para 1,0cm2, caracteriza-se uma grave obstrução na válvula mitral,
resultando em aumento do gradiente diastólico AE/VE. Esse processo é secundário à
fusão comissural, ao espessamento e encurtamento das cordoalhas, fibrose e
espessamento dos folhetos. As consequências desse processo incluem aumento da
pressão atrial esquerda e na vasculatura pulmonar, levando à congestão passiva, edema
intersticial e progressivo aparecimento dos sintomas4,5 (Figura 8).
Figura 8
Fisiopatologia da estenose mitral
As contraindicações para VMPB são IM moderada à grave, trombo em AE, escore >8,
outras lesões valvares com indicações cirúrgicas e coronariopatia associada com
indicação de revascularização. A melhor modalidade de intervenção baseia-se na
classe funcional, risco cirúrgico, anatomia valvular e experiência da equipe cirúrgica.
A intervenção cirúrgica ou percutânea para tratamento da EM grave prolonga a vida,
evita complicações (FA e eventos tromboembólicos) e melhora a qualidade de vida.
Os pacientes submetidos à VMPB têm sobrevida de 80% a 90% em três a cinco anos de
acordo com vários estudos e livres de eventos (nova VMPB e troca valvar) de 60% a
85%. Os melhores resultados são naqueles pacientes com menor escore
ecocardiográfico (≤8), pacientes jovens, menor grau de HAP, ritmo sinusal e melhor
classe funcional antes do procedimento6-10.
A comissurotomia mitral cirúrgica traz sobrevida média em 15 anos de quase 96%, com
sobrevida livre de complicações valvares em torno de 92%. A troca valvar mitral
também prolonga a vida e diminui a morbidade.
Vários fatores são considerados para definir a duração da profilaxia da FReu: idade do
paciente, intervalo do último surto, presença de cardite no surto inicial, número de
recidivas, condição social e gravidade da cardiopatia reumática residual (Quadro 4).
Quadro 2
Recomendações para profilaxia primária da FR11
Quadro 3
Recomendações para profilaxia secundária da FR11
Quadro 4
Recomendações para a duração da profilaxia secundária da FR11
O maior desafio para controle efetivo da FReu é o desenvolvimento de uma vacina
contra o estreptococo beta-hemolítico. Atualmente há cerca de 12 modelos de vacinas,
a maioria em fase pré-clínica.
A maioria dos eventos embólicos ocorreu em pacientes com FA, mas alguns pacientes
estavam em ritmo sinusal e tinham trombo no AE e metade desses êmbolos foi
encontrada nos vasos cerebrais.
A HAP é outra complicação que piora o prognóstico dos pacientes com estenose mitral.
Referências
CASO CLÍNICO
Dados básicos: masculino, 54 anos, branco, casado, natural do Rio de Janeiro.
Doença principal: insuficiência aórtica.
Comorbidades: hipertensão arterial.
Fatores de risco cardiovascular: tabagismo, dislipidemia familiar.
OBJETIVOS
1. Discutir os critérios para o diagnóstico de insuficiência aórtica.
2. Descrever a história natural e os critérios para indicação cirúrgica de acordo
com as diretrizes atuais de insuficiência aórtica.
3. Discutir o prognóstico de insuficiência aórtica.
PERGUNTAS
1. Quais as causas possíveis de insuficiência aórtica?
A insuficiência aórtica pode ser causada por acometimento dos folhetos valvar, doenças
da aorta proximal ou ambos associados.
O diagnóstico de insuficiência aórtica crônica severa pode ser feito com base em sopro
diastólico no ápex ventricular esquerdo desviado lateral e inferiormente, e impulsivo,
pressão de pulso alargada e nos achados periféricos de um pulso amplo.
A maior parte dos pacientes se mantém assintomática durante esse período, que pode
durar décadas. Porém, à medida que a sobrecarga aumenta, existe um esgotamento da
capacidade replicativa e com isso dilatação ventricular progressiva e aumento da
pressão ventricular esquerda. À medida que o ventrículo dilata, passa a apresentar uma
geometria mais esférica e, com isso, alterações na contratilidade e consequente queda
da fração de ejeção.
Não são encontrados estudos que tenham feito acompanhamento em longo prazo desses
pacientes. A maioria dos estudos representa série de casos e muitos comparam séries
de diferentes padrões. A melhor informação sobre a história natural provém da análise
de nove estudos publicados, envolvendo 593 pacientes com IA4.
Os pacientes assintomáticos com função ventricular normal têm uma taxa de progressão
para sintomas ou disfunção ventricular esquerda <6% ao ano. A progressão para
disfunção do VE (queda da fração de ejeção) assintomática é <3,5% ao ano e o risco de
morte súbita <0,2% ao ano. Os pacientes assintomáticos com disfunção ventricular
esquerda têm uma taxa de progressão para sintomas >25% ao ano. Os sintomáticos têm
uma taxa de mortalidade >10% ao ano5.
Análise multivariada de Bonow et al.6, com seguimento de oito anos, mostrou que um
dos parâmetros mais importantes para o seguimento a longo prazo é o diâmetro
sistólico final do VE determinado pelo ecocardiograma. Quando esse é <40mm a taxa
de progressão para disfunção é de 0% ao ano; entre 40mm e 50mm é de 6%; e >50mm é
de 19% ao ano6.
Os pacientes devem ser instruídos a manter boa higiene oral e exame periódico na
odontologia. De acordo com as diretrizes de prevenção de endocardite da AHA7 de
2007, a profilaxia não está recomendada na doença de valvas nativas, salvo em casos
de história prévia de endocardite7.
6. Baseado nas diretrizes atuais, quais são os critérios para indicar a troca valvar
aórtica?
Nos casos de síndrome de Marfan e valva aórtica bicúspide a abordagem deverá ser
mais agressiva, sendo indicada a correção com diâmetros >45mm e 50mm,
respectivamente. Na maioria das outras etiologias, um diâmetro >55mm já indica a
correção.
As diretrizes são uteis para direcionar os pacientes para o melhor tipo de tratamento
mas devemos sempre individualizar as indicações principalmente no que se relaciona a
indivíduos idosos ou do sexo feminino.
Figura 1
Fluxograma de decisão na insuficiência aórtica crônica
Referências
1. Roberts WC, Ko JM, Moore TR, Jones WH 3rd. Causes of pure aortic
regurgitation in patients having isolated aortic valve replacement in a single
US tertiary hospital (1993 to 2005). Circulation. 2006;114(5):422-9.
2. Grossman W, Jones D, McLaurin LP. Wall stress and patterns of hypertrophy
in the human left ventricle. J Clin Invest. 1975;56(1):56-64.
3. Carabello BA. Aortic regurgitation. A lesion with similarities to both aortic
stenosis and mitral regurgitation. Circulation. 1990;82(3):1051-3.
4. American College of Cardiology; American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines (Writing Committee to revise the 1998 guidelines for the
management of patients with valvular heart disease); Society of
Cardiovascular Anesthesiologists, Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K,
de Leon AC Jr, Faxon DP, Freed MD, et al. ACC/AHA 2006 guidelines for
the management of patients with valvular heart disease: a report of American
College of Cardiology/ American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines (Writing Committee to revise the 1998 guidelines for the
management of patients with valvular heart disease) developed in
collaboration with the Society of Cardiovascular Anesthesiologists endorsed
by the Society for Cardiovascular Angiography and Interventions and the
Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2006;48(3):e1-148.
5. Bonow RO, Picone AL, McIntosh CL, Jones M, Rosing DR, Maron BJ, et al.
Survival and functional results after valve replacement for aortic
regurgitation from 1976 to 1983: impact of preoperative left ventricular
function. Circulation. 1985;72(6):1244-56.
6. Bonow RO, Lakatos E, Maron BJ, Epstein SE. Serial long-term assessment of
the natural history of asymptomatic patients with chronic aortic regurgitation
and normal left ventricular systolic function. Circulation. 1991;84(4):1625-
35.
7. Wilson W, Taubert KA, Gewitz M, Lockhart PB, Baddour LM, Levison M, et
al; American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and
Kawasaki Disease Committee; American Heart Association Council on
Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Council
on Clinical Cardiology; American Heart Association Council on
Cardiovascular Surgery and Anesthesia; Quality of Care and Outcomes
Research Interdisciplinary Working Group. Prevention of infective
endocardits: guidelines from the American Heart Association Rheumatic
Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease Committee, Council on
Cardiovascular Disease in the Young, and the Council on Clinical
Cardiology, Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia and the
Quality of Care and Outcomes Research Interdisciplinary Working Group.
Circulation. 2007;116(15):1736-54.
8. Pomerantzeff PM, Barbosa GV, de Sousa Filho BS, Brandão CM, Ribeiro EJ,
Costa FD, et al. Diretrizes de Cirurgia nas Valvopatias. Arq Bras Cardiol.
2004;82(supl. 5):22-33.
9. Kumpuris AG, Quinones MA, Waggoner AD, Kanon DJ, Nelson JG, Miller
RR. Importance of preoperative hypertrophy, wall stress and end-systolic
dimension as echocardiographic predictors of normalization of left
ventricular dilatation after valve replacement in chronic aortic insufficiency.
Am J Cardiol.
ESTENOSE AÓRTICA
CASO CLÍNICO
Dados básicos: paciente feminina, 70 anos, branca, casada, natural do RJ.
Doença principal: estenose aórtica.
Comorbidades: não relata.
Fatores de risco cardiovascular: dislipidemia familiar.
Quadro clínico:
História de dispneia aos pequenos esforços iniciada há um ano, com evolução
progressiva, sendo que nos últimos dois meses progrediu para dispneia em repouso e
paroxística noturna. Refere também precordialgia aos pequenos esforços.
Exame físico:
Paciente com dispneia aos pequenos esforços durante o exame. FC =101bpm; PA
=106/62mmHg; Peso =54kg; Altura =1,53m. Saturacão de O2 de 92%.
Pulso carotídeo de amplitude diminuída.
RCR em 3 tempos com presença de B4, sopro sistólico em FA com irradiação para a
região cervical, 2+/6+, pico tardio, A2 diminuída e discreto sopro (1+/6+),
holosistólico, em região de foco mitral.O sopro sistólico aórtico diminuía com manobra
isométrica.
Exames complementares:
ECG: Ritmo sinusal. Sobrecarga do AE. BRE III grau.
OBJETIVOS
1. Descrever o quadro de estenose aórtica com sua miríade de apresentações e
conduta em caso específico.
2. Discutir o diagnóstico diferencial e conduta apropriada em cada subgrupo.
3. Propor medidas terapêuticas e analisar novas perspectivas de tratamento.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa dos sintomas?
Outras causas menos comuns são estenose aórtica causada por doença aterosclerótica
da aorta e da valva. Esta forma é mais frequente em pacientes com hipercolesterolemia
importante, e é observada em crianças com hiperlipoproteinemia homozigótica tipo II.
Envolvimento da artrite reumática da valva é raro e resulta em espessamento nodular da
valva e porção proximal da aorta. Ocronose e alcaptonuria são outras causas raras de
EA assim como irradiação torácica prévia e doença de Paget.
A frequência relativa das causas de EA isolada varia de acordo com a região. A doença
valvar reumática é ainda muito comum no mundo, porém, quase invariavelmente,
acompanhada de envolvimento da valva mitral. Nos Estados Unidos e na Europa, a
doença valvar aórtica é quase em sua totalidade devida à doença calcificada tricúspide
ou bicúspide congênita. Nos EUA, em uma série de 933 pacientes submetidos à troca
valvar aórtica para EA, a valva aórtica bicúspide estava presente em mais de 50%,
incluindo 2/3 em <70 anos e 40% naqueles >70 anos1,2.
Os pacientes com EA importante com baixo gradiente valvar e baixo débito cardíaco
(disfunção do VE) frequentemente criam um dilema diagnóstico para o clínico, porque
sua apresentação clínica e achados hemodinâmicos podem ser indistinguíveis daqueles
pacientes portadores de cardiomiopatia dilatada e valva calcificada sem estenose
significativa, porém com abertura reduzida devido ao baixo débito cardíaco5,6.
Quadro 1
Critérios para caracterização da gravidade da estenose aórtica
VM=velocidade máxima; VA=válvula aórtica; EA=estenose aórtica
Estenose aórtica de baixo gradiente e baixo fluxo é definida como uma área valvar
<1cm2, uma fração de ejecão <40% e um gradiente médio <30mmHg. Portanto, a EA de
baixo gradiente é vista em pacientes com baixo fluxo através da valva aórtica em
pacientes com disfunção importante do VE e com reduzida fração de ejeção.
Pode-se usar a resistência valvar aórtica como parâmetro de gravidade no contexto dos
pacientes de baixo fluxo/baixo gradiente porque é menos dependente do fluxo em
relação ao calculado pela área valvar. Uma resistência valvar acima de
250dynes.s/cm5 é indicativo de estenose aórtica importante, enquanto uma resistência
valvar abaixo de 200dynes.s/cm5, provavelmente não.
Outro dado importante no estudo da DBT é a reserva contrátil do VE, sendo satisfatório
um acréscimo do volume sistólico >20% com DBT. A falta de reserva inotrópica do VE
com DBT acarreta uma mortalidade peroperatória pior em comparação com aqueles
com boa reserva inotrópica. Porém, mesmo com uma baixa reserva inotrópica, a
cirurgia de troca valvar ainda é a melhor opção de tratamento.
Outro exame que pode ser usado é o peptídeo natriurético cerebral (BNP) na tentativa
de separar os pacientes com EA verdadeira daqueles com pseudoestenose. Foram
avaliados 69 pacientes com gradiente médio baixo (≤40mmHg) e baixo fluxo (área
valvar aórtica –AVA - ≤0,6cm2/m2). Após classificação pelo ecocardiograma com DBT,
aqueles com EA verdadeira tinham BNP maior em relação àqueles com pseudoestenose
(média de 743x471pg/ml). Entretanto outros estudos são necessários para validação
desse método para o diagnóstico diferencial8.
Durante o estado de baixo fluxo, a valva aórtica pode não abrir em toda a sua extensão
devido ao baixo débito. Portanto um paciente com área valvar calculada de 0,7cm2 num
contexto de baixo débito cardíaco e baixo fluxo transvalvar poderia ter uma estenose
aórtica com uma doença somente moderada e não grave, pois a valva não teria uma
abertura maior devido à cardiomiopatia subjacente. Tal paciente, portanto, não se
beneficiaria de uma troca valvar. Por outro lado, é evidente que alguns pacientes teriam
uma disfunção do VE secundária a uma estenose aórtica anatomicamente importante.
Esses pacientes apresentam, frequentemente, uma hipertrofia do VE inadequada que faz
com que o estresse de parede aumente dramaticamente de tal modo que a função do VE
deteriore. O alívio da pós-carga com a troca valvar melhora a função do VE e resulta
em bom resultado clínico.
Outro fator prognóstico é a reserva contrátil: entre aqueles que se submeteram à troca
valvar aórtica, os que tinham reserva contrátil apresentavam menor mortalidade
peroperatória (21% vs. 79%). Por outro lado, em relato de 66 pacientes, a melhora da
FE do VE e da classe funcional foram similares com ou sem reserva contrátil15.
O teste de esforço pode ser indicado em casos de dúvida, porém sempre em ambiente
hospitalar. Não deve ser realizado em pacientes sintomáticos.
Recentemente, uma nova entidade descrevendo pacientes com EAo importante e baixo
gradiente na presença de fração de ejeção normal tem sido relatada. Esses pacientes
talvez possam representar um subgrupo de EAo importante em estágio avançado com
volume de ejeção reduzido em razão da função ventricular comprometida apesar da FE
preservada. Esses pacientes teriam pior prognóstico, especialmente se a cirurgia não
for indicada. Entretanto, segundo a Diretriz de Valvopatias-SBC 2011e a I Diretriz
Interamericana de Valvopatias – SIAC 2011 essa conduta ainda não está bem
estabelecida16.
Referências
1. Roberts WC, Ko JM. Frequency by decades of unicuspid, bicuspid, and
tricuspid aortic valves in adults having isolated aortic valve replacement for
aortic stenosis, with or without associated aortic regurgitation. Circulation.
2005;111(7):920-5.
2. Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon AC Jr, Faxon DP, Freed
MD, et al; 2006 Writing Committee Members; American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force. 2008 Focused update
incorporated into the ACC/AHA 2006 Guidelines for the Management of
Patients with Valvular Heart Disease: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
(Writing Committee to revise the 1998 Guidelines for the Management of
Patients with Valvular Heart Disease): endorsed by the Society of
Cardiovascular Anesthesiologists, Society for Cardiovascular Angiography
and Interventions, and Society of Thoracic Surgeons. Circulation.
2008;118(15):e523-661.
3. Carabello BA, Green LH, Grossman W, Cohn LH, Koster JK, Collins JJ Jr.
Hemodynamic determinants of prognosis of aortic valve replacement in
critical aortic stenosis and advanced congestive heart failure. Circulation.
1980;62(1):42-8.
4. Smith N, McAnulty JH, Rahimtoola SH. Severe aortic stenosis with impaired
left ventricular function and clinical heart failure: results of valve
replacement. Circulation. 1978;58(2):255-64.
5. Rosenhek R. Aortic stenosis. Evaluation of disease severity, disease
progression, and the role of echocardiography in clinical decision making. In
Otto CM, ed. The Practice of Clinical Echocardiography. 3rd ed.
Philadelphia: Saunders/Elsevier; 2007:516-51.
6. Chambers J. Low “gradient”, low flow aortic stenosis. Heart.
2006;92(4):554-8.
7. Blais C, Burwash IG, Mundigler G, Dumesnil JG, Loho N, Rader F, et al.
Projected valve area at normal flow rate improves assessment of stenosis
severity in patients with low-flow, low-gradient aortic stenosis: the
multicenter TOPAS (Truly or Pseudo-Severe Aortic Stenosis) study.
Circulation. 2006:113(5):711-21.
8. Bergler-Klein J, Mundigler G, Pibarot P, Burwash IG, Dumesnil JG, Blais C,
et al. B-type natriuretic peptide in low-flow, low-gradient aortic stenosis:
relationship to hemodynamics and clinical outcome: results from the
Multicenter Truly or Pseudo-Severe Aortic Stenosis (TOPAS) study.
Circulation. 2007;115(22):2848-55.
9. Hermann S, Störk S, Niemann M, Lange V, Strotmann JM, Frantz S, et al.
Low-gradient aortic valve stenosis myocardial fibrosis and its influence on
function and outcome. J Am Coll Cardiol. 2011;58(4):402-12.
10. Tardif JC, Rodrigues AG, Hardy JF, Leclerc Y, Petitclerc R, Mongrain R, et
al. Simultaneous determination of aortic valve area by the Gorlin formula and
by transesophageal echocardiography under different transvalvular flow
conditions. Evidence that anatomic aortic valve area does not change with
variations in flow in aortic stenosis. J Am Coll Cardiol. 1997;29(6):1296-
302.
11. Vahanian A, Baumgartner H, Bax J, Butchart E, Dion R, Filippatos G, et al;
Task Force on the Management of Valvular Heart Disease of the European
Society of Cardiology; ESC Committee for Practice Guidelines. Guidelines
on the Management of Valvular Heart Disease. The Task Force on the
Management of Valvular Heart Disease of the European Society of
Cardiology. Eur Heart J. 2007;28(2):230-68.
12. Rosenhek R, Binder T, Porenta G, Lang I, Christ G, Schemper M, et al.
Predictors of outcome in severe, asymptomatic aortic stenosis. N Engl J Med.
2000;343(9):611-7.
13. Blitz LR, Gorman M, Hermann HC. Results of aortic valve replacement for
aortic stenosis with relatively low transvalvular pressure gradients. Am J
Cardiol. 1998;81(3):358-62.
14. Connolly HM, Oh JK, Schaff HV, Roger VL, Osborn SL, Hodge DO, et al.
Severe aortic stenosis with low transvavular gradient and severe left
ventricular dysfunction: result of aortic valve replacement in 52 patients.
Circulation. 2000;101(16):1940-6.
15. Quere JP, Monin JL, Levy F, Petit H, Baleynaud S, Chauvel C, et al.
Influence of preoperative left ventricular contractile reserve on postoperative
ejection fraction in low-gradient aortic stenosis. Circulation.
2006;113(14):1738-44.
16. Tarasoutchi F, Montera MW, Grinberg M, Barbosa MR, Piñeiro DJ, Sánchez
CRM, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de
Valvopatias – SBC 2011. I Diretriz Interamericana de Valvopatias – SIAC
2011. Arq Bras Cardiol. 2011;97(5 supl. 1):1-67.
DOENÇA MITROAÓRTICA
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 56 anos, branca, natural do Rio de Janeiro, com histórico de febre
reumática (FReu) e uso de penicilina benzatina até os 40 anos. Há 16 anos passou a
apresentar dispneia e cansaço progressivos. Há 10 anos submeteu-se a valvuloplastia
mitral percutânea. Evoluiu assintomática por três anos quando voltou a apresentar os
mesmos sintomas.
Eletrocardiograma (Figura 1): fibrilação atrial (FA), com critérios de voltagem para
hipertrofia ventricular esquerda (HVE).
Radiografia de tórax (Figura 2): acentuado aumento da área cardíaca, à custa do VE,
abaulamento do arco médio e sinal de duplo-contorno, configurando aumento de átrio
esquerdo. Presença de hipertensão venocapilar e arterial pulmonar.
Figura 1
Eletrocardiograma. Verifica-se a presença de fibrilação atrial com frequência cardíaca de 72bpm, eixo a 0º, e critérios
de voltagem para hipertrofia do VE com alterações secundárias da repolarização ventricular.
Figura 2
Radiografia de tórax em PA. Verifica-se ausência de alterações pleuropulmonares e aumento da área cardíaca com
presença do sinal do duplo-contorno, presença de quarto arco e abaulamento do arco médio (sinais de aumento do AE
e de HAP), e com uma borda cardíaca inferior esquerda proeminente denotando significativo aumento do VE.
OBJETIVOS
1. Discutir as principais dificuldades encontradas no manejo de pacientes com
lesões multivalvares.
2. Identificar os exames complementares que possam auxiliar no esclarecimento
da gravidade das lesões e necessidade de correção cirúrgica.
3. Discutir o prognóstico dos pacientes com doença multivalvar.
PERGUNTAS
1. Como caracterizar a doença mitroaórtica?
2. Com base nos dados clínicos relatados, quais são as prováveis causas dos
sintomas apresentados pela paciente?
A presença dos sinais periféricos da IAO é outro achado que confirma o predomínio da
IAO sobre a EM. A EM não é a lesão predominante, porém é hemodinamicamente
significativa. A paciente apresenta hiperfonese de P2, indicativo de hipertensão
pulmonar, sinais de insuficiência cardíaca direita e fibrilação atrial, achados
característicos da EM.
Quadro 1
Resultados ao ecocardiograma
Ao=aorta; AE=átrio esquerdo; SIV=septo interventricular; PP=parede posterior do VE; VED=ventrículo esquerdo na
diástole; VES=ventrículo esquerdo na sístole; FE=fração de ejeção; PHT=tempo de meia-pressão; PSAP=pressão
sistólica de artéria pulmonar
O gradiente transmitral e a área valvar calculados pelo eco são compatíveis com o
diagnóstico de EM leve. No entanto, o exame físico sugere comprometimento
significativo da valva mitral. Pacientes com lesão aórtica isolada não costumam
apresentar sinais de insuficiência cardíaca direita ou de hipertensão arterial pulmonar
grave. O grande aumento do átrio esquerdo e a presença de fibrilação atrial são
compatíveis com a presença de lesão mitral significativa. Como se observa, o
ecocardiograma não evidenciou lesão mitral significativa. É importante ressaltar que a
área valvar estimada pelo método do tempo de meia-pressão (PHT) costuma estar
superestimada na presença de IAO importante. Nesses casos, a medida da área valvar
feita pela planimetria é mais fidedigna4.
O teste ergométrico fica reservado para a avaliação da classe funcional e nos pacientes
com sintomas duvidosos3.
A combinação de troca valvar aórtica e mitral geralmente está associada a risco mais
elevado e sobrevida pior do que a troca de apenas uma das valvas7, sendo o risco
operatório cerca de 70% maior na dupla-troca. O banco de dados do comitê da
Sociedade Americana de Cirurgia Torácica8 demonstra uma taxa de mortalidade
operatória de 9,6% para troca valvar múltipla, comparada com 4,3% e 6,4% para a
troca valvar aórtica e mitral, respectivamente8.
No caso clínico descrito, a indicação cirúrgica se justifica por se tratar de uma paciente
com sintomas de insuficiência cardíaca avançada. A plastia da valva mitral realizada
em conjunto com a troca da valva aórtica tem menor risco cirúrgico, e é preferível à
dupla-troca, devendo ser realizada sempre que possível8. Na paciente em questão foi
indicada a troca da valva aórtica associada à comissurotomia mitral, visto que a valva
mitral apresentava anatomia favorável - escore de Block <8 (Quadro 1).
Os fatores de risco que reduzem a sobrevida após a dupla-troca são: idade avançada,
classe funcional III ou IV da NYHA, disfunção sistólica do VE, dilatação do VE e
doença arterial coronariana concomintante8. A paciente em questão parece ter bom
prognóstico, visto que o melhor preditor de sobrevida a longo prazo nos pacientes com
doença mitroaórtica é o estado da função ventricular no pré-operatório9.
A insuficiência cardíaca pode se instalar de maneira insidiosa muitos anos após a troca
valvar, e o transplante pode ser necessário quando a insuficiência cardíaca é refratária
à terapia medicamentosa. Pacientes com sobrecarga volumétrica importante no pré-
operatório e função miocárdica deprimida têm maior chance de evoluir tardiamente
para transplante cardíaco após a troca valvar9.
Cerca de 2/3 dos pacientes com EM grave apresentam sopro diastólico ao longo da
borda esternal esquerda com pulso e pressão arterial normais2. Em aproximadamente
90% desses pacientes, o sopro é devido à insuficiência aórtica leve ou moderada, em
geral de pouca importância clínica. Todavia, cerca de 10% dos pacientes com EM
apresentam IAO grave10.
A regurgitação aórtica pode passar despercebida nos pacientes com EM grave. O pulso
arterial pode ser normal ou de amplitude muito pouco aumentada. A pressão arterial
pode não ser divergente, e o VE nem sempre se encontra aumentado. Por outro lado, o
ruflar da EM pode ser confundido com o sopro de Austin-Flint. A presença de uma
primeira bulha marcada e do estalido de abertura levantam a suspeita de estenose mitral
associada. A manobra de hand-grip pode ser útil no diagnóstico diferencial, pois o
sopro de regurgitação aórtica e o sopro de Austin-Flint aumentam com ela.
Por outro lado, congestão pulmonar, fibrilação atrial e embolia sistêmica ocorrem mais
frequentemente quando a EM se associa a EAO do que naqueles com EAO isolada. A
quarta bulha pode estar ausente nos pacientes com EAO grave e EM mitral
concomitante. O volume sistólico reduzido pela presença de EM associada pode tornar
o sopro da EAO discreto. Nos pacientes com EM e indicação de valvuloplastia mitral
percutânea, o diagnóstico de doença valvar aórtica significativa é crucial. Esse
procedimento pode ser arriscado. Um VE anteriormente protegido pela EM pode não
resistir à súbita sobrecarga hemodinâmica produzida pela correção da EM, o que
muitas vezes precipita a congestão pulmonar e o edema agudo de pulmão2.
A combinação de EAO grave e regurgitação mitral é perigosa, uma vez que a obstrução
ao fluxo de ejeção do VE aumenta o volume de regurgitação mitral2. Além disso, a
regurgitação mitral pode dificultar a avaliação da gravidade da EAO devido a uma
redução do fluxo anterógrado. O resultado é uma redução de débito cardíaco e
incremento no grau de hipertensão atrial esquerda e venosa pulmonar. A regurgitação
mitral também pode superestimar a fração de ejeção e, dessa maneira, mascarar o
desenvolvimento de disfunção sistólica causada pela EAO4.
Referências
1. Soma Raju B, Turi ZG. Rheumatic fever. In: Zipes DP, Libby P, Bonow RO
(eds). Braunwald: Tratado de Doenças Cardiovasculares. 8a ed. Rio de
Janeiro: Elsevier; 2010. p. 2079-86.
2. Otto CM, Bonow RO. Doença valvar cardíaca. In: Zipes DP, Libby P, Bonow
RO (eds). Braunwald: Tratado de Doenças Cardiovasculares. 8a ed. Rio de
Janeiro: Elsevier; 2010. p.1625-93.
3. Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon AC Jr, Faxon DP, Freed
MD, et al; American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines. 2008 focused update incorporated into the
ACC/AHA 2006 Guidelines for the Management of Patients with Valvular
Heart Disease: a report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to
revise the 1998 Guidelines for the Management of Patients with Valvular
Heart Disease). Endorsed by the Society of Cardiovascular
Anesthesiologists, Society for Cardiovascular Angiography and Interventions,
and Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2008;52(13):e1-e142.
4. Unger P, Rosenhek R, Dedobbeleer C, Berrebi A, Lancellotti P. Management
of multiple valve disease. Heart. 2011;97(4):272-7.
5. Lira Filho EB, Rodrigues AC, Aleixo D. Ecocardiograma na valvopatia
mitral. In: Suaide Silva CE. Ecocardiografia: princípios e aplicações
clínicas. Rio de Janeiro: Revinter; 2007. p 483-502.
6. Mohan JC, Patel AR, Passey R, Gupta D, Kumar M, Arora R, et al. Is the
mitral valve area flow-dependent in mitral stenosis? A dobutamine stress
echocardiographic study. J Am Coll Cardiol. 2002;40(10):1809-15.
7. John S, Ravikumar E, John CN, Bashi VV. 25-year experience with 456
combined mitral and aortic valve replacement for rheumatic heart disease.
Ann Thorac Surg. 2000;69(4):1167-72.
8. Jamieson WR, Edwards FH, Schwartz M, Bero JW, Clark RE, Grover FL.
Risk stratification for cardiac valve replacement. National Cardiac Surgery
Database. Database Committee of the Society of Thoracic Surgeons. Ann
Thorac Surg. 1999;67(4):943-51.
9. Turina J, Stark T, Seifert B, Turina M. Predictors of the long-term outcome
after combined aortic and mitral valve surgery. Circulation. 1999;100(19
Suppl):II48-53.
10. Paraskos JA. Combined valve disease. In: Alpert JS, Dalen JE, Rahimtoola
SH (eds). Valvular Heart Disease. 3rd ed. Philadelphia: Lippincott Williams
& Wilkins; 2000. p 291-337.
ABORDAGEM DA INSUFICIÊNCIA
TRICÚSPIDE: FATORES DETERMINANTES
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 36 anos, natural do Rio de Janeiro, professora primária, sem religião
específica.
Queixa principal: Falta de ar e barriga inchada.
HDA: Há dois anos início de dispneia progressiva, chegando aos médios esforços,
associada a palpitações. Evoluindo até que há um ano, além da dispneia aos pequenos
esforços, associou-se dispneia paroxística noturna (DPN), ortopneia, aumento do
volume abdominal e edema de membros inferiores (MIS). Refere uso irregular da
medicação. Fazia atualmente uso irregular de betabloqueador, diurético.
Exame físico:
Paciente emagrecida, acianótica, hipocorada 1+/4+, anictérica.
PA =110x70mmHg; FC=100bpm; FR=12irm
ACV: Pulso jugular com onda V, pulso carotídeo de baixa amplitude, irregular, sem
frêmitos ou sopros, restante dos pulsos de amplitude diminuída também. Sem
adenomegalias.
Íctus tópico, impulsão de ventrículo direito (VD), segunda bulha palpável no bordo
esternal esquerdo (BEE). RCIRR 2T, M1 algo diminuída, P2 hiperfonética, ruflar
diastólico 3+/6+, SS 3+/6+ em meso, holossistólico com manobra de Rivero Carvalho
positiva. Não se ouvia estalido de abertura da válvula mitral (EAM).
Exames complementares:
ECG: ritmo de fibrilação atrial com FC =104bpm; ÂQRS 90°, SAE, SVD.
RX tórax: Aumento de átrio esquerdo (AE), VD, congestão pulmonar, hipertensão
venocapilar pulmonar. Derrame pleural pequeno à direita.
Ecocardiograma (Figura 1): AE =58mm; Ao=33mm; VEd =45mm; VEs =32mm, Septo e
PPVE =10mm; FE=40%.
Função VE normal em repouso, AE aumentado, VD aumentado com sinais de disfunção.
Válvula mitral reumática, calcificada, espessada, com Block =11mmHg. Válvula
aórtica levemente espessada com regurgitação leve.
Insuficiência tricúspide grave e pressão de artéria pulmonar (PAP) =80mmHg.
Evolução
Ecocardiograma após ajuste terapêutico: AE =55mm; Ao =33mm; VEd =46mm; VEs
=30mm; septo e PPVE =10mm; FE =53%.
AE aumentado, boa função de VE em repouso, VD aumentado, sem sinais de disfunção,
insuficiência tricúspide leve, PAP =55mmHg. Estenose mitral grave.
Figura 1
EcoDoppler: corte apical quatro câmaras evidenciando IT grave.
Figura 2
Ressonância magnética cardíaca da paciente relatada.
OBJETIVOS
A paciente deverá se manter com a medicação para controle da FC, não necessitando de
digital, apesar da congestão e leve disfunção do VD, pois a redução da frequência e da
volemia melhorou a pressão da artéria pulmonar e aliviou o VD. Um novo
ecocardiograma provavelmente confirmará os achados clínicos.
Deveriam ser solicitados ainda provas de atividade reumática, apesar da idade, devido
à profissão que coloca a paciente em grupo de risco maior de doença reumática ativa
em pacientes mais velhos. Também deveria ser mantida a profilaxia por toda a vida1.
Além dos pacientes com janelas acústicas ruins, aqueles com ecocardiogramas
conflitantes também se beneficiariam da RNM. Este exame pode identificar importantes
alterações que passam despercebidas pelo ECOTT, tais como defeitos do seio venoso,
ducto arterioso patente e drenagem venosa anômala. Entretanto, como todo exame
complementar, este também apresenta suas limitações; frequentemente necessita de
apneia, de ritmo cardíaco regular para um melhor resultado e exclui todos os pacientes
portadores de marca-passos, ressincronizadores e cardiodesfibriladores implantáveis.
Além disso, é um exame de alto custo e pouco disponível2,3 (Figura 2).
A conduta não se modifica com a ausência dos sintomas após o tratamento, pois a
paciente apresenta EM grave, HAP e IT, com disfunção de VD. Sua melhora e a redução
da gravidade da IT e da HAP não reduzem a gravidade da paciente. Já existe um
acometimento importante do VD pela hipertensão pulmonar crônica. O desaparecimento
da IT e a redução dos níveis de HAP só demonstram que a paciente ainda tem reserva
de VD, mas que ao ser sobrecarregado, a disfunção insipiente reaparece1,4,5.
O tratamento para esta paciente seria o implante de uma prótese mitral mecânica, pela
idade e nível intelectual, associado à plastia da válvula tricúspide e ablação da FA6,7.
Por tudo isso, a abordagem da IT na doença mitral é de suma importância e deve ser
sempre discutida, considerando-se o grau da IT, o momento em que foi avaliada, o nível
de pressão da artéria pulmonar, o diâmetro do anel tricúspide e a função do ventrículo
direito. Anuloplastia tricúspide melhora a sobrevida e a capacidade funcional sem
aumentar de forma significativa a morbidade e mortalidade cirúrgica17.
De acordo com os guidelines da AHA e ESC, pacientes com indicação cirúrgica para
troca ou reparo da válvula mitral e IT grave – classe I1.
Com base nos dados disponíveis e experiência deste grupo, deve ser indicada a plastia
tricúspide profilática em pacientes com indicação cirúrgica para troca ou reparo valvar
mitral se o anel tricúspide for ≥3,0cm (ao ecocardiograma), independente do grau de
insuficiência tricúspide, especialmente nos pacientes de etiologia reumática.
Figura 3
Algoritmo para a decisão de cirurgia mitral16
8. Qual a melhor técnica cirúrgica?
O uso rotineiro de um anel rígido ou semirrígido, como o anel de Carpentier, tem sido
considerado superior e recomendado por alguns grupos15,18. O reparo tricúspide com
anel resultou em maior sobrevida livre de eventos e livre de IT quando comparado à
plastia de De Vega, em estudo realizado por Tang et al.17. A plastia com anel também
foi um preditor de sobrevida em longo prazo nesse estudo.
A durabilidade do reparo tricúspide também foi revista por McCarthy et al.18. Todas as
técnicas de reparo tiveram uma taxa de falha imediata de 14%. Enquanto os pacientes
que utilizaram o anel semirrígido não apresentaram progressão da IT, mais de 30% dos
pacientes submetidos ao procedimento de De Vega apresentaram IT significante após
oito anos. De acordo com esses dados, a anuloplastia com anel seria o melhor
procedimento para correção ou prevenção da IT na maioria dos casos17.
A troca valvar ficaria restrita àqueles pacientes que não possuam anatomia favorável
para reparo e/ou com evidência de lesão orgânica da válvula tricúspide. Nestes casos,
habitualmente, indica-se a bioprótese. As próteses mecânicas apresentam um aumento
importante na incidência de fenômenos tromboembólicos19.
Uma vez que o paciente se torne sintomático, a terapia agressiva com diuréticos de alça
associada à espironolactona é indicada. Essa terapêutica pode reduzir a severidade de
IT por reduzir a distensão do VD e diminuir a pressão no AD9,19. Se isso não for
suficiente, deve-se considerar a cirurgia isolada da válvula tricúspide11.
Referências
1. American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines; Society of Cardiovascular Anesthesiologists; Society for
Cardiovascular Angiography and Interventions; Society of Thoracic
Surgeons, Bonow RO, Carabello BA, Kanu C, de Leon AC Jr, Faxon DP,
Freed MD, et al. ACC/AHA 2006 Guidelines for the Management of Patients
with Valvular Heart Disease: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
(Writing Committee to revise the 1998 Guidelines for the Management of
Patients with Valvular Heart Disease): developed in collaboration with the
Society of Cardiovascular Anesthesiologists: endorsed by the Society for
Cardiovascular Angiography and Interventions and the Society of Thoracic
Surgeons. Circulation. 2006;114(5):e84-231. Erratum in: Circulation.
2007;115(15):e409; 2010;121(23):e443.
2. Haddad F, Hunt SA, Rosenthal DN, Murphy DJ. Right ventricular function in
cardiovascular disease, part I: Anatomy, physiology, aging, and functional
assessment of the right ventricle. Circulation. 2008;117(11):1436-48.
3. Goetschalckx K, Rademakers F, Bogaert J. Right ventricular function by MRI.
Curr Opin Cardiol. 2010;25(5):451-5.
4. Sugimoto T, Okada M, Ozaki N, Hatakeyama T, Kawahira T. Long-term
evaluation of treatment for functional tricuspid regurgitation with regurgitant
volume: characteristic differences based on primary cardiac lesion. J Thorac
Cardiovasc Surg. 1999;117(3):463-71.
5. Kaul TK, Ramsdale DR, Mercer JL. Functional tricuspid regurgitation
following replacement of the mitral valve. Int J Cardiol. 1991;33(2):305-13.
6. Nath J, Foster E, Heidenreich PA. Impact of tricuspid regurgitation on long-
term survival. J Am Coll Cardiol. 2004;43(3):405-9.
7. Bianchi G, Solinas M, Bevilacqua S, Glauber M. Which patient undergoing
mitral valve surgery should also have the tricuspid repair? Interact
Cardiovasc Thorac Surg. 2009;9(6):1009-20.
8. Sadeghi HM, Kimura BJ, Raisinghani A, Blanchard DG, Mahmud E, Fedullo
PF, et al. Does lowering pulmonary arterial pressure eliminate severe
functional tricuspid regurgitation? Insights from pulmonary
thromboendarterectomy. J Am Coll Cardiol. 2004;44(1):126-32.
9. Kim YJ, Kwon DA, Kim HK, Park JS, Hahn S, Kim KH, et al. Determinants
of surgical outcome in patients with isolated tricuspid regurgitation.
Circulation. 2009;120(17):1672-8.
10. Shiran A, Sagie A. Tricuspid regurgitation in mitral valve disease incidence,
prognostic, implications, mechanism, and management. J Am Coll Cardiol.
2009;53(5):401-8.
11. Ruel M, Rubens FD, Masters RG, Pipe AL, Bédard P, Mesana TG. Late
incidence and predictors of persistent or recurrent heart failure in patients
with mitral prosthetic valves. J Thorac Cardiovasc Surg. 2004;128(2):278-
83.
12. De Bonis M, Lapenna E, Sorrentino F, La Canna G, Grimaldi A, Maisano F,
et al. Evolution of tricuspid regurgitation after mitral valve repair for
functional mitral regurgitation in dilated cardiomyopathy. Eur J Cardiothorac
Surg. 2008;33(4):600-6.
13. Dreyfus GD, Corbi PJ, Chan KM, Bahrami T. Secondary tricuspid
regurgitation or dilatation: which should be the criteria for surgical repair?
Ann Thorac Surg. 2005;79(1):127-32.
14. Xiao XJ, Huang HL, Zhang JF, Wu RB, He JG, Lu C, et al. Surgical treatment
of late tricuspid regurgitation after left cardiac valve replacement. Heart Lung
Circ. 2004;13(1):65-9.
15. Antunes MJ, Barlow JB. Management of tricuspid valve regurgitation. Heart.
2007;93(2):271-6.
16. Irwin RB, Luckie M, Khattar RS. Tricuspid regurgitation: contemporary
management of neglected valvular lesion. Postgrad Med J.
2010;86(1021):648-55.
17. Tang GH, David TE, Singh SK, Marganti MD, Armstrong S, Borger MA.
Tricuspid valve repair with annuloplasty ring result in improved long-term
outcomes. Circulation. 2006;114(1 Suppl):I577-81.
18. McCarthy PM, Bhudia SK, Rajeswaran J, Hoercher KJ, Lytle BW, Cosgrove
DM, et al. Tricuspid valve repair: durability and risk factors for failure. J
Thorac Cardiovasc Surg. 2004;127(3):674-85.
19. Roger JH, Bolling SF. The tricuspid valve: current perspective and evolving
management of tricuspid regurgitation. Circulation. 2009;119(20):2718-25.
20. Topilsky Y, Khanna AD, Oh JK, Nishimura RA, Enriquez-Sarano M, Jeon
YB, et al. Preoperative factors associated with adverse outcome after
tricuspid valve replacement. Circulation. 2011;123(18):1929-39.
ENDOCARDITE INFECCIOSA SUBAGUDA:
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA E
TERAPÊUTICA
CASO CLÍNICO
Paciente admitido para abordagem cirúrgica de insuficiência valvar aórtica.
Sexo masculino, 33 anos, com história de febre baixa, vespertina, diária, iniciada 10
meses antes. Perda ponderal de 9kg no período. Sabia-se portador de valvulopatia
reumática há três anos, tendo história de febre reumática na infância. Naquela época
teve diagnóstico de hipertensão arterial também, sendo iniciado carvedilol e
furosemida, que suspendeu por conta própria após seis meses de uso, por piora da
dispneia e por impotência. Sua profissão: técnico em Tecnologia da Informática (TI),
cursando TI em nível superior.
É homem que faz sexo com homens, tendo parceiro fixo, com quem reside há 13 anos. É
natural do estado do Rio e morador da Região dos Lagos. Tem um cão em casa. Não
tem relato de viagens para fora do Estado. Foi tratado empiricamente para infecção do
trato urinário, e investigado para HIV, hepatite B e hepatite C, sendo as sorologias
negativas para doença aguda ou crônica. Radiografia de tórax sem imagem para
tuberculose, PPD não reator. Teve sorologia IgM reativa para toxoplasmose um mês
antes da internação, sendo tratado por três semanas com sulfametoxazol-trimethoprim.
Foi identificado “novo sopro de regurgitação” em seguida a esse diagnóstico, mudando
sua conduta terapêutica.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Quais são as hipóteses diagnósticas para o caso apresentado?
No caso do paciente, quatro de quatro amostras foram positivas para cocos Gram
positivos em cadeia. Esses Gram positivos eram fastidiosos, e não cresceram em placa,
sendo provavelmente estreptococos do gênero Granulicatella ou Abiotrophia,
anteriormente classificados como grupo viridans.
Embora não estritamente definida como endocardite hemocultura negativa, cenário não
incomum em endocardite subaguda3-7, que ocorre principalmente pelo uso prévio de
antimicrobianos como no caso apresentado, o tratamento se torna mais difícil, uma vez
que sem o isolamento de micro-organismos não é possível estabelecer o teste de
sensibilidade aos antimicrobianos.
Sabe-se também que o mau estado da dentição, com ou sem o ato de mastigação, pode
ser causa de bacteremia. Apesar disso, deixar de fazer profilaxia em situações
específicas seria uma orientação não apoiada por profissionais da saúde e pacientes
por sua radicalidade. Assim, ênfase é colocada no uso de profilaxia em pacientes que
apresentam risco de adquirir endocardite e que, se infectados, teriam morbidade e
letalidade elevadas.
Com relação aos procedimentos que têm indicação de profilaxia, todos estão incluídos,
exceto:
É importante a profilaxia tópica, que deve ser ministrada a todos os pacientes, com
bochecho de clorexidina 0,2%, 10ml durante 1min, imediatamente pré-procedimento
odontológico. Os esquemas antimicrobianos propostos, por faixa etária, estão
apresentados no Quadro 1.
Quadro 1
Esquema profilático por via oral ou endovenosa para profilaxia de endocardite infecciosa em pacientes de risco
*amoxicilina=50mg/kg de peso; **clindamicina=20mg/kg de peso; a=administração em pelo menos 10 minutos
Em profilaxia com amoxicilina via oral, o procedimento deve ser realizado no tempo
de 30 minutos até 2 horas depois da tomada do antibiótico. É necessária nova dose de
500mg VO, caso o procedimento se estenda além de 2 horas e meia. Para a
clindamicina, o repique deve ser em 5 horas do procedimento. Não é necessário
repique com azitromicina.
Evolução do caso
As valvas ressecadas não foram enviadas para cultura, mas o exame histopatológico
evidenciou, ao corante PAS (Periodic Acid of Schiff) presença de grumos de cocos, e
infiltrado neutrofílico com endocardite bacteriana em atividade. Em virtude do achado
histopatológico, o paciente foi tratado por seis semanas com ceftriaxona endovenosa,
contados a partir do ato operatório. Teve alta sem intercorrências, 45 dias após a
internação. Foi examinado seis semanas após alta, em uso de warfarina (programada
para três meses pós-implante de biopróteses).
É obrigatório o envio de valvas para exame histopatológico, não apenas para confirmar
o diagnóstico de endocardite infecciosa, uma vez que o padrão-ouro diagnóstico é a
histopatologia valvar13, mas também para adequar o tempo de tratamento
antimicrobiano pós-operatório.
Referências
1. Durack DT, Lukes AS, Bright DK. New criteria for diagnosis of infective
endocarditis: utilization of specific echocardiographic findings. Duke
Endocarditis Service. Am J Med. 1994;96(3):200-9.
2. Li JS, Sexton DJ, Mick N, Nettles R, Fowler VG Jr, Ryan T, et al. Proposed
modifications to the Duke criteria for the diagnosis of infective endocarditis.
Clin Infect Dis. 2000;30(4):633-8.
3. Kupferwasser LI, Darius H, Müller AM, Martin C, Mohr-Kahaly S, Erbel R,
Meyer J. Diagnosis of culture-negative endocarditis: the role of the Duke
criteria and athe impact of transesophageal echocardiography. Am Heart J.
2001;142(1):146-52.
4. Fournier PE, Thuny F, Richet H, Lepidi H, Casalta JP, Arzouni JP, et al.
Comprehensive diagnostic strategy for blood culture-negative endocarditis: a
prospective study of 819 new cases. Clin Infect Dis. 2010;51(2):131-40.
5. Lamas C. Diagnostic strategy for blood culture-negative endocarditis. Clin
Infect Dis. 2010;51(2):141-2.
6. Lamas CC, Eykyn SJ. Blood culture negative endocarditis: analysis of 63
cases presenting over 25 years. Heart. 2003;89(3):258-62.
7. Naber CK, Erbel R, Baddour LM, Horstkotte D. New guidelines for infective
endocarditis: a call for collaborative research. Int J Antimicrob Agents.
2007;29(6):615-6.
8. Habib G, Hoen B, Tornos P, Thuny F, Prendergast B, Vilacosta I, et al; ESC
Committee for Practice Guidelines. Guidelines on the prevention, diagnosis
and treatment of infective endocarditis (new version 2009): the Task Force on
the Prevention, Diagnosis and Treatment of Infective Endocarditis of the
European Society of Cardiology (ESC). Endorsed by the European Society of
Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ESCMID) and the
International Society of Chemotherapy (ISC) for Infection and Cancer. Eur
Heart J. 2009;30(19):2369-413.
9. Baddour LM, Wilson WR, Bayer AS, Fowler VG Jr, Bolger AF, Levison ME,
et al; Committee on Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease;
Council on Cardiovascular Disease in the Young; Councils on Clinical
Cardiology, Stroke, and Cardiovascular Surgery and Anesthesia; American
Heart Association; Infectious Diseases Society of America. Infective
endocarditis: diagnosis, antimicrobial therapy, and management of
complications: a statement for healthcare professionals from the Committee
on Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease, Council on
Cardiovascular Disease in the Young, and the Councils on Clinical
Cardiology, Stroke, and Cardiovascular Surgery and Anesthesia, American
Heart Association: endorsed by the Infectious Diseases Society of America.
Circulation. 2005;111(23):e394-434. Erratum in: Circulation.
2005;112(15):2373; 2007;115(15):e408; 2007;116(21):e547;
2008;118(12):e497.
10. Prendergast BD, Tornos P. Surgery for infective endocarditis: who and when?
Circulation. 2010;121(9):1141-52.
11. Gould FK, Elliott TS, Foweraker J, Fulford M, Perry JD, Roberts GJ, et al;
Working Party of the British Society for Antimicrobial Chemotherapy.
Guidelines for the prevention of endocarditis: report of the Working Party of
the British Society for Antimicrobial Chemotherapy. J Antimicrob Chemother.
2006;57(6):1035-42.
12. Wilson W, Taubert KA, Gewitz M, Lockhart PB, Baddour LM, Levison M, et
al; American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and
Kawasaki Disease Committee; American Heart Association Council on
Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Council
on Clinical Cardiology; American Heart Association Council on
Cardiovascular Surgery and Anesthesia; Quality of Care and Outcomes
Research Interdisciplinary Working Group. Prevention of Infective
endocarditis: guidelines from the American Heart Association: a guideline
from the American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and
Kawasaki Disease Committee, Council on Cardiovascular Disease in the
Young, and the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular
Surgery and Anesthesia, and the Quality of Care and Outcomes Research
Interdisciplinary Working Group. Circulation. 2007;116(15):1736-54.
Erratum in: Circulation. 2007;116(15):e376-7.
13. Lepidi H, Durack DT, Raoult D. Diagnostic methods current best practices
and guidelines for histologic evaluation in infective endocarditis. Infect Dis
Clin North Am. 2002;16(2):339-61.
A proposta de prevenção da endocardite em portadores de cardiopatia valvar reumática crônica está embasada na
experiência do grupo de profissionais do Instituto Nacional de Cardiologia, representando um ponto de vista válido na
ausência de níveis mais elevados de evidência científica.
Esta é a opinião dos autores, devendo os leitores decidirem de forma individualizada os riscos e os benefícios do
emprego ou não da antibioticoprofilaxia nesses casos.
PRÓTESE VALVAR EM MULHER JOVEM X
ANTICOAGULAÇÃO
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 22 anos, branca, estudante.
Queixa principal: assintomática.
HDA: Paciente tem história de FReu aos 10 anos de idade, que motivou sua internação
hospitalar naquela época. Informa que após alta hospitalar evoluiu assintomática,
usando penicilina benzatina 1.200.000U intramuscular de 21/21 dias. Desde então, vem
em acompanhamento médico devido a “sopro no coração”, mantendo atividades físicas
sem restrições.
Exame físico:
Eupneica, mucosas normocoradas, escleróticas, anictéricas, turgência jugular a zero
graus de decúbito, onda “V” no pulso venoso, pulsos periféricos regulares, isócronos e
com amplitudes normais.
Peso =65kg; Altura =1,68cm; IMC =23,4kg/m2; PA =120x80mmHg.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Qual a hipótese diagnóstica para o caso clínico apresentado?
Pacientes com IM crônica apresentam duas vias de escape: a via de saída pela AO com
a ejeção ventricular esquerda e a regurgitação de volume sanguíneo pela VM
insuficiente em direção ao AE, que em geral está aumentado e muito complacente,
facilitando o esvaziamento ventricular esquerdo.
Mais de 50% do VR é ejetado dentro do AE, antes da abertura da VA, eliminando a fase
de contração isovolumétrica do VE. Como o AE dilatado apresenta baixa impedância
em relação à AO, ocorre uma redução da pós-carga ventricular e melhora dos
parâmetros de ejeção ventricular, notadamente a FE, que durante a fase compensada e
assintomática da doença encontra-se muito elevada, refletindo uma falsa ideia da
função ventricular esquerda. Durante toda essa fase compensada, o VE trabalha com
grande sobrecarga de volume que gradualmente vai afetar a performance miocárdica.
4. Qual é o prognóstico?
Estudo retrospectivo de longo prazo4 demonstrou que pacientes com IM grave e ERO
>0,4cm2 apresentam pior evolução, sendo um excelente preditor de eventos e de mau
prognóstico, com taxa anual de morte cardíaca de 4%.
Em outro estudo5 foi demonstrado que o volume do AE indexado >60ml/m2 é um
importante marcador de risco e que a cirurgia cardíaca realizada com volume do AE
indexado menor foi acompanhada de menos eventos cardíacos e melhor expectativa de
vida.
Próteses mecânicas são classificadas em três grupos principais: tipo “bola e gaiola”
(Starr-Edwards); tipo disco único (Medtronic-Hall e Omniscience) e tipo duplo-disco
(St Jude Medical).
Com relação à durabilidade das próteses mecânicas não foi demonstrado superioridade
de um tipo sobre o outro.
As valvas porcinas podem ser montadas sobre um suporte (stent valves) ou sem suporte
(stentless valves). Esta última tem a vantagem de ser de baixo risco trombogênico,
menor gradiente transvalvar, sendo útil para pacientes com raiz aórtica pequena.
Contudo novas gerações de biopróteses com stent (pericárdio bovino - Carpentier-
Edwards) apresentam melhores resultados que as próteses antigas.
Vários estudos8 têm demonstrado que o tamanho da prótese em desproporção com anel
valvar do paciente (Prothesis-Patient Mismatch) tem sido associado a resultados
clínicos mais desfavoráveis e pior prognóstico pós-operatório.
Vários trabalhos mais recentes demonstram que a gravidez não acelera a degeneração
da bioprótese, apesar de estudos anteriores terem sugerido o oposto. Estudo recente9,
além de afastar a gravidez como fator de aceleração de degeneração da prótese
biológica, a morbidade e a mortalidade de uma futura cirurgia de retroca foram muito
baixas.
Referências
1. Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon AC Jr, Faxon DP, Freed
MD, et al; American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines. 2008 Focused update incorporated into
the ACC/AHA 2006 Guidelines for the Management of Patients with Valvular
Heart Disease: a report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to
revise the 1998 Guidelines for the Management of Patients with Valvular
Heart Disease). Endorsed by the Society of Cardiovascular
Anesthesiologists, Society for Cardiovascular Angiography and Interventions,
and Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2008;52(13):e1-e142.
2. Barbieri A, Bursi F, Grigioni F, Tribouilloy C, Avierinos JF, Michelena HI, et
al; Mitral Regurgitation International DAtabase (MIDA) Investigators.
Prognostic and therapeutic implications of pulmonary hypertension
complicating degenerative mitral regurgitation due to flail leaflet: a
multicenter long-term international study. Eur Heart J. 2011;32(6):751-9.
3. Hetzer R, Dandel M. Early detection of left ventricular dysfunction in patients
with regurgitation due to flail leaflet is still a challenge. Eur Heart J.
2011;32(6):665-7.
4. Enriquez-Sarano M, Avierinos JF, Messika-Zeitoun D, Detaint D, Capps M,
Nkomo V, et al. Quantitative determinants of the outcome of asymptomatic
mitral regurgitation. N Engl J Med. 2005;352(9):875-83.
5. Le Tourneau T, Messica-Zeitoun D, Russo A, Detaint D, Topilsky Y, Mohoney
DW, et al. Impact of left atrial volume on clinical outcome in organic mitral
regurgitation. J Am Coll Cardiol. 2010;56(7): 570-8.
6. Groves P. Valve disease: Surgery of valve disease: late results and late
complications. Heart. 2001;86(6):715-21.
7. Huang G, Rahimtoola SH. Prosthetic heart valve. Circulation.
2011;123(22):2602-5.
8. Pibarot P, Dumesnil JG. Prosthetic heart valves: selection of the optimal
prosthesis and long-term management. Circulation. 2009;119(7):1034-48.
9. Cleuziou J, Hörer J, Kaemmerer H, Teodorowicz A, Kasnar-Samprec J,
Schreiber C, et al. Pregnancy does not accelerate biological valve
degeneration. Int J Cardiol. 2010;145(3):418-21.
10. Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, Libby P (eds). Braunwald’s Heart Disease:
a textbook of cardiovascular medicine. 9th ed. Philadelphia: Saunders; 2011.
Seção 6. Prevenção Cardiovascular
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 46 anos, natural de Sergipe, pedreiro, casado, sedentário, fumante
desde os 14 anos – 30 cigarros/dia.
Assintomático. Refere estar preocupado por ter perdido irmão com 55 anos de infarto.
Nunca havia procurado médico antes porque se achava saudável.
Dados relevantes:
PA =129x80mmHg; FC =78bpm .
Circunferência abdominal =79cm .
Peso =62kg; Altura =1,68m; IMC =23,05kg/m2 .
Glicemia de jejum =100mg/dL.
Colesterol total =258mg/dL.
LDL-C =172mg/dL; HDL-C =40mg/dL.
Creatinina =1,0mg/dL.
EAS e ECG normais.
OBJETIVOS
1. Demonstrar que os escores de risco, ainda que imperfeitos, são bons
instrumentos para identificar a população que poderá se beneficiar de
medidas de prevenção primária.
2. Avaliar criticamente os novos marcadores de risco e mostrar que necessitam
ainda passar por validação científica quanto à sua utilidade clínica antes de
serem incluídos nos modelos preditores.
3. Concluir que a predição de eventos cardiovasculares, obtidas com os escores
de risco, não modificam a essência das estratégias já estabelecidas de
prevenção primária, que devem ser aplicadas a toda a população como:
mudança do estilo de vida, controle da pressão arterial, redução dos níveis
séricos de colesterol e prática regular de exercício físico. Apenas para um
pequeno grupo de indivíduos o emprego da aspirina e das estatinas é custo-
efetivo.
PERGUNTAS
1. Qual a importância de se realizar a aferição dos escores de risco para predição
de eventos cardiovasculares?
A aplicação clínica de um marcador de risco cardiovascular deve ser aferida por sua
capacidade em afetar o manejo terapêutico e o prognóstico dos indivíduos. Um novo
marcador ou modelo de risco deve ser avaliado em várias fases subsequentes como a
comprovação do conceito inicial, a validação prospectiva em populações
independentes, a documentação da informação incremental que adiciona aos modelos
vigentes, a validação de seu efeito na modificação da conduta clínica e no prognóstico
dos pacientes, além do seu custo-efetividade4. Na avaliação do novo marcador e/ou
modelo de risco, também devem ser lembradas as possibilidades de outros
diagnósticos que possam interferir na sua interpretação e na sua especificidade.
Essas tendências também diferem quando se analisa sua ocorrência por idade e sexo. A
utilização dos escores de predição do risco cardiovascular possibilita a tomada de
decisão nas estratégias populacionais, quantificando a eficácia das medidas
empregadas na prevenção primária, especialmente quando se recorda que 80% das
mortes cardiovasculares ocorrem nos países em desenvolvimento, com pequena
disponibilidade de recursos6.
Outra questão importante a ser esclarecida é o quanto cada um desses escores explica o
risco cardiovascular e sua capacidade de reclassificação dos pacientes ditos de risco
baixo e intermediário.
Figura1
Escore de Framingham para homens
Fonte: Adaptado de Kannel et al.9
Como pode ser observado, o escore de Framingham para o este paciente soma 15
pontos; o cálculo estimado do desfecho composto por angina, eventos
cerebrovasculares, doença vascular periférica e insuficiência cardíaca é de 20% em 10
anos.
Os fatores de risco tradicionais foram derivados desse estudo, tendo sido desenvolvida
uma equação para estimativa do risco de desenvolver doença arterial coronariana em
10 anos, através de uma análise multivariada envolvendo a idade, o sexo, o hábito de
fumar, a pressão arterial sistólica, o colesterol total e HDL colesterol, definidos como
variáveis categóricas9-12. O desfecho avaliado foi composto por angina, eventos
cerebrovasculares, doença vascular periférica e insuficiência cardíaca13,.
Outro problema desse escore é que não leva em consideração uma série de fatores
atualmente considerados relevantes, como: índice de massa corporal e obesidade, etnia,
fatores socioeconômicos, história familiar, presença de comorbidades como a doença
renal concomitante, inatividade física e prevalência da doença cardiovascular nas
diversas populações.
Como pode ser observado, o SCORE para este paciente é de 2%, em 10 anos, de morte
por síndrome coronariana aguda, acidente vascular encefálico ou aneurisma de aorta
nos países de baixo risco e de 4% nos de alto risco, bem diferente do descrito no
escore de Framingham. Deve-se notar, por outro lado, que os desfechos estimados
foram diferentes nos dois escores de risco citados.
Figura 2
SCORE em países de baixo risco
Fonte: Adaptado de Conroy et al.17
Figura 3
SCORE em países de alto risco
Fonte: Adaptado de Conroy et al.17
Figura 4
Tabuladora para o escore PROCAM
Fonte: Adaptado de Assmann et al.19
Embora a PCR de alta sensibilidade seja um preditor independente de eventos, não foi
demonstrado incremento na estatística-C do escore de Reynolds em relação ao
Framingham (0,018). Demonstrou-se que as reclassificações corretas não superaram as
reclassificações incorretas e que quase toda a reclassificação se fez para o nível
inferior, não agregando valor na abordagem clínica desses indivíduos24. Portanto, não
há vantagem de se avaliar a PCR de alta sensibilidade no caso do paciente relatado.
Figura 5
Tabuladora para o escore de Reynolds
Fonte: Adaptado de Ridker et al.20,21
Figura 6
Tabuladora para o escore QRISK2
Fonte: Adaptado de Hippisley-Cox et al.25
Não foi observado valor incremental dessa medida em relação à estimativa obtida pelo
cálculo de escore de Framingham de acordo com as coortes dos estudos
Atherosclerosis Risk In Communities (ARIC)28 e Multi-Ethnic Study of
Atherosclerosis (MESA)29 que demonstraram variação de 0,01 na estatística-C. Estudo
mais recente reporta benefício com essa medida, porém classificando as estimativas de
risco em quatro grupos, o que certamente superestima o poder de classificação desse
método de imagem30.
Figura 7
Tabuladora para o escore MESA
Fonte: Adaptado de Folsom et al.28
10. Os pacientes que apresentam risco intermediário pelo escore de Framingham
devem ser reclassificados para a realização das medidas de prevenção primária?
Não há diferença relevante entre o emprego das medidas de prevenção primária nos
pacientes de médio e de alto risco. O emprego das estatinas e da aspirina nesse grupo
de pacientes deve ser individualizado, considerando-se a meta de LDL-colesterol
<100mg/dl, mesmo nos diabéticos e nos pacientes com aterosclerose subclínica nos
quais não foi possível evidenciar benefícios incrementais do uso rotineiro nessas
populações33,34. O benefício da reclassificação, em teoria, residiria nos pacientes de
baixo risco, onde efetivamente poderia haver mudança na estratégia de prevenção
primária35.
Os agravantes que devem ser procurados nos pacientes com risco intermediário de
acordo com a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia e Prevenção da
Aterosclerose35 são: história familiar de DAC prematura (parente de primeiro grau
homem <55 anos ou mulher <65 anos), síndrome metabólica (IDF), micro ou
macroalbuminúria (>30g/min), hipertrofia ventricular esquerda, insuficiência renal
crônica (creatinina ≥1,5mg/dl ou clearance <60 ml/min), proteína c-reativa de alta
sensibilidade >3mg/L e exame complementar com evidência de doença aterosclerótica
subclínica- estenose/espessamento de carótida (IMT) >1mm, escore de cálcio
coronariano >100 ou >percentil 75 para idade e sexo, índice tornozelo braquial - ITB
<0,935.
Referências
1. World Health Organization (WHO). [Internet]. The 10 leading causes of death
by broad income group (2008). [cited 2011 Aug]. Available from:
<http://www.who.int>
2. Ministério da Saúde. Datasus. [Internet]. Informações de Saúde.
Epidemiológicas e Morbidade. [acesso em 2011 set 25]. Disponível em:
<http://www2.datasus.gov.br>
3. Godoy MF, Lucena JM, Miquelin AR, Paiva FF, Oliveira DL, Augustin JL Jr,
et al. Mortalidade por doenças cardiovasculares e níveis socioeconômicos
na população de São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, Brasil. Arq
Bras Cardiol. 2007;88(2):200-6.
4. Correia LCL, Oliveira GMM. Predição de risco cardiovascular. In: de Paola
AAV, Barbosa MM, Guimarães JI, eds. Cardiologia. São Paulo: Manole;
2011. p.13-8.
5. Dent TH. Predicting the risk of coronary heart disease I. The use of
conventional risk markers. Atherosclerosis. 2010;213(2):345-51.
6. Batsis JA, Lopez-Jimenez F. Cardiovascular risk assessment - from
individual risk prediction to estimation of global risk and change in risk in the
population. BMC Med. 2010;8:29.
7. Tura BR, Vianna D, Souza e Silva N, Pereira BB. Risco cardiovascular por
Framingham: uma análise de sensibilidade. Rev SOCERJ. 2006;19(5):409-
12.
8. Lotufo PA. O escore de risco de Framingham para doenças cardiovasculares.
Rev Med (São Paulo). 2008; 87(4):232-7.
9. Kannel WB, McGee D, Gordon T. A general cardiovascular risk profile: the
Framingham Study. Am J Cardiol. 1976;38(1):46-51.
10. Anderson KM, Wilson PW, Odell PM, Kannell WB. An updated coronary
risk profile. A statement for health professionals. Circulation.
1991;83(1):356-62.
11. Wilson PW, D’Agostino RB, Levy D, Belanger AM, Silbershatz H, Kannel
WB. Prediction of coronary heart disease using risk factor categories.
Circulation. 1998;97(18):1837-47.
12. Brindle P, Beswick A, Fahey T, Ebrahim S. Accuracy and impact of risk
assessment in the primary prevention of cardiovascular disease: a systematic
review. Heart. 2006;92(12):1752-9.
13. Eichler K, Puhan MA, Steurer J, Bachmann LM. Prediction of first coronary
events with the Framingham score: a systematic review. Am Heart J.
2007;153(5):722-31.
14. Lloyd-Jones DM, Leip EP, Larson MG, D’Agostino RB, Beiser A, Wilson
PW, et al. Prediction of lifetime risk for cardiovascular disease by risk factor
burden at 50 years of age. Circulation. 2006;113(6):791-8.
15. Pencina MJ, D’Agostino RB Sr, Larson MG, Massaro JM, Vasan RS.
Predicting the 30-year risk of cardiovascular disease: the Framingham Heart
Study. Circulation. 2009;119(24):3078-84.
16. Conroy RM, Pyörälä K, Fitzgerald AP, Sans S, Menotti A, De Backer G, et
al; SCORE project group. Estimation of ten-year risk of fatal cardiovascular
disease in Europe: the SCORE project. Eur Heart J. 2003;24(11):987-1003.
17. Woodward M, Brindle P, Tunstall-Pedoe H; ASSIGN group on risk
estimation. Adding social deprivation and family history to cardiovascular
risk assessment: the ASSIGN score from the Scottish Heart Health Extended
Cohort (SHHEC). Heart. 2007;93(2):172-6.
18. Assmann G, Cullen P, Schulte H. Simple scoring scheme for calculating the
risk of acute coronary events based on the 10-year follow-up of the
prospective cardiovascular Münster (PROCAM) study. Circulation.
2002;105(3):310-5. Erratum in Circulation. 2002;105(7):900.
19. Gaziano TA, Young CR, Fitzmaurice G, Atwood S, Gaziano JM. Laboratory-
based versus non-laboratory-based method for assessment of cardiovascular
disease risk: the NHANES I Follow-up Study cohort. Lancet.
2008;371(9616):923-31.
20. Ridker PM, Buring JE, Rifai N, Cook NR. Development and validation of
improved algorithms for the assessment of global cardiovascular risk in
women: the Reynolds Risk Score. JAMA. 2007;297(6):611-9.
21. Ridker PM, Paynter NP, Rifai N, Gaziano JM, Cook NR. C-reactive protein
and parental history improve global cardiovascular risk prediction: the
Reynolds Risk Score for men. Circulation. 2008;118(22):2243-51.
22. Melander O, Newton-Cheh C, Almgren P, Hedblad B, Berglund G, Engström
G, et al. Novel and conventional biomarkers for prediction of incident
cardiovascular events in the community. JAMA. 2009;302(1):49-57.
23. Hippisley-Cox J, Coupland C, Vinogradova Y, Robson J, May M, Brindle P.
Derivation and validation of QRISK, a new cardiovascular disease risk score
for the United Kingdom: prospective open cohort study. BMJ.
2007;335(7611):136.
24. Hippisley-Cox J, Coupland C, Vinogradova Y, Robson J, Brindle P.
Performance of the QRISK cardiovascular risk prediction algorithm in an
independent UK sample of patients from general practice: a validation study.
Heart. 2008;94(1):34-9.
25. Hippisley-Cox J, Coupland C, Vinogradova Y, Robson J, Minhas R, Sheikh
A, et al. Predicting cardiovascular risk in England and Wales: prospective
derivation and validation of QRISK2. BMJ. 2008;336(7659):1475-82.
26. Robson J. Lipid modification: cardiovascular risk assessment and the
modification of blood lipids for the primary and secondary prevention of
cardiovascular disease. Heart. 2008;94(10):1331-2.
27. Chambless LE, Folsom AR, Sharrett AR, Sorlie P, Couper D, Szklo M, et al.
Coronary heart disease risk prediction in the Atherosclerosis Risk in
Communities (ARIC) study. J Clin Epidemiol. 2003;56(9):880-90.
28. Folsom AR, Kronmal RA, Detrano RC, O'Leary DH, Bild DE, Bluemke DA,
et al. Coronary artery calcification compared with carotid intima-media
thickness in the prediction of cardiovascular disease incidence: the Multi-
Ethnic Study of Atherosclerosis (MESA). Arch Intern Med.
2008;168(12):1333-9.
29. Nambi V, Chambless L, Folsom AR, He M, Hu Y, Mosley T, et al. Carotid
intima-media thickness and presence or absence of plaque improves
prediction of coronary heart disease risk: the ARIC (Atherosclerosis Risk In
Communities) study. J Am Coll Cardiol. 2010;55(15):1600-7.
30. Detrano R, Guerci AD, Carr JJ, Bild DE, Burke G, Folsom AR, et al.
Coronary calcium as a predictor of coronary events in four racial or ethnic
groups. N Engl J Med. 2008;358(13):1336-45.
31. Polonsky TS, McClelland RL, Jorgensen NW, Bild DE, Burke GL, Guerci
AD, et al. Coronary artery calcium score and risk classification for coronary
heart disease prediction. JAMA. 2010;303(16):1610-6.
32. Kim KP, Einstein AJ, Berrington de González A. Coronary artery
calcification screening: estimated radiation dose and cancer risk. Arch Intern
Med. 2009;169(13):1188-94.
33. Belch J, MacCuish A, Campbell I, Cobbe S, Taylor R, Prescott R, et al. The
prevention of progression of arterial disease and diabetes (POPADAD) trial:
factorial randomised placebo controlled trial of aspirin and antioxidants in
patients with diabetes and asymptomatic peripheral arterial disease. BMJ.
2008;337:a1840.
34. Fowkes FG, Price JF, Stewart MC, Butcher I, Leng GC, Pell AC, et al.
Aspirin for prevention of cardiovascular events in a general population
screened for a low ankle brachial index: a randomized controlled trial.
JAMA. 2010;303(9):841-8.
35. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FA, Bertolami, MC, Afiune Neto A, Souza
AD, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Departamento de Aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2007;88(supl.
1):2-19.
EFICÁCIA E EFETIVIDADE DAS
INTERVENÇÕES MEDICAMENTOSAS
CASO CLÍNICO
OBJETIVOS
1. Diferenciar a eficácia e a efetividade das intervenções medicamentosas.
2. Analisar um contexto clínico onde intervenções medicamentosas possam
estar indicadas para a prevenção primária de doença cardiovascular.
3. Definir desfechos substitutos e desfechos compostos em estudos clínicos.
4. Diferenciar estudos de superioridade e de não inferioridade.
5. Avaliar criticamente a eficácia e efetividade das intervenções
medicamentosas para a prevenção primária de doença cardiovascular.
PERGUNTAS
1. Quais são as hipóteses diagnósticas?
O prognóstico de pacientes sem diagnóstico prévio de DAC pode ser estimado pela
avaliação em conjunto dos fatores de risco. O escore de risco criado pelo estudo
Framingham4 é o mais utilizado para essa finalidade, e considera: idade, sexo, pressão
arterial sistólica na vigência ou não de tratamento medicamentoso, colesterol total,
HDL colesterol e tabagismo. Com essas informações, o risco de IAM ou morte em 10
anos pode ser estimado dentro de três categorias: baixo (<10%), médio (10-20%), ou
alto (>20%). Vale lembrar que o diabetes atualmente é considerado um equivalente de
DAC em termos de risco e por isso não é mais considerado no cálculo de acordo com o
novo escore, divulgado no último Adult Treatment Panel III5.
Entretanto, para que esses desfechos sejam avaliados, muitas vezes o estudo precisa
apresentar um número grande de participantes e sua duração deverá ser prolongada, o
que significa um custo mais elevado para a pesquisa se concretizar. Este é um ponto
fundamental, pois o desfecho primário de um ensaio clínico é que definirá se o
tratamento é eficaz ou não, para aquele contexto específico. Justamente por haver essa
questão de tempo e custo elevado, muitos estudos acabam adotando desfechos
substitutos como desfechos primários.
O desfecho substituto pode ser usado numa etapa anterior à realização de um estudo
com desfechos clínicos, como uma maneira de otimizar a utilização dos recursos de
pesquisa, mas não deve ser usado como única evidência de eficácia e muito menos de
efetividade.
Além disso, mesmo quando desfechos clínicos são utilizados é comum encontrar várias
complicações diferentes compondo o desfecho primário. Este também é um recurso que
reduz o custo do estudo, pois menos pacientes precisam ser recrutados e como mais
eventos clínicos são contabilizados, o tempo do estudo acaba sendo menor. Entretanto,
se a droga se mostra capaz de reduzir o desfecho primário composto, muitos
profissionais assumem que o benefício é válido para todos os componentes do
desfecho, o que na maioria das vezes não é verdade. Sempre é necessário avaliar cada
desfecho de forma independente antes de concluir que o resultado do desfecho primário
é válido para todos os seus componentes. Nesse contexto, é fundamental que todos os
componentes tenham a mesma relevância clínica, pois eles são avaliados como
equivalentes dentro do desfecho composto12.
Vale lembrar também que quando o desfecho composto contém morte, e esta não se
mostra reduzida pelo tratamento quando analisada isoladamente, haverá a possibilidade
de malefício mesmo que outro componente do desfecho primário tenha sido reduzido,
como infarto não fatal14. No mesmo estudo citado13, a razão de chances de morte no
grupo do clopidogrel quando comparado ao placebo foi 1,17 (IC 95% 0,75-1,82). O
intervalo de confiança sugere que o efeito do tratamento sobre a letalidade do IAM
nesse estudo foi indeterminado, mas há a chance de um aumento de letalidade que pode
ser até 82% maior do que no grupo-placebo. Nesses casos, são necessários estudos
maiores, com mais poder para demonstrar essa potencial diferença, que pode ser
maléfica ou benéfica.
Com a evolução dos tratamentos, tem sido cada vez mais difícil desenvolver novas
terapias que sejam superiores àquelas existentes. Assim, a indústria farmacêutica tem
se concentrado em produzir novas drogas que sejam tão eficazes quanto os tratamentos-
padrão, porém que sejam de custo mais baixo, seguras e fáceis de administrar. Para esta
finalidade são utilizados estudos de não inferioridade, que envolvem menos pacientes e
custos do que os estudos de superioridade. Neste tipo de estudo, a hipótese nula é que a
diferença entre a eficácia dos dois tratamentos é maior do que uma margem pré-
estabelecida, conhecida como margem de não inferioridade (H0:Δ>ΔNI). Dessa forma,
a hipótese alternativa a ser provada seria que a diferença entre os dois tratamentos é
menor do que essa margem (HA:Δ<ΔNI), o que permitiria dizer que o tratamento novo
é não inferior ao padrão. Para que isso ocorra, somente o limite superior do IC95% é
analisado (IC95% unicaudal) e ele deverá ser menor do que a margem de não
inferioridade. Entretanto, a determinação dessa margem é complexa, pois muitas vezes
envolve uma estimativa subjetiva dos autores, e também deverá considerar que o
tratamento novo é mais eficaz do que o placebo. É importante frisar ainda que esses
estudos não permitem estabelecer que um tratamento é superior ao outro15.
Essa mesma publicação recomenda ainda que os diuréticos tiazídicos sejam as drogas
de primeira linha na maioria dos casos, exceto quando houver alguma contraindicação
ou outra justificativa específica para utilizar outra classe6. Porém, de uma forma geral,
o alvo pressórico parece ser mais importante do que a droga utilizada, pois a maior
parte dos pacientes (>60%) acaba necessitando de mais de uma droga.
Em relação à dislipidemia, os alvos terapêuticos são cada vez mais rigorosos à medida
que o risco do paciente aumenta. A IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e
Prevenção da Aterosclerose1 recomenda que a intervenção farmacológica seja
associada às mudanças no estilo de vida quando os alvos de LDL-C e não HDL-C não
forem atingidos após seis meses e três meses em pacientes de baixo e médio risco,
respectivamente (LDL-C <160mg/dl e <130mg/dl). Em pacientes de alto risco ou com
aterosclerose manifesta, a recomendação é que o uso de drogas seja feito desde o início
do tratamento, com reavaliação das metas (LDL-C<100mg/dl e <70mg/dl,
respectivamente) após três meses, no máximo1.
Uma meta-análise10 publicada em 2006, que avaliou quase 43 mil pacientes tratados
com estatinas para a prevenção primária, em sete ensaios clínicos, não mostrou
qualquer benefício na letalidade global ou cardiovascular, embora tenha mostrado uma
redução na incidência de IAM não fatal e AVE. Porém mesmo nesses desfechos, o
benefício é extremamente dependente do risco basal do paciente. Em pacientes de baixo
risco, seria necessário tratar 133 ou 268 pacientes ao longo de quatro anos para
prevenir um IAM não fatal ou um AVE, respectivamente. Ao serem considerados
aqueles com risco elevado, esses valores passariam para 40 e 12510.
Outra meta-análise18, publicada em 2010, com mais de 65 mil pacientes de alto risco
tratados com estatinas no contexto da prevenção primária, também não mostrou
qualquer redução na letalidade associada ao uso dessas drogas. Esses dados mostram
que toda a capacidade das estatinas em reduzir o colesterol, na maioria das vezes, não é
traduzida em redução de desfechos clínicos, principalmente no contexto da prevenção
primária. Assim, o uso criterioso desses medicamentos é fundamental para não expor o
paciente somente aos seus efeitos colaterais.
Por último, é importante frisar que o uso da rosuvastatina como prevenção primária em
homens >50 anos ou mulheres >60 anos, com LDL-C <130mg/dl e PCR-t >2mg/l ainda
é controverso e não pode ser generalizado, pois até então somente um estudo sugeriu
algum benefício e com apenas 1,9 anos de acompanhamento médio19.
O diabetes e a intolerância à glicose são outros fatores de risco que devem ser
abordados na prevenção primária. O diabetes é considerado um equivalente de doença
coronariana em termos de risco de eventos futuros e por isso deve ser tratado como tal.
Porém vale lembrar que, embora o controle glicêmico rigoroso já tenha demonstrado
ser capaz de reduzir as complicações microvasculares relacionadas à doença
(nefropatia, retinopatia e neuropatia), o mesmo não foi observado nos eventos
macrovasculares (IAM e AVE)20.
Esse estudo sugere que embora o metformin possa ser eficaz em prevenir diabetes, a
perda de peso, dieta e exercício físico são ainda mais eficazes, com menos efeitos
colaterais e provavelmente associados a outros benefícios que vão além da prevenção
do diabetes. Além disso, ainda não foi demonstrado que a prevenção medicamentosa do
diabetes corresponderá a uma redução de eventos cardiovasculares no futuro, embora
tal associação seja presumida. Por isso, essa droga deve ser usada como uma
alternativa de segunda linha nesse contexto.
Até então o AAS não mostrou reduzir a letalidade cardiovascular quando utilizado para
a prevenção primária. Entretanto o seu uso está associado à redução média de 32% de
IAM não fatal em homens, e de 17% de AVE em mulheres22. O aspecto fundamental é
individualizar o seu uso de acordo com o risco de sangramento do paciente. A Tabela 1
mostra o risco em 10 anos de IAM não fatal em homens e AVE em mulheres por faixa
etária, a partir do qual o uso de AAS poderia ser justificado.
Tabela 1
Risco de eventos cardiovasculares em 10 anos por sexo e faixa etária a partir do qual o número de infartos ou
acidentes vasculares encefálicos supera os eventos hemorrágicos, justificando o uso de aspirina22
DAC=doença arterial coronariana; AVE=acidente vascular encefálico
Se o risco desses eventos for estimado como inferior aos valores definidos na tabela
para cada faixa de idade, o AAS não deve ser prescrito, pois o risco de sangramento
será maior. O aumento da faixa etária é acompanhado por uma elevação no risco de
hemorragias e por isso torna-se necessário um aumento proporcional no risco
cardiovascular para justificar a intervenção.
Além disso, o alvo de LDL-C dessa paciente seria <160mg/dl de acordo com a mesma
diretriz e de acordo com as recomendações das diretrizes brasileiras, uma vez que não
há fatores agravantes. Portanto, uma estatina não estaria indicada nesse momento. Em
relação à intolerância à glicose, estariam indicados apenas a perda de peso, a dieta e o
exercício físico regular que são mais eficazes do que o metformin na prevenção do
diabetes, além de ajudar no controle da dislipidemia.
Referências
1. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FA, Bertolami, MC, Afiune Neto A, Souza
AD, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Departamento de Aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2007;88(supl.
1):2-19.
2. Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão /
Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl.1):1-51.
3. American Diabetes Association. Diagnosis and classification of diabetes
mellitus. Diabetes Care. 2010;33(Suppl 1):S62-9. Erratum in: Diabetes Care.
2010;33(4):e57.
4. Wilson PW, D’Agostino RB, Levy D, Belanger AM, Silbershatz H, Kannel
WB. Prediction of coronary heart disease using risk factor categories.
Circulation. 1998 May 12;97(18):1837-47.
5. National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection,
Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult
Treatment Panel III). Third Report of the National Cholesterol Education
Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of
High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III) final report.
Circulation. 2002;106(25):3143-421.
6. Mosca L, Benjamin EJ, Berra K, Bezanson JL, Dolor RJ, Lloyd-Jones DM, et
al. Effectiveness-based Guidelines for the Prevention of Cardiovascular
Disease in Women--2011 update: a Guideline from the American Heart
Association. Circulation. 2011;123(11):1243-62. Erratum in: Circulation.
2011;124(16):e427; 2011;123(22):e624.
7. Marley J. Efficacy, effectiveness, efficiency. [Editorial]. Aust Prescr.
2000;23(6):114-5.
8. Garattini S, Bertele V. Efficacy, safety and cost of new cardiovascular drugs:
a survey. Eur J Clin Pharmacol. 2003;59(8-9):701-6.
9. Psaty BM, Weiss NS, Furberg CD, Koepsell TD, Siscovick DS, Rosendaal
FR, et al. Surrogate end points, health outcomes, and the drug-approval
process for the treatment of risk factors for cardiovascular disease. JAMA.
1999;282(8):786-90.
10. Thavendiranathan P, Bagai A, Brookhart MA, Choudhry NK. Primary
prevention of cardiovascular diseases with statin therapy: a meta-analysis of
randomized controlled trials. Arch Intern Med. 2006;166(21):2307-13.
11. Barter PJ, Caulfield M, Eriksson M, Grundy SM, Kastelein JJ, Komajda M,
et al; ILLUMINATE Investigators. Effects of torcetrapib in patients at high
risk for coronary events. N Engl J Med. 2007;357(21):2109-22.
12. Freemantle N, Calvert M, Wood J, Eastaugh J, Griffin C. Composite
outcomes in randomized trials: greater precision but with greater uncertainty?
JAMA. 2003;289(19):2554-9.
13. Sabatine MS, Cannon CP, Gibson CM, López-Sendón JL, Montalescot G,
Theroux P, et al; CLARITY-TIMI 28 Investigators. Addition of clopidogrel to
aspirin and fibrinolytic therapy for myocardial infarction with ST-segment
elevation. N Engl J Med. 2005;352(12):1179-89.
14. Owen A. Balancing the morbidity benefit of a novel treatment with the
potential for harm. QJM. 2006;99(3):177-9.
15. Lesaffre E. Superiority, equivalence, and non-inferiority trials. Bull NYU
Hosp Jt Dis. 2008;66(2):150-4.
16. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cushman WC, Green LA, Izzo JL Jr, et
al; Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and
Treatment of High Blood Pressure. National Heart, Lung, and Blood Institute;
National High Blood Pressure Education Program Coordinating Committee.
Seventh report of the Joint National Committee on Prevention, Detection,
Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. Hypertension.
2003;42(6):1206-52.
17. Kostis JB, Cabrera J, Cheng JQ, Cosgrove NM, Deng Y, Pressel SL, et al.
Association between chlorthalidone treatment of systolic hypertension and
long-term survival. JAMA. 2011;306(23):2588-93.
18. Ray KK, Seshasai SR, Erqou S, Sever P, Jukema JW, Ford I, et al. Statins and
all-cause mortality in high-risk primary prevention: a meta-analysis of 11
randomized controlled trials involving 65,229 participants. Arch Intern Med.
2010;170(12):1024-31.
19. Ridker PM, Danielson E, Fonseca FA, Genest J, Gotto AM Jr, Kastelein JJ, et
al; JUPITER Study Group. Rosuvastatin to prevent vascular events in men
and women with elevated C-reactive protein. N Engl J Med.
2008;359(21):2195-207.
20. Skyler JS, Bergenstal R, Bonow RO, Buse J, Deedwania P, Gale EA, et al;
American Diabetes Association; American College of Cardiology
Foundation; American Heart Association. Intensive glycemic control and the
prevention of cardiovascular events: implications of the ACCORD,
ADVANCE, and VA Diabetes Trials: a position statement of the American
Diabetes Association and a Scientific Statement of the American College of
Cardiology Foundation and the American Heart Association. J Am Coll
Cardiol. 2009;53(3):298-304.
21. Diabetes Prevention Program Research Group, Knowler WC, Fowler SE,
Hamman RF, Christophi CA, Hoffman HJ, Brenneman AT, et al. 10-year
follow-up of diabetes incidence and weight loss in the Diabetes Prevention
Program Outcomes Study. Lancet. 2009;374(9702):1677-86. Erratum in:
Lancet.2009;374(9707):2054.
22. US Preventive Services Task Force. Aspirin for the prevention of
cardiovascular disease: U.S. Preventive Services Task Force
recommendation statement. Ann Intern Med. 2009;150(6):396-404.
AVALIAÇÃO MULTIFATORIAL DOS
FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 54 anos, comparece à consulta ambulatorial porque deseja iniciar a
prática de exercício físico. Relata ser portador de hipertensão arterial sistêmica há sete
anos, descoberta em consulta médica de rotina, estando em uso regular de enalapril
10mg/dia desde então. Está inteiramente assintomático e desconhece apresentar
qualquer outra comorbidade.
Exame físico:
PA =146x90mmHg no membro superior direito e 140x92mmHg no esquerdo. FC
=76bpm; Peso =86,0kg; Altura =1,75m; IMC =28kg/m2.
Restante do exame físico foi normal, inclusive exame de fundo de olho.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Qual é conceito de método clínico?
O clínico lida com o indivíduo, mas não pode se dissociar do fato de que esse
indivíduo vive em um ambiente sociocultural, e no qual habita. Portanto, para tomar
decisões visando a manter ou restabelecer a saúde das pessoas há necessidade de
conhecer as complexas inter-relações entre os diversos sistemas fisiológicos que
possibilitam manter este ser vivo, constituído a partir de sua base genética, em
constante evolução e em equilíbrio com o complexo sistema socioeconômico-cultural-
ambiental.
Lida-se com incertezas e não com verdades absolutas. Lida-se com interconectividades,
com relações não lineares e organização. Portanto, precisa-se sair do mundo das
certezas para lidar com fenômenos complexos ou sistemas complexos dinâmicos
adaptativos. O método clínico e o julgamento clínico com base na teoria de sistemas
complexos permitem melhor compreender e atuar sobre o complexo problema das
doenças cardiovasculares, e o que atualmente se denominam fatores de risco
cardiovascular. Por isso há necessidade de compreendê-los dentro de uma nova
racionalidade não determinística e não linear1.
Fica claro, pelo método clínico, que para tomar decisões, sempre com base em
incertezas, na tentativa de solucionar qualquer caso clínico, necessita-se percorrer
todas as suas etapas, na tentativa de minimizar os erros inerentes ao processo decisório.
O método clínico é utilizado pela medicina ocidental há mais de 2.000 anos. Está bem
sistematizado na estrutura da anamnese: identificação da pessoa, queixa principal,
história da doença atual, interrogatório complementar ou revisão de sistemas, história
patológica pregressa, história familiar, história social, história fisiológica, seguida do
exame físico. As informações captadas são julgadas e interpretadas, influenciando e
sendo influenciadas pelo ambiente, um relacionamento em constante evolução temporal
ou coconstrutivismo biocultural5.
O julgamento dos dados obtidos apenas pela anamnese e pelo exame físico em conjunto
com os dados epidemiológicos permite alcançar um diagnóstico e tomar decisões
terapêuticas corretas em mais de 2/3 dos casos. O “modelo científico” convencional
adotado pela Medicina, principalmente ao longo da última metade do século XX, e
utilizando enorme arsenal técnico é reducionista. Baseia-se na noção linear de
causalidade, nega ou reduz a importância da conectividade entre os elementos, não
permite incorporar valores e ainda sofre grande influência de Descartes separando
corpo e mente.
Não se pode, em face dessa complexidade, reduzir as ações a regras que parecem
simples, mas que levam a enormes erros. Definir que se deve intervir com drogas nos
pacientes que apresentam níveis de colesterol ou de índice de massa corporal ou de
glicemia ou de pressão arterial acima de valores fixos e cada vez menores, não parece
uma atitude clínica adequada. Apenas para exemplificar essa complexidade, apresenta-
se o resumo dos resultados de estudo recente6 no qual foi realizada uma meta-análise de
14 estudos de associação genética e doença coronariana, compreendendo 22.233
indivíduos com doença arterial coronariana e 64.762 indivíduos-controle de
descendência europeia, seguida da genotipagem de 56.682 indivíduos com sinais de
associações maiores. Essa análise identificou 13 novos loci associados com um
aumento de 6% a 17% do risco de doença coronariana por alelo. Somente três dos
novos loci mostraram associação significativa com os fatores de risco tradicionais6.
Com esses dados, não há surpresa quando se observa redução da mortalidade das
doenças cardiovasculares ao mesmo tempo em que fatores de risco clássicos, como o
diabetes e a obesidade, aumentam de prevalência e o controle de outros fatores, como a
hipertensão arterial e as dislipidemias, está longe de apresentar resultados satisfatórios.
As intervenções medicamentosas em geral são feitas com drogas desenvolvidas para
interferir em apenas um determinado sistema fisiológico conhecido. No entanto,
apresentam também inúmeros outros efeitos (muitos indesejáveis), como são de se
esperar, face à complexidade dos sistemas biológicos. Sendo assim, fica fácil entender
porque não apresentam resultados brilhantes, com reduções de risco absoluto de apenas
2% a 4% em pacientes com níveis de risco abaixo de 15% em geral.
Eles possuem várias características básicas das quais se destacam: limites nebulosos ─
ações dos agentes são interconectadas e possuem regras internas; os agentes e o sistema
são adaptativos no tempo e a adaptação pode ser para melhor ou para pior, dependendo
do ponto de vista considerado; a interação entre os agentes pode produzir
comportamento imprevisível do sistema, as interações entre os elementos do sistema
não são lineares, isto é, o resultado de uma ação depende do estado dos elementos
naquele momento bem como da intensidade da ação e estão relacionados a outros
sistemas e coevolvem; interagem e são influenciados pelo ambiente; são sistemas
abertos e, portanto, quando observados o observador torna-se parte do sistema. A não
linearidade é inerente ao sistema.
Portanto, para lidar com a complexidade crescente nos cuidados de saúde deve-se:
aceitar e compreender a limitação dos modelos lineares e utilizar modelos não lineares
na busca do conhecimento; aceitar a imprevisibilidade e a previsibilidade limitada no
tempo com constantes adaptações dos modelos preditivos com base em novas
observações; respeitar e utilizar a autonomia e a criatividade; responder com
flexibilidade aos padrões emergentes e oportunidades e compreender que os seres
vivos se auto-organizam e nem sempre se precisa intervir na sua evolução.
Os testes não são independentes entre si e podem não acrescentar nenhuma informação
adicional à anamnese e ao exame físico para a tomada de decisão. Isto implica que o
clínico deve não apenas conhecer as propriedades operacionais dos testes
isoladamente, mas também saber utilizar testes diagnósticos em série ou em paralelo.
Torna-se necessário também conhecer as probabilidades condicionais, isto é, a
sensibilidade e especificidade de um teste, condicional ao resultado do outro teste, face
ao mesmo padrão-ouro de diagnóstico8. Implica também conhecer os métodos de estudo
aplicáveis ao conhecimento da performance dos exames de diagnóstico9. Em grande
parte dos testes, os valores “normais” são estimados com bases estatísticas (com uma
margem de erro) e não clínicas. Quanto mais testes forem feitos, maior será a
probabilidade de erro ou de que um dos testes venha fora dos intervalos considerados
normais. Antes de ordenar um teste diagnóstico, o médico deve questionar qual o risco
inerente à realização do teste e à probabilidade de erro (falso-positivos e falso-
negativos) e suas consequências adversas; se o resultado do teste mudará a conduta
diagnóstica ou terapêutica; e quais os resultados esperados das intervenções
disponíveis.
Quais são os “novos” fatores de risco? Entre os inúmeros “novos” fatores de risco,
pode-se citar: hiper-homocisteinemia, hiperfibrinogenemia, hiper-reatividade
plaquetária, resistência” à aspirina, aumento da lipoproteína “a” (Lpa), aumento de
marcadores séricos de inflamação: selectinas E e P, molécula de adesão intercelular
(ICAM-1 Intercellular Adhesion Molecule-1), molécula de adesão vascular (VCAM-1
Vascular Adhesion Molecule-1), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α Tumor Necrosis
Factor–α), interleucina-6 (IL-6), proteína C-reativa hipersensível (h-CRP
hipersensitive C-Reactive Protein); aumento dos marcadores séricos de estresse
cardiovascular: peptídio natriurético pró-atrial mediorregional (PNproA-MR), pró-
adrenomedulina mediorregional (proADM-MR), pro-endotelin-1 Cterminal (proET-
1CT-), copeptina e escore de cálcio.
A seleção dos exames a serem ordenados tem que ser baseada em cada caso para saber
se naquele contexto o exame será útil ou não. As regras ou diretrizes são, como o nome
indica, apenas orientações de conduta e não podem ser interpretadas de modo
determinístico.
Para os FRCV clássicos, a prevalência é mais bem conhecida do que para os “novos”
FRCV. Assim, nos EUA, em 2003, aproximadamente 37% dos adultos relataram
apresentar dois ou mais FRCV clássicos e 90% dos pacientes com doença coronariana
apresentavam pelo menos um FRCV11.
Nesse estudo, pacientes do sexo feminino foram triadas para a presença de fatores de
risco cardiovascular de 18-39 anos de idade. Acompanhadas por mais de 35 anos,
apresentaram eventos cardiovasculares a uma taxa de 0,7:10.000 pacientes-ano caso
não apresentassem qualquer FRCV ao serem triadas. Essa taxa aumentou em cinco
vezes, mas para apenas 5,7:10.000 pacientes–ano caso tivessem dois ou mais FRCV.
Portanto, mesmo com dois ou mais fatores de risco cardiovascular presentes antes dos
40 anos de idade, considera-se a probabilidade de redução de eventos de apenas
5,0:10.000 pacientes-ano, sendo maximamente eficazes15.
As dislipidemias familiares são raras e sua busca seria mais eficaz após a restauração
do peso ideal. A dosagem de creatinina sérica e do exame de urina (elementos anormais
e sedimento) poderiam ser justificadas pelo fato de o paciente ser hipertenso Esses
exames seriam úteis para avaliar a função renal ou a presença de doença renal e
influenciar na escolha e doses de drogas anti-hipertensivas. O hemograma pode também
ser útil pela prevalência de anemia na população, seja associada a fatores nutricionais
seja associada a neoplasias. Em homem, com condições de emprego aparentemente
satisfatórias e assintomático, sem perda de peso, essa possibilidade também é baixa.
Ordenar os demais exames solicitados no caso pode ser inteiramente dispensável, pois
aumentarão o custo e nada contribuirão para a conduta do paciente. Apenas o K+ sérico
estaria indicado, pois o paciente vem em uso de droga e ela pode auxiliar no
diagnóstico de hiperaldosteronismo (embora doença com prevalência menor que 10%
dos pacientes com hipertensão arterial).
O escore de risco deste paciente seria de 39,4, ou seja, um escore comparável ou
semelhante ao escore médio de um homem com essa idade (escore de 37). Com o
escore abaixo de 40, o risco de morte por doença cardiovascular nos próximos cinco
anos é 2,1%, comparável ao risco médio para um homem da mesma faixa de idade de
1,7% em cinco anos. Considerando o escore de Framingham, o risco deste paciente em
10 anos seria 16%, comparável também ao risco médio de sua idade de 14%18.
Se este paciente controlar seus fatores de risco, seu escore de risco baixaria para 28,7,
seu risco de morte em cinco anos baixaria para 0,7% e seria agora classificado de
baixo risco, em que nenhuma intervenção invasiva estaria indicada.
Fica claro, portanto, que com poucos exames e com intervenções simples, podem-se
mudar as probabilidades de risco do paciente e mudar as indicações para possíveis
intervenções invasivas.
Finalmente, nos cuidados de saúde deste paciente, há que utilizar o método clínico para
definir a necessidade de indicar exames, buscando o diagnóstico de neoplasias ocultas
bem como proceder a intervenções como as vacinações indicadas em adultos para
prevenir doenças: vacinas anti-hepatites, anti-influenza, antipneumonia pneumocócica,
anti-herpes zoster e antitetânica.
Quase 80% das mortes cardiovasculares prematuras, AVE e diabetes, e 40% das mortes
por câncer podem ser prevenidas por medidas simples como dieta adequada, exercício
físico e eliminação do tabagismo e alcoolismo24.
Ações globais, nacionais e locais, devem ser implementadas para responderem aos
determinantes sociais das doenças, promovendo a saúde e equidade. Cada indivíduo é
único, embora carreie traços comuns a outros, e a sua resposta aos fatores externos,
inclusive às intervenções terapêuticas, pode se assemelhar, mas nunca ser exatamente
igual a de outro indivíduo, principalmente se existirem variações temporais. Daí a
importância de se acompanhar a história pessoal dos indivíduos, não somente durante a
doença, para compreender as diversas reações que aquele organismo apresenta aos
estímulos ambientais. Os modelos de sistemas complexos permitem melhor entender os
mecanismos de aparecimento ou emergência dos estados de saúde ou de doença.
Fica evidente que para reduzir o impacto socioeconômico das doenças crônicas não se
pode atuar dentro dos modelos clássicos de programas voltados para cada um dos
fatores de risco apontados de forma isolada, ou mesmo para vários fatores em conjunto
(intervenção 2 da Figura 1).
Os resultados serão menores ainda se a atuação for após as manifestações clínicas das
doenças (intervenção 3 da Figura 1), mesmo utilizando procedimentos de alta
complexidade. A probabilidade de mudar o prognóstico, nesse estágio evolutivo de
doença é reduzida; portanto, não pode ser surpresa o fato de ser encontrado nos ensaios
clínicos de uso de drogas para tratamento da hipertensão arterial ou do diabetes
mellitus ou das dislipidemias, resultados tão pouco efetivos.
Fica evidente que, atuando sobre o meio ambiente e, portanto sobre as condições de
vida das pessoas, atua-se sobre o conjunto de variáveis adversas e benéficas que
compõem o sistema complexo ambiental antropossociocultural (intervenção 1 da Figura
1). Portanto os resultados esperados serão melhores do que fazer intervenções
individuais, mesmo nos de alto risco (que representam também a minoria dos casos)27.
Referências
CASO CLÍNICO
Dados básicos: Paciente masculino, 61 anos, masculino, pardo, natural do Rio de
Janeiro, motorista de táxi, casado.
Doença principal: Hipertensão arterial sistêmica
Comorbidades: Hipertrofia ventricular esquerda
Fatores de risco cardiovascular: Obesidade central, hipertrofia ventricular esquerda,
dislipidemia, etilismo intenso, sedentarismo
Resumo caso clínico: Sabe ser hipertenso desde os 55 anos; iniciou o tratamento para
hipertensão (HA) há dois anos, mas nunca fez acompanhamento médico regular. Refere
já ter feito uso de várias medicações anti-hipertensivas, sem alcançar controle
satisfatório da pressão arterial (PA).
Há três meses iniciou queixa de tosse associada a cansaço inespecífico. Há uma semana
esteve em unidade de pronto atendimento com queixa de “dor de cabeça” e “falta de
ar”, sendo verificado na ocasião PA de 170/100mmHg. Após atendimento de urgência
foi liberado com orientação para procurar atendimento de cardiologia.
Refere ter colesterol elevado, nega diabetes melitus (DM) e doença renal. Informa
história familiar com mãe hipertensa, avó materna com história de acidente vascular
encefálico e pai que faleceu “com coração grande”. Nega tabagismo, informa ingestão
de bebida alcoólica (cerveja e mais raramente vinho, cerca de três doses / dia), é
sedentário.
Exame Físico
Corado, hidratado, acianótico, anictérico, eupneico.
PA sentado (MSD): 166/104mmHg; 158/100mmHg e 160/96mmHg (média da PA:
161/100mmHg). FC =88bpm; peso =82,7kg; altura =1,68m; índice de massa corporal
(IMC) =29,3kg/m²; circunferência da cintura =106cm. Carótidas sem sopros, pulsos
periféricos palpáveis e sem anormalidades. ACV: ritmo cardíaco regular em três
tempos (B4). AR: murmúrio vesicular universalmente audível, sem ruídos adventícios.
Abdome: globoso (aumento do panículo adiposo), sem massas ou visceromegalias e
sem sopros. Membros inferiores com sinais de insuficiência venosa periférica e sem
edema.
Eletrocardiograma convencional:
Figura 1
Eletrocardiograma convencional
OBJETIVOS
1. Entender a importância da hipertensão arterial dentro do continuum
cardiovascular.
2. Analisar as ferramentas para a estratificação do risco cardiovascular global
do paciente, com ênfase na detecção da hipertrofia ventricular esquerda.
3. Discutir as metas de PA, as opções terapêuticas recomendadas nessa situação
e seu impacto na redução do risco cardiovascular.
PERGUNTAS
1. Quais as principais possibilidades diagnósticas para este paciente e sua
importância dentro do continuum da doença cardiovascular?
No caso clínico descrito, o paciente apresenta várias situações clínicas relevantes que
envolvem fatores de risco cardiovascular e lesões em órgãos-alvo da hipertensão
arterial, descritos a seguir.
HA estágio 2:
Obesidade central:
Dislipidemia:
A DCV é responsável por mais de 300 mil mortes/ano no Brasil, sendo a doença
isquêmica do coração (DIC) a segunda causa de morte no país1, após o AVE. Os fatores
de risco cardiovasculares maiores classicamente definidos para as populações adultas
(idade, história familiar, tabagismo, HA, diabetes e dislipidemia) estão associados à
ocorrência de aterosclerose e suas complicações1,2. Quanto maior a quantidade e a
complexidade das placas ateroscleróticas existentes, maior é o risco de DIC1,2.
Etilismo intenso:
Sedentarismo:
Quadro 1
Avaliação complementar inicial de rotina na HA1
Quadro 2
Estratificação do risco individual do paciente hipertenso: risco cardiovascular adicional de acordo com a classificação
da HA e a presença de fatores de risco, lesões de órgãos-alvo e condições clínicas associadas (Classe IIa, Nível C)1
LOA=lesão em órgão-alvo; DCV=doença cardiovascular; DM=diabetes mellitus; SM=síndrome metabólica
*Doença cerebrovascular (acidente vascular encefálico hemorrágico ou isquêmico, alteração da função cognitiva) ou
Doença cardíaca (infarto, angina, revascularização coronariana, insuficiência cardíaca) ou Doença renal (nefropatia
diabética, déficit importante de função = clearance <60ml/min) ou Retinopatia avançada (hemorragias ou exsudatos,
papiledema) ou Doença arterial periférica
Para este paciente, as mudanças de estilo de vida foram estimuladas com ênfase
especial na perda de peso, introdução de atividade física regular e orientações para o
abandono do consumo abusivo de álcool.
Quadro 3
Principais efeitos clínicos das classes de fármacos anti-hipertensivos a partir de resultados de ensaios clínicos em
hipertensão arterial1,11,12,17
IECA= inibidor da ECA; BRA=bloqueador do receptor de angiotensina; IDR=inibidor direto da renina;
BCC=bloqueador do canal de cálcio; Beta=betabloqueador; CV=cardiovascular; DM=diabetes melitus;
ICC=insuficiência cardíaca; HVE=hipertrofia ventricular esquerda
De acordo com as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão1, hipertensos nos estágios 2
e 3 ou pacientes com risco cardiovascular alto ou muito alto (mesmo em estágio 1 de
HA) devem iniciar a terapêutica farmacológica com uma combinação de fármacos11,12.
As evidências demonstram que mais de 2/3 dos pacientes necessitam de associação de
fármacos para o controle da PA, notadamente pacientes de mais alto risco
cardiovascular global, caso do paciente em questão1. Outro conceito importante,
oriundo dos resultados do estudo VALUE13, recomenda que nos pacientes hipertensos
de alto risco, as metas de PA sejam alcançadas em um tempo máximo de seis meses
para efetiva proteção contra desfechos cardiovasculares.
Assim sendo, pelos motivos expostos, as classes terapêuticas com maior poder de
alcançar o objetivo clínico de redução da PA e regressão da HVE colocam em destaque
os IECA e os BRA, associados a diuréticos em baixas doses ou antagonistas dos canais
de cálcio. Entretanto, a despeito da classe terapêutica escolhida, as metas fundamentais
no tratamento dos indivíduos hipertensos devem ser o controle rigoroso dos níveis
tensionais e dos demais fatores de risco cardiovascular, a regressão da hipertrofia
ventricular esquerda e, em última análise, a redução das altas taxas de morbidade e
mortalidade associadas a essa condição1.
Referências
1. Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão /
Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl.1):1-51.
2. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FA, Bertolami, MC, Afiune Neto A, Souza
AD, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Departamento de Aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2007;88(supl.
1):2-19.
3. Ministério da Saúde. [Internet]. Datasus. Indicadores de fatores de risco e de
proteção. [acesso em 2011 nov. 13]. Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2009/g07_02.htm>
4. Rezende FA, Rosado LE, Ribeiro RC, Vidigal FC, Vasques AC, Bonard IS, et
al. Body mass index and waist circumference: association with
cardiovascular risk factors. Arq Bras Cardiol. 2006;87(6):728-34.
5. Bombelli M, Facchetti R, Carugo S, Madotto F, Arenare F, Quarti-Trevano F,
et al. Left ventricular hypertrophy increases cardiovascular risk
independently of in-office and out-of-office blood pressure values. J
Hypertens. 2009;27(12):2458-64.
6. Drazner MH. The progression of hypertensive heart disease. Circulation.
2011;123(3):327-34.
7. de Simone G, Izzo R, Trimarco B. Left ventricular hypertrophy: old marker,
new problems and new possibilities. J Hypertens. 2011;29(8):1480-2.
8. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM, Rohde LE, Oliveira
WA, Almeida DR, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz
Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol. 2009;93(1
supl.1):3-70.
9. Tsiachris D, Chrysohoou C, Oikonomou E, Lazaros G, Dimitriadis K,
Maragiannis D, et al. Distinct role of electrocardiographic criteria in
echocardiographic diagnosis of left ventricular hypertrophy according to age,
in the general population: the Ikaria Study. J Hypertens. 2011;29(8):1624-32.
10. Bauml MA, Underwood DA. Left ventricular hypertrophy: an overlooked
cardiovascular risk factor. Cleve Clin J Med. 2010;77(6):381-7.
11. Law MR, Morris JK, Wald NJ. Use of blood pressure lowering drugs in the
prevention of cardiovascular disease: meta-analysis of 147 randomised trials
in the context of expectations from prospective epidemiological studies.
BMJ. 2009;338:b1665.
12. Solomon SD, Appelbaum E, Manning WJ, Verma A, Berglund T, Lukashevich
V, et al; Aliskiren in Left Ventricular Hypertrophy (ALLAY) Trial
Investigators. Effect of the direct Renin inhibitor aliskiren, the Angiotensin
receptor blocker losartan, or both on left ventricular mass in patients with
hypertension and left ventricular hypertrophy. Circulation. 2009;119(4):530-
7.
13. Julius S, Kjeldsen SE, Weber M, Brunner HR, Ekman S, Hansson L, et al;
VALUE Trial Group. Outcomes in hypertensive patients at high
cardiovascular risk treated with regimens based on valsartan or amlodipine:
the VALUE randomised trial. Lancet. 2004;363(9426):2022-31.
14. Fagard RH, Celis H, Thijs L, Wouters S. Regression of left ventricular mass
by antihypertensive treatment: a meta-analysis of randomized comparative
studies. Hypertension. 2009;54(5):1084-91.
15. Klingbeil AU, Schneider M, Martus P, Messerli FH, Schmieder RE. A meta-
analysis of the effects of treatment on left ventricular mass in essential
hypertension. Am J Med. 2003;115(1):41-6.
16. Frohlich ED, González A, Diez J. Hypertensive left ventricular hypertrophy
risk: beyond adaptive cardiomyocytic hypertrophy. J Hypertens.
2011;29(1):17-26.
17. Sato A, Hayashi M, Saruta T. Relative long-term effects of spironolactone in
conjunction with an angiotensin-converting enzyme inhibitor on left
ventricular mass and diastolic function in patients with essential
hypertension. Hypertens Res. 2002;25(6):837-42.
18. Taniguchi I, Kawai M, Date T, Yoshida S, Seki S, Taniguchi M, et al. Effects
of spironolactone during an angiotensin II receptor blocker treatment on the
left ventricular mass reduction in hypertensive patients with concentric left
ventricular hypertrophy. Circ J. 2006;70(8):995-1000.
19. Yamanaka S, Tatsumi T, Shiraishi J, Mano A, Keira N, Matoba S, et al.
Amlodipine inhibits doxorubicin-induced apoptosis in neonatal rat cardiac
myocytes. J Am Coll Cardiol. 2003;41(5):870-8.
20. Williams SA, Michelson EL, Cain VA, Yang M, Nesbitt SD, Egan BM, et al;
TROPHY Study Investigators. An evaluation of the effects of an angiotensin
receptor blocker on health-related quality of life in patients with high-normal
blood pressure (prehypertension) in the Trial of Preventing Hypertension
(TROPHY). J Clin Hypertens (Greenwich). 2008;10(6):436-42.
21. Lüders S, Schrader J, Berger J, Unger T, Zidek W, Böhm M, et al; PHARAO
Study Group. The PHARAO study: prevention of hypertension with the
angiotensin-converting enzyme inhibitor ramipril in patients with high-normal
blood pressure: a prospective, randomized, controlled prevention trial of the
German Hypertension League. J Hypertens. 2008;26(7):1487-96.
DISLIPIDEMIA E OBESIDADE
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 42 anos, em tratamento para hipertensão arterial, com captopril e
hidroclorotiazida.
QP: “problemas de colesterol elevado”.
HDA: Veio à consulta de avaliação com o cardiologista após solicitação de exame de
sangue pelo clínico e por apresentar lipidograma com os seguintes valores: CT
=288mg/dL; Triglicerídeos =244mg/dL; HDL-c =36mg/dL; LDL-c =204mg/dL; VLDL-c
48mg/dL. Nega tabagismo.
OBJETIVOS
1. Discutir as ferramentas para o diagnóstico e as condutas mais atuais na
abordagem terapêutica das dislipidemias e da obesidade.
2. Identificar e analisar medidas farmacológicas e não farmacológicas que
visam à prevenção e ao tratamento das dislipidemias e da obesidade.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso clínico apresentado?
Excesso de peso é definido quando o índice de massa corporal (IMC) se situa entre
25kg/m2 - 29,9kg/m2; obesidade quando o IMC for ≥30kg/m2 4, através de análise da
relação dos parâmetros de peso e altura conforme a fórmula: peso/altura2 4 (peso
dividido pelo quadrado da altura). O paciente em questão encontra-se em grau II de
obesidade conforme o Quadro 1.
Quadro 1
Classificação de obesidade de acordo com o IMC2,4
A medida da circunferência abdominal permite identificar portadores de obesidade
central, que frequentemente está associada à síndrome metabólica. Essa forma de
obesidade deve ser avaliada com o paciente de pé, ao final da expiração, no ponto
médio entre o último arco costal e a crista ilíaca anterossuperior, com fita inelástica,
em posição horizontal e é definida, se a circunferência abdominal for >94cm para
homens e >85cm para mulheres2,3.
Para este paciente em particular, seu risco absoluto é de 6% em 10 anos de acordo com
o escore Framingham (Tabelas 1 e 2)
Tabela 1
Escores de risco de Framingham
Fonte: IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose2
Tabela 2
Escores de risco de Framingham (ERF) para cálculo do risco absoluto de infarto e morte em 10 anos para homens e
mulheres (Fase 2)
Fonte: IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose2
Ballantyne et al.19 demonstraram que ezetimiba / sinvastatina foi mais eficaz do que a
atorvastatina na redução do LDL-c em cada comparação de dose, desde maior aumento
da HDL-c com dose de 40mg, e 80mg dose de atorvastatina. Ezetimiba / sinvastatina é
altamente eficaz, sendo opção de tratamento bem tolerado em pacientes
hipercolesterolêmicos19.
LeBlanc et al.12 demonstraram que em amostra constituída por 1.235 adolescentes (12-
19 anos de idade), pequenas quantidades de moderada a vigorosa atividade física
estavam associadas à grande redução na probabilidade de valores elevados de HDL
colesterol e triglicérides, em amostra representativa de adolescentes12.
O tratamento farmacológico deve ser iniciado naqueles de risco baixo (seis meses
após) ou intermediário (três meses após) que não atingirem as metas após medidas não
farmacológicas2. Já nos pacientes de alto risco devem ser iniciados simultaneamente as
duas formas de tratamento (não farmacológico e farmacológico)2..
Quadro 2
Medidas terapêuticas iniciais e período de reavaliação2
Taylor et al.20 mostraram que o uso de niacina de liberação prolongada provoca uma
regressão significativa da espessura da camada íntima-média quando combinado com
uma estatina, sendo a niacina superior à ezetimiba, nessa avaliaçao em pacientes com
doença coronariana e em pacientes com fatores de risco para doença coronariana20.
Carvalho et al.10, ao avaliar adolescente entre 14-17 anos, matriculados na rede ensino
público do estado de São Paulo, demonstraram que a prevalência de dislipidemia fora
observada em 66,7% dos estudantes, e a alteração do HDL-colesterol, verificada em
56,7% destes. Os autores registraram associação estatisticamente significativa (p<0,05)
do índice de massa corporal, categorizado em tercis com o colesterol total e sua fração
LDL, inclusive quando estratificados por sexo e tipo de escola. Concluíram que há
necessidade da adição de medidas preventivas, a fim de se evitar que cada vez mais
crianças e adolescentes venham a se tornar adultos portadores de obesidades e outras
doenças crônicas10.
Referências
1. Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Hipertensão;
Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl.1):1-51.
2. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FA, Bertolami MC, Afiune Neto A, Souza
AD, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Departamento de Aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2007;88(supl.
1):2-19.
3. Sociedade Brasileira de Hipertensão; Sociedade Brasileira de Cardiologia;
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia; Sociedade
Brasileira de Diabetes; Associação Brasileira para Estudos da Obesidade,
Brandão AP, Brandão AA, Nogueira AR, Suplicy H, Guimarães JI, Oliveira
JE, et al. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome
Metabólica. Arq Bras Cardiol. 2005;84(supl. I):1-28.
4. National Institutes of Health. Clinical Guidelines on the Identification,
Evaluation, and Treatment of Overweight and Obesity in Adults: the Evidence
Report. National Institutes of Health. Obes Res. 1998;(6 Suppl 2):51S-209S.
Erratum in: Obes Res. 1998;6(6):464.
5. Fonseca FAH, Kuymijian W, Izar MCO, Ihara SSM. Hipertensão e
dislipidemias. Rev Bras Hipertens. 2002;9(3):268-72.
6. Kopelman PG. Medical management of obesity. Br J Hosp Med (Lond).
2007;68(2):89-93.
7. Fernandes RA, Christofaro DGD, Casonatto J, Codogno JS, Rodrigues EQ,
Cardoso ML, et al. Prevalência de dislipidemia em indivíduos fisicamente
ativos durante a infância, adolescência e idade adulta. Arq Bras Cardiol.
2011;97(4):317-23.
8. Nicholls SJ, Ballantyne CM, Barter PJ, Chapman MJ, Erbel RM, Libby P, et
al. Effect of two intensive statin regimens on progression of coronary disease.
N Engl J Med. 2011;365(22):2078-87.
9. European Association for Cardiovascular Prevention & Rehabilitation,
Reiner Z, Catapano AL, De Backer G, Graham I, Taskinen MR, Wiklund O, et
al. ESC/EAS Guidelines for the Management of Dyslipidaemias: the Task
Force for the Management of Dyslipidaemias of the European Society of
Cardiology (ESC) and the European Atherosclerosis Society (EAS). Eur
Heart J. 2011;32(14):1769-818.
10. Carvalho DF, Paiva AA, Melo ASO, Ramos AT, Medeiros JS, Medeiros
CCM, et al. Perfil lipídico e estado nutricional de adolescentes. Rev Bras
Epidemiol. 2007;10(4):491-8.
11. Baigent C, Landray MJ, Reith C, Emberson J, Wheeler DC, Tomson C, et al;
SHARP Investigators. The effects of lowering LDL cholesterol with
simvastatin plus ezetimibe in patients with chronic kidney disease (Study of
Heart and Renal Protection): a randomised placebo-controlled trial. Lancet.
2011;377(9784):2181-92.
12. LeBlanc AG, Janssen I. Dose-response relationship between physical activity
and dyslipidemia in youth. Can J Cardiol. 2010;26(6):201-5.
13. Franks PW, Hanson RL, Knowler WC, Sievers ML, Bennett PH, Looker HC.
Childhood obesity, other cardiovascular risk factors, and premature death. N
Engl J Med. 2010;362(6):485-93.
14. Barter P, Gotto AM, LaRosa JC, Maroni J, Szarek M, Grundy SM, et al;
Treating to New Targets Investigators. HDL cholesterol, very low levels of
LDL cholesterol, and cardiovascular events. N Engl J Med.
2007;357(13):1301-10.
15. LaRosa JC, Grundy SM, Waters DD, Shear C, Barter P, Fruchart JC, et al;
Treating to New Targets (TNT) Investigators. Intensive lipid lowering with
atorvastatin in patients with stable coronary disease. N Engl J Med.
2005;352(14):1425-35.
16. Kastelein JJ, Akdim F, Stroes ES, Zwinderman AH, Bots ML, Stalenhoef AF,
et al; ENHANCE Investigators. Simvastatin with or without ezetimibe in
familial hypercholesterolemia. N Engl J Med. 2008;358(14):1431-43.
Erratum in: N Engl J Med. 2008;358(18):1977.
17. Koh KK, Lim S, Sakuma I, Quon MJ. Caveats to aggressive lowering of
lipids by specific statins. Int J Cardiol. 2012;154(2):97-101.
18. Stroke Prevention by Aggressive Reduction in Cholesterol Levels (SPARCL)
Investigators, Karam JG, Loney-Hutchinson L, McFarlane SI. High-dose
atorvastatin after stroke or transient ischemic attack: The Stroke Prevention
by Aggressive Reduction in Cholesterol Levels (SPARCL) Investigators. J
Cardiometab Syndr. 2008;3(1):68-9.
19. Ballantyne CM, Abate N, Yuan Z, King TR, Palmisano J. Dose-comparison
study of the combination of ezetimibe and simvastatin (Vytorin) versus
atorvastatin in patients with hypercholesterolemia: the Vytorin Versus
Atorvastatin (VYVA) study. Am Heart J. 2005;149(3):464-73. Erratum in:
Am Heart J. 2005;149(5):882.
20. Taylor AJ, Villines TC, Stanek EJ, Devine PJ, Griffen L, Miller M, et al.
Extended-release niacin or ezetimibe and carotid intima-media thickness. N
Engl J Med. 2009;361(22):2113-22.
21. James WP, Caterson ID, Coutinho W, Finer N, Van Gaal LF, Maggioni AP, el
al; SCOUT Investigators. Effect of sibutramine on cardiovascular outcomes
in overweight and obese subjects. N Engl J Med. 2010;363(10):905-17.
22. Resolução RDC nº 52. Diário Oficial da União (DOU) n° 195, Seção 01,
p.55 de 06/10/2011. Disponível em:
<http://www.in.gov.br/visualiza/index.jsp?
data=10/10/2011&jornal=1&pagina=55&totalArquivos=128>
DIABETES COM ACOMETIMENTO RENAL
CASO CLÍNICO
Dados básicos: Paciente masculino, 55 anos, natural do RJ.
Doença principal: Hipertensão arterial há 10 anos.
Comorbidades: Diabetes mellitus recém-diagnosticado.
Fatores de risco cardiovascular: Sedentarismo, nega história familiar de doença
cardiovascular ou tabagismo.
Breve quadro clínico: Refere perda de 4kg no ultimo mês.
Outros dados relevantes: Aumento da diurese.
OBJETIVOS
1. Distinguir as possíveis formas de diagnóstico de diabetes mellitus e
identificar o pré-diabetes como condição de risco aumentado para
desenvolver diabetes.
2. Saber identificar microalbuminúria e reconhecer a importância da presença
de microalbuminúria para as doenças cardiovasculares.
3. Identificar a disfunção renal como fator de risco cardiovascular e conhecer
as diferentes formas de estimar a taxa de filtração glomerular.
4. Determinar os mecanismos patogênicos da nefropatia diabética.
5. Definir os critérios diagnósticos para síndrome metabólica.
6. Avaliar o risco cardiovascular no paciente hipertenso.
7. Apresentar as metas de tratamento no paciente hipertenso e diabético.
8. Descrever os medicamentos de escolha no indivíduo com hipertensão e
diabetes mellitus tipo 2.
PERGUNTAS
1. Como confirmar o diagnóstico de diabetes mellitus?
De acordo com as diretrizes atuais da Sociedade Brasileira de Diabetes1, para o
diagnóstico de diabetes mellitus é necessário considerar um dos seguintes critérios: a)
glicemia de jejum ≥126mg/dl; b) glicemia 2 horas após sobrecarga com 75g de glicose
≥200mg/dl; c) glicemia ao acaso ≥200mg/dl com sintomas clássicos de hiperglicemia
ou crise hiperglicêmica; d) hemoglobina glicada ≥6,5%, por método certificado pelo
NGSP (National Glycohemoglobin Standardization Program).
Devido à dificuldade para coleta de urina por 24 horas, está validada a pesquisa de
microalbuminúria através da relação entre albumina e creatinina (UACR – urinary
albumin-creatinine ratio) na primeira amostra (spot) de urina da manhã. Da mesma
forma, quando os resultados indicam valores entre 30-300mg/g, a microalbuminúria é
confirmada2. Importante também notar que a unidade da albumina urinária deve estar
entre mg/dl e a da creatinina urinária em g/dl, para a correta interpretação da UACR em
miligramas de albumina por gramas de creatinina. Para uma adequada conclusão, esses
valores devem ser repetidos em pelo menos duas de três amostras no período de três a
seis meses.
Quadro 1
Classificação da doença renal crônica
TFG=taxa de filtração glomerular
Componentes do diabetes atuam sobre as células dos rins ativando diversas cascatas de
sinalização intracelular. A via Iĸ quinase ativa a NFĸ, uma das principais responsáveis
pela regulação de muitas citocinas químicas, citocinas inflamatórias, células de adesão
e outra moléculas relevantes na patogênese da nefropatia diabética. A MAPK controla a
expressão do fator de crescimento das células endoteliais renais e é essencial na
regulação de muitos processos celulares (inflamação, transcrição de gene, ativação de
proteínas individuais, alteração na permeabilidade da membrana e da motilidade
celular, diferenciação, crescimento e morte celular). A JAK-STAT media a sinalização
dos efeitos do fator de crescimento, de citocinas e angiotensina II resultando em
aumento da expressão e ativação da TGF-, produção de colágeno de fibropectina e
estimulando o crescimento de células mesangiais nas células glomerulares
tubulointersticiais. A ativação dessas vias resulta em infiltração pelas células
inflamatórias circulantes que amplifica e perpetua o processo inflamatório nos rins,
finalmente resultando no desenvolvimento e progressão da nefropatia diabética. Além
disso, o aumento da proteinúria (uma característica da lesão renal no paciente com
diabetes) completa o círculo vicioso do dano renal.
Sim. De acordo com a mais recente harmonização dos critérios para o diagnóstico da
síndrome metabólica (SM)13, propostos pela International Diabetes Federation
(IDF); National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLI); American Heart
Association (AHA); World Heart Federation (WHF); International Atherosclerosis
Society (IAS) e International Association for the Study of Obesity (IASO)13 o
diagnóstico da SM será feita com a presença de três das seguintes variáveis:
circunferência da cintura abdominal ≥90cm para homens sul-americanos e ≥80cm para
mulheres sul-americanas; triglicérides ≥150mg/dL ou tratamento específico para essa
dislipidemia; HDL-col <40mg/dl para homens e <50mg/dl para mulheres ou tratamento
específico para essa dislipidemia; pressão arterial (PA) sistólica ≥130mmHg ou
diastólica ≥85mmHg ou em tratamento com hipotensores; glicemia de jejum ≥100mg/dl.
Destaca-se que, por esse consenso, não há a obrigatoriedade da obesidade abdominal.
10. Que medicamentos devem ser utilizados para atingir as metas estabelecidas?
Dislipidemia: Iniciar com as estatinas que devem ser administradas, em dose única
diária, preferencialmente à noite para drogas de meia-vida curta (ex. sinvastatina de
20-80mg/dia) ou em qualquer horário para fármacos com meia-vida longa (ex.
atorvastatina de 1-80mg/dia e a rosuvastatina de 10-40mg/dia)19. Lembrando que o
efeito terapêutico só será mantido com doses diárias, não deve ser suspenso (exceto se
houver efeito colateral) ou mesmo utilizado em dias alternados.
Referências
1. Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). [Internet]. Algoritmo para o
tratamento do diabetes tipo 2. Atualização 2011. Posicionamento Oficial
Sociedade Brasileira de Diabetes nº3 – 2011. [acesso em 2011 dez. 18].
Disponível em <http://www.diabetes.org.br/publicacoes/diretrizes-da-sbd>
2. Lane C, Brown M, Dunsmuir W, Kelly J, Mangos G. Can spot urine
protein/creatinine ratio replace 24h urine protein in usual clinical
nephrology? Nephrology (Carlton). 2006;11(3):245-9.
3. Schiffrin EL, Lipman ML, Mann JF. Chronic kidney disease: effects on the
cardiovascular system. Circulation. 2007;116(1):85-97.
4. Ibsen H, Wachtell K, Olsen MH, Borch-Johnsen K, Lindholm LH, Mogensen
CE, et al. Albuminuria and cardiovascular risk in hypertensive patients with
left ventricular hypertrophy: the LIFE Study. Kidney Int Suppl. 2004;
(92):S56-8.
5. Olsen MH, Wachtell K, Bella JN, Palmieri V, Gerdts E, Smith G, et al.
Albuminuria predicts cardiovascular events independently of left ventricular
mass in hypertension: a LIFE substudy. J Hum Hypertens. 2004;18(6):453-9.
6. Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão /
Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl.1):1-51.
7. Poggio ED, Wang X, Greene T, Van Lente F, Hall PM. Performance of the
modification of diet in renal disease and Cockcroft-Gault equations in the
estimation of GFR in health and in chronic kidney disease. J Am Soc
Nephrol. 2005;16(2):459-66.
8. Hallan S, Asberg A, Lindberg M, Johnsen H. Validation of the Modification
of Diet in Renal Disease formula for estimating GFR with special emphasis
on calibration of the serum creatinine assay. Am J Kidney Dis.
2004;44(1):84-93.
9. Cooper ME. Interaction of metabolic and haemodynamic factors in mediating
experimental diabetic nephropathy. Diabetologia. 2001;44(11):1957-72.
10. Wolf G. New insights into the pathophysiology of diabetic nephropathy: from
haemodynamics to molecular pathology. Eur J Clin Invest. 2004;34(12):785-
96.
11. Martini S, Eichinger F, Nair V, Kretzler M. Defining human diabetic
nephropathy on the molecular level: integration of transcriptomic profiles
with biological knowledge. Rev Endocr Metab Disord 2008;9(4):267-74.
12. Navarro-González JF, Mora-Fernández C, Muros de Fuentes M, Garcia-Pérez
J. Inflammatory molecules and pathways in the pathogenesis of diabetic
nephropathy. Nat Rev Nephrol. 2011;7(6):327-40.
13. Alberti KG, Eckel RH, Grundy SM, Zimmet PZ, Cleeman JI, Donato KA, et
al; International Diabetes Federation Task Force on Epidemiology and
Prevention; National Heart, Lung, and Blood Institute; American Heart
Association; World Heart Federation; International Atherosclerosis Society;
International Association for the Study of Obesity. Harmonizing the metabolic
syndrome: a joint interim statement of the International Diabetes Federation
Task Force on Epidemiology and Prevention; National Heart, Lung, and
Blood Institute; American Heart Association; World Heart Federation;
International Atherosclerosis Society; and International Association for the
Study of Obesity. Circulation. 2009;120(16):1640-5.
14. Mancia G, De Backer G, Dominiczak A, Cifkova R, Fagard R, Germano G, et
al. 2007 Guidelines for the management of arterial hypertension: The Task
Force for the Management of Arterial Hypertension of the European Society
of Hypertension (ESH) and of the European Society of Cardiology (ESC).
Eur Heart J. 2007;28(12):1462-536.
15. Wilson PW, D’Agostino RB, Levy D, Belanger AM, Silbershatz H, Kannel
RB. Prediction of coronary heart disease using risk factor categories.
Circulation. 1998;97(18):1837-47.
16. Campbell NR, Khan NA, Hill MD, Tremblay G, Lebel M, Kaczorowski J, et
al. 2009 Canadian Hypertension Education Program recommendations: the
scientific summary – an annual update. Can J Cardiol. 2009;25(5):271-7.
17. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cushman WC, Green LA, Izzo JL Jr, et
al. Seventh report of the Joint National Committee on Prevention, Detection,
Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. Hypertension.
2003;42(6):1206-52.
18. American Diabetes Association. Standards of medical care in diabetes -
2009. Diabetes Care. 2009;32(suppl 1):S13-61.
19. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FA, Bertolami, MC, Afiune Neto A, Souza
AD, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Departamento de Aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2007;88(supl.
1):2-19.
20. Atkins RC, Briganti EM, Lewis JB, Hunsicker LG, Braden G, Champion de
Crespigny PJ, et al. Proteinuria reduction and progression to renal failure in
patients with type 2 diabetes mellitus and overt nephropathy. Am J Kidney
Dis. 2005;45(2):281-7.
21. Estacio RO, Coll JR, Tran ZV, Schrier RW. Effect of intensive blood pressure
control with valsartan on urinary albumin excretion in normotensive patients
with type 2 diabetes. Am J Hypertens. 2006;19(12):1241-8.
22. de Zeeuw D, Remuzzi G, Parving HH, Keane WF, Zhang Z, Shahinfar S, et al.
Proteinuria, a target for renoprotection in patients with type 2 diabetic
nephropathy: lessons from RENAAL. Kidney Int. 2004;65(6):2309-20.
23. Parving HH, Persson F, Lewis JB, Lewis EJ, Hollenberg NK; AVOID Study
Investigators. Aliskiren combined with losartan in type 2 diabetes and
nephropathy. N Engl J Med. 2008;358(23):2433-46.
TABAGISTA COM DOENÇA VASCULAR
PERIFÉRICA
Marcel Coloma
Alberto José de Araújo
CASO CLÍNICO
No momento da avaliação inicial, estava fazendo tratamento para úlceras nos dedos das
mãos e dos pés e iria se submeter à amputação de duas polpas digitais (indicador e
médio da mão direita) que haviam necrosado e infeccionado. Usa diazepam de 10mg há
cinco anos. Já fez uso de fluoxetina 20mg durante seis meses.
Em relação ao ano passado relatou que agora estava fumando mais (desde que soube do
diagnóstico ficou mais nervosa) e que dependendo do momento em que está vivendo
fuma 2-3 cigarros seguidos. Já fez duas tentativas para deixar de fumar, a última há um
ano na Igreja em que frequenta e, em nenhuma delas, conseguiu parar. Chegou a usar
adesivos de nicotina por conta própria, durante cinco dias, mas fumou junto e sentiu
mais dores nos dedos, tendo que interromper.
História Social & Ocupacional: refere que o marido trabalha de ajudante de pedreiro e
que parou de fumar sozinho há cinco anos. Ela trabalha no trailer há oito anos, no
período noturno, onde complementa a renda da família. Tem duas filhas adolescentes
não fumantes que pedem muito que ela pare de fumar.
História Familial: os pais eram fumantes, o pai morreu devido a infarto do miocárdio e
a mãe tem bronquite crônica. Dos quatro irmãos, dois fumam. Somente ela tem esse
problema de saúde vascular.
A paciente foi acompanhada individualmente a cada 15 dias nos primeiros três meses
(não se sentia bem no grupo) com aconselhamento cognitivo-comportamental associado
aos medicamentos3,4. A paciente parou de fumar na 4ª semana de tratamento, tendo
permanecido em abstinência por dois meses e obtendo grande melhora do quadro
clínico da tromboangeíte nesse período. Foi encaminhada para acompanhamento
conjunto com o serviço de saúde mental, iniciando psicoterapia no próprio HU.
OBJETIVOS
1. Avaliar os impactos e os benefícios do tratamento do tabagismo na evolução
e no prognóstico da tromboangeíte obliterante.
2. Discutir a abordagem terapêutica dos fumantes com tromboangeíte obliterante
baseada em evidências científicas.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso clínico apresentado?
O caso em questão nos remete a paciente jovem com doença vascular periférica. A
principal hipótese diagnóstica baseada na história clínica e nos fatores de risco é de
tromboangeíte obliterante. Outras hipóteses consistem em: doença vascular periférica
ateroesclerótica, ateroembolismo, doenças que cursem com hipercoagulabilidade
(policitemia vera, síndrome do anticorpo antifosfolipídeo, trombocitose essencial) e
vasculites por doenças do colágeno. Hipóteses pouco prováveis, mas que cabe
ressaltar: intoxicação por ergotamina e arterite por uso de canabinoide (Quadro 1).
Quadro 1
Diagnóstico diferencial de tromboangeíte obliterante
Quadro 2
Critérios diagnósticos para tromboangeíte obliterante
O teste de Allen também deve ser feito, sendo um teste positivo no punho em jovem
fumante muito sugestivo de tromboangeíte obliterante9. Pletismografia digital ainda
pode ser utilizada para avaliar a circulação distal, porém não distingue tromboangeíte
obliterante de outras vasculites.
Infecção periodontal crônica por bactérias anaeróbias também pode estar relacionada à
tromboangeíte obliterante. Cerca de 2/3 dos pacientes apresentam infecção periodontal
grave, porém como essa prevalência é semelhante em fumantes sem tromboangeíte
obliterante tal fato pode ser um fator de confundimento15.
O único tratamento eficaz para evitar a progressão da doença é parar de fumar. Outros
tratamentos são úteis para aliviar os sintomas, mas são considerados paliativos. O
tratamento das úlceras digitais deve ser realizado da mesma forma como em outras
feridas isquêmicas. Iloprost, um análogo da prostaglandina, auxilia no alívio da dor19.
Bloqueadores do canal de cálcio são usados no manejo do vasoespasmo associado ao
fenômeno de Raynaud6. Compressão pneumática intermitente em pés e panturrilhas
aumenta o fluxo arterial nos membros inferiores ao reduzir a resistência arterial
periférica, melhorando a isquemia do membro e a claudicação20. Angiogênese
terapêutica, terapia celular e cilostazol são terapias ainda experimentais.
Revascularização arterial cirúrgica raramente está indicada devido à história natural de
oclusão em região distal do membro. Simpatectomia e estimulação medular são terapias
invasivas ainda em estudo.
Referências
1. DiClemente CC, Prochaska JO. Self-change and therapy change of smoking
behavior: a comparison of processes of change in cessation and maintenance.
Addict Behav. 1982;7(2):133-42.
2. Bandura A. Self-efficacy: the exercise of control. New York: W.H.Freeman;
1997.
3. Fiore MC, Jaén CR, Baker TB, Bailey WC, Benowitz Nl, Curry SJ, et al;
2008 PHS Guideline Update Panel, Liaisons, and Staff. Treating tobacco use
and dependence: 2008 update U.S. Public Health Service Clinical Practice
Guideline executive summary. Respir Care. 2008;53(9):1217-22.
4. Reichert J, Araújo AJ, Gonçalves CM, Godoy I, Chatkin JM, Sales MP, et al;
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes para Cessação
do Tabagismo – 2008. J Bras Pneumol. 2008;34(10):845-80.
5. Lie JT. Thromboangiitis obliterans (Buerger's disease) and smokeless
tobacco. Arthritis Rheum. 1988;31(6):812-3.
6. Olin JW. Thromboangiitis obliterans (Buerger's disease). N Engl J Med.
2000;343(12):864-9.
7. Puéchal X, Fiessinger JN. Thromboangiitis obliterans or Buerger's disease:
challenges for the rheumatologist. Rheumatology (Oxford). 2007;46(2):192-9.
8. Shionoya S, Ban I, Nakata Y, Matsubara J, Hirai M, Kawai S. Involvement of
the iliac artery in Buerger's disease (pathogenesis and arterial
reconstruction). J Cardiovasc Surg (Torino). 1978;19(1):69-76.
9. Piazza G, Creager MA. Thromboangiitis obliterans. Circulation.
2010;121(16):1858-61.
10. Pereira de Godoy JM, Braile DM. Buerger's disease and anticardiolipin
antibodies. J Cardiovasc Med (Hagerstown). 2009;10(10):792-4.
11. Lie JT. Diagnostic histopathology of major systemic and pulmonary vasculitic
syndromes. Rheum Dis Clin North Am. 1990;16(2):269-92.
12. Kobayashi M, Ito M, Nakagawa A, Nishikimi N. Nimura Y.
Immunohistochemical analysis of arterial wall cellular infiltration in
Buerger's disease (endarteritis obliterans). J Vasc Surg. 1999;29(3):451-8.
13. Avcu F, Akar E, Demirkiliç U, Yilmaz E, Akar N, Yalçin A. The role of
prothrombotic mutations in patients with Buerger's disease. Thromb Res.
2000;100(3):143-7.
14. Hurt RD, Hays JT. Urinary tobacco alkaloid measurement in patients having
thromboangiitis obliterans. Mayo Clin Proc. 2008;83(10):1187-8.
15. Iwai T, Inoue Y, Umeda M, Huang Y, Kurihara N, Koite M, et al. Oral
bacteria in the occluded arteries of patients with Buerger disease. J Vasc
Surg. 2005;42(1):107-15.
16. Cooper LT, Tse TS, Mikhail MA, McBane RD, Stanson AW, Ballman KV.
Long-term survival and amputation risk in thromboangiitis obliterans
(Buerger's disease). J Am Coll Cardiol. 2004;44(12):2410-1.
17. Corelli F. Buerger's disease: cigarette smoker disease may always be cured
by medical therapy alone. Uselessness of operative treatment. J Cardiovasc
Surg (Torino). 1973;14(1):28-36.
18. Ohta T, Ishioashi H, Hosaka M, Sugimoto I. Clinical and social consequences
of Buerger disease. J Vasc Surg. 2004;39(1):176-80.
19. Oral iloprost in the treatment of thromboangiitis obliterans (Buerger's
disease): a double-blind, randomised, placebo-controlled trial. The European
TAO Study Group. Eur J Vasc Endovasc Surg. 1998;15(4):300-7. Erratum in:
Eur J Vasc Endovasc Surg. 1998;16(5):456.
20. Labropoulos N, Watson WC, Mansour MA, Kang SS, Littooy FN, Baker WH.
Acute effects of intermittent pneumatic compression on popliteal artery blood
flow. Arch Surg. 1998;133(10):1072-5.
SÍNDROME METABÓLICA
Roselee Pozzan
Roberto Pozzan
CASO CLÍNICO
Dados básicos: Paciente feminina, 32 anos, história de ganho de 20kg nos últimos 10
anos.
OBJETIVOS
1. Discutir os critérios de identificação da síndrome metabólica.
2. Discutir a sua natureza progressiva e os riscos associados à mesma.
3. Discutir a abordagem ao paciente com síndrome metabólica e a importância
da prevenção de sua progressão.
PERGUNTAS
1. Que alterações a paciente do caso apresenta? É possível agrupá-las sob uma
única definição?
Trata-se de uma mulher jovem, que procura o médico sem queixas, apenas com a
finalidade de conseguir um atestado para prática de atividade física. No entanto, a
mesma apresenta uma série de alterações ao exame físico e nos exames laboratoriais
que permitem o diagnóstico de:
Há que se ressaltar que a paciente apresenta uma história familiar de coronariopatia (no
avô, após os 55 anos), de diabetes, hipertensão arterial e obesidade além de ser
tabagista e sedentária. Portanto, embora jovem, esta paciente já apresenta uma
constelação de fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes, hipertensão
arterial e de doença coronariana, sendo importante a quantificação adequada desse
risco e a adoção de medidas preventivas.
De todas as definições propostas para a síndrome metabólica, a que tem sido mais
amplamente empregada é a do NCEP ATP III que, em 200514, publicou uma revisão
com as seguintes alterações:
É razoável supor que a conjunção das diferentes variáveis presentes na SM tenha efeito
multiplicativo e não somatório sobre o risco cardiovascular. Além disso, uma vez que
diferentes fatores associados ao risco cardiovascular ocorrem em conjunto com a
síndrome, embora não façam parte dos critérios diagnósticos da mesma, seria esperado
que a presença da síndrome metabólica impusesse um risco maior do que aquele
relacionado à soma de seus componentes7. Tal fato nem sempre tem sido confirmado na
literatura, já que em alguns estudos descreve-se o desaparecimento do excesso de risco
associado à SM após ajuste para os componentes da mesma18.
Esses achados poderiam ser explicados pelo fato de a SM ser uma entidade
heterogênea, cujo diagnóstico é firmado frente a uma ampla gama de combinações de
variáveis com distintos riscos associados. Assim, embora a presença da SM identifique
um risco cardiovascular elevado no indivíduo, ela não permite quantificar o mesmo,
como é possível fazer, por exemplo, empregando-se o escore de Framingham4. Há que
se ressaltar também que fatores de risco importantes como tabagismo, sexo e idade, que
são utilizados no cálculo do escore de Framingham, não fazem parte da síndrome
metabólica.
Diante desse resultado, a paciente poderia julgar que o risco é pequeno e que nenhuma
conduta preventiva necessitaria ser adotada, porém considerando que nada, a não ser a
idade mudasse nesta paciente, aos 42 anos ela já apresentaria um risco de 14% e aos 52
anos um risco acima de 30% e, portanto, elevadíssimo. Considerando a natureza
progressiva da SM, é bastante provável que o risco da paciente venha a crescer de
forma muito maior, com o passar dos anos, se nenhuma intervenção vier a ser feita.
Sendo assim, os pacientes com SM devem ter o seu risco cardiovascular quantificado
por outros métodos a fim de que se possa definir a intensidade das estratégias e as
metas terapêuticas; porém uma vez identificada a presença da SM, faz-se necessária a
introdução precoce e mantida de mudanças de hábitos de vida, a fim de evitar a sua
progressão.
Diversos outros estudos têm confirmado o benefício da mudança de estilo de vida para
a prevenção da progressão da intolerância à glicose, sendo estas consideradas custo-
efetivas21.
Os hábitos alimentares da paciente devem ser levantados e um novo plano deve ser
estabelecido. As mudanças nos hábitos devem ser implementadas o mais precocemente
possível, sendo importante contar com a adesão de todo o grupo familiar a fim de
facilitar a sua manutenção. Estas envolvem: limitar a ingesta de sal, limitar a ingesta de
álcool, limitar a ingesta de gordura especialmente a saturada (de origem animal
principalmente), limitar a ingesta de açúcares simples e encorajar o uso de
carboidratos complexos e ricos em fibras, presentes em legumes, frutas e legumes. A
quantidade de calorias a ser ingerida por dia varia, na dependência do peso do
indivíduo, e deve-se considerar a importância de não estabelecer metas irreais de peso,
já que os benefícios são observados com perdas de 5% a 10% sobre o peso inicial1.
Considerando que a paciente do caso em questão tem um IMC acima de 30kg/m2, ela
seria candidata ao uso de medicamentos para controle da obesidade, no caso de falha
do tratamento não farmacológico. Uma vez que a paciente é jovem e não apresenta DCV
ou DM, poderia ser prescrito sibutramina ou orlistate1. Em relação ao orlistate, cabe
citar que numa análise conjunta de três estudos, envolvendo no total 642 pacientes
obesos, o uso desse medicamento não foi capaz de prevenir a progressão para o
diabetes24.
Existem evidências de que mesmo indivíduos com baixo risco, mas com pressão
arterial limítrofe têm incidência aumentada de eventos cardiovasculares em 14 anos25 e
maior mortalidade por AVE26, justificando algum tipo de intervenção. Assim sendo,
medidas de modificação no estilo de vida devem ser implementadas imediatamente,
sendo a paciente reavaliada após seis meses3.
Por outro lado, alguns estudos como o PHARAO30 e TROPHY31 avaliaram a utilização
de fármacos como forma de prevenir o desenvolvimento da hipertensão arterial em
indivíduos portadores de pressão arterial classificada como normal alta ou limítrofe. O
uso de candesartan no estudo TROPHY foi capaz de reduzir o risco relativo da
ocorrência de hipertensão arterial em 34% após 1200 dias quando comparado ao
placebo, e o uso de ramipril reduziu o risco relativo em 66,3% após dois anos e em
15,6% após quatro anos, também quando comparado ao placebo. Apesar dos resultados
positivos observados em ambos os estudos, o número de participantes foi pequeno e
não houve evidências suficientes na prevenção de desfechos cardiovasculares para que
a administração de anti-hipertensivos pudesse ser recomendada em pacientes com
pressão arterial limítrofe. Sendo assim, a recomendação do uso de medicamentos anti-
hipertensivos no manejo de indivíduos com comportamento limítrofe da PA, segundo as
VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial3, fica reservado apenas em condições
de risco cardiovascular global alto ou muito alto.
Tem sido descrito o benefício da atividade física aeróbica na redução dos níveis de
triglicerídeos e no aumento dos níveis de HDL, o que seria importante para a paciente
estudada. O uso de drogas para controle da dislipidemia, visando à prevenção das
doenças cardiovasculares, está indicado quando as metas terapêuticas para cada
categoria de risco não são alcançadas com as MEV4,11. No caso discutido, a meta
terapêutica é um LDL<160mg/dl e colesterol não HDL<190mg/dl, que na realidade a
paciente já apresenta.
Ainda existem questões pendentes em relação à SM, incluindo dúvidas se ela realmente
existe enquanto entidade nosológica, e quais os parâmetros que devem ou não ser
considerados para seu diagnóstico. Por outro lado, é evidente que a sua presença marca
uma situação de risco progressivo na qual se deve atuar o mais precocemente possível
com mudanças nos hábitos de vida.
Felipe Albuquerque
Gustavo Duque
CASO CLÍNICO
Paciente do sexo feminino, 65 anos de idade, IMC =36,9kg/m2, natural do Rio de
Janeiro.
Doença principal: doença cerebrovascular. Tinha como comorbidades: hipertensão
arterial sistêmica, diabetes melitus tipo 2, doença pulmonar obstrutiva crônica,
dislipidemia. Fatores de risco cardiovascular: sedentarismo, tabagismo, obesidade,
dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia
Dados antropométricos: Peso: 92kg. Altura: 1,58m. Sinais Vitais: FC: 86bpm. Pressão
Arterial: 144 x 94mmHg.
OBJETIVOS
1. Demonstrar importância epidemiológica do AVE, reconhecendo seus fatores
de risco e identificando AIT como marcador prognóstico.
2. Discutir a avaliação clínica nos pacientes pós-AVE e a rotina mínima
diagnóstica durante internação.
3. Descrever tratamento clinicofarmacológico nos pacientes pós-AVE, incluindo
a abordagem multidisciplinar.
4. Descrever as medidas de prevenção secundária.
PERGUNTAS
1. Qual a importância epidemiológica da doença cerebrovascular, seus fatores de
risco e como o AIT que a paciente apresentou pode ser interpretado?
2. Qual deve ser a abordagem diagnóstica dessa paciente no primeiro contato com
o cardiologista após a internação?
Por isso, a abordagem diagnóstica atual deverá ser a mesma para ambos, respeitando
apenas as particularidades da etiologia de cada evento, em especial os casos de AVE
hemorrágico.
Uma vez diagnosticado o evento como isquêmico, uma rotina mínima deve incluir um
Doppler de carótidas e vertebrais, ecocardiograma e eletrocardiograma (ECG) para
excluir as causas mais comuns: estenose carotídea e fibrilação atrial (AVE
cardioembólico)11.
No caso apresentado, não há relato de ECG ou ECO realizados e, portanto, estes devem
ser solicitados. Além disso, exames laboratoriais como hemograma completo,
bioquímica – especialmente escórias nitrogenadas (é importante destacar que a
nefropatia hipertensiva é a principal causa de diálise no País1), perfil lipídico e
glicose/hemoglobina glicada também são fundamentais para o diagnóstico de alterações
metabólicas, como dislipidemia e diabetes mellitus, e também devem ser solicitados.
3. Afinal, quais são as metas que devemos adotar para este paciente: pressão
arterial, glicemia, perfil lipídico?
Quadro 1
Metas recomendadas das variáveis de risco cardiovascular para o caso clínico
Níveis de glicemia devem ser tratados da mesma maneira que para outros pacientes
diabéticos não havendo recomendação especial para esse subgrupo. Os novos ensaios
clínicos ACCORD13 e ADVANCE14 compararam estratégias de controle glicêmico
mais intenso (hemoglobina glicada <6% e 6,5%, respectivamente) com o tratamento-
padrão (alvo <7%) e não observaram maior benefício com a estratégia mais intensa.
Por isso, atualmente, a recomendação permanece com alvo de hemoglobina glicada
<7,0%15.
O controle da HAS foi associado com uma redução de 24% de AVE recorrente7. O
impacto da queda da PA foi relacionado à proteção cerebrovascular independente de
diagnóstico prévio de HAS e diretamente relacionado à magnitude da queda – isto é,
quanto maior a diminuição da PA, maior o benefício.
5. Que medidas terapêuticas adicionais devem ser adotadas para este paciente?
Por último, a endarterectomia deve ser programada para duas a seis semanas após o
evento agudo, preferencialmente mais precoce24, o que mostrou maiores benefícios.
CASO CLÍNICO
2. Quais são os fatores de risco associados a IAM? Quais deles são modificáveis?
O conhecimento dos fatores de risco para DCV ou DAC provém de estudos realizados
em países desenvolvidos da América do Norte e Europa Ocidental. Não é, portanto,
totalmente seguro, nem perfeitamente aceitável, fazer extrapolações para a população
brasileira dos resultados obtidos primariamente nesses países. Não só a prevalência
dos fatores de risco pode diferir significativamente, como também o impacto de cada
fator em uma determinada população pode ser drasticamente diferente. O Brasil, a
despeito da condição de país em desenvolvimento, demonstra progressiva redução das
doenças infecciosas e degenerativas com acentuação das doenças cardiovasculares,
associadas ao aumento da expectativa de vida aliado à ingestão de dietas ricas em
gorduras saturadas, tabagismo e estilo de vida sedentário. A identificação dos fatores
de risco peculiares a cada população e seu adequado controle, indubitavelmente, reduz
a morbimortalidade das doenças cardiovasculares. Os fatores de risco no Brasil até
bem pouco tempo permaneciam pouco e inapropriadamente avaliados. Portanto,
percebeu-se a necessidade de um conhecimento melhor de quais seriam esses fatores de
risco para DCV na população brasileira.
Um dos mais importantes estudos abordando a associação entre fatores de risco para o
IAM intitula-se "Avaliação dos Fatores de Risco para Infarto Agudo do Miocárdio no
Brasil” (AFIRMAR)11. Esse foi um estudo caso-controle, hospital baseado, desenhado
para avaliar a associação de fatores de risco tradicionais e primeiro infarto na
população brasileira; o estudo foi realizado entre outubro 1997 e novembro 2000,
envolvendo 104 hospitais em 51 cidades e incluiu pacientes nas primeiras 24 horas
com IAM com elevação do segmento ST; os controles foram selecionados a partir de
pacientes atendidos no mesmo período para rotinas de visita, check-ups ou
hospitalizações eletivas, sem doença cardiovascular previamente conhecida.
Figura 1
Risco de infarto agudo do miocárdio associado com tabagismo.
Figura 2
Risco de infarto agudo do miocárdio associado com obesidade abdominal (relação cintura-quadril)11
Figura 3
Risco de infarto agudo do miocárdio associado com antecedente de hipertensão arterial sistêmica11.
Figura 4
Risco de infarto agudo do miocárdio associado com nível sérico de LDL-colesterol11
Figura 5
Risco de infarto agudo do miocárdio associado com antecedente de diabetes mellitus11
Figura 6
Risco de infarto agudo do miocárdio associado com história familiar de insuficiência coronariana11
Esses dados denotam que os riscos independentes para IAM no Brasil apresentam
distribuição convencional (tabagismo, diabetes e obesidade sobre outros) com
diferentes forças de associação; a maioria pode ser prevenida pela implementação de
adequadas políticas de prevenção.
Embora a apresentação clínica de pacientes com isquemia miocárdica aguda possa ser
muito diversa, cerca de 75-85% dos pacientes apresentam dor torácica como sintoma
predominante. A dor, usualmente prolongada (>20min) e desencadeada por exercício ou
por estresse, pode ocorrer em repouso. Ela geralmente é intensa, podendo ser aliviada
com repouso ou uso de nitrato, e estar acompanhada por alguns sintomas, como
dispneia, náuseas e vômitos19,20. A obtenção da história detalhada das características da
dor auxilia no diagnóstico, sendo de grande importância a avaliação da presença de
fatores de risco para doença ateroesclerótica já documentada.
A avaliação de arritmias em pacientes com IAM é importante tanto na fase aguda como
na tardia, apresentando impacto na mortalidade. Portanto os pacientes devem ser
monitorizados na fase aguda (monitorização eletrocardiográfica) como também na
tardia com Holter de 24 horas, por exemplo, a fim de detectar arritmias ventriculares
que podem ser fatais.
4. Prevenção Secundária
Existe uma relação linear entre o grau do excesso dessa gordura e o aparecimento de
resistência à insulina (medida pelo HOMA-RI), a elevação da pressão arterial, a
diminuição da concentração do HDL-C e a elevação dos triglicerídeos. Além disso, a
obesidade central se associa a um estado pró-inflamatório e pró-trombótico25. Do ponto
de vista epidemiológico, observa-se correlação entre obesidade e outros fatores de
risco associados à doença cardiovascular, como hipertensão, diabetes e dislipidemia25.
A medida da cintura abdominal (CA) deve ser realizada também, como medida
complementar. O aumento da CA é um forte preditor de DM e morte cardiovascular10.
Quanto mais elevado o IMC e quanto mais aumentada a CA maior o risco de evento
cardiovascular agudo, principalmente IAM fatal e não fatal10,24.
Nos pacientes com doença aterosclerótica significativa, como nos casos de pacientes
pós-IAM, de acordo com evidências atuais, a obtenção do nível de LDL-C ≤70mg/dL
traz redução adicional da incidência de eventos cardiovasculares. Portanto, recomenda-
se a meta de LDL-C ≤70mg/dL para todos os indivíduos com doença aterosclerótica
significativa, grau de recomendação I, nível de evidência A24.
O estudo CARE30 avaliou 4159 pacientes pós-IAM, com colesterol total médio de
209mg/dl. Os pacientes foram estratificados em dois grupos, recebendo 40mg de
pravastatina ou placebo. O grupo tratado com pravastatina teve redução do risco
relativo para evento coronariano fatal e reinfarto na ordem de 24%. O estudo LIPID31
randomizou mais de nove mil pacientes após síndrome coronariana aguda, e também
demonstrou menor taxa de eventos coronarianos agudos no grupo que utilizou a
pravastatina na dose de 40mg versus placebo.
Após IAM, os IECA são indicados como classe IIa para todos os pacientes, e como
classe I para os pacientes após IAM com disfunção de VE, hipertensão e diabetes10.
Evidências positivas para intervenção precoce com IECA pós-IAM são observadas em
inúmeros estudos, dentre eles o SAVE35 e o TRACE36, que demonstraram redução na
mortalidade e re-hospitalização de pacientes com disfunção de VE que receberam
tratamento precoce ao IAM. O estudo AIRE37 com ramipril também mostrou benefícios
similares em pacientes com sinais de insuficiência cardíaca.
Muitas vezes o controle pressórico não será ideal utilizando-se apenas um fármaco,
devendo-se nesses casos associar medicações como bloqueadores de canal de cálcio e
diuréticos10.
Muitos fármacos estão disponíveis para o tratamento do DM, porém algumas classes
devem ter seu uso restrito em pacientes cardiopatas. Pacientes idosos ou com clearance
de creatinina <30ml/min devem preferencialmente utilizar insulina, e a metformina e as
glitazonas devem ser evitadas em idosos e portadores de insuficiência cardíaca10.
Pacientes diabéticos com passado de IAM devem ter meta de LDL-C <70mg/dL e as
estatinas devem ser utilizadas como primeira escolha na redução do LDL-C. Também
existe uma tendência à elevação dos triglicérides com redução do HDL-C. Os pacientes
podem fazer uso de fibratos ou ácido nicotínico caso as medidas não farmacológicas
não sejam efetivas34.
Os IECA são recomendados para pacientes com angina estável com infarto do
miocárdio, disfunção ventricular (fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE)
<40%), hipertensão, diabetes ou doença renal crônica (grau de recomendação I, nível
de evidência A)42. Após IAM, são indicados como classe IIa para todos os pacientes, e
como classe I para os pacientes após IAM com disfunção de VE, hipertensão e
diabetes10,24.
Captopril e enalapril reduziram IAM recorrente e necessidade de revascularização nos
estudos SAVE35 e SOLVD24. Assim como os estudos HOPE43 e EUROPA44
confirmaram os achados com ramipril e perindopril.
O estudo SAVE35, em pacientes com IAM e fração de ejeção <40%, randomizados para
captopril ou placebo, mostrou redução da mortalidade por todas as causas de 19%
(p=0,019). No estudo AIRE37, pacientes com evidência de ICC clínica após IAM,
alocados para ramipril ou placebo, apresentaram redução de 27% na mortalidade após
15 meses de seguimento. No TRACE36, que avaliou o trandolapril em pacientes com
função ventricular deprimida, houve redução da mortalidade de 22% no grupo
trandolapril comparado com placebo (p<0,0007).
Todo tratamento com estatinas deve ser precedido por dosagem sérica de transaminases
e creatinoquinase. Caso durante o uso haja aumento maior que três vezes o limite
superior das transaminases, dor muscular, ou maior que 10 vezes o limite superior da
creatinoquinase, deve-se suspender o seu uso34.
5.4 Quando devem ser utilizados os bloqueadores de canal de cálcio ?
Os estudos que avaliaram a nifedipina versus controle no IAM, não houve redução da
mortalidade10.
5.5 Todos os pacientes após IAM devem fazer uso contínuo de aspirina?
5.6 Quando e por quanto tempo se deve utilizar o clopidogrel após IAM ?
5.7 Os betabloqueadores devem ser utilizados para todos os pacientes após IAM?
Por quanto tempo?
Esta classe de drogas aumenta o tempo de diástole e com isso melhora a perfusão
coronariana. No esforço físico reduz a elevação da pressão arterial e melhora a
capacidade de exercício. Aumenta o limiar de angina e reduz sua frequência, além de
diminuir a necessidade do uso de nitratos. Há forte evidência de que betabloqueadores
aumentam a sobrevida desses pacientes em 20-25% por prevenir mortalidade cardíaca,
morte súbita cardíaca e novo episódio de IAM24.
O tempo de manutenção dos betabloqueadores após IAM ainda não foi definitivamente
estabelecido. De uma forma geral, recomenda-se seu uso por pelo menos um ano, na
ausência de outras indicações específicas (disfunção de VE com ou sem insuficiência
cardíaca e após recuperação de um choque cardiogênico), quando deverá ser utilizado
indefinidamente24.
5.8 Qual a importância dos nitratos após IAM?
Como o paciente tem disfunção de VE, deve utilizar drogas que reduzam a mortalidade
nesse grupo de pacientes, como IECA (ou BRA) e betabloqueadores, na dose mais alta
tolerada. O AAS deve ser mantido indefinidamente e o clopidogrel por um período
mínimo de 2-4 semanas, idealmente por meses por ter sido implantado um stent
convencional.
Referências
1. Yusuf S, Vaz M, Pais P. Tackling the challenge of cardiovascular disease
burden in developing countries. Am Heart J. 2004;148(1):1-4.
2. Rosamond W, Flegal K, Friday G, Furie K, Go A, Greenlund K, et al;
American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics
Subcommittee. Heart disease and stroke statistics--2007 update: a report
from the American Heart Association Statistics Committee and Stroke
Statistics Subcommittee. Circulation. 2007;115(5):e69-171. Erratum in:
Circulation. 2010;122(1):e9; 2007;115(5):e172.
3. World Health Organization (WHO). Preventing chronic diseases: a vital
investment. WHO Global Report. Geneva: World Health Organization; 2005.
Available from:
<http://www.who.int/chp/chronic_disease_report/contents/foreword.pdf>
4. Hoyert DL, Kochanek KD, Murphy SL. Deaths: final data for 1997. Natl Vital
Stat Rep. 1999;47(19):1-104.
5. Tunstall-Pedoe H, Kuulasmaa K, Mähönen M, Tolonen H, Ruokokoshi E,
Amouyel P. Contribution of trends in survival and coronary-event rates to
changes in coronary heart disease mortality: 10-year results from 37 WHO
MONICA project populations. Monitoring trends and determinants in
cardiovascular disease. Lancet.1999;353(9164):1547-57.
6. Goldberg RJ, Glatfelter K, Burbank-Schmidt E, Lessard D, Gore JM. Trends
in community mortality due to coronary heart disease. Am Heart J.
2006;151(2):501-7.
7. Anderson JL, Adams CD, Antman EM, Bridges CR, Califf RM, Casey DE Jr,
et al; American College of Cardiology; American Heart Association Task
Force on Practice Guidelines (Writing Committee to revise the 2002
Guidelines for the Management of Patients with Unstable Angina/Non-ST-
Elevation Myocardial Infarction); American College of Emergency
Physicians; Society for Academic Emergency Medicine. ACC/AHA 2007
Guidelines for the Management of Patients with Unstable Angina/Non- ST-
Elevation Myocardial Infarction: a report of the American College of
Cardiology/ American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
(Writing Committee to revise the 2002 Guidelines for the Management of
Patients with Unstable Angina/Non-ST-Elevation Myocardial Infarction)
developed in collaboration with the American College of Emergency
Physicians, the Society for Cardiovascular Angiography and Interventions,
and the Society of Thoracic Surgeons endorsed by the American Association
of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation and the Society for
Academic Emergency Medicine. J Am Coll Cardiol. 2007;50(7):e1-e157.
Erratum in: J Am Coll Cardiol. 2009;53(21):1965-72.
8. Ergin A, Muntner P, Sherwin R, He J. Secular trends in cardiovascular
disease mortality, incidence, and case fatality rates in adults in the United
States. Am J Med. 2004;117(4):219-27.
9. Braunwald E, Antman EM. Evidence-based coronary care. Ann Intern Med.
1997;126(7):551-3.
10. Libby P, Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, eds. Braunwald’s Heart Disease: a
textbook of cardiovascular medicine. 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2008.
11. Piegas LS, Avezum A, Pereira JC, Neto JM, Hoepfner C, Farran JA, et al;
AFIRMAR Study Investigators. Risk factors for myocardial infarction in
Brazil. Am Heart J. 2003;146(2):331-8.
12. Lopez AD. Assessing the burden of mortality from cardiovascular disease.
World Health Stat Q. 1993;46(2):91-6.
13. Silva MA, Souza AG, Schargodsky H. Fatores de risco para infarto do
miocárdio no Brasil. Estudo FRICAS. Arq Bras Cardiol. 1998;71(5):667-75.
14. Uemura K, Pisa Z. Trends in cardiovascular disease mortality in
industrialized countries since 1950. World Health Stat Q. 1988;41(3-4):155-
78.
15. Davies MJ, Woolf N. Atherosclerosis: what is it and why does it occur? Br
Heart J. 1993;69(1 Suppl):S3-11.
16. Achutti A, Achutti VR. Fatores de risco para aterosclerose. Elementos para
descrição da situação no Rio Grande do Sul. Arq Bras Cardiol.
1994;63(5):427-31.
17. Yusuf S, Hawken S, Ounpuu S, Dans T, Avezum A, Lanas F, et al;
INTERHEART Study Investigators. Effect of potentially modifiable risk
factors associated with myocardial infarction in 52 countries (the
INTERHEART study): case-control study. Lancet. 2004;364(9438):937-52.
18. Cannon CP, Hand MH, Bahr R, Boden WE, Christenson R, Gibler WB, et al;
National Heart Attack Alert Program (NHAAP) Coordinating Committee
Critical Pathways Writing Group. Critical pathways for management of
patients with acute coronary syndromes: an assessment by the National Heart
Attack Alert Program. Am Heart J. 2002;143(5):777-89.
19. Van de Werf F, Ardissino D, Betriu A, Cokkinos DV, Falk E, Fox KA, et al;
Task Force on the Management of Acute Myocardial Infarction of the
European Society of Cardiology. Management of acute myocardial infarction
in patients presenting with ST-segment elevation. The Task Force on the
Management of Acute Myocardial Infarction of the European Society of
Cardiology. Eur Heart J. 2003;24(1):28-66.
20. Bertrand ME, Simoons ML, Fox KA, Wallentin LC, Hamm CW, McFadden E,
et al; Task Force on The Management of Acute Coronary Syndromes of the
European Society of Cardiology. Management of acute coronary syndromes in
patients presenting without persistent ST-segment elevation. Eur Heart J.
2002;23(23):1809-40. Erratum in: Eur Heart J. 2003;24(12):1174-5;
2003;24(5):485.
21. Braunwald E, Antman EM, Beasley JW, Califf RM, Cheitlin MD, Hochman
JS, et al; American College of Cardiology; American Heart Association.
Committee on the Management of Patients with Unstable Angina. ACC/AHA
2002 Guideline Update for the Management of Patients with Unstable Angina
and Non-St-Segment Elevation Myocardial Infarction--summary article: a
report of the American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines (Committee on the Management of Patients
with Unstable Angina). J Am Coll Cardiol. 2002;40(7):1366-74.
22. Berthe C, Pierard LA, Hiernaux M, Trotteur G, Lempereur P, Carlier J, et al.
Predicting the extent and location of coronary artery disease in acute
myocardial infarction by echocardiography during dobutamine infusion. Am J
Cardiol. 1986;58(13):1167-72.
23. Horowitz RS, Morganroth J, Parrotto C, Chen CC, Soffer J, Pauletto FJ.
Immediate diagnosis of acute myocardial infarction by two-dimensional
echocardiography. Circulation. 1982;65(2):323-9.
24. Piegas LS, Feitosa G, Mattos LA, Nicolau JC, Rossi Neto JM, Timerman A,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz da Sociedade
Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio
com Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol. 2009;93(6 supl.
2):e179-264.
25. Grundy SM. Obesity, metabolic syndrome, and coronary atherosclerosis.
Circulation. 2002;105(23):2696-8.
26. Silagy C, Lancaster T, Stead L, Mant D, Fowler G. Nicotine replacement
therapy for smoking cessation. Cochrane Database Syst Rev. 2002;
(4):CD000146. Update in: Cochrane Database Syst Rev. 2004;
(3):CD000146.
27. Critchley JA, Capewell S. Mortality risk reduction associated with smoking
cessation in patients with coronary heart disease: a systematic review.
JAMA. 2003;290(1):86-97.
28. Klesges RC, Johnson KC, Somes G. Varenicline for smoking cessation:
definite promise, but no panacea. JAMA. 2006;296(1):94-5.
29. Morrison LJ, Verbeek PR, McDonald AC, Sawadsky BV, Cook DJ. Mortality
and prehospital thrombolysis for acute myocardial infarction: A meta-
analysis. JAMA. 2000;283(20):2686-92.
30. Flaker GC, Warnica JW, Sacks FM, Moyé LA, Davis BR, Rouleau JL, et al.
Pravastatin prevents clinical events in revascularized patients with average
cholesterol concentrations. Cholesterol and Recurrent Events CARE
Investigators. J Am Coll Cardiol. 1999;34(1):106-12.
31. The Long-Term Intervention with Pravastatin in Ischaemic Disease (LIPID)
Study Group. Prevention of cardiovascular events and death with pravastatin
in patients with coronary heart disease and a broad range of initial
cholesterol levels. The Long-Term Intervention with Pravastatin in Ischaemic
Disease (LIPID) Study Group. N Engl J Med. 1998;339(19):1349-57.
32. Cannon CP, Braunwald E, McCabe CH, Rader DJ, Rouleau JL, Belder R, et
al; Pravastatin or Atorvastatin Evaluation and Infection Therapy-
Thrombolysis in Myocardial Infarction 22 Investigators. Intensive versus
moderate lipid lowering with statins after acute coronary syndromes. N Engl
J Med. 2004;350(15):1495-504. Erratum in: N Engl J Med. 2006;354(7):778.
33. Rubins HB, Robins SJ, Collins D, Fye CL, Anderson JW, Elam MB, et al.
Gemfibrozil for the secondary prevention of coronary heart disease in men
with low levels of high-density lipoprotein cholesterol. Veterans Affairs
High-Density Lipoprotein Cholesterol Intervention Trial Study Group. N Engl
J Med. 1999;341(6):410-8.
34. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FA, Bertolami, MC, Afiune Neto A, Souza
AD, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Departamento de Aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2007;88(supl.
1):2-19.
35. Kenchaiah S, Davis BR, Braunwald E, Rouleau JL, Dagenais GR, Sussex B,
et al; Survival and Ventricular Enlargement Trial. Antecedent hypertension
and the effect of captopril on the risk of adverse cardiovascular outcomes
after acute myocardial infarction with left ventricular systolic dysfunction:
Insights from the Survival and Ventricular Enlargement Trial. Am Heart J.
2004;148(2):356-64.
36. Mäkikallio TH, Høiber S, Køber L, Torp-Pedersen C, Peng CK, Goldberger
AL, et al. Fractal analysis of heart rate dynamics as a predictor of mortality in
patients with depressed left ventricular function after acute myocardial
infarction. TRACE Investigators. TRAndolapril Cardiac Evaluation. Am J
Cardiol. 1999;83(6):836-9.
37. The Acute Infarction Ramipril Efficacy (AIRE) Study Investigators. Effect of
ramipril on mortality and morbidity of survivors of acute myocardial
infarction with clinical evidence of heart failure. The Acute Infarction
Ramipril Efficacy (AIRE) Study Investigators. Lancet. 1993;342(8875):821-
8.
38. Flather MD, Yusuf S, Køber L, Pfeffer M, Hall A, Murray G, et al. Long-term
ACE-inhibitor therapy in patients with heart failure or left-ventricular
dysfunction: a systematic overview of data from individual patients. ACE-
Inhibitor Myocardial Infarction Collaborative Group. Lancet.
2000;355(9215):1575-81.
39. Møller JE, Dahlström U, Gøtzsche O, Lahiri A, Skagen K, Andersen GS, et
al; OPTIMAAL Study Group. Effects of losartan and captopril on left
ventricular systolic and diastolic function after acute myocardial infarction:
results of the Optimal Trial in Myocardial Infarction with Angiotensin II
Antagonist Losartan (OPTIMAAL) echocardiographic substudy. Am Heart J.
2004;147(3):494-501.
40. While HD, Aylward PE, Huang Z, Dalby AJ, Weaver WD, Barvik S, et al;
VALIANT Investigators. Mortality and morbidity remain high despite
captopril and/or Valsartan therapy in elderly patients with left ventricular
systolic dysfunction, heart failure, or both after acute myocardial infarction:
results from the Valsartan in Acute Myocardial Infarction Trial (VALIANT).
Circulation. 2005;112(22): 3391-9.
41. Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Hipertensão;
Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl. 1):1-51. Erratum in: Arq
Bras Cardiol. 2010;95(4):553.
42. César LAM, Mansur AP, Armaganijan D, Amino JG, Sousa AC, Simão AF, et
al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes de Doença Coronariana
Crônica - Angina Estável. Arq Bras Cardiol. 2004;83(supl. 2):3-43.
43. Yusuf S, Sleight P, Pogue J, Bosch J, Davies R, Dagenais G. Effects of an
angiotensin-converting-enzyme inhibitor, ramipril, on cardiovascular events
in high-risk patients. The Heart Outcomes Prevention Evaluation Study
Investigators. N Engl J Med. 2000;342(3):145-53. Erratum in: N Engl J Med.
2000; 342(18):1376; 2000;342(10):748.
44. Fox KM; EURopean trial on reduction of cardiac events with Perindopril in
stable coronary Artery disease Investigators. Efficacy of perindopril in
reduction of cardiovascular events among patients with stable coronary artery
disease: randomised, double-blind, placebo-controlled, multicentre trial (the
EUROPA study). Lancet. 2003;362(9386):782-8.
45. The Multicenter Diltiazem Postinfarction Trial Research Group. The effect of
diltiazem on mortality and reinfarction after myocardial infarction. The
Multicenter Diltiazem Postinfarction Trial Research Group. N Engl J Med.
1988;319(7):385-92.
46. Effect of verapamil on mortality and major events after acute myocardial
infarction (the Danish Verapamil Infarction Trial II – DAVIT II). Am J
Cardiol. 1990;66(10):779-85.
47. Antithrombotic Trialists’ Collaboration. Collaborative meta-analysis of
randomised trials of antiplatelet therapy for prevention of death, myocardial
infarction, and stroke in high risk patients. BMJ. 2002;324(7329):71-86.
Erratum in: BMJ. 2002;324(7330):141.
48. Mehta SR, Tanguay JF, Eikelboom JW, Jolly SS, Joyner CD, Granger CB, et
al; CURRENT-OASIS 7 trial Investigators. Double-dose versus standard-
dose clopidogrel and high-dose versus low-dose aspirin in individuals
undergoing percutaneous coronary intervention for acute coronary syndromes
(CURRENT-OASIS 7): a randomised factorial trial. Lancet.
2010;376(9748):1233-43.
49. Freemantle N, Cleland J, Young P, Mason J, Harrison J. Beta blockade after
myocardial infarction: systematic review and meta regression analysis.
BMJ.1999;318(7200):1730-7.
50. Dargie HJ. Effect of carvedilol on outcome after myocardial infarction in
patients with left-ventricular dysfunction: the CAPRICORN randomised trial.
Lancet. 2001;357(9266):1385-90.
Seção 7. Medicina Baseada em
Evidências
O Modelo SIMPLE
Uso da AngioTC de Coronárias Para Avaliação da Doença Arterial
Coronariana
Probabilidade, Performance e Utilidade no Diagnóstico da Insuficiência
Cardíaca
Probabilidade, Performance e Utilidade no Tratamento da Estenose Aórtica
no Idoso
Probabilidade, Performance e Utilidade Relacionada aos Testes Genéticos
em Cardiologia para Predição de Resposta Terapêutica
O MODELO SIMPLE
CASO CLÍNICO
Residente de cardiologia foi designado para ser o responsável por organizar as sessões
clínicas do hospital, onde está em treinamento, de acordo com o modelo de medicina
baseada em evidências. O preceptor solicita que as sessões clínicas sejam organizadas
em perguntas e respostas relacionadas à resolução do caso que estiver sendo
apresentado; solicita ainda que as perguntas sejam estruturadas de forma hierarquizada,
ou seja, responder às questões de maior relevância para o caso em questão.
PERGUNTAS
1. O que é SIMPLE?
3. O que é PACT?
PACT é um acrônimo que significa Problem, Action, Choices, Targets. Este acrônimo
foi criado para facilitar o delineamento do problema clínico em um modelo de decisão
compartilhada, que requer a participação de pelo menos duas pessoas no processo de
decisão1.
Outro problema relacionado aos testes diagnósticos diz respeito à sua incorporação na
prática com base apenas na sua performance. Boa performance não significa boa
utilidade do teste. Nesse sentido, a performance do teste funciona com uma lógica muito
semelhante à lógica dos desfechos intermediários. Por exemplo, aumentar os níveis de
HDL colesterol (desfecho intermediário) não quer dizer diminuir a taxa de mortalidade
ou a incidência de eventos cardiovasculares (desfecho duro ou desfecho que de fato
importa para o paciente)10. Da mesma forma, utilizar o teste A ou B em função da sua
performance não diz muito em termos de desfechos que de fato interessam ao paciente
quando o teste A ou B são utilizados em larga escala, e principalmente, quando em
substituição a métodos complementares alternativos.
Segundo David Eddy11, menos de 20% dos questionamentos que ocorrem na prática
podem ser respondidos por ensaios clínicos randomizados, que são o desenho de
estudo mais apropriado para questões de utilidade, gerando uma grande limitação. Tal
fato tem sido considerado pelas agências de Avaliação de Tecnologia em Saúde e pelos
comitês de elaboração de guidelines em todo o mundo, tendo sido também considerado
pelo grupo da Universidade McMaster na elaboração do modelo GRADE. De acordo
com o GRADE estudos observacionais podem ser utilizados para fundamentar a forte
recomendação de determinadas intervenções, desde que tais estudos apresentem alta
qualidade metodológica e demonstrem baixa razão risco/benefício da intervenção, e
que a alocação de recursos seja exequível e os valores e preferências do paciente
sejam atendidos12-14.
Figura 1
Hierarquia do problema
PACT funciona como uma ponte entre a literatura científica e o campo relacional no
qual a experiência fenomenológica está acontecendo e permite que haja um processo de
reflexão e seja então representada, hierarquizada e utilizada como conhecimento
explícito útil no diálogo.
Questão clínicas bem estruturadas, portanto, têm uma anatomia diferente das questões
básicas que se referem ao apanhado geral de determinada condição. Por exemplo, a
questão: “em pacientes com HDL baixo o tratamento com rosuvastatina diminui a
incidência de eventos cardiovasculares ao final de um ano?” - é uma questão bastante
focada, pode ser aplicada a um único paciente ou grupo de pacientes com essas
características, sendo passível de resposta por estudos individuais. Já a questão:
“quais são os tratamentos existentes para os diferentes tipos de dislipidemia?” - é
uma questão aberta e não é passível de resposta por estudos individuais. A resposta a
essa questão depende de ampla revisão na literatura e se aplica a dislipidemias de uma
forma geral, mas não a um único paciente ou a um grupo de pacientes com
características bem definidas.
P é a população em questão
I é a avaliação do conjunto de sinais e sintomas relevantes para o diagnóstico
C não se aplica
O é ou são as probabilidades dos possíveis diagnósticos diferenciais
P é a população em questão
I é o teste diagnóstico a ser analisado
C é o critério de confirmação do diagnóstico ou o padrão-ouro
O é ou são os desfechos de acurácia do teste diagnóstico em questão
P é a população em questão
I é a intervenção
C é o método de comparação ou controle
O é ou são os desfechos de maior relevância para o paciente
Huang et al.15 mostraram que a maior parte das questões feitas na prática assistencial
pertencem ao domínio da terapia, seguida por questões de diagnóstico e prognóstico. A
construção dessas questões tem alta reprodutibilidade para questões de utilidade.
Entretanto, há controvérsias em relação à estrutura de questões de performance e
probabilidade. No Users’ Guides16, por exemplo, a estrutura de uma questão de
diagnóstico é composta apenas pelo PIO, sendo que o critério de definição diagnóstica
é entendido como sendo o desfecho.
Neste livro será utilizado o modelo SIMPLE para delineamento das perguntas2. Outro
desafio na construção de perguntas estruturadas refere-se ao campo da efetividade
comparativa, onde múltiplas intervenções são muitas vezes comparadas para análise da
efetividade de uma intervenção em relação às demais existentes no mercado. Nesse
caso, o PICO passa a conter múltiplos “I”s18.
Nesta nova lógica, estudos com diferentes metodologias podem ser utilizados para
responder questões de utilidade, performance e probabilidade, permeando todos os
domínios de ação clínica: terapia, diagnóstico, prognóstico e dano. Ensaios clínicos
randomizados, por exemplo, embora tenham a melhor metodologia para avaliar a
utilidade de intervenções em qualquer um desses domínios, podem ceder lugar a
estudos observacionais, principalmente quando se trata de efetividade comparativa. O
termo efetividade comparativa foi mencionado em dezembro de 2007 no plano de
reforma da saúde nos Estados Unidos e desde então tem ganhado importante destaque
na literatura científica22.
Quadro 2
Tipos de informação
O PubMed clinical queries desenhado por Brian Haynes, segue o modelo inicial
proposto por David Sackett onde Terapia=Ensaio clínico randomizado;
Diagnóstico=Sensibilidade e Especificidade; Prognóstico=Coorte; Dano=Coorte ou
Risco23
Na BIREME também se encontra além do Medline, o DeCS, que também é uma base de
dados de descritores, com tradução para o inglês e para o espanhol, utilizada para
indexação da literatura no SciELO e no LILACS. Além destes, a BIREME contempla a
base de dados da Cochrane Brasil, com resumos em português dos estudos produzidos
na América Latina e Caribe (Quadro 3).
Quadro 3
Exemplos de portais de informação
Quadro 4
Análise crítica da literatura de acordo com o modelo SIMPLE
Fonte: Silva & Wyer2
Quadro 5
Categorias de medidas utilizadas para descrição dos resultados de estudos clínicos
Para análise da qualidade da evidência de uma forma global será utilizado o modelo
proposto pelo GRADE Working Group (Quadro 6)14.
Quadro 6
Avaliação da qualidade global da evidência
Neste tópico serão abordados os itens que norteiam a recomendação de uma prática
com base no modelo do GRADE12.
Quadro 7
Considerações clínicas que norteiam a força da recomendação no modelo GRADE.
Fonte: adaptado do modelo GRADE12
O residente propõe que a sessão clínica se inicie pela apresentação do caso, continue
pelo delineamento dos problemas que são mais relevantes do ponto de vista clínico e
que atendam aos interesses do paciente, pela apresentação de perguntas específicas a
serem respondidas com base na melhor evidência científica disponível, pela
apresentação da sua qualidade global e pela tomada de decisão com base na
interpretação dos seus resultados e dos resultados das alternativas disponíveis.
Referências
1. Silva SA, Charon R, Wyer PC. The marriage of evidence and narrative:
scientific nurturance within clinical practice. J Eval Clin Pract.
2011;17(4):585-93.
2. Silva SA, Wyer P. The Roadmap: a blueprint for evidence literacy within a
Scientifically Informed Medical Practice and Learning model. Int J Person-
Centered Med. 2012. In press.
3. Johnson M, Goodacre S, Tod A, Read S. Patients' opinions of acute chest
pain care: a qualitative evaluation of Chest Pain Units. J Adv Nurs.
2009;65(1):120-9.
4. Cross E, Goodacre S; ESCAPE Research Team. Patient satisfaction with
chest pain unit care: findings from the Effectiveness and Safety of Chest Pain
Assessment to Prevent Emergency Admissions (ESCAPE) cluster randomised
trial. Emerg Med J. 2010;27(10):774-8.
5. Freire P. Extension and communication. In: Bigwood L, Marshall M, trans.
Education for critical consciousness. New York: Continuum Publishing;
1973. p.93-164.
6. Conti R, Veenstra DL, Armstrong K, Lesko LJ, Grosse SD. Personalized
medicine and genomics: challenges and opportunities in assessing
effectiveness, cost-effectiveness, and future research priorities. Med Decis
Making. 2010;30(3):328-40.
7. Green RC, Roberts JS, Cupples LA, Relkin NR, Whitehouse PJ, Brown T, et
al; REVEAL Study Group. Disclosure of APOE genotype for risk of
Alzheimer's disease. N Engl J Med. 2009;361(3):245-54.
8. Moloney TW, Rogers DE. Medical technology -- a different view of the
contentious debate over costs. N Engl J Med. 1979;301(26):1413-9.
9. Evans RW. Health care technology and the inevitability of resource allocation
and rationing decisions. Part I. JAMA. 1983;249:2047-53.
10. Briel M, Ferreira-Gonzalez I, You JJ, Karanicolas PJ, Akl EA, Wu P, et al.
Association between change in high density lipoprotein cholesterol and
cardiovascular disease morbidity and mortality: systematic review and meta-
regression analysis. BMJ. 2009;338:b92.
11. Eddy DM. Evidence-based medicine: a unified approach. Health Aff
(Millwood). 2005;24(1):9-17.
12. Guyatt GH, Oxman AD, Vist GE, Kunz R, Falck-Ytter Y, Alonso-Coello P, et
al; GRADE Working Group. GRADE: an emerging consensus on rating
quality of evidence and strength of recommendations. BMJ.
2008;336(7650):924-6.
13. Brozek JL, Akl EA, Compalati E, Kreis J, Terracciano L, Fiocchi A, et al;
GRADE Working Group. Grading quality of evidence and strength of
recommendations in clinical practice guidelines part 3 of 3. The GRADE
approach to developing recommendations. Allergy. 2011;66(5):588-95.
14. Guyatt GH, Oxman AD, Kunz R, Vist GE, Falck-Ytter Y, Schünemann HJ;
GRADE Working Group. What is "quality of evidence" and why is it
important to clinicians? BMJ. 2008;336(7651):995-8.
15. Varela FJ, Thompson E, Rosch E. The cartesian anxiety. In: Varela FJ,
Thompson E, Rosch E (eds). The embodied mind: cognitive science and
human experience. Massachussetts: MIT Press; 1993. p.132-45.
16. Charon R, Wyer P; NEBM Working Group. Narrative evidence based
medicine. Lancet. 2008;371(9609):296-7.
17. Richardson WS, Wilson MC, Nishikawa J, Hayward RS. The well-built
clinical question: a key to evidence-based decisions. ACP J Club.
1995;123(3):A12-3.
18. Sox HC. Comparative effectiveness research: a progress report. Ann Intern
Med. 2010;153(7):469-72.
19. How to read clinical journals: I. Why to read them and how to start reading
them critically. Can Med Assoc J. 1981;124(5):555-8.
20. Pfisterer M, Buser P, Rickli H, Gutmann M, Erne P, Rickenbarcher P, et al;
TIME-CHF Investigators. BNP-guided vs symptom-guided heart failure
therapy: the Trial of Intensified vs Standard Medical Therapy in Elderly
Patients with Congestive Heart Failure (TIME-CHF) randomized trial.
JAMA. 2009;301(4):383-92.
21. Anderson DR, Kahn SR, Rodger MA, Kovacs MJ, Morris T, Hirsch A, et al.
Computed tomographic pulmonary angiography vs ventilation-perfusion lung
scanning in patients with suspected pulmonary embolism: a randomized
controlled trial. JAMA. 2007;298(23):2743-53.
22. Ellis P. Research on the comparative effectiveness of medical treatments:
issues and options for an expanded federal role. 2007 [cited 2012 Apr 9].
Available from: <http://www.cbo.gov/publication/41655>
23. Haynes B. Clinical Study Categories. Summary of enhancements for clinical
and Health Service Research Queries for PubMed for Studies; 2011. [cited
2012 Apr 9]. Available from:
<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/clinical>
USO DA ANGIO-TC DE CORONÁRIAS PARA
INVESTIGAÇÃO DE DOENÇA ARTERIAL
CORONARIANA: PROBABILIDADE,
PERFORMANCE E UTILIDADE EM TESTES
DIAGNÓSTICOS
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 45 anos de idade, procura consultório médico com queixa de
precordialgia atípica há cerca de um mês. O mesmo nega história prévia de
dislipidemia, hipertensão, diabetes ou tabagismo. Não apresenta outras comorbidades.
Seus pais e dois irmãos são vivos e saudáveis. Refere ser sedentário, mas que tem
tentado fazer caminhada regularmente nos últimos meses.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
Quadro 1
Delineamento do problema no modelo PACT
2. Como formular questões estruturadas?
Questão de Probabilidade
Questão de Performance
P Em pacientes ambulatoriais sintomáticos e com suspeita de doença coronariana
obstrutiva
I1 a TC de coronárias,
I2 o escore de cálcio,
I3 o teste ergométrico,
I4 a cintilografia miocárdica,
I5 e o eco de estresse
C comparado à coronariografia diagnóstica
O possuem que acurácia, individualmente?
Questão de Utilidade
Quadro 2
Estratégia de busca para a questão de probabilidade
Quadro 3
Análise sumária dos Guidelines de angina estável elaborados pelo NICE (2010) e pelo ACC/AHA/ACP-ASIM
(1997) de acordo com os itens do instrumento AGREE
Fonte: AGREE (Appraisal of Guidelines for Research and Evaluation)10
ACC=American College of Cardiology; AHA=American Heart Association; ACP=American College of
Physicians; NICE=National Institute for Health and Clinical Excellence5
Ambos os guidelines utilizam o modelo de predição proposto por Diamond &
Forrester11, derivado a partir de informações publicadas a respeito da prevalência de
doença coronariana de acordo com os sintomas, a idade e o sexo. Esse modelo de
predição foi posteriormente validado em três outras populações nos Estados Unidos,
uma do Centro Médico da Duke University12, outra de Stanford13 e a outra oriunda de
diferentes áreas geográficas nos Estados Unidos, através do estudo CASS14. Os
resultados do estudo de validação na Duke University têm a vantagem de terem sido
ajustados para a presença ou não dos fatores de risco diabetes, dislipidemia e
tabagismo e alterações no segmento ST ou onda Q no ECG, o que não foi feito nos
outros dois estudos.
A dor torácica foi classificada em angina típica, atípica ou dor torácica de origem não
cardíaca com base no estudo inicial de Diamond & Forrester11 em uma população de
1057 pacientes submetidos à investigação de dor torácica em centro de referência da
Universidade de Los Angeles15. A angina típica foi caracterizada pela presença de a)
dor ou desconforto subesternal que é b) provocada por exercício ou estresse emocional
e é c) aliviada por repouso ou nitrato. Angina atípica foi definida pela presença de
apenas dois desses três critérios. A dor torácica de origem não cardíaca foi definida
como aquela que encontra apenas um ou nenhum desses critérios.
A partir das informações obtidas através da leitura dos dois guidelines optou-se por
selecionar o estudo de validação dos critérios de Diamond & Forrester na Duke
University para análise crítica (Quadro 4), uma vez que os seus resultados foram
ajustados para a presença de fatores de risco em pacientes com dor torácica, o que é
relevante na prática assistencial e inclui os critérios elencados na questão de
probabilidade12.
Quadro 4
Limitações do estudo de Pryor et al. Value of the history and physical in identifying patients at increased risk for
coronary artery disease. Ann Intern Med. 1993;118(2):81-90.
Fonte: adaptado do livro Users’ Guides To The Medical Literature: essentials of evidence-based clinical practice16
Quadro 6
Limitações das evidências selecionadas para responder à questão de performance
E=especificidade; H=homens; M=mulheres; RV(T+)=razão de verossimilhança quando o resultado do teste é positivo
cuja fórmula de cálculo é [S/(1-E)]; RV(T-)=razão de verossimilhança quando o resultado do teste é negativo cuja
fórmula de cálculo é [(1-S)/E]; S=sensibilidade; T=total
As informações apresentadas no Quadro 6 mostram que cada teste tem uma performance
diferente, dependendo do sexo do paciente; e que a razão de verossimilhança do teste
quando o resultado é positivo (ou seja, aquela utilizada para confirmação da doença) é
alta para todos os testes, exceto para o escore de cálcio e para o eco de estresse, bem
como para o teste ergométrico em mulheres. Quanto mais próximo de 1 for a razão de
verossimilhança do teste, pior é a capacidade do teste para confirmar ou afastar a
presença da condição de interesse.
O ideal seria que o clínico utilizasse o nomograma de Fagan23 para nortear a sua
decisão (Figura 1). Que utilizasse a probabilidade pré-teste de doença calculada
através da regra de predição clínica, selecionasse o teste de acordo com a sua razão de
verossimilhança para aquele paciente em particular e de acordo com a decisão que
tomaria com base no resultado do teste, se positivo ou negativo. Todo teste conduz o
clínico de uma probabilidade pré-teste de doença para uma probabilidade pós-teste de
doença. Se a probabilidade pós-teste de doença for insuficiente para tomada de decisão
então talvez o teste escolhido não tenha sido o mais apropriado para aquele paciente em
particular.
Figura 1
Nomograma de Fagan
A história clínica, o exame físico inicial e os exames complementares básicos tais
como RX e eletrocardiograma têm sido considerados suficientes para afastar ou
confirmar o diagnóstico da doença coronariana, com base pura e simplesmente na
probabilidade pré-teste da doença. Se a probabilidade for <10%, o NICE recomenda
que a investigação seja interrompida neste ponto. Se a probabilidade for >90%, que o
diagnóstico seja confirmado e a decisão por coronariografia diagnóstica esteja pautada
nas estratégias terapêuticas que poderão ser oferecidas ao paciente e nos seus valores e
preferências.
Para pacientes com probabilidade pré-teste entre 30% e 60%, o NICE recomenda o uso
de testes provocativos como a cintilografia miocárdica ou o eco de estresse com
dobutamina. O NICE considera a coronariografia diagnóstica o exame mais custo-
efetivo para pacientes com probabilidade pré-teste acima de 60%.
O NICE também faz recomendação contra o uso do teste ergométrico para pacientes
sem história prévia de doença coronariana em função da sua baixa acurácia, ou seja,
elevado número de testes falso-negativos ou falso-positivos em comparação com os
testes alternativos, principalmente em mulheres.
Os guidelines internacionais aqui citados consideram a exposição à radiação um fator a
ser considerado na investigação desses pacientes, principalmente quando se trata de
pacientes de baixo risco, recomendando fortemente que nenhuma investigação posterior
seja feita nesses pacientes.
Para o paciente do cenário que tem uma probabilidade pré-teste de doença coronariana
estimada em 21%, a melhor estratégia seria a solicitação de um exame com a melhor
RV- para afastar a doença, neste caso o SPECT, o escore de cálcio ou a angio-TC. O
NICE recomenda como estratégia mais custo-efetiva e de menor risco para investigação
desses pacientes a solicitação do escore de cálcio coronariano, que tem menor carga de
exposição à radiação e, dependendo do resultado, que seja interrompida a investigação
(se escore de cálcio = zero); prosseguir com a angio-TC de coronárias se o escore de
cálcio for entre 1 e 400; ou solicitar coronariografia diagnóstica se o escore de cálcio
for >400. Entretanto, essa indicação não está coberta pelo rol de procedimentos da
ANS1, que recomenda a angio-TC apenas para pacientes com probabilidade pré-teste
moderada de doença coronariana pelos critérios de Diamond & Forrester11. Esse
impasse pode resultar na não autorização desse procedimento para o paciente relatado
por parte da operadora de saúde, em conformidade com as diretrizes de utilização de
procedimentos da ANS1.
Quadro 8
Limitações do estudo de Smith-Bindman, 2009 selecionado para responder à questão de utilidade referente ao dano
potencial relacionado à exposição à radiação
*Baseado no livro: Users’ Guides To The Medical Literature: essentials of evidence-based clinical practice16
Quadro 9
Qualidade global da evidência
Fonte: GRADE26
(*) A qualidade da evidência foi classificada de acordo com o modelo proposto pelo GRADE em Alta (A), Moderada
(B), Fraca (C), Muito Fraca (D).
Sua diretriz de utilização refere-se apenas a aparelhos multislice com pelo menos 64
colunas de detectores e a sua obrigatoriedade restringe-se a pacientes sintomáticos com
probabilidade pré-teste de doença coronariana intermediária, seja como alternativa aos
métodos provocativos seja como método sequencial na presença de resultados
inconclusivos ou conflitantes de testes provocativos, conforme descrito abaixo:
Quadro 10
Força da recomendação da angio-TC de coronárias
Fonte: GRADE27
O modelo utilizado neste capítulo é meramente ilustrativo. Não foi feita uma revisão
sistemática levando em consideração não somente os riscos da intervenção, mas
também os aspectos do benefício. Embora os resultados apresentados neste capítulo
devam ser interpretados com cuidado, eles refletem uma tendência internacional na
utilização de testes diagnósticos e estão de acordo com as diretrizes mais recentemente
publicadas para abordagem de pacientes com dor torácica em ambulatórios.
Referências
1. Resolução Normativa/ANS nº 262 de 1/8/2011. Atualiza o rol de
procedimentos e eventos em saúde previstos na RN nº 211 de 11/1/2010.
[acesso em 2012 fev 27]. Disponível em:
<http://www.ans.gov.br/images/stories/noticias/pdf/rn 262.pdf>
2. Silva SA, Wyer P. The Roadmap: a blueprint for evidence literacy within a
Scientifically Informed Medical Practice and Learning model. Int J Person-
Centered Medicine. 2012 In press.
3. Silva SA, Charon R, Wyer PC. The marriage of evidence and narrative:
scientific nurturance within clinical practice. J Eval Clin Pract.
2011;17(4):585-93.
4. Henderson RA, O'Flynn N; Guideline Development Group. Management of
stable angina: summary of NICE guidance. Heart. 2012;98(6):500-7.
5. Morise AP, Diamond GA. Comparison of the sensitivity and specificity of
exercise electrocardiography in biased and unbiased populations of men and
women. Am Heart J. 1995;130(4):741-7.
6. Smeeth L, Skinner JS, Ashcroft J, Hemingway H, Timmis A; Chest Pain
Guideline Development Group. NICE clinical guideline: chest pain of recent
onset. Br J Gen Pract. 2010;60(577):607-10.
7. Skinner JS, Smeeth L, Kendall JM, Adams PC, Timmis A; Chest Pain
Guideline Development Group. NICE guidance. Chest pain of recent onset:
assessment and diagnosis of recent onset chest pain or discomfort of
suspected cardiac origin. Heart. 2010;96(12):974-8.
8. Cooper A, Timmis A, Skinner J; Guideline Development Group. Assessment
of recent onset chest pain or discomfort of suspected cardiac origin: summary
of NICE guidance. BMJ. 2010;340:c1118.
9. Gibbons RJ, Abrams J, Chatterjee K, Daley J, Deedwania PC, Douglas JS, et
al; American College of Cardiology; American Heart Association Task Force
on Practice Guidelines, Committee on the Management of Patients with
Chronic Stable Angina. ACC/AHA 2002 Guideline update for the
Management of Patients with Chronic Stable Angina--summary article: a
report of the American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines (Committee on the Management of Patients
with Chronic Stable Angina). Circulation. 2003;107(1):149-58.
10. Brouwers MC, Kho ME, Browman GP, Burgers JS, Cluzeau F, Feder G, et al;
AGREE Next Steps Consortium. AGREE II: advancing guideline
development, reporting and evaluation in health care. J Clin Epidemiol.
2010;63(12):1308-11.
11. Diamond GA, Forrester JS. Analysis of probability as an aid in the clinical
diagnosis of coronary-artery disease. N Engl J Med. 1979;300(24):1350-8.
12. Pryor DB, Shaw L, McCants CB, Lee KL, Mark DB, Harrell FE Jr, et al.
Value of the history and physical in identifying patients at increased risk for
coronary artery disease. Ann Intern Med. 1993;118(2):81-90.
13. Sox HC Jr, Hickam DH, Marton KI, Moses L, Skeff KM, Sox CH, et al. Using
the patient's history to estimate the probability of coronary artery disease: a
comparison of primary care and referral practices. Am J Med. 1990;89(1):7-
14. Erratum in: Am J Med. 1990;89(4):550.
14. Chaitman BR, Bourassa MG, Davis K, Rogers WJ, Tyras DH, Berger R, et al.
Angiographic prevalence of high-risk coronary artery disease in patient
subsets (CASS). Circulation. 1981;64(2):360-7.
15. Diamond GA, Staniloff HM, Forrester JS, Pollock BH, Swan HJ. Computer-
assisted diagnosis in the noninvasive evaluation of patients with suspected
coronary artery disease. J Am Coll Cardiol. 1983;1(2 Pt 1):444-55.
16. Guyatt G, Rennie D, Meade M, Cook D (eds). Users' Guides to the Medical
Literature: essentials of evidence-based clinical practice. 2nd ed. New York:
McGraw Hill; 2008.
17. Gianrossi R, Detrano R, Mulvihill D, Lehmann K, Dubach P, Colombo A, et
al. Exercise-induced ST depression in the diagnosis of coronary artery
disease. A meta-analysis. Circulation. 1989;80(1):87-98.
18. Santana-Boado C, Candell-Riera J, Castell-Conesa J, Aguadé-Bruix S,
García-Burillo A, Canela T, et al. Diagnostic accuracy of technetium-99m-
MIBI myocardial SPECT in women and men. J Nucl Med. 1998;39(5):751-5.
19. Heijenbrok-Kal MH, Fleischmann KE, Hunink MG. Stress echocardiography,
stress single-photon-emission computed tomography and electron beam
computed tomography for the assessment of coronary artery disease: a meta-
analysis of diagnostic performance. Am Heart J. 2007;154(3):415-23.
20. Roger VL, Pellikka PA, Bell MR, Chow CW, Bailey KR, Seward JB. Sex and
test verification bias. Impact on the diagnostic value of exercise
echocardiography. Circulation. 1997;95(2):405-10.
21. Budoff MJ, Diamond GA, Raggi P, Arad Y, Guerci AD, Callister TQ, et al.
Continuous probabilistic prediction of angiographically significant coronary
artery disease using electron beam tomography. Circulation.
2002;105(15):1791-6.
22. Mowatt G, Cummins E, Waugh N, Walker S, Cook J, Jia X, et al. Systematic
review of the clinical effectiveness and cost-effectiveness of 64-slice or
higher computed tomography angiography as an alternative to invasive
coronary angiography in the investigation of coronary artery disease. Health
Technol Assess. 2008;12(17):iii-iv, ix-143.
23. Fagan TJ. Letter: Nomogram for Bayes theorem. N Engl J Med.
1975;293(5):257.
24. Schoenhagen P, Thompson CM, Halliburton SS. Low-dose cardiovascular
computed tomography: where are the limits? Curr Cardiol Rep.
2012;14(1):17-23.
25. Smith-Bindman R, Lipson J, Marcus R, Kim KP, Mahesh M, Gould R, et al.
Radiation dose associated with common computed tomography examinations
and the associated lifetime attributable risk of cancer. Arch Intern Med.
2009;169(22):2078-86.
26. Guyatt GH, Oxman AD, Kunz R, Vist GE, Falck-Ytter Y, Schünemann HJ;
GRADE Working Group. What is "quality of evidence" and why is it
important to clinicians? BMJ. 2008;336(7651):995-8.
27. Guyatt GH, Oxman AD, Vist GE, Kunz R, Falck-Ytter Y, Alonso-Coello P, et
al; GRADE Working Group. GRADE: an emerging consensus on rating
quality of evidence and strength of recommendations. BMJ.
2008;336(7650):924-6.
28. Committee to Assess Health Risks from Exposure to Low Levels of Ionizing
Radiation. Division on Earth and Life Sciences. National Research Council
of the National Academies. Health risks from exposure to low levels of
ionizing radiation: BEIR VII Phase 2. Washington, DC: National Academies
Press; 2006.
PROBABILIDADE, PERFORMANCE E
UTILIDADE NO DIAGNÓSTICO DA
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
CASO CLÍNICO
Residente de cardiologia de hospital universitário do estado do Rio de Janeiro admite
um novo paciente na emergência com queixa de dispneia. A paciente é do sexo
feminino, tem 62 anos e é natural do Rio de Janeiro. Ela se apresenta com queixa
principal de dispneia, iniciada há cerca de dois anos, primeiramente aos grandes
esforços (correr) e nos últimos seis meses aos médios esforços (caminhada). Refere
episódios de palpitação fugazes (segundos) sem relação com o esforço físico, mais
frequentes ao se deitar.
Foi submetida à coronariografia há dois meses que evidenciou coronárias normais. Seu
último ecocardiograma revela disfunção sistólica grave do ventrículo esquerdo, sem
alterações orovalvares. Na última semana refere acordar à noite devido à falta de ar,
melhorando ao se sentar. Refere sintomas em repouso ao longo das últimas horas. Nega
dor torácica, síncope, lipotímia, febre, lesões de pele ou outros sintomas. A paciente
refere ser hipertensa há 20 anos em tratamento regular com diurético. Nega outras
doenças. Nega alergias ou cirurgias prévias. Nega tabagismo. Refere etilismo diário
(uma lata de cerveja por refeição). Não faz restrição à ingestão de sódio e nem
atividades físicas regulares. Apresenta história familiar de HAS e dislipidemia.
OBJETIVOS
1. Discutir os achados clínicos baseado em evidências para o diagnóstico de
insuficiência cardíaca.
2. Analisar e elaborar regras de predição clínica para o diagnóstico da IC.
PERGUNTAS
1. Como delinear o problema?
Quadro 1
Delineamento de uma situação diagnóstica
P=problem; A=actions; C=choices; T=targets
Formulação de questões estruturadas
Questão de Probabilidade
Questões de Performance
Questão de Utilidade
Neste capítulo será utilizada como referência uma probabilidade pré-teste de doença de
50% para exemplificar a construção do diagnóstico em modelo de medicina baseada
em evidências.
Quadro 2
Estratégias de busca no PubMed
Quadro 3
Análise crítica da metodologia empregada na revisão de Wang et al3.
Fonte: adaptado de Guyatt et al.2
Quadro 4
Resumo da acurácia diagnóstica dos achados clínicos da anamnese e do exame físico de pacientes avaliados em
emergências, na revisão de Wang et al.3
IC=insuficiência cardíaca; IAM= infarto agudo do miocárdio; DAC= doença arterial coronariana; DM=diabetes
mellitus; HAS=hipertensão arterial sistêmica; DPOC=doença pulmonar obstrutiva crônica; RV= razão de
verossimilhança; PAS=pressão arterial sistólica
Fonte: Wang et al.3
Quadro 5
Aplicabilidade da melhor evidência encontrada
Este nem sempre é o caso na rotina assistencial. É frequente, por exemplo, a avaliação
de pacientes com história de doença pulmonar obstrutiva crônica e insuficiência
cardíaca cujas manifestações sintomáticas muitas vezes se confundem. Em pacientes
como estes, nos quais há uma grande incerteza diagnóstica, é que os exames
complementares de fato se aplicam.
Uma forma de combinar ao mesmo tempo vários achados clínicos individuais com RV
dependentes entre si é a utilização de regras de predição clínica. No que diz respeito às
regras de predição clínica, ambas as diretrizes recomendam o uso do sistema de pontos
de Boston ou dos critérios maiores e menores de Framingham (Quadro 6) para o
diagnóstico clínico de IC. Os critérios de Framingham são os mais utilizados na prática
diária de avaliação diagnóstica de IC. A positividade dos critérios se dá quando o
paciente avaliado com suspeita de IC possui pelo menos dois critérios maiores ou um
critério maior com pelo menos dois critérios menores.
Quadro 6
Critérios de Framingham para o diagnóstico de insuficiência cardíaca (IC)
Assim como qualquer achado clínico individual ou teste diagnóstico, uma regra de
predição clínica também pode ter sua acurácia diagnóstica determinada. A segunda
questão de performance do exemplo dado aborda essa questão da acurácia do escore
Framingham no diagnóstico de IC. Nas diretrizes não estão explícitas a sensibilidade
nem a especificidade da regra. Sendo assim uma nova busca se faz necessária para se
adquirir uma evidência que auxilie a tomada de decisão diagnóstica.
Análise crítica da melhor evidência encontrada para responder à segunda questão
de performance
Nenhuma das revisões sistemáticas localizadas foi considerada útil para responder à
pergunta. Dentre os estudos encontrados foi escolhido o seguinte para análise crítica
(Quadros 7, 8 e 9):
Maestre et al. Diagnostic accuracy of clinical criteria for identifying systolic and
diastolic heart failure: cross-sectional study. J Eval Clin Pract. 2009 Feb;15(1):55-
619.
Quadro 7
Análise crítica da metodologia, no estudo de Maestre et al.9
Quadro 8
Análise da magnitude e precisão dos resultados
Quadro 9
Aplicabilidade da melhor evidência encontrada para a 2ª questão de performance10
Com essa probabilidade de 90%, o diagnóstico de IC pode ser considerado com grande
grau de certeza. Nesse ponto, deve-se explicar para a paciente que ela deve ter uma
cardiopatia e que em função disso haverá necessidade de interná-la para tratamento
com medicamentos endovenosos e melhor esclarecimento das prováveis causas da
condição. Ao longo do acompanhamento e repetidos encontros com a paciente, outras
questões surgirão, tais como: Qual o risco de morte hospitalar da paciente? Quais os
tratamentos para IC que podem reduzir esse risco de morte? Quais os principais efeitos
colaterais das medicações para IC que podem piorar a qualidade de vida da paciente?
Essas questões já são geradas a partir de outras problematizações e outros domínios
(prognóstico, terapia e dano) abordados em outros capítulos.
Publicação recente no JAMA12 sugere que a terapia guiada por BNP não tenha
resultado em melhora da sobrevida em pacientes acima de 75 anos. Tais aspectos
precisam ser considerados na recomendação do uso rotineiro dessa tecnologia.
Referências
1. Silva SA, Charon R, Wyer PC. The marriage of evidence and narrative:
scientific nurturance within clinical practice. J Eval Clin Pract.
2011;17(4):585-93.
2. Guyatt G, Rennie D, Meade M, Cook D, eds. Users' Guides to the Medical
Literature: essentials of evidence-based clinical practice. 2nd ed. New York:
McGraw Hill; 2008.
3. Wang CS, FitzGerald JM, Schulzer M, Mak E, Ayas NT. Does this dyspneic
patient in the emergency department have congestive heart failure? JAMA.
2005;294(15):1944-56.
4. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM, Rohde LE, Oliveira
WA, Almeida DR, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz
Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol. 2009;93(1
supl.1):1-71.
5. Stigler SM. Who Discovered Bayes's Theorem? The American Statistician.
1983;37(4):290-6.
6. Fagan TJ. Letter: Nomogram for Bayes theorem. N Engl J
Med.1975;293(5):257..
7. Montera MW, Almeida RA, Tinoco EM, Rocha RM, Moura LZ, Réa-Neto A,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. II Diretriz Brasileira de
Insuficiência Cardíaca Aguda. Arq Bras Cardiol. 2009;93(3 supl. 3):1-65.
8. Albanesi Filho FM. [What is the current scenario for heart failure in Brazil?]
Arq Bras Cardiol. 2005;85(3):155-6.
9. Maestre A, Gil V, Gallego J, Aznar J, Mora A, Martín-Hidalgo A. Diagnostic
accuracy of clinical criteria for identifying systolic and diastolic heart
failure: cross-sectional study. J Eval Clin Pract. 2009;15(1):55-61.
10. McGee S. Simplifying likelihood ratios. J Gen Intern Med. 2002;17(8):646-
9.
11. Carpenter CR, Keim SM, Worster A, Rosen P; BEEM (Best Evidence in
Emergency Medicine). Brain natriuretic peptide in the evaluation of
emergency department dyspnea: is there a role? J Emerg Med.
2012;42(2):197-205.
12. Pfisterer M, Buser P, Rickli H, Gutmann M, Erne P, Rickenbacher P, et al;
TIME-CHF Investigators. BNP-guided vs symptom-guided heart failure
therapy: the Trial of Intensified vs Standard Medical Therapy in Elderly
Patients With Congestive Heart Failure (TIME-CHF) randomized trial.
JAMA. 2009;301(4):383-92.
PROBABILIDADE, PERFORMANCE E
UTILIDADE NO TRATAMENTO DA
ESTENOSE AÓRTICA NO IDOSO
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 82 anos, com diagnóstico prévio de estenose aórtica grave há um ano
com sintomas de cansaço aos pequenos esforços (NYHA III). Apresenta história prévia
de hipertensão arterial e angioplastia coronariana há cinco anos.
ECG: normal
Ecocardiograma transtorácico (EcoTT): estenose aórtica grave definida por área valvar
0,6cm2 e gradiente VE-Ao médio =30mmHg, associada à disfunção ventricular
esquerda grave (FE Simpson =33%).
PERGUNTAS
1. Como delinear o problema?
O cenário clínico do mundo real apresenta uma paciente octogenária com estenose
aórtica sintomática e doença coronariana com disfunção ventricular importante, com
risco cirúrgico pelo escore STS elevado3. Neste capítulo será explorado o cenário
clínico, considerando os problemas de probabilidade, performance e utilidade que
podem estar relacionados a essa intervenção.
IVAC=implante de válvula aórtica por cateter; CTVA=cirurgia cardíaca para troca valvar aórtica
Questão de Probabilidade
P Em pacientes idosos com estenose aórtica grave de alto risco
I Se submetidos ao implante percutâneo da válvula aórtica
O Qual é a probabilidade de morte e reinternação em um ano?
Questão de Performance
P Em pacientes idosos com estenose aórtica grave
I a presença de área valvar de 0,6cm2, e disfunção ventricular grave
O tem que acurácia na predição de mortalidade?
Questão de Utilidade
P Em idosos com estenose aórtica grave e alto risco cirúrgico
I O implante percutâneo da válvula aórtica
C Quando comparada à cirurgia de troca valvar aórtica
O Melhora desfechos clínicos de mortalidade, AVE e infarto do miocárdio?
Para se responder a essas perguntas foi realizada busca no PubMed Clinical Queries.
Na categoria de estudos clínicos foi selecionado Prognosis com escopo Broad,
buscando revisões sistemáticas de estudos tipo coorte ou estudos primários tipo coorte.
Utilizados os descritores: Transcatheter aortic valve replacement e mortality.
Encontrados 15 estudos clínicos primários e nenhuma revisão sistemática.
*Baseado no livro: Users’ Guides To The Medical Literature: essentials of evidence-based clinical practice6
Fonte: GRADE7
Estratégia de busca
O’Brien SM, Shahian DM, Filardo G, Ferraris VA, Haan CK, Rich JB, et al. The
Society of Thoracic Surgeons 2008 cardiac surgery risk models: part 2--isolated
valve surgery. Ann Thorac Surg. 2009;88(1 Suppl):S23-423.
Estratégia de busca
Fonte: GRADE7
Aplicabilidade da evidência
Fonte: GRADE7
CASO CLÍNICO
PERGUNTAS
1. Como resolver o problema clínico apresentado?
Os principais problemas do caso clínico apresentado podem ser inseridos nas esferas
da performance, probabilidade e utilidade. A descrição sucinta de cada uma encontra-
se a seguir:
Questões estruturadas:
Busca da melhor evidência científica disponível (Quadro 1)
Portais de busca: pubMed
Estratégia: “warfarin and genetic test” limitado para ensaios clínicos randomizados de
teste genético em humanos.
Quadro 1
Estudos com evidências do uso de testes genéticos em anticoagulação oral com varfarina.
ECR=ensaio clínico randomizado
Por conta disso, em agosto 2007, o FDA8 incluiu na bula da varfarina a informação
genética que repercute sobre sua farmacocinética, melhorando a estimativa da dose
inicial do anticoagulante de forma individualizada, otimizando o uso do fármaco e
diminuindo as complicações hemorrágicas. A bula adverte que a presença de uma
variante do CYP2C9 e do VKORC1 pode ser responsável em até 40% da variação na
dose requerida para a varfarina.
Na análise dos resultados dos estudos selecionados, houve uma tendência para menos
sangramento com a dose guiada pela farmacogenética, mas isso deve ser interpretado
com cautela devido às diferenças entre os desenhos dos estudos. Houve alguma
evidência de que o tempo para alcançar a dose estável de varfarina possa ser diminuída
com a dosagem guiada pelo genótipo.
No estudo de Anderson et al.3, o de maior qualidade, não foram encontradas diferenças
significativas nos resultados primários ou secundários, embora tenha havido tendência
de alcance de uma dose estável mais rápido (14,1 vs 19,6 dias, p=0,07) com o uso do
teste genético. No entanto não há nenhuma evidência de que uma dose inicial mais
precisa reduza o risco de hemorragia.
Resultados de ensaios clínicos em curso vão ajudar a esclarecer o papel dos testes
genéticos na gestão da varfarina. Pequenos tamanhos de amostra e heterogeneidade
entre os poucos estudos disponíveis têm impedido estimativas definitivas da eficácia
relativa a essa intervenção. Assim, as evidências atuais são não significativas em
definir a melhor estratégia para os pacientes que necessitam do uso de varfarina para
anticoagulação oral.
Novas tecnologias já incorporadas à prática clínica têm trazido anticoagulantes que não
necessitam de ajuste de dose, no entanto, isto não invalida a importância da
farmacogenética em outras frentes terapêuticas, principalmente na escolha do melhor
fármaco, melhor dose e redução de eventos adversos, desenvolvendo finalmente uma
medicina individualizada.
Potencial Conflito de Interesses
Referências
1. Hillman MA, Wilke RA, Yale SH, Vidaillet HJ, Caldwell MD, Glurich I, et
al. A prospective, randomized pilot trial of model-based warfarin dose
initiation using CYP2C9 genotype and clinical data. Clin Med Res.
2005;3(3):137-45.
2. Caraco Y, Blotnick S, Muszkat M. CYP2C9 genotype-guided warfarin
prescribing enhances the efficacy and safety of anticoagulation: a prospective
randomized controlled study. Clin Pharmacol Ther. 2007;83(3):460-70.
3. Anderson JL, Horne BD, Stevens SM, Grove AS, Barton S, Nicholas ZP, et
al; Couma-Gen Investigators. Randomized trial of genotype-guided versus
standard warfarin dosing in patients initiating oral anticoagulation.
Circulation. 2007;116(22):2563-70.
4. International Warfarin Pharmacogenetics Consortium, Klein TE, Altman RB,
Eriksson N, Gage BF, Kimmel SE, Lee MT, et al. Estimation of the warfarin
dose with clinical and pharmacogenetic data. N Engl J Med.
2009;360(8):753-64. Erratum in: N Engl J Med. 2009;361(16):1613.
5. Rieder MJ, Reiner AP, Gage BF, Nickerson DA, Eby CS, McLeod HL, et al.
Effect of VKORC1 haplotypes on transcriptional regulation and warfarin
dose. N Engl J Med. 2005;352(22):2285-93.
6. Yin T, Miyata T. Warfarin dose and the pharmacogenomics of CYP2C9 and
VKORC1 - rationale and perspectives. Thromb Res. 2007;120(1):1-10.
7. Stehle S, Kirchheiner J, Lazar A, Fuhr U. Pharmacogenetics of oral
anticoagulants: a basis for dose individualization. Clin Pharmacokinet.
2008;47(9):565-94.
8. Grosse SD, Khoury MJ. What is the clinical utility of genetic testing? Genet
Med. 2006;8(7):448-50.
9. Meckley LM, Wittkowsky AK, Rieder MJ, Rettie AE, Veenstra DL. An
analysis of the relative effects of VKORC1 and CYP2C9 variants on
anticoagulation related outcomes in warfarin-treated patients. Thromb
Haemost. 2008;100(2):229-39.
10. Limdi NA, Veenstra DL. Warfarin pharmacogenetics. Pharmacotherapy.
2008;28(9):1084-97.
Seção 8. Cardiogeriatria
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 80 anos, branca, casada, natural do RJ, professora aposentada, com
história de hipertensão (HAS) há 15 anos, diabetes mellitus não insulino dependente
(DM) há oito anos e depressão em tratamento há cinco meses.
Doença principal: Diabetes mellitus e hipertensão arterial
Comorbidades: Idade avançada; depressão maior; osteoartrose de joelho; histórico
prévio de queda.
Fatores de risco cardiovascular: Diabetes mellitus, hipertesão arterial, dislipidemia,
idade avançada.
Resumo caso clínico: Paciente idosa, com história de diabetes e hipertensão, há alguns
anos vem apresentando episódios de esquecimento de nomes e do lugar onde deixou
objetos, porém sem piora evolutiva. Portadora de osteoartrose de joelho, com dor de
leve a moderada e não limitante. Vacinação anti-influenza e antipneumocócica em dia.
Trazida à consulta cardiológica por seus familiares por estar com pressão alta e ter
apresentado episódio de queda no último ano, há oito meses.
OBJETIVOS
1. Discutir as particularidades da hipertensão arterial e do DM em indivíduos
idosos.
2. Entender a importância da hipertensão arterial e do diabetes mellitus no
contexto do continuum cardiovascular (CV).
3. Discutir as metas e as opções terapêuticas recomendadas nessa situação e seu
impacto na redução do risco CV.
PERGUNTAS
1. Quais são as principais particularidades da hipertensão arterial no idoso e a sua
importância no continuum CV?
O Brasil apresenta 11,3 % da sua população total de pessoas com idade igual ou
superior a 60 anos, de acordo com os dados disponíveis no portal do IDB. A
expectativa de vida ao nascer, para a população brasileira é de 72,05 anos1. Os dados
epidemiológicos mostram também que a mortalidade por doenças cardiovasculares
(DCV) aumenta com a idade. Esses números expressam a importância do processo da
aterosclerose no idoso, tornando fundamental a sua prevenção e detecção. O
envelhecimento, a hipertensão arterial (HAS), a dislipidemia, o diabetes mellitus
(DM), o tabagismo, o sedentarismo e a obesidade são fatores de risco capazes de levar
à disfunção endotelial e, consequentemente a alterações vasculares, sendo clara a
associação entre esses fatores de risco e a aterosclerose2.
O DM tipo 2 representa uma das doenças crônicas mais comuns nos idosos. Sua
prevalência está estimada entre 15% a 20% nos indivíduos acima dos 60 anos, e mais
da metade de todos os indivíduos portadores de DM2 tem mais de 60 anos6.
Também a morbidade, a mortalidade e os custos relacionados a essa condição clínica
são elevados. O número de internações por DM registrado no SIH/SUS em 2000 foi
140.826 indivíduos, dos quais 52,84% tinham mais de 60 anos. Esse elevado número
de internações foi responsável por 39 milhões de reais gastos pelos SUS naquele ano.
Da mesma forma, a mortalidade por DM aumenta com o envelhecimento, passando de
0,46 mortes por 100 mil habitantes (entre 0 a 29 anos), para 233,3 mortes por 100 mil
habitantes (entre 60 e 69 anos)3-6,8.
Quadro 1
Particularidades do diabetes mellitus (DM) no idoso6
A doença cardiovascular ocorre no indivíduo diabético de forma mais precoce e
frequentemente mais grave, estando associada ao aumento da prevalência de problemas
micro e macrovasculares no idoso. A prevenção da doença macrovascular no DM
envolve o tratamento de todos os fatores de risco associados como a HAS, a
dislipidemia, a obesidade, o tabagismo, o sedentarismo e a alimentação desbalanceada.
O paciente diabético é, portanto, considerado um paciente em risco de desenvolvimento
de DCV e o controle rigoroso dos níveis glicêmicos, da PA, do perfil lipídico e
antropométrico, bem como hábitos de vida saudáveis são cruciais para prevenir a
ocorrência de eventos mórbidos e a mortalidade CV3-6,8.
O risco de DCV é duas a quatro vezes maior nos diabéticos em comparação aos não
diabéticos, sendo que no sexo masculino o risco de DAC e de acidente vascular
encefálico aumenta duas vezes, e no sexo feminino de três a quatro vezes. O infarto
agudo do miocárdio (IAM) é mais comum no paciente diabético e tem um pior
prognóstico.
Ainda não há consenso sobre os exames complementares que deverão ser realizados
para detectar isquemia silenciosa em diabéticos, ainda que essa condição ocorra em
1:5 diabéticos, sendo ainda mais frequente nos idosos8. O teste ergométrico, embora
represente recomendação classe A com nível de evidência I para indivíduos diabéticos,
mesmo assintomáticos, com mais de um fator de risco adicional (caso desta paciente)9-
12 tem uma sensibilidade apenas intermediária para o diagnóstico de isquemia.
Por outro lado, a isquemia silenciosa grave é observada em 1:15 diabéticos quando são
utilizados métodos com maior sensibilidade para a sua detecção, como a cintilografia
miocárdica. A presença de isquemia silenciosa nesse exame se associa a risco de
evento coronariano de 4,7% a 13,8% ao ano em indivíduos não tratados8.
Quadro 3
Metas de controle glicêmico – Sociedade Brasileira de Diabetes8
*As metas devem ser alcançadas desde que não aumentem o risco de hipoglicemia
Entretanto, uma meta mais liberal com glicemia de jejum <180mg/dl, glicemia pós-
prandial <150mg/dl e HbA1C >7% pode ser adequada para pacientes com
hipoglicemias severas, expectativa de vida limitada e complicações graves, entre
outras.
Entretanto, por serem pacientes de alto risco CV, os hipertensos diabéticos necessitam
frequentemente de tratamento medicamentoso e mais frequentemente ainda de múltiplas
drogas para atingir as metas pressóricas recomendadas. Soma-se a isso a alta
frequência de comorbidades, a consequente polifarmácia e o maior risco de interações
medicamentosas e efeitos adversos na população geriátrica, fazendo com que a escolha
do anti-hipertensivo seja cuidadosa, atentando-se para o número de tomadas diárias, a
interação medicamentosa e especialmente para as comorbidades como cardiopatias,
incontinência urinária, hipotensão ortostática, depressão, etc.
Pacientes hipertensos e diabéticos devem ter seu perfil lipídico avaliado na ocasião do
diagnóstico dessas doenças e, posteriormente, anualmente ou de acordo com o alcance
das metas propostas e a necessidade de ajustes terapêuticos. O padrão de alteração
lipídica mais frequentemente presente nos diabéticos é a hipertrigliceridemia,
associada à redução do HDL colesterol e a presença de LDL com características mais
aterogênicas (partículas pequenas e de mais alta densidade)4,6,8.
Nesta paciente com hipertensão, diabetes e DCV prévia (angioplastia coronariana com
stent farmacológico de descendente anterior) a presença de LDL colesterol acima da
meta (127mg/dl) foi o fator determinante para a prescrição de atorvastatina 40mg/dia
como estratégia terapêutica inicial da dislipidemia.
O tratamento do diabético idoso não difere daquele dos adultos em geral. Entretanto
esse grupo apresenta algumas particularidades como maior risco de hipoglicemias
graves, mais ocorrência de efeitos colaterais com os medicamentos, polifarmácia,
coexistência de maior número de comorbidades. Na literatura há evidências limitadas
de que um controle glicêmico mais rigoroso nessa faixa etária represente maior
prevenção de complicações macrovasculares6,8.
Os pacientes magros, com início súbito dos sintomas e glicemia inicial >300mg/dl
deverão ser encarados como diabéticos tipo 1 e tratados com insulina. Já os pacientes
com características de síndrome metabólica deverão ser tratados como diabetes tipo 2,
como é o caso da paciente que se está avaliando (HAS, obesidade central,
hipertrigliceridemia e DM).
Vale ressaltar que o tratamento não medicamentoso com mudança de estilo de vida deve
ser instituído e, por vezes, é a opção terapêutica preferencial nesses pacientes, nos
quais as metas glicêmicas são menos rigorosas. Em relação à dieta nos idosos, deve-se
considerar que esse grupo apresenta maior risco de desnutrição, devendo ter-se
cuidado com restrições calóricas muito rigorosas; uma dieta menos restritiva pode
melhorar a qualidade de vida, e este é o objetivo maior no tratamento nessa faixa etária;
a perda de peso aumenta o risco de morbidade e mortalidade nesse grupo. Um
programa de exercícios físicos aumentará a probabilidade de sucesso5,8.
Nos pacientes em que as mudanças de estilo de vida não forem suficientes para o
alcance das metas, ou naqueles de mais alto risco, a instituição de tratamento
farmacológico será necessária. Tanto para os hipoglicemiantes orais como para as
insulinas, as indicações de uso isolado ou em combinação são semelhantes às dos
adultos jovens; entretanto, algumas particularidades devem ser destacadas em relação a
esses esquemas terapêuticos em idosos5,8.
Outra ocorrência que pode limitar o uso nessa faixa etária e, particularmente na
paciente aqui apresentada, é a evidência na literatura de aumento da ocorrência de
fraturas periféricas em mulheres após a menopausa. Atualmente, a pioglitazona é a
única representante desse grupo já que as demais foram retiradas do mercado6,8.
A conduta adotada para esta paciente foi uma terapêutica combinada, incluindo uma
sulfonilureia de segunda geração (glibenclamida 5mg) associada à biguanida
(metformina 850mg).
Sintetizando:
Referências
1. Ministério da Saúde. [Internet]. Indicadores e Dados Básicos – Brasil – 2006
(IDB 2006 Brasil). Indicadores demográficos. [acessado 2008 ago 5].
Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2006/matriz.htm>
2. Bilato C, Crow MT. Atherosclerosis and the vascular biology of aging. Aging
(Milano). 1996;8(4):221-34.
3. Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão /
Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl.1):1-51.
4. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FA, Bertolami MC, Afiune Neto A, Souza
AD, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose: Departamento de
Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol.
2007;88(supl. 1):2-19.
5. Freitas EV, Brandão AA, Campana EMG, Magalhães MEC, Pozzan R,
Brandão AP. Hipertensão arterial no idoso. In: Freitas EV, Py L, eds. Tratado
de Geriatria e Gerontologia. 3a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan;
2011. p.436-54.
6. Freitas EV. Diabetes Melito. In: Freitas EV, Py L, eds. Tratado de Geriatria e
Gerontologia. 3a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2011. p. 808-22.
7. Malerbi DA, Franco LJ. Multicenter study of the prevalence of diabetes
mellitus and impaired glucose tolerance in the urban Brazilian population
aged 30-69 yr. The Brazilian Cooperative Group on the Study of Diabetes
Prevalence. Diabetes Care. 1992;15(11):1509-16.
8. Gomes MB, Lerario AC, Milech A, Angelucci AP, Golbert A, Carrilho AJF,
et al. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira
de Diabetes 2009. [acesso em 2011 nov. 20] Disponível em:
<http://www.diabetes.org.br/attachments/diretrizes09_final.pdf>
9. Ministério da Saúde. [Internet]. IDB 2009 Brasil. Indicadores de fatores de
risco e proteção. [acesso em 2011 nov. 13] Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2009/g07_02.htm>
10. Ministério da Saúde. [Internet]. Indicadores e Dados Básicos – Brasil – 2009
(IDB 2009 - Brasil). Indicadores de mortalidade. [acesso em 2009 set. 08]
Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2009/g07_02.htm>
11. Meneghelo RS, Araújo CGS, Stein R, Mastrocolla LE, Albuquerque PF,
Serra SM, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre teste ergométrico. Arq Bras
Cardiol. 2010;95(5 supl.1):1-26.
12. Gibbons RJ, Balady GJ, Bricker JT, Chaitman BR, Fletcher GF, Froelicher
VF, et al; American College of Cardiology/American Heart Association Task
Force on Practice Guidelines (Committee to Update the 1997 Exercise
Testing Guidelines) ACC/AHA 2002 Guideline Update for Exercise Testing:
summary article: a report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Committee to Update
the 1997 Exercise Testing Guidelines). Circulation. 2002;106(14):1883-92.
13. American Diabetes Association. Standards of medical care in
diabetes─2010. Diabetes Care. 2010;33(Suppl 1):S11-61. Erratum in:
Diabetes Care. 2010;33(3):692.
14. Whelton PK, Appel LJ, Espeland MA, Applegate WB, Ettinger WH Jr, Kostis
JB, et al; TONE Collaborative Research Group. Sodium reduction and
weight loss in the treatment of hypertension in older persons: a randomized
controlled trial of nonpharmacologic interventions in the elderly (TONE).
JAMA. 1998;279(11):839-46. Erratum in: JAMA. 1998;279(24):1954.
15. Duprez DA, Munger MA, Botha J, Keefe DL, Charney AN. Aliskiren for
geriatric lowering of systolic hypertension: a randomized controlled trial. J
Hum Hypertens. 2010;24(9):600-8.
16. Parving HH, Persson F, Lewis JB, Lewis EJ, Hollenberg NK; AVOID Study
Investigators. Aliskiren combined with losartan in type 2 diabetes and
nephropathy. N Engl J Med. 2008;358(23):2433-46.
17. Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood
Cholesterol in Adults. Executive Summary of the Third Report of the National
Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection,
Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult
Treatment Panel III). JAMA. 2001;285(19):2486-97.
SÍNCOPE NO IDOSO
Roberto Gamarski
Bruno Ganimi
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 81 anos, branco, natural do Rio de Janeiro, técnico administrativo
da Petrobras.
Queixa principal: “Caí no restaurante por duas vezes”.
História social: nega etilismo. Ex-tabagista de um maço/dia por 18 anos, tendo parado
de fumar em 1987.
Figura 1
ECG do paciente relatado à admissão
Figura 2
TC de crânio do paciente relatado à admissão
Figura 3
RNM: imagem compatível com acidente vascular encefálico isquêmico cortical e subcortical parietal esquerdo
recente
Após melhora do quadro, adotou-se uma conduta mais conservadora pelas condições
gerais do paciente, optando-se por uma estratificação não invasiva com cintilografia e
Holter de 24h (Figura 4):
Figura 4
Holter de 24 horas
Figura 5
Cintilografia miocárdica
Tendo em vista os resultados obtidos nos exames solicitados, o paciente foi submetido
com sucesso a implante de cardioversor-desfibrilador DDD, com posterior alta
hospitalar.
OBJETIVOS
1. Conhecer a epidemiologia da síncope no idoso.
2. Descrever a classificação dos mecanismos de síncope com as características
clínicas que auxiliam na sua identificação.
3. Analisar as ferramentas que auxiliam no diagnóstico diferencial da síncope
cardíaca da síncope não cardíaca.
4. Discutir os exames complementares necessários à avaliação sistematizada do
paciente com síncope.
5. Identificar as medidas farmacológicas e não farmacológicas que visam à
prevenção da recorrência da síncope.
PERGUNTAS
1. Como se define síncope? Qual é a sua epidemiologia e o diagnóstico diferencial
em idosos1?
Epidemiologia:
Diagnóstico diferencial:
Vertigem
Coma
Convulsões
Parada cardiorrespiratória
Hipoglicemia
Após se levantar
Relação temporal com o início da medicação que leva à hipotensão ou
alterações na dosagem
Longo período em posição supina especialmente em lugares fechados e
quentes
Presença de neuropatia autonômica ou parkinsonismo
Após exercício
Cerebrovascular (1%)
Abordagem geral
• Anamnese + Exame Físico +ECG: responsáveis por cerca de 50% dos diagnósticos.
Devem ser realizados alguns questionamentos:
O estudo eletrofisiológico está indicado para pacientes com síncope suspeita de origem
arrítmica em indivíduo com cardiopatia estrutural. São fatores preditores de síncope
cardíaca: doença cardíaca estrutural demonstrada pelo ecocardiograma;
eletrocardiograma com alterações expressivas; síncope sem sinais premonitórios; e
síncope precedida de palpitações. Em pacientes com infarto prévio e função ventricular
preservada, a presença de arritmia ventricular complexa no Holter ou a indução de
taquicardia ventricular monomórfica no estudo eletrofisiológico é um forte preditor de
causa arrítmica da síncope.
De acordo com as novas diretrizes europeias, o EPS não é mais indicado em pacientes
com disfunção ventricular esquerda grave porque, nesses casos, o desfibrilador já está
indicado independentemente do mecanismo de síncope.
Consiste em aumento de ingesta hídrica para aumento da volemia, uso de meia elástica
de alta compressão e afastamento de fatores desencadeantes. A prescrição de períodos
progressivamente mais longos de exposição ortostática (tilt-training) ou treinamento
postural passivo são formas de tratamento não farmacológico que podem trazer
benefícios. Em pacientes com hipotensão ortostática deve-se recomendar que não se
levantem subitamente da posição supina para a ortostática.
As recomendações são:
• Marca-passo
Indicado em pacientes que apresentem uma resposta predominantemente
cardioinibitória à estimulação do seio carotídeo. Quando a resposta é
predominantemente vasoplégica o seu uso não é recomendado.
Referências
1. Gamarski R, Mohallem KL, Castro RRT, Nóbrega ACL. Síncope no idoso.
In: Freitas EV, Py L. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2a ed. Rio de
Janeiro: Guanabara-Koogan; 2006. p.474-9.
2. Araujo CG, Nobrega AC, Castro CL. Heart rate responses to deep breathing
and 4-seconds of exercise before and after pharmacological blockade with
atropine and propranolol. Clin Auton Res. 1992;2(1):35-40.
3. Galetta F, Franzoni F, Femia FR, Prattichizzo F, Bartolomucci F, Santoro G, et
al. Responses to Tilt test in young and elderly patients with syncope of
unknown origin. Biomed Pharmacother. 2004;58(8):443-6.
4. Lipsitz LA, Wei JY, Rowe JW. Syncope in an elderly, institutionalised
population: prevalence, incidence and associated risk. Q J Med.
1985;55(216):45-54.
5. Marangoni E, Zucchi A, Lissoni F, Oddone A, Ferraris P, Galloni G, et al.
Tilt test results in young and elderly patients with syncope of unknown origin.
Aging (Milano). 1996;8(6):409-16.
6. Nobrega AC, Castro CL, Araújo CG. Relative roles of the sympathetic and
parasympathetic systems in the 4-s exercise test. Braz J Med Biol Res.
1990;23(12):1259-62.
7. Petersen ME, Williams TR, Gordon C, Chamberlain-Webber R, Sutton R.
The normal response to prolonged passive head up tilt testing. Heart.
2000;84(5):509-14.
8. Brignole M, Hamdan MH. A standardized guideline-based algorithm coupled
with online decision-making tool: the new frontier for efficient management
of syncope? Europace. 2011;13(10):1359-61.
FIBRILAÇÃO ATRIAL
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 80 anos, com história de hipertensão arterial, diabetes,
insuficiência cardíaca, infarto do miocardio há 10 anos, com fração de ejeção do
ventrículo esquerdo de 37%, com paroxismos de fibrilação há cinco anos.
Refere crises de palpitações que duram aproximadamente duas a três horas, ocorrendo
de quatro a cinco vezes por ano. Usou warfarina durante três anos, mas apresentou
hemorragia digestiva baixa importante (necessitou transfusão de quatro unidades de
concentrado de hemácias), sendo a mesma suspensa há três meses.
Colonoscopia mostrou varios pólipos que foram retirados. Tem apresentado quedas nos
ultimos dois meses e agora caminha com ajuda de bengala. Atualmente em uso de
aspirina 100mg/dia, digoxina 0,125mg/dia, carvedilol 12,5mg 12/12h, sinvastatina
40mg/dia, metformina 500mg/dia, furosemida 20mg/dia.
OBJETIVOS
1. Discutir as diferentes opções de abordagem frente ao idoso com fibrilação
atrial.
2. Identificar estratégias de avaliação de risco/benefício na equação: prevenção
de acidente vascular cardioembólico versus risco hemorrágico dos
anticoagulantes em idosos.
3. Discutir os dilemas e dificuldades no tratamento de pacientes idosos do
“mundo real”, portadores de múltiplas comorbidades e problemas
psicossociais.
4. Valorizar a decisão clínica individualizada (“caso a caso”), de forma
holística e baseada em princípios da bioética.
PERGUNTAS
1. Qual seria a melhor abordagem para este paciente?
Apesar de alguns autores terem proposto um INR mais baixo para os idosos (faixa 1,8-
2,5), essa recomendação não está fundamentada em nenhuma evidência de grande
estudo. Estudos de coorte2 sugerem um risco dobrado de AVE quando o INR se situa na
faixa de 1,5-2,0. Portanto, um INR de 2,0 não é recomendado.
O paciente relatado totaliza pelo menos 3 pontos, o que o indica como candidato ao uso
de antitrombóticos. Como em todos os casos em que o anticoagulante está sendo
considerado, uma apresentação de pontos positivos e negativos com o paciente e seus
familiares, uma avaliação do risco de sangramento, a capacidade de o paciente manter
a dose ajustada e as preferências do paciente são fundamentais. O medo de quedas,
citado em entrevista com os médicos como o principal motivo para a não prescrição de
anticoagulantes, pode estar sendo superestimado, pois foi calculado que um paciente
precisaria cair em torno de 300 vezes por ano para que o risco de hemorragia
intracraniana ultrapassasse o benefício da anticoagulação na prevenção do acidente
vascular isquêmico3.
Usando uma coorte de 3978 pacientes4 do “mundo real” foi criado um escore de risco
de sangramento chamado HAS-BLED (Hypertension, Abnormal liver funtion,
Abnormal renal funcion, Stroke, bleeding story or predisposition, Labile INR, Elderly
(>65), Drugs/alcohol concomitantly) em que o paciente com 3 ou mais pontos é
considerado de alto risco para sangramento, tanto para aspirina como para
anticoagulante oral, sendo recomendado maior cuidado e revisões periódicas regulares.
Múltiplos estudos5 têm demonstrado que a anticoagulação com warfarina (com um INR
mantido entre 2,0 e 3,0 ou entre 1,8 e 2,0 em pacientes idosos com risco elevado de
queda) é eficaz na prevenção do tromboembolismo em pacientes com FA, enquanto a
aspirina oferece apenas uma modesta proteção contra o AVE.
Quando a aspirina foi comparada com placebo em sete estudos6, houve apenas uma
redução não significativa de 19% (95%IC; 1%-35%) no risco de acidente
cerebrovascular. A dose de aspirina foi muito variada nesses estudos, indo de 50mg a
1300mg por dia. Farmacologicamente, uma dose baixa (75mg) de aspirina provoca uma
inibição da agregação plaquetária praticamente completa, e é mais segura que doses
mais elevadas, já que as taxas de hemorragia com doses elevadas são significativas.
Portanto, se a aspirina for usada, deve ser em doses baixas (75-100mg/dia).
Portanto, aspirina associada a clopidogrel pode talvez ser uma opção quando a terapia
com anticoagulante for impraticável, mas não como uma alternativa ao anticoagulante
em pacientes com alto risco de sangramento.
No caso do paciente relatado, mesmo após ter sido discutido que a retirada dos polipos
o colocaria em relativa segurança quanto a novos sangramentos intestinais, a opção
pelo retorno ao uso de anticoagulantes foi por ele totalmente rejeitada.
No estudo RE-LY 11, a dabigatrana 110mg duas vezes ao dia não foi inferior ao
anticoagulante oral na prevenção de acidente vascular encefálico isquêmico e embolias
sistêmicas com menores taxas de sangramentos graves; já a dose de 150mg duas vezes
ao dia foi associada a menores taxas de acidente isquêmico cerebrovascular e embolias
sistêmicas, com taxas de hemorragia comparáveis aos anticoagulantes.
Rivaroxaban é uma nova alternativa à warfarina. O estudo multicêntrico ROCKET-AF12
(14264 pacientes, idade média 73 anos com CHADS2 médio de 3,5) demonstou que
dose diária única desse medicamento não foi inferior no desfecho composto de AVE
(isquêmico ou hemorrágico) ou embolia periférica, sendo que as taxas de hemorragia
intracraniana ou fatal foram significativamente menores que no grupo warfarina (0,2%
vs. 0,5%, p=0,003). Uma vantagem dessas drogas é não haver necessidade de
monitorização do INR.
Em pacientes sem doença valvar, a grande maioria dos trombos está localizada dentro
do apêndice atrial esquerdo (auriculeta), que funciona como “fundo de saco”, criando
um meio apropriado para estase e consequente formação de trombo. A ligação,
amputação (no momento da cirurgia valvar, quando for o caso) e oclusão da auriculeta
esquerda (percutânea) têm sido propostas para pacientes que não são candidatos à
terapêutica anticoagulante, prevenindo mecanicamente a embolização.
Referências
1. Gage BF, van Walraven C, Pearce L, Hart RG, Koudstaal PJ, Boode BS, et
al. Selecting patients with atrial fibrillation for anticoagulation: stroke risk
stratification in patients taking aspirin. Circulation. 2004;110(16):2287-92.
2. European Heart Rhythm Association; European Association for Cardio-
Thoracic Surgery, Camm AJ, Kirchhof P, Lip GY, Schotten U, Savelieva I, et
al. Guidelines for the management of atrial fibrillation. The Task Force for
the Management of Atrial Fibrillation of the European Society of Cardiology
(ESC). Eur Heart J. 2010;31(19):2369-429. Erratum in: Eur Heart J.
2011;32(9):1172.
3. Man-Son-Hing M, Nichol G, Lau A, Laupacis A. Choosing antithrombotic
therapy for elderly patients with atrial fibrillation who are at risk for falls.
Arch Intern Med. 1999;159(7):677-85.
4. Pisters R, Lane DA, Nieuwlaat R, de Vos CB, Crijns HJ, Lip GY. A novel
user-friendly score (HAS-BLED) to assess 1-year risk of major bleeding in
patients with atrial fibrillation: the Euro Heart Survey. Chest.
2010;138(5):1093-100.
5. Fuster V, Rydén LE, Cannom DS, Crijns HJ, Curtis AB, Ellenbogen KA, et al;
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines; European Society of Cardiology Committee for Practice
Guidelines; European Heart Rhythm Association; Heart Rhythm Society.
ACC/AHA/ESC 2006 Guidelines for the Management of Patients with Atrial
Fibrillation: a report of the American College of Cardiology/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines and the European Society of
Cardiology Committee for Practice Guidelines (Writing Committee to revise
the 2001 Guidelines for the Management of Patients with Atrial Fibrillation):
developed in collaboration with the European Heart Rhythm Association and
the Heart Rhythm Society. Circulation. 2006;114(7):e257-354. Erratum in:
Circulation. 2007;116(6):e138.
6. Hart RG, Pearce LA, Aguilar MI. Meta-analysis: antithrombotic therapy to
prevent stroke in patients who have nonvalvular atrial fibrillation. Ann Intern
Med. 2007;146(12):857-67.
7. Sato H, Ishikawa K, Kitabatake A, Ogawa S, Maruyama Y, Yokota Y, et al;
Japan Atrial Fibrillation Stroke Trial Group. Low-dose aspirin for
prevention of stroke in low-risk patients with atrial fibrillation: Japan Atrial
Fibrillation Stroke Trial. Stroke. 2006;37(2):447-51
8. Rash A, Downes T, Portner R, Yeo WW, Morgan N, Channer KS. A
randomised controlled trial of warfarin versus aspirin for stroke prevention
in octogenarians with atrial fibrillation (WASPO). Age Ageing.
2007;36(2):151-6.
9. ACTIVE Writing Group of the ACTIVE Investigators, Connolly S, Pogue J,
Hart R, Pfeffer M, Hohnloser S, Chrolavicius S, et al. Clopidogrel plus
aspirin versus oral anticoagulation for atrial fibrillation in the Atrial
fibrillation Clopidogrel Trial with Irbesartan for prevention of Vascular
Events (ACTIVE W): a randomised controlled trial. Lancet.
2006;367(9526):1903-12.
10. ACTIVE Investigators, Connolly SJ, Pogue J, Hart RG, Hohnloser SH,
Pfeffer M, et al. Effect of clopidogrel added to aspirin in patients with atrial
fibrillation. N Engl J Med. 2009;360(20):2066-78.
11. Connolly SJ, Ezekowitz MD, Yusuf S, Eikelboom J, Oldgren J, Parekh A, et
al. RE-LY Steering Committee and Investigators. Dabigatran versus warfarin
in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2009;361(12):1139-51.
Erratum in: N Engl J Med. 2010;363(19):1877.
12. Patel MR, Mahaffey KW, Garg J, Pan G, Singer DE, Hacke W, et al;
ROCKET AF Investigators. Rivaroxaban versus warfarin in nonvalvular
atrial fibrillation. N Engl J Med. 2011;365(10):883-91.
13. Wyse DG, Waldo AL, DiMarco JP, Domanski MJ, Rosenberg Y, Schron EB,
et al; Atrial Fibrillation Follow-up Investigation of Rhythm Management
(AFFIRM) Investigators. A comparison of rate control and rhythm control in
patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2002;347:1825-33.
14. Van Gelder IC, Hagens VE, Bosker HA, Kingma JH, Kamp O, Kingma T, et
al; Rate Control versus Electrical Cardioversion for Persistent Atrial
Fibrillation Study Group. A comparison of rate control and rhythm control in
patients with recurrent persistent atrial fibrillation. N Engl J Med.
2002;347(23):1834-40.
15. Hussein AA, Saliba WI, Martin DO, Shadman M, Kanj M, Bhargava M, et al.
Plasma B-type natriuretic peptide levels and recurrent arrhythmia after
successful ablation of lone atrial fibrillation. Circulation.
2011;123(19):2077-82.
16. European Heart Rhythm Association (EHRA); European Cardiac Arrhythmia
Society (ECAS); American College of Cardiology (ACC); American Heart
Association (AHA); Society of Thoracic Surgeons (STS), Calkins H,
Brugada J, Packer DL, Cappato R, Chen SA, Crijns HJ, et al.
HRS/EHRA/ECAS expert Consensus Statement on catheter and surgical
ablation of atrial fibrillation: recommendations for personnel, policy,
procedures and follow-up. A report of the Heart Rhythm Society (HRS) Task
Force on catheter and surgical ablation of atrial fibrillation. Heart Rhythm.
2007;4(6):816-61. Erratum in: Heart Rhythm. 2009;6(1):148.
17. Blackshear JL, Odell JA. Appendage obliteration to reduce stroke in cardiac
surgical patients with atrial fibrillation. Ann Thorac Surg. 1996;61(2):755-9.
18. Holmes DR, Reddy VY, Turi ZG, Doshi SK, Sievert H, Buchbinder M, et al;
PROTECT-AF Investigators. Percutaneous closure of the left atrial
appendage versus warfarin therapy for prevention of stroke in patients with
atrial fibrillation: a randomised non-inferiority trial. Lancet.
2009;374(9689):534-42. Erratum in: Lancet. 2009;374(9701):1596.
ESTENOSE AÓRTICA EM IDOSOS E O
IMPLANTE DE VÁLVULA AÓRTICA POR
CATETER
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 82 anos, com diagnóstico prévio de estenose aórtica grave há um ano
com sintomas de cansaço aos pequenos esforços. Apresenta história prévia de
hipertensão arterial e angioplastia coronariana há cinco anos.
A paciente foi encaminhada para avaliação de implante de válvula aórtica por cateter
(IVAC), por ser considerada de alto risco para cirurgia de troca valvar aórtica (CTVA).
OBJETIVOS
1. Analisar o papel do heart team na avaliação dos pacientes idosos com
estenose aórtica.
2. Correlacionar aspectos da técnica do procedimento com suas complicações,
visando à prevenção através da avaliação clínica inicial adequada.
3. Propor um modelo de acompanhamento clínico.
4. Fornecer parâmetros prognósticos dos pacientes submetidos ao IVAC.
PERGUNTAS
1. Qual o papel da equipe multidisciplinar (heart team) na decisão de intervenções
de pacientes complexos como descrito neste caso clínico?
Anemia ocorre em 49% dos casos de estenose aórtica submetidos ao IVAC e não deve
ser considerada a causa exclusiva dos sintomas11. Pacientes com estenose aórtica grave
exibem sangramento cutâneo ou de mucosa em 21% dos casos, tendo como mecanismo
a fragmentação da proteína do fator de von Willebrand que resulta em disfunção da
agregação plaquetária12,13.
Pacientes com estenose aórtica grave que foram randomizados para o tratamento sem
IVAC exibiram mortalidade de 50% em um ano no estudo PARTNERS coorte B15.
6. Além de aliviar os sintomas, o implante de válvula aórtica por cateter reduz
desfechos (morte e internação)?
A taxa de sobrevivência ao final de um ano nos casos de IVAC variou entre 71,9% e
78,6%21,26. Registro inglês de 870 pacientes relatou sobrevivência de 78,6% em um
ano e 73,7% em dois anos26. A durabilidade das próteses em longo prazo (cinco anos
ou mais) ainda são escassamente relatadas em publicações formais.
A experiência inicial deste grupo foi descrita anteriormente27*. Como orientação geral
para a rotina de acompanhamento:
Referências
1. Levine GN, Bates ER, Blankenship JC, Bailey SR, Bittl JA, Cercek B, et al.
2011 ACCF/AHA/SCAI Guideline for Percutaneous Coronary Intervention: a
report of the American College of Cadiology Foundation/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines and the Society for
Cardiovascular Angiography and Interventions. Circulation.
2011;124(23):e574-651.
2. Hillis LD, Smith PK, Anderson JL, Bittl JA, Bridges CR, Byrne JG, et al.
2011 ACCF/AHA Guideline for Coronary Artery Bypass Graft Surgery:
executive summary: a report of the American College of Cardiology
Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines.
Circulation. 2011;124(23):2610-42. Erratum in: Circulation.
2011;124(250:e956.
3. Dworakowski R, MacCarthy PA, Monaghan M, Redwood S, El-Gamel A,
Young C, et al. Transcatheter aortic valve implantation for severe aortic
stenosis - a new paradigm for multidisciplinary intervention: a prospective
cohort study. Am Heart J. 2010;160(2):237-43.
4. Holmes DR Jr, Mack MJ. Transcatheter valve therapy: a professional society
overview from the American College of Cardiology Foundation and the
Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2011;58(4):445-55.
5. Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon AC Jr, Fazon DP, Freed
MD, et al. 2008 Focused update incorporated into the ACC/AHA 2006
Guidelines for the Management of Patients with Valvular Heart Disease: a
report of the American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to revise the 1998
Guidelines for the Management of Patients with Valvular Heart Disease):
endorsed by the Society of Cardiovascular Anesthesiologists, Society for
Cardiovascular Angiography and Interventions, and Society of Thoracic
Surgeons. Circulation. 2008;118(15):e523-661.
6. Minners J, Allgeier M, Gohlke-Baerwolf C, Kienzle RP, Neumann FJ, Jander
N. Inconsistencies of echocardiographic criteria for the grading of aortic
valve stenosis. Eur Heart J. 2008;29(8):1043-8.
7. Dumesnil JG, Pibarot P, Carabello B. Paradoxical low flow and/or low
gradient severe aortic stenosis despite preserved left ventricular ejection
fraction: implications for diagnosis and treatment. Eur Heart J.
2010;31(3):281-9.
8. Minners J, Allgeier M, Gohlke-Baerwolf C, Kienzle RP, Neumann FJ, Jander
N. Inconsistent grading of aortic valve stenosis by current guidelines:
haemodynamic studies in patients with apparently normal left ventricular
function. Heart. 2010;96(18):1463-8.
9. Breyne J, Juthier F, Corseaux D, Marechaux S, Zawadzki C, Jeanpierre E, et
al. Atherosclerotic-like process in aortic stenosis: activation of the tissue
factor-thrombin pathway and potential role through osteopontin alteration.
Atherosclerosis. 2010;213(2):369-76.
10. Akahori H, Tsujino T, Naito Y, Matsumoto M, Lee-Kawabata M, Ohyanagi M,
et al. Intraleaflet haemorrhage is associated with rapid progression of
degenerative aortic valve stenosis. Eur Heart J. 2011;32(7):888-96.
11. Van Mieghem NM, Nuis RJ, Tzikas A, Piazza N, Schultz C, Serruys PW, et
al. Prevalence and prognostic implications of baseline anaemia in patients
undergoing transcatheter aortic valve implantation. EuroIntervention.
2011;7(2):184-91.
12. Pareti FI, Lattuada A, Bressi C, Zanobini M, Sala A, Steffan A, et al.
Proteolysis of von Willebrand factor and shear stress-induced platelet
aggregation in patients with aortic valve stenosis. Circulation.
2000;102(11):1290-5.
13. Vincentelli A, Susen S, Le Tourneau T, Six I, Fabre O, Juthier F, et al.
Acquired von Willebrand syndrome in aortic stenosis. N Engl J Med.
2003;349(4):343-9.
14. Iung B, Baron G, Butchart EG, Delahaye F, Gohlke-Bärwolf C, Levang OW,
et al. A prospective survey of patients with valvular heart disease in Europe:
The Euro Heart Survey on Valvular Heart Disease. Eur Heart J.
2003;24(13):1231-43.
15. Leon MB, Smith CR, Mack M, Miller DC, Moses JW, Svensson LG, et al. .
Transcatheter aortic-valve implantation for aortic stenosis in patients who
cannot undergo surgery. N Engl J Med. 2010;363(17):1597-607.
16. Cribier A, Eltchaninoff H, Tron C, Bauer F, Agatiello C, Sebagh L, et al.
Early experience with percutaneous transcatheter implantation of heart valve
prosthesis for the treatment of end-stage inoperable patients with calcific
aortic stenosis. J Am Coll Cardiol. 2004;43(4):698-703.
17. Tarasoutchi F, Montera MW, Grinberg M, Barbosa MR, Piñeiro DJ, Sánchez
CRM, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de
Valvopatias - SBC 2011 / I Diretriz Interamericana de Vavopatias – SIAC
2011. Arq Bras Cardiol. 2011;97(5 supl. 1):1-67.
18. Smith CR, Leon MB, Mack MJ, Miller DC, Moses JW, Svensson LG, et al;
PARTNER Trial Investigators. Transcatheter versus surgical aortic-valve
replacement in high-risk patients. N Engl J Med. 2011;364(23):2187-98.
19. Rodés-Cabau J, Dumont E, De LaRochellière R, Doyle D, Lemieux J,
Bergeron S, et al. Feasibility and initial results of percutaneous aortic valve
implantation including selection of the transfemoral or transapical approach
in patients with severe aortic stenosis. Am J Cardiol. 2008;102(9):1240-6.
20. Thomas M, Schymik G, Walther T, Himbert D, Lefèvre T, Treede H, et al.
Thirty-day results of the SAPIEN aortic Bioprosthesis European Outcome
(SOURCE) Registry: A European registry of transcatheter aortic valve
implantation using the Edwards SAPIEN valve. Circulation. 2010;122(1):62-
9.
21. Eltchaninoff H, Prat A, Gilard M, Leguerrier A, Blanchard D, Fournial G, et
al;.Transcatheter aortic valve implantation: early results of the FRANCE
(FRench Aortic National CoreValve and Edwards) registry. Eur Heart J.
2011;32(2):191-7.
22. Zahn R, Gerckens U, Grube E, Linke A, Sievert H, Eggebrecht H, et al;.
Transcatheter aortic valve implantation: first results from a multi-centre real-
world registry. Eur Heart J. 2011;32(2):198-204.
23. Tamburino C, Capodanno D, Ramondo A, Petronio AS, Ettori F, Santoro G, et
al. Incidence and predictors of early and late mortality after transcatheter
aortic valve implantation in 663 patients with severe aortic stenosis.
Circulation. 2011;123(3):299-308.
24. Rodés-Cabau J, Webb JG, Cheung A, Ye J, Dumont E, Feindel CM, et al.
Transcatheter aortic valve implantation for the treatment of severe
symptomatic aortic stenosis in patients at very high or prohibitive surgical
risk: acute and late outcomes of the multicenter Canadian experience. J Am
Coll Cardiol. 2010;55(11):1080-90.
25. Calvi V, Puzzangara E, Pruiti GP, Conti S, Di Grazia A, Ussia GP, et al. Early
conduction disorders following percutaneous aortic valve replacement.
Pacing Clin Electrophysiol. 2009;32(Suppl 1):S126-30.
26. Moat NE, Ludman P, de Belder MA, Bridgewater B, Cunningham AD, Young
CP, et al. Long-term outcomes after transcatheter aortic valve implantation in
high-risk patients with severe aortic stenosis: The U.K. TAVI (United
Kingdom Transcatheter Aortic Valve Implantation) Registry. J Am Coll
Cardiol. 2011;58(20):2130-8.
27. Sousa ALS, Feijó ALF, Salgado CG, Branco RVC, Falcão CHE, Assad JAR,
et al. Implante de válvula aórtica percutânea: experiência inicial no estado do
Rio de Janeiro. Rev Bras Cardiol. 2010;23(1):35-42.
* Nota do editor: Experiência do Hospital Pró-Cardíaco baseada no tratamento de 50 casos realizados até o
fechamento desta publicação.
DOENÇA CORONARIANA CRÔNICA
CASO CLÍNICO
J.J.O., masculino, 83 anos, branco, natural do RJ, residente em Niterói, RJ.
Portador de doença arterial coronariana (DAC) crônica detectada aos 73 anos de idade
após episódios recorrentes de dor precordial aos esforços habituais, e por duas vezes
em repouso. À época foi internado como angina instável, estratificado (escore TIMI
risk=3, intermediário, devido à idade >65 anos, presença de três fatores de risco
clássicos e dois episódios graves de angina em repouso).
Há seis meses voltou a apresentar dor precordial aos esforços habituais apesar da
medicação. Seu ECG apresentava ritmo sinusal, HVE e alterações secundárias de
repolarização ventricular. Seu ecoDopplercardiograma apresentava o mesmo padrão
anterior: aumento de átrio esquerdo, HVE, hipocinesia da parede inferior e função
sistólica global preservada. O nitrato foi reintroduzido. Não houve resposta clínica
satisfatória: apresentava dor aos esforços habituais.
OBJETIVOS
1. Discutir o diagnóstico clínico da doença coronariana crônica no idoso.
2. Analisar os fatores de risco para doença arterial coronariana (DAC).
3. Identificar os exames subsidiários para a complementação diagnóstica e
estratificação do risco.
4. Discutir a conduta terapêutica na doença coronariana crônica no idoso.
PERGUNTAS
1. Como é feito o diagnóstico de angina estável (AE) na população idosa?
2. Qual a relevância dos fatores de risco apresentados neste caso clínico e quais as
metas para correção e controle?
Sedentarismo:
Pode ser caracterizado por atividade física com duração inferior a 150min por semana.
O risco relativo da DAC atribuível ao sedentarismo é comparável ao risco da
hipertensão, dislipidemia e tabagismo. Metas: atividade física aeróbia 30-45min, cinco
vezes por semana4.
Obesidade abdominal:
Uma vez que a coluna do idoso passa por modificações com o passar dos anos, com
cifose e escoliose em graus variáveis, levando a deformidades com aumento do volume
abdominal, considera-se como valor aumentado da circunferência abdominal no idoso
valores ≥102cm para os homens e 88cm para as mulheres. Metas: redução de peso com
IMC<27kg/m2 e normalização dos diâmetros da circunferência abdominal5.
Grau de recomendação I, nível de evidência C (a- nos pacientes com suspeita de causa
cardíaca para dor torácica; b- durante um episódio de dor torácica). Grau de
recomendação IIa, nível de evidência C (a- realização periódica em portadores de
DAC crônica na ausência de alteração das manifestações clínicas).
Grau de recomendação IIa, nível de evidência C (a- avaliação seriada de pacientes com
DAC em programas de reabilitação cardiovascular; b- avaliação de terapêutica
farmacológica).
Grau de recomendação IIa, nível de evidência C (a- exames não invasivos, com
resultados discordantes; b- pacientes idosos, com dificuldades de realizar esforço
físico e comorbidades que limitam a realização de outros exames indutores de
isquemia).
VII.Cinecoronariografia:
As indicações para realização deste procedimento em idosos não diferem daquelas dos
pacientes mais jovens, porém é preciso enfatizar que a questão da disfunção renal e da
possibilidade de desenvolver nefropatia induzida por contraste é bem maior nos
pacientes com mais de 75 anos10.
Grau de recomendação IIa, nível de evidência C (a- pacientes que permanecem com
diagnóstico impreciso de DAC após teste não invasivo, no qual o benefício da
confirmação diagnóstica suplanta os riscos e custos do exame; b-pacientes com alta
probabilidade de DAC que não conseguem realizar teste não invasivo).
Referências
1. Staessen JA, Fagard R, Thijs L, Celis H, Arabidze GG, Birkenhäger WH, et
al. Randomised double-blind comparison of placebo and active treatment for
older patients with isolated systolic hypertension. The Systolic Hypertension
in Europe in Europe (Syst-Eur) Trial Investigators. Lancet.
1997;350(9080):757-64.
2. MRC Working Party. Medical Research Council Trial of treatment of
hypertension in older adults. MRC Working Party. BMJ.
1992;304(6824):405-12.
3. Rosendorff C, Black HR, Cannon CP, Gersh BJ, Gore J, Izzo JL Jr, et al;
American Heart Association Council for High Blood Pressure Research;
American Heart Association Council on Clinical Cardiology; American
Heart Association Council on Epidemiology and Prevention. Treatment of
hypertension in the prevention and management of ischemic heart disease: a
scientific statement from the American Heart Association Council for High
Blood Pressure Research and the Councils on Clinical Cardiology and
Epidemiology and Prevention. Circulation 2007;115(21):2761-88. Erratum
in: Circulation. 2007;116(5):e121.
4. Physical Activity Guidelines Advisory Committee Report, 2008. Washington,
DC: U.S. Department of Health and Human Services; 2008.
5. Gravina CF, Rosa FR, Franken RA, Freitas EV, Liberman A, et al; Sociedade
Brasileira de Cardiologia. II Diretrizes em Cardiogeriatria da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2010;95(3 supl. 2):1-112.
6. Chun AA, McGee SR. Bedside diagnosis of coronary artery disease: a
systematic review. Am J Med. 2004;117(5):334-43.
7. Wajngarten M. Chronic coronary disease. In: Wajngarten M, ed. The elderly
coronary patient. London: Science Press; 2002. p.15-23.
8. Shaw LJ, Berman DS, Maron DJ, Mancini GB, Hayes SW, Hartigan PM, et
al; COURAGE Investigators. Optimal medical therapy with or without
percutaneous coronary intervention to reduce ischemic burden: results from
the Clinical Outcomes Utilizing Revascularization and Aggressive Drug
Evaluation (COURAGE) trial nuclear substudy. Circulation.
2008;117(10):1283-91.
9. Grupo de Estudos em Ressonância e Tomografia Cardiovascular (GERT) do
Departamento de Cardiologia Clínica da Sociedade Brasileira de
Cardiologia, Rochitte CE, Pinto IMF, Fernandes JL, Azevedo Filho CF,
Jatene A, Carvalho AC, et al. I Diretriz de Ressonância e Tomografia
Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol.
2006;87(3):e60-100.
10. Mehran R, Aymong ED, Nikolsky E, Lasic Z, Iakovou I, Fahy M, et al. A
simple risk score for prediction of contrast nephropathy after percutaneous
coronary intervention: development and initial validation. J Am Coll Cardiol.
2004;44(7):1393-9.
11. Boden WE, O’Rourke RA, Teo KK, Hartigan PM, Maron DJ, Kostuk WJ, et
al; COURAGE Trial Research Group. Optimal medical therapy with or
without PCI for stable coronary disease. N Engl J Med. 2007;356(15):1503-
16.
12. BARI 2D Study Group, Frye RL, August P, Brooks MM, Hardison RM,
Kelsey SF, MacGregor JM, et al. A randomized trial of therapies for type 2
diabetes and coronary artery disease. N Engl J Med. 2009;360(24):2503-15.
13. Liberman A, Freitas EV. Doença coronária crônica. In: Freitas EV, Py L, eds.
Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-
Koogan; 2011. p.502-18.
Seção 9. Exame Clínico, Semiologia e
Check up Cardíaco
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 61 anos, divorciada, cabeleireira, natural do Espírito Santo,
residente em Magé, RJ.
QP: Palpitação, cansaço, tonteira, desmaio e dor no peito
HDA: Paciente relata início de tonteira aos esforços moderados há um ano. Relata
também uma dor torácica não relacionada aos esforços, que se inicia em repouso e
melhora quando se deita. Queixa-se também de palpitações, caracterizando um ritmo
regular que se inicia e cessa subitamente. Da mesma forma, relata episódios de tonteira,
algumas vezes chegando a culminar com perda do nível de consciência (síncope). Nega
edema de membros inferiores, dispneia paroxística noturna e ortopneia.
HPP: Hipertensão arterial sistêmica. Nega diabetes mellitus, febre reumática e passado
de uso regular de benzetacil (sic). Relata episódio de infarto agudo do miocárdio em
1995, e passado de tuberculose pulmonar em 2007 (uso de esquema RHZ por seis
meses). Submeteu-se à cirurgia de mioma sem intercorrências. Apresentou depressão e
encontra-se em uso regular de medicação antidepressiva.
Medicação em uso: propranolol 40mg 2x/dia; hidroclorotiazida 25mg 1x/dia; AAS
100mg 1x/dia; sinvastatina 20mg 1x/dia; amitriptilina 25mg 1x/dia; carbamazepina
200mg 1x/dia.
História familiar: Pai hipertenso, mãe falecida (não sabe informar a causa).
História fisiológica: Parto normal. Teve cinco gestações das quais quatro foram a
termo e um aborto.
História social: Etilismo social (bebidas fermentadas aos finais de semana). Nega
tabagismo. Mora em boas condições, em casa de alvenaria com sistema de saneamento
básico.
Exame físico: Peso =58kg; Altura =1,50m; IMC =25,7kg/m2; PA: MSD =120x80mmHg;
MSE =130x80mmHg
Exames complementares:
Radiografia de tórax (Figuras 1 e 2): Em PA observa-se uma área cardíaca normal,
retificação do arco médio, átrio esquerdo aumentado e sugestivo aumento do VD,
circulação pulmonar normal. No perfil existe uma sugestão de aumento do VD.
Figuras 1 e 2
Radiografia de tórax em PA e perfil da paciente relatada.
ECG (Figuras 3 a 6): Ritmo sinusal, frequência cardíaca 75bpm, BRE do primeiro
grau, sobrecarga atrial esquerda.
Figuras 3 a 6
Eletrocardiogramas da paciente relatada.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Qual a finalidade da história clínica e do exame físico?
As doenças cardiovasculares podem se apresentar de forma sintomática e
assintomática. Na forma assintomática, o exame físico e os exames complementares
representam papel de grande relevância para o diagnóstico. Porém, nos pacientes
sintomáticos, a intensidade dos sintomas e sua relação com os esforços ou não,
periodicidade dos sintomas, sua relação com os fatores de risco para as doenças
cardiovasculares são fundamentais para se estabelecer uma linha de suposições
diagnósticas que precisa ser seguida.
Os diagnósticos etiológicos a serem considerados são aqueles que possuem alto poder
arritmogênico cardiovascular. Deve-se também suspeitar de valvopatia. O seu caráter
possivelmente arritmogênico e com sintomas como tonteiras e síncope direciona para o
acometimento da valva aórtica, particularmente a estenose aórtica. Cabe ressaltar que a
idade da paciente também permitiria suspeitar de doença arterial coronariana, pois,
como se sabe, com a idade aumentam as comorbidades e a prevalência da doença
arterial coronariana, que no caso em questão teria um alto poder arritmogênico.
Observa-se também que havia queixa de dispneia progressiva aos esforços, condição
que também faz suspeitar de acometimento da valva mitral.
Outro aspecto a ser considerado e que também poderia apontar para doença arterial
coronariana é a história de hipertensão arterial. Essa condição é um fator de risco bem
caracterizado para o desenvolvimento de doença arterial coronariana.
6. Poderia o betabloqueador ter tornado esse sopro tão telessistólico que pudesse
simular um sopro protodiastólico? E sua suspensão do poderia causar alguma
modificação na ausculta original em relação ao prolapso?
Neste caso o betabloqueador foi suspenso por cinco dias e a paciente reexaminada; ela
apresentou um clique mesossistólico com um sopro mesotelessistólico mais intenso.
Quando se colocou a paciente em pé, o sopro se tornou holossistólico e o clique que
era mesossistólico se tornou protossistólico. Ao colocar a paciente de cócoras, o clique
se tornou extremamente telessistólico e o sopro também. Tal comportamento é o
esperado para o prolapso da válvula mitral. Isso demonstra como o betabloqueador
pode mascarar uma ausculta do prolapso da válvula mitral e, portanto, por esse motivo
é considerada a droga ideal para o seu tratamento.
A resposta é sim. Nas obstruções do trato de saída do ventrículo esquerdo, o seu uso
diminuindo a força de contração ventricular pode mascarar a gravidade e a intensidade
de uma estenose aórtica. A cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva é um exemplo
clássico de condição que pode ser totalmente mascarada pelo uso do betabloqueador.
Observaram-se pacientes com cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva que foram
intensamente betabloqueados e a intensidade de seus sopros diminuiu de forma
significativa.
O diagnóstico clínico deste caso foi de prolapso da válvula mitral. Ficou evidente que
o sopro protodiastólico ouvido era de fato um sopro telessistólico.
O exame clínico inicialmente fugiu a uma lógica diagnóstica, pois a presença de sopro
protodiastólico não se encaixava em nenhum diagnóstico. Supôs-se então que o que
poderia estar mascarando a ausculta era o uso de betabloqueador. De fato, ao se fazer o
fonocardiograma percebeu-se que o sopro era telessistólico. O betabloqueador foi
suspenso por cinco dias e a ausculta ficou típica, como pode ser observado nas Figuras
11 e 12. Após a definição do diagnóstico, retornou-se ao uso do betabloqueador, pois o
mesmo é o mais indicado neste diagnóstico.
9. Qual foi a importância da ecocardiografia neste caso? Que outro método
complementar poderia auxiliar nesse momento?
A paciente apresentou curva da pressão arterial por MET satisfatória durante o esforço
e uma queda da resistência arterial periférica caracterizada pela queda da pressão
arterial diastólica. A frequência cardíaca também foi normal durante o exercício e
durante a recuperação, mostrando a volta fisiológica do tônus vagal. O ecocardiograma
que foi feito no pico do esforço não demonstrou marcadores de mau prognóstico, que
seriam queda da fração de ejeção do ventrículo esquerdo e aumento da regurgitação
mitral. No caso da paciente, a regurgitação até diminuiu após o esforço, condição essa
que pode acontecer por uma diminuição do anel valvar durante a contração intensa.
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 69 anos, negra, viúva, do lar, natural de Salvador, morando há 47
anos em Campo Grande, Rio de Janeiro.
QP: “Falta de ar”.
HDA: Paciente apresenta dispneia aos médios esforços com melhora ao repouso. Nega
dores no peito. Há dois anos apresentou episódio de forte dispneia de início súbito,
sendo internada no Hospital Rocha Faria. Evoluiu, naquela época, com ortopneia e
dispneia paroxística noturna, necessitando de três travesseiros para dormir. Informava
também edema de membros inferiores e palpitações diárias, com aceleração dos
batimentos cardíacos que se iniciavam subitamente e terminavam gradualmente,
durando cerca de 15min. Tais palpitações se manifestavam tanto aos esforços como em
repouso. Relata que, após o início da medicação há dois anos, tem observado tonteiras
ocasionais e dores no corpo.
HPP: A paciente relata hipertensão arterial sistêmica há 14 anos em tratamento com
hidroclorotiazida até 2007, e dislipidemia com colesterol total de 263mg/dL.
Em uso de: enalapril 10mg 2x/dia, furosemida 40mg 1x/dia, sinvastatina 40mg à noite,
AAS 100mg 1x/dia, carvedilol 6,25mg 2xdia, espironolactona 25mg 1xdia e digoxina
0,25mg, ½ comp. ao dia.
História social: Mora em casa de alvenaria, com saneamento básico. Nega tabagismo,
nega etilismo, nega uso de drogas ilícitas.
História familiar: Não sabe exatamente do que os pais morreram. Os irmãos estão
vivos e bem de saúde. Os seis filhos vivos não apresentam nenhuma patologia.
Exame físico: Peso =57kg; Altura =1,62m; IMC =21,71kg/m2; PA =120x70mmHg nos
dois braços.
Paciente em regular estado geral, discretamente dispneica. Mucosas normocoradas.
Prótese dentária em arcadas superior e inferior. Varizes em membros inferiores.
Ausculta cardíaca:
- Em decúbito dorsal:
Foco mitral: Ritmo regular, com primeira bulha hipofonética. Sopro sistólico de 2 a
3+/6+, com intensificação mesotelessistólica, porém terminando antes de B2 que é de
intensidade discretamente diminuída.
Região mesocárdica: O sopro tem as mesmas características, apenas um pouco mais
intenso, e observa-se apenas um discreto SD.
Foco pulmonar: A ausculta é semelhante aos demais focos.
Foco aórtico acessório: A ausculta continua com as mesmas características,
observando-se apenas um discreto SD.
Foco aórtico: O sopro torna-se mais intenso, não ultrapassando 3+/6+. O componente
aórtico da segunda bulha, neste foco, é muito bem marcado. O sopro irradia-se para
clavículas e carótidas bilateralmente.
- Decúbito lateral esquerdo:
Foco mitral: O sopro passa a ter caráter um pouco musical e demonstra alguma
irradiação para a axila.
Com a paciente em pé, o sopro diminui tanto na ponta como nos focos da base. Ao se
fazer a manobra isométrica com a paciente em pé, o sopro também diminui. O sopro
não se irradia para o dorso (Figuras 1 a 13).
Exames complementares:
A análise do RX de tórax evidencia crescimento do ventrículo direito, crescimento
biatrial, aumento da auriculeta esquerda e aumento do tronco de AP (Figuras 1 e 2).
O ECG mostra BRE terceiro grau e crescimento biatrial. Não se definiu crescimento do
ventrículo esquerdo ao exame físico. O BRE mascara este diagnóstico na interpretação
do ECG (Figuras 3 a 6).
OBJETIVOS
1. Avaliar a importância da anamnese e do exame físico para o diagnóstico.
2. Demonstrar que à beira do leito é possível formular hipóteses diagnósticas a
partir de exames complementares de baixo custo.
3. Explicar o mecanismo fisiológico e fisiopatológico das cardiopatias.
PERGUNTAS
1. De que forma a descrição dos pulsos arteriais e venosos ajuda na formulação da
hipótese diagnóstica? 1-6
No caso clínico apresentado, não houve na descrição dos pulsos arteriais
caracterização para definir o diagnóstico. Entretanto, a análise do registro gráfico
evidencia uma onda de percussão (onda B) com ascensão algo retardada, ou seja, com a
velocidade de ascensão ligeiramente diminuída, o que se correlaciona com a
diminuição de impedância na válvula aórtica, produzida por algum grau de estenose
aórtica ou mesmo de diminuição de complacência na aorta.
O pulso venoso foi descrito sem detalhes no que se refere à identificação das ondas
positivas assim como dos colapsos. Em decúbito dorsal, observou-se pulsatilidade
venosa de amplitude moderadamente aumentada e a presença de jugulares túrgidas,
caracterizando assim um processo de estase venosa crônica.
Na ausculta cardíaca, foi descrito um sopro sistólico tipo ejeção, caracterizado por ter
acentuação mesotelessistólica, com seu epicentro nos focos da base e irradiação para
os vasos do pescoço, embora fosse audível em todo o precórdio. Sua intensidade
aumentava com a expiração e diminuía com manobra isométrica (handgrip) e Valsalva.
Caracterizou-se dessa forma estenose aórtica valvular. Como o sopro termina antes da
segunda bulha, a princípio, estima-se um grau leve de estenose. O timbre musical
detectado no foco mitral com o paciente em decúbito lateral esquerdo é um achado
frequente nas calcificações da válvula aórtica.
Não. A estenose aórtica valvar de grau leve frequentemente não produz alterações
radiológicas.
À medida que o grau de obstrução valvar ocorre, o sopro sistólico de ejeção que
habitualmente se apresenta com acentuação mesossistólica, passa a se intensificar na
telessístole, aproximando-se da segunda bulha. Além disso, os entalhes anacróticos
observados nos pulsos arteriais tornam-se mais precoces em relação ao início de
ascensão da onda B.
9. Como fazer o diagnóstico diferencial das outras formas de estenose aórtica? 1-6
Figura 4
ECG (AVR, AVL, AVF)
Figura 5
ECG (V1, V2, V3)
Figura 6
ECG (V4, V5, V6)
Figura 7
Fonocardiograma (Foco mitral)
Figura 8
Fonocardiograma (mesocárdio)
Figura 9
Fonocardiograma (Foco pulmonar)
Figura 10
Fonocardiograma (Foco aórtico)
Figura 11
Pulsos carotídeos esquerdo e direito
Figura 12
Impulsão do ventrículo direito
Figura 13
Laudo do ecocardiograma
Referências
1. Fishleder B. Exploración Cardiovascular y Fonomecanocardiografia Clínica.
2a ed. México, DF: Prensa Medica Mexicana; 1978. p.357-65.
2. Constant J. Essentials of Bedside Cardiology. 2nd ed. New Jersey: Humana
Press; 2003.
3. Poh KK, Levine RA, Solis J, Shen L, Flaherty M, Kang YJ, et al. Assessing
aortic valve area in aortic stenosis by continuity equation: a novel approach
using real-time three-dimensional echocardiography. Eur Heart J.
2008;29(20):2526-35.
4. de Lacey G, Morley S, Berman L. The Chest X-Ray: a survival guide.
Philadelphia: Saunders; 2008.
5. Runge MS, Ohman EM, Netter FH, Ohman ME. Netter’s Cardiology.
Philadelphia: Elsevier/Saunders; 2004.
6. Serrano CV Jr, Tarasoutchi F, Jatene FB, Mathias W Jr. Cardiologia baseada
em relatos de casos. São Paulo: Manole; 2006.
OS RUÍDOS CARDÍACOS NORMAIS E
PATOLÓGICOS
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 21 anos, branca, solteira, vendedora, natural de Duque de Caxias,
RJ.
QP: “Taquicardia e cansaço.”
HDA: A paciente refere que com um ano de idade seu pediatra diagnosticou um sopro
no coração. Na ocasião foi encaminhada para o Hospital de Laranjeiras onde disseram
que não precisava de tratamento. O seu desenvolvimento foi normal, porém sempre
apresentava palpitação e dispneia aos grandes esforços. Progressivamente houve piora
dos seus sintomas aos médios e pequenos esforços.
Em março de 2005 houve uma piora significativa, passando a apresentar dor torácica
em aperto, de curta duração, em repouso, que persiste até então, com melhora
espontânea. Essa dor muito frequentemente está associada à dispneia paroxística
noturna. Também refere que, desde os 18 anos, apresenta palpitações que aparecem
principalmente aos esforços e que vem piorando gradativamente. Essa palpitação é
referida pela paciente como sensação de coração acelerado, regular e que cessa
progressivamente quando para de fazer atividade física.
Refere também cefaleia unilateral temporal esquerda precedida por aura desde a
infância. Refere ortopneia e nega síncopes e vertigens. Entretanto, aos 18 anos, uma
única vez, ao subir um morro teve episódio de vertigem muito forte e sensação de pré-
síncope.
HPP: A paciente relata sedentarismo. Faz uso de atenolol, não sabendo a dose. Todos
os outros questionamentos foram negativos, inclusive no que diz respeito à febre
reumática.
H social: Não bebe, não fuma e não usa drogas ilícitas.
H Familiar: Existe história familiar de hipertensão arterial sistêmica.
H fisiológica: Nasceu de parto a termo, desenvolvimento normal, G0,P0,C0, A0.
Exame Físico:
Peso =66kg; Altura =1,65m; IMC =24,24kg/m2
PA: MSD =118x60mmHg; PA: MSE =122x60mmHg
À palpação do abdome não foi encontrada nenhuma alteração e, embora não se tenha
palpado o fígado, há discreto refluxo hepatojugular.
Figura 7
Fonocardiograma: Foco aórtico (sopro de ejeção com B2 bem marcada)
Figura 8
Fonocardiograma: Pulso carotídeo direito (presença de entalhe pela obstrução da via de saída do VE).
Figura 9
Fonocardiograma: Pulso carotídeo esquerdo (presença de entalhe pela obstrução da via de saída do VE).
Figura 10
Laudo do ecocardiograma
OBJETIVOS
1. Mostrar como pela inspeção, palpação e, principalmente, ausculta, pode-se
chegar com segurança a diagnóstico anatômico, funcional e etiológico;
2. Diferenciar pelas manobras semiológicas as características dos sopros
cardíacos.
PERGUNTAS
1. Como diferenciar se o sopro sistólico audível na paciente é de ejeção ou de
regurgitação1,2?
A resposta é sim, pois na estenose aórtica valvar grave calcificada não se ouve o clique
de abertura da válvula, que é o clique protossistólico e, pelo mesmo motivo, não se
ouve o fechamento da valva. Consequentemente, além de não existir clique
protossistólico, o A2 é inaudível. Na estenose subvalvar fixa membranosa, não se ouve
clique protossistólico, pois a estenose não é na valva e sim abaixo dela, mas o A2 é
preservado, pois a estenose não é da valva e sim subvalvar (Figura 7).
O diagnóstico clínico foi de uma estenose aórtica subvalvar fixa membranosa, sendo
posteriormente confirmado pelo ecocardiograma(Figura 10).
Nas lesões subvalvares, comumente existe um fluxo direcionado de sangue para a valva
aórtica que pode danificá-la e causar insuficiência aórtica valvar.
Não. É uma entidade rara e associada a uma síndrome genética, denominada síndrome
de Williams.
8. A estenose aórtica subvalvar fixa é sempre causada por uma membrana? Toda
estenose aórtica sopra muito1-2?
8.1 Não. Existe uma entidade denominada túnel fibroso, que é uma fibrose que abrange
uma parte do septo interventricular e do folheto anterior da valva mitral. Essa fibrose
causa um túnel obstrutivo subvalvar na câmara de saída do VE.
8.2 Não. Em calcificações muito grandes da valva aórtica com obstruções muito
significativas pode haver diminuição do turbilhonamento do sopro. Porém uma causa
muito frequente de mascaramento de estenose aórtica é uma grave disfunção ventricular
esquerda, pois se não existe força de contração, não existe turbilhonamento para
produzir o sopro.
10. Pela radiografia de tórax, pode-se suspeitar de uma estenose aórtica valvar ou
subvalvar?
Sim, pois nas estenoses aórticas valvares existe dilatação aórtica pós-estenótica e nas
subvalvares não existe (Figuras 1 e 2).
Referências
1. Azevedo AC. Fonomecanocardiografia Clínica. São Paulo: Sarvier; 1980
2. Fishleder B. Exploracion Cardiovascular y fonomecanocardiografia clínica.
2a ed. México: La Prensa Medica Mexicana; 1978.
O RACIONAL PARA SOLICITAÇÃO DOS
EXAMES
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 46 anos, assintomático em tratamento para dislipidemia com
sinvastatina 10mg/dia e com histórico familiar de intervenção coronariana percutânea
realizada no seu pai aos 67 anos. Nega tabagismo e não pratica atividade física regular.
Encaminhado para realização de avaliação do risco cardiovascular.
OBJETIVOS
1. Indicar os principais exames a serem solicitados para avaliação do risco
cardiovascular.
2. Discutir as controvérsias existentes na indicação de exames invasivos ou de
alta complexidade.
PERGUNTAS
1. Quais são as variáveis epidemiológicas essenciais para a avaliação do risco
cardiovascular, que podem ser obtidas a partir da anamnese e do exame físico?
A avaliação da pressão arterial deve ser iniciada aos 18 anos de acordo com o VII
Joint National Commitee2. A pressão arterial deve ser mensurada em três avaliações,
na posição supina, sentada e ortostática, sendo considerada para o cálculo do risco a
média entre os dois menores valores obtidos para a pressão sistólica.
Dados como presença de quarta bulha, sopros carotídeos, frêmito, rigidez ou redução
da complacência da parede vascular à palpação dos pulsos arteriais podem ser sinais
indiretos de ateromatose, disfunção diastólica ou hipertrofia ventricular, mas sua
utilização nos escores de risco depende de confirmação ao eletrocardiograma ou
métodos de imagem como ecocardiograma e Doppler arterial. Peso e altura devem ser
obtidos para avaliação do índice de massa corporal.
2. Quais exames laboratoriais deverão ser solicitados para a avaliação dos riscos
cardiovascular e metabólico?
O lipidograma deve ser obtido, incluindo a dosagem das frações LDL e HDL do
colesterol. Além de utilização direta nos escores de risco, essa avaliação permite um
monitoramento das mudanças no estilo de vida e da eficácia da terapia hipolipemiante.
A dosagem dos demais parâmetros do perfil lipídico, tais como outras lipoproteínas e
apoproteínas, não está recomendada para avaliação do risco cardiovascular em
indivíduos assintomáticos3. Inconsistências na padronização dos níveis de referência
entre diferentes metodologias analíticas para as frações lipídicas, além de ausência de
metas terapêuticas ou limiares estabelecidos para o início do tratamento farmacológico,
limitam seu emprego rotineiro4,5.
O hemograma deve ser incluído para descartar anemia como fator determinante de
sintomas como: dispneia, síncope ou processos infecciosos, auxiliando no diagnóstico
diferencial entre essas condições e os sintomas de baixo débito cardíaco ou congestão
pulmonar.
Classe IIa
1. Em homens com idade >50 anos e mulheres com >60 anos que tenham LDL
<130mg/dl e não estejam em uso de terapia hipolipemiante ou possuam comorbidades
associadas a estados inflamatórios crônicos (ex: nefropatia, colagenoses). A dosagem
de PCRt pode ser útil neste cenário para a seleção de pacientes que utilizarão estatinas
(nível de evidência B)8.
5. O valor encontrado para Hemoglobina A1C (HbA1C) foi 6,0%. Qual é o impacto
deste achado?
Referências
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 50 anos, sem queixas relacionadas ao aparelho cardiovascular.
Refere história familiar de doença arterial coronariana (pai aos 66 anos e mãe aos 52
anos). Tabagista de 20 cigarros/dia há 20 anos, etilista de 1-3 doses/semana e pratica
atividade física regularmente 2-3x /semana.
OBJETIVOS
1. Estimar o impacto da detecção precoce do risco cardiovascular (RCV) nos
indivíduos assintomáticos susceptíveis.
2. Analisar criticamente os escores de risco cardiovascular disponíveis.
3. Avaliar a importância dos agravantes de risco na estratificação do risco
cardiovascular global.
PERGUNTAS
1. Qual a importância da avaliação do RCV em indivíduos assintomáticos?
Isto se deve ao fato de as DCV serem o principal problema de saúde em todo o mundo
e de a aterosclerose, o principal mecanismo subjacente dessas doenças, não raramente
se desenvolver de forma insidiosa e silenciosa, antes do aparecimento dos sintomas1,2.
Importante destacar que muitos desses indivíduos têm fatores de risco de pequena
intensidade ou pouca expressão clínica, muitas vezes abaixo dos limiares
recomendados para tratamento ou “marginais”, porém quando em agregação têm efeito
multiplicativo e se relacionam com maior probabilidade de doença3. Nesse sentido, a
identificação de indivíduos susceptíveis visa a motivá-los, de forma indiscriminada, a
modificar seu estilo de vida para um estilo “saudável”, submeter aqueles de maior
risco à imediata intervenção e correção dos fatores de risco e ainda estimar e calibrar a
intensidade das metas a serem alcançadas de acordo com o risco individual avaliado1.
Estima-se que um em cada três adultos americanos tenha um ou mais tipos de
acometimento por doença aterosclerótica (em território coronariano, cerebrovascular
ou periférico)2 e, no Brasil, representa 1/3 dos óbitos, causados principalmente pela
doença arterial coronariana (DAC) e pela doença cerebrovascular4.
Dentre todos os escores de risco, o ERF é o de mais fácil aplicação e sua versão
adaptada é a recomendada pelo National Cholesterol Education Program Adult
Treatment Panel (ATP III)5 e pelas IV Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias6; ele
não inclui o diabetes mellitus 2, considerado um equivalente de risco de DCV. Utiliza
um modelo de regressão logística multivariável e avalia o risco absoluto de morte por
doença coronariana e infarto do miocárdio não fatal como desfecho em 10 anos,
enquanto versões mais recentes desse escore consideram os eventos cardiovasculares
totais7,9.
O ERF9 identifica três categorias de risco: alto risco (>20%) quando já existe a doença
aterosclerótica coronariana ou um equivalente de risco (doença aterosclerótica em
outro território ou diabetes mellitus 2); risco intermediário (>10% e <20%) quando o
indivíduo agrega múltiplos fatores de risco; e baixo risco (<10%) quando os indivíduos
têm apenas um ou nenhum fator de risco. Indivíduos estratificados como de RCV global
alto requerem modificação mais agressiva dos fatores de risco e obtenção dos alvos de
pressão arterial (PA), LDL colesterol e glicose5-7,9.
Quadro 1
Escores de risco de Framingham (ERF) para cálculo do risco absoluto de infarto e morte em 10 anos para homens e
mulheres (fase 2)
Fonte: IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia e Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia de 20076
Quadro 2
Interpretação dos achados da estimativa de risco:
<10% = Baixo risco; entre 10% e 20% = Risco intermediário e >20% =Alto risco
Fonte: IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia e Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia de 20076
O racional para utilização dos agravantes de risco é que a estimativa de risco pelos
escores clínicos é imprecisa e que diversas condições de reconhecimento mais recentes
estão definitivamente relacionadas ao desenvolvimento de doença cardiovascular e não
são utilizadas nos escores tradicionais. Baseia-se ainda na crença de que a
aterosclerose pré-clínica ou subclínica é o estágio inicial do processo de doença e
denota mudanças estruturais vasculares caracterizadas como danos ou lesões mínimas,
ainda potencialmente reversíveis16.
Assim, pelas razões apontadas, o uso dos agravantes de risco visa a compensar as
referidas limitações dos escores de risco existentes bem como se alinhar ao surgimento
de fatores ou marcadores de risco clínicos e/ou laboratoriais de recente conhecimento
(como a PCR us, a microalbuminúria, a insuficiência renal), e ainda de métodos de
imagem para detecção de aterosclerose subclínica, como a tomografia coronariana para
a avaliação de calcificação em artérias coronárias; a medida da espessura da camada
íntima-média das carótidas pela ecocardiografia e o índice tornozelo-braquial, todos
associados com o aumento do risco cardiovascular em diversos estudos
epidemiológicos5,6,17,18. Além dos citados anteriormente, incluem-se ainda como
agravantes de risco a história familiar precoce de DAC e a presença da síndrome
metabólica6 (Quadro 3).
Quadro 3
Agravantes de risco cardiovascular
Fonte: IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia e Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia de 20076
O presente caso clínico foi considerado de risco intermediário pelo ERF e de acordo
com as recomendações da IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia e Aterosclerose da
Sociedade Brasileira de Cardiologia6, com indicação para pesquisa dos agravantes de
risco cardiovascular. Foram assim identificadas: a história familiar precoce de DAC e
a elevação da PCR us, que modificaram o risco estimado de DAC deste paciente para a
categoria de alto risco (Quadro 4).
Quadro 4
Fatores agravantes de risco no caso clínico apresentado
Enquanto a maioria das sociedades de cardiologia enfatiza o papel primário dos fatores
de risco tradicionais na predição do RCV, outros grupos como a organização
independente SHAPE (Society for Heart Attack and Prevention and Eradication)17
recomenda enfaticamente a realização de avaliação de testes não invasivos de imagem
(medida do cálcio coronariano através de tomografia de artérias coronárias e da
espessura médio-intimal das carótidas por ultrassonografia) para avaliação do risco
cardiovascular em indivíduos assintomáticos entre 45-80 anos como screnning
populacional inicial17.
Resultados de ensaios clínicos demonstraram que uma significativa redução de risco foi
alcançada quando se corrigiram os FR cardiovascular maiores em indivíduos
estratificados como de alto risco (33-50% em cinco anos) com estratégias de cessação
do tabaco, uso de anti-hipertensivos, hipolipemiantes e aspirina2. O controle agressivo
da glicemia também tem sido fortemente associado com a redução da incidência de
diversos eventos cardiovasculares em pacientes com diabetes mellitus 1 e 2; ensaios
clínicos de intervenção com fármacos anti-hipertensivos e hipolipemiantes claramente
demonstraram benefícios e conferiram proteção cardiovascular2,3,5,6.
Especial atenção deve ser dada a indivíduos jovens com risco baixo em curto prazo,
mas com múltiplos fatores de risco de leve ou moderada intensidade, pois o risco em
longo prazo pode ser inaceitavelmente alto. Nesses casos, a estimativa do risco relativo
e não absoluto pode ser útil para avaliar a necessidade de implementação de
intervenção prolongada sobre os fatores de risco cardiovascular20. Assim, intervenções
apropriadas e adequadas, guiadas pela avaliação de risco realizada periodicamente em
adultos jovens, podem potencialmente reduzir de forma significativa o risco em longo
prazo.
Referências
1. Smith SC Jr, Blair SN, Criqui MH, Fletcher GF, Fuster V, Gersh BJ, et al.
Preventing heart attack and death in patients with coronary disease.
Circulation. 1995;92(1):2-4.
2. Berger JS, Jordan CO, Lloyd-Jones D, Blumenthal RS. Screening for
cardiovascular risk in asymptomatic patients. J Am Coll Cardiol.
2010;55(12):1169-77.
3. Vasan RS, Sullivan LM, Wilson PW, Sempos CT, Sundström J, Kannel WB, et
al. Relative importance of borderline and elevated levels of coronary heart
disease risk factors. Ann Intern Med. 2005;142(6):393-402. Erratum in: Ann
Intern Med. 2005;142(8):681.
4. Ministério da Saúde. [Internet]. Datasus. Informações de Saúde. Morbidade e
informações epidemiológicas. [acesso em 2012 jan]. Disponível em:
<http://www.datasus.gov.br>
5. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FA, Bertolami MC, Afiune Neto A, Souza
AD, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose Departamento de Aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2007;88(supl.
1):2-19.
6. Lloyd-Jones DM, Wilson PW, Larson MG, Beiser A, Leip EP, D’Agostino
RB, et al. Framingham risk score and prediction of lifetime risk for coronary
heart disease. Am J Cardiol. 2004;94(1):20-4.
7. Wilson PW, D’Agostino RB, Levy D, Belanger AM, Silbershatz H, Kannel
WB. Prediction of coronary heart disease using risk factor categories.
Circulation. 1998;97(18):1837-47.
8. Beswick A, Brindle P. Risk scoring in the assessment of cardiovascular risk.
Curr Opin Lipidol. 2006;17(4):375-86.
9. Kannel WB, McGee D, Gordon T. A general cardiovascular risk profile: the
Framingham Study. Am J Cardiol. 1976;38(1):46-51.
10. Conroy RM, Pyörälä K, Fitzgerald AP, Sans S, Menotti A, De Backer G, et
al; SCORE project group. Estimation of ten-year risk of fatal cardiovascular
disease in Europe: the SCORE project. Eur Heart J. 2003;24(11):987-1003.
11. Hippisley-Cox J, Coupland C, Vinogradova Y, Robson J, Brindle P.
Performance of the QRISK cardiovascular risk prediction algorithm in an
independent UK sample of patients from general practice: a validation study.
Heart. 2008;94(1):34-9.
12. Ridker PM, Buring JE, Rifai N, Cook NR. Development and validation of
improved algorithms for the assessment of global cardiovascular risk in
women: the Reynolds Risk Score. JAMA. 2007;297(6):611-9. Erratum in:
JAMA. 2007;297(13):1433.
13. Ridker PM, Paynter NP, Rifai N, Gaziano JM, Cook NR. C-reactive protein
and parental history improve global cardiovascular risk prediction: the
Reynolds Risk Score for men. Circulation. 2008;118(22):2243-51.
14. Grundy SM, Pasternak R, Greenland P, Smith S Jr, Fuster V. Assessment of
cardiovascular risk by use of multiple-risk-factor assessment equations: a
statement for healthcare professionals from the American Heart Association
and the American College of Cardiology. Circulation. 1999;100(13):1481-
92.
15. ACCF/AHA Task Force on Practice Guidelines. Methodology Manual and
Policies from the ACCF/AHA Task Force on Practice Guidelines. [cited
2011 Dec]. Available from:
<http://assets.cardiosource.com/Methodology_Manual_for_ACC_AHA_Writing_Com
16. Graham I, Atar D, Borch-Johnsen K, Boysen G, Burell G, Cifkova R, et al;
European Society of Cardiology (ESC) Committee for Practice Guidelines
(CPG). European Guidelines on Cardiovascular Disease Prevention in
Clinical Practice: executive summary: Fourth Joint Task Force of the
European Society of Cardiology and Other Societies on Cardiovascular
Disease Prevention in Clinical Practice (Constituted by representatives of
nine societies and by invited experts). Eur Heart J. 2007;28(19):2375-414.
17. The Society for Heart Attack Prevention and Eradication. [Internet]. SHAPE
Task Force II Convenes to Review and Update SHAPE Guideline for Heart
Attack Prevention. 2010. [cited 2011 Dec]. Available from:
<http://www.shapesociety.org>
18. Chambless LE, Folsom AR, Sharrett AR, Sorlie P, Couper D, Szklo M, et al.
Coronary heart disease risk prediction in the Atherosclerosis Risk in
Communities (ARIC) study. J Clin Epidemiol. 2003;56(9):880-90.
19. Nambi V, Chambless L, Folsom AR, He M, Hu Y, Mosley T, et al. Carotid
intima-media thickness and presence or absence of plaque improves
prediction of coronary heart disease risk: the ARIC (Atherosclerosis Risk In
Communities) study. J Am Coll Cardiol. 2010;55(15):1600-7.
20. Folsom AR, Kronmal RA, Detrano RC, O'Leary DH, Bild DE, Bluemke DA,
et al. Coronary artery calcification compared with carotid intima-media
thickness in the prediction of cardiovascular disease incidence: the Multi-
Ethnic Study of Atherosclerosis (MESA). Arch Intern Med.
2008;168(12):1333-9. Erratum in: Arch Intern Med. 2008:168(16):1782.
Seção 10. Exames complementares não
invasivos em Cardiologia
Teste Ergométrico
Ecocardiograma
Aplicações Clínicas da Cintilografia de Perfusão Miocárdica
TC do Coração: Escore de Cálcio e Angio-TC Coronariana
Ressonância Magnética Cardíaca
TESTE ERGOMÉTRICO
Andréa London
Maria Angela Magalhães de Queiroz Carreira
CASO CLÍNICO
Paciente do sexo masculino, 38 anos, casado, natural do Rio de Janeiro, gerente
executivo de projetos, foi encaminhado para teste ergométrico (TE) durante seu
primeiro check-up médico de rotina. Assintomático, ativo, praticante de corrida três
vezes na semana, interrompeu o exercício aproximadamente três semanas antes da data
do exame pelo aparecimento de cansaço. Não fazia uso de nenhuma medicação de ação
cardiovascular.
OBJETIVOS
1. Discutir a aplicabilidade clínica do teste ergométrico na avaliação da doença
arterial coronariana.
2. Descrever as principais informações diagnósticas do teste ergométrico neste
contexto
3. Identificar o teste ergométrico como ferramenta prognóstica na avaliação da
doença arterial coronariana.
PERGUNTAS
1. Considerando a probabilidade pré-teste, a indicação do teste ergométrico para
diagnóstico de doença arterial coronariana com repercussão funcional, isto é,
isquemia miocárdica clinicamente significativa, foi pertinente?
Tabela 2
Probablidade pré-teste de doença coronariana (%) em pacientes sintomáticos de alto e baixo risco
BR=baixo risco (sem diabetes, dislipidemia ou tabagismo); AR=alto risco (com diabetes, dislipidemia ou tabagismo)
Fonte: Meneghelo et al.1
O paciente referia somente cansaço aos grandes esforços, não apresentando, portanto,
sintomas clássicos de insuficiência coronariana, como por exemplo, dor torácica, e
realizava atividade física regular de alta intensidade. Muito embora em indivíduos
ativos a presença de fatores de risco para doença coronariana e síndrome metabólica
sejam menos frequentes que na população sedentária4, Breuckmann et al.5 encontraram
uma incidência significativa de doença coronariana em corredores de maratona, sendo
mais frequentemente encontradas lesões de artéria descendente anterior. O paciente,
embora com sintomas inespecíficos, apresentava dois fatores de risco para DAC:
história familiar e dislipidemia.
A III Diretriz da SBC sobre Teste Ergométrico1 considera classe IIa a realização de
teste ergométrico em indivíduos assintomáticos com mais de dois fatores de risco1,
considerando que esses indivíduos apresentam maior risco para o desenvolvimento de
doença coronariana. Considera-se, portanto, o risco pré-teste do paciente relatado
como intermediário, e a indicação do teste ergométrico para diagnóstico de doença
arterial coronariana, pertinente.
Alguns dos mecanismos pelos quais medicações afetam o TE podem ser explicados
pelo conceito da cascata isquêmica. Nesse modelo, com o aumento do duplo-produto
(PAS X FC no pico do esforço), as manifestações de isquemia miocárdica progridem
da heterogeneidade de fluxo para disfunção miocárdica regional na área de fluxo
anormal, pela perfusão reduzida em relação à demanda metabólica. A seguir, surgem
alterações isquêmicas no ECG e angina. Medicações podem mascarar o surgimento de
isquemia por redução da demanda ou aumento da oferta miocárdica de O2, além da
diminuição da heterogeneidade do fluxo coronariano.
Assim, quando indicado para diagnóstico de DAC, o TE deverá ser realizado após a
suspensão de drogas que possam reduzir a resposta isquêmica1, como os bloqueadores
dos canais de cálcio e nitratos, ou que interfiram no comportamento da FC, como os
betabloqueadores. Para obter o benefício máximo da interrupção de uma droga, esta
deve ser suspensa de quatro a cinco meias-vidas antes do TE. Para reverter o impacto
do uso de nitratos, betabloqueadores e bloqueadores dos canais de cálcio, por exemplo,
a suspensão deve ocorrer pelo menos 48 horas antes do exame6.
O estrogênio, cuja estrutura química possui semelhanças com a digoxina, pode alterar o
ECG e simular isquemia miocárdica no TE13. Mulheres em reposição hormonal
apresentam taxa significativamente mais elevada dessas alterações. Diuréticos podem
causar hipocalemia e levar a alterações eletrocardiográficas no TE. O infradesnível de
ST relacionado à hipocalemia ocorre mais frequentemente com potássio sérico
<3mEq/L, levando também a arritmias e redução da capacidade funcional14. Em
pacientes com hipocalemia documentada, o TE deve ser adiado até a reposição
adequada de potássio. Em geral, na vigência de normocalemia, não são observadas
alterações eletrocardiográficas no TE com o uso de diuréticos. Hipotensão com o
exercício foi associada ao uso de clortalidona e hidroclorotiazida7.
Tabela 3
Tempo sugerido para a suspensão de fármacos para realização de TE diagnóstico
Fonte: Meneghelo et al.1
Estudos demonstraram que a capacidade funcional foi um preditor de morte mais forte
do que o infradesnível do segmento ST e a gravidade angiográfica da doença
coronariana22,23. Evidências vindas de estudos observacionais mostram que indivíduos
que se exercitam regularmente apresentam significativamente menor risco de DAC24.
Quando comparados a indivíduos menos ativos, estes indivíduos apresentaram risco
30% a 40% menor de desenvolver DAC ou doença cardiovascular (DCV)25. Esta
associação inversa entre a quantidade de exercício e o risco de DCV ou DAC é
consistente apesar da idade, sexo ou etnia, colocando em destaque a capacidade
funcional como importante fator protetor: quanto maior a capacidade funcional, menor o
risco de DAC e de mortalidade cardiovascular e total2,26-29.
Figura 6
Comportamento da frequência cardíaca na fase pré-teste, durante o exercício e recuperação.
Estudo66 que avaliou 1472 pacientes com DAC suspeita ou conhecida, submetidos à
cineangiocoronariografia e TE, mostrou que aqueles que apresentaram infradesnível de
ST ≥1mm no 1o ou 2o estágios do protocolo de Bruce ou em FC <120bpm cursaram
com pior prognóstico, com sobrevida em 12 meses <85% e alta probabilidade de lesão
de TCE (25%) ou trivascular (>60%). Por outro lado, a capacidade de se exercitar até
o 4o estágio do protocolo de Bruce (>10MET) ou de alcançar FC >160bpm, com
infradesnível de ST <1mm, associou-se a prognóstico excelente, com sobrevida em 12
meses >99% e baixa probabilidade de DAC de TCE (<1%) ou doença trivascular
(<15%).
Existe uma predominância da influência vagal nos corações normais e sua redução é
característica da fase inicial das cardiopatias, mesmo antes do aumento da atividade
simpática. Nas últimas duas décadas, crescente número de trabalhos mostrou a relação
entre o sistema nervoso autônomo e a mortalidade, evidenciando que a probabilidade
de arritmias ventriculares letais estaria relacionada ao predomínio da atividade
simpática ou ao declínio da atividade vagal70.
Quadro 2
Pontos de corte utilizados como marcadores de maior ou menor risco em relação à velocidade de recuperação da FC
no pós-esforço
Estudo80 que avaliou 6.101 homens assintomáticos submetidos a TE, sem doença
cardiovascular clinicamente evidente, constatou que a ocorrência de extrassístoles
ventriculares (EV) frequentes foi associada a risco mais elevado de morte
cardiovascular em um seguimento de mais de 23 anos (Figura 7), independentemente da
presença de isquemia miocárdica. A análise retrospectiva de outro estudo que avaliou
6.213 homens encaminhados para TE mostrou que a prevalência das EV frequentes
induzidas pelo exercício foi maior nos idosos, na vigência de doença cardiopulmonar,
nos pacientes com EV em repouso e nos portadores de isquemia miocárdica81. O
seguimento em longo prazo sugeriu que, mesmo em pessoas aparentemente saudáveis,
formas repetitivas de arritmias ventriculares no TE podem indicar maior risco
cardiovascular, estando associadas à maior mortalidade, independentemente da
presença de doença cardiopulmonar ou isquemia miocárdica.
Figura 7
Arritmia ventricular durante o exercício prediz aumento de mortalidade cardíaca
Fonte: Jouven et al.80
Cada vez mais o período de recuperação é reconhecido como importante etapa do TE,
o que se aplica ao valor prognóstico das arritmias induzidas pelo exercício. EV
frequentes na recuperação foram associadas de modo robusto a prognóstico adverso,
independentemente da presença de EV durante o esforço. Durante o exame, com a
progressão do exercício, há aumento da atividade do sistema nervoso simpático e
concomitante redução da atividade parassimpática. Na fase de recuperação, essas
mudanças na atividade autonômica são revertidas, ocorrendo reativação
parassimpática. A reativação inadequada do tônus parassimpático está relacionada a
risco aumentado de morte.
Estudo84 que avaliou 29.244 pacientes encaminhados para TE, sem história prévia de
insuficiência cardíaca (IC), doença valvar ou arritmia, avaliou a importância
prognóstica das EV frequentes que ocorriam na recuperação, quando a reativação do
tônus parassimpático acontece, visto que poderiam predizer maior risco de morte do
que durante o exercício. Foram consideradas EV frequentes a presença de mais de sete
EV por minuto, bigeminismo ou trigeminismo ventricular, taquicardia ventricular (TV),
flutter ou fibrilação ventricular. O estudo concluiu que arritmias ventriculares
frequentes na recuperação predizem melhor mortalidade do que quando ocorrem apenas
durante o exercício (Figura 8). A mortalidade em cinco anos foi maior nos pacientes
com EV frequentes durante o exercício (9%) em comparação aos que não apresentaram
arritmia (5%), mas foi ainda maior nos que apresentaram EV frequentes na recuperação
(11%). Após o ajuste para variáveis de confusão, apenas as EV frequentes na
recuperação, mas não durante o exercício, foram associadas a aumento da taxa de
mortalidade.
Figura 8
Pacientes com ectopia ventricular frequente durante a recuperação apresentaram taxas de sobrevida mais baixas,
enquanto pacientes com ectopia ventricular frequente apenas durante a fase de esforço do TE apresentaram sobrevida
discretamente menor em relação aos pacientes que não apresentaram arritmia durante o exame.
Fonte: Frolkis et al.84
Quadro 3
Marcadores de risco de diagnóstico e prognóstico pós-teste
ECG=eletrocardiograma; PAS=pressão arterial sistólica; Delta PAS=variação da pressão arterial sistólica entre o basal
e o pico do esforço
Quadro 4
Escore de cálcio do paciente calculado em 193 coloca o paciente no percentil 98, quando comparado com outros do
mesmo sexo e idade.
TCE=tronco de coronária esquerda; DA=descendente anterior; CX=circunflexa; CD=coronária direita
Valores de referência para calcificação: acentuada >300; moderada: 101 a 300; discreta: 11 a 100; mínima: 1 a 10;
ausência de calcificação: 0.
Figura 9
Angiotomografia das artérias coronárias do paciente, mostrando coronariopatia obstrutiva trivascular com
comprometimento proximal da artéria descendente anterior.
Após o estudo tomográfico o paciente foi encaminhado para estudo angiográfico que
demonstrou doença coronariana multiarterial grave: lesão de tronco de coronária
esquerda de 30% a 40%; grave lesão segmentar proximal de DA, com área hipodensa
sugestiva de core lipídico; ramo intermédio (margilalis) com lesão proximal severa
maior que 70%; circunflexa com lesão ostial de 50% a 60% e oclusão completa do
vaso em terço médio; coronária direita dominante com placas em toda a sua extensão,
determinando leve estenose luminal (30%); ramo VP calibroso e bifurcante com lesão
proximal severa maior que 70%.
Nagashima et al.77 demonstraram que a atividade física regular moderada por três
meses associada à perda de peso aumenta de forma significativa a velocidade de
recuperação da FC no pós-esforço. A velocidade de recuperação da FC no pós-esforço
não é determinante de doença coronariana, mas é marcador de eventos e mortalidade,
especialmente a morte súbita cardíaca, tanto na presença quanto na ausência de
isquemia miocárdica.
Em relação aos exames de imagem, a presença de placa ateromatosa com core lipídico,
sugerindo a presença de lesão instável, é marcador de alto risco para o
desenvolvimento de evento coronariano agudo, como infarto agudo do miocárdio ou
angina instável, e reforça, plenamente, a indicação da realização de teste ergométrico
na população assintomática com dois fatores de risco tradicionais1. O caso apresentado
ilustra uma das indicações mais frequentes do TE, a avaliação diagnóstica de DAC.
Vale ressaltar que o método tem sido utilizado na avaliação diagnóstica e prognóstica
de inúmeras outras doenças cardiovasculares1 e tem se mostrado ótima ferramenta na
prática clínica. Algumas indicações frequentes na atualidade:
Assim, o TE apresenta inúmeras indicações que poderão ser mais bem exploradas
oportunamente1, na análise de outros casos clínicos da prática cardiológica cotidiana.
Figura 1
Monitorização ECG pré-teste em ortostática mostrando alteração inespecífica difusa da repolarização ventricular com
ondas T negativas em DIII, aVF.
Figura 2
Monitorização eletrocardiográfica do pico do esforço. Infradesnível descendente do segmento ST de até 3,5mm nas
derivações DII, DIII, aVF, V2, V3, V4, V5, V6. Supradesnível do segmento ST de 2,5mm em aVR.
Figura 3
Monitorização eletrocardiográfica no pós-esforço imediato (11s).
Figura 4
Monitorização eletrocardiográfica no 1º minuto da recuperação mantendo 2mm de infradesnível nas mesmas
derivações e 1mm de supradesnível em aVR.
Figura 5
Monitorização eletrocardiográfica no 6o minuto da recuperação, ainda com discreto infradesnível do segmento ST,
porém já sem supradesnível em aVR.
Quadro 1
Pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD), duplo-produto (DP) e frequência cardíaca (FC)
durante o teste de esforço.
Curva de pressão arterial fisiológica ao esforço, mas com descenso muito lento na recuperação
Referências
1. Meneghelo RS, Araújo CGS, Stein R, Mastrocolla LE, Albuquerque PF,
Serra SM, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Teste Ergométrico. Arq Bras
Cardiol. 2010;95(5 supl.1):1-26.
2. Balady GJ, Larson MG, Vasan RS, Leip EP, O’Donnell CJ, Levy D.
Usefulness of exercise testing in the prediction of coronary disease risk
among asymptomatic person as a function of the Framingham risk score.
Circulation. 2004;110(14):1920-5.
3. Gibbons RJ, Abrams J, Chatterjee K, Daley J, Deedwania PC, Douglas JS, et
al; American College of Cardiology; American Heart Association Task Force
on Practice Guidelines (Committee on the Management of Patients with
Chronic Stable Angina). ACC/AHA 2002 Guideline Update for the
Management of Patients with Chronic Stable Angina – summary article: a
report of the American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines (Committee on the Management of Patients
with Chronic Stable Angina). J Am Coll Cardiol. 2003;41(1):159-68.
4. Gordon-Larsen P, Boone-Heinonen J, Sidney S, Sternfeld B, Jacobs DR Jr,
Lewis CE. Active commuting and cardiovascular disease risk: the CARDIA
study. Arch Intern Med. 2009;169(13):1216-23.
5. Breuckmann F, Möhlenkamp S, Nassenstein K, Lehmann N, Ladd S,
Schmermund A, et al. Myocardial late gadolinium enhancement: prevalence,
pattern, and prognostic relevance in marathon runners. Radiology.
2009;251(1):50-7
6. DePuey EG, ed. Imaging Guidelines for Nuclear Cardiology Procedures. A
Report of The American Society of Nuclear Cardiology Quality Assurance
Committee. American Society of Nuclear Cardiology; 2006.
7. Costa RVC, Carreira MAMQ. Ergometria: ergoespirometria, cintilografia e
ecocardiografia de esforço. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 2009.
8. Arita M, Hashizume T, Wanaka Y, Handa S, Nakamura C, Fujiwara S, et al.
Effects of antihypertensive agents on blood pressure during exercise.
Hypertens Res. 2001;24(6):671-8.
9. Gauri AJ, Raxwal VK, Roux L, Fearon WF, Froelicher VF. Effects of
chronotropic incompetence and beta-blocker use on the exercise treadmill
test in men. Am Heart J. 2001;142(1):136-41.
10. Ellestad MH. Stress Testing: principles and practice. 5th ed. New York:
Oxford University Press; 2003.
11. Henzlova MJ, Cerqueira MD, Mahmarian JJ, Yao SS; Quality Assurance
Committee of the American Society of Nuclear Cardiology. Stress protocols
and tracers. J Nucl Cardiol. 2006;13(6):e80-90.
12. Sketch MH, Mooss AN, Butler ML, Nair CK, Mohiuddin SM. Digoxin-
induced positive exercise tests: their clinical and prognostic significance. Am
J Cardiol. 1981;48(4):655-9.
13. Rovang KS, Arouni AJ, Mohiuddin SM, Tejani A, Hilleman DE. Effect of
estrogen on exercise electrocardiograms in healthy postmenopausal women.
Am J Cardiol. 2000;86(4):477-9.
14. Pascual EE, Cintron GB, Valdez MG, Clark PI. Effect of diuretic therapy on
the electrocardiographic response to exercise. Clin Cardiol. 1992;15(2):93-
4.
15. Carreira MAMQ, Tavares LR, Leite RF, Ribeiro JC, Santos AC, Pereira KG,
et al. Teste de esforço em hipertensos em uso de diferentes inibidores da
enzima conversora da angiotensina. Arq Bras Cardiol. 2003;80(2):127-32.
16. Carreira MAMQ, Ribeiro JC, Caldas JA, Tavares LR, Nani E. Resposta da
pressão arterial ao esforço máximo em hipertensos sob diferentes esquemas
terapêuticos. Arq Bras Cardiol. 2000;75(4):281-4.
17. Lauer M, Froelicher ES, Williams M, Kligfield P; American Heart
Association Council on Clinical Cardiology, Subcommittee on Exercise,
Cardiac Rehabilitation, and Prevention. Exercise testing in asymptomatic
adults: a statement for Professionals from the American Heart Association
Council on Clinical Cardiology, Subcommittee on Exercise, Cardiac
Rehabilitation, and Prevention. Circulation. 2005;112(5):771-6.
18. Kligfield P, Lauer MS. Exercise electrocardiogram testing: beyond the ST
segment. Circulation. 2006;114(19):2070-82.
19. Gulati M, Black HR, Shaw LJ, Arnsdorf MF, Merz CN, Lauer MS, et al. The
prognostic value of a nomogram for exercise capacity in women. N Engl J
Med. 2005;353(5):468-75.
20. Gulati M, Pandey DK, Arnsdorf MF, Lauderdale DS, Thisted RA, Wicklund
RH, et al. Exercise capacity and the risk of death in women: the St James
Women Take Heart Project. Circulation. 2003;108(13):1554-9.
21. Erikssen G, Bodegard J, Bjørnholt JV, Liestøl K, Thelle DS, Erikssen J.
Exercise testing of healthy men in a new perspective: from diagnosis to
prognosis. Eur Heart J. 2004;25(11):978-86.
22. Myers J, Prakash M, Froelicher V, Do D, Partington S, Atwood JE. Exercise
capacity and mortality among men referred for exercise testing. N Engl J
Med. 2002;346(11):793-801.
23. CASS Investigators. Coronary artery surgery study (CASS): a randomized
trial of coronary artery bypass surgery. Survival data.
Circulation.1983;68(5):939-50.
24. Durand G, Tsismenakis AJ, Jahnke SA, Baur DM, Christophi CA, Kales SN.
Firefighters' physical activity: relation to fitness and cardiovascular disease
risk. Med Sci Sports Exerc. 2011;43(9):1752-9.
25. Shiroma EJ, Lee IM. Physical activity and cardiovascular health: lessons
learned from epidemiological studies across age, gender, and race/ethnicity.
Circulation. 2010;122(7):743-52.
26. LaMonte MJ, Eisenman PA, Adams TD, Shultz BB, Ainsworth BE, Yanowitz
FG. Cardiorespiratory fitness and coronary heart disease risk factors: the
LDS Hospital Fitness Institute cohort. Circulation. 2000;102(14):1623-8.
27. Laukkanen JA, Rauramaac R, Kurla S. Exercise workload, coronary risk
evaluation and the risk of cardiovascular and all-cause death in middle-aged
men. Eur J Cardiovasc Prev Rehab. 2008;15(3):287-91.
28. Carnethon MR, Gidding SS, Nehgme R, Sidney S, Jacobs DR Jr, Liu K.
Cardiorespiratory fitness in young adulthood and the development of
cardiovascular disease risk factors. JAMA. 2003;290(23):3092-100.
29. Mora S, Redberg RF, Sharrett AR, Blumenthal RS. Enhanced risk assessment
in asymptomatic individuals with exercise testing and Framingham risk
scores. Circulation. 2005;112(11):1566-72.
30. Lauer MS; American College of Cardiology; American Heart Association.
The “exercise” part of exercise echocardiography. J Am Coll Cardiol.
2002;39(8):1353-5.
31. Snader CE, Marwick TH, Pashkow FJ, Harvey SA, Thomas JD, Lauer MS.
Importance of estimated functional capacity as a predictor of all-cause
mortality among patients referred for exercise thallium single-photon
emission computed tomography: report of 3,400 patients from a single center.
J Am Coll Cardiol. 1997;30(3):641-8.
32. Laukkanen JA, Lakka TA, Rauramaa R, Kuhanen R, Venäläinen JM, Salonen
R, et al. Cardiovascular fitness as a predictor of mortality in men. Arch Intern
Med. 2001;161(6):825-31.
33. Kokkinos P, Myers J, Faselis C, Panagiotakos DB, Doumas M, Pittaras A, et
al. Exercise capacity and mortality in older men: a 20-year follow-up study.
Circulation. 2010;122(8):790-7.
34. Gibbons RJ, Balady GJ, Bricker JT, Chaitman BR, Fletcher GF, Froelicher
VF, et al; American College of Cardiology/American Heart Association Task
Force on Practice Guidelines (Committee to Update the 1997 Exercise
Testing Guidelines). ACC/AHA 2002 Guideline Update for Exercise Testing:
summary article: a report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Committee to Update
the 1997 Exercise Testing Guidelines). Circulation. 2002;106(14):1883-92.
35. Aktas MK, Ozduran V, Pothier CE, Lang R, Lauer MS. Global risk scores and
exercise testing for predicting all-cause mortality in a preventive medicine
program. JAMA. 2004;292(12):1462-8.
36. Wei M, Kampert JB, Barlow CE, Nichaman MZ, Gibbons LW, Paffenbarger
RS Jr, et al. Relationship between low cardiorespiratory fitness and mortality
in normal-weight, overweight, and obese men. JAMA. 1999;282(16):1547-
53.
37. Wisloff U, Najjar SM, Ellingsen O, Haram PM, Swoap S, Al-Share Q, et al.
Cardiovascular risk factors emerge after artificial selection for low aerobic
capacity. Science. 2005;307(5708):418-20.
38. Albers AR, Krichavsky MZ, Balady GJ. Stress testing in patients with
diabetes mellitus: diagnostic and prognostic value. Circulation.
2006;113(4):583-92.
39. Sandvik L, Erikssen J, Thaulow E, Erikssen G, Mundal R, Rodahl K.
Physical fitness as a predictor of mortality among healthy, middle-aged
Norwegian men. N Engl J Med. 1993;328(8):533-7.
40. Mora S, Redberg RF, Cui Y, Whiteman MK, Flaws JA, Sharrett AR, et al.
Ability of exercise testing to predict cardiovascular and all-cause death in
asymptomatic women: a 20-year follow-up of the lipid research clinics
prevalence study. JAMA. 2003;290(12):1600-7.
41. Kokkinos P, Myers J, Kokkinos JP, Pittaras A, Narayan P, Manolis A, et al.
Exercise capacity and mortality in black and white men. Circulation.
2008;117(5):614-22.
42. Dorn J, Naughton J, Imamura D, Trevisan M. Results of a multicenter
randomized clinical trial of exercise and long-term survival in myocardial
infarction patients: the National Exercise and Heart Disease Project
(NEHDP). Circulation.1999;100(17):1764-9.
43. Murray DP, Tan LB, Salih M, Weissberg P, Murray RG, Littler WA. Does
beta adrenergic blockade influence the prognostic implications of post-
myocardial infarction exercise testing? Br Heart J. 1988;60(6):474-9.
44. Blair SN, Kohl HW 3rd, Barlow CE, Paffenbarger RS Jr, Gibbons LW,
Macera CA. Changes in physical fitness and all-cause mortality. A
prospective study of healthy and unhealthy men. JAMA. 1995;273(14):1093-
8.
45. Goraya TY, Jacobsen SJ, Pellikka PA, Miller TD, Khan A, Weston SA, et al.
Prognostic value of treadmill exercise testing in elderly persons. Ann Intern
Med. 2000;132(11):862-70.
46. Weiss SA, Blumenthal RS, Sharrett AR, Redberg RF, Mora S. Exercise blood
pressure and future cardiovascular death in asymptomatic individuals.
Circulation. 2010;121(19):2109-16.
47. Laukkanen JA, Kurl S, Rauramaa R, Lakka TA, Venäläinenb JM, Salonen JT.
Systolic blood pressure response to exercise testing is related to the risk of
acute myocardial infarction in middle-aged men. Eur J Cardiovasc Prev
Rehabil. 2006;13(3):421-8.
48. Messias LR, Carreira MAMQ, Miranda SMR, Azevedo JC, Gava IA,
Rodrigues RC, et al. Relação entre imagem adrenérgica cardíaca e teste
ergométrico na insuficiência cardíaca. Arq Bras Cardiol. 2011;96(5):370-6.
49. Hsu JC, Chu PS, Su TC, Lin LY, Chen WJ, Hwang JS, et al. Predictors for
coronary artery disease in patients with paradoxical systolic blood pressure
elevation during recovery after graded exercise. Int J Cardiol.
2007;119(2):274-6.
50. Yamaguchi M, Shimizu M, Ino H, Okeie K, Yasuda T, Fujino N, et al.
Diagnostic usefulness of the post-exercise systolic blood pressure response
for the detection for coronary artery disease in patients with diabetics
mellitus. Jpn Circ J. 2000;64(12):949-52.
51. McHam AS, Marwick TH, Pashkow FJ, Lauer MS. Delayed systolic blood
pressure recovery after graded exercise: an independent correlate of
angiographic coronary disease. J Am Coll Cardiol.1999;34(3):754-9.
52. Messias LR, Carreira MAMQ, Mesquita CT. Avaliação de disautonomia nos
pacientes com insuficiência cardíaca através de teste de esforço. Rev Bras
Cardiol. 2010;23(4):244-50.
53. Tanaka H, Monahan KD, Seals DR. Age-predicted maximal heart rate
revisited. J Am Coll Cardiol. 2001;37(1):153-6.
54. Maddox TM, Ross C, Ho PM, Masoudi FA, Magid D, Daugherty SL, et al.
The prognostic importance of abnormal heart rate recovery and chronotropic
response among exercise treadmill test patients. Am Heart J.
2008;156(4):736-44.
55. Savonen KP, Lakka TA, Laukkanen JA, Rauramaa TH, Salonen JT, Rauramaa
R. Usefulness of chronotropic incompetence in response to exercise as a
predictor of myocardial infarction in middle-aged men without
cardiovascular disease. Am J Cardiol. 2008;101(7):992-8.
56. Miranda CP, Liu J, Kadar A, Janosi A, Froning J, Lehmann KG, et al.
Usefulness of exercise-induced ST-segment depression in the inferior leads
during exercise testing as a marker for coronary artery disease. Am J Cardiol.
1992;69(4):303-7.
57. Mark DB, Hlatky MA, Lee KL, Harrell FE Jr, Califf RM, Pryor DB, et al.
Localizing coronary artery obstructions with the exercise treadmill test. Ann
Intern Med. 1987;106(1):53-5.
58. Tavel ME, Shaar C. Relation between the electrocardiographic stress test and
degree and location of myocardial ischemia. Am J Cardiol. 1999;84(2):119-
24.
59. Murphy JC, Scott PJ, Shannon HJ, Glover B, Dougan J, Walsh SJ, et al. ST
elevation on the exercise ECG in patients presenting with chest pain and no
prior history of myocardial infarction. Heart. 2009;95(21):1792-7.
60. Vorobiof G, Ellestad MH. Lead aVR: dead or simply forgotten? JACC
Cardiovasc Imaging. 2011;4(2):187-90.
61. Uthamalingam S, Zheng H, Leavitt M, Pomerantsev E, Ahmado I, Gurm GS, et
al. Exercise-induced ST-segment elevation in ECG lead aVR is a useful
indicator of significant left main or ostial LAD coronary artery stenosis.
JACC Cardiovasc Imaging. 2011;4(2):176-86.
62. Neill J, Shannon HJ, Morton A, Muir AR, Harbinson M, Adgey JA. ST
segment.elevation in lead aVR during exercise testing is associated with LAD
stenosis. Eur J Nucl Med Mol Imaging. 2007;34(3):338-45.
63. Tuna Katircibaşi M, Tolga Koçum H, Tekin A, Erol T, Tekin G, Baltali M, et
al. Exercise induced ST-segment elevation in leads aVR and V1 for the
prediction of left main disease. Int J Cardiol. 2008;128(2):240-3.
64. Rich JD, Chen S, Ward RP. Comparison of high risk stress myocardial
perfusion imaging findings in men with rapid versus prolonged recovery of
ST-segment depression after exercise stress testing. Am J Cardiol.
2010;105(10):1361-4.
65. Desai MY, De la Peña-Almaguer E, Mannting F. Prolonged ST segment
depression after stress testing: does it really identify more severe disease? Int
J Cardiol. 2003;87(1):59-66.
66. McNeer JF, Margolis JR, Lee KL, Kisslo JA, Peter RH, Kong Y, et al. The
role of the exercise test in the evaluation of patients for ischemic heart
disease. Circulation. 1978;57(1):64-70.
67. Ashley EA, Myers J, Froelicher V. Exercise testing in clinical medicine.
Lancet. 2000;356(9241):1592-7.
68. Laukkanen JA, Mäkikallio TH, Rauramaa R, Kurl S. Asymptomatic ST-
segment depression during exercise testing and the risk of sudden cardiac
death in middle-aged men: a population-based follow-up study. Eur Heart J.
2009;30(5):558-65.
69. Lachterman B, Lehmann KG, Abrahamson D, Froelicher VF. "Recovery only"
ST-segment depression and the predictive accuracy of the exercise test. Ann
Intern Med. 1990;112(1):11-6. Erratum in: Ann Intern Med. 1990;113(4):333-
4.
70. Lauer MS. Autonomic function and prognosis. Cleve Clin J Med.
2009;76(Suppl 2):S18-22.
71. Freeman JV, Dewey FE, Hadley DM, Myers J, Froelicher VF. Autonomic
nervous system interaction with the cardiovascular system during exercise.
Prog Cardiovasc Dis. 2006;48(5):342-62.
72. Cole CR, Foody JM, Blackstone EH, Lauer MS. Heart rate recovery after
submaximal exercise testing as a predictor of mortality in a cardiovascularly
healthy cohort. Ann Intern Med. 2000;132(7):552-5.
73. Carreira MAMQ, Rachid MBF, Tellerman LD, Lobo MEDC, Ferraz PCM.
Velocidade de recuperação da frequência cardíaca no pós-esforço em
diferentes protocolos de recuperação ativa: 1,5mph/2,5% vs. 40% da
velocidade e inclinação de pico. Anais do 61º Congresso Brasileiro de
Cardiologia e XXII Congresso Sul-Americano de Cardiologia; 2006 out 21-
25; Recife, Pernambuco, Brasil. Arq Bras Cardiol. 2006;87(supl.1):98.
74. Watanabe J, Thamilarasan M, Blackstone EH, Thomas JD, Lauer MS. Heart
rate recovery immediately after treadmill exercise and left ventricular
systolic dysfunction as predictors of mortality: the case of stress
echocardiography. Circulation. 2001;104(16):1911-6.
75. Vivekananthan DP, Blackstone EH, Pothier CE, Lauer MS. Heart rate
recovery after exercise is a predictor of mortality, independent of the
angiographic severity of coronary disease. J Am Coll Cardiol.
2003;42(5):831-8.
76. Cheng YJ, Lauer MS, Earnest CP, Church TS, Kampert JB, Gibbons LW, et al.
Heart rate recovery following maximal exercise testing as a predictor of
cardiovascular disease and all-cause mortality in men with diabetes.
Diabetes Care. 2003;26(7):2052-7.
77. Nagashima J, Musha H, Takada H, Takagi K, Mita T, Mochida T et al. Three-
month exercise and weight loss program improves heart rate recovery in
obese persons along with cardiopulmonary function. J Cardiol.
2010;56(1):79-84.
78. Brinkworth GD, Noakes M, Buckley JD, Clifton PM. Weight loss improves
heart rate recovery in overweight and obese men with features of the
metabolic syndrome. Am Heart J. 2006;152(4):693.e1-6.
79. Routledge HC, Townend JN. Why does heart rate response to exercise
predict adverse cardiac events? Heart. 2006;92(5):577-8.
80. Jouven X, Zureik M, Desnos M, Courbon D, Ducimetière P. Long-term
outcome in asymptomatic men with exercise-induced premature ventricular
depolarizations. N Engl J Med. 2000;343(12):826-33.
81. Partington S, Myers J, Cho S, Froelicher V, Chun S. Prevalence and
prognostic value of exercise-induced ventricular arrhythmias. Am Heart J.
2003;145(1):139-46.
82. Beckerman J, Wu T, Jones S, Froelicher VF. Exercise test-induced
arrhythmias. Prog Cardiovasc Dis. 2005;47(4):285-305.
83. Beckerman J, Mathur A, Stahr S, Myers J, Chun S, Froelicher V. Exercise-
induced ventricular arrhythmias and cardiovascular death. Ann Noninvasive
Electrocardiol. 2005;10(1):47-52.
84. Frolkis JP, Pothier CE, Blackstone EH, Lauer MS. Frequent ventricular
ectopy after exercise as a predictor of death. N Engl J Med.
2003;348(9):781-90.
85. Goldberger JJ, Cain ME, Hohnloser SH, Kadish AH, Knight BP, Lauer MS,
et al; American Heart Association; American College of Cardiology
Foundation; Heart Rhythm Society. American Heart Association/American
College of Cardiology Foundation/Heart Rhythm Society Scientific Statement
on Noninvasive Risk Stratification Techniques for Identifying Patients at Risk
for Sudden Cardiac Death. A scientific statement from the American Heart
Association Council on Clinical Cardiology Committee on
Electrocardiography and Arrhythmias and Council on Epidemiology and
Prevention. J Am Coll Cardiol. 2008;52(14):1179-99.
86. Curfman GD, Hillis LD. A new look at cardiac exercise testing. N Engl J
Med. 2003;348(9):775-6.
87. Dewey FE, Kapoor JR, William RS, Lipinski MJ, Ashley EA, Hadley D, et
al. Ventricular arrhythmias during clinical treadmill testing and prognosis.
Arch Intern Med. 2008;168(2):225-34.
88. O'Neill JO, Young JB, Pothier CE, Lauer MS. Severe frequent ventricular
ectopy after exercise as a predictor of death in patients with heart failure. J
Am Coll Cardiol. 2004;44(4):820-6.
89. Miller TD. Exercise treadmill test: estimating cardiovascular prognosis.
Cleve Clin J Med. 2008;75(6):424-30.
90. Mark DB, Hlatky MA, Harrell FE Jr, Lee KL, Califf RM, Pryor DB. Exercise
treadmill score for predicting prognosis in coronary artery disease. Ann
Intern Med. 1987;106(6):793-800.
91. Shaw LJ, Peterson ED, Shaw LK, Kesler KL, DeLong ER, Harrell FE Jr, et
al. Use of a prognostic treadmill score in identifying diagnostic coronary
disease subgroups. Circulation. 1998;98(16):1622-30.
92. Rafie AH, Dewey FE, Myers J, Froelicher VF. Age-adjusted modification of
the Duke Treadmill Score nomogram. Am Heart J. 2008;155(6):1033-8.
93. Gibbons RJ, Hodge DO, Berman DS, Akinboboye OO, Heo J, Hachamovitch
R, et al. Long-term outcome of patients with intermediate-risk exercise
electrocardiograms who do not have myocardial perfusion defects on
radionuclide imaging. Circulation. 1999;100(21):2140-5.
94. Mark DB, Shaw L, Harrell FE Jr, Hlatky MA, Lee KL, Bengtson JR, et al.
Prognostic value of a treadmill exercise score in outpatients with suspected
coronary artery disease. N Engl J Med. 1991;325(12):849-53.
95. Storti FC, Uchida A, Moffa P. Escores: como, onde e por que utilizá-los?
Revista do DERC. 2008;1:10-15.
96. Froelicher V, Shetler K, Ashley E. Better decisions through science: exercise
testing scores. Prog Cardiovasc Dis. 2002;44(5):395-414.
97. Raxwal V, Shetler K, Morise A, Do D, Myers J, Atwood JE, et al. Simple
treadmill score to diagnose coronary disease. Chest. 2001;119(6):1933-40.
98. Uchida AH, Moffa P, Riera AR. Exercise testing score for myocardial
ischemia gradation. Indian Pacing Electrophysiol J. 2007;7(1):61-72.
99. Rochitte CE, Pinto IMF, Fernandes JL, Azevedo Filho CF, Jatene A, Carvalho
ACC; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Departamento de Cardiologia
Clínica; Grupo de Estudo em Ressonância e Tomografia Cardiovascular
(GERT). Diretriz de Ressonância e Tomografia Cardiovascular. Sumário
Executivo. Arq Bras Cardiol. 2006;86(supl. 3):e1-12.
ECOCARDIOGRAMA
Cesar Nascimento
Mário Luiz Ribeiro
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 63 anos, negro, natural do Rio de Janeiro.
Queixa principal: Dor precordial
HDA: Quatro dias antes do primeiro atendimento médico, apresentou dor precordial de
início súbito em aperto com irradiação para dorso associado à dispneia, porém não
procurou atendimento médico na ocasião. Devido ao retorno dos sintomas, agora com
maior intensidade, foi atendido em SE e feito o diagnóstico de síndrome coronariana
aguda, IAM com supra ST na parede inferior em sua fase subaguda, sendo então
transferido para o INC no mesmo dia.
Exames à admissão:
Hemograma, creatinina e glicemia normais. Marcadores de necrose miocárdica
positivos.
Figura 1A
Eletrocardiograma: ritmo sinusal demonstrando onda q de necrose na parede inferior (DII, DII e AvF) associado à
inversão da onde T nesta mesma parede com diagnóstico de IAM com supra de ST na sua fase já subaguda.
Figura 1B
Demonstra as derivações direitas e parede posterior sem alterações.
Figura 2
RX de tórax na posição ortostática no modo AP demonstrando congestão pulmonar com infiltrado para hilares
bilaterais e presença de inversão da trama vascular do parênquima pulmonar.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Qual deveria ser a conduta na Sala de Emergência e como o ecocardiograma à
beira do leito poderia auxiliar na conduta terapêutica?
Figura 3B
Cineangiocoronariografia em oblíqua anterior esquerda demonstrando o resultado final da abordagem percutânea da
coronária direita com trombos e leito distal de fino calibre.
Figura 4
Ecocardiograma com Doppler colorido no corte apical quatro câmaras, com falha de continuidade na parede septal
inferior média para septal apical, com fluxo colorido no sentido do ventrículo esquerdo para o direito.
Figura 6
Reconstrução tridimensional demonstrando o prolapso do folheto P2 para dentro da cavidade atrial esquerda.
Figura 7
Ecocardiograma transesofágico evidenciando novamente o prolapso do folheto P2 da válvula mitral.
Realizada nova avaliação, devido à nova alteração mecânica, optou-se pela abordagem
cirúrgica imediata para correção da CIV e IM.
Paciente submetido à cirurgia cardíaca com troca valvar mitral biológica número 29,
pois havia presença de ruptura das cordoalhas P1, P2 e A2 e restantes alongadas.
Presença de aneurisma da parede inferior do ventrículo esquerdo associada à
comunicação interventricular de aproximadamente 2mm no septo inferior basal.
Realizada exclusão da área infartada com fechamento com patch de pericárdio bovino.
Tempo de CEC 117 minutos e clampeamento de 110min.
Este caso de DAC por mostrar além das várias modalidades compartilhadas de
ecocardiografia (2D, ETE, 3D, Doppler colorido), apresenta a onipresença e a
portabilidade do método, que permite a repetição simplificada de exames e o controle
evolutivo das doenças dinâmicas e mutáveis, além da interferência do método em
franco diálogo com os outros métodos e especialistas, no processo decisório, condutas,
acompanhamento do tratamento, controle e reavaliação do caso.
Cada Diretriz reflete o estágio atual de conhecimento para determinado assunto. Dadas
às mudanças inevitáveis dos estágios da tecnologia e informação científica e revisões
periódicas, deverão ser feitas mudanças nas Diretrizes, para que estas estejam sempre
refletindo as tecnologias emergentes.
Medida linear do VE
Figura 8
Medidas do VE ao modo-M.
Espessura do septo interventricular em diástole
Espessura da parede posterior do VE em diástole
Diâmetro diastólico final do VE
Diâmetro sistólico final do VE
Tabela 1
Valores de referência do ventrículo esquerdo
Medidas de volume do VE
Cálculo da massa do VE
Obtido através da subtração do volume cavitário do volume englobado pelo epicárdio
do VE, este multiplicado pela densidade do miocárdio.
Massa VE = 0,8 x{1.04[(DDVE + PPVEd + SIVd)3-(DDVE)3]} +0,6 g
EPR = (2 X PPVE)/DDVE
Uma vez calculado o índice de massa e a espessura relativa do VE, pode-se classificar
a sua geometria. Considera-se normal um índice de massa do VE até 95mg/m2 para o
sexo feminino e 115mg/m2 para o masculino; e uma EPR normal até 0,42. Assim,
distinguem-se quatro modelos: geometria normal, remodelamento concêntrico,
hipertrofia concêntrica e hipertrofia excêntrica (Figura 10).
Figura 10
Geometria do ventrículo esquerdo (VE).
Esp rel=espessamento relativo; fem=feminino; masc=masculino
Função sistólica do VE
Pode ser realizada através da medida linear, baseada nas dimensões cavitárias e
espessuras parietais. Boa acurácia, exceto se houver disfunção segmentar. Medida
volumétrica pelo método de Simpson modificado (método de escolha): obtêm-se os
diâmetros ventriculares na janela apical 4 e 2 câmaras.
O volume total é calculado através da soma da área de vários discos menores (Figura
9): FE= (VDF-VSF)/VDF. A FE normal do VE é >55%.
Remodelamento ventricular
O átrio direito deve ser avaliado quanto à área e às dimensões. O valor limite para a
normalidade da área é 18cm2; seu maior diâmetro deve ter até 53mm e seu menor
diâmetro até 44mm (Figura 14).
Figura 14
Medidas lineares do átrio direito.
Figura 15
Medidas da via de saída do VD.
A veia cava inferior deve ser medida em sua porção proximal às veias hepáticas, em
corte perpendicular ao eixo longo, no final da expiração (Figura 17). Os valores da
pressão do átrio direito devem ser usados para estimar a PSAP. Com uma VCI com
diâmetro <21mm e variação >50% com a inspiração, pode-se considerar uma pressão
de AD de 3mmHg (0–5mm Hg). Quando a VCI tem diâmetro maior que 21mm e não
apresenta variação respiratória, considera-se uma pressão de AD de 15mmHg (10-
20mmHg). Em outras situações, considerar PAD =8mmHg (5-10mmHg). Em pacientes
em ventilação mecânica, a VCI pode estar dilatada e não se colapsar.
Figura 17
Avaliação da VCI
Figura 19
Medida da alteração da área de encurtamento fracional (FAC) do ventriculo direito (VD). DF=diastole final.
SF=sistole final.
Figura 20
Doppler tecidual do anel tricúspide em paciente com função sistólica ventricular direita normal.
Tabela2
Parâmetros de normalidade do AD, VD e hemodinâmica pulmonar
7. Como avaliar a hemodinâmica pulmonar utilizando a ecocardiografia em adultos
?3
Figura 21
Velocidade de pico da regurgitação tricúspide para cálculo da PSAP.
A caracterização da relação entre TAAP e PSAPPE permite que o TAAP seja usado
para a PSAPPE independente da TR, aumentando assim a percentagem de doentes nos
quais o ecocardiograma transtorácico pode ser utilizado para quantificar a pressão da
artéria pulmonar.
Idade, progressão da doença e mudanças nas condições de carga podem levar a várias
combinações de relaxamento do VE, rigidez da câmara e gradientes de pressões de
átrio para ventrículo, levando a variações de um padrão de enchimento para outro. A
deterioração hemodinâmica progressiva pode causar uma evolução do padrão de fluxo
transmitral como descrito, mas situações clínicas especiais podem alterar essa
sequência. Um certo padrão de enchimento diastólico deverá sempre resultar de
complexa interação de vários fatores como FC, ritmo, pré-carga, doença valvar mitral
ou aórtica, competência do ventrículo direito (VD), interação do septo ventricular,
relaxamento ativo do VE, propriedades elásticas do VE e contração atrial.
Fluxo mitral
As curvas de fluxo mitral normais variam com a pré e pós-carga do paciente, idade e
frequência cardíaca. Com o aumento da idade, ocorre diminuição do relaxamento e,
consequentemente, gradual declínio da onda E e aumento da onda A. Na maioria dos
indivíduos, as ondas E e A se tornam aproximadamente iguais na sexta década de vida.
Então uma relação E/A normal é considerada entre 0,75 e 1,57. O TD do enchimento
rápido reflete a complacência do VE no início da diástole, e normalmente é <220ms7.
Técnica
Para pacientes com disfunção diastólica, três padrões anormais de enchimento são
inicialmente reconhecidos e demonstrados (Figura 26). Na disfunção diastólica leve, a
primeira alteração é a do relaxamento. Essa alteração resulta em aumento
compensatório do fluxo de contração atrial. Por essa razão, haverá uma onda E pequena
e uma onda A maior, resultando em uma relação E/A <0,75. O TD está prolongado e é
usualmente >220ms.
Determinação do TRIV
O TRIV tem sido usado na cardiologia clínica por mais de três décadas e foi
originalmente descrito como um achado clínico sólido pela fonocardiografia7.
Doppler tecidual
O Doppler do fluxo sanguíneo convencional usa um filtro alto para remover as baixas
velocidades devido à movimentação das paredes, e o fraco sinal refletido pelas células
sanguíneas é amplificado. Através do rearranjo do filtro e da amplificação o sinal de
Doppler refletido pelo tecido pode ser visualizado9.
Técnica
A partir de um corte apical deve-se posicionar o volume de amostra na região do anel
mitral onde se pretende obter o sinal do Doppler (Figura 27). Geralmente avalia-se a
velocidade miocárdica na porção lateral e/ou septal do anel mitral. Existe um sinal
sistólico positivo, velocidade miocárdica sistólica de pico (S’) e um sinal negativo no
início (E’) e no final da diástole, representado pela velocidade miocárdica de
contração atrial (A’)9.
Figura 27
Doppler tecidual. Classificação ecoDopplercardiográfica da disfunção diastólica.
Fonte: adaptado com permissão da Associação Médica Americana
A relação E/E’ também foi validada em pacientes com FA, taquicardia sinusal,
cardiomiopatia hipertrófica e aqueles que foram submetidos a transplante cardíaco9-11.
Limitações
Técnica
Aplicações clínicas
A relação E/Vp tem sido também aplicada para obter pressões de enchimento na FA
com razoável acurácia: uma média de mais de três batimentos da relação E/Vp>1,4
permite 100% de especificidade e 72% de sensibilidade em predizer
PCPM>15mmHg7,12.
Limitações do método
Durante anos têm sido grandes os esforços para melhor obtenção do fluxo de veias
pulmonares. Estudo12 demonstrou que medidas do FVP pelo ETT são possíveis e de
boa acurácia quando comparadas ao ETE. Outro estudo13 sugeriu que é possível obter
imagens de alta qualidade do FVP em 90% dos pacientes pelo ETT com a tecnologia
atual, educação profissional e pratica diária. A injeção de contraste pode melhorar a
obtenção da imagem13.
Técnica
Tipicamente a imagem é obtida pelo apical de quatro câmaras. Pode ser vantajoso usar
o Doppler colorido na parede posterior do AE para se identificar melhor a origem das
veias pulmonares. Geralmente nesta posição, a veia pulmonar posterior direita é melhor
visualizada. O volume de amostragem deve ser posicionado entre 1cm a 2cm no interior
da mesma, sendo o Doppler pulsado usado para a obtenção. O FVP normal (Figura 29)
consiste em uma onda sistólica S, seguida por uma diastólica D, e por fim uma do fluxo
reverso atrial AR8,13.
Figura 29
Fluxo de veias pulmonares. Classificação ecoDopplercardiográfica da disfunção diastólica.
Fonte: adaptado com permissão da Associação Médica Americana
Por causa da complexa interação entre relaxamento ventricular e pressão de AE, o fluxo
transmitral e de veias pulmonares não podem detectar pressões de enchimento elevadas
em corações normais submetidos à sobrecarga de volume, como nas regurgitações
mitrais agudas. Essas velocidades são ainda muito limitadas na ausência de ritmo
sinusal e não podem ser usadas para avaliar a função diastólica na presença de
obstrução do influxo mitral.
Existem inúmeras variáveis fisiológicas que irão afetar o FVP, dentre elas: idade, pré-
carga, função de VE, condução AV e frequência cardíaca. A avaliação do FVP não pode
ser considerada uma técnica independente e deveria ser analisada em conjunto com
outras técnicas8,13.
Medidas de deformação
Até recentemente, a RNM com o tagging tecidual era a única forma de se avaliar o
strain miocárdico, porém sua complexidade e custo elevados limitavam-na a apenas
protocolos de pesquisa. Strain miocárdico derivado do Doppler tecidual foi
introduzido como um método clínico de avaliação à beira do leito. Strain pode também
ser avaliado pelo speckle-tracking bidimensional, uma tecnologia emergente que
mensura strain através da marcação de pontos em escala de cinza nas imagens
ecocardiográficas.
Poucos estudos têm demonstrado uma boa correlação entre o strain rate diastólico
inicial segmentar e global e a constante do tempo de relaxamento do VE (tau). Um
estudo recente que combinou strain rate miocárdico global e durante o período de
relaxamento isovolumétrico (pelo speckle tracking) e velocidades de fluxos
transmitral, demonstrou que a relação da velocidade de E mitral / strain rate
miocárdico global prediz elevação das pressões de enchimento do VE nos pacientes em
que a relação E/e’ foi inconclusiva e foi mais acurada que E/e’ em pacientes com fração
de ejeção normal e naqueles com disfunção regional. Então, a avaliação da função
diastólica pela deformação é promissora, mas necessita de mais estudos para seu valor
clínico14.
Twist ou Torção
Devido às medidas do untwist do VE serem possíveis apenas com RNM com tagged e
outras metodologias complexas, existe ainda evidências limitadas de como a
quantificação do untwist, twist e rotação podem ser aplicados na prática clínica. Com a
recente introdução do speckle-tracking, torna-se possível quantificar a rotação, twist e
untwist do VE. A torção do VE é calculada através da diferença entre a rotação basal e
apical do mesmo, aferido através das imagens de eixo curto. O valor clínico da
avaliação da taxa de untwist não está definido. Concluindo, as medidas das taxas de
twist e untwist do VE, apesar de não serem recomendadas na prática clínica e além de
estudos adicionais serem necessários para suas potenciais aplicações clínicas, pode se
tornar uma importante ferramenta para avaliação da função diastólica no futuro14.
Figura 30
Medida do AE ao modo-M.
O AE serve como reservatório para o sangue drenado das veias pulmonares durante a
sístole ventricular, e como condutor desse sangue durante o início da diástole. No final
da diástole, o átrio esquerdo funciona como uma bomba muscular para completar o
processo de enchimento ventricular antes da contração e fechamento da valva mitral.
Então mudanças no tamanho e volume do AE refletem esse contínuo processo de
enchimento e esvaziamento e tem sido tópico de intensos estudos envolvendo técnicas
da ecocardiografia bidimensional15,16.
Existem vários métodos para avaliação do volume do AE, entre eles os mais frequentes
são:
Tabela 3
Parâmetros ecocardiográficos de acordo com o estágio da disfunção diastólica
Nesse mesmo grupo o índice de volume de AE≥32 ml/m² foi 100% específico para
detectar alteração da função diastólica, apesar de a sensibilidade ser reduzida para
67%; o índice de volume de AE também se correlacionou bem com a relação E/E’ do
Doppler tissular: quanto maior o volume do AE maiores as pressões de enchimento
como indicado pela relação E/E’ (Tabela 3 e Figura 34).
Figura 34
Relação entre índice de Vol. AE e Rel. E / E’)
Fonte: adaptado de Tsang et al.16
Quando a qualidade técnica for adequada e os achados não forem equivocados, o laudo
deve fornecer uma conclusão a respeito das pressões de enchimento do VE e a presença
e estadiamento da função diastólica7.. Apresentam-se os fluxogramas para estadiamento
da função diastólica (Figura 35), estimativas das pressões de enchimento em pacientes
com FE preservada (Figura 36) e deprimida (Figura 37).
Figura 35
Estadiamento da função diastólica.
Figura 36
Estimativa da pressão de enchimento do VE em pacientes com FE normal.
Figura 37
Estimativa da pressão de enchimento do VE em pacientes com FE reduzida.
Deve-se considerar que a avaliação da função diastólica não deve ser interpretada com
a observação de uma única variável de forma isolada, mas sim com o conjunto das
mesmas.
Valores de referência
O ETT permite uma precisa e reprodutível medida dos diâmetros da raiz aórtica e parte
proximal da aorta ascendente. A relação entre diâmetro da aorta (em nível de seio de
Valsalva), idade e área de superfície corporal (ASC) seria considerada quando se
definem valores normais1,24,25. Assim, pode-se estratificar em três grupos etários:
Grupo A: menores de 20 anos; Grupo B: 20-40 anos e Grupo C: acima de 40 anos
(Figura 40).
Figura 40
Valores de referência da aorta em nível de seio de Valsalva, relação com grupo etário e área de superficie corporal.
Tabela 5
Valores normais dos segmentos aórticos.
Referências
1. Lang RM, Bierig M, Devereux RB, Flachskampf FA, Foster E, Pellikka P, et
al; American Society of Echocardiography’s Nomenclature and Standards
Committee; Task Force on Chamber Quantification; American College of
Cardiology Echocardiography Committee; American Heart Association;
European Association of Echocardiography, European Society of Cardiology.
Recommendations for chamber quantification. Eur J Echocardiogr.
2006;7(2):79-108.
2. Rudski LG, Lai WW, Afilalo J, Hua L, Handschumacher MD, Chandrasekaran
K, et al. Guidelines for the echocardiographic assessment of the right heart in
adults: a report from the American Society of Echocardiography endorsed by
the European Association of Echocardiography, a registered branch of the
European Society of Cardiology, and the Canadian Society of
Echocardiography. J Am Soc Echocardiogr. 2010;23(7):685-713.
3. Milan A, Magnino C, Veglio F. Echocardiographic indexes for the non-
invasive evaluation of pulmonary hemodynamics. J Am Soc Echocardiogr.
2010;23(3):225-39.
4. Yared K, Noseworthy P, Weyman AE, McCabe E, Picard MH, Baggish AL.
Pulmonary artery acceleration time provides an accurate estimate of systolic
pulmonary arterial pressure during transthoracic echocardiography. J Am Soc
Echocardiogr. 2011;24(6):687-92.
5. van Kraaij DJ, van Pol PE, Ruiters AW, de Swart JB, Lips DJ, Lencer N, et
al. Diagnosing diastolic heart failure. Eur J Heart Fail. 2002;4(4):419-30.
6. Klein AL, Garcia MJ (eds). Diastology: clinical approach to diastolic heart
failure. Orlando: W.B.Saunders; 2008.
7. Khouri SJ, Maly GT, Suh DD, Walsh TE. A practical approach to the
echocardiographic evaluation of diastolic function. J Am Soc Echocardiogr.
2004;17(3):290-7.
8. Armstrong WF, Ryan T, Feigenbaum H. 7th ed. Feigenbaum’s
Echocardiography. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkis; 2009.
9. Pasquet A, Garcia MJ, Thomas JD. New approaches to the Doppler
echocardiographic assessment of diastolic function: from research laboratory
to clinical practice. Prog Pediatr Cardiol. 1999;10(2):105-12.
10. Yu CM, Sanderson JE, Marwick TH, Oh JK. Tissue Doppler imaging a new
prognosticator for cardiovascular diseases. J Am Coll Cardiol.
2007;49(19):1903-14.
11. Nagueh SF, Middleton KJ, Kopelen HA, Zoghbi WA, Quiñones MA. Doppler
tissue imaging: a noninvasive technique for evaluation of left ventricular
relaxation and estimation of filling pressures. J Am Coll Cardiol.
1997;30(6):1527-33.
12. De Boeck BW, Oh JK, Vandervoort PM, Vierendeels JA, van der Aa RP,
Cramer MJ. Color M-mode velocity propagation: a glance at intra-ventricular
pressure gradients and early diastolic ventricular performance. Eur J Heart
Fail. 2005;7(1):19-28.
13. Tabata T, Thomas JD, Klein AL. Pulmonary venous flow by Doppler
echocardiography: revisited 12 years later. J Am Coll Cardiol.
2003;41(8):1243-50.
14. Nagueh SF, Appleton CP, Gillebert TC, Marino PN, Oh JK, Smiseth OA, et
al. Recommendations for the evaluation of left ventricular diastolic function
by echocardiography. J Am Soc Echocardiogr. 2009;22(2):107-33.
15. Ujino K, Barnes ME, Cha SS, Langins AP, Bailey KR, Seward JB, et al.
Two-dimensional echocardiographic methods for assessment of left atrial
volume. Am J Cardiol. 2006;98(9):1185-8.
16. Tsang TS, Barnes ME, Gersh BJ, Bailey KR, Seward JB. Left atrial volume
as a morphophysiologic expression of left ventricular diastolic dysfunction
and relation to cardiovascular risk burden. Am J Cardiol. 2002;90(12):1284-
9.
17. Tirrito SJ, Augustine DR, Kerut EK. How to measure left atrial volume.
Echocardiography. 2004;21(6):569-71.
18. Takemoto Y, Barnes ME, Seward JB, Lester SJ, Appleton CA, Gersh BJ, et
al. Usefulness of left atrial volume in predicting first congestive heart failure
in patients > or = 65 years of age with well-preserved left ventricular
systolic function. Am J Cardiol. 2005;96(6):832-6.
19. Lester SJ, Ryan EW, Schiller NB, Foster E. Best method in clinical practice
and in research studies to determine left atrial size. Am J Cardiol.
1999;84(7):829-32.
20. Barbieri A, Bursi F, Zanasi V, Veronesi B, Cioni E, Modena MG. Left atrium
reclassified: application of the American Society of
Echocardiography/European Society of Cardiology cutoffs to unselected
outpatients referred to the echocardiography laboratory. J Am Soc
Echocardiogr. 2008;21(5):433-8.
21. Abhayaratna WP, Seward JB, Appleton CP, Douglas PS, Oh JK, Tajik AJ, et
al. Left atrial size: physiologic determinants and clinical applications. J Am
Coll Cardiol. 2006;47(12):2357-63.
22. Oh JK, Park SJ, Nagueh SF. Established and novel clinical applications of
diastolic function assessment by echocardiography. Circ Cardiovasc Imaging.
2011;4(4):444-55.
23. Evangelista A, Flachskampf FA, Erbel R, Antonini-Canterin F, Vlachopoulos
C, Rocchi G, et al; European Association of Echocardiography; Document
Reviewers: Pepi M, Breithardt OA, Plonska-Gosciniak E. Echocardiography
in aortic diseases: EAE recommendations for clinical practice. Eur J
Echocardiogr. 2010;11(8):645-58. Erratum in: Eur J Echocardiogr.
2011;12(8):642.
24. Roman MJ, Devereux RB, Kramer-Fox R, O’Loughlin J. Two-dimensional
echocardiographic aortic root dimensions in normal children and adults. Am
J Cardiol. 1989;64(8):507-12.
25. Vasan RS, Larson MG, Levy D. Determinants of echocardiographic aortic
root size. The Framingham Heart Study. Circulation. 1995;91(3):734-40.
APLICAÇÕES CLÍNICAS DA
CINTILOGRAFIA DE PERFUSÃO
MIOCÁRDICA
Andrea De Lorenzo
Claudio Tinoco Mesquita
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 75 anos, branca, do lar, natural do RJ.
Queixa principal: “Aperto no peito”
HDA: Paciente com história de “aperto” na região precordial durante os esforços,
aliviada com repouso, há três meses. Procura cardiologista para investigação.
HPP: Dislipidemia, em uso de atorvastatina.
História familiar: Desconhece coronariopatia na família
História social: Nega tabagismo
Exames complementares:
ECG de repouso: BRD de 2º grau
Radiografia de tórax em PA e perfil: normal
Ecocardiograma: normal
Teste ergométrico: atingiu 70% da FC máxima prevista (4,5 equivalentes metabólicos),
assintomática e com ECG normal.
Endoscopia digestiva alta: esofagite leve
Figura 1
ECG de repouso da paciente relatada.
Manifestações clínicas:
Apresentou dor torácica típica e náuseas durante o estresse, que cederam após a
administração de aminofilina IV.
Análise do ECG:
O eletrocardiograma durante o estresse demonstrou infradesnível do segmento ST
descendente de até 3,0mm nas derivações DII, DIII, aVF e de V3 a V6 e supradesnível
do segmento ST de 2,0mm em aVR e V1 (Figura 2). Apresentou BAV de 1° grau e
ectopias supraventriculares frequentes durante o estresse e recuperação (Figura 3).
Figura 2
Traçado eletrocardiográfico no pico do estresse farmacológico.
Figura 3
Traçado eletrocardiográfico da recuperação pós-estresse farmacológico.
4A
4B
4C
Figura 4 (A, B, C)
Imagens cintilográficas.
Em A: eixo curto
Em B: eixo longo horizontal
Em C: eixo longo vertical
Figura 5
Mapa polar e quantificação do defeito perfusional demonstra a extensa área de reversibilidade.
OBJETIVOS
1. Discutir a utilidade diagnóstica e prognóstica da cintilografia de perfusão
miocárdica.
2. Analisar o uso e as aplicações do estresse farmacológico na cintilografia
miocárdica.
3. Descrever os achados cintilográficos de alto risco e suas implicações na
tomada de conduta clínica.
4. Discutir a avaliação quantitativa da perfusão miocárdica, suas vantagens e
limitações.
PERGUNTAS
1. Qual a finalidade da cintilografia miocárdica neste caso, dado o teste
ergométrico normal?
O dipiridamol, bastante usado na prática médica, tem como efeitos colaterais cefaleia,
rubor facial, desconforto torácico, hipotensão, bloqueio atrioventricular e
broncoespasmo, sendo contraindicado em pacientes com broncoespasmo em atividade
ou recente. Cafeína e metilxantinas são antagonistas do dipiridamol, sendo necessária
sua suspensão por pelo menos 24 horas antes do exame. A adenosina possui ação mais
rápida, mas ainda proporciona efeitos colaterais frequentes, o que tem sido reduzido
significativamente com as novas drogas como o regadenoson.
Outros achados, como a captação pulmonar do Tl-201 após esforço, também são
capazes de prever eventos cardíacos adversos (morte e IAM não fatal)17. A captação
pulmonar do Tl-201 indica a ocorrência de disfunção ventricular esquerda, seja ela
crônica ou aguda (isquêmica, induzida pelo estresse). A dilatação isquêmica transitória
do VE também traduz a ocorrência de isquemia extensa, sendo seu mecanismo
relacionado provavelmente à ocorrência de isquemia subendocárdica difusa18.
Referências
Ilan Gottlieb
Marcelo Hadlich
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 52 anos, queixa-se há um mês de dor torácica opressiva sem
irradiação, que aparece no início da atividade física e passa após alguns minutos e
também aparece esporadicamente em repouso.
Figura 1
AngioTC coronariana do paciente relatado, mostrando as reconstruções das curvas dos vasos.
CD=coronária direita; DA=descendente anterior; Cx=circunflexa) e a reconstrução volumétrica 3D (colorida).
OBJETIVOS
1. Descrever a performance da angioTC coronariana no diagnóstico de doença
coronariana obstrutiva.
2. Identificar os grupos populacionais que se beneficiam da angioTCC na
investigação de DAC obstrutiva.
3. Analisar as limitações e contraindicações do método.
4. Avaliar o poder prognóstico da angioTCC.
5. Discutir como analisar e o que fazer com os resultados do exame.
PERGUNTAS
1. Qual a acurácia da angioTCC na avaliação de DAC obstrutiva?
Artefatos gerados por estruturas densas como stents e calcificações são problemáticos
para a avaliação da angioTCC, uma vez que a representação por imagem dessas
estruturas tende a ser expandida na angioTCC, fazendo com que uma densa calcificação
possa, por exemplo, impedir a análise do lúmen residual do vaso (tecnicamente chama-
se de artefato de blooming).
Além disso, em paciente revascularizado com seis pontes e três stents, apresentando-se
com dor torácica, a chance de serem encontradas lesões moderadas e de difícil análise
pela angioTCC aumenta muito. Apesar de a angioTCC ter grande habilidade na
avaliação dos enxertos ou pontes em parte considerável dos casos, o responsável pela
clínica do paciente é alguma lesão no leito nativo. Nesses casos, o raciocínio
propedêutico não é o de excluir a doença, mas sim de confirmá-la, uma vez que a
probabilidade pré-teste é muito alta. Para isso, os exames funcionais são mais bem
indicados como primeiro exame - sendo a angioTCC indicada nos raros casos onde
ainda restar dúvida diagnóstica.
Um teste ergométrico é mais barato do que uma angioTCC, mas sua baixa acurácia para
o diagnóstico de DAC obstrutiva (sensibilidade e especificidade próximas a 70% em
comparação com 95% e 90%, respectivamente) pode fazer com que o número de falso-
positivos (gerando mais exames desnecessariamente) e falso-negativos suplante o baixo
custo inicial do exame.
Com grande certeza, sabe-se que a localização das lesões e seu grau de estenose são
importantes determinantes de prognóstico. Quanto mais proximal e mais severa é a
lesão, pior é o prognóstico do paciente. A informação anatômica isolada se mostrou tão
potente marcador prognóstico e guia terapêutico quanto as diretrizes de
revascularização miocárdica de pacientes com DAC crônica. Estas indicam a
revascularização do paciente com lesão de tronco de coronária esquerda e de lesão de
DA proximal mais um vaso, independente da informação anatômica.
Portanto, os estudos funcionais e os anatômicos estratificam o paciente de forma
semelhante: ambos localizam a lesão e determinam o grau de estenose. Quanto mais
extensa a área isquêmica mais proximal a lesão, e quanto mais intensa a isquemia, mais
estenótica é a lesão. Entende-se que ambos os estudos servem ao mesmo propósito; a
questão é a seleção ideal dos pacientes para um ou outro método, e é essa seleção o
motivo pelo qual os cardiologistas clínicos devem conhecer muito bem os métodos de
imagem.
São três os motivos principais de se enviar os pacientes com menor probabilidade pré-
teste aos estudos anatômicos (angioTCC) e de maior probabilidade para estudos
funcionais:
5. Escore de cálcio zero pode ser usado isoladamente para descartar doença
coronariana em pacientes sintomáticos?
Mas esse não é o caso dos pacientes sintomáticos, cuja prevalência de doença
coronariana obstrutiva pode tender para o lado oposto, especialmente daqueles na sala
de emergência, cujos sintomas frequentemente são ocasionados por placas instáveis. Há
amplo reconhecimento da importância do correto diagnóstico de dor torácica na sala de
emergência.
Outra razão pela qual o escore de cálcio isoladamente não é um teste adequado para
diagnóstico de doença coronariana na sala de emergência é a baixa prevalência de
escore zero nesses pacientes, sendo inferior a 20% na maior parte dos estudos. Como
só há interesse no resultado negativo (escore zero), fazer um teste que só rende
resultados úteis em apenas 20% dos casos é claramente longe do ideal23.
Apesar de ser prática clínica incluir pacientes em alto risco clínico para eventos
cardiovasculares (≥20% em 10 anos) em protocolos de profilaxia secundária, não há
estudos randomizados demonstrando que essa estratégia diminui eventos ou é custo-
eficaz. Apesar da carência de estudos, é costume (inclusive amparados por diretrizes5)
titular a terapêutica dos pacientes de acordo com seu risco.
Esse discurso lógico não precisaria ser abordado, não fosse frequente a argumentação
que a angioTCC não deve ser usada para guiar o tratamento clínico porque não há
estudos que atestam o benefício dessa estratégia. Seria então também necessário não
guiar o tratamento clínico baseado em exame físico, dados laboratoriais,
eletrocardiograma e escores clínicos, uma vez que eles também não foram testados em
estudos clínicos. Vale dizer que o conceito a ser testado é o tratamento agressivo de
pacientes em alto risco, seja pela angioTCC ou por qualquer outro método.
Há três riscos ao paciente a serem ponderados quando se realiza uma angioTCC: risco
de alergia ou nefropatia ao contraste iodado, risco decorrente da exposição à radiação
ionizante e risco de diagnóstico errado.1. Risco decorrente da exposição ao contraste:
recente estudo retrospectivo realizado na Clínica Mayo25 nos EUA, com 450.000
pacientes, demonstrou que apenas 0,02% dos pacientes expostos necessitaram de
tratamento de emergência após o uso de contraste. Um paciente morreu. O risco de
nefropatia em pacientes predispostos (diabéticos com proteinúria e pacientes com
clearance de creatinina inferior a 60ml/min) deve ser considerado cuidadosamente.
Tomógrafos de última geração de grande cobertura com 256 canais geralmente expõem
o paciente a de 2-4mSv, semelhante à dose de radiação de fundo que se recebe
anualmente por exposição ambiental. Estudos com tomógrafos de 64 canais mostram
que a dose usual é de 8-13mSv, muito semelhante ao descrito para uma cintilografia do
miocárdio com estresse. Para efeito de comparação, uma mamografia realizada para
rastreamento de câncer de mama expõe aproximadamente 0,5mSv.26
3. Risco de diagnóstico errôneo: se uma angioTC é falso-positiva, pode-se expor o
paciente ao risco de cateterismo cardíaco; se é falso-negativa pode-se expor o paciente
ao risco decorrente do não tratamento. Mas como já mencionado, a angioTCC é a mais
acurada para detecção de DAC obstrutiva, assim que esses riscos em outros exames são
mais elevados.
Referências
1. Miller JM, Rochitte CE, Dewey M, Arbab-Zadeh A, Niinuma H, Gottlieb I,
et al. Diagnostic performance of coronary angiography by 64-row CT. N Engl
J Med. 2008;359(22):2324-36.
2. Budoff MJ, Dowe D, Jollis JG, Gitter M, Sutherland J, Halamert E, et al.
Diagnostic performance of 64-multidetector row coronary computed
tomographic angiography for evaluation of coronary artery stenosis in
individuals without known coronary artery disease: results from the
prospective multicenter ACCURACY (Assessment by Coronary Computed
Tomographic Angiography of Individuals Undergoing Invasive Coronary
Angiography) trial. J Am Coll Cardiol. 2008;52(21):1724-32.
3. Meijer AB, O YL, Geleijns J, Kroft LJ. Meta-analysis of 40- and 64-MDCT
angiography for assessing coronary artery stenosis. AJR Am J Roentgenol
2008;191(6):1667-75.
4. von Ballmoos MW, Haring B, Juillerat P, Alkadhi H. Meta-analysis:
diagnostic performance of low-radiation-dose coronary computed
tomography angiography. Ann Intern Med. 2011;154(6):413-20. Erratum in:
Ann Intern Med. 2011;154(12):848.
5. Fraker TD Jr, Fihn SD; 2002 Chronic Stable Angina Writing Committee;
American College of Cardiology; American Heart Association, Gibbons RJ,
Abrams J, Chatterjee K, Daley J, Deedwania PC, Douglas JS, et al. 2007
chronic angina focused update of the ACC/AHA 2002 guidelines for the
management of patients with chronic stable angina: a report of the American
College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines Writing Group to develop the focused update of the 2002
guidelines for the management of patients with chronic stable angina. J Am
Coll Cardiol. 2007;50(23):2264-74. Erratum in: J Am Coll Cardiol.
2007;50(23):e1.
6. Rosamond W, Flegal K, Friday G, Furie K, Go A, Greenlund K, Haase N, et
al; American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics
Subcommittee. Heart disease and stroke statistics--2007 update: a report
from the American Heart Association Statistics Committee and Stroke
Statistics Subcommittee. Circulation. 2007;115(5):e69-171. Erratum in:
Circulation. 2007;115(5):e172; 2010;122(1):e9.
7. Patel MR, Peterson ED, Dai D, Brennan JM, Redberg RF, Anderson HV, et
al. Low diagnostic yield of elective coronary angiography. N Engl J Med.
2010;362(10):886-95. Erratum in: N Engl J Med. 2010;363(5):498.
8. Goldstein JA, Chinnaiyan KM, Abidov A, Achenbach S, Berman DS, Hayes
SW, et al; CT-STAT Investigators. The CT-STAT (Coronary Computed
Tomographic Angiography for Systematic Triage of Acute Chest Pain Patients
to Treatment) trial. J Am Coll Cardiol. 2011;58(14):1414-22.
9. Priest VL, Scuffham PA, Hachamovitch R, Marwick TH. Cost-effectiveness
of coronary computed tomography and cardiac stress imaging in the
emergency department: a decision analytic model comparing diagnostic
strategies for chest pain in patients at low risk of acute coronary syndromes.
JACC Cardiovasc Imaging. 2011;4(5):549-56.
10. Min JK, Gilmore A, Budoff MJ, Berman DS, O’Day K. Cost-effectiveness of
coronary CT angiography versus myocardial perfusion SPECT for evaluation
of patients with chest pain and no known coronary artery disease. Radiology.
2010;254(3):801-8.
11. Hulten EA, Carbonaro S, Petrillo SP, Mitchell JD, Villines TC. Prognostic
value of cardiac computed tomography angiography: a systematic review and
meta-analysis. J Am Coll Cardiol. 2011;57(10):1237-47.
12. Cheezum MK, Hulten EA, Taylor AJ, Gibbs BT, Hinds SR, Feuerstein IM, et
al. Cardiac CT angiography compared with myocardial perfusion stress
testing on downstream resource utilization. J Cardiovasc Comput Tomogr.
2011;5(2):101-9.
13. Min JK, Shaw LJ, Devereux RB, Okin PM, Weinsaft JW, Russo DJ, et al.
Prognostic value of multidetector coronary computed tomographic
angiography for prediction of all-cause mortality. J Am Coll Cardiol.
2007;50(12):1161-70.
14. Kazmi MH, Small G, Sleiman L, Chow BJ. Determining patient prognosis
using computed tomography coronary angiography. Expert Rev Med Devices.
2011;8(5):647-57.
15. Chow BJ, Small G, Yam Y, Chen L, Achenbach S, Al-Mallah M, et al;
CONFIRM Investigators. Incremental prognostic value of cardiac computed
tomography in coronary artery disease using CONFIRM: COroNary
computed tomography angiography evaluation for clinical outcomes: an
InteRnational Multicenter registry). Circ Cardiovascular Imaging.
2011;4(5):463-72.
16. Budoff MJ, Shaw LJ, Liu ST, Liu ST, Weinstein SR, Mosler TP, Tseng PH, et
al. Long-term prognosis associated with coronary calcification: observations
from a registry of 25,253 patients. J Am Coll Cardiol. 2007;49(18):1860-70.
17. Little WC, Downes TR, Applegate RJ. The underlying coronary lesion in
myocardial infarction: implications for coronary angiography. Clin Cardiol.
1991;14(11):868-74.
18. Davies MJ, Thomas A. Thrombosis and acute coronary-artery lesions in
sudden cardiac ischemic death. N Engl J Med. 1984;310(18):1137-40.
19. Stary HC, Chandler AB, Dinsmore RE, Fuster V, Glagov S, Insull W Jr, et al.
A definition of advanced types of atherosclerotic lesions and a histological
classification of atherosclerosis. A report from the Committee on Vascular
Lesions of the Council on Arteriosclerosis, American Heart Association.
Arterioscler Thromb Vasc Biol. 1995;15(9):1512-31.
20. Diamond GA, Forrester JS. Analysis of probability as an aid in the clinical
diagnosis of coronary-artery disease. N Engl J Med. 1979;300(24):1350-8.
21. Gottlieb I, Miller JM, Arbab-Zadeh A, Dewey M, Clouse ME, Sara L, et al.
The absence of coronary calcification does not exclude obstructive coronary
artery disease or the need for revascularization in patients referred for
conventional coronary angiography. J Am Coll Cardiol. 2010;55(7):627-34.
22. Villines TC, Hulten EA, Shaw LJ, Goyal M, Dunning A, Achenbach S, et al;
CONFIRM Registry Investigators. Prevalence and severity of coronary artery
disease and adverse events among symptomatic patients with coronary artery
calcification scores of zero undergoing coronary computed tomography
angiography: results from the CONFIRM (Coronary CT Angiography
Evaluation for Clinical Outcomes: An International Multicenter) registry. J
Am Coll Cardiol. 2011;58(24):2533-40.
23. Amsterdam EA, Kirk JD, Bluemke DA, Diercks D, Farkouh ME, Garvey JL,
et al; American Heart Association Exercise, Cardiac Rehabilitation, and
Prevention Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on
Cardiovascular Nursing, and Interdisciplinary Council on Quality of Care and
Outcomes Research. Testing of low-risk patients presenting to the emergency
department with chest pain: a scientific statement from the American Heart
Association. Circulation 2010;122(17):1756-76. Erratum in: Circulation.
2010;122(17):e500-1.
24. Min JK, Dunning A, Lin FY, Achenbach S, Al-Mallah M, Budoff MJ, et al;
CONFIRM Investigators. Age- and sex-related differences in all-cause
mortality risk based on coronary computed tomography angiography findings:
results from the International Multicenter CONFIRM (Coronary CT
Angiography Evaluation for Clinical Outcomes: An International Multicenter
Registry) of 23,854 patients without known coronary artery disease. J Am
Coll Cardiol. 2011;58(8):849-60.
25. Hunt CH, Hartman RP, Hesley GK. Frequency and severity of adverse effects
of iodinated and gadolinium contrast materials: retrospective review of
456,930 doses. AJR Am J Roentgenol. 2009;193(4):1124-7.
26. NHSBPSP 54. Review of radiation risk in breast screening. Report by a joint
working party of the NHSBSP National Coordinating Group for Physics
Quality Assurance and the National Radiological Protection Board. NHS
Cancer Screening Programmes 2003. [cited 2012 Jan 15]. Available from:
<http://www.cancerscreening.nhs.uk/breastscreen/publications/mp-rrbs-
01.html>
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA CARDÍACA
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 54 anos, portador de hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia,
relata que há cerca de 3 horas iniciou quadro de dor precordial súbita, em aperto, de
forte intensidade (10+/10+), com irradiação para o membro superior esquerdo.
Procurou atendimento médico de emergência e constatou-se que o paciente estava
apresentando um quadro de infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento
ST anterior extenso (supra de até 3mm em V1-V6 e DI e aVf).
OBJETIVOS
PERGUNTAS
No caso clínico apresentado, assim como em outras situações que envolvam pacientes
portadores de cardiopatia de etiologia isquêmica, a RMC é capaz de proporcionar
informações relacionadas ao diagnóstico e caracterização das regiões de infarto
agudo do miocárdio (IAM) e sobre a presença e extensão de áreas de isquemia
miocárdica. Além disso, a RMC também é capaz de determinar se existe ou não
viabilidade miocárdica significativa, tanto na fase aguda e subaguda pós-IAM, como na
fase crônica no caso de pacientes portadores de cardiomiopatia dilatada de etiologia
isquêmica.
Figura 1
Imagens representativas, demonstrando a avaliação do infarto agudo do miocárdico pela RMC com técnica de realce
tardio. Nas imagens adquiridas utilizando-se a técnica do realce tardio, as regiões de infarto (necrose e/ou fibrose)
aparecem realçadas (brancas) e o tecido miocárdico normal apresenta baixa intensidade de sinal (escuro). Neste
exemplo pode-se notar uma grande área de infarto agudo do miocárdio acometendo as paredes inferior e inferolateral
do VE. Note-se que é possível avaliar a transmuralidade do infarto, que neste caso é predominantemente transmural.
Em A: Corte transversal do VE na porção medioventricular.
Em B: Corte do eixo longo de 3 câmaras.
Diversos estudos prévios já demonstraram que a RMC com técnica de realce tardio
permite a delimitação precisa das áreas de necrose ou fibrose miocárdica nos pacientes
com infarto prévio2,8,10-13. Em especial, Kim et al.2 demonstraram de forma contundente
uma correlação quase perfeita entre os valores de massa infartada obtidos pela RMC e
pela anatomia patológica (coloração por TTC), tanto nos infartos agudos (R=0,99,
p<0,001) e subagudos (R=0,99, p<0,001), como nos crônicos (R=0,97, p<0,001)2.
Devido a sua excelente resolução espacial, a RMC permite a caracterização detalhada
não apenas dos grandes infartos transmurais, mas também dos pequenos infartos
subendocárdicos14. Mesmo os pequenos infartos focais relacionados a procedimentos
de intervenção percutânea são prontamente identificados15.
Uma avaliação diagnóstica não invasiva capaz de fazer a distinção entre lesão
miocárdica irreversível (necrose) e atordoamento ou hibernação miocárdica (lesão
reversível), apresenta grande importância no processo de tomada da decisão
terapêutica. Ela permite selecionar melhor os portadores de DAC e disfunção
ventricular esquerda com maior potencial de se beneficiarem dos procedimentos de
revascularização miocárdica. Pacientes com áreas substanciais de miocárdio viável em
territórios disfuncionais apresentam melhor evolução e sobrevida após intervenções de
revascularização do que pacientes nos quais a disfunção ventricular é causada
predominantemente por necrose e/ou fibrose miocárdica24,25.
Importante estudo desenvolvido por Kim et al.3 demonstrou que é possível determinar a
viabilidade miocárdica regional através da avaliação da transmuralidade das áreas de
infarto nas imagens de realce tardio. Assim, segmentos sem infarto ou com infarto de
menos de 50% de acometimento transmural (subendocárdico), apresentaram
recuperação funcional após revascularização do miocárdio e foram, portanto, definidos
como viáveis. Por outro lado, segmentos com infarto acometendo mais de 50% da
espessura parietal foram definidos como não viáveis, já que não apresentaram
recuperação funcional. Baseado nesses critérios, o VPP e VPN da RMC para a
determinação da viabilidade miocárdica foram, respectivamente, 88% e 89%3.
Klein et al.29, em outro importante estudo, compararam diretamente a RMC e o PET, até
então considerado o método padrão-ouro29. A conclusão principal do estudo é que os
dois métodos apresentam excelente grau de concordância para a determinação da
viabilidade miocárdica. Em análise por segmentos, considerando o PET como o
padrão-ouro, a RMC apresentou sensibilidade de 86% e especificidade de 94%. Já na
análise por pacientes, a mais importante do ponto de vista clínico, a RMC apresentou
sensibilidade de 96% e especificidade de 100% para a determinação da viabilidade
miocárdica29. Entretanto, é importante salientar que a maior parte dos casos de
discordância entre os dois métodos ocorreu nos pacientes com pequenos infartos
subendocárdicos, nos quais o PET, devido a sua baixa resolução espacial, não foi capaz
de detectar as regiões de fibrose miocárdica.
O caso clínico descrito exemplifica exatamente esse tipo de situação. No primeiro dia
pós-IAM o ecocardiograma transtorácico evidenciava grande região de disfunção
segmentar no território da artéria descendente anterior. Entretanto, naquele momento
não era possível determinar se as regiões de acinesia eram secundárias a atordoamento
miocárdico ou necrose irreversível. Convencionalmente, essa resposta só era
esclarecida através do acompanhamento evolutivo da disfunção segmentar. Se houvesse
melhora evolutiva tratava-se de atordoamento; se não, de necrose.
O paciente do caso clínico descrito foi submetido à RMC no segundo dia pós-IAM. Nas
imagens de cine-RM ainda se observava grande região de disfunção segmentar na
parede anterosseptal (Figura 2). Entretanto, as imagens de realce tardio revelaram
apenas uma pequena área de infarto subendocárdico no território da artéria descendente
anterior, sugerindo que a maior parte do território disfuncional representava apenas
atordoamento miocárdico (Figura 2). De fato, no exame de RMC evolutivo, realizado
seis meses após o IAM, o paciente apresentou significativa melhora da função regional
e normalização da função global. Manteve apenas uma pequena área de acinesia no
segmento apical do VE (Figura 2).
Figura 2
Imagens representativas, evidenciando a capacidade da RMC em predizer o grau de recuperação funcional do VE
após um infarto agudo do miocárdio. Na fase aguda do IAM, as imagens de cine-RM evidenciam grande região de
disfunção segmentar na parede anterosseptal (A e B). Entretanto, na imagem de realce tardio, nota-se apenas uma
pequena área de infarto subendocárdico no território da artéria descendente anterior, sugerindo que a maior parte do
território disfuncional represente apenas atordoamento miocárdico (C). De fato, no exame de RMC evolutivo,
realizado seis meses após o IAM, nota-se melhora significativa da função regional e normalização da função global (D
e E). Observa-se apenas uma pequena área de acinesia no segmento apical do VE.
Além de valor diagnóstico, a avaliação da isquemia miocárdica pela RMC também tem
importante valor prognóstico. Quando a RMC de estresse com dobutamina é normal, os
pacientes apresentam uma baixa taxa de eventos39-41. Por outro lado, quando a isquemia
está presente, a taxa de eventos é alta41. A RMC também tem sido utilizada com bons
resultados na avaliação do risco pré-operatório em cirurgias não cardíacas42.
Com relação à aplicação clínica, cabe ressaltar que a combinação das informações
sobre perfusão miocárdica, função regional e injúria miocárdica irreversível (realce
tardio) proporcionada pela RMC, permite uma interpretação mais detalhada e acurada
da resposta cardíaca ao estresse farmacológico. De fato, diversos estudos clínicos que
avaliaram a detecção não invasiva da DAC demonstraram que os resultados da RMC
com estresse farmacológico são excelentes quando comparados à
cineangiocoronariografia invasiva45-47, ao PET46 ou ao SPECT47.
Por outro lado, a angiografia por RMC tem sido utilizada com sucesso na avaliação de
anomalias de trajeto e de enxertos coronarianos. A menor resolução espacial necessária
para observar a emergência e trajeto inicial dos principais vasos coronarianos permite
à angio-RMC ter boa acurácia para a detecção de anomalias coronarianas58. No caso
dos enxertos, seu maior calibre e menor movimentação também conferem ao método
resultados satisfatórios em relação à cineangiocoronariografia invasiva59. Portanto, a
angio-RMC está indicada para a avaliação de coronárias anômalas e para determinar a
patência de enxertos coronarianos.
A fibrose miocárdica intersticial é a via final comum de diversos pacientes com dano
miocárdico e IC de várias etiologias. A presença de realce tardio de padrão
mesocárdico demonstrou correlação com maior taxa de mortalidade global e
hospitalização em pacientes com CMP dilatada de etiologia não isquêmica64 (Figura
5).
Figura 5
Imagens representativas evidenciando o padrão de realce tardio observado na CMP dilatada idiopática.
Num outro estudo, Iles et al.66 avaliaram a presença de fibrose miocárdica difusa em
pacientes com IC através de uma outra técnica de RMC: mapeamento do T1 pós-
contraste66. São utilizadas sequências para o cálculo do tempo de T1 pós-contraste
como um índice de fibrose intersticial difusa. Esse estudo demonstrou que a RMC com
mapeamento em T1 foi capaz de identificar alterações no tempo miocárdico de T1 que
parecem refletir a presença de fibrose difusa nos pacientes com CMP dilatada.
Além de possibilitar uma melhor estratificação prognóstica nos pacientes com CMP
dilatada e disfunção ventricular, a RMC tem demonstrado crescente utilidade como
ferramenta diagnóstica na diferenciação etiológica das diversas cardiomiopatias e
também nos pacientes com suspeita clínica de miocardite67.
As cardiomiopatias infiltrativas muitas vezes são de difícil diagnóstico quando
utilizados apenas os métodos de imagem tradicionais. A biopsia endomiocárdica possui
sensibilidade limitada em diversas situações, devido ao padrão muitas vezes focal do
acometimento miocárdico, além de ser método invasivo e não isento de complicações.
A determinação etiológica do acometimento cardíaco é importante, pois está
diretamente relacionada ao tratamento e à sobrevida67. Padrões característicos de
realce tardio mostram correlação com o processo infiltrativo em diversas condições,
incluindo sarcoidose, cardiomiopatia hipertrófica, doenças do tecido conjuntivo,
endomiocardiofibrose e amiloidose68.
A seguir, serão destacadas algumas doenças em que a RMC pode desempenhar papel
importante tanto na definição diagnóstica, quanto na estratificação prognóstica e
decisão terapêutica.
Figura 8
RMC com técnica de realce tardio na endomiocardiofibrose. Nota-se a presença de fibrose com trombo na região
apical de ambos os ventrículos.
Figura 9
Amiloidose cardíaca: Observa-se no painel A marcada hipertrofia do VE. Padrão típico de realce tardio circunferencial
e acometendo todo o subendocárdio, sem respeitar território coronariano (painel B). Nota-se ainda a ausência de
realce do pool sanguíneo (outro achado característico da RMC na amiloidose).
Fonte: Cummings et al.87
Figura 10
Miocardite com realce tardio de padrão mesocárdico no septo interventricular.
Figura 11
Miocardite com extenso realce tardio de padrão mesocárdico acometendo o septo e as paredes anterior, anterolateral e
inferolateral do VE (A e B). Edema miocárdico com áreas de hipersinal nas imagens pesadas em T2 (C).
Figura 12
Miocardite com múltiplos focos de realce tardio de padrão predominantemente epicárdico.
Rochitte et al.82 demostraram que diversos padrões de realce tardio podem ser
encontrados nessa enfermidade, e que determinados padrões podem ser indistinguíveis
da doença cardíaca isquêmica. As regiões de acometimento preferencial pela fibrose
miocárdica são o ápex e a parede inferolateral do VE, já descritos em diversos estudos
patológicos prévios. O grau de fibrose miocárdica detectada pela RMC se correlaciona
diretamente com a gravidade da forma clínica na doença de Chagas e inversamente com
a fração de ejeção, sendo que a presença de fibrose miocárdica é um marcador de
gravidade da doença. Além disso, o realce tardio é capaz de identificar o envolvimento
cardíaco em pacientes soropositivos e sem sintomas clínicos ou anormalidades da
contratilidade segmentar do VE, podendo ser um marcador subclínico de doença
cardíaca.
Nas lesões estenóticas, com o mapeamento de fluxo por contraste de fase, é possível
calcular o pico de velocidade através da valva e estimar o grau de estenose (gradiente
pressórico), utilizando a equação de Bernoulli. Nas lesões regurgitantes, uma vantagem
da RMC é a sua capacidade de proporcionar uma avaliação quantitativa precisa do
volume regurgitante83. Essa informação, combinada com a avaliação acurada da função
e volume ventriculares, auxiliam na decisão terapêutica com relação à intervenção
valvar. Estudos recentes demonstraram que a avaliação das regiões de fibrose
miocárdica pela técnica do realce tardio proporciona informações prognósticas
importantes nos pacientes com doença valvar aórtica grave85,86.
Nas últimas duas décadas, graças a avanços tecnológicos significativos, a RMC vem se
tornando uma ferramenta diagnóstica extremamente versátil na avaliação dos portadores
de doença cardíaca isquêmica. Proporciona informações detalhadas sobre a
contratilidade segmentar, perfusão miocárdica regional e sobre as regiões de necrose
ou fibrose miocárdicas. Dessa forma, em um único exame, ela é capaz de determinar a
presença de isquemia miocárdica, avaliar a viabilidade regional e caracterizar as
regiões de infarto do miocárdio. A RMC vem sendo considerada cada vez mais a
modalidade diagnóstica de escolha para avaliação da viabilidade miocárdica e
detecção de infarto miocárdico.
Referências
1. Lima JA, Judd RM, Bazille A, Schulman SP, Atalar E, Zerhouni EA.
Regional heterogeneity of human myocardial infarcts demonstrated by
contrast-enhanced MRI. Potential mechanisms. Circulation. 1995;92(5):1117-
25.
2. Kim RJ, Fieno DS, Parrish TB, Harris K, Chen EL, Simonetti O, et al.
Relationship of MRI delayed contrast enhancement to irreversible injury,
infarct age, and contractile function. Circulation. 1999;100(19):1992-2002.
3. Kim RJ, Wu E, Rafael A, Chen EL, Parker MA, Simonetti O, et al. The use of
contrast-enhanced magnetic resonance imaging to identify reversible
myocardial dysfunction. N Engl J Med. 2000;343(20):1445-53.
4. Wu E, Judd RM, Vargas JD, Klocke FJ, Bonow RO, Kim RJ. Visualisation of
presence, location, and transmural extent of healed Q-wave and non-Q-wave
myocardial infarction. Lancet. 2001;357(9249):21-8.
5. Simonetti OP, Kim RJ, Fieno DS, Hillenbrand HB, Wu E, Bundy JM, et al.
An improved MR imaging technique for the visualization of myocardial
infarction. Radiology. 2001;218(1):215-23.
6. Diesbourg LD, Prato FS, Wisenberg G, Drost DJ, Marshall TP, Carroll SE, et
al. Quantification of myocardial blood flow and extracellular volumes using a
bolus injection of Gd-DTPA: kinetic modeling in canine ischemic disease.
Magn Reson Med. 1992;23(2):239-53.
7. Saeed M, Wendland MF, Masui T, Higgins CB. Reperfused myocardial
infarctions on T1- and susceptibility-enhanced MRI: evidence for loss of
compartmentalization of contrast media. Magn Reson Med. 1994;31(1):31-9.
8. Kim RJ, Chen EL, Lima JA, Judd RM. Myocardial Gd-DTPA kinetics
determine MRI contrast enhancement and reflect the extent and severity of
myocardial injury after acute reperfused infarction. Circulation.
1996;94(12):3318-26.
9. Rehwald WG, Fieno DS, Chen EL, Kim RJ, Judd RM. Myocardial magnetic
resonance imaging contrast agent concentrations after reversible and
irreversible ischemic injury. Circulation. 2002;105(2):224-9.
10. Rochitte CE, Lima JA, Bluemke DA, Reeder SB, McVeigh ER, Furuta T, et
al. Magnitude and time course of microvascular obstruction and tissue injury
after acute myocardial infarction. Circulation. 1998;98(10):1006-14.
11. Judd RM, Lugo-Olivieri CH, Arai M, Kondo T, Croisille P, Lima JA, et al.
Physiological basis of myocardial contrast enhancement in fast magnetic
resonance images of 2-day-old reperfused canine infarcts. Circulation.
1995;92(7):1902-10.
12. Azevedo Filho CF, Hadlich M, Petriz JLF, Mendonça LA, Moll Filho JN,
Rochitte CE. Quantificação da massa infartada do ventrículo esquerdo pela
ressonância magnética cardíaca. Comparação entre a planimetria e o método
de escore visual semi-quantitativo. Arq Bras Cardiol. 2004;83(2):118-24.
13. Schmidt A, Azevedo CF, Cheng A, Gupta SN, Bluemke DA, Foo TK, et al.
Infarct tissue heterogeneity by magnetic resonance imaging identifies
enhanced cardiac arrhythmia susceptibility in patients with left ventricular
dysfunction. Circulation. 2007;115(15):2006-14.
14. Wagner A, Mahrholdt H, Holly TA, Elliott MD, Regenfus M, Parker M, et al.
Contrast-enhanced MRI and routine single photon emission computed
tomography (SPECT) perfusion imaging for detection of subendocardial
myocardial infarcts: an imaging study. Lancet. 2003;361(9355):374-9.
15. Ricciardi MJ, Wu E, Davidson CJ, Choi KM, Klocke FJ, Bonow RO, et al.
Visualization of discrete microinfarction after percutaneous coronary
intervention associated with mild creatine kinase-MB elevation. Circulation.
2001;103(23):2780-3.
16. Wu KC, Zerhouni EA, Judd RM, Lugo-Olivieri CH, Barouch LA, Schulman
SP, et al. Prognostic significance of microvascular obstruction by magnetic
resonance imaging in patients with acute myocardial infarction. Circulation.
1998;97(8):765-72.
17. Wu KC, Kim RJ, Bluemke DA, Rochitte CE, Zerhouni EA, Becker LC, et al.
Quantification and time course of microvascular obstruction by contrast-
enhanced echocardiography and magnetic resonance imaging following acute
myocardial infarction and reperfusion. J Am Coll Cardiol. 1998;32(6):1756-
64.
18. Azevedo CF, Amado LC, Kraitchman DL, Gerber BL, Edvardsen T, Osman
NF, et al. The effect of intra-aortic balloon counterpulsation on left
ventricular functional recovery early after acute myocardial infarction: a
randomized experimental magnetic resonance imaging study. Eur Heart J.
2005;26(12):1235-41.
19. Azevedo CF, Amado LC, Kraitchman DL, Gerber BL, Osman NF, Rochitte
CE, et al. Persistent diastolic dysfunction despite complete systolic functional
recovery after reperfused acute myocardial infarction demonstrated by tagged
magnetic resonance imaging. Eur Heart J. 2004;25(16):1419-27.
20. Hammermeister KE, DeRouen TA, Dodge HT. Variables predictive of
survival in patients with coronary disease. Selection by univariate and
multivariate analyses from the clinical, electrocardiographic, exercise,
arteriographic, and quantitative angiographic evaluations. Circulation.
1979;59(3):421-30.
21. Braunwald E, Kloner RA. The stunned myocardium: prolonged, postischemic
ventricular dysfunction. Circulation. 1982;66(6):1146-9.
22. Braunwald E, Rutherford JD. Reversible ischemic left ventricular
dysfunction: evidence for the "hibernating myocardium". J Am Coll Cardiol.
1986;8(6):1467-70.
23. Kloner RA, Bolli R, Marban E, Reinlib L, Braunwald E. Medical and
cellular implications of stunning, hibernation, and preconditioning: an NHLBI
workshop. Circulation. 1998;97(18):1848-67.
24. Anselmi M, Golia G, Cicoira M, Tinto M, Nitti MT, Trappolin R, et al.
Prognostic value of detection of myocardial viability using low-dose
dobutamine echocardiography in infarcted patients. Am J Cardiol.
1998;81(12A):21G-8G.
25. Picano E, Sicari R, Landi P, Cortigiani L, Bigi R, Coletta C, et al. Prognostic
value of myocardial viability in medically treated patients with global left
ventricular dysfunction early after an acute uncomplicated myocardial
infarction: a dobutamine stress echocardiographic study. Circulation.
1998;98(11):1078-84.
26. Wellnhofer E, Olariu A, Klein C, Gräfe M, Wahl A, Fleck E, et al. Magnetic
resonance low-dose dobutamine test is superior to SCAR quantification for
the prediction of functional recovery. Circulation. 2004;109(18):2172-4.
27. Rochitte CE, Kim RJ, Hillenbrand HB, Chen EL, Lima JA. Microvascular
integrity and the time course of myocardial sodium accumulation after acute
infarction. Circ Res. 2000;87(8):648-55.
28. Bottomley PA. MR spectroscopy of the human heart: the status and the
challenges. Radiology. 1994;191(3):593-612.
29. Klein C, Nekolla SG, Bengel FM, Momose M, Sammer A, Haas F, et al.
Assessment of myocardial viability with contrast-enhanced magnetic
resonance imaging: comparison with positron emission tomography.
Circulation. 2002;105(2):162-7.
30. Azevedo CF, Cheng S, Lima JA. Cardiac imaging to identify patients at risk
for developing heart failure after myocardial infarction. Curr Heart Fail Rep.
2005;2(4):183-8.
31. Choi KM, Kim RJ, Gubernikoff G, Vargas JD, Parker M, Judd RM.
Transmural extent of acute myocardial infarction predicts long-term
improvement in contractile function. Circulation. 2001;104(10):1101-7.
32. Gerber BL, Garot J, Bluemke DA, Wu KC, Lima JA. Accuracy of contrast-
enhanced magnetic resonance imaging in predicting improvement of regional
myocardial function in patients after acute myocardial infarction. Circulation.
2002;106(9):1083-9.
33. Baer FM, Smolarz K, Jungehülsing M, Theissen P, Sechtem U, Schicha H, et
al. Feasibility of high-dose dipyridamole-magnetic resonance imaging for
detection of coronary artery disease and comparison with coronary
angiography. Am J Cardiol. 1992;69(1):51-6.
34. Baer FM, Voth E, Theissen P, Schicha H, Sechtem U. Gradient-echo magnetic
resonance imaging during incremental dobutamine infusion for the
localization of coronary artery stenoses. Eur Heart J. 1994;15(2):218-25.
35. Baer FM, Voth E, Theissen P, Schneider CA, Schicha H, Sechtem U.
Coronary artery disease: findings with GRE MR imaging and Tc-99m-
methoxyisobutyl-isonitrile SPECT during simultaneous dobutamine stress.
Radiology. 1994;193(1):203-9.
36. Zhao S, Croisille P, Janier M, Roux JP, Plana A, Magnin I, et al. Comparison
between qualitative and quantitative wall motion analyses using dipyridamole
stress breath-hold cine magnetic resonance imaging in patients with severe
coronary artery stenosis. Magn Reson Imaging. 1997;15(8):891-8.
37. Nagel E, Lorenz C, Baer F, Hundley WG, Wilke N, Neubauer S, et al. Stress
cardiovascular magnetic resonance: consensus panel report. J Cardiovasc
Magn Reson. 2001;3(3):267-81.
38. Nagel E, Lehmkuhl HB, Bocksch W, Klein C, Vogel U, Frantz E, et al.
Noninvasive diagnosis of ischemia-induced wall motion abnormalities with
the use of high-dose dobutamine stress MRI: comparison with dobutamine
stress echocardiography. Circulation. 1999;99(6):763-70.
39. Hundley WG, Hamilton CA, Thomas MS, Herrington DM, Salido TB,
Kitzman DW, et al. Utility of fast cine magnetic resonance imaging and
display for the detection of myocardial ischemia in patients not well suited
for second harmonic stress echocardiography. Circulation.
1999;100(16):1697-702.
40. Kuijpers D, Ho KY, van Dijkman PR, Vliegenthart R, Oudkerk M.
Dobutamine cardiovascular magnetic resonance for the detection of
myocardial ischemia with the use of myocardial tagging. Circulation.
2003;107(12):1592-7.
41. Hundley WG, Morgan TM, Neagle CM, Hamilton CA, Rerkpattanapipat P,
Link KM. Magnetic resonance imaging determination of cardiac prognosis.
Circulation. 2002;106(18):2328-33.
42. Rerkpattanapipat P, Morgan TM, Neagle CM, Link KM, Hamilton CA,
Hundley WG. Assessment of preoperative cardiac risk with magnetic
resonance imaging. Am J Cardiol. 2002;90(4):416-9.
43. Giang TH, Nanz D, Coulden R, Friedrich M, Graves M, Al-Saadi N, et al.
Detection of coronary artery disease by magnetic resonance myocardial
perfusion imaging with various contrast medium doses: first European multi-
centre experience. Eur Heart J. 2004;25(18):1657-65.
44. Wolff SD, Schwitter J, Coulden R, Friedrich MG, Bluemke DA, Biederman
RW, et al. Myocardial first-pass perfusion magnetic resonance imaging: a
multicenter dose-ranging study. Circulation. 2004;110(6):732-7.
45. Nagel E, Klein C, Paetsch I, Hettwer S, Schnackenburg B, Wegscheider K, et
al. Magnetic resonance perfusion measurements for the noninvasive detection
of coronary artery disease. Circulation. 2003;108(4):432-7.
46. Schwitter J, Nanz D, Kneifel S, Bertschinger K, Büchi M, Knüsel PR, et al.
Assessment of myocardial perfusion in coronary artery disease by magnetic
resonance: a comparison with positron emission tomography and coronary
angiography. Circulation. 2001;103(18):2230-5.
47. Schwitter J, Wacker CM, van Rossum AC, Lombardi M, Al-Saadi N,
Ahlstrom H, et al. MR-IMPACT: comparison of perfusion-cardiac magnetic
resonance with single-photon emission computed tomography for the
detection of coronary artery disease in a multicentre, multivendor,
randomized trial. Eur Heart J. 2008;29(4):480-9.
48. Al-Saadi N, Nagel E, Gross M, Schnackenburg B, Paetsch I, Klein C, et al.
Improvement of myocardial perfusion reserve early after coronary
intervention: assessment with cardiac magnetic resonance imaging. J Am Coll
Cardiol. 2000;36(5):1557-64.
49. Lauerma K, Virtanen KS, Sipilä LM, Hekali P, Aronen HJ. Multislice MRI in
assessment of myocardial perfusion in patients with single-vessel proximal
left anterior descending coronary artery disease before and after
revascularization. Circulation. 1997;96(9):2859-67.
50. Sipola P, Lauerma K, Husso-Saastamoinen M, Kuikka JT, Vanninen E,
Laitinen T, et al. First-pass MR imaging in the assessment of perfusion
impairment in patients with hypertrophic cardiomyopathy and the Asp175Asn
mutation of the alpha-tropomyosin gene. Radiology. 2003;226(1):129-37.
51. Panting JR, Gatehouse PD, Yang G-Z, Grothues F, Firmin DN, Collins P, et al.
Abnormal subendocardial perfusion in cardiac syndrome X detected by
cardiovascular magnetic resonance imaging. N Engl J Med.
2002;346(25):1948-53.
52. Ishida M, Sakuma H, Kato N, Ishida N, Kitagawa K, Shimono T, et al.
Contrast-enhanced MR imaging for evaluation of coronary artery disease
before elective repair of aortic aneurysm. Radiology. 2005;237(2):458-64.
53. Kwong RY, Schussheim AE, Rekhraj S, Aletras AH, Geller N, Davis J, et al.
Detecting acute coronary syndrome in the emergency department with cardiac
magnetic resonance imaging. Circulation. 2003;107(4):531-7.
54. Bluemke DA, Achenbach S, Budoff M, Gerber TC, Gersh B, Hillis LD, et al.
Noninvasive coronary artery imaging: magnetic resonance angiography and
multidetector computed tomography angiography: a scientific statement from
the american heart association committee on cardiovascular imaging and
intervention of the council on cardiovascular radiology and intervention, and
the councils on clinical cardiology and cardiovascular disease in the young.
Circulation. 2008;118(5):586-606.
55. Kim WY, Danias PG, Stuber M, Flamm SD, Plein S, Nagel E, et al. Coronary
magnetic resonance angiography for the detection of coronary stenoses. N
Engl J Med. 2001;345(26):1863-9.
56. American College of Cardiology Foundation Task Force on Expert Concensus
Documents, Hundley WG, Bluemke DA, Finn JP, Flamm SD, Fogel MA,
Friedrich MG, et al. ACCF/ACR/AHA/NASCI/SCMR 2010 Expert
Consensus Document on Cardiovascular Magnetic Resonance: a report of the
American College of Cardiology Foundation Task Force on Expert Consensus
Documents. Circulation. 2010;121(22):2462-508.
57. Grupo de Estudo em Ressonância e Tomografia Cardiovascular (GERT) do
Departamento de Cardiologia Clínica da Sociedade Brasileira de
Cardiologia, Rochitte CE, Pinto IM, Fernandes JL, Filho CF, Jatene A,
Carvalho AC, et al. [Cardiovascular magnetic resonance and computed
tomography imaging guidelines of the Brazilian Society of Cardiology]. Arq
Bras Cardiol. 2006;87(3):e60-100.
58. Post JC, van Rossum AC, Bronzwaer JG, de Cock CC, Hofman MB, Valk J,
et al. Magnetic resonance angiography of anomalous coronary arteries. A new
gold standard for delineating the proximal course? Circulation.
1995;92(11):3163-71.
59. Gomes AS, Lois JF, Drinkwater DC Jr, Corday SR. Coronary artery bypass
grafts: visualization with MR imaging. Radiology. 1987;162(1 Pt 1):175-9.
60. Grothues F, Moon JC, Bellenger NG, Smith GS, Klein HU, Pennell DJ.
Interstudy reproducibility of right ventricular volumes, function, and mass
with cardiovascular magnetic resonance. Am Heart J. 2004;147(2):218-23.
61. Sakuma H, Fujita N, Foo TK, Caputo GR, Nelson SJ, Hartiala J, et al.
Evaluation of left ventricular volume and mass with breath-hold cine MR
imaging. Radiology. 1993;188(2):377-80.
62. Kwon DH, Halley CM, Carrigan TP, Zysek V, Popovic ZB, Setser R, et al.
Extent of left ventricular scar predicts outcomes in ischemic cardiomyopathy
patients with significantly reduced systolic function: a delayed
hyperenhancement cardiac magnetic resonance study. JACC Cardiovasc
Imaging. 2009;2(1):34-44.
63. Casolo G, Minneci S, Manta R, Sulla A, Del Meglio J, Rega L, et al.
Identification of the ischemic etiology of heart failure by cardiovascular
magnetic resonance imaging: diagnostic accuracy of late gadolinium
enhancement. Am Heart J. 2006;151(1):101-8.
64. Assomull RG, Prasad SK, Lyne J, Smith G, Burman ED, Khan M, et al.
Cardiovascular magnetic resonance, fibrosis, and prognosis in dilated
cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol. 2006;48(10):1977-85.
65. Wu KC, Weiss RG, Thiemann DR, Kitagawa K, Schmidt A, Dalal D, et al.
Late gadolinium enhancement by cardiovascular magnetic resonance heralds
an adverse prognosis in nonischemic cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol.
2008;51(25):2414-21.
66. Iles L, Pfluger H, Phrommintikul A, Cherayath J, Aksit P, Gupta SN, et al.
Evaluation of diffuse myocardial fibrosis in heart failure with cardiac
magnetic resonance contrast-enhanced T1 mapping. J Am Coll Cardiol.
2008;52(19):1574-80.
67. Mahrholdt H, Wagner A, Judd RM, Sechtem U, Kim RJ. Delayed
enhancement cardiovascular magnetic resonance assessment of non-ischaemic
cardiomyopathies. Eur Heart J. 2005;26(15):1461-74.
68. Bogaert J, Taylor AM, Van Kerkhove F, Dymarkowski S. Use of inversion
recovery contrast-enhanced MRI for cardiac imaging: spectrum of
applications. AJR Am J Roentgenol. 2004;182(3):609-15.
69. To AC, Dhillon A, Desai MY. Cardiac magnetic resonance in hypertrophic
cardiomyopathy. JACC Cardiovasc Imaging. 2011;4(10):1123-37.
70. Bogaert J, Goldstein M, Tannouri F, Golzarian J, Dymarkowski S. Original
report. Late myocardial enhancement in hypertrophic cardiomyopathy with
contrast-enhanced MR imaging. AJR Am J Roentgenol. 2003;180(4):981-5.
71. Adabag AS, Maron BJ, Appelbaum E, Harrigan CJ, Buros JL, Gibson CM, et
al. Occurrence and frequency of arrhythmias in hypertrophic cardiomyopathy
in relation to delayed enhancement on cardiovascular magnetic resonance. J
Am Coll Cardiol. 2008;51(14):1369-74.
72. O'Hanlon R, Grasso A, Roughton M, Moon JC, Clark S, Wage R, et al.
Prognostic significance of myocardial fibrosis in hypertrophic
cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol. 2010;56(11):867-74.
73. Bruder O, Wagner A, Jensen CJ, Schneider S, Ong P, Kispert EM, et al.
Myocardial scar visualized by cardiovascular magnetic resonance imaging
predicts major adverse events in patients with hypertrophic cardiomyopathy.
J Am Coll Cardiol. 2010;56(11):875-87.
74. Patel MR, Cawley PJ, Heitner JF, Klem I, Parker MA, Jaroudi WA, et al.
Detection of myocardial damage in patients with sarcoidosis. Circulation.
2009;120(20):1969-77.
75. Maceira AM, Joshi J, Prasad SK, Moon JC, Perugini E, Harding I, et al.
Cardiovascular magnetic resonance in cardiac amyloidosis. Circulation.
2005;111(2):186-93.
76. Syed IS, Glockner JF, Feng D, Araoz PA, Martinez MW, Edwards WD, et al.
Role of cardiac magnetic resonance imaging in the detection of cardiac
amyloidosis. JACC Cardiovasc Imaging. 2010;3(2):155-64.
77. Austin BA, Tang WH, Rodriguez ER, Tan C, Flamm SD, Taylor DO, et al.
Delayed hyper-enhancement magnetic resonance imaging provides
incremental diagnostic and prognostic utility in suspected cardiac
amyloidosis. JACC Cardiovasc Imaging. 2009;2(12):1369-77.
78. American College of Cardiology Foundation Task Force on Expert Consensus
Documents, Hundley WG, Bluemke DA, Finn JP, Flamm SD, Fogel MA,
Friedrich MG, et al. ACCF/ACR/AHA/NASCI/SCMR 2010 Expert
Consensus Document on Cardiovascular Magnetic Resonance: a report of the
American College of Cardiology Foundation Task Force on Expert Consensus
Documents. J Am Coll Cardiol. 2010;55(23):2614-62.
79. Abdel-Aty H, Boyé P, Zagrosek A, Wassmuth R, Kumar A, Messroghli D, et
al. Diagnostic performance of cardiovascular magnetic resonance in patients
with suspected acute myocarditis: comparison of different approaches. J Am
Coll Cardiol. 2005;45(11):1815-22.
80. Friedrich MG, Sechtem U, Schulz-Menger J, Holmvang G, Alakija P, Cooper
LT, et al; International Consensus Group on Cardiovascular Magnetic
Resonance in Myocarditis. Cardiovascular magnetic resonance in
myocarditis: A JACC White Paper. J Am Coll Cardiol. 2009;53(17):1475-
87.
81. Zagrosek A, Abdel-Aty H, Boyé P, Wassmuth R, Messroghli D, Utz W, et al.
Cardiac magnetic resonance monitors reversible and irreversible myocardial
injury in myocarditis. JACC Cardiovasc Imaging. 2009;2(2):131-8.
82. Rochitte CE, Oliveira PF, Andrade JM, Ianni BM, Parga JR, Avila LF, et al.
Myocardial delayed enhancement by magnetic resonance imaging in patients
with Chagas' disease: a marker of disease severity. J Am Coll Cardiol.
2005;46(8):1553-8.
83. Cawley PJ, Maki JH, Otto CM. Cardiovascular magnetic resonance imaging
for valvular heart disease: technique and validation. Circulation.
2009;119(3):468-78.
84. Dall'Armellina E, Hamilton CA, Hundley WG. Assessment of blood flow and
valvular heart disease using phase-contrast cardiovascular magnetic
resonance. Echocardiography. 2007;24(2):207-16.
85. Azevedo CF, Nigri M, Higuchi ML, Pomerantzeff PM, Spina GS, Sampaio
RO, et al. Prognostic significance of myocardial fibrosis quantification by
histopathology and magnetic resonance imaging in patients with severe aortic
valve disease. J Am Coll Cardiol. 2010;56(4):278-87.
86. Nigri M, Azevedo CF, Rochitte CE, Schraibman V, Tarasoutchi F,
Pommerantzeff PM, et al. Contrast-enhanced magnetic resonance imaging
identifies focal regions of intramyocardial fibrosis in patients with severe
aortic valve disease: Correlation with quantitative histopathology. Am Heart
J. 2009;157(2):361-8.
87. Cummings KW, Bhalla S, Javidan-Nejad C, Bierhals AJ, Gutierrez FR,
Woodard PK. A pattern-based approach to assessment of delayed
enhancement in nonischemic cardiomyopathy at MR imaging. Radiographics.
2009;29(1):89-103.
Seção 11. Exames complementares
invasivos em Cardiologia
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 48 anos, dislipidêmico, relato de infarto agudo do miocárdio
(IAM) inferior há um mês, em uso de diltiazem, AAS, sinvastatina e nitratos, com
queixas de cansaço progressivo e dor precordial aos médios esforços (angina estável
CCS 2).
PA =110x70mmHg; FC =60bpm. Exame físico sem alterações.
ECG: ritmo sinusal, zona inativa em parede inferior.
Exames laboratoriais normais.
Submetido à cinecoronariografia que mostrou:
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa dos sintomas no
caso relatado e como confirmar o diagnóstico?
1. Deve-se tratar a CD, uma vez que o paciente já teve infarto na região por ela
irrigada? Em outras palavras, existe ainda isquemia na parede inferior?
2. As lesões de DA e do ramo ME são lesões de grau moderado pela
angiografia coronariana quantitativa (QCA). Seriam essas lesões
responsáveis por isquemia ou não? E se forem, vale a pena tratá-las através
de angioplastia?
Sem dúvida, o mais importante fator relacionado com o prognóstico de pacientes com
doença arterial coronariana é a presença e a extensão de isquemia miocárdica. Em
meta-análise publicada em 20041, envolvendo 69.655 pacientes (39 estudos) seguidos
por um período de dois a quatro anos, os autores mostraram que pacientes que
apresentaram algum sinal de isquemia na cintilografia associada ao teste de esforço ou
estresse farmacológico apresentaram taxas de mortalidade e/ou IAM sete vezes maiores
por ano do que pacientes cujos exames foram normais (Figura 1).
Figura 1
Taxa anual de morte ou infarto agudo do miocárdio (IAM) em pacientes com testes não invasivos positivos para
isquemia (alto risco) versus pacientes com testes normais (baixo risco).
Sendo assim, no caso clínico em questão, cabe ao cardiologista confirmar o que precisa
efetivamente ser tratado neste paciente e se esse tratamento deve ser feito através de
angioplastia de um ou mais vasos, cirurgia de revascularização ou apenas tratamento
medicamentoso. Nesse momento, poder-se-ia lançar mão de testes não invasivos, como
a cintilografia do miocárdio, para saber quais territórios deste paciente apresentam-se
isquêmicos. No entanto, sabe-se que a cintilografia apresenta importantes limitações em
pacientes multiarteriais. Em estudo publicado em 2003, Lima et al.2 mostraram que
54% dos pacientes multiarteriais graves (com lesões >70% nos três vasos principais)
submetidos à cintilografia apresentavam uma ou nenhuma área de isquemia, e apenas
10% mostravam três ou mais áreas isquêmicas ao exame.
É nesse contexto que, no caso em discussão, parece ser mais interessante realizar um
estudo funcional invasivo da circulação coronariana através da medida do fluxo
fracionado de reserva do miocárdio (FFR) dos vasos em questão.
O FFR pode ser facilmente determinado, dividindo-se a pressão média distal da artéria
coronária a ser analisada pela pressão média de aorta (medida pelo cateter-guia)
durante hiperemia máxima3,4. Para medir a pressão intracoronariana, utiliza-se uma
corda-guia 0,014” com sensor de pressão (pressure wire) localizado a 3cm de sua
ponta, bastante semelhante à corda-guia utilizada numa angioplastia coronariana
convencional.
Figura 2
Fórmula que permite entender por que o fluxo fracionado de reserva do miocárdio (FFR) é calculado dividindo-se a
pressão distal na artéria coronária (Pd) pela pressão em aorta (PA) durante hiperemia máxima.
Onde:
Qestenose=fluxo na artéria coronária com estenose
QNormal=fluxo na artéria coronária na ausência de estenose
Rmio=resistência miocárdica
Vários estudos foram realizados para determinar o valor de corte do FFR, ou seja,
abaixo de que valor há indicação de isquemia e acima de que valor pode-se descartar a
sua presença5-7. O FFR foi comparado com os testes não invasivos mais importantes na
detecção de isquemia coronariana e apresentou boa correlação com os mesmos5,8. A
Figura 3 mostra uma representação gráfica resumida dos achados desses estudos.
Figura 3
Valor de corte da FFR: 0,75. Valores abaixo de 0,75 em geral indicam isquemia miocárdica; valores acima de 0,80 na
maioria das vezes descartam a presença de isquemia. Nota-se uma zona cinza estreita, entre 0,75 e 0,80, onde deve
prevalecer o bom senso clínico na tomada de decisão quanto a tratar ou não determinada obstrução.
Durante muito tempo utilizou-se o valor de corte de 0,75 para definição de isquemia.
Atualmente, após a publicação do estudo FAME (Fractional Flow Reserve versus
Angiography for Multivessel Evaluation)9, passou-se a utilizar o valor de corte de
0,80 para definição de isquemia, ou seja, quando o FFR de determinado vaso fica
abaixo de 0,80 pode-se dizer, com mais de 90% de acurácia, que esse vaso é
responsável por isquemia miocárdica.
1. Lesões moderadas
2. Doença multiarterial
2. Ponte miocárdica15;
3. Vasos muito tortuosos e calcificados, pela impossibilidade de estabilizar as
medidas pressóricas intracoronarianas;
É importante mencionar que essas condições não impedem a realização do método, mas
alertam sobre a confiabilidade das medidas nesses casos.
Figura 4
Lesão de 50% no terço proximal da artéria descendente anterior (seta verde). O FFR do vaso é 0,73, com gradiente
focal significativo no local da lesão (seta amarela).
Figura 5
Lesão de 60% no terço proximal do ramo marginal esquerdo (círculo vermelho). O FFR do vaso é 0,88, o que significa
que essa lesão não causa isquemia miocárdica.
Figura 6
Lesão segmentar >70% no terço médio da artéria coronária direita (setas vermelhas). O FFR do vaso é 0,59, com
gradiente focal significativo no local da lesão (seta amarela).
Como se pode observar, o FFR das artérias coronárias direita e descendente anterior
foi nitidamente inferior a 0,80. Logo, esses vasos eram responsáveis por isquemia
miocárdica e foram tratados com sucesso por angioplastia com implante de stent, após
o que o FFR se tornou >0,80. Já o FFR do grande ramo marginal esquerdo da artéria
circunflexa foi 0,88 e essa lesão foi tratada de forma conservadora.
Referências
1. Shaw LJ, Iskandrian AE. Prognostic value of gated myocardial perfusion
SPECT. J Nucl Cardiol. 2004;11(2):171-85.
2. Lima RS, Watson DD, Goode AR, Siadaty MS, Ragosta M, Beller GA, et al.
Incremental value of combined perfusion and function over perfusion alone
by gated SPECT myocardial perfusion imaging for detection of severe three-
vessel coronary artery disease. J Am Coll Cardiol. 2003;42(1):64-70.
3. Pijls NH, Van Gelder B, Van Der Voort P, Peels K, Bracke FA, Bonnier HJ, et
al. Fractional flow reserve. A useful index to evaluate the influence of an
epicardial coronary stenosis on myocardial blood flow. Circulation.
1995;92(11):3183-93.
4. De Bruyne B, Bartunek J, Sys SU, Heyndrickx GR. Relation between
myocardial fractional flow reserve calculated from coronary pressure
measurements and exercise-induced myocardial ischemia. Circulation.
1995;92(1):39-46.
5. Pijls NH, De Bruyne B, Peels K, Van Der Voort PH, Bonnier HJ, Bartunek J,
et al. Measurement of fractional flow reserve to assess the functional severity
of coronary-artery stenoses. N Engl J Med. 1996;334(26):1703-8.
6. Pijls NH, De Bruyne B, Bech GJ, Liistro F, Heyndrickx GR, Bonnier HJ, et
al. Coronary pressure measurement to assess the hemodynamic significance
of serial stenoses within one coronary artery: validation in humans.
Circulation. 2000;102(19):2371-7.
7. De Bruyne B, Hersbach F, Pijls NH, Bartunek J, Bech JW, Heyndrickx GR, et
al. Abnormal epicardial coronary resistance in patients with diffuse
atherosclerosis but "normal" coronary angiography. Circulation.
2001;104(20):2401-6.
8. De Bruyne B, Sarma J. Fractional flow reserve: a review. Heart.
2008;94(7):949-59.
9. Tonino PA, De Bruyne B, Pijls NH, Siebert U, Ikeno F, van’t Veer M, et al;
FAME Study Investigators. Fractional flow reserve versus angiography for
guiding percutaneous coronary intervention. N Engl J Med. 2009;360(3):213-
24.
10. Sant’Anna FM, Silva ER, Batista LA, Brito MB, Ventura FM, Ferraz HA, et
al. Qual o erro da angiografia na definição de isquemia miocárdica durante
intervenções coronarianas percutâneas? Arq Bras Cardiol. 2008;91(3):162-
7, 179-84.
11. Bech GJ, De Bruyne B, Pijls NH, de Muinck ED, Hoorntje JC, Escaned J, et
al. Fractional flow reserve to determine the appropriateness of angioplasty in
moderate coronary stenosis: a randomized trial. Circulation.
2001;103(24):2928-34.
12. Pijls NH, van Schaardenburgh P, Manoharan G, Boersma E, Bech JW, van’t
Veer M, et al. Percutaneous coronary intervention of functionally
nonsignificant stenosis: 5-year follow-up of the DEFER Study. J Am Coll
Cardiol. 2007;49(21):2105-11.
13. Pijls NH, Fearon WF, Tonino PA, Siebert U, Ikeno F, Bornschein B, et al;
FAME Study Investigators. Fractional flow reserve versus angiography for
guiding percutaneous coronary intervention in patients with multivessel
coronary artery disease: 2-year follow-up of the FAME (Fractional Flow
Reserve Versus Angiography for Multivessel Evaluation) study. J Am Coll
Cardiol. 2010;56(3):177-84.
14. De Bruyne B, Pijls NH, Bartunek J, Kulecki K, Bech JW, De Winter H, et al.
Fractional flow reserve in patients with prior myocardial infarction.
Circulation. 2001;104(2):157-62.
15. De Bruyne B, Pijls NH. Coronary Pressure. 2nd ed. Dordrecht, The
Netherlands: Kluwer Academic Publishers; 2000. p.253.
16. Singh IM, Subbarao RA, Sadanandan S. Limitation of fractional flow reserve
in evaluating coronary artery myocardial bridge. J Invasive Cardiol.
2008;20(5):E161-6.
17. Mattos LA, Lemos Neto PA, Rassi A Jr, Marin-Neto JA, Sousa AGMR,
Devito FS, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e
Métodos Adjuntos Diagnósticos em Cardiologia Intervencionista (II Edição -
2008). Arq Bras Cardiol. 2008;91(6 supl.1):1-58.
18. Kushner FG, Hand M, Smith SC Jr, King SB 3rd, Anderson JL, Antman EM,
et al; American College of Cardiology Foundation/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines. 2009 Focused Updates:
ACC/AHA Guidelines for the management of patients with ST-elevation
myocardial infarction (updating the 2004 Guideline and 2007 Focused
Update) and ACC/AHA/SCAI Guidelines on percutaneous coronary
intervention (updating the 2005 Guideline and 2007 Focused Update): a
report of the American College of Cardiology Foundation/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation.
2009;120(22):2271-306. Erratum in: Circulation. 2010;121(12):e257.
ULTRASSOM INTRACORONARIANO NA
AVALIAÇÃO E MUDANÇA DE ESTRATÉGIA
NA DOENÇA CORONARIANA:
INDICAÇÃO E ASPECTOS ATUAIS
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 51 anos, advogado. Há 30 dias com desconforto precordial para
atividade física habitual. Uso diário de 10mg de atorvastatina para dislipidemia. Nega
sintoma cardiovascular prévio, HAS, diabetes mellitus, tabagismo ou história familiar
de coronariopatia.
Principais exames:
Hemoglobina =12,8g/dL; Glicose =110g/dL; Hemoglobina glicada =6,2%; Creatinina
=0,8mg/dl; Colesterol total =180mg/dl
ECG: Ritmo sinusal. Repolarização ventricular normal.
Ecocardiograma transtorácico: Função sistólica e segmentar do VE preservada.
Angiotomografia coronariana: escore de cálcio 357
Artéria coronária direita com estenose proximal de 40%; artéria descendente anterior
com estenose de 70% no terço médio e artéria circunflexa com estenose >70% no terço
proximal.
Coronariografia: Tronco sem lesão. Artéria descendente anterior com estenose de 70%
no terço médio; artéria circunflexa com estenose 95% no terço proximal; e artéria
coronária direita com estenose proximal de 60%.
OBJETIVOS
1. Definir e relacionar os princípios do ultrassom intracoronariano, discutindo a
sua indicação.
2. Avaliar as imagens obtidas e caracterizar morfologicamente as placas
inerentes ao caso.
3. Discutir procedimentos de avaliação diagnóstica, critérios para intervenção,
pós-ICP, prognóstico e implante ótimo de stents.
4. Revisar estudos clínicos realizados com o uso do ultrassom intracoronariano.
PERGUNTAS
1. Qual o diagnóstico, opções terapêuticas e conduta no caso apresentado?
A angina instável é a forma de apresentação mais frequente da doença coronariana
aguda, sendo usualmente associada à obstrução coronariana severa, mas não totalmente
oclusiva da artéria culpada.
No caso clínico descrito, a síndrome coronariana aguda deste paciente (angina de início
recente) pode ser atribuída à estenose grave identificada na artéria circunflexa (Figura
1), associada à presença de lesões moderadas nos demais vasos. A opção terapêutica
foi a intervenção coronariana percutânea através de angioplastia associada ao implante
de stent (Figura 2). Entretanto, a presença de lesões adicionais diagnosticadas na
coronariografia suscita a discussão de como proceder em termos de investigação
funcional das lesões e a necessidade de tratamento percutâneo das mesmas.
Figura 1
Coronária esquerda em oblíqua anterior direita, mostrando lesão grave em artéria circunflexa (seta vermelha) e lesão
moderada na artéria descendente anterior (seta azul)
Figura 2
Coronária esquerda em oblíqua anterior direita, mostrando resultado após implante de stent em artéria circunflexa
(seta vermelha).
Alguns motivos são responsáveis por essas discrepâncias: o primeiro diz respeito à
interpretação pessoal em termos da avaliação de obstrução e dimensões do lúmen.
Embora exista bom nível de concordância entre os avaliadores nas estenoses graves e
naquelas de grau leve, há uma variabilidade significativa intra e interobservador em
relação às dimensões vasculares e quanto às lesões intermediárias6.
A lesão intermediária ou moderada pode ser definida como uma obstrução entre 50% e
70% na angiografia coronariana. Essa definição inicial teve como base a evidência de
que obstrução acima de 50% passa a ter comprometimento da reserva de fluxo
coronariano (RFC), podendo causar isquemia. Entretanto, existem evidências de que um
contingente de pacientes com lesões inferiores a 50% apresenta angina de peito e/ou
isquemia nos testes funcionais não invasivos. Fundamentados neste fato, diversos
autores ampliaram o limite inferior da lesão intermediária para 40%11-14 e outros para
30%15-18, em seus trabalhos.
Neste caso clínico, após a angioplastia com o implante de stent da artéria coronária
circunflexa, foi indicada avaliação mais detalhada das obstruções residuais nas artérias
descendente anterior e coronária direita (Figuras 3 e 4), que pela ACQ demonstrou
presença de obstrução em termos de diâmetro de 60,73% e de 46,04% (Figuras 5 e 6),
nas artérias descendente anterior e coronária direita, respectivamente, não se opondo à
avaliação visual do operador, ou seja, neste caso houve concordância entre os
métodos.
Figura 3
Artéria descendente anterior em oblíqua direita craniada, mostrando outro ângulo da lesão moderada na porção
proximal (seta azul).
Figura 4
Artéria coronária direita em oblíqua esquerda craniada, mostrando lesão moderada na porção proximal (seta amarela).
Figura 5
Artéria descendente anterior em oblíqua direita craniada, mostrando a medida da análise quantitativa coronariana
(AQC) com lesão de 60,73%.
Figura 6
Artéria coronária direita em oblíqua esquerda craniada, mostrando lesão moderada na AQC de 46,04% na porção
proximal.
Em dois grandes estudos prospectivos com o uso do USIC realizado antes de uma
intervenção programada, a conduta foi alterada em aproximadamente 20% dos casos,
por demonstrar uma doença mais grave ou leve do que aquela diagnosticada na
angiografia20,21.
Quadro 1
Recomendações e níveis de evidência da Diretriz da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia
Intervencionista para o uso de ultrassom intracoronariano
1. Parâmetros qualitativos:
2. Parâmetros quantitativos:
Devido a este detalhamento diagnóstico, optou-se pelo uso do USIC como método
complementar à angiografia coronariana para a avaliação das estenoses moderadas nas
artérias coronária direita e descendente anterior do paciente relatado.
Nos pacientes com lesões intermediárias, nem sempre existe uma relação linear entre
os sintomas anginosos e os testes funcionais não invasivos, que frequentemente são
inconclusivos43, sendo também poucas as informações sobre a magnitude do risco para
eventos nesse contexto44.
Quadro 2
Comparação entre ultrassom intracoronariano, RFF e cintilografia
A medicina nuclear foi utilizada por Nishioka et al.55 que compararam os achados de 70
pacientes na USIC com a cintilografia de perfusão miocárdica (SPECT). A área luminal
mínima (ALM) ≤4mm2 indicou a presença de isquemia miocárdica, com sensibilidade
de 88% e a especificidade de 90%.
Para a avaliação da RFF, que é definido como o fluxo máximo para o território
miocárdio irrigado por determinada artéria dividido pelo fluxo máximo considerado
normal para a mesma distribuição57, Takagi et al.18 relacionaram as variáveis da USIC
com as da RFF em 51 lesões coronarianas, em que na ACQ exibiam DR de
3,00±0,61mm e DLM de 1,63±0,73mm. A ALM inferior a 3mm2 teve sensibilidade e
especificidade de 83% e 93%, respectivamente, em indicar a RFF <0,75 (causadora de
isquemia), com OR=0,79 e p<0,0001.
Em outro estudo utilizando a USIC e RFF, Briguori et al.13 encontraram baixo nível de
concordância entre os métodos. Estudaram 53 pacientes com lesão intermediária que na
ACQ exibiam DR de 3,08±0,73mm e DLM de 1,69±0,77mm. A ALM ≤4mm2 teve
sensibilidade de 92% e especificidade de 56% em determinar a RFF <0,75. O critério
da carga de placa >70% mostrou sensibilidade de 100% e especificidade de 68%. O
uso combinado da carga de placa e o DLM ao ultrassom foi proposto pelo autor onde se
verificou 100% de sensibilidade e 76% de especificidade. Esses achados
demonstraram que é possível relacionar a área luminal mínima da lesão ao ultrassom,
com os métodos de avaliação funcional da estenose.
Figura 10
Artéria coronária direita em oblíqua esquerda craniada, mostrando outro stent implantado com sucesso na porção
proximal.
5. O USIC pode auxiliar a angiografia para melhorar o resultado da intervenção
coronariana com o implante de stent?
O USIC avalia ainda o stent após o seu implante. Nesse parâmetro, avalia se existe
alguma complicação relacionada ao implante, como dissecções nos bordos do stent, se
a prótese está completamente aposta à parede vascular e se o mesmo está
adequadamente expandido. O stent não adequadamente expandido eleva o risco de
reestenose, de revascularização da lesão-alvo e de trombose de stent61,62.
Referências
1. Effects of tissue plasminogen activator and a comparison of early invasive
and conservative strategies in unstable angina and non-Q-wave myocardial
infarction. Results of the TIMI IIIB Trial. Thrombolysis in Myocardial
Ischemia. Circulation. 1994;89(4):1545-56.
2. Gould KL, Lipscomb K, Hamilton GW. Physiologic basis for assessing
critical coronary stenosis. Instantaneous flow response and regional
distribution during coronary hyperemia as measures of coronary flow
reserve. Am J Cardiol. 1974;33(1):87-94.
3. Wilson RF, Marcus ML, White CW. Prediction of the physiologic significance
of coronary arterial lesions by quantitative lesion geometry in patients with
limited coronary artery disease. Circulation. 1987;75(4):723-32.
4. Uren NG, Melin JA, De Bruyne B, Wijns W, Baudhuin T, Camici PG.
Relation between myocardial blood flow and the severity of coronary-artery
stenosis. N Engl J Med. 1994;330(25):1782-8.
5. Arnett EN, Isner JM, Redwood DR, Kent KM, Baker WP, Ackerstein H, et al.
Coronary artery narrowing in coronary heart disease: comparison of
cineangiographic and necropsy findings. Ann Intern Med. 1979;91(3):350-6.
6. Zir LM, Miller SW, Dinsmore RE, Gilbert JP, Harthorne JW. Interobserver
variability in coronary angiography. Circulation. 1976;53(4):627-32.
7. Nissen SE, Gurley JC, DeMaria AN. Assessment of vascular disease by
intravascular ultrasound. Cardiology. 1990;77(5):398-410.
8. Mintz GS, Painter JA, Pichard AD, Kent KM, Satler LF, Popma JJ, et al.
Atherosclerosis in angiographically "normal" coronary artery reference
segments: an intravascular ultrasound study with clinical correlations. J Am
Coll Cardiol. 1995;25(7):1479-85.
9. Hong MK, Mintz GS, Popma JJ, Kent KM, Pichard AD, Satler LF, et al.
Limitations of angiography for analyzing coronary atherosclerosis
progression or regression. Ann Intern Med. 1994;121(5):348-54.
10. Reiber JH, Kooijman CJ, Slager CJ, Gerbrands JJ, Schuurbiers JC, Den Boer
A, et al. Coronary artery dimensions from cineangiograms: methodology and
validation of computer-assisted analysis procedure. IEEE Trans Med
Imaging. 1984;3(3):131-41.
11. Kondo H, Fukutomi T, Shigeyama J, Ito O, Yasue N, Amano K, et al.
[Assessing the physiologic significance of intermediate coronary lesions:
comparison of coronary flow measurements with exercise
electrocardiography]. J Cardiol. 1999;34(5):249-58.
12. Duffy SJ, Gelman JS, Peverill RE, Greentree MA, Harper RW, Meredith IT.
Agreement between coronary flow velocity reserve and stress
echocardiography in intermediate-severity coronary stenoses. Catheter
Cardiovasc Interv. 2001;53(1):29-38.
13. Briguori C, Anzuini A, Airoldi F, Gimelli G, Nishida T, Adamian M, et al.
Intravascular ultrasound criteria for the assessment of the functional
significance of intermediate coronary artery stenoses and comparison with
fractional flow reserve. Am J Cardiol. 2001;87(2):136-41.
14. Jiménez-Navarro M, Alonso-Briales JH, Hernández García MJ, Rodríguez
Bailón I, Gómez-Doblas JJ, de Teresa Galván E. Measurement of fractional
flow reserve to assess moderately severe coronary lesions: correlation with
dobutamine stress echocardiography. J Interv Cardiol. 2001;14(5):499-504.
15. Miller DD, Donohue TJ, Younis LT, Bach RG, Aguirre FV, Wittry MD, et al.
Correlation of pharmacological 99mTc-sestamibi myocardial perfusion
imaging with poststenotic coronary flow reserve in patients with
angiographically intermediate coronary artery stenoses. Circulation.
1994;89(5):2150-60.
16. Abizaid AS, Mintz GS, Mehran R, Abizaid A, Lansky AJ, Pichard AD, et al.
Long-term follow-up after percutaneous transluminal coronary angioplasty
was not performed based on intravascular ultrasound findings: importance of
lumen dimensions. Circulation. 1999;100(3):256-61.
17. Meuwissen M, Siebes M, Chamuleau SA, van Eck-Smit BL, Koch KT, de
Winter RJ, et al. Hyperemic stenosis resistance index for evaluation of
functional coronary lesion severity. Circulation. 2002;106(4):441-6.
18. Takagi A, Tsurumi Y, Ishii Y, Suzuki K, Kawana M, Kasanuki H. Clinical
potential of intravascular ultrasound for physiological assessment of coronary
stenosis: relationship between quantitative ultrasound tomography and
pressure-derived fractional flow reserve. Circulation. 1999;100(3):250-5.
19. Tobis JM, Mallery J, Mahon D, Lehmann K, Zalesky P, Griffith J, et al.
Intravascular ultrasound imaging of human coronary arteries in vivo. Analysis
of tissue characterizations with comparison to in vitro histological
specimens. Circulation. 1991;83(3):913-26.
20. Tuzcu EM, Berkalp B, De Franco AC, Ellis SG, Goormastic M, Whitlow PL,
et al. The dilemma of diagnosing coronary calcification: angiography versus
intravascular ultrasound. J Am Coll Cardiol. 1996;27(4):832-8.
21. Mintz GS, Douek P, Pichard AD, Kent KM, Satler LF, Popma JJ, et al. Target
lesion calcification in coronary artery disease: an intravascular ultrasound
study. J Am Coll Cardiol. 1992;20(5):1149-55.
22. Hausmann D, Erbel R, Alibelli-Chemarin MJ, Boksch W, Caracciolo E, Cohn
JM, et al. The safety of intracoronary ultrasound. A multicenter survey of
2207 examinations. Circulation. 1995;91(3):623-30.
23. Batkoff BW, Linker DT. Safety of intracoronary ultrasound: data from a
Multicenter European Registry. Cathet Cardiovasc Diagn. 1996;38(3):238-
41.
24. Nishimura RA, Edwards WD, Warnes CA, Reeder GS, Holmes DR Jr, Tajik
AJ, et al. Intravascular ultrasound imaging: in vitro validation and pathologic
correlation. J Am Coll Cardiol. 1990;16(1):145-54.
25. Meyer CR, Chiang EH, Fechner KP, Fitting DW, Williams DM, Buda AJ.
Feasibility of high-resolution, intravascular ultrasonic imaging catheters.
Radiology. 1988;168(1):113-6.
26. Hodgson JM, Graham SP, Sheehan H, Brands D. Percutaneous intravascular
ultrasound imaging: validation of a real-time synthetic aperture array catheter.
Am J Card Imaging. 1991;5(1):65-71.
27. Hodgson JM, Graham SP, Sheehan H, Savakus AD. Percutaneous
intracoronary ultrasound imaging: initial applications in patients.
Echocardiography. 1990;7(4):403-13.
28. Nissen SE, Gurley JC, Grines CL, Booth DC, McClure R, Berk M, et al.
Intravascular ultrasound assessment of lumen size and wall morphology in
normal subjects and patients with coronary artery disease. Circulation.
1991;84(3):1087-99.
29. Nissen SE, Yock P. Intravascular ultrasound: novel pathophysiological
insights and current clinical applications. Circulation. 2001;103(4):604-16.
30. Siegel RJ, Chae JS, Maurer G, Berlin M, Fishbein MC. Histopathologic
correlation of the three-layered intravascular ultrasound appearance of
normal adult human muscular arteries. Am Heart J. 1993;126(4):872-8.
31. Nishimura RA, Welch TJ, Stanson AW, Sheedy PF 2nd, Holmes DR Jr.
Intravascular US of the distal aorta and iliac vessels: initial feasibility
studies. Radiology. 1990;176(2):523-5.
32. Gussenhoven EJ, Essed CE, Lancée CT, Mastik F, Frietman P, van Egmond
FC, et al. Arterial wall characteristics determined by intravascular ultrasound
imaging: an in vitro study. J Am Coll Cardiol. 1989;14(4):947-52.
33. Mattos LA, Lemos Neto PA, Rassi A Jr, Marin-Neto JA, Sousa AGMR,
Devito FS, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e
Métodos Adjuntos Diagnósticos em Cardiologia Intervencionista (II Edição -
2008). Arq Bras Cardiol. 2008;91(6 supl.1):1-58.
34. Bartorelli AL, Potkin BN, Almagor Y, Keren G, Roberts WC, Leon MB.
Plaque characterization of atherosclerotic coronary arteries by intravascular
ultrasound. Echocardiography. 1990;7(4):389-95.
35. Di Mario C, Görge G, Peters R, Kearney P, Pinto F, Hausmann D, et al.
Clinical application and image interpretation in intracoronary ultrasound.
Study Group on Intracoronary Imaging of the Working Group of Coronary
Circulation and of the Subgroup on Intravascular Ultrasound of the Working
Group of Echocardiography of the European Society of Cardiology. Eur Heart
J. 1998;19(2):207-29.
36. Schroeder AP, Falk E. Vulnerable and dangerous coronary plaques.
Atherosclerosis. 1995;118(Suppl):S141-9.
37. Falk E, Shah PK, Fuster V. Coronary plaque disruption. Circulation.
1995;92(3):657-71.
38. Hodgson JM, Reddy KG, Suneja R, Nair RN, Lesnefsky EJ, Sheehan HM.
Intracoronary ultrasound imaging: correlation of plaque morphology with
angiography, clinical syndrome and procedural results in patients undergoing
coronary angioplasty. J Am Coll Cardiol. 1993;21(1):35-44.
39. Frimerman A, Miller HI, Hallman M, Laniado S, Keren G. Intravascular
ultrasound characterization of thrombi of different composition. Am J
Cardiol. 1994;73(15):1053-7.
40. Pandian NG, Kreis A, Brockway B. Detection of intraarterial thrombus by
intravascular high frequency two-dimensional ultrasound imaging in vitro and
in vivo studies. Am J Cardiol. 1990;65(18):1280-3.
41. Glagov S, Bassiouny HS, Sakaguchi Y, Goudet CA, Vito RP. Mechanical
determinants of plaque modeling, remodeling and disruption. Atherosclerosis.
1997;131(Suppl):S13-4.
42. Nakamura M, Nishikawa H, Mukai S, Setsuda M, Nakajima K, Tamada H, et
al. Impact of coronary artery remodeling on clinical presentation of coronary
artery disease: an intravascular ultrasound study. J Am Coll Cardiol.
2001;37(1):63-9.
43. Topol EJ, Ellis SG, Cosgrove DM, Bates ER, Muller DW, Schork NJ, et al.
Analysis of coronary angioplasty practice in the United States with an
insurance-claims data base. Circulation. 1993;87(5):1489-97.
44. Little WC, Constantinescu M, Applegate RJ, Kutcher MA, Burrows MT, Kahl
FR, et al. Can coronary angiography predict the site of a subsequent
myocardial infarction in patients with mild-to-moderate coronary artery
disease? Circulation. 1988;78(5 Pt 1):1157-66.
45. Brown G, Albers JJ, Fisher LD, Schaefer SM, Lin JT, Kaplan C, et al.
Regression of coronary artery disease as a result of intensive lipid-lowering
therapy in men with high levels of apolipoprotein B. N Engl J Med.
1990;323(19):1289-98.
46. Watts GF, Lewis B, Brunt JN, Lewis ES, Coltart DJ, Smith LD, et al. Effects
on coronary artery disease of lipid-lowering diet, or diet plus
cholestyramine, in the St Thomas' Atherosclerosis Regression Study
(STARS). Lancet. 1992;339(8793):563-9.
47. Crenshaw JH, el-Zeky F, Vander Zwaag R, Sullivan JM, Ramanathan KB,
Mirvis DM. The effect of noncritical coronary artery disease on long-term
survival. Am J Med Sci. 1995;310(1):7-13.
48. Diver DJ, Bier JD, Ferreira PE, Sharaf BL, McCabe C, Thompson B, et al.
Clinical and arteriographic characterization of patients with unstable angina
without critical coronary arterial narrowing (from the TIMI-IIIA Trial). Am J
Cardiol. 1994;74(6):531-7.
49. Ischinger T, Gruentzig AR, Hollman J, King S 3rd, Douglas J, Meier B, et al.
Should coronary arteries with less than 60% diameter stenosis be treated by
angioplasty? Circulation. 1983;68(1):148-54.
50. Hamon M, Bauters C, McFadden EP, Lablanche JM, Bertrand ME. Six-month
quantitative angiographic follow-up of <50% diameter stenoses dilated
during multilesion percutaneous transluminal coronary angioplasty. Am J
Cardiol. 1993;71(13):1226-9.
51. Kern MJ, Donohue TJ, Aguirre FV, Bach RG, Caracciolo EA, Wolford T, et
al. Clinical outcome of deferring angioplasty in patients with normal
translesional pressure-flow velocity measurements. J Am Coll Cardiol.
1995;25(1):178-87.
52. Ferrari M, Schnell B, Werner GS, Figulla HR. Safety of deferring angioplasty
in patients with normal coronary flow velocity reserve. J Am Coll Cardiol.
1999;33(1):82-7.
53. Gruberg L, Kapeliovich M, Roguin A, Grenadier E, Markiewicz W, Beyar R.
Deferring angioplasty in intermediate coronary lesions based on coronary
flow criteria is safe: comparison of a deferred group to an intervention group.
Int J Cardiovasc Intervent. 1999;2(1):35-40.
54. Pijls NH, Van Gelder B, Van der Voort P, Peels K, Bracke FA, Bonnier HJ, et
al. Fractional flow reserve. A useful index to evaluate the influence of an
epicardial coronary stenosis on myocardial blood flow. Circulation.
1995;92(11):3183-93.
55. Nishioka T, Amanullah AM, Luo H, Berglund H, Kim CJ, Nagai T, et al.
Clinical validation of intravascular ultrasound imaging for assessment of
coronary stenosis severity: comparison with stress myocardial perfusion
imaging. J Am Coll Cardiol. 1999;33(7):1870-8.
56. Abizaid A, Mintz GS, Pichard AD, Kent KM, Satler LF, Walsh CL, et al.
Clinical, intravascular ultrasound, and quantitative angiographic determinants
of the coronary flow reserve before and after percutaneous transluminal
coronary angioplasty. Am J Cardiol. 1998;82(4):423-8.
57. Pijls NH, van Son JA, Kirkeeide RL, De Bruyne B, Gould KL. Experimental
basis of determining maximum coronary, myocardial, and collateral blood
flow by pressure measurements for assessing functional stenosis severity
before and after percutaneous transluminal coronary angioplasty. Circulation.
1993;87(4):1354-67.
58. Feijó ALF. Ultra-sonografia intravascular em lesões coronárias
angiograficamente intermediárias: análise da freqüência e dos fatores
clínicos e angiográficos indicativos de estenose significativa ao ultrassom.
[Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de
Janeiro; 2005.
59. Abizaid AC, Piegas LS, Abizaid AA, Tanajura LF, Chaves AJ, Centemero
MP, et al. [The use of intravascular ultrasound in deciding on the treatment of
moderate coronary lesions]. Arq Bras Cardiol. 2004;83(Spec nº):3-6.
60. Jasti V, Ivan E, Yalamanchili V, Wongpraparut N, Leesar MA. Correlations
between fractional flow reserve and intravascular ultrasound in patients with
ambiguous left main coronary artery stenosis. Circulation.
2004;110(18):2831-6.
61. Fujii K, Carlier SG, Mintz GS, Yang YM, Moussa I, Weisz G, et al. Stent
underexpansion and residual reference segment stenosis are related to stent
thrombosis after sirolimus-eluting stent implantation: an intravascular
ultrasound study. J Am Coll Cardiol. 2005;45(7):995-8.
62. Okabe T, Mintz GS, Buch AN, Roy P, Hong YJ, Smith KA, et al. Intravascular
ultrasound parameters associated with stent thrombosis after drug-eluting
stent deployment. Am J Cardiol. 2007;100(4):615-20.
63. Roy P, Steinberg DH, Sushinsky SJ, Okabe T, Pinto Slottow TL, Kaneshige K,
et al. The potential clinical utility of intravascular ultrasound guidance in
patients undergoing percutaneous coronary intervention with drug-eluting
stents. Eur Heart J. 2008;29(15):1851-57.
64. Casella G, Klauss V, Ottani F, Siebert U, Sangiorgio P, Bracchetti D. Impact
of intravascular ultrasound-guided stenting on long-term clinical outcome: a
meta-analysis of available studies comparing intravascular ultrasound-guided
and angiographically guided stenting. Catheter Cardiovasc Interv.
2003;59(3):314-21.
INTERVENÇÃO CORONARIANA
PERCUTÂNEA EM LESÃO DE TRONCO
(NÃO PROTEGIDO) DA CORONÁRIA
ESQUERDA
CASO CLÍNICO
E.A.P., feminina, 73 anos, hipertensa em uso de atenolol e anlodipina; dislipidêmica em
uso de sinvastatina; tabagista com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
moderada a importante com uso crônico de corticoide. Admitida na emergência com
dor precordial típica, de início súbito e intermitente há cerca de duas horas, com
melhora após uso de nitrato sublingual.
Ao exame: lúcida e orientada, sem turgência jugular a 45° e com boa perfusão
periférica.
PA =110x70mmHg; PR =90/min; FR =18insp/min
Tax =36,8°C
Ausculta pulmonar com roncos e sibilos disseminados
RCR 3T (B4), BNF, s/sopros
Abdômen flácido, indolor e com peristalse presente.
Membros inferiores sem edemas, panturrilhas sem empastamento.
Coronariografia:
Artéria Coronária Esquerda:
Tronco comum com lesão de 80% na porção ostial.
Artéria descendente anterior com lesão longa de 30% no terço proximal e de 95%
no terço médio.
Artéria circunflexa com lesão de 90% proximal, seguida de lesão de 95%.
Artéria coronária direita com irregularidades parietais.
Ventriculografia esquerda com volumes normais, mobilidade parietal preservada,
válvula mitral competente.
OBJETIVOS
1. Indicar e selecionar pacientes que possam ter maiores benefícios, escolhendo
o stent mais adequado para o tratamento do tronco da coronária esquerda
(TCE).
2. Revisar os resultados dos principais ensaios clínicos e estudos
randomizados, buscando a melhor posição atual.
3. Analisar os escores clínicos e angiográficos utilizados atualmente, para a
possível indicação de ICP nos pacientes e avaliar a importância do uso do
ultrassom e FFR.
4. Conhecer a indicação das Diretrizes SBC/SBHCI e ACC/AHA para a
realização de intervenção coronariana percutânea (ICP) nesse grupo de
pacientes.
PERGUNTAS
1. O paciente relatado estaria entre aqueles que se beneficiariam com a
abordagem percutânea na lesão de tronco não protegido da coronária esquerda?
Lesões nessa região são atrativas para realização de angioplastia devido ao maior
calibre do vaso, à ausência de tortuosidade e à extensão mais curta; porém pela maior
quantidade de tecido elástico e pela área sob risco ser de aproximadamente 75% da
circulação miocárdica do ventrículo esquerdo, apresenta elevado risco para a
ocorrência de desfechos adversos significativos, como morte súbita e infarto agudo do
miocárdio (IAM) fatal4-6.
Caso não esteja protegido por enxertos para a artéria coronária descendente anterior
(ACDA) ou circunflexa (ACCX) ou importante circulação colateral, assumirá a
definição de lesão de TCE não protegido4-6.
Estudos realizados com outro tratamento que não por revascularização miocárdica
demonstraram uma taxa de sobrevivência clínica de 37% em três anos, em pacientes
com lesão de TCE não protegido7.
O paciente relatado se encontraria em um grupo especial para ICP por apresentar lesão
no óstio do TCE, região bastante favorável à intervenção percutânea, associado a
lesões coronarianas não complexas, como uma lesão no terço médio da ACDA e duas
lesões consecutivas na ACCX, ambas sem calcificação e não anguladas (SYNTAX
Score ≤22).
A última publicação da diretriz americana para ICP mostra que somente foram
utilizados o SYNTAX Score e o STS Score como base para as recomendações13.
Estes seriam os modelos mais hábeis em prover a mais completa avaliação de risco.
STS Score, clinical SYNTAX Score e o combinado EuroSCORE e SYNTAX Score são
os modelos deste grupo, que ainda necessitam validar seus resultados em número maior
de estudos.
A paciente deste caso, portanto, possui um elevado risco cirúrgico pelo STS Score
(≥5%) e uma complexidade baixa angiográfica pelo SYNTAX Score (≤22),
apresentando uma recomendação IIa com nível de evidência B, para realização de
ICP13.
Encontram-se publicados três estudos randomizados comparando RMC e ICP com stent
em pacientes com lesão no TCE não protegido:
a) O estudo SYNTAX18 avaliou 705 pacientes entre os 1800 randomizados com lesão
no TCE não protegido. O resultado do desfecho primário (morte, IAM, AVE ou repetida
revascularização em 12 meses) não teve diferença estatística entre ICP e RMC (15,8%
e 13,7%, respectivamente). A ICP utilizou stents farmacológicos eluídos com paclitaxel
e apresentou maior taxa de revascularização repetida (11,8% vs. 6,5%), porém com
significativamente menor taxa de AVE (0,3% vs. 2,7%)10.
Após três anos de seguimento clínico, os pacientes com lesões no TCE não protegido
apresentaram mortalidade significativamente menor no grupo de ICP com SYNTAX
Score baixo ou intermediário (≤32) em relação ao grupo de RMC (3,7% vs. 9,1%,
p=0,03), enquanto naqueles com elevado SYNTAX Score (≥33) a mortalidade foi de
13,4% para ICP e 7,6% para RMC (p=0,10)18.
c) O estudo LE MANS20 randomizou 105 pacientes com TCE não protegido. Embora
tenha baixa proporção de stents farmacológicos (35%) e RMC com enxerto da torácica
interna esquerda (72%), o resultado em 30 dias e em um ano foi similar entre os
grupos20.
Meta-análise com oito estudos de coorte e dois estudos randomizados demonstrou mais
uma vez uma frequência similar de morte, IAM e AVE em pacientes tratados com ICP
ou RMC em um, dois ou três anos de seguimento clínico, e uma maior necessidade de
nova revascularização nos três anos para a ICP21.
3. Qual o tipo de stent mais adequado para o tratamento das lesões no TCE não
protegido? Qual o significado da região do TCE acometido?
Devido ao TCE ter histologicamente maior quantidade de tecido elástico do que todos
os outros vasos coronarianos, a resposta com a angioplastia de balão sempre teve um
resultado insatisfatório. Com o crescimento na utilização dos stents coronarianos nos
anos 1990, um registro multicêntrico22 com 107 pacientes examinou a segurança do
procedimento e os resultados em médio prazo da ICP com stent convencional e outras
técnicas no TCE não protegido. Foram utilizados stents em 50%, aterectomia em 30% e
angioplastia de balão em 20%. Foram observados 10% de infarto do miocárdio (IAM)
não fatal e 20,6% de mortalidade intra-hospitalar, e resultados desfavoráveis após a
alta. O maior determinante para uma evolução desfavorável foi a função ventricular
esquerda22.
A ICP nessa região por muitos anos foi conduta de exceção, mas sempre realizada com
stent4-6. Há dois grupos de stents que podem ser utilizados na ICP no TCE:
convencionais (SC) e farmacológicos (SF). Vários estudos observacionais mostraram
menor perda luminal tardia, menor taxa de reestenose angiográfica e menor
revascularização do vaso-alvo com os SF24-26.
Estudo randomizado comparando os SC com os SF, eluídos com paclitaxel, nas lesões
de TCE não protegido mostrou significativamente maior número de pacientes livres de
eventos cardíacos maiores combinados (87% x 70%) de morte, IAM e necessidade de
nova revascularização do vaso-alvo, inteiramente devido à redução desse último (2% x
16%)27.
O maior registro de pacientes com lesão no TCE não protegido que comparou SF e SC
foi o estudo MAIN-COMPARE28. Após três anos de seguimento, não houve diferença
estatística quanto à morte e IAM, entretanto a revascularização do vaso-alvo foi
significativamente reduzida com os SF (5,4% x 12,1%), independente da lesão tratada
se encontrar ou não na bifurcação do TCE28.
Além do auxílio diagnóstico para lesões indeterminadas no TCE, o USIC também pode
ajudar a guiar a ICP com stent. De acordo com o diâmetro referência do vaso, diâmetro
luminal mínimo, área luminal e comprimento da lesão é possível escolher o melhor
diâmetro e comprimento do stent, além de atingir sua expansão e aposição após o
implante. Essa estratégia tem o objetivo de impedir a trombose ou reestenose do stent,
complicações especialmente graves nessa região.
A última diretriz de recomendação sobre ICP no TCE classifica o uso do USIC como
classe IIb, nível de evidência B13.
A avaliação funcional, através do FFR, permite a identificação de pequenas alterações
na resistência ao fluxo coronariano, podendo ser utilizada para guiar a realização de
ICP ou identificar possíveis obstruções intermediárias39,40.
Enquanto ambos - FFR e USIC - têm sido usados para avaliar lesões intermediárias
com resultados positivos, o FFR pode reduzir a necessidade de revascularização
quando comparado ao USIC. FFR pode ser tão efetivo quanto o USIC para avaliar as
lesões duvidosas do TCE43,44.
Estenose no TCE com evidências de alto risco cirúrgico como: reoperação, disfunção
ventricular esquerda significativa (fração de ejeção <35%) e/ou morbidades clínicas
associadas, com expectativa de vida <5 anos.
Revascularização do TCE não protegido com ICP para doença coronariana estável
isquêmica
c) Anatomia desfavorável para ICP (SYNTAX ≥33) e bons candidatos para RMC
Revascularização do TCE não protegido com ICP para Angina instável / Síndrome
coronariana aguda sem supra ST para não candidato a RMC.
Revascularização do TCE não protegido com ICP para Síndrome coronariana aguda
com supra ST com fluxo TIMI <3, podendo ser realizada de forma mais rápida e segura
que a RMC.
Comentários finais
A decisão para a abordagem através da ICP desta paciente com grave lesão de TCE,
ACDA e ACCX deveu-se à alta possibilidade de complicação cirúrgica evidenciada
pelos escores de risco. O procedimento realizado com implante de stents
farmacológicos ocorreu sem intercorrências. A opção do operador pela utilização da
via femoral foi absolutamente pessoal. O tempo de internação após o procedimento foi
de apenas 36 horas. Atualmente a paciente evolui de forma assintomática do ponto de
vista cardiovascular, com seguimento clínico de 14 meses.
A boa evolução em médio prazo desse tipo de paciente consolida cada vez mais a
segurança para o uso das ICP com o uso dos SF nas lesões de TCE não protegido.
Referências
1. Ragosta M, Dee S, Sarembock IJ, Lipson LC, Gimple LW, Powers ER.
Prevalence of unfavorable angiographic characteristics for percutaneous
intervention in patients with unprotected left main coronary artery disease.
Catheter Cardiovasc Interv. 2006;68(3):357-62.
2. Taggart DP, Kaul S, Boden WE, Ferguson TB Jr, Guyton RA, Mack MJ, et al.
Revascularization for unprotected left main stem coronary artery stenosis
stenting or surgery. J Am Coll Cardiol. 2008;51(9):885-92.
3. Serruys PW, Morice MC, Kappetein AP, Colombo A, Holmes DR, Mack MJ,
et al; SYNTAX Investigators. Percutaneous coronary intervention versus
coronary-artery bypass grafting for severe coronary artery disease. N Engl J
Med. 2009;360(10):961-72.
4. O’Keefe JH Jr, Hartzler GO, Rutherford BD, McConahay DR, Johnson WL,
Giorgi LV, et al. Left main coronary angioplasty: early and late results of 127
acute and elective procedures. Am J Cardiol. 1989;64(3):144-7.
5. Hartzler GO, Rutherford BD, McConahay DR, Johnson WL, Giorgi LV.
“High-risk” percutaneous transluminal coronary angioplasty. Am J Cardiol.
1988;61(14):33G-7G.
6. Eldar M, Schulhoff N, Hertz I, Frankel R, Feld H, Shani J. Results of
percutaneous transluminal angioplasty of the left main coronary artery. Am J
Cardiol. 1991;68(2):255-6.
7. Conley MJ, Ely RL, Kisslo J, Lee KL, McNeer JF, Rosati RA. The prognostic
spectrum of left main stenosis. Circulation. 1978;57(5):947-52.
8. Eagle KA, Guyton RA, Davidoff R, Edwards FH, Ewy GA, Gardner TJ, et al;
American College of Cardiology; American Heart Association. ACC/AHA
2004 guideline update for coronary artery bypass graft surgery: a report of the
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines (Committee to Update the 1999 Guidelines for Coronary
Artery Bypass Graft Surgery). Circulation. 2004;110(14):e340-437. Erratum
in: Circulation. 2005;111(15):2014.
9. Mattos LA, Lemos Neto PA, Rassi A Jr, Marin-Neto JA, Sousa AGMR,
Devito FS, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e
Métodos Adjuntos Diagnósticos em Cardiologia Intervencionista (II Edição -
2008). Arq Bras Cardiol. 2008;91(6 supl.1):1-58.
10. Morice MC, Serruys PW, Kappetein AP, Feldman TE, Stahle E, Colombo A,
et al. Outcomes in patients with de novo left main disease treated with either
percutaneous coronary intervention using paclitaxel-eluting stents or coronary
artery bypass graft treatment in the Synergy Between Percutaneous Coronary
Intervention with TAXUS and Cardiac Surgery (SYNTAX) trial. Circulation.
2010;121(24):2645-53.
11. Shahian DM, O’Brien SM, Filardo G, Ferraris VA, Haan CK, Rich JB, et al;
Society of Thoracic Surgeons Quality Measurement Task Force. The Society
of Thoracic Surgeons 2008 cardiac surgery risk models: part 1- coronary
artery bypass grafting surgery. Ann Thorac Surg. 2009;88(1 Suppl):S2-22.
12. Nashef SA, Roques F, Michel P, Gauducheau E, Lemeshow S, Salamon R.
European system for cardiac operative risk evaluation (EuroSCORE). Eur J
Cardiothorac Surg. 1999;16(1):9-13.
13. Levine GN, Bates ER, Blankenship JC, Bailey SR, Bittl JA, Cercek B, et al;
American College of Cardiology Foundation; American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines; Society for Cardiovascular Angiography
and Interventions. 2011 ACCF/AHA/SCAI Guideline for Percutaneous
Coronary Intervention. A report of the American College of Cardiology
Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
and the Society for Cardiovascular Angiography and Interventions. J Am Coll
Cardiol. 2011;58(24):e44-122.
14. Rodés-Cabau J, Deblois J, Bertrand OF, Mohammadi S, Courtis J, Larose E,
et al. Nonrandomized comparison of coronary artery bypass surgery and
percutaneous coronary intervention for the treatment of unprotected left main
coronary artery disease in octogenarians. Circulation. 2008;118(23):2374-81.
15. Kim YH, Ahn JM, Park DW, Lee BK, Lee CW, Hong MK, et al. EuroSCORE
as a predictor of death and myocardial infarction after unprotected left main
coronary stenting. Am J Cardiol. 2006;98(12):1567-70.
16. Kastrati A, Schömig A, Elezi S, Dirschinger J, Mehilli J, Schühlen H, et al.
Prognostic value of the modified American College of Cardiology/ American
Heart Association stenosis morphology classification for long-term
angiographic and clinical outcome after coronary stent placement.
Circulation. 1999;100(12):1285-90.
17. SYNTAX Score. [Internet]. Tutorial. [cited 2011 Nov 30]. Available from:
<http://www.syntaxscore.com>
18. Kappetein AP, Feldman TE, Mack MJ, Morice MC, Holmes DR, Stahle E, et
al. Comparison of coronary bypass surgery with drug-eluting stenting for the
treatment of left main and/or three-vessel disease: 3-year follow-up of the
SYNTAX trial. Eur Heart J. 2011;32(17):2125-34.
19. Park SJ, Kim YH, Park DW, Yun SC, Ahn JM, Song HG, et al. Randomized
trial of stents versus bypass surgery for left main coronary artery disease. N
Engl J Med. 2011;364(18):1718-27.
20. Buszman PE, Buszman PP, Kiesz RS, et al. Early and long-term results of
unprotected left main coronary artery stenting: the LE MANS (Left Main
Coronary Artery Stenting) registry. J Am Coll Cardiol. 2009;54(16):1500-11.
21. Naik H, White AJ, Chakravarty T, Forrester J, Fontana G, Kar S, et al. A
meta-analysis of 3,773 patients treated with percutaneous coronary
intervention of surgery for unprotected left main coronary artery stenosis.
JACC Cardiovasc Interv. 2009;2(8):739-47.
22. Ellis SG, Tamai H, Nobuyoshi M, Kosuga K, Colombo A, Holmes DR, et al.
Contemporary percutaneous treatment of unprotected left main coronary
stenoses: initial results from a multicenter registry analysis 1994-1996.
Circulation. 1997;96(11):3867-72.
23. Tan WA, Tamai H, Park SJ, Plokkler HW, Nobuyoshi M, Suzuki T, et al;
ULTIMA Investigators. Long-term clinical outcomes after unprotected left
main trunk percutaneous revascularization in 279 patients. Circulation.
2001;104(14):1609-14.
24. Park SJ, Kim YH, Lee BK, Lee SW, Lee CW, Hong MK, et al. Sirolimus-
eluting stent implantation for unprotected left main coronary artery stenosis:
comparison with bare metal stent implantation. J Am Coll Cardiol.
2005;45(3):351-6.
25. Valgimigli M, van Mieghem CA, Ong AT, Aoki J, Granillo GA, McFadden
EP, et al. Short- and long-term clinical outcome after drug-eluting stent
implantation for the percutaneous treatment of left main coronary artery
disease: insights from the Rapamycin-Eluting and Taxus Stent Evaluated at
Rotterdam Cardiology Hospital registries (RESEARCH and T-SEARCH).
Circulation. 2005;111(11):1383-9.
26. Chieffo A, Stankovic G, Bonizzoni E, Tsagalou E, Iakovou I, Montorfano M,
et al. Early and mid-term results of drug-eluting stent implantation in
unprotected left main. Circulation. 2005;111(6):791-5.
27. Erglis A, Narbute I, Kumsars I, Jegere S, Mintale I, Zakke I, et al. A
randomized comparison of paclitaxel-eluting stents versus bare-metal stents
for treatment of unprotected left main coronary artery stenosis. J Am Coll
Cardiol. 2007;50(6):491-7.
28. Kim YH, Park DW, Lee SW, Yun SC, Lee CW, Hong MK, et al;
Revascularization for Unprotected Left Main Coronary Artery Stenosis:
Comparison of Percutaneous Coronary Angioplasty Versus Surgical
Revascularization Investigators. Long-term safety and effectiveness of
unprotected left main coronary stenting with drug-eluting stents compared
with bare-metal stents. Circulation. 2009;120(5):400-7.
29. Toyofuku M, Kimura T, Morimoto T, Hayashi Y, Ueda H, Kawai K, et al; j-
Cypher Registry Investigators. Three-year outcomes after sirolimus-eluting
stent implantation for unprotected left main coronary artery disease: insights
from the j-Cypher registry. Circulation. 2009;120(19):1866-74.
30. Baim DS, Mauri L, Cutlip DC. Drug-eluting stenting for unprotected left main
coronary artery disease: are we ready to replace bypass surgery? J Am Coll
Cardiol. 2006;47(4):878-81.
31. Chieffo A, Park SJ, Valgimigli M, Kim YH, Daemen J, Sheiban I, et al.
Favorable long-term outcome after drug-eluting stent implantation in
nonbifurcation lesions that involve unprotected left main coronary artery: a
multicenter registry. Circulation. 2007;116(2):158-62.
32. Valgimigli M, Malagutti P, Rodriguez-Granillo GA, Garcia-Garcia HM,
Polad J, Tsuchida K, et al. Distal left main coronary disease is a major
predictor of outcome in patients undergoing percutaneous intervention in the
drug-eluting stent era: an integrated clinical and angiographic analysis based
on the Rapamycin-Eluting Stent Evaluated At Rotterdam Cardiology Hospital
(RESEARCH) and Taxus-Stent Evaluated At Rotterdam Cardiology Hospital
(T-SEARCH) registries. J Am Coll Cardiol. 2006;47(8):1530-7.
33. Vaquerizo B, Lefèvre T, Darremont O, Silvestri M, Louvard Y, Leymarie JL,
et al. Unprotected left main stenting in the real world: two-year outcomes of
the French left main taxus registry. Circulation. 2009;119(17):2349-56.
34. Abizaid AS, Mintz GS, Abizaid A, Mehran R, Lansky AJ, Pichard AD, et al.
One-year follow-up after intravascular ultrasound assessment of moderate
left main coronary artery disease in patients with ambiguous angiograms. J
Am Coll Cardiol. 1999;34(3):707-15.
35. Fassa AA, Wagatsuma K, Higano ST, Mathew V, Barsness GW, Lennon RJ, et
al. Intravascular ultrasound-guided treatment for angiographically
indeterminate left main coronary artery disease: a long-term follow-up study.
J Am Coll Cardiol. 2005;45(2):204-11.
36. Okabe T, Mintz GS, Lee SY, Lee B, Roy P, Steinberg DH, et al. Five-year
outcomes of moderate or ambiguous left main coronary artery disease and the
intravascular ultrasound predictors of events. J Invasive Cardiol.
2008;20(12):635-9.
37. Kern MJ, Samady H. Current concepts of integrated coronary physiology in
the catheterization laboratory. J Am Coll Cardiol. 2010;55(3):173-85.
38. Park SJ, Kim YH, Park DW, Lee SW, Kim WJ, Suh J, et al; MAIN-
COMPARE Investigators. Impact of intravascular ultrasound guidance on
long-term mortality in stenting for unprotected left main coronary artery
stenosis. Circ Cardiovasc Interv. 2009;2(3):167-77.
39. Pijls NH, De Bruyne B, Bech GJ, Liistro F, Heyndrickx GR, Bonnier HJ, et
al. Coronary pressure measurement to assess the hemodynamic significance
of serial stenoses within one coronary artery: validation in humans.
Circulation. 2000;102(19):2371-7.
40. Bech GJ, De Bruyne B, Pijls NH, de Muinck ED, Hoorntje JC, Escaned J, et
al. Fractional flow reserve to determine the appropriateness of angioplasty in
moderate coronary stenosis – a randomized trial. Circulation.
2001;103(24):2928-34.
41. Pijls NH, van Schaardenburgh P, Manoharan G, Boersma E, Bech JW, van’t
Veer M, et al. Percutaneous coronary intervention of functionally
nonsignificant stenosis: 5-year follow-up of the DEFER Study. J Am Coll
Cardiol. 2007;49(21):2105-11.
42. Pijls NH, Fearon WF, Tonino PA, Siebert U, Ikeno F, Bornschein B, et al;
FAME Study Investigators. Fractional flow reserve versus angiography for
guiding percutaneous coronary intervention in patients with multivessel
coronary artery disease: 2-year follow-up of the FAME (Fractional Flow
Reserve Versus Angiography for Multivessel Evaluation) study. J Am Coll
Cardiol. 2010;56(3):177-84.
43. Nam CW, Yoon HJ, Cho YK, Park HS, Kim H, Hur SH, et al. Outcomes of
percutaneous coronary intervention in intermediate coronary artery disease:
fractional flow reserve-guided versus intravascular ultrasound-guided. JACC
Cardiovasc Interv. 2010;3(8):812-7.
44. Hamilos M, Muller O, Cuisset T, Ntalianis A, Chlouverakis G, Sarno G, et al.
Long-term clinical outcome after fractional flow reserve-guided treatment in
patients with angiographically equivocal left main coronary artery stenosis.
Circulation. 2009;120(15):1505-12.
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA
DEVIDO À TROMBOSE DE STENT
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 59 anos, brasileiro, aposentado.
Queixa principal: dor no peito
Antecedentes: dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, mal de Parkinson.
Exame físico: PA =150/90mmHg; FC =66bpm, Peso =82kg
Eletrocardiograma: alterações secundárias da repolarização ventricular em parede
anterior.
Ecocardiograma: função sistólica global de VE normal em repouso, com diâmetros
cavitários normais.
Cintilografia: defeito de perfusão reversível em região anteroapical e lateral.
Diagnóstico clínico: angina estável
Coronariografia:
Coronária esquerda:
Artéria descendente anterior (DA): lesão de 80%, longa, no terço proximal (Figura 1).
Artéria circunflexa (CX): ramo marginal esquerdo (ME) com lesão longa, de 80%, no
terço proximal (Figura 2).
Coronária direita: dominante e sem lesões obstrutivas.
Figura 1
Coronariografia em leve oblíqua direita, com angulação cranial. Lesão em porção proximal da artéria descendente
anterior (DA) - setas.
Figura 2
Coronariografia em oblíqua direita. Lesão de artéria marginal esquerda (ME) proximal - setas.
Angioplastia transluminal coronariana (ATC):
Opção pelo tratamento percutâneo. A ATC foi realizada 10 dias após a angiografia
diagnóstica, período em que ficou em uso diário de ácido acetilsalicílico (AAS) na
dose de 200mg, e clopidogrel na dose de 75mg. Precedendo a intervenção coronariana
percutânea (ICP), foram administradas 10.000U de heparina intravenosa.
Abordada lesão proximal de artéria ME, com implante direto de stent farmacológico à
base de everolimus, tamanho 2,5mmx28mm Xience (Abbott Vascular, Santa Clara, CA),
com sucesso angiográfico (Figura 3).
Figura 3
Artéria ME após implante de stent (seta). Observa-se presença de espasmo no óstio da artéria circunflexa, que cedeu
após a retirada da guia 0,14.
Figura 4
Implantado stent na artéria descendente anterior (DA) - setas.
Evolução pós-angioplastia:
Uma hora após o procedimento, o paciente apresentou quadro de dor precordial intensa,
com sudorese e hipotensão. Havia sinais eletrocardiográficos de supradesnível do
segmento ST anterior extenso, retornando de imediato ao laboratório de hemodinâmica.
Coronariografia:
Oclusão dos segmentos proximais de DA e CX, com trombose aguda dos stents,
havendo necessidade de revascularização urgente dos vasos-alvo (Figura 5).
Figura 5
Coronariografia em oblíqua esquerda cranial. Trombose aguda dos stents em artéria descendente anterior (seta azul) e
marginal esquerda (seta vermelha).
Angioplastia de urgência:
ATC primária, com recanalização e reexpansão dos stents com cateter-balão não
complacente 3,0mmx8,0mm, com restabelecimento dos fluxos distais, sendo
administrado antagonista IIb IIIa (tirofiban) por via intracoronariana, na dose de ataque,
imediatamente após a angiografia diagnóstica (Figuras 6 e 7). A ventriculografia
esquerda após o procedimento de emergência revelou função global preservada
(Figuras 8 e 9).
Figura 6
Recanalização da artéria descendente anterior após angioplastia com cateter-balão.
Figura 7
Recanalização da artéria marginal esquerda após angioplastia com cateter-balão.
Figura 8
Ventriculografia esquerda em diástole após angioplastia de emergência.
Figura 9
Ventriculografia esquerda em sístole após angioplastia de emergência.
OBJETIVOS
1. Conceituar trombose de stent.
2. Discutir os fatores de risco clínicos e angiográficos que contribuem para a
trombose de stent.
3. Analisar o impacto clínico da trombose de stent.
4. Discutir o tratamento e a prevenção da trombose de stent.
PERGUNTAS
1. Como podemos definir a trombose de stent ?
A trombose de stent (TS) tem sido alvo de pesquisas devido à sua morbidade e
mortalidade; é pouco frequente, mas representa uma complicação grave após
intervenção percutânea, podendo ocorrer após implante de stents convencionais (SC)
ou stents farmacológicos (SF).
A aposição incompleta do stent é definida como uma separação de uma ou mais hastes
do stent da parede do vaso. Tal processo pode resultar de uma expansão abaixo da
ideal para a prótese ou do tamanho inadequado da mesma. A aposição incompleta
constitui fator de risco para TS relacionado ao procedimento, necessitando de atenção
constante do intervencionista e que pode ser evitada quando se efetua a correta
impactação da prótese com catateres-balão de alta pressão. A confirmação do implante
ótimo por ultrassonografia intravascular deve ser realizada sempre que possível.
Quadro 1
Fatores de risco clínicos e angiográficos para trombose de stents
ATC=angioplastia transluminal; SCA=sindrome coronariana aguda; IAMCSST= infarto agudo do miocárdio com supra
do segmento ST
Uma meta-análise recente publicada por Kirtane et al.10 selecionou 9.470 pacientes de
22 estudos randomizados e 182.901 pacientes de estudos observacionais, e
compararam stents farmacológicos (stents eluidores de sirolimus e stents eluidores de
paclitaxel) com stents convencionais. Nos estudos randomizados, a razão de risco (SF
vs SC) para mortalidade foi 0,97 (p=0,72) aos 18 meses, não havendo diferença entre
os grupos nas taxas de infarto10. No entanto a taxa de TS não foi fielmente evidenciada
na maioria dos estudos por não constituir um desfecho primário e ter baixa incidência
de ocorrência.
Aspectos clínicos
Tabela 1
Desfechos clínicos ao final de três anos no estudo ISAR-TEST-4 (SF com polímeros biodegradáveis vs. duráveis)
SEE=stent eluído em everolimus – polímero biodegradável; SES=stent eluído em sirolimus – polímero permanente; IM-
VA=infarto do miocárdio relacionado ao vaso-alvo; RLA=revascularização da lesão-alvo.
Obs: reproduzido conforme Byrne et al.18
Os estudos evidenciam que a estrutura deste stent, exceto pela presença de dois
marcadores radiopacos nas bordas, estará totalmente absorvida dentro de dois a três
anos. Caso se mantenham esses resultados em estudos com seguimentos mais longos, os
stents bioabsorvíveis poderão ser a próxima grande revolução na intervenção
coronariana percutânea e, possivelmente, resolver o problema da trombose tardia do
stent.
Está bem estabelecido que a inibição da atividade plaquetária por meio da associação
ácido acetilsalicílico e clopidogrel é de fundamental importância para prevenir eventos
isquêmicos recorrentes e TS nos pacientes submetidos a ICP20.
Quando ocorre TS, deve-se suspeitar de não aderência à medicação, suspensão precoce
da terapia medicamentosa ou resposta inadequada à terapia antiplaquetária, dentre
outros fatores já citados, associados ao maior risco de TS.
O clopidogrel é uma pró-droga, e necessita de metabolização e ativação pelo citocromo
hepático P450 (CYP450) para a geração do metabólito thiol ativo e se liga de forma
irreversível ao receptor plaquetário ADP P2Y12. Por esses motivos, apresenta
importantes limitações, tais como: início lento de ação; níveis modestos de inibição
plaquetária; grande variabilidade de resposta para uma determinada dose; interação
com outros medicamentos, incluindo os inibidores da bomba de prótons; e redução de
sua ativação metabólica ocasionada por polimorfismos genéticos.
Estudos recentes sugerem haver relação entre alta reatividade plaquetária pós-
tratamento, não responsividade ao clopidogrel e TS em pacientes que realizaram
ICP21.
Como mencionado, alguns estudos demonstraram que aproximadamente 15% a 30% dos
pacientes tratados apresentam resistência ao clopidogrel22. Novos antiagregantes foram
desenvolvidos visando a atingir antiagregagação plaquetária mais eficaz, com menor
responsividade aos tienopiridínicos, porém sem aumento do risco de sangramento.
Figura 10
Desfecho primário de eficácia (morte cardiovascular, infarto e acidente vascular encefálico) e incidência de
sangramento maior entre os grupos com prasugrel vs. clopidogrel no estudo TRITON–TIMI 3823.
Obs: reproduzido conforme Wiviott et al.23
Figura 11
Incidência cumulativa do desfecho primário composto por morte cardiovascular, infarto do miocárdio e acidente
vascular encefálico nos pacientes que receberam ticagrelor (linha azul) e clopidogrel (linha vermelha) nos braços
invasivo e não invasivo no estudo PLATO.
Obs: reproduzido conforme Cannon et al.26
Na análise dos desfechos de segurança, não houve diferença entre os grupos com
relação às taxas de sangramento maior (3,2% vs. 8,7%; p<2,9%, respectivamente;
p=0,38). A incidência de sangramento fatal ou potencialmente fatal também não foi
estatisticamente diferente entre os grupos (Figura 12).
Figura 12
Incidência cumulativa estimada do percentual de sangramento maior (95% intervalo de confiança, 0,95 a 1,13) no
estudo PLATO26.
Obs.: reproduzido conforme Cannon et al.26
No que se refere ao caso clínico apresentado, houve uma possível não resposta ao
antiagregante plaquetário clopidogrel, cuja relação ao implante do stent coronariano foi
uma grave trombose, mesmo se tratando de uma angioplastia eletiva como foi a
indicação inicial. A possibilidade de uso dos novos antiagregantes plaquetários poderia
ter sido uma eficaz profilaxia antes do evento. Apesar de não ter sido esta a conduta
inicial, a mudança do fármaco após a trombose foi providencial e de boa resposta.
A orientação sobre o tempo de uso para o ticagrelor foi de um ano. Esse tempo está em
consonância com a maioria das instituições e diretrizes, embora na prática clínica
diária muitos cardiologistas prescrevam antiagregantes plaquetários por um período
mais prolongado, mesmo sem evidências científicas sobre o seu uso.
Os estudos e o mundo real mostram que a complicação TS, a despeito de ser evento
raro, apresenta alta morbimortalidade e deve ser rigorosamente evitada com o uso de
todos os recursos farmacológicos e técnicos. Uma boa relação médico-paciente para
informar, orientar e conscientizar sobre o uso correto da medicação preconizada é um
dos pontos mais importantes para se obter sucesso no combate a essa dramática
complicação.
Referências
1. Gurbel PA, Bliden KP, Butler K, Antonino MJ, Wei C, Teng R, et al.
Response to ticagrelor in clopidogrel nonresponders and responders and
effect of switching therapies: the RESPOND study. Circulation.
2010;121(10):1188-99.
2. Cutlip DE, Baim DS, Ho KK, Popma JJ, Lansky AJ, Cohen DJ, et al. Stent
thrombosis in the modern era: a pooled analysis of multicenter coronary stent
clinical trials. Circulation. 2001;103(15):1967-71.
3. Kuchulakanti PK, Chu WW, Torguson R, Ohlmann P, Rha SW, Clavijo LC, et
al. Correlates and long-term outcomes of angiographically proven stent
thrombosis with sirolimus- and paclitaxel-eluting stent. Circulation.
2006;113(8):1108-13.
4. Iakovou I,Schmidt T, Bonizzoni E, Ge L, Sangiorgi GM, Stankovic G, et al.
Incidence, predictors, and outcome of thrombosis after successful
implantation of drug-eluting stents. JAMA. 2005;293(17):2126-30.
5. Stone GW, McLaurin BT, Cox DA, Bertrand, ME, Lincoff, M, Moses,JW,
White,HD, Pocock,SJ, Ware, JH, Feit, F, Colombo, A, Aylward, PE, Cequier,
AE, Harald Darius H, Desmet, W, Ebrahimi, R, Hamon, M, Rasmussen, LH,
Rupprecht HJ, M.Hoekstra, J, Mehran, R, and Ohman EM for the ACUITY
Investigators Bivalirudin for Patients with Acute Coronary Syndromes N Engl
J Med 2006;355:2203-16.
6. Sousa AGMR, Abizaid A, Rios MM, Berrocal D, Sousa JE (eds).
Intervenções cardiovasculares: SOLACI. São Paulo: Atheneu; 2009.
7. Sianos G, Papafaklis MI, Daemen J, Vaina S, van Mieghem CA, van Domburg
RT, et al. Angiographic stent thrombosis after routine use of drug-eluting
stents in ST-segment elevation myocardical infarction: the importance of
thrombus burden. J Am Coll Cardiol. 2007;50(7):573-83.
8. Van Werkum JW, Heestermans AA, de Korte FI, Kelder FI, Suttorp MJ,
Rensing BJ, et al. Long-term clinical outcome after a first angiographically
confirmed coronary stent thrombosis: an analysis of 431 cases. Circulation.
2009;119(6):828-34.
9. Mattos LA, Lemos Neto PA, Rassi A Jr, Marin-Neto JA, Sousa AGMR,
Devito FS, et al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia -
Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição-2008). Arq Bras Cardiol. 2008;91(6
supl. 1):1-58.
10. Kirtane AJ, Gupta A, Iyengar S, Moses JW, Leon MB, Applegate R, et al.
Safety and efficacy of drug-eluting and bare metal stents: comprehensive
meta-analysis of randomized trials and observational studies. Circulation.
2009;119(25):3198-206.
11. Lee SW, Park SW, Hong MK, Kim YH, Lee BK, Song JM, et al. Triple versus
dual antiplatelet therapy after coronary stenting: impact on stent thrombosis. J
Am Coll Cardiol. 2005;46(10):1833-7.
12. Virmani R, Liistro F, Stankovic G, Di Mario C, Montorfano M, Farb A, et al.
Mechanism of late in-stent restenosis after implantation of a paclitaxel
derivate-eluting polymer stent system in humans. Circulation.
2002;106(21):2649-51.
13. Virmani R, Guagliumi G, Farb A, Musumeci G, Grieco N, Motta T, et al.
Localized hypersensitivity and late coronary thrombosis secondary to a
sirolimus-eluting stent: should we be cautions? Circulation.
2004;109(6):701-5.
14. Nebeker JR, Virmani R, Bennett CL, Hoffman JM, Samore MH, Alvarez J, et
al. Hypersensitivity cases associated with drug-eluting coronary stents: a
review of available cases from the Research on Adverse Drug Events and
Reports (RADAR) project. J Am Coll Cardiol. 2006;47(1):175-81.
15. Cook S, Wenaweser P, Togni M, Billinger M, Morger C, Seiler C, et al.
Incomplete stent apposition and very late stent thrombosis after drug-eluting
stent implantation. Circulation. 2007;115(18):2426-34.
16. Windecker S, Serruys PW, Wandel S, Buszman P, Trznadel S, Linke A, et al.
Biolimus-eluting stent with biodegradable polymer versus sirolimus-eluting
stent with durable polymer for coronary revascularisation (LEADERS): a
randomised non-inferiority trial. Lancet. 2008;372(9644):1163-73.
17. Kufner S, Massberg S, Dommasch M, Byrne RA, Tiroch K, Ranftl S, et al;
Intracoronary Stenting and Angiographic Results: Test Efficacy of 3 Limus-
Eluting Stents Trial Investigators. Angiographic outcomes with biodegradable
polymer and permanent polymer drug-eluting stents. Catheter Cardiovasc
Interv. 2011;78(2):161-6.
18. Byrne RA, Kastrati A, Massberg S, Wieczorek A, Laugwitz KL, Hadamitzky
M, et al; ISAR-TEST 4 Investigators. Biodegradable polymer versus
permanent polymer drug-eluting stents and everolimus- versus sirolimus-
eluting stents in patients with coronary artery disease: 3-year outcomes from
a randomized clinical trial. J Am Coll Cardiol. 2011;58(13):1325-31.
19. Serruys PW, Orminston JA, Onuma Y, Regar E, Gonzalo N, Garcia-Garcia
HM, et al. A bioabsorbable everolimus-eluting coronary stent system
(ABSORB): 2-year outcomes and results from multiple imaging methods.
Lancet. 2009;373(9667):897-910.
20. Peters RJ, Mehta SR, Fox KA, Zhao F, Lewis BS, Kopecky SL, et al;
Clopidogrel in Unstable angina to prevent Recurrent Events (CURE) Trial
Investigators. Effects of aspirin dose when used alone or in combination with
clopidogrel in patients with acute coronary syndromes: observations from the
Clopidogrel in Unstable angina to prevent Recurrent Events (CURE) study.
Circulation. 2003;108(14):1682-7.
21. Serebruany VL, Steinhubl SR, Berger PB, Malinin AI, Bhatt DL, Topol EJ.
Variability in platelet responsiveness to clopidogrel among 544 individuals. J
Am Coll Cardiol. 2005;45(2):246-51.
22. Nguyen TA, Diodati JG, Pharand C. Resistance to clopidogrel: a review of
the evidence. J Am Coll Cardiol. 2005;45(8):1157-64.
23. Wiviott SD, Braunwald E, McCabe CH, Montalescot G, Ruzyllo W, Gottlieb
S, et al. TRITON-TIMI 38 Investigators. Prasugrel versus clopidogrel in
patients with acute coronary syndromes. N Engl J Med. 2007;357(20):2001-
15.
24. Wiviott SD, Trenk D, Frelinger AL, O’Donoghue M, Neumann FJ, Michelson
AD, et al; PRINCIPLE-TIMI 44 Investigators. Prasugrel compared with high
loading- and maintenance-dose clopidogrel in patients with planned
percutaneous coronary intervention: the Prasugrel in Comparison to
Clopidogrel for Inhibition of Platelet Activation and Aggregation-
Thrombolysis in Myocardial Infarction 44 trial. Circulation.
2007;116(25):2923-32.
25. Wallentin L, Becker RC, Budaj A, Cannon CP, Emanuelsson H, Held C, et al;
PLATO Investigators. Ticagrelor versus clopidogrel in patients with acute
coronary syndromes. N Engl J Med. 2009:361(11):1045-57.
26. Cannon CP, Harrington RA, James S, Ardissino D, Becker RC, Emanuelsson
H, et al; PLATelet inhibition and patient Outcomes Investigators. Comparison
of ticagrelor with clopidogrel in patients with a planned invasive strategy for
acute coronary syndromes (PLATO): a randomised double-blind study.
Lancet. 2010;375(9711):283-93.
ANGIOPLASTIA PRIMÁRIA NO INFARTO
AGUDO DO MIOCÁRDIO
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 47 anos, hipertenso, diabético, dislipidêmico, tabagista de longa
data, em uso regular de enalapril, metformina e atorvastatina. Apresentou dor torácica
opressiva, de forte intensidade, que não cedeu com o uso de analgésicos. Devido à
persistência da dor e a um episódio de pré-síncope procurou atendimento médico de
urgência.
Admitido seis horas após o início dos sintomas ainda com precordialgia de forte
intensidade associada à sudorese e mal-estar geral.
Ao exame físico encontrava-se lúcido, eupneico, corado, hidratado, acianótico.
Ritmo cardíaco regular em 3 tempos com presença de B4, sem sopros.
Murmúrio vesicular universalmente audível sem ruídos adventícios.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Caso a equipe de cardiologia intervencionista se encontrasse a menos de uma
hora de distância do hospital, qual seria a melhor abordagem deste caso?
Estudo recente analisou mais de 9500 pacientes com IAMST demonstrando que após
2003, houve um aumento progressivo do número de pacientes transferidos para centros
terciários para serem submetidos à angioplastia primária e que essa estratégia foi capaz
de reduzir a mortalidade dos pacientes com IAMST de forma expressiva8.
Além disso, deve-se considerar o tempo do início dos sintomas e o tempo estimado
para a efetiva abertura do vaso através da angioplastia primária. Os maiores benefícios
da intervenção percutânea, quando comparada com a fibrinólise, se dão quando o início
dos sintomas do IAMST forem superiores a três horas e o tempo estimado para a
intervenção primária for inferior a 90 minutos15.
Pode-se dizer que, no caso em estudo, a melhor estratégia de reperfusão é a realização
de coronariografia e consequente angioplastia primária, uma vez que a equipe de
cardiologia intervencionista se encontrava a menos de 90min do hospital.
Figura 1
Coronariografia realizada pela via transradial direita
2. Que recursos podem ser utilizados na angioplastia primária em casos quando é
encontrada grande carga de trombo intracoronariano?
O IAM é uma condição clínica que frequentemente está associada à presença de trombo
intracoronariano.
O estudo TAPAS19, que envolveu 1071 pacientes, demonstrou uma melhora da perfusão
miocárdica, através do blush grade20 e da redução do supradesnível do segmento ST
ao eletrocardiograma, dos pacientes que foram submetidos à angioplastia primária com
o uso de trombectomia aspirativa. O blush grade 0-1, que está relacionado a pior
prognóstico, esteve presente em 17,1% dos pacientes submetidos à trombectomia, e em
23,6% dos pacientes submetidos à angioplastia primária sem os dispositivos de
aspiração (p<0,0001). É importante ressaltar que essa redução apresentou implicação
prognóstica. A histopatologia confirmou o conteúdo trombótico da aspiração em 72,9%
dos casos, reforçando a elevada probabilidade de embolização distal para a
microcirculação.
No caso clínico foi utilizado um cateter de trombectomia (Figura 2a, seta), capaz de
aspirar grande quantidade de trombos macroscópicos (Figuras 2b, 2c).
Figura 2a
Cateter de trombectomia empregado para retirada de trombos.
Figuras 2b e 2c
Ambas as figuras mostram os trombos retirados com o cateter de trombectomia.
Embora tenha sido retirado da artéria coronária grande quantidade de trombos e o fluxo
anterógrado reestabelecido, a coronária direita permaneceu com grande carga de
trombos residuais mantendo o paciente com risco de embolização distal (Figura 3,
setas).
Figura 3
Coronária direita com grande carga de trombos residuais mantendo o paciente com risco de embolização distal.
Assim, optou-se pelo implante de stent com uma tela de proteção, Mguard® para
evitar essa complicação.
O uso desse novo dispositivo ainda precisa ser mais bem avaliado em estudos
multicêntricos, mas os resultados iniciais, como os apresentados no estudo
GUARDIAN22, são promissores.
A elevada taxa de trombose dos stents farmacológicos parece estar muito mais ligada à
falha na prescrição médica ou a não aderência ao esquema antiplaquetário do que a
fatores diretos do stent, embora fatores técnicos sejam muito importantes como a
subestimativa do calibre real do vaso na fase aguda do IAM36.
Em 1991, Sigwart et al.40 publicaram o resultado dos primeiros stents implantados nas
artérias coronárias. Nesse estudo foi utilizado, como terapêutica farmacológica
adjuvante ao implante dos stents, uma associação de heparina subcutânea e intravenosa,
estreptoquinase em dose baixa ou uroquinase intracoronariana, AAS, dipiridamol e
cumarínico e, em alguns casos, sulfinpirazona. Mesmo assim a incidência de trombose
de stent foi tão elevada que tornava o benefício do procedimento questionável.
Seguindo a mesma linha, o estudo Benestent41 enfatizava o uso de anticoagulação
associado à heparina para a prevenção de complicações trombóticas do stent mas, da
mesma forma, a ocorrência dessa complicação e de complicações hemorrágicas foram
muito elevadas.
A partir do estudo ISAR42, que comparou AAS com ticlopidina versus AAS e
cumarínico, em 1996, verificou-se que o esquema antiplaquetário duplo, após o
implante de stent, era muito superior à prescrição de anticoagulantes, apresentando
redução na ocorrência de trombose de 5,4% para 0,8%.
Uma das grandes vantagens do uso dessas novas drogas na síndrome coronariana aguda
é o início rápido de sua ação antiplaquetária, além da menor ocorrência de resistência e
da maior potência de antiagregação. Baseado nisso as diretrizes do AHA/ACC45
incluem o uso do prasugrel na dose de 60mg de ataque e 10mg por dia de manutenção
(classe I nível de evidência B).
O estudo On-TIME 250, que envolveu 984 pacientes, demonstrou que o uso do tirofiban
associado a AAS e clopidogrel apresentou maior resolução do segmento ST no
eletrocardiograma quando comparado ao placebo, sem portanto se refletir em algum
benefício clínico50.
No caso foi utilizado um stent de nova geração, recoberto por uma tela de dacron não
havendo estudos a longo prazo que definam o melhor período de uso de antiagregantes
plaquetários. No estudo Guardian22 o período mínimo recomendado foi de 30 dias,
porém mais estudos são necessários para uma situação conclusiva a esse respeito.
O estudo RIVAL59 avaliou 7021 pacientes com síndrome coronariana aguda submetidos
à coronariografia utilizando as duas técnicas, e mostrou que não houve diferença em
relação ao desfecho primário composto de morte, IAM, AVE e sangramento maior não
relacionado à revascularização cirúrgica, nem quando avaliados separadamente. Porém
nos casos de IAMST, houve redução de 40% no objetivo primário e redução da
mortalidade de 61%. Um aspecto importante é que além dos casos de IAMST, nos
centros com grande experiência na via radial o objetivo primário também foi atingido
com redução de 51%. Houve redução significativa na formação de hematomas e
pseudoaneurismas com a via radial com o mesmo índice de sucesso técnico pelas duas
vias. Deve-se considerar também que a via radial limita o calibre dos cateteres
utilizados e que o sangramento no local de acesso não se associa usualmente a aumento
na mortalidade.
O estudo multicêntrico RIFLE STEACS60 randomizou 1001 pacientes com IAMST
candidatos à angioplastia primária, para acesso radial ou femoral. Considerou eventos
clínicos adversos a composição de morte cardíaca, infarto do miocárdio,
revascularização da lesão-alvo, AVE ou sangramento não relacionado à cirurgia de
revascularização em 30 dias pós-intervenção. Houve mais sangramento pelo acesso
femoral em 30 dias (6,8% x 2,6%; p=0,002) assim como maior mortalidade cardíaca
(9,2% x 5,2%; p=0,02), sem diferença na incidência de infarto do miocárdio,
revascularização da lesão-alvo ou AVE. A via radial foi preditora de menos eventos
clínicos adversos em 30 dias (OR 0,6; IC95% 0,4-0,9; p=0,012). O uso da via radial
nesse estudo trouxe benefício clínico significativo com redução de eventos
hemorrágicos e redução da mortalidade cardíaca. Os autores consideram que a via
radial não deve mais ser considerada uma alternativa válida à via femoral, mas a via
recomendada na angioplastia primária, como é preconizado em diretrizes
internacionais.
Referências
1. Keeley EC, Boura JA, Grines CL. Primary angioplasty versus intravenous
thrombolytic therapy for acute myocardial infarction: a quantitative review of
23 randomised trials. Lancet. 2003;361(9351):13-20.
2. Stenestrand U, Lindbäck J, Wallentin L; RIKS-HIA Registry. Long-term
outcome of primary percutaneous coronary intervention vs prehospital and in-
hospital thrombolysis for patients with ST-elevation myocardial infarction.
JAMA. 2006;296(14):1749-56.
3. A clinical trial comparing primary coronary angioplasty with tissue
plasminogen activator for acute myocardial infarction. The Global Use of
Strategies to Open Occluded Coronary Arteries in Acute Coronary Syndrome
(GUSTO IIb) Angioplasty Substudy Investigators. N Engl J Med.
1997;336(23):1621-8. Erratum in: N Engl J Med. 1997;337(4):287.
4. de Boer MJ, Ottervanger JP, van’t Hof AW, Hoorntje JC, Suryapranata H,
Zijlstra F; Zwolle Myocardial Infarction Study Group. Reperfusion therapy in
elderly patients with acute myocardial infarction: a randomized comparison
of primary angioplasty and thrombolytic therapy. J Am Coll Cardiol.
2002;39(11):1723-8.
5. Zijlstra F, Hoorntje JC, de Boer MJ, Reiffers S, Miedema K, Ottervanger JP,
et al. Long-term benefit of primary angioplasty as compared with
thrombolytic threrapy for acute myocardial infarction. N Engl J Med.
1999;341(19):1413-9.
6. Widimský P, Budesínský T, Vorác D, Groch L, Zelízko M, Aschermann M, et
al; ‘PRAGUE’ Study Group Investigators. Long distance transport for primary
angioplasty vs immediate thrombolysis in acute myocardial infarction. Final
results of randomized national multicentre trial--PRAGUE-2. Eur Heart J.
2003;24(1):94-104.
7. Busk M, Maeng M, Rasmussen K, Kelbaek H, Thayssen P, Abildgaard U, et
al; DANAMI-2 Investigators. The Danish multicentre randomized study of
fibrinolytic therapy vs. primary angioplasty in acute myocardial infarction
(the DANAMI-2 trial): outcome after 3 years follow-up. Eur Heart J.
2008;29(10):1259-66.
8. Terkelsen CJ, Jensen LO, Tilsted HH, Thaysen P, Ravkilde J, Johnsen SP, et
al. Primary percutaneous coronary intervention as a national reperfusion
strategy in patients with ST-segment elevation myocardial infarction. Circ
Cardiovasc Interv. 2011;4(6):570-6.
9. Zijlstra F, van’t Hof AW, Liem Al, Hoorntje JC, Suryapranata H, de Boer MJ.
Transferring patients for primary angioplasty: a retrospective analysis of 104
select high risk patients with acute myocardial infarction. Heart.
1997;78(4):333-6.
10. Barron HV, Malacreda R, Weaver WD. Use of helicopter transportation in
acute myocardial infarction in the United States. [Abstract]. J Am Coll
Cardiol. 1998;31(2 Suppl A):269A
11. Patel AB, Quan H, Faris P, Knudtson ML, Traboulsi M, Li B, Ghali WA
Temporal associations of early patient transfers and mortality with the
implementation of a regional myocardial infarction care model. Can J
Cardiol. 2011, 27(6):731-8.
12. Widimský P, Groch L, Zelízko M, Aschermann M, Bednár F, Suryapranata H.
Multicentre randomized trial comparing transport to primary angioplasty vs
immediate thrombolysis vs combined strategy for patients with acute
myocardial infarction presenting to a community hospital without a
catheterization laboratory. The PRAGUE study. Eur Heart J.
2000;21(10):823-31.
13. Vermeer F, Oude Ophuis AJ, van der Berg EJ, Brunninkhuis LG, Werter CJ,
Boehmer AG, et al. Prospective randomized comparison between
thrombolysis, rescue PTCA, and primary PTCA in patients with extensive
myocardial infarction admitted to a hospital without PTCA facilities: a safety
and feasibility study. Heart. 1999;82(4):426-31.
14. Thune JJ, Hoefsten DE, Lindholm MG, Mortensen LS, Andersen HR, Nielsen
TT, et al; Danish Multicenter Randomized Study on Fibrinolytic Therapy
Versus Acute Coronary Angioplasty in Acute Myocardial Infarction
(DANAMI)-2 Investigators. Simple risk stratification at admission to identify
patients with reduced mortality from primary angioplasty. Circulation.
2005;112(13):2017-21.
15. Piegas LS, Feitosa G, Mattos LA, Nicolau JC, Rossi Neto JM, Timerman A,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz da Sociedade
Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio
com Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol. 2009;93(6 supl.
2):e179-264. Erratum in: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.
16. Kloner RA. No reflow revisited. J Am Coll Cardiol. 1989;14(7):1814-5.
17. Rochon B, Chami Y, Sachdeva R, Bissett JK, Willis N, Uretsky BF. Manual
aspiration thrombectomy in acute ST elevation myocardial infarction: new
gold standard. World J Cardiol. 2011;3(2):43-7.
18. Picchi A, Limbruno U. Thrombus aspiration during primary percutaneous
coronary intervention. J Cardiovasc Med (Hagerstown). 2012;13(1):16-23.
19. Svilaas T, Vlaar PJ, van der Horst IC, Diercks GF, de Smet BJ, van den
Heuvel AF, et al. Thrombus aspiration during primary percutaneous coronary
intervention. N Engl J Med. 2008;358(6):557-67.
20. van’t Hof AW, Liem A, de Boer MJ, Zijlstra F. Clinical value of 12-lead
electrocardiogram after successful reperfusion therapy for acute myocardial
infarction. Zwolle Myocardial Infarction Study Group. Lancet.
1997;350(9078):615-9.
21. An Y, Kaji S, Kim K, Yamamuro A, Kinoshita M, Ehara N, et al. Successful
thrombus aspiration during primary percutaneous coronary intervention
reduces infarct size and preserves myocardial viability: a cardiac magnetic
resonance imaging study. J Invasive Cardiol. 2011;23(5):172-6.
22. Piscione F, Danzi GB, Cassese S, Esposito G, Cirillo P, Galasso G, et al.
Multicentre experience with MGuard net protective stent in ST-elevation
myocardial infarction: safety, feasibility, and impact on myocardial
reperfusion. Catheter Cardiovasc Interv. 2010;75(5):715-21.
23. Weaver WD, Simes RJ, Betriu A, Grines CL, Zijlstra F, Garcia E, et al.
Comparison of primary coronary angioplasty and intravenous thrombolytic
therapy for acute myocardial infarction: a quantitative review. JAMA.
1997;278(23):2093-8. Erratum in: JAMA. 1998;279(23):1876.
24. Zijlstra F, Hoorntje JC, de Boer MJ, Reiffers S, Miedema K, Ottervanger JP,
et al. Long-term benefit of primary angioplasty as compared with
thrombolytic therapy for acute myocardial infarction. N Engl J Med.
1999;341(19):1413-9.
25. Keeley EC, Boura JA, Grines CL. Primary angioplasty versus intravenous
thrombolytic therapy for acute myocardial infarction: a quantitative review of
23 randomised trials. Lancet. 2003;361(9351):13-20.
26. Gonçalves BKD, Tedeschi AL, Sena MA, Peixoto RTS. Evolução da
intervenção coronária percutânea: visão de um centro especializado. Rev
SOCERJ. 2007;20(1):47-52.
27. Gonçalves BKD, Tedeschi AL, Sena MA. Safety of the administration of
protamine after coronary stent implantation in a unselect large series of
patient. Proceedings of the European Society of Cardiology Congress (ESC)
2011; Aug 27-31; Paris, France. Eur Heart J. 2011;32:398.
28. Grines CL, Cox DA, Stone GW, Garcia E, Mattos LA, Giambartolomei A, et
al. Coronary angioplasty with or without stent implantation for acute
myocardial infarction. Stent Primary Angioplasty in Myocardial Infarction
Study Group. N Engl J Med. 1999;341(26):1949-56.
29. Zhu MM, Feit A, Chadow H, Alam M, Kwan T, Clark LT. Primary stent
implantation compared with primary balloon angioplasty for acute
myocardial infarction: a meta-analysis of randomized clinical trials. Am J
Cardiol. 2001;88(3):297-301.
30. Grube E, Silber S, Hauptmann KE, Mueller R, Buellesfeld L, Gerckens U, et
al. TAXUS I: six- and twelve-month results from a randomized, double-blind
trial on a slow-release paclitaxel-eluting stent for de novo coronary lesions.
Circulation. 2003;107(1):38-42.
31. Park SJ, Shim WH, Ho DS, Raizner AE, Park SW, Hong MK, et al. A
paclitaxel-eluting stent for the prevention of coronary restenosis. N Engl J
Med. 2003;348(16):1537-45.
32. Moussa I, Leon MB, Baim DS, O'Neill WW, Popma JJ, Buchbinder M, et al.
Impact of sirolimus-eluting stents on outcome in diabetic patients: a SIRIUS
(SIRolImUS-coated Bx Velocity balloon-expandable stent in the treatment of
patients with de novo coronary artery lesions) substudy. Circulation.
2004;109(19):2273-8.
33. Gershlick A, De Scheerder I, Chevalier B, Stephens-Lloyd A, Camenzind E,
Vrints C, et al. Inhibition of restenosis with a paclitaxel-eluting, polymer-free
coronary stent: the European evaLUation of pacliTaxel Eluting Stent
(ELUTES) Trial. Circulation. 2004;109(4):487-93.
34. Stone GW, Ellis SG, Cox DA, Hermiller J, O'Shaughnessy C, Mann JT, et al;
TAXUS-IV Investigators. A polymer-based, paclitaxel-eluting stent in
patients with coronary artery disease. N Engl J Med. 2004;350(3):221-31.
35. Sousa JE, Costa MA, Abizaid A, Abizaid AS, Feres F, Pinto IM, et al. Lack
of neointimal proliferation after implantation of sirolimus-coated stents in
human coronary arteries: a quantitative coronary angiography and three
dimensional intravascular ultrasound study. Circulation. 2001;103(2):192-5.
36. Spertus JA, Kettelkamp R, Vance C, Decker C, Jones PG, Rumsfeld JS, et al.
Prevalence, predictors, and outcomes of premature discontinuation of
thienopyridine therapy after drug-eluting stent placement: results from the
PREMIER registry. Circulation. 2006;113(24):2803-9.
37. Gonçalves BKD, Tedeschi AL, Sena MA, Peixoto RTS, Tedeschi BF.
Segurança dos stents farmacológicos no infarto agudo do miocárdio em
lesões com trombos visíveis à angiografia. Rev SOCERJ. 2006;19(6):493-7.
38. De Luca G, Stone GW, Suryapranata H, Laarman GJ, Menichelli M, Kaiser
C, et al. Efficacy and safety of drug-eluting stents in ST-segment elevation
myocardial infarction: a meta-analysis of randomized trials. Int J Cardiol.
2009;133(2):213-22.
39. Violini R, Musto C, De Felice F, Nazzaro MS, Cifarelli A, Petitti T, et al.
Maintenance of long-term clinical benefit with sirolimus-eluting stents in
patients with ST-segment elevation myocardial infarction 3-year results of the
SESAMI (sirolimus-eluting stent versus bare-metal stent in acute myocardial
infarction) trial. J Am Coll Cardiol. 2010;55(8):810-4.
40. Sigwart U, Puel J, Mirkorvitch V, Joffre F, Kappenberger L. Intravascular
stents to prevent occlusion and restenosis after transluminal angioplasty. N
Engl J Med. 1987;316(12):701-6.
41. Serruys PW, de Jaegere P, Kiemeneij F, Macaya C, Rutsch W, Heyndrickx G,
et al. A comparison of balloon-expandable-stent implantation with balloon
angioplasty in patients with coronary artery disease. Benestent Study Group.
N Engl J Med. 1994;331(8):489-95.
42. Schömig A, Neumann FJ, Kastrati A, Schühlen H, Blasini R, Hadamitzky M,
et al. A randomized comparison of antiplatelet and anticoagulant therapy after
the placement of coronary-artery stents. N Engl J Med. 1996;334(17):1084-9.
43. Bertrand ME, Rupprecht HJ, Urban P, Gershlick AH; CLASSICS
Investigators. Double-blind study of the safety of clopidogrel with and
without a loading dose in combination with aspirin compared with
ticlopidine in combination with aspirin after coronary stenting: the
Clopidogrel Aspirin Stent International Cooperative Study (CLASSICS).
Circulation. 2000;102(6):624-9.
44. Wiviott SD, Braunwald E, McCabe CH, Montalescot G, Ruzyllo W, Gottlieb
S, et al; TRITON-TIMI 38 Investigators. Prasugrel versus clopidogrel in
patients with acute coronary syndromes. N Engl J Med. 2007;357(20):2001-
15.
45. Wright RS, Anderson JL, Adams CD, Bridges CR, Casey DE Jr, Ettinger SM,
et al. 2011 ACCF/AHA focused update of the Guidelines for the Management
of Patients with Unstable Angina/Non-ST-Elevation Myocardial Infarction
(updating the 2007 guideline): a report of the American College of
Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines developed in collaboration with the American College of
Emergency Physicians, Society for Cardiovascular Angiography and
Interventions, and Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol.
2011;57(19):1920-59. Erratum in: J Am Coll Cardiol. 2011;57(19):1960.
46. Wallentin L, Becker RC, Budaj A, Cannon CP, Emanuelsson H, Held C, et al.
Ticagrelor versus clopidogrel in patients with coronary syndromes. N Engl J
Med. 2009;361(11):1045-57.
47. Steg PG, James S, Harrington RA, Ardissino D, Becker RC, Cannon CP, et al;
PLATO Study Group. Ticagrelor versus clopidogrel in patients with ST-
elevation acute coronary syndromes intended for reperfusion with primary
percutaneous coronary intervention: A Platelet Inhibition and Patient
Outcomes (PLATO) trial subgroup analysis. Circulation. 2010;122(21):2131-
41.
48. De Luca G, Suryapranata H, Stone GW, Antoniucci D, Tcheng JE, Neumann
FJ, et al. Abciximab as adjunctive therapy to reperfusion in acute ST-segment
elevation myocardial infarction: a meta-analysis of randomized trials. JAMA.
2005;293(14):1759-65.
49. Van de Werf F, Bax J, Betriu A, Blomstrom-Lundqvist C, Crea F, Falk V, et al;
ESC Committee for Practice Guidelines (CPG). Management of acute
myocardial infarction in patients presenting with persistent ST-segment
elevation: the Task Force on the Management of ST-Segment Elevation Acute
Myocardial Infarction of the European Society of Cardiology. Eur Heart J.
2008;29(23):2909-45.
50. Van’t Hof AW, Ten Berg J, Heestermans T, Dill T, Funck RC, van Werkum W,
et al; Ongoing Tirofiban In Myocardial infarction Evaluation (On-TIME) 2
study group. Prehospital initiation of tirofiban in patients with ST-elevation
myocardial infarction undergoing primary angioplasty (On-TIME 2): a
multicentre, double-blind, randomised controlled trial. Lancet.
2008;372(9638):537-46.
51. Friedland S, Eisenberg MJ, Shimony A. Meta-analysis of randomized
controlled trial of intracoronary versus intravenous administration of
glycoprotein IIb/IIIa inhibitors during percutaneous coronary intervention for
acute coronary syndrome. Am J Cardiol. 2011;108(109):1244-51.
52. Mann CC, Plummer ML. The aspirin wars: money, medicine and 100 years of
rampant competition. New York: Knopf; 1991.
53. Coumadin Aspirin Reinfarction Study (CARS) Investigators. Randomised
double-blind trial of fixed low-dose warfarin with aspirin after myocardial
infarction. Coumadin Aspirin Reinfarction Study (CARS) Investigators.
Lancet. 1997;350(9075):389-96.
54. Antiplatelet Trialists’ Collaboration. Collaborative overview of randomised
trials of antiplatelet therapy--I: Prevention of death, myocardial infarction,
and stroke by prolonged antiplatelet therapy in various categories of patients.
Antiplatelet Trialists’ Collaboration. BMJ. 1994;308(6921):81-106. Erratum
in: BMJ. 1994;308(6943):1540.
55. Antithrombotic Trialists’ Collaboration. Collaborative meta-analysis of
randomised trials of antiplatelet therapy for prevention of death, myocardial
infarction and stroke in high risk patients. BMJ. 2002;324(7329):71-86.
Erratum in: BMJ. 2002;324(7330):141.
56. Chen ZM, Jiang LX, Chen YP, Xie JX, Pan HC, Peto R, et al; COMMIT
(ClOpidogrel and Metoprolol in Myocardial Infarction Trial) collaborative
group. Addition of clopidogrel to aspirin in 45,852 patients with acute
myocardial infarction: randomised placebo-controlled trial. Lancet.
2005;366(9497):1607-21.
57. Yusuf S, Zhao F, Mehta SR, Chrolavicius S, Tognoni G, Fox KK; Clopidogrel
in Unstable Angina to Prevent Recurrent Events Trial Investigators.
Clopidogrel in Unstable Angina to Prevent Recurrent Events Trial
Investigators. Effects of clopidogrel in addition to aspirin in patients with
acute coronary syndromes without ST-segment elevation. N Engl J Med.
2001;345(7):494-502. Erratum in: N Engl J Med. 2001;345(23):1716;
2001;345(20):1506.
58. U.S. Food and Drug Administration. [Internet]. FDA clinical overview for
panel packet DES thrombosis panel. December 7-8, 2006. Available from:
<http://www.fda.gov>
59. Jolly SS, Yusuf S, Cairns J, Niemelä K, Xavier D, Widimsky P, et al; RIVAL
trail group. Radial versus femoral access for coronary angiography and
intervention in patients with acute coronary syndromes (RIVAL): a
randomised, parallel group, multicentre trial. Lancet. 2011;377(9775):1409-
20. Erratum in: Lancet. 2011;377(9775):1408; 2011;378(9785):30.
60. Romagnoli E, Biondi-Zoccai G, Sangiorgi G. RIFLE STEACS: radial
approach safer than femoral in STEMI. TCT Conference. November 8-11,
2011.
REESTENOSE INTRASTENT: ABORDAGEM
ATUAL
Guilherme Lavall
José Ary Boechat Salles
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 68 anos, com quadro de angina estável classe III CCS a despeito de
tratamento clínico otimizado.
Aproximadamente quatro meses depois, houve retorno dos sintomas anginosos com
eletrocardiograma evidenciando isquemia miocárdica espontânea no território da
artéria descendente anterior, optando-se por avaliação anatômica invasiva através de
nova coronariografia. Exame demonstrou uma reestenose difusa e proliferativa, com
crescimento neointimal, ultrapassando as bordas do stent. Realizada nova angioplastia
com implante de stent farmacológico eluído em paclitaxel 2,75mmx28mm, com
cobertura de todo o território acometido.
OBJETIVOS
1. Caracterizar os mecanismos fisiopatológicos e as formas de apresentação da
reestenose de stent convencional e farmacológico.
2. Definir os preditores clínicos e angiográficos para a ocorrência de
reestenose de stent.
3. Descrever as modalidades diagnósticas invasivas e não invasivas que podem
ser empregadas neste contexto.
4. Analisar as opções de tratamento percutâneo.
5. Discutir o prognóstico e estratégias de seguimento pós-implante de stents.
PERGUNTAS
1. Como se define reestenose de stent e qual é o seu impacto?
O sucesso do tratamento das lesões coronarianas com implante de stents, seja ele
imediato ou tardio, é definitivo para que a revascularização miocárdica percutânea
alcance seus objetivos centrais, que são a melhora da sobrevida e dos sintomas. Ele
abrange o sucesso angiográfico, sucesso do procedimento e sucesso clínico, de curto e
longo prazos.
O sucesso angiográfico após implante de stents foi mais recentemente definido como
uma estenose residual abaixo de 10% (idealmente o mais próximo de zero possível)
com fluxo distal TIMI3. O sucesso do procedimento é caracterizado por sucesso
angiográfico e ausência de complicações intra-hospitalares maiores. Por fim, o sucesso
clínico de curto prazo requer sucesso angiográfico e do procedimento associados ao
alívio dos sinais e sintomas de isquemia miocárdica, com o sucesso clínico de longo
prazo sendo definido como a manutenção do sucesso clínico de curto prazo por um
período superior a nove meses1.
A incidência de reestenose num segmento coronariano tratado com stents pode variar
consideravelmente na dependência de características clínicas e angiográficas, além de
fatores relacionados à técnica do procedimento e à escolha da prótese a ser utilizada.
Com isso, foram identificados preditores de risco para o desenvolvimento dessas
lesões que podem ser didaticamente divididos da seguinte forma:
- clínicos: diabetes mellitus, apresentação como síndrome coronariana aguda,
intervenção percutânea prévia, doença multivascular;
- angiográficos: localização da lesão (tronco da coronária esquerda, enxertos venosos,
ostiais), vasos finos (diâmetro luminal ≤2,5mm), lesão extensa (comprimento de stents
≥40mm)20-27.
5.2. Que métodos devem ser utilizados para uma avaliação funcional não invasiva?
• Teste Ergométrico
Uma das provas funcionais mais frequentemente solicitadas, o teste ergométrico é útil
no esclarecimento de dores torácicas recorrentes e na detecção de isquemia
miocárdica, além de avaliar a capacidade funcional do indivíduo pós-procedimento.
Idealmente, todos os pacientes submetidos a tratamento percutâneo deveriam realizar
uma avaliação funcional pré-intervenção, permitindo uma base de comparação com a
prova de esforço realizada posteriormente, o que aumentaria a acurácia diagnóstica do
teste44.
Outra situação que merece discussão é a avaliação precoce de pacientes após ICP. As
diretrizes americanas sugerem que não se faça estudo cintilográfico nos primeiros dois
meses após o procedimento51. Isto porque alguns estudos demonstraram que outros
fatores, que não a reestenose do stent, podem alterar a perfusão miocárdica nas
primeiras semanas após a ICP. No entanto, essa alteração deve ser valorizada quando o
paciente apresentar sintomatologia.
• Ecocardiografia de estress
5.3. Que métodos devem ser utilizados para uma avaliação anatômica não invasiva
?
A avaliação dos stents pela ATMD é significantemente mais difícil do que a avaliação
de segmentos arteriais sem stents. Artefatos causados pelas hastes metálicas das
próteses podem impedir a visualização da luz do stent e a quantificação do
estreitamento luminal56. Fatores relacionados aos stents (espessura das hastes, calibre
do stent, bem como o seu material), calcificações adjacentes, artefatos de movimento e
métodos de varredura (número de detectores) prejudicam a avaliação precisa dos
stents57,58.
6. Que métodos devem ser utilizados para uma avaliação anatômica invasiva ?
• Coronariografia
O RFF (sigla em inglês FFR) é um índice invasivo validado para avaliação funcional
da severidade da doença coronariana em pacientes previamente tratados com stents
convencionais64,65 e farmacológicos66, com papel importante na análise de lesões
reestenóticas moderadas. Apresenta correlação com os métodos não invasivos como a
cintilografia do miocárdio, o ecocardiografia de estresse e o teste de esforço, com a
vantagem de ser específico para cada vaso e obstrução67,68.
Um dos achados mais relevantes com o RFF é a discrepância entre a angiografia, que
avalia o diâmetro de estenose intrastent e a isquemia funcional, especialmente nas
lesões reestenóticas moderadas e/ou difusas. Assim a análise funcional pode identificar
pacientes que podem se beneficiar de novo procedimento de revascularização e, da
mesma forma, evitar procedimentos terapêuticos desnecessários.
• Ultrassom intracoronariano
Por sua vez, a revascularização cirúrgica deve ser aplicada em casos de alta
complexidade clínica e angiográfica, como descrito a seguir:
Varias modalidades terapêuticas têm sido propostas para a reestenose dos stents
convencionais: angioplastia convencional, cutting balloon (balão cortador), repetir o
stent, braquiterapia vascular, aterectomia rotacional e excimer laser71. Apesar de a
angioplastia convencional ser o tratamento mais utilizado no tratamento da reestenose
intrastent, ela está associada à alta taxa de recorrência72, sem benefício adicional com
uso do cutting balloon73. A repetição do implante de stent, apesar de seu resultado
imediato ser superior ao da angioplastia convencional, não está associada à melhor
evolução clínica e angiográfica74. Da mesma maneira, técnicas ablativas não
apresentam resultados a longo prazo satisfatórios71, limitando as opções terapêuticas
nesse grupo de pacientes.
• Stents farmacológicos
No estudo PEPCAD II77,78, 131 pacientes com reestenose após implante de stent
convencional foram randomizados para receber BED ou stent revestido com paclitaxel.
O endpoint primário foi a perda tardia em seis meses, sendo significativamente menor
com BED (0,17mm) comparado ao stent revestido com paclitaxel (0,38mm). Os
eventos tardios foram menores no grupo BED (9% vs. 22%), principalmente por menor
necessidade de revascularização (6% vs. 15%). Atualmente a Diretriz europeia
recomenda o BED como classe IIa, nível e evidência B no tratamento da reestenose de
stent convencional79.
• Angioplastia convencional
• Implante de SF na reestenose de SF
Kim et al.83 relataram menor incidência de reestenose em seis meses após novo
tratamento com SF (4%) comparado com tratamento convencional (35%) com cutting
balloon ou braquiterapia (n=58). Mishkel et al.84 relataram resultados similares com
108 casos de reestenose de SF. A necessidade de revascularização em um ano foi de
29% com uso de mesmo SF, 19% com diferente SF e 37% com terapia convencional
(cutting balloon, SC ou braquiterapia). Estudo observacional com 211 pacientes não
relatou diferença na incidência de revascularização da lesão-alvo no seguimento de
dois anos86. Entretanto pacientes tratados com repetição de SF geralmente
apresentavam um padrão basal de reestenose difusa.
Esses resultados podem refletir que a reestenose focal pode não ser devida à
resistência à droga, mas sim a intervalo entre os stents, fratura do stent, eluição
imperfeita da droga, dano ao polímero ou combinação desses fatores. Reestenose difusa
tem maior chance de resistência à droga, e futuros estudos podem avaliar a troca da
droga utilizada nas lesões difusas.
• Braquiterapia
Algoritmo proposto
O tratamento da reestenose de SF deve ser individualizado através da análise com
ultrassom intracoronariano para esclarecimento do mecanismo etiológico (Figura 1).
Figura 1
Algoritmo para tratamento da reestenose do stent farmacológico.
Observa-se o caso de paciente que apresentou a sua primeira revascularização com uso
de stent não farmacológico. Devido à reestenose, a opção de implantar um stent eluído
em paclitaxel cobrindo todo o stent, inclusive as áreas sãs, proximal e distal foi a mais
apropriada e menos invasiva. Como a evolução em seis meses foi de sintomatologia
exuberante relacionada à ”re-reestenose” focal intrastent, junto ao bordo distal, optou-
se por um tratamento contemporâneo com cateter-balão farmacológico sem a
necessidade de metalizar ainda mais a artéria com implante de um terceiro stent, e nem
tampouco um tratamento mais invasivo através da CRM.
Referências
1. Levine GN, Bates ER, Blankenship JC, Bailey SR, Bittl JA, Cercek B, et al;
American College of Cardiology Foundation; American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines; Society for Cardiovascular Angiography
and Interventions. 2011 ACCF/AHA/SCAI Guideline for Percutaneous
Coronary Intervention. A Report of the American College of Cardiology
Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
and the Society for Cardiovascular Angiography and Interventions. J Am Coll
Cardiol. 2011;58(24):e44-122.
2. De Labriolle A, Bonello L, Lemesle G, Steinberg DH, Roy P, Xue Z, et al.
Clinical presentation and outcome of patients hospitalized for symptomatic
in-stent restenosis treated by percutaneous coronary intervention: comparison
between drug-eluting stents and bare-metal stents. Arch Cardiovasc Dis.
2009;102(3):209-17.
3. Mattos LA, Lemos Neto PA, Rassi A Jr, Marin-Neto JA, Sousa AGMR,
Devito FS, et al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia –
Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008). Arq Bras Cardiol.
2008;91(6 supl. 1):1-58.
4. Chieffo A, Foglieni C, Nodari RL, Briguori C, Sangiorgi G, Latib A, et al.
Histopathology of clinical coronary restenosis in drug-eluting versus bare
metal stents. Am J Cardiol. 2009;104(12):1660-7.
5. Weintraub WS. The pathophysiology and burden of restenosis. Am J Cardiol.
2007;100(5A):3K-9K.
6. Hoffmann R, Mintz GS, Dussaillant GR, Popma JJ, Pichard AD, Satler LF, et
al. Patterns and mechanisms of in-stent restenosis. A serial intravascular
ultrasound study. Circulation. 1996;94(6):1247-54.
7. Virmani R, Farb A. Pathology of in-stent restenosis. Curr Opin Lipidol.
1999;10(6):499-506.
8. Kornowski R, Hong MK, Tio FO, Bramwell O, Wu H, Leon MB. In-stent
restenosis: contributions of inflammatory responses and arterial injury to
neointimal hyperplasia. J Am Coll Cardiol. 1998;31(1):224-30.
9. Komatsu R, Ueda M, Naruko T, Kojima A, Becker AE. Neointimal tissue
response at sites of coronary stenting in humans: macroscopic, histological,
and immunohistochemical analyses. Circulation. 1998;98(3):224-33.
10. Chung IM, Gold HK, Schwartz SM, Ikari Y, Reidy MA, Wight TN. Enhanced
extracellular matrix accumulation in restenosis of coronary arteries after stent
deployment. J Am Coll Cardiol. 2002;40(12):2072-81.
11. Farb A, Sangiorgi G, Carter AJ, Walley VM, Edwards WD, Schwartz RS, et
al. Pathology of acute and chronic coronary stenting in humans. Circulation.
1999;99(1):44-52.
12. Owens GK, Kumar MS, Wamhoff BR. Molecular regulation of vascular
smooth muscle cell differentiation in development and disease. Physiol Rev.
2004;84(3):767-801.
13. Worth NF, Rolfe BE, Song J, Campbell GR. Vascular smooth muscle cell
phenotypic modulation in culture is associated with reorganisation of
contractile and cytoskeletal proteins. Cell Motil Cytoskeleton.
2001;49(3):130-45.
14. Taylor AJ, Farb AA, Angello DA, Burwell LR, Virmani R. Proliferative
activity in coronary atherectomy tissue. Clinical, histopathologic, and
immunohistochemical correlates. Chest. 1995;108(3):815-20.
15. Walters DL, Harding SA, Walsh CR, Wong P, Pomerantsev E, Jang IK. Acute
coronary syndrome is a common clinical presentation of in-stent restenosis.
Am J Cardiol. 2002;89(5):491-4.
16. Chen MS, John JM, Chew DP, Lee DS, Ellis SG, Bhatt DL. Bare metal stent
restenosis is not a benign clinical entity. Am Heart J. 2006;151(6):1260-4.
17. Mehran R, Dangas G, Abizaid AS, Mintz GS, Lansky AJ, Satler LF, et al.
Angiographic patterns of in-stent restenosis: classification and implications
for long-term outcome. Circulation. 1999;100(18):1872-8.
18. Park CB, Hong MK, Kim YH, Park DW, Han KH, Lee CW, et al. Comparison
of angiographic patterns of in-stent restenosis between sirolimus- and
paclitaxel-eluting stent. Int J Cardiol. 2007;120(3):387-90.
19. Cosgrave J, Melzi G, Biondi-Zoccai GG, Airoldi F, Chieffo A, Sangiorgi
GM, et al. Drug-eluting stent restenosis the pattern predicts the outcome. J
Am Coll Cardiol. 2006;47(12):2399-404.
20. Hoffmann R, Mintz GS. Coronary in-stent restenosis - predictors, treatment
and prevention. Eur Heart J. 2000;21(21):1739-49.
21. Kastrati A, Schömig A, Elezi S, Schühlen H, Dirschinger J, Hadamitzky M, et
al. Predictive factors of restenosis after coronary stent placement. J Am Coll
Cardiol. 1997;30(6):1428-36.
22. Goldberg SL, Loussararian A, De Gregorio J, Di Mario C, Albiero R,
Colombo A. Predictors of diffuse and aggressive intra-stent restenosis. J Am
Coll Cardiol. 2001;37(4):1019-25.
23. Mercado N, Boersma E, Wijns W, Gersh BJ, Morillo CA, de Valk V, et al.
Clinical and quantitative coronary angiographic predictors of coronary
restenosis: a comparative analysis from the balloon-to-stent era. J Am Coll
Cardiol. 2001;38(3):645-52.
24. Kobayashi Y, De Gregorio J, Kobayashi N, Akiyama T, Reimers B, Finci L,
et al. Stented segment length as an independent predictor of restenosis. J Am
Coll Cardiol. 1999;34(3):651-9.
25. Lemos PA, Hoye A, Goedhart D, Arampatzis CA, Saia F, van der Giessen
WJ, et al. Clinical, angiographic, and procedural predictors of angiographic
restenosis after sirolimus-eluting stent implantation in complex patients: an
evaluation from the Rapamycin-Eluting Stent Evaluated At Rotterdam
Cardiology Hospital (RESEARCH) study. Circulation. 2004;109(11):1366-
70.
26. Prati F, Di Mario C, Moussa I, Reimers B, Mallus MT, Parma A, et al. In-
stent neointimal proliferation correlates with the amount of residual plaque
burden outside the stent: an intravascular ultrasound study. Circulation.
1999;99(8):1011-4.
27. Singh M, Gersh BJ, McClelland RL, Ho KK, Willerson JT, Penny WF, et al.
Clinical and angiographic predictors of restenosis after percutaneous
coronary intervention: insights from the Prevention of Restenosis with
Tranilast and its Outcomes (PRESTO) trial. Circulation. 2004;109(22):2727-
31.
28. Kastrati A, Mehilli J, Dirschinger J, Dotzer F, Schühlen H, Neumann FJ, et al.
Intracoronary stenting and angiographic results: strut thickness effect on
restenosis outcome (ISAR-STEREO) trial. Circulation. 2001;103(23):2816-
21.
29. Pache J, Kastrati A, Mehilli J, Schühlen H, Dotzer F, Hausleiter J, et al.
Intracoronary stenting and angiographic results: strut thickness effect on
restenosis outcome (ISAR-STEREO-2) trial. J Am Coll Cardiol.
2003;41(8):1283-8.
30. Yoshitomi Y, Kojima S, Yano M, Sugi T, Matsumoto Y, Saotome M, et al.
Does stent design affect probability of restenosis? A randomized trial
comparing Multilink stents with GFX stents. Am Heart J. 2001;142(3):445-
51.
31. Castagna MT, Mintz GS, Leiboff BO, Ahmed JM, Mehran R, Satler LF, et al.
The contribution of "mechanical" problems to in-stent restenosis: An
intravascular ultrasonographic analysis of 1090 consecutive in-stent
restenosis lesions. Am Heart J. 2001;142(6):970-4.
32. Moses JW, Leon MB, Popma JJ, Fitzgerald PJ, Holmes DR, O'Shaughnessy
C, et al; SIRIUS Investigators. Sirolimus-eluting stents versus standard stents
in patients with stenosis in a native coronary artery. N Engl J Med.
2003;349(14):1315-23.
33. Stone GW, Ellis SG, Cox DA, Hermiller J, O'Shaughnessy C, Mann JT, et
al;TAXUS-IV Investigators. A polymer-based, paclitaxel-eluting stent in
patients with coronary artery disease. N Engl J Med. 2004;350(3):221-31.
34. Stettler C, Wandel S, Allemann S, Kastrati A, Morice MC, Schömig A, et al.
Outcomes associated with drug-eluting and bare-metal stents: a collaborative
network meta-analysis. Lancet. 2007;370(9591):937-48.
35. Cutlip DE, Windecker S, Mehran R, Boam A, Cohen DJ, van Es GA, et al;
Academic Research Consortium. Clinical end points in coronary stent trials:
a case for standardized definitions. Circulation. 2007;115(17):2344-51.
36. Serruys PW, van Hout B, Bonnier H, Legrand V, Garcia E, Macaya C, et al.
Randomised comparison of implantation of heparin-coated stents with
balloon angioplasty in selected patients with coronary artery disease
(Benestent II). Lancet. 1998;352(9129):673-81. Erratum in: Lancet.
1998;352(9138):1478.
37. Serruys PW, Luijten HE, Beatt KJ, Geuskens R, de Feyter PJ, van den Brand
M, et al. Incidence of restenosis after successful coronary angioplasty: a
time-related phenomenon. A quantitative angiographic study in 342
consecutive patients at 1, 2, 3, and 4 months. Circulation. 1988;77(2):361-71.
38. Nobuyoshi M, Kimura T, Nosaka H, Mioka S, Ueno K, Yokoi H, et al.
Restenosis after successful percutaneous transluminal coronary angioplasty:
serial angiographic follow-up of 229 patients. J Am Coll Cardiol.
1988;12(3):616-23.
39. Garratt KN, Edwards WD, Kaufmann UP, Vlietstra RE, Holmes DR, Jr.
Differential histopathology of primary atherosclerotic and restenotic lesions
in coronary arteries and saphenous vein bypass grafts: analysis of tissue
obtained from 73 patients by directional atherectomy. J Am Coll Cardiol.
1991;17(2):442-8.
40. Bossi I, Klersy C, Black AJ, Cortina R, Choussat R, Cassagneau B, et al. In-
stent restenosis: long-term outcome and predictors of subsequent target lesion
revascularization after repeat balloon angioplasty. J Am Coll Cardiol.
2000;35(6):1569-76.
41. Bengtson JR, Mark DB, Honan MB, Rendall DS, Hinohara T, Stack RS, et al.
Detection of restenosis after elective percutaneous transluminal coronary
angioplasty using the exercise treadmill test. Am J Cardiol. 1990;65(1):28-
34.
42. Pepine CJ, Cohn PF, Deedwania PC, Gibson RS, Handberg E, Hill JA, et al.
Effects of treatment on outcome in mildly symptomatic patients with ischemia
during daily life. The Atenolol Silent Ischemia Study (ASIST). Circulation.
1994;90(2):762-8.
43. Gibbons RJ, Balady GJ, Bricker JT, Chaitman BR, Fletcher GF, Froelicher
VF, et al; American College of Cardiology/American Heart Association Task
Force on Practice Guidelines (Committee to Update the 1997 Exercise
Testing Guidelines). ACC/AHA 2002 guideline update for exercise testing:
summary article: a report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Committee to Update
the 1997 Exercise Testing Guidelines). Circulation. 2002;106(14):1883-92.
44. Dubach P, Froelicher V, Klein J, Detrano R. Use of the exercise test to predict
prognosis after coronary artery bypass grafting. Am J Cardiol.
1989;63(9):530-3.
45. Samuels B, Schumann J, Kiat H, Friedman J, Berman DS. Acute stent
thrombosis associated with exercise testing after successful percutaneous
transluminal coronary angioplasty. Am Heart J. 1995;130(5):1120-2.
46. Zijlstra F, Reiber JC, Juilliere Y, Serruys PW. Normalization of coronary
flow reserve by percutaneous transluminal coronary angioplasty. Am J
Cardiol. 1988;61(1):55-60.
47. Knatterud GL, Bourassa MG, Pepine CJ, Geller NL, Sopko G, Chaitman BR,
et al. Effects of treatment strategies to suppress ischemia in patients with
coronary artery disease: 12-week results of the Asymptomatic Cardiac
Ischemia Pilot (ACIP) study. J Am Coll Cardiol. 1994;24(1):11-20. Erratum
in: J Am Coll Cardiol. 1995;26(3):842.
48. Ho KT, Miller TD, Holmes DR, Hodge DO, Gibbons RJ. Long-term
prognostic value of Duke treadmill score and exercise thallium-201 imaging
performed one to three years after percutaneous transluminal coronary
angioplasty. Am J Cardiol. 1999;84(11):1323-7.
49. Sheppard R, Schechter D, Azoulay A, Witt H, Garzon P, Eisenberg MJ.
Results of a routine exercise treadmill testing strategy early after
percutaneous transluminal coronary angioplasty. Can J Cardiol.
2001;17(4):407-14.
50. Chalela WA, Kreling JC, Falcão AM, Hueb W, Moffa PJ, Pereyra PL, et al.
Exercise stress testing before and after successful multivessel percutaneous
transluminal coronary angioplasty. Braz J Med Biol Res. 2006;39(4):475-82.
51. Klocke FJ, Baird MG, Lorell BH, Bateman TM, Messer JV, Berman DS, et
al; American College of Cardiology; American Heart Association Task Force
on Practice Guidelines; American Society for Nuclear Cardiology.
ACC/AHA/ASNC Guidelines for the Clinical Use of Cardiac Radionuclide
Imaging--executive summary: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
(ACC/AHA/ASNC Committee to revise the 1995 Guidelines for the Clinical
Use of Cardiac Radionuclide Imaging). Circulation. 2003;108(11):1404-18.
52. Picano E, Pirelli S, Marzilli M, Faletra F, Lattanzi F, Campolo L, et al.
Usefulness of high-dose dipyridamole echocardiography test in coronary
angioplasty. Circulation. 1989;80(4):807-15.
53. McNeill AJ, Fioretti PM, el-Said SM, Salustri A, de Feyter PJ, Roelandt JR.
Dobutamine stress echocardiography before and after coronary angioplasty.
Am J Cardiol. 1992;69(8):740-5.
54. Picano E, Vano E, Semelka R, Regulla D. The American College of
Radiology white paper on radiation dose in medicine: deep impact on the
practice of cardiovascular imaging. Cardiovasc Ultrasound. 2007;5:37.
55. Bedetti G, Botto N, Andreassi MG, Traino C, Vano E, Picano E. Cumulative
patient effective dose in cardiology. Br J Radiol. 2008;81(969):699-705.
56. Rist C, von Ziegler F, Nikolaou K, Kirchin MA, Wintersperger BJ, Johnson
TR, et al. Assessment of coronary artery stent patency and restenosis using
64-slice computed tomography. Acad Radiol. 2006;13(12):1465-73.
57. Ehara M, Kawai M, Surmely JF, Matsubara T, Terashima M, Tsuchikane E, et
al. Diagnostic accuracy of coronary in-stent restenosis using 64-slice
computed tomography: comparison with invasive coronary angiography. J Am
Coll Cardiol. 2007;49(9):951-9.
58. Sun J, Zhang Z, Lu B, Yu W, Yang Y, Zhou Y, et al. Identification and
quantification of coronary atherosclerotic plaques: a comparison of 64-
MDCT and intravascular ultrasound. AJR Am J Roentgenol.
2008;190(3):748-54.
59. Vanhoenacker PK, Decramer I, Bladt O, Sarno G, Van Hul E, Wijns W, et al.
Multidetector computed tomography angiography for assessment of in-stent
restenosis: meta-analysis of diagnostic performance. BMC Med Imaging.
2008;8:14.
60. Dori G, Denekamp Y, Fishman S, Bitterman H. Exercise stress testing,
myocardial perfusion imaging and stress echocardiography for detecting
restenosis after successful percutaneous transluminal coronary angioplasty: a
review of performance. J Intern Med. 2003;253(3):253-62.
61. Elhendy A, Tsutsui JM, O'Leary EL, Xie F, Majeed F, Porter TR. Evaluation
of restenosis and extent of coronary artery disease in patients with previous
percutaneous coronary interventions by dobutamine stress real-time
myocardial contrast perfusion imaging. Heart. 2006;92(10):1480-3.
62. Elhendy A, Schinkel AF, van Domberg RT, Bax JJ, Valkema R, Poldermans
D. Non-invasive diagnosis of in stent stenosis by stress 99m technetium
tetrofosmin myocardial perfusion imaging. Int J Cardiovasc Imaging.
2006;22(5):657-62.
63. Marcus ML, Skorton DJ, Johnson MR, Collins SM, Harrison DG, Kerber RE.
Visual estimates of percent diameter coronary stenosis: "a battered gold
standard". J Am Coll Cardiol. 1988;11(4):882-5.
64. Lopez-Palop R, Pinar E, Lozano I, Saura D, Picó F, Valdés M. Utility of the
fractional flow reserve in the evaluation of angiographically moderate in-
stent restenosis. Eur Heart J. 2004;25(22):2040-7.
65. Krüger S, Koch KC, Kaumanns I, Merx MW, Hanrath P, Hoffmann R. Clinical
significance of fractional flow reserve for evaluation of functional lesion
severity in stent restenosis and native coronary arteries. Chest.
2005;128(3):1645-9.
66. Nam CW, Rha SW, Koo BK, Doh JH, Chung WY, Yoon MH, et al. Usefulness
of coronary pressure measurement for functional evaluation of drug-eluting
stent restenosis. Am J Cardiol. 2011;107(12):1783-6.
67. Pijls NH, De Bruyne B, Peels K, Van Der Voort PH, Bonnier HJ, Bartunek J,
et al. Measurement of fractional flow reserve to assess the functional severity
of coronary-artery stenoses. N Engl J Med. 1996;334(26):1703-8.
68. Pijls NH. Optimum guidance of complex PCI by coronary pressure
measurement. Heart. 2004;90(9):1085-93.
69. Mintz GS, Weissman NJ. Intravascular ultrasound in the drug-eluting stent
era. J Am Coll Cardiol. 2006;48(3):421-9.
70. Radke PW, Kaiser A, Frost C, Sigwart U. Outcome after treatment of
coronary in-stent restenosis; results from a systematic review using meta-
analysis techniques. Eur Heart J. 2003;24(3):266-73.
71. Smith SC Jr., Allen J, Blair SN, Bonow RO, Brass LM, Fonarow GC, et al;
AHA/ACC; National Heart, Lung, and Blood Institute. AHA/ACC guidelines
for secondary prevention for patients with coronary and other atherosclerotic
vascular disease: 2006 update: endorsed by the National Heart, Lung, and
Blood Institute. Circulation. 2006;113(19):2363-72. Erratum in: Circulation.
2006; 113(22):e847.
72. Elezi S, Kastrati A, Hadamitzky M, Dirschinger J, Neumann FJ, Schömig A.
Clinical and angiographic follow-up after balloon angioplasty with
provisional stenting for coronary in-stent restenosis. Catheter Cardiovasc
Interv. 1999;48(2):151-6.
73. Albiero R, Silber S, Di Mario C, Cernigliaro C, Battaglia S, Reimers B, et
al. RESCUT Investigators. Cutting balloon versus conventional balloon
angioplasty for the treatment of in-stent restenosis: results of the restenosis
cutting balloon evaluation trial (RESCUT). J Am Coll Cardiol.
2004;43(6):943-9.
74. Alfonso F, Zueco J, Cequier A, Mantilla R, Bethencourt A, López-Minguez
JR, et al; Restenosis Intra-stent: Balloon Angioplasty Versus Elective Stenting
(RIBS) Investigators. A randomized comparison of repeat stenting with
balloon angioplasty in patients with in-stent restenosis. J Am Coll Cardiol.
2003;42(5):796-805.
75. Alfonso F, Pérez-Vizcayno MJ, Hernandez R, Bethencourt A, Martí V, López-
Minguez JR, et al; RIBS-II Investigators. A randomized comparison of
sirolimus-eluting stent with balloon angioplasty in patients with in-stent
restenosis: results of the Restenosis Intrastent: Balloon Angioplasty Versus
Elective Sirolimus-Eluting Stenting (RIBS-II) trial. J Am Coll Cardiol.
2006;47(11):2152-60.
76. Waksman R, Pakala R. Drug-eluting balloon: the comeback kid? Circ
Cardiovasc Interv. 2009;2(4):352-8.
77. Scheller B, Hehrlein C, Bocksch W, Rutsch W, Haghi D, Dietz U, et al.
Treatment of coronary in-stent restenosis with a paclitaxel-coated balloon
catheter. N Engl J Med. 2006;355(20):2113-24.
78. Unverdorben M, Vallbracht C, Cremers B, Heuer H, Hengstenberg C,
Maikowski C, et al. Paclitaxel-coated balloon catheter versus paclitaxel-
coated stent for the treatment of coronary in-stent restenosis. Circulation.
2009;119(23):2986-94.
79. Task Force on Myocardial Revascularization of the European Society of
Cardiology (ESC) and the European Association for Cardio-Thoracic
Surgery (EACTS); European Association for Percutaneous Cardiovascular
Interventions (EAPCI), Wijns W, Kolh P, Danchin N, Di Mario C, Falk V,
Folliguet T, et al. Guidelines on myocardial revascularization. Eur Heart J.
2010;31(20):2501-55.
80. Mehilli J, Byrne RA, Tiroch K, Pinieck S, Schulz S, Kufner S, et al; ISAR-
DESIRE 2 Investigators. Randomized trial of paclitaxel- versus sirolimus-
eluting stents for treatment of coronary restenosis in sirolimus-eluting stents:
the ISAR-DESIRE 2 (Intracoronary Stenting and Angiographic Results: Drug
Eluting Stents for In-Stent Restenosis 2) study. J Am Coll Cardiol.
2010;55(24):2710-6.
81. Holmes DR Jr., Teirstein P, Satler L, Sketch M, O'Malley J, Popma JJ, et al;
SISR Investigators. Sirolimus-eluting stents vs vascular brachytherapy for in-
stent restenosis within bare-metal stents: the SISR randomized trial. JAMA.
2006;295(11):1264-73.
82. Stone GW, Ellis SG, O'Shaughnessy CD, Martin SL, Satler L, McGarry T, et
al; TAXUS V ISR Investigators. Paclitaxel-eluting stents vs vascular
brachytherapy for in-stent restenosis within bare-metal stents: the TAXUS V
ISR randomized trial. JAMA. 2006;295(11):1253-63.
83. Kim YH, Lee BK, Park DW, Park KH, Choi BR, Lee CW, et al. Comparison
with conventional therapies of repeated sirolimus-eluting stent implantation
for the treatment of drug-eluting coronary stent restenosis. Am J Cardiol.
2006;98(11):1451-4.
84. Mishkel GJ, Moore AL, Markwell S, Shelton MC, Shelton ME. Long-term
outcomes after management of restenosis or thrombosis of drug-eluting stents.
J Am Coll Cardiol. 2007;49(2):181-4.
85. Torguson R, Sabate M, Deible R, Smith K, Chu WW, Kent KM, et al.
Intravascular brachytherapy versus drug-eluting stents for the treatment of
patients with drug-eluting stent restenosis. Am J Cardiol. 2006;98(10):1340-
4.
86. Tagliareni F, La Manna A, Saia F, Marzocchi A, Tamburino C. Long-term
clinical follow-up of drug-eluting stent restenosis treatment: retrospective
analysis from two high volume catheterisation laboratories. EuroIntervention.
2010;5(6):703-8.
87. Cordis Corporation. A Prospective, randomized, multi-center comparison of
the CYPHER Select™ sirolimus-eluting stent and balloon re-angioplasty for
treatment of patients with intra-des restenosis; 2010. Available from:
<http://clinicaltrials.gov/show/NCT00323895>
88. Bonello L, Kaneshige K, De Labriolle A, Roy P, Lemesle G, Torguson R, et
al. Vascular brachytherapy for patients with drug-eluting stent restenosis. J
Interv Cardiol. 2008;21(6):528-34.
89. Waksman R, Ajani AE, White RL, Chan R, Bass B, Pichard AD, et al. Five-
year follow-up after intracoronary gamma radiation therapy for in-stent
restenosis. Circulation. 2004;109(3):340-4.
90. Habara S, Mitsudo K, Kadota K, Goto T, Fujii S, Yamamoto H, et al.
Effectiveness of paclitaxel-eluting balloon catheter in patients with sirolimus-
eluting stent restenosis. JACC Cardiovasc Interv. 2011;4(2):149-54.
VALVULOPLASTIA MITRAL POR BALÃO NA
ESTENOSE MITRAL
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 43 anos apresentava estenose mitral severa após tratamento médico,
em CF III, ritmo sinusal; área ecocardiográfica pré-intervenção de 0,90cm2; pressão
pulmonar média no cateterismo cardíaco pré-intervenção de 36mmHg, gradiente médio
pré-intervenção de 30mmHg e válvula mitral competente.
Figura 2
Em A: Balão de 20mm de diâmetro inflado na válvula mitral, com a marca do orifício mitral estenótico
Em B: Balão plenamente inflado
Em C: Área valvar pré-valvuloplastia de 0,90cm2
Em D: Abertura da válvula mitral nas comissuras com área valvar de 1,50cm2 pós-valvuloplastia mitral
Fonte: Peixoto9
Após a segunda valvuloplastia mitral com balão, agora com balão único de 30mm de
diâmetro (área efetiva de dilatação de 7,06cm2), a área valvar mitral ecocardiográfica
passou para 1,80cm2; a pressão pulmonar média passou para 16mmHg; o gradiente
mitral médio caiu de 22mmHg para 4mmHg; a área valvar mitral passou para 1,80cm2,
sendo a válvula mitral competente tanto pré quanto pós-intervenção (Figuras 3, 4 e 5).
Figura 3
Gradiente capilar pulmonar encunhado pré-intervenção, gradiente átrio esquerdo-ventrículo esquerdo antes da
dilatação por balão e importante diminuição do gradiente átrio esquerdo-ventrículo esquerdo pós-valvuloplastia mitral
por balão.
Figura 4
Balão único de 30mm de diâmetro inflado na válvula mitral.
Figura 5
Área valvar mitral ecocardiográfica pré-valvuloplastia mitral de 1,0cm2 e pós-valvuloplastia de 1,80cm2.
Figura 6
Válvula mitral importantemente calcificada.
Entre a primeira valvuloplastia mitral por balão e a indicação cirúrgica de troca valvar
mitral decorreram 208 meses; e entre a segunda valvuloplastia mitral e a indicação
cirúrgica 150 meses, tendo sido o primeiro procedimento desta paciente a publicação
pioneira da técnica transeptal no Brasil; a paciente ganhou 17 anos e 4 meses com as
intervenções, postergando a troca valvar mitral.
OBJETIVOS
1. Revisar as técnicas de valvuloplastia mitral por balão em uso na atualidade e
sua evolução no tempo.
2. Discutir as indicações e contraindicações desse tratamento na estenose mitral
grave, moderada e discreta.
3. Analisar resultados imediatos e evolução em longo prazo das técnicas
utilizadas na atualidade.
PERGUNTAS
1. Quais as técnicas de valvuloplastia mitral utilizadas desde sua introdução em
1984 e na década de 90 e quais são as atualmente utilizadas?
A valvuloplastia mitral por balão foi introduzida em 1984 quando Inoue et al.1
publicaram a técnica de dilatação percutânea por balão da válvula mitral, utilizando o
balão que leva o nome do autor (Figura 7). Em 1986, McKay et al.2 e Palacios et al.3
iniciaram esse procedimento nos Estados Unidos da América com um balão único. Na
Arábia Saudita, Al Zaibag et al.4, em 1986, passaram a usar a técnica do duplo-balão
por via transeptal para obtenção de maior área valvar mitral após o procedimento
(Figura 8).
Figura 7
Balão de Inoue sendo inflado e, a seguir inflado na mitral.
Fonte: Peixoto et al.11
Figura 8
Técnica do duplo-balão
Em A: balão de 15mm de diâmetro
Em B: balão de 15mm inflado
Em C: balões de 15mm e 20mm
Em D: balões de 15mm e 20mm inflados
Fonte: Peixoto et al.11
Babic et al.5, em 1986, descreveram outra técnica de dilatação valvar mitral, em que o
fio-guia e o cateter-balão eram introduzidos retrogradamente pela aorta. Em 1987,
Mossmann et al.6, em Porto Alegre, e Buchler Jr et al.7, em São Paulo, utilizando o
cateter de Sones, descreveram uma nova técnica por via retrógrada para atingir o átrio
esquerdo. Entretanto, das técnicas retrógradas, permaneceu apenas a de Stefanadis et
al.8, hoje também abandonada.
No Brasil, em 1987, Peixoto9 iniciou a valvuloplastia mitral por via transeptal por
balão, utilizando um único balão (Figura 2) e, logo a seguir, Peixoto et al.10 utilizaram a
técnica do duplo-balão (Figura 8). A partir de 1990, utilizaram predominantemente as
técnicas do balão de Inoue (Figura 9) e do balão único de baixo perfil Balt (Figura 4),
sobretudo nos pacientes oriundos do Sistema Único de Saúde (SUS), já que o SUS só
autorizara o balão de Inoue após o ano 2000 (Figura 3)11-17.
Figura 9
Balão único de 30mm sendo inflado e inflado na válvula mitral.
Fonte: Peixoto et al.11
Em relação aos balões únicos iniciais, surgiram posteriormente novos balões únicos e a
literatura descreve os resultados na valvuloplatsia mitral com os balões únicos de
baixo perfil e maior diâmetro de marca: Balt12, Nucleus21, Jomiva22 e o de Joseph23,
sendo essa última técnica possível de ser abordada tanto através da veia femoral como
da veia jugular interna.
O balão único de Inoue, devido ao seu tipo único1, continua sendo analisado
separadamente dos outros balões únicos.
2. Qual a importância do ecocardiograma na seleção dos pacientes candidatos a
valvuloplastia mitral por balão?
Não está indicada em pacientes com estenose mitral leve (indicação classe
III, nível de evidência C).
Não deve ser realizada em pacientes com insuficiência mitral moderada ou
grave ou em pacientes com trombo em átrio esquerdo (indicação classe III,
nível de evidência C)26.
Atualmente está comprovado que se pode obter área valvar mitral pós-valvoplastia
mitral percutânea por balão semelhante utilizando-se qualquer uma das técnicas, ou
seja, do duplo-balão, do balão de Inoue ou do balão único, desde que as áreas efetivas
de dilatação dos balões sejam comparáveis14-17,27-29.
O balão único é de menor custo que o balão de Inoue22,27,52. Apesar do custo bem
inferior da técnica do balão único, a técnica do balão de Inoue é de aprendizado mais
simples; entretanto, quando comparada com a técnica do balão-duplo, a técnica do
balão único não só é mais simples como de menor custo21,23.
Atualmente pode-se afirmar, de um modo geral, que a valvuloplastia mitral por balão é
o primeiro tratamento para pacientes com estenose mitral grave com válvulas passíveis
de plastias por balão ou cirúrgica, ficando a cirurgia para pacientes candidatos à troca
valvar mitral. Situações especiais que fogem a essa regra geral estão colocadas nas
diretrizes citadas anteriormente26.
10. Tendo sido a paciente do caso clínico tratada em duas ocasiões com balão único,
o resultado esperado seria semelhante se ela fosse tratada com o balão único de
Inoue?
Sim, está estabelecido que ambas as técnicas têm resultados semelhantes14-
17,22,23,27,43,44,51-60.
Referências
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 91 anos, com queixa de falta de ar intensa e desmaio.
História da doença atual (HDA): apresentando dispneia progressiva, com piora há
quatro meses, evoluindo para quadro de edema pulmonar (três episódios). No último
evento houve necessidade do uso de prótese ventilatória por três dias. Estabilizou após
um mês de internação. Após a alta apresentou dois episódios de síncope e refere
presença de cansaço aos mínimos esforços.
Exames realizados:
EcoDoppler de carótidas e vertebrais: sem lesões importantes.
Ecocardiograma uni e bidimensional: função sistólica do VE normal.
FE =71%. Leve aumento do átrio esquerdo. Gradiente VE/Aorta médio =69mmHg.
Área valvar estimada de 0,7cm².
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso clínico relacionadas à sintomatologia
e ao exame físico?
O exame físico apresenta o clássico pulso carotídeo diminuído (parvus et tardus), mas
no idoso pode ser amplo. O sopro sistólico protomeso de ejeção é do tipo crescendo–
decrescendo. No idoso, este apresenta característica acústica musical, de baixa
intensidade com irradiação axilar, enquanto no jovem é mais exuberante no foco aórtico
com irradiação para o pescoço. A segunda bulha apresenta redução da sua intensidade e
uma vigorosa contração atrial é responsável pela presença de uma quarta bulha. A
percepção de frêmito sistólico é frequente6.
Mesmo com a grande facilidade de diagnóstico pela anamnese e exame clínico, alguns
exames complementares auxiliam a identificação da EAo.
A valvotomia por balão foi inicialmente oferecida como uma opção ao tratamento
cirúrgico da EAo9. Embora produzindo uma redução imediata do gradiente transvalvar,
a impossibilidade de promover dilatações >1,0cm2 de área valvar promove uma alta
incidência de reestenose e frequentemente acarreta retorno da sintomatologia. Ademais,
o índice de comorbidades do tipo AVE, infarto e complicações vasculares estão em
torno de 10-20%, assim como a mortalidade hospitalar10,11.
Lieberman et al.12, avaliando 165 pacientes, demonstraram que a valvotomia não altera
a história natural da doença, pois ao longo de seis anos, com essa técnica, 93% dos
pacientes evoluíram para óbito (60%) ou necessidade de cirurgia (33%). Por outro
lado, a sobrevida em três anos dos pacientes operados após a valvotomia foi 82%.
Esses dados sugerem que a valvotomia, como ponte para a cirurgia, pode ser uma
indicação em pacientes que apresentem quadros de instabilidade hemodinâmica e não
podem ser operados em primeira instância.
O uso da valvotomia como ponte para intervenção ainda não está bem estabelecido. As
indicações clássicas de valvotomia por balão continuam sendo para crianças e adultos
jovens portadores de valva aórtica bicúspide. Esse método terapêutico está
contraindicado para melhora sintomática em pacientes estáveis, candidatos à cirurgia
não cardíaca de urgência. Em gravidez a termo, com instabilização hemodinâmica a
valvotomia pode ser útil, mas o risco de insuficiência aórtica aguda é elevado13-15.
4. Quais as indicações para o procedimento percutâneo de válvula aórtica?
A principal indicação para realização do implante está no cálculo dos escores de risco
para cirurgia cardíaca. Vários são os escores de risco existentes, não havendo consenso
de qual o melhor a ser utilizado. Quando se trata de implante valvar aórtico percutâneo,
consideram-se dois escores: o EuroSCORE, que pode ser calculado diretamente no site
<http://www.euroscore.org>, e o Surgycal Score Thoracic Surgery (STS score),
disponível em: <http://209.220.160.181/STSWebRiskCalc>
Pacientes com EuroSCORE >15% e/ou STS score >10% são candidatos ao
procedimento por apresentarem morbimortalidade elevada para a cirurgia de troca
valvar,. Importante destacar que o implante valvar percutâneo não substitui a cirurgia de
troca valvar; ele foi introduzido na terapêutica cardiológica com o objetivo de tratar um
enorme grupo de pacientes idosos, portadores de estenose aórtica degenerativa, que por
apresentarem alto risco para a intervenção cirúrgica eram deixados sem tratamento.
Também devem ser considerados outros fatores de risco que não estão relatados nos
escores de risco utilizados, e são importantes fatores a favor do implante valvar
percutâneo, como aorta em porcelana, distúrbio da coagulabilidade, algumas
neoplasias, tórax ostil por radioterapia prévia ou cirurgias cardíacas anteriores,
principalmente se há presença de by-pass de artéria torácica interna pérvia.
Os exames de seleção iniciais dos pacientes têm por objetivo verificar se as condições
anatômicas do anel valvar aórtico e do trajeto vascular do paciente são adequados para
receber o implante valvar. São três os exames fundamentais: o ecocardiograma
transtorácico (ETT) e o transesofágico (ETE); a angiotomografia (angioTC) ou a
ressonância nuclear magnética (RNM); e o cateterismo cardíaco.
Ecocardiograma:
Dois tipos de válvulas estão disponíveis para implante no Brasil, sendo a tomografia o
protocolo pré-intervenção obrigatório para o implante da valva de Edwards SAPIEN e
muito aconselhável para implante da CoreValve. Muitas vezes o operador seleciona o
tamanho correto da valva a ser implantada pelas medidas realizadas pela
angiotomografia.
Cateterismo cardíaco:
Quadro 1
Resultados anatômicos a serem avaliados por cada exame para o protocolo de implante de CoreValve.
Em verde observa-se o paciente ideal. Em vermelho o paciente inadequado anatomicamente ao IVAP.
6. Qual o percentual de sucesso hospitalar e os principais cuidados no pós-
operatório imediato?
Desde o primeiro IVAP realizado em 2002 por Cribier17 até então, os resultados a curto
e médio prazo melhoraram substancialmente. Inicialmente os dispositivos para implante
percutâneo eram montados em sistema de entrega de grande diâmetro e dificuldade de
manipulação. Esses sistemas que inicialmente possuíam 25 French (Fr) de diâmetro,
atualmente já estão disponíveis em 16Fr, o que modifica o sucesso do implante e
diminuem as complicações referentes ao procedimento22.
Tabela 1
Resultados do procedimento
A variável aplicada é o diâmetro do sistema de entrega de montagem da valva.
São duas as próteses hoje mais empregadas no mercado mundial e disponíveis para
implante no Brasil: a prótese de Edwards-SAPIEN (Figura 3) que foi inicialmente
implantada em 2002 e tornou-se disponível para implante no Brasil em 2011; e a
prótese CoreValve (Figura 4) que teve seu primeiro implante efetuado por Eberhard
Gruber em 2005, e está disponível para implante no Brasil desde 2009.
Figura 3
Prótese aórtica Edwards SAPIEN (Edwards Lifesciences, Irvine, CA).
Stent de cromo-cobalto, três folhetos valvares de pericárdio bovino, expansível por balão.
(Figura obtida com autorização)
Figura 4
Prótese CoreValve, Medtronic, Minneapolis, MN. Stent autoexpansível de nitinol com folhetos de pericárdio suíno.
(Figura obtida com autorização)
Quadro 2
Características das próteses CoreValve e Edwards SAPIEN
Estudos comparativos diretos entre as duas próteses ainda não foram realizados, mas
dados disponíveis mostram não haver diferença entre elas quanto ao sucesso do
procedimento e presença de complicações por eventos cardíacos maiores24.
Os resultados são por comparação. Nota-se uma tendência maior à ocorrência de
acidente vascular encefálico (AVE) com a prótese de E. SAPIEN, evidenciado pelo
estudo PARTNER realizado com essa bioprótese, publicado em 2010, que surpreendeu
com a estatística de ocorrência de 10,6% AVE vs. 3% com a CoreValve, publicados
durante o mesmo período evolutivo de 12 meses. No entanto, com a prótese CoreValve
observa-se uma incidência muito superior de implante de marca-passo definitivo no
pós-procedimento, ocasionado pela característica do metal empregado, o nitinol que,
por ser autoexpansivo continua se dilatando por um determinado período após o
implante, como também pelo seu posicionamento no trato de saída de VE que leva à
compressão e inflamação do tecido de condução cardíaco. Essa incidência chega a
25% em alguns relatos enquanto a prótese de E.SAPIEN o relato é de 5%.
Não existe comparação na literatura entre o tratamento cirúrgico e o IVAP, pois este
está indicado nos casos em que a cirurgia foi considerada inadequada.
A cirurgia de troca valvar aórtica permanece como o tratamento de escolha para todos
os demais pacientes portadores de EAo que não apresentem alto risco ou
contraindicação cirúrgica.
Esses resultados são encorajadores, embora haja uma queda na sobrevida entre 30 dias
e um ano de seguimento, ocasionada pela presença de importantes comorbidades, o que
alerta para se manter um critério rígido na seleção de pacientes para indicação de IVAP.
Outro dado importante resultante dessa análise é que ela direciona para a necessidade
de haver uma comparação entre o IVAP e a cirurgia de troca valvar em pacientes de
menor risco cirúrgico, pois a mortalidade maior está centrada em pacientes mais
críticos, podendo-se prever um provável melhor resultado a médio e longo prazo nos
pacientes de médio risco.
Não se pode esquecer que a cirurgia de troca valvar aórtica tem mais de 30 anos de
estudos evolutivos, necessitando ainda de muitas comparações para se considerar o
IVAP uma indicação nos pacientes de baixo risco cirúrgico. A durabilidade das
próteses biológicas em troca cirúrgica é sabidamente menor que a durabilidade das
próteses mecânicas, portanto, tratando-se as próteses valvares de implante percutâneo
de material biológico ainda há necessidade de se conhecer melhor sua durabilidade em
longo prazo.
Referências
CASO CLÍNICO
Paciente M.A.C.S., feminina, 65 anos, natural de Pernambuco, residente no Rio de
Janeiro há 50 anos, funcionária pública aposentada. Procurou atendimento médico por
cansaço aos esforços. Investigação inicial evidencia obesidade com IMC =35kg/m2,
hipertensão arterial sistêmica descontrolada, deambulação com auxilio de apoio por
osteoartrose coxofemoral e antecedentes patológicos de dislipidemia e acidente
vascular encefálico (AVE), sem sequelas motoras, com confirmação por tomografia
computadorizada de crânio.
OBJETIVOS
1. Discutir nova opção terapêutica na prevenção de eventos tromboembólicos
secundários à fibrilação atrial (FA) em pacientes de alto risco e
contraindicação à terapia de anticoagulação oral.
2. Analisar a indicação e as técnicas do procedimento através da
fundamentação do desenvolvimento desse novo dispositivo.
3. Identificar os pacientes que se beneficiarão dessa nova abordagem na
prevenção de fenômenos tromboembólicos (FTE).
4. Atualizar e demonstrar resultados da técnica especialmente em grupo de
pacientes para o qual existia uma limitação à prevenção da instalação de
eventos isquêmicos cerebrais de alta morbimortalidade.
PERGUNTAS
1. Tendo em vista o quadro da paciente, qual a melhor conduta quanto à prevenção
de eventos tromboembólicos?
Outros fatores como a obesidade e a baixa capacidade física também contribuem para o
quadro clínico. Entretanto, a queda dos níveis hematimétricos é o fator novo, e como o
sangramento é um preditor de mortalidade, o mesmo formaliza a necessidade de
suspensão da anticoagulação.
Sendo assim, diante das recomendações atuais, esta paciente ficaria sem nenhuma
medida eficaz para prevenir novos eventos tromboembólicos. No seu caso, o risco
cumulativo de eventos tromboembólicos é estimado em 6,7% ao ano, segundo sua
estratificação pelo escore de risco CHA2DS2-VA2Sc1 que, neste caso, é de cinco.
Assim, a indicação da oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo é uma nova
opção na prevenção de fenômenos tromboembólicos.
2. Quais são os pacientes com fibrilação atrial que apresentam elevado risco de
ocorrência de fenômenos tromboembólicos (FTE)? Como e quando iniciar
tratamento preventivo?
Visando a desenvolver uma ferramenta para identificar os pacientes com maior risco de
hemorragias foi criado uma forma prática de classificar os pacientes quanto ao seu
risco em um ano, o HAS-BLED risk score6. Este considera fatores que estiveram
relacionados à ocorrência de hemorragias intracranianas, necessidade de internação
hospitalar, queda de hematócrito >2g/L e/ou que foram hemotransfundidos6. Os fatores,
que recebem a pontuação de 1 ponto cada, são:
Os desfechos de segurança são muito importantes na profilaxia dos FTE. No estudo RE-
LY7, publicado em 2009, com 18113 pacientes, comprovou-se a superioridade da maior
dose da dabigatrana em comparação à warfarina em relação ao AVE e à embolização
sistêmica (1,11% vs. 1,71%/ano; p<0,001); sua equivalência em relação a
sangramentos maiores (3,32% vs. 3,57%/ano; p=0,32); e na dose menor foi equivalente
quanto aos eventos e superior em relação à segurança.
Esses dois fatores podem ser preponderantes para a indicação do tratamento local, em
um dos principais focos de origem de formação e armazenamento como o apêndice
atrial. A prevenção de FTE, com a oclusão do apêndice atrial esquerdo, poderá ser tão
eficaz quanto o tratamento sistêmico, mesmo que este seja feito com a nova geração de
anticoagulantes como a dabigatrana. A favor dessa modalidade de tratamento está o
caráter definitivo do mesmo, evitando os riscos de complicações hemorrágicas
possíveis em qualquer forma de tratamento por anticoagulação.
Deve-se ainda notar que a diferença entre a dose da warfarina necessária para prevenir
os FTE é muito próxima da dose relacionada aos eventos hemorrágicos. Sendo assim,
uma janela terapêutica estreita normalmente associada a diversos fatores que interferem
no adequado ajuste desse tratamento servem como empecilho para a adequação à
terapia-padrão. Como resultado, grande quantidade de pacientes é sistematicamente
excluída de uma perspectiva preventiva, ficando apenas sob tratamento empírico. Os
dados mostram que mesmo em registros clínicos, cujo ambiente é muito mais
selecionado que no dito mundo real, apenas 1/3 dos pacientes candidatos à terapia
preventiva de anticoagulação oral consegue manter o tratamento dentro da faixa
terapêutica15.
Apesar dos bons resultados iniciais, ainda não existem evidências científicas que
permitam substituir a anticoagulação pelo dispositivo de oclusão do AAE, cujo
benefício atual se restringe a uma parcela de pacientes, que estaria sem possibilidade
do tratamento farmacológico padrão.
O paciente deve ser avaliado sob diversos focos: capacidade de aderir ao tratamento,
ajuste da dose do medicamento, realização dos exames regularmente. O aspecto clínico
quanto ao risco de sangramento, como já descrito, também merece atenção no momento
da indicação e contraindicação.
No primeiro dia pós-operatório tão logo possa receber alimentação, o paciente deverá
receber antiagregação plaquetária dupla com AAS 100mg e clopidogrel 300mg de
ataque e 75mg/dia. O estudo PROTECT AF11 que utilizou o dispositivo Watchman e
acompanhou pacientes obrigatoriamente em uso de anticoagulante oral, manteve essa
terapia por mais 45 dias antes de interromper o seu uso. A maioria dos estudos10,16-18
com dispositivo ACP abordou pacientes com dificuldades para o uso de tal terapia e
como já não vinham fazendo uso do anticoagulante, só foi indicada a dupla
antiagregação por período de três meses19.
Referências
1. Lip GY, Nieuwlaat R, Pisters R, Lane DA, Crijns HJ. Refining clinical risk
stratification for predicting stroke and thromboembolism in atrial fibrillation
using a novel risk factor-based approach: the Euro Heart Survey on Atrial
Fibrillation. Chest. 2010;137(2):263-72.
2. Zimerman LI, Fenelon G, Martinelli Filho M, Grupi C, Atié J, Lorga Filho A,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes Brasileiras de
Fibrilação Atrial. Arq Bras Cardiol. 2009;92(6 supl. 1):1-39.
3. Stroke Risk in Atrial Fibrillation Working Group. Independent predictors of
stroke in patients with atrial fibrillation: a systematic review. Neurology.
2007;69(6):546-54.
4. Lamassa M, Di Carlo A, Pracucci G, Basile A, Trefoloni G, Vanni P, et al.
Characteristics, outcome, and care of stroke associated with atrial fibrillation
in Europe: data from a Multicenter Multinational Hospital-Based Registry
(The European Community Stroke Project). Stroke. 2001;32(2):392-8.
5. Fuster V, Rydén LE, Cannom DS, Crijns HJ, Curtis AB, Ellenbogen KA, et al;
American College of Cardiology; American Heart Association Task Force;
European Society of Cardiology Committee for Practice Guidelines;
European Heart Rhythm Association; Heart Rhythm Society. ACC/AHA/ESC
2006 Guidelines for the Management of Patients with Atrial Fibrillation: a
report of the American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines and the European Society of Cardiology
Committee for Practice Guidelines (Writing Committee to revise the 2001
Guidelines for the Management of Patients with Atrial Fibrillation)
developed in collaboration with the European Heart Rhythm Association and
the Heart Rhythm Society. Europace. 2006;8(9):651-745. Erratum in:
Europace. 2007;9(9):856.
6. Pisters R, Lane DA, Nieuwlaat R, de Vos CB, Crijns HJ, Lip GY. A novel
user-friendly score (HAS-BLED) to assess 1-year risk of major bleeding in
patients with atrial fibrillation: the Euro Heart Survey. Chest.
2010;138(5):1093-100.
7. Conolly SJ, Ezekowitz MD, Yusuf S, Eikelboom J, Oldgren J, Parekh A, et al;
RE-LY Steering Committee and Investigators. Dabigatran versus warfarin in
patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2009;361(12):1139-51.
Erratum in: N Engl J Cardiol. 2010;363(19):1877.
8. Wolf PA, Abbott RD, Kannel WB. Atrial fibrillation as an independent risk
factor for stroke: the Framingham Study. Stroke. 1991;22(8):983-8.
9. Blackshear JL, Odell JA. Appendage obliteration to reduce stroke in cardiac
surgical patients with atrial fibrillation. Ann Thorac Surg. 1996;61(2):755-9.
10. Cruz-Gonzalez I, Yan BP, Lam YY. Left atrial appendage exclusion: state-of-
the-art. Catheter Cardiovasc Interv. 2010;75(5):806-13.
11. Fountain RB, Holmes DR, Chandrasekaran K, Packer D, Asirvatham S, Van
Tassel R, et al. The PROTECT AF (WATCHMAN Left Atrial Appendage
System for Embolic PROTECTion in Patients with Atrial Fibrillation) trial.
Am Heart J. 2006;151(5):956-61.
12. Hylek EM, Go AS, Chang Y, Jensvold NG, Henault LE, Selby JV, et al. Effect
of intensity of oral anticoagulation on stroke severity and mortality in atrial
fibrillation. N Engl J Med. 2003;349(11):1019-26.
13. Go AS, Hylek EM, Borowsky LH, Phillips KA, Selby JV, Singer DE.
Warfarin use among ambulatory patients with nonvalvular atrial fibrillation:
the anticoagulation and risk factors in atrial fibrillation (ATRIA) study. Ann
Intern Med. 1999;131(12):927-34.
14. Bungard TJ, Ghali WA, Teo KK, McAlister FA, Tsuyuki RT. Why do patients
with atrial fibrillation not receive warfarin? Arch Intern Med.
2000;160(1):41-6.
15. 15. Stafford RS, Singer DE. National patterns of warfarin use in atrial
fibrillation. Arch Intern Med. 1996;156(22):2537-41.
16. Meier B, Palacios I, Windecker S, Rotter M, Cao QL, Keane D, et al.
Transcatheter left atrial appendage occlusion with Amplatzer devices to
obviate anticoagulation in patients with atrial fibrillation. Catheter Cardiov
Interv. 2003;60(3):417-22.
17. Martínez A, Winter JL, Heusser F, Córdova S, Lindefjeld D, Guarda E, et al.
Cierre percutáneo de orejuela izquierda para prevención de fenómenos
embólicos en fibrilación auricular: experiencia preliminar. Rev Chil Cardiol.
2010;29(1):146-54.
18. Jilaihawi H, Kar S. Oclusão do apêndice atrial esquerdo: alternativa ao
tratamento a longo prazo com varfarina em pacientes com fibrilação atrial.
[Editorial]. Rev Bras Cardiol Invas. 2011;19(1):9-10.
19. Armaganijan LV, Staico R, Pedra SF, Moreira DA, Braga SLN, et al.
Experiência inicial com o novo Amplatzer™ cardiac plug para oclusão
percutânea do apêndice atrial esquerdo. Rev Bras Cardiol Invas.
2011;19(1):14-23.
Seção 12. Avaliação Pré e Peroperatória
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 75 anos, com passado de hipertensão arterial, dislipidemia e
fibrilação atrial intermitente, em uso de captopril, amiodarona, atenolol, sinvastatina,
aspirina e dabigatran. O paciente procurou a emergência cardiológica próxima à sua
residência, queixando-se de ter acordado pela manhã com forte dor precordial
constritiva iniciada em repouso, acompanhada de náuseas, sudorese e dispneia.
Informou ainda que, há três meses, vinha apresentando dor precordial constritiva
desencadeada aos médios esforços. Ao chegar à emergência, aproximadamente três
horas após o início da dor, apresentava os seguintes achados ao exame físico:
Apesar da CD patente com bom fluxo, o paciente permanecia hipotenso, agora em uso
de noradrenalina e dobutamina em altas doses. O ecocardiograma demonstrava
agravamento da IM. Devido à gravidade e complexidade das lesões da coronária
esquerda e à presença de IM grave, o paciente foi encaminhado à cirurgia.
OBJETIVOS
1. Discutir o manejo peroperatório de paciente cardiopata gravemente enfermo
com indicação de cirurgia cardíaca de emergência (CCE).
2. Descrever medidas farmacológicas e não farmacológicas da equipe
multidisciplinar heart team, visando ao melhor tratamento e desfecho do
paciente que necessita de CCE.
PERGUNTAS
1. Quais hipóteses diagnósticas poderiam explicar a causa dos sintomas?
Figura 1
Choque cardiogênico
Fonte: adaptação do modelo de Pastemak e Braunwald In: Califf e Bengtson1
O tratamento moderno do IAM com trombólise venosa e/ou angioplastia primária não
elimina a necessidade de cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) de
emergência. Essa cirurgia é recomendada em pacientes com as seguintes
características: falha de angioplastia primária ou impossibilidade técnica para
angioplastia3; anatomia coronariana favorável à revascularização; isquemia persistente
e instabilidade hemodinâmica4.
3. Qual o melhor manejo anestésico para os pacientes que devem ser submetidos a
CCE?
Uma opção de analgesia seria o bloqueio peridural. No cenário da CCE, esse tipo de
anestesia com peridural torácica não é contraindicado pelas recomendações da
American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine16. No entanto esse tipo
de analgesia não tem sido utilizado rotineiramente. Uma opção que tem sido
implementada é o bloqueio paraesternal17, porém ainda pouco utilizado.
O paciente relatado deverá necessitar de CEC para o reparo ou troca mitral. Desde as
primeiras CRM, o uso da CEC tem sido a estratégia universal (80% das CRM nos
EUA)3. O uso da CEC implica uma série de reações principalmente imunes, na
coagulação, na função renal e na função cerebral, que não cabem ser discutidas no
momento.
A técnica cirúrgica sem CEC foi desenvolvida visando a minimizar essas alterações.
Tal técnica não diminui a necessidade de manipulação na aorta ascendente durante as
anastomoses proximais, que parecem contribuir para a maioria das complicações
neurológicas no pós-operatório. Os dados de ensaios clínicos randomizados
comparando CRM com e sem CEC confirmam que as duas técnicas são equivalentes e
apresentam ótimos desfechos18-22. Em 2009, o estudo ROOBY21 (Randomized On/Off
Bypass), o maior ensaio clínico randomizado que comparou CRM com e sem CEC,
analisou 2203 pacientes (99% homens) em 18 centros de veteranos. A frequência de
desfechos primários morte e complicações (reoperação, novo suporte mecânico, parada
cardíaca, coma, acidente vascular encefálico e insuficiência renal aguda) em 30 dias foi
5,6% com CEC vs. 7% sem CEC (p=0,19).
Figura 2
Algoritmo de otimização.
PAM=pressão arterial média; SvcO2=saturação venosa central de oxigênio;
Hipovolemia: diagnóstico baseado em: dados do ecocardiograma peroperatório, variação respiratória da pressão de
pulso (Δpp >13%), diferença arterial e venosa do CO2 (ΔCO2 >5mmHg), balanço hídrico peroperatório (<10ml/kg/h).
Além da hipovolemia: Hb<9,0g/dl e ScvO2 <70%, na falha das outras medidas de otimização.
O paciente relatado já tinha indicação de BIA pelo choque cardiogênico27. O BIA deve
ser utilizado nos pacientes submetidos a cirurgia cardíaca, que não apresentam doença
vascular aortoilíaca e/ou doença vascular periférica sintomática, visando ao aumento
do fluxo coronariano e à diminuição do consumo de oxigênio pelo miocárdio. Existem
evidências de que seu uso é capaz de reduzir a mortalidade e deve ser considerado nos
pacientes de alto risco (reoperação, lesão de tronco de coronária esquerda, disfunção
com fração de ejeção ≤30%, comunicação intraventricular e IM associadas). Seu
implante deve ser sempre pré-operatório, prevenindo baixo débito e melhorando o
fluxo coronariano no peroperatório, como demonstram os trabalhos de Christenson et
al.28-31.
Antiplaquetários
Nas situações de emergência, o paciente será operado em uso das drogas já citadas e a
transfusão de plaquetas deve ser considerada no pós-operatório de pacientes com
sangramento aumentado, sendo guiada pelos dados de coagulação. Deve-se seguir um
algoritmo de transfusão, conforme o usado no INC (Figura 3).
Figura 3
Algoritmo de tratamento de sangramento do INC
Warfarina
Heparina
Dabigatran
Apixaban
Apixaban, um inibidor direto do fator Xa, tem pico de concentração plasmática entre
três e quatro horas, meia-vida de 10-14 horas, sendo apenas 25% de eliminação renal.
Pode ser usado com segurança em pacientes com disfunção renal e hepática leves a
moderadas47. O manejo em casos de emergência é semelhante ao do dabigatran46.
Rivaroxaban
Rivaroxaban, outro inibidor direto do fator Xa, tem pico plasmático três horas após a
ingestão. Tem meia-vida de quatro a nove horas, sendo de mais de 12 horas em
pacientes >75 anos. Sessenta e seis por cento do rivaroxabam é excretado por via renal.
Está contraindicado em pacientes com clearence <30ml/min, devendo ser usado com
cautela em pacientes com disfunção renal moderada. Não existe algoritmo de redução
de dose48. O manejo nos casos de emergência é semelhante ao do dabigatran46.
Referências
1. Califf MR, Bengtson JR. Cardiogenic shock. N Engl J Med
1994;330(24):1724-30.
2. Hochman JS. Cardiogenic shock complicating acute myocardial infarction:
expanding the paradigm. Circulation. 2003;107(24):2998-3002.
3. Hillis LD, Smith PK, Anderson JL, Bittl JA, Bridges CR, Byrne JG, et al;
American College of Cardiology Foundation/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines. 2011 ACCF/AHA guideline for coronary
artery bypass graft surgery: executive summary: a report of the American
College of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force
on Practice Guidelines. J Thorac Cardiovasc Surg. 2012;143(1):4-34.
4. Alexiou K, Kappert U, Staroske A, Joskowiak D, Wilbring M, Matschke K, et
al. Coronary surgery for acute coronary syndrome: which determinants of
outcome remain? Clin Res Cardiol. 2008;97(9):601-8.
5. Donatelli F, Benussi S, Triggiani M, Guarracino F, Marchetto G, Grossi A.
Surgical treatment for life-threatening acute myocardial infarction: a
prospective protocol. Eur J Cardiothorac Surg. 1997;11(2):228-33.
6. Hochman JS, Sleeper LA, Webb JG, Sanborn TA, White HD, Talley JD, et al.
Early revascularization in acute myocardial infarction complicated by
cardiogenic shock. SHOCK Investigators. Should We Emergently
Revascularize Occluded Coronaries For Cardiogenic Shock. N Engl J Med.
1999;341(9):625-34.
7. White HD, Assmann SF, Sanborn TA, Jacobs AK, Webb JG, Sleeper LA, et
al. Comparison of percutaneous coronary intervention and coronary artery
bypass grafting after acute myocardial infarction complicated by cardiogenic
shock: results from the Should We Emergently Revascularize Occluded
Coronaries for Cardiogenic Shock (SHOCK) trial. Circulation.
2005;112(13):1992-2001.
8. Ngaage DL, Cale AR, Cowen ME, Griffin S, Guvendik L. Early and late
survival after surgical revascularization for ischemic ventricular
fibrillation/tachycardia. Ann Thorac Surg. 2008;85(4):1278-81.
9. Gomes RV, Tura B, Mendonça Filho HT, Almeida Campos LA, Rouge A,
Matos Nogueira PM, et al. A first postoperative day predictive score of
mortality for cardiac surgery. Ann Thorac Cardiovasc Surg. 2007;13(3):159-
64.
10. Roques F, Michel P, Goldstone AR, Nashef SA. The logistic EuroSCORE.
Eur Heart J. 2003;24(9):881-2.
11. Taillefer MC, Carrier M, Bélisle S, Levesque S, Lanctôt H, Boisvert AM, et
al. Prevalence, characteristics, and predictors of chronic nonanginal
postoperative pain after a cardiac operation: a cross-sectional study. J
Thorac Cardiovasc Surg. 2006;131(6):1274-80.
12. Landoni G, Biondi-Zoccai GG, Zangrillo A, Bignami E, D’Avolio S,
Marchetti C, et al. Desflurane and sevoflurane in cardiac surgery: a meta-
analysis of randomized clinical trials. J Cardiothorac Vasc Anesth.
2007;21(4):502-11.
13. Cahalan MK, Stewart W, Pearlman A, Goldman M, Sears-Rogan P, Abel M,
et al; Society of Cardiovascular Anesthesiologists; American Society of
Echocardiography Task Force. American Society of Echocardiography and
Society of Cardiovascular Anesthesiologists Task Force Guidelines for
Training in Perioperative Echocardiography. J Am Soc Echocardiogr.
2002;15(6):647-52.
14. Savage RM, Lytle BW, Aronson S, Navia JL, Licina M, Stewart WJ, et al.
Intraoperative echocardiography is indicated in high-risk coronary artery
bypass grafting. Ann Thorac Surg. 1997;64(2):368-73.
15. Eltzschig HK, Rosenberger P, Löffler M, Fox JA, Aranki SF, Sherman SK.
Impact of intraoperative transesophageal echocardiography on surgical
decisions in 12,566 patients undergoing cardiac surgery. Ann Thorac Surg.
2008;85(3):845-52.
16. Horlocker TT, Wedel DJ, Rowlingson JC, Enneking FK, Koop SL, Benzon
HT, et al. Regional anesthesia in the patient receiving antithrombotic or
thrombolytic therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain
Medicine Evidence-Based Guidelines (Third Edition). Reg Anesth Pain Med.
2010;35(1):64-101.
17. McDonald SB, Jacobsohn E, Kopacz DJ, Desphande S, Helman JD, Salinas
F, et al. Parasternal block and local anesthetic infiltration with
levobupivacaine after cardiac surgery with desflurane: the effect on
postoperative pain, pulmonary function, and tracheal extubation times. Anesth
Analg. 2005;100(1):25-32.
18. Khan NE, De Souza A, Mister R, Flather M, Clague J, Davies S, et al. A
randomized comparison of off-pump and on-pump multivessel coronary-
artery bypass surgery. N Engl J Med. 2004;350(1):21-8.
19. Hannan EL, Wu C, Smith CR, Higgins RS, Carlson RE, Culliford AT, et al.
Off-pump versus on-pump coronary artery bypass graft surgery: differences in
short-term outcomes and in long-term mortality and need for subsequent
revascularization. Circulation. 2007;116(10):1145-52.
20. Kuss O, von Salviati B, Börgermann J. Off-pump versus on-pump coronary
artery bypass grafting: a systematic review and meta-analysis of propensity
score analyses. J Thorac Cardiovasc Surg. 2010;140(4): 829-35,835. e1-13.
21. Shroyer AL, Grover FL, Hattler B, Collins JF, McDonald GO, Kozora E, et
al; Veterans Affairs Randomized On/Off Bypass (ROOBY) Study Group. On-
pump versus off-pump coronary-artery bypass surgery. N Engl J Med.
2009;361(19):1827-37.
22. Sharony R, Bizekis CS, Kanchuger M, Galloway AC, Saunders PC,
Applebaum R, et al. Off-pump coronary artery bypass grafting reduces
mortality and stroke in patients with atheromatous aortas: a case control
study. Circulation. 2003;108(Suppl 1):II15-20.
23. Misfeld M, Potger K, Ross DE, McMillan D, Brady PW, Marshman D, et al.
“Anaortic” off-pump coronary artery bypass grafting significantly reduces
neurological complications compared to off-pump and conventional on-pump
surgery with aortic manipulation. Thorac Cardiovasc Surg. 2010;58(7):408-
14.
24. Lev-Ran O, Loberman D, Matsa M, Pevni D, Nesher N, Mohr R, et al.
Reduced strokes in the elderly: the benefits of untouched aorta off-pump
coronary surgery. Ann Thorac Surg. 2004;77(1):102-7.
25. American Society of Anesthesiologists Task Force on Pulmonary Artery
Catheterization. Practice Guidelines for Pulmonary Artery Catheterization: an
updated report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on
Pulmonary Artery Catheterization. Anesthesiology. 2003;99(4):988-1014.
26. Nogueira PM, Mendonça-Filho HT, Campos LA, Gomes RV, Felipe AR,
Fernandes MA, et al. Central venous saturation: a prognostic tool in cardiac
surgery patients. J Intensive Care Med. 2010;25(2):111-6.
27. Reynolds HR, Hochman JS. Cardiogenic shock: current concepts and
improving outcomes. Circulation. 2008;117(5):686-97.
28. Christenson JT, Cohen M, Ferguson JJ 3rd, Freedman RJ, Miller MF, Ohman
EM, et al. Trends in intraaortic balloon counterpulsation complications and
outcomes in cardiac surgery. Ann Thorac Surg. 2002;74(4):1086-90.
29. Christenson JT, Simonet F, Badel P, Schmuziger M. Optimal timing of
preoperative intraaortic balloon pump support in high-risk coronary patients.
Ann Thorac Surg. 1999;68(3):934-9.
30. Christenson JT, Licker M, Kalangos A. The role of intra-aortic
counterpulsation in high-risk OPCAB surgery: a prospective randomized
study. J Card Surg. 2003;18(4):286-94.
31. Christenson JT, Schmuziger M, Simonet F. Effective surgical management of
high-risk coronary patients using preoperative intra-aortic balloon
counterpulsation therapy. Cardiovasc Surg. 2001;9(4):383-90.
32. Dyub AM, Whitlock RP, Abouzahr LL, Cinà CS. Preoperative intra-aortic
balloon pump in patients undergoing coronary bypass surgery: a systematic
review and meta-analysis. J Card Surg. 2008;23(1):79-86.
33. Bybee KA, Powell BD, Valeti U, Rosales AG, Kopecky SL, Mullany C, et al.
Preoperative aspirin therapy is associated with improved postoperative
outcomes in patients undergoing coronary artery bypass grafting. Circulation.
2005;112(9 Suppl):I286-92.
34. Mangano DT; Multicenter Study of Perioperative Ischemia Research Group.
Aspirin and mortality from coronary bypass surgery. N Engl J Med.
2002;347(17):1309-17.
35. Held C, Asenblad N, Bassand JP, Becker RC, Cannon CP, Claeys MJ, et al.
Ticagrelor versus clopidogrel in patients with acute coronary syndromes
undergoing coronary artery bypass surgery: results from the PLATO (Platelet
Inhibition and Patient Outcomes) trial. J Am Coll Cardiol. 2011;57(6):672-
84.
36. Firanescu CE, Martens EJ, Schönberger JP, Soliman Hamad MA, van Straten
AH. Postoperative blood loss in patients undergoing coronary artery bypass
surgery after preoperative treatment with clopidogrel. A prospective
randomised controlled study. Eur J Cardiothorac Surg. 2009;36(5):856-62.
37. Bizzarri F, Scolletta S, Tucci E, Lucidi M, Davoli G, Toscano T, et al.
Perioperative use of tirofiban hydrochloride (Aggrastat) does not increase
surgical bleeding after emergency or urgent coronary artery bypass grafting. J
Thorac Cardiovasc Surg. 2001;122(6):1181-5.
38. Dyke CM, Bhatia D, Lorenz TJ, Marso SP, Tardiff BE, Hogeboom C, et al.
Immediate coronary artery bypass surgery after platelet inhibition with
eptifibatide: results from PURSUIT. Platelet Glycoprotein IIb/IIIa in Unstable
Angina: Receptor Suppression Using Integrelin Therapy. Ann Thorac Surg.
2000;70(3):866-71.
39. Lincoff AM, LeNarz LA, Despotis GJ, Smith PK, Booth JE, Raymond RE, et
al. Abciximab and bleeding during coronary surgery: results from the
EPILOG and EPISTENT trials. Improve Long-term Outcome with abciximab
GP IIb/IIIa blockade. Evaluation of Platelet IIb/IIIa Inhibition in STENTing.
Ann Thorac Surg. 2000;70(2):516-26.
40. Hirsh J, Fuster V, Ansell J, Halperin JL; American Heart Asociation;
American College of Cardiology Foundation. American Heart
Association/American College of Cardiology Foundation guide to warfarin
therapy. Circulation. 2003;107(12):1692-711.
41. Crowther MA, Julian J, McCarty D, Douketis J, Kovacs M, Biagoni L, et al.
Treatment of warfarin-associated coagulopathy with oral vitamin K: a
randomised controlled trial. Lancet. 2000;356(9241):1551-3.
42. Bruce D, Nokes TJ. Prothrombin complex concentrate (Beriplex P/N) in
severe bleeding: experience in a large tertiary hospital. Crit Care.
2008;12(4):R105.
43. Cerfolio RJ, Bryant AS. The management of anticoagulants perioperatively.
Thorac Surg Clin. 2012:22(1):29-34.
44. Stangier J, Rathgen K, Stähle H, Mazur D. Influence of renal impairment on
the pharmacokinetics and pharmacodynamics of oral dabigatran etexilate: an
open-label, parallel-group, single-centre study. Clin Pharmacokinet.
2010;49(4):259-68.
45. Hankey GJ, Eikelboom JW. Dabigatran etexilate: a new oral thrombin
inhibitor. Circulation. 2011;123(13):1436-50.
46. van Ryn J, Stangier J, Haertter S, Liesenfeld KH, Wienen W, Feuring M, et al.
Dabigatran etexilate--a novel, reversible, oral direct thrombin inhibitor:
interpretation of coagulation assays and reversal of anticoagulant activity.
Thromb Haemost. 2010;103(6):1116-27.
47. Garcia D, Libby E, Crowther MA. The new oral anticoagulants. Blood.
2010;115(1):15-20.
48. Godier A, Miclot A, Le Bonniec B, Durand M, Fischer AM, Emmerich J, et
al. Evaluation of prothrombin complex concentrate and recombinant activated
factor VII to reverse rivaroxaban in a rabbit model. Anesthesiology.
2012;116(1):94-102.
49. Martinez EA, Marsteller JA, Thompson DA, Gurses AP, Goeschel CA,
Lubomski LH, et al. The Society of Cardiovascular Anesthesiologists’
FOCUS initiative: Locating Errors through Networked Surveillance (LENS)
project vision. Anesth Analg. 2010;110(2):307-11.
50. Haynes AB, Weiser TG, Berry WR, Lipsitz SR, Breizat AH, Dellinger EP, et
al; Safe Surgery Saves Lives Study Group. A surgical safety checklist to
reduce morbidity and mortality in a global population. N Engl J Med.
2009;360(5):491-9.
51. Vincent JL. Give your patient a fast hug (at least) once a day. Crit Care Med.
2005;33(6):1225-9.
ACOMPANHAMENTO CARDIOVASCULAR
PEROPERATÓRIO
Alexandre Rouge
Walter Homena Jr.
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 64 anos, portador de hipertensão arterial sistêmica, diabetes
mellitus e dislipidemia. Apresenta coronariopatia com passado de infarto agudo do
miocárdio há dois anos, quando foi submetido à angioplastia de artéria descendente
anterior esquerda, com implante de stent convencional. Atualmente se encontra em
classe funcional I da NYHA e tem atividade diária superior a 6MET, sem sintomas. Faz
uso regular de losartana, bisoprolol, sinvastatina, ácido acetilsalicílico e metiformina.
Foi diagnosticado neoplasia de cólon transverso, sendo internado para ser submetido à
transversectomia e inventário de linfonodos.
OBJETIVOS
1. Discutir as possibilidades de monitoração do paciente cardiopata no período
peroperatório.
2. Identificar medidas para minimizar o risco de isquemia miocárdica durante o
procedimento cirúrgico.
3. Analisar o acompanhamento e a otimização hemodinâmica do cardiopata no
per e pós-operatório de cirurgias de médio e grande porte.
PERGUNTAS
1. O betabloqueador e as estatinas devem ser iniciados antes do procedimento
cirúrgico?
O uso de aspirina como prevenção secundária não deve ser descontinuado, a menos que
o risco de sangramentos supere o benefício de seu uso para prevenção de eventos
cardíacos (neurocirurgias e cirurgias de próstata)1,2.
O evento cirúrgico desencadeia uma resposta inflamatória sistêmica. Com isso o risco
trombótico aumenta, propiciando eventos coronarianos, sobretudo em pacientes de alto
risco e passado de intervenção coronariana.
Nos pacientes após implante de stents convencionais, a cirurgia deve ser postergada de
quatro semanas a três meses; já em pacientes após implante de stent farmacológico, a
cirurgia deve ocorrer após um ano do implante. Quando a cirurgia não puder ser
postergada, o clopidogrel (também o ticagrelor ou prasugrel) deverá ser suspenso antes
da cirurgia e a terapia com AAS ser mantida sempre que possível. A terapia com
clopidogrel deverá ser reiniciada no pós-operatório assim que possível2.
Quanto ao uso de anticoagulação oral com warfarina, esta deve ser descontinuada antes
de cirurgias eletivas, e os pacientes serem submetidos a cirurgias com INR <2,0; nos
pacientes com alto risco de eventos trombóticos (fibrilação atrial e portadores de
próteses mecânicas) deve-se iniciar anticoagulação com enoxaparina quando o INR
estiver <1,5, reintroduzindo posteriormente a warfarina. Para os pacientes que serão
submetidos à cirurgia de emergência e que estão em uso de anticoagulação oral, a
reversão rápida pode ser feita usando-se o complexo protrombínico (sintético) que leva
o INR, em poucas horas (1 a 2 horas), a níveis normais1. Pacientes anticoagulados com
dabigatran podem ser submetidos a cirurgias após 12 horas de suspensão da droga,
porém estudos futuros são necessários para verificar a atuação dessa droga no cenário
cirúrgico.
Nesse contexto, o subgrupo de pacientes de alto risco representa mais de 80% das
mortes operatórias. Na população cirúrgica, os desfechos ruins são ocasionados em
geral por um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio, consequente à
resposta inflamatória e ao estado hemodinâmico do paciente9.
Meta-análise com mais de 400 pacientes de alto risco submetidos à cirurgia abdominal
de grande porte mostrou que, quando os pacientes foram monitorados por
ecocardiografia transesofágica para guiar a otimização do IC e a administração de
fluidos, apresentaram menor grau de complicações, recuperação precoce da função
intestinal, menor tempo de UTI e de internação hospitalar e menos uso de inotrópicos14.
A monitorização com ecocardiografia transesofágica é mais sensível às variações de
volemia do que a pressão de encunhamento da artéria pulmonar, e possui a mesma
capacidade do CAP em monitorar o IC15.
Estudos1,3 recentes vêm demonstrando novas tecnologias menos invasivas como seguras
e efetivas na monitoração do DC em pacientes cirúrgicos, sendo a terapia guiada a que
traz resultados favoráveis ao grupo tratado sob protocolos que a empreguem. Os
principais sistemas de monitoração são: LiDCO plus e rapid systems16; PiCCO
system17; Flo-Trac/Vigileo18. Com eles, estudos menores1,3, com protocolos de
otimização do IC e prevenção de hipóxia tissular em pacientes cirúrgicos, mostram
menor morbidade de tempo de internação.
Outra opção que tem se mostrado eficaz é a terapêutica guiada pela SVcO2 ou SVO2. O
trabalho de Donati et al.19 utilizou a SVcO2 para guiar a administração de volume e
inotrópicos em pacientes cirúrgicos de alto risco. O grupo que utilizou o protocolo
apresentou menos complicações no pós-operatório19.
4. A reposição volêmica no pós-operatório deve ser guiada por qual parâmetro oxi-
hemodinâmico?
Logo, é prudente tolerar níveis mais baixos de hemoglobina, assim como evitar
transfusão de plaquetas e plasma em pacientes durante ou após cirurgias. Uma opção
para controle de sangramentos talvez seja o uso dos produtos sintéticos disponíves
(complexo protrombínico, fibrinogênio sintético, e outros), atualmente em uso e com
diversos estudos em andamento.
Referências
1. Task Force for Preoperative Cardiac Risk Assessment and Perioperative
Cardiac Management in Non-cardiac Surgery; European Society of
Cardiology (ESC), Poldermans D, Bax JJ, Boersma E, De Hert S, Eeckhout
E, Fowkes G, et al. Guidelines for pre-operative cardiac risk assessment and
perioperative cardiac management in non-cardiac surgery. Eur Heart J.
2009;30(22): 2769-812.
2. POISE Study Group, Devereaux PJ, Yang H, Yusuf S, Guyatt G, Leslie K,
Villar JC, et al. Effects of extended-release metoprolol succinate in patients
undergoing non-cardiac surgery (POISE trial): a randomised controlled trial.
Lancet. 2008;371(9627):1839-47.
3. Fleisher LA, Beckman JA, Brown KA, Calkins H, Chaikof EL, Fleischmann
KE, et al; Society for Vascular Medicine and Biology. 2009 ACCF/AHA
focused update on perioperative beta blockade incorporated in to the
ACC/AHA 2007 guidelines on perioperative cardiovascular evaluation and
care for noncardiac surgery: a report of the American College of cardiology
foundation/ American Heart Association Task Force on Practice Guidelines.
Circulation. 2009;120(21): e169-276.
4. Dunkelgrun M, Boersma E, Schouten O, Koopman-van Gemert AW, van
Poorten F, Bax JJ, et al; Dutch Echocardiographic Cardiac Risk Evaluation
Applying Stress Echocardiography Study Group. Bisoprolol and fluvastatin
for the reduction of perioperative cardiac mortality and myocardial infarction
in intermediate-risk patients undergoing noncardiovascular surgery: a
randomized controlled trial (DECREASE-IV). Ann Surg. 2009;249(6):921-6.
5. Le Manach Y, Godet G, Coriat P, Martinon C, Bertrand M, Fléron MH, et al.
The impact of postoperative discontinuation or continuation of chronic statin
therapy on cardiac outcome after major vascular surgery. Anesth Analg.
2007;104(6):1326-33.
6. Ferrari E, Benhamou M, Cerboni P, Marcel B. Coronary syndromes
following aspirin withdrawal: a special risk for late stent thrombosis. J Am
Coll Cardiol. 2005;45(3):456-9.
7. Rhee SJ, Yun KH, Lee SR, Chae JK, Nam CW, Jun DH, et al. Drug-eluting
stent thrombosis during perioperative period. Int Heart J. 2008;49(2):135-42.
8. Chassot PG, Delabays A, Spahn DR. Perioperative antiplatelet therapy: the
case for continuing therapy in patients at risk of myocardial infarction. Br J
Anaesth. 2007;99(3):316-28.
9. Shoemaker WC, Appel PL, Kram HB. Role of oxygen debt in the
development of organ failure sepsis, and death in high-risk surgical patients.
Chest. 1992;102(1):208-15.
10. Peerless JR, Alexander JJ, Pinchak AC, Piotrowski JJ, Malangoni MA.
Oxygen delivery is an important predictor of outcome in patients with
ruptured abdominal aortic aneurysms. Ann Surg. 1998;227(5):726-32.
11. Kern JW, Shoemaker WC. Meta-analysis of hemodynamic optimization in
high-risk patients. Crit Care Med. 2002;30(8):1686-92.
12. Poeze M, Greve JW, Ramsay G. Meta-analysis of hemodynamic optimization:
relationship to methodological quality. Crit Care. 2005;9(6):R771-9.
13. Brienza N, Giglio MT, Marucci M, Fiore T. Does perioperative
hemodynamic optimization protect renal function in surgical patients? A meta-
analytic study. Crit Care Med. 2009;37(6):2079-90.
14. Abbas SM, Hill AG. Systematic review of the literature for the use of
oesophageal Doppler monitor for fluid replacement in major abdominal
surgery. Anaesthesia. 2008;63(1):44-51.
15. DiCorte CJ, Latham P, Greilich PE, Cooley MV, Grayburn PA, Jessen ME.
Esophageal Doppler monitor determinations of cardiac output and preload
during cardiac operations. Ann Thorac Surg. 2000;69(6):1782-6.
16. Pearse R, Dawson D, Fawcett J, Rhodes A, Grounds RM, Bennett ED. Early
goal-directed therapy after major surgery reduces complications and duration
of hospital stay. A randomised, controlled trial [ISRCTN38797445]. Crit
Care. 2005;9(6):R687-93.
17. Goepfert MS, Ruter DA, Akyol DA, Lamm P, Kilger E, Goetz AE. Goal-
directed fluid management reduces vasopressor and catecholamine use in
cardiac surgery patients. Intensive Care Med. 2007;33(1):96-103.
18. Mayer J, Boldt J, Mengistu AM, Röhm KD, Suttner S. Goal-directed
intraoperative therapy based on autocalibrated arterial pressure waveform
analysis reduces hospital stay in high-risk surgical patients: a randomized,
controlled trial. Crit Care. 2010;14(1):R18.
19. Donati A, Loggi S, Preiser JC, Orsetti G, Münch C, Gabbanelli V, et al. Goal-
directed intraoperative therapy reduces morbidity and length of hospital stay
in high-risk surgical patients. Chest. 2007;132(6):1817-24.
20. Mantz J, Dahmani S, Paugam-Burtz C. Outcomes in perioperative care. Curr
Opin Anaesthesiol. 2010;23(2):201-8.
21. Futier E, Robin E, Jabaudon M, Guerin R, Petit A, Bazin JE, et al. Central
venous O2 saturation and venous-to-arterial CO2 difference as
complementary tools for goal-directed therapy during high-risk surgery. Crit
Care. 2010;14(5):R193.
22. Nogueira PM, Mendonça-Filho HT, Campos LA, Gomes RV, Felipe AR,
Fernandes MA, et al. Central venous saturation: a prognostic tool in cardiac
surgery patients. J Intensive Care Med. 2010;25(2):111-6.
23. Kulier A, Levin J, Moser R, Rumpold-Seitlinger G, Tudor IC, Snyder-Ramos
SA, et al; Investigators of the Multicenter Study of Perioperative Ischemia
Research Group; Ischemia Research and Education Foundation. Impact of
preoperative anemia on outcome in patients undergoing coronary artery
bypass graft surgery. Circulation. 2007;116(5):471-9.
24. Marik PE, Corwin HL. Efficacy of red blood cell transfusion in the critically
ill: a systematic review of the literature. Crit Care Med. 2008;36(9):2667-74.
Erratum in: Crit Care Med. 2008;36(11):3134.
25. Krinsley JS. Association between hyperglycemia and increased hospital
mortality in a heterogeneous population of critically ill patients. Mayo Clin
Proc. 2003;78(12):1471-8.
26. van den Berghe G, Wouters P, Weekers F, Verwaest C, Bruyninckx F, Schetz
M, et al. Intensive insulin therapy in critically ill patients. N Engl J Med.
2001;345(19):1359-67.NICE-SUGAR Study Investigators, Finfer S, Chittock
DR, Su SY, Blair D, Foster D, Dhingra V, et al. Intensive versus conventional
glucose control in critically ill patients. N Engl J Med. 2009;360(13):1283-
97.
27. Wiener RS, Wiener DC, Larson RJ. Benefits and risks of tight glucose control
in critically ill adults. a meta-analysis. JAMA. 2008;300(8):933-44. Erratum
in: JAMA. 2009;301(9):936.
CUIDADOS PÓS-IMEDIATOS DE CIRURGIA
CARDÍACA
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 63 anos, hipertensa, diabética, apresentou quadro de infarto agudo
do miocárdico sem supradesnivelamento de ST (IAM SSST), sendo internada em
unidade de terapia intensiva. Realizou angiografia coronariana que demonstrou
acometimento trivascular com envolvimento de artéria coronária descendente anterior
(ACDA) proximal e disfunção moderada de ventrículo esquerdo, optando-se por
tratamento cirúrgico.
A paciente foi mantida em uso de AAS 100mg, metoprolol 50mg, enalapril 20mg,
monocordil 40mg, furosemida 40mg, atorvastatina 20mg, além de insulina glargina.
Houve suspensão de clopidogrel cinco dias antes da cirurgia.
Após sete dias, foi realizada cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) com
confecção de pontes de mamária para artéria descendente anterior (MIE-DA), safena
para descendente posterior e ventricular posterior (SAF-DP-VP) e safena para marginal
(SAF-MG), com tempo de circulação extracorpórea de 110min e clampeamento de
100min, havendo descrição de extensa doença aterosclerótica e dificuldade na
anastomose da ponte de safena para DP.
Evolução:
Paciente apresentou boa evolução pós-operatória, recebendo alta da unidade intensiva
no terceiro dia de PO. Durante a visita de rotina no quarto dia PO, detectado ritmo
cardíaco irregular, com eletrocardiograma demonstrando fibrilação atrial com média
resposta ventricular.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
Os pacientes deverão ficar com monitorização cardíaca contínua para precoce detecção
de arritmias e anormalidades de segmento ST, por pelo menos 48 horas, com
monitorização pressórica de frequência respiratória e oximétrica associadas, sob
ventilação mecânica em modo controlado, uma vez que se encontram sob sedação
residual na maioria dos casos.
A extubação deve ser realizada o mais precocemente possível, após gasometria com
oxigenação satisfatória, na ausência de distúrbios ácidos-base e com adequado nível de
consciência. O adiamento desta etapa comprovadamente se correlaciona com risco
aumentado de infecção, com piora de prognóstico.
Portanto apesar de protocolos vigentes ainda usarem valores numéricos para o uso de
concentrado de hemácias e plaquetas, é digno de nota que há pouca evidência no
cenário dos estudos que suportem seu uso, logo, a decisão do intensivista em
transfundir deve ser sempre conscienciosa e responsável, pesando o real benefício e o
potencial risco.
Vários mecanismos foram propostos para explicar como a hiperglicemia pode causar
danos. Entre eles, o aumento na susceptibilidade a infecções, favorecendo estados
sépticos em pacientes críticos; os distúrbios hidroeletrolíticos, decorrentes da troca
osmótica celular e da diurese osmótica; a disfunção endotelial, pela intensificação do
quadro inflamatório e os fenômenos trombóticos, secundários à geração de radicais
superóxidos e de citoquinas inflamatórias (Figura 1).
Figura 1
Mecanismos de formação do estresse hiperglicêmico em pacientes críticos.
Fonte: adaptado de Inzucchi et al.15
Clássico estudo de Van den Berghe et al. em 2001, com 1548 adultos internados em UTI
cirúrgica, mostrou redução da morbimortalidade com alvo glicêmico <110mg/dl (grupo
de controle estrito), sem registro de hipoglicemia grave, denotando uma redução de
32% de risco aparente de mortalidade na UTI.
Com base nas atuais evidências, deve-se manter controle moderado da glicemia,
buscando a meta entre 150-180mg/dl, iniciando insulina venosa com glicemias
≥180mg/dl, com ou sem infusão concomitante de solução glicosada a 10%.
Troponinas séricas elevadas podem ser marcadores mais específicos e sensíveis do que
a CK-MB para infarto do miocárdio após revascularização miocárdica, e podem ser
mais preditivas de complicações precoces12,.
Em análise multivariada, as concentrações séricas de troponina T ≥1,58ng/mL (que
representou o quintil superior) foram os mais fortes preditores de morte pós-operatória
ou de choque no pós-operatório19.
A FA e flutter atrial ocorrem com frequência após a maioria dos tipos de cirurgia
cardíaca. FA tem sido relatada em até 15-40% dos pacientes no PO imediato após CRM
42,43,44,; em 37-50% após cirurgia valvar25,45,46; e até 60% submetidos à troca valvar
Referências
1. Sessler CN, Gosnell MS, Grap MJ, Brophy GM, O’Neal PV, Keane KA, et
al. The Richmond Agitation-Sedation Scale: validity and reliability in adult
intensive care patients. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(10):1338-44.
2. Drew BJ, Califf RM, Funk M, Kaufman ES, Krucoff MW, Laks MM, et al;
American Heart Association; Councils on Cardiovascular Nursing, Clinical
Cardiology, and Cardiovascular Disease in the Young. Practice standards for
electrocardiographic monitoring in hospital settings: an American Heart
Association scientific statement from the Councils on Cardiovascular
Nursing, Clinical Cardiology, and Cardiovascular Disease in the Young:
endorsed by the International Society of Computerized Electrocardiology and
the American Association of Critical-Care Nurses. Circulation.
2004;110(17):2721-46. Erratum in: Circulation. 2005;111(3):378.
3. Kaiser AB, Petracek MR, Lea JW 4th, Kernodle DS, Roach AC, Alford WC
Jr, et al. Efficacy of cefazolin, cefamandole, and gentamicin as prophylactic
agents in cardiac surgery. Results of a prospective, randomized, double-blind
trial in 1030 patients. Ann Surg. 1987;206(6):791-7.
4. Amato Neto V, Nicodemo AC, Lopes HV. Antibióticos na Prática Clínica. 6a
ed. São Paulo: Sarvier; 2007.
5. Spelman D, Harrington G, Russo P, Wesselingh S. Clinical, microbiological,
and economic benefit of a change in antibiotic prophylaxis for cardiac
surgery. Infect Control Hosp Epidemiol. 2002;23(7):402-4.
6. Maki DG, Bohn MJ, Stolz SM, Kroncke GM, Acher CW, Myerowitz PD.
Comparative study of cefazolin, cefamandole, and vancomycin for surgical
prophylaxis in cardiac and vascular operations. A double-blind randomized
trial. J Thorac Cardiovasc Surg. 1992;104(5):1423-34.
7. Auler JOC Jr, Oliveira AS (Org). Pós-operatório de cirurgia torácica e
cardiovascular. Porto Alegre: Artmed; 2004.
8. Finkelstein R, Rabino G, Mashiah T, Bar-El Y, Adler Z, Kertzman V, et al.
Vancomycin versus cefazolin prophylaxis for cardiac surgery in the setting of
a high prevalence of methicillin-resistant staphylococcal infections. J Thorac
Cardiovasc Surg. 2002;123(2):326-32.
9. Cheng DC, Karski J, Peniston C, Raveendran G, Asokumar B, Carroll J, et al.
Early tracheal extubation after coronary artery bypass graft surgery reduces
costs and improves resource use. A prospective, randomized, controlled trial.
Anesthesiology. 1996;85(6):1300-10.
10. Boyd JH, Forbes J, Nakada TA, Walley KR, Russell JA. Fluid resuscitation
in septic shock: a positive fluid balance and elevated central venous pressure
are associated with increased mortality. Crit Care Med. 2011;39(2):259-65.
11. Hirai S. Systemic inflammatory response syndrome after cardiac surgery
under cardiopulmonary bypass. Ann Thorac Cardiovasc Surg. 2003;9(6):365-
70.
12. Miranda JSS, Santos AMG, Azevedo Filho CF. Relação entre balanço
hídrico e mortalidade em pós-operatório de cirurgia cardíaca. [Tema livre
oral]. Anais do 28º Congresso de Cardiologia da Sociedade de Cardiologia
do Estado do Rio de Janeiro (SOCERJ); 2011 ago 3-6; Rio de Janeiro, RJ.
Rev Bras Cardiol. 2011;24(supl. A):38.
13. Stewart RD, Psyhojos T, Lahey SJ, Levitsky S, Campos CT. Central venous
catheter use in low-risk coronary artery bypass grafting. Ann Thorac Surg.
1998;66(4):1306-11.
14. Michard F, Boussat S, Chemla D, Anguel N, Mercat A, Lecarpentier Y, et al.
Relation between respiratory changes in arterial pulse pressure and fluid
responsiveness in septic patients with acute circulatory failure. Am J Respir
Crit Care Med. 2000;162(1):134-8.
15. Inzucchi SE. Clinical practice. Management of hyperglycemia in the hospital
setting. N Engl J Med. 2006;355(18):1903-11.
16. Wright RS, Anderson JL, Adams CD, Bridges CR, Casey DE Jr, Ettinger SM,
et al. 2011 ACCF/AHA Focused Update of the Guidelines for the
Management of Patients with Unstable Angina/Non-ST-Elevation Myocardial
Infarction (Updating the 2007 Guideline): a report of the American College of
Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines. Circulation. 2011;123(18):2022-60. Erratum in: Circulation.
2011;124(12):e337-40; 2011;123(22):e625-6.
17. Bhatt DL, Lincoff AM, Gibson CM, Stone GW, McNulty S, Montalescot G, et
al; CHAMPION PLATFORM Investigators. Intravenous platelet blockade
with cangrelor during PCI. N Engl J Med. 2009;361(24):2330-41.
18. Hébert PC, Wells G, Blajchman MA, Marshall J, Marin C, Pagliarello G, et
al. A multicenter, randomized, controlled clinical trial of transfusion
requirements in critical care. Transfusion Requirements in Critical Care
Investigators, Canadian Critical Care Trials Group. N Engl J Med.
1999;340(6):409-17. Erratum in: N Engl J Med. 1999;340(13):1056.
19. Reeves BC, Murphy GJ. Increased mortality, morbidity, and cost associated
with red blood cell transfusion after cardiac surgery. Curr Opin Cardiol.
2008;23(6):607-12.
20. Koch CG, Li L, Sessler DI, Figueroa P, Hoeltge GA, Mihaljevic T, et al.
Duration of red-cell storage and complications after cardiac surgery. N Engl J
Med. 2008;358(12):1229-39.
21. Hajjar LA, Vincent JL, Galas FR, Nakamura RE, Silva CM, Santos MH, et al.
Transfusion requirements after cardiac surgery: the TRACS randomized
controlled trial. JAMA. 2010;304(14):1559-67.
22. Society of Thoracic Surgeons Blood Conservation Guideline Task Force,
Ferraris VA, Ferraris SP, Saha SP, Hessel EA 2nd, Haan CK, Royston BD, et
al. Perioperative blood transfusion and blood conservation in cardiac
surgery: the Society of Thoracic Surgeons and The Society of Cardiovascular
Anesthesiologists clinical practice guideline. Ann Thorac Surg. 2007;83(5
Suppl):S27-86.
23. Kavanagh BP, McCowen KC. Clinical practice. Glycemic control in the ICU.
N Engl J Med. 2010;363(26):2540-6. Erratum in: N Engl J Med.
2011;364(12):1182.
24. Van den Berghe G, Wouters P, Weekers F, Verwaest C, Bruyninckx F, Schetz
M, et al. Intensive insulin therapy in critically ill patients. N Engl J Med.
2001;345(19):1359-67.
25. Finfer S, Chittock DR, Su SY, Blair D, Foster D, Dhingra V, et al. Intensive
versus conventional glucose control in critically ill patients. NICE-SUGAR
Study Investigators. N Engl J Med. 2009;360(13):1283-97.
26. American Diabetes Association. Standards of medical care in diabetes-
-2011. Diabetes Care. 2011;34(Suppl 1):S11-61.
27. Pimazoni Netto A, Raduan RA, Giacaglia L, Sargaço RA, Salles JEN, Leite
SAO; Sociedade Brasileira de Diabetes. Controle da hiperglicemia intra-
hospitalar em pacientes críticos e não críticos. Posicionamento Oficial SBD
nº 02/2011. Maio 2011.Disponível em:
<http://www.diabetes.org.br/attachments/posicionamento/posicionamento-
sbd-n-02-2011.pdf>
28. Weiss AJ, Mechanick JI. Glycemic control: how tight in the intensive care
unit? Semin Thorac Cardiovasc Surg. 2011;23(1):1-4.
29. Chaitman BR, Alderman EL, Sheffield LT, Tong T, Fisher L, Mock MB, et al.
Use of survival analysis to determine the clinical significance of new Q
waves after coronary bypass surgery. Circulation. 1983;67(2):302-9.
30. Yokoyama Y, Chaitman BR, Hardison RM, Guo P, Krone R, Stocke K, et al.
Association between new electrocardiographic abnormalities after coronary
revascularization and five-year cardiac mortality in BARI randomized and
registry patients. Am J Cardiol. 2000;86(8):819-24.
31. Warren SG, Wagner GS, Bethea CF, Roe CR, Oldham HN, Kong Y.
Diagnostic and prognostic significance of electrocardiographic and CPK
isoenzyme changes following coronary bypass surgery: correlation with
findings at one year. Am Heart J. 1977;93(2):189-96.
32. Carrier M, Pellerin M, Perrault LP, Solymoss BC, Pelletier LC. Troponin
levels in patients with myocardial infarction after coronary artery bypass
grafting. Ann Thorac Surg. 2000;69(2):435-40.
33. Klatte K, Chaitman BR, Theroux P, Gavard JA, Stocke K, Boyce S, et al;
GUARDIAN Investigators (The GUARD during ischemia Against Necrosis).
Increased mortality after coronary artery bypass graft surgery is associated
with increased levels of postoperative creatine kinase-myocardial band
isoenzyme release: results from the GUARDIAN trial. J Am Coll Cardiol.
2001;38(4):1070-7. Erratum in: J Am Coll Cardiol. 2002;39(8):1408-9.
34. Costa MA, Carere RG, Lichtenstein SV, Foley DP, de Valk V, Lindenboom W,
et al. Incidence, predictors, and significance of abnormal cardiac enzyme rise
in patients treated with bypass surgery in the arterial revascularization
therapies study (ARTS). Circulation. 2001;104(22):2689-93.
35. Brener SJ, Lytle BW, Schneider JP, Ellis SG, Topol EJ. Association between
CK-MB elevation after percutaneous or surgical revascularization and three-
year mortality. J Am Coll Cardiol. 2002;40(11):1961-7.
36. Steuer J, Hörte LG, Lindahl B, Ståhle E. Impact of perioperative myocardial
injury on early and long-term outcome after coronary artery bypass grafting.
Eur Heart J. 2002;23(15):1219-27.
37. Januzzi JL, Lewandrowski K, MacGillivray TE, Newell JB, Kathiresan S,
Servoss SJ, et al. A comparison of cardiac troponin T and creatine kinase-
MB for patient evaluation after cardiac surgery. J Am Coll Cardiol.
2002;39(9):1518-23.
38. Fabricius AM, Gerber W, Hanke M, Garbade J, Autschbach R, Mohr FW.
Early angiographic control of perioperative ischemia after coronary artery
bypass grafting. Eur J Cardiothorac Surg. 2001;19(6):853-8.
39. Price MJ, Housman L, Teirstein PS. Rescue percutaneous coronary
intervention early after coronary artery bypass grafting in the drug-eluting
stent era. Am J Cardiol. 2006;97(6):789-91.
40. Kahn JK, Rutherford BD, McConahay DR, Giorgi LV, Johnson WL, Shimshak
TM, et al. Early postoperative balloon coronary angioplasty for failed
coronary artery bypass grafting. Am J Cardiol. 1990;66(12):943-6.
41. Hanratty CG, Koyama Y, Ward MR. Angioplasty and stenting of the distal
coronary anastomosis for graft failure immediately after coronary artery
bypass grafting. Am J Cardiol. 2002;90(9):1009-11.
42. Maisel WH, Rawn JD, Stevenson WG. Atrial fibrillation after cardiac
surgery. Ann Intern Med. 2001;135(12):1061-73.
43. Mathew JP, Fontes ML, Tudor IC, Ramsay J, Duke P, Mazer CD, et al;
Investigators of the Ischemia Research and Education Foundation; Multicenter
Study of Perioperative Ischemia Research Group. A multicenter risk index for
atrial fibrillation after cardiac surgery. JAMA. 2004;291(14):1720-9.
44. Villareal RP, Hariharan R, Liu BC, Kar B, Lee W, Elayda M, et al.
Postoperative atrial fibrillation and mortality after coronary artery bypass
surgery. J Am Coll Cardiol. 2004;43(5):742-8.
45. Creswell LL, Schuessler RB, Rosenbloom M, Cox JL. Hazards of
postoperative atrial arrhythmias. Ann Thorac Surg. 1993;56(3):539-49.
46. Asher CR, Miller DP, Grimm RA, Cosgrove DM 3rd, Chung MK. Analysis of
risk factors for development of atrial fibrillation early after cardiac valvular
surgery. Am J Cardiol. 1998;82(7):892-5.
47. Eagle KA, Guyton RA, Davidoff R, Edwards FH, Ewy GA, Gardner TJ, et al;
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines Committee to update the 1999 Guidelines for Coronary
Artery Bypass Graft Surgery; American Society for Thoracic Surgery;
Society of Thoracic Surgeons. ACC/AHA 2004 Guideline Update for
Coronary Artery Bypass Graft Surgery: summary article. A report of the
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines (Committee to update the 1999 Guidelines for Coronary
Artery Bypass Graft Surgery). J Am Coll Cardiol. 2004;44(5):e213-310.
Erratum in: J Am Coll Cardiol. 2005;45(8):1377.
48. Eagle KA, Guyton RA, Davidoff R, Edwards FH, Ewy GA, Gardner TJ, et al;
American College of Cardiology; American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines; American Society for Thoracic Surgery and the Society
of Thoracic Surgeons. ACC/AHA 2004 Guideline Update for Coronary
Artery Bypass Graft Surgery: summary article. A report of the American
College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines (Committee to update the 1999 Guidelines for Coronary Artery
Bypass Graft Surgery). Circulation. 2004;110(9):1168-76. Erratum in:
Circulation. 2005;111(15):2014.
49. Crystal E, Garfinkle MS, Connolly SS, Ginger TT, Sleik K, Yusuf SS.
Interventions for preventing post-operative atrial fibrillation in patients
undergoing heart surgery. Cochrane Database Syst Rev. 2004;(4):CD003611.
50. Aasbo JD, Lawrence AT, Krishnan K, Kim MH, Trohman RG. Amiodarone
prophylaxis reduces major cardiovascular morbidity and length of stay after
cardiac surgery: a meta-analysis. Ann Intern Med. 2005;143(5):327-36.
51. Solomon AJ, Greenberg MD, Kilborn MJ, Katz NM. Amiodarone versus a
beta-blocker to prevent atrial fibrillation after cardiovascular surgery. Am
Heart J. 2001;142(5):811-5.
52. Patti G. Chello M, Candura D, Pasceri V, D’Ambrosio A, Covino E, et al.
Randomized trial of atorvastatin for reduction of postoperative atrial
fibrillation in patients undergoing cardiac surgery: results of the ARMYDA-3
(Atorvastatin for Reduction of MYocardial Dysrhythmia After cardiac
surgery) study. Circulation. 2006;114(14):1455-61.
PRÉ-OPERATÓRIO EM CIRURGIA
CARDÍACA
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 52 anos, procurou a emergência com quadro de precordialgia
opressiva, progressiva em intensidade, irradiada para a mandíbula e associada à
sensação de morte iminente. Sintomas estes iniciados 3 horas antes de sua chegada ao
hospital.
Sabidamente diabético, hipertenso, tabagista e renal crônico em tratamento
conservador.
Figura 1
ECG de admissão do paciente relatado
Resumo do caso:
Trata-se de um paciente de 52 anos, diabético, hipertenso, tabagista e renal crônico em
tratamento conservador, que foi internado com quadro de infarto agudo do miocárdio
sem supradesnivelamento de ST, evoluindo em classe funcional Killip-Kimball I.
Realizou cateterismo cardíaco que evidenciou doença coronariana trivascular e
ecocardiograma com disfunção leve de ventrículo esquerdo.
Após discutir com o paciente e seus familiares sobre os potenciais riscos, decidiu-se
por indicar a cirurgia de revascularização miocárdica.
OBJETIVOS
1. Estratificar o risco operatório com intenção de definir a estratégia
terapêutica.
2. Discutir as drogas usadas na síndrome coronariana aguda e as suas possíveis
implicações na cirurgia cardíaca.
PERGUNTAS
1. Que exames são necessários para melhor definir o risco operatório do caso em
questão?
As enzimas hepáticas devem ser dosadas visto que a hepatite medicamentosa, por vezes
causada pelas estatinas, embora seja rara, tem impacto desfavorável no pós-operatório
de cirurgia cardíaca10.
c) TAP e PTT: devem ser realizados em todos os pacientes em pré-operatório de
cirurgia cardíaca para avaliar possíveis coagulopatias.
Vários escores têm sido propostos para estimar o risco de morbidade e mortalidade em
pós-operatório de cirurgia cardíaca. Dentre eles citam-se os seguintes modelos:
Berstein-Parsonnet, Northern New England, New York State, EuroSCORE (Quadro 1) e
Society of Thoracic Surgeons.
Quadro 1
EuroSCORE
TV=taquicardia ventricular; FV=fibrilação ventricular; FE=fração de ejeção; PSAP=pressão sistólica de artéria
pulmonar; IAM=infarto agudo do miocárdio
3. Qual o papel dos escores de risco? Estes podem nos ajudar na decisão quanto à
estratégia terapêutica?
Os escores prognósticos têm importante papel no pré-operatório de cirurgia de
revascularização miocárdica. No caso em questão, aplicado o EuroSCORE, encontra-
se 3,04% de risco de morte intra-hospitalar. Com o conhecimento deste dado, pode-se
discutir com mais segurança com o paciente e seus familiares, sobre a estratégia
terapêutica a ser instituída. Caso o risco operatório fosse impeditivo, poder-se-ia optar
pela intervenção percutânea, ou mesmo tratamento conservador em casos selecionados.
Referências
1. Newall N, Grayson AD, Oo AY, Palmer ND, Dihmis WC, Rashid A, et al.
Preoperative white blood cell count is independently associated with higher
perioperative cardiac enzyme release and increased 1-year mortality after
coronary artery bypass grafting. Ann Thorac Surg. 2006;81(2):583-9.
2. Oliveira GB, Crespo EM, Becker RC, Honeycutt EF, Abrams CS, Anstrom
KJ, et al; Complications After Thrombocytopenia Caused by Heparin
(CATCH) Registry Investigators. Incidence and prognostic significance of
thrombocytopenia in patients treated with prolonged heparin therapy. Arch
Intern Med. 2008;168(1):94-102.
3. Crespo EM, Oliveira GB, Honeycutt EF, Becker RC, Berger PB, Moliterno
DJ, et al; CATCH Registry Invetigators. Evaluation and management of
thrombocytopenia and suspected heparin-induced thrombocytopenia in
hospitalized patients: The Complications After Thrombocytopenia Caused by
Heparin (CATCH) registry. Am Heart J. 2009;157(4):651-7.
4. Noyez L, Plesiewicz I, Verheugt FW. Estimated creatinine clearance instead
of plasma creatinine level as prognostic test for postoperative renal function
in patients undergoing coronary artery bypass surgery. Eur J Cardiothorac
Surg. 2006;29(4):461-5.
5. Antunes PE, Prieto D, Ferrao de Oliveira J, Antunes MJ. Renal dysfunction
after myocardial revascularization. Eur J Cardiothorac Surg. 2004;25(4):597-
604.
6. Zakeri R, Freemantle N, Barnett V, Lipkin GW, Bonser RS, Graham TR, et al.
Relation between mild renal dysfunction and outcomes after coronary artery
bypass grafting. Circulation. 2005;112(9 Suppl):I270-5.
7. Roques F, Michel P, Goldstone AR, Nashef SA. The logistic EuroSCORE.
Eur Heart J. 2003;24(9):881-2.
8. Biancari F, Lahtinen J, Lepojärvi S, Rainio P, Salmela E, Pokela R, et al.
Preoperative C-reactive protein and outcome after coronary artery bypass
surgery. Ann Thorac Surg. 2003;76(6):2007-12.
9. Kangasniemi OP, Biancari F, Luukkonen J, Vuorisalo S, Satta J, Pokela R, et
al. Preoperative C-reactive protein is predictive of long-term outcome after
coronary artery bypass surgery. Eur J Cardiothorac Surg. 2006;29(6):983-5.
10. Heart Protection Study Collaborative Group. MRC/BHF Heart Protection
Study of cholesterol lowering with simvastatin in 20,536 high-risk
individuals: a randomised placebo-controlled trial. Lancet.
2002;360(9326):7-22.
11. Ascher E, Hingorani A, Yorkovich W, Ramsey PJ, Salles-Cunha S. Routine
preoperative carotid duplex scanning in patients undergoing open heart
surgery: is it worthwhile? Ann Vasc Surg. 2001;15(6):669-78.
12. Monney P, Hayoz D, Tinguely F, Cornuz J, Haesler E, Mueller XM, et al.
High prevalence of unsuspected abdominal aortic aneurysms in patients
hospitalised for surgical coronary revascularisation. Eur J Cardiothorac Surg.
2004;25(1):65-8.
13. Nilsson J, Algotsson L, Höglund P, Lührs C, Brandt J. Early mortality in
coronary bypass surgery: the EuroSCORE versus The Society of Thoracic
Surgeons risk algorithm. Ann Thorac Surg. 2004;77(4):1235-9.
14. Wright RS, Anderson JL, Adams CD, Bridges CR, Casey DE Jr, Ettinger SM,
et al. 2011 ACCF/AHA Focused Update of the Guidelines for the
Management of Patients with Unstable Angina/ Non-ST-Elevation Myocardial
Infarction (Updating the 2007 Guideline): a report of the American College of
Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines. Circulation. 2011;123(18):2022-60. Erratum in: Circulation.
2011;124(12):e337-40; 2011;123(22):e625-6.
15. Bhatt DL. Prasugrel in clinical practice. N Engl J Med. 2009;361(10):940-2.
16. ten Broecke PW, De Hert SG, Mertens E, Adriaensen HF. Effect of
preoperative beta-blockade on perioperative mortality in coronary surgery.
Br J Anaesth. 2003;90(1):27-31.
17. Ferguson TB Jr, Coombs LP, Peterson ED; Society of Thoracic Surgeons
National Adult Cardiac Surgery Database. Preoperative beta-blocker use and
mortality and morbidity following CABG surgery in North America. JAMA.
2002;287(17):2221-7. Erratum in: JAMA. 2002;287(24):3212.
18. Weightman WM, Newman MA. Drug therapy before coronary artery
operations. J Thorac Cardiovasc Surg. 1999;118(5):979-80.
19. Liakopoulos OJ, Choi YH, Haldenwang PL, Strauch J, Wittwer T, Dörge H,
et al. Impact of preoperative statin therapy on adverse postoperative
outcomes in patients undergoing cardiac surgery: a meta-analysis of over
30,000 patients. Eur Heart J. 2008;29(12):1548-59.
20. Dotani MI, Elnicki DM, Jain AC, Gibson CM. Effect of preoperative statin
therapy and cardiac outcomes after coronary artery bypass grafting. Am J
Cardiol. 2000;86(10):1128-30, A6.
21. Patti G, Chello M, Candura D, Pasceri V, D'Ambrosio A, Covino E, et al.
Randomized trial of atorvastatin for reduction of postoperative atrial
fibrillation in patients undergoing cardiac surgery: results of the ARMYDA-3
(Atorvastatin for Reduction of MYocardial Dysrhythmia After cardiac
surgery) study. Circulation. 2006;114(14):1455-61.
22. Marin F, Pascual DA, Roldán V, Arribas JM, Ahumada M, Tornel PL, et al.
Statins and postoperative risk of atrial fibrillation following coronary artery
bypass grafting. Am J Cardiol. 2006;97(1):55-60.
AVALIAÇÃO GLOBAL DO CARDIOPATA EM
CIRURGIAS NÃO CARDÍACAS
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 72 anos, branco, natural do Rio de Janeiro foi submetido à
colonoscopia para investigação de anemia e hemorragia digestiva baixa, sendo
diagnosticado adenocarcinoma em cólon esquerdo. Foi encaminhado para avaliação do
risco cirúrgico cardiológico e preparo para colectomia esquerda.
Exames complementares:
Hemoglobina =12,2g/dL; Glicose =110g/dL; Hemoglobina glicada =6,2%; Creatinina
1,12mg/dL; Clearance de creatinina =59,63mL/min.
ECG: Ritmo sinusal, PR 160ms, AQRS 30º, inatividade elétrica em parede anterior.
Ecocardiograma: Hipocinesia em parede anterior, disfunção ventricular esquerda leve,
restante sem alterações.
OBJETIVOS
1. Orientar a avaliação e o preparo pré-operatório de pacientes cardiopatas,
norteando estratificações complementares, antes do procedimento cirúrgico,
com consequente adequação dos custos.
2. Analisar medidas farmacológicas e não farmacológicas que visam à redução
do risco peroperatório do paciente cardiopata.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para este paciente?
Nos últimos 25 anos diversos algoritmos foram propostos para a estimativa de risco de
complicações peroperatórias. Dentre estes, destacam-se o algoritmo de Goldman1 e o
índice cardíaco revisado de Lee2. Essas metodologias foram úteis por terem
simplificado e padronizado a avaliação peroperatória, porém deixavam de lado um
número grande de variáveis não menos importantes.
Com base nessas publicações, foi proposta uma normatização de condutas para
avaliação do risco em cirurgias não cardíacas pelo American College of
Cardiology/American Heart Association (ACC/AHA), que culminou com a publicação
de uma diretriz em 1996, atualizada em 2002 e posteriormente em 20073. Da mesma
forma, em 2007, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou sua primeira
diretriz de avaliação peroperatória, revisada em 2009 e posteriormente em 20114.
Este capítulo está baseado nessas diretrizes em virtude de sua aplicação fácil,
entendimento lógico e da abrangência das variáveis clínicas englobadas.
A avaliação do paciente cardiopata que será submetido à cirurgia não cardíaca se inicia
como toda a avaliação de risco peroperatório. Uma cautelosa anamnese associada à
propedêutica direcionada para o aparelho circulatório e exames subsidiários básicos,
como o eletrocardiograma de repouso e a radiografia de tórax, muitas vezes são
suficientes para determinar o risco cirúrgico do paciente coronariopata.
O exame físico deve seguir os rigores acadêmicos. Exame cardiológico detalhado com
ênfase na frequência cardíaca, pressão arterial nos dois membros superiores, pulso
carotídeo, presença de sopros, pulso venoso jugular, palpação e ausculta cardíaca,
pulmonar e abdominal e avaliação das extremidades. O médico deverá estar atento a
sinais de descompensação clínica, tais como: presença de terceira bulha, turgência
jugular patológica, sinais de congestão pulmonar, sibilos ou roncos respiratórios,
cianose de extremidades, entre outros.
Doenças pulmonares:
A presença de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou doença pulmonar
restritiva pode aumentar o risco peroperatório do paciente cardiopata. A sobrecarga de
trabalho respiratório, hipoxemia, hipercapnia e acidose respiratória podem aumentar o
estresse pós-operatório elevando o risco de complicações cardiopulmonares. Nos
casos graves deve-se considerar a determinação da capacidade funcional através da
prova de função respiratória, teste broncodilatador e gasometria arterial. O uso de
corticoide e broncodilatador deve ser considerado mesmo sabendo que o uso de beta-
agonistas inalatórios pode elevar o risco de arritmias ou infarto7.
Diabetes mellitus:
Diabetes mellitus é a comorbidade mais comumente encontrada em pacientes
coronariopatas. Quando presente, a suspeita clínica de doença arterial coronariana
deve ser sempre considerada3,8,9. Lee et al.2 identificaram que pacientes diabéticos em
insulinoterapia apresentam risco elevado de eventos cardiovasculares quando em
cuidados pós-operatórios2. Historicamente tolerava-se a manutenção de glicemias
relativamente elevadas no peroperatório, evitando-se episódios de hipoglicemia.
Trabalhos recentes demonstraram que o controle mais rigoroso da glicemia através da
infusão contínua de insulina pode reduzir complicações pós-operatórias10,11.
Hipertensão arterial:
Pacientes hipertensos apresentam maior risco de portarem DAC não diagnosticada até o
momento da cirurgia17. Numerosos estudos, porém, demonstraram que níveis de pressão
arterial <180x110mmHg não representam elevação de risco de eventos
cardiovasculares no peroperatório1,18-23. Em casos de hipertensão leve a moderada sem
evidências de doença cardiovascular associada não se recomenda o retardo da
cirurgia24. Muitos investigadores demonstraram flutuações exageradas da pressão
arterial associadas a alterações eletrocardiográficas isquêmicas em pacientes
hipertensos durante o procedimento cirúrgico25-28, porém esse efeito pode ser
modificado pelo tratamento medicamentoso adequado.
Quadro 2
Classificação das cirurgias
Quadro 4
Fatores de risco cardiovascular
Pacientes com baixa capacidade funcional e apenas um ou dois dos fatores de risco,
quando em preparo para cirurgias de médio ou grande porte, podem receber tratamento
clínico otimizado com betabloqueadores, sem que necessariamente sejam submetidos à
estratificação funcional ou coronariografia. Importante estudo em pacientes com esse
perfil, submetidos a cirurgias vasculares, não demonstrou benefícios em se utilizar
métodos para estratificação funcional no pré-operatório41.
Pacientes com baixa capacidade funcional, porém sem fatores de risco cardiovascular,
mesmo quando em preparo para cirurgias de grande porte, não necessitam de
estratificação funcional pré-operatória.
Figura 1
Avaliação de risco de pacientes cardiopatas que serão submetidos a cirurgias não cardíacas.
Fonte: adaptado da Diretriz do AHA/ACC3
Cir=cirurgia; AI=angina instável; IAM=infarto agudo do miocárdio; IC=insuficiência cardíaca; SO=sala de operação;
DP=pressão
Pacientes com angina instável de alto risco, IAM recente ou aqueles que serão
submetidos a cirurgias não cardíacas de grande porte, portadores de doença arterial
coronariana grave, com evidência de grande área miocárdica em risco avaliada por
estratificações não invasivas devem ser submetidos à revascularização miocárdica
percutânea ou cirúrgica antes do procedimento programado3. O melhor momento para
esse procedimento, bem como o método a ser utilizado (percutâneo ou cirúrgico) deve
ser definido de acordo com a urgência da cirurgia não cardíaca, o risco de sangramento
e gravidade da doença coronariana.
Figura 2
Escolha da técnica a ser empregada de acordo com a urgência da cirurgia não cardíaca.
S.O.=sala de operação
Betabloqueadores
Este tópico teve grande destaque nos últimos anos. Muitos ensaios clínicos e meta-
análises foram publicados, mas o tema ainda permanece controverso. Os estudos
compararam drogas diferentes, em populações com perfis de risco diferentes,
submetidas a protocolos heterogêneos, dificultando uma conclusão definitiva.
Um dos ensaios clínicos mais importantes já publicados sobre esse tema foi o estudo
POISE57. Nele foram incluídos pacientes de alto risco, com história de doença arterial
coronariana, doença arterial periférica, acidente vascular encefálico isquêmico,
pacientes já hospitalizados por insuficiência cardíaca ou três dos sete critérios: cirurgia
intratorácica ou intra-abdominal, história de insuficiência cardíaca, ataque isquêmico
transitório, DM, creatinina >175μmol/L, idade >70 anos, cirurgia de urgência ou
emergência. Esses pacientes foram submetidos a cirurgias de médio e grande porte.
Nesse protocolo o betabloqueador utilizado foi o metoprolol de liberação lenta, sendo
a primeira dose de 100mg fornecida de duas a quatro horas antes da cirurgia e seis
horas após. Após a primeira dose foram feitos 200mg de metoprolol ou placebo
diariamente por 30 dias. Evidenciou-se menor incidência de infarto, parada cardíaca
revertida e mortalidade cardíaca no grupo betabloqueado (5,8% x 6,9%; p=0,03),
porém, à custa de incidência dobrada de acidente vascular encefálico e de maior
mortalidade global nesse grupo (3,1% x 2,3%; p=0,03). A alta incidência de hipotensão
(15,0%) e bradicardia (6,6%) esteve fortemente associada à maior mortalidade e
também ao acidente vascular encefálico57.
Muitos foram os questionamentos sobre os achados desse estudo. Apesar de ser um dos
mais consistentes sob o ponto de vista metodológico, a dose do metoprolol foi
considera muita elevada. A formulação de liberação lenta pode ter dificultado o manejo
dinâmico no peroperatório; as dosagens fixas podem não ter sido adequadas às
mudanças fisiológicas desse período; e o início agudo, feito de duas a quatro horas
antes da cirurgia, sem titulação individual da dose pode ter propiciado os desfechos
negativos.
Estatinas
Existem evidências consistentes comprovando que o uso de estatinas previne eventos
cardiovasculares após cirurgias de grande porte (vasculares). Esse benefício ocorre de
maneira independente dos níveis de colesterol58,59. A introdução da estatina deve ser
feita duas semanas antes do procedimento cirúrgico e mantida por 30 dias. Seu uso no
peroperatório é seguro e a ocorrência de rabdomiólise é rara60. A suspensão da
estatina no peroperatório de pacientes que fazem uso crônico é um preditor de eventos
cardiovasculares após cirurgias vasculares61. Poucas são as evidências que justificam o
uso de estatinas no peroperatório de cirurgias não vasculares.
Alfa-agonistas
Este grupo farmacológico modula a resposta das catecolaminas ao estresse cirúrgico e
anestésico, reduzindo a liberação de noradrenalina, diminuindo a pressão arterial e a
frequência cardíaca. Alguns estudos demonstraram redução de isquemia miocárdica
sem diminuir eventos clínicos ou mortalidade62,63. Meta-análise demonstrou redução de
infarto agudo do miocárdio em pacientes submetidos a cirurgias vasculares64.
Recomenda-se o uso deste grupo farmacológico para pacientes coronariopatas que
serão submetidos a cirurgias vasculares e que apresentam contraindicação ao uso de
betabloqueadores.
Referências
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 61 anos, com história de cansaço aos esforços de média intensidade,
episódios de palpitação e dispneia paroxística noturna.
OBJETIVOS
1. Discutir a indicação de tratamento cirúrgico na insuficiência valvar mitral.
2. Identificar o paciente que terá maior benefício na plastia ou na troca valvar
mitral.
3. Analisar resultados da plastia e da troca valvar mitral.
PERGUNTAS
1. Quando indicar a cirurgia na insuficiência mitral?
3. Quando deve ser feita a plastia valvar mitral? Em qual situação a troca valvar
mitral está plenamente indicada? 4-9
A plastia valvar mitral, quando comparada com a troca valvar, deve ser a primeira
opção cirúrgica na maioria dos pacientes com insuficiência mitral crônica importante,
que necessitem de cirurgia: Classe I, Nível de evidência C.
Há três fatores importantes para que se faça uma plastia valvar com sucesso. O
primeiro é a etiologia da insuficiência mitral: na degeneração mixomatosa, a
possibilidade de sucesso e manutenção dos resultados em longo prazo é superior a
90%. Esses resultados são bem inferiores nas etiologias reumática, funcional,
isquêmica, infecciosa e congênita, com valores entre 30% e 60%.
Várias técnicas são utilizadas para se fazer a plastia valvar mitral. Essas técnicas
exigem ação cirúrgica sobre todo o aparelho valvar mitral: anel mitral, folhetos, cordas
tendíneas e músculos papilares5.
As dilatações do anel mitral podem ser corrigidas com anéis rígidos fechados
(Carpentier), anéis flexíveis fechados (Duran), anéis semirrígidos fechados
(Carpentier Physioring), abertos ou em C (Cosgrove, Braile). Vários outros anéis são
utilizados com objetivos específicos. A maioria dos cirurgiões adiciona anuloplastia
mitral sempre que faz plastia valvar, objetivando maior estabilidade da plastia.
As neocordas de PTFE têm mostrado excelente resultado a longo prazo e podem ser
utilizadas em múltiplos segmentos dos folhetos mitrais. Perier et al.14 mostraram muito
bom resultado a longo prazo utilizando PTFE, e advogam respeitar os folhetos mitrais
em vez de ressecá-los.
Várias técnicas podem ser utilizadas para corrigir a insuficiência tricúspide funcional:
Quando há lesão orgânica da válvula, pode-se fazer a plastia da válvula tricúspide, mas
na maioria das vezes é necessário trocar a válvula.
Pacientes com fibrilação atrial paroxística ou fibrilação atrial persistente com menos
de um ano de evolução podem ter a fibrilação atrial corrigida durante a cirurgia mitral.
Ainda que existam relatos de bons resultados com essa operação combinada, não há
estudos randomizados que comprovem a necessidade de corrigir cirurgicamente a FA
durante cirurgia mitral11.
A válvula mitral deve ser trocada por prótese quando não for possível fazer a plastia
valvar mitral. Pacientes assintomáticos sem disfunção ventricular esquerda devem ser
mantidos em tratamento clínico quando a opção oferecida for a troca valvar.
A prótese valvar mecânica tem ótimo desempenho e durabilidade, mas há problemas
relacionados ao uso de anticoagulante: sangramento, embolia, trombose de prótese. A
prótese valvar biológica, porcina ou bovina, tem ótimo desempenho, não necessita de
anticoagulação, mas está sujeita à degeneração com diminuição da durabilidade para
cerca de 15 anos em 80% dos pacientes. Em pacientes >60 anos a probabilidade de
duração da prótese valva biológica é 90% em 20 anos7.
Ao se fazer a troca valvar, é útil preservar o folheto posterior da valva mitral. Com isto
se evita desinserção atrioventricular e também a preservação da geometria do
ventrículo esquerdo. Borger et al.6 demonstraram melhor função ventricular esquerda a
longo prazo quando o folheto posterior foi preservado
A operação é conduzida por uma mínima toracotomia direita e perfusão pela artéria e
veia femorais. Tem as vantagens de menor dor, mais cosméticas e recuperação mais
rápida. O grupo cirúrgico de Mohr12, em Leipzig, na Alemanha e o de Vanermen16, em
Aaist, na Bélgica, entre outros, têm mostrado grande quantidade de casos com ótimos
resultados.
A cirurgia robótica é mais complexa, mais difícil de aprender, exige instrumental mais
caro, mas o trauma cirúrgico é ainda menor. Chitwood17 apresentou séries expressivas
com bons resultados.
A mortalidade hospitalar para valvuloplastia mitral está em torno de 1%, sendo inferior
à da troca valvar mitral que está entre 5% e 9%. Os pacientes submetidos a troca
valvar são mais idosos, com mais comorbidades, com pior função ventricular e com
doenças valvares mitrais mais complexas. A mortalidade hospitalar depende da
complexidade da operação, da função ventricular direita e esquerda, da classe
funcional, do grau de hipertensão arterial pulmonar, da existência de arritmias
cardíacas, da idade e de comorbidades. Operações feitas em caráter de emergência e
reoperações agravam o risco cirúrgico8.
A plastia valvar mitral tem melhores resultados a longo prazo em relação à troca
valvar, seja ela mecânica ou biológica em todos os critérios de avaliação. Na plastia
valvar por doença degenerativa a perspectiva é de que mais de 90% dos pacientes
estejam livres de reoperações valvares mitrais após 25 anos de seguimento. Na plastia
valvar por doença reumática esse número é inferior a 50%4.
Referências
1. Akins CW, Miller DC, Turina MI, Kouchoukos NT, Blackstone EH,
Grunkemeier GL, et al; AATS; EACTS. Guidelines for Reporting Mortality
and Morbidity after Cardiac Valve Interventions. Ann Thorac Surg.
2008;85(4):1490-5.
2. Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon AC Jr, Faxon DP, Freed
MD, et al; American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines. 2008 focused update incorporated into the
ACC/AHA 2006 Guidelines for the Management of Patients with Valvular
Heart Disease: a report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to
revise the 1998 Guidelines for the Management of Patients with Valvular
Heart Disease). Endorsed by the Society of Cardiovascular
Anesthesiologists, Society for Cardiovascular Angiography and Interventions,
and Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2008;52(13):e1-142.
3. Tarasoutchi F, Montera MW, Grinberg M, Barbosa MR, Piñeiro DJ, Sánchez
CRM, et al. Diretriz Brasileira de Valvopatias - SBC 2011 / I Diretriz
Interamericana de Valvopatias - SIAC 2011. Arq Bras Cardiol. 2011;97(5
supl. 3):1-67.
4. Braunberger E, Deloche A, Berrebi A, Abdallah F, Celestin JA, Meimoun P,
et al. Very long-term results (more than 20 years) of valve repair with
Carpentier’s techniques in nonrheumatic mitral valve insufficiency.
Circulation. 2001;104(12 Suppl 1):I8-11.
5. Carpentier A, Adams DH, Filsoufi F. Carpentier’s Reconstructive Valve
Surgery: from valve analysis to valve reconstruction. Maryland Heights,
Missouri: Saunders/Elsevier; 2010.
6. Borger MA, Yau TM, Rao V, Scully HE, David TE. Reoperative mitral valve
replacement: importance of preservation of the subvalvular apparatus. Ann
Thorac Surg. 2002;74(5):1482-7.
7. David TE, Armstrong S, Maganti M. Hancock II bioprosthesis for aortic
valve replacement: the gold standard of bioprosthetic valves durability? Ann
Thorac Surg. 2010;90(3):775-81.
8. DiBardino DJ, ElBardissi AW, McClure RS, Razo-Vasquez OA, Kelly NE,
Cohn LH. Four decades of experience with mitral valve repair: analysis of
differential indications, technical evolution, and long-term outcome. J Thorac
Cardiovasc Surg. 2010;139(1):76-83.
9. Enriquez-Sarano M, Avierinos JF, Messika-Zeitoun D, Detaint D, Capps M,
Nkomo V, et al. Quantitative determinants of the outcome of asymptomatic
mitral regurgitation. N Engl J Med. 2005;352(9):875-83.
10. Gillinov AM, Blackstone EH, Nowicki ER, Slisatkorn W, Al-Dossari G,
Johnston DR, et al. Valve repair versus valve replacement for degenerative
mitral valve disease. J Thorac Cardiovasc Surg. 2008;135(4):885-93.
11. Melby SJ, Damiano RJ Jr. Surgery for atrial fibrillation. In: Cohn LH.
Cardiac Surgery in the Adult. 4th ed. New York: McGraw-Hill; 2012.
p.1173-84.
12. Mohr FW, Onnasch JF, Falk V, Walther T, Diegeler A, Krakor R, et al. The
evolution of minimally invasive mitral valve surgery--2 year experience. Eur
J Cardiothorac Surg. 1999;15(3):233-8.
13. Nath J, Foster E, Heidenreich PA. Impact of tricuspid regurgitation on long-
term survival. J Am Coll Cardiol. 2004;43(3):405-9.
14. Perier P, Hohenberger W, Lakew F, Batz G, Urbanski P, Zacher M, et al.
Toward a new paradigm for the reconstruction of posterior leaflet prolapse:
midterm results of the "respect rather than resect" approach. Ann Thorac
Surg. 2008;86(3):718-25.
15. Schroeyers P, Wellens F, De Geest R, Degrieck I, Van Praet F, Vermeulen Y,
et al. Minimally invasive video-assisted mitral valve surgery: our lessons
after a 4-year experience. Ann Thorac Surg. 2001;72(3):S1050-4.
16. Vanermen H, Wellens F, De Geest R, Degrieck I, Van Praet F. Video-assisted
port-access mitral valve surgery: from debut to routine surgery. Will Trocar-
port-access cardiac surgery ultimately lead to robotic cardiac surgery? Semin
Thorac Cardiovasc Surg. 1999;11(3):223-34.
17. Chitwood WR Jr. Robotic cardiac surgery by 2031. Tex Heart Inst J.
2011;38(6):691-3.
CIRURGIA NA ESTENOSE AÓRTICA
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 82 anos, com queixa de cansaço progressivo aos esforços que vem
percebendo ao longo dos últimos três meses; atualmente com dispneia aos pequenos
esforços (subir um lance de escadas). Nega dor precordial ou síncope. É hipertenso de
longa data e usa vasodilatador do tipo inibidor de canal de cálcio. Nega diabetes.
Passado de tabagismo (30 maços/ano), tendo parado há 25 anos. Etilista social. Nega
alergias ou cirurgias prévias (apenas catarata). É ativo e reside com a esposa. Possui
bom estado geral.
OBJETIVOS
1. Discutir o emprego da prótese biológica e da prótese mecânica na estenose
aórtica.
2. Avaliar o uso de alo (homo) e autoenxerto na cirurgia de estenose aórtica.
3. Analisar a estratégia cirúrgica de alargamento de anel valvar.
4. Avaliar a utilização da prótese valvar transcateter na cirurgia de estenose
aórtica.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas no caso relatado?
A área valvar aórtica normal é de 3cm2 a 4cm². A área valvar deve ser reduzida a 1/3
para que se desenvolvam sintomas, motivo pelo qual somente uma área <1,0cm² é
considerada como estenose aórtica grave. É considerada estenose aórtica leve se a área
é >1,5cm²; moderada se 1,0cm2 a 1,5cm²; e grave se <1,0cm² 1,2.
Quando a estenose aórtica é grave e o débito cardíaco normal o gradiente médio
transvalvular geralmente é >50mmHg3,4.
5. Qual é o prognóstico?
c) Pacientes que serão submetidos à RVM29,30: Está indicada a troca valvar aórtica
em pacientes sintomáticos ou não com critérios de estenose aórtica grave candidatos à
revascularização miocárdica (RVM), cirurgias em outras valvas cardíacas ou da
aorta31,32. Indicada ainda em pacientes com estenose aórtica moderada a despeito da
sintomatologia, candidatos à RVM, cirurgias em outras valvas cardíacas ou da
aorta33,34.
Quadro 1
Recomendações para troca valvar aórtica na estenose aórtica
Diversas alternativas têm sido utilizadas como substituto valvar aórtico com próteses
biológicas que, em geral, não requerem anticoagulação, mas sofrem degeneração
estrutural ao longo do tempo; próteses metálicas, que não degeneram mas requerem o
uso contínuo de anticoagulação sistêmica, e alternativas mais complexas como o
autoenxerto (cirurgia de Ross) ou o aloenxerto (homoenxerto), atualmente reservadas
para situações de endocardite de prótese ou diminuta dimensão anular.
A valvoplastia por balão tem papel limitado nos adultos. Os resultados hemodinâmicos
imediatos incluem a moderada redução no gradiente transvalvar, mas a área é raramente
>1,0cm² 35,36. Sérias complicações ocorrem em torno 10% e reestenose e deterioração
clínica em seis a 12 meses na maioria dos casos37,38 (Quadro 2).
Quadro 2
Recomendações para valvuloplastia por balão na estenose aórtica39
No Brasil, a prótese biológica tem sido o substituto valvar mais utilizado. Observa-se
essa preferência por inúmeras razões: condição socioeconômica dos pacientes e o fato
de dispensar a anticoagulação por toda a vida. Estas próteses evoluíram a partir de
tecidos biológicos provenientes da dura-máter e, posteriormente, pericárdio bovino e
valvas porcinas remontadas em anéis. Desde então houve grande evolução tecnológica
determinada por vários pesquisadores e inúmeras próteses comercializáveis44-46.
Referências
1. Tarasoutchi F, Montera MW, Grinberg M, Barbosa MR, Piñeiro DJ, Sánchez
CRM, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de
Valvopatias – SBC 2011 / I Diretriz Interamericana de Valvopatias – SIAC
2011. Arq Bras Cardiol. 2011;97(5 supl.1):1-67.
2. Stewart BF, Siscovick D, Lind BK, Gardin JM, Gottdiener JS, Smith VE, et
al. Clinical factors associated with calcific aortic valve disease.
Cardiovascular Health Study. J Am Coll Cardiol. 1997;29(3):630-4.
3. Iung B, Baron G, Butchart EG, Delahaye F, Gohlke-Bärwolf C, Levang OW,
et al. A prospective survey of patients with valvular heart disease in Europe:
The Euro Heart Survey on Valvular Heart Disease. Eur Heart J.
2003;24(13):1231-43.
4. Cosmi JE, Kort S, Tunick PA, Rosenzweig BP, Freedberg RS, Katz ES, et al.
The risk of the development of aortic stenosis in patients with "benign" aortic
valve thickening. Arch Intern Med. 2002;162(20):2345-47.
5. Lewin MB, Otto CM. The bicuspid aortic valve: adverse outcomes from
infancy to old age. Circulation. 2005;111(7):832-4.
6. American College of Cardiology; American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines (Writiing Committee to revise the 1998 Guidelines for
the Management of Patients with Valvular Heart Disease); Society of
Cardiovascular Anesthesiologists, Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K,
de Leon AC Jr, Faxon DP, Freed MD, et al. ACC/AHA 2006 Guidelines for
the Management of Patients with Valvular Heart Disease: a report of the
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines (Writing Committee to revise the 1998 Guidelines for the
Management of Patients with Valvular Heart Disease) developed in
collaboration with the Society of Cardiovascular Anesthesiologists endorsed
by the Society for Cardiovascular Angiography and Interventions and the
Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2006;48(3):e1-148.
Erratum in: J Am Coll Cardiol. 2007;49(9):1014.
7. Roberts WC, Ko JM. Frequency by decades of unicuspid, bicuspid, and
tricuspid aortic valves in adults having isolated aortic valve replacement for
aortic stenosis, with or without associated aortic regurgitation. Circulation.
2005;111(7):920-5.
8. O'Brien KD. Pathogenesis of calcific aortic valve disease: a disease process
comes of age (and a good deal more). Arterioscler Thromb Vasc Biol.
2006;26(8):1721-8.
9. Freeman RV, Otto CM. Spectrum of calcific aortic valve disease:
pathogenesis, disease progression, and treatment strategies. Circulation.
2005;111(24):3316-26.
10. Umana E, Ahmed W, Alpert MA. Valvular and perivalvular abnormalities in
end-stage renal disease. Am J Med Sci. 2003;325(4):237-42.
11. Adabag AS, Dykoski R, Ward H, Anand IS. Critical stenosis of aortic and
mitral valves after mediastinal irradiation. Catheter Cardiovasc Interv.
2004;63(2):247-50.
12. Rosenhek R, Rader F, Loho N, Gabriel H, Heger M, Klaar U, et al. Statins but
not angiotensin-converting enzyme inhibitors delay progression of aortic
stenosis. Circulation. 2004;110(10):1291-5.
13. Cowell SJ, Newby DE, Prescott RJ, Bloomfield P, Reid J, Northridge DB, et
al; Scottish Aortic Stenosis and Lipid Lowering Trial, Impact on Regression
(SALTIRE) Investigators. A randomized trial of intensive lipid-lowering
therapy in calcific aortic stenosis. N Engl J Med. 2005;352(23):2389-97.
14. Ozumi K, Tasaki H, Yamashita K, Tanaka S, Sasaguri T, Sasaguri Y, et al.
Valvular and supravalvular aortic stenosis in heterozygous familial
hypercholesterolemia, a case report. J Atheroscler Thromb. 2005;12(5):289-
93.
15. Lombard TJ, Selzer A. Valvular aortic stenosis. A clinical and hemodynamic
profile of patients. Ann Intern Med. 1987;106(2):292-8.
16. Ennezat PV, Maréchaux S, Iung B, Chauvel C, LeJemtel TH, Pibarot P.
Exercise testing and exercise stress echocardiography in asymptomatic aortic
valve stenosis. Heart. 2009;95(11):877-84.
17. Amato MC, Moffa PJ, Werner KE, Ramires JA. Treatment decision in
asymptomatic aortic valve stenosis: role of exercise testing. Heart.
2001;86(4):381-6.
18. Das P, Rimington H, Chambers J. Exercise testing to stratify risk in aortic
stenosis. Eur Heart J. 2005;26(13):1309-13.
19. Stoddard MF, Hammons RT, Longaker RA. Doppler transesophageal
echocardiographic determination of aortic valve area in adults with aortic
stenosis. Am Heart J. 1996;132(2 Pt 1):337-42.
20. Nishimura RA, Holmes DR Jr. Clinical practice. Hypertrophic obstructive
cardiomyopathy. N Engl J Med. 2004;350(13):1320-7. Erratum in: N Engl J
Med. 2004;351(10):1038.
21. Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon AC Jr, Faxon DP, Freed
MD, et al; American College of Cardiology/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines. 2008 Focused Update incorporated into
the ACC/AHA 2006 Guidelines for the Management of Patients with Valvular
Heart Disease: a report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to
revise the 1998 Guidelines for the Management of Patients with Valvular
Heart Disease). Endorsed by the Society of Cardiovascular
Anesthesiologists, Society for Cardiovascular Angiography and Interventions,
and Society of Thoracic Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2008;52(13):e1-142.
22. Kalavrouziotis D, Li D, Buth KJ, Légaré JF. The European System for
Cardiac Operative Risk Evaluation (EuroSCORE) is not appropriate for
withholding surgery in high-risk patients with aortic stenosis: a retrospective
cohort study. J Cardiothorac Surg. 2009;4:32.
23. Grossi EA, Schwartz CF, Yu PJ, Jorde UP, Crooke GA, Grau JB, et al. High-
risk aortic valve replacement: are the outcomes as bad as predicted? Ann
Thorac Surg. 2008;85(1):102-6.
24. Brown ML, Schaff HV, Sarano ME, Li Z, Sundt TM, Dearani JA, et al. Is the
European System for Cardiac Operative Risk Evaluation model valid for
estimating the operative risk of patients considered for percutaneous aortic
valve replacement? J Thorac Cardiovasc Surg. 2008;136(3):566-71.
25. Brown JM, O'Brien SM, Wu C, Sikora JA, Griffith BP, Gammie JS. Isolated
aortic valve replacement in North America comprising 108,687 patients in 10
years: changes in risks, valve types, and outcomes in the Society of Thoracic
Surgeons National Database. J Thorac Cardiovasc Surg. 2009;137(1):82-90.
26. Hammermeister K, Sethi GK, Henderson WG, Grover FL, Oprian C,
Rahimtoola SH. Outcomes 15 years after valve replacement with a
mechanical versus a bioprosthetic valve: final report of the Veterans Affairs
randomized trial. J Am Coll Cardiol. 2000;36(4):1152-8.
27. Rahimtoola SH. Choice of prosthetic heart valve for adult patients. J Am Coll
Cardiol. 2003;41(6):893-904.
28. Stassano P, Di Tommaso L, Monaco M, Iorio F, Pepino P, Spampinato N, et
al. Aortic valve replacement: a prospective randomized evaluation of
mechanical versus biological valves in patients ages 55 to 70 years. J Am
Coll Cardiol. 2009;54(20):1862-8.
29. Lund O, Bland M. Risk-corrected impact of mechanical versus bioprosthetic
valves on long-term mortality after aortic valve replacement. J Thorac
Cardiovasc Surg. 2006;132(1):20-6.
30. Webb J, Cribier A. Percutaneous transarterial aortic valve implantation: what
do we know? Eur Heart J. 2011;32(2):140-7.
31. Leon MB, Smith CR, Mack M, Miller DC, Moses JW, Svensson LG, et al;
PARTNER Trial Investigators. Transcatheter aortic-valve implantation for
aortic stenosis in patients who cannot undergo surgery. N Engl J Med.
2010;363(17):1597-607.
32. Krane M, Deutsch MA, Bleiziffer S, Schneider L, Ruge H, Mazzitelli D, et al.
Quality of life among patients undergoing transcatheter aortic valve
implantation. Am Heart J. 2010;160(3):451-7.
33. Letac B, Cribier A, Eltchaninoff H, Koning R, Derumeaux G. Evaluation of
restenosis after balloon dilatation in adult aortic stenosis by repeat
catheterization. Am Heart J. 1991;122(1 Pt 1):55-60.
34. Schwarz F, Baumann P, Manthey J, Hoffman M, Schuler G, Mehmel HC, et al.
The effect of aortic valve replacement on survival. Circulation.
1982;66(5):1105-10.
35. Smith WT 4th, Ferguson TB Jr, Ryan T, Landolfo CK, Peterson ED. Should
coronary artery bypass graft surgery patients with mild or moderate aortic
stenosis undergo concomitant aortic valve replacement? A decision analysis
approach to the surgical dilemma. J Am Coll Cardiol. 2004;44(6):1241-7.
36. Pereira JJ, Balaban K, Lauer MS, Lytle B, Thomas JD, Garcia MJ. Aortic
valve replacement in patients with mild or moderate aortic stenosis and
coronary bypass surgery. Am J Med. 2005;118(7):735-42.
37. Nishimura RA, Carabello BA, Faxon DP, Freed MD, Lytle BW, O’Gara PT,
et al; American College of Cardiology/American Heart Association Task
Force. ACC/AHA 2008 guideline update on valvular heart disease: focused
update on infective endocarditis: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines:
endorsed by the Society of Cardiovascular Anesthesiologists, Society for
Cardiovascular Angiography and Interventions, and Society of Thoracic
Surgeons. Circulation. 2008;118(8):887-96.
38. Vaquette B, Corbineau H, Laurent M, Lelong B, Langanay T, de Place C, et al.
Valve replacement in patients with critical aortic stenosis and depressed left
ventricular function: predictors of operative risk, left ventricular function
recovery, and long term outcome. Heart. 2005;91(10):1324-9.
39. Pai RG, Varadarajan P, Razzouk A. Survival benefit of aortic valve
replacement in patients with severe aortic stenosis with low ejection fraction
and low gradient with normal ejection fraction. Ann Thorac Surg.
2008;86(6):1781-9.
40. Craver JM, Puskas JD, Weintraub WW, Shen Y, Guyton RA, Gott JP, et al.
601 octogenarians undergoing cardiac surgery: outcome and comparison with
younger age groups. Ann Thorac Surg. 1999;67(4):1104-10.
41. Connolly HM, Oh JK, Orszulak TA, Osborn SL, Roger VL, Hodge DO, et al.
Aortic valve replacement for aortic stenosis with severe left ventricular
dysfunction. Prognostic indicators. Circulation. 1997;95(10):2395-400.
42. Collart F, Feier H, Kerbaul F, Mouly-Bandini A, Riberi A, Mesana TG, et al.
Valvular surgery in octogenarians: operative risks factors, evaluation of
EuroSCORE and long term results. Eur J Cardiothorac Surg. 2005;27(2):276-
80.
43. Clavel MA, Fuchs C, Burwash IG, Mundigler G, Dumesnil JG, Baumgartner
H, et al. Predictors of outcomes in low-flow, low-gradient aortic stenosis:
results of the multicenter TOPAS Study. Circulation. 2008;118(14
Suppl):S234-42.
44. Alexander KP, Anstrom KJ, Muhlbaier LH, Grosswald RD, Smith PK, Jones
RH, et al. Outcomes of cardiac surgery in patients > or = 80 years: results
from the National Cardiovascular Network. J Am Coll Cardiol.
2000;35(3):731-8.
45. Faggiano P, Ghizzoni G, Sorgato A, Sabatini T, Simoncelli U, Gardini A, et
al. Rate of progression of valvular aortic stenosis in adults. Am J Cardiol.
1992;70(2):229-33.
46. Sorgato A, Faggiano P, Aurigemma GP, Rusconi C, Gaasch WH. Ventricular
arrhythmias in adult aortic stenosis: prevalence, mechanisms, and clinical
relevance. Chest. 1998;113(2):482-91.
47. Smith CR, Leon MB, Mack MJ, Miller DC, Moses JW, Svensson LG, et al;
PARTNER Trial Investigators. Transcatheter versus surgical aortic-valve
replacement in high-risk patients. N Engl J Med. 2011;364(23):2187-98
48. Kvidal P, Bergström R, Hörte LG, Såhle E. Observed and relative survival
after aortic valve replacement. J Am Coll Cardiol. 2000;35(3):747-56.
49. Ståhle E, Kvidal P, Nyström SO, Bergström R. Long-term relative survival
after primary heart valve replacement. Eur J Cardiothorac Surg.
1997;11(1):81-91.
50. Sharma UC, Barenbrug P, Pokharel S, Dassen WR, Pinto YM, Maessen JG.
Systematic review of the outcome of aortic valve replacement in patients with
aortic stenosis. Ann Thorac Surg. 2004;78(1):90-5.
51. Pellikka PA, Sarano ME, Nishimura RA, Malouf JF, Bailey KR, Scott CG, et
al. Outcome of 622 adults with asymptomatic, hemodynamically significant
aortic stenosis during prolonged follow-up. Circulation. 2005;111(24):3290-
5
52. Khot UN, Novaro GM, Popović ZB, Mills RM, Thomas JD, Tuzcu EM, et al.
Nitroprusside in critically ill patients with left ventricular dysfunction and
aortic stenosis. N Engl J Med. 2003;348(18):1756-63.
53. Rafique AM, Biner S, Ray I, Forrester JS, Tolstrup K, Siegel RJ. Meta-
analysis of prognostic value of stress testing in patients with asymptomatic
severe aortic stenosis. Am J Cardiol. 2009;104(7):972-7.
REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 50 anos, hipertenso, diabético tipo 2, renal crônico não dialítico,
teve episódio de infarto agudo do miocárdio sem supra de segmento ST há 60 dias e
está com angina estável CCS grau 3 desde então.
Cateterismo cardíaco: TCE sem lesões; RIVA proximal 90%; RCX 1/3 médio 80%;
ACD distal 70%; VE com hipocinesia anterior.
EuroSCORE: 4,5%. Pode-se predizer o risco de morte em cirurgia de revascularização
do miocárdio com a utilização de uma graduação de fatores relacionados ao paciente
conhecido como EuroSCORE. Nesse caso, o risco se eleva devido aos seguintes
fatores relacionados ao paciente: insuficiência renal crônica não dialítica, com
creatinina de 2,2mg/dL; IAM sem supra ST menor que 90 dias e disfunção de VE leve a
moderada.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Quais as evidências na indicação de cirurgia de revascularização do miocárdio
em pacientes triarteriais ?
Não há escore de risco que seja capaz de, individualmente, predizer o risco de eventos
para cada paciente, implicando uma abordagem multidisciplinar na qual a condição
clínica do paciente, as suas características anatômicas, as particularidades de cada
método e a discussão das opções de revascularização com o paciente, são a chave para
a escolha da melhor estratégia de tratamento.
Com esses resultados, o estudo SYNTAX em quatro anos, informa que no tratamento
dos pacientes triarteriais com baixo risco há espaço tanto para o tratamento cirúrgico
como para a ATC. Porém aqueles com risco intermediário ou de risco elevado devem,
sem dúvida, ser tratados pela cirurgia.
Nas últimas duas décadas, muito se tem discutido sobre a melhor forma de se realizar a
cirurgia de RM: com circulação extracorpórea (CEC) ou sem circulação extracorpórea
(SCEC), com muitos resultados conflitantes na literatura.
Analisando subgrupos de condições que são afetadas pela utilização ou não da CEC,
encontram-se: lesão neurológica, lesão renal, fibrilação atrial, patência dos enxertos,
qualidade da revascularização e os fatores econômicos.
Visando a reduzir esse problema, pode-se utilizar o ecocardiograma epiaórtico, que irá
alertar quando uma aorta ascendente tem ou não maior risco ao ser manipulada, através
da medição da espessura de sua parede, da presença de lesões exofíticas, da presença
de placas moles ou calcificadas24.
Quando se utiliza a RM SCEC reduz-se pela metade o risco de AVE18,25, fato não
comprovado em relação à disfunção neurocognitiva26. Todavia, se pode reduzir ainda
mais os riscos, utilizando a RM SCEC e sem manipulação da aorta com enxertos
arteriais compostos27,28.
Figura 1
Aorta ascendente com placas calcificadas.
Dois tópicos muito debatidos entre os cirurgiões e que geram grande discussão são a
qualidade das anastomoses e, consequentemente, a patência dos enxertos; e se a RM
SCEC afeta o número de pontes realizadas e, consequentemente, a taxa de
revascularização completa.
O problema da falência dos enxertos pode ser minimizado com a adoção de métodos de
verificação intraoperatória da patência dos enxertos36. O método mais simples e prático
realizado no intraoperatório é a fluxometria por tempo de trânsito (FTT).
Foi ao longo dos anos 80 que, após a publicação de vários trabalhos, demonstraram as
vantagens na utilização da ATI na RM, relacionadas principalmente à sua elevada
patência em longo prazo, que chegava a 96% em 10 anos42-44. A baixa incidência tanto
de hiperplasia da íntima como de doença aterosclerótica fizeram da ATI a primeira
escolha como enxerto para ser anastomosado ao RIVA (Figuras 2 e 3).
Durante a década de 1990, em função dos resultados obtidos, a utilização das duas ATI
ganhou força, tendo sido demonstrado inicialmente, vantagens como redução de eventos
isquêmicos e necessidade de reintervenção, porém sem mostrar melhora na
sobrevida45,46. Com o aumento do número de pacientes com uso da dupla ATI e do
tempo de seguimento, à época de 12 a 15 anos, novos trabalhos conseguiram mostrar
melhora na sobrevida47,48, principalmente nos grupos de pacientes mais jovens, além de
menor ocorrência de eventos isquêmicos e menor necessidade tanto de intervenção
percutânea quanto de reoperação.
Foi a partir dos resultados muito positivos obtidos com o uso da ATI que outros tipos
de enxertos arteriais foram mais bem estudados, tendo como objetivo a utilização do
maior número de enxertos arteriais na obtenção da RM completa.
Figura 2
Artéria torácica interna anastomosada à artéria coronária interventricular anterior.
Figura 3
Cineangiocoronariografia da ATIE-DA.
Artéria radial
A utilização da artéria radial (AR) como enxerto foi proposta em 1973, por Carpentier
et al.49; porém por apresentar àquela época elevados índices de oclusão precoce, foi
praticamente abandonada. Por ter uma camada média rica em fibras musculares, a AR
teria uma maior pré-disposição ao vasoespasmo50,51.
Anos mais tarde, estudos angiográficos mostraram enxertos de AR, com até 23 anos de
implantados patentes, o que fez com que grupos voltassem a investigar esse enxerto
como opção na RM.
Estudos mais recentes mostram uma patência inicial dos enxertos de AR entre 90% e
95%, e em médio prazo de até 85%53-56. À medida que os grupos cirúrgicos forem
aumentando a sua experiência no manuseio do enxerto e que este seja anastomosado em
artérias coronárias com lesões críticas, onde o fluxo coronariano nativo seja pequeno e
não havendo competição de fluxo, acredita-se que os resultados sejam ainda melhores,
tanto em médio como em longo prazo.
Artéria gastroepiploica
Em suas publicações, Suma et al.59 demonstraram que a patência desse enxerto era 94%
no primeiro ano de pós-operatório, 88% entre um e cinco anos, e 83% entre cinco e 10
anos. Nesse mesmo estudo, a patência tardia do enxerto de ATI foi 94%.
Se ocorrer falência precoce do enxerto de AGE, isso pode ser atribuído à sua utilização
como enxerto livre ou à competição de fluxo, quando o enxerto é implantado em
artérias coronárias com lesões de menor gravidade60,61.
Veia safena
A utilização do enxerto de veia safena (VS) foi proposta por Favaloro em 196862,
sendo durante muito tempo, o mais utilizado na cirurgia de RM. Entretanto, com o
retorno do aparecimento dos sintomas de angina e do IAM nos pacientes então
operados, observou-se a partir do seu reestudo que esses enxertos sofriam, com o
tempo, de doença aterosclerótica, trombose e hiperplasia da íntima, ocorrendo nessas
VS proliferação endotelial por estarem ligadas ao sistema arterial. Verificou-se que o
método convencional de preparo da VS para uso na cirurgia produzia danos no enxerto
que contribuíam para a sua falência.
Em 2006, Souza et al.63 publicaram ECR realizado na Suécia, e mostram que a VS,
quando preparada utilizando-se a técnica chamada de no-touch, apresenta patência de
90% em 8,5 anos. A técnica consiste no preparo da veia com a preservação dos tecidos
circundantes, sem distensão e com armazenamento em solução de sangue heparinizado.
A técnica no-touch certamente trouxe uma nova perspectiva para a utilização do enxerto
de VS, trazendo-o de volta como mais uma boa opção para a obtenção da RM completa.
Essa técnica ainda precisa passar pelo teste do tempo.
A cirurgia cardíaca minimamente invasiva tem avançado muito nos últimos anos,
abrangendo o tratamento cirúrgico de inúmeras patologias: abordagem da valva mitral,
da valva aórtica, o tratamento da fibrilação atrial, o fechamento da comunicação
interatrial, o implante de eletrodo ventricular para ressicronização, entre outras. A
cirurgia de RM não ficou para trás, apresentando grande evolução neste campo, porém
com um longo caminho a ser percorrido.
A RM híbrida é segura, com mortalidade menor que 2%, de baixa morbidade e com
tempo de internação em unidade de tratamento intensivo e hospitalar curtos80-82. Suas
principais limitações estão relacionadas ao tempo prolongado de cirurgia,
complicações de ferida operatória tardia e dor relacionada à retração da costela82.
Também não se pode deixar de mencionar as limitações relacionadas à curva de
aprendizagem do cirurgião e a reestenose relacionada aos stents convencionais com a
necessidade de revascularizações repetidas. Necessita de ECR de longo prazo para
comprovar a validade de seu emprego.
Referências
1. Beller GA, Ragosta M. Decision making in multivessel coronary disease: the
need for physiological lesion assessment. JACC Cardiovasc Interv.
2010;3(3):315-7.
2. Tonino PA, Fearon WF, De Bruyne B, Oldroyd KG, Leesar MA, Ver Lee PN,
et al. Angiographic versus functional severity of coronary artery stenoses in
the FAME study fractional flow reserve versus angiography in multivessel
evaluation. J Am Coll Cardiol. 2010;55(25):2816-21.
3. Hueb W, Lopes N, Gersh BJ, Soares PR, Ribeiro EE, Pereira AC, et al. Ten-
year follow-up survival of the Medicine, Angioplasty, or Surgery Study
(MASS II): a randomized controlled clinical trial of 3 therapeutic strategies
for multivessel coronary artery disease. Circulation. 2010;122(10):949-57.
4. Hillis LD, Smith PK, Anderson JL, Bittl JA, Bridges CR, Byrne JG, et al;
American College of Cardiology Foundation/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines. 2011 ACCF/AHA Guideline for Coronary
Artery Bypass Graft Surgery: executive summary: a report of the American
College of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force
on Practice Guidelines. J Thorac Cardiovasc Surg. 2012;143(1):4-34.
5. Yusuf S, Zucker D, Peduzzi P, Fisher LD, Takaro T, Kennedy JW, et al. Effect
of coronary artery bypass graft surgery on survival: overview of 10-year
results from randomised trials by the Coronary Artery Bypass Graft Surgery
Trialists Collaboration. Lancet. 1994;344(8922):563-70. Erratum in: Lancet.
1994;344(8934):1446.
6. Task Force on Myocardial Revascularization of the European Society of
Cardiology (ESC) and the European Association for Cadio-Thoracic Surgery
(EATCS); European Association for Percutaneous Cardiovascular
Interventions (EAPCI), Wijns W, Kolh P, Danchin N, Di Mario C, Falk V,
Folliguet T, et al. Guidelines on myocardial revascularization. Eur Heart J.
2010;31(20):2501-55.
7. Loop FD, Lytle BW, Cosgrove DM, Stewart RW, Goormastic M, Williams
GW, et al. Influence of the internal-mammary-artery graft on 10-year survival
and other cardiac events. N Engl J Med. 1986;314(1):1-6.
8. Lytle BW, Blackstone EH, Sabik JF, Houghtaling P, Loop FD, Cosgrove DM.
The effect of bilateral internal thoracic artery grafting on survival during 20
postoperative years. Ann Thorac Surg. 2004;78(6):2005-12.
9. Ong AT, Serruys PW, Mohr FW, Morice MC, Kappetein AP, Holmes Dr Jr, et
al. The SYNergy between percutaneous coronary intervention with TAXus
and cardiac surgery (SYNTAX) study: design, rationale, and run-in phase.
Am Heart J. 2006;151(6):1194-204.
10. Holmes DR Jr, Cannon LA, Stähle E, Morice MC, Mack MJ, Feldman TE, et
Four-year Follow-up of the SYNTAX Trial: optimal revascularization
strategy in patients with three-vessel disease and/or left main diseaseal. TCT-
228: . J Am Coll Cardiol. 2011;58:61. Available from:
http://content.onlinejacc.org/cgi/content/citation/58/20_Suppl_S/B61-b
11. Benetti FJ, Naselli G, Wood M, Geffner L. Direct myocardial
revascularization without extracorporeal circulation. Experience in 700
patients. Chest. 1991;100(2):312-6.
12. Buffolo E, de Andrade CS, Branco JN, Teles CA, Aguiar LF, Gomes WJ.
Coronary artery bypass grafting without cardiopulmonary bypass. Ann Thorac
Surg. 1996;61(1):63-6.
13. The Society of Thoracic Surgeons. [Internet]. STS National Database.
Isolated CAB procedures. Data summary. Off-pump procedure STS 2009: 26.
[cited 2011 Dec 20]. Available from:
<http://www.sts.org/sites/default/files/documents/pdf/ndb2010/Isolated_CAB_Data_S
109.pdf>
14. Bainbridge D, Cheng D, Martin J, Novick R; Evidence-based Peri-operative
Clinical Outcomes Research (EPiCOR) Group. Does off-pump or minimally
invasive coronary artery bypass reduce mortality, morbidity, and resource
utilization when compared with percutaneous coronary intervention? A meta-
analysis of randomized trials. J Thorac Cardiovasc Surg. 2007;133(3):623-
31.
15. Kuss O, von Salviati B, Börgermann J. Off-pump versus on-pump coronary
artery bypass grafting: a systematic review and meta-analysis of propensity
score analyses. J Thorac Cardiovasc Surg. 2010;140(4):829-35, 835.e1-13.
16. Møller CH, Penninga L, Wetterslev J, Steinbrüchel DA, Gluud C. Clinical
outcomes in randomized trials of off- vs. on-pump coronary artery bypass
surgery: systematic review with meta-analyses and trial sequential analyses.
Eur Heart J. 2008;29(21):2601-16.
17. Angelini GD, Culliford L, Smith DK, Hamilton MC, Murphy GJ, Ascione R,
et al. Effects of on- and off-pump coronary artery surgery on graft patency,
survival, and health-related quality of life: long-term follow-up of 2
randomized controlled trials. J Thorac Cardiovasc Surg. 2009;137(2):295-
303.
18. Cleveland JC Jr, Shroyer AL, Chen AY, Peterson E, Grover FL. Off-pump
coronary artery bypass grafting decreases risk-adjusted mortality and
morbidity. Ann Thorac Surg. 2001;72(4):1282-8.
19. Magee MJ, Jablonski KA, Stamou SC, Pfister AJ, Dewey TM, Dullum MK,
et al. Elimination of cardiopulmonary bypass improves early survival for
multivessel coronary artery bypass patients. Ann Thorac Surg.
2002;73(4):1196-202.
20. Puskas JD, Kilgo PD, Lattouf OM, Thourani VH, Cooper WA, Vassiliades
TA, et al. Off-pump coronary bypass provides reduced mortality and
morbidity and equivalent 10-year survival. Ann Thorac Surg.
2008;86(4):1139-46.
21. Sergeant P, Wouters P, Meyns B, Bert C, Van Hemelrijck J, Bogaerts C, et al.
OPCAB versus early mortality and morbidity: an issue between clinical
relevance and statistical significance. Eur J Cardiothorac Surg.
2004;25(5):779-85.
22. Selnes OA, Goldsborough MA, Borowicz LM, McKhann GM.
Neurobehavioural sequelae of cardiopulmonary bypass. Lancet.
1999;353(9164):1601-6.
23. Pugsley W, Klinger L, Paschalis C, Treasure T, Harrison M, Newman S. The
impact of microemboli during cardiopulmonary bypass on
neuropsychological functioning. Stroke. 1994;25(7):1393-9.
24. Yamaguchi A, Adachi H, Tanaka M, Ino T. Efficacy of intraoperative
epiaortic ultrasound scanning for preventing stroke after coronary artery
bypass surgery. Ann Thorac Cardiovasc Surg. 2009;15(2):98-104.
25. Sedrakyan A, Wu AW, Parashar A, Bass EB, Treasure T. Off-pump surgery is
associated with reduced occurrence of stroke and other morbidity as
compared with traditional coronary artery bypass grafting: a meta-analysis of
systematically reviewed trials. Stroke. 2006;37(11):2759-69.
26. Taggart DP, Browne SM, Halligan PW, Wade DT. Is cardiopulmonary bypass
still the cause of cognitive dysfunction after cardiac operations? J Thorac
Cardiovasc Surg. 1999;118(3):414-20.
27. Calafiore AM, Di Mauro M, Teodori G, Di Giammarco G, Cirmeni S,
Contini M, et al. Impact of aortic manipulation on incidence of
cerebrovascular accidents after surgical myocardial revascularization. Ann
Thorac Surg. 2002;73(5):1387-93.
28. Misfeld M, Brereton RJ, Sweetman EA, Doig GS. Neurologic complications
after off-pump coronary artery bypass grafting with and without aortic
manipulation: meta-analysis of 11,398 cases from 8 studies. J Thorac
Cardiovasc Surg. 2011;142(2):e11-7.
29. Zanardo G, Michielon P, Paccagnella A, Rosi P, Caló M, Salandin V, et al.
Acute renal failure in the patient undergoing cardiac operation. Prevalence,
mortality rate, and main risk factors. J Thorac Cardiovasc Surg.
1994;107(6):1489-95.
30. Chertow GM, Levy EM, Hammermeister KE, Grover F, Daley J. Independent
association between acute renal failure and mortality following cardiac
surgery. Am J Med. 1998;104(4):343-8.
31. Tang AT, Knott J, Nanson J, Hsu J, Haw MP, Ohri SK. A prospective
randomized study to evaluate the renoprotective action of beating heart
coronary surgery in low risk patients. Eur J Cardiothorac Surg.
2002;22(1):118-23.
32. Weerasinghe A, Athanasiou T, Al-Ruzzeh S, Casula R, Tekkis PP, Amrani M,
et al. Functional renal outcome in on-pump and off-pump coronary
revascularization: a propensity-based analysis. Ann Thorac Surg.
2005;79(5):1577-83.
33. Nigwekar SU, Kandula P, Hix JK, Thakar CV. Off-pump coronary artery
bypass surgery and acute kidney injury: a meta-analysis of randomized and
observational studies. Am J Kidney Dis. 2009;54(3):413-23.
34. Reston JT, Tregear SJ, Turkelson CM. Meta-analysis of short-term and mid-
term outcomes following off-pump coronary artery bypass grafting. Ann
Thorac Surg. 2003;76(5):1510-5.
35. Athanasiou T, Aziz O, Mangoush O, Weerasinghe A, Al-Ruzzeh S,
Purkayastha S, et al. Do off-pump techniques reduce the incidence of
postoperative atrial fibrillation in elderly patients undergoing coronary artery
bypass grafting? Ann Thorac Surg. 2004;77(5):1567-74.
36. Khan NE, De Souza A, Mister R, Flather M, Clague J, Davies S, et al. A
randomized comparison of off-pump and on-pump multivessel coronary-
artery bypass surgery. N Engl J Med. 2004;350(1):21-8.
37. Puskas JD, Williams WH, Mahoney EM, Huber PR, Block PC, Duke PG, et
al. Off-pump vs conventional coronary artery bypass grafting: early and 1-
year graft patency, cost, and quality-of-life outcomes: a randomized trial.
JAMA. 2004;291(15):1841-9.
38. Kieser TM, Rose S, Kowalewski R, Belenkie I. Transit-time flow predicts
outcomes in coronary artery bypass graft patients: a series of 1000
consecutive arterial grafts. Eur J Cardiothorac Surg. 2010;38(2):155-62.
39. Kobayashi J, Tashiro T, Ochi M, Yaku H, Watanabe G, Satoh T, et al;
Japanese Off-Pump Coronary Revascularization Investigation (JOCRI) Study
Group. Early outcome of a randomized comparison of off-pump and on-pump
multiple arterial coronary revascularization. Circulation. 2005;112(9
Suppl):I338-43.
40. Lingaas PS, Hol PK, Lundblad R, Rein KA, Mathisen L, Smith HJ, et al.
Clinical and radiologic outcome of off-pump coronary surgery at 12 months
follow-up: a prospective randomized trial. Ann Thorac Surg.
2006;81(6):2089-95.
41. Girardi PB, Hueb W, Nogueira CR, Takiuti ME, Nakano T, Garzillo CL, et al.
Comparative costs between myocardial revascularization with or without
extracorporeal circulation. Arq Bras Cardiol. 2008;91(6):340-6.
42. Lytle BW, Loop FD, Cosgrove DM, Ratliff NB, Easley K, Taylor PC. Long-
term (5 to 12 years) serial studies of internal mammary artery and saphenous
vein coronary bypass grafts. J Thorac Cardiovasc Surg. 1985;89(2):248-58.
43. Barner HB, Standeven JW, Reese J. Twelve-year experience with internal
mammary artery for coronary artery bypass. J Thorac Cardiovasc Surg.
1985;90(5):668-75.
44. Zeff RH, Kongtahworn C, Iannone LA, Gordon DF, Brown TM, Philips SJ, et
al. Internal mammary artery versus saphenous vein graft to the left anterior
descending coronary artery: prospective randomized study with 10-year
follow-up. Ann Thorac Surg. 1988;45(5):533-6.
45. Fiore AC, Naunheim KS, Dean P, Kaiser GC, Pennington G, Willman VL, et
al. Results of internal thoracic artery grafting over 15 years: single versus
double grafts. Ann Thorac Surg. 1990;49(2):202-8.
46. Pick AW, Orszulak TA, Anderson BJ, Schaff HV. Single versus bilateral
internal mammary artery grafts: 10-year outcome analysis. Ann Thorac Surg.
1997;64(3):599-605.
47. Buxton VF, Komeda M, Fuller JA, Gordon I. Bilateral internal thoracic artery
grafting may improve outcome of coronary artery surgery. Risk-adjusted
survival. Circulation. 1998;98(19 Suppl):II1-6.
48. Lytle BW, Blackstone EH, Loop FD, Houghtaling PL, Arnold JH, Akhrass R,
et al. Two internal thoracic artery grafts are better than one. J Thorac
Cardiovasc Surg. 1999;117(5):855-72.
49. Carpentier A, Guermonprez JL, Deloche A, Frechette C, DuBost C. The
aorta-to-coronary radial artery bypass graft. A technique avoiding
pathological changes in grafts. Ann Thorac Surg. 1973;16(2):111-21.
50. Curtis JJ, Stoney WS, Alford WC Jr, Burrus GR, Thomas CS Jr. Intimal
hyperplasia. A cause of radial artery aortocoronary bypass graft failure. Ann
Thorac Surg. 1975;20(6):628-35.
51. Fisk RL, Brooks CH, Callagham JC, Dvorkin J. Experience with the radial
artery graft for coronary artery bypass. Ann Thorac Surg. 1976;21(6):513-8.
52. Acar C, Jebara VA, Portoghese M, Beyssen B, Pagny JY, Grare P, et al.
Revival of the radial artery for coronary bypass grafting. Ann Thorac Surg.
1992; 54(4):652-60.
53. Calafiore AM, Di Giammarco G, Teodori G, D’Annunzio E, Vitolla G, Fino
C, et al. Radial artery and inferior epigastric artery in composite grafts:
improved midterm angiographic results. Ann Thorac Surg. 1995;60(3):517-
23.
54. Chen AH, Nakao T, Brodman RF, Greenberg M, Charney R, Menegus M, et
al. Early postoperative angiographic assessment of radial grafts used for
coronary artery bypass grafting. J Thorac Cardiovasc Surg.
1996;111(6):1208-12.
55. da Costa FD, da Costa IA, Poffo R, Abuchaim D, Gaspar R, Garcia L, et al.
Myocardial revascularization with the radial artery: a clinical and
angiographic study. Ann Thorac Surg. 1996:62(2):475-9.
56. Acar C, Ramsheyi A, Pagny JY, Jebara V, Barrier P, Fabiani JN, et al. The
radial artery for coronary artery bypass grafting: clinical and angiographic
results at five years. J Thorac Cardiovasc Surg. 1998;116(6):981-9.
57. Pym J, Brown PM, Charrette EJ, Parker JO, West RO. Gastroepiploic-
coronary anastomosis. A viable alternative bypass graft. J Thorac Cardiovasc
Surg. 1987;94(2):256-9.
58. Suma H, Fukumoto H, Takeuchi A. Coronary artery bypass grafting by
utilizing situ right gastroepiploic artery: basic study and clinical application.
Ann Thorac Surg. 1987;44(4):394-7.
59. Suma H, Isomura T, Horii T, Sato T. Late angiographic result of using the right
gastroepiploic artery as a graft. J Thorac Cardiovasc Surg. 2000;120(3):496-
8.
60. Mills NL, Hockmuth DR, Everson CT, Robart CC. Right gastroepiploic artery
used for coronary artery bypass grafting. Evaluation of flow characteristics
and size. J Thorac Cardiovasc Surg. 1993;106(4):579-85.
61. Albertini A, Lochegnies A, El Khoury G, Verhelst R, Noirhomme P, Matta A,
et al. Use of the right gastroepiploic artery as a coronary artery bypass graft
in 307 patients. Cardiovasc Surg. 1998:6(4):419-23.
62. Favaloro RG. Saphenous vein autograft replacement of severe segmental
coronary artery occlusion: operative technique. Ann Thorac Surg.
1968;5(4):334-9.
63. Souza DS, Johansson B, Bojö L, Karlsson R, Geijer H, Filbey D, et al.
Harvesting the saphenous vein with surrounding tissue for CABG provides
long-term graft patency comparable to the left internal thoracic artery: results
of a randomized longitudinal trial. J Thorac Cardiovasc Surg.
2006:132(2):373-8.
64. Dacey LJ, Braxton JH Jr, Kramer RS, Schmoker JD, Charlesworth DC, Helm
RE, et al; Northern New England Cardiovascular Disease Study Group.
Long-term outcomes of endoscopic vein harvesting after coronary artery
bypass grafting. Circulation. 2011;123(2):147-53.
65. Buffolo E, Andrade JC, Succi J, Leão LE, Gallucci C. Direct myocardial
revascularization without cardiopulmonary bypass. Thorac Cardiovasc Surg.
1985;33(1):26-9.
66. Diegeler A, Matin M, Falk V, Binner C, Walther T, Autschbach R, et al.
Indication and patient selection in minimally invasive and off-pump coronary
artery bypass grafting. Eur J Cardiothorac Surg. 1999;169(Suppl 1):S79-82.
67. McGinn JT Jr, Usman S, Lapierre H, Pothula VR, Mesana TG, Ruel M.
Minimally invasive coronary artery bypass grafting: dual-center experience
in 450 consecutive patients. Circulation. 2009;120(11 Suppl):S78-84.
68. Argenziano M, Katz M, Bonatti J, Srivastava S, Murphy D, Poirier R, et al;
TECAB Trial Investigators. Results of the prospective multicenter trial of
robotically assisted totally endoscopic coronary artery bypass grafting. Ann
Thorac Surg. 2006;81(5):1666-74.
69. Cohn LH. Operative incisions for minimally invasive cardiac surgery. Op
Techn Thorac Cardiovasc Surg. 2000;5(3):146-55.
70. Matschke KE, Gummert JF, Demertzis S, Kappert U, Anssar MB, Siclari F, et
al. The Cardica C-Port System: clinical and angiographic evaluation of a new
device for automated, compliant distal anastomoses in coronary artery bypass
grafting surgery--a multicenter prospective clinical trial. J Thorac
Cardiovasc Surg. 2005;130(6):1645-52.
71. Biancari F, Yli-Pyky S. Meta-analysis on the use of the Heartstring
anastomotic device to prevent stroke in patients undergoing off-pump
coronary artery bypass grafting. Eur J Cardiothorac Surg. 2011;40(5):1236-
40.
72. Holzhey DM, Jacobs S, Mochalski M, Walther T, Thiele H, Mohr FW, et al.
Seven-year follow-up after minimally invasive direct coronary artery bypass:
experience with more than 1300 patients. Ann Thorac Surg. 2007;83(1):108-
14.
73. Jaffery Z, Kowalski M, Weaver WD, Khanal S. A meta-analysis of
randomized control trials comparing minimally invasive direct coronary
bypass grafting versus percutaneous coronary intervention for stenosis of the
proximal left anterior descending artery. Eur J Cardiothorac Surg.
2007;31(4):691-7.
74. Serruys PW, Morice MC, Kappetein P, Colombo A, Holmes DR, Mack MJ, et
al; SYNTAX Investigators. Percutaneous coronary intervention versus
coronary-artery bypass grafting for severe coronary artery disease. N Engl J
Med. 2009;360(10):961-72.
75. Kastrati A, Schömig A, Elezi S, Schühlen H, Dirschinger J, Hadamitzky M, et
al. Predictive factors of restenosis after coronary stent placement. J Am Coll
Cardiol. 1997;30(6):1428-36.
76. Tatoulis J, Buxton BF, Fuller JA. Patencies of 2127 arterial to coronary
conduits over 15 years. Ann Thorac Surg. 2004;77(1):93-101.
77. Weisz G, Leon MB, Holmes DR Jr, Kereiakes DJ, Clark MR, Cohen BM, et
al. Two-year outcomes after sirolimus-eluting stent implantation: results from
the Sirolimus-Eluting Stent in de Novo Native Coronary Lesions (SIRIUS)
trial. J Am Coll Cardiol. 2006;47(7):1350-5.
78. Byrne JG, Leacche M, Vaughan DE, Zhao DX. Hybrid cardiovascular
procedures. JACC Cardiovasc Interv. 2008;1(5):459-68.
79. Angelini GD, Wilde P, Salerno TA, Bosco G, Calafiore AM. Integrated left
small thoracotomy and angioplasty for multivessel coronary artery
revascularisation. Lancet. 1996;347(9003):757-8.
80. Kon ZN, Brown EN, Tran R, Joshi A, Reicher B, Grant MC, et al.
Simultaneous hybrid coronary revascularization reduces postoperative
morbidity compared with results from conventional off-pump coronary artery
bypass. J Thorac Cardiovasc Surg. 2008;135(2):367-75.
81. Cisowski M, Morawski W, Drzewiecki J, Kruczak W, Toczek K, Bis J, et al.
Integrated minimally invasive direct coronary artery bypass grafting and
angioplasty for coronary artery revascularization. Eur J Cardiothorac Surg.
2002;22(2):261-5.
82. Gersbach P, Imsand C, von Segesser LK, Delabays A, Vogt P, Stumpe F.
Beating heart coronary artery surgery: is sternotomy a suitable alternative to
minimal invasive technique? Eur J Cardiothorac Surg. 2001;20(4):760-4.
TRATAMENTO CIRÚRGICO DAS
DISSECÇÕES AÓRTICAS
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 42 anos, hipertenso em tratamento, com história de dor torácica
forte há dois meses, procura o Hospital com cansaço a médios esforços e desconforto
retroesternal. Não apresenta os estigmas da síndrome de Marfan; apresenta sopro
diastólico em foco aórtico e PA =160x70mmHg em braço direito e PA =135x50mmHg
em braço esquerdo.
PERGUNTAS
1. Quais os limites anatômicos da aorta ascendente e da raiz da aorta?
Figura 1
Anatomia da aorta ascendente e da raiz aórtica
2. Quais os possíveis mecanismos da insuficência aórtica na dissecção aórtica?
Figura 2
Paciente com dissecção aguda da aorta tipo I de DeBakey. Notar a fina camada adventícia que mantém a integridade
do vaso. Observa-se também a presença de hematoma intramural. Aspirada moderada quantidade de sangue do saco
pericárdico.
Na segunda foto, após anastomose distal do enxerto de Dacron e colocação de pinça no enxerto, avalia-se o ponto de
ruptura da íntima na aorta ascendente proximal.
Classificação de DeBakey
Baseia-se na localização da ruptura da camada íntima e extensão da dissecção e
classifica de forma anatomopatológica a dissecção aórtica em quatro tipos: tipos I, II,
IIIa e IIIb1 (Figura 3).
Classificação de Stanford
Trata-se de uma classificação funcional que agrupa as dissecções em proximais, tipo A,
quando acomete a aorta ascendente, independente da localização da ruptura da íntima; e
tipo B, quando a aorta ascendente não está envolvida2 (Figura 3).
Isto quer dizer que o paciente apresentado tem uma dissecção do tipo I de DeBakey ou
tipo A de Stanford, ou seja, o local de ruptura da íntima está na porção proximal do
vaso, na aorta ascendente.
Figura 3
Classificação de DeBakey e de Stanford.
DeBakey I e II correspodem a Stanford A e DeBakey IIIa e IIIb correspondem a Stanford B.
Nas dissecções tipo A, a ruptura está geralmente associada à porção anterior da aorta
prosseguindo em espiral em torno do arco aórtico, seguindo a aorta torácica
descendente pela face esquerda e posterior. Também pode se propagar de forma
retrógrada por distância variável, acometendo os óstios coronarianos em
aproximadamente 10% dos casos e evoluir para ruptura no saco pericárdico, sendo a
causa da morte em até 80% dos casos3.
Aos cirurgiões cabe lembrar que a camada adventícia fornece grande força de tensão à
parede da aorta e deve ser empregada como estrutura adjunta durante a cirurgia.
O ecocardiograma transtorácico pode ser útil, mas geralmente não tem sensibilidade
para confirmar uma hipótese diagnóstica. Um ecocardiograma transtorácico negativo
deve ser acompanhado de um exame transesofágico ou uma angiotomografia.
Figura 5
Angio-TC: aorta ascendente, arco aórtico e aorta descendente. Notar a presença de luz verdadeira, falsa e linha de
dissecção.
Nos casos agudos, outros fatores devem ser levados em consideração. A idade do
paciente isoladamente não constitui uma contraindicação, entretanto há poucos
trabalhos na literatura que relatam a sobrevida em indivíduos com idade >80 anos. O
estado neurológico também deverá ser considerado para a indicação cirúrgica. A
presença de acidente vascular encefálico ou paraplegia não são contraindicações
absolutas, entretanto o prognóstico passa a ser muito reservado14.
Em uma coorte de 136 pacientes com dissecção aórtica tipo B, demonstrou que
pacientes jovens e de baixo risco operatório podem ser direcionados para uma
abordagem mais agressiva, com cirurgia precoce, sem aumento de mortalidade
hospitalar (11%), quando comparados à terapia medicamentosa, o que evitaria a
degeneração aneurismática crônica da aorta descendente15. Ainda que extremamente
favoráveis, esses resultados não foram considerados reprodutíveis por outros centros.
No presente caso, o paciente apresenta relativa longa expectativa de vida tendo
dilatações importantes tanto na aorta ascendente como na aorta descendente. O
tratamento simultâneo por ressecção da aorta ascendente e colocação de endoprótese na
aorta descendente pode evitar a expansão aneurismática do vaso.
Dados recentes do IRAD, considerado uma expressão do mundo real, revelam que nos
casos de dissecções tipo B tratados conservadoramente, a mortalidade em 30 dias foi
de apenas 10%, enquanto nos pacientes operados a mortalidade foi 31% e a incidência
de paraplegia 18%. Após seguimento de três anos, não houve diferença estatisticamente
significativa na mortalidade entre os grupos tratados com terapia médica, endovascular
ou cirúrgica.
8. Que tipo de cirurgia deve ser realizada na aorta ascendente - Preservar a valva
aórtica ou substituir a raiz ?
Se a valva aórtica puder ter suas comissuras submetidas à suspensão e fixadas à parede
aórtica e os óstios coronarianos estiverem preservados, evita-se o implante de tubo
valvado, também denominada operação de Bentall e De Bono19 (Figuras 6 e 7). Nela,
obrigatoriamente, ambos os óstios coronarianos deverão ser reimplantados em um tubo
de malha de Dacron com prótese aórtica acoplada em uma de suas extremidades,
podendo esta ser biológica ou mecânica. Portanto, o comprometimento dos folhetos
aórticos ou a impossibilidade de ressuspensão dos postes comissurais ou correção das
coronárias implicam a colocação do tubo valvado.
Figura 6
Aspecto normal da valva aórtica tricúspide em paciente com dissecção aórtica tipo I. A aorta ascendente foi
ressecada acima do plano valvar, ao nível da junção sinotubular para interposição de enxerto de Dacron tubular reto
acima do plano valvar.
Figura 7
Aspectos técnicos da operação de Bentall e De Bono. A primeira foto revela a dissecção do óstio coronariano direito
em forma de botão; na segunda foto os pontos estão sendo passados no anel aórtico e no anel do enxerto valvado
diretamente; na terceira foto está sendo implantado o óstio coronariano direito e na última, o óstio coronariano
esquerdo.
Há outra alternativa a essa técnica de substituição da raiz aórtica, proposta por Cabrol:
um segmento de enxerto de PTFE 5mm é anastomosado lateralmente à porção
ascendente do tubo de Dacron e anastomosado aos óstios coronarianos, de modo
terminoterminal. Pode ser útil em pacientes idosos, em reoperações ou em casos que há
necessidade de reconstrução muito complexa dos demais segmentos da aorta, como
pode ocorrer também em casos de endocardite infecciosa20.
Após a redução e fixação do anel, faz-se o implante do enxerto tubular de Dacron com
o recorte para implante dos postes comissurais. O corte para implante das comissuras
aórticas deve ter aproximadamente a mesma dimensão do diâmetro do enxerto.
Porteriormente, implantam-se os óstios coronarianos. Não deve ser empregada em
pacientes com doenças do tecido conectivo, dando-se preferência à técnica de
reimplante.
A canulação da artéria axilar e a manutenção do fluxo por uma das carótidas durante a
parada, descrita por Sabik et al.25, têm as vantagens de evitar a manipulação da artéria
femoral, frequentemente acometida pela dissecção, manter sempre o fluxo no sentido
anterógrado pela luz verdadeira, e não necessitar de hipotermia profunda, o que
minimiza as complicações discrásicas. Deve-se proceder à perfusão cerebral pelos
ramos supra-aórticos em paciente com dissecção aórtica aguda proximal. No presente
caso, também poderia ser utilizada essa técnica de perfusão através de anastomose de
enxerto de PTFE ou Dacron 8mm no tronco braquicefálico ou anastomose do enxerto
em artéria carótida direita (Figura 10, ao lado). Pode-se utilizar o mesmo enxerto para
perfusão cerebral anterógrada durante o período de parada circulatória26.
Figura 10
Perfusão aórtica pelo tronco braquiocefálico e pela artéria carótida direita.
A aorta é considerada dilatada quando seu diâmetro excede o considerado normal para
determinada idade e superfície corporal. Quando esse diâmetro superar 50% do
previsto no segmento analisado, configura-se a definição de aneurisma.
Estudo publicado por Coady et al.28, em 1999, com 370 pacientes portadores de
aneurismas da aorta torácica, sendo 201 deles proximais, com seguimento médio de
29,4 meses, demonstrou a relação direta com eventos adversos (dissecção e ou ruptura)
e diâmetro da aorta. Portanto, o valor absoluto do diâmetro da aorta tem sido
empregado pela maioria dos serviços como parâmetro de indicação para tratamento
cirúrgico:
A curva da sobrevida em cinco anos dos pacientes com diâmetro >6cm na aorta
descendente foi apenas 56%, segundo estudos do grupo da Yale University5, e de 85%
para casos operados eletivamente, sobrevida semelhante à encontrada na população
normal, com a mesma média de idade. Esses achados, associados à mortalidade
operatória de 11% apresentada pelo grupo, têm levado os autores a arbitrarem em
60mm o parâmetro de indicação cirúrgica para os aneurismas da aorta descendente,
conduta considerada consensual por muitos especialistas com a qual se concorda. No
paciente relatado, possivelmente o tratamento endovascular da porção descendente
fosse uma opção, tendo em vista também sua expectativa de vida.
A principal preocupação na correção cirúrgica dos aneurismas descendentes ou
toracoabdominais ainda é a paraplegia, com incidência entre 4% e 32% em trabalhos
recentes. A lesão medular continua a ser um evento devastador para paciente, família e
equipe cirúrgica. Embora a paraplegia seja um fenômeno claramente multifatorial,
pode-se dizer que sua ocorrência advém de uma ou mais das seguintes condições:
duração e grau de isquemia medular, falha no restabelecimento do fluxo da medula
espinhal após o reparo e/ou injúria de reperfusão mediada bioquimicamente29-31.
Para redução da isquemia medular, numerosas técnicas têm sido preconizadas, com
resultados clínicos conflitantes. Quando nenhum método de perfusão distal é utilizado
durante a reconstrução, a aorta pode ser pinçada apenas proximalmente, como
preconizado por Crawford32, para impedir a elevação da pressão liquórica,
reposicionando sequencialmente a pinça na aorta, no sentido craniocaudal, à medida
que a reconstrução avança e que os ramos intercostais principais e os ramos viscerais
são incluídos na prótese. Enquanto existe relativa segurança com tempo de isquemia
inferior a 30min, essa abordagem apresenta uma incidência proibitiva de paraparesia
ou paraplegia com tempo maior de 60min. Quando se pretende que a perfusão distal
seja mantida para otimizar a nutrição das artérias intercostais e lombares, breves
períodos de isquemia sequencial podem ser realizados. Utiliza-se, nesta situação, a
perfusão por via átrio esquerdo-femoral ou femorofemoral31, o que teoricamente
permite a manutenção da perfusão até o nível de T5 ou T6 durante o primeiro
pinçamento da aorta proximal e da subclávia esquerda32,33.
Outros métodos de proteção distal podem incluir CEC com parada cardiocirculatória
hipotérmica, ou o uso de shunts temporários, internos ou externos. A drenagem de
líquido cefalorraquidiano (LCR) para diminuição da pressão intratecal constitui outra
forma referida de proteção medular, tendo sido amplamente testada em diversos
modelos animais, associada ou não à infusão de drogas neurotrópico-negativas34.
Figura 11
Paciente do sexo feminino, 77 anos, aneurisma de 63mm, hipertensão arterial sistêmica controlada e quadro de dor
persistente apesar da medicação. Implante de endoprótese aórtica sem intercorrências por via femoral direita. Na
segunda foto, controle realizado um ano após o implante e paciente assintomática.
Nos pacientes com dissecção aórtica tipo I, sem dilatação da aorta descendente, não
está recomendado o uso de endoprótese na aorta descendennte simultaneamente ao
tratamento cirúrgico da aorta ascendente.
Referências
1. DeBakey ME, Beall AC Jr, Cooley DA, Crawford ES, Morris GC Jr, Garrett
HE, et al. Dissecting aneurysms of the aorta. Surg Clin North Am.
1966;46(4):1045-55.
2. Daily PO, Trueblood HW, Stinson EB, Wuerflein RD, Shumway NE.
Management of acute aortic dissections. Ann Thorac Surg. 1970;10(3):237-
47.
3. Coady MA, Rizzo JA, Elefteriades JA. Pathologic variants of thoracic aortic
dissections. Penetrating atherosclerotic ulcers and intramural hematomas.
Cardiol Clin. 1999;17(4):637-57.
4. Neufang KF, Theissen P, Deider S, Sechtem U. [Thoracic aorta dissection--
the place of MRT and CT in the follow-up after prosthetic aortic
replacement]. Rofo. 1989;151(6):659-65.
5. Trimarchi S, Tolenaar JL, Tsai TT, Froehlich J, Pegorer M, Upchurch GR, et
al. Influence of clinical presentation on the outcome of acute B aortic
dissection: evidences from IRAD. J Cardiovasc Surg (Torino).
2012;53(2):161-8.
6. Wolfe WG, Moran JF. The evolution of medical and surgical management of
acute aortic dissection. Circulation. 1977;56(4 Pt 1):503-5.
7. Gott VL, Cameron DE, Pyeritz RE, Gillinov AM, Greene PS, Stone CD, et al.
Composite graft repair of Marfan aneurysm of the ascending aorta: results in
150 patients. J Card Surg. 1994;9(5):482-9.
8. Miller DC. Surgical management of acute aortic dissection: new data. Semin
Thorac Cardiovasc Surg. 1991;3(3):225-37.
9. American Academy of Pediatrics Committee on Genetics. Health supervision
for children with Marfan syndrome. American Academy of Pediatrics
Committee on Genetics. Pediatrics. 1996;98(5):978-82.
10. Groenink M, Rozendaal L, Naeff MS, Hennekam RC, Hart AA, van der Wall
EE, et al. Marfan syndrome in children and adolescent: predictive and
prognostic value of aortic root growth for screening for aortic complications.
Heart. 1998;80(2):163-9.
11. Ergin MA, Spielvogel D, Apaydin A, Lansman SL, McCullough JN, Galla
JD, et al. Surgical treatment of the dilated ascending aorta: when and how?
Ann Thorac Surg. 1999;67(6):1834-9.
12. Borger MA, Preston M, Ivanov J, Fedak PW, Davierwala P, Armstrong S, et
al. Should the ascending aorta be replaced more frequently in patients with
bicuspid aortic valve disease? J Thorac Cardiovasc Surg. 2004;128(5):677-
83.
13. De Sá MP, Bastos ES, Murad H. Valva aórtica bicúspide: fundamentos
teóricos e clínicos para substituição simultâmea da aorta ascendente. Rev
Bras Cir Cardiovasc. 2009;24(2):218-24.
14. Ergin MA, Galla JD, Lansman L, Quintana C, Bodian C, Griepp RB.
Hypothermic circulatory arrest in operations on the thoracic aorta.
Determinants of operative mortality and neurologic outcome. J Thorac
Cardiovasc Surg. 1994;107(3):788-97.
15. Bonser RS, Ranasinghe AM, Loubani M, Evans JD, Thalji NM, Bachet JE, et
al. Evidence, lack of evidence, controversy, and debate in the provision and
performance of the surgery of acute type A aortic dissection. J Am Coll
Cardiol. 2011;58(24):2455-74.
16. Coady MA, Rizzo JA, Hammond GL, Pierce JG, Kopf GS, Elefteriades JA.
Penetrating ulcer of the thoracic aorta: what is it? How do we recognize it?
How do we manage it? J Vasc Surg. 1998;27(6):1006-15.
17. Tsai TT, Trimarchi S, Nienaber CA. Acute aortic dissection: perspectives
from the International Registry of Acute Aortic Dissection (IRAD). Eur J
Vasc Endovasc Surg. 2009;37(2):149-59.
18. Griepp RB, Ergin MA, McCullough JN, Nguyen KH, Juvonen T, Chang N, et
al. Use of hypothermic circulatory arrest for cerebral protection during aortic
surgery. J Card Surg. 1997;12(2 Suppl):312-21.
19. Bentall H, De Bono A. A technique for complete replacement of the
ascending aorta. Thorax. 1968;23(4):338-9.
20. Cabrol C, Pavie A, Mesnildrey P, Gandjbakhch I, Laughlin L, Bors V, et al.
Long-term results with total replacement of the ascending aorta and
reimplantation of the coronary arteries. J Thorac Cardiovasc Surg.
1986;91(1):17-25.
21. David TE, Feindel CM. An aortic valve-sparing operation for patients with
aortic incompetence and aneurysm of the ascending aorta. J Thorac
Cardiovasc Surg. 1992;103(4):617-21.
22. Sarsam MA, Yacoub M. Remodeling of the aortic valve anulus. J Thorac
Cardiovasc Surg. 1993;105(3):435-8.
23. Ergin MA, O’Connor J, Guinto R, Griepp RB. Experience with profound
hypothermia and circulatory arrest in the treatment of aneurysms of the aortic
arch. Aortic arch replacement for acute arch dissections. J Thorac
Cardiovasc Surg. 1982;84(5):649-55.
24. Stefano PL, Blanzola C, Merico E. Acute aortic syndromes: an assessment. G
Ital Cardiol (Rome). 2012;13(5):337-44.
25. Sabik JF, Lytle BW, McCarthy PM, Cosgrove DM. Axillary artery: an
alternative site of arterial cannulation for patients with extensive aortic and
peripheral vascular disease. J Thorac Cardiovasc Surg. 1995;109(5):885-
90.
26. Souza JM, Rojas SO, Berlinck MF, Mazzieri R, Oliveira PAF, Martins JRM,
et al. Circulação extracorpórea pela artéria carótida comum direita na
correção de doenças da aorta ascendente, arco aórtico e aorta descendente.
Rev Bras Cir Cardiovasc. 2003;18(2):137-41.
27. de Sa M, Moshkovitz Y, Butany J, David TE. Histologic abnormalities in the
ascending aorta and pulmonary trunk in patients with bicuspid aortic valve
disease: clinical relevance to the ross procedure. J Thorac Cardiovasc Surg.
1999;118(4):588-94.
28. Coady MA, Rizzo JA, Hammond GL, Kopf GS, Elefteriades JA. Surgical
intervention criteria for thoracic aortic aneurysms: a study of growth rates
and complications. Ann Thorac Surg. 1999;67(6):1922-6.
29. Cambria RP, Davison JK, Carter C, Brewster DC, Chang Y, Clark KA, et al.
Epidural cooling of spinal cord protection during thoracoabdominal aneurysm
repair: a five-year experience. J Vasc Surg. 2000;31(6):1093-102.
30. Svensson LG, Crawford ES, Hess KR, Coselli JS, Safi HJ. Experience with
1509 patients undergoing thoracoabdominal aortic operations. J Vasc Surg.
1993;17(2):357-68.
31. Murad H, Feitosa JL, Giambroni Filho R, Azevedo JA, Brito JD, Palhares
MS, et al. Proteção medular em cirurgia da aorta descendente com uso de
“bio-pump” e exsanguinação controlada. Rev Bras Cir Cardiovasc.
1994;9(2):104-8.
32. Crawford ES, Crawford JL, Safi HJ, Coselli JS, Hess KR, Brooks B, et al.
Thoracoabdominal aortic aneurysms: preoperative and intraoperative factors
determining immediate and long-term results of operation in 605 patients. J
Vasc Surg. 1986;3(3):389-404.
33. Hollier LH, Money SR, Naslund TC, Proctor CD Sr, Buhrman WC, Marino
RJ, et al. Risk of spinal cord dysfunction in patients undergoing
thoracoabdominal aortic replacement. Am J Surg. 1992;164(3):210-3.
34. Blaisdell FW, Cooley DA. The mechanism of paraplegia after temporary
thoracic aortic occlusion and its relationship to spinal fluid pressure. Surgery.
1962;51:351-5.
35. Dake MD, Miller DC, Semba CP, Mitchell RS, Walker PJ, Liddell RP.
Transluminal placement of endovascular stent-grafts for the treatment of
descending thoracic aortic aneurysms. N Engl J Med. 1994;331(26):1729-
34.
36. Dake MD, Miller DG, Mitchell RS, Semba CP, Moore KA, Sakai T. The
"first generation" of endovascular stent-grafts for patients with aneurysms of
the descending thoracic aorta. J Thorac Cardiovasc Surg. 1998;116(5):689-
703.
37. Albuquerque LC, Braile DM, Palma JH, Saadi EK, Almeida RM, Gomes WJ,
et al; Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. Diretrizes para o
tratamento cirúrgico das doenças da aorta da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Cardiovascular. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2009;24(2 supl):7s-33s.
38. Nienaber CA. Influence and critique of the INSTEAD Trial (TEVAR versus
medical treatment for uncomplicated type B aortic dissection). Semin Vasc
Surg. 2011;24(3):167-71.
39. Bavaria JE, Appoo JJ, Makaroun MS, Verter J, Yu ZF, Mitchell RS; Gore
TAG Investigators. Endovascular stent grafting versus open surgical repair of
descending thoracic aortic aneurysms in low-risk patients: a multicenter
comparative trial. J Thorac Cardiovasc Surg. 2007;133(2):369-77.
CIRURGIA NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 60 anos, hipertenso e diabético, com história prévia de IAM, em
classe funcional III da NYHA apresentando dispneia paroxística noturna, ortopneia e
dispneia aos pequenos esforços.
Ao exame físico observou-se B3 de VE, sopro sistólico 3+/ 4+, crepitações bibasais de
finas bolhas e edema de membros inferiores até o joelho. O eletrocardiograma
demonstrou ondas t invertidas em toda a parede anterior; ao ecocardiograma observou-
se fração de ejeção de 25%, regurgitação mitral importante e acinesia de parede
anterior. À cineangiocoronariografia observou-se doença coronariana multivascular
envolvendo a artéria descendente anterior em seu segmento proximal e as artérias
coronárias circunflexa e direita, insuficiência mitral importante e acinesia
anterosseptal. O paciente já estava medicado com carvedilol, diuréticos e
vasodilatadores, além de inibidor da ECA sem melhora clínica satisfatória.
OBJETIVOS
1. Discutir a reconstrução ventricular na cardiomiopatia isquêmica.
2. Analisar a insuficiência mitral na cardiomiopatia isquêmica.
3. Descrever a insuficiência mitral na cardiomiopatia dilatada.
4. Discutir estratégias de proteção miocárdica e multiorgânica.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso relatado?
A ressonância nuclear magnética com realce tardio com gadolíneo pode ser útil na
definição do grau de comprometimento fibrótico e de sua extensão em relação à massa
ventricular esquerda, bem como confirmar dados de volumes e diâmetros avaliados
pelo ecocardiograma. Esses dados podem ajudar na tomada de decisão da melhor
estratégia de tratamento e das diferentes alternativas cirúrgicas para esse paciente,
dentre elas: tratamento clínico conservador ou revascularização do miocárdio
associada ou não à intervenção sobre a válvula mitral com ou sem reconstrução
ventricular esquerda ou transplante cardíaco.
Após o IAM, a substituição da área infartada por tecido fibrótico pode induzir o
aparecimento de área discinética ou acinética. Com o decorrer do tempo, mudança da
geometria cardíaca acaba por afetar a área não infartada. A seguir, essa área dilata,
promovendo aparecimento de zona acinética com importante alteração global da função
do VE.
5. Qual é o prognóstico?
No estudo SAVER4, um grupo de 662 pacientes operados entre 1998 e 2000, apresentou
uma mortalidade hospitalar de 7,7%. A mortalidade operatória foi de 4,9% naqueles
pacientes submetidos à cirurgia de Dor e revascularização miocárdica associadas; e de
8,1% nos 25 pacientes que também foram submetidos à cirurgia da válvula mitral. A
utilização do balão intra-aórtico foi em 8,4% e a sobrevida após três anos foi 89%.
Os pacientes renais devem ser considerados com cuidado para melhorar a função renal
(creatina >1,5mg/dL), usando medidas que incluam manitol, furosemida e dopamina
durante a perfusão. Também manter uma pressão arterial média em torno de 80mmHg e
bom débito circulatório.
Referências
1. Hunt SA, Abraham WT, Chin MH, Feldman AM, Francis GS, Ganiats TG, et
al; American College of Cardiology; American Heart Association Task Force
on Practice Guidelines; American College of Chest Physicians; International
Society for Heart and Lung Transplantation; Heart Rhythm Society.
ACC/AHA 2005 Guidelines Update for the Diagnosis and Management of
Chronic Heart Failure in the Adult: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
(Writing Committee to Update the 2001 Guidelines for the Evaluation and
Management of Heart Failure): developed in collaboration with the American
College of Chest Physicians and the International Society for Heart and Lung
Transplantation: endorsed by the Heart Rhythm Society. Circulation.
2005;112(12):e154-235.
2. Dickstein K, Cohen-Solal A, Filippatos G, McMurray JJ, Ponikowski P,
Poole-Wilson PA, et al; ESC Committee for Practice Guidelines (CPG). ESC
Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure
2008: the Task Force for the Diagnosis and Treatment of Acute and Chronic
Heart Failure 2008 of the European Society of Cardiology. Developed in
collaboration with the Heart Failure Association of the ESC (HFA) and
endorsed by the European Society of Intensive Care Medicine (ESICM). Eur
Heart J. 2008;29(19):2388-442. Erratum in: Eur Heart J. 2010;12(4):416;
2010;31(5):624.
3. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D,
Rodrigues D, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da
Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica - 2012. Arq Bras
Cardiol. 2012;98(1 supl. 1):1-33.
4. Gomes WJ, Jaramillo JI, Asanuma F, Alves FA. Physiologic left ventricular
reconstruction: the concept of maximum ventricular reduction and minimum
inflammatory reaction. Rev Bras Cir Cardiovasc [on-line]. 2004;19(4):353-
7.
5. Velazquez EJ, Lee KL, Deja MA, Jain A, Sopko G, Marchenko A, et al;
STICH Investigators. Coronary-artery bypass surgery in patients with left
ventricular dysfunction. N Engl J Med. 2011;364(17):1607-16.
6. Bonow RO, Maurer G, Lee KL, Holly TA, Binkley PF, Desvigne-Nickens P,
et al; STICH Trial Investigators. Myocardial viability and survival in
ischemic left ventricular dysfunction. N Engl J Med. 2011;364(17):1617-25.
7. Jones RH, Velazquez EJ, Michler RE, Sopko G, Oh JK, O’Connor CM, et al;
STICH Hypothesis 2 Investigators. Coronary bypass surgery with or without
surgical ventricular reconstruction. N Engl J Med. 2009;360(17):1705-17.
8. Fattouch K, Guccione F, Sampognaro R, Panzarella G, Corrado E, Navarra E,
et al. POINT: Efficacy of adding mitral valve restrictive annuloplasty to
coronary artery bypass grafting in patients with moderate ischemic mitral
valve regurgitation: a randomized trial. J Thorac Cardiovasc Surg.
2009;138(2):278-85.
Seção 14. Reabilitação Cardíaca,
Prevenção e Atividade Física
CASO CLÍNICO
Dados básicos: Paciente feminina, 51 anos, IMC =19,1kg/m²
Doença principal: cardiomiopatia dilatada com diagnóstico estabelecido há dois anos.
Principais variáveis:
Eletrocardiograma basal: ritmo sinusal, bloqueio de ramo esquerdo. Sem alterações
expressivas ao exercício.
V’O2 pico =15,2ml.kg-1.min-1, equivalente a 4,3MET (tolerância muito fraca)
V’O2 no limiar anaeróbico =9,8ml.kg-1.min-1 (2,8MET)
V’O2 /FC (Pulso de oxigênio) =5,6ml/bpm em curva descendente, correspondendo a
uma evolução reduzida do volume sistólico durante o exercício.
Inclinação (slope): V’E / V’CO2 =44,4 (elevada, indicativa de mau prognóstico em
médio prazo).
R =1,04 (exercício realizado em intensidade próxima à máxima).
Pela análise dos dados apresentados, a limitação ao esforço pode ser atribuída a
comprometimento central, identificado pelo reduzido pulso de oxigênio e pelo índice
inapropriado do equivalente ventilatório de gás carbônico, refletindo uma inadequação
cardiorrespiratória por disfunção ventricular esquerda.
Após dois anos de programa de atividade física supervisionada, que incluiu atividade
aeróbia em cicloergômetro e em esteira rolante e exercícios resistidos, outro TECP foi
realizado com o mesmo protocolo progressivo em rampa e medicação mantida,
merecendo destaque as seguintes variáveis, comparadas ao primeiro teste:
Conclusões
A curva do pulso de oxigênio mais elevada permite inferir um maior volume sistólico
ao esforço.
Os valores mais reduzidos do slope VE / VCO2 são compatíveis com melhor adaptação
cardiorrespiratória e melhor prognóstico.
OBJETIVOS
1. Discutir criticamente os efeitos multifacetados do exercício físico na
prevenção primária das doenças cardiovasculares
2. Delinear o expressivo papel do exercício na redução do risco de eventos,
inclusive na mortalidade dos pacientes portadores de graves condições
clínicas.
PERGUNTAS
1. Em portadores de insuficiência cardíaca crônica (ICC), o exercício físico se
constitui na melhor estratégia para redução dos fatores de risco e melhor
sobrevida?
O tratamento clínico da ICC tem como objetivos principais a melhora dos sintomas e o
aumento da sobrevida. Os medicamentos atualmente disponíveis para esse tratamento
são capazes de proporcionar esses resultados. Dentro dessa estratégia, a prática regular
de exercícios físicos é um coadjuvante fundamental no tratamento da ICC.
Nesse grupo de pacientes, tão limitados sob o ponto de vista da capacidade funcional, a
intervenção do exercício físico é muitas vezes decisiva, podendo representar a
diferença entre a absoluta dependência para realizar as atividades da vida diária ou
uma vida cotidiana normal, sem a necessidade de auxílio de outras pessoas.
A dispneia aos esforços é uma queixa comum nos consultórios médicos, tanto em
cardiopatas quanto em indivíduos jovens e aparentemente saudáveis, mas sedentários.
Clinicamente, é importante determinar se esse sintoma é patológico ou não.
Dependendo do perfil do paciente, a dispneia aos esforços pode ter significados tão
diversos quanto um equivalente anginoso ou simplesmente falta de condicionamento
físico. Certamente, o teste de exercício cardiopulmonar é um exame complementar
capaz de estabelecer esse diagnóstico diferencial.
Um artigo clássico, publicado por Morris et al.7, começou a trazer essa informação.
Nesse estudo, de desenho transversal, foram comparadas duas categorias profissionais:
cobradores de ônibus londrinos de dois andares, que subiam e desciam escadas
diversas vezes ao dia durante o trabalho, e os motoristas desses mesmos ônibus, que
permaneciam sentados quase o tempo todo. Por outro lado, os carteiros, que
caminhavam ou pedalavam vários quilômetros ao dia foram comparados com os
funcionários burocráticos dos correios, que também permaneciam sentados a maior
parte do tempo. Nas duas situações, os indivíduos que eram fisicamente ativos durante
a sua atividade profissional tinham uma menor incidência de doença arterial
coronariana (DAC) do que os indivíduos sedentários. Nas décadas seguintes, esse
conceito começou a se tornar mais sólido a partir dos resultados de estudos
longitudinais prospectivos, que associavam um maior gasto energético cotidiano a um
menor risco relativo de mortalidade geral.
Insuficiência cardíaca4
Obesidade15
Assim, uma boa CF representa não somente um bom condicionamento físico, mas uma
vantagem prognóstica muito interessante, tanto em indivíduos aparentemente saudáveis
quanto em cardiopatas. Por outro lado, filosoficamente, não se deve fornecer o laudo de
“normal” para um indivíduo cujo teste de exercício mostre uma CF muito baixa para a
faixa etária.
Referências
1. Franciosa JA, Park M, Levine TB. Lack of correlation between exercise
capacity and indexes of resting left ventricular performance in heart failure.
Am J Cardiol. 1981;47(1):33-9.
2. Drexler H. Skeletal muscle failure in heart failure. Circulation.
1992;85(4):1621-3.
3. Costa RV, Nóbrega AC, Serra SM, Rego S, Wajngarten M. Influência da
massa muscular esquelética sobre as variáveis ventilatórias e hemodinâmicas
ao exercício em pacientes com insuficiência cardíaca crônica. Arq Bras
Cardiol. 2003;81(6):581-5, 576-80.
4. Wang Y, Tuomilehto J, Jousilahti P, Antikainen R, Mähönen M, Katzmarzyk
PT, et al. Occupational, commuting, and leisure-time physical activity in
relation to heart failure among finnish men and women. J Am Coll Cardiol.
2010;56(14):1140-8.
5. Tipton CM. Susruta of India, an unrecognized contributor to the history of
exercise physiology. J Appl Physiol. 2008;104(6):1553-6.
6. Lazzoli JK. Epidemiologia da atividade física. In: Sociedade Brasileira de
Medicina do Esporte. Clínicas Brasileiras de Medicina do Esporte. São
Paulo: Atheneu; 2003.
7. Morris JN, Heady JA, Raffle PA, Roberts CG, Parks JW. Coronary heart-
disease and physical activity of work. Lancet. 1953;265(6796):1111-20.
8. Paffenbarger RS Jr, Hyde RT, Wing AL, Hsieh CC. Physical activity, all-
cause mortality, and longevity of college alumni. N Engl J Med.
1986;314(10):605-13.
9. Paffenbarger RS Jr, Lee IM. Physical activity and fitness for health and
longevity. Res Q Exerc Sport. 1996;67(3 suppl):S11-28.
10. European Association of Cardiovascular Prevention and Rehabilitation
Committee for Science Guidelines; EACPR, Corrà U, Piepoli MF, Carré F,
Heuschmann P, Hoffmann U, Verschuren M, et al. Secondary prevention
through cardiac rehabilitation: physical activity counselling and exercise
training: key components of the position paper from the Cardiac
Rehabilitation Section of the European Association of Cardiovascular
Prevention and Rehabilitation. Eur Heart J. 2010;31(16):1967-74.
11. Fagard RH. Exercise characteristics and the blood pressure response to
dynamic physical training. Med Sci Sports Exerc. 2001;33(6 suppl):S484-92.
12. Artero EG, Lee D, Ruiz JR, Sui X, Ortega FB, Church TS, et al. A
prospective study of muscular strength and all-cause mortality in men with
hypertension. J Am Coll Cardiol. 2011;57(18):1831-7.
13. Jolliffe JA, Rees K, Taylor RS, Thompson D, Oldridge N, Ebrahim S.
Exercise-based rehabilitation for coronary heart disease. Cochrane Database
Syst Rev. 2001;(1):CD001800.
14. Vepsäläinen T, Soinio M, Marniemi J, Lehto S, Juutilainen A, Laakso M, et
al. Physical activity, high-sensitivity C-reactive protein, and total and
cardiovascular disease mortality in type 2 diabetes. Diabetes Care.
2011;34(7):1492-6.
15. Balboa-Castillo T, Guallar-Castillón P, León-Muñoz LM, Graciani A, López-
García E, Rodriguez-Artalejo F. Physical activity and mortality related to
obesity and functional status in older adults in Spain. Am J Prev Med.
2011;40(1):39-46.
16. Hamburg NM, Balady GJ. Exercise rehabilitation in peripheral artery
disease: functional impact and mechanisms of benefits. Circulation.
2011;123(1):87-97.
17. Waschki B, Kirsten A, Holz O, Müller KC, Meyer T, Watz H, et al. Physical
activity is the strongest predictor of all-cause mortality in patients with
COPD: a prospective cohort study. Chest. 2011:140(2):331-42.
18. Zelle DM, Corpeleijn E, Stolk RP, de Greef MH, Gans RO, van der Heide JJ,
et al. Low physical activity and risk of cardiovascular and all-cause mortality
in renal transplant recipients. Clin J Am Soc Nephrol. 2011;6(4):898-905.
19. Myers J, Prakash M, Froelicher V, Do D, Partington S, Atwood JE. Exercise
capacity and mortality among men referred for exercise testing. N Engl J
Med. 2002;346(11):793-801.
20. Kokkinos P, Myers J, Kokkinos JP, Pittaras A, Narayan P, Manolis A, et al.
Exercise capacity and mortality in black and white men. Circulation.
2008;117(5):614-22.
21. Domínguez H, Torp-Pedersen C, Koeber L, Rask-Madsen C. Prognostic value
of exercise testing in a cohort of patients followed for 15 years after acute
myocardial infarction. Eur Heart J. 2001;22(4):300-6.
22. Billman GE. Aerobic exercise conditioning: a nonpharmacological
antiarrhythmic intervention. J Appl Physiol. 2002;92(2):446-54.
23. Hambrecht R, Wolf A, Gielen S, Linke A, Hofer J, Erbs S, et al. Effect of
exercise on coronary endothelial function in patients with coronary artery
disease. N Engl J Med. 2000;342(7):454-60.
24. Stratton JR, Chandler WL, Schwartz RS, Cerqueira MD, Levy WC, Kahn SE,
et al. Effects of physical conditioning on fibrinolytic variables and fibrinogen
in young and old healthy adults. Circulation. 1991;83(5):1692-7.
25. Milani RV, Lavie CJ, Mehra MR. Reduction in C-reactive protein through
cardiac rehabilitation and exercise training. J Am Coll Cardiol.
2004;43(6):1056-61.
26. Fagard RH, Cornelissen VA. Effect of exercise on blood pressure control in
hypertensive patients. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2007;14(1):12-7.
27. Walther C, Gaede L, Adams V, Gelbrich G, Leichtle A, Erbs S, et al. Effect of
increased exercise in school children on physical fitness and endothelial
progenitor cells: a prospective randomized trial. Circulation.
2009;120(22):2251-9.
CONTRIBUIÇÃO DO TESTE
CARDIOPULMONAR DE EXERCÍCIO
MÁXIMO PARA A PRESCRIÇÃO DA
INTENSIDADE DO EXERCÍCIO AERÓBICO
CASO CLÍNICO
Dados básicos: Paciente masculino, 63 anos de idade.
Doença principal: hipertensão arterial de longa data.
Fatores de risco cardiovascular: sedentarismo e dislipidemia.
Quadro clínico: assintomático, foi encaminhado para realizar reabilitação cardíaca.
Encontra-se em uso regular de diurético, inibidor da ECA e estatina. Ao exame clínico
encontra-se corado, hidratado e eupneico. O ritmo cardíaco é regular, pulsos normais,
FC =72bpm e a PA =134x80mmHg. Os pulmões estão limpos e não são observadas
alterações abdominais ou nos membros. Submete-se a um teste cardiopulmonar de
exercício máximo (TCPE).
OBJETIVOS
1. Discutir os resultados do TCPE para a prescrição de exercícios físicos em
programa de reabilitação cardiopulmonar.
2. Analisar a utilização dos dados obtidos através do teste cardiopulmonar para
a prescrição de exercício físico, em programa de reabilitação
cardiopulmonar e metabólica ou em atividades não supervisionadas.
3. Analisar a utilização dos dados do TCPE em indivíduos pouco doentes, em
uso ou não de betabloqueadores e naqueles com doença isquêmica,
insuficiência cardíaca, hipertensos e transplantados.
PERGUNTAS
1. Como utilizar os resultados do TCPE para prescrever a mais adequada
intensidade do exercício?
O TCPE, embora não seja essencial para o mesmo, é o teste de exercício que mais
informações fornecem para uma adequada prescrição. Isso porque através dele se pode
ver o momento do exercício em que começa a haver acúmulo de lactato, chamado de
limiar anaeróbico (LA) ou 1º limiar ventilatório, e também o momento em que se esgota
a capacidade de tamponá-lo, chamado de ponto de compensação respiratória (PCR) ou
2º limiar ventilatório. Isso é importante porque o LA vai indicar a intensidade de
exercício em que ocorre a mudança de uma zona predominantemente aeróbia, e já
confortável, para outra em que começa uma maior participação do metabolismo
glicolítico anaeróbio; o PCR vai apontar a intensidade em que não é possível para o
metabolismo manter o equilíbrio ácido-básico pelo mecanismo dos tampões
metabólicos, e o indivíduo passa a trabalhar em estado de acidose passível de
equilíbrio apenas se fizer uma alcalose respiratória.
Nesse momento, então, tem-se como pontos de referência as frequências cardíacas (FC)
no repouso, no LA, no PCR e no esforço máximo, assim como a sensação subjetiva de
cansaço em cada um deles. A faixa que vai do repouso até o LA é a zona em que o
indivíduo já está trabalhando com predomínio de sistema aeróbio, portanto não gera
maior condicionamento físico. No extremo oposto, entre o PCR e o pico do esforço,
tem-se uma zona de acidose descompensada. Portanto, a zona ideal de treinamento,
onde haverá maior ganho de condicionamento com menor risco de efeitos adversos é
aquela compreendida entre o LA e 10% abaixo do PCR.1
Figura 1
Curvas dos equivalentes ventilatórios durante o teste.
Ex=início do exercício; AT=LA; RC=PCR; Rec=início da recuperação=pico do exercício
É importante afirmar que não há consenso sobre a melhor forma de definir, a partir do
teste cardiopulmonar de exercício, quais são as faixas de zona-alvo da FC para
prescrição do exercício. Neste capítulo, os autores estarão abordando uma dessas
formas, que consideram a preferida.
2. Houve isquemia durante o TCPE. Como prescrever considerando esta situação?
Então, utiliza-se o momento do início da isquemia detectada ao TCPE não como limite
de carga ou FC para o treinamento, mas como objetivo a ser alcançado. Em acordo com
o paciente, pode-se aceitar trabalhar numa intensidade em que haja dor precordial não
mais que de leve intensidade. A monitorização cardíaca deve ser contínua e não se deve
trabalhar com cargas que façam surgir infradesnível do segmento ST ≥0,2mV em
relação ao basal, nem com arritmias ventriculares complexas.
Figura 2
Queda na curva do pulso de oxigênio a partir do limiar anaeróbio, no paciente relatado.
Neste caso há um detalhe muito relevante, pois no pós-transplante cardíaco ocorre uma
desnervação do coração, levando à FC de repouso mais elevada, um incremento da
mesma mais lenta e gradual com esforço, muitas vezes não sendo alcançada 85% da FC
máxima prevista, bem como uma redução mais lenta da mesma no pós-esforço. Esta é
mais uma situação em que o uso da FC fica prejudicado e deve-se lançar mão da
percepção de esforço, recomendando-se um esforço de leve a levemente pesado pela
escala de Borg16.
Alguns pacientes apresentam pressão arterial (PA) normal em repouso, porém com
elevação importante e desproporcional durante o esforço, muitas vezes com baixa
carga17. Essa é mais uma variável a ser avaliada que, dependendo da intensidade da
resposta da pressão arterial, pode restringir o paciente a exercícios aeróbios leves e
contraindicar atividades com peso até melhor controle da pressão arterial, bem como
impedir a realização dos mesmos até controle adequado da pressão arterial durante o
esforço18.
Referências
1. Carvalho VO, Mezzani A. Aerobic exercise training intensity in patients with
chronic heart failure: principles of assessment and prescription. Eur J
Cardiovasc Prev Rehabil. 2011;18(1):5-14.
2. Chaudhry S, Arena R, Wasserman K, Hansen JE, Lewis GD, Myers J, et al.
Exercise-induced myocardial ischemia detected by cardiopulmonary exercise
testing. Am J Cardiol. 2009;103(5):615-9.
3. Meneghelo RS, Magalhães HM, Smanio PE, Fuchs AR, Ferraz AS, Buchler
RD, et al. Avaliação da prescrição de exercícios pela cintilografia
miocárdica na reabilitação de coronariopatas. Arq Bras Cardiol.
2008;91(4):223-8, 245-51.
4. Niebauer J, Hambrecht R, Marburger C, Hauer K, Velich T, von Hodenberg
E, et al. Impact of intensive physical exercise and low-fat diet on collateral
vessel formation in stable angina pectoris and angiographically confirmed
coronary artery disease. Am J Cardiol. 1995;76(11):771-5.
5. Zbinden R, Zbinden S, Meier P, Hutter D, Billinger M, Wahl A, et al.
Coronary collateral flow in response to endurance exercise training. Eur J
Cardiovasc Prev Rehabil. 2007;14(2):250-7.
6. Laufs U, Werner N, Link A, Endres M, Wassmann S, Jürgens K, et al.
Physical training increases endothelial progenitor cells, inhibits neointima
formation, and enhances angiogenesis. Circulation. 2004;109(2):220-6.
7. Otsuka Y, Takaki H, Okano Y, Satoh T, Aihara N, Matsumoto T, et al.
Exercise training without ventricular remodeling in patients with moderate to
severe left ventricular dysfunction early after acute myocardial infarction. Int
J Cardiol. 2003;87(2-3):237-44.
8. Domenech RJ. Preconditioning: a new concept about the benefit of exercise.
Circulation. 2006;113(1):e1-3.
9. Noël M, Jobin J, Marcoux A, Poirier P, Dagenais GR, Bogaty P. Can
prolonged exercise-induced myocardial ischaemia be innocuous? Eur Heart
J. 2007;28(13):1559-65.
10. Cornish AK, Broadbent S, Cheema BS. Interval training for patients with
coronary artery disease: a systematic review. Eur J Appl Physiol.
2011;111(4):579-89.
11. Wisløff U, Støylen A, Loennechen JP, Bruvold M, Rognmo Ø, Haram PM, et
al. Superior cardiovascular effect of aerobic interval training versus
moderate continuous training in heart failure patients: a randomized study.
Circulation. 2007;115(24):3086-94.
12. Wisløff U, Ellingsen Ø, Kemi OJ. High-intensity interval training to maximize
cardiac benefits of exercise training? Exerc Sport Sci Rev. 2009;37(3):139-
46.
13. Tabet JY, Meurin P, Teboul F, Tartiere JM, Weber H, Renaud N, et al.
Determination of exercise training level in coronary artery disease patients on
beta blockers. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2008;15(1):67-72.
14. Mezzani A, Corrà U, Giordano A, Cafagna M, Adriano EP, Giannuzzi P.
Unreliability of the %VO2 reserve versus %heart rate reserve relationship
for aerobic effort relative intensity assessment in chronic heart failure
patients on or off beta-blocking therapy. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil.
2007;14(1):92-8.
15. Chase P, Arena R, Guazzi M, Myers J, Peberdy MA, Bensimhon D.
Prognostic usefulness of the functional aerobic reserve in patients with heart
failure. Am Heart J. 2010;160(5):922-7.
16. Squires RW. Exercise therapy for cardiac transplant recipients. Prog
Cardiovasc Dis. 2011;53(6):429-36.
17. Gosse P, François B, Galinier F, Mallion JM, Poggi L, Vaisse B. [Exercise
test in hypertensive subjects. Recommendations of the French Society on
Hypertension]. Arch Mal Coeur Vaiss. 1991;84(8):1251-4.
18. Pescatello LS, Franklin BA, Fagard R, Farquhar WB, Kelley GA, Ray CA;
American College of Sports Medicine. American College of Sports Medicine
position stand. Exercise and hypertension. Med Sci Sports Exerc.
2004;36(3):533-53.
EXERCÍCIOS DE FORTALECIMENTO
MUSCULAR EM HIPERTENSOS E
CORONARIOPATAS
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 65 anos, portador de hipertensão arterial sistêmica (HAS),
diabetes mellitus tipo II (DM II), obesidade centrípeta e dislipidemia. Sofreu infarto do
miocárdio (IAM) de parede inferior há quatro meses e foi submetido à cirurgia de
revascularização miocárdica (CRVM) há 3 meses. Apresenta disfunção sistólica de
ventrículo esquerdo com fração de ejeção de 40%. Foi encaminhado ao Programa de
Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica (PRC) pelo seu médico assistente, que
deseja obter informações.
OBJETIVOS
1. Discutir o treinamento de fortalecimento muscular em programa de
reabilitação cardiopulmonar e metabólica.
2. Analisar as indicações e contraindicações do treinamento de fortalecimento
muscular em programa de reabilitação cardiopulmonar e metabólica.
3. Avaliar a prescrição do treinamento de fortalecimento muscular em programa
de reabilitação cardiopulmonar e metabólica.
PERGUNTAS
1. No PRC deste paciente, está indicado inserir o treinamento de fortalecimento
muscular (TF)?
Sim. Apesar das pesquisas clínicas em exercício e doença cardiovascular serem mais
voltadas ao treinamento de natureza predominantemente aeróbia, é consensual entre as
sociedades médicas especializadas1-9 a indicação do TF como modalidade
complementar dentro de um PRC. Isto se deve aos inúmeros benefícios comprovados,
conforme será abordado nas perguntas seguintes.
Quadro 1
Comparação dos efeitos do treinamento aeróbio com o treinamento de força em programa para saúde
LBM=massa corporal magra
Fonte: Williams et al.2
Em idosos foi descrito aumento da massa muscular nos indivíduos com sarcopenia14-16,
redução do risco de queda8,9,17, melhora da qualidade de vida8,9 e diminuição dos
sintomas de depressão8,14,15,18. Aumenta a densidade mineral óssea8,9,14,15,19 e auxilia na
prevenção e tratamento da lombalgia e osteoporose8,9,20.
Quadro 2
Contraindicações absolutas ao TF
Ainda que haja divergência entre os estudos, pode aumentar o VO2 pico, tanto com o
método de treinamento em circuito46 quanto com o TF convencional47. Melhora a
qualidade de vida nos portadores de IC, o que se correlaciona com o aumento da força
muscular e do VO2 pico47. O aumento do VO2 pico, por sua vez, está correlacionado
ao aumento da força do quadríceps e do tempo de caminhada47.
Quadro 3
Contraindicações para TF no paciente diabético
Não. Nos coronariopatas em geral, a lista dos benefícios supera em muito a dos
eventuais riscos e justifica a indicação do TF. É importante destacar a atuação
favorável, ou pelo menos neutra, em boa parte dos fatores de risco e mau prognóstico
da DAC, tais como pressão arterial, controle glicêmico, perfil lipídico, composição
corporal, percentual de gordura, adiposidade abdominal2,10,12, marcadores
inflamatórios28, função endotelial30, humor e depressão2,7. Exerce ação importante
também ao melhorar a capacidade de exercício submáxima e máxima19, bem como a
força muscular2, ambas relacionadas à sobrevida35.
Quadro 4
Considerações para limitações de atividades na retinopatia diabética (RD)
Fonte: American Diabetes Association25
Quadro 5
Padronizações, diretrizes e posicionamentos sobre o treinamento de força
7. Como seria a prescrição do TF para o paciente em questão, e os cuidados a
serem tomados?
Figura 1
Recomendações para a prescrição do treinamento de fortalecimento muscular em programa de reabilitação
cardiopulmonar e metabólica2,12,20.
FMV=força máxima voluntária; Rep.=repetições
Quadro 6
Resumo das recomendações para o treinamento de força em indivíduos saudáveis
Revisão das variáveis necessárias para progressão em diferentes níveis de aptidão
A força é mais bem desenvolvida através de cargas quase máximas, 60% a 80% da
força máxima voluntária (FMV) com poucas repetições, embora para iniciantes e
idosos, cargas de 45% a 50% já sejam estímulos. Essa FMV é medida através da carga
máxima que o indivíduo pode realizar em uma repetição, chamada 1 repetição máxima
(1RM). Já a resistência muscular localizada (RML) é explorada utilizando cargas mais
leves, 30% a 40% da FMV, com maior número de repetições. O ACSM6,8,11,14
recomenda para um ganho ótimo nas duas, força e RML, de 8 a 12 repetições.
É claro que num paciente em pós-operatório, nos três meses iniciais ou mesmo numa
fase precoce de pós-síndrome coronariana aguda, os testes de 1RM não serão
aplicados. Caso o paciente não seja cirúrgico, e a opção for realizar testes, testes
máximos podem ser realizados naqueles pacientes estáveis e mesmo em idosos, isto é,
um teste de 1RM: 30% a 40% de 1RM para os membros superiores e 50% a 60% para
os membros inferiores como carga inicial. A literatura fornece também referências para
testes submáximos, os quais permitirão estimar a 1RM, utilizando-se 3RM, 7RM e
10RM.
Se um teste de 1RM não é disponível, comece com uma carga estimada de fácil a leve;
quando o participante puder confortavelmente elevar esse peso de 12 a 15 vezes, a
carga pode ser aumentada de 5% para a próxima sessão. Caso o participante não possa
completar o número mínimo de repetições - de 8 a 10 – usando uma boa técnica de
execução, o peso deve ser reduzido. A maioria dos participantes deve ser capaz de
achar a sua própria faixa de repetição apropriada e adaptar a sua máxima ou quase
máxima fadiga voluntária em três a quatro semanas. A escala de percepção de esforço
ou de categoria (PE) de Borg também é referenciada na prescrição do TF11.
Planeje por número de vezes, com até uma série de cada exercício, para
progressivamente, ampliar para a realização de uma a três séries para cada grupamento
muscular.
Se preferir trabalhar com a PE, evite sobrecargas, devendo-se treinar nas fases de
aprendizado com percepção de 2 a 3 (fraco a moderado), e posteriormente para 3 a 5
na escala de Borg (moderado a forte).
Execute de 8 a 12 repetições para cada exercício até o ponto de fadiga, mas sem perda
da técnica do movimento2,4-8,11,14,15,26,37.
Figura 2
Alterações fisiológicas na manobra de Valsalva
Durante o TF com cargas mais elevadas, em especial naquelas acima de 80% de 1RM,
citadas em trabalhos com fisiculturistas e medida da pressão arterial média, é comum
requisitar a MV10,48. Nesse caso tem-se extensão da fase I e encurtamento ou eliminação
da fase II. Se, à medida que se realizam os exercícios e as repetições, abre-se a glote, a
pressão intratorácica e a pressão arterial caem. Caso se mantenha a glote fechada, o
retorno venoso e o volume de ejeção serão mais afetados, com maior vasoconstrição e
pressão arterial. As alterações da pressão intratorácica são sobrepostas com as
alterações da pressão arterial, resultando em picos de pressão sistólica e diastólica
mais elevada, do que se fosse realizado o esforço sem a MV. Então, a resposta da
pressão arterial a uma contração com grande componente estático, associado a MV,
resulta em elevados níveis de resposta pressórica51 em fisiculturistas treinados. Isso
demonstra a sobrecarga adicional que a MV impõe ao sistema cardiovascular10.
Como o paciente relatado pertence à terceira idade, após período de adaptação, certeza
da estabilidade do esterno, do controle pressórico, da estabilidade isquêmica e da
função ventricular, progressivamente deve-se dar ênfase a essas três subvalências do
TF2,4-8,11,14,15,26,37, sempre baseado nas necessidades, objetivos e preferências
individuais do paciente.
Referências
1. Moraes RS, Nóbrega ACL, Castro RRT, Negrão CE, Stein SM, et al;
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arq
Bras Cardiol. 2005;84(5):431-40.
2. Williams MA, Haskell WL, Ades PA, Amsterdan EA, Bittner V, Franklin BA,
et al; American Heart Association Council on Clinical Cardiology; American
Heart Association Council on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism.
Resistance exercise in individuals with and without cardiovascular disease:
2007 update: a scientific statement from the American Heart Association
Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Council on
Nutrition, Physical Activity, and Metabolism. Circulation. 2007;116(5):572-
84.
3. Pescatello LS, Franklin BA, Fagard R, Farquhar WB, Kelley GA, Ray CA;
American College of Sports Medicine. American College of Sports Medicine
position stand. Exercise and hypertension. Med Sci Sports Exerc.
2004;36(3):533-53.
4. Giada F, Biffi A, Agostini P, Anedda A, Belardinelli R, Carlon R, et al; Joint
Italian Societies’ Task Force on Sports Cardiology. Exercise prescription for
the prevention and treatment of cardiovascular diseases: part I. J Cardiovasc
Med (Hagerstown). 2008;9(5):529-44.
5. American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation.
Guidelines for Cardiac Rehabilitation and Secondary Prevention Programs.
4th ed. Champaign: Human Kinetics; 2004.
6. American College of Sports Medicine (ACSM). ACSM’s Guidelines for
Exercise Testing and Prescription. 8th ed. Philadelphia: Williams & Wilkins;
2010.
7. Fletcher GF, Balady GJ, Amsterdam EA, Chaitman B, Eckel R, Fleg J, et al.
Exercise standards for testing and training: a statement for healthcare
professionals from the American Heart Association. Circulation.
2001;104(14):1694-740.
8. Kraemer WJ, Adams K, Cafarelli E, Dudley GA, Dooly C, Feigenbaum MS,
et al; American College of Sports Medicine. American College of Sports
Medicine position stand. Progression models in resistance training for healthy
adults. Med Sci Sports Exerc. 2009;34(2):364-80.
9. U.S.Department of Health & Human Services. 2008 Physical Activity
Guidelines for Americans. Be Active, Healthy, and Happy!
<http://www.health.gov/paguidelines>
10. Ades PA, Savage PD, Brochu M, Tischler MD, Lee NM, Poehlman ET.
Resistance training increases total daily energy expenditure in disabled older
women with coronary heart disease. J Appl Physiol. 2005;98(4):1280-5.
11. Graves JE, Franklin BA. Treinamento Resistido na Saúde e Reabilitação. Rio
de Janeiro: Revinter; 2006.
12. Garber CE, Blissmer B, Deschenes MR, Franklin, BA, Lamonte MJ, Lee IM,
et al; American College of Sports Medicine. American College of Sports
Medicine position stand: Quantity and quality of exercise for developing and
maintaining cardiorespiratory, musculoskeletal, and neuromotor fitness in
apparently healthy adults: guidance for prescribing exercise. Med Sci Sports
Exerc. 2011;43(7):1334-59.
13. Hunter GR, McCarthy JP, Bamman MM. Effects of resistance training on
older adults. Sports Med. 2004;34(5):329-48.
14. American College of Sports Medicine, Chodzko-Zajko WJ, Proctor DN,
Fiatarone Singh MA, Minson CT, Nigg CR, Salem GJ, et al. American
College of Sports Medicine position stand. Exercise and physical activity for
older adults. Med Sci Sports Exerc. 2009;41(7):1510-30.
15. Heckman GA, McKelvie RS. Cardiovascular aging and exercise in healthy
older adults. Clin J Sport Med. 2008;18(6):479-85.
16. Kim JS, Cross JM, Bammam MM. Impact of resistance loading on myostatin
expression and cell cycle regulation in young and older men and women. Am
J Physiol Endocrinol Metab. 2005;288:E1110-9.
17. Seguin R, Nelson ME. The benefits of strength training for older adults. Am J
Prev Med. 2003;25(3 Suppl 2):141-9.
18. Singh NA, Stavrinos TM, Scarbek Y, Galambos G, Líber C, Fiatarone Singh
MA. A randomized controlled trial of high versus low intensity weight
training versus general practitioner care for clinical depression in older
adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2005;60(6):768-76.
19. Vincent KR, Braith RW. Resistance exercise and bone turnover in elderly men
and women. Med Sci Sports Exerc. 2002;34(1):17-23.
20. Pollock ML, Franklin BA, Balady GJ, Chaitman BL, Fleg JL, Fletcher B, et
al. AHA Science Advisory. Resistance exercise in individuals with and
without cardiovascular disease: benefits, rationale, safety and prescription:
An advisory from the Committee on Exercise, Rehabilitation, and Prevention,
Council on Clinical Cardiology, American Heart Association; Position paper
endorsed by the American College of Sports Medicine. Circulation.
2000;101(7):828-33.
21. Ades PA, Savage PD, Cress ME, Brochu M, Lee NM, Poehlman ET.
Resistance training on physical performance in disabled older female cardiac
patients. Med Sci Sports Exerc. 2003;35(8):1265-70.
22. Brochu M, Savage P, Lee M, Dee J, Cress ME, Poehlman ET, Tischler M, et
al. Effects of resistance training on physical function in older disabled
women with coronary heart disease. J Appl Physiol. 2002;92(2):672-8.
23. Vincent KR, Braith RW, Feldman RA, Kallas HE, Lowenthal DT. Improved
cardiorespiratory endurance following 6 months of resistance exercise in
elderly men and women. Arch Intern Med. 2002;162(6):673-8.
24. Volaklis KA, Tokmakidis SP. Resistance exercise training in patients with
heart failure. Sports Med. 2005;35(12):1085-103.
25. Zinman B, Ruderman N, Campaigne BN, Devlin JT, Schneider SH; American
Diabetes Association. Physical activity/exercise and diabetes mellitus.
Diabetes Care. 2003;26(Suppl 1):S73-7.
26. Colberg SR, Albright AL, Blissmer BJ, Braun B, Chasan-Taber L, Fernhall
B, et al; American College of Sports Medicine; American Diabetes
Association. Exercise and type 2 diabetes: Americam College of Sports
Medicine and American Diabetes Association: joint position statement.
Exercise and type 2 diabetes. Med Sci Sports Exerc. 2010;42(12):2282-303.
27. Artero EG, Lee DC, Ruiz JR, Sui X, Ortega FB, Church TS, et al. A
prospective study of muscular strength and all-cause mortality in men with
hypertension. J Am Coll Cardiol. 2011;57(18):1831-7.
28. Dunstan DW, Daly RM, Owen N, Jolley D, De Courten M, Shaw J, et al.
High-intensity resistance training improves glycemic control in older patients
with type 2 diabetes. Diabetes Care. 2002;25(10):1729-36.
29. Bruunsgaard H, Bjerregaard E, Schroll M, Pedersen BK. Muscle strength
after resistance training is inversely correlated with baseline levels of
soluble tumor necrosis factor receptors in the oldest old. J Am Geriatr Soc.
2004;52(2):237-41.
30. Hackam DG, Anand SS. Emerging risk factors for atherosclerotic vascular
disease: a critical review of the evidence. JAMA. 2003;290(7):932-40.
31. Vona M, Codeluppi GM, Iannino T, Ferrari E, Bogousslavsky J, von Segesser
LK. Effects of different types of exercise training followed by detraining on
endothelium-dependent dilation in patients with recent myocardial infarction.
Circulation. 2009;119(12):1601-8.
32. Maeda S, Miyauchi T, Iemitsu M, Sugawara J, Nagata Y, Goto K. Resistance
exercise training reduces plasma endothelin-1 concentration in healthy young
humans. J Cardiovasc Pharmacol. 2004;44(Suppl 1):S443-6.
33. Kelley GA, Kelley KS. Progressive resistance exercise and resting blood
pressure: A meta-analysis of randomized controlled trials. Hypertension.
2000;35(3):838-43.
34. Whelton SP, Chin A, Xin X, He J. Effect of aerobic exercise on blood
pressure: a meta-analysis of randomized, controlled trials. Ann Intern Med.
2002;136(7):493-503.
35. Vincent KR, Vincent HK, Braith RW, Bhatnagar V, Lowenthal DT. Strength
training and hemodynamic responses to exercise. Am J Geriatr Cardiol.
2003;12(2):97-106.
36. Narloch JA, Brandstater ME. Influence of breathing technique on arterial
blood pressure during heavy weight lifting. Arch Phys Med Rehabil.
1995;76(5):457-62.
37. Jurca R, Lamonte MJ, Barlow CE, Kampert JB, Church TS, Blair SN.
Association of muscular strength with incidence of metabolic syndrome in
men. Med Sci Sports Exerc. 2005;37(11):1849-55.
38. Vincent KR, Vincent HK. Resistance training for individuals with
cardiovascular disease. J Cardiopulm Rehabil. 2006;26(4):207-16.
39. Haslam DR, McCartney SN, McKelvie RS, MacDougall JD. Direct
measurement of arterial blood pressure during formal weightlifting in cardiac
patients. J Cardiopulm Rehabil. 1988;8:213-25.
40. Werber-Zion G, Goldhammer E, Shaar A, Pollock ML. Left ventricular
function during strength testing and resistance exercise in patients with left
ventricular dysfunction. J Cardiopulm Rehabil. 2004;24(2):100-9.
41. McKelvie RS, McCartney N, Tomlinson C, Bauer R, MacDougall JD.
Comparison of hemodynamic responses to cycling and resistance exercise in
congestive heart failure secondary to ischemic cardiomyopathy. Am J
Cardiol. 1995;76(12):977-9.
42. Oliver D, Pflugfelder PW, McCartney N, McKelvie RS, Suskin N, Kostuk
WJ. Acute cardiovascular responses to leg-press resistance exercise in heart
transplant recipients. Int J Cardiol. 2001;81(1):61-74.
43. Ikeda ER, Borg A, Brown D, Malouf J, Showers KM, Li S. The Valsalva
maneuver revisited: the influence of voluntary breathing on isometric muscle
strength. J Strength Cond Res. 2009;23(1):127-32.
44. Sutcliffe PD, Aaronson KD, Cody RJ, Koelling TM. Impact of serial changes
in cardiac hemodynamics on exercise performance in patients with heart
failure due to ischemic and nonischemic cardiomyopathy. Am J Cardiol.
2003;91(2):164-8.
45. Elkayam U, Roth A, Weber L, Hsueh W, Nanna M, Freidenberger L, et al.
Isometric exercise in patients with chronic advanced heart failure:
hemodynamic and neurohumoral evaluation. Circulation. 1985;72(5):975-81.
46. Levinger I, Bronks R, Cody DV, Linton I, Davie A. Resistance training for
chronic heart failure patients on beta blocker medications. Int J Cardiol.
2005;102(3):493-9.
47. Pu CT, Johnson MT, Forman DE, Hausdorff JM, Roubenoff R, Foldvari M, et
al. Randomized trial of progressive resistance training to counteract the
myopathy of chronic heart failure. J Appl Physiol. 2001;90(6):2341-50.
48. Maiorana A, O’Driscoll G, Cheetham C, Collis J, Goodman C, Rankin S, et
al. Combined aerobic and resistance exercise training improves functional
capacity and strength in CHF. J Appl Physiol. 2000;88(5):1565-70.
49. Levinger I, Bronks R, Cody DV, Linton I, Davie A. The effect of resistance
training on left ventricular function and structure of patients with chronic
heart failure. Int J Cardiol. 2005;105(2):159-63.
50. McCartney N. Acute responses to resistance training and safety. Med Sci
Sports Exerc. 1999;31(1):31-7.
51. Holten MK, Zacho M, Gaster M, Juel C, Wojtaszewski JF, Dela F. Strength
training increases insulin-mediated glucose uptake, GLUT4 content, and
insulin signaling in skeletal muscle in patients with type 2 diabetes. Diabetes.
2004;53(2):294-305.
52. Di Loreto C, Fanelli C, Lucidi P, Murdolo G, De Cicco A, Parlanti N, et al.
Validation of a counseling strategy to promote the adoption and the
maintenance of physical activity by type 2 diabetic subjects. Diabetes Care.
2003;26(2):404-8.
53. Haykowsky MJ, Eves ND, R Warburton DE, Findlay MJ. Resistance
exercise, the Valsalva maneuver, and cerebrovascular transmural pressure.
Med Sci Sports Exerc. 2003;35(1):65-8.
EXERCÍCIO FÍSICO AERÓBICO PARA O
CORONARIOPATA: RISCOS E BENEFÍCIOS
DA ALTA INTENSIDADE
CASO CLÍNICO
Nas primeiras sessões, o paciente relatou angor leve a moderado durante os exercícios
que, ao longo dos meses, foram se tornando cada vez mais raros e de menor
intensidade. Alterações ECG compatíveis com isquemia miocárdica esforço-induzida
são observada na maioria das sessões de exercício, independente da presença ou
ausência de sintomas, que se normalizam ao término dos exercícios.
Após seis meses de programa de exercício, o paciente foi reavaliado e seus ganhos
quantificados. Houve melhora de 22% na capacidade funcional (de 0,9watt/kg para
1,1watt/kg) e de 25% condição aeróbica (de 4,9MET para 6,2MET, tolerando uma
FCmáx de 110bpm). Seu limiar anaeróbico e o ponto de compensação respiratória se
elevaram de forma absoluta e relativa. Seu limiar isquêmico também se elevou de
3,5MET para 5MET (FC =95bpm).
OBJETIVOS
1. Determinar as diferentes intensidades de exercício para o coronariopata.
2. Exemplificar o treinamento intervalado de alta intensidade.
3. Discutir as vantagens do treinamento intervalado de alta intensidade para o
coronariopata.
4. Analisar as limitações e desvantagens do treinamento intervalado de alta
intensidade.
PERGUNTAS
1. Qual a orientação de exercício para o coronariopata?
Quadro 1
Classificação da intensidade do exercício: intensidade relativa
Fonte: adaptado de Garber et al.1
Quadro 2
Intensidade absoluta (MET) e intensidade de acordo com a idade (MET)
Existem várias formas de realizar um TAI. Essa variação pode ser fator de confusão
quando se avalia o impacto do TAI comparado com o tradicional treinamento de
moderada intensidade.
Algumas variáveis devem ser observadas:
A maioria dos trabalhos que explora o TAI considera-o de forma intervalada, já que
intensidades muito altas, ou pelo menos acima do limiar anaeróbico, são difíceis de
serem sustentadas por longos períodos.
A intensidade relativa da fase de alta intensidade pode variar desde 80% a 90% do
VO2máx até 100% do VO2máx. A outra intensidade do treinamento intervalado, muitas
vezes chamada de fase de recuperação, também pode variar em diferentes percentuais
do VO2máx até o repouso (recuperação passiva).
A determinação da intensidade do exercício também pode ser medida pela FC. Dados
da literatura consideram treinos de alta intensidade quando se utilizam de 90% a 100%
da FCmáx, e de moderada intensidade para FC treino em torno de 70% a 85% da
FCmáx7,8.
Figura 1
Traçado de ECG do paciente coronariopata do caso clínico descrito em repouso e durante a sessão de exercício
intervalado de alta intensidade, que alterna com períodos iguais de repouso. Observar o infradesnivelamento do
segmento ST durante o esforço padrão descendente.
Sem pretender listar de forma completa, é importante citar alguns outros benefícios do
exercício: melhor tolerância ao esforço, melhor qualidade de vida, melhor ajuste
pressórico, melhora do perfil lipídico, auxílio na redução do peso corporal, auxílio na
interrupção do tabagismo, melhora do metabolismo glicídico, melhor modulação da
vasodilatação endotélio-dependente, melhor função mitocondrial na musculatura
esquelética.
Parece que o limiar de intensidade relativa que resulte em aumento do VO2máx varia
de acordo com a condição basal. Em indivíduos muito treinados e atletas (11-14MET),
intensidades próximas ao máximo (95-100% do VO2máx) são necessárias para haver
algum incremento no VO2. Já para indivíduos menos condicionados (<11MET), treinos
em 70% a 80% do VO2máx já resultam em aumento do VO2máx13. No entanto, para o
efeito benéfico sobre o perfil lipídico e sobre o controle de peso corporal, por
exemplo, não há limite inferior claramente definido.
Alguns trabalhos que mostraram mais vantagem em exercícios de alta intensidade não
controlaram o volume total semanal – assim, não se poderia afirmar se a alta
intensidade ou o maior volume de exercício seria o fator mais impactante. No entanto,
estudos mais bem controlados mostram que para um mesmo volume de exercício, a
maior intensidade reduz mais ainda o risco de DAC e de mortalidade por todas as
causas2. Muitas referências que fixam o volume semanal e comparam a intensidade do
exercício observam respostas mais positivas para o treino de alta intensidade14-17.
Também foi observado maior impacto no perfil lipídico em homens sedentários, com
redução do colesterol total e da fração LDL, significativa apenas no grupo que treinou
em alta intensidade (80% do VO2máx, três vezes por semana, 400kcal/sessão, por 24
semanas) quando comparado com o grupo de moderada intensidade (60% do VO2máx)
e no grupo-controle14.
Revisões da literatura apontam que exercícios vigorosos (acima de 6MET ou maior que
65% do VO2) apresentam maior impacto na redução do risco de doenças
cardiovasculares, no aumento da capacidade aeróbica, no perfil da pressão diastólica e
do controle glicídico quando comparados a exercícios de moderada intensidade26.
Quadro 3
Estudos clínicos comparando programas de exercício físico de alta intensidade com os de moderada intensidade
DAC=doença arterial coronariana; ICC=insuficiência cardíaca congestiva; VE=ventrículo esquerdo
Fonte: adaptado de Araújo5
Figura 2
Traçado de ECG de um relato de caso da literatura. Paciente portador de doença arterial coronariana crônica – efeito
agudo de uma sessão de treinamento de alta intensidade de 34min de duração.
Observar a melhora da isquemia miocárdica, expressa no ECG e na manifestação clínica, com o progredir do treino32.
Referências
1. Garber CE, Blissmer B, Deschenes MR, Franklin BA, Lamonte ML, Lee IM,
et al; American College of Sports Medicine. American College of Sports
Medicine position stand. Quantity and quality of exercise for developing and
maintaining cardiorespiratory, musculoskeletal, and neuromotor fitness in
apparently healthy adults: guidance for prescribing exercise. Med Sci Sports
Exerc. 2011;43(7):1334-59.
2. Haskell WL, Lee IM, Pate RR, Powell KE, Blair SN, Franklin BA, et al;
American College of Sports Medicine; American Heart Association. Physical
activity and public health: updated recommendation for adults from the
American College of Sports Medicine and the American Heart Association.
Circulation. 2007;116(9):1081-93.
3. Balady GJ, Williams MA, Ades PA, Bittner V, Comoss P, Foody JA, et al;
American Heart Association Exercise, Cardiac Rehabilitation, and
Prevention Committee; Council on Clinical Cardiology; Councils on
Cardiovascular Nursing, Epidemiology and Prevention, and Nutrition,
Physical Activity, and Metabolism; American Association of Cardiovascular
and Pulmonary Rehabilitation. Core components of cardiac
rehabilitation/secondary prevention programs: 2007 update: a scientific
statement from the American Heart Association Exercise, Cardiac
Rehabilitation, and Prevention Committee, the Council on Clinical
Cardiology; the Councils on Cardiovascular Nursing, Epidemiology and
Prevention, and Nutrition, Physical Activity, and Metabolism; and the
American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation. J
Cardiopulm Rehabil Prev. 2007;27(3):121-9.
4. Felsing NE, Brasel JA, Cooper DM. Effect of low and high intensity exercise
on circulating growth hormone in men. J Clin Endocrinol Metab.
1992;75(1):157-62.
5. Araújo CG. Fisiologia do exercício físico e hipertensão arterial: uma breve
introdução. Hipertensão. 2001;4(3):78-83.
6. Kemi OJ, Wisloff U. High-intensity aerobic exercise training improves the
heart in health and disease. J Cardiopulm Rehabil Prev. 2010;30(1):2-11.
7. Wisløff U, Støylen A, Loennechen JP, Bruvold M, Rognmo Ø, Haram PM, et
al. Superior cardiovascular effect of aerobic interval training versus
moderate continuous training in heart failure patients: a randomized study.
Circulation. 2007;115(24):3086-94.
8. Helgerud J, Høydal K, Wang E, Karlsen T, Berg P, Bjerkaas M, et al. Aerobic
high-intensity intervals improve VO2max more than moderate training. Med
Sci Sports Exerc. 2007;39(4):665-71.
9. Adams BJ, Carr JG, Ozonoff A, Lauer MS, Balady GJ. Effect of exercise
training in supervised cardiac rehabilitation programs on prognostic
variables from the exercise tolerance test. Am J Cardiol. 2008;101(10):1403-
7.
10. Alter DA, Oh PI, Chong A. Relationship between cardiac rehabilitation and
survival after acute cardiac hospitalization within a universal health care
system. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2009;16(1):102-13.
11. Lawler PR, Filion KB, Eisenberg MJ. Efficacy of exercise-based cardiac
rehabilitation post-myocardial infarction: a systematic review and meta-
analysis of randomized controlled trials. Am Heart J. 2011;162(4):571-
584.e2.
12. Ricardo DR, Castro CLB, Araújo CG. Reabilitação cardíaca com ênfase em
exercício: uma revisão sistemática. Rev Bras Med Esporte. 2006;12(5):279-
85.
13. Midgley AW, McNaughton LR, Wilkinson M. Is there an optimal training
intensity for enhancing the maximal oxygen uptake of distance runners?:
empirical research findings, current opinions, physiological rationale and
practical recommendations. Sports Med. 2006;36(2):117-32.
14. DiPietro L, Dziura J, Yeckel CW, Neufer PD. Exercise and improved insulin
sensitivity in older women: evidence of the enduring benefits of higher
intensity training. J Appl Physiol. 2006;100(1):142-9.
15. O'Donovan G, Owen A, Bird SR, Kearney EM, Nevill AM, Jones DW, et al.
Changes in cardiorespiratory fitness and coronary heart disease risk factors
following 24 wk of moderate- or high-intensity exercise of equal energy cost.
J Appl Physiol. 2005;98(5):1619-25.
16. Rognmo Ø, Hetland E, Helgerud J, Hoff J, Slørdahl SA. High intensity
aerobic interval exercise is superior to moderate intensity exercise for
increasing aerobic capacity in patients with coronary artery disease. Eur J
Cardiovasc Prev Rehabil. 2004;11(3):216-22.
17. Warburton DE, McKenzie DC, Haykowsky MJ, Taylor A, Shoemaker P,
Ignaszewski AP, et al. Effectiveness of high-intensity interval training for the
rehabilitation of patients with coronary artery disease. Am J Cardiol.
2005;95(9):1080-4.
18. Kent W. The effects of sprint interval training on aerobic fitness in untrained
individuals: a systematic review. Br J Sports Med. 2011;45(15):A8.
19. Gibala MJ, McGee SL. Metabolic adaptations to short-term high-intensity
interval training: a little pain for a lot of gain? Exerc Sport Sci Rev.
2008;36(2):58-63.
20. Gormley SE, Swain DP, High R, Spina RJ, Dowling EA, Kotipalli US, et al.
Effect of intensity of aerobic training on VO2max. Med Sci Sports Exerc.
2008;40(7):1336-43.
21. Nybo L, Sundstrup E, Jakobsen MD, Mohr M, Hornstrup T, Simomsen L, et
al. High-intensity training versus traditional exercise interventions for
promoting health. Med Sci Sports Exerc. 2010;42(10):1951-8.
22. Benetti M, Araujo CL, Santos RZ. Cardiorespiratory fitness and quality of
life at different exercise intensities after myocardial infarction. Arq Bras
Cardiol. 2010;95(3):399-404.
23. Silva CA, Ribeiro JP, Canto JC, Silva RE, Silva Junior GB, Botura E, et al.
High-intensity aerobic training improves endothelium-dependent vasodilation
in patients with metabolic syndrome and type 2 diabetes mellitus. Diabetes
Res Clin Pract. 2012;95(2):237-45.
24. Guiraud T, Nigam A, Juneau M, Meyer P, Gayda M, Bosquet L. Acute
responses to high-intensity intermittent exercise in CHD patients. Med Sci
Sports Exerc. 2011;43(2):211-7.
25. Munk PS, Staal EM, Butt N, Isaksen K, Larsen AI. High-intensity interval
training may reduce in-stent restenosis following percutaneous coronary
intervention with stent implantation A randomized controlled trial evaluating
the relationship to endothelial function and inflammation. Am Heart J.
2009;158(5):734-41.
26. Swain DP, Franklin BA. Comparison of cardioprotective benefits of vigorous
versus moderate intensity aerobic exercise. Am J Cardiol. 2006;97(1):141-7.
27. Edelmann F, Gelbrich G, Düngen HD, Fröhling S, Wachter R, Stahrenberg R,
et al. Exercise training improves exercise capacity and diastolic function in
patients with heart failure with preserved ejection fraction: results of the Ex-
DHF (Exercise training in Diastolic Heart Failure) pilot study. J Am Coll
Cardiol. 2011;58(17):1780-91.
28. Amundsen BH, Rognmo Ø, Hatlen-Rebhan G, Slørdahl SA. High-intensity
aerobic exercise improves diastolic function in coronary artery disease.
Scand Cardiovasc J. 2008;42(2):110-7.
29. Nilsson BB, Westheim A, Risberg MA. Long-term effects of a group-based
high-intensity aerobic interval-training program in patients with chronic heart
failure. Am J Cardiol. 2008;102(9):1220-4.
30. King AC, Haskell WL, Young DR, Oka RK, Stefanick ML. Long-term effects
of varying intensities and formats of physical activity on participation rates,
fitness, and lipoproteins in men and women aged 50 to 65 years. Circulation.
1995;91(10):2596-604.
31. Tomai F, Crea F, Danesi A, Perino M, Gaspardone A, Ghini AS, et al.
Mechanisms of the warm-up phenomenon. Eur Heart J. 1996;17(7):1022-7.
32. Meyer P, Guiraud T, Gayda M, Juneau M, Bosquet L, Nigam A. High-intensity
aerobic interval training in a patient with stable angina pectoris. Am J Phys
Med Rehabil. 2010;89(1):83-6.
33. Noël M, Jobin J, Marcoux A, Poirier P, Dagenais GR, Bogaty P. Can
prolonged exercise-induced myocardial ischaemia be innocuous? Eur Heart
J. 2007;28(13):1559-65.
34. Juneau M, Roy N, Nigam A, Tardif JC, Larivée L. Exercise above the
ischemic threshold and serum markers of myocardial injury. Can J Cardiol.
2009;25(10):e338-41.
35. Ehsani AA, Heath GW, Hagberg JM, Sobel BE, Holloszy JO. Effects of 12
months of intense exercise training on ischemic ST-segment depression in
patients with coronary artery disease. Circulation. 1981;64(6):1116-24.
36. Lu X, Wu T, Huang P, Lin S, Qiu F, Meng X, et al. Effect and mechanism of
intermittent myocardial ischemia induced by exercise on coronary collateral
formation. Am J Phys Med Rehabil. 2008;87(10):803-14.
37. Bergholm R, Mäkimattila S, Valkonen M, Liu ML, Lahdenperä S, Taskinen
MR, et al. Intense physical training decreases circulating antioxidants and
endothelium-dependent vasodilatation in vivo. Atherosclerosis.
1999;145(2):341-9.
38. Goto C, Higashi Y, Kimura M, Noma K, Hara K, Nakagawa M, et al. Effect
of different intensities of exercise on endothelium-dependent vasodilation in
humans: role of endothelium-dependent nitric oxide and oxidative stress.
Circulation. 2003;108(5):530-5.
39. Thorstensson CA, Roos EM, Petersson IF, Ekdahl C. Six-week high-intensity
exercise program for middle-aged patients with knee osteoarthritis: a
randomized controlled trial [ISRCTN20244858]. BMC Musculoskelet
Disord. 2005;6:27.
40. Nilsson BB, Westheim A, Risberg MA. Effects of group-based high-intensity
aerobic interval training in patients with chronic heart failure. Am J Cardiol.
2008;102(10):1361-5.
PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIO FÍSICO NO
CORONARIOPATA CRÔNICO EM
TRATAMENTO CLÍNICO E NÃO
REVASCULARIZADO
CASO CLÍNICO
Dados básicos: Paciente masculino, 64 anos, pardo, natural da Paraíba, morador da
Baixada Fluminense, aposentado. Peso =61kg, altura =1,52m, IMC =26,4kg/m².
Doença principal: doença arterial coronariana
Comorbidades: hipertensão arterial
Fatores de risco cardiovascular: sedentário, ex-tabagista, com interrupção do hábito há
30 anos, história familiar positiva para doença aterosclerótica.
Quadro clínico: Com início há cerca de quatro anos, queixas de dor precordial típica e
cansaço aos médios esforços. Em abril de 2009 realizou estudo angiográfico que
revelou: tronco sem alterações, descendente anterior com lesões difusas, fino calibre,
primeira diagonal fina, ocluída distalmente, segunda diagonal ocluída. Circunflexa
apresentando irregularidades, marginal esquerda com lesão focal subtotal distal.
Coronária direita fina, apresentando lesão grave proximal e distal, descendente
posterior ocluída.
Medicação em uso: captopril 25mg, sinvastatina 20mg, mononitrato de isossorbida
20mg 3X, atenolol 50mg, ácido acetilsalicílico 100mg.
OBJETIVOS
1. Revisar a importância e os benefícios da reabilitação cardiovascular para o
paciente coronariopata não revascularizado.
2. Discutir as indicações, avaliação clínica pré, per e pós-participação de
paciente coronariopata não revascularizado.
PERGUNTAS
1. Este paciente poderá ser encaminhado a programa de reabilitação
cardiovascular ? Quais seriam seus principais objetivos?
Quadro 1
Estratificação de risco para inclusão de pacientes em programas de reabilitação cardíaca
As contraindicações absolutas para a prática de atividade física encontram-se no
Quadro 2³. Vale ressaltar que muitas delas são passíveis de modificação após
terapêutica adequada.
Quadro 2
Contraindicações absolutas para a prática de atividade física
O referido paciente realizou teste ergométrico, em protocolo de rampa, tendo
apresentado dor torácica e infradesnível de ST em D2, AVF, V4. V5, V6 e MC5 .
(Figura 1): Variação tensional sugestiva de déficit inotrópico ao esforço partindo de
níveis basais normais (Figura 2):
Figura 1
Traçado do pico do esforço do teste ergométrico realizado pelo paciente relatado
Figura 2
Curva tensional do referido teste ergométrico
Tem como vantagem ser um bom método de condicionamento, pois leva não só a uma
melhor capacidade aeróbica, como a um aumento da força muscular, importante na
prevenção de quedas, principalmente em indivíduos idosos. Tem utilidade também no
controle ponderal. O exercício aeróbico é o principal componente e pode ser realizado
através de caminhadas e/ou corridas em esteira, pedaladas em cicloergômetro, natação.
Podem ser feitos com intensidade constante ou variável, também denominada de
treinamento intervalado. O último pode ser especialmente útil para pacientes pouco
tolerantes ao exercício, idosos, portadores de doença vascular periférica e claudicação
intermitente. Frequência mínima de dois a três dias não consecutivos na semana,
evoluindo para atividades diárias de acordo com as respostas adaptativas do
paciente18,20,21 .
Quanto aos exercícios localizados, estes devem ser iniciados logo nas primeiras
sessões, com cargas baixas e apenas uma série para os principais grupamentos
musculares, visando à melhora da execução com adaptação biomecânica para
posteriormente serem aumentados em intensidade e volume.
Hipoglicemia/ Hiperglicemia
O uso de uma fonte de absorção rápida de hidrato de carbono pode ser muito útil em
prevenir a hipoglicemia durante e após o exercício. Nos indivíduos com glicemia
>250mg/dL, com presença confirmada de cetose, deve-se evitar a realização do
exercício físico e, como precaução, com glicemia >300mg/dL, mesmo sem confirmação
de cetose, o exercício deve ser evitado23,24.
Arritmias
São mais prevalentes nos pacientes com doença coronariana sintomática, DPOC,
insuficiência cardíaca e nos idosos. Podem ser totalmente assintomáticas ou levar a
queixas como palpitações, tonteira, pré-síncope, síncope, e angina, podendo
desencadear infarto agudo do miocárdio, edema agudo de pulmão ou até morte súbita.
Síncope/ Pré-síncope
Angina
Hipotensão e Hipertensão
Tem sido demonstrado que a realização de uma única sessão de exercício físico pode
promover queda pressórica abaixo dos valores observados no período pré-exercício,
fenômeno este denominado como hipotensão pós-exercício. Esta pode ser benéfica para
o controle da pressão arterial, especialmente nos hipertensos, sendo que sua magnitude
e duração parecem estar relacionadas a fatores como o tipo, duração e a intensidade do
exercício17,28 .
Lesões osteomioarticulares
A prescrição de exercício para pacientes com doença coronariana deve ser feita em
níveis que não produzam isquemia miocárdica caracterizada por angina do peito e ou
depressão do segmento ST. Isquemia pode ser identificada pela monitorização clínica e
eletrocardiográfica numa sessão de reabilitação. O exercício deve ser efetuado abaixo
do limiar isquêmico e, baseado nesse dado, para o cálculo da frequência cardíaca de
treino deve-se levar em conta a frequência cardíaca no momento do aparecimento da
isquemia, subtraindo-se de cinco a dez batimentos.
Ex: FCT= (FCisq- FCrep)X % treinamento+ Fcrep
O paciente deve ser orientado a sempre relatar suas queixas de modo que possíveis
intercorrências sejam prontamente combatidas.
Referências
1. Roger VL, Go AS, Lloyd-Jones DM, Adams RJ, Berry JD, Brown TM, et al;
American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics
Subcommittee. Heart disease and stroke statistics--2011 update: A report
from the American Heart Association. Circulation. 2011;123(4):e18-e209.
Erratum in Circulation. 2011;123(6):e240; 2011;124(16):e426.
2. Leon AS, Franklin BA, Costa F, Balady GJ, Berra KA, Stewart KJ, et al;
American Heart Association; Council on Clinical Cardiology (Subcommittee
on Exercise, Cardiac Rehabilitation, and Prevention); Council on Nutrition,
Physical Activity and Metabolism (Subcommittee on Physical Activity);
American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation.
Cardiac rehabilitation and secondary prevention of coronary heart disease: an
American Heart Association scientific statement from the Council on Clinical
Cardiology (Subcommittee on Exercise, Cardiac Rehabilitation, and
Prevention) and the Council on Nutrition, Physical Activity and Metabolism
(Subcommittee on Physical Activity), in collaboration with the American
Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation. Circulation.
2005;111(3):369-76.
3. Moraes RS, Nóbrega ACL, Teixeira de Castro RR, Negrão CE, Stein R,
Serra SM, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz de
Reabilitação Cardíaca. Arq Bras Cardiol. 2005;84(5):431-40.
4. Suaya JA, Shepard DS, Normand SL, Ades PA, Prottas J, Stason WB. Use of
cardiac rehabilitation by Medicare beneficiaries after myocardial infarction
or coronary bypass surgery. Circulation. 2007;116(15):1653-62.
5. Balady GJ, Williams MA, Ades PA, Bittner V, Comoss P, Foody JM, et al;
American Heart Association Exercise, Cardiac Rehabilitation, and
Prevention Committee, the Council on Clinical Cardiology; American Heart
Association Council on Cardiovascular Nursing; American Heart Association
Council on Epidemiology and Prevention; American Heart Association
Council on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism; American
Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation. Core
components of cardiac rehabilitation/ secondary prevention programs: 2007
update: a scientific statement from the American Heart Association Exercise,
Cardiac Rehabilitation, and Prevention Committee, the Council on Clinical
Cardiology; the Councils on Cardiovascular Nursing, Epidemiology and
Prevention and Nutrition, Physical Activity and Metabolism; and the
American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation.
Circulation. 2007;115(20):2675-82.
6. Lear SA, Spinelli JJ, Linden W, Brozic A, Kiess M, Frohlich JJ, et al. The
Extensive Lifestyle Management Intervention (ELMI) after cardiac
rehabilitation: a 4-year randomized controlled trial. Am Heart J.
2006;152(2):333-9.
7. Carvalho T, Curi AL, Andrade DF, Singer JM, Benetti M, Mansur AJ.
Reabilitação cardiovascular de portadores de cardiopatia isquêmica
submetidos a tratamento clínico, angioplastia coronariana transluminal
percutânea e revascularização cirúrgica do miocárdio. Arq Bras Cardiol.
2007;88(1):72-8.
8. Taylor RS, Brown A, Ebrahim S, Jolliffe J, Noorani H, Rees K, et al.
Exercise-based rehabilitation for patients with coronary heart disease:
systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Am J
Med. 2004;116(10):682-92.
9. Carvalho T, Cortez AA, Ferraz A, Nóbrega ACL, Brunetto AF, Herdy AH, et
al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes de reabilitação
cardiopulmonar e metabólica: aspectos práticos e responsabilidades. Arq
Bras Cardiol. 2006;86(1):74-82.
10. Clark AM, Hartling L, Vandermeer B, McAlister FA. Meta-analysis:
secondary prevention programs for patients with coronary artery disease. Ann
Intern Med. 2005;143(9):659–72.
11. Berry JRS, Cunha AB. Avaliação dos efeitos da reabilitação cardíaca em
pacientes pós-infarto do miocárdio. Rev Bras Cardiol. 2010;23(2):101-10.
12. Morise AP, Jalisi F. Evaluation of pretest and exercise test scores to asses
all-cause mortality in unselected patients presenting for exercise testing with
symptoms of suspected coronary artery disease. J Am Coll Cardiol.
2003;42(5):842-50.
13. Lawler PR, Filion KB, Eisenberg MJ. Efficacy of exercise-based cardiac
rehabilitation post–myocardial infarction: a systematic review and meta-
analysis of randomized controlled trials. Am Heart J. 2011;162(4):571-84.e2.
14. Haykowsky M, Scott J, Esch B, Schopflocher D, Myers J, Paterson I, et al. A
Meta-analysis of the effects of exercise training on left ventricular remodeling
following myocardial infarction: start early and go longer for greatest
exercise benefits on remodeling. Trials. 2011;12:92. Published online 2011
April 4.
15. Goel K, Lennon RJ, Tilbury RT, Squires RW, Thomas RJ. Impact of cardiac
rehabilitation on mortality and cardiovascular events after percutaneous
coronary intervention in the community. Circulation. 2011;123(21):2344-52.
16. Piepoli MF, Davos C, Francis DP, Coats AJ; ExTraMATCH Collaborative.
Exercise training meta-analysis of trials in patients with chronic heart failure
(ExTraMATCH). BMJ. 2004;328(7433):189.
17. Whelton SP, Chin A, Xin X, He J. Effect of aerobic exercise on blood
pressure: a meta-analysis of randomized, controlled trials. Ann Intern Med.
2002;136(7):493-503.
18. Piña IL, Apstein CS, Balady GJ, Belardinelli R, Chaitman BR, Dusha BD, et
al. Exercise and heart failure: A statement from the American Heart
Association Committeee on exercise, rehabilitation, and prevention.
Circulation. 2003;107(8):1210-25.
19. Meyer K. Exercise training in heart failure: recommendations based on
current research. Med Sci Sports Exerc. 2001;33(4):525-31.
20. Thompson PD. Exercise prescription and proscription for patients with
coronary artery disease. Circulation. 2005;112(15):2354-63.
21. Williams MA, Haskell WL, Ades PA, Amsterdam EA, Bittner V, Franklin
BA, et al; American Heart Association Council on Clinical Cardiology;
American Heart Association Council on Nutrition, Physical Activity, and
Metabolism. Resistance exercise in individuals with and without
cardiovascular disease: 2007 update: a scientific statement from the
American Heart Association Council on Clinical Cardiology and Council on
Nutrition, Physical Activity, and Metabolism. Circulation. 2007;116(5):572-
84.
22. Haskell WL, Lee IM, Pate RR, Powell KE, Blair SN, Franklin BA, et al;
American College of Sports Medicine; American Heart Association. Physical
activity and public health: updated recommendation for adults from the
American College of Sports Medicine and the American Heart Association.
Circulation. 2007;116(9):1081-93.
23. American Diabetes Association. Physical activity/exercise and diabetes.
Diabetes Care. 2004;27(Suppl 1):S58-62
24. Ramalho ACR, Soares S. O papel do exercício no tratamento do diabetes
melito tipo 1. Arq Bras Endocrinol Metab. 2008;52(2):260-7.
25. Frolkis JP, Pothier CE, Blackstone EH, Lauer MS. Frequent ventricular
ectopy after exercise as a predictor of death. N Engl J Med.
2003;348(9):781-90.
26. Hedrich O, Link MS, Homoud MK, Mark Estes NA III. Syncope in the
athlete. In: Grubb BP, Olshansky B, editors. Syncope: mechanisms and
management. 2nd ed. Massachussets: Blackwell Futura; 2005.
27. Ehsani AA, Heath GW, Hagberg JM, Sobel BE, Holloszy JO. Effects of 12
months of intense exercise training on ischemic ST-segment depression in
patients with coronary artery disease. Circulation. 1981;64(6):1116-24.
28. Umpierre D, Stein R. Efeitos hemodinâmicos e vasculares do treinamento
resistido: implicações na doença cardiovascular. Arq Bras Cardiol.
2007;89(4):256-62.
29. Kraemer WJ, Adams K, Cafarelli E, Dudley GA, Dooly C, Feigenbaum MS,
et al; American College of Sports Medicine. American College of Sports
Medicine position stand. Progression models in resistance training for healthy
adults. Med Sci Sports Exerc. 2002;34(2):364-80.
ATIVIDADES DESPORTIVAS EM
INDIVÍDUOS APARENTEMENTE
SAUDÁVEIS E CORONARIOPATAS
DE MEIA-IDADE
CASO CLÍNICO
Exame físico:
Altura =1,70m; Peso =73,3kg; IMC =25,4kg/m2 (sobrepeso); PA =130x80mmHg.
Normocorado, hidratado, acianótico, anictérico, afebril. MV audível distribuído
universalmente sem ruídos adventícios
APVC: RCR 2 T BNF sem sopros; FC =68bpm; PA =132x70mmHg (paciente sentado)
Pulsos venosos e artérias sem anormalidades.
Abdômen: normotenso, timpânico, peristalse normal, sem visceromegalias, traube
livre.
Neurológico: sem anormalidades
Exames laboratoriais:
Glicemia de jejum =99mmHg; Colesterol total =200mg/dL; LDL =150mg/dL; HDL
=45mg/dL
OBJETIVOS
1. Avaliar a importância da reabilitação cardiovascular como importante
ferramenta na diminuição da mortalidade em pacientes portadores de DAC.
2. Discutir os métodos para reabilitação cardiopulmonar.
3. Analisar os critérios de positividade e negatividade do teste ergométrico.
PERGUNTAS
1. Qual o melhor ergômetro a ser indicado no presente caso?
O primeiro ergômetro utilizado na prática médica foi o de banco descrito por Máster e
utilizado na primeira metade do século XX1. Posteriormente foram desenvolvidos o
cicloergômetro e a esteira rolante2. No Brasil a esteira rolante alcançou maior
popularidade a partir da década de 19803, sendo o ergômetro mais utilizado na
atualidade apesar de seu maior custo4.
Todos os protocolos tradicionais incluem uma carga inicial baixa que aumenta
progressivamente a intervalos regulares7, adequada duração de cada estágio e também
do período de recuperação. A padronização dos protocolos visa à comparação de
resultados entre indivíduos e num mesmo indivíduo em testes subsequentes. A decisão
do melhor protocolo deve ser sempre do ergometrista que realizará o exame,
considerando-se sua experiência profissional, suas condições reais de trabalho e
equipamentos que disponibiliza3.
D=doença; T=teste
Esquema:
Onde:
a=verdadeiro positivo
b=falso-negativo
c=falso-positivo
d=verdadeiro negativo
D=doença
T=teste
A análise clínica pré-teste é fundamental para a correta interpretação do TE. Para tanto
é necessário determinar a probabilidade da presença de DAC significativa baseando-se
na análise de dados pessoais, idade e sexo, e a avaliação conjunta da história clínica,
dos fatores de risco e dos dados do exame físico12. Nessa fase uma das prioridades é a
caracterização da dor torácica que pode ser: típica, atípica ou dor provavelmente não
cardíaca.
Em relação aos fatores de risco, os mais importantes são: diabetes mellitus, hipertensão
arterial sistêmica, tabagismo, dislipidemia, história familiar de DAC precoce (presença
de eventos em parentes de primeiro grau antes dos 55 anos em homens e antes de 65
anos em mulheres) e sedentarismo10. Além disso, outros dados relevantes são obtidos
do exame físico e dos exames laboratoriais, como achados clínicos compatíveis com
pericardite, valvopatias, hipertrofia miocárdica, doença arterial periférica, doença da
aorta, entre outros.
Tabela 1
Estimativa de probabilidade (%) de DAC em pacientes sintomáticos de acordo com o sexo, a idade e as
características da dor torácica.
Tabela 2
Comparação da Probabilidade de DAC (%) em pacientes sintomáticos de baixo risco com pacientes sintomáticos de
alto risco.
Sabe-se que cada ganho de 1MET diminui em 7,9% todas as causas de mortalidade e
aumenta em 12% a sobrevida. A fraca tolerância ao esforço com valores <6MET
podem estar associada a mau prognóstico; assim como valores >12MET raramente
ocorrem em pacientes isquêmicos.
Independente da idade, aqueles idosos que conseguirem com o exercício aumentar sua
capacidade funcional em relação ao basal apresentarão redução de 35% na
mortalidade. A capacidade funcional tem sido estudada como um marcador de
prognóstico em diversas doenças cardiovasculares. Observou-se redução em torno de
20% a 25% no risco de morte nos pacientes pós-infarto do miocárdio que praticavam
atividade física, quando comparado com aqueles que faziam somente tratamento
medicamentoso. Tanto em pacientes portadores de doença coronariana como em
indivíduos saudáveis observou-se forte associação entre a baixa capacidade funcional e
o risco de morte13,14.
Parâmetros eletrocardiográficos:
Déficit cronotrópico:
Segundo Ellestad6 a IC é um dos fatores indicativos de DAC, mesmo que não ocorram
alterações eletrocardiográficas, sendo assim um preditor de mortalidade em populações
sadias. Os dados da coorte de Framingham demonstraram que quanto maior for o déficit
maior será o índice de mortalidade cardiovascular no período de 15 anos.
Ecocardiograma:
Devido ao seu custo, não deve ser empregado para rastreamento de DAC em pacientes
com ECG de repouso normal e baixa probabilidade de doença. A identificação do
paciente de alto risco pode ser obtida pela análise dos resultados tanto do teste de
esforço quanto da cintilografia miocárdica. Tanto o eco de estresse quanto a
cintilografia de perfusão sob estresse são mais sensíveis que o teste de esforço no
diagnóstico da isquemia miocárdica.
A RNM é um método novo que tem sido utilizado na avaliação funcional da doença
arterial coronariana da mesma forma que os outros métodos de imagem. O exame é
realizado durante repouso e estresse e as imagens são comparadas da mesma forma que
nos outros métodos. Da mesma forma que o ecocardiograma, a RNM permite a
avaliação de outras estruturas cardíacas. A RNM tem o estresse limitado aos métodos
farmacológicos.
A TCC é um método de imagem novo, que vem sendo muito utilizado em diversas
situações para a investigação de doença arterial coronariana em pacientes sintomáticos
e assintomáticos. O principal uso da TCC na doença coronariana é a realização da
coronariografia não invasiva para investigação de DAC. A TCC de coronária tem alto
valor preditivo negativo e é um exame útil em pacientes de probabilidade baixa ou
pacientes de probabilidade clínica intermediária que tenham exames funcionais
conflitantes. No entanto, devido à alta taxa de falso-positivos, a TC de coronárias não é
recomendada para avaliação rotineira de doença arterial coronariana na maior parte
dos pacientes. Esta tecnologia é bastante recente e vem evoluindo de forma rápida. Por
isso, vários estudos atualmente em andamento podem mudar essa perspectiva e ampliar
as indicações do método.
Cineangiocoronariografia:
Nos indivíduos >35 anos de idade, a principal causa de morte súbita é a doença arterial
coronariana – DAC. Os indivíduos com DAC clinicamente controlados devem ser
estimulados a praticar exercícios físicos regulares não competitivos. Quando se trata de
um individuo de quase 50 anos, o melhor modo de otimizar e promover a saúde neste
idoso ou “quase idoso” é prevenindo seus problemas clínicos agravantes, caso os
tenha. Nesse caso, a intervenção deve ser direcionada em especial à prevenção das
doenças cardiovasculares (DCV) consideradas a principal causa de morte nessa faixa
etária.
No presente caso foi indicado tratamento clínico. O paciente foi encaminhado para
programa supervisionado de reabilitação cardíaca. Antes de se iniciar o PES é preciso
através da anamnese, do exame físico e do teste de esforço estratificar o paciente em
relação ao risco cardiovascular em que ele se encontra, e iniciar a reabilitação
cardíaca com segurança.
Baixo risco cardiovascular = devem ser reavaliados a cada ano.
Moderado e alto risco = devem ser reavaliados a cada seis meses ou conforme
mudança de medicação17,18.
8. A prática do exercício físico indicada para este paciente poderá ser de caráter
competitivo? Deverá ou não realizar exercícios supervisionados por médicos?
A sobrevida a curto e longo prazo após o IAM depende de vários fatores; o mais
importante é o estado funcional do ventrículo esquerdo - importância adicional é dada
pela gravidade e extensão das lesões obstrutivas no leito vascular coronariano, que
perfunde o miocárdio viável residual. Portanto, a sobrevida se relaciona à quantidade
de miocárdio que se tornou necrótica e à quantidade em risco de ele se tornar.
Quadro 1
Evolução da fração de ejeção pelo método de Teichholz
Existe uma forte relação dose-resposta entre o nível de aptidão física e a modalidade
desejada, pois resultados expressivos podem ser alcançados através de atividades
cotidianas assim como através de atividades programadas, como correr e caminhar19.
Um programa ideal deve ser realizado diariamente ou a maior parte dos dias, com
duração entre 30-90min, de forma contínua ou não, pelo menos 30min de exercícios de
moderada intensidade ou 20min de alta intensidade. A intensidade na fase aeróbia pode
ser determinada através do % de VO2 alcançado no teste cardiopulmonar (40-75% do
VO2 máx) ou do percentual através da FCmáx (55-85%) atingida no teste ergométrico.
Outra maneira seria através da escala de Borg entre 3 e 6 (escala de 0 a 10). O
treinamento de força poderá ser realizado com duas séries de 8 a 10 repetições de duas
a três vezes por semana, utilizando uma intensidade de 60% de 1 repetição máxima20,21.
10. Quais seriam os objetivos da APP em indivíduos pré-dispostos a entrar num
programa de exercícios? Por que fazer?
Referências
1. Bruce RA. Methods of exercise testing. Step test, bicycle, treadmill,
isometrics. Am J Cardiol. 1974;33(6):715-20.
2. Fletcher GF, Balady GJ, Amsterdam EA, Chaitman B, Eckel R, Fleg J, et al.
Exercise standards for testing and training: a statement for healthcare
professionals from the American Heart Association. Circulation.
2001;104(14):1694-740.
3. Freitas RH, Costa RVC. Metodologia do teste ergométrico: protocolos para
esteira rolante adaptados à população brasileira. Ars Cvrandi Cardiol.
1987;9(69):21, 24-6,29-30.
4. Guimarães JI, Stein R, Vilas-Boas F, Galvão F, Nóbrega ACL, Castro RRT, et
al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Normatização de técnicas e
equipamentos para realização de exames em ergometria e ergoespirometria.
Arq Bras Cardiol. 2003;80(4):457-64.
5. Whaley MH, Brubaker PH, Otto RM, Armstrong LE; American College of
Sports Medicine. ACM’S Guidelines for Exercise Testing and Prescription.
7th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2006.
6. Ellestad MH. Stress Testing: principles and practice. 3rd ed. Philadelphia:
Davis; 1986.
7. Froelicher VF. Exercise and the heart: clinical concepts. Chicago: Year Book
Medical Publishers; 1987.
8. Pollock ML, Bohannon RL, Cooper KH, Ayres JJ, Ward A, White SR, et al. A
comparative analysis of four protocols for maximal treadmill stress testing.
Am Heart J. 1976;92(1):39-46.
9. Myers J, Buchanan N, Walsh D, Kraemer M, McAuley P, Hamilton-Wessler
M, et al. Comparison of the ramp versus standard exercise protocols. J Am
Coll Cardiol.1991;17(6):1334-42.
10. Mark DB, Hlatky MA, Harrell FE Jr, Lee KL, Califf RM, Pryor DB. Exercise
treadmill score for predicting prognosis in coronary artery disease. Ann
Intern Med.1987;106(6):793-800.
11. Raxwal V, Shetler K, Morise A, Do D, Myers J, Atwood JE, et al. Simple
treadmill score to diagnose coronary disease. Chest. 2001;119(6):1933-40.
12. Andrade J, Brito FS, Vilas-Boas F, Castro I, Oliveira JA, Guimarães JI, et al;
Sociedade Brasileira de Cardiologia. II Diretrizes da Sociedade Brasileira
de Cardiologia sobre Teste Ergométrico. Arq Bras Cardiol. 2002;78(supl.
2):1-17.
13. Belardinelli R, Georgiou D, Cianci G, Purcaro A. Randomized, controlled
trial of long-term moderate exercise training in chronic heart failure: effects
on functional capacity, quality of life, and clinical outcome. Circulation.
1999;99(9):1173-82.
14. London A. O que se lê sobre Ergometria e Reabilitação... Hoje. Cardiologia
do exercício. Departamento de Ergometria, Reabilitação Cardíaca e
Cardiologia Desportiva da SOCERJ (DERCA/RJ). Disponível em:
<http://www.dercad.org.br/boletim/ano11num43/Cardiologia-43-pag7.pdf>
15. Fornitano LD, Godoy MF. Duplo-produto elevado como preditor de ausência
de coronariopatia obstrutiva de grau importante em pacientes com teste
ergométrico positivo. Arq Bras Cardiol. 2006;86(2):138-44
16. Lachterman B, Lehmann KG, Abrahamson D, Froelicher VF. “Recovery only”
ST-segment depression and the predictive accuracy of the exercise test. Ann
Intern Med. 1990;112(1):11-6. Erratum in: Ann Intern Med. 1990;113(4):333-
4.
17. Merz CN, Paul-Labrador M, Vongvanich P. Time to reevaluate risk
stratification guidelines for medically supervised exercise training in patients
with coronary artery disease. JAMA. 2000;283(11):1476-8.
18. Moraes RS, Ribeiro JP. Heart disease. In: Frontera WR, Dawson DM, Slovik
DM (eds). Exercise in Rehabilitation Medicine. Champaign: Human Kinetics,
1999. p.192.
19. Cruz FES, Vanheusden LGS, Ghorayeb N. Epidemiologia da morte cardíaca
súbita. In: Ghorayeb N, Dioguardi G (eds).Tratado de Cardiologia do
Exercício e do Esporte. São Paulo: Atheneu. 2006. p.571-86.
20. Moraes RS, Nóbrega ACL, Castro RRT, Negrão CE, Stein R, Serra SM, et al;
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arq
Bras Cardiol. 2005;84(5):431-40.
21. Castro CL. Cardiologia do Exercício. Prevenção secundária das doenças
cardiovasculares – Qual é o papel do exercício? Departamento de
Ergometria, Reabilitação Cardíaca e Cardiologia Desportiva da SOCERJ
(DERCA/RJ). Disponível em:
<http://www.dercad.org.br/boletim/ano9num39/Cardiologia-39-pag4-5.pdf>
22. Ghorayeb N, Dioguardi GS, Daher DJ, Jardim CA, Baptista CA, Batlouni M.
Avaliação cardiológica pré-participação do atleta. Rev Soc Cardiol Estado
de São Paulo. 2005;15(2):97-104.
23. Thomas S, Reading J, Shephard RJ. Revision of the Physical Activity
Readiness Questionnaire (PAR-Q). Can J Sport Sci. 1992;17(4):338-45.
24. Ghorayeb N, Batlouni M, Pinto IMF, Dioguardi GS. Hipertrofia ventricular
esquerda do atleta. Resposta adaptativa fisiológica do coração. Arq Bras
Cardiol. 2005;85(3):191-7.
Seção 15. Doenças Congênitas
CASO CLÍNICO
Menino de 6 anos de idade, previamente hígido, procurou o pediatra assistente com
história de febre aguda, sem queixas cardiovasculares. Na ausculta cardíaca, foi
observada a presença de sopro sistólico de intensidade de 2+ em 6+, localizado em
borda esternal esquerda alta. O restante do exame clínico cardiovascular foi sem
alterações. Após 48 horas do início do quadro, já afebril, foi avaliado por
cardiologista, não sendo mais auscultado o sopro cardíaco que o referenciou. A
radiografia de tórax, o eletrocardiograma (ECG) e a ecocardiografia Doppler
(EcoDoppler) foram normais.
OBJETIVOS
1. Conceituar, caracterizar e distinguir os diferentes tipos de sopros inocentes
na faixa etária pediátrica, discutindo seu diagnóstico.
2. Discutir a história clínica, o exame físico e a investigação complementar
como necessários para sua avaliação.
3. Avaliar o momento de o paciente com sopro funcional ser referenciado ao
especialista.
PERGUNTAS
1. O que é o sopro inocente?
A origem dos sopros inocentes ainda é controversa. Na maioria das vezes, atribui-se
sua origem a fluxos turbulentos, originados em áreas de estreitamento na saída dos
ventrículos esquerdo (sopro de Still) ou direito (sopro de ejeção pulmonar), ou em
áreas de ramificações de artérias (sopro supraclavicular) e, no caso do zumbido
venoso, à turbulência originada pelo retorno venoso na confluência das veias
inominada, jugular interna e subclávia direita. Esses fluxos turbulentos provavelmente
são mais audíveis na criança porque as vias de saída são proporcionalmente mais
estreitas, e as estruturas cardíacas ficam mais próximas da parede torácica3.
Dados da literatura demonstram que o sopro cardíaco inocente tem prevalência entre
50% e 90% dos sopros auscultados3,12-15, ocorrendo principalmente em crianças na
fase pré-escolar e escolar12,16,17, sem preferência por sexo18. Nos recém-nascidos, o
sopro inocente corresponde em sua maioria à estenose relativa de artérias
pulmonares19.
Trata-se do sopro inocente mais comum. Foi descrito por Still, em 1909 (apud
Saunders1) e resulta da alteração do fluxo na transição do ventrículo esquerdo (VE)
para a aorta. Sua característica principal é o som vibratório, semelhante ao de uma
corda sob tensão. Este ruído é encontrado principalmente em crianças entre dois e seis
anos, raramente auscultado em lactentes, possuindo incidência decrescente até a
adolescência. Encontra-se relação entre o desenvolvimento puberal e o
desaparecimento do sopro. Possui prevalência em torno de 70-85% nas crianças em
idade escolar4.
Ao contrário do sopro vibratório de Still, tem um timbre mais alto e é melhor audível
com o diafragma do estetoscópio. Sua intensidade é de 2+/6+ podendo chegar a 3+,
sendo mais audível com o paciente em posição supina durante expiração mantida, em
pessoas magras, na presença de pectus excavatum, tórax plano, cifoescoliose e em
situações que levam ao aumento do débito cardíaco: exercício, febre, agitação e doença
aguda2,3. Atenua-se com a manobra de Valsalva e ortostatismo.
Em 1915, Richard Cabot (apud Saunders1) descreveu este sopro como audível abaixo
da clavícula esquerda ou do ângulo da escápula esquerda, bem como próximo ao ápice
do coração e menos comumente em outras partes do tórax3. A grande maioria é
sistólica, mas podem ser diastólicos. São geralmente afetados pela posição da criança e
mais audíveis ao final da inspiração.
O mecanismo responsável por este sopro permanece desconhecido.
O zumbido venoso foi descrito por Potain em 1867 (apud Saunders1), sendo o tipo mais
comum de sopro contínuo3. Audível em crianças entre 3 anos e 8 anos, podendo ocorrer
com menor frequência em adultos jovens saudáveis. A intensidade máxima deste sopro
é na fossa supraclavicular lateral ao músculo esternocleidomastoideo, podendo se
irradiar bilateralmente, mas em geral e é mais proeminente à direita. Originam-se na
zona de conexão das veias jugulares, subclávias e braquiocefálicas com a veia cava
superior2. O zumbido venoso alto em crianças irradia-se para abaixo das clavículas,
sendo frequentemente confundido com sopro de persistência do canal arterial (PCA).
Sua abolição com a compressão digital e pela manobra de Valsalva o distingue do
sopro de PCA. A intensidade varia de 1+ a 6+, e pode ser percebido pelo paciente.
É mais audível com o paciente sentado e com a campânula aplicada na região média da
fossa supraclavicular, a mão esquerda segurando o queixo do paciente por trás e o
girando suavemente para a esquerda e para cima. Pode aumentar à inspiração profunda.
A continuação do sopro sistólico além da segunda bulha foi mencionada por Morgan
Jones em 1951 (apud Saunders1), e resulta no sopro contínuo mamário. Intensidade
máxima pode ser observada em qualquer ponto da mama, tendo uma tendência de ser
mais alto no segundo ou terceiro espaço intercostal direito ou esquerdo. O timbre é
alto, porém o som não é musical. É mais audível com o paciente em posição supina,
com uma leve compressão pelo estetoscópio e pode desaparecer na posição sentada. A
intensidade pode variar dia a dia, hora a hora ou até a cada batimento.
4.1 História
Exame cardiovascular clínico de rotina, com avaliação dos pulsos e pressões nos
quatro membros, com a criança tranquila, e interpretar os dados de acordo com os
padrões por faixa etária.
A palpação dos pulsos é também muito importante: pulsos amplos nas extremidades
superiores e fracos ou ausentes em membros inferiores sugerem coarctação da aorta; os
amplos nos quatro membros ocorrem nos estados hipercinéticos (PCA com repercussão
hemodinâmica, grandes fístulas arteriovenosas sistêmicas, insuficiência aórtica). Pulsos
de baixa amplitude associam-se às taquiarritmias, insuficiência cardíaca e baixo débito
cardíaco.
Referências
CASO CLÍNICO
Recém-nascido de parto normal, feminino, com peso de 3640g, com história de cianose
transitória ao chorar nas primeiras horas de vida.
Exames de rotina “pré”-natais normais, inclusive o estudo ecoDopplercardiográfico
fetal.
Figura 1
EcoDopplercardiograma transtorácico demonstrando a presença de coarctação da aorta justaductal.
OBJETIVOS
1. Identificar as principais cardiopatias congênitas no recém-nascido.
2. Sugerir orientação clínica para o diagnóstico.
3. Rever as principais cardiopatias congênitas em sua classificação por
fisiopatologia e por estratificação de risco.
PERGUNTAS
1. Qual a incidência das cardiopatias congênitas em recém-nascidos?
Admite-se uma incidência de oito casos de cardiopatia congênita para cada 1000
nascidos vivos1-5. Destes, 25-30% falecem no período neonatal caso o diagnóstico
precoce e medidas terapêuticas (clínica e intervencionista) não forem adotadas4,5.
1. Comunicação interventricular
2. Comunicação interatrial
3. Ducto arterioso persistente
4. Janela aortopulmonar
5. Fístula arteriovenosa sistêmica
6. Origem anômala da artéria pulmonar da aorta ascendente
1. Tetralogia de Fallot
2. Atresia pulmonar com comunicação interventricular
3. Dupla-via de saída do ventrículo direito com comunicação interventricular e
estenose pulmonar.
4. Transposição dos grandes vasos da base com comunicação interventricular e
estenose pulmonar.
5. Conexões atrioventriculares univentriculares e estenose pulmonar.
Este grupo tem origem etiopatogênica diferente. As causas são as mais diversas e nelas
incluem-se anomalias estruturais, metabólicas, infecciosas e isquêmicas. Embora a
idade habitual de apresentação das miocardiopatias dilatadas oscile entre 3-12 meses,
podem se constituir, em alguns casos, como urgências no período neonatal. A isquemia
transitória do recém-nascido caracteriza-se por um quadro de insuficiência cardíaca,
com dificuldade respiratória, em crianças sem cardiopatia estrutural. Atribui-se à
asfixia por sofrimento respiratório neonatal agudo que condiciona a isquemia
miocárdica.
São malformações cardíacas estruturais que afetam a função cardiovascular e nas quais
não há necessidade de intervenção cardiovascular precoce ou pode mesmo não ocorrer.
Os defeitos mais representativos deste grupo incluem as comunicações
interventriculares, defeito do septo atrioventricular, comunicações interatriais e a
tetralogia de Fallot de boa anatomia5.
São malformações cardíacas estruturais anatomicamente definidas, mas que não alteram
a função cardiovascular. Neste grupo incluem-se as comunicações interventriculares
pequenas, as comunicações interatriais pequenas, a estenose pulmonar leve e a válvula
aórtica congenitamente malformada sem estenose ou com estenose leve5.
1. Diagnóstico precoce
2. Tratamento médico da falência cardíaca e das complicações respiratórias
3. Tratamento da hipoxemia
4. Planejar a indicação de: cateterismo cardíaco, cirurgia.
Referências
1. Hoffman JI, Kaplan S. The incidence of congenital heart disease. J Am Coll
Cardiol. 2002;39(12):1890-900.
2. Sharieff GQ, Wylie TW. Pediatric cardiac disorders. J Emerg Med.
2004;26(1):65-79.
3. Chang RK, Gurvitz M, Rodriguez S. Missed diagnosis of critical congenital
heart disease. Arch Pediatr Adolesc Med. 2008;162(10):969-74.
4. Yun SW. Congenital heart disease in the newborn requiring early intervention.
Korean J Pediatr. 2011;54(5):183-91.
5. Knowles R, Griebsch I, Dezateux C, Brown J, Bull C, Wren C. Newborn
screening for congenital heart defects: a systematic review and cost-
effectiveness analysis. Health Technol Assess. 2005;9(44):1-152.
6. Yee L. Cardiac emergencies in the first year of life. Emerg Med Clin North
Am. 2007;25(4):981-1008.
7. Wren C. Cardiac arrhythmias in the fetus and newborn. Semin Fetal Neonatal
Med. 2006;11(3):182-90.
8. Oliveira CI, Richieri-Costa A, Carvalho Ferrarese VC, Móz Vaz DC, Fett-
Conte AC. Birth defects in newborns and stillborns: an example of the
Brazilian reality. BMC Res Notes. 2011;4:343.
9. Geggel RL. Conditions leading to pediatric cardiology consultation in a
tertiary academic hospital. Pediatrics. 2004;114(4):e409-17.
10. Rudolph AM. Congenital cardiovascular malformations and the fetal
circulation. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2010;95(2):F132-6.
11. Jegatheeswaran A, Oliveira C, Batsos C, Moon-Grady AJ, Silverman NH,
Hornberger LK, et al. Costs of prenatal detection of congenital heart disease.
Am J Cardiol. 2011;108(12):1808-14.
12. Ellis K. Fleischner lecture. Developmental abnormalities in the systemic
bood supply to the lungs. AJR Am J Roentgenol. 1991;156(4):669-79.
13. Ismail SR, Kabbani MS, Najm HK, Abusuliman RM, Elbarbary M. Early
outcome for the primary arterial switch operation beyond the age of 3 weeks.
Pediatr Cardiol. 2010;31(5):663-7.
14. Medoff-Cooper B, Naim M, Torowicz D, Mott A. Feeding, growth, and
nutrition in children with congenitally malformed hearts. Cardiol Young.
2010;20(Suppl 3):149-53.
15. Houyel L, Khoshnood B, Anderson RH, Lelong N, Thieulin AC, Goffinet F, et
al; EPICARD Study group. Population-based evaluation of a suggested
anatomic and clinical classification of congenital heart defects based on the
International Paediatric and Congenital Cardiac Code. Orphanet J Rare Dis.
2011;6:64.
16. Wu MH, Chen HC, Lu CW, Wang JK, Huang SC, Huang SK. Prevalence of
congenital heart disease at live birth in Taiwan. J Pediatr. 2010;156(5):782-
5.
17. Botto LD, Correa A, Erickson JD. Racial and temporal variations in the
prevalence of heart defects. Pediatrics. 2001;107(3):E32.
18. Mahle WT, Newburger JW, Matherne GP, Smith FC, Hoke TR, Koppel R, et
al; American Heart Association Congenital Heart Defects Committee of the
Council on Cardiovascular Disease in the Young, Council on Cardiovascular
Nursing, and Interdisciplinary Council on Quality of Care and Outcomes
Research; American Academy of Pediatrics Section on Cardiology and
Cardiac Surgery, and Committee on Fetus and Newborn. Role of pulse
oximetry in examining newborns for congenital heart disease: a scientific
statement from the American Heart Association and American Academy of
Pediatrics. Circulation. 2009;120(5):447-58.
19. Martins P, Castela E. Transposition of the great arteries. Orphanet J Rare Dis.
2008;3:27.
20. Kumar RK, Newburger JW, Gauvreau K, Kamenir SA, Hornberger LK.
Comparison of outcome when hypoplastic left heart syndrome and
transposition of the great arteries are diagnosed prenatally versus when
diagnosis of these two conditions is made only postnatally. Am J Cardiol.
1999;83(12):1649-53.
21. Soongswang J, Adatia I, Newman C, Smalhorn JF, Williams WG, Freedom
RM. Mortality in potential arterial switch candidates with transposition of the
great arteries. J Am Coll Cardiol. 1998;32(3):753-7.
22. Tchervenkov CI, Jacobs JP, Weinberg PM, Aiello VD, Béland MJ, Colan SD,
et al. The nomenclature, definition and classification of hypoplastic left heart
syndrome. Cardiol Young. 2006;16(4):339-68.
23. Warnes CA. Transposition of the great arteries. Circulation.
2006;114(24):2699-709.
24. Krishnan US. Approach to congenital heart disease in the neonate. Indian J
Pediatr. 2002;69(6):501-5.
25. Waldman JD, Wernly JA. Cyanotic congenital heart disease with decreased
pulmonary blood flow in children. Pediatr Clin North Am. 1999;46(2):385-
404.
26. Perloff JK. The variant associations of aortic isthmic coarctation. Am J
Cardiol. 2010;106(7):1038-41.
27. Paranon S, Acar P. Ebstein’s anomaly of the tricuspid valve: from fetus to
adult: congenital heart disease. Heart. 2008;94(2):237-43.
28. Attenhofer Jost CH, Connolly HM, Edwards WD, Hayes D, Warnes CA,
Danielson GK. Ebstein’s anomaly - review of a multifaceted congenital
cardiac condition. Swiss Med Wkly. 2005;135(19-20):269-81.
29. Jaeggi ET, Friedberg MK. Diagnosis and management of fetal
bradyarrhythmias. Pacing Clin Electrophysiol. 2008;31(Suppl 1):S50-3.
30. Fedderly RT. Left ventricular outflow obstruction. Pediatr Clin North Am.
1999;46(2):369-84.
31. Kothari DS, Skinner JR. Neonatal tachycardias: an update. Arch Dis Child
Fetal Neonatal Ed. 2006;91(2):F136-44.
32. Hsu DT, Canter CE. Dilated cardiomyopathy and heart failure in children.
Heart Fail Clin. 2010;6(4):415-32.
33. Elliott P. Cardiomyopathy. Diagnosis and management of dilated
cardiomyopathy. Heart. 2000;84(1):106-12.
FORAME OVAL PATENTE: QUANDO ESTÁ
INDICADA A INTERVENÇÃO POR
CATETER?
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 42 anos, previamente assintomática, há aproximadamente um mês
apresentou quadro súbito de tonteira acompanhada de afasia e perda de força muscular
em ambos os membros superiores. Apresentou, também, desvio de comissura labial. O
quadro teve duração de 10min e reverteu espontaneamente. Procurou socorro médico e
foi internada.
A pesquisa de fatores de risco mostrou hipertensão arterial compensada, ausência de
diabetes. As artérias carótidas e vertebrais não apresentavam quadro obstrutivo ou
placas ateromatosas. Não foram detectadas tromboses venosas periféricas.
Exames Complementares:
A ressonância magnética cerebral mostrou área isquêmica e foi diagnosticado acidente
vascular cerebral encefálico isquêmico (AVEi).
Figura 1
Ecocardiograma transesofágico durante a realização do teste de bolhas mostra o átrio direito completamente
preenchido por microbolhas. Existe passagem de bolhas para o átrio esquerdo através do forame oval.
OBJETIVOS
1. Caracterizar forame oval patente e sua principal implicação clínica.
2. Discutir a metodologia correta para o diagnóstico de forame oval patente.
3. Analisar as indicações atuais de tratamento do forame oval.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso apresentado?
Numa paciente jovem com AVE, descartadas as outras possíveis causas para AVE, resta
apenas a possibilidade de embolia paradoxal através do forame oval.
Lock2 estima a prevalência de FOP em 10% a 15% na população adulta normal. Parece
consenso entre a maioria dos trabalhos que cerca de 1/4 da população geral seja
portadora de forame oval patente.
Um AVEi pode ser causado por diversos processos fisiopatológicos diferentes. A causa
sugerida pode representar alteração de grandes artérias (como estenose de artérias
carótidas internas) em 20% a 25% dos casos; de pequenas artérias provocando infarto
lacunar em 20%; e acidente cardioembólico (como fibrilação atrial) em 20% a 25%
dos casos. Estudos sugerem que nenhuma causa é encontrada em 30% a 40% dos
pacientes (AVE criptogênico – AVEic)6.
Nos EUA, a incidência anual de AVE é estimada em 750.000 casos, com mortalidade
de 27%8. Isso torna o AVE a terceira principal causa de morte, somente atrás das
doenças cardíacas e do câncer5.
O tempo médio de sobrevida após um AVE é de sete anos, período no qual o paciente
fica mais sujeito à recorrência do que a população geral6.
Os AVEic provavelmente são provocados por diversos fatores mas, a imensa maioria
deles, apresenta um dado comum que é a patência do forame oval9. A presença de FO
como facilitador desses eventos tem sido cada vez mais relatada pela maioria dos
autores, principalmente no que diz respeito ao AVE em pacientes jovens.
Estudando 61 pacientes, Steiner et al.11 encontraram FOP em 45% dos pacientes com
AVEic e somente em 23% dos pacientes com AVEi associado a outros fatores de risco
(aterosclerose de grandes vasos, isquemia lacunar e embolia cardiogênica). Da mesma
forma, Webster et al.12 encontraram uma prevalência de FOP de 50% em pacientes com
AVEi de origem inexplicada contra 15% no grupo-controle.
No Brasil, apesar de serem raros os estudos epidemiológicos publicados sobre doenças
cerebrovasculares, estas se constituem em uma das mais frequentes causas de óbito no
país13.
Vale lembrar que é muito difícil provar que o FOP seria realmente a fonte do êmbolo
em determinados pacientes, uma vez que quando eles procuram atendimento médico, o
evento embólico já ocorreu. Com isso, mesmo que se demonstre a presença de um
forame oval patente, pode-se apenas supor que o mesmo esteja envolvido como
facilitador do fenômeno embólico, após todas as outras causas possíveis terem sido
excluídas.
O estudo PELVIS16 mostrou que pacientes com AVEic têm mais possibilidade (20%) de
apresentar trombose venosa profunda (TVP) do que os pacientes que apresentam AVEi
com causa definida (4%).
Windecker et al.20 também relatam que pacientes com FOP e embolia paradoxal
estariam sob risco aumentado de tromboembolismo recorrente, com uma taxa
combinada de AVE e AIT de 3,4% a 3,8% por ano.
O fluxo da veia cava inferior (VCI) é naturalmente dirigido para o FO pela crista
dividens e pela válvula de Eustáquio. Dessa forma, o fluxo da veia cava superior
(VCS) é afastado da entrada do FO pelo fluxo da VCI, minimizando o shunt direita-
esquerda, e possibilitando resultados falso-negativos. Para aumentar a possibilidade de
passagem de sangue através do septo atrial utiliza-se a manobra de Valsalva, uma vez
que durante a fase de liberação existe a inversão do fluxo pelo septo atrial passando da
direita para a esquerda.
O fechamento cirúrgico pode ser realizado com baixo risco. Homma et al.30 relataram o
resultado em 28 pacientes, com 18% de síndrome pós-pericardiotomia e quatro eventos
neurológicos recorrentes em 19 meses. Devuyst et al.31 não relataram eventos
neurológicos em dois anos de seguimento apesar de shunt residual em 13,34% dos
pacientes. Dearani et al.32 relataram oito eventos neurológicos em 91 pacientes em 24
meses de seguimento, com 6,6% de derrames pericárdicos necessitando drenagem em
4-6 pacientes.
Complicações maiores foram relatadas em 0,2% a 1,5% dos casos e menores em 7,9%
a 11,5%35,36. Foram encontrados shunts residuais moderados a grandes (>3mm ao
colorDoppler, ou >10 microbolhas), após 6 meses, em 5% dos casos37.
Figura 2
Ecocardiograma tridimensional mostrando prótese ocluindo forame oval, vista pelo átrio esquerdo.
Apesar de não citar nominalmente o FO, ele claramente se enquadra nessa categoria e
estabelece que:
• Para pacientes com AVEi ou AIT e um FO, terapia antiagregante é razoável para
prevenir recorrência de eventos (Classe IIa/ Nível de evidência C)
• Warfarina é razoável para pacientes de alto risco que tenham outras indicações
para anticoagulação oral como estados de hipercoagulabilidade ou evidências de
trombose venosa (Classe IIa/ Nível de evidência C).
• Existem dados insuficientes para recomendar o fechamento do FO em pacientes
com um primeiro AVE. Fechamento do FO pode ser considerado para pacientes
com AVEic recorrente apesar da terapia médica (Classe IIb/ Nível de evidência C).
Referências
Viviane Soares
Renata Mattos
CASO CLÍNICO
Paciente do sexo feminino, 13 anos de idade, estudante, natural do Rio de Janeiro,
procurou o Instituto Nacional de Cardiologia, em junho de 2010, com história de
dispneia com piora evolutiva no último ano e episódio de síncope há cerca de um mês.
Ao exame físico:
Paciente eutrófica, corada, acianótica (com saturação de O2 em medida de oximetria de
pulso de 100% em ar ambiente).
Ausculta respiratória normal.
Ausculta cardíaca: ritmo regular em 2 tempos com hiperfonese de segunda bulha, sopro
sistólico 2+/6+ em foco tricuspídeo. FC =76bpm e PA =110/70mmHg.
Abdome sem massas ou visceromegalias palpáveis.
Membros inferiores sem alterações.
OBJETIVOS
1. Discutir as possibilidades diagnósticas da hipertensão pulmonar.
2. Identificar as etapas diagnósticas na hipertensão pulmonar.
3. Analisar as medidas terapêuticas disponíveis.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o paciente relatado?
Anteriormente considerada uma doença rara, estudos recentes indicam uma prevalência
europeia de aproximadamente 15 por milhão. De acordo com estudos franceses, a
hipertensão pulmonar idiopática é o tipo mais comum1,2.
5. Miscelânea
5.1. Sarcoidose, histiocitose X, linfangiomatose, compressão de vasos pulmonares
(adenopatias, tumor, mediastinite fibrosante)
Tendo em vista que a hipertensão pulmonar inicialmente suspeita pode ter várias
etiologias, alguns testes considerados devem ser realizados, para caracterizar a doença
e estabelecer um diagnóstico definitivo3,5.
Eletrocardiograma:
Radiografia de tórax:
EcoDopplercardiograma transtorácico:
Análise laboratorial:
Ultrassonografia abdominal:
Cateterismo cardíaco:
Não se comprovou ainda regressão dos danos pulmonares em nível histológico com
nenhuma das medidas aqui apresentadas. No entanto, quando o tratamento é iniciado
precocemente, é possível minimizar os sintomas e retardar a evolução do ponto de vista
clínico. Objetivamente, como já discutido, o teste TC6M é o parâmetro mais fiel e
reprodutível capaz de mensurar a melhora clínica.
Referências
1. McLaughlin VV, Archer SL, Badesch DB, Barst RJ, Farber HW, Lindner JR,
et al; ACC/AHA. ACCF/AHA 2009 Expert Consensus Document On
Pulmonary Hypertension: a report of the American College of Cardiology
Foundation Task Force on Expert Consensus Documents and the American
Heart Association: developed in collaboration with the American College of
Chest Physicians, American Thoracic Society, Inc., and the Pulmonary
Hypertension Association. Circulation. 2009;119(16):2250-94. Erratum in:
Circulation. 2009;120(2):e13.
2. Humbert M, Sitbon O, Chaouat A, Bertocchi M, Habib G, Gressin V, et al.
Pulmonary arterial hypertension in France: results from a national registry.
Am J Respir Crit Care Med. 2006;173(9):1023-30.
3. Galiè N, Hoeper MM, Humbert M, Torbicki A, Vachiery JL, Barbera JA, et
al; ESC Committee for Practice Guidelines (CPG). Guidelines for the
Diagnosis and Treatment of Pulmonary Hypertension: the Task Force for the
Diagnosis and Treatment of Pulmonary Hypertension of the European Society
of Cardiology (ESC) and the European Respiratory Society (ERS), endorsed
by the International Society of Heart and Lung Transplantation (ISHLT). Eur
Heart J. 2009;30(20):2493-537. Erratum in: Eur Heart J. 2011;32(8):926.
4. Simonneau G, Robbins IM, Beghetti M, Channick RN, Delcroix M, Denton
CP, et al. Updated clinical classification of pulmonary hypertension. J Am
Coll Cardiol. 2009;54(1 Suppl):S43-54.
5. Guimarães JI, Lopes AA, Martins RF, Aiello VD, Carvalho AC, Almeida
DR, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz sobre Diagnóstico,
Avaliação e Terapêutica da Hipertensão Pulmonar. Arq Bras Cardiol.
2003;81(supl. 8):1-10.
6. Tongers J, Schwerdtfeger B, Klein G, Kempf T, Schaefer A, Knapp JM, et al.
Incidence and clinical relevance of supraventricular tachyarrhythmias in
pulmonary hypertension. Am Heart J. 2007;153(1):127-32.
7. Rich S, Dantzker DR, Ayres SM, Bergofsky EH, Brundage BH, Detre KM, et
al. Primary pulmonary hypertension. A national prospective study. Ann Intern
Med. 1987;107(2):216-23.
8. Fisher MR, Forfia PR, Chamera E, Housten-Harris T, Champion HC, Girgis
RE, et al. Accuracy of Doppler echocardiography in the hemodynamic
assessment of pulmonary hypertension. Am J Resp Crit Care Med.
2009;179(7):615-21.
9. Hoeper MM, Lee SH, Voswinckel R, Palazzini M, Jais X, Marinelli A, et al.
Complications of right heart catheterization procedures in patients with
pulmonary hypertension in experienced centers. J Am Coll Cardiol.
2006;48(12):2546-52.
10. McGoon M, Gutterman D, Steen V, Barst R, McCrory DC, Fortin TA, et al;
American College of Chest Physicians. Screening, early detection, and
diagnosis of pulmonary arterial hypertension: ACCP evidence-based clinical
practice guidelines. Chest. 2004;126(1 Suppl):14S-34S.
11. International PPH Consortium, Lane KB, Machado RD, Pauciulo MW,
Thomson JR, Phillips JA 3rd, Loyd JE, et al. Heterozygous germline
mutations in BMPR2, encoding a TGF-beta receptor, cause familial primary
pulmonary hypertension. Nat Genet. 2000;26(1):81-4.
12. Christman BW, McPherson CD, Newman JH, King GA, Bernard GR, Groves
BM, et al. An imbalance between the excretion of thromboxane and
prostacyclin metabolites in pulmonary hypertension. N Engl J Med.
1992;327(2):70-5.
13. Giaid A, Yanagisawa M, Langleben D, Michel RP, Levy R, Shennib H, et al.
Expression of endothelin-1 in the lungs of patients with pulmonary
hypertension. N Engl J Med. 1993;328(24):1732-9.
14. Stupi AM, Steen VD, Owens GR, Barnes EL, Rodnan GP, Medsger TA Jr.
Pulmonary hypertension in the CREST syndrome variant of systemic
sclerosis. Arthritis Rheum. 1986;29(4):515-24.
15. Janda S, Quon BS, Swiston J. HIV and pulmonary arterial hypertension: a
systematic review. HIV Med. 2010;11(10):620-34.
16. Petitpretz P, Brenot F, Azarian R, Parent F, Rain B, Herve P, et al. Pulmonary
hypertension in patients with human immunodeficiency virus infection.
Comparison with primary pulmonary hypertension. Circulation.
1994;89(6):2722-7.
17. Petitpretz P, Brenot F, Azarian R, Parent F, Rain B, Herve P, et al. Pulmonary
hypertension in patients with human immunodeficiency virus infection.
Comparison with primary pulmonary hypertension. Circulation.
1994;89(6):2722-7.
18. Ryerson C, Nayar S, Swiston JR, Sin DD. Pharmacotherapy in pulmonary
arterial hypertension: a systematic review and meta-analysis. Respir Res.
2010;11:12.
19. Galiè N, Beghetti M, Gatzoulis MA, Granton J, Berger RM, Lauer A, et al;
Bosentan Randomized Trial of Endothelin Antagonist Therapy-5 (BREATHE-
5) Investigators. Bosentan therapy in patients with Eisenmenger syndrome: a
multicenter, double-blind, randomized, placebo-controlled study. Circulation.
2006;114(1):48-54.
20. Galiè N, Ghofrani HA, Torbicki A, Barst RJ, Rubin LJ, Badesch D, et al;
Sildenafil Use in Pulmonary Arterial Hypertension (SUPER) Study Group.
Sildenafil citrate therapy for pulmonary arterial hypertension. N Engl J Med.
2005;353(20):2148-57. Erratum in: N Engl J Med. 2006;354(22):2400-1.
21. Rich S, Kaufmann E, Levy PS. The effect of high doses of calcium-channel
blockers on survival in primary pulmonary hypertension. N Engl J Med.
1992;327(2):76-81.
22. Fuster V, Steele PM, Edwards WD, Gersh BJ, McGoon MD, Frye RL.
Primary pulmonary hypertension: natural history and importance of
thrombosis. Circulation. 1984;70(4):580-7.
23. Rich S, Seidlitz M, Dodin E, Osimani D, Judd D, Genthner D, et al. The
short-term effects of digoxin in patients with right ventricular dysfunction
from pulmonary hypertension. Chest. 1998;114(3):787-92.
24. Mereles D, Ehlken N, Kreuscher S, Ghofrani S, Hoeper MM, Halank M, et
al. Exercise and respiratory training improve exercise capacity and quality of
life in patients with severe chronic pulmonary hypertension. Circulation.
2006;114(14):1482-9.
25. Mohr LC. Hypoxia during air travel in adults with pulmonary disease. Am J
Med Sci. 2008;335(1):71-9.
26. Weiss BM, Zemp L, Seifert B, Hess OM. Outcome of pulmonary vascular
disease in pregnancy: a systematic overview from 1978 through 1996. J Am
Coll Cardiol. 1998;31(7):1650-7.
O DUCTO ARTERIOSO NO ADOLESCENTE
E NO ADULTO: INTERVENÇÃO POR
TÉCNICAS HEMODINÂMICAS
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 23 anos com história clínica de acompanhamento cardiológico até os
12 anos, por apresentar “sopro cardíaco”. A paciente e a família não sabiam informar
corretamente o “diagnóstico cardiológico”, sugerindo o de “sopro funcional”. Foi
avaliada para exame admissional, tendo o médico do trabalho solicitado avaliação ao
cardiologista.
Figura 1
Estudo angiotomográfico, demonstrando a presença de ducto arterioso tipo cônico restritivo no extremo pulmonar.
OBJETIVOS
1. Discutir hipóteses diagnósticas para DAP no adolescente e no adulto.
2. Propor uma metodologia diagnóstica por métodos de imagens.
3. Discutir as indicações do tratamento do DAP (cirúrgicas e hemodinâmicas).
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas na presença do exame clínico cardiovascular
apresentado?
Por ser o ducto arterioso, muitas vezes, anatomicamente curto e apresentar alterações
degenerativas da parede “ductal” por calcificação ou pós-infecções que o tornam
friável, o tratamento cirúrgico com as técnicas usuais através da toracotomia esquerda
apresenta riscos de complicações. Uma das maiores experiências cirúrgicas da
literatura no tratamento cirúrgico do DAP por toracotomia esquerda7, em população de
131 pacientes acima de 14 anos, descreve mortalidade de 3,5% secundária à
hemorragia ou hipertensão pulmonar ou débito cardíaco baixo pós-cirurgia. Em três
pacientes houve necessidade de cirurgia com extracorpórea; em outros 11 a cirurgia
complicou-se com derrame pleural; e em seis casos com pneumotórax.
Entre as complicações, a mais temida é sua ruptura durante a cirurgia, o que faz com
que em algumas situações se tenha a opção por técnicas com suporte circulatório,
aumentando a complexidade do tratamento e maior morbidade cirúrgica11.
O DAP pode ser altamente sugestivo no exame clínico pela presença do “sopro
contínuo” na região infraclavicular esquerda.
2a 2b
Figura 2
Estudo angiográfico e oclusão de ducto arterioso por plug.
Em A: aortografia em perfil esquerdo demonstrando o posicionamento de prótese tipo plug em região ductal pré e pós-
liberação.
Em B: oclusão total do shunt entre a aorta e artéria pulmonar via ducto arterioso.
Referências
1. Mitchel SC, Korones SB, Berendes HW. Congenital heart disease in 56,109
births. Incidence and natural history. Circulation. 1971;43(3):323-32.
2. Siassi B, Blanco C, Cabal LA, Coran AG. Incidence and clinical features of
patent ductus arteriosus in low-birthweight infants: a prospective analysis of
150 consecutively born infants. Pediatrics. 1976;57(3):347-51.
3. Martin RP, Banner NR, Radley-Smith R. Familial persistant ductus
arteriosus. Arch Dis Child. 1986;61(9):906-7.
4. Wei J, Chang YC, Ko GC, Shieh SM. Familial patent ductus arteriosus. Am J
Cardiol. 1984;54(1):235-6.
5. Sletten LJ, Pierpont ME. Familial occurrence of patent ductus arteriosus. Am
J Med Genet.1995;57(1):27-30.
6. Slavotinek A, Clayton-Smith J, Super M. Familial patent ductus arteriosus: a
further case of CHAR syndrome. Am J Med Genet. 1997;71(2):229-32.
7. John S, Muralidharan S, Jairaj PS, Mani GK, Babuthaman, Krishnaswamy S,
et al. The adult ductus: review of surgical experience with 131 patients. J
Thorac Cardiovasc Surg. 1981;82(2):314-9.
8. Mullins CE, Pagotto L. Patent ductus arteriosus. In: Garson A Jr, Bricker JT,
Fisher DJ, Neish SR, eds. The Science and Practice of Pediatric Cardiology.
Baltimore: Williams & Wilkins; 1998. p.1181-197.
9. Rigby ML. Closure of a large patent ductus arteriosus in adults: first do no
harm. Heart. 2007;93(4):417-8.
10. Campbell M. Natural history of persistent ductus arteriosus. Br Heart J.
1968;30(1):4-13.
11. Simões LC, Pedra CA, Esteves CA, Camargo R, Braga SL, Loureiro P, et al.
Percutaneous closure of ductus arteriosus with the amplatzer prosthesis. The
Brazilian experience. Arq Bras Cardiol. 2001;77(6):526-31.
12. Yangni-Angate H, Ayegnon G, Meneas C, Diby FL, Yapobi Y. Patent ductus
arteriosus in adults: surgical experience in Ivory-Coast. Ann Afr Med.
2007;6(1):34-5.
13. Pedra CA, Pedra SR, Esteves CA, Braga SL, Silva MAP, Almeida TLV, et al.
Experiência global no fechamento percutâneo do canal arterial. Arq Bras
Cardiol. 1998;71(6):769-80.
14. Chamié F, Chamié D, Ramos S. Oclusão percutânea dos canais arteriais com
prótese Amplatzer. Rev Bras Cardiol Invas. 2007;15(1):15-24.
15. Wang JK, Wu MH, Hwang JJ, Chiang FT, Lin MT, Lue HC. Transcatheter
closure of moderate to large patent ductus arteriosus with the Amplatzer duct
occluder. Catheter Cardiovasc Interv. 2007;69(4):572-8.
16. García-Montes JA, Zabal Cerdeira C, Calderón-Colmenero J, Juanico
Enríquez A, Cardona Garza A, Colín Ortiz JL, et al. [Patent ductus arteriosus
in the adult: transcatheter treatment immediate and medium term results].
Arch Cardiol Mex. 2006;76(2):163-8.
17. Frydrychowicz A, Bley TA, Dittrich S, Hennig J, Langer M, Markl M.
Visualization of vascular hemodynamics in a case of a large patent ductus
arteriosus using flow sensitive 3D CMR at 3T. J Cardiovasc Magn Reson.
2007;9(3):585-7.
18. Lopes LR, Revilla A, Pujadas S, Carreras F, Pons-Lladó G. Ductus arteriosus
persistente estudado por ressonância magnética. Rev Port Cardiol.
2008;27(1):111-3. Erratum in: Rev Port Cardiol. 2008;27(4):510.
19. Al Hashimi HM, Wardeh AJ, Aangevaeren WR, Verheugt FW. Percutaneous
closure of an adult patent ductus arterious. Neth Heart J. 2007;15(5):196-7.
20. Gamboa R, Mollón FP, Ríos-Méndez RE, Arroyo GM, Fogel A, Villa DM.
[Patent ductus arteriosus closure using a new device: the Nit-Occlud device].
Rev Esp Cardiol. 2007;60(4):445-8.
21. Haddad J, Lima Filho MO, Figueiredo GL, Nazzetta HE, Osterne CV.
Oclusão percutânea da persistência do canal arterial. Rev Bras Cardiol
Invas. 2005;13(3):206-18.
22. Rao PS. Percutaneous closure of patent ductus arteriosus: state of the art. J
Invasive Cardiol. 2007;19(7):299-302.
23. Baumgartner H, Bonhoeffer P, De Groot NM, de Haan F, Deanfield JE, Galie
N, et al; Task Force on the Management of Grown-up Congenital Heart
Disease of the European Society of Cardiology (ESC); Association for
European Paediatric Cardiology (AEPC). ESC Guidelines for the
Management of Grown-up Congenital Heart Disease (new version 2010). Eur
Heart J. 2010;31(23):2915-57.
24. Feltes TF, Bacha E, Beekman RH 3rd, Cheatham JP, Feinstein JA, Gomes AS,
et al; American Heart Association Congenital Cardiac Defects Committee of
the Council on Cardiovascular Disease in the Young; Council on Clinical
Cardiology; Council on Cardiovascular Radiology and Intervention.
Indications for cardiac catheterization and intervention in pediatric cardiac
disease: a scientific statement from the American Heart Association.
Circulation. 2011;123(22):2607-52.
Seção 16. Cardio-oncologia
CASO CLÍNICO
D.C.A., masculino, 60 anos de idade, pedreiro, natural e residente em Duque de Caxias,
RJ. Procurou Unidade Básica de Saúde com queixa de dor epigástrica com irradiação
retroesternal iniciada há cerca de dois meses, mas agora associada à sudorese intensa e
resfriamento de extremidades. É hipertenso e diabético em tratamento irregular há seis
anos. Tabagista (60 maços/ano).
Ao exame clínico:
PA= 180x120mmHg; FC= 104bpm; FR= 21irpm; IMC= 30,5kg/m2. Hipocorado (++/4+)
e sudoreico. Ritmo cardíaco regular, com quarta bulha audível. Obeso, apresenta
abdome globoso, algo distendido.
ECG em repouso revela zona elétrica inativa em parede inferior, com retificação ST-T
em parede anterolateral. Marcadores séricos de lesão miocárdica normais. Glicemia
capilar de jejum =220mg/dL e Hemoglobina =9,2g/dL.
O paciente teve níveis tensionais controlados com medicação oral; enfatizou-se a
necessidade de manter tratamento regular e aprofundamento do diagnóstico.
Prescreveu-se ainda uso regular de inibidor de enzima conversora de angiotensina
(IECA), diurético tiazídico e suplementação de ferro e ácido fólico.
O paciente foi então encaminhado ao oncologista que, após 30 dias, teve acesso à
tomografia computadorizada, estadiou a doença no segundo estágio. Assim, optou-se
pelo tratamento neoadjuvante com radioterapia e quimioterapia (5-fluorouracil e ácido
folínico). Em oito semanas concluiu-se esta fase do tratamento, com expressiva redução
da massa tumoral e melhora dos sintomas abdominais.
OBJETIVOS
1. Conceituar cardio-oncologia como área interdisciplinar emergente a partir de
necessidades epidemiológica e clínica.
2. Entender a necessidade da interação clínico-cardiologista-oncologista na
atenção integral ao paciente com câncer (CA).
3. Conhecer a coprevalência de fatores de risco para CA e doença
cardiovascular (DCV) e a concomitância das duas doenças.
4. Reconhecer a necessidade de estratégias de prevenção integrada para DCV,
diabetes mellitus e câncer.
5. Reconhecer que a interdisciplinaridade é meio eficaz para otimizar
resultados junto ao paciente com CA e DCV.
PERGUNTAS
1. O cenário clínico acima apresentado com diversas comorbidades concorrentes
tem prevalência relevante na prática médica atual?
O paciente em questão tornar-se-á cada vez mais frequente nos consultórios. A análise
retrospectiva das causas de mortalidade desde a década de 1930 até os dias atuais no
Brasil mostra, claramente, a evolução epidemiológica do predomínio das causas
infecciosas para as crônico-degenerativas. Em permeio a ambas, estiveram as causas
externas como o homicídio e o acidente de trânsito.
O caso ora apresentado é didático da situação. Os fatores de risco para DCV são, em
sua maioria, compartilhados com os mesmos fatores de risco para o CA e vice-versa.
Tabagismo, diabetes mellitus, obesidade, sedentarismo, etilismo, entre outros são
sabidamente relacionados às DCV e ao CA. Portanto todo paciente com DCV deve ser
analisado com potencial risco para o CA. Do mesmo modo, ao se instituir política e
orientação de prevenção para CA também se faz para as DCV2.
Cardio-Oncologia: conceito
A maioria dos fatores de risco para DCV são comuns ao CA e ao diabetes mellitus
(DM) (Quadro 2). Quando se somam as taxas de mortalidade por DCV, CA e DM, tem-
se mais que 50% do total das causas1. Portanto, a prevenção sobre os fatores de risco
removíveis tem impacto significativo na redução global da mortalidade, pois atua sobre
os três grupos de agravos (Figura 1).
Quadro 2
Fatores de risco comuns às doenças cardiovasculares, ao câncer e ao diabetes mellitus
Prevenção Integrada
Referências
1. Rosa LV, Issa JS, Salemi VMC, Younes RN, Kalil Filho R. Epidemiologia
das doenças cardiovasculares e neoplasias: quando vai acontecer o
cruzamento das curvas? Rev Soc Cardiol Est São Paulo. 2009;19(4):526-34.
2. Mann DL, Krone RJ. Cardiac disease in cancer patients: an overview. Prog
Cardiovasc Dis. 2010;53(2):80-7.
3. Albini A, Pennesi G, Donatelli F, Cammarota R, De Flora S, Noonan DM.
Cardiotoxicity of anticancer drugs: the need for cardio-oncology and cardio-
oncological prevention. J Natl Cancer Inst. 2010;102(1):14-25.
4. Gibbons RJ, Chatterjee K, Daley J, Douglas JS, Fihn SD, Gardin JM, et al.
ACC/AHA/ACP-ASIM guidelines for the management of patients with
chronic stable angina: executive summary and recommendations. A Report of
the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force
on Practice Guidelines (Committee on Management of Patients with Chronic
Stable Angina). Circulation. 1999;99(21):2829-48.
5. Brotman DJ, Bakhru M, Saber W, Aneja A, Bhatt DL, Tillan-Martinez K, et
al. Discontinuation of antiplatelet therapy prior to low-risk noncardiac
surgery in patients with drug-eluting stents: a retrospective cohort study. J
Hosp Med. 2007;2(6):378-84.
6. Rocklin MS, Senagore AJ, Talbott TM. Role of carcinoembryonic antigen and
liver function tests in the detection of recurrent colorectal carcinoma. Dis
Colon Rectum. 1991;34(9):794-7.
7. Pickhardt PJ, Choi JR, Hwang I, Butler JA, Puckett ML, Hildebrandt HA, et
al. Computed tomographic virtual colonoscopy to screen for colorectal
neoplasia in asymptomatic adults. N Engl J Med. 2003;349(23):2191-200.
8. Colorectal Cancer Collaborative Group. Adjuvant radiotherapy for rectal
cancer: a systematic overview of 8,507 patients from 22 randomised trials.
Lancet. 2001;358(9290):1291-304.
9. Jensen SA, Hasbak P, Mortensen J, Sorensen JB. Fluorouracil induces
myocardial ischemia with increases of plasma brain natriuretic peptide and
lactic acid but without dysfunction of left ventricle. J Clin Oncol.
2010;28(36):5280-6.
10. Yusuf SW, Razeghi P, Yeh ET. The diagnosis and management of
cardiovascular disease in cancer patients. Curr Probl Cardiol.
2008;33(4):163-96.
11. Yeh ET, Bickford CL. Cardiovascular complications of cancer therapy:
incidence, pathogenesis, diagnosis, and management. J Am Coll Cardiol.
2009;53(24):2231-47.
12. Khakoo AY, Yeh ET. Therapy insight: management of cardiovascular disease
in patients with cancer and cardiac complications of cancer therapy. Nat Clin
Pract Oncol. 2008;5(11):655-67.
13. Yeh ET. Onco-cardiology: the time has come. Tex Heart Inst J.
2011;38(3):246-7.
14. Lenihan DJ, Esteva FJ. Multidisciplinary strategy for managing
cardiovascular risks when treating patients with early breast cancer.
Oncologist. 2008;13(12):1224-34.
15. Kalil Filho R, Hajjar LA, Bacal F, Hoff PM, Diz M del P, Galas FRBG, et al.
I Diretriz de Cardio-Oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq
Bras Cardiol. 2011;96(2 supl.1):1-52.
16. Brasil. Ministério da saúde. [Internet]. Rede Interagencial de Informações
para a Saúde (RIPSA). Indicadores de morbidade. Taxa de incidência de
neoplasias malignas. Brasil, 2008 e 2009. [acesso em 2011 jan 20].
Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2009/d05.htm>
17. World Health Organization (WHO). International Agency for Research on
Cancer. [Internet]. GLOBOCAN 2008. Cancer Incidence, Mortality and
Prevalence Worldwide in 2008. [cited 2011 Dez 17]. Available from:
<http://globocan.iarc.fr>
ENDOMIOPERICARDIOPATIAS E
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NO PACIENTE
COM CÂNCER
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 68 anos, negra, procurou cardiologista com queixas de dispneia
progressiva dos grandes aos pequenos esforços, associada a edema dos membros
inferiores, bilateral, frio, ascendente e vespertino, iniciado há três meses. Referiu
câncer (CA) de mama há cinco anos tratado com mastectomia esquerda, esvaziamento
ganglionar axilar e quimioterapia adjuvante com doxorrubicina, 5-fluorouracil e
ciclofosfamida com doses que não soube informar. Faz reavaliações anuais com o
oncologista e refere ter tido critérios de cura do CA. Não fez qualquer avaliação ou
acompanhamento cardiológico antes, durante ou após o tratamento do CA. Hipertensão
arterial em tratamento há 10 anos com clortalidona 25mg/dia. Diabetes tipo II em
tratamento com metformina 2.550mg/dia há oito anos. Dislipidemia mista em uso de
sinvastatina 20mg/dia. Cessou tabagismo na época do diagnóstico do CA, com carga
tabágica de 60 maços/ano. Menopausa há 10 anos.
Ao exame clínico:
PA =130x80mmHg; PR =96bpm; FR =20irpm. Taquidispneica. Turgência jugular
patológica. Ausência de onda “a” no pulso venoso. Pulsos irregulares quanto à
frequência e amplitude, compatível com fibrilação atrial. Ictus cordis palpável no 5º e
6º espaços intercostais, na linha axilar anterior, pouco propulsivo. Ritmo irregular com
B3 e sopro sistólico (2+/6+) em focos tricúspide e mitral. Crepitação bibasal em
ambos os pulmões. Hepatomegalia dolorosa. Edema de membros inferiores (3+/4+),
frio, indolor, ascendente e depressível.
Figura 1
Ecocardiograma transtorácico – corte paraesternal longitudinal – cardiopatia em fase dilatada em paciente com
cardiomiopatia por doxorrubicina.
(Cortesia Prof. Mario Luiz Ribeiro – UFF)
VD=ventrículo direito; Ao=aorta; VE=ventrículo esquerdo; M=mitral; AE=átrio esquerdo
OBJETIVOS
1. Identificar risco cardiovascular global e fatores de risco para
cardiotoxicidade.
2. Identificar a possibilidade do aparecimento tardio de lesões
cardiovasculares nos pacientes submetidos à quimioterapia para o câncer.
3. Identificar os quimioterápicos mais comumente relacionados à
cardiotoxicidade e suas respectivas lesões.
4. Discutir as formas de prevenção e detecção precoce das lesões
cardiovasculares no paciente com câncer.
5. Conhecer as medidas terapêuticas recomendadas para as principais lesões
cardiovasculares no paciente com câncer.
PERGUNTAS
1. Quais são as hipóteses diagnósticas sindrômicas e etiológicas no caso
apresentado?
A evolução clínica de HAS e DM sob controle faz supor que estes entrem como fatores
predisponentes e a quimioterapia deva ter sido o agente preponderante para a lesão
miocárdica. O diagnóstico etiológico foi presumido a partir dos dados clínicos,
especialmente a história, posto que não há sinais típicos ou específicos de lesão pelos
quimioterápicos.
Definição de cardiotoxicidade
As lesões cardiovasculares mais comumente descritas nos pacientes com CA, seja
como manifestação paraneoplásica ou efeito adverso do tratamento, estão resumidas no
Quadro 1.
Quadro 1
Lesões cardiovasculares no paciente com câncer
Fatores de risco para cardiotoxicidade
Quadro 2
Fatores de risco reconhecidos para cardiotoxicidade
QT=quimioterapia/quimioterápicos; RT=radioterapia
Quadro 3
Principais efeitos cardiotóxicos dos quimioterápicos
História natural
As lesões miocárdicas da QT podem ser classificadas em tipos I e II. A lesão tipo I se
inicia nas primeiras doses; é dose-dependente e cumulativa; leva à apoptose e fibrose
miocárdica; cursa com destruição do sarcômero e necrose à biópsia; e tem caráter
irreversível. Os exemplos mais comuns são as lesões causadas pela doxorrubicina e
ciclofosfamida. A lesão tipo II não tem relação com a dose do quimioterápico
utilizado; tem aparência benigna à biópsia; é reversível; e o prognóstico é melhor. Os
exemplos típicos das lesões tipo II são aquelas causadas pelo trastuzumab e pelos
anticorpos monoclonais5.
Figura 3
Progressão da lesão da doxorrubicina conforme dose cumulativa utilizada
Detecção de cardiotoxicidade
Para detectar cardiotoxicidade são utilizados na prática clínica além dos sinais e
sintomas de disfunção ventricular a ecoDopplercardiografia, a ressonância nuclear
magnética (RNM), a ventriculografia radioisotópica (VRI) e os biomarcadores:
troponinas (Tn), peptídeo natriurético tipo B (BNP) e seu precursor (NT-proBNP).
1. EcoDopplercardiografia
Da mesma forma, uma FEVE normal durante tratamento por QT não afasta o diagnóstico
de cardiotoxicidade, tornando esse parâmetro de baixa sensibilidade para o diagnóstico
precoce. Disfunção diastólica pode ocorrer antes do surgimento da disfunção sistólica e
se relacionar à presença de cardiotoxicidade8. Tjeerdsma et al.9 observaram uma
redução da relação E/A, do tempo de desaceleração (TD) e do tempo de relaxamento
isovolumétrico (TRIV) após 27 meses de tratamento em mais de 50% dos pacientes
submetidos à QT com AC. Esse achado reforça a importância da avaliação dos índices
de função diastólica na detecção de cardiotoxidade.
Novas técnicas ecocardiográficas estão hoje disponíveis e devem fazer parte da rotina
de avaliação dos pacientes submetidos à QT tais como o Doppler tecidual, o strain
(deformação) e o strain rate (taxa de deformação) e a recente introdução da avaliação
bidimensional do strain global (Speckle Tracking)8,10. Estudo recente avaliou 43
pacientes com CA de mama submetidas à QT com AC seguida de trastuzumab e
paclitaxel, e observou queda do pico da deformação longitudinal global (GLS= Global
longitudinal strain) em relação ao basal após três meses do término da QT8. Esse
estudo foi capaz de predizer, no sexto mês, o desenvolvimento de cardiotoxicidade na
presença de índices de função diastólica e FEVE normais. A utilização de contraste
durante a realização do ECO somente é recomendada na prática clínica quando o
endocárdio ventricular não é bem visualizado em dois ou mais segmentos. Nessa
situação o uso do contraste objetiva reduzir a variabilidade inter e intraobservador. A
ecocardiografia de estresse e a modalidade tridimensional têm seu espaço na Cardio-
oncologia em protocolos de pesquisa para detecção de cardiotoxicidade11.
3. Ventriculografia radioisotópica
4. Biomarcadores
Em meta-análise que incluiu sete estudos, a elevação da Tn ocorreu em 30% a 34% dos
pacientes que receberam QT para tratamento de diversos tipos de CA15. A cinética da
Tn no contexto da cardiotoxicidade difere daquela observada no IAM, pois pode se
elevar precocemente durante o primeiro ciclo da QT ou tardiamente, até um mês após
seu término15. O mecanismo responsável pela elevação da Tn não parece estar
relacionado à etiologia isquêmica. A baixa incidência de fatores de risco coronariano,
ausência de sintomas e alterações eletrocardiográficas sugestivas de isquemia e a
elevação persistente da Tn um mês após o término da QT sugerem um padrão de
liberação diferente daquele observado na injúria isquêmica15.
7. Marcadores de Inflamação
8. Biópsia endomiocárdica
Quadro 5
Monitoramento de cardiotoxicidade por meio do ecocardiograma
Adaptado da I Diretriz Brasileira de Cardio-oncologia2
Quadro 6
Monitoramento da cardiotoxicidade por meio de biomarcadores
Quadro 7
Tratamento da insuficiência cardíaca induzida pela quimioterapia
Adaptado da I Diretriz Brasileira de Cardio-oncologia2
IECA=inibidor da enzima conversora de angiotensina; IC=insuficiência cardíaca; BRA=bloqueador do receptor da
angiotensina 1; BB= betabloqueador adrenérgico; CF=classe funcional; QT=quimioterapia(ico)
Prevenção de Cardiotoxicidade
Quadro 8
Medidas de prevenção de cardiotoxicidade induzida por quimioterápicos
Adaptado da I Diretriz Brasileira de Cardio-oncologia2
CA=câncer; AC=antraciclínicos
Pericardiopatias
O diagnóstico pode ser suspeitado através da história clínica de dor torácica, dispneia,
febre e atrito pericárdico associados às alterações eletrocardiográficas tais como
elevação difusa do segmento ST, baixa voltagem e arritmias supraventriculares. O
diagnóstico pode ser confirmado pelo ecocardiograma transtorácico ou pela tomografia
do tórax. Uma vez identificado, o líquido pericárdico pode ser a pista para o
diagnóstico etiológico e histopatológico da neoplasia de base, através da
pericardiocentese com biópsia pericárdica. A imuno-histoquímica e a dosagem de
marcadores tumorais no líquido pericárdico (CEA, CA125, CA15-3, CA19-9, NES,
CYFRA-21) são atualmente uma ferramenta útil, com alta sensibilidade e
especificidade para o diagnóstico das neoplasias sólidas31.
Considerações finais
Referências
1. Mann DL, Krone RJ. Cardiac disease in cancer patients: an overview. Prog
Cardiovasc Dis. 2010;53(2):80-7.
2. Kalil Filho R, Hajjar LA, Bacal F, Hoff PM, Diz M del P, Galas FRBG, et al.
I Diretriz de Cardio-Oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq
Bras Cardiol. 2011;96(2 supl.1):1-52.
3. Albini A, Pennesi G, Donatelli F, Cammarota R, De Flora S, Noonan DM.
Cardiotoxicity of anticancer drugs: the need for cardio-oncology and cardio-
oncological prevention. J Natl Cancer Inst. 2009;102(1):14-25.
4. Ewer MS, Von Hoff DD, Benjamin RS. A historical perspective of
anthracycline cardiotoxicity. Heart Failure Clin. 2011;7(3):363-72.
5. Yeh ET, Bickford CL. Cardiovascular complications of cancer therapy:
incidence, pathogenesis, diagnosis, and management. J Am Coll Cardiol.
2009;53(24):2231-47.
6. Bonow RO, Bennett S, Casey DE Jr, Ganiats TG, Hlatky MA, Konstam MA,
et al; American College of Cardiology; American Heart Association Task
Force on Performance Measures; Heart Failure Society of America.
ACC/AHA Clinical Performance Measures for Adults with Chronic Heart
Failure: a report of the American College of Cardiology/American Heart
Association Task Force on Performance Measures (Writing Committee to
Develop Heart Failure Clinical Performance Measures): endorsed by the
Heart Failure Society of America. Circulation. 2005;112(12):1853-87.
7. Jurcurt R, Wildiers H, Ganame J, D’hooge J, Paridaens R, Voigt JU.
Detection and monitoring of cardiotoxicity – what does modern cardiology
offer? Support Care Cancer. 2008;16(5):473-45.
8. Sawaya H, Plana JC, Scherrer-Crosbie M. Newest echocardiographic
techniques for the detection of cardiotoxicity and heart failure during
chemotherapy. Heart Fail Clin. 2011;7(3):313-21.
9. Tjeerdsma G, Meinardi MT, van Der Graaf WT, van Den Berg MP, Mulder
NH, Crijns HJ, et al. Early detection of anthracycline induced cardiotoxicity
in asymptomatic patients with normal left ventricular systolic function:
autonomic versus echocardiographic variables. Heart. 1999;81(4):419-23.
10. Cho GY, Marwick TH, Kim HS, Kim MK, Hong KS, Oh DJ. Global 2-
dimensional strain as a new prognosticator in patients with heart failure. J
Am Coll Cardiol. 2009;54(7):618-24.
11. Sawaya H, Sebag IA, Plana JC, Januzzi JL, Ky B, Cohen V, et al. Early
detection and prediction of cardiotoxicity in chemotherapy-treated patients.
Am J Cardiol. 2011;107(9):1375-80.
12. Fallah-Rad N, Walker JR, Wassef A, Lytwyn M, Bohonis S, Fang T, et al. The
utility of cardiac biomarkers, tissue velocity and strain imaging, and cardiac
magnetic resonance imaging in predicting early left ventricular dysfunction in
patients with human epidermal growth factor receptor II-positive breast
cancer treated with adjuvant trastuzumab therapy. J Am Coll Cardiol.
2011;57(22):2263-70.
13. Urbanová D, Urban L, Carter A, Maasova D, Mladosievicova B. Cardiac
troponins-biochemical markers of cardiac toxicity after cytostatic therapy.
Neoplasma. 2006;53(3):183-90.
14. Cardinale D, Sandri MT, Martinoni A, Tricca A, Civelli M, Lamantia G, et
al. Left ventricular dysfunction predicted by early troponin I release after
high-dose chemotherapy. J Am Coll Cardiol. 2000;36(2):517-22.
15. Dolci A, Dominici R, Cardinale D, Sandri MT, Panteghini M. Biochemical
markers for prediction of chemotherapy-induced cardiotoxicity: systematic
review of literature and recommendations for use. Am J Clin Pathol.
2008;130(5):688-95.
16. Cardinale D, Sandri MT, Colombo A, Colombo N, Boeri M, Lamantia G, et
al. Prognostic value of troponin I in cardiac risk stratification of cancer
patients undergoing high-dose chemotherapy. Circulation.
2004;109(22):2749-54.
17. Lipshultz SE, Rifai N, Dalton VM, Levy DE, Silverman LB, Lipsitz SR, et al.
The effect of dexrazoxane on myocardial injury in doxorubicin-treated
children with acute lymphoblastic leukemia. N Engl J Med. 2004;351(2):145-
53.
18. Cardinale D, Cipolla CM. Assessment of cardiotoxicity with cardiac
biomarkers in cancer patients. Herz. 2011;36(4):325-32.
19. Suzuki T, Hayashi D, Yamazaki T, Mizuno T, Kanda Y, Komuro I, et al.
Elevated B-type natriuretic peptide levels after anthracycline administration.
Am Heart J. 1998;136(2):362-3.
20. Cardinale D, Sandri MT, Martinoni A, Borghini E, Civelli M, Lamantia G, et
al. Myocardial injury revealed by plasma troponin I in breast cancer treated
with high-dose chemotherapy. Ann Oncol. 2002;13(5):710-5.
21. Sandri MT, Salvatici M, Cardinale D, Zorzino L, Passerini R, Lentati P, et al.
N-terminal pro-B-type natriuretic peptide after high-dose chemotherapy: a
marker predictive of cardiac dysfunction? Clin Chem. 2005;51(8):1405-10.
22. Chen S, Garami M, Gardner DG. Doxorubicin selectively inhibits brain
versus atrial natriuretic peptide gene expression in cultured neonatal rat
myocytes. Hypertension. 1999;34(6):1223-31.
23. Vaughn DJ, Palmer SC, Carver JR, Jacobs LA, Mohler ER. Cardiovascular
risk in long-term survivors of testicular cancer. Cancer. 2008;112(9):1949-
53.
24. Nuver J, Smit AJ, Sleijfer DT, van Gessel AI, van Roon AM, van der Meer J,
et al. Microalbuminuria, decreased fibrinolysis, and inflammation as early
signs of atherosclerosis in long-term survivors of disseminated testicular
cancer. Eur J Cancer. 2004;40(5):701-6.
25. Mercuro G, Cadeddu C, Piras A, Dessì M, Madeddu C, Deidda M, et al.
Early epirubicin-induced myocardial dysfunction revealed by serial tissue
Doppler echocardiography: correlation with inflammatory and oxidative
stress markers. Oncologist. 2007;12(9):1124-33.
26. Cadeddu C, Piras A, Mantovani G, Deidda M, Dessì M, Madeddu C, et al.
Protective effects of the angiotensin II receptor blocker telmisartan on
epirubicin-induced inflammation, oxidative stress, and early ventricular
impairment. Am Heart J. 2010;160(3):487.e1-7.
27. Ewer MS, Vooletich MT, Durand JB, Woods ML, Davis JR, Valero V, et al.
Reversibility of trastuzumab-related cardiotoxicity: new insights based on
clinical course and response to medical treatment. J Clin Oncol.
2005;23(31):7820-6.
28. Wouters KA, Kremer LC, Miller TL, Herman EH, Lipshultz SE. Protecting
against anthracycline-induced myocardial damage: a review of the most
promising strategies. Br J Haematol. 2005;131(5):561-78.
29. Kalay N, Basar E, Ozdogru I, Er O, Cetinkaya Y, Dogan A, et al. Protective
effects of carvedilol against anthracycline-induced cardiomyopathy. J Am
Coll Cardiol. 2006;48(11):2258-62.
30. Cardinale D, Colombo A, Cipolla CM. Prevention and treatment of
cardiomyopathy and heart failure in patients receiving cancer chemotherapy.
Curr Treat Options Cardiovasc Med. 2008;10(6):486-95.
31. Lestuzzi C. Neoplastic pericardial disease: old and current strategies for
diagnosis and management. World J Cardiol. 2010;2(9):270-9.
DOENÇA TROMBOEMBÓLICA NO
PACIENTE COM CÂNCER
Ernesto de Meis
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 12 anos, internada com diagnóstico de lesão em bacia, com o
seguinte laudo histopatológico: “Tumor neuroectodérmico primitivo. Sarcoma de
Ewing. Imuno-histoquímica: CD99 - positiva em membrana. Vimentina e
sinaptofisina - positivos CD56; Citoqueratinas AE1/AE3, Desmina, LCA e FLI1 –
negativos”. Biópsia de medula óssea não evidenciou invasão. Programado início de
protocolo investigacional. Ultrassonografia do abdômen mostrou presença de massa na
metade inferior do abdômen, com deslocamento da bexiga e anexos. Foi indicada RT
local.
Decidiu-se pela colocação de cateter venoso central para quimioterapia (QT), porém
evoluiu com desconforto no membro do cateter (MSE). Doppler mostrou: veia jugular
esquerda compressível; trombo na veia subclávia esquerda proximal e espessamento
parietal difuso de seu trajeto com fluxo ao colorDoppler, sugerindo trombose mural.
Iniciada anticoagulação com heparina de baixo peso molecular, em domicílio, devido
ao risco do uso de inibidor de vitamina K em paciente sob QT.
Retirado o cateter com resolução do quadro. No entanto, para manter o tratamento, foi
inserido cateter venoso central de longa permanência em membro superior direito. No
segundo mês de anticoagulação, a paciente passou a fazer uso incorreto da medicação e
interrompeu por três semanas consecutivas. Voltou com quadro de dor em face esquerda
do pescoço, edema e dor local. Tomografia computadorizada mostrou: “Presença de
trombo, com calcificação parietal na jugular esquerda. Presença de trombos na
jugular e veia braquiocefálica esquerdas. Cateter de subclávia direita, com
extremidade na veia braquiocefálica esquerda. Presença de falha de enchimento na
formação da veia cava superior, com interrogação sobre a possibilidade de se tratar
de trombo ou artefato de fluxo. Observou-se circulação colateral no terço superior
do hemitórax esquerdo”.
Foi então internada para fazer anticoagulação plena com heparina de baixo peso
molecular, de forma controlada. Obteve melhora progressiva dos sintomas nos quatro
dias subsequentes.
OBJETIVOS
1. Discutir o estado trombofílico e seu impacto no paciente com câncer (CA).
2. Discutir condutas preconizadas na prevenção e tratamento da trombose em
pacientes com CA.
3. Analisar o impacto da profilaxia e tratamento das tromboses na sobrevida do
paciente com CA.
PERGUNTAS
Apesar de muito frequente, tem sido delegada à trombose, de forma errônea, uma
importância secundária. Para demonstrar a importância dos eventos trombóticos
venosos e suas complicações, dados mostram que cerca de uma em cada dez mortes em
pacientes internados é devido à tromboembolia pulmonar (TEP). Acrescenta-se que 1%
de todos os pacientes internados irá morrer de TEP.
Além do número de mortes, outro grande impacto está na qualidade de vida, uma vez
que o paciente que desenvolveu trombose terá uma qualidade de vida inferior àquele
que não teve o evento – principalmente devido às complicações como síndrome pós-
trombótica e a necessidade de mudar a rotina para o uso dos anticoagulantes4.
As evidências não pararam aí, uma vez que importantes estudos mostraram que
pacientes portadores de neoplasias e que tiveram um evento trombótico apresentaram
pior perspectiva de cura e de sobrevida, não necessariamente relacionadas ao evento
trombótico. Desses estudos, destaca-se o Medcare que analisou mais de oito milhões de
pacientes sem CA e mais de um milhão de pacientes com CA. Eles observaram que o
risco de óbito em seis meses dos pacientes com CA e evento de trombose foi mais de
duas vezes maior do que aqueles sem CA e com trombose8. Estudo de Srensen
confirmou este achado9.
Figura 1
Curva de sobrevida de pacientes com adenocarcinoma de pulmão em relação à trombose
Fonte: adaptado de de Meis et al.9
Além desse efeito do FT, sabe-se que existem receptores celulares que são ativados de
forma diferente da convencional. O chamado receptor PAR (Receptor ativado por
proteases) pode ser ativado tanto pela trombina como pelo fator X ativado ou pela
proteína C. Ao ser ativado pelas duas primeiras proteases, induz a vários efeitos tais
como ativar reação imunológica, inflamação, dor, edema, cicatrização, angiogênese e
aumenta a agressividade da neoplasia. Já quando o receptor é ativado pela proteína C,
o efeito é inverso com redução da inflamação e inibição da apoptose12-15. Na Figura 3,
em marrom, a marcação para receptores PAR em paciente com adenocarcinoma de
pulmão14. Assim, o mesmo paciente pode induzir a produção de FX ativado e trombina
através da expressão de FT e estes ativarem o receptor PAR na neoplasia, aumentando
a angiogênese e a velocidade de crescimento.
Figura 3
Em marrom a marcação para receptores PAR em paciente com adenocarcinoma de pulmão13.
A neoplasia é sem dúvida um grande fator de risco para trombose, no entanto nem todos
os pacientes irão desenvolver trombose. Geralmente, o risco de ocorrer evento
trombótico aumenta quando associado à neoplasia, e o paciente apresentar outros
fatores de risco como a presença de cateteres venosos centrais; estar em quimioterapia
(QT) e/ou radioterapia (RT); apresentar doença avançada; ter infecção; fazer uso de
hormônios de crescimento, como eritropoietina ou filgrastima; estar restrito ao leito; e
após procedimentos cirúrgicos16. No caso de cirurgias, esse efeito pode perdurar por
até quatro semanas. Dessa forma, além da neoplasia, o paciente com CA, mesmo que
sob mobilização, frequentemente tem vários outros fatores de risco associados que
levam à alta probabilidade de trombose.
Em pacientes fora de QT deve-se iniciar com heparina de baixo peso e, logo após,
associar o inibidor de vitamina K (varfarina sódica). Já nos pacientes sob QT, devido à
grande variabilidade do inibidor de vitamina K, este não é o anticoagulante ideal.
Nesses casos sugere-se fazer uso de heparina de baixo peso, em domicílio, com dose
plena, até que o tratamento antineoplásico termine. A partir daí, associar o inibidor da
vitamina K.
O tratamento deve ser feito da seguinte forma: preservar o período mínimo de seis
meses de tratamento anticoagulante até o paciente não mais ter evidência de neoplasia e
estar fora de esquema de QT ou RT11,18,19.
O filtro de veia cava só deve ser utilizado em paciente com trombose aguda e
contraindicação para anticoagulação, ou ainda que fizesse novo evento de
tromboembolismo em vigência de anticoagulação. É importante enfatizar que, antes de
considerar a refratariedade à anticoagulação, faz-se necessário verificar se o paciente
está em uso de anticoagulante da forma correta20.
7. Como proceder frente ao paciente sob uso de anticoagulante que será submetido
a procedimento invasivo?
Apixabana: ainda foi liberado para uso clínico no Brasil até a elaboração deste
capítulo.
Referências
1. Michota FA. Bridging the gap between incidence and practice in venous
thromboembolism prophylaxis: the quality improvement process. J Gen Intern
Med. 2007;22(12):1762-70.
2. Tapson VF, Hyers TM, Waldo AL, Ballard DJ, Becker RC, Caprini JA, et al.
for the NABOR Committee. Antithrombotic therapy practices in US hospitals
in an era of practice guidelines. Arch Intern Med. 2005;165(13):1458-64.
3. Kuderer NM, Ortel TL, Francis CW. Impact of venous thromboembolism and
anticoagulation on cancer and cancer survival. J Clin Oncol.
2009;27(29):4902-11.
4. van Korlaar IM, Vossen CY, Rosendaal FR, Bovill EG, Cushman M, Naud S,
et al. The impact of venous thrombosis on quality of life. Thromb Res.
2004;114(1):11-8.
5. Lyons JR. Pioneers in medicine: Armand Trousseau (1801-1867). Nurs
Mirror Midwives J. 1976;143(7):58.
6. Prandoni P, Piccioli A, Girolami A. Cancer and venous thromboembolism: an
overview. Haematologica. 1999;84(5):437-45.
7. Sørensen HT, Sværke C, Farkas DK, Christiansen CF, Pedersen L, Lash TL,
et al. Superficial and deep venous thrombosis, pulmonary embolism and
subsequent risk of cancer. Eur J Cancer. 2011 Nov 28. [Epub ahead of print].
8. Levitan N, Dowlati A, Remick SC, Tahsildar HI, Sivinski LD, Beyth R, et
al. Rates of initial and recurrent thromboembolic disease among patients
with malignancy versus those without malignancy. Risk analysis using
Medicare claims data. Medicine. 1999;78(5):285-91.
9. Sørensen HT, Mellemkjaer L, Olsen JH, Baron JA. Prognosis of cancers
associated with venous thromboembolism. N Engl J Med.
2000;343(25):1846-50.
10. de Meis E, Pinheiro VR, Zamboni MM, Guedes MT, Castilho IA, Martinez
MM, et al. Clotting, immune system, and venous thrombosis in lung
adenocarcinoma patients: a prospective study. Cancer Invest.
2009;27(10):989-97.
11. Lyman GH, Kuderer NM; American Society of Clinical Oncology. Prevention
and treatment of venous thromboembolism among patients with cancer: The
American Society of Clinical Oncology Guidelines. Thromb Res.
2010;125(Suppl 2):S120-7.
12. Schaffner F, Ruf W. Tissue factor and protease-activated receptor signaling in
cancer. Semim Thromb Hemost. 2008;34(2):147-53.
13. Ruf W, Disse TJ, Carneiro-Lobo C, Yokota N, Schaffner F. Tissue factor and
cell signalling in cancer progression and thrombosis. J Thromb Haemost.
2011;9(Suppl 1):306-15.
14. de Meis E, Azambuja D, Ayres-Silva JP, Zamboni M, Pinheiro VR, Levy RA,
et al. Increased expression of tissue factor and protease-activated receptor-1
does not correlate with thrombosis in human lung adenocarcinoma. Braz J
Med Biol Res. 2010;43(4):403-8.
15. Riewald M, Ruf W. Protease-activated receptor-1 signaling by activated
protein C in cytokine-perturbed endothelial cells is distinct from thrombin
signaling. J Biol Chem. 2005;280(20):19808-14.
16. Khorana AA, Rao MV. Approaches to risk-stratifying cancer patients for
venous thromboembolism. Thromb Res. 2007;120(Suppl 2):S41-50.
17. Mandalà M, Falanga A, Roila F; ESMO Guidelines Working Group.
Management of venous thromboembolism in cancer patients: ESMO clinical
recommendations. Ann Oncol. 2008;19(Suppl 2):ii126-7.
18. Lyman GH, Khorana AA, Falanga A, Clarke-Pearson D, Flowers C, Jahanzeb
M; American Society of Clinical Oncology. American Society of Clinical
Oncology guideline: recommendations for venous thromboembolism
prophylaxis and treatment in patients with cancer. J Clin Oncol.
2007;25(34):5490-505.
19. Streiff MB; National Comprehensive Cancer Center Network. The National
Comprehensive Cancer Center Network (NCCN) Guidelines on the
Management of Venous Thromboembolism in Cancer Patients. Thromb Res.
2010;125(Suppl 2):S128-33.
20. Stein PD, Matta F, Hull RD. Increasing use of vena cava filters for prevention
of pulmonary embolism. Am J Med. 2011;124(7):655-61.
21. Tufano A, Guida A, Di Minno MN, Prisco D, Cerbone AM, Di Minno G.
Prevention of venous thromboembolism in medical patients with
thrombocytopenia or with platelet dysfunction: a review of the literature.
Semim Thromb Hemost. 2011;37(3):267-74.
22. Hoffman R; Brenner B. Anticoagulants and chronic kidney disease. Thromb
Res. 2011;128(4):305-6.
23. Brenner B, Hoffman R. Emerging options in the treatment of deep vein
thrombosis and pulmonary embolism. Blood Rev. 2011;25(5):215-21.
24. Galanis T, Thomson L, Palladino M, Merli GJ. New oral anticoagulants. J
Thromb Thrombolysis. 2011;31(3):310-20.
ESTRATIFICAÇÃO E GERENCIAMENTO DE
RISCO EM CIRURGIA ONCOLÓGICA
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 67 anos de idade, com diagnóstico histológico de adenocarcinoma
do corpo pancreático, com 2,8cm em seu maior diâmetro, e programação de tratamento
cirúrgico, foi encaminhada à avaliação cardiológica pré-operatória. A paciente
apresentava insuficiência cardíaca de etiologia isquêmica, estágio C, classe funcional
da New York Heart Association III.
Há seis meses evoluiu com dor epigástrica importante e, durante a investigação, foi
submetida à cineangiocoronariografia que revelou oclusão da artéria coronária
esquerda descendente anterior em seu terço médio; lesões obstrutivas distais em ramos
ventricular posterior e coronária direita; além de importante zona discinética em região
anterior. A paciente vinha em uso regular de aspirina 100mg/dia, atorvastatina
20mg/dia, candesartana 8mg/dia, carvedilol 12,5mg/dia e furosemida 40mg/dia. O
ecocadiograma revelou fração de ejeção ventricular esquerda de 23% por Simpson e
PSAP estimada em 45mmHg.
OBJETIVOS
1. Ressaltar as peculiaridades na estratificação pré-operatória de risco em
pacientes com câncer (CA).
2. Contrapor risco perioperatório cardiológico ao impacto prognóstico do
tratamento cirúrgico do CA.
3. Destacar a importância do ajuste da abordagem farmacológica visando à
redução de risco perioperatório, com especial foco no tratamento
antiplaquetário.
4. Revisitar aspectos relacionados à dificuldade diagnóstica e abordagem das
síndromes coronarianas após grandes cirurgias do CA.
PERGUNTAS
1. Como avaliar o risco operatório da paciente relatada?
No cenário oncológico, o impacto das intervenções cirúrgicas pode ser decisivo sobre
a evolução da doença. Não é incomum optar-se pela intervenção em paciente cujo risco
cardiovascular poderia ser considerado proibitivo em outros cenários. Nesse sentido, a
equipe cirúrgica deve programar a natureza e a extensão da intervenção em integração
com o cardiologista. A interdisciplinaridade deve, sobretudo, permear a relação com o
anestesiologista. Técnicas “cardioprotetoras” são essenciais ao sucesso.
A cirurgia pode ser a principal ferramenta de cura de neoplasias localizadas, mas tem
sua eficácia eventualmente limitada pela presença de metástases ou por aspectos de
natureza técnica, impostos pela localização ou pelo risco proibitivo relacionado à
extensão do trauma. Extensas cirurgias podem ser necessárias para a redução da massa
tumoral, potencializando a efetividade do tratamento quimioterápico. Por outro lado,
opções por abordagens minimalistas ou técnicas menos invasivas como crio ou
radioablação de implantes metastáticos têm possibilitado o gerenciamento refinado da
relação risco-benefício, decisiva em pacientes de alto risco3. Essas intervenções
ocasionalmente muito extensas, não raramente devem ser realizadas em prazos
relativamente curtos, haja vista a velocidade de progressão de algumas formas de
neoplasia. Em outras circunstâncias, a presença do tumor gera nível de gravidade que
impõe a realização do procedimento mesmo sob risco elevado, sob pena de se perder a
janela terapêutica.
Referências
1. Gualandro DM, Yu PC, Calderaro D, Marques AC, Pinho C, Caramelli B, et
al. II Diretriz de Avaliação Perioperatória da Sociedade Brasileira de
Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2011;96(3 supl.1):1-68.
2. Struthers R, Erasmus P, Holmes K, Warman P, Collingwood A, Sneyd JR.
Assessing fitness for surgery: a comparison of questionnaire, incremental
shuttle walk, and cardiopulmonary exercise testing in general surgical
patients. Br J Anaesth. 2008;101(6):774-80.
3. Perry MC. Approach to the patient with cancer. In: Goldman L, Schafer AI,
eds. Goldman’s Cecil Medicine. 24th ed. Philadelphia: Elsevier; 2011.
4. Cardinale D. [A new frontier: cardio-oncology]. Cardiologia.
1996;41(9):887-91.
5. Cleary SP, Gryfe R, Guindi M, Greig P, Smith L, Mackenzie R, et al.
Prognostic factors in resected pancreatic adenocarcinoma: analysis of actual
5-year survivors. J Am Coll Surg. 2004;198(5):722-31.
6. White CM, Talati R, Phung OJ, Baker WL, Reinhart K, Sedrakyan A, et al.
Benefits and risks associated with beta-blocker prophylaxis in noncardiac
surgery. Am J Health Syst Pharm. 2010;67(7):523-30.
7. Skrlin S, Hou V. A review of perioperative statin therapy for noncardiac
surgery. Semin Cardiothorac Vasc Anesth. 2010;14(4):283-90.
8. Ocampo NV, Tafreshi J, Hauschild CL, Pai RG. Cardiovascular medications
and risk of cancer. Am J Cardiol. 2011;108(7):1045-51.
9. Sipahi I, Chou J, Mishra P, Debanne SM, Simon DI, Fang JC. Meta-analysis
of randomized controlled trials on effect of angiotensin-converting enzyme
inhibitors on cancer risk. Am J Cardiol. 2011;108(2):294-301.
10. Kallis P, Tooze JA, Talbot S, Cowans D, Bevan DH, Treasure T. Pre-
operative aspirin decreases platelet aggregation and increases post-operative
blood loss--a prospective, randomised, placebo controlled, double-blind
clinical trial in 100 patients with chronic stable angina. Eur J Cardiothorac
Surg. 1994;8(8):404-9.
11. Iliescu C, Durand JB, Kroll M. Cardiovascular interventions in
thrombocytopenic cancer patient. Tex Heart Inst J. 2011;38(3):259-60.
12. Burger W, Chemnitius JM, Kneissl GD, Rücker G. Low-dose aspirin for
secondary cardiovascular prevention – cardiovascular risks after its
perioperative withdrawal versus bleeding risks with its continuation –
review and meta-analysis. J Intern Med. 2005;257(5):399-414.
13. Thurston AV, Briant SL. Aspirin and post-prostatectomy haemorrhage. Br J
Urol. 1993;71(5):574-6.
14. Palmer JD, Sparrow OC, Iannotti F. Postoperative hematoma: a 5-year survey
and identification of avoidable risk factors. Neurosurgery. 1994;35(6):1061-
4.
15. Collet JP, Himbet F, Steg PG. Myocardial infarction after aspirin cessation in
stable coronary artery disease patients. Int J Cardiol. 2000;76(2-3):257-8.
16. Ferrari E, Benhamou M, Cerboni P, Marcel B. Coronary syndromes
following aspirin withdrawal: a special risk for late stent thrombosis. J Am
Coll Cardiol. 2005;45(3):456-9.
17. Senior K. Aspirin withdrawal increases risk of heart problems. Lancet.
2003;362(9395):1558.
18. Albaladejo P, Geeraerts T, Francis F, Castier Y, Lesèche G, Marty J. Aspirin
withdrawal and acute lower limb ischemia. Anesth Analg. 2004;99(2):440-3.
19. Matsuzaki K, Matsui K, Haraguchi N, Nagano I, Okabe H, Asou T. Ischemic
heart attacks following cessation of aspirin before coronary artery bypass
surgery: a report of two cases. Ann Thorac Cardiovasc Surg. 1999;5(2):121-
2.
20. Mantel N, Haenszel W. Statistical aspects of the analysis of data from
retrospective studies of disease. J Natl Cancer Inst. 1959;22(4):719-48.
21. Oscarsson A, Gupta A, Fredrikson M, Järhult J, Nyström M, Pettersson E, et
al. To continue or discontinue aspirin in the perioperative period: a
randomized, controlled clinical trial. Br J Anaesth. 2010;104(3):305-12.
22. Antiplatelet Trialists’ Collaboration. [No authors listed]. Collaborative
overview of randomised trials of antiplatelet therapy – I: Prevention of death,
myocardial infarction, and stroke by prolonged antiplatelet therapy in various
categories of patients. BMJ. 1994;308(6921):81-106. Erratum in: BMJ.
1994;308(6943):1540.
23. Aguilar-Nascimento JE, Salomão AB, Caporossi C, Silva RM, Cardoso EA,
Santos TP. Acerto pós-operatório: avaliação dos resultados da implantação
de um protocolo multidisciplinar de cuidados perioperatórios em cirurgia
geral. Rev Col Bras Cir. 2006;33(2):181-8.
24. Mangano DT, Browner WS, Hollenberg M, Li J, Tateo IM. Long-term cardiac
prognosis following noncardiac surgery. The Study of Perioperative Ischemia
Research Group. JAMA. 1992;268(2):233-9.
25. Landesberg G, Shatz V, Akopnik I, Wolf YG, Mayer M, Berlatzky Y, et al.
Association of cardiac troponin, CK-MB, and postoperative myocardial
ischemia with long-term survival after major vascular surgery. J Am Coll
Cardiol. 2003;42(9):1547-54.
26. Gualandro DM, Caramelli B, Yu PC, Marques AC, Calderaro D.
Perioperative myocardial infarction has been forgotten. J Am Coll Cardiol.
2008;51(18):1825-6.
MÉTODOS DE IMAGEM EM CARDIO-
ONCOLOGIA
CASOS CLÍNICOS
Caso 1: Paciente assintomática, sem doença cardiovascular
OBJETIVOS
1. Demonstrar a importância dos métodos de diagnóstico em cardiologia no
acompanhamento das complicações cardiovasculares da QT.
2. Fazer uma revisão do uso dos métodos de imagem na avaliação da
cardiotoxicidade decorrente do uso de drogas antineoplásicas.
3. Descrever as limitações das técnicas atuais de avaliação da cardiotoxicidade
e o potencial uso de novas técnicas.
PERGUNTAS
1. Como caracterizar a cardiotoxicidade nos pacientes com câncer?
Essas alterações geralmente são observadas desde o início até 14 dias após o ciclo do
tratamento1. A cardiotoxicidade crônica pode ser diferenciada em dois subtipos, de
acordo com o início dos sintomas clínicos. O primeiro subtipo ocorre no primeiro ano
após o término da QT, e o segundo subtipo a partir daí.
Nos pacientes que fazem uso de trastuzumab os limites estabelecidos para a interrupção
do tratamento são maiores: queda para valores absolutos <44% ou valores entre 45-
49%, porém com redução de mais de 10% em relação aos valores basais. Mesmo
assim, a interrupção do tratamento pode ser apenas transitória, pois se após três
semanas de suspensão do trastuzumab houver recuperação parcial ou total da FEVE,
pode-se reiniciar o uso do fármaco2.
Figura 2
Ilustração do strain longitudinal de pico (GLPS) e do strain diastólico (EDS)
A aplicação clínica do speckle tracking se faz principalmente aqui para análise mais
detalhada dos mecanismos de contração e relaxamento, para identificar alteração
segmentar precoce. Em estudo de pacientes com neoplasia de mama8, a
cardiotoxicidade sob regime terapêutico com doxorrubicina não foi inicialmente
observada, quando se avaliou parâmetros convencionais da função sistólica do VE,
análise da função diastólica pelo influxo de mitral, tempo de relaxamento
isovolumétrico (TRIV) e fluxos de veias pulmonares. Porém, a avaliação das medidas
das velocidades do miocárdio e sua deformação, após seis semanas de ciclo de
doxorrubicina, já revelava alterações significativas do strain rate (SR) sistólico
longitudinal, do strain (S) sistólico longitudinal, do strain rate e strain sistólico radial
sem haver, entretanto, alterações nas velocidades. Outro aspecto interessante foi o fato
de que o strain rate e strain já se mostravam alterados a partir do terceiro ciclo.
Referências
1. Albini A, Pennesi G, Donatelli F, Cammarota R, De Flora S, Noonan DM.
Cardiotoxicity of anticancer drugs: the need for cardio-oncology and cardio-
oncological prevention. J Natl Cancer Inst. 2010;102(1):14-25.
2. Kalil Filho R, Hajjar LA, Bacal F, Hoff PM, Diz M del P, Galas FRBG, et al.
I Diretriz Brasileira de Cardio-Oncologia da Sociedade Brasileira de
Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2011;96(2 supl.1):1-52.
3. Santos ACS, Mesquita ET, Menezes MEFC, Costa MP, Santos MCS.
Cardioncologia: anormalidades eletrocardiográficas em pacientes com
cardiomiopatia pós-uso de doxorrubicina. Rev SOCERJ. 2009;22(5):281-8.
4. Nousiainen T, Jantunen E, Vanninen E, Hartikainen J. Early decline in left
ventricular ejection fraction predicts doxorubicin cardiotoxicity in lymphoma
patients. Br J Cancer. 2002;86(11):1697-700.
5. Plana JC. La quimioterapia y el corazón. Rev Esp Cardiol. 2011;64(5):409-
15.
6. Geyer H, Caracciolo G, Abe H, Wilansky S, Carerj S, Gentile F, et al.
Assessment of myocardial mechanics using speckle tracking
echocardiography: fundamentals and clinical applications. J Am Soc
Echocardiogr. 2010;23(4):351-69.
7. Sengupta PP, Korinek J, Belohlavek M, Narula J, Vannan MA, Jahangir A, et
al. Left ventricular structure and function: basic science for cardiac imaging.
J Am Coll Cardiol. 2006;48(10):1988-2001.
8. Jurcut R, Wildiers H, Ganame J, D’hooge J, De Backer J, Denys H, et al.
Strain rate imaging detects early cardiac effects of pegylated liposomal
Doxorubicin as adjuvant therapy in elderly patients with breast cancer. J Am
Soc Echocardiogr. 2008;21(12):1283-9.
9. Fallah-Rad N, Lytwyn M, Fang T, Kirkpatrick I, Jassal DS. Delayed contrast
enhancement cardiac magnetic resonance imaging in trastuzumab induced
cardiomyopathy. J Cardiovasc Magn Reson. 2008;10:5.
Seção 17. Insuficiência Cardíaca
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 75 anos, foi admitido na sala de emergência com queixa de
dispneia aos esforços com início há três meses, progressiva até aos mínimos esforços.
Refere também desenvolvimento de edema de membros inferiores com início há um
mês, bilateral, frio e indolor. Vem em acompanhamento médico irregular, em uso de
bisoprolol 2,5mg 24/24h, maleato de enalapril 10mg 24/24h, furosemida 40mg de 8/8h,
aspirina 100mg/dia, sinvastatina 40mg e glucoformina 850mg 12/12h. Não faz dieta
hipossódica ou de restrição hídrica.
PERGUNTAS
Em toda a condução do racional deste caso clínico utiliza-se como base a II Diretriz
Brasileira de Insuficiência Cardíaca Aguda (SBC-DEIC) 2009, e o Sumário de
atualização 2012.1
Considerando algumas limitações para utilização desses critérios, destaca-se a ICA por
fadiga ou baixo débito por excesso de diuréticos, que não está contemplada, pois o foco
se situa na detecção de congestão pulmonar ou sistêmica, presentes em cerca de 80%
dos pacientes com ICA. Outros aspectos são em relação à baixa sensibilidade dos
sinais e sintomas sugestivos de congestão, quando analisados de forma isolada.
Quadro 1
Critérios de Framingham para o diagnóstico da ICA
Será considerado positivo na presença de dois critérios maiores ou de um maior e dois
menores; e na ausência de outras condições clínicas que possam justificar os critérios
apresentados.
ICA nova é aquela em que o paciente não apresenta quadro de IC antes do evento de
descompensação, como por exemplo, ICA por infarto agudo do miocárdio ou por crise
hipertensiva. Na ICA crônica agudizada, o paciente apresenta quadro prévio controlado
ou progressivo de IC, como cardiomiopatia dilatada com congestão progressiva. A
diferenciação desses dois modelos de ICA terá impacto no tratamento e avaliação
etiopatogênica, pois estes apresentam padrões de congestão e prevalências distintas de
fatores causais (Figura 2)
Figura 2
Modelos e congestão da ICA
Figura 3
Modelo de congestão da ICA nova
Na ICA crônica agudizada, a instalação do quadro congestivo é progressiva com
consequente aumento da volemia pulmonar e sistêmica, além da ativação do sistema
neuro-humoral. Nessa condição clínica, o foco terapêutico é a redução da volemia
através do uso de diuréticos, além de aumento do desempenho ventricular por
vasodilatadores e inotrópicos (Figura 4).
Figura 4
Modelo de congestão da ICA crônica agudizada
Na ICA nova, são mais prevalentes: a crise hipertensiva, a insuficiência mitral aguda e
o infarto agudo do miocárdio. Na IC crônica agudizada, as doenças de maior
prevalência são: as cardiomiopatias dilatadas isquêmica e hipertensiva, a estenose
aórtica e a insuficiência mitral. Por vezes, simples observações ao exame clínico como
presença de pulso carotídeo de amplitude reduzida em paciente com pressão arterial
normal, sugere a presença de estenose aórtica como provável determinante ou
coadjuvante da ICA. Outras doenças como miocardite aguda, Takotsubo,
taquicardiomiopatia por fibrilação atrial com alta resposta ventricular, ou cor
pulmonale agudo têm sido observados com maior frequência.
Cerca de 2/3 das ICA apresentam algum fator que tenha ocasionado a descompensação
da IC. Esse fator poderá ou não ter relação com o fator causal e deve ser identificado
para ser corrigido, pois a sua persistência pode determinar uma perpetuação do quadro
de ICA descompensada e reduzir a resposta à terapêutica.
Quadro 2
Fatores descompensadores da ICA.
Quadro 3
Alvos terapêuticos na fase inicial da admissão hospitalar
Portanto a análise sistemática dos pacientes admitidos com ICA através do fluxograma
de avaliação diagnóstico-terapêutica permite estabelecer um racional terapêutico e
prognóstico mais eficaz.
7. Com relação ao caso clínico pode-se aplicar esta análise ao paciente?
Insuficiência cardíaca: sim ou não?
O racional terapêutico da ICA tem como base a análise de quatro fatores: a) se a ICA é
nova ou crônica agudizada ou se o paciente apresenta fadiga, pois essa avaliação dá a
ideia da condição volêmica; b) qual é o provável fator causal desencadeante envolvido;
c) qual é a PAS admissional; d) qual é o modelo clínico-hemodinâmico.
Nos pacientes que estão em uso prévio de betabloqueador (BB), deve-se manter a sua
administração com a mesma posologia que vinha usando. A manutenção ou introdução
do BB na admissão hospitalar dos pacientes com ICA é segura, não está associada à
piora hemodinâmica, e quando comparada com os pacientes nos quais o BB foi
suspenso ou não introduzido, demonstraram importante beneficio na redução da
mortalidade intra e extra-hospitalar e a redução da taxa de reinternação em 90 dias26-28.
Os pacientes também devem fazer uso de heparina de baixo peso molecular (HBPM) na
posologia de 0,5mg/kg a cada 24 horas, para profilaxia de eventos trombóticos. No
caso de pacientes de alto risco de eventos tromboembólicos (fibrilação atrial, próteses
valvulares mecânicas, trombos intracardíacos) realiza-se a anticoagulação plena com
HBPM ou heparina não fracionada (HNF). Em pacientes com disfunção renal
(clearance de creatinina <30ml/min) evitar o uso de HBPM; é recomendável a
utilização preferencial de HNF30,31.
─ Todos os pacientes com ICA crônica agudizada devem estar em uso de furosemida.
Os pacientes com ICA nova poderão ou não estar em uso de diuréticos na alta
hospitalar. A posologia da furosemida será reduzida após as doses iniciais, pois já
ocorrerá a ação moduladora neuro-humoral dos BB e IECA ou BRA e espironolactona,
além da dieta hipossódica. A manutenção de altas doses de diuréticos na alta hospitalar
é um fator independente de maior mortalidade e eventos mórbidos.
─ Aumentar a dose dos betabloqueadores a cada três a cinco dias, para posteriormente,
em ambiente ambulatorial, alcançar a dose máxima tolerada.
─ Anticoagulação com uso de cumarínicos nos pacientes com fibrilação atrial, trombo
intracavitário, doença tireoidiana, ou com condições mórbidas associadas que
aumentem o risco de eventos trombóticos.
─ Nos pacientes com anemia, iniciar reposição de ferro na presença de redução dos
níveis de ferritina e transferrina, ou eritropoietina na presença de disfunção renal
crônica.
Orientação nutricional:
Os pacientes e seus familiares devem ser educados através de material didático e por
uma enfermeira especialista em IC, sobre: o que é IC e seus aspectos fisiológicos;
reconhecimento de sinais e sintomas de descompensação; orientação para o
acompanhamento de variações do peso corporal, pressão arterial e frequência cardíaca;
orientações quanto à mudança de hábitos de vida; quanto à atividade sexual e utilização
de inibidores da fosforodiesterase-5; recomendações sobre atividade física e
encaminhamento para programa de reabilitação cardiovascular; orientação quanto à
administração dos fármacos e possíveis interações fármaco-alimentares; e orientação
sobre programas de antitabagismo.
Essas medidas educacionais têm como objetivo uma melhor adesão dos pacientes e
seus familiares às medidas nutricionais e terapêuticas e à conscientização do paciente
da importância do reconhecimento precoce da descompensação da IC. Tem-se
demonstrado uma redução de até 40% em um ano na taxa de reinternação hospitalar nos
pacientes submetidos a programas de educação e orientação por clínicas especializadas
em IC38,39.
Referências
1. Montera MW, Almeida DR, Tinoco EM, Rocha RM, Moura LA, Réa-Neto A,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. II Diretriz Brasileira de
Insuficiência Cardíaca Aguda. Arq Bras Cardiol. 2009;93(3 supl. 3):2-65.
2. Ho KK, Anderson KM, Kannel WB, Grossman W, Levy D. Survival after the
onset of congestive heart failure in Framingham Heart Study subjects.
Circulation. 1993;88(1):107-15.
3. McKee PA, Castelli WP, McNamara PM, Kannel WB. The natural history of
congestive heart failure: the Framingham Study. N Engl J Med.
1971;285(26):1441-6.
4. Fonseca C, Oliveira AG, Mota T, Matias F, Morais H, Costa C, et al; EPICA
Investigators. Evaluation of the performance and concordance of clinical
questionnaires for the diagnosis of heart failure in primary care. Eur J Heart
Fail. 2004;6(6):813-20, 821-2.
5. Maisel AS, Krishnaswamy P, Nowak RM, McCord J, Hollander JE, Duc P, et
al; Breathing Not Properly Multinational Study Investigators. Rapid
measurement of B-type natriuretic peptide in the emergency diagnosis of heart
failure. N Engl J Med. 2002;347(3):161-7.
6. Kirkpatrick JN, Vannan MA, Narula J, Lang RM. Echocardiography in heart
failure: applications, utility, and new horizons. J Am Coll Cardiol.
2007;50(5):381-96.
7. Yancy C, Abraham WT. Noninvasive hemodynamic monitoring in heart
failure: utilization of impedance cardiography. Congest Heart Fail.
2003;9(5):241-50. Erratum in: Congest Heart Fail. 2004;10(3):139.
8. Nieminen MS, Harjola VP. Definition and epidemiology of acute heart failure
syndromes. Am J Cardiol. 2005;96(6A):5G-10G.
9. Gheorghiade M, De Luca L, Fonarow GC, Filippatos G, Metra M, Francis
GS. Pathophysiologic targets in the early phase of acute heart failure
syndromes. Am J Cardiol. 2005;96(6A):11G-17G.
10. Cotter G, Metra M, Milo-Cotter O, Dittrich HC, Gheorghiade M. Fluid
overload in acute heart failure: re-distribution and other mechanisms beyond
fluid accumulation. Eur J Heart Fail. 2008;10(2):165-9.
11. Shah MR, Hasselblad V, Stinnett SS, Gheorghiade M, Swedberg K, Califf
RM, et al. Hemodynamic profiles of advanced heart failure: association with
clinical characteristics and long-term outcomes. J Card Fail. 2001;7(2):105-
13.
12. Montera MW, Pereira S, Osugi R, Pereira Y, Diniz M, Silva AL, et al.
Hemodynamic assessment of impedance cardiography compared with clinical
evaluation and B type natriuretic peptide (BNP) in patients with acute heart
failure. [Poster presentation]. Proceedings of the 59th Annual Scientific
Sessions of the American College of Cardiology; 2010 Mar 14-16; Atlanta,
Georgia, USA. J Am Coll Cardiol. 2010;55;A106.E986.
13. Adams KF Jr, Fonarow GC, Emerman CL, LeJemtel TH, Costanzo MR,
Abraham WT, et al; ADHERE Scientific Advisory Committee and
Investigators. Characteristics and outcomes of patients hospitalized for heart
failure in the United States: rationale, design, and preliminary observations
from the first 100,000 cases in the Acute Decompensated Heart Failure
National Registry (ADHERE). Am Heart J. 2005;149(2):209-16.
14. Tang WH, Francis GS, Morrow DA, Newby LK, Cannon CP, Jesse RL, et al;
National Academy of Clinical Biochemistry Laboratory Medicine. National
Academy of Clinical Biochemistry Laboratory Medicine practice guidelines:
Clinical utilization of cardiac biomarker testing in heart failure. Circulation
2007; 116(5):e99-109.
15. van Kimmenade RR, Januzzi JL Jr, Baggish AL, Lainchbury JG, Bayes-Genis
A, Richards AM, et al. Amino-terminal pro-brain natriuretic Peptide, renal
function, and outcomes in acute heart failure: redefining the cardiorenal
interaction? J Am Coll Cardiol. 2006;48(8):1621-7.
16. La Vecchia L, Mezzena G, Zanolla L, Paccanaro M, Varotto L, Bonanno C, et
al. Cardiac troponin I as diagnostic and prognostic marker in severe heart
failure. J Heart Lung Transplant. 2000;19(7):644-52.
17. Michael Felker G. Diuretic management in heart failure. Congest Heart Fail.
2010;16(Suppl 1):S68-72.
18. Opie LH, Kaplan NM. Diuretics. In: Opie LH, Gersh BJ, eds. Drugs for the
heart. 5th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier; 2001. p.88-106.
19. Vargo DL, Kramer WG, Black PK, Smith WB, Serpas T, Brater DC.
Bioavailability, pharmacokinetics, and pharmacodynamics of torsemide and
furosemide in patients with congestive heart failure. Clin Pharmacol Ther.
1995;57(6):601-9.
20. Krämer BK, Schweda F, Rieger GA. Diuretic treatment and diuretic
resistance in heart failure. Am J Med. 1999;106(1):90-6.
21. Thomson MR, Nappi JM, Dunn SP, Hollis IB, Rodgers JE, Van Bakel AB.
Continuous versus intermittent infusion of furosemide in acute decompensated
heart failure. J Card Fail. 2010;16(3):188-93.
22. Salvador DR, Rey NR, Ramos GC, Punzalan FE. Continuous infusion versus
bolus injection of loop diuretics in congestive heart failure. Cochrane
Database Syst Rev. 2005;(3):CD003178.
23. Cotter G, Metzkor E, Kaluski E, Faigenberg Z, Miller R, Simovitz A, et al.
Randomised trial of high-dose isosorbide dinitrate plus low-dose furosemide
versus high-dose furosemide plus low-dose isosorbide dinitrate in severe
pulmonary oedema. Lancet. 1998;351(9100):389-93.
24. Levy P, Compton S, Welch R, Delgado G, Jennett A, Penugonda N, et al.
Treatment of severe decompensated heart failure with high-dose intravenous
nitroglycerin: a feasibility and outcome analysis. Ann Emerg Med.
2007;50(2):144-52.
25. Mullens W, Abrahams Z, Francis GS, Skouri HN, Starling RC, Young JB, et
al. Sodium nitroprusside for advanced low-output heart failure. J Am Coll
Cardiol. 2008;52(3);200-7.
26. Orso F, Baldasseroni S, Fabbri G, Gonzini L, Lucci D, D’Ambrosi C, et al;
Italian Survey on Acute Heart Failure Investigators. Role of beta-blockers in
patients admitted for worsening heart failure in a real world setting: data
from the Italian Survey on Acute Heart Failure. Eur J Heart Fail.
2009;11(1):77-84.
27. Gattis WA, O’Connor CM, Gallup DS, Hasselblad V, Gheorghiade M;
IMPACT-HF Investigators and Coordinators. Predischarge initiation of
carvedilol in patients hospitalized for decompensated heart failure: results of
the Initiation Management Predischarge: Process for Assessment of
Carvedilol Therapy in Heart Failure (IMPACT-HF) trial. J Am Coll Cardiol.
2004;43(9):1534-41.
28. Fonarow GC, Abraham WT, Albert NM, Stough WG, Gheorghiade M,
Greenberg BH, et al; OPTIMIZE-HF Investigators and Coordinators.
Influence of beta-blocker continuation or withdrawal on outcomes in patients
hospitalized with heart failure: findings from the OPTIMIZE-HF program. J
Am Coll Cardiol. 2008;52(3):190-9.
29. Flather MD, Yusuf S, Køber L, Pfeffer M, Hall A, Murray G, et al. Long-term
ACE-inhibitor therapy in patients with heart failure or left-ventricular
dysfunction: a systematic overview of data from individual patients. ACE-
Inhibitor Myocardial Infarction Collaborative Group. Lancet.
2000;355(9215):1575-81.
30. Jois-Bilowich P, Michota F, Bartholomew JR, Glauser J, Diercks D, Weber J,
et al; Adhere Scientific Advisory Committee and Investigators. Venous
thromboembolism prophylaxis in hospitalized heart failure patients. J Card
Fail. 2008;14(2):127-32.
31. Turpie AG. Thrombosis prophylaxis in the acutely ill medical patient:
insights from the prophylaxis in MEDical patients with ENOXaparin
(MEDENOX) trial. Am J Cardiol. 2000;86(12B):48M-52M.
32. Ronco C, McCullough P ,Anker SD, Anand I, Aspromonte N, Bagshaw SM,
et al; Acute Dialysis Quality Initiative (ADQI) Consensus Group. Cardio-
renal syndromes: report from the consensus conference of the acute dialysis
quality initiative. Eur Heart J. 2010:31(6):703-11.
33. Schrier RW. Role of diminished renal function in cardiovascular mortality:
marker or pathogenetic factor? J Am Coll Cardiol. 2006;47(1):1-8.
34. Schrier RW. Blood urea nitrogen and serum creatinine: not married in heart
failure. Circ Heart Fail. 2008;1(1):2-5.
35. Mullens W, Abrahams Z, Skouri HN, Francis GS, Taylor DO, Starling RC, et
al. Elevated intra-abdominal pressure in acute decompensated heart failure: a
potential contributor to worsening renal function? J Am Coll Cardiol.
2008;51(3):300-6.
36. Damman K, van Deursen VM, Navis G, Voors AV, van Valdhuisen DJ, Hillege
HL. Incresead central venous is associated with impaired renal function and
mortality in a broad spectrum of patients with cardiovascular disease. J Am
Coll Cardiol. 2009;53(7):582-8.
37. Caldwell MA, Howie JN, Dracup K. BNP as discharge criteria for heart
failure. J Card Fail. 2003;9(5):416-22.
38. Hanumanthu S, Butler J, Chomsky D, Davis S, Wilson JR. Effect of a heart
failure program on hospitalization frequency and exercise tolerance.
Circulation. 1997;96(9):2842-8.
39. Rich MW, Beckham V, Wittenberg C, Leven CL, Freedland KE, Carney RM.
A multidisciplinary intervention to prevent the readmission of elderly patients
with congestive heart failure. N Engl J Med. 1995;333(18):1190-5.
MANUSEIO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
AGUDA AVANÇADA
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 44 anos, 80kg, 1,79m, hipertenso, tabagista, com história familiar
positiva para doença coronariana, sofreu IAM de parede anterior extenso com
supradesnivelamento do segmento ST em toda a parede anterior e lateral. após
atividade física recreacional intensa. Quinze horas após o início da dor foi levado ao
laboratório de hemodinâmica, e a cinecoronariografia evidenciou oclusão proximal da
artéria descendente anterior (DA). Demais artérias coronárias livres de lesões
obstrutivas. Grave disfunção ventricular esquerda. Procedeu-se, então, à angioplastia
coronariana com implante de O paciente então foi considerado para assistência
circulatória com suporte mecânico avançado.stent convencional em DA proximal, mas
houve embolização distal com fluxo final TIMI II. Evoluiu com piora hemodinâmica
progressiva, apresentando hipotensão arterial, confusão mental, oligúria e taquicardia
sinusal, além de edema agudo de pulmão. O exame físico apresentava galope de soma
com crepitações bolhosas até o ápice do pulmão e acidose metabólica refratária a dois
inotrópicos e dois vasopressores em doses supramáximas e ao balão intra-aórtico.
Rabdomiólise e insuficiência renal.
OBJETIVOS
1. Discutir as novas ferramentas para tratamento do choque cardiogênico agudo
refratário pós-IAM.
2. Avaliar a importância do tempo para a indicação do suporte mecânico
avançado e analisar como a seleção dos pacientes pode afetar o prognóstico.
3. Analisar medidas farmacológicas e não farmacológicas de cuidados intra-
hospitalar de pacientes em suporte mecânico avançado.
4. Descrever o racional de condutas após a assistência mecânica inicial.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso descrito?
Quadro 1
Parâmetros hemodinâmicos para indicação da assistência circulatória mecânica
Frente a esse quadro, devem ser tomadas atitudes rápidas e decisivas, no sentido de se
evitar o ciclo vicioso com consequente perpetuação do choque cardiogênico e morte.
Pacientes jovens que ainda não desenvolveram circulação colateral coronariana, que
sofrem IAM num contexto prévio de insuficiência cardíaca, que possuem
comprometimento maior que 30-40% da musculatura do ventrículo esquerdo estão em
maior risco de desenvolverem choque cardiogênico pós-IAM.
5. Qual é o prognóstico?
Figura 1
Fluxograma de suporte circulatório no choque cardiogênico agudo.
Fonte: adaptado de INTERMACS 1 e 26
10. Quais as contraindicações para assistência mecânica circulatória no choque
cardiogênico pós-IAM?
Referências
1. Hochman JS, Sleeper LA, Godfrey E, McKinlay SM, Sanborn T, Col J, et al.
SHould we emergently revascularize Occluded Coronaries for cardiogenic
shocK: an international randomized trial of emergency PTCA/CABG-trial
design. The SHOCK Trial Study Group. Am Heart J. 1999;137(2):313-21.
2. Tayara W, Starling RC, Yamani MH, Wazni O, Jubran F, Smedira N.
Improved survival after acute myocardial infarction complicated by
cardiogenic shock with circulatory support and transplantation: comparing
aggressive intervention with conservative treatment. J Heart Lung Transplant.
2006;25(5):504-9.
3. Morgan JA, John RJ, Rao V, Weinberg AD, Lee BJ, Mazzeo PA, et al.
Bridging to transplant with the HeartMate left ventricular assist device: The
Columbia Presbyterian 12-year experience. J Thorac Cardiovasc Surg.
2004;127(5):1309-16.
4. Pagani FD, Lynch W, Swaniker F, Dyke DB, Bartlett R, Koelling T, et al.
Extracorporeal life support to left ventricular assist device bridge to heart
transplant: A strategy to optimize survival and resource utilization.
Circulation. 1999;100(19 Suppl):II206-10.
5. Smedira NG, Moazami N, Golding CM, McCarthy PM, Apperson-Hansen C,
Blackstone EH, et al. Clinical experience with 202 adults receiving
extracorporeal membrane oxygenation for cardiac failure: survival at five
years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2001;122(1):92-102.
6. Stevenson LW, Pagani FD, Young JB, Jessup M, Miller L, Kormos RL, et al.
INTERMACS profiles of advanced heart failure: the current picture. J Heart
Lung Transplant. 2009;28(6):535-41.
INSUFICÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA
DESCOMPENSADA
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 68 anos, negra, com hipertensão arterial, dislipidemia, ex-tabagista,
sedentária e doença arterial coronariana conhecida (IAM de parede anterior aos 53
anos sem terapia de reperfusão), mantém acompanhamento regular na Clínica de
Insuficiência Cardíaca de Hospital Universitário a cada três meses. Nega etilismo ou
outras causas secundárias de IC e foi classificada como cardiopatia dilatada de
etiologia isquêmica.
Medicamentos em uso: carvedilol 25mg x2; enalapril 20mg x2; espironolactona 25mg
x1; furosemida 40mg x2; AAS 100mg x1.
Exames complementares:
Figura 1
RX da paciente relatada à admissão
c) Exames laboratoriais
Quadro 1
Exames laboratoriais
d) Ecocardiograma transtorácico (quatro meses antes da consulta)
Disfunção sistólica grave de VE (Fração de ejeção do VE: 30%), acinesia anterior dos
segmentos médio e apical, aumento de cavidades esquerdas, disfunção diastólica grau
III (padrão restritivo reversível). Veia cava inferior medindo 2,2cm sem variação
respiratória.
OBJETIVOS
1. Discutir a história natural da insuficiência cardíaca (IC), marcada por
diversos episódios de descompensação.
2. Identificar os pacientes de alto risco para as descompensações da IC.
3. Analisar os principais fatores que contribuem para as descompensações da
IC.
4. Reconhecer o papel dos serviços especializados em IC como Clínicas de IC,
para a educação do paciente e participação de equipe multidisciplinar para
maximizar os benefícios do tratamento.
PERGUNTAS
1. Como classificar o risco da paciente relatada com essas características clínicas?
Que variáveis clínicas e exames complementares podem ser utilizados para
estratificar o risco de eventos e a sobrevida de paciente com insuficiência cardíaca
crônica?
Quadro 2
Marcadores prognósticos na IC crônica1
*Marcadores prognósticos com maior nível de evidências científicas
DPOC=doença pulmonar obstrutiva crônica; IMC=índice de massa corpórea; VD= ventrículo direito; NYHA=New
York Heart Association; ICD=IC descompensada
Dois modelos têm sido mais frequentemente utilizados para cálculo de previsão de
sobrevida em pacientes com IC crônica: o Seattle Heart Failure Model1,6 e o Heart
Failure Survival Score (HFSS)7.
O HFSS é definido pela seguinte equação e deve ser assim interpretado (Quadro 3):
Quadro 3
Equação do Heart Failure Survival Score (HFSS) para o cálculo da previsão de sobrevida de pacientes com IC
crônica
A função renal não foi preditor de risco nesse modelo que avaliou apenas uma coorte
ambulatorial de pacientes portadores de IC crônica. Não pode ser generalizado para
pacientes hospitalizados ou portadores de comorbidades como IRC, cirrose, câncer,
demência, etc1,6,7.
O modelo deve ser recalculado para um mesmo paciente a cada ajuste terapêutico ou
intervenção1,6,7. Diversas ferramentas gratuitas já disponibilizaram esse modelo através
de calculadoras, não só através dos websites mas também de maneira móvel através de
aplicativos para smartphones e tablets, bastando procurar na loja de aplicativos por
Seattle HF.
Figura 3
Fluxograma de abordagem terapêutica para pacientes com sintomas de descompensação da IC crônica13
Figura 4
Fluxograma para abordagem de paciente admitido por IC descompensada e dispneia13
Na paciente do quadro clínico apresentado não havia sinais de baixo débito cardíaco;
os níveis de pressão sistólica estavam entre 85-140mmHg (124mmHg), com uma SaO2
inicial de 93%. Assim, conforme o fluxograma, devem ser instituídos diureticoterapia e
vasodilatadores. Como a paciente não será admitida e seus níveis tensionais não se
encontram elevados, pode-se investir numa terapia exclusiva com diurético intravenoso
e suporte adicional transitório de O2. Iniciar vasodilatador intravenoso para esta
paciente não seria interessante pois existe uma programação de liberação após um
período de seis horas.
Quadro 4
Exames laboratoriais evolutivos (após 48 horas)
Em relação à dose, pode-se usar como regra prática a conversão da dose total de
diuréticos, rotineiramente utilizada pelo paciente por via oral, em dose venosa. Por
exemplo: se o paciente usava previamente 80mg ao dia de furosemida oral (2
comprimidos) ao converter para dose venosa 80mg/dia de furosemida como 4
ampolas/dia (1 ampola a cada 6 horas - cada ampola com 20mg)1,13.
Em casos como o apresentado, em que a dose prévia de diurético foi alta e o intervalo
de observação curto (6 horas), pode-se iniciar com doses mais altas em bolus (2
ampolas / 40mg) e repetir após duas ou três horas a partir da resposta observada.
A associação de diferentes classes de diuréticos parece ser uma opção efetiva para
diureticoterapia em pacientes resistentes. O túbulo contornado distal também tem
função reabsortiva; associar diurético tiazídico ao esquema terapêutico pode
potencializar o efeito diurético, assim como a associação de outro diurético de alça
como a bumetanida1,13,17-19.
5. Que tipo de síndrome cardiorrenal esta paciente possui? De que forma isso
altera a história natural / gravidade do quadro clínico? Que ajuste terapêutico
deve-se fazer neste caso?
Para o tratamento da SCR pode ser necessário o uso de drogas inotrópicas, diuréticos
endovenosos, combinação de diuréticos, ultrafiltração13 e, nos raros casos em que a
apresentação é o modelo hemodinâmico “frio-seco”, até mesmo hidratação venosa.
Em nova revisão programada após uma semana, foi confirmada a melhora clínica. FC
=84bpm; PA =126x70mmHg; FR =18ipm; SaO2 =95%. Seu peso diminuiu para 66,7kg
(próximo ao seu peso basal de 65kg). Houve melhora dos níveis de sódio, potássio e
escórias nitrogenadas conforme Quadro 5.
Quadro 5
Evolução dos exames laboratoriais (após sete dias)
Quadro 6
Recomendações das Diretrizes de Insuficiência Cardíaca Crônica da SBC1
No caso clínico de referência temos uma paciente portadora de IC sistólica, com fração
de ejeção de 30%, frequência cardíaca >80bpm, pressão arterial sistólica >120mmHg,
em uso de terapêutica otimizada que se apresenta descompensada em classe funcional
IIIb NYHA e modelo hemodinâmico “quente e úmido”.
Uma revisão em duas semanas (no máximo) deverá ser programada para a avaliação da
PA e FC e, a partir daí, titular ambas as drogas.
Assim, após esse período, inicia-se o “desmame” do diurético – uma vez constatada a
manutenção da perda de peso e da redução do edema. Pode-se iniciar essa estratégia
com a retirada dos diuréticos associados para a descompensação (bumetanida e
tiazídico) e só posteriormente reduzir a dose da furosemida, em nova visita após 30
dias.
Referências
1. Bocchi EA, Braga FG, Ferreira SM, Rohde LE, Oliveira WA, Almeida DR,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz Brasileira de
Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol. 2009;93(1 supl. 1):3-70.
2. Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC); Grupo de Estudos de
Insuficiência Cardíaca (GEIC); Guimarães JI. Mesquita ET, Bocchi EA,
Vilas-Boas F, Montera MW, Moreira MCV, et al. Revisão da II Diretrizes
Brasileiras da Sociedade Brasileira de Cardiologia para o Diagnóstico e
tratamento da Insuficiência Cardíaca. Arq Bras Cardiol. 2002;79(supl. 4):S1-
30.
3. Aaronson KD, Schwartz JS, Chen TM, Wong KL, Goin JE, Mancini DM.
Development and prospective validation of a clinical Index to predict
survival in ambulatory patients referred for cardiac transplant evaluation.
Circulation. 1997;95(12):2660-7.
4. Butler J, Khadim G, Paul KM, Davis SF, Kronenberg MW, Chomsky DB, et
al. Selection of patients for heart transplantation in the current era of heart
failure therapy. J Am Coll Cardiol. 2004;43(5):787-93.
5. Bocchi EA, Cruz F, Guimarães G, Pinho Moreira LF, Issa VS, Ayub Ferreira
SM, et al. Long-term prospective randomized controlled study using
repetitive education at six-month intervals and monitoring for adherence in
heart failure outpatients: the REMADHE trial. Circ Heart Fail.
2008;1(2):115-24.
6. Levy WC, Mozaffarian D, Linker DT, Sutradhar SC, Anker SD, Cropp AB, et
al. The Seattle Heart Failure Model: prediction of survival in heart failure.
Circulation. 2006;113(11):1424-33.
7. Goda A, Williams P, Mancini D, Lund LH. Selecting patients for heart
transplantation: comparison of the Heart Failure Survival Score (HFSS) and
the Seattle Heart Failure Model (SHFM). J Heart Lung Transplant.
2011;30(11):1236-43.
8. Bocchi EA. [Heart failure clinics: the Brazilian experience]. Rev Port
Cardiol. 2004;23(supl. 3):III47-55.
9. Silva CP, Bacal F, Pires PV, Mangini S, Issa VS, Moreira SF, et al. Heart
failure treatment profile at the beta blockers era. Arq Bras Cardiol.
2007;88(4):475-9.
10. McAlister FA, Lawson FM, Teo KK, Armstrong PW. A systematic review of
randomized trials of disease management programs in heart failure. Am J
Med. 2001;110(5):378-84.
11. Grancelli H, Varini S, Ferrante D, Schwartzman R, Zambrano C, Soifer S, et
al; GESICA Investigators. Randomized trial of Telephone Intervention in
Chronic Heart Failure (DIAL): study design and preliminary observations. J
Card Fail. 2003;9(3):172-9.
12. Roccaforte R, Demers C, Baldassarre F, Teo KK, Yusuf S. Effectiveness of
comprehensive disease management programmes in improving clinical
outcomes in heart failure patients. A meta-analysis. Eur J Heart Fail.
2005;7(7):1133-44. Erratum in: Eur J Heart Fail. 2006;8(2):223-4.
13. Montera MW, Almeida DR, Tinoco EM, Rocha RM, Moura LA, Réa-Neto A,
et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. II Diretriz Brasileira de
Insuficiência Cardíaca Aguda. Arq Bras Cardiol. 2009;93(3 supl. 3):1-65.
14. Oster JR, Epstein M, Smoller S. Combined therapy with thiazide-type and
loop diuretic agents for resistant sodium retention. Ann Intern Med.
1983;99(3):405-6.
15. Gottlieb SS, Abraham W, Butler J, Forman DE, Loh E, Massie BM, et al. The
prognostic importance of different definitions of worsening renal function in
congestive heart failure. J Card Fail. 2002;8(3):136-41.
16. Felker GM, Lee KL, Bull DA, Redfield MM, Stevenson LW, Goldsmith SR,
et al; NHLBI Heart Failure Clinical Research Network. Diuretic strategies in
patients with acute decompensated heart failure. N Engl J Med.
2011;364(9):797-805.
17. Channer KS, McLean KA, Lawson-Matthew P, Richardson M. Combination
diuretic treatment in severe heart failure: a randomised controlled trial. Br
Heart J. 1994;71(2):146-50.
18. Dormans TP, Gerlag PG. Combination of high-dose furosemide and
hydrochlorothiazide in the treatment of refractory congestive heart failure.
Eur Heart J. 1996;17(12):1867-74.
19. Dormans TP, Gerlag PG, Russel FG, Smits P. Combination diuretic therapy in
severe congestive heart failure. Drugs. 1998;55(2):165-72.
20. Cotter G, Felker GM, Adams KF, Milo-Cotter O, O’Connor CM. The
pathophysiology of acute heart failure--is it all about fluid accumulation? Am
Heart J. 2008;155(1):9-18.
21. Schrier RW. Role of diminished renal function in cardiovascular mortality:
marker or pathogenetic factor? J Am Coll Cardiol. 2006;47(1):1-8.
22. Nohria A, Hasselblad V, Stebbins A, Pauly DF, Fonarow GC, Shah M, et al.
Cardiorenal interactions: insights from the ESCAPE trial. J Am Coll Cardiol.
2008;51(13):1268-74.
23. Wencker D. Acute cardio-renal syndrome: progression from congestive heart
failure to congestive kidney failure. Curr Heart Fail Rep. 2007;4(3):134-8.
24. Schrier RW. Blood urea nitrogen and serum creatinine: not married in heart
failure. Circ Heart Fail. 2008;1(1):2-5.
25. Ronco C, Haapio M, House AA, Anavekar N, Bellomo R. Cardiorenal
syndrome. J Am Coll Cardiol. 2008;52(19):1527-39.
26. Ronco C, McCullough P, Anker SD, Anand I, Aspromonte N, Bagshaw SM, et
al; Acute Dialysis Quality Initiative (ADQI) Consensus Group. Cardio-renal
syndromes: report from the consensus conference of the acute dialysis quality
initiative. Eur Heart J. 2010;31(6):703-11.
27. O’Meara E, Murphy C, McMurray JJ. Anemia and heart failure. Curr Heart
Fail Rep. 2004;1(4):176-82.
28. The Digitalis Investigation Group. The effect of digoxin on mortality and
morbidity in patients with heart failure. The Digitalis Investigation Group. N
Engl J Med.1997;336(8):525-33.
29. Uretsky BF, Young JB, Shahidi FE, Yellen LG, Harrison MC, Jolly MK.
Randomized study assessing the effect of digoxin withdrawal in patients with
mild to moderate chronic congestive heart failure: results of the PROVED
trial. PROVED Investigative Group. J Am Coll Cardiol. 1993;22(4):955-62.
30. Packer M, Gheorghiade M, Young JB, Costantini PJ, Adams KF, Cody RJ, et
al. Withdrawal of digoxin from patients with chronic heart failure treated
with angiotensin-converting-enzyme inhibitors. RADIANCE Study. N Engl J
Med. 1993;329(1):1-7.
31. Swedberg K, Komajda M, Böhm M, Borer JS, Ford I, Tavazzi L. Rationale
and design of a randomized, double-blind, placebo-controlled outcome trial
of ivabradine in chronic heart failure: the Systolic Heart Failure Treatment
with the I(f) Inhibitor Ivabradine Trial (SHIFT). Eur J Heart Fail.
2010;12(1):75-81.
32. Swedberg K, Komajda M, Böhm M, Borer JS, Ford I, Dubost-Brama A, et
al. SHIFT Investigators. Ivabradine and outcomes in chronic heart failure
(SHIFT): a randomised placebo-controlled study. Lancet.
2010;376(9744):875-85.
33. Cohn JN, Archibald DG, Ziesche S, Franciosa JA, Harston WE, Tristani FE,
et al. Effect of vasodilator therapy on mortality in chronic congestive heart
failure. Results of a Veterans Administration Cooperative Study. N Engl J
Med.1986;314(24):1547-52.
34. Cohn JN, Johnson G, Ziesche S, Cobb F, Francis G, Tristani F, et al. A
comparison of enalapril with hydralazine-isosorbide dinitrate in the treatment
of chronic congestive heart failure. N Engl J Med. 1991;325(5):303-10.
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA
AVANÇADA
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 60 anos, branca, natural da cidade do Rio de Janeiro, ex-tabagista,
com história prévia de infarto agudo do miocárdio (IAM) há três anos, com
acompanhamento e tratamento médicos regulares, refere queixas de cansaço
progressivo aos esforços que atualmente ocorre aos pequenos esforços, apesar de
diversas tentativas de tratamento médico. Nega dor torácica e outras queixas.
Estratificação recente excluiu isquemia e necessidade de revascularização miocárdica
atual. Faz uso de todas as medicações descritas abaixo com aderência satisfatória ao
tratamento. Relata tosse seca prévia, que desapareceu após troca de medicação e nega
alergias medicamentosas. Encaminhada para avaliação de médico cardiologista da
clínica de insuficiência cardíaca.
OBJETIVOS
1. Analisar os aspectos clínicos e epidemiológicos da IC crônica avançada.
2. Discutir as principais opções terapêuticas no manejo desses pacientes.
3. Avaliar as consequências terapêuticas no prognóstico desses pacientes e as
evidências que corroboram esses achados.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa dos sintomas?
O caso clínico reflete um tipo de paciente cada vez mais comum na prática clínica:
pacientes com cardiopatia grave, com sobrevida cada vez mais aumentada frente aos
avanços no tratamento nas últimas décadas. Neste caso em particular, trata-se de uma
paciente com cardiopatia isquêmica, que deve ter evoluído de maneira desfavorável,
com cardiomiopatia dilatada e insuficiência cardíaca (IC). Os sintomas descritos no
caso são típicos de sintomas de IC e sugerem uma evolução da doença, apesar do
tratamento clínico, com progressão de sintomas: a paciente apresenta cansaço cada vez
mais intenso com esforços cada vez menores. Essa evolução não ocorreu de forma
aguda, ela está lentamente piorando seus sintomas e sua capacidade funcional; também
fica evidente que não existem sintomas álgicos associados, incluindo dor torácica, o
que reforça a ideia de evolução da insuficiência cardíaca e não uma agudização por
uma alteração aguda, como isquemia ou infecção, embora essas causas devam ser
pesquisadas.
Uma telerradiografia de tórax deve ser sempre realizada na avaliação inicial desses
pacientes1. Durante a avaliação clínica é importante excluir causas de agudização da
IC, para diferenciar a IC crônica avançada de uma IC crônica agudizada, mas não
necessariamente em fase avançada1,2. Assim, deve-se confirmar se há aderência
adequada ao tratamento farmacológico como também às medidas não farmacológicas,
muitas vezes esquecidas pelo médico não especialista ao tratar esses pacientes. Deve-
se também confirmar em paciente coronariopata se não houve isquemia como causa da
piora clínica e se realmente não há necessidade ou possibilidade de revascularização.
Esta paciente, além do tratamento farmacológico otimizado, apresenta alguns dados que
possibilitam ao mínimo a avaliação de dois tratamentos que alteram de maneira
significativa o prognóstico: a terapia de ressincronização cardíaca (TRC) e o
cardiodesfibrilador implantável (CDI). Ambos podem alterar a mortalidade e a
internação e podem ter benefício adicional quando usados simultaneamente. As duas
modalidades terapêuticas serão abordadas adiante.
5. O que é terapia de ressincronização cardíaca e qual a sua explicação
fisiopatológica?
A função sistólica ventricular melhora com a TRC, com maior coordenação global da
contração, como demonstrado por estudos como o CARE-HF8 e MIRACLE10. No
CARE-HF8, pacientes com fração de ejeção <35% (média de 25%), média de idade 67
anos, NYHA III ou IV, com QRS alargado (média de 160ms) foram avaliados quanto ao
tratamento farmacológico otimizado versus o mesmo tratamento associado à TRC.
Houve melhora da fração de ejeção em pacientes com TRC, com aumento relativo de
3,7% em três meses e 6,9% em 18 meses8. A melhora da função esteve associada a
aumento médio da pressão arterial sistólica de 6mmHg, assim como a quedas dos
níveis de NT-pró-BNP, em média de 225pg/ml em três meses de tratamento, e de
1122pg/ml com 18 meses de tratamento.
No estudo MIRACLE10 houve melhora na fração de ejeção de 3,6% em seis meses nos
pacientes com TRC, enquanto apenas de 0,4% naqueles sem TRC. A contração
ventricular aumenta, mas não há aumento do consumo miocárdico de oxigênio, ou seja,
a eficácia miocárdica aumenta, o que não ocorre, por exemplo, com o uso de
inotrópicos que aumentam a contração com aumento do consumo miocárdico de
oxigênio11,12.
Outros benefícios descritos são o aumento do índice cardíaco, queda da pressão capilar
pulmonar, assim como melhora da função diastólica e da variabilidade da frequência
cardíaca18,19. Os pacientes submetidos à TRC também toleram mais o tratamento
farmacológico mais agressivo, particularmente há maior tolerância ao uso de doses
progressivamente maiores de betabloqueadores, o que por si só afeta o prognóstico
favoravelmente20.
Quanto aos desfechos como mortalidade e internação, a TRC foi avaliada e está
associada a menores taxas de ambos. No CARE-HF8 houve menor mortalidade ou
internação por doença cardiovascular, com 39% nos pacientes com TRC e 55%
naqueles sem TRC, tendo esse benefício aumentado mais com o tempo. Também houve
menor mortalidade por piora da IC (8% x 14% sem TRC) e morte súbita cardíaca (7%
x 9,4% sem TRC) e melhor qualidade de vida e classe funcional da NYHA em 90
dias8,21.
Dados de estudos como MADIT-CRT28 sugerem alguns fatores que aumentam a chance
de o paciente responder ao tratamento: presença de QRS ≥150ms, sexo feminino,
bloqueio de ramo esquerdo, internação prévia por IC, volume diastólico final do
ventrículo esquerdo >125ml/m2 28. Pacientes com indicação definida de TRC não
devem ter a terapia atrasada para a realização de exames de imagem para avaliar
dissincronismo28.
Quadro 1
Indicações para o uso de TRC segundo as Diretrizes brasileiras
Fonte: III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica1
A morte súbita é responsável por cerca de 30% a 50% dos óbitos de pacientes com IC
e aproximadamente 80% delas ocorrem por arritmias ventriculares1. A presença de
fração de ejeção ≤35% está associada a risco aumentado de morte súbita (e quanto
maior o grau de disfunção, maior o risco), assim como a presença de sintomas de IC,
ainda mais em paciente já tratado com fármacos em doses satisfatórias, como no caso
em questão1,29.
O estudo MADIT-I30, embora com apenas 196 pacientes, demonstrou menores taxas de
mortalidade por todas as causas e mortalidade cardiovascular em pacientes com FE
<35% que receberam o CDI30, sendo o benefício maior naqueles com FE <25%,
sintomas de IC e QRS >120ms31. O MADIT-II, com 1232 pacientes com FE< 30%,
comparou CDI versus tratamento farmacológico em pacientes com infarto agudo do
miocárdio ocorrido há mais de um mês (e mais de três meses se submetidos à cirurgia
de revascularização miocárdica), evidenciando mortalidade por todas as causas e
morte súbita menores naqueles com CDI x tratamento farmacológico (14,2% x 9,8% e
3,8% x10%, respectivamente), com benefício maior naqueles com QRS >150ms32.
Outros estudos evidenciaram o benefício não somente das terapias de TRC e CDI
isoladamente, mas o benefício adicional de ambas as terapias no mesmo paciente,
desde que bem selecionado. O estudo COMPANION34 comparou 1520 pacientes com
média de idade de 67 anos, NYHA III ou IV, QRS >120ms, fração de ejeção <35%
(média 21%) e internação por IC no último ano, quanto a tratamento farmacológico
otimizado apenas, o mesmo associado à TRC e o mesmo associado à TRC e CDI34.
Com acompanhamento de um ano houve menor mortalidade e internação hospitalar
naqueles que receberam TRC ou TRC+CDI (12% TRC+CDI; 15% TRC; 19%
tratamento farmacológico), além de melhoras importantes na qualidade de vida, nos
sintomas e na pressão arterial sistólica. Esses benefícios ocorreram apenas em oito
meses de acompanhamento naqueles que só receberam TRC e imediatamente naqueles
que receberam TRC e CDI34. Além disso, houve uma tendência significativa de menor
mortalidade naqueles com TRC e CDI, se comparados aos que receberam só TRC em
pacientes CF III e IV da NYHA35.
O estudo RAFT37, com 1798 pacientes, dos quais 2/3 tinham cardiopatia isquêmica,
avaliou TRC+CDI com CDI isoladamente, encontrando em seguimento médio de 40
meses, menores valores de morte por todas as causas (21% TRC+CDI x 26% CDI),
internação por IC (20% TRC+CDI x 26% CDI) e ambos (35% TRC + CDI x 40%
CDI), reforçando que o tratamento com ambas as estratégias, TRC e CDI juntos, em
pacientes selecionados corretamente é mais benéfico que qualquer um dos dois
isoladamente37.
Em pacientes com classe funcional III da NYHA existem alguns dados conflitantes, uma
vez que no estudo SCD-HeFT38, que avaliou pacientes isquêmicos e não isquêmicos, o
benefício nos pacientes classe III não foi tão evidente38. Já no estudo DEFINITE39 a
análise de subgrupo encontrou um benefício maior nos pacientes classe III da NYHA39
e em análises do MADIT-II32 , em pacientes isquêmicos, o benefício foi semelhante nas
classes II e III da NYHA32. Com base nos dados existentes até então, a CF III é uma das
condições onde há indicação para CDI, conforme várias diretrizes, incluindo a
publicada mais recentemente1 no Brasil.
Quadro 2
Prevenção primária de morte súbita em portadores de disfunção ventricular
A paciente em questão se encontra na classe de recomendação IIa, pois não houve morte
súbita abortada prévia (a prevenção é primária) e possui CF III, IAM há três anos,
fração de ejeção de 19%, tratamento clínico otimizado e sem indicação de
revascularização. Sendo assim seria recomendado a TRC sem o implante de CDI.
Quadro 3
Prevenção secundária de morte súbita em pacientes com disfunção ventricular:
Referências
1. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM, Rohde LE, Oliveira
WA, Almeida DR, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz
Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol. 2009;93(1
supl.1):1-71.
2. Hunt SA, Abraham WT, Chin MH, Feldman AM, Francis GS, Ganiats TG, et
al. 2009 focused update incorporated into the ACC/AHA 2005 Guidelines for
the Diagnosis and Management of Heart Failure in Adults: a report of the
American College of Cardiology Foundation/American Heart Association
Task Force on Practice Guidelines: developed in collaboration with the
International Society for Heart and Lung Transplantation. Circulation.
2009;119(14):e391-479. Erratum in: Circulation. 2010;121(12):e258.
3. Velagaleti RS, Pencina MJ, Murabito JM, Wang TJ, Parikh NI, D'Agostino
RB, et al. Long-term trends in the incidence of heart failure after myocardial
infarction. Circulation. 2008;118(20):2057-62.
4. Heart Failure Society of America, Lindenfeld J, Albert NM, Boehmer JP,
Collins SP, Ezekowitz JA, Givertz MM, et al. HFSA 2010 Comprehensive
Heart Failure Practice Guideline. J Card Fail. 2010;16(6):e1-194.
5. Shekelle PG, Rich MW, Morton SC, Atkinson CS, Tu W, Maglione M,
Rhodes S, et al. Efficacy of angiotensin-converting enzyme inhibitors and
beta-blockers in the management of left ventricular systolic dysfunction
according to race, gender, and diabetic status: a meta-analysis of major
clinical trials. J Am Coll Cardiol. 2003;41(9):1529-38.
6. Leclercq C, Kass DA. Retiming the failing heart: principles and current
clinical status of cardiac resynchronization. J Am Coll Cardiol.
2002;39(2):194-201.
7. Kerwin WF, Botvinick EH, O'Connell JW, Merrick SH, DeMarco T,
Chatterjee K, et al. Ventricular contraction abnormalities in dilated
cardiomyopathy: effect of biventricular pacing to correct interventricular
dyssynchrony. J Am Coll Cardiol. 2000;35(5):1221-7.
8. Cleland JG, Daubert JC, Erdmann E, Freemantle N, Gras D, Kappenberger L,
et al; Cardiac Resynchronization-Heart Failure (CARE-HF) Study
Investigators. The effect of cardiac resynchronization on morbidity and
mortality in heart failure. N Engl J Med. 2005;352(15):1539-49.
9. Chakir K, Daya SK, Tunin RS, Helm RH, Byrne MJ, Dimaano VL, et al.
Reversal of global apoptosis and regional stress kinase activation by cardiac
resynchronization. Circulation. 2008;117(11):1369-77.
10. St John Sutton MG, Plappert T, Abraham WT, Smith AL, DeLurgio DB, Leon
AR, et al; Multicenter InSync Randomized Clinical Evaluation (MIRACLE)
Study Group. Effect of cardiac resynchronization therapy on left ventricular
size and function in chronic heart failure. Circulation. 2003;107(15):1985-90.
11. Ukkonen H, Beanlands RS, Burwash IG, de Kemp RA, Nahmias C, Fallen E,
et al. Effect of cardiac resynchronization on myocardial efficiency and
regional oxidative metabolism. Circulation. 2003;107(1):28-31.
12. Sundell J, Engblom E, Koistinen J, Ylitalo A, Naum A, Stolen KQ, et al. The
effects of cardiac resynchronization therapy on left ventricular function,
myocardial energetics, and metabolic reserve in patients with dilated
cardiomyopathy and heart failure. J Am Coll Cardiol. 2004;43(6):1027-33.
13. Sutton MG, Plappert T, Hilpisch KE, Abraham WT, Hayes DL, Chinchoy E.
Sustained reverse left ventricular structural remodeling with cardiac
resynchronization at one year is a function of etiology: quantitative Doppler
echocardiographic evidence from the Multicenter InSync Randomized
Clinical Evaluation (MIRACLE). Circulation. 2006;113(2):266-72.
14. Higgins SL, Hummel JD, Niazi IK, Giudici MC, Worley SJ, Saxon LA,
Boehmer JP, et al. Cardiac resynchronization therapy for the treatment of
heart failure in patients with intraventricular conduction delay and malignant
ventricular tachyarrhythmias. J Am Coll Cardiol. 2003;42(8):1454-9.
15. Auricchio A, Stellbrink C, Sack S, Block M, Vogt J, Bakker P, et al; Pacing
Therapies in Congestive Heart Failure (PATH-CHF) Study Group. Long-term
clinical effect of hemodynamically optimized cardiac resynchronization
therapy in patients with heart failure and ventricular conduction delay. J Am
Coll Cardiol. 2002;39(12):2026-33.
16. Saxon LA, De Marco T, Schafer J, Chatterjee K, Kumar UN, Foster E;
VIGOR Congestive Heart Failure Investigators. Effects of long-term
biventricular stimulation for resynchronization on echocardiographic
measures of remodeling. Circulation. 2002;105(11):1304-10.
17. Yu CM, Bleeker GB, Fung JW, Schalij MJ, Zhang Q, van der Wall EE, et al.
Left ventricular reverse remodeling but not clinical improvement predicts
long-term survival after cardiac resynchronization therapy. Circulation.
2005;112(11):1580-6.
18. Leclercq C, Cazeau S, Le Breton H, Ritter P, Mabo P, Gras D, et al. Acute
hemodynamic effects of biventricular DDD pacing in patients with end-stage
heart failure. J Am Coll Cardiol. 1998;32(7):1825-31.
19. Kass DA, Chen CH, Curry C, Talbot M, Berger R, Fetics B, et al. Improved
left ventricular mechanics from acute VDD pacing in patients with dilated
cardiomyopathy and ventricular conduction delay. Circulation.
1999;99(12):1567-73.
20. Aranda JM Jr, Woo GW, Conti JB, Schofield RS, Conti CR, Hill JA. Use of
cardiac resynchronization therapy to optimize beta-blocker therapy in patients
with heart failure and prolonged QRS duration. Am J Cardiol.
2005;95(7):889-91.
21. Cleland JG, Daubert JC, Erdmann E, Freemantle N, Gras D, Kappenberger L,
et al. Longer-term effects of cardiac resynchronization therapy on mortality in
heart failure [the CArdiac REsynchronization-Heart Failure (CARE-HF) trial
extension phase]. Eur Heart J. 2006;27(16):1928-32.
22. McAlister FA, Ezekowitz J, Hooton N, Vandermeer B, Spooner C, Dryden
DM, et al. Cardiac resynchronization therapy for patients with left ventricular
systolic dysfunction: a systematic review. JAMA. 2007;297(22):2502-14.
23. Bax JJ, Ansalone G, Breithardt OA, Derumeaux G, Leclercq C, Schalij MJ, et
al. Echocardiographic evaluation of cardiac resynchronization therapy: ready
for routine clinical use? A critical appraisal. J Am Coll Cardiol.
2004;44(1):1-9.
24. Bax JJ, Bleeker GB, Marwick TH, Molhoek SG, Boersma E, Steendijk P, et
al. Left ventricular dyssynchrony predicts response and prognosis after
cardiac resynchronization therapy. J Am Coll Cardiol. 2004;44(9):1834-40.
25. Arshad A, Moss AJ, Foster E, Padeletti L, Barsheshet A, Goldenberg I, et al;
MADIT-CRT Executive Committee. Cardiac resynchronization therapy is
more effective in women than in men: the MADIT-CRT (Multicenter
Automatic Defibrillator Implantation Trial with Cardiac Resynchronization
Therapy) trial. J Am Coll Cardiol. 2011;57(7):813-20.
26. Blanc JJ, Bertault-Valls V, Fatemi M, Gilard M, Pennec PY, Etienne Y.
Midterm benefits of left univentricular pacing in patients with congestive
heart failure. Circulation. 2004;109(14):1741-4.
27. Knight BP, Desai A, Coman J, Faddis M, Yong P. Long-term retention of
cardiac resynchronization therapy. J Am Coll Cardiol. 2004;44(1):72-7.
28. Goldenberg I, Moss AJ, Hall WJ, Foster E, Goldberger JJ, Santucci P, et al;
MADIT-CRT Executive Committee. Predictors of response to cardiac
resynchronization therapy in the Multicenter Automatic Defibrillator
Implantation Trial with Cardiac Resynchronization Therapy (MADIT-CRT).
Circulation. 2011;124(14):1527-36.
29. Gorcsan J 3rd, Abraham T, Agler DA, Bax JJ, Derumeaux G, Grimm RA, et
al; American Society of Echocardiography Dyssynchrony Writing Group.
Echocardiography for cardiac resynchronization therapy: recommendations
for performance and reporting--a report from the American Society of
Echocardiography Dyssynchrony Writing Group endorsed by the Heart
Rhythm Society. J Am Soc Echocardiogr. 2008;21(3):191-213.
30. Moss AJ, Hall WJ, Cannom DS, Daubert JP, Higgins SL, Klein H, et al.
Improved survival with an implanted defibrillator in patients with coronary
disease at high risk for ventricular arrhythmia. Multicenter Automatic
Defibrillator Implantation Trial Investigators. N Engl J Med.
1996;335(26):1933-40.
31. Moss AJ, Fadl Y, Zareba W, Cannom DS, Hall WJ; Defibrillator Implantation
Trial Research Group. Survival benefit with an implanted defibrillator in
relation to mortality risk in chronic coronary heart disease. Am J Cardiol.
2001;88(5):516-20.
32. Moss AJ, Zareba W, Hall WJ, Klein H, Wilber DJ, Cannom DS, et al;
Multicenter Automatic Defibrillator Implantation Trial II Investigators.
Prophylactic implantation of a defibrillator in patients with myocardial
infarction and reduced ejection fraction. N Engl J Med. 2002;346(12):877-
83.
33. Buxton AE, Lee KL, Fisher JD, Josephson ME, Prystowsky EN, Hafley G. A
randomized study of the prevention of sudden death in patients with coronary
artery disease. Multicenter Unsustained Tachycardia Trial Investigators. N
Engl J Med. 1999;341(25):1882-90. Erratum in: N Engl J Med.
2000;342(17):1300.
34. Bristow MR, Saxon LA, Boehmer J, Krueger S, Kass DA, De Marco T, et al;
Comparison of Medical Therapy, Pacing, and Defibrillation in Heart Failure
(COMPANION) Investigators. Cardiac-resynchronization therapy with or
without an implantable defibrillator in advanced chronic heart failure. N Engl
J Med. 2004;350(21):2140-50.
35. Lam SK, Owen A. Combined resynchronisation and implantable defibrillator
therapy in left ventricular dysfunction: Bayesian network meta-analysis of
randomised controlled trials. BMJ. 2007;335(7626):925.
36. Moss AJ, Hall WJ, Cannom DS, Klein H, Brown MW, Daubert JP, et al;
MADIT-CRT Trial Investigator. Cardiac-resynchronization therapy for the
prevention of heart-failure events. N Engl J Med. 2009;361(14):1329-38.
37. Tang AS, Wells GA, Talajic M, Arnold MO, Sheldon R, Connolly S, et al;
Resynchronization-Defibrillation for Ambulatory Heart Failure Trial
Investigators. Cardiac-resynchronization therapy for mild-to-moderate heart
failure. N Engl J Med. 2010;363(25):2385-95.
38. Bardy GH, Lee KL, Mark DB, Poole JE, Packer DL, Boineau R, et al; Sudden
Cardiac Death in Heart Failure Trial (SCD-HeFT) Investigators. Amiodarone
or an implantable cardioverter-defibrillator for congestive heart failure. N
Engl J Med. 2005;352(3):225-37. Erratum in: N Engl J Med. 2005;352
(20):2146.
39. Kadish A, Dyer A, Daubert JP, Quigg R, Estes NA, Anderson KP, et al;
Defibrillators in Non-Ischemic Cardiomyopathy Treatment Evaluation
(DEFINITE) Investigators. Prophylactic defibrillator implantation in patients
with nonischemic dilated cardiomyopathy. N Engl J Med.
2004;350(21):2151-8.
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA REFRATÁRIA
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 60 anos, hipertensa (HAS), ex-tabagista, portadora de
miocardiopatia isquêmica em fase dilatada, com dois episódios de infartos prévios, em
seguimento ambulatorial de forma regular. Atualmente em classe funcional avançada
(III-IV) com três internações no corrente ano por descompensação hidrópica.
Exame físico:
Peso =56kg (habitual 54kg); Altura =1,61m; IMC =21,6kg/m2
Eupneica, discretas crepitações em bases, fígado há quadro dedos do rebordo costal
direito sem ascite. Turgência de jugular até ângulo da mandíbula e fixa.
PA =85x55mmHg; FC =62bpm; RCR em 3T (B3 de VE) e SS 3+/6+ em foco mitral.
Edema de MMII ++/6+ até a raiz da coxa
Exames complementares:
Laboratório: Na+:134mEq/L; K+:5,1mEq/L; Ureia =64mg/dL; Creatinina =1,3mg/dL;
Ht =34%; Bilirrubina total =1,3mg/dL; TGO =51U/L; TGP =60U/L.
ECG: Ritmo sinusal, zona inativa de V1 a V6 (anterior); BRE com QRS de120ms.
Resumindo: O caso trata de mulher jovem, com cardiopatia isquêmica em fase dilatada,
sem possibilidade de revascularização percutânea ou cirúrgica, já plenamente
medicada, com doses maximizadas de fármacos modificadoras de prognóstico e que
mantém classe funcional avançada (III-IV).
O que fazer?
A paciente em questão teve três internações em menos de 12 meses e terá nova
admissão hospitalar por se apresentar novamente congesta em consulta ambulatorial. O
dilema do cardiologista em consultório é definir as terapias adicionais (farmacológicas
e/ou não farmacológicas) que podem ser oferecidas e a indicação de pacientes ao
transplante.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. O que mais oferecer, a nível medicamentoso, para pacientes com terapia
"clássica" otimizada e ainda sintomáticos?
A principal ferramenta para alívio dos sintomas são os diuréticos, e um dos grandes
receios na sua utilização é a piora da função renal; entretanto sabe-se que a sobrecarga
volêmica sistêmica com ascite e congestão esplâncnica é um dos fatores responsáveis
pelo aumento das escórias nitrogenadas, relacionada a aumento de pressão em veias
renais, dito como "tamponamento renal". Paradoxalmente ocorre significativa melhora
da função renal após terapia diurética em elevadas doses5.
A paciente em questão apresenta frequência cardíaca (FC) =62bpm, não havendo nesse
momento evidências sólidas de que a redução mais acentuada da FC (<60bpm) com a
utilização de ivabradina tenha benefício em longo prazo.
Quadro 1
Recomendações da III Diretriz Brasileira de IC crônica1
Nessa fase avançada de doença, pequenas alterações dietéticas ou falhas de adesão aos
fármacos (ex: omissão de doses) podem se causadores de descompensação e,
consequentemente, de internação. É importante pactuar algumas metas e despender
tempo verificando o real entendimento e aderência às medidas.
Quadro 2
Indicação de transplante cardíaco
Depois de uma primeira admissão hospitalar por IC, os pacientes têm uma mortalidade
em cinco anos de 75%. Essa taxa é pior do que a maioria das neoplasias, entretanto
muito do que foi aprendido com o tratamento do câncer não está sendo aplicado aos
cuidados de fase final da insuficiência cardíaca. Os pacientes poderiam se beneficiar
de cuidados paliativos e infelizmente o conhecimento sobre esses cuidados ainda não é
universalmente praticado pelos cardiologistas20.
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 72 anos, em tratamento para hipertensão arterial e diabetes com
captopril, hidroclorotiazida e metformina, com queixas de cansaço progressivo aos
esforços que vem se acentuando nos últimos seis meses. Encaminhada da atenção
básica para parecer do cardiologista.
PA =148x92mmHg; FC =88bpm; Peso =83,20kg; Altura =1,58m; Cintura abdominal
=112cm; IMC =33,3kg/m2.
Sem turgência de jugulares.
AC RR em 3t c/ b4; pulmões limpos; sem edemas em MSIS
Hemoglobina =12,2g/dL; Glicose =110g/dL; Hemoglobina glicada =6,2%, Creatinina
=1,12mg/dL; TFG =59,63mL/min
ECG: Ritmo sinusal sugere crescimento do átrio esquerdo.
OBJETIVOS
1. Discutir as novas ferramentas para o diagnóstico e exclusão de ICFEN.
2. Descrever o fenótipo clínico e os aspectos epidemiológicos da ICFEN no
ambulatório.
3. Identificar medidas farmacológicas e não farmacológicas que visam à
prevenção e ao tratamento da ICFEN.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa dos sintomas?
O uso crônico de diuréticos em pacientes com hipertensão arterial pode ser um dos
fatores que contribui para a ausência de estado congestivo na maioria dos pacientes
com ICFEN, sendo fundamental a utilização de métodos complementares que confirmem
o diagnóstico, como o ecocardiograma com Doppler tecidual e dosagem de
biomarcadores3.
Pacientes portadores de hipertensão arterial e diabetes encontram-se em estágio A para
desenvolver insuficiência cardíaca (IC). A evolução para o estágio B, ainda
assintomático, ocorre com o desenvolvimento de alterações estruturais e funcionais da
função sistólica e/ou diastólica, e o aparecimento de sintomas caracteriza o início do
estágio C.
Os critérios da ESC apresentam limitações, como requer um E/E’ >8, e podem excluir
pacientes que apresentam pressões de enchimento normais em repouso, mas que se
tornam elevadas com o exercício.
Os critérios para diagnóstico de ICFEN utilizados pela ESC foram incorporados à III
Diretriz Brasileira de IC crônica, disponível neste link.
Figura 1
Como diagnosticar e excluir ICFEN: fluxograma adaptado
E=velocidade precoce do fluxo pela válvula mitral; E’=velocidade de estiramento no início da diástole; NT-proBNP=N-
terminal pro BNP; BNP=peptídeo natriurético tipo B; E/A=índice de velocidade fluxo mitral inicial e tardio; DT=tempo
de desaceleração da onda E; VAE-I=volume de átrio esquerdo indexado; massa VE-I=massa de ventrículo esquerdo
indexada; Ard=duração do fluxo reverso da sístole atrial para veia pulmonar; Ad=duração do fluxo atrial pela válvula
mitral; FEVE=fração de ejeção do ventrículo esquerdo; VDF-I=volume diastólico final do ventrículo esquerdo
indexado; Eco=ecocardiograma com Doppler; EDT=ecoDoppler tecidual; ECG=eletrocardiograma; FA – fibrilação
atrial
Fonte: adaptado da European Society of Cardiology (Paulus et al.3)
Dados mostram que pacientes ambulatoriais com ICFEN são mais idosos, com
predomínio do sexo feminino, e apresentam maior prevalência de comorbidades como
diabetes, anemia, doença renal crônica e fibrilação atrial em relação a pacientes sem
ICFEN1,7,8.
A história natural da ICFEN não é ainda bem compreendida porque a maioria dos
estudos se concentrou na progressão da doença após um evento, em geral uma
internação hospitalar por descompensação aguda de IC com sobrecarga de volume.
Muitos pacientes com ICFEN descompensada relatam uma história prévia crônica:
dispneia crônica ao esforço ou intolerância ao exercício não valorizada durante a
consulta médica. Então, pacientes em fase inicial de ICFEN não são bem
caracterizados.
Sintomas de dispneia e intolerância são altamente sensíveis para IC, mas são
inespecíficos e amplamente prevalentes, principalmente em pacientes idosos em que
uma série de comorbidades, diferentes da IC, pode causar ou contribuir para a piora da
capacidade funcional12.
Pacientes com ICFEN podem se apresentar em fase inicial, mais branda da doença,
caracterizada por sintomas de esforço, na ausência de sobrecarga de volume. Esse
grupo pode então não atender aos atuais critérios de diagnóstico baseados em avaliação
hemodinâmica em repouso, e irão desenvolver alterações hemodinâmicas típicas de IC
apenas durante o estresse ao exercício12.
Borlaug et al.12 estudaram 55 pacientes que apresentavam dispneia inexplicável, com
níveis normais de BNP, FEVE >50% e avaliação hemodinâmica normal em repouso.
Pacientes foram submetidos ao exercício e a pressão capilar pulmonar (PCP) foi
utilizada para classificar os pacientes com ICFEN (PCP>25mmHg) ou com dispneia
não cardíaca (PCP<25mmHg). ICFEN foi confirmada em 32 pacientes e estava
associada com aumento da frequência cardíaca, da vasodilatação sistêmica e do débito
cardíaco. Hipertensão pulmonar estava presente em 88% dos pacientes com ICFEN.
PCP no exercício e pressão sistólica da artéria pulmonar (PSAP) estavam altamente
correlacionados e uma PSAP ≥45mmHg identificou pacientes com ICFEN, com
sensibilidade de 96% e especificidade de 95%.
Novas opções terapêuticas têm sido propostas no controle dos pacientes com ICFEN,
como o emprego de um programa de treinamento para melhora da qualidade de vida e
da capacidade de realizar exercício, observando-se redução do E/E’, do volume do
átrio esquerdo e melhora da qualidade de vida em pacientes sob treinamento em
relação ao grupo-controle14.
Os resultados do ALLHAT são consistentes com muitos outros estudos que mostram que
diuréticos são superiores a bloqueadores de canal de cálcio e inibidores da enzima
conversora da angiotensina na prevenção de IC em pacientes de alto risco com
hipertensão21.
Referências
1. Owan TE, Hodge DO, Herges RM, Jacobsen SJ, Roger VL, Redfield MM.
Trends in prevalence and outcome of heart failure with preserved ejection
fraction. N Engl J Med. 2006;355(3):251-9.
2. Moutinho MAE, Colucci FA, Alcoforado V, Tavares LR, Rachid MBF, Rosa
ML, et al. Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada e com
disfunção sistólica na comunidade. Arq Bras Cardiol. 2008;90(2):145-50.
3. Paulus WJ, Tschöpe C, Sanderson JE, Rusconi C, Flachskampf FA,
Rademakers FE, et al. How to diagnose diastolic heart failure: a consensus
statement on the diagnosis of heart failure with normal left ventricular
ejection fraction by the Heart Failure and Echocardiography Associations of
the European Society of Cardiology. Eur Heart J. 2007;28(20):2539-50.
4. Fonseca C, Morais H, Mota T, Matias F, Costa C, Gouveia-Oliveira A, et al;
EPICA Investigators. The diagnosis of heart failure in primary care: value of
symptoms and signs. Eur J Heart Fail. 2004;6(6):795-800, 821-2.
5. Aurigemma GP, Gaasch WH. Clinical practice. Diastolic heart failure. N
Engl J Med. 2004;351(11):1097-105.
6. Lester SJ, Tajik AJ, Nishimura RA, Oh JK, Khandheria BK, Seward JB.
Unlocking the mysteries of diastolic function: deciphering the Rosetta Stone
10 years later. J Am Coll Cardiol. 2008;51(7):679-89.
7. Jorge AJL, Mesquita ET, Ribeiro ML, Fernandes LCM, Licio FV. Prevalência
de comorbidades em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de
ejeção normal. Rev SOCERJ. 2009;22(5):294-302.
8. Tribouilloy C, Rusinaru D, Mahjoub H, Soulière V, Lévy F, Peltier M, et al.
Prognosis of heart failure with preserved ejection fraction: a 5 year
prospective population-based study. Eur Heart J. 2008;29(3):339-47.
9. Vasan RS, Benjamin EJ, Levy D. Prevalence, clinical features and prognosis
of diastolic heart failure: an epidemiologic perspective. J Am Coll Cardiol.
1995;26(7):1565-74.
10. Vasan RS, Larson MG, Benjamin EJ, Evans JC, Reiss CK, Levy D.
Congestive heart failure in subjects with normal versus reduced left
ventricular ejection fraction: prevalence and mortality in a population-based
cohort. J Am Coll Cardiol. 1999;33(7):1948-55.
11. Henkel DM, Redfield MM, Weston SA, Gerber Y, Roger VL. Death in heart
failure: a community perspective. Circ Heart Fail. 2008;1(2):91-7.
12. Borlaug BA, Nishimura RA, Sorajja P, Lam CS, Redfield MM. Exercise
hemodynamics enhance diagnosis of early heart failure with preserved
ejection fraction. Circ Heart Fail. 2010;3(5):588-95.
13. Mesquita ET, Lagoeiro AJ. Tratamento da insuficiência cardíaca com fração
de ejeção normal. Arq Bras Cardiol. 2010;94(3):414-26.
14. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM, Rohde LE, Oliveira
WA, Almeida DR, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz
Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol. 2009;93(1
supl. 1):1-71.
15. Yusuf S, Pfeffer MA, Swedberg K, Granger CB, Held P, McMurray JJ, et al;
CHARM Investigators and Committees. Effects of candesartan in patients
with chronic heart failure and preserved left-ventricular ejection fraction: the
CHARM-Preserved Trial. Lancet. 2003;362(9386):777-81.
16. Massie BM, Carson PE, McMurray JJ, Komajda M, McKelvie R, Zile MR, et
al; I-PRESERVE Investigators. Irbesartan in patients with heart failure and
preserved ejection fraction. N Engl J Med. 2008;359(23):2456-67.
17. Shibata MC, Flather MD, Böhm M, Borbola J, Cohen-Solal A, Dumitrascu D,
et al; Study of the Effects of Nebivolol Intervention on Outcomes and
Rehospitalisation in Seniors with Heart Failure. Study of the Effects of
Nebivolol Intervention on Outcomes and Rehospitalisation in Seniors with
Heart Failure (SENIORS). Rationale and design. Int J Cardiol.
2002;86(1):77-85.
18. Cleland JG, Tendera M, Adamus J, Freemantle N, Polonski L, Taylor J; PEP-
CHF Investigators. The perindopril in elderly people with chronic heart
failure (PEP-CHF) study. Eur Heart J. 2006;27(19):2338-45.
19. Ahmed A, Rich MW, Fleg JL, Zile MR, Young JB, Kitzman DW, et al. Effects
of digoxin on morbidity and mortality in diastolic heart failure: the Ancillary
Digitalis Investigation Group Trial. Circulation. 2006;114(5):397-403.
20. Jacobshagen C, Belardinelli L, Hasenfuss G, Maier LS. Ranolazine for the
treatment of heart failure with preserved ejection fraction: background, aims,
and design of the RALI-DHF study. Clin Cardiol. 2001;34(7):426-32.
21. Davis BR, Piller LB, Cutler JA, Furberg C, Dunn K, Franklin S, et al;
Antihypertensive and Lipid-Lowering Treatment to Prevent Heart Attack
Trial Collaborative Research Group. Role of diuretics in the prevention of
heart failure: the Antihypertensive and Lipid-Lowering Treatment to Prevent
Heart Attack Trial. Circulation. 2006;113(18):2201-10.
22. Psaty BM, Smith NL, Siscovick DS, Koepsell TD, Weiss NS, Heckbert SR,
et al. Health outcomes associated with antihypertensive therapies used as
first-line agents. A systematic review and meta-analysis. JAMA.
1997;277(9):739-45.
Seção 18. Miocardiopatias
Cardiomiopatia Dilatada
Cardiomiopatia Hipertrófica
Cardiomiopatia Restritiva
Miocardites
Cardiomiopatia Chagásica
Cardiomiopatia de Takotsubo
Miocárdio Não Compactado Isolado
CARDIOMIOPATIA DILATADA
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, negra, 36 anos, comparece à consulta queixando-se de dispneia e
fadiga aos mínimos esforços. Previamente hígida, iniciou quadro há aproximadamente
seis meses, com dispneia progressiva e limitação funcional às atividades cotidianas.
Dorme com dois travesseiros e por vezes apresenta dispneia paroxística noturna.
Gestação sem intercorrências há quatro anos. Etilista social, nega tabagismo e uso de
drogas ilícitas. História familiar negativa para doenças cardiovasculares. Nega quadro
viral atual ou pregresso no último ano. Desconhece doenças crônicas. Nega uso crônico
de medicações.
OBJETIVOS
1. Analisar as ferramentas utilizadas na abordagem do paciente com
cardiomiopatia dilatada (CMPD) visando ao diagnóstico etiológico.
2. Discutir as medidas farmacológicas e não farmacológicas no tratamento da
CMPD.
PERGUNTAS
1. Quais são as hipóteses diagnósticas para o caso relatado?
Os pacientes devem ser arguidos quanto ao início dos sintomas e sua progressão,
associação com dor torácica, síncope, palpitações ou qualquer outro sintoma
cardiovascular.
Por fim, caso não se identifique uma causa factível para a disfunção ventricular através
de busca de condições associadas CMPD, o diagnóstico recai sobre a forma idiopática.
Importante ressaltar que a etiologia suspeitada deve justificar a disfunção sistólica, e
especialmente em casos de obstruções coronarianas, estas devem ser valorizadas não
somente quanto ao grau de estenose, mas também por sua extensão e localização8.
No caso exposto, a paciente não apresenta fatores de risco para doença coronariana,
não houve exposição a agentes cardiotóxicos, não há relato de intercorrências na
gravidez e puerpério, tampouco relação com infecção viral prévia, casos semelhantes
na família ou uso de drogas ilícitas. Assim sendo, há forte suspeita de CMPD
idiopática.
O evento inicial pode ser agudo, como nos casos de infarto agudo do miocárdio, ou
pode ocorrer ao longo de semanas (miocardites), meses (CMPD periparto), anos
(CMPD idiopática), mas a via final do processo fisiopatológico é comum a todas as
causas, e recai sobre a perda de miócitos funcionantes, reduzindo a massa contrátil do
ventrículo esquerdo ou de ambos os ventrículos.
Essa perda de miócitos, ao reduzir a massa contrátil do VE, promove aumento nas
pressões de enchimento ventriculares, e a consequente ativação de mecanismos
compensatórios visando a restaurar os padrões hemodinâmicos prévios à agressão.
Aumento do tônus simpático, ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona,
liberação de peptídeos natriuréticos (atrial e cerebral), liberação de arginina-
vasopressina e liberação de endotelina tentam, através da vasoconstricção, da retenção
hídrica e do aumento do inotropismo cardíaco, manter um estado próximo do normal de
funcionamento cardíaco13.
Nos casos de CMPD idiopática, ou seja, naqueles casos em que a etiologia permanece
indefinida apesar da busca ativa de outras condições, ressalta-se a ausência de
comorbidades inicialmente associadas. As comorbidades podem estar presentes em
caso de dilatação ventricular secundária a etiologias especificas ou mesmo podem
surgir como consequência da CMPD, como a síndrome cardiorrenal, por exemplo. No
caso relatado, a paciente não apresentava qualquer outra comorbidade associada, e a
função renal era normal.
5. Qual é o prognóstico?
No caso em questão, a paciente foi inicialmente tratada com doses baixas de IECA,
betabloqueador, diurético de alça, espironolactona e digoxina. A pressão sistólica
baixa (84-90mmHg) impedia o ajuste nas doses bem como a associação de hidralazina
com nitrato. Diante da recusa da paciente em relação à possibilidade de transplante
(indicação IIa por VO2 pico<14ml/kg/min no teste sem betabloqueador), e o fato de ela
permanecer sintomática a despeito da terapia otimizada, foi indicado o implante de
ressincronizador cardíaco.
A prevenção primária da CMPD está relacionada à remoção dos fatores de risco para
seu desenvolvimento, dentre os quais destacam-se: hipertensão arterial sistêmica,
diabetes, doença coronariana, exposição a agentes cardiotóxicos ou alguma das
condições citadas anteriormente.
Isto, quando factível, é de suma importância na prevenção da IC, e deve ser feito
através de medidas farmacológicas apropriadas a cada condição e modificação do
estilo de vida, incluindo interrupção do tabagismo, estímulo à dieta saudável e
atividade física regular.
Entretanto, nos casos já estabelecidos de CMPD idiopática, uma vez que muitas vezes
esses fatores estão ausentes, este tipo de medida tem eficácia limitada, mesmo visando
à prevenção do agravo da IC, que acaba por ocorrer apesar dos esforços realizados
pela equipe multidisciplinar.
Potencial Conflito de Interesses
Referências
1. Felker GM, Thompson RE, Hare JM, Hruban RH, Clemetson DE, Howard
DL, et al. Underlying causes and long-term survival in patients with initially
unexplained cardiomyopathy. N Engl J Med. 2000;342(15):1077-84.
2. Yazaki Y, Isobe M, Hiramitsu S, Morimoto S, Hiroe M, Omichi C, et al.
Comparison of clinical features and prognosis of cardiac sarcoidosis and
idiopathic dilated cardiomyopathy. Am J Cardiol. 1998;82(4):537-40.
3. Swain SM, Whaley FS, Ewer MS. Congestive heart failure in patients treated
with doxorubicin: a retrospective analysis of three trials. Cancer.
2003;97(11):2869-79.
4. Lampert MB, Lang RM. Peripartum cardiomyopathy. Am Heart J.
1995;130(4):860-70.
5. Mestroni L, Rocco C, Gregori D, Sinagra G, Di Lenarda A, Miocic S, et al.
Familial dilated cardiomyopathy: evidence for genetic and phenotypic
heterogeneity. Heart Muscle Disease Study Group. J Am Coll Cardiol.
1999;34(1):181-90.
6. McKenna CJ, Codd MB, McCann HA, Sugrue DD. Alcohol consumption and
idiopathic dilated cardiomyopathy: a case control study. Am Heart J.
1998;135(5 Pt 1):833-7.
7. Lange RA, Hillis LD. Cardiovascular complications of cocaine use. N Engl J
Med. 2001;345(5):351-8. Erratum in: N Engl J Med. 2001;345(19):1432.
8. Felker GM, Shaw LK, O'Connor CM. A standardized definition of ischemic
cardiomyopathy for use in clinical research. J Am Coll Cardiol.
2002;39(2):210-8.
9. Casolo G, Minneci S, Manta R, Sulla A, Del Meglio J, Rega L, et al.
Identification of the ischemic etiology of heart failure by cardiovascular
magnetic resonance imaging: diagnostic accuracy of late gadolinium
enhancement. Am Heart J. 2006;151(1):101-8.
10. Danias PG, Papaioannou GI, Ahlberg AW, O’Sullivan DM, Mann A, Boden
WE, et al. Usefulness of electrocardiographic-gated stress technetium-99m
sestamibi single-photon emission computed tomography to differentiate
ischemic from nonischemic cardiomyopathy. Am J Cardiol. 2004;94(1):14-9.
11. Andreini D, Pontone G, Bartorelli AL, Agostoni P, Mushtaq S, Bertella E,et
al. Sixty-four-slice multidetector computed tomography: an accurate imaging
modality for the evaluation of coronary arteries in dilated cardiomyopathy of
unknown etiology. Circ Cardiovasc Imaging. 2009;2(3):199-205.
12. Hunt SA, Abraham WT, Chin MH, Feldman AM, Francis GS, Ganiats TG, et
al; American College of Cardiology; American Heart Association Task Force
on Practice Guidelines; American College of Chest Physicians; International
Society for Heart and Lung Transplantation; Heart Rhythm Society.
ACC/AHA 2005 Guideline Update for the Diagnosis and Management of
Chronic Heart Failure in the Adult: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines
(Writing Committee to Update the 2001 Guidelines for the Evaluation and
Management of Heart Failure): developed in collaboration with the American
College of Chest Physicians and the International Society for Heart and Lung
Transplantation: endorsed by the Heart Rhythm Society. Circulation.
2005;112(12):e154-235.
13. Mann DL, Bristow MR. Mechanisms and models in heart failure: the
biomechanical model and beyond. Circulation. 2005;111(21):2837-49.
Erratum in: Circulation. 2005;112(4):e75.
14. Roger VL, Weston SA, Redfield MM, Hellermann-Homan JP, Killian J,
Yawn BP, et al. Trends in heart failure incidence and survival in a
community-based population. JAMA. 2004;292(3):344-50.
15. Kannel WB. Incidence and epidemiology of heart failure. Heart Fail Rev.
2000;5(2):167-73.
16. Stewart S, MacIntyre K, Hole DJ, Capewell S, McMurray JJ. More
'malignant' than cancer? Five-year survival following a first admission for
heart failure. Eur J Heart Fail. 2001;3(3):315-22.
17. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM, Rohde LE, Oliveira
WA, Almeida DR, et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz
Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol. 2009;93(1
supl. 1):1-71.
18. AHA medical/scientific statement. 1994 revisions to classification of
functional capacity and objective assessment of patients with diseases of the
heart. Circulation. 1994;90(1):644-5.
19. The SOLVD Investigators. Effect of enalapril on mortality and the
development of heart failure in asymptomatic patients with reduced left
ventricular ejection fractions. The SOLVD Investigators. N Engl J Med.
1992;327(10):685-91. Erratum in: N Engl J Med. 1992;327(24):1768.
20. The CONSENSUS Trial Study Group. Effects of enalapril on mortality in
severe congestive heart failure. Results of the Cooperative North
Scandinavian Enalapril Survival Study (CONSENSUS). The CONSENSUS
Trial Study Group. N Engl J Med. 1987;316(23):1429-35.
21. Granger CB, McMurray JJ, Yusuf S, Held P, Michelson EL, Olofsson B, et al;
CHARM Investigators and Committees. Effects of candesartan in patients
with chronic heart failure and reduced left-ventricular systolic function
intolerant to angiotensin-converting-enzyme inhibitors: the CHARM-
Alternative trial. Lancet. 2003;362(9386):772-6.
22. Packer M, Coats AJ, Fowler MB, Katus HA, Krum H, Mohacsi P, et al;
Carvedilol Prospective Randomized Cumulative Survival Study Group.
Effect of carvedilol on survival in severe chronic heart failure. N Engl J
Med. 2001;344(22):1651-8.
23. Colucci WS, Kolias TJ, Adams KF, Armstrong WF, Ghali JK, Gottlieb SS, et
al; REVERT Study Group. Metoprolol reverses left ventricular remodeling in
patients with asymptomatic systolic dysfunction: the REversal of VEntricular
Remodeling with Toprol-XL (REVERT) Trial. Circulation. 2007;116(1):49-
56.
24. Flather MD, Shibata MC, Coats AJ, Van Veldhuisen DJ, Parkhomenko A,
Borbola J, et al; SENIORS Investigators. Randomized trial to determine the
effect of nebivolol on mortality and cardiovascular hospital admission in
elderly patients with heart failure (SENIORS). Eur Heart J. 2005;26(3):215-
25.
25. Pitt B, Zannad F, Remme WJ, Cody R, Castaigne A, Perez A, et al. The effect
of spironolactone on morbidity and mortality in patients with severe heart
failure. Randomized Aldactone Evaluation Study Investigators. N Engl J
Med. 1999;341(10):709-17.
26. Zannad F, McMurray JJ, Krum H, van Veldhuisen DJ, Swedberg K, Shi H, et
al; EMPHASIS-HF Study Group. Eplerenone in patients with systolic heart
failure and mild symptoms. N Engl J Med. 2011;364(1):11-21.
27. Martinelli Filho M, Zimerman LI, Lorga AM, Vasconcelos JTM, Rassi A Jr;
Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Arritmias
Cardíacas; Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial. Diretrizes
Brasileiras de Dispositivos Cardíacos Eletrônicos Implantáveis (DCEI). Arq
Bras Cardiol. 2007;89(6):210-37.
28. Bacal F, Souza Neto JD, Fiorelli AI, Mejia J, Marcondes-Braga FG, Mangini
S, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. II Diretriz Brasileira de
Transplante Cardíaco. Arq Bras Cardiol. 2010;94(1 supl. 1):e16-e76.
CARDIOMIOPATIA HIPERTRÓFICA
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 69 anos, sem antecedentes patológicos relevantes, apresentou-se ao
cardiologista visando à realização de risco cirúrgico para catarata. Durante a anamnese
relatou que nos últimos três meses vinha apresentando cansaço aos grandes esforços.
Exame físico: PA =130x86mmHg; FC =82bpm. Corado e hidratado. Sem turgência
jugular.
ACV: Íctus impalpável. RR c/ B4. Sopro sistólico apical (2+/6+) que aumenta com a
manobra de Valsalva.
Pulmões limpos. Abdome sem visceromegalias e membros sem edemas.
ECG: Ritmo sinusal com ondas T sugestivas de isquemia.
Ecocardiograma: Diâmetros cavitários normais. Aspecto de hipertrofia
medioventricular com gradiente entre ponta e corpo =40mmHg. Regurgitação mitral
leve. Corte apical quatro câmaras sugere a presença de aneurisma apical.
Ressonância magnética (Figura 1): Confirma os dados do ecocardiograma, incluindo a
presença do aneurisma apical revelando a presença de trombo no seu interior.
Figura 1
Cardiomiopatia hipertrófica (CMH) medioventricular com aneurisma apical.
OBJETIVOS
1. Descrever o genótipo e o fenótipo clínico da cardiomiopatia hipertrófica
(CMH).
2. Analisar os exames indicados para o diagnóstico e estratificação da doença.
3. Discutir as medidas farmacológicas e não farmacológicas que visam ao
tratamento e prevenção da CMH.
PERGUNTAS
1. Quais são os dados epidemiológicos e o diagnóstico diferencial da CMH?
Tabela 1
Causas genéticas de CMH
Em preto estão as formas associadas a mutações de proteínas sarcoméricas.
Em vermelho estão as doenças infiltrativas que se apresentam com o fenótipo da CMH.
HVE=hipertrofia ventricular esquerda; IC=insuficiência cardíaca;
WPW=síndrome de Wolff-Parkinson-White
Fonte: adaptado de Gersh et al.1
Uma condição frequentemente confundida com CMH é a hipertrofia ventricular do
atleta. Geralmente associado a treinamentos intensos voltados para esportes
competitivos, essa condição clínica se diferencia por se manifestar como hipertrofia
concêntrica, portanto simétrica, associada à dilatação ventricular (ainda que pequena).
No idoso, cuja hipertensão arterial é frequente, pode ser difícil determinar a causa da
hipertrofia, podendo mesmo haver a concomitância das duas doenças. Em casos assim
pode-se recorrer à tentativa de se identificar a mutação genética para fazer o
diagnóstico. Achados como grandes espessuras de parede (>25mm) ou a presença de
gradiente intraventricular são indicadores da presença de CMH.
Em paciente com suspeita clínica o diagnóstico deve ser confirmado através de método
de imagem. Geralmente o exame complementar mais usado é o ecocardiograma, que irá
constatar as características já descritas anteriormente4. Em casos em que a janela
ecocardiográfica é ruim ou quando esse método não conseguiu estabelecer
adequadamente características importantes da anatomia da doença, a ressonância
magnética do coração vem sendo cada vez mais utilizada. Outro recurso já disponível
na prática clínica em centros de referência é a análise genética, que pode identificar
pacientes com a mutação para CMH, mesmo na ausência do fenótipo, sendo por isso
muito usado no aconselhamento familiar.
Cerca de 1/3 dos pacientes com CMH apresenta obstrução em repouso (acima de
30mmHg de gradiente intraventricular), sendo que entre aqueles que são não obstrutivos
em repouso, alguns podem demonstrar gradientes significativos quando submetidos a
exercício, caracterizando o que se chama de obstrutivo lábil.
A isquemia miocárdica, manifesta por angina e confirmada por testes funcionais, assim
como infarto, podem ocorrer na CMH, sem ter relação com a presença de doença
aterosclerótica coronariana. O mecanismo para esse fenômeno está associado a grande
demanda de oxigênio gerada pela hipertrofia, além da redução do fluxo coronariano
resultante da constrição de arteríolas intramurais.
A morbidade que pode se desenvolver na história natural dos pacientes com CMH está
relacionada ao desenvolvimento das seguintes complicações: FA / AVE, IC e morte
súbita.
Insuficiência cardíaca
A taxa anual de eventos adversos nessa população está em torno de 11%. Recentemente,
Kawarai et al.17 publicaram uma coorte observacional na qual 8,8% da população com
CMH evoluiu para a forma dilatada e, como achado interessante, nenhum desses
pacientes era obstrutivo em repouso, previamente. A justificativa para essa evolução
decorre do importante remodelamento resultante da formação de grandes cicatrizes
fibróticas no miocárdio16. A abordagem terapêutica nesses casos é semelhante a que se
faz para os pacientes com cardiomiopatia dilatada.
Morte súbita
Geralmente, CMH é a principal causa de morte súbita nos indivíduos jovens, incluindo
atletas competitivos. A morte súbita pode ser, inclusive, a primeira manifestação
clínica da doença ou ocorrer em pacientes oligossintomáticos,(Unattached Footnote),
(Unattached Footnote),.
Fibrilação atrial
A FA é a arritmia sustentada mais comum nessa doença, ocorrendo em 20% a 25% dos
pacientes com CMH,. Está associada com o aumento do átrio esquerdo e sua incidência
cresce com o envelhecimento, assim como na população em geral. Não parece ser
preditor independente de morte súbita, porém sabe-se que está associada à progressão
de sintomas de IC, eventos de tromboembolismo sistêmico e AVE, além de morte por IC
e AVE26,. Episódios paroxísticos também podem ser responsáveis por deterioração
clínica aguda, com síncope ou IC resultante da hipodiastolia e redução do débito
cardíaco, que ocorrem devido à perda da contribuição atrial e alta resposta ventricular
em um ventrículo hipertrofiado.
Aneurismas apicais
Achado que vem sendo cada vez mais encontrado na prática clínica em função da
grande utilização da ressonância magnética, o aneurisma apical na CMH pode ocorrer
como parte da história natural nas formas apicais e medioventriculares. Recentemente,
Maron et al.29 publicaram uma coorte de 1299 pacientes com CMH na qual os
aneurismas apicais foram constatados em 2,2% dos casos, sendo que apenas metade
havia sido diagnosticada pelo ecocardiograma. Nesse trabalho a presença do aneurisma
apical também esteve associada à significativa morbimortalidade.
5. Qual o prognóstico da doença?
Durante algum tempo pensava-se que o prognóstico da CMH fosse ruim, em função das
publicações oriundas de centros terciários especializados no atendimento de pacientes
graves. Isto resultava em amostras que praticamente não incluíam pacientes
assintomáticos, ou mesmo idosos. Posteriormente, várias experiências da literatura
(incluindo estudos nacionais), de centros não terciários, com pacientes pouco
selecionados e, portanto, mais representativos do real estado da doença, constataram
que a CMH é uma doença de evolução heterogênea, mas benigna na maioria dos casos,
com mortalidade anual variando de 0,5% a 1%1,3,31-33. Não é raro observar pacientes
com CMH atingindo faixas etárias avançadas (mais de 75 anos), sem prejuízos
causados pela doença e sem necessidade de intervenções maiores3,27,33-35.
No que diz respeito à prevenção, acredita-se que o CDI tenha o potencial de grande
proteção e de mudar a história natural dos pacientes com CMH e alto risco para morte
súbita (especialmente quando se trata de prevenção secundária). Entretanto, é
importante destacar que se trata de estudos retrospectivos e não randomizados24,,.
Outro tratamento com longo tempo de experiência, só que voltado para pacientes
obstrutivos sintomáticos, refratários ao tratamento clínico e que parece mudar a
sobrevida dos pacientes a ele submetidos: a miectomia. Em estudo observacional,
pacientes submetidos a essa cirurgia tiveram sobrevida semelhante à população geral e
melhores taxas que aqueles em condições semelhantes, mas que não foram operados.
(Figura 2).
Figura 2
Efeitos da miectomia sobre a sobrevida de pacientes com CMH.
Fonte: adaptado de Ommen et al.41
7. O tratamento pode ajudar no controle da evolução da doença?
Os principais fatores de risco para morte súbita na CMH já são bastante conhecidos e
definidos em consensos internacionais: morte súbita abortada, taquicardia ventricular
sustentada ou não sustentada documentadas, síncope inexplicada, história familiar de
morte súbita, queda na PA durante o esforço, espessura de septo interventricular ≥30mm
(Quadro 1)31. Para aqueles pacientes considerados de alto risco, especialmente os que
já tiveram evento documentado (morte súbita abortada e/ou taquicardia ventricular
sustentada), isto é, prevenção secundária, está indicado o implante do CDI24. Nos casos
cujo tratamento tem a finalidade de prevenção primária, a questão se torna controversa.
Quadro 1
Preditores de morte súbita na CMH31
Entre as limitações destaca-se o fato de ser uma avaliação de alto custo e ser pouco
sensível, pois só identifica 50% a 60% das mutações.
Referências
1. Gersh BJ, Maron BJ, Bonow RO, Dearani JA, Fifer MA, Link MS, et al.
2011 ACCF/AHA Guideline for the Diagnosis and Treatment of Hypertrophic
Cardiomyopathy: a report of the American College of Cardiology
Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines.
Developed in collaboration with the American Association for Thoracic
Surgery, American Society of Echocardiography, American Society for
Cardiovascular Angiography and Interventions, and Society of Thoracic
Surgeons. J Am Coll Cardiol. 2011;58(25):e212-60.
2. Maron BJ. Hypertrophic cardiomyopathy: an important global disease. Am J
Med. 2004;116(1):63-5.
3. Maron BJ. Hypertrophic cardiomyopathy: a systematic review. JAMA.
2002;287(10):1308-20.
4. Wigle ED, Rakowski H, Kimball BP, Williams WG. Hypertrophic
cardiomyopathy. Clinical spectrum and treatment. Circulation.
1995;92(7):1680-92.
5. Wigle ED. Cardiomyopathy: the diagnosis of hypertrophic cardiomyopathy.
Heart. 2001;86(6):709-14.
6. Pollick C, Rakowski H, Wigle ED. Muscular subaortic stenosis: the
quantitative relationship between systolic anterior motion and the pressure
gradient. Circulation. 1984;69(1):43-9.
7. Wigle ED, Sasson Z, Henderson MA, Ruddy TD, Fulop J, Rakowski H, et al.
Hypertrophic cardiomyopathy. The importance of the site and the extent of
hypertrophy. A review. Prog Cardiovasc Dis. 1985;28(1):1-83.
8. Kuhn H, Mercier J, Köhler E, Frenzel H, Hort W, Loogen F. Differential
diagnosis of hypertrophic cardiomyopathies: typical (subaortic) hypertrophic
obstructive cardiomyopathy, atypical (mid-ventricular) hypertrophic
obstructive cardiomyopathy and hypertrophic non-obstructive
cardiomyopathy. Eur Heart J. 1983;4(Suppl F):93-104.
9. Maron MS, Olivotto I, Zenovich AG, Link MS, Pandian NG, Kuvin JT, et al.
Hypertrophic cardiomyopathy is predominantly a disease of left ventricular
outflow tract obstruction. Circulation. 2006;114(21):2232-9.
10. Maron MS, Olivotto I, Betocchi S, Casey SA, Lesser JR, Losi MA, et al.
Effect of left ventricular outflow tract obstruction on clinical outcome in
hypertrophic cardiomyopathy. N Engl J Med. 2003;348(4):295-303.
11. Maron MS, Olivotto I, Maron BJ, Prasad SK, Cecchi F, Udelson JE, et al.
The case for myocardial ischemia in hypertrophic cardiomyopathy. J Am Coll
Cardiol. 2009;54(9):866-75.
12. Maron BJ, Wolfson JK, Epstein SE, Roberts WC. Intramural (”small vessel”)
coronary artery disease in hypertrophic cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol.
1986;8(3):545-57.
13. Spirito P, Maron BJ, Bonow RO, Epstein SE. Occurrence and significance of
progressive left ventricular wall thinning and relative cavity dilatation in
hypertrophic cardiomyopathy. Am J Cardiol. 1987;60(1):123-9.
14. Biagini E, Coccolo F, Ferlito M, Perugini E, Rocchi G, Bacchi-Reggiani L, et
al. Dilated-hypokinetic evolution of hypertrophic cardiomyopathy:
prevalence, incidence, risk factors and prognostic implications in pediatric
and adult patients. J Am Coll Cardiol. 2005;46(8):1543-50.
15. Thaman R, Gimeno JR, Murphy RT, Kubo T, Sachdev B, Mogensen J, et al.
Prevalence and clinical significance of systolic impairment in hypertrophic
cardiomyopathy. Heart. 2005;91(7):920-5.
16. Harris KM, Spirito P, Maron MS, Zenovich AG, Formisano F, Lesser JR, et
al. Prevalence, clinical profile, and significance of left ventricular
remodeling in the end-stage phase of hypertrophic cardiomyopathy.
Circulation. 2006;114(3):216-25.
17. Kawarai H, Kajimoto K, Minami Y, Hagiwara N, Kasanuki H. Risk of sudden
death in end-stage hypertrophic cardiomyopathy. J Card Fail.
2011;17(6):459-64.
18. Shah PM, Adelman AG, Wigle ED, Gobel FL, Burchell HB, Hardarson T, et
al. The natural (and unnatural) history of hypertrophic obstructive
cardiomyopathy. Circ Res. 1974;35(2 Suppl II):179-95.
19. Maron BJ, Roberts WC, Epstein SE. Sudden death in hypertrophic
cardiomyopathy: a profile of 78 patients. Circulation. 1982;65(7):1388-94.
20. Maron BJ, Olivotto I, Spirito P, Casey SA, Bellone P, Gohman TE, et al.
Epidemiology of hypertrophic cardiomyopathy-related death: revisited in a
large non-referral-based patient population. Circulation. 2000;102(8):858-
64.
21. Spirito P, Maron BJ. Relation between extent of left ventricular hypertrophy
and occurrence of sudden cardiac death in hypertrophic cardiomyopathy. J
Am Coll Cardiol. 1990;15(7):1521-6.
22. Elliott PM, Poloniecki J, Dickie S, Sharma S, Monserrat L, Varnava A, et al.
Sudden death in hypertrophic cardiomyopathy: identification of high risk
patients. J Am Coll Cardiol. 2000;36(7):2212-8.
23. Maron BJ, Shirani J, Poliac LC, Mathenge R, Roberts WC, Mueller FO.
Sudden death in young competitive athletes. Clinical, demographic, and
pathological profiles. JAMA. 1996;276(3):199-204.
24. Maron BJ, Shen WK, Link MS, Epstein AE, Almquist AK, Daubert JP, et al.
Efficacy of implantable cardioverter-defibrillators for the prevention of
sudden death in patients with hypertrophic cardiomyopathy. N Engl J Med.
2000;342(6):365-73.
25. Elliott PM, Sharma S, Varnava A, Poloniecki J, Rowland E, McKenna WJ.
Survival after cardiac arrest or sustained ventricular tachycardia in patients
with hypertrophic cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol. 1999;33(6):1596-601.
26. Olivotto I, Cecchi F, Casey SA, Dolara A, Traverse JH, Maron BJ. Impact of
atrial fibrillation on the clinical course of hypertrophic cardiomyopathy.
Circulation. 2001;104(21):2517-24.
27. Cecchi F, Olivotto I, Montereggi A, Santoro G, Dolara A, Maron BJ.
Hypertrophic cardiomyopathy in Tuscany: clinical course and outcome in an
unselected regional population. J Am Coll Cardiol. 1995;26(6):1529-36.
28. Maron BJ, Olivotto I, Bellone P, Conte MR, Cecchi F, Flygenring BP, et al.
Clinical profile of stroke in 900 patients with hypertrophic cardiomyopathy. J
Am Coll Cardiol. 2002;39(2):301-7.
29. Maron MS, Finley JJ, Bos JM, Hauser TH, Manning WJ, Haas TS, et al.
Prevalence, clinical significance, and natural history of left ventricular apical
aneurysms in hypertrophic cardiomyopathy. Circulation. 2008;118(15):1541-
9.
30. Spirito P, Chiarella F, Carratino L, Berisso MZ, Bellotti P, Vecchio C.
Clinical course and prognosis of hypertrophic cardiomyopathy in an
outpatient population. N Engl J Med. 1989;320(12):749-55.
31. Bittencourt MI, Rocha RM, Albanesi Filho FM. Cardiomiopatia hipertrófica.
Rev Bras Cardiol. 2010;23(1):17-24.
32. Arteaga E, Ianni BM, Fernandes F, Mady C. Benign outcome in a long-term
follow-up of patients with hypertrophic cardiomyopathy in Brazil. Am Heart
J. 2005;149(6):1099-105.
33. Maron BJ, Casey SA, Poliac LC, Gohman TE, Almquist AK, Aeppli DM.
Clinical course of hypertrophic cardiomyopathy in a regional United States
cohort. JAMA. 1999;281(7):650-5. Erratum in: JAMA.1999;281(24):2288.
34. Maron BJ, Casey SA, Hauser RG, Aeppli DM. Clinical course of
hypertrophic cardiomyopathy with survival to advanced age. J Am Coll
Cardiol. 2003;42(5):882-8.
35. Fay WP, Taliercio CP, Ilstrup DM, Tajik AJ, Gersh BJ. Natural history of
hypertrophic cardiomyopathy in the elderly. J Am Coll Cardiol.
1990;16(4):821-6.
36. Niimura H, Patton KK, McKenna WJ, Soults J, Maron BJ, Seiman JG, et al.
Sarcomere protein gene mutations in hypertrophic cardiomyopathy of the
elderly. Circulation. 2002;105(4):446-51.
37. Maron BJ, Tajik AJ, Ruttenberg HD, Graham TP, Atwood GF, Victorica BE,
et al. Hypertrophic cardiomyopathy in infants: clinical features and natural
history. Circulation. 1982;65(1):7-17.
38. Skinner JR, Manzoor A, Hayes AM, Joffe HS, Martin RP. A regional study of
presentation and outcome of hypertrophic cardiomyopathy in infants. Heart.
1997;77(3):229-33.
39. Maron BJ, Spirito P, Shen WK, Haas TS, Formisano F, Link MS, et al.
Implantable cardioverter-defibrillators and prevention of sudden cardiac
death in hypertrophic cardiomyopathy. JAMA. 2007;298(4):405-12. Erratum
in: JAMA. 2007;298(13):1516.
40. Jayatilleke I, Doolan A, Ingles J, McGuire M, Booth V, Richmond DR, et al.
Long-term follow-up of implantable cardioverter defibrillator therapy for
hypertrophic cardiomyopathy. Am J Cardiol. 2004;93(9):1192-4.
41. Ommen SR, Maron BJ, Olivotto I, Maron MS, Cecchi F, Betocchi S, et al.
Long-term effects of surgical septal myectomy on survival in patients with
obstructive hypertrophic cardiomyopathy . J Am Coll Cardiol.
2005;46(3):470-6.
42. Ommen SR, Maron BJ, Olivotto I, Maron MS, Cecchi F, Betocchi S, et al.
Long-term effects of surgical septal myectomy on survival in patients with
obstructive hypertrophic cardiomyopathy . J Am Coll Cardiol.
2005;46(3):470-6.
43. Sherrid MV, Barac I, McKenna WJ, Elliott P, Dickie S, Chojnowska L, et al.
Multicenter study of the efficacy and safety of disopyramide in obstructive
hypertrophic cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol. 2005;45(8):1251-8 .
44. Araujo AQ, Arteaga E, Ianni BM, Buck PC, Rabello R, Mady C. Effect of
losartan on left ventricular diastolic function in patients with nonobstructive
hypertrophic cardiomyopathy. Am J Cardiol. 2005;96(11):1563-7.
45. Woo A, Williams WG, Choi R, Wigle ED, Rozenblyum E, Fedwick K, et al.
Clinical and echocardiographic determinants of long-term survival following
surgical myectomy in obstructive hypertrophic cardiomyopathy. Circulation.
2005;111(16):2033-41.
46. Cohn LH, Trehan H, Collins JJ Jr. Long-term follow-up of patients
undergoing myotomy/myectomy for obstructive hypertrophic cardiomyopathy.
Am J Cardiol. 1992;70(6):657-60 .
47. Schulte HD, Bircks WH, Loesse B, Godehardt EA, Schwartzkopff B.
Prognosis of patients with hypertrophic obstructive cardiomyopathy after
transaortic myectomy. Late results up to twenty-five years. J Thorac
Cardiovasc Surg. 1993;106(4):709-17 .
48. McCully RB, Nishimura RA, Tajik AJ, Schaff HV, Danielson GK. Extent of
clinical improvement after surgical treatment of hypertrophic obstructive
cardiomyopathy. Circulation. 1996;94(3):467-71 .
49. Robbins RC, Stinson EB. Long-term results of left ventricular myotomy and
myectomy for obstructive hypertrophic cardiomyopathy. J Thorac Cardiovasc
Surg. 1996;111(3):586-94 .
50. Schoendube FA, Klues HG, Reith S, Flachskampf FA, Hanrath P, Messmer
BJ. Long-term clinical and echocardiographic follow-up after surgical
correction of hypertrophic obstructive cardiomyopathy with extended
myectomy and reconstruction of the subvalvular mitral apparatus. Circulation.
1995;92(9 Suppl):II122-7.
51. Heric B, Lytle BW, Miller DP, Rosenkranz ER, Lever HM, Cosgrove DM.
Surgical management of hypertrophic obstructive cardiomyopathy. Early and
late results. J Thorac Cardiovasc Surg. 1995;110(1):195-206.
52. Maron BJ, Dearani JA, Ommen SR, Maron MS, Schaff HV, Gersh BJ, et al.
The case for surgery in obstructive hypertrophic cardiomyopathy . J Am Coll
Cardiol. 2004;44(10):2044-53.
53. Minakata K, Dearani JA, Nishimura RA, Maron BJ, Danielson GK. Extended
septal myectomy for hypertrophic obstructive cardiomyopathy with
anomalous mitral papillary muscles or chordae. J Thorac Cardiovasc Surg.
2004;127(2):481-9.
54. Maron BJ, Nishimura RA, McKenna WJ, Rakoski H, Josephson ME, Kieval
RS. Assessment of permanent dual-chamber pacing as a treatment for drug-
refractory symptomatic patients with obstructive hypertrophic
cardiomyopathy. A randomized, double-blind, crossover study (M-PATHY).
Circulation. 1999;99(22):2927-33.
55. Kappenberger L, Linde C, Daubert C, McKenna W, Meisel E, Sadoul N, et al.
Pacing in hypertrophic obstructive cardiomyopathy. A randomized crossover
study. PIC Study Group. Eur Heart J. 1997;18(8):1249-56.
56. Nishimura RA, Trusty JM, Hayes DL, IIstrup DM, Larson DR, Hayes SN, et
al. Dual-chamber pacing for hypertrophic cardiomyopathy: a randomized,
double-blind, crossover trial. J Am Coll Cardiol. 1997;29(2):435-41.
57. Fananapazir L, Epstein ND, Curiel RV, Panza JA, Tripodi D, McAreavey D.
Long-term results of dual-chamber (DDD) pacing in obstructive hypertrophic
cardiomyopathy. Evidence for progressive symptomatic and hemodynamic
improvement and reduction of left ventricular hypertrophy. Circulation.
1994;90(6):2731-42.
58. Alam M, Dokainish H, Lakkis N. Alcohol septal ablation for hypertrophic
obstructive cardiomyopathy: a systematic review of published studies. J
Interv Cardiol. 2006;19(4):319-27.
59. Qin JX, Shiota T, Lever HM, Kapadia SR, Sitges M, Rubin DN, et al.
Outcome of patients with hypertrophic obstructive cardiomyopathy after
percutaneous transluminal septal myocardial ablation and septal myectomy
surgery. J Am Coll Cardiol. 2001;38(7):1994-2000.
60. van der Lee C, ten Cate FJ, Geleijnse ML, Kofflard MJ, Pedone C, van
Herwerden, et al. Percutaneous versus surgical treatment for patients with
hypertrophic obstructive cardiomyopathy and enlarged anterior mitral valve
leaflets. Circulation. 2005;112(4):482-8. Erratum in: Circulation.
2006;113(3):e46.
61. Ralph-Edwards A, Woo A, McCrindle BW, Shapero JL, Schwartz L,
Rakowski H, et al. Hypertrophic obstructive cardiomyopathy: comparison of
outcomes after myectomy or alcohol ablation adjusted by propensity score. J
Thorac Cardiovasc Surg. 2005;129(2):351-8.
62. Noseworthy PA, Rosenberg MA, Fifer MA, Palacios IF, Lowry PA, Ruskin
JN, et al. Ventricular arrhythmia following alcohol septal ablation for
obstructive hypertrophic cardiomyopathy. Am J Cardiol. 2009;104(1):128-
32.
63. Maron BJ, Semsarian C. Prevention of sudden death for patients with
cardiomyopathies another step forward. J Am Coll Cardiol.
2012;31;59(5):501-2.
64. Lin G, Nishimura RA, Gersh BJ, Phil D, Ommen SR, Ackerman MJ, et al.
Device complications and inappropriate implantable cardioverter
defibrillator shocks in patients with hypertrophic cardiomyopathy. Heart.
2009;95(9):709-14.
65. Gosling OE, Bellenger N, Spurrell P. Risk assessment with cardiac magnetic
resonance imaging in hypertrophic cardiomyopathy. Heart.
2009;95(22):1843.
66. Corrado D, Pelliccia A, Bjørnstad HH, Vanhees L, Biffi A, Borjesson M, et
al; Study Group of Sport Cardiology of the Working Group of Cardiac
Rehabilitation and Exercise Physiology and the Working Group of
Myocardial and Pericardial Diseases of the European Society of Cardiology.
Cardiovascular pre-participation screening of young competitive athletes for
prevention of sudden death: proposal for a common European protocol.
Consensus Statement of the Study Group of Sport Cardiology of the Working
Group of Cardiac Rehabilitation and Exercise Physiology and the Working
Group of Myocardial and Pericardial Diseases of the European Society of
Cardiology. Eur Heart J. 2005;26(5):516-24.
67. Nagueh SF, McFalls J, Meyer D, Hill R, Zoghbi WA, Tam JW, et al. Tissue
Doppler imaging predicts the development of hypertrophic cardiomyopathy in
subjects with subclinical disease. Circulation. 2003;108(4):395-8.
68. Judge DP. Use of genetics in the clinical evaluation of cardiomyopathy.
JAMA. 2009;302(22):2471-6.
MIOCARDIOPATIA RESTRITIVA
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 72 anos, hipertensa leve, em uso de captopril, com queixas de
cansaço progressivo aos esforços que vem se acentuando nos últimos seis meses.
Refere cansaço mesmo em repouso nos últimos dias. Relata episódios de “despertar
noturno súbito devido à falta de ar”. Notou edema dos membros inferiores e plenitude
pós-prandial, que vem se acentuando recentemente. Deu entrada em serviço de
emergência, com o seguinte exame clínico:
Vídeo 1
Corte paraesternal longitudinal, revelando importante infiltração ventricular (aspecto
granulado), infiltração das valvas e do septo interatrial. Nota-se aumento biatrial,
presença de derrame pleural e derrame pericárdico.
Vídeo 2
Corte apical 4 câmaras, revelando importante infiltração ventricular (aspecto
granulado), infiltração das valvas e do septo interatrial. Nota-se aumento biatrial,
presença de derrame pleural e derrame pericárdico. O aspecto granular é bastante
sugestivo de amiloidose.
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa dos sintomas?
Com isso foi possível classificar esta paciente do ponto de vista sindrômico: IC com
aumento biatrial e infiltração ventricular. A partir daí ampliam-se as hipóteses
diagnósticas dentre as causas de miocardiopatias restritivas (MCR).
Existe uma série de doenças ligadas ao aspecto restritivo do coração. Para uma melhor
classificação etiológica, separam-se as doenças que acometem o miocárdio e o
endocárdio; e ainda, se a MCR é do tipo infiltrativo ou não infiltrativo(Quadro 1).2
Quadro 1
Classificação e causas das MCR de acordo com a etiologia
* condições mais encontradas na prática clínica
Fonte: Kushwaha et al.2
Frente às hipóteses etiológicas apresentadas (Quadro 1), o foco se dirige para as mais
comuns na prática clínica: MCR idiopática, amiloidose e sarcoidose. Dentre os
pacientes que se apresentam com um quadro estrutural sugestivo de MCR, somente em
50% dos casos define-se uma etiologia; os restantes são de natureza idiopática. Ou
seja, defronta-se com um quadro clínico de insuficiência cardíaca, cavidades atriais
dilatadas, ventrículos de tamanho e função preservados e nenhum grau de infiltração
ventricular (MCR, com acometimento miocárdico, não infiltrativo).
Vídeo 3
Corte apical 4 câmaras revelando importante aumento biatrial, com ventrículos de
dimensões normais e função sistólica preservada. Notem a ausência de infiltração
ventricular. Com a exclusão de doenças sistêmicas que podem cursar com esta
apresentação, o diagnóstico é bastante sugestivo de MCR idiopática (correspondente a
50% dos casos).
Vídeo 4
Corte subcostal direcionado para a veia cava inferior. Mesmo paciente do vídeo 3,
portador de MCR idiopática, onde se observa aumento do calibre da veia cava inferior
e pequena variação inspiratória, denotando aumento nas pressões venosas sistêmicas.
Figura 1
Fluxo mitral em paciente com MCR idiopática, onde se observa uma grande onda E, com pequena contribuição atrial
(onda A). A relação E/A >2 revela alteração diastólica do tipo restritivo, denotando pressões de enchimento elevadas e
um prognóstico adverso.
Figura 2
Fluxo mitral obtido através do Doppler tecidual, no anel mitral septal, em paciente com MCR idiopática, onde se
observa uma velocidade bastante reduzida da onda E’, comum em pacientes com doença restritiva. Estabelecendo a
relação da onda E (fluxo mitral ao Doppler convencional), com a onda E’ do fluxo mitral ao Doppler tecidual, encontra-
se uma relação E/E’ elevada (neste exemplo igual 37), denotando pressões de enchimento elevadas.
A fisiologia restritiva faz com que a maior parte do enchimento ventricular ocorra de
forma precoce e abrupta no início da diástole (responsável pelas grandes ondas “E” do
fluxo mitral), com uma pequena contribuição atrial ao final da diástole. Quando se
registram curvas de pressão neste exato momento, obtém-se a característica dip-and-
plateau ou square-root (sinal da raiz quadrada), curvas essas similares às encontradas
nas pericardites constritivas.
Nos pacientes com infiltração ventricular, ocorre uma maior rigidez dessas câmaras,
dificultando ainda mais a diástole10. Com pressões de enchimento progressivamente
maiores, os pacientes se apresentam com intolerância ao esforço, resultado da
incapacidade de aumentar o débito cardíaco em frequências cardíacas mais elevadas.
Manifestações mais sistêmicas podem estar presentes, como fraqueza, mal-estar
generalizado e inapetência.
Com o avançar da doença e desenvolvimento de hipertensão pulmonar, o ventrículo
direito passa a ser acometido, com surgimento de edema dos membros inferiores,
anasarca, hepatomegalia e turgência jugular.
Vídeo 5
Corte apical 4 câmaras, com zoom na região apical do VE, mostrando ocupação com
material fibrótico, podendo inclusive simular um trombo na ponta do VE. Novamente os
átrios são grandes e os ventrículos de dimensões normais (a ponta do VE encontra-se
obliterada por esse material).
Como em boa parte dos casos prevalece a MCR do tipo idiopática, devem-se tentar
todas as formas diagnósticas possíveis. A pericardite constritiva é a principal síndrome
que cabe afastar, visto a grande dificuldade de diferenciação e a possibilidade de maior
sucesso terapêutico. No Quadro 2, encontram-se as principais ferramentas utilizadas
para essa complicada distinção17.
Quadro 2
Diagnóstico diferencial entre as miocardiopatias restritivas e as pericardites
constritivas
Fonte: Braunwald’s Heart Disease17
PSAP=pressão sistólica da artéria pulmonar; Resp= respiratória; Dir=direita; Esq=esquerda; E’=onda E’
Referências
1. McKee PA, Castelli WP, McNamara PM, Kannel WB. The natural history of
congestive heart failure: the Framingham study. N Engl J Med.
1971;285(26):1441-6.
2. Kushwaha SS, Fallon JT, Fuster V. Restrictive cardiomyopathy. N Engl J
Med. 1997;336(4):267-76.
3. Falk RH. Diagnosis and management of the cardiac amyloidoses. Circulation.
2005;112(13):2047-60.
4. Okura Y, Dec GW, Hare JM, Kodama M, Berry GJ, Tazelaar HD, et al. A
clinical and histopathologic comparison of cardiac sarcoidosis and
idiopathic giant cell myocarditis. J Am Coll Cardiol. 2003;41(2):322-9.
5. Maceira AM, Joshi J, Prasad SK, Moon JC, Perugini E, Harding I, et al.
Cardiovascular magnetic resonance in cardiac amyloidosis. Circulation.
2005;111(2):186-93.
6. Appel JM, Sogaard P, Mortensen CE, Skagen K, Nielsen DL. Tissue-Doppler
assessment of cardiac left ventricular function during short-term adjuvant
epirubicin therapy for breast cancer. J Am Soc Echocardiogr.
2011;24(2):200-6.
7. Jassal DS, Han SY, Hans C, Sharma A, Fang T, Ahmadie R, et al. Utility of
tissue Doppler and strain rate imaging in the early detection of trastuzumab
and anthracycline mediated cardiomyopathy. J Am Soc Echocardiogr.
2009;22(4):418-24.
8. Grupo de Estudos em Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de
Cardiologia (GEIC/SBC); Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica;
Instituto do Coração - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo;
Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo; Kalil Filho R, Hajjar LA, Bacal F, Hoff PM, Diz
MP, Galas FR, et al. I Diretriz Brasileira de Cardio-Oncologia da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2011;96(2 supl. 1):1-52.
9. Rahman JE, Helou EF, Gelzer-Bell R, Thompson RE, Kuo C, Rodriguez ER,
et al. Noninvasive diagnosis of biopsy-proven cardiac amyloidosis. J Am
Coll Cardiol. 2004;43(3):410-5.
10. Higano ST, Azrak E, Tahirkheli NK, Kern MJ. Hemodynamic rounds series
II: hemodynamics of constrictive physiology: influence of respiratory
dynamics on ventricular pressures. Catheter Cardiovasc Interv.
1999;46(4):473-86.
11. Marijon E, Ou P. What do we know about endomyocardial fibrosis in
children of Africa? Pediatr Cardiol. 2006;27(4):523-4.
12. Hassan WM, Fawzy ME, Al Helaly S, Hegazy H, Malik S. Pitfalls in
diagnosis and clinical, echocardiographic, and hemodynamic findings in
endomyocardial fibrosis: a 25-year experience. Chest. 2005;128(6):3985-92.
13. Swain SM, Whaley FS, Ewer MS. Congestive heart failure in patients treated
with doxorubicin: a retrospective analysis of three trials. Cancer.
2003;97(11):2869-79.
14. Jensen BV, Skovsgaard T, Nielsen SL. Functional monitoring of anthracycline
cardiotoxicity: a prospective, blinded, long-term observational study of
outcome in 120 patients. Ann Oncol. 2002;13(5):699-709.
15. Mackey JR, Clemons M, Côté MA, Delgado D, Dent S, Paterson A, et al.
Cardiac management during adjuvant trastuzumab therapy: recommendations
of the Canadian Trastuzumab Working Group. Curr Oncol. 2008;15(1):24-35.
16. Felker GM, Thompson RE, Hare JM, Hruban RH, Clemetson DE, Howard
DL, et al. Underlying causes and long-term survival in patients with initially
unexplained cardiomyopathy. N Engl J Med. 2000;342(15):1077-84.
17. Libby P, Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, eds. Braunwald’s Heart Disease: a
textbook of cardiovascular medicine. 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2008.
p.1829-53.
MIOCARDITES
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 32 anos, negro, sem comorbidades prévias, natural da Bahia,
residente do Rio de Janeiro. Iniciou quadro de dor torácica localizada, tipo pressão,
sem irradiação e sem fatores agravantes ou de melhora, após período de intenso
exercício físico. Evoluiu após dois dias com dispneia aos pequenos esforços, com
necessidade de ida ao setor de emergência.
OBJETIVOS
1. Discutir modelos de apresentação clínica e diagnósticos diferenciais.
2. Descrever a fisiopatologia da miocardite viral com prevalência dos vírus
mais comuns.
3. Discutir a avaliação inicial de pacientes com suspeita de miocardite.
4. Identificar o papel dos exames de imagem no diagnóstico de miocardite.
5. Avaliar a importância da biopsia endomiocárdica e sua indicação.
6. Discutir medidas terapêuticas iniciais e especificas.
7. Analisar o suporte circulatório e o prognóstico.
PERGUNTAS
1. Qual o diagnóstico provável para este caso e os possíveis diagnósticos
diferenciais?
Por se tratar de um homem jovem, sem comorbidades prévias, que evolui com dor
torácica após estresse físico agudo, alteração eletrocardiográfica, troponina negativa e
disfunção ventricular de início recente, deve-se considerar fortemente a hipótese de
miocardite, embora outros diagnósticos diferenciais sejam necessários.
A miocardite pode apresentar uma ampla gama de sintomas, variando de uma leve
dispneia ou dor torácica que se resolve sem tratamento específico, ao choque e à morte
súbita. A miocardite também não deve ser esquecida na presença de arritmias atriais ou
ventriculares e bloqueio cardíaco completo. Embora pródromos de infecções virais
como febre, mialgia, sintomas gastrintestinais ou respiratórios sejam classicamente
associados à miocardite, esses sintomas são extremamente variáveis1.
A dor torácica na miocardite aguda pode ser resultante de pericardite associada ou,
ocasionalmente de espasmo coronariano2. Em alguns casos, simula infarto agudo do
miocárdio e, em geral, essa apresentação clínica está relacionada com a presença de
infecção pelo parvovírus B19. Este vírus é capaz de induzir disfunção endotelial direta
bem como dano miocárdico pela inflamação gerada. A combinação de isquemia e
inflamação explica as alterações eletrocardiográficas e elevação enzimática. Como o
processo é focal, em geral esses pacientes cursam com função ventricular esquerda
preservada3.
A miocardite por células gigantes costuma evoluir com insuficiência cardíaca aguda,
progressiva, arritmias ventriculares concomitantes e a taxa de óbito ou transplante
cardíaco é aproximadamente de 70% em um ano4.
Na fase aguda ocorre replicação viral intensa e ativação macrocitária por proteínas
virais; estes por sua vez produzem IL1, IL2, TNF e IFN-γ, ocasionando intensa necrose
miocitária, sem infiltrados histológicos tão aparentes. Esta fase classicamente dura de
zero a quatro dias.
Assim a RNM cardíaca é indicada para pacientes admitidos com suspeita diagnóstica
de miocardite, em que há elevação enzimática e se faz necessário o diagnóstico
diferencial com infarto agudo do miocárdio ou para confirmação diagnóstica da
miocardite, naqueles já submetidos à estratificação anatômica normal. Pode ainda ser
indicada como avaliação evolutiva da doença quando repetida após quatro semanas do
exame diagnóstico inicial, permitindo a detecção ou não da regressão do acometimento
cardíaco.
Infelizmente este método não pode ser aplicado no modelo de pacientes mais graves
que se apresentem com instabilidade hemodinâmica, devido aos riscos oferecidos por
dificuldades logísticas na realização da técnica.
É recomendado cessação da atividade física aeróbica por alguns meses mesmo após a
recuperação, uma vez que em modelos animais a continuidade de exercícios aeróbicos
esteve relacionada com maiores taxas de mortalidade, em especial na miocardite pelo
coxsackievirus23.
7. Caso este paciente evolua com quadro de choque cardiogênico, quais são as
medidas a serem adotadas?
A miocardite fulminante é uma condição muito grave, com elevada letalidade em sua
apresentação, exigindo alto conhecimento do médico assistente sobre manejo
hemodinâmico para ultrapassar a fase crítica, em geral até duas semanas. Caso o
paciente sobreviva, existe possibilidade de resolução completa da miocardite, com o
paciente voltando a ter expectativa de vida semelhante à população normal.
Após estabilização inicial, o paciente deve ser conduzido à sala de hemodinâmica para
afastar a presença de doença coronariana e realização de biopsia miocárdica na
suspeição de miocardite.
A circulação extracorpórea (ECMO) pode ser utilizada em até 5 a 7 dias, sendo útil
também nos distúrbios de troca gasosa por vezes relacionados (hipoxemia/retenção de
CO2), porém esta técnica é de uso mais amplo nos choques relacionados à cirurgia
cardíaca para saída de CEC.
Outros fatores relacionados ao mau prognóstico são pacientes com classe funcional
(NYHA) avançada, sinais imuno-histológicos de inflamação e o não uso de
betabloqueadores. A presença da persistência viral também tem sido associada com
disfunção ventricular esquerda progressiva.
Referências
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 57 anos, branca, natural de Maceió (AL), residente no Rio de
Janeiro há 16 anos. Apresenta cansaço aos grandes esforços há quatro anos, sendo que
há seis meses evoluiu para cansaço aos mínimos esforços. É tabagista há 30 anos (1\2
maço/dia). Residiu em casa de pau a pique em sua terra natal e conhece o mosquito
“barbeiro”. Nega hemotransfusão.
Sinais vitais: PA =100/60mmHg; Temp =36°C; FC =47bpm; FR =18irpm.
Ectoscopia: Lúcida, orientada no tempo e no espaço. Apresenta-se normocorada,
anictérica, acianótica e hidratada. Levemente dispneica em ar ambiente. Presença de
turgência jugular a 45°.
Ecocardiograma:
DDFVE: 6,8; DSFVE: 5,6; VSFVE: 153
Fração de ejeção (método Simpson) =31%
Insuficiência mitral: moderada
Insuficiência tricúspide: leve
Veia cava inferior/congestão: ausente
Ergoespirometria:
Duração: 8min20s; Distância percorrida: 0,24 milhas
FC max: 95bpm; VE/VCO2: 39
Limiar anaeróbio prejudicado: não
Limiar anaeróbio: 80
Pulso de oxigênio: 6,8; VO2 max: 12,5; R (VO2/VCO2): 1,26
Grupo funcional: III
Holter:
Total de batimentos: 87649; Total de ectopias ventriculares: 18194; Total de ectopias
supraventriculares: 1; Total de salvas em TVNS: 7
Variabilidade da FC (SDNN): 137; Variabilidade da FC (SDANN): 121
Quadro 1
Tratamento medicamentoso da cardiomiopatia chagásica
Quadro 2
Evolução laboratorial
Sódio sérico: mEq/L; Potássio: mEq/L; Glicemia: mg/dL; Ureia: mg/dL; Creatinina: mg/dL
Hemoglobina: milhões/mm3; Hematócrito: %; Leucócitos: mm3; TGO: U/L; TGP: U/L; GGT: U/L. Bilirrubinas totais:
mg/dL; Bilirrubina direta: mg/dL; Bilirrubina indireta: mg/dL; Tempo de protrombina: s; RNI: 0,97
Quadro 3
Evolução ecocardiográfica
DDFVE=diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo; DSFVE=diâmetro sistólico final do ventrículo esquerdo;
VSFVE=volume sistólico final de ventrículo esquerdo; VE=ventrículo esquerdo
Durante a evolução, o teste cardiopulmonar foi realizado com intervalo de seis meses e
demonstrou que a paciente passou da classe funcional III para a classe funcional I com
aumento da duração do teste de 12,5min para 16min, passando de um pulso de oxigênio
de 10ml p/bat no primeiro teste para 13ml p/bat no segundo teste. Houve aumento do
VO2 max (ml/kg/min) de 21,85ml/kg/min para 24,04ml/kg/min (Quadro 4).
Quadro 4
Evolução pela ergoespirometria
OBJETIVOS
1. Discutir as novas fronteiras para o diagnóstico da cardiopatia chagásica
crônica (CCC).
2. Estabelecer a relação dos sinais e sintomas com a fisiopatologia da CCC.
3. Discutir os mecanismos fisiopatológicos e patogênicos da CCC.
4. Definir as bases terapêuticas da CCC.
5. Discutir o tratamento farmacológico das arritmias na CCC.
6. Analisar as indicações de transplante cardíaco e terapia celular na CCC.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam explicar a causa dos sintomas?
O principal sintoma apresentado pela paciente foi cansaço, inicialmente aos grandes
esforços e, posteriormente, aos mínimos esforços, acompanhado de sinais clássicos de
insuficiência cardíaca congestiva: estertores crepitantes bibasais e síndrome de
congestão venosa sistêmica exteriorizada por turgência jugular a 45º, hepatomegalia
com refluxo hepatojugular e edema de membros inferiores.
É importante ressaltar que na CCC o surgimento do flutter atrial e fibrilação atrial são
mais tardios e se instalam geralmente nos quadros de grave disfunção ventricular29,30.
Nos pacientes com CCC e dor anginosa, a cintilografia de perfusão miocárdica pode
demonstrar déficits de perfusão segmentar em até 30% e com coronariografia normal, o
que reflete alteração da microcirculação coronariana. Esse distúrbio se correlaciona
com a redução progressiva da função ventricular9,10.
Uma indicação fundamental do EEF está na situação em que uma taquicardia ventricular
é refratária e, portanto, susceptível à ablação de focos arritmogênicos46.
O cateterismo cardíaco na CCC não é um exame de rotina e deve ser reservado para
situações em que o paciente apresente múltiplos fatores de risco para doença arterial
coronariana, dor precordial típica, com a demonstração de uma extensa área isquêmica
por métodos não invasivos.
Diversos mecanismos são responsáveis pela patogenia das lesões cardíacas na CCC e
todos eles contribuem para implantar os diversos transtornos fisiopatológicos, que vão
se refletir na construção de uma miocardiopatia dilatada, marcada pela inflamação
crônica de baixa intensidade, mas permanente, o que vai contribuir para a destruição
tecidual progressiva e uma extensa fibrose cardíaca.
Disautonomia cardíaca
A depopulação neuronal predominantemente parassimpática é um fator demonstrado
exaustivamente por estudo necroscópico pioneiro47.
Vários métodos de avaliação funcional demonstram disautonomia cardíaca e essas
alterações podem ser encontradas antes da disfunção ventricular esquerda, em formas
indeterminadas ou digestivas da doença.
Distúrbios microcirculatórios
A inflamação é, sem dúvida, uma evidência na explicação de diversos aspectos da
agressão dirigida ao miocárdio na CCC. Alterações microvasculares, microtrombos,
espasmo microcirculatório, disfunção endotelial e aumento da atividade plaquetária são
deformações encontradas em modelos experimentais de infecção por Trypanosoma
cruzi51.
Mecanismos imunopatológicos
Se por um lado a fase indeterminada da doença de Chagas reflete um equilíbrio dos
mecanismos imunopatológicos, caracterizando-se por baixa parasitemia e uma
inflamação de baixa intensidade com evolução clínica benigna, fatores ainda não
totalmente esclarecidos podem romper esse equilíbrio protetor tornando mais intensa a
inflamação, necrose e fibrose, de forma difusa e progressiva.
Uma resposta inflamatória limitada está ligada a indivíduos com infecção controlada e
sem o desenvolvimento de alterações cardíacas estruturais importantes. Já aqueles que
se apresentam em forma de cardiopatia grave refletem a evolução com inflamação
grave, necrose e fibrose intensas.
A teoria sobre a reação do sistema imunológico à infecção pelo T.cruzi referindo sua
participação na cardiopatia chagásica crônica como um mecanismo essencial está
consolidada por inúmeras evidências experimentais e clínicas.
Com base nessa teoria, surge o racional de que mesmo na fase crônica, a CC é um
processo inflamatório infeccioso e, portanto, torna-se essencial verificar se nessa fase a
terapêutica antiparasitária será eficiente.
Já nas fases mais avançadas da CCC observa-se dilatação global, sendo que a estase
venosa associada à fibrilação atrial vão corroborar para a formação de trombos com
possível complicação para embolia pulmonar e sistêmica.
Finalmente, pode-se caracterizar a CCC como uma cardiopatia que pode se apresentar
em forma arritmogênica grave e/ou insuficiência cardíaca refratária e, além disso, de
forma embolizante.
Portanto pode-se definir a fase indeterminada como uma fase decididamente de bom
prognóstico. A CCC, ao ser comparada à evolução de outras cardiopatias crônicas,
sempre apresenta pior prognóstico e, nesse sentido, a disfunção ventricular esquerda é
apontada como marcador independente. Esse marcador pode se refletir como
cardiomegalia ao RX de tórax, reduzida fração de ejeção, ou aumento dos diâmetros
ventriculares ao ecocardiograma.
Nesse estudo, cardiopatas crônicos foram avaliados através de exames não invasivos e
as variáveis com valor prognóstico independente foram: classe funcional III e IV (5
pontos), cardiomegalia ao RX (5 pontos), disfunção ventricular ao eco (3 pontos),
TVNS ao Holter (3 pontos), baixa voltagem do QRS (2 pontos) e sexo masculino (2
pontos).
Através deste escore, pacientes com baixo risco (0 a 6 pontos) tiveram mortalidade de
10%, pacientes de risco intermediário (7 a 11 pontos) apresentaram mortalidade de
44% e aqueles com alto risco (12 a 20 pontos) tiveram uma mortalidade de 84% em 10
anos de acompanhamento.
Essa parte do tratamento será priorizada neste capítulo, considerando que a paciente
apresentada preenche todos os critérios para a CCC em forma avançada e utilizou
praticamente todos os temas enfatizados nesse contexto do capítulo.
A avaliação do captopril sobre a classe funcional de 115 pacientes com IC, incluindo
17% de pacientes portadores de CCC, mostrou benefício do bloqueio do sistema
renina-angiotensina-aldosterona, mas não houve separação dos efeitos entre as
etiologias estudadas67.
Portanto o uso dos IECA na CCC está recomendado em todos os pacientes com
disfunção ventricular esquerda desde a classe funcional I da New York Heart
Association (NYHA) até a classe funcional IV; quando os IECA apresentarem algum
efeito colateral intolerante, poder-se-á utilizar os BRA como alternativa, tendo como
suporte os estudos realizados para IC de outras etiologias68.
5.2.4 Digitálicos
Segundo o estudo The Digitalis Investigation Group79, o digital foi o único inotrópico
positivo testado em uso prolongado que não aumentou a mortalidade quando comparado
ao placebo, tendo com ele empatado, mas reduziu o número de internações por IC,
podendo ser acrescentado aos créditos do digital o fato de ser o fármaco utilizado há
mais tempo no tratamento da IC.
5.2.5 Diuréticos
Outra medida possível nesse contexto é a adição dos tiazídicos, nos casos de IC mais
avançada, visando à sua atuação no túbulo contornado distal; porém essa medida é
ineficaz quando o clearence de creatinina estiver <30ml/min.
A miocardite fibrosante crônica iniciada pela agressão pelo T.cruzi com formação de
aneurisma e cicatrizes será a responsável por grande parte das arritmias e transtornos
da condução na CCC.
A TVS bem tolerada em pacientes com boa função ventricular permite a utilização de
amiodarona e a ablação por cateter como possibilidade de abordagem, porém o CDI é a
conduta mais segura.
Fatores como idade mais jovem, menor número de comorbidades, menor incidência de
doença vascular do enxerto, menor hiper-resistência pulmonar e a ausência de cirurgia
prévia podem explicar esse melhor prognóstico de TC na CCC91.
1. Maguire JH, Mott KE, Lehman JS, Hoff R, Muniz TM, Guimarães AC, et al.
Relationship of electrocardiographic abnormalities and seropositivity to
Trypanosoma cruzi within a rural community in northeast Brazil. Am Heart J.
1983;105(2):287-94.
2. Maguire JH, Hoff R, Sherlock I, Guimarães AC, Sleigh AC, Ramos NB, et al.
Cardiac morbidity and mortality due to Chagas’ disease: prospective
electrocardiographic study of a Brazilian community. Circulation.
1987;75(6):1140-5.
3. Acquatella H. Echocardiography in Chagas’ heart disease. Circulation.
2007;115(9):1124-31.
4. Xavier SS, Sousa AS, Americano do Brasil PEA, Gabriel FG, Holanda MT,
Hasslocher-Moreno A. Aneurisma apical na fase crônica da doença de
Chagas: prevalência e valor prognóstico em uma coorte de 1053 pacientes.
Rev SOCERJ. 2005;18(4):351-6.
5. Marin-Neto JA, Bromberg-Marin G, Pazin-Filho A, Simões MV, Maciel BC.
Cardiac autonomic impairment and early myocardial damage involving the
right ventricle are independent phenomena in Chagas’ disease. Int J Cardiol.
1998;65(3):261-9.
6. Nunes MC, Rocha MO, Ribeiro AL, Colosimo EA, Rezende RA, Carmo GA,
et al. Right ventricular dysfunction is an independent predictor of survival in
patients with dilated chronic Chagas’ cardiomyopathy. Int J Cardiol.
2008;127(3):372-9.
7. Marin-Neto JA, Andrade ZA. Por que é usualmente predominante a
insuficiência cardíaca direita da Doença de Chagas? Arq Bras Cardiol.
1991;57(3):181-3.
8. Marin-Neto JA, Cunha-Neto E, Maciel BC, Simões MV. Pathogenesis of
chronic Chagas heart disease. Circulation. 2007;115(9):1109-23.
9. Marin-Neto JA, Marzullo P, Marcassa C, Gallo Júnior L, Maciel BC, Bellina
CR, et al. Myocardial perfusion abnormalities in chronic Chagas’ disease as
detected by thallium-201 scintigraphy. Am J Cardiol. 1992;69(8):780-4.
10. Hiss FC, Lascala TF, Maciel BC, Marin-Neto JA, Simões MV. Changes in
myocardial perfusion correlate with deterioration of left ventricular systolic
function in chronic Chagas’ cardiomyopathy. JACC Cardiovasc Imaging.
2009;2(2):164-72.
11. Rassi A Jr, Rassi A, Little WC, Xavier SS, Rassi SG, Rassi AG, et al.
Development and validation of a risk score for predicting death in Chagas’
heart disease. N Engl J Med. 2006;355(8):799-808.
12. Oliveira-Filho J, Viana LC, Vieira-de-Melo RM, Faiçal F, Torreão JA, Villar
JA, et al. Chagas’ disease is an independent risk factor for stroke: baseline
characteristics of a Chagas’ Disease cohort. Stroke. 2005;36(9):2015-7.
13. Rassi A Jr, Rassi A, Rassi SG. Predictors of mortality in chronic Chagas’
disease: a systematic review of observational studies. Circulation.
2007;115(9):1101-8.
14. Simões MV, Pintya AO, Bromberg-Marin G, Sarabanda AV, Antloga CM,
Pazin-Filho A, et al. Relation of regional sympathetic denervation and
myocardial perfusion disturbance to wall motion impairment in Chagas’
cardiomyopathy. Am J Cardiol. 2000;86(9):975-81.
15. Marin-Neto JA, Simões MV, Ayres-Neto EM, Attab-Santos JL, Gallo L Jr,
Amorim DS, et al. Studies of the coronary circulation in Chagas’ heart
disease. Sao Paulo Med J. 1995;113(2):826-34.
16. Abuhid IM, Pedroso ERP, Rezende NA. Cintilografia para detecção de
comprometimento miocárdico na forma indeterminada da doença de Chagas.
Arq Bras Cardiol. 2010;95(1):30-4.
17. Marin-Neto JA, Marzullo P, Sousa AC, Marcassa C, Maciel BC, Iazigi N, et
al. Radionuclide angiographic evidence for early predominant right
ventricular involvement in patients with Chagas’ disease. Can J Cardiol.
1988;4(5):231-6.
18. Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AAV, Vilas-Boas F, Oliveira GMM, Bacal
F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana
para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. Arq Bras
Cardiol. 2011;97(2 supl. 3):1-47.
19. Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AAV, Vilas-Boas F, Oliveira GMM, Bacal
F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana
para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. Resumo
executivo. Arq Bras Cardiol. 2011;96(6):434-42.
20. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Consenso
Brasileiro em Doença de Chagas. Rev Soc Bras Med Trop. 2005;38(supl.
3):7-29.
21. Luquetti AO, Rassi A. Diagnóstico laboratorial da infecção pelo
Trypanosoma cruzi. In: Brener Z, Andrade ZA, Barral-Netto M (eds).
Trypanosoma cruzi e Doença de Chagas. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-
Koogan; 2000. p.344-78.
22. Saéz-Alquézar A, Luquetti AO, Pereira JB, Moreira EF, Gadelha MFS,
Garcia-Zapata MT, et al. Estudo multicêntrico: avaliação do desempenho de
conjuntos diagnósticos de hemaglutinação indireta, disponíveis no Brasil,
para o diagnóstico sorológico da infecção pelo Trypanosoma cruzi. Rev
Patol Trop. 1997;26(2):343-74.
23. Ministério da Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.
[Internet]. Curso 11: Doença de Chagas: triagem e diagnóstico sorológico em
Unidades Hemoterápicas e Laboratórios de Saúde Pública. Brasília; 1998.
(Série TELELAB, n.11). Disponível em:
<http://www.aids.gov.br/pagina/cursos>
24. Ferreira AW, Ávila SLM (eds). Diagnóstico laboratorial das principais
doenças infecciosas e autoimunes. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan;
2001.
25. da Silveira JF, Umezawa ES, Luquetti AO. Chagas disease: recombinant
Trypanosoma cruzi antigens for serological diagnosis. Trends Parasitol.
2001;17(6):286-91.
26. Luquetti AO, Ponce C, Ponce E, Esfandiari J, Schijman A, Revollo S, et al.
Chagas’ disease diagnosis: a multicentric evaluation of Chagas Stat-Pak, a
rapid immunochromatographic assay with recombinant proteins of
Trypanosoma cruzi. Diagn Microbiol Infect Dis. 2003;46(4):265-71.
27. Rosenbaum MB, Alvarez AJ. The electrocardiogram in chronic chagasic
myocarditis. Am Heart J. 1955;50(4):492-527.
28. Dias JC, Kloetzel K. The prognostic value of the electrocardiographic
features of chronic Chagas’ disease. Rev Inst Med Trop Sao Paulo.
1968;10(3):158-62.
29. Maia IG, Sá RS, Loyola LH, de Araujo PP, Monteiro SM, Amino JG, et al. O
nódulo sinusal na cardiopatia chagásica crônica. Arq Bras Cardiol.
1983;40(2):91-6.
30. Myerburg RJ, Kessler KM, Bassett AL, Castellanos A. A biological
approach to sudden cardiac death: structure, function and cause. Am J
Cardiol. 1989;63(20):1512-6.
31. Porto CC. O eletrocardiograma no prognóstico e evolução da doença de
Chagas. Arq Bras Cardiol. 1964;17:313-46.
32. Viotti RJ, Vigliano C, Laucella S, Lococo B, Petti M, Bertocchi G, et al.
Value of echocardiography for diagnosis and prognosis of chronic Chagas’
disease cardiomyopathy without heart failure. Heart. 2004;90(6):655-60.
33. Barros MV, Ribeiro AL, Machado FS, Rocha MO. Doppler tissue imaging to
assess systolic function in Chagas’ disease. Arq Bras Cardiol.
2003;80(1):36-40.
34. Barros MV, Machado FS, Ribeiro AL, da Costa Rocha MO. Detection of
early right ventricular dysfunction in Chagas’ disease using Doppler tissue
imaging. J Am Soc Echocardiogr. 2002;15(10 Pt 2):1197-201.
35. Barros MV, da Costa Rocha MO, Ribeiro AL, Machado FS. Tissue Doppler
imaging enables the identification of diastolic dysfunction of pseudonormal
pattern in Chagas’ disease. J Am Soc Echocardiogr. 2001;14(5):353-9.
36. Adaniya ME, Migliore RA, Miramont G, Barranco M, Guerrero FT,
Tamagusuku H. Influence of apical segmental dysfunction in the spatio-
temporal velocity propagation of mitral inflow: a color M-mode Doppler
study. [Abstract]. J Am Soc Echocardiogr. 2000;13:473.
37. Acquatella H, Pérez JE, Côndado JA, Sánchez I. Limited myocardial
contractile reserve and chronotropic incompetence in patients with chronic
Chagas’ disease: assessment by dobutamine stress echocardiography. J Am
Coll Cardiol. 1999;33(2):522-9.
38. Viotti R, Vigliano C, Lococo B, Petti M, Bertocchi G, De Cecco F, et al.
Exercise stress testing as a predictor of progression of early chronic Chagas’
heart disease. Heart. 2006;92(3):403-4.
39. Dias JCP, Machado EM, Borges EC, Moreira EF, Gontijo C, Azeredo BV.
Doença de Chagas em Lassance, Minas Gerais Reavaliação
clínicoepidemiológica 90 anos após a descoberta de Carlos Chagas. Rev Soc
Bras Med Trop. 2002;35(2):167-76.
40. Dias JC. The indeterminate form of human chronic Chagas’ disease. A
clinical epidemiological review. Rev Soc Bras Med Trop. 1989;22(3):147-
56.
41. Marin-Neto JA, Rassi A Jr, Maciel BC, Simões MV, Schmidt A. Chagas’
heart disease. In: Yusuf S, Cairns J, Camm J, Fallen EL, Gersh BJ (eds).
Evidence-based Cardiology. 3rd ed. London: BMJ Books; 2010. p.823-41.
42. Ianni BM, Arteaga E, Frimm CC, Pereira Barreto AC, Mady C. Chagas’ heart
disease: evolutive evaluation of electrocardiographic and echocardiographic
parameters in patients with the indeterminate form. Arq Bras Cardiol.
2001;77(1):59-62.
43. Rodriguez-Salas LA, Klein E, Acquatella H, Catalioti F, Davalos V, Gomez-
Mancebo JR, et al. Echocardiographic and clinical predictors of mortality in
chronic Chagas’ disease. Echocardiography. 1998;15(3):271-8.
44. Rochitte CE, Oliveira PF, Andrade JM, Ianni BM, Parga JR, Avila LF, et al.
Myocardial delayed enhancement by magnetic resonance imaging in patients
with Chagas’ disease: a marker of disease severity. J Am Coll Cardiol.
2005;46(8):1553-8.
45. Pedrosa RC, Campos MC. Teste ergométrico e Holter 24 horas na detecção
de arritmias ventriculares complexas em diferentes estágios da cardiopatia
chagásica cronica. Rev Soc Bras Med Trop. 2004;37(5):376-83.
46. Scanavacca M, Sosa E. Electrophysiologic study in chronic Chagas’ heart
disease. Sao Paulo Med J. 1995;113(2):841-50.
47. Köberle F. Chagas’ heart disease and Chagas’ syndromes: the pathology of
American trypanosomiasis. Adv Parasitol. 1968;6:63-116.
48. Amorim DS, Manço JC, Gallo L Jr, Marin-Neto JA. Chagas’ heart disease as
an experimental model for studies of cardiac autonomic function in man.
Mayo Clin Proc. 1982;57(Suppl):48-60.
49. Medei EH, Nascimento JH, Pedrosa RC, Barcellos L, Masuda MO, Sicouri
S, et al. Antibodies with beta-adrenergic activity from chronic chagasic
patients modulate the QT interval and M cell action potential duration.
Europace. 2008;10(7):868-76.
50. Cunha AB, Cunha DM, Pedrosa RC, Flammini F, Silva AJ, Saad EA, et al.
Norepinephrine and heart rate variability: a marker of dysaytonomia in
chronic Chagas cardiopathy. Rev Port Cardiol. 2003;22(1):29-52.
51. Rossi MA. Microvascular changes as a cause of chronic cardiomyopathy in
Chagas’ disease. Am Heart J. 1990;120(1):233-6.
52. Higuchi ML, Benvenuti LA, Martins Reis M, Metzger M. Pathophysiology of
the heart in Chagas’ disease: current status and new developments.
Cardiovasc Res. 2003;60(1):96-107.
53. Garcia S, Ramos CO, Senra JF, Vilas-Boas F, Rodrigues MM, Campos-de-
Carvalho AC, et al. Treatment with benznidazole during the chronic phase of
experimental Chagas’ disease decreases cardiac alterations. Antimicrob
Agents Chemother. 2005;49(4):1521-8.
54. Viotti R, Vigliano C, Lococo B, Bertocchi G, Petti M, Alvarez MG, et al.
Long-term cardiac outcomes of treating chronic Chagas’ disease with
benznidazole versus no treatment: a nonrandomized trial. Ann Intern Med.
2006;144(10):724-34.
55. Waghabi MC, de Souza EM, de Oliveira GM, Keramidas M, Feige JJ,
Araújo-Jorge TC, et al. Pharmacological inhibition of transforming growth
factor beta signaling decreases infection and prevents heart damage in acute
Chagas’ disease. Antimicrob Agents Chemother. 2009;53(11):4694-701.
56. Silva CP, Del Carlo CH, Oliveira Jr MT, Scipioni A, Strunz-Cassaro C,
Ramires JAF, et al. Por que os portadores de cardiomiopatia chagásica têm
pior evolução que os não chagásicos? Arq Bras Cardiol. 2008;91(6):358-62.
57. Viotti R, Vigliano C, Lococo B, Petti M, Bertocchi G, Alvarez MG, et al.
Indicadores clínicos de progresión de la miocarditis chagásica crónica. Rev
Esp Cardiol. 2005;58(9):1037-44.
58. Theodoropoulos TAD, Bestetti RB, Otaviano AP, Cordeiro JA, Rodrigues
VC, Silva AC. Predictors of all-cause mortality in chronic Chagas’ heart
disease in the current era of heart failure therapy. Int J Cardiol.
2008;128(1):22-9.
59. Andrade SG, Stocker-Guerret S, Pimentel AS, Grimaud JA. Reversibility of
cardiac fibrosis in mice chronically infected with Trypanosoma cruzi, under
specific chemotherapy. Mem Inst Oswaldo Cruz. 1991;86(2):187-200.
60. Fragata Filho AA. Tratamento etiológico da doença de Chagas. Rev Soc
Cardiol Estado de São Paulo. 2009;19(1):2-5.
61. Rassi A Jr, Rassi A, Marin-Neto JA. Chagas’ disease. Lancet.
2010;375(9723):1388-402.
62. Bern C, Montgomery SP, Herwaldt BL, Rassi A Jr, Marin-Neto J, Dantas RO,
et al. Evaluation and treatment of Chagas’ disease in United States: a
systematic review. JAMA. 2007;298(18):2171-81.
63. Fabbro DL, Streiger ML, Arias ED, Bizai ML, del Barco M, Amicone NA.
Trypanocide treatment among adults with chronic Chagas’ disease living in
Santa Fe city (Argentina), over a mean follow-up of 21 years:
parasitological, serological and clinical evolution. Rev Soc Bras Med Trop.
2007;40(1):1-10.
64. Marin-Neto JA, Rassi A Jr, Morillo CA, Avezum A, Connolly SJ, Sosa-
Estani S, et al; BENEFIT Investigators. Rationale and design of a randomized
placebo-controlled trial assessing the effects of etiologic treatment in Chagas’
cardiomyopathy: the BENznidazol Evaluation For Interrupting
Trypanosomiasis (BENEFIT). Am Heart J. 2008;156(1):37-43.
65. Hunt SA, Abraham WT, Chin MH, Feldman AM, Francis GS, Ganiats TG, et
al; American College of Cardiology Foundation; American Heart
Association. 2009 Focused update incorporated into the ACC/AHA 2005
Guidelines for the Diagnosis and Management of Heart Failure in Adults. A
Report of the American College of Cardiology Foundation/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines developed in collaboration
with the International Society for Heart and Lung Transplantation. J Am Coll
Cardiol. 2009;53(15):e1-e90. Erratum in: J Am Coll Cardiol.
2009;54(25):2464.
66. Mady C, Ianni BM, Arteaga E, Montes GS, Caldini EG, Andrade G, et al.
Relation between interstitial myocardial collagen and the degree of clinical
impairment in Chagas’ disease. Am J Cardiol. 1999;84(3):354-6, A9.
Erratum in: Am J Cardiol. 1999;84(12):1456.
67. Batlouni M, Barretto AC, Armaganijan D, Vichi FL, Spritzer N, Simões R, et
al. [Treatment of mild and moderate cardiac failure with captopril. A
multicenter study]. Arq Bras Cardiol. 1992;58(5):417-21.
68. McMurray JJ, Ostergren J, Swedberg K, Granger CB, Held P, Michelson EL,
et al; CHARM Investigators and Committees. Effects of candesartan in
patients with chronic heart failure and reduced left-ventricular systolic
function taking angiotensin-converting-enzyme inhibitors: the CHARM-
Added trial. Lancet. 2003;362(9386):767-71.
69. Pitt B, Zannad F, Remme WJ, Cody R, Castaigne A, Perez A, et al. The effect
of spironolactone on morbidity and mortality in patients with severe heart
failure. Randomized Aldactone Evaluation Study Investigators. N Engl J
Med. 1999;341(10):709-17.
70. The Cardiac Insufficiency Bisoprolol Study II (CIBIS-II): a randomised trial.
Lancet. 1999;353(9146):9-13.
71. Packer M, Bristow MR, Cohn JN, Colucci WS, Fowler MB, Gilbert EM, et
al. The effect of carvedilol on morbidity and mortality in patients with
chronic heart failure. U.S. Carvedilol Heart Failure Study Group. N Engl J
Med. 1996;334(21):1349-55.
72. Packer M, Coats AJ, Fowler MB, Katus HA, Krum H, Mohacsi P, et al;
Carvedilol Prospective Randomized Cumulative Survival Study Group.
Effect of carvedilol on survival in severe chronic heart failure. N Engl J
Med. 2001;344(22):1651-8.
73. Dargie HJ. Effect of carvedilol on outcome after myocardial infarction in
patients with left-ventricular dysfunction: the CAPRICORN randomised trial.
Lancet. 2001;357(9266):1385-90.
74. Colucci WS, Packer M, Bristow MR, Gilbert EM, Cohn JN, Fowler MB, et
al. Carvedilol inhibits clinical progression in patients with mild symptoms of
heart failure. US Carvedilol Heart Failure Study Group. Circulation.
1996;94(11):2800-6.
75. Hjalmarson A, Goldstein S, Fagerberg B, Wedel H, Waagstein F, Kjekshus J,
et al. Effects of controlled-release metoprolol on total mortality,
hospitalizations, and well-being in patients with heart failure: the Metoprolol
CR/XL Randomized Intervention Trial in congestive heart failure (MERIT-
HF). MERIT-HF Study Group. JAMA. 2000;283(10):1295-302.
76. Botoni FA, Poole-Wilson PA, Ribeiro AL, Okonko DO, Oliveira BM, Pinto
AS, et al. A randomized trial of carvedilol after renin-angiotensin system
inhibition in chronic Chagas’ cardiomyopathy. Am Heart J.
2007;153(4):544.e1-8.
77. Carson P, Ziesche S, Johnson G, Cohn JN. Racial differences in response to
therapy for heart failure: analysis of the vasodilator-heart failure trials.
Vasodilator-Heart Failure Trial Study Group. J Card Fail. 1999;5(3):178-87.
78. Taylor AL, Ziesche S, Yancy C, Carson P, D’Agostino R Jr, Ferdinand K, et
al; African-American Heart Failure Trial Investigators. Combination of
isosorbide dinitrate and hydralazine in blacks with heart failure. N Engl J
Med. 2004;351(20):2049-57. Erratum in: N Engl J Med. 2005;352(12):1276.
79. The Digitalis Investigation Group. The effect of digoxin on mortality and
morbidity in patients with heart failure. The Digitalis Investigation Group. N
Engl J Med. 1997;336(8):525-33.
80. Ramires FJA, Pimentel WS. Formas clínicas e tratamento – Tratamento
farmacológico da disfunção miocárdica. (Parte III). In: Mady C, Ianni BM
(eds). A Cardiopatia da Doença de Chagas. São Paulo: Roca; 2009. p. 247-
55.
81. Brater DC. Diuretic therapy. N Engl J Med. 1998;339(6):387-95.
82. Tanowitz HB, Machado FS, Jelicks LA, Shirani J, de Carvalho AC, Spray
DC, et al. Perspectives on Trypanosoma cruzi-induced heart disease (Chagas
disease). Prog Cardiovasc Dis. 2009;51(6):524-39.
83. Henz BD, do Nascimento TA, Dietrich CO, Dalegrave C, Hernandes V,
Mesas CE, et al. Simultaneous epicardial and endocardial substrate mapping
and radiofrequency catheter ablation as first-line treatment for ventricular
tachycardia and frequent ICD shocks in chronic chagasic cardiomyopathy. J
Interv Card Electrophysiol. 2009;26(3):195-205.
84. Ribeiro AL, Ferreira LM, Oliveira E, Cruzeiro PC, Torres RM, Rocha MO.
Active orthostatic stress and respiratory sinus arrhythmia in patients with
Chagas’ disease with preserved left ventricular global systolic function. Arq
Bras Cardiol. 2004;83(1):40-4;35-9.
85. d’Avila A, Splinter R, Svenson RH, Scanavacca M, Pruitt E, Kasell J, et al.
New perspectives on catheter-based ablation of ventricular tachycardia
complicating Chagas’ disease: experimental evidence of the efficacy of near
infrared lasers for catheter ablation of Chagas’ VT. J Interv Card
Electrophysiol. 2002;7(1):23-38.
86. Takehara K, Scanavacca M, Sosa E, Lopes E, Barbero Marcial M, Consolim
FM, et al. Aspectos anatomopatológicos do foco da taquicardia ventricular
sustentada recorrente da cardiopatia chagásica crônica (Abstract). Arq Bras
Cardiol. 1990;55(supl. B):B-68.
87. Sosa E, Scanavacca M, D’Avila A, Piccioni J, Sanchez O, Velarde JL, et al.
Endocardial and epicardial ablation guided by nonsurgical transthoracic
epicardial mapping to treat recurrent ventricular tachycardia. J Cardiovasc
Electrophysiol. 1998;9(3):229-39.
88. Scanavacca M, Sosa E. Epicardial ablation of ventricular tachycardia in
Chagas heart disease. Card Electrophysiol Clin. 2010;2(1):55-67.
89. Rocha A, Cunha JA, Daud W, Heredia RA, Gomes HB, Mantese O, et al.
[Chronic Chagas’ cardiopathy causing congestive heart failure in childhood: a
clinical and histopathological study of a case with emphasis on the lesions of
intracardiac conduction and autonomic nervous systems]. Rev Soc Bras Med
Trop. 1993;26(4):243-9.
90. Borrotchin M, Carvalho SM, Veloso DP. O eletrocardiograma em 70
pacientes com a forma crônica da doença de Chagas. Arq Bras Cardiol.
1954;7(1):26-39.
91. Bestetti RB, Theodoropoulos TA. A systematic review of studies on heart
transplantation for patients with end-stage Chagas’ heart disease. J Card Fail.
2009;15(3):249-55.
92. Goldenberg RC, Jelicks LA, Fortes FS, Weiss LM, Rocha LL, Zhao D, et al.
Bone marrow cell therapy ameliorates and reverses chagasic cardiomyopathy
in a mouse model. J Infect Dis. 2008;197(4):544-7.
93. Soares MB, Garcia S, Campos de Carvalho AC, Ribeiro dos Santos R.
Cellular therapy in Chagas’ disease: potential applications in patients with
chronic cardiomyopathy. Regen Med. 2007;2(3):257-64.
94. Bocchi EA, Guimarães G, Bacal F, Mendroni A, Chamone D, Issa V, et al.
Stem cells mobilization treatment removing severe congestive heart failure
patients from heart transplantation indication-preliminary results. J Heart
Lung Transplant. 2003;22(1 Suppl):S124.
CARDIOMIOPATIA DE TAKOTSUBO
Anna Karinina Sá
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 73 anos, foi admitida com quadro de dor torácica na emergência,
com início há 40 minutos, após significativo estresse emocional (óbito do filho em
acidente de carro). Relata dor de característica crescente, de forte intensidade, com
irradiação para mandíbula associada à náusea.
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso clínico?
O termo cardiomiopatia por estresse foi utilizado pela primeira vez em 1980 por
Cebelin e Hirsch1, para descrever achados de autopsias de lesão miocárdica
compatível com injúria adrenérgica de pacientes que evoluíram para óbito subitamente,
como consequência de assalto, sem qualquer evidência de lesão interna. Na década
seguinte, relatos de disfunção miocárdica reversível devido ao estresse emocional,
hemorragia subaracnoidea e feocromocitoma foram descritos2.
Observa-se uma predileção para o sexo feminino, acima de 90%, com idade
avançada14, na menopausa sem reposição hormonal15; contudo há casos descritos em
homens e mulheres jovens. As características epidemiológicas, clínicas e prognósticas
têm se mostrado semelhantes nos diversos países, em sua maioria.
Diferente da SCA, esses pacientes apresentam bom prognóstico. Contudo, sua evolução
em longo prazo, recorrência, terapêutica extra-hospitalar e fatores prognósticos ainda
não estão bem definidos.
2.1.Sintomas
O cenário clínico da CMPT, normalmente é indistinguível da síndrome coronariana
aguda. Os sintomas iniciais mais frequentes são a dor torácica (68%) e a dispneia
(17%)2, podendo estar acompanhada de palpitação, náusea e síncope.
2.2 ECG
Os achados eletrocardiográficos sugerem SCA. A apresentação eletrocardiográfica
mais comum é a elevação do segmento ST em derivações precordiais (80%)2 (Figura
2). A elevação do segmento ST é menos pronunciada quando comparada com o
IAMCSST (infarto com supra do segmento ST)6. Alterações da onda T (64%),
prolongamento do intervalo QTc (32%), bloqueio atrioventricular (a maioria de
primeiro grau, 24%), bloqueio hemidivisional (menos de 5%), extrassístole ventricular
(33%) e supraventricular (45%) também podem estar presentes24.
Figura 2
Em A: ECG admissional com elevação do segmento ST nas derivações precordiais de V2 a V6, DI, aVL e DII.
Em B: ECG realizado após 24 horas ilustra evolução para inversão da onda T simétrica nas derivações precordiais20.
2.3 Biomarcadores
A elevação dos marcadores de necrose miocárdica (74-86%) geralmente é
desproporcional ao grau de disfunção miocárdica; no entanto sua ausência não exclui o
diagnóstico19. A cinética da troponina I e T na CMPT, quando comparada ao IAMCSST
com reperfusão, apresenta um pico menos elevado com descenso mais precoce6.
A elevação dos níveis de BNP é frequente (85%) e está relacionado com a sobrecarga
ventricular27. O nível sérico das catecolaminas, na fase aguda da CMPT, encontra-se
duas a três vezes mais elevado quando comparado ao do IAM8,27,28.
2.4 Coronariografia/Ventriculografia
Em decorrência da semelhança clínica do quadro com a síndrome coronariana aguda,
grande parte desses pacientes é encaminhada ao setor de hemodinâmica, onde a
coronariografia e ventriculografia são, em muitos casos, os exames de imagem iniciais.
Figura 3
Coronariografia sem lesão aterosclerótica obstrutiva.
Figura 4
Ventriculografia esquerda, na diástole e na sístole, ilustrando hipercontratilidade basal e acinesia nos segmentos médio
e apical (setas).
2.5 Ecocardiograma
O ecocardiograma é uma ferramenta útil para avaliação diagnóstica e hemodinâmica,
propiciando a melhor abordagem terapêutica. A apresentação inicial é marcada por
extenso comprometimento miocárdio com significativa redução da função ventricular
esquerda (Fração de ejeção <30%)6.
Figura 5
Ecocardiograma transtorácico apical 4 câmaras, no paciente com a CMPT clássica, ilustrando a presença do septo
sigmoide associado à acinesia apical15.
A associação de insuficiência mitral e movimento sistólico anterior da mitral,
desencadeando gradiente intraventricular, pode ocorrer em torno de 25% dos casos25.
Esses pacientes podem ter apresentação clínica inicial mais grave29.
Figura 6
Esquerda: RM cardíaca ilustrando em T2 edema porção apical e medioventricular esquerda.
Direita: Ausência de captação do realce tardio à visualização do ventrículo esquerdo.
Apesar de ser menos frequente a apresentação no sexo masculino, sua evolução clínica
é semelhante à do sexo feminino19.
Estima-se que a recorrência da cardiomiopatia seja entre 3,5% e 10%. São descritos
casos de recorrência com morfologias distintas. A dor torácica pode recorrer em torno
de 30% dos pacientes, mas a grande maioria (acima de 96%) segue assintomática2.
Referências
CASO CLÍNICO
Paciente masculino, 54 anos, operário de obra, sem antecedentes de doença crônica ou
história familiar de doença cardiovascular, apresentando queixa de dispneia
progressiva aos esforços nos últimos oito meses, atualmente em classe funcional NYHA
III procura atendimento médico ambulatorial.
Ao exame: Fácies atípica, corado, hidratado, afebril, eupneico com turgência jugular
patológica.
PA =110x60mmHg; FC =92bpm; Peso =76kg; Altura =1,78m; Cintura abdominal
=85cm; IMC =24kg/m2
AC: RCR em 3 tempos com terceira bulha do VE com íctus cordis palpável em sexto
espaço intercostal esquerdo na linha axilar anterior.
AR: Crepitação em bases pulmonares.
Abdome sem alterações e ausência de edema de MMII
OBJETIVOS
PERGUNTAS
1. Quais as hipóteses diagnósticas para o caso relatado?
Neste paciente com história de IC classe III NYHA e evolução nos últimos seis meses,
as hipóteses são: miocardite viral, cardiopatia isquêmica, cardiopatia dilatada,
hipertensiva, hipertrófica e infiltrativa bem como as cardiopatias congênitas que se
manifestam clinicamente no adulto.
Os critérios utilizados são os de Jenni et al.5 e os de Chin et al.6. Segundo Jenni et al.5,
o diagnóstico de miocárdio não compactado isolado se faz na ausência de anomalia
cardíaca coexistente e pela presença de ventrículo esquerdo com parede espessada e
constituída de duas camadas: uma camada epicárdica compactada e a camada
endocárdica com numerosas trabéculas proeminentes com sulcos profundos, com razão
de miocárdio não compactado para compactado maior que 2:1 no final da sístole, no
corte paraesternal; Doppler colorido com evidência de fluxo nos sulcos
intertrabeculares; e trama trabecular proeminente no ápex do ventrículo esquerdo ou
dos segmentos da parede inferior e lateral5-14.
Mutações em pelo menos nove genes têm sido relacionadas com miocárdio não
compactado isolado, que incluem a mutação no gene G4.5 no cromossomo Xq28 onde
outras miopatias com acometimento cardíaco também foram localizadas, como a
síndrome de Barth e a distrofia muscular de Emery-Dreifuss8-11. A deleção do
cromossomo 5q do gene cardíaco CSX tem implicações no desenvolvimento de alguns
casos de miocárdio não compactado isolado9-12.
Entre as arritmias, a fibrilação ocorre em cerca de 25% dos casos descritos em adultos
e a taquicardia ventricular em cerca de 47%, o que justifica a ocorrência de morte
súbita em 50% dos casos de pacientes com miocárdio não compactado isolado.
Alterações não específicas no eletrocardiograma de repouso são encontradas na
maioria dos pacientes, e incluem: inversão de onda T, alterações do segmento ST,
bloqueio de ramo direito, esquerdo e bloqueios atrioventriculares11-14.
A ocorrência de eventos tromboembólicos como acidente cerebrovascular, embolia
pulmonar e infarto mesentérico pode variar de 21% a 38%. As complicações embólicas
estão relacionadas à formação de trombo nos recessos intertrabeculares, à disfunção
ventricular esquerda e à presença de arritmias ventriculares e supraventiculares12-15.
A apresentação de miocárdio não compactado isolado é bem mais rara do que quando
encontrado associado a outras cardiopatias congênitas como anomalias do trato de
saída do ventrículo direito ou esquerdo, anomalias septais, síndromes metabólicas ou
doenças genéticas como: síndrome de Barth, doença de Charcot-Marie-Tooth e
síndrome de Melnick-Needles, por exemplo5-9. Além das complicações relacionadas a
essas associações, síndromes isquêmicas devido aos fenômenos tromboembólicos
podem estar presentes.
5. Qual é o prognóstico?
Cerca de 60% dos pacientes adultos evoluem para a morte ou indicação de transplante
cardíaco. A ocorrência de embolia sistêmica, arritmias ventriculares e morte é
consideravelmente baixa em pacientes pediátricos, embora 90% dos pacientes
pediátricos evoluam com disfunção ventricular em 10 anos1.
O tratamento desta cardiomiopatia tem como foco o controle das manifestações clínicas
já descritas anteriormente (insuficiência cardíaca, arritmias e eventos
tromboembólicos), além da terapia farmacológica e não farmacológica da insuficiência
cardíaca, quer seja sistólica ou diastólica.
O uso de carvedilol em crianças pequenas tem sido descrito como seguro em relatos de
casos17.
Referências
1. Oechslin EN, Attenhofer Jost CH, Rojas JR, Kaufmann PA, Jenni R. Long-
term follow-up of 34 adults with isolated left ventricular noncompaction: a
distinct cardiomyopathy with poor prognosis. J Am Coll Cardiol.
2000;36(2):493-500.
2. Maron BJ, Towbin JA, Thiene G, Antzetevitch C, Corrado C, Arnett D, et al;
American Heart Association; Council on Clinical Cardiology, Heart Failure
and Transplantation Committee; Quality of Care and Outcomes Research and
Functional Genomics and Translational Biology Interdisciplinary Working
Groups; Council on Epidemiology and Prevention. Contemporary definitions
and classification of the cardiomyopathies: an American Heart Association
Scientific Statement from the Council on Clinical Cardiology, Heart Failure
and Transplantation Committee; Quality of Care and Outcomes Research and
Functional Genomics and Translational Biology Interdisciplinary Working
Groups; and Council on Epidemiology and Prevention. Circulation.
2006;113(14):1807-16.
3. Ritter M, Oechslin E, Sütsch G, Attenhofer C, Schneider J, Jenni R. Isolated
noncompaction of the myocardium in adults. Mayo Clin Proc. 1997;72(1):26-
31.
4. Agmon Y, Connolly HM, Olson LJ, Khandheria BK, Seward JB.
Noncompaction of the ventricular myocardium. J Am Soc Echocardiogr.
1999;12(10):859-63.
5. Jenni R, Oechslin E, Schneider J, Attenhofer Jost C, Kaufmann PA.
Echocardiographic and pathoanatomical characteristics of isolated left
ventricular non-compaction: a step towards classification as a distinct
cardiomyopathy. Heart. 2001;86(6):666-71.
6. Chin TK, Perloff JK, Williams RG, Jue K, Mohrmann R. Isolated
noncompaction of left ventricular myocardium. A study of eight cases.
Circulation.1990;82(2):507-13.
7. Stöllberger C, Finsterer J. A diagnostic dilemma in non-compaction, resulting
in near expulsion from the Football World Cup. Eur J Echocardiogr.
2011;12(2):E8.
8. Rigopoulos A, Rizos IK, Aggeli C, Kloufetos P, Papacharalampous X,
Stefanadis C, et al. Isolated left ventricular noncompaction: an unclassified
cardiomyopathy with severe prognosis in adults. Cardiology. 2002;98(1-
2):25-32.
9. Zaragoza MV, Arbustini E, Narula J. Noncompaction of the left ventricle:
primary cardiomyopathy with an elusive genetic etiology. Curr Opin Pediatr.
2007;19(6):619-27.
10. Kelley-Hedgepeth A, Towbin JA, Maron MS. Images in cardiovascular
medicine. Overlapping phenotypes: left ventricular noncompaction and
hypertrophic cardiomyopathy. Circulation. 2009;119(23):e588-9.
11. Bleyl SB, Mumford BR, Brown-Harrison MC, Pagotto LT, Carey JC, Pysher
TJ, et al. Xq28-linked noncompaction of the left ventricular myocardium:
prenatal diagnosis and pathologic analysis of affected individuals. Am J Med
Genet. 1997;72(3):257-65.
12. Pauli RM, Scheib-Wixted S, Cripe L, Izumo S, Sekhon GS. Ventricular
noncompaction and distal chromosome 5q deletion. Am J Med Genet.
1999;85(4):419-23.
13. Murphy RT, Thaman R, Blanes JG, Ward D, Sevdalis E, Papra E, et al.
Natural history and familial characteristics of isolated left ventricular non-
compaction. Eur Heart J. 2005;26(2):187-92. Erratum in: Eur Heart J.
2008;29(15):1925.
14. Duru F, Candinas R. Noncompaction of ventricular myocardium and
arrhythmias. J Cardiovasc Electrophysiol. 2000;11(4):493.
15. Ichida F, Hamamichi Y, Miyawaki T, Ono Y, Kamiya T, Akagi T, et al.
Clinical features of isolated noncompaction of the ventricular myocardium:
long-term clinical course, hemodynamic properties, and genetic background.
J Am Coll Cardiol. 1999;34(1):233-40.
16. Corrado G, Fazio G, Zachara E, Rapezzi C, Sormani L, Carerj S, et al.
Natural history of isolated noncompaction of the ventricular myocardium in
adults. Data from the Societa Italiana di Ecografia Cardiovascolare (SIEC)
Registry. [Abstract]. Circulation. 2008;118:S948.
17. Kovacevic-Preradovic T, Jenni R, Oechslin EN, Noll G, Seifer B, Attenhofer
Jost CH. Isolated left ventricular noncompaction as a cause for heart failure
and heart transplantation: a single center experience. Cardiology.
2009;112(2):158-64.
18. Toyono M, Kondo C, Nakajima Y, Nakazawa M, Momma K, Kusakabe K.
Effects of carvedilol on left ventricular function, mass, and scintigraphic
findings in isolated left ventricular non-compaction. Heart. 2001;86(1):e4.
19. Sarma RJ, Chana A, Elkayam U. Left ventricular noncompaction. Progr
Cardiovasc Dis. 2010;52(4):264-73.