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jy STJ Informativo de SUPERIOR JURISPRUDENCIA Nimero 744 Brasilia, 15 de agosto de 2022. Este periédico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudéncia do ST], destaca teses jurisprudenciais firmadas pelos érgaos julgadores do Tribunal nos acérdaos proferidos nas sessdes de julgamento, no consistindo em repositério oficial de jurisprudéncia RECURSOS REPETITIVOS REsp 1,930.130-MG, Rel. Min, Joo Otdvio de Noronha, Terceira Seco, por unanimidade, julgado em 10/08/2022 (Tema _1100). RAMO DO DIREITO | DIREITO PENAL TEMA | Prescrigao da pretensao punitiva. Acérdao condenatério (art. 117, IV, do Cédigo Penal). Confirmagio da sentena condenatéria. Configuragao de marco interruptivo do prazo prescricional. Alterac3o promovida pela Lei n. 11.596/2007. Tema 1100. DESTAQUE 0 acérdao condenatério de que trata o inciso IV do art. 117 do Cédigo Penal interrompe a prescrigao, inclusive quando confirmatério de sentenga condenatéria, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta. INFORMAGOES DO INTEIRO TEOR A controvérsia suscitada no presente recurso especial repetitivo diz respeito a interpretagao do disposto no inciso IV do art. 117 do Cédigo Penal, introduzido pela Lei n. 11.596/2007, mais precisamente para se definir se 0 acérddo que confirma sentenga condenatéria, mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta, também constitui marco interruptivo da pretensao punitiva, No &mbito do Superior Tribunal de Justica, inicialmente, vigia o posicionamento de que o acérdao confirmatério da condenagao nao era novo marco interruptivo prescricional. Entendia-se que a decisio confirmatéria da condenagio nao opera a interrupgao do prazo de prescri¢o, de modo que 6 efeito interruptivo somente ocorre quando 0 acérdao condena o apelado absolvido em primeiro ‘grau, Pontuava-se que o Cédigo Penal expressamente dispde, no art. 117, Ile Ill, que a prescrigdo se interrompe pela prontincia e pela decisio confirmatéria da proniincia. Assim, da técnica legislativa adotada extrai-se que o legislador ndo contemplou 0 acérdio confirmatério como novo marco interruptivo da prescri¢do, pois absteve-se da mesma técnica quando da previsdo do inciso IV do art. 117 do CP. Deduzia-se que a existéncia de decisbes do STF desprovidas de efeito vinculante e divergentes do entendimento do STJ com relago & mesma matéria nao impedia esta Corte de continuar exercendo sua fung4o constitucional e aplicando 0 entendimento que considerasse mais adequado & legislacao infraconstitucional. Contudo, com o passar do tempo, passou a viger no ST], em consonancia com a orientagao do STF, © entendimento de que, apés a publicagao da sentenga condenatéria, ha outro marco interruptivo, a saber, 0 acérdo confirmatério da condenagao, que, nos termos da orientagdo firmada no Plenario do Supremo Tribunal Federal no julgamento do HC n. 176.473/RR, configura marco interruptivo da prescrigdo, ainda que néo modifique o titulo condenatério (meramente confirmatério da condenagao). Destaca-se que nao se vé impropriedade, sob o prisma da interpretagao gramatical, na conclusao de que as disposigdes normativas do art. 117, IV, do CP objetivam que o acérdao condenatério proferido na primeira instancia recursal em apelagao interposta contra a sentenga condenatéria seja causa interruptiva da prescrigao. Segundo interpretacao de lei pelo método histérico, é idéneo o entendimento de que a alteragio promovida no art. 117, IV, do CP pela Lei n. 11.596/2007 visou adicionar nova causa de interrupea0 da prescri¢ao superveniente, a saber, a publicagio do acérdio condenatério em primeira instancia recursal, ¢, desse modo, evitar que recursos meramente protelatérios alcangassem 0 lapso prescricional. Aalta carga de substitutividade, translatividade e devolutividade inerente ao recurso de apelagiio prop! sentenga condenatéria, seja habil para sucedé-la, de modo que, sob o aspecto sistematico- ia que 0 acérdao condenatério resultante de seu julgamento, ainda que confirmatério de processual, nao se percebe incompatibilidade sistémica que impossibilite que ele constitua marco interruptivo prescricional, nem mesmo sob 0 aspecto de postulados inerentes ao Direito Penal relacionados a obrigatoriedade de clareza e precisio de uma norma penal Em notério cenario em que o sistema recursal propicia elevada recorribilidade com fins procrastinatérios, de modo a ensejar a ndo punibilidade do acusado, é legitimo, segundo interpretagao finalistica, instituir como marco prescricional a data de publicago de acérdao condenatério resultante da ferposicao de apelacdo contra sentenga condenatéria, isto que impede o fomento da impunibilidade e, por conseguinte, 0 descrédito do Poder Judiciario. seg Eainere fee sel PROCESSO | EAREsp 1.681.737-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 03/08/2022, Dje 09/08/2022. RAMO DO DIREITO | DIREITO PROCESSUAL CIVIL TEMA | Juizo de admissibilidade dos Embargos de Divergéncia. Paradigmas originados de érgaos fracionérios vinculados Asegées distintas e também & mesma se¢ao. Competéncia da Corte Especial. DESTAQUE Se o embargante invocar, como paradigmas, julgado de érgio fracionario de diferente Sega e também julgado de érgio fraciondrio da mesma Segao que prolatou 0 acérdao embargado, caberd & Corte Especial proferir jutzo negativo de admissibilidade dos embargos de divergéncia se ausentes. seus requisitos, somente devendo ser cindido o julgamento na hipétese em que for admissivel 0 pronunciamento de mérito da Secio a qual esto vinculados os érgios fraciondrios que proferiram 0s acérdaos paradigma e embargado. INFORMAGOES DO INTEIRO TEOR ‘A questo em anilise est4 em definir a quem cabe realizar o juizo de admissibi lade dos embargos de divergéncias em situagdes, em que so apontados paradigmas de érgao fracionario pertencente a mesma Sega0 que proferiu o acérdao embargado e paradigma de érgio fracionario pertencente a Seco distinta daquela que proferiu 0 acérdio embargado. Quanto ao ponto, advirta-se que nao ha dtivida de que deve haver a cisdo do julgamento de mérito dos embargos de divergéncia em hipéteses dessa natureza, de modo que, em relagdo ao acérdao paradigma de orgao fracionario pertencente a mesma Se¢do que proferiu 0 acérc jo embargado, a ela cabera dirimir a divergéncia, ao passo que, em relagio ao paradigma de érgio fracionario pertencente a Seco distinta daquela que proferiu o acérdao embargado, A Corte Especial cabera dirimir a divergéncia. Sabendo-se que, em situagdes dessa espécie, o julgamento naturalmente se inicia no Ambito da Corte Especial, a questo que se coloca é saber se também 0 juizo de admissibilidade deve ser cindido, bipartindo-se o julgamento, nesse aspecto, em duas etapas: a primeira, perante a Corte Especial, no que se refere aos paradigmas de Seco distinta daquela que proferiu 0 acérdao embargado; a segunda, na respectiva Se¢ao, no que tange aos paradigmas de seus orgios fracionarios em relagio ao acérdéo embargado. No particular, sublinhe-se que, inicialmente, posicionou-se a jurisprudéncia desta Corte no sentido de que, "em se tratando de uma mesma questo, ainda que tenha sido indicado paradigma de Turma da mesma Sedo, além daqueles oriundos de Turmas de Segdes diversas, a competéncia para o julgamento serd do colegiado mais amplo”. (AgRg nos EDcl nos EAg 901.062/SP, Corte Especial, DJe 26/09/2011). No mesmo sentido: AgRg nos EREsp 1.136.447/RS, Corte Especial, Dje 21/11/2012 e AgRg nos EAREsp 510.682/RJ, Corte Especial, Dje 23/03/2015. Posteriormente, passou-se a admitir que a Corte Especial também possa se pronunciar sobre juizo de admissibilidade dos embargos de divergéncia nas hipéteses em que existam paradigmas de 6rgios fraciondrios da mesma Segao e de diferentes Segdes, consignando-se que "nao deve ser seccionado o julgamento para que uma Sego profira outra decisiio em embargos de divergéncia em que a Corte Especial - 6rgéo de hierarquia jurisdicional mais elevada deste Superior Tribunal -, ou um de seus ministros com competéncia monocratica, conclui que 0 mérito do pedido recursal nao pode ser analisado por ser inadmissivel o recurso” (AgRg nos EAREsp 155.081/SC, Corte Especial, DJe 06/05/2016). No mesmo sentido: AgRg nos EAREsp 593.919/PR, Corte Especial, DJe 23/11/2018, Agint no Agint nos EREsp 1.305.165/RJ, Corte Especial, DJe 11/03/2021 e Agint nos EAREsp 673.112/TO, Corte Especial, DJe 09/03/2022. spe PRIMEIRA SECAO MS 20.187-DF, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado Do TRF5), Primeira Sec4o, por unanimidade, julgado em 10/08/2022. PROCESSO RAMO DO DIREITO | DIREITO ADMINISTRATIVO TEMA | Anistia politica. Exercicio de autotutela da Administragao Pitblica. Repercussio Geral. Tema STF/839. DESTAQUE No exercicio de seu poder de autotutela, poder a Administracdo Publica rever os atos de concesstio de anistia a cabos da Aerondutica relativos Portaria n. 1.104/1964, quando se comprovar a auséncia de ato com motivagao exclusivamente politica, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o devido processo legal e a ndo devolugdo das verbas jé recebidas. INFORMAGOES DO INTEIRO TEOR 0 Supremo Tribunal Federal efetuou o julgamento do Tema 839 da pauta de repercussio geral, tendo emitido a tese de que, no exercicio de seu poder de autotutela, poderd a Administragao Piiblica rever os atos de concessio de anistia a cabos da Aeronautica relativos & Portaria 1.104, editada pelo Ministro de Estado da Aerondutica, em 12 de outubro de 1964, quando se comprovar a auséncia de ato com motivagio exclusivamente politica, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrative, 0 devido processo legal e a no devolugio das verbas j4 recebidas. Cumpre frisar que, no referido julgado, a Corte Suprema langou a diretriz de que 0 decurso do lapso temporal de 5 (cinco) anos nao é causa impeditiva bastante para inibir a Administracao Piiblica de revisar determinado ato, haja vista que a ressalva da parte final da cabeca do art. 54 da Lei n® 9.784/1999 autoriza a anulacdo do ato a qualquer tempo, uma vez demonstrada, no ambito do devi do procedimento admi rativo, com observanci lo processo legal, a mé-fé do beneficidrio, No caso, a Unido manejou recurso extraordinario contra o acérdao que adotou a seguinte linha de pensamento: "o Ministro de Estado da Justia expediu a Portaria Ministerial 286, de 28.1.2013, a qual anulou o ato que concedeu a anistia politica. Impde-se reconhecer a ocorréncia da decadéncia, ja que entre a Portaria, concessiva da anistia, 21, de 8.1.2004 e a Portaria Ministerial, que anulou 0 ato que concedeu a anistia politica da parte Impetrante, decorreu o lapso temporal quinquenal". ‘Ao que se verifica do cotejo das razées de decidir do Tema 839/STF com o aresto ora submetido a juizo de retratagao, ha conclusdes dissonantes, pois, enquanto a tese de repercussio adota 0 entendimento de que o lapso temporal de cinco anos nao impede a revisio do ato (quando se apurar eventual mé-fé) 0 aresto aplica a decadéncia ao caso concreto. Ademais, somente com a apuragio administrativa é que se pode ter alguma apreciagao origindria acerca de eventual ato de ma-fé como afastador de qualquer prazo de revisdo da concessao anistidria, Assim, conforme a solugao emitida pela Corte Suprema no Tema 839, no exercicio de seu poder de autotutela, poderd a Administragdo Piblica rever os atos de concessao de anistia a cabos da Aerondutica relativos 4 Portaria n. 1.104, editada pelo Ministro de Estado da Aerondutica, em 12 de outubro de 1964, quando se comprovar a auséncia de ato com motivacao exclusivamente politica, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrative, o devido processo legal e a nao devolugao das verbas ja recebidas. =~} dye PROCESSO | Agint no EREsp 1.668.885-PR, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF 5* regio), Primeira ‘Ses4o, por unanimidade, julgado em 10/08/2022. RAMO DO DIREITO | DIREITO TRIBUTARIO TEMA | Imposto sobre a Renda das Pessoas Juridicas - IRPJ. Contribuigao Social sobre o Lucro Liquido - CSLL. Base de cAlculo, Créditos do REINTEGRA. Medida Provis6ria n. 651/2014, convertida na Lei n. 13.043/2014, Data limite de incidéncia rea DESTAQUE Até a edigdo Medida Proviséria 651/2014, convertida na Lei n. 13.043/2014, é legitima a incidéncia do IRPJ e da CSSL sobre 0 REINTEGRA. INFORMAGOES DO INTEIRO TEOR A Primeira Seco do ST] adotou a tese defendida pelo ente fazendario, e confirmada pela Segunda Turma, para consolidar orientago segundo a qual, somente com o advento da Medida Proviséria n. 651/2014, convertida na Lei n. 13.043/2014, os valores ressarcidos no mbito do Regime de Reintegragao de Valores Tributarios - REINTEGRA foram excluidos expressamente da base de célculo do IRPJ e da CSL. Nos termos da MP n. 540/2011, convertida na Lei n. 12.546/2011, o REINTEGRA tem natureza de subvengio governamental para o setor exportador, nao significando devolugao de um pagamento indevido ou recomposigao de prejuizos, mas sim um beneficio, um estimulo, com a finalidade de prestigiar e tornar 0 produto nacional mais competitivo, Esse beneficio, por se tratar de subvengio, esta disciplinado no art. 44 da Lei n. 4506/1964 e pelos arts. 392, I, e 443 do RIR/1999, cuja regra geral é a de incluso do valor reintegrado no lucro operacional, ensejando a tributagao pelo IRPJ, diante da auséncia de previsio legal em contrario, A Lei n, 12.546/2011 nao se referiu a nao incluso do crédito na base de outros tributos, e que as alteragdes promovidas pela MP n. 601/2012 e, posteriormente, pela Lei n. 12.844/2013, apenas tinham prorrogado a aplicagao do REINTEGRA as exportacées realizadas até 31 de dezembro de 2013. Somente com a edigao da MP n, 651/2014, convertida na Lei n. 13.043/2014, que reinstituiu 0 REINTEGRA extinto em dezembro de 2013, foi expressamente previsto que o valor do crédito apurado conforme o disposto neste artigo nao sera computado na base de célculo da Contribuigao para o PIS/Pasep, da Cofins, do Imposto sobre a Renda da Pessoa Juridica - IRP] e da Contribuigao CSL. Sendo assim, até a edigo da MP n, 651/2014, é leg(tima a incidéncia do IRPJ sobre 0 REINTEGRA, Social sobre o Lucro Liquide - visto que o valor reintegrado compée o lucro operacional da empresa, ‘Também no que se refere ao CSLL, o REINTEGRA se caracteriza como receita integrando 0 lucro operacional, de modo a neutralizar o valor computado anteriormente, motivo pelo qual o beneficio em comento deve ser adicionado a base de calculo da CSLL, conforme o disposto nos arts. 28 e 29, Il, da Lei n. 9.430/1996, até a edicdo da Medida Provisoria n. 651/2004, quando o referido crédito passou a ser isento de IRPF e CSLL. Nesse cenério, consoante entendimento consagrado no ambito da Primeira Seco do ST], somente apés a entrada em vigor da MP n. 651/2004, os créditos do REINTEGRA nao mais compéem a base de célculo do IRPJ e da CSLL. mp9 NYS

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