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Rutherford 2020 - Parte do e-fólio A

Antropologia Geral (Universidade Aberta)

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O que é a antropologia?

Danilyn Rutherford, presidente da Wenner-Gren Foundation for Anthropological


Research. SAPIENS. 26 de maio de 2020. 1

O amplo campo da antropologia estuda "todas as coisas humanas" de modos que a diferenciam
da sociologia, psicologia, história e outras áreas das ciências humanas e ciências.

“Os antropólogos estudam as pessoas ", disse uma vez a uma criança curiosa de 12 anos sobre
a minha carreira escolhida. "Ao contrário dos psicólogos", acrescentei, dando um toque
brincalhão ao seu pai, que era um especialista na área.

A palavra "antropologia" significa literalmente "a ciência da humanidade". Muitas disciplinas


poderiam reivindicar o mesmo título pomposo, de anatomistas a historiadores, ou psicólogos
como o pai daquele menino. No entanto, há algo sobre o estudo antropológico de "todas as
coisas humanas" que torna os antropólogos diferentes e, na minha opinião, nos dá o direito
principal à frase "nós estudamos pessoas".

Talvez o facto mais óbvio que distingue os antropólogos de outros estudiosos é a forma como
abordamos a nossa tarefa. As definições de antropologia tendem a se concentrar sobre os
métodos pelos quais somos famosos: a etnografia, envolvendo a imersão numa determinada
comunidade; a observação participante, que envolve a participação nas atividades que
queremos compreender; a escavação, o exame focado de materiais que os humanos e os seus
ancestrais deixaram para trás.

Os antropólogos usam estas e outras abordagens para estudar todos os aspetos da existência
humana, passada e presente. Incluímos entre nós os arqueólogos, que estudam pessoas (mas
não os dinossauros) pelos vestígios materiais que deixam; os antropólogos linguísticos, que
compreendem os humanos pela maneira como usam a linguagem; e os antropólogos biológicos
e paleoantropólogos, que os analisam na sua história longa e imensa variedade física. Também
incluímos os antropólogos socioculturais, que documentam os significados que os humanos
fazem dos diferentes mundos que estes habitam.

å
https://www.sapiens.org/language/what-is-anthropology/?utm_sou [tradução pessoal].

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Os antropólogos fazem pesquisas em laboratórios, em quintas, em agências das Nações Unidas,


no cinema, e em mundos virtuais. Nós escavamos, contamos, entrevistamos e mapeamos. Nós
fazemos experiências na produção de cerâmica e sobre a locomoção de primatas. Nós juntamo-
nos a grupos, de seitas religiosas a bandas de música country. Estudamos movimentos sociais –
do #MeToo à campanha presidencial de Donald Trump.

Nas universidades dos Estados Unidos reunimos nos mesmos departamentos; noutros locais
estamos espalhados pelo campus. Muitos outros antropólogos ultrapassam os limites da
disciplina, trabalhando fora da academia em contextos "aplicados" – documentando sítios
históricos antes da sua destruição, defendendo políticas de imigração humanas, melhorando as
viagens espaciais ou lutando contra um surto de Ebola. Nós estudamos muitas coisas humanas
diversas, de modos incrivelmente diferentes.

A antropóloga Kathleen Stewart disse-me uma vez: “Nunca ninguém diz a você: ‘ Isso não é uma
questão antropológica ’ ”.

Dada esta variedade, existem algumas linhas difusas em torno da disciplina: um antropólogo
num país ou instituição pode ser rotulado de historiador ou, noutro, de sociólogo. Mas há outra
coisa importante que nos diferencia de campos semelhantes: os antropólogos geralmente
sacrificam a amplitude pela profundidade.

Um psicólogo pode administrar uma pesquisa envolvendo centenas de indivíduos numa


tentativa de aprender algo generalizável sobre a mente humana. Nós estamos menos
interessados na mente em geral do que em mentes específicas, estudadas intensamente, num
determinado de tempo. Os antropólogos, como outros cientistas sociais, comparam: nós
comparamos espécies, populações e sociedades, do passado e do presente. Mas, ao
compararmos, insistimos na importância do contexto - sobre quem, o quê, onde e quando isso
molda o que nós observamos.

Isto é verdade para os antropólogos socioculturais, que não estão apenas interessados na
cognição humana ou volição (também conhecida como vontade ou desejo), mas como certas
pessoas pensam e o que valorizam, dadas as circunstâncias em que vivem. O mesmo se aplica
aos antropólogos linguísticos, que estão menos preocupados com a gramática do que com a
forma como as pessoas comunicam e como a linguagem molda o seu lugar no mundo. Os
arqueólogos não pretendem apenas descrever tendências passadas, mas também tentam

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recriar vidas passadas. Para antropólogos biológicos, o ser humano não é um organismo modelo
como uma mosca de fruta ou um rato. Eles não estão em busca dos princípios gerais de
evolução; eles querem saber como os humanos se tornaram o tipo de animais que somos.

Os antropólogos sabem que as suas descobertas sobre a condição humana são provisórias.
Porque insistimos no tamanho e forma distintos das peças que adicionamos ao quebra-cabeça
da existência humana, as nossas conclusões raramente são de tamanho único. Quando
generalizamos, nós fazemo-lo com modéstia, com senso de risco. Estamos constantemente em
busca de novas formas de contar histórias que soam verdadeiras.

Claro, há muito mais a dizer sobre nossa peculiar disciplina: sobre nossa tendência para furtar
teorias e métodos de outros campos; sobre o nosso passado, quando a antropologia deu um
verniz pseudocientífico ao colonialismo e ao racismo, e como nós lutamos com este legado;
sobre o número crescente de antropólogos indígenas que se juntam às nossas fileiras.

Mas acho que descobri o que nos torna especiais. Os antropólogos estudam pessoas — pessoas
particulares, em tempos e lugares particulares — e o que as torna humanas na sua diversidade.

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