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Unidade Curricular: Arte e Comunicação

Docente: Maria Teresa Cruz


Discente: Alina Cepeliuc, 2020125934
Licenciatura em História da Arte
Ano letivo: 2021/2022

Julian Opie: Obras Inéditas e o seu valor relativamente a técnica


reprodutiva

Figura 1 – Walking in New York. 2020, Julian Opie. Tinta sobre a madeira, 838 x 1422 cm
Julian Opie (1958) é considerado um dos mais importantes artistas
contemporâneos atualmente. As suas obras são imediatamente reconhecidas pelo seu
traço formal e distinto, pela simplicidade na representação retratista, paisagista e
figurativa. Muitas das vezes utiliza métodos de reprodução digitais de modo a tornar sua
obra mais elaborada.
Trata os seus trabalhos de uma maneira estilizada, inspirado pela corrente do Pop Art
britânico. As obras são pintadas com cores sólidas, contornos negros fortes e espessos
para destacar as figuras que representa. Inspirou-se também nas gravuras japonesas, no
design e na linguagem dos retratos do século XVII-XVIII. Com a sua obra Opie procura
trazer toda esta variedade artística para o século XXI.

A sua obra foi exposta individualmente no dia 18 de março de 2020 com a duração até
agosto do mesmo ano, pela primeira vez em Lisboa em colaboração com o Museu
Coleção Berardo e Mosteiro dos Jerónimos. O artista incluiu no seu projeto a praça em
frente ao Mosteiro dos Jerónimos, os pátios e jardins do CCB e as galerias dedicadas à
arte contemporânea do Museu.
A maioria das obras que o artista apresenta no Museu Coleção Berardo foram produzidas
especialmente para esta exposição e galeria, permitindo tirar partido não só das paredes,
de oito metros de altura do museu, como também do teto, ainda mais alto.

O tema central da exposição é a sociedade contemporânea (fig.2). As pessoas são


retratadas de várias formas e com vários materiais; estáticas em pintura ou escultura, ora
em movimento nas telas LED (fig.2.1). Também há lugar para alguns edifícios e animais,
para alargar a temática e desenvolver o assunto. Várias animações de computador usam
LED e são distribuídas pelo pátio exterior (fig3.), corredores e jardim com silhuetas de
pessoas, pombos e animais (fig.5), saltando de uma tela para a outra. Para a última sala
da exposição, o artista inspirou-se na belíssima Torre de Belém e produziu uma instalação
gigantesca, com indícios da arquitetura manuelina (fig.4), remetendo o espetador para o
século XVI.
Relação da sua obra com textos de Walter Benjamin e Boris Groys
A partir da leitura dos textos de Walter Benjamin e Boris Groys, que apesar de serem
escritos em épocas diferentes, tem bastante em comum, segue uma análise crítica da
exposição apresentada, Obras Inéditas de Julian Opie. Como porto da partida desta
análise, deve ser tomada em conta a posição de Walter Benjamin a cerca da evolução das
técnicas de reprodução artística utilizadas. Como se sabe, Benjamin é um filosofo de
inspiração marxista, porém no seu ensaio “A obra de Arte na Era da Sua
Reprodutibilidade Técnica” afirma ser contra a politização da arte. Apesar disso, neste
ensaio o filósofo aborda como a reprodutibilidade técnica da arte tornou a sua expansão
na desvalorização da mesma e na “perda da aura”, conceito chave que o autor aborda ao
longo da obra. Com este termo, o autor define “a única aparição de um longínquo, por
mais próxima que possa estar”, e designa a irradiação das obras do passado que lhes
conferia a existência num só lugar do espaço e num único momento do tempo. A
unicidade, a autenticidade e a autoridade das obras, segundo Benjamin, constituíam o seu
valor cultural, ligado ao culto, ao sagrado. A evolução da técnica para Benjamin
significou a perda desses valores, da sua aura.

No início da sua obra, Benjamin aborda as etapas de reprodutibilidade pelos quais a arte
passou ao longo do tempo. Se nos tempos antigos era muito difícil copiar uma escultura
ou outro objeto qualquer, feito por artista, posteriormente mais e mais artistas foram
perdendo a sua unicidade por estarem a reproduzir obras semelhantes ou terem influências
que foram seguindo. No entanto, hoje em dia praticamente toda a arte passou pelo
processo de massificação. Juntamente com essa questão da reprodutibilidade, ao mesmo
nível posiciona-se o problema da destruição da aura. Aura, como afirma Benjamin, pode
ser identificada como sensação única do afastamento do objeto, não interessando o qual
perto ele se encontra perante ao observador. Cada obra de arte nasce e adquire esta noção
de inacessibilidade, essência que apenas aquela obra possui. Mas com a reprodutibilidade
infinita, com a reprodução de cópias, essa essência áurea acaba por se perder. Nos
capítulos seguintes o autor analisa de como as técnicas de reprodução tornaram possível
a reprodução ilimitada das obras do passado que, desde até então apenas possuíam
existência por unidade. Dotadas desta nova omnipresença, as obras deixaram o seu lugar
e o seu tempo para se aproximarem do ouvinte e do espetador. Estas novas técnicas
também impulsionaram o aparecimento de novas obras de arte, por natureza,
reprodutíveis como a fotografia e o cinema.

Estas transformações, juntamente com as outras socio-históricas que conduziram ao


surgimento de um público de massa, mudaram completamente o rosto de uma arte pura e
inacessível, cujo valor foi substituído pelo valor de exposição. Benjamin afirma que as
obras, devido essa modificação historicamente considerável da própria experiência
artística, já não exigem contemplação, o recolhimento cuidadoso da informação e atenção
que anteriormente exigia. A massificação da arte levou à uma atenção distraída, ligeira e
efémera. As obras já não tocavam o observador ao nível intelectual ou sentimental, a sua
observação era apenas uma admiração passageira. O interesse da análise de Benjamin é
o de mostrar que este fenómeno ultrapassa o domínio da experiência artística que, assim,
passa a ter valor de sintoma. O que está em causa é a modificação da sensibilidade humana
global, “Em grande época histórica altera-se, com a forma de existência coletiva da
humanidade, o modo da sua perceção sensorial.” (BENJAMIN, 2016, p.67).

Nesse sentido, o ponto de vista de Benjamin pode ser interligado com a perceção
de Boris Groys, crítico de arte russo, também de inspiração marxista. Aborda essa
temática da infinita produção e reprodução da arte no seu ensaio “Art on the Internet”,
do livro “On the Flow”.
O que toca à massificação da arte, mas na perspetiva atual, trocando a
reprodutibilidade pela acessibilidade que a internet oferece ao observador comum. Tal
como Benjamin compara a múltipla reprodutibilidade das obras à perda da aura, Groys
afirma que as obras de arte e as obras literárias foram perdendo o seu valor devido à sua
fácil acessibilidade e difusão na internet. O aumento da documentação de arte através e
do uso das instituições culturais da Internet como o principal local da sua representação
e globalização do autor torna-se num problema ainda maior da contemporaneidade do
controlo na Internet. Groys afirma que se o museu, com as suas obras autênticas, tornou-
se no cemitério das utopias modernas.

Deste modo, como se relaciona a difusão e técnica na arte com o seu valor? Será a
massificação da cultura algo benéfico para a nossa sociedade? Sem dúvida, sim. O
exemplo de Julian Opie neste caso é utilizado para demonstrar, mais uma vez, o poder da
difusão dos artistas na internet, como o caso da exposição no Museu Coleção Berardo, a
quem muitas pessoas provavelmente não teriam nem acesso nem conhecimento se não
fosse a sua partilha nas redes sociais e nas plataformas como Google Arts and Culture,
por exemplo. Reforçando o ponto de vista anterior, é importante mencionar que para além
da democratização da arte, fruto da internet e dos massmedia, a evolução da técnica sem
dúvida foi um passo enorme na cultura contemporânea. O poder por parte do artista de
dar uso a qualquer material/objeto para torna-lo numa obra de arte é excecional, e nesse
aspeto é importante sublinhar o porque da exposição mencionada tem um grande valor,
tanto como tem imensa importância a arte da performance, reproduzida unicamente.

As obras de Julian Opie utilizam enorme variedade de materiais, desde os habituais como
tinta e madeira, até as esculturas de metal para representar as metrópoles, painéis LED ou
instalações escultóricas e xilogravuras. O seu estilo é único, portador de traços
minimalistas preenchidos com cores sólidas, que se assemelham com modelo de anúncio
e arte pop. É indubitável a sua importância no campo artístico, o artista continua a ampliar
os seus horizontes, tentando sempre fugir da prática artística “tradicional” e é isso que faz
das suas obras serem tão especiais, tanto que a compreensão do seu contexto está ligada
à cultura de massas, de leitura muito simples, destinada a qualquer público.

Figura 2 – Walking in New York, 2020. Julian Opie, CCB.

Figura 2.1 – Exposição LED, Julian Opie, 2020. CCB.


Figura 3 – Esculturas digitais, jardim exterior. 2020, Julian Opie, CCB.

Figura 4 – Instalação Manuelina, 2020. Julian Opie, CCB.


Figura 5 – Representação dos Animais, 2020. Julian Opie, Museu Coleção Berardo (interior).

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