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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA – CCN II


BACHARELADO EM ARQUEOLOGIA
DISCIPLINA: INICIAÇÃO A PESQUISA CIENTÍFICA E ARQUEOLÓGICA

NAIRA EMANUELE CORRÊA DOS SANTOS SOUZA

DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL À ARQUEOLOGIA PÓS


PROCESSUAL:

UMA ANÁLISE A PARTIR DA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA

TERESINA - PI
2021
NAIRA EMANUELE CORRÊA DOS SANTOS SOUZA

DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL À ARQUEOLOGIA PÓS


PROCESSUAL:

UMA ANÁLISE A PARTIR DA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA

Relatório apresentado a disciplina de Iniciação a


Pesquisa Cientifica e Arqueológica da Universidade
Federal do Piauí, como requisito parcial para obtenção de
nota.

Orientadores: Professora Doutora Maria do Amparo


Alves de Carvalho, Professora Doutora Jóina Freitas
Borges, Professor Doutor Ângelo Alves Corrêa

TERESINA-PI
2021
Sumário
1 Introdução........................................................................................................................ 3
2 Contexto bibliográfico ...................................................................................................... 5
3 Objetivos .......................................................................................................................... 8
3.1 Objetivo Geral ................................................................................................................... 8
3.2 Objetivos Específicos .......................................................................................................... 8
4 Metodologia da pesquisa .................................................................................................. 9
5 Cronograma ................................................................................................................... 10
Referências ............................................................................................................................ 11
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1 Introdução

As controvérsias existentes na comunidade acadêmica, resultado de séculos de


explorações e interferência política, são inúmeras em diversas áreas de estudos, como por
exemplo: a história do desenvolvimento da arqueologia. Ainda que essas contradições
escacarem uma comunidade elitista, que se intitula como soberana do conhecimento,
enraizada no pensamento positivista e seus métodos, são a partir dessas discussões que
paradigmas e conceitos são questionados, o que auxilia na criação de novas teorias.

De forma análoga, pode-se citar a inserção do cinema no auxílio da aprendizagem


que, em geral, recebeu algumas críticas na sua aplicação e como resultado, obteve uma
variedade de estudos que vão desde atestar sua eficácia até mostrar que em certos casos são
mais prejudicais do que benéficos.

À vista disso, empregar filmes como meio de interpretações sociais, políticas e


culturais, ainda é muito questionada, devido ao viés ideológico e interpretativo que grande
parte das produções cinematográficas ao redor do globo, possuem, porém segundo Edgar
Morin (1970):

“O cinema não só abarca todo o campo do mundo real, que nos põe ao
alcance da mão, como também todo o campo do mundo imaginário, pois que tanto
participa da visão do sonho como da percepção do estado de vigília. (MORIN, 1970
p.203-204)

Ou seja, com os filmes cinematográficos, pode-se questionar, mostrar, até mesmo


mudar nossa realidade e inclusive formular realidades paralelas/ficcionais. Fomentando por
meio dessas produções, discussões acercas de temas simples a complexos numa linguagem
visual e auditiva impressionante e de certo modo, inclusiva. Essa abordagem, pode ser usada
para apontar e explicar as contendas existentes no desenvolvimento da Arqueologia.

A arqueologia é uma ciência que estuda os vestígios materiais de culturas passadas, com
o intuito de entender como elas se formaram e quais eram os aspectos que as envolviam. No
princípio, a sua origem foi muito conturbada, sendo marcada por séculos de saques,
desvalorização e, ainda, extremamente baseada em uma visão eurocêntrica. Esses fatos, de
diversas formas, afetaram muito os estudos que se tem sobre as sociedades antigas e como elas
se construíram, além de constituírem uma imagem superficial e até mesmo sucateada entre seus
próprios cientistas.
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Nesta conjuntura, pode-se citar a arqueologia histórico-cultural, visto que ela teve seu
desenvolvimento focado em um sentimento nacionalista e excludente, que visava explicar uma
superioridade étnica por meio de dados arqueológicos obtidos. E, apesar de seu
surgimento/utilização ter uma base problemática e fantasiosa, revolucionou a ideia que se tinha
sobre a interpretação de dados arqueológicos. Haja vista, as pesquisas realizadas por Gustaf
Kossina (1858-1931) que, pela primeira vez, utilizou a cultura arqueológica nas suas
interpretações sobre determinado povos e objetos, mesmo que ele tenha manipulado esses dados
para provar seu ponto de vista obtuso.

Outro exemplo, que mostra essa contradição é o surgimento da arqueologia processual,


conhecida também como “nova arqueologia”, que se baseia nos pensamentos que dominavam
os Estados Unidos e Reino Unido. Essa modalidade, tinha como objetivo generalizar estudos
arqueológicos em busca de uma visão mais científica dos dados colhidos, ligando a arqueologia
as ciências naturais e exatas, onde estudava as adaptações ecológicas, além de tradições
artísticas e crenças religiosas. Por outro lado, a arqueologia pós-processual, como último
exemplo, se volta para uma área mais interpretativa que elucida a subjetividade das
interpretações arqueológicas.

Portanto, tendo em vista essa imagem e enorme discussão sobre as várias funções e
percepções dessa importante ciência, este pré-projeto visa relacionar a era cinematográfica
como método de pesquisa, dado que é uma indústria de alcance mundial, e com essa análise,
explicar o desenvolvimento da arqueologia nos tópicos supracitados. O aproveitamento da
cultura matéria da sociedade atual, empregada na demonstração da arqueologia, como ciência,
é proveitoso, pois pode alcançar um público maior devido a sua dinamicidade e tem potencial
para alavancar mais discussões acerca de qual é a sua função na contemporaneidade, tendo
verificado as suas transições.

Elucidar que a arqueologia, como todas as áreas de estudos, é de extrema importância


para o mundo e suas relações, e que filmes são culturas que expressam a identidade de toda
uma sociedade que possui diversas diferenças regionais que as tornam únicas e mais que isso,
complementares umas das outras.
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2 Contexto bibliográfico

O cinema como abordado anteriormente, tem grande alcance em suas reproduções e


mostra diversas realidades.
O Cinema tem a capacidade de reproduzir as realidades cotidianas. Nos filmes,
podemos atentar para diversas culturas diferentes das nossas, e ter acesso a uma visão
de mundo que não seja a nossa. Dificuldades, amores, histórias de vida,
transformações sociais, discussões, podemos visualizar situações que acontecem
todos os dias, aquelas que muitas vezes não é pertinente a nossa vida, mas outras são
situações comuns do nosso cotidiano, e podemos vê-las nos filmes, como num Déjà
vu. (FERNANDES, 2014, p 18)

Tendo em vista essa definição, pode se imaginar o quão complexo são essas
produções, que passam do ridículo, do extremo, do frívolo, do drama e vão ao
extraordinário. É importante ter um senso critico em relação a esses filmes
cinematográficos, já que de acordo com Fernandes (2014) “Os filósofos e sociólogos
alemães Jürgen Habermas, Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, e membros da Escola
de Frankfurt foram responsáveis por cunharem o termo “Indústria Cultural”.

Este termo, a grosso modo, expressa como a industrialização afetou várias obras,
tornando as padronizadas, ou seja, fez com que elas perdessem sua essência “única”. Com
uma tendência capitalista, essas obras, principalmente filmes, tiveram um viés
doutrinador, em que os “dominadores” estavam sobre os “dominados”.

Apesar disso, o cinema como meio alternativo de ensino é muito bem-vindo.


Afinal, segundo Kossoy (2001):

Com a descoberta da fotografia, e mais tarde com o desenvolvimento da


indústria gráfica, que possibilitou a multiplicação das imagens fotográfica em
quantidades cada vez maiores através da via impressa, iniciou-se um novo processo
de conhecimento do mundo,porém de um mundo em detalhe, posto em fragmentário
em termos visuais e portanto contextuais. Era o inicio de um novo método de
aprendizado real, em função da acessibilidade do homem dos diferentes estratos
sociais à informação visual e fatos dos povos distantes. Microcroaspectos do mundo
passaram a ser cada vez mais conhecidos através de suas representações. O mundo a
partir da alvorada do século vinte, se viu, aos poucos substituído por sua imagem
fotográfica. O mundo tornou-se assim portátil e ilustrado. (KOSSOY, 2001, p 26-27).

Baseado nas informações supracitadas, os filmes: The Dig (2021), O mito (2005),
Rainha do deserto (2005), The Exofus decoded (2006), The Guest of Sanxingdui (2019) e
The Mummy (1999), que em sua essência, tratam de uma visão arqueológica, serão usados
para explicar as desarmonias presentes nessa disciplina. A maior controvérsia, centra-se na
avaliação do papel desempenhado pela explicação no estudo de dados arqueológicos nos
últimos dois séculos.” (TRIGGER 2004 p.15)
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Consoante a fala de Lima (2001), a fragmentação do pensamento arqueológico em


múltiplas tendências vem determinando a coexistência de diferentes abordagens no estudo
da cultura material de sistemas socioculturais extintos.

Em um primeiro momento, devido a vários acontecimentos, principalmente na


Europa, surge a arqueologia histórico-cultural. Essa, que é uma arqueologia mais nacionalista,
devido aos sentimentos contrários que surgiam do evolucionismo, infestou a Europa no século
XIX e XX. Dessa ideia crescente, começa a aparecer pensamentos e ideologias preocupantes
com teor supressório e com uma “imperiosidade” inquestionável. Em concordância com trigger
(2004)

“Os esforços que eram feitos no sentido de externalizar os conflitos cada vez mais
estimularam doutrinas raciais Afirmou-se que franceses, ingleses e alemães eram
biologicamente diferentes uns dos outros e que seu comportamento estava
determinado não por fatores políticos e econômicos, mas, essencialmente, por
diferenças raciais imutáveis.” (TRIGGER 2004 p.187)

Mesmo com esse pensamento progressivo e preocupante, ainda desenvolveu


metodologias importantíssimas para a arqueologia, como por exemplo, a utilização do termo
cultura arqueológica e suas aplicações.

Com o avanço das tecnologias e a introdução de vários sistemas, a arqueologia histórico-


cultural, começa a ser questionada e na década de 60 é “substituída” por um modelo positivista,
focado em uma ciência mais exata e natural, até mesmo mais generalizada.

A Arqueologia Processual não significou uma ruptura radical com a tendência teórica
antecedente (Histórico-Cultural). Embora seus ideólogos afirmarem que suas
intenções eram romper completamente com as ideias difusionistas e evolucionistas
dos arqueólogos histórico-culturais, os enfoques funcionalista e processual aparecem,
mesmo que de forma sutil, no texto de Clark (1939) apresentado anteriormente no
estudo de caso sobre a Arqueologia Histórico-Cultural. (DI BACO, FACCIO, LUZ,
2009, p 217)

Esse paradigma que ficou conhecido como arqueologia processual, recebeu inúmeras
críticas, pouco tempo depois de sua disseminação. Mesmo que de forma análoga, desenvolveu
importantes contribuições para essa área. A metodologia da Arqueologia Processual e o estudo
dos sistemas foi um avanço na Arqueologia, principalmente, com relação às análises
prédeposicionais e pós-deposicionais de formação do registro arqueológico. (DI VACO,
FACCIO, LUZ, 2009, p 230).

Uma nova perspectiva, quase uma década depois do surgimento da Arqueologia


processual, foi proposta em oposição a esse paradigma. Segundo esses pensadores, a
arqueologia tem que ser mais subjetiva e não é linear como esse modelo demostrava.
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É impossível negar o desgaste e a saturação das perspectivas processuais. A


construção de uma ciência, a produção de leis transculturais, a capacidade preditiva
dos modelos criados, a definição das causas da mudança cultural foram alguns dos
ambiciosos objectivos que a Nova Arqueologia se propôs, mas que não parece ter
alcançado, ao procurar aproximar metodológica e epistemologicamente a arqueologia
às ciências exactas ou da natureza. (DINIZ, 1995, p 10)

Essa arqueologia pós-processual, externaliza essa ideia circunstancial de interpretações


arqueológicas e o que todos os aspectos são importantes e devem ser levados em consideração.
E como as outras arqueologias, recebe críticas, feitas geralmente por quem é mais adepto da
pegada positivista do processualismo.

Uma das principais questões colocadas pelas arqueologias pós-processuais reside nos
significados simbólicos dos vestígios arqueológicos, que variam de contexto para
contexto. Os arqueólogos pós-processualistas colocam o indivíduo como ator social,
cujo contexto dará o significado ao registro arqueológico. Essas abordagens aceitam,
assim, a falta de consenso nas interpretações do passado. (WICHERS, 2016, p 41)

As discrepâncias e confusões relacionadas a esse termo são factuais, porém com o uso
de filmes audiovisuais, exprimo seus ideiais.
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3 Objetivos

3.1 Objetivo Geral

Analisar a conexão que existe entre determinados filmes que interpelam sobre o
desenvolvimento da arqueologia, evidenciando a arqueologia histórico-cultural, a processual e
a arqueologia pós processual.

3.2 Objetivos Específicos

-Investigar a relação existente na utilização de filmes nas abordagens educativas e quais


são seus estudos

-Pesquisar sobre as teorias da arqueologia histórico-cultural, arqueologia processual e


arqueologia pós processual.

-Selecionar filmes que abordem sobre a arqueologia

-Correlacionar os filmes escolhidos com os paradigmas referenciados.


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4 Metodologia da pesquisa

Para a realização de pré-projeto, foi utilizado pesquisas bibliográficas, que em um


momento primário, focalizou nos conceitos básicos dos paradigmas do desdobramento da
arqueologia e suas controvérsias.

Em um segundo instante, essas averiguações bibliográficas voltaram-se para os estudos


sobre os filmes cinematográficos e a possibilidade de aplica-los como método de auxilio no
ensino de disciplinas.

Para finalizar essa parte de apuramento bibliográfico, foi feito uma investigação sobre
os filmes que abordam a arqueologia, e, dentre eles, escolhidos os que mais se adequavam ao
objetivo proposto neste projeto.

Após a análise das pesquisas bibliografica empreendidas preliminarmente, junto a


seleção de filmes, apresentou-se a parte final de correlacionar o resultado da apuração gerada
com os paradigmas arqueológicos citados acima.
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5 Cronograma

Atividades 14/09/21 21/09/21 28/09/21 05/10/21 19/10/21 02/11/21 09/11/21 14/11/21 15/11/21
Pesquisa do x x
Tema
Desenvolver x
a pergunta
Pesquisa x x x x x x
Bibliográfica
Ver os filmes x x x x x x
Elaboração x x x x x
do Trabalho
Entrega do x
Trabalho
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Referências

TRIGGER, Bruce G. História do Pensamento Arqueológico. 2. ed. São Paulo: Odysseus,


2004. Ordep Trindade Serra. Disponível em:
file:///C:/Users/naira/Desktop/ufpi/Introdu%C3%A7%C3%A3o%20ao%20Pensamento%20A
rqueol%C3%B3gico/8-
TRIGGER,%20BRUCE.%202004.%20Historia%20del%20pensamento%20arqueologico.pdf
Acesso em: 04 nov. 2021.
SAN Wa. Direção de Stanley Tong. China: Emperor Movie Group, 2005. (118 min.), son.,
color. Legendado. Disponível em: https://bigsmovie.us/movie-geton/11653/O%20Mito.html.
Acesso em: 04 nov. 2021.
QUEEN of the Desert. Direção de Werner Herzog. 2005. (128 min.), son., color. Legendado.
Disponível em: https://superflix.top/filmes/rainha-do-deserto/ . Acesso em: 02 nov. 2021.
THE Dig. Direção de Simon Stone. Música: Stefan Gregory. Estados Unidos: Magnolia Mae
Films, 2021. Son., color. Legendado. Disponível em: https://www.netflix.com/br. Acesso em:
06 nov. 2021.
THE Exodus Decoded. Direção de James Cameron. Canadá: A&E Television Networks
Newvideo, 2006. (92 min.), son., color. Legendado. Disponível em: https://netcine.io/exodo-
deuses-e-reis /. Acesso em: 06 nov. 2021.
THE Mask of Sanxingdui. Direção de Zhang Kuan. China: Beijing Ajimo, 2019. (45 min.), son.,
color. Legendado. Disponível em: https://planetas-online.net/the-guest-of-sanxingdui-online-
completo-x264/#movie. Acesso em: 08 nov. 2021.
THE Mummy. Direção de Stephen Sommers. Estados Unidos: Alphaville Films, 1999. (125
min.), son., color. Legendado. Disponível em: https://www.netflix.com/br/. Acesso em: 08 nov.
2021
DI BACO, Hiuri Marcel; BARROCÁ FACCIO, Neide; ROCHA LUZ, Juliana Aparecida. DAS
RAÍZES DA PESQUISA ARQUEOLÓGICA A ARQUEOLOGIA PROCESSUAL: UM
ESBOÇO GERAL. Revista Tópos, [S.l.], v. 3, n. 1, p. 206 - 233, maio 2009.
MORIN, Edgar. O cinema ou o homem imaginário: ensaio de antropologia sociológica.
Lisboa: Moraes Editores, 1970. 288 p.
FERNANDES, Michele. A ideologia dos filmes utilizados na educação infantil: uma análise
a partir da teoria crítica. 2014. 76 f. Trabalho de conclusão de curso (licenciatura - Pedagogia)
- Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, 2014. Disponível em:
http://hdl.handle.net/11449/119011 Acesso em 08 nov 2021
KOSSOY, Boris.Fotografia e História. 2ª ed.rev. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001
Diniz, M. (1996). A arqueologia pós-processual ou o passado pós-moderno. Ophiussa.
Revista do Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa, . Lisboa: Edições Colibri;
Faculdade de Letras de Lisboa, Instituto de Arqueologia. p. 9-19.
Wichers, C. M. (2016). Sociomuseologia e Arqueologia Pós-processual: conexões no
contexto brasileiro contemporâneo. Cadernos De Sociomuseologia, 51(7).
https://doi.org/10.36572/csm.2016.vol.51.03

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