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Décimo Primeiro Dia

O treinamento dos santos

E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso, diz: Quando ele
subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que
também havia descido às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu
acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos
santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo. Ef 4:7-12
Nesse texto de Efésios lemos a respeito dos cinco ministério dados a Igreja. O objetivo desses cinco
ministérios é a edificação do corpo. O plano deles é usar todos os membros do corpo. O trabalho deles está
indicada no verso 12: eles foram levantados com vistas ao “[...] aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”.
Os cinco ministério foram constituídos pelo senhor para treinar os santos e não para fazer o trabalho no lugar
dos membros do corpo. Infelizmente esses ministérios foram transformados num tipo de neo-clericalismo.
As cinco funções se tornaram numa espécie de hierarquia espiritual.
Precisamos rejeitar o clericalismo porque ele destrói a edificação do corpo. O clericalismo é aquele
entendimento de que dentro da igreja que existem pessoas que estão mais próximas de Deus, ou que existem
pessoas que são mais capacitadas espiritualmente e por isso servem de intermediários entre Deus e os
homens. Isso é algo contrário a palavra de Deus. A palavra do Senhor diz claramente em 1. Pedro 2.9 que
cada crente é um sacerdote.
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. I Pe. 2:9
Não há mais intermediários entre o homem e Deus. Todos nós temos um único acesso por meio do Senhor
Jesus. O problema é que os crentes ainda procuram intermediários. Já que eu não posso orar para o Santo
Expedido, porque eu sou crente, vou pediu o pastor Aluízio para orar por mim. E você me transforma no
santo Aluizio. Infelizmente continuam com a antiga mentalidade religiosa do intermediário mais santo.
Existem irmãos que dizem para mim: “Pastor eu peço para você, porque você está mais perto de Deus.”
Isso tudo é lamentável. Não ficamos perto de Deus por causa de nossa justiça, mas unicamente por causa do
sangue de Jesus que nos aproximou.
A vontade de Deus é que cada um dos seus filhos seja um ministro! Quando você confessa, que o sangue te
lavou e purificou, você tem acesso a presença de Deus e os milagres podem acontecer através de você.
Portanto, apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres não são um tipo de hierarquia religiosa, onde o
apóstolo agora é maior de todos. Na verdade o apóstolo Paulo falou que Ele é o menor de todos os Santos
(Ef. 3:8). Ele não se viu como alguém especial. Na verdade ele dizia que era o principal dos pecadores (I
Tm. 1:15).
Quando ele diz que é o menor dos Santos não está sendo modesto. Ele está apenas falando a verdade. Ele é o
menor mesmo. E o menor dos Santos foi enviado como apóstolo. Portanto o apóstolo não significa ser o
maioral. Dentro da igreja não existe esse tipo de hierarquia.
Esses ministério não são títulos, mas são funções ministeriais. É evidente que existem dentro da igreja
pastores, mestres, evangelistas, profetas e apóstolos. Há irmãos entre nós que são mestres e outros são
evangelistas e profetas, no entanto não devemos chamá-los de mestres, evangelistas ou profetas. O Senhor
Jesus disse que não deveríamos chamar ninguém de mestre, pai ou guia.
Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. A
ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem sereis
chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo. Mt. 23:8-10
O Senhor mesmo constituiu alguns para serem mestres, mas ele nos advertiu a não transformar a função num
título. Paulo diz que Timóteo era seu filho nma fé, mas Timóteo não podia chamar o apóstolo de pai. Os
títulos são um grande impedimento para a edificação da Igreja.
Não adianta muito tentar mudar a mentalidade dos irmãos, por causa da tradição de longos anos. Mas aquilo
que já é ruim, não precisa ser piorado. Já é ruim alguém ser chamado de pastor dentro da igreja, então não
vamos criar mais títulos contrariando claramente a ordem do Senhor Jesus.
Nós somos um reino de sacerdotes, onde cada um é um ministro. Eu sou ministro e sou sacerdote. A unção
da cabeça está sobre cada membro. Se os Senhor me instituiu, me levantou para ser benção na sua vida, eu
sou apenas instrumento Dele! Eu não sou dono de ninguém, eu não sou dono desta igreja nem sou dono do
rebanho.
Vivemos uma época terrivelmente perversa onde homens se colocam como donos da igreja. Infelizmente há
até irmãos que pensam que o pastor é dono da igreja. Eu não tenho igreja. Não fui eu quem morreu pelos
irmãos. Eu não derramei meu sangue pela salvação deles e nem entrei na morte para salvação de ninguém.
Você foi comprado por Jesus de Nazaré. Você é dele, como eu também sou dele. Ele, porém, me colocou na
igreja para cuidar de você por um tempo. Mas eu sempre tenho que me lembrar que o rebanho não é
meu.Sou apenas um servo cuidando dos conservos.

O treinamento dos santos


Cada crente é um ministro, mas que serviço deve ele desempenhar para edificar a Igreja? Paulo foi
extremamente prático, coerente e claro em seu raciocínio. Mas, às vezes, somos levados a pensar que o
ponto central do texto seja os apóstolos, profetas, evangelistas e mestres. Uma interpretação enganosa, uma
vez que o cerne defendido por Paulo é a obra do ministério que todo crente deve fazer visando a edificação
da Igreja.
A segunda questão que precisamos ter entendimento é sobre o que é Igreja. A palavra usada nesse texto está
relacionada a construção. Edificar, um termo importado da engenharia.
Edificar a Igreja é o mesmo que gerá-la. A obra do ministério, portanto, é para gerar a Igreja. O ministro está
aqui para gerar Igreja, para edificá-la.
A Igreja não é o prédio, nem bancos ou as programações, nem mesmo as atividades que tanto prezamos. A
Igreja existe sem nenhuma delas. Na Igreja Primitiva não havia a maioria das atividades que existem hoje.
Eles não possuíam nem mesmo a Bíblia escrita à disposição deles. E mesmo que houvesse, pouco adiantaria,
70% da Igreja do primeiro século era constituída de servos e escravos, que não sabiam ler.
Mesmo assim o mundo inteiro foi ganho por uma religião de pescadores, composta em sua maioria de
seguidores escravos. Como é que eles ganharam o mundo inteiro, sem fazer nada do que nós fazemos hoje?
Isso deveria nos inquietar muito. A mola-mestra do trabalho da Igreja primitiva era o ensino dos apóstolos e
nós, hoje, infelizmente procuramos outras estratégias.
Entendamos o raciocínio de Paulo. Vamos entender o texto por partes. Primeiro precisamos observar que o
Senhor concedeu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres para a Igreja com um objetivo: o
aperfeiçoamento dos santos.
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para
pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo. Ef. 4:11-12
Vemos claramente no texto que todos foram estabelecidos na Igreja visando o aperfeiçoamento dos santos
para a obra do ministério.
Serviço e ministério são a mesma coisa. A palavra ministério, assim como ministro, vem de “mini”. Ministro
é o oposto de maestro, que, por sua vez, vem de “maxi”. O maestro é o grande, o chefe; ministro serve ao
maestro. Hoje, em português, maestro virou regente de orquestra. No espanhol, é professor, mestre. No
grego, maestro era o cabeça, e o ministro aquele que estava por baixo. Os ministros naquela época eram os
remadores. Os remos ficavam na parte interior do navio, e aqueles que remavam eram chamados de
ministros. Não tem nada a ver com o sentido secular onde os ministros de governo são os que mandam. Na
Palavra de Deus, ministro ainda tem o sentido original, aquele que faz o serviço.
No verso 11 Paulo nos mostra qual é o trabalho do ministro e como ele é treinado. Estamos acostumados a
pensar nos cinco ministérios em termos de cargos. Geralmente, associamos esses ministérios a algum tipo de
hierarquia eclesiástica. Assim, temos o apóstolo que é o maior, depois o profeta, e assim sucessivamente.
Todavia, esta não é a visão que Paulo descreve. Em primeiro lugar porque no Novo Testamento há uma
estrutura hierárquica, uma evidente ordenação de Deus. Mas essa ordenação não é feita pela distinção de
valor, mas de função. Em 1 Coríntios 11, por exemplo, Deus estabelece Sua ordenação na Trindade:
“primeiro Deus pai e depois Deus filho”. Mas isso não significa que Jesus seja menor. Ele é o segundo, mas
não é menos Deus do que Deus Pai. Jesus é plenamente Deus. Ele é tão Deus quanto Deus Pai. Na verdade,
Eles são O mesmo em duas pessoas distintas. Deus, porém, estabeleceu uma ordenação a fim de lidar com o
homem no Seu propósito. Deus pai que encabeça, Deus filho que determina e Deus Espírito Santo que
executa.
A mesma coisa acontece na Igreja. Não se trata de um ser maior do que o outro, mas uma questão de
ordenação divina. Deus estabeleceu na Igreja alguns para conduzir o treinamento dos santos, mas todos
temos recebido do mesmo Espírito, como diz Paulo. Todos somos supridos por uma mesma fonte. Deve
ficar claro, portanto, que há apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres dentro da Igreja.
Contudo, esses apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres foram dados “com vistas (em função de)
ao aperfeiçoamento dos santos”. A palavra aperfeiçoar, no original, significa treinar. Então poderíamos dizer
que Ele concedeu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, mestres com vistas ao treinamento dos santos.
A palavra aperfeiçoar pode ser traduzida como “treinar, capacitar ou equipar”. No grego, a palavra usada é
katartismos, que significa: treinar, ordenar, aparelhar, guarnecer, equipar, prover de, preparar, formar um
todo, governar, dirigir, restaurar, reparar, colocar em seu lugar. Katartismos é um substantivo, por isso
antigas versões da Bíblia a traduzem da seguinte maneira: “para a perfeição dos santos”.
A função dos cinco ministérios é aperfeiçoar (Katartismos), treinar os santos para a obra do ministério
visando à edificação do corpo. Esse aperfeiçoamento dos santos implica ordenar, relacionar, colocar cada
um no seu lugar e organizar os santos para que entrem em ação e desempenhem seu ministério na edificação
do corpo de Cristo.
Na estratégia de Deus, toda a Igreja é um seminário, cada irmão é um seminarista, e os cinco ministérios são
as matérias que cada seminarista deve dominar. O alvo é que cada um cumpra seu ministério na edificação
do corpo.
Então, para que temos apóstolos na Igreja? Para o treinamento dos santos. Treinar os santos para o quê? Para
fazer o serviço apostólico. Para que temos profetas na Igreja? A resposta mais uma vez é: para treinar os
santos. Mas treinar os santos para o quê? Para fazer o que os profetas fazem: profetizar.
Para que temos evangelistas na Igreja? A resposta não pode ser outra: para treinar os santos. Treinar os
santos para fazer o quê? Para evangelizar, obviamente. E nós pensávamos que o evangelista era aquele que
iria ganhar a cidade inteira sozinho. Que ilusão! O evangelista naturalmente também evangeliza, mas seu
trabalho principal é treinar os santos para evangelizar. Para que temos pastores na Igreja. A resposta de
Paulo é: para treinar os santos. E treiná-los para quê? Para fazer o trabalho de apascentamento.
E finalmente, para que temos mestres na Igreja? Obviamente, para ensinar. Mas primordialmente o quê? A
que cada membro possa ensinar aos outros.
Que mudança de paradigma. O nome dos treinadores também aponta para a matéria a qual ele é o
responsável em ensinar aos santos. O serviço do ministério de cada crente exige que ele seja treinado para
profetizar, evangelizar, apascentar, ensinar e ser enviado. Esta é a obra do ministério para a qual todo crente
deve ser treinado.
Portanto, para fazer a obra do ministério, nós precisamos de, no mínimo, cinco matérias ministradas por
cinco treinadores. Mas precisamos ainda demolir o conceito comum. A ideia é que aqueles dentro da igreja
que desejam ser apóstolos serão treinados pelo apostolo para sê-lo. Quem deseja ser um profeta será treinado
pelos profetas; e quem quer ser evangelista vai ser treinado pelo evangelista.
Quando falamos que cada crente deve desempenhar as cinco funções muitos ficam indignados. Não
conseguem superar o pensamento de que precisam fazer algo que não se sentem confortáveis realizando.
Para mudarmos nossa mente basta entendermos que a Palavra de Deus nos mostra que existem três tipos de
vocação: a vocação humana, a vocação cristã e tem a vocação pessoal. O que que é a vocação humana? É
aquele chamado que o Senhor fez em Gênesis 1.28. Deus disse para o homem, sujeitar, dominar, e encher a
terra. Essa é a vocação humana. Todo homem recebeu o chamado para fazer isso. É a vocação humana que o
leva a ter uma profissão e a trabalhar secularmente.
O segundo nível é a vocação cristã. O que é a vocação cristã? É aquilo para o que todo crente foi chamado.
Existe um serviço que é comum a todos os crentes. Não pense que somente aquele que tem o dom de
evangelista deve evangelizar. Todo crente deve evangelizar. Sim, porque isso é uma vocação cristã. Só
aquele que tem o dom de profecia deve profetizar? Não, todos os crentes devem profetizar, porque é uma
vocação cristã. O pastor é aquele que apascenta, então só aquele que tem o dom de pastor deve ser aquele
que apascenta? Não. É uma obrigação cristã, todo crente tem que consolidar e apascentar os irmãos mais
novos na vida da igreja. Então existe um serviço que é uma vocação cristã.
E o terceiro nível do nível é a vocação pessoal. Essa vocação é aquele chamado específico, aquele dom
específico que você recebeu individualmente. O texto aqui de Efésios não está falando da vocação
individual, está falando da vocação cristã, que se aplica a todos.

O Serviço de cada crente


Eu sei que a ideia prevalecente é o conceito de que cada um faz uma parte do trabalho e no final todo mundo
junto faz o trabalho todo. Essa é a visão moderna departamental, na qual cada um faz uma parte do trabalho
como numa linha de montagem. Essa visão surgiu na Revolução Industrial e atingiu o seu ápice nos EUA.
Só que essa mentalidade é moderna, não é bíblica e não era o que Paulo tinha em mente. A mentalidade na
época de Paulo era que cada um fizesse todo o processo. Até o início do século 19, cada grupo de
funcionários fazia um carro inteiro. Então eles entendiam todo o processo, pois participavam de todo ele.
Depois da revolução industrial cada operário é especialista e faz apenas uma coisa. Há os que montam o
cambio, os que colocam o motor e assim por diante. Mas não era essa a visão de Paulo. Ele não era apóstolo
para treinar apóstolos; nem profeta para treinar profetas (ainda que também fizessem isso). A ideia era que
os cinco ministérios treinariam todos os santos para que cada um deles fizesse as cinco atividades.
É mais cômodo presumir que Deus está restaurando os ministérios para que eles façam o serviço no lugar da
Igreja. Evidentemente, Deus tem levantado apóstolos e profetas, mas eles são apenas treinadores. Não são os
melhores e nem os maiores. Algumas vezes o treinador nem é melhor do que o seu aluno. Veja um grande
concertista de piano. Seu professor talvez nunca tenha alcançado o nível virtuoso a que ele chegou, mas, por
sua experiência e técnica, pôde ajudá-lo a ir muito além. Todos sabem que o técnico da seleção de futebol
não joga melhor que os craques que estão em campo. Não devemos pensar nos cinco ministérios como um
grupo de super crentes, mas antes vê-los como um grupo de treinadores. Procure ver esses ministérios como
cinco matérias que fazem parte do currículo de treinamento de todo crente. Todo crente tem que ser treinado
nessas cinco áreas. Todo crente deve exercer esses cinco ministérios. O serviço para o qual precisamos ser
treinados nada mais é que fazer essas cinco coisas. E sabe por quê? Porque gerar na verdade é fazer todas
elas. Você só pode dizer que gerou alguém para Deus se você fizer as cinco coisas.
Essas cinco tarefas constituem o desempenho do seu ministério ou do seu serviço. Os apóstolos, os
evangelistas, os mestres e os pastores estão treinando os santos. Estão treinando para quê? Para o serviço do
ministério. Mas qual o serviço do ministério? É ganhar como evangelista ganha, é ensinar como mestre
ensina, pastorear como pastor pastoreia, profetizar como o profeta e ser enviado como o apóstolo. Esse é, na
verdade, o serviço de edificação dos santos.
Alguém pode pensar que se dividirmos o trabalho na Igreja onde cada um desenvolva uma única tarefa o
rendimento final seria muito maior. A prática tem mostrado, porém, que isso é falso. As igrejas que
trabalham assim ficam com o processo emperrado. Por exemplo: suponha que em nossa Igreja nós treinamos
um grupo para evangelizar e dizemos a eles: a função de vocês é ganhar. Vocês farão apenas isso. Um outro
grupo será especialista em consolidar e é somente isso que eles farão. Eles não vão ganhar ninguém, só
apascentarão e consolidarão aqueles que o grupo de evangelistas ganhar. O que vai acontecer? Se o primeiro
grupo não ganhar, o segundo não vai ter como trabalhar, pois não haverá ninguém para consolidar. E o que
dizer do grupo de mestres? Eles não terão a sua sala de aula, pois ninguém foi ganho e nem consolidado. A
visão departamental não é o desejo de Deus.
Os ministérios estão aqui para treinar os santos e o objetivo de tal treinamento é a edificação da igreja. Mas
em que exatamente consiste o serviço de cada crente na prática? O que todo crente deve fazer de maneira
prática a fim de desempenhar o seu serviço? A maneira como Paulo mostra o serviço é enumerando os
treinadores. As matérias do curso e seus treinadores mostram o conteúdo do trabalho a ser feito. Os cinco
ministérios não são somente pessoas, mas representam matérias que devem ser ensinadas a toda a Igreja;
para que todo crente faça a obra do ministério.
Todo ministro deve ser treinado para fazer o trabalho do apóstolo, do profeta, do evangelista, do pastor e do
mestre. Este é o trabalho que todo o crente deve desempenhar. Somente quando os crentes fazem esses cinco
serviços, a igreja pode ser edificada.
É muito conhecido o slogan da visão celular que foi espalhado por todo o mundo: Ganhar, Consolidar,
Treinar e Enviar. Um dos primeiros homens a falar sobre esse assunto foi Bill Bright, fundador da Cruzada
Profissional Estudantil para Cristo. Em 1969, ele fez um manual de treinamento; explicando como é que
deveria ser o processo de treinamento do novo convertido. Sabe qual é o slogan da cruzada? Ganhar,
Consolidar, Treinar, Edificar e Enviar. Há um a mais porque são cinco ministérios. César Castelhanos e sua
equipe foram treinados na Cruzada Estudantil há muitos anos. E eles pegaram lá a visão e entenderam que
ela somente pode ser aplicada no contexto das igrejas locais e dentro das células.
Vamos entender o que é ganhar, consolidar, treinar, edificar e enviar. Ganhar é a função do evangelista.
Consolidar é função do pastor. Treinar é a função do mestre, edificar é função do profeta e enviar é o
trabalho do apóstolo (a palavra apóstolo significa enviado). Você pode ver que o slogan da visão celular é
absolutamente correto do ponto de vista bíblico. Precisamos praticá-lo e não apenas escrevê-lo em banners e
afixá-lo nas paredes dos prédios das igrejas.

O trabalho de ser enviado


Qual o primeiro passo na vida do crente? É o trabalho do apóstolo, é ser enviado. Evidentemente quem está
sendo enviado já passou pelo processo todo. O que significa ser enviado? A ideia tradicional é que obra de
Deus é somente o que é feito nos prédios das igrejas. Todavia o alvo de Deus é nos enviar; e Ele nos envia a
cada um de nós de acordo com os dons, vocações e habilidades que Ele mesmo nos deu. Portanto, do mesmo
jeito que Deus envia um pastor; Ele também quer enviar outros como engenheiros, como médicos, policiais,
juízes, advogados, etc. E estas pessoas não serão enviadas como missionários para outras terras, mas para
dentro do seu campo profissional, para dentro da vida da cidade.
Nosso ensino tem se baseado em apenas orientar as pessoas a serem honestas, fazer boas ações e a
desenvolverem atividades nas igrejas. Geralmente, poucos entendem que o médico deve ser médico para
Deus, que o advogado deve desempenhar seu trabalho como ministro, que o professor será um sacerdote e
assim por diante. Temos considerado obra de Deus apenas o que é feito dentro dos prédios das igrejas e, por
termos pensado assim por séculos, é difícil, hoje mudar de mentalidade. Não é que se vá agora criar um
ministério de advocacia dentro da igreja, por exemplo. É sim que já existe o ministério de advocacia lá fora,
onde deveríamos estar servindo a Deus.
Nesse sentido qualquer coisa que fizermos, qualquer trabalho que executarmos ou qualquer profissão que
tenhamos será para Deus. É claro que devemos ter sido chamados para desempenhar tal profissão. Alguém
diz, por exemplo, que foi chamada para ser enfermeira. O entendimento natural é que esse chamado só será
válido ela então for uma enfermeira missionária num outro país. Contudo, ela pode ser uma enfermeira aqui
também. Será uma missionária enviada ao seu trabalho e ganhará almas para Deus.
Quantos empresários estão perdendo a oportunidade de ser empresários para Deus e ganhar galardão por
isso. Precisamos enviar as pessoas para os lugares onde estão inseridas. É fundamental que entendamos que
a mesma unção que Deus coloca sobre um pastor quando o envia, Ele colocará sobre cada crente ao ser
enviado. Como pastor, possuo um chamado diferente do de um advogado, contudo o Espírito Santo é o
mesmo e é Ele quem capacita. Uma grande revolução acontecerá quando a mentalidade natural dos santos
for mudada e passarmos a ter profissionais cristãos enviados.
A Bíblia diz que os apóstolos estavam em Jerusalém com toda a congregação quando estourou a
perseguição. Historiadores dizem que naquela altura, o número de membros em Jerusalém chegava a ser de
cem mil membros. Com a perseguição, só ficaram os apóstolos. Imagine a quantidade de lugares para onde
foram enviados! O crescimento da igreja nos primeiros séculos não foi mérito exclusivo dos apóstolos, mas
do funcionamento da Igreja da forma como o Senhor havia premeditado.
Cada crente deveria ser enviado para aquilo a que foi chamado, o problema é que nem todos têm convicção
de chamado. Creio que se perguntarmos aos irmãos da Igreja se eles trabalham em suas profissões por um
chamado, muitos dirão: Não, eu faço porque não tive oportunidade de fazer outra coisa. Faço porque meu
pai me obrigou a fazer. Ou mais provavelmente: Faço porque dá dinheiro, mas o que eu queria fazer mesmo
era outra coisa. Teremos muitas respostas, mas não ouviremos muito afirmarem que seguiram um chamado
de Deus. Então é provável que, quando começarmos a edificar a igreja nesse nível revolucionário, muitos se
envolverão nas atividades para as quais Deus os chamou. Deus tem um chamado para cada um de nós, e
nem todos serão pastores.
Não é nada pequeno ter um chamado para ser engenheiro ou exercer qualquer outra profissão. O problema é
que não há muitos engenheiros que são ministros de Deus em seu trabalho. Há uma mentalidade maligna de
que só pastores estão cumprindo um propósito de Deus e fazendo a Sua vontade.
Então a primeira coisa que devemos aprender é ser enviados. Ser enviado para o nosso campo de trabalho.

O trabalho de Profetizar
O segundo aspecto é que cada crente deve ser treinado como profeta. Em 1 Coríntios 14.3, Paulo fala sobre a
função do profeta. Para nós, profeta é quem prevê o futuro, mas não é necessariamente assim. Profeta só tem
revelação do futuro se for necessário para edificar, exortar e consolar. Profeta é o que edifica, exorta e
conforta. Então, um irmão está desanimado, cansado e querendo desistir. O Senhor usa outro para lhe dizer:
“Irmão, permaneça no Senhor, porque no final você será recompensado. Essa luta é apenas momentânea,
persevere porque Ele tem uma grande obra para você”. Ao fazer isso ele estará edificando o irmão de
maneira profética.
Nenhuma profecia do Velho Testamento foi dada com o intuito de satisfazer curiosidade humana.
Normalmente, ela era dada para confortar e motivar o povo. O povo estava cansado, desmotivado; Deus
levantava Isaías e dizia: “Eis que o teu Redentor vem e de Sião virão os resgatados do Senhor e virão de
Sião cantando”. Quando Isaías fala aquilo, Ele não queria satisfazer a curiosidade dos israelitas. Ele diz:
“Persevere e creia no Senhor, porque o tempo da luta é breve”. Mas em nosso conceito natural a profecia é
apenas uma adivinhação dos crentes. O alvo da profecia é mais um diagnóstico do que um prognóstico.
O profeta é quem fala da parte de Deus, portanto nós todos devemos ser os profetas de hoje. Todo crente
deve ser um profeta. Nem todo crente terá o dom de cura, dom de discernimento de espírito, dom de fé, de
sinais e maravilhas; mas todo crente deve profetizar. Paulo não disse que profetizar era apenas um dom, mas
sim uma matéria que precisamos aprender para o desempenho do nosso serviço.
Pedro afirma que nos somos sacerdócio real. O ministério profético é uma extensão do ministério sacerdotal.
No Velho Testamento, Deus escolheu a tribo de Levi como sacerdotes. Deus queria que essa tribo se
achegasse diante dEle em favor dos homens, porque é isso que os sacerdotes fazem. Ao interceder, o
sacerdote oferecia sacrifício a Deus em favor dos homens, mas também era plano de Deus que o sacerdote
levasse Sua palavra ao homem.
A partir de Eli, o ministério sacerdotal entrou em decadência em Israel. Deus, então, chama Samuel, e
Samuel foi um daqueles homens que mudaram as épocas. Ele estabeleceu algo inédito em Israel, uma escola
de profetas. E a partir de Samuel, vemos profetas em ação o tempo inteiro. Depois de Samuel, parecia haver
duas instituições em Israel, a instituição dos profetas e a dos sacerdotes; mas na verdade não era assim. Em
Êxodo, capítulo 19.6, vemos que Deus queria fazer da nação de Israel, uma nação de sacerdotes. Esse era o
alvo de Deus. A profecia deveria ser parte do ministério do sacerdote. Como todo crente é um sacerdote,
todos podem também profetizar.
O ministério profético e o ministério sacerdotal são apenas dois lados de uma mesma moeda. O sacerdote é
aquele que vai diante de Deus em favor dos homens. O profeta é aquele que vai aos homens para falar o que
Deus disse. Mas só pode falar aos homens o que Deus falou quem esteve diante de Deus. E quem é que
esteve diante de Deus? O sacerdote.
No Novo Testamento, quando se chama alguém de sacerdote, também está chamando-o de profeta. Nós
somos a voz profética hoje no mundo. Quando me refiro a “nós”, não é só o “pastor” ou quem tenha o titulo
de “profeta”. Voz profética hoje é a igreja, todos os crentes, todos devem profetizar.
Paulo diz que todos devem profetizar (I Cor. 14:31 e 39). Moisés falou: “Oxalá todos profetizassem” (Nm.
11:29). Se Moises tinha esse coração, Deus não o teria também? Um homem seria capaz de pensar algo bom
que Deus não tivesse pensado primeiro? A Igreja é uma nação de sacerdotes e, um aspecto do sacerdócio é
profetizar. Temos que treinar a Igreja para isto, a falar para as pessoas em nome do Senhor.

O trabalho de evangelizar
O terceiro ministério é evangelizar, o trabalho de ganhar alguém para Cristo. É evidente que se tivermos um
evangelista para treinar os irmãos será melhor; mas se não, temos pelo menos a matéria para fazer. Está
escrito que a obra do ministério inclui evangelizar. Portanto ninguém pode se eximir de evangelizar porque
não tem o dom de evangelista. Evangelismo não é uma questão de dom, é uma questão de obra do
ministério. Se você é ministro, está escrito que deve ganhar almas.
O trabalho de pastorear
Em seguida vem o trabalho do pastor. Cada crente deve entender que ele tem que consolidar quem ele
ganha. Esse é um trabalho pastoral. Já fui acusado várias vezes de querer levar a igreja a fazer o meu
serviço. Todas as vezes, minha defesa é a mesma, sempre digo: “É verdade, eu estou aqui para isso mesmo,
para ensinar você a fazer o que eu faço. Eu não estou aqui para fazer no seu lugar, eu sou um treinador”. É
isso que eu sou. Sou como um técnico do time. Minha função não é chutar a bola, mas, se fizermos gol ou
não, a culpa será minha. Se o time ganhar ou perder, quem vai pagar o pato sou eu. Cada um joga de um
jeito, mas preste atenção, é função nossa levar o povo a fazer o que nós fazemos.

O trabalho de ensinar
Em último lugar, o mestre é aquele que treina. Após ganhar e consolidar alguém, é preciso treinar essa
pessoa. Vamos entender isso na prática. A irmã Maria é empresária. Ela precisa antes de qualquer coisa
entender que é uma empresária enviada por Deus. O chamado dela é este e ela deve ser empresária. Todo
crente tem um chamado, isso é solene.
Então a irmã Maria tem convicção do seu chamado e tem alegria, prazer e satisfação em realizá-lo. Como
empresária enviada por Deus, ela está no seu trabalho e ela tem um relacionamento de amizade com seus
fornecedores. Um belo dia, um fornecedor diz algo para ela: “Olha, meu casamento está difícil, o dinheiro
está curto, faltando. Estou passando por dificuldades. Não sei o que eu faço”. Nesse momento ela, que foi
treinada para profetizar, irá liberar uma palavra para ele. Ela dirá: “Olha, a sua vida pode mudar, saiba que
eu oro por você e que sua vida vai mudar” O profeta também é sacerdote por isso ele intercede. Samuel
disse: “enquanto a mim longe de mim deixar de orar por vocês”. Samuel era profeta, mas também sacerdote
porque era da tribo de Levi. Samuel era o padrão, como também João Batista.
Nós somos como João Batista e estamos aqui preparando o caminho para o Senhor. Do mesmo jeito que
João Batista preparou para a primeira vinda, nós temos preparado para a segunda. Somos também, como
João, sacerdotes e profetas. Jesus diz que não houve nenhum profeta maior do que ele. E não há nenhum
profeta maior que nós também, nós somos o João Batista de hoje. Nós também estamos no espírito de Elias,
também convertemos os corações dos pais aos filhos e dos filhos aos pais, nós fazemos tudo isso. Esse é o
nosso trabalho na verdade.
Mas aí a empresária chamada por Deus pergunta ao fornecedor: “Você quer que eu ore por você? A sua
história pode ser mudada por Deus”. Então ela o abençoa. Até aí ela não evangelizou, mas ela já está lá
enviada, falando da parte de Deus. Na oportunidade seguinte, ela começa e evangelizá-lo falando do amor
de Deus.
Após ele se converter, o próximo passo é consolidá-lo. Chegou o momento de pastorear essa pessoa e firmá-
la na Igreja. Mas ainda não será o fim do seu trabalho, ela terá de treiná-lo. O ideal é que cada um tenha seu
pai espiritual, tenha seu discipulador que lhe treine para que ele repita todo o processo novamente. No final
ele será enviado para repetir o processo com outros.
É natural que nesse processo alguns façam algumas coisas melhor do que outras. É possível que alguns, por
exemplo, sejam muito bons para profetizar e nem tanto para consolidar. Todavia nada os exime de
consolidar. Nós temos tudo à nossa disposição. Uma pessoa pode ser melhor para treinar e, devido a uma
particularidade, goste mais de exercer esse ministério. Contudo, nada o exime de evangelizar. Se ele ganhou,
deve ir até o fim. Essa é a obra do ministério. Quando falamos que cada crente é um ministro, estamos
falando disso, que esse é o treinamento do ministro. Logo, se o ministro não faz isso, não importa o que ele
faça, ele está fora do coração de Deus. Porque não é o seu trabalho que vai gerar a Igreja. Paulo é bem claro
ao afirmar que é a obra do ministério que edificará a Igreja. Podemos fazer o que quisermos: tocar apito,
soltar pipa dentro do prédio da igreja, o que quer que seja. O Senhor não se importa com isso desde que você
faça essas cinco coisas.
É preciso enfatizar que existem pessoas dentro da Igreja que são apóstolos, outras que são profetas,
evangelistas, pastores e mestre. Tais funções são reais, mas a minha ênfase aqui é no trabalho que todos os
santos d[fazem na Igreja.
É função de todos os membros fazer as cinco tarefas. Mas como ficam os dons? A Bíblia diz: “por acaso
todos falam em línguas, por acaso são todos apóstolos?” É obvio que não. Mas você tem que entender que o
contexto é diferente. Em Efésios, fala-se de um trabalho que é obrigação de todo crente; em Coríntios, fala-
se de dons que Deus dá aos crentes, segundo o critério da Sua graça, visando o serviço mútuo.
A mentalidade comum é que no corpo uns curam, outros têm fé, outros têm discernimento de espírito, outros
têm palavra de sabedoria, outros palavra de conhecimento. Quando todo mundo faz uso de seus dons, então
temos o corpo funcionando. Essa é a visão comum, fruto da mentalidade moderna de departamentos. É
evidente que esses dons existem, mas o principal é que há um serviço para todo crente para a edificação do
corpo de Cristo.

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