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Tribunal Superior Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

21/08/2022

Número: 0600557-60.2022.6.00.0000
Classe: REPRESENTAÇÃO
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Juíza Auxiliar - Ministra Maria Claudia Bucchianeri
Última distribuição : 20/07/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Propaganda Política - Propaganda Eleitoral - Extemporânea/Antecipada
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
FEDERAÇÃO BRASIL DA ESPERANÇA (FE BRASIL) - FERNANDA BERNARDELLI MARQUES (ADVOGADO)
NACIONAL (REPRESENTANTE) MARIA EDUARDA PRAXEDES SILVA (ADVOGADO)
EDUARDA PORTELLA QUEVEDO (ADVOGADO)
MIGUEL FILIPI PIMENTEL NOVAES (ADVOGADO)
VICTOR LUGAN RIZZON CHEN (ADVOGADO)
MARCELO WINCH SCHMIDT (ADVOGADO)
MARIA DE LOURDES LOPES (ADVOGADO)
ANGELO LONGO FERRARO (ADVOGADO)
ROBERTA NAYARA PEREIRA ALEXANDRE (ADVOGADO)
MATHEUS HENRIQUE DOMINGUES LIMA (ADVOGADO)
VALESKA TEIXEIRA ZANIN MARTINS (ADVOGADO)
EUGENIO JOSE GUILHERME DE ARAGAO (ADVOGADO)
CRISTIANO ZANIN MARTINS (ADVOGADO)
GEAN CARLOS FERREIRA DE MOURA AGUIAR
(ADVOGADO)
JAIR MESSIAS BOLSONARO (REPRESENTADO) MARCELO LUIZ AVILA DE BESSA (ADVOGADO)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
15794 21/08/2022 13:03 Recurso Eleitoral - 0600557-60.2022.6.00.0000 Recurso Eleitoral
5143
EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA MARIA CLÁUDIA

BUCCHIANERI, DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL.

Ref. Representação Eleitoral n.º 0600557-60.2022.6.00.0000.

A FEDERAÇÃO BRASIL DA ESPERANÇA (FE BRASIL), já qualificada nos

autos em referência, por meio de seus advogados, vem, respeitosamente, perante

Vossa Excelência, com fulcro no art. 25 da Resolução nº 23.608/2019, interpor

RECURSO ELEITORAL

contra r. decisão monocrática de Id n. 157944232, por meio da qual a e. Min. Maria

Cláudia Bucchianeri julgou improcedente a presente Representação, pelos

motivos que se passa a expor.

I – TEMPESTIVIDADE

1. A decisão ora recorrida foi proferida no dia 20.08.2022, sendo publicada

no Mural Eletrônico nº 231681/2022 na mesma data. Dessa forma, é

inquestionável a tempestividade da interposição do presente recurso em

21.08.2022.

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II – SÍNTESE DO RECURSO

2. Com o devido respeito, ao deixar de retirar as publicações em tela, a r.

decisão monocrática ora combatida acabou por viabilizar a divulgação de

desinformação que, ademais, é incompatível com a r. decisão proferida pelo e.

Min. Alexandre de Moraes, atual presidente desse Egrégio Tribunal Superior

Eleitoral, no dia 17.07.2022 (Rp nº 0600543-76.2022.6.00.0000).

III –DO PROCESSADO

3. No dia 20.07.2022, o Partido dos Trabalhadores — já sucedido nestes autos

pela Federação Brasil da Esperança — ajuizou a presente representação eleitoral,

com fundamento nos arts. 9º, 9ºA e 27 da Resolução nº 23.610/201, denunciando

a propaganda eleitoral extemporânea negativa promovida pelo Sr. Presidente da

República Jair Messias Bolsonaro. Em síntese, foram impugnadas três

publicações realizadas pelo Recorrido, em sua página oficial do Twitter, que

configuram um grave caso de compartilhamento de desinformação, com

significativo impacto no processo eleitoral de 2022.

4. Ademais, como demonstrado na peça vestibular, o presente caso

“inevitavelmente, relaciona-se com a decisão liminar proferida no bojo da

Representação n. 0600543-76.2022.6.00.0000. Naquela r. decisão, o e. Min.

Alexandre de Moraes determinou a apoiadores do Sr. Jair Messias Bolsonaro que

se abstivessem de realizar novas postagens ou compartilhamentos atinentes à

mesma notícia falsa aqui representada — dentre outras — além de ordenar a

remoção de conteúdos correlatos.

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5. Os autos foram distribuídos à e. Min. Maria Cláudia Bucchianeri, sendo

que, em razão do regime de plantão e do pedido de liminar formulado na

exordial, o e. Min. Edson Fachin determinou a intimação das partes para se

manifestarem acerca da legitimidade ativa da parte requerente.

6. Assim, em 28.07.2022, o Recorrido apresentou defesa (ID 157843766),

alegando que: (i) o Partido dos Trabalhadores não era dotado de legitimidade

ativa; (ii) as publicações não denotavam conteúdo eleitoral, ante a ausência de

pedido explícito de não voto; e (iii) os fatos denunciados supostamente não eram

sabidamente inverídicos.

7. Em 03.08.2022, por sua vez, o Recorrente apresentou manifestação (ID

157863729), demonstrando a legitimidade ativa do Partido dos Trabalhadores

para propositura de representação eleitoral por propaganda antecipada e,

subsidiariamente, pleiteou-se o reconhecimento da sucessão processual, fazendo

ingressar, no polo ativo da demanda, a Federação Brasil da Esperança (FE Brasil).

Ainda, naquela oportunidade, foi reiterada a necessidade de concessão da

medida liminar pretendida e, oportunamente, a sua confirmação, com a

condenação do Recorrido pela prática de propaganda irregular.

8. Já a Procuradoria-Geral Eleitoral, no dia 14.08.2022, apresentou parecer

(ID 157918591), sugerindo: (i) o reconhecimento da ilegitimidade ativa do Partido

dos Trabalhadores, com a extinção do feito sem resolução do mérito; e (ii) a

improcedência da pretensão em razão de supostamente não ter sido

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demonstrada a falsidade da matéria produzida pela TV Record — comentada nas

postagens do Recorrido.

9. Dessa forma, em 20.08.2022, sem realizar qualquer juízo de valor sobre a

veracidade das postagens, a e. Ministra Relatora Maria Cláudia Bucchianeri

reconheceu a sucessão processual da Federação Brasil da Esperança —

determinando a alteração do polo ativo da demanda —; e, no mérito, julgou

improcedente os pedidos formulados, tendo em vista que a matéria jornalística

veiculada pela TV Record de fato existiu.

10. Ocorre que, como se verá a seguir, com o devido respeito, a r. decisão em

tela merece ser reformada, na medida em que pouco importava a existência da

reportagem produzida pela TV Record. Isto é, o simples fato de ter sido noticiada

uma operação conduzida pela Polícia Federal não autorizava — em nenhuma

medida — o Recorrido a vincular o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da

Silva à organização criminosa denominada Primeiro Comando da Capital (PCC)

— e tamanha vedação, inclusive, já havia sido fixada no âmbito desse eg.

Tribunal Superior Eleitoral.

11. Senão, vejamos.

IV – DAS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA

12. Como já antecipado, a e. Min. Relatora Maria Cláudia Bucchianeri julgou

improcedente a pretensão deduzida na peça vestibular, por entender que as

publicações veiculadas pelo Recorrido comentaram uma matéria jornalística

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produzida pela TV Record, cuja falsidade supostamente não restou

demonstrada. Observe-se:

Analisando a mídia compartilhada pela primeira postagem e


igualmente comentada na segunda postagem questionada,
constato que se trata efetivamente de matéria jornalística ainda
disponível na Internet, e que foi produzida e veiculada pela TV
Record em agosto de 2019, com o título “Em áudio, tesoureiro de
fação diz que diálogo era mais fácil em governos anteriores”.
Em tal matéria jornalística, são reproduzidos trechos de
interceptação telefônica realizada no contexto da Operação
Cravada, que tinha como foco facções criminosas que agiam
dentro de presídios no Paraná, São Paulo e Mato Grosso.
Em rápida pesquisa na Internet, constato que esse mesmo
diálogo interceptado, que foi trazido na matéria jornalística da
TV Record objeto da primeira e da segunda postagem
impugnadas, foi igualmente divulgado, em agosto de 2019, pela
Revista Veja, pela Gazeta do Povo, pela Folha de São Paulo, pelo
Poder 360, pelo Estado de Minas, pelo Blog Fausto Macedo, pelo
O Antagonista, pelo Correio Braziliense, entre outros inúmeros
veículos de comunicação social, em matérias que ainda estão no
ar e jamais desmentidas.
Dessa forma, sem exercer qualquer juízo de valor sobre o
conteúdo da conversa interceptada, se verdadeira ou não, o fato
é o de que a interceptação telefônica trazida na matéria
jornalística compartilhada e comentada pelo representado é
real, ocorreu no contexto de determinada operação coordenada
pela Polícia Federal, de sorte que a gravação respectiva é
autêntica, o que não implica, volto a dizer, qualquer análise de
mérito sobre a procedência, ou não, daquilo o quanto dito pelas
pessoas cujas conversas estavam sendo monitoradas.

13. Ora, com o devido respeito e acatamento, pouco importa a existência ou

não da referida matéria jornalística — afinal, não é isso o que se discute na

presente via. Muito pelo contrário!

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14. Em verdade, o que se denunciou ab initio, foi uma ilegal estratégia de

desinformação promovida pelo Recorrido, através de sua rede social Twitter,

destinada a deturpar a notícia veiculada pela TV Record. Nesse sentido, os

tweets por ele publicados não deixam dúvidas de que a sua intenção era de

promover propaganda eleitoral extemporânea (negativa), vinculando

indevidamente o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à organização

criminosa PCC.

15. Em tal direção, é de se observar que o suposto diálogo interceptado pela

Polícia Federal, em momento algum, citou o nome do ex-presidente Lula. Mesmo

assim, o Recorrido fez questão de afirmar, por meio de artifícios de linguagem,

que o “líder” do PCC está com “saudade”1 do “grupo do animal invertebrado

cefalópode pertencente a filo dos moluscos”2:

1 https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1549377781418655747
2 https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1549381987542204416

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16. Não bastasse, no dia seguinte, o Recorrido voltou a insuflar a sua narrativa

falaciosa, afirmando textualmente que o crime organizado tem como aliado ao

ex-presidente Lula3:

17. Neste passo, há de se reiterar que apesar da possível existência da

operação noticiada, ela não teve qualquer relação com o ex-presidente Lula e

com o Partido dos Trabalhadores. Outrossim, nem mesmo a TV Record — que

sabidamente transmite um conteúdo favorável ao Recorrido e ao seu grupo

político4 — cogitou esse lunático vínculo.

18. O Recorrido, por sua vez, tinha plena ciência de que as publicações

ampliavam — e muito — o que fora noticiado por veículos de comunicação, tanto

é que, em sua contestação, ele não explicou de que forma o diálogo interceptado

pela Polícia Federal autorizava a utilização do nome do ex-presidente Lula.

3 https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1549791459636813824
4 https://theintercept.com/2020/02/23/imprensa-bolsonaro-band-sbt-record-rede-tv/

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19. Quanto ao ponto, ao contrário do suscitado na r. decisão monocrática, esse

alargamento indevido não pode ser entendido como uma narrativa política

passível de ser neutralizada e rebatida dentro do diálogo político (p. 08). Isso

porque, trata-se de uma narrativa desinformadora e ofensiva — sem qualquer

substrato fático —, criada com a agulha da imaginação para deslegitimar, perante

a opinião pública, o nome do então pré-candidato opositor.

20. Nesse sentido, cumpre ressaltar que a desinformação significa prática

antijurídica, tendo em vista que afeta a liberdade de conhecimento dos cidadãos

e, automaticamente, influencia negativamente no processo eleitoral, por afetar o

direito livre de voto. E isso não pode ser aceito por esse e. Tribunal Superior.

21. Vale lembrar, aliás, que o e. Ministro Alexandre de Moraes foi firme, em

pronunciamento emitido por ocasião de sua posse no cargo de Presidente deste

e. Tribunal, ao afirmar que a liberdade de expressão não se confunde com a

liberdade de agressão, sendo que a Justiça Eleitoral deve coibir divulgações de

notícias falsas; afinal, a Constituição Federal não autoriza que se propaguem

mentiras que atentem contra a lisura, a normalidade e a legitimidade das eleições.

Note-se:

“Eu não canso de repetir, e obviamente não poderia deixar de


fazê-lo nessa oportunidade, nesse importante momento:
liberdade de expressão não é liberdade de agressão. Liberdade
de expressão não é liberdade de destruição da democracia, de
destruição das instituições, de destruição da dignidade e da
honra alheias. Liberdade de expressão não é liberdade de
propagação de discursos de ódio e preconceituosos. A liberdade
de expressão não permite a propagação de discursos de ódio,
ideias contrárias à ordem constitucional e ao Estado de direito,

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inclusive durante o período de propaganda eleitoral, uma vez
que uma vez que a plena liberdade do eleitor em escolher seu
candidato, sua candidata, depende da tranquilidade e da
confiança nas instituições democráticas e no próprio processo
eleitoral.
A intervenção da Justiça Eleitoral, como afirmei anteriormente,
será mínima, porém será célere, firme e implacável no sentido de
coibir práticas abusivas ou divulgações de notícias falsas ou
fraudulentas, principalmente daquelas escondidas no covarde
anonimato das redes sociais, as famosas ‘fake news’. E assim
atuará a Justiça Eleitoral, de modo a proteger a integridade das
instituições, do regime democrática e da vontade popular, pois a
Constituição federal não autoriza que se propaguem mentiras
que atentem contra a lisura, a normalidade e a legitimidade das
eleições”5.

22. E, repita-se, foi justamente isso o que ocorreu no presente caso. Com nítido

caráter eleitoral antecipado, o Recorrido deturpou e descontextualizou, em suas

publicações, uma notícia veiculada há mais de dois anos pela TV Record,

atribuindo falsamente ao ex-presidente Lula um relacionamento inexiste com

uma das maiores organizações criminosas do País.

23. Ademais, as publicações do Recorrido não podem ser interpretadas como

um ato isolado, na medida em que elas integram uma ação orquestrada por

personagens da extrema-direita — já reprimida por esse Egrégio Tribunal. Nesse

sentido, renovando as vênias, ao contrário do suscitado pela e. Ministra Relatora,

a hipótese da Representação nº 0600543-76.2022.6.00.0000 tem inafastáveis

reflexos nos fatos ora tratados.

5 Disponível em: https://www.poder360.com.br/justica/leia-a-integra-do-discurso-da-posse-de-


alexandre-de-moraes-no-tse/

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24. Isso porque, apesar de analisar uma situação específica, o e. Ministro

Alexandre de Moraes foi unívoco ao afirmar que a divulgação de fato

sabidamente inverídico, com a aparente finalidade de vincular a figura de pré-

candidato a atividades de organização criminosa é suficiente para configurar

propaganda eleitoral negativa:

A divulgação feita pelo Jornal da Cidade, por meio de sua revista


“A Verdade”, ilustra o pré-candidato Luis Inácio Lula da Silva
vestido com uma faixa, lembrando a presidencial, contendo as
siglas do Partido dos Trabalhadores e da organização Criminosa
Primeiro Comando da Capital (PCC), em clara alusão ao pleito
eleitoral que se avizinha, chegando a propor que o ex-presidente
seja “o candidato do crime organizado”.
Nesse contexto, nesse juízo preliminar, a responsabilidade pela
veiculação e divulgação das notícias fraudulentas direciona-se
ao canal de youtube "Dr News", ao Jornal da Cidade (revista "A
Verdade") e ao Deputado Federal Otoni Moura de Paulo Júnior.
A divulgação de fato sabidamente inverídico, com aparente
finalidade de vincular a figura do pré-candidato a atividades
de organização criminosa, como no caso, parece suficiente a
configurar propaganda eleitoral negativa, na linha da
jurisprudência desta CORTE, segundo a qual a configuração do
ilícito pressupõe "ato que, desqualificando pré-candidato, venha
a macular sua honra ou a imagem ou divulgue fato sabidamente
inverídico" (AgR-REspe 0600016-43, Rel. Min. LUIS FELIPE
SALOMÃO).

25. Quer dizer, na hipótese, não se reprimiu apenas a atribuição falsa da

prática de um crime concreto, mas também a mera vinculação da imagem de um

pré-candidato a atividades de organização criminosa — o que se verificou no

caso presente.

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26. Para além disso, em que pese as agências de checagem de fatos, indicadas

na exordial, não terem avaliado a natureza do suposto diálogo interceptado pela

Polícia Federal — o que, frise-se, é irrelevante para o vertente caso —, tem-se que

elas foram firmes ao concluir que não há vinculação do Partido dos

Trabalhadores e do ex-presidente Lula com o Primeiro Comando da Capital. A

título exemplificativo, observe-se6:

27. Com efeito, isso é suficiente para se afastar qualquer hipótese de vínculo

entre o ex-presidente Lula e a organização criminosa referida— reforçando a

completa ilegalidade das publicações.

28. Destarte, o Recorrido violou o disposto no artigo 9-Aº e 27 da Resolução-

TSE nº 26.610/2019, na medida em que divulgou fatos sabidamente inverídicos,

gravemente descontextualizados e ofensivos à imagem do ex-presidente Lula, a

fim de influir na integridade do processo eleitoral:

6 https://www.boatos.org/politica/pcc-nota-repudio-ligacao-pt.html

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Art. 9º-A. É vedada a divulgação ou compartilhamento de fatos
sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados
que atinjam a integridade do processo eleitoral, inclusive os
processos de votação, apuração e totalização de votos, devendo
o juízo eleitoral, a requerimento do Ministério Público,
determinar a cessação do ilícito, sem prejuízo da apuração de
responsabilidade penal, abuso de poder e uso indevido dos
meios de comunicação. (Incluído pela Resolução nº 23.671/2021)

Art. 27. É permitida a propaganda eleitoral na internet a partir


do dia 16 de agosto do ano da eleição (Lei nº 9.504/1997, art. 57-
A) . ( Vide, para as Eleições de 2020, art. 11, inciso II, da
Resolução nº 23.624/2020 )
§ 1º A livre manifestação do pensamento de pessoa eleitora
identificada ou identificável na internet somente é passível de
limitação quando ofender a honra ou a imagem de candidatas,
candidatos, partidos, federações ou coligações, ou divulgar fatos
sabidamente inverídicos, observado o disposto no art. 9º-A
desta Resolução. (Redação dada pela Resolução nº 23.671/2021)

29. Não bastasse, tudo isso configura propaganda eleitoral negativa,

praticada em período proscrito pela legislação eleitoral, conforme previsto no art.

3º-A e na jurisprudência consolidada desse e. Tribunal Superior Eleitoral:

Art. 3º-A. Considera-se propaganda antecipada passível de


multa aquela divulgada extemporaneamente cuja mensagem
contenha pedido explícito de voto, ou que veicule conteúdo
eleitoral em local vedado ou por meio, forma ou instrumento
proscrito no período de campanha. (Grifou-se)

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.


NEGATIVA DE SEGUIMENTO. RECURSO ESPECIAL.
PROPAGANDA ELEITORAL NEGATIVA. MATÉRIA
JORNALÍSTICA. REPRODUÇÃO EM BLOG. PROPAGANDA
EXTEMPORÂNEA. CARACTERIZAÇAO. DIREITO À
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Número do documento: 22082113030253700000156634889
INFORMAÇÃO. VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA.
FUNDAMENTOS NÃO INFIRMADOS. DESPROVIMENTO.
[...]
2. Consoante orientação jurisprudencial deste Tribunal Superior,
a propaganda eleitoral extemporânea configura-se quando
evidenciado o esforço antecipado de influenciar eleitores, o
que ocorre com a divulgação de argumentos que busquem
denegrir a imagem de candidato adversário político ou de sua
legenda.
3. A proibição de divulgação de críticas em propaganda, cujo
único objetivo é denegrir a imagem de adversários políticos, não
viola o direito à informação, à liberdade de imprensa, tampouco
o direito à livre manifestação de pensamento por não serem
direitos de caráter absoluto. (TSE, AgRg-AI n. 744/RJ, Rel. Min.
Luciana Lóssio, DJe 07.11.2013)

30. Portanto, faz-se necessária a reforma da r. decisão monocrática ora

combatida para reconhecer que o Recorrido violou as regras estabelecidas na

Resolução-TSE nº 26.610/2019, notadamente os artigos 3º, 3º-A, 9º-A e 27, pois,

em manifesta estratégia eleitoreira, divulgou fake news e desinformações a

respeito do ex-presidente Lula.

V – DOS PEDIDOS

31. Por todo o exposto, requer-se seja conhecido e provido o presente Recurso

para o fim de reformar integralmente a r. decisão monocrática de ID 157944232,

julgando procedente a presente Representação Eleitoral e, por conseguinte:

(i) Seja determinado ao Recorrido que remova os conteúdos


desinformadores veiculado em sua rede social, sob pena de multa a
ser arbitrada por esta c. Corte — encontrados nas URLs a seguir
indicadas:

Brasília
SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1
Ed Libertas Conj. 1009
Asa Sul 70070-935
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https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1549377781418655
747;
https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1549381987542204
416.
https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1549791459636813
824

(ii) Seja determinado ao Recorrido que se abstenha de veicular


outras notícias e publicações que contenham o mesmo teor, sob pena
de multa, a ser arbitrada por esta c. Corte.

(iii) Seja condenado o Recorrido ao pagamento de multa de R$ 25.000


(vinte e cinco mil reais), conforme previsto no art. 36 da Lei n. 9.504/97,
ao Representado, sem prejuízo de outras consequências ex vi legis.

Nestes termos, pede deferimento.

Brasília, em 21 de agosto de 2022.

Cristiano Zanin Martins Eugênio Aragão


OAB/SP 172.730 OAB/DF 4.935

Valeska T. Zanin Martins Angelo Longo Ferraro


OAB/SP 153.720 OAB/DF 37.922

Maria de Lourdes Lopes Marcelo Winch Schmidt


OAB/SP 77.513 OAB/DF 53.599

Victor Lugan R. Chen Miguel Filipi Pimentel Novaes


OAB/SP 448.673 OAB/DF 57.469

Eduarda P. Quevedo Maria Eduarda Praxedes Silva


OAB/SP 464.676 OAB/DF 48.704

Brasília
SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1
Ed Libertas Conj. 1009
Asa Sul 70070-935
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